Transversalidades otografa sem ronteiras Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança
Transversalidades otografa sem ronteiras
fcha técnica
Transversalidades otografa sem ronteiras Título
Transversalidades – otografa sem ronteiras
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Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança
Coordenação
Rui Jacinto Coordenação otográfca
Monteiro Gil Textos
António Pedro Pita | Claudino Ferreira | Henrique Cayatte | Lorenzo López Trigal | Lúcio Cunha Maria Encarnação Sposito | Messias Modesto dos Passos | Rui Jacinto | Valentín Cabero Victorino García Calderón Produção
Alexandra Isidro Revisão
Ana Margarida Proença Apoio Técnico
Arménio Bernardo
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Alexandra Cunha
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Design | produção | pré-impressão
Via Coloris, Design de Comunicação, lda. Impressão | acabamento
Peres - Soctip, Indusrias gráfcas, SA Tiragem
1000 ex. Depósito legal
335972/11 ISBN
978-989-96411-5-0 Edição
Centro de Estudos Ibéricos R. Soeiro Viegas, 8 6300-758 Guarda www.cei.pt
Sofa Martins
Transversalidades otografa sem ronteiras
Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança
índice
Transversalidades otografa sem ronteiras Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança 1.
Transversalidades: imagem, coesão, cooperação Portolio Fotografa Sem Fronteiras: ler as diversidades, interpretar as mudanças, combater as desigualdades
7 8 14
Rui Jacinto
O interior da imagem
19
Henrique Cayatte
La Raya, entre el abandono y el atractivo otográfco
22
Victorino García Calderón
2. Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança 25 2.1. Paisagens e recursos naturais Fotografas premiadas O Ser Humano e a Natureza
25 26 33
Lúcio Cunha
Fotografas selecionadas 2.2. Cidade e actividades urbanas e industriais Fotografas premiadas Olhares transversais: a cidade entre a imagem e a palav ra
36 49 50 56
Claudino Ferreira
Fotografas selecionadas
60
2.3. Património material e intangível Fotografas premiadas Figuras de Mundo
69 70 77
António Pedro Pita
Fotografas selecionadas 2.4. Modos de vida e desenvolvimento sustentável Fotografas premiadas Una mirada transversal comprometida con la vida y con el territorio
80 91 92 99
Valentín Cabero
Fotografas selecionadas 2.5. Espaços de ronteira Fotografas premiadas Espacios de rontera y la Raya Ibérica
102 115 116 121
Lorenzo López Trigal
Fotografas selecionadas
125
3. Diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil
129
3.1. Paisagens de ronteira e do desenvolvimento Espaços rurais, espaços de ronteiras, modos de vida, desenvolvimento sustentável
129 130
Messias Modesto dos Passos
Fotografas selecionadas 3.2. Cidade, actividades e patrimónios Como uma transversal do tempo e do espaço
137 145 146
Maria Encarnação Beltrão Sposito
Fotografas selecionadas Legendas das otografas
148 154
Transversalidades
imagem, coesão, cooperação
Transversalidades I otografa sem ronteiras
Portolio Alredo Cunha , Portugal
Rapa das Bestas *(1) La Guardia (Espanha), 2007 Rapa das Bestas *(2) La Guardia, Espanha, 2007
transversalidades: imagem, coesão, cooperação
Rapa das Bestas *(3) La Guardia, Espanha, 2007
9
Transversalidades I otografa sem ronteiras
Portolio Alredo Cunha , Portugal
Gerês *(4) Cunhas Gerês (Portugal), 2006 Serra da Estrela *(5) Linhares da Beira (Portugal), 2007
transversalidades: imagem, coesão, cooperação
Tourém *(6) Tourém (Portugal), 2007
11
Transversalidades I otografa sem ronteiras
Portolio Alredo Cunha , Portugal
Pesca *(7) Viana do Castelo (Portugal), 2005 Pesca *(8) Viana do Castelo (Portugal), 2005
transversalidades: imagem, coesão, cooperação
Pesca *(9) Viana do Castelo (Portugal), 2005
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Fotografa Sem Fronteiras: ler as diversidades, interpretar as mudanças, combater as desigualdades Rui Jacinto
As paisagens naturais e humanas a que nos omos aeiçoando não fcaram imunes à sucessão de acontecimentos que culminaram na crise que estamos a atravessar, responsável pelos novos mapas, de contornos ainda indefnidos, que estão a redesenhar as emergentes geografas locais, regionais e globais. Duas décadas de apregoada globalização aceleraram as mudanças económicas, sociais, culturais e políticas, comprimiram o tempo, desregularam os rágeis equilíbrios ambientais, alimentares, energéticos e fnanceiros que colocaram a generalidade dos territórios à mercê de voracidades predadoras e pouco éticas, expondo-os a incertezas, precariedades e angústias insuportavelmente pesadas e injustas. As tensões conituantes entre tradição e modernidade, arcaísmo e inovação, continuidade e mudança, inerentes aos actuais processos de reestruturação económica, social e territorial, proporcionam imagens representativas de enómenos novos que podem ser captados nas mais populosas metrópoles, nos espaços mais despovoados, recônditos e remotos, ou nas mais longínquas e proundas regiões de ronteira. A imagem adquiriu, por outro lado, enorme centralidade nas sociedades contemporâneas, tornou-se decisiva para ler o mundo e interpretar as mudanças nele estão a operar,por actos que acabaram porem condenar vastas se áreas do globo à exclusão essa orma que efcaz de se marginalização, ausência de imagens, que os média especializaram. Diundirvisual, otografas que evidenciem a diversidade de um mundo em mutação, que mostrem as desigualdades, as dierenças e as clivagens que conduzem à exclusão de populações e de lugares não deixa de contribuir para a reconstrução dos mapas mentais onde se pode alicerçar uma nova cultura territorial e uma geografa mais responsável e inclusiva de pessoas e territórios. Tentando superar o conceito para onde o termo nos remete, Transversalidades não se limita à simples compilação de material para alimentar um banco de imagens sobre as transormações em curso, usa-as como “cada amília constrói, através da otografa, uma crónica de si mesma, uma série portátil de imagens que testemunha a sua coesão”. Não existe, pois, a preocupação exclusiva de recordar através das imagens, mas “ restabelecer simbolicamente a precária continuidade e o progressivo desaparecimento da vida amiliar” e, assim, assegurar “a presença simbólica dos parentes dispersos”, valores que conerem à otografa tanto “a posse imaginária de um passado irreal ” como “ajudam a dominar o espaço em que as pessoas se sentem inseguras.” 1
transversalidades: imagem, coesão, cooperação
O Centro de Estudos Ibéricos (CEI) procura superar, através deste projecto, o seu âmbito de actuação mais imediato, confnado à Raia portuguesa e espanhola, alargando este espaço a países de outros continentes onde perduram marcas da presença ibérica. Sem perder de vista o compromisso histórico que mantém com os territórios de baixa densidade, periéricos e de ronteira, a viagem protagonizada por este projecto leva-nos a contactar realidades naturais e humanas dispersas por dierentes contextos geográfcos, outra maneira de promover o diálogo entre Territórios, Sociedades e Culturas e, assim, esbater tantas e tão artifciosas ronteiras. Com este pano de undo e tendo presente as contradições, complexidades e perplexidades do momento que vivemos, Transversalidades oi concebido com base em múltiplos propósitos: fxar dierentes sinais que emanam das actuais dinâmicas sócio-territoriais, utilizar a otografa para denunciar e combater a exclusão, recorrer à imagem para incentivar o diálogo e a cooperação territorial. O projecto assentou nos seguintes objectivos específcos:
– – –
aproveitar o valor documental, pedagógico e estético da imagem para promover a inclusão dos territórios menos visíveis, inventariar recursos, valorizar paisagens, culturas e patrimónios; promover a cooperação entre pessoas, instituições e territórios, de aquém e além ronteiras, omentar a troca de experiências e de conhecimentos entre espaços unidos pela matriz ibérica comum, espalhados por dierentes países de vários continentes; ormar novos públicos e usar as novas tecnologias de comunicação como meio privilegiado de comunicar, tendo como oco os jovens estudantes universitário s e o alargamento da rede internacional de investigadores que se vai organizando a partir do CEI.
O mapa não é o território como a imagem não é, também, a coisa que retrata. Esta evidência, que nos obriga reconhecer que a otografa não é testemunha absoluta de nada, não nos impede constatar que o conhecimento ainda se constrói, em boa medida, a partir de imagens, porque “ muitos são os objectos, os processos, os enómenos, os lugares, os rostos aos quais só elas permitem o acesso”2. Estamos submersos em imagens, oriundas de muitas ontes e das mais variadas proveniências, ruto da simplifcação e da democratização do acesso à otografa e da evolução técnica, industrial e artística que massifcou a respectiva produção e diusão. Omnipresente, a otografa é substituída a cada instante por outra otografa, tornou-se num divertimento banal e numa orma de arte de massas que invadiu os espaços públicos e a esera privada. Ninguém contesta, apesar desta expansão, que a otografa, sob múltiplos aspectos, se afrmou “como uma orma de expressão, de inormação e de comunicação total, essencial e específca”, um importante “testemunho artístico ou jornalístico sobre o mundo” 3. Ao retratar pessoas e lugares que acaba por impor ou iconizar, a otografa veicula mensagens, inuencia comportamentos, molda a visão do mundo, concorre para impor a ditadura da imagem que, hoje, nos esmaga. A otografa não é, como nunca oi, uma produção simples, inocente, casual ou mecânica 15
Transversalidades I otografa sem ronteiras
de imagens, nem, “como muitos pensaram durante muito tempo, uma simples reprodução da “natureza”, do mundo que nos rodeia, mas antes uma linguagem relativamente estruturada nas suas ormas e signifcados, e “trabalhada” por uma história que se oi progressivamente enriquecendo ” 4. Sendo a otografa uma linguagem, o otógrao é um autor que, segundo alguns, devia chamar-se imaginógrao, porque estes profssionais são caçadores de ascínios, manejam o poder mágico da imagem, possuem o condão de “desocultar os múltiplos sentimentos do acontecido, libertar o tudo que poderia ter sido naquilo que simplesmente oi ” 1. As imagens submetidas a este concurso carregam a sua história, transportam uma mensagem, encerram uma estética e um discurso resultantes dum olhar, pessoal e intransmissível, próprio de cada autor, pois “o que não se ensina (o que não quer dizer que não se aprenda) é a ver. E é bom que assim seja. Se todos tivéssemos o olhar do Cartier-Bresson, todos otograaríamos como ele, o que, além de monótono, seria triste. A aprendizagem do olhar az-se só. Não serve adoptar o olhar dum mestre senão para tentar ir mais longe do que ele ou, por rebeldia, azer o que ele não ez. ” 5 As imagens utilizadas no catálogo têm várias proveniências, resultam de múltiplos olhares, oram captadas com intuitos profssionais, por otógraos, jornalistas ou cientistas de várias matizes, por estudantes e cidadãos comuns que recorrem a este meio de comunicação para transmitirem emoções, preservarem memórias ou, simplesmente, coleccionarem otografas que arquivam num sempre incompleto álbum pessoal. A visão do mundo que acultam está condicionada pelos termos de reerência que deram o mote e estruturaram o concurso, seja o tema geral ou os cinco temas específcos 6. A inormação disponível sobre os concorrentes (271) e as imagens submetidas a concurso (1592) permite evidenciar os aspectos relevantes quanto ao perfl dos candidatos e à geografa que está implícita às otografas candidatas:
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os concorrentes são predominantemente jovens e o género eminino tem uma expressiva representação. Os concorrentes com menos de 25 anos representam 29% do total (78) e os do escalão entre 25 e 35 anos atingem 39% (100); isto é, 66% dos candidatos têm menos de 35 anos. As mulheres protagonizam 44% das candidaturas, sendo maioritárias entre o grupo mais jovem (representam 66% no escalão com menos de 25 anos) e entre os estudantes (65%); as categorias socioprofssionais mais representadas são a dos estudantes (com 88 candidaturas, isto é, 32% do total), dos licenciados (71, 26% do total), dos otógraos/ jornalistas (22, 8%) e dos arquitectos/ designers/ artistas plásticos (22, cerca de 8%); os temas mais procurados oram: 1. Paisagens naturais e espaços rurais (37% do total das imagens oram candidatas a este tema), 3. Património material e intangível (23%), 4. Modos de vida, condições sociais (20%), 2. Cidade e actividades urbanas e industriais (15%) e 5. Espaços de ronteira (4%); houve um número signifcativo de candidatos brasileiros (49, 18% do total), além de portugueses (206,
transversalidades: imagem, coesão, cooperação
76%) e espanhóis (7, cerca de 3%). A srcem dos concorrentes portugueses segue o padrão das dicotomias e polarizações que caracterizam o território português, se exceptuarmos o elevado número de candidatos da área da Guarda (14%) predominando a concentração de candidatos no litoral e nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto (32%);
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merece ainda uma reerência particular o acto dos locais onde oram realizadas asotografas não coincidirem com os das residências dos concorrentes. Os locais onde oram captadas as otografas apresentadas a concurso, denunciam países que estiveram na rota de viagens marcantes para os concorrentes (Árica, Ásia ou América Central e do Sul) ou concelhos de Portugal onde se deslocaram por motivos lúdicos ou procurando cenários ideais para realizar otografa: os concelhos do interior, que apresentam paisagens rurais e maior densidade de património natural ou construído, acabam por ser mais procurados para a prática da otografa.
Tudo o que existe no mundo só existe para vir a acabar num livro, afrmação que, abusivamente generalizada, permite pensar que “hoje em dia, tudo o que existe, existe para vir a acabar numa otografa” 7, suporte, cada vez mais virtual, onde terminam paisagens distantes, cidades longínquas, pessoas e lugares que nos são próximos, experiências e momentos marcantes, individuais ou colectivos. A relação entre a imagem e a escrita, contudo, oi mudando desde o tempo em que os textos explicavam as imagens e as desmitifcavam. “Doravante, as imagens ilustram os textos, remitifcando-os. Os capitéis românticos serviam aos textos bíblicos com o fm de desmagicizá-los. Os artigos de jornal servem às otografas para os remagicizarem. No curso da História, as imagens eram subservientes, podia-se dispensá-las. Actualmente, os textos são subservientes e podem ser dispensados. ” 8 As otografas contidas no catálogo, resultantes duma apertada selecção eita entre as submetidas a concurso, esboçam um roteiro que tem por coordenadas lugares e pessoas dispersas no mapa e perdidos no tempo, desenham a cartografa possível das desigualdades e dierenças que racturam o mundo, das clivagens abertas pelas novas ronteiras que ragmentam as sociedades e os territórios. A otografa num livro é, como alguém disse, a imagem de uma imagem, onde a “sequência em que as otografas devem ser olhadas é proposta pela ordem das páginas, mas nada obriga os leitores a seguirem a ordem recomendada ou indica a quantidade de tempo que devem dedicar a cada otografa.” 9 O ritmo será, pois, ditado pelos interesses, sensibilidades e emoções de cada um, que pode demorar o olhar nos lugares mais silenciados, nas pessoas remetidas para as margens do anonimato, azendo deste reencontro um sinal de resistência contra o esquecimento a que são votados. A otografa terá muitos enquadramentos e abordagens, mas “a imagem otográfca só existe plenamente se or ruída por um leitor que lhe dê uma interpretação e, nesse sentido, opere activamente uma espécie de reescrita, de recriação. Este valor acrescentado é igualmente tributário do contexto em que a otografa é olhada e lida. Uma modifcação do contexto equivale, muitas vezes, a uma modifcação de interpretação e de leitura. É assim que muitos são, por vezes, tentados a dizer que a melhor imagem é aquela em que todos os tipos de leitura são possíveis.” 10
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
A otografa, como a paisagem, não deixa de ser “um estado de alma, o que, posto em palavras comuns, quererá dizer que a impressão causada pela contemplação de uma paisagem (como de uma otografa) sempre estará dependente das variações temperamentais e do humor jovial ou atrabilioso que estiverem actuando dentro de nós no preciso momento em que a tivermos diante dos olhos .” 11 Os avisados chamam à atenção dos mais incautos para uma incontornável incompatibilidade de unções: ou se vive ou se otograa. “Ao contrário do que é geralmente aceite, afgura-se-me que otograar algo é, de certo modo, desalandegarmo-nos da obrigação de o recordar, é delegar na imagem a recordação do que momentaneamente nos cativou, é uma cábula contra as nossas desejadas amnésias, é um adiar da verdadeira contemplação, é, fnalmente, uma orma de alienação do real substituindo-o pelo seu pálido mapa otográfco.” 12 Incapaz de expressar com idêntica precisão e eloquência os sentimentos que nos assaltam quando deparamos com certos livros ou certas otografas, aproprio-me das palavras de Ruy Duarte de Carvalho quando , ao percorrer o território descrito por Euclides da Cunha em Os Sertões, sintetizou desta maneira o que gostaria transmitir, em jeito de balanço, depois de ter contemplado algumas otografas do acervo submetido a concurso: “há um enorme lastro de erudição, há intuições poderosas, antasia e razão crítica, poesia e ciência, uma dialéctica entre o descobrir e o encobrir, explicar e murmurar, elucidar e iludir, espaço dado ao incomensurável, ao desmedido, ao irracional, ao horroroso, ao esmagador, majestoso, indizível, paradoxal. ”
(1) Susan Sontag (1986), Ensaios sobre otografa. Dom Quixote: 18. (2) Monique Sicar (1998;2006), A ábrica do olhar. Edições 70: 15. (3) Gabriel Bauret (2000), A otografa. Edições 70: 9 (4) Gabriel Bauret (2000): 10. (5) Gérard Castello-Lopes (2004), Reexões sobre otografa. Eu, a otografa, os outros. Assírio & Alvim: 100. (6) 1. Paisagens naturais e espaços rurais . Paisagens, recursos e riscos naturais; espaços rurais, povoamento e processos migratórios; 2. Cidade e actividades urbanas e industriais . Cidade, arquitectura e regeneração urbana; inovação e processos de reestruturação industrial; 3. Património material e intangível, construído, histórico, cultural; 4. Modos de vida, condições sociais, processos de desenvolvimento sustentável . Profssões e exclusão social; desenvolvimento e sustentabilidade: políticas, programas e projectos;
cooperação territorial: iniciativas e actores; 5. Espaços de ronteira . Fronteiras políticas, limites administrativos, novas ronteiras sócio-territoriais. (7) Susan Sontag (1986): 32. (8) Vilém Flussel (1998), Ensaio sobre a otografa. Para uma flosofa da técnica, Relógio d’Água: 76. (9) Susan Sontag (1986): 15. (10) Gabriel Bauret (1992;2000): 11. (11) José Saramago (2006), As pequenas memórias. Caminho: 20. (12) Gérard Castello-Lopes (2004): 103.
transversalidades: imagem, coesão, cooperação
O interior da imagem Henrique Cayatte
“Não tenho uma otografa mas tenho as minhas pegadas. Estão lá em cima dentro das minhas meias”
Groucho Marx | 1890 – 1977 “Um dia nas corridas”
Quando Barthes nos propõe ver, que não olhar, para o “interior” de uma imagem otográfca desafa-nos a termos coragem. Coragem de elaborar o nosso próprio discurso a partir de uma construção que só aparentemente é igual para todos. A otografa daquela rua, daquelas pessoas ou daquela paisagem é afnal “apenas” um ponto de partida de uma reexão polissémica que nos levará onde quisermos ou tivermos interesse e capacidade. Esta é uma das propriedades das chamadas artes visuais e em especial da otografa. Dar-nos a possibilidade de ler de orma por vezes tão dierente aquilo que nos é proposto pelo autor para nossa inormação e ruição. Muitos autores já tinham elaborado sobre a nossa capacidade de fxar um momento através da otografa mas é ele que nos ala de um étimo latino que, também ele convida a uma dupla leitura e que é mais do que uma rotunda com várias saídas possíveis: punctus. Punctus no sentido do ponto ocado pela objectiva e pelo olhar do otógrao. Nesta primeira possibilidade o otógrao vai azer – utlizando um termo emprestado do cinema – um “zoom à rente” ocando e escolhendo,ocando e outra vez, até se “aproximar” do que quer registar. Até encontrar um “ponto” que lhe interesse e que nos quer dar a ver.
