ÉTICA A NICÔMACO LIVRO I e II
Aristóteles começa sua investigação sobre a conduta humana, na Ética a Nicômaco, Livro I, com a premissa de que toda atividade é voltada para um fim, para atingir um bem qualquer. Ele acredita que o conhecimento desse bem tem uma grande influência positiva sobre a vida humana, para isso é necessário investigar o que é esse bem e como alcançá-lo. Junto à diversidade dos atos existe uma diversidade de fins e de bens, contudo nem todo desejo por uma coisa visa alcançar outra coisa, pois isso levaria a um processo infinito que tornaria o desejo do homem inútil e vazio. Tendo isso em vista Aristóteles busca compreender compreender qual seria o fim f im absoluto, o bem em si mesmo, a coisa mais desejável de todas as coisas, ou seja, a finalidade das ações, e apresenta a felicidade com tal bem supremo. Para explicar o que é essa felicidade como finalidade absoluta das atividades Aristóteles procura determinar qual é a função do homem buscando saber o que é peculiar a ele em relação a todos os outros seres e chega à conclusão de que tal função é o exercício ativo do elemento racional r acional humano, ou seja: “o bem do homem vem a ser a a atividade da alma em consonância com a virtude (...)”
(P. 19). Para Aristóteles “a felicidade é a atividade conforme a virtude” por tanto, uma
vida em consonância com a virtude não depende de prazeres, pois a virtude é naturalmente aprazível em si mesma. (P. 21 e 22). Se o bem supremo, a felicidade, é definido como a “atividade da alma conforme a virtude” (P. 23 e 28), torna-se necessário investigar a natureza da virtude para
compreender melhor a natureza da felicidade, trabalho que é apresentado no Livro II.
Para Aristóteles existem dois tipos de virtude, a intelectual e a moral. A primeira se desenvolve em grande parte através do estudo, enquanto a segunda é adquirida e desenvolvida através dos hábitos. Portanto, com a intenção de desenvolver uma sabedoria prática que contribua com a conduta do homem a virtude estudada e apresentada no Livro II é a virtude moral. O estudo da virtude moral não se resume ao conhecimento do que são as virtudes, mas tem como objetivo a prática delas para tornar o homem bom. A virtude tem um caráter prático e todo homem tem um potencial natural para a virtude, contudo, ela só é desenvolvida através do exercício, do hábito. Tendo em vista o caráter prático da virtude Aristóteles examina a natureza dos atos com o intuito de compreender de que maneira a conduta do homem pode se afastar ou se aproximar da virtude, ou seja, qual é a disposição moral que decorre dessas condutas. Se a alma é composta por paixões, faculdades e disposições a virtude é uma atividade da alma, a virtude deve se encontrar em um desses três componentes da alma. Todo ser humano ser humano é provido das faculdades de sentir as paixões e não é por isso que é julgado virtuoso ou não; por exemplo, todo homem, independentemente de sua vontade, está suscetível a sentir cólera e medo, isto é algo natural e comum a todos os homens, o que há de singular e que caracteriza a qualidade da conduta do ser é a maneira como ele reage e se comporta. A virtude, por conseguinte, faz parte das disposições da alma; mas, nem toda disposição é virtuosa. A virtude é encontrada no meio-termo entre o excesso e a falta, por exemplo, no que diz respeito à virtude da coragem o seu excesso deixa de ser uma conduta virtuosa ao se tornar temeridade e por outro lado deixa de ser virtuosa quando em falta, dando lugar ao medo e à covardia. O meio-termo onde se encontra a virtude, em oposição aos dois extremos, entre dois vícios, um em excesso e outro em falta, não é fixado nem pré-definido, é
algo a ser buscado em oposição aos extremos dos vícios visando “à mediania nas paixões e nos atos ”. Desta maneira Aristóteles leva em consideração as singularidades das circunstâncias particulares, reconhecendo a dificuldade que há em censurar racionalmente a conduta de um homem sendo que “a decisão depende da percepção” e “tudo que é percebido pelos sentidos é difícil de definir ”; e apresenta mecanismos lógicos que possam contribuir para se chegar o mais próximo possível ao meio-termo das disposições morais incluindo, inclusive, em algumas circunstâncias a necessidade de se inclinar no sentido do excesso ou da falta com o intuito de evitar um mal maior e nesta direção se aproximar do meio-termo que é onde reside a virtude. Em suma, do Livro I ao II Aristóteles parte da compreensão da natureza das ações do homem e através da compreensão dos atos, seus fins e disposições ele delineia possibilidades que contribuem para a reflexão de uma conduta mais virtuosa, consciente e moral levando-se em consideração as circunstâncias particulares dos sujeitos sem cair, por conseguinte, em dogmatismo, deixando a conduta a cargo da função racional de cada homem.