transversalidades
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Título
Transversalidades 2015 – fotografia sem fronteiras
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viagens, paisagens, imagens
Coordenação
Rui Jacinto Júri do Concurso
Gonçalo Rosa da Silva | Henrique Cayatte | Jorge Pena | Lúcio Cunha | Rui Jacinto | Santiago Santos | Susana Paiva Valentín Cabero Diéguez | Victorino García Textos
António Campar | Álvaro Domingos | Garrido Miranda | José Borzacchiello da Silva | José Manuel Simões Maria Auxiliadora da Silva | Maria Laura Silveira | Paulo Peixoto | Roberto Lobato Corrêa | Rui Jacinto | Thalita Xavier Produção
Alexandra Isidro | Ana Sofia Martins Revisão
Ana Margarida Proença | Ana Sofia Martins Concepção e montagem da exposição
António Freixo | Renato Coelho | Arménio Bernardo Design | pré-impressão
Via Coloris, Design de Comunicação, lda. Impressão | acabamento
Marques e Pereira, lda. Tiragem
1000 ex. Depósito legal
335972/11 ISBN
978-989-8676-09-2 Edição
Centro deViegas, Estudos8Ibéricos R. Soeiro 6300-758 Guarda www.cei.pt O Centro de Estudos Ibéricos respeita os srcinais dos textos, não se responsabilizando pelos conteúdos, forma e opiniões neles expressos. A opção ou não pelas regras do Novo Acordo Ortográfco é da responsabilidade dos autores.
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6 Viagens, Paisagens, Imagens: Fotografia e Território Rui Jacinto 16 Melhor portfolio
tema 1
Paisagens, biodiversidade e património natural
23 Imagens vencedoras Portugal
26 A paisagem vista através de uma lente António Campar 29 Portfolios e imagens Brasil e o Mundo
51 Memórias geográficas, paisagens literárias Maria Auxiliadora da Silva, Thalita Xavier Garrido Miranda 55 Portfolios e imagens
tema 2
Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
73 Imagens vencedoras Portugal
77 Rural, modos de ficcionar Álvaro Domingos 80 Portfolios e imagens
índic Brasil e o Mundo
93 Paisagem, campo e cidade José Borzacchiello da Silva 98 Portfolios e imagens
índice
tema 3
Cidade e processos de urbanização
119 Imagens vencedoras Portugal
123 A cidade é passado e presente ansiando pelo futuro José Manuel Simões 128 Portfolios e imagens Brasil e o Mundo
146 A cidade, feixe de razões e temporalidades Maria Laura Silveira 149 Portfolios e imagens
tema 4
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
163 Imagens vencedoras Portugal
166 100 anosPeixoto é muito tempo. 100 quilómetros é muito longe Paulo 169 Portfolios e melhores imagens
e
Brasil e o Mundo
178 Cultura e Sociedade: Diversidade Cultural e Social Roberto Lobato Corrêa 181 Portfolios e melhores imagens 196 Legendas e comentários das imagens
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Viagens, Paisagens, Imagens: Fotografa e Território Rui Jacinto * “As fotografias são uma forma de im obilizar e aprisionar a realidade, considerada rebelde e inacessível. Ou ainda de ampliar uma realidade que sentimos retraída, esvaziada, perecível, remota. Não se pode possuir a realidade mas pode possuir-se (e ser-se possuído por) imagens” (Sontang, 1986: 144).
tentável”, arrisca-se a ter igual sorte de tantas outras declarações, feitas no último quarto de século, igualmente generosas, que o tempo revelou inconsequentes. que a cada minuto nos chegam através de diferentes Lembremos as propostas que levaram à revisão do meios e suportes mostram como são mutáveis os maConceito e Medição do Desenvolvimento Humano, pas materiais e afectivos que moldam a percepção do defendida no Relatório do Desenvolvimento Humano mundo que nos rodeia. Ainda não terminou 2015, de- (1990), da agenda para um desenvolvimento global, clarado Ano Mundial do Solo e Europeu do Desenvol- onde se destacaram os “Objetivos de Desenvolvimento vimento, e os nossos olhos já estão cheios de imagens do Milénio” (2003), uma ambiciosa assumpção que da escalada da guerra, dos atentados ao património e preconizava “Um Pacto Entre Nações para Eliminar a das diferentes crises, das económicas e sociais às políti- Pobreza Humana”. Sem lograrem resultados palpáveis, cas, que persistem e teimam em alastrar. A icónica estas (boas) intenções, acabaram por se banalizar, imagem do menino sírio, de apenas três anos, resgata- descredibilizar, quiçá, desacreditar. Contudo, o tempo do sem vida, numa praia do Mediterrâneo, continua acabou por enriquecer a agenda do desenvolvimento cravada na nossa retina, alertando consciências para global com a inclusão de temas tão díspares quanto a importância do momento crítico que atravessamos. pertinentes: Participação das Pessoas, Segurança
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otografia e cultura territorial: o estado do mundo e a reconstrução material e afetiva da sua percepção. As fotografias que captamos e as
O impacto, a emoção e a corrente de solidariedade geradas por esta fotografia acabou por ser tão efémera como outras que a antecederam, mostrando a incapacidade das imagens resistirem, nos dias que correm, à voracidade da comunicação.
Género e Desenvolvimento, Crescimento Económico Erradicar a Pobreza, Padrões de Consumo, Direitos Humanos e Desenvolvimento Humano, Novas Tecnologias, Liberdade Cultural, Cooperação Internacional, Água (Escassez e Crise Mundial da Água; Alterações Climáticas, Mobilidade, Sustentabilidade e Equidade, Reduzir as Vulnerabilidades e Reforçar a Resiliência.
As mensagens igualmente positivas, entretanto surgidas, parecem aguardar destino semelhante, como a recente encíclica, “Laudato Si - sobre o cuidado da casa comum”, anunciada em 18 de Junho. Este veemente apelo do Papa Francisco para se cuidar do ambiente fazendo um uso mais justo e uma gestão mais equilibrada dos recursos (solo, ar, água, património, etc.), consentânea com o apelidado desenvolvimento “sus-
Muitas destas preocupações pareciam exteriores e distantes da Europa, que vivia entre euforia e deslumbramento a queda do Muro de Berlim (1989), até ao momento em que lhes começaram a bater à porta. A crise que se agravou depois de 2008 foi esvanecendo um estado de espírito que atingiu a economia e conta-
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minou a sociedade, com índices de desemprego desesperantes, até atingir o âmago da construção europeia, ressuscitando memórias e fantasmas que se julgavam sepultados. A situação financeira da Grécia, que atingiu o seu zénite em 2015 numa dramática cimeira, realizada em Bruxelas num interminável domingo de Julho, convocada para “negociar” a resolução deste problema, havia de se prolongar, ininterruptamente,
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espírito crítico e aumenta o risco da liberdade se diluir numa cultura visual que resvala cada vez mais para o puro entretenimento. Tais acontecimentos ocorrem quando “a economia afectiva dos corpos mudou, enquanto os nossos modelos mentais correspondentes não desapareceram ainda. O mapa material (demográfico, comunicacional, urbanístico) do nosso país modificou-se e, com ele, o mapa dos nossos investimentos
terminar sem honra nem glóriaacordou quando diferenjá ia alta afectivos. A paisagem é um corpo. o horizonte aantes manhã de segunda-feira. A Europa espiritual do nosso povo inteiro, dosMas nossos homens te, suspensa e sobressaltada, à mercê dum futuro mais políticos e dos nossos governantes, com excepção de incerto. certos artistas e homens de cultura, continua a ser o de antigamente, não tendo sequer integrado as transO quadro, já de si complexo, agravou-se com a crise formações da cartografia do espaço físico e do tempo” emigratória, de dimensões e consequências impre(Gil, 2005: 73). visíveis, o que faz aumentar a pressão da “fronteira da fome” que, galgando o Mediterrâneo, invade o A nova cultura territorial implica uma nova percepção continente. Todas estas dinâmicas e incertezas estão a do mundo e do espaço vivido cuja renovação também mudar o estado do mundo e a geopolítica, acentuando passa pelas viagens que se fazem, reais e virtuais, as desigualdades económicas, sociais e territoriais que as paisagens que se alcançam e as imagens que se moldam as geografias emergentes, das globais e eurointeriorizam. Embora passado, portanto, já memória, peias às nacionais e locais. No plano doméstico não qualquer fotografia desperta sentimentos que nos estamos imunes a processos tão violentos e dolorosos, surpreendam e emocionam onde é possível alicerçar a tanto mais que as políticas públicas encetadas desde réstia de sonho indispensável para perscrutar o futuro que Portugal aderiu à CEE, entre virtudes e defeitos, não lograram reverter as assimetrias estruturais existentes, vulnerabilidades que se agudizaram e adquiriram novos contornos com a recente crise.
com mais esperança. “A fotografia, sendo uma forma de comprovar a experiência, é também um meio de a negar, ao limitá-la a uma procura do fotogénico, ao convertê-la numa imagem, numa recordação. A viagem torna-se uma estratégia para acumular fotografias. O próprio acto de fotografar é tranquilizante e atenua a sensação de desorientação que as viagens provavelmente exacerbam” (Sontang, 1986: 19).
O panorama imagético do mundo e do país mudou com este turbilhão de transformações, acompanhado duma produção avassaladora e exponencial de imagens e da subtil substituição da palavra escrita pela imagem e pelo audiovisual, colocando-nos à beira duma poluição visual que incapacita a retenção, com perenidade, de testemunhos visuais representativos do tempo que vivemos. Semelhante evolução, além de diminuir a capacidade de refletir e imaginar, reduz o
Viagem e fotografia: retalhos do mundo, fragmentos da memória. A viagem e a fotografia são indissociáveis
porque é absolutamente necessário deslocarmo-nos
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para captar imagens e possuir um registo fotográfico para garantir a sua efetiva realização. A viagem, hoje, só parece existir quando temos uma imagem que a testemunhe, qual troféu que se exibe para gáudio pessoal, provar como somos nómadas e cosmopolitas, documento que se guarda para memória futura. A necessidade de termos um registo faz com que cada um recorra a técnicas diferentes conforme as que melhor
e variadas: sem recuarmos a um tempo mais longínquo, lembremos a viagem de Alexander von Humboldt pela América do Sul, entre 1799 e 1804, que relatou em Viagem às Regiões do Equinócio do Novo Continente, ou a realizada por Xavier de Maistre, feita nove anos antes, num espaço fechado, na primavera de 1790, durante os meses da sua convalescença, que srcinou a célebre Viagem à Volta do Meu Quarto.
domina: “aa aguarela ou ou a fotografia, o poema ouaocarta desenho, nota breve a longa dissertação, ou o postal. Cada suporte invoca um tempo singular: a velocidade excessiva da máquina fotográfica por um lado, a demorada paciência da escrita por outro, a imagem aqui o texto acolá, a cor misturada com a água num caso, traço vivo, seco e cursivo no outro, o verbo” (Onfray, 2009: 54).
Estas duas aproximações traduzem abordagens radicalmente distintas da viagem: “a primeira necessitou de dez mulas, trinta baús de bagagem, quatro intérpretes, um cronómetro, um sextante, dois telescópios, um teodolito Banda, um barómetro, uma bússola, um higrómetro, cartas de recomendação do rei de Espanha e uma pistola. A segunda, um pijama cor-de-rosa e um pijama azul” (Botton, 2004: 240).
A captação de imagens tornou-se numa importante motivação para se realizarem viagens que, juntamente com a sua turistificação, alteraram tanto a vivência como o encantamento que as envolviam. Por esta razão, há quem considere que “a viagem distorce a nossa curiosidade vinculando-a a uma lógica geográfica superficial. Tão superficial como seria a de um programa
Foi nesta última que Almeida Garrett se inspirou para engendrar, por oposição, as suas típicas, simbólicas e míticas Viagens na minha terra, publicadas sob a forma de folhetim, durante os anos de 1845 e 1846, que abriu com a seguinte observação: ”Que viaje à roda do seu quarto quem está à beira dos Alpes, de inverno, em Turim, que é quase tão frio como S. Petersburgo —
de estudos universitários que fizesse as suas indicações bibliográficas considerando o seu volume em vez do seu conteúdo” (Botton, 2004: 126). Contudo, nunca deixou de existir um entendimento, porventura mais romântico e telúrico, para quem “o viajar é viver”, “é ampliar de um modo indefinido a existência”, pois “a imobilidade pertence aos túmulos: à vida pertence o movimento” (Herculano, 189…; 185-8). Os que cultivam esta perspetiva continuam a acreditar que “de vez em quando, em viagem, acontece alguma coisa inesperada que transforma toda a natureza da vida e fica com o viajante” (Theroux, 2012: 355).
entende-se. Mas com este clima, com essear que Deus nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, eo mato é de murta, o próprio Xavier de Maistre, que aquiescrevesse, ao menos ia até o quintal.” É a proposta duma viagem alternativa, a céu aberto, que fosse inspiradora de “pensamentos novos, uma coisa digna do século”, que não srcinasse nem se resumisse a “quaisquer dessas rabiscaduras da moda que, com o título de Impressões de Viagem, ou outro que tal, fatigam as imprensas da Europa sem nenhum proveito da ciência e do adiantamento da espécie.“ Nesta viagem que empreendeu Tejo arriba, onde “está simbolizada a marcha donosso progresso social”, o autor critica “esta gente de Lisboa” que “não vêem mundo, não viajam, não saem” e que,
Os motivos e as formas de viajar sempre foram muitas
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não indo além do Chiado, da rua do Oiro e do teatro de S. Carlos, “como hão-de alargar a esfera de seus conhecimentos, desenvolver o espírito, chegar à altura do século?” Por essa altura, viajar para conhecer mundo começa a ser sinónimo de cosmopolitismo, como nos dá conta Eça de Queiroz, em As cidades e as serras, livro pu-
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esbaforido, para a superfície do brilho das coisas (o ideal seria cortar-lhes as pálpebras!), e o aristocrático – em que os homens dão ao mundo a honra de se deslocarem, para continuarem no empenho de desconhecê-lo. Uns buscam, passivos, o que lhes mostram. Os outros trazem em si o que depois fingem encontrar” (Ferreira, 1971: 31. O modo de viajar, como de fotografar, mudou ao ponto de assumir possibilidades quase
blicadocom em 1901, ano depois sua morte: “Parti então, muita um alegria, para a da minha apetecida romagem às Cidades da Europa. Ia viajar!... Viajei.” Estávamos nos alvores do turismo de massas, que o autor antevia com esta apreciação irónica: “Trinta e quatro vezes, à pressa, bufando, com todo o sangue na face, desfiz e refiz a mala. Onze vezes passei o dia num vagão, envolto em poeirada e fumo, sufocando, a arquejar, a escorrer de suor, saltando em cada estação para sorver desesperadamente limonadas mornas que me escangalhavam a entranha. Catorze vezes subi derreadamente, atrás dum criado, a escadaria desconhecida dum Hotel; e espalhei o olhar incerto por um quarto desconhecido; e estranhei uma cama desconhecida, de onde me erguia, estremunhado, para pedir em línguas desconhecidas um café com leite que
infinitas, umas mais desassossegadas são os viajantes. O que vemos, não é-o“As queviagens vemos, senão o que somos” (Fernando Pessoa) -, outras mais metafóricas e sentimentais, como as sugeridas por Mia Couto: “Lançamos o barco, sonhamos a viagem: quem viaja é sempre o mar” (Mar me quer); “A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores. A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar” (O outro pé da sereia: 77).
me sabia a fava, um banho de tina que me cheirava a lodo. Oito vezes travei bulhas abomináveis na rua com cocheiros que me espoliavam” (etc., etc.). Remata esta passagem do livro de maneira caustica: “Gastei seis mil francos. Tinha viajado.”
Quando o viajante se sentou na areia da praia disse: “não há mais que ver”, sabia que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo doutra”. Voltar a percorrer caminhos e lançar novos, distantes e mais (des)comprometidos olhares é aceitar que “viajar não faz bem apenas aos homens,/ também, é bom para os próprios percursos/ ter homens que os percorram./ Um caminho é como uma casa:/ é necessário abrir a janela, de vez em quando, / para que o ar circule./ Precisa de ser arejado, o caminho, e os homens/ que o percorrem são os que executam este ofício./ São os homens e as mercadorias/ que conservam a estrada” (Tavares, 2011) Visitar velhos itinerários é, por vezes, expressar o desejo de regressar ao lugar de partida,
Os nómadas em que nos transformamos, como concluiu Saramago ao fazer a sua Viagem a Portugal, deixaram de estranhar que “a viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa.
Quando o turismo de massas já dominava e se havia afirmado como verdadeira industria José Gomes Ferreira fornece-nos um retrato mais consentâneo com esta modernidade emergente: “Em meu entender, a intricadíssima arte de viajar pode resumir-se em dois estilos essenciais: o turístico, inerente a uma multidão de monstros de olhos muito abertos que olham, olham, OLHAM, com entusiasmo de rebanho
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como se depreende das imagens que as comunidades em diáspora partilham nas redes sociais. São imagens de virtuais viagens às respetivas srcens, exercício de memória contra o esquecimento, afirmação de pertença contra a perda de referências dum território e duma comunidade a que se continua umbilicalmente ligado. “Eis como funciona a memória: recolhe na imensidão extensa lenta da diversidade os pontos de referência
seu imediato. Emoções difusas, percepções desordenadas, ideias confusas, fragmentos e pedaços de real sem qualquer relação à partida, a não ser o facto de serem apreendidos em determinado lugar, tempo, hora e sítio” (Onfray, 2009: 52).
vivose efortalecimento densos necessários à cristalização, reconstitui-da ção, das recordações. A substância recordação é aquilo que deslumbra o espírito depois de abandonada a geografia” (Onfray, 2009: 52). Assim se combate a ausência e se alimenta a expetativa dum regresso às srcens, ao torrão natal, às pequenas pátrias que nunca deixam de ser a nossa casa comum.
à reveliaentão dos nossos desejos Talvez a paisagem nãoe dos sejanossos senão talentos. a metáfora de uma exterioridade distante e maior, muito maior, que as leis e os livros. À apreensão do espaço que a paisagem é, talvez não possa afinal aplicar-se nem a mediação do peso da história nem a da s narrações, mas tão-só esse outro mistério que a intuição é. O espaço percebido deixará então de oferecer-se como representação para revelar-se como imagem, imagem do próprio espaço” (Carvalho, 2005: 129).
As imagens captadas durante tais itinerários são crónicas de lugares onde se demorou o olhar a procurar o outro mas que é, tantas vezes, uma tentativa desesperada de nos encontrarmos a nós mesmos. Tais imagens, sejam banais subprodutos da viagem ou documentos intencionais recolhidos por profissionais, são o espelho dum mundo em mudança, retrato da transformação de lugares que, assim, vão perdurar na
“A paisagem está lá, para dizer que o mundo exterior existe e nos escapará sempre um pouco,
Paisagens e imagens fugidias: fixar sinais dum mundo que nos escapa. As imagens submetidas a
concurso, sobretudo as seleccionadas para figurarem no presente catálogo, esboçam distintas cartografias
memória. Embora a fotografia seja “uma língua estrangeira que todo mundo acha que sabe falar” (Philip-Lorca di Corcia), é uma linguagem indispensável para recolhermos os retalhos do mundo e, a partir destes fragmentos da memória, contarmos a história da permanente viagem, porque, como ensina qualquer Manual do Viajante, “é muito raro poder dizer-se que uma viagem é perfeita antes de acabar. Mas acontece” (Mendonça e Costa, 1907). As imagens que ficam do tempo que passa são “a substância da recordação é aquilo que deslumbra o espírito depois de abandonada a geografia”. Porque, antes de mais, “é preciso tomar em consideração esse conjunto de imagens e de sensações ao qual se reduz inevitavelmente uma viagem no
onde se inscrevem e perpetuam a memória dos lugares. Desenhada a partir de traços naturais e humanos e de modos de vida, rurais e urbanos, que teimam em subsistir, estas complexas topografias são referências incontornáveis que definem, identificam e decifram o código genético das paisagens e das comunidades que as foram moldando. Paisagens, biodiversidade e património natural .
O mosaico paisagístico que o catálogo permite percorrer é trespassado pela diversidade de contextos onde se observam distintas relações entre o homem e o meio. Há uma presença forte do mar, limitado por praias, arribas e escarpas que o céu prolonga
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em infinitos reflexos espelhados na água e nostálgicos pôr-do-sol. O tempo é um grande escultor (geo)morfológico, de vales, como os modelados por glaciares, de cavernas, com as suas estalactites e estalagmites, de (geo)monumentos, quando se conjuga favoravelmente a estrutura e a litologia do terreno. Há, ainda, paisagens antropizadas, onde o homem explora recursos, seja a pesca, a extração
quase sem agricultura, em renaturalização devido ao abandono: retratam fechaduras de portas que já não se abrem, casas antigas, abandonadas, em ruínas; a aldeia é um mundo onde se confrontam presença e ausência e a relação tensa entre tradição e modernidade pré-anuncia a transição dum paradigma do espaço para o do tempo, ditando uma nova empatia dos ausentes e dos exógenos com estes territórios.
de sal ouoahorizonte. energia eólica, cujas torres começam Paa pontuar As paisagens consideradas trimónio da Humanidade estão bem representadas tanto pelas que sofreram uma forte ação do homem (socalcos do Douro, p. ex.) como pelos que ainda se apresentam em relativo estado puro (Lençóis Maranhenses).
No limiar dummitifica novo tempo, o discurso sobre o rural uma estética queimagético se expressa mais através de imagens a preto e branco, recorre a retratos de pessoas deslocadas no tempo, marcadas pela ausência e por modos de vida que nos parecem distantes. Cidade e processos de urbanização. As topografias
Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida. O despovoamento, o envelhecimento e o
abandono são retratos que se impuseram, depois dos campos terem sofrido, ao longo de mais de meio século, sucessivas vagas de crises com diferentes matizes. A agricultura mais moderna, competitiva e tecnologicamente evoluída está pouco representada, prevalecem as imagens de hortas cultivadas por idosos, rendidos à pura subsistência. Os sinais de vitalidade nos campos chegam dos países do Sul, das pampas argentinas ou dos sertões do Paraná, colonizados pelo agronegócio. Os modos de vida que os concorrentes mais valorizaram são os de pendor tradicional, em vias de extinção (pastores, transumâncias, matança do porco, capeia raiana, etc.), as atividades, as profissões e os saberes artesanais ligados a uma fase proto-indústria e (ferreiro, moleiro, alfaiate, etc.). Nas aldeias procuram marcas do património e da arquitetura rural, certos detalhes e alguns e estereótipos dum passado glorioso quando eram os núcleos que organizavam o espaço e a sociedade rural. O que nos mostram é um rural
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da memória e as contradições urbanas estão plasmadas em imagens que mostram o contrate entre o novo e o velho, o antigo e o moderno, sinais do passado e da modernidade que se espelham tanto na nova arquitetura como nos vazios e espaços abandonados que proliferam nos centros e nas periferias. As cidades estão em permanente transformação, coexistindo espaços públicos novos ou renovados paredes-meias com vazios e ruínas - alguns centros históricos são situações paradigmáticas -, que o colorido dos graffiti assinalam e destacam. As paisagens, os ambientes e as vivências urbanas mudam ao ritmo das refuncionalizações e das novas centralidades, vincando ainda mais segregação (favelas, p. ex.), a pobreza e a solidão urbana. Cultura e sociedade: diversidade cultural e social. O catálogo permite uma viagem a diferentes
lugares emblemáticos das mudanças que percorrem o mundo, visitar paisagens naturais e humanas mais ou menos familiares ou exóticas. O contacto com outros povos e outras culturas d’aquém e
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d’além fronteiras permite conhecer outros modos de vida, usos e costumes que se registam para memória futura. Bases de futuros diálogos e cooperação entre territórios e culturas. Recolhidas em aprazíveis viagens, encontros inesperados ou momentos insólitos, as imagens aqui partilhadas oscilam entre uma beleza bucólica e
O investimento que é feito para divulgar, promover e construir novas imagens de territórios e lugares é correlativo da proliferação de folhetos, desdobráveis e livros editados por diferentes entidades. As imagens incluídas neste catálogo não se inscrevem nesta preocupação, exploram outros pontos de vista, abordando a partir doutros ângulos lugares perdidos no mapa, longe da vista e porque, aparentemente, nada de rele-
onírica, mostram que idealizamos intemporal, e oterritórios seu opostoou quando a exclusão de pessoas, denunciam efeitos negativos sobre o meio. Exprimindo tensões e conflitos ou retratando desastres naturais ou o sofrimento humano as fotografias não são inócuas, tanto mais que o ato de fotografar implica selecionar o que se pretende mostrar e escolher o que fica de fora: “enquadrar é excluir, é delimitar um in e um off, é, finalmente, fraccionar o mundo, privilegiar um aqui contra um ali, de forma tal que o nosso olhar é incapaz de fixar do mesmo modo. Escolher um “aqui” equivale, finalmente, a escolher um “agora”; oblitera-se um “além” e um “aquém” como se despreza um “antes” e um “depois” (Castello-Lopes, 2004: 83).
vante aí acontece, foram apagadosrepresentada e esquecidospela pela (in)cultura territorial dominante generalidade dos média. A srcem e o principal objectivo do Projecto Transversalidades é o de resgatar através da imagem territórios silenciados, promover a inclusão de lugares e de pessoas que foram sendo remetidas para a lonjura do esquecimento. Ao reconhecer a importância e o valor estético, documental e pedagógico da imagem, além de promover a cooperação entre instituições e territórios, o Transversalidade contribui para recentrar periferias, desencravar e incluir territórios para, deste modo, promover através duma cultura visual e territorial renovadas uma nova geografia visual e inclusiva.
* CEI, CEGOT – Universidade de Coimbra. Referências: Alain de Botton (2004) – A arte de viajar. Dom Quixote. Bruce Chatwin (2008) – Anatomia da Errância. Quetzal. L. Mendonça e Costa (Coord.; 1907; 1940) – Do Manual do Viajante em Portugal (Descrição de viagens em Portugal, continuado por Carlos d’Ornelas, 7ª ed. 1940. Michel Onfray (2009) – Teoria da viagem. Uma poética da geografia. Quetzal. Paul Theroux (2012) – A arte da viagem. Quetzal.
Alexandre Herculano. Apontamentos de viagem [1853-1854]. Bertrand, 1973 (pref. e notas de Vitorino Nemésio). Gonçalo M. Tavares (2011) – Uma Viagem à Índia. Caminho. José Gomes Ferreira (1971) – O Irreal quotidiano. Histórias e invenções. Portugália. José Saramago (1983) – Viagem a Portugal. Caminho. Mia Couto (2006) – O outro pé da sereia. Caminho. Ruy Duarte Carvalho (2005) – As paisagens propícias. Cotovia. Gérard Castello-Lopes (2004) – Reflexões sobre a fotografia. Assírio & Alvim. José Gil (2005) – Portugal, hoje: o medo de existir [Da economia dos afectos], Relógio d’ Água. Susan Sontang (1986) – Ensaios sobre fotografia. Dom Quixote.
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Javier Arcenillas, Espanha 11.4.6. Vertedero de Tegucigalpa *(1) Vertedero de Tegucigalpa (Honduras), 2014 11.4.2. Vertedero de Tegucigalpa *(2) Vertedero de Tegucigalpa (Honduras), 2014
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11.14.1. Vertedero de Tegucigalpa *(3) Vertedero de Tegucigalpa (Honduras), 2014
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Javier Arcenillas, Espanha 11.4.3. Vertedero de Tegucigalpa *(4) Vertedero de Tegucigalpa (Honduras), 2014 11.4.4. Vertedero de Tegucigalpa *(5) Vertedero de Tegucigalpa (Honduras), 2014
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11.4.5. Vertedero de Tegucigalpa *(6) Vertedero de Tegucigalpa (Honduras), 2014
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I Paisagens, biodiversidade e património natural
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Ary Attab Filho, Brasil 2.1.1 Lençóis I *(7) Barreirinhas MA (Brasil), 2014
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I Paisagens, biodiversidade e património natural
menções honrosas
João Pedro Costa, Portugal 38.1.3. Concentração *(8) Fortaleza de Sagres (Portugal), 2014
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Asier Gogortza, Pais Basco 41.1.2 Bertze Aldea 2 *(9) Bera/Sara (Pais Basco), 2015
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I Paisagens, biodiversidade e património natural
A paisagem vista através de uma lente António Campar de Almeida * uando se fala de paisagem vem imediatamente à ideia, para o comum das pessoas, a visão de um espaço, mais ou menos afastado do observador, mas onde este consegue distinguir os seus elementos constitutivos, permitindo que, a qualquer momento, a descreva e distinga de outra qualquer. Porém, a paisagem é mais do que um cenário estático, não se pode caraterizar apenas pelo que é visto num determinado momento. Qualquer paisagem carrega uma história repleta de eventos com maior ou menor grau de traumatização, diga-se de transformação rápida, intercalados com tempos de maior estabilidade, mesmo as paisagens ditas naturais. Ou seja, a paisagem é dinâmica, e esta é mais ampla do que aquilo que é deduzido pela observação do resultado visto num determinado momento. Significa que cada paisagem resulta da transformação, natural ou humana, de outras paisagens que a antecederam. Ora, há elementos destas que vão ficando preservados, restantes. Cabe, então, ao observador mais atento e desperto para esta
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Para além do aspeto sensorial, tangível, das caraterísticas da paisagem, há as componentes emocional e simbólica que, em regra, são tanto mais fortes e arreigadas quanto o observador faz parte dessa paisagem e, em especial, se nela reconhece muito do seu contributo ou apenas muita da sua vida. Neste caso, passa-se do campo objetivo para o subjetivo e, porventura, psico-religioso. Mais facilmente, porventura, estas pessoas reconhecem os elementos tangíveis e intangíveis da “sua” paisagem, imbuindo-se do espírito do lugar, ou seja identificando-se com ela, condição para a identidade local dessa paisagem. Essa identidade local tem-se alargado para níveis regionais, nacionais e até internacionais, na sequência da cada maior facilidade de circulação das pessoas e do papel dos meios de comunicação social na divulgação das paisagens mais valoradas e apreciadas em função de diversificados critérios. E há pessoas que se ligam emocionalmente a paisagens, por vezes apenas a partir da observação de fotografias.
realidade identificá-los e, se esse for o seu intento, salientá-los como resquícios patrimoniais, naturais ou culturais, consoante o caso, capazes de traduzir ou representar cada uma das paisagens desaparecidas e, se possível, reproduzi-las, embora concetualmente, por comparação com casos por si conhecidos.
Se há tecnologia que se adapta bem à representação da paisagem é a da fotografia. Pelo menos se entendermos paisagem no sentido comum daquilo que a nossa vista alcança e discerne da superfície terrestre, sólida ou líquida. Neste sentido, ainda comum, qualquer trecho, maior ou menor, de espaço terrestre captado pela objetiva de uma máquina fotográfica reproduziria uma paisagem. Neste caso, estaríamos perante uma conceção bastante limitada de paisagem, mas também de fotografia de paisagem.
A paisagem, porém, também é caraterizável pelos outros sentidos (do som, do cheiro, do gosto, do tato). Os dois primeiros, em especial, podem ser muito impressivos. Há sons e cheiros que se identificam com certas paisagens, de modo que quando são sentidos por quem foi marcado por eles, têm o condão de lhes fazer reviver ou rever essas paisagens.
A paisagem é, na essência, heterogeneidade: na sua composição, na sua morfologia, na sua estrutura e
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orgânica, na sua evolução e dinâmica, na sua perceção e aqui não se deve ter apenas em conta o sentido visão, mas todos os outros sentidos, como foi acima referido, nas emoções e sentimentos que despertam, onde o sentimento de identidade pode ser muito forte. Ou seja, um campo muito vasto de modos de abordagem, que podem ir desde os mais positivistas de caraterização biofísica do espaço, às estruturas criadas
de ramos, cicatrizes de fogos, tantas vezes múltiplos, e há que escolher bem o ângulo para conseguir apanhar o máximo dessa história que consegue contar. Há casos, no entanto, em que a vetustez de algumas árvores chegam a enganar os mais conhecedores e a história da paisagem acaba por ser deturpada, como aconteceu, por exemplo, com o conhecido cedro-do-Buçaco, de facto um cipreste srcinário das montanhas da Amé-
pelasmais comunidades queaos aí mais permaneceram por ou menos humanas tempo, até subjetivos de apreciação e valoração da mesma paisagem, por quem esteja dentro ou esteja fora dela.
rica Central, mas queem ao 1768, ser classificada botânico inglês Philip Miller, a partir depelo exemplares levados de Portugal, onde havia árvores com mais de cem anos, o levou a atribuir-lhe o nome específico de português, Cupressus lusitanica. Antes de 1640 não deveria existir qualquer exemplar desta espécie no Buçaco, de onde teriam sido levados exemplares.
