SANTAS MULHERES NO DISCURSO DO PAPA BENTO XVI Catequeses apresentadas nas Audiências Gerais às quartas-feiras
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SANTAS MULHERES NO DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
Índice
As mulheres ao serviço do Evangelho................ 7 Santa Hildegarda de Bingen......................................11 Santa Hildegarda de Bingen (2).............................. 1 Clara de Assis................................................................... 1! Santa "atilde de Hac#e$%rn..................................... 2& Santa Gertrudes.............................................................. 2' Beata ngela de %lign%............................................. 2* Santa +sa$el da Hungria............................................. ' Santa Br,gida da Sucia.............................................. "argarida de /ingt...................................................... '2 Santa 0uliana de C%rnill%n......................................... '! Santa Catarina de Sena............................................... & 0uliana de %r3ic4........................................................ ' Santa 5er6nica 0uliani................................................. 7 Santa Catarina de B%l%n4a........................................ !2 Santa Catarina de Gên%8a.......................................... !7 Santa 0%ana d9Arc........................................................... 71 Santa :eresa de ;8ila
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1' de e8ereir% 2&&7
As mulheres ao serviço o Eva!"elho
A>ad%s ir>?%s e ir>?s Hoje chegamos ao fim do nosso percurso entre as testemunhas do cristianismo nascente, que os escritos neotestamentários mencionam. E usamos a última etapa deste primeiro percurso para dedicar a nossa atenção s diversas figuras femininas que tiveram um papel efetivo e precioso na difusão do Evangelho. ! seu testemunho não pode ser esquecido, de acordo com o que o pr"prio #esus p$de di%er da mulher que lhe ungiu a ca&eça pouco antes da 'ai(ão) *Em verdade vos digo) em qualquer parte do mundo onde este Evangelho for anunciado, há+de tam&m narrar+se, em sua mem"ria, o que ela aca&a de fa%er* -"t /, 012 "c 03, 45. ! 6enhor quer que estas testemunhas do Evangelho, estas figuras que deram uma contri&uição a fim de que aumentasse a f nele, sejam conhecidas e a sua mem"ria seja viva na greja. 'odemos historicamente distinguir o papel das mulheres no 8ristianismo primitivo, durante a vida terrena de #esus e durante as vicissitudes da primeira geração cristã. #esus certamente, sa&emo+lo, escolheu entre os seus disc9pulos do%e homens como 'ais do novo srael, escolheu+os para *estarem com Ele e para enviá+los a pregar* -"c 1, 035. Este fato evidente mas, alm dos :o%e, colunas da greja, pais do novo 'ovo de :eus, são escolhidas no número dos disc9pulos tam&m muitas mulheres. Apenas &revemente posso mencionar aquelas que se encontram no caminho do pr"prio #esus, a começar pela profetisa Ana -cf. @c , 1/+1;5, at a 6amaritana
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-cf. 0% -cf. 0% 3, 0+145, a mulher s9rio+fen9cia -cf. "c 7, 3+1<5, a hemorro9ssa -cf. "t 4, <+ 5 e a pecadora perdoada -cf. @c 7, 1/+=<5. >ão me refiro sequer s protagonistas de algumas pará&olas efica%es, por e(emplo uma dona de casa que amassa o pão -cf. "t 01, 115, mulher que perde a dracma -cf. @c 0=, ;+0<5, viúva que importuna o jui% -cf. @c 0;, 0+;5. ?ais significativas para o nosso assunto são aquelas mulheres que desenvolveram um papel ativo no conte(to da missão de #esus. Em primeiro lugar, o pensamento dirige+se naturalmente @irgem ?aria que, com a sua f e a sua o&ra materna, cola&orou de modo único para a nossa edenção, tanto que sa&el p$de proclamá+la *&endita s tu entre as mulheres* -@c 0, 35, acrescentando) *Beli% de ti que acreditaste* -@c - @c 0, 3=5. Cornando+se disc9pula do Bilho, ?aria manifestou em 8aná a confiança total nele -cf. 0% -cf. 0% , =5 e seguiu+o at aos ps da 8ru%, onde rece&eu dele uma missão materna para todos os seus disc9pulos de todos os tempos, representados por #oão -cf. 0% -cf. 0% 04, =+75. Há depois várias mulheres, que a diversos t9tulos gravitam em volta da figura de #esus, com funçDes de responsa&ilidade. 6ão e(emplo eloquente disto as mulheres que seguiam #esus para assisti+lo com os seus &ens e das quais ucas nos transmite alguns nomes) ?aria de ?agdala, #oana, 6usana e *muitas outras* -cf. @c ;, +15. :epois, os Evangelhos informam+nos que as mulheres, diversamente dos :o%e, não a&andonaram #esus na hora da 'ai(ão -cf. "t 7, =/./02 "c 0=, 3<5. Entre elas, so&ressai em particular ?adalena, que não s" presenciou a 'ai(ão, mas foi tam&m a primeira testemunha e anunciadora do essuscitado -cf. 0% -cf. 0% <, 0.00+0;5. 'recisamente a ?aria de ?agdala 6. Comás de Aquino reserva a singular qualificação de *ap"stola dos ap"stolos* -ap%st%l%ru> -ap%st%l%ru> ap%st%la5, ap%st%la5, dedicando+lhe este &onito comentário) *8omo uma mulher tinha anunciado ao primeiro homem palavras de morte, assim uma mulher foi a primeira a anunciar aos ap"stolos palavras de vida* -Super -Super +%anne> ed. 8ai =045. Cam&m no Fm&ito da greja primitiva a presença feminina não de modo algum secundária. >ão insistamos so&re as quatro filhas não nomeadas do *diácono* Bilipe, residentes em 8esareia ?ar9tima e todas elas dotadas, como nos di% 6ão ucas, do *dom da profecia*, ou seja, da faculdade de intervir pu&licamente so& a ação do Esp9rito 6anto -cf. At -cf. At 0, 45. A &revidade da not9cia não permite deduçDes mais precisas. Aliás, devemos a 6ão 'aulo uma mais ampla documentação so&re a dignidade e so&re o papel eclesial da mulher. Ele parte do princ9pio fundamental, segundo o qual para os &ati%ados não s" *não há judeu nem grego, não há escravo nem livre*, mas tam&m *não há homem nem mulher*. ! motivo que *todos somos um s" em 8risto #esus* -Gl - Gl 1, ;5, ou seja, todos irmanados pela mesma dignidade de fundo, em&ora cada um tenha funçDes espec9ficas -cf. 1 C%r 0, 7+ 1<5. ! Ap"stolo admite como algo normal que na comunidade cristã a mulher possa *profeti%ar* -1 -1 C%r 00, =5, isto , pronunciar+se a&ertamente so& o influ(o do Esp9rito, contanto que isto seja para a edificação da comunidade e feito de modo digno. 'ortanto, a sucessiva, &em conhecida, e(ortação para que *as mulheres estejam caladas nas assem&leias* -1 -1 C%r 03, 135 deve ser antes relativi%ada.
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:ei(emos aos e(egetas o consequente pro&lema, muito discutido, da relação entre a primeira palavra as mulheres podem profeti%ar na assem&leia e a outra não podem falar da relação entre estas duas indicaçDes aparentemente contradit"rias. >ão se pode discuti+lo aqui. >a quarta+feira passada já encontramos a figura de 'risca ou 'riscila, esposa de Gquila, que em dois casos surpreendentemente mencionada antes do marido -cf. At -cf. At 0;, 0;2 > 0/, 15) de qualquer maneira, am&os são e(plicitamente qualificados por 'aulo como seus sun-erg%s *cola&oradores* -> 0/, 15. !utros relevos não podem ser descuidados. necessário reconhecer, por e(emplo, que a &reve Carta a ile>%n na realidade endereçada por 'aulo tam&m a uma mulher chamada *Gpfia* -cf.> -cf.> 5. CradiçDes latinas e s9rias do te(to grego acrescentam a este nome *Gpfia* o apelativo de Dir>? car,ssi>aD -+$ide>5 +$ide>5 e deve+ se di%er que na comunidade de 8olossos ela devia ocupar um lugar de relevo2 de qualquer forma, a única mulher mencionada por 'aulo entre os destinatários de uma sua carta. >outro lugar, o Ap"stolo menciona uma certa *Be&e*, qualificada comodiE#%n%s comodiE#%n%s da greja de 8Increas, a pequena cidade portuária a leste de 8orinto -cf. > 0/, 0+5. Em&ora o t9tulo naquele tempo não tenha um espec9fico valor ministerial de tipo hierárquico, ele e(pressa um verdadeiro e pr"prio e(erc9cio de responsa&ilidade desta mulher em favor daquela comunidade cristã. 'aulo recomenda que seja rece&ida cordialmente e assistida *nas atividades em que precisar de v"s*2 depois, acrescenta) *'ois tam&m ela tem sido uma protetora para muitos e para mim pessoalmente*. >o mesmo conte(to epistolar, o Ap"stolo recorda com traços de delicade%a outros nomes de mulheres) uma certa ?aria, depois Crifena, Crifosa e a *querida* 'rside, alm de #úlia, das quais escreve a&ertamente que *se afadigaram por v"s* ou *que se afadigaram pelo 6enhor* -> -> 0/, /.0a.0&.0=5, ressaltando assim o seu forte compromisso eclesial. :epois, na greja de Bilipos deviam distinguir+se duas mulheres chamadas *Ev"dia e 69ntique* -l - l 3, 5) a e(ortação que 'aulo fa% conc"rdia rec9proca dei(a entender que as duas mulheres tinham uma função importante no interior daquela comunidade. Em s9ntese, a hist"ria do cristianismo teria tido um desenvolvimento muito diferente, se não houvesse a generosa contri&uição de muitas mulheres. 'or isso, como p$de escrever o meu venerado e querido 'redecessor #oão 'aulo na 8arta Apost"lica "ulieris dignitatis *a greja rende graças por todas e cada uma das mulheres... A greja agradece todas as manifestaçDes do JgIneroK feminino, surgidas no curso da hist"ria, no meio de todos os povos e naçDes2 agradece todos os carismas que o Esp9rito 6anto concede s mulheres na hist"ria do 'ovo de :eus, todas as vit"rias que deve f, esperança e caridade das mesmas) agradece todos os frutos de santidade feminina* -n. 105. 8omo se vI, o elogio di% respeito s mulheres ao longo da hist"ria da greja, e e(presso em nome de toda a comunidade eclesial. Cam&m n"s nos unimos a este apreço, dando graças ao
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6enhor porque Ele condu% a sua greja, de geração em geração, valendo+se indistintamente de homens e mulheres, que sa&em frutificar a sua f e o seu &atismo, para o &em de todo o 8orpo eclesiástico, para maior gl"ria de :eus.
