CTER - CAT017 - Leitura judaica de Gálatas Prof. Joseph Shulam
ASSOCIAÇÃO MINISTÉRIO ENSINANDO DE SIÃO Filiada ao Netivyah Bible Instruction Ministry (Israel)
CURSO DE TEOLOGIA DA RESTAURAÇÃO (CTER): a Bíblia no contexto judaico-messiânico Disciplina Disciplina (CAT017): Leitura judaica de Gálatas Prof. Joseph Shulam
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LEITURA JUDAICA DE GÁLATAS
Objetivos da disciplina
Análise do texto da carta sob a perspectiva judaica; Contextualização sócio-histórica da carta e do autor – Paulo; Refutação de interpretações equivocadas.
INTRODUÇÃO Gálatas, como muitos dizem é um dos livros mais complicados da Brit Chadashá, não porque seu conteúdo seja complicado, mas porque esse livro se tornou um tipo de padrão para entender o apóstolo Paulo, padrão este que se fundamentou em uma falta de entendimento que perdura até hoje no mundo cristão, desde os últimos 1500 anos. Longeneker, um dos maiores teólogos da atualidade, diz que, se Gálatas não foi escrito por Paulo, nenhuma outra carta do NT foi. A carta aos Gálatas tem uma longa história de padrão para um entendimento a respeito de Paulo, e a atitude dos cristãos em relação à Torá foi extraída também dessa carta.
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PAULO A opinião judaica sobre Paulo é a de que ele teria dado início ao cristianismo.
“Não foi Yeshua ou os apóstolos,” dizem, “mas foi Paulo”. Há judeus que, mesmo sem serem messiânicos, gostam de Yeshua – por exemplo, Martin Buber chamava Yeshua de seu irmão mais velho. A partir disso pode-se entender melhor a afirmação de um teólogo judeu: “Nós, como nação judaica, um dia receberemos Yeshua, mas não o cristianismo.” Mas, se conseguirmos colocar Paulo no contexto judaico do primeiro
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século, não teremos problemas com ele nem com o ele que escreve – que de modo nenhum contradiz a Torá.
Como ele se descrevia At 7:57, 58. Lucas o cita antes de contar a história. At 9. O encontro de Paulo com Yeshua. v. 1. Foi ao sumo sacerdote. v. 2. Pediu cartas. Este é mais um elemento que mostra como Paulo era importante. O primeiro está em At. 7, quando se pode vê-lo segurando a capa de Estêvão. O segundo é o pedido de cartas ao sumo sacerdote. Será que o sumo sacerdote receberia uma pessoa qualquer? O que Paulo queria era uma permissão do maior dos judeus para prender outros judeus em outros países. Uma pessoa comum não pode fazer isso. Paulo deveria ter uma função muito importante, que tinha autoridade para prender, julgar e executá-las, se não ele não teria como receber essa autoridade do sumo sacerdote. Seria necessário um alto ofício para executar essa tarefa. Paulo era um promotor do Sinédrio, e não apenas um mensageiro, pois tinha autoridade para liderar soldados na busca de “criminosos” fora de Israel e para extraditá-los. Uma pessoa não poderia ser rabino se não fosse casada. A tradição cristã diz que Paulo não era casado. Conforme 1Co 7, é o que parece ser e o que a tradição ensina. Porém, deve-se ler o texto com atenção aos detalhes, pronomes, artigos, preposições e palavras às vezes desprezadas. Por exemplo, em 1Co 7, Paulo se refere a três tipos de pessoas e não a dois, como pensado comumente:
Os que não são e nunca foram casados: existem palavras específicas para esse grupo, como, por exemplo, virgem. Viúva: já foi casada e perdeu seu cônjuge por morte. Αγαμος (agamos): literalmente, uma pessoa não casada, mas que já foi casada. E é nessa categoria que Paulo se enquadra. Pode ser que sua esposa o deixou. Ele era casado e agora é descasado.
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v. 11. O Senhor aparece a Ananias, um judeu justo e grande estudioso da Torá, e o ordena esperar uma mensagem. Ananias diz ao Senhor que ele conhecia a reputação de Paulo. Não havia televisão, telefone ou rádio, mas a fama de Paulo já havia chegado a Damasco, ou seja, uma reputação internacional. v. 15. “Eu escolhi esse homem [Paulo] para levar o meu nome perante os gentios, os reis deles e o povo de Israel.” Mas a tradição cristã diz que Paulo foi para os gentios porque os judeus rejeitaram sua mensagem. Paulo realmente disse: “Já que vocês não aceitaram minha mensagem vou para os gentios.” Porém, o que o texto realmente mostra (v. 15) é que D’us o comissionou para pregar para os gentios, não porque os judeus o rejeitariam ou rejeitaram, mas para cumprir uma promessa já feita a Abraão. Treze vezes D’us promete que uma bênção viria de Abraão para todas as famílias da terra (Gn 12:3; 13:15; 15; 17; 22) e a promessa é repetida a Isaque e a Jacó. Todos os profetas profetizaram também em relação às nações da terra, exceto Obadias. Jeremias é chamado “o profeta das nações”. Isaías profetizou sobre Edom, Babilônia, Pérsia, Egito. Amós profetiza sobre os vizinhos de Israel. Portanto, não é nova a noção de que os gentios precisariam aprender sobre D’us. De fato, Isaías já havia dito que D’us escolheu Israel para ser luz para as nações. At 21. Ele chega a Jerusalém e é recebido por Yaakov, Tiago. É enviado ao Templo, onde deveria arcar com as despesas dele e de outros, mas é preso lá. A multidão quer linchá-lo, até que ele sobe à fortaleza de Antônia e se defende (v. 39) dizendo: “Eu sou um judeu.” Disse “ sou”, no presente, e não “Eu era judeu”. Isso ocorre após Paulo viver durante 14 anos pregando e viajando. É assim que ele se descreve, como um judeu de Tarso (atual Tunísia), a qual havia recebido o título honorário de ser uma cidade romana, pelo que Paulo também tinha cidadania romana, mesmo sendo judeu. At 22:3. Paulo diz novamente: “Eu sou judeu, nasci em Tarso, mas fui criado nesta cidade.” Qual? Jerusalém. Paulo só nasceu em Tarso. Toda a sua formação e crescimento foram em Jerusalém. Ele tinha família em Jerusalém e estudou lá. Sua irmã morava em Jerusalém e ela tinha um filho que era envolvido com os zelotes, os radicais,
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revolucionários ilegais. O que se pode aprender disso? Provavelmente a família de Paulo migrou para Jerusalém com ele sua irmã, e ali ele cresceu.
