UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE EDUCAÇÃO Pr ogr ama de Pós- Gr aduação aduação
DO SILÊNCIO DO LAR AO SILÊNCIO ESCOLAR: Racismo, preconceito e discriminação na educação infantil
Di ss er t ação ação apr apr esent esent ada ada à Facul Facul dade dade de Educa Educação ção da Uni ver ver si dade dade de São São Pau Paull o, com como r equi si t o pa par ci al para a ob obt ençã enção o do gr au de mest r a em em Educação Educação..
Candi dat a: El i ane dos Sa Sant os Ca Caval val l ei r o Or i ent ador a: Pr of ª. Dr ª. J er usa Vi ei r a Gomes
São São Pau Paull o 1998
2
Dedico este trabalho à memória de minha avó Almerinda Rodrigues, pelo exemplo de coragem e determinação. Ao meu padrinho João Santa Bárbara referência positiva na minha infância, cujos exemplos guiaram a minha trajetória. Ao Exmo. Senador da República
do
Brasil
Abdias
Nascimento, um bravo guerreiro.
do
3
AGRADECIMENTOS
A r eal i zaçã zação o de dest e t r abal ho con cont ou com com a pa par t i ci pação ção de de pessoas qu que mui t o col col abor abor ar am e i ncent cent i var var am nos moment ent os de de i ndeci são são e angúst i a. Si nt o- me pr pr i vi l egi ada po por t ê- l as com comi go e con cont ar com com seu seus af af et os. Nest e con conj unt o i ncl uo: Meu espe especi ci al agr ade adeci ment o à pr pr of essor a Ro Rosal i ce Lop Lopes que que me i ndi ndi cou o cam cami nho nho da da Un Uni ver s i dade ade de de São São Pau Paull o. Ao pr of essor Hél i o Sant os col col abor abor ador ador par a o meu i ngr esso na na PósPós- Gr adu aduação. ação. Mi nha nha mãe I gnez, gnez,
mi nha nha t i a Ros Rosa, a, meu mar i do Wagner agner e
meus eus f i l hos J uan e Ram Ramon que t or cer am par a qu que t udo desse desse cer cer t o, i ncen cent i van vando- me ao ao l ongo do do pe per cur cur so. Mi nha or or i ent ador a, Pr of ª. Dr ª. J er usa Vi Vi ei r a Go Gomes, pel o seu seu
apoi o
e
or i ent ação ção
que
me
per mi t i r am
avançar çar
i nt el ect ual ment e. Aos pr pr of essor ssor es: Roni l da Ri bei r o,
Regi na Pahi m Pi nt o,
Dur l ei Cavi cchi cchi a, Henr i que Cu Cunha J úni or , Mar i a Lúci Lúci a Zoega de Souza, por suas suas i mpor t ant es cr í t i cas e sug sugest ões qu que mui t o me aj udar am a mel hor ar a qual i dade dest e t r abal ho. Meus eus ami gos gos e companh panhei ei r os de l ut a do do NEI NEI NB/ USP: SP: Sum Sumai a, J anj a,
Ri car do,
Os wal do,
Ri bas,
Al ess es s andr andr o,
Gi s l ene, ene,
4
Cr i st i na, Fát Fát i ma, Rosan sangel a pel a possi bi l i dade de par t i ci par com com el es da das di di scussõ scussõe es al al í r eal i zad zadas. Em espe speci al par a os ami gos qu que, al ém da ami zade zade e do car i nho a mi m dedi cados, cados, con cont r i buí r am par a
a
el abor ação ção
dest e
t r abal ho:
Deni se
Bot el ho, J uar ez Ta Tadeu P. Xavi er , Mi r i am E. Caet ano, Enei da Rei s e Mi guel Bai r r ão. Mi nhas nhas ami gas Mar i s a Nasci Nasci ment ent o, Concei oncei ção Apar eci da de J esus, es us, El ai ne Nunes unes,, Mar i a Apar eci da Bent o, Dani el a Auad e Gl ór i a Fr ei t as pe pel as con cont r i bui çõe ções. Fi nal ment e, pr of essor as, per mi t i do
mi nha
pr pr of unda
gr gr at i dão
e
r espe spei t o
às às
aos al unos e f ami l i ar es da da EMEI por t er em me
com compar t i l har
de
sua suas
vi das
e
t r abal ho. Ao CN CNPq pel a concess concess ão de bol bol s a de de es es t udo. udo.
pr oduzi r
est e
5
“Se a educação não transforma sozinha a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da eqüidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção. Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o que dizemos e o que fazemos.” Paulo Freire
6
SUMÁRI O RESUMO
.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..
viii I NTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01 CAPÍTULO I
1. 1. Ed Educaçã cação o
i nf ant i l – soci soci al i zaçã zação o: f amília,
escola
e
sociedade ......................... ....................................... .......................... ............
09 1. 2.
Um pont o
de
i nt er r ogação ção
na
soci soci edade
br asi l ei r a:
pr e ecc onc ei t o e di s c r i mi naç ão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
r aci smo, 21
CAPÍTULO II
2. 1. Aspe spectos ger ai s sob sobr e r el açõe ções ét ét ni cas cas no no br asi l . . . . . . . 31 2. 2. O negr o e a educ aç ão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 2. 3.
A
i nvest vest i gação ção
di scr i mi nação ção
no
sob sobr e con cont ext o
........ ....................
r aci smo, da
pr pr econ concei cei t o
educaçã cação o
e
i nf ant i l
49
CAPÍTULO III –
3. 1. 1. A pes qui s a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 3. 2. As di f i c ul dades da pes qui s a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 CAPÍTULO IV
7
FAMÍLIA, ESCOLA – SOCIALIZAÇÃO E AS DIFERENÇAS ÉTNICAS
4. 1. A c onvi vênc i a mul t i - ét ni c a na es c ol a. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 4. 2. Convi vênci a mul t i - ét ni ca: ca: uma r eal i dade esqu squeci da . . . . . 100 4. 3.
O
si l ênci o
com como uma est r at égi a par a
evi t ar
o
con conf l i t o
ét ni co
........ ........................ .................... .
10 107
4. 4. Nat ur al i zan zando as de desi gual dades de de t r at ament o . . . . . . . . . . 115 4. 5. Um ol har que t r ansf or ma ví t i mas em em cul cul padas . . . . . . . . . . . 126 4. 6. Expl i c ando as di f er en enç as ét ni ni c as . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 4. 7. Pr ec ec onc ei t o: o: um pr ob obl ema l at en ent e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 4. 8. Uma s ut i l bom”
di f er ença ent ent r e o
“s er bom”
e o
“est ar
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .
141 4. 9.
Ausên sênci a de l i mi t es
en ent r e br i ncad cadei r a e vi ol ênci a,
aut or or i dade e vi ol ênc i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144 4. 10. Br i nc ando de f az de c ont a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
8
4. 11. Famí l i a, s oc oc i edade e as r el el aç ões ét ét ni c as . . . . . . . . . . . . . 152 CAPÍTULO V 5. 1. CONCLUSÃ LUSÃO O: Famí l i a, escol a e soci edad edade: e: a const const r ução ução da subm submi ss ão e do s i l ênc i o na s oc i al i z aç ão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
179
REFERÊNCI AS BI BL I OGRÁFI CAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197 ANEXOS
ser vação ção par a col col et a de dados . . . . . . . . Anexo 1 : Rot ei r o de obser 207 Anexo 2: Pl ant a da es c ol a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
212 ent r evi st as com com os di di r et or es, pr of essor ssor es e t écni cni cos cos Anexo 3: Rot ei r o das en da es c ol a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Anexo 4: Rot ei r o das
c r i anç as
ent r evi st as
com com
214
os f ami l i ar es das
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
217 Rot ei r o da das en ent r evi s t as as co c om as cr cr i anç as . . . . . . . . . . . Anexo 5: Ro 220 Per f i l das pr of of i s s i onai s da pr éé- es co col a . . . . . . . . . . . . Anexo 6: Pe 223 RESUMO
DO
SILÊNCIO
DO
LAR
AO
SILÊNCIO
ESCOLAR:
r aci smo,
pr econ concei cei t o e di scr i mi nação ção na educaçã cação o i nf ant i l . Est e t r abal abal ho pr pr ocur ocur a compr eend eender er a soci al i zação, zação, no que t ang ange às às r el ações ações ét ét ni cas est est abel abel eci das das no espaço espaço da pr é- escol escol a e no espaço espaço
9
f ami l i ar . Par Par a t ant o, r et oma, t eór i ca e br br evem vement e, os con concei cei t os de edu educaçã cação, o, pr ocesso cesso de soci al i zação zação, r aci aci smo, pr econce conceii t o e di scr i mi nação ção ét ni cos. cos. A f i m de de desen senvol ver ver a anál i se desej sej ada, f oi r eal i zad zada uma pesqu pesquii sa de campo de manei anei r a a, a, at r avés avés da obser obser vação vação si st emát i ca do do cot cot i di ano esco escoll ar , apr eender a r el ação ção pr pr of essor ssor / al uno, al uno/ pr of essor ssor e al uno/ al uno, no que di z r espe spei t o à expr xpr essão ssão ver ver bal , pr át i ca não- ver ver bal e pr át i ca pedagógi ca. ca. Al ém di sso, sso, f or am r eal i zad zadas en ent r evi st as co com o cor cor po docen docentt e, com as cr i anças anças e seus seus f ami l i ar es, buscan uscando compr eend eender er como per ceb cebem, ent endem e el abor abor am a f or mação ção mul t i - ét ni ca da soci edade ade br asi l ei r a. Os da dados col col hi dos na escol scol a i ndi cam cam uma di di st r i bui ção ção de desi gual do con cont at o f í si co ent ent r e as pr pr of essor essor as e seus seus al unos ne negr os e br anco ancos, s, bem com como f or mas di di f er ent es de de aval val i á- l os em em sua suas at at i vi dades esco escoll ar es. Est a di di f er enci ação ção de de t r at ament o do dos al unos em f unção ção do do seu seu per t enci ment ent o ét ét ni co po pode ser ser con consi derada erada um uma at at i t ude an ant i - educat cat i va. va. Fi nal ment e, na esco escoll a e nas f amí l i as, ver ver i f i cou cou- se a pr edomi nânci a do do si l ênci o na nas si t uaçõe ções que que en envol vol vem vem r aci smo, pr econ concei cei t o e di scr i mi nação ção ét ni cos, o qu que per per mi t e supor supor que a cr i ança ança neg negrr a, desde esde a edu educaçã cação o i nf ant i l , est á sen sendo soci soci al i zad zada par a o si l ênci o e par a a sub submi ssão ssão. Mai s gr ave ave, ai nda, a cr i ança ança neg negrr a est est á sen sendo l evad evada a a se con conf or mar com com o l ugar que l he é at r i buí do: o l ugar do r ej ei t ado, o de menor val val i a.
I NTROD RODUÇÃO
10
A di scussã scussão o das r el açõe ções ét ét ni cas cas em em t er r i t ór i o br asi l ei r o é uma quest quest ão ant ant i ga, compl exa exa e, e, sobr sobr et udo, udo, pol êmi ca. Por Por ém, t r at a- se de de um uma di scuss ão
nece necess ss ár i a
i gual i t ár i a,
par par a
a
pr pr omoção oção
de de
um uma
edu educação cação,,
de
f at o,
com compr omi ssada ssada com com o de desen senvol vol vi ment o do do f ut ur o ci dadão.
Sant os af i r ma:
“O desafio brasileiro para este fim de milênio
é
construir
uma
democracia
substantiva. Isto significa elaborar um modelo democrático onde o que conta é a igualdade
de
oportunidades
e
não
a
igualdade que afirma serem iguais perante a lei, conforme preconiza o artigo 5 da Constituição Federal. Não é adequado, em um país de exclusão social, tratar de maneira igual pessoas que são atávica e secularmente diferentes. (...) No que se refere à população afro-descendente o que se busca é a igualdade de oportunidades e de tratamento. Como se sabe a abolição não
trouxe
a
cidadania
para
os
descendentes de escravos. (...) Todos os estudos
apontam
para
a
marginalização
desse segmento racial” ( Sant os, 1996) . 1
Assi m, est e t r abal ho - Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil
-
se
i nser ser e
no
con conj unt o
das
pe pesqu squi sas, sas,
já
r eal i zad zadas, com com o obj et i vo de r euni r i nf or maçõe ções sobr sobr e negr os no si st ema de ensi no, 1 In. Ribeiro, Ronilda. 1996. p.13.
a f i m de sub subsi di ar est r at égi as qu que
11
vi sem sem a el evar var a aut o- est i ma de i ndi ví duos pe per t encen cent es a gr upos di di scr i mi nados e a cr i ar con condi çõe ções qu que possi bi l i t em a con convi vênci a posi t i va ent r e as pe pessoa ssoas e, e, em espe speci al , t or nar a esco escoll a um um espa spaço ad adequado à con convi vên vênci a i gual i t ár i a. A i déi a dest dest a pesq pesqu ui sa começou eçou a f l or escer no segu segundo s emest r e de de 199 1995, 5, por por ocasi ão de meu i ngr ngr ess o no no NEI NEI NB- USP2, que ocor r eu si mul t aneament ent e à mi nha exp exper i ênci a pr of i ss i onal em uma escol escol a de de ed educação cação i nf ant ant i l por mai s de quat r o an anos. A r el ação ção di ár i a com com cr i anças ças de de quat r o a sei sei s ano anos pe per mi t i u- me i dent i f i car car que,
nest a f ai xa de i dade,
cr i anças ças ne negr as j á
apr apr esent sent am uma i dent i dade negat egat i va em r el ação ação ao gr upo ét ni co a que per t encem cem. Em con cont r apar t i da, cr i anças ças br br ancas cas r evel vel am um sen sent i ment o
de
sup super i or i dade,
assum ssumi ndo
em di ver sas sas
si t uaçõe ções at at i t udes pr pr econ concei cei t uosas e di scr i mi nat ór i as, com como por
exem exempl o,
xi ngand ando
e
of end endend endo
as as
cr i anças anças
neg negr as,
at r i bui ndo à cor cor da pe pel e ca car át er negat i vo. Essas si t uaçõe ções de de di scr i mi nação ção, ocorridas na presença , cham chamar am mi nha de professores, sem que estes interferissem at enção ção. del i neava.
Os edu educad cador es não não pe per ceb ceber am o con conf l i t o qu que se Tal vez po por não sab saber em l i dar com com t al
pr ef er i r am o
si l ênci o.
possi bi l i dade de desse
Também me
si l ênci o
pr obl ema,
quest i onei
decor cor r er
do
f at o
sob sobr e
a
desses
pr of i ssi onai s com compact uar em co com m as i déi as pr pr eco con nce ceii t uosa sass ,
2
NEINB/USP - Núcleo de Pesquisas e Estudos Interdisciplinares do Negro Brasileiro.
12
con consi der ando- as
cor cor r et as
e
r epr oduzi ndo- as
em em
seu seus
cot cot i di anos. De
qua quall quer quer
modo, odo,
mi nha nha
exper exper i ênci ênci a
most r ou que que
o
si l ênci o do pr of esso ssorr f aci l i t a novas oco ocorr r ênci as de desse t i po, r ef or ça çan ndo i nadve adverr t i dament ent e a l eg egii t i mi dade de de pr pr oced cedii men entt os pr eco con nce ceii t uosos sos e di scr i mi nat ór i os no no espa spaço escol scol ar e,
a
par t i r dest e, par a out r os âm âmbi t os soci soci ai s. De f at o, a f ont ont e pr i mei r a desse desse qu quest i onam onament ent o é mi nha pr ópr i a expe xper i ênci a com como cr i ança negr a. No con cont ext o escol ar , meu si l ênci ênci o exp exprr essava essava a ver go gonh nha a de de me r econhe econhecer cer negr negr a. Nas of ensas sas eu r econ conheci a “at “at r i but os i ner ent es” e, send sendo,
a
sol ução
encon en contt r ad ada a
er a er
esquece esqu ecerr
a
assi m
dor dor
e
o
soff r i ment o. Vã t ent at i va. Poi so Poi s se pod pode e passar passar boa par t e da da vi da, ou at é mesmo a vi da i nt ei r a, sem nunca esbo esboçar çar qual quer l ament ent o ver ver bal como exp expr essão de sof r i ment ent o. Mas sent sent i r essa dor
é
i nevi t ável .
Dada
sua sua
co const ânci a,
apr ende- se
a, a,
si l enci osam sament e, “con-viver”. Agor gor a, após após apr of unda undarr meus eus est udos udos sob s obrr e essa quest quest ão e anal i san sand do o co con nt ext o f ami l i ar ,
acr edi t o qu que o si l ênci o co con nst i t uí a um uma regr regr a -
i mpl í ci t a - que t odos da f amí l i a do domi nava vam m mui t o be bem. Os coment ent ár i os r ef er ent ent es aos aos sof r i ment os dec decorr orr ent ent es do do pr econce conceii t o e di scr i mi nação ção envol envol vi am sempr e um um par par ent ent e ou ou um um ami go pr óxi mo, mas nunca nunca al gum gum de nós. nós. Ass i m,
compr eend eendo o que que a anál anál i se do do pr ocess ocess o de soci al i zação na
pr i mei r a i nf ânci ânci a i mpl i ca conhe conhecer cer as at at i t udes udes e os com compor por t ament ent os dos dos f ami l i ar es, adul t os e j oven vens, l i gados não não som soment e ao ao cui cui dado da da cri ança, ça, mas t ambém bém a t odo odo o conj conj unt unt o de de nor nor mas, r egr egr as e cr enças enças pr at i cados cados e
13
val val or i zad zados pe pel o gr upo, que possi bi l i t ar ão a sua sua i nt r odução ção na soci soci edade. Par a Gom Gomes ( 1990 1990)) , haver haver i a um uma:
“(...) imperiosidade de analisar os três ângulos
da
imediato, criança;
questão: a
a
mediadora,
ser
mundo
social
interiorizado
família tem
o que,
além
especificidades especificidades
pela
de que
ser a
distinguem de qualquer outra; a criança que,
sujeito
da
aprendizagem
social,
interiorizará interiorizará o mundo mediado a partir de suas
próprias
maneira
singular
idiossincrasias e
solitária”
e
de
( Gomes, es ,
1990, p. 59) . Nesse sen s entt i do, a an anál i se busc buscar ar á compr een eender como se t em desenvo senvoll vi do o pr ocesso de de soci soci al i zação zação dessa dessa ge ger ação de suj ei t os s oci ai s e qu qual o mundo que l hes est á send sendo post o par a ser ser i nt er i or i zad zado. A necessi necessi dade dade de apr apr of undar dar o est est udo udo da da que quest st ão em anál anál i se most r ase, ai nda, i ndi spen spensáve sável di ant e do at ual pr ocesso cesso de de gl oba obal i zação, zação, uma vez que que est est e apr apr oxi ma cul t ur as e povos povos di st ant ant es,
ao mesmo t empo que que
par par ece f aci l i t ar o r eapa eaparr eci ment ent o de de movi ovi ment ent os de de xen xenof of obi obi a e de r aci smo apar apar ent ent ement ent e j á enf enf r aqu aqueci dos. dos. A gl obal obal i zação da econom economi a aum aument ent ou o que que,, embor bor a i mpr opr opr i ament ent e, se t em den denomi nado nado excl excl usão soci al . Essa excl excl usão usão assume t ambém um ní t i do cor t e de de cor cor . Os r ecen ecent es dad dados os di di vul vul gado gadoss pel pel a Or gani gani zação zação Mundi ndi al de Saúd Saúde e ( OMS)
sobr sobr e a “Ai “Ai ds” most r am uma ver ver t i gi nosa conce concent nt r ação ação de de
pessoa ssoas i nf ect adas no no co cont i nent e af af r i can cano.
A mesma excl excl usão pau pautt ada ada na na l i nha de cor obs obs er va- s e na na cr escent escent e ond onda ant ant i - i mi gr ant ant e que t omou cont cont a de paí ses da
14
Eur opa: Fr ança, ça, Al emanha, I ngl at er r a, Espa spanha, ent r e ou out r os. O cr esci ment ent o cont cont i nent e,
de de
or or gani zaçõe zações
como por exe exempl o,
de
ext ext r ema- di r ei t a
a Fr ent ent e Naci onal onal
nest e
( FN) FN) ,
na
Fr ança, ça, é a evi dênci a de dessa ond onda. A gl obal i zação zação mundi al i zou o de debat e sob sobr e o r aci smo,
pr econ concei cei t o e di scr i mi nação ção.
Em
espe speci al , nas soci soci edades mul t i - ét ni cas cas com como a br asi l ei r a. Os mei os de de com comuni cação t êm di vul vul gado ado a nat ur al i dade ade com com a qual , nos Est Est ados ados Un Uni dos da da Amér i ca, os i nt egr egr ant es da da “Ku 3 t êm pr egad egado o suas suas Klux Kan”
mensag ensagen enss e ef ef et uado ado at i t udes
r aci st as à l uz do do di a e sem capuz pa par a escon sconder - l hes a f ace. ce. A f or ça com a qu qual esse movi ovi ment ent o r essur ge per per mi t e qu que seus seus i nt egr ant es s e exp expo onham sem medo de de r epr esál i as. O r aci smo pr osper osper a, t ambém, por i nt er médi édi o de de sites da internet que est i mul am o ódi o r ac i al . 4 Co Consegu segue- se ho hoj e, f aci l ment e, um cont cont at o com com gr upos r aci st as da da Eu Eur opa opa e dos EUA EUA. O r aci smo, assi m, adent r a no nossas r esi dênci as, che chega ao aos nossos nossos f i l hos com ou sem a nossa nossa concor concor dânci ânci a ou ou per mi ss ão. ão. Devem evemos est ar at ent ent os par par a o f at o de de qu que os sites da internet apenas r ef l et em os aco acont eci ment os da da soci soci edade. Se esses si t es se encon cont r am na
r ede
é
por que
exi st em i ndi ví duos
qu que
os
3
Grupo racista dos EUA que, formado por indivíduos brancos, atua, desde o período escravista, matando, mutilando e agredindo das mais variadas formas indivíduos negros: adultos, jovens e, principalmente, crianças. 4
Paulo – Racismo Matéria divulgada pelo jornal Folha de São Paulo – Racismo na Internet – – aponta que a internet abriga a defesa e ataque a negros, judeus, indígenas, imigrantes e outros discriminados. Por intermédio de charges e piadas racistas, estes sites defendem sites defendem o separatismo racial, considerando o igualitarismo uma política errada, Paulo, caderno 6, p. 5, 13 de maio de 1998. mostrando-se contrários ao multiculturalismo. Folha de São Paulo,
15
al i ment am e del es
f azem zem uso. so.
El es
nã não est ão cr i ando o
pr obl obl ema, mas l i vr ement ent e pr pr opag opagan and do- o. Dest e modo, odo, compr eend ender par t e do do pr pr ocesso soci al i zador zador , na esc escol ol a e na f amí l i a, no qu que t ang ange ao ao r econ econheci ment ent o da da di f er ença ét ni ca numa soci edade envol vol t a em um mant o de “de “democr aci a r aci al ” t or na- se i mper i oso, so, e é o i nt er esse mai or dest e t r abal ho. Não
se
conceb con cebe e
um
desen senvo voll vi ment o
excl ex cl usi va vam men entt e pel pel a ed educaçã cação o f or mal ,
pr opor ci onad ado o
como t ambém não se
entt en en end de ess ess e desen desenvo voll vi men entt o send sendo r ea eall i zad zado o un uni camen entt e pel pel o gr upo
f ami l i ar . Af Af i nal ,
r espon sponsávei sávei s
pel a
j unt as,
f or mação
do
esco scol a
e
i ndi ví duo.
f amí l i a Não
se
são são pod pode e
val or i zar zar a escol scol a em em oposi ção ção à educaçã cação o f ami l i ar e vi cecever sa. Ambas bas desempenh penham am f unções unções de pr of unda unda i mpor t ânci ânci a. Ass i m, a pesqu esqui sa qu que ser ve de base base ao pr esent esent e t r abal abal ho f oi pensad ensada a t end endo em em vi st a o acom acompanh anhament ent o do do i ndi ví duo no no con conví vi o soci soci al ,
em sua suas r el açõe ções mul t i - ét ni cas cas no no esp espa aço
pr é- escol escol ar . Dest a manei r a, pr et end ende ap apr een eender como a cr i ança l i da com com sua suas pr pr i mei r as ex exper i ênci as mul t i - ét ni cas, cas, com como as pensa ensa e as as el abor abor a. Não bast a per per gunt ar ao pr of essor como el e con conceb cebe o seu r el aci onament o com com as cr i anças, ças,
é nece cessár ssár i o
vê- l o na su sua a pr át i ca pr of i ssi onal , no se seu u di a- a- di a. No qu que con concer ne às às cr i anças, anças, a escol escol a é o l ocal ocal ond onde el as se en encon cont r am e est est abel ecem cem con cont at os com com out r as cr i anças ças
16
e co com pessoa ssoas di di f er ent es do do seu seu gr upo f ami l i ar , t udo i sso l onge do gr upo f ami l i ar e f or a do r ai o de sua sua pr ot eção ção. Obser var var as r el açõe ções i nt er pessoai ssoai s qu que na escol a se vi ven venci am é, penso, penso, essen ess enci ci al quan uando s e ent ent ende ende a Ed Educação ucação como um um dos dos pr i nci pai s
f at or es
de
desen senvol vi ment o
at r avés vés da da Educaçã cação o é possí vel vel con cont r adi çõe ções j unt unt as, as ,
no nos
sobr sobr e
“i deol eol ogi ogi as”,
como
Soment ent e
a por por um uma
possi poss i bi l i dade dade r eal i dade exem exempl o, di di scu sc uss ão
ci dadani a.
desmi st i f i car car
são pecul cul i ar es.
r epr esent es ent am a
pensament o
r aci al ”.
qu que
da da
Escol scol a
o
as gr andes e f amí l i a,
da t r ansf or mação
soci al “mi t o
pr of unda
Só
const const r uí da
do sob
da da
dem democr aci a
dos dos
pr obl obl emas
r el aci onados ao pr pr econ concei cei t o e à di di scr i mi nação ção po pode con concor cor r er par a a t r ansf or mação da soci edad edade e qu que, si st emat i cament ent e, t em al i j ado mui t os i ndi ví duos do do di r ei t o à ci dadani a.
17
CAPÍTULO 1
1.1.
Educação
infantil
–
socialização:
família,
escola e sociedade
“A beleza e importância da Socialização Primária reside não só no mecanismo do processo em sí, mas, mais que isto, no fato de que sua compreensão permite ao investigador social apreender, a formação da Identidade do indivíduo. Ora, se atingirmos esta compreensão, seremos capazes de recompor o processo de uma sociedade, s ociedade, num momento dado, apreendendo, em certa medida, o seu passado e sendo, nesta mesma medida, capazes de prever o seu futuro. E, assim, estaremos estudando o homem concreto, numa sociedade concreta.” Gomes
18
Fal Fal ar em soci soci al i zaçã zação o do zer zer o aos set e anos é f al ar de uma et apa apa f unda undam ment ent al
par par a o desenvol desenvol vi ment ent o hum humano. ano.
Tal
af i r mação supõ supõe con consi der ar a ed educação cação r eceb ecebi da pel pel a cr i ança com como si gni f i cat cat i va pa par a o desen senvol vol vi ment o f ut ur o do do suj suj ei t o soci soci al .
Esse
con concei cei t o
é
com compar t i l hado
po por
mui t os
pesqu esqui sador sador es e est udi osos do desen desenvo voll vi ment ent o hu humano ano ( Fr eud eud, Pi aget , Er i kson kson, Ber ger & Luckm Luckman, ent r e ou out r os) . Nessa et et apa da vi da, ocor cor r e a pr i mei r a soci al i zação zação do i ndi ví duo -
soci soci al i zaçã zação o pr i már i a - ,
ou sej sej a:
“a ampla e
consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo de
( Ber ger ger uma sociedade ou de um setor dela” p.
175) .
& Luckmann, ann, 1976 1976,,
Numa r el ação ação di di al ét i ca hom homem/ soci edad edade, e,
o nov novo o
membr o da soci edad edade e i nt er i or i za um um mundo j á post o, que l he é apr esent sent ado com com uma con conf i gur ação ção j á def i ni da, ant er i or ment e out r os,
à
sua sua
exi exi st ênci a.
Assi m,
a cr i ança apr ender á at i t udes,
r espei spei t o da da soci soci edade ade am ampl a e, e,
con const r uí da
i nt er agi ndo
opi ni ões,
com com
val or es a
mai s especi especi f i cament e,
do
espa espaço de i nser ção de seu gr upo soci al . Em conf conf or mi dade ade com Ber ger & Luckm Luckman, an, Capar apar r ós t ambém con conceb cebe a soci al i zação zação pr i már i a com como uma t ar ef a f ami l i ar . Par a el el e,
a f amí l i a não não s oment ent e dot dot a seu novo novo membr o de de
el ement ent os
par a
r epr epr esen esent ar
seu
sexo, sexo,
per pet uar adeq adequ uadament e a di vi são soci al
mas
t ambém par a
das cl asses.
“Da
19
família sai o possuidor, o comunista, a mulher passiva, o dominado
e
o
homem/mulher,
dominador.
tanto
em
(...)
as
futuras
autovalorização
e
relações,
valorização
do
outro, já estão ideologicamente plantadas em semelhança às dos adultos” ( Capar r ós, 1981, p. 52) . 5
A soci al i zaçã zação t or na po possí vel vel à cr i ança a com compr eensão do mundo,
por
mei o
paul at i nament e
da das
a
exper exper i ênci as
necessár cessár i a
vi vi das,
i nt er i or i zaçã zação o
ocor ocor r endo das
r egr as
af i r madas pe pel a soci soci edade. Nesse i ní ci o de vi da a f amí l i a e a escol a
ser ão
os
medi ador es
pr pr i mor di ai s,
apr esent sent ando/ si gni f i can cando o mundo soci soci al . 6 As i di ossi ncr asi as est est ar ão det er mi nando as di di f er enças ças pess oai oai s, poi s ess e pr pr ocesso nã não é si mpl esment ent e en ensi nado: a cr i ança most r a- se um par cei cei r o at i vo, vo, podendo pr ocur cur ar novas vas i nf or maçõe ções em em out r os l ugar es. compor t ament ent os f i éi s Por ém,
soci ai s
das at i t udes di zer zer
medi ador es,
i st o
e
ser ão obr obr i gat or i ament ent e
não
si gni f i ca
nem descon sconsi der ar
ou out r os
as at at i t udes e
e com compor t ament os de de seus seus
i dent i f i c ar em com com os vel vel hos
não
Dest e modo,
se seus
adu adul t os.
di mi nui r
o f at o de as
f ami l i ar es: El as
pod podem,
pai s,
o
cóp cópi as
medi ador ador es. papel
dos
cr i anças ças
se
i r mãos
mai s
i ncon consci ent ement e,
5
Nesse trabalho, Caparrós analisa dados de uma pesquisa realizada com crianças de quatro a sete anos de idade na qual duas perguntas básicas foram feitas: Você gosta de ser menino(a)? Por quê? Para a análise, ele divide os grupos em alta burguesia e camada média e média inferior. inferior. CAPARRÓS, Nicolás. Nicolás. Crises de la Familia: Revolucion del vivir. Editorial Fundamentos. Madrid, 1981, p. 45-81. 6
Sobre socialização, consultar Berger & Luckman, 1976; Gomes, 1987, 1994; Silva, 1987; Barbosa, 1987.
20
copi copi ar a cond condut a do do ad adul t o exa exatt ament ent e como el el as vêem vêem o ad adul t o at uando à sua vol vol t a. “É
de
conhecimento
socialização como
a
em
comum
sociedades
brasileira,
se
dá
que
a
complexas, de
forma
espontânea e sistemática. A espontânea, como
se
nascer
sabe,
e
agências
o
apanha
envolve
o
até
corriqueiramente
responsáveis
por
indivíduo
ao
a
As
morte.
citadas
esse
como
processo
socializador confundem-se confundem-se com os chamados grupos primários em diferentes graus de institucionalização
e,
às
vezes,
com
distintas metas sociais (...). A essa relação
de
incluídos,
grupos
são
também,
costumeiramente desde
agências
tradicionais formadoras de opinião, como por exemplo, a igreja e a imprensa, até os mais persuasivos e modernos mecanismos de comunicação social, como o cinema, o rádio e a tevê, que influenciam e moldam pessoas e grupos sociais atuando tanto em ambientes
fechados
públicos. Para
usar
como uma
em
locais
expressão, ao
mesmo tempo tipológica e simbólica, tais mecanismos estão presentes tanto na casa como na rua” ( gr i f o do aut or )
( Bor ges
Per ei r a, 1987, p. 41) . Na soci soci edade br asi l ei r a, a Educaçã cação o I nf ant i l con const i t ui um di r ei t o i nst i t uci onal i zad zado desde sde 1988 ( ar t i go 208, i nci so I V da Const i t ui ção ção Fed Feder al ) . A pr omul gação ção da Const i t ui ção ção
21
r econ econheceu eceu o di di r ei t o à edu educação cação par par a cr i anças anças menor enor es de de set e anos. As i nst i t ui çõe ções pú públ i cas cas de de Educaçã cação o I nf ant i l ( EMEI s e Cr eche ches) f avor vor ecem cem sobr sobr emanei r a as f amí l i as de bai xa r enda cuj cuj as mães t r abal ham f or a e dei xam xam sob sob os cui cui dados de dest as s eu eus f i l hos . Também em def esa es a das cr i anças e adol adol escent es cent es, es , t emos o Est at ut o da da Cr Cr i ança e do Ad Adol escent scent e ( Lei Lei 8069/ 91) , que l hes assegu ssegur a: “(...) o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo
de
desenvolvimento desenvolvimento
e
como
sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas Leis; (...) direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação
para
o
trabalho
(...).
Igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola;
direito
de
ser
respeitado por seus educadores; e ter respeitados artísticos contexto
os e
históricos
social
adolescente,
valores da
culturais, próprios
criança
garantindo-se
a
e estes
no do a
liberdade de criação e o acesso às fontes de cultura”.
A
exper i ênci a
escol scol ar
soci soci al i zaçã zação o da cr i ança. ça.
ampl i a
e
i nt ensi f i ca
a
O con cont at o com com out r as cr i anças ças de de
mesma i dade, ade, com out out r os ad adul t os não não per t encen encentt es ao ao gr upo
22
f ami l i ar , com com out r os obj obj et os de de con conheci ment o, al ém daquel es vi vi dos pe pel o gr upo f ami l i ar vai possi bi l i t ar out r os modos de de l ei t ur a do do mundo. Tod Toda ess ess a nov nova a exp exper er i ênci ênci a pod pode e ser mui t o posi t i va par a o desenvo senvoll vi ment o da cr i ança, ça, o que car car act er i za as cr eche eches e pr pr é- escol as como um um espa espaço i mpor t ant e par par a o desen senvol vi ment o
da
cr i ança. ça.
( Ol i vei r a
et
al l i ,
1992;
Cavi avi chi a, 1993; Gomes, 1994) Ness e sent sent i do, Gomes ( 1994) acr edi t a qu que: “As creches, pré-escolas
e
muitas
outras
instituições
voltadas
ao
atendimento de crianças (...) promovem também a socialização primária
de
maneira
auxiliar
e
complementar
família”
à
( Gomes, 1994, p. 60) . As
i nst i t ui çõe ções
de de
Educaçã cação o
I nf ant i l
or gani zam zam e
f or mal i zam zam uma apr endi zag zagem que j á se i ni ci ou na f amí l i a e que
va vai
t er
con cont i nui dade
nas
sua suas
exp exper i ênci as
com com a
soci edade. Assi m, não só a f amí l i a se t or na r espo sponsáve sável pel a apr endi zag zagem da vi da soci soci al , embor a r epr esen sent e, i ni ci al ment e, o el o mai s f or t e que l i ga a cr i ança ança ao ao mundo. Por ém, par a Gom Gomes ( 1993 1993)) “unicidade e diversidade são faces diferentes do processo educativo que, de fato, é um só, embora se realize no decorrer da existência individual em instituições
diversas,
( Gomes, 1993, p. 87) .
com
propósitos
bastante
diversos”
23
Nesse pr ocess ocess o, mui t as vezes vezes “a criança é tratada como se nascesse na escola (...) (não havendo) o estabelecimento de relações entre a sua aprendizagem anterior, no ambiente doméstico, e a atual, na escola; aliás, nem mesmo com as
es , atuais aprendizagens em seu ambiente doméstico”. ( Gomes, 1993, p. 90) . I sso
l eva a di zer zer
que nem sempr e os os
conh con heci men entt os
vall or i zad va zado os pel pel o gr gr upo f ami l i ar são os mesmos val val or i zad zado os e r eco con nheci dos pel pel a esco scoll a e vi ce ce-- ve verr sa sa.. Log Logo, os val val or es, as nor mas e as as cr enças ças i ncut cut i das na na cr i ança podem di f er i r nas i nst i t ui çõe ções edu educat cat i vas. vas.
O mesmo equi val val e par a at i t udes e
compor t ament ent os qu que t ambém podem odem ser vi st os e anal anal i sados sados de de di f er ent es f or mas. O que par a a escol a pod pode e r ep eprr esen esentt ar um pr ob obll ema ou ou um moment o de co con nf l i t o,
no i nt er i or
do gr upo f ami l i ar
pode
r epr ese esen nt ar , apenas, par t e do do modo ha habi t ual da vi vi da do do gr gr upo . Pr ob obll emas não não en encon contt r ad ados os pel pel a cr i an ança ça no no gr upo f ami l i ar poder ão
ser ser
enco con nt r ados
no
cot i di ano cot
escol ar . escol
Conseq onseqü üent ent ement ent e, a ausên ausênci ci a de r el ação ação ent ent r e a f amí l i a e a escol scol a i mpossi bi l i t a, a ambas as as pa par t es, a r eal i zaçã zação o de um pr ocesso cesso de de soci soci al i zaçã zação o qu que pr pr opi ci e um desenvo senvoll vi ment o sadi sadi o. Col oca em j ogo não só o mundo a ser i nt er i or i zado zado pel a cr i ança, l ugar
mas,
pr i nci pal ment ent e,
de seu seu gr upo
exi st ênci a.
soci soci al
o seu l ugar ness e mundo, e,
sob sobr et udo,
a
sua sua
o
pr pr ópr i a
24
Gomes apont a que: “Ao final do processo de socialização a criança não só domina o mundo social circundante, como já incorporou os papéis sociais básicos – seus e de outros, presentes e futuros - mas, acima de tudo, já adquiriu as características
fundamentais
de
sua
personalidade
e
identidade” ( Gomes, 1990, p. 60) .
Bor ges Per ei r a compl ement ent a: “A
constituição
humano
como
da
identidade
expressão
de
do
ser
grupos
e
categorias sociais está indissoluvelmente indissoluvelmente ligada ao processo de socialização toutcourt. Daí pode-se afirmar que uma das funções da socialização é a da construção da pessoa humana dentro dos parâmetros de seu
locus
espacial,
temporal
e
sociocultural, ou, numa linguagem mais filosófica, dentro de ideais ou modelo de
gr i f o pessoa definido pela sociedade.” ( gr do aut or ) ( Bor ges Per Per ei r a, 1987, p. 41) . Nesses t er mos,
a i dent i dade é um dos r esul sul t ados mai s
i mpor t ant es do do pr ocesso cesso de con const i t ui ção ção soci soci al do suj suj ei t o. E, par a Er i kson son ( 1976) ,
i dent i dade r ef er e- se a um con cont í nuo
sent sent i ment o de i ndi vi dual i dade qu que se f i r ma a par t i r de dados bi ol ógi cos cos e soci soci ai s. O i ndi ví duo se i dent i f i ca r econ conhecen cendo seu pr ópr i o cor cor po, si t uado ado em em um mei o qu que o r econ econhece com como ser humano ano e soci al . Ass i m, a i dent ent i dade r esul t a da per cepção cepção que t emos de nós mesm es mos, os , advi nda da da per cepção cepç ão que t emos de como os out r os nos vêem.
25
Desse ess e modo, odo, a i dent dent i dade ade é conceb concebii da como um pr ocesso ocess o di nâmi co
que
po possi bi l i t a
a
con const r ução ção
gr gr adat i va
per son sonal i dade no decor cor r er da exi st ênci a do i ndi ví duo.
da
7
Pai s, adul t os e os os pa par es ser ão f ont es de de def i ni ção ção do “ver “ver dadei r o” ou ou “r eal ” da da i dent i dade do i ndi ví duo. Esses i r ão l he most r ar “aquilo que é permitido, proibido ou prescrito sentir
ou
exprimir,
simultaneamente,
seu
a
fim
direito
de à
que
sejam
existência,
garantidos, enquanto
ser
psíquico autônomo, e o da existência do seu grupo, enquanto comunidade histórico social” ( Cost a, 1993, p. 3) . 8
Numa soci s oci edade edade como a noss a, na qual qual pr edom edomi na um uma vi s ão negat i vam vament e pr econ concei cei t uosa, r espe spei t o
do
posi t i va do
negr o
e,
br anco, co,
hi st or i cam cament e con const r uí da,
em con cont r apar t i da, a
i dent i dade
a
a
i dent i f i caçã cação o
est r ut ur ada
dur ant e
o
pr ocesso cesso de de soci soci al i zação zação t er á po por base a pr pr ecar car i edade de de model os
sat i sf at ór i os
e
a
abundânci a
de
est er eót i pos
negat i vos vos s obr obr e neg negrr os. 9 I sso
l eva
a
s upor upor
que que
um uma
i magem agem
desva sval or at i va/ i nf er i or i zan zant e de negr os, bem com como a val or at i va de i ndi ví duos br br ancos, cos, possa ser ser i nt er i or i zad zada, no decor cor r er 7
Em outras palavras: “A identidade é formada por processos sociais. Uma vez cristalizada é mantida, modificada ou mesmo remodelada pelas relações relações sociais. Os processos sociais implicados na formação e conservação da identidade são determinados pela estrutura social” (Berger social” (Berger & Luckmann, 1976. p. 228). 8 In Souza, 1983. 9 Souza (1983) ao falar sobre identidade diz: “O negro brasileiro que ascende socialmente não nega uma presumível identidade negra. Enquanto negro, ele não possui uma identidade positiva, a qual possa afirmar ou negar. É que, no Brasil, nascer com a pele preta e/ou outros caracteres do tipo negróide é compartilhar uma mesma história de desenraizamento, escravidão e discriminação racial; não organiza, por si só, uma identidade negra.” (Souza negra.” (Souza,, 1983, p. 77).
26
da f or mação ação dos i ndi ví duos,
por
i nt er médi o dos pr pr ocess ocess os
soci soci al i zad zador es. Di ant e di sso, sso, cad cada i ndi ví duo soci soci al i zad zado em nossa
cul cul t ur a
poder á
i nt er nal i zar zar
r epr esen sent açõe ções
pr econ concei cei t uosas a r espe spei t o desse gr gr upo sem se dar
con cont a
di ss o, ou at é mesmo se dan dand do con cont a por por acr edi edi t ar ser o mai s cor cor r et o. Essa conseq conseqü üênci ênci a pod pode e ser
encon encontt r ada ada qu quer
ent ent r e os os
membr os f ami l i ar es qu quer ent r e os pr pr of i ssi onai s qu que at uam na escol scol a.
Sem dúvi da,
r el aci onadas
à
os va val or es,
et ni a
as at at i t udes e as cr enças ças
podem per mear
or gani zaçã zação o da da esco escoll a,
o
cur cur r i cul cul um e
a
assi m com como a pr át i ca pr of i ssi onal
( St r eet - Por t er , 1978) . Ent ão, o que si gni f i ca ser uma cr i ança negr a ou br anca anca na r el ação ção soci soci al que se r eal i za na escol escol a? E, nel a, o que a cr i ança pode apr ender sob sobrr e si pr ópr i a e sob sobrr e os out out r os à sua su a vo voll t a? Não ser i a dem demasi ado ado supor supor que que a ausênci ausênci a dess dess e t ema no no pl anej anej ament ent o es es col ar
i mpede ede a pr omoção de boas boas r el ações ações
ét ni cas. cas. O si l ênci o qu que en envol ve essa t emát i ca na nas di ver ver sas sas i nst i t ui çõe ções soci ai s f avor vor ece que se en ent enda a di f er ença com como des des i gual gual dade ade
e os
negr negr os
como
s i nôn nôni mos
de desi gual gual
i nf er i or . “Nós aceitamos que muito cedo na vida as crianças comecem a perceber diferenças nos objetos e pessoas à sua volta, e que
e
27
isto evoca de alguma forma o processo de categorização, categorização , resultando, então, que na sociedade
multi-racial
crianças
vão
perceber diferenças na cor de sua pele, forma do cabelo e vestido e coisas assim, e que estes também podem se tornar base para
o
processo
de
classificação. classificação.
Entretanto, é a sociedade que determina quanta atenção deve ser dada para essas variações,
e dá à criança a noção da
identidade étnica que é limitada pela consistência das atitudes físicas e do comportamento; comportamento ; é a sociedade que ensina como
aquela
valorizada. aprendem
identidade
Isto
quer
suas
deve
dizer,
crianças
identidades
discriminações
e
ser
fazendo
distinguindo
elas
próprias dos outros no contexto social na qual
aquele
funciona
e
modelo é
da
validado
categorização completamente”
( Davey avey,, 1975) . 10 Pode Pode-- se ent ent ende enderr , ent ent ão, ão, que que um uma despr despr eocup eocupaçã ação o com a que quest st ão da da con convi vên vênci a mul t i - ét ni ca, ca, quer na f amí l i a, quer na escol scol a, pode col col abor ar par a a const const r ução ção de i ndi ví duos pr pr econ econce ceii t uosos osos e di scr i mi nadores. adores.
A
ausên ausênci ci a desse desse que quest st i onam onament ent o pod pode e l evar evar i núm númer as cr i anças anças e adol adol escent escent es a cr i st al i zar em apr apr endi zage zagens basea basead das, mui t as vezes, vezes,
no com comport ament o
acr í t i co dos ad adul t os à sua sua vol vol t a.
A Edu Educação cação é ent ent end endi da com como um um pr ocess ocess o soci al no qu qual os ci dadão adãoss t êm acess acess o aos aos conh conheci ment ent os pr pr odu oduzi dos e de del es se ap apr opr i am de f or ma a se pr pr epar ar em par a o exer xer cí ci o de de sua sua 10
Citado por Street-Porter, 1978. p.50.
28
ci dadani a.
Repr esent sent a um at o pol í t i c o que que pod pode e l evar evar
à
con const r ução ção de de um um i ndi ví duo pa par t i ci pant e, com como à con const r ução ção de de i ndi ví duos con conf or mados à r eal i dade apr esent sent ada ( Gut i er r ez, Gadot t i , Br andão) . Se a educaçã cação o é um pr ocess cess o soci al , qual ser i a a r el ação ção ent r e
a
apr endi zag zagem
de
pr econ conc ei t os,
at i t udes
di scr i mi nat ór i as e a pr pr odução ção esco escoll ar de ci dadãos? Qual t i po de ci dadão adão est á send sendo f or mado ado nas nas escol as? Di ant e das i déi as exp expo ost as, t or na- se necessár cessár i o con conhecer cer a qu qual i dade ade do do pr oce cesso sso de so soci ci al i za zaçã ção o vi ven venci ado pe pel as cr i anças ças
em se seu u gr upo f ami l i ar
f r eqüent adas.
e nas
Só assi m ser ser i a possí vel
escoll as po esco por
r espo sponder ,
el as
ai nda,
a
out r as i ndagaçõe ções: Em que medi da a soci soci al i zaçã zação, pr omovi da at ual ment e nas nas escol escol as, cont cont r i bui par a a const const r ução de um uma soci soci edade que sej a, de f at o, uma “de “democr aci a r aci al ”, l i vr e de desi gual dades ades t ão gr i t ant ant es en ent r e negr os e br br ancos? ancos? Qu Qual a sua con cont r i bui ção par par a a con const r ução de de um uma soci edad edade e de de ci dadãos menos r aci st as? Por Por ém, a t ent ent at i va de r espon espond der a est as qu quest ões ões deve deve ser
pr eced cedi da
de
r evi são
suci suci nt a
sobr sobr e
o
r aci smo,
o
pr econ econcei t o e a di di scr i mi nação, ação, bem como de de al al gumas pa pal avr avr as sob sobr e as r el açõe ções ét ét ni cas cas no no Br asi l .
