Introdução Este trabalho em sua primeira etapa se constituiu de uma observação de um bebê, que como segunda etapa, se converte neste relatório. Na observação procura-se dar ênfase a relação mãe-bebê, aos hábitos da criança, relacionando posteriormente com a base teórica que tivemos nas aulas de Psicologia do Desenvolvimento. Abordaremos aspectos do conteúdo como o objeto transicional, fases do desenvolvimento, complexo de Édipo, relação com o mundo externo, desenvolvimento físico e motor, entre outros assuntos que podem ser levados em conta.
A observação Nossa dupla escolheu uma criança para a observação que não tivesse contato, ou seja, não conhecesse para que não houvesse influências que tornasse a observação equivocada. A criança chama-se Maria Cecília, sua idade é de 1 ano e 1 mês. Sua mãe tem 30 anos. Ao chegar na casa desta família nos deparamos com uma surpresa, um irmão de quase 4 anos que acabou interferindo na observação. A maior parte da observação foi feita na sala, com Maria Cecília no colo da mãe, e o irmãozinho ao redor. Porém observamos também uma troca de frauda, feita no quarto. Neste contexto, começamos nossa observação: - A criança foi planejada, porém veio alguns meses antes do planejado impedindo a mãe de fazer uma viagem nas férias. - Por a mãe não ter leite, Maria Cecília não foi amamentada no peito, apenas por mamadeira. - O irmão se tornou agressivo assim que a irmã nasceu. Em contrapartida, passou a aceitar mais carinho dos pais. - Existe uma ligação muito forte entre mãe e filha, acreditamos ser devido ao fato da mãe não trabalhar fora e sempre estar presente quando a filha precisa até agora. - Há um tempo atrás tinha costume de colocar tudo na boca. - Não há evidências de um objeto transicional, além do bico (ela sempre dorme com ele, a não ser que esteja muito cansada). - Fala apenas algumas sílabas, mas já consegue se dirigir aos pais, empregada e irmão. - Não permite que o irmão brinque com a mãe. - Consegue ficar em pé, porém, não gosta de andar, apenas engatinha. -Tenta agarrar tudo que vê. - Tem uma postura possessiva: “tudo é dela” - Existe uma tentativa exagerada de chamar a atenção por parte de Maria Cecília ( gritos). - Grande ausência do pai, devido a viagens a trabalho.
- Muito ciúme com o pai, de ambos os irmãos. - Maria Cecília vai para o colo de poucas pessoas. - Aquilo que Maria Cecília tem ela não gosta. O divertido é o do outro. - Dorme com a mãe ao lado, e ás vezes na cama dos pais. - Toma banho com a mãe e o irmão.
Desenvolvimento Emocional Primitivo No ínicio de seu desenvolvimento emocional, todos os bebês passar por um momento psicótico. Winnicot falou sobre o foco do método de análise que se usa em pacientes adultos psicóticos: seus relacionamentos com outras pessoas e suas fantasias. Logo veio o estudo e a análise de relacionamentos ainda mais primitivos, os relacionamentos objetais. O bebê mais novo está mais interessado no modo como é cuidado do que nas pessoas que o cuidam. Os que ainda não tem seis meses não são seres individualizados(se misturam com o mundo externo). Até certo ponto, o desenvolvimento emocional é dependente do físico, e vice-versa. Percebemos isso em Maria Cecília, pois ela está em idade de maturação física no detrimento de poder andar, mas ela não gosta de andar e portanto apenas consegue ficar em pé com muita insistência da mãe. Provavelmente algum fator emocional a está impedindo de ter essa conquista física. Existem 3 processos que ocorrem muito cedo no decorrer do desenvolvimento emocional, de acordo com Winnicot: integração(do eu, importante para que não ocorra a dissociação), personalização(saber que está em si mesmo) e a realização(contato com o mundo real, o mundo ao redor de si). Após os seis meses de idade que existe a partir do bebê uma interpretação do mundo ao seu redor, e até mesmo o reconhecimento da existência da mãe como ser individual. É por exemplo, no momento da amamentação, que ocorre o primeiro contato do bebê com algo externo a ele. Maria Cecília não teve este momento, pois não foi amamentada pela mãe, e sim por mamadeiras. Com certeza isso a afetou em seu relacionamento com o mundo externo. O bebê precisa que a mãe traga a ele nessa fase inicial um pouquinho do mundo externo, portanto, ele precisa de atenção praticamente integral. Essa atenção também é extremamente importante para a fase do relacionamento objetal impiedoso, onde o bebê vai precisar de muita compaixão e paciência da mãe. Mas existe um estágio ainda mais primitivo que esse, a retaliação primitiva. Um exemplo seria chupar o dedo, e até mesmo a chupeta. Acaba se consistindo numa útil dramatização do relacionamento objetal primitivo, onde o objeto é tanto o indivíduo quando o desejo pelo objeto. Maria Cecília tem um bico que não larga praticamente, só dorme sem ele quando está muito cansada. Essa situação pode ser uma forma de lidar com a falta de controle total do objeto, que seria sua mãe. A integração do Ego Para que ocorra saudavelmente a integração do ego, é necessário que a mãe saiba se portar como um ego auxiliar, como uma base para o filho lidar com suas ansiedades e suas pequenas incursões ao mundo real. Quando a mãe é suficientemente boa, isso possibilita ao novo ser humano construir uma personalidade no padrão da