At 22:3. “Criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no dia de hoje.” Quem era Gamaliel? Ele era o neto de Hilel. Gamaliel foi presidente do Sinédrio (37 a 41 d.C.). Quem exercia essa função era mais poderoso que o primeiro ministro de Israel. Não era fácil tornar-se discípulo de alguém tão importante, pois tudo que era relacionado à religião, à lei, à fé e à justiça. É por isso que Paulo assumia uma posição tão importante no Sinédrio. Paulo ainda afirma ser zeloso por religião, estudos e tarefas tanto quanto os judeus de Jerusalém. v. 4-5. “Persegui os seguidores deste caminho.” O Caminho: assim eram chamados porque caminhavam, ou seja, não ficavam sentados todo o tempo. Em quase todas as cartas de Paulo ele diz “portanto, andem, não mais nas trevas como antes, mas andem na luz, como D’us está na luz”. Esse termo, “andar”, ainda é usado hoje no judaísmo com o mesmo sentido. v. 5. Ele tinha testemunhas para o que fez e para o que era. Paulo tinha credenciais, não eram invenções ou historinhas, pois ele tinha até mesmo cartas de recomendação. Rm 11:1. Mais uma vez Paulo fala no presente, o que indica que ele não deixou de ser judeu por crer em outro judeu como sendo o Messias, nem mesmo por crer que seu salvador morreu por ele na cruz. Permaneceu um israelita, da tribo de Benjamin que continuou guardando a Torá.
Saulo ou Paulo? “Todos os indivíduos recebem três nomes, um com que seus pais os chamam, outro com que as pessoas o chamam, e outro que está escrito no livro da vida.” (Eclesiastes Rabá) Em outro lugar os rabinos explicam porque Israel sobreviveu durante os 400 anos no Egito, o que seria tempo suficiente para absorver uma nova identidade. Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 5/28/10
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Em Levítico Rabá, os rabinos disseram que os filhos de Israel não se assimilaram porque não mudaram seus nomes. Essa midrash fala a respeito da preciosidade e significância de se mudar um nome. Mesmo hoje há muitos judeus na diáspora que têm dois nomes. Por exemplo: para quase todos os judeus americanos que se chamam Ervin, há o nome hebraico Chaim. Moris de Lafonten tinha o nome judaico que Moshe Pishev, e todos os judeus o conheciam assim. O nome hebraico de Paulo era Shaul. Mas, como era um cidadão romano, ele tinha que ter um nome romano: Paulus. No livro de Atos, vemos outras pessoas diante da mesma situação tão comum:
At 1:23. Um José, cujo nome também era Justus. At 9:36. Dorcas, cujo nome aramaico era Tabita. At 15:32. Silas, também chamado de Silvanus.
Levando-se em consideração a educação de Paulo, vê-se que ele tinha a melhor educação possível na terra de Israel, sabia falar grego e latim, tinha relações diplomáticas, provavelmente possuía uma família. Isso lembra Ec Rabá 7: “De mil alunos que estudam a Torá, apenas 100 estudam a mishná, 10 estudam o talmude e apenas um se torna um professor da Torá.” Se Paulo era um professor da Torá, ele era realmente muito especial.
Gl 1:14. “Eu era avançado no judaísmo, muito mais do que os meus contemporâneos.” Nesta passagem, Paulo não está sendo orgulhoso, mas simplesmente defendendo seu valor. “Que cada um de vós não se considere mais do que vale”, disse ele mesmo em outra passagem. Neste capítulo, Paulo mostra que foi muito mais estudioso e zeloso da Torá do que a maioria de seus contemporâneos: se começou a estudar com mil, só ele permaneceu.
As atitudes de Paulo em relação à Torá Se considerássemos a interpretação evangélica clássica, seríamos levados a crer que Paulo sofria de crise de personalidade. Talvez tivesse mais de duas personalidades, Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 6/28/10
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pois, se em Rm 7:12 ele diz que a Torá é santa, o mandamento, santo justo e bom, como poderia dizer em Gl 3 que a lei é uma maldição. Será que algo que é maldito pode ser bom, santo e justo? Em algum momento houve um erro, ou em Paulo, ou no texto, ou na maneira como se entende o texto. O problema não é Paulo – ele não era esquizofrênico –, nem a palavra de D’us, mas, antes, a interpretação que herdamos de Roma.
Rm 7:16. “Ora, se faço o que não quero, concordo com a Lei, que é boa.” At 28:17. O contexto deste versículo é que Paulo estava viajando por mais de seis meses de Cesárea a Roma e teve dois naufrágios. Chega a Roma exausto e convida os líderes dos judeus. É como se o Shulam chegasse a Belo Horizonte e convidasse todos os pastores dessa cidade para assisti-lo. Nenhum pastor famoso viria, pois Shulam não é suficientemente importante para eles. Assim, quando Paulo convida os líderes dos judeus em Roma, e eles vêm, isso significa que, mesmo depois de Paulo se tornar um pregador do evangelho por anos, sua reputação com a comunidade judaica ainda era boa. Paulo diz: “Não cometi nada contra o nosso povo, e nada contra a tradição dos nossos pais”. Quase nenhum judeu, mesmo rabino, poderia nos dias de hoje fazer tal afirmação, mas Paulo disse. Ele não somente não fez nada conta a Torá, mas também não infringiu nada da lei oral. Se a maioria dos cristãos estiver dizendo a verdade – que Paulo não guardava a lei, nem se importava com ela, que comia porco e camarão, e pregava contra a circuncisão de judeus –, então, ele era um mentiroso. Ora, se Paulo está dizendo claramente que não fez nada contra a lei nem a tradição, não é ele que está mentindo. Se ele não guardasse o sábado, ou as festas judaicas, ou as leis alimentícias, ele estaria mentindo. At 26:21-22. Paulo afirma que só falou do que estava escrito na Torá e nos profetas sobre o Messias. Os únicos escritos que a Igreja do primeiro século tinha era a Torá e os profetas. At 25:8. “Paulo, porém, defendendo-se, proferiu as seguintes palavras: Nenhum pecado cometi contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César.” Como
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assim? Mas Paulo não comia com os gentios? Sim. Mas, se ele não era mentiroso, ele comia comida kasher, mesmo quando estava com os gentios.
At 24:10-15. Paulo não adorava outro D’us, um novo D’us, mas o D’us dos patriarcas. Uma adoração a qualquer outro D’us, senão o D’us de Israel, seria politeísmo. Mais uma vez ele afirma que acreditava em tudo que estava na Torá, nos escritos e nos profetas. v. 17. Paulo diz que veio trazer esmolas e sacrifícios. Não sacrifícios pelo pecado. Existem mais de 13 tipos de sacrifício que não são por pecado. Há sacrifícios pacíficos, por cumprir um voto, sacrifícios de louvor. A tradução tenta mascarar a palavra sacrifício, traduzindo-a por “oferta”, que dá uma conotação de ajuda financeira, mas a palavra grega ali é “prosfora”, que significa “sacrifício”. Os cristãos dizem que, logo depois que Jesus veio e morreu na cruz, os judeus crentes pararam de ir ao Templo e de oferecer sacrifícios, para irem somente à igreja. Mas é importante entender Paulo com base em seu próprio testemunho. Todos esses textos mostram declarações de Paulo a respeito de si mesmo e de sua posição em relação à Torá. Assim, em Gálatas, ele não pode estar contradizendo nada do que já disse, ou a Torá, ou os Escritos ou os Profetas – a menos que fosse louco. Tais declarações de Paulo são, portanto, um filtro para todos os seus escritos e para se considerar ou refutar a tradição interpretativa cristã ou judaica sobre Paulo.