Mas punctus é também aquilo que nos chama a atenção de orma tão especial e que é dierente de pessoa para pessoa. Eu vejo uma dada otografa que tem um protagonista ao centro, quase ocupando a totalidade da composição, sentado numa cadeira no interior de uma grande sala de aula. Ao undo alguns cabides fxados numa régua. Pendurados nesses cabides alguns casacos e sacos. Alguns vão reparar – ocar – no primeiro botão da camisa do retratado que está mal abotoado, outros numa alha do chão e outros ainda num detalhe quase imperceptível de um dos sacos no plano mais aastado. 19
Transversalidades I otografa sem ronteiras
Esta “proundidade de campo” cria um cone de leitura em tudo semelhante ao que nos ensinaram os mestres da Renascença nos seus magnífcos desenhos que eram mais do que otografas porque nos mostravam, para além do imediatamente tangível, o espiritual e o sublime. Como eles, que já amiliares com as linhas de construção de uma perspectiva desenham por “intuição”, também nós “intuímos” que estamos, com o olhar, a viajar em múltiplas direcções. Não apenas para os lados ou para cima e para baixo mas para “dentro” da otografa. Na camera obscura, em bom recato e através de um elementar periscópio montado numa pequena construção que albergava o “riscador”, podia-se captar um detalhe fxo do que estava lá ora e “refxá-lo” num desenho que se pretendia o mais parecido com o “srcinal”. Hoje não nos preocupamos muito – por enquanto – com a fabilidade do que captamos desde que sejamos mais rápidos do que a própria sombra e consigamos estar no olho do uracão. Com a câmara do nosso telemóvel movemo-nos com grande liberdade para que o acontecimento possa fcar registado e depois ser massifcado através de uma televisão ou do “You Tube”. As imagens a maior parted as vezes são de tão má qualidade mas mesmo assim editadas, que procuramos adivinhar o que realmente se passou e que às vezes nos chega de orma ragmentada e imperceptível. Foi precisamente neste intervalo entre o desenho e a câmara do telemóvel, nesse território que é hoje de conorto técnico, que aceitei o muito agradável convite do Proessor Rui Jacinto para, enquanto membro do júri desta importante iniciativa, olhar, ver e procurar classifcar com os meus pares, um importante e extenso acervo otográfco. Resultado do trabalho de dezenas de otógraos com experiências, olhares e proveniências diversas a um concurso de otografa que alasse de coesão social e do território. Como seria de esperar oram múltiplas as abordagens e como era previsível também diversos iriam ser os nossos critérios especialmente quando entre os jurados se cruzavam saberes, experiências e até nacionalidades dierentes.
Lá ora cá dentro
E como é otograar hoje a coesão social – ou a alta dela – em territórios do interior deste País? Não é ácil. Corre-se sempre o risco de nos conrontarmos com um discurso literal, ou de simples registo. Outras vezes, demasiadas, leituras redutoras que quase reduzem à bidimensionalidade aquilo que é tão mais rico mas que o otógrao não conseguiu registar.
transversalidades: imagem, coesão, cooperação
Imagens que conundem poética com encenação. Fotografas que não convocam mais do que um simples olhar do espectador quando seria bem mais interessante provocar o jurado, obrigá-lo a múltiplas leituras e a outras tantas hesitações. Que pudesse provocar a reexão e o debate. Muitas peças a concurso caíram nesta armadilha que é ruto de uma cultura visual estereotipada e assente no primado de que basta ter uma máquina high tech para que as otografas surjam de geração quase expontânea. Bastante parecido, por acaso, com aquilo que se passa com muitos designers que imaginam o computador como uma máquina que vai resolver a nossa alta de talento quando, como diria Picasso, ele só responde aos nossos estímulos. Procurar captar um instante – lá ora - que se “agarre” a partir de um intrincado microcosmos não é tarea ácil. Umas vezes consegue-se mas a maior parte das vezes não. Trazer para dentro da otografa uma vida que é um rosto, um gesto que tudo abarca ou o vazio que habita o espaço e as pessoas exige que se vá lá ora, se participe e se traga para dentro essa experiência. Um otógrao pode ser um cientista social como Fernando Galhano oi com os seus magnífcos desenhos. Não é tanto pela ormação de srcem mas mais como se mescla com a realidade. Como procura compreender e traduzir para quem lá não esteve. Muitas otografas presentes neste concurso tiveram a capacidade de emocionar o júri e de o azer parar mais tempo a saborear ou a interpretar. Não oi tempo gasto. Foi tempo muito bem empregue. Foram essas que estiveram, merecidamente, na linha da rente da premiação. Com elas ui mais longe e senti-me mais perto das pessoas e dos lugares. Obrigado.
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
La Raya, entre el abandono y el atractivo otográfco Victorino García Calderón
Desde que me acuerdo he vivido el paso del tiempo en esta parte de la península como si de una Espada de Damocles se tratara. Me refero a las zonas ronterizas, tanto española como portuguesa, que conocemos como La Raya, sobre la que pende esa Espada en orma de contradicción entre la constatación del abandono y el atractivo otográfco que ello comporta por más que nuestros ojos, demasiado educados en lo correcto, intenten eludir cualquier atisbo de desorden y nuestra mirada selectiva se deje atrapar por la belleza de unos bancales limpios, ordenados y de ácil acceso o nuestra pupila se pare atraída por el orden de los campos cultivados con esmero y las líneas de las viñas nos lleven de acá para allá encauzando nuestro sistema compositivo. Zamora y Trás os Montes e Alto Douro , Salamanca y Beira Alta, Cáceres y Beira Baixa, Badajoz y Alto Alentejo, han surido, además de una historia común llena de desencuentros y también de lo contrario, un abandono considerable unido a una sangría de seres humanos hacia tierras más productivas. La emigración hacia los países centroeuropeos que surieron los dos países en los años postreros de las dictaduras española y portuguesa y de la que no han recuperado a pesar cambiosypolíticos y sociales habidos entre en losotras, últimos decenios, dejó casi vacíos los se pueblos de uno y otro ladodel de los la rontera trajo como consecuencia, el cierre y total abandono de uno de los nexos más increíbles que el hombre peninsular haya conocido: la línea érrea entre Oporto y La Fuente de San Esteban que pretendía dar salida a la Europa del desarrollo a la parte norte de Portugal y que en el pueblo salmantino se unía a línea que venía desde Lisboa. La desolación de todas y cada una de las estaciones erroviarias de un lado y otro de la rontera ha dejado un recuerdo imperecedero de belleza y evocación en las retinas de los habitantes rayanos. El abandono al que están sometidas nos traen a la memoria a artistas como Friedrich o Piranesi, y el romanticismo que uye por cualquier grieta de cada una de las paredes de ellas traducido en naturaleza casi asfxiante es tan evidente y tan atractivo que es muy diícil no caer en sus encantos, parece que la cámara sea atraída por ese halo de misterio del que están poseídas todas las estaciones de las líneas abandonadas exigiendo que se plasmen, ya sea en una placa o en un sensor digital, con tal de no morir en el anonimato. Posiblemente sea esta característica la más intrínseca a la otograía, la que tiene la dualidad de ser arte y, a la vez, acta notarial de los acontecimientos cercanos que más
transversalidades: imagem, coesão, cooperação
nos preocupan y, por tanto, sea la actividad artística más ventajosa a la hora de constatar y reproducir con sentido artístico las consecuencias de las decisiones político-económicas que llevan a realidades tan crudas como la de ser testigos de la degradación tan incesante como irreversible de lo que supuso, visto desde España, la conquista del oeste peninsular. La construcción del errocarril que unía Oporto con la meseta castellana constituyó un esuerzo titánico a fnales del siglo XIX, se pretendía salvar un desnivel de centenares de metros en unos pocos kilómetros con tal derroche de intelecto y esuerzo ísico que da vértigo solo pensar en ello. Los numerosos puentes y túneles consecutivos construídos por miles de obreros en condiciones casi esclavistas, así como las estaciones antes mencionadas, son de un atractivo inigualable desde el punto de vista otográfco. Observar cómo la naturaleza realiza su trabajo, corrimientos de tierra, derrumbes en los terraplenes ocultando las vías, puentes que se han vuelto intransitables a no ser que se utilicen vehículos erroviarios apropiados, y la constante degradación de los materiales srcinales han llevado a que el aspecto sea a la vez antasmagórico y evocador y, por ello, tremendamente atractivo. Pasear con una cámara por la línea, yendo de estación en estación y pasando por terraplenes, desmontes, puentes y túneles, haciendo tomas con sentido de la luz ya sea directa (con sol) o indirecta (nublado), de la hora (no es lo mismo la luz tenue de las primeras y últimas horas, que la del mediodía) y de la estación del año (en verano es demasiado perpendicular) en que se realicen, es un ejercicio que va más allá de la simple constatación, es decirle al mundo que seguimos estando vivos, que denunciamos que se haya llegado a ese estado de abandono, a pesar de que ha sido catalogado el trayecto como Bien de Interés Cultural y que va siendo hora de que se actúe en algún sentido para que la Raya no sea una zona de separación, sino de hermanamiento de dos países. Valga como ejemplo de otras actividades, tan necesarias como perentorias, en las que la cooperación debiera incrementarse si no queremos crear isla de escasez en torno a lo queen nuestros antepasados marcaron, desaortunadamente, conuna unaalargada raya (línea) en penuria un mapaypara dividir la península dos estados, en dos naciones y que, a pesar de ello, el pueblo llano se ha encargado de minimizar en numerosísimas ocasiones a lo largo de lo que ue rontera uniendo amilias e intereses y, por tanto, haciendo desaparecer la división a un lado y otro de la Raya, con mayúscula, palabra maravillosa donde las haya, sinónimo de cooperación y por ende de entendimiento, dándonos una lección de lo que en estos momentos debiéramos hacer.
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Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança Tema 1 Paisagens e recursos naturais
Prémio tema Paisagens e recursos naturais João Pedro Costa , Portugal
Arco *(10) Brejão (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
Menções honrosas
Rui Miguel da Cruz Feijão Moreira Marques , Portugal Marateca *(11) Castelo Branco (Portugal), 2006
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Nuno Sousa, Portugal Teide *(12) Tenerife (Espanha), 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
Jovens estudantes
Daria Volante, Itália O caminho nas nuvens *(13) Cabeceiras (Brasil), 2009 Lethicia Cardoso Galo, Brasil Caraíva *(14) Porto Seguro (Brasil), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Susana Cristina Rodriges Gasalho, Portugal Tarde de Verão *(15) Montejunto (Portugal), 2008 Paulo Renato Gonçalves Lopes Soares ,
Portugal Afição *(16) Cerdeira (Portugal), 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
Jovens estudantes
Tiago João Cassapo Dias, Portugal Pinus pinea solitário *(17) Covilhã (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
O Ser Humano e a Natureza Lúcio Cunha
Natureza e Sociedade são indissociáveis! No plano científco, apenas por conorto teórico ou por necessidade analítica as separamos uma da outra, para logo as juntarmos quando queremos entender uma ou outra, quando queremos lê-las ou, mesmo, quando temos necessidade de, com qualquer uma delas, nos envolvermos emocionalmente. Não há Homem que não seja natural, nem Natureza que não seja humana, escreveu o flósoo João André, em 1996. E, de acto, se a orça do Ser Humano e a estrutura das suas organizações radicam e se regem, muitas vezes, por leis ísico-químicas, biológicas e naturais, a Natureza tal como a sentimos, vivemos e utilizamos hoje, mais não é do que uma criação da inteligência humana, um modo de o ser humano olhar para ora de si mesmo, de sentir e perceber um entorno, um meio, um ambiente de que depende, com que se relaciona e do qual, mesmo querendo estar ora, ao fm e ao cabo, az parte integrante. Talvez por isso, num Mundo cada vez mais terciarizado e urbanizado, a Natureza assume uma valorização crescente não só nos planos emocional e aectivo, mas também nos planos económico, social e cultural. O urbanita procura trazer para a cidade e manter sempre junto a si elementos undamentais da Natureza, quer se trate de bosques relíquia de um tempo pré-urbano, de parques, jardins ou simples alinhamentos de árvores cuidadosamente planeados e tratados, ou das simbólicas hortas urbanas com que se procura recriar o ambiente rural no entorno próximo) ao mesmo tempo que, naquilo que pode representar um esorço de reconciliação com o passado rural e com a vivência mais próxima da Natureza, nos tempos livres, nos fns de semana ou nas érias procura espaços rurais, territórios abertos e silvestres onde a presença da Natureza é mais orte e mais esmagadora ou mais tranquila e acolhedora. Esta relação entre Ser Humano e Natureza, relação muitas vezes equívoca, poucas vezes de equilíbrio e quase sempre de dominação ou mesmo de predação desta por aquele, é o motor da criação de territórios e da evolução das paisagens. O conceito de paisagem cultural, hoje não só muito em voga, como também muito valorizado em
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
paisagens e recursos naturais
termos patrimoniais, mais não az que traduzir em ormas, texturas, cores e tons – e, também, em cheiros, sons e sensações – as relações mais completas, mais equilibradas ou estética e uncionalmente mais elizes entre a Sociedade e a Natureza. Estas paisagens tendem a concentrar-se, como parece óbvio, no mundo rural, nas montanhas, nos vales dos rios, nos litorais, ou seja nos espaços menos pressionados pela mão humana, mas também podem ter expressão no próprio aglomerado urbano, na grande obra hidráulica da albueira ou no bem arranjado areal da praia turística. Da Natureza, dos seus sismos e vulcões, dos rios caudalosos e do mar em úria, das montanhas e das vastidões dos gelos ou das areias escaldantes do deserto lemos a orça, a energia, o vigor que tantas vezes perturba o Ser Humano e as suas actividades. Dessa orça telúrica, nem sempre directamente visível, mas quase sempre muito bem perceptível, se orjam muitas vezes caracteres e identidades de pessoas e de populações. O montanhês (ou, à nossa escala, o serrano), algumas comunidades de pescadores, os esquimós ou os tuaregues são exemplos de povos identifcados com o meio e com a Natureza que habitam e na qual encontram a orça e a identidade que lhe são características. Mas, a Natureza não é só orça, energia, vigor! Nos grandes espaços abertos das planícies, no azul dos espelhos de água ou no verde monótono do pinhal, à Natureza o Ser Humano vai também buscar a placidez, a tranquilidade e a paz de que muitas vezes necessita para vencer as adversidades do dia-a-dia, para restabelecer o seu equilíbrio, para promover o re-encontro com as suas srcens e com a sua natureza natural. A relação Sociedade-Natureza passa, também, por uma relação de posse e domínio. Ao Ser Humano a Natureza dá e tira! Dá terra, água, ar, vida, ou seja proporciona um conjunto de bens undamentais para a boa existência humana sobre a Terra. Aos recursos mais convencionais, renováveis e não renováveis, da pedra para a construção à água que bebemos todos os dias e à madeira com que azemos os nossos utensílios, do ar que respiramos e que necessitamos limpo e puro à energia que consumimos desabridamente todos os dias, temos de acrescentar, hoje, novos recursos em relação com a procura incessante da Natureza para actividades de lazer, de desporto e de turismo. É o caso do património natural, nas suas vertentes geológica, geomorológica, hidrológica e biótica, dos monumentos naturais, das paisagens de sabor natural que, ao justifcarem a presença de parques naturais, geoparques ou áreas de paisagem protegida, dão corpo a esta necessidade social de convívio, utilização e protecção dos espaços naturais. Por outro lado, a Natureza também tira ou, pelo menos pode aectar e condicionar ortemente as actividades humanas. A dinâmica natural, por vezes violenta e brutal, como acontece nos tremores de terra, nas erupções vulcânicas, nos movimentos de terras, nas tempestades e inundações, nas vagas de calor e de rio, nos incêndios orestais, aecta cada vez mais as pessoas, as suas actividades, os seus bens e haveres. Ao discurso mais geral e politicamente correcto das transormações climáticas à escala global, contrapõe-se, de acto, o mau uso local do território, a desarmonia relacional do Ser Humano com a Natureza, a ocupação indevida de territórios de risco, como causa para muitas das catástroes com a que a Natureza, um pouco por toda a parte, nos brinda.
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Hoje é diícil alar de Natureza natural, ou seja de Natureza intocada por mão humana, livre da sua intervenção e dos impactes que a exploração dos recursos acarreta. O que há, o que se encontra, o que se rui e admira como espaços naturais são, de acto, espaços ou territórios que se mantêm ainda próximos das suas condições naturais, porque as intervenções humanas oram reduzidas, como os espaços do Gerês ou da Estrela, ou territórios em que a intervenção sobre a Natureza, ainda que intensa, oi mais equilibrada, harmónica e esteticamente eliz no sentido de privilegiar a Natureza, como acontece no vale do Douro vinhateiro ou nos campos de bocage do Minho. Daí a importância dos espaços rurais, agrícolas, silvícolas ou pastoris, como espaços de admiração, utilização e ruição da Natureza. Num momento de grande desestruturação dos territórios rurais nacionais, em unção dos processos de abandono a que têm vindo a ser sujeitos desde a década de sessenta do século passado, numa época em que a agricultura e a pastorícia tradicionais quase morreram e em que as matas estão completamente abandonadas e entregues aos incêndios orestais que as assolam todos os Verões, a Natureza parece ser o truno a jogar em termos de desenvolvimento e de modernização local dos espaços rurais. Enquanto novas culturas agrícolas e silvícolas, mais voltadas para mercado, exploram, agora com técnicas modernas, velhos recursos climáticos e pedológicos, os espaços rurais são invadidos pela busca de recursos energéticos (energia hidráulica, solar e eólica) para a sociedade urbana e pós-industrial. Transormam-se os usos, modifca-se o território, reconstrói-se a paisagem, mas continuamos muito longe de conseguir reverter o abandono das gentes que ajudaram a construir os espaços rurais que hoje conhecemos numa articulação harmónica com a Natureza. Essa natureza que hoje é cada vez mais procurada pelos citadinos, nacionais e estrangeiros na sua busca de reencontro com o passado e com a história, essa natureza que é percorrida em termos desportivos na procura do conronto e da superação de limites, essa natureza vendida, nem sempre da melhor orma, pelo turismo do século XXI. É de Natureza e dos espaços rurais com que a identifcamos que nos ala o conjunto de otografas que, sob a designação temática “Paisagens Naturais e Espaços Rurais”, integra a exposição “Transversalidades”. Aqui podemos encontrar, de modo eliz e com orça estética, o modo como os quatro grandes elementos da Natureza, a Terra, a Água, o Ar e o Fogo, se articulam entre si, como promovem a Vida vegetal e animal, e como são apropriados pelo Ser Humano na construção de territórios e paisagens. Nestas otografas podemos encontrar a orça e a calma da Natureza, os recursos e os riscos que proporciona, os usos e os abusos a que é sujeita. Encontramos, fnalmente, a inteligência, a pedagogia e o método para, como seres naturais que somos, nos relacionarmos bem com a outra Natureza, aquela que nos é exterior, mas da qual dependemos para quase todos os actos da nossa existência.