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Santa Hildegarda de Bingen A>ad%s ir>?%s e ir>?s Em 04;;, por ocasião do Ano ?ariano, o @enerável #oão 'aulo escreveu uma 8arta Apost"lica intitulada "ulieris dignitate> so&re o papel precioso que as as mulheres desempenharam e desempenham na vida da greja. LA greja M lI+se nela M agradece todas as manifestaçDes do gêner% do gêner% fe>inin% surgidas fe>inin% surgidas no curso da hist"ria, no meio de todos os povos e naçDes2 agradece a variedade dos carismas que o Esp9rito 6anto concede s mulheres na hist"ria do 'ovo de :eus, todas as vit"rias que ela deve sua f, esperança e caridade das mesmas) agradece todos os frutos de santidade femininaN -n. 105. Cam&m naqueles sculos da hist"ria que n"s ha&itualmente chamamos dade ?dia, so&ressaem diversas figuras femininas pela santidade e rique%a do ensinamento. Hoje gostaria de iniciar apresentando+vos uma delas) 6anta Hildegarda de Oingen, que viveu na Alemanha no sculo P. >asceu em 0<4; na enánia, em Oermersheim, perto de Al%eQ, e faleceu em 0074, com ;0 anos de idade, não o&stante a permanente fragilidade da sua saúde. Hildegarda pertencia a uma fam9lia no&re e numerosa e, desde o nascimento, foi destinada pelos seus pais para o serviço de :eus. 8om oito anos, para que rece&esse uma adequada formação humana e cristã, foi confiada aos cuidados da mestra #udite de 6panheim, que se tinha retirado em clausura no mosteiro &eneditino de 6ão :isi&odo. Boi+se formando um pequeno mosteiro feminino de clausura, que seguia a egra de 6ão
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Oento. Hildegarda rece&eu o vu do Oispo !tão de Oam&erg e, em 001/, com a morte da madre #udite, que era 6uperiora da comunidade, as irmãs de há&ito chamaram+na para lhe suceder. :esempenhou esta tarefa fa%endo frutificar os seus dotes de mulher culta, espiritualmente elevada e capa% de enfrentar com competIncia os aspectos organi%ativos da vida claustral. Alguns anos mais tarde, tam&m devido ao número crescente de jovens mulheres que &atiam porta do mosteiro, Hildegarda fundou outra comunidade em Oingen, intitulada a 6ão uperto, onde transcorreu o resto da vida. ! estilo com que e(ercia o ministrio da autoridade e(emplar para cada comunidade religiosa) suscitava uma santa emulação na prática do &em, a ponto que, como resulta do testemunho do tempo, a madre e as filhas competiam na estima e no serviço rec9procos. #á nos anos em que era superiora do mosteiro de 6ão :isi&odo, Hildegarda iniciara a ditar as visDes m9sticas, que tinha há tempos, ao seu conselheiro espiritual, o monge @olmar, e sua secretária, uma irmã de há&ito qual era muito afeiçoada, ichardis de 6trade. 8omo acontece sempre na vida dos verdadeiros m9sticos, tam&m Hildegarda quis su&meter+se autoridade de pessoas sá&ias para discernir a origem das suas visDes, temendo que elas fossem fruto de ilusDes e que não proviessem de :eus. 'or isso dirigiu+se pessoa que na sua poca go%ava da má(ima estima na greja) 6ão Oernardo de 8laraval, do qual já falei nalgumas catequeses. Ele tranquili%ou e encorajou Hildegarda. ?as em 0037 ela rece&eu outra aprovação important9ssima. ! 'apa EugInio , que presidia um 69nodo em Crier, leu um te(to ditado por Hildegarda, que lhe foi apresentado pelo Arce&ispo Henrique de ?ain%. ! 'apa autori%ou a m9stica a escrever as suas visDes e a falar em pú&lico. A partir daquele momento o prest9gio espiritual de Hildegarda cresceu cada ve% mais, a ponto que os contemporFneos lhe atri&u9ram o t9tulo de Lprofeti%a teut$nicaN. Eis, queridos amigos, o selo de uma e(periIncia autIntica do Esp9rito 6anto, fonte de todo o carisma) a pessoa depositária de dons so&renaturais nunca se vangloria disso, não os e(i&e mas, so&retudo, mostra total o&ediIncia autoridade eclesial. 8ada dom distri&u9do pelo Esp9rito 6anto, de fato, destinado edificação da greja, e a greja, atravs dos seus 'astores, reconhece a sua autenticidade. @oltarei a falar na pr"(ima quarta+feira so&re esta grande mulher LprofessaN, que fala com grande atualidade tam&m hoje a n"s, com o seu amor pela criação, o seu remdio, a sua poesia, a sua música, que hoje reconstru9da, o seu amor a 8risto e 6ua greja, que sofria tam&m naquela poca, ferida como hoje pelos pecados dos sacerdotes e dos leigos, e muito mais amada como corpo de 8risto.
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de Sete>$r% de 2&1&
Santa Hildegarda de Bingen (2) uerid%s ir>?%s e ir>?s Hoje gostaria de retomar e continuar a refle(ão so&re 6anta Hildegarda de Oingen, figura feminina importante da dade ?dia, que se distinguiu pela sa&edoria espiritual e pela santidade de vida. As visDes m9sticas de Hildegarda assemelham+ se s dos profetas do Antigo Cestamento) e(primindo+se com as categorias culturais e religiosas da sua poca, interpretava lu% de :eus as 6agradas Escrituras, aplicando+as s várias circunstFncias da vida. :este modo, todos os que a escutavam, sentiam+se e(ortados a praticar um estilo de e(istIncia cristão coerente e empenhado. >uma carta a 6ão Oernardo, a m9stica renana confessa) LA visão arre&ata todo o meu ser) não vejo com os olhos do corpo, mas aparece+me no esp9rito dos mistrios... 8onheço o significado profundo do que está e(posto no 6altrio, nos Evangelhos e nos outros livros, que me são mostrados na visão. Ela arde como uma chama no meu peito e na minha alma, e ensina+me a compreender profundamente o te(toN -Ipist%lariu> pars pri>a +P8) 888? 405. As visDes m9sticas de Hildegarda são ricas de conteúdos teol"gicos. eferem+se aos eventos principais da hist"ria da salvação e utili%am uma linguagem so&retudo potica e sim&"lica. 'or e(emplo, na sua o&ra mais conhecida, denominada 6civias, isto L8onhece as viasN, ela resume em trinta e cinco visDes os acontecimentos da hist"ria da salvação, desde a criação do mundo at ao fim dos tempos. 8om os traços caracter9sticos da sensi&ilidade feminina, Hildegarda, e(atamente na secção
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central da sua o&ra, desenvolve o tema do matrim$nio m9stico entre :eus e a humanidade, reali%ado na Encarnação. >o madeiro da 8ru% reali%am+se as núpcias do Bilho de :eus com a greja, sua esposa, cheia de graça e tornada capa% de doar a :eus novos filhos, no amor do Esp9rito 6anto -cf. 5isi% tertia) J@ 047, 3=1c5. #á destes &reves trechos vemos que tam&m a teologia pode rece&er uma contri&uição peculiar das mulheres, porque são capa%es de falar de :eus e dos mistrios da f com a sua singular inteligIncia e sensi&ilidade. 'ortanto, encorajo todas aquelas que desempenham este serviço a reali%á+lo com profundo esp9rito eclesial, alimentando a pr"pria refle(ão com a oração e olhando para a grande rique%a, ainda em parte ine(plorada, da tradição m9stica medieval, so&retudo a representada por modelos luminosos, justamente como Hildegarda de Oingen. A m9stica renana tam&m autora de outros escritos, dois dos quais particularmente importantes porque descrevem, como o 6civias, as suas visDes m9sticas) são o @i$er 8itae >erit%ru> -ivro dos mritos da vida5 e o @i$er di8in%ru> %peru> -ivro das o&ras divinas5, denominado tam&m Ke %perati%ne Kei. >o primeiro descrita uma única e poderosa visão do :eus que vivifica o cosmos com a sua força e lu%. Hildegarda realça a profunda relação entre o homem e :eus e recorda+nos que toda a criação, da qual o homem o ápice, rece&e a vida da Crindade. ! escrito está centrado na relação entre virtudes e v9cios, pela qual o ser humano deve enfrentar quotidianamente o desafio dos v9cios, que o afastam do caminho rumo a :eus, e as virtudes, que o favorecem. ! convite para se afastar do mal para glorificar :eus e, depois de uma e(istIncia virtuosa, entrar na vida Ltoda de alegriaN. >a segunda considerada por muitos a sua o&ra+prima, descreve ainda a criação na sua relação com :eus e a centralidade do homem, manifestando um forte cristocentrismo de sa&or &9&lico+patr9stico. A 6anta, que apresenta cinco visDes inspiradas pelo 'r"logo do Evangelho de 6ão #oão, apresenta as palavras que o Bilho dirige ao 'ai) LCoda a o&ra que Cu quiseste e me confiaste, cumpri+a com I(ito, e eis que eu estou em ti, e Cu em mim, e >"s somos um s"N - Jars +++ , 5isi% L ) J@ 047, 0<=a5. Enfim, noutros escritos Hildegarda manifesta a versatilidade de interesses e a vivacidade cultural dos mosteiros femininos da dade ?dia, contrariamente aos preconceitos que ainda pesam so&re aquela poca. Hildegarda ocupou+se de medicina e de ciIncias naturais, inclusive de música, sendo dotada de talento art9stico. 8omp$s hinos, ant9fonas e cFnticos, que foram reunidos so& o t9tulo SM>p4%nia Har>%niae Caelestiu> e8elati%nu> -6infonia da harmonia das revelaçDes celestiais5, que eram e(ecutados ju&ilosamente nos seus mosteiros, difundindo uma atmosfera de serenidade, e que chegaram at n"s. 'ara ela, toda a criação uma sinfonia do Esp9rito 6anto, que alegria e jú&ilo em si mesmo. A popularidade que circundava Hildegarda impulsionava muitas pessoas a interpelá+la. 'or este motivo, dispomos de muitas suas cartas. A ela dirigiam+se
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comunidades monásticas masculinas e femininas, &ispos e a&ades. ?uitas respostas permanecem válidas inclusive para n"s. 'or e(emplo, a uma comunidade religiosa feminina Hildegarda escrevia) LA vida espiritual deve ser cuidada com muita dedicação. >o in9cio o tra&alho dif9cil. 'ois e(ige a renúncia fantasia, ao pra%er da carne e a outras coisas semelhantes. ?as se dei(ar+se fascinar pela santidade, uma alma santa sentirá d"cil e amoroso o pr"prio despre%o do mundo. 6" preciso prestar atenção, inteligentemente, para que a alma não se avilteN -E. Rronau, Hildegard. 5ita di una d%nna pr%fetica alle %rigini dell9età >%derna, ?ilão 044/, p. 3<5. E quando o imperador Brederico Oar&a o(a provocou um cisma eclesial opondo trIs antipapas contra o 'apa leg9timo Ale(andre , Hildegarda, inspirada pelas suas visDes, não hesitou em recordar+lhe que tam&m ele, o imperador, estava sujeito ao ju9%o de :eus. 8om a audácia que caracteri%a todos os profetas, ela escreveu ao imperador estas palavras da parte de :eus) LAi desta conduta malvada dos 9mpios que me despre%amS Escuta, " rei, se quiseres viverS 6e não, a minha espada trespassar+te+áSN -+$id ., p. 305. 8om a autoridade espiritual da qual era dotada, nos últimos anos da sua vida Hildegarda p$s+se em viagem, não o&stante a idade avançada e as condiçDes dif9ceis dos deslocamentos, para falar de :eus s populaçDes. Codos a escutavam de &om grado, inclusive quando recorria a um tom severo) consideravam+na uma mensageira enviada por :eus. E(ortava so&retudo as comunidades monásticas e o clero a uma vida em conformidade com a pr"pria vocação. :e modo particular, Hildegarda contrastou o movimento dos cEtar%s alemães. Eles M cEtar%s, letra, significa LpurosN M propugnavam uma reforma radical da greja, so&retudo para com&ater os a&usos do clero. Ela repreendeu+os severamente por desejarem su&verter a pr"pria nature%a da greja, recordando+lhes que uma verdadeira renovação da comunidade eclesial não se o&tm tanto com a mudança das estruturas, quanto com um sincero esp9rito de penitIncia e um caminho concreto de conversão. Esta uma mensagem que nunca devemos esquecer. nvoquemos sempre o Esp9rito 6anto, a fim de que suscite na greja mulheres santas e corajosas, como 6anta Hildegarda de Oingen que, valori%ando os dons rece&idos de :eus, dIem o seu contri&uto precioso e peculiar para o crescimento espiritual das nossas comunidades e da greja no nosso tempo.
