fotografia sem fronteiras Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança
Título
Transversalidades 2014 – fotografia sem fronteiras
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Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança
Coordenação
Rui Jacinto Coordenação fotográfica
José Monteiro Gil Júri do Concurso
António Pedro Pita | Henrique Cayatte | Jorge Pena | José Monteiro Gil | Lúcio Cunha | Rui Jacinto | Santiago Santos Valentín Cabero Diéguez | Victorino García Textos
Adriana Veríssimo Serrão | António Pedro Pita | Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro | Carminda Cavaco | Fernanda Cravidão | João Ferrão | João Lima Sant’Anna Neto | Lúcio Cunha | Maria Adélia de Souza | Rogério Haesbaert Henrique | Santiago Santos | Valentín Cabero Diéguez | Victorino Garcia Calderón Rui JacintoCayatte Produção
Alexandra Isidro | Ana Sofia Martins Revisão
Ana Margarida Proença | Ana Sofia Martins Concepção e montagem da exposição
António Freixo | Renato Coelho | Arménio Bernardo Design | pré-impressão
Via Coloris, Design de Comunicação, lda. Impressão | acabamento
Marques e Pereira, lda. Tiragem
1000 ex. Depósito legal
335972/11 ISBN
978-989-8676-06-1 Edição
Centro de Estudos Ibéricos R. Soeiro Viegas, 8 6300-758 Guarda www.cei.pt O Centro de Estudos Ibéricos respeita os srcinais dos textos, não se responsabilizando pelos conteúdos, forma e opiniões neles expressos. A opção ou não pelas regras do Novo Acordo Ortográfco é da responsabilidade dos autores.
Apoio:
fotografia sem fronteiras Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança
ndice
Foto(Geo)grafia: a luz que (d)escreve a terra – Rui Jacinto.. Melhor Portfolio..
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Transversalidades: a fotografia e seus territórios – Henrique Cayatte, António Pedro Pita, Santiago Santos, .. .. .. .. .. .. .. .. 16 Victorino García Calderón , Lúcio Cunha, Valentín Cabero Diéguez Tema 1 |
.. .. Paisagens, biodiversidade e património natural
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O horizonte que vem até nós – Adriana Veríssimo Serrão..
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Da concepção física do universo ao sentimento de mundo – João Lima Sant’Anna Neto .
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Tema 2 | Espaços rurais, povoamento e processos migratórios .. .. .. .. .. .. .. .. .. 74 Fotografias premiadas.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..
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Sociedade rural e espaço – Carminda Cavaco .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 78 Portfolios selecionados.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 81 89 Fotografias selecionadas.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. Grande sertão: veredas. O Homem, o Campo e suas (inter)relações C – arlos Augusto de Figueiredo Monteiro
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Tema 3 |
Cidade e processos de urbanização
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112 Mil cidades. E em cada cidade outras tantas cidades – João Ferrão.. .. .. .. .. .. .. .. .. Portfolios selecionados.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 115 Fotografias selecionadas.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 124 Cidade e sociedade urbana – Maria Adélia de Souza.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 131 Portfolios selecionados.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 135 Fotografias selecionadas.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 138 Tema 4 |
.. Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
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O instante que se torna eterno – Fernanda Cravidão..
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.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. Configurar a própria imagem a partir da imagem do outro – Rogério Haesbaert
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Imagem, inclusão e cooperação territorial
Foto(Geo)graa: a luz que (d)escreve a terra Rui Jacinto * S. Martinho de Anta, 14 de Setembro de 1981 – “Venham como vierem, cobertos de favores do mundo ou simples mortais, procedo sempre da mesma maneira. Mostro-lhes o que nunca viram: panoramas que são autênticas obras-primas da ecúmena, onde a Geografia física e a Geografia humana se complementam. A ossatura telúrica e a epiderme elaborada. O natural e o cultural em conjunção perfeita. E fico desobrigado. O resto é da conta deles. Se prestam, vão mais ricos. Dilataram o espírito à proporção dos horizontes. Se não prestam, vão mais pobres. Mediram-se com a grandeza e perderam” (Miguel Torga, Diário XIII).
lho para a Geografia, habilitou o geógrafo a apresentar evidências das suas deambulações, a cumprir o que alguém lembrou ser uma das exigências da sua profissão: “E o geógrafo, depois de abrir o livro de registos, pôs-se a afiar o lápis. As descobertas dos exploradores são primeiro anotadas a lápis. Só são passadas a tinta depois de o explorador apresentar provas” (Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho).
Desde o seu aparecimento que a fotografia e a Geografia trilharam caminhos paralelos, pois, enquanto “as técnicas fotográficas progrediram e se consolidaram, relação antiga, íntima e cúmplice, que a a Geografia progrediu e afirmou-se como domínio Geografia mantém com a fotografia não se científico. Não admira pois, que os primeiros laboraresume a uma afinidade etimológica que tórios de Geografia do início do século XX tenham remete para a descrição da terra, num atribuído um lugar central à fotografia, tanto nos seus caso, e, no outro, paraescrever com a luz. Ao advertir equipamentos como nas coleções, a par com mapas e que “a Geografia do mundo melhor se aprende vista no atlas, com os quais aliás a imagem fotográfica foi consmesmo mundo que pintada no mapa” (Sermões,137), truindo relações e associações srcinais e fecundas” Padre António Vieira apenas visionou que a prática de (Gaspar, 2013: 28). Começava a fazer caminho a ideia, qualquer daquelas artes estar exigeno trabalho de campo de gabinete, ir ao terreno, sítio certo à horaecerta, se houver a intenção de observar a paisagem ou determinado acontecimento a partir do ângulo adequado.
não de mil rigorpalavras e contradição, uma imagem vale isenta mais que ou que aque Geografia se limitaria à descrição, fria e estrita, de realidades objetivas. Sabemos, hoje, que qualquerrealidade é, em primeira instância, uma representação. Daí a importância que Tal nomadismo é inerente à condição de qualquer os geógrafos sempre atribuíram às imagens, usadas explorador que tenha por missão (d)escrever o planeta para distintas finalidades, o que traduz a umbilical ree imprescindível para o (foto)geógrafo que pretenda lação entre Geografia e imagem: o mapa, o desenho, o captar o exato momento em que a luz e a terra se esquisso ou a pintura apenas antecederam a utilização (con)fundem. Depois da sua invenção no século XIX, de imagens mais “realistas” e complexas proporcionaa fotografia passou a testemunhar a passagem por das pelo imparável progresso tecnológico. lugares exóticos, paisagens deslumbrantes, acontecimentos invulgares, modos de vida diferentes. A sua Com o advento da era digital a produção de imagens descoberta, além de abrir novas perspetivas de traba- tornou-se tão sofisticada que os métodos analógicos
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
ficaram rapidamente arcaicos e obsoletos. A Geografia abriu-se a esta nova geração de imagens, quase sempre geradas ou manipuladas por computador, fixas (fotografia) e em movimento (cinema, televisão e vídeo), incorporando-as com fins didáticos, científicos ou, mesmo, estéticos. A produção, a difusão e o consumo de imagens globalizou-se, ficou mais acessível, imediato e massificado, prenuncio duma democratização que
e cinematográfico, Les Archives de la Planète, cuja direção científica entregou, em 1912, ao geógrafo Jean Brunhes, iniciativa que havia de terminar devido á grande crise financeira de 1929 (Gaspar, 2013: 29). Muitos destes projetos, mais ou menos utópicos, respondem ao desejo de evasão e descoberta que povoam o nosso imaginário, quase sempre alimentados por ima-
é indissociável da acrítica banalização que atingiu a fotografia. Enquanto as imagens de satélite destronavam as velhas fotografia aéreas, usadas para investigar o meio físico ou a ação humana, as cartas topográficas, com as suas delicadas curvas de nível, cediam terreno aos mapas elaborados instantaneamente por diversas ferramentas que suportam os atuais sistemas de informação geográficos (SIG).
gens captadas viagens feitas a lugares recônditos e exóticos, o queem testemunha a capacidade que a fotografia encerra para desocultar espaços marginais e inacessíveis. Assim se explica, também, o sucesso dos grandes livros de viagens (Odisseia, Lusíadas, etc.), onde estão plasmadas imagens escritas que oscilam entre realidade e ficção, a longevidade daNational Geographic Society e da sua revista, fundada em 1888, cuja notoriedade provém dos mapas e fotografias que sempre editou, ou a Continuação do mapa duma outra maneira, a imagem, recente popularidade alcançada peloGoogle Earth. sobretudo a fotografia, acabou por fazer emergir uma nova linguagem no seio da Geografia. A Geografia co- Ao permitirem viajar virtualmente pelo mundo e meçou por estar focada em explorar a materialidade da pelas ruas das cidades, o Google Earth ou o Street View fotografia, tendo prestado um inquestionável contriparecem institucionalizar um big brother geográfico e buto para o reforço do paradigma paisagístico da Geovisual que permite aceder em tempo real a imagens de grafia, além de usada para ilustrar livros e artigos de qualquer lugar do planeta. Aqui chegados, nunca estirevistas. Nesta fase, “a fotografia estava tão fortemente associada ao progresso científico da Geografia que o congresso da UGI que teve lugar em Washington DC, em 1904, aprovou a proposta do geomorfólogo alemão Albrecht Penck para que se promovesse um levantamento fotográfico da superfície da Terra“. Esta iniciativa “viria a srcinar o Atlas phographique des formes du relief terrestre, da autoria de Jean Brunhes, Émile Chaix e Emmanuelle De Martonne, cujas primeiras lâminas foram apresentadas por De Martonne no X Congresso Internacional de Geografia, Roma 1913”. Sucederam-se outros projetos de envergadura, como o iniciado em 1909, pelo banqueiro Albert Khan, que patrocinou o levantamento fotográfico
vemos tão perto da metáfora concebida por Jorge Luís Borges quando imaginou que “Mapas Desmedidos não bastaram e os Colégios de Cartógrafos levantaram um Mapa do Império, que tinha o Tamanho do Império e coincidia com ele ponto por ponto”. Se estivesse convencido desta possibilidade o autor não teria adiantado, de seguida, que “Menos Dedicadas ao Estudo da Cartografia, as Gerações Seguintes decidiram que esse dilatado Mapa era Inútil e não sem Impiedades entregaram-no às Inclemências do Sol e dos Invernos” (Sobre o Rigor da Ciência). As olímpicas imagens que, hoje, nos chegam de mais alto, mais longe e com mais pormenor parecem condenadas ao mesmo destino; outros autores, nesta mesma senda, também adverti7
Imagem, inclusão e cooperação territorial
ram “sobre a impossibilidade de desenhar um mapa do mente, na construção de novos mapas mentais levou a Império em uma escala de 1 para 1 (Umberto Eco). várias análises críticas do papel das representações geográficas na realidade cultural, designadamente a levada Telas, mapas ou fotografias moldam um certo modo a cabo pela referida União Geográfica Internacional , de olhar o mundo, são imagens que contam as suas sob a presidência de Paul Claval (Alegria, 2010). histórias e, ao descreverem e representarem o espaço que nos rodeia, ficam impregnadas dos contextos Estudos sobre a imagem, feitos entre nós, mostram o políticos, históricos e sociais do seu tempo. O mapa baixo conhecimento do quadro espacial que se deve, e a fotografia, aosem omitirem ou distorcerem partes da realidade, ficam capacidade para a representar na sua plenitude, expondo os limites que as imagens comportam. Haverá sempre discrepância entre aquelas imagens e os territórios que tentam representar, o que abre espaço e margem de manobra para interpretações. O mesmo acontece com os sistemas de informação geográficos, por mais sofisticados que venham a ser, pela mesma razão que os velhos cartógrafos, com os seus pretensos mapas científicos, jamais conseguiram superar, inquestionavelmente, a complexidade das diferentes visões do mundo. A Geografia acabou por se preocupar, entretanto, não apenas com o palpável mas também como sentir e os sentidos, pois a sua construção incide “sobre o conhecimento do mundo, não sobre o próprio mundo”. Não podemos estranhar, por este motivo, a importância dada a “compreender os processos que conduzem à percepção, às representações e aos comportamentos que são, portanto, indispensáveis a toda a forma de Geografia ativa” (A. Bailly, citado por Alegria, 2010). Os trabalhos pioneiros de Peter Gould (Mental Maps, 1974) e de Armand Frémont (A região espaço vivido, 1976) exprimem a maior atenção que os geógrafos, como outros cientistas sociais, passaram a dar às representações cartográficas e às imagens, sejam mapas ou fotografias, estáticas ou em movimento. O reconhecimento da importância que as imagens assumiram nos média, no nosso comportamento quotidiano e, consequente-
em boa medida, ao facto da televisão deixar os acontecimentos “num espaço impreciso, nãoflutuar estruturado, sem dimensão e abstracto”, como observou Suzanne Daveau (1984) em o peso da televisão e dos “media”. Num outro contexto, partindo de “imagens mentais sugeridas por fotografias de diversos espaços geográficos” foram exploradas as Geografias do mundo imaginado através das representações mentais de alguns países, levando à conclusão “que a Geografia tem muito a ver com a construção de imagens do mundo e não apenas com uma realidade objectiva” (Alegria, 2010). Os geógrafos não ficaram indiferentes, como vimos, à geograficidade latente na imagem, particularmente na fotografia, ao ponto de reconhecerem que “em última instância, o espaço regional é também uma imagem”. Os mecanismos de aculturação “impõem aos homens uma certa imagem dos lugares onde vivem, do seu espaço, da sua região. E essa imagem, aceite, recalcada ou recusada, constitui um elemento essencial das combinações regionais, o laço psicológico do homem com o espaço, sem o qual a região seria apenas a adaptação de um grupo a um meio, ou um encontro de interesses dum espaço dado” (Fremont, 1980: 109). A cultura territorial também se constrói a partir de imagens, que fornecem tantas vezes uma perspetiva parcelar, imprecisa e desfocada dos lugares, regiões e países que tentam representar. Estas imagens, quase sempre estereotipadas ou icónicas, acabam por ser exploradas até à exaustão pelo turismo, pela publicidade
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
e pelo marketing territorial. Com outras coordenadas e novas imagens representativas doutros tempos e espaços é possível esboçar mapas mais amplos e abrangentes desses territórios, desenhar com outras linguagens uma Geografia mais assertiva que aponte para novas gramáticas. A partir deste olhar, a fotografia tanto pode ser encarada como um fim ou como um meio. Um meio, se utilizada como documento com
espaços e tempos onde fomos felizes e, em dado momento, tivemos o privilégio de observar paisagem que, cada um à sua maneira, tentou ler e interpretar. “Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco/ E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo”. Nestes límpidos e densos versos do poema A Forma Justa (in “O Nome das Coisas”), Sophia de Mello Breyner Andresen apenas dá voz aos que, com
objetivos científicos ou pedagógicos de maneira mais banal, quando recorremos à sua ou, mensagem para recrear uma nova viagem ou estória. Um fim, quando a imagem adquire valor próprio que a aproxima de qualquer outra expressão artística, reúne condimentos estéticos e condensa sentimentos que, podendo não ser diretamente apreendidos, nos permite recrear espaços e emoções que o seu autor nunca terá imaginado.
as limitadas dispõem, tentam em explorar a ténue fronteiraarmas entreque Geografia e imagem demanda duma poética do espaço.
a imaginação coloca-nos diante de um mundo novo. Consequentemente, o detalhe predomina sobre o panorama. Uma simples imagem, se for nova, abre um mundo. Visto de mil janelas do imaginário, o mundo é mutável” (Bachelard, 1980: 143). É, talvez, por isto que almejamos ser foto(geo)grafos para usar e abusar da fotografia na esperança de, mesmo virtualmente, (re)visitar Geografias vividas ou imaginadas, percorrer
Cidade e sociedade urbana que nos permite visualizar a multiplicidade de paisagens, arquiteturas e vivências urbanas, de novas urbanidades, cenas e cenários urbanos; Cultura e sociedade, onde a diversidade social e o diálogo cultural se apreendem a partir de imagens das paisagens culturais que espelham a panóplia de usos, costumes, tradições e modos de vida que enriquecem de múltiplas vivências o nosso quotidiano.
O projeto Transversalidades, onde se inscreve a presente publicação, recorre à fotografia para abrir janelas para o mundo, esbater fronteiras, promover a cooperação entre pessoas e territórios. A imagem é, neste caso, um meio para encontrar outras Geografias A fotografia tem a virtude de nos confrontar com a a partir das coordenadas que norteiam a cartografia do complexidade plural do mundo que nos rodeia, situada Transversalidades, fotografia sem fronteiras: Paisagens e algures entre o real e o imaginário. Deste modo, atrapatrimónio natural, organizado com fotografias que revés das imagens fotográficas, acabamos por ficar “con- tratam a natureza, o trabalho e as paisagens entretanto frontados com as estranhezas do mundo. E mais ainda: humanizadas; Espaço e sociedade rural, onde encontraem seu frescor, em sua atividade própria, a imaginação mos imagens que mostram a diversidade de paisagens, torna estranho o familiar. Com um detalhe poético, de contextos sociais e do trabalho em meio rural;
* CEI, CEGOT – Universidade de Coimbra. Referências: Maria Fernanda Alegria (2010) – Geografias do mundo imaginado. Finisterra, XLV, 89. Gaston Bachelard (1957; 2005) – A poética do espaço. Martins Fontes, S. Paulo. Jorge Gaspar (2013) – Fotografia e paisagem. In Transversalidades, CEI, Guarda. Armand Fremont (1976; 1980) – A região espaço vivido. Almedida, Coimbra.
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Melhor Portfolio
Melhor portfolio
António Alves Tedim, Portugal 21.4.2.3
Puxando a “sorte” *(1) Ria de Aveiro, Ílhavo (Portugal), 2014 2.21.4.2.4
Esforço
*(2) Ria de Aveiro, Ílhavo (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
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Largando a rede *(3) Ria de Aveiro, Ílhavo (Portugal), 2013
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Melhor portfolio
António Alves Tedim, Portugal 21.4.2.5
Uma já está! *(4) Ria de Aveiro, Ílhavo (Portugal), 2013 21.4.2.1
A caminho
*(5) Torreira, Murtosa (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
21.4.2.6
O troféu
*(6) Ria de Aveiro, Ílhavo (Portugal), 2013
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Imagem, inclusão e cooperação territorial
Transversalidades: a fotograa e seus territórios A
otografia e território: novos discursos da imagem1. As cidades são territórios de possi-
bilidades infinitas. Podemos perdermo-nos e encontrarmo-nos, podemos ver e ser vistos e podemos ainda manter com elas um diálogo íntimo, permanente e secreto, sobre os milhares de impulsos sensoriais que vamos experimentando ao longo do dia. A maior parte das vezes sem nos apercebermos deles. Olhamos e não vemos. Usamos os nossos olhos em varrimentos ditados pelas circunstâncias como se fossemos um scanner ambulante.
Só que ao construirmos essas imagens de forma muitas vezes obsessiva, porque banalizada pelos novos artefactos, não imaginamos como as estamos a brutalizar. Fotografamos, manipulamos, partilhamos e guardamos numa ânsia desmesurada como se não houvesse amanhã. Nunca a cidade foi de tantos e nunca as nossas memórias foram tão fugazes. Não apenas pelos milhões de imagens que a “gastam” como pelas novas facetas que ela nos vai mostrando através das suas mudanças quotidianas como se nos quisesse dar o seu melhor ângulo e sempre pronta para um close-up final como nos filmes ou nas sessões fotográficas em estúdio. Vemos estas imagens como se tudo isto fosse uma “never ending story” que na realidade é porque as cidades são maravilhosas, têm uma energia infinita e renascem todos os dias porque nunca dormem.
Não imaginamos o que está por detrás dos volumes, das cores, dos cheiros e dos ruídos do que a cidade tem para nos dar a ver. Mas também para nos esconder. Como as imagens que fazemos delas. E é mais aquilo que esconde do que aquilo que nos mostra num diálogo sensual e sedutor pleno de possibilidades.
que as fotografia não mostram2. No âm-
bito de um evento tão inequivocamente identificado como Transversalidades – Fotografia sem fronteiras, refletir sobre “o que as fotografias não mostram” pode constituir uma simples provocação. Para mais, a identificação da iniciativa explicita: territórios, sociedades e culturas em tempos de mudança . A fotografia é, pois, chamada a documentar, Procuramos, como dizia Barthes, o nosso “punctus”. mostrar, dar a ver como é que em tempos de mudança Sempre diferente do dos outros e por isso tão democrá- se transformam culturalmente os territórios e as societico porque plural e livre. dades. Mais: a fotografia é privilegiada como o processo Quando usamos a fotografia procuramos seleccionar um dos milhões de pequenos fragmentos que se manifestam à nossa frente numa tentativa, que sabemos condenada ao fracasso, de fazer parar o tempo e o espaço naquela precisa imagem.
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
por excelência capaz de fixar e transmitir o que mudou, de ver. O que a superfície lisa da imagem lança ao o que está mudando. nosso encontro, a preto e branco ou a cores, não é a informação nua (bruta) que baste recolhermos para Por isso, refletir brevemente sobre “o que as fotografias sabermos mais ou de outra maneira. A fotografia é não mostram” será mesmo, ou só aparentemente, uma uma proposta cifrada a que devemos oferecer uma provocação? rigorosa competência interpretativa. A fotografia significa (diz, mostra) na exata proporção da sensibilidade Não é só por razões técnicas, histórico-culturais ou e da inteligência do olhar. estéticas que o dispositivo mostrasóo o que não mostra. Aclarar a fotográfico questão nãonão esclarece que as fotografias não mostram, esclarece igualmente aquele regime de autoconsciência para o qual o devir do mundo é devir transparência do mundo. Ou seja: é interrogar a possibilidade da fotografianos seus limites quando, para si própria, a fotografia crê ser a ilimitação de toda a opacidade do real.
O que a fotografia não mostra não é o contrário do que a fotografia mostra. O que a fotografia não mostra no próprio dispositivo de mostração é o que, no mundo, resiste à consumação da transparência: uma reserva de sentido, um pouco de intimidade, o princípio do espanto, a silenciosa explosão da surpresa.
Sigamos, então, a proposta. A fotografia não mostra o presente. Tudo o que a fotografia dá a ver é já passado. O pensamento da fotografia elaborou este tópico com detalhe. O referente da fotografia foi. É passado ou mesmo morte. E, deste ponto de vista, há em toda a fotografia uma dimensão espectral que contrasta violentamente com a responsabilidade, que nela delegamos, de ser um testemunho de atualidade. A fotografia não mostra o movimento do mundo. Pela fotografia, acedemos a fragmentos do passado do mundo ou do mundo como passado. À nossa interrogação sobre o mundo que herdamos, ou em que vivemos herdando, a fotografia contribui com vestígios mais ou menos organizados e verdadeiros. A fotografia é sempre verdade – e nesta frase depositamos uma confiança instável e perplexa. A fotografia não mostra o que não somos capazes
otografía sin fronteras3. Territorios, Sociedades y Culturas en tiempos de mudanza es
mucho más que un titulo, es una definición que encaja a la perfección con la práctica de la fotografía actual. Una de las características más significativas de la fotografía es su capacidad para relacionarse de manera efectiva con gran variedad de disciplinas del conocimiento humano, esta dinámica de colaboración y transversalidad con la ciencia y el conocimiento adquiere todo su significado observando las imágenes presentadas a concurso. La propuesta abarca a la mayoría de las especialidades de la fotografía; reportaje, retrato, fotografía de naturaleza, de arquitectura, social o “la turística”, un término poco ortodoxo pero sin embargo lleno de contenido en esta época ya que actúa como relato de nuestras vivencias en el tiempo de ocio, y es que, el disfrute del tiempo libre es una de las señas de identidad de las sociedades desarrolladas. 17
Imagem, inclusão e cooperação territorial
Como se desprende de las imágenes presentadas a concurso, la fotografía es un medio privilegiado para analizar la situación actual de nuestra sociedad, no por el hecho de mostrar la realidad, sino por la capacidad que tiene la imagen para fijar en la memoria colectiva situaciones y estados que con demasiada frecuencia pasan inadvertidos.
algo tan desmesuradamente usual y tan actual que en que cada segundo se producen millones de imágenes puede que llegue a ser el motivo fundamental por el que ese niño, o cualquier persona, decida un día que esa imagen que se queda consigo pueda compartirla con aquellos que sintonicen con su contexto y/o semántica. Entonces habrá nacido una comunicación entre el emisor y el receptor y en ese preciso instante
de centenares personas anónimas yLasuparticipación visión de conjunto muestrade una nítida instantánea de los intereses y preocupaciones de nuestra sociedad, la continua superposición, en un palinsepto continuo, de estilos, arquitecturas, costumbres, etc. La pérdida de identidad del individuo en las grandes ciudades, la uniformidad a la que nos aboca la globalización y, por otra parte, la necesidad de preservar las tradiciones, las culturas aisladas o los espacios naturales, todo ello con una notable dosis de nostalgia producida por la seguridad de que es mucho lo que el progreso va dejando por el camino, genera imágenes de gran potencia y contenido icónico.
la imagen cobra que aunque muchas es inesperado porunlasentido parte emisora, siempre dotaveces a la imagen de un cierto poder de traslación de ideas de unos individuos a otros, porque de eso se trata en el tema que nos ocupa.
otografia y Compromiso4. El hecho fotográfico nunca es absolutamente banal. Cualquier persona que, con una cámara en la mano, realiza una toma, por simple que pueda ser su planteamiento srcinal no deja de tener una implicación con la realidad y con la relación espaciotiempo. Supongamos que cae una pequeña cámara de fotos en manos de un niño y que alguien le enseña que apretando un botón retiene la imagen que tiene delante de sus ojos. Lo primero que observará es que se ha parado el tiempo y se ha quedado dentro del aparato que le han puesto en las manos. Este hecho, al cabo de los años, puede que no tenga más importancia que la que le queramos dar en sí mismo, pero
En este caso sería imprescindible que la fotografía viaje por los dominios de los aspectos sociales y que el creador de imágenes ponga todo su bagaje cultural al servicio del, posiblemente, más poderoso instrumento de comunicación de hoy día y se sumerja de lleno en los ámbitos del paisaje que hace al hombre, a la vez que el hombre hace el paisaje, tanto urbano como rural, sintiendo a flor de piel cómo, a veces, el aprovechamiento de los recursos naturales es tan excesivo que nunca como ahora ha estado tan en peligro el propio planeta. Sienta en sus carnes que la migración siempre es dolorosa al principio y que las tierras prometidas hay que conquistarlas con la razón del corazón, no de las armas. Que las ciudades
Esta traslación de ideas a través de la semántica, es decir, a través del lenguaje iconográfico puede llegar a ser un vehículo mediante el cual los demás, los receptores de la imagen, asuman íntegramente o en gran parte el mensaje que el emisor quiere hacer llegar y es aquí donde aparece su compromiso, que en el caso de la fotografía tiene multitud de caminos que van desde el informativo al social pasando por el artístico o el publicitario.