2Pe 3:14-16. Um comentário de Pedro sobre Paulo. Será que Pedro está criticando ou elogiando Paulo? Elogiando. Ele admite que o que quer que Paulo tenha escrito ele recebeu de D’us. Concorda também que há coisas difíceis de entender, pois Paulo era muito culto e tinha uma ampla visão sobre o mundo e a Torá. Admite, ainda, que haja pessoas ignorantes que deturpam as palavras de Paulo e as Escrituras para sua própria destruição. Então: o problema é Paulo, são as Escrituras, ou são os escritos de Paulo? Nada disso. De fato, seus escritos são difíceis, mas o problema são as pessoas más e ignorantes que deturpam seus escritos. Vemos, portanto, que a má interpretação das cartas de Paulo já existia desde o primeiro século.
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OS OPONENTES DE PAULO
Fp 3:1, 2. Não se sabe com certeza quem eram esses inimigos. De qualquer forma, eles estavam pregando mentiras e destruindo a obra de D’us. É por isso que Paulo usa termos tão pesados para com eles. Mutiladores da carne: em Gl 6:12-13, Paulo lida com os mesmos problemas. É preciso entender com o que Paulo está lidando aqui. Um judeu não tem a opção de ser circuncidado ou não, pois ele é circuncidado ao 8º dia. Ele não escolhe ser circuncidado, seus pais já decidiram por ele. Qualquer um que escolhe ou quer ser circuncidado, geralmente é algum não judeu que quer se converter ao judaísmo e, por escolha própria, é circuncidado. Quando Paulo fala de pessoas que querem e escolhem se circuncidar, ele fala de não judeus. Havia quem estivesse encorajando pessoas a se circuncidarem. E as razões para isso eram:
gloriar-se na carne, orgulhar-se. fugir da perseguição da cruz de Cristo.
Havia uma lei romana, cujo princípio ainda existe, permitia uma liberdade religiosa, mas a estrutura religiosa teria de se restringir a sua própria comunidade. Por esse princípio, não é permitido evangelizar. Os rabinos são responsáveis pelos judeus, o clero mulçumano pelos mulçumanos. Nenhuma religião nova é permitida. As religiões que já existiam em 1948 em Israel são as únicas reconhecidas até hoje ali. O mesmo aconteceu em Roma com a
religio licita .
Os judeus poderiam ser judeus, os gregos
poderiam ser gregos, os sírios poderiam ser sírios, mas nenhuma religião nova era possível. Então, quando não judeus, começaram a crer em Jesus, eles eram perseguidos por Roma. Por exemplo, o édito de Claudio (65 d.C.), onde se constata que estava havendo confusões por causa de “Cristus”. Ainda outro exemplo, a carta de Plínio ao imperador Trajano, na qual aquele escreve perguntando o que deveria fazer com os cristãos, que cometiam, no mínimo, três contravenções:
canibalismo: comiam do corpo e bebiam do sangue do Cristo;
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ódio entre os homens: não permitiam que suas filhas se casassem com outros de fora da comunidade – não se misturavam com o resto do mundo; ateísmo: eles não têm deuses, nem estátuas.
Por isso, os gentios que criam no Messias, mas não queriam ser perseguidos por se filiarem a uma “nova religião”, se convertiam ao judaísmo, sendo circuncidados. Mas, mesmo os que já eram circuncidados não estavam obedecendo a Torá. O argumento de Paulo era: quem é circuncidado é obrigado a guardar toda a Torá. Mesmo o gentio que se convertia, e assim o é até hoje, deveria declarar diante de três testemunhas: “Eu me comprometo a obedecer toda a Torá e todos os mandamentos.” É um voto, quando alguém se obriga a fazer alguma coisa estando em sanidade mental, ou seja, um desprezo da opção de receber a graça. Quando alguém se converte ao judaísmo, o rabino pede-lhe duas coisas: circuncisão e mikvê – imersão, batismo. Na mikvê, deve ser feito o juramento de obrigarse a carregar sobre si o jugo da lei. É a isso que Paulo se refere em Gl 5:2. Deve-se atentar para o pronome: “vós, os que se deixam, ou escolhem circuncidar”. Eram gentios que escolheram se colocar sobre o jugo da lei.
Fp 3:3. Há uma oposição entre “vós, que vos deixais circuncidar” e “nós, que somos da circuncisão” – bnei hamilá. Nós não confiamos na carne. Como judeus, que temos a Torá por quase 4000 anos, sabemos quem somos, sabemos do bezerro de ouro, dos exílios, e entendemos o que Pedro falou em At 15, que nem nós, nem nossos pais fomos capazes de guardar a Torá, não que não quiséssemos, mas porque não conseguimos. “Quando a má inclinação morrer, todos chorarão. Por que os justos chorarão? Pois eles verão a inclinação para o mal e dirão: ‘Como nós poderíamos ter transposto essa montanha tão grande?’ E por que os perversos chorarão? Porque olharão para a má inclinação e dirão: ‘Como uma coisa tão frágil e tão pequena como um fio de cabelo pode ter nos causado tanto problema.’ Por isso todos chorarão.” (Tratado Sucá 52b) Da mesma forma é o relacionamento com a Torá. Os judeus, que receberam a Torá no monte Sinai não foram capazes de guardá-la. Toda a história da Bíblia trata da Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 10/28/10
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incapacidade humana de fazer a vontade de D’us. Por que D’us enviou os profetas, por que Isaías não disse que o povo era justo, santo, andava na vontade de D’us? Até mesmo com Moisés guiando o povo por 40 anos no deserto, que comia e bebia milagres diariamente, e ainda assim desobedecia. Só milagres não bastam para ajudar. Nenhuma geração viu tantos milagres quanto aquela. Por que não ajudou em nada? Faltava a fé. Hb 8 diz que eles guardavam os mandamentos, mas sem fé. A Torá se tornou uma pedra de tropeço, e isso é um fato histórico.
Ez 20. D’us diz quatro vezes que decidiu destruir esse povo, mas ele volta atrás e diz que terá misericórdia deles. Os cristãos pensam que não existia graça no Antigo Testamento. Se alguém quer saber o que é graça, deve olhar para a história de Israel. Fp 3:3. Paulo diz que nós, os judeus, somos a verdadeira circuncisão, os que nos gloriamos em Yeshua – não temos que usar nada para mostrarmos que somos judeus, e não confiamos na carne. Se um judeu diz para outro que é circuncidado, não existe glória nenhuma nisso. O argumento de ter sido circuncidado ao oitavo dia só serve para alguém que não foi circuncidado assim. Pela resposta que Paulo dá aos oponentes podemos identificar que eles eram. Os judeus não estavam interessados em circuncidar gentios, em geral. É claro que havia seitas que buscavam converter gentios, mas o judaísmo como um todo, não. Quando Salomão estava dedicando o Templo, diz, referente aos gentios, que qualquer pessoa de qualquer nação que clamar ao Senhor ali, D’us ouviria suas orações (1Re 8). Até mesmo para o judaísmo ortodoxo, hoje, o gentio não precisa ser circuncidado. Os inimigos de Paulo eram gentios cristãos que haviam sido circuncidados e que estavam pregando essa prática para outros gentios. Paulo, então, compara suas credenciais com as deles (Fp 3:5-6). Os inimigos de Paulo não eram circuncidados ao oitavo dia, nem de nenhuma tribo, nem filhos de judeus, nem fariseus, nem obedientes à Torá. Eles ridicularizavam o que Paulo falava sobre a graça de D’us. Afirmavam que a salvação deveria ser por obediência. No entanto, D’us sempre agiu com graça para com o povo de Israel. Certamente, Davi só foi salvo por graça, pois descumpriu quase todos os 10 mandamentos: adulterou, quebrou o Shabat, desonrou pai e mãe, cobiçou a mulher do próximo, deu falso testemunho etc. Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 11/28/10
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Fp 3:7. Será que existe uma perda, no sentido de que Paulo deixou de ser um hebreu, um israelita etc? Não, o que ele quis dizer é que ele considerou essas coisas piores do que lixo, se comparadas a Yeshua. Mas, lembrando do que ele falou em Atos, não deixou de ser judeu.
