BENTO XVI
Pensamentos sobre a Família
Título Pensamentos sobre a Família Autor Bento XVI Edição e copyright Lucerna, Cascais 1.ª edição – Outubro de 2010 © Princípia Editora, Lda. Título e copyright originais Pensieri sulla Famiglia © Libreria Editrice Vaticana © L’Osservatore Romano (fotografia da capa) Revisão do texto português Maria João Favila Favila Vieira Carmona Tradução Traduç ão da introdução Ana Sassetti da Mota Execução gráfica Tilgráfica ISBN 978-972-8835-95-8
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Depósito legal 317394/10
Lucerna Rua Vasco Vasco da Gama, 60-C – 2775-297 Parede – Portugal Tel.: +351 214 678 710 Fax: +351 214 678 719
[email protected] www.lucerna.pt •
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Título Pensamentos sobre a Família Autor Bento XVI Edição e copyright Lucerna, Cascais 1.ª edição – Outubro de 2010 © Princípia Editora, Lda. Título e copyright originais Pensieri sulla Famiglia © Libreria Editrice Vaticana © L’Osservatore Romano (fotografia da capa) Revisão do texto português Maria João Favila Favila Vieira Carmona Tradução Traduç ão da introdução Ana Sassetti da Mota Execução gráfica Tilgráfica ISBN 978-972-8835-95-8
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BENTO XVI
Pensamentos sobre a Família Selecção de textos do Papa Bento XVI Introdução de Lucio Coco
«A família é o ambiente privilegiado onde cada pessoa aprende a dar e receber amor.» BENTO XVI
INTRODUÇÃO
Folheando as páginas deste pequeno volume que recolhe alguns pensamentos do Papa Bento XVI sobre a família, é belo reflectir com o Santo Padre sobre a verdade do matrimónio, que traduz o desígnio de Deus de que homem e mulher sejam uma só carne (cf. Gn 2, 24), e sobre o fundamento teológico desta união: Deus, que é amor, criou o Homem por amor; a vocação para o amor é aquilo que faz do Homem verdadeira imagem de Deus e por isso, como diz o Papa numa passagem fulgurante de um dos seus discursos, o Homem «torna-se semelhante a Deus na medida em que ama» (Discurso, 6 de Junho de 2005). O próprio carácter único e definitivo do matrimónio encontra o seu fundamento neste vínculo de amor que liga Deus e o Homem: a 7
maneira como Deus ama transforma-se na medida do amor humano, através do qual «à imagem do Deus monoteísta corresponde o matrimónio monogâmico» (Deus Caritas Est , n.º 11). Também a indissolubilidade constitui uma qualidade intrínseca à natureza deste «poderoso vínculo estabelecido pelo Criador» (João Paulo II, Cate- queses , 21 de Novembro de 1979, n.º 2). É certo que este desígnio inicial do projecto de Deus em relação ao Homem, que representa também o seu destino mais íntimo, pode hoje ficar obscurecido e ameaçado pelas culturas que tendem a relativizar, diminuir e precarizar o princípio desta união; mas, como afirmava o Papa Bento XVI ao responder às questões dos jovens no âmbito do encontro de preparação da XXI Jornada Mundial da Juventude, não é menos verdade que «o homem nunca pôde esquecer totalmente este desígnio que existe na profundidade do seu ser. Sempre soube, num certo sentido, que as outras formas de relação entre homem e mulher não correspondiam realmente ao desígnio original do seu ser. E assim nas culturas, sobretudo nas grandes culturas, vemos sempre de novo como 8
elas se orientam para esta realidade, a monogamia, serem o homem e a mulher uma só carne (Discurso, 6 de Abril de 2006). Único e definitivo. Nisto se encerram a verdade e a beleza do matrimónio. Mas como levar as pessoas a compreendê-lo? «Como comunicálo?», questiona-se o Santo Padre (Discurso, 31 de Agosto de 2006). Este é o problema de uma época, a nossa, «satisfeita e desesperada» (Mensagem Urbi et Orbi, 25 de Dezembro de 2006), onde cada escolha, decisão ou compromisso se vê adiado ou cancelado em nome de uma enganosa ideia de liberdade segundo a qual esta representa a única lei moral do indivíduo, erigindo-se em «valor fundamental ao qual todos os outros deveriam sujeitar-se» (Discurso, 19 de Outubro de 2006). Frequentemente, o Papa Bento teve oportunidade de repetir que esta liberdade que reivindica para cada um o direito de fazer o que lhe apetece, o que o separa do bem – neste caso, do marido, da mulher e dos filhos (cfr. Discurso, 31 de Agosto de 2006) – mais não é do que arbítrio (cfr. Discurso, 10 de Fevereiro de 2006), uma pseudo-liberdade que 9
não conduz à libertação, mas a uma forma grave de dependência e de escravidão: «Muitas vezes», escreve o Papa, «a liberdade é apresentada como uma busca implacável do prazer e de novas experiências. Contudo, isto é uma condenação, não uma libertação!» (Mensagem, 24 de Janeiro de 2007), e deste modo a liberdade degrada-se em libertinismo e ultrapassa os limites da liberdade da pessoa (cf. Discurso, 6 de Junho 2005). A liberdade autêntica – segundo o Papa Bento – não significa gozar a vida, nem considerar-se totalmente autónomo, «mas orientar-se segundo a medida da verdade e do bem» (Homilia, 21 de Agosto de 2005). A liberdade é perseverar no sim, como prometem entre si os esposos, como o fiat de Nossa Senhora, que «na obediência ao Pai realiza totalmente a própria liberdade» (Homilia, 25 de Março de 2006). O que o Santo Padre propõe para a família são laços fortes, contra todos os equívocos e todos os desvios que levam a soluções frágeis ou intermédias, que acabarão por adulterar a essência do matrimónio; «reconhecimento e promoção da estrutura natural da família, como união entre 10
um homem e uma mulher baseada no matrimónio, e a sua defesa das tentativas de a tornar juridicamente equivalente a formas de uniões que, na realidade, a danificam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter particular e o seu papel social insubstituível» (Discurso, 30 de Março de 2006) são princípios irrenunciáveis de qualquer política de família, que a Igreja deve tutelar e garantir na medida em que o seu pensamento e a sua principal preocupação estão precisamente no Homem e na sua dignidade e porque é seu dever defender esta «criatura que, precisamente na unidade inseparável de corpo e alma, é imagem de Deus» (Discurso, 22 de Dezembro de 2006). Querendo indicar-nos um modelo e, ao mesmo tempo, fazer amadurecer a nossa consciência, depois de ter enunciado as fragilidades da família de hoje, onde os laços são precários, os pais ausentes e não existe comunicação entre gerações, o Papa Bento não se cansa de nos falar da família como «primeiro e principal lugar de acolhimento da vida» (Discurso, 30 de Dezembro de 2005), de insistir numa imagem po11
sitiva da existência – «apesar das dificuldades» (Discurso, 8 de Julho de 2006) – que os pais devem transmitir aos filhos e na dimensão da família como espaço aberto de relacionamento no qual se «aprende» a viver (cfr. Homilia, 9 de Julho de 2006), que se constrói e adquire uma fisionomia e uma identidade próprias, mesmo através de crises, perturbações e sofrimentos, como quis sublinhar ao recordar a viagem a Valência (8-9 de Julho de 2006): «Assim, do testemunho destas famílias acrescentava-se uma onda de alegria, não de uma alegria superficial e mesquinha que se dissolve depressa, mas de uma alegria maturada também no sofrimento, de uma alegria que chega ao íntimo e redime verdadeiramente o Homem» (Discurso, 22 de Dezembro de 2006). A família como santuário do amor, da vida, da fé, como igreja doméstica mas também como escola de humanismo, como lugar onde se educa para o exercício da inteligência, para a liberdade das escolhas, para o serviço do amor, para o bem da oração, na qual se espera o desabrochar de novas vocações – são estes 12
os pensamentos que o Santo Padre nos oferece e sobre os quais nos quer fazer reflectir, convidando-nos a empreender uma viagem extraordinária – como ele próprio sublinha – «na busca do que significa ser Homem» (Discurso, 22 de Dezembro de 2006). E é ao longo destas linhas mestras do seu magistério, no esteio da doutrina e do ensinamento da Igreja (cf. Discurso, 6 de Junho de 2005), que se pode construir e desenvolver o Evangelho da Família, entendido como caminho de realização humana e espiritual no qual o amor pode amadurecer «para ser plenamente humano e princípio de uma alegria verdadeira e duradoura» (Discurso, 8 de Julho de 2006). O Papa Bento XVI convida-nos a trabalhar empenhadamente no sucesso desta missão, com a certeza de que na história e na vida das nossas famílias «o Senhor está sempre presente com a sua graça» (Discurso, 3 de Dezembro de 2005). Lucio Coco
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BENTO XVI
PENSAMENTOS SOBRE A FAMÍLIA
1. Programa
«O meu desejo é realçar o papel central que a família fundada no matrimónio desempenha para a Igreja e a sociedade. Ela é uma instituição insubstituível segundo os planos de Deus, cujo valor fundamental a Igreja não pode deixar de anunciar e promover, para que seja vivido sempre com sentido de responsabilidade e alegria.» Discurso (1), 8 de Julho de 2006 15
I A VERDADE DO MATRIMÓNIO
2. A narração bíblica do matrimónio
«[…] a primeira novidade da fé bíblica consiste na imagem de Deus; a segunda, essencialmente ligada a ela, encontramo-la na imagem do ser humano. A narração bíblica da criação fala da solidão do primeiro homem, Adão, querendo Deus pôr a seu lado um auxílio. Dentre todas as criaturas, nenhuma pode ser para o homem aquela ajuda de que necessita, apesar de ter dado um nome a todos os animais sel vagens e a todas as aves, integrando-os assim no contexto da sua vida. Então, de uma costela do homem, Deus plasma a mulher. Agora Adão encontra a ajuda de que necessita: “Esta é, realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2, 23). Na base desta narração, é possível entrever concepções semelhantes às que aparecem, por exemplo, no mito referido por Platão, segundo o qual o homem origina16
riamente era esférico, porque completo em si mesmo e auto-suficiente. Mas, como punição pela sua soberba, foi dividido ao meio por Zeus, de tal modo que, agora, anseia sempre pela sua outra metade e caminha para ela, a fim de reencontrar a sua globalidade. Na narração bíblica, não se fala de punição; porém, a ideia de que o homem de algum modo esteja incompleto, constitutivamente a caminho a fim de encontrar no outro a parte que falta para a sua totalidade, isto é, a ideia de que só na comunhão com o outro sexo possa tornar-se “completo”, está sem dúvida presente. E, deste modo, a narração bíblica conclui com uma profecia sobre Adão: “Por este motivo, o homem deixará o pai e a mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne” (Gn 2, 24). Aqui há dois aspectos importantes: primeiro, o “eros” está de certo modo enraizado na própria natureza do ser humano; Adão anda à procura e “deixa o pai e a mãe” para encontrar a mulher; só no seu conjunto é que representam a totalidade humana, tornam-se “uma só carne”. Não menos importante é o segundo aspecto: numa 17
orientação baseada na criação, o “eros” impele o ser humano ao matrimónio, a uma ligação caracterizada pela unicidade e para sempre; deste modo, e só assim, é que se realiza a sua finalidade íntima. À imagem do Deus monoteísta corresponde o matrimónio monogâmico. O matrimónio baseado num amor exclusivo e definitivo torna-se o ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e, vice-versa, o modo de Deus amar torna-se a medida do amor humano. Esta estreita ligação entre “eros” e matrimónio na Bíblia quase não encontra paralelos literários fora da mesma.» Deus Caritas Est , n.º 11
3. O fundamento teológico do matrimónio
«Matrimónio e família não são, na realidade, uma construção sociológica casual, fruto de particulares situações históricas e económicas. Pelo contrário, a questão da justa relação entre o homem e a mulher mergulha as suas raízes na essência mais profunda do ser humano e só pode encontrar a sua resposta a partir dela. 18
Isto é, não pode ser separada da pergunta antiga e sempre nova do homem sobre si mesmo: quem sou? O que é o homem? E esta pergunta, por sua vez, não pode ser separada da interrogação acerca de Deus: Deus existe? E quem é Deus? Qual é verdadeiramente o seu rosto? A resposta da Bíblia a estas duas interrogações é unitária e consequencial: o homem é criado à imagem de Deus, e o próprio Deus é amor. Por isso a vocação para o amor é aquilo que faz com que o homem seja a autêntica imagem de Deus: ele torna-se semelhante a Deus na medida em que ama. Neste vínculo fundamental entre Deus e o homem tem origem outro: o vínculo indissolúvel entre espírito e corpo: de facto, o homem é alma que se exprime no corpo e corpo que é vivificado por um espírito imortal. Também o corpo do homem e da mulher tem, por conseguinte, por assim dizer, um carácter teológico; não é simplesmente corpo, e o que é biológico no homem não é só biológico, mas expressão e cumprimento da nossa humanidade. De igual modo, a sexualidade humana não está ao lado do nosso ser 19
pessoa, mas pertence-lhe. Só quando a sexualidade se integra na pessoa consegue dar um sentido a si mesma.» Discurso, 6 de Junho de 2005 4. O fundamento do matrimónio na lei natural
«A lei natural é a nascente de onde brotam, juntamente com os direitos fundamentais, também imperativos éticos que é necessário respeitar. Nas actuais ética e filosofia do direito são amplamente difundidos os postulados do positivismo jurídico. A consequência é que a legislação se torna com frequência somente um compromisso entre diversos interesses: procura-se transformar em direitos interesses particulares ou desejos que contrastam com os deveres derivantes da responsabilidade social. Nesta situação, é oportuno recordar que cada ordenamento jurídico, tanto a nível interno como a nível internacional, haure em última análise a sua legitimidade da radicação na lei natural, na mensagem ética inscrita no pró20
prio ser humano. Em definitivo, a lei natural é o único baluarte válido contra o arbítrio do poder ou os enganos da manipulação ideológica. O conhecimento desta lei inscrita no coração do homem aumenta com a progressão da consciência moral. Portanto, a primeira preocupação para todos, e particularmente para quem tem responsabilidades públicas, deveria consistir em promover o amadurecimento da consciência moral. Este é o progresso fundamental, sem o qual todos os outros progressos acabam por ser não autênticos. A lei inscrita na nossa natureza é a verdadeira garantia oferecida a cada um para poder viver livre e ser respeitado na própria dignidade. O que dissemos até agora tem implicações muito concretas se se faz referência à família, ou seja, àquela “íntima comunidade da vida e do amor conjugal, fundada pelo Criador e dotada de leis próprias” (constituição pastoral Gaudium et Spes , n.º 48). A este propósito, o Concílio Vaticano II reiterou oportunamente que a instituição do matrimónio recebe a sua estabilidade do ordenamento divino e, por isso, “em vista do bem tanto dos esposos e da prole 21