1.2. Racismo, preconceito e discriminação
29
Embor bor a
sej a
um uma
t ar ef a
bast bast ant ant e
compl exa,
mas
i mpr esci ndí vel vel par a se com compr eend ender a anál i se pr pr et endi da nest e t r abal ho,
con consi der o i mpor t ant e di f er enci ar os con conce ceii t os de de
r aci smo, pr eco con nce ceii t o e di scr i mi naçã ção o ét ni co coss e apr apr esent sent ar o mod odo o como ess esses es concei concei t os se r el aci on onam am. A const const r ução ução do do r aci smo at ual der i va va,, em cer cer t a medi da, das t eor i as ev evol uci oni st as do do sé sécu cull o XI X, que aca acab bar am por i nf l uenci ar
vár i as
ár eas
do do
con conheci ment o,
ent r e
el as
a
Bi ol ogi a e as Ci Ci ênci as So Soci ai s. A i déi a de i gual dade ent r e os homens def r ont ont avaava- se com a af i r maçã ação o da da exi exi st ên ênci ci a de de um uma hi er ar qui a
r aci al
ent r e
os
homens , ho
o
chamado
r aci s mo
c i ent í f i c o. 11 De
acor cor do
denomi nado
com com Hasenb senbal g
r aci smo
ci ent í f i co, co,
( 1982) , de
os
ger ação ção
conce conceii t os
do do
em ger ação ção,
acab acabar am por se t or nar comuns na soci edad edade e cont cont empor ânea ânea,, j ust i f i cando e mant endo endo as pr át i cas r aci s t as, as , espal es pal hando hando o pr econ concei cei t o e pr omoven ovend do a di scr sc r i mi nação, ação,
o que pr ej udi ca
essenci essenci al ment ent e o gr upo negr egr o. “A
raça
como
historicamente 11
atributo elaborada,
social
é
continua
a
No livro A livro A origem das espécies, espécies, de Darwin, há a formulação clássica da evolução orgânica e biológica das espécies. Porém, no campo da antropologia serão os antropólogos ingleses Sir James George Frazer e Sir Edward Burnett Tylor e o americano Lewis Morgan que formularão conceitos sobre a unidade cultural e os estágios diferentes de evolução e desenvolvimento civilizatório. civilizatório. A diferença passa a ser conceituada como desigualdade. Para se atingir a civilização, os povos passariam, passariam, necessariam necessariamente, ente, pelos seguintes estágios: selvageria, barbárie e civilização. civilização. Sistematiza-se, a partir desses conceitos, a noção da hierarquia racial que se constituiu num axioma científico do século passado, que teve como expoentes Friedrich Ratzel e o conde de Gobineau.. Consultar: Rocha, 1994. Gobineau
30
funcionar
como
um
dos
critérios
mais
importantes na distribuição de hierarquia social. Em outras palavras, a raça se relaciona fundamentalmente como um dos aspectos
de
sociais,
isto
reprodução é,
a
das
classes
distribuição
dos
indivíduos nas posições da estrutura de classes, as dimensões distributivas na
senbal g, estratificação social” ( Hasenb
1982,
p. 90) . J á o r aci smo é uma pr pr át i ca ca qu que r epr odu oduz na con consci ênci a soci al c ol ol et i va um ampl o conj conj unt unt o de de f al so soss val val or es e de de f al sa sass ver ver dades e t or na os r esul t ados ados da pr ópr ópr i a ação ação com como compr ovação ovação dessas dessas ver dade dadess f al seadas seadas ( Cunha J r . , 1992) .
Ness e sent sent i do, o r aci smo ap aprr esen esentt a- s e como uma i de deol ol og ogii a que per per mi t e o dom domí ni o sobr sobr e um um gr upo , como por por exem exempl o j udeu udeu,, negr negr o,
muçul mano ano e out out r os,
paut pa ut ad ado o,
apenas,
em at r i but os
neg egat at i vo voss i mput ad ados os a cad cada um del es. Assi m, o r aci smo at r i bui a i nf er i or i dade a uma r aça e est est á ba basea sead do em em r el açõ çõe es de poder , l egi t i madas pe pel a cu cull t ur a domi nant e ( Kaben abenge gell e Munan unanga ga,, 1996 1996)) . 12 O r aci smo no no Br Br asi l
pode ser ser
i dent i f i cad cado qu quando se
r eal i za uma l ei t ur a com compar at i va, quant i t at i va e qual i t at i va, das desi desi gual dades ades soci ai s e das das suas suas co c onseqü seqüênci ênci as na na vi vi da das pop popul ações ações neg negr a e br anca. anca.
12
Aula expositiva dada pelo professor Kabengele Munanga, no curso de Pós-Graduação Pós-Graduação na faculdade de o Antropologia/USP, 2 semestre semestre de 1996.
31
Par a
Pet t i gr ew ( 1982) ,
há
uma
di f er en enci ci açã ação o
entt r e en
r aci smo i ndi vi dual e r aci smo i nst i t uci onal . O pr i mei r o i ncl ui at i t udes pr pr econ concei cei t uosas e com compor t ament os di scr i mi nat ór i os. Por ém, con cont r ast ando com com essa i déi a, o r aci smo i nst i t uci onal engendr a
um
con co nj unt o
de
ar r anj os
i nst i t uci onai s
que qu
r est r i ngem a par t i ci paçã ção o de um det er mi nado gr gr upo r aci al ( no noss o caso caso o gr gr upo de de ne negr os) .
Ess e t i po de de r aci smo est est á
l i gado à est r ut ur a da soci edade e não aos seus seus i ndi ví duos. Temos, os , não obst ant e, o pr pr eco con nce ceii t o como um s ubpr ubpr odut odut o do r aci smo. Par a Cr Cr ochi chi k ( 1995) , é um uma at at i t ude de de ho host i l i dade nas
r el açõ çõe es
i nt er pesso ssoa ai s .
Como
o
desenvol vi ment o
da da
cul cul t ur a, o pr ocesso cesso de se t or nar i ndi ví duo se t em dado em f unção ção
da da
ad adapt ação ção
soci soci al i zaçã zação o,
à
l ut a
pe pel a
sob sobr evi vên vênci a.
Essa
que pode t or nar um i ndi ví duo pr econ concei cei t uoso, so,
pode f azêzê- l o t er pr econ concei cei t o em r el ação ção a di ver sos sos ob obj et os. “Não
se
(sic)
pode um
preconceito, constantes,
por
isso
se
estabelecer
conceito
unitário
pois
tem
que
ele
dizem
de
aspectos
respeito
a
uma
conduta rígida frente a diversos objetos e
aspectos
necessidades
variáveis
que
remetem
específicas
às do
preconceituoso, preconceituoso, que são representadas nos conteúdos
distintos
atribuídos
aos
objetos. Na relação entre a identificação de características do preconceituoso e a diversidade de conteúdos que percebe em suas vítimas, se apresenta na base, a
32
relação
entre
indivíduo
e
sociedade,
isto, porque, a fixidez de um mesmo tipo de
comportamento
se
relaciona
com
estereótipos oriundos da cultura. cultura .
Esta
relação não é direta, pois o indivíduo, se apropria e modifica estereótipos de acordo com as suas necessidades, contudo, as idéias sobre o objeto do preconceito não
surgem
do
nada,
mas
da
própria
chi k, 1995. p. 16) . cultura” ( Cr ochi Podemos
ent ender ender
o
pr eco con nce ceii t o
com co mo
um j ul gament o
negat i vo vo,, na mai or par t e da das vezes, vezes, e pr évi o em em r el ação ção às pess oas oas
ocup ocupant ant es
s i gni f i c at i vo.
El e
de de é
qual quer man antt i do
out out r o
apesar ap
papel
de
os os
soci al f at os
o
con co nt r adi ze zerr em, poi s não não se apói a em em uma exp expe er i ênci a co concr et a. El e
si nal i za su susp spe ei t a,
i nt ol er ânci a,
ódi o
i r r ac i onal
ou
aversão a i ndi ví duos per aversão per t encent cent es a um uma mesma r aça, r el i gi ão ou a “ou “out r as r aças, ças, cr edos, r el i gi ões, et c”. 13 Pr econ econcei t o, dest e modo, envol vol ve aspect aspect os emoci onai onai s e cog cogni t i vos. É “um modo efetivo modo efetivo e categórico de funcionamento mental que inclui pré-julgamen pré-julgamento to rígido e julgamento errado dos grupos humanos” ( Pet t i gr ew, 1973) . 14
O pr econ concei cei t o
raci raci al
com compor t ament os negat i vos vos e, 13
no
Br Br asi l
envol ve
at at i t udes
em al gumas si t uaçõe ções,
e
at i t udes
No Dicionário Aurélio (1988), (1988), a palavra preconceito traz essa essa definição: 1. Conceito ou opinião formados formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia pré-concebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; prejuízo. 3. Superstição, crendice; prejuízo. 4. suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões, etc.
14
Citado por Jones, 1973, p. 54.
33
supo supost ament e posi t i vas vas cont cont r a negr os, apoi adas em co con nce ceii t os ou op opii ni õe õess não f undamen entt ad adas as no con conheci men entt o, e si m na sua ausên sênci ci a.
O
que
nã não
r econ conheci do pe pel o qu que é, é,
per per mi t e
da
humanidade
i ndi ví duo
neg negrr o
mas si m f al sament e r econ conheci do.
essên ssênci a do do pr pr econ concei cei t o r aci al parcial
ao ao
do
ser A
“reside na negação total ou
negro
e
outros
não-brancos,
constitui a justificativa para exercitar o domínio sobre os
senbal g, 1981, p. 01) . povos de cor” ( Hasen Esse pr econ concei cei t o est á pr esen sent e na soci soci edade br asi l ei r a, no cot cot i di ano dos i ndi ví duos, e é al t ament e pr ej udi ci al par a a popul ação ção negr a, t ant o nas r el açõe ções soci soci ai s ( f amí l i a, escol scol a, bai r r o, t r abal ho et c. ) quant o nos mei os de de comuni cação cação 15. Os est est er eót i pos ca car acter cter í st i c os de no nossa pr pr ópr i a cu cul t ur a são f i os cond condut or es par par a a pr op opag agaçã ação o do do pr pr econ concei cei t o . Podemos di zer zer que el es t êm a f unçã ção o de si mpl i f i ca carr pr obl emas . El es evi t am a nece cessi ssi dade de se pe pensar sobr sobr e os ef ei t os da das con condi çõe ções soci soci ai s,
que con cont r i buem par a o desaj ust ament o e
excl usão de al al guns. Os est er eót i pos i mpedem a r ef l exão xão sob sobr e o mundo ndo r eal eal . Seus Seus cont cont eúdo eúdoss s ão mecani ecani s mos soci s oci ai s que que vi vi s am
15
Os meios de comunicação representam um forte instrumento de propagação de racismo. Não podemos esquecer que esses meios de comunicação existem nessa sociedade e os valores que divulgam foram também ideologicamente camuflados, podendo assim estar trabalhando pela desqualificação do “diferente”, sem se dar conta, sem refletir sobre o papel que estão desempenhando ao mostrar e reforçar implícita ou explicitamente os aspectos aspectos negativos de um determinado determinado grupo ou indivíduo estigmatizado. estigmatizado. Os programas programas televisivos, propagandas e jornais apresentam, constantemente, os indivíduos negros como inferiores. Ver: A Ver: A publicidade e os símbolos raciais, raciais, Jornal da USP, na semana de 09 a 12 de dezembro de 1991, p.2. Na Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo há um grupo de pesquisadores coordenados pela Profa. Dra. Solange Solange Couceiro que estuda o racismo nos meios de comunicação. comunicação.
34
amant er
o
status-quo de
um det er mi nado
seg segment o
soci soci al
( Cr ochi chi k, 1995) . Pet Pet t i gr ew vê
os
est er eó eótt i pos
como
i mag agen enss
pr on ontt as
di sp spo oní vei s s obr e os os gr upos soci ai s. I magens que po podem ser r ecu ecupe perr ad adas as
pel a pel
si mpl es
men enção ção de de
se
per per t encer encer
a
um um
det er mi nado gr gr upo ( Pet t i gr ew, 1982) . Os est est er eót i pos, por sua sua vez, vez, dão or i gem ao est i gma qu que, i mput ado ao i ndi ví duo negr o, cot cot i di ano da vi da soci soci al , desacr edi t ado.
di f i cul cul t a sua sua acei cei t ação ção no
i mpondo- l he a ca carr act er í st i ca de
Essa “mar ca” ca” na na r el ação ção soci soci al
f az r ecai cai r
sobr sobr e o neg negrr o um um ol har pr econceb concebii do, i mpedi ndo ao ao ob obser vad vador per ceb ceber a t ot al i dade de seus seus at r i but os ( Gof f man, 1963) . O est i gma de negr egr os est est á,
par a Gof f man, an,
i nser i do na
cat cat egor i a de est i gmas t r i bai s de de r aça, ça, r el i gi ão e nação ção, que podem ser ser t r ansmi t i dos at at r avés vés da da l i nhagem e t ambém podem cont cont ami nar nar t odos odos os membr os de um uma f amí l i a. Pode Pode-- se ent ent ende enderr que: “(...) um indivíduo que poderia ter sido facilmente
recebido
na
relação
social
quotidiana possui um traço que pode-se impor à atenção e afastar aquele que se encontra, destruindo a possibilidade de atenção
para
outros
atributos
seus”
( Gof f man, 1963, p. 14) . Por Por cont cont a do do est est i gma, a soci edad edade e ( por mei o de de seus seus i ndi ví duos) t r at a o est i gmat i zado zado por mei o de di ver ver sas f or mas
35
di scr i mi nat ór i as, que r eduzem zem si gni f i cat cat i vam vament e sua suas cha chances ces de vi das. “Construímos uma teoria do estigma, estigma, uma ideologia
para
explicar
a
sua
inferioridade e dar conta do perigo que ele
representa,
racionalizando
algumas
vezes uma animosidade animosidade baseada em outras diferenças,
tais
como
as
de
classe
social” ( Gof f man, 1963, p. 15) .
Gof f man des des t aca duas uas f ases i mpor por t ant ant es no pr ocesso ocess o de soci al i zação zação de de um uma pesso ssoa a est est i gmat i za zad da: em pr i mei r o l ugar , el a ap apr en end de e i ncor por a o pon ontt o de de vi vi st a dos dos “nor “nor mai s” , assumi ndo
t ambém as
i dent i dade.
cr en enças ças
I ni ci al ment e,
da da
soci ed edad ade e em em r el aç ão
adqui r e
t ambém uma
i déi a
à do
si gni f i cad cado de possui ssui r um est i gma. Um possí vel vel
model o par par a a t omada ada de de con consci ênci a do do
est i gma est est á l i gado à: “capacidade da família família e, em menor grau, da vizinhança local, em se construir uma cápsula protetora protetora para seu jovem membro. Dentro
dessa
cápsula,
uma
criança
estigmatizada estigmatizada desde o seu nascimento pode ser
cuidadosamente
controle
de
protegida
informação. Nesse
pelo círculo
encantado, impedem que entrem definições que
o
diminuam,
enquanto
se
dá
amplo
acesso a outras concepções concepções da sociedade mais
ampla,
concepções
que
levam
a
criança encapsulada a se considerar um
36
ser humano humano inteiramente qualificado que possui
uma
identidade
normal...” normal ...”
( Gof f man, 1963, p. 42) . Ass i m, o r econ econheci ment ent o do est i gma f i ca mai s l i gado ado ao di st anci anci ament ent o do do gr gr upo f ami l i ar . Por Por ém, devem evemos ent ent end ender que no pr ópr i o gr upo f ami l i ar se cr i a um t er r eno par a o est i gma se i nst al ar com com ef i cáci cáci a, vi st o que a pr ópr i a f amí l i a j á est á mar cada cada por el e.
Ent ão,
no i ní ci o do per í odo esco scoll ar ,
a
cri ança ça est est i gmat i zad zada, desp sprr ot egi da pel o f i l t r o f ami l i ar , ao t r avar con cont at o com com out r as cr i anças, ças, pr ovav vavel ment e ser á l eva vad da a conhe conhecer cer e apr apr en ende derr o seu est est i gma, como por por exem exempl o, por mei o de xi ng ngam amen entt os e of en enss as as at r i buí das ao seu seu pe per t enci ment o ét ni co. co. Par a Bar Bar bos bos a ( 1987 1987)) ess e moment ent o: “(...) é crítico, na medida em que é o centro
de
toda
questão
da
identidade
racial. É o momento em que a criança (ou jovem)
toma
diferenças estiveram
consciência
raciais, cientes,
não
pois mas
de
disso
do
suas sempre
significado
dessas diferenças diferenças e da importância que elas têm para as suas futuras relações sociais, uma vez que representam a fonte do preconceito que aparecerá nos momentos em que foram confrontados com os brancos, e
que,
agora,
passam
para
um
consciente” consciente ” ( Bar bosa, 1987, p. 54) .
nível
37
O pr econ concei cei t o r epr esent sent a um r equi si t o i mpor t ant e par a a manut enção da di di scr i mi nação ação ét ni ca, vi st o que um i ndi ví duo pr eco con nce ceii t uoso negr os
não nã
aceii t a, ace
posi t i vament e,
o
cont at o con
com com
na vi da soci al o qu na que par par a est est es pod pode e acar acar r et ar
pr ej uí zos zos
eco econ nômi cos, cos,
al ém
dos
pr pr ej uí zos zos
psi psi col col ógi cos cos
decor cor r ent es das expe xper i ênci as t r aumát i cas cas vi vi das. Ent Ent ende ende-- se quando,
que a
di scr i mi naçã ção o
em co con ndi çõ çõe es soci soci ai s da dadas,
ét ni ca
se
evi denci a evi
de sup supost ost a i gual dad ade e
ent r e br br anco coss e ne negr os, se i dent i f i ca um f avor eci ment o par par a um det er mi nado gr upo nos
asp aspe ect os
soci soci al ,
educaci caci onal
e
pr of i ssi onal . Fat o que expr essa um um pr oce cesso sso i nst i t uci onal de excl usã são o soci soci al do do gr upo, desco escon nsi der ando sua suass hab habii l i dades e conheci conh eci men entt os os.. E,
j unt os , “discriminação e racismo institucional não
apenas limitam as oportunidades dos grupos externos, mas são também poderosos e eternos suportes diretos do preconceito e discriminação individuais” ( Pet t i gr ew, 1982, p. 05) .
A di scr i mi nação ção r aci al 16 oper oper a, na noss nossa a soci edad edade, e, como um pr ocess ocess o qu que acar acar r et a i númer as desvan desvantt agen agenss par a o gr upo negr o
e
par a
t oda
a
soci soci edade
br asi l ei r a,
di r et a
ou
i ndi r et ament e. 16
Embora no ano de 1989 tenha entrado em vigor a lei 7.716/89 do deputado Carlos Alberto de Oliveira, em atendimento às reivindicações do movimento negro, que regulamenta o dispositivo constitucional que pune práticas racistas. Para Silva, essa lei representa um “expressivo avanço do ponto de vista político, no seu suporte técnico-jurídico e deixa muito a desejar, o que tem socorrido não só os que têm cometido esse tipo de delito criminal, mas o próprio Poder Judiciário, que não tem interesse no seu aperfeiçoamento, para não se ver obrigado a decidir sobre fatos que o incomodam, pois atinge, na maioria das vezes, diretamente aqueles que fazem parte das das classes dirigentes” (1996, p. 128).
38
Compr een eende- se que que o r econh econheci eci ment ent o posi t i vo das di f er enças enças ét ni cas deve deve ser pr opor opor ci onad onado o desde esde os pr pr i mei r os ano anoss de vi da. Par Par a t or nar a pr é- escol a um espa espaço posi t i vo ao ent endi ment o das di di f er enças ças ét ét ni cas, cas, é necessár necessár i o ob obser var var mos o pr ocesso ocesso de soci al i zação zação at at ual ment ent e dese desenv nvol ol vi do no espaço espaço escol escol ar
que, que,
conf conf or me dem demonst onst r ado ado por por
di ver sos est udos udos e
pesqui squi sas, par ece i gnor ar essa qu quest ão. Cont ont udo, a Ed Educaçã cação o I nf ant i l não pode esqu esquii var var - se do do de dever ver de pr pr eparar eparar o i ndi ví duo pa par a a exi exi st ênci a da das di f er enças ças ét ni cas, cas, j á qu que el el a, i nevi t avel vel ment e, per mear á a sua sua rel ação ção com os dem demai s ci dadã dadãos. os.
39
CAPÍ TULO I I
2.1. Brasil
Aspectos
gerais
sobre
relações
étnicas
no
40
At ual ment ent e, os neg negrr os 17 r epr esen sent am 44, 2% da popul ação ção br asi l ei r a. Est e í ndi ce t or na o Br asi l o paí s nã não- af r i can cano com a mai or popu popull ação negr negr a do mundo undo e o segund segundo o mai or s e consi consi der ar mos t odo odo o gl obo obo t er r est r e, per dend endo soment ent e par a a Ni gér i a ( Ri bei r o,
1996) .
No ent ant o,
a mai or par t e desses
i ndi ví duos per per manece anece ocup ocupand ando a base da pi r âmi de soci al , sobr sobr evi evi ven vendo nas cond condi ções ções mai s adve adverr sas, com poucas oucas chan chances de r eal i zar zar seu seus pr pr oj et os de de ascen scensão são soci soci al , escol scol ar i zaçã zação o, mor adi a, t r abal ho et et c. “Os relatórios feitos por organismos internacionais deixam a nu dois brasis: um moderno, rico e desenvolvido e outro, pobre
e
anacrônico.
O
que
chama
a
atenção, nesses dois países contidos em um só, são os estoques raciais alojados em cada um deles. No primeiro Brasil, país que mais cresceu neste século, temse um povo marcadamente branco e amarelo. No segundo Brasil, a esmagadora maioria é preta e parda” parda” ( Sant os, 1996, p. 14) . 18
Essa
r eal i dade
vi vi vi da
di di ar i ament e
po por
negr os
não não
con const i t ui uma hi st ór i a r ecen cent e. A l i ber t ação ção dos escr escr avos, no
17
Optamos pela grafia grafia “negro” em razão de sua utilização utilização histórica. As denominações utilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) - preto, pardo, branco e amarelo - não contemplam a perspectiva de análise desta pesquisa. Consideramos “negros” “negros” os “pretos e pardos”, segundo as definições do IBGE. 18 In Ribeiro, 1996.
41
Br asi l , em 13 de mai o de de 18 188819, t or nou os af af r i can canos e af r obr asi l ei r os i guai s ao ao homem br anco, co, per ant e a l ei . Esse er a apen apenas as o i ní ci o de de um uma “nov “nova” a” soci edad edade. e. “(...) o Brasil teve de lidar depois da abolição com o “problema” posto pelos exescravos e descendentes de africanos. A solução
adotada
“problema”
fornece
entendimento Brasil
pela
das
nação a
chave
relações
Republicano.
para
Esta
este
para
o
raciais solução
no não
implicou um sistema de segregação racial semelhante ao dos Estados Unidos, mas o branqueamento branqueamento
e
a
integração simbólica
dos brasileiros não-brancos através da
senbal g, idéia da democracia racial.” ( Hasenb 1990, p. 2) . Const at a- se
qu que
a
l ei
Abol i ci oni st a não possi bi l i t ou a ci dada dadani ni a par par a a mass a de de exexescr avos avos e de de seus seus descend escendent ent es. A par t i r da pr pr omul gação ção da da l ei , os
ex- escr avos vos
descen scendent es
19
f or am
e
seus seus
seg segr egados
Para Moura (1994), tiraram do escravo africano e de seus descendentes, de forma definitiva,“ definitiva,“ (...) a territorialidade, frustaram completamente a sua personalidade, fizeram-no falar outra língua, esquecer as suas linhagens, sua família foi desmantelada e/ou dissolvida, os seus rituais iniciáticos tribais se desarticularam, o seu sistema de parentesco completamente impedido de ser exercido, e, com isto, fizeramno perder, total ou parcialmente, mas de qualquer forma significativamente, a sua ancestralidade. [...] Além do mais, após o 13 de Maio e o sistema de marginalização social que se seguiu, colocaram-no (o escravizado) escravizado) como igual perante a lei, como se no seu cotidiano da sociedade competitiva (capitalismo dependente) que se criou esse princípio ou norma não passasse de um mito protetor para esconder as desigualdades sociais, econômicas e étnicas” (Moura, 1994, p.160).
42
soci al
e
econ econom omi cament ent e.
Despo spossuí ssuí dos,
com com
necessi cessi dades
mat er i ai s i medi at as par par a a sua sobr sobr evi vên vênci a
e
a
de de
seus seus
f ami l i ar es, el es pa passava ssavam: “(...)
a
disputar
a
sua
sobrevivência social, cultural e mesmo biológica em uma sociedade secularmente racista,
na
qual
técnicas
de
seleção
profissional, profissional, cultural, política e étnica são
feitas
para
que
ele
permaneça
imobilizado nas camadas mais oprimidas, exploradas
e
subalternizadas”
( Mour a,
1994, p. 160) . A
at ual
posi ção
de
i nf er i or i dade sóci sóci o- econ conômi ca do negr egr o não deve eve ser uni uni cament ent e
à
moment o
da
escr avi dão. as
sua
r el aci onad onada a condi condi ção
abol i ç ão
no da
A af i r mat i va de que
desi gual dades
cont empor por âneas âneas
r aci ai s
est ão
só
r esi dual ment e l i gadas ao l egad egado o da escr escr avi avi dão de deveve- se à con cont í nua oper ação ção de pr i ncí pi os r aci st as de sel sel eção ção soci soci al ( Mour a, 1994) .
43
A i deol eol ogi ogi a da “dem “democr aci a r aci al ”
apar apar ece como um
el ement o com compl i cad cador da si t uação ção do do ne negr o. Essa i deol ogi a, embor bor a se t enh enha f unda undam ment ent ado ado nos nos pr i mór di os da col col oni oni zação 20 e
t enh enha
ser vi do
par a
pr pr opor ci ona onar
a
t oda
a
soci soci edad edade e
br asi l ei r a o or gul ho de ser vi st a no mundo i nt ei r o com como soci soci edade
pací f i ca, ca,
per si st e
f or t ement e
na na
at ual i dade,
mant endo os con conf l i t os ét ét ni cos cos f or a do pal co das di di scuss scuss ões. Embor a ai nda exer exer ça mui t a i nf l uênci ênci a na soci edad edade, e,
pouco ouco
cont cont r i bui par a mel hor ar concr concr et ament ent e a si t uação ação dos neg negrr os. Repr esent sent a um uma f al áci a qu que ser ser ve par a en encob cobr i r as pr át i cas cas r aci st as ex exi st ent es no no t er r i t ór i o naci onal e i sen sent ar o gr upo br anco anco de uma r ef l exão s obr obr e si mesmo. Par a possí vel vel
Munanga unanga
( 1996) 1996) ,
expl i caçã cação o
i nt er i or i zaçã zação o
da
par a
uma a
di scr i mi nação ção
ét ni ca no Br asi l est á na f or ma da i deol ogi a desenvol esenvol vi da
20
r aci st a pel pel o
aqui segment ent o
Para Azevedo (1996), a fama da “democracia racial” brasileira - o país da igualdade - vem desde 1816, através de uma idéia divulgada por Henry Koster (filho de britânicos britânicos nascido em Lisboa que viveu de 1809 a 1811 em solo brasileiro) em seu livro publicado em Londres (1816). Para Koster, os brasileiros eram mais “indulgentes” com os escravos que os europeus. No nosso século essa função foi desempenhada por Gilberto Freire em Casa Grande e Senzala, Senzala, como afirma Cunha Jr.: “A construção feita sobre o artefato de Casa Grande & Senzala, em que as relações não seriam tensas, pois o “senhor” dormia com a escravizada. Advogada do escravizador, por isso enaltecida e de contestações abafadas. “Eito”, “senzala” e “casa grande”, não são uma poética construção harmônica, são relações de extrema violência. A visão entre a casa grande e a senzala é da cozinha do escravizador, eurocêntrica iluminada pelo racismo.” (Cunha Jr., 1995 – Jornal Folha de São Paulo, Paulo, 28/07/1995, p.1 Caderno 3). Ainda sobre uma crítica do mito da “democracia racial”, consultar: Medeiros, Maria Alice de Aguiar. O elogio da dominação - relendo Casa Grande & Senzala. Senzala. Rio de Janeiro, Achiamé, 1984. - Cardoso, Fernando Henrique. “Os livros que inventaram o Brasil”. In Novos Estudos - CEBRAP, nº 37, Nov, 1993, p. 21-35.
44
domi nant ant e
da da
soci edad edade. e.
El e
expl i ca: ca: “Não sou o primeiro nem o último a falar da ideologia da democracia racial como fonte explicativa do “preconceito de se ter preconceito” e dessa tendência geral do brasileiro de negar seus atos discriminatórios. discriminatórios. Alguém já viu ou leu um documento oficial no qual essa ideologia é explicitamente formulada? Acredito que não. Estamos num país onde certas coisas graves
e
importantes
se
praticam
sem
discurso, em silêncio, para não chamar a atenção e não desencadear um processo de conscientização,
ao
contrário
do
que
aconteceu nos países de racismo aberto. O silêncio, velado,
o o
implícito,
a
paternalismo,
sutileza, são
o
alguns
unanga ga,, 1996 1996,, aspectos dessa ideologia” ( Munan p. 214- 5) . Mour a
( 1994) ,
ao
qu quest i onar
a
exi exi st ênci a
i deol ogi a, af i r ma: “O racismo brasileiro (...) na sua estratégia e nas suas táticas age sem demonstrar a sua rigidez, não aparece à luz,
é
ambíguo,
meloso,
pegajoso
mas
altamente eficiente nos seus objetivos. (...) não podemos ter democracia racial em
um
país
completa
onde
não
democracia
se
tem
social,
plena
e
política,
econômica, social e cultural. Um país que
de dessa
45
tem na sua estrutura social vestígios do sistema
escravista,
com
concentração
fundiária e de rendas maiores do mundo (...), um país no qual a concentração de rendas exclui total ou parcialmente 80% da
sua
população
da
possibilidade
de
usufruir um padrão de vida decente; que tem 30 milhões de menores abandonados, carentes ou criminalizados não pode ser uma
democracia
racial”
( Mour our a,
1994.
pag. 160) . Par Par a Nasci Nasci ment ent o ( 1983) , a democracia racial c onst i t ui um i nst r ument ent o da da heg hegem emoni oni a br br anca anca br br asi l ei r a qu que mascar a um um pr ocesso cesso genoci da, con const i t ui ndo: “(...) uma fachada despistadora que oculta
e
disfarça
a
realidade
de
um
racismo tão violento e destrutivo quanto aquele dos Estados Unidos ou da África do Sul.(...)
Não
se
resolve
problemas
utilizando-se o método do avestruz: o método de ignorar a realidade concreta metendo a cabeça na areia” ( Nasci ment o,
1983, p. 28) . Essa i deol ogi a,
apr opr i ada pe pel os ci dadãos,
pr oduz um um
cer cer t o “al “al í vi o”, exi mi ndo- os de de sua suas r espo sponsab sabi l i dades pe pel os pr obl emas s oci ai s vi vi dos pel os neg negr os. Tr agi cam cament e, est es são são, em di ver sas sas si t uaçõe ções, cul cul pabi l i zad zados po por se encon cont r ar em em si t uação ção pr ecár cár i a poi s, sup supost ament e, l hes f al t am vont ade e esf or ço pr ópr i os pa par a al t er ar sua sua con condi ção ção de vi da. Essa f or ma de de pe pensar sobr sobr e os os i ndi ví duos negr os t ambém é ut ut i l i zada zada
46
par a
j ust i f i car car
a
expl xpl or ação ção
econ conômi ca
a
que
est ão
subm submet i dos, acar acar r et and ando- l hes ou out r as pe per das no nos campos soci al e econ conômi co: co: con condi çõe ções pr pr ecár cár i as de de mor adi a, acesso cesso r est r i t o aos aos s er vi ços de saúd saúde e edu educação cação e al t o í ndi ce de de desem desempr ego. ego. Out r a f ace per ver ver sa de dessa i deol ogi a con conf i gur a- se na na sua sua apr opr i ação ção pel os pr pr ópr i os i ndi ví duos ne negr os qu que, em si t uação ção soci soci al , el es,
apr eendem a vi são que a soci soci edade con const r ui u sob sobr e l evando- os
a
r epr oduzi r
pr econ concei cei t os
e
at at i t udes
di scr i mi nat ór i as di di r i gi das ao ao se seu pr ópr i o gr gr upo ét ét ni co, co, que,
t ambém,
t end endenci enci al ment ent e,
o
l hes causa causa a pr ópr ópr i a aut aut o-
negaçã egação o ( Hasenb asenbal g, 1990. p. 02) . 21 O
r aci smo
no no
Br Br asi l
f oi
denom enomi nado ado de de “r aci smo cor cor di al ”. Mesmo
sendo, sendo,
a
meu
ver ,
22
t al
denom enomi nação nação i mpr ópr ópr i a, el a mar ca a f al ênci a da democracia racial . Ess e
r aci smo,
er r onea oneam ment ent e
denom enomi nado de cor di al , gr andes
pr ej uí zos
pa par a
acar r et a aq aquel es
que l ut am di ar i ament e con cont r a um i ni mi go
21
“i nvi sí vel ”,
que
não
Azevedo (1990) sobre esse fato diz: “Das conseqüências da escravatura, não temos dúvidas de que, pior que a pobreza, a miséria, o analfabetismo, a marginalização e a doença, é ... ... a perda da autovisão de autovisão de valor. Se qualquer forma de racismo por si só é condenável, devido aos efeitos bloqueadores que impõe ao outro, o auto-racismo é o mais destruidor dos sentimentos, pois impede até o prazer natural de ser um ser .” auto-racismo .” (Azevedo, 1990, p.48-9). 22 Conforme pesquisa realizada pelo Datafolha: Datafolha: “Racismo cordial”. Folha de São Paulo, Paulo, Caderno Especial, junho, 1995.
47
apar ece
em hor a,
si t uação ção
ou
l ugar pr edet edet er mi nados. ados. Por Por ém, sua ação é cr uel sob
uma
par a aq aquel es qu que,
pel e
negr egr a,
buscam a
sob sobr evi vênci a f í si ca e emoci onal pr ópr i as e de seu seus f ami l i ar es. Em conseq conseqü üênci ênci a negr o
t em
con const r ui r
desse desse si do
uma
i mpedi do
ci dadani a
encont cont r ando- se di ant e
r aci smo,
o de
pl ena,
de despr ot egi egi do
de de
si t uaçõe ções
de
vi ol ênci a. 23 Nasci ment ent o apon apontt a que um est ado ado de t er r or vi gor a desde esde 1890, no qual : “(...) o negro vem sendo o preso político mais ignorado desse país. Por ser negro, por praticar suas tradições de origem - isto é, por razões políticas até
hoje
ele
é
vítima
predileta
da
violência policial. O negro é o primeiro a
ser
preso,
escolhido
a
dedo
em
“batidas” e buscas em geral violentas. Tal
arbitrariedade
confirma
o
dito
popular: “branco correndo é atleta; preto
23
Pesquisa divulgada pelo jornal Folha de São Paulo aponta Paulo aponta para a desigualdade nas condições de vida entre negros e brancos na cidade de São Paulo. Essa pesquisa realizada com base nas declarações de óbito registradas no ano de 1995, 1995, mostrava que os homicídios por arma de fogo são a principal causa de morte entre negros. negros. Morreram dessa forma 7,5% dos negros estudados, contra 2,8% dos brancos. Ver: “Negro morre a bala e branco, do coração” Jornal Folha de São Paulo, Paulo, 17 de maio de 1998. 3o Caderno, p.1-4.
48
correndo
é
ladrão”
( Nasci ment ent o,
1983,
p. 18) . São vár vár i as as mani ani f est ações ções em que
se
pode pode
exi st ênci a ét ni ca
compr ovar
de
di scr i mi nação ção
em r el ação ção
consi consi der and ando br as i l ei r a
a
qu que
aos
ne negr os,
a
r eal eal i dade ade
apr es en ent a
um c or t e
i nci si vo en ent r e br br ancos cos e ne negr os: br ancos, cos, na sua sua mai or i a, r eceb cebem mai or es
sal ár i os
c ont r ár i o,
e,
no cami nho
negr os os ,
em
s ua
mai or i a, encon encontt r am- se na base da da est r ut ur a
soci soci al ,
sem sem
vi sl umbr ar em
possi bi l i dades
de
mel hor i a
sua sua
de
em
exi s t ên ênc i a decr escent escent e. são são
e
c om
mobi l i dade
Fat or es como esses
encob cober t os
al egór i co” co” r eal i dade
con condi ção ção
po por
qu que e
um
“vé “véu
f al sei sei a di f i cul cul t a
a aos
br asi l ei r os en enxer gar em o pr obl ema exi s t en ent e, e,
bem
c omo
s ua ua
con cont r i bui ção ção e seu f avor vor eci ment o par par a a manut anut enção enção des des s e quad quadrr o.
49
O
apr apr of unda undam ment ent o
das das
des des i gual gual dade dadess
econôm econômi cas
e,
conseq conseqü üent ement ent e, soci ai s dos dos neg negr os em r el ação ação aos aos br ancos ancos con cont r i bui u par a ab abal ar o con consenso senso sobr sobr e o car car át er democr át i co das r el açõe ções ét ni cas cas e sobr sobr e a i nexi st ênci a de r aci smo em noss a soci edade. ade. Ampl i ou- se, ent ão, ão, a di scussão dessa qu quest ão em sol sol o br asi l ei r o a par t i r da décad cada de 5024, t r aba abal ho
f i nanci anci ado
l i t er at ur a
pel a
denomi nada
r epr esent sent ada pe pel as
UN UNESCO r esul t ou
“Esco “Escoll a
obr as
Paul i st a”,
quan quando do um um
em uma
ampl a
pr i nci pal ment e
de Fl or est an Fe Fer nandes,
Oct ávi o
I anni ,
Fer Fer nand ando He Henr i que Ca Car doso e Or Or acy Nogu oguei r a,
ent ent r e
out r os
pe pesqu squi sado sador es
Essas
da da ár ea de Ci ênci as
So Soci ai s.
pesqu squi sas cont cont êm dados que evi evi denci am pr of unda de desi gual dade sóci o- econ econômi ca nas nas cond condi ções ções de vi da de de br br ancos ancos e neg negrr os, o que f r agi l i za a ver aci dade da da “de “democr aci a r aci al ” br br asi l ei r a. Os dado ados col et ados ados cont cont r i buí r am de manei r a f undament ent al par a o avan vanço de de di di scussõe scussõess em out r as ár eas: Bi ol ogi a, Comuni caçõ caçõe es, Di r ei t o, Educaçã cação o, Hi st ór i a, Músi ca e Psi col col ogi a. ( Ri bei r o et al l i . , 1997) A par par t i r
da décad década a de de 70 70,
a di di scuss ão ganh ganhou ou f or ça na na ár ár ea
t r aba abal hi st a com com os t r abal hos de de Ha Hasenb senbal g ( 1979) e Chai a ( 1987) e, na ár ea de Educa Educação, ção, com os t r abal abal hos hos de Rosember ber g ( 198 1984) , Gonçal onçal ves ( 198 1987) , Ol i vei r a ( 1992) e Si l va ( 1995) , ent r e t ant os ou out r os.
24
Em anos anteriores, houve trabalhos pioneiros sobre as condições de vida dos negros brasileiros. Como por exemplo, os trabalhos realizados nas áreas áreas da etnografia comparativa comparativa por Nina Rodrigues (1935) e Edison Edison Carneiro (1937). Porém, a partir de 50, os trabalhos dirigidos pelo professor Roger Bastide provocaram uma mudança substantiva nas linhas de pesquisas sobre o negro brasileiro. brasileiro. Consultar: Bastides e Fernandes, 1955.
50
Hasenb asenbal g ( 197 1979) apon apontt a que que a gr gr ande ande mai or i a dos dos neg negr os br asi l ei r os est á exp expost ost a a um mecan ecani smo de de do domi nação de cl asse. sse.
Al ém di sso, sso,
desvan esvant agen agenss
sof sof r e uma desqu squal i f i caçã cação o pecul cul i ar
compet i t i vas vas
pr oven ovenii ent ent es
de de
sua
e
cond condi ção
ét ni ca. ca. Ass i m, el e ace acen nt ua qu que o r aci smo e a di di scr i mi nação ção post er i or es à abol i ção ção r epr esen sent am as pr pr i nci pai s cau causas sas da da subor subor di nação ação soci al
dos neg negr os e da da sua per manên anênci ci a nas nas
posi çõe ções soci soci ai s mai s ba bai xas. Chai a ( 1987) , ao an anal i sar o r et ar dament o no no pr pr ocesso de de ci dadani a do do ne negr o, apont a a exi st ênci a de de ( Chai a, 1987, “uma defasagem
bastante
grande
entre
as
duas
parcelas
da
população, onde o rendimento médio/hora para os brancos é duas
vezes
superior
ao
rendimento
dos
negros” . 18) .
Est e
est udo ap apont ont a a ocor ocor r ênci ênci a de de mecan ecani smos sut i s de i ngr esso e manu anut enção enção de de um um el evad evado o nú númer o de de pr pr of i ss i onai onai s br ancos ancos no mer cad cado de t r abal ho em r el ação ção aos pr pr of i ssi onai s ne negr os, mesmo par a aquel es com com um ní vel vel de i nst r ução equi val val ent e ao dos br br ancos. ancos. O r aci smo no no Br Br asi l ,
at ual ment ent e, t oma pr pr opor opor ções ções t ão
al ar mant ant es que que at at é o at ual Pr esi dent ent e da da Re Repúbl i ca, Fer Fer nando Henr i que Ca Car doso,
admi t i u,
pr át i cas cas
r aci st as
pr ej uí zos zos
aca acarr r et ados
25
publ i cam cament e,
em em nossa à
soci soci edade,
popul ação ção
negr a
a exi st ênci a de de enf at i zan zando br asi l ei r a. 25
os A
No mesmo ano o presidente instituiu o Grupo de Trabalho para a Eliminação da Discriminação no Emprego e na Ocupação (GTEDEO) e o Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra (GTI), ambos ligados ao Ministério da Justiça, com o objetivo de desenvolver estratégias e políticas
51
t emát i ca ét ni ca t em si do assun ssunt o f r eqüent e no no not i ci ár i o t el evi s i vo e j or na nal í s t i c o26.
Os mei os de comuni uni cação t êm
mar cado cado pr pr esença esença nes nes sa di s cussão cuss ão,, embor a pou poucas cas vezes em seus not i ci ár i os ap apr esen sent em uma mat ér i a que possi bi l i t e i nf or mação ção adequada,
con condi zent zent e
com com a
r eal i dade,
e,
at é
mesmo,
quest i onador a dessa r eal i dade. Nesse cen cenár i o, embor bor a br br eve, eve,
assume i mport ânci a pr pr i mordi al
r et omar
a an anál i se,
da educa educação ção of of er eci da à pop popul ul ação ação neg negrr a pel pel o Si Si st ema
Escol scol ar br asi l ei r o na nas úl úl t i mas dé décad cadas.
2.2. O negro e a educação
No que di z r espei espei t o à edu educação, cação,
o quadr adr o t ambém se
most r a desvan desvantt aj oso par par a o segment ent o negr negr o da da popu popull ação. ação. De acor cor do
com com di ver sos sos
est est udos
na nas
esco escoll as
br br asi l ei r as,
o
r aci smo af l or a de i númer as f or mas, ocul ocul t as ou ou não. Conseg onsegu ui r l ançar çar al guma l uz sobr sobr e os conf conf l i t os ét ni cos cos no no âmbi t o da educaçã cação o escol ar r epr esent sent a o i nt er esse cen cent r al
de mui t os
pesqui squi sador sador es qu que est est udam essa qu quest ão. A par t i r de da dados ext r aí dos das das PNA PNAD27, Rosember ber g ( 1987 1987)) const const at ou que, no Br Br asi l , o al al unado ado negr egr o, em compar ação ao para o combate à discriminação racial. Ampliaram-se, assim, as discussões sobre a implantação de Políticas de Ação Afirmativa no território nacional. Cabe-nos cobrar os resultados desses trabalhos. 26 Ver a matéria “O fim do mito” que apresenta apresenta uma pesquisa realizada realizada pela Isto É/Brasmarket É/Brasmarket que fragiliza É, 04/09/96). a tese de uma convivência pacífica entre negros e brancos na sociedade brasileira (RevistaIsto (Revista Isto É, 27 Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílio (1982) – IBGE
52
al unado br anco, co,
apr esent sent a um í ndi ce mai or
de excl excl usão e
r epr ovaçã vação o escol escol ar . O í ndi ce de de r epr ovaçã vação o na na 1ª 1ª sér i e do do pr i mei r o gr au, por exem xempl o, é 12% mai or ent r e as cr i anças ças negr as. Na escol scol a públ i ca de pr i mei r o gr au é possí vel ver i f i car car a exi st ênci a de um r i t ual pedagógi co que, par a Gonçal çal ves, ves, vem vem r epr epr odu oduzi ndo a excl excl usão e, conseq conseqü üent ent ement ent e, a mar gi nal i zação escol scol ar de cr i anças ças e de de j ovens ne negr os. Par a el e, o “ritual pedagógico do silêncio ” exclui dos currículos escolares a
história de luta dos negros na sociedade brasileira e “ impõe às crianças negras um ideal de ego branco ”
( Gonçal onçal ves ves 198 1987,
p. 28) . O si l ênci o dos
pr pr of essor es
pe per ant e as
si t uaçõe ções
de de
di scr i mi nação ção i mpost as pe pel os pr pr ópr i os l i vr os esco escoll ar es aca acab ba por vi t i mar os est est udant es ne negr os. Esse r i t ual pedagógi co, co, que i gnor a as r el açõe ções ét ét ni cas cas est abel eci das no no espa spaço escol scol ar , pode est es t ar c ompr omet endo o desempenho penho e o desenvol vi ment o da per sona sonal i dade de de cr i anças anças e de de ad adol escen escent es negr os, bem como est ar
cont cont r i bui ndo
par a
a
f or mação ação
de
cr i anças anças
e
de
adol escent scent es br ancos cos com um sent sent i ment o de de sup super i or i dade. Ol i vei vei r a ( 1992) , ao r el at ar as i nt er ven vençõe ções na na Ed Educaçã cação o r eal i zada zadas pel pel o Movi ovi ment ent o Ne Negr o no no Br Br asi l , na dé década cada de de 80 80, cham chama a at enção enção par a o sof r i ment ent o das das cr i anças anças neg negr as, ao evi denci ar
o
sen sent i ment o
de
excl excl usão, são,
pecul cul i ar
à
gr ande
mai or i a del del as. Como dem demons ons t r a o dep depoi oi ment ent o de de um uma cr i ança: ança:
53
“Às vezes me sinto uma intrusa com certas reações de amigos e
( p. 109) . amigas”
Par a Ol i vei r a, na f al a dest a cr i ança negr a
i dent i f i cam cam- se t r ês po pont os:
a af i r mação ção da exi st ênci a da
di scr i mi nação r aci al , a af i r mação ação da i gual dade ade humana ana ent ent r e br ancos, ancos,
negr negr os
e
mest i ços
e
o
ape apell o
ao ao
combat e
à
di scr i mi nação ação, basea aseando- se na na i gual dade ade uni ver ver sal dos hom homens, ens, que t r anscen scende à si t uação ção r aci al e soci soci al . No est udo de Ol i vei vei r a,
as
pr át i cas cas de de di scr i mi nação ção ét ni ca, ca, t ão
di ss emi nadas adas
pr of i ssi onai s
da
f or am det ect adas negr egr as.
en ent r e
os os
ed educaçã cação o,
não
pe pel as
cri anças ças
Par Par a a aut aut or a, ess a não
per cepção cepção se deve deve ao ao f at o de de ser mai s
f áci l
par a
as
cr i anças ças
negr as per per ceb ceber em a di di scr i mi nação ção em si t uaçõe ções con concr et as, nas qu quai s a ação ação do r aci smo é i medi edi at a. A di scr i mi nação ção
mai s
sof sof i st i cad cada,
vei cul cul ada pel os l i vr os di di dát i cos, cos, pel o cur cur r í cul cul o e pel os mei os de de comuni cação, cação, cr i anças ças
par a a mai or i a das das pesqu squi sada sadas,
desape saper ceb cebi da.
passou
Segundo Ol i vei vei r a,
i sso nã não i mpl i ca af i r mar que ao
54
l ong ongo
dos
anos anos
esse
t i po
de de
di scr sc r i mi nação ação não não ven venha a causar causar uma assi mi l ação ação de de est est er eót i pos negat egat i vos, vos,
o qu que ocor ocor r e t ambém
com com a cr i ança br anca. ca. Penso Penso que que a não não per per cepção do r aci smo por por par par t e das das cr i anças anças t ambém bém est á l i gada à est r at égi a da democr aci a r aci al
br asi l ei r a,
que nega a
exi exi st ênci ênci a do do pr obl obl ema. A ausên ausênci ci a do deb debat e soci soci al condi condi ci ona ona uma vi vi são l i mi t ada do do pr pr econ concei cei t o po por par t e do do gr gr upo f ami l i ar , i mpedi ndo a cr cr i ança de f or mar uma vi vi são cr í t i ca sobr sobr e o pr obl obl ema. Tem Tem- se a i déi déi a de de que que não não exi st e r aci smo, pr i nci pal ment e po por par t e do dos prof essores, por i sso nã não se f al a del e. Por out r o l ado,
há a va vast a ex exp per i ên ênci ci a dos pr of esso essorr es em
ocull t ar sua ocu suass at i t ud udes es e compo porr t amen entt os pr pr eco econ ncei t uo uosos sos,, vi st o que est es const const i t uem uem uma pr pr át i ca con condenáv enável el do pon pontt o de de vi vi st a da da ed educação ucação..
Par a r essal t ado ado
Ol i vei r a qu que
a
f i cou cou
f or ma
de de
o
pr of essor ssor car car act er i zar zar a cr i ança negr egr a
evi evi denci enci a
par a
l i dar
c om
seu
despr espr epar epar o
s i t uaç ões
de de
di scr i mi nação ção na na sal a de aul a, poi s
em
mui t os
moment os
o
pr of essor j ul ga a cr i ança negr a cull pada cu
pel a
di scr i mi naçã ção o
s of of r i da: “Além de se sentir rejeitada, a criança negra tem, talvez, por sua própria natureza, lentidão na aprendizagem, lentidão na assimilação do ensino e
55
estes
dois
fatores
contribuem
para
que
ela
não
consiga acompanhar o seu grupo, desista e saia da
epoi ment o escola ou permaneça nela por pouco tempo” ( Depoi de um uma pr pr of essor a) .
