FICHAMENTO: DELUMEAU, JEAN. A Civilização do Renascimento.
A noção de Renascimento foi criada por humanistas italianos e retomada por Vasari, e carrega consigo a noção de uma ressureição das e letras e das artes graças ao reencontro com a Antiguidade. Esse ideal foi fecundo, como todos os manifestos lançados por gerações conquistadoras. Essa noção significa dinamismo, juventude e vontade de renovação , tais características serão uma constante por todo o período. Delumeau também faz apontamentos de que a negação do período medieval é ERRÔNEA, ERRÔNEA , afinal não se devem afastar todos os desenvolvimentos do Medievo, sejam eles de cunho tecnológico ou artístico. Segundo o autor, o Renascimento é produto medieval. Para comprovar sua afirmação, ele nos fornece sucessivos exemplos . “ O regresso à Antiguidade em nada influi na invenção da imprensa ou do relógio mecânico, nem no aperfeiçoamento da artilharia, nem no estabelecimento da contabilidade por partidas dobradas, nem no da letra de
câmbio ou das feiras bancárias”. P. bancárias”. P. 19 Após esses esclarecimentos, Delumeau propõe uma definição de Renascimento que consiste em “Uma promoção do Ocidente numa época em que a civilização da Europa ultrapassou, de modo decisivo as civilizações que lhe eram paralelas” . P.20. Ou seja, houve uma “superação” cultural entre a cultura Europeia e as que lhe eram paralelas (a Asiática e/ou Árabe). Quanto ao papel de vanguarda para esse movimento quem o exerceu foi à Itália, graças a seus humanistas, artistas, homens de negócio, engenheiros e matemáticas que a transformaram na principal responsável pelo grande avanço europeu. europeu. Não devemos descartar esse esse papel vanguardista da Itália, entretanto não devemos afirma-la como única responsável por esse grandioso movimento, afinal como exemplo podemos citar Flandres bem como grande parte dos Países Baixos como áreas de intensa produção artística e literária renascentistas ( Erasmo de Roterdã pertencia a esse movimento literário), contribuindo em grande parte para o sucesso desse movimento. Perguntamo-nos como se iniciou a história, os fatores, e a conjuntura social desse movimento. Delumeau nos responde com a seguinte afirmação: Entre 1320 e 1450 abateu-se sobre a Europa uma conjunção de desgraças: privações, epidemias (peste negra), guerras, um aumento brutal da mortalidade, diminuição da produção de metais preciosos e o avanço dos Turcos. A história do Renascimento é a história desses desafios. Em resposta a esses desafios temos: uma crítica ao pensamento clerical da Idade Média, a recuperação demográfica, os progressos técnicos, a aventura marítima, uma estética nova, um cristianismo reelaborado e rejuvenescido. Em suma, todos esses apontamentos constituem os elementos da resposta do Ocidente às tão variadas dificuldades que no caminho haviam se acumulado. Através de contradições, e por caminhos complicados, mas sempre sonhando com paraísos mitológicos ou com utopias, o Renascimento deu um extraordinário salto para diante. O Renascimento foi, especialmente, o progresso técnico que deu ao homem ocidental maior domínio sobre um mundo mais bem conhecido. Ensinou-lhe a atravessar os oceanos, a fabricar ferro fundido, a servir-se das armas de fogo.