como da sociedade, este sagrado vínculo não está ao arbítrio da vontade humana” (ibidem) . Portanto, nenhuma lei feita pelos homens pode subverter a norma escrita pelo Criador sem que a sociedade seja dramaticamente ferida naquilo que constitui o seu próprio fundamento basilar. Esquecê-lo significaria debilitar a família, penalizar os filhos e também tornar precário o futuro da sociedade.» Discurso, 12 de Fevereiro de 2007 5. O matrimónio na história da salvação
«A verdade do matrimónio e da família, que mergulha as suas raízes na verdade do homem, encontrou actuação na história da salvação, em cujo centro está a palavra: “Deus ama o seu povo”. A revelação bíblica, de facto, é antes de tudo expressão de uma história de amor, a história da aliança de Deus com os homens; por isso, a história do amor e da união de um homem e de uma mulher na aliança do matrimónio pôde ser assumida por Deus como símbolo da história da salvação. O facto inex22
primível, o mistério do amor de Deus pelos homens, recebe a sua forma linguística do vocabulário do matrimónio e da família, em positivo e em negativo: de facto, a aproximação de Deus em relação ao seu povo é apresentada na linguagem do amor esponsal, enquanto que a infidelidade de Israel, a sua idolatria, é designada como adultério e prostituição. No Novo Testamento, Deus radicaliza o seu amor até se tornar Ele mesmo, no seu Filho, carne da nossa carne, verdadeiro homem. Desta forma, a união de Deus com o homem assumiu a sua forma suprema, irreversível e definitiva. Assim, é traçada também para o amor humano a sua forma definitiva, aquele “sim” recíproco que não pode ser revogado: ela não aliena o homem, mas liberta-o das alienações da história para o conduzir à verdade da criação. A sacramentalidade que o matrimónio assume em Cristo significa portanto que o dom da criação foi elevado à graça de redenção. A graça de Cristo não se acrescenta de fora à natureza do homem, não lhe faz violência, mas liberta-a e restaura-a, precisamente ao elevá-la acima dos 23
seus próprios limites. Assim como a encarnação do Filho de Deus revela o seu verdadeiro significado na cruz, também o amor humano autêntico é doação de si, e não pode existir se pretender subtrair-se à cruz.» Discurso, 6 de Junho de 2005 6. O sacramento do matrimónio
«[…] matrimónio que, como instituição natural, é “património da humanidade”. Por outro lado, a sua elevação à altíssima dignidade de sacramento deve ser contemplada com gratidão e admiração, como expressei recentemente ao afirmar que “a sacramentalidade que o matrimónio assume em Cristo significa portanto que o dom da criação foi elevado à graça de redenção. A graça de Cristo não se acrescenta de fora à natureza do homem, não lhe faz violência, mas liberta-a e restaura-a, precisamente ao elevá-la acima dos seus próprios limites” (Discurso, 6 de Junho de 2005).» Discurso (2), 3 de Dezembro de 2005 24
7. O desígnio de Deus sobre o homem e a mulher
«É para mim muito agradável ver que já nas primeiras páginas da Sagrada Escritura, logo após a narração da Criação do homem, encontramos a definição do amor e do matrimónio. O autor sagrado diz: “O homem deixará seu pai e sua mãe, unir-se-á à sua mulher e os dois serão uma só carne, uma única existência” (cf. Gn 2, 24). Estamos no início e já nos é dada uma profecia do que é o matrimónio; e esta definição permanece idêntica também no Novo Testamento. O matrimónio é este seguir o outro no amor e, desta forma, tornarem-se uma única existência, uma só carne, e por isso, inseparáveis; uma nova existência que nasce desta comunhão de amor, que une e cria um futuro. Os teólogos medievais, interpretando esta afirmação que se encontra no início da Sagrada Escritura, disseram que, dos sete sacramentos, o matrimónio foi o primeiro que Deus instituiu, porque foi instituído já no momento da criação, no Paraíso, no início da história, e antes de qualquer 25
história humana. É um sacramento do Criador do universo inscrito precisamente no próprio ser humano, que está orientado para este caminho, no qual o homem abandona os pais e se une à sua mulher para formarem uma só carne, para que, desta forma, se tornem uma única existência. Por conseguinte, o sacramento do matrimónio não é invenção da Igreja, é realmente “con-criado” com o homem como tal, como fruto do dinamismo do amor, no qual o homem e a mulher se encontram reciprocamente e assim encontram também o Criador que os chamou ao amor. É verdade que o homem caiu e foi expulso do Paraíso, ou, por outras palavras mais modernas, é verdade que todas as culturas estão poluídas pelo pecado, pelos erros do homem na sua história e assim o desígnio inicial inscrito na nossa natureza está obscurecido. De facto, nas culturas humanas encontramos este obscurecimento do desígnio original de Deus. Mas, ao mesmo tempo, observamos as culturas, toda a história cultural da humanidade, e verificamos também que o homem nunca pôde esquecer totalmente este desígnio que existe na 26
profundidade do seu ser. Sempre soube, num certo sentido, que as outras formas de relação entre homem e mulher não correspondiam realmente ao desígnio original do seu ser. E assim nas culturas, sobretudo nas grandes culturas, vemos sempre de novo como elas se orientam para esta realidade, a monogamia, serem o homem e a mulher uma só carne. É assim, na fidelidade, que uma nova geração pode crescer, que se pode dar continuidade a uma tradição cultural, renovando-se e realizando, na continuidade, um progresso autêntico.» Discurso, 6 de Abril de 2006 8. «[…] e os dois serão uma só carne» (Gn 2, 24)
«[…] o matrimónio e a família estão arraigados no âmago mais íntimo da verdade sobre o homem e sobre o seu destino. A Sagrada Escritura revela que a vocação para o amor faz parte da autêntica imagem de Deus, que o Criador quis imprimir na sua criatura, chamando--a a tornar-se semelhante a Ele, na medida em 27
que permaneça aberta ao amor. Por conseguinte, a diferença sexual que conota o corpo do homem e da mulher não é um simples dado biológico, mas reveste um significado muito mais profundo: exprime a forma de amor com que o homem e a mulher, tornando-se, como diz a Sagrada Escritura, uma só carne, podem realizar uma autêntica comunhão de pessoas, aberta à transmissão da vida, e desta forma cooperar com Deus para a geração de novos seres humanos.» Discurso (2), 11 de Maio de 2006 9. Unidade dupla
«Na Mulieris Dignitatem , João Paulo II quis aprofundar as verdades antropológicas fundamentais do homem e da mulher, a igualdade em dignidade e a unidade dos dois, a radicada e profunda diversidade entre o homem e a mulher e a sua vocação para a reciprocidade e a complementaridade, a colaboração e a comunhão (cf. n.º 6). Esta unidade dupla do homem e da mulher baseia-se no funda28
mento da dignidade de cada pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus, que “os criou homem e mulher” (Gn 1, 27), evitando tanto uma uniformidade indistinta e uma igualdade nivelada e depauperada como uma diferença abismal e conflitual (cf. João Paulo II, Carta às Mulheres , n.º 8). Esta unidade dual traz consigo, inscrita nos corpos e nas almas, a relação com o outro, o amor pelo outro, a comunhão interpessoal, indicando que “na criação do homem foi inscrita também uma certa semelhança com a comunhão divina” (n.º 7). Portanto, quando o homem e a mulher pretendem ser autónomos e totalmente auto-suficientes, correm o risco de permanecer fechados numa auto-realização que considera como conquista de liberdade a superação de cada vínculo natural, social ou religioso, mas que de facto os reduz a uma solidão opressora. Para favorecer e sustentar a promoção real da mulher e do homem, não se pode deixar de ter em conta esta realidade.» Discurso (1), 9 de Fevereiro de 2008 29
10. O momento da comunhão
«“Deus, que é amor e criou o homem por amor, chamou-o a amar. Criando o homem e a mulher, chamou-os no matrimónio a uma íntima comunhão de vida e amor entre si, ‘portanto já não são dois, mas um só’ (Mt 19, 8)” (Catecismo da Igreja Católica, Compêndio , n.º 337). Esta é a verdade que a Igreja proclama ao mundo sem cessar. O meu querido predecessor João Paulo II dizia que “o homem se tornou ‘imagem e semelhança’ de Deus não somente através da própria humanidade, mas também através da comunhão das pessoas que o varão e a mulher formam desde o princípio. Tornam-se a imagem de Deus não tanto no momento da solidão quanto no momento da comunhão” (audiência geral de 14 de Novembro de 1979).» Discurso (2), 8 de Julho de 2006 11. A beleza do matrimónio
«[…] como comunicar ao povo de hoje a beleza do matrimónio? Vemos como muitos jo30
vens casam tarde na igreja, porque têm receio do que é definitivo; aliás, adiam até o casamento civil. Hoje, o que é definitivo para muitos jo vens, e também para os menos jovens, parece um vínculo contra a liberdade. E o seu primeiro desejo é a liberdade. Têm medo de que no final não dê certo. Vêem muitos matrimónios fracassados. Têm receio de que esta forma jurídica, como eles a sentem, seja um peso exterior que extingue o amor. É preciso fazer compreender que não se trata de um vínculo jurídico, de um peso que se realiza com o matrimónio. Pelo contrário, a profundidade e a beleza estão precisamente no carácter definitivo. Só assim ele pode fazer maturar o amor em toda a sua beleza. Mas como comunicar isto? Parece-me um problema comum a todos nós.» Discurso, 31 de Agosto de 2006 12. O serviço do amor
«[…] o matrimónio é um sacramento para a salvação dos outros: antes de tudo, para a salvação do outro, do esposo, da esposa, mas 31
também das crianças, dos filhos, e por fim de toda a comunidade.» Discurso, 31 de Agosto de 2006 13. O projecto de Deus
«A quem lhe perguntava se era lícito ao marido repudiar a própria esposa, como pre via um preceito da lei moisaica (cf. Dt 24, 1), Ele respondeu que se tratava de uma concessão feita por Moisés devido à “dureza do coração”, enquanto a verdade sobre o matrimónio remontava ao “princípio da criação”, quando “Deus”, como está escrito no Livro do Génesis, “fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e serão os dois um só” (Mc 10, 6-7; cf. Gn 1, 27; 2, 24). E Jesus acrescentou: “Portanto, já não são dois, mas um só. Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem” (Mc 10, 8-9). É este o projecto originário de Deus, como recordou também o Concílio Vaticano II na constituição Gaudium et Spes : “A íntima comunidade da vida e do amor conjugal, fundada pelo Criador 32
e dotada de leis próprias, é instituída por meio da aliança matrimonial […]. O próprio Deus é o autor do matrimónio” (n.º 48).» «Angelus», 8 de Outubro de 2006 14. Indissolubilidade do matrimónio
«“[…] o que Deus uniu, não o separe o homem”. Cada matrimónio é certamente fruto do livre consentimento do homem e da mulher, mas a sua liberdade traduz em acto a capacidade natural inerente às suas masculinidade e feminilidade. A união realiza-se em virtude do desígnio do próprio Deus, que os criou homem e mulher, dando-lhes o poder de unir para sempre aquelas dimensões naturais e complementares das suas pessoas. A indissolubilidade do matrimónio não deriva do compromisso definitivo dos contraentes, mas é intrínseca à natureza do “poderoso vínculo estabelecido pelo Criador” (João Paulo II, «Catequese» de 21 de Novembro de 1979, n.º 2). Os contraentes devem comprometer-se de modo definitivo, precisamente porque o matrimónio é tal no desígnio da criação 33
e da redenção. E a juridicidade essencial do matrimónio reside exactamente neste vínculo, que para o homem e a mulher representa uma exigência de justiça e de amor à qual, para o seu bem e para o bem de todos, eles não se podem subtrair sem contradizer aquilo que o próprio Deus realizou neles.» Discurso, 27 de Janeiro de 2007 15. Antropologia jurídica do matrimónio
«Diante da relativização subjectiva e libertária da experiência sexual, a tradição da Igreja afirma com clareza a índole naturalmente jurídica do matrimónio, ou seja, a sua pertença por natureza ao âmbito da justiça nos relacionamentos interpessoais. Nesta perspectiva, o direito entrelaça-se verdadeiramente com a vida e com o amor, como um seu intrínseco dever ser. Por isso, como escrevi na minha primeira encíclica, “numa orientação baseada na criação, o ‘eros’ impele o ser humano ao matrimónio, a uma ligação caracterizada pela unicidade e para sempre; deste modo, e só assim, é que se 34
realiza a sua finalidade íntima” (Deus Caristas Est , n.º 11). Assim, amor e direito podem unir--se a ponto de fazer com que marido e mulher devam um ao outro o amor que espontanea- mente desejam para si mesmos: neles, o amor é o fruto do seu livre desejar o bem do outro e dos filhos; o que, de resto, é também exigência do amor em relação ao verdadeiro bem de si próprio.» Discurso, 27 de Janeiro de 2007 16. Missão do matrimónio
«Na exortação apostólica Familiaris Con- sortio , o servo de Deus João Paulo II escreveu que “o sacramento do matrimónio […] constitui os cônjuges e os pais cristãos testemunhas de Cristo ‘até aos confins do mundo’, verdadeiros e próprios ‘missionários’ do amor e da vida” (cf. n.º 54). Esta missão é directa quer no interior da família, especialmente no serviço recíproco e na educação dos filhos, quer no exterior; de facto, a comunidade doméstica é chamada a ser sinal do amor de Deus para com todos. Trata-se de 35
uma missão que a família cristã só pode realizar se for amparada pela graça divina. Por isso é necessário rezar incessantemente e perseverar no esforço quotidiano para manter os compromissos assumidos no dia do matrimónio. Sobre todas as famílias, especialmente sobre as que estão em dificuldade, invoco a protecção materna de Nossa Senhora e do seu esposo José. Maria, Rainha da Família, rogai por nós!» «Angelus», 8 de Outubro de 2006
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II A FAMÍLIA
17. Formar uma família
«Queridos jovens […] Tende, sobretudo, um grande respeito pela instituição do sacramento do matrimónio. Não poderá haver verdadeira felicidade nos lares se, ao mesmo tempo, não houver fidelidade entre os esposos. O matrimónio é uma instituição de direito natural, que foi elevado por Cristo à dignidade de sacramento; é um grande dom que Deus fez à humanidade. Respeitai-o, venerai-o. Ao mesmo tempo, Deus chama-vos a respeitar-vos também no namoro e no noivado, pois a vida conjugal que, por disposição divina, está destinada aos casados é somente fonte de felicidade e de paz na medida em que souberdes fazer da castidade, dentro e fora do matrimónio, um baluarte das vossas esperanças futuras. Repito aqui para todos vós que “o eros quer elevar-nos ‘em êxtase’ para o Divino, conduzir-nos para além de 37