3
A CARTA AOSGÁLATAS
Capítulo 1 v. 1-3. Comparando essa introdução com outras aberturas de outras cartas, vêse uma peculiaridade. Em Rm, ele se apresenta como servo de D’us, chamado para ser apóstolo, mas em Gl ele é direto ao se apresentar como apóstolo – porque alguém estava questionando seu apostolado e sua autoridade. v. 3. Paulo extrai a expressão “graça e paz” da benção de Arão: a última palavra da segunda frase da bênção – vyhuneka – vem de “hen”, graça, e a última é “shalom”, paz. É como se Paulo se colocasse como sacerdote ao usar palavras dessa bênção. v. 6. Novamente Paulo está fazendo uma referência à Torá. Compare com Ex 32:8. Ele conecta a apostasia do deserto com o que estava acontecendo aos gálatas. v. 7. Não há outro evangelho. Quando gentios sentem afinidade com alguma comunidade messiânica e chegam ao ponto de se circuncidar, considerando que sua fé “agora” é a correta, isso não é o evangelho do Messias. Existem duas maneiras de destruir o povo judeu: assimilar ou transformar não judeus em judeus. Não é bom pra nenhuma das comunidades. Há um Midrash que diz o seguinte. Abraão e Isaque vão para o monte Sinai, e Isaque estava carregando a lenha. O diabo encontra-se com eles no caminho e pergunta o que eles vão fazer. Abraão responde que está indo cumprir uma mitsvá. “Qual mitsvá?” – pergunta o diabo. “Vou sacrificar meu filho” – responde Abraão. O diabo questiona se Abraão não conhece os mandamentos, que D’us proíbe o sacrifício
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humano a Moloque. Finalmente, Abraão lhe responde: “Prefiro cumprir o mandamento que D’us me disse pessoalmente a cumprir mandamentos gerais.”
v. 8. Esse versículo remonta a uma importante questão no judaísmo. É possível construir coisas lógicas ou até ter revelações, mas se elas não forem de D’us, não devem ser escutadas. É o que Paulo está dizendo. A Igreja Católica costuma defender que, por meio de concílios, ela pode acrescentar dogmas canônicos à doutrina da fé. A maioria dos cristãos acredita mais nos dogmas e nos credos de sua igreja que na Bíblia. Por exemplo, quase todos acreditam que são o “novo” Israel. Mas isso não existe na Bíblia. Israel ainda é Israel, parte é salva, e outra parte não. v. 10. Talvez Paulo fosse o chefe da casa da justiça em Israel, se quisesse agradar a homens. v. 11-12. A palavra hebraica para “recebimento” é “kabalá”, e é repetida muitíssimas vezes no NT. v. 13. Paulo fala de sua vida antes do Messias. Como já foi mostrado em Atos e Filipenses, Paulo, mais uma vez mostra que era extremamente zeloso com as tradições de seus pais. Certamente, acusavam-no de não ser um bom judeu, pois pensavam que, já que ele não circuncidava gentios, não estava contribuindo para aumentar o povo judeu. É preciso ter em mente que Paulo está respondendo seus acusadores. v. 15. O apóstolo diz que foi chamado antes de nascer. Mas como, se ele só se encontrou com o Messias no caminho para Damasco? No judaísmo, diz-se que tudo já está determinado, exceto o temor de D’us. A única liberdade que o ser humano teria é crer em D’us ou não, aceitá-lo ou não. O profeta Jeremias também diz que foi escolhido antes de nascer. Paulo mostra a soberania de D’us ao mostrar que não foi ele quem escolheu Yeshua, mas Yeshua quem escolheu Paulo – assim como tem acontecido com muitos judeus hoje. v. 16. Diz que, desde o início, sua missão era pregar para os gentios. Paulo não precisou que os apóstolos confirmassem se ele tinha ou não uma visão de D’us. Por isso ele fugiu de Jerusalém. Primeiramente, ele foi para a “Arábia” – o que significa toda a Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 13/28/10
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região desde a Arábia Saudita, Monte Sinai e partes do deserto da Jordânia (veja 4:25). Provavelmente, Paulo foi para o monte Sinai, como Elias, quando fugindo do monte Carmelo. Paulo queria saber se a experiência que ele teve realmente era de D’us.
v. 17-19. Três anos após seu autoexílio no Sinai, Paulo sobe a Jerusalém e, em resposta a seus opositores, mostra que teve contato com os apóstolos durante quinze dias em Jerusalém, onde, é bem possível que abençoaram Paulo. Em resumo, Paulo recebia três acusações:
ele não seria um verdadeiro apóstolo; ele não estava ensinando toda a verdade; ele respeitava mais a autoridade dos homens do que a autoridade de D’us.
Para elas tinha três respostas:
“Eu não fui chamado por nenhum homem, mas por D’us.” “Quando fui a Jerusalém, os apóstolos me aceitaram, falei com Tiago e com Pedro. A igreja em Jerusalém apoiou meu ministério.” O Espírito Santo e os discípulos de Paulo foram os que fundaram a Igreja.
Três vezes nos capítulos 1 e 2, Paulo descreve sua viagem a Jerusalém. A primeira vez, em 1:17, 18. Paulo diz que foi a Jerusalém para avistar-se com Pedro – não com todos os apóstolos, mas Pedro. Por quê? Em Atos, Pedro é considerado o apóstolo dos judeus e Paulo o apóstolo dos gentios. Os 10 primeiros capítulos de Atos dedicam-se quase exclusivamente ao ministério de Pedro. O apostolo dos judeus vai pregar o evangelho aos gentios em Cesárea. Em At 11, começa a descrição do ministério de Paulo. É como se houvesse uma comparação entre esses ministérios. Pedro curava pela sombra, Paulo pelos lenços, ambos ressuscitaram mortos
etc.
Pedro e Paulo têm
igual importância. O que Paulo está dizendo, basicamente é que eles se aceitaram como irmãos. Falando assim, Paulo está defendendo que seu apostolado foi legitimado pelos apóstolos.
v. 20 em diante. Se os da Judéia não conheciam Paulo, as críticas a ele não eram válidas, eram vãs. Paulo por esses versos dá indicações de que as acusações contra Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 14/28/10
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ele vinham da Judéia. Talvez discípulos de Tiago, vindos da Judéia. Paulo está desacreditando seus oponentes antes mesmo de começar sua defesa.