O progresso espiritual paralelo ao progresso material, iniciou a libertação do indivíduo ao tirá-lo do seu anonimato medieval e começando a desembaraça-lo das limitações coletivas. Além da “descoberta” do homem, o Renascimento foi também a descoberta da criança, da família, do casamento, e da esposa. A civilização fez-se menos antifeminista, menos hostil ao amor no lar, mais sensível a criança. O cristianismo viu-se diante de uma nova mentalidade complexa, oriunda do receio à danação, da necessidade pessoal, da integração da vida e da beleza na religião. O “anarquismo” religioso dos séculos XIV e XV levou a uma ruptura, mas também a um cristianismo rejuvenescido. Delumeau nos oferece uma apresentação da Europa no início do século XIV, com todas as suas diversidades, mas que apresenta um gérmen para a construção de uma consciência identitária nacional, reforçada essa construção em vários campos: como a economia, e posteriormente na reforma e contrarreforma. CAP. I – A EXPLOSÃO DA NEBULOSA CRISTÃ No princípio do século XIV, a Europa era ainda uma nebulosa de formas indecisas e de futuro incerto. Em 1620, pelo contrário, as divisórias políticas do continente apareceram de uma forma clarificada e até mesmo consolidada nas suas grandes linhas. Em resumo, a época do Renascimento, quer dizes, esse grande período de mutação que começou no reinado de Filipe VI de Valois e terminou no de Luís XIII, é aquela em que a Europa se define politicamente, descobrindo, pelo exemplo italiano e pelo jogo da resistência francesa às ambições dos Habsburgos, a regra de ouro do equilíbrio entre potências. O ideal da unidade europeia, realizada sob a autoridade do imperador, foi substituído por uma relação de forças. Breves observações: • •
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Nesse período a Espanha detinha a supremacia, entre os Estados europeus; Duas famílias que dominaram a Europas: Hohenzollern (Alemanha) e os Habsburgos (Áustria); Poderio militar dos Otomanos (turcos); O ideal de uma unidade europeia, realizada sob a autoridade do imperador é abandonado, sendo substituído por relações de forças entre os reinos; 1 A Guerra dos Cem Anos veio para provar que o sistema feudal não se adaptava já a realidade.
A Guerra dos Cem Anos foi um evento que marcou o processo de formação das monarquias nacionais inglesas e francesas . Esse conflito girou em torno dos territórios e impostos que eram tão necessários ao fortalecimento de qualquer monarquia daquela época. Tal evento manifesta significativamente a centralização política que se desenvolveu nos fins da Idade Média. Iniciada em 1337, a Guerra dos Cem Anos foi deflagrada quando o trono francês esteve carente de um herdeiro direto. Aproveitando da situação, o rei britânico Eduardo III, neto do monarca francês Felipe, O Belo (1285 – 1314), reivindicou o direito de unificar as coroas inglesa e francesa. Dessa forma, a Inglaterra incrementaria seus domínios e colocaria um conjunto de prósperas cidades comerciais sob o seu domínio político, principalmente da região de Flandres. A ruína causada pela guerra provocou grandes problemas aos camponeses franceses. A falta de recursos, os pesados tributos e as fracas colheitas motivaram as chamadas jacqueries. Nesse meio tempo, os camponeses da França se mostraram extremamente insatisfeitos com a dominação estrangeira promovida pela Inglaterra. Foi nesse contexto de mobilização popular 1
que a emblemática figura de Joana D’Arc apareceu. Em 1453, um tratado de paz que encerrava a Guerra dos Cem Anos foi
assinado. Por um lado, a guerra foi importante para se firmar o ideal de nação entre os franceses. Por outro, abriu caminho para que novas disputas alterassem a situação da monarquia inglesa.
A Itália: É formada por muitos pequenos estados que fazem, cada um, o seu próprio jogo. A situação, portanto, é muito fluida: vai modificar-se muitas vezes entre 1320 e 1620 No final do século XV iniciou-se, na Itália, uma leva de sucessivas invasões estrangeiras, em diversos locais. A França já estava fortalecida passa a ter ambições para com a Itália. Ainda durante o século XVI a Itália teve que suportar a passagem e a presença de soldados franceses, suíços, alemães e espanhóis. Apesar da presença espanhola e de seus esforços de dominação, os espanhóis que estavam na Itália, não conseguiram assimilar o milanês. O reino de Nápoles e a Sicília conservaram a língua, o patrimônio cultural e a individualidade que lhes eram próprios. A Alemanha: Fragmentada, entregue à guerra civil, conservava fronteiras relativamente estáveis que protegeram um capital cultural e uma espécie de consciência coletiva. Países Baixos: Perturbações por motivos religiosos – Os Habsburgos constituíram durante séculos, um agrupamento relativamente sólido devido ao forte interesse em germanizar as regiões periféricas, uma tentativa de criar um espírito de identidade ao local que pertence.