A fotografia de paisagem só o é quando o lampejo correspondente à obtenção da imagem pela objetiva consegue captar os mais importantes elementos caraterizadores da paisagem. É desejável que mostre a sua alma, o espírito do lugar, o seu caráter, aquilo que a singulariza ou pelo menos a torna tão valiosa ao olhar do mais exigente observador. E aqui entra a subtileza, a finura, de observação do fotógrafo que vê mais do que aquilo que a sua vista alcança, vê umas vezes com a razão, outras vezes com o coração. A subtileza manifesta-se muitas vezes no elemento que na fotografia
A paisagem, além da sua evolução e dinâmica ao longo do tempo, tem movimentos, aromas, sons que a atravessam em cada momento. A boa fotografia consegue transmitir o movimento, por exemplo através do ondulado de uma ceara ou do estiramento das folhas e ramos num sentido quando impulsionados pelo vento, ou ainda pela queda das folhas das árvores no outono, mas também através do voo ou corrida
é “puxado” para primeiro plano porque protagoniza toda a evolução, todas as condições que explicam a composição daquela paisagem. Uma simples construção humana – um marco, um cruzeiro, uma cabana – inserida no meio de uma matriz florestal igual a tantas outras, noutras áreas, pode ser o elemento distintivo e valorativo daquela paisagem. A rugosidade da face tisnada de um agricultor ou de um pescador mostra a exposição frequente e longa à dureza dos elementos naturais que foram moldando aquela face durante inúmeros verões escaldantes e invernos inclementes. As árvores velhas, especialmente se isoladas, também se prestam bem a este protagonismo. Nestas, as rugas são diferentes, são as feridas de grandes cortes ou derrubes
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de animais, ou então da água em fios leitosos numa cascata ou rápido de um rio ou ainda as ondas e a sua espuma. As dunas eólicas, como está implícito na sua denominação, existem pelo movimento do ar, pelo vento. E as pequenas rugas na superfície das dunas, os ripples , até indicam a orientação do vento que esteve a soprar quando da sua formação e, grosseiramente, a sua velocidade – é todo um conjunto de informações que é dado por uma fotografia bem tirada, aproveitando uma inclinação devida do Sol. As poeiradas e os fumos, de srcem natural ou humana, são sempre um indicador de movimento. Já os sons e os aromas exigem um maior conhecimento por parte do observador da fotografia para os percecionar na paisagem. Em
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alguns casos é fácil deduzi-los através da posição da boca ou do bico dos animais, da queda de chuva, da presença de máquinas em movimento, da presença de flores de aroma agradável, mas também de substâncias com cheiro que se sabe desagradáveis, etc. No caso das dunas, o movimento das areias também tem um som específico, resultante do facto de saltarem e chocarem com outras na superfície. Em quaisquer destas
à observação por parte da maioria das pessoas. Pelo menos somos levados a concluir isso pelo que tem sido construído junto à costa de modo a que o mar esteja sempre à vista por quem descansa, conversa, passeia, corre, almoça ou simplesmente toma um café. Não basta haver uma avenida paralela à praia a algumas dezenas de metros de distância, se há uma duna a interpor-se, constrói-se um passadiço em madeira sobre
situações a fotografia ganha vida e a paisagem revela a sua respiração, o seu pulsar.
a duna para as pessoas a ver metros o mar! Um barfrontal ou restaurante a trintapassearem ou cinquenta da praia não é suficiente, constrói-se equipamentos equivalentes sobre a duna ou mesmo na praia! Somos, de facto um povo virado para o mar…
Em Portugal há uma paisagem que, apesar de relativamente monótona, o mar, é tida como muito apreciável
* Professor do Departamento de Geografia da Universidade de Coimbra, FLUC, CEGOT.
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Paulo Bizarro, Portugal 12.1.5 Chuva de estrelas
12.1.4. Pontão *(12) Carcavelos (Portugal), 2013 12.1.2 Vazante *(13) Brejo Largo (Portugal), 2014
*(10) Costa Vicentina (Portugal), 2013
4.1.35.4.12.1.1 Remoinho *(11) Costa Vicentina (Portugal), 2014
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José Paiva, Portugal 87.1.3 Bridge *(14) Cabo Raso (Portugal), 2014
4.1.35.4.87.1.2. Milky Way *(15) Praia da Adraga (Portugal), 2014
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87.1.4. Stormy sunset *(16) Serra S. Macario (Portugal), 2014 87.1.1. Motion *(17) Praia da Adraga (Portugal), 2014
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Vanda Rita, Portugal 84.1.1. Enseada do beliche *(18) Beliche - Sagres (Portugal), 2015
4.1.35.4.84.1.3. Costa Vicentina *(19) Praia da Barriga - Vila do Bispo (Portugal), 2014
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84.1.2. No fim do Mundo *(20) Cabo de São Vicente (Portugal), 2015 84.1.4. Reflexos *(21) Praia da Cordoama (Portugal), 2014
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Rita Dinis, Portugal 30.1.4. Gaivotas em terra... *(22) Ericeira (Portugal), 2015
4.1.35.4.30.1.1. Caminhos que vão dar ao mar *(23) Ericeira (Portugal), 2015
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30.1.3. Contemplação *(24) Ericeira (Portugal), 2015 30.1.2. Raízes do meu ser *(25) Vila Nova de Milfontes (Portugal), 2015
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Maria Isabel Dias Nobre, Portugal 51.1.3. As Arribas e o Mar *(26) Praia da Galé - Grândola (Portugal), 2015
4.1.35.4.51.1.4. Da praia à arriba *(27) Praia da Galé - Grândola (Portugal), 2015
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51.1.2.jpg Arribas Esculpidas *(28) Praia da Galé - Grândola (Portugal), 2015 51.1.1. Arriba Fóssil *(29) Praia da Galé - Grândola (Portugal), 2015
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Inês Pereira Leonardo, Portugal 50.1.3. Pedras do Parque Marinho
50.1.1. Costa de pedra, serra de vida *(32) Serra da Arrábida (Portugal), 2014 4.1.35.4.50.1.6. 50.1.2. Senhor da Pedra Pedra da Anicha *(31) Praia de Miramar, Vila Nova de Gaia (Portugal), 2014 *(33) Portinho da Arrábida (Portugal), 2013 *(30) Portinho da Arrábida (Portugal), 2013
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João Pedro Costa, Portugal 38.1.5. Tempestade Hércules *(34) Fortaleza de Sagres (Portugal), 2014
4.1.35.4.38.1.2. No limite *(35) Fortaleza de sagres (Portugal), 2014
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38.1.1. Linhas de Esperança *(36) Fortaleza de Sagres (Portugal), 2014 38.1.4. Camuflagem *(37) Fortaleza de Sagres (Portugal), 2014
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Pedro Bastos, Portugal 39.1.4. Ponte Vasco da Gama 1 *(38) Lisboa (Portugal), 2014
4.1.35.4.39.1.5. Ponte Vasco da Gama 2 *(39) Lisboa (Portugal), 2015
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39.1.3. Brumas 2 do Arouca Geoparque *(40) Arouca (Portugal), 2015 39.1.2. Brumas I do Arouca Geoparque *(41) Moldes / Arouca (Portugal), 2015
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Leandro Guardado, Portugal 116.1.3. Sob a ponte *(42) Cacilhas (Portugal), 2015
4.1.35.4.116.1.6. Reprodução *(43) Vila Franca de Xira (Portugal), 2015
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116.1.5. Sob a neve *(44) Serra da Estrela (Portugal), 2014 116.1.1. Acima do céu *(45) Serra da Estrela (Portugal), 2015
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Pedro de Oliveira Simões Esteves, Portugal 74.1.2. Reflexo *(46) Parque Natural da Serra da Estrela (Portugal), 2015
4.1.35.4.74.1.4. Neve *(47) Parque Natural da Serra da Estrela (Portugal), 2015
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74.1.3. Inverno *(48) Parque Natural da Serra da Estrela (Portugal), 2015 74.1.5. A montanha *(49) Parque Natural da Serra da Estrela (Portugal), 2014
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João Tremoceiro, Portugal 4.1.1. Manhã fria Trás-os-Montes #1 *(50) Macedo do Mato, Trás-os-Montes (Portugal), 2014
4.1.35.4.4.1.5. Manhã fria Trás-os-Montes #5 *(51) Macedo do Mato, Trás-os-Montes (Portugal), 2014
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4.1.2. Manhã fria Trás-os-Montes #2 *(52) Macedo do Mato, Trás-os-Montes (Portugal), 2014 4.1.3. Manhã fria Trás-os-Montes #3 *(53) Macedo do Mato, Trás-os-Montes (Portugal), 2014
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Delfim Pereira Ferreira, Portugal
Leonardo Guedes, Portugal
26.1.5. Lagoa *(54) Mira-Minde (Portugal), 2015 4.1.35.4.26.1.4. Carreiro *(55) Mira-Minde (Portugal), 2015
28.1.4. Rio Acima *(56) Região do Douro (Portugal), 2015 28.1.6. Socalcos *(57) Região do Douro (Portugal), 2015
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Rui Manuel Gaspar Gonçalves, Portugal
António Rilo, Portugal
81.1.5. Névoa matinal *(58) Polje de Minde - Mira (Portugal), 2014 4.1.35.4.81.1.3. O repasto *(59) Viera de Leiria (Po rtugal), 2014
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78.1.2. Apanha do Crico II *(60) Ria de Aveiro - Costa Nova (2013) 78.1.4. Apanha do Crico IV *(61) Ria de Aveiro - Costa Nova (2013)
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Daniela Tedim, Portugal 4.1.35.4.21.1.2. Primavera *(62) Porto (Portugal), 2013
21.1.3. Verão *(63) Porto (Portugal), 2012
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56.1.3. Andreia Rodrigues, Portugal Cores *(64) Póvoa de Lanhoso, Sobradelo da Goma (Portugal), 2014 96.1.1. Stela, Portugal Sunset Essence *(65) Praia do Porto de Mós, Lagos (Portugal), 2015
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73.1.4. Jorge Marques, Portugal A caminho da Praia *(66) Figueira da Foz (Portugal), 2013 68.1.5. Pedro Flávio Martins, Portugal Montanhas de Eólicas *(67) Serra da Estrela (Portugal)
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104.1.3. André Bernardes da Silva Dimas, Portugal Pôr do sol sobre o Farol *(68) Serra da Boa Viagem - Figueira da Foz (Portugal), 2014 75.1.4. Susana Pimenta Porteiro, Portugal Pôr do sol *(69) Estoril (Portugal), 2015
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23.1.2. Marta Carvalhinho Gomes Esteves, Portugal Praia Grande *(70) Ericeira (Portugal), 2014 47.1.6. Paulo Jorge Morgado Oliveira, Portugal Falésia *(71) Albufeira (Portugal), 2015
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80.1.5. Alexandre Manuel P A Nunes, Portugal Maré Baixa *(72) Estuário do Sado (Portugal), 2015 89.1.5. Diana Sofia Marques Gomes, Portugal Poluição nas Margens do Tejo *(73) Vila Franca de Xira (Portugal), 2015
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77.1.1. Maria João Silva, Portugal Anoitecer *(74) Carrasqueira - Sado (Portugal), 2014 89.1.3. Diana Sofia Marques Gomes, Portugal Gaivotas e Patos *(75) Vila Franca de Xira (Portugal), 2015
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20.1.3. João Costa, Portugal Amendoeira & filhos *(76) Sequeiros - Torre de Moncorvo (Portugal), 2015 46.1.1. Tiago Duro, Portugal Ponte sobre ponte... *(77) Gerês (Portugal), 2015
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20.1.6. João Costa, Portugal FugaDouro *(78) Torre de Moncorvo (Portugal), 2015 62.1.5. Jorge Alves, Portugal As árvores *(79) Queimadas - Santana (Portugal), 2015
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22.1.3. Inês M. Silvestre, Portugal Debut de la journee *(80) Almada (Portugal), 2015 102.1.2. Luís Carlos Ruas Coelho, Portugal Naturalidade da vida rural *(81) Piódão - Coimbra (Portugal), 2013
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85.1.4. Adriano José da Silva Costa, Portugal Floresta da saúde *(82) Sanatório da Guarda (Portugal), 2015 88.1.2. Rossana Ferreira, Portugal Estalactites ... *(83) Grutas de Alvados (Portugal), 2015
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32.1.2. Jonas Weber, Portugal Reflexo 2 *(84) Tábua - Candosa (Portugal), 2015 88.1.3. Rossana Ferreira, Portugal Estalagmites *(85) Grutas de Alvados (Portugal), 2015
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99.1.3. Rui Viegas, Portugal Vinhas *(86) Peso de Régua (Portugal), 2015 85.1.3. Adriano José da Silva Costa, Portugal Geometria gelada *(87) Guarda (Portugal), 2014
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96.1.4. Stela, Portugal Wild horses on a fog’s sunrise *(88) Aljustrel, Alentejo (Portugal), 2015 73.1.6. Jorge Marques, Portugal Vale Glaciar *(89) Serra da Estrela (Portugal), 2013
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109.1.1. João Pedro da Conceição Gaspar, Portugal No title *(90) Vila de Rei (Portugal), 2015 79.1.1.J Manuel Alberto Azevedo Gomes Novo, Portugal Nas Linhas da Natureza *(91) Darque - Viana do Castelo (Portugal), 2015
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11.1.5. Catarina Cardoso Sarabando, Portugal Pré-borboleta *(92) Mareco, Viseu (Portugal), 2014 75.1.3. Susana Pimenta Porteiro, Portugal Flor *(93) São João do Estoril (Portugal), 2015
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60.1.2. Luís Gonçalves, Portugal Moinho *(94) Lezíria Grande - Vila Franca de Xira (Portugal), 2015
64.1.2.jpg Patrícia Pereira, Portugal Velejar *(95) Barra, Aveiro (Portugal), 2015
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Memórias geográfcas, paisagens literárias Maria Auxiliadora da Silva * Thalita Xavier Garrido Miranda ** A imagem diz o indizível: as plumas leves são pedras. Há que retornar á linguagem para ver como a imagem pode dizer o que, por natureza, a linguagem parece incapaz de dizer (PAZ, 1996, p 44).
a união entre Geografia e Arte, o olhar geo-
pectos simbólicos e afetivos que ajudem a recompor a
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gráfico percorre diversas manifestações artísticas, ávido por decifrar como o espaço pode despertar os sentidos humanos e acumular significados e simbolismos que contribuem para a compreensão da sociedade. Através da combinação de palavras ou de sucessivas imagens, o ato criativo transfere a sensibilidade do artista para sua obra, e esta passa a carregar informações preciosas para pesquisadores interessados na relação sujeito-mundo.
realidade criada, que se fundamenta em uma realidade percebida, em uma memória geográfica.
Neste contexto o espaço geográfico aparece representado em diferentes manifestações culturais, como a literatura, o cinema, a fotografia, entre outros. E diante das possibilidades criativas envolvendo essas formas de arte, cabe ao geógrafo identificar espacialidades e temporalidades nas diversas versões da realidade, construídas a partir do imaginário e da memória de cada artista. No caso da literatura, parte-se do princípio que toda história acontece sobre um pano de fundo que transforma o espaço em elemento fundamental para a compreensão da totalidade representada pelo escritor. Até mesmo a poesia, muitas vezes, é inspirada pela atmosfera na qual o poeta está inserido e da qual retira elementos para compor seus versos. Sendo assim, ao caminhar ao lado de uma personagem fictícia dentro de um romance ou ao lado de um poeta numa poesia, o geógrafo é convidado a perceber o espaço através das sensações do narrador, na tentativa de decifrar as-
Nesse diálogo interdisciplinar, o geógrafo transita entre materialidades e imaterialidades, ora recorrendo à obra como um documento histórico que permite a reconstituição de espaços físicos, costumes e práticas sociais de um determinado período, ora recorrendo a aspectos mais subjetivos da realidade representada, explorando a obra como reveladora de parte da essência do mundo ou do ser no mundo (MARANDOLA JR., 2010). Na presente reflexão, considera-se que os dois caminhos sejam complementares, ambos colocando o pesquisador diante da possibilidade de aprofundar importantes discussões para o conhecimento geográfico, como o papel da memória e o estudo da paisagem. Um dos escritores baianos que trouxe o imaginário para seus livros, com narrativas bem situadas no tempo e no espaço, foi Jorge Amado. Sua obra foi produzida no século XX e ele soube bem entrelaçar a arte e a política, retratando contextos sociais da Bahia, baseado em vivências próprias, e remetendo à reflexão sobre o real. Assim como em outras obras de vários autores, percebe-se como o passado de um lugar colabora para a compreensão do presente através da memória. Felizmente, cada vez mais, os geógrafos recorrem à memória geográfica e ao estudo da paisagem para explicar o que se passa na cidade, no território. Grandes
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geógrafos como Jean Tricart, Pierre Monbeig, Orlando Ribeiro, Aziz Ab’Saber, entre outros, já estudavam a paisagem com o fim de ampliar o conhecimento da ciência geográfica, estimulando assim, a memória de seus alunos. Estudar a memória geográfica atravésda literatura é uma nova perspectiva, um assunto interessante devido a sua singularidade. Trata-se do olhar transdisciplinar no processo de conhecimento do
permitida através da sensibilidade do escritor, resgatada pela memória, surgem aspectos da dimensão cultural existente. Cada sujeito, em sua relação com o mundo exterior, apresenta uma forma particular de apreender as relações que conferem sentido àquilo que é visto e percebido. Mas essa apreensão está sempre carregada de elementos e valores da sociedade em que o sujeito está inserido. Nessa perspectiva, a literatura
passado e do percepção da presente, paisagem.valorizado pela memória e pela
pode ser considerada tórico e social no qualexpressão foi criada.viva do contexto his-
Além de expandir o espaço vivido pelo leitor, algumas obras literárias promovem a paisagem como reflexo da relação viva e permanente entre homem e espaço geográfico. Muitas vezes, a sensibilidade do escritor se volta para descrições detalhadas da paisagem numa profunda interação que, de fato, coloca a mesma como uma personagem a mais da trama. Assim, lança-se o olhar sobre um espaço animado, vivo, e através da memória compartilhada pelo escritor, o leitor chega a se apropriar das sensações descritas podendo interagir intimamente com a dimensão espacial criada.
A descrição literária de uma cidade, por exemplo, nos leva a recordar das cores, dos perfumes, dos ruídos, das praças, das ruas e ruelas, dos becos que se abrem para outras praças ou para um aglomerado de casas, enfim, dos elementos que compõem a dinâmica urbana. Na totalidade representada, ao imaginário sensitivo trazido pelo escritor, somam-se aspectos da realidade concreta, que alimentam esse imaginário.
Estabelece-se, dessa maneira, uma troca de experiências entre leitor e narrador, na qual a paisagem aparece como “espaço do sentir, ou seja, o foco srcinal de todo o encontro com o mundo” (BESSE, 2014, p.80). Ao superar o que está ao alcance da vista e o usual enquadramento do que é belo, a paisagem acompanha viva, em luz, cheiros e sons, o estado de espírito de quem nela se insere, seja de forma concreta ou recorrendo a imaginação. Segundo Dardel (2011), é através dessa interação com a paisagem que o sujeito entra em contato com a totalidade do seu ser, que percebe suas ligações existenciais com o mundo, ou sua geograficidade. E a partir dessa profunda interação com a paisagem,
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Ufú é a capital de Ifi, a nação mais rica de que a história tem notícia. Naturalmente, Ufú é a mais vasta cidade que os homens já construíram, e continua a crescer. Seu núcleo é constituído de vários núcleos menores divididos em centenas de avenidas vastíssimas, a tal ponto que ninguém nunca percorreu qualquer delas de uma ponta a outra, muito embora os habitantes de Ufú quase nunca andem a pé; passam boa parte de sua vida em ônibus, trens, subterrâneos, automóveis ou helicópteros. (GULLAR, 1997, p.7)
Assim, a paisagem literária, mesmo quando fictícia, como é o caso da cidade de Ufú imaginada por Ferreira Gullar, torna-se uma ponte que nos induz à compreensão da realidade. Godofredo Filho, professor, poeta, nascido em Feira de Santana, que adotou Salvador como sua cidade, encantou-se pela Ladeira da Misericórdia, cuja idade é da
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fundação da cidade de Salvador e, tomou-se de afetividade, fazendo dela um poema onde a memória passeia, ora pela realidade com a presença dos escravos, nobres e figuras históricas, ora pela ficção.
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Eu quase não falo Eu quase não sei de nada Sou como rês desgarrada Nessa multidão boiada caminhando a esmo (GIL, n.p.)
Tanto as paisagens da cidade de Salvador quanto as do Recôncavo Baiano, da Zona do Cacau e do Sertão Baiano, aparecem descritas nas obras de grandes
Em palavras como estas, o artista reflete as relações que os espaços estabelecem entre si em diálogo com
nomes tais como, Vasconcellos Jorge Amado,Maia, Godofredo Dorival Caymmi, Hélio Filho, Simões, Florisvaldo Matos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Santos, Jose Carlos Capinan com o seu “Canto quase Gregoriano” (de Gregório de Matos), só para citar alguns baianos (PINHEIRO; SILVA, 2004).
os personagens, relatando experiênciasdedeobras vida.literárias Nesse sentido, cabe ressaltar a importância que permitem acesso a paisagens menos visíveis, aquelas que nem sempre aparecem em cartões postais ou propagandas de turismo, mas que são igualmente animadas pelas pessoas que vivem ali.
Em suas obras, esses poetas, contistas, compositores e geógrafos, de ontem e de hoje, contam e cantam a seu jeito, as belezas e mazelas desses territórios, enaltecendo aspectos da paisagem no presente de suas vidas e nas memórias do passado, tais como: o mar, os pescadores de Xaréu, as praças, ladeiras, becos e ruas, as baianas de acarajé, os sabores, a conquista das terras do cacau, a seca do Nordeste, e os diversos tipos característicos que dão vida a esses espaços:
Prosseguindo pela literatura brasileira, é preciso citar os clássicos que elegem como cenário a paisagem do sertão, dentre os quais podemos destacar: Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa, Vidas Secas de Graciliano Ramos, e Os Sertões de Euclides da Cunha, cada um representando o sertão de uma parte do interior do Brasil. Ao retratarem a vida do povo sertanejo, exaltando a relação do mesmo com a paisagem, as obras citadas, entre outras tantas, reforçam identidades culturais e denunciam o cotidiano de um Brasil longe do foco de desenvolvimento. E apesar do tempo passado desde a publicação de cada um desses romances, algumas problemáticas abordadas continuam atuais.
Por ser de lá Do sertão, lá do cerrado Lá do interior do mato Da caatinga do roçado Eu quase não saio Eu quase não tenho amigos Eu quase que não consigo Ficar na cidade sem viver contrariado
Entre denuncias de realidades sociais e relatos das sensações humanas, a literatura exalta a relação sujeito-mundo em construções subjetivas, que colocam razão e emoção lado a lado em discussões geográficas. Ignorando fronteiras é possível penetrar inúmeras paisagens literárias, repletas de sentimentos e realidade. Da natureza percebida por Manoel de Barros no panta-
Por ser de lá Na certa por isso mesmo Não gosto de cama mole Não sei comer sem torresmo
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nal Mato-Grossense à urbanidade carioca retratada por Machado de Assis; Da África poética de moçambicano Mia Couto ao mar de lirismo do chileno Pablo Neruda; Do sossego da Cidade de Goiás nas palavras de Cora Coralina ao Desassossego moderno da Lisboa de Fernando Pessoa; Das cidades invisíveis de Ítalo Calvino às cidades inventadas do poeta Ferreira Gullar...
da leitura, cada leitor tem, por sua vez, a oportunidade de ressignificar as paisagens e lugares numa (re)construção permanente do espaço e da sociedade.
Assim, através da descrição delugar vivências e de acontecimentos de paisagem, cada representado na literatura, real ou imaginário, acumula uma carga de simbolismo e significado à medida que é vivenciado pelos poetas ou personagens. E a partir da experiência
leque degeográfico, possibilidades para aaberto produção conheci-e mento o diálogo entredegeografia literatura vem sedimentando a relação entre arte e vivência do espaço geográfico e, como uma boa prosa, parece estar longe de se esgotar.
Dando acesso ao indizível sobre os conflitos humanos e as problemáticas sociais, a arte literária, entre outras manifestações artísticas, se apresenta como matéria-prima dessa permanente construção. Ao oferecer um
* Professora Doutora do curso de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Bahia, coordenadora do Grupo de Pesquisa PEU (Produção do Espaço Urbano). ** Geógrafa, mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Bahia, sob a orientação da Professora Doutora Maria Auxiliadora da Silva, integrante do grupo de pesquisa PEU (Produção do Espaço Urbano). Referências: BESSE, Jean-Marc. Ver a terra: seis ensaios sobre a paisagem e a geografia. Tradução de Vladimir Bart alini. São Paulo: Perspectiva, 2014. DARDEL, Eric. O homem e a terra . São Paulo: Perspectiva, 2011. GIL, Gilberto. Lamento sertanejo . [s.n.]. Não paginado. Disponível em: . Acesso em: 31 ago. 2015. GULLAR, Ferreira. Cidades Inventadas . Rio de Janeiro: José Olympio, 1997. MARANDOLA JÚNIOR, Eduardo. Geograficidades vigentes pela literatura. In: SILVA, Maria Auxiliadora da; SILVA, Harlan Rodrigo Ferreira da (Orgs.). Geografia, literatura e arte: reflexões. Salvador: EDUFBA, 2010. p. 21-32. PAZ, Otávio. Signos em rotação . 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1996.316 p. PINHEIRO, Délio José Ferraz ; SILVA, Maria Auxiliadora (Orgs.). Visões imaginárias da cidade da Bahia: diálogo entre a Geografia e a literatur a . Salvador: EDUFBA, 2004. 184 p.
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Leila, Espanha 114.1.5. Sonrisa de mis cardos *(96) Sepúlveda (Espanha), 2014
4.1.35.4.114.1.4. La compañía *(97) Ávila (Espanha), 2014
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114.1.3. La cruz *(98) Ávila (Espanha), 2014 114.1.2. Quien dispara *(99) Guadalajara (Espanha), 2013
I
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I Paisagens, biodiversidade e património natural
Mariana Sánchez Salvador, Portugal 52.1.1. Laguna Colorada I
52.1.2. Laguna Colorada II
4.1.35.4.52.1.6. Laguna Colorada VI
52.1.5. Laguna Colorada V
*(100) Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Abaroa (Bolívia), 2013 *(102) Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Abaroa (Bolívia), 2013 *(101) Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Abaroa (Bolívia), 2013 *(103) Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Abaroa (Bolívia), 2013
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Paula Cristina Correia dos Santos, Alemanha 82.1.4. Habitantes das Alturas *(104) Puna de Atacama (Argentina), 2015
4.1.35.4.82.1.6. Um refúgio escondido
82.1.5. O passado à luz das estrelas
*(105) Tafí del Valle, Tucumán (Argentina), 2015
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*(106) Valle Calchaquí, Tucumán (Argentina), 2015
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I Paisagens, biodiversidade e património natural
Asier Gogortza, Pais Basco 41.1.3. Bertze Aldea 3 *(107) Bera/Biriatu (Pais Basco), 2015
4.1.35.4.41.1.5. Bertze Aldea 5 *(108) Etxalar/Sara (Pais Basco), 2015
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41.1.4. Bertze Aldea 4 *(109) Bera/Biriatu (Pais Basco), 2015 41.1.6. Bertze Aldea 6 *(110) Erratzu/Aldude (Pais Basco), 2015
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Rodrigo Lima, Brasil 21.3.5. W.O *(111) Minas Gerais (Brasil), 2014
4.1.35.4.número W.O *(112) Minas Gerais (Brasil), 2014
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numero W.O *(113) Minas Gerais (Brasil), 2014 numero W.O *(114) Minas Gerais (Brasil), 2014
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I Paisagens, biodiversidade e património natural
Sonia Sánchez Díaz, Espanha 31.1.2. The best bank of the world *(115) Loiba, Coruña (Espanha), 2014
4.1.35.4.31.1.5. Entrando en água *(116) Viveiro, Lugo, Galicia (Espanha), 2014
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31.1.4. Posta da sol *(117) Loiba, Galicia (Espanha), 2014
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101.1.3. Daniel Guimarães Chaves, Brasil Rio de Janeiro Panorâmico *(118) Cidade de Niterói (Brasil), 2015 100.1.6. Ana Penha, Portugal “Dusk” *(119) Banff (Canadá), 2014
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101.1.2. Daniel Guimarães Chaves, Brasil Pôr do sol no Corcovado *(120) Corcovado (Brasil), 2014
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I Paisagens, biodiversidade e património natural
Djime Dourado Silva, Brasil
Pedro Flávio Martins, Portugal
44.1.3. Morro das Tocas *(121) Itatim, Bahia (Brasil) 4.1.35.4.44.1.1. Morrão *(122) Chapada Diamantina, Bahia (Brasil)
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68.1.1. Aurora Boreal *(123) Kvaløya, Tromso (Noruega), 2015 68.1.2. Noite Polar *(124) Tromso (Noruega), 2015
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Roberto Peixoto Joele, Espanha
Guilherme Bergamini, Brasil
13.1.3. 032min *(125) Madrid (Espanha), 2014 4.1.35.4.13.1.2. 08min *(126) Madrid (Espanha), 2014
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43.1.3. Três Marias *(127) Três Marias, Minas Gerais (Brasil), 2013 43.1.6. Lago Titicaca *(128) Lago Titicaca (Bolívia), 2013
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I Paisagens, biodiversidade e património natural
2.1.2. Ary Attab Filho, Brasil Lençóis II *(129) Barreirinhas MA (Brasil), 2014 2.1.3. Ary Attab Filho, Brasil Lençóis III *(130) BarreirInhas MA (Brasil), 2014
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50.1.5. Inês Pereira Leonardo, Portugal Pedras protegidas *(131) Playa de La Franca, Ribadedeva, Asturias (Espanha), 2014 50.1.4. Inês Pereira Leonardo, Portugal Pedras no caminho *(132) Playa del Borizo, Llanes, Asturias (Espanha), 2014
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55.1.6. Pedro Miguel Barbas da Silva Carvalho, Portugal A minha Ponte *(133) Ponte dos franceses, Puerto Seguro (Espanha), 2015 55.1.4. Pedro Miguel Barbas da Silva Carvalho, Portugal Cavalariças *(134) Real Fuerte de la Concepción (Espanha), 2015
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6.1.5. Rui Pedro Bordalo, Portugal Sem título *(135) Praia das Catedrais (Espanha), 2013 6.1.2. Rui Pedro Bordalo, Portugal Sem título *(136) Praia das Catedrais (Espanha), 2013
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I Paisagens, biodiversidade e património natural
76.1.6. Alejandro Carnicero, Espanha Meandro Melero *(137) Cáceres (Espanha), 2015 33.1.4. Alejandro Cuadra Santana, Espanha Relax al atardecer *(138) Logroño (Espanha), 2015
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105.1.1. Ricardo Manuel Azevedo Brandão, Portugal Quarenta anos depois *(139) Treboul (França), 2014 24.1.1. Martín Varela Fernández, Espanha Ruta a Cares -1 *(140) Castilla León (Espanha), 2014
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105.1.3. Ricardo Manuel Azevedo Brandão, Portugal Paisagem outono *(141) Pierrefort (França), 2014 97.1.3. Leonice Seolin Dias, Brasil Restou uma no canavial *(142) Município de Osvaldo Cruz (Brasil), 2014
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113.1.1. Erica Montilha, Brasil Chão Verde *(143) Marília (Brasil), 2014 48.1.6. Carmen Hernández Martín, Espanha El nacimiento *(144) La Alameda-Tolbaños, Ávila (Espanha), 2015
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I Paisagens, biodiversidade e património natural
113.1.6. Erica Montilha, Brasil Tarde no Sertão *(145) Marília (Brasil), 2015 81.1.2. Rui Manuel Gaspar Gonçalves, Portugal Apanhei-te *(146) Polje de Minde-Mira (Minde), 2013
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46.1.6. Tiago Duro, Portugal Profundidade nevada... *(147) Zakopane (Polónia), 2015 97.1.2. Leonice Seolin Dias, Brasil Nostalgia no campo *(148) Município de Osvaldo Cruz (Brasil), 2014
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103.1.3. Ramón Gómez, Espanha Camino *(149) Castrillo de los Polvazares (Espanha), 2013
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103.1.1. Ramón Gómez, Espanha Vida eterna *(150) Concejo de Arzua (Espanha), 2013
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tema 2
Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
prémio tema
Susana Girón, Espanha 24.2.2. Cañada Real *(151) Castilla la Macha (Espanha), 2014
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
menções honrosas
Ricardo Miguel Couto Ferreira Catarro, Portugal 66.2.1. Botas de Trabalho *(152) Fazendas de Almeirim (Portugal), 2013
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Nuno André Ferreira, Portugal 75.2.6. Entre a cidade e as Roças *(153) São Tomé e Príncipe (São Tomé e Príncipe), 2013
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
menções honrosas
Rocío Garrido Martín, Espanha 73.2.4. Konso, Patrimonio de la Humanidad *(154) Konso (Ethiopia), 2014
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Rural – modos de fccionar Álvaro Domingos * ão se sabe o que seja a ruralidade de tanto que o tema se foi expandindo do real para o imaginário, ou do discurso científico para a poesia e para todas as artes, mensagens publicitárias, novelas, calendários e prospectos turísticos. Da enxurrada de assuntos pode-se pescar qualquer coisa, desde a denúncia política da miséria dos camponeses de África no limiar da auto-subsistência, às místicas da permacultura ou à síntese perfeita da comunhão dos homens com a natureza, sustentável, claro, seja lá o que isso for.