Santa Hildegarda de Bingen f%i pr%cla>ada K%ut%ra da +greNa pel% papa Bent% L5+ e> 1* de deOe>$r% de 2&11
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Clara de Assis JreOad%s ir>?%s e ir>?s Tma das 6antas mais amadas , sem dúvida, 6anta 8lara de Assis, que viveu no sculo P, contemporFnea de 6ão Brancisco. ! seu testemunho mostra+nos como a greja inteira devedora a mulheres intrpidas e ricas de f como ela, capa%es de dar um impulso decisivo para a renovação da greja. 'ortanto, quem era 8lara de AssisU 'ara responder a esta pergunta, dispomos de fontes seguras) não apenas das antigas &iografias, como a de Comás de 8elano, mas tam&m das Actas do processo de canoni%ação promovido pelo 'apa s" poucos meses depois da morte de 8lara e que contm os testemunhos daqueles que viveram ao seu lado durante muito tempo. Cendo nascido em 0041, 8lara pertencia a uma fam9lia aristocrática e rica. enunciou no&re%a e rique%a para viver humilde e po&re, seguindo a forma de vida proposta por Brancisco de Assis. Em&ora os seus parentes, como acontecia nessa poca, começavam a programar para ela um matrim$nio com uma personalidade importante, 8lara, com 0; anos de idade, com um gesto auda% inspirado pelo profundo desejo de seguir 8risto e pela admiração que tinha por Brancisco, dei(ou a casa paterna e, em companhia de uma das suas amigas, Oona de Ruelfuccio, uniu+se secretamente aos frades menores na pequena igreja da 'orciúncula. Era a tarde do :omingo de amos de 000. >a comoção geral, foi levado a ca&o um gesto profundamente sim&"lico) enquanto os seus companheiros
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seguravam nas mãos algumas tochas acesas, Brancisco cortou+lhe os ca&elos e 8lara vestiu o rude há&ito penitencial. A partir daquele momento, ela tornou+se a virgem esposa de 8risto, humilde e po&re, consagrando+se totalmente a Ele. 8omo 8lara e as suas companheiras, inúmeras mulheres ao longo da hist"ria ficaram fascinadas pelo amor a 8risto que, na &ele%a da sua 'essoa divina, enche o seu coração. E a greja inteira, por intermdio da m9stica vocação nupcial das virgens consagradas, mostra+se como sempre será) a Esposa &onita e pura de 8risto. >uma das quatro cartas que 8lara enviou a 6anta nIs de 'raga, filha do rei da Ooemia, que desejava seguir os seus passos, fala de 8risto, seu amado Esposo, com e(pressDes nupciais que podem causar admiração, mas que comovem) LAmando+o, s casta, tocando+o, serás pura, dei(ando+te possuir por Ele, s virgem. ! seu poder mais forte, a sua generosidade mais elevada, o seu aspecto mais e(celso, o amor mais suave e todas as graças mais su&limes. #á foste conquistada pelo seu a&raço, que ornamentou o seu peito com pedras preciosas... coroando+te com um diadema de ouro, marcado com o sinal da santidadeN -Jri>eira Carta) , ;/5. 'rincipalmente no in9cio da sua e(periIncia religiosa, 8lara encontrou em Brancisco de Assis não apenas um mestre cujos ensinamentos devia seguir, mas inclusive um amigo fraterno. A ami%ade entre estes dois santos constitui um aspecto muito &onito e importante. 8om efeito, quando se encontram duas almas puras e inflamadas pelo mesmo amor a :eus, elas haurem da ami%ade rec9proca um est9mulo e(tremamente forte para percorrer o caminho da perfeição. A ami%ade um dos sentimentos humanos mais no&res e elevados que a Rraça divina purifica e transfigura. 8omo 6ão Brancisco e 6anta 8lara, tam&m outros 6antos viveram uma profunda ami%ade no caminho rumo perfeição cristã, como 6ão Brancisco de 6ales e 6anta #oana Brancisca de 8hantal. E precisamente 6ão Brancisco de 6ales que escreve) L &om poder amar na terra como se ama no cu, e aprendermos a amar neste mundo como havemos de fa%er eternamente no outro. Aqui não me refiro ao simples amor de caridade, porque temos que ter este amor por todos os homens2 refiro+me ami%ade espiritual, no Fm&ito da qual duas, trIs ou mais pessoas permutam entre si a devoção e os afetos espirituais, tornando+se realmente um s" esp9ritoN -+ntr%duP?% à 8ida de8%ta, , 045. :epois de ter transcorrido um per9odo de alguns meses no interior de outras comunidades monásticas, resistindo s pressDes dos seus familiares que inicialmente não aprovaram a sua escolha, 8lara esta&eleceu+se com as primeiras companheiras na igreja de 6ão :amião, onde os frades menores tinham organi%ado um pequeno convento para si mesmos. >aquele mosteiro ela viveu por mais de quarenta anos, at morte, ocorrida em 0=1. :ispomos de uma descrição de primeira mão, so&re o modo como estas mulheres viviam naqueles anos, nos prim"rdios do movimento franciscano. Crata+se do relat"rio admirado de um &ispo flamengo em visita tália, :. Ciago de @itrQ, que afirma ter+se encontrado com um grande número de homens e mulheres, de todas as classes sociais que,
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Ldei(ando tudo por 8risto, fugiam do mundo. 8hamavam+se frades >en%res e ir>?s >en%res e são tidos em grande consideração pelo 6enhor 'apa e pelos cardeais... As mulheres... vivem juntas, em diversos hosp9cios não distantes das cidades. >ada rece&em, mas vivem do tra&alho das suas pr"prias mãos. E sentem+se profundamente amarguradas e incomodadas, porque são honradas mais do que desejariam por clrigos e leigosN -Carta de /utu$r% de 121!) , <=.<75. Ciago de @itrQ tinha reconhecido com perspicácia uma caracter9stica da espiritualidade franciscana, qual 8lara era muito sens9vel) a radicalidade da po&re%a, associada confiança total na 'rovidIncia divina. 'or este motivo, ela agiu com grande determinação, o&tendo da parte do 'apa Rreg"rio P ou, provavelmente, já do 'apa nocIncio , o chamado Jri8ilegiu> paupertatis-cf. , 1745. 8om &ase nisto, 8lara e as suas companheiras de 6ão :amião não podiam possuir qualquer propriedade material. Cratava+se de uma e(ceção verdadeiramente e(traordinária em relação ao direito can$nico então em vigor, e as autoridades eclesiásticas daquela poca concederam+no, valori%ando os frutos de santidade evanglica, que reconheciam no estilo de vida de 8lara e das suas irmãs. sto demonstra que, tam&m nos sculos da dade ?dia, o papel das mulheres não era secundário, mas considerável. A este prop"sito, útil recordar que 8lara foi a primeira mulher na hist"ria da greja que comp$s uma egra escrita, su&metida aprovação do 'apa, para que o carisma de Brancisco de Assis fosse conservado em todas as comunidades femininas, que se iam esta&elecendo em grande número já naquela poca e que desejavam inspirar+se no e(emplo de Brancisco e de 8lara. >o convento de 6ão :amião, 8lara praticou de maneira her"ica as virtudes que deveriam distinguir cada cristão) a humildade, o esp9rito de piedade e de penitIncia, a caridade. >ão o&stante fosse a superiora, ela queria servir pessoalmente as irmãs enfermas, sujeitando+se inclusive a tarefas e(tremamente humildes) com efeito, a caridade ultrapassa qualquer resistIncia, e quem ama reali%a todo o sacrif9cio com alegria. A sua f na presença real da Eucaristia era tão grande que, por duas ve%es, se verificou um acontecimento milagroso. 6" com a ostensão do 6ant9ssimo 6acramento, ela afugentou os soldados mercenários sarracenos, que estavam prestes a invadir o convento de 6ão :amião e a devastar a cidade de Assis. Cam&m estes epis"dios, assim como outros milagres dos quais se conservava a mem"ria, impeliram o 'apa Ale(andre @ a canoni%á+la apenas dois anos depois da sua morte, em 0==, delineando um seu elogio na Oula de canoni%ação, em que lemos) L8omo vivo o poder desta lu% e como forte a resplandecIncia desta fonte luminosaS >a realidade, esta lu% mantinha+se fechada no esconderijo da vida claustral, enquanto fora irradiava clarDes luminosos2 recolhia+se num mosteiro angusto, enquanto fora se difundia em toda a vastidão do mundo. 8onservava+se dentro e propagava+se fora. 8om efeito, 8lara escondia+se, mas a sua vida era
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revelada a todos. 8lara calava+se, mas a sua fama clamavaN -BB, 1;35. E precisamente assim, estimados amigos) são os 6antos que mudam o mundo para melhor, que o transformam de forma duradoura, infundindo as energias que unicamente o amor inspirado pelo Evangelho pode suscitar. !s 6antos são os grandes &enfeitores da humanidadeS A espiritualidade de 6anta 8lara, a s9ntese da sua proposta de santidade condensada na quarta 8arta a 6anta nIs de 'raga. 6anta 8lara recorre a uma imagem muito difundida na dade ?dia, de ascendIncias patr9sticas) o espelho. E convida a sua amiga de 'raga a refletir+se naquele espelho de perfeição de todas as virtudes, que o pr"prio 6enhor. Ela escreve) L6em dúvida, feli% aquela a quem concedido &eneficiar desta sagrada união, para aderir com o profundo do coração Va 8ristoW, Xquele cuja &ele%a admirada incessantemente por todas as &em+ aventuradas plIiades dos cus, cujo afeto apai(ona, cuja contemplação resta&elece, cuja &enignidade sacia, cuja suavidade satisfa%, cuja recordação resplandece suavemente, diante de cujo perfume os mortos voltarão vida e cuja visão gloriosa tornará &em+aventurados todos os cidadãos da #erusalm celeste. E dado que Ile esplend%r da glQria candura da luO eterna e espel4% se> >anc4a, olha todos os dias para este espelho, " rainha esposa de #esus 8risto, e nela perscruta continuamente o teu rosto, para que assim tu possas adornar+te inteiramente no interior e no e(terior... >este espelho refulgem a &em+aventurada po&re%a, a santa humildade e a inefável caridadeN -uarta Carta) , 4<0+4<15. Rratos a :eus que nos doa os 6antos que falam ao nosso coração e nos oferecem um e(emplo de vida cristã a imitar, gostaria de concluir com as mesmas palavras de &Inção que 6anta 8lara comp$s para as suas irmãs de há&ito e que ainda hoje as 8larissas, desempenhando um papel precioso na greja com a sua oração e a sua o&ra, conservam com grande devoção. 6ão e(pressDes em que so&ressai toda a ternura da sua maternidade espiritual) LA&ençoo+vos na minha vida e ap"s a minha morte, como posso e mais do que posso, com todas as &Inçãos com as quais o 'ai da miseric"rdia a&ençoou e há+de a&ençoar no cu e na terra os filhos e as filhas, e com as quais um pai e uma mãe espiritual a&ençoaram e hão+de a&ençoar os seus filhos e as suas filhas espirituais. AmmSN - , ;=/5.
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2* de Sete>$r% de 2&1&
Santa Matilde de Hackeborn Isti>ad%s ir>?%s e ir>?s Hoje gostaria de vos falar de 6anta ?atilde de HacYe&orn, uma das grandes figuras do mosteiro de Helfta, que viveu no sculo P. A sua irmã de há&ito, 6anta Rertrudes a Rrande, no livro @ da o&ra @i$er specialis gratiae -! livro da graça especial5, em que são narradas as graças especiais que :eus concedeu a 6anta ?atilde, afirma assim) L! que escrevemos muito pouco em comparação com o que omitimos. 'u&licamos estas coisas s" para a gl"ria de :eus e a utilidade do pr"(imo, porque nos pareceria injusto manter o silIncio so&re as numerosas graças que ?atilde rece&eu de :eus, não tanto para si mesma, na nossa opinião, mas para n"s e para aqueles que vierem depois de n"sN -"ec4t4ild 8%n Hac#e$%rn, @i$er specialis gratiae, @, 05. Esta o&ra foi redigida por 6anta Rertrudes e por outra irmã de há&ito de Helfta, e contm uma hist"ria singular. ?atilde, com cinquenta anos de idade, atravessava uma grave crise espiritual, unida a sofrimentos f9sicos. >esta condição, confiou as duas irmãs de há&ito amigas, as graças especiais com que :eus a tinha guiado desde a infFncia, mas não sa&ia que elas anotavam tudo. Zuando o veio a sa&er, ficou profundamente angustiada e pertur&ada. 'orm, o 6enhor tranquili%ou+a, fa%endo+lhe compreender que quanto estava a ser escrito era para a gl"ria de :eus e a vantagem do pr"(imo -cf. i$id ., , =2 @, <5. Assim, esta o&ra a fonte principal da qual haurir as informaçDes so&re a vida e a espiritualidade da nossa 6anta.