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paisagens e recursos naturais
Aonso André Correia de Albuquerque, Portugal Ouro *(18) São Leonardo de Galafura (Portugal), 2010 Berenice Beltrame, Brasil Ouvindo a natureza *(19) Garopaba (Brasil), 2011
Nuno Costa, Portugal A terra no céu *(20) Madeira (Portugal), 2009 Susana dos Santos Lanção, Portugal Liberdade *(21) Póvoa do Rio de Moinhos (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Hugo Daniel André Menoita, Portugal Refexos *(22) Sabugal (Portugal), 2010 Ricardo Silva, Portugal Stranded *(23) Cabo da Roca (Portugal), 2009
Francisco António de Almeida Capela, Portugal Espelho meu *(24) Montemor-o-Novo (Portugal), 2010 José Manuel Portelo Paiva, Portugal Mountain river *(25) Serra da Estrela (Portugal), 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
paisagens e recursos naturais
Pedro Miguel Ferreira da Silva Bastos, Portugal Espelho de Água *(26) Serra da Freita - Arouca (Portugal), 2007 Carlos Cabral, Portugal Barcos *(27) Gafanha da Nazaré, Ria de Aveiro, Eixo Atlântico (Portugal), 2010
Carla Pizarro Rosa, Portugal Refexos *(28) Zanzibar (Tanzânia), 2010 Marcos Oliveira, Portugal Alqueva 2 *(29) Barragem do Alqueva (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Tiago Serra Reis, Portugal À tona *(30) Estrela - Alentejo (Portugal), 2009
João Pedro Santos Silva, Portugal Galgar com tudo por cima de tudo! *(32) Rio Douro (Portugal), 2010
Nuno Brito, Portugal Cabreia III *(31) Sever do Vouga (Portugal), 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
paisagens e recursos naturais
Siegried Kuntzig, Portugal Praia ao m da tarde *(33) Costa de Caparica / Almada (Portugal), 2007
Lethicia Cardoso Galo, Brasil Os pilares de Cumuruxatiba *(34) Cumuruxatiba (Brasil), 2010
Nuno, Portugal, Farol *(35) Foz - Porto (Portugal), 2011 Carlos Soares, Portugal S. Jorge à vista *(36) Açores - Pico (Portugal), 2005
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Paulo Silva, Portugal Manhã na praia *(37) Praia da Figueira (Portugal), 2007
André de Oliveira Murta, Portugal Cegonha no Sardão *(38) Cabo Sardão – Odemira (Portugal), 2007
João Pedro Costa, Portugal Alauna *(39) Sagres (Portugal), 2009 Osvaldo Cipriano, Portugal As Gaivotas *(40) Praia da Marinha (Portugal), 2005
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
paisagens e recursos naturais
Marcelo Reis Nakashima, Brasil Boleiros *(41) Jijoca de Jericoacoara – CE (Brasil), 2009
Nuno Sousa, Portugal Fluindo Para Ti *(42) Gerês, Gerês Portugal 2007
Alberto Giménez, Espanha Al nal del puente *(43) Chiapas (México), 2004 Rui Pires, Portugal Momentos Rurais *(44) Covas do Monte (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
João Manuel M. Martins, Portugal Montemuro *(45) Serra de Montemuro (Portugal), 2008
Marcos Guilherme, Portugal Pão *(46) Tangil (Portugal), 2005
Francisco Manuel Duarte Mendes, Portugal Conrmação *(47) São Pedro do Sul (Portugal), 2010 Silvino Jorge Rodrigues, Portugal Mãe e lho *(48) Ermelo – Vila Real (Portugal), 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
paisagens e recursos naturais
Carla Alexandra Fernandes Mota, Portugal Legado Inca *(49) Moray (Perú), 2008 Nuno Moreira, Portugal Vassouras *(50) Marvão (Portugal), 2010
Gonçalo Monteiro Catarino, Portugal Ruralidades 01 *(51) Monsanto (Portugal), 2010 José Costa Pinto, Portugal A juntar o rebanho *(52) Covas do Monte - S. Pedro do Sul (Portugal), 2009
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Luís Brinço, Portugal Sortelha aldeia *(53) Sortelha (Portugal), 2010
Javier Alonso Crespo, Espanha Donde la rontera no es nada *(54) Rio de Onor (Portugal), 2009
António Alarroba, Portugal O triuno dos porcos *(55) Alcácer do Sal (Portugal), 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
paisagens e recursos naturais
Carlos Romão, Portugal La Alberca *(56) Castilla y León (Espanha), 2009
António Alves Tedim, Portugal Lavoura de Inverno *(57) Pitões das Júnias (Portugal), 2010
Hélio Cristóvão, Portugal Trovoada na Seara *(58) Serpa (Portugal), 2010 Maria João Aleixo da Silva, Portugal Entre campos, serra e céu *(59) Azeitão, Serra da Arrábida (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Pedro Nunes da Rocha Peixoto, Portugal Os socalcos do Douro *(60) Ervedosa do Douro (Portugal), 2009
Gonçalo Simões, Portugal Fronteira *(61) Ilha Terceira - Açores (Portugal), 2010
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Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança Tema 2 Cidade e actividades urbanas e industriais
Prémio tema Cidade e actividades urbanas e industriais Mariana Jeca , Portugal
Ad innitum *(62) Parque das Nações – Lisboa (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
Menções honrosas
Guilhermina Lasarte, Portugal, Habitantes Urbanos 1 *(63) Madrid (Espanha), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Natalie Arlete Pereira Sánchez, Venezuela Jesús saluda al pasajero *(64) Valencia (Venezuela), 2009
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
Jovens estudantes
Ana Vitória Dias, Portugal A Noite vem *(65) Almada (Portugal), 2009 Daniela Ramos Garcia, Brasil Pela Fresta *(66) Santiago (Chile), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Oleksandr Bilko, Portugal Ponte *(67) Porto (Portugal), 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
Olhares transversais: a cidade entre a imagem e a palavra Claudino Ferreira
A nossa verdade possível tem que ser invenção, isto é, escrita, literatura, pintura, escultura, agricultura, piscicultura, todas as turas deste mundo. Os valores, turas, a santidade, uma tura, a sociedade, uma tura, o amor, pura tura, a beleza, tura das turas.
Julio Cortázar (O jogo do mundo, ed. Cavalo de Ferro) Segundo Oscar Wilde, não houve nevoeiro em Londres até que Whistler o pintasse. (...) Mas creio que ninguém notou o nevoeiro de Londres até que Arthur Conan Doyle escreveu a primeira aventura de Sherlock Holmes.
Guillermo Cabrera Inante (O livro das cidades, ed. Publicações D. Quixote )
1. IMAGINABILIDADES
Como se pode representar uma cidade? E o que vale cada representação da cidade? As imagens que dão vida a este catálogo propõem-nos olhares sobre a cidade – representações de cidades específcas, mas também da cidade enquanto entidade abstracta e genérica, por reerência à qual construímos as nossas geografas sociais, culturais, políticas e sentimentais, damos sentido à nossa relação com o espaço e imaginamos o lugar que ocupamos na teia de relações humanas que o habitam. Enquanto representações visuais, elas convocam a(s) cidade(s) numa condição muito particular: a da sua imaginabilidade. Como acontece com todas as representações, estas imagens undam processos de atribuição de sentido, que se realizam no (des)encontro entre o olhar do/a otógrao/a e nosso próprio olhar. É um (des)encontro que apela à nossa imaginação e aos imaginários que povoam a nossa existência social. As otografas aqui apresentadas sugerem modos de interpretar a(s) cidade(s), invocam narrativas sobre elas, estabelecem diálogos com outras imagens e narrativas, propõem modos de imaginar o que as cidades são ou não são e o que deveriam ou não ser.
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Nessa condição, são também traições à(s) cidade(s) que representam. São mais e menos do que essas cidades. Mostram partes delas e ouscam outras. Celebram ediícios, paisagens, pessoas e modos de vida, sujeitando-os a uma recriação estética que os ilumina; deixam tantos outros na obscuridade e na indierença a que os condena o não-olhar.
2. VISIBILIDADES
Esta tensão entre visibilidade e invisibilidade é um traço que as imagens otográfcas aqui apresentadas partilham com todas as outras representação da(s) cidade(s): com a literatura, a pintura, o jornalismo, o discurso científco e académico, os imaginários populares... Em todas essasturas, como as designaria Julio Cortázar, estabelece-se uma tensão entre a cidade concreta e vivida e a cidade imaginada e reinventada pelo eeito da representação. É uma relação complexa, que importa não subestimar. Porque, em boa medida, as representações da cidade, os discursos e as imagens que lhe conerem legibilidade, são parte constitutiva da sua realidade concreta e vivida, justamente porque dão sentido ao seu passado e ao seu presente e, ao imaginá-lo, sinalizam os seus possíveis uturos. A cidade é ao mesmo tempo coisa material, vivida e imaginada. É o que parece querer dizer Guillermo Cabrera Inante, quando sugere que Londres se tornou a cidade do nevoeiro porque assim a representou uma certa arte e uma certa literatura. Tal como acontece com a sua materialidade, a imaginabilidade da cidade constitui-se como uma economia política em que se conrontam dierentes visões, ormas diversas de interpretar, imaginar e conceber a cidade, que disputam entre si o poder de determinar que imaginário deve prevalecer nos modos de organizar a vida urbana e conduzir a sua transormação. As imagens da cidade, como de orma geral as imagens do mundo, não são por isso apenas modos de a representar, na sua diversidade e pluralidade; são igualmente modos de intervir simbólica e politicamente sobre o que as cidades devem ou não parecer e, portanto, sobre o que devem ou não ser. As otografas que integram este catálogo entram nesse terreno de disputa propondo (umas mais que outras) olhares transversais sobre a(s) cidade(s). Representando lugares, arquitecturas, pessoas e espaços industriais, procuram olhar obliquamente a cidade, suscitando imagens e imaginários que dêem visibilidade e cidadania a dimensões da realidade urbana que, na actual economia política das imagens, tendem a ser desvalorizadas, esquecidas, abandonadas – excluídas portanto dos imaginários dominantes. Nesse processo, azem emergir imagens de cidades em transormação, de mudanças que deixam marcas no território, no património, na morologia, nos modos de vida, nas pessoas. São por isso, em boa medida, passíveis de ser apropriadas como imagens que representam um outro traço essencial da(s) cidade(s) contemporânea(s): o seu carácter mutante.
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
cidade e actividades urbanas e industriais
3. MUTABILIDADES
Cidades em mutação, sintetizando na sua plasticidade dinâmica as transormações que vêm reconfgurando a vida social, económica, cultural e política à escala global – esta é talvez a imagem mais orte que as otografas suscitam. A dinâmica histórica das cidades é alimentada por movimentos de criação e destruição. Dir-se-ia mesmo de destruição criadora, tanto quanto de criação destruidora. No mundo capitalista, as reconfgurações urbanas que podem ser tipifcadas, ainda que de orma redutora e simplista, por reerência à ideia da transição da era das cidades industriais para a era das cidades pós-industriais arrastou consigo transormações que se oram inscrevendo nas paisagens urbanas, sinalizando o quanto essas transormações tiverem de criação e destruição. Novos ediícios emblemáticos e bairros residenciais e de negócios ou velhos centros históricos de cariz popular convertidos em áreas reabilitadas e enobrecidas para deleite dos turistas e da nova classe de empreendedores criativos (paisagens de poder, como lhes chamaria Sharon Zukin), coexistem nos mesmos territórios urbanos com áreas abandonadas, desqualifcadas, entregues à destruição erosiva do tempo e do desinteresse económico e político. Muitas das otografas apresentadas neste catálogo introduzem-nos nesses cenários contrastantes. Convocam ora imaginários contemporâneos da cidade de sucesso (a cidade competitiva, cosmopolita, criativa, espectacularizada, monumental, pós-moderna...), ora imaginários do abandono urbano (a cidade decadente, ultrapassada, deprimida, das ruínas, da precariedade, dos despojos industriais...). Tomadas em conjunto, sugerem-nos que a cidade é tanto constituída pelas materializações do poder técnico, económico, político e cultural que domina simbólica e materialmente o espaço urbano, como pelos despojos que a evolução vai deixando na paisagem urbana ou pelos lugares onde a precariedade e a degradação urbanística dão ainda assim guarida a actividades e a modos de vida que, embora aparentemente ultrapassados pelo tempo, não deixam de mostrar vitalidade. Outras otografas, por seu turno, enviam-nos para imagens dos eeitos que a dinâmica transormadora das cidades exerce sobre as pessoas que as povoam, reconfgurando as suas vidas e a sua condição de cidadania ao sabor das oportunidades e das exclusões que a mudança arrasta consigo. Curiosamente – ou sintomaticamente – esta secção do catálogo pouca atenção conere às fguras que emergem como os heróis dos imaginários da cidade pósindustrial. Ao contrário, convida-nos para olhares que se ocam sobretudo no lado mais injusto da cidade contemporânea e das suas transmutações. Nesse lado tantas vezes obscurecido pelas imagens e os imaginários dominantes, reinventam-se vidas e modos de existência social nas ronteiras (ou para lá delas) da precariedade, da pobreza, da exclusão, do abandono e da solidão.
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
4. TRANSVERSALIDADES
Os olhares transversais que por esta via se promovem, iluminando pela mediação da otografa e de uma percepção estilizada do mundo domínios da vida urbana que noutros modos de representação fcam obscurecidos, não são, naturalmente, olhares isentos nem inconsequentes. Como acontece com todas as ormas de representação, as imagens apresentadas neste catálogo (e consequentemente também este pequeno texto) têm, para lá da sua intenção estética, uma implicação política. Na medida em dão visibilidade a certos aspectos da realidade urbana e, consequentemente, invisibilizam outros; na medida em que, ao azê-lo, suscitam modos de interpretar e imaginar a cidade, tomam posição na disputa simbólica que é parte constitutiva do que a cidade é e daquilo em que ela se pode tornar. É isso, em grande medida, o que vale uma representação da cidade, para lá do seu valor estritamente estético: a de tornar a arena de disputa em torno do que a cidade é e deve ser mais plural e, portanto, mais capaz de acolher a pluralidade que eectivamente caracteriza a vida urbana.
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
cidade e actividades urbanas e industriais
Ana Martins, Portugal New York *(68) Hoboken (EUA), 2009
Loredana Bittencourt, Brasil Um agito na natureza *(69) Balneário Camboriú –SC (Brasil), 2011
Cláudio Eduardo de Castro, Brasil A Ilha *(70) Maranhão (Brasil), 2009 Gonçalo Simões, Brasil Fronteira Habitacional *(71) Angra do Heroísmo (Portugal), 2009
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Joaquim Fernando de Azevedo Gomes, Portugal Capela do Socorro *(72) Vila do Conde (Portugal), 2009 José Manuel Silva Oliveira, Portugal Refexo 3 *(73) Ericeira (Portugal), 2008
Nuno Sousa, Portugal Ângulos da Música *(74) Porto (Portugal), 2010 Rodrigo Ferreira de Carvalho, Brasil Espelho *(75) São Paulo SP (Brasil), 2009
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
cidade e actividades urbanas e industriais
Nuno Brito, Portugal Multiusos I *(76) Gondomar (Portugal), 2010
Tiago João Cassapo Dias, Portugal Movimentos Nocturnos *(77) Vila Real (Portugal), 2010
Susana Cristina Rodrigues Gasalho, Portugal Museu das Ciências Príncipe Felipe *(78) Valência (Espanha), 2008 João Pedro Santos Silva, Portugal Exaltação às conchas *(79) Salamanca (Espanha), 2009
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Gonçalo Monteiro Catarino, Portugal Urbanidades 03 *(80) Lisboa (Portugal), 2010
Ana Sofa de Machado e Ferreira, Portugal Alegoria *(82) Vila Nova de Foz Côa (Portugal), 2010
Daniela Ramos Garcia, Brasil É diícil *(81) São Paulo (Brasil), 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
cidade e actividades urbanas e industriais
Valter Perdigão, Portugal Há espera *(83) Paris (França), 2009 Rui Manuel Vieira, Portugal sem título *(84) Porto (Portugal), 2010
Luís Brinço, Portugal Porto prediomolas *(85) Porto (Portugal), 2010 Gustavo Henriques Alves Matos, Brasil Superação Destroçadas *(86) Barreiros (Brasil), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Marcos Oliveira, Portugal Permeabilidades 1 *(87) Campanhã - Porto (Portugal), 2010
Paulo Giovane, Brasil Foto Inantil *(88) Vila Isabel (Brasil), 2010
António Alarroba, Portugal Apsev *(89) Lisboa (Portugal), 2009 Breno Rodrigues de Paula, Brasil Aquário *(90) Araraquara (Brasil), 2008
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
cidade e actividades urbanas e industriais
Filipe Raimundo, Portugal sem título *(91) Lisboa (Portugal), 2010
João Pereira de Sousa, Portugal Bolhão 3 *(92) Porto (Portugal), 2009
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Júnior Lins, Portugal Vêm os pássaros *(93) Ponta Delgada – Açores (Portugal), 2010
Hugo Miguel Belo Tinoco, Portugal The end o days *(94) St. Ouen (França), 2005
José Carlos, Portugal A Clarinha está cansada *(95) Peniche (Portugal), 2009 Virgílio Agra Amorim, Portugal A arte de pintar *(96) Porto de Aveiro (Portugal), 2007
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Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança Tema 3 Património material e intangível
Prémio tema Património material e intangível Rui Miguel da Cruz Feijão Moreira Marques , Portugal
Fátima *(97) Fátima (Portugal), 2008
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
Menções honrosas
João Maria da Rocha Peixoto Cameira, Portugal Máscaras *(98) Varge (Portugal), 2009
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
António Alarroba, Portugal E la nave va *(99) Porto (Portugal), 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
Jovens estudantes
Vítor Wilson Gameiro Mendes, Portugal Amarante à Noite *(100) Amarante (Portugal), 2009 MMazzon, Brasil Em Wonderland *(101) Porto Alegre (Brasil), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Carlos Barros, Portugal Caminho a Ferro *(102) Barca d´Alva - Douro (Portugal), 2010
Susana Cristina Rodrigues Gasalho, Portugal Tábuas da história *(103) Ilha do Pico Açores (Portugal), 2008
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
Jovens estudantes
Tamira Irís Vandenbussche Leando Cruz, Portugal Histórias de Terror *(104) Almeida (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Figuras de Mundo António Pedro Pita
O título desta exposição oculta ou mostra um jogo, menos subtil do que parece, com um célebre aorismo de Marx. Não se trata de regressar agora, à letra ou ao espírito, da amosa décima primeira tese sobre Feuerbach, expressão básica do enlace entre flosofa e política. Não se trata, pois, de prender esta exposição a um passado qualquer mas de ler toda a espessura da amosa oscilação entre interpretar o mundo e transormar o mundo, neste texto retomada em contexto dierente. Libertemo-nos um pouco do antasma da representação fgurativa, à qual a otografa orneceu argumentos de peso. Sobretudo a convicção, que ninguém exprimiu melhor do que André Bazin, de que na otografa ocorria uma “transerência de realidade” do objeto (do mundo) para a representação. Transerida, a realidade torna-se aparição. E uma aparição não é simplesmente o que aparece. Uma aparição é o que aparece vindo de um outro plano, de outro mundo, de uma outra condição. É aparição o que vem da morte, do uturo, da eternidade. Neste sentido, a aparição tem uma dimensão antasmática. É pela aparição que a realidade devém antasma: é real, e tão pregnante, que é para o real exterior e anterior à representação que, se nós deixarmos, a representação nos envia; mas é também irreal (ou desreal ou desrealizado), e tão poderoso, que é na melancolia ou na dor ou no luto da ausência desse real que, pela representação, somos instalados. Todo o ascínio da otografa dita documental releva não tanto desta condição dupla mas de uma complexidade mais alta que é o resultado da recíproca mediação entre real pelo irreal. O contributo da experiência estética para o esclarecimento desta reciprocidade é decisivo. O percurso que nos conduz da obra ao objeto estético e a apreensão do plano de autonomia que investe o objeto estético de toda a sua capacidade de irradiação clarifcam quer o processo de estetização quer a dimensão fccional inerente à captação pela imagem. Se or possível afrmar que a captação pela imagem opera no real uma espécie de metamorose fccional, a otogra-
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
património material e intangível
fa e o cinema documentais derontam-se com todas aquelas muitas questões já recenseadas, entre as quais deve sublinhar-se a descolagem ou distanciamento do real como condição do pensamento do real. A demarcação entre material e imaterial – como, por exemplo, quando distinguimos entre cultura material e cultura imaterial – perde consistência e undamento. Por um lado, porque a construção simbólica e o trabalho artístico consistem justamente em dar uma determinada imaterialidade (um sentimento, um valor) na materialidade de uma determinada matéria prima, não, simplesmente, sob a orma de aquela se acrescentar a esta mas porque é possível alar de uma conivência prounda entre a imaterialidade que se concretiza e as virtualidade expressivas da matéria. Mas também por outro motivo. A representação otográfca não é uma transerência de realidade, como pretendeu Bazin. A representação otográfca ir-realiza. Sempre: mesmo quando pretende, simplesmente, documentar. É esta ir-realização que permite ver (em vários graus: captar, surpreender, descobrir) o objeto “documentado” do ponto de vista da sua capacidade expressiva. De acto, é menos importante o reconhecimento gerado por um título, “Fátima” (o título é uma inormação exterior tornada guia de interpretação), do que a captação da densidade cósmica da imagem: o templo ao undo, ao qual chegamos por um caminho (distância, esorço, sacriício) ladeado por elementos arquitetónicos mais recentes, nos quais poderemos querer reconhecer uma nova Basílica mas que, na imagem, são elementos de uma construção por-vir, espaço de recolhimento ou de acolhimento, talvez morada. O espaço organiza-se para um uga em rente, a que o Templo coloca um limite, ou de que é fnalidade mas também para uma uga para o alto, para a única clareira num céu denso de nuvens, entre a acumulação cénica e a ameaça. Tal como “Máscaras”, do mesmo passo que documenta rituais populares que mergulham, como se costuma dizer, “na noite dos tempos”, traz ao tempo da objetivação otográfca a irrupção de uma outra representatividade. O artiício da máscara inscreve-se sobre uma naturalidade longínqua, discreta, já evidentemente estilizada ou teatralizada, teatralização que a máscara radicaliza pela explicitação de tensões como eu/outro, natural/artiício, visível/ invisível. Só na otografa, note-se, é que a mão parcialmente à vista ganha expressividade: de quem é aquela mão? A que mundo, a que corpo pertence aquela mão?