nós próprios, mas, por isso mesmo, requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos» (carta encíclica Deus Caritas Est , n.º 5). Em poucas palavras, requer espírito de sacrifício e de renúncia por um bem maior, que é precisamente o amor de Deus sobre todas as coisas. Procurai resistir com fortaleza às insídias do mal existente em muitos ambientes, que vos leva a uma vida dissoluta, paradoxalmente vazia, ao fazer perder o bem precioso da vossa liberdade e da vossa verdadeira felicidade. O amor verdadeiro “procurará sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais com ele, doar-se-á e desejará ‘existir para’ o outro” (ibid., n.º 7) e, por isso, será sempre mais fiel, indissolúvel e fecundo.» Discurso, 10 de Maio de 2007 18. O tempo do noivado
«O amor do homem e da mulher está na origem da família humana e o casal formado por um homem e por uma mulher tem o seu fundamento no desígnio originário de Deus (cf. Gn 38
2, 18-25). Aprender a amar-se como casal é um caminho maravilhoso, que contudo exige um tirocínio empenhativo. O período do noivado, fundamental para construir o casal, é um tempo de expectativa e de preparação que deve ser vivido na castidade dos gestos e das palavras. Isto permite amadurecer no amor, na solicitude e nas atenções ao outro; ajuda a exercer o domínio de si, a desenvolver o respeito pelo outro, características do verdadeiro amor que não procura em primeiro lugar a própria satisfação nem o seu bem-estar. Na oração comum pedi ao Senhor que guarde e incremente o vosso amor e o purifique de qualquer egoísmo. Não hesiteis em responder generosamente à chamada do Senhor, porque o matrimónio cristão é uma verdadeira e própria vocação na Igreja.» Mensagem para a XXII Jornada Mundial da Juventude, 1 de Abril de 2007 19. O sim dos esposos
«A totalidade do homem inclui de facto a dimensão do tempo, e o “sim” do homem é 39
um ir além do momento presente: na sua inteireza, o “sim” significa “sempre”, constitui o espaço da fidelidade. Só dentro dele pode crescer aquela fé que dá um futuro e permite que os filhos, fruto do amor, creiam no homem e no seu futuro em tempos difíceis. Por conseguinte, a liberdade do “sim” revela-se liberdade capaz de assumir o que é definitivo; a maior expressão da liberdade não é então a busca do prazer, sem jamais alcançar uma verdadeira decisão. Aparentemente, esta abertura permanente parece ser a realização da liberdade, mas não é verdade: a verdadeira expressão da liberdade é a capacidade de decidir por uma doação definitiva, na qual a liberdade, doando-se, se reencontra plenamente a si mesma. Em concreto, o “sim” pessoal e recíproco do homem e da mulher abre o espaço para o futuro, para a autêntica humanidade de cada um, e ao mesmo tempo está destinado à doação de uma nova vida. Por isso, este “sim” pessoal não pode deixar de ser um “sim” também publicamente responsável, com o qual os cônjuges assumem a responsabilidade públi40
ca da fidelidade que garante também o futuro para a comunidade. Com efeito, nenhum de nós pertence exclusivamente a si mesmo; portanto, cada um é chamado a assumir no mais íntimo de si a própria responsabilidade pública. O matrimónio como instituição não é, por conseguinte, uma ingerência indevida da sociedade ou da autoridade, a imposição externa de uma forma na realidade mais privada que é a vida; ao contrário, é exigência intrínseca do pacto de amor conjugal e da profundidade da pessoa humana.» Discurso, 6 de Junho de 2005 20. Lugar de acolhimento da vida
«[…] desejo pôr em evidência a vocação fundamental da família para ser o primeiro e principal lugar de acolhimento da vida. A concepção moderna da família, também por reacção ao passado, atribui uma grande importância ao amor conjugal, ressaltando os seus aspectos subjectivos de liberdade na opção e nos sentimentos. No entanto, é mais 41
difícil sentir e compreender o valor da vocação de colaborar com Deus na procriação da vida humana. Além disso, as sociedades contemporâneas, embora tenham numerosos instrumentos à sua disposição, nem sempre conseguem facilitar a missão dos pais, tanto no plano das motivações espirituais e morais, como a nível das condições práticas da vida. Há uma grande necessidade de assistir a família, quer sob o perfil cultural, quer nos planos político e legislativo […]». Discurso (1), 30 de Dezembro de 2005 21. Restituição geracional
«[…] as famílias […] são a célula fundamental de cada sociedade sadia. Só assim na família se pode criar uma comunhão das gerações na qual a memória do passado vive no presente e se abre para o futuro. Assim continua e se desenvolve realmente a vida e tem continuidade. Não é possível um verdadeiro progresso sem esta continuidade de vida e, de novo, não é possível sem o elemento religioso. Sem a con42
fiança em Deus, sem a confiança em Cristo que nos doa também a capacidade da fé e da vida, a família não pode sobreviver.» Discurso, 2 de Março de 2006 22. Património da humanidade
«A família fundamentada no matrimónio constitui um “património da humanidade”, uma instituição social fundamental; é a célula vital e o pilar da sociedade, e isto diz respeito tanto aos crentes como aos não-crentes. Trata-se de uma realidade que todos os Estados devem ter na máxima consideração porque, como João Paulo II gostava de reiterar, “o futuro da humanidade passa pela família” (Familiaris Con- sortio , n.º 86).» Discurso (1), 13 de Maio de 2006 23. Permuta de amor
«[…] o ser humano […] foi criado à imagem e semelhança de Deus para amar e […] só se realiza plenamente a si mesmo quando faz 43
entrega sincera de si aos demais. A família é o ambiente privilegiado onde cada pessoa aprende a dar e receber amor.» Discurso (2), 8 de Julho de 2006 24. A célula familiar
«A família é uma instituição de mediação entre o indivíduo e a sociedade, e nada pode substituí-la totalmente. Ela mesma apoia-se sobretudo numa profunda relação interpessoal entre o esposo e a esposa, sustentada pelo afecto e a compreensão mútuos. No sacramento do matrimónio, ela recebe a abundante ajuda de Deus, que comporta a verdadeira vocação para a santidade. Queira Deus que os filhos contemplem mais os momentos de harmonia e afecto dos pais e não os de discórdia e distanciamento, pois o amor entre o pai e a mãe oferece aos filhos uma grande segurança e ensina-lhes a beleza do amor fiel e duradouro.» Discurso (2), 8 de Julho de 2006 44
25. A verdade da família
«A família é um bem necessário para os po vos, um fundamento indispensável para a sociedade e um grande tesouro dos esposos durante toda a sua vida. É um bem insubstituível para os filhos, que hão-de ser fruto do amor, da doação total e generosa dos pais. Proclamar a verdade integral da família, fundada no matrimónio, como Igreja doméstica e santuário da vida é uma grande responsabilidade de todos.» Discurso (2), 8 de Julho de 2006 26. O exemplo dos pais
«Juntamente com a transmissão da fé e do amor do Senhor, uma das maiores tarefas da família é a de formar pessoas livres e responsáveis. Por isso os pais devem ir desenvolvendo nos seus filhos a liberdade, da qual durante algum tempo são tutores. Se eles vêem que os seus pais e em geral os adultos que os rodeiam vivem a vida com alegria e entusiasmo, apesar das dificuldades, crescerá neles mais facilmente esse prazer 45
imenso de viver que os ajudará a superar certamente os possíveis obstáculos e contrariedades que a vida humana comporta. Ademais, quando a família não se fecha em si mesma, os filhos vão aprendendo que toda a pessoa é digna de ser amada, e que há uma fraternidade fundamental universal entre todos os seres humanos.» Discurso (2), 8 de Julho de 2006 27. Os papéis familiares
«A família é insubstituível para a tranquilidade pessoal e para a educação dos filhos. As mães que desejam dedicar-se plenamente à educação dos seus filhos e ao serviço da família devem gozar das condições necessárias para o poderem fazer, e por isso têm o direito de contar com o apoio do Estado. De facto, o papel da mãe é fundamental para o futuro da sociedade. O pai, por seu lado, tem o dever de ser verdadeiramente pai que exerce as suas indispensáveis responsabilidade e colaboração na educação dos seus filhos. Os filhos, para o seu crescimento integral, têm o direito de poder con46
tar com o pai e com a mãe, que se ocupem deles e os acompanhem rumo à plenitude da sua vida. Portanto, é necessária uma pastoral familiar intensa e vigorosa. É indispensável de igual modo promover políticas familiares autênticas que respondam aos direitos da família como sujeito social imprescindível. A família faz parte do bem dos povos e da humanidade inteira.» Discurso (1), 13 de Maio de 2007 28. Escola de humanização
«[…] a família é uma escola de humanização do homem, a fim de que [o filho] cresça até se fazer verdadeiramente homem. Neste sentido, a experiência de ser amado pelos pais leva os filhos a terem consciência da sua dignidade de filhos.» Discurso (2), 8 de Julho de 2006 29. A dimensão relacional da família
«Nenhum homem deu o ser a si mesmo nem adquiriu sozinho os conhecimentos elementares da vida. Todos recebemos de ou47
tros a vida e as suas verdades básicas, e somos chamados a alcançar a perfeição em relação e comunhão amorosa com os demais. A família, fundada no matrimónio indissolúvel entre um homem e uma mulher, expressa esta dimensão relacional, filial e comunitária, e é o âmbito no qual o homem pode nascer com dignidade, crescer e desenvolver-se de maneira integral.» Homilia, 9 de Julho de 2006 30. Agência de paz
«Com efeito, numa vida familiar sã experimentam-se algumas componentes fundamentais da paz: a justiça e o amor entre irmãos e irmãs, a função da autoridade manifestada pelos pais, o serviço carinhoso aos membros mais débeis porque pequenos, doentes ou idosos, a ajuda mútua nas necessidades da vida, a disponibilidade para acolher o outro e, se necessário, perdoar-lhe. Por isso, a família é a primeira e insubstituível educadora para a paz .» Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 8 de Dezembro de 2007 48
31. As relações familiares
«Uma família vive em paz se todos os seus componentes se sujeitam a uma norma comum : é esta que impede o individualismo egoísta e que mantém unidos os indivíduos, favorecendo a sua coexistência harmoniosa e a sua laboriosidade para o fim comum.» Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 8 de Dezembro de 2007 32. O abrigo da família
«Para mim, em Valência […] foi um momento importante […] quando se apresentaram diante de mim várias famílias com mais ou menos crianças; uma família era quase uma “paróquia”, com tantos filhos! A presença, o testemunho destas famílias foi verdadeiramente mais forte do que todas as palavras. Elas apresentaram acima de tudo a riqueza da sua experiência familiar: como uma família tão grande se torna realmente uma riqueza cultural, oportunidade de educação de uns e outros, possibilidade de fazer conviver juntas as diversas expressões da cultura de hoje, o 49
doar-se, o ajudar-se também no sofrimento, etc. Mas foi importante também o testemunho das crises que sofreram. Um desses casais tinha quase chegado ao divórcio. Explicaram como conseguiram aprender a viver essa crise, esse sofrimento da alteridade do outro, e aceitar-se de novo. Precisamente na superação do momento da crise, da vontade de se separar, cresceu uma nova dimensão do amor e abriu-se uma porta para uma nova dimensão da vida que só suportando o sofrimento da crise se podia reabrir.» Discurso, 31 de Agosto de 2006 33. Os avós
«Que os avós voltem a ser presença viva na família, na Igreja e na sociedade. No que diz respeito à família, que os avós continuem a ser testemunhas de unidade, de valores fundantes sobre a fidelidade a um único amor que gera a fé e a alegria de viver. Os chamados novos modelos de família e o relativismo alastrador enfraqueceram estes valores fundamentais do núcleo familiar. Os males da nossa sociedade – como 50
justamente observastes durante os vossos trabalhos – precisam urgentemente de remédios. Face à crise da família, não se poderia talvez recomeçar precisamente da presença e do testemunho daqueles – os avós – que têm uma maior consistência de valores e de projectos? De facto, não se pode projectar o futuro sem se basear num passado rico de experiências significativas e de pontos de referência espirituais e morais. Pensando nos avós, no seu testemunho de amor e de fidelidade à vida, vêm à mente as figuras bíblicas de Abraão e Sara, de Isabel e Zacarias, de Joaquim e Ana, assim como os idosos Simeão e Ana, ou também Nicodemos: todos eles nos recordam como em cada idade o Senhor pede a cada um o contributo dos próprios talentos.» Discurso (2), 5 de Abril de 2008 34. As festas da família
«As festas da família parecem-me muito importantes. Por ocasião das festas seria bom que sobressaísse a família, a beleza das famílias.» Discurso, 31 de Agosto de 2006 51
35. Recordação de Valência
«A viagem a Espanha – a Valência – foi totalmente dedicada ao tema do matrimónio e da família. Foi belo ouvir, diante da assembleia de pessoas de todos os continentes, o testemunho de casais que, abençoados por um grande número de filhos, se apresentaram diante de nós e falaram dos respectivos caminhos no sacramento do matrimónio e no âmbito das suas famílias numerosas. Não esconderam o facto de terem tido também dias difíceis, de terem tido de atravessar tempos de crise. Mas precisamente na fadiga de se suportarem reciprocamente dia após dia, precisamente no aceitarem-se sempre de novo no crisol dos afãs quotidianos, vivendo e sofrendo profundamente o sim inicial, precisamente nesse caminho do “perder-se” evangélico, tinham amadurecido, tinham-se encontrado a si mesmos e tinham-se tornado felizes. O sim que se tinham prometido reciprocamente, na paciência do caminho e na força do sacramento com que Cristo os tinha ligado, tinha-se tornado um grande sim diante de si mesmos, dos 52
filhos, do Deus Criador e do Redentor Jesus Cristo. Assim, ao testemunho destas famílias acrescentava-se uma onda de alegria, não uma alegria superficial e mesquinha que se dissolve depressa, mas uma alegria amadurecida também no sofrimento, uma alegria que chega ao íntimo e redime verdadeiramente o homem.» Discurso, 22 de Dezembro de 2006 36. Em defesa da identidade da família