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8om ela, somos introdu%idos na fam9lia do Oarão de HacYe&orn, uma das mais no&res, ricas e poderosas da Cur9ngia, aparentada com o imperador Brederico , e entramos no mosteiro de Helfta no per9odo mais glorioso da sua hist"ria. ! Oarão já tinha dado ao mosteiro uma filha, Rertrudes de HacYe&orn -010[01 M 040[045, dotada de uma personalidade acentuada, A&adessa por quarenta anos, capa% de dar um cunho peculiar espiritualidade do mosteiro, levando+o a um florescimento e(traordinário como centro de m9stica e de cultura, escola de formação cient9fica e teol"gica. Rertrudes ofereceu s monjas uma elevada educação intelectual, que lhes permitia cultivar uma espiritualidade fundada na 6agrada Escritura, na iturgia, na Cradição patr9stica, na egra e na espiritualidade cisterciense, com preferIncia especial por 6ão Oernardo de 8laraval e Ruilherme de 6aint+ChierrQ. Boi uma verdaderia mestra, e(emplar em tudo, na radicalidade evanglica e no %elo apost"lico. :esde a infFncia, ?atilde acolheu e sa&oreou o clima espiritual e cultural criado pela irmã, oferecendo depois a sua contri&uição pessoal. ?atilde nasce em 030, ou 03, no castelo de Helfta2 a terceira filha do Oarão. 8om sete anos de idade, visita com a mãe a irmã Rertrudes no mosteiro de odersdorf. Bica tão fascinada por aquele am&iente, que deseja ardentemente fa%er parte dele. Entra como educanda e, em 0=;, torna+se monja no convento que, entretanto, se tinha transferido para Helfta, na quinta dos HacYe&orn. :istingue+se por humildade, fervor, ama&ilidade, pure%a e inocIncia de vida, familiaridade e intensidade com que vive a relação com :eus, a @irgem e os 6antos. dotada de elevadas qualidades naturais e espirituais, como La ciIncia, a inteligIncia, o conhecimento das letras humanas, a vo% de uma suavidade maravilhosa) tudo a tornava apta para ser no mosteiro um autIntico tesouro, so& todos os aspectosN -+$id ., +ntr%duP?%5. Assim, Lo rou(inol de :eusN M como chamada M ainda muito jovem, torna+se diretora da escola do mosteiro, diretora do coro, mestra das noviças, serviços que desempenha com talento e %elo incansável, não s" em vantagem das monjas, mas de quem quer que desejasse haurir da sua sa&edoria e &ondade. luminada pelo dom divino da contemplação m9stica, ?atilde compDe numerosas oraçDes. mestra de doutrina fiel e de grande humildade, conselheira, consoladora e guia no discernimento) LEla M lI+se M transmitia a doutrina com tal a&undFncia, que jamais se tinha visto no mosteiro e, infeli%mente, tememos que nunca mais se verá algo de semelhante. As religiosas reuniam+se ao seu redor para ouvir a palavra de :eus, como se fosse um pregador. Era o refúgio e a consoladora de todos e, como dom singular de :eus, tinha a graça de revelar livremente os segredos do coração de cada um. ?uitas pessoas, não s" no ?osteiro, mas tam&m estranhos, religiosos e seculares, vindos de longe, testemunhavam que esta santa virgem os tinha li&ertado dos seus sofrimentos e que nunca haviam e(perimentado tanta consolação como nela. Alm disso, comp$s e ensinou tantas oraçDes que, se fossem reunidas, e(cederiam o volume de um saltrioN -+$id ., @, 05.
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Em 0/0 chegou ao convento uma criança de cinco anos, chamada Rertrudes) confiada aos cuidados de ?atilde, com apenas vinte anos, que a educa e guia na vida espiritual, a ponto de fa%er dela não s" a disc9pula e(celente, mas tam&m a sua confidente. Em 070, ou 07, entra no mosteiro tam&m ?atilde de ?agde&urgo. Assim, o lugar acolhe quatro grandes mulheres M duas Rertrudes e duas ?atildes M gl"ria do monaquismo germFnico. >a longa vida transcorrida no mosteiro, ?atilde afligida por sofrimentos cont9nuos e intensos, aos quais se acrescentam as dur9ssimas penitIncias escolhidas para a conversão dos pecadores. :este modo, participa na pai(ão do 6enhor at ao fim da sua vida -cf. i$id ., @, 5. A oração e a contemplação são o4>us vital da sua e(istIncia) as revelaçDes, os seus ensinamentos, o seu serviço ao pr"(imo, o seu caminho na f e no amor encontram aqui a sua rai% e o seu conte(to. >o primeiro livro da o&ra @i$er specialis gratiae, as redatoras reúnem as confidIncias de ?atilde, cadenciadas nas festas do 6enhor, dos 6antos e, de modo especial, da Oem+Aventurada @irgem. impressionante a capacidade que esta 6anta tem de viver a iturgia nos seus vários componentes, mesmo as mais simples, levando+a na vida monástica quotidiana. Algumas imagens, e(pressDes e aplicaçDes s ve%es estão longe da nossa sensi&ilidade mas, se se consideram a vida monástica e a sua tarefa de mestra e diretora de coro, compreende+se a sua capacidade singular de educadora e formadora, que ajuda as irmãs de há&ito a viver intensamente, a partir da iturgia, cada momento da vida monástica. >a oração litúrgica, ?atilde dá realce particular s horas can$nicas, cele&ração da 6anta ?issa e so&retudo 6agrada 8omunhão. Aqui com frequIncia arre&atada em I(tase, numa profunda intimidade com o 6enhor, no seu 8oração ardent9ssimo e dulc9ssimo, num diálogo maravilhoso em que pede lu%es interiores, enquanto intercede de modo especial pela sua comunidade e pelas suas irmãs de há&ito. >o centro estão os mistrios de 8risto, aos quais a @irgem ?aria se refere constantemente para caminhar pela vida da santidade) L6e tu desejas a verdadeira santidade, está perto do meu Bilho2 Ele a pr"pria santidade, que santifica todas as coisasN -+$id ., , 3<5. >esta sua intimidade com :eus estão presentes o mundo inteiro, a greja, os &enfeitores e os pecadores. 'ara ela, 8u e terra unem+se. As suas visDes, os seus ensinamentos e as vicissitudes da sua e(istIncia são descritos com e(pressDes que evocam a linguagem litúrgica e &9&lica. assim que se entende o seu profundo conhecimento da 6agrada Escritura, que era o seu pão de cada dia. ecorre a ela continuamente, quer valori%ando os te(tos &9&licos lidos na liturgia, quer haurindo s9m&olos, termos, paisagens, imagens e personagens. A sua predileção pelo Evangelho) LAs palavras do Evangelho eram para ela um alimento maravilhoso e suscitavam no seu coração sentimentos de tanta docilidade, que muitas ve%es, pelo entusiasmo, não conseguia terminar a sua leitura... ! modo como lia aquelas palavras era tão fervoroso, que em todos suscitava a devoção. Assim tam&m, quando cantava no coro, vivia totalmente a&sorvida em :eus, transportada por tanto ardor que s ve%es manifestava os seus
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sentimentos com gestos... !utras ve%es, como que arre&atada em I(tase, não ouvia quantos a chamavam ou a moviam, e mal conseguia retomar o sentido das coisas e(terioresN -+$id ., @, 05. >uma das visDes, o pr"prio #esus quem lhe recomenda o Evangelho) a&rindo+lhe a chaga do seu dulc9ssimo 8oração, di%+lhe) L8onsidera como imenso o meu amor) se quiseres conhecI+lo &em, em nenhum lugar o encontrarás e(presso mais claramente do que no Evangelho. >ingum jamais ouviu algum manifestar sentimentos mais fortes e mais ternos do que estes) Assi> c%>% % >eu Jai >e a>%u ta>$> Iu 8%s a>ei - 0%an. P@, 45N -+$id ., , 5. 8aros amigos, a oração pessoal e litúrgica, especialmente a iturgia das Horas e a 6anta ?issa, estão na rai% da e(periIncia espiritual de 6anta ?atilde de HacYe&orn. :ei(ando+se guiar pela 6agrada Escritura e alimentar pelo 'ão eucar9stico, Ela percorreu um caminho de união 9ntima com o 6enhor, sempre em plena fidelidade greja. sto para n"s tam&m um forte convite a intensificar a nossa ami%ade com o 6enhor, so&retudo atravs da oração quotidiana e a participação atenta, fiel e concreta na 6anta ?issa. A iturgia uma grande escola de espiritualidade. A disc9pula Rertrudes descreve com e(pressDes intensas os últimos momentos da vida de 6anta ?atilde de HacYe&orn, dur9ssimos mas iluminados pela presença da Oeat9ssima Crindade, do 6enhor, da @irgem ?aria e de todos os 6antos, mas inclusive da irmã de sangue, Rertrudes. Zuando chegou a hora em que o 6enhor quis chamá+la para junto de 6i, ela pediu+lhe para poder viver ainda no sofrimento, para a salvação das almas, e #esus compadeceu+se deste ulterior sinal de amor. ?atilde tinha =; anos. 'ercorreu a última etapa caracteri%ada por oito anos de graves doenças. A sua o&ra e a sua fama de santidade difundiram+se amplamente. Zuando chegou a sua hora, Lo :eus de ?ajestade... única suavidade da alma que ! ama... cantou+lhe) 5enite 8%s $enedicti Jatris >ei... 5inde Q 8Qs que s%is %s $endit%s d% >eu Jai 8inde rece$er % rein%... e ass%ci%u-% à sua glQriaR -+$id ., @, ;5. 6anta ?atilde de HacYe&orn confia+nos ao 6agrado 8oração de #esus e @irgem ?aria. 8onvida a louvar o Bilho com o 8oração da ?ãe e a louvar ?aria com o 8oração do Bilho) L6aúdo+te, " @irgem venerad9ssima, naquele orvalho dulc9ssimo que do 8oração da 6ant9ssima Crindade se difundiu em ti2 saúdo+te na gl"ria e no jú&ilo com que agora te alegras eternamente, Cu que por preferIncia a todas as criaturas da terra e do 8u, foste eleita ainda antes da criação do mundoS AmmN -+$id ., , 3=5.
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! de /utu$r% de 2&1&
Santa Gertrudes A>ad%s ir>?%s e ir>?s 6anta Rertrudes, a Rrande, de quem gostaria de vos falar hoje, leva+nos esta semana ao mosteiro de Helfta, onde nasceram algumas das o&ras+primas da literatura religiosa feminina latino+alemã. a este mundo que pertence Rertrudes, uma das m9sticas mais famosas, única mulher da Alemanha que rece&eu o apelativo LRrandeN, pela estatura cultural e evanglica) com a sua vida e pensamento, ela incidiu de modo singular so&re a espiritualidade cristã. uma mulher e(traordinária, dotada de particulares talentos naturais e de e(cepcionais dons de graça, de humildade profund9ssima e de %elo ardente pela salvação do pr"(imo, de 9ntima comunhão com :eus na contemplação e de prontidão no socorro aos necessitados. Em Helfta confronta+se, por assim di%er, sistematicamente com a sua mestra ?atilde de HacYe&orn, da qual falei na AudiIncia da quarta+feira passada2 entra em relacionamento com ?atilde de ?agde&urgo, outra m9stica medieval2 e cresce so& o cuidado materno, d"cil e e(igente, da A&adessa Rertrudes. :estas trIs irmãs de há&ito ela enriquece+se com tesouros de e(periIncia e sa&edoria2 ela&ora+os numa s9ntese sua, percorrendo o seu itinerário religioso com confiança ilimitada no 6enhor. E(prime a rique%a da espiritualidade não apenas do seu mundo monástico, mas tam&m e so&retudo do &9&lico, litúrgico, patr9stico e &eneditino, com um tim&re e(tremamente pessoal e com grande eficácia comunicativa.