Os exemplos acima revelam o início de um caráter nacionalista.
A perda do domínio inglês sobre a França (Guerra dos Cem Anos), consequência do desenvolvimento, na França de uma consciência nacional, da qual Joana D’Arc foi intérprete, fez com que se inicia uma rivalidade entre franceses e ingleses. Tal rivalidade era expressa através de debates, que incitavam a superioridade dos seus países. É com uma análise desses debates que percebemos uma “consciência de si e dos outros que na época do Renascimento, surge na maioria dos povos europeus” p.43.
Essa compreensão explica determinadas noções que nascem na época moderna, como há noção de fronteira e de águas territoriais, (posteriormente, a reforma atuará como legitimador da reação do individualismo nacional). O individualismo é um dos traços distintivos do Renascimento, é percebido ao nível dos povos europeus, que ao diferenciarem-se e oporem-se uns aos outros de forma por vezes dramática, adquirem o sentimento de sua profunda originalidade, de sua lição geradora. O humanismo também contribuiu para o nascimento das nações europeias, pois ao utilizarem o latim renovado, acabaram por exaltar uma história nacional. Com isso se deu o nascimento de uma literatura nacionalista. Os humanistas não se contentaram em escrever em latim. Admiradores dos escritores antigos quiseram imitá-los e igualá-los, cada uma na sua língua. No século XVI, descobre-se na Europa, a vontade expressa de promoção das línguas vernáculas. É nesse século, que viu o decisivo erguer das literaturas europeias, esta vitória das línguas nacionais não se situa somente no cume da atividade intelectual, mas também na vida dos povos.
No momento em que se afirmavam as nações europeias, reforçava-se a unidade da civilização ocidental, dois fenômenos aparentemente contraditórios, e, no entanto, solidários cuja dialética é uma das maiores características do período do Renascimento. A descoberta e exploração dos mundos exóticos viriam, ao mesmo tempo, avivar as tensões entre os Europeus e precisar ainda mais a comunidade dos seus destinos. CAP.II A ÁSIA, A AMÉRIA E A CONJUNTURA EUROPEIA Panorama europeu: •
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A cristandade não tem chefe a quem todos aceitem se submeter. O papa e o imperador veem os seus direitos ignorados, não há respeito nem obediência. Cada vez mais o papa e o imperador atuam como figuras decorativas; Europa desunida devido as suas rivalidades internas; Os europeus (do ocidente) já aspiravam sair de seus territórios; (motivados pelas noções mitológicas de paraíso); Curiosidade europeia (como mostra o Livro das Maravilhas de Marco Polo); Espírito empreendedor dos Europeus, revelado antes das grandes expedições marítimas do final do século XV. As noções das dimensões oceânicas mudam, contribuindo para as naveg ações;
Apesar do encerramento da rota chinesa, os europeus não se desencorajaram das viagens ao Oriente e ao Extremo Oriente, vários homens se arriscaram a buscar novas rotas comerciais. O gosto do desconhecido e do mistério não podia deixar de atrair para fora da Europa, os temperamentos aventureiros. Todo um conjunto de mitos e de fábulas reforçou os mais audazes Ocidentais o duplo desejo de enriquecer e alargar o domínio da Igreja de Cristo. Narrativas fantásticas, principalmente relacionadas com o Oriente, ocuparam durante toda a Idade Média a imaginação dos Europeus. O cristianismo, por seu lado, foi também criador de mitos orientais. Não só colocava Jerusalém no centro do mundo – convicção partilhada por Cristóvão Colombo – e situava na Ásia o paraíso terrestre, de onde provinham os quatro maiores rios do mundo. É graças ao Renascimento, que os europeus tiveram um melhor conhecimento dos trabalhos e das concepções geográficas dos Gregos, também favoreceu as grandes viagens marítimas do Renascimento. A Cosmografia de Ptolomeu foi traduzida do árabe, e veio parar em mãos ocidentais. E a sua Geografia foi, finalmente, encontrada no princípio do século XV graças aos pesquisadores humanistas. Há uma estreita relação entre a ciência ptolomaica, as especulações escolásticas e a descoberta da América. As grandes viagens marítimas só puderam realizar-se mediante o concurso de muitas outras causas e circunstâncias que vieram reforçar o estado de espírito criado pela atração do longínquo, pela miragem das lendas e pelo recrudescimento do interesse pela geografia grega. Como progressos técnicos, podemos citar: a associação da agulha magnética com a carta de marear, o aperfeiçoamento do cálculo da latitude e a construção da caravela que podia navegar contra ventos contrários.