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
deshumanizan pero se erigen en el lugar propicio para el desarrollo del hombre moderno, apartando de este cometido al mundo rural en una retirada de éste aparentemente incruenta, pero demoledoramente definitiva con todo lo que ello conlleva, con una crónica despiadada de una muerte anunciada a corto o medio plazo y lo que ello supone: cuánta gente ha tenido que abandonar su hogar familiar en el mundo rural para irsecuántos a una inhóspita comunidad de vecinos en lasu ciudad; subsaharianos, por ejemplo, dejan pequeño mundo de incierto futuro para adentrarse a ojos cerrados, si no les ponemos impedimentos inhumanos, en un mundo lleno de promesas que muchas veces se manifiestan como quiméricas y en el que la igualdad de derechos y oportunidades para todos los seres humanos es cada día más ilusoria propiciada por un sistema político que cada día es más injusto y en el que las diferencias entre ricos y pobres son cada día más insalvables.
otografia, natureza e território5. Como se
lê e apreende uma fotografia? Pelos olhos de quem fotografa ou pelos olhos de quem lê? Enquanto manifestação artística a fotografia, é “apenas” uma imagem visual ou, se preferirmos, uma representação do real. E, enquanto representação, ela depende, naturalmente, dos olhos de quem fotografa, dos ângulos escolhidos, das aberturas, dos filtros, das luzes, mesmo de da alguns efeitostécnica especiais porventura em menor grau, qualidade dase,máquinas de que se dispõe.
Así debemos analizar el compromiso serio de algunos maestros de la fotografía como Sebastião Salgado con trabajos como Génesis, Éxodos, La Mina de Oro de Serra Pelada o Trabalhadores-, o Pierre Gonnord
Mas, a fotografia é também comunicação e, nesse sentido, a sua leitura depende muito das características estruturais ou conjunturais do receptor, do conhecimento social ou cultural que tem do território ou do objecto fotografado, das suas experiências vividas e sentidas, das suas características socio-culturais, do(s) seu(s) estado(s) de alma e de muitos outros factores, gerais ou particulares, externos ou interiores, que interferem com a capacidade de ver e sentir o mundo, o ambiente que nos rodeia, as cores, as formas, as texturas do que nos cerca e que connosco interage de diferentes modos.
–autor de retratos de personajes marginados de Madrid, Nueva York y Tokio o los mineros de Sabero en León-, cuyas producciones son un grito de dignidad en un mundo que les da la espalda. O la aportación de Alberto Gª Alix, que ha sabido recoger como nadie el submundo urbano finisecular. Y ya en el fotoperiodismo, Gervasio Sánchez cuya frase “No soy
Vista neste sentido, a fotografia corresponderá a uma forma de representação artística, filtrada à partida e à chegada, interpretada pelo fotógrafo e descodificada pelo leitor, o que faz supor uma enorme variedade de interpretações dos fenómenos naturais ou antrópicos fotografados e/ou representados.
un periodista solidario, ni comprometido, ni valiente, ni excelente. Si el periodismo no es comprometido, ¿qué es? ” define por sí sola su nivel de responsabilidad
con la sociedad, consciente como nadie de que la fotografía debe ser uno de los grandes vehículos, si no el que más, de comunicación y de muestra de las desigualdades sociales.
Neste catálogo estão fotografias de diversos aspectos da natureza a diferentes escalas. Quase poderíamos dizer que vão do infinitamente grande do universo que vemos no nosso pequeno céu, ao infinitamente pequeno que lemos na enorme complexidade estrutural das asas do pequeno insecto, que vão da larga imensidão 19
Imagem, inclusão e cooperação territorial
oceânica aos minuciosos contornos da flor selvagem, que vão, enfim, da homogeneidade textural da floresta ou dos campos verdes agrícolas ao pormenor das rugas faciais dos homens e mulheres que os trabalham. As fotografias mostram-nos também diferentes graus de apropriação da Natureza pelo Ser Humano. Não nos parece plausível, do ponto de vista estritamente geográfico,pelo falarSer deHumano, Natureza natural ou dea Natureza intocada dadas, quer interferência milenar deste sobre aquela, quer a intensidade, a magnitude e o alcance temporal e espacial, das intervenções realizadas dos últimos dois séculos. No entanto, enquanto arte, a fotografia pode fazer-nos regressar aos aspectos naturais da Natureza ou, se preferirmos, à Natureza natural, sonho idílico do fotógrafo, enquanto indivíduo, mas que funciona para o leitor, quase sempre, também, como instrumento de esperança na regeneração ambiental ou, mesmo, como modo de expiação das nossas culpas colectivas na relação injusta e pouco inteligente que mantemos com a Natureza. Assim, este conjunto de fotografias fala-nos de montanhas e de rios, de terra, mar e ar, de animais e plantas; fala-nos também dos recursos que a Natureza nos lega e do modo como deles nos apropriamos; fala-nos de trabalhos esforçados nessa apropriação; fala-nos da dureza do trabalho rural e da pesca, mas também do prazer conseguido em actividades de lazer, quando praticadas na saudável oikos que habitamos. Fala-nos, ainda, de pobreza no mundo rural e de abandono; falanos de Natureza bela e intocada, mas também de água sujas e de poluição. Fala-nos de utilização e de conservação; fala-nos, ao fim e ao cabo, da Natureza e do Ser Humano nas suas relações, nas suas contradições, nos seus conflitos, nas suas cumplicidades. Em síntese, como representação do real, como ma-
nifestação de arte que estimula o melhor e o pior do nosso imaginário, a fotografia cumpre um papel social importante no modo de ler a articulação na Natureza com a Sociedade, cumpre um papel científico, ao ajudar-nos a compreender os diferentes modos dessa articulação, e desempenha, também, um importante papel pedagógico, ao ajudar-nos a melhor intervir na Natureza e, sobretudo, a educar uma nova geração de seres humanos, melhor preparados utilizar, conservar e fruir os aspectos naturais dopara ambiente.
ntre el olvido y la topofilía: los territorios rurales desde la reivindicación y la esperanza6. Los escenarios rurales que
conocemos están cargados de memoria y de lugares que guardan en sus paisajes la explicación del mundo, de esos pequeños o extensos territorios con nombres simbólicos que durante siglos enmarcaron las relaciones sociales y los afanes de supervivencia de campesinos anónimos. Son espacios organizados en torno a sus distintas capacidades y a las necesidades diacrónicas de sus habitantes. Y tienen como referencias primeras la casa o el hogar familiar y las raíces que unen la tierra o el suelo con los antepasados. Guardan, por tanto, las experiencias seculares y comunes de generaciones sucesivas que han dejado allí sus trabajos al paso de los días, que han encontrado allí sus elementos de identidad y sus fuertes o frágiles vínculos de solidaridad. En definitiva los sentimientos de pertenencia se identifican a distintas escalas con el lugar o los lugares, reforzando con la topofilía el significado social y cultural de los territorios rurales con frecuencia ignorados. En medio de una globalización que nos ha llevado a la contradictoria fragmentación del territorio y a la
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
marginación cruel de los más humildes, o en medio de una dura crisis que vuelve la mirada hacia el medio rural y a sus modelos históricos de ocupación, contemplamos con sentimientos encontrados las imágenes que forman parte del quehacer más secular en la construcción del paisaje y del territorio. Por doquier topamos con paisajes del abandono que nos muestran la doble cara de las dinámicas de los espa-
y de las experiencias. Son testimonios universales que nos invitan a la reflexión transversal en torno al medio rural.
rurales de montaña: la pervivencia de terrazgos ycios tramas pratenses o forestales de indudable belleza que nos acercan o identifican con la topofilía, o por el contrario, con las ruinas de un habitat bien adaptado a las funciones agroganaderas del pasado inmediato que han quedado en el olvido más ingrato. Hasta la propia toponimia ha ido borrándolos de los mapas. El contrapunto posmoderno de un graffiti de corazones entrelazados incorpora ante nuestra mirada un signo reivindicativo y de esperanza.
cambio climático, en laspúblicos agriculturas familiares históricas y en los ven recursos y comunales verdaderas alternativa para frenar y detener los desmanes medioambientales y afrontar con inteligencia agroecológica y sentido común el futuro. Así, pues, una presencia sensata de las agriculturas familiares y la gestión de los comunales a escala local y regional se presentan como un reto apasionante que compromete a toda la sociedad. Ni los actuales instrumentos políticos están preparados para afrontarlo, ni las directrices productivistas y tecnocráticas de la PAC son el camino.
Bien sabemos que el éxodo ha dejado al medio rural malparado y con las estructuras demográficas rotas, estrangulando las perspectivas de futuro de muchos lugares. Es una historia común a uno y otro lado de la raya ibérica que ha quedado reflejada en estadísticas, estudios e informes, más bien fríos, incapaces de transmitir a la sociedad y a las acciones públicas la fuerza necesaria para detener y corregir con sentido social y territorial sus graves consecuencias ambientales, económicas y culturales. Aunque sean bien conocidos los procesos migratorios y de abandono, no cejaremos en reivindicar la lucha por un medio rural vivo en condiciones dignas y de igualdad con el resto de la sociedad. Por ello, no dejan de ser imágenes que nos rememoran el pasado de una ruralidad basada en la austeridad de la pobreza y en el esfuerzo personal, en el intercambio local en acémilas y en condiciones penosas, o en la familia extensa que daba cobijo a mayores y menores en una sucesión natural y transmisión oral del trabajo
Precisamente este año 2014, la FAO, por un lado, y la propia ONU, por otro, ante el fracaso de las garantías alimentarias a escala global y ante las sucesivas frustracion es de la s cumbres frente al
Digamos algo más sobre algunas de las imágenes. Estamos ante paisajes remotos y próximos. Las gargantas del Todra y los bereberes que las habitan constituyen uno de los paisajes naturales y rurales más representativos e impresionantes del Atlas marroquí. Aún pueden observarse los géneros de vida tradicionales y sus formas de ocupación en un área de montaña que da paso al desierto, pero en los últimos años se ha convertido en uno de los lugares más visitado por el turismo internacional y particularmente por parte de los franceses y españoles. Las mejoras de la accesibilidad local han colocado a estos lugares en la órbita de la globalización del consumo turístico para aventureros y para ciudadanos amantes de la escalada o de un acercamiento efímero a las raíces geológicas y culturales de unos paisajes cargados, ciertamente, de enseñanzas y de memoria. 21
Imagem, inclusão e cooperação territorial
Otra lectura más cercana nos ofrece la recogida de la hierba en nuestras montañas o en sus bordes somontanos, recordándonos la capacidad de adaptación a los ciclos estacionales en unas formas de aprovechamiento históricas que conjugaban los usos agroganaderos con el manejo de los bienes y montes concejiles, dando respuesta a las necesidades familiares y vecinales comunes. Los pueblos del Noroeste y de las montañas o
J. Caro Baroja, Jorge Dias, Fritz Krüger, Virgilio Taborda, Orlando Ribeiro o Ángel Cabo-, nos dejaron testimonios y respuestas agroambientales que han caído en el olvido, pero cuya elocuencia agroecológica nos invita desde la lectura del paisaje a una topofilia activa en favor del medio rural y en defensa de su patrimonio y de sus bienes comunales. Son “paisajes que se nos van” y que esperan silenciosamente nuestro rescate y
sierras transfronterizas – nos lo recuerdan sabiamente
su custodia cordial y solidaria.
Henrique Cayatte – D esigner, Professor Auxiliar Convidado da Universidade de Aveiro. António Pedro Pita – Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Membro da Comissão Científica do CEI. Santiago Santos – Fotógrafo, Salamanca. 4 Victorino García Calderón – Fotógrafo y Profesor de Educación Plástica, Fotografía y Comunicación Audio-Visual, Salamanca. 5 Lúcio Cunha – Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Membro da Comissão Científica do CEI. 6 Valentín Cabero Diéguez – Professor Catedrático da Faculdade de Geografia e História da Universidade de Salamanca, Membro da Comissão 1 2 3
Executiva do CEI
TEMAS
TEMA 1
Paisagens, biodiversidade e património natural
1 I Paisagens, biodiversidade e património natural
Prémio Tema
António Costa Pinto, Portugal 13.1.2.2
Luz do Poente *(7) Figueira da Foz (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
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1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Menções honrosas
Jorge Feteira, Portugal 21.1.1.3
Mesma terra, Cores diferentes *(8) Fronteira (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Telma de Jesus Monteiro Miragaia, Portugal 48.1.1.1
Aproveitamento do abandono *(9) Ribeira Grande (Portugal), 2014
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1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
O horizonte que vem até nós Adriana Veríssimo Serrão *
e cada de nós sente espontaneamente que está numa paisagem, mais difícil será encontrar a definição capaz de agregar a diversidade dessas peculiares experiências do mundo. O que é uma paisagem? A linguagem parece deter-se numa impossibilidade, relegando-a para a esfera do que se pode sentir e pensar, mas não efectivamente conhecer. Também aqui, como na confissão agostiniana acerca do tempo, se não nos perguntam, sabemos; se nos perguntam, deixamos de saber. Na busca de respostas à complexa questão da essência da Paisagem entendida como uma das grandes categorias do pensamento humano, uma das mais fecundas tem sido a associação à noção de horizonte.
(intrínseca) e irradiação (centrífuga) subjaz ao entendimento, proposto por Michel Corajoud, de um lugar onde céu e terra se tocam. Unidade dinâmica resultante da conjunção do múltiplo, é sempre mais que a soma aritmética dos seus elementos. Envolvência de elementos que por sua vez confinam com outros, extravasa se a si mesma tanto na extensão da superfície da terra quanto na elevação em altura. O horizonte é condição de identidade e de relação, de ligação e cruzamento; tanto sugere a horizontalidade quanto a verticalidade. “O horizonte, enquanto dimensão espácio temporal prévia que se desloca e recua sob o impulso do olhar, é perspectivado como a potência de abertura da paisagem que, simultaneamente, lhe confere o seu poder de coesão próprio.”
O geógrafo Eric Dardel usou a metáfora da janela aberta para acentuar que a paisagem nunca é uma coisa, um objecto parado à nossa frente, mas um lugar que se abre para outros lugares, uma realidade que se
Procuremos entender melhor a pertinência desta imagem, sendo que, por um lado, ela pretende contrariar a ideia feita de uma circunscrição espacial e objectiva, eventualmente mensurável, de uma região que vai
expande paraas fora sendo “A meramente transitórias suasdela, fronteiras: paisagemaparentes não é ume círculo fechado, mas um desdobramento. Uma janela sobre possibilidades ilimitadas: um horizonte. Não uma linha fixa, mas um desdobramento, um impulso.”
deste ponto mas não deixa,Estará por outro, de apontar paraaté umaàquele, delimitação virtual. precisamente nesta tensão entre limitado e ilimitado a figuração do paradoxo constitutivo da paisagem. Porque enquanto porção de natureza, que nela se manifesta como princípio vivificante, a paisagem não tem limites. Mas ao mesmo tempo o horizonte, que não é de facto uma linha de demarcação física, dá subtilmente conta de um certo recolhimento em si mesma que lhe confere um rosto único, uma fisionomia irrepetível. É próprio da paisagem a singularidade.
Não há aqui um espaço fechado sobre outro igualmente fechado – quando uma sala confina com outro compartimento; a janela não é aquela moldura de um interior de onde se avista qualquer coisa lá fora, mas já lugar situado, a “céu aberto” que constantemente se abre e que nesse estender se ganha temporalidade. A mesma ênfase colocada nesse misto de densidade
A paisagem é sempre dual, mista: ponto de encontro entre objectividade e subjectividade, entre em si e
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
para nós; em última instância, enlace entre Homem e Natureza. Para que seja autêntico, este encontro implica ultrapassar o plano da representação, da visão à distância, para mergulharmos no ser. Porque o mundo não está à nossa frente, a experiência paisageira não poderia ser exclusivamente visual. Daí a valorização cada vez maior que a filosofia da paisagem tem atribuído à sensação, que une o ser com o ser, e à experiência
sença sintética e inclusiva. O infinito foi comprimido no finito.
estética como vivência ontológica: experienciar a paisagem é também tomar consciência da condição terrena e natural do nosso ser no mundo. É a ela que devemos aquilo que vivemos nela.
superior capacidade expressiva. A Natureza se-ia significante somente enquanto recriadatornarou interpretada. Tal sucede na pintura de paisagem, uma imagem do mundo, mas não o mundo.
Uma via privilegiada desta apreensão directa é a caminhada. Fazendo-nos participantes, pedindo ao corpo que se desloque, avançamos em direcção ao horizonte, que a cada passo se revela e a cada passo se afasta. As sensações de limitação e imensidão mesclam-se. O que existe ainda não se deu totalmente neste momento presente. Encontra-se lá, mas escondido, como um além pressentido, um futuro prometido. Recorrendo à formulação magnífica de Rosario Assunto, a finitude aberta da paisagem é “presença do infinito no finito”.
Mas a fotografia, se não é uma criação humana arbitrária, mas uma atitude de contornos éticos em que a marca do autor se desvanece para deixar simplesmente surgir a escrita da Luz, pode tornar visível o invisível e invisível o visível. O que estava lá mas não se via passou a estar. Ao entregar à Luz, e não ao Eu, o poder revelador, o real enriqueceu-se com possibilidades inscritas no ser mesmo da paisagem.
A outra é-nos dada pelo fotografar. Ao contrário do caminhar distensão temporal do horizonte a perder de vista que o movimento do corpo afasta sempre para mais longe na fotografia as possibilidades da paisagem são como que trazidas até nós. As dimensões do ser - densidade e profundidade, texturas, volumes e cores, cambiantes de luz - são condensadas numa pre-
fotografia.
A fotografia está imune à condenação que impende sobre muitas formas de arte: de serem projecções da subjectividade, a imposição de um acto que pretende orgulhosamente sobrepor-se ao mundo, rivalizando com ele, ou mesmo substituindo o reivindicando uma
Demos agora a palavra ao fotógrafo Rui Cambraia numa reflexão sobre a afinidade entre Paisagem e
“Fotografar é como espreitar pelo buraco de uma fechadura, encerrados numa cumplicidade secreta – nós e o segredo, a fechadura como moldura, o fragmento visível apreendido como um todo: tal é a experiência da Paisagem.”
* Departamento de Filosofia da Universidade de Lisboa. Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Referências: Eric Dardel, L’homme et la terre, 1952. Rosario Assunto, Il paesaggio e l’estetica, 1973. Michel Corajoud, Le paysage c’est l’endroit où le ciel et la terre se touchent , 1982. Rui Cambraia, “Paisagem e Fotografia. Luz, fotossensibilidade, o olho e o olhar”, in Filosofia e Arquitectura da Paisagem. Um Manual, coord. Adriana Veríssimo Serrão, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2012; 2014.
31
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Ana Paula Costa Cebola Oliveira, Portugal 53.1.1.2
Rochedos *(10) Costa Algarvia, Marinha (Portugal), 2013 4.1.35.4.53.1.1.1
Passagem
*(11) Costa Algarvia (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
53.1.1.4
Fuga
*(12) Costa Algarvia (Portugal), 2013
53.1.1.5
Luz
*(13) Costa Algarvia (Portugal), 2013 53.1.1.3
Esconderijo
*(14) Costa Algarvia, Benagil (Portugal), 2013
33
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
António Costa Pinto, Portugal 13.1.2.1
Serenidade *(15) Figueira da Foz (Portugal), 2014 4.1.35.4.13.1.2.4
Fúria
*(16) Figueira da Foz (Portugal), 2014
13.1.2.3
Jogos de Luz *(17) Figueira da Foz (Portugal), 2014 13.1.2.5
Símbolos
*(18) Figueira da Foz (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Telma de Jesus Monteiro Miragaia, Portugal 48.1.1.3
Furnas
*(19) Furnas, Açores (Portugal), 2014 4.1.35.4.48.1.1.2
Chá da Gorreana
*(20) Gorreana, Ribeira Grande (Portugal), 2014
48.1.1.6
Espaço termal natural *(21) Furnas, Açores (Portugal), 2014 48.1.1.5
Poça da Dona Beija
*(22) Furnas, Açores (Portugal), 2014
35
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Ricardo Jorge Duarte Costa, Portugal 23.1.1.5
Água Viva *(23) Serra da Estrela (Portugal), 2013
23.1.1.1
Refletindo Sonhos *(24) Serra da Estrela (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
23.1.1.3
Lugar Sonho *(25) Serra da Estrela (Portugal), 2014
23.1.1.4
Casa Abrigo *(26) Serra da Estrela (Portugal), 2014 23.1.1.6
United Colors
*(27) Serra da Estrela (Portugal), 2013
37
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Fernando Curado Matos, Portugal 31.1.1.3
Extração da cortiça
*(28) Herdade João Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013 4.1.35.4.31.1.1.1
Extração da cortiça
*(29) Herdade João Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013
31.1.1.2
Extração da cortiça *(30) Herdade João Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
31.1.1.4
O transporte das pranchas de cortiça no montado
*(31) Herdade João Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013 4.1.35.4.31.1.1.5
O empilhamento das pranchas
*(32) Herdade João Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013
31.1.1.6
A pilha final no montado *(33) Herdade João Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013
39
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Maria Raquel Simões Malho Costa Pinto, Portugal 54.1.1.1
Bravos!!!! *(34) Praia de Mira (Portugal), 2013
54.1.1.2
Muita expectativa *(35) Praia de Mira (Portugal), 2013 54.1.1.5
A luta pela liberdade
*(36) Praia de Mira (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
54.1.1.3
O saco da rede
*(37) Praia de Mira (Portugal), 2013 4.1.35.4.54.1.1.4
54.1.1.6
Remendar as redes *(39) Praia de Mira (Portugal), 2013
Todos ajudam...