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>asceu no dia / de #aneiro de 0=/, festa da Epifania, mas nada se sa&e dos seus pais, nem do lugar de nascimento. Rertrudes escreve que o pr"prio 6enhor lhe revela o sentido deste seu primeiro desarraigamento) LEscolhi+a como minha morada, porque me apra% que tudo quanto e(iste de amável nela seja minha o&ra V...W Boi precisamente por este motivo que a afastei de todos os seus parentes, a fim de que ningum a amasse por ra%ão de consanguinidade, e Eu fosse o único motivo do afeto que se lhe reservaN -@e i8elaOi%ni , 0/, 6ena 0443, pp. 7/+775. Entra no mosteiro com cinco anos, em 0/0, como era costume naquela poca, para a formação e o estudo. Ali transcorreu toda a sua e(istIncia, da qual ela mesma assinala as etapas mais significativas. >as suas mem"rias, recorda que o 6enhor a preveniu com paciIncia longFnime e miseric"rdia infinita, esquecendo os anos da infFncia, adolescIncia e juventude, transcorridos M escreve M Lem tal ofuscamento da mente, que teria sido capa% V...W de pensar, di%er ou fa%er sem qualquer remorso tudo aquilo que me fosse do meu agrado e onde quer eu pudesse, se tu me tivesses prevenido, quer com um 9nsito horror do mal e uma inclinação natural para o &em, quer com a vigilFncia e(terna dos outros. Cer+me+ia comportado como uma pagã V...W e isto, em&ora tu quisesses que desde a infFncia, ou seja a partir do meu quinto ano de idade, eu ha&itasse no santuário &endito da religião, para ali ser educada no meio dos teus amigos mais devotosN -+$id., 1, p. 03< s.5. Rertrudes uma estudante e(traordinária, aprende tudo quanto se pode aprender das ciIncias do Cr9vio e do Zuadr9vio, a formação daquela poca2 fascinada pelo sa&er e dedica+se ao estudo profano com fervor e tenacidade, alcançando I(itos escolares para alm de qualquer e(pectativa. Em&ora nada sai&amos das suas origens, ela di%+nos muito das suas pai(Des juvenis) a literatura, a música, o canto e a arte da miniatura conquistam+na2 tem uma 9ndole forte, decidida, imediata e impulsiva2 di% com frequIncia que negligente2 reconhece os seus defeitos e pede humildemente perdão pelos mesmos. 8om humildade, pede conselhos e oraçDes pela sua conversão. Há caracter9sticas do seu temperamento e defeitos que a acompanham at ao fim, a ponto de causar admiração a certas pessoas que se interrogam como o 6enhor a prefere tanto. 8omo estudante, passa a consagrar+se totalmente a :eus na vida monástica e, durante vinte anos, não acontece nada de e(traordinário) o estudo e a oração são a sua atividade principal. 'elos seus dotes, so&ressai entre as irmãs de há&ito2 tena% na consolidação da sua cultura em diversos campos. ?as, durante o Advento de 0;<, começa a sentir desgosto por tudo isto, sente vaidade disto e, a 7 de #aneiro de 0;0, poucos dias antes da festa da 'urificação da @irgem, por volta da hora das 8ompletas, noite, o 6enhor ilumina as suas densas trevas. 8om suavidade e docilidade, acalma a inquietação que a angustia, inquietação que Rertrudes vI como um dom do pr"prio :eus, Lpara a&ater aquela torre de vaidade e de curiosidade que, em&ora infeli%mente tivesse o nome e o há&ito de religiosa,
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eu ia erguendo com a minha so&er&a, para encontrar pelo menos assim o caminho para me mostrar a tua salvaçãoN -+$id. , 0, p. ;75. Ela tem a visão de um jovem que a leva a superar o enredo de espinhos que oprime a sua alma, guiando+a pela mão. >aquela mão, Lo traço precioso daquelas chagas que a&+rogaram todos os atos de acusação dos nossos inimigosN -+$id. , 0, p. ;45, reconhece Aquele que, na 8ru%, nos salvou com o seu sangue, #esus. A partir daquele momento, a sua vida de 9ntima comunhão com o 6enhor intensifica+se, so&retudo nos tempos litúrgicos mais significativos M Advento+ >atal, Zuaresma+'áscoa, festa da @irgem M mesmo quando, doente, não podia ir ao coro. o mesmo 4>us litúrgico de ?atilde, sua mestra, que contudo Rertrudes descreve com imagens, s9m&olos e termos mais simples e lineares, mais realistas, com referIncias mais direta O9&lia, aos 'adres e ao mundo &eneditino. A sua &i"grafa indica dois rumos daquela que poder9amos definir uma sua particular c%n8ers?%RT n%s estud%s com a passagem radical dos estudos human9sticos profanos para os teol"gicos e, na %$ser8Uncia >%nEstica com a passagem da vida que ela define negligente para a vida de oração intensa e m9stica, com um ardor missionário e(traordinário. ! 6enhor, que a tinha escolhido desde o seio materno e desde criança a tinha levado a participar no &anquete da vida monástica, chama+a com a sua graça Ldas coisas e(ternas para a vida interior e das ocupaçDes terrenas para o amor das realidades espirituaisN. Rertrudes compreende que está distante dele, na regi?% da disse>el4anPa como ela di% com 6anto Agostinho2 que se tinha dedicado com demasiada avide% aos estudos li&erais, sa&edoria humana, descuidando a ciIncia espiritual, privando+se do gosto da verdadeira sa&edoria2 agora condu%ida para o monte da contemplação, onde dei(a o homem velho para se revestir do novo. L:e gramática torna+se te"loga, com a leitura incansável e atenta de todos os livros sagrados que podia ter ou encontrar, enchia o seu coração com as frases mais úteis e d"ceis da 6agrada Escritura. 'or isso, tinha sempre pronta alguma palavra inspirada e de edificação com a qual satisfa%er quem ia consultá+la e, ao mesmo tempo, os te(tos das Escrituras mais adequados para rejeitar qualquer opinião errada e fechar a &oca aos seus opositoresN -+$id., 0, p. =5. Rertrudes transforma tudo isto em apostolado) dedica+se a escrever e divulgar a verdade de f com clare%a e simplicidade, graça e persuasão, servindo a greja com amor e fidelidade, a ponto de ser útil e agradável aos te"logos e s pessoas piedosas. esta+nos pouco desta sua intensa atividade, tam&m por causa das vicissitudes que levaram destruição do mosteiro de Helfta. Alm do Araut% d% a>%r di8in% ou das e8elaPVes, dispomos ainda dos IWerc,ci%s espirituaisuma j"ia rara da literatura m9stica espiritual. >a o&servFncia religiosa, a nossa 6anta Luma coluna s"lida V...W firm9ssima propugnadora da justiça e da verdadeN -+$id. , 0, p. /5, di% a sua &i"grafa. 8om as
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palavras e com o e(emplo, suscita nos outros um grande fervor. Xs oraçDes e s penitIncias da regra monástica acrescenta outras, com tanta devoção e tal a&andono confiante em :eus, que chega a suscitar naqueles que a encontram a consciIncia de estar na presença do 6enhor. E com efeito, o pr"prio :eus que a leva a compreender que a chamou para ser instrumento da sua Rraça. :este imenso tesouro divino, Rertrudes sente+se indigna, e confessa que não o conservou nem valori%ou. E(clama) LAi de mimS 6e Cu me tivesses dado como tua recordação, indigna como sou, at um único fio de estopa, contudo eu deveria ter considerado com maior respeito e reverIncia quanto rece&i com teus donsSN -+$id. , =, p. 0<<5. ?as, reconhecendo a sua po&re%a e a sua indignidade, ela adere vontade de :eus, Lporque M afirma M aproveitei tão pouco das tuas graças que não consigo acreditar que tenham sido concedidas unicamente a mim, dado que a tua sa&edoria eterna não pode ser frustrada por ningum. Ba%, portanto, " :oador de todo o &em, que me concedeste gratuitamente dádivas tão indevidas que, lendo este escrito, o coração de pelo menos um dos teus amigos se comova ao pensamento de que o %elo das almas te indu%iu a dei(ar por tanto tempo uma gema de valor tão inestimável no meio do &arro a&ominável do meu coraçãoN -+$id. , =, p. 0<< s.5. Em particular, dois favores são+lhe mais queridos que todos os outros, como a pr"pria Rertrudes escreve) L!s estigmas das tuas chagas salu&res que me imprimiste, como se fossem colares preciosos, no coração2 e a profunda e salutar ferida de amor com que me marcaste. Cu inundaste+me com estes dons de tanta &em+aventurança que, mesmo se eu vivesse mil anos sem qualquer consolação interna ou e(terna, a sua recordação seria suficiente para me confortar, iluminar e encher de gratidão. Zuiseste ainda introdu%ir+me na intimidade inestimável da tua ami%ade, a&rindo+me de várias formas aquele sacrário no&il9ssimo da sua :ivindade, que o teu 8oração divino V...W A este acúmulo de &enef9cios acrescentaste outro, concedendo+me como Advogada a 6ant9ssima @irgem ?aria, tua ?ãe, e recomendando+me com frequIncia ao seu carinho, como o mais fiel dos esposos poderia recomendar pr"pria mãe a sua dileta esposaN -+$id. , 1, p. 03=5. !rientada para a comunhão sem fim, conclui a sua vicissitude terrena no dia 07 de >ovem&ro de 01<0, ou 01<, com cerca de 3/ anos. >o stimo E(erc9cio, o da preparação para a morte, 6anta Rertrudes escreve) L\ #esus, Cu que me s imensamente querido, está sempre comigo, para que o meu coração permaneça contigo e o teu amor persevere comigo, sem possi&ilidade de separação, e o meu trFnsito seja a&ençoado por ti, de tal modo que o meu esp9rito, livre dos v9nculos da carne, possa encontrar repouso imediatamente em ti. AmmSN -IserciOi ?ilão <, p. 03;5. 'arece+me "&vio que estas não são apenas coisas do passado, hist"ricas, mas a e(istIncia de 6anta Rertrudes permanece uma escola de vida cristã, de caminho reto, e mostra+nos que o centro de uma vida feli%, de uma vida autIntica, a
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ami%ade com #esus, o 6enhor. E esta ami%ade aprende+se no amor pela 6agrada Escritura, no amor pela liturgia, na f profunda, no amor por ?aria, de maneira a conhecer cada ve% mais realmente o pr"prio :eus e assim a verdadeira felicidade, a meta da nossa vida.
