UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
Fichamentos para a disciplina Moderna I
Vanessa de Oliveira Senos
Juiz de Fora Junho/2017
Fichamento: DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento . Vol. 1. Lisboa:
Estampa, 1994. Cap. 9. Mobilidade social ricos e pobres
“A época do humanismo viu a concentração de dois aspectos aparentemente opostos da civilização ocidental: a afirmação das individualidades nacionais e a intensificação das trocas entre os países. ” (P.277) “Mais interessante ainda que esta mobilidade ocasional é a emigração, muitas vezes silenciosa e pouco visível, para as grandes cidades” (P.278) “Na verdade, como haviam as cidades europeias de ter aumentado na época do Renascimento, com a forte mortalidade urbana devida às epidemias, se não fosse a pinção demográfica das populações rurais? ” 278 “Ora as cidades eram frequentemente devastadas por pestes mortíferas. Aquela que atingiu Londres em 1603 ter-lhe-ia tirado 15% da população: daí a necessidade de preencher as bagas e reforçar, pelo menos momentaneamente, a imigração. ” (P.278) “Em que medida foi esta mobilidade física, ou horizontal, acompanhada de uma mobilidade vertical? ” 279 “Mas eram-lhes oferecidas certas possibilidades de escapar à sua anterior condição – possibilidades que estavam sob algum dos títulos seguintes: Igreja, bens fundiários, comércio, ofícios, emigração para colônias. ” (P.279) “Houve nessa época uma grande redistribuição de fortunas. ” (P.279) “Plantin representa perfeitamente a classe média do século XVI e não há dúvida de esta classe média ter aumentado numericamente durante o Renascimento, ao mesmo tempo que iam aumentando as populações urbanas. Todas as cidades de alguma importância albergavam uma multidão de artesãos, lojistas, vendedores a retalho, funcionários municipais, notários, intermediários diversos, médicos, boticários e clérigos. (P. 279) “A opinião pública que eles constituíam levou os soberanos ao mecenato, que gradualmente se tornou necessidade política. Mas o Renascimento marca o momento em que os príncipes e a aristocracia – esta, de resto, permanentemente renovada por elementos vindos da burguesia – compreenderam a lição que lhes chegava de baixo e se embrenharam na via da cultura. ” (P.280)
“A Europa do seu tempo não tinha bastantes cidades nem bastantes grandes cidades. Seja como for, a burguesia foi, essencialmente, um estádio de transição ou ainda, um mundo em perpétua reorganização (R. Boutruche) ” (P.280) “É verdade que os nobres, antigos ou novos, conhecem por vezes o esgotamento do seu inicial dinamismo; não estão ao abrigo das variações da conjuntura, no empobrecimento ocasionado pelos gastos de guerra, das modificações políticas. ” (P.281) “Assim, o Renascimento conduziu, em Veneza como na Inglaterra, em Espanha como na Alemanha, onde a Hansa e as burguesias urbanas se afundaram, a uma retumbante consolidação da nobreza. ” (P.282) Os monarcas absolutos domesticaram a nobreza renovando-a, mas nunca pensaram que o trono pudesse dispensar o círculo formado por uma brilhante aristocracia e apressaram-se a juntar às famílias mais ilustres os burgueses, que faziam ministros. ” (P.282) “Também na América os recém-chegados se reservam grandes extensões territoriais. ” (P.284) “Entre o novo senhor e o camponês estalavam assim querelas judiciais que estes perdiam, vendo-se obrigados a sair das aldeias. ” (P.284) “Seria interessante um inventário dos factos que permitem apreciar o alargamento do fosso entre ricos e pobres, tanto na cidade como no campo. ” (P.285) “Os papas posteriores ao concílio de Trento, e antes deles, santos como Inácio de Loyola, esforçaram-se por lutar contra esse mal em Roma. ”(P.286) “Em toda França do século XVI se afirma um movimento que tende a excluir das assembleias eleitorais das cidades e das funções municipais as pessoas mecânicas e de baixa condição. ”(P.287) “Situa-se nos meados do século XIV um momento decisivo da história do vestuário, quando os homens abandonaram, a não ser para exercício de certas profissões – clero, magistratura, etc. - o vestido longo e solto que até então fora comum a ambos os sexos” (P. 288) “O luxo do vestuário é contagioso e, com ele, a nobreza atraiu a si todos aqueles que, de um ou de outro modo, podiam esperar vir um dia a entrar nessa camada superior da sociedade” (P.290) “Foi apenas no século XVIII, na época da Europa francesa, que a cozinha se orientou para menor quantidade e maior requinte.” (P.291)