N
Na cultura europeia convivem raízes e representações distintas e contraditórias sobre o mundo rural e dos rurais, ora uma espécie rústica de infra-humano, grosseiro, andrajoso, embriagado, ora uma entidade quase metafísica, sabedora das coisas do céu e da terra, dono de segredos ancestrais e da alma da nação. No classicismo das éclogas e das bucólicas, o campo, espécie de geografia metafísica, povoa-se de pastores e pastoras, pradosgregos floridos – como antes nascantigas amigo – deuses e romanos e outros adereçosde sentimentais para compor poesiasobre prazeres inocentes saturados de lirismo, faunos emetáforas. De tão afastadas dos rigores da vida dos camponeses, estas construções literárias dizem-nos apenas do nulo nteresse i que esse mundo representava para a cultura erudita então acantonada numa élite por entre clérigos e aristocratas. Que poderiam os rústicos adiantar nos brilhos dos salões que não fosse boçalidade e cheiro a esterco? Pois se até confundiam deus com bruxedos e esconjuros… Rousseau (Émile ou De l’education, é publicado em 1762) e outros filósofos escritores muito influentes na
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cultura europeia mudam estas tonalidades de forma radical. J. Gottfried Herder (1744-1803, o inventor do volkgeist), os irmãos Grimm (os contos dos irmão Grimm são publicados pela primeira vez em 1812) e toda a geração do romantismo, re-inventaram o povo enquanto entidade real/imaginária, jardineiro da paisagem, guardião da alma da nação e de coisas preciosas e puras, em tudo diferente da artificialidade e dos vícios da cidade. Como escrevia Jules Michelet (Le Peuple, 1846) o povo simples e sábio era rico de sentimentos e de bondade do coração, dotado de espírito de sacrifício e de amor pelo outro, de força, de tenacidade, de generosidade, de prudência, de virtude, coragem, trabalhador, esforçado, sofredor, heróico, altruísta, e possuidor de outras elevadas causas pelo bem-estar da comunidade, da família, do amor à pátria. O povo (rural, claro) encontra em Michelet um dos expoentes mais encantatórios enquanto criação de um arquétipo de pureza e de autenticidade de valores. Em Portugal a ideologia tóxica do salazarismo e do bom povo ruralapesar que enchia as igrejas, ainda foi beber este arquétipo, da miséria das condições de vidaa e da emigração em massa. “Uns após outros desbravaram as terras, cultivaram a vinha e o milho, criaram os filhos, sofreram. A vida é áspera, há desgostos, angústias, privações, injustiças que parece ninguém poder reparar. Um ambiente de carinho, porém, envolve o lar e uma luz superior ilumina a existência: a velha igreja e o seu adro foram feitos a expensas de todos os vizinhos, com esmolas e trabalho; o cemitério também. Numa parte e noutra há verdadeiramente o suor do rosto, a preocupação do viver, a tradição do sangue, o património moral.
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
Do fundo das consciências claramente surgem estes imperativos: o trabalho na vida, a propriedade na terra, a virtude na família, a esperança nas almas.1
ções europeias e nos “zoos humanos”, enfatizava mais o “indígena” e certas curiosidades raciais, de costumes, de objectos e adornos.
Para além das várzeas e dos montes há outras várzeas e outros montes, onde vivem e trabalham homens da mesma raça, parentes próximos ou remotos, que falam a mesma língua, têm os mesmos sentimentos. Como
A intensidade do processo de modernização em modo industrialista provoca na Europa e nos EUA uma acelerada desruralização. Modos de vida, sistemas de agrícolas, práticas tradicionais, regimes de auto-
quem desbrava o campo para cultivar e levanta as paredes duma casa para nela viver, há muitos séculos grandes chefes traçaram com a espada os limites e disseram: aqui se vai edificar a casa lusitana.”
subsistência, e paisagens de séculos, reduziram-se e transformaram-se abruptamente com a importância da economia agrícola a caminhar para um resíduo estatístico em termos de emprego e produto.
A esta matriz romântica e mística acrescenta-se depois a produção científica da antropologia, da etnografia ou da geografia. Todas juntas foram convivendo com sucessivas tendências de estetização dos campos, desde as paisagens de Poussin ou Lorrain ainda no sec XVII, com os campos a servir de fundo para cenografias mitológicas, até ao misticismo de Millet no célebre Angelus (1857), representando a oração do fim da tarde. Para além disso, a festa, o trabalho, os trajos, as procissões foram ganhando popularidade e a vulgarização da fotografia, deu asas e popularidade ao pitoresco como regime de visibilidade dominante. Entretanto, o desenvolvimento da etnografia mais ou menos científica deu uma outra seriedade à questão. É na literatura e em autores como Aquilino Ribeiro que encontramos peças magistrais sobre a condição camponesa.
É aqui que o “rural” começa a perder completamente o sentido. Antes, com esforço, o adjectivo procurava abarcar uma triologia em que havia simultaneidade entre a agricultura como pilar económico da produção e do trabalho; o campesinato e os seus valores conservadores ligados à tradição, à religiosidade, aos antepassados; e a paisagem como marca visual desta economia/sociedade que se inscrevia num território com as suas marcas naturais e culturais específicas. Esta tripeça produzia um certo efeito de totalidade que fazia com que a alusão a qualquer um dos seus elementos arrasta-se os restantes quase automaticamente – fosse um burro, uma vaca, uns tamancos, uma casa tosca, uma senhora vestida de preto a rezar ou a fiar… e logo o rural se lhe colava sem qualquer hesitação. A pré-modernidade ajudava a compor as diferenças.
Fora da Europa, o mundo colonial era claramente outro mundo. A economia da plantação, o esclavagismo ou a agricultura indígena não formavam um quadro “rural” estável e inteligível que se comparasse ao dos países colonizadores. Na grande Ásia, os camponeses eram apenas uma massa de escravos da terra constantemente ameaçados de calamidades e fome. No entanto, a moda do exotismo tropicalista nas exposi-
Hoje a agricultura de plantação colonial migrou para a produção ainda em maior escala inserida em fileiras agro-industriais e interesses do capitalismo global. Na soja, na cana-do-açúcar, na carne, no café ou na fruta… o português do Brasil chama-lhe “agro-negócio”. Tal como outro qualquer processo de modernização intensivo, a tecnologia, a empresarialização, a especialização, a intensidade químico-biológica, etc., espan78
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taram os pastores da arcádia rural e trouxeram as polémicas dos transgénicos, da luta pela água, da emissão de gases com efeito de estufa, do neo-esclavagismo, da fome da terra, da deflorestação, das catástrofes ecológicas ou dos direitos dos animais.
Asa Branca, a música e poema deLuís Gonzaga e Humberto Teixeira (1947), é uma espécie de hino do sertanejo pobre do Nordeste brasileiro; camponês, vaqueiro ou sem terra, dependente dos caprichos da seca, emigrante, as mais das vezes. Miséria e nostalgia convivem nesta poética de retorno impossível a um Perturbou-se completamente a paz que se dizia haver mundo rural perdido, mas por isso, mais presente para nos campos e a reacção cada vez mais radical e violenta compensar tristezas em terras estranhas. à agricultura intensiva às suas paisagens e produtos tecnológicos, voltou-seepara uma nostalgia latejante, uma constante rememoração de um mundo mais que perfeito do velho campo enquanto paraísoperdido. Este outro campo, semântico e imaginário, não tem limite e a sua expansão é directamente proporcional a um certo desencantamento do mundo que por aí vai.
Asa Branca
A fotografia é excelente para ficcionar esta realidade e tapar o vazio deixado pelo sentimento de perda desse mundo mais que perfeito ou, ao contrário, ilustrar e mesmo denunciar as misérias nos eufemisticamente chamados países em vias de desenvolvimento onde ficaram os milhões de trabalhadores da terra que ainda não incorporaram a urbanização da pobreza e que sobrevivem entre conflitos violentos constantes, secas,
Que braseiro, que fornalha, nenhum pé de plantação Por falta d’água perdi meu gado, morreu de sede meu alazão
más condições de saúde, subnutrição e abandono por parte do estado.
guarda contigo meu coração
Quando olhei a terra ardendo qual fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu,ai por que tamanha judiação
As infinitas ambiências que se podem congelar numa imagem são bem reveladoras das incontáveis dobras que os “espaços rurais” permitem designar – às vezes parecem instantâneos do início do mundo e do paraíso antes da serpente; outras, Ceres vinda do Olimpo pelo Maio com braçadas de trigo e de papoilas; outras, o trabalho penoso, o viver-se com pouco, o olhar duro, os animais, bichos entre outros, como diria Torga.
Inté mesmo a Asa Branca bateu asas do sertão Entonce eu disse: adeus Rosinha,
Hoje longe muitas léguas nessa triste solidão Espero a chuva cair de novo pra eu voltar pro meu sertão Quando o verde dos teus olhos se espaiá na plantação Eu te asseguro, não chores não, viu Que eu voltarei, viu, meu coração
* Professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. 1 António Oliveira Salazar (1936) «As grandes certezas da Revolução Nacional» - Discurso pronunciado em Braga, no 10º aniversário do 28 de Maio, in «Discursos», Vol. II, págs. 128-129.
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
António Costa Pinto, Portugal 31.2.5. Carnaval de Lazarim *(155) Lazarim (Portugal), 2015
4.1.35.4.31.2.6. Carnaval de Lazarim
numero Carnaval de Lazarim
*(156) Lazarim (Portugal), 2015
*(157) Lazarim (Portugal), 2015
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Telma de Jesus Monteiro Miragaia, Portugal 41.2.2. Esmeril *(158) Donfins do Jarmelo (Portugal), 2013
4.1.35.4.41.2.5. Cabeleireiro ao domícilio *(159) Donfins do Jarmelo (Portugal), 2014
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41.2.3. Safra *(160) Donfins do Jarmelo (Portugal), 2013 41.2.1. Mateus Miragaia - o último dos ferreiros *(161) Donfins do Jarmelo (Portugal), 2013
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
Jorge Bacelar, Portugal 71.2.2. A galinha dos ovos certos *(162) Murtosa (Portugal), 2015
4.1.35.4.71.2.3. Agnus Dei *(163) Estarreja (Portugal), 2015
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71.2.6. Na Ruralidade, o carinho, a ternura e a confiança *(164) Murtosa (Portugal), 2015 71.2.1. O passado e o presente *(165) Murtosa (Portugal), 2015
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Carlos Augusto Maia Torres Mendes, Portugal 13.2.2. Gentes do Caramulo *(166) Serra do Caramulo (Portugal), 2014
4.1.35.4.13.2.3. Gentes do Caramulo *(167) Serra do Caramulo (Portugal), 2015
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13.2.1. Gentes do Caramulo *(168) Serra do Caramulo (Portugal), 2014 13.2.4. Gentes do Caramulo *(169) Serra do Caramulo (Portugal), 2014
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
Miguel Mesquita, Portugal 5.2.1. Pastor *(170) Serra Estrela (Portugal), 2014
4.1.35.4.5.2.1. Fiar lã *(171) Montalegre (Portugal), 2014
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5.2.6. Pastor 1 *(172) Montalegre (Portugal), 2013 5.2.5. Ceifa *(173) Mogadouro (Portugal), 2013
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Luís Sarmento, Portugal 68.2.5. Salineiro *(174) Aveiro (Portugal), 2014
4.1.35.4.68.2.3. O Alfaiate *(175) Lisboa (Portugal), 2014
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68.2.1. A tradição de Secar *(176) Nazaré (Portugal), 2014 68.2.6. A bota do Sapateiro *(177) Santarém (Portugal), 2014
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
Filipe Barroso, Portugal
Vitor Pina, Portugal
34.2.5. O cucharro *(178) Beja (Portugal), 2015 4.1.35.4.34.2.6. Saciando a sede *(179) Beja (Portugal), 2015
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59.2.3. Construção das esteiras_a *(180) Corte D´Ouro (Portugal), 2014 59.2.4. Construção das esteiras_b *(181) Corte D´Ouro (Portugal), 2014
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Ângela Gonçalves Afonso Cordeiro, Portugal 38.2.5. Cuscos Transmontanos 5 *(182) Fresulfe, Vinhais (Portugal), 2015
Portugal.1.35.4.38.2.2. Cuscos Transmontanos 2 *(183) Fresulfe, Vinhais (Portugal), 2015
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38.2.4. Ângela Gonçalves Afonso Cordeiro, Portugal Cuscos Transmontanos 4 *(184) Fresulfe, Vinhais (Portugal), 2015 54.2.2. Isidro Manuel Rito Vieira, Portugal Grão a grão pelo olho da mó *(185) Concelho de Nordeste, Ilha de São Miguel (Portugal), 2014
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
42.2.5. António Campos, Portugal Capeia *(186) Lageosa da Raia, Sabugal (Portugal), 2014 42.2.4. António Campos, Portugal Corrida *(187) Lageosa da Raia, Sabugal (Portugal), 2014
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72.2.5. João Martins, Portugal Ça va *(188) Alfaiates, Guarda, Sabugal (Portugal), 2014 72.2.4. João Martins, Portugal Ronaldo *(189) Alfaiates, Guarda, Sabugal (Portugal), 2014
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26.2.2. Bruno Miguel Santos Andrade, Portugal Ciclo do Porco - Matança I *(190) Dornelas (Portugal), 2013 26.2.6. Bruno Miguel Santos Andrade, Portugal Ciclo do Porco – Fumeiro *(191) Dornelas (Portugal), 2013
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20.2.1. Guilherme Limas, Portugal Matança do Porco Bízaro *(192) Montalegre (Portugal), 2013
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
62.2.3b. Isabel Alcinda de Sá Barreira, Portugal O ciclo da lã 3 *(193) Póvoa, Miranda do Douro (Portugal), 2015 62.2.4. Isabel Alcinda de Sá Barreira, Portugal O ciclo da lã 4 *(194) Póvoa, Miranda do Douro (Portugal), 2015
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19.2.1. Iolanda Eugénia Rodrigues Veiros, Portugal Mistério *(195) Linhares, Carrazeda de Ansiães (Portugal), 2014 51.2.3. Ruben Carrilho, Portugal Fé *(196) Amareleja (Portugal), 2013
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32.2.5. João Pedro Vitorino, Portugal Agricultura I *(197) Lagares da Beira (Portugal), 2015 21.2.2. Ana Isabel Freitas, Portugal De geração em geração *(198) Sabrosa (Portugal), 2013
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32.2.3. João Pedro Vitorino, Portugal Agricultura *(199) Lagares da Beira (Portugal), 2015 29.2.5. Maria de Fátrima de Matos Barros, Portugal Quarto *(200) Caldelas, Amares, Braga (Portugal), 2014
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
67.2.1. Andreia Julieta Gonçalves Bernardo, Portugal A caminho da pastagem *(201) Lageosa do Mondego (Portugal), 2014 8.2.2.J Ana Santos, Portugal Hora vigilante *(202) Regoufe, Arouca (Portugal), 2014
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67.2.4. Andreia Julieta Gonçalves Bernardo, Portugal Flores de Inverno *(203) Sabugal (Portugal), 2014 7.2.2. Maria Helena Pacheco de Amorim Rodrigues Gonçalves, Portugal Verdeperto *(204) Odemira (Portugal), 2014
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Paisagem, campo e cidade José Borzacchiello da Silva * paisagem decorrente de cada momento histórico é explicativa das múltiplas relações mantidas pela sociedade em seu constante movimento. Recorrendo-se por analogia ao pensamento de Lavoisier1, para se compreender o discurso da paisagem e seu apelo visual é necessário partir do pressuposto que acata e nega as assertivas do famoso cientista que afirmou “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A paisagem está em constante movimento. A paisagem não morre e sim, se modifica conforme os diferentes arranjos espaciais contidos nos múltiplos contextos culturais. Tais arranjos resultam numa experiência visual com suas formas denominadas de paisagem. Compreendida muitas vezes como natureza, no seu estado puro, a paisagem evoluiu como conceito e incorporou todos os traços da vida contemporânea, expondo em cenas cotidianas erros e acertos da humanidade.
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A geografia aborda as relações mantidas entre campo edecidade, e urbano considerando construção perfis rural que identifiquem e permitam aclassificar as diferentes formas mediante a densidade demográfica, infra-estrutura instalada, equipamentos e serviços à disposição dos habitantes. Campo e cidade estão inseridos no mundo do trabalho com formas consoantes às atividades socialmente desenvolvidas. Campo e cidade formam um par, pois se complementam. O grau de tecnologia contido nas diferentes formas se manifesta em referencial de acessibilidade, conexão com o mundo à sua volta, conforto e comodidade oferecido aos seus habitantes. Os exercícios de conceituar e definir campo e cidade,
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rural e urbano impõem desafios e geram muitas discussões. Na contemporaneidade esse debatese amplia, ultrapassando o contexto das formas e perpassando análises relacionadas ao agrícola, ao agrário, ao rural e ao urbano sob a ótica da apreensão das atividades que animam o território e garantem espacialidades diferenciadas. As cidades cresceram muito. Nelas, a reprodução da vida cotidiana está inserida numa trama complexa. As cidades tornaram-se locais de aglomeração com características próprias nas suas relações intra-urbanas. A malha das redes territorializadas associada aos comandos das redes digitais fazem da cidade locais excepcionais de prestação de serviços de toda ordem, conforme seu tamanho funcional. A cidade chega ao campo ou o campo chega à cidade. Não há mais sentido a recuperação das teorias pautadas na dicotomia campo versus cidade, distinguida com nitidez conceitual o que é um e o que é o outro bem como a do continuum rural urbano. Não há também uma distinção clara do que é campo, do que é cidade. O urbano, entretanto, ultrapassaaospaisagem, limites dasobcidade. É fundamental que se considere a perspectiva de usos diferenciados, dando margem à discussão atual que abrange o novo rural, a nova ruralidade. A constatação da inovação do mundo rural com várias características do modo de vida urbano, tem sido recorrente em várias áreas do conhecimento. A ciências sociais, inclusive a geografia, em suas abordagens clássicas sobre a distinção entre campo e cidade, e de rural e de urbano, identificavam características próprias de cada uma dessas espacialidades , detectando reduzidos pontos de mediação. Campo e cidade e rural e urbano eram traduzidos como pares
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
dialéticos que se opunham, correspondendo ao tradicional e ao moderno.
a identificação e classificação do rural e do urbano quanto aos itens ligados à distribuição da população e ocupação do território e caracterização e descrição do Na literatura portuguesa, autor do porte de Eça de espaço compreendendo levantamento de necessidades Queiroz (1998-26) descreve essa diferenciação em seu e estabelecimento de prioridades de infra-estrutura, livro A Cidade e as Serras. equipamentos e serviços a serem instalados.. Esse “E, descendo os Campos Elísios, encolhido no conjunto conduz à compreenção dos elementos respaletó, a cogitar neste prato simbólico, considerava ponsáveis pela configuração da paisagem e gestão do a rudeza e oséculos atoladoaatraso da minha onde desde alma das laranjasGuiães, permanece ignorada e desaproveitada dentro dos gomos sumarentos, por todos aqueles pomares que ensombram e perfumam o vale, da Roqueirinha a Sandofim! Agora porém, bendito Deus, na convivência de um tão grande iniciado como Jacinto, eu compreenderia todas as finuras e todos os poderes da civilização.”2
território. Nesta direção, a identificação, reconhecimento e delimitação do que é rural e do que é urbano são considerados essenciais para a pertinência e eficiência de análises, interpretações e implementação de políticas públicas. Sob a ótica da dinâmica territorial a questão posta é saber como se estabelece adiferenciação entre o campo e a cidade e de que forma pode-se detectar diferentes níveis de complementaridade realizados entre essas formas distintas de organização do território. WILLIAMS (1989, p.167) chama a atenção sobre o conceito de paisagem. O autor ultrapassa o visível da aparência e escreve: “Raramente, uma terra em que se trabalha é uma paisagem. O próprio conceito de paisagem implica
O contraponto entre Guiães e Paris, apareceno texto sob a observação da alteridade, ou seja, pautado nos procedimentos do sujeito social ajustado àvida urbana. A abordagem focada na teoria do tradicional e do moderno tem seu embasamento na sociologia e na antropologia, ciências preocupadas em diferenciar tipos de organização social e verificar níveis de incorporação de inovações de toda ordem nos diferentes grupos sociais. Identifica, ao mesmo tempo, a cidade como espaço privilegiado com forte poder de atração sobre os habitantes do campo, bem como de maior expressão quanto às imposições de códigos de posturas e de disciplinamento, tidos como necessários à vida coletiva em áreas de aglomerações e maiores densidades. A cidade e o urbano são também concebidos como espaços de implantação de políticas públicas voltadas para o bem estar social. A geografia em sua abordagem preocupa-se mais com
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separação e observação. É possível e interessante levantar a história da paisagem na pintura, da paisagem na literatura, do paisagismo e da arquitetura paisagística, mas na análise final devemos relacionar essas histórias às histórias comuns de uma terra e da sociedade nela existente.”3 A paisagem, além de suas raízes contidas na história de seus produtores, adquiriu importância e significado e é claro, não ficou imune à lógica do mercado. A conquista da velocidade, a facilidade de transporte e de deslocamento resultou nas viagens, dirigidas cada vez mais, para destinos mais distantes. Com elas a
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intensificação da busca pelo diferente, pelo exótico, o desconhecido. O aumento desse interesse manifesto em desejos de partir para o desconhecido ampliou o universo paisagístico. Campo e cidade em sua diversidade de formas e de dinâmicas tornaram-se objetos de desejo e de consumo. Consumo da paisagem. Essa busca associada à conquista do tempo livre a partir dos avanços nas relações de trabalho, intensificou
A sociedade contemporânea é, sem dúvida, grande consumidora de paisagem. A imagem transporta recortes da paisagem, cria desejos de deslocamentos. A conquista do lazer e do ócio propiciou viagens de férias, criação de colônias de veraneio, a descoberta de “paraísos”: sol, areia, mar, mata, floresta garantiam à cidade um fluxo intenso de viagens e deslocamentos.
o número de rotas e trajetos, ressignificou o campo e o rural como paisagem, fez da cidade o centro das inovações do controle político como sede do poder e dos grandes acontecimentos, transformou as viagens em produto de qualidade, valorizado pelo mercado. Vender vistas, ângulos, mar, montanhas, lagos, campos cultivados, parques, pastagens, natureza, tornou-se comum na lógica imobiliária.
A urbanização acelerada isolou o citadino da natureza em seu estado mais natural. A recriação da natureza em ambiente urbano em forma de parques, bosques, florestas e jardins, não foi o suficiente para atender aos anseios e desejos de um retorno ao ambiente natural em busca de aromas, ruídos, silêncio, brisas, neve. O cheiro da terra, a faina diária em contato com instrumentos que facilitam os cultivos. Ver os campos, a colheita, o rebanho, a ordenha, o leite fresco.
O campo e a natureza “selvagem” não ficaram de fora. À medida que a vida urbana fica mais complexa, mais As imagens remetem a tempos imemoriais que a cidavalorizada fica a paisagem, especialmente a bucólica, a de não apaga. que permite ao homem “adentrar à natureza”. Campo, cidade, estradas, caminhos, avenidas. Os logradouros públicos são testemunhos de trajetos e Em outra passagem Queiroz (1998-38) escreve percursos, são traços de ligação, unem pontos, são “Jacinto os olhares muito abertos, como se, circungirou através da vida universal, procurasse ansiosamente uma coisa natural e simples. Depois, descansando sobre mim os mesmos largos olhos que voltavam de muito longe, cansados e com pouca esperança: - Vamos ao Jardim das Plantas, ver a girafa!”4
atravessados por produtores, mercadores, peregrinos, migrantes. As vias unem pontos repletos de referências, com cruzamentos, atalhos, desvios. Árvores, rochas, rios, campos cultivados, fábricas, moinhos, monumentos ou edifícios de prestígio,marcam localizações, se inscrevem nos arcabouços da memória, contém narrativas de fatos e acontecimentos. Nas lembranças dos cidadãos, os fatos mais marcantes. O Eça de Queiroz explora no texto a cidade como procampo distante é sonhado no emaranhado do cotidiaduto construído a cada pedaço. Registra seus distanno urbano. A cidade para muitos é o sonho, o porvir. ciamento da natureza natural, do campo e da cidade. Os que fizeram a travessia, campo e cidade povoam a Revela a natureza recriada na cidade em parques e jar- memória ou desaparecem no esquecimento. Mapas, dins. Reforça a idéia da cidade como local de consumo lembranças, imagens fugidias de um, de outros territórios adquirem formas fragmentadas. Nas recordações de tudo, inclusive de paisagem.
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a junção das partes forma um puzzle com escalas diferentes, elimina vazios e transformam-se em imagens de totalidade que mascaram o real mas que são reais para os que as imaginam.
Andar pelas ruas da cidade remete à história da paisagem. Essa volta ao passado remete à reminiscências dos que ali viveram ou dos que conhecem ou conheceram cada pedaço com suas permanências e mudanças. Demolições, edifícios preservados, inovações tecnológicas transformam a cidade e mesmo o campo. Os lugares são referências para os que se identificam com ele, para os que acompanharam seus ajustes ou
Os logradouros são pontos de passagem, de encontro, de trocas de solidariedades. As praças públicas são utilizadas conforme o domínio das atividades. Nelas ócio e negócio se opõem e dão significados diferentes a formas idênticas. O campo local da faina diária do camponês pode ser local de vilegiatura para os adeptos do turismo rural. Lazer e trabalho são importantes em qualquer aglomerado humano, independente de seu porte e tamanho funcional. Praça, parques, jardins, bosques são espaços de fluição e fruição. Alguns guardam reminiscência da vida no campo. No campo, muitos almejam o burburinho e a agitação da vida urbana
permanências na passagem do tempo. A topografia, o arruamento, a disposição das edificações, templos, espaços públicos, as formas de cultivos, a rotação da terra, a disposição das propriedades, os implementos agrícolas contém uma cartografia sinuosa que obedece às curvas impostas pela geografia do lugar. Apegamonos aos lugares. Pontos de parada, entrada, saída, chegada, partida. Estação ferroviária, rodovias, ônibus, automóveis, motocicletas, cavalos, carroças, carruagens, portos, aeroportos, mostram a diferença dos lugares, registram seus usos. Campo, cidade, urbano, Os espaços públicos, arejam as cidades. São espaços de suburbano. A cidade intra e extra muros. A cidade, atividades e de pouso, de tranquilidade. A praça é o transformando-se em lugar especial, local de compras, lugar do negócio mas permite a pausa, o relaxamento, de fábricas, de centros de transporte e de distribuição. a calma. No campo o largo, a praça, o adro da igreja, do templo é lugar de encontro, pode ser o lugar da As cidades crescem, o campo se esvazia e produz cada feira. Considerando o número de usuários, as praças, vez mais. A automação provoca a saída do camponês no bairro constituem espaços possíveis de animação para a cidade. A agitada vida urbana leva o citadino da vida cotidiana. Nos bairros das cidades e no campo para o campo com seus computadores e telefones os espaços públicos são reconhecidos como espaços celulares plugados à internet. As redes sociais estão identitários da comunidade, onde são construídos em toda parte, desconhecem as diferenças espaciais, se laços de solidariedade e trocas simbólicas de forte instalam no campo, na cidade, se ajustam ao mercasignificado. Além das praças, os demais logradouros do, estimulam o consumo. também são espaços de confrontos e conflitos.Grupos distintos tentam territorializá-los, instituindo múl- Sábias são as palavras de WILLIAMS (1989, p.71) em tiplas pelejas envolvendo a disputa entre grupos rivais. sua leitura da cidade medieval. O autor detecta transConstantemente surgem problemas entre os usuários formações fundamentais para compreensão da cidade das praças nas lutas renhidas pela demarcação de contemporânea. territórios conforme interesses de grupos e vínculos “As causas sócio-econômicas do crescimento das identitários. cidades, o novo movimento urbano da Alta Idade 96
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dos agentes e atores produtores do espaço com suas vivências e experiências. Narrativas, depoimentos, documentos, edificações são os suportes da memória representados pelo casario, lojas comerciais, edifícios de prestígio, profissões remanescentes de atividades em desuso dão conta da tarefa de recuperação da essência dos lugares. A paisagem é cúmplice das lembranças, oferece meios para se desvendar, no emaranhado do
e às formas urbanas de controle. Porém, direta ou indiretamente, a maioria das cidades aparentemente se desenvolveu com um aspecto de ordem agrícola: num nível mais simples, como mercados; num nível mais elevado, refletindo a verdadeira ordem social, como centros de finanças, administração e produção secundária. Surgiam então formas de interação e tensão as mais variadas, e algumas cidades adquiriram certo grau de autonomia.”
espaço dos comespaços seus componentes, o enfoque dimensão afetiva urbanos das cidades. Suadainserção na metrópole merecedestaque. A história doslugares contém passagens traduzidas num esquema especial de muita estima pelolugar, presente nas falas, nos gestos, nas expressões. Revelam vínculos de pertencimento que permitem inserir econfrontar espaços em múltiplos diálogos com a cidade, construindo uma cartografia urbana inovadora, pautada nos intercâmbios, trocas cotidianas desenhadas e assumido no sentimento de apego ao lugar
tinuar conectado ao mundo. Nas cidades os moradores usam os espaços para o negócio, para o ócio e o lazer. Trabalham, praticam caminhadas e fazem exercícios ao ar livre. Essas práticas provocam maior ocupação dos espaços públicos. A memória individual e coletiva reside no cotidiano
A memória que advém das lembranças dos lugares são reminiscências que remetem à identidade e ao pertencimento. O ajuste do corpo à forma e à vida urbana ou rural advém da configuração da vida moderna. A regulação do tempo, a obediência à linguagem de sinais, a identificação de marcos referenciais que garantem o sentido de direção movimenta uma multidão nas principais vias comerciais e de serviços das áreas mais dinâmicas das cidades ou garantem uma vida mais calma no campo. Todo cuidado é pouco pois nem sempre essa afirmação é verdadeira.