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Beata Ângela de Foligno Isti>ad%s ir>?%s e ir>?s Hoje gostaria de vos falar so&re a Oeata ]ngela de Boligno, uma grande m9stica medieval que viveu no sculo P. Reralmente, ficamos fascinados diante dos ápices da e(periIncia de união com :eus que ela conseguiu alcançar, mas talve% sejam considerados demasiado pouco os primeiros passos, a sua conversão e o longo caminho que a levou desde o ponto de partida, o Lgrande medo do infernoN, at meta, que a união total com a Crindade. A primeira parte da vida de ]ngela não certamente a de uma fervorosa disc9pula do 6enhor. Cendo nascido por volta de 03; numa fam9lia a&astada, ela permaneceu "rfã de pai e foi educada pela mãe de modo &astante superficial. ?uito cedo, foi introdu%ida nos am&ientes mundanos da cidade de Boligno, onde conheceu um homem com o qual casou aos vinte anos e do qual teve alguns filhos. evava uma vida despreocupada, a ponto de se permitir despre%ar os chamados LpenitentesN M muito difundidos naquela poca M ou seja, aqueles que para seguir 8risto vendiam os pr"prios &ens e viviam na oração, no jejum, no serviço greja e na caridade. Alguns acontecimentos, como o violento tremor de terra de 074, um furacão, a prolongada guerra contra 'erúsia e as suas duras consequIncias incidem na vida de ]ngela, que progressivamente adquire consciIncia dos pr"prios pecados, at chegar a um passo decisivo) invoca 6ão Brancisco, que lhe aparece em visão, para lhe pedir conselho em vista de uma &oa 8onfissão geral que devia reali%ar) estamos
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no ano de 0;=2 ]ngela confessa+se a um frade em 6ão Beliciano. CrIs anos mais tarde, o caminho da conversão conhece mais uma mudança) a dissolução dos v9nculos afetivos porque, em poucos meses, morte da mãe seguem+se a do marido e de todos os seus filhos. Então, vende os seus &ens e, em 040, adere Cerceira !rdem de 6ão Brancisco. Balece em Boligno no dia 3 de #aneiro de 01<4. / li8r% da Beata ngela de %lign%, em que está contida a documentação a prop"sito da nossa Oeata, narra esta conversão2 indica os meios necessários para isto) a penitIncia, a humildade e as tri&ulaçDes2 e descreve as suas passagens, a sucessão das e(periIncias de ]ngela, que começaram em 0;=. ecordando+as, depois de as ter vivido, ela procurou narrá+las atravs do Brade confessor, que as transcreveu procurando sucessivamente disp$+las em etapas, s quais chamou Lpassos ou mudançasN, mas sem conhecer ordená+las plenamente -cf. +l @i$r% della $eata Angela da %lign%, 8inisello Oalsamo 044<, pág. =05. sto porque a e(periIncia de união para a Oeata ]ngela um envolvimento total dos sentidos espirituais e corporais, e daquilo que ela LcompreendeN durante as suas I(tases s" permanece, por assim di%er, uma Lsom&raN na sua mente. L!uvi verdadeiramente estas palavras M confessa ela depois de um arre&atamento m9stico M mas aquilo que eu vi e compreendi, e que Ele Vou seja, :eusW me mostrou, não sei nem posso di%I+lo de qualquer modo2 não o&stante, revelaria de &om grado aquilo que entendi com as palavras que ouvi, mas foi um a&ismo a&solutamente inefávelN. ]ngela de Boligno apresenta a sua LvivInciaN m9stica, sem a ela&orar com a mente, uma ve% que são iluminaçDes divinas que se comunicam sua alma de maneira repentina e inesperada. ! pr"prio Brade confessor tem dificuldade em descrever tais acontecimentos, Ltam&m por causa da sua grande e admirável discrição em relação aos dons divinosN -+$id., pág. 0435. X dificuldade que ]ngela tem de descrever a sua e(periIncia m9stica, acrescenta+se inclusive a dificuldade para os seus ouvintes de a compreender. Tma situação que indica claramente como o único e verdadeiro ?estre, #esus, vive no coração de cada crente e deseja tomar posse total do mesmo. Assim ocorreu em ]ngela, que escrevia a um dos seus filhos espirituais) L?eu filho, se tu visses o meu coração, serias a&solutamente o&rigado a fa%er tudo quanto :eus deseja, porque o meu coração o de :eus, e o coração de :eus o meuN. essoam aqui as palavras de 6ão 'aulo) L#á não sou eu que vivo2 8risto que vive em mimN -Gl , <5. Então, consideremos aqui unicamente alguns LpassosN do rico caminho espiritual da nossa Oeata. ! primeiro, na realidade, uma premissa) LBoi o conhecimento do pecado M como ela mesma esclarece M a seguir ao qual a alma teve um grande medo de ser condenada2 neste passo, chorou amargamenteN -+l @i$r% della $eata Angela da %lign%, pág. 145. Este LmedoN do inferno corresponde ao tipo de f que ]ngela tinha no momento da sua LconversãoN2 uma f ainda po&re de caridade, ou seja, do amor de :eus. Arrependimento, medo do inferno e penitIncia a&rem a ]ngela a perspectiva do doloroso Lcaminho da cru%N que, do oitavo ao dcimo quinto passo, a levará depois pelo Lcaminho do amorN. ! Brade confessor narra)
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LEntão, a fiel disse+me) tive esta revelação divina) J:epois daquilo que foi escrito, manda escrever que quem quiser conservar a graça, não deve afastar os olhos da alma da 8ru%, tanto na alegria como na triste%a que lhe concedo ou permitoKN -+$id., pág. 0315. ?as nesta fase, ]ngela ainda Lnão sente o amorN2 ela afirma) LA alma sente vergonha e amargura, e ainda não e(perimenta o amor, mas sim a dorN -+$id., pág. 145, e sente+se insatisfeita. ]ngela sente que deve dar algo a :eus para reparar os seus pecados, mas lentamente compreende que nada tem para lhe oferecer, aliás, que Lnão nadaN diante dele2 entende que não será a sua vontade que lhe dará o amor de :eus, porque ela s" pode dar+lhe o seu LnadaN, o LdesamorN. 8omo ela mesma dirá) apenas Lo amor verdadeiro e puro, que vem de :eus, está na alma e fa% com que ela reconheça os pr"prios defeitos e a &ondade divina V...W Cal amor leva a alma a 8risto e ela compreende com segurança que não se pode verificar nem haver qualquer engano. A tal amor não se pode misturar algo deste mundoN -+$id., págs. 03+0=5. A&rir+se única e totalmente ao amor de :eus, que tem a má(ima e(pressão em 8risto) L\ meu :eus M re%a ela M tornai+me digna de conhecer o mistrio e(celso, que o vosso amor ardent9ssimo e inefável reali%ou, juntamente com o amor pela Crindade, ou seja, o mistrio alt9ssimo da vossa sant9ssima encarnação por n"s V...W \ amor incompreens9velS Acima deste amor, que fe% com que o meu :eus se tenha feito homem para me fa%er :eus, não e(iste amor maiorN -+$id., pág. 4=5. Codavia, o coração de ]ngela tra% sempre as feridas do pecado2 mesmo depois de uma 8onfissão &em feita, ela sentia+se perdoada mas ainda angustiada pelo pecado, livre mas condicionada pelo passado, a&solvida mas carente de penitIncia. E inclusive o pensamento do inferno a acompanha, pois quanto mais a alma progredir pelo caminho da perfeição cristã, tanto mais ela se há+de convencer não s" que LindignaN, mas que merecedora do inferno. E eis que, ao longo do seu caminho m9stico, ]ngela compreende de modo profundo a realidade central) aquilo que a salvará da sua LindignidadeN e do Lmerecimento do infernoN não será a sua Lunião com :eusN, nem a sua posse da LverdadeN, mas sim #esus crucificado, La sua crucifi(ão por mimN, o seu amor. >o oitavo passo ela di%) L8ontudo, eu ainda não entendia se era um &em maior a minha li&ertação dos pecados e do inferno, e a conversão penitIncia, ou então a sua crucifi(ão por mimN -+$id., pág. 305. Crata+se do equil9&rio instável entre amor e dor, que ela sentia em todo o seu dif9cil caminho rumo perfeição. 'recisamente por isso, contempla de preferIncia 8risto crucificado, porque em tal visão ela vI reali%ado o equil9&rio perfeito) na cru% está o homem+:eus, num supremo gesto de sofrimento que um ato supremo de amor. >a terceira +nstruP?% a Oeata insiste so&re esta contemplação, afirmando) LZuanto mais perfeita e puramente virmos, tanto mais perfeita a puramente amaremos V...W 'or isso, quanto mais virmos :eus e o homem #esus 8risto, tanto mais seremos transformados nele atravs do amor V...W Aquilo que eu disse do amor V...W digo+o tam&m da dor) quanto mais a alma contempla a dor inefável de :eus e do homem #esus 8risto, tanto mais sofre e transformada
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em dorN -+$id., págs. 04<+0405. dentificar+se, transformar+se no amor e nos sofrimentos de 8risto crucificado, identificar+se com Ele. A conversão de ]ngela, que teve in9cio com aquela 8onfissão de 0;=, s" alcançará o amadurecimento quando o perdão de :eus aparecer na sua alma como a dádiva gratuita de amor do 'ai, nascente de amor) L>ingum pode desculpar+se M afirma ela M porque todos podem amar a :eus, e Ele s" pede alma que o ame, uma ve% que Ele a ama e o seu amorN -+$id., pág. 7/5. >o itinerário espiritual de ]ngela, a passagem da conversão para a e(periIncia m9stica, daquilo que se pode e(pressar para o que inefável, tem lugar atravs do 8rucificado. o L:eus+homem apai(onadoN que se torna o seu Lmestre de perfeiçãoN. Coda a sua e(periIncia m9stica consiste, portanto, em tender para uma LsemelhançaN perfeita com Ele, mediante purificaçDes e transformaçDes cada ve% mais profundas e radicais. A este maravilhoso empreendimento, ]ngela dedica+se inteiramente, de alma e corpo, sem se poupar a penitIncias e tri&ulaçDes, desde o in9cio at ao fim, desejando morrer com todos os sofrimentos padecidos pelo :eus+ homem crucificado, para ser transformada totalmente nele) L\ filhos de :eus M ela recomendava M transformai+vos totalmente no :eus+homem apai(onado, que vos amou a ponto de se dignar morrer por v"s com uma morte e(tremamente ignominiosa, total e inefavelmente dolorosa, de modo penos9ssimo e amargu9ssimo. E isto somente por amor a ti, " homemSN -+$id., pág. 375. Esta identificação significa tam&m viver aquilo que #esus viveu) po&re%a, despre%o e dor, porque M como ela afirma M Latravs da po&re%a temporal, a alma encontrará rique%as eternas2 mediante o despre%o e a vergonha, ela alcançará a suma honra e uma gl"ria e(celsa2 atravs de um pouco de penitIncia, feita com esforço e dor, possuirá com infinita docilidade e consolação o sumo Oem, :eus eternoN -+$id., pág. 415. :a conversão união m9stica com 8risto crucificado, ao inefável. Tm caminho elevad9ssimo, cujo segredo a oração constante) LZuanto mais re%ares M afirma ela M tanto mais serás iluminado2 quanto mais fores iluminado, tanto mais profunda e intensamente verás o sumo Oem, o 6er sumamente &om2 quanto mais profunda e intensamente ! vires, tanto mais ! amarás2 quanto mais ! amares, tanto mais serás feli%2 e quanto mais fores feli%, tanto mais compreenderás e serás capa% de o compreender. Em seguida, chegarás plenitude da lu%, porque entenderás que não podes compreenderN -+$id., pág. 0;35. Estimados irmãos e irmãs, a vida da Oeata ]ngela começa com uma e(istIncia mundana, &astante distante de :eus. ?as depois, o encontro com a figura de 6ão Brancisco e, finalmente, o encontro com 8risto crucificado, desperta a alma para a presença de :eus, para o fato de que somente com :eus a e(istIncia se torna verdadeiramente vida porque se torna, na dor pelo pecado, amor e alegria. E assim nos fala a Oeata ]ngela. Hoje todos n"s corremos o perigo de viver como se :eus não e(istisse) Ele parece tão distante da vida contemporFnea. ?as :eus tem mil
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modos, para cada um o seu, de se fa%er presente na alma, de mostrar que e(iste, que me conhece e me ama. E a Oeata ]ngela quer chamar a nossa atenção para estes sinais, com os quais o 6enhor sensi&ili%a a nossa alma, atentos presença de :eus, para aprendermos assim o caminho com :eus e rumo a :eus, na comunhão com 8risto crucificado. !remos ao 6enhor para que nos torne atentos aos sinais da sua presença, que nos ensine a viver realmente.