continuidade existencial. O que é fundamental para que a independência do bebe seja plausível. Maria Cecília tem um ano e ainda não dá sinais de alguma independência da mãe. A qualquer momento que percebe que a mãe a deixa, começa a chorar e a chamar sua atenção. Será que Maria Cecília está tendo uma integração psiquicamente saudável? Objeto Transicional Os objetos transicionais são a primeira posse não-eu do bebê. Em certa medida, tais objetos vêm para ocupar o lugar da mãe integralmente presente. Na época do surgimento do objeto transicional, a mãe já não tem dedicação total ao bebê como quando ele é mais novo. Portanto, ele surge como conforto a essa nova situação. Ele até mesmo pode representar o seio da mãe. Esse objeto se torna de vital importância para a criança, que o usa para dormir, como defesa contra a ansiedade, especialmente a depressiva. Porém, ás vezes, não há um objeto transicional. Quando a mãe não deixa de ocupar seu lugar de dedicação total a criança, obviamente ele não terá necessidades de procurar algum conforto em sua realidade externa. Achamos que essa possa ser a atual situação de Maria Cecília, afinal de contas a mãe ainda dá dedicação quase que total a ela, mesmo tendo um irmão de quase quatro anos. Complexo de Édipo Complexo de Édipo verifica-se quando a criança atinge o período sexual fálico na segunda infância e dá-se então conta da diferença de sexos, tendendo a fixar a sua atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto no ambiente familiar. Para Maria Cecília, seu complexo de Édipo estaria voltado para o pai. Claro que ela ainda é nova e seu complexo de Édipo está apenas numa fase inicial(se realmente está ocorrendo), quem sabe num primeiro momento, quando busca ser o desejo do próprio desejo do pai. Desenvolvimento Físico, Perceptivo e Cognitivo O processo de crescimento é um processo muito organizado, com uma evolução apontada pelos genes, porém com grande abertura na qual se inserem as influências do meio. É importante ressaltar que apesar de existir um comportamento universal esperado para cada fase que a criança passa e com uma ordem já estabelecida e previsível, há uma possível discrepância quando se observa algumas crianças devido a diferenças individuais, pois cada um tem uma história de vida, e sofreu influências e estímulos distintos. Dentre os fatores que mais influenciam o desenvolvimento humano estão: Hereditariedade, Crescimento Orgânico, Maturação neurofisiológica e meio social. As experiências iniciais podem produzir efeitos duradouros, todavia, nem todas as primeiras experiências afetam as pessoas de uma forma permanente. É isso que
fomos observar e o que de fato percebemos no encontro com Maria Cecília. Sua mãe não conseguiu amamentar o primeiro filho, então na vez de Maria Cecília não forçou, apenas a amamentou poucos dias. É de conhecimento geral que a amamentação no peito é de fundamental importância para o bebê (proporciona a criança os anticorpos necessários contra infecções e apresenta a probabilidade de expor o bebê a menos infecções) e que deixar de fazê-la pode afetar o processo de crescimento. Porém olhando este fato isolado não podemos dizer Maria Cecília ficará com o desenvolvimento comprometido. Há outras influências neste momento que contam muito. Mesmo não sendo amamentada no peito, sempre teve uma mãe presente, que lhe deu muito amor e carinho e não a privou de outros aspectos (psicológicos ou físicos). Assim hoje Maria Cecília é uma criança saudável, que apresenta um desenvolvimento coerente com sua idade. Segundo a Teoria de Estágios de Piaget o pensamento desenvolve-se na mesma seqüência em todas as crianças, assim como há momentos para cada característica surgir. Piaget enfatiza a hereditariedade no desenvolvimento, e afirma que os ambientes social e físico afetam apenas o momento de ocorrência de marcos específicos. A Criança que observamos, se considerarmos a Teoria de Estágios de Piaget, estaria no Estágio Sensório-motor. Este período se estende do nascimento até os dois anos de idade, onde a criança conquista o universo que a circunda mediante a percepção e os movimentos (como a sucção, o movimento dos olhos, por exemplo). Os bebês entendem suas experiências pela visão, tato, paladar, olfato e manipulação. Ou seja, elas utilizam o sistema sensorial e motor. Aprendem nesta fase que as visões, os sons, toques, gostos, fornecem informações relacionadas sobre o mesmo objeto. Também aprendem a direcionar o comportamento para objetivos específicos. Tomando Maria Cecília