Capítulo 2 v. 1-2. A segunda subida a Jerusalém. De qualquer lugar do mundo que se venha a Jerusalém, sempre é necessário subir, tanto geograficamente quanto espiritualmente. Barnabé era um apelido comum para Yosef, José (At 4:36). No período do segundo Templo, José era um dos nomes mais comuns. Hoje os nomes mais comuns em Israel são Daniel e Keren, Caren. Um nome nada popular é Zorobabel. Paulo viaja com um judeu e com um gentio para Jerusalém e, mais uma vez, mostra o motivo: obediência a uma revelação que teve. Também é parte de uma defesa contra seus opositores, que diriam que ele estava indo a Jerusalém para “engraxar os sapatos” dos apóstolos. Na verdade, ele foi a Jerusalém para contar o que estava pregando aos gentios. Fez isso ante os que pareciam de maior influência. Nenhum dos maiores comentadores de Gálatas trata disto: Paulo está cumprindo sua missão entre os gentios, mas não tinha certeza se estava fazendo tudo corretamente. Paulo está revelando algo do íntimo do seu coração. Certamente, todos no movimento messiânico sentem-se como Paulo. Estão lutando contra a correnteza do rio, apenas para não ser levados para trás, esperando, talvez, avançar um pouco. É difícil subir o rio remando, sendo criticados pelos judeus e pelos gentios. Mas o movimento messiânico é uma ponte entre ambos, e uma ponte é pisada, embora una os lados.
v. 3. Tito não foi forçado a circuncidar-se. Mas não se pode ter certeza de que ele tenha sido circuncidado espontaneamente. Em At 21:20, vemos que havia dezenas de milhares de judeus que criam em Yeshua e eram zelosos pela Torá, e nenhum deles forçou Tito a ser circuncidado. Os adversários de Paulo diziam para os gálatas que eles deveriam ser circuncidados. Assim, vê-se que esta não era a opinião da igreja de Jerusalém, pois não obrigaram Tito a se circuncidar. Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 15/28/10
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v. 4 Sobre o que Paulo está falando? É a questão da circuncisão de Timóteo. Havia falsos irmãos, os que falavam isso. Para dizer que eles são falsos irmãos, deve-se admitir que eles já foram irmãos. O objetivo deles era roubar a liberdade dos irmãos, tornando-os escravos. A diferença entre os indivíduos livre e escravo é a possibilidade de livre escolha. Será que Paulo é contra a circuncisão? Não. Ele é contra a circuncisão de gentios, e em parte. Com certeza, ele é contra forçar gentios a circuncidar-se. Há um princípio judaico muito importante: kavaná, intenção – tudo que se faz, mesmo sendo coisas boas, certas, em obediência aos mandamentos, se for feito sem a intenção correta, esse ato será uma abominação a D’us. Fazer a coisa certa e boa, cumprir o mandamento, sem intenção correta é abominação. Se um marido dá flores a sua esposa por amor, isso é ótimo. Mas se o marido sempre traz flores e, durante uma briga, confessa que só traz as flores porque o chefe mandou, certamente sua esposa não se sentirá bem. Assim, mesmo uma boa ação, se com intenção errada, torna-se uma má ação. É exatamente o que D’us está falando através de Is 1:13 em diante. Razões religiosas são também razões erradas. D’us não quer que as pessoas façam coisas certas com intenções erradas. Assim eram os fariseus: faziam as coisas para serem vistos, alongavam os tefilin e os tsitsit e se orgulhavam disso, pelo que Yeshua os chamou de hipócritas.
v. 5. Para proteger os gentios que estão andando com D’us por fé, em obediência aos seus mandamentos, para que não fossem disseminados. v. 6. Símbolos exteriores não possuem influência alguma no espírito. É a alusão que o Talmude faz a colocar-se um anel de ouro no nariz de um porco. O porco não deixará de ser porco por isso, e também o anel de ouro. Um não muda em nada a essência do outro. O princípio é que as coisas exteriores só têm valor se a intenção do seu coração está certa. v. 7. Da mesma forma que Pedro tem um ministério dado por D’us aos judeus, Paulo tem um ministério gentios.
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v. 9-10. Quão judaico e belo é isso: os apóstolos de Jerusalém concordaram que Paulo deveria continuar sua missão entre os gentios, desde que arrecadasse dinheiro para os pobres. v. 11. Paulo está se defendendo contra os opositores que diziam que os gentios deveriam ser circuncidados para agradar a D’us. Essas pessoas consideravam Pedro seu “herói”. Paulo está mostrando que se opôs ao “herói” deles quando esse “herói” agiu errado. Pedro estava comendo com os gentios, mas, quando alguns da parte de Tiago chegaram, Pedro se afastou dos gentios. Isso não significa que Pedro estava comendo comida não kasher. É possível um judeu comer com um gentio e ainda assim comer comida kasher. O problema foi que Pedro teve medo de ser visto com os gentios e de os da parte de Tiago levantarem acusações de que ele estava comendo comida inapropriada. O pecado de Pedro foi ter medo da opinião de outros irmãos. E esta não é a primeira vez que Pedro finge não conhecer alguém por medo, ele agiu semelhantemente antes da crucificação de Yeshua. Existem certas fraquezas de caráter, e até Pedro as possuía. Paulo enfrenta Pedro cara a cara. Nessa passagem, Paulo não está tentando constranger ou denegrir Pedro. Apenas está mostrando aos gálatas que eles não devem deixar que a opinião das pessoas ao redor dite a teologia deles. Quando pastores, até famosos e poderosos, temem falar a verdade por ter medo da política do conselho de pastores ou de perder membros, eles estão fazendo o mesmo que Pedro.
v. 15-16. Paulo está falando para os “superjudeus” acerca do movimento judaico messiânico. Hoje, quanto mais de preto se vestem, menos judeus são. Há alguns anos fui a uma conferência de judeus messiânicos no México e levei comigo judeus marroquinos. Um deles era um shochet (abatedor). Ao registrarem-se para a conferência, havia um homem vestido de preto, com chapéu, tsitsit com fio azul preso no cinto, uma enorme bolsa de talit, uma barba comprida e uma bíblia NAB (Nova Bíblia Americana). Então marroquino disse: “Oh, um judeu ortodoxo, ele crê em Yeshua?” Respondi que aquele indivíduo poderia ser um rabino que cria em Yeshua. Então esse amigo foi até o “rabino” e disse “K’vod harav!” – que quer dizer “Honrado rabino!”. O “rabino” respondeu: “Olá meu querido irmão, o Senhor ainda não me deu essa língua Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 17/28/10
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para conversar com você. O “rabino” nem sabia que o marroquino havia falado em hebraico, mas era rabino em uma congregação dos Estados Unidos. As roupas não fazem um homem. “Nós judeus sabemos que nenhum homem é justificado por guardar a Torá.” Todos os judeus e rabinos sabem isso. Mas os cristãos pensam que os judeus acreditam que serão justificados por cumprir a Torá. Cumprir a Torá não justifica alguém, mas não cumpri-la pode trazer consequências ruins. Por exemplo, se um homem constrói um parapeito, impedindo que pessoas caiam, ele não será salvo por isso. No entanto, se ele não constrói o parapeito e alguém cai daquele piso e morre, então esse homem será julgado por homicídio. Guardar a lei não traz salvação, não guardar a lei traz danos. Vejamos um princípio judaico, o
(tovel vesheret beyadô): uma
pessoa vai para o batismo, porque quer se purificar, mas vai segurando nas mãos uma cobra ou um sapo – um animal impuro. Será que o indivíduo que quer se purificar será purificado nessas condições? Não. Quando uma pessoa não se arrepende do fundo do seu coração, não fazendo um compromisso de seguir a D’us, mesmo que confesse Yeshua e seja batizada, é como se essa pessoa tivesse um animal impuro na mão e não o largasse. Outro princípio de mesmo significado é o
(naval bereshut
hatorá): uma pessoa maldosa que está guardando todos os mandamentos, mas seu coração não está nisso. Pode-se guardar todos os mandamentos e mesmo assim ir para o inferno. Isso é o que o judaísmo ensina e que Paulo está reafirmando: guardar a lei sem a intenção correta do coração não significa nada. Isso vale para todos os personagens da Bíblia. É absolutamente errado dizer que os justos do Tanach (AT) eram salvos por cumprir a lei.