«Como Pastor da Igreja Universal, não posso deixar de expressar […] a minha preocupação com as leis relativas a questões muito delicadas, como a transmissão e a defesa da vida, a enfermidade, a identidade da família e o respeito pelo matrimónio. Sobre estes temas, e à luz da razão natural e dos princípios morais e espirituais que provêm do Evangelho, a Igreja Católica continuará a proclamar incessantemente a inalienável grandeza da dignidade humana. É igualmente necessário apelar à responsabilidade dos leigos presentes nos órgãos legislativos, no Governo e na administração da justiça, para 53
que as leis expressem sempre os princípios e os valores que estejam em conformidade com o direito natural e que promovam o autêntico bem comum.» Discurso, 9 de Fevereiro de 2007 37. Políticas da família (1)
«[…] exorto os governantes e os legisladores a reflectirem sobre o bem evidente que os lares em paz e harmonia garantem ao homem e à família, centro nevrálgico da sociedade, como recorda a Santa Sé na Carta dos Direitos da Fa- mília. O objecto das leis é o bem integral do homem, a resposta às suas necessidades e aspirações. Isto é uma notável ajuda para a sociedade, da qual ela não se pode privar, e para os povos é uma salvaguarda e uma purificação.» Discurso (2), 8 de Julho de 2006 38. Políticas da família (2)
«Hoje uma atenção especial e um compromisso extraordinário são exigidos pelos gran54
des desafios em que vastas porções da família humana estão em maior perigo: as guerras e o terrorismo, a fome e a sede, e algumas epidemias terríveis. Mas é necessário também enfrentar, com iguais determinação e clareza de intenções, o risco de opções políticas e legislativas que contradizem valores fundamentais e princípios antropológicos e éticos radicados na natureza do ser humano, de modo particular no que se refere à tutela da vida humana em todas as suas fases, desde a concepção até à morte natural, e à promoção da família fundada no matrimónio, evitando introduzir no ordenamento público outras formas de união que contribuiriam para a desestabilizar, obscurecendo o seu carácter peculiar e o seu papel social insubstituível.» Discurso, 19 de Outubro de 2006 39. Políticas da família (3)
«Esta mesma solicitude pelo homem, que nos leva a estar próximos dos pobres e dos enfermos, torna-nos atentos ao bem humano 55
fundamental que é a família ancorada no matrimónio. Hoje o matrimónio e a família têm necessidade de ser mais bem compreendidos no seu valor intrínseco e nas suas motivações mais autênticas, e em vista desta finalidade o compromisso pastoral da Igreja é grande e deve crescer ainda mais. Contudo, é igualmente necessária uma política da família e para a família que interpele, sob dois pontos de vista, também as responsabilidades que vos são próprias. Ou seja, trata-se de incrementar as iniciativas que podem tornar menos difícil e gravosa para os jovens casais a formação de uma família, e depois a geração e a educação dos filhos, favorecendo a ocupação juvenil, limitando na medida do possível o custo das habitações, aumentando o número de escolas infantis e de jardins-de-infância. Ao contrário, parecem perigosos e contraproducentes os programas que visam atribuir a outras formas de união reconhecimentos jurídicos impróprios, terminando inevitavelmente por debilitar e tornar instável a família legítima, fundada no matrimónio.» Discurso, 11 de Janeiro de 2007 56
40. As necessidades da família
«A família tem necessidade da casa, do emprego ou do justo reconhecimento da actividade doméstica dos pais, da escola para os filhos, de assistência sanitária básica para todos. Quando a sociedade e a política não se empenham em ajudar a família nestes campos, privam-se de um recurso essencial ao serviço da paz.» Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 8 de Dezembro de 2007 41. Paz familiar
«Para a paz familiar é, portanto, necessária a abertura a um património transcendente de valores , mas, simultaneamente, há que não menosprezar a sapiente gestão quer dos bens materiais, quer das relações entre as pessoas. A falha desta componente tem como consequência a quebra da confiança recíproca, devido às perspectivas incertas que passam a recair sobre o futuro do núcleo familiar.» Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 8 de Dezembro de 2007 57
42. Princípios não negociáveis
«No que se refere à Igreja Católica, o interesse principal das suas intervenções no campo público é a tutela e a promoção da dignidade da pessoa e, por conseguinte, ela chama conscientemente a uma particular atenção aos princípios que não são negociáveis. Entre eles, emergem hoje os seguintes: – tutela da vida em todas as suas fases, desde o primeiro momento da concepção até à morte natural; – rec reconhe onhecim ciment entoo e prom promoçã oçãoo da est estrut rutura ura natural da família, como união entre um homem e uma mulher baseada no matrimónio, e sua defesa das tentativas de a tornar juridicamente equivalente equivalente a formas for mas de uniões que, na realidade, a danificam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter particular e o seu papel social insubstituível; – tutela do direito dos pais a educar os próprios filhos. Estes princípios não são verdades de fé, mesmo se recebem ulteriores luz e confirmação 58
da fé. Eles estão inscritos na natureza humana e, portanto, são comuns a toda a humanidade. A acção da Igreja no sentido de os promover não assume, por conseguinte, um carácter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, independentemente dependentem ente da sua filiação religiosa. Pelo contrário, essa acção é tanto mais necessária quanto mais estes princípios forem negados ou mal compreendidos, porque isso constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma grave ferida infligida à própria justiça.» Discurso, 30 de Março de 2006 43. Oração pela família
«[…] a família […] é “berço” da vida e de toda a vocação. Sabemos bem como a família fundada no matrimónio constitui o ambiente natural para o nascimento e para a educação dos filhos e, portanto, para garantir o futuro de toda a humanidade. Mas sabemos também quanto ela está marcada por uma profunda crise e deve enfrentar hoje numerosos desafios. Portanto, é necessário defendê-la, ajudá-la, tutelá-la e va59
lorizá-la na sua unicidade irrepetível. Se este compromisso compete em primeiro lugar aos esposos, é também dever prioritário da Igreja e de todas as instituições públicas apoiar a família através de iniciativas pastorais e políticas que tenham em consideração as reais necessidades dos casais, dos idosos e das novas gerações. Um clima familiar sereno, iluminado pela fé e pelo santo temor de Deus, favorece também o desabrochamento e o florescimento das vocações para o serviço do Evangelho […]. Queridos irmãos e irmãs, rezemos para que, através de um esforço constante a favor da vida e da instituição familiar, as nossas comunidades sejam lugares de comunhão e de esperança onde se renove, mesmo entre muitas dificuldades, o grande “sim” ao amor autêntico e à realidade do homem e da família segundo o projecto originário de Deus.» «Angelus», 4 de Fevereiro de 2007
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III OS FILHOS 44. A geração dos filhos
«Também na geração dos filhos o matrimónio reflecte o seu modelo divino, o amor de Deus pelo homem. No homem e na mulher a paternidade e a maternidade, como o corpo e como o amor, não se deixam circunscrever no biológico: a vida só é dada totalmente quando, com o nascimento, são dados também o amor e o sentido que fazem com que seja possível dizer sim a esta vida. É precisamente por isso que se torna totalmente evidente como é contrário ao amor humano, à vocação profunda do homem e da mulher, fechar sistematicamente a própria união à doação da vida, e ainda mais suprimir ou violar a vida nascente.» Discurso, 6 de Junho de 2005 45. Direito à vida
«[…] os filhos têm o direito de nascer e crescer no seio de uma família fundada no ma61
trimónio onde os pais sejam os primeiros educadores da fé dos seus filhos e estes possam alcançar a sua plena maturidade humana e espiritual. Verdadeiramente, os filhos são a maior riqueza e o bem mais precioso da família. Por isso é necessário ajudar todas as pessoas a tomarem consciência do mal intrínseco do crime do aborto, que, ao atentar contra a vida humana no seu início, é também uma agressão contra a própria sociedade. Por isso, os políticos e legisladores, enquanto servidores do bem social, têm o dever de defender o direito fundamental à vida, fruto do amor de Deus.» Discurso (2), 3 de Dezembro de 2005 46. O baptismo dos filhos
«[…] no baptismo cada criança é inserida numa companhia de amigos que nunca a abandonará na vida nem na morte, porque esta companhia de amigos é a família de Deus, que tem em si a promessa da eternidade. Esta companhia de amigos, esta família de Deus, na qual a criança é então inserida acompanhá-la-á sempre 62
também nos dias de sofrimento, nas noites escuras da vida; dar-lhe-á consolo, conforto e luz. Esta companhia, esta família dar-lhe-á palavras de vida eterna. Palavras de luz que respondem aos grandes desafios da vida e dão a indicação justa sobre o caminho a empreender. Esta companhia oferece à criança consolo e conforto, o amor de Deus também no limiar da morte, no vale escuro da morte. Dar-lhe-á amizade, vida. E esta companhia, absolutamente fiável, nunca desaparecerá. Ninguém sabe o que acontecerá no nosso planeta, na nossa Europa, nos próximos 50, 60, 70 anos. Mas sobre um ponto temos a certeza: a família de Deus estará sempre presente e quem pertence a esta família nunca ficará só, terá sempre a amizade certa d’Aquele que é a vida.» Homilia, 8 de Janeiro de 2006 47. Um acto de amor
«[…] actualmente, um tema mais delicado do que nunca é o respeito devido ao embrião humano, que deveria nascer sempre de um acto 63
de amor e ser desde logo tratado como pessoa (cf. Evangelium Vitae , n.º 60). Os progressos da ciência e da técnica alcançados no âmbito da bioética transformam-se em ameaças quando o homem perde o sentido dos seus limites e, a nível prático, pretende substituir-se a Deus Criador. A carta encíclica Humanae Vitae confirma com clarividência que a procriação humana deve ser sempre fruto do acto conjugal, com o seu dúplice significado unitivo e procriativo (cf. n.º 12). Exige-o a grandeza do amor conjugal segundo o projecto divino, como recordei na encíclica Deus Caritas Est: “O eros degradado a puro ‘sexo’ torna-se mercadoria, torna-se simplesmente uma ‘coisa’ que se pode comprar e vender; mais, o próprio homem torna-se mercadoria [...]. Na verdade, encontramo-nos diante de uma degradação do corpo humano” (n.º 5). Graças a Deus, não poucas pessoas, especialmente entre os jovens, continuam a descobrir o valor da castidade, que se manifesta cada vez mais como uma garantia segura do amor genuíno.» Discurso (1), 13 de Maio de 2006 64
48. Continuidade geracional
«Vemos as ameaças que se apresentam às famílias, mas ao mesmo tempo também as instâncias laicas reconhecem como é importante que a família viva como célula primeira no seio da sociedade, que os filhos possam crescer num clima de comunhão entre as gerações, para que se conserve a continuidade entre o presente, o passado e o futuro, e perdure inclusive a continuidade dos valores, de forma a que seja incrementada a sua capacidade de permanecer e viver em conjunto: é precisamente isto que permite edificar um país em comunhão.» Discurso (1), 21 de Agosto de 2005 49. Relação e tradição
«Quando uma criança nasce, através do relacionamento dos seus pais, começa a fazer parte de uma tradição familiar que tem raízes muito mais antigas. Com o dom da vida recebe todo um património de experiência. A este respeito, os pais têm o direito e o dever inalienável de o transmitir aos filhos: educá-los na desco65
berta da sua identidade, introduzi-los na vida social, na prática responsável da sua liberdade moral e da sua capacidade de amar através da experiência de serem amados e, sobretudo, no encontro com Deus. Os filhos crescem e amadurecem humanamente na medida em que acolhem com confiança esse património e essa educação que vão assumindo progressivamente. Deste modo são capazes de elaborar a síntese pessoal entre o que receberam e o que é novo que cada indivíduo e cada geração são chamados a realizar.» Homilia, 9 de Julho de 2006 50. A filiação divina
«Na origem de todos os homens e, por conseguinte, em qualquer paternidade e maternidade humana está presente Deus Criador. Por isso os esposos devem acolher a criança que nasce como filho que não é unicamente seu, mas também de Deus, que o ama por si mesmo e o chama à filiação divina. Contudo, qualquer geração, qualquer paternidade e maternidade, e 66
qualquer família tem o seu princípio em Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo.» Homilia, 9 de Julho de 2006 51. A pergunta dos filhos
«[…] de onde vimos, quem somos e como é grande a nossa dignidade. Certamente, provimos de nossos pais e somos seus filhos, mas também vimos de Deus, que nos criou à sua imagem e nos chamou para sermos seus filhos. Por isso, na origem de todo o ser humano não existe a sorte ou a casualidade, mas um projecto de amor de Deus. Foi o que nos revelou Jesus Cristo, verdadeiro Filho de Deus e homem perfeito. Ele sabia de quem provinha e de quem provimos todos: do amor de seu Pai e nosso Pai.» Homilia, 9 de Julho de 2006 52. Uma moral para os filhos
«[…] de que normas somos devedores à criança para que siga o caminho justo e de que modo devemos, ao fazer isso, respeitar a sua 67
liberdade? O problema tornou-se muito difícil também porque já não temos a certeza de que normas devemos transmitir; porque já não sabemos qual é o uso justo da liberdade, qual é o modo justo de viver, o que é moralmente um dever e o que, ao contrário, é inadmissível. O espírito moderno perdeu a orientação, e essa falta de orientação impede-nos de sermos, para outros, indicadores do caminho recto. Aliás, a problemática é ainda mais profunda. O homem de hoje está inseguro acerca do futuro. É admissível enviar alguém para esse futuro incerto? Em conclusão, é bom ser homem? Esta profunda insegurança acerca do próprio homem em paralelo com a vontade de ter a vida toda para si é talvez a razão mais profunda pela qual o risco de ter filhos se apresenta para muitos como algo que já não é sustentável. De facto, só podemos transmitir a vida de modo responsável se formos capazes de transmitir algo mais do que a simples vida biológica, isto é, um sentido que resista também nas crises da história vindoura e uma certeza na esperança que seja mais forte do que as nuvens que obscurecem o futuro. Se 68