* Geógrafo e Professor Emérito da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-Brasil. 2 3 4 5
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Média, o povoamento pós-feudal - tais questões ainda são altamente controvertidas. Há argumento em favor de um certo grau de crescimento independente, como na extensão do comércio (Pirenne). Houve crescimento em relação a habitações de religiosos e casernas. Houve um desenvolvimento importantíssimo na produção artesanal independente, com tendências próprias referentes à concentração
E assim a cidade foi se consolidando, reafirmando seu papel de controle e comando. A população, por sua vez, valoriza suas praças, embora não as utilizem mais por não terem novos equipamentos. O jovem quer uma praça com ambiente wireless, onde possa plugar seus diferentes equipamentos eletrônicos e assim, con-
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Antoine Laurent de Lavoisier (Paris,1743/1794) QUEIROZ, Eça de, A Cidad e e as Serras. Fortaleza, Diário do Nordeste, 1998, p. 26 WILLIAMS, Raymond. O Campo E A Cidade . São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.167 QUEIROZ, Eça de, A Cidad e e as Serras. Fortaleza, Diário do Nordeste, 1998, p. 38 WILLIAMS, Raymond. O Campo E A Cidade . São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.71
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Angel Barreiro Araújo, Espanha 37.2.3. Cura de fuego 3 *(205) San Bartolomé de Pinares, Ávila (Espanha), 2015
4.1.35.4.37.2.2. Cura de fuego 2 *(206) San Bartolomé de Pinares, Ávila (Espanha), 2015
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37.2.5. Cura de fuego 5 *(207) San Bartolomé de Pinares, Ávila (Espanha), 2015 37.2.1. Cura de fuego 1 *(208) San Bartolomé de Pinares, Ávila (Espanha), 2015
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Susana Girón, Espanha 24.2.3. Un alto en el camino de pastores *(209) Castilla la Mancha (Espanha), 2014
4.1.35.4.24.2.5. Rebaño *(210) Castilla la Mancha (Espanha), 2014
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24.2.6. Campamento nocturno *(211) Castilla la Mancha (Espanha), 2014 24.2.1. Pastores trashumantes *(212) Castilla la Mancha (Espanha), 2014
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Jaime Gómez Giganto, Espanha 36.2.3. Inca de Oro 003 *(213) Inca de Oro (Chile), 2015
4.1.35.4.36.2.1. Inca de Oro 001 *(214) Inca de Oro (Chile), 2015
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36.2.2. Inca de Oro 002 *(215) Inca de Oro (Chile), 2015 36.2.4. Inca de Oro 004 *(216) Inca de Oro (Chile), 2015
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Alexandre da Luz Mendes, Portugal 49.2.2. Pequeno Monge *(217) Angkor Wat (Cambodja), 2014
49.2.3. Pequenos monges fumando *(218) Angkor Wat (Cambodja), 2014
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49.2.4. Bo Cambodian *(219) Angkor Wat (Cambodja), 2014
49.2.5. Bo indeciso *(220) Angkor Wat (Cambodja), 2014
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César Passinhas, Portugal 6.2.6. Crianças *(221) Caala (Angola), 2014
4.1.35.4.6.2.2. Cana de açucar *(222) Caala (Angola), 2014
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6.2.5. No campo *(223) Caala (Angola), 2014 6.2.1. O pastor *(224) Caala (Angola), 2015
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Charleine Boieiro, Portugal 1.2.1. Erdenet *(225) Erdenet (Mongólia), 2013
4.1.35.4.1.2.2. Ovoo *(226) n/a (Mongólia), 2013
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1.2.3. Sem título *(227) Erdenet (Mongólia), 2013 1.2.4. Sem título *(228) n/a (Mongólia), 2013
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Daniel Jesús Sánchez Escalera, Espanha 3.2.3. Desolación *(229) Marchena, Sevilla (Espanha), 2013
4.1.35.4.3.2.4. Como un viejo *(230) Marchena, Sevilla (Espanha), 2013
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3.2.5. Señales *(231) Marchena, Sevilla (Espanha), 2013 3.2.1. Al hecho *(232) Marchena, Sevilla (Espanha), 2013
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Guillermo Quintanilla Benavente, Espanha 76.2.2. Mercado de Pisac *(233) Pisac (Perú), 2013
4.1.35.4.76.2.6. Snake *(234) Pisac (Perú), 2013
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76.2.4. Mercado de San Pedro, Cusco 2 *(235) Cusco (Perú), 2013 76.2.3. Mercado de San Pedro, Cusco *(236) Cusco (Perú), 2013
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Jose Beut Duato, Espanha 17.2.4. Romania 4 *(237) Jina (Rumania), 2014
4.1.35.4.17.2.6. Romania 6 *(238) Jina (Rumania), 2014
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17.2.5. Romania 5 *(239) Jina (Rumania), 2014 17.2.2. Romania 2 *(240) Jina (Rumania), 2014
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Nuno André Ferreira, Portugal 75.2.2. Entre a cidade e as Roças *(241) São Tomé e Príncipe (São Tomé e Príncipe), 2013
4.1.35.4.75.2.5. Entre a cidade e as Roças *(242) São Tomé e Príncipe (São Tomé e Príncipe), 2013
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75.2.3. Entre a cidade e as Roças *(243) São Tomé e Príncipe (São Tomé e Príncipe), 2013 75.2.1. Entre a cidade e as Roças *(244) São Tomé e Príncipe (São Tomé e Príncipe), 2013
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José António Rodrigues de Almeida Pereira, Cabo Verde 22.2.4. Roda d´Fortuna *(245) S. Pedro, S. Vicente (Cabo Verde), 2015
4.1.35.4.22.2.3. Um sonho de pernas para o ar. *(246) S. Pedro, S. Vicente (Cabo Verde), 2015
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22.2.2. Oceano de adversidades...mar de coragem *(247) S. Pedro, S. Vicente (Cabo Verde), 2015 22.2.5. Vento leste *(248) S. Pedro, S. Vicente (Cabo Verde), 2015
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Adan Bruno Costa da Silva, Brasil 23.2.2. Sem título *(249) Ilha de Maiandeua (Brasil), 2014
4.1.35.4.23.2.1. Sem título *(250) Ilha de Maiandeua (Brasil), 2014
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23.2.4. Sem título *(251) Ilha de Maiandeua (Brasil), 2014 23.2.5. Sem título *(252) Ilha de Maiandeua (Brasil), 2014
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
Rocío Garrido Martín, Espanha 73.2.2. Mercado *(253) Dire Dawa (Ethiopía), 2014 4.1.35.4.73.2.3. Casa Dorze *(254) Dorze (Ethiopía), 2014
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Yolanda Neris de Oliveira, Brasil 60.2.2. Belezas da Mantiqueira *(255) São Bento Sapucaí, SP (Brasil), 2015 60.2.4. Pedra do Baú *(256) São Bento do Sapucaí, SP (Brasil), 2015
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18.2.2. José Pinto, Portugal 2 - Maré Baixa *(257) Combarro, Galiza (Espanha), 2015 43.2.1. Martha Alicia Moreschi, Argentina Bello paisaje labrado *(258) Moray (Peru), 2014
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45.2.4. Felipe Tomás Jiménez Ordóñez, Espanha Alhambra I I *(259) Ciudad Real (Espanha), 2014 55.2.3. Lucas Zenha Antonino, Brasil Entrelaços de Esperança *(260) Campo Formoso, Bahia (Brasil), 2014
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
61.2.3. Jordi, Espanha Viaje al oasis *(261) Novelda (Espanha), 2015 14.2.1. Cátia Castanheira Ferreira, Portugal Trabalhar o mar *(262) Pasajes San Juan, San Sebastián, País Basco (Espanha), 2014
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67.2.2. Andreia Julieta Gonçalves Bernardo, Portugal Titulo *(263) Pirinéus (Espanha), 2013 40.2.6. Ilda Susete Correia, Portugal Marcos de Fronteira VI *(264) San Martín del Pedroso, Zamora (Espanha), 2015
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61.2.1. Jordi, Espanha Ermita a la luz de Venus *(265) Elda, Alicante (Espanha), 2015 46.2.3. Roberto Conde Álvarez, Espanha Antiguo cementerio *(266) Rascafría (Espanha), 2015
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46.2.4. Roberto Conde Álvarez, Espanha Antigua edificación *(267) Rascafría (Espanha), 2015 27.2.1. Daniel, Espanha Old window *(268) Almería (Espanha), 2015
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I Espaços rurais: povoamento, atividades, modos de vida
2.2.1. Miriam Lago, Portugal Lviv *(269) Lviv (Ucrânia), 2013 51.2.1. Ruben Carrilho, Portugal Nostalgia *(270) Amareleja (Portugal), 2013
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28.2.1. Catarina Bettencourt, Portugal Camponesa *(271) Shan State, (Myanmar), 2015 2.2.5. Miriam Lago, Portugal Sem título *(272) Olshanka (Ucrânia), 2013
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25.2.2. Ana Rita Matias, Portugal Meninos de um rio 2 *(273) Pium, RN (Brasil), 2014 25.2.3. Ana Rita Matias, Portugal Meninos de um rio 3 *(274) Pium, RN (Brasil), 2014
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64.2.3. Ramón Ángel Acevedo Arce, Chile Jóvenes mujeres - músicos *(275) San Pedro y San Pablo Teposcolula (México), 2014 28.2.3. Catarina Bettencourt, Portugal Na loja *(276) Shan State, (Myanmar), 2015
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Cidade e processos de urbanização
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prémio tema
António Alves Tedim, Portugal 34.3.1. Metades *(277) Porto, Estação de S.Bento (Portugal), 2015
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menções honrosas
António Carlos Pereira da Costa, Portugal 14.3.1. Do not tell them *(278) Porto (Portugal), 2013
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Jonathan Carvajal, Colombia 22.3.1. From the serie the edge *(279) Reikavik (Islandia), 2014
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I Cidade e processos de urbanização
menções honrosas
Miguel Louro Costa, Portugal 60.3.1. Sem título *(280) Odivelas (Portugal), 2014
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A cidade é passado e presente ansiando pelo futuro José Manuel Simões * Segundo os dados da Organização das Nações Unidas (ONU), por volta de 1900, apenas 10% da população “O homem que cavalga longamente por terrenos bravios sente mundial vivia em centros urbanos. Hoje, tal valor eleo desejo de uma cidade” vou-se para 54% (3,9 mil milhões de pessoas), sendo Italo Calvino, Le Città Invisible, 1990 que nas regiões classificadas como mais desenvolvidas tal valor atinge já os 78,3%. Em 2050, estima-se que a cidade é um sítio e uma posição. A cidade é população urbana, cujo crescimento global anual é de tempo e espaço imaginado e desenhado, paisa0,8%, alcance os 66,4% (85,4% nas regiões mais degem artificializada, densificada e volumetrizada. senvolvidas, cujo crescimento anual é actualmente de A cidade é pequena, média, grande, e cada vez mais apenas 0,3%, e 63,4% nas restantes regiões). O ritmo enorme. A cidade é concentrada, linear, compacta, e de crescimento anual global da população urbana é fragmentada. A cidade é pedra, tijolo, cimento, mahoje de 0,8%, mas nas regiões mais desenvolvidas é de deira, ferro, vidro... A cidade é mostruário de casario, apenas 0,3% enquanto nas restantes regiões é de 1,2%. acomodação e miscigenação de edifícios, grandes e No contexto da população mundial a população urbapequenos, coloridos e monocromáticos, novos e enve- na Actualmente, existem 488 cidades com mais de um lhecidos pelo tempo, pelas intempéries e pelo desmaze- milhão de habitantes (eram apenas 144 em 1970), e, lo. A cidade é infra-estrutura, aérea e subterrânea, destas, 41 possuem mais de 10 milhões de habitantes avenidas, ruas, azinhagas, becos, calçadas, escadarias, (eram apenas 3 em 1970). largos, praças, pontes, túneis, canalizações, cabos, fibras… A cidade também é verde, sejam jardins, par- O fenómeno urbano é, pois, uma das realidades mais 1. Evocando a cidade e o fenómeno urbano
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ques, hortas ou simplesmente flores à janela.
marcantes impulsionadoras dos territórios. eMas, a aceleraçãoda datransformação urbanização trouxe também problemas e desafios de grande diversidade e magnitude, requerendo novas reflexões e intervenções.
Mas, a cidade é também espaço vivido e memória, trabalho, sociabilização e lazer, tradição e inovação e arte, conhecimento e tecnologia, capital, empresas e trabalhadores. A cidade é poder, negócio, gestão e competitividade. A cidade é contraste e conflito, mosaico assimétrico de riquezas e misérias, de abundância e privação, de indiferença e exclusão, mas também de hospitalidade, assimilação e inclusão. A cidade é mobilidade e interacção, palco de deambulações, rotinadas e errantes, destino de chegada e de partida, de pendulares, visitantes e turistas, e de migrantes que buscam novas paragens e oportunidades. A cidade é, antes de mais, pessoas!
2. Buscando novos conceitos e modelosde cidade “A forma de uma cidade muda mais depressa, ai de nós, que o coração de um mortal.” Charles Baudelaire, Le Cygne ,1857
Hoje, deseja-se que a cidade seja resiliente e sustentável, mas também saudável, inclusa, criativa, inteligente, competitiva e para muitos «humana» e «feliz». 123
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I Cidade e processos de urbanização
A resiliência, conceito baseado na aptidão de um determinado sistema para recuperar o seu equilíbrio depois de ter sofrido uma perturbação, foi introduzido nas problemáticas territoriais no início da década de setenta com os estudos do ecologista canadiano Crawford Holling. Apesar de se ter tornado ´no seio da comunidade científica um conceito da modernidade, reveste-se, contudo, de alguma complexidade e até pa-
onde se sublinha que doravante «as cidades d everão situar a sua política numa perspectiva a longo prazo ». Em 1992, a ideia de «organização urbana sustentável» aparece como um objectivos centrais da «Agenda 21», adoptada na Cimeira Planeta Terra do Rio de Janeiro e, quatro anos mais tarde, na Conferência Habitat II da ONU, o “Plano de Acção Global” estende consideravelmente o conceito de sustentabilidade na direcção
radoxalidade, medida em queprognósticos a esmagadora maioria das cidades, aonarevés de muitos científicos, conseguem atravessar prolongados ciclos de crise e de desestruturação urbanística, económica e social, motivados por factores bélicos, catástrofes naturais e tecnológicas ou recessões da economia, adaptando-se em cada momento e conseguindo prolongar intemporalmente a sua existência concreta.
dos assentamentos humanos. À(1993) escala europeia, o relatório Towards Sustainability da Comissão Europeia especifica claramente o papel e o comprometimento da Comunidade na organização do espaço e na coesão económica e social da Europa, e na prossecução do desenvolvimento urbano sustentável.
O conceito de sustentabilidade, imbrica-se com o da resiliência, e é uma temática que nas últimas décadas tem estado presente nas preocupações e análises científicas de todos os que se debruçam sobre as dinâmicas e transformações do território. O conceito começou a ser forjado há cerca de um século, na medida em que a ideia “pensar global, agir local”, habitualmente atribuída ao biólogo René Dubos, está implícita no livro Cities in Evolution do urbanista escocês Patrick Geddes. Mas, é a partir de 1987, quando a Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento da ONU, presidida pelo norueguês Gro Brundtland, publica o relatório Our Common Future, onde se avança uma definição do desenvolvimento sustentável na intersecção dos vectores ambiente, sociedade e economia, como sendo aquele que “responde às necessidades do tempo presente, sem comprometer a possibilidade para a s gerações futuras de responder às suas próprias necessidades ”. Nos anos noventa, o conceito surge igualmente no relatório da OCDE Environmental Policies for Cities in the 1990s,
Hoje, do ponto de vista instrumental, afirmam-se quer as políticas e acções estimuladoras da reabilitação urbana, visando a recuperação patrimonial e a revitalização social e económica dos centros históricos, tendo ainda como pano de fundo a atenuação da dispersão e fragmentação urbana de modo a favorecer a compactação da cidade, quer as políticas e acções conducentes ao «baixo carbono», intervindo na eficiência energética da mobilidade e transportes e dos edifícios. Numa outra vertente, mas com o propósito análogo de aprofundar a sustentabilidade, destaquem-se as iniciativas de gestão territorial e urbanística tendentes a tornar a cidade mais «verde» e «biofílica» (jardins, parques urbanos, hortas urbanas, “telhados verdes”…) e as que recorrem cada vez aos ensinamentos do estudo do metabolismo das cidades e parametrização da capacidade de carga dos lugares. No que se refere ao conceito de «cidade saúdavel», deve relembrar-se que as primeiras preocupações com esta temática remontam a cerca de dois mil e quatrocentos anos, com a publicação da obra do médico grego Hipócrates subordinada ao tema “Sobre os Ares,
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as Água s e os Lugares ”, onde são induzidas as relações entre as características da água, do clima e da cidade e a saúde das populações. A partir de meados do século XIX, num contexto de deterioração crescente das condições de vida de muitas cidades norte-americanas e europeias, industrializadas, começam a emergir movimentos cívicos clamando por cidades mais habitáveis e, em resposta, novos conceitos de planeamento
cidade sempre coexistiram grupos socio-económicos diferenciados, uns, segregados e marginalizados social e economicamente, seja pela debilidade do poder de compra e condição precária do emprego, seja pela etnicidade e comportamentos sociais, outros, pelo contrário, detentores de muito poder e capital, dando srcem a grandes clivagens na matriz social e económica dos residentes na cidade. Hoje, as preocupações
da cidadecom embuidos pelos ideais higienistas. A preocupação a construção de cidades mais saudáveis viria a renascer de forma intensa a partir de meados dos anos setenta, primeiro impulsionada pelas conclusões do chamado Relatório Lalonde (A New Perspective on the Health of Canadians , 1974), depois, com a reorientação do enfoque da Organização Mundial de Saúde (OMS), ao lançar, em 1978, em Alma-Ata, na primeira conferência internacional sobre Cuidados de Saúde Primários, o ambicioso desafio da obtenção da «Saúde para Todos». Mais tarde, em 1986, num simpósio em Lisboa, a OMS lançaria formalmente o projecto «Cidades Saudáveis», preconizando que uma cidade saudável é aquela que articula o vasto conjunto dos seus atores, objectivando a orientação de acções direccionadas à produção colectiva da saúde
com a no problemática inclusão social naextrema, cidade vão muito sentido do da combate à pobreza da valorização das especificidades culturais de grupos étnicos trazidos ao encontro da cidade pelas correntes migratórias internacionais, e da aceitação de comportamentos sociais de minorias específicas, mormente as associadas à questão do género. A criatividade é uma questão da modernidade, projectada no mundo académico, no dos planeadores e gestores do território e no dos media com as publicações de autores como Charles Landry e Richard Florida. A cidade criativa emerge da articulação entre as novas tecnologias e novos tipos de economia baseados na criatividade e inovação e na expressão artística, tudo maturado no seio de uma comunidade diversa, com
e à construção de uma rede de solidariedade, com o objectivo comum de melhorar a qualidade de vida da população.
boa qualidade de vida, com elevado nível educacional, culturalmente dinâmica, e apoiada em reconhecidas instituições de ensino e investigação e em boas infra-estruturas tecnológicas. Richard Florida sublinha que A inclusão, ainda que seja um desígnio facilmente certas cidades, mais do que outras, possuem a capaconsensualizavel por todos os que se norteiam por cidade de atrair empresas e pessoas criativas e inovaprincípios de justiça social e de igualdade de oportuni- doras, capacidade inerente a um conjunto de factores dades, está longe de ser uma realidade, sendo por isso, identificados como os três «T’s»: Talento, Tolerância e desde há muito, uma temática recorrente no estudo da Tecnologia. cidade. Destaquem-se, desde logo, as análises de Henri Lefebvre, Manuel Castells, David Harvey e Peter Hall, A expansão e desenvolvimento das novas tecnologias, cujas obras iniciais revelam pioneirismo e marcaram, reforça a ideia de que os edifícios e as cidades podem na transição dos anos sessenta para os setenta, o pen- ser «inteligentes», alavancando novos conceitos samento científico e social de muitos urbanistas. Na estratégicos de enquadramento do planeamento e
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intervenção urbana, como os de «smart city », «cyber city» e, sobretudo, reposiciona a cidade num tempo, que sendo presente, é já futuro, preparando-a para os desafios da competitividade interurbana, a várias escalas, sob o manto da globalização. A prazo as fachadas da maioria dos edifícios da cidade tornarse-ão enormes ecrãs de comunicação e divulgação permanente de informação, e no espaço público
3. Deambulando pela cidade
surgirão paisagens virtuais animadas, e convidativas. E, tendo como horizontediversificadas um futuro não muito longínquo, estão já projectar-se grandes cidades flutuantes e auto-suficientes que poderão cruzar os mares itinerando pelo mundo.
mundo.dos Abre-se-lhe um mundo amplo eespacialmenchega até si, através olhos, bastante mais mais informação te detalhada e específica ”.
“A câmera é um instrumento que ensina as pessoas a ver sem câmera” Dorothea Lange
Como escreveu o geógrafo Yu-Fu Tuan na suaTopophilia (1974), “O Homem depende mais conscientemente da visão do que dos demais sentidos para progredir no
Mas, há também cada vez mais desencantados com a longa e sinuosa «viagem da cidade», alertando para: i) a voragem do betão e do capital, que à sua passagem adultera ou mesmo destrói paisagens e patrimónios de identidade e valor, normalizando arquitecturas e tornando os cidadãos em sujeitos passivos e meros números de estatística; ii) as gritantes segregações sociais, que em muitos casos deram lugar a «guettos»; iii) o enfraquecimento das tradicionais relações de vizinhança e de solidariedade local, motivado por um urbanismo e uma evolução económica e societal que nos empurra para o «individualismo». Em alternativa, reclamam a materialização de uma cidade mais humanizada, pela sua escala, pela qualidade do edificado e do espaço público, pela recuperação patrimonial e identitária, pela disponibilização de serviços de proximidade que garantam a satisfação das necessidades do quotidiano e estimulem as relações de vizinhança e o pedestrianismo, pelo estímulo ao envolvimento dos cidadãos. Uma cidade que também se possa afirmar como uma «slow city», em rejeição ao modelo disseminado da «fast city». E, se tal for alcançado, a «cidade feliz» que alguns preconizam, poderá não ser uma utopia!
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A fotografia é uma oportunidade e um impulso sensorial para captar um momento efémero. É um ângulo de visão, reflectido ou inesperado, que premeia a atenção ou a persistência e a destreza de decisão. É um jogo de luzes e sombras, de cores e tons que se harmonizam e contrastam numa composição singular. É um resultado que regista, elucidando ou lançando a dúvida, e que, sobretudo, perpetua para além do momento. E, há ainda a fotografia reinventada, forjada na manipulação tecnológica do registo fotográfico, num compósito de processos de adição e subtracção de elementos, ou de alteração cromática e incorporação de filtros. Independentemente do olhar ou da tecnologia, a fotografia prossegue paulatinamente a sua já longa aventura, e, na contemporaneidade, a imagem vulgarizou-se e ganhou uma força transformadora e galvanizadora do mundo. Movendo-se por entre o edificado e o movimento da cidade, seja de dia, seja de noite, o fotógrafo é um intérprete atento ao inesperado, ao pormenor e aos enquadramentos cénicos. Uns, focam-se mais no vigor e diversidade física da cidade, procurando ângulos despidos de pessoas, descortinando e registando a força e rasgo da arquitectura e da engenharia e a intemporalidade do património. Outros, pelo contrário, mergulham nos quotidianos dos urbanitas, captando
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ora estilos identitários e expressões fisionómicas e do olhar, ora vivências, de jovens, adultos e idosos, de trabalhadores, consumidores e ociosos e turistas. Uns deixam-se tanger pela estética, buscando equilíbrios e profundidades de enquadramento, beleza e composições cénicas e artísticas. Outros, vestem-se de guardiões da História, buscando o registo do facto memorável, seja tragédia, seja evento festivo, seja,
Fotografar na transversalidade de territórios, sociedades e culturas, penetrando no âmago da cidade, aqui, nas profundezas da terra, ansiando pelo transporte para casa (pernas para que te quero!), ali desfiando conversas na calçada (espelho meu diz-me com quem vou eu?), mais além no eixo da dúvida, porque os combustíveis fósseis estão a esgotar-se (gasóleo ou gasolina?), e por fim, enquadrando a dura realidade da
ainda, um momento singular superação docomo génio da Humanidade. Outros ainda,deassumem-se protagonistas activos da Sociedade, denunciando a injustiça e a movimentação social, os poderes abusivos e os conluios, as decisões erradas impactantes sobre as pessoas, as empresas ou o território...
vida e da em cidade se compõe e decompõe incessantemente cadaque instante (“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Muda-se o ser, muda-se a confiança: Todo o mundo é composto de mudança. Tomando sempre novas qualidades ”. Camões)
* Professor e Investigador do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (IGOT-ULisboa)
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Pessoa Neto, Portugal 62.3.4. Arquitetura Grande Porto *(281) Maia (Portugal), 2015
4.1.35.4.62.3.2. Arquitetura Grande Porto *(282) Maia (Portugal), 2015
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62.3.5. Arquitetura Grande Porto *(283) Porto (Portugal), 2015 62.3.6. Arquitetura Grande Porto *(284) Maia (Portugal), 2015
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David Pissarra, Portugal 32.3.4. Sem título *(285) Lisboa (Portugal), 2015
4.1.35.4.32.3.5. Sem título *(286) Lisboa (Portugal), 2015
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32.3.1. Sem título *(287) Lisboa (Portugal), 2015 32.3.3. Sem título *(288) Lisboa (Portugal), 2015
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Luís Filipe Pessoa Neto, Portugal 35.3.2. Passear o cão *(289) Bairro da Bouça, Porto (Portugal), 2015
4.1.35.4.35.3.3. Rotina *(290) Bairro da Bouça, Porto (Portugal), 2015
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35.3.6. Verde entre betão *(291) Bairro da Bouça, Porto (Portugal), 2015 35.3.4. Destinos diferentes *(292) Bairro da Bouça, Porto (Portugal), 2015
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José Figueira, Portugal 50.3.2. Dois dedos de conversa ao final do dia *(293) Mouraria, Moura, Alentejo (Portugal), 2015
4.1.35.4.50.3.6. Vasos à janela *(294) Mouraria, Moura, Alentejo (Portugal), 2015
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50.3.1. A rega das minhas plantinhas bonitas e viçosas *(295) Mouraria, Moura, Alentejo (Portugal), 2015 50.3.4. Números de porta 14 e 16 *(296) Mouraria, Moura, Alentejo (Portugal), 2015
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Oksana Zagoruy, Portugal 12.3.3. Golden Hour *(297) Porto (Portugal), 2015
4.1.35.4.12.3.4. Golden Hour II *(298) Porto (Portugal), 2015
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12.3.2. The Moment *(299) Porto (Portugal), 2015 12.3.5. Golden Hour III *(300) Porto (Portugal), 2015
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Jorge Filipe Ascensão, Portugal 61.3.5. Arte Urbana *(301) Covilhã (Portugal), 2015
4.1.35.4.61.3.1. Arte Urbana *(302) Covilhã (Portugal), 2015
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61.3.4. Arte Urbana *(303) Covilhã (Portugal), 2015 61.3.2. Arte Urbana *(304) Covilhã (Portugal), 2015
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Rodolfo Gil, Portugal 55.3.2. Lugares de Passagem 2 *(305) Lumiar, Lisboa (Portugal), 2015
4.1.35.4.55.3.3. Lugares de Passagem 3 *(306) Lumiar, Lisboa (Portugal), 2015
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55.3.6. Lugares de Passagem 6 *(307) Lumiar, Lisboa (Portugal), 2015 55.3.5. Lugares de Passagem 5 *(308) Lumiar, Lisboa (Portugal), 2015
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Paulo Alexandre Teixeira Vahia, Portugal 24.3.4. Alienação IV *(309) Lisboa (Portugal), 2015
4.1.35.4.24.3.6. Alienação VI *(310) Lisboa (Portugal), 2014
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24.3.1. Alienação I *(311) Lisboa (Portugal), 2014 24.3.3. Alienação I I *(312) Lisboa (Portugal), 2015
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António Carlos Pereira da Costa, Portugal 14.3.4. 1 to 1 *(313) Foz do Douro, Porto (Portugal), 2014
4.1.35.4.14.3.2. The Great Wall *(314) Coimbra (Portugal), 2014
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14.3.5. 2x2 *(315) Porto (Portugal), 2013 14.3.3. Playground *(316) Casa da Musica, Porto (Portugal), 2013
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Hugo Jorge Pires Ferreira, Portugal
Paulo Alexandre da Costa Fernandes, Portugal
2.3.4. Coimbra - Pedro&Inês. *(317) Coimbra (Portugal), 2015 4.1.35.4.2.3.1. Coimbra - Reflexos no Mondego. *(318) Coimbra (Portugal), 2015
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48.3.4. New | Old *(319) Porto (Portugal), 2015 48.3.6. New ^ Old *(320) Porto (Portugal), 2013
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Sill Scaroni, Portugal
José Carlos Silva, Portugal
119.1.1. Simetrias *(321) Lisboa (Portugal), 2014 4.1.35.4.119.1.3. O rosto *(322) Tomar (Portugal), 2014
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37.3.3. Pernas ao léu *(323) Lisboa (Portugal), 2014 37.3.2. ZigZag *(324) Lisboa (Portugal), 2013
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António Alves Tedim, Portugal
João Paulo Lopes Correia Santiago, Portugal
34.3.2. Visitantes *(325) Estação de S.Bento, Porto (Portugal), 2015 4.1.35.4.34.3.4. Será que vem a horas? *(326) Estação de S.Bento, Porto (Portugal), 2015
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25.3.4. Nave Espacial *(327) Aeroporto Sá Carneiro, Porto (Portugal), 2013 25.3.2. Corte Transversal *(328) Parque das Nações, Lisboa (Portugal), 2014
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36.3.1. Hugo Gabriel da Silva Vieira, Portugal Ponte Luiz I *(329) Margem do Douro, Porto (Portugal), 2014 54.1.5. Joana Pais, Portugal O meu Porto *(330) Serra do Pilar (Portugal), 2014
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66.1.5. Adelina Clarisse Monteiro da Cunha, Portugal Passeio em Barco Rabelo *(331) Foz do Rio Douro, Porto (Portugal), 2014 54.1.6. Joana Pais, Portugal O meu Porto *(332) Serra do Pilar (Portugal), 2014
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27.3.1. José Manuel Martins Rosário, Portugal Gaiola Pombalina *(333) Lisboa (Portugal), 2014 23.3.4. Mariana Alexandra Ferreira, Portugal Toda a Terra *(334) Lisboa (Portugal), 2015
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47.3.3. Laurentino Simão, Portugal Cidades do interior - diversificar e valorizar 3 *(335) Évora (Portugal), 2014 59.3.3. Sérgio Almeida, Portugal Justiça *(336) Coimbra (Portugal), 2014
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58.3.2. LuÍs Miguel Ferraz, Portugal Não lugares *(337) Lisboa e Zona Sul (Portugal), 2013 58.3.4. LuÍs Miguel Ferraz, Portugal Não lugares *(338) Lisboa e Zona Sul (Portugal), 2013
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1.3.1. Paulino Mendes Silva, Portugal O abandono de um ex-libris *(339) Guarda (Portugal), 2014 16.3.2. Ana Elias, Portugal Passagem *(340) Amadora (Portugal), 2015
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51.3.2. Sofia F. Augusto, Portugal Space Invaders II *(341) Porto (Portugal), 2014 51.3.5. Sofia F. Augusto, Portugal Space Invaders V *(342) Porto (Portugal), 2014
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40.3.5. Alexandre Luís, Portugal Estruturas *(343) Guarda (Portugal), 2015 13.3.6. Diana Santos, Portugal Retrato desfocado *(344) Lisboa (Portugal), 2015
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49.3.2. Lívia Acácio, Portugal Convivências no Templo *(345) Coimbra (Portugal), 2015
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20.3.2. Isabel Guedes Pereira, Portugal Cruzeiro *(346) Lisboa (Portugal), 2014 102.1.1. Luís Carlos Ruas Coelho, Portugal Rua suburbana *(347) Rossio, Lisboa (Portugal), 2014
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39.3.1.jpg José Manuel G. Marques, Portugal Vista para o céu… *(348) Guarda (Portugal), 2015 37.1.1. Nuno Alexandre dos Santos Sousa, Portugal Gerês 1 *(349) Gerês (Portugal), 2013
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36.3.4. Hugo Gabriel da Silva Vieira, Portugal Cair do Sol no Monte do Pilar *(350) Póvoa de Lanhoso (Portugal), 2015 66.3.3. João Coutinho, Portugal Mar de chamas *(351) Foz do Douro, Porto (Portugal), 2015
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A cidade, feixe de razões e temporalidades Maria Laura Silveira * partir de conteúdos científicos, informacionais e financeiros, o sistema técnico que caracteriza a globalização tem permitido ocupar áreas novas para a produção e centralizar, ainda mais, os comandos políticos num pequeno número de pontos no território. As grandes empresas e agentes financeiros aumentam seu controle sobre os territórios nacionais, privilegiando áreas aptas para seus interesses, enquanto parecem distanciar-se das atividades banais da cidade. Assim, em boa parte dos países latino-americanos, a agricultura moderna e a indústria dispersa demandam a especialização dos serviços urbanos. Dir-se-ia, contudo, que é uma difusão concentrada das variáveis contemporâneas, responsável por uma aceleração dos processos de urbanização com o aumento da população urbana, do número de cidades e das demandas materiais e imateriais, produtivas e consumptivas, mercantis e sociais. Tarefas vinculadas à técnica, propaganda e marketing, administração e logística, exportação, informação estratégica e finanças tornam-se basilares e, em decorrência, o circuito superior da economia urbana (Santos, 1975) se robustece, ainda que de modo seletivo, nas grandes cidades e em algumas cidades médias. Atividades modernas solicitam mais atividades modernas e novas relações se estabelecem entre as aglomerações urbanas fazendo dialogar entre si tais patamares da economia superior. Daí a densidade técnica, informacional e normativa ao longo da rede urbana nas porções mais modernas do território.