v. 17. Voltando para o contexto geral de Gálatas. Se uma pessoa se torna um discípulo de Yeshua e peca, e a Igreja e Yeshua perdoam-no, mas essa pessoa peca e se arrepende constantemente, será que é Yeshua que está fazendo essa pessoa pecar, por perdoá-la? Não! Alguns opositores de Paulo falavam que, se a salvação não é obtida pela guarda da lei, mas apenas por fé e pela graça de D’us, quando o crente peca, seu Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 18/28/10
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pecado é reflexo da graça. Eles diziam que, portanto, a graça seria imoral: seria recompensar o pecador. Mas, se a salvação é pela guarda da lei, se alguém peca a pessoa deve ser punida, para aprender que o pecado não compensa: isso sim seria moral. O ponto vista de Paulo é que, porque uma pessoa peca, isso não significa que Yeshua é responsável por isso. A obra do Messias, que nos dá vida, não é uma permissão para pecar. Graça não é uma recompensa do pecado, mas é uma demonstração do amor de D’us por sua criação, pelo sacrifício do filho de D’us pela humanidade. A posição do NT é que a graça não é de graça. O Messias sofreu por ela. Por isso não se pode dizer que a graça é imoral ou injusta.
v. 19. “Por causa da Torá, morri para a Torá”, pois quando a Torá serve de espelho, ela mostra um grande pecador que o homem é. No dia de Yom Kipur, faz-se a grande confissão, que é uma lista de pecados – mais de 150. Basta olhar para ela para ver o quão fraco o homem é e que ele sempre acaba pecando. Quando o homem vê através da lei quem ele realmente é, só assim se pode entender a obra de Yeshua. É isso que Paulo diz: a Torá, que deveria dar vida (Rm 7), acaba matando, por causa dos pecados de cada um. v. 20. Nós matamos Yeshua. O Messias vem e habita em nós quando morremos com ele e não quando simplesmente repetimos uma oração num apelo. Isso é bem explicado em Rm 6. Os oponentes de Paulo pensavam que guardando a Torá e sendo circuncidados eles estariam acrescentando algo para sua salvação. Até o capítulo 2, Paulo está se defendendo dos seus oponentes.
Capítulo 3 v. 1. A partir daqui, Paulo começa a atacar seus oponentes.
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A profecia de Joel (2:28-32) a respeito do derramamento do Espírito não condiciona isso à obediência. De acordo com a Torá e com o judaísmo, “toda a carne” não é obrigada à lei de Moisés. Os gentios só são obrigados às sete leis noéticas. O gentio que guarda isso é tão santo quanto o judeu que guarda as 613 leis. A única condição para a salvação é clamar pelo nome do Senhor. Assim os gálatas receberam o espírito, não obedecendo à lei, mas por fé. Começaram em espírito e terminavam fracassando na carne. Desde que o povo recebeu a Torá, começou a fracassar: o bezerro de ouro, a murmuração pelo maná, murmuração pela água, um pecado, um fracasso, uma desobediência atrás da outra, e essa é a história de Israel.
v. 4-5. É esta a proposta que Paulo está colocando para os gálatas, e agora começará a prová-la. A bênção para o mundo, a eleição de Israel e a herança da terra não foram baseadas na aliança que D’us fez com Moisés, mas sim na que Ele fez com Abraão – e esta é uma aliança unilateral. Um lado promete e só um lado pode quebrá-la – neste caso o próprio D’us. O Senhor manda Abraão cortar os animais em Gn 15 e passa como fogo entre as partes dos animais. Há documentos antigos encontrados por James Bennett Pritchard (“Ancient Near Eastern Texts”), em que há descrições de alianças como essa. Quando D’us passa como fogo entre os animais, Ele estava dizendo ao mundo que, se Ele não cumprisse sua palavra naquela aliança, que ele fosse despedaçado como aqueles animais. É um voto que D’us fez para cumprir sua promessa a Abraão e sua descendência para sempre. A lei de Moisés, por sua vez, foi um contrato bilateral, que é sempre mais fraco que o unilateral, pois qualquer lado pode quebrá-la. No entanto, não foi uma simples aliança bilateral, pois está também contida na aliança unilateral. É contingente, pois dependente da primeira aliança. A aliança de Moisés foi feita com os filhos de Abraão. Quando D’us se identifica no monte Sinai como sendo o D’us de Abraão, Isaque e Jacó ele está fazendo esta aliança dependente daquela. Se não são os filhos de Abraão que recebem essa aliança ela não tem valia.
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Não existem promessas para as nações na aliança Mosaica, apesar de cinco vezes D’us alertar os judeus a não serem racistas, mas aplicarem a mesma lei para o judeu e o gentio que habitasse junto com o israelita. Mas existem leis que ditam o tratamento diferente a um não judeu, como o empréstimo que pode ser cobrado com juros para o gentio, mas não para o israelita. Então, existe uma diferença entre judeus e gentios na Torá. Mas a aliança da Torá está contida na aliança com Abraão. Então, Paulo diz que a salvação por fé é baseada nas promessas que D’us deu a Abraão, e não nas promessas que ele deu a Moisés. Isso é verdade para o judeu e para o gentio. A Torá não promete justificação, salvação. A Torá fala de ordens para a administração da vida aqui na terra e apresenta vários tipos de leis administrativas:
Leis indenizatórias: se seu boi quebrar a cerca de seu vizinho; se você estiver brigando e atingir involuntariamente uma mulher grávida; se estiver construindo uma casa ou um buraco numa área pública, e alguém cair e se machucar. Leis da terra, da agricultura: quando plantar, quando colher, o que não plantar simultaneamente. Leis da adoração: o que fazer nas festas; como realizar sacrifícios; como se comportarem os levitas. Leis da vida familiar: quem pode se casar, quem não pode; o que fazer com o adultério; o que acontece com alguém que tem relação sexual antes do casamento.