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Santa Isabel da Hungria uerid%s ir>?%s e ir>?s Hoje gostaria de vos falar de uma das mulheres da dade ?dia que suscitou maior admiração) trata+se de 6anta sa&el da Hungria, chamada tam&m sa&el de Cur9ngia. >asceu em 0<72 os historiadores de&atem so&re o lugar. 6eu pai era Andr , rico e poderoso rei da Hungria que, para fortalecer os laços pol9ticos, casou com a condessa alemã Rertrudes de Andechs+?erFnia, irmã de 6anta Edviges, que era esposa do duque da 6ilsia. sa&el viveu na 8orte húngara s" os primeiros quatro anos da sua infFncia, com uma irmã e trIs irmãos. Rostava dos jogos, da música e da dança2 recitava fielmente as suas preces e já prestava atenção especial aos po&res, os quais ajudava com uma &oa palavra ou com um gesto carinhoso. A sua infFncia feli% foi &ruscamente interrompida quando, da long9nqua Cur9ngia, chegaram alguns cavaleiros com a finalidade de a levar para a sua nova sede na Alemanha central. 8om efeito, segundo a tradição dessa poca seu pai decidiu que sa&el se tornasse princesa da Cur9ngia. ! landgrave ou conde dessa região era um dos so&eranos mais ricos e influentes da Europa no in9cio do sculo P, e o seu castelo era centro de magnificIncia e cultura. ?as por detrás das festas e da aparente gl"ria escondiam+se as am&içDes dos pr9ncipes feudais, muitas ve%es em guerra entre si e em conflito com as autoridades reais e imperiais. >este conte(to, o landgrave Hermann acolheu de &om grado o noivado entre seu filho udovico e a
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princesa húngara. sa&el partiu da sua pátria com um rico dote e um grande squito, inclusive com as suas servas pessoais, duas das quais foram suas amigas fiis at ao fim. Boram elas que nos dei(aram preciosas informaçDes so&re a infFncia e a vida da 6anta. Ap"s uma longa viagem, chegaram a Eisenach, para depois su&irem fortale%a de ^art&urg, o castelo maciço acima da cidade. Ali cele&rou+se o noivado entre udovico e sa&el. >os anos seguintes, enquanto udovico aprendia a profissão de cavaleiro, sa&el e as suas companheiras estudavam alemão, francIs, latim, música, literatura e &ordado. Em&ora o noivado tenha sido decidido por motivos pol9ticos, entre os dois jovens nasceu um amor sincero, animado pela f e pelo desejo de cumprir a vontade de :eus. Aos 0; anos, udovico, depois da morte do pai, começou a reinar na Cur9ngia. ?as sa&el tornou+se o&jeto de murmúrios, porque o seu modo de se comportar não correspondia vida cortesã. Assim, tam&m a cele&ração do matrim$nio não foi pomposa e as despesas para o &anquete foram parcialmente destinadas aos po&res. >a sua profunda sensi&ilidade, sa&el via as contradiçDes entre a f professada e a prática cristã. >ão suportava os comprometimentos. 8erta ve%, ao entrar na igreja na solenidade da Assunção, tirou a coroa, dep$+la diante da cru% e permaneceu prostrada no chão com o rosto co&erto. Zuando a sogra a repreendeu por aquele gesto, ela retorquiu) L8omo posso eu, criatura miserável, continuar a tra%er uma coroa de dignidade terrena, quando vejo o meu ei #esus 8risto coroado de espinhosUN. :o mesmo modo como se comportava diante de :eus, tam&m o fa%ia em relação aos sú&ditos. Entre os Kit%s das quatr% ser8as encontramos este testemunho) L>ão consumia alimentos se antes não estivesse certa de que provinham das propriedades e dos &ens leg9timos do marido. Enquanto se a&stinha dos &ens conquistados ilicitamente, esforçava+se tam&m por indeni%ar aqueles que tinham suportado violInciaN -nn. = e 175. Tm verdadeiro e(emplo para todos aqueles que desempenham funçDes de guia) o e(erc9cio da autoridade, a todos os n9veis, deve ser vivido como serviço justiça e caridade, na &usca constante do &em comum. sa&el praticava assiduamente as o&ras de miseric"rdia) dava de &e&er e de comer a quem &atia sua porta, oferecia roupas, pagava as d9vidas, cuidava dos enfermos e enterrava os mortos. Zuando descia do seu castelo, ia muitas ve%es com as suas servas s casas dos po&res, levando pão, carne, farinha e outros alimentos. Entregava pessoalmente a comida e controlava com atenção as roupas e os leitos dos po&res. Este comportamento foi referido ao marido, que não s" não se lamentou, mas respondeu aos acusadores) LEnquanto ela não vender o meu castelo, estou feli%SN. neste conte(to que se insere o milagre do pão transformado em rosas) quando sa&el ia pelo caminho com o seu avental cheio de pão para os po&res, encontrou o marido que lhe perguntou o que estava a levar. Ela a&riu o avental e, em ve% de pão, apareceram rosas magn9ficas. Este s9m&olo de caridade está presente muitas ve%es nas representaçDes de 6anta sa&el.
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! seu matrim$nio foi profundamente feli%) sa&el ajudava o c$njuge a elevar as suas qualidades humanas a n9vel so&renatural, e ele, em contrapartida, protegia a esposa na sua generosidade aos po&res e nas suas práticas religiosas. 8ada ve% mais admirado pela grande f da sua esposa, udovico, referindo+se sua atenção aos po&res, disse+lhe) LAmada sa&el, foi 8risto que lavaste, alimentaste e cuidasteN. Tm claro testemunho do modo como a f e o amor a :eus e ao pr"(imo fortalecem a vida familiar e tornam ainda mais profunda a união matrimonial. ! jovem casal encontrou apoio espiritual nos Brades ?enores que, a partir de 0, se difundiram na Cur9ngia. Entre eles, sa&el escolheu frei ogrio -_diger5 como diretor espiritual. Zuando ele lhe narrou a vicissitude da conversão do jovem e rico comerciante Brancisco de Assis, sa&el entusiasmou+se ulteriormente no seu caminho de vida cristã. A partir desse momento, decidiu+se ainda mais a seguir 8risto po&re e crucificado, presente nos po&res. ?esmo quando nasceu o primeiro filho, seguido depois por outros dois, a nossa 6anta nunca descuidou as suas o&ras de caridade. Alm disso, ajudou os Brades ?enores a construir em Hal&erstadt um convento do qual frei ogrio se tornou superior. Assim, a direção espiritual de sa&el passou para 8onrado de ?ar&urgo. Tma dura prova foi o adeus ao marido, no final de #unho de 07, quando udovico @ se associou cru%ada do imperador Brederico , recordando esposa que se tratava de uma tradição para os so&eranos da Cur9ngia. sa&el respondeu) L>ão te impedirei. Entreguei+me totalmente a :eus e agora devo dar+lhe tam&m a tiN. 'orm, a fe&re di%imou as tropas e o pr"prio udovico adoeceu e faleceu com 7 anos em !tranto, antes de em&arcar, em 6etem&ro de 07. Zuando rece&eu a not9cia, sa&el ficou tão amargurada que se retirou em solidão, mas depois, fortalecida pela oração e consolada pela esperança de o rever no 8u, recomeçou a interessar+se pelos assuntos do reino. 8ontudo, outra prova esperava+a) o seu cunhado usurpou o governo da Cur9ngia, declarando+se autIntico herdeiro de udovico e acusando sa&el de ser uma mulher piedosa mas incompetente no governo. A jovem viúva, com os trIs filhos, foi e(pulsa do castelo de ^art&urg e p$s+se em &usca de um lugar onde se refugiar. 6" duas servas permaneceram ao seu lado, a acompanharam e confiaram os trIs filhos aos cuidados dos amigos de udovico. 'eregrinando pelas aldeias, sa&el tra&alhava onde era acolhida, assistia os doentes, fiava e costurava. :urante este calvário suportado com grande f, com paciIncia e dedicação a :eus, alguns parentes, que tinham permanecido fiis a ela e consideravam ileg9timo o governo do cunhado, rea&ilitaram o seu nome. Assim sa&el, no in9cio de 0;, p$de rece&er uma renda apropriada para se retirar no castelo de fam9lia em ?ar&urgo, onde ha&itava tam&m o seu diretor espiritual, frei 8onrado. Boi ele que referiu ao 'apa Rreg"rio P o seguinte acontecimento) L>a 6e(ta+Beira 6anta de 0;, pondo as mãos no altar da capela da sua cidade de Eisenach, onde tinha acolhido os Brades ?enores, na presença de alguns frades e familiares, sa&el renunciou pr"pria vontade e a todas as vaidades do mundo. Ela queria renunciar tam&m a todas as posses, mas eu desaconselhei+a por amor aos
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po&res. 'ouco tempo mais tarde, construiu um hospital, recolheu doentes e inválidos e serviu sua mesa os mais miseráveis e desamparados. Zuando a repreendi por estes gestos, sa&el respondeu que dos po&res rece&ia uma especial graça e humildadeN -Ipistula >agistri C%nradi 03+075. 'odemos entrever nesta afirmação uma certa e(periIncia m9stica, semelhante que viveu 6ão Brancisco) com efeito, no seu Cestamento o 'o&re%inho de Assis declarou que, servindo os leprosos, aquilo que antes era amargo se transformou em docilidade da alma e do corpo -cf. :esta>entu> 0+15. sa&el transcorreu os últimos trIs anos no hospital por ela fundado, servindo os doentes e velando so&re os mori&undos. 'rocurava desempenhar sempre os serviços mais humildes e os tra&alhos mais repugnantes. Ela tornou+se aquela que poder9amos definir uma mulher consagrada no meio do mundo -s%r%r in saecul%5 e, com outras suas amigas vestidas de há&itos cin%entos, formou uma comunidade religiosa. >ão por acaso que 'adroeira da Cerceira !rdem egular de 6ão Brancisco e da !rdem Branciscana 6ecular. Em >ovem&ro de 010 foi atingida por uma fe&re forte. Zuando a not9cia da sua enfermidade se propagou, muitas pessoas acorreram para a ver. :epois de cerca de de% dias, pediu que as portas fossem fechadas, para permanecer so%inha com :eus. >a noite de 07 de >ovem&ro adormeceu docilmente no 6enhor. !s testemunhos so&re a sua santidade foram tão numerosos e tais que, s" quatro anos mais tarde, o 'apa Rreg"rio P proclamou+a 6anta e, nesse mesmo ano, foi consagrada a &onita igreja constru9da em sua honra em ?ar&urgo. Estimados irmãos e irmãs, na figura de 6anta sa&el vemos como a f e a ami%ade com 8risto criam o sentido da justiça, da igualdade de todos, dos direitos dos outros, e criam o amor e a caridade. E desta caridade nascem inclusive a esperança e a certe%a de que somos amados por 8risto, e que o amor de 8risto nos espera, tornando+nos assim capa%es de imitar 8risto e de ! ver nos outros. 6anta sa&el convida+nos a redesco&rir 8risto, a amá+lo, a ter f e deste modo a encontrar a verdadeira justiça e o amor, assim como a alegria de que um dia seremos imersos no Amor divino, na alegria da eternidade com :eus.