28
Nos r el at ór i os ap apr esent sent ados por por essa au aut or a f i ca exp expr esso o desej esej o da cr i ança ança e do adol adol escen escent e negr egr o de ser em r espei espei t ados ados com como ser es humanos: anos : “Nós negros, queremos apenas um lugar tranqüilo para vivermos, construirmos os nossos lares e sermos respeitados, um lugar onde nossos filhos possam estudar, brincar e trabalhar sem serem motivo de chacota dos colegas”.29
Ass i m, de acor acor do com o dep depoi oi ment ent o aci aci ma, o r aci smo é um pr obl obl ema que que est á pr esen esent e no cot i di ano ano escol escol ar , que f er e e mar ca, pr of unda undam ment ent e, cr i anças anças e adol adol escen escent es neg negrr os. Mas, par a per per cebêcebê- l o, há a necessi necessi dade dade de um ol har crí t i co do pr ópr i o al uno.
Anal i san sando l i vr os
di di dát i cos cos 30,
Pi nt o ( 1987)
con const at ou
que per per sona sonagens neg negr os e mest i ços são r evest evest i dos de de at at r i but os que
r ef or çam çam
i magens
ne negat i vas
e
est i gmat i zan zant es.
Pr at i cam cament e, “ todos os itens indicadores de uma posição de destaque na ilustração privilegiam os personagens brancos”
( p. 88) . Par a a aut or a esses sses l i vr os con cont r i buem par a r ef or çar çar est er eót i pos sobr sobr e o gr upo negr o. f r eqü eqüent ent ement e, escr avo avos,
os
humi l des,
per sona sonagens empr egad egados os
Nos l i vr os an anal i sad sados, neg negrr os
dom domést i cos,
ap apar ecem
como:
pobr obr es,
ent ent r e
out out r os. Desse ess e modo, odo, os per per s onag onagen enss negr negr os, em compar ação com
28
Depoimento de uma professora professora extraído do trabalho trabalho de Oliveira, 1992, p.98. Depoimento de uma criança negra extraído do trabalho de Oliveira, op. cit., p.108. 30 A autora analisou 48 livros de leitura para a 4a série do primeiro grau, grau, sorteados de listas publicadas publicadas anualmente pela Secretaria de3 Educação Educação do Estado de São São Paulo. Ver sobre o assunto: assunto: Pinto & Myasaki, 1985; Negrão, 1987. 29
56
os de demai s,
são os qu que ap apr esent sent am o mai or
per sona sonagens
negat i vos. vos.
A
aut or a
per cent cent ual
sal i ent e
qu que
“o
raramente vive as estórias em contexto familiar”
de
negro
( Pi nt o,
1987, p. 89) . Nesse sen sent i do, Si l va ( 1995) 31 com c ompl ement a: “O livro didático, de modo geral, omite o
processo
histórico
e
cultural,
o
cotidiano e as experiências dos segmentos subalternos da sociedade, como o índio, o negro,
a
relação total
mulher, ao
entre
segmento
ausência
nos
os
outros.
negro, livros
sua e
Em
quase
sua
rara
presença de forma estereotipada concorrem em grande parte para a fragmentação da sua identidade e auto-estima. (...) Não é apenas
o
livro
o
transmissor
de
estereótipos. estereótipos . Contudo é ele que, pelo que, pelo seu caráter de ‘verdadeiro’ ‘verdadeiro’, , pela importância que
lhe
é
atribuída, pela
exigência
social do seu uso, uso, de forma constante e sistemática logra introjetar na mente das crianças,
jovens
e
adultos,
visões
distorcidas e cristalizadas da realidade humana criança concorre
31
e
social.
com
as
para
A
identificação
mensagens a
dos
dissociação
da
textos da
sua
Também para Silva, (1995) os livros de Comunicação Comunicação e Expressão do primeiro grau apresentam o negro carregado de estereótipos, como feio e mau. Nos livros didáticos analisados pela autora os negros são descritos e ilustrados como seres irracionais, com atitudes e comportamentos que traduzem incapacidade intelectual. E, com desumanização sugerida, os negros têm ainda uma atuação limitada no espaço social: quando não são apresentados como domésticos, eles são apresentados como escravos.
57
Si l va, identidade individual e social” ( Si 1995, p. 47- 8) . Os
est udos dos
apr esent esent ados ados
evi denci am o f at o de o si st ema f or mal de ed educação ser despr espr ovi ovi do de
el el ement ent os
pr pr opí opí ci os
à
i dent i f i caçã cação o posi t i va de al unos negr os
com com o
Est es
est est udos
necess neces s i dade dade
si st ema
escol scol ar .
de demonst r am de
uma
a
ação
pedagó pedagógi gi ca de combat e ao r aci s mo e aos aos s eus eus desdo desdob br ament ent os,
t ai s
como pr pr econ econcei t o e di di scr i mi nação ét ni ni c os .
El es
podem
es t ar ar
ocor cor r endo no cot cot i di ano escol scol ar , pr ovoca ovocan ndo di di st or ções ções de con cont eúd eúdo cur cur r i cul cul ar
e
ve vei cul cul ando
est er eót i pos ét ni cos cos e de de gêner o, ent r e ou out r os, por i nt er médi o do dos mei os de com comuni cação cação e dos dos l i vr os di dát i cos cos e par adi dát i cos. cos. Fi guei r a ( 1991) l embr a: “(...) o jovem é influenciado por uma
série
de
meios
de
socialização
diferentes da escola. Assim, a família pode
(e
possivelmente possivelmente
o
faz)
embutir
58
comportamentos
preconceituosos
e
discriminadores. O mesmo se afirma, por exemplo,
a
respeito
dos
comunicação,
em
especial
que
da
sua
através
meios
a
de
televisão,
programação
e
de
propagandas insistem em colocar o negro em posições socialmente inferiores ou o representa através de estereótipos como o do sambista, bom de bola etc. Contudo, a
escola
tem
um
papel
extremamente
importante na formação do jovem: sendo um
veículo
de
socialização
primária,
goza de função ideológica privilegiada pela sua atuação sistemática, constante e
obrigatória
junto
ao
alunado
( Fi guei r a, 1991, p. 34) . Sar t r e ( 1965) há mui t o ap apont ont ou o pr pr obl obl ema dos dos val val or es t r ansmi t i dos pe pel os pr pr of essor es aos aos al unos na na sua sua l i nguagem cot cot i di ana. Segundo el e, o pr of essor ssor mi ni st r a : “(...)
centenas
de
hábitos
de
linguagem que consagram a prioridade do branco sobre o preto. O preto aprenderá a dizer “branco como a neve para significar a inocência, a falar da negrura de um olhar, de uma alma, de um crime” ( Sar t r e,
1965, p. 106) . Tor na- s e necess neces s ár i o per gunt gunt ar : em que que medi da a escol es col a est á pr epar ada par a l i dar com com a quest ão ét ni ca? ca? E em que medi edi da a es es col a est est á f or mando ando ou conf conf or mand ando os os i ndi ndi ví duos uos a
59
uma r eal i dade j á est est abel eci da, não po possi bi l i t ando, assi m, a al t er ação ção dessa r eal i dade?
2.3. A investigação sobre racismo, preconceito e discriminação no contexto de educação infantil
Há um um númer o bast bast ant ant e r edu eduzi do de de pesq pesqu ui sas que que anal anal i sam a quest ão ét ni ca na et apa da educaçã cação o i nf ant i l , no Br asi l . Ger al ment e, as pesqu squi sas t r at am, pr ef er enci al ment e, do en ensi no a par t i r do pr i mei r o gr au. Tal vez, i sso se deva à di f i cul cul dade que se t em em obt er i nf or maçõe ções com cr i anças ças mui t o pe pequenas. Mesmo
assi m,
exi st ênci a
da da
as
pe pesqu squi sas
pr pr obl emát i ca
r eal i zada zadas ét ét ni ca
no no
apo apont am par a ní ní vel vel
de
a
ed educaçã cação o
i nf ant i l . Por ém, essas ssas pe pesqu squi sas sas si nal i zam zam a exi st ênci a de pr át i cas cas di di scri mi nat ór i as na na rel ação ção i nt er pessoa ssoal
ent r e os os
adul t os e adul t os/ cr i anças, ças, mas nã não evi denci am a exi st ênci a de di scr i mi nação ção ent r e as cr i anças. ças. Ol i vei r a ( 1994) , em pesqu squi sa r eal i zad zada com com pr of i ssi onai s de cr eche ches e pr pr é- escol scol as,
apont a a exi exi st ênci a de pr át i cas cas
r aci ai s
na nas
di di scr scr i mi nat ór i as
r el açõe ções
i nt er pessoa ssoai s
-
adul t o/ adul t o e adul t o/ cr i ança. ça. Par a a aut or a é necessá cessárr i a uma di di scuss sc ussão ão a r espei espei t o da da t emát i ca ét ni ca no no campo da da educaçã cação o i nf ant i l , pesqu squi sa
i ndi ca
poi s nã não há di r et r i zes zes a or i ent á- l a. t ambém uma
est r ei t a
r el ação ção
ent r e
A a
60
pr ecar i edad edade e dos dos equ equi pam pament ent os - mat er i ai s e hu humanos anos - e o uso si gni f i cat cat i vo dest es pe pel a popul ação ção negr a: “(...)
a
creche
sofre
uma
desvalorização desvalorização profunda no seu cotidiano, por
conta
negros,
na
dessa
presença
medida
em
que
maciça existe
de uma
desvalorização social do negro. Então eu acho que as pessoas na creche, no seu cotidiano, não conseguem valorizar mais determinados trabalhos, por conta dessa desvalorização”.
32
Ent r et ant o, os pr pr of i ssi onai s en ent r evi st ados po por Ol i vei r a não det ect ar am a pr esença sença de pr econ econcei t o e de di scr i mi nação nos r el aci onament os i nt er pessoai ssoai s en ent r e as cr i anças. ças. Godoy odoy ( 1996) ,
que pr pr omoveu oveu pesqu esqui sa com cr i anças anças de
ci nco a sei sei s an anos, cuj cuj o obj et i vo er a anal i sar sar com como a cr i ança dessa i dade r epr esent sent a a quest ão das di di st i nt as et et ni as com com os el ement ent os do do seu cont cont ext ext o soci al , apon apontt a com como nã não pe per cept cept í vel vel a ocor cor r ênci a de di scr i mi nação ção ent r e essas cr i anças. ças. Por ém, ao j ul gar em as
s i t uações
apr esent es ent adas adas
cr i anças ças neg negr as e br br ancas cas dem demonst r ar am,
pel a
pesqui s ador ador a,
em sua suas f al as,
a
i nt er f er ênci a de est er eót i pos e pr econ concei cei t os em em r el ação ção às per sonag sonagen enss negr as. Ass i m, a pe pesqui squi sador sador a i ndi ca qu que ne ness a f ai xa et ár i a as cr cr i anças, ças,
32
ao r eal i zar zar em i dent i f i caçõ caçõe es ou ou
Depoimento dado por uma técnica da Secretaria da Família e do Bem-Estar Social do Município de São Paulo à Oliveira, 1994.
61
descr i ções, ções, se r ef er em de modo odo bast bast ant ant e acen acentt uado ado à cor da pel e. Nesse sen s entt i do, Godoy odoy af af i r ma qu que as as cr i an anças ças ne negr as nessa nessa f ai xa et ár i a se sen sent em descon sconff or t áve veii s qu quando da nece cessi ssi dade de
ver bal i za ve zarr
Tenden Ten denci ci al ment e,
e/ ou par a
assu ssum mi r a
sua su a
condi çã co ção o
pesqui s ado adorr a,
as
ét ni ca ét ca.. cr i anças
demonst r ar am uma i nt er i or i zaçã zação o ne negat i va das s uas di f er ença çass r aci ai s, pr ocu curr ando assemel har - se f i si ca cam ment e ao br anco co.. Val ent e ( 1995) , em con cont r apar t i da, sal sal i ent a o despr spr epar o do pr of essor ssor par a l i dar com com si t uaçõe ções de de con conf l i t os ét ét ni cos cos ent r e os os el ement os do cot cot i di ano esco escoll ar . Dur an antt e a r eal i zaçã zação o de uma at i vi dade cu cujj o obj et i vo er a co com mbat er a exi st ênci a de possí vei s pr át i ca cass pr pr eco con nce ceii t uosa sass e di scr i mi nat ór i as en ent r e as cr i anças, ças,
Val ent e depar ou com com o desp esprr epar o da pr óp óprr i a
pr of esso ssorr a qu que per per gunt a pa par a a cl asse: “Por que vocês acham que o negro tem essa cor? Uma
criança
branca
responde:
‘Porque
elas
(as
crianças negras) são feitas de porcaria!’. porcaria!’ . Diante desta resposta, a professora se esforça em contornar a situação, explicando que o negro tem essa cor por ser originário da África, local cujo sol é muito quente”.
Ass i m, Val ent ent e dest aca uma poss í vel vel r espon sponsabi sabi l i dade ade por par t e da da escol escol a ao ao se omi t i r f r ent e ao ao pr pr obl ema ét ét ni co e ao t r ansmi t i r pr pr econ concei cei t os.
62
Acr edi edi t o,
t ambém,
que que a r esp spo ost a da dada pe pel a cr i ança
i ndi ca o desp espon ontt ar de um pen ensam samen entt o pr eco econ ncei t uoso oso.. A r eal i zação zação de de pe pesqui squi sas com o obj obj et i vo de com compr een eender a di di nâmi ca das das r el ações ações mul t i - ét ni cas no âmbi t o da da ed educação cação i nf ant i l com combat e
r epr esen sent a, ao
r aci smo
a meu ver ver ,
um r ecur cur so de avanço no
br br asi l ei r o,
vi st o
qu que
est est udos
dessa dessa
nat ur eza r evel vel am com como se dã dão as r el açõe ções i nt er pessoai ssoai s, seus seus benef í ci os e pr pr ej uí zos zos pa par a os i ndi ví duos qu que con convi vem na escol scol a,
bem com como f or necem cem sub subsí di os pa par a a el abor ação ção de
novas pr pr át i cas cas ed educaci caci onai s,
quer sej sej a em ní vel
f ami l i ar ,
quer sej sej a em ní vel esco scol ar . O ent ent end endi ment ent o da pr obl obl emát i ca ét ét ni ca no no cot i di ano ano da educaçã cação o i nf ant i l é co condi ção ção sine qua non par par a se pen pensar sar um pr oj et o nov novo o de de ed educação cação qu que possi possi bi l i t e o desen esenvol vol vi ment o e a i nser ser ção ção soci soci al dos f ut ur os ci dadãos da da nação ção br asi l ei r a, des des envol envol vendo vendo nel nel es um pensam pensament ent o menos enos com c ompr omet i do com a vi são são di cot cot ômi ca de i nf er i or i dade/ sup super i or i dade dos gr gr upos ét ni cos. cos.
A
educaçã cação o
de de
possi bi l i dade f at o
de
as
i gual i t ár i a,
cr i anças ças desde sde
os
r eceb ceber em uma pr pr i mei r os
ano anos
escol scol ar es, r epr esen sent a um dever dos pr pr of i ssi onai s da da escol scol a, poi s as cr i anças ças dessa dessa f ai xa et ár i a ai ai nda são são de despr spr ovi das de aut aut onom onomi a par par a acei acei t ar ou negar egar o apr apr end endi zado zado pr pr opor opor ci onad onado o pel o
pr pr of essor .
pr econ concei cei t os
E
t or nam- se
e est er eót i pos
ví ví t i mas
t r ansmi t i dos
i ndef esas sas pe pel os
dos dos
medi ador es
soci ai s, dent ent r e os os quai quai s o pr pr of essor . Pr omover ver uma edu educação cação
63
par a
o
ent endi ment o
das
di di f er enças ças
ét ét ni cas, cas,
l i vr e
de
pr econ concei cei t os, r epr esent sent a um uma poss i bi l i dade r eal da f or mação ção de suj ei t os
menos enos
pr pr econ econcei t uosos
pr eve even nção ção de de pr át i cas cas
nas nas
nov novas as
di di scri mi nat ór i as,
penso, so,
ger ger ações. ações. r eq equ uer
A um
t r abal ho si st emát i co de r eco econ nheci men entt o pr eco ecoce ce da da di ve verr si dad ade e ét ni ca ca e dos possí possí vei vei s pr obl obl emas qu que o pr econ econcei t o e a di scr i mi nação ção acar car r et am em sol sol o br asi l ei r o, desde sde a educaçã cação o i nf ant i l
-
f ami l i ar
pr eve event nt i vamen entt e
no
pr eco con nce ceii t uosos sos
e
e
esco scol ar .
sent i do
de
pr pr át i cas cas
Tal
pr át i c a
evi t ar
que
pode
agi r
pen ensam samen entt os
di di scri mi nat ór i as
sejj am se
i nt er i or i za zad dos e cri st al i za zad dos pe pel as cr cr i ança çass , num per í odo em que
el as
se
encon cont r am mui t o
sen sensí vei s
às às
i nf l uênci as
ext er nas, cuj cuj as mar cas cas podem det er mi nar sér i as con conseqü seqüênci as par a a vi da adul t a.
64
CAPÍTULO III
3.1. A PESQUISA
65
A pesqui squi sa t eve com como ob obj et i vo anal anal i sar o pr pr ocesso cesso de de soci soci al i zação zação e o con conheci ment ent o das das di di f er enças enças ét ét ni cas no no espa espaço ço pr pr é- escol escol ar e no no gr gr upo f ami l i ar , con conf or me af i r mei no i ní ci o dest e t ext o.
I ni ci ei
o t r abal ho de de ca campo ci ci ent e da da ex exi st ênci a do do
pr obl ema ét ét ni co na soci soci edade br br asi l ei r a e t ambém no co cot i di ano escol scol ar ,
com como j á apont ar am di ver sas sas
pe pesqu squi sas. sas.
Com base
ni sso, f or am assum ssumi das as as segu segui nt es hi pót ese sess : 1.
O
educa cad dor
da
pr é- esco scoll a
br asi l ei r a br
apr ese sen nt a
di f i cu cull dades par a pe per ce ceb ber os pr obl emas que que podem podem apar apar ecer ecer nas r el açõ çõe es ent ent r e cr i ança çass per per t ence cen nt es a di f er ent es gr upos ét ni co coss ; 2.
As c r i ança çass em em i dade pr é- esc sco ol ar
j á i nt er i or i za zam m
i déi as pr pr eco con nce ceii t uosa sass qu que i ncl uem a co corr
da pel e
como el emen entt o def i ni dor de qual i dad ades es pessoai pessoai s ; 3.
O si l ênci o
do
pr of esso ssorr ,
di f er enças ças ét ni cas, cas, pr eco con nce ceii t o e
a
no
qu que
se
r ef er e
às às
f aci l i t a o dese sen nvo voll vi ment o do
ocor ocor r ênci ênci a
de
di scr i mi nação ação
no
espa spaço escol scol ar . A
par t i r
dest as
hi hi pót eses,
i nt er essava ssava- me
obser ser var var
adul t os e cr i anças ças i nt er agi ndo na si t uação ção escol ar . Uma vez vez que pesqu esqui sas an ant er i or es na na ár ea de edu educação cação i nf ant ant i l , embor a apont assem ssem a exi st ênci a de con conf l i t os ét ét ni cos cos na na r el ação ção adu adul t o/ adu adul t o e adul t o/ cr i ança ança e at é supu supusessem que o mesmo
66
acon cont eci a na r el ação ção da das cr i anças ças ent ent r e si , não che chegar am a demonst r á- l os.
I mpor t ava,
ent ão,
pr ese sen nci ar
e assi st i r
à
i nt er ve ven nçã ção o das pr pr of essor as, 33 caso cas o hou houvess vesse e al guma, du durr an antt e e ap após ós os os acon acontt eci ment os con conf l i t uoso osos. s. Assi m, f ui par a cam campo con conhece ecerr : ( 1) como a f amí l i a e a esco scoll a l i dam co com m a quest ão ét ni ca dur ant e o pr oce cesso sso de de soci al i zaçã zação o;
( 2)
com co mo
o
pr of essor
at ua
f r ent e
a
uma
popul açã ção o pl ur i - ét ni ca ca;; ( 3) co com mo o pr of essor age f r ent e a si t uaçõ çõe es de pr eco con nce ceii t o e di scr i mi naçã ção o ét ét ni ca cass ent ent r e as as cr i ança ças, s, co com mo ag age pa par a evi evi t á- l as e/ ou com combat ê- l as; ( 4) co com mo as cr i ança çass vi vi venci am as di di f er ença çass ét ét ni ca cass . Al gumas
per gunt as
nor t ear am
o
desen de senvo voll vi ment o
da da
pesq squ ui sa, a sa sab ber : 1.
O esp spa aço pr pr é- escol ar par a
as
cr i ança çass
r epr esen sentt a um uma po possi bi l i dade convi ve convi verr em har moni osament e
e
ent ender em que as as di f er ença ças, s, co com mo as as ét ni ca cas, s, não i mpl i ca cam m desi gual dades? 2.
O esp spa aço pr pr é- escol ar
r epr esen sentt a um uma po possi bi l i dade
par a as cr i ança çass con const r uí r em uma vi sã são o posi t i va da pl ur al i dade ét ni ca ca ex exi st ent e na sal sal a de aul a e, post er i or ment ent e, na soci edad edade? e?
33
No decorrer da análise será utilizada a palavra no feminino, devido ao fato de haver somente mulheres trabalhando na referida escola.
67
3.
A r el açã ção o pr of essor / al uno f or nece su sub bsí di os pa par a a f or mação
da
i dent i dade
posi t i va
par a
t od odas as
as as
cr i an anças ças per t en encent cent es a um uma mesma t ur ma es es col ar ? 4.
O que r epr epr esent esent a ser negr negr o ou br anco anco ness nesse e cont cont ext o?
No
que que
concer concer ne
ao
desen desenvol vol vi ment ent o
da da
pesqu pesquii s a,
con consi der ando as j ust i f i cat cat i vas an ant er i or es ap apr esen sent adas,
foi
sel eci onada uma escol a de Educa caçã ção o I nf ant i l Pú Púb bl i ca Muni ci pal de po por t e médi o, l oca call i zad zada a na na r egi ão cen cent r al da ci dade de de Sã São Paull o e que Pau que at at en ende de um uma pop popul ul ação de de bai bai xa r en enda da.. O cen centt r o de de São São Pau Paull o é conh conheci eci do pe pell os seus enor enor mes casar õe õess ant i gos qu que, na at ual i dade, se t r ansf or mar am em pensõ sõe es ou co corr t i ço çoss. Em cer cer t a
medi edi da,
i sso
se
de deve
à
t r ansf ansf or mação ação
de
an ant i gos
bai bai r r os
r esi denci ai s em em com comer ci ai s, o que af ast ou par t e si gni f i cat cat i va dos an ant i gos pr opr i et ár i os do dos i móvei vei s pa par a out r os l ocai cai s da da ci dade. Nas
pensõ pe sõe es
e nos
cor t i ço cor çoss
vi ve vi vem m vá várr i as
f amí l i as
num esp nu spa aço
r el at i va vam men entt e peq pequ uen eno. o. O que si gni f i ca qu que as as cr i an anças ças qu que mor am nesses l oca caii s
convi vem co con com m mui t os
out r os ou
adul t os, ad
j ovens
e
cr i ança cr çass
não nã
per t ence cen nt es ao seu núcl eo f ami l i ar ar.. No
ba bai r r o
em em que
se l ocal cal i za
a escol scol a
sel sel eci onada,
podemos
encon encontt r ar est abel abel eci ment ent os com comer ci ai s var var i ados, ados, dos dos mai s si mpl es aos aos mai s sof sof i st i cad cados. bai bai r r o
Al ém da EM EMEI
sel eci onada pa par a a pesqu squi sa, sa,
mai s uma escol a muni uni ci pal pal
e uma est adua aduall
há t ambém no
de ensi ensi no
Médi édi o e
Fund Fundam ament ent al . Bem pr óxi óxi mo da da escol escol a, encon encontt r a- se um Post Post o de de At At end endi ment ent o à Saúde da da r ede pú públ i ca muni ci pal ( PAS PAS) .
A
esco scoll a
c omuni dade dade..
r ece ceb be,
pr i or i t ar i ament e,
as
cr i ança çass
da da
Por ém, por se l oca call i za zarr num bai r r o co com mer ci al ,
68
num nu ma r eg egii ão cen centt r al e t ambé bém m pe pell a pr pr oxi mi da dade de com uma es es t ação de met r ô, el a r ece ceb be vá vár i as cr i ança çass de out r as r egi ões cuj cuj os pai s t r abal ham nas r edondezas zas.. É pr pr eci so di di zer que as as escol escol as do Ce Cent r o de de São São Pau Paul o con cont êm um núm númer o menor enor de cr i anças anças negr negr as, compar par ando ando-- as com as escol as dos dos bai bai r r os per i f éri cos. cos. Na r egi egi ão cen cent r al as mor adi adi as t êm mai or val val or de com compr a ou al uguel , f at or que di di f i cul cul t a o acesso acesso e pe per manên anênci ci a de de gr gr ande pa par t e da da popu popull ação ação neg negrr a. Mesmo assi m, opt opt ei por t r abal abal har har com essa r eal eal i dade, ade, uma vez vez que que par par a a pesqui esqui sa, o i mpor t ant ant e é a conv convii vên vênci a mul t i - ét ni ca, mesmo em l ocai cai s ond onde a pr esença sença do ne negr o nã não é maj ori t ár i a.
Assi m,
par a
vi abi l i zar zar
os
ob obj et i vos
an ant er i or ment e
pr opost os, f oi esco escoll hi da uma sal a de au aull a de cad cada a f ase pr éesco scoll ar .
Ou se sejj a,
a
f ase
1, 1,
2 e
3, 3,
que
cor r esp co spo onde,
r esp spe ect i va vam ment e, às cr i ança çass de de quat r o, ci nco e sei s ano anos. Cada ada uma das das sal as é compost a por por t r i nt a e ci nco al al unos, send sendo pel pel o menos enos um um t er ço de de al al unos neg negrr os. Cons ons i der ando ando a t emát i ca est est udada dada,, a nat nat ur eza do do pr obl obl ema e os os obj obj et i vos a ser ser em al can cançad çados, a pesq squ ui sa f oi r eal i za zad da t endo com como par par âmet r o a ab abor dagem qual i t at i va va.. Est e t r abal ho se i nser e na l i nha de pe pesq squ ui sa sa,, ant er i or ment e ut ut i l i za zad da po por Gomes ( 1987) e Mel l o ( 1988) , que pr i vi l egi ar am o est est udo da f amí l i a
par a pa
compr eender co
a
soci al i za soci zaçã ção o
do do
i ndi ví duo,
busc scan and do ap apr ee een nder não só o pr pr oce ocess ss o de de soci al i zação zação,,
mas
t ambém a exper i ênci a su sub bj et i va e as pe per sp spe ect i va vass do dos suj ei t os soci so ci al i za zad dos.
69
Compr eende- s e
que que
um est udo
qual i t at i vo,
de campo, po,
envo en voll va a aq aqui si ção de da dados no con contt at o di di r et o do do pesq pesqu ui sad sado or com co m os pa par t i ci pant es da da pe pesq squ ui sa sa.. Essa abor dagem possi bi l i t a a f ami l i ar i zaçã zação o com com a r eal i dade pesqu squi sad sada, f en enôm ômen enos os
de
ocor cor r ênci a,
i nt er esse anal i sar
par a par
seu
a
pr ese sen nci ar os
pesq esqu ui sa sa dur dur ant ant e
con co nt ext o
de
a
i nci dênci a
s ua
e
de
r ei nci dênci a, bem como a ação ação e/ ou r eação eação dos envo envoll vi dos no desen senr ol ar das si t uaçõe ções. Assi m,
a op opção pel a en ent r ev evii st a e pel a ob obser va vação ção de
campo f ez- se i nev evii t áv ável el , uma ve vezz que que f av avor or ece ecem m a ob obtt en enção ção de dados,
obj et i vos e su sub bj et i vos ,
envol vol vi dos ne nest a pesqu squi sa, sa,
per mi t i ndo r espo esponder às i ndagações ções bási bási cas qu que nor t ear ear am t odo odo o t r abal ho. Al i ar esses do doi s i nst r ument os de de co coll et a de dados possi bi l i t a, ai nda, co con nf r ont os en ent r e a f al a ( di sc scu ur so so)) e a ação do ação dos pa par t i ci pant es da da pesqu squi sa, sa, pr of essor as e cr i anças. ças. No que que concer conc er ne à obs obser er vaç vação ão de cam c ampo po,, el a pos si si bi l i t a o con cont at o pesqu squi sa, sa,
di r et o
do
al ém de
pesqu squi sad sador per mi t i r
com com os
acompa panh nhar ar
pa par t i ci pant es o
dess en de enrr ol ar
da da dass da
r el açõ çõe es i nt er - su sub bj et i vas no no co cott i di ano pesq squ ui sa sad do. No caso da escol scol a, t r at a- se das r el açõe ções en ent r e o cor cor po docen cent e, di scen scent e e demai s f unci onár onár i os. Os dad dados col hi dos no no t r abal abal ho de campo f or am det er mi nados
pe pel as
car car act er i zam zam o
i nt er esse
meu
pe per gunt as
aci aci ma
ci t adas,
em em com compr eender
escol scol ar em r el ação ção à quest ão em est udo.
o
que
un uni ver so
70
Desde sde o i ní ci o, r ev evel el ei ap apen enas as pa par t e dos meu euss obj obj et i vo voss parr a a comun pa unii da dade de esc escol ol ar 34. Ta Tal deci sã são o f o i t omad ada a em f un unção ção de du duas as pr eocup eocupações ações : 1 ) não pr pr ovo voca carr mai s al t er açõ çõe es al ém daqu da quel el as que que ocor r em, cost umei r amen entt e, com a pr pr esen esença ça de um uma pessoa “estranha” no espa espaço ço esc escol ol ar ; 2 ) po porr en entt en end der qu que e a expl i ci t açã ção o dos
obj et i vo ob voss
da pesq da squ ui sa poder i a est i mul ar
post ur as de def ensi va vass no nos pa par t i ci pant es, con co nst i t ui
j á que o assu ssun nt o
t ema po pol êmi co em nossa soci soci edade .
E,
ai nda,
o
si mpl es f at o de a pesq squ ui sad sado or a ser negr a, por si só, j á pode con co nst i t ui r
um al er t a par a os pr pr of i ssi onai s da da esc sco ol a.
obs obs er vação de de campo t eve dur dur ação de de 8 meses, eses ,
A
ou s ej a, de
abr abr i l a dezem dezembr o de de 19 1997. 97. 35 Ess e
i nst r ument ent o
met odol ógi ógi co
f oi
f undament al
par a
conh conhecer ecer mel hor o un uni ver ver so em f oco. oco. A obser obser vação vação de de cam campo si st emát i ca possi bi l i t ou f ami l i ar i zar zar - me com com os
el el ement os
con const i t ui nt es do do cot cot i di ano escol scol ar e t ambém a f ami l i ar i zaçã zação o del es par par a com comi go. Só a per manênci a no c ampo po,, per í odo odo
pr pr ol ong ongado ado
de de
t empo,
per mi t i u- me
dur ant e um pr esen pr senci ci ar
acon aco nt eci men entt os r el ev evan antt es par par a o desenvo esenvoll vi ment ent o da anál anál i se pr et endi da. E, ao mesm es mo t empo,
aprr oxi mou ap ou-- me da da per per spect i va
dos par t i ci pant es sob sobrr e a quest ão pe pesq squ ui sad sada a. Se do t r abal ho f i nal f ossem ssem ext r aí das as as i nf or maçõe ções ob obt i das po por mei o da da obser obser vação, vação, não não t enho enho dúvi dúvi da de que que el el e per per der der i a mui t o de de sua 34
O trabalho de campo foi realizado sob o ponto de vista do “participante como observador”. Nesse papel o observador revela parcialmente o que pretende, sem ocultar no entanto seu papel de observador. Junker, 1971. Citado por Lüdke, M. e André, M. E. D.A., 1986)
71
qual i dade
e de sua sua
Presen Prese nci ar ,
no
i mpor t ânci a
cot i di ano co
de de
uma um
e, e,
por
cer cer t o,
esco scoll a,
as
f i car car i a
em empobr eci do.
r el açõ çõe es
soci ai s dos soci
i ndi ví duos f oi o que, de f at o, me possi bi l i t ou ampl i ar a com compr een ensão são do pr ob obll ema, qu quer er sob o pon pontt o de de vi st a das das pr pr of essor as, qu quer er sob o pon pontt o de de vi st a das cr i ança çass e de se seu us f ami l i ar es .
Obser va varr a vi vê vên nci a do pr ob obll ema ét ni co e as at at i t udes e com co mpor t ament os do dos pa par t i ci pant es f oi essen ssenci ci al par a at i ngi r os ob obj et i vo voss pr pr opost os ne nest e t r abal ho. Par Par a o desenvo senvoll vi ment ent o dessa et et apa do t r aba abal ho, el abor ei um r ot ei r o
nor t eador
da
col col et a
de
dados
( anexo 2) .
A
con const r ução ção desse r ot ei r o apoi ou- se em em duas obser obser vaçõ vaçõe es ( com com r egi st r o co cont í nuo) pr évi as, de vi nt e mi nut os cad cada, nas t r ês sal sal as em em est udo. I ni ci al ment e, f oi i nf or mal
est abel eci do um con cont at o
com com as pr of essor as de cad cada sal sal a a ser ser obser ser vad vada.
Nesses con cont at os as pr pr of essor as f or am i nf or madas s obr e o socialização escolar pr oj et o: pesquisar sobre o processo de socialização no que diz respeito à relação professor/aluno, aluno/aluno e
Ass i m, f oi aluno/ professor. Ass
exp expl i cado cado a cada cada uma del del as qu que
se t r at ava de de um um t r abal ho co com cr i anças, ças, pedi ndo- l hes pa par a qu que agi ssem ssem de acor cor do com com sua suas r ot i nas di di ár i as e sua suas at at i vi dades. Medi edi ant ant e ess ess as obser obser vaçõe vações, s, pude con conhecer ecer um pouco ouco da da r ot i na escol scol ar
e
assi m esbo sboçar çar
aspe spect os
r el evant es
pa par a
o
desenvo esenvoll vi ment ent o da pesqu esqui sa. Com o t ér mi no do do t r abal abal ho de de ob obser vação vação e de posse posse dos dos r egi st r os, r eal i zei zei di ver sas sas l ei t ur as, a f i m de com compr eendê- l o 35
Dessa soma já foram excluídos os 20 dias de recesso escolar ocorridos no mês de julho.
72
e ap apr eendê- l o em em sua sua t ot al i dade. Ou sej sej a, com com a f i nal i dade de de me assen ass enh hor ar
de seu cont cont eúd eúdo,
conf conf or me o pr pr opost opost o por por
Mi che chel at ( 1980) . 36 As As di di ver ver sas sas l ei t ur as po possi bi l i t ar am- me uma vi são ger al das si t uaçõe ções expe xper i ment adas dur ant e o t r abal ho de cam campo e, e, pouco a pouco, ouco, f oi possí vel vel i mpor t ant es a ser ser em,
post er i or ment e,
per ceber ceber aspe aspect os
anal i sad sados,
al ém das
f al as e açõe ções exp expll í ci t as qu que con cont i nham o pr obl ema ét ni co. co. Quant uant o aos aos ambi ent ent es de obser obser vação, vação, os suj suj ei t os f or am obse serr va vad dos em em quat r o ár eas di di st i nt as ( anex anexo o 2) : t r ês i nt er nas e um uma ext ext erna erna,, nas qua quai s di ari amen entt e dese esen nvo voll vi am su suas as at i vi dades es.. A pr i mei r a ár ár ea i nt er na cor cor r espo esponde às às sal as de aul a, com com 56m2 de ár ea. ea. As s al as na sua mai or i a são compost post as pel pel a mesa e a cadei cadei r a da da pr of essor a;
sei s
mesas esas
quad quadrr adas; adas;
duas
mesas esas
r et ang angul ar es,
r espe spect i vament e co com quat r o e com com sei sei s cad cadei r as pa par a os os al unos; ar már i os com com duas po por t as e mai s um um com com oi t o por t as,
t r ês
nos qu quai s as as
pr of essoras gu guar dam os mat er i ai s das das cr i anças; ças; uma est est ant e com com quat r o di vi sõe sões, onde são são col col ocad cados os bri nquedos em uso ( mont a- t udo, l i vros) e br i nquedos t r azi dos de de casa casa pe pel as cr i anças ças e esqu esqueci dos ou de dei xad xados pr oposi oposi t adam adament ent e na na escol escol a; doi s var ai s na par ede, ede, onde onde são col ocad ocadas as as at i vi dade dadess
par a
o
pr pr ocesso ocess o
de de
secagem secagem;
uma
l ousa, ousa,
que que
mede ede
apr oxi madament e 6 m2. As at i vi dad ades es dese desen nvo voll vi das nessas nessas sal as de de au aul a são sã o si st emat i za zad das e pr pr i vi l egi am a aqui si çã ção o de co coo or denaçã ção o mot or a, con co nce ceii t os de de percep percepçã ção, o, de cor cor es, de nú númer os, f i gur as geo geomét r i ca cas, s, ent r e out r os . O
segund segu ndo o
ambi en am entt e
i nt er no no cor r espon espond de
ao ao
gal gal pão, ão,
no
qua quall
desem desembocam bocam as sal as de de aul aul a, a ár ea r eser eser vad vada par par a o l anche anche,, a cozi cozi nha, ha, os ba banhei r os, a sal sal a dos pr pr of essor ssor es, a secr secr et ar i a e a sal sal a de de ví deo. As 36
Citado por Lüdke, M. e André, M. M. E. D. A. 1988.
73
at i vi dades ne nel e desen senvo voll vi das são são, na mai or i a das veze vezes, s, di r i gi das: r odas de
cant i gas, ca
r odas
de
br i nca cad dei r as,
ensa saii os
de
f est as,
f est as
comemor at i vas ( po porr exe exem mpl o: Di a das das Mãe ãess e dos dos Pai Pai s, j un unii na nas) s) e peça peçass t eat r a i s . O t er ce ceii r o ambi ent e i nt er no const const i t ui uma sal a mui t o peq pequ uena ena que que,, de de despen spensa, sa, se t r an ansf sf or mou em sal a de de ví ví de deo o e de compu putt ad ador or es es.. Mede 33m 33m2, possui possui quat r o mesas, esas, dez cad cadei r as, oi t o comput ador ador es, uma est ant ant e com com apar el ho de de ví ví deo e TV e al al gumas f i t as de de vi vi deocasse ocassett e, nas qu quai s est ão gr gr avad vados pr ogr amas i nf ant i s vei vei cul cul ados ados pel pel a TV TV. O ambi en entt e ext ext er no cor r espo espond nde e ao ao par par qu que e da da escol escol a, apr oxi madament e 400m2, br i nquedos:
gr amado em vár vár i as pa par t es,
escor scor r egador ,
bal anço, ço,
t r epa- t r epa,
ampl o,
com com
com com mui t as ár ár vor vor es e t anque
de de
ar ar ei a
e
gangor r a. Esse par qu que e r ep eprr ese esent nt ou o esp espaço aço pr i vi l eg egii ad ado o da ob obser ser va vação ção,, por serr o l oca se call
onde as as cr i ança çass er am dei xa xad das l i vrement e pa par a esco escoll her em
quai s as br br i nca cad dei r as e os os seus seus par par ce ceii r os nel nel as. Ent r et ant o, de devi vi do à sua vast va st a ext ext en ensão são,, as cr i anças anças acab acabav avam am se di di sper sper sand sando em pequ pequen enos os gr gr upos, pos, e assi st i r a t odas as as cr i ança çass t or nava va-- se i mpossí ve vell .
Ent r et ant o, depoi s de um per í odo no no pa par que, er a po possí vel vel obser ser var var a sal sal a i nt ei r a, mas nã não em seu seu con conj unt o. Pr ocu curr ei al gumas veze vezess est ar pr óxi ma às pr pr of essor as, par a compar t i l har o mes esm mo ângul ângul o de vi s ão ão.. Dess e mod odo, o, acabe acabeii conh conhecen ecendo do o t eor dos
assunt os assun
a
el as el
r el at ados
pel as pe
cr i ança ças, s,
seu se us
compor t amen entt os e at i t udes em em cad cada a um desses casos. Enf i m, o r el aci onament o ca car act er í st i co ent r e pr pr of esso ssorr as e cr i ança ças. s. Quant o às às ent r evi st as ,
opt ou- se em t r abal har
model o sem semi - est r ut ur ado pe pel o f at o de de po possi bi l i t ar uma :
c om um
74
“(...) flexibilidade suficiente para permitir, na medida do possível, que o entrevistado entrevista
configure segundo
psicológica
o
campo
sua
particular,
da
estrutura
ou
–
dito
de
outra maneira – que o campo da entrevista se configure, o máximo possível, pelas variáveis que dependem da personalidade do entrevistado” ( Bl eger , 1980, p. 10) .
Também a ent r evi st a se sem mi - est r ut ur ada per mi t e i nc l ui r outt r as ou
per gunt as per
r eal i zaçã zação o.
e
i nt er ve ven nçõe çõess
no
decor ecor r er
de
sua
Essa c ar ac t er í s t i c a most r a- se i mpor t ant e pel o
f at o de de qu que nu numa si t uação de en ent r ev evii st a : “(...)
tanto
entrevistado
o pesquisador
quanto
o
interferem dinamicamente
no
conhecimento da realidade e esse encontro de duas subjetividades, subjetividades, representação de códigos
sócio-culturais
quase
sempre
diferenciados, é, ao mesmo tempo, rico,
yo, 1993) . problemático e conflitivo” conflitivo” ( Mi nayo, O cr édi t o a r espe spei t o da das i nf or maçõe ções obt obt i das, por mei o desse i nst r ument o, se serr á t est ado, “não pela credibilidade do narrador, mas sim pelo cotejo de seu relato com os dados oriundos
de
outras
convergência ou não”
variadas
fontes,
que
1987,
p. 275) .
( Quei r oz,
mostrará
sua
No caso caso do do
pr esen sent e est est udo, as i nf or maçõe ções obt obt i das nas nas ent ent r evi st as f or am con conf r ont adas com com os dados col col et ados com com a ob obser vaçã vação o, e vi vi cecever ver sa. sa.
Assi m,
os
di scu di scurr so soss
dos do
ent r evi st ados, en
al i ados
à
75
obser ob ser va vação ção
de
al gumas
de de
suass sua
vi vê vên nci as
cot i di an cot anas, as,
per mi t i r am co con nt r apor f al as e açõ açõe es. O
i nt er esse sse em em r ea eal i z ar
o
t r abal ho
c om bas e
em
ent r evi st as e, e, pr i nci pal ment e, em ent r evi st ar as f amí l i as da das cr i ança ças, s,
or i gi na- se do dos
est udos
desen senvo voll vi dos
por
Gomes
( 198 987 7 e 199 996) 6) e Mel l o ( 19 1988 88)) que de dem mon onst st r ar am as vant vant ag agen enss de mer gul har
no
ambi ent e am
f ami l i ar
esp spe ecí f i co
par a pa
mel hor
compr een end der e ap apr ee een nder a soci al i zaçã zação o de de cr i anças ças.. Est e é o mot i vo de o pr pr esent esent e t r abal abal ho se basea basearr na r econ econst r ução de hi st ór i as f ami l i ar es e de hi st ór i as de de vi da, de pessoa ssoas e de f amí l i as ne negr as e br ancas. cas.
J á que,
na f amí l i a,
as no nova vass
ger açõe çõess ad adq qui r em “padrões de comportamento, hábitos, usos, costumes, valores, atitudes, um padrão de linguagem. Enfim maneiras de pensar, de se expressar, de sentir, de agir e de reagir que são próprias, naturais” ( Gomes, 1994, p. 58) . Ness es s e segundo s egundo moment o, apó apóss o t ér mi no das das obser vações de campo e com ba base se nos nos r eg egii st r os de f en enôm ômen enos os r el evan vant es para a pesqu esqui sa, r ea eal i z ei as en ent r evi st as a par t i r de al guns t ópi co coss pr pr é- def i ni dos. Os r ot ei r os das das ent r evi st as ( anexo 3, 4 e 5) 5) que nort nort ear ear am a col col et a de dados, ados, port ant o, f or am el abor ados
a
par t i r
obser ob ser vaçã vação o,
o
que qu
i nf or maçõ ções es
já
obtt i das , ob
das
per mi t i u pe
perr gun pe untt as f or mul ar
bem c om omo
der i va der vad das
quest qu est ões
r ecu cup perar
as
do do
t r ab abal al ho
de de
c ompl emen com entt ar es
às
pers pect i va pers vass
dos dos
parr t i ci pa pa pant nt es acer acer ca do do t ema abor abor da dado do.. As ent ent r evi st as , um t ot al a l de onze onze,, co com m as pr pr of i ssi onai s da da esco scoll a durr ar am ap du aprr oxi mad adam amen entt e 90 mi nu nutt os os.. Al ém das t r ês prof esso essorr as ob obser va vad das , ent r evi stei
t r ês
pr of esso pr ssorr as
que qu
se
i nt er essa ssarr am pel a
pesq squ ui sa
e
76
demonst r ar am desej esej o de de part part i ci par. Tam Também a di r et or a, a vi ce ce-- di r et or a e a coor de dena nado dorr a
peda pe dagó gógi gi ca ca f or a am m ent r evi s t ad adas .
J ul guei ,
ai nda,
s er er
i mpor t ant e ent ent r evi st ar duas aux auxi l i ar es de de se serr vi ço çoss ge ger ai s, qu que e r eceb ecebem em as cr i ança çass no no horár i o da en entt r ada e t êm,
poi s,
um r el aci on onam amen entt o mui t o
pr óx óxii mo às cr i ança çass e seu seuss f ami l i ares ares..
As ent r evi st as r eal i zad zadas co com m os f ami l i ar es , um t ot al de nove,, t i ver nove ver am uma dur ação ção en entt r e 45 45 e 90 mi nu nutt os os,, dependendo do i nt er esse, da dese desen nvo voll t ur a e da na nat ur al i dade de demonst r ad ada a pel a pessoa ent r evi st ada. Quant uant o às ent r evi st as r eal i zad zadas co com m as cr i ança çass , um t ot al de nove ent r evi stas, stas,
t i ver am dur ação ção máxi ma de 20 mi nut os os..
O númer o dessas dess as
ent ent r evi st as cor cor r espon sponde a quat r o cr i an ança çass br anca cass , a qu quat at r o neg negrr as e a uma ni po- br asi l ei r a. Todas Todas
as
par t i ci pant es .
ent r evi st as Par a
f or am gr avadas ,
mant er
seu
anoni mat o, anoni
com co m o
consen co sentt i ment o
f o r a m at r i bu buíí dos
dos do
nomes nom
f i ctí ci os a ca cad da um del es. Como f or ma de de r egi egi st r o de de dad dados, os, f oi ut i l i za zad da a gr ava vaçã ção o em áudi o devi do à su sua a ut i l i dade em r egi st r ar t odas as as exp exprr essõ ssõe es or or ai s, de deii xa xand ndoome
l i vr e
par a
pr est ar
at en ençã ção o
no
ent r evi st ad en ado: o:
seuss seu
gest os, gest
suass sua
expr ex pr essõe essões, s, he hesi si t açõ ações, es, pa pausa usas, s, al t er açõ ações, es, en enff i m, t od oda a uma comuni caçã cação o nãonã o- ve verr ba ball cuj a compr ee eensã nsão o é mui t o i mpor t an antt e par par a se ent ent en end der o qu que f oi di t o. Po Post er i or ment e, as en ent r evi st as f or am t r anscr i t as, t or nando possí vel a anál i se do mat er i al . As t r anscr i çõe ções de del as f or am r eal i zad zadas po por mi m, a f i m de qu que, ao t r anscr evêvê- l as, pudesse r ever ver as mi nhas i mpr essões, ssões, i déi as sur sur gi das,
per cep cepçõe ções
e, e,
assi m,
mel hor
anal i sásá- l as.
Essa
t ar ef a
possi bi l i t ou- me o con cont at o di r et o com com o con cont eúdo t ot al de cad cada ent r evi st a.
Os
dado da doss
col et ad ados os
na
obser vação obser
de de
ent r evi st as f or am or gani za zad dos em ca catt egor i as .
campo
e
nas nas
Al gumas f or am
77
f unda undam ment ent ai s par par a a compr eens eens ão do do pr pr obl obl ema: Percepção sobre preconceito
e
discriminação
étnicos
na
sociedade ;
Entendimento sobre os conflitos étnicos ; Entendimento sobre a convivência multi-étnica na sociedade brasileira ; A escola como
um
espaço
neutro
diante
das
diferenças
étnicas ;
Explicando as diferenças étnicas ; Culpabilização das vítimas e
de
seus
familiares
diante
dos
Minimização dos conflitos étnicos ;
O
conflitos silêncio
étnicos ; diante
das
diferenças étnicas; étnicas ; O silêncio diante dos conflitos étnicos; A valorização do silêncio diante dos conflitos étnicos .