Tais progressos deram-se na altura em que a Europa sofria de uma crescente necessidade de ouro, prata, especiarias, perfumes e drogas. A guerra era cada vez mais dispendiosa por causa dos mercenários e da artilharia, em contrapartida, a sociedade ocidental era cada vez mais luxuosa. Sofria, porém, de uma carência crônica de metais preciosos, e daí o desejo de alcançar esses países fabulosos chamados Ofir, Eldorado e Catai. A necessidade de especiarias é explicada por vários aspectos, a alimentação, por exemplo, o cozinheiro só tinha acesso há uma variedade de molhos. As drogas e perfumes eram muito usados nas cerimônias religiosas, na farmacopeia, na luta de cada dia contra os maus cheiros e as epidemias. No fim do século XV, os portugueses pensaram que seria mais vantajoso evitar intermediários (os venezianos) e ir pessoalmente aos locais de produção. De resto, contornando a África, escapariam às ameaças turcas que enxameavam nas vias comerciais do Próximo Oriente. Essa expansão, não teve unicamente motivos materiais. Os portugueses procuravam derrotar o mundo muçulmano com o auxílio da Etiópia. Os espanhóis tinham a impressão de poder continuar além-mar o processo de reconquista já concluído na Europa. Após o contorno de Bartolomeu Dias (1487) do cabo da Boa Esperança, o caminho marítimo para a Índia e para o Extremo Oriente estava aberto aos portugueses (descobriram Madagáscar em 1501, construíram o seu primeiro forte na Índia). Os outros europeus, invejando os êxitos de Espanhóis e Portugueses, procuraram a noroeste uma passagem para o Extremo Oriente que não fosse dominada pelos Ibéricos. Assim se explicam as tentativas inglesas e francesas na América do Norte. A América: •
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Apesar do ouro das Antilhas, a América, a princípio, mostrou-se decepcionante e mais parecia um obstáculo colocado entre a Europa e a China, verdadeira meta dos navegadores europeus; Entre 1496, data da fundação da cidade de S. Domingos, e 1519, ano da fundação do Panamá e do desembarque de Cortez no México, existiu na América um primeiro império espanhol; Domínio espanhol sobre os astecas; Desbravamento em outras regiões ao norte e ao sul; (Florida, Grand Canyon, Guatemala, Honduras) Delumeau faz uma longa descrição do domínio espanhol, e exploração do ouro e prata. Enquanto os espanhóis já haviam explorado incas e astecas (ouro e pedras preciosas) os portugueses
iniciavam
uma
“modesta”
dominação no Brasil (explorando pau brasil).