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Entretanto, o crescimento da economia, o adensamento dos objetos no território e a tecnificação e organização das ações contemporâneas parecem responder, em boa parte das sociedades latino-americanas, a um exercício de concentração econômica.Não há tampouco uma significativa expansão da base de empregos que acompanhe a modernização material e organizacional 146
e, além disso, as diferenças salariais e de renda são profundas. Nessa dinâmica, o papel do Estado tem sido freqüentemente o de criar as melhores condições territoriais e econômicas para as grandes empresas e, por vezes, redistribuir uma parcela da renda entre os mais pobres sem atentar para as necessidades da produção menos capitalizada. Ainda mais nos países onde a modernização agrícola e a concentração da terra são de toda evidencia há uma tendência à formação de enormes manchas urbanas, permanentemente alimentadas por imigrantes rurais que, tantas vezes, se somam aos imigrantes estrangeiros e engrossam o circuito inferior. Em outras palavras, os pobres e desempregados, incluindo os imigrantes, procuram na grande cidade formas de sobrevivência. Daí a profusão de trabalhos, de todo tipo e natureza, que constituem divisões do trabalho em permanente transformação. Metáforas como monstropole, cidades que sofrem elefantíase ou atividades-esponja foram utilizadas no intuito de descrever os traços morfológicos e econômicos desses fenômenos. As ilhas de modernidade no território amiúde coexistem com o empobrecimento geral da população rural e urbana, de modo que a sobrevivência depende dessa multiplicação de divisões do trabalho, isto é, de circuitos de produção e consumo pouco capitalizados. Entretanto, os circuitos superior e inferior são opostos pela diferença de capital, tecnologia e organização (Santos, 1975) e, ao mesmo tempo, interdependentes nas funções e demandas, mesmo quando uma paisagem fragmentada possa por ventura obscurecer essa articulação. Há inúmeras tarefas, imprescindíveis a essa economia superior, cuja realização não interessa aos atores hegemônicos. Transportes, consertos, distribuição, abastecimento, contabilidade, produção de certos
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insumos ou serviços, entre tantas outras, são atividades confiadas a firmas de capitais mais reduzidos, cuja interlocução com a técnica e a organização do circuito superior é a condição mesma da sua existência. É a porção marginal do circuito superior, capaz de contribuir a unificar as etapas da divisão territorial do trabalho hegemônica. Exercendo um papel essencial nessa cooperação, a porção marginal do circuito superior obtém, todavia, lucros modestos em função do poder que os agentes hegemônicos detêm para impor as condições e o valor do trabalho aos demais agentes. Entretanto, o poder público não é alheio a essa desigualdade no valor do trabalho. A existência de tal porção marginal na economia superior permite diminuir custos sem por isso abater os preços finais dos bens e serviços. Assim, a situação de oligopólio se fortalece por esse caminho, embora não se complete graças à própria existência de tais pequenas e médias empresas.
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dem ser retratados como paisagens do desespero como na imagem cunhada por Relph para fazer alusão à cidade da revolução industrial. Não poucas metrópoles latino-americanas vêem transformados seus centros históricos e outras porções com importantes reformas urbanísticas, cujo ar renovado produz revalorizações, fluxos e polarizações. Hoje a nova economia política da cidade inclui a estetização e fundamentalmente o alargamento das formas e normas do consumo que é crescentemente simbólico. O gigantismoda técnica contemporânea não raro manifesta-se na impertinência dos grandes objetos arquitetônicos na paisagem que, vinculados a novos conteúdos culturais ou comerciais, revelam que a reprodução ampliada do capital abraça lugares e atividades impregnando-os de uma razão entendida como racionalidade.
Hoje o peso da produção material na metrópole tende a diminuir em função dos processos de desconcentraDas grandes empresas, cujo território é o país e o ção industrial que, todavia, estão longe de alcançar mundo, ao vendedor de rua, cujo território é a calçada os estabelecimentos do circuito inferior e, inclusive, e cujo capital cabe na própria mão, a metrópole é a a porção marginal do circuito superior. Malgrado a síntese de todas as divisões territoriais do trabalho e difusão concentrada das variáveis contemporâneas, o reino das inúmeras temporalidades da globalização. nossa época conhece, mais do que nunca antes, uma Os intermediários e, a cada dia mais, os intermediários banalização dos sistemas técnicos que, em arranjos financeiros são os responsáveis pelos múltiplos fios que diversos, redefinem as forças produtivas, as relações entretecem essas formas de trabalho. Velocidade e len- de produção e, em definitivo, os lugares. Daí o uso tidão, antecipação e espera, fluxos e massas, mobilidade desses novos meios de produção entre os mais pobres. e imobilidade são imagens aptas para pensar como Cada um ao seu compasso é capaz de usar os dados da cada agente interpreta seu tempo e utiliza as possibili- época e o fenômeno técnico na contemporaneidade dades técnicas do período. é prova incontestável disso. Mais divisível, a técnica atual permite renovar o conteúdo das formas materiais passadas, dando-lhes novo sentido. Uma verdadeira Produtora e usuária de grandes objetos e superfícies, presentificação do que já existe, no dizer de Sartre. essa economia superior não se renova sem um uso Nos centros antigos e deteriorados das metrópoles, mas intensivo da técnica e do capital e, em decorrência, parece não deixar interstícios para o trabalho humano também nas periferias cuja formação é mais ou menos advindo de saberes empiricamente construídos. Meios recente podemos observar uma profusão de formas simples de fabricação, comércio e serviços, incluindo escompósitos de edifícios inteligentes e helipontos em pecialmente a reparação de objetos banais e de objetos modernos centros empresariais, aeroportos, grandes tecnológicos avançados. Do conserto de panelas ao de centros comerciais, condomínios fechados, antigos computadores e celulares, esse conjunto de agentes parprédios revitalizados e arquitetura de autor já não po147
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ticipa do tempo da globalização e amplia, ao seu ritmo, a base técnica contemporânea. Eis o circuito inferior, cujos atores amiúde dividem e unificam o trabalho, não sem bulício, em espaços públicos. São paisagens onde os corpos estão presentes, os capitais são pequenos e as combinações técnicas podem ser surpreendentes.
economia é vista como informal, ilegal e improdutiva. A razão vincula-se ao cuidado da vida, ainda que nos discursos mais visíveis não possa galgar o status de racionalidade. Nessas condições, poderíamos perguntar-nos, na metrópole contemporânea, quemse arroga o direito de legitimar a quem?
A aglomeração é a condição de existência para os agentes e atividades da pobreza. Quem carece de força para criar demanda apenas pode sobreviver onde esta já existe. Nos densos centros das metrópoles cada pedaço da calçada desponta como uma oportunidade de dividir os custos da centralidade e de aproveitar os enormes fluxos de pedestres. Escadas, paredes, estações de metrô, trens e ônibus, mercados de rua, pontos fixos e intermitentes, associações impensadas de ramos são a arena de uma economia cuja organização é um dado a ser repensado a cada dia. Nas periferias, esses afazeres, associados ao cuidado das crianças, dos idosos e da casa, as relações de vizinhança, as festas populares e religiosas insistem em reunificar o espaço da vida e o espaço do trabalho. A lentidão é, portanto, um dado da existência. O cotidiano é reinventado nessa imensidão de “gestos-fio” como denomina Ribeiro a ação espontânea, singelamente concebida e portadora dos valores compartilhados, que relacionam os saberes na co-presença. O reconhecimento do outro, que não busca impor normas e que precisa resolver o sustento do dia, leva a um diálogo permanente e fortalece o que Santos (1996) denomina densidade comunicacional. Essa reprodução simples da vida está nas antípodas da produção de organizações e normas que antecipem a eficácia das ações e, por isso, tantas vezes, essa
Entretanto, as ruas das metrópoles latino-americanas revelam uma paisagem de oposições e interdependências. Nos bairros da periferia, publicidade e crédito mostram essa inter-relação e o permanente alargamento das possibilidades de consumir, levando a fortalecer a ideologia que busca convencer sobre a homogeneidade social das benesses da época. Concomitantemente, renova-se a arte da imitação, tão indissociável nos dias de hoje da arte da criação. A cidade e, mormente, a metrópole agrega no seu seio um leque de próteses e semoventes de idades diversas e uma pluralidade de práticas, idéias, normas, cosmovisões e formas de fazer que não se explicam apenas pelo presente nem apenas pela divisão territorial do trabalho hegemônica. A riqueza dessa diversidade sócio-técnica é ofuscada por uma desigualdade estrutural, cujas causas são políticas e cujas conseqüências principais são as restrições aos bens e serviços de direito comum sem os quais a vida social perde o rumo. É uma desigualdade estrutural, herança e cenário para a atual vida de relações. Todavia, quando grande parte da sociedade torna-se incapaz de exercitar os mandamentos atuais é possível vislumbrar os confins da racionalidade dominante. É tempo de indagar acerca das razões plurais que constroem a vida social na cidade.
* Investigador a Independiente do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET) no Instituto de Geografia da Universidade de Buenos Aires. Referências: Relph, Edward. Place and placelesness . Londres: Pion, 1976. Ribeiro, Ana Clara Torres. “Sociabilidade, hoje: leitura da experiência urbana”. Caderno CRH , Salvador, v. 18, n.45, p. 411-422, set./dez. 2005. Santos, Milton. L’Espace Partagé. Les deux circuits de l’économie urbaine des pays sous-développés. Paris: M.-Th. Génin, 1975. Santos, Milton. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. Hucitec: São Paulo, 1996. Sartre, Jean-Paul. Crítica de la Razón Dialéctica . Precedida de Cuestiones de Método. Buenos A ires: Losada, 3 ed., 1979.
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Jonathan Carvajal, Colombia 22.3.3. From the serie the edge *(352) Reikavik (Islandia), 2014
4.1.35.4.22.3.6. From the serie the edge *(353) Reikavik (Islandia), 2014
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22.3.2. From the serie the edge *(354) Reikavik (Islandia), 2014 22.3.4. From the serie the edge *(355) Reikavik (Islandia), 2014
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I Cidade e processos de urbanização
Rosa Rodríguez Sánchez, Espanha 28.3.1. Habitação *(356) Shanghai (China), 2014
4.1.35.4.28.3.4. Reflexão *(357) Beijing (China), 2014
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28.3.6. Skyline *(358) Shanghai (China), 2014 28.3.2. Passado e presente *(359) Shanghai (China), 2014
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Nuno Almeida, Portugal 31.3.6. O cemitério Poblenou *(360) Barcelona (Espanha), 2014
4.1.35.4.31.3.4. A cidade luz *(361) Barcelona (Espanha), 2014
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31.3.5. As figuras e a fonte *(362) Barcelona (Espanha), 2014 31.3.3. Aleph *(363) Barcelona (Espanha), 2014
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I Cidade e processos de urbanização
Luís Miguel Lopes Pina, Alemanha 53.3.4. Tempos negros *(364) Frankfurt (Alemanha), 2014
4.1.35.4.53.3.2. Simetria infinita *(365) Paris (França), 2014
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53.3.1. Torre misteriosa *(366) Munique (Alemanha), 2013 53.3.3. Um dia mais em Paris… *(367) Paris (França), 2014
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Goretty Gutiérrez, Espanha 45.3.5. Underground 5 *(368) Londres (Inglaterra), 2013
4.1.35.4.45.3.1. Underground 1 *(369) Londres (Inglaterra), 2013
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45.3.4. Underground 4 *(370) Londres (Inglaterra), 2013 45.3.2. Underground 2 *(371) Londres (Inglaterra), 2013
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I Cidade e processos de urbanização
Rodrigo Vilar, Brasil 120.1.4. Contrastes I *(372) São Paulo (Brasil), 2014
4.1.35.4.120.1.6. Que Plano é esse? *(373) São Paulo, zona sul (Brasil), 2014
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120.1.3. Retrato da Arquitetura *(374) São Paulo (Brasil), 2014 120.1.1. Felicidade *(375) São Paulo (Brasil), 2014
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Vicente , Espanha 64.3.6. Formas de vivir_6
numero Formas de vivir_1
*(376) Nueva Delhi (India), 2013
64.3.4. Formas de vivir_4 *(377) Nueva Delhi (India), 2013
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*(378) Nueva Delhi (India), 2013
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I Cidade e processos de urbanização
17.3.1. Patricia Sánchez Maldonado, Espanha Pared sobre pared *(379) Zamora (Espanha), 2015 44.3.4. Alejandro López Redondo, Espanha Paz *(380) Salamanca (Espanha), 2015
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52.3.1. Javier Yárnoz Sánchez, Espanha Escenas de calle nº 1 *(381) Vitoria (Espanha), 2014
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3.3.2. Hugo Miguel Branco da Fonseca, Portugal Escada da Vida *(382) Madrid (Espanha), 2014 3.3.1. Hugo Miguel Branco da Fonseca, Portugal Escalar o Céu *(383) Madrid (Espanha), 2014
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42.3.4. Angela Sairaf, Espanha La felicidad la devora el tiempo 4 *(384) Alicante (Espanha), 2014 42.3.1. Angela Sairaf, Espanha La felicidad la devora el tiempo 1 *(385) Madrid (Espanha), 2013
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I Cidade e processos de urbanização
63.3.3. Carla Sofia Martins, Portugal França 3 *(386) Paris (França), 2013
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26.3.4. Ignacio González Castaño, Espanha Brooklyn Heights *(387) Nueva York (Estados Unidos), 2014 39.3.5. José Manuel G. Marques, Portugal Vidro e fumo... *(388) Pequim (China), 2015
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11.3.1. Anael Ribeiro Soares, Brasil Habitar: o estado do ser no/com o mundo *(389) Juazeiro do Norte (Brasil), 2014 43.3.3. Maria Elizabeth Pierella, Argentina Palafitos *(390) Isla de Chiloé (Chile), 2015
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65.3.6. Regys Loureiro de Macêdo, Brasil Descanso *(391) Rio Grande, RS (Brasil), 2015
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tema 4
Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
prémio tema
Tiago Lopes Fernández, Portugal 63.4.5. Rituais Maia #5 *(392) Chichicastenango (Guatemala), 2014
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
menções honrosas
Arturo López Illana, Espanha 13.4.3. En la tribu 3 *(393) Rio Omo (Etiopia), 2014
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José María Rubio Calonge, Espanha 44.4.3. Kiev, Enero 2014 3 *(394) Kiev (Ukrania), 2014
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
100 anos é muito tempo. 100 quilómetros é muito longe. Paulo Peixoto * Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ... Que já têm a forma do nosso corpo ... E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ... É o tempo da travessia ... E se nã o ousarmos fazê-la... Teremos ficado ... para sempre ... À margem de nós mesmos...
Fernando Pessoa – Tempo da Travessia
screvo este texto sugestionado e instigado pelas três fotografias do catálogo “Transversalidades: Fotografia sem Fronteiras” – 2015, incluídas no tema Cultura e sociedade: diversidade cultural e social . Cada uma delas, não obstante a sua polissemia, me traz uma ideia concreta e imediata ao pensamento. As três, em conjunto, convidam-me a refletir sobre a importância da diversidade cultural.
janeiro numa cidade fria, embora sem neve; tudo faz transparecer que o carro é apenas um elemento petrificado da paisagem e que não vai a lado nenhum. Até porque parece não haver lugar nenhum para ir. Mas vejo no carro um convite. Se as raízes e o território nos dão uma roupagem cómoda porque ajustada ao nosso corpo e se os rituais nos parecem transportar sempre aos mesmos lugares, o carro apela à travessia necessária para sairmos da nossa zona de conforto. Parece petrificado, acentuando a ideia que sozinho
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A fotografia de Arturo López Illana, convocando afamiliaridade ideia de tribo, à territorialidade, à e àsremete-me raízes. Os rituais Maia, de Tiago Lopes Fernández, relevam o caráter repetitivo mas simbolicamente complexo das nossas vidas encaixadas num tempo e num espaço onde ganham os sentidos densos e, por vezes, imperscrutáveis das cumplicidades silenciosas. O carro em Kiev, de José María Rubio Calonge, sugere-me a individualização, a mobilidade e a aventura inerentes a esse ícone maior das civilizações modernas: o automóvel. O preto e branco desta última fotografia; as rodas encobertas por floreiras vazias, quais rodas de pedra presas ao chão; a ausência de pessoas; um dia frio de
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não vai a élado nenhum, a ousadia a que Pessoa apela capaz de fazermas umacom travessia qualquer. Na metalinguagem das narrativas científicas e mediáticas dos nossos dias, chamamos, fácil e acriticamente, identidade e património a essas zonas de conforto onde nos reconhecemos e somos reconhecidos. Mas a importância da diversidade cultural não está só em reconhecer as identidades e os patrimónios dos outros. Está, sobretudo, em sermos capazes de nos dar conta que a nossa identidade e o nosso património só se concretizam e só se realizam quando nos confrontarmos e interagirmos com outras identidades e com outros patrimónios. Quando formos capazes e estivermos dis-
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poníveis para conhecer e não apenas para reconhecer. rior, tem a ver com a evolução das funções sociais do Quando formos capazes de fazer essa travessia que nos património. Olhemos genericamente para cada uma retira das nossas próprias margens e que nos mostra delas. que é nos outros e no diverso que somos mais nós. Não há dúvida que os valores do património cultural, Como lembrava repetidas vezes Einstein, enquanto hoje como há 100 anos atrás, continuam a ser essenseres humanos somos parte de um todo. Uma parte ciais para a sociedade. Mas se ao património tivermos restrita a um tempo e a um espaço que define a nossa de associar uma intenção declarada, se tivermos de zonasomos de conforto. Nesta zona, vivemos na ilusão que algo separado do resto e do todo. Essaótica ilusão é, acima de tudo, uma prisão da qual temos de procurar sair por via da ampliação dos nossos círculos de empatia.
lhe atribuir vontadeuma paramissão realizaratualizada algum coisa, se tivermos de uma lhe associar e sintonizada com os valores da democracia e da liberdade, o património assume um desígnio claro. Esse desígnio assenta, inequivocamente, na necessidade de conceber novos meios que liguem os cidadãos ao património, Na verdade, sem grande esforço, estamos sempre a enfazendo evoluir as lógicas da conservação e da presercher as nossas vidas de fronteiras. As fronteiras criam vação para lógicas de participação. O património não tempos e espaços com lados em que nos sentimos mais é mais, nem pode ser, uma prática de representação seguros. Mas as fronteiras não deixam de ser prisões. dos poderes e dos agentes vencedores em determiE a segurança pode obstar à mudança. A importância nados momentos da história. O património é, e tem da diversidade cultural não está só em vermos o de ser cada vez mais, uma realidade vivida, sentida e outro lado, está na capacidade em entrarmos nele. A apropriada pelas comunidades. O património dos anos travessia não é só um fluxo. Não é apenas um vai-e90 do século XX, graças à mediação das várias ciências vem em que mais nada acontece além do movimento. que se foram interessando pelo património e às ações É também uma mudança da nossa condição social e de agentes muito diversos, e que reinventaram o termo da mudança que provocamos nos outros. Por isso, a ideia de “Fotografia sem fronteiras” é, também ela, um convite à travessia, na medida em que a fotografia pode e deve ser o princípio de um outro olhar. E olhar desperta os outros sentidos.
e a realidade a que ele se refere, já não é um património tão essencialista, tão monumental, tão disciplinar, tão ligado a um conjunto restrito de ideias. Um património mais plural é um desiderato de qualquer sociedade ou comunidade que queira não só preservar a sua diversidade, mas também converter essa diversidade em fonte de reflexividade e de transformação social. O património reifica e simboliza a identidade e, nessa medida, deve traduzir a diversidade que toda a identidade comporta. No mesmo universo identitário, as pessoas vivem em diferentes compartimentos temporais e espaciais.
1 Volto ao património para destacar duas dimensões dos processos de patrimonialização que são importantes para pensar a relevância da diversidade cultural nas nossas sociedades. Uma das características mais marcantes da noção de património é o percurso feito, no domínio das práticas de patrimonialização e das categoriais patrimoniais, na segunda metade do século XX. Outra dimensão, inevitavelmente ligada à anteRelativamente à segunda dimensão, cabe assinalar a
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
diversificação dos usos sociais do património. Se representar os momentos épicos ou emblemáticos de uma nação ou comunidade não deixou de ser uma função importante do património, outras funções foram ganhando relevância, sobretudo no pós Segunda Guerra Mundial: funções educativas; funções económicas; funções recreativas e de lazer; funções políticas; funções urbanísticas, etc. Em todas elas, o património
entrar o diverso; é reconhecermo-nos nos que não são como nós.
tornou-sediferenciados o instrumento simboliza e corporiza sentidos de que tempo. E é através dele que diferentes sentidos de tempo estão hoje a criar sentidos de lugar. Nessa medida, as dinâmicas de participação e de apropriação dos lugares estão intimamente ligadas a processos de patrimonialização. Quanto mais plurais e ecléticos forem esses processos, quanto mais forem capazes de reconhecer e de promover a diversidade, mais o sentido de lugar se constitui como uma fonte de renovação e de sustentabilidade. A função mais atualizada do património está em dar conta que ele não é uma coisa do passado, mas sim do presente e, sobretudo, do futuro.
cria-me ao mesmo Do tempo e outra de desconforto. meuuma ladozona de lá,deaoconforto contrário do meu lado de cá, “100 anos é sempre muito tempo”. Do meu lado de cá, ao contrário do meu lado de lá, 100 quilómetros é sempre muito longe. A verdade é que fazendo essa travessia entre sentidos diversos de tempo e de espaço, quando saio da minha zona de conforto, sem ficar desconsertado, tudo fica menos longe e menos inalcançável, no tempo e no espaço.
Einstein acrescentava ao seu pensamento em cima descrito que o tempo e o espaço das nossas vidas quotidianas são modos através dos quais pensamos o que somos e o que fazemos. Não são condições em que vivemos aprisionados. Nesse contexto, o desafio é sempre o de alargar o tempo e o espaço das nossas vidas quotidianas. Para fazer isso, a solução óbvia é abrir a porta à diversidade; é entrar no diverso e deixar
Uma das minhas travessias é cruzar o Atlântico num universo patrimonial que me revela, apesar da distância geográfica e da sua diversidade interna, uma identidade partilhada. Essa identidade, onde nem “sou eu, 2 , nem sou outro”, mas “qualquer coisa de intermédio”
A travessia qualifica na exata medida em que a troca de roupas que promove nos expõe temporariamente num momento desconcertante de nudez. E também porque, momentaneamente, nos retira dos caminhos conhecidos sem nos dar a conhecer outros. Precisamos, para não ficar à margem de nós mesmos, do tempo e do espaço que obriguem a nossa mente a espantar-se e a nossa imaginação a voar. Aprendi e ensinei, na travessia, que100 quilómetros é já ali e que 100 anos foi apenas ontem ou que poderá ser já amanhã. Ou, quem sabe, ainda hoje!
* Professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Pesquisador do Centro de Estudos Sociais (CES) 1 2
Entre outras que deixo de lado por economia de texto. Do poema “7”, de Mário de Sá Carneiro, em “Eu não sou eu nem o outro”.
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Bruno Silva, Portugal 32.4.5. Francisco (5) *(395) Gondomar (Portugal), 2015
4.1.35.4.32.4.4. Francisco (4) *(396) Gondomar (Portugal), 2015
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32.4.2. Francisco (2) *(397) Gondomar (Portugal), 2015 32.4.3. Francisco (3) *(398) Gondomar (Portugal), 2015
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Jenniffer Simpson dos Santos, Portugal 48.4.5. O povo é quem mais ordena_5 *(399) Lisboa (Portugal), 2015
4.1.35.4.48.4.6. O povo é quem mais ordena_6 *(400) Lisboa (Portugal), 2015
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48.4.1. O povo é quem mais ordena_1 *(401) Lisboa (Portugal), 2015 48.4.3. O povo é quem mais ordena_3 *(402) Lisboa (Portugal), 2015
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Arnaldo Alves de Carvalho, Portugal 38.4.6. Vozes ao alto#6 *(403) Coimbra (Portugal), 2013
4.1.35.4.38.4.4. Vozes ao alto#4 *(404) Lisboa (Portugal), 2013
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38.4.5. Vozes al alto#5 *(405) Coimbra (Portugal), 2013 38.4.2. Vozes ao alto#2 *(406) Coimbra (Portugal), 2013
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
José Pedro Martins, Portugal 41.4.3. Benção dos Animais III *(407) Mixões da Serra (Portugal), 2013
4.1.35.4.41.4.5. Benção dos Animais V *(408) Mixões da Serra (Portugal), 2013
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41.4.6. Benção dos Animais VI *(409) Mixões da Serra (Portugal), 2013 41.4.2. Benção dos Animais II *(410) Mixões da Serra (Portugal), 2013
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Iván Antonio Álvarez Merayo, Espanha 45.4.1. Efémero 1
45.4.2. Efémero 2
4.1.35.4 45.4.3. Efémero 3
45.4.4. Efémero 4
*(411) Santuário de Nossa Senhora da Peneda, Arcos de Valdevez (Portugal), 2015 *(413) Santuário de Nossa Senhora da Peneda, Arcos de Valdevez (Portugal), 2015 *(412) Santuário de Nossa Senhora da Peneda, Arcos de Valdevez (Portugal), 2015 *(414) Santuário de Nossa Senhora da Peneda, Arcos de Valdevez (Portugal), 2015
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
João Vasco dos Santos Ribeiro, Portugal
Bruno Lisita Rezende, Portugal
26.4.2. Sítio de Pós memória 2 *(415) Cemitério dos Prazeres (Portugal), 2013 4.1.35.4.26.4.1. Sítio de Pós memória 1 *(416) Cemitério dos Prazeres (Portugal), 2013
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18.4.5. Para quem tem fé, a vida nunca tem fim. *(417) Coimbra (Portugal), 2014 18.4.4. Fé *(418) Coimbra (Portugal), 2014
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25.4.5. Nuno de Santos Loureiro, Portugal Que lindos passarinhos... 3.4.5. *(421) Moncarapacho, Algarve (Portugal), 2015 Forcão, (Capeia Arraiana) *(419) Aldeia de Alfaiates, Sabugal, Guarda (Portugal), 2014 25.4.6. Nuno de Santos Loureiro, Portugal 4.1.35.4.número Encerro, (Capeia Arraiana) Reminiscências das Feiras de Gado no Algarve *(420) Aldeia de Alfaiates, Sabugal, Guarda (Portugal), 2014 *(422) Pereiro, Algarve (Portugal), 2015 Fernando José Curado Matos, Portugal
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
23.4.6. Carlos Cabral, Portugal O bairro *(423) Rabo de Peixe, S. Miguel, Açores (Portugal), 2014 23.4.4. Carlos Cabral, Portugal High School *(424) Rabo de Peixe, S. Miguel, Açores (Portugal), 2014
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51.4.6. Paulo Alexandre Rafael da Silva, Portugal Promessa descalça *(425) Ponta Delgada (Portugal), 2015 36.4.2. Ana Margarida Rodrigues Parreira, Portugal Rostos Invisíveis *(426) Lisboa (Portugal), 2014
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29.4.3. Ana Paula Costa Cebola Oliveira, Portugal Labor *(427) Cacela Velha (Portugal), 2014 66.4.5. Ricardo Jorge Anjos Campos, Portugal Vidas nos Mercados *(428) Mercado Abastecedor de Lisboa (Portugal), 2014
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64.4.3. Catarina Isabel dos Reis Pereira, Portugal Comunica *(429) Valhelhas (Portugal), 2105 47.4.3. Nuno França Machado, Portugal Brio *(430) Ponta Delgada (Portugal), 2015
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Cultura e Sociedade: Diversidade Cultural e Social Roberto Lobato Corrêa* omo toda construção humana, a cultura exibe uma inequívoca espacialidade e temporalidade, que se traduz em enorme diversidade cultural. Esta diversidade é o resultado de complexas e mutáveis relações envolvendo o Homem e a Natureza, assim como as relações entre os Homens. A diversidade, por outro lado, é ao mesmo tempo reflexo, meio e condição de existência e reprodução humana. Mais do que isto, constitui-se em característica eminentemente humana e distintiva dos outros animais.
restrito. Cultura é o conjunto de significados e suas representações que os diferentes grupos sociais elaboram e reelaboram visando dar sentido às diferentes esferas da vida. Trata-se de prática interpretativa daquilo que cada grupo, assim como os outros grupos, fez e está fazendo. Esta perspectiva de compreender a cultura é mais recente, do século XX, e tem nas filosofias dos significados a sua matriz. Autores como Ernst Cassirer, Martin Heidegger, Raymond Williams, Clifford Geertz e Denis Cosgrove, este entre os geógrafos, são referências fundamentais no âmbito dessa visão. A A despeito da polissemia que o termo cultura tem, diversidade cultural e social manifesta-se por meio de é possível concebê-la em dois grandes grupos. O “mapas de significados”, quer dizer, os diferentes mapas primeiro referente à cultura como o conjunto de que recobrem a superfície terrestre. Estes mapas ora características materiais e não-materiais criados pelos se justapõem ora se recobrem parcial ou totalmente, diferentes grupos humanos. Aí estão incluídos as denotando os diversos significados elaborados na comtécnicas e os artefatos ligados à produção, à habitação, plexa e variada experiência humana sobre a superfície ao vestuário, à dieta alimentar, as crenças religiosas, os terrestre. Em resumo, regiões culturais e “mapas de sigcódigos morais, as leis, as artes e tudo mais que disser nificados” são as expressões que designam, cada uma a respeito à existência e reprodução humana. Trata-se de seu modo, a diversidade cultural e social.
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um conceito amplo, tanto academia como no senso comum. Naadotado academia estana conceituação tem uma longa tradição que advém da etnografia e dela estendeu-se à antropologia e à geografia cultural. Nomes como Edward Tylor, Franz Boas, Alfred Kroeber e Carl Sauer, este entre os geógrafos, são expoentes na adoção dessa visão de cultura. É nesta perspectiva que se pode falar, por exemplo, em cultura dos esquimós, dos índios da Amazônia, dos povos do deserto, assim como em cultura chinesa e do homem metropolitano. As possibilidades de recortar o mundo em regiões culturais é imensa. O segundo grupo considera a cultura de modo mais
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Se regiões culturais e “mapas de significados” são expressões vinculadas sobretudo à tradição anglo-americana, gêneros de vida e espaços vividos vinculam-se à tradição francesa. Denotam também a diversidade cultural e social da humanidade, aproximando-se bastante de seus congêneres região cultural e “mapas de significados”. Paul Vidal de la Blache e Armand Frémont são as principais referências dessas leituras sobre a diversidade cultural e social. A cultura está em toda parte, parafraseando Denis Cosgrove, mas é na diversidade de paisagens culturais que ela se manifesta em primeiro lugar. Por isso na
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geografia a paisagem sempre teve forte destaque, tanto na geografia alemã quanto na inglesa, americana ou francesa. Este interesse do geógrafo manifestou-se tanto com base na versão da região cultural como na dos “mapas de significados”.
sua construção e apropriação pelas classes dominantes e os diversos grupos diferentemente subalternizados. A paisagem pode ser também residual e emergente, denotando a espacialidade desigual dos processos sociais. Entre os inúmeros significados intencionados pelos seus construtores estão aqueles que procuram A paisagem é considerada como expressão fenomênica criar simbolicamente uma transposição no espaço e da região cultural. Trata-se de um conjunto de formas no tempo do usuário da paisagem. Fala-se das paisamateriais articuladas e que Os cumprem que integram um dadoentre gruposisocial. gênerosfunções de vida estão aí inscritos. Apresenta uma espacialidade que impõe limites espaciais e uma temporalidade que descreve a sua criação, transformação e desaparecimento. A paisagem, segundo Carl Sauer, é o produto da cultura, transformada em agente das formas criadas pela humanidade. A diversidade cultural e social é, assim, o produto de um agente situado acima da sociedade, controlando a sua ação. Mas as regiões culturais e suas paisagens estão por toda parte, manifestando-se em diversas escalas espaciais e criando um complexo sistema de regiões e paisagens culturais. Este sistema não está, contudo, congelado, mas transforma-se por meio da ação humana a exemplo das paisagens agrárias modernizadas após a Segunda Guerra Mundial e
gens da simulação, construídasnoouespaço reconstruídas, que Os simulam novas experiências e no tempo. shopping-centers e os parques temáticos estão impregnados de paisagens da simulação. Ícones metonímicos e ícones de lugares constituem as formas materiais dessas paisagens. Estimular o consumo, tornando-o um ato prazeroso, é a intenção destas construções.
as paisagens agrárias deterioradas, transformadas em extensas áreas com pobre vegetação secundária e vazias de seres humanos. A diversidade cultural e social é assim refeita.
ras, perseguições e miséria.