*(38) Praia de Mira (Portugal), 2013
41
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Vítor da Silva, Portugal 21.1.2.5
Pesca Artesanal 5
*(40) Vila Nova de Milfontes (Portugal), 2013
21.1.2.4
Pesca Artesanal 4 *(41) Vila Nova de Milfontes (Portugal), 2013 21.1.2.3
Pesca Artesanal 3
*(42) Vila Nova de Milfontes (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
21.1.2.1
Pesca Artesanal 1 *(43) Vila Nova de Milfontes (Portugal), 2013 21.1.2.6
Pesca Artesanal 6
*(44) Vila Nova de Milfontes (Portugal), 2013
43
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
1.1.2.2 Sérgio Miguel Mateus dos Santos, Portugal
A serra o pastor e os moinhos *(45) Serra da Estrela (Portugal), 2013 16.1.2.5 António Rilo, Portugal
Caramulo - Eólicas *(46) Caramulo (Portugal), 2013
12.1.2.3 Maria Isabel Dias Nobre, Portugal
Em Paz *(47) Sortelha (Portugal), 2013 16.1.2.6 António Rilo, Portugal
Caramulo - Mar de nuvens *(48) Caramulo (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
29.1.1.3 Catarina de Fátima Pacheco Vieira, Portugal
Mestre Pico *(49) Ilha do Faial, Açores (Portugal), 2011 38.1.1.3 Susete dos Anjos Henriques, Portugal
Lagoa do Caiado *(50) Ilha do Pico (Portugal), 2013
25.1.1.4 Rui Amaro da Silva, Portugal
A nuvem e a montanha *(51) São Roque do Pico (Portugal), 2013 70.1.1.3 José Paiva, Portugal
Lago *(52) Serra da Estrela (Portugal), 2013
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1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
84.1.1.3 Ludovico Miguel Gama Sousa, Portugal
Inércia Volátil *(53) Ribeira de Alge, Fragas de São Simão (Portugal), 2013 41.1.1.4 Fabíola Franco Pires, Portugal
Ponte do Arco *(54) Meadela, Viana do Castelo (Portugal), 2014
18.1.1.3 Daniela Morgado Ribeiro, Portugal
Waterfall *(55) Paúl (Portugal), 2014 96.1.1.2 Cláudia Margarida Pereira da Costa, Portugal
Paiva a dois tons *(56) Arouca (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
77.1.1.6 Joana Cecília Castro Araújo, Portugal
Pescador de Lampreia *(57) Ponte de Lima (Portugal), 2014 46.1.1.3 Isabel Guedes Pereira, Portugal
Passadiço *(58) Bertiandos e S. Pedro d’Arcos, Ponte de Lima (Portugal), 2013
2.1.1.6 Carlos Antunes, Portugal
Verde *(59) Caloura, Ilha de São Miguel, Açores (Portugal), 2013 45.1.1.2 Rui Ferreira, Portugal
Água de Laboreiro *(60) Sul da vila de Castro Laboreiro (Portugal), 2013
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I
Paisagens, biodiversidade e património natural
75.1.1.3 Manuel Cunha, Portugal
Convento *(61) Fundão (Portugal), 2013 75.1.1.5 Manuel Cunha, Portugal
Magenta *(62) Fundão (Portugal), 2013
75.1.1.1 Manuel Cunha, Portugal
A Fuga *(63) Fundão (Portugal), 2013 40.1.1.2 Mariana Filipa Chagas Faria, Portugal
O imaginável bem-me-quer *(64) Serpa (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
60.1.1.4 Inês Pereira Leonardo, Portugal
No estuário *(65) Estuário do Sado, Setúbal (Portugal), 2013 30.1.1.3 António Soeiro, Portugal
Corno *(66) Faro (Portugal), 2014
86.1.1.1 Manuel Alberto Azevedo Gomes Novo, Portugal
Caloptérix Haemorrhoidalis *(67) Valdreu - Vila Verde (Portugal), 2013 60.1.1.5 Inês Pereira Leonardo, Portugal
Olhar *(68) Sesimbra (Portugal), 2013
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Paisagens, biodiversidade e património natural
15.1.2.4 Manuel Abelho, Portugal
Longevidade *(69) Castelo Novo (Portugal), 2014 19.1.2.4 Cláudia Marina Fernandes Costa, Portugal
O Pastor *(70) Miranda do Douro (Portugal), 2013
15.1.2.3 Manuel Abelho, Portugal
Solidão *(71) Sortelha (Portugal), 2014 76.1.1.4 Lucinda Fernandes, Portugal
Curva *(72) Barca D’Alva (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
14.1.2.2 Rui Miguel da Cruz Feijão Moreira Marques, Portugal
Volfrâmio 2 *(73) Barroca Grande (Portugal), 2014 97.1.1.2 Susana Cristina Rodrigues Gasalho, Portugal
Ria Formosa 2 *(74) Ria Formosa, (Portugal), 2013
21.1.1.4 Jorge Feteira, Portugal
Último Caminho *(75) Carrasqueira, Alcácer do Sal (Portugal), 2013
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I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Da concepção física do universo ao sentimento de mundo João Lima Sant’Anna Neto *
ão seria exagerado afirmar que a concepção de mundo natural ainda se pauta numa dualidade herdada das concepções físicas do universo, que remontam à renascença, quando das descobertas científicas de Galileu Galilei e Nicolau Copérnico e, das matrizes subjetivas contemplativas que nos foram legadas pelo idealismo romântico, personificado por Alexander von Humboldt.
calmente conectados à nossa existência material e sensorial. Assim como não há paisagem desprovida da dimensão humana, não há humanidade fora da imanência natural. Daí, talvez, advenha o progressivo metabolismo e a metamorfose construtiva de um híbrido socionatural.
Não se olham as paisagens impunemente. Por meio da visão, mas também pelo tato e por seus aromas, somos transportados para uma dimensão em que razão e A dualidade Racionalismo - Romantismo, quando tra- emoção se convertem em vida. tamos de nossa relação com a natureza nos confronta a todo instante. A concepção física do universo e o Na mesma fração de território contida numa sentimento do mundo nos confundem - nos unem e paisagem, encontramos tanto os recursos naturais nos separam - pois há uma enorme gama de tons e explorados e obtidos pelo trabalho humano, que são matizes que possibilitam representam esta dimensão fundamentais à nossa sobrevivência material, quanto do conhecimento e dos sentimentos. os elementos sensoriais e, por que não dizer, metafísicos, essenciais para alimentar nossos sentimentos e Se a racionalidade científica nos obriga a decompor emoções. os elementos e as dinâmicas da natureza, o idealismo romântico nos concede o privilégio experimentar trajetória individual pelasfantástica experiências uma subjetividade artística e estéticadeque nos possibili- Cada coletivas nos prepara para moldada uma viagem ta senti-la e contemplá-la. rumo ao inesperado. Se a Geografia nos revela os fatores, os processos, os usos e as funções da paisagem, O mundo, além de conter as paisagens naturais, também nos permite observar uma profusão de cores, património geogenético de nossa história geológica, formas, arranjos e perfumes. As paisagens, assim, se também é resultado momentâneoe cambiante, marca revelam como a plenitude da existência humana. edificatória da existência humana sobre a Terra. Tratase de um processo histórico-geográfico de perpétuo O que foi escrito até aqui seria uma bela história se metabolismo no qual as dimensões naturais e sociais não houvesse a possibilidade de um contraponto. se combinam de forma indissociável. As paisagens podem conter o todo. Mas, também, o nada. E, ainda, infinitas quantidades de mais ou As paisagens são frações ou fragmentos únicos de menos qualquer coisa. Podem se referir ao nosso nossa percepção espaço temporal, porém umbilicotidiano próximo ou às nossas memórias distantes,
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
suscitando medos, fantasias, ansiedades, saudades, desejos e necessidades.
As paisagens deixam de existir enquanto dimensão indissociável dos homens para se tornar mercadoria intercambiável. E, isto é particularmente verdadeiro Nesta perspectiva, a paisagem também pode “desuna periferia do mundo desenvolvido, em que a força manizar-se”, ao ser relegada única e simplesmente à das grandes corporações globais não enfrenta (como condição de mercadoria exposta às forças econômicas nos países centrais) as restrições legais e morais e insensíveis dos mercados. Quando se retira da impostas pelos estados nacionais e mediadas pelos paisagem todo seu conteúdo humano, resta apenas seu grupos sociais organizados em defesa do património valor intrínseco à reprodução do capital.
natural.
A história da humanidade é rica em exemplos de intervenções políticas e econômicas que mutilaram e destruíram partes importantes deste património natural. Desapareceu uma infinidade de santuários e refúgios ecológicos que não sobreviveram à ganância de determinados agentes econômicos.
A realidade dos países mais pobres (ou menos ricos) mostra que as fotografias ainda podem ser capazes de poetizar e sublimar as formas das paisagens, mas conseguem cada vez menos esconder as suas mazelas resultantes da depredação de sua integridade. Entretanto, as imagens captadas pelo olhar mais sensível do observador, podem ser transformadas em instrumento de resistência para a construção de um mundo melhor.
A pós-modernidade tem nos ensinado que o conceito de paisagem está sendo ressignificado para alguma coisa nebulosa que atende pelo nome de “sustentabilidade”. Este novo conceito tem a capacidade de mascarar uma das faces mais perversas do capitalismo, que é o de atribuir preço e valor econômico a um bem da humanidade. Ou seja, ao atribuir um preço, explica-se que se pode vender, comprar, inutilizar, mutilar qualquer fração da paisagem, em nome de seu valor de troca.
Que o sentimento de mundo evocado pela emoção do idealismo romântico prevaleça sobre as intensões escusas travestidas de razão pós-moderna. Que as imagens, como as fotografias deste livro, reveladas pela sensibilidade humana, não sucumbam e se transformem numa força simbólica em defesa de nosso património paisagístico.
* Professor Titular do Departamento de Geografia. UNESP/Presidente Prudente. Texto escrito em português do Brasil.
53
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Julio Herrera, Espanha 35.1.1.4
Faro en la noche *(76) San Esteban de Pravia (Espanha), 2014 35.1.1.6
Galerna
*(77) San Esteban de Pravia (Espanha), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
35.1.1.1
Tempesta *(78) Llanes (Espanha), 2014
35.1.1.5
Olas contra la ermita *(79) Llanes (Espanha), 2014 35.1.1.3
Frente de tormenta
*(80) Llanes (Espanha), 2014
55
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Ana Paula Moital Luis Serrão, Portugal 8.1.2.1
Sem título *(81) Swinousjcie (Polónia), 2014 8.1.2.6
Sem título
*(82) Swinousjcie (Polónia), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
8.1.2.4
Sem título
*(83) Swinousjcie (Polónia), 2014
8.1.2.3
Sem título *(84) Swinousjcie (Polónia), 2014 8.1.2.5
Sem título
*(85) Swinousjcie (Polónia), 2014
57
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Susana Wichels, Portugal 9.1.2.1
Chapinhando entre crocodilos *(86) Phnom Penh (Cambodja), 2013 9.1.2.4
O encantador da floresta
*(87) Phnom Penh (Cambodja), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
9.1.2.2
Beleza sem Rugas
*(88) Mercado de Port Louis (Maurícia), 2013 4.1.35.4.9.1.2.3
Olhos de Azeitona
*(89) Phnom Penh (Cambodja), 2013
9.1.2.6
Dorme meu menino *(90) Phnom Penh (Cambodja), 2013
59
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Everaldo Jacob Silva, Brasil 17.1.2.2
Burrico
*(91) Bahia (Brasil), 2011 4.1.35.4.17.1.2.3
Lucas e Matheus
*(92) Bahia (Brasil), 2012
17.1.2.6
Vassouras *(93) Bahia (Brasil), 2012
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
17.1.2.4
Sacos de luz *(94) Bahia (Brasil), 2012
17.1.2.5
Soneca
*(95) Bahia (Brasil), 2012
61
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
José Costa Pinto, Portugal 11.1.2.1
Na falésia
*(96) Muxía (Espanha), 2013
11.1.2.3
O abraço do mar *(97) Muxía (Espanha), 2013 11.1.2.5
Aproveitar a calmia
*(98) Muxía (Espanha), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
11.1.2.4
O preço do “pão”...
*(99) Muxía (Espanha), 2013 4.1.35.4.11.1.2.6
11.1.2.2
Um olho no mar e outro nos perceves *(101) Muxía (Espanha), 2013
Fazer a escolha dos perceves
*(100) Muxía (Espanha), 2013
63
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Cleidimar Isabel de Oliveira, Brasil 92.1.1.1
Lavadeira de Lençóis
*(102) Lençóis, Bahia (Brasil), 2013
92.1.1.2
Lavadeira de Lençóis *(103) Lençóis, Bahia (Brasil), 2013 92.1.1.6
Lavadeira de Lençóis
*(104) Lençóis, Bahia (Brasil), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
92.1.1.3
Lavadeira de Lençóis
*(105) Lençóis, Bahia (Brasil), 2013 4.1.35.4.92.1.1.5
92.1.1.4
Lavadeira de Lençóis *(107) Lençóis, Bahia (Brasil), 2013
Lavadeira de Lençóis
*(106) Lençóis, Bahia (Brasil), 2013
65
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
Yassmin do Rosário Santos Forte, Portugal 6.1.1.2
Barbeiro Rural
*(108) Matalane (Moçambique), 2013 4.1.35.4.6.1.1.3
Barbeiro Rural
*(109) Matalane (Moçambique), 2013
6.1.1.1
Barbeiro Rural *(110) Matalane (Moçambique), 2013 6.1.1.4
Barbeiro Rural
*(111) Matalane (Moçambique), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
39.1.1.5 Erica Montilha, Brasil
20.1.1.4 Augusto César Cunha Pessoa, Brasil
A Espera do Bem-te-vi
Pedras ao sol
*(112) Marília-SP (Brasil), 2013 56.1.1.1 José António Remoaldo Patrício, Portugal
Silenciada *(113) Quintela (Espanha), 2013
*(114) Lajedo de pai mateus (Brasil), 2014 58.1.1.4 Lethicia Cardoso Galo, Brasil
A unidade *(115) Aparecida (Brasil), 2014
67
1
I
Paisagens, biodiversidade e património natural
28.1.1.3 Diego de Holanda Saboya Souza, Brasil
Contra a gravidade *(116) Praia do Aventureiro, Ilha Grande (Brasil), 2014 90.1.1.1 Josué Carvalho Viegas, Brasil
Furtacor *(117) Amazônia Legal, Maranhão (Brasil), 2014
44.1.1.2 Leonice Seolin Dias, Brasil
Arara do Morro do Diabo *(118) Teodoro Sampaio, SP. (Brasil), 2013 34.1.1.3 Daniela Carreira Peralta, Portugal
Simulacro de ti *(119) Saarschleife (Alemanha), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
50.1.1.2 Pedro Jorge Gomes Camacho de Almeida, Portugal
Five Sisters of Kintail *(120) Escócia (Inglaterra), 2013 14.1.1.5 Miguel Julian Ortiz Jaramillo, Colombia
Atardecer colombiano *(121) Santa Marta (Colombia), 2013
50.1.1.3 Pedro Jorge Gomes Camacho de Almeida, Portugal
Baía na península de Shieldaig *(122) Escócia (Inglaterra), 2013 1.1.1.1 Carlos Henchoz, Costa Rica
Dia 1 *(123) Heredia (Costa Rica), 2013
69
1 I Paisagens, biodiversidade e património natural
13.1.1.6 Sara Augusto, Portugal
Tarde *(124) Transilvânia (Roménia), 2013 22.1.1.4 Emanuela Ribeiro Rodrigues, Brasil
O voo *(125) Goiás (Brasil), 2013
36.1.1.3 Mónica Henriques, Portugal
Pórtico Fluvial *(126) Florença (Itália), 2013 74.1.1.1 Luis Iglesias Pérez, Espanha
Naturalesa Comtemplada *(127) Tarragona (Espanha), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
66.1.1.4 Eduardo Filipe Fernandes Realinho, Portugal
Pavão *(128) Évora (Portugal), 2014 5.1.2.3 José António Rodrigues de Almeida Pereira, Cabo Verde
51.1.1.4 Vanessa Alexandra Ribeiro Batista, Portugal
Observo, sinto tal como tu *(130) Istambul (Turquia), 2013
Caravela *(129) Mindelo, S. Vicente (Cabo Verde), 2014
71
TEMA 2 Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
Prémio Tema
Juan Manuel Hernández López, Espanha 7.2.2.1
En las gargantas del todra *(131) Gargantas del todra (Marrocos), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
75
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
Menções honrosas
Alfonso Ferrer Yus, Espanha 11.2.2.2
Entrando la hierba *(132) Serveto, Huesca (Espanha), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Miguel Sobral Cardoso, Portugal 14.2.2.2
Família
*(133) Lamego (Portugal), 2013
77
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
Sociedade rural e espaço Carminda Cavaco *
sociedade contemporânea é urbana, não rural, mesmo se o urbano se identifica largamente com o suburbano, desordenado, degradado, sem qualidade, algo clandestino, onde proliferaram os bairros de habitações ilegais pobres e tristes, e até os bairros de lata, que entre nós só foram tardiamente eliminados. E como reverso, o declínio do rural tradicional e agrícola, ao nível dos espaços e correspondentes sociedades: pobreza de rendimentos, alargamento dos incultos, matos e floresta, êxodo e desvitalização, isolamento e regressão demográfica, marginalização de espaços de vida, degradação das infra-estruturas, mesmo dos acessos, rarefacção dos serviços… Mas sobretudo novas relações entre os homens e os espaços, entre as cidades e os campos, novas utilizações dos espaços rurais e novas ruralidades, com valorização das funções não produtivas da agricultura e das amenidades rurais, atributos naturais ou fruto das acções humanas, os «Serviços Colectivos dos Espaços Naturais e Rurais»: ambiente e biodiversidade,
valores e novos comportamentos, novos padrões de consumo, novas modas, economias mais monetárias, dos que chegam, dos que partem e também dos que ficam, incluindo os rurais agrícolas, camponeses e assalariados (pensões de velhice dos rurais), e novas dependências.
qualidade e disponibilidade da água, paisagens não banais, identitárias e atractivas, produtos de qualidade, agrícolas e artesanais, património, das construções às tradições, passando pela gastronomia, qualidade de vida, recreação, etc.
construção civil, transportes, no pequeno comércio e nos serviços emnos geral (camionistas, guardas fiscais, polícias, contínuos, comércio de distribuição), concentrados nas vilas e cidades, sobretudo nas áreas litorais.
O desenvolvimento rural ganha novas vertentes, para além da modernização agrícola, da reestruturação parcelar, das novas culturas e das novas técnicas, das produtividades brutas, dos custos e dos rendimentos líquidos, da renovação do universo empresarial: outras populações, outros ritmos quotidianos, não determinados pelas estações, ou pelo nascer e pôr do sol, outras relações sociais e espaciais, novas hierarquias, novos
Portugal exemplifica claramente a decadência dos espaços rurais tradicionais ao longo do século passado. Depois dos máximos demográficos dos anos 30 mas sobretudo dos meados do século, êxodo, emigração, secundarização da actividade agrícola (pluriactividade e plurirrendimento), abandono do trabalho nos campos, extensificação dos sistemas de cultivo, alargamento de incultos, florestação, multiplicação das ausências, já não apenas sazonais nem limitadas aos espaços nacionais, despovoamento e abandono de lugares e aldeias, envelhecimento da população residente, mais ainda da agrícola. Valorizaram-se os empregos na indústria próxima (minas, têxteis e calçado, pasta de papel), na
A favorecer a mudança, a difusão da escolaridade, o alargamento de horizontes (rádio e televisão), as vivências quotidianas nos destinos da emigração e nas próprias campanhas das guerras em África, as novas oportunidades de trabalho feminino, nomeadamente no têxtil e nos serviços, as crescentes mobilidades espaciais, as novas estradas e os novos meios de transporte (motorizadas, camionetas, automóveis particulares), encurtando distâncias, aproximando os
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
diferentes espaços de vida. Todavia, em sentido inverso, modernização agrícola localizada e estruturalmente selectiva, e sobretudo novo conforto rural: água, luz eléctrica, gás, televisão e telefone, transportes motorizados, acessibilidades modernas, escolas e infantários, serviços médicos, assistência à terceira idade (IPSS, lares, centros de dia, apoios domiciliários), outra qualidade de vida, outras condições na velhice.
produtividades e dos rendimentos. Sem esquecer as compensações ambientais nos sistemas extensivos e de agricultura marginal: políticas comunitárias agrícolas e de desenvolvimento rural e local, políticas regionais e políticas orientadas para os espaços objecto de protecção ambiental.
Claro que persistem algumas situações dramáticas de isolamento, solidão, abandono, na ausência de familiares, vizinhos e amigos e em lugares de casas prolongadamente vazias, mesmo em ruína, onde já não chega regularmente o carteiro, o padeiro, o vendedor ambulante, onde falta mesmo a missa dominical, ocasião de encontro, de informação, de recreio. Situações a que a comunicação social vem dando atenção, um pouco ao acaso ou com programas específicos, recorrendo ao saber de especialistas de grande prestigio e capacidade comunicacional, como António Barreto (Portugal, Um Retrato Social, RTP).
dos indivíduos e das famílias,vilas aceleração das migrações mobilidades, proximidade de aldeias, e cidades, pendulares para os centros de emprego e de serviços, quadros de vida alargados, esbatendo quotidianamente as distâncias entre cidade e campo. E também atracção residencial de novos habitantes de srcem urbana, pelas condições e quadros de vida (ambiente, segurança, convivialidade, modos de vida mais sustentáveis), urbanização (sociológica e física) das aldeias, fluidez da fronteira rural urbano, desaparecimento do rural profundo, mesmo do rural autêntico.
Neste novo Portugal rural justapõem-se modernidades e arcaísmos. Por um lado, parcelamento e fragmentação predial, mediocridade das produções, variedades tradicionais, modos de cultivo orgânicos, sociedades camponesas algo tradicionais, pequenas produções largamente para auto consumo e partilha por filhos e netos, mesmo quando ausentes (batatas, couves, azeite e vinho, ovos e «criações», …). Mas por outro, intensificação dos sistemas de produção, modernização tecnológica, mecanização, adubos químicos, pesticidas, novos sistemas de rega, renovação das plantações (vinha, olival, pomares) e dos efectivos animais, novas variedades e novas culturas comerciais, mesmo especializações individuais, locais ou regionais, valorizadas pelo mercado, também floresta de rendimento (pinhal, eucaliptal, montado), e no final, aumento das
No geral, pluriactividade e plurirrendimento ao nível
Mas as diferenças permanecem, a favor dos campos e ao sabor das estações: verdes dos lameiros e dos pinheiros; amarelos e brancos dos giestais e estevais floridos, vermelhos e castanhos outonais das vinhas e dos carvalhais; riachos que cantam; pássaros a chilrear, pores de sol inesquecíveis, cimos que se elevam ao encontro das nuvens, céus estrelados, ar puro, sombras, brisas frescas, alimentos com outros sabores, receitas com história, casas de pedra e de taipa, tectos de cana, cobertura de telhas de canudo, contrastes fortes com as casas dos emigrantes, com elementos de outras culturas, aldeias medievais cuidadosamente renovadas, pombais e velhos castelos sem funções, festas populares, tradições e crenças, saberes e saberes-fazer… Acrescem populações genuinamente acolhedoras, orgulhosas das terras e das suas gentes, abertas ao diálogo, disponíveis para uma boa conversa, algo 79
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
pobres mas generosas, que gostam de partilhar o que têm, mesmo de receber os de fora, que não conhecem, nunca viram, mas que sabem que de uma forma ou de outra convivem com os seus ausentes, na cidade distante, na França, no Brasil, na Venezuela… Gente que se conhece, se entreajuda e também ajuda os de longe, anos atrás os retornados e hoje os da cidade, portadores da mesma língua ou de outras línguas, explorando
de outros modos de vida, como ser agricultor, pastor ou contrabandista, longe da artificialidade dos meios urbanos, bem mais tecnológicos e densos, dos seus verdes «artificiais» (parques e jardins) e das suas atmosferas construídas, sonoras e poluídas. Sem esquecer um «turismo residencial» orientado para a terceira idade e as suas debilidades e dependências físicas: residências assistidas, lares; clientelas regionais, nacionais
então outras formas de comunicação e compreensão, outros linguajares….
e estrangeiras, das classes média e alta, com adequado nível de rendimentos.
Citadinos que se instalam, que habitam os mesmos lugares, que até pretendem cultivar e produzir; citadinos que adquirem e renovam velhas habitações, para residências de férias e mais ainda residências secundárias; e citadinos que apenas visitam, em estadas curtas ou de passagem. Turismo da natureza, ecoturismo e etnoturismo, turismo rural, turismo cultural e patrimonial, turismo gastronómico; mudança de ares e de ambientes, retorno ao mundo dos avós, a um passado perdido, a uma ruralidade «mítica»; descoberta, novas experiências e aprendizagens múltiplas; repouso, recreação, contemplações, mas igualmente caminhadas, passeios de burro, de bicicleta ou de tractor, «ensaios»
Novas expressões da multifuncionalidade dos espaços rurais em todos os países desenvolvidos, mesmo onde a agricultura produtiva ainda domina claramente a paisagem, e que ajuda a viabilizar a presença de comércios e serviços que amenizam os quotidianos dos próprios rurais-agrícolas e de todos os rurais residentes, jovens e menos jovens, estudantes, activos ou reformados. Uma ruralidade compósita que cruza funcionalidades e mobilidades, trabalho e lazer, produção e consumos múltiplos, natureza e paisagem, ambiente e tradição, nostalgias e rotinas, liberdades e dependências, autonomias e solidariedades. E modos diferenciados de habitar…
* Geógrafa. Universidade de Lisboa.