como exemplo, ela tirava a caneta da mão de sua mãe quando esta iria fazer desenhos para seu irmão, pois sabia que assim impediria que a mãe desenhasse e continuaria com a atenção apenas para ela. Uma brincadeira que fizemos com Maria Cecília durante a observação foi de escondermos o rosto com as mãos, e em seguida destapar o rosto. A bebê pareceu se divertir muito com essa brincadeira, acredito que devido a surpresa que tinha quando repentinamente aparecíamos. Para ela se não estava nos vendo, era porque não existíamos. Ainda não desenvolveu a noção de permanência do objeto que faz a pessoa entender que objetos existem mesmo quando não estão em nosso campo de visão. Essa habilidade de conservação do objeto é criada neste Estágio Sensório-motor, porém Maria Cecília tem apenas um ano, e terá segundo a estimativa desta teoria até os dois anos para atingir normalmente esta noção. Os recém-nascidos parecem já nascer com uma preferência pela voz da mãe. Reconhecem rapidamente seu cheiro e o preferem a o de outras mulheres. Nesta
época o bebê faz contato visual, balbucia e sorri mais acentuadamente na presença dos pais. E essa manifestação de afeto encanta os pais, fazendo com que o relacionamento entre pais-bebê se fortifique cada vez mais. Um pouco mais tarde o bebê amplia seu vínculo inicial para outros membros da família. É também nessa época que muitos apresentam medo de estranhos. Atualmente, os psicólogos atribuem esse medo com experiências passadas do bebê com outras pessoas. Maria Cecília, foi bem simpática conosco em nossa visita, pegava objetos na mesa e nos oferecia, e ficava feliz ao aceitarmos, isso enquanto estava no colo de sua mãe. Pois quando estávamos indo embora fizemos menção de pegá-la no colo, e ela se afastou, não queria. Sua mãe nos contou que ela não vai ao colo de pouquíssimas pessoas. O Desenvolvimento físico funciona a base de um progressivo e paulatino acúmulo de mudanças que vão transformando o corpo e suas características. Este desenvolvimento obedece a uma ordem de evolução. A criança consegue primeiro manter ereta sua cabeça, e só depois passa a conseguir sentar, e na seqüência, engatinhar, andar apoiando-se, e então caminhar. Durante o primeiro ano de vida o cerebelo aumenta consideravelmente o qual é responsável pelo equilíbrio. Relacionando esse aumento do cerebelo, aos progressos ao longo deste primeiro ano que referem- se ao controle postural e ao equilíbrio. Para a idade de Maria Cecília já era esperado que ela andasse sem ajuda, entretanto ela na maior parte das vezes engatinha, demonstra uma resistência para andar, pois mesmo conseguindo ficar de pé ela não gosta de andar. Aproximadamente aos 12 meses ocorre uma maturação importante em áreas do cérebro relacionada ao desenvolvimento da linguagem, que está relacionada aos avanços que ocorrem na conduta lingüística nesses meses. Observamos que Maria Cecília apesar de falar poucas sílabas, já consegue se dirigir para mãe, pai, irmão, empregada. É interessante lembrar que as crianças entendem (linguagem receptiva) antes de serem capazes de falar. Então é imprescindível que os pais, ou outro responsável por cuidar estimule a criança a se acostumar com as palavras. Maria Cecília, assim como crianças de sua idade, apresenta um amplo desenvolvimento em pouco tempo, pois as mudanças no sistema nervoso são extremamente rápidas nesses dois primeiros anos. O desenvolvimento de dendritos e sinapses está no seu auge, a redução ocorrerá aos 24 meses, quando a mielinização das fibras nervosas costuma completar-se. Para Piaget, o ponto de partida de todo processo de Desenvolvimento Cognitivo são as assimilações das informações que chegam ao conjunto limitado de esquemas que o bebê nasce (olhar, ouvir, sugar, segurar), e o modo como acomoda tais esquemas a partir de suas experiências. Dentro do Período Sensório-motor, Piaget classificou 6 subestágios. No subestágio 5, que chama-se Relações circulares terciárias e vai dos 12 a 18 meses, podemos encaixar Maria Cecília. Neste subestágio começa a
experimentação, em que o bebê tenta novas maneiras de brincar com os objetos ou manipulá-los. Ocorre uma exploração bastante ativa e intencional, por tentativa e erro. Notamos que a criança que observamos tenta pegar tudo que vê pela frente, e tem um gosto pelas coisas que não são dela. Há poucos meses, segundo o que nos relatou sua mãe, ela parou com a mania de por tudo na boca. Agora se acentua essa vontade de mexer em tudo, descobrir, manipular.
Bibliografia
Introdução à Psicologia (Capítulo 10, O início da concepção à infância) Wikipédia Da Pediatria á Psicanálise, D. W. Winnicot Cap 4 – A Integração do Ego no Desenvolvimento da Criança(Xerox) Psicologias, Ana Merces Bahia Bock - Odair Furtado - Maria De Lourdes Trassi Teixeira Capítulo 2 - Desenvolvimento Físico e Psicomotor na Primeira Infância, Jesús Palacios e Joaquín Mora. O Ciclo Vital, Helen Bee