A ideia de liberalidade artística: Dos alicerces à Estética Renacentista
Durante a Antiguidade a arte era considerada o produto do trabalho dos artesãos, tinham o domínio da técnica e eram possuidores de habilidade, geralmente de carácter manual, e consideravam-se estas características para definir um largo leque de artificies que iam dos arquitectos, pintores, escultores, tecelões ou carpinteiros eram todos aqueles que ligados á techné conjugavam habilidade com conhecimento e seguiam um conjunto de regras para atingirem um produto com determinados requisitos. É já neste período que se tenta uma divisão das artes, atendendo aos factores predominantes: trabalho físico para artes mecânicas e trabalho intelectual para artes liberais. Séneca (4 a.C. – 65 d.C.), vem preencher o conjunto das artes liberais com a gramática, a geometria, a astrologia, a matemática, a médica e a música conferindo a estes saberes um valor humano superior e relevando para um plano inferior todos os outros ofícios. Marciano Capella (450 d.C -534 d.C.) vem aplicar o conceito de artes liberais às disciplinas do
Trivium
e do
Quadrivium
respectivamente a gramática, a retórica e a lógica
ligadas à palavra e as ligadas aos números , a aritmética, a geometria, a música e a astronomia. Esta divisão torna-se importante porque vai manter-se até à idade moderna, não significando isso que esta temática não tenha sido abordada ao longo de todo este período porque na realidade ela encontra-se directa ou indirectamente presente nos estudos de pensadores tão importantes e ideologicamente tão distantes como sejam Dante e São Tomás de Aquino. É já no final da idade média que o pintor Cennino Cennini (1360-1440) vem colocar a questão da liberalidade artística em relação, em especial, à pintura. Ele centra a questão não na obra produzida mas sim no conceito de autor, no seu tratado ele comenta Giotto (12661337) que foi considerado o precursor da pintura renascentista, que muito para além de um “artesão” foi essencialmente um historiador e um inovador, actividades que se coadunavam
mais com a actividade intelectual e menos com a actividade física. Passa-se a fazer uma nova abordagem, com a chegada do Renascimento, do artista com habilidade e conhecimentos técnicos passa-se para o conceito de indivíduo de valor
intelectual, de criativo, inventivo e são esses factores que condicionam a produção da arte e a definem como actividade exercida por homens liberais e vem conferir liberalidade artística a sectores como sejam a pintura, a escultura ou a arquitectura. No fundo a estética Renascentista acaba por ficar definitivamente marcada pelo trabalho de pintores, arquitectos e escultores que neste período conseguem aquilo a que podemos apelidar de “carta de alforria” .
Bibliografia Gonçalves, Carla A. Estética e Teoria da Arte Referências http://socialarte1.blogspot.com/2006/11