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Ilda Susete Ferreira Fernandes Correia, Portugal 20.2.1.3
Regaço
*(134) Mira (Portugal), 2013 4.1.35.4.20.2.1.6
Maçã da boa fortuna
*(135) Rebordaínhos, Bragança (Portugal), 2013
20.2.1.1
Sozinhos na paisagem *(136) Sarracin de Aliste, Zamora (Espanha), 2013 20.2.1.2
A Máscara
*(137) Montamarta, Zamora (Espanha), 2013
81
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
João Pedro Costa, Portugal 21.2.1.3
Manjedoura *(138) Vila do Bispo (Portugal), 2014 4.1.35.4.21.2.1.1
Mó
*(139) Monte da Vinha, Alfambras, Aljezur (Portugal), 2014
21.2.1.5
Curral
*(140) Monte Novo, Alfambras, Aljezur (Portugal), 2014 21.2.1.2
Entrosga
*(141) Monte da Vinha, Alfambras, Aljezur (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Rui Diogo Castela da Silva Neves, Portugal 32.2.1.5
Banco de suplentes
*(142) Alentejo (Portugal), 2014 4.1.35.4.32.2.1.4
Reboque
*(143) Alentejo (Portugal), 2013
32.2.1.1
Paragem *(144) Alentejo (Portugal), 2013 32.2.1.3
Caixa de correio
*(145) Alentejo (Portugal), 2014
83
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
Bruno Andrade, Portugal 6.2.1.4
Sapateiro *(146) Dornelas (Portugal), 2014 4.1.35.4.6.2.1.1
Desfolhada
*(147) Dornelas (Portugal), 2013
6.2.1.2
Palhoceiro *(148) Souto de Aguiar (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
6.2.1.3
Queimada *(149) Dornelas (Portugal), 2013
6.2.1.6
Vindima *(150) Dornelas (Portugal), 2013 6.2.1.5
Tosquia
*(151) Forninhos (Portugal), 2013
85
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
Isaura Fátima Oliveira Santos, Portugal 9.2.2.1
Ciclo do linho 1
*(152) Penacova (Portugal), 2013 9.2.2.3
Ciclo do linho 3
*(153) Penacova (Portugal), 2013
9.2.2.2
Ciclo do linho 2 *(154) Penacova (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
9.2.2.5
Ciclo do linho 5 *(155) Penacova (Portugal), 2013
9.2.2.6
Ciclo do linho 6 *(156) Penacova (Portugal), 2013 9.2.2.4
Ciclo do linho 4
*(157) Penacova (Portugal), 2013
87
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
José Manuel da Conceição Baptista, Portugal 18.2.1.2
Catavento - cegonhas 2
*(158) Idanha-a- Nova (Portugal), 2014 4.1.35.4.18.2.1.6
Catavento - Apanha da azeitona
*(159) Ponte do Tabuado, Ferreira do Zêzere (Portugal), 2014
18.2.1.3
Catavento - cegonhas 3 *(160) Idanha-a- Nova (Portugal), 2014 18.2.1.1
Catavento - cegonhas 1
*(161) Idanha-a- Nova (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
14.2.1.2 Isidro Manuel Rito Vieira, Portugal
Preparação *(162) Ilha Terceira, Açores (Portugal), 2013 14.2.1.3 Isidro Manuel Rito Vieira, Portugal
Espelho de água *(163) Ilha Terceira, Açores (Portugal), 2013
4.2.1.2 José Freitas, Portugal
Ruínas *(164) Mina de São Domingos (Portugal), 2013 27.2.1.1 Gilda Maria Rodrigues Pereira, Portugal
Esquecimento 1 *(165 ) Corte António Martins (Portugal), 2014
89
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
29.2.1.5 Catarina Isabel Martins Balula, Portugal
Outros tempos *(166) Freixedas, Pinhel (Portugal), 2014 37.2.1.2 Joana Pais, Portugal
Caracterizar *(167) Piódão (Portugal), 2014
13.2.1.1 José Guerra, Portugal
Magusto da Velha *(168) Aldeia Viçosa, Guarda (Portugal), 2013 31.2.1.1 Inês Silva Carvalho, Portugal
Fim de tarde *(169) Videmonte, Guarda (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
3.2.1.3 Vasco da Assunção Ribeiro Morais, Portugal
Esfolhar do Milho *(170) Perre, Viana do Castelo (Portugal), 2013 3.2.1.2 Vasco da Assunção Ribeiro Morais, Portugal
Apanha da gravalha *(171) Perre, Viana do Castelo (Portugal), 2013
5.2.1.2 Micael António Maria Nussbaumer, Portugal
Vareja *(172) Quinta de São Pedro, Beja (Portugal), 2013 5.2.1.3 Micael António Maria Nussbaumer, Portugal
Campanha da azeitona *(173) Quinta de São Pedro, Beja (Portugal), 2013
91
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
12.2.2.2 José Monteiro Fernandes, Portugal
O terço *(174) Santa Eufêmia (Portugal), 2013 12.2.2.3 José Monteiro Fernandes, Portugal
O Salvador *(175) Santa Eufêmia (Portugal), 2013
14.2.2.1 Miguel Sobral Cardoso, Portugal
Descanso *(176) Tabuaço (Portugal), 2013 22.2.1.6 Patrícia Isabel Lopes Ferreira, Portugal
O Pão de cada dia *(177) Busturenga, Albergaria-a-Velha (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Grande sertão: veredas. O Homem, o Campo e suas(inter) relações Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro * 1. As relações Homem – Natureza sob a mediação do divino 1
conhecimento devem ser feitos com cautela. O caráter sagrado do(s) núcleo(s) família(es), embrionários da comunidade social, contrasta com aqueleprofano
ntes de abordar a sequência de momentos relevantes ao longo dos tempos históricos – concernentes à cultura dita ocidental – nos diferentes espaços da superfície terrestre e segundo diferentes divindades das religiões, vou tentar o confronto mais contrastante possível entre as condições do ARCAICO (primitivo) e do HIPERMODERNO.
da “natureza”. O campo representa assim o papel de intermediário entre o domínio organizado do cosmo e aquele ainda não conquistado docaos. Poderíamos designar o núcleo social como VERNA, o lugar, e os campos circundantes como ADVENA.
A designação de arcaico poderemos aplicar tanto à ocupação de sociedades ditas primitivas, como a das nossas comunidades indígenas, quanto à conquista da A implantação do Homem na superfície terrestre ob- floresta temperada nas latitudes média-altas da Europa serva duas situações contrastantes,concentrada (a alOcidental, quando os invasores bárbaros do Norte dedeia, burgo, cidade),dispersa (os campos de cultivo) e sagregaram o Império Romano, gerando novas nações, aquele ainda não efetivamente ocupada, deixado como novas línguas conduzidas pelas ordenações cristãs, primitiva forma da natureza. Sendo o homem um instauradoras da Idade Média. animal gregário, que vive em comunidades sociais, sua primeira preocupação é instalar-se abrigada e conforDando maior amplitude a esse arcaico, podemos tavelmente em casas, em família, criando um espaço utilizar esse primeiro esquema para aquele tratamento por ele “ordenado”, diferentemente da natureza, ainda geográfico de uma época definida historicamente (fidesconhecida, misteriosa, aparentemente o domínio nal do século XIX e primeira metade do XX) quando do “caos”. Além do espaço de instalação ordenado e as relações homem-natureza eram encaminhadas para protegido, no centro do qual se cultua erende graças o estudo dos géneros de vida - segundo os grandes às divindades protetoras, há aquele outro onde o biócoros ou faixas climáticas -, tipos de habitat rural homem trabalha e do qual retira o seu sustento, onde e os primórdios do estudo das cidades (sítio-posição; a cobertura primitiva foi substituída por espécies sele- forma-função, etc.). cionadas de plantas e animais domesticados. O núcleo de concentração, germe daurbs, é circundado pelos Dando um salto para o outro extremo - o dohipermocampos de cultivo, afastando do homem aquela reser- derno - constatamos que aqueles atributos inverteramva de natureza misteriosa, cheia de perigos e surpresas, se. A aglomeração primitiva cresceu, agigantou-se amde onde provêm os “estrangeiros” e cuja exploração e pliada em área, verticalizada e inchada de população, 93
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
onde as edificações e engenharias de infra-estrutura modificaram substancialmente o primitivo quadro geoecológico com a ampliação dos campos circundantes sobre a primitiva natureza -pari passu com o progresso dos conhecimentos adquiridos sobre ela - explorada em seus recursos e consideravelmente reduzida. A cidade tornou-se agigantada pela industrialização e perturbada pela crescente velocidade nos meios de
Incorporando tudo aquilo que foi dito a propósito do paralelo entre a cidade arcaica e a cidade atual , exibindo o triângulo “cidade-campo-natureza”, cabe refletir sobre as tendências atuais na interpretação dos modos de viver urbano e rural.
circulação.revolucionaram Os meios de comunicação altamente desenvolvidos, a vida na cidade, facultandolhe que, expandida em condomínios fechados, centros comerciais, centros empresariais, etc., etc, ntrometa-se i pelos campos. Observando-se as oposições notamos que elas se inverteram. A cidade, degradada, passou a acumular os epítetosnegativos, tornando-se o domínio do mal e do profano. Os restos de natureza diminuídos, mas melhor conhecidos, passam a ser o domínio do bem, do sagrado onde, ao contrário da cidade, dispõese de ar puro, do verde, das áreas de recreação e lazer que a fazem merecedora de proteção.
as possibilidades de que a cidade do futuro venhaosa ser organizada (planejada ou corrigida) segundo cânones vigentes agora em plena grande crise? Se já existem evidentes sinais de interpenetração entre o urbano e o rural – a cidade espalhando-se pelo campo circundante sob a forma de condomínios fechados (complicando os limites dos primitivos urbano e rural e a cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU) e o rural remetendo à cidade levas contínuas de sem-terra para se tornarem citadinossem-teto – não haverá possibilidade de alcançar novos termos nesse relacionamento?
2. As relações cidade – campo2
O entrosamento entre os modos de viver na cidade e no campo implica no sério problema que aconcentração (urbana) e a dispersão (rural) acarretam em
Parece-me da maior relevância ter consciência das mudanças que os novos progressos tecnológicos poderão trazer-nos no futuro, ou seja asrelações cidade-campo. Num primeiro momento, a importância crescente da urbanização mas significativas mudanças, ou mesmo transformações nas cidades, levar-nos-iam a pensar que nesta era de “globalização” teríamos de admitir que a presença do homem na Face da Terra implicará, forçosamente, na geração de uma s“ociedade urbana”. Contudo, diante dessas profundas mudanças impostas sobretudo pelos subsídios da ciência e tecnologia, fadadas a um maior progresso no século entrante, não será absurdo pensar ou admitir que venha a ocorrer uma consequente modificação nasrelações cidade-campo.
Diante de tais evidências nas relações cidade-campo, é o caso de nos formularmos questões tais como: Quais
termos económicos da engenharia de infra-estrutura. Enquanto a primeira é mais conveniente do ponto de vista social e implica em menos gastos para as obras básicas, a segunda favorece as condições climáticas, ambientais, resultando em ampliação considerável das redes de obras infra-estruturais. Embora apenas apresentando tendências e vestígios não é possível negar ou afirmar as possibilidades de novos modos de vida entrosando o urbano-industrial ao rural-recreacional. Diante de tantasmudanças , quem sabe não estaremos na soleira de um novo modo de organização dos espaços condizente com uma “nova civilização” que está germinando? O que não parece
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
razoável é que, com tanto fastígio tecnológico, não possamos resolver os graves problemas de uma estruturação urbana debilitante, acompanhada de um sério desequilíbrio das estruturas demográficas e sociais condicionadas a um ambientenefasto. Principiamos fazendo apelo ao Mito de Édipo e à utopia da Atlântida, colhidos na matriz cultural grega de nosso universo dito ocidental . Diante de tantos problemas que afetam
há de mais relevante, mas, certamente, não tenho a pretensão de estar informado de tudo. Constato que a monumentabilidade da obra roseana abre-se às mais variadas preocupações e abordagens. Assistimos ao crescimento de abordagens. Assistimos ao crescimento de abordagens pela crítica literária especializada, pelos filólogos e outros estudiosos das letras; psicólogos e analistas focalizaram as personagens; geógrafos
o modo de viver do homem face da Terra, início deste terceiro milénio da eranacristã, é claro quenonão pode ser descartada a validade da UTOPIA. Para propô-la é indispensável uma compreensão profunda dos reais problemas, para poder projetar as possíveis soluções em outros níveis decombinações das diferentes variáveis e em outrasescalas diferentes daquelas atuais. Uma projeção futura do ideal assentado na realidade do presente.
sondam, uns, a toponímia e veracidade dos lugares, enquanto outros se preocupam com aspectos mais profundos da realidade espacial; filósofos, cientistas sociais, biólogos, vêm juntar-se atraídos pela abertura dessa alta literatura aos mais variados campos dos saberes.
3. Grande sertão: veredas O pacto das Veredas Mortas 3. Como geógrafo, desde o
O espaço iluminado no tempo volteador 4. Numa entre-
vista, recordando a infância, o escritor João Guimarães Rosa declarava-se arredio aos adultos, recolhendose às suas preferências: “estudar sozinho e brincar de geografia”. Ao associar a geografia a uma atividade lúdica, Rosa demonstra que, para um menino solitário, “viajar” pelo mundo era atividade prazerosa.
final dos anos oitenta vinha atrevendo-me a focalizar a obra de Guimarães Rosa com o intuito de, em algumas Sua formação em medicina respondia àquele seu lado de suas produções, extrair-lhe o conteúdo geográfico. (…) Preocupa-me esclarecer que não há, de minha parte, qualquer pretensão de caráter “literário”. Creio que o grande interesse de que dispunha a produção roseana, e o caráter fundamentalmente “aberto” de sua obra, justificaria múltiplas abordagens, partidas de estudiosos das mais diferentes áreas. Ao afastar-me do viés geográfico penso credenciar-me como um leitor muito interessado, disposto a aceitar os desafios lançados pelo próprio autor – como era seu declarado propósito – na leitura de sua obra. (…) Tenho procurado dar-me conta do que se vem produzindo sobre a literatura roseana, pelo menos no que
cientista-amante do naturalismo: botânica e zoologia. Mas sua fraca vocação para o exercício da medicina exibiu outros tesouros de sua sabedoria, como ser poliglota, estudioso compulsivo de muitas línguas e leitor onívoro de literaturas, religiões e filosofias. Tesouro que, em se acumulando, vai privilegiar sua vocação suprema como escritor. O fascínio pelo mundo, que o leva à diplomacia, fará enriquecer, com o estudo, aquilo que fora brincadeira em geografia. Em suas funções no Itamaraty, foi diretor de Divisão de Fronteiras e representante do Ministério das Relações Exteriores junto ao Conselho Nacional de Geografia, do IBGE. 95
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
Assim, do lúdico ao erudito, a geografia aflorará, de modo destacado, na sua obra. O herói deGrande sertão: veredas – Riobaldo –, também ele, demonstra pendores geográficos. “Tive mestre, Mestre Lucas, no Curralinho, decorei gramática, as operações, regra de três, até Geografia e Estudo Pátrio. Em folhas grandes de papel, com capricho, tracei bonitos mapas” (p.15-6).
na – num espaço, mas distanciado no qual o tempo flui mais lentamente – indutora da conservação, do mergulho sobre si mesmo, do refúgio. Enfim, a oponência básica e fatalmente complementar entre a integração (face externa) e a auto-afirmação (face interna). Sentimento contrastante perceptível em todos os
Umo forte pendor que, na Geografia Brasil, direciona escritor das Minas Gerais para odoSertão . Minas sem mar, interiorizada noSertão. O sertão no Brasil e n o mundo (uma bifacialidade janusiana). Na longa narrativa pela qual se estrutura o romance Grande sertão: veredas tem-se enfatizado,
com insistência, o dualismo ensejado pelo falso diálogo entre o ex-jagunço Riobaldo e seu ouvinte invisível: o campo inculto em face do saber citadino erudito. Talvez o meu lado geógrafo leve-me a propor acrescentar aquele outro entre o litoral e o interior. Nas dimensões continentais da geografia brasileira avulta aquele dualismo – significativo embora alegórico – entre a face externa de Janus, expressa pelo litoral, aberto às comunicações com outras regiões, onde chegam as novidades, importam-se necessidades e exportam-se disponibilidades, em contraste com aquela voltada para o interior, ignota em princípio, lentamente conquistada. Enquanto a face externa (litorânea) abre-se às trocas, intercâmbios e facilidades de mudanças, aquela inter-
paísessedediferenciam grande extensão, diferentes onde oavantnos e o arrière payscontinentes , dos francófonos, o front e back lands dos anglófonos. Talvez pela associação ao coração “desértico”, isso é especialmente sensível na Austrália, onde a implantação britânica no litoral foi um suave “transplante” para um domínio subtropical em violento contraste com oout back do bush degradando-se até o deserto, preservador do aborígine e escassamente aberto à coragem audaciosa do “jakaroo”. Dentro da polissemia brasileira dos sertões – de feições geográficas bem variadas –, a constante fundadora da semântica do termo parece estar vinculada a interior. As Minas Gerais, conquistadas do final do século XVII, e especialmente ao longo do XVIII, juntando a mineração à pecuária, são bem um domínio interior, no qual as ocorrências de sertões permitem a proposta roseana de um Grande sertão. Face interna, de auto-afirmação (rebeliões, inconfidências vingando ali antes do litoral), de desconfianças, de cautelas. Face interior que é a base de uma mineiridade da qual Guimarães Rosa é uma magnífica expressão.
* Geógrafo. Professor Emérito da Universidade de S. Paulo. Texto escrito em português do Brasil. 1 Mudanças nas relações sociedade - natureza e seus reflexos na Geografia. In Geografia sempre. O homem e seus mundos. Edições Territorial, Campinas,
2008, pp. 81-82.
2 A cidad e como reflexo da relação ho mem-natureza. Limitações do pl aneamento. In ob.cit., pp. 146-147. 3 O pacto das Veredas Mortas. In ob.cit., pp. 151-152. 4 O espaço iluminado no tempo volteador (Grande sertão: veredas). Estudos Avançados 20 (58), 2006.
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Marcelo Xavier Costa, Brasil 5.2.2.4
Casebre *(178) Jalapão, Estado do Tocantins (Brasil), 2013 4.1.35.4.5.2.2.3
Capim Dourado
*(179) Jalapão, Estado do Tocantins (Brasil), 2013
5.2.2.5
Juventude do Jalapão *(180) Jalapão, Estado do Tocantins (Brasil), 2013 5.2.2.6
Contando histórias
*(181) Jalapão, Estado do Tocantins (Brasil), 2013
97
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
Dina Teresa Diniz Alenquer, Portugal 6.2.2.1
Casa Principal da Aldeia Parará Púru (Povoação da Palmeira)
*(182) Parará Púru (Panamá), 2013 4.1.35.4.6.2.2.6
Cozinha da Aldeia Parará Púru (Povoação da Palmeira)
*(183) Parará Púru (Panamá), 2013
6.2.2.4
Crianças Parará Púru (Povoação da Palmeira) *(184) Parará Púru (Panamá), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
6.2.2.2
Mulher anciâ Parará Púru (Povoação da Palmeira)
*(185) Parará Púru (Panamá), 2013
6.2.2.3
Mulheres jovens com seus fi lhos Parará Púru (Povoação da Palmeira) *(186) Parará Púru (Panamá), 2013 6.2.2.5
Criança Parará Púru (Povoação da Palmeira) *(187) Parará Púru (Panamá), 2013
99
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
Alfonso Ferrer Yus, Espanha 11.2.2.5
Polvo
*(188) Robres, Huesca (Espanha), 2014 4.1.35.4.11.2.2.3
Huerto
*(189) Serveto, Huesca (Espanha), 2013
11.2.2.4
Pastor
*(190) San Juan de Plan, Huesca (Espanha), 2014 11.2.2.1
El dallo
*(191) Serveto, Huesca (Espanha), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
8.2.2.1 Rodrigo Lima, Brasil
Casa sem teto *(192) Minas Gerais (Brasil), 2013 9.2.1.3 Alicia Manso García, Espanha
Fuente de vida *(193) Candelario, Salamanca (Espanha), 2014
8.2.2.6 Rodrigo Lima, Brasil
Casa sem teto *(194) Minas Gerais (Brasil), 2013 7.2.2.2 Juan Manuel Hernández López, Espanha
Abrevando al ganado *(195) Valles del Todra (Marrocos), 2014
101
2
I
Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
2.2.2.2 Miguel Julian Ortiz Jaramillo, Colombia
Trabajo en el campo *(196) Arbelaez Cundinamarca (Colombia), 2013 4.2.2.3 Armando Manoel Neto, Brasil
Panela, fogão e cozinha de barro *(197) Quilombo Terra Seca, Estado de São Paulo (Brasil), 2013
7.2.2.3 Juan Manuel Hernández López, Espanha
Taller de bicicletas *(198) Cercanías de Zagora (Marruecos), 2014 1.2.2.2 Marília Fontenele Magalhães Muniz, Brasil
Pescador da cidade grande *(199) Belém do Pará, Pará (Brasil), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
12.2.1.1 Daniel Jesús Sánchez Escalera, Espanha
El lector de Cervantes. *(200) Marchena, Sevilla (Espanha), 2014 17.2.1.2 Miguel Angel Peláez González, Espanha
Cargadero de Mineral *(201) Torrelavega (Espanha), 2013
28.2.1.1 Jairo Marcos, Portugal
Olivença - Olivenza 01 *(202) Olivenza (Espanha), 2014 11.2.1.1 Regys Loureiro de Macêdo, Brasil
Saída para a Ilha dos Marinheiros *(203) Rio Grande, RS (Brasil), 2014
103
2 I Espaços rurais, povoamento e processos migratórios
12.2.1.4 Daniel Jesús Sánchez Escalera, Espanha
Arrozal en Aznalcazar *(204) Lora del Río, Sevilla (Espanha), 2013 17.2.1.1 Miguel Angel Peláez González, Espanha
Caminos del Besaya *(205) Barcena de Pie de Concha, Cantabria (Espanha), 2013
19.2.1.3 Pedro Antunes da Costa, Portugal
Um olhar sobre o luxo chinês *(206) Coloane, Macau (China), 2014 19.2.1.2 Pedro Antunes da Costa, Portugal
The pilgrimage reach its end. *(207) Khamryn Khiid (Mongolia), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
24.2.1.1 Marina Ling Wang, Brasil
Vida Rural 1 *(208) Bundhi (India), 2013
24.2.1.2 Marina Ling Wang, Brasil
Vida Rural 2 *(209) Bundhi (India), 2013
105
TEMA 3
Cidade e processos de urbanização
3
I
Cidade e processos de urbanização
Prémio Tema
José Carlos Silva, Portugal 18.3.1.4
Mural da história *(210) Lisboa (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
109
3
I
Cidade e processos de urbanização
Menções honrosas
Alexandre da Luz Mendes, Portugal 14.3.2.6
Edifício
*(211) Portimão (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Paulo Alexandre da Costa Fernandes, Portugal 8.3.2.5
Uma cidade, muitas vidas (V) *(212) Porto (Portugal), 2014
111
3
I
Cidade e processos de urbanização
Mil cidades. E em cada cidade outras tantas cidades João Ferrão *
ivemos num mundo crescentemente urbano, em que uma proporção cada vez maior da população habita e trabalha em espaços a que chamamos cidades. Curiosamente, coexistem as mais diversas definições de cidade. E também sabemos, por experiência própria, como as cidades, mesmo as de pequena dimensão, acolhem no seu interior áreas, bairros ou simplesmente recantos de uma diversidade inesperada para quem as observa de fora e de longe. A cidade é, antes de mais, variedade, densidade, interação. Por isso é tão difícil captá-la fotograficamente. E, no entanto, foi fotografando que, ao longo dos dois últimos séculos, muitos puderam fixar imagens que nos permitem hoje perceber melhor, umas vezes através de visões panorâmicas, outras recorrendo a leituras micro que só um bom zoom permite obter, o que é uma cidade, as suas formas e vivências, o seu potencial devir. Para muitos, as cidades são, sobretudo, morfológicas: espaços artificializados pelarealidades edificação e assentes em redes de infraestruturas e traçados viários que organizam e põem em contacto cada cidade com as áreas evolventes e com espaços mais distantes. A arquitetura dos edifícios e a densidade construtiva são, de facto, os traços visualmente mais marcantes de qualquer cidade, planeada ou espontânea, antiga ou recente. Historicamente, a cidade começou por corresponder a uma emancipação em relação às vivências rurais e aos condicionalismos da natureza, um lugar onde se desenvolveram novos saberes, usos e funções, subs-
tituindo as atividades anteriores e atraindo pessoas provenientes dos mais diversos sítios. A cidade moderna, baseada na generalização do betão, do transporte privado individual e da infraestruturação rodo e ferroviária, introduziu ritmos de crescimento em altura e em extensão até então desconhecidos: a cidade desdobra-se por múltiplos níveis acima da superfície e consome porções avassaladoras de solo rural, ao mesmo tempo que se desnaturaliza, interrompendo e soterrando linhas de água, impermeabilizando solos, destruindo ecossistemas e diminuindo a biodiversidade. Nas últimas décadas, novos conceitos, como “cidade compacta”, “cidade verde” ou “ecocidade”, têm procurado contribuir para inverter a lógica milenar de olhar para as cidades como o grande palco de libertação e emancipação das sociedades em relação à natureza. Ao mesmo tempo, diversos autores têm combatido a ideia de que as conceções orgânicas dedos cidade, procuram ajustar às condições naturais locaisque de a implantação, como sucedeu em muitas cidades portuguesas, não correspondem necessariamente a perspetivas pré-modernas, subdesenvolvidas, ultrapassadas. Esta é uma das razões por que sabemos que existem mil cidades e, dentro de cada uma delas, outras tantas. O conceito de cidade alarga-se e diversifica-se e as soluções multiplicam-se e diferenciam-se. As realidades ou intervenções reconhecidas hoje como urbanas incluem um leque muito diversificado de situações, que vão bem para além das visões modernas ainda prevalecentes. Exúrbio e cidade difusa, para dar
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
apenas dois exemplos, ilustram a necessidade de criar palavras para designar realidades urbanas novas ou desprezadas até há pouco tempo, incompreensíveis ou mesmo invisíveis à luz da visão racionalista e moderna de cidade.
para dar apenas alguns exemplos, revelam alguma convergência entre a cidade física, com morfologias e estéticas particulares, e as relações sociais e económicas que aí predominam. Mas mesmo as tentativas mais radicais de guetização social e de privatização do espaço público não têm conseguido destruir, de forma As mil cidades, e dentro de cada uma delas outras tan- definitiva ou sequer duradoura, o pluralismo intrínseco tas cidades, existem, portanto, como realidade objetiva à vida urbana. masestuda também como ou representação concetual de de quem as e planeia como vivência subjetiva quem as usa e delas usufrui.