É a paisagem dos excluídos, no entanto, que descreve com vigor as desigualdades culturais e sociais. As favelas, as áreas de cortiços e de auto-construção localizadas nas periferias, abrigando parcela crescente da população, são parte da marca, e das condições, da modernidade. A eles acrescenta-se, ainda que temporariamente, os acampamentos de refugiados oriundos de outras áreas e que dela fogem expulsos pelas guer-
As regiões étnicas constituem outra expressão da diversidade cultural e social da humanidade. Concentração espacial da população com o mesmo A diversidade cultural e social sugere que as paisagens genótipo, língua, costumes e em muitos casos religião não sejam analisadas apenas na perspectiva morfológi- dominante, as regiões étnicas são atualmente regiões ca, enfatizando-se as relações entre processo e forma, residuais ou onde o peso dominante das hegemonias perspectiva que ainda cumpre importante papel em de uma etnia foi diminuído. Os países da Europa, áreas ainda pouco conhecidas pelos geógrafos. Na Ásia e África exibem regiões étnicas, mais ou menos perspectiva dos “mapas de significados” a paisagem foi dissolvidas que, sob um mesmo território político, vista como marca e matriz social, vinculada às classes formam comunidades imaginadas, com tensões no sociais e a outros significados. Nesse sentido a paisaseu interior. Bascos, corsos, chechenios e curdos são gem é um reflexo e uma condição social, denotando a exemplos de situações de tensões de natureza étnica.
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
A África, por outro lado, oferece uma diversidade ainda maior das regiões étnicas, cujo conteúdo não é muito conhecido, oferecendo ainda inúmeros “mapas de significados” construídos e vivenciados pelas suas populações.
são os elementos que definem a variedade cultural e social da humanidade. A diversidade cultural, traço fundamental da humanidade, deve ser objeto de convivência fraternal entre os membros da comunidade humana. A unidade na diversidade deve ser sempre buscada. A diversidade cultural é sempre benvinda, mas não as desigualdades sociais. Estar a favor das diferenças e contra as desigualdades é, na verdade, uma
Regiões culturais, “mapas de significados”, paisagens da classe dominante e dos excluídos, paisagens da si-
mulação, etnias em sua espacialidade e tensões étnicas agenda para todos.
* Professor do Programa Pós- Graduação de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. (UFRJ e UERJ).
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transversalidades
Arturo López Illana, Espanha 13.4.6. En la tribu 6 *(431) Rio Omo (Etiopia), 2014
4.1.35.4.13.4.1. En la tribu 1 *(432) Rio Omo (Etiopia), 2014
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13.4.5. En la tribu 5 *(433) Rio Omo (Etiopia), 2015 13.4.2. En la tribu 2 *(434) Rio Omo (Etiopia Etiopia), 2014
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Cecília de Fátima dos Santos, Portugal 67.4.4. Família Li *(435) Ha Giang (Viet Nam), 2013
4.1.35.4.67.4.5. Família Li *(436) Ha Giang (Viet Nam), 2013
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67.4.6. Família Li *(437) Ha Giang (Viet Nam), 2013 67.4.3. Família Li *(438) Ha Giang (Viet Nam), 2013
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Felipe Estrela Campal, Brasil 46.4.4. Guria
46.4.1. Tangará *(441) Aldeia Guarani Estiva, Viamão, Rio Grande do Sul (Brasil), 2015 4.1.35.4.46.4.3. 46.4.5. Talcira Opy *(440) Aldeia Guarani Estiva, Viamão, Rio Grande do Sul (Brasil), 2015 *(442) Aldeia Guarani Estiva, Viamão, Rio Grande do Sul (Brasil), 2015 *(439) Aldeia Guarani Estiva, Viamão, Rio Grande do Sul (Brasil), 2015
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Tiago Lopes Fernández, Portugal
António Joaquim da Costa Marciano, Brasil
63.4.4. Rituais Maias #4 *(443) Chichicastenango (Guatemala), 2014 4.1.35.4.63.4.1. Rituais Maias #1 *(444) Chichicastenango (Guatemala), 2014
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56.4.1. A Dignidade *(445) São Bento Sapucaí (Brasil), 2015 56.4.3. Famílias *(446) São Bento Sapucaí (Brasil), 2015
transversalidades
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fotograa sem fronteiras
Antonio Pérez, Espanha 30.4.4. 004 Caminantes (Familia Siria en Melilla (Espanha) África. *(447) Melilla (Espanha) África (Espanha), 2015
4.1.35.4.30.4.1. 001 Caminante (B. de Nigeria, en Melilla (Espanha) África *(448) Melilla (Espanha) África (Espanha), 2015
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30.4.5. 005 Caminantes (Familia marroquí, acogida en el CETI en la salida de tarde en Melilla (Espanha) África. *(449) Melilla (Espanha) África (Espanha), 2015
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
Ignacio Izquierdo, Espanha 15.4.6. Mundos invisibles *(450) Madrid (Espanha), 2015
4.1.35.4.15.4.4. Mundos invisibles *(451) Madrid (Espanha), 2015
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15.4.5. Mundos invisibles *(452) Madrid (Espanha), 2015
transversalidades
José María Rubio Calonge, Espanha 44.4.5. Kiev, Enero 2014 5 *(453) Kiev (Ukrania), 2014
4.1.35.4.44.4.4. Kiev, Enero 2014 4 *(454) Kiev (Ukrania), 2014
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44.4.2. Kiev, Enero 2014 2 *(455) Kiev (Ukrania), 2014 44.4.6. Kiev, Enero 2014 6 *(456) Kiev (Ukrania), 2014
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Marta Dias, Portugal
Mercedes Soria Pérez, Espanha
4.4.2. Vida em Dulombi *(457) Dulombi (Guiné-Bissau), 2015 4.1.35.4.4.4.5. Vida em Dulombi *(458) Dulombi (Guiné-Bissau), 2015
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43.4.1.j Masai Woman *(459) Amboseli (Kenya), 2013 numero Inseparables *(460) Amboseli (Kenya), 2013
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34.4.3. José Fº Galvez Pujol, Espanha Juego de cartas *(461) Orihuela (Espanha), 2014 34.4.5. José Fº Galvez Pujol, Espanha Juegos *(462) Orihuela (Espanha), 2015
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17.4.1. Lília Reis, Portugal Sonhando na multidão *(463) Paris (França), 2014 5.4.2. Nuno Lobito, Portugal Inshala *(464) Gaza (Palestina), 2013
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Marco António Domingos Pedro, Portugal 40.4.2. Tradições Geracionais *(465) El Rocio (Espanha), 2014
4.1.35.4.40.4.3. Dor, Fé e amor *(466) El Rocio (Espanha), 2014
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2.4.3. Bárbara Cavalheiro de Andrade, Brasil Compaixão *(467) Praça Dante Alighieri, Caxias do Sul-RS (Brasil), 2015 20.4.2. Everaldo Jacob Silva, Brasil Piaçava *(468) Bahia (Brasil), 2014
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Claudio Carbone, Italia
Gabriel Bicho, Brasil
9.4.6. Comerciante *(469) San Cristobal de las Casas (México), 2014 4.1.35.4.9.4.2. Cozinha *(470) San Cristobal de las Casas (México), 2014
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14.4.2. Rio da vida *(471) Pará (Brasil), 2014 numero Rio da vida *(472) Pará (Brasil), 2014
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4 Cultura e sociedade: diversidade cultural e social
39.4.2. Flora Sousa Pidner, Brasil Contrastes Técnicos *(473) Salvador (Brasil), 2014 54.4.2. Ana Cristina Cabaço Batista, Portugal Encantador de turistas *(474) Kiriwina Island (Papua Nova Guine), 2014
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16.4.1. María Peña Coto, Espanha Melasti *(475) Bali (Indonesia), 2015 16.4.3. María Peña Coto, Espanha Espectadora de la ceremonia de “Ogoh Ogoh” *(476) Bali (Indonesia), 2015
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68.4.1. João Romba, Portugal Sem título 1 *(477) Rishikesh (India), 2013 68.4.6. João Romba, Portugal Sem título 6 *(478) Rishikesh (India), 2013
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37.4.3. Julio, Espanha Ofrendas *(479) Luang Prabang (Laos), 2014 37.4.1. Julio, Espanha Orando *(480) Chiang Mai (Tailandia), 2014
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28.4.3. Marcos Farias Ferreira, Portugal Esther *(481) Kigarama (Ruanda), 2014 12.4.6. Sylara Silva Silvério, Brasil Refrescante *(482) Porto de Galinhas (Brasil), 2015
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70.4.4. Susana Cristina Rodrigues Gasalho, Portugal Última paragem *(483) Trans-mongoliano (Rússia), 2014 70.4.6. Susana Cristina Rodrigues Gasalho, Portugal Genuidade *(484) Xiahe (China), 2014
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62.4.1. Alcino Alberto Martins da Fonseca, Portugal Atreve-te! *(485) Avilés (Espanha), 2015
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60.4.3. Luz Dary Cortés Marín, Espanha Habitación con vistas III *(486) Madrid (Espanha), 2014
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*legendas
legendas 1-6 Desde mediados de los noventa los asentamientos limítrofes con los vertederos de basuras en las grandes capitales centroamericanas han sufrido una trasformación radical. A día de hoy son numerosas las familias que viven del reciclado de los residuos desechables en estas macrociudades del plástico o el vidrio, su supervivencia económica depende de ello. Familias dentro del vertedero de tegucigalpa son fiel reflejo de comunidades adaptadas a la recolección de desechos en los Vertederos. 7 Lençóis Maranhenses. 8 Emde alguns dias,nos meses da época do da s argo, o número pescadores que procura as águas Fortaleza de sagres para pescar, é substancial. Alguns pesqueiros, os melhores, ficam lotados, exigindo dos pescadores redobrada atenção e concentração.
cabo de São Vicente e serve de abrigo nos dias de nortada às embarcações, desde os séculos passados.
19 Neste recanto da praia da barriga em Vila do Bispo, o acesso só pode ser feito em dias de grandes marés vazas. Neste dia o desareamento da praia proporcionou este cenário espectacular. A Praia da Barriga faz parte do parque natural do sudoeste alentejano e costa vicentina. 20 Fotografia capturada num final de tarde com correntes de ar instáveis que proporcionaram este tipo de nuvens fora do vulgar. Nuvens Tubulares. O Cabo de São Vicente é um lugar mítico e único onde cada final como nestede dia.tarde se transforma em algo mágico,
21 Nos dias de maré vazia as praias da costa sudoeste de Portugal são sempre diferentes de dia para dia e os 9 reflexos e impressões na areia cativam o nosso olhar. Foto captada na praia da Cordoama em Vila do Bispo “Bertze Aldea.” num final de tarde único. En euskera, bertze aldea significa “el otro lado”. Pasar al otro lado. Traer del otro lado. Ser del otro lado. Son A praia da Cordoama faz parte do parque natural do sudoeste alentejano e Costa Vicentina. expresiones que se pueden escuchar todos los días en cualquier pueblo de frontera. 22 Una frontera es una grieta que separa un territorio en Praia de S. Sebastião em dia de chuva. dos. Una raya que convierte la tierra en territorio. Son los mojones fronterizos los que delimitan físicamente por donde pasa esa raya. Todo lo que queda más alla del mojón se convierte en “el otro lado”. Pero las fronteras no han estado siempre ahí. El paisaje que conocemos tampoco ha sido siempre igual. En ese sentido, tanto el paisaje como la frontera son conceptos arbitrarios, que se transforman al ritmo de las sociedades. Con esta serie de fotografías he querido plantear algunas preguntas sobre la tierra, el territorio y el paisaje. Para ello, he colocado la cámara justo encima de la raya fronteriza y he cubierto de negro y blanco los mojones, descontextualizandolos de aquello que llamamos el paisaje.
23 Tirada na minha terra, Ericeira. Localizada entre a praia de S. Sebastião e a praia do Algodio. 24 Tirada com um pouco de sorte por ter “apanhado” estas duas pessoas no momento certo num espantoso final de dia na Ericeira, praia do Algodio. 25 Vila Nova de Milfontes, Alentejo. 26 Praia da Galé - Fontaínhas do mar.
10, 11
27 Praia da Galé- Fontaínhas do mar.
Longa exposição noturna perto do Cabo Sardão. 12 Local de pescadores ao final da tarde.
28 Praia da Galé - Fontaínhas do mar. Detalhe da arriba.
13 Praia do Brejo Largo, Costa Vicentina. 14 Por do sol sob formação rochosa no Cabo Raso. 15 Movimento das correntes de água entre as formações rochosas da praia. 16 Por do sol durante uma tempestade sob campos com flores. 17 Movimento das correntes de água entre as formações rochosas da praia. 18 Fotografia capturada num final de tarde com correntes de ar instáveis que proporcionaram este tipo de nuvens fora do vulgar. Pareciam ilhas flutuantes no horizonte. A enseada do beliche fica em Sagres a caminho do
29 Praia da Galé - Fontaínhas do mar. Recorte da arriba. 30 A rocha aponta o caminho para o oceano. Aqui a costa é templo protegido e o seu nome é Parque Marinho Professor Luiz Saldanha. Uma homenagem a quem dedicou parte da vida ao estudo desta costa rica em fauna e flora, refúgio de diversas espécies que crescem aqui. Ao fundo, na costa, ergue-se sobre as águas desde 1676 a Fortaleza da Nossa Senhora da Arrábida, hoje Museu Oceanográfico. 31 Em plena convivência com a natureza e relação com o mar, sobre um rochedo foi construída em 1686 a Capela do Senhor da Pedra e nos dias de hoje, anualmente é aqui realizada uma romaria, assim manda a tradição antiga. Local de lenda, de culto, de mistérios e milagres. A magia persiste para as centenas de pessoas que visitam o local.
32 Numa pequena praia da costa da Serra da Arrábida, vislumbra-se uma linha costeira pontilhada de rochas aqui e ali, deixando revelar a diversidade de processos geológicos talhados pelo tempo, ao tempo do oceano. Acima, eleva-se a silhueta deste Parque Natural. 33 Não muito longe da praia do Portinho da Arrábida surge a Pedra da Anicha. Um ilhéu que encerra em si a lembrança de uma antiga linha de costa. Muito mais que uma simples pedra ou lembrança, é uma reserva zoológica do Parque Natural da Arrábida, tal é a sua riqueza e diversidade biológica. 34 No Hércules dia 6 de Janeiro dea2014, ondulação da tempestade devastou costaaportuguesa. Na manhã dessa segunda-feira, muitos pescadores tentavam a sua sorte nas falésias da Fortaleza de Sagres. De repente, a altura das ondas começou a crescer vigorosamente apanhando alguns desses pescadores desprevenidos. Pouco depois, ficou impossível pescar. 35 A pesca à linha do alto da falésia da Fortaleza de Sagres, que tem cerca de 40 metros de altura, é uma coreografia permanente de equilibrismo sem rede, que por vezes, felizmente poucas, não tem o fim desejado. 36 A Fortaleza de Sagres é uma referência regional da pesca desportiva. Diariamente, é procurada por dezenas, e por vezes centenas, de pescadores que, cheios de fé, anseiam capturar das suas águas, espécies como o sargo, o robalo e a dourada. Nesta manhã de domingo do dia de Janeiro de 2014, a posição das finas e quase invisíveis linhas de pesca, permitiu que por momentos, o sol as revelasse e as transformasse em poderosas cordas. 37 Este pesqueiro situa-se a meio da rocha da Fortaleza de Sagres, a cerca de 20 metros de altura da água. É um pesqueiro de excelência para a pesca do sargo mas o difícil acesso faz com que só os pescadores mais arrojados, para lá vão. 38 - 39 Nascer do Sol na Ponte Vasco da Gama. 40 Brumas da freguesia de Arouca, Território Arouca Geoparque. 41 Brumas da freguesia de Moldes - Arouca, Território Arouca Geoparque. 42 Fim de dia junto ao Tejo. 43 Imagem que capta a realidade e a sua reprodução em street art. 44 Imagem captada junto a um curso de água de baixo do gelo. 45 Imagem captada ao por-do-sol na Serra da Estrela.
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46 Reflexo no lago do Vale do Rossim. 47 Vale do Rossim coberto de neve. 48 O Inverno no Covão d’Ametade. 49 Montanhas no Parque Natural da Serra da Estrela. 50 Foto tirada nos arredores de Macedo do Mato, perto de Izeda, Trás-os-Montes. A manhã estava fria, uma das mais frias do ano, com nevoeiro, mas com o sol pronto para despontar e inundar de luz os lameiros. Os dióspiros são fruta da época. 51 - 53 Foto tirada nos arredores de Macedo do Mato, perto de Izeda, Trás-os-Montes. A manhã estava fria, uma das mais frias do ano, com nevoeiro, mas com o sol pronto para despontar e inundar de luz os lameiros. 54 Esta lagoa é a unica na Polje,que tem traços naturais. Todas as outras são srcem de poços, esta tem vegetação típica de lagos. 55 Carreiro ou caminho que nos dá acesso aos terrenos. Na Polje coberto de água ,tornando uma tarefa difícil, para nos deslocarmos usando umas galochas,os habitantes e curiosos usam para desfrutar deste local. 56 Cruzeiro a subir o Rio Douro. 57 Socalcos das vinhas do Douro. 58 A tranquilidade das águas do Polje são, ao amanhecer, um verdadeiro encontro com a natureza. 59 Na arte xávega, no puxar das redes, o peixe miúdo serve de repasto às gaivotas que acostam à praia. 60, 61 Apanha do berbigão, na gíria, conhecido por crico, na Ria de Aveiro. A Ria de Aveiro, rica em bivalves, ainda hoje vai dando subsistência a pescadores e outros. Sempre que a maré baixa a Ria transcende-se, num espetáculo digno de registo. Homens e mulheres caminham sobre as águas baixas e lamacentas, arrancando-lhe das entranhas o seu sustento. 62 Por do sol Primavera. 63 Por do sol Verão. 64 Esta foto, foi tirada no mês de Dezembro ao fim da tarde,no alto do Merouço em Sobradelo da Goma. Onde podemos ver a beleza do por do sol na estação de Inverno. 65 Captei o sol a se esconder atrás da rocha, enquanto as pessoas conviviam na praia, gaivotas presentes na foto assim como a essência do por do sol.
66 Fotografia que retrata o Estuário do rio Mondego, junto à foz, na Figueira da Foz.
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85 Ao longo da visita encontramos diversas galerias esculpidas pela natureza ao longo de milhares de anos.
67 86 Torres eólicas, implantadas sobre a serra do Açor, foto- Colina coberta de estruturas para a plantação da uva. grafadas a partir da Torre, ponte mais alto de Portugal 87 continental. Sobe o desenho de uma calçada de paralelos os restos 68 da neve caída sobrevive ao aumento da temperatura. Pôr do Sol sobre o Farol na Serra da Boa Viagem, Fi88 gueira da Foz. Família de cavalos selvagens durante um nascer do sol 69 presenciado por um nevoeiro baixo. Pôr do sol Inspirador. 89 70 Foto do Vale Glaciar, na Serra da Estrela, concelho de Existem paraísos como este em Portugal. Manteigas. 71 90 Pôr do sol na Falésia. Formação de apiários. Alunos assistem à explicação do professor, enquanto verificam os quadros, que consti72 tuem o interior da colmeia. Reserva Natural do Estuário do Sado: riqueza, beleza e 91 sustentabilidade. A maré baixa deixa a descoberto o enorme sapal exisEscaravelho sobe na erva cruzada com as flores esbatente no estuário. tidas no fundo. 73 A poluição das margens do Rio Tejo são notadas não só pela cor da água, mas também pela presença do skate, prova do impacto negativo que o Homem tem na Natureza. 74 A noite cai lentamente sobre as águas. 75 Num desentendimento entre gaivotas e patos, estes lutam por um lugar, formando um círculo perfeito.
92 Uma lagarta de pieris rapae degustando uma folha de couve. 93 Flor de cores saturadas, só vistas à luz do sol. 94 A imensidão dos campos agrícolas da Lezíria Sul de Vila Franca de Xira.
95 Desporto de fim de tarde. 76 Amendoeiras em flor. Espécies tradicionais que vão 96 Esta foto está realizada en los campos de un pueblecidesaparecendo com a introdução de outras híbridas e to llamado Encinas. Fue un seguidor quien me alentó importadas. a realizarla, pues estaba al lado de Sepúlveda, zona 77 donde pasé unas vacaciones. Me hizo gracia pasar por Relatos de um belo passeio de domingo, pelo nosso una población tan pequeñita y que dos de sus calles belo Portugal. 78 As fugas de um rio outrora livre e agora aprisionado. 79 Um olhar de outro lado da casa das Queimadas. 80 O nascer de um dia (que não é) comum. 81 “Oh rapaz, eu com 87 anos ainda faço todas as lides de casa, só tenho pena que não haja mais juventude por estas bandas” - Dona Ana. 82 Na bio-diversidade desta floresta, com predominância das secóias gigantes oriundas da América, as suas cores salientam a sua beleza. 83 Uma das primeiras galerias que encontramos e que nos faz abrir a boca perante a beleza circundante. 84 Charco com uma rica biodiversidade.
más visibles se llamaran “Calle del diablo” o “Calle del infierno”. 97 Fotografía realizada en las cercanías del pueblo de Velayos, en un camino que está entre los campos de cultivo. Es un homenaje a las labores del hogar y a mis dos grandes compañeras, mis perritas Milka y Menta, que me acompañan siempre que salgo a hacer mis fotos. 98 Hace tiempo que quería realizar un ejercicio de composición en la naturaleza, una fotografía cuyo peso no lo llevara la parte más conceptual, sino sus líneas y colores. La he titulado “La cruz” y es una hija del verano. La fotografía está realizada en los campos de cultivos de las cercanías del pueblo de Velayos. 99 Hace mucho tiempo que deseaba realizar una imagen bajo el juego de palabras de “disparar una foto”. Pero he querido dar un pasito más. Me imagino a un Cupido moderno, dejando el carcaj de flechas en una esquina y recargando un revólver. Gracias a la fotógrafa Mara Hernández descubrí este campo de lavanda en Brihuega (Guadalajara). Era la primera vez que veía uno y puedo decir que es una de las maravillas de la naturaleza.
*legendas
100 - 103 A Laguna Colorada Roja localiza-se na Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Abaroa, no planalto boliviano. Contém sedimentos minerais e algas coloridas que tingem as suas água de um vermelho vivo, quando agitadas pelo vento, criando uma paisagem surrealista, quase irreal. Aqui, os flamingos são apenas incomodados pelos ocasionais visitantes, pequenos seres que contrastam com a escala imponente da paisagem envolvente. 104 Cruzando a Cordilheira IV: Chegámos a um país diferente pelo Paso de Jama. É um lugar realmente isolado, um território perdido onde a maioria está apenas de passagem até terminar de preencher os vários formulários e cumprir todos os trâmites necessários para atravessar a fronteira do Chile à Argentina - é um processo que se estranha entre países irmãos e que partilham tantos quilómetros lado a lado. No entanto, certas coisas não conhecem fronteiras. Vemos de imediato um grupo de crianças, provavelmente filhos dos trabalhadores do controlo de fronteira, a jogar à bola, num cenário de lagunas e flamengos. Seguimos acompanhados de lamas e vicunhas, as quais tampouco reconhecem fronteiras, passeando-se tranquilamente no meio da estrada. Ostentando os seus colares de lã colorida, olham-nos sub-repticiamente, com um misto de cautela e curiosidade. Mais à frente, esperam-nos salares de puro branco onde pessoas de tez nativa, com pele morena, cabelos escuros e olhos amendoados, vendem pequenas lembranças para o viajante que por ali passe, como pequenas lamas feitas de pedra de sal. 105 Cruzando a Cordilheira VI: Atravessando para o outro lado da cordilheira, as paisagens Argentinas sucederam-se numa diversidade impressionante. Desde a Puna de Atacama, com os seus rebanhos de lamas e burros, a desfiladeiros assombrosos de tons terracota repletos de catos gigantes e raposas esquivas. Seguindo para sudeste, sem darmos conta, surgiu uma vegetação luxuriante, como se houvéssemos entrado num outro universo - incrivelmente, do outro lado das montanhas, está o deserto mais árido do mundo, o Atacama. Chegámos a uma pérola remota, escondida de tudo. Tão similar a outras paisagens em muitos aspetos, mas tão infinitamente única à sua maneira. É Tafí del Valle, onde o tempo parece não ter lugar. Quando olhamos o mapa, parece-nos que estes lugares estão “”já ali ao lado””. Somos, inocentemente, enganados pelas distâncias que parecem curtas. No entanto, passam-se horas, dias a caminho, em que se sucedem estradas em linha reta que nos parecem sem fim, para dar lugar a um serpentear de subidas e descidas. As barreiras naturais, e estruturais, deixam algo isoladas estas comunidades. Pequenos refúgios, onde a tradição, e a natureza, ainda prevalecem. 106 “Cruzando a Cordilheira V: Aqui, os catos gigantes, uma raposa ocasional e um par de lamas são os únicos com que compartilhamos o local. O sol pôs-se e as ruínas da cidade pré-inca de Quilmes, um dos mais importantes e bem preservados sítios arqueológicos da Argentina, são apreciadas à luz das estrelas - e das nossas lanternas. No céu, a Via Láctea estende o seu braço de uma forma a que, nas nossas cidades luminosas, já não estamos habituados. Aqui no sul vem acompanhada da Grande e da Pequena Nuvem de Magalhães. No seu conjunto, formam
125 Esa fotografía es parte de un proyecto realizado en algunos parques naturales de Madrid. Espacios destinados al ocio, donde lo que me interesa es buscar y 107 - 110 recoger cosas que la personas que frecuentan esos parBertze Aldea ques tiran al suelo. Con eses “desechos”, que muchas En euskera, bertze aldea significa “el otro lado”. Pasar veces pasan desapercibidos pues se mimetizan con la al otro lado. Traer del otro lado. Ser del otro lado. Son naturaleza en si, hago esculturas temporales y utilizo el expresiones que se pueden escuchar todos los días en medio fotográfico como registro del mismo. cualquier pueblo de frontera. Una frontera es una grie* 032min - tiempo necesario una vez en el parque para ta que separa un territorio en dos. Una raya que conencontrar y recoger los elementos de la foto. vierte la tierra en territorio. Son los mojones fronterizos 126 los que delimitan físicamente por donde pasa esa raya. Todo lo que queda más alla del mojón se convierte en Esa fotografía es parte de un proyecto realizado en “el otro lado”. Pero las fronteras no han estado siemalgunos parques naturales de Madrid. Espacios despre ahí. El paisaje que conocemos tampoco ha sido tinados al ocio, donde lo que me interesa es buscar siempre igual. En ese sentido, tanto el paisaje como la y recoger cosas que la personas que frecuentan esos frontera son conceptos arbitrarios, que se transforman parques tiran al suelo. Con eses “”desechos””, que al ritmo de las sociedades. Con esta serie de fotogramuchas veces pasan desapercibidos pues se mimetizan fías he querido plantear algunas preguntas sobre la con la naturaleza en si, hago esculturas temporales y tierra, el territorio y el paisaje. Para ello, he colocado la utilizo el medio fotográfico como registro del mismo. cámara justo encima de la raya fronteriza y he cubierto * 08min - tiempo necesario una vez en el parque para de negro y blanco los mojones, descontextualizandolos encontrar y recoger los elementos de la foto. de aquello que llamamos el paisaje. 127 111 - 114 Três Marias - Lago de Furnas. Após os jogos da Copa do Mundo, diversos campos, 128 tantos em área urbana quanto rural , são abandonaConsiderado o lago navegável mais alto do mundo, dos, dando a duvida se o Brasil é mesmo o país do com sua superfície a 3.812 metros acima do nível do futebol. mar. 115 129, 130 Un lugar insólito en la costa gallega (España). Lençóis Maranhenses. 116 131 Delfín entrando en el agua de la ría de Viveiro (Lugo). A playa de La Franca está integrada na Paisagem Pro117 tegida da Costa Oriental das Asturias. Ponto de eleição Un día cualquiera una puesta de sol impresionante. para paragem de aves, local de grutas pré históricas outrora habitadas, covas esculpidas pelo tempo, e na 118 maré baixa um extenso areal torna possível a descoEsta foto mostra parte da cidade de Niterói e parte do berta de caminhos entre as rochas e as escarpas. Aqui, Rio de Janeiro ao fundo. A imagem foi capturada poucada passo dado, torna-se uma aventura. co após o pôr do sol e um pouco antes do anoitecer. 132 119 De uma enorme beleza e interesse paisagístico... Foi “Dusk”. com esta expectativa, que visitei a Playa del Borizo. A 120 surpresa não podia ser maior. Percorrendo o caminho ondulante entre rochas de diversos tamanhos, formaEsta foto mostra o Morro do Corcovado e parte da Flotos e cores, envolvendo em si ainda a água da última resta da Tijuca no pôr do sol. Neste exato momento a maré, chegamos junto costa, onde surge a ilha de Bocidade era tomada por nuvens carregadas e dentro de rizo, como uma porta aberta para o mar. uma hora já estava chovendo. um património impressionante que urge preservar: não só o que se nos apresenta na terra, mas também este esplendoroso espetáculo celeste.
121 Registro feito durante uma viagem de campo para coletas de amostras de pedras para pesquisa sobre as formações rochosas de relevos residuais do centro-sul da Bahia. 121 Fotografia feita durante uma expedição realizada pela disciplina de Biogeografia do curso de Geografia da Universidade Federal da Bahia, no qual se buscou estudar os diferentes tipos de biomas que existe na região, assim compreender como fatores naturais influenciaram sua formação.
133 Ponte sobre o rio Agueda em Espanha. 134 Estábulo Real. 135 - 136 Praia das Catedrais, Município de Ribadeo, Galiza. 137 Se trata de un meandro, curva descrita por el curso de un río, muy famosa en el lugar. Con esa curvatura la foto gana un gran dinamismo compositivo sumado al juego de diagonales de las montañas.