A
anál i se
dessa de ssass
cat egor i as cat
conh con heci men entt o sobr sobr e o mod odo o de de pen pensar sar
per mi t i u pe
um um
mai or
doss pr of ess do essor or es,
dass da
cr i ança çass e dos f ami l i ar es sobr sobr e as r el açõe ções est abel eci das no no cot cot i di ano esco scol ar . É nece ecessár i o di zer que nas t r ês sal sal as obser vadas vadas apen apenas as uma cr i ança ni po- br as a s i l ei r a a f oi encon cont r ada, o que que i mpe pedi di u a an anál ál i se de de suas suas r el açõ ações es c om os outros outros..
Assi m,
esse t r abal ho anal i sa o gr upo negr o,
suj suj ei t o
pr i nci pal dest a pesqu squi sa. sa.
3.2. As dificuldades da pesquisa
Dent ent r o do f oco dest acad acado pel a pesqu pesquii sa sob sobr e a soci al i zação zação da cr i ança negr a, j ul go i mpo porr t an antt e apo apont nt ar o f at o de de ser eu uma pesqu pesquii sado sadorr a negr ne gr a. Se f osse sse uma pesqui sador a br an anca ca,, ou ou ai ai nda, um pe pesqui squi sado sadorr do sexo mascu ascull i no no qu que est i vesse vesse de desenvo senvoll ven vendo pesqu esqui sa si mi l ar, sobr sobr e esse esse t ema,
por
cer cer t o,
o ol har de del es
serr i a um “o se “oll har ” di di f er ent e do meu.
Sem
dúvi da, o f at o de de t er si do cr cr i ança ne negr a e t er vi ve ven nci ado si t uaçõ çõe es mui t o
78
semel ha hant nt es às que que l á enco encont nt r ei , possi bi l i t ou- me i dent i f i ca carr mel hor os pr obl emas as.. escoll a, esco
Serr mãe de cr i an Se anças ças negr negr as,
pesq esqu ui sad sadora ora
est r ut ur ado
a
das da
pesqu squii sa
t emát i ca cass
dent r o
edu ed ucad cador or a e di r et or a de de pr pr é-
educa ed caci ci onai s
dest es
e
uni ve un verr sos,
ét ni ca cass
acr ed edii t o
e
que
t er est a
t r aj et ór i a de de vi vi da t enha con cont r i buí do mui t o pa par a cap capt ar as i nf or maçõ çõe es que con const am nest e t r abal ho.
É com como ap apon ontt a Gi Gi l ber t o Vel Vel ho: "
(...)
narram
Lido
suas
histórias próximo,
com
indivíduos
experiências, experiências,
de
vida para
às
vezes,
que
contam
um
suas
pesquisador
conhecido. conhecido .
As
preocupações, preocupações, os temas cruciais são, em geral,
comuns
a
entrevistador. A crenças
e
entrevistados
conversa
costumes
socialização
do
não
é
e
sobre
exóticos
pesquisador. pesquisador.
à Pelo
contrário, boa parte dela faz referência a
experiências
históricas,
no
sentido
mais amplo, e cotidianas também do meu mundo,
e
as
perplexidades perplexidade s.
minhas Eu,
o
aflições
e
pesquisador, pesquisador,
ao
realizar entrevistas e recolher histórias de vida, estou aumentando diretamente o meu conhecimento sobre a minha sociedade e
o
meio
social
em
que
estou
mais
diretamente inserido, inserido, ou seja, claramente
79
envolvido
em
um
autoconhecimento
processo
de
( Vel ho, 1989
(...)"
p. 17) . O conh conheci ment ent o
das
i nf or mações ções
qu que
const const i t uem est e
t r abal ho só f oi possí vel vel devi do a mi nha i nser ser ção ção no cot cot i di ano pr é- es co col ar .
Com vi s t as as
a
es t e
f at o,
compr een eendo do
s er ser
i mpo porr t an antt e apr apr esen esentt ar as mi nha hass con c onss i de derr açõe açõess acer ca do do meu r el aci onament o co com m os pr pr of i ssi onai s, co com m as cr i ança çass e co com seu se us f ami l i ar es. Logo Logo que me apr apr esen esent ei à di r et or a da escol escol a, com a pr opost opost a de pesqu squi sar sar o pr pr ocesso cesso de de soci soci al i zaçã zação o esco escoll ar , f ui bem r eceb cebi da e o meu pedi pedi do pr ont ont ament ent e at end endi do. do. Ass i m, ao aoss pouco poucos, s,
f ui
Passei Pa ssei
a est est ar
seman anal al men entt e na na escol escol a.
me t or na nand ndo o um uma pessoa pessoa “mai s f ami l i ar ar”” àqu àquel e
gr upo. As ob obser ser va vaçõe çõess r ea eall i zad zadas as no par par qu que e pr pr op opii ci ar am- me o cont cont at o com os al al unos e co com m as pr pr of i ssi onai s da da esco scoll a. 37
Aos pou pouco cos, s, f ui dei xa xan ndo de de ser ser assed ssedii ada pe pel as cr i ança çass com sua suass i númer as per per gunt as as.. De cer cer t o modo, odo, posso af i r mar que r api api dam dament ent e as cr i an anças ças se s e acost acost umar am com a mi nha pr pr esen esença ça.. Con onsi si der an and do
est e est
f at o,
di ve verr sa sass veze vezess em que f ui
causar cau sar am- me
est r an est anh heza
abor dada pel as pr pr of essor as,
as as com co m
per gunt as do t i po: “Qual é mesmo o seu nome?”, “É Maria, não Out r as t ant as vezes vezes ou ouvi : “Sobre o é?”, “Alice?”, “Isabel?”. Ou que mesmo você pesquisa?”, “Você é estagiária, não é?”, “De onde, mesmo, você é?”.
37
O anexo 6 traz um quadro quadro informativo sobre sobre as profissionais da escola.
80
Em out r as
si t uaçõ çõe es,
não
menos
i nesp spe er adas,
surr pr eendi da co su com pedi dos de de au auxí l i o do do ti po:
“Você
f ui não
poderia fazer um cartaz para a Páscoa?”, “Você poderia me ajudar a servir o lanche?”, “Você sabe uma musiquinha?” musiquinha?”, , “Não poderia cantar cantar para as crianças?”. crianças?”.
Não sei
at é qu que pon pontt o eu eu dev dever er i a espe esperr ar que ess ess es
pedi dos f ossem f ei t os. consi consi der á- l os comuns.
Não sei sei
at é que pont o eu dever i a
Mas é f at o que que eu me apr apr esent ei como
pesqu squii sad sador or a, pa par a r eal i zar um t r abal ho de cam campo sobr sobr e o cot cot i di ano. Por ém, esses pe pedi dos f or am i númer as veze vezess f ei t os e, a cada cada r ecu ecusa, sa, eu eu,, nov ovam amen entt e, ex exp pl i cava o por por quê da da mi nha pr ese esen nça e,
mesmo ass i m,
os ped pedi dos f or am di ve verr sas vezes vezes
r epet i dos. Di ant e desses desses acon acont eci ment ent os, quest i on ono: o: se eu f osse uma pesq esqu ui sad sador or a br br an anca, ca, r ece eceb ber i a ess ess es mesmos ped pedi dos? Cer t a vez, vez, enq enquant ant o eu eu an anal i sava o cont cont eúd eúdo de de um uma pi pi l ha de l i vr os de de l i t er at ur a i nf ant i l f ui ,
mai s
uma
vez, vez,
sur pr eend endi da
na sal sal a das pr pr of essor ssor as, com com a pr opo opost a
de de
um uma
pr of essor a que mi meog eogr af ava ava at i vi dades ades par par a os seus seus al unos : “Você
não
poderia
me
ajudar
a
rodar
essas
folhas?
Aí,
enquanto isso, eu faria outras coisas que eu preciso fazer. Tenho tanta coisa para fazer, que acho que não vai dar nem
evo conf conf essar que ess ess e ped pedii do sur pr een eendeueu- me mui t o, tempo”. Devo poi s er er a evi dent e que eu est ava r eal i zan zando um t r abal ho. Di sse- l he
que
não
poder i a
aj udá- l a,
poi s
est ava
81
“de “desenvo senvoll ven vendo o meu pr pr ópr i o t r abal ho”. El a ai ai nda pr pr ossegu ssegui u, di zen zendo:
“Pensei que você estivesse aqui para ajudar as
professoras; de vez em quando, as mães são chamadas para
que, ajudar.” Ser á qu al guma
mãe ãe,,
de f at o,
embor a
eu eu
eu havi a si do con conf undi da com com houve hou vess ss e
converr sad conve sado o
com
el a
antt er i or men an entt e? Di ant e di sso, sso, quest i ono se a oco corr r ênci a dess es convi convi t es não est ar i a l i gad ada a a uma desval or i zaçã zação o do t r ab abal al ho de pesqu squii sa e/ ou à pe pesqu squii sad sador or a qu que l á est est av ava a . Ass i m, num gr an and de exer cí ci o
de
abst r açã ção o,
f i co
i magi nando
se
out r os ou
pesq squ ui sad sado or es j á t er i am r ece ceb bi do con convi t es se sem mel hant es. J á em out r as s i t uações, mui t a ênf as ase e f oi dad dada a à “minha Assi m, beleza”. Assi
f ui
t r at ada de “mulata linda”, “crioula,
Poss o at at é crioula bonita” e, ai nda, de “negrona maravilhosa”. Poss concor concor dar
com a
i déi a
de
ser
uma
mul her
boni oni t a
e
de
enquad enquadrr ar - me no f amoso est er eót eót i po da “mul at a Sar gent el l i ”, mas nada nada qu que mer eça ser s er const const ant ant ement ent e enf enf at i zado. zado. No f i nal da en ent r evi st a co com uma pr of esso ssorr a ou ouvi - a di di ze zerr : “Você é muito bonita, você não seria discriminada. Hoje o negro está mais bonito. Você passa por branca. Ninguém te discrimina.” No
espaço espa ço
dessa dessa
escol a, escol
pr ese esenci nci ei
cenas cen as
que que
j amai s
pensei pen
enco en con nt r ar. Por Por di ver ver sas ve vezes, abat abat eueu- se sob sobr e mi m um sent sent i ment ent o f or t e de i mpot pot ênci ênci a. Conf onf esso qu que f oi , em mui t as a s si si t ua u aç ões , di f í c i l r es e s i s t i r ao ao dese sejj o de i nt er f er i r .
82
Assi m, o pr azer de est ar r eal i zan zand do o t r abal ho de campo, em mui t os moment os, f oi su sub bst i t uí do po por sen sentt i ment os de r ai va e dese sejj o de i nt er f er i r .
O se sen nt i ment o de r ai va su surr gi u da
obser ob ser va vação ção da vi ol ên ênci ci a ex exer er ci da con contt r a uma ví t i ma que não domi na os mecani s mos de def def es esa. a. Acr Acr edi edi t o que mui t os dos dos aco con nt eci ment os qu que pr esen senci ci ei não oco corr r er i am co com m cr i ança çass ou ou j oven ovenss de mai s i dad dade. e. Foii Fo
l ament áve vell
pr ese sen nci ar
at os
gr ossei r os gr
de de
pr of i ssi onai s da ed educa caçã ção o. Fi ca mui t o ní t i da no cot cot i di ano escol ar a pr eocup cupação ção das pr of essor ssor as em em al f abet i zar zar r el aci one
com com o
seu seus al al unos,
i nt er esse
de demonst r ado
o que t al vez se por
el es
pe pel as
at i vi dades de de l ei t ur a e escr scr i t a. Obser vei que as pr of essor as most r av avam am, f r eq eqü üen entt emen entt e, uma
necess ne cess i da dade de
pi aget i anas. pr of essor ssor a,
Os Os
de
aprr esen ap esentt ar
exer xer cí ci os
conh con heci men entt o
escol ar es,
dass da
t eo eorr i as
expl xpl i cou cou- me
um uma
“(...) são bem concretos! Criança aprende no
concreto!”.
Porr ém, pou Po ouca ca at en enção ção é dad ada a ao ao desen desenvol vol vi men entt o soci al das cr i an anças. ças.
Temas com como am ami zad zade e,
f r at er ni dad ade e e r esp espe ei t o
par ece cem m ausen sentt es nessa escol escol a. O pi or é qu que ess ess a au ausên sênci ci a é en entt endi da com como po posi t i va va:: “ Essa escola é boa porque as professoras não ficam em cima das
83
crianças como nas escolas particulares. Aqui, a criança aprende a se virar sozinha!”
38
.
Pod Pode- se per per ceber ceber , ent ent ão, ão, que a com compr eensã eensão o das das t eor eor i as pi pi aget aget i anas anas col ocaoca- se, nessa nessa escol escol a, a f avor avor de uma post post ur a de pouca pouca par par t i ci pação pação do pr of essor j unt unt o às cr i anças. anças. O que é, penso, enso, uma at i t ud ude e bast bast an antt e côm cômod oda a, poi poi s,
da f or ma com como se most r ou, ou,
l i vres pa par a apr ender ,
o pr pr of essor deve deve dei dei xar xar as cr i anças anças
di mi nui ndo assi m os seu seus esf esf or ço çoss em em pr ol
da
apr endi za zag gem i nf ant i l .
Uma i magem agem que dem demonst onst r a bem bem i ss o é o f at o de de as as pr of essor as segu segui r em par a o par que com com as suas suas cade cadei r as pa par a per manece anecerr em sent sent adas adas du dur ant ant e t odo odo o t empo em em que est est i ver ver em l á. As apr apr endi zag zagens r eal i zad zadas no no pa par que f i cam cam por con cont a, excl usi vam vament e, das cr i anças. ças. A mi nha har mon onii osa.
r el açã ção o
Fuii Fu
com co m as
cr i an ança çass
ocor r eu de ocor
consi con si der ad ada a ( e t r at ad ada a como)
f or ma
uma pessoa pessoa
ami ga. Pr ova ovavel vel men entt e por que ue,, mes mo no noss momen entt os em qu que e el as t r ansg sgrr edi am as r egr as da da escol scol a, eu nad ada a f al av ava a. Resu sull t ado: f ui mui t o be bei j ada e papar i ca cad da po por el as . Mas
devo dev o
di zer
que
as as
per gunt as per
e
os
bei j os bei
contt ab con abii l i zad zado os per per t encem, na sua gr an and de mai or i a , às cr i ança çass br anca cas. s.
As
cr i ança çass
negr as , neg
embor a
dem demonst onst r assem mui t o
i nt er esse pe pel a mi nha pe pessoa, ssoa, pr ocur ar am- me em em meno enorr gr au do que as
cr i an anças ças
per gunt as.
38
Fala da professora Amália.
br an br ancas, cas,
não só
par a bei j os par
como par a
84
Mi nha nha vi si t a às f amí l i as en ent r evi st adas oco ocor r eu de f or ma t r anqüi l a, sem sem i mpr evi st os. Pa Parr t e das mãe ãess j á hav avii a pr est ad ado o at en enção ção à mi nha pr pr esen esença ça nos nos hor hor ár i os de en entt r ad ada a e saí da de de seu se us f i l hos na na esco scoll a. O pr i mei r o con cont at o ve ver bal ent r e nó nós ocorr r eu na f est a de oco de en encer r amen entt o do do an ano l et i vo vo.. Apr ese esen nt ei - me a al gumas f amí l i as, ex exp pl i can cand do- l hes um um pou ouco co de meu t r ab aba al ho e ext ext r ai ndo mai s uma ve vez o r eco corr t e ét ét ni co co.. Todas as f amí l i as com com as
qu quai s
t r avei
con cont at o acei t ar am,
pr on ontt amen entt e,
ser
ent r evi st adas. Uma pr pr of es esss or a cont ou- me que que al gu gum mas mães a pr ocur ar am par a sab sabe er
quem er a aquel a “mulata bonita” que que as as ha havi vi a
pr ocu curr ado. A pr of esso ssorr a l hes di di sse sse:: “Ela é uma pesquisadora da
USP,
muito
séria,
pode
recebê-la
sem
problema.
Eu
çad da . garanto”. Est ava eu, ent ão, af i ança Sent Se nt i - me mai s à vont vont ad ade e em abor dar o assu assun nt o das di di f er en enças ças ét ni ca cass com com as f amí l i as ne negr as. El as f or am, t ambém, mai s pr ol i xa xass em s uas
f al as :
expl xpl i caçõ caçõe es
con conf l i t os ét ét ni cos, cos,
do dos
l embr anças ças e
com coment ár i os. As f amí l i as br br anca cass exp expll i ci t ar am o que pensa sava vam m so sob br e o assun assu nt o e qual
o compor t amen entt o f ami l i ar a ess e r esp espe ei t o.
Por ém, f oi mai s di di f í ci l a co con nver sa f l ui r . As r esp spo ost as f or am
85
mai s curtas curtas;; a l i nha de de pe pensament o i nt er r ompi da com gr an and de f r eqüênci a; os de desvi os no no r aci ocí ni o, mai s vi vi ol ent os . Foi nesse cont cont ext ext o que pu pude r eun euni r as i nf or mações ações qu que aqui apr esen sent o.
86
CAPÍTULO IV
4. Família, escola – socialização e as diferenças étnicas
87
4.1. A convivência multi-étnica na escola
Sent ent adas adas ombr o a ombr o, as cr i anças anças se s e en encont cont r am na sal a de au aul a. Um ol har sobr sobr e ess ess e qu quadr o t r ansmi t e ao ao ob obser vad vador a s en enss ação de um uma r el ação har har mon onii osa osa en ent r e adul t os e cr i anças; ças; negr os, br ancos cos e ni po- br asi l ei r os. No r ecr ei o, a al egr i a das cri ança çass
é
vi sí vel :
escor escor r egador ,
pal haços, ços,
f ol has col col or i das,
gangor r a,
car car naval ,
bal ança; ça;
Fest a J uni na,
Papai
Noel , cach cacho or r o quent e, al godão doce, ce, r ef r i ger ant e. Nesse con cont ext o,
a f ormação ção mul t i - ét ni ca t r aduz be bem a soci edade
br as as i l ei r a: a: negr os e br anco coss em em si t uaçã ção o de r el açã ção o di ár i a, usu suff r ui ndo, apar ent ement e, das mesmas opor t uni dad dades es.. A escol scol a r epr esen sent ar i a, assi m, um espa spaço posi t i vo que r espe spei t ar i a as cri anças, ças,
possi bi l i t ando- l hes o
desenv desenvol ol vi ment ent o. Como decl decl ar a um uma pr pr of essor a:
“ A criança tem que ser respeitada, com toda bagagem que ela traz traz de casa. Até você poder poder conhecêla melhor e respeitá-la. Se é danada, é porque é danada:
vai
nordestino:
se
acomodando,
quando
aparece
se ele
ajustando. tem
uns
Como
o
termos
diferentes, uma linguagem diferente, vocabulário, por
ça) causa da região que ele vive. Então, ela ( cri ança) acha engraçado, mas depois a professora explica e entra
tudo
nos
eixos.
Comigo
tem
sido
assim.”
( SÔNI A) Mui t as vezes vezes as pr of esso ssorr as enca encarr am su sua a pr of i ssã ssão o de f or ma assi assi st enci al e mat er nal :
88
“É uma fase especial da criança criança, , que tem que ser respeitada. É a fase dela, tem que puxá-la para uma realidade. realidade .
Aquela
realidade
uterina,
ainda
da
chupeta, da mãe que paparica, é uma fase difícil. Na verdade o professor o professor é psicólogo, psicólogo, assistente social social em alguns momentos, você é mãe. mãe . Entra com o sentimento de mãe. Quando você gosta mesmo, existe o amor, amor , existe o respeito que você tem pelo ser humano, que é aquela
criança,
que
está
em
desenvolvimento.”
( TEOD TEODORA) RA) Ao j ust i f i ca carr a i mpor t ânci a da pr é- esco scoll a, di sse- nos um uma pr of esso ssorr a que é vi sí ve vell a di f er ença ent r e as as cr i ança çass qu que a f i ze zerr am e aquel as qu que não nã o a f r eq eqü üen entt ar am:
“Eu penso que a pré-escola é importante tanto quanto a criança na sua casa. É a continuidade. Eu acredito
porque,
inclusive,
é
uma
maneira
de
a
criança ficar mais esperta, mais entrosada, não tão tímida. tímida . Eu observo as crianças que não a fizeram e vejo a diferença. Quem faz se destaca mais. Fica mais esperta,
daquela
que
entra
pela
primeira
vez
na
escola.” ( ANA)
No
deco de corr r er
do
t r abal ho
de de
campo, cam
f oi
possí ve vell
con co nst at ar , no esp spa aço de ci r cu cull açã ção o das cr i ança ças, s, a ausên sênci ci a de ca carr t aze zess ou ou l i vr os i nf ant i s qu que expr essa ssasse ssem m a exi st ênci a de cr cr i ança çass nã não- br anca cass na so soci ci edade br br asi l ei r a. No cot cot i di ano
89
esco scol ar ,
em nenhum moment o as pr pr of essor as r ef er i r am- se à
quest ão da da con convi vê vên nci a mul t i - ét ni ca de dent r o do do esp espa aço escol escol ar , e men enos os ai nda na na soci ed edad ade. e. No en ent an antt o, assi m como na na vi vi da soci al , as pr of essor as basea baseava vam m- se na na cor da pel e de seu seuss al unos par a di f er enci ar uma
cr i ança da out r a: “ a moreninha”,
“a branquinha”, “aquela de cor”, “o japonesinho” . . .
Not a- se que que a di f er enci açã ção o das cr i ança çass pe pel a co corr da pell e é con pe conss t an antt emen entt e empr eg egad ada a pe pell as pr pr of ess essor or as as,, o que que não não ser i a pr obl emát i co se não vi gor asse, no paí s, uma hi er ar qui a ét ni ca. De t odo odo modo, odo, cab cabe e con consi si der ar que esses comen entt ár i os f ei t os na na pr ese sen nça das cr i ança çass são i nt er i or i za zad dos po por el as , sem o acom acompanh anhament o cr í t i co do dos adu adul t os à sua vol vol t a. Por ém, as pr of essor as af i r mam que o r el aci onament o en ent r e as cr i ança çass é, é,
na mai or i a das ve vezes, zes,
nat ur al ,
al egr e e
espontt ân espon âneo eo:: ent o “(...) eu vejo que é muito bom ( o r el aci onament ent r e as cr i anças) ças) . É muito bom mesmo. Principalmente de
criança
barreiras
com
que
criança.
tem
o
A
adulto,
criança porque
não ela
tem não
as tem
“medos”. Eu “medos”. Eu acho que é bem por aí.” ( AMÁLI A)
Um ou outt r o dep depoi oi men entt o é i gual ment e i l ust r at i vo: “A criança se administra muito bem.
Ela tem
medo, ela tem uma série série de coisas, que na na verdade não é dela, ela absorve do adulto. adulto . Ela absorve tudo
90
quando o adulto não atrapalha. Ela consegue superar trauma, ela consegue superar o medo, discriminações cor
de
pele,
dentes,
cabelos.
E
ela
começa
a
apreciar, deixa de existir a parte plástica, e a criança acaba esquecendo.” ( I DALI NA)
E
ou out r o
qu que
apo apont nt a
at at é
mesmo
a
f aci l i dad dade
de de
r el aci onament o en ent r e as as cr i anças ças de i dades di di f er ent es: “Entre as crianças, eu não vejo dificuldade na socialização,
no
relacionamento
entre
os
vários
estágios. Como agora, os pequenininhos começam e dali a dois dias já estão completamente à vontade. Tem também muita coisa que trazem de fora, de casa. Trazem muita coisa do que apreendem na televisão, muitas atitudes que a gente vê, que eles reproduzem com os outros colegas, imitando o que eles vêem na televisão. televisão. Mas eles são muito mais fáceis de se
ALVA) relacionar que os adultos.” ( DALVA) Porr ém, Po
a
f al a
da da
men enii na
Apar eci da co con nt r adi z as f al as da das pr of essor as e most r a- nos que, que, em i dade
pr é- esco scoll ar ,
é
possí vel
per ceb ceber er di f er enças de de t r at ament o e as so s oc i á- l as Segu egundo af i r ma, br i nc am c om el a:
a or i gem ét ni c a. as cr i ança çass só
91
“(...) quando eu trago brinquedo. Porque eu sou preta. preta. A Catarina branca um dia falou: ‘Eu não vou
pr ópr i a cr i ança qu que est est á na nar r ando) ’ ser tia dela ( da pr A gente estava brincando de mamãe. A Camila que é
out r as cr i anças ças branca não tem nojo nojo de mim.” ( E as ou t êm noj o de de vo você?) cê?) “Têm.” Nos momen entt os de conf conf l i t os os,,
per manece a i déi a que os
j ul ga nat ur ai s e i ndi ca o r evi de da agr essão ssão com c omo o mai s cor cor r et o: “O
relacionamento
entre
( os
eles
al unos)
é
ótimo, porque
ao mesmo tempo que estão brincando
estão,
se
depois,
‘estapiando’.
É
cinco
minutos
brincando, cinco minutos brigando. De repente vem aquele: ‘Tia Marli a Cinara está brigando comigo, a Cinara está me batendo’ A gente vai falar o que? Responder o que para eles? ‘ Vá lá e devolva! Vá devolva!’ ’ Cinco minutos depois passou tudo, acabou tudo e fica tudo bem.” ( MARLI ) Com a obser obser vação vação,, f oi possí ve vell pr ese esen nci ar uma si t uaçã ação o na qual uma cr i an ança, ça, ao r ecl amar par a a sua sua pr pr of essor a que que uma ou out r a a hav havii a pi pi sad sado o noss de no dedo doss da mão,
obtt eve da ob da pr of ess essor or a o coman ando do par par a se vi ng ngar ar..
A
pr of essor a cham chamou as duas duas cr i anças anças e pedi pedi u par par a que que a segun segunda da col ocass ocass e as mãos ãos no chã chão para para qu que a out r a a pi sasse, sasse, em r evi evi de. O r evi evi de f oi l eve, ve, pr ovoca ovocand ndo o na na pr pr of essor a o segu segui nt e com coment ent ár i o : “ Sua sorte é que ele ficou com pena de você” .
92
Ass i m, mui t as veze vezes, s, as cr i ança çass são i nce cen nt i vadas pe pel as pr ópr i as pr pr of essor ssor as a r evi dar em às agr agr essões ssões sof r i das na na esco scol a.
Não são l ev evad adas as a r ef l et i r
sobrr e os sob os momen entt os de de
agr essi vi dade, nem a ponder á- l os . Ao con cont r ár i o, pr opaga- se a pena de de Ta Tal i ão: “ Olho por olho, dente por dente.” O mod odo o com como as as pr of essor as conceb concebem em o cot cot i di an ano o escol escol ar e as r el açõe ções
i nt er pessoa ssoai s
nel e est est abel eci das
di f i cu cull t a a per ce cep pçã ção o dos
con co nf l i t os ét ni co coss e, e, i ncl usi ve, a r eal i zaçã zação o de um um t r abal ho si st emát i co que pr opi ci e a con convi vên vênci a mul t i - ét ni ca, ca, j á que par a el as esses pr pr obl emas i nexi st em. Pa Parr a as pr pr of essor as as,, as cr i an anças ças nessa i da dade de nã não o “per ceb cebem em” as di f er ença çass ét ét ni ca cass e, se as “per “per cebem cebem”, não se “i mpor por t am com el as”. Som Somase a i sso a i dé déii a de de qu que t r at ar desse t ema é al go desn esnece ecessár ssár i o e “can “ca nsa satt i vo vo”” :
“Eu sempre falo da história do negro. Mas só em relação à data comemorativa. Para não ficar cansativa a gente fala que as flores têm raça, que os animais têm raça. (...) A gente aproveita para lidar com as datas comemorativas, por exemplo, Dia da Abolição. Ao invés de trabalhar, necessariamente, o negro, a lei Áurea, aquela coisa toda, a gente vai no dia das raças, pode ser uma criança de cor, um loiro... A gente pode até pegar as raças de animais: uma cobra, um bicho diferente, um jacaré, um cachorro, raças de forma geral. Pode ser de aves: uma ave de um jeito outra de outro. Então, a gente trabalha todas as formas. Senão, fica uma coisa muito cansativa. Porque
93
só falar do negro, do branco fica muito cansativo. Agora, se trabalhar animais, aves... A raça pode ser também trabalhada nas plantas, uma planta diferente da outra, uma rosa...” ( ANA) Há, ai nda, pr of essoras qu que não per ce ceb bem a i nf l uênci a dos l i vros di dá dátt i cos
e
par ad par adii dát i cos
na na
f or maçã ação o
do do
aut o- con au conh heci men entt o
i dent i dade da da cr i ança ça.. Segun Segundo do apo apont nt a a pr pr of essor a Teod Teodor or a,
e
não não é
i mpor t ant e pa par a a cr i ança ver - se repr repr esen sent ada no nos l i vr os i nf ant i s:
os ) . Mas isso não “Em todas as escolas tem ( l i vr os adianta. Não é importante para a criança. Você pega um livrinho, mostra. Tem que ser uma coisa próxima, onde ela está vendo. É muito mais fácil você falar: ‘olha que bonitinho, este cachorrinho é preto, é lindo. Este é marrom, é lindo. Este é branco, é lindo. Este é manchadinho, é lindo’. Porque é uma coisa que ela está vendo e sentindo.
Uma coisa
distante não dá. Têm livros de histórias. Eu li, mas
( as hi hi s t ór ór i as ) não mexem com ela, como algo que está vivo. Criança não se liga se um personagem é branco ou preto. Elas ( as
cr cr i anças) ças) estão ligadas nelas
mesmas. Elas ligam para o colega que está ali. O que existe
é
o
que
está
aqui.
Se
vêm
quinhentos
japonesinhos aqui na janela, elas não estão nem aí. Elas não vão falar: ‘ô japonesinho’. Elas vão falar do colega do lado. Isso é criança.” ( AMÁLI A)
da
94
O pouco va vall or pr esen esença ça escol a
da da
um
cr i an ança ça
pode
r eco econ nhece ecerr
at r i buí do à negrr a neg
l evá vá-- l a
na na
a
se
como pa par t i ci pan antt e de de
gr upo
i nf er er i or
post er i or men entt e,
ent ender
e, e, que
o
f at o de de per per t encer a ess ess e gr gr upo l he
é
desf avor áve vell .
Esse
r aci ocí ni o pod pode e ger ar uma gr an and de nece ecess ss i dad ade e de de neg negar ar que i nt eg egrr a ess e gr gr upo.
Tall Ta
si t uaçã ação o t ambém
pod ode e l ev evar ar a cr i an ança ça br br an anca ca a se r eco con nhece cerr
par t i ci pant e
gr upo r aci al
sup su per i or ,
de
um
de f or ma
equ eq ui voca vocad da. Assi m, ne ness ss e am ambi en entt e di di f er en enci ci ad ado o par par a neg negrr os e br br an ancos, cos, pe perr ceb cebeese que a har har mon onii a sai de cena cena, cedend cedendo o espaço espaço par par a acon acontt eci men entt os os que t r an ansf sf or mam a pl pl en ena a acei acei t ação de t od odos os por por t od odos os em momen entt os de t en ensão são e c onf l i t os os .
As
pr of esso ssorr as
admi t em as adm
di f i cu cull dades
das da
cr i ança çass
nas na
r el açõ ações es um umas com com as ou out r as as.. El as l embr am que há cr i an anças ças com pr ob obll emas em ca casa sa,, agr essi va vass .
o
que
i nt er f er e
na
esco scoll a,
Par Par a al gumas pr of essor as,
t or nando- as,
quase
sem se mpr e,
out out r as r epr oduze zem m na esco scoll a o
mod odel el o das das r el açõ ações es pr pr ed edom omi na nant nt es em em sua suass f amí l i as as::
“Eu acho que as crianças no começo são um pouco agressivas. agressivas . Mais agressiva porque agressiva porque elas elas querem dar uma de pai e mãe. mãe. Porque elas vêem que na casa delas é o
95
pai e a mãe que mandam, mandam, e elas acham que podem mandar no
coleguinha. coleguinha.
Pelo
menos
as
crianças
que
se
sobressaem. Os líderes querem dar uma de pai e mãe. mãe . E, se o colega não faz o que eles querem, eles já batem. batem. Aí tem umas que batem, no lugar de outros: ‘Foi fulano que mandou’. Como se fulano fosse o pai, seu tio, uma coisa assim.” ( ANA)
Do pon pontt o de de vi s t a das das pr of ess essor or as, pe perr ceb cebem em- s e momen entt os de f or t e agr essi vi dade na r el açã ção o ent r e as cr i ança ças. s. el as
asseg ssegu ur am,
c om t r anqüi l i dade,
que qu e
há
uma
Mas,
i nt ensa
pr eo eocu cup paçã ação o em desen senvo voll ve verr nas cr i an anças ças o r espe speii t o mút uo . Assi m, esse t ema par par ece mui t o val val or i zad zado, o, r ece eceb ben end do at at en enção ção e t endo esp espa aço gar ant i do no no cot cot i di ano pr pr é- escol ar . “ Atualmente, esse trabalho Atualmente, trabalho é o objetivo maior da escola. escola . A gente até pretende fazer um trabalho ligado à cidadania. Há todo esse processo de respeito, para que a criança, realmente, cresça com essas atitudes interiorizadas. De acordo com a lei de diretrizes e bases
elaboram-se
projetos
pedagógicos
dentro
da
escola, diferenciados diferenciados de tudo que a gente já fez. Mas o objetivo é o mesmo. Então, nós estamos sempre caminhando
para
a
melhoria
de
qualidade
nesse
LVA) trabalho.” ( DALVA) Out r a pr pr of esso ssorr a é um um pouco mai s ex expl í ci t a e ap apon ontt a o au autt or esp espei ei t o com como base base par par a ou out r as r el açõ ações es har har mon onii osa osas: s:
96
“O respeito dela com ela, a partir do instante
ça)) começa a se respeitar. em que ela ( a cr i ança respeitar . Isso começa pelo reconhecimento do próprio nome. Na hora
ção) dela em que ela vê que ela tem um nome, ( na r el ação com ela, dela com um colega, com a natureza. É ela integral.” ( AMÁLI A)
E, ai nda, há qu quem r econ econheça a nece necess ss i dade ade de de i nt egr egr ação e de r espe spei t o t ambém ent r e as pr pr of essor as: “Agora, tudo é muito difícil, porque tem que ter o
respeito
até
entre
as
professoras,
no
horário
( hor ár i o de de ocup ocupaçã ação o do do par par que) . Tudo tem que ter respeito.
Respeitar
o
horário,
o
cronograma,
respeitar o direito da criança de ter aquilo. Não é só aquele respeito, só na maneira de tratar, de se comportar, é
o respeito também à integridade dela,
ao que ela tem direito de receber.” ( MAGALI )
Assi m, a pl ur al i dade ét ni ca da soci edade e,
pr i nci pal ment e,
do espa spaço escol scol ar t ema
que que
par par ece
i mpor t ânci a
não não
pa par a
desenvo esenvoll vi ment ent o esco scol ar .
con const i t ui
do
Não obst an antt e,
um t er o
t r abal abal ho const con st at a-
se que o r esp spe ei t o às di di f er ença çass ét ni ca cass
não não
é
verr bal i zad ve zado o
de de
97
man anei ei r a
el ab abor or ad ada a
pr of ess or as. escol ar ,
No
pel as
pl anej ament o
essa qu quest ão nã não est est á
coll oca co cad da de manei r a exp xpll í ci t a: ( uma pr pr eocup eocupação ação com a que quess t ão “Eu acho que tem ét ni ca ca)) quando formaliza,
ou
a
situação
se
pré-esquematiza
apresenta. uma
Ninguém
coisa:
‘olha,
quando isso aparecer eu vou falar isso’. isso’. Existe uma coisa que todo mundo tem, devido a sua experiência e mais organização de pensamento, quando a gente está junto. Tipo reuniões pedagógicas, todo mundo fala um pouco de sua vivência. Cada um fala um pouco de seus problemas
dentro
de
sala
de
aula,
e
você
vai
observando isso. As coisas vão se apresentando no dia-a-dia.”
( I DALI NA) Ness e sen sent i do, sob sobr essai
nas
ess a quest ão f al as
da das
pr of essor as como al go pr esent esent e e i ner ent e ao t r abal ho escol scol ar . “Tem sim. No trabalho da socialização da criança entra esse aspecto. A gente fala muito em respeitar o amigo, cada um tem a sua vez. Não é só na escola, isso ele vai levar para a vida inteira. ‘Esse muito obrigado que você dá aqui, que a professora está te ensinando, você tem que falar na rua, você tem que
98
crescer assim. Só assim as pessoas vão aprender a gostar de você, a te respeitar’. Esse trabalho tem
TEODORA) que ser desenvolvido.” desenvolvido.” ( TEO As
pr pr of essor essor as
se
pr pr eocu ocupam,
sobr sobr et udo,
com com a
ocor cor r ênci a
de
agr essão ssão f í si ca ent r e as cri anças: ças:
“Eu
trabalho
dessa
forma.
A
gente
tenta
harmonizar a criançada sempre: ‘Não pode bater. Não pode
beliscar
o
amigo’.
Quando
ela
vem
muito
agressiva eu faço isso. Como eu já tenho experiência, eu bato o olho já sei quem está fora do normal. Então, eu tento equilibrar isso, com muita conversa, mostrando para a criança que não é batendo no amigo que
se
resolvem
os
problemas.
Que
não
é
com
TEODORA) agressividade que resolve esse problema.” ( TEO No
que que
pr eco con nce ceii t os
concer ne
soci ai s, soci
das pr pr of ess or as l os.
Porr ém, Po
aos aos
a mai or i a
par ece per per ceb cebêê-
quando se qu quest i on ona a
cad ca da pr pr of essor a sob sobr e os os ef ei t os pr ej udi ci ai s
às às
pr econ concei cei t o,
ví t i mas ví pr ed edom omi na
do do a
i nce cerr t eza za.. Ou Ou sej sej a, r eco con nhece cem ma exi st ên ênci ci a del e na soci ed edad ade, e, mas neg egam am en enff at i camen entt e o pr econ concei cei t o den entt r o da esco escoll a.
99
“Deve ser uma barra muito grande que ele ( o
negr ne gr o) segura, porque né...na sociedade sempre existe isso (racismo), mas na escola não.” ( SÔNI A)
Há que quem m,
ao f al ar
sobr e o
pr eco con nce ceii t o,
voll t e vo
r api dament e
seu
par a
o
ol har
r el at i vi zan zand do,
desse
neg egrr o, modo,
o
pr obl ema: “Lógico. Eu acho bem claro isso. O preconceito existe. existe . E existe nos dois níveis. Eu acho que até existe aquele negro que tem muito orgulho da raça, também tem preconceito como o branco tem. E mesmo a criança que é negra. Eu já tive casos que mesmo a criança que tem muito orgulho de ser negra chama: ‘aquela branquela’, com desprezo, aquela ... Isso é preconceito
também.
Faz
parte
do
ser
humano.”
( AMÁLI A) E at é mes esm mo uma ent r evi s t ada negr a r evel a t er i nt er nal i za zad do a l ógi ca da cu cull pabi l i za zaçã ção o do negr o pel o pr eco con nce ceii t o: “Sabe o que eu que
branco.
Eles
acho? Que preto é mais mais racista falam
assim:
‘Os
brancos
são
racistas!’ Não são os brancos que são racistas, somos
100
nós que somos. Você pode notar que somos nós. Pode ver nos EUA, tem lugar que os brancos não podem passar porque os pretos não não admitem. ” ( I VONETE) .
Par a par ece ser exi st ênci a
out r a ou
pr of essor a pr
mai s f áci l
negar
do do
r aci smo
a na
soci soci edade br asi l ei r a: “Dizem que existe ( o r aci smo) . Dizem, só que a gente nota assim... Mas eu não me ligo. Eu não sou ligada. Se você ficar prestando atenção, porque ela é branca, ela teve chance... Agora, o que você nota é, realmente, que tem menos negros. Não vê um negro assim como o Pelé. Você não vê o negro em destaque. Talvez, deveria ter até mais. Mas as chances são menores mesmo. mesmo. Todo mundo cita, e é verdade: se vão uma negra e uma branca fazer teste ( par a sel eção de
empr ego) ego) , a branca passa; a negra, não. A negra não vai
passar
mesmo!
Então,
existe. Agora
quanto
à
escola, perto de mim, deve até ter, mas fazer o quê? Eu procuro não ver” ( BRUNA)
Par a essa pr pr of ess or a, negar a exi st ênci a do r aci smo é uma saí da di di an antt e de de um um pr ob obll ema con cont r a o qual não se t em poder
par a l ut ar .
Como el a mesm es ma per gunt gunt a:
Porr ém, eu quest i ono: Po
Fazer
o
quê?
at é qu que po pont o ess ess a ceg ceguei r a evi evi t a o
101
con co nt at o
di r et o di
com o co
pr obl ema? At pr At é que que pont pont o se s e pode podem m
di ss i mul ar as dor dor es e as per per das deco decorr r ent es do r aci smo? Di f undi do pel pel o senso senso comum, o r aci smo r ev evel el a- se de f or ma pr i már i a e est er eot i pada. E, co com mo j ust i f i ca catt i va par a a su sua a exi st ênci a, apar ece a r epul sa ao ao ch che ei r o dos ne negr os: “(...) porque o preconceito de raça, se você pensar bem, geralmente é em matéria de cheiro. cheiro. Uma pessoa que é negra, a pele, a melanina faz com que o cheiro
fique
preconceito produtos
de
mais
forte.
cheiro
modernos
das
já
Hoje melhorou
nossas
em
dia,
muito
indústrias
esse
com
os
-
os
adas ) . Estes desodorantes, as minâncoras da vida ( pomadas tipos de anti-transpirantes fazem com que não exista o cheiro. Não havendo o cheiro, não existe o porquê de o branco não conversar com o preto e vice-versa. Tem gente que melhorou e muito. Por que, o que é o preconceito? Preconceito é por causa da sujeira. O cheiro ruim gera sujeira. É exatamente por causa do cheiro. É o cheiro que fez com que aparecesse esse preconceito. Já me falaram que se vão os brancos à África, os negros é que não aceitam aqueles brancos. Porque o cheiro do branco não combina com o cheiro deles. Quer dizer que existe uma questão de cheiro. Quer dizer que o cheiro do branco para eles é que é mais forte. O nosso cheiro de branco é que não é
102
aceito lá. Porque apareceu o preconceito do preto com o branco? Foi por causa dessa substância da pele, que faz com que o cheiro fique mais forte e tudo... Mas melhorou
muito
devido
aos
nossos
produtos
industriais, que amenizaram aquele cheiro. Uma pessoa pode abraçar sossegada que não vai pegar o cheiro da outra porque os desodorantes, os produtos estão muito
chei r o) . bem feitos. Então, a pessoa não tem tanto ( che Por que será que esse preconceito não está associado também ao mau hálito? Uma pessoa com mau hálito, uma cárie e tal... Porque a verdade é a seguinte: eu noto, os pretos têm uma vantagem, não sei se é por causa dessa mesma substância, os dentes dos pretos são mais fortes que os dos brancos. Se eles tratarem
ár i e) . bem, escovarem direitinho direitinho é mais difícil ( t er c ár É que, geralmente, comem bala, fazem coisas erradas, tem muitos pretos sem dente porque comem doce e não escovam os dentes. Não existiu uma educação em cima disso. Mas que o dente do preto é muito mais forte. É muito mais bonito um sorriso de negro que um sorriso de branco, é sem dúvida. Com certeza, sem mau hálito.
ANA) Isso também retrai as pessoas.” ( ANA Essa expl i ca caçã ção o,
f or t ement e
mar cad cada a por est er eó eótt i pos os,, most r a que
o
negr o,
al ém
de
ser ser
103
di scr i mi nado
por
c ar ac ac t er er í s t i c as ,
di ver sas t am ambém
é
di scr i mi nado pel o seu che chei r o.
O
chei r o do do neg negrr o apar apar ece como o gr and ande causad causador or do r aci smo. A
ent ent r evi evi st ada
dest aca
a
quest ão do che chei r o e cl assi f i ca o i ndi ví duo negr egr o como possui dor de um che chei r o de desag sagr adável . Par a el el a é
“nat “nat ur al ”
o
mau
chei chei r o
do do
negr o, associ ssoci ando- o à suj suj ei r a. O
che ch ei r o
di scu scurr so so,,
a
i ndi ví duo.
ass ume, ass
nest e
t ot al i dade Essa
do
é
a
carr act er í st i ca do est er eót i po que ca se t or na um uma ver ver dad ade e ab absol ut a, i nquest i onável . Tant Tant o opi ni ão f oi uma
que que
essa
exp xprr ess a par a mi m,
mul her
negrr a, neg
s em
const con st r an ang gi men entt o. A pr ópr i a ent r evi st ada, decor cor r er por
de sua sua anál i se,
r econh econhecer
t ambém
che chei r a.
que que Por ém,
o
no
acab caba br br anco anco o
seu seu
che chei r o não r epr esent sent a um mot i vo
104
par a que el e sej a di scr i mi nado. O chei r o
do do
br br anco anco
acei cei t ável vel ;
apar apar ece
o do negr o,
como
não.
O
negr egr o est est á di di r et ament e ass ass oci ado ado a
suj ei r a,
mau
chei chei r o,
mau
hál i t o, pi ol ho. Par Par a a en ent r evi st ada, ada,
o mau
che chei r o do do ne negr o t em di mi nuí do, apenas,
em f unção ção
pr odut os
do dos
“ nossos
i ndust r i ai s,
que
ameni zar am aquel e che chei r o”. Di ant e di s so s o,
per gunt o- me
em
qual
c at egor i a est ar i am i nse serr i das c r i anç as
c om
as
quai s
as as a
pr of essor a se r el aci ona no seu di a- a- di a? Qu Qual o t i po de r el ação ção que
el a
est abel ece
com com essas ssas
cr i anças? ças? E di ant e di sso, o que podem
as
br ancas ancas
cr i anças ças com c ompr een eender
ne negr as sobr sobr e
e si
pr ópr i as e sob sobr e as as out out r as? Di an antt e
de
depoi dep oi men entt os
que qu e
r ef l et em i magens est er eot i padas, mar cad cadas as
de de
pr eco econ ncei t os,
cr i ança çass são são vi st as,
as
pel as sua suas
105
pr of essor as,
com co mo
i ndi ví duos
di st ant es do do pr eco con nce ceii t o ét ni co co,, poi s,
segu seg undo
at i t udes
el as,
di ár i as di
nas
suas suas
não nã
são sã o
per ce ceb bi dos i ndí ci os qu que denunci em a i nt er i or i za zaçã ção o do pr eco con nce ceii t o e da di di scr i mi naçã ção o ét ét ni ca cass . ( co c om as
“A criança não tem essa preocupação
di f er enças ças ét ét ni cas) cas) como têm os mais velhos. A nível de primeiro grau isso já é mais latente, a criança pequena de pré-escola não tem. Isso só mais tarde. Pelo menos na minha experiência com pré-escola eu vejo isso bem claro, mais tarde. Na pré-escola não tem isso.” ( AMÁLI A) Desse mod odo, o, a escol escol a é i de deal al i zada como um um espa espaço ço neu neutt r o. O espaço de
con convi vên vênci a
i deal
e
l i vre
de de
pr econ concei cei t os,
com como
r ef er i do
ant er i or ment e:
“(...) essa escola não tem discriminação entre as pessoas. Deve ser uma barra muito grande que elas seguram
na
sociedade
sempre
existe
isso;
mas
na
ANA) escola não, na pré-escola não.” ( ANA A
di f i cu cull dade
apr esen sentt ada
pel as pr of essor as em co com mpr eender a esc escol ol a como um um espa espaço ço ond onde o pr obl ema
ét ni co
t ambém
est á
106
pr esen sentt e r ef or ço
pode pod e par a par
a
pr eco con nce ceii t o. con co nce ceb ber
r ep eprr ese esen nt ar man anut ut en enção ção
Esss e Es
o
um
modo
cot i di ano cot
do do de
escoll ar esco
i mped pede e uma busc busca a de de t r aba aball hos e exp xpe er i ênci as que que con conco corr r am par a a s up uper er ação de dess s e pr ob obll ema. Assi m, a escol a é i de deal al i zada como um uma ilha
fantasia ,
da
i nt egr ant es pel as
passar ssar am
ag agênci as
c uj os i ncól cól umes
soci soci al i zad zador as
e
não i ncor por ar am, no per per cur so de de seu
desenvo esenvoll vi ment ent o,
qual quer
at i t ude ou compor t ament ent o r aci st a. Se,, Se
por
um l ado,
há um di scu scurr so que af i r ma a i nexi st ênci a do
pr ec eco once ceii t o na esco escoll a, por out r o, há um i ndi ca catt i vo de que as cr i ança çass j á na f ase pr é- esco scoll ar per ce ceb bem as di di f er ença çass ét ét ni ca cass . Segundo Segundo as as pr pr ópr i as pr of essoras, as cri ança çass j á podem r eco con nhece cerr as di di f er ença ças, s, a par t i r do momen entt o em qu que e i ng ngrr essam na pr é- escol a, ao aoss quat quat r o an anos os..
Aos
poucos, pou cos,
r ec onhec em pr obl ema
as
a
exi s t ên ênc i a
ét ni co co..
apr esen sentt am, aco con nt eci ment os
pr of essor as pr
Seus
do
r el at os
con co nt r adi t or i ament e, que qu
apont am
a
exi st ênci a do pr eco con nce ceii t o e da
107
di scr i mi naçã ção o
ét ni co coss
ent r e en
as
cr i ança ças: s: “E eles mesmos já notam quando tem um escuro, um de cor, tem um mulato, o mais claro, o loiro. Tudo isso. Eles já notam.” ( SÔNI A)
Aci ma de de t udo,
os r el at os
exp xpõe õem m o mod odo o depr eci at i vo pel o qual
as
di f er ença di çass
ét ni ca cass
são
r eco econ nheci das as:: “(...) acontece muito de falar em sala de aula, no pátio. Não quer ir para a fila com a ‘neguinha’, com o ‘neguinho’, é comum.” comum.”