É certo que, tendo por base a conceção moderna de cidade, se planeou minuciosamente a segregação espacial de usos e funções, programando áreas urbanas Afinal, e paradoxalmente, é a componente imaterial separadas para atividades e grupos sociais distintos. que mais distingue as cidades: relações entre pessoas e É igualmente verdade que o contexto desregulador entre estas e objetos da mais diversa natureza, relações neoliberal acentuou diferenciações e desigualdades entre grupos, comunidades, instituições e lugares, em com clara expressão nos espaços urbanos. Em ambos suma, relações de alteridade não raro com elevado os casos, ainda que em circunstâncias e por motivos grau de complexidade, fluidez e volatilidade. É na muito distintos, a clivagem entre eu e eles, nós e os cidade que ocorrem as relações mais assimétricas e vo- outros, espaços exclusivos e espaços abertos, marcou razes: destruição ambiental, pobreza, exclusão, solidão, fortemente a produção das cidades, o modo como violência, desigualdades sociais, etc. Mas é também cresceram e como funcionam. na cidade que mais se renovam os principais embriões de cosmopolitismo, criatividade, inovação, mudança Contudo, a resiliência evidenciada por essa estranha e transformação. A cidade é, na verdade, o lugar de realidade a que chamamos cidade tem sido surpreenexcelência das tensões e convergências que envolvem vários tipos de identidades, umas globais, como as que se associam à defesa de valores universais, e outras de natureza particular, relacionadas com valores, preferências ou interesses específicos e mais localizados. É, em boa medida, como consequência dessas tensões e convergências que a cidade “pula e avança”. A relação entre a cidade que se vê e a cidade das interações não é linear, mesmo sabendo que a segmentação espacial de base social, étnica ou funcional constitui um traço presente em todas as cidades contemporâneas. Condomínios fechados e centros históricos, subúrbios desqualificados ou áreas de escritórios,
dente, não porque seja impossível que, individualmente, as cidades morram ou entrem em modo de sobrevivência mais ou menos prolongado, como, aliás, sempre sucedeu ao longo da história da humanidade, mas porque a cidade como esteio social, económico e cultural, como palco de inovação e de transformação, tem vindo sistematicamente a reforçar o seu papel nos últimos séculos. Não há regresso ao campo. Mas também não há regresso às cidades clássica ou moderna. Fotografar a cidade das relações é tão importante como fazê-lo à cidade que se vê. Corpos, rostos e olhares, mas também edifícios, espaços verdes, conjuntos urbanos. Paisagens e vivências. Estruturas físicas e 113
3
I
Cidade e processos de urbanização
duradouras, acontecimentos efémeros, gestos furtivos. Tudo isto o fotógrafo capta, tudo isto a fotografia fixa, revela e nos devolve. E porque assim é, um bom conjunto de fotografias de diversas épocas permite-nos reconstituir a cidade como caleidoscópio em permanente metamorfose, como combinação dinâmica de fragmentos físicos e imateriais em ativa interação.
grandes transformações que nelas ocorrem. A fotografia permite-nos reconstituir o modo como ao longo dos últimos duzentos anos as sociedades foram construindo diferentes futuros urbanos. Cabe-nos agora imaginar e construir novos futuros urbanos dignos da exposição luminosa a que seremos sujeitos por parte de quem insiste em não desistir de fotografar a cidade. Para não ficar mal na fotografia, claro. Mas, sobretudo,
A fotografia é uma técnica de diz-nos criação de imagens por meio de exposição luminosa, a wikipédia. A cidade é um produto das sociedades, constituindo, simultaneamente, uma condição e um reflexo das
para onde garantir uma nova de cidades diversificadas, a cidade que segeração vê e a cidade das interações se alimentem reciprocamente tendo por base objetivos de bem-estar, justiça e sustentabilidade.
* Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa.
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Paulo Alexandre da Costa Fernandes, Portugal 8.3.2.3
Uma cidade, muitas vidas (III)
*(213) Porto (Portugal), 2014 4.1.35.4.8.3.2.2
8.3.2.1
Uma cidade, muitas vidas (I) *(215) Porto (Portugal), 2014 8.3.2.4
Uma cidade, muitas vidas (II)
Uma cidade, muitas vidas (IV)
*(214) Porto (Portugal), 2014
*(216) Porto (Portugal), 2014
115
3
I
Cidade e processos de urbanização
Alexandre da Luz Mendes, Portugal 14.3.2.5
Edifício
*(217) Portimão (Portugal), 2014 4.1.35.4.14.3.2.3
Edifício
*(218) Portimão (Portugal), 2014
14.3.2.2
Edifício
*(219) Portimão (Portugal), 2014 14.3.2.4
Edifício
*(220) Portimão (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
José Manuel Martins do Rosário, Portugal 17.3.1.3
Comércio e Serviços 2
*(221) Parque das Nações (Portugal), 2014 4.1.35.4.17.3.1.2
Comércio e Serviços 1
*(222) Parque das Nações (Portugal), 2014
17.3.1.4
Transportes *(223) Parque das Nações (Portugal), 2013 17.3.1.1
Habitação
*(224) Parque das Nações (Portugal), 2014
117
3
I
Cidade e processos de urbanização
Guillermo Quintanilla Benavente, Espanha 20.3.1.4
Historias urbanas 4
*(225) Lisboa (Portugal), 2012 4.1.35.4.20.3.1.2
Historias urbanas 2
*(226) Lisboa (Portugal), 2012
20.3.1.1
Historias urbanas 1 *(227) Lisboa (Portugal), 2012 20.3.1.3
Historias urbanas 3
*(228) Lisboa (Portugal), 2012
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Ozias Pereira Lopes Filho, Portugal 26.3.1.4
Quasinvisível *(229) Sintra (Portugal), Ano 4.1.35.4.26.3.1.3
Quasinvisível
*(230) Lisboa (Portugal), 2013
26.3.1.1
Quasinvisível *(231) Lisboa (Portugal), 2013 26.3.1.5
Quasinvisível
*(232) Lisboa (Portugal), 2013
119
3
I
Cidade e processos de urbanização
António Alfarroba, Portugal 6.3.2.1
Sem título
*(233) Coimbra (Portugal), 2013
6.3.2.5
Sem título *(234) Porto (Portugal), 2013 6.3.2.6
Sem título
*(235) Porto (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
6.3.2.4
Sem título
*(236) Lisboa (Portugal), 2013 4.1.35.4.6.3.2.3
6.3.2.2
Sem título *(238) Coimbra (Portugal), 2013
Sem título
*(237) Lisboa (Portugal), 2013
121
3
I
Cidade e processos de urbanização
Rui Pedro de Carvalho Monteiro Rua Bordalo, Portugal 5.3.2.4
Sem título
*(239) Lisboa (Portugal), 2014 4.1.35.4.5.3.2.3
Sem título
*(240) Lisboa (Portugal), 2014
5.3.2.2
Sem título *(241) Lisboa (Portugal), 2014 5.3.2.5
Sem título
*(242) Lisboa (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Helder José Anes de Sousa, Portugal 22.3.1.1
VCI 1
*(243) Porto (Portugal), 2014 4.1.35.4.22.3.1.4
Urbanização dos Oceanos 4
*(244) Valongo (Portugal), 2014
22.3.1.5
Viaduto 1 *(245) Maia (Portugal), 2013 22.3.1.6
Edifício S. Gemil
*(246) Maia (Portugal), 2014
123
3
I
Cidade e processos de urbanização
2.3.2.4 Daniel Filipe Antunes Santos, Portugal
A louca perspectiva *(247) Lisboa (Portugal), 2014 2.3.2.2 Daniel Filipe Antunes Santos, Portugal
A ondulação *(248) Lisboa (Portugal), 2014
35.3.1.2 Almerinda Pereira de Oliveira, Portugal
Arquitetura II *(249) Funchal (Portugal), 2014 35.3.1.1 Almerinda Pereira de Oliveira, Portugal
Arquitetura I *(250) Funchal (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
16.3.2.2 António Jorge Ferreira da Silva, Portugal
Sem título *(251) Porto (Portugal), 2014 15.3.1.1 Ignacio González Castaño, Espanha
Conducción en Astún *(252) Huesca (Espanha), 2013
16.3.2.5 António Jorge Ferreira da Silva, Portugal
Sem título *(253) Gaia (Portugal), 2013 23.3.1.4 Helena Mónica da Silva Barbosa, Portugal
Anémona *(254) Matosinhos (Portugal), 2013
125
3
I
Cidade e processos de urbanização
3.3.1.2 Ana Patrícia do Carmo Capitão, Portugal
O Espelho de Água e a Cidade *(255) Figueira da Foz (Portugal), 2013 33.3.1.3 Nuno Filipe Brito Ferreira, Portugal
A Magia da Cor III *(256) Águeda (Portugal), 2013
9.3.1.6 Ricardo Miguel Giga Pelado, Portugal
Plastic Society *(257) Évora (Portugal), 2013 33.3.1.5 Nuno Filipe Brito Ferreira, Portugal
A Magia da Cor V *(258) Águeda (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
1.3.1.6 Nuno Alexandre dos Santos Sousa, Portugal
Óbidos 6 *(259) Óbidos (Portugal), 2013 19.3.1.2 Patrícia Raquel Martinho Pereira, Portugal
29.3.1.2 Joaquim Vaz, Portugal
Silêncio de neve *(261) Guarda (Portugal), 2013
Refúgio II *(260) Porto (Portugal), 2013
127
3
I
Cidade e processos de urbanização
16.3.2.3 António Jorge Ferreira da SIlva, Portugal
Sem título *(262) Porto (Portugal), 2014 4.3.2.2 Jorge Filipe Ascensão, Portugal
Taverna *(263) Guarda (Portugal), 2014
12.3.2.2 Kamilla Dantas Matias, Brasil
Passado posto *(264) Coimbra (Portugal), 2014 23.3.1.6 Helena Mónica da Silva Barbosa, Portugal
Silêncio *(265) Calçada das Carquejeiras (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
28.3.1.5 Nuno de Santos Loureiro, Portugal
18.3.1.2 José Carlos Silva, Portugal
Graffitis e Tags da EN 125, Algarve, 5
A luta de um povo
*(266) Olhão (Portugal), 2014 18.3.1.5 José Carlos Silva, Portugal
Olha por mim *(267) Lisboa (Portugal), 2013
*(268) Lisboa (Portugal), 2014 28.3.1.3 Nuno de Santos Loureiro, Portugal
Graffitis e Tags da EN 125, Algarve, 3 *(269) Patacão, Faro (Portugal), 2014
129
3
I
Cidade e processos de urbanização
9.3.2.1 Bruno Manuel Leite Sousa Silva, Portugal
Obs. 1 - Paralelismo *(270) Rio Tinto (Portugal), 2014
9.3.2.2 Bruno Manuel Leite Sousa Silva, Portugal
Obs. 2 - Para nada *(271) Rio Tinto (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Cidade e sociedade urbana Maria Adélia de Souza * Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.
Miguel Torga á uma imensa bibliografia publicada sobre o tema da cidade e da sociedade urbana. Neste pequeno ensaio, algumas questões serão suscitadas para provocar no leitor algumas reflexões, com a ajuda das imagens deste livro, sobre estes temas.
colonizador. A cidade brasileira foi trazida ecriada pelos portugueses, até que suaexpressão maior hoje – a metrópole – escancare em suas paisagens todaa perversidade da denominada sociedade urbanaexpressão suprema do modo de produção em quevivemos. Não é sem razão que São Paulo – uma das maiores metrópoles do mundo contemporâneo - tem sido chamada por muiEntão, inicialmente, serão precisados alguns conceitos tos de “A Nova York dos Trópicos”, certamente pelo seu geográficos, demonstrada a relevância destes dois importante e majestoso processo deverticalização, de temas. Serão brevemente explorados alguns dos falsos construção de arranha-céus, como se dizia antigamente. problemas que julgamos estarem sendo elaborados, mais ideologicamente do que cientificamente, a respei- Aqui, então, já se faz necessário a introdução de alto da vida na cidade, mais especificamente das grandes guns conceitos que estão implícitos na elaboração descidades. Dadas às características deste livro julgamos te pequeno texto sobre a cidade e a sociedade urbana. interessante, explorar as paisagens nas cidades e seu efeito sobre a vida das pessoas que nelas vivem para, Adotamos a definição de que a cidade é compreendida finalmente advogar uma tese sobre o futuro do mundo como uma materialidade visível, uma paisagem exa partir da vida na cidade, da sociedade urbana. pressa pelo espaço construído, material, composto de quadras, lotes, terrenos, redes visíveis e invisíveis, que Evidentemente este texto está pautado nos trabalhos e desempenham uma funcionalidade para o avanço da vivencias de uma geógrafa brasileira que há décadasesvida e sociedades chamadas urbanas. tuda a Geografia e o Planejamento Urbanos das cidades brasileiras, forçosamente influenciada por sua realidade Já o urbano é a manifestação expressa na cidade existencial e vivencial. É importante para a compreende uma nova divisão internacional e territorial do são de um texto conhecer de onde oautor fala! trabalho impulsionada pelo modo de produção quase que hegemonicamente existente no mundo de hoje, o Primeiramente, para uma autora latino-americana, capitalismo. Essa expressão se reflete, portanto, na cibrasileira, a cidade tem um significadomuito especial, dade e sua paisagem como “modo de vida”. O urbano, pois ela é trazida para o Brasil na sua forma atual, pelo então, é o modo de vida da sociedade capitalista e, a 131
3
I
Cidade e processos de urbanização
cidade hoje transformada em metrópole é sua expressão bem acabada.
processo de alienação do território pelas empresas e pelas elites, nas densidades técnicas que apresentam em detrimento da escassez dessas densidades expressas É esta distinção que nos permite identificar e estudar nas periferias das cidades. Expressões do uso do terrias paisagens urbanas da cidade: as paisagens daqueles tório que escancaram um processo intenso e crescente que não adquiriram o direito de nela viver, embora de desigualdades socioespaciais – há perímetros na sejam produtos desse urbano: aqueles que vivem sob as cidade que tem tudo e as periferias nada tem a não ser pontes, marquises, em buracos de terra como animais, a presença repressiva da polícia. Espaços luminosos e para citar apenas alguns exemplos; aqueles que são resistentes e se constituem numa força poderosa e interessante dos tempos que estão por vir, os “sem tudo” ou “sem nada”: sem terra, sem casa, sem comida, sem mobilidade... sem a “dignidade” requerida por essa perversidade expressa na cidade, que deles exige inclusive uma moralidade garantida pelas paredes e isolamento que outorga a propriedade privada e pelo direito inalienável de “ir e vir”! E que eles não têm! Então, muitos deles defecam nas ruas, banham-se nas ruas! Amam-se nas ruas, para escândalo e perplexidade das classes médias e elites “moralistas”. Os pobres e deserdados tem outra moral, aquelas que sua existência lhes permite ter. Paisagens urbanas que muitos insistem em não enxergar...
espaços opacos como nos desta ensinacontemporaneidade. Milton Santos em sua leitura das geografias
Estes “sem tudo” se organizam, reagem se informam e passam a constituir uma força política cada vez maior, que se valendo também das benesses deste período histórico manifestam-se nos espaço público, malgrado à violência policial e social as quais sempre estão submetidos.
apenas na ineficiência e falta de ética dos nossos governantes essa conta. Precisamos nos juntar a Edgar Morin, a Milton Santos que desde o século passado nos convocam para a discussão de um novo modelo de civilização! E não temos tido, a partir do Sul, coragem de fazê-lo, pois ainda não conseguimos sequer nos libertar do colonialismo cultural ao qual ainda estamos submetidos! Ainda mal sabemos quem somos e para nos explicarmos usamos as compreensões e lições dos grandes mestres do norte.
Este processo de desigualdade socioespacial, expresso pelo uso desigual do território pelas benesses da sociedade urbana faz com que o aumento do número de pobres, em realidade dos “sem nada” ou “sem tudo” chame a atenção pelas carências que gera especialmente nas periferias das grandes cidades, implicando numa ausência total de direitos mínimos de existência. Estes espaços existentes em parte pela ausência total dos governos exibem aspectos inaceitáveis do ponto de vista da existência humana. Tais paisagens da periferia das grandes cidades do mundo pobre estão a exigir uma discussão não apenas política, mas filosófica a respeito dessas realidades: não se trata de debitar
Do outro “lado” da cidade estão aqueles que tudo recebem, todos os benefícios, expressos, aliás, pelo uso do território: uso pelas escolas, pelos equipamentos de saúde, pelas ruas asfaltadas, pelo paisagismo bem feito, pelos sistemas técnicos abundantes, porém concentra- Não se trata de xenofobia, mas da compreensão de dos em espaços cada vez mais segregados na cidade. E, que a historia de cada um é o seu norte! É somente a visíveis a olho nu pelas cartografias que exibem esse partir da historia de cada um, de cada sociedade e sua
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
capacidade de conhecer e compreender a sua própria realidade é que seremos capazes de nos libertarmos e conhecer uma existência mais digna para a maioria! As cidades da América Latina são lindas, mas tristes, quando revelada a sua cara perversa. Mas até esta perversidade tem sido envolvida na máquina do consumo realizada pelo turismo irresponsável, especialmente por aqueles que fazem daoumiséria humana, ou seu e discurso incompetente, sua forma de folclorizar naturalizar o sofrimento alheio. O que dizer do turismo feito pelos consumidores do Norte – e mesmo do Sul – nas favelas cariocas, paulistas, pernambucanas ou potiguares e cearenses? As paisagens urbanas revelam cidades cujas contradições, especialmente nas vivencias cotidianas de suas populações, estão esgarçadas, deterioradas pela exibição de um processo que diz respeito a todos! Mas esse processo é importante que seja compreendido de forma diferente pelos intelectuais do norte e do sul. Aqui no sul, o conhecimento da escassez, do desemprego, das privações de toda ordem é um processo histórico, secular, muito conhecido de todos nós. A crise mundial, de um modelo civilizatório falido leva esses sentimentos agora também para o norte. E as paisagens das cidades do norte também começam a se modificar. Há anos atrás, em uma reunião cientifica feita na USP e coordenada por Milton Santos e pela autora deste texto, discutimos o que denominamos de “Colorização do Norte e colonização do Sul” aprofundando o conhecimento sobre O NOVO MAPA DO MUNDO! Mal sabíamos nós o quanto estávamos certos!
res do futuro do mundo que já se apresenta aos nossos olhos: o imperativo da diversidade e da convivência no diverso, a aceitação da difusão da informação em tempo real e a constituição da politica nesta mesma velocidade; a sabedoria inerente ao ser humano e sua capacidade única de racionalização em tempos de mudança, superando modos de vida congelado em instituições cujo funcionamento em beneficio de todos se mostram ultrapassadas e ineficientes. Reflexões a partir da cidade e suas paisagens! Diferenças de historias, de medos, de direitos que precisam ser calibrados em um mundo que por ser sociodiverso exige maior generosidade do ser humano, para que seja resgatado o humano do homem. E as cidades e as metrópoles se constituem no lugar privilegiado de constituição desse mundo novo. Novos lugares – esses espaços dos aconteceres solidários – vêm sendo constituídos nas cidades na perspectiva de um futuro mais generoso para a humanidade, pois longe da volúpia da sociedade do consumo, num mundo fundamentado em valores humanos da solidariedade diante da escassez secular vivida pela maioria e que, nesta contemporaneidade, dadas as suas características de criação e difusão da técnica, da ciência e da informação não tem mais condição de serem impostas ou vividas por muitos. As cidades e suas paisagens diante das transformações já exigidas da forma de viver o urbano já se constituem no palco privilegiado de construção de um mundo melhor. Todas as condições já estão dadas. Basta vê-las, adotá-las e incorporá-las.
Cotidianos implacáveis, assolados por carências de toda ordem estão manifestados na denominada “crise O futuro sempre foi melhor do que o passado, pois urbana” que nada mais é do que a expressão da exausé nele que vamos viver e é nele que residem nossas tão de formas de viver que não cabem mais nos clamo- esperanças. 133
3
I
Cidade e processos de urbanização
Se por um lado as ideologias contemporâneas apodreceram com a minoria farta, com medo, bem servida, bem nutrida, deprimida, viciada... ela não contaminou os pobres, sua dignidade, sua alegria e na sua não participação da volúpia que contem o presente. Convido a todos a conhecer as periferias das metrópoles do mundo pobre num “dia de domingo” onde tudo
é festa e alegria! E não é alienação. A luta cotidiana pela sobrevivência não permite que a alienação lhes alimente. Aqui está um fundamento precioso da nossa história e da nossa “polis”. Venham todos!
* Professora Titular de Geografia Humana | Universidade de São Paulo – USP. Texto escrito em português do Brasil.
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Marcos Llimargas Pons, Espanha 1.3.2.4
Tiburón *(272) Valencia (Espanha), 2012 4.1.35.4.1.3.2.2
Capote
*(273) La Rioja (Espanha), 2012
1.3.2.3
Ohmmmmmmmmmmmmmm *(274) Barcelona (Espanha), 2013 1.3.2.1
Blanco
*(275) Barcelona (Espanha), 2013
135
3
I
Cidade e processos de urbanização
Pedro Baltazar, Portugal 3.3.2.1
Primeiro comboio da manhã em Budapest
*(276) Budapest (Hungria), 2013
3.3.2.2
Budapest Metro *(277) Budapest (Hungria), 2013 3.3.2.3
A caminho de mais um dia de trabalho *(278) Budapest (Hungria), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
3.3.2.4
Estação de Metro
*(279) Budapest (Hungria), 2013 4.1.35.4.3.3.2.5
3.3.2.6
Última paragem *(281) Budapest (Hungria), 2013
Sem lugar marcado
*(280) Budapest (Hungria), 2013
137
3
I
Cidade e processos de urbanização
16.3.1.1 Miguel Angel Peláez González, Espanha
Club Nautico *(282) Santander (Espanha), 2013 6.3.1.3 Joana Almeida, Portugal
Night city lights *(283) Shanghai (China), 2014
16.3.1.3 Miguel Angel Peláez González, Espanha
Nauticus *(284) Santander (Espanha), 2013 6.3.1.2 Joana Almeida, Portugal
Floating city *(285) Shanghai (China), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
21.3.1.1 Marco António Stello, Brasil
Sono *(286) Buenos Aires (Argentina), 2014 36.3.1.3 Inês Dias, Portugal
Noor *(287) Lisboa (Portugal), 2013
21.3.1.6 Marco António Stello, Brasil
Passos *(288) Buenos Aires (Argentina), 2014 31.3.1.1 Juan Manuel Dias da Silva, Argentina
El Ultimo Paseo *(289) Villa Jardín, Lanus, Pcia. de Buenos Aires (Argentina), 2011
139
3 I Cidade e processos de urbanização
16.3.1.2 Miguel Angel Peláez González, Espanha
Guia *(290) Santander (Espanha), 2013 37.3.1.3 Marta Adriana Santos Pais, Portugal
Escala *(291) Porto (Portugal), 2013
30.3.1.1 Alexandre António Rodrigues Luís, Portugal
Mar serrano *(292) Pas de la Casa (Andorra), 2014 27.3.1.1 Patricia Sánchez Maldonado, Espanha
De Madrid al cielo *(293) Madrid (Espanha), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
36.3.1.2 Inês Dias, Portugal
Muro *(294) Berlim (Alemanha), 2013
141
TEMA 4
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Prémio Tema
Sofia Alexandra Ferreira Augusto, Portugal 27.4.1.2
Ruínas Habitadas (II) *(295) Roça de Água Izé (São Tomé e Príncipe), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
145
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Menções honrosas
Rosa Rodríguez Sánchez, Espanha 19.4.1.2
Dentro da escola com um aluno e Professor *(296) Tanzânia (Tanzânia), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Alejandro Torres Edwards, Espanha 15.4.2.1
Modo de vida en los monaterios de Camboya nº 1 *(297) Sur de Camboya (Camboja), 2014
147
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Menções honrosas
Maria G Baldissera, Brasil 43.4.1.2
Turismo e p opulação autóctone: Imagem *(298) Cusco (Peru), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Sérgio Daniel Gosçalves Almeida, Portugal 31.4.2.6
Um breve instante *(299) Coimbra (Portugal), 2014
149
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
O instante que se torna eterno Fernanda Cravidão *
s sociedades contemporâneas refletem as mudanças, que sobretudo a partir dos anos oitenta do século XX, ocorreram por todo o mundo. Por outro lado, a designada globalização não só acelerou essas alterações como, sobretudo, veio trazer visibilidade às contradições que os processos de desenvolvimento, que não são globais, evidenciam. As transformações económicas, políticas, sociais e culturais mudaram as relações com territórios, alteraram os conceitos de tempo, fazem emergir novos problemas e velhas questões de um modo que nunca é neutro. Geram-se conflitos entre o local e o global, entre o “velho” e o “novo”, entre o que reside e o que visita, entre a tradição e a modernidade. A minha geração teve e tem o privilégio de assistir, participar e refletir nas alterações que nos levam a novas leituras, novos olhares. Do(s) outro (s). Dos territórios. Das paisagens. Também por isso estamos em presença retratadas que se vinculam, sobretudodeaomemórias “olhar” de quem asefixou. Quando passam para este lado, expostas, são lidas e percebidas tantas vezes quantas as que foram/são observadas. Apesar de ocupar um lugar importante na geografia a paisagem esteve, sobretudo, durante o positivismo afastada da investigação geográfica. Retoma progressivamente o espaço perdido a partir das últimas duas décadas do século XX, onde ‘as paisagens sentidas’ se vão progressivamente consolidando e ganhando investigação, a que, não é alheia a esta nova leitura e perceção.