“Assim, as classes médias bem puderam aumentar numericamente entre os séculos XIV e XVII; nem por isso deram ao Renascimento a nota dominante, que foi aristocracia, tanto o esplendor das cortes e da vida dos grandes contrastava com a mediania dos comuns e com a miséria dos proletários. ” (P.293)
Fichamento: RUDÉ,
George. A terra e o campesinato. In: A Europa no século
XVIII: a aristocracia e o desafio burguês. Lisboa: Gradiva, 1988. (Parte I: caps. 2 e 3) A terra e o campesinato
“No século XVIII a terra representava ainda a principal fonte de riqueza para todos os estados europeus, e era da terra que a maior parte dos Europeus retirava os seus rendimentos. ” (P.35) “A paisagem agrícola, variava não apenas segundo o solo, o clima e a situação geográfica, mas também, posto que nalgumas zonas mais nitidamente do que noutras, segundo a organização social e política e a resposta das comunidades rurais a uma subida ou descida dos preços. ” (P.36) “Para nossa conveniência, podemos dividir esta paisagem em quatro áreas principais de cultivo, que se distinguiam de um modo geral pela natureza das colheitas ou do gado e pelos tipos de agricultura nelas praticados. “ (P.36) “Esta é uma forma de observar o mapa agrícola e rural da Europa do século XVIII. Contudo, para o historiador político e social e para o leitor comum, talvez seja mais proveitoso examinar mais de perto as características que opunham o Oeste da Europa, em vias de desenvolvimento, e o Sul, estagnados ou desenvolvendo- se mais lentamente. “ (P.38) “A essência dessa revolução não consistiu, como no caso da Revolução Industrial, na introdução de maquinaria, mas no recurso a uma mais flexível rotação de culturas, entre as quais se contavam raízes, leguminosas, luzerna e trevo, que não apenas enriqueciam e melhoravam o rendimento global da terra como ainda proporcionava uma melhor e mais abundante f orragem para o gado. “ (P. 39) “O obstáculo fundamental ao desenvolvimento era o antigo sistema de open field, que consistia em dividir a terra em faixas dispersas, cultivadas em comum pelos aldeões
em ciclos bienais ou trienais, o que como consequência que grande parte das terras aráveis ficassem em pouso durante longos períodos. “ (P.39) “Contudo a necessidade imediata e mais premente era a de encontrar meios eficazes que possibilitassem a eliminação do sistema do pousio, substituindo-o por uma rotação contínua de culturas. “ (P.39) “Em Inglaterra a revolução, que foi em grande medida impulsionada pela iniciativa privada, seguiu quatro linhas principais de desenvolvimento. Estas corresponderam à medidas tomadas para melhorar o rendimento do solo, obviar o desperdício resultante do open field, transformar os baldios e os pântanos em terrar de cultivo e produzir e alimentar gado ovino e bovino de engorda. “ (P.40) Enquanto em Inglaterra a iniciativa para melhoramento partiu em grande parte de empreendedores agricultores e criadores de gados, em França ficou a dever-se aos esforços conjuntos de nobres inovadores ansiosos por retirar rendimentos da terra, fisiocratas que acreditavam que a terra era forte de toda a riqueza e do próprio governo que, em 1761, criou um Departamento de Agricultura e incentivou a formação de sociedades locais para difusão das novas ideias. “ (P. 41) “Era, sem dúvida, necessário ter em conta a hostilidade do campesinato: a abolição dos direitos de pasto e da posse intercomunitária de prados constituía uma séria ameaça a uma pratica aldeã estabelecida e venerada, enquanto a divisão das terras comunais, apesar de favorecer alguns, prejudicou outros, incluindo proprietários de terras e lavradores endinheirados. “ (P.42) “Porém, basicamente, como defende Marc Bloch, foi a tenacidade dos pequenos e médios proprietários independentes, os laboureurs, para conservar as práticas antigas contra as perigosas inovações o facto que desequilibrou a balança, forçando o governo a deter-se. “ (P.43) “Desse modo, as reformas das décadas de 1760 e 1770 levadas a cabo em França, ao contrário das realizadas em Inglaterra, deixaram relativamente poucas marcas ; “ (P.43) “Em alguns outros países existiam também bolsas de processo. Por exemplo, na Dinamarca, onde imigrantes holandeses ligados à indústria de lacticínios introduziram novos métodos de alimentar e criar porcos e aves de capoeira, as novas empresas, chamadas Hollaenderier em honra dos seus fundadores, constituíram os alicerces da próspera indústria de lacticínios dinamarqueses do futuro. “ (P.43) “Na prática, porém, estas medidas não se revelam muito eficazes, dado que os hábitos e as tradições estavam demasiados arreigados e, além disso, havia ainda a