A obra de arte não reproduz o real. A obra de arte é um objecto real. Precisamente porque o real excede quaisquer das suas reduções conormistas ou convencionais e é nesse excesso que enraíza a experiência estética (a começar pela experiência estética do artista), a obra de arte é a dicção de um sentido do real.
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
O real é o que está desde sempre aí e ainda não tem fgura de mundo.
Aquela mão está ali para reorçar a temporalidade heterogénea. A máscara é mais do que um traço de ancestralidade cultural (por isso, az mais do que documentar a dinâmica da cultura). A máscara traz consigo uma outra organização do tempo e a subversão da identidade: porque a máscara não é a outra identidade, não é (o) outro rosto, é, pela sua própria fxidez, o dierimento do rosto, introduz na questão da identidade desdobramentos sem fm. Por isso, a máscara e a mão pertencem a temporalidades: a mão pertence ao tempo da natureza e do visível, a máscara é da ordem, de o que liga o visível ao invisível, do que põe em comunicação o natural e o artiício. O título ou a legenda esclarecem, condicionam ou dirigem o olhar. “E la nave va”, de explícita ressonância elliniana ou “Caminho a erro” (e não “caminho de erro”) são ormulações que se projetam poderosamente sobre a nossa receção das respetivas imagens. “Tábuas da história” é um título operativo de outro modo. Primeiro: a luz, a transparência da luz, a intensidade da cor. Depois, a organização do espaço plástico: muito à maneira da pintura dita “abstrata”, a organização do quadro como organização não propriamente de elementos ou de objetos mas de cores e seus contrastes, de luz e de sombra. Terceiro, a opção inteligente pelo artigo defnido “a história”, “tábuas da história” – como se as tábuas concentrassem a história. Aquelas tábuas: de algum modo presas à relação entre um exterior e um interior e à ligação entre dois pontos ou dois planos. A importância da otografa está, por conseguinte, muito para além do que ela permita documentar. Como, aliás, a qualidade de muitas imagens desta exposição permite confrmar. A imagens documentam, claro. Mas azem por (e para) nós o trabalho de distanciamento sem o qual, verdadeiramente, a nossa relação com o mundo permanece velada pela relação de pertença ou de instrumentalidade. O distanciamento é condição de rigor e de transparência. Por isso, a representação desamparada do mundo em que vivemos, da história e da intemporalidade, a que de certo modo não escapamos nunca, é tanto mais rigorosa – isto é, liberta-nos tanto mais – quanto mais permitir que nos emancipemos da exclusividade do mundo como acto e habitemos também o mundo como possibilidade.
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património material e intangível
Luís Filipe da Conceição Serra, Portugal IMG_0764 *(105) Sabugal (Portugal) João Manuel M. Martins, Portugal Óbidos *(106) Óbidos (Portugal), 2000
Anna Carolina Venturini, Brasil A religião e os ordes noruegueses *(107) Fiorde Hardanger (Noruega), 2008 Francisco Manuel Duarte Mendes, Portugal Refexos *(108) Porto (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Paula Cristina Correia dos Santos, Portugal À noite, em Barcelona *(109) Barcelona (Espanha), 2009
Miguel Pereira da Silva, Portugal Construído *(111) Porto (Portugal), 2010
Natalie Arlete Pereira Sánchez, Venezuela Puerto Cabello tricolor *(110) Puerto Cabello (Venezuela), 2010
Inês Sofa Barata Antunes, Portugal Elevador da Bica *(112) Lisboa (Portugal), 2010
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património material e intangível
Pedro Emanuel Santos, Portugal Um olhar sobre a Batalha 1 *(113) Batalha (Portugal), 2010 Osvaldo Cipriano, Portugal Convento de S. Francisco *(114) Santarém (Portugal), 2009
Gonçalo Simões, Portugal Fogo Sagrado *(115) Angra do Heroísmo (Portugal), 2009 Nuno Brito, Portugal A luz das Trevas *(116) Viseu (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
João Aristeu da Rosa, Brasil Renda(-se) aos tijolos *(117) Lisboa (Portugal), 2010
Tamires, Brasil Sinos da Sorte *(118) Três Coroas (Rio Grande do Sul, Brasil), 2008
António Alarroba, Portugal Com pena *(119) Sintra (Portugal), 2009 Bernardo Batista, Brasil Pompeia *(120) Pompeia (Itália), 2008
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património material e intangível
Paulo Carneiro, Portugal sem título *(121) Alqueva (Portugal), 2010
Raael Villamariz do Nascimento, Portugal Nina *(122) Lisboa (Portugal), 2010
Diogo Costa, Portugal Norra Skenet *(123) Umeå (Suécia), 2010 Carla Alexandra Fernandes Mota, Portugal A cidade veste-se no S. João *(124) Porto (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Patrícia Isabel de Machado e Ferreira, Portugal A torre do corvo *(125) Torre de Moncorvo (Portugal), 2008 Mariana Jeca, Portugal Palácio de Cristal *(126) Madrid (Espanha), 2009
Pedro Nunes da Rocha Peixoto, Portugal Velas ao vento *(127) Torreira (Portugal), 2009 Raaela Pacheco Dalbem, Portugal Dessas cidades muradas *(128) Almeida (Portugal), 2010
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património material e intangível
António Alves Tedim, Portugal Rapa das bestas *(129) Sabucedo (Portugal), 2009
Luís Ramos, Portugal Desao *(130) Golegã (Portugal), 2006
Silvino Jorge Rodrigues, Portugal Fé III *(131) Braga (Portugal), 2009 João Orlindo Simão Ventura Marques, Portugal Os Cinco Mandamentos *(132) Paranhos - Seia (Portugal), 2005
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Beatriz Mendonza Fernández, Espanha Mascara Ibérica II *(133) León (Espanha), 2010
Pedro Miguel Ferreira da Silva Bastos, Portugal Cheirinho Mexicano *(135) Arouca (Portugal), 2006
Luís Brinço, Portugal Careto Pastor *(134) Podence (Portugal), 2010
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património material e intangível
Ana Rosa Marques, Brasil Cuias para o sertão guardar a vida *(136) Carolina (Brasil), 2009 Carlos d´Abreu, Espanha Sin trenes *(137) La Fregeneda (Espanha), 2009
Ana Sofa de Machado e Ferreira, Portugal Lembranças *(138) Torre de Moncorvo (Portugal), 2010 João Maria da Rocha Peixoto Cameira, Portugal Fechadura *(139) Rio de Onor (Portugal), 2008
Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança Tema 4 Modos de vida e desenvolvimento sustentável
Prémio tema Modos de vida e desenvolvimento sustentável João Vasco dos Santos Ribeiro , Portugal
Inância perdida 3 *(140) Sobral da Adiça (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
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Menções honrosas
Sérgio Miguel Santos, Portugal Peneirando o trigo *(141) Bakthapur (Nepal), 2009
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
José Carlos, Portugal Lisboa Tolerante *(142 ) Lisboa (Portugal), 2010
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Jovens estudantes
Omar Timón Cepeda, Espanha Carpintería tradicional *(143) Oropesa - Toledo (Espanha), 2009 Letícia Alves Vitral, Brasil Alma Llanera *(144) Juiz de Fora - Minas Gerais (Brasil), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Ana Rita Cirne Amador , Portugal Todos gostam de aprender *(145) Mona-Quimbundo (Angola), 2009 Osvaldo G. M. G. de Carvalho, Cabo Verde A lenha *(146) N.ª S.ª da Luz - S. Domingos – Santiago (Cabo verde), 2009
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Jovens estudantes
Daniela Ramos Garcia, Brasil Olha o pesado *(147) São Paulo (Brasil), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Una mirada transversal comprometida con la vida y con el territorio Valentín Cabero
“No me interesa la otograía, sino la vida”
(Henri Cartier-Bresson) “Estamos en el siglo de la imagen. Para bien o para mal, suriremos más que nunca la acción de la imagen”
(Gastón Bachelard)
Las imágenes nos atrapan. Y tratan de atrapar a un mundo alocado, cuyos sucesos somos incapaces de situar y de entender en sus verdaderas coordenadas vitales y territoriales. Las imágenes, al igual que los hechos que recogen, se convierten en nuestros días en eímeras y en objetos de consumo rápidamente engullidas y sustituidas por otras, máxime cuando la inormación está controlada por intereses mercantiles casi siempre espurios y perversos. De ahí la necesidad de detenernos desde miradas más pausadaso sobre nuestros sin que lo espectacular lo coyuntural marcados por los acontecimientos inmediatos retocados por entornos, artilugios electrónicos de última ni generación nos borren la realidad y el contexto donde vivimos. Cuando la amnesia colectiva y la pérdida de reerencias territoriales se imponen en nuestros géneros de vida, más necesario nos parece la búsqueda de alternativas otográfcas capaces de acercarnos a una lectura renovada y creativa de nuestros territorios, de sus gentes y de sus paisajes. En este empeño puede afrmarse que existe una gran carga de aecto y de sentimientos respetuosos por las herencias culturales y patrimoniales. Domina entre nosotros un otoperiodismo de lo eímero y de lo banal, aunque no altan aortunadamente apuestas valientes y creativas que nos acercan a territorios olvidados y excluidos, a guerras silenciosas y permanentes, a gentes desamparadas y al borde de la muerte, a las culturas dominadas por la intolerancia y la violencia, o desde el plano ambiental a la agresión despiadada a nuestros recursos naturales y a las riquezas públicas, mostrándonos la gravedad de las contradicciones del mundo en que vivimos. Nos descubren así, rente a las bellas imágenes cósmicas de algunos paisajes naturales y culturales que nos deslumbran, la sordidez y el caos de los males que nos 99
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modos de vida e desenvolvimento sustentável
invaden y nos destruyen. En los últimos tiempos, con el desarrollo rápido de la otograía aérea, hemos ampliado nuestra mirada y captado estos problemas a escala planetaria; y paradójicamente las extraordinarias imágenes nos muestran de nuevo esa dialéctica de la naturaleza y de la vida que va engranado en el territorio la armonía y el caos. La enomenología de las imágenes adquiere en el proyecto de transversalidades una sensibilidad y expresión propia presididas por el sentido de lo ibérico y lusóono en su dimensión más abierta, plural y universal. Intenta ir más allá de los otogramas y de la estética circunstancial. De ahí que el relieve o el paisaje se conviertan en metáora del espacio y del soporte ísico, que el trabajo de aquí y de allá se presenten como compromiso solidario con la vida y la construcción del territorio, que la soledad y la marginación nos hablen de las desigualdades sociales, o que las mudanzas urbanas y los mensajes recogidos sean expresión de la creatividad y del transcurso del tiempo. De algún modo contribuyen a la comprensión y entendimiento de lo que desconocemos o ignoramos de nuestros entornos. Hay, pues, en esta indagación otográfca una pretensión de descubrimiento y de conocimiento que transcienden a las imágenes concretas y a los hechos captados. A través de las otograías sin ronteras se nos abre un camino epistemológico que nos anima a su vez a remover nuestras conciencias y a descender a la explicación de los modos y géneros de vida. La naturaleza cobra un signifcado próximo a la libertad cuando se enrenta a la presencia domesticadora del hombre, además de enseñarnos con plasticidad la nobleza y belleza de los animales. En los ámbitos más serranos, bajo atmóseras húmedas, topamos con actividades ganaderas y pastoriles bien adaptadas a los recursos naturales que se convierten en ejemplos de paisajes culturales de relevancia ibérica. Cuando el hombre se enrenta a la uerza del mar y al aprovechamiento de sus riquezas, necesita de habilidades especiales y de esuerzos colectivos que nos muestran en sus rostros la dureza del trabajo tradicional y la incertidumbre de algunas actividades como la pesquera. Aunque enriquecedoras, no son defnitivas estas lecturas. Algunos lugares y otogramas nos llevan a una consideración más específca del territorio y de las mudanzas de la vida, invitándonos a una explicación y entendimiento de los paisajes ísicos y humanos, convirtiéndonos de este modo y al mismo tiempo en naturalistas, en antropólogos, en sociólogos o en geógraos preocupados por la construcción y descubrimiento de las dierentes realidades ibéricas. Enlaza esta preocupación con una tradición inteligente que conía en la capacidad científca, estética y pedagógica de la otograía y de la expresión gráfca, sin olvidar en ningún momento la necesidad de una escritura sugerente y atractiva. Así, podemos acercarnos a los hechos más permanentes y perdurables del paisaje, representados aquí y allá por el roquedo y los aspectos morológicos, y aproximarnos a los derivados de las estructuras y mudanzas sociales, más perecederas y delicadas, que aectan a las ormas de vida e incluso a las mentalidades e identidades. Los otogramas nos ilustran sobre algunos pormenores elocuentes de la vida campesina, pero se
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detienen quizás con más atención en la vida urbana, subrayando aquellos elementos de dimensión arquitectónica y visual que dominan en los escenarios geográfcos. En un segundo plano aparecen las maniestaciones precisamente culturales e inmateriales más diíciles de plasmar y representar. Nos movemos entre la lejanía y la proximidad, entre la velocidad del viajero globalizado y la búsqueda del conocimiento más personal en los entornos más cercanos. Y en estas percepciones contrapuestas, las imágenes nos ayudan a fjar y “detener el tiempo” y a reconstruir en mayor o menor grado el espacio, donde las personas y paisajes se convierten en testimonios visuales y en protagonistas. Entonces los contrastes se manifestan con todas sus enseñanzas y su crudeza crítica. Desde la escala de la proximidad, sobresalen aquí y allá las ormas y géneros de vida estrechamente vinculados a la supervivencia, siempre con una capacidad de adaptación que intenta la conservación y perduración de los recursos vitales, aunque algunas imágenes nos presentan límites y barreras insalvables que rozan claramente la insostenibilidad. Con gran belleza estética se nos muestran ejemplos expresivos de actividades artesanales que han marcado durante siglos el ritmo cotidiano en nuestros entornos, o la creatividad artística más estrechamente relacionada con las habilidades manuales y la riqueza cultural. Toda una expresión de sensibilidad humanística, que nos resume un transcurrir del tiempo vivido sin prisas y con lentitud. Más contrastes y matices nos comprometen con el territorio. Al lado de la vitalidad y sonrisa de los niños de tierras lejanas se nos muestran la indignidad social de la pobreza, no exenta de energías e inancias perdidas o de adolescencias tristemente destruidas y violadas. Cuando estas gravísimas circunstancias, con náuragos callejeros y vidas rotas, se hacen invisibles para la sociedad, creemos que es un pecado civil y un euemismo hablar de desarrollo sostenible. En el otro extremo de nuestra realidad rural inmediata, si contemplamos el envejecimiento extremo y la soledad solidaria y vecinal del fnal del camino, es diícil asimismo hablar de sostenibilidad o de la utopía que clama desde hace varias décadas por la deensa de un mundo rural vivo. La rueda maciza del carro chillón de Tras-os-Montes o de las Montañas Galaico-Leonesas nos recuerda los tiempos inmediatamente pasados de pobreza y aislamiento que llevaron al éxodo rural y al abandono de terrazgos históricos. Bien podríamos decir, por tanto, que detrás de estas imágenes topamos con una geograía de la memoria, pero sobre todo con una orma de narrar y de pensar que se enrenta valientemente al mercantilismo que nos destruye y al tiempo rápido y eímero que nos devora. Apuesta por la vida y por los territorios construidos solidariamente por el hombre con sentido de perdurabilidad.