A paisagem, os territórios constituem patrimónios em permanente construção, cobertos de simbolismo e construídos pelo imaginário coletivo dos atores sociais e que pertencem a um determinado lugar. Nesta coleção retratam, frequentemente, os resultados de múltiplas contradições, mas que permitem a identificação do indivíduo com os lugares que habitam e que ajudaram a construir. As fotografias que constroem o capítulo Cultura e sociedade: diversidade social e diálogo cultural levamnos para estes lugares-lugares de memória. Territórios que transbordam de significado: social, cultural, geográfico. A memória dos que partiram. A memória dos que nunca se ausentaram e teimam em reproduzir modos de vida cujo ciclo há muito terminou. Mas também imagens de futuro (às vezes incerto) onde os mais novos assumem o plano principal. São imagens onde a estética vence fazendo, frequentemente, contraponto com aque solidão, com um tempo fora do tempo, com olhares trazem e vêem outras culturas, outras coordenadas e diferentes mapas sociais. Onde há diálogos silenciosos que dizem quase tudo. Imagens que mostram como, hoje, modos de vida tradicionais são (re) inventados para novos consumos. No país “onde os bois lavram o mar” estes novos produtos adquirem, também, valores simbólicos e a singularidade que distingue cada lugar. Para uns, uma dimensão demasiado mercantilista, para outros, apenas outros modos de os fruir. No seu conjunto estamos perante imagens que nos permitem percorrer diferentes paisagens culturais,
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
umas vivas e vividas, outras onde a história parece ser homem ou ser mulher tem regras diferentes. Há um vestir-se de branco como que a renegar o tempo que as traço comum, cada imagem retrata um instante único matizou e outras ainda de cores fortes e abertas onde que se tornará eterno.
* CEGOT. Universidade de Coimbra.
151
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
António Rui Fernandes Campos, Portugal 12.4.2.1
José “da Encarnação”
*(300) Alcongosta, Fundão (Portugal), 2014 4.1.35.4.12.4.2.3
Formador de Excelência
*(301) Alcongosta (Portugal), 2014
12.4.2.4
O Esparto *(302) Alcongosta (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
12.4.2.2
“Olhe aqui um rico tapete”
*(303) Alcongosta (Portugal), 2014
12.4.2.5
“Isto é uma ceira..” *(304) Alcongosta (Portugal), 2014 12.4.2.6
Sou do tamanho daquilo que crio
*(305) Alcongosta (Portugal), 2014
153
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Pedro Esteves, Portugal 23.4.2.2
Filhos do mar *(306) Praia da Torreira (Portugal), 2013
23.4.2.1
Gente do mar *(307) Praia da Torreira (Portugal), 2013 23.4.2.4
A espera
*(308) Praia da Torreira (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
23.4.2.3
Arte xávega *(309) Praia da Torreira (Portugal), 2013 23.4.2.5
4.1.35.4.23.4.2.6
Recolha da rede
*(311) Praia da Torreira (Portugal), 2013
O regresso
*(310) Praia da Torreira (Portugal), 2013
155
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Luís Lobo Henriques, Portugal 4.1.35.4.27.4.2.3
Estendal com vista I
*(312) Linhares da Beira (Portugal), 2013 27.4.2.6
Estendal com vista II
*(313) Sortelha (Portugal), 2013
27.4.2.2
Lavando roupa no largo do castelo *(314) Linhares da Beira (Portugal), 2013 27.4.2.4
Lingerie lavada
*(315) Marialva (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Marlene Filipa Carvalho Alves, Portugal 25.4.2.1
Tempo
*(316) Gondomar, Porto (Portugal), 2013 4.1.35.4.25.4.2.4
Intemporal
*(317) Travanca, Amarante (Portugal), 2013
25.4.2.3
Avó
*(318) Gondomar, Porto (Portugal), 2013 25.4.2.2
Memórias
*(319) Gondomar, Porto (Portugal), 2013
157
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Sérgio Daniel Gonçalves Almeida, Portugal 31.4.2.2
O guitarrista
*(320) Coimbra (Portugal), 2014 4.1.35.4.31.4.2.1
O saxofone
*(321) Coimbra (Portugal), 2014
31.4.2.4
A vendedora de castanhas *(322) Coimbra (Portugal), 2014 31.4.2.3
Apenas um jogo
*(323) Coimbra (Portugal), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Paulo Henrique de Oliveira Carvalho, Brasil 29.4.1.5
Miscigenação *(324) Ouro Preto, MG (Brasil), 2014 4.1.35.4.29.4.1.3
Retrato de Iris Waira
*(325) Ouro Preto, MG (Brasil), 2014
29.4.1.1
Ele e Ela
*(326) Ouro Preto, MG (Brasil), 2014 29.4.1.2
O corpo ofendido
*(327) Ouro Preto, MG (Brasil), 2014
159
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Nuno França Machado, Portugal 16.4.1.3
Trilhando o chá
16.4.1.4
Terminada a apanha
*(328) Fábrica de Chá do Porto Formoso, São Miguel, Açores (Portugal), 2013 *(330) Fábrica de Chá do Porto Formoso, São Miguel, Açores (Portugal), 2013 4.1.35.4.16.4.1.2 16.4.1.6
A apanha do chá
O Chá!
*(329) Fábrica de Chá do Porto Formoso, São Miguel, Açores (Portugal), 2013 *(331) Fábrica de Chá do Porto Formoso, São Miguel, Açores (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Hermano Noronha, Portugal 20.4.1.4
Sem título
*(332) Vagueira (Portugal), 2013 4.1.35.4.20.4.1.3
Sem título
*(333) Vagueira (Portugal), 2013
20.4.1.6
Sem título *(334) Vagueira (Portugal), 2013 20.4.1.1
Sem título
*(335) Vagueira (Portugal), 2013
161
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
António Duarte Silva Abreu, Portugal 15.4.1.3
Três religiões alternativas no Porto
*(336) Porto (Portugal), 2013
15.4.1.6
Três religiões alternativas no Porto *(337) Porto (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
15.4.1.1
Três religiões alternativas no Porto
*(338) Porto (Portugal), 2013 4.1.35.4.15.4.1.4
Três religiões alternativas no Porto
*(339) Porto (Portugal), 2013
15.4.1.5
Três religiões alternativas no Porto *(340) Porto (Portugal), 2013 15.4.1.2
Três religiões alternativas no Porto *(341) Porto (Portugal), 2013
163
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
35.4.2.4 Ana Margarida Rodrigues Parreira, Portugal
Cidade que nunca dorme *(342) Londres (Inglaterra), 2014 26.4.2.3 Catarina Simões Martins, Portugal
19.4.2.2 Marta Filipa de Matos Dias, Portugal
Cumplicidade *(344) Terreiro do Paço, Lisboa (Portugal), 2014 32.4.2.1 Rita Saraiva Grade, Portugal
Um olhar de arte no abandono
Da minha janela eu vejo o Mundo inteiro
*(343) Guarda (Portugal), 2014
*(345) Bilbao (Espanha), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
29.4.2.2 Vera Martín Zelich, Espanha
Maria Augusta *(346) Picote (Portugal), 2014 29.4.2.5 Vera Martín Zelich, Espanha
Constantino *(347) Formillos de Fermoselle (Espanha), 2014
18.4.2.2 Maria de Fátima de Matos Barros, Portugal
O povo e os músicos *(348) Amares (Portugal), 2014 18.4.2.3 Maria de Fátima de Matos Barros, Portugal
O povo e a igreja *(349) Amares (Portugal), 2014
165
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
34.4.2.2 Luís Jorge Nunes Filipe Taveira Sarmento, Portugal
Mãos de Música *(350) Braga (Portugal), 2013 10.4.2.1 Andreia Carla Antunes Portugal Azevedo, Portugal
Avô *(351) Batalha, Leiria (Portugal), 2013
34.4.2.1 Luís Jorge Nunes Filipe Taveira Sarmento, Portugal
O sapateiro observador *(352) Lisboa (Portugal), 2013 20.4.2.3 Luís Filipe Cabral de Almeida Torres Centeno, Portugal
Solidão *(353) Viseu (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
16.4.2.1 Inês Antunes, Portugal
Zé Engraxador *(354) Coimbra (Portugal), 2012 16.4.2.2 Inês Antunes, Portugal
Zé Engraxador *(355) Coimbra (Portugal), 2012
12.4.1.6 José António Grumete Vicente, Portugal
Mercado do mar *(356) Setúbal (Portugal), 2014 40.4.1.2 Cristina Maria Duarte Bentes, Portugal
Amolador *(357) Mercado do Bulhão, Porto (Portugal), 2014
167
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
17.4.2.4 Miguel Cabezas Bonilla, Espanha
Terco *(358) Malhadas, Miranda do Douro (Portugal), 2013 36.4.1.1 Joana de Medeiros, Portugal
Recreio 1 *(359) Quinta São João dos Montes (Portugal), 2014
7.4.1.1 Leandro Guardado, Portugal
Cabo Espichel 1 *(360) Cabo Espichel (Portugal), 2013 9.4.1.3 Cátia Castanheira Ferreira, Portugal
O 23 *(361) Caxinas, Vila do Conde (Portugal), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
6.4.1.1 Hugo Miguel Branco da Fonseca, Portugal
Careto Vaidoso *(362) Podence, Macedo de Cavaleiros (Portugal), 2014
6.4.1.4 Hugo Miguel Branco da Fonseca, Portugal
Máscaras de Podence *(363) Podence, Macedo de Cavaleiros (Portugal), 2014
169
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Congurar a própria imagem a partir daimagem do outro Rogério Haesbaert *
ivemos uma época de grande ebulição cultural, onde manifestações envolvidas com fenômenos como etnia/nação, religião e língua mesclam desde posições mais tradicionais, retrógradas e/ou neoconservadoras, defensoras de uma “essência” identitária, até outras muito mais flexíveis e abertas à recriação cultural pela mescla de culturas. Em todas elas o que está em jogo são distintas formas de convívio com o Outro, com aquele tido como diferente. Sabemos que a diferença identitária é produto da própria criação da figura de um “outro”. Muitas vezes é preciso criar primeiro a imagem de um outro para que a nossa própria imagem seja configurada. Muitas identidades (e, portanto, diferenças) são construídas, podemos afirmar, mais de fora para dentro do que do interior do próprio grupo. Um exemplo, no caso brasileiro, foi a construção de uma identidade “nordestina” para os migrantes provenientes dos diversos estados da chamada região Nordeste do Brasil (como Bahia, Pernambuco, Paraíba,
preconceito, sobretudo quando o Outro é associado a um grupo ou classe socioeconomicamente inferior. A segregação cultural ocorre quando transformamos o que deveria ser visto como simples diferença qualitativa (a cor da pele, a língua, a religião) numa diferença de grau, hierárquica, em que um grupo se vê sempre como superior (surge daí fenômenos como o racismo). Daí a necessidade de ver o outro culturalmente distinto como equivalente, ou seja, partilhando do mesmo sentido valorativo e, assim, sendo tão digno de reconhecimento quanto nós. Mas, é claro, o diálogo cultural não é fácil.
Ceará...), sobretudo noseconomicamente espaços de recepção dos fluxos elaborada migratórios nas regiões mais centrais, Rio de Janeiro e São Paulo. Antes desse olhar do Outro a diferença era muito mais marcada por aquilo que distinguia, por exemplo, baianos de pernambucanos ou cearenses de paraibanos.
Toda uma carga temporal acumuladeeminfluências cada espaço geográfico, fazendo dele umsecadinho e condicionamentos. A começar pela própria diferença natural que um dia abrigou ali os primeiros grupos humanos. E não devemos esquecer que, hoje, a própria diversidade natural – ou a biodiversidade em sentido amplo – está em questão. Longe de determinismos simplistas, podemos dizer que a diversidade cultural depende também, em alguma medida, das diferenças que a natureza nos legou. Desse modo, nosso diálogo não é apenas inter ou transcultural (nos termos do cubano Fernando Ortiz), mas também com o próprio multinaturalismo (na percepção de Eduardo Viveiros de Castro). Em síntese, somos múltiplos tanto pela
Assim, a produção da diferença e/ou da diversidade/ multiplicidade cultural é um processo complexo e que tem um profundo interesse sobretudo por ser indissociável das relações de poder – tanto para fortalecer os interesses de um grupo identitário quanto para debilitar os de outros. Relações culturais muitas vezes podem levar à segregação, à estigmatização e ao
Sem cair num culturalismo que sobrevaloriza a dimensão cultural em detrimento de nossa condição econômica e das relações de poder em sentido mais estrito, devemos compreender a diversidade cultural em meio a toda uma complexa trama de relações e contextos sociais. Esses contextos sociais são marcados, antes de mais nada, pela diferenciação geográfica e histórica.
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
cultura quanto pela natureza que indissociavelmente nos compõem. A importância de nunca dissociarmos, também, a cultura da política e da economia fica evidente quando verificamos o quanto das manifestações culturais contemporâneas tem sido objeto de compra e venda, de mercantilização. A famosa expressão “diferença vende” a força do capitalismo para se apropriar dasintetiza diversidade cultural (e dos movimentos sociais aí envolvidos) e fazer deles um instrumento de mercado. Mas felizmente temos também resistências. A diversidade cultural não é simplesmente cooptada pelo mercado – a população mais pobre, como fica bastante visível em muitas das fotografias aqui apresentadas, encontra sempre modos alternativos de “produção cultural” como forma, antes de tudo, de sobrevivência. A precariedade da vida econômica pode levar à criatividade em termos de formas de produzir e de se expressar – ou, em última instância, de ser reconhecido, pois nada mais grave na nossa relação com o Outro do que a indiferença. O diálogo cultural, aquilo que Boaventura de Sousa Santos denominou de “hermenêutica diatópica” – as múltiplas interpretações de mundo que brotam dos distintos lugares que habitamos, torna-se evidente quando percebemos que qualquer cultura, por mais “pura” que se diga, foi fruto, um dia, de um denso cruzamento de influências, de um hibridismo com outras formas de dar sentido ao mundo. Se a diferença cultural se impõe é também porque ela é a condição do novo. A própria ordem capitalista hegemônica precisa se reinventar todo o tempo, criar novos nichos de mercado. Mas fugir dessa armadilha da mercantilização é um dilema vivido por todos. Não nos deixarmos dominar pela lógica contábil que
tudo compra, que tudo vende – e, pior, vende mais a imagem (“cultural”) do que o produto, mais o status do que o uso efetivo. É claro que também vivemos de valores estéticos, da beleza e da re(a)presentação do mundo. O problema é quando tudo é avaliado prioritariamente por esse valor estético ou simbólico, como se todo valor de uso fosse secundário. O homem produtor mais humilde, um artesão, sabe muito bem o quanto valor uso e valordeste estético somam perfeie se agregam. Muitasdefotografias livroseilustram tamente esse amálgama. Os múltiplos sentidos da diferença estão contemplados e imbricados aqui, das diferenças cotidianas às diferenças representativas do próprio poder político de grandes grupos culturais. Diferenças que podem começar pelo vestir – ou não-vestir, demonstrando a enorme diversidade de comportamentos e leituras culturais em relação ao corpo, que vão desde o seu total ocultamento até a sua exibição ostensiva. Diferenças também na forma de gesticular, de mover-se, de cultuar divindades, de envelhecer (e de maior ou menor reconhecimento da velhice), de manifestar-se afetivamente. O mundo, através dessas fotografias, revela toda a sua constante recriação da diversidade, especialmente no afazer dos mais frágeis mas que, mesmo em meio à grande precariedade, mantêm ou recriam suas formas de expressão e de (auto-)reconhecimento. Trata-se, portanto, de um mundo que se unifica e se diversifica ao mesmo tempo. Um jogo muitas vezes difícil, pois um movimento acelerado de unificação/homogeneização pode justamente gerar o seu contrário: formas neoconservadoras de apego a identidades fechadas, como se o mundo, em plena era informacional, ainda pudesse ser tratado em termos de espaços abertos e espaços fechados claramente distinguíveis. 171
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Como no mundo concreto das fronteiras que somente se fecham para alguns, no mundo simbólico da cultura alguns atributos se retraem mas outros, mesmo que se resista, acabam sendo levados a realizar outros diálogos, outras pontes. Como todo diálogo, ele pode levar-nos a distintas conclusões, mas todas elas, num efetivo processo de intercâmbio, serão sempre resultado de uma união discutida e consentida. Se cedermos
caso dos povos tradicionais ou srcinários na América Latina, o momento de reconhecimento e legalização da territorialidade de um grupo. Há momentos de retraimento, em que reforçamos nosso sentimento de “comunidade”, e momentos de abertura, em que nos enriquecemos com o diálogo com os Outros. A resistência mais eficaz, provavelmente, é aquela capaz de recriar pela troca (mas uma troca não imposta), pelo
em nossospor valores e/ou significados culturais, será Se, também uma aposta no nosso enriquecimento. ao contrário, o Outro assimilar nossos traços, isso será fruto de uma avaliação em que ele se sentiu enriquecido pela nossa interpretação, pelo nosso dar sentido ao mundo.
diálogo Resistência e, no caso das pelo enriquecimento mútuo. pelaculturas, qual vale a pena lutar é aquela que não simplesmente conserva mas produz o novo, um novo melhor. Daí a importância de uma diversidade cultural efetivamente comprometida com a transformação social – transformação que passe, ao mesmo tempo, pelo reconhecimento de nossas especificidades culturais e pela redistribuição da riqueza (e do poder), condição indispensável para romper a indiferença com o Outro.
Construir muros, diferenciar claramente o “insider” e o “outsider”, evidentemente não é a única forma de resistir. Pode até ser um momento da luta como, no
* Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro. Texto escrito em português do Brasil.
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Alejandro Torres Edwards, Espanha 15.4.2.2
Modo de vida en los monaterios de Camboya
*(364) Sur de Camobya (Camboja), 2014 4.1.35.4.15.4.2.3
Modo de vida en los monaterios de Camboya
*(365) Sur de Camobya (Camboja), 2014
15.4.2.6
Modo de vida en los monaterios de Camboya *(366) Sur de Camobya (Camboja), 2014 15.4.2.4
Modo de vida en los monaterios de Camboya *(367) Sur de Camobya (Camboja), 2014
173
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Rosa Rodríguez Sánchez, Espanha 19.4.1.3
Crianças na sala de aula dizendo que a lição
*(368) Tanzânia (Tanzânia), 2013 4.1.35.4.19.4.1.5
Retrato de um estudante do ensino Masai
*(369) Tanzânia (Tanzânia), 2013
19.4.1.1
Ver exterior da Escola Masai *(370) Tanzânia (Tanzânia), 2013 19.4.1.4
Retrato de dois alunos da Escola Masai *(371) Tanzânia (Tanzânia), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Desiree Costa Giusti, Brasil 26.4.1.2
O muro já não é vermelho
*(372) Havana (Cuba), 2013 4.1.35.4.26.4.1.4
O muro já não é vermelho
*(373) Havana (Cuba), 2013
26.4.1.5
O muro já não é vermelho *(374) Havana (Cuba), 2013 26.4.1.1
O muro já não é vermelho
*(375) Havana (Cuba), 2013
175
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Carla Alexandra Fernandes Mota, Portugal 5.4.1.3
Às compras no mercado de Minab *(376) Minab (Irão), 2013 4.1.35.4.5.4.1.1
Os olhos por trás da máscara
*(377) Minab (Irão), 2013
5.4.1.6
Tentativa de comunicação *(378) Minab (Irão), 2013 5.4.1.4
As histórias escondidas por trás de uma máscara *(379) Minab (Irão), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Nuno Lobito, Portugal 14.4.2.6
Inshala
*(380) Gaza (Palestina), 2013 4.1.35.4.14.4.2.1
Jihad
*(381) Gaza (Palestina), 2013
14.4.2.2
Bombardeamento *(382) Gaza (Palestina), 2013 14.4.2.4
Allah Akbar
*(383) Gaza (Palestina), 2013
177
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
José Bezerra Neto Segundo, Brasil 3.4.2.6
Descanço, até outro dia
*(384) Assu/RN (Brasil), 2013
3.4.2.3
Operador de máquina *(385) Assu/RN (Brasil), 2013 3.4.2.2
Executor, observador e felino
*(386) Assu/RN (Brasil), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
3.4.2.5
Translado laboral *(387) Assu/RN (Brasil), 2013 4.1.35.4.3.4.2.1
3.4.2.4
Mantenedor de máquinas *(389) Assu/RN (Brasil), 2013
Reflexão antecedente ao labor
*(388) Assu/RN (Brasil), 2013
179
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Alexandre Ferreira dos Santos, Brasil 4.4.2.6
Louceiros:do barro ao pó
*(390) São Gonçalo do Amarante - RN (Brasil), 2013
4.4.2.3
Louceiros:do barro ao pó *(391) Ceará Mirim - RN (Brasil), 2013 4.4.2.4
Louceiros:do barro ao pó
*(392) São Gonçalo do Amarante - RN (Brasil), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
4.4.2.5
Louceiros:do barro ao pó
*(393) São Gonçalo do Amarante - RN (Brasil), 2013 4.1.35.4.4.4.2.1
4.4.2.2
Louceiros:do barro ao pó *(395) São Gonçalo do Amarante - RN (Brasil), 2013
Louceiros:do barro ao pó
*(394) Caicó - RN (Brasil), 2013
181
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Fernanda de Andrade Pinto Renno, Brasil 5.4.2.6
Gaiola arroz e crianças
*(396) Brejo Grande, Sergipe (Brasil), 2014 4.1.35.4.5.4.2.2
Seu Manoel e seu radinho de pilhas
*(397) Pixaim, Piaçabuçu, Alagoas (Brasil), 2014
5.4.2.5
Futebol pacatuba *(398) Pacatuba, Sergipe (Brasil), 2014 5.4.2.3
Cachorro e lavadeiras
*(399) Brejo Grande, Sergipe (Brasil), 2014
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
Eduardo Berazaluce, Espanha 6.4.2.1
Agua y jabon *(400) Madrid (Espanha), 2013 4.1.35.4.6.4.2.2
Education
*(401) Madrid (Espanha), 2013
6.4.2.3
Futuro
*(402) Madrid (Espanha), 2013 6.4.2.4
Hombre de barrio
*(403) Madrid (Espanha), 2013
183
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
36.4.2.6 Sophie Mendez de Serpa Lopes da Costa, Portugal
Mercadoria *(404) Souk ouro (UAE), 2014 8.4.2.2 Kelson Fontinele, Brasil
Família sem renda *(405) Bairro Promora, Teresina - Pi (Brasil), 2014
7.4.2.2 Thiago Morandi, Brasil
Congo *(406) São João del-Rei (Brasil), 2013 7.4.2.3 Thiago Morandi, Brasil
Congo *(407) São João del-Rei (Brasil), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
24.4.2.4 Saulo Goll Kudla, Brasil
Índio moderno *(408) Largo da ordem, Curitiba PR (Brasil), 2013 11.4.2.1 Peterson Azevedo Amorim, Brasil
Índio moderno *(409) Raso da Catarina - BA (Brasil), 2013
11.4.2.3 Peterson Azevedo Amorim, Brasil
Perpetuando a tradição *(410) Raso da Catarina - BA (Brasil), 2013 11.4.2.2 Peterson Azevedo Amorim, Brasil
Caboclo contemporâneo *(411) Raso da Catarina - BA (Brasil), 2013
185
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
30.4.2.6 Rory Aliran Birkby, África do Sul
Lenox House 6 *(412) Cidade do Cabo (África do Sul), 2014
30.4.2.2 Rory Aliran Birkby, África do Sul
Lenox House 2 *(413) Cidade do Cabo (África do Sul), 2014 32.4.2.2 Rita Saraiva Grade, Portugal
Foi o que eu lhe disse *(414) Getxo (Espanha), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
22.4.2.3 Albino Mahumana, Moçambique
22.4.2.1 Albino Mahumana, Moçambique
Mulher voltando da sua machamba
Meninos voltando do mercado informal
*(415) Caia (Moçambique), 2008 22.4.2.2 Albino Mahumana, Moçambique
*(417) Caia (Moçambique), 2008 35.4.2.5 Ana Margarida Rodrigues Parreira, Portugal
Casal voltando do corte de lenha
Há sempre tempo para o Amor
*(416) Caia (Moçambique), 2008
*(418) Londres (Inglaterra), 2014
187
4
I
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
10.4.1.4 André Lobo de Sá Cavalcanti, Brasil
Metrô *(419) Rio de Janeiro (Brasil), 2004 28.4.1.3 Marcelo Andre Ferreira Silva, Brasil
Bandoneon Germânico
25.4.1.6 Ana Paula da Silva Ramalho de Almeida, Portugal
A acção III *(421) São Tomé (São Tomé e Príncipe), 2013 30.4.1.5 Vanessa Gonçalves Araujo, Brasil
Arte Urbana
*(420) Parque Malwee, Jaraguá do Sul, Santa Catarina (Brasil), 2013 *(422) Rio de Janeiro (Brasil), 2013
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
42.4.1.4 Sérgio Lopes, Portugal
Fogo da devoção *(423) Meteora, Região da Tessália (Grécia), 2013 4.4.1.2 Ana Claudia de Sousa Farias, Brasil
Graça Alcançada *(424) Museu do Horto em Juazeiro do Norte - CE (Brasil), 2014
17.4.1.3 Marina Maria de Lira Rocha, Brasil
O feminino e infantil *(425) Mesquita da Kutubia, Marraquexe (Marrocos), 2013 43.4.1.4 Maria G Baldissera, Brasil
Turismo e po pulação autóctone: Estranhamento *(426) Cusco (Peru), 2014
189
4 I Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
42.4.1.2 Sérgio Lopes, Portugal
A fé vence montanhas *(427) Meteora, Região da Tessália (Grécia), 2013
27.4.1.3 Sofia Alexandra Ferreira Augusto, Portugal
Ruínas Habitadas (III) *(428) Roça de Água Izé (São Tomé e Príncipe), 2013
egendas
*legendas
1-6
21
A Pesca na ria de Aveiro. O Murtoseiro que já tinha casa de tijolo no Tejo, quando lá chegaram os avieiros, e ali pescava o sável, a fataça e a eirós; a Murtoseira que, mais tarde, percorria a pé os caminhos que a levavam à Azambuja, carregando as redes feitas na terra e que ia vender aos do Tejo; o Murtoseiro é povo de muitas artes mas as de pesca são as suas preferidas. Subam as lampreias e os sáveis as águas mais doces que de inverno escorrem na ria, e é vê-lo com novas redes, artes velhas, colhendo esses peixes que a norte e a sul são tão apreciados. A arte da pesca é arte de homens que resistem desde sempre e que comem pão salgado a cada dia, que vivem com o relógio das marés, que partem e regressam para tornar a partir.