Segu egundo as as pr of ess or as,
( AMÁLI A) é comum e cons cons t an antt e um uma
cr i ança r ef er i r - se a out r a por mei o de r ót ul os, t ai s com como: “ negrinho feio” , “ negrinho nojento” , “ pretinha Di ant e pretinha suja” . Di dest es est est er eót i pos, as cr i an anças ças neg negrr as são r ecu cusad sada as par a f or mar em par nas f i l as, nas br br i nca cad dei r as, nas f est as j uni nas . No qu que e di z r espe espeii t o ao compor t amen entt o do pr of ess essor or em r el ação a ess es con conf l i t os, o dep epo oi men entt o da men enii na Cat ar i na ( negr a) é ba bast ant e el el uci dat i vo.
Seg egu undo el a, as cr i anças a
xi ngam: “ (...) de preta que não toma banho. Só porque eu sou preta eles falam que eu não tomo banho. Ficam me xingando de preta cor de carvão. Ela me xingou de
108
preta fedida. Eu contei para a professora e ela não fez nada.”
A f al a da da meni na demonst r a que que a om omi s s ão por pa parr t e da da pr of essor a l he deu deu o con conheci men entt o de de qu que nessas nessas si t uaçõ ações es não não poder á co con nt ar co com m o seu auxí l i o. Daí deco corr r e a apr endi zag zage em do si l ênci o: não con cont a na nada pa par a a su sua a pr pr of essor a, por que el el a nad ada a f az. A ob obss er vaçã vação o das das cr i an anças ças no par qu que e t ambé bém m me per per mi t i u pr ese sen nci ar si t uaçõ çõe es concr concr et as de pr pr eco con nce ceii t o e di scr i mi naçã ção o ent r e el as. Naquel e l ocal cal , as cr i ança çass t êm a l i ber dade de escol her seu seuss par par cei r os e deci di r quan antt o t empo per man anece ecerr ão br i nca can ndo co com m el es. Di st ant es da da pr of esso ssorr a, el as po podem di ze zerr o que bem ent endem. Assi m,
nesse
cenár i o, ce
al gumas
f al as
expll i ci t ament e exp
pr eco econ ncei t uosa osass f or am ouvi das nos nos momen entt os em que al al go er a di sp spu ut ado: poder , espa spaço f í si co ou com companhi a. I ss o l evo vou u- me a pensar pe nsar qu que e a sua s ua ocor ocor r ên ênci ci a é mai s comum no noss momen entt os em qu que e se ** desej a ve ven ncer o ou out r o* * que, que, at é o momen entt o, par t i ci pav ava a do gr up upo. o. O pr econ econcei cei t o e a di di s cr i mi na nação ção apa aparr ecer am como um uma pod oder er osa ar ar ma, nos momen entt os de di spu sputt as, cap capaz az de par al i sar sua su a ví ví t i ma. O di ál ogo t r anscr i t o a se seg gui r par ece ce-- me ba bast ant e el uci dat i vo: No par que que,,
apr apr oxi mei - me de de um um gr upo qu que br br i ncava. cava. De
r epent e, i ni ci ou- se um t umul t o. Shi r l ey ( negr a) se ap apr oxi mou
109
de Fá Fábi o ( br anco co)) e o xi ngou de “be “best a”,
e el e r evi dou .
Lett í ci a ( br anca Le ca)) passo ssou u a par t i ci par da di scu scussã ssão o, co com m vár i os xi ng ngam amen entt os. Le Lett í ci a e Cat ar i na ( negr a) , at é ent ão br i nca can ndo j un untt as as,,
pr i nci pi ar am a s e xi ng ngar ar t ambém. Cat ar i na di sse a
L et í c i a: “Fedorenta” , e est est a r esp spo ondeu: “Fedorenta é você.” Cat ar i na, ent ão, di sse sse:: “É você, tá!” Lett í ci a r esp spo ondeu: “Eu tá !” Le não; eu sou branca, você é que é preta !”
Cat ar i na f i co cou u
par al i sad sada a e não di ss e mai s nad nada. At é en entt ão ão vi vi r ada de f r ent e par a Le Lett í ci a, deu- l he as cost cost as e pr i nci pi ou a xi ngar Fá Fáb bi o . Cat ar i na seg segu undos dep depoi s desf er i u- l he um um gol pe na na cab cabeça ça.. O meni no começou a chor ar . A pr of essor a, per cebe cebendo a con conf usão, são, s e apr oxi mou do do gr upo e admoest oes t ou a meni na Cat ar i na, que mai s uma vez vez ou ouvi vi u t ud udo o cal ad ada. a. Em out r a oca casi si ão, duas cr i ança çass ne negr as cam cami nhava vam m pel o par que qu quan and do um um men enii no esba esbarr r ou em uma del del as e l he di di z em t om de
deboch che e:
gar gal han and do,
“ Desculpa neguinha!”
Depoi Dep oi s
f oi
com o am ami go qu que t ambém r i u mui t o.
embor a
A meni na
ar r eg egal al ou os ol ol hos, mas cont cont i nuou a sua cami nhad ada, a, sem nad ada a di ze zerr . Hou ouve ve,,
ai nda,
uma oca ocasi si ão na
qual qu
a men enii na Si l vi a
( negr a) br i nca cava va co com m su sua a ami ga Mai ar a ( negr a) .
A pr i mei r a
t i nha uma boneca boneca br anca nas mãos ãos..
uma boneca boneca
A s egun egunda, da,
pr et a. Per gunt ei : “ Essa boneca preta é sua?” El El a, co com m mui t a i r oni a, r esp spo ondeu: “Nem de nega eu gosto!”. A out out r a men enii na não nã o di di s s e nad nada. a.
110
No pr pr i mei r o exem exempl o, vi mos a f al a da da meni eni na br anca anca expr expr essa sem qual qual quer uer
t r aço de dúvi dúvi da, da,
o que f az com com que que a meni eni na negr negr a f i que
i mobi obi l i zada zada pel a l ógi ógi ca, ca, ou pel a “ver “ver dade” con cont i da na exp expr essão “o pr pr et o é f edor edor ent ent o”. No segun segundo do,, vi mos o meni eni no pedi pedi r descul descul pa par par a a sua ami ga em t om de de deboche che, mobi l i zan zando- a di di ant e da da si t uação ção. E no no t er cei cei r o, vi mos uma cr i ança ança neg negrr a, di ant ant e da da am ami ga t ambém bém negr negr a, expr expr essar seu acen acentt uado uado despr despr ezo por por pess pess oas oas de seu gr upo. upo.
Di ant e
de de
si t uações ções
t r anqüi l i dade co com a qu qual
como
ess ess as,
pude
const con st at ar
a
as cr i ança çass exp expr essa ssam m co com ment ár i os
depr eci at i vos a r esp spe ei t o das cr i ança çass ne negr as . Nesses caso casos, s, as cr i an anças ças neg negr as,
quase sempr e, per man anece ecem m ab absol sol ut amen entt e
call adas, co ca com m ol hos qu que at r avessa ssam m o ar . Sobr essa ssae em em se seu us r ost os exp expr ess ões vazi vazi as. Após a of of ensa di di r i gem- se a out r o gr upo, ou ent ão pr pr i nci pi am a br br i nca carr so sozi zi nhas em se seu us can cant os, como se nad nada a l hes t i ve vess ss e aco acon nt eci do. **Ne **Nesses sses con conf l i t os em que as as cr i anças ças xi ngam as ne negr as, r ef er i ndo- se à cor cor
de sua sua pe pel e com como um uma ca car act er í st i ca
nega negatt i va, pode podem mos obser vá- l as com c omo as gr and andes venced vencedor or as da di spu sput a. A i nação ção da das cr i anças ças neg negr as r evel vel a, a meu ver ver , um mi st o
de de
medo, edo,
dor ,
i mpot ênci ênci a:
di ant ant e
dessas dessas
emoções oções
i mobi obi l i zador zador as não não conseg consegu uem ou não sabem sabem como se def def end ender . Face Face ao ao am ambi ent e qu que l hes é ho host i l , i sol sol am- se, se,
as cr i anças ças neg negr as
r et i r am- se do pal co da di spu sput a.
Tent am passar ssar
desape saper ceb cebi das, abandonando o con conf l i t o. O si l ênci ênci o per manent ent e das pr pr of essor as a r espei spei t o das di f er enças ças ét ni cas cas no no espa spaço escol ar , somado ao si l ênci o das
111
cr i anças ças
ne negr as,
par ece
con conf er i r
às
cr i anças ças
di r ei t o de r epet i r seus seus compor t ament os,
br br ancas cas
o
poi s el as nã não são
cr i t i cad cadas ou denunci adas, podendo ut ut i l i zar zar essa est est r at égi a com como t r unf o em qual quer si t uação ção de con conf l i t o. Ol i vei vei r a ( 1992) com compl ement a essa essa an anal i se: “Conscientemente ou não, a criança branca, porque
tem
o
consentimento do
adulto, ou porque não sofre sanções – nem mesmo
será
rotulada
como
violenta,
complexada ou perversa (esses atributos serão
atribuídos
comete
toda
criança
à
sorte
negra.
criança de
negra)
–
contra
a
abusos
Esta,
por
não
Ter
proteção, estrategicamente estrategicamente permanece em silêncio” ( Ol i vei r a, 1992, p. 134) .
4.2.
Convivência
étnica:
uma
multirealidade
esquecida
Aos
pou poucos, cos,
quest i onament o
é
sob sobr e
possí possí vel vel a
per cebe ceber
di di ver ver si dade
a
ét ét ni ca
au ausênci sênci a no no
do do
cot cot i di ano
escol escol ar , em r el ação às pr pr of essor as. Pod Podemos per per ceber ceber , t ambém, uma au auss ên ênci ci a dess esse e qu quest est i on onam amen entt o por por par par t e da da coor coor denação enação pedagógi ca e da di di r eção eção escol escol ar , o qu que si nal i za o desp sprr epar o e o desi nt er esse sse da da escol scol a par a l i dar com com essa qu quest ão.
112
A con convi vên vênci a mul t i - ét ni ca na na escol escol a nã não é l evad vada em em con consi der ação ção pel os seus seus pr pr of i ssi onai s. O debat e est á ausent sent e nas pa paut as da das r euni ões pe pedagógi cas, cas,
nas J EI ( s)
( j or nada
espe speci al i nt egr al ) e nos pl pl anej ament os. “Essa questão das diferenças, a gente trabalha entre nós mesmas. Os estágios se reúnem e fazem as trocas de experiências, troca de trabalho. A gente deixa os modelos na sala de aula. Então, a troca é feita nesses horários de “JEI”. A gente troca muito: ‘Olha, na minha sala aconteceu um fato assim’. Então todas
as
professoras
conclusão.
Às
orientação
melhor.
questionamento
discutem
vezes
pode
(E
sobre
e
chegam
acontecer
alguma
vez
racismo,
a
alguma
até
alguma
surgiu
algum
preconceito
ou
discriminação nas reuniões?) Não houve. A escola estava em reforma. Então, o problema estava voltado para o ar que a gente respira respira (por causa da reforma). reforma). Então,
era
outro
o
problema,
não
o
problema
de
preconceito.” ( ANA) Par Par a um uma out out r a pr pr of essor a esse esse t i po de de assun assuntt o não não deve deve ser ser t r at ado ado nas nas r euni euni ões ões peda pedagó gógi gi cas par par a não esticar o assunto:
“Não. Não, reunião pedagógica é para passar a parte pedagógica mesmo. Parte pessoal, essas coisas
da De Deni se f oi passado assado pa par a a di r eção eção, ou não. ( O caso da
113
coor dena denação? ção? 39) Não, não. Acho que foi só comentário. Acho que não é por aí. Se não você começa esticar muito um assunto que que não tem necessidade... necessidade... A não ser que seja uma coisa séria. Mas foi uma coisa que ela contou para mim, então, depois solucionou o problema não precisou ir avante.” ( SÔNI A)
Di ant ant e dess desse e úl úl t i mo dep depoi oi ment ent o, assuntt os assun os tratados
nas
r eu eun ni õe õess
podem odemos ent ent ende enderr
ped edag agóg ógii cas cas como
os
sendo, s endo,
excl usi vam vament e, sérios e pedagógicos, e não pessoais. pessoais . I sso nos l eva a compr eender eender que que o co con nf l i t o ét ni co é co con nsi der ado c omo pr obl ema pessoal e não-sério não-sério. . Não obst obst ant ant e,
é po possí vel vel
con const at ar que as as pr of essor essor as se sent sent em
apt apt as a l i dar com essa que quest st ão, ão, embor a r econ econheçam heçam que o con conheci ment ent o f oi adqu adquii r i do por i nt er médi édi o da da exp exper er i ênci ênci a pessoa pessoall de cada cada uma.
“Eu acho que está, porque a gente tem um jeito especial de falar. A gente é muito maleável: chama o pai e fala: ‘Olha, está tendo um problema assim, vamos amenizar.’ Tudo com jeito.” ( ANA)
Temos, os , r econ econhecer par a
l i dar
por ém,
que que
a f al t a de de f or mação com com
quest ões
t ão
espe spec í f i c as:
39
Estou fazendo referência ao caso de uma menina negra cujos pais pediram auxílio da professora porque a menina não queria ser negra. Este caso será relatado neste trabalho na página 123.
114
“Eu
acho
que
a
gente
não
está
realmente
preparado. Mas a gente vai no ‘achômetro’. A prática pelo ‘achômetro’. Cada um vai elaborando a própria receita e vai tocando o barco. Não tem como, quem é que vai me preparar para isso?” ( AMÁLI A) Mas um uma pr pr of essor a negr negr a r econhe econhece ce que que a escol escol a sabe sabe l i dar dar com o pr obl obl ema ét ét ni co :
“Eu acho que a escola está preparada para isso. Não tem discriminação, discriminação, nunca foi falado sobre nós
BRUNA) negros.” ( BRU Par a essa essa pr pr of essor a, o si l ênci o e a omi ssão ssão sobr sobr e o pr obl obl ema ét ni co par ece ecem m apagar
o pr ob obll ema.
É c omo se se a
di scussão sob sobr e o pr ob obll ema f osse cap capaz de l he dar dar vi da. É como se el el e só exi exi st i ss e a par t i r do moment o em em que del del e se f al ass e. Ess e di scur so pa par ece den denu unci ar o medo que se t em em di scut scut i r a quest ão da con convi vênci a pl ur i - ét ni ca na soci soci edade e no espa espaço ço escol escol ar . Par Par eceece- me qu que é um di scur so qu que est est á de de acor acor do com com a soci soci eda edade. O si l ênci ênci o sobr sobr e o t ema ap apar ece aq aqui como um i ndi cador cador da i nexi st ênci ênci a do pr obl obl ema. Assi m, di ver si dade
a ex exp per i ên ênci ci a e o pr ep epar ar o pa par a l i dar ét ni ca
não
decor de cor r e
de de
es t ud es udos os ou
c om om a deba debatt es
r eal i zad zados na nas J EI ( s) , mui t o menos da da l i t er at ur a exi st ent e sob so br e r el açõ çõe es ét ét ni ca cass br br asi l ei r as, vi st o que as pr pr of esso ssorr as par ecem nad ada a t er l i do sob sobrr e o t ema :
115
“Eu não estou lembrada de ler não. Eu estudei psicologia, psicologia , mas mas necessariamente necessariamente sobre o preconceito, preconceito, assim em relação ao preto, não sei o quê, não não.” .”
( ANA) E outra outra,, por por achar achar que age age de de modo odo cor r et o, t ambém por ser mui t o sen sent i ment al e i magi nar que esse t i po de l i t er at ur a é triste, opt a por não l er . Novam ovament ent e, essa ess a f al a t r az a i déi a de de qu que a quest ão não não é nã não ver o problema,
mas,
pel o
con cont r ár i o,
é
não
querer
ver
o
problema: “Eu nunca procuro ver porque acho que eu estou certa. Porque um livro muitas vezes.... eu nunca vi. (...) Eu já imagino o que deve se passar no livro, os problemas que aparecem, aparecem, daí eu sou muito sentimental, sentimental, me envolvo muito muito e nem faz bem.” ( SÔNI A)
Out r a
pr pr of essor a
ap apont a
pa par a
a
i nexi st ênci a
dess a
di scussão scussão no cur cur so de de espe speci al i zação zação que f ez: “Teve uma época em que a gente lia muito. Quando a gente tinha grupos de formação. Porque em cada administração existe uma linha
política. Então,
as coordenadoras tinham grupo a cada 15 dias. Nós tivemos aquele curso desenvolvido pela USP. E foi enfocado só o problema de crianças com necessidades
116
especiais.
Questão
racial,
de
gênero
não
foram
ALVA) enfocadas.” ( DALVA) Esse conhe conheci ci ment ent o ad adqui qui r i do apen apenas as pel pel a exp exper er i ênci ênci a pod pode e l evar evar o pr of i ssi onal a di di st or cer cer e mi ni mi zar zar os pr pr obl emas, em di ver sas sas si t uaçõe ções:
“Criam-se certas coisinhas: taxa de negro assim, de japonês assim, de nordestino assim... Talvez, os nossos tataranetos possam ter uma sociedade mais justa. Uma sociedade mais harmoniosa. Não é tanto de cor, é o trabalho, é a idade. Aí entra tudo. Então, o preconceito é em tudo, não só o de cor, de raça, de língua,
de
Estado...
É
de
tudo,
é
de
idade,
o
preconceito é geral.” ( MAGALI )
E, neut r al i zar zar r eal eal çand çando
a
em
out r as ,
o
pr obl ema,
bel eza
de
ser ser
negr o: cr i ança) ça) : ‘Professora “Normalmente, ela fala ( a cr ssorr a f al a co com m um ela me xingou de preto’. ( A pr of esso t om enf adonho, demonst onst r and ando r epr epr ovaçã ovação. o. Não é a f al a nor mal del a. ) É assim como se fosse uma coisa muito ruim para ela ser preta. Daí eu vou e falo: ‘Você não é preta. Você é negra. É lindo ser negro!’” ( AMÁLI A)
Ao r epr oduzi r
a r ecl amação ção da da cr cr i ança, ça,
a pr of essor a
col oca em em sua vo vozz um t om que não não é o seu nor mal , como se
117
est i ve vess ss e can cansad sada a desse desse t i po de de r ecl amaçã ação o. A pr of essor a em moment o al al gum di z r epr eender
a cr i ança qu que se r ef er i u à
cr i ança negr egr a de modo odo pej or at i vo e of ensi ensi vo. vo. A sol ução por el a ad adot ada ada é a de r eal eal çar a bel eza de ser negr egr o. Quand ando, na mi nha
op opi ni ão, ão,
o
f at o
pe per passa,
soment ent e,
a
qu quest ão
da da
nor mal i dade. Não se t r at a de ser ou não ser l i ndo o negr o. É nor nor mal s er negr egr o, como é nor nor mal s er br anco, anco, descenden escendentt e de de j aponês, aponês, ou qual qual quer quer out r a ascendên as cendênci ci a que que s e t enha. enha. Mui t as veze vezes, s,
as pr of essor as
desl ocam cam o pr obl ema cen cent r al , quest ão ét ét ni ca, ca, quest ões ões t r açar çar
desvi ando- a pa par a
secun secundár i as, uma
i gual dade ade
a
l i nha ent ent r e
t ent ando
par al el a
de
pr obl obl emas
di s t i nt os os . “Esse ano eu tive um aluno negro, um não, dois. Eu os chamava de filhote de São Benedito, porque eles eram o cão em forma de gente. Eles atormentaram o ano inteiro. E tinha outro que era o contrário, o Rui. O Rui é uma criança negra que caiu do segundo andar e destruiu o palato duro e o palato mole. Então, ele tinha dois agravantes, ele era negro e não falava direito. E o outro era negro e era um capeta. Então, acho que é assim: como o Rui tinha o problema na fala as crianças não enxergavam a negrura dele. Enxergavam
118
o problema dele. ‘O Rui não sabe falar, professora!’”
( I DALI NA) Par a a pr of essor a, a “ negrura” da cr i ança ança só de dei xou xou de de ser per cebi cebi da de de f or ma pr pr obl obl emát i ca pel pel a t ur ma por que hav havii a na t ur ma um uma cr i ança ança f i si cament ent e de def ei t uosa, osa, o qu que pa par a el el a f oi
mot i vo de cur i osi dade ade e de de pen pena a por por par t e das dem demai s
cr i anças, ças,
f azen zendo com com que o con conf l i t o ét ni co f i casse casse em
segu segundo pl pl ano. ano.
4.3. O silêncio como uma estratégia para evitar o conflito étnico
Os
pr obl emas
se
acumul am:
ausênci sênci a de de i nf or mação ção, al i ada a um pr et enso con conheci ment o, r esul sul t a no si l ênci o di ant e das di di f er enças ças ét ni c as. “Acho debatendo: ninguém
que
não
‘Ele
é
melhor
do
tem
como
branco, que
ele
a
professora é
ninguém’.
preto; Isso
TEODORA) trabalhado automaticamente.” automaticamente.” ( TEO
ficar
não
vai
tem
sendo
119
As s i m, soci edade
vi vendo vendo com com
uma
num numa
democr aci a
r aci al de f acha chada, dest i t uí da de qual quer
pr eocup cupação ção
con convi vênci a
co com
mul t i - ét ni ca, ca,
cr i anças ças
ap apr endem as
ét ni cas, cas,
no espa spaço escol scol ar ,
f or ma
ba bast ant e
a as
di di f er enças ças de
pr pr econ concei cei t uosa.
Al i ás, é o que co cont a a pr of essor a Teodor Teodor a: “Eu tenho um aluno maravilhoso - o César - e ele é de cor. Uma criança relatou um fato que aconteceu: ‘foi
aquele
neguinho
quem
fez
isso’.
Eu
falei
‘neguinho’? Ele falou: ‘aquele neguinho’, daí, ele apontou o César. O César é um cavalheiro! Aos cinco anos de idade ele é um cavalheiro! Eu acredito muito na espiritualidade. Então, eu acho que ele nasceu com uma alma nobre. Ele não se incomodou nem um pouco. Ele só chegou e falou: ‘Olha, mãe, aquele menino me chamou de negro: - ‘aquele negro pegou o brinquedo’. O menino não se incomodou de jeito nenhum, ele é nobre! No dia seguinte ele falou com a mãe. O César não é um menino agressivo, eu tenho muito carinho por
sussurr r o) Não que eu não tenha muito ele. ( Fal a em sussu carinho pelos demais. Eu tenho por todo mundo. É um
120
menino muito querido, todos gostam de ficar perto dele.
Ele
não
revidou:
‘Olha,
negro
é
isso;
é
aquilo!’ Porque a mãe dele é muito light. A mãe dele não
se
incomoda
com
isso.
Ela
nasceu
preta
maravilhosa, luta normalmente pela vida dela, sem se incomodar. Então, eu acho que essa tranqüilidade, essa leveza se passa para a criança”.
De acor acor do com o dep depoi oi ment ent o da mãe, ãe, a ou out r a cr i ança di di ss e ao ao seu seu f i l ho: “pr “pr et o t em que r oubar mesmo”. Foi esse o f at o qu que el el a l evou
ao
conhe conheci ci ment ent o
da da
pr of essor ssor a. O si l ênci o da da cri ança di ant ant e dos dos ou out r os dem demonst r a a sua f r agi l i dade di ant ant e de de si t uação ação t ão hu humi l hant e, i mpost a pel pel o am ami go. Si nal i za o quant o el a não não do dom mi na o seu seu di r ei t o de de def def esa esa.. E exp exprr essa, t ambém, a sua sua f al t a de con conff i ança nos adu adul t os à sua vo voll t a pa par a resol ve verr em o pr pr ob obll ema, vi s t o que que
não não f or am pr ocur ocur ados ados
par par a def def end endê- l o.
A cr i ança ança
age age como
que que
endo endossand ssando o a f al a do do am ami go e, si l enci enci osam osament ent e, assume um um pap papel que que l he f oi dado pel o out r o – o de de l adr ão. O des ampar o de del a é ent ent en end di do pe pel a pr of essora como uma ação posi posi t i va va.. Al i ás , o dep depoi oi men entt o da da pr pr of essor a, al ém de revel revel ar a sua sua vi vi são do pr pr obl ema, ex expr pr essa a va vall or i zaçã zação o acen acentt uad ada a do si l ênci o na nas si t uaçõe ções de de con conf l i t os ét ét ni cos. cos.
Essa manei r a de si l enci ar e val or i zar zar o si l ênci o di ant e dos evi dent es con conf l i t os ét ni cos cos aca acaba
121
esconden es condendo do compor t ament os e l eva a uma i nt er r ogaçã ogação: o: “(...) até que ponto o ‘negro’ e o
sendo) ‘mulato’ estão ( send
socializados socializados não
só para tolerar tolerar mas também para aceitar como
normal
e
até
mesmo
endossar
as
formas existente de desigualdade racial, com
seus
componentes
preconceito
racial
discriminação
dinâmicos
dissimulado
racial
–
o
e
a
indireta?”
( Fl or est an Fer Fer nandes, 1972) . 40 Por seu t ur no, a pr of essor a da
cr i ança
qu que
pr econcei econcei t uos uos ament ent e
ag agi u t ambém bém
anal i sa o ocor cor r i do: “O meu aluno chegou para o César e falou: ‘Pegue este brinquedo e leve para casa porque preto tem que
sada, roubar mesmo!’ E ele pegou e levou. ( El a dá r i sad gar gal hada. ) Chamei
o
moleque,
chamei
a
mãe
do
menino, chamei a família inteira do moleque, não ficou ninguém sem vir: avó, avô, tio, tia, papagaio, periquito.
‘O
que
está
acontecendo?
Na
casa
senhora, a senhora trata assim as pessoas?’ 40
Citado por Nascimento, 1978, p.94.
da
( El a
122
r espon es ponde de
como
a
mãe
da
cr i ança
r espon es pondeu deu)) ‘Não
professora, pelo amor de Deus! O meu cunhado é negro
(A
como a noite. Minha irmã namora com negro.’
pr of essor a pe per gunt a pa par a a cr i ança) ça) ‘Paulo, onde é que você ouviu isso?’. ‘Em lugar nenhum, professora.’ ‘Então, que história é essa que negro tem que roubar? Da onde vem?’. Eu até hoje não descobri onde o menino ouviu isso. Eu acho que esse problema de negro é muito
sério.
convívio
Porque
social.
Não
está é
implicado
só
o
em
chamar,
ação, você
em
está
ação oferecendo uma ação terrível e atribuindo ( a ação t er er r í vel ) a outra pessoa. Eu acho que isso é mais que ser discriminado, rotulado e tachado. Foi o fato mais gritante que eu ouvi até hoje, onde a discriminação passou da cor e foi para a ação. Foi para a atitude, ela foi imposta a alguém. E a alguém muito pequeno. Eu fiquei muito triste com isso, eu fiquei muito chocada. Foi uma das coisas com que eu mais fiquei triste.” ( I DALI NA)
A
pr of essor a
na nar r a
a
hi st ór i a, acha chando gr gr aça, ça, che chegando at é a gar gal har .
Ao expl i car car as
pr ovi dênci as qu que t omou, el a di z: “Chamei o moleque, chamei a mãe
123
do
menino,
avô,
chamei
tio,
periquito.”.
f az
a
a
tia,
hi hi st ór i a
a
avó,
papagaio,
O s eu modo de de nar r ar par ecer cer
espe spet ácul cul o de ci r co. co. per de
(...)
sua sua
um
O pr obl ema
ser i ed edad ade e
e
gr avi dade. Na f al a da da pr pr of essor a, o qu que mai s cham chama a at enção enção é a l i gação, ação, que a
pr pr of essor a
f az,
ent r e
a
at i t ude ude do do meni eni no br br anco anco e o seu der r ame f aci al : “Ele é uma criança super ‘Zen’. Mas, agora no finalzinho do ano, ele teve um derrame facial: aquela coisa meio torta na boca. Pode ter sido um vento, pode ter sido um frio ou a geladeira aberta com o corpo muito quente. Mas existe uma coisa dentro da criança. E é difícil falar isso porque é intuitivo e meio absurdo. A criança traz alguma coisa que é inerente à vontade do pai ou da mãe. Por exemplo, carisma ninguém dá, ninguém ensina a ninguém. E tem uma
outra
coisa
generosidade
que
que
é
vêm
de
a
maldade, dentro,
a
bondade,
independente
a de
qualquer outra coisa que você fale dela. Para mim, é tão claro que ela vai levar isso vida a fora. Ela vai
124
ser um adulto daquele jeito. É horrível falar isso, não é?” ( I DALI NA)
Sua f al a l eva a en entt ender a at i t ud ude e
do do
i ner ent e
men enii no
como
sua
pess oa oa..
à
i nt er essan ssant e
not ar ,
modo
ut ut i l i zad zado
pe pel a
par a
r esol ver ver
o
al go al
t ambém,
É o
pr pr of essor a pr pr obl ema,
c hamando par pa r a uma conve c onverr s a a mãe de Pau Paull o, i nsi nuan nuando do uma possí vel cull pa cu
da
f amí l i a,
e
o
ent endi ment o do do con conf l i t o ét ét ni co c omo al al go i ndi vi dual . Por f i m, a pr of essor ess or a dem demons ons t r a compr een eender der a gr gr avi avi dade do do pr pr obl ema ét ét ni co, mas opt opt a em em nada nada f azer no âm âmbi t o educaci caci onal . A val or i zaçã zação o ao si l ênci o do meni eni no
neg negrr o,
pel a
pr pr of ess or a
Teodor Teodor a, par ece s er uma const cons t ant e em s eu modo odo de de pen penss ar , por por que que em em out r as
si t uaçõe ações
t ambém
“pa “par abeni za” a ví ví t i ma pe pel o seu seu s i l ênc i o.
125
“Na
sala
seríssimo.
Tem
da uma
minha
filha
menina
teve
negra,
um
negra
problema bela
por
sinal. Ela se dá bem com todo mundo. É aquela menina mulata que se destaca destaca pela simpatia e pela pela beleza por ela ser preta. Porque só tem gente branca e ela é ‘mulata’. Então, quando ela chega, ela fala: ‘cheguei porque sou bela’ e realmente é. E aquelas outras, acho que por inveja, sei lá o que, talvez por ela dominar uma situação. Uma menina branca disse que ia dar um ‘pau’ na menina que é preta. A menina não precisou falar falar nada. A classe classe tomou o partido partido dela, e ela junto. A branca falou: ‘Eu vou bater nessa negra, porque eu sou branca. Porque por mais que você seja bela e maravilhosa, você nunca vai ser igual a mim. Porque você é uma negra e eu sou branca!’. Quando ela falou
eu
sou
branca
a
classe
inteira
deu
uma
‘porrada’ na cara da branca. Eu achei aquilo lindo porque as meninas falaram: falaram: ‘A partir de de hoje você vai respeitá-la!’ E a menina negra ficou tão light, ela nem se incomodou. Ela deixou que a classe tomasse
TEODORA) RA) partido, porque porque ela é bela.” bela.” ( TEOD No dep depoi oi ment ent o da da pr pr of essor a, um out r o nece ecess ss i dad ade e
dado
mar can cant e
é
con const ant ant e
adj et i var as pess pess oas oas negr as.
a de Em
126
nenh enhum moment o el el a f al a: bonita, branca
branca
de
maravilhosa,
Por ém ém,
nobre.
t r at and ando
branca
um uma
em
pes pes soa
se
neg negr a,
per cebecebe- s e
um uma
necess necessii dade ade
de, de,
quem sab sabe,
al i vi á- l a do peso da
sua sua cor cor , t or nando- a bela, light, enf i m, acei cei t ável . exótica, en “À noite eu trabalho com pessoal carente, são nordestinos, pessoas de cores, maravilhosas. Eu tinha um aluno que um dia falou para uma amiga problemática ao extremo por ser preta. Uma negra maravilhosa, com
onst r a um cabel cabel o cumpr i do um cabelo desse tamanho ( demonst e ar mado) todo cacheado, pintado de caju púrpura. Uma menina
linda,
super
problemática,
tomava
anti-
depressivo. Daí, eu percebi que era porque ela era preta. Ela mesma falou falou para mim que só gosta gosta de homem branco.
Eu
até
conversei
muito
com
ela
a
esse
respeito. Ela é revoltada. Essa revolta ela passa para
os
colegas
em
sala
de
aula.
Ela
mesma
se
discrimina. Um dia um colega nervoso falou assim: ‘Olha, você sai de perto de mim, que nem de negro eu gosto!’ Eu falei ‘O que é isso filho? Não pode falar esse tipo de coisa, é até feio. Não fala isso no meio de gente. Você é um adulto. Isso não fica bem para
127
você. Você não gosta da sua amiga porque ela é preta? Olha, você está proibido de falar isso em sala de aula!’ Depois ele falou outra vez, e o pessoal o vaiou.
Porque
ele
é
uma
besta
humana,
um
cara
TEODORA) extremamente ignorante.” ( TEO A adj adj et i vação vação est end ende- se at é mesmo às pes pes soas de seu c í r c ul o f ami l i ar : “Esse problema me deixou chateada demais ( ai nda
sobr sobr e o seu al uno di scr sc r i mi nado ado na escol a, ‘ cham chamado ado de l adr ão’ por out r a cr i ança) ça) . Esse tipo de coisa é como se
fosse
uma
coisa
minha.
Porque
eu
tenho
duas
sobrinhas, independente de qualquer coisa, eu tenho duas
sobrinhas
mulatas
que
são
belíssimas,
lindíssimas e exóticas ao extremo. Belas demais, é uma cara de mais, é um trem, nem parece gente de tão bonitas. Aquele narigão, narigão, não só o nariz, nariz, tudo delas é
TEODORA) muito bonito. Mulata, coisa coisa linda.” ( TEO
4.4.
Naturalizando
as
desigualdades de tratamento na escola
Embor a a escol escol a est est ej a chei chei a de de i r oni oni as, em mui t os moment ent os essa i r oni oni a
ap apr esen esent a- se de de
f or ma
t r ági ági ca e desum esumana. ana.
Al gumas si t uações ações
128
per mi t em con concl ui r que é de demasi ado pr eocupa eocupant nt e o modo como as cr i anças negr ne gr as são men enci ci on onad adas as no no cot cot i di an ano o da da escol escol a. Al guns ep epi sódi sódi os parecem arecem exem exempl ar es:
No par par que, ue, duas duas t ur mas ( Fase I
e
III)
br i nc avam j unt as as .
pr of essor a da f ase I
A
encon cont r ou
uma t r ança ança de de “caneca “canecall on”. on”. El a se di r i gi u à out r a pr of essor ssor a, t em,
em sua sua t ur ma,
que
duas al unas
que usam sam cab cabel os de desse est est i l o, e l he di sse: sse: As “ As suas alunas estão perdendo os cabelos! Ou será que tem alguém arrancando? Já pensou, deve
doer
bastante
porque
é
grudado no cabelo delas. Guarda para as mães colocarem no lugar. ”
A pr of essor a peg pegou ou a t r ança ança e ambas bas
r i r am am
da
s i t ua uaç ão.
As
cr i ança çass à su sua a vol t a pr ese sen nci ar am t od oda a a cena cena.. Dur ant ant e um uma en ent r evi evi st a t omei conhe conheci ci ment ent o humi l hant es duas
de
sof r i das
cr i anças. anças.
( negr negr a)
mai s
A
cont cont ouou- me
s i t uações ações po por
ess as
meni eni na que que
Ver Ver a
t oda oda
a
129
t ur ma i r oni oni zava as as duas meni eni nas que usava usavam m t r anças no no cab cabel o: ( Cat ar i na) .
“Todo mundo ficava mangando dela
cr i anças) ças) falavam que Mangavam da Aparecida. Aparecida. Elas ( as cr a Catarina era besta porque enrolava o cabelo. Ela vinha para a escola com o cabelo trançado. E todo mundo ficava mangando.” Ent Ent endo endo desagr sagr adável vel
que que
com com o qual
seus al unos unos negr negr os. cr i anças, anças,
ess ess e
t i po
de
si t uação uação
pod pode e
decor decor r er
do
modo odo
al gumas pr pr of essor essor as se r ef erem l i vr ement e aos aos
Essa f or ma de de agi agi r ,
at é mesmo na na pr esença esença das das
pod pode l eváevá- l as a ent ent end ender que t ambém bém podem r epr oduzi r
t ai s
at i t udes, vi st o que su sua as pr pr of esso ssorr as o f aze zem m.
No par par que que obs obs er vei t ur mas
e
suas suas
pr of es so sor as as
( F as as e
as duas duas
r espect espect i vas vas II
e
I I I ).
Per maneci aneci mui t o pr pr óxi ma das das duas duas pr of essor as cr i anças. ças.
e
de de
Per gunt ei
di di ver sas sas
à pr of essor ssor a
I dal i na sob sobr e do doi s i r mãos gêm gêmeos. “ Os
meninos
gêmeos
são
seus
spondeu: eu: alunos?” A pr of ess or a r espon “ Ah, Ah,
os
Benedito?” que
filhotes
de
Pe Per gunt ei - l he:
São
“ Por
filhotes de São Benedito?” .
El a r espo espondeu: eu:
“ Dois negrinhos,
130
epoi s de assim desse tamanho?.” Depoi t er
f al ado
pr ocur cur ou
de desse
modo,
di sf ar çar çar
el a
o
seu seu
coment ent ár i o e t er mi nou f al and ando mal do com c ompor t ament o dos gêmeos. eos . Mas
em em sua sua
pr of ess or a
f ez
ent r evi st a, um uma
a
r ef er ênci a
semel han hant e. El a di di ss e qu que cham chamava doi s de seus seus al unos neg negr os de: de: “(...)
filhote de São Benedito ,
porque eles eram o cão em forma de gente. Eles atormentaram o ano inteiro.” ( I DALI NA)
A i deo eoll ogi a, est er eót i po,
l eva
ao pr pr omov ove er o
o
sujj ei t o su
est er eot i pado a i nt er nal i za zarr su sua a i magem neg egat at i va va,, i deal i zad zada com com o obj et i vo
de
i nf er i or i zázá- l o
opr i mi - l o ( Si l va,
1995)
que: “(...) a pior das conseqüências da ação do estereótipo é a auto-rejeiçã auto-rejeição o e a rejeição ao seu outro igual, igual, é esse ódio contra si próprio que a ideologia coloca
e
Sabe- se
131
no
oprimido,
inferiorização inferiorizaç ão
um
tipo
que
insidioso
resulta
de em
desagregação individual e desmobilização coletiva” coletiva ” ( Si l va, 1995, p. 46) .
Por Por ém,
par a a pr of essor a,
o seu modo odo de de ad adj et i var var
pej or at i vam vament e as as cr i anças ças r epr esent sent a um um t r at ament o no nor mal . Em moment ent o al gum el a par ece compr een eender f er i ndo
a
Si mpl esment e
cr i ança el el a
e
não não
de det er mi nando quest i ona
o
a
que pode ode est ar sua sua
i dent i dade.
si gni f i cado cado
qu que
sua suas
“met áf or as” pod podem t er par a as cr i anças anças qu que as ou ouvem vem. Quand uando, o,
dur dur ant ant e
a
ent r evi st a, eu per gunt o o que el a acha acha qu que sent sent em as cr i anças anças qu que a ouve ouvem m, el a r espon espond de: “Nada. Não, porque eu os chamo de ‘filhotes de São
Benedito’,
eu
falo:
‘Ah
seu
filho
da
puta,
safado, porque você aprontou. Não me encha o saco!’ Nessa hora eles sabem que eu estou muito furiosa, se eu pudesse eu dava um tapa na bunda. Então, o que eu falar não tem outra conotação, exceto a de que eu estou muito “pê...”. Se eu pudesse eu esganava na hora. Porque me ‘sacaneou’, fez alguma coisa que me deixou profundamente aborrecida. Outra coisa é outra coisa. Mas, naquela hora, ela entende profundamente o que eu estou falando.” ( I DALI NA)
132
Por Por ém,
i ss o
não
gar ant ant e
di zer que as cr i anças não não r ecebam cebam seus
com c oment ent ár i os
negat egat i va. va.
de
f or ma
Ess es com coment ent ár i os são
pr ej udi ci ai s
à
f or mação ção
i dent i dade de de qu qual quer Di ssi mul açõe ções,
pi adas,
da
cr i ança. ça. i r oni as
encob cobr em um pr econ concei cei t o l at ent e e f avor ec e c em i déi as
a
c r i s t al al i z aç aç ão
pr pr econ concei cei t uosas. sas.
de Esse
depoi depoi ment o, t ambém, r evel a o modo per ver ver so pel o qual podem ser ser
as cr i anças ças
t r at adas
no no
espa spaço
escol scol ar por seu seus pr pr of essor ssor es. Gonçal çal ves ves
( 1985)
que os pr pr of essor es: “(...)
tendem
estereótipos
a
transmitir
humilhantes
acerca
dos
grupos étnico-raciais negros. Dificultam, assim, às crianças negras a formação de um ideal de Ego negro negro e, em relação às crianças,
de
uma
conteúdos
racistas
forma
geral,
acabam
estes
reforçando
atitudes discriminatórias entre segmentos
acr edi t a
133
sociais significativos desta sociedade”
( Gonçal çal ves, ves, 1985, p. 324) . Há ai ai nda, nda, out out r os f at os que que cham chamar am a mi nha nha at at enção, enção, l evand evandoo- me a conceb conceber er o pr pr of essor como aque aquell e que que,, desva sval or i zaçã zação o Di ver ver sas
vezes vezes
da das
car car act er í st i cas cas
pr pr esen esenci ei
de f or ma const const ant ant e,
est est ét i cas cas
coment ent ár i os
das das
da das
di f unde unde a
cr i anças ças
pr of essor as
r eper cut cut i r am negat i vam vament ent e na aut aut o- est i ma das cr cr i anças, ças,
ne negr as.
qu que,
penso,
exp expondo- as à
hum humi l hação. hação. Senã Senão, o, vej amos:
As cr i anças se encon encontt r avam avam na
sal sal a de
pr ogr amas
ví ví deo
assi assi st i ndo
a
i nf ant i s.
Ent r ou
em
edi ção ção ext r aor di nár i a a not a de f al eci ment o de de um um f amoso can cant or de um uma du dupl a ser t anej a. Ao ou ouvi r o
not i ci ár i o,
a
pr of essor ssor a
r api api dam dament ent e coment ent ou: ou: “ Qual deles morreu?”
No No
i nst ant e
segu segui nt e
t omou conh c onheci eci ment o de que quem havi avi a mor r i do er er a o cant cant or negr o e assi m el a com coment ou: “ Ah... Ah... não Todos da da sal sal a de de foi o bonito!”. Tod aul a
puder am
ouvi r
o
s eu eu
com coment ár i o. Na sal sal a de aul a, a pr of essor a di sse a Mar i sa ( negr a) : “ Você precisa falar para a sua mãe prender Você prender o seu cabelo. Olha E f al ou i sso em t om al t o, que pôde ser ser só que coisa armada.”
134
ouvi do por t odas as as cr i anças. ças. Depoi s di di sf ar çou çou, al t er ando o t om da voz, voz, t al vez vez por por se l embr ar da mi nha pr esença: sença: “Senão você pode você pode pegar pegar piolho, piolho, na escola escola tem muito!” .
Na sal sal a de aul a, a pr pr of essor a di di r i gi u- se a uma cr cr i ança e per gunt ou- l he: “ Quem mandou mandou você soltar esse cabelo? Não pode deixar solto desse jeito. Por que soltou? Ele é muito grande e
muito
armado!
Precisa
ficar
preso!”
Em Em
s egui da,
ener ener gi cament ent e, pegou egou a mar i a- chi qui nha do do pu pul so da meni eni na, pr endendo- l he os os cab cabel os. Ao pr pr esenci senci ar essas s i t uaçõe ções, nas qua quai s a ob obr i gação ção de de mant ant er pr eso o cabel cabel o cr espo espo f oi i mpost a às meni eni nas neg negrr as, i magi nei
com como essa essa i déi a est est ar i a sen sendo assi assi mi l ada pe pel as
cr i anças. Ent end endo qu que, de al al guma mane anei r a, ess as expe exper i ênci ênci as poder i am con cont r i bui r
par a a cr i st al i zaçã zação o de uma f or ma de
pensar sar as car car act er í st i cas cas est est ét i cas cas da da cr i ança negr a.
Tal
hi pót pót ese se conf conf i r mou di as dep depoi s . Quer i a saber saber o nom nome de de um uma meni eni na e per per gunt gunt ei a Mai ar a ( negr negr a) , pr óxi ma a mi m, o nom nome da da ami ga.
El a
per gunt ou:
“ Qual?
Aquela
descabelada?”
Apr ovei vei t ando- me de dessa f al a, per gunt ei a el el a qu quem mai s er am as meni eni nas desc descab abel el adas, adas, e el el a ap apont ont ou quat r o meni eni nas neg negr as. Esses acon acont eci ment os r epr esent sent am apenas um det al he do do cot cot i di ano pr é- escol scol ar , por ém são são r evel vel ador es de de uma pr át i ca que po pode pr pr ej udi car sever sever ament e cr i anças anças neg negrr as. “ A A
inculcação
do
estereótipo
inferiorizante inferiorizan te visa reproduzir a rejeição
135
a si próprio, próprio, ao seu padrão estético, bem estético, bem como
aos
seus
inculcação inculcação de
assemelhados. assemelhados. uma
imagem
(...) A
negativa
do
negro e de uma imagem positiva do branco tende a fazer com que aquele se rejeite, rejeite, não se estime e procure aproximar-se em tudo deste e dos valores tidos como bons e perfeitos” perfeitos” ( Si l va, 1997a. p. 14- 5) .
Ass i m,
o
model odel o de bel eza br anca anca
pod poder er i a est ar
se
t or nando de desej ável vel , pass ando, ent ão, as cr i anças ças não br br ancas cas a ad admi r ar e desej ar par a si est a est est ét i ca. ca. A meni na Deni se ( negr a) f al a- me sob sobr e o f at o de de nã não mai s que quer er ser “pr et a”: “ É, eu disse para ela ( a pr pr of essor ssor a) que eu não queria ser preta, eu queria queria ser como a Angélica.41 Ela é bonita!” . Como l embr am Ri bei bei r o e Nog Nogue ueii r a: “(...) a criança negra em meio a condições sócio-culturais que estabelecem ideal de beleza física e de virtudes morais segundo padrões de uma suposta superioridade branca, encontra todas as condições para o rebaixamento de sua autoestima (...)” ( Ri bei r o e Noguei r a, 1992, p. 8) . Assim, foi possível reconhecer um desejo de mutação do próprio corpo, corpo , um sentimento de recusa ao seu grupo étnico e o
desejo de
pertencer ao grupo branco, indicando um sentimento de vergonha de ser do jeito que se é – negro.
Encon Encontt r ei , cer t a vez, vez, uma meni eni na com com uma bone boneca ca pr pr et a no par que e per gunt ei a el a: “ Essa boneca é sua?”. El a não t eve t empo pa par a r espon sponder ,
poi s sua par cei r a ( uma cr i ança
A menina se refere à apresentadora da Rede Globo.
41
136
negr a) di sse pr i mei r o: “ É. O pai dela comprou para ela porque ela é preta”.
Per gunt ei
ent ão: “ Você ”. El a Você tem uma dessa? ”.
r espon espond deu: eu: “ Não! Não! Eu não gosto de preta! Eu gosto assim de eni na negr negr a dem demons ons t r ou achar uma i déi déi a absur absur da branca!!”. A meni pos pos sui r uma bon boneca eca neg negrr a. Em out r a ( negr a) :
“ Como
si t uação ção, você
é?”
per gunt ei El a
par a
r espo spondeu:
a meni na “ Eu
Ve Ver a
tenho
uma
franjinha abaixada, sou gordinha, meu pezinho é gordo porque eu
puxei
meu
branca...?”.
pai ”
Pe Per gunt ei :
“ Como
você
é:
preta,
Rapi api dament ent e el el a r espon espond deu: eu: “ Morena. Per gunt ei Morena.” Per
novam novament e: “ Você spondeu: Você gostaria de ser diferente?”. El a r espo “ Hum... eu gostaria de ser branquinha! ser branquinha!” . Per gunt ei
par a Mar cel cel o ( negr o) :
“ Como você é?
spondeu: Preto, branco, moreno....” El e r espo
“ Branco! ” .
Dess es s e modo: “(...) a nossa criança negra, por todo um condicionamento condicionamento sócio-cultural de um ideal de beleza e padrões europeus, possui baixa auto-imagem e baixa autaestima.
Consequentemente
adulto
com
problema
ela de
será
um
identidade
pessoal” ( Tr i umpho, 1991. P, 75. ) .