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modos de vida e desenvolvimento sustentável
João Pedro Santos Silva, Portugal Esse teu olhar *(148) Vila do Carvalho (Portugal), 2010
João Vasco dos Santos Ribeiro, Portugal Inância perdida 1 *(149) Sobral da Adiça (Portugal), 2010
Rui Pires, Portugal O Trio Rural *(150) Serra da Arada (Portugal), 2008
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Carla Pizarro Rosa, Portugal Negro e azul *(151) Serengeti (Tanzânia), 2010
Carla Alexandra Fernandes Mota, Portugal Rostos de inocência *(152) Goa (Índia), 2007
Gustavo Henrique Alves Matos, Brasil Refexologia da Indignação *(153) Recife (Brasil), 2009 Luís Ramos, Portugal Vizinha *(154) Cuba-Alentejo (Portugal), 2009
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
modos de vida e desenvolvimento sustentável
António Alves Tedim, Portugal O pastor da “vez” *(155) Regoufe (Portugal), 2009 Tiago Serra Reis, Portugal Aqui há boi *(156) Estrela-Alentejo (Portugal), 2009
Pedro Miguel Ferreira da Silva Bastos, Portugal Pastorícia *(157) Serra da Freita – Arouca (Portugal), 2006 Silvino Jorge Rodrigues, Portugal Retrato *(158) Braga (Portugal), 2000
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Maria João Aleixo da Silva, Portugal Suspensos nas nuvens *(159) Setúbal (Portugal), 2009 Luís Lobo Henriques, Portugal Preparativos para a sara *(160) Escaroupim, Salvaterra de Magos, Ribatejo (Portugal), 2010
Laurentino Rodrigues Simão, Portugal Em competição *(161) Costa de Caparica (Portugal), 2009
João Pedro Costa, Portugal Nevoeiro *(162) Sagres (Portugal), 2005
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
modos de vida e desenvolvimento sustentável
Marcos Guilherme, Portugal Fundição1 *(163) Gulpilhares (Portugal), 2010
Francisco Manuel Duarte Mendes, Portugal Sr. Agostinho, o Moleiro *(164) Bajouca - Leiria (Portugal), 2010
Sérgio Miguel Santos, Portugal A adora *(165) Kathmandu (Nepal), 2009 Ana Oliveira, Portugal Arte *(166) Loulé (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Jorge Miguel Marques Cordeiro, Portugal Um só Caminho *(167) Santiago - Cidade Velha (Cabo Verde), 2010
José Carlos, Portugal Vending machine *(168) Carcavelos (Portugal), 2010
Marcos Oliveira, Portugal Working Day 3 *(169) Gondomar (Portugal), 2010 Hugo Miguel Belo Tinoco, Portugal Como antigamente *(170) Aveiro (Portugal), 2008
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
modos de vida e desenvolvimento sustentável
Nádia Pacheco, EUA Grassland 03 *(171) Los Angeles, California / Morelos, México, 2010
Miguel Pereira da Silva, Portugal Mercado Biológico 3 *(172) Porto (Portugal), 2010
Carlos Cabral, Portugal Marnoto *(173) Aveiro (Portugal), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Rui Miguel da Cruz Feijão Moreira Marques , Portugal Rapazes de Cuzco *(174) Cuzco (Perú), 2000 Carlos Verde, Portugal Invisíveis c *(175) Funchal – Madeira (Portugal), 2010
Madlin Freitas, Portugal Francisco *(176) Lisboa (Portugal), 2010 José Manuel Silva Oliveira, Portugal Costureira *(177) Lisboa (Portugal), 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
modos de vida e desenvolvimento sustentável
Carlos Avendaño Henchoz, Costa Rica Preso de la calle *(178) Curridabat (Costa Rica), 2010 Filipe Raimundo, Portugal Sem título *(179) Eiró (Portugal), 2010
Osvaldo Cipriano, Portugal Lost in Time *(180) Ribeira de Santarém (Portugal), 2010 José Monteiro Fernandes, Portugal TV rural *(181) Santa Eufêmia (Portugal), 2007
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Hélio Cristóvão, Portugal Tempestade na Lagoa *(182) Lagoa de Óbidos (Portugal), 2008
Pedro Emanuel Santos, Portugal no atelier 3 *(183) Valongo (Portugal), 2010
Paulo Carvalho, Portugal Neve no Douro *(184) Armamar (Portugal), 2009 Carlos Soares, Portugal Vinha muro *(185) Açores - Pico (Portugal), 2005
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
modos de vida e desenvolvimento sustentável
Pedro José Pires Rego, Portugal Social Expression *(186) Bragança (Portugal) Nuno Moreira, Portugal Viana do Alentejo *(187) Viana do Alentejo (Portugal), 2010
João Maria da Rocha Peixoto Cameira, Portugal Roda da Sustentabilidade *(188) Vinhas (Portugal), 2006
Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança Tema 5 Espaços de ronteira
Prémio tema Espaços de ronteira José Carlos , Portugal
Próxima Paragem *(189) Óbidos (Portugal), 2009
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
Menções honrosas
Valter Perdigão, Portugal Do outro lado *(190) Zaragoza (Espanha), 2008
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Gabriel Gallarza, Brasil Banho de Rio *(191) Londrina - Paraná (Brasil), 2001
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Jovens estudantes
Pedro Antunes Costa, Portugal Buddhism vs Comunism *(192) Hong Kong (China), 2010
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
Espacios de rontera y la Raya Ibérica Lorenzo López Trigal
Lo que tiene de srcinal el espacio (geográfco) es una visión de la realidad de lugares dierenciados: espacio urbano, rural, industrial o ronterizo, por ejemplo, en el conjunto de relaciones e interacciones, donde interviene la extensión, el espaciamiento y la distancia. Como resultado de ello, el espacio adopta un sentido polisémico de múltiples combinaciones en cualquier entorno que se presente: como símbolo y realidad geográfca, desprovisto de todo valor material, como recurso, uente de riqueza o en su deecto carencia, y como elemento de seguridad y control. Asimismo, los lugares y regiones son interdependientes en su uncionamiento de manera que la interacción espacial está presente de acuerdo al grado de conectividad y accesibilidad existente, si bien barreras políticas como las dierentes normas y sistemas políticos, las ronteras nacionales y lingüísticas, pueden obstaculizar e impedir la interacción o al menos renar la diusión espacial de innovaciones y de inormación.
espacio de ronteradeesladeevolución En este sentido, hecho unhistórica territorioy marcado por una discontinuidad división del espacio, de srcenelpolítico, producto de la organización del poder por yparte de las sociedades. En lenguaje jurídico, una línea artifcial o geográfca reconocida, con delimitación simétrica de competencias y aplicación de leyes que separa territorios nacionales que, a la vez, pone en contacto dos o más Estados, siendo ruto de arbitrajes y de tratados internacionales. Pero también, en un sentido económico, se expresa como área de inuencia, mercantil o de un servicio público, y en un sentido simbólico. Existen “ronteras de todas clases: geográfcas, históricas, biológicas, sociales, psicológicas... Todas partiendo y acuchillando el continuo multidimensional que nos envuelve, para acilitarnos nuestra instalación en él, para permitirnos una interpretación de los que sería un caos; es decir, un orden que no comprendemos” (José Luis Sampedro, Desde la rontera, Madrid, Real Academia Española, 1991, pág. 16). De ahí que la idea de límite espacial es consustancial con las sociedades humanas, que remonta a las sociedades antiguas y encuentra su orma concreta en el espacio-tapón e impreciso de un reino medieval que asegura las áreas conquistadas de territorios de rontera rente a espacios aún no incorporados, y ya más tardíamente el borde es delimitado por elementos reerentes e hitos y trasladado a la
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
espaços de ronteira
cartograía y control fscal aduanero, en orma de rontera de seguridad, esto es, “la rontera como una orma de límite que debe ser bien guardado” (Daniel Nordman, Frontières de France, París, Éditions Gallimard, 1998, pág. 28). Durante la etapa moderna y contemporánea la rontera acompañará el nacimiento de los Estados-nación y más tarde se afanza en las colonias y los nuevos Estados. Se reconoce así la rontera tardíamente como límite del control eectivo ejercido por un Estado, que separa una unidad política territorial y administrativa de otra colindante, entendida como línea o más bien como región o zona en la cual el Estado acumula sus elementos de uerza para hacer rente a la presión militar, demográfca o económica de un Estado vecino. En este sentido, se puede entender la rontera como maniestación de las uerzas centríugas del poder del Estado que reeja su relatividad y su estrecha dependencia de la geopolítica, siendo sus unciones de tipo político y administrativo (rontera de los juristas y diplomáticos), militar (rontera de los Estados Mayores) y económico (rontera-umbral de las áreas de inuencia). Es así resultado de la asociación de puntos, líneas y superfcies en su diseño cartográfco, aplicando el principio de línea media tanto para la rontera marítima cuanto más para la rontera terrestre en cuanto a la utilización de elementos de naturaleza ísica como cresta de montañas, divisoria de aguas, cauce uvial, lagos, divisoria de bosques, de lo que resulta la rontera natural, concepto deendido persistentemente por Francia. Otro tipo está basado en elementos inmateriales de distinto srcen, la rontera artifcial, que responde de hecho a un equilibrio de uerzas entre Estados, que sigue un trazado a menudo geométrico. Así como la rontera móvil aectada por procesos de dinámica territorial y controles de paso internacional que se vienen situando a distancia de la misma línea ronteriza, en redes de ronteras uctuantes en el espacio. Por todo ello, no debe resultar extraño que su concepto y visión abrige una serie de nociones o creencias – “mitos geográfcos”- que son alsos dilemas, oscilando entre lo natural y el artifcio, lo regional y lo nacional, la línea y la zona, el buen y el mal trazado, lo arbitrario y lo convencional, donde trazar la rontera se convierte en una praxis geográfca y geopolítica de primer orden, superando las discontinuidades y el juego de las interacciones (Michel Foucher, Fronts et rontières, París, Fayard, 1988). En el último tiempo, aunque pareciera desde una visión europea que vamos hacia “un mundo sin ronteras”, en realidad, con la mayor ragmentación de Estados el mundo se enrenta a un número más elevado de ronteras políticas y a una más estricta reglamentación internacional en la materia, de ahí que más bien se trata de “una excepción europea y norteamericana”, que no de la realidad ronterológica en la mayor parte del mundo, incluso con un cierto renacer de nuevas ronteras concretas y vigilantes en el espacio intranacional. En cualquier caso, la rontera permanece en el tiempo, incluso después de haber desaparecido como tal, en orma de vestigios y huellas culturales y paisajísticas, como se ha comprobado en zonas de rontera preexistentes en Alemania.
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
De otro lado, la Raya ibérica / Raia ibérica es término usual reerido al espacio de la rontera hispano-portuguesa, bien como raya de España o como raya de Portugal, que se traslada al lenguaje coloquial de sus habitantes conocidos como “rayanos, raianos, arraianos”, en un doble sentido: como línea o límite ronterizo y como zona a ambos lados de la rontera internacional, asociado a aldeas, villas, ciudades o a espacios comarcales y subregionales. Área de relaciones de vecindad, poseedora de una identidad territorial pese a las dierencias políticas nacionales y de lengua. Faja amplia de territorio y de rontera interior de la Unión Europea, dominada por espacios rurales de población cada vez más envejecida a excepción de contados corredores y pasos más dinámicos y donde sus moradores de las localidades rayanas han mantenido relaciones tradicionales de proximidad. Paradigma hasta ahora de espacio ronterizo no integrado y escasamente desarrollado, con un territorio marcado por los rasgos de separación y perieria, con amplios despoblados, con una débil presencia de centros dinámicos y ciudades, sin apenas trabazón entre uno y otro territorio nacional, salvo en los corredores interurbanos donde se intensifcan las relaciones. El área de la Raya viene siendo cruzada en los últimos años por nuevas inraestructuras de transporte y de energía y por ujos crecientes de bienes y población, por tratarse también de un espacio de comunicación de Portugal “a través del territorio español” con el resto de Europa, por lo que hay un proceso frme de cambio, aunque con grandes dierencias de intensidad según los tramos de la Raya, en el marco de una nueva integración entre los dos Estados como entre las regiones de un lado y otro, cada vez más alejadas de apelativos que se sumaron en su historia secular como las de “tierras extremas” y “tierras de reugio de penados (homiciados)”. En la actualidad, se consolida como un espacio de cooperación, manteniendo las dierencias culturales, y el resultado ha sido un avance cambio en la comprensión la Raya máscomo comoenlínea de parte contacto y mediación de rontera límite y cierre, tanto eny los municipios y poblacionesdecolindantes buena del espacio de la que nueva de las diecisiete provincias ronterizas. Desde esa nueva situación se plantean en los últimos años las políticas territoriales y sectoriales de cooperación transronteriza. Sin embargo, restan aún bastantes rasgos de la situación anterior de predominio de territorios de extrema perieria, sin salida por lo general más que a una escala local, característica de la organización de espacios rurales tradicionales y en la mayor parte de los lugares de unas escasas relaciones interurbanas a uno y otro lado. Siendo más nítida esta situación, por sí problemática, rente a la revalorización de los recursos del territorio y el desarrollo integrado local y regional, en cuanto a la presencia de diversas ormas de “ronterizar” el espacio en el caso de las ciudades y villas portuguesas de la raia shopping por la auencia de compradores españoles, pasando también por las difcultades propias de superar estas barreras, lo que podríamos denominar síndrome rayano o apego a una percepción y visión de que en esta situación es inevitable el estancamiento o el abandono a lo cotidiano, tal como se observa en distintos lugares, en los medios de comunicación y entre los líderes sociales a la hora de investigar el territorio.
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
espaços de ronteira
Los espacios de rontera, en fn, son también visionados desde la otograía, con imágenes bien sugerentes de la realidad y del entramado espacial que se percibe en cada momento de estos últimos años en la Raya Ibérica, como en cualquier otro viejo espacio ronterizo: El paso de un puente ronterizo erroviario –ya cerrado al tráfco hace tiempo-, ... la puerta abierta al campo en tierras del Guadiana..., el paisaje del entorno de la aldea simbólica de Rio de Onor..., el cañón del río Duero internacional- junto a las “pedras amarelas” del Viaje de Portugal de José Saramago-..., las ruinas del puente de Ajuda – en el único tramo de rontera hispano-portuguesa por demarcar aún, por su localización rente a Olivenza/Olivença-... como las viajes indicaciones metálicas de color en orma de banderas nacionales. Pero otras imágenes trazan la línea en esta Exposición, como es la que reeja “el rastro de un avión pasando por encima de un muro”, que nos dice de algún modo que la rontera, la línea como el espacio, está presente por todos lados en nuestro entorno cotidiano, sin necesidad de desplazarnos siquiera a los ámbitos y márgenes de los espacios ronterizos tan vivos aún como los de la Raya Ibérica en estos tiempos de cambio y mudanza.
Javier Alonso Crespo, Espanha Frontera España-Portugal *(193) Barca d´ Alva (Portugal), 2008
Gabriel Gallarza, Brasil Caminho da escola *(194) Vila Trindade - Curitiba - Paraná (Brasil), 2002
Bernardo Batista, Brasil Fronteiras rurais *(195) Le Baux (França), 2008 José Carlos, Portugal Passo por cima *(196) Lisboa (Portugal), 2010
Transversalidades I otografa sem ronteiras
espaços de ronteira
Paulo Carvalho, Portugal Grand Canyon Ibérico *(197) Miranda do Douro (Portugal), 2010
Paula Machado, Portugal Diálogo cortado *(198) Olivença (Portugal), 2009
Fabiano Burgo, Brasil Garganta do Diabo *(199) Foz do Iguaçú / PR (Brasil), 2009 João Vasco dos Santos Ribeiro, Portugal O que nos separa *(200) Alentejo (Portugal), 2009
territórios: sociedades e culturas em tempo de mudanças
José Monteiro Fernandes, Portugal Tempo *(201) Rio de Onor (Portugal), 2010
Aonso André Correia de Albuquerque, Portugal Comunicação *(202) Tarouca (Portugal), 2010
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Diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil 1. Paisagens de ronteira e do desenvolvimento
Transversalidades I otografa sem ronteiras
Espaços rurais, espaços de ronteiras, modos de vida, desenvolvimento sustentável Messias Modesto dos Passos
“Do que lembro, tenho” Guimarães Rosa
A otografa, desde o seu aparecimento, entrou na paisagem. Sua invenção, consecutiva à valorização do quadro pictural, veio contribuir para a renovação de um sistema de representação em mutação. A otografa não tomou unicamente o lugar da pintura. Ela ao mesmo tempo modifcou as especifcidades operatórias, o caráter do dispositivo de “artealização”. Nossa sensibilidade em relação aos lugares oi aetada. Nossa cultura paisagística passou a ser inormada de maneira dierente. A qualidade do nosso olhar se modifcou, pois “a otografa é a arte de não apertar o botão. É preciso pensar antes de otograar. A otografa não é uma reprodução do que está diante da câmera. Ela é um produto do imaginário” 1. A generalização e o uso utilitário da otografa constituíram, ao longo dos anos, uma erramenta de registro e de restituição das paisagens. A otografa de paisagem é um ato de presença no mundo. Ela é, por si mesmo, um dispositivo de expressão. Qualquer que seja a importância do ato da tomada de uma oto, uma otografa da paisagem é também uma imagem. Ela se compõe e se propõe segundo um reerencial cultural. Quando o geógrao Jean Brunhes e o mecenas Albert Kahn lançaram a operação “Arquivos do Planeta”, não deixaram nenhuma dúvida sobre a fnalidade dessa operação: “realizar um inventário otográfco da superície do globo ocupada e organizada pelo homem, tal qual ela se apresentava no início do século XX”. Jean Brunhes se inscreve no coração do projeto científco da geografa clássica, herdeira direta do paradigma da “ vue raisonnée” vidaliana: observar para classifcar e pensar as amílias dos atos geográfcos. Ele produz um sentido científco a partir da observação otográfca. Poder-se-ia identifcar duas maneiras de otograar uma paisagem. Uma, no registro poético, levaria a apresentação de uma “realidade em gênese”. A outra seria mais simplesmente uma atividade de arquivagem do real. Se
diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil
esta última maneira se presta a um estudo relevante de uma aproximação científca, a primeira se coloca mais diretamente sobre a experiência de explicitar, de orma mais simbólica, a paisagem. O geógrao az, de preerência, otografas que registram a paisagem, o cotidiano das relações sociedade-natureza. A construção e utilização de representações da paisagem, mesmo compreendidas no quadro de uma reexão científca, não são jamais neutras. A escolha das visualizações condiciona, e é condicionada, pela análise e se instaura um laço complexo entre o pesquisador, a paisagem estudada, a imagem que é produzida e o público ao qual ela se endereça. As otografas de paisagem tomadas sobre o terreno, por exemplo, representam indiscutivelmente uma paisagem real, mas não são menos dependentes da reexão dirigida sobre esta paisagem. A escolha do território otograado, as condições da tomada da oto (distância, época etc.), tudo é determinado em unção de uma vontade precisa de análise e de demonstração. Não somente a otografa deve ser representativa da paisagem, mas, também, ela deve, se possível, concentrar todos os elementos característicos que são descritos, ainda que eles estejam raramente presentes com densidade e promiscuidade signifcativas na realidade. Mesmo quando as tomadas de otos são aleatórias, elas observam sempre um princípio ou um protocolo fxado pela fnalidade operacional dos documentos. A representação da paisagem, qualquer que seja sua natureza, é, pois, ortemente sugestiva. Trata-se, em geral, não de visualizar uma paisagem tal qual ela é, mas, de preerência, de representar certa ideia dessa paisagem. A interpretação, contrariamente ao que se poderia acreditar, não é totalmente aberta, mas priorizada para certas conclusões. Essa manipulação da imagem da paisagem, como da imagem de todo objeto de estudo científco, az parte da atitude de pesquisa e está a jusante da ase de apresentação dos resultados: “a prática experimental passa pela pesquisa de um ponto de vista, de um olhar orientado sobre os objetos [...]. E para desvendar, construir, produzir seus objetos científcos os pesquisadores passam seu tempo a arranjar objetos de laboratório (imagens, instrumentos, fchas...) e a realçar os espaços de visibilidade” 2. Inegavelmente é com Vidal de la Blache que a otografa ganha um signifcado maior na representação da paisagem com a publicação, em 1908, da obra La France. Tableau géographique, isto é, uma reedição do Tableau de la géographie de la France , abundantemente ilustrado de otografas comentadas 3. Isso representa a valorização de um método particular de análise 4 que, partindo do projeto icnográfco exposto por Vidal de la Blache no início do livro, examina a maneira como ele representou, ou não, dierentes lugares da França, nessa obra, e os signifcados que ele produziu associando textos e imagens. Dos trabalhos dos homens, La Blache retira somente as culturas que eles desenvolvem, as estradas que eles constroem e, sobretudo, as dierentes ormas de habitat rural considerados geralmente como um indicador da prospe-
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ridade do modo de vida e, portanto, da adaptação ao meio natural. Aqui, fca evidente a escolha icnográfca vidaliana, que pode ser resumida na sua célebre defnição da geografa como “ciência dos lugares e não dos homens”. A terra é o palco onde se desenrola a atividade dos homens. O seu aspecto atual é apenas uma simples otografa instantânea em relação às constantes modifcações que ela apresenta. A Geografa nasceu como uma “ciência” pedagógica, ou seja, com o objetivo maior de explicar, de apresentar o mundo às novas gerações. Este objetivo oi cumprido com objetividade-subjetiva a partir dos croquis, desenhos, mapas etc., eetuados à bico-de-pena por exímios desenhistas-naturalistas. Nos tempos atuais, da cartografa inormatizada, das imagens de satélite, da máquina digital, do retorno às paisagens exóticas e incomuns, da espetacularização das catástroes e dos acontecimentos mais banais etc., a otografa se mostra como um dos meios mais efcientes e mais utilizados, na apresentação e mesmo na representação desse mundo da inormação em tempo real. Assim, as otografas eleitas para compor o tema “espaços rurais, espaços de ronteiras, modos de vida, desenvolvimento sustentável”, do concurso Transversalidades, se prestam para ilustrar da melhor maneira possível os tipos de paisagens – na sua plena polissemia – que defnem parcelas signifcativas de territórios próprios do mundo rural, um mundo rural que oscila entre um “quadro de vida sedimentado” e às metamoroses motivadas pelo processo de globalização. Essas evoluções induzem modifcações proundas na relação do homem com o meio em que vive. Os territórios quotidianos das populações locais tornam-se sítios remarcáveis e pitorescos, sua multiuncionalidade é revisitada através do registro otográfco. Novas sensibilidades em torno da paisagem surgem entre os habitantes e inuenciam as modalidades de valorização de elementos simbólicos das paisagens agrárias. Alistair Hennessy observa que as sociedades latino-americanas ainda estão no estágio de ronteira. Ainda se encontram naquele estágio de sua história em que as relações sociais e políticas estão, de certo modo, marcadas pelo movimento de expansão demográfca sobre terras “não ocupadas” ou “insufcientemente” ocupadas. Na América Latina, a última grande ronteira é a Amazônia, em particular a Amazônia brasileira, como assinalou Foweraker, ou “última ronteira terrestre que desafa a tecnologia moderna”, como observou Posey. Desde o início da Conquista, oi ela objeto de dierentes movimentos de penetração: na caça e escravização do índio, na busca e coleta das plantas conhecidas como “drogas do sertão”, na coleta do látex e da castanha. A partir do Governo Militar (1964) a Amazônia brasileira transormou-se num imenso cenário de ocupação territorial massiva, violenta e rápida, processo que continuou, ainda que atenuado, com a reinstauração do regime político civil e democrático em 1985. A história contemporânea da ronteira, no Brasil, é a história das lutas étnicas, segundo José de Souza Martins: “Na minha interpretação, nesse conito, a ronteira é essencialmente o lugar da alteridade. É isso o que az dela uma realidade singular”.
diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil
Ainda, segundo Martins: a ronteira só deixa de existir quando o conito desaparece, quando os tempos se undem, quando a alteridade srcinal e mortal dá lugar à alteridade política, quando o outro se torna a parte antagônica do nós. Quando a história passa a ser a nossa história, a história da nossa diversidade e pluralidade, e nós já não somos nós mesmos porque somos antropoagicamente nós e o outro que devoramos e nos devorou. O espaço brasileiro se defne por uma grande diversidade regional, e parcela signifcativa ainda pode ser considerada território de conquista (ou de ronteiras?), sob os impactos da marcha do capital para o campo . O modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil propicia um conjunto de impactos sócio-ambientais sobre esse território. A solução desses problemas é uma tarea diícil, pois eles se inserem num conjunto de questões correlatas, como a crise econômica (a recessão, o desemprego, a inação, a dívida externa, a dívida interna etc.); a crise social (que é uma crise estrutural, gerando desigualdade, pobreza, marginalidade etc.) e a crise moral que atinge particularmente o poder público. “Só é possível compor propostas para enrentar os desafos do presente se há diálogos com o passado. É a perspectiva histórica que undamenta políticas públicas de longo alcance, articulando tradição e renovação, mudança e permanência”. Marina Silva O Brasil é um dos poucos países do mundo onde se continua a integrar novos espaços ao preço do desrespeito às populações amazônicas, da marginalização de parcela signifcativa de sua população, e de uma transormação do espaço natural e rural. Esse enômeno, acentuado pelos acasos da conjuntura, tendo de um lado a necessidade sócio-econômica, e de outro, as consequências sobre o meio ambiente, difculta o encontro de um modelo que seja socialmente justo e ambientalmente correto. Apesar do signifcativo processo de colonização, dirigido tanto pelos poderes públicos como pela iniciativa privada, a marginalização dos pequenos proprietários e, sobretudo, dos trabalhadores rurais sem terra, progride. O território geográfco nasce da orça dos homens que conquistam os espaços ainda “vazios” e implementam agricultura, indústria, comércio, serviços...; mas, a que preço? Grandes parcelas do território de ronteira (notadamente da Amazônia) se constituem em verdadeiros ícones dessas regiões que passaram, em menos de trinta anos, da oresta “virgem” à era do automóvel, da televisão, do ar condicionado, do “celular”... Esta prodigiosa conquista da Amazônia e a integração destas novas regiões econômicas no mercado nacional e mundial não existem sem lembrar os ciclos que ritmaram a história do Brasil: ela é também a sequência de uma marcha em direção ao interior do continente. Mas as conseqüências sociais e ecológicas não são negligenciáveis: de um lado, morte ou exílio dos Índios, pobreza, miséria, luta pela terra, violências..., e de outro lado, maciços desmatamentos, empobrecimento 133
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biológico, erosão dos solos e provável mudança climática, sem que pudéssemos dar verdadeiramente a medida exata da importância de cada um destes que poderíamos chamar de “danos colaterais”. Nas áreas de ronteiras os atores bioísicos de uma parte, e as múltiplas iniciativas e ações humanas motivadas pelos interesses econômicos de outra parte, conduzem a grandes difculdades de acompanhamento, em tempo real, do conhecimento científco desses meios, e cuja identifcação das políticas públicas permite engajar estas regiões na via do desenvolvimento sustentável. É, sem dúvida, nesta via que o Brasil deseja se orientar depois dos acordos assinados durante a Conerencia Internacional das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano – a Eco-92. A noção de sustentabilidade, que introduziu a reexão e a ação em matéria de desenvolvimento, se apresenta em defnitivo muito clara: a reerência à lógica de progresso das sociedades humanas, coloca a ênase sobre a necessária articulação entre a viabilidade econômica das ormas tomadas por este desenvolvimento, sua capacidade de não colocar em perigo os recursos ambientais sobre os quais ele se unda, e o caráter equitativamente benéfco de seus eeitos sobre os dierentes grupos sociais (Conerência Mundial sobre o desenvolvimento sustentável, 2002). As mudanças socioespaciais dos últimos 60 anos transormaram o Brasil, um país essencialmente agrário, até então, em um país urbano-industrial com impactos paisagísticos agudizados por algumas variáveis que difcultam enormemente o encontro de um modelo de desenvolvimento que seja socialmente justo e ambientalmente correto (Passos, 2000):
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a dispersão espacial das atividades, em parte justifcada pelas dimensões continentais do território mas, certa-
mente, devido ao caráter de nossa ormação sócioespacial marcada pela “economia de ronteira”; a compressão temporal, ou seja, a velocidade das mudanças sócio-econômicas e, claro, das defnições e redefnições das políticas territoriais que atenderam/atendem muito mais às conjunturas e às regras ditadas de ora para dentro, não considerando os custos da desintegração regional e, principalmente, da ausência do tempo sufciente para a consolidação/sedimentação das economias locais-regionais e, claro, da construção paisagística; a concentração, enômeno considerável da dinâmica territorial brasileira, maniestada na concentração da pobreza nas perierias das médias e grandes cidades; concentração de renda e de patrimônio; os brasis, Brasil Atlântico, Brasil interior, Brasil povoado, Brasil pouco povoado, Brasil rico, Brasil pobre, mas sobretudo um Brasil de grandes dierenças locais e regionais. Brasil de sobreposição do moderno com o arcaico marcadamente híbrido, ambivalente, instável e dinâmico, herança do processo de “modernização conservadora”.
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Em 1970, o projeto de modernização acelerada proposto pelo então Ministro Roberto Campos, é redefnido e, com apelos ideológicos, é lançado o Plano de Integração Nacional (PIN), através do Decreto-Lei 1.106 que, com uma parcela de 30 % de undos de incentivos fscais, fnanciaria uma estrada, a Transamazônica (BR-230), de 5.000 quilômetros! O deslocamento de camponeses de áreas submetidas à “pressão demográfca” é ofcializado e o discurso de ligar o homem sem terra do Nordeste à terra sem homem da Amazônia é posto em prática, de orma caótica e socialmente injusta. Os programas de desenvolvimento regional têm um caráter predominante de “desenvolvimento da Amazônia”, em detrimento do “desenvolvimento para a Amazônia”. As sucessivas mudanças dos “planos de desenvolvimento”, ao sabor das conjunturas políticas e econômicas, contribuíram para a alência da grande maioria dos projetos de colonização. A nossa conclusão está voltada para algumas variáveis que apontam para a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento regional:
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Um modelo excludente: no esorço de escolher uma imagem que seja reveladora do ambiente da ronteira atual, eu diria que esta imagem é da e“xclusão”. A ronteira se organiza em unção dos mercados e das conjunturas momentâneas; ela alterna ases de prosperidade com ases de depressões, de regressões. O sucesso no aumento da produtividade, não é revertido em beneício do produtor e nem mesmo do meio ambiente. A ronteira continua avançando, mesmo que esta mobilidade não tenha respaldo numa possível necessidade de produzir mais. Há muito mais áreas desmatadas do que as áreas eetivamente ocupadas economicamente. Um modelo produtivista: após vinte anos é o agronegócio que, notadamente no Mato Grosso, conhece o mais orte desenvolvimento, sustentado pela necessidade do Brasil obter divisas a partir de produtos exportáveis como a soja. A superície plantada aumentou de 43% no Brasil, entre 1980 e 1990 e, em mais de 150% no Mato Grosso. Desorestamento e ragmentação contínua das orestas amazônicas: os estudos recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE: 2000, 2002, 2005, 2010), no âmbito dos quais o desmatamento é qualifcado a partir da interpretação de imagens de satélites, mostram que a área total de oresta tropical derrubada na Região Amazônica aumentou em 631 mil km2 em 2003. Estimativas ofciais do governo divulgam que 26,1 km2 teriam sido desmatados entre agosto de 2003 e julho de 2004.
Ou seja, o discurso do II PND – Plano Nacional de Desenvolvimento (1974) -, em que está explicitado que o “objetivo e a opção nacional básica é a construção de uma sociedade desenvolvida, moderna, progressista e humana ”, deixando
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claro, no sexto e último item: “realizar o desenvolvimento sem deterioração da qualidade de vida e, em particular, sem devastação do patrimônio de recursos naturais do País ”, oi jogado na lata do lixo. Enfm, o Brasil é um dos países do Mundo onde se pode observar sobre um período relativamente curto (uma quinzena de anos), a emergência de novas ormas de ocupação do território, de exploração dos recursos naturais e de mise en valeur agrícola. Mais precisamente, nas zonas ditas de “ronteira agrícola”, como a Amazônia ou os cerrados do Planalto Central, a aceleração da expansão econômica brasileira se maniesta por importantes impactos sobre o espaço como, por exemplo, a apropriação de vastos territórios por interesses privados (grandes propriedades rurais, frmas agro-alimentares, indústrias mineiras, reqüentemente multinacionais), o auxo de populações provenientes dos espaços em crise do Nordeste ou das superpovoadas metrópoles do Sul, a emergência de novos centros urbanos etc. As otografas e, notadamente as Transversalidades ilustram as transormações sócio-espaciais em curso e a complexidade-diversidade dos elementos da paisagem: simbólicos, patrimonial, históricos, culturais, identitários etc.). Estes elementos são moldados, percebidos, vividos e mobilizados de maneiras dierentes. Eles são capazes de mostrar as sinergias e os conitos ligados ao uso do espaço. Nessa perspectiva, as transversalidades (ou melhor, as otografas) mostram as percepções, as «visões de mundo» dos atores sociais e suas ormas de coordenação que permitem conciliar a emergência de novas estratégias de desenvolvimento local, a preservação das atividades de produção agrícola e dos recursos naturais do meio. Reerências:
FOWERAKER, Joe. (1981) The struggle or land (a political economy o the pioneer rontier in Brazil rom 1930 to the present day) . Cambridge, Cambridge University Press. HENNESSY, Alistair. (1978) The rontier in Latin American history. London, Edward Arnold. MALLARD, A. Paysage et image dans les laboratoires scientifques. IN : Les échelles du paysage : paysages et espaces urbains . Rennes : Ecole des Beaux-Arts de Rennes, 1993, p. 9-24. MARTINS, J. S. Sociologia da otografa e da imagem . São Paulo: Editora Contexto; 2009; 208p. Fronteira – a degradação do outro nos confns do humano . São Paulo: Editora Contexto; 2010; 192p. PASSOS, M.M. DOS A construção da paisagem no Mato Grosso – Brasil. Presidente Prudente: PPGF-FCT-UNESP, 2000; 143p. POSEY, Darrel A. (1982) Time, space, and the interace o divergente cultures: the Kayapó indians o the Amazon ace the uture.Revista de Antropologia , São Paulo, volume 25. Universidade de São Paulo, Faculdade d e Filosofa, Letras e Ciências Humanas, Departamento de Ciências Sociais, FFLCH-USP. Notas: (1) Entrevista a José de Souza Martins. Caderno Mais da Folha de São Paulo de 15.9.02. (2) Mallard, A. Paysage et image dans les laboratoires scientifques. In :Les échelles du paysage : paysages et espaces urbains . Rennes : Ecole des Beaux-Arts de Rennes, 1993, p. 9-24 (3) La France. Tableau géographique . Paris: Hachette, 1908. (4) Somente partir do último decênio do século XIX é que a livraria Hachette começou a substituir as gravuras por otografas nas publicações geográfcas.
diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil
Cláudio Eduardo de Castro, Brasil Lapiás *(203) São Raimundo-Nonato (Brasil), 2008
Ana Rosa Marques, Brasil Serra da Capivara *(204) São Raimundo-Nonato (Brasil), 2008
Cláudio Eduardo de Castro, Brasil Janela para a Messeta *(205) Carolina - MA (Brasil),2009 Ana Rosa Marques, Brasil Mesetas tocantinas *(206) Brasil, 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
paisagens de ronteira e do desenvolvimento
André Chamun Calazans , Brasil Refexo do Sol em Barra do Piraí – RJ
Carla Maria Godoy dos Santos, Brasil Pão de Açúcar
*(207) Barra do Piraí-RJ (Brasil), 2010 Barra do Piraí-RJ (Brasil), 2010 *(209) Rio de Janeiro (Brasil), 2010 Rio de Janeiro (Brasil), 2010
Vera de Souza, Brasil Mata Atlântica *(208) Gomeral (Brasil), 2010
Carina Silva, Brasil Pausa para higiene pessoal *(210) Taquara (Brasil), 2011
diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil
Karina de Oliveira, Brasil Julgamento *(211) Borborema - SP (Brasil), 2010
Nadja Araújo Oliveira, Brasil O tempo não passa *(212) Boipeba - Bahia (Brasil), 2010
Nadja Araújo Oliveira, Brasil Rastros ao sol *(213) Boipeba - Bahia (Brasil), 2010
André Chamun Calazans , Brasil Poente em Barra do Piraí - RJ *(214) Barra do Piraí - RJ (Brasil), 2010
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
paisagens de ronteira e do desenvolvimento
Ângela de Freitas Barbosa, Brasil O nascer do cerrado *(215) São Félix do Tocantins – TO (Brasil), 2010
Ângela de Freitas Barbosa, Brasil Um deserto no meio do cerrado *(216) Materios – TO (Brasil), 2010
diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil
Carina Silva, Brasil A vida me trouxe até aqui
Sónia Cordeiro, Brasil Lançando a rede
*(217) Torres (Brasil), 2011
*(219) Santos - São Paulo (Brasil), 2009
Daria Volante, Itália Rabo de peixe sonho *(218) Raposa (Brasil), 2009
Daria Volante, Itália O rio das borboletas brancas *(220) Rio Amazonas (Brasil), 2009
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
paisagens de ronteira e do desenvolvimento
Gabriel Gallarza, Brasil M’bya Guarani - Por água *(221) Ilha de Cotinga - Paranaguá – Paraná (Brasil), 2006
Gustavo Henriques Alves Matos, Brasil Força menor *(222) Recife (Brasil), 2010
Sónia Cordeiro, Brasil Vilas nos topos da Serra do Mar *(223) Santos - São Paulo (Brasil), 2010
Diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil 2. Cidade, actividades e patrimónios
Transversalidades I otografa sem ronteiras
Como uma transversal do tempo e do espaço Maria Encarnação Beltrão Sposito
Num mundo que se quer global, as ronteiras parecem se atenuar, tanto quanto, num mundo que nunca chega a ser totalmente global, as ronteiras se erguem materiais ou intangíveis. São muros, barreiras, guaritas visíveis ou invisíveis, mostrando que a dialética entre o global e o local aparece em muitas acetas. As lentes, que têm atrás de si olhos atentos, buscam desvendar o que há por trás dessas cortinas. Querem desnudar o que se quer encobrir ou tornar diáano o que se escancara, enxergando por outras acetas do mesmo prisma. Dessa dialética, mais contraditória do que harmoniosa, entre o global e o local, entre o que se mostra e o que se esconde, resultam tempos e espaços que permanecem e enrentam a combinação e o conito com tempos e espaços que se desenham, como um porvir, o qual, por sua vez, nascerá de um conjunto imenso de possibilidades ensejadas pelo presente. A Exposição “TRANVERSALIDADES – FOTOGRAFIA SEM FRONTEIRAS” ala-nos disso, mostrando, reproduzindo, projetando, cantando, por essas imagens iconográfcas, as cidades do presente, que contêm todas as outras, a dos tempos pretéritos, bem como as que virão, como um uturo possível que aparece nas meias luzes, nas meias sombras desses registros. Cada artista, cada olho, cada lente, cada angular viu a cidade sob uma perspectiva, tratou-a segundo uma escala, tirando-a de seu tempo e do seu espaço, como se osse possível imortalizá-la naquele instantâneo, como se osse provável que assim alcançasse tê-la na memória, como se osse desejável guardar sua alma. As otografas têm almas, se, ao admirá-las, somos capazes de ir além das ormas para encontrar seus conteúdos, os tangíveis e os intangíveis, os materiais e os imateriais, os reais e os imaginados, os possíveis e os sonhados. Um chaariz e uma igreja permanecem como passado que resiste ao tempo, trazendo lembranças que querem ser lembradas, ocultando as que não querem calar na memória. O arco-íris e o por do sol, projeção em múltiplas cores e ocaso em múltiplos tons da mesma cor, mostram que as cidades podem ser plural e singular, ao mesmo tempo, em que são uturo e presente como metáoras de uma sociedade, como imagens de sua própria gente.
diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil
As perspectivas das minúcias oerecem a visão do detalhe da capela. O Barroco Mineiro, na oto, é apreendido como edifcação e como movimento artístico que revela a brasilidade da arquitetura colonial. As tradições, pagãs ou proanas, revelam-se nas imagens urbanas de navegando a é em louvor e Lapa panorâmica. As cidades são, também, Natureza, como a Física pode vê-las enquanto energia, como a Biologia pode traduzi-las como uma vitória régia. Nas cidades também estão os outros, visto que mais ou menos cosmopolitas, elas sempre estão prontas a adotar o estrangeiro, como metáoras ou como arremedos, como Mac ou como Michael Jackson Wonderland. Na asa que remete aos céus, na caverna que nos leva ao recôndito, no caminho que nos ata ao chão como uma corda que se desenrola enquanto o reazemos, temos o presente e os tempos urbanos, como se a vida e, por conseguinte, as cidades ossem um carnaval giratório, um vai-e-vem que nos leva para rente, que nos puxa para trás, que nos convida ao novo, que nos solicita devotar a tradição da esta tão proana quanto a cidade e, por isso, sua alegoria máxima, ao sul do Equador. Há uma cadeira que, do alto de um ediício, ez o otógrao supor que aquele seria um bom espaço e um bom tempo para um coee-break, mostrando que, em meio aos rápidos tempos urbanos, há a inércia dos objetos que vivem na cidade, tal como a cadeira, que pode ou não ser tomada pelo movimento do corpo, pelo instante da pausa, pelo tempo lento do olhar que essa posição propicia. Tudo se resume a um ponto de vista dierente e é assim a orma mais simples de se traduzir uma otografa: apenas ragmentos, somente transversais do tempo e do espaço.
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
cidade, actividades e patrimónios
Cibelle Rodrigues Gomes de Castro, Brasil Vista de Olinda *(224) Pernambuco (Brasil), 2010 Rodrigo Ferreira de Carvalho, Brasil A casa *(225) São Paulo (Brasil), 2004
MMazzon, Brasil Rio *(226) Rio de Janeiro (Brasil), 2010 Rio de Janeiro (Brasil), 2010 Gustavo Henriques Alves Matos, Brasil Reconstruindo o caminho *(227) Barreiros (Brasil), 2010
diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil
Breno Rodrigues de Paula, Brasil Coe-break *(228) Araraquara (Brasil), 2008
Breno Rodrigues de Paula, Brasil A Caverna *(229) Araraquara (Brasil), 2008
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
cidade, actividades e patrimónios
Rodrigo Ferreira de Carvalho, Brasil Cata-vento *(230) Salvador (Brasil), 2007 Salvador (Brasil), 2007
Gabriel Gallarza, Brasil Barroco Mineiro - Ladeira *(231) Ouro Preto, Minas Gerais (Brasil), 2003
Karine da Silva, Brasil Jesuítas de Guaraparim *(232) Guarapari / Espirito Santo (Brasil), 2010 Gabriel Gallarza, Brasil Barroco Mineiro - Descanso das Almas *(233) Ouro Preto, Minas Gerais (Brasil), 2003
diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil
Gustavo Henrique Alves Matos, Brasil Lapa panorâmica *(234) Rio de Janeiro (Brasil), 2009 Letícia Alves Vitral, Brasil Casarão no Largo das Forras *(235) Tiradentes - Minas Gerais (Brasil), 2010
Cláudio Eduardo de Castro, Brasil Admirável mundo antigo *(236) Tasso Fragoso MA (Brasil), 2008
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Transversalidades I otografa sem ronteiras
cidade, actividades e patrimónios
Manuel Maria de Souza Neto, Brasil A Ponte dos Sonhos *(237) Brasília (Brasil), 2005
Priscila Manso, Brasil MAC *(238) Niterói (Brasil), 2010
diálogo transatlântico: breve viagem pelo Brasil
Cláudio Eduardo de Castro, Brasil Navegando a é em louvor *(239) Alto Vale do Rio Ribeira de Iguape (Brasil), 2008
MMazon, Brasil Michael Jackson em Wonderland *(241) Porto Alegre (Brasil), 2010
Rodrigo Ferreira de Carvalho, Brasil Barquinhos *(240) Santos SP (Brasil), 2005
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legendas 1 Rapa das bestas, festa de concentração de cavalos selvagens.
19 O homem frente à natureza que o acolhe e o alimenta de tanta fartura e beleza.
2 Rapa das bestas, festa de concentração de cavalos selvagens.
20 Pico do Areeiro num dia encoberto.
36 Paisagem de lava sedimentada na Ilha do Pico, com vista para a ilha de São Jorge.
21
37
Três antigas árvores na barragem de Santa Águeda. 22 Sem legenda.
Lindo contraste entre a na areia e a erosão costeira. 38 Cegonha no Cabo Sardão.
23 90 Segundos em reexo.
39 Quinze minutos depois do Sol se pôr, a luz adquiriu esta tonalidade violeta. Cerca de dois minutos de exposição conferiram ao mar a quietude e serenidade que faltava à foto.
3 Rapa das bestas, festa de concentração de cavalos selvagens. 4 Venâncio, pastor do Gerês. 5 António pastor da Serra. 6 Pastores fazem queimadas controladas na oresta. 7 Pesca da sardinha na fronteira com a Galiza.
24 Fim de tarde no montado Alentejano. Início da Primavera, os verdejantes campos Alentejanos fundem-se com o azul do Céu carregado de nuvens. Não corre brisa o que possibilita que as águas da barragem reclamem, Espelho Meu...
8 Pesca da sardinha na fronteira com a Galiza.
25 Foto tirada ao nascer do sol no Parque Natur al da Serra da Estrela, Vale Glaciar do Zêzere.
9 Pesca da sardinha na fronteira com a Galiza.
26 Lagoa no Planalto da Serra da Freita.
10 Escolhi um dia tapado e de chuva para esta foto. Só com esta luz difusa consegui registar o detalhe e pormenor em toda a rocha.
27 Fotograa tirada na Gafanha da Nazaré, junto à Ria de Aveiro, logo após o nascer do Sol. Podemos ver, nesta zona rural, os barcos de pesca artesanal usados pelos seus habitantes.
11 Barragem da Marateca, Distrito de Castelo Branco. 12 Tenerife – Espanha. 13 “Não pense que o mundo acaba ali aonde a vista alcança. Quem não ouve a melodia acha maluco quem dança.” (Oswaldo Montenegro). 14 Fotograa feita de uma plantação de eucalipto na Bahia. 15 A calma pacicadora de uma tarde de Verão na Serra de Montejunto. 16 A aição e o pânico da povoação srcinado pelo fogo que ameaça as casas e bens. 17 Fotograa junto do alto dos livros, numa das encostas da cidade da Covilhã. 18 Pôr-do-sol fascinante que imite uma luz dourada em contraste com elementos da natureza.
28 Madrugada na praia de Jambiani. 29 Nesta série, oe paisagem objectivo da foi barragem. o de retratar pormenores da estrutura Apesar do enorme impacto ambiental, inerente à construção de uma infraestrutura desta natureza é uma estrutura que movimenta diversos sectores de actividade e as alterações provocadas pela sua construção foram readaptadas, surgiram novos lagos, novos terrenos, readaptação da fauna e ora, novas indústrias, e novas formas de lazer e de viver a paisagem. 30 O arvoredo tenta manter-se à superfície... 31 Ribeira na Serra da Cabreia que desagua no Rio Mau. 32 Galgar com tudo por cima de tudo! 33 Costa de Caparica num dia de Inverno. 34 Fotograa feita em 2010, do pier que na década de 60 era usado para o transporte de areia monazíticas. O pier está em degradação natural, e cada ano que passa, ele vai se perdendo.
35 Sem legenda.
40 Todo o esplendor que as Praias do Algarve nos conseguem dar. O tricolor do mar e as Gaivotas a sobrovoar são uma marca presente em todo o Verão. 41 Moradores locais e turistas num jogo de futebol ao pôr-do-sol, na praia de Jericoacoara, Ceará, Brasil. 42 Gerês. 43 Niña al principio del puente, y al nal está su destino. 44 O pastor prepara-se para a recolha do gado ao m do dia, depois do rebanho descer das pastagens. 45 Carro de bois com dois homens, na Serra de Montemuro. 46 Senhora a retirar uma broa de um forno de pedra. 47 Feita numa manhã de Outubro em São Pedro do Sul, quando os ouriços começam a cair dos castanheiros. 48 Mãe e lho olhando o tempo que teima em passar. 49 Os espanhóis foram responsáveis pela introdução da batata no Continente Europeu. Foi na América do Sul, o novo continente, que descobriram que os incas há muito dominavam as técnicas agrícolas. Em Moray, no Vale Sagrado, os campos agrícolas em socalcos circulares permitiram aos incas controlar de forma ecaz as temperaturas e adaptar as culturas agrícolas às diferentes altitudes. 50 Vassouras do Alentejo 51 Detalhe de habitação típica de Monsanto.
52 Aldeia com cerca de 1000 cabeças de gado, predominantemente cabras, em que o pastoreio é de tradição comunal.O rebanho de todos os habitantes é levado, diariamente, para o pasto por dois habitantes que o fazem rotativamente, entre toda a população activa.A mulher está a levar o seu rebanho para o local de concentração. 53 Aldeia de Sortelha, Concelho de Sabugal. Uma das aldeias Históricas de Portugal. 54 Rio de Onor (Portugal). Al fondo asoman las casas de Rihonor (Zamora). 55 Uma magníca estrebaria desactivada e com menos nobres inquilinos. 56 Telhados em La Alberca, aldeia do Parque Natural de Las Batuecas/Sierra de Francia. 57 Paisagens de Inverno na zona do Gerês junto à fronteira com a Galiza. 58 No nal de um dia de Abril, no campo de seara e azinheiras, forma-se uma trovoada de nuvens obscuras mas inconstantes. Um céu em movimento, ora por vezes chove, ou por instantes se deixa atravessar por raios de luz de Pôr-do-Sol. Nesta fotograa procurouse a iluminação daqueles breves instantes de uma luz exótica de trovoada, momentos antes da chuva se despejar pelo campo. 59 Nas planícies de Azeitão, domina a cultura da vinha, com a Serra em soberbo fundo. 60 “O vale do Douro é um produto da natureza mas também do esforço dispendido pelo homem na sua transformação.Ao longo de centenas de anos de trabalho árduo cavaram a terra e moldaram patamares e socalcos para plantar as videiras criando uma obra colossal. Foi a primeira Região Demarcada do mundo. Foi-lhe atribuído pela Unesco o título de Património da Humanidade.” 61 Durante uma caminhada por uns trilhos da Ilha Terceira, deparei-me com este muro que separava os terrenos, denominados de serrados. Achei interessante o muro a convergir para um ponto de fuga imaginário e ao mesmo tempo o símbolo do trilho pinta do na pedra imprimia uma conjugação de cores e contrastes. 62 O teleférico perde-se no nevoeiro que prolonga o passeio dos transeuntes ad innitum.
63 Sem legenda. 64 Típico medio de transporte público del Venezolano, el autobús es un manifesto del sentir de su gente. A la vez romántico y caótico. 65 Fotograa conseguida na pousada da juventude de Almada, com uma vista fantástica sobre a cidade de Lisboa. 66 A actividade urbana deriva de uma atividade sobre o mundo natural. As rochas que outrora habitaram as montanhas, hoje encontam-se concretizadas nos prédios, deixando fendas sobre a paisagem natural e abrindo frestas para a paisagem urbana. 67 Por baixo de escadas observamos a principal ponte que tem ligação entre o Porto e Gaia. 68 New York do outro lado do rio. 69 Incondicionalmente o Balneário mais complexo para o urbanismo, desaador para os que preservam e desfrutável para os que nele vivem. 70 A Ilha do Maranhão ao amanhecer, tingida de azul ainda se enxerga com luzes articiais que embalaram seus sonhos e despertares nocturnos. 71 Conjunto de casas pertencentes a um bairro social. Esta repetição de casas todas iguais e coladas umas às outras lembra um muro que separa as pessoas destes bairros das restantes...uma fronteira de valores económicos, sociais e pessoais. 72 Capela do Socorro situada num morro na margem direita do Rio Ave. 73 Ericeira e os contrastes entre vivendas cheias de belos pormenores e outras bem mais simples. 74 Casa da Música. 75 Antena de transmissão na Av. Paulista reetida nos vidros do prédio. 76 Multiusos de Gondomar. 77 Fotograa capturada em Vila Real, junto de um quiosque abandonado de venda de jornais. Fotograa com exposição prolongada, capturando os rastos de luz.
78 A bonita arquitetura da cidade das artes e da ciência em Valência. Um complexo arquitetónico e cultural que trouxe vida e inovação à histórica cidade de Valência. 79 Casa das Conchas – Salamanca. 80 Detalhes e linhas urbanas. 81 Os os e os postes são objetos inerentes à paisagem urbana; e que estranhamente costumam ser excluídos do olhar estético. Em “É difícil” as linhas retas e paralelas dos os e dos postes também participam da surpresa diante das curvas uídas e das cores intensas da singular arquitetura do Instituto Tomie Ohtake. 82 Da gruta moderna. 83 Há espera. 84 Duratrans em caixa de luz imagem. 85 Cidade do Porto, vista da Afurada. 86 A cidade do interior do Estado de Pernambuco, Barreiros, situada no nordeste brasileiro, foi completamente destruída devido às chuvas de Junho de 2010, permanecendo com alguns moradores que insistiam em ali viver. 87 “Rica em recursos hídricos e solos férteis, a freguesia de Campanhã foi desde cedo um ponto de xação para diversos povos, e foi sofrendo ao longo da sua existência diversas alterações ao seu ordenamento. Nos últimos anos Campanhã viu ainda muitas das suas indústrias fechar e o seu territór io ser invadido pelas infraestruturas das grandes vias de comunicação, como a VCI provocando zonas de abandono, habitações inseridas próximas de antigas indústrias ou a separação de zonas provocadas por pontes ou viadutos. Foram estes contrastes que procurei captar, as diferentes zonas e espaços urbanos, as diferentes escalas e suas dinâmicas, a invasão e o isolamento provocados pela passagem das vias ou o reordenamento territorial.” 88 Fotograa tirada numa ação social na comunidade hoje pacicada, no Rio de Janeiro. 89 Reexo em reexão sobre a multiplicidade da cidade. 90 Sem legenda.
91 Lisboa, nal do dia, à espera de transporte. 92 As escadas que dão acesso aos diferentes níveis do mercado do Bolhão. Uma peça de arquitetura que se vai perdendo a cada dia que passa. 93 Fábrica da Moaçor (fabrico de farinha, bolachas etc.) – Antiga zona industrial do concelho de Ponta DelgadaAçores. 94 A indústria e a forma como afecta a(s) cidade(s). 95 Velha embarcação de pesca fora do cais à espera de melhores dias. 96 Em “a arte de pintar”, o suporte das tintas transformou-se na própria arte (barco dos pintores), em detrimento da “tela” (o navio em segundo plano). 97 Basílica vista a partir da Igreja da Santíssima Trindade. 98 Festas de Inverno no Concelho de Bragança. 99 Embarcando na modernidade. 100 Fotograa Nocturna da Bela Cidade de Amarante. 101 Peça de Teatro “Wonderland e o que o M. J. encontrou por lá”. 102 Caminho-de-ferro da linha do Douro. 103 Pormenor da janela de uma das casas da al deia pertencente à paisagem protegida da cultura da vinha, na Ilha do Pico, Açores. A construção feita através de rocha basáltica, com srcem nas próprias erupções do vulcão do Pico, dá à aldeia um srcinal efeito de contraste. 104 Perspectiva de uma árvore imponente e da Igreja de Almeida, uma aldeia para recordar. 105 Aldeia histórica de Sortelha pertencente ao Concelho do Sabugal. 106 Rua em Óbidos. 107 Igreja de madeira (Stavkirve) localizada no Fiorde Hardanger, na Noruega.
108 Um ângulo sobre o meio envolvente da Casa da Música, um edifício muito interessante sobre variados prismas. 109 Uma bela vista sobre a cidade de Barcelona, à noite, incidindo na Avinguda de la Reina Maria Cristina, pas-
123 Vista inferior da Norra Skenet, escultura do Campus da Universidade de Umeå. 124 Dois dias depois do solstício de Verão, o Porto vestese de cor e reveste-se de vida para uma festa popular de srcem pagã mas com nome de um santo cristão.
sando pela Plaça d’Espanya e permitindo contemplar até o longínquo cume de Tibidabo. Mai s perto, ao fundo da imagem, um aglomerado de turistas das mais diversas nacionalidades (ou não é difícil ouvir falar Português), atraídos pela fama da Font Mágica, aguardam impacientemente por mais um espectáculo que, para seu desalento, não iria acontecer.
Manjericos, martelos e alhos-porros saem à rua e os portuenses enfeitam as ruas do seu bairro. Grelhamse as sardinhas e o pimento e, por uma noite, as ruas tornam-se a casa de todos.
110 Esta casa ubicada en el casco histórico de Puerto Cabello conserva su típica arquitectura colonial, patrimonio histórico de Venezuela.
126 Final de tarde em Madrid.
125 Entre névoas.
112 O típico elevador da Bica com uma nova roupagem.
127 Embora existam barcos moliceiros mais pequenos, o normal é que um barco moliceiro tenha cerca de 15m com costados muito baixos, medindo de boca cerca de 2,5m. Construído em madeira de pinheiro navega com facilidade em águas com pouca altura. A vela é normalmente de lona com uma superfície de 24m2 e com um mastro com cerca de 8m.
113 Património histórico, “um olhar sobre a Batalha e o seu mosteiro”.
128 Fortaleza de Almeida em dia de sol e em preto e branco.
114 Convento de S. Francisco. O Convento de S. Francisco é um ícone da cidade de Santarém. Ao m de vários anos em que esteve fechado ao público, reabriu em 2009.