não aprendermos de novo os fundamentos da vida – se não descobrirmos de maneira reno vada a certeza da fé –, ser-nos-á cada vez menos possível confiar aos outros o dom da vida e a tarefa de um futuro desconhecido. Por fim, relacionado com isto, está também o problema das decisões definitivas: pode o homem ligar--se para sempre? Pode dizer um sim para toda a vida? Sim, pode. Ele foi criado para isso. É precisamente assim que se realiza a liberdade do homem e é assim que se cria também o âmbito sagrado do matrimónio, que se alarga tornando--se família e constrói o futuro.» Discurso, 22 de Dezembro de 2006 53. Educar e testemunhar
«[…] dirijo-me a vós, queridos pais, para vos pedir acima de tudo que permaneçais firmes, para sempre, no vosso amor recíproco; esse é o primeiro e grande dom do qual os vossos filhos têm necessidade, para crescerem serenos, adquirirem confiança em si mesmos e confiança na vida e assim aprenderem a ser, por 69
sua vez, capazes de amor autêntico e generoso. O bem que sentis pelos filhos deve dar-vos depois o estilo e a coragem do verdadeiro educador, com um testemunho coerente de vida e também com a firmeza necessária para modelar o carácter das novas gerações, ajudando-as a distinguir com clareza o bem do mal e a construir por sua vez regras sólidas de vida que as amparem nas provas futuras. Assim fareis ricos os vossos filhos com a herança mais preciosa e duradoura, que consiste no exemplo de uma fé quotidianamente vivida.» Discurso, 23 de Fevereiro de 2008 54. A liberdade da verdade
«Nem os pais, nem os sacerdotes ou os catequistas, nem os outros educadores se podem substituir à liberdade da criança, do adolescente ou do jovem a quem se dirigem. E especialmente a proposta cristã interpela profundamente a liberdade, chamando-a à fé e à conversão. Hoje, um obstáculo particularmente insidioso à obra educativa é constituído pela presença maciça, 70
nas nossas sociedade e cultura, daquele relati vismo que, nada reconhecendo como definitivo, deixa sozinho, como última medida, o próprio eu com as suas decisões e, sob a aparência da liberdade, torna-se para cada um uma prisão […]. Dentro de um horizonte relativista como este não é possível, portanto, uma verdadeira educação: sem a luz da verdade, mais cedo ou mais tarde qualquer pessoa fica, de facto, condenada a duvidar da bondade da sua própria vida e das relações que a constituem, do valor do seu compromisso para construir com os outros algo em comum.» Discurso, 6 de Junho de 2005 55. A educação para a beleza
«As crianças expostas ao que é estética e moralmente excelente são ajudadas a desen volver o apreço, a prudência e as capacidades de discernimento. Aqui é importante reconhecer o valor fundamental do exemplo dos pais e os benefícios da apresentação aos jovens dos clássicos infantis da literatura, das belas-artes 71
e da música edificante. Apesar de a literatura popular ter sempre o seu espaço na cultura, a tentação do sensacionalismo não deveria ser passivamente aceite nos lugares de ensino. A beleza, uma espécie de espelho do divino, inspira e vivifica os corações e as mentes mais jo vens, ao passo que a torpeza e a vulgaridade têm um impacto depressivo sobre as atitudes e os comportamentos.» Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de Janeiro de 2007 56. O papel dos meios de comunicação social
«[…] os meios de comunicação social, pelas potencialidades educativas de que dispõem, têm uma responsabilidade especial de promo ver o respeito pela família, de ilustrar as suas expectativas e os seus direitos, de pôr em evidência a sua beleza.» Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 8 de Dezembro de 2007 72
57. O relacionamento com os meios de comunicação social
«Como a educação em geral, a educação para os mass media exige a formação no exercício da liberdade. Trata-se de uma tarefa exigente. Muitas vezes, a liberdade é apresentada como uma busca implacável do prazer e de novas experiências. Contudo, isso é uma condenação, não uma libertação! A verdadeira liberdade jamais poderia condenar o indivíduo – especialmente a criança – a uma busca insaciável de novidades. À luz da verdade, a liberdade autêntica é experimentada como uma resposta definitiva ao «sim» de Deus à humanidade, na medida em que nos chama a escolher, não indiscriminada mas deliberadamente, tudo o que é bom, verdadeiro e belo. Assim os pais, como guardiães de tal liberdade, concederão gradualmente uma maior liberdade aos seus filhos, introduzindo-os ao mesmo tempo na profunda alegria da vida […].» Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de Janeiro de 2007 73
58. Os meios de comunicação social como instrumento formativo
«Esta aspiração sincera dos pais e professores a educar as crianças pelos caminhos da beleza, da verdade e da bondade só pode ser sustentada pela indústria dos meios de comunicação social na medida em que ela promova a dignidade humana fundamental, o valor genuíno do matrimónio e da vida familiar, e as conquistas e finalidades positivas da humanidade. Deste modo, a necessidade que os mass media têm de se comprometerem na formação efectiva e nos padrões éticos é considerada com particular interesse e mesmo urgência não só pelos pais e professores, mas também por todos aqueles que têm um sentido de responsabilidade cívica.» Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de Janeiro de 2007 59. Tempo para os filhos
«[…] o problema da Europa, que aparentemente quase já não quer ter filhos, penetrou 74
a minha alma. Para o estrangeiro, esta Europa parece estar cansada – aliás, parece que se quer despedir da história. Porque é que isso acontece? Eis a grande pergunta. Certamente, as respostas são muito complexas. Antes de procurar essas respostas, é um dever agradecer aos numerosos casais que também hoje, na nossa Europa, dizem sim ao filho e aceitam as fadigas a que isso obriga: os problemas sociais e financeiros, as preocupações e as canseiras dia após dia, a dedicação necessária para abrir aos filhos o caminho para o futuro. Mencionando estas dificuldades, talvez se tornem também claras as razões pelas quais o risco de ter filhos parece demasiado grande. A criança precisa de atenção amorosa. Isto significa que devemos dar-lhe um pouco do nosso tempo, do tempo da nossa vida. Mas é precisamente esta “matéria-prima” fundamental da vida – o tempo – que parece faltar cada vez mais. O tempo que temos à disposição é suficiente apenas para a própria vida; como poderemos cedê-lo, concedê-lo a outrem? Ter tempo e oferecer tempo – eis, para nós, uma 75
maneira muito concreta de aprender a doarse a si mesmo, a perder-se para se encontrar a si mesmo.» Discurso, 22 de Dezembro de 2006
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IV AS FRA FRAGIL GILIDA IDADES DES DA FAMÍ AMÍLIA LIA HOJ HOJEE 60. O quadro histórico
«A cultura europeia […] formou-se através dos séculos com a contribuição do cristianismo. Depois, a partir do Iluminismo, a cultura do Ocidente começou a afastar-se dos seus fundamentos cristãos com uma velocidade crescente. Especialmente no período mais recente, a dissolução da família e do matrimónio, os atentados à vida humana e à sua dignidade, a redução da fé a uma experiência subjectiva e a consequente secularização da consciência pública mostram-nos com dramática clareza as consequências desse distanciamento.» Discurso (2), 2 de Junho de 2006 61. A família no actual clima cultural
«Uma questão nevrálgica, que requer a maior atenção pastoral, é a da família. Em Itália, ainda mais do que noutros países, a família re77
presenta verdadeiramente a célula fundamental da sociedade, está profundamente radicada no coração das jovens gerações e enfrenta numerosos problemas, oferecendo apoio e remédio a situações que, de outra forma, seriam desesperadas. E, contudo, também em Itália a família está exposta, no actual clima cultural, a numerosos riscos e ameaças que todos conhecemos. De facto, à fragilidade e à instabilidade interna de muitas uniões conjugais junta-se a tendência, difundida na sociedade e na cultura, para contestar o carácter único e a missão própria da família fundada no matrimónio. Depois, a Itália é precisamente uma das nações em que a escassez dos nascimentos é mais grave e persistente, com consequências já pesadas sobre todo o corpo social. Por isso [é preciso] em primeiro lugar [defender] a sacralidade da vida humana e o valor da instituiç instituição ão matrimonial, mas também a promoção do papel da família na Igreja e na sociedade, pedindo medidas económicas e legislativas que apoiem as jovens famílias na geração e na educação dos filhos.» Discurso, 30 de Maio de 2005 78
62. As insídias contra a família
«Ao lado dos núcleos familiares exemplares, existem com frequência outros infelizmente marcados pela fragilidade dos vínculos conjugais, pela chaga do aborto e da crise demográfica, pela pouca atenção à transmissão dos valores autênticos aos filhos, pela precariedade do trabalho, pela mobilidade social que debilita os vínculos entre as gerações e por um crescente sentido de desorientação interior dos jovens. Uma modernidade que não está radicada em autênticos valores humanos está destinada a ser dominada pela tirania da instabilidade e da desorientação.» Discurso, 23 de Junho de 2006 63. Família em risco
«Merece uma atenção prioritária precisamente a família, que manifesta sinais de desabamento sob as pressões de lobbies capazes de influenciar negativamente os processos legislativos. Enquanto os divórcios e as uniões livres estão a aumentar, o adultério é contemplado 79
com tolerância injustificável. É necessário reiterar que o matrimónio e a família encontram o seu fundamento no núcleo mais íntimo da verdade sobre o homem e o seu destino; só na rocha do amor conjugal, fiel e estável, entre um homem e uma mulher é possível edificar uma comunidade digna do ser humano.» Discurso (1), 17 de Fevereiro de 2007 64. Instabilidade familiar
«No mundo contemporâneo, em que se vão difundindo algumas concepções equívocas sobre o homem, a liberdade e o amor humano, nunca nos devemos cansar de apresentar sempre de novo a verdade sobre a instituição familiar, como foi desejada por Deus desde a criação. Infelizmente, continua a aumentar o número de separações e divórcios, que fragmentam a unidade familiar e criam não poucos problemas aos filhos, vítimas inocentes de tais situações. Hoje em dia, a estabilidade da família está particularmente em perigo; para a salvaguardar, é necessário ir com frequência contra 80
a corrente em relação à cultura predominante, e isso exige paciência, esforço, sacrifício e busca incessante de compreensão mútua. Mas também nos dias de hoje os cônjuges podem superar as dificuldades e conservar-se fiéis à sua vocação, recorrendo ao auxílio de Deus através da oração e participando assiduamente nos sacramentos, de maneira particular na Eucaristia. A unidade e a solidez das famílias ajuda a sociedade a respirar os valores humanos autênticos e a abrir-se ao Evangelho.» Discurso (1), 13 de Maio de 2006 65. Incertezas existenciais
«A ordenação do matrimónio como foi estabelecido na criação, e do qual a Bíblia nos fala expressamente no final da narração da criação (Gn 2, 24), é hoje progressivamente ofuscada. Na mesma medida em que procura construir para si de modo novo o mundo no seu conjunto, pondo assim em perigo de modo cada vez mais perceptível as suas bases, o homem perde também a visão da ordem da criação em 81
relação à própria existência. Considera que se pode definir a si próprio como lhe apraz em virtude de uma liberdade vazia. Assim, os fundamentos em que se baseiam a sua existência e a da sociedade começam a vacilar. Para os jovens, torna-se difícil ligar-se definitivamente. Têm medo do que é definitivo, que lhes parece irrealizável e oposto à liberdade. Assim, torna-se cada vez mais difícil aceitar filhos e dar-lhes o espaço duradouro de crescimento e maturação que só pode ser a família fundada no matrimónio. Nesta situação agora mencionada é muito importante ajudar os jovens a dizer o “sim” definitivo, que não está em contraste com a liberdade, mas representa a sua maior oportunidade. Na paciência de estarem juntos toda a vida, o amor alcança a sua verdadeira maturidade. Nesse ambiente de amor por toda a vida também os filhos aprendem a viver e a amar. Portanto, desejo pedir-vos que façais tudo o que é possível para que o matrimónio e a família sejam formados, promovidos e encorajados.» Discurso (1), 18 de Novembro de 2006 82
66. Pais ausentes
«[…] o problema dos adolescentes, da solidão e da incompreensão da parte dos adultos, é hoje muito evidente. É interessante o facto de esta juventude que nas discotecas procura na realidade conviver sofrer de uma grande solidão, e naturalmente também de grandes incompreensões. Num certo sentido, isto parece--me ser a expressão do facto de os pais, como foi dito, na grande maioria estarem ausentes da formação da família. Mas também as mães de vem trabalhar fora de casa. A comunhão entre eles é muito frágil. Cada um vive o seu mundo – são ilhas do pensamento, do sentimento, que não se unem. O grande problema próprio deste tempo no qual cada um, querendo ter a vida para si, a perde porque se isola e afasta o outro de si é o de reencontrar a comunhão profunda que no final só pode provir de um fundo comum a todas as almas, da presença divina que nos une a todos. Parece-me que a condição é superar a solidão e também superar a incompreensão, porque também ela é re83
sultado do facto de, hoje, o pensamento estar fragmentado. Cada um procura o seu modo de pensar, de viver, e não existem uma comunicação e uma visão profunda da vida. A juventude sente-se exposta a novos horizontes não participados pela geração precedente, porque falta a continuidade da visão do mundo, encerrado numa sucessão cada vez mais rápida de novas invenções. Em dez anos realizaram-se mudanças que no passado nem sequer em cem anos se tinham verificado.» Discurso, 2 de Março de 2006 67. O inverno demográfico
«Vastas áreas do mundo estão a padecer do chamado “inverno demográfico”, com o consequente envelhecimento progressivo da população; por vezes, parece que as famílias são ameaçadas pelo medo da vida, da paternidade e da maternidade. É necessário dar-lhes nova confiança, para que possam continuar a cumprir a sua nobre missão de procriar no amor.» Discurso (1), 13 de Maio de 2006 84