A poça da D. Beija é constituída pela nascente natural de água quente, dentro duma gruta, que fornece as duas piscinas, uma zona para molhar os pés ou o corpo e parte da ribeira, que alberga uma comporta removível, proporcionando uma mistura de água quente e fria. A forte cor amarela da água deve-se à presença de cianobactérias, seres oxigénicos fotossintéticos que, em ambientes ricos em ferro, reagem com o ferro livre, oxidando-o e levando-o à sua precipitação.
7
Cabo Mondego. Maior afloramento do Jurássico da Europa e Monumento Natural. 8
22
A Poça da Dona Beija faz parte de um conjunto de nascentes férreas e quentes associadas aos fenómenos de vulcanismo secundário bem evidentes na Caldeira do Vulcão das Furnas. A sua formação advém da existência de aquíferos termais subterrâneos cuja água, em contacto com as rochas sujeitas a altas temperaturas, aquece gradualmente e atinge a superfície com temperaturas médias de 39ºC. 23
Vista aérea de terrenos agrícolas no Alentejo.
A Jusante do Poço do Inferno, Manteigas, Parque Natural da Serra Estrela, Portugal.
9
24
Mais de duas centenas de pinturas do pintor Yves Decoster embelezam o exterior de casas, escolas, edifícios oficiais ou moradias abandonadas em São Miguel, tendo em comum o mesmo traço: corações que pretendem sensibilizar para o amor.
Covão da Ametade, Manteigas, Parque Natural da Serra Estrela, Portugal.
10
“A vida é uma ilha, as rochas são teus desejos, sonhos árvores e flores solidão.” Khalil Gibran 11
“O correr das águas,a passagem das nuvens,o brincar das crianças (...)”. Hermann Hess 12
25
Nave de Santo António a 1550m de altitude no Parque Natural da Serra da Estrela Portugal. 26
Casa de abrigo situada na Nave de Santo António a 1550m de altitude no Parque Natural da Serra da Estrela Portugal. 27
Encosta de São Lourenço, Manteigas, Parque Natural da Serra Estrela, Portugal.
“Sou fuga para flauta de pedra doce. A poesia me desbrava. Com águas me alinhavo”. Manoel de Barros
28 - 33
13
“Dúvida da luz dos astros, De que o sol tenha calor, Duvida até da verdade, Mas confia em meu amor”. William Shakespeare
A extração da cortiça dos sobreiros, processoentre manual, tipicamente português, sendoumrealizada os meses de Maio e Setembro num ciclo de extração periodicamente de 9 em 9 anos em cada sobreiro, sendo Portugal um dos maiores produtores mundiais de cortiça, a jóia da coroa dos nossos recursos naturais.
14
34
“A poesia é ao mesmo tempo um esconderijo e um altifalante.” Nadine Gordimer
Saída para o “cerco”.
Com este conjunto de seis imagens, tentei, ilustrar/resumir o ciclo da extração da cortiça, (descortiçamento, transporte, empilhamento das pranchas de cortiça até ao empilhamento final no montado).
35
Chegada da rede.
com outros camaradas de mar. Todos em embarcações pequenas e normalmente trabalhando a dois. 41
Os cofres são limpos e iscados com cavala. e arrumados por ordem inversa à de recolha, para depois serem devolvidos à água. 42
Enquanto o marido puxa os cofres através da ajuda do alador, a esposa, retira o pescado (se houver). 43
Um casal (marido e mulher)de pescadores na arte de cofres para o polvo. Ambos da zona de Vila Nova de Milfontes, ele sempre pescador, seguindo as pisadas do pai. Ela ingressou um ano antes devido à falta de oferta de emprego e trabalho na região. A pesca ao polvo através da arte de cofres é rotineira, mantendose os cofres uma temporada (quase um ano) na água, apenas verificando-se diariamente as artes, recolhendo o pescado e voltando a iscar. Uma tarefa que começa às 04h00/05h00 e dura até às 10h00, hora de entrgar o pescado na lota. Infelizmente para o casal, no dia das fotografias, o dia de pesca foi mau, aliando o denso nevoeiro à falta de capturas. 44
No meio dos trajectos entre aparelhos. Tempo para um cigarro e conversar com amigos de profissão em outras embarcações. Altura para por as notícias em dia. 45
Paisagem da Torre na Serra da Estrela destacando-se um pastor com o seu rebanho. 46
A paisagem da serra do Caramulo está diferente, enfeitada com um parque eólico que aproveita os ventos fortes para produzir energia. Foram esses ventos que ajudaram, no último verão, a devorar parte da flora serrana que a deixou com este aspecto negro. 47
Aldeia histórica de Sortelha. 48
É das poucas coisas que não mudou muito durante todo este tempo, este mar de nuvens que frenquentemente se nos oferece. Ver o sol levantar-se de baixo deste mar de nuvens é coisa que não se esquece. Certamente que este património natural é a melhor arma que a região tem para se desenvolver… 49
Esta é a fotografia da montanha do Pico vista da ilha vizinha, Faial! 50
Cabo Mondego. Maior afloramento do Jurássico da Europa e Monumento Natural.
36
Eutrofização da Lagoa do Caiado com a ilha de São Jorge no horizonte.
Os peixes a tentar a fuga da rede.
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19
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A nuvem e a montanha do Pico.
As Furnas são muito conhecidas pelas suas águas termais, nomeadamente as caldeiras, a Poça da Beija e piscinas térmicas.
O “tesouro” à vista.
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Por do Sol refletido numa pequena lagoa.
A separação do pescado por espécies.
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A “Camellia sinensis”, planta que está na srcem do chá verde e do chá preto, foi introduzida nos Açores, nomeadamente em São Miguel, em 1750, transportada pelas naus que retornavam do Oriente.
39
O João na sua “arte”. 40
De aparelho (conjunto de cofres ligados através de uma madre e sinalizados por bóias) em aparelho, cruzam-se
A morfologia do lugar, torna cada recanto único. Apetece pela diversidade de formas, elementos e características. Por sua vez, cada um faz reverberar o som da água em constante movimento, traduzindo-se em tranquilidade ou agitado frenesim.
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
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A morfologia do lugar, torna cada recanto único. Apetece pela diversidade de formas, elementos e características. Por sua vez, cada um faz reverberar o som da água em constante movimento, traduzindo-se em tranquilidade ou agitado frenesim.
A espera das sensações.
Beleza sem Rugas.
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O pastor guiando o rebanho.
Olhos de Azeitona.
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Os dias rotineiros.
Dorme meu menino.
Um pequeno paraíso no interior. São estes pequenos pormenores que fazem com que Portugal seja o país bonito que é e que continue a motivar os portugueses e não só a quererem descobrir mais as suas paisagens naturais.
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Douro Vinhateiro.
Criança levando folhas de fumo para fábrica de charutos.
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Escombreira e armazém do complexo das Minas da Panasqueira. [díptico]
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Rio Paiva.
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Barco adormecido, Ilha do Farol, Ria Formosa.
Venda e mercearia com homem.
Pescador de Lampreia.
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Cais palafítico da Carrasqueira.
Homem carregando sacos de farinha em mercado público.
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Paisagem protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos. Infraestrutura de apoio do Centro de Interpretação Ambiental.
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Temporal contra el faro de San Esteban de Pravia.
Zona habitacional na Caloura. 60
Ponte romana sobre a ribeira de Castro Laboreiro. 61
El faro alumbrando bajo un fuerte temporal. 77 78
Trabalhador descansando em mercado público. 96 - 101
Apanha de perceves na costa da Galiza 102 - 107
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Na cidade de Lençóis na Bahia, algumas mulheres ganham a vida lavando roupas em um pequeno rio, dai veio o nome da cidade.
Fuertes olas y bufones rompiendo contra la costa de Llanes.
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O poder da cor.
Entrada de un frente sobre la costa de Llanes Asturias.
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Convento.
Numa praia do Báltico, onde o turismo é a fonte de rendimento dos locais. No Inverno, torna-se difícil tanto para os humanos como para as aves que por ali vagueiam, à espera de migalhas que os turistas lhes levam. Um dos atractivos desta cidade são os cisnes mudos que se aproximam sem medo para comer umas migalhas.
A essência persiste em manifestar a sua voz sublime mesmo contra todas as adversidades e em forma de flor, permite-nos sonhar com a beleza da natureza no sítio mais improvável onde também há esperança. A Natureza vai continuar a fazer o imaginável e as flores bem acreditam na luz que persiste na terra. Como analogia à Máquina/Homem Vs. Natureza, o rasto da
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Temporal en la costa Cantabrica.
Reflexões entre pedras.
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Estaleiro de barcos artesanais.
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Nas pequenas vilas existem sempre barbeiros “barbeiros rurais” vamos chama-los assim, (um pequeno espaço, construído com materiais locais “paus e caniço”) cujo seu interior está composto por uma cadeira plástica, um espelho e acessórios para trabalhar: máquina de barbear e de cortar cabelo. 112
Pássaro à espera da hora certa. 113
O homem avança silenciando a Natureza...
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pegada da roda do tractor secou, mas, deixou crescer o mal-me-quer, quase que como profecia poética: ”a terra nunca secará!?” Surge assim uma mensagem de esperança, sobre uma ameaça que canta: «bem-mequer, mal-me-quer». O imaginável também acontece.
Passeio à beira do rio, turistas com os seus animais de estimação, visitam e passeiam entre o rio e a floresta, com imagem de fundo a industrialização emergente da cidade de Swinoujscie, com as gruas do porto e gruas de construção em silhoueta.
Monolitos soltos no plato da caatinga nordestina.
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O estuário do Sado é uma das maiores zonas húmidas de Portugal, sendo ainda uma zona de protecção especial para a avifauna. Neste dia, o céu estava nublado e o vento soprava fraco, o que permitia o reflexo das aves que visitaram o estuário nesse dia.
O moinho farol Stawa Młyny, construído no quebra mar do séc. XIX, a localizar a entrada para o porto no rio Swina.
Na ponta das pernas, essa aranha se mantém na teia contra a gravidade.
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Vão-se abrindo abrindo as que ficam tornam-se num pontiagudo bico. 67
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Um dos locais a andar de bicicleta pela praia. Existe muito marisco nestas praias, vê-se frequentemente pescadores com redes nesta prática. Talvez este senhor tenha ido buscar qualquer coisa, para depois voltar ao seu trabalho.
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Fotografia feita na estrada. 116
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Promovendo a difração das cores. 118
Arara que habita o Parque Estadual “Morro do Diabo” no município de Teodoro Sampaio (SP). Reserva possuidora dos últimos remanescentes de Mata Atlântica do interior do estado de São Paulo. 119
Macho de Caloptérix Haemorrhoidalis vigiando o seu territótio no Rio Homem.
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Não deixa de ser irónico. Quando mesmo sozinha e singular, é o centro das atenções. Pequena gota de água.
Durante uma caminhada para observar e fotografar aves, apareceu uma raposa. A sua curiosidade, permitiu-me fotografá-la.
Chapinhando entre crocodilos.
120
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Five Sisters of Kintail é o nome popularmente atribuído à cordilheira que domina esta paisagem. Estas montanhas são sobranceiras à pequena localidade de Shiel
Pormenor do quebra mar à entrada do rio Swina.
O encantador da floresta.
193
*legendas
Bridge, visível na foto, que se localiza na base do vale glaciar conhecido por Glen Shiel.
138
Manjedoura em bom estado de conservação, no local que outrora terá sido um curral ou vacaria, do qual 121 restam somente uma parede e meia, permitindo conAves contemplando el hermoso atardecer en Colombia. templar os campos envolventes por onde os animais pastavam. Este curral ou vacaria estava separado cerca 122 de 20m da casa de habitação do agricultor. A foto tenta mostrar a forte interligação entre as montanhas e o mar nesta região da Escócia. 139
se utilizam as tesouras de antigamente mas a lã continua a ser uma fonte de rendimento para as famílias com ovelhas. 152
O linho, ainda em planta, numa fase inicial do ciclo. 153
Tratamento do linho - sedeiro.
Mó depositada à entrada do moinho ao qual pertenceu, construído em alvenaria de pedra não emparelhada. Este moinho situa-se junto à estrada EN 268 e, embora há muito abandonado, encontra-se relativamente bem conservado.
154
140
156
Meadas depara linhoo que das e irão tear.posteriormente serão branquea-
Ali, acima da paisagem patrimonial, o voo da liberdade...
Curral e manjedoura em perfeito estado de conservação mas há muito abandonados. Esta divisão integra uma construção em alvenaria de xisto e que era usada exclusivamente como anexo agrícola e que dela fazem parte três currais, vacarias ou redis, um alpendre para alfaias agrícolas e um palheiro.
126
141
Pórtico Fluvial.
Interior do mesmo moinho da foto “Mó”. Pormenor da parte terminal do mastro do moinho, da entrosga e seus dentes e das traves de madeira que sustentam a cúpula de chapas de zinco.
Os cataventos, principalmente, nas vilas e aldeias do interior, ao evocar a criatividade dos ferreiros, são marcas patrimoniais e identitárias. São, também, orgulho das gentes! Resistindo na paisagem humana, promovem, roteiros de descoberta e admiração.
142
162
123
Esta foto foi tirada na alvorada do dia 21 de dezembro 2013, quando se celebrou o primeiro ano desde o dia 1 que foi o 21 de dezembro 2012. 124
O sol declinava e dourava as aldeias e o campo. E havia assim altas torres a lembrar histórias e condes empaladores. Tudo os meus olhos viam, registavam, e viviam. 125
127
El mar como un espectáculo a contemplar desde fuera, sin mojarse, sin estar en contacto con él. 128
Tratamento do linho - maçadoiro. 155
Tratamento do linho - dobadoira (ou orgadilho).
157
Tratamento do linho - Fiação. 158 - 161
Pavão-indiano (Pavo cristatus).
Banco de suplentes num campo de futebol de uma aldeia.
O lavrador prepara a palha para as vacas comerem enquanto efectua a ordenha.
129
143
163
Visão do cotidiano na Baía do Porto Grande em Mindelo. 130
Fotografia contra a xenofobia. 131
Los pastores recorren grandes distancias por las Gargantas del Todra, en Marruecos, para que su ganado encuentre alimento. 132
Entrando la hierba.
Reboque parado sem uma roda.
As vacas aguardam juntas o momento da ordenha.
144
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Paragem de autocarros regionais.
Vestígios de uma Mina abandonada.
145
165
Caixa de correio de diversos montes isolados.
Mão humana em terras algarvias.
146
166
Longe dos tempos que fazia sapatos de raíz, o Sr. Carlos ainda hoje mantéthttttm a sua oficina aberta onde se dedica à concertação de calçado.
167
Marcas do tempo na dureza do granito. Caracterizar o lugar; lugares e arquitectura rural.
147 133
Retrato de família. 134
Uma máscara da aldeia de Lazarim (Lamego) repousa no colo da sua portadora, no intervalo de um desfile de máscaras organizado em Mira. À falta de rapazes, atualmente também as mulheres e os mais velhos transportam a máscara. 135
Na aldeia de Rebordaínhos, no dia de Reis, a maçã que o careto transporta é mais do que um mealheiro, é um símbolo de fertilidade nas suas mãos, a quem se faz um pedido para um bom ano agrícola ou de saúde. 136
O Cego e o Molacillo, duas das personagens da festa de inverno de Sarracin de Aliste (Zamora), percorrem a aldeia no dia de Ano Novo. As cores fortes do traje do Cego contrastam com a solidão da paisagem rural. 137
O Zangarron de Montamarta, talvez a personagem mais peculiar de todas as festas de inverno da província de Zamora, percorre as ruas da aldeia no dia de Ano Novo e no dia de Reis, fazendo o peditório.
Atividade realizada em Agosto, que apesar de cada vez mais mecanizada, ainda se pode encontrar quem se sente à volta das canas de milho e embalado por cantares separe as espigas das canas. 148
91 anos de vida dedicados à arte de fazer palhoças. Já não há pastores como antigamente que palmilhavam montes à chuva com o rebanho e confiavam na impermeabilidade da sua palhoça. No entanto, o Sr. António ainda executa a arte como ninguém.
168 Tradição secular em Aldeia Viçosa, Guarda, em que, por
vontade de uma benemérita se distribuem castanhas e vinho ao povo em troca de uma oração pela sua alma. 169
Souto e Habitação. 170
Actividade muito usada nos espaços rurais do Minho, espaço de união e diversão de amigos. 171
149
A gravalha ainda tem uma grande importância no dia Depois da Vareja e das oliveiras podadas é altura de a dia do lavrador para acender o lume, que tende a dequeimar a rama. As cinzas que ficam contribuem para saparecer pelos seus substitutos: as actuais acendelhas. a fertilização dos solos para as sementeiras da prima172 vera seguinte. Grupo de trabalhadores provenientes da Roménia a 150 varejar uma oliveira durante a campanha da apanha da Atividade familiar que permite ter vinho à mesa por azeitona no olival da Belloliva. mais um ano. Um dia que começa com a vindima e 173 acaba com o pisar das uvas no lagar. Dias depois há Dois trabalhadores num olival em Beja descarregam as néctar novo. azeitonas durante a campanha. 151
Com o calor é necessário refrescar as ovelhas. Já não
174
Aos 99 anos cumpre o ritual.
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
175
191
Homem guarda folheto oferecido por um grupo de Testemunhas de Jeovás que percorre a aldeia.
En algunas partes del Pirineo Aragonés todavía se mantiene el corte de la hierba con el dallo, a la vez que conviven con máquinas cortadoras más modernas.
176
Retrato rural. 177
Por mãos sábias, que no campo colhe o trigo e amassa o pão, um sabor que se guarda e uma tradição que não se apaga! 178
Habitação dos moradores do deserto do Jalapão, construída com com paredes de barro e bambu.
192, 194
Casa sem Teto é um questionamento sobre o tão grande e devastador é o sonho imposto por uma sociedade desapegada de valores humanos, aonde o homem se traduz pelo seu montante de patrimônio e não pelos seus valores. Desta forma, sendo forçado ao exedo ao ponto de deixar para traz seu maior bem, SEU LAR. 193
179
La simple magia de conceder vida.
Produção de artesanato de capim dourado, só encontrado nesta região do Brasil, que se tornou principal fonte de renda para as comunidades locais. Onde o escambo de mercadorias por peças artesanais é muito comum.
195
180
Jovens solitários no deserto do Jalapão, onde há mais homens que mulheres, pois estas ao alcançarem a juventude partem em busca de melhores condições de vida na capital, enquanto os homens permanecem tomando conta da terra. 181
Na região, as noites são frescas todo o ano, há costume de se reunir em torno da fogueira para conversar e apreciar as estrelas. 182
Casa situada no centro da Aldeia indígena Parará Púru, onde a comunidade realiza as suas reuniões e Festas. A Aldeia mantém intacta os modos de vida antigos que herdaram dos seus antepassados. 183
Cozinha,casa sobre estacas da Aldeia indígena Parará Púru, onde as mulheres preparam as refeições para toda a comunidade. 184
Crianças Parará Púru.
En ciertas zonas de Marruecos es complicado encontrar cursos de agua naturales, en zonas de extrema aridez, y los pastores deben abrevar al ganado extrayendo agua de pozos muy profundos. 196
Una tarde de trabajo sobre la carretera. 197
Apesar da inauguração relativamente recente de estradas permitir o acesso a materiais de construção industrial (cimento, tijolos e metal); nos quilombos do Vale da Ribeira ainda se praticam diversas formas de arquitetura tradicional. Na casa de Joaquim e Nadir o fogão, a cozinha e algumas panelas são construídos tendo o barro como matéria prima básica. As paredes são erguidas por meio da técnica de taipa de pilão, introduzida nos tempos de colônia e muito difundida por diversas regiões rurais do Brasil. 198
En Marruecos las bicicletas se han convertido en uno de los medios de transporte más utilizados. En cualquier pequeña población hay algún taller específicamente dedicado a arreglar las bicicletas. En muchos casos son niños los que encontramos gestionándolos. 199
No centro da capital paraense, encontram-se vários
185
Mulher indígena Parará Púru.
jovens interior:realizando a pesca. uma atividade que é considerada do
186
200
Mulheres e seus filhos Parará Púru, Panamá.
Fotografía tomada en la localidad de Marchena (Sevilla) un “pueblo” que si bien utilizando el criterio cuantitativo por su número de habitantes debería ser una ciudad, sin embargo conserva en sus edificaciones, actividades económicas (principalmente agrarias) y modo de vida, las características rurales. De ahí que en España se denomine con el nombre de agro-ciudades a estos municipios.
187
Criança que está coberta com tinta natural para protecção contra mosquitos. 188
El sol se esconde y es hora de volver al corral con el ganado. Cuando hace ya tiempo que no llueve el camino y las ovejas se confunden con el polvo. 189
201
Antiguo cargadero de mineral.
En la primavera es cuando se preparan los huertos para disponer de alimento durante el verano y también bien avanzado el otoño, en este caso sembrando patatas.
202
190
Habitantes da Ilha dos Marinheiros, em retorno para a casa, com o seu barco, aqui na região, denominado de caíco.
El invierno en la montaña es muy duro, todos los días Guillén sube a la cuadra a vigilar y dar de comer al ganado, haga frío, calor o esté nevando esa es su tarea desde hace muchos años.
A Raia. Entre dois países 01. 203
204
Arrozal apunto de recolectarse en el municipio sevillano de Lora del Río. Junto con otros municipios del Bajo
Guadalquivir (marismas del Guadalquivir) forman el arrozal de mayor extensión de España. 205
Caminos rurales entre el bosque. 206
O rio das Pérolas separa dois diferentes mundos na China. Na margem oposta um complexo hoteleiro ergue-se na margem oposta, olhando de soslaio para o litoral rural de Coloane. 207
Khamryn Khiid surje depois de um par de horas de jipe sobre as dunas do Gobi. Durante o fim-de-semana muitos crentes dirigem-se neste local para suas orações, mas durante a semana o silêncio mal é quebrado. O trilho serpenteia e ondula s obre uma tonalidade rosa ao longo de dezenas de tsupas. 208, 209
Trabalho rural, Bundhi. 210
Foto tirada a um edifício devoluto em Lisboa. 211
Com a presente série pretende-se representar e colocar em evidência, os edifícios de esquina construídos desde o início da urbanização do Alto de Xavier, em Portimão. Nesta fotografia, encontra-se um exemplar construído na década de 80 do séc. XX, tendo como principais características, a imitação de molduras tradicionais com tinta, a utilização de beirais trabalhados com massa e rompendo com a simetria e equilíbrio formal das décadas anteriores. O interesse surge em perceber o impacto formal que estes edifícios representam nas cidades portuguesas, e qual o seu impacto na memória colectiva e futura. Esquina da Rua António F. Castilho e Rua Gaspar L. Canário. 212
Uma cidade, muitas vidas (V). 213 - 216
Uma cidade, muitas vidas (III), (II), (I), (IV). 217 - 220
Com a presente série pretende-se representar e colocar em evidência, os edifícios de esquina construídos desde o início da urbanização do Alto de Xavier, em Portimão. 217, 218, 220: esquina da Rua Viscondessa de Alvor e Rua J. Pereira Sampaio Bruno, esquina da Rua Dr. Manuel de Almeida e Rua Francisco Bivar, esquina da Rua Dr. Manuel de Almeida e Rua Alexandre Herculano. Nestas fotografias, encontram-se três exemplares construídos possivelmente na década de 60 ou 70 do séc. XX, tendo como principais características, a utilização de revestimento cerâmico “pastilha” e utilização de caixilharias em alumínio na cor natural e molduras finas em mármore. Este tipo de construção encontra-se bastante disseminado nas cidades portuguesas sem que contudo, tenham um estilo classificado, sendo apenas um produto do modernismo aplicado à realidade local. 219: esquina da Rua Dr. Manuel de Almeida e Rua Vila Lobos. Nesta fotografia, encontra-se um exemplar construído possivelmente na década de 1950, em estilo Arte Deco, perceptível pelos trabalhos de massa na platibanda e molduras.