resistência dos proprietários de terra que achavam os métodos tradicionais mais uteis para vincular os camponeses à terra, ou ainda os obstáculos de natureza geológica e climática. “ (P.44) “Noutras partes da Europa, como na Rússia e Polônia e na Península Italiana a sul do Pó, tanto a perpetuação de formas obsoletas de organização social como os obstáculos impostos pela Natureza constituíram importantes barreiras ao progresso. “ (P.45) “Estas fronteiras entre um Ocidente em vias de desenvolvimento e um Leste e Sul tradicionais e estagnados correspondiam, de um modo geral, as que separavam os países de pequenas propriedades dos de grandes explorações rurais. “ (P.46) “Na primeira metade do século, para se merecer a qualificação de homem rico, era necessário possuir pelo menos 1000 servos. “ (P.47) ”À medida que a revolução agrícola avançava, com o melhoramento do sistema de drenagem, a construção de sebes e valados e a proliferação das enclosures, os pequenos proprietários viram-se obrigados a vender as suas terras e assim as grandes explorações cresceram tanto em tamanho como em riqueza. “ (P.48) “No decorrer deste processo de revolução, consolidação e expansão for emergindo a sociedade rural moderna, com desaparecimento do yeoman freeholder (pequeno proprietário rural livre) e o camponês, e a divisão tripartida em grandes latifundiários, agricultores abastados e jornaleiros. “ (P.49) “No entanto, a dimensão das propriedades, o número dos grandes proprietários e pequenos produtores, os tipos de cultivo ou de gado criado, a organização e os métodos de cultivo constituem apenas uma pequena parte da questão. “ (P.50) “Seria, pois, imprudente generalizar, a não ser um ponto: a situação legal do camponês, a qual tinha muito a ver com a sua posição na comunidade, mesmo que fosse pouco reveladora do seu nível de segurança ou bem- estar material. “ (P.51) “A única excepção importante a esta nítida antítese Leste -Oeste era o reino da Dinamarca, onde, apesar dos esforços tendentes a libertar os camponeses em 1702, a servidão continuou a existir até aos finais do século. Na realidade, tal como no Leste, a servidão aumentava em vez de diminuir. “ (P.52) “Apesar desta excepções, a servidão pessoal diminuía no Ocidente, embora subsistissem numa escala muito maior obrigações e tributos que vinculavam à terra e eram remanescentes de um antigo sistema feudal ou senhorial de exploração da terra. “ (P.53)
“A leste do Elba, contudo, o que se verificava não era tanto uma situação de serviços e obrigações ocasionais, mas uma contínua e quase total falta de liberdade, que variava da vinculação pessoal sob a forma de servidão adstrita à gleba até à situação de servidão doméstica. “ (P.54) “As razões para a deterioração da situação dos pequenos agricultores n o Leste eram diversas, posto que estivessem de um modo geral relacionadas com guerras, períodos de perturbações internas, as crescentes oportunidades para o desenvolvimento da produção de cereais para exportação e a tendência do governo central, tanto por opção como por necessidade, para fazer concessões às classes de grandes proprietários de terra. “ (P.55) “No império Austríaco, a servidão tinha uma história ainda mais longa, posto que também neste caso a deterioração da situação, escassez de mão-de-obra e agitação social provocadas pela guerra dos trinta anos e pela arrastada luta contra os Turcos. “ (P.56) “Ainda mais servil do que a condição dos camponeses na Prússia e nos impérios Austríaco e Otomano era a situação do campesinato na Polônia e na Rússia durante o século XVIII. “ (P.58) “Assim, a servidão já não era, como o havia sido em tempos anteriores, uma mera vinculação à terra; implicava também uma vinculação pessoal dos servos ao senhor. “ (P.59) “Foi em França, e não na Rússia, Polônia, Hungria, Áustria ou Boêmia, que ocorreu uma revolução campesina nos finais do século; e este assunto mercê uma reflexão complementar. ” (P.60)
Fichamento: RUDÉ,
George. A terra e o campesinato. In: A Europa no século
XVIII: a aristocracia e o desafio burguês. Lisboa: Gradiva, 1988. (Parte I: caps. 2 e 3) Industria e comércio