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27 de /utu$r% de 2&1&
Santa Brígida da Suécia Isti>ad%s ir>?%s e ir>?s >a frvida vig9lia do Rrande #u&ileu do Ano <<<, o @enerável 6ervo de :eus #oão 'aulo proclamou 6anta Or9gida da 6ucia co+'adroeira de toda a Europa. Hoje de manhã, gostaria de apresentar a sua figura, a sua mensagem e os motivos pelos quais esta santa mulher tem muito a ensinar M ainda hoje M greja e ao mundo. 8onhecemos &em os acontecimentos da vida de 6anta Or9gida, porque os seus padres espirituais redigiram a sua &iografia para promover o seu processo de canoni%ação imediatamente depois da sua morte, ocorrida em 0171. Or9gida nasceu setenta anos antes, em 01<1, em Binster, na 6ucia, uma nação do norte da Europa que, havia trIs sculos, tinha acolhido a f cristã com o mesmo entusiasmo com que a 6anta a rece&era dos seus pais, pessoas muito piedosas, pertencentes a no&res fam9lias pr"(imas da 8asa reinante. 'odemos distinguir d%is per,%d%s na vida desta 6anta. ! primeiro caracteri%ado pela sua condição de mulher feli%mente casada. ! marido chamava+se Tlf e era governador de um importante distrito do eino da 6ucia. ! matrim$nio durou vinte e oito anos, at morte de Tlf. >asceram oito filhos, dos quais a segunda `arin -8atarina5, venerada como 6anta. sto um sinal eloquente do compromisso educativo de Or9gida em relação aos seus pr"prios
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filhos. :e resto, a sua sa&edoria pedag"gica foi apreciada a tal ponto, que o rei da 6ucia, ?agnus, a chamou corte por um certo per9odo, com a finalidade de introdu%ir a sua jovem esposa, Oianca de >amur, na cultura sueca. Or9gida, espiritualmente guiada por um douto religioso que a iniciou no estudo das Escrituras, e(erceu uma influIncia muito positiva so&re a pr"pria fam9lia que, graças sua presença, se tornou uma verdadeira Ligreja domsticaN. #untamente com o marido, adotou a egra dos Cerciários franciscanos. 'raticava com generosidade o&ras de caridade em prol dos indigentes2 fundou tam&m um hospital. Ao lado da sua esposa, Tlf aprendeu a melhorar a sua 9ndole e a progredir na vida cristã. Zuando regressou de uma longa peregrinação a 6antiago de 8ompostela, reali%ada em 0130 juntamente com outros mem&ros da fam9lia, os c$njuges amadureceram o projeto de viver em continIncia2 mas pouco tempo mais tarde, na pa% de um mosteiro onde se tinha retirado, Tlf concluiu a sua vida terrena. Este primeiro per9odo da vida de Or9gida ajuda+nos a apreciar aquela que hoje poder9amos definir uma autIntica Lespiritualidade conjugalN) juntos, os c$njuges cristãos podem percorrer um caminho de santidade, sustentados pela graça do 6acramento do ?atrim$nio. >ão poucas ve%es, precisamente como aconteceu na vida de 6anta Or9gida e de Tlf, a mulher que, com a sua sensi&ilidade religiosa, com a delicade%a e a docilidade consegue levar o marido a percorrer um caminho de f. 'enso com reconhecimento em muitas mulheres que, dia ap"s dia, ainda hoje iluminam as pr"prias fam9lias com o seu testemunho de vida cristã. 'ossa o Esp9rito do 6enhor suscitar tam&m nos dias de hoje a santidade dos c$njuges cristãos, para mostrar ao mundo a &ele%a do matrim$nio vivido segundo os valores do Evangelho) o amor, a ternura, a ajuda rec9proca, a fecundidade na geração e na educação dos filhos, a a&ertura e a solidariedade para com o mundo e a participação na vida da greja. Zuando Or9gida ficou viúva, teve in9cio % segund% per,%d% da sua 8ida. enunciou a outras &odas para aprofundar a união com o 6enhor atravs da oração, da penitIncia e das o&ras de caridade. 'ortanto, tam&m as viúvas cristãs podem encontrar nesta 6anta um modelo a seguir. 8om efeito, ap"s a morte do marido, Or9gida distri&uiu os seus pr"prios &ens aos po&res e, mesmo sem jamais aceder consagração religiosa, esta&eleceu+se no mosteiro cisterciense de Alvastra. Ali tiveram in9cio as revelaçDes divinas, que a acompanharam durante o resto da sua vida. Elas foram ditadas por Or9gida aos seus secretários+confessores, que as tradu%iram do sueco para o latim e as reuniram numa edição de oito livros, intitulados e8elati%nes -evelaçDes5. A estes livros acrescenta+se um suplemento, que tem como t9tulo precisamente e8elati%nes eWtra8agantes-evelaçDes suplementares5.
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As e8elaPVes de 6anta Or9gida apresentam um conteúdo e um estilo muito diversificados. Xs ve%es a revelação apresenta+se so& a forma de diálogos entre as 'essoas divinas, a @irgem, os 6antos e at os dem$nios2 diálogos em que tam&m Or9gida intervm. !utras ve%es, ao contrário, trata+se da narração de uma visão particular2 e noutras ainda narra+se aquilo que a @irgem ?aria lhe revela acerca da vida e dos mistrios do Bilho. ! valor das e8elaPVes de 6anta Or9gida, por ve%es o&jeto de algumas dúvidas, foi especificado pelo @enerável #oão 'aulo , na 8arta Spes aedificandiT LA greja, ao reconhecer a santidade de Or9gida, mesmo sem se pronunciar so&re cada uma das revelaçDes, acolheu a autenticidade do conjunto da sua e(periIncia interiorN -n. =5. 8om efeito, lendo estas e8elaPVes somos interpelados so&re muitos temas importantes. 'or e(emplo, volta+se a descrever frequentemente, com pormenores &astante realistas, a 'ai(ão de 8risto, pela qual Or9gida teve sempre uma devoção privilegiada, contemplando nela o amor infinito de :eus pelos homens. >os lá&ios do 6enhor que lhe fala, ela pDe com audácia estas palavras comovedoras) L\, meus amigos, Eu amo tão ternamente as minhas ovelhas que, se fosse poss9vel, gostaria de morrer muitas outras ve%es, por cada uma delas, daquela mesma morte que padeci pela redenção de todas elasN -e8elati%nes ivro , 8. =45. Cam&m a dolorosa maternidade de ?aria, que a tornou ?ediadora e ?ãe de miseric"rdia, um argumento que aparece com frequIncia nas e8elaPVes. Ao rece&er estes carismas, Or9gida estava consciente de ser destinatária de um dom de grande predileção da parte do 6enhor) L?inha filha M lemos no primeiro ivro das e8elaPVes M Eu escolhi+te para mim2 ama+me com todo o seu coração... mais do que tudo quanto e(iste no mundoN -c. 05. :e resto, Or9gida sa&ia &em, e disto estava firmemente convencida, que cada carisma está destinado a edificar a greja. 'recisamente por este motivo, não poucas das suas revelaçDes eram dirigidas, em forma de admoestaçDes at severas, aos fiis do seu tempo, tam&m s Autoridades religiosas e pol9ticas, a fim de que vivessem coerentemente a sua vida cristã2 mas fa%ia isto sempre com uma atitude de respeito e de fidelidade integral ao ?agistrio da greja, de modo particular ao 6ucessor do Ap"stolo 'edro. Em 0134, Or9gida dei(ou para sempre a 6ucia e veio em peregrinação a oma. >ão s" tencionava participar no #u&ileu de 01=<, mas tam&m desejava o&ter do 'apa a aprovação da egra de uma !rdem religiosa que ela queria fundar, intitulada ao 6anto 6alvador, e composta por monges e monjas so& a autoridade da a&adessa. Crata+se de um elemento que não nos deve surpreender) na dade ?dia e(istiam fundaçDes monásticas com um ramo masculino e outro feminino, mas com a prática da mesma regra monástica, que previa a direção de uma a&adessa. 8om efeito, na grande tradição cristã, mulher são reconhecidos a pr"pria dignidade e M sempre a e(emplo de ?aria, ainha dos Ap"stolos M o pr"prio lugar na greja que, sem coincidir com o sacerd"cio ordenado, igualmente importante para o
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crescimento espiritual da 8omunidade. Alm disso, a cola&oração de consagrados e de consagradas, sempre no respeito pela sua vocação espec9fica, tem uma grande importFncia no mundo contemporFneo. Em oma, acompanhada pela filha `arin, Or9gida dedicou+se a uma vida de intenso apostolado e de oração. E de oma partiu em peregrinação a vários santuários italianos, em particular a Assis, pátria de 6ão Brancisco, por quem Or9gida nutriu sempre uma grande devoção. Binalmente, em 0170, coroou a sua maior aspiração) a viagem Cerra 6anta, aonde foi em companhia dos seus filhos espirituais, um grupo ao qual Or9gida chamava Los amigos de :eusN. :urante aqueles anos, os 'ont9fices encontravam+se em Avinhão, longe de oma) Or9gida dirigiu+se sentidamente a eles, a fim de que voltassem para a 6 de 'edro, na 8idade Eterna. Baleceu em 0171, antes que o 'apa Rreg"rio P tivesse voltado definitivamente para oma. Boi sepultada provisoriamente na igreja romana de 6ão ourenço Lin 'anispernaN, mas em 0173 os seus filhos Oirger e `arin trasladaram+na para a pátria, no mosteiro de @adstena, sede da !rdem religiosa fundada por 6anta Or9gida, que conheceu imediatamente uma e(pansão notável. Em 0140 o 'apa Oonifácio i( canoni%ou+a solenemente. A santidade de Or9gida, caracteri%ada pela multiplicidade dos dons e das e(periIncias que eu quis recordar neste &reve perfil &iográfico+espiritual, fa% dela uma figura eminente na hist"ria da Europa. 'roveniente da Escandinávia, 6anta Or9gida testemunha como o cristianismo permeou profundamente a vida de todos os povos deste 8ontinente. :eclarando+a co+'adroeira da Europa, o 'apa #oão 'aulo fe% votos por que 6anta Or9gida que viveu no sculo P@, quando a cristandade ocidental ainda não estava ferida pela divisão M possa interceder junto de :eus, para o&ter a graça tão almejada da plena unidade de todos os cristãos. 'or esta mesma intenção, que por n"s muito desejada, e para que a Europa sai&a alimentar+se sempre a partir das suas ra9%es cristãs, queremos re%ar, caros irmãos e irmãs, invocando a poderosa intercessão de 6anta Or9gida da 6ucia, disc9pula fiel de :eus e co+'adroeira da Europa.
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de %8e>$r% de 2&1&
Margarida de ingt uerid%s ir>?%s e ir>?s 8om ?argarida de !ingt, de quem gostaria de vos falar hoje, somos introdu%idos na espiritualidade cartu(a, que se inspira na s9ntese evanglica vivida e proposta por 6ão Oruno. >ão sa&emos a data do seu nascimento, em&ora alguns afirmem que ocorreu por volta de 03<. ?argarida provm de uma fam9lia poderosa de antiga no&re%a da região de ião, os !ingt. 6a&emos que tam&m a mãe se chamava ?argarida, e que tinha dois irmãos M Ruiscardo e u9s M e trIs irmãs) 8atarina, sa&el e nIs. Esta última segui+la+á no mosteiro, na 8artu(a, sucedendo+ lhe em seguida como priora. >ão dispomos de not9cias acerca da sua infFncia, mas dos seus escritos podemos intuir que a transcorreu tranquilamente, num am&iente familiar carinhoso. 8om efeito, para manifestar o amor ilimitado de :eus, ela valori%a muito as imagens ligadas fam9lia, com referIncia particular s figuras do pai e da mãe. >uma das suas meditaçDes, ela re%a assim) LOom e d"cil 6enhor, quando penso nas graças especiais que me concedeste pela tua solicitude) em primeiro lugar, como me conservaste desde a minha infFncia, e como me su&tra9ste do perigo deste mundo e me chamaste para que eu me dedicasse ao teu santo serviço, e como me ofereceste tudo o que me era necessário para comer, &e&er, vestir e calçar -e fi%este+o5, de tal modo que eu não tive necessidade de pensar em tudo isto, a não ser na tua grande
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miseric"rdiaN -?argarida de !ingt,Scritti spirituali ?editação @, 0<<, 8inisello Oalsamo 0447, pág. 735. :as suas meditaçDes intu9mos tam&m que entrou na 8artu(a de 'oleteins em resposta chamada do 6enhor, dei(ando tudo e aceitando a severa regra dos cartu(os, para ser totalmente do 6enhor, para estar sempre com Ele. Ela escreve) L:"cil 6enhor, dei(ei meu pai, minha mãe, meus irmãos e todas as coisas deste mundo por amor a ti2 mas isto pouqu9ssimo, porque as rique%as deste mundo mais não são que espinhos pungentes2 e quem mais as possui, mais desafortunado. E por isso tenho a impressão que s" dei(ei misria e po&re%a2 mas Cu sa&es, d"cil 6enhor, que se eu possu9sse mil mundos e pudesse dispor deles a meu &em+pra%er, a&andonaria tudo por amor a ti2 e ainda que Cu me concedesses tudo quanto possuis no cu e na terra, eu não me sentiria satisfeita, enquanto não te tivesse a ti, porque Cu s a vida da minha alma, e não tenho nem quero ter um pai nem uma mãe fora