Durante muito tempo, foi clássico ligar- se a prosperidade do “belo século XVI” ao afluxo de ouro e prata da América. O Peru e o México passam a fornecer plenamente a Europa com as
suas riquezas. Rapidamente os metais preciosos começaram a sair dos cofres espanhóis para alcançar outros países europeus. A Itália, muito ligada, a política e economicamente, à Espanha, virava-se para os metais preciosos americanos ainda mais que os Países Baixos e que a França. Engana-se quem pensa que o ouro e prata eram transformados apenas em moedas, esses metais estavam em grandíssimas quantidades nos templos, sob forma de vasos sagrados ou cálices, candelabros, cruzes, bastões, lâmpadas e principalmente cofres e relicários. A subida geral de preços do século XVI constitui um dos indicadores por meio dos quais eles procuram adivinhar e quantificar a expansão econômica da Europa na idade de ouro do Renascimento. A alta dos preços culminou em Espanha, em Itália, em França, nos Países Baixos, no fim do século XVI e no primeiro decênio do século XVII, no momento em que chegavam à Europa as maiores quantidades de metais preciosos peruanos ou mexicanos. É tentador e comum associarmos o aumento dos preços, graças a exploração de metais na América, e também ao desenvolvimento do crédito, o aumento geral dos negócios, o empolamento dos orçamentos militares, o recrudescimento do luxo e o esplendoroso florescimento artístico que caracterizam o século XVI. Inversamente, o século XVII, menos alimentado que o anterior pelas minas americana, cuja produção baixara, teria sido, no plano econômico, um período de recessão, ao passo que o século XVIII, alimentado pelo ouro do Brasil e pelo recrudescimento da produção de prata do México, teria sido, novamente, um século feliz. Esse esquema é clássico, que contém uma parte de verdade mas que convém matizar, corrigir, completar. No século XIII tinha-se visto na Europa Ocidental e Central um verdadeiro renascimento monetário, testemunhado pelo reatamento da cunhagem de ouro e mais ainda, talvez, pela entra em circulação dos grossos de prata, em Veneza, em Florença, em França, na Flandres, na Inglaterra e na Boémia. O século XIV e a maior parte do século XV caracterizaram-se, pelo contrário, por uma verdadeira quebra da produção europeia de prata. Ainda teve o declínio das explorações da Europa Central. Apesar da exploração de metais, feitas por Portugal, na África do Norte, o ouro não tinha como destino o comércio mediterrâneo, esse ouro foi utilizado para pagar o Extremo Oriente as especiarias, as pérolas, etc. O domínio lusitano do ouro africano não veio, pois, aliviar verdadeiramente a economia ocidental, que a partir de cerca de 1460 beneficiou com felicidade de um novo arranque das minas de prata da Europa Central .
Esse arranque se deu, graças aos progressos técnicos; Em uma análise profunda, Delumeau afirma que o regresso da prosperidade à Europa (1470- 1530), foi menos apoiado pelos tesouros da América que pela prata da Europa. Apesar da atividade mineradora europeia, o período que antecede as guerras da Itália é um período de moeda rara. Efetivamente o banco Médicis, estava em pleno marasmo, e Florença tinha poucos banchi grossi.
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A necessidade de metais monetários foi uma das causas das viagens de descoberta; A Europa Renascentista apesar da renovação econômica parece ter vivido constantemente acima dos seus recurso; Na metade do século XVI, a prata americana (que chegava à Espanha em quantidades maciças) passa a ocupar o posto da prata da Europa Central, agora em declí nio. CAP. III RENASCIMENTO E ANTIGUIDADE
O Renascimento definiu-se a si próprio como movimento em direção ao passado – característica aparentemente oposta à do nosso mundo moderno, a caminha do progresso. O Renascimento quis voltar às fontes do pensamento e da beleza. Petrarca é, indubitavelmente, o criador da noção de “tempos obscuros”, que viria a dominar
durante muito tempo a interpretação da história medieval. Qualificou de antiga a época anterior à conversão de Constantino e de “moderna” aquela que lhe sucedera e continuava ainda no século XIV. Petrarca foi considerado iniciador da revolução intelectual do Renascimento, restaurador daqueles studia humanitatis pelos quais o homo ferus (homem selvagem) chega aos valores da civilização. Quando, a partir do fim do século XV, o movimento humanista alcançou os países transalpinos, também fora da Itália foi adotada a noção de um renascimento literário obtido por meio do regresso aos autores da Antiguidade. O termo Renascimento tem uma ressonância estética, devido aos humanistas e artistas da é oca.