123 Aurora Boreal fotografada junto ao mar em Kvaløya Tromso, Círculo Polar Ártico.
138 Un bonito cisne nadando por las aguas del lago con luz de atardecer.
124 Aurora Boreal fotografada nas montanhas Kvaløya, Tromso, Círculo Polar Ártico.
139 Após quarenta anos, o lago da barragem de Serrans é esvaziado para manutenção da mesma. Então ficam a
transversalidades
descoberto antigas habitações e caminhos existentes, bem como uma magnífica paisagem...
cattle trails. Transhumance, threatened by the new agricultural policy of the European Union and the legal obstacles, for many naturalists and conservationists re140 presents the possibility of generating 5,000 direct jobs Las fotos han sido tomadas en la La Ruta del Cares, and contribute to important conservation of biodiverla cual está situada en el Parque Nacional de los Picos sity, natural and cultural heritage manner. 1000 sheep de Europa. or 100 cows generate daily 3 tons of manure and over Transcurre entre las localidades de Caín y Poncebos, 5 million of seeds of which 30% end germinating. One atravesando el desfiladero que sigue el río en una de option for sustainable development which is also a helas rutas de senderismo más espectaculares que se ritage from oblivion for many towns and rural areas pueden hacer en toda Europa. La ruta ,transcurre entre of Spain. las rocas de las montañas, es un trayecto o de un poco The Belenchón family travels for many years 500 km más de 11 kilómetros de distancia entre el pueblo de between Guadalaviar (Teruel) La Carolina (Jaén) on a Caín (León) y Poncebo (Asturias). walking trip that lasts 28 days. W ith more than 3,000 sheep, 300 cows, 23 dogs and 16 horses, most are 141 grandchildren, children and parents of trashumants. Paisagem característica dos Montes do Cantal, aquanDown south in winter pasture looking abundance and do da chegada do outono. benevolence of the weather. In La Carolina they will 142 live between December and May before starting the migration again return to Teruel in June, when the heat Uma área de plantio da cana-de-acúçar com uma árvoin Andalusia depleted pastures and dry terrain. re florida restante, após vários processos de ateamento de fogo. Possivelmente, deixará de existir. 152 143 Plantação de Café na região de Marília-SP. 144 Ternero con dos horas de vida en plena primavera. 145 Gado aproveita os últimos raios de sol do dia. 146 Biodiversidade no polje Minde-Mira. 147 Uma bela cidade polaca, onde a neve é senhora e reina soberanamente. 148 Vista parcial de área de cultivo de cana-de-açúcar. Duas árvores que após vários processos de ateamento de fogo apresentam os troncos queimados, galhos finos e folhas pequenas e secas. Hoje, as árvores lutam para sobreviver... 149
O levantar, o acordar para ir trabalhar mais um dia. Ao longo de 89 anos, esta rotina tornou-se banal, para o mestre Vírgilio (O verdeiro Fazendeiro). Vida muito dura e a fraca recompensa monetária era uma constante, mas nunca desistiu. 153 São Tomé e Príncipe é um dos países que tem uma das piores classificações no índice de desenvolvimento humano em todo o mundo. É nas crianças deste país africano que é mais expressiva essa falha e o investimento no futuro do país tem de começar pelos mais jovens. 154 Konso es una de las ochos poblaciones etíopes declaradas Patrimonio de la Humanidad. El día que estuvimos visitando los niños no tenían escuela y jugaban a esconderse de nosotros. Es una población remota de difícil acceso para el turista, de los que no están acostumbrados. 155 - 157 Máscaras de bruxas e diabos do Carnaval triste de La-
Localidad preciosa camino del Bierzo. zarim. 158, 160, 161 150 Mujer trabajadora en el tránsito del Camino de Santia- Mateus Miragaia de 73 anos é o último ferreiro a fazer tesouras de tosquiar a lã em Portugal. Mantém a sua go. Toda una vida de trabajo rural. oficina activa, em Donfins do Jarmelo, para mostrar 151 esta arte em vias de extinção. Two herds of sheeps walk on the Royal PathLos ” Chor159 ros”, trought Castilla la Mancha province. The width Imelda de 69 anos desloca-se diariamente na sua biof the royal glen, is determined by an ancient law of cicleta a 7 casas de idosos das aldeias de Donfins e the Middle Ages. 90 shepherd canes that is equivalent Urgueira do Jarmelo para os ajudar na sua vida diária. to 75.22 meters. This width allows the cattle have Pretende continuar a trabalhar mesmo depois dos 70 enough grass during their migration, and moreover anos. avoid eating areas cultivated by farmers. This public land must be respected, although it is common to find 162 areas of the paths invaded by plantations or even used A senhora Silvina, sentada na sua cozinha, segura a as a dump. Spain is the only country that maintains sua melhor galinha! Com um olhar fixo e possessivo, a network of historic paths that exceed 125,000 km. diz-nos que a poedeira é só dela. Estes velhos agriThe srcin of many of these ways, some of them with cultores da Murtosa lutam diariamente, do nascer ao more than 8,000 years of history, is on the migrations pôr-do-sol, para poder colocar alguma coisa na mesa. that have historically made nomadic shepherds. Until Vivem um dia de cada vez e são pessoas simples, amithe early nineteenth century, 5 million of head of cattle gas e honestas. roamed these corridors of biodiversity. Today transhumance in Spain is threatened due to the scarcity of pu163 blic aid and generational relief difficult. Just represenO senhor Manuel Pires Tavares, um velho agricultor de ted by about 50 families who handle about 200,000 Estarreja, gosta de se sentar a descansar na companhia head of cattle through 50,000 miles of streams and dos seus animais com os quais parece saber conversar.
I
fotograa sem fronteiras
Chama-os pelo nome que lhes atribuiu e trata-os com carinho. Não por só por lhe garantirem o seu ganhapão mas porque os considera muito. 164 O Feitas é um pequeno agricultor da Murtosa. Tem poucas cabras e trata delas com carinho. Quando nasce um animal, na sua exploração, apressa-se a dar-lhes um nome para ser mais fácil falar com ele. Durante o dia trata da pequena horta, pela manhã e ao final do dia vai cortar pasto para dar de comer ao seu gado. Nesta foto vemos o Feitas segurando, com carinho, em dois cabritinhos gémeos, os mais novos da sua exploração e que são o garante da continuidade do seu sustento. 165 Ante o milagre da vida, o sorriso nos lábios de quem já pouco espera… porém, a certeza da continuidade das espécies. 166 - 169 Foto do meu projeto de fotografia, ”As Gentes do Caramulo”. Desde 2007 que acompanho estas pequenas comunidades rurais que existem pelas montanhas do Caramulo e que tanto me tem ensinado e apaixonado. Acompanhei este casal que levava o rebanho a caminho do pasto, depois disto estive alguns momentos à conversa com eles. 170 Preparado para o frio com a sua capucha. 171 A fiar lã para fazer meias. 172 Também com a sua capucha. 173 A carregar os molhos. 174 A construção de um monte de sal tem de ser feito com a mestria e sabedoria de quem trata do Sal na altura de o apanhar das salinas no Verão. 175 Uma das profissões mais antigas e em vias de extinção. Esta foto é uma homenagem a estes homens com mãos de ouro. 176 Uma das características da praia da Nazaré é a arte de secagem do peixe pelas senhoras da Nazaré. 177 Com 88 anos de idade é um prazer ver trabalhar este senhor humilde e ouvir as suas histórias de vida. Infelizmente não tem ninguém para passar a sua arte. 179 Saciando a sede com um cucharro. A força de um povo está na memória, nos costumes e tradições. E esta é uma arte que se está perder. 180 A construção das esteiras é o trabalho mais moroso e repetitivo. É necessário efetua-lo sentado no chão e de preferência à sombra. A palha devem ser humedecidos para que a palha possa ser trabalhada. Depois constroe-se por pequenos molhos alinhados sempre lado do corte. Na imagem
*legendas
o Sr. Manuel, bate um pequeno molho pelo corte no chão para endireitar, antes de o colocar na esteira.
194 Tecendo...
181 Os molhos são entrelaçados uns aos outros através de um processo em que se torçe em duas direções distintas parte da extremidade da palha de um molho ligando ao seguinte, replicando uma “costura” ao longo da esteira. O ideal será não construir esteiras muito extensas, mas sim várias que possam de certa forma ser “quadrantes”, imaginando arcos de circunferências.
195 Linhares em dia de nevoeiro.
182 A separação/crivagem do grânulo mais fino. 182 O torcer dos cuscos...
196 Mais uma procissão da padroeira chega a 15 de Agosto resta pedir por todos Paz no mundo e a bênção de Deus. 197 Semear o cebolo! 199 A semeia da batata!
between Guadalaviar (Teruel) La Carolina (Jaén) on a walking trip that lasts 28 days. With more than 3,000 sheep, 300 cows, 23 dogs and 16 horses, most are grandchildren, children and parents of trashumants. Down south in winter pasture looking abundance and benevolence of the weather. In La Carolina they will live between December and May before starting the migration again return to Teruel in June, when the heat in Andalusia depleted pastures and dry terrain. 210 A big group of sheeps walk on the migrations during the trashumance trip. Spain is the only country that maintains a network of historic paths that exceed 125,000 km. The srcin of many of these ways, some of them with more than 8,000 years of history, is on
the migrations that have historically made nomadic shepherds. Until the early nineteenth century, 5 million of head of cattle roamed these corridors of biodiversity. Today transhumance in Spain is threatened due to 201 the scarcity of public aid and generational relief diffi185 As ovelhas quando a ribeira cresce passam pelas polcult. Just represented by about 50 families who handle dras para evitarem a água. O milho cai por gravidade no interior da mó. about 200,000 head of cattle through 50,000 miles of streams and cattle trails. Transhumance, threatened by 202 186 Tempo de recuperar energias para o dia de amanhã e the new agricultural policy of the European Union and O Touro investe a toda a força sobre o forcão. the legal obstacles, for many naturalists and conservarever o resultado da labuta do dia corrente. Regoufe, O forcão pesa à volta de 300 quilos e são necessários tionists represents the possibility of generating 5,000 30 homens para lhe pegar. Trata-se de um engenho de Arouca. Outono de 2014 direct jobs and contribute to important conservation forma triangular, feito de troncos de carvalho, entre203 of biodiversity, natural and cultural heritage manner. laçados entre si a fim de conseguir uma forma trian1000 sheep or 100 cows generate daily 3 tons of maMesmo estando os residentes ausentes, a natureza dágular e terminar na frente do triangulo em forma de nure and over 5 million of seeds of which 30% end lhes cor. forquilha. germinating. One option for sustainable development Os homens mais experientes situam-se atrás do forcão, 204 which is also a heritage from oblivion for many towns são os rabejadores e dão instruções ao grupo. Helena Gonçalves, Portugal and rural areas of Spain. The Belenchón family travels for many years 500 km 187 205 - 208 between Guadalaviar (Teruel) La Carolina (Jaén) on a Os homens correm os bois. Um braço de ferro entre El 16 de enero de cada año en San Bartolomé de Pinawalking trip that lasts 28 days. With more than 3,000 a força viril e o intelecto. Um jogo com um desfecho res (Ávila, España) se celebra la fiesta de las Luminarias sheep, 300 cows, 23 dogs and 16 horses, most are imprevisível. donde cientos de caballos conducidos por sus jinetes grandchildren, children and parents of trashumants. saltan unas hogueras. Esta fiesta tradicional del fuego 188 Down south in winter pasture looking abundance and es en honor de San Antón y recuerda cuando antaño a Os “Ça va” fundem-se com os “como estás” ao calor benevolence of the weather. In La Carolina they will do Verão. O cheiro a Terra e suor é perfume de lem- los caballos se les curaba de la peste haciéndoles pasar live between December and May before starting the por unas hogueras encendidas. brança e para a festa lubrifica-se a bravura com cerveja migration again return to Teruel in June, when the heat e vinho. Reúnem-se familias a conversa é fiada e a voz 209 in Andalusia depleted pastures and dry terrain. alta. Some of the shepherds take a rest on the long day of 211 184 Preparação para a crivagem.
189 Ronaldo aqui são quase todos, emigrantes que representam Portugal no mundo encontram-se com os que nunca foram embora. Em forma de espetáculo, ouvem-se “Olés” e gritos quando foi mesmo resvés. A banda acompanha a poeira que se levanta agora. 190 A matança é um processo familiar e de transmissão de saberes inter-geracional. O fim de um ciclo enquanto ser-vivo e o início de um ciclo de sustento familiar. 191 Finalizando todo o processo, pendura-se os enchidos num local onde o fogo permita que o ambiente esteja impregnado de fumo. Desta forma os micro-organismos são eliminados e os enchidos secam os necessários para serem guardados e ingeridos durante o ano, até à próxima matança. 192 A matança do porco de forma tradicional é um acontecimento na aldeia e motivo de festa, já que é sinal de prosperidade. 193 Fiando...
200 A grandeza deste silêncio acorda-nos de um conto de fadas para a realidade do abandono.
walk. take During whole nomadic migrations part,the they walkmonth 20 km that per day, half by foot half by horse. Horses and dogs are valuable tools to drive the herd through the ways and villages. Spain is the only country that maintains a network of historic paths that exceed 125,000 km. The srcin of many of these ways, some of them with more than 8,000 years of history, is on the migrations that have historically made nomadic shepherds. Until the early nineteenth century, 5 million of head of cattle roamed these corridors of biodiversity. Today transhumance in Spain is threatened due to the scarcity of public aid and generational relief difficult. Just represented by about 50 families who handle about 200,000 head of cattle through 50,000 miles of streams and cattle trails. Transhumance, threatened by the new agricultural policy of the European Union and the legal obstacles, for many naturalists and conservationists represents the possibility of generating 5,000 direct jobs and contribute to important conservation of biodiversity, natural and cultural heritage manner. 1000 sheep or 100 cows generate daily 3 tons of manure and over 5 million of seeds of which 30% end germinating. One option for sustainable development which is also a heritage from oblivion for many towns and rural areas of Spain. The Belenchón family travels for many years 500 km
During the trashumance migrations, nights are the right time to cook something on the fire and talk together about the day incidences. A trip by foot under hard living condition. Spain is the only country that maintains a network of historic paths that exceed 125,000 km. The srcin of many of these ways, some of them with more than 8,000 years of history, is on the migrations that have historically made nomadic shepherds. Until the early nineteenth century, 5 million of head of cattle roamed these corridors of biodiversity. Today transhumance in Spain is threatened due to the scarcity of public aid and generational relief difficult. Just represented by about 50 families who handle about 200,000 head of cattle through 50,000 miles of streams and cattle trails. Transhumance, threatened by the new agricultural policy of the European Union and the legal obstacles, for many naturalists and conservationists represents the possibility of generating 5,000 direct jobs and contribute to important conservation of biodiversity, natural and cultural heritage manner. 1000 sheep or 100 cows generate daily 3 tons of manure and over 5 million of seeds of which 30% end germinating. One option for sustainable development which is also a heritage from oblivion for many towns and rural areas of Spain.
transversalidades
The Belenchón family travels for many years 500 km between Guadalaviar (Teruel) La Carolina (Jaén) on a walking trip that lasts 28 days. With more than 3,000 sheep, 300 cows, 23 dogs and 16 horses, most are grandchildren, children and parents of trashumants. Down south in winter pasture looking abundance and benevolence of the weather. In La Carolina they will live between December and May before starting the migration again return to Teruel in June, when the heat in Andalusia depleted pastures and dry terrain. 212 Shepherds start to walk every day at 8.30 a.m. During the 28 days migrations, the walk close to 20 km per day. They will arrive to the next place to camp close to 6 p.m. Spain is the only country that maintains a network of historic paths that exceed 125,000 km. The srcin of many of these ways, some of them with more than 8,000 years of history, is on the migrations that have historically made nomadic shepherds. Until the early nineteenth century, 5 million of head of cattle roamed these corridors of biodiversity. Today transhu mance in Spain is threatened due to the scarcity of public aid and generational relief difficult. Just represented by about 50 families who handle about 200,000 head of cattle through 50,000 miles of streams and cattle trails. Transhumance, threatened by the new agricultural policy of the European Union and the legal obstacles, for many naturalists and conservationists represents the possibility of generating 5,000 direct jobs and contribute to important conservation of biodiversity, natural and cultural heritage manner. 1000 sheep or 100 cows generate daily 3 tons of manure and over 5 million of seeds of which 30% end germinating. One option for sustainable development which is also a heritage from oblivion for many towns and rural areas of Spain. The Belenchón family travels for many years 500 km between Guadalaviar (Teruel) La Carolina (Jaén) on a walking trip that lasts 28 days. With more than 3,000 sheep, 300 cows, 23 dogs and 16 horses, most are grandchildren, children and parents of trashumants. Down south in winter pasture looking abundance and benevolence of the weather. In La Carolina they will live between December and May before starting the migration again return to Teruel in June, when the heat in Andalusia depleted pastures and dry terrain. 213 - 216 Dicen que cuando en California comenzó a escasear el oro, muchos decidieron buscarlo en otros lugares. En la Región de Atacama (Chile), bajo la inclemencia del sol abrasador y rodeado de un paraje inhóspito, carente de vegetación y lluvia, existe una localidad en el llano de Varas conocida como Inca de Oro. Allí, a principios del siglo XX, se produjo el primer asentamiento minero aurífero de la zona y, años más tarde, se convirtió en un importante y próspero centro: se construyeron infraestructuras para el abastecimiento de água, estación de ferrocarril, escuela, teatro, comercios... Hasta allí llegaron yugoslavos, chinos y árabes. La población llegó a ser de diez mil habitantes. Los viejos del lugar dicen que en los cabarets se pagaban las bebidas con oro en lugar de monedas o billetes; también que el declive comenzó cuando un cura bendijo una de las principales minas. Nada queda ya del esplendor de antaño: el éxodo y algún incendio borraron las huellas de aquel pasado. Sin embargo aun siguen los últimos de aquellos pirquineros (mineros autónomos que extraen el mineral de manera artesanal y bajo escasas medidas de seguridad), sufriendo la temida silicosis y con la esperanza
de encontrar la veta soñada. Hoy apenas quedan 300 personas en Inca de Oro. 217 Depois de muitas expectativas frustradas, foi durante um forte aguaceiro, que nos obrigou a um abrigo rápido. Certo é que já não precisámos de visitar mais nada. Pequeno monge a descansar das brincadeiras ao ar-livre. 218 Depois de muitas expectativas frustradas, foi durante um forte aguaceiro, que nos obrigou a um abrigo rápido. Certo é que já não precisámos de visitar mais nada. Pequeno monge aproveita para acender um cigarro, mas perante a minha presença, procura ser discreto. 219 Depois de muitas expectativas frustradas, foi durante um forte aguaceiro, que nos obrigou a um abrigo rápido. Certo é que já não precisámos de visitar mais nada. Único monge que me abordou, Bo, queria saber mais sobre a minha família e de onde vinha. Mostrou-me a sua tatuagem e deixou-se fotografar. 220 Depois de muitas expectativas frustradas, foi durante um forte aguaceiro, que nos obrigou a um abrigo rápido. Certo é que já não precisámos de visitar mais nada. Bo está indeciso, entre saber mais sobre nós, ou ir nadar com os restantes monges. 221 Crianças, a tomar conta dos irmãos, enquanto as suas mães estão a trabalhar no campo. 222 As crianças brincam nos campos, as costas levam cana de açucar, possivelmente a melhor coisa que iriam comer nesse dia. 223 Para quem anda no campo, é normal encontrar com frequencia as mulheres com os seus filhos as costas, e claro, a levar alguma coisa de util para casa. 224 O pastor caminhava nos campos com as suas vacas, e na mão mostrava a sua catana, instrumento indispensavel para quem anda nos campos de Angola. 225 Erdenet, Mongólia. 226 Ovoo, túmulos chamânicos utilizados nas cerimónias de culto às montanhas e ao céu. 227 Erdenet, Mongólia. 229 La desolación es un dolor profundo, algo ha sucedido que ha arrasado con todo, como un incendio que ha convertido una tierra fértil en un paraje yermo; es un gran dolor, casi insondable, una pérdida, y de ella deriva la nostalgia. 230 El paisaje, enmarcado con una vieja ventana sin cristales ni protecciones, luce como un lugar lejano al que no se puede regresar, al que ya no se pertenece, ya todo es recuerdo.
I
fotograa sem fronteiras
231 Las señales son inequívocas, la desaparición del lugar se anuncia en las viejas paredes recorridas por las grietas del tiempo. 232 Serie fotográfica sobre el abandono de las zonas rurales en Marchena (Sevilla). Las ramas de la higuera, como largos dedos, se ciernen amenazadoras contra la vieja y desgastada piel del cortijo. La antigua rueda de carruaje vuelve a perder su uso, ya nadie mira temeroso a través de ella como la naturaleza y el tiempo reclaman lo que durante largo tiempo fue suyo. 233 Unanecesarios indígena busca en familia. el mercado Pisac los productos para su Un de perro blanco y uno negro la acompañan. Cientos de indígenas bajan a Pisac desde las montañas y aldeas del Valle Sagrado los días de mercado a hacer sus compras o intercambios. Un perro blanco y uno negro la acompañan. 234 Una preciosa toma de água con cabeza de serpiente nos lleva hasta una niña jugando con una bici-carro. Las serpientes, en la cultura Inca, están marcadas con simbolismos y representan el mundo de los muertos. 235 Un indígena carga con una saca de choclo en el mercado de Cusco. 236 Una anciana hace la compra en un puesto del Mercado de San Pedro, Cusco. 237 Una mujer cierra la cerca tras recoger a sus vacas de regreso a casa. 238 Dos sepultureros descansan, tras su trabajo, en el cementerio. 239 Unasuanciana tra casa. dedicada al pastoreo, nos recibe y mues240 Un hobre regresa a casa tras trabajar en el campo. 241 - 244 São Tomé e Príncipe é um dos países que tem uma das piores classificações no índice de desenvolvimento humano em todo o mundo. É nas crianças deste país africano que é mais expressiva essa falha e o investimento no futuro do país tem de começar pelos mais jovens. 245 A maior fortuna desta criança. Jani de seu nome e a sua roda. Parece que a felicidade do momento os coloca em suspensão, levitando em sintonia no mesmo momento. 246 Ao contrário do que à primeira vista o título possa sugerir face à condição de pobreza em que vivem muitas crianças cabo-verdianas...pernas para o ar é sinónimo de uma infância feliz,.. traduzida nesta imagem por uma criança a rolar numa duna de areia, um brinquedo que todas as crianças de S. Pedro adoram.
*legendas
247 Paralelo que retrata por um lado as imensas adversidades que nos são impostas por uma natureza “ madrasta “ e por outro, a coragem e garra com que os cabo-verdianos, a mulher cabo-verdiana em particular e em igual dimensão de coragem... as enfrentam.
266 En la ermita de San sebastian de Rascafría encontramos este antiguo cementerio. Es casi inevitable asomarse a la historia de este singular recinto.
277 A Estação e a cidade. A Estação está repleta de pessoas, todas elas com um destino que só elas conhecem, todas elas caminham com um propósito, uns como se o sentissem com o res267 pirar que os faz movimentar, outras com o espírito da La localidad de Rascafría en Madrid baso históricamendescoberta do destino, da cidade. Não há nada mais 248 te su economía en la ganadería, principalmente lanar. urbano do que uma estação de caminhos de ferro, não Ventos de leste, bruma seca e a aridez traduzem-se A finales de 1800 debido al crecimiento industrial há nada mais pertencente à cidade do que a sua estanesta imagem pelo vazio que envolve a presença hurascafría añadío la industria maderera y del papel a su ção. O centro da cidade, outrora isolado, viu crescer a mana solitária, como que protegendo as suas vestes... crecimiento económico. aún quedan restos arquitectósua estação, passo a passo, ano após ano, desde os da nudez do seu deserto. nicos ahora en desuso. tempos em que a vida estava ritmada pelo ponteiro das horas, até aos dias de hoje onde o passo estugado tem 249 - 252 268 que acompanhar o ponteiro dos segundos. Aqui podeDa série: dilálogos líquidos - Isaura. Vieja y deteriorada ventana de una vivienda deshabitamos encontrar tudo o que está relacionado com a vida da desde la que s e puede ver el camino que llega hasta 253 na cidade e com as vivências daqueles que nela habitam. Quer seja num dia solarengo ou num dia chuvoso, Foto realizada en el interior del mercado de Dire Dawa el pueblo abandonado. 269 haverá sempre lugar a idas e regressos, a encontros e a unas mujeres vendedoras de chat. desencontros, ora acompanhadas de beijos e sorrisos, Lviv, Ucrânia. 254 ora deixando o lastro das lágrimas da distância. 270 La tribu Dorze también son conocidos por sus casas Se a srcem de uma cidade está normalmente asso“elefante” porque su forma recuerda a los paquiderMais um dia de inverno rigoroso, passado ao canto ciada com a sua estação, também a sua evolução está mos. Casas hechas con altísimos tejados revestidos de da chaminé somente as nostalgia preenche o pensana srcem do crescimento desta. Tal como no início, o paja, de interiores más que umbríos y escasos. mento, somente se lembra daquilo que quer esquecer. ambiente que se vive na estação é determinado pelo A palavra solidão não consta mais no seu dicionário ritmo da cidade, pelo ritmo da sua urbanização. 255 desde o momento em que apadrinhou um cão como Na estação, em qualquer uma, haverá sempre lugar à Belezas do meu Brasil. melhor companhia. espera que o tempo diga que chegou a hora de embarcar, ou desembarcar, no destino que cada indivíduo 256 271 guardou para si. Cartão postal da minha região. Mulher da Etnia Pa’O. 278 257 272 Imagem que pretende dar uma sensação de interacção Combarro (Galiza) a escassos kms. de Pontevedra. Olshanka, Ucrânia. entre dois cidadãos e um outdoor publicitário. A preservação das tradições. O prazer de encontrar um 273 magnifico local para descansar a alma e o corpo. 279 Quando o homem quer... Quando lhes havia perguntado se os podia fotografar, The vision of Iceland is a landscape where humans live a intenção era a de fotografar as suas brincadeiras mas in frontal confrontation with the elements, evidence of 258 a minha presença parecia estar a destruir o seu próprio their existence appearing as a pop of color against a La siembra directa y la separación de parcelo ofrece propósito. Depois de lhes ter tirado a primeira fotograbackdrop of pure, glaring white or gloomy black. este bello y pintorezco paisaje. fia voltaram ao rio para brincar mas assim que me poOne of the main things to understand about Iceland siciono para tirar uma segunda fotografia assumiram 259 is how tiny the population is and what it can be like que deveriam parar as suas atividades e posicionar-se Ovejas y castillo. to live here because of that. There’s the feeling that novamente para a camara. everybody on this isolated subarctic island knows just 260 about everybody else, or at least can be associated 274 Olhares de esperanças...olhares que nos dão espe(through family, friends, neighborhood, profession, Assim continuaram sem nunca ignorar a minha preranças...Os troncos emaranhados, formam uma teia, political party, or school) by no more than one degree entrelaçada. Assim também é a vida, com laços de sença e eubrincavam que havia sentia-me assumido ser fácilbastante fotografá-los of separation. enquanto agora desamizade, laços de familiaridade, laços de copresença, confortável por ter interrompido uma dinâmica que 280 os laços dos lugares geográficos...Laços de meninas não precisava da minha presença. Apesar de lhes dizer de uma comunidade remanescente quilombola no O que está por trás. constantemente para continuarem a brincar como se norte da Bahia, Brasil, chamada Lage dos Negros. La281 - 284 eu não estivesse ali, eles olhavam-me como que não ços amarrados pelos sorrisos abertos que recebem o entende o que digo, porque não faz sentido. Como Com esta série de 6 fotos, pretendo dar a conhecer momento da fotografia e revelam a intersubjetividade poderiam eles comportar-se como se eu não estivesse algumas obras de arquitetura recente que existe no entre fotógrafo e fotografadas. ali se na verdade eu estava ali? Grande Porto. Arquitetura essa no seguimento do 261 novo ícone da arquitetura do Porto a Casa da Música. 275 Noche calurosa. 285 La música y la religión son algunas de las principales 262 manifestaciones de la vida humana que mejor refleja Isto não é uma janela. Homenagem à arte de trazer a terra o que vem do la cultura mixteca, La imagen de este trío de jóvenes 286 mujeres músicos, fue captada durante un encuentro mar! Isto não é uma saída. musical de las culturas mixtecas, en la explanada del ex 263 convento de San Pedro y San Pablo Teposcolula, en el 287, 288 Curva muito apertada em direção ao cume. estado de Oaxaca. Isto não é uma escada. La construcción de este imponente conjunto religioso, 264 que data de 1538, cuenta con una a capilla abierta que 289 - 292 Marco espanhol do Caminho de Santiago, à saída da es una de las obras más relevantes del siglo XVI en la Série ”O acordar do Bairro”. ponte de Quintanilha. Do nosso lado, um marco com Nueva España. O Bairro da Bouça, localizado no Porto, é um complexo o mesmo texto, mas em português. A fraternidade Este templo forma parte de la llamada Ruta Dominica. habitacional com casas construídas a custos controlaibérica. dos, cujo projeto foi da responsabilidade do arquiteto 276 265 Siza Vieira. Mãe e filho. Noche estrellada bajo Venus. Procuro nesta série mostrar algumas das muitas parti-
transversalidades
cularidades arquitetónicas deste bairro, integrando as pessoas que o habitam.
309 O tempo espera.
293 Após um dia de trabalho, vizinhos sentam-se na soleira da porta, aproveitando a descida da temperatura e conversam placidamente, em momentos onde o tempo parece parar. A Mouraria de Moura, composta por 3 ruas e um largo, foi alvo, por parte da Câmara Municipal de Moura, de um projecto de requalificação urbana entre 2011 e 2013. Em 2014 esta intervenção ganhou o prémio de reabilitação de espaço públicos, atribuído pelo IHRU Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana.
310 Fantasmas que chegam a casa, a ruína dos corações.
294 Aqui é tempos, o Largo da Mouraria. uma janelatesde outros com vasos deAqui agoraestá que, à janela, temunham silenciosamente osritmos de quem por ali passa. A Mouraria de Moura, composta por 3 ruas e um largo, foi alvo, por parte da Câmara Municipal de Moura, de um projecto de requalificação urbana entre 2011 e 2013. Em 2014 esta intervenção ganhou o prémio de reabilitação de espaço públicos, atribuído pelo IHRU Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana. 295 Ao fim de um dia de calor, as plantas e flores que embelezam as ruas da Mouraria precisam de água e dos mimos destas senhoras que delas cuidam com muito amor e carinho, contribuindo para a beleza e encanto deste espaço. A Mouraria de Moura, composta por 3 ruas e um largo, foi alvo, por parte da Câmara Municipal de Moura, de um projecto de requalificação urbana entre 2011 e 2013. Em 2014 esta intervenção ganhou o prémio de reabilitação de espaço públicos, atribuído pelo IHRU Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana.
311 Atrás de uma janela sem vidros vive uma alma quebrada. 312 Escondido de um mundo que não é seu. 313 A relação “homem onda” pretende simbolizar que independentemente do tamanho do desafio, temos de o encarar de frente. 314 A ideia por detrás desta imagem esteve em aproveitar a projecção da sombra, uma espécie de dentição afiada que acabará por engolir a personagem. Por se tratar de uma senhora de idade de idade, poderemos interpretar a foto como o percurso que todos vamos percorrer. 315 Estação de metro dos Aliados. 316 O exterior da Casa da Música, pelas suas características, é muito apreciado por skaters, que ali têm um dos seus recintos favoritos na cidade. Imagem captada no seu interior aproveitando um desses momentos.
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fotograa sem fronteiras
324 Aproveitei o grafismo das escadas de serviço para compor esta imagem. 327 Pormenor da zona de check-in do aeroporto Sá Carneiro na cidade do Porto. 328 Edificio no parque das Nações em Lisboa.Exemplo da Nova arquitetura portuguesa. 329 Vista nocturna do Porto para a Ponte Luíz I junto à margem do rio Douro. 330 O encanto do Porto visto da Serra do Pilar numa noite de Verão. 331 Fazer um cruzeiro pelo Rio Douro é constatar o maravilhoso da natureza e da mão do homem. As casas, as pontes, as cascatas, as ruelas, e as margens deste rio magnifico carregado de simbolismo para os seus habitantes e para o mundo. É um sentimento quase indescritível porque envolve um estado emocional de paixão pela natureza e a confirmação de que Portugal tem maravilhosas paisagens. 332 O encanto do Porto visto da Serra do Pilar numa noite de Verão.
296 14 e 16, dois números seguidos, diferentes, para (quase) a mesma porta. Diferentes cortinas, diferentes chaves, uma caixa de correio para cada, a (quase) mesma porta. Que vidas viverão no 14 e no 16? A Mouraria de Moura, composta por 3 ruas e um lar-
333 317 No âmbito da urbanização, apresenta-se um porteVista da Ponte Pedro e Inês, a partir do Parque Verde fólio relacionado com os materiais construtivos prindo Mondego. cipais, usados nas habitações em Portugal. Inicia-se a apresentação com um conjunto de edifícios da Baixa 318 Pombalina (Rua Augusta), construídos após o sismo de Vista sobre a cidade de Coimbra, reflectida no rio Mon1755, em madeira (tabique, vigas e ripas ) e alvenadego, a partir do lado de Santa Clara. ria de pedra, num sistema de estrutura designado de 319 Gaiola Pombalina. A co-existência, no mesmo espaço, de edifícios e cons334 truções de diferentes gerações, estilos e tendências, Motivos do pavimento na base do Padrão dos Descocriando uma identidade urbana própria em muitas brimentos. cidades, é o resultado frequente da sua evolução e
go,um foi alvo, por de parte da Câmara Municipal de Moura, de projecto requalificação urbana entre 2011 e 2013. Em 2014 esta intervenção ganhou o prémio de reabilitação de espaço públicos, atribuído pelo IHRU Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana.
crescimento. Na presente série apresentam-se apenas alguns exemplos da “convivência” entre uma construção contemporânea e construções antigas no Norte de Portugal, nomeadamente em Viana do Castelo, Porto e Ponte de Lima. Av. Boavista, Porto.
297 Hora de ponta, hora dourada.
301, 303, 304 Arte em espaços degradados.
320 A co-existência, no mesmo espaço, de edifícios e construções de diferentes gerações, estilos e tendências, criando uma identidade urbana própria em muitas cidades, é o resultado frequente da sua evolução e crescimento. Na presente série apresentam-se apenas alguns exemplos da “convivência” entre uma construção contemporânea e construções antigas no Norte de Portugal, nomeadamente em Viana do Castelo, Porto e Ponte de Lima. Clérigos, Porto.