Pude Pude pr esenci esenci ar , no decor decor r er de um uma obser obser vação vação no no es es paço do par par que, ue, uma conver conver s a en ent r e a pr of essor ess or a An Ana e s ua al una una Deni se ( negr egr a) , que t ambém expr xpr ess ou o dese desejj o de de ser br anca. anca. A meni eni na, cami nhand ando pel pel o par par que com mai s duas ami gas, f oi
137
sur pr een eendi da
pe pel a
pr pr of essor a,
que
cam cami nhava
na
di di r eção
con cont r ár i a e di sse: sse: “ Acabaram sor r i u e Acabaram os problemas?”. Deni se sor bal ançou a cab cabeça, eça, di zend zendo qu que si m. Per Per gunt ei à pr pr of ess or a se houv houve e al al gum pr obl obl ema e el a me r espond espondeu eu:: “ Não, Não, ela está com As úl úl t i mas pa pal avr as saí r am quase num problema com a sua cor. ” As sussu suss ur r o, e a pr of essor a passou passou a mão na pel pel e do do br br aço par a expl xpl i car car que er a a cor cor da pel e e pr ossegu ssegui u: “ Ela não quer ser assim. Ela queria ser branca e ela falou que queria ser mais clara que eu. A mãe dela veio e me procurou no horário da saída. Falou que ela estava com esse problema, que queria ser branca. ” ( ANA)
Est a não não é a úni ca cr i ança neg negrr a na na sal a de de au aul a, o qu que per mi t e sup supor a exi exi st ênci a de de mai s cr i anças ças vi ven vendo co conf l i t o sem semel hant e. apr apr esent esent am o
Par a
Ol Ol i vei vei r a
desejo
de
( 1994b) , . morenear
as A
cr i anças ças aut aut or a
negr as
dest dest aca
a
i nsat sat i sf ação ção e “ ve verr gonha” da da cr i ança neg egrr a com r el açã ação o a si pr ópr i a: a von vont ade de t or nar - se br br anca e o desej o de de ser outt r a pessoa ou pessoa.. Par a el a, a cr i ança negr a, ao se vol t ar par a o seu
pr ópr i o
cor cor po,
encont cont r a
as as
mar cas
da daqui l o
qu que
é
menospr enospr ezado ezado – a cor da pel pel e. Mas a pr of essor a pr ef er e at r i bui r a r espo sponsab sabi l i dade do pr obl ema à f amí l i a da cr i ança, ça, com como se el e f osse i ndi vi dual . Par Par a Chaga hagass :
138
“(...) a discrepância entre o que é e o que deseja ser deixa um hiato, já que a pessoa não é branca e não consegue ser negra.
Esse
espaço
de
incerteza
de
identidade referido aqui como um hiato deixa
a
pessoa
bombardeios
mais
da
vulnerável
aos
ideologia
do
embranquecimento. É uma fase perpassada de
sofrimento,
estima
e
inferiorização,
inaceitação
de
agas, característicos da raça” ( Chagas,
baixa traços
1996,
p. 35) . Por Por ém,
a
pr pr of ess or a
neg nega a
a exi exi st ênci a
de de
qu qual quer
pr obl obl ema ét ét ni co na na esc escol ol a. Par Par a el el a, a meni eni na, embor a de de f amí l i a negr a, “ quer ser branca como a avó ” que que é mai s cl ar a. Assi m, a pr of essor ssor a l i mi t a- se a con conver sar sar com com a cr i ança e pensa t er r esol sol vi do o con conf l i t o da al una, expl i can cando- l he: “’Já pensou se o japonês não gostasse de ter o olhinho puxadinho? O que ele ia fazer? A gente tem que se gostar do jeito que a gente é. Você pode ser uma princesa, uma rainha até, mesmo sendo negra. A gente é assim mesmo, tem gente branca, preta - daí eu até brinquei - amarela, roxinha’. E ela ( a meni na) começou a dar risada. Passou, vê só que bobeira! Criança tem cada uma!” ( SÔNI A)
Ass i m, a pr pr of essor a t ent ent ou at at enu enuar o pr pr obl ema di di ant e da da cr i ança,
demonst r and ando- l he qu que não é t ão gr ave assi m ser ser
negr negr a, que que se pod pode e cheg chegar ar a ser “uma rainha” apesar apesar de negr egr a.
139
Mas ao di di zer i sso, a pr pr of essor a nã não l he ap apr esent sent a um um model o r eal que cor cor r espo sponda à sua sua f al a. Como ocor ocor r e, cost umei r ament ent e, na soci edad edade, e, a pr of essor a at r i bui u pouco val val or ao pr obl ema de or dem ét ni ca t r azi do pel a mãe
e pel a
cr cr i ança. ça.
Al i ás,
seg segundo
Fi Fi guei r a
( 1991) ,
o
pr of essor : “(...) atua como mantenedor-difusor do preconceito racial racial entre os alunos, seja
por
omissão,
seja
por
efetivas
declarações racistas, seja pelo simples fato
de
desconsiderar
tratá-la
como
um
a
questão,
problema
menor
por ou
inexistente” ( Fi guei r a, 1991, p. 36) .
Não bast ando i ss o, a pr of essor a ai nda exi bi u at i t ude de desr espei espei t o ao apel i dar
a meni eni na de Angél i ca:
gora gora “A
a
professora só me chama de ‘Angélica’”.
A cr i ança f ez esse esse com coment ár i o, expr xpr essand ssando t r i st eza em sua sua f al a, demonst r ando est ar i nsat sat i sf ei t a com com a at i t ude da pr of essor a. Como se nã não bast asse o con conf l i t o de ser negr a, el a agor a t em mai s pr of essor ssor a.
Essa
um um par a enf r ent ar : si t uação ção
expl i ci t a
o apel i do dado pel a a
per ve verr si dade
do
pr econ concei cei t o r aci al , quando a pr of essor a r ef or ça a am ambi güi dade na cr i ança. ça. Sem dúvi da,
a pr of essor a agi u,
no mí ni mo,
de f or ma
l ament ável ável , demost r and ando est ar despr despr epar epar ada ada par a l i dar com o pr obl ema.
Ao t ent ar
pr est ar
aj uda à cr i ança, ça,
el a acab cabou
140
i ni bi ndo um uma f ut ur a den denú únci a, não só no no espa espaço ço escol escol ar , mas t ambém f or a del e, vi st o que a cr i ança se vi u r i di cul cul ar i zad zada naquel a si t uação ção, di ant e de outros .
4.5. Um olhar que transforma vítimas em culpadas
Por Por mai s que que se t ent ent e ocu ocull t ar , o pr pr obl obl ema ét ét ni co ap apar ece no
espaço espaço
escol ar
pr of i ssi onai s
de
modo odo
bast ant ant e
consi consi st ent ent e.
As
da da escol scol a não se sen sent em r espo sponsáv sávei s
pe pel a
manu anut enção, enção, i nduçã ndução o ou ou pr opag opagação ação do pr econcei econcei t o. Mas, t endo endo em vi st a
a
r eal i dade
do
pr obl ema,
cr i a- se, se,
ent ão,
a
necessi cessi dade de r espo sponsab sabi l i zar zar al guém pel a sua sua exi st ênci a. Nessa
ho hor a,
as
ví t i mas
pa passam a
ser ser
as
cul cul padas
pe pel a
si t uação ção. eni na negr negr a) era dela “O problema da Denise ( meni mesmo - interior, dela mesmo. Era ela que não se aceitava.” ( SÔNI A)
Par Par a Te Teodo odor a:
“tem pessoas que, elas mesmas, se
discriminam. Isso é muito chato.” Par a a auxi l i ar ger al Mar l i , as du duas cr i anças ças ne negr as, Apar eci da e Cat ar i na, que recl recl amar am de ou out r as cr i anças ças po por t er em bat i do ne nel as, o f i zer zer am devi do ao ao f at o de de ser ser em “est “est r anhas”:
“Agora,
aquelas
duas
crianças
eram
muito
estranhas sabe?! Elas não chegavam na gente. Elas não eram crianças que diziam assim: ‘Ah, dona Marli, vem
141
aqui. Dona Marli, vem aqui! Fulano está falando assim para mim!’. Elas nunca nunca chegaram em mim para para falar. Eu nunca presenciei nenhuma criança xingando-as. Mas se elas chegassem em mim e falassem: ‘Ô, dona Marli, fulano está me xingando!’ Eu ia chamar a criança que as estava xingando e ia conversar.” ( MARLI ) Par Par a
a
pr pr of essor a
Am Amál i a,
a
cr i ança ança
qu que
sent sent e
a
cor cor
como
negat i vi dade sof sof r e mai s:
“(...) Mas nunca quem está ofendendo o negro é a outra criança, que xingou uma ou duas vezes. É uma coisa que está dentro dela.” ( AMÁLI A) O necessár ecessár i o pa pape pell
da esco escoll a em per ceb ceber er
o pr ob obll ema e bu buscar scar
est r at ég égii as par par a sua sua sup super açã ação o par par ece nã não o ser ser con consi si der ad ado o. A cr i ança ça,, i nde deff esa em em sua pou pouca ca i da dade de,, é apo apont nt ad ada a com como aqu aquel el a que que dev eve, e, al ém de t ud udo, o, bu buscar scar mei os de compr ee eend nder er sozi nh nha a o pr ob obll ema e el ab abor or ar um no novo vo sentt i do sen
par a
o
seu
per t en enci ci men entt o
ét ni co. I sent sent a- se
a
escol a
das
r espo sponsab sabi l i dades que que l he são são ca cabí vei vei s. E as pr of esso ssorr as , ai nda, at r i buem a cu cul pa ao aos f ami l i ar es das das cr i ança çass . A f amí l i a é quase uase sempr e con consi der ada ada a cul cul pada por por di ssemi nar o pr pr econ concei cei t o, qu quer er pa parr a a cr i an ança ça qu que r ecl ama quan quand do é ví t i ma da di scr i mi nação, ação, qu quer er pa parr a a cr i an ança ça que que dem demon onst st r a um compor t ament o paut ado no pr eco con nce ceii t o.
“Normalmente, essas crianças vêm e trazem isso
( o pr econ concei cei t o) , a mãe também. Aí se percebe que a problemática é bem por aí. Se a família se aceita bem, tem orgulho dela, se a família tem orgulho da família é tudo mais fácil para essa criança elaborar.
142
Se a família não tem orgulho da criança, ela pode ser verde com bolinhas douradas que ela vai ser sempre objeto de gozação dos outros. Porque ela não tem orgulho dela. Eu acho que o papel da escola é quebrar essa carga negativa que a criança traz de casa.” casa .”
( AMÁLI A) É i nt er essan ssant e not ar que ue,, par a as pr of esso ssorr as , o pr econ concei cei t o é um pr obl obl ema qu que dec decorr orr e ap apenas das das expe exper i ênci as vi vi das na f amí l i a. Assi m, não nã o se r econ econhe hecem cem a si s i mesm es mas como par t e do pr pr obl ema, mas, apen apenas, as, como parr t e da sol ução pa ção::
concei cei t o) . A não “A criança não manifesta ( pr econ ser que seja uma coisa muito enraizada que já venha da família. Aí o professor vai trabalhando, ela vai fazendo amizade e vai se integrando. Mas, se é alguma coisa de casa, algum preconceito que já se embutiu na criança, de raça, de negro, ou qualquer coisa, porque ela convive com aquela família. Com o pai, com a mãe, tantos anos, ouve falar tanto aquilo.” ( MAGALI ) Desse modo, odo, o pr pr econcei econcei t o é consi consi der der ado ado um um pr obl obl ema excl excl usi vament ent e ext er no à escol scol a:
“Agora, o que eu acredito é que isso lá fora possa se manifestar manifestar de outra maneira pela pela situação de família, porque existem preconceitos raciais:
“ô
japonês, ô italiano, ô pretinho” Essa coisa vem mais
ALVA) de fora.” ( DALVA)
143
Al i ás, um uma das das pr of essor as r ecor ecor r e à i magem agem da cr i ança ança como “uma f ol ha em br anco”, co”, sob sobr e a qual a ação ção do adul t o se f az sent sent i r :
“(...) A criança é uma coisa pura, é uma folha em branco, como dizem, que vai gravar tudo, que vê e principalmente escuta. Ela já ouve o mau exemplo de casa.” ( BRUNA) O si l ênci o sob sobr e a quest ão ét ni ca par ece at i ngi r a t odos, adul t os e cr i anças, ças, pr of i ssi onai s da da esco escoll a e f ami l i ar es. Segundo as en ent r evi st adas, os pai pai s não não f azem r ecl amações ações dessa dessa or dem dem:
“(...) Quando aparecem, eles chegam já armados contra a criança que chamou o filho, sei lá, de negro. Eles não têm nem noção de que não adianta chegar e brigar com uma criança. Se a criança falou aquilo é porque ela ouviu de adulto. Quando chega, entra armado: ‘você xingou meu filho.’” ( AMÁLI A)
4.6. Explicando as diferenças étnicas
Ao anal anal i sar mos as as di ver ver sas f or mas de de i nt er pr et ação ação dad dadas pel pel as pr of essor as às às di f erença erençass ent ent r e ne negr os e br ancos, cos, enco encon nt r amos expl expl i caçõ cações es que que que querr em exp expr essar a i gual ual dade ade ét ét ni ca e o compr omi sso do pr pr of essor par a gar a an nt i - l a.
144
“(...) eu chamo a criança e converso com ela. Falo: ‘Vem cá: ele não é igual a você? Ele não é um ser humano igual a você? Só que infelizmente ele é de uma raça e você é de outra. Só que vocês são crianças iguais. Vocês são seres humanos iguais. Vocês são filhos de Deus iguais’” ( MARLI ) Mas,
ao t ent ar al i vi ar o pe peso de de ser ser negr o,
a f al a qu que de desej sej a
expr expr essar uma i gual ual dad dade dei dei xa t r anspa ansparr ecer ecer um sent sent i ment ent o de de pi pi edad edade e por por ser ser negr o.
“É que nem eu falo: (o negro) é um ser humano, ele
não
escolheu
que
cor
que
ele
queria
ser.”
( SÔNI A) No di scurs o, o i ndi ví duo negr egr o é descul escul pado ado pel o “seu def ei t o”, por el e não t er escol scol hi do ser ser do j ei t o que é: “Um menino falou para o outro assim: ‘Seu negrinho feio e nojento’. Aí, eu falei: ‘Você não fala assim, porque poderia ser você no lugar dele. Então, você não fala assim, porque ele é tão criança quanto você. Porque para mim vocês todos são iguais. Porque ele é tão querido quanto você’. Então eu não admito isso perto de mim!” ( MARLI )
O cami nho nho apo apont nt ado ado pel pel a pr pr of essor ess or a Teod Teodor or a par par a a super ação dos dos con conf l i t os ét ni cos cos assum assume um uma l i nguagem t eol ógi ca: ca: “(...) para Deus, todo mundo tem uma alma que movimenta essa nossa matéria. E, para Deus, a sua alma não é preta, não é mulata, não tem cor.”
Em mei o à di f i cul cul dade de se f al ar sob sobr e as di di f er enças ças ét ét ni cas, cas, sur sur gem os con cont os de de f adas qu que, ut i l i zad zados pa par a au auxi l i ar na expl i caçã cação o,
145
acab cabam por pr ej udi car car a i gual dade pr et endi da, r ef or çan çando est er eót i pos. Ass i m, a di di cot omi a bom bom/ mau apar apar ece cl ar ament ent e na na f al a da da pr pr of essor a.
“(...) na história há o patinho feio. A gente conta, aquele patinho feio é como se fosse o preto e os outros eram mais bonitos. No fim, ele vira o cisne. Porque ele não era patinho, ele era cisne. É uma
diferença
também
racial.
Depois,
ele
ficou
bonito, quer dizer que quando cresce ele pode ficar bonito. Porque às vezes a criança não nasce bonita, mas,
depois,
ela
cresce,
estuda,
aí,
fica
mais
bonita. A gente trabalha trabalha a história de um um patinho, ou alguma outra coisa, mas a gente faz a história como se a criança fosse o patinho. Depois ela fica bonita e tudo. Então: ‘Vocês estão estudando,
quando vocês
crescerem, vocês vão ser aquele cisne que era um patinho. Vão ser doutores!’” doutores!’” ( ANA)
Par Par ece i r ôni ôni co,
mas,
penso, enso,
é t r ági ági co o modo odo com como a
pr of essor a co conf i r ma a “f eí ur a” de ser negr o, que po pode ser sup super ada com com o est est udo. E a cl ássi ca i déi a pr pr econ concei cei t uosa do do pr et o de de al al ma br br anca r eap eapar ece com com a mai or nat ur al i dade. “Nas próprias histórias infantis, existe aquela história da madrasta, da
bruxa. Em relação a uma
coisa má e a uma coisa boa. Então, a gente pode aproveitar a raça nesse sentido. Porque, às vezes, uma pessoa, por exemplo, é preta e tem a alma branca.
146
As pessoas também são diferentes, podem ser negras
( ou) da raça branca, mas todas são iguais. São feitas de carne e osso. Porque, às vezes, uma pessoa, por exemplo, é preta e tem a alma branca. E a branca pode ter a alma preta.” ( ANA)
Há, por ém, quem pr ocur ocur e r ecor r er a um uma exp expl i cação cação mai s r azoá zoável : “Vamos
olhar
aqui
na
sala
se
é
todo
mundo
igual?” Aí, ele mesmo começa a se observar tal. Eu falo para eles observarem a natureza: ver se todos os animais têm a mesma cor; os pássaros que têm cada um uma cor; os cães; gatos. Aí, eles vão notando que cada um é de um jeito: que eu tenho cabelo preto e pele morena; que o outro é loiro e tem olho azul. E cada um é muito importante. Tem criança que logo assimila isso numa boa.” ( AMÁLI A) Uma pr pr of essor essor a parece parece r ecorr ecorr er a um uma exp expll i caçã cação o i r r ef ut ável vel :
“Eu, antigamente, em sala de aula sempre falava: “Nós somos todos iguais, se a gente cortar o dedinho o sangue sai igualzinho. Não é essa cor da pele que
LARA) vai fazer diferença”. ( CLARA É i nt er essant ssant e not ar
as esco escoll has f ei t as pe pel as pr pr of essoras pa par a
expl xpl i car car em as di f er enças ças e de demonst r ar em a “i gual dade” ent ent r e as as pessoa pessoas. s. De um um l ado, ado, t emos as espéci es ani mai s sen s endo do compar par adas adas às r aças hum humanas. anas.
147
De ou out r o t emos as as di f er enças enças ét ét ni cas send sendo exp expll i cadas cadas por por i nt er médi édi o do do f ol cl ore. Como de de cost cost ume, r eaparece aparece o saci saci - per er ê:
“Quando
a
gente
senta
para
falar
de
cor...
Engraçado que sempre vem essa história de cor. E agosto é uma ótima época para se falar disso, porque a gente tem o Saci-pererê, a gente tem a mula-semcabeça, tem índio. E é a época do folclore, e é uma festa. Você aproveita uma data que é muito mágica e transforma isso. Você meio que desbanca a molecada.”
( I DALI NA) Tor na- s e compl i cado encont r ar ess es s a i gual gual dade dade di ant e de t r at ament os t ão di f er ent es e de desi guai s. Ess e modo de de expl xpl i car car as di di f er enças ças most r a- se di di st ant e da r eal i dade cot cot i di ana das cr i anças, ças, t endo em vi st a que a r eal i dade não l hes of of er ece pr ovas de de i gual dade,
ao con cont r ár i o,
a r eal i dade mai s l hes
of er ece pr ovas vas da da exi st ênci a de t r at ament os di di f er enci ados paut ados na na or i gem ét ni ca. ca. Val e dest acar car a i ncor cor por ação ção do di scur scur so que vi sa a “ne “neut r al i zar zar ” a di f er ença, ça, na f al a da meni eni na Ver Ver a. Em obser obser vação vação no par par que,
encont cont r o sei sei s meni nas que que
j unt unt as br i ncam com s uas bonecas bonecas:: s ei s br ancas, ancas , s endo endo t r ês com cab cabel os l oi r os e t r ês com com cab cabel os pr pr et os, e uma pr et a. Faço Faço di ver ver sas per gunt as às meni eni nas e, quand ando per per gunt o : “Qual é a Lar i ssa ( br anca) ca) r espo sponde: “É a preta”. A boneca mais feia?”, feia?”, Lar meni eni na
Ver a ( negr egr a) di z :
148
“Não pode falar assim! Não pode falar que preto é feio, porque senão quem é preto fica triste! A minha prima falou quando chegou uma pessoa preta lá em casa: ‘Que gente feia!!’ É feio falar isso! É feio sabe por quê? Porque as pessoas pensam que as mães não dão educação para a gente.”
A
meni eni na dem demons ons t r a t er apr endi endi do que que não não é educado
dest acar car o def ei t o do out r o.
4.7. Preconceito: um problema latente
A
f ami l i ar i dade
di nâmi ca
da da
per ceb ceber
a
t r at ament ent o
escol a
de de
di f er enci enci ado
di r i gi do
br ancas. cas.
I sso
per cep cept í vel vel
quando
compor por t ament ent o
e
um um mai s
às
cri anças ças
é
bast ant e
an anal i sado sado
nãonão- ver bal bal na nas
o que que
i nt er açõe ções
pr of essor ssor / al uno
br br anco, co,
car car act er i zad zadas
pe pel o
cont cont at o
acom acompanh anhado ado
f í si co
a
per mi t e
exi exi st ênci a
af et i vo
ocor cor r e
c om
nat ur al
bei j os, de abr aços ços e de t oques.
de de
149
I sso é bast ant e vi sí vel
no
hor ár i o da da saí saí da, quando os os pai pai s começam a cheg chegar par a peg pegar ar seus f i l hos. A meni na Sol ange ( br anca) ca) despe spede- se da da pr of essor a com com um bei j o. A pr of essor ssor a r et r i bui . Obser vando vando o t ér mi no de um di a
de
aul a,
f oi
possí vel
con cont abi l i zar zar um númer o t r ês veze vezess mai or de cr i anças anças br ancas ancas sen s end do bei j adas
pe pel as
compar ação ação dez
às às
cr i anças ças
negr as.
pr pr of essor as cr c r i anças anças
br br ancas cas
em em
neg negr as:
pa par a t r ês
42
Também dur ant e as at i vi dades, dades, a cr i ança br anca r ecebe mai s bei j os das pr pr of essoras:
a) A meni na Lú Lúci a ( br anca) ca) , ao most r ar sua sua at at i vi dade, r eceb cebe el el ogi os da pr of essor a: “Que bonita a sua lição. Você ssor a bei j a- l he a pont a do nar i z. merece um beijo!”. beijo!”. E a pr of essor b) Após o t ér mi no das at at i vi dades, ades, a pr of essor a Teod Teodor or a cham chama sua al una Fát Fát i ma ( br anca) anca) e a sent sent a no no seu col o, par a espe sper ar em a che chegada dos pa pai s, e bei j a- l he a f ace. ce.
42
Observação realizada na sala de aula da professora Amália, junho de 1997. Havia na sala 22 crianças, sendo 10 negras e 12 brancas.
150
Desse modo, odo, na r el ação ação com o al al uno br br anco anco as as pr of essor as acei cei t am o con cont at o f í si co at r avés de de abr aço, ço, bei j o ou ol har , evi evi denci enci ando um mai or gr au de af et o. A f al a da pr of essor a Br una i l ust r a bem essas cen cenas no no cot cot i di ano esco scol ar : “ Essa professora discrimina ( el a se r ef er e à pr pr of essor a Te Teodor odor a) . Ela está sempre numa ‘beijação’ com as crianças loiras, quero ver com as pretas. Ela deve ser racista” .
Por ém,
o con cont at o f í si co é mai s escasso escasso na na r el ação ção
pr of essor / al uno negr o. As pr pr of essor as ao ao se apr oxi mar em das cr i anças anças
negr egr as
mant ant êm,
ger al ment ent e,
i nvi abi l i za o con cont at o f í si co. co.
uma
É vi sí vel
di di st ânci ânci a
qu que
a di scr scr epânci a de
t r at ament o qu que a pr pr of ess or a di di spen spensa à cr i ança ança neg negrr a, quando compar amos
com a
cr i ança
br br anca. anca.
Al guns
casos
par par ecem
bast ant ant e exem exempl ar es: a) Quando uando chega chega o moment o da t ur ma i r ao par par que, que,
a
pr of essor a se di r i ge ao ao meni no Cé César sar ( negr o) e l he di di z: “ Traz Em seg segui da, vi r a- l he as cost cost as sem sem a cadeira da professora! ” Em sor sor r i r , sem sem t ocácá- l o ou sem sem pedi r - l he por f avor . O pedi do da pr of ess es s or a soa s oa como uma or dem. b) A meni eni na De Deni se ( negr a) pr ocur cur a a pr of essor a par par a l he most r ar a sua sua at at i vi dade. A pr of essor a sent sent ada à sua mesa l he di z : “Nossa, está maravilhosa. Que nota você quer? Parabéns
151
ança r espon sponde: ou ótimo?” A cr i ança
“Parabéns.”. A pr of essor a
col oca a not a no no cad cader no e sor r i par a a meni na. c)
A meni na Mai ar a
( negr a)
cai
do
escor escor r egad egador or ,
em
pr ant os vai vai at é a pr of essor a, que l he di z : “Vamos, pare de chorar que você já é uma mocinha. Vai brincar e vê se toma
eni na segu segur a o chor chor o e vol vol t a par par a o par par que. cuidado!”. A meni d) par par t e
No hor hor ár i o da da saí saí da, ao ao
enco encon nt r o
de de
sua
a peq pequ uena ena Ap Apar eci da ( negr egr a) i r mã
e
apen apenas as
ol ha
par par a
a
pr of essor ssor a, di zen zendo- l he “ tchau” . El a nã não pr pr ocur cur a a pr of essor a par a r eceb ceber ou dar um bei j o. Si t uaçõe ções cri anças ças
como
br br ancas, cas,
af et i vi dade,
essas essas as
i nduzem zem a
pe pensar sar
pr pr of essor ssor as
que
mani f est am
co com as mai or
são mai s at enci osas e acaba cabam at é mesmo por
i ncent cent i vává- l as mai s do qu que às às negr as.
Ass i m, podemos supo supor
que, na r el ação ção pr pr of essor / al uno, as cr i anças ças br ancas cas r eceb cebem mai s opo opor t uni dades de se sent sent i r em acei cei t as e qu quer i das do que as dem demai s. Cer t a ve vez, a pr of essor a, ao da dar uma vo vol t a pe pel a sal sal a de aul a par a con conf er i r
a l i ção ção das cr i anças, ças,
di sse à meni na
Ver ôni ca ( br anca) ca) : “ Ai, Ai, que menina mais linda, quer quer ser minha filha? Daí você ia morar na minha casa.” A meni na sor r i par a
a pr pr of essor a, que l he ap aper t a as as boch boche echa chas. Quand ando a meni eni na Ra Raf ael a ( br anca) se di di r i ge à pr of ess or a e l he dá um abr aço, ço, est a l he di z sor sor r i ndo: “Você quer ser
152
ança a cabeça cabeça,, di zend zendo minha filha?” A meni na, sor r i ndo, bal ança que si m. Not a- se nesses
est ar
i mpl í ci t a,
coment ent ár i os
das das
pr of ess or as, não a necessi dade ade de as cr i anças ças br ancas cas r eceb ceber em um novo l ar , mas si m a possi bi l i dade de o r eceber eceber em, ou de de pel pel o menos, enos, no campo af et i vo, vo,
j á o t er em.
FazFaz- se ne necessár i o most r ar que a at enção ção, o car car i nho e o af af et o são são di st r i buí dos de de manei r a desi gual , e
a
cat cat egor i a
et ni a
r egul a
o
c r i t ér i o de di s t r i bui ç ão. As
cr i anças ças
ne negr as,
ao
cont cont r ár i o,
apr apr oxi mam- se
da da
pr of essor ess or a,
guar guar dand dando o
um uma
di st ânci ânci a,
de
modo odo
est abel ecer cer
o
con cont at o
f í si co. co.
são s ão
bast bast ant ant e
Doi s
exempl os
a
não não
i l us t r at i vos : a) No par que, a meni eni na J aci r a ( negr egr a) , cho chor ando mui t o, apr apr oxi oxi ma- se da da pr of essor a mas, guar dand ando uma di st ânci ânci a, l he di z : “O Ronaldo ( br anco) anco) molhou a minha blusa”. A pr of essor a r espon sponde: “Não chore não, está calor e vai secar logo. Depois
153
eni na pár pár a de de chor chor ar e vai vai nós duas pegamos ele, tá bem?”. A meni par a o sol sol . b) No No hor ár i o da saí da,
a pequ pequen ena a Cat ar i na ( negr negr a)
par par t e ao
encon encontt r o de de sua sua mãe e ap apenas enas ol ol ha par a a pr of essor a, di zend zendo- l he “t chau chau”.
Ess Es s e
compor t ament o
da
cr i ança pode r epr esent sent ar o r ecei cei o de
t er
a
sua
apr apr oxi mação
r ej ei t ada, o que se j ust i f i car car i a pel o
f at o
pr ocur cur ada
de de pe pel a
el a
ser ser
pouco
pr pr of ess or a
pa par a
esse t i po de con cont at o.
Acr edi t o,
basea seada
co com
no no
cr i ança
di di ál ogo
negr a,
que
uma est e
r aci ocí ni o é per t i nent e: Per gunt ei a Cat ar i na ( negr a) por que el a est ava sozi nha. El a r espo espondeueu- me que as col col ega egas nã não br i ncam com el a por ser negr a: “Não adianta, elas não deixam porque sou preta” . Assi m,
nessa
di di st r i bui ção ção
desi gual
de
af et os,
o
pr of essor ess or convi convi da par par a mor ar em sua casa sempr e o mesmo t i po de
cr i ança,
acei cei t ação ção.
como
que
Por t ant o,
segu segui ndo r epr oduz
um model odel o a
est ét i co
va val or i zaçã zação o
de
ét ni ca
pr edomi nant e na vi da soci soci al . E o f az sem se i mpor t ar com com as cr i anças ças à sua sua vol t a. Pode- se, se, ent ão, i magi nar o sof sof r i ment o de um uma cr i ança br br anca ao ao não não ser convi convi dada, ada, el a pr pr ópr i a, par a mor ar
co com a
pr of essor a.
Pod Pode- se,
t ambém,
pensar
no
154
s of r i ment ent o de de um uma cr i ança ança neg negrr a, não não soment ent e por por não não r eceber eceber el a pr ópr i a o con convi t e, mas t ambém por nunca assi st i r a essa mesma cena cena send sendo pr pr ot agon agonii zada por por
cr i ança ança neg negrr a.
Essas Ess as
at i t udes da das pr pr of essor as po podem di mi nui r a possi bi l i dade de as cr i anças ças ne negr as se sen sent i r em quer i das po por el as. Si t uações ações como ess ess as pod podem ser obser obser vad vadas f or a do do espa espaço ço escol escol ar . Ampl i and ando- as al al ém desse mi cr ocosm ocosmo par a a soci eda edade, con const at a- se que, em ger al , os seu seus i nt egr ant es ap apr esen sent am um compor t ament ent o
semel hant ant e,
não não
send sendo
excl excl usi vi dade dade dess dess as
pr of essor ssor as. Mesmo assi ass i m, const const at a- se que o
t oque
f í si co
é
bast ant e
f r eqüent e na na r el ação ção al al uno/ al uno, como t ambém s ão mai s f r eqü eqüent ent es as
pr pr opost as
de de con cont at o f í si co
ent r e cr i anças ne negr as e br ancas ancas e vi cece- ver sa. sa. Doi s meni eni nos, a l ado,
sent sent ados ados l ado ado
um br anco e um negr o,
abr abr açam- s e.
Si mul t aneam aneament ent e,
uma
al una, Sol ang ange ( br anca) anca) , mexe exe nos cab cabel os de de out r a, J aci r a ( negr a) , que f i ca r eceb cebendo o car car i nho.
155
Di ant ant e des des s as r i gi dez
de
con consi der ando
s i t uações, uações,
at i t udes que
el as
compr eendo eendo que que não não há há um uma
por por já
par t e
da das
cr i anças, ças,
mesmo
i nt er i or i zar zar am um sen sent i ment o
pr econ econcei t uoso. Est e f at o não as i mpede de pr opor opor e per mi t i r o con cont at o f í si co ent r e si , dem demonst onst r ar am,
r esul sul t ando,
com como os exe exempl os
em uma t r oca de car i nho e em em moment ent os de de
con convi vênci a pací f i ca. ca.
4.8. Uma Sutil diferença entre o “ser bom” e o “estar bom”
Por Por t r ás da pr emi ssa “ t odos odos somos i guai guai s”,
l ar gament ent e pr pr opag opagad ada a
pel as pr pr of essor essor as, det ect a- se um uma t ênue di f erença erença nos el ogi os r eceb cebi dos pel as cr i anças, ças, quando são são ava avall i adas suas suas at i vi dades. Os el ogi os t eci dos pel as pr pr of essoras po podem ser ser di vi di dos em em doi s gr gr upos, a sab saber :
1 gr upo - El ogi o à cr i ança: ça: °
a) A pr of essor ssor a, br anca, ca,
di z:
“Você
ao cor cor r i gi r a l i ção ção de uma cr i ança é
Parabéns!”.
maravilhosa.
A meni na
est ampa um l ar go sor r i so em seu r ost o. b) Ao ava avall i ar a l i ção ção de de um uma al al una br br anca, ca, a pr pr of essor a di z :
“Você é muito inteligente!”.
mesa sor r i ndo.
A cr i ança vol t a par a a
156
c) A pr of ess or a, ao da dar uma vol vol t a pel pel as mesas, j unt unt o à car t ei r a de um al uno uno br anco e di z :
pár a
“Está bonito,
or r i . menino sabido!” sabido!”. A c r i anç a s or 2 gr upo – El El ogi o à t ar ef a: °
a) A pr of essor a, ao con conf er i r a l i ção ção de um meni no negr o, di z - l he: “Está bonita a sua lição!”. A c r i anç a s or or r i . b) A meni eni na De Deni se ( negr a) l eva eva a sua at i vi dade ade par a ser aval i ada pel a pr of essor ssor a, que l he di z: “Isso. Está certo!” A meni na vo vol t a par par a a sua cadei cadei r a. Depoi epoi s de ci nco mi nut os, a meni na se di di r i ge nov novam ament ent e at at é a pr of essor a pa par a most r ar - l he a sua sua l i ção ção. A pr of essor ssor a di z: “Está bonita!” A meni na sor sor r i e vol vol t a par par a o seu l ugar gar . Mai s uma vez vez a meni eni na cami nha nha at at é a mesa da da pr pr of essor a, que l he di di z : “Já disse que está bonita!”. A meni na vo vol t a pa par a a sua cadei cadei r a. c) A pr of essor a,
andando pe pel a sal sal a,
di z a um um meni no
negr o: “Deixe-me ver a sua lição!”. El e most r a o cade caderr no e a pr of essor ssor a l he di z: “Está bonita!”. O meni no cont i nua nua a s ua l i ç ão. Si t uaçõe ções com como essas si nal i zam zam di f er ent es f or mas de de aval val i ar
as
cr i anças ças em sua suas at i vi dades, t udo r eal i zad zado de de modo mui t o sut sut i l . Por ém, a meni eni na Deni eni se,
penso, penso,
most r a a sua i ncess ncess ant ant e busca busca de de “vir a ser”
el ogi ogi ada ada de f or ma mai s pr pr of unda, ou sej a, desej esej a r eceb ecebe er el ogi ogi os para para si , desej sej a ouvi r que el a, Deni se, se, é mar avi l hosa, sa, i nt el i gent e, sáb sábi a, t ant o quant o f oi di t o às ou out r as cr i anças. ças. Assi m, o obj et o do el ogi o não ser ser i a a l i ção ção ou qual quer out r a at i vi dade e si m el a pr ópr i a.
157
Ent Ent r et ant ant o, o exem exempl o l eva a supor supor que que a meni eni na Deni eni se não não al cançou cançou o seu obj obj et i vo, per per maneceu aneceu à esper esper a dess desse e af af et o que que não não chego chegou u a se r eal i zar zar e que poder i a ser ser si gni f i cat cat i vo par a sua sua aut o- est i ma.
Compr eendo pessoa, ssoa,
ser ser
di f er ent e
um el ogi o
de um que val or i ze apenas
que
val val or i ze
a at i vi dade por
a
el a
r eal i zada zada. Assi m, com como j á di di t o an ant er i or ment e, ent endo qu que a meni na
ao ao
esper ando ando,, br anca, ca,
vo vol t ar apen apenas, as,
ou
à
mesa
da da
pr pr of essor a
pod poder er i a
est est ar
o mesmo t r at ament ent o of of er eci do à meni eni na
sej sej a:
“você
é
inteligente”,
“sabida”,
“maravilhosa”.
J ul gando gando a ação das pr of ess es s or as di ant e das cr i anças, anças , t em- se a evi evi dênci a de de qu que os os t r at ament os são di di f er enci ados e que
est est as
di f er enci açõe ções
são são
pe per ceb cebi das
pel pel as
pr ópr i as
cri anças. ças. A pequ equena ena El El i ana ana ( br anca) anca) conf conf i r ma ess ess a t ese qu quand ando nos nos di z : A “ A professora gosta de mim! Ela disse que eu sou muito inteligente!”.
Nesse sent sent i do, pode- se af af i r mar que as as cr i anças ças br ancas cas são são pr i vi l egi adas na na r el ação ção pr of essor / al uno, poi s con conseg seguem, com com mai s
f r eqüênci a,
i dent i f i car car - se posi t i vament e com com as
pr of essor as. Por out r o l ado, esse pr pr ocesso cesso po pode r esul sul t ar na f al t a
de
i dent i f i caçã cação o
por
par t e
das
de demai s
cr i anças ças
pr esent sent es na na sal a de aul a. Nesse sen sent i do, pr of essor ssor al uno di z:
Mor ei r a Lei Lei t e anal i san sando a r el ação ção
158
“(...) poucos alunos conseguem ser percebidos,
ou
identificar-se
poucos
através
conseguem
do
professor:
deste não recebem, de volta, a própria imagem, a fim de que possam saber quem e são.
como
Esse
problema
não
seria,
talvez, tão pernicioso se os professores conseguissem
manter
uma
neutralidade
diante
dos
manifestar
preferências
atitude
de
alunos, ou
sem
antipatias.
(...) Quase todos se deixam arrastar por preferências
ou
antipatias
–
e
essa
relação afetiva, geralmente inconsciente,
( gr i f o ( Mor ei r a Le Lei t e, 1986, p. 242) .
marca
seus
alunos”
@@4.9.
do
aut or )
Ausência
entre
de
limites
brincadeira
violência,
e
autoridade
e
violência
Pod Podemos
assi st i r ,
ul t r apassam ssam os cr i ança, ça,
da da
espaço spaço
escol ar ,
br i ncad cadei r a
e
a do
cena cenas
qu que
r espe spei t o
à
dei xando em seu seus l ugar es um um quadr o de expl í ci t a
vi ol ênci a. meni nos
l i mi t es
no
se
Em cer cer t a ocasi casi ão no hor ár i o do l anche che, en encon cont r avam vam no
mer endei r a que August o,
ba banhei r o.
Um del es
vár i os
cont cont ou à
meni eni no negr egr o, havi a f ei t o xi xi
na
159
pi a. A mer end endei r a di di ss e ao ao meni no:
“Seu porco nojento! Se
você fizer de novo vai ficar o dia inteiro de castigo!”. O
meni no f i cou cou cal cal ado. Também pr esenci es enci ei quat quat r o cr i anças - doi s meni nos br ancos e dua duass meni eni nas nas negr negr as - “brincando” de de l ut ar . Todos com com sei sei s anos. anos. Por Por ém, er a
vi sí vel vel o f at o de que os meni eni nos obt obt i nham
mai s êxi êxi t os nos nos s eus gol gol pes. J á as as meni nas t ent avam at i ngi l os, mas com gol pes medr osos e i ncer cer t os. Duas pr of essor as a t udo assi st i am, sem sem i nt er f er i r .
Depoi s de de t r ês mi nut os,
a
“ brincadeira” cessou cessou.. E os do doi s meni nos f or am par a um l ado e as du duas meni nas par par a ou out r o. Ni nguém f ez qu qual quer coment ent ár i o sob sobr e o ocor cor r i do. A meu ver ver , a nã não i nt er f er ênci ênci a das pr pr of essor as, e t ambém a f al t a de est r anh anhament o por par t e das cr i anças pe per mi t em supor supor que ess ess a cen cena é comum nessa escol a. at ual ment ent e é bast ant ant e comum ver ver l ut ar .
cr i anças anças
Consi onsi der o qu que “brincando”
de
Por Por ém, ess e t i po de de br br i ncade cadei r a é sempr e con condenad enado o
pel as pr of ess or as, que i mpedem edem a sua cont cont i nui dade e, como vi di ver sas sas veze vezes, s, ameaçam çam cast cast i gar a cr i ança que r epet i r t al br i ncad cadei r a. Ent r et ant o, par a essas ssas qu quat r o cr cr i anças ças na nada f oi f al ado. E o qu que mai s me i nt r i gou f oi o f at o evi evi dent e de de qu que as meni eni nas est avam avam em desvan esvant agem agem na “batalha ” . Di as de depoi s de de t er assi st i do a essa cen cena, sur sur pr eendi - me ao obser obser var a mesma t ur ma dur dur ant ant e o l anche. anche. pedi u em voz voz al t a,
aci ma do nor mal ,
A mer ende endeii r a
a uma cr i ança ança par a
160
sen sent ar - se di r ei t o em seu seu l ugar . A cr i ança est ava um pouco t or t a em em sua sua cad cadei r a. Per ceb cebi , ent ão, que se t r at ava de de um uma das
meni nas
mer endei r a
que
l ut avam vam no
com com car car a
de de
pa par que.
qu quem não
El a
ol ol hou
en ent endeu o
pa par a
a
pe pedi do.
A
mer endei r a gr gr i t ou mai s al t o ai ai nda: “Sua sem educação! Estou falando com você!! Para lutar com os meninos você é esperta, não é ?! Você vai fazer o que estou mandando?!”.
As s i m, s ou l evada evada a compr eend eender er que que as cenas cenas de l ut as no par que er er am ent ent end endi das como um uma si mpl es br br i ncadei cadei r a. A cena cena pr ossegu ossegui u, a mer endei r a deu um empur r ão f or t e na cade cadei r a, o que f ez a meni eni na ba bat er o pe pei t o na na mesa. esa. E ai nda l he di di ss e: “Da próxima vez que eu falar com você, não se faça de tonta, porque para lutar lutar com os meninos meninos você é esperta, esperta, e eu bem bem sei que de ‘bocó’ você não tem nada.”.
Ness e moment ent o, s ur pr eendi eendi - me por por não não ser a úni úni ca pess pess oa a ass ass i st i r à cen cena. Tam Também est ava ava na na ár ár ea de l anche anche a mãe de uma cr i ança ança de de um um out out r o per per í odo odo espe esperr and ando par par a con conver ver sar com uma pr of ess or a. Após pr pr esen esenci ar ess a cena, cena, a mãe se r et i r ou. A mer end endei r a não se i nt i mi dou nem com a mi nha pr esença, esença, nem com com a del a. É com como se l á só est i vessem ssem el a e a cr i ança. ça. É como se ess ess a at at i t ude f osse nor nor mal e con consi der ada ada ed educat i va. va. Em
seg segui da,
che chegou
a
pr of essor ssor a.
A
mer endei r a,
r api dament ent e, l he cont cont ou o ocor r i do e em voz voz be bem al t a par a que t odos odos a ou ouvi ss em:
161
“Eu falei para ela sentar direito e ela disse que não, daí eu dei um empurrão na cadeira que ela até pulou. Comigo é assim, ela não me engana, é um cãozinho em figura de gente. Quem olha para a cara dela pensa que é uma santa só falta a... como que é mesmo?.”
A pr of essor a compl et ou: “Auréola”. E mai s nad nada. Em out r a si t uação ção, obser vei vei nova cen cena pr pr ot agoni zada zada pe pel a mesma mer ende endeii r a e pel pel a mesma cr i ança. ança. Ao ser vi r o l anche anche par a as as cr i anças, ças,
a mer endei r a f al ou par a a pr of essor a,
enqu enquan antt o a meni eni na r ecebi ecebi a seu l anche anche:: “Como essa criança é fora
de
sintonia,
lenta!”. E di sse
meu
Deus!
Como
essa
menina
é
marcha
essas essas pa pal avr as com com car car a de noj o e de
aver aver são. são. E em segu segui da compl et ou: ou: “Três anos com essa menina, três anos que ela é assim. Ela não me desce”. A meni eni na r et i r ou o seu l anche anche e vol vol t ou par a o seu l ugar ugar . Não sei pr eci eci sar se a cr i ança ouvi ouvi u o com coment ári o. Mas, da f or ma com como f oi di t o, ser ser i a i mpossí vel vel não t er ouvi do.
Segun Segundo do Her Her ne: “A criança é freqüentemente a máquina fotográfica esquecida no canto. Coisas são
ditas
segredos
e são
feitas,
na
revelados;
sua
presença;
gestos,
que
seriam escondidos dos outros adultos, são
162
feitos. E todos esses são novos e enormes para a criança” criança” ( Her ne, 1966) . 43
Por Por
t udo
i sso,
al gumas
per gunt as se i mpõem õem: Est ar i a ess ess a meni eni na sof r endo,
há t r ês
esse
vi ol ênci a
t i po
pr ej udi ci al
de à
sua sua
an anos, t ão
i nt egr i dade
f í si ca e emoci onal ? O que po poder i a sen sent i r uma cr cr i ança ao vi vi ven venci ar si t uações uações como ess ess as?
Ser Ser á que que
essa ess a si t uação uação não não caus caus a i ncôm ncômodo odo à pr of essor a que a t udo assi st e i mpassí vel vel ? E se não não se i ncomoda, oda, não se i ncomoda por por quê? E o que que se pa passa com com as dem demai s cr i anças ças que ass ass i st em a ess ess as cenas? cenas? Com Como ent en endem
e
i nt er er i or or i za z am
expe xper i ênci as t ão ab absur sur das?
4. 10. Br i ncan cando de f az- de- con cont a
A di f i cul cul dade de l i dar com com o pr obl obl ema
43
Citadpo por Street-Porter, Street-Porter, 1978, p. 50.
ét ét ni co
par par ece
dar
às
163
pr of essor as i gnor ar
é
a a
i l usão mel hor
de saí da.
que Em
r espo spost a aos i númer os con conf l i t os ét ni cos, cos, o ab abaf ament o do do co conf l i t o s ur ge com c omo uma opção opç ão par a que o pr obl obl ema desap desapar ar eça do do cot i di ano ano escol ar e a sua ví t i ma del e se esqu esqueça. eça. Como se f osse um um cont cont o de f adas que que,
no f i nal ,
sempr e
acaba ac aba bem. “Primeiro, não dá para fingir que não existe. Segundo, eu acredito que as coisas não têm que ser alimentadas,
porque
quando
se
dão
asas
a
alguma
coisa, quando você dá vida a alguma coisa você tem que
alimentá-la
ou
ela
te
engole.
Então,
por
exemplo, quando você transforma isso em problema, ele passa a ser um problema. Eu nunca entendo isso como um problema. Como na música do Caetano, eu acho que é isso, é só alguma coisa que está fora da ordem. Não é problema. Não acredito acredito em problema. Problema Problema para mim é
a
AIDS.
Problema
para
mim
é
morte,
que
são
insolúveis até agora. Isso é problema. O que eu não consigo resolver é problema. Isto eu não consigo resolver.
( I DALI NA)
A
morte
eu
não
consigo
resolver.”
164
Par a out r a pr of essor a o pr econ concei cei t o exi st e: “Mas eu sempre procuro coordenar de um jeito que não cria problema. Acho que não é por aí. Se não você começa
esticar
muito
um
assunto
que
não
tem
necessidade. A não ser que seja uma coisa séria.”
( SÔNI A) Compr een eendo qu que poss poss a haver haver uma gr and ande di f i cul dade, ade, por por par t e
das
pr pr of essor ssor as,
em per ceb ceber
a
exi st ênci a
do
pr econ concei cei t o e da di di scr i mi nação ção de dent r o do do esp espa aço escol escol ar . Em espe speci al , na r el ação ção di r et a ent r e as cr i anças. ças. Tal vez pe pel o f at o de dessas s i t uaçõe ções não ser ser em t ão ace acen nt uadas dent r o da da sal sal a de au aul a. El as ocor r em, quase sempr e, no par par que, quand ando as as pr of essor as se en encon cont r am di st ant es. Por ém, quando el el as t omam conh conheci ment o de de um uma si t uação de con conf l i t o ent ent r e os os al unos, ger al ment e r esol sol vem vem o assu assun nt o sem sem l evar em con cont a os os po possí vei s el ement os
pr econ concei cei t uosos
ou di scr i mi nat ór i os
que
po possam
est ar per meando o con conf l i t o. Tal s i t uação evi denci denci ou- s e par a mi m quand quando o a pr of ess es s or a cham chamou a at at enção enção de de qua quatt r o meni eni nas nas :
Cat ar i na e Ap Apar eci da
( negr as) e Ca Cat ar i na e Sol ange ( br ancas) cas) : “Ou vocês param de brigar, ou vou colocar as quatro de castigo. A Catarina (branca) junto com a Denise (negra) em uma sala e em outra sala
a
Catarina
(negra)
junto
com
a
Solange
(branca).
eni nas br br ancas ancas f or am par a um um l ado ado do do par par que Entenderam?”. As meni e as du duas ne negr as em di r eção ção opost a.
Depoi s a pr of essor a
165
coment ent ou comi go, que que est ava pr óxi ma del del a: “Elas são inimigas, Per gunt ei já pensou ficar de castigo junto com a inimiga?!”. Per l he por que er am i ni mi gas, el a r espo spondeu: “Não sei, elas não se afinam”.