Delumeau afirma que era evidente para os italianos esclarecidos do século XV que a sua época vira a arte renascer das cinzas. Isso mesmo o afirmava também os humanistas de nomeada ao sublinhar o sincronismo dessa ressurreição com a das belas artes. “É sem dúvida um século de ouro, que trouxe à luz as artes liberais, anteriormente quase destruídas: gramática, eloquência,
pintura, arquitetura, escultura, música. E tudo em Florença”. p.86 Vasari definiu 3 períodos da Arte Renascentista: 1. Século XIII - Os artistas toscanos abandonam o velho estilo, e começam a copiar os Antigos com vivacidade e inteligência; 2. Século XV – (nomes como: Brunelleschi, Masaccio, Donatello) procuravam principalmente imitar a natureza; 3. Século XVI – período de perfeição, a arte realizou tudo que é permitido a um imitador da natureza e se elevou tão alto que, hoje, é mais de recear o seu declínio que esperar novos progressos.
As recordações da Antiguidade tinham sido, na península e durante a Idade Média, mais numerosa e mais viva que em qualquer outro lado. Pelo contrário, foi em França que a arte gótica mostrou os seus mais belos lampejos. Seja como for, era tal o prestígio da arte italiana na Europa desde o início do século XVI, que se adotou sem grande dificuldade do lado de cá dos Alpes a concepção humanista, e, portanto, italiana, do renascimento das artes. NOTAS •
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O termo Renascimento, é para o historiador um testemunho sobre a consciência que uma época teve de si própria; Os homens do Renascimento simplificaram a História, porque a Id. Média nunca perdera completamente o contato com a Antiguidade. Séculos XI e XII – retomada dos estudos clássicos, O humanismo nascente não receava em beber nas compilações medievais referentes à Antiguidade, Cosmopolitismo do renascimento: O renascimento não pode ser considerado movimento de um único lugar.
OBS.: O gótico transalpino (ex: de Flandres), apesar das negações dos humanistas e de Vasari, era uma forma de cultura viva e criadora, ou seja, não havia se esgotado com o medievo, sua sobrevivência deveria ser longa. Não podemos negar ou abstrair a cultura de outrora, e nem provocar uma equiparação entre umas e outras ambas foram importantes, ambas tiveram o seu apreço. Na realidade, o gótico transalpino contribuiu, a seu modo, para criar a arte do Renascimento, é claro que isso não tira o papel de vanguarda, de inovação que a Itália exerceu. A arte ocidental era no fim da Idade Média largamente internacional e sofria forte influencia de Flandres e da França, a música também era internacional, mas seu papel principal foi desempenhado pelos flamengos e não por italianos. ARTE → A técnica da pintura a óleo é nortista, foi criada por flamengos, → Não se pode atribuir unicamente aos Florentinos a descoberta
da perspectiva. → Na época que Florença comercializava ativamente com Bruges,
ambas as escolas artísticas se influenciaram reciprocamente, procurando ambas situar o mundo exterior em relação ao homem: atitude humanista como nenhuma outra. → Interesse pelo homem, pelo seu corpo, pela sua face.
- Influências flamengas na arte renascentista portuguesa, - A Alemanha, no fim da Id. Média se tornou para os Países Baixos, um centro artístico importante, mas que depois foi afetado pelas
→ As tendências artísticas: caminhos do idealismo, realidade quoti -
diana. → Os pintores foram levados a interessar -se pelos traços individuais, → Uso da representação dos doadores em quadros (integrando-os aos quadros). → Pintura com cavalete. Uso da iluminação nas pinturas, → Graças ao cavalete, a arte do retrato passou a seu um gênero autônomo; → Flandres: dedicou-se antes da Itália ao retrato de frente ou a três quartos, →Florença: preferiu o perfil, valorizando a linha, fazendo ressaltar a distinção dos jovens aristocratas
toscanos, Nas pinturas, abordagem da natureza, interesse científico por ela. → O século XV reintegra mesmo nas obras religio sas, o mundo dos homens, com as suas misérias e as suas deformidades e fealdades. → O artista também poderia representar a si próprio em suas obras.