195
*legendas
221
Ainda no Comércio e Serviços, e dada a sua expressão na zona do Parque das Nações, representa-se também o centro comercial Vasco da Gama.
boa.
253
243
Serra do Pilar.
Unfinished Projects - Addendum (texto representativo do projecto). 222 O projecto Unfinished Projects - Addendum decorre A actividade de Comércio e Serviços é representada da continuação do trabalho desenvolvido no mestrado de Fotografia e Cinema Documental (ESMAE) aqui pelo edifício “River Plate”, onde existem lojas, concluído em 2012. Inicialmente, tratava-se de fazer o escritórios e apartamentos. levantamento de edifícios de habitação num território 223 definido - o concelho de Valongo - um dos concelhos Pela importância que detém no desenvolvimento, reperiféricos à cidade do Porto. Por imposição da realidatrata-se aqui a actividade de Transportes, com a “Gare de, estende-se a temática ao território nacional com o do Oriente”, que tem ligação ao Metro e transporte consequente alargamento às restantes infra-estruturas rodoviário. inacabadas que podemos ver um pouco por todo o país. Neste conjunto de imagens podemos ver ainda 224
254
alguns edifícios de habitação inacabados, uma zona comercial, uma urbanização, e um viaduto, cujas ligações nunca foram concretizadas. VCI 1 - Nesta imagem podemos ver as transformações urbanas que têm ocorrido ao longo destas últimas décadas. Por um lado, edifícios de habitação antigos são emparedados e encontram-se ao abandono, por outro, edifícios em bloco são construídos, densificando as zonas urbanas, mas com a crise financeira foram abandonados e nunca concluídos. É visível nesta imagem o contraste urbano entre o passado e um futuro que não se concretizou.
257
Outrora um aterro sanitário, hoje aquilo que se procura documentar através de algumas actividades económicas existentes no Parque das Nações, em Lisboa. Na “Habitação” ilustram-se as torres S. Rafael e S. Gabriel e zona envolvente. 225
El tiempo pasa entre pensamientos. 226 - 227
Cruce de miradas frente a un club nocturno. 228
Las palomas comparten con los cuidadanos las calles desde hace siglos. 229 - 232
O ensaio Quasinvisível, é um projeto urbano que assenta em três pilares: arquitetura, montras de lojas e sinalética vária. Desde 2008 fotógrafo este tema que para mim não interessa tanto o lugar em que as imagens foram registadas, pois qualquer um dos instantâneos guarda entre si uma memória de cidade coletiva que, no entanto, não é vista pelos seus atores principais, as pessoas que vivem na cidade. A cidade, lato sensu, o grande cenário, onde cada um de nós representa o seu papel, é sempre visitada como um dado adquirido: abrimos os olhos e olhamos, mas será que exercemos o poder da visão, o poder de encontrar um diferencial nos vários elementos que emergem de uma outra cidade? Não a cidade no detalhe, desconstrução, não ver over outro?. Em nenhuma dasna imagens feitas ao élongo deste período inclui a pessoa física, mas vejo; melhor, sinto que ela está presente ... ela pode não estar em carne e osso, o que não significa dizer que ela esteja invisível… e por isso o Quasinvisível, pois em tudo – como no poema Operário em Construção, de Vinícius de Moraes – eu vejo a mão do ser humano… a sua representação social, a sua herança e o seu fado. 233 - 238
As 3 cidades mais importantes do país e os rios que estão na génese da sua implantação. 233 - Ponte Pedro e Inês, 234 - 0 Douro, 235 - Ponte D.Luís I, 236 - Ponte 25 de Abril, 237 - O Tejo, 238 - O Mondego.
244
Esta urbanização encontra-se meia concluída. Consequentemente, meia habitada! Assim foi deixada, numa zona isolada do restante núcleo urbano, tendo o carro como único meio de transporte. Esta imagem, inserese numa série onde estas questões são abordadas. 245
Este viaduto encontra-se sobre a A4, mesmo antes do túnel de Águas-Santas, no sentido Vila-Real/Porto. Foi construído apenas a parte correspondente à travessia da A4, sem vestígios de prolongamento em qualquer dos sentidos. 246
Este edifício encontra-se numa zona infra-estruturada que foi abandonada, tendo sido construído apenas este edifício. Na restantenoárea, podemos apenas os arruamentos, entanto, toda encontrar a área se encontra isolada por uma cerca de arame. Esta seria mais uma zona de expansão urbana que ficou pelo caminho. Podemos ver nesta imagem, o contraste entre a habitação existente, e a nova construção. 247
Tão tão e tão longa perspectiva nada alcançamos o topo. 248
A brincadeira de ondas no edifício.
Junto ao Oceano Atlântico, a Praça da Cidade do Salvador divide as cidades do Porto e Matosinhos, albergando “She Changes” (ou A Anémona, como é popularmente conhecida), a escultura gigante da norte-americana Janet Echelman. 255
A Cidade da Figueira refletida no Espelho de Água. 256
Intervenção urbanística no âmbito de um alargado programa cultural em Águeda durante as festas da cidade. Série fotográfica no aterro municipal de Évora. 258
Intervenção urbanística no âmbito de um alargado programa cultural em Águeda durante as festas da cidade. No auge das festas, é realizado um “Carnaval de Verão” que culmina com uma explosão de cor. 259
Série de fotografias feitas durante a minha última visita a Óbidos, para um encontro fotográfico, onde tentei registar, da melhor forma possível, os belos recantos de uma das mais belas localidades do nosso país. 260
Habitar. 261
A neve também é um estado de espírito. 262
Ribeira. 263
Taverna tradicional, mantendo-se fiel ao passado. 264
“Já dos velhos tempos se não conhece nada.” Bertold Brecht 265
O grafite pede silêncio ao Rio Douro, porque nesta calçada as mulheres, chamadas de carquejeiras, subiam e desciam de madrugada até à noite esta rampa, de 210 metros com 22% de inclinação. As carquejeiras descarregavam molhos de 40, 50 ou mais quilos de carqueja dos barcos que a transportavam Douro abaixo até às Fontainhas e prosseguiam viagem até aos sítios onde havia padarias, sendo a carqueja a acendalha para os fornos. 266
239
250
Utilização da fachada principal de uma casa em ruínas (Vivenda Rafael de Jesus) para um ‘graffiti’ (a foto faz parte de um levantamento fotográfico de ‘tags’ e ‘graffitis’ do Algarve, em curso).
Rua da Alegria, Lisboa.
Edifício projetado para hotelaria.
267
240
251
Rua de S. José, Lisboa.
Ponte D. Luís.
Foto tirada a uma empena de um prédio, uma acção a favor das vítimas de violência doméstica.
241
252
268
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Edifício projetado para habitação.
Entre a R. António Pedro e a Av. Almirante Reis, Lisboa. Conduciendo en un día nublado y lluvioso en Astún, en el Pirineo Aragonés. 242 Entre a R. de Sta. Marta e a R. Cardeal de S. José, Lis-
Foto tirada a um mural de homenagem aos 40 anos do 25 de Abril em Portugal.
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
269
284
Utilização de uma parede em ruínas para o ‘graffiti’ Barcos descansando en la Bahía. KERO BOLEIA, feito pelo street artist MENAU, de Quar285 teira, em 2004 (a foto faz parte de um levantamento One of the most spectacular places in Shanghai, esfotográfico de ‘tags’ e ‘graffitis’ do Algarve, em curso). pecially at night. There relies one of the most tallest 270 towers in the world! This urbanization seems to float A fotografia foi feita entre a estação de Baguim e since it is sorrounded by water. Campainha. Zona de campos e de razoável actividade 286 agrícola que foi atravessada pela mais recente linha do Quando os sonhos da cidade grande cansam os prómetro do Porto - a linha de Fânzeres. prios sonhos. Um senhor idoso, com ar muito relaxado, caminhava junto à linha do metro “fundindo-se” com o metro 287 que seguia em sentido contrário. Noor - Mouraria Light Walk. Tentando demonstrar a fusão forçada e uma certa -in 288 diferença que as pessoas mais idosas demonstram pela urbanização e evolução nesse local. A distância da vida ultrapassou meus passos muito curtos. 271
303
O meu avô era esparteiro. O meu pai era esparteiro. Antigamente os filhos seguiam as profissões dos pais. Eu também sou esparteiro. 304
Usava-se nos lagares antigos para fazer o azeite. 305
O Sr José da Encarnação é figura fanzina, porém cheia de genica e com o entusiasmo de uma criança no olhar. Trabalha de manhã à noite na sua pequena oficina para onde vai, logo que sai de casa, subtilmente vigiado pelo filho. Tem nas paredes da sua loja memórias das dezenas de feiras onde ja participou, sempre convidado. Já ensinou a sua arte a muitos jovens que nela encontraram forma de subsistência. O Sr José da Encarnação, com 96 anos vive os dias admirando todos os que o visitam e por lá passam.
No seguimento da fotografia anterior, “Para nada” dá continuidade à narrativa, demonstrando o que é fazer algo para nada. A fotografia retrata uma das muitas estradas inacabadas na sequência das obras do Metro. Neste caso, junto à estação de Carreira, mesmo indo em direcção a um mato sem qualquer tipo de habitação, nenhum pormenor ficou esquecido, como por exemplo, a passadeira de peões.
289
El faro de la ciudad guia entre las primeras luces del día.
Momento de convívio antes da ida para o mar.
272
291
Ciudad de las artes.
Escala Humana, Percursos, Vidas.
As mulheres em terra esperam pelo regresso em segurança dos homens.
273
292
Un asentamiento urbano sera derrumbado dándole el espacio físico al progreso. Una niña camina sin saber que este sera el ultimo paseo en la villa. 290
Techo de la bodega de Frank Gehry para marqués de Harmonia entre a Natureza e o urbano. Riscal en La Rioja. 293 274 Enfoque desde abajo de la escalera central del Círculo de Bellas Artes en Madrid. Hotel Omm de Barcelona.
306
Pescadores na embarcação. 307 308
309
Momento de levar o barco para o mar. 310
O barco aproxima-se da praia e é puxado para terra. 311
275
294
A rede é puxada para a praia.
Iglesia de la villa olímpica de Barcelona.
Demarcação do Muro de Berlim.
312
276
295
Pelos trilhos de ferro da cidade de Budapest, o dia começa cedo nesta cidade de temperaturas negativas no pico do inverno.
Hospital da Roça de Água Izé.
Junto às muralhas do castelo, o estendal tem sempre roupa lavadinha para secar.
277
Os 13 graus negativos levam-nos ter de uma opinião diferente do metro sobrelotado em ahora ponta. 278
O ritual repete-se dia após dia, com os trilhos de ferro sempre a conduzir-nos ao nosso destino. 279
Não se movessem estas escadas também por trilhos de ferro e a viagem seria bem mais cansativa. 280
O silêncio do cansaço do fim do dia assola estas carruagens, mesmo que pejadas de gente, apenas interrompido pontualmente por um tocar de um ou outro telefone. 281
Já à superfície, ao final do dia e tomando como guia os trilhos de ferro da cidade de Budapest, estes levam-nos até à nossa última paragem. 282
El club náutico de la ciudad, entre la niebla... 283
This photo was taken at the end of the Nanjing road (in Shanghai).
296
Dentro da escola com um aluno e Professor.
313
É quase como a História: estendal com vista para o castelo.
297
Buda en un monasterio mirando a través de una ventana. 298
Adolescente quéchua, visivelmente contrariada, posa para turistas no pátio da Iglesia de San Cristóbal. 299
Um breve instante. 300
O Sr. José Mendes, filho da Sra. D. Encarnação é esparteiro. Tem 96 anos e fala da sua profissão com o entusiasmo de uma criança. 301
“Nos ano passado vieram cá os do Nercab com uns miúdos para eu lhes ensinar a minha profissão. E cá estiveram uns tempos. Depois trouxeram-me um papel a dizer que sou formador de Excelência da União Europeia.” 302
314 A água da fonte tem um fim prático no quotidiano:
lavar roupa. 315
Há sempre um estendal numa janela para secar a roupinha. 316
Série ininterrupta e eterna de instantes que marcam a vida. Medida arbitrária da duração das coisas. 317
Eterno. Perene. 318
A que protege, ama, cuida. 319
Lembrança. Momento que fica imortalizado na mente. 320
O guitarrista.
Isto é o esparto. Tem de se apanhar, tem de se tratar, 321 tem de se humedecer porque se trabalha depois meO saxofone. lhor. Tudo isto é feito de esparto, até aquelas cadeiras.
197
*legendas
alma perde-se no meu próprio mundo azul.” Flávia Abib
recer com os tempos.
A vendedora de castanhas. 323
345
Apenas um jogo.
Sem legenda.
Mujer tirando de un burro desobediente que se niega a caminar.
324
346
359
322
Maria Augusta; portuguesa, jubilada y residente en PiEnsaio fotográfico de Jéssica Vale, realizado na cidade de Ouro Preto - MG. O trabalho trata de valorizar a cote, un pueblo portugués de La Raya. beleza advinda da miscigenação, característica de inú347 meras culturas espalhadas pelo mundo. A Jéssica traConstantino; español, jubilado y residente en Formillos ços indígenas com traços negros criando uma beleza de Fermoselle, pueblo español de la provincia de Zaexótica e singular. mora y perteneciente a La Raya. 325 - 327
Ensaio fotográfico de Iris Waira. O ensaio trata da desconstrução padrõesa de pela sociedade.dos Ao retratar Iris,género damos estabelecidos visibilidade à diversidade cultural, a uma sociedade livre e diversa, característica inerente da nossa sociedade. 328
Homens a preparar os trilhos do chá. 329
348
A orquestra participa com seus instrumentos metálicos para cintilar músicas alegres e populares. Incentiva o povo a festejar: Cristo ressuscitou!
358
Primeiro instante de uma série de instantes e de um apreciável tempo que estas crianças passam no recreio. 360
Largo do Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel em Sesimbra, ao anoitecer. 361
O velho casario esquecido num tempo de passada apressada. 362
349
Pequeno Careto que se preparava para o Entrudo Chocalheiro.
A mensagem da celebração é soprada com toda a força, reunindo os músicos com o povo no adro da igreja.
363
350
O Imaginário do Entrudo Chocalheiro.
Em Braga mora este senhor que é conhecido pelo senhor “Mãos de Música” devido à sua experiência em consertar instrumentos de corda praticamente sem 330 qualquer hipótese de conserto, é um verdadeiro miTerminada a apanha do chá, vai proceder-se agora ao lagre ver o resultado final. Na sua casa tem um verdadeiro museu, com centenas de exemplares destes seu transporte. instrumentos srcinários de todo o mundo. É um privi331 légio privar com este senhor e ouvir toda a sua cultura O Chá, pronto para ser provado. musical em relação a estes instrumentos.
364
332 - 335
351
A Praia da Vagueira situa-se perto de Aveiro, na região Centro Litoral, a sul da Praia da Costa Nova e a norte da Praia do Areão. Nesta zona, a orla costeira é constituída por um cordão dunar que a delimita da zona húmida da ria de Aveiro. A norte da praia ainda teima a pesca artesanal, “Arte Xávega”, que remonta ao sec. XIX. De barco, os pescadores lançam as redes ao mar e cercam os cardumes, redes que depois puxam para a costa com a ajuda de tratores. Homens e mulheres colaboram na azáfama de estender a rede pelo areal e dela recolher todo o
Trata-se do principal meio de transporte utilizado pelo meu avô na década de 60/70 inclusa ao meio rural onde se inseria e à actividade agrícola que exercia, agora prostrados ao esquecimento e ao passar do tempo são objectos que envelhecem como as memórias e neles surgem esses sinais do tempo e de inactividade.
Momento para el rezo de un buda.
Mulher a proceder à apanha do chá com trajes típicos da época.
peixe emparece voltar para o mar. a desaparecer, A Arteque dainsiste Xávega condenada raros são os jovens que dão os primeiros passos na sua dura aprendizagem nessa arte de pescar que os velhos vão mantendo como forma de ocupação ou de colmatar as carências resultantes das suas parcas pensões de reforma.
352
Na Baixa lisboeta trabalha este sapateiro de poucas falas, mas com um olhar que descreve bem a situação social em que se encontra. Com o pouco trabalho que tem vai sobrevivendo e sempre com a extraordinária sabedoria desta arte que infelizmente não tem a quem ensinar ou passar. Para mim foi uma experiência única ter conhecido este senhor por quem tenho uma grande estima. 353
“Todo o inferno está contido nesta única palavra: so336 - 341 lidão.” Trabalho fotográfico subordinado ao tema religião e à Victor Hugo forma como três religiões diferentes promovem as suas 354 celebrações. Através destas imagens são mostradas as José Manuel dos Santos é engraxador na Praça da Resingularidades e semelhanças das vivências da Igreja pública, em Coimbra, há quase 50 anos. Ortodoxa, Muçulmana e Sikh no Porto. Neste caso as celebrações da Igreja Ortodoxa. 355 As mãos de José Manuel dos Santos conhecem a arte 342 de engraxar sapatos desde os 12 anos. De dia ou de noite o movimento é constante nas cidades, com o estilo de vida frenético que as pessoas levam. 343
A arte do graffiti invade e dá vida ao abandono e olhar preocupado da sociedade. 344
“Minha alma é cúmplice dos meus sonhos, minha
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A relação entre os intervenientes da foto é deveras interessante, no entanto, o trabalho que a peixeira desempenhava com grande destreza era magistral. 357
No mercado do Bulhão os filhos aprendem ainda os ofícios dos pais. Ofícios antigos que tendem a desapa-
Recogida de madera para preparar la comida de los monjes. 365
Echándose la siesta después de almorzar. 366
Momento de relax y disfrutando de la brisa del viento. 367 368
Crianças na sala de aula dizendo a lição. 369
Retrato de um estudante do ensino Masai. 370
Ver Exterior Escola do Masai. 371
Retrato de dois alunos da Escola Masai. 372 - 375
Fotografia digital. 376
A aldeia de Minab localiza-se a poucos quilómetros da fronteira com o Paquistão e as pessoas exibem um tom de pele escuro e curtido pelo sol e pelo ar do mar. Às quintas-feiras, a aldeia atrai inúmeros Bandaris das aldeias vizinhas que vêm comprar gado, roupas, legumes e adereços femininos ao mercado semanal. 377
Há alguns anos atrás, enquanto fazia uma pesquisa sobre tribos da Ásia Central, encontrei um artigo sobre as mulheres Bandari. Na altura fiquei agarrada a um olhar. Eram uns olhos negros com grandes pestanas que sobressaiam por trás de uma máscara vermelha. A máscara colorida que a jovem exibia atraiu o meu olhar, mas foram aqueles olhos que prenderam a minha atenção e fizeram despertar o meu imaginário. Na altura pensei: o que escondem estes olhos por trás da máscara? 378
Em Minab, as mulheres são tímidas e na presença de um homem sentem-se expostas e intimidadas. Quan-
Transversalidades I fotografia sem fronteiras
do estão sozinhas sorriem, inicialmente de forma envergonhada, escondendo o rosto e o sorriso por trás do chador colorido. Depois do primeiro sorriso vem o acenar de cabeça, um convite para uma fotografia e algumas perguntas. É aqui que a barreira linguística se torna intransponível. Elas fazem perguntas que eu gostaria de responder. Eu tenho mil e uma perguntas que gostaria de ver respondidas.
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Representante mais velho da comunidade quilombola de Pixaim.
Há imensas mulheres que se escondem por trás das máscaras e Minab. A maioria parecem-me jovens e bonitas, mas a máscara esconde o rosto e as suas histórias. As histórias de vida destas mulheres são também as histórias desta parte do Irão. Serão negras como as suas mãos? Ou serão alegres como as cores vivas que
Louceiros: Cultura tradicional em fase de extinção no estado do Rio Grande do norte no nordeste do Brasil. 396
Crianças brincando no fundo de uma gaiola em plantação de arroz. 397
seu meio de transporte para as várias actividades na luta por melhores condições de vida. 416
Pessoas desta região da província de Sofala, percorrem grandes distâncias entre a casa e a machamba, onde normalmente, tem utilizado a bicicleta como meio de transporte, por falta de outra alternativa. 417
Pelada (futebol) em Pacatuba.
Trata-se do dia a dia das pessoas que vivem neste distrito que normalmente para as suas diversas actividades utilizam a bicicleta para as suas deslocações, como um meio de transporte barato e amigo do ambiente.
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vestem?
Cachorro e lavadeiras do Rio São Francisco em Brejo Grande, Sergipe.
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Demonstração de carinho de um casal de apaixonados nas ruas de Londres, após um dia de trabalho. Afinal há sempre tempo para o amor!!
Pompas de jabón en la puerta de Alcalá de Madrid.
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População no metro.
Mulher Palestina ,em mais uma manifestação em busca dos seus ente queridos ,que por vezes durante anos passam na prisões em Israel ,mais um momento de muita dor...! 381
Padre e hijo en manifestación por una escuela y educación pública. 402
Casa de um Jihadista ,momento de contemplação do seu pai em mais um domingo de reunião entre famílias. Padre e hijo en manifestación por una escuela y educación pública, en las calles de Madrid.
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Imigrante alemão tocando músicas típicas de seu país para clientes de um restaurante. 421
Gaza,limpeza e recolha de destroços …depois de mais um forte Bombardeamento é assim há anos em Gaza.
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Contactando com a população em diversas povoações do noroeste de São Tomé.
Vecino del popular barrio de Vallecas en Madrid.
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Grafite anónimo localizado numa das ruas da Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro.
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Palestino em mais um dia de reza e a Pedir a Allah um Mercadoria. pouco de paz, porque segundo vi este Povo vive em 405 guerra constante...! O rapaz com a o bebé no colo, é um dos palhaços do 384 circo da Família Acioly. Por fim, após jornada cansativa, trabalhador respira 406, 407 fundo, comenta alguns fatos e despede-se para voltar Congado de 333 anos, no distrito de Rio das Mortes. noutro dia para mais uma batalha para sobrevivência.
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As velas das oferendas ardem não só na imensidão rochosa dos mosteiros, mas também no silêncio onde ecoam os nossos passos solitários. 424
Mulher devota do famoso Padre Cicero, faz promessa para casar e ao alcançar a graça, deixa seu vestido de noiva em museu do Horto na cidade de Juazeiro do Norte - CE.
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Operar uma máquina requer habilidades. Mas com o tempo tudo se torna repetitivo. Este homem, atua por pelo menos 25 anos, 12 horas por dia a executar basicamente as mesmas tarefas.
Troco às selvas as matas e os rios rasgando assim meu convívio com a natureza e se embrenho na mata de pedra demonstrando aos brancos a cor da terra. 409
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Cacique da etnia Pankararé, localizada no norte do Es- 426 tado da Bahia, no Brasil. Senhora quéchua observa com estranheza o casal de turistas que se beija. 410 Toré, dança típica da etnia Pankararé, do norte do Es- 427 tado da Bahia. As tonalidades quentes das cores outonais envolvem a
Dividindo o espaço com pequenos animais, trabalhadores da indústria cerâmica atuam como máquinas, repetindo, repetindo e repetindo o translado de telhas, tijolos e pensamentos. 387
O vai e vem das telhas, tijolos e homens é entoado como mantra que evoca a produção. Com fiscais de olho em suas atividades, trabalhadores atuam como máquinas que vai e vem. 388
Enquanto se prepara para mais um dia de trabalho na indústria ceramista, trabalhador respira fundo e põe na balança se vale a pena uma vida dedicada ao labor pesado. 389
Assim como o operador, o mantenedor observa atentamente todos os sons e roteiros da máquina. Caso algo esteja fora dos padrões, seu conhecimento é posto à prova para identificar e resolver o quanto antes, pois tempo é dinheiro.
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Série: Olhar a multidão.
Sertanejo e índio da etnia Pankararé, do norte do Estado da Bahia, antenado com a modernidade.
pequena igreja “Agios Nicholas Anapausas”, que sorrateiramente se ergue, como todos os outros mosteiros, desafiando as forças da natureza e da gravidade.
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“Ao menos é trabalho, até ao fim de Junho. Daquele amigo do seu pai, sim... Amo-te... vou ligar no fim da semana, é mais barato.”
Hospital da Roça de Água Izé.
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“Quanto tempo quer ficar? É mais barato por mês.” “Ainda não sei... vai depender do trabalho.” 414
Sem legenda. 415
Esta fotografia, retrata também o dia a dia de mulheres que vivem nesta zona, que utilizam a bicicleta como
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