68. Diminuição da natalidade e precariedade
«Sem dúvida que, para o problema da impressionante diminuição da taxa de natalidade existem múltiplas explicações, mas nisso desempenham seguramente um papel determinante também os factos de o ser humano desejar ter a vida para si mesmo, confiar pouco no futuro e, precisamente, considerar já quase irrealizável a família como comunidade duradoura em que podem crescer as futuras gerações.» Discurso (2), 9 de Novembro de 2006 69. Ligações frágeis
«O grande desafio da nova evangelização […] tem necessidade de ser sustentado por uma reflexão verdadeiramente aprofundada sobre o amor humano, dado que precisamente esse amor é um caminho privilegiado que Deus escolheu para Se revelar a Si mesmo ao homem, e é no contexto desse mesmo amor que Ele o cha85
ma a uma comunhão na vida trinitária. Este delineamento permite-nos também ultrapassar uma concepção particular do amor hoje muito difundida. O amor autêntico transforma-se numa luz que orienta toda a vida rumo à sua plenitude, gerando uma sociedade onde o homem possa viver. A comunhão de vida e de amor que é o matrimónio configura-se deste modo como um autêntico bem para a sociedade. Evitar a confusão com outros tipos de uniões fundamentadas num amor frágil apresenta-se nos dias de hoje com uma urgência especial. Somente a rocha do amor total e irrevocável entre o homem e a mulher é capaz de dar um fundamento para a construção de uma sociedade que se torne casa para todos os homens.» Discurso (2), 11 de Maio de 2006 70. A união civil
«O momento histórico que estamos a viver exige que as famílias cristãs dêem com corajosa coerência o testemunho de que a procriação é fruto do amor. Este testemunho não deixará de 86
estimular os políticos e os legisladores a salvaguardarem os direitos da família. Com efeito, sabe-se que se estão a acreditar soluções jurídicas para as chamadas “uniões de facto” que, embora rejeitem as obrigações do matrimónio, pretendem usufruir de direitos equivalentes. Além disso, às vezes deseja-se mesmo chegar a uma nova definição do matrimónio para legalizar uniões homossexuais, atribuindo-lhes também o direito à adopção de filhos.» Discurso (1), 13 de Maio de 2006 71. O libertinismo
«As várias formas hodiernas de dissolução do matrimónio, como as uniões livres e o “matrimónio de prova”, até ao pseudomatrimónio entre pessoas do mesmo sexo, são, pelo contrário, expressões de uma liberdade anárquica que se faz passar indevidamente por verdadeira libertação do homem. Uma tal pseudoliberdade funda-se numa banalização do corpo que inevitavelmente inclui a banalização do homem. O seu pressuposto é que o homem pode fazer de 87
si o que quer: o seu corpo torna-se assim uma coisa secundária, manipulável sob o ponto de vista humano, a ser utilizado como se deseja. O libertinismo, que se faz passar por descoberta do corpo e do seu valor, é na realidade um dualismo que torna o corpo desprezível, colocando-o por assim dizer fora do ser autêntico e da dignidade da pessoa.» Discurso, 6 de Junho de 2005 72. Os casamentos homossexuais
«[…] pode-se analisar também por que motivo não queremos certas coisas. Na minha opinião, é preciso reconhecer que não é uma invenção católica o facto de que o homem e a mulher são feitos um para o outro, para que a humanidade continue a viver: em última análise, todas as culturas sabem isto.» Entrevista a representantes de canais televisivos alemães e da Rádio Vaticana em preparação para a viagem à Alemanha, 5 de Agosto de 2006 88
73. O aborto
«No que se refere ao aborto, ele não faz parte do sexto mandamento, mas do quinto: “Não matarás!”. E nós devemos pressupor isto como algo óbvio, reiterando sempre de novo: a pessoa humana começa no seio materno e permanece como tal até ao seu derradeiro suspiro. Por conseguinte, ela deve ser sempre respeitada como pessoa humana. Mas isto torna-se mais evidente se primeiro dissermos o que há de positivo.» Entrevista a representantes de canais televisivos alemães e da Rádio Vaticana em preparação para a viagem à Alemanha, 5 de Agosto de 2006 74. Legislações desagregadoras
«O matrimónio está a ser, por assim dizer, cada vez mais marginalizado. Conhecemos o exemplo de alguns países onde foi realizada uma modificação legislativa segundo a qual agora o matrimónio já não é definido como víncu89
lo entre um homem e uma mulher, mas como um laço entre pessoas; naturalmente, com isto é aniquilada a ideia fundamental e, a partir das suas raízes, a sociedade torna-se algo totalmente diferente. A consciência de que a sexualidade, o eros e o matrimónio como a união entre um homem e uma mulher caminham juntos – “Os dois serão uma só carne”, afirma o Génesis – é uma consciência que se atenua cada vez mais; qualquer tipo de vínculo parece absolutamente normal e tudo é apresentado como uma espécie de moralidade da não-discriminação e uma forma de liberdade devida ao homem. Assim, naturalmente, a indissolubilidade do matrimónio tornou-se uma ideia quase utópica que, também para muitas pessoas da vida pública, parece desmentida. Deste modo, até a família se dissolve progressivamente.» Discurso (2), 9 de Novembro de 2006 75. Os casais de facto
«A este ponto não posso deixar de manifestar a minha preocupação com as leis sobre 90
os casais de facto. Muitos desses casais escolhem essa vida porque – pelo menos no momento – não se sentem capazes de aceitar a convivência juridicamente ordenada e vinculante do matrimónio. Assim, preferem permanecer no simples estado de facto. Quando são criadas novas formas jurídicas que relativizam o matrimónio, a renúncia ao vínculo definiti vo obtém, por assim dizer, também uma marca jurídica. Neste caso, para quem já tem dificuldade, tomar uma decisão torna-se ainda mais difícil. Depois acrescenta-se, para a outra forma de casais, a relativização da diferença entre os sexos. Desta forma, é igual estarem juntos um homem e uma mulher ou duas pessoas do mesmo sexo. Com isto, são implicitamente confirmadas as teorias funestas que privam de qualquer importância a masculinidade e a feminilidade da pessoa humana, como se se tratasse de um facto meramente biológico, teorias segundo as quais o homem – isto é, o seu intelecto e a sua vontade – decide autonomamente sobre o que ele é ou não é. Há nisto um aviltamento da corporeidade do qual deri91
va que o homem, pretendendo emancipar-se do seu corpo – da “esfera biológica” – acaba por se destruir a si mesmo. A quem diz que a Igreja não deveria interferir nestes assuntos, nós podemos apenas responder: porventura não nos interessamos pelo homem? Os crentes, em virtude da grande cultura da sua fé, não têm porventura o direito de se pronunciarem sobre tudo isto? Não é, aliás, o seu – o nosso – dever levantar a voz para defender o homem, aquela criatura que, precisamente na unidade inseparável de corpo e alma, é imagem de Deus?». Discurso, 22 de Dezembro de 2006 76. Uma questão dolorosa
«Uma questão particularmente dolorosa, bem o sabemos, é a dos divorciados recasados. A Igreja, que não pode opor-se à vontade de Cristo, conserva fielmente o princípio da indissolubilidade do matrimónio, embora rodeando da maior estima os homens e mulheres que, por razões diversas, não chegam a respeitá-lo. 92
Por isso, não se pode admitir as iniciativas que visam abençoar as uniões ilegítimas.» Discurso, 14 de Setembro de 2008 77. O juízo ético da Igreja sobre divórcio e aborto
«Num contexto cultural marcado por um crescente individualismo, pelo hedonismo e, com muita frequência, também pela falta de solidariedade e de apoio social adequado, a liberdade humana, face às dificuldades da vida, é levada na sua fragilidade a decisões em contraste com a indissolubilidade do pacto conjugal ou com o respeito devido à vida humana acabada de conceber e ainda albergada no seio materno. Divórcio e aborto são opções de natureza certamente diferente, por vezes maturadas em circunstâncias difíceis e dramáticas, que com frequência causam traumas e são fonte de profundos sofrimentos para quem os pratica. Atingem também vítimas inocentes: a criança acabada de conceber e ainda não nascida, os filhos envolvidos na ruptura dos vínculos fa93
miliares. Em todos deixam feridas que marcam a vida indelevelmente. O juízo ético da Igreja em relação ao divórcio e ao aborto provocado é claro e conhecido por todos: trata-se de culpas graves que, em medida diversa e excluindo a avaliação das responsabilidades subjectivas, ofendem a dignidade da pessoa humana, implicam uma profunda injustiça nas relações humanas e sociais e ofendem o próprio Deus, garantia do pacto conjugal e autor da vida. E contudo a Igreja, a exemplo do seu Divino Mestre, tem sempre diante de si as pessoas concretas, sobretudo as mais débeis e inocentes, que são vítimas das injustiças e dos pecados, e também aqueles outros homens e mulheres que, tendo realizado tais actos, se mancharam de culpas e levam consigo as feridas interiores, procurando a paz e a possibilidade de uma recuperação. A Igreja tem o dever primário de se aproximar dessas pessoas com amor e delicadeza, com solicitude e atenção materna, para anunciar a proximidade misericordiosa de Deus em Jesus Cristo. De facto é Ele, como ensinam os Padres, o verdadeiro Bom Samaritano, que Se fez nosso pró94
ximo, que derrama o óleo e o vinho sobre as nossas chagas e que nos conduz à estalagem, a Igreja, na qual nos faz curar, confiando-nos aos seus ministros e pagando pessoal e antecipadamente a nossa cura. Sim, o evangelho do amor e da vida é também sempre evangelho da misericórdia , que se dirige ao homem concreto e pecador que somos nós, para o levantar depois de qualquer queda, para o restabelecer de qualquer ferida.» Discurso (1), 5 de Abril de 2008
95
V O EVANGELHO DA FAMÍLIA
78. A família cristã
«[…] na visão cristã, o matrimónio, elevado por Cristo à altíssima dignidade de sacramento, confere maiores esplendor e profundidade ao vínculo conjugal e compromete mais vigorosamente os esposos, que, abençoados pelo Senhor da Aliança, se prometem fidelidade recíproca até à morte, no amor aberto à vida. Para eles, o cerne e o coração da família é o Senhor, que os acompanha na missão de educar os filhos rumo à maturidade. Desta maneira, a família cristã coopera com Deus não somente na geração da vida natural, mas inclusive na cultivação dos germens da vida divina recebida mediante o baptismo. Estes são os conhecidos princípios da visão cristã do matrimónio e da família.» Discurso (1), 13 de Maio de 2006 96
79. Dificuldade e testemunho
«A família é chamada a ser a “íntima comunidade da vida e do amor” (constituição pastoral Gaudium et Spes , n.º 48), porque fundada no matrimónio indissolúvel. Apesar das dificuldades e dos condicionamentos sociais e culturais do actual momento histórico, os esposos cristãos não deixem de ser com a sua vida sinal do amor fiel de Deus; colaborem activamente com os sacerdotes na pastoral dos noivos, dos jovens casais, das famílias e na educação das novas gerações.» Discurso, 4 de Junho de 2005 80. O modelo familiar
«O amor e a entrega total dos esposos, com as suas notas peculiares de exclusividade, fidelidade, permanência no tempo e abertura à vida, está na base dessa comunidade de vida e amor que é o matrimónio (cf. Gaudium et Spes , n.º 48). Hoje é preciso anunciar com renovado entusiasmo que o Evangelho da fa97
mília é um caminho de realização humana e espiritual, com a certeza de que o Senhor está sempre presente com a sua graça. Este anúncio é muitas vezes desfigurado por falsas concepções do matrimónio e da família que não respeitam o projecto originário de Deus. Neste sentido, houve quem chegasse a propor novas formas de matrimónio, algumas desconhecidas nas culturas dos povos, nas quais se altera a sua natureza específica […] Quando se chega a estes níveis, a própria sociedade ressente-se e os seus fundamentos são abalados por todos os tipos de riscos.» Discurso (2), 3 de Dezembro de 2005 81. Escala de amor
«[…] o cristianismo, o catolicismo não é uma série de proibições, mas uma opção positiva. E é muito importante voltar a considerar isto, porque hoje em dia esta consciência desapareceu quase completamente. Ouvimos falar tanto sobre o que não é permitido que agora é necessário dizer que nós temos, porém, uma 98
ideia positiva a propor: o homem e a mulher são feitos um para o outro; existe – por assim dizer – uma escala: sexualidade, eros e ágape, que são as dimensões do amor, e assim se forma primeiro o matrimónio como encontro repleto de felicidade do homem e da mulher, e depois a família, que garante a continuidade entre as gerações, na qual se realiza a reconciliação das gerações e se podem encontrar também as culturas.» Entrevista a representantes de canais televisivos alemães e da Rádio Vaticana em preparação para a viagem à Alemanha, 5 de Agosto de 2006 82. Caminho de maturidade
«A alegria amorosa com que os nossos pais nos acolheram e acompanharam nos primeiros passos neste mundo é como um sinal e um prolongamento sacramental do amor benevolente de Deus, do qual procedemos. A experiência de sermos acolhidos e amados por Deus e pelos nossos pais é a base sólida que favore99
ce sempre o crescimento e o desenvolvimento autênticos do homem, que tanto nos ajuda a amadurecer no caminho para a verdade e para o amor, e a sairmos de nós mesmos para entrarmos na comunhão com o próximo e com Deus. Para progredir nesse caminho de maturidade humana, a Igreja ensina-nos a respeitar e a promover a maravilhosa realidade do matrimónio indissolúvel entre um homem e uma mulher, que é, além disso, a origem da família. Portanto, reconhecer e ajudar esta instituição é um dos maiores serviços que se pode prestar hoje ao bem comum e ao verdadeiro desenvol vimento dos homens e das sociedades, assim como a melhor garantia para assegurar a dignidade, a igualdade e a verdadeira liberdade da pessoa humana.» Homilia, 9 de Julho de 2006 83. A casa de Nazaré
«A criatura concebida tem de ser educada na fé, amada e protegida. Os filhos, com o fundamental direito a nascer e a ser educados na 100
fé, têm direito a um lar que tenha como modelo o de Nazaré e a ser preservados de todo o tipo de insídias e ameaças.» Discurso (2), 8 de Julho de 2006 84. Igreja doméstica
«A linguagem da fé aprende-se nos lares onde essa fé cresce e se fortalece através da oração e da prática cristã.» Discurso (2), 8 de Julho de 2006 85. A testemunha