129 “Rapa das bestas” é uma tradição centenária que se cumpre todos os anos na Primavera/Verão em muitas aldeias galegas. De madrugada os camponeses da região, aos gritos, a pé e a cavalo buscam os cavalos selvagens nas montanhas (onde habitam t odo o ano) e conduzem os animais para as áreas mais baixas, onde
111 5º Aniversario Casa da Música, Porto 09, de Abril de 2010.
115 Fachada da Mundial Igreja dadeMisericórdia situada naOs Cidade Património Angra do Heroísmo. candeeiros e a sua luz pairando em frente da Igreja como almas pedindo permissão para entrar para o mundo Sagrado. 116 Sé de Viseu. 117 Visão interna da Igreja do Mosteiro dos Jerónimos localizado em Lisboa, Portugal. 118 Sinos da Sorte-Centro Budista. 119 Palácio da Pena, património romântico, ou memória de extravagâncias reais. 120 Ruínas de Pompeia. 121 Barragem de Alqueva. 122 Escondida numa velha estufa, inspira o fotógrafo.
são reunidos numa arena ou curral - “o curro”. No “curro” cortam-lhes as crinas e desparasitam-nos, sendo libertados de novo. É esta tradição, património do povo galego, que represento nestas 3 fotos. Esta foto representa o momento em que os cavalos selvagens são procurados no monte. 130 A elegância de uma aristocracia rural sempre patente na feira nacional do cavalo, na vila ribatejana da Golegã, assim como noutros locais do interior de Portugal. 130 Fazendeiros e trabalhadores rurais confraternizam em torno da gura central da Feira Nacional do Cavalo, o Cavalo Lusitano. 131 Procissão da Semana Santa, em Braga. 132 Por detrás da parede encontra-se Santa Eufêmea de Paranhos (Seia), venerada em festa anual, a 16 de Setembro. A fé moveu estas duas idosas a deixar o seu lar para cumprir um ritual herdado dos seus antepassados.
133 Castilla y León y Tras os Montes aglutinan una gran cantidad de mascaradas, antruejos, carnavales rurales en denitiva carnavales arraigados, a festejos profanos, vinculados muy probablemente a deidades precristianas y que forman parte de las conocidas mascaras de invierno. Las provincias de Zamora y León y los Distritos lusos de Bragança y Viseu son las zonas que ofrecen una mayor riqueza y variedad. 134 Careto de Podence, pastor de ovelhas. 135 Actuação do Rancho Mexicano no Festival Internacional de folclore do Conjunto Etnográco de Moldes. 136 Cuias trabalhadas para servirem de depósitos e de conchas. 137 Tramo del ferrocarril entre La Fregeneda y Barca d’Alba. 138 A cadeira dos avoengos. 139 Fechadura tradicional das aldeias. 140 Na minha casa. 141 Mulher peneira o trigo em Bhaktapur. 142 Sem-abrigo que dormem em banco de uma praça de Lisboa. 143 Sem legenda. 144 Música de autoria de um membro da Associação Cultural Luso-Brasileira de Minas Gerais é cantada durante o projeto “”Sarau Lítero-Musical””, promovido pela mesma associação. No Sarau são aceites apresentações tanto em língua portuguesa como em língua espanhola. 145 Escola para adultos em Mona-Quimbundo-Angola. 146 É frequente no interior da ilha de Santiago, ver mulheres chefes de família catando lenhas (galhos de árvores secas) para poder cozinhar, as mais velhas estão mais habituadas com essa forma de vida que vem desaparecendo com a modernização. 147 “Olha o pesado” é um termo corrente entre trabalhadores braçais, que em seu exercício costumam gritar pelas ruas “olha o pesado” como uma maneira de pedir licença.
148 Pastor, Vila do Carvalho. 149 Menino cigano no seu acampamento em Sobral da Adiça, junto a Vila Verde de Ficalho. 150 Fim do em Covas do Monte, Serra Arada. diO casal de dia pastores descansa um pouco dosda trabalhos ários na companhia da sua cabra de estimação. 151 Criança Maasai. 152 Num país com taxas de natalidade extremamente elevadas, as crianças são uma presença constante nas ruas apinhadas de gente. São também os melhores testemunhos duma economia que cresce a um ritmo ímpar a nível mundial, mas onde os contrastes económicos são cada vez mais marcados. 153 Rebelião e protesto de moradores do bairro de Boa Viagem em Recife, cidade do nordeste brasileiro, onde houve confronto policial. 154 Na vila alentejana de Cuba, a proximidade e cumplicidade entre vizinhos permite comportamentos que os habitantes das cidades grandes e distantes interpretam como intromissão na vida pessoal, mas mais não são do que fenómenos sociais de entreajuda na comunidade. 155 O pastor da “vez” encaminha o gado para as zonas de pasto. 156 As festas tauromáquicas são uma herança a preservar, com ou sem a bênção da nova água. 157 A Pastorícia é o acto de levar os animais a pastar e está relacionado com a domesticação de animais e a sedentarização humana. A pastorícia revelou-se uma tarefa importante na xação das populações nas Serras. A pastorícia permitiu o abandono gradual da caça e constituiu também um complemento desta. Mais próximo dos animais, sem preocupações de alimentação, o Homem pode dedicar-se a outras tarefas. Os animais servem também como matéria-prima para certas utilizações. 158 Retratista à moda antiga. 159 Pendurados, homens constroem as estradas do futuro. 160 Pescador avieiro prepara a bateira para a pesca no Tejo.
161 Em determinados modos de vida o homem tem de competir com outras espécies pelo seu sustento. 162 Esta foto foi srcinalmente registada em slide e posteriormente digitalizada. No verão, na altura da pesca do choco e antes do nascer do dia, é obrigatório fundear junto á Fortaleza de Sagres para pescar por alguns momentos a lula antes de seguir para os chocos. 163 Dar os retoques necessários. 164 Sr. Agostinho um moleiro que actualmente quase não tem trabalho...não fossem os amigos que insistem em ter da sua farinha. 165 Mulher com o lho a lã numa aldeia próxima de Kathmandu. 166 A arte nas mãos de um homem simples. 167 Não tendo outra forma de o fazer, este habitante da Cidade Velha percorre diariamente um caminho de terra transportando sacas de batatas no topo da sua cabeça. É uma técnica de transporte comum em Cabo Verde, sendo adoptada em maior número pelas mulheres. 168 Vendedor ambulante de praia. 169 Sendo dos sectores de actividade cujo número de acidentes de trabalho é bastante expressivo, a preocupação com a segurança dos trabalhadores é uma preocupação constante nas empresas deste sector. Duas situações foram aqui retratadas, os trabalhos em altura e o manuseamento de máquinas de corte. Nesta imagem provoquei um arrasto devido a um tempo de exposição de 1 segundo juntamente com movimento da máquina. Para congelar o motivo, utilizei um ash externo, colocado num tripé e isolado com papel transparente. 170 Um sapateiro, prossão antiga e em vias de extinção, na sua pequena loja de bairro. 171 La utilización del espacio como manifestación de un proceso, un ritual o un cultivo de la tradición o de la cadena alimenticia de modos de vida contemporáneos pero atemporales ya que dichas manifestaciones resultan de las más básicas y más antiguas: la fertilidad y la muerte. El absoluto control por el paisaje como manifestación cultural resultado de un modo de vida urbano o rural caen en completo paralelo, ambigüedad y contradicción al presentar paisajes comunes y opuestos simultáneamente donde se reeja el valor de la utiliza-
ción de la tierra. Los modos de vida se reejan en los modos de producción, como el cultivo pero también en los modos de producción cultural como el ritual en torno a la muerte. La presente se rie es una observación en torno a la utilización del paisaje como manifestación de un modo de vida.
186 Dança de Rua característica do Hip Hop, um modo de expressão social inserido num modo de vida, a dança.
rentes interagem juntos para se unir num só. Assim é-nos possível ver, falar e partilhar emoções em momentos especiais.
187 Procissão em Viana do Alentejo.
172
188
203 Lapiás à entrada de caverna onde se encontraram ossadas de megafauna.
Mercado deno produtos se realiza todos os sabados, Parque biológicos da Cidade,que no Porto.
Roda de carro de bois. 189 Passagem de comboios sobre ponte metálica.
173 Fotograa tirada numa das marinhas ainda existentes junto à cidade de Aveiro, onde, segundo os marnotos, se produz o melhor sal do Mundo. 174 Dois rapazes peruanos e a sua cabra na Praça de Espanha, em Cuzco, com Igreja em fundo. 175 E agora é o acaso quem me guia. / Sem esperança, sem um m, sem uma fé, / Sou tudo: mas não sou o que seria / Se o mundo fosse bom — como não é!” A. Aleixo. 176 Francisco e o seu amigo inseparável. 177 Remenda-se o cobertor antes de chegar a noite e se recolher ao vão de uma porta. 178 Foto que tomé de una persona de la calle mientras gritaba que Dios no existe, es una persona que se volvió preso de la calle, por eso el nombre. 179 Rapariga a dormir em casa. 180 Retrato de uma terra esquecida pelo tempo. 181 Uma TV antiga que já não funciona, exposta à janela de uma casa de pedra. 182 O forte vento fazia um céu nublado e a chuva não tardaria a aparecer. Nesta fotograa o sensor da máquina recebeu luz durante 30 segundos, tempo durante o qual as carregadas nuvens que atravessavam rapidamente a lagoa, gravaram o seu efeito de movimento na imagem. 183 No atelier…mais do que uma prossão, ser escultor/ artesão é um modo de vida. 184 Foto Capturada em Janeiro. Um nevão que caiu no Mermelal, Armamar. 185 Vista do tipo de paisagem vinhateira na Ilha do Pico, com pormenores da construção em pedra.
190 Do outro lado. 191 Na periferia das grandes cidades, nas franjas, nas beiras do trem e da água, encontramos as marcas da degradação ambiental e social. Para além dessas margens, crianças vivem seu universo lúdico de magia e sonho, dissolvendo fronteiras e transformando a realidade. 192 Comunismo e Budismo, tão juntos mas tão distantes. 193 Antigua Linea Ferrea Boadilla-Barca D`alva ¿A que pais estamos entrando? / Que país é que estamos passando? ¿Portugal - España? 194 Na periferia das grandes cidades, nas franjas, nas beiras do trem e da água, encontramos as marcas da degradação ambiental e social. Para além dessas margens, crianças vivem seu universo lúdico de magia e sonho, dissolvendo fronteiras e transformando a realidade. 195 Divisões de propriedades no interior da França. 196 Rasto de avião passa por cima de um muro. 197 Foto Capturada no rio Douro (Miranda do Douro). 198 Ponte da Ajuda. 199 A força da água neste local justica a escolha de tal nome. 200 Um simples “portão” transforma o mundo de todos no mundo de alguém. 201 Paisagem de Rio de Onor, aldeia comunitária do Distrito de Bragança. Uma aldeia cada vez mais deserta. 202 Entre dois espaços existe sempre uma fronteira. Numa luta constante por parte do Homem de encurtar distâncias entre espaços, este criou as telecomunicações. Onde pessoas e maquinas em pontos do mundo dife-
204 Vale das andorinhas no Parque Nacional. 205 Erosão sobre morro arenitico, causada por paleordenagem, que se encontra à altura dos morros testemunhos dos relevos de chapada na bacia o rio Tocantins. 206 Morros residuais da bacia do rio Tocantins. 207 Reexo do Sol em Barra do Piraí – RJ. 208 Serra da Mantiqueira, mãe das águas. 209 Praia Vermelha-Pão de Açúcar. 210 A mosca e a folha. 211 Em 25 de julho de 2010, às 15 horas e 45 minutos, na paz do rio Tietê, em Borborema, esses pássaros parecem vivenciar um momento especial, denitivo para um deles. São sete pássaros negros, em posição superior, que rejeitam o pássaro branco do centro, o qual demonstra um estado melancólico e contemplativo. Será este um julgamento vivido na sociedade das aves? Um reexo dos dramas humanos? Um instante a recordar os innitos inocentes que já foram condenados entre nós? A ilustração natural dos disparates que com frequência cometemos? Ou ainda, bem simplesmente, uma bela e divertida encenação daquela velha fábula de um patinho feio que procurava seu lugar? 212 O tempo não passa simplesmente arrastado, é que aproveita-se a magia do tempo. É uma ilha, que faz parte da Bahia e temos capoeira. 213 Existem caminhos. E o ideal é conhecer os concretos que os cercam no quotidiano. 214 Poente em Barra do Piraí-RJ. 215 Cada dia é uma oportunidade diferente que Deus nos oferece. Contemplar e preservar essas belezas naturais fazem parte da nossa evolução pessoal e espiritual. 216 Uma das mais belas paisagens do estado do Tocantins está localizada em Mateiros – TO o Jalapão.
217 O homem que viajou o mundo e terminou na beira da praia. 218 Extraído de “Máscaras”. Em qualquer terra em que os homens amem. Em qualquer tempo onde os homens sonhem. Na vida. Menotti Del Picchia 219 A pesca em costão é uma modalidade executada em zonas rochosas do nosso litoral, é possível passar horas deliciosas tentando sgar Espadas, Betaras, Pescadas e até mesmo Robalos que entram pela Barra a caminho dos rios que deságuam no Porto. Alguns usam varas com molinete outro buscando também peixes menores vale-se de redes. Para alguns desportos e distração, para outra subsistência. 220 “Ser como o rio que deui Silencioso dentro da noite. Não temer as trevas da noite. Se há estrelas nos céus, reeti-las. E se os céus se pejam de nuvens, Como o rio as nuvens são água, Reeti-las também sem mágoa Nas profundidades tranquilas.” Manuel Bandeira.
226 Sem legenda. 227 As torrentes chuvas em junho de 2010 na zona rural do interior de Pernambuco, nordeste brasileiro, destruíram diversas estradas e cidades. 228 Sem legenda. 229 Sem legenda. 230 Pelourinho, Salvador Bahia, Carnaval 2007. 231 Ensaio fotográco pelas ladeiras de Ouro Preto, primeira cidade brasileira a ser declarada Património Histórico e Cultural da Humanidade. Fundada no início do século XVIII, a cidade cou marcada pela intensa ativi dade mineradora aurífera nos tempos do Brasil-Colônia. Fortes marcas de sua colonização portuguesa são reveladas nas características da arquitetura das casas, sobrados e igrejas, bem como no desenho urbano traçado sobre um terreno acidentado de morros e vales. 232 Jesuítas de Guaraparim.
221 Ensaio fotográco em comunidade indígena na Ilha da Cotinga, um dos primeiros locais de chegada do colonizador português no território paranaense, no início do séc. XVI. Crianças, mães, pais e avós remanescentes do povo Guarani, do subgrupo M’bya, vivem hoje neste território. Esses índios sofrem a gradativa perda de sua identidade cultural tradicional e já não tiram o
233 Ensaio fotográco pelas ladeiras de Ouro Preto, primeira cidade brasileira a ser declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. Fundada no início do século XVIII, a cidade cou marcada pela intensa ativi dade mineradora aurífera nos tempos do Brasil-Colônia. Fortes marcas de sua colonização portuguesa são reveladas nas características da arquitetura das casas, sobrados
sustento alimentar de suas do terras: subsistem dos escassos recursos assistenciais governo e da venda de seu artesanato.
e igrejas, bem como no de desenho um terreno acidentado morrosurbano e vales.traçado sobre
222 Crianças de um bairro pobre na cidade do Recife uniram-se para protestar melhores condições no local em que vivem. Um momento intrigante. 223 Toda a região das encostas da Serra do Mar vive sérios problemas com as constantes ameaças de deslizamentos nos períodos. Esta população foi constituindo-se com o desenvolvimento das cidades litorâneas e hoje vive um grande drama social. Espremida entre a orla marítima com regiões de mangue, áreas de proteção dos mananciais que formam o rio Cubatão e a Serra do Mar, existem poucos espaços para receber um contingente tão grande de moradias. Os programas e projetos existentes não conseguem suprir a demanda. 224 Vista de Olinda/PE. 225 A casa foto retirada do prédio próximo.
234 Os Arcos da Lapa, localizado no tradicional bairro carioca, situado na cidade do Rio de Janeiro, fazem parte de um dos pontos de parada da linda cidade brasileira. 235 Casarão do século XVIII onde funciona atualmente a Associação dos Artesãos de Tiradentes, na praça principal da cidade, Rua Largo das Forras. 236 Nos paredões areníticos das chapadas da porção entre os rios Tocantins e Parnaíba um povo desenvolveu se us hábitos, cultura, modos de sobreviver, dependentes da sazonalidade e ocasos da natureza, deixando suas marcas inscritas na rocha para nossa obstinada busca de signicado de signos indecifráveis. 237 Ponte Juscelino Kubitschek A Ponte Juscelino Kubitschek, também conhecida como Ponte JK, está situada em Brasília, ligando o Lago Sul, Paranoá e São Sebastião à parte central do
Plano Piloto, centro da Cidade, através do Eixo Monumental, atravessando o Lago Paranoá. Inaugurada em 15 de dezembro de 2002, a estrutura da ponte tem um comprimento de travessia total de 1.200 metros, largura de 24 metros com duas pistas, cada uma com três faixas de rolamento, duas passarelas nas laterais para uso de ciclistas e pedestres com 1,5 metros de largura e comprimento total dos vãos de 720 metros. A estrutura da ponte tem quatro apoios com pilares submersos no Lago Paranoá e os três vãos de 240 metros são sustentados por três arcos assimétricos e localizados em planos diferentes, com cabos tencionados de aço colocados em forma cruzada, o que geometricamente faz com que os cabos formem um plano parabólico. Com seus arcos assimétricos, a estrutura em três arcos, inspirados pelo movimento de uma pedra quicando sobre o espelho d’água, é única no mundo, comparável em forma mas não em sistema estrutural, como a passarela do Aquário Público do Porto de Nagoya, Japão. Sua beleza arquitetónica resultou num projeto estrutural de grande complexidade, mas apesar do seu custo, o Governo do Distrito Federal considerou indispensável que a ponte estivesse ao nível da monumentalidade com que Brasília foi projetada. A partir de sua inauguração a Ponte JK rapidamente virou mais um cartão postal de Brasília, especialmente à noite, quando sua teatralidade ca ainda mais em destaque. Devido a qualidades estéticas e harmonia ambiental da Ponte JK, o arquiteto da obra, Alexandre Chan, recebeu, em 2003, a Medalha Gustav Lindenthal, outorgada pela Sociedade dos Engenheiros do Estado da Pensilvânia, Estados Unidos. Por causa deste prémio, a estrutura cou localmente conhecida como a ponte mais bela do mundo. A ponte também foi a vencedora do Prémio Abcem 2003 – Melhores Obras com Aço dopela Ano, na Categoria Pontes Viadutos, outorgado Associação Brasileira da eConstrução Metálica. 238 Museu de Arte Contemporânea, em Niterói. 239 No Alto rio Ribeira de Iguape, os negros fugidos se abrigaram no século XIX, protegendo-se dos grilhões da escravidão do trabalho e mantendo os das missões jesuíticas manifestos nesta procissão uvial ocorrida no último dia do ano. 240 Santos, Litoral paulista. 241 Peça de teatro “Wonderland” e o que M. J. encontrou por lá.
Transversalidades otografa sem ronteiras