A Torá veio para ordenar a vida, tornando-a abençoada e frutífera. Mas a raiz da justificação vem de Abraão. Até mesmo os rabinos concordam com isso. Quando questionados sobre o dia do juízo todos afirmam o mesmo: “nós dependemos da graça do Juiz”. Existe uma midrash de um salmo que diz que Davi se aproxima de um juiz que avisa que Davi teria de pagar. Davi responde que não tinha dinheiro suficiente para pagar. Então, o juiz exige tudo que Davi tivesse, e o juiz pagaria o que faltasse com seus próprios recursos. Isso é graça: a diferença entre o que você deve e o que pode pagar. Esse é o conceito judaico de graça. Ninguém pode dizer ao juiz: “Ah, pague para mim”, pois o devedor deverá se esforçar o máximo para pagar tanto quanto puder de sua dívida. Então, a Torá sempre nos deixa devedores diante de D’us, e ela foi feita para Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 21/28/10
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isso. Ela não foi feita para que pudéssemos cumpri-la toda e dizer: “Oh, eu cumpri toda a Torá, eu sou justo, sou quase D’us.” Mas, a Torá foi criada, diz Paulo e os rabinos, para mostrar nossas fraquezas. Vejamos uma outra midrash. D’us estava vagando no meio do povo judeu para saber quem realmente o amava, embora todos estivessem guardando os mitsvot. D’us então decide construir um quarto quadrado, com lados de 4 m, paredes altas, sem janela, somente uma porta para um corredor. Na porta havia uma pequena janela quadrada, com lados de 4 palmos. D’us estava distante deste quarto com seu trono num espaço plano, num jardim verde, que podia ser visto da janelinha do quarto. Se alguém chegasse até a porta, poderia ver D’us. Os judeus estavam dentro do quarto guardando a Torá, protegidos pelas paredes. As pessoas que tinham medo de D’us diziam: “D’us nos colocou aqui e devemos ficar aqui.” A pessoas que amavam D’us não estavam satisfeitas em ficar ali. Elas diziam: “Nós temos que perder peso para dar um jeito de passar nesse pequeno buraco, para que possamos nos unir a D’us.” Esse midrash ensina que a Halachá são essas paredes altas, mas os que amam a D’us tiveram que atravessar o pequeno buraco para que pudessem se unir a D’us, nos lugares claros e espaçosos. Paulo está dizendo a mesma coisa.
v. 6-7. Paulo fala de Abraão, que sempre é usado como exemplo de fé. Ele é o pai da fé. Paulo está citando Gn 15:3: “Abraão creu em D’us e isso lhe foi imputado por justiça.” Abraão foi fiel, e todos aqueles que são fiéis são filhos de Abraão. Esse assunto foi motivo de discussão entre os rabinos do período do segundo Templo: não é um problema do NT. Quem é filho de Abraão? Desde 1948, o parlamento de Israel tenta estabelecer uma lei para quem é judeu, e ainda assim ninguém sabe como definir quem é judeu. A única coisa que eles dizem saber é quem não é judeu: quem crê em Yeshua não é judeu, mesmo se for o filho do rabino chefe. Mas quem é judeu? Ninguém sabe. Há também uma midrash a respeito de um versículo de Joel: “Se você não tem memória, levará barro nas costas.” A midrash explica que se você não se lembra dos
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mandamentos de D’us você será escravo. Há dois mandamentos na Torá que começam com “lembrar”:
Lembrem-se do que Amaleque fez a vocês; Lembre-se do dia de Sábado.
A midrash diz que se você não se lembra desses mandamentos você será como escravo. Se você não se lembra do dia de descanso, você não merece descanso, e se você não lembra o que seu inimigo lhe fez, você não merece a liberdade. Mas aquele que lembra é um filho de Abraão. Se você tem a lembrança de quem foram seus patriarcas, o que D’us fez por você e como Ele te libertou do seu pequeno Egito, você é filho de Abraão. Abraão era um missionário: “Levou Abrão consigo a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as almas que fez em Harã.” (Gn 12:5) O texto original diz:
‘´š‰ ´ ¸ƒ E\´”-š¶[¼‚ [¶–¶Mμ†-œ¶‚‡¸ (veet hanéfesh ashér
‘assu), literalmente “e as almas que fez em Harã”. O “fazer almas” – laassôt nefashôt – quer dizer “evangelizar”, pregar D’us, converter as pessoas. Em Gn 14, vemos que Abraão tinha 300 soldados em seu acampamento, com os quais persegue o rei que havia prendido Ló. Para ser um soldado deve-se estar entre 18 e 55. Havia 300 homens nessa idade. Se calcularmos que cada um deles possuía família, haveria, no mínimo, 1000 pessoas. O acampamento de Abraão era enorme. Não era uma tendinha debaixo de uma palmeira com um camelo e um bode ao lado. Era um acampamento amplo, e, de acordo com Gn 12:5, Abraão converteu essas pessoas em Harã.
Gl 3:7-8. Paulo interpretou que todos os gentios creriam em D’us por causa de Abraão. v. 10. Com base neste versículo, pastores famosos têm dito que os judeus são uma raça maldita. De que Paulo está falando? Está falando sobre vários capítulos da Torá que falam de maldições, da mesma forma que qualquer contrato bilateral contém cláusulas de punições. É como a cláusula de um contrato de locação de apartamento Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 23/28/10
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que impõe ao inquilino uma multa quando excedido o prazo para o pagamento do aluguel – isto é, uma maldição. Em Lv 26, Dt 28 e outros em outros capítulos, D’us diz que, se o povo não cumprisse os mandamentos, Ele os castigaria. Quando o povo estava no Sinai e disse “naasse venishmá” – faremos e ouviremos – foi um “sim” para o contrato, sabendo as condições da aliança. Lv 26 fala sobre a dispersão como uma maldição para os judeus que não cumprissem os mandamentos. Se existem judeus fora de Israel é porque seus pais desobedeceram aos mandamentos. Paulo não diz que os judeus são uma nação maldita, mas ele diz que se você está sob as obras da Torá, você está sob maldição. Para confirmar isso, o apóstolo cita a própria Torá, que diz: “Amaldiçoado é aquele que não permanece em todas as coisas escrita nesta Torá.” Isso está escrito umas três vezes na Torá. Israel disse “sim” à aliança, sabendo as condições do contrato.
Gl 3:11. Paulo cita Habacuque, um profeta judeu, que não era padre ou cristão: “O justo viverá pela fé.” Essa é uma doutrina judaica, que um profeta judeu disse em Israel, centenas de anos antes de Paulo nascer. Justificação, salvação pela fé não é uma doutrina paulina. v. 12. A Torá veio regulamentar a vida na terra, tornar a vida mais segura, ensinar a criar os filhos para uma vida boa. Não faz diferença alguma para a fé colocar um parapeito. Se o gado do seu vizinho cai no poço e você o resgata, não é por fé na vaca, mas porque era a coisa certa a fazer. A Torá não é uma questão de fé, é uma questão de fazer a coisa certa. Nosso relacionamento com D’us não é uma questão de o que nós fazemos, mas sim de como nos relacionamos e como estamos conectados com ele. Os rabinos dizem: “Será que um homem paralisado do pescoço para baixo pode guardar a Torá? Não. Mas ele pode crer em D’us e ser salvo.” Ele não acendia as velas de shabat, não resgatou a vaca do vizinho, ele não construiu cercas, mas ele ainda pode ser salvo por crer em D’us, amá-lo e ter seu coração nele. v. 13. Os pregadores dizem que o Espírito Santo está falando através de Paulo que a Torá é maldita. Se eles estão certos, Paulo era um mentiroso, hipócrita e esquizofrênico, pois em Romanos, o mesmo Paulo diz que a Torá é santa, boa e espiritual. Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 24/28/10
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A maldição contida na Torá não é a Torá, como já foi mostrado anteriormente. Yeshua se tornou maldição por nós, para que fôssemos livres da maldição, para seguir D’us, mas não por medo, e sim por amor. Para estar com D’us não é suficiente fazer a coisa certa. É como, por exemplo, o carregador de tacos de um clube de golfe. Ele pode até jogar melhor que qualquer membro do clube, pois enquanto estes só vão ao clube uma vez por semana, aquele está lá todos os dias. No entanto, o carregador é empregado e não membro. Assim, ele nunca poderá ganhar um campeonato ou ser um jogador enquanto empregado. Não faz diferença o quão bom ele é, se não for membro do clube não pode participar do torneio, nem ganhar o prêmio. Assim, dizem os rabinos, se você guarda os mandamentos com as intenções erradas, se você não tem um relacionamento com o “chefe”, se você não tem fé, não importa quão bem você guarda os mandamentos. Se D’us quisesse obediência sem relacionamento ele teria feito robôs.