302 Reciclagem transformada em arte urbana.
321 Uma cena da cidade...
305 - 308 Esta série de imagens sintetiza uma reflexão sobre o espaço urbano que o autor habita há cerca de 40 anos, confrontando a memória que tem do local com aquilo que ele é agora, procurando assim perceber aquilo que fica com a passagem do tempo, numa tentativa de fixação da identidade deste espaço.
322 Emoção na paisagem urbana.
299 Outra foto tirada durante a Latada, na semana de recepção ao caloiro da Universidade do Porto, desta vez ao marcável instante em que os caloiros começam a descer a Rua dos Clérigos.
323 Um momento de descanso de dois jovens numa calçada típica de Lisboa.
335 Olha a castanha quentinha! 337, 338 ... por “não lugar” designamos duas realidades complementaremos distintas: espaços constituídos em relação com certos fins (transportes, trânsito, comércio, tempos livres), e a relação que os indivíduos mantêm com esses espaços. Augé (Marc) - Não Lugares Introdução a uma Antropologia da Sobremodernidade - 90 graus editora novembro 2005 339 Pavilhão Dom António de Lencastre, um exemplo de grande qualidade arquitectónica do ferro. 340 Já foi passagem fácil, hoje, humildemente iluminada pela luz solar, faz-nos repensar o percurso. 341, 342 Reflexão acerca da transformação urbana da zona da Asprela, no Porto. Este ensaio visual pretende, através da manipulação da percepção, a construção de “paisagens fictícias”, apresentando os novos elementos urbanos, como elemen-
*legendas
tos alienígenas e descontextualizados na paisagem rural e agrícola que remanesce. 343 O presente sustém o passado. 344 Fotografia tirada em Lisboa, 2015. 345 Um discurso dissemelhante no espaço religioso. 346 Migrar e transportar entre cidade e países, territórios. 347 ”Agora, a caminho do carro eléctrico do término de onde sebandido, volta à cidade, Passo, metafísico, sob a luz dos candeeiros afastados E na sombra entre os dois candeeiros afastados tenho vontade de não seguir. Mas apanharei o eléctrico. Soará duas vezes a campainha lá do fim invisível da correia puxada Pelas mãos de dedos grossos do condutor por barbear. Apanharei o eléctrico. Ai de mim; apesar de tudo sempre apanhei o eléctrico — Sempre, sempre, sempre...” Álvaro de Campos - Fernando Pessoa 348 Vista para o céu… 349 Um dos vários belos caminhos que existem no Gerês. 350 Jogo de cores no céu ao pôr do sol como pano de fundo para a iluminação do Restaurante Bar no Monte do Pilar na Póvoa de Lanhoso. 351 O Bar X estava completamente inundado em chamas e a sua destruição era total. 352 - 355 The visionconfrontation of Iceland is awith landscape where humans in frontal the elements, evidencelive of their existence appearing as a pop of color against a backdrop of pure, glaring white or gloomy black. One of the main things to understand about Iceland is how tiny the population is and what it can be like to live here because of that. There’s the feeling that everybody on this isolated subarctic island knows just about everybody else, or at least can be associated (through family, friends, neighborhood, profession, political party, or school) by no more than one degree of separation. 356 Novos edifícios em Shanghai. 357 Homem entre a natureza do lago e asfalto. 358 Uma mulher chinesa olha para o desenvolvimento da cidade. Vista desde el Bund de Pudong. 359 As velhas tradições são mantidas entre edifícios modernos.
360 Escutar o silêncio é essencial para sentir um outro lado da cidade. Os cemitérios são uma peça-chave desse equilíbrio, em que precisamos de estar connosco e compreender um pouco melhor o que nos rodeia e onde estamos. O cemitério Poblenou é propício a isso, especialmente quando temos por companhia apenas as flores, os caminhos ladeados por túmulos, as estátuas, os panteões ou os gatos que fazem deste o seu território. 361 A noite solicita a que nos tornemos personagens de um filme sem nome. A atmosfera é envolvente e lembra uma obra perdida de tempos idos, intemporal, uma dança de luz e de s ombras. 362 Ouvir o respirar das noites, as sombras sem rosto divididas por linhas escuras e água jubilante. É como se um teatro ganhasse sentido nos instantes que procuramos de maneira obsessiva. 363 Barcelona ganha uma outra vida quando a luz do dia é substituída pela dos néons coloridos. Aqui os convites para o deslumbramento podem surgir de poemas nas janelas, de figuras femininas a imitar o cinema. 364 A fotografia foi tirada no centro económico de Frankfurt, onde está centrada a economia Europeia. Quero que os olhos do espectador sejam encaminhados para o céu. Este permanece negro sobre a economia europeia, demonstrados pelos seus imponentes arranha-céus. 365 Tirei várias fotografias nesta posição e algumas delas sem pessoas, mas achei esta a melhor, pois os olhos derivam para o infinito devido à simetria da estrutura, mas são interrompidos por uma pessoa a andar de bicicleta. 366 Quando tirei esta fotografia queria editá-la a preto e branco e torná-la um pouco misteriosa e com um tema medieval. 367 Esta fotografia foi tirada no meu último dia de férias em Paris, portanto tem um tom mais melancólico e com um sentimento de tristeza por ter de ir embora. 368 - 371 Fotos realizadas en el metro de Londres. 372 Paisagem urbana, contraste, prazer... Paraisópolis! 373 Mar de casas invadindo o território da Zona Sul de São Paulo. 374 Enquadramento da perspectiva habitacional e suas geometrias naturais. 375 Simplicidade, felicidade e despreocupação de duas crianças que brincavam ao som dos tratores nas poças de água que se formaram após um dia de chuva, frente a realidade habitacional de casas que seriam removidas.
376 - 378 Describo diferentes momentos de la vida en la India. 379 Pintura sobre la pared de una calle de Zamora que nos hace dudar: ¿ficción o realidad? 380 En la esquina curva de un edificio, pintura de una mujer soltando de entre sus manos una paloma, el símbolo de la paz. Una farola sobresale en la zona superior derecha. Abajo, a la izquierda, una señal de dirección prohibida. Día soleado. 381 Fotografía realizada en la misma calle , en instantes diferentes sobre un mismo grafiti. 382 Foto captada num bairro social em Madrid. A mensagem subliminar nesta composição, enche de esperança e de sentimento de luta, num meio visivelmente debilitado. “O degrau da escada não foi inventado para repousar, mas apenas para sustentar o pé o tempo necessário para que o homem coloque o outro pé um pouco mais alto”. Aldous Huxley. 383 Foto captada num Bairro Social em Madrid. A Arquitectura ao serviço do social, do sensorial e da mensagem visual. “O homem tem de ser modesto; tem de olhar para o céu”. Oscar Niemeyer. 384, 385 “Y porque cada instante ya no es, la felicidad es un lugar hacia donde no se puede volver. Oda a la nostalgia. Cicatrices... Gloria frágil... La felicidad la devora el tiempo.” 386 França 3. 387 La fotografía muestra el tranquilo barrio de Brooklyn Heights, una tarde de octubre, a punto de anochecer. 388 Vidro e fumo... 389 A existência se dá na relação do ser com seu espaço, configurando múltiplos modos de habitá-lo. Este habitar é uma espécie extensão do ser, porque é nele onde se materializa sua subjetividade. 390 Los “palafitos” son viviendas lacustres apoyadas en pilares o estacas sobre cuerpos de aguas tranquilas, como lagos, lagunas, cursos lentos de ríos, o a orillas del mar como es el caso de algunas zonas de Chile. 391 Cidadão descansando e apreciando a vista da Laguna dos Patos na cidade do Rio Grande, Brasil, cidade irmã da cidade de Águeda, Portugal. 392 Mulher pratica antigos rituais maia no cemitério de Chichicastenango, na Guatemala. Na pequena cidade de Chichicastenango são praticados diariamente rituais maias em locais de culto cristão, numa prática designada de sincretismo religioso.
transversalidades
393 Una mujer de avanzada edad, muestra en sus facciones la dureza de la vida en este entorno.
Evento religioso do mais puro que a cultura popular portuguesa tem para oferecer e vai conservando, é o exemplo da perfeita harmonia entre o profano e o religioso. Na srcem desta antiga tradição, está a pro394 tecção que os pastores destas extensas encostas soliciDifícil situación en Kiev, Enero 2014. Miles de personas taram a Santo António, na sequência de um período partidarias de una Ucrania Europea toman la plaza del de grande dificuldade em que a peste e os lobos diAyuntamiento (Euromaidan) y se revelan contra el prezimavam os rebanhos, com grandes danos para a sua sunto presidente corrupto con ideología pro-rusa. En débil economia. O célebre imposto da “décima” cujo las calles la tensión aumenta y comienzan a producirse pagamento, obrigava-os à venda da uma ou mais calos primeros combates entre la policía gubernamental beças de gado, para alimentar o fisco, e tornava a vida y las milicias. ainda mais dura e difícil. O Santo, ouviu as súplicas que lhe foram dirigidas. O 395 povo retribuiu, edificando uma pequena capela, mais Esta fotografia representa bem o estado de espírito de tarde substituída pelo atual santuário de rústica beleza, Francisco perante a escuridão. O anoitecer é das piores afeiçoado às encostas da serra. Foi um dia de romaria coisas de suportar e por isso de alegria, não faltando animação antes e Houve uma alturapara queFrancisco. Francisco fazia pequenas fodepois da cerimónia. Um dia bem passado no alto das gueiras mas devido ao fumo a vizinhança, por vezes, encostas, a que não faltou muita música, concertinas e chamava os bombeiros e para evitar mais problemas o farnel bem regado com o verde da região, as tasquiele simplesmente tenta dormir. nhas dos comes e bebes, as barracas para a venda das bugigangas, dos doces e das recordações desta típica e 396 genuína romaria minhota. Francisco mostra cicatriz da operação ao baço devido in, ”TrepaMontanhas”, 06.06.2011. a espancamento de um grupo de pessoas que o surpreenderam durante a madrugada. A Segurança Social 408 não conseguiu um quarto para o pós operatório. Mas Sergei Loznitsa ri-se quando perguntamos como é ele diz ser de boa cicatrização e que recuperou bem. que um bielorrusso da Ucrânia conseguiu apanhar a essência do Portugal profundo em O Milagre de Santo António, notável contribuição para o Curtas (última exibição hoje). ”É muito simples: uma natureza fantástica, paisagens fantásticas, comida fantástica, vinho fantástico, um bife como nunca comi em lado nenhum... E quando se começa o dia com um pastel de nata ficamos logo bem-dispostos!” O humor do cineasta contrasta com a impressão sisuda de formalismo imponente dos seus anteriores docu398 mentários e da ficção A Minha Alegria. Mas Loznitsa Francisco na sombra aponta para o local onde está a é o primeiro a admitir que, no documentário de 40 pensar construir um ”abrigo”. Não só para se proteger minutos que filmou em Mixões da Serra, no Gerês, do vento e da chuva mas também, e principalmente, durante as festas de Santo António, se deixou tocar das pessoas. Pessoas que o surpreendem durante a pela vitalidade e energia destas celebrações populares. madrugada para roubar metais diversos do que resta “Não posso controlar estas coisas”, diz via assistente ainda da estrutura da fabrica. Principalmente da facha(improvisada tradutora do russo para o inglês). ”Nem da que é quase inexistente. as posso mudar, porque essa emoção, esse calor, estão presentes no material. Foi algo que me impressionou 399 - 402 quando estava a rodar. Assisti a muitas festas popuFotos realizadas durante a manifestação do dia 25 de lares na Rússia mas nunca experimentei esta sensação Abril de 2015 em Lisboa. de unidade. De certo modo, tive um pouco de tristeza, desejei também sentir essa unidade.” 403 - 406 O Milagre de Santo António filma os preparativos e Partindo das “Heróicas” de Fernando Lopes Graça, o decorrer da celebração, sem diálogo nem narração, constrói-se uma narrativa que nos dá conta de que criando um mosaico impressionista e colectivo que numa sociedade profundamente desigual, geradora captura o ambiente destas romarias rurais. A opção de pobres e de medos, apesar do silêncio de muitos, pelo colectivo cala fundo, como nos explica o realizahá pessoas dispostas a protestar, dando sinais de um dor. ”Ao olhar para os meus filmes, compreendi que descontentamento latente. “vozes ao alto” mostraem nenhum há um protagonista; há um grupo de pesnos gente “que vai à luta”, que não se cala, que insoas que funcionam como personagem principal. Não venta novas formas de intervir, novas linguagens que sei porquê; possivelmente porque é relevante neste habitam o quotidiano das nossas cidades. momento da história.” Loznitsa sente-se atraído pelo 407 ”fenómeno do grupo”. ”É extremamente interessante: as leis segundo as quais esses grupos funcionam, a Cumprindo uma secular tradição, milhares de romeiros energia que eles geram, que não pertence a uma única e curiosos, rumaram a Santo António de Mixões da pessoa mas sim ao grupo. Interessa-me observar os Serra. Além da estrada, qualquer trilho ou caminho lugares onde reconheço essa presença, essa energia.” serviu para lá chegar. E foram muitos os cavaleiros, O desconhecimento da língua e da cultura portuguecom destaque para os mais jovens, que trotaram serra sas acabou por ser uma mais-valia. ”Quando começo a acima, fugindo à estrada alcatroada, fortemente contrabalhar em qualquer filme, assumo a posição da megestionada. Este acolhedor lugar da freguesia de Valdreu, edificado nina que vemos no primeiro plano do filme - procuro ver através dos olhos de uma criança. Apenas consigo nas alturas da serra, vestiu-se a preceito e ganhou alma descobrir coisas enquanto as observo, enquanto pronova, para receber um mundo de gente, que encheu curo esquecer tudo o que sou, tudo o que aprendi, por completo o recinto da festa. 397 Francisco segura uma fotografia que eu havia feito uma semana antes. Ficou muito contente mas também envergonhado ao reparar que usava a mesma roupa há mais de uma semana. Este momento representa também um dos primeiros momentos de puro contentamento de Francisco perante um fundo vazio e abandonado.
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fotograa sem fronteiras
toda a minha cultura.” Loznitsa ri-se. ”E ajuda não conhecer a língua nem perceber nada do fenómeno. Limitei-me a seguir as energias...”. J.M. - in, Público (14. 07. 2012) 409 Anualmente, sempre no Domingo anterior a 13 de Junho - dia de Santo António - acontece em Mixões da Serra a Bênção do Gado, ritual que teve início no século XVII e que se tem mantido com regularidade até aos nossos dias. É a desejada protecção divina que faz mover centenas de camponeses e proprietários de que aí levam os seus animais - principalmente bovinos e equídeos mas também animais domésticos - para serem abençoados durante a cerimónia religiosa. Com eles, vêm os comerciantes, as gentes das redondezas, os curiosos e os turistas, estes cada vez em maior número. As autoridades locais fazem-se representar e o evento é coberto pelos meios de comunicação social, tendo sido já objecto de um filme do cineasta ucraniano Sergei Loznitsa. Neste dia, em Mixões da Serra, é festa maior onde milhares de almas saem reconfortadas e as amizades são revigoradas. Até ao próximo ano... (Adelino Silva, 2014). 410 O santuário, que começou em finais do século XIX por ser uma ermida em honra de Santo António – por ser “protector dos animais” os preservou da peste e dos lobos – é hoje local de romaria das gentes das terras altas dos concelhos de Vila Verde, Amares, Terras de Bouro e Ponte da Barca. O ponto alto desta peculiar romaria, que se assinala sempre no domingo anterior ao dia de Santo António, é a Eucaristia da Bênção dos Animais, em que, depois de assistirem com os donos à missa campal, vacas, cavalos, porcos, ovelhas, cabras, cães, gatos, galinhas e outras aves são benzidos pelo celebrante. Antes da bênção final, num ritual com uma centena de anos, o sacerdote desce da varanda onde é, naquele dia, instalado o altar, e percorre todo o recinto, de caldeira na mão, a aspergir água benta a todos os que assistem à cerimónia. Em tempos, nada mais havia do que esta missa e uma procissão, mas hoje a festa tem outros atractivos, como bandas de música e ranchos folclóricos, e arrasta gente de todo o Minho. No entanto, o motivo fundamental é mesmo esta missa de assistência ovina, bovina, caprina e cavalar. Apesar de, devido à desertificação do Interior, estar a diminuir o número de animais que pastam nas serras, a verdade é que continuam a ser muitas centenas os pastores que ali vão pedir a Santo António que guarde os seus gados. in, Correio da Manhã, 04.06.2009. 411 - 414 “Todo o efémero não é senão símbolo”. Goethe Sabemo-nos efémeros. Quase não instantes, sintomas da levidade. Fazemos causa comum como organismos assexuados, e fundamos colónias para nos darmos calor e consolo. Para pedirmos por nós. Que culpa pode assumir algo fugaz? Nenhuma; e, contudo, necessitamos das velas. Dão-nos calor e são efémeras. Como nós. As quatro imagens da série que apresentamos, foram tomadas no Santuário de Nossa Senhora da Peneda (Arcos de Valdevez), mas poderiam ter sido tomadas em qualquer outra igreja da vizinha Galiza. Prova sabida da artificialidade da estruturação dos territórios. 415, 416 Depois da morte a memória, depois da memória a pós memória.
*legendas
417, 418 Procissão da Rainha Santa Isabel. A força da fé a da tradição. 419 O forcão é um instrumento de lide de touros utilizado na capeia arraiana. Pesa cerca de trezentos quilos e são necessários cerca de 30 homens para o erguer. O forcão é um engenho de forma triangular, feito de pesados troncos de carvalho, cortados para o efeito, que terminam em forquilha onde se encaixa uma barra frontal, normalmente de madeira de pinho para s er mais leve, que se prolonga para lá dos ângulos cerca de dois metros. As barras laterais são firmemente apoiadas numa trave central, que também termina em forquilha, sendo a outra extremidade prolongada, ultrapassando o vértice em cerca de 60 ou 70 cm, prolongamento a que se pode chamar zona de comando porque é nesse ponto que actuam os dois rabejadores, que são os responsáveis pelo seu manejo. A sua função é conduzir, manobrar, o forcão de forma a manter o touro sob domínio, cansá-lo e prepará-lo para ser agarrado no momento próprio, objectivo que nem sempre é conseguido. As medidas do forcão não são uniformes, elas podem variar um pouco de aldeia para aldeia, e de ano para ano, mas o triângulo não se afasta muito do padrão 4,7 x 4,5 x 4,7, o adequado para comportar cerca de 15 ou 16 homens em cada uma das barras laterais. São o comprimento das galhas e a área da praça que determinam o tamanho do forcão. 420 A festa começa de manhã quando os habitantes, se apresentam no lameiro de onde serão escoltados os touros até à praça. Começa um verdadeiro êxodo de motos, 4x4, tractores, camionetas, cavalos, bicicletas, ou qualquer outro meio de locomoção capaz de avançar nos campos próximos da fronteira espanhola. Objectivo: ir buscar os touros, que são alugados para o evento. Os cavaleiros experientes demonstram as suas habilidades, coragem e discernimento na arte da cavalaria e na escolta dos touros até à praça da aldeia (encerro). O tempo da escolta, varia com a habilidade dos cavaleiros e a reacção dos touros. Empoleirados nas «cancelas» os espectadores esperam, impacientes, para ver passar o tropel, com medo e na expectativa que nenhum touro se escape. 421 Mercados no Algarve #5. As aves ornamentais de gaiola têm muitos apreciadores no Algarve, e são uma das novas ‘gamas’ de produtos que apareceram recentemente nos mercados algarvios. São sempre espécies exóticas, até por limitações legais. A comunidade estrangeira que vive no Algarve pouco pára a observar estes passarinhos. Entre os algarvios, há apaixonados de todas as idades, que miram e remiram atentamente as gaiolas, e que com frequência ficam a conversar e contar episódios e aventuras de coleccionadores e criadores... 422 Mercados no Algarve #. A proibição de venda de gado das feiras, em Portugal, marcou um momento de viragem e talvez de alguma decandência nas feiras e mercados algarvios. Pereiro (Alcoutim) é um dos muito poucos locais onde ainda se compram, vendem e trocam cavalos e muares, ao abrigo da tradição e de alguma condescendência das autoridades.
Os vendedores são ciganos, na sua quase maioria srci nários do litoral (Olhão e Faro, p. ex.). Os compradores são principalmente agricultores da região. Mas as transacções parecem ser sempre muito difíceis, até porque “a desconfiança é a alma do negócio...”
munica sem precisar de usar o mesmo idioma e que partilhar Amor independentemente do grupo social de que provém.
437 Depois dos pais da Família Li se recolherem para dormir, os vizinhos e amigos das crianças reunem-se à volta da fogueira enquanto o ilho Mais Novo lava os pés antes de ir dormir. Nas montanhas do norte do VietNam a nossa moto avariou. Enquanto caminhavamos arrastando-a, a Família Li ofereceu-nos sua casa e o 424 mais que podiam. Aqui entendemos que o ser humano Os jovens já vão ao mar, entre um cigarro e as redes, comunica sem precisar de usar o mesmo idioma e que até à hora do almoço. partilhar Amor independentemente do grupo social de que provém. 425 423 Regresso à srcem, a rua é o espaço privilegiado para todos estarem juntos, quiçá a pensarem na próxima brincadeira.
Não é invulgar que os mais pequenos da família se juntem aos pais ou aos avós no pagamento de promessas... Muitas vezes não só os acompanham como também os apoiam, espiritual e fisicamente. 426 Mendiga na cidade de Lisboa (na baixa lisboeta), as pessoas passam e fingem não ver. 427 Em labor sereno. 428 Após a azafama o descanso. 429 Festa de Santo Antão. 430 Preparativos para a procissão. 431 Desde dentro de su humilde choza, la niña mira tímida, mientras termina de preparar los adornos que lucirá. 432 La imagen está tomada en una aldea Mursi, en el Río Omo, al sur de Etiopía. Se ve la mirada orgullosa de esta chica mostrando sus adornos. 433 El plato que lasel mujeres llevan en su inferior, es posiblemente adorno mas típico de labio los mursi. 434 La mujer de la etnia mursi, mira desafiante una vez terminó de colocarse los adornos junto a su cabaña. 435 A Família prepara-se para jantar, menos a filha adolescente, o que não lhe era permitido. Não nos foi possível entender o porquê. Nas montanhas do norte do VietNam a nossa moto avariou. Enquanto caminhavamos arrastando-a, a Família Li ofereceu-nos sua casa e o mais que podiam. Aqui entendemos que o ser humano comunica sem precisar de usar o mesmo idioma e que partilhar Amor independentemente do grupo social de que provém. 436 Depois do jantar realizam-se várias actividades em família como, por exemplo, cantar lendo a Bíblia (escrita numa lingua a nós desconhecida, no entanto, podia-se detectar palavras de srcem latina e de carácter católico-cristão). Nas montanhas do norte do VietNam a nossa moto avariou. Enquanto caminhavamos arrastando-a, a Família Li ofereceu-nos sua casa e o mais que podiam. Aqui entendemos que o ser humano co-
438 O Filho Mais Novo da Família Li brinca com um ornamento da sua Irmã adolescente. Nas montanhas do norte do VietNam a nossa moto avariou. Enquanto caminhavamos arrastando-a, a Família Li ofereceu-nos sua casa e o mais que podiam. Aqui entendemos que o ser humano comunica sem precisar de usar o mesmo idioma e que partilhar Amor independentemente do grupo social de que provém. 439 Na tradição indígena não há hierarquia entre a natureza e os humanos. Representada aqui pela menina com sua naturalidade e dignidade ao estar em sintonia com a chuva. No Rio Grande do Sul (Brasil) Guria é um termo popular utilizado como sinônimo de menina ou criança. 440 Kunhã Karaí Talcira é a pagé da tribo. Fuma o cachimbo Petyngua que é um importante elemento da cultura Guarani. Através dele, há força espiritual. Quando se expira a fumaça do cachimbo consegue-se a cura de males. Eles também utilizam o objeto como fonte de inspiração na educação dos filhos, estudos, decisões e previsões futuras. É um elemento fundamental para manter a tradição do grupo. 441 Junto a Opy (casa de reza) os jovens cantam músicas tradicionais Guaranis, enquanto as meninas fazem a Dança da Guerra (Tangará), que estimula a habilidade de se deslocar na mata. 442 Os rituais dentro da casa de reza acontecem à portas fechadas. O aprendizado e a doutrina começam desde o “berço”. As crianças acompanham sempre todas as atividades. 443 - 444 Mulher pratica antigos rituais maia no cemitério de Chichicastenango, na Guatemala. Na pequena cidade de Chichicastenango são praticados diariamente rituais maias em locais de culto cristão, numa prática designada de sincretismo religioso. 445 D. Luzia é descendente de escravos do Brasil. Todos os anos se comemora o 13 de Maio, data que marca a abolição da escravatura no Brasil. Esta Senhora, considerada a Matriarca do Bairro do Quilombo, mantem viva a tradição e a união das suas gentes. 446 Sr. Miguel e sua filha – Comemorações do 13 de Maio no Bairro do Quilombo. Gente simples e generosa que preserva as tradições e cultiva o apego às srcens. Não
transversalidades
esquecem que são descendentes de Escravos sem que no entanto cultivem revolta ou amargura. 447 - 449 La ciudad de Melilla, perteneciente a España, fronteriza con Marruecos y dentro del continente Africano, es uno de los lugares de tránsito hacia Europa. En estos últimos años. El CETI ( Centro de estancia temporal de inmigrantes) está totalmente lleno y al doscientos por cien de su capacidad. La guerra en Siria (llegada de refugiados sirios) y la llegada continua de emigrantes en patera, o saltando la valla, hace que la vida cotidiana sea en el exterior y sea en una continua espera.... Caminantes de distintas nacionalidades que se cruzan en un espacio fronterizo a la espera de una salida... 450 Alrededor de 200 familias malviven en este poblado que se encuentra a tan solo 14 kilómetros de Madrid. En la foto,la policía se retira después de realizar una inspección rutinaria. 451 El índice de natalidad entre mujeres jóvenes y adolescentes es muy elevado. Una mujer de 20 años ya se puede encontrar con tres hijos a su cargo. En la foto, una niña cuida de su pequeña hermana. 452 Una vista panorámica de El Gallinero. Las viviendas están construidas con material ligero como chatarra, cartones, carteles publicitarios...En la foto una mujer se dirige a buscar agua a una fuente próxima al poblado. 453 - 456 Difícil situación en Kiev, Enero 2014. Miles de personas partidarias de una Ucrania Europea toman la plaza del Ayuntamiento (Euromaidan) y se revelan contra el presunto presidente corrupto con ideología pro-rusa. En las calles la tensión aumenta y comienzan a producirse los primeros combates entre la policía gubernamental y las milicias. 457 Os grandes sorrisos na horta de Dulombi. 458 As brincadeiras na altura do trabalho. 459, 460 Fotografías realizadas en Amboseli, en un poblado Masai. 461 Un domingo por la tarde para pasar el rato en un garaje una buena partida de cartas. 462 Todos sus juguetes en una bolsa. 463 Vivemos ainda numa sociedade que é capaz de sonhar. 464 3 Crianças Palestinas fazem questão e exibir os seus brinquedos...So que em Gaza os brinquedos destas crianças são Armas..ou melhor Replicas de Armas! 465 No decurso da apresentação das irmandades à virgem, é usual se verificar a força que as tradições têm e a forma como elas são passadas de geração em geração. Os pais introduzem desde cedo nas suas crianças na arte equestre e a adoração à virgem, garantindo que elas sejam uma forma de transmissão desses ensinamentos
para os seus filhos, netos e restantes familiares. Este processo garante que o espírito “Rocieiro” não se perca no tempo, qual folha levada pelo vento. 466 Visitar a capela das oferendas, onde diariamente durante as festas ardem milhares de velas, é poder verificar que as pessoas estão ali com o coração cheio de emoções. Neste local, aquando da colocação das velas as pessoas libertam-se das suas emoções. Por vezes, em momentos como o da fotografia verifica-se a humanidade das pessoas, onde uma dor profunda se liberta através da fé e o apoio de um ombro amigo é uma das maiores demonstrações de amor. 467 NãoCaxias é sempre que vemos uma cena como essa, não em do Sul. Uma cidade de colonização Italiana; pessoas que normalmente não se importam com as necessidades e bem-estar do próximo. Aqui podemos ver alguém que não tem muito, mas que sabe dividir. 468 Senhora penteando piaçava para vassoura. 469 Mulher que vende o produto. com uma instalação original do arte de rua por trás de seu banquete. 470 Uma mulher comprometida a fazer tortillas, na “cozinha” da casa. 471, 472 Um olhar sobre o cotidiano dos índios da Aldeia Munduruku Waro Apompu, situada no Sul do Estado do Pará em torno do Rio Tapajós, Região Norte do Brasil. Trabalho realizado durante a Convenção 169, capacitação e conscientização em prol da luta pela moradia, defesa cultural e demarcação de território com o propósito de evitar um dos maiores crimes ambientais já anunciados no país, a construção do Complexo das Hidrelétricas do Tapajós, onde, afetaria diretamente mais de 120 aldeias Munduruku e comunidades ribeirinhas. 473 Ao fundo, à esquerda, está a cidade de Salvador-BA-Brasil, no continente. Os prédios, ao longe, parecem pequenos, mas na percepção de distância, revelam sua magnitude. Parecem um detalhe insignificante da imagem, mas não é, porque se trata de uma paisagem de contrastes. Esse mar da Baía de Todos os Santos também é Salvador. Paisagem composta pela apropriação dos pescadores locais com seu labor artesanal. Os pescadores empurram o barco com a força do corpo, constroem caminhos curvos em busca de peixes. Uma paisagem de contrastes técnicos, em que outras formas de caminhos são construídas: o pier, em linha reta, atravessa o horizonte; um navio que já muito caminhou está ancorado e seus objetos técnicos de carregamento parecem apontar para o céu. Os remos artesanais também apontam para cima, mas parecem céus diferentes diante das diferenças técnicas. Entretanto, as diferentes temporalidades se encontra no conjunto dessa paisagem. 474 Menino enfeitado para atrair turistas a dar gorjetas. 475 Unos días antes de la llegada del nuevo año según el calendario “Saka” hinduista, se celebra en Bali “Melas-
I
fotograa sem fronteiras
ti”, ceremonia para limpiar el micro cosmos (“Bhuana Alit”) y el macrocosmos (“Bhuana Agung”) de las malas influencias. Se hace honrando a Sanghyang Widhi Wasa, señor de la tierra y del mar, y se celebra en los templos cercanos a la playa. A esta ceremonia acuden en procesión masivos grupos de gente vestida de un blanco impoluto que representa la pureza. Avanzan a paso ligero, entonando estremecedores cánticos y portando ofrendas y objetos sagrados de sus templos para ser purificados. 476 El desfile de los “Ogoh Ogoh”, esculturas de demonios gigantes, contrasta con la belleza y la delicadeza de las ceremonias de los días anteriores. Cada comunidad se prepara para la exhibición de su “Ogoh” y del trabajo que durante meses han preparado minuciosamente. El espectáculo es estremecedor, el “Ogoh” se hace hueco a empujones entre la masiva multitud apelotonada, acompañado de música y danzas tradicionales. Entra dando vueltas como si estuviera realmente endemoniado. Los portadores corren de un lado a otro empujando a las masas en un espectáculo que entre asusta y divierte a los espectadores. 477, 478 India das cores e muito amor. 479 Todos los días muy temprano los monjes de todos los monasterios de Luang Prabang salen a la calle para que los fieles les ofrezcan arroz. 480 Monjes orando en uno de los templos de Chiang Mai. 481 O orfanato L’Esperance foi criado em 1994 para acolher os órfãos do genocídio no Ruanda. Desde então, muitas crianças cresceram na instituição e puderam refazer as suas vidas. No início de 2015, o governo do Ruanda fechou os orfanatos por decreto, na convicção de que estas instituições não são dignas de um país desenvolvido. Nos olhos de Esther pude ler o futuro incerto. 482 Trabalhador de litoral exercendo os pontos fortes do ofício: simpatia e estilo. 483 Um senhor do Uzebequistão pediu-me para o fotografar junto aos vendedores que estão nas paragens dos comboio para se comprar produtos que sejam precisos durante a viagem. 484 Crianças brincam e sorriam genuinamente junto ao Mosteiro budista de Labrang. 485 A fotografia tenta representar a capacidade que temos que ter para dimensionar desafios, tentando torná-los atingíveis, tangíveis e exequíveis. 486 No deja de sorprenderme como cada día aumentan las personas que viven en la calle en pleno centro de Madrid, aunque muchos digan que la crisis ya ha pasado. Es irónico como el ser humano ha pasado a ocupar el espacio utilizado por animales de compañía, porque no tiene otro sitio donde dormir.