Por Por ém, a cr i ança negr a, na f al a das pr pr of essor as,
é um
i ndi ví duo di f er ent e na escol a, o qual t em um espa spaço demar cad cado que não não é o l ugar comum ond onde se encon encontt r am as dem demai s cr i anças. anças. El a é quas quase e sempr e a mais briguenta, a mais levada: “Eu noto uma coisa no ( compor t ament o) do menino preto:
ele
pode
se
isolar,
mas
a
maioria
dos
pretinhos que eu conheci são exatamente o contrário. Eles querem aparecer. Eles querem chamar a atenção. Eles querem brincar. Não é aquele tímido, pelo menos com os que eu já trabalhei. Já trabalhei com criança que era moreninha, é sempre o mais levado, o mais briguento.” ( ANA)
Par a out r a pr of essor a, con cont udo; a s crianças pretinhas, mais educadas e servis, são melhores do que os branquinhas:
“As pessoas, às vezes, se dão melhor com preto do que se dão com branco, com amarelo. Até o ano passado, passado ou retrasado,
tinham dois irmãos,
aqui, que eles eram pretinhos, pretinhos que eles pareciam carvãozinho. Eles chegavam a ser até azul, de tão pretinhos que eles eram. Mas que crianças
166
educadas! Aqui dentro da escola não tinha uma criança ou um colega que não gostasse dos dois irmãos. E a mãe dizia que em casa eles eram dois capetas. A mãe falava: ‘Não entendo como vocês me falam que eles não dão problema. Em casa eles só faltam me matar, me deixar louca!’ Pois aqui não. Pois aqui não! Eles brincam com todo mundo, se dão bem com todo mundo. Algumas vezes a gente chamou a mãe e falou: ‘Ô mãe, fica
olhando
para
você
ver
eles
lá
no
canto
brincando’. Todo mundo ia atrás dos dois. Eu não me lembro o nome dessas crianças agora. Mas foram duas crianças, assim, que me marcaram muito. Tiveram mais nos anos anteriores. Esses pretinhos não sabiam o que fazer para agradar. Até teve uma época que a gente
( per í odo) integral
tinha
aqui
e
essas
crianças
ajudavam a gente a varrer. As crianças procuravam agradar a gente de tudo quanto era jeito. E eram crianças pretas, melhores do que as branquinhas.”
( MARLI ) Há, con cont udo, quem con consi der e as as crianças negras as mais engraçadinhas:
“As crianças negras são as mais engraçadinhas, as mais bonitinhas.” ( MAGALI )
Di ant ant e desse desse modo odo de de conceb conceber er as cr i anças anças neg negr as, sur gem al gumas
per per gunt as:
Por Por
que
essas
cr i anças anças
são
as mais
167
levadas, melhores do que as branquinhas as branquinhas, as mais briguentas?
E, par par adoxa adoxall ment ent e, o que que i mpõe põe a necess necessii dade ade de de af af i r mar s ua bel eza i ncond condi ci onal ? Se acaso acaso f ossem mesmo vi vi st as como as as mai s bo boni t as, qual , ent ão, ser i a o i mpedi ment o de t ê- l as no nos l i vr os e car car t azes zes esp espa al hados pe pel a escol scol a?
4.11. Família, sociedade e relações étnicas
Nas
ent ent r evi st as,
a
pr eocup ocupação bási ca er a l evan vant ar os
ef ef ei t os
da das
r el açõe ções
mul t i -
ét ni cas, cas, na soci soci edade br asi l ei r a e
na na
vi vi da
As si m,
do dos
ent ent r evi st ados.
os
pos si s i bi l i t ar am pouco ouco
mai s
a
depo depoii ment ent os c ompr eender soci al i zação zação
um das das
cr i anças anças no no que t ang ange ao f at or ét ni co.
Os
dep depoi ment ent os
dos dos
i ndi ndi ví duos duos negr negr os, ao mesmo t empo em que r eve evel am a vi são de mundo, os
concei concei t os
e
a
f or ma
pr edomi nant e de de r el açõe ções soci ai s de
cad cada
um
del es,
r evel am,
168
t ambém bém,
que
essas ess as
exper exper i ênci ênci as
são são cr i vadas pe pel o f at or ét ni co. co. Em con cont r apar t i da,
os de depoi ment os
dos
br ancos
i ndi ví duos
r evel am acer cer ca
da
po pouco
per cep cepção ção
e
i nci dênci a do pr econ concei cei t o e da di s cr cr i mi naç ão
em
s ua uas
vi vi das .
Senã Senão o vej amos: “Acho
que
parou
um
pouco
essa
história
de
racismo porque agora tem cadeia. Se alguém começar a te xingar é só dar queixa. Então, parou um pouco. Mas
negr a) existe bastante.” ( ELI ZABETE - i r mã ne Out r a i nf or mant ant e r ef or ça a i déi a de di mi nui ção ção do pr econ econce ceii t o:
“Está diminuindo. Eu tenho saído muito, eu tenho ido
em
muitos
lugares
que
antes
só
freqüentavam
negros, e hoje em dia tem uma quantidade muito grande de brancos. Claro que os brancos falam assim, aquela neguinha quer aparecer. Mas já não é uma coisa que é tanto como já foi um dia. O inverso disso acontece muito também. Porque, geralmente, onde entram dez brancos e um negro acontece aquela coisa de todo mundo se voltar e olhar olhar para você ( par a o negr o) . Por quê? Porque você é diferente. Porque a cor da sua pele
é
diferente.
Para
saber
se
você
está
bem
arrumada. Para saber se você sabe conversar. Para
169
saber se você tem dinheiro, ou se você não tem. Então, isso acontece muito no Brasil.” ( ROSELI – mãe
negr a) As f amí l i as br br ancas cas t ambém r econ conhecem cem a exi st ênci a do r aci smo na soci soci edade br asi l ei r a at ual : “Esse negócio de preconceito sempre vai existir. Isso aí não adianta querer, porque isso aí não dá. Isso está dentro do ( i ndi ví duo) Não sei explicar para você. Não é só com raça, é com rico, com pobre. Não é
oc i al ) também.” só na parte de raça, de posição ( s oc ( DALI LA – avó br anca) anca) É f áci l obser ser var que exi st e uma di f er ença ença bast bast ant ant e acen acentt uada ada ent ent r e
os os
depoi depoi ment ent os
dos dos
i nt egr egr ant ant es do do gr upo negr egr o e os depoi epoi ment ent os
dos dos
gr upo br br anco. anco.
i nt egr egr ant ant es
do do
Par Par a os os neg negr os o
r econ econheci ment ent o do do pr pr econ econcei t o se dá
de
modo odo
concr et o,
pr ej uí uí zo z os
e
podem
s er
con cont abi l i zad zados. “Nós éramos todas ( ami gas) da mesma idade. Às vezes
elas
estavam
conversando,
só
entre
os
elas
brancas, eu chegava, elas falavam: ‘Eu não chamei
170
você, preta, só tem branca na rodinha. Não tem
ETE – i r mã negr negr a) preta!”’ ( ELI ZABETE Est a mesma en ent r evi st ada, ada, j á na na i dade ad adul t a, exp exper i ment a um dos aspe aspect os mai s per ver ver sos do do pr pr econ concei cei t o na na r el ação ção con conj ugal .
El a en encon cont r a- se gr gr ávi da de de um um homem br anco, co,
que
dei xa cl ar o que só ace aceii t ar á a pat er ni dade do f i l ho se a cr i ança na nascer scer br anca. ca. “Ele fala para mim que se o meu filho for preto não é dele, se for branco pode até ser. Ele fala que se sair preto não é filho dele. Esse meu ex-marido pensa que, se sair preto pode ser do outro, se sair branco pode ser dele. Ele falou para mim que se sair preto o filho não é dele. Eu falo: ‘Não é seu, mas é meu. Não importa a cor cor que vier, o jeito que que vier! Se Deus mandou....’
Daí ele fica quieto, não fala nada.
Eu falo para ele: ‘Pode ser branco, eu nunca vou ter preconceito.’ preconceito.’
Quando a gente tem tem um filho branco e a
gente é preta, sempre tem esse tipo de preconceito”
( ELI ZABETE ETE – i r mã negr negr a) Por Por ém, ant ant es del a,
sua mãe
j á vi ver a s i t uações s emel hant hant es quando os f i l hos er er am cr i anças. ças. Uma de de suas suas i r mãs er a mai s cl c l ar a, o
que que
mot i vou
ami gos e vi zi nhos:
coment ent ár i os
de
171
“‘Regina,
essa
não
é
sua
filha!’
Porque
a
Solange tem os olhos bonitos. ‘ Você é preta, sua
ETE filha é branca.’ Como pode ser sua filha?” ( ELI ZABETE - i r mã negr a) Ass i m,
os
i ndi ví duos
negr egr os
vão vão
r el embr and ando
sua suas
exper i ênci as e os os pr pr ej uí zos zos com o pr econ concei cei t o na na soci soci edade br asi l ei r a. Os epi epi sódi sódi os cot i di anos most r am- se pe per meados de si t uações ações conf conf l i t uosas qu que mar cam pr of undament ent e cada cada um. A desi gual dade cond condi ção
de
ét ni ca
di r ei t os
e
as
di di f er enças ças
apar apar ecem ecem cl ar ament ent e
quando
de der i vad vadas o
negr o
da da se
cand candi dat a a um empr ego: ego: “Em relação à questão profissional nem se conta, o racismo é 200%. Você vai a uma firma que tem dez brancos, você tem dois, três negros. Nessa parte o racismo é muito grande ainda A consciência do povo é muito pequena. Houve uma época que eu deixei de ser autônoma
e
fui
procurar
emprego.
A
loirinha,
bonitinha, dos olhos azuis sempre estava em primeiro lugar. Então, a discriminação nessa parte ainda é
SELI - mãe neg negrr a) muito grande.” grande.” ( ROSELI Par a
out out r a
mãe
neg negrr a
a
exper xper i ênci a do pr econ econcei t o e da di scr sc r i mi nação ação é mui t o mai s ampl a:
172
“Eu já sofri muito preconceito racial e ainda sofro.
Só
preconceito,
que
agora
eu
antigamente
sofro era
um
cinco só.
tipos
de
Preconceito
racial, o preconceito por ser mulher, o preconceito por ser casada, o preconceito por ter mais de trinta anos e o preconceito por ter filho. Então, eu não consigo arrumar emprego. É muito difícil lidar com tudo isso. Quando eu tinha quatorze anos eu sofri muito preconceito. A minha encarregada me chamou no final do ano e falou assim: ‘Você não pode usar roupa branca!’. Eu gostava gostava muito de camisa, de gola gola branca, bonitinha. Ela falou: ‘Você não pode usar porque o negro fede muito. Então, você deveria usar uma roupa de outra cor, e não branca!’. Ela falou em tom alto para me agredir mesmo: mesmo: se eu fosse de roupa roupa branca eu não queria trabalhar, porque eu não queria me sujar, e nem suar, já que o negro fedia tanto. Aquilo para mim foi um absurdo, um absurdo. Mas eu não podia responder nada, porque ela era minha chefe. Se eu respondesse, eu podia ser mandada embora. Eu não tinha nem um ano de firma, era uma escola inclusive. Aí eu peguei e não pude responder nada, eu saí de lá chorando, desesperada, super nervosa com o que tinha acontecido. Nesse caso, tive que abaixar a minha
173
cabeça, porque eu precisava do emprego, tive que
SUELI – mãe neg negrr a) agüentar essa discriminação.” discriminação.” ( SUELI No mer cado de de t r abal abal ho, ho, quan quando do há há di di s put put a por por uma vaga, vaga, ent ent r e uma pes pes s oa neg negrr a e um uma pess pess oa nãonão- negr negr a, a pr ef er ênci ênci a da cont cont r at ação r ecai ecai
sobr sobr e a pessoa nãoão-
negr egr a, em det r i ment ent o da pessoa neg negrr a. “ Aqui no bairro, num comércio, tem um japonês, ele pegou uma menina de menor, ela é branca. Ela ficou trabalhando e para mim ele falou que já tinha pegado.
Só
que
ainda
não
tinha
( pegad egado o a ou out r a
meni na) , a placa estava lá. Quando eu passei uma semana depois já tinha a menina limpando as mesas. Eu comentei
para
as
minhas
amigas
quando
estávamos
passando lá: ‘O homem pegou a menina branquinha e eu que sou preta, ele não quis me pegar.’” ( ELI ZABETE -
i r mã neg negrr a) Par Par a os i ndi ví duos ne negr os, a expe xper i ênci a escol ar t ambém par ece
r epl et a
de de
aco acon nt eci ment os
pr ej udi ci ai s,
o
qu que
di f i cul cul t a a aqui si ção ção de de um uma i dent i dade po posi t i va, va, ao mesmo t empo qu que l hes conf er e o l ugar gar daqu daquel el e que que não não é bem vi ndo e acei cei t o no gr upo. De aco acorr do com com Suel i ( mãe negr egr a) , a di di scr i mi nação ação pode ode aca acarr r et ar at é mesmo a r epr epr ovação ovação do do al uno. uno. El a est ava ava na pr i mei r a sér i e qua quand ndo o adoe adoeceu ceu na mesm es ma época que uma col ega br anca: anca :
174
“O professor mandou a prova para a minha amiga, em casa. E para mim não. Porque eu era negra. E ele me
detestava. Ele
me
reprovou.
Eu
comecei
a
me
prejudicar, porque porque eu sabia que tinha acontecido acontecido isso por causa do racismo. Eu estudava e tudo, mas tinha que ser uma coisa muito forçada, porque eu comecei a ficar retraída, com vergonha de ser negra. E por parte dos colegas mesmo
tinha muita discriminação. discriminação.
Eu cheguei a me tornar uma pessoa muito revoltada.” Suel uel i cont cont a- nos das das di ver ver sas vezes vezes em que apan apanh hou de seus seus ami gos, gos, apen apenas as pel pel o f at o de ser neg negr a:
“Eles falavam: ‘Olha a negrona, não sei o quê, não sei o quê. Todos os dias eu apanhava. E isso no
SUELI – mãe neg negrr a) período da infância.” infância.” ( SUELI Essas expe xper i ênci as l evar var am Suel i a pensar sar : “Eu achava que o branco era filho de Deus, porque todo mundo falava: ‘Jesus Cristo é branco’. Então, o branco é filho de Deus e o preto é filho do Diabo. E eu acreditava nisso.” ( SUELI
-
mãe negr a)
Dess es s e modo, odo, s ão i núm númer as as di f i cul cul dades de der i vadas da cor cor da pel e.
O
pr econ concei cei t o
cr i a
i mpedi edi ment ent os par par a o exer exer cí ci o da da ci dadani a. exi st ênci a,
Assi m,
di ant e da sua
cad cada um um vai
vi vendo
175
da mel hor
f or ma que que é poss possíí vel
vi ver . Uma
en ent r evi evi st ada ada
neg negrr a
ap apont ont a
a
exi exi st ênci ênci a
de de
um um
t r at ament ent o di di f er enci enci ado ado par par a as as mães ães br ancas ancas na escol a de de sua sua i r mã.
El a at at r i bui
à cor cor
de sua sua pe pel e o mal
at endi ment o
di spe spensado sado a el a pe pel a pr pr of essor a de de sua sua i r mã. “Ela entregou os papéis para todo mundo, para mim ela não entregou. Eu tive que ir lá na mesa e pedir o papel da Solange, Solange, para ver. Ela Ela disse que não ia entregar naquela hora, que ia ficar na mão dela, porque a Solange ia ia ficar mais uns dias. dias. Aí eu falei: ‘Como, se você você de
ano?’
Daí,
tinha falado que ela ela já tinha passado ela
disse:
‘Ah
me
desculpa!’
Eu
perguntei como a Solange estava, ela virou as costas para mim e foi conversar conversar com uma outra mãe. mãe. E por fim ela dá atenção para aquelas outras mães, informa sobre os filhos, e quando a gente vai perguntar faz
ETE – i r mã negr negr a) de conta que não é com ela.” ( ELI ZABETE Ent r et ant o, bem di f er ent e é a per cep cepção ção que as f amí l i as br ancas ancas t êm do pr pr obl obl ema ét ét ni co no no Br Br asi l . O br anco anco ap apena enas vê o pr pr econ concei cei t o e não sof sof r e,
di r et ament e,
as con conseqü seqüênci as
del del e. O depoi epoi ment ent o de de um uma avó avó most r a bem bem i s so. “ Uma vez eu fui na escola, e a professora me chamou e falou que eu havia dito que não era para ela
176
brincar com a menina, porque a menina tinha piolho. Eu
falei:
‘Nem
conheço
essa
menina!’.
Daí
a
professora percebeu que era porque ela era negra. Mas, agora, nossa! As amigas dela são bem morenas.”
( ESTE ESTER R – avó br anca) anca) Par Par a uma nordest ordest i na a experi xperi ênci a da di scr i mi nação ção é cor cor r i quei r a:
“ Qualquer coisinha que alguém faça de errado, você já escuta: ‘É porque você é paraíba. É porque
anc a) você é baiano!’” ( L OURDES – mãe br anca) O
di di f i cul cul dade ade
da da
ent r evi st ada em cl assi f i car car as am ami gas de de sua suas f i l has com como negr as.
No
segu segundo,
pr i mei r o
de depoi ment ent o
de dei xa
t r anspar spar ecer ecer
a
uma out r a ent r evi st ada exp expr essa a sua i dent ent i f i caçã cação o com com o
pr obl ema ét ni co pel o f at o de ser ser nor dest i na. Sem dúvi da, as en ent r evi st as, apont am par a a exi st ênci a do do pr pr econ concei cei t o na na soci soci edade at at ual . Ent r et ant o, per per cebecebe- se que que a t emát i ca ét ni ca é camuf l ada ada at at é mesmo no no cot i di ano ano f ami l i ar .
Desse manei r a,
a cr cr i ança ança não não é ed educad cada pa par a r espei spei t ar
con convi ver ver com com as di di f er enças, ças, sob sobr et udo com com as di di f er enças ças ét ét ni cas. cas.
“Não. Mas é que eu passo muito tempo longe dele. Eu trabalho o dia inteiro. E quando eu chego em casa a gente conversa como foi o meu trabalho, o que ele fez hoje, o que ele assistiu, se ele vai no clube ou não vai. Então essas coisas a gente não chega a conversar por falta de espaço mesmo, falta de tempo e falta
dele
falar
( ROSELI SELI - mãe neg negrr a)
comigo.
Dele
puxar
o
assunto.
e
177
Out r a mãe, ãe, af i r ma
que,
embor bor a t ambém bém apel apel e à f al t a de de t empo,
sempr e
qu que
a
f i l ha
per gunt a,
expl xpl i ca
as
di f er enças: ças: “Mas a
gente conversa de vez em quando. quando. Na hora hora que
ela pergunta, eu vou e falo: ‘Isso é isso, é aquilo’. Mas fora disso eu não falo. Realmente eu não falo nada. Então, na medida do possível, eu vou explicando as coisas para ela. Sempre que ela me pergunta eu
RDES – mãe br anca) anc a) respondo.” ( LOURDES As f al as expr ess am uma cer t a i nsegur nsegur ança ança e at é mesmo um uma f al t a
de
quest i onament o
ant er i or
sobr sobr e
pr econ concei cei t o
e
di scr i mi nação ção. A f al t a de de i nf or mação ção po pode r epr esent sent ar par a a cr i ança br anca a i déi a de per t encer cer sup super i or ,
vi st o
que
essa
i déi a
a um gr upo ét ni co
é mui t o
di f undi da
pel a
soci edad edade e de de modo odo i mpl í ci t o e at at é mesmo exp expll í ci t o. Por Por out out r o l ado, par a a
cr i ança negr a esse si l ênci o sob sobr e o pr econ concei cei t o
pode l evává- l a a ent ender o seu gr upo ét ni co com como i nf er i or , i déi a
qu que
se
con conf or ma,
aut omat i cament e,
à
sup super i or i dade ade
br anca. anca. Como di di z uma en ent r evi evi st ada: ada: “E a Solange nunca quis que falasse que ela era preta. Ela sim tinha um tipo de preconceito. Ela falava: ‘Eu sou branca. Vocês são negros, vocês são pretos.’ Porque a gente não fala negro, a gente fala preto. ‘Eu sou branca, porque meu pai é branco. E vocês são pretos.’ Eu falo para ela:
‘Como? Seus
178
irmãos são pretos. Sua mãe é preta. Você saiu de dentro de uma preta. Então, como você é branca?’”
( ELI ZABETE ETE – i r mã negr negr a) É i nt er essant ssant e no not ar a f or ma usad usada a pe pel a en ent r evi st ada par a qu qual i f i car car a i r mã com como a mai s bon boni t a da da f amí l i a: “(...) ela era quem tinha cabelo melhor; ela sempre foi bonita; ela é muito bonita; até hoje ela é a mais clara; ela está
ceber que a f i l ha co consi der ada queimada do sol”. Fi ca f áci l per ceb a mai s boni boni t a é aqu aquel a qu que mai s s e ap apr oxi ma do do i deal deal bel eza
pr edom edomi nant ant ement ent e
com compr eender
br anco. anco.
Di ant ant e
di ss o,
a r ecusa cusa da cr i ança em se i dent i f i car car
de
podeode- se com com o
negr o, com com aqui l o que l he par ece “r ui m”. A r ecusa cusa da da cr i ança expr xpr essa a sua sua r ecusa cusa em em dei xar xar o l ugar que l he f oi dado – o da mai s bon boni t a - e se r econh conhecer ecer negr a. Out r a con conseq seqüênci a do do si l ênci o no no l ar pode resul resul t ar na di di f i cul cul dade da cri ança ne negr a ag agi r di ant e de de si t uaçõe ções de con conf l i t os ét ni cos. cos.
Como
expl i ca Ap Apar eci da ( cr i ança ne negr a) :
“Eu esqueço de falar para a professora. A minha mãe disse que se elas batessem em mim era para descontar. Mas se eu brigar com elas eu fico de castigo.” A cr i ança ança most r a que que det ém mei os de de r eag eagi r di ant ant e da agr agr essão f í si ca mas não não da da ve ver bal . Nest e ca caso, so, não rest a na nada a ser ser f ei t o po por el a, a não ser ser se cal cal ar . Não ut i l i za, za, assi m, o seu seu di r ei t o de def esa. sa.
179
Ai nda nda
sobr sobr e
o
espaço espaço
escol scol ar , El i zab zabet e di z- nos qu que a pr of essor ess or a
cham chamou
s ua
i r mã
( Sol ange) de “suj “suj a”. Ao che chegar em casa, cas a,
a
meni eni na
queb quebrr ou
o
cost cost umei r o si l ênci o e con cont ou à f amí l i a.
Post er i or ment e,
i nf or mant ant e subst subst i t ui r
soub soube
a
di ss o
ao
a mãe na r eun euni ão de
pai s e mest r es.
El i zab zabet e con cont a
que a i r mã f i cou mui t o chat chat ead eada com com o epi sód sódi o, par a el a a i r mã poder oder i a est est ar apen apenas as mal ar r umada ada naquel e di a. uma
El a também r el at a
r ecl amação ação
pr of ess or a
de de
f ei t a
pel pel a
sua sua
i r mã
( Apar eci da) . Par a a pr of essor ssor a, a meni eni na t i nha pi pi ol ho por por que usava usava t r anças de de canecalon na na cabeça: cabeça: “(...) Piolho, as professoras acham que é de casa que vem. Que as mães não limpam a cabeça. A professora dela pediu pediu para não deixar, que que ela achava que eram as tranças que traziam piolho. Se elas estão com o cabelo curto os meninos chamam ela de ... falam que são homem. Quando se arrumam direitinho acham que
180
as
tranças
trazem
professora: ‘Minha
piolho. mãe
Aí
cansa
eu
de
falei
limpar
para a
a
cabeça
dela.’ Depois ela falou: ‘Então, eu estou mandando remédio,
manda
limpar
a
cabeça.
Se
não
ela
( Apar eci da) não vai poder mais vir na escola.’” ( ELI ZABETE ETE – i r mã neg negrr a) Conf onf or me vi vi mos, a meni eni na Sol Sol ang ange f i cou mei o chat chat eada eada,, com como di di sse a sua sua i r mã, com com est a si t uação ção i nusi t ada. A meu ver , est a si t uação ção con cont r ast a co com o post o que l he f oi , e ai nda é, con conf er i do no l ar : a mai s bo boni t a. E a i r mã, por f i m, acab caba endo endoss s and ando a r ecl amação da pr of essor ess or a, di zendo zendo à Sol ang ange qu que el a pr eci sa se ar r umar mel hor . A out r a i r mã, a Apar eci da, encon encontt r a- se di di ant ant e desse desse mesmo con conf r ont ont o: no l ar sua bel eza é r eal çad çada e val or i zad zada, ent r et ant o, na escol scol a, não . No i nt er i or desse gr gr upo, podem odemos const const at ar , t ambém, o ent ent end endi ment ent o de de of of ensas ensas ét ni cas como um uma br br i ncadei cadei r a. Sér gi o di z- nos que que na na esc escol ol a el el e er er a “cham “chamado” ado” pel pel os ami gos de pi che e macaco. acaco. Por Por ém, par a el el e:
“Não era bem xingar. Eram aqueles
que a gente tinha mais amizade. Um que xinga o outro, outro
SÉRGI O – i r mão negr negr o) que xinga o outro. Daí ia indo”. ( SÉR Quant o à expe xper i ênci a no l ar , El i zabe zabet e con cont a- nos que que o pai do seu seu f i l ho f azi a al go semel hant e: “Ele
era
muito
ligado
nesse
negócio
de
escravidão. Ele falava assim: ‘Chegou a sua época de
181
escravidão.’ Daí ele cantava aquela música da época de escravidão da escrava Isaura, que cantavam para os escravos quando estavam apanhando. Aí ele pegava e fazia o barulho do chicote e falava: ‘Vamos para o tronco!’”
Par a El i zab zabet e,
esse t i po de br i ncad cadei r a ent r e os
i r mãos é bast ant e comum: “Ah sua preta. Seu nego. Seu sujo. Macaco. Ah, macaco, você está bem? Você está indo
el a não não há nada nada de er r ado ado no no trabalhar, macaco?”. Par a el f at o del es br br i ncar car em ent r e si dessa f or ma. “(...) os chavões, piadas e histórias com conotações
racistas
são
repetidas
nas
famílias, mesmo nas negras, como também críticas pessoas
feitas negras
ao
comportamento
acompanhadas
do
de
refrão
“isso é coisa de negro”, são aliados ao posicionamento posicionamento
subliminar
da
sociedade
discriminatória, uma fonte poderosa de formar no seio das famílias condições para a facilitação de introjeções sobre supremacia
e
supervalorização
da
raça
branca” ( Chagas, 1996, p. 35) .
Ass i m, os i nf or mant es dem demonst onst r am que a soci al i zação zação das cr i anças ças é r eal i zada zada l evan vando po pouco em em con cont a a quest ão mul t i ét ni ca exi st ent e na na soci soci edade br br asi l ei r a e as i mpl i caçõ caçõe es del a decor cor r ent es.
182
“Em todas as situações nos parece haver uma indecisão dos pais, devido, em parte, ao fato deles não acreditarem, na existência do racismo brasileiro, ou por procurarem sistematicamente sistematicamente negá-lo, pois admiti-lo, é admitir a condição de ser inferior.
Outro
motivo
da
indecisão
relaciona-se aos resultados do protesto motivado
pela
injustiça
sofrida.
Primeiro, que a experiência mostra que tal protesto não é levado em conta por ninguém. Segundo, porque ficam por vezes com medo da criança ficar marcada e ser perseguida” ( Cunha J r . , 1987, p. 52) .
É
mar can cant e
o
f at o
de
os
i nt egr ant es
das das
f amí l i as
com compr eender em que as cr i anças, ças, nessa f ai xa et ár i a, j á possuem ssuem conh conheci ment os que que r emet em à si t uação da di di scr i mi nação. ção. “Elas
possuem
sim
( conh conheci ment ent o
sobr sobr e
as
di f er enças ças ét ét ni cas) cas) . As crianças possuem e às vezes SELI - mãe neg negrr a) chegam a ser maldosas.” ( ROSELI Out r a mãe conf conf i r ma: “Eu acho que sim, porque a criança já cresce com aquela coisa na cabeça. O preconceito está lá, né?”
( LOU LOURDES – mãe br anca) anc a)
183
Assi m, par t i ndo de dessa pr pr emi ssa, os f ami l i ar es dem demonst r am per ceber ceber a necess ecess i dade ade de se conve converr sar sobr sobr e o pr econ econcei t o e sob sobr e as di di f er enças ças ét ni cas cas com com as cr i anças. ças. A mai or i a desses f ami l i ar es acr edi edi t a qu que um uma pr pr epar epar ação ação pa par a a convi convi vên vênci a com com a di ver si dade ét ni ca sej sej a f avor ável . Nas f amí l i as ne negr as t al conheci conheci ment ent o apar apar ece como uma f or ma de a cr i ança ança r eceber eceber r ef er ênci as po posi t i vas e f or t al ecer cer sua sua aut o- est i ma. Par a
a
mai or i a
de del es,
a
f amí l i a
deve
pr epar ar
a
cr i ança, ça,
conve converr sando sando ef et i vament ent e sobr e a que quest st ão ét ni ca, desde desde pequ pequen ena, a, ao r edor edor dos sei s anos anos de de i dade.
“ desde o momento em que a criança começa a entender o que é certo o que é errado. Porque a criança com quatro ou cinco anos já sabe o que é certo, o que é errado. Quando a gente fala alguma coisa, ela já sabe se magoar. Então, desde que ela comece
a
entender,
a
gente
deve
conversar
sobre
negrr a) isso.” ( ROSELI - mãe neg Quant ant o a quem cabe cabe con conver ver sar sobr sobr e pr pr econce econceii t o com com a cr i ança, ança, não há uma úni úni ca i ndi ndi cação. cação. Ass i m, or a a f amí l i a apa aparr ece como aqu aquel el a que que deve deve desem desempenh penhar ar esse papel apel , or a esse pape papell é t r ansf ansf er i do par par a a escol escol a.
“Eu acho que a responsabilidade é nossa, dos pais. E eu acho que da escola também um pouquinho. Dividir.
Eu acho que a criança
na escola tem
contato com todo tipo de crianças. Então, eu acho que se ela chegar e perguntar à professora, (esta) tem
184
que explicar um pouco também. Na escola ela tem contato com todo mundo diferente: japonês, chinês, branco, tudo quanto é tipo de gente, né? Eu acho, a gente
tem
que
explicar
um
pouco
em
casa,
e
a
RDES professora também, se a criança perguntar.” ( LOURDES – mãe br br anca) Par Par a out r a mãe é t ar ef a excl usi va da escol a: “Geralmente é o professor quem deve dar aula disso. A escola deveria explicar. Ou então, ter uma
EGI NA - mãe negr negr a) pessoa só para para dar aula disso.” disso.” ( REGI Tal vez a t r ansf er ênci a da r esponsabi l i dade dade par a a escol esc ol a possa poss a r esul t ar da com compr een eensão que os os pai pai s t êm do pa papel dest a i nst i t ui ção ção com como edu educad cador a f ormal de ci dadãos, al ém da di di f i cul cul dade e do i ncôm cômodo odo em em se f al ar s obr obr e esse assun assuntt o. É i nt er essant essant e not not ar o modo odo como os i nt egr egr ant ant es do gr upo f ami l i ar vêe vêem a escol scol a de seu seus f i l hos. possui mai s aspe aspect os posi posi t i vos, vos,
Par a el es,
a escol scol a
o qu que l hes dá a cer cer t eza de de a cr i ança ança
est ar sen sendo be bem acol col hi da pe pel os prof i ssi onai s qu que nel a tr abal ham.
“Eu gosto da escola. Eu acho que é um lugar aberto, bem arejado, com bastante sol. Por ser uma escola da prefeitura eu acho ela até muito boa, porque ela é limpa. Eu sempre achei a escolinha dela limpinha,
arrumada
e
simpática.
Eu
gostei
da
professora. Eu achei achei ela boa. Embora ela ela tenha a cara de
brava.
crianças.
Eu Eu
achei achei
ela elas
muito bem
amigável atenciosas,
com
as
sempre
185
simpáticas. Eu não tenho nada a falar contra. Não
LOURDES - mãe br anca) tenho nada mesmo. ( LOU Par Par a as f amí l i as ne negr as, j á não há um con consenso senso sob sobr e a escol scol a. Há quem se si nt a acol col hi da: “Eu gostei. Achei que é uma escola boa. Eu sempre fui atendida bem, tanto pela professora dele,
egr a) quanto pela diretora.” ( SUELI - mãe negr Se, por um l ado, el a po pode ser ser vi st a co com bons ol hos e t r ansmi t i r um sent sent i ment ent o de acol acol hi ment ent o,
por por
out out r o,
dá mar gem gem par a que l he t eçam eçam
cr í t i cas cas quan quantt o ao seu modo odo de de at at end ender e ava avall i ar as cr i ança anças. s.
“O ensino é médio. Com a diretora da escola eu nunca conversei. Com os serventes em geral é aquela coisa: atendem um monte de crianças e não têm tempo para dar atenção para a criança ou para os pais. É sempre dando bronca, reclamando que a criança fez isso ou aquilo. É sempre para
criticar, nunca para
SELI – mãe neg negrr a) dar um elogio.” ( ROSELI Ai nda no que se r ef er e ao cot cot i di ano escol ar , f amí l i as ne negr as qu quer
quer as
as f amí l i as br br ancas cas nã não per ceb cebem a
exi st ênci a de t r at ament os di di f er enci ados.
Todos sent sent em que
sua suas cr i anças ças s ão t r at adas de f or ma i gual
por
par t e das
pr of i ssi onai s da da esco scol a. “Eu não sei. Eu sou nordestina. Eu nunca vi, nunca
presenciei
nada
que
falasse
que
é
algum
186
racismo, alguma coisa. Esse já é o segundo ano dela lá. Eu nunca vi nada. Eu chego, deixo a menina, volto e pego. Mas eu nunca presenciei nada, nada, nada.”
( LOU LOURDES - mãe br anca) Out r a mãe conf conf i r ma a sua sat i sf ação ação com com a escol escol a, l embr and ando os os i ncen cent i vos vos da dados pe pel a pr of essora:
“Ela disse para mim sempre falar para o César para ele estudar. Para ele estudar, para ser doutor. É para eu colocar sempre na cabecinha dele: que é
SUELI para ele estudar para ser doutor.” ( SUELI
-
mãe
negr a) Essa úl t i ma f al a pode i ndi car car que que a pr pr of ess or a compr eende eende a exi st ênci a do pr econ concei cei t o na soci soci edade
br asi l ei r a,
caso caso
c ont r ár i o não t er i a f ei t o t al coment ent ár i o. que
a
Por Por ém,
com co mpr eensão eens ão
not a- se que
a
pr of essor a t em do pr pr obl ema é i ndi vi dual
e
que
est e
é
passí vel vel de mudança ança a par t i r do desej desej o da da ví t i ma e da sua f amí l i a. Pen Penso qu que est est a é uma vi são
mui t o
l i mi t ada
do
pr obl obl ema, poi s o qu que gar gar ant ant e
187
ao
i ndi ví duo
o
desej o
de de
f or mação ção
pr of i ssi onal
é
t ambém a
possi bi l i dade
de
i nser ser ção ção
pr of i ssi onal
e
de
cond condi ção econ econômi ca par par a t al i nt ent o. Na
voz voz
de
t am ambém
uma
mãe
negr negr a
s obr es s ai
o
ent ent end endi ment ent o da exi exi st ênci ênci a de at i t ude
di scr i mi nat ór i a
por
par t e de uma das das pr of essor ess or as da escol a, com como j á t i nha si do ant ant er i or ment ent e
ap apont ont ado ado
por por
uma pr pr of essor ess or a: 44 “A única professora que eu achei que era assim, meio
racista,
Catarina
era
tiraram
a
Sônia.
uma
foto
( Apar eci da)
Ela
separadas,
sabe?
e
a
Bem
EGI NA embaixo, não junto, nem no meio das meninas.” ( REGI – mãe negr negr a) J á
out r a
ent r evi s t ada
pr ocur cur ou a escol escol a pa par a f azer uma r ecl amação,
44
Refiro-me à fala da professora Bruna, página 136 desta dissertação. dissertação.
por por ém,
par par a
188
el a,
er a
apenas
coi sa
de de
cri ança: ça: “Já procurei para fazer reclamação, mas não da escola. Reclamação porque teve umas conversinhas, coisa
de
criança.
professora.
O
Mas
César
aí,
eu
chegou
fui em
falar casa
com com
a um
brinquedinho. Um brinquedinho brinquedinho velho, velho, que ele deve ter achado na areia e tal. Eu perguntei porque ele tinha trazido o brinquedo. Porque eu não gosto que ele pegue nada, pode ser ser quebrado e coisa coisa e tal. ‘Por que você pegou?’ Eu prensei ele, e ele falou: ‘Porque o meu amiguinho falou assim: que preto tem que roubar mesmo.’ Aí, eu peguei e fui no dia seguinte, com o brinquedo, fui tirar tirar satisfação. Fui perguntar perguntar para a professora,
ela
não
estava
sabendo
o
que
tinha
acontecido. Ela chamou a criança, falou para ela que lá não tem cor: que é tudo aluno - branco, preto ou amarelo, não tem nada. Eu acho que ela resolveu o
SUELI problema. O problema foi resolvido.” ( SUELI
– mãe
negr a) Ni t i dament ent e,
o caso caso aci ma r evel evel a um uma si t uação uação de di di scr i mi nação nação
ent r e as cr i anças, ças, dent r o da escol scol a. É i nt er essan ssant e not ar que a cr i ança, ça, depoi s de t er passado ssado por por t al si t uação ção, ao cheg chegar ar em casa, casa, não con cont a para para a sua sua mãe o ocor ocor r i do. A cr i ança ança t eve eve que que ser prensada par a f al ar sob sobr e a sua experi xperi ênci a, com como se est est i vesse vesse assum assumi ndo pa par a si a cul cul pa da da si t uaçã ação. É como a sua mãe expl expl i ca:
189
“(...) ele ficou tímido. Ele ficou tímido. Ele ficou envergonhado. Ele ficou assim: com medo de
negrr a) levar bronca, alguma coisa.” ( SUELI - mãe neg No
am ambi ent e
f ami l i ar
as
di f er enças ças
ét ni cas cas
ganham
di ver ver sas exp expll i caçõ caçõe es do dos adu adul t os, que, di ant e da per cep cepção ção das cr i anças, anças,
t ent ent am, na medi edi da do possí vel vel ,
r espon espond der às
suas suas i nt er r ogações. ções. Por Por ém, mui t as veze vezes, s, as i nf or maçõe ações sã s ão passada ssadas
j unt ament e
co com os
pr econ concei cei t os
e
est est er eót i pos
adqui r i dos pe pel os ad adul t os em em sua sua t r aj et ór i a de vi da: “A menina nasceu
minha
filha
fala:
‘Mamãe
por
que
aquela
é preta?’. Eu falo: falo: ‘Filha, do jeito que que você branca,
têm
algumas
crianças
que
nascem
pretas. Porque a mãe mãe é preta, o pai é preto’. preto’. Isso já é normal para ela. Ela só quer saber o porquê. No serviço do meu marido ( t em negr os) . Eles já vieram aqui em casa, já recebemos, são pretos. Preto por
uma r i sadi sadi nha) . Então, eu fora, branco por dentro ( dá um acho que isso é muito relativo. É só preconceito. Não existe problema de pele, de cor. Isso é tudo da cabeça das pessoas. A gente fala isso porque ouve falar: ‘Nossa senhora! É uma pessoa preta por fora e...’. Então, o casal que veio aqui ( El es) são bem pretos,
têm
educação,
de
filhos uma
pretos.
Mas
simpatia.
eles
( f al a
são
de
uma
demonst onst r and ando
adm admi r ação) . Então, eu fico pensando: por que as
190
pessoas têm que falar do preto, não é? Então, eu não sei, é meio branco por dentro, preto por fora. Preto, branco é tudo a mesma coisa. O preto é uma pessoa tão, tão mais forte do que o branco, não? Eu acho. O preto é bem melhor do que o branco: mais forte, não é? A gente vê os atletas. Você vê os melhores atletas do mundo, que cor eles têm? São pretos, a maioria. Porque têm mais força. E o branco é que tenta botar o negro lá embaixo, mas não consegue. Eu acho que é
LOURDES – mãe br anca) anc a) isso.” ( LOU Out r as, ent r et ant o, mai s r azoá zoávei s: “Eu acho que não deveria existir, porque somos todos iguais. Todos seres humanos, tanto faz o preto, o amarelo. Que não pode distinguir outra criança de outra cor só porque ela é escurinha ou é pobre. Tem que ser todos iguais. Somos todos iguais.” ( MARCI A –
mãe br br anca) De acor do com out r a i nf or mant ant e: Teodor or a) deixa bem claro: ‘é “ A professora ( Teod todo mundo igual’. Não vou falar assim: porque ele é pretinho vai ser melhor, melhor, ou vai ter que ter ter espaço só para ele. Não. Tem que ser tudo igual, porque se não seria até pior no caso falar para ele tem que ser diferente, porque ele é pretinho. Não, não gosto.
191
Primeiro porque ele não é pretinho, ele é negro. Ele é moreninho... Tem que colocar bem que é a nossa raça, é a nossa origem, da África, é negro. Falo: ‘Somos negros’. E falo para ele que o negro é lindo. Porque se não ele fica colocando na cabeça que a branquinha tem o cabelo comprido, então, ela é mais bonita do que ele, do que uma priminha. Eu falei: ‘Não,
negro
é
muito
bonito,
é
( est i c a
lindo
a
pal avr a) , é uma cor bonita, não é? Eu começo a colocar para ele. É todo mundo igual. Tem que colocar bem que é a nossa raça, é a nossa origem, da África,
SUELI - mãe negr negr a) é negro.” ( SUELI Apesar
da vi são são l i mi t ada que os
r espo sponsabi sabi l i dade
da da
escol escol a
na na
pa pai s
di di scussão scussão
t êm sob sobr e a
da
di di ver ver si dade
ét ni ca, ca, Suel i demonst r ou gr ande pe per cep cepção ção da das possi possi bi l i dades de o espa espaço escol ar ser um cent cent r o de deba ebat e e val val or i zação zação da ci dadani a dos ne negr os. A base do do r aci ocí ni o desenvo senvoll vi do por el a apon apontt a a di di ss emi nação nação de de i nf or mações ações s obr obr e o neg negrr o como a mel hor est r at égi égi a par a se com combat er o pr econ econcei t o. Nas f al as do dos ent ent r evi st ados, t emos a r evel vel ação ção do do si l ênci o da
cr i ança
ne negr a
post er i or ment ent e à si t uação de pr econ concei cei t o. ass i m,
que que
Const at a- se, se, al gum gumas
das
192
cr i anças anças ne negr as qu que passar passar am por
con conf l i t os
ét ét ni cos cos
no no
cot cot i di ano escol scol ar não l evar var am o pr obl obl ema par par a o l ar ,
par a
os seu seus f ami l i ar es. “Ela sempre reclamava dos meninos. Mas ela sabe reagir bem. Ela fala só que ela briga. E quando ela briga, ela se defende: ‘Ah! Mãe, eu briguei, mas eu me defendi!’. Então, como eu sei que ela aqui é
EGI NA brava, ela é triste. triste. Ela se defende mesmo!” mesmo!” ( REGI mãe negr a) Out r a mãe t ambém nos f al a sobr sobr e o si l ênci o de seu f i l ho: “Nunca ele chegou em casa e falou que tinha brigado com um coleguinha, ou que alguém o tenha chamado de neguinho, neguinho, nada disso. disso.
Tudo ele ele fala. fala. Tudo
ele
passado
conversa.
Se
ele
tivesse
por
algum
constrangimento: ‘Mãe, alguém me xingou, alguém me chamou disso, me chamou daquilo...’ Mas nunca ele
SELI - mãe neg negrr a) reclamou.” ( ROSELI O f at o de de as as cr i ança ançass não não com coment ent ar em com com seus seus f ami l i ares sobr sobr e os os con conf l i t os na na escol escol a po pode est est ar l i gado à cost cost umei r a au ausênci sênci a desse desse assunt ssunt o no mei o f ami l i ar . O que pode ode dar dar às cr i anças anças a i déi déi a de de que que esse assun assuntt o deve ser ser t r ancaf caf i ado, escon scondi do. Nos l ar es pesqui sados há depo depoii ment ent os que compr eende eendem m o negr negr o como um agent ent e r epr epr odut or do r aci smo:
193
“Família é muito importante. Às vezes tem o
SUELI próprio negro que também é racista.” ( SUELI
- mãe
negr a) Na f al a de de um uma avó br anca: anca: “(...)
eu
não
sei
se
é
o
branco
que
tem
preconceito contra o ‘nego’, ou é o ‘nego’ que tem preconceito contra o branco. Você já reparou isso? Você já reparou? Eu não sei qual dos dois. Eu tive uma sócia que era preta. E a gente trabalhava com cabelo. Ela fazia alisamento à chapinha muito bem. Não era só preta que ia ia lá, branca também. também. Porque tem branca que tem cabelo cabelo crespo. Mas iam aquelas aquelas pessoas bem pretas. E umas ficavam ficavam falando das outras. outras. Então, não
eram
nós,
elas
mesmas
ficavam
falando.
Elas
sada) Aí as moças iam ficavam fazendo gozação. ( Dá r i sad lá, aquelas bem pretas, preta com cabelão enorme e falavam: ‘Lucí, fui num salão e chegou umas negronas com o cabelo deste tamanho. A gente não pode nem olhar para elas.’ Tem medo de olhar. E quando saía, saía outra coisa. Aí a Lucí falou: ’Vocês mesmo ficam criticando’. Elas falaram que não podiam ir em tal lugar, que tinham medo de falar com as pessoas.”
( DALI LA – avó br anca) anca)
194
Por ém, ness ness es depo depoii ment ent os i nexi nexi st e a compr eensão eensão de de que que o neg negrr o, vi ven vendo
em uma
soci soci edad edade e
que que
l he
pr opor opor ci ona ona
si st emat i cament ent e
a
i nt er i or i zação zação da nega egat i vi dade do seu gr upo ét ni co, co, acab acabe e acei cei t ando, em det det er mi nado nadoss moment ent os, i ss o como ver dade dade..
195
CAPITULO V
5. 1. Fam Famí l i a, escol escol a e soci eda edade: a con const r ução ção da subm submi ssão e do si l ênci ênci o na soci soci al i zaçã zação o
“Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado se não for enfrentado.” 45
45
Fala de James Baldwin para o epitáfio de Martin Luther King Jr.
196
Nest e t r abal ho f or am anal i sados sados do doi s conj conj unt os de de dad dados, os, o qu que me possi bi l i t ou am ampl i ar
o co conheci ment o sob sobr e a con convi vên vênci a mul t i - ét ni ca
dur ant e a soci al i zação zação escol escol ar de cr i ança ançass de de quat r o a sei s ano anos. pr i nci pal
con conj unt o
de de
da dados
r ef er e- se
ao ao
pr pr ocesso cesso
de de
O
soci soci al i zaçã zação o
desen desenvo voll vi do no no espa espaço ço escol escol ar . O segun segundo do,, menos enos abr abr ang angent ent e, r ef er e- se ao pr ocesso cesso de de soci soci al i zaçã zação o no no i nt er i or do gr gr upo do domést i co. co.
Ao el abor ar o pr oj et o dest a pesqu squi sa, sa, f or am f or mul adas as s egui nt es i ndagaçõe ções : ( 1) O que si gni gni f i ca ser uma cr i ança ança neg negrr a ou ou br br anca anca na na soci edad edade e br asi l ei r a? ( 2)
Na r el ação ção com com os pr pr of essor ssor es o que a cr i ança pode
apr apr ender sobr sobr e si
pr ópr i a e sobr sobr e os out out r os à sua vol vol t a? ( 3) Qual
a
r el ação ção ent r e a apr endi zag zagem de pr econ concei cei t os, at i t udes di di scr i mi nat ór i as e a pr pr odu odução escol escol ar de ci dadão adãos? s? ( 4) Qual ual o t i po de de ci dadão adão que est est á send sendo f or mado ado nas nas escol escol as? ( 5)
Em que que medi edi da a soci al i zação zação pr pr omovi ovi da nas nas
escol escol as con cont r i bui par a a con const r ução ção de de um uma soci soci edad edade e de democr át i ca, ca, l i vr e de desi desi gual dades t ão gr gr i t ant ant es ent ent r e ne negr os e br anco ancos? s? ( 6)
Qual
a
cont cont r i bui bui ção da escol a par par a a const const r ução ução de de um uma soci edad edade e e de ci dadã dadãos os menos enos r aci st as? ( 7) Em que medi edi da a escol escol a est á pr epar epar ada ada par par a l i dar com a que quest st ão ét ét ni ca? ( 8) Em que que medi edi da a escol a est á f or mando ando ou conf conf or mando ando os i ndi ví duos à r eal i dade soci soci al ?; ( 9) Como a f amí l i a e a esco escoll a l i dam com a quest uest ão ét ni ca dur dur ant ant e o pr ocesso ocesso de de soci al i zação? zação? ( 10) Como o pr of essor pr é- escol ar at ua f r ent e a uma pop popu ul ação ção mul t i - ét ni ca? ca? ( 11) Como o pr of essor age age f r ent ent e a si t uações ações de pr eco econcei cei t o e di scr i mi nação ação ét ni cos cos ent r e as as cr i anças? ças? ( 12) Como as as cr i anças ças vi ven venci am as di f er enças ças ét ni cas? cas? ( 13) O espa espaço pr pr é- escol ar r epr epr esent sent a um uma po possi bi l i dade para para as cr i ança ançass convi convi ver ver em har har moni oni osam osament ent e e ent ent end ender em que as di f er enças enças ét ni cas não i mpl i cam cam desi gual dades? ades? possi bi l i dade
par a
as
( 14)
O
cri anças ças
espa espaço
pr é- escol escol ar
con const r uí r em uma
r epr epr esent sent a
vi são são
posi t i va
uma da
197
pl ur al i dade ét ni ca exi st ent e na sal sal a de aul a e, soci soci edade? ( 15)
post er i or ment e,
na
A r el ação ção pr pr of essor/ al uno f or nece sub subsí di os par par a a
f or mação ação da da i dent ent i dade dade posi posi t i va par par a t odas odas as as cr i anças anças per per t encen encentt es a uma mesma t ur ma escol ar ? ( 16) 16)
O que que r epr epr esent a ser
negr negr o ou br anco anco no
con cont ext o esco escoll ar ?