v. 21. A lei não foi dada para justificação, mas para que pudéssemos cumpri-la. Se a Torá foi o instrumento para capacitar-nos a guardar a promessa, para experimentarmos a bênção de Abraão, a promessa da terra, a fé de Abraão, então a Torá justifica seu propósito. v. 22. Em Romanos e outros livros Paulo dá uma lista de versículos que mostra que pecamos e que não existe justo na terra que não tenha pecado. A Torá, os profetas e os salmos repetem essa verdade várias vezes. Mesmo enquanto o justo está tentando fazer o bem ele acaba errando. v. 23. Mas, antes que viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei e nela encerrados, para essa fé que, de futuro, haveria de revelar-se. É como a midrash do quarto. v. 24. Os cristãos dizem que a Torá era o pré-primário e que agora estamos na universidade e não precisamos mais do pré-primário. Mas só um arrogante crê que não aproveitará na universidade o que aprendeu no pré-primário. Quando você usa aritmética ou lê, está usando o que aprendeu desde o pré-primário. Se a Torá é nosso pré-primário, tudo que fazemos agora na fé é o que aprendemos no pré-primário – na Torá.
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Paulo não está falando contra a Torá, ele está a elogiando. Depois que nos formamos no ginásio, através da fé, o ginásio não tem mais responsabilidade. Isso também é verdade para a Torá. A Torá não possui responsabilidade sobre nossas vidas. Se falharmos hoje não sabendo que “4 x 4 = 16”, nossa professora de aritmética não aparecerá para puxar a orelha, pois agora a responsabilidade é nossa e de quem nos contratou. Precisamos saber que estamos em uma nova aliança, uma aliança diferente, não estamos sob responsabilidade da Torá. Se estivéssemos, teríamos grandes problemas agora, pois ninguém está guardando toda a Torá, nem mesmo os judeus ultraortodoxos, liberais, conservadores ou messiânicos. Para cumprirmos toda a Torá, precisamos do Templo; para guardar Pêssach, precisamos de um cordeiro sacrifical que deve ser comido; para celebrar Yom Kipur, precisamos de dois bodes e de sacerdotes. Os judeus fizeram com a Torá o que os católicos fizeram com Yeshua: espiritualizaram além da conta. Ao invés de fazer um sacrifício eles põem sal na chalá do Kidush de Érev Shabat. Paulo está dizendo que uma vez que a fé veio através de Yeshua, a responsabilidade da Torá acabou. Isso não significa que não temos mais que cumpri-la, pois se amanhã construírem um Templo com sacerdócio oficial, e os judeus voltarem a fazer sacrifício, até messiânicos irão ao Templo levar sacrifícios de ações de graças pelo que Yeshua fez. Não há problema nisso, pois os apóstolos fizeram isso. Tudo que nós temos agora é perfeito: Yeshua.
v. 26. “[...] a fé de Cristo Jesus.” Não é mediante a fé em Yeshua, mas a fé de Yeshua. O que nos salva é o que Ele fez, sua fidelidade e obediência. v. 27-28. Quanto à salvação, não existe homem nem mulher, judeu nem grego, porque todos são salvos mediante a fé, como Abraão e todos os heróis da bíblia. Na Bíblia, todos pecaram. Inclusive o homem mais sábio, Salomão, trouxe vários ídolos e não soube criar os filhos. Somos batizados em Cristo, pertencemos a Ele e nos revestimos dele.
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Capítulo 4 v. 21-31. Parábola sobre Sara e Agar. Jerusalém estava liderada por Roma com dirigentes e sacerdotes corruptos, a comunidade da cidade tinha disputas e desavenças, não muito diferentes da Jerusalém atual. Abraão teve pelo menos seis filhos, mencionados em Gênesis e em Crônicas. Mas não são importantes, mesmo sendo filhos físicos de Abraão, pois eles não eram filhos da promessa, mas fruto do desejo e impaciência da carne. Por causa da impaciência de Sara, Israel tem tido problemas até hoje. A parábola mostra Ismael e Isaque, o filho da carne e o filho da promessa. Paulo não está falando sobre a Torá, mas mostra no v. 25 que Agar, que veio do “monte Sinai”, representa a Jerusalém atual. Ele mesmo nos diz qual é o significado de Agar e do Sinai: é uma representação geográfica. Em seguida, Paulo fala sobre a Jerusalém celestial, que é “nossa mãe”. Ele cita Isaías 66:14-10. Nesse trecho, Isaías descreve Jerusalém como nossa mãe de dá de mamar aos filhos e os conforta. É daí que Paulo tira a imagem de Jerusalém como mãe. Para Paulo, há duas “cidades” de Jerusalém: uma é a atual, escrava de Roma e do pecado; outra é a Jerusalém da promessa, que é livre. Mas, ao lerem essa passagem, os cristãos interpretam “monte Sinai” como a Torá, erroneamente. Isaías (66) inclui os gentios na promessa da Jerusalém “celestial”. No final deste capítulo, Isaías diz que haverá gentios que servirão como sacerdotes no Templo desta Jerusalém. Paulo está dizendo para não colocarmos nossa fé na Jerusalém atual. Não está dizendo contra a Torá.
Capítulo 5 v. 1. Será que ele está falando para judeus? Ele usa os pronomes “nos” e “vos”. O primeiro refere-se aos judeus crentes que foram libertos do pecado. Ele não disse que Cristo nos libertou da Torá para fazermos o que quisermos. Yeshua morreu para nos
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libertar do pecado e não para nos libertar de cumprir os mandamentos de D’us. Devemos amar Yeshua e, se fizermos isso, cumpriremos seus mandamentos.
Ef 2:10. Fomos criados para fazermos boas obras. Que boas obras D’us já havia preparado “de antemão”? A Torá foi preparada por D’us de antemão a Yeshua. Não havia Buda ou Shulchan Aruch, nem Maimônides. Yeshua nos libertou do pecado, da maldição contida na lei, para que pudéssemos obedecê-lo – não por medo, mas por amor e por fé.
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