«Central na obra educativa, e especialmente na educação para a fé, que é o vértice da formação da pessoa e o seu horizonte mais adequado, é em concreto a figura da testemunha: ela torna-se ponto de referência precisamente por saber dizer a razão da esperança que anima a sua vida (cf. 1Pe 3, 15) e está pessoalmente comprometida com a verdade que propõe. Por outro lado, a testemunha nunca se propõe a si mesma como ponto de referência, mas propõe 101
algo, ou melhor Alguém, maior do que ela que encontrou e de quem experimentou a bondade confiante. Assim, cada educador e testemunha encontra o seu modelo insuperável em Jesus Cristo, a grande testemunha do Pai, que nada dizia de Si mesmo, mas falava como o Pai Lhe tinha ensinado (cf. Jo 8, 28).» Discurso, 6 de Junho de 2005 86. Educar para a fé
«[…] a fé não é uma mera herança cultural, mas uma acção contínua da graça de Deus que chama e da liberdade humana que pode ou não aderir a esse chamamento. Apesar de ninguém responder por outrem, sem dúvida que os pais cristãos são chamados a dar um testemunho credível da sua fé e da sua esperança cristã. Devem preocupar-se com que a chamada de Deus e a Boa Nova de Cristo cheguem aos seus filhos com as maiores clareza e autenticidade. Com o passar dos anos, este dom de Deus que os pais contribuíram para apresentar aos olhos dos pequeninos também precisará de 102
ser cultivado com sabedoria e doçura, fazendo crescer neles a capacidade de discernimento. Deste modo, com o testemunho constante do amor conjugal dos pais, vivido e impregnado de fé, e com o acompanhamento comprometido da comunidade cristã, favorecer-se-á que os filhos façam seu o dom da fé, descubram com ela o sentido profundo da própria existência e se sintam alegres e gratos por isso. A família cristã transmite a fé quando os pais ensinam os seus filhos a rezar e rezam com eles (cf. Fami- liaris Consortio , n.º 60); quando os aproximam dos sacramentos e os vão introduzindo na vida da Igreja; quando todos se reúnem para ler a Bíblia, iluminando a vida familiar à luz da fé, e louvam a Deus como Pai.» Homilia, 9 de Julho de 2006 87. Educar para o amor
«Aquele que sabe que é amado sente-se por sua vez solicitado a amar. É precisamente assim que o Senhor, que nos amou primeiro, nos pede para pormos, por nossa vez, no centro 103
da nossa vida o amor por Ele e pelos homens que Ele amou. Especialmente os adolescentes e os jovens, que sentem impelente a chamada do amor dentro de si, têm necessidade de ser libertados do preconceito difundido de que o cristianismo, com os seus mandamentos e as suas proibições, coloca demasiados obstáculos à alegria do amor, e sobretudo que impede que se aprecie plenamente aquela felicidade que o homem e a mulher encontram no seu amor recíproco. Pelo contrário, a fé e a ética cristãs não querem sufocar o amor, mas torná-lo sadio, forte e verdadeiramente livre: é precisamente este o sentido dos Dez Mandamentos, que não são uma série de “nãos”, mas um grande “sim” ao amor e à vida.» Discurso, 5 de Junho de 2006 88. Educar para a liberdade
«Na actual cultura exalta-se com muita frequência a liberdade do indivíduo concebido como pessoa autónoma, como se ele se ti vesse feito sozinho e se bastasse a si mesmo, à 104
margem da sua relação com os demais e sem o sentido da responsabilidade para com o próximo. Procura-se organizar a vida social só a partir de desejos subjectivos e transitórios, sem qualquer referência a uma verdade objectiva prévia, como a dignidade de cada ser humano e os seus deveres e direitos inalienáveis, a cujo serviço deve estar todo o grupo social. A Igreja não cessa de recordar que a verdadeira liberdade do ser humano deriva do facto de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus. Por isso, a educação cristã é educação da liberdade e para a liberdade. “Nós realizamos o bem não como escravos, que não são livres de agir de outra forma, mas fazemo-lo porque temos pessoalmente a responsabilidade pelo mundo; porque amamos a verdade e o bem, porque amamos o próprio Deus e portanto também as suas criaturas. Esta é a liberdade verdadeira, para a qual o Espírito Santo nos quer conduzir.” (Homilia na Vigília de Pentecostes, 3 de Junho de 2006). Jesus Cristo é o homem perfeito, exemplo de liberdade filial, que nos ensina a comunicar aos demais o seu próprio amor: “Assim como o Pai 105
me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor” (Jo 15, 9).» Homilia, 9 de Julho de 2006 89. Educar para as crises
«Hoje chega-se à crise no momento em que se vê a diversidade dos temperamentos, a dificuldade de se suportar todos os dias, durante toda a vida. Por fim, decide-se: “Separamo--nos”. Compreendemos precisamente a partir destes testemunhos que na crise, na superação do momento em que parece que não se suporta mais, se abrem na realidade novas portas e uma nova beleza do amor. Uma beleza feita só de harmonia não é uma verdadeira beleza. Falta algo, torna-se deficitária. A verdadeira beleza precisa também do contraste. O obscuro e o luminoso completam-se. Até as uvas, para amadurecerem, precisam não só do sol, mas também da chuva, não só do dia, mas também da noite. Nós mesmos, sacerdotes, quer jovens, quer adultos, devemos aprender a necessidade do sofrimento, da crise. Devemos suportar, 106
transcender esse sofrimento. Só assim a vida se torna rica. Para mim, tem um valor simbólico o facto de o Senhor ter eternamente os estigmas. Expressão da atrocidade do sofrimento e da morte, eles são agora selos da vitória de Cristo, de toda a beleza da sua vitória e do seu amor por nós. Devemos aceitar, quer como sacerdotes, quer como esposos, a necessidade de suportar a crise da alteridade, do outro, a crise na qual parece que não se pode continuar a estar juntos. Os esposos devem aprender a caminhar juntos, a amar-se de novo, num amor muito mais profundo, muito mais verdadeiro. Assim, num caminho longo, com os seus sofrimentos, o amor amadurece realmente.» Discurso, 31 de Agosto de 2006 90. O Evangelho da família
«[Importa] seguir anunciando o Evangelho da família, reafirmar as suas vigência e identidade apoiadas no matrimónio aberto ao dom generoso da vida e onde se acompanha os filhos no seu crescimento corporal e espiritual. Deste 107
modo, rejeita-se um hedonismo muito difundido, que banaliza as relações humanas e as esvazia dos seus genuíno valor e beleza. Promover os valores do matrimónio não impede de saborear plenamente a felicidade que o homem e a mulher encontram no seu amor mútuo. A fé e a ética cristãs, portanto, não pretendem sufocar o amor, mas fazê-lo mais são, forte e realmente livre. Para isso, o amor humano necessita de se purificar e amadurecer para ser plenamente humano e princípio de uma alegria verdadeira e duradoura (cf. Discurso em São João de Latrão, 5 de Junho de 2006).» Discurso (2), 8 de Julho de 2006 91. Mensagem às famílias
«A família cristã – pai, mãe e filhos – é portanto chamada a cumprir os objectivos assinalados não como algo imposto de fora, mas como um dom da graça do sacramento do matrimónio infundida nos esposos. Se eles permanecerem abertos ao Espírito e pedirem a sua ajuda, Ele não deixará de lhes comunicar o amor de 108
Deus-Pai manifestado e encarnado em Cristo. A presença do Espírito ajudará os esposos a não perder de vista a fonte e medida do seu amor e entrega, e a colaborar com ele para o reflectir e encarnar em todas as dimensões da sua vida. Desta forma, o Espírito suscitará neles o anseio do encontro definitivo com Cristo na casa de seu Pai e nosso Pai. É esta a mensagem de esperança que, de Valência, quero fazer chegar a todas as famílias do mundo.» Homilia, 9 de Julho de 2006 92. Os esposos cristãos
«O meu pensamento dirige-se a todos os casais cristãos: agradeço com eles ao Senhor pelo dom do sacramento do matrimónio, e exorto-os a manterem-se fiéis à sua vocação em cada época da vida, “na alegria e no sofrimento, na saúde e na doença”, como prometeram no rito sacramental. Conscientes da graça recebida, possam os cônjuges cristãos construir uma família aberta à vida e capaz de enfrentar unida os numerosos e complexos desafios des109
te nosso tempo. Hoje, há particularmente necessidade do seu testemunho. Há necessidade de famílias que não se deixem arrastar pelas modernas correntes culturais inspiradas no hedonismo e no relativismo, e estejam prontas a realizar com generosa dedicação a sua missão na Igreja e na sociedade.» «Angelus», 8 de Outubro de 2006 93. O exemplo de Áquila e Priscila
«[…] este casal demonstra como é importante a acção dos casais cristãos. Quando eles são amparados pela fé e por uma forte espiritualidade, torna-se natural um seu compromisso pela Igreja e na Igreja. A comunhão quotidiana da sua vida prolonga-se e de certa forma sublima-se na assunção de uma responsabilidade comum em favor do Corpo místico de Cristo, mesmo que seja de uma pequena parte dele. Assim era na primeira geração e assim será com frequência. Do seu exemplo podemos extrair uma outra lição não negligenciável: cada casa pode transformar-se numa pequena igreja, não 110
só no sentido de que nela deve reinar o típico amor cristão feito de altruísmo e de solicitude recíproca, mas ainda mais no sentido de que toda a vida familiar, com base na fé, é chamada a girar em volta da única senhoria de Jesus Cristo. Não é por acaso que, na Carta aos Efésios, Paulo compara a relação matrimonial com a comunhão esponsal que existe entre Cristo e a Igreja (cf. Ef 5, 25-33). Aliás, podemos considerar que o Apóstolo modela indirectamente a vida da Igreja inteira na da família. E a Igreja é, na realidade, a família de Deus.» Audiência geral, 7 de Fevereiro de 2007
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VI IGREJA E FAMÍLIA
94. O empenho da Igreja
«Demasiado grande é o bem que a Igreja e a sociedade inteira esperam do matrimónio e da família fundada no mesmo para não nos comprometermos a fundo neste âmbito pastoral específico; matrimónio e família são instituições cuja verdade deve ser promovida e defendida de qualquer equívoco, porque todo o dano a elas causado é realmente uma ferida que se inflige à convivência humana enquanto tal.» Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis , n.º 29 95. As respostas fundamentadas
«[..] nenhum homem e nenhuma mulher, sozinhos e unicamente com as próprias forças, podem dar aos filhos de maneira adequada o amor e o sentido da vida. De facto, para po112
der dizer a alguém “a tua vida é boa, apesar de eu não conhecer o teu futuro”, são necessárias uma autoridade e uma credibilidade superiores às que o indivíduo pode ter sozinho. O cristão sabe que essa autoridade é conferida à família mais vasta que Deus, através do seu Filho Jesus Cristo e da doação do Espírito Santo, criou na história dos homens, isto é, a Igreja. Aí ele reconhece a obra daquele amor eterno e indestrutível que garante à vida de cada um de nós um sentido permanente, apesar de não conhecermos o futuro. Por este motivo, a edificação de cada família cristã insere-se no contexto da família mais ampla da Igreja, que a ampara e a leva consigo e garante que existe o sentido e que haverá também no seu futuro o “sim” do Criador. Reciprocamente, a Igreja é edificada pelas famílias, “pequenas Igrejas domésticas”, como lhes chamou o Concílio Vaticano II (Lu- men Gentium , n.º 11; Apostolicam Actuositatem , n.º 11), redescobrindo uma antiga expressão patrística (São João Crisóstomo, In Genesim Serm., VI, 2; VII, 1). No mesmo sentido, a Familiaris Consortio afirma que “o matrimónio cristão […] 113
constitui o lugar natural onde se cumpre a inserção da pessoa humana na grande família da Igreja” (n.º 15).» Discurso, 6 de Junho de 2005 96. Educar para a família
«É necessário reeducar para o desejo do conhecimento da verdade autêntica, para a defesa da própria liberdade de opção diante dos comportamentos de massa e das seduções da propaganda, para nutrir a paixão pela beleza moral e pela clareza da consciência. Esta é a tarefa delicada dos pais e dos educadores que os acompanham; e é tarefa da comunidade cristã, em relação aos seus fiéis. No que diz respeito à consciência cristã, ao seu crescimento e ao seu alimento, não nos podemos contentar com um contacto efémero com as principais verdades da fé na infância, mas é necessário percorrer um caminho que acompanhe as várias etapas da vida, abrindo a mente e o coração, a fim de que aceitem os deveres fundamentais sobre os quais está alicerçada a existência tanto do in114
divíduo como da comunidade. Somente assim será possível levar os jovens a compreender os valores da vida, do amor, do matrimónio e da família. Só deste modo será possível levá-los a apreciar a beleza e a santidade do amor, a alegria e a responsabilidade de serem pais e colaboradores de Deus no acto de dar a vida. Na falta de uma formação contínua e qualificada, torna-se ainda mais problemática a capacidade de juízo perante os problemas apresentados pela biomedicina, em matéria de sexualidade, de vida nascente e de procriação, como também o modo de tratar e curar os enfermos e cuidar das camadas mais frágeis da sociedade.» Discurso, 24 de Fevereiro de 2007 97. A família e a Igreja
«[…] a família e a Igreja, em concreto as paróquias e as outras formas de comunidade eclesial, são chamadas à colaboração mais estreita na tarefa fundamental que é constituída, inseparavelmente, pela formação da pessoa e pela transmissão da fé. Sabemos bem que para 115
uma autêntica obra educativa não é suficiente uma teoria justa ou uma doutrina a ser comunicada. Há necessidade de algo muito maior e humano, daquela proximidade, quotidianamente vivida, que é própria do amor e que encontra o seu espaço mais propício na comunidade familiar, e depois também numa paróquia, mo vimento ou associação eclesial em que se encontrem pessoas que se ocupam dos irmãos, em particular das crianças, mas também dos adultos, dos idosos, dos doentes, das próprias famílias, porque, em Cristo, os amam. O grande padroeiro dos educadores, São João Bosco, recordava aos seus filhos espirituais que “a educação é algo do coração” e que “só Deus é o seu dono”. (Epistolário, 4, 209).» Discurso, 6 de Junho de 2005 98. A família de Nazaré
«Este é o motivo pelo qual na base da formação da pessoa cristã e da transmissão da fé está necessariamente a oração, a amizade pessoal com Cristo e a contemplação, n’Ele, do 116
rosto do Pai. Evidentemente, o mesmo é válido para qualquer compromisso missionário nosso, em particular para a pastoral familiar: a Família de Nazaré seja, portanto, para as nossas famílias e para as nossas comunidades, objecto de oração constante e confiante, além de modelo de vida.» Discurso, 6 de Junho de 2005 99. Uma pastoral integrada