No final do século XVIII assistiu-se na Europa aos primórdios de uma revolução industrial cujo efeitos viriam a revelar-se muito mais espetaculares e de alcance mais amplos do que os que haviam caracterizado a revolução agrícola abordada no capítulo anterior. “ (P.61)
“Porém, esta nova revolução confirmar-se-ia apenas a um país, e os seus contemporâneos pouca consciência tiveram das suas implicações até o século seguinte. “ (P.61) “Todas as atenções se concentravam, portanto, no comercio e no transporte de mercadorias e ouro ou prata em barra, esquecendo-se os bens produzidos. ” (P.62) “A sua rivalidade comercial estendeu-se às rotas marítimas mais importantes do mundo: tanto no comercio do Báltico e do Mediterrâneo como nos oceanos Índico e Atlântico. ” (P.62) “Outros importante cenários do comércio e da rivalidade comercial entre as potências eram a Índia e o Sueste Asiático. Aqui, os holandeses, que tinham assegurado o monopólio das ilhas produtoras de especiarias no século anterior, começaram por deter uma clara vantagem sobre todas as outras potências. ” (P.63) “Entretanto, atendendo ao crescente volume de todas estas transações, a capacidade de transporte das frotas mercantes de ambas as nações, bem como o volume do seu comércio, tinha aumentado de forma considerável. ” (P.64) “Entretanto, no resto da Europa, enquanto certos países desfrutavam de uma rápida expansão comercial, outros estavam em declínio. Entre estes contavam-se Veneza e as cidades mercantis que integravam a Liga Hanseática no Norte da Alemanha. ” (P.65) “A expansão do comércio tornou necessária a descoberta de novos métodos de organização e direção comercial, bem como a criação de novos meios de financiar e orientar as suas atividades. ” (P.66) “A partir da década de 1760 mesmo a companhia das índias orientais foi objeto de pressões contínuas dentro e fora do parlamento para que restringisse o seu controle da índia e alterasse os seus métodos operativos, o que acabou por fazê-la perder gradualmente os seus privilégios. ” (P.67) “Inevitavelmente, esta expansão não apenas refletiu como ainda estimulou o incremento da atividade industrial. Convém que fique claro que existia de modo algum uma linha divisória mais ou menos nítida entre Leste e o Oeste, como a que foi anteriormente referida em relação ao caso do desenvolvimento agrário. ” (P.69) “Em termos gerais, estes métodos de produção correspondiam a quatro tipos fundamentais. ” (P.70) “O sistema da casa do camponês ou doméstico era aquele em que os tecelões e fiandeiros fiavam e teciam os tecidos sob a orientação do negociante de panos e fazendas,
um comerciante capitalista que fornecia o fio e os teares e vendia o produto depois de confeccionado. ” (P.72) “Uma alternativa ou prolongamento do sistema doméstico rural era a manufatura urbana. Não era uma fábrica no sentido moderno, já que, pelo menos qualitativamente, a mecanização ai existente não era superior à encontrada na casa do tecelão. ” (P.73) “Porém, considerando o século na sua globalidade, verifica -se que houve realmente um desenvolvimento considerável na indústria, particularmente nos têxteis, semelhante ao verificado no comércio. ” (P.74) “Por outro lado, como é natural, outros países haviam que permaneciam à margem desta expansão industrial ou cujas industrias pouco se desenvolveram ou acabaram por estagnar. ” (P.77) “Em tudo isso houve decerto algo de inovador – particularmente no que diz respeito ao despontar de um novo tipo de capitalista industrial, contudo, ver muito mais seria uma ilusão ótica. ” (P.79) “Em suma, encontravam-se poucos indícios de uma ruptura radical no seio do continente europeu; dada a nossa visão retrospectiva, chegamos à conclusão que apenas existiam na Grã-Bretanha. ” (P.80) “Grã-Bretanha possuía uma longa tradição tecnológica, tradição esta que a ser enriquecida pela revolução agrícola; tão pouco houve qualquer problema em relação às experiencias e adaptações mecânicas relativamente simples que antecederam os múltiplos inventos, as quais, se tivessem sido convenientemente estimuladas, poderiam ter surgido com a mesma facilidade em França, Suíça ou Bélgica. ” (P.83) “Acima de tudo, a Grã-Bretanha tinha a vantagem de possuir um único mercado interno, livre de reminiscências feudais, como, por exemplo, as peagens nas estradas, rios e pontes que, em França e outros países, dificultavam a livre circulação das mercadorias. ” (P.84)