O Renascimento foi, no seu mais profundo movimento, um regresso ao homem , teremos imediatamente de concluir que os retratistas do século XV foram grandes humanistas e autênticos promotores da cultura nova. →
→ Os
homens renascentistas, tiveram a impressão de a Itália lhes fazer uma libertação, uma civilização superior – especialmente porque lhes transmitia os valores há muito esquecidos, do mundo antigo. Essa impressão não era ilusória. Mas a Antiguidade não fora apenas romana, e daí um interesse pelo grego, interesse favorecido pela vinda para a Itália, ainda antes da conquista de Constantinopla pelos Otomanos, de viajantes e refugiados bizantinos. Enviados do cardeal Bessarion percorreram o mediterrâneo em busca de manuscritos gregos. →
→ Traduções de Aristoteles e de Platão. Apoio aos estudos platônicos.
O conhecimento do hebraico, entre os Ocidentais na Id. Média, era ainda mais raro que o conhecimento do grego. Durante longo período, a cultura judaica foi como um livro fechado para os cristãos. →
O humanismo que procurou o regresso às origens em todos os domínio, é o grande responsável pela renovação dos estudos hebraicos, tal como o é pelos estudos gregos. Ambas as renovações são solidárias uma da outra e tiveram como denominador comum o desejo de retomar o contato direto com a Escritura. Foi à Itália humanista que deu a cultura hebraica esplendor internacional. Assim a mística da Cabala passou a ser uma das componentes da cultura religiosa e filosófica do Renascimento. →
Homo trilinguis (latim, grego, hebraico): A restituição da dignidade, a uma escala nunca vista, as três grandes literaturas antigas foi, pois, uma realidade na época do Renascimento. A este respeito, o humanismo e a imprensa estiveram lado a lado apesar de a imprensa ter, nessa altura, difundido um número considerável de obras que não refletiam a nova cultura: almanaques, romances de cavalaria, vidas de santos. →
A descoberta, graças à arqueologia, da Roma Antiga no Renascimento foi de incalculável importância para a cultura e arte europeias. →
Buscava na antiguidade ornamentos para decoração. O renascimento foi além do cenário e das aparências greco-romanas. Fez triunfar o nu na pintura e na escultura – procurou harmoniosas proporções do corpo humano. →
A insuficiência da cultura histórica do Renascimento foi causa de erros. Em resumo, os humanistas otimistas basearam numa cronologia defeituosa uma das teses-mestras do Renascimento: aquela que afirmava haver um fundo de verdade religioso comum a todos os povos e que Caldeus, Persas, Gregos, Egípcios e Judeus antigos tinham possuído os elementos essenciais da Revelação. Os homens dos séculos XV e XVI consideraram, portanto, a Antiguidade como um todo, Não deram suficiente atenção ao facto de ela ter durado mais de mil anos. E do mesmo modo ignoraram quase completamente a arte da época de Péricles e a evolução das ordens. Para eles, a escultura antiga era a do período helenístico. →
Os homens do Renascimento, portanto, aliavam de modo bastante espantoso a admiração pelo mundo greco-romano a uma falta de respeito por vezes muito evidente para com as →
obras legadas pela Antiguidade à posteridade. De um ou de outro modo, tiveram vontade de fazer melhor que ela, e muitas vezes tiveram consciência de o ter conseguido. Inspirar-se nos Antigos para fazer coisas novas, eis o propósito. Assim pelo menos nos grandes artistas do Renascimento, a imitação da Antiguidade nunca foi servil. →
Os artistas do Renascimento possuíam uma técnica superior à dos Antigos e não ignoravam este fato. Os pintores da Grécia e de Roma não utilizavam a pintura a óleo, embora encausticassem painéis de madeira. →