Depoi s
da da
pesqu squi sa
bi bl i ogr áf i ca
e
dos
pr pr i mei r os
l evant ament os t eór i cos, cos, f or mul ei , par a ef ef ei t o de dest a pe pesqu squi sa, sa, as seg segui nt es hi hi pót eses ses qu que, na mi nha opi ni ão, si nt et i zam zam as i ndagaçõe ções sup supr aci t adas: 1.
O
educad cador
da
pr é- escol a
br asi l ei r a
apr esent sent a
di f i cul dades ades par par a per ceber ceber os pr pr obl obl emas qu que podem odem apar ecer cer nas r el açõe ções ent ent r e cr i anças ças per per t encen cent es a di f er ent es gr gr upos ét ét ni cos. cos. 2.
Cr i anç as
em em i dade
pr é- es co col ar
já
i nt er i or i z am am
i déi as pr pr econ concei cei t uosas sas qu que i ncl uem a cor cor da pel e como el ement o def i ni dor de qual i dades pess pess oai s. 3.
O si l ênci o do pr of essor, ét ni cas, cas,
f aci l i t a
o
no que se ref er e às às di di f er enças ças
desen senvol vol vi ment o
do
pr econ concei cei t o
e
a
ocor cor r ênci a de di scr i mi naçã ação no espaço spaço escol ar.
Ao f i nal , est e t r abal ho r evel vel a- nos qu que, no que t ange ao espa spaço
escol scol ar ,
as
cr i anças ças
est est ão
t endo
i nf i ni t as
possi bi l i dades pa par a a i nt er i or i zação zação de com compor t ament os e at i t udes preco preconcei cei t uosas sas e di di scr i mi nat ór i as con cont r a os os neg negr os. Encon Encontt r amos na esc escol ol a ed educador cador es que que se di zem ( e se sen s entt em) com compr omi ssado ssados com o seu seu f azer
pr of i ssi onal ,
mas que que se
198
most r am cegos cegos pa par a as sua suas ações, ações,
pr i nci pal ment ent e,
quando
quest i onados sob sobr e as as r el açõe ções i nt er pessoai ssoai s est abel eci das no cot cot i di ano
da
pr é- escol scol a.
Par al el ament e,
nas
f amí l i as,
encont encont r amos adul adul t os e j ovens ovens pr epar epar ando ando s eus eus novos novos membr os par a a vi da soci soci al descon sconsi der ando o car car át er mul t i - ét ni co da popul ação ção,
o per t enci ment o a um gr upo espe specí f i co e,
mai s
ai nda, desconsi esconsi der and ando o r aci smo secul ar que ai nda i mper a na soci soci edade br asi l ei r a. O si l ênci o
que
at r avessa
os
con conf l i t os
ét ét ni cos cos
na na
soci edad edade e é o mesmo si l ênci ênci o qu que sust ent ent a o pr econ econcei t o e a di scr i mi nação ção no i nt er i or da escol scol a. De modo si l enci oso ocor cor r em si t uaçõe ções, no espa spaço escol ar , que podem i nf l uenci ar a soci soci al i zaçã zação o das cr i anças, ças, most r andol hes, i nf el i zment e, di f er ent es l ugar es pa par a pessoas ssoas br br ancas cas e negr as.
A escol a of er ece aos
opor t uni dades
di di f er ent es
al unos,
pa par a
r espe spei t ados
e
posi t i vam vament e
br as i l ei r a.
A
or i gem ét ni c a
se
br ancos cos sen sent i r em
par t i ci pant es c ondi c i ona
da da
e
ne negr os, acei cei t os,
soci edade
um t r at ament o
di f er enci ado na escol scol a. É
f l agr agr ant ant e
a
ausên ausênci ci a
de
qu quest i onam onament ent o
sobr sobr e
a
pr esen sença de cr i anças ças ne negr as no no cot cot i di ano escol scol ar . Esse f at o, al ém de
con conf i r mar
o
despr spr epar o
do
pr of essor
par a
se
r el aci onar com com el as, con conf i r ma, t ambém, seu seu desi nt er esse em em i ncl uí - l as, posi t i vament e, na vi da escol scol ar . Os pr pr of essor ssor es se
199
r el aci onam com com as cr i anças ças neg negr as di ar i ament e, mas não não sen sent em necessi dade de conh conhecer s uas espe especi ci f i ci dades ades e necess ecess i dades. ades. A exi st ênci a de pr econ concei cei t o e de di scr i mi nação ção ét ni cos, cos, dent r o da escol a, con conf er e à cr i ança negr a a i ncer cer t eza de ser acei acei t a po por
par t e dos dos pr pr of essor es.
Como f i cou demonst onst r ado ado
nest e t r abal ho, as cr i anças ças da da pr é- escol scol a, al ém de per ceb ceber em as
di di f er enças ças
ét ét ni cas, cas,
per ceb cebem t ambém as
di di f er enças ças
de de
t r at ament o de dest i nadas a el el as pel pel os adu adul t os à sua sua vo vol t a. Essa Ess a per per cepção cepção compel e a cr i ança ança neg negrr a à ver gonha onha de ser negr a. Conf er e- l he sua sua par t i ci pação ção em um gr upo “i nvi sí vel ” dent ent r o da escol a. Esse pr pr oced ocedi ment ent o pod pode e mi nar , aos aos pou poucos, a sua i dent ent i dade. ade. À cr i ança ança br br anca anca r est a a compr een eensão de sua sup super i or i dade
ét ni ca, ca,
i r r eal ,
e
o
ent endi ment o
da
i nf er i or i dade, t ambém i r r eal , dos i ndi ví duos ne negr os. Não
há
pr econ concei cei t o
c omo e
negar
a
que
o
di scr i mi nação ção
con const i t uem um pr obl ema que af et a em mai or vi st o
gr au a cr i ança negr a,
que
el a
cot i di anament ent e
sof sof r e maus
di r et a
e
t r at os,
agr essões ssões e i nj ust i ças ças qu que af et am a sua i nf ânci ânci a e com compr omet em t odo odo o
seu
Mesm es mo
desen esenvol vol vi ment ent o consi der ando ando
pr of ess or
os os
f ut ur o. at os
do
como i nconsci consci ent es em
200
r el ação ção às às cr i anças ças neg negr as, sua suas at i t udes
magoam
pr ovave vavell ment e,
a
e
mar cam cam,
cr i ança ança
pel a
vi da af or a. No espaço espaço escol ar há t oda oda uma l i nguagem agem nãoão- ver ver bal que, exp expr essa po por
mei o de de com compor t ament os soci ai s,
at i t udes e
di sposi sposi ções, ções, t r ansmi t e val val or es mar cadam cadament ent e pr econ econcei t uosos osos e di scr i mi nat ór i os, desf avor vor ecen cendo o con conheci ment o a r espe spei t o do do gr upo neg negrr o. Est a l i nguagem não- ver ver bal
só po pode ser ser cap capt ada no no seu seu
cot cot i di ano. Ou sej a, há na escol a uma l i nguagem que f al a pel o si l ênci o,
pel o ge gest o,
pel o co compor t ament o,
pel as at i t udes,
pel o t om de voz, voz, pel o t i po de t r at ament o, o papel e o l ugar guar dados ados ao negr egr o na na soci edad edade e ( Gonçal onçal ves, ves, 1985) . Pode- se
af i r mar
que
essa
l i nguagem con cont r i bui
par a
cond condi ci onar onar os neg negrr os ao f r acass acass o, à sub submi ss ão e ao medo, edo, vi st o que par t e das exp expe er i ênci ênci as vi vi vi das na na escol a é mar cada cada por humi l haçõe ções. Em r el ação ção a sua sua or i gem ét ni ca, ca, expe xper i ênci as soci soci ai s
po posi t i vas
são são
quase
i nexi st ent es,
i mpossi bi l i t a a con const r ução ção da aut o- est i ma. expe xper i ment a o desej o, el i mi nar ,
assi m,
a
i mposs í vel vel ,
cor cor
o
que
l hes
E essa cr cr i ança
de t or nar - se br br anca e
i ndesej sej ável ,
car car act er í st i ca mai s
per cept cept í vel vel que a l i ga a seu gr upo de per t enci enci ment o, o negr o.
201
É
di f í ci l ,
sen senão
i mpossí vel ,
ser ser
f el i z
co convi vendo
per manent e e si l enci osament e com com esse co conf l i t o. O r esul sul t ado pr ováv ovável el é que a cr i ança ança negr egr a sof r a sever sever ament ent e, convi convi ven vendo com com esse pr pr obl ema. t or na- se di f í ci l
Nesse con cont ext o,
con const r ui r
par a a cr i ança negr a
uma i dent i dade posi t i va.
Dessa
f or ma, par a a cr i ança neg negrr a só r est a dese desejj ar ser uma cóp cópi a da da cr i ança br anca, que é r espei espei t ada ada e r ecebi cebi da posi t i vam vament ent e no espa spaço escol scol ar . Si mul t anea aneam ment ent e, cri st al i zar zar
a
cr i ança ança
um sen sent i ment o
de
br br anca anca
é
sup super i or i dade,
l evad evada a vi st o
a
que,
di ar i ament e, r eceb cebe pr ovas vas f ar t as de dessa pr pr emi ssa. A escol a, ass i m, at ua na di f usão do pr econ concei cei t o e da di scr i mi nação ção. Tai s pr át i cas, cas , embor a não s e i ni ci em na escol es col a, cont am com o seu seu r ef or ço, ço, a par t i r das r el açõe ções di di ár i as, na di f usão são de val val or es, cr enças, ças, com compor t ament os e at i t udes de de host i l i dade em r el ação ção ao ao gr gr upo ne negr o. A cr i ança ne negr a nã não é desej ada em em sal a de de au aul a pe pel as pr of essor as e de demai s cr i anças. ças. Se há há esse esse de desej o, el e nã não é di zí vel
nem
per cep cept í vel .
pr of essor as f az ecl odi r
A
r ej ei ç ão
por
par t e
das
um sent sent i ment o qu que de desenvo senvoll ve uma
bai xa au aut o- est i ma e um aut o- con concei cei t o ne negat i vo. Assi m, t r adi ci onal
na
escol escol a,
o
da soci soci edade.
embor a nã não sej a acei acei t ável ável ,
pr pr of essor
r epr oduz
Como suj suj ei t o,
o
pa padr ão
é com compr eensí vel vel ,
mas não não como pr pr of i ss i onal onal
da
edu educação. cação. A escol a t em of er eci do um uma qu quant ant i dade mui t o í nf i ma
202
de
açõe ções
qu que
l evem vem a
en ent ender
a
acei cei t ação ção
po posi t i va e
val val or i zada zada da das cr i anças anças neg negrr as no seu seu cot i di ano, o qu que am ameaça eaça a con convi vên vênci a de cr i anças ças em pl eno pr ocesso cesso de de soci soci al i zaçã zação o. Tudo leva a crer que essas crianças têm recebido o mesmo tipo de socialização
que
receberam
seus
pais:
uma
socialização
fortemente
comprometida com a hegemonia branca da sociedade.
Ao se acha char di scr i mi nação ção,
i gual i t ár i a,
a
escol scol a
l i vr e do pr econ concei cei t o e da
t em per pet uado
desi gual dades
de de
t r at ament o e mi nado ef ef et i vas opo opor t uni dades i gual i t ár i as a t odas odas as cr i anças. anças. Sabem abemos não não ser t ar ef a ap apenas enas da ed educação cação a t r ans ans f or mação da soci edad edade. e. Mas esper amos que que el a acompanh panhe e as t r ansf or maçõe ções soci ai s e as mudanças ças hi hi st ór i cas. cas. No l ar , di ant e das pe pessoas ssoas pr pr óxi mas à f amí l i a, a cr i ança é
r espe spei t ada
nas
compor t ament ent o
não não
sua suas é
car car act er í st i cas cas
r ecr i mi nado
ét ni cas; cas;
nem nem el a
é
ví t i ma
seu seu de de
humi l hações ações const const ant ant es base basea adas em seu per t enci ment ent o ét ét ni co. No
l ar ,
sof r i ment o que,
o
si l ênci o sabe sabemos,
quer
acal cal ent ar ,
pr ot eger
vi r á ao seu encon encontt r o.
Ass i m,
do a
f amí l i a pr ot el a, por um t empo mai or , o co cont at o co com o r aci smo da soci edad edade e e com as dor dor es e per per das del del e decor r ent ent es. O si l ênci o das f amí l i as qu quer r et ar dar “por maior tempo possível o aparecimento do problema racial, que vai trazer sempre decepções e choques (...)” ( Bar bosa, 1987, p. 54) .
Se no l ar
as
cri anças ças
t êm as
sua suas
car car acterí st i cas cas
203
ét ni cas acei acei t as, e at at é mesmo val val or i zadas, zadas, na esc escol ol a o mesmo não ocor cor r e. Nel a as di di f er enças ças nã não são r espe spei t adas. O si l ênci o esco scol ar gr i t a i nf er i or i dade, despr spr ezo. zo.
No l ar
desr espe spei t o e
o si l ênci o “si l enci a” um um sen sent i ment o de
i mpot ênci ênci a f r ent ent e ao ao r aci smo da da soci edad edade e qu que se most r a host i l e f or t e. No l ar o si l ênci o “si l enci a” a di f i c ul dade que se t em em se f al ar sof sof r i ment o.
de sen sent i ment os
qu que r emet em ao
No l ar o si l ênci o “si l enci a” o despr spr epar o do
gr upo par par a o en enf r ent ent ament ent o do do pr pr obl obl ema,
vi st o qu que ess ess a
ger ação ção t ambém apr eendeu o si l ênci o e f oi a el el e con condi ci onada na sua sua soci soci al i zaçã zação o. O si l ênci o das f amí l i as br br ancas cas de decor cor r e t ambém desses mesmos aspe aspect ct os qu que i nf l uenci enci am as f amí l i as neg negrr as. Por Por ém, o si l ênci o nessas f amí l i as mar ca sua sua posi ção ção con conf or t ável vel di ant e do pr obl obl ema que di r et ament ent e não não as at i nge. ge. Na
escol escol a,
a
ver ver gonh onha
de de
hoj hoj e
somada ada
à
de de
on ont em e,
mui t o
pr ovavel ovavel ment ent e, à de de amanhã anhã l eva a cr i ança ança negr negr a a r epr epr esar suas emoções, oções, con cont er os seu seus gest gest os e f al as par par a, quem sabe, sabe, passar assar desape saper ceb cebi da nu num espaço espaço que que não não é o seu. A escol a, penso, penso,
r epr epr esent esent a um espaço espaço que que não não
per t ence, ce, de f at o, à cr i ança negr a. Poi Poi s nã não há seq sequer um i ndí ci o de i ncl usão são, exce xcet o a sua sua pr pr esen sença f í si ca. ca.
Na escol a, a cr i ança negr a é dest i t uí da de seus seus desej desej os e ne necessi cessi dades espe especí f i cos: cos: r econ conheci ment o da da sua sua exi exi st ênci a e acei acei t ação ação com como cr i ança ança neg negrr a,
desenvo esenvoll vi ment ent o da da au aut o-
est i ma de de um um i ndi ví duo pe per t encen encentt e ao ao gr gr upo neg negrr o, pr ovi ment ent o
204
de al t er nat i vas qu que l hes po possi bi l i t em um son sonhar com com f ut ur o di gno. Fut Fut ur o di di gno no no mundo dos dos ser s er es vi ven vent es e não não aqu aquel e que se pr opag opaga a t eol eol ogi ogi cament ent e: para “ para Deus é tudo igual, para Es t amos f al ando ando de de hom homens ens comuns uns , s er es Deus não existe cor”. Est vi vos vos e humanos em em pl ena vi vên vênci a e con convi vên vênci a di ár i a. Est amos f al ando ando do aqui e agora . Sabe Sabem mos que que o si l ênci ênci o na na escol scol a não é i sol sol ado. si l ênci o
qu que
s oci edad edade. e.
El e é um
pe per passa
Mas
não
t oda se
a
pod podem em
dei xar por con cont a de um si l ênci o cr i mi noso
cr i anças ças
sof sof r endo
di ar i ament e
si t uaçõe ações
que que
empur r am am
e
as
mant êm êm
as em
per per manen anentt e est ado ado de de excl usão da da vi da soci soci al per per manen anentt e pel os
e,
pi or
ai nda,
sent i ment ent o
t r at ament os
dest i nados.
I sso
em
de de
cul cul pa
a
el el as po por que,
at r i bui bui ndo a si mesma a caus caus a do do seu seu
sof sof r i ment o,
pr ecocem ecocement ent e
cr i ança
expr expr opr opr i ada ada
di r ei t o de r eagi r , se, se,
a
di f i ci l ment e
do
de i ndi gnar con conseg segui r á
( r e) si gni f i car car os aco acon nt eci ment os.
205
Tor na- s e di f í ci l não per gunt gunt ar por que que o pr of ess es s or s e omi t e di ant e do pr obl ema ét ni co que,
at ual ment e,
t em si do
di vul vul gado pe pel os mei os de de co comuni caçã cação o ( not i ci ár i os de j or nai s, r evi s t as as e l i vr os os ) . Como af af i r ma Gu Gut i er r ez: “A escola faz política não só pelo que diz, mas também pelo que cala, não só pelo que faz, mas também pelo que não faz. Calar o que deve ser proclamado aos quatro ventos é uma das formas políticas mais freqüentes entre os que têm “a faca e o queijo na mão” ( Gut i er r ez, 1988, p. 22) .
Si l enci enci ar di ant ant e dessa r eal eal i dade ade não apag apaga a magi agi cament ent e as di f er enças. ças. modo,
Por Por ém, per mi t e qu que cad cada um um con const r ua, a seu seu
um ent end endi ment o
a
r espei spei t o
do
out out r o
que
l he
é
di f er ent e. Est e en ent endi ment o, quando pa paut ado em em expe xper i ênci as vi vi das como as as que que f or am most r adas, ét ni ca e o pa papel possi bi l i t am,
con conf or ma a di vi são
a ser ser execu xecutt ado pe pel o i ndi ví duo.
desse
modo,
al t er nat i vas
ex exeqüí vei s
t r ansf or mação ção da r eal i dade. Par a Ri bei r o: “Papel relevante compete às escolas no sentido da re-incorporação da memória cultural humana, para que crianças e jovens das Américas possam (re)conhecer a participação dos povos africanos na história da humanidade e não sejam levados a crer
que
essa
história
tenha
sido
construída
apenas pela Europa, quando muito, auxiliada pelas Américas” ( Ri bei r o, 1996, p. 34) .
Gut i er r ez compl ement ent a:
Não se de de
206
“Se em alguma época a opção política do educador foi importante, hoje ela é mais importante do que nunca. Sem essa opção e esse compromisso será cada dia mais difícil a mudança social. Enfim, a opção
política
do
educador
(...)
será
a
mola
propulsora para a superação do quadro excludente apresentado
hoje
em
nosso
sistema
escolar”
( Gut i er r ez, 1988, p. 22) .
O si l ênci o
da
escol a
sobr sobr e
a
quest ão
ét ni ca
t em
per mi t i do que sej a ensi nada a t odas odas as as cr i anças um uma f al sa sup super i or i dade br anca poder oder .
em bel eza, za,
Par Par a as cr i anças anças ne negr as,
omi ss a qu quant ant o ao ao dev dever er
cul cul t ur a,
i nt el i gênci a e
a escol a t em- se most r ado
de r econ econhecêecê- l as posi posi t i vam vament ent e no no
cot cot i di ano escol scol ar , o que con concor cor r , si gni f i cat cat i vament e, par a o seu
af af ast ament ent o
i nvi abi l i za ampl i e
as as
do do
qu quadr adr o
a con const r ução ção opor t uni dades
ed educaci onal onal .
de de
um uma
escol escol a
edu educaci onai onai s,
Ess e
af af ast ament ent o
de democr át i ca, ca,
que
r e- el abor e
que um uma
vi são são cr í t i ca acer cer ca da soci soci edade, que possi bi l i t e a el evação ção cul cul t ur al e ci ent í f i ca das cam camadas po popul ar es ( Li bâneo, 1986) . “A
escola
cuja
concepção
e
organização
administrativo-pedagógica não leve em conta estas perspectivas, perspectivas, para a população negra, terá mais o papel de adestrar para determinados determinados papéis na sociedade do que para formar cidadãos. Trata-se de uma escola não democrática, pois não atende a
Si l va, diversidade sociocultural nela presente” ( Si 1997b, p. 50) .
O
i deal
ser i a
que
a
di scr i mi nação ção f osse di scut scut i da no espa spaço escol scol ar e f ami l i ar , dando à
cr i ança ança
o
con conheci heci ment ent o
do do
207
pr obl ema
e
def ender
del e.
cont cont at o
o
di r ei t o Por
de de
se
i sso, sso,
o
per per manen anentt e
pr of essor ssor es
e
ent ent r e
pai s,
com com
di scussõe scussõess a r espe spei t o do do t r abal ho pedag edagóg ógii co e da da qu quest ão ét ni ca, ser i a
um uma
f or ma
f avor avor ave avel ment ent e,
de de
ag agi r ,
par a mi ni mi zar o
pr obl obl ema no espaço espaço escol ar . “A
possibilidade
de
construir
uma
identidade
negra - tarefa eminentemente política – exige, como condição imprescindível, a contestação do modelo advindo das figuras primeiras – pais ou substitutos
–
que
lhe
ensinam
a
ser
uma
za, 1983, p. 77) . caricatura do branco” ( Souza,
Par Par ece- me qu que ne ness a si t uação o si l ênci ênci o col col oca cada cada um um no s eu devi devi do l ugar ugar . Domi nado nadorr e dom domi nado nado,, ambos bos s aben abendo do ( e r eal i zand zando) o seu papel apel , conf conf or mam as nor nor mas da soci eda edade, sem pr ovoca ovocarr qual quer al t er ação ou quest i onam onament o sobr sobr e os f at os. Da f or ma como se t em dado, o pr ocesso de de soci al i zação zação da nova ger ação cons cons t i t ui um obst obst ácul ácul o à mudan udança ça do do qua quadr dr o de de r aci smo na na soci soci edade br asi l ei r a. Mui t o há par a ser f ei t o a f i m de que os ne negr os t enham uma pa par t i ci pação ção mai s j ust a na na ed educaçã cação o, na po pol í t i ca e na econ economi a, par a desf r ut ar em da pl ena ena ci dadani a, nega egada a est e segm segment o soci al .
208
Uma f or ma mai s cor r et a de de pr pr epar epar ar a nova nova ger ger ação par par a a vi da soci soci al ser ser i a i nf or mar sob sobr e os at at uai s pr pr obl emas soci soci ai s pr edom edomi nant es nos nos di ver ver sos pa paí ses e, sobr sobr et udo, na soci edad edade e em que vi vem vem. Par a r ever ver t er a si t uação ção de de sof sof r i ment o a que pa par cel cel a si gni f i cat cat i va de cr i anças ças ne negr as ve vem sen sendo sub submet i da, f az- se necess cess ár i a e ur gent e a el abor ação ção de de al al t er nat i vas vas pedagógi cas cas que con concor cor r am, ef et i vam vament e, par a i ncl uí - l as po posi t i vam vament e no si st ema f or mal de ensi no, gar ant i ndo o di r ei t o con const i t uci onal à Educação cação pl ena, ena, públ i ca e de qual i dade. ade. Admi t o,
ao encer cer r ar
est e t r abal ho,
que,
di ant e do
pr econ concei cei t o e da di scr i mi nação ção pr omovi dos na nas i nst i t ui çõe ções escol scol ar es, não t enho r espo spost as pr ont as. Por Por ém, acr edi edi t o qu que não não se pode pode esper ar
que que esse ess e pr pr obl obl ema
sej a super super ado ado por por
si
mesmo.
O
r aci smo cul cul t i vad vado du dur ant e déca décad das r equ equer
pr ogr ogr amas
de de
i ncent cent i vo
j unt unt o às escol es col as, as , os quai quai s vi s em a
com combat bat er
cor cor r i gi r cau causada sadas
o
pr pr econcei econcei t o
as
e
a
de desi gual dades por por
pr át i cas cas
di scr scr i mi nat ór i as secu secull ar es.
209
Como
pr opos opos t a
exeqüí exeqüí vel
de
mudança udança
do
quadr quadr o
apr esent sent ado, apont o a i mpor t ânci a da da par t i ci pação ção de de pa pai s, mães e pr pr of ess or es par a o r econhe econheci ci ment ent o do do pr pr obl obl ema e de sua suas cau causas. sas.
É i mpr esci ndí vel
r econ conhecêcê- l o e i dent i f i cácá- l o
no espa spaço escol scol ar . E, post er i or ment e, el abor ar um t r abal ho que
pr omova ova
o
r espei espei t o
mút uo,
o
r espei espei t o
ao out out r o,
o
r econ conheci ment o das di di f er enças, ças, a possi bi l i dade de se f al ar sob sobr e as as di f er enças ças s em medo, r ecei cei o e sem pr econ concei cei t o. É necessá cessárr i o que o pr of essor ssor
se di di sci pl i ne a est ar
at ent o às às di nâmi cas cas i nt er pessoai ssoai s das cr i anças ças que o cer cer cam cam. Do cont cont r ár i o, o seu t r abal abal ho pode est ar concor concor r end endo par a a con const r ução ção de i ndi ví duos pr econ concei cei t uosos ap apenas por por f al t a de out r as po possi bi l i dades. Nesse cen cenár i o, convé convém m buscar manei r as de de t r ansf ansf or mar o cot cot i di ano esco escoll ar
-
a el el abor ação ção de de no novas at i vi dades e
compor t ament ent os por por par t e do do pr pr of essor - par a qu que, de f at o, a educaçã cação o sej a um f at or possi bi l i t ando
a
de desenvo senvoll vi ment o da ci dadani a,
di scuss scuss ão
da
r eal i dade
e
da
di nâmi ca
s oc oc i ai s . Se o acesso à educação cação r epr esen esent a um um di r ei t o de de t odos os ci dadãos,
é
con cont r adi t ór i o
o
espa spaço
escol scol ar
não
est ar
pr epar epar ado par a r eceber ceber cr i anças anças neg negrr as, ess enci al ment e em um paí s de de mai or i a negr a.
210
Por Por mai s que que se consi consi der e qu que o ensi ensi no pú públ i co at at ual est ej a
pa passan ssando
po por
di f i cul cul dades;
com como
ba bai xa
sal sal ar i al ,
f or mação ção i nsuf suf i ci ent e e númer o de de va vagas i nsuf suf i ci ent es, e qu que apr esent sent e
um uma
qu qual i dade
di di scut scut í vel vel ,
mesmo
assi assi m não
se
j ust i f i ca a i nexi s t ênci a de uma pol í t i ca públ públ i ca ef et i va par a o
desenvo senvoll vi ment o
sat i sf at ór i o
de
cr i anças ças
e
de
j oven vens
negr os. E par a gar ant ant i r a escol ar i zação e o empr ego ego às nov novas as ger açõe ções
ne negr as,
é
necessár cessár i o
que
haj a
sen sensi bi l i dade,
pr of i ssi onal i smo e vont ade pol í t i ca. ca. Di ant ant e
do do
em emar anha anhado do
r el açõe ções ét ni cas, cas,
de
cab cabe a nós,
pr obl obl emas
s ubj ubj acent acent es
às
f or mul ador es de de opi ni ão -
pr of essor es, educad cador es e pesqu squi sad sador es cr í t i cos cos - , pensar e l ut ar
por
pr át i cas cas qu que obj et i vem a i ncl usão são posi t i va de
cr i anças e de j oven vens neg negrr os na na est r ut ur a
educaci onal onal e de
empr ego. ego. Gonçal onçal ves ves ( 1985) acr edi edi t a qu que “ fazer falar o silêncio” no espa spaço escol ar é f undament al . Par Par a el e, a escol a: “(...)
ao
processar
a
quebra
do
silêncio de todos sobre a discriminação racial elaborará um importante conjunto de noções a respeito da escravidão negra, da libertação real dos negros, da ação policial
contra
o
cidadão
negro,
da
omissão da justiça nos casos de racismo e,
sem
dúvida,
do
analfabetismo
que
211
assola a comunidade negra, bem como do essencial à educação da criança negra”
( Gonçal çal ves, ves, 1985, p. 322) . Compr een eendo que há necess necessii dade ade de de se el abor abor ar em pr opost opost as que pr omovam vam a val val or i zação zação do negr egr o no espaço espaço escol escol ar , t ai s como a val or i zação zaç ão do magi agi s t ér i o como um uma f or ma i mpor por t ant ant e de de mel hor i a
do
ensi no.
Também é
necessár cessár i o
i nt r oduzi r
e
desen senvol vol ver encon cont r os, sem semi nár i os, cur cur sos sos de de espe speci al i zaçã zação o, di sci pl i nas e t emát i cas cas qu que anal i sem sem e di scut scut am o pr obl ema das r el açõe ções mul t i - ét ni cas cas no no Br asi l , par a os pr pr of i ssi onai s da ed educação cação, quer par a aq aquel es qu que est est ej am em f or mação ação, quer par a aquel es qu que est ej am no exer cí ci o pr of i ssi onal . Por ém, t odo o t r abal ho pr eci sa ser ser bem pl anej ado e t er con cont i nui dade, par a evi t ar que sej a i nt er r ompi do dur ant e seu desenr senr ol ar . Qual ual quer quer mudan dança, penso, enso, deve deve est ar paut aut ada ada na na i déi a de de que que é necess necessár ár i a e ur ur gent ent e a cons cons t r ução ução de de mecani ecani s mos par a uma edu educação cação r ever ever si va. va. É nece necess ss ár i a t oda a at enção par a evi evi t ar que aspe aspect ct os do do si st ema soci soci al sej sej am i nt r oduzi dos no no uni ver so escol scol ar sem sem um pensam sament o cr í t i co do dos pr of i ssi onai s da ed educaçã cação o. Só assi assi m ser á possí possí vel vel i magi nar a sup super ação dos el ement os de de excl excl usão dent ent r o do do espa espaço ço escol ar . Não há como r et i r ar de nossas nossas mãos ãos a ob obr i gação ação de de di di r eci onar onar um ol har mai s ampl o par par a o mundo e, e, assi m, per ceber ceber o qu quant ant o nó nós t ambém i nt er i or i zamos e ser ser vi mos a est a i deol ogi a r aci st a sem sem nos da dar mos con cont a.
212
Fi nal ment e, com compor t ament ent os
e
é
ne necessá cessárr i o
at i t udes
l evar var
cost cost umei r os
o
pr pr of essor
a
r ever ver
ao
t r abal har
com com popul ações ções
mar gi nal i zad zadas.
“(...) professora valores
e
é
indispensável
seja
esclarecida
seja
que nos
modificada,
necessário,
nos
seus
capacidade
de
aceitação
a seus
quando
comportamentos de
e
outras
maneiras de ser, de viver, de pensar, de educar, ou em outros tempos, de padrões culturais diferentes dos seus próprios”
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222
ANEXOS
223
ANEXO 1 Roteiro de observação para coleta de dados
224
Roteiro de observação para coleta de dados professor/aluno 1. Observação da relação professor/aluno no que diz respeito no
à:
1. 1. EXPRES EXPRESSÃ SÃO O VER VERBAL BAL Positivamente valorativa - elogiosa
Expl í ci t a/ di r et a: se o pr of essor ssor el ogi a a cr i ança por sua sua i nt el i gênci a, seu seu desen senvol vol vi ment o, sua sua est ét i ca ou pel o seu seu compor t ament o. ( est í mul os em em ger al ). I mpl í ci t a/ i ndi r et a: se o pr of essor ssor el ogi a o al uno par a a t ur ma ou par a out r os pr pr of essor es. Aqui são são i ncl uí das f al as posi t i vas a r espe spei t o da f amí l i a, da cu cul t ur a ou ou do gr gr upo ét ni co ao qual per t ence a cr i ança. ça. Negativamente valorativa - depreciativa
Expl í ci t a/ di r et a: se o pr of essor ssor depr eci a a i nt el i gênci a do al uno, seu desenvo senvoll vi ment o, sua sua est ét i ca, ca, ou seu com compor t ament o. I ncl ui a f al a negat i va a r espe spei t o da cul cul t ur a, da f amí l i a e do gr upo ét ni co. co. I mpl í ci t a/ i ndi r et a: se o pr of essor ssor f az com coment ár i os depr eci at i vos, que podem at é ser ser i r ôni cos, cos, a t er cei cei r os. Podem r ef er i r - se a um úni co i ndi ví duo, sob sobr e sua sua cul cul t ur a ou sob sobr e o gr upo ét ét ni co. co. 1. 2 PRÁTI PRÁTI CA NÃO VERB ERBAL: ssor pr opõe con cont at o f í si co ao al uno, Aproximação: se o pr of essor at r avés vés de abr abr aço, aço, bei j o, car i nho ou ou ol har e compor t ament o que evi denci e af ei ção ção. ssor evi t a o con cont at o f í si co. co. Afastamento: se o pr of essor ção com com o al uno o pr of essor ssor acei cei t a Aceitação: se na r el ação con cont at o f í si co at r avés de de abr aço, ço, bei j o, car car i nho ou ol har e compor t ament ent o qu que evi evi denci enci e af et o.
225
ssor r ej ei t a o con cont at o f í si co pr opost o Rejeição: se o pr of essor pel a cr i ança. ça. 1. 3 PRÁ PRÁTI CA PEDA PEDAGÓGI CA: pr of ess or apr esent sent a du dur ant e a aul aul a el el ement os Positiva: se o pr sobr sobr e a var var i edade dos gr gr upos ét ét ni cos no no Br asi l por mei o de de car car t azes, zes, l i vr os, r evi st as, desen senhos ou de out r o mei o qual quer . pr of ess or apr apr esen esent a os os el ement ent os sobr sobr e a Negativa: se o pr var var i edade ét ni ca de f or ma pr econ concei cei t uosa em seu mat er i al di dát i c o. do pr pr of essor si mpl esment e Invisível: se o mat er i al di dát i co do não f az menção enção à var var i edade ét ni ca do Br asi l . 2. Observação da relação
aluno/aluno no no que diz respeito a:
2. 1 EXPRES EXPRESSÃ SÃO O VERBA ERBAL: L: Positivamente valorativa - elogiosa
Expl i ci t a/ di r et a: se uma cr i ança el ogi a out r a a r espe spei t o de sua sua i nt el i gênci a, seu seu desen senvol vi ment o, sua sua est ét i ca ou seu seu compor t ament o. I mpl í ci t a/ i ndi r et a: se um uma cr cr i ança el ogi a ou out r a pa par a a t ur ma ou par a o pr of essor ssor . Aqui se i ncl uem f al as po posi t i vas a r espe spei t o da f amí l i a, da cul cul t ur a ou do gr upo ét ni co. co. Negativamente valorativa - depreciativa
Expl í ci t a/ di r et a: se uma cr i ança depr eci a out r a no que di z r espe spei t o a sua sua i nt el i gênci a, seu seu desen senvol vi ment o, sua sua est ét i ca ou seu com compor t ament o. São i ncl uí das aqu aqui as f al as negat i vas a r espe spei t o do i ndi ví duo, da f amí l i a, da cul cul t ur a e do gr upo ét ni co. co. I mpl í ci t a/ i ndi r et a: se uma cr i ança f az com coment ár i os depr eci at i vos, que podem ser ser i r ôni cos, cos, a t er cei cei r os. I ncl uem-
226
se aqui f al as ne negat i vas a r espe spei t o da f amí l i a, da cul cul t ur a e do gr upo ét ni co. co. 2. 2 PRÁTI PRÁTI CA NÃO VERB ERBAL: de con cont at o f í si co, co, com como abr aço, ço, bei j o, Aproximação: at r avés de car i nho ou ou ol har e com compor t ament ent o qu que evi evi denci em af ei ção. ção. cont at o f í si co pr opost o por Afastamento: se a cr i ança evi t a o con out r a cr cr i ança. ça. cebe posi t i vam vament e o con cont at o f í si co Aceitação: se a cr i ança r eceb pr opost o por out r a cr i ança. ça. cont at o f í si co pr opost o por Rejeição: se a cr i ança r ej ei t a o con out r a cr cr i ança. ça. 3. Observação da relação aluno/professor no que diz respeito no à:
3. 1 EXPRES EXPRESSÃ SÃO O VERBA ERBAL: L: Positivamente valorativa - elogiosa
Expl í ci t a/ di r et a: se o al uno el ogi a a i nt el i gênci a, a est ét i ca e o com compor t ament ent o do do pr pr of ess or . I mpl í ci t a/ i ndi r et a: se o al uno t ece al gum el ogi o par a o gr upo a r espe spei t o do pr of essor . Negativamente valorativa - depreciativa
Expl í ci t a/ di r et a: se o al uno depr eci a a i nt el i gênci a, o desenvo senvoll vi ment ent o, a est ét i ca, o compor t ament ent o do pr of ess or . I mpl í ci t a/ i ndi r et a: se o al al uno f az com coment ár i os de depr eci at i vos a t er cei cei r os a resp respei t o do pr of essor ssor . 3. 2 PRÁTI PRÁTI CA NÃO VERB ERBAL: cont at o f í si co di r i gi do ao pr of essor ssor ; abr aço, ço, Aproximação - con bei j o, car i nho, ou ol har e compor t ament o evi evi denci ando af ei ção ção.
227
quando o al uno evi t a con cont at o f í si co pr opost o Afastamento - qu pel o pr of essor ssor ; ausên sênci a de con cont at o f í si co: co: abr aço, ço, bei j o, car i nho, ou ol har e com compor t ament ent o evi evi denci and ando f al t a de de si mpat i a. na r el ação ção com com o pr of essor o al uno r eceb cebe Aceitação - se na posi t i vament e o con cont at o f í si co pr opost o: abr aço, ço, bei j o, car i nho ou ou ol ol har e compor t ament ent o evi evi denci enci and ando em empat i a. ção com com o pr of essor o al uno evi t a o Rejeição - se na r el ação con cont at o f í si co pr opost o: abr aço, ço, bei j o, car car i nho ou ol har e compor t ament ent o evi evi denci enci and ando r ej ei ção. ção.
228
ANEXO 2
Planta da escola
PLANTA DA ESCOLA ( não há espa espaço ço no no di di sket sket t e)
RUA
DE ACESSO
ccxxx
ANEXO 3
Roteiro da entrevista com os diretores, professores e técnicos da escola
ccxxxi
Roteiro
da
entrevista
com
os
diretores,
professores
e
técnicos da escola
Sexo: xo: __ __ __ Fun Função ção: __ __ __ __ __ __ _ Tem Tempo de exp expe er i ênci a pr of i ssi ss i onal : _____________ _______ ___________ _____ Tempo de exper i ênci a na pr éesco scol a: ________________________ 1. Qual ual a sua f or mação? 2. Como você você conceb concebe e o t r abal abal ho escol ar ? 3. Como vo você de descr ever ver i a as as r el açõe ções i nt er pessoai ssoai s da cr i ança nessa esco escoll a? ( r el ação ção cr cr i ançaça- cr i ança, ça, cri ançaça- adul t o) 4. Exi st e pr eocu eocup pação ação em desen esenvol vol ver ver o r espei espei t o mút uo? ( ent ent r e meni eni no e meni eni na, ent ent r e os os sexos, sexos, di f er enças enças econ econômi cas, ét ni cas cas et c. ) Como você l i da com com i sso? sso? Tem al gum t r abal ho espe specí f i co? co? 5. Quai s são os os conf conf l i t os ou t ensões sões mai s f r eqüent es ent ent r e as as cr i anças? anças? Você pod pode e descr descr ever ever um? 6. Quai s s ão os pr pr econ econcei t os mai s mani ani f est os Nor mal ment ent e, quai quai s s ão os que que apa aparr ecem mai s ?
na na
escol escol a?
7. Nest a f ai xa et ár i a, a cri ança j á mani f est a al gum t i po de de i nt er i or i zaçã zação o sob sobr e as as di di f er enças ças ét ni cas? cas? 8. Como você acha acha que que el as desenvol desenvol ver am essa ess a per per cepção? cepção?
ccxxxii
9. Como es es se conheci conheci ment ent o i nt er pessoa ssoai s das das cr i anças? ças?
pod pode e
af af et ar
as
r el ações ações
10. 10. A par t i r de qu qual i dade ade a cr i ança ança com começa a f or mar esse t i po de de conh conheci ment ent o? 11. 11. Você acr edi edi t a que at i t udes pr pr econ econcei t uosas osas e ou di scr i mi nat ór i as est est ej am per meando a r el ação ção de seu seus al unos? Por quê? 12. 12. Descr esc r eva um uma si t uação uação na na qua quall t enha enha pr esenci ado ado um uma at i t ude de de pr pr econ econcei t o e ou di scr i mi nação ação ét ét ni cos de de um uma cr i ança em em r el ação ção a out r a? Co Como vo você se sen sent i u? Qu Qual f oi a sua r eação? eação? 13. 13. A par t i r de qu qual i dade a cr i ança de dever ver i a r eceb ceber al guma i nf or mação ção sob sobr e as as di di f er enças ças ét ni cas? cas? Qu Quem def er i a f or necece- l a? 14. 14. Você j á r eceb ecebeu al gum guma r ecl amação ação de de pai pai s s obr obr e at at i t udes de di di scr i mi nação ção ét ét ni ca co cont r a seu seus f i l hos? Com Como oco ocorr r eu? Qual ual a sua r eação? eação? 15. 15.
Como a esc escol ol a l i da com essas r ecl amações? ações?
16. 16. Você concor concor da que o pr of essor est ej a pr epar epar ado ado par a t r abal har com com uma popul ação ção mul t i - ét ni ca? ca? E par a enf r ent ar os con conf l i t os ét ét ni cos? cos? 17. 17. Você j á l eu al gum l i vro sob sobr e r el açõe ções ét ét ni cas? cas? Qu Qual o t í t ul o do do l i vr o que você você l eu? eu? O que você você achou achou??
ccxxxiii
18. 18. Como você você quest ão? ão?
pen pensa sa
qu que
a
escol escol a
dev deva a
l i dar
com essa
ANEXO 4
Roteiro das entrevistas com os familiares das crianças
ccxxxiv
Roteiro das entrevistas com os familiares das crianças
1. O que você você acha cha da escol a de seu f i l ho?
( boa, r egul ar , r ui m)
2. Como você você é at at end endi do pe pel a di di r et or a e pel as pr pr of essor as da da escol scol a? 3. Quand uando o e em em que que caso você pr pr ocur ocur a a esc escol ol a? Com Como é r ecebi ecebi do nessas ocasi ocasi ões? ões? 4. Você já encami nhou nhou al gum guma r ecl amação par par a a pr of essor as/ di r eção? eção? Qu Qual f oi a r ecl amação? ação? E o encam encami nhament ent o dado ado a el el a? 5. Você acha que que a escol esc ol a t r at a da mesma manei anei r a t odas odas as cr i ança? ança? Há Há di di f er ença de de t r at ament ent os em em f unção de ser ser meni eni no ou meni eni na, pobr obr e ou ou r i co, br anco, anco, j apo aponês ou negr egr o? 6. Você acha cha qu que i sso é nat ur al ou pr ej udi ci al à cr cr i ança? ça? 7. Você acha cha que o pr of essor l i da com com as di di f er enças ças ét ét ni cas cas de de uma f or ma cor r et a? 8. Você acha cha que seu f i l ho j á sof sof r eu com com pr obl emas de de di scr i mi nação ação ou ou pr econ econcei t o ét ét ni cos? Com Como você você pôde ôde per per ceber ceber i sso? sso? 9. Você se sen sent e cap capaz de de con conver ver sar com com seu f i l ho sobr sobr e as di f er enças ças ét ni cas? cas? E com com a pr of essor a? Vo Vocês cês j á con conver ver sar sar am sob sobr e i sso? sso? 10. 10.
A par t i r de qu qual i dade ade um uma cr i ança ança dev dever er i a r eceb eceber al guma
ccxxxv
i nf or maçã ação sobr sobr e as di di f er enças ças ét ét ni cas? cas? 11. 11. A quem cab caber i a t r ansmi t i r essas essas i nf or maçõe ções? 12. 12. Você al gum guma vez encam encami nhou nhou r ecl amação sobr e ess a quest quest ão à pr of essor ssor a de de seu seu f i l ho? Em Em qual si t uação ção oco ocorr r eu? Qu Qual a at i t ude da pr of essor a?
ccxxxvi
ANEXO 5
Rot ei r o das en ent r evi st as com com as cr i anças ças
ccxxxvii
Rot ei r o da das ent ent r evi st as com com as cr i anças ças
Sexo: ______c ______ c l assi ss i f i c aç ão- cor cor : __________ ______ ____ ní ní vel : __________ _______ ___ 1. Você gost gost a da da sua escol escol a? 2. Você gost a da da sua pr of essor a? Por Por quê? uê? 3. Você t em mui t os am ami gos na na escol a?
De quai s você mai s gost gost a?
4. Tem al gum guma cr i ança que que você não gost e? Por quê? quê? 5. Di ga o nom nome de de um uma cr i ança ança que que você gost gost e de de sent ar ao l ado del a? Por Por quê? 6. Di ga o nom nome de um uma cr i ança ança que você você não gost gost e de se s ent ent ar ao l ado ado del del a? Por quê? Com Como é ess ess a cr i ança? ança? 7. Como você é? é? Qua Quall a cor da s ua pel pel e? Você Você gost gost a de de ser ass i m? Você gost ar i a de de ser di f er ent ent e? Com Como ser ser i a? Por Por quê? 8. Di ga o nom nome de de um uma cr i ança ança que que a pr pr of essor ess or a gost gost e? Por quê quê você acha acha que que a pr of essor ess or a gost gost a dess dessa a cr i ança? ança? Com Como é essa ess a cr i ança? ça? 9. Como é a cor de seus seus pai pai s? di f er ent ent es? Como e Por Por quê?
Você gost ar i a
que f ossem
10. 10. Al guma cr i ança ança da da escol a j á xi ngou você? você? Por que xi ngou? ou? O que que você você achou achou di ss o? 11. 11. Al guma cr i ança ança da da escol escol a não não gost a de de br br i ncar com você você ?
ccxxxviii
Por qual qual mot i vo?
O que que você acha acha di ss o?
12. 12. Al guma cr i ança ança j á f al ou al guma coi coi sa en engr açad açada sobr sobr e você você?? Por quê el a t e di sse i sso? sso? 13. 13. Al guma cr i ança ança j á f al ou al guma coi coi sa en engr açad açada E em r el ação ação a sua cor ? O que que você você achou achou di ss o? 14. 14. Você co cont ou sobr sobr e i sso ao aos s eus pai pai s, ou à pr pr of essor a? Por Por que? que? O que el es f al ar am? 15. 15. A pr of essor a f al a sob sobr e ser ser negr egr o, br anco anco ou ou j apo aponês? O que el a f al a? O que você você acha acha di di sso? ss o? 16. 16. A sua f amí l i a con conver ver sa sobr e ess ess e ass ass unt o? O que você vocêss f al am? Vo Você gost a de f al ar sobr sobr e i sso?
ccxxxix
ANEXO 6 Perfil das profissionais da pré-escola
ccxl
Perfil das profissionais da pré-escola
Par a f aci l i t ar
a i dent i f i caçã cação o das pe pessoa ssoas,
apr esen sent ar ei
um quadr o
f or necen cendo o per f i l das pr pr of i ssi onai s da da pr é- escol scol a.
COR
FORMAÇÃO ESCOLAR
Amál i a
br anca
Psi col col ogi a/ peda pedago gogi gi a
Pr of essor a
14 anos anos
Ana
br anca anca
Pedag Pedagog ogii a
Pr of essor ess or a
28 anos anos
Br una
negr a
Psi col col ogi a
Pr of essor a
14 anos
Cl ar a
br anca anca
Ped Pedagog agogii a
Vi cedi r et or a
19 anos
Dal va
br anca anca
Ar t es e Pedag Pedagog ogii a
Coor dena denado dorr a peda pedagó gógi gi ca
18 anos
I dal i na
br anca
Ar t es/ Pedag Pedagog ogii a
Pr of essor a
14 anos anos
I von vonet e
negr egr a
1o gr au compl et o
Auxi l i ar de l i mpeza
07 anos
Magal agal i
br anca anca
Ped Pedagog agogii a
Di r et or a
25 anos anos
Mar l i
br anca
2a sér sér i e pr i már i a
Auxi l i ar de l i mpeza
08 anos
Sôni ôni a
br anca anca
Ped Pedagog agogii a
Pr of essor a
22 anos anos
Teodór Teodór a
Br anca
Ped Pedagog agogii a
Pr of essor essor a
11 anos
NOME
Cont at o: E- mai l –
[email protected]
ATUAÇÃO TEMPO DE PRO PROFI SSI ONAL ATUAÇ ATUAÇÃO ÃO EM PRÉESCOLA