«[…] é claro que não só devemos procurar superar o relativismo no nosso trabalho de formação das pessoas, mas também somos chamados a contrastar o seu predomínio destruidor na sociedade e na cultura. Por isso, é muito importante que, paralelamente à palavra da Igreja, haja o testemunho e o compromisso público das famílias cristãs, especialmente para reafirmar a intangibilidade da vida humana desde a sua concepção até ao seu fim natural, o valor único e insubstituível da família fundada no matrimónio e a necessidade de disposições legislativas e administrativas que defendam as 117
famílias na tarefa de gerar e educar os filhos, tarefa essencial para o nosso futuro comum. Também por este compromisso vos digo um obrigado cordial.» Discurso, 6 de Junho de 2005 100. Família e vocação para o sacerdócio
«[…] todos sabemos quanto a Igreja tem necessidade [das vocações para o sacerdócio e a vida consagrada]! Para que essas vocações nasçam e amadureçam, para que as pessoas chamadas se mantenham sempre dignas da sua vocação, é decisiva antes de tudo a oração, que nunca deve faltar em cada família e comunidade cristã. Mas é também fundamental o testemunho de vida dos sacerdotes, dos religiosos e das religiosas, a alegria que eles exprimem por terem sido chamados pelo Senhor. E também é fundamental o exemplo que os filhos recebem no âmbito da própria família e a convicção das próprias famílias de que, também para elas, a vocação dos próprios filhos é um grande dom do Senhor. A opção da virgindade por amor 118
de Deus e dos irmãos, que é exigida para o sacerdócio e para a vida consagrada, de facto, caminha juntamente com a valorização do matrimónio cristão: um e outro, de duas maneiras diferentes e complementares, tornam de alguma forma visível o mistério da aliança entre Deus e o seu povo.» Discurso, 6 de Junho de 2005 101. O cuidado com as famílias
«[…] o compromisso em prol da formação de famílias cristãs sólidas revela-se de particular importância para a vida da Igreja, porque depende precisamente da família a possibilidade de contar com novas gerações sadias e generosas, assim como de lhes expor a beleza de uma vida inteiramente consagrada a Cristo e aos irmãos. Portanto, assumistes justamente como ponto prioritário do vosso compromisso o cuidado com as famílias, tanto as que se estão a formar como as que já se formaram, e que talvez se encontrem em dificuldade. A família, que no plano natural é a célula da sociedade, 119
a nível sobrenatural constitui uma fundamental escola de formação cristã. Com razão o Concílio Vaticano II a apresentou como “igreja doméstica”, notando que nela “devem os pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros arautos da fé e favorecer a vocação própria de cada um, especialmente a vocação sagrada” (Lumen Gentium , n.º 11).» Discurso, 18 de Novembro de 2005 102. Solicitude da comunidade cristã em relação à família migrante
«Não devemos esquecer que a família, mesmo a migrante e itinerante, constitui a célula originária da sociedade, que não pode ser destruída, mas defendida com coragem e paciência. Ela representa a comunidade em que, desde a infância, nos formamos na adoração e no amor a Deus, compreendendo a gramática dos valores humanos e morais e aprendendo a fazer bom uso da liberdade na verdade. Infelizmente, em não poucas situações isto acontece com dificuldade, de maneira especial no 120
caso de quem é investido pelo fenómeno da mobilidade humana […] na sua acção de hospitalidade e de diálogo com os migrantes e itinerantes, a comunidade cristã tem como ponto de referência constante a pessoa de Cristo, Nosso Senhor. Ele deixou aos seus discípulos uma regra de ouro segundo a qual delinear a própria vida: o novo mandamento do amor.» Discurso (1), 15 de Maio de 2008 103. Evangelizar a família
«A evangelização da família constitui também uma prioridade pastoral. Os movimentos de pessoas refugiadas ou deslocadas, a pandemia da sida, assim como as importantes mudanças da sociedade contemporânea desagregaram numerosas famílias, correndo o risco de afectar a unidade da própria sociedade. É importante, a todos os níveis da vida diocesana e social, encorajar os católicos a preservar e a promover os valores fundamentais da família. Neste espírito, é necessário prestar atenção à preparação humana e espiritual dos casais e 121
ao acompanhamento pastoral das famílias, recordando a eminente dignidade do matrimónio cristão, único e indissolúvel, e propondo uma espiritualidade conjugal sólida para que as famílias cresçam em santidade.» Discurso, 6 de Fevereiro de 2006 104. A oração familiar
«Só a fé em Cristo e só a comparticipação na fé da Igreja salva a família e, por outro lado, a Igreja só pode viver se se salvar a família. Neste momento, não tenho uma receita para isto. Mas parece-me que o devemos ter sempre presente. Por isso devemos fazer tudo o que favorece a família: círculos familiares, catequeses familiares, ensinar a oração em família. Isto parece-me muito importante: onde se reza juntos, torna-se presente o Senhor, torna-se presente esta força que pode interromper a “esclerocardia”, aquela dureza de coração que, segundo o Senhor, é o verdadeiro motivo do divórcio. Nada mais, só a presença do Senhor, nos ajuda a viver realmente tudo o que desde o início o Criador quis e foi re122
novado pelo Redentor. Redentor. Ensinar a oração familiar e, desta forma, convidar à oração com a Igreja. E depois encontrar todos os outros modos.» Discurso, 2 de Março de 2006 105. A família da Igreja
«Jesus disse que era o “caminho” que conduz ao Pai, além de ser a “verdade” e a “vida” (cf. Jo 14, 5-7). Portanto, a pergunta é: como podem as nossas crianças e os nossos jovens encontrar n’Ele, na prática e na existência, esse caminho de salvação e de alegria? É precisamente esta a grande missão para a qual a Igreja existe, como família de Deus e companhia de amigos na qual somos inseridos com o baptismo logo desde pequeninos e na qual devem crescer a nossa fé e a alegria e a certeza de sermos amados pelo Senhor. Por conseguinte, é indispensável e é tarefa confiada às famílias cristãs, aos sacerdotes, aos catequistas, aos educadores, aos próprios jovens em relação aos seus contemporâneos, às nossas paróquias, associações e movimentos, finalmente a toda a 123
comunidade diocesana que as novas gerações possam fazer a experiência da Igreja como de uma companhia de amigos na qual podem de veras confiar, próxima em todos os momentos e circunstâncias da vida, quer sejam alegres e gratificantes, quer difíceis e obscuros, uma companhia que nunca nos abandonará nem sequer na hora da morte, porque tem em si a promessa da eternidade.» Discurso, 5 de Junho de 2006 106. Acompanhamento espiritual
«Os desafios da sociedade actual, marcada pela dispersão que acontece sobretudo no ambiente urbano, tornam necessário garantir que as famílias não estejam sós. Um pequeno núcleo familiar pode encontrar obstáculos difíceis de superar se se encontrar isolado do resto dos seus parentes e amigos. Por isso, a comunidade eclesial tem a responsabilidade de oferecer acompanhamento, estímulo e alimento espiritual que fortaleçam a coesão familiar f amiliar,, sobretudo nas provações ou nos momentos críticos. Neste 124
sentido, é muito importante o trabalho nas papa róquias, assim como o das diversas associações eclesiais chamadas a colaborar como redes de apoio e auxílio à Igreja, para o crescimento da família na fé.» Discurso (2), 8 de Julho de 2006 107. Circulação de dons
«Em tantas comunidades hoje secularizadas, a primeira urgência para os crentes em Cristo é precisamente a de renovar a fé dos adultos, para que sejam capazes de a comunicar às no vas gerações. Por outro lado, o caminho da iniciação cristã das crianças e dos jovens pode pod e ser uma ocasião útil para os pais se aproximarem de novo da Igreja e para aprofundarem cada vez mais a beleza e a verdade do Evangelho. Portanto, a família é um organismo vivo no qual se realiza uma circulação recíproca de dons. É importante que nunca falte a Palavra de Deus, que mantém viva a chama da fé.» «Angelus», 2 de Julho de 2006 125
108. O domingo
«Queridos pais! Gostaria de vos convidar vivamente a ajudar as vossas crianças a crer, convidar-vos a acompanhá-las no seu caminho rumo à Primeira Comunhão, um caminho que continua também depois, a acompanhálas no seu caminho rumo a Jesus e com Jesus. Peço-vos: acompanhai as vossas crianças à igreja para participar na celebração eucarística de domingo!» Homilia (2), 10 de Setembro de 2006 109. A Sagrada Família
«No Evangelho não encontramos discursos sobre a família, mas uma admoestação que vale mais do que qualquer palavra: Deus quis nascer e crescer numa família humana. Deste modo, consagrou-a como caminho primário e efectivo do seu encontro com a humanidade. Na vida transcorrida em Nazaré, Jesus honrou a Virgem Maria e o justo José, permanecendo submetido à sua autoridade por todo o tem126
po das suas infância e adolescência (cf. Lc 2, 51-52). Deste modo, lançou luz sobre o valor primordial da família na educação da pessoa. Por Maria e José, Jesus foi introduzido na comunidade religiosa, frequentando a sinagoga de Nazaré. Com eles aprendeu a fazer a peregrinação a Jerusalém, como narra o trecho evangélico que a liturgia hodierna propõe à nossa meditação. Quando tinha 12 anos, permaneceu no Templo, e os seus pais levaram três dias a encontrá-lo. Com esse gesto, Ele fê-los compreender que tinha de Se “ocupar das coisas do seu Pai”, ou seja, da missão que o Pai Lhe confiara (cf. Lc 2, 41-52). Este episódio evangélico revela a mais autêntica e profunda vocação da família: isto é, a de acompanhar cada um dos seus componentes pelo caminho da descoberta de Deus e do desígnio que Ele lhe predispôs. Maria e José educaram Jesus, em primeiro lugar, com o seu exemplo: nos seus pais, Ele conheceu toda a beleza da fé, do amor a Deus e à sua Lei, assim como as exigências da justiça, que encontra o seu pleno cumprimento no amor 127
(cf. Rm 13, 10). Deles aprendeu que, primeiro que tudo, é necessário realizar a vontade de Deus, e que o laço espiritual vale mais que o vínculo do sangue. A Sagrada Família de Nazaré é verdadeiramente o “protótipo” de cada família cristã que, unida no sacramento do matrimónio e alimentada pela Palavra e pela Eucaristia, é chamada a realizar as maravilhosas vocação e missão de ser célula viva não apenas da sociedade, mas também da Igreja, sinal e instrumento de unidade para todo o género humano.» «Angelus», 31 de Dezembro de 2006 110. A família do Papa
«Sim, agradeço a Deus porque pude fazer a experiência do que significa “família”; pude fazer a experiência do que significa paternidade, de forma que a palavra sobre Deus como Pai se tornou para mim compreensível a partir de dentro; com base na experiência humana, foi-me aberto o acesso ao grande e benévolo Pai que está no céu. Diante dele nós temos 128
uma responsabilidade, mas ao mesmo tempo Ele dá-nos confiança, porque na sua justiça transparecem sempre a misericórdia e a bondade com as quais aceita também a nossa debilidade e nos ampara, de forma que pouco a pouco podemos aprender a caminhar com firmeza. Agradeço a Deus porque pude fazer a experiência profunda do que significa bondade materna, sempre aberta a quem procura refúgio e precisamente assim capaz de me dar a liberdade. Agradeço a Deus pela minha irmã e pelo meu irmão, que, com a sua ajuda, estiveram fielmente próximos de mim ao longo da minha vida. Agradeço a Deus pelos companheiros que encontrei no meu caminho, pelos conselheiros e amigos que Ele me deu. Agradeço de modo particular porque, desde o primeiro dia, pude entrar e crescer na grande comunidade dos crentes, na qual se abre de par em par o confim entre vida e morte, entre céu e terra; agradeço por ter podido aprender tantas coisas beneficiando da sabedoria desta comunidade na qual estão contidas não só as experiências humanas desde os tempos 129
mais remotos: a sabedoria desta comunidade não é apenas sabedoria humana; nela, alcança-se a própria sabedoria de Deus – a Sabedoria eterna.» Homilia, 15 de Abril de 2007
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ÍNDICE ANALÍTICO (Os números constantes deste índice são os atribuídos a cada um dos pensamentos publicados neste livro.) Aborto: 45, 77. Amor: como dom, 23; conjugal, 9, 47; de Deus, 51; e matrimónio, 3, 69; familiar, 23. Avós: 33. Casais de facto: 69, 70, 71, 75, 80. Castidade: 17, 18, 47. Corpo: 3. Crises: 32, 35, 89. Diferença sexual: 8, 14. Diminuição da natalidade: 52, 59, 67, 68. Divórcio: 13, 63, 64, 76, 77, 104. Domingo: 108. Embrião humano: 47. 131
Ética matrimonial: 17, 90. Família: agência de paz, 30; berço da vida, 43; célula da sociedade, 21; centralidade da, 1; cristã, 78 dimensão relacional da, 29, 31; do Papa Bento XVI; e meios de comunicação social, 56, 57, 58; e transmissão dos valores, 32, 48, 59; e vocação sacerdotal, 100, 101; fragilidade da, 61, 62; igreja doméstica, 84; migrante, 102; oração pela, 43; pastoral da, 97, 99, 101, 103, 106, 107; património da humanidade, 22; verdade da, 25, 64. Felicidade: 17, 81, 87. Festas: 34. Fidelidade: 19, 63. Filhos: baptismo dos, 46; educação dos, 28, 49, 52, 53, 54, 55, 57, 58; 132
educação para a fé dos, 83, 86; geração dos, 20, 44, 45; tempo para os, 59. Igreja: como família de Deus, 46, 105. Liberdade: 19, 26, 54, 57, 88. Libertinismo: 71. Mandamentos: 87. Matrimónio: carácter definitivo do, 11, 15, 19, 52, 65; e comunhão, 10; e justiça, 15; e lei natural, 4, 36, 42; e santidade, 24; e história da salvação, 5; indissolubilidade do, 14, 79, 82; missão do, 16; monogâmico, 2, 7; narração bíblica do, 2; sacramento do, 5, 6, 7, 12, 92; teologia do, 3; verdade do, 13; verdade do homem, 5, 8, 63. 133
Noivado: 18. Oração: 104. Pais: ausentes, 66; papéis dos, 26, 27. Pessoa: princípios sob tutela da, 42. Políticas da família: 37, 38, 39, 40, 41, 82. Relativismo: 75, 92, 99. Sagrada Família: 98, 109. Sexualidade: 3, 8. Testemunho: 85, 86. Uniões homossexuais: 72, 74. Verdade: 54, 88: do Evangelho, 107. Vida: como dom, 44; direito à, 42, 45. 134
ÍNDICE
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Bento XVI – Pensamentos sobre a Família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
I. A Verdade do Matrimónio . . . . . . . . . . . 16 II. A Família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 III. Os Filhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 IV. As Fragilidades da Família hoje . . . . . . 77 V. O Evangelho da Família . . . . . . . . . . . . 96 VI. Igreja e Família . . . . . . . . . . . . . . . . 112 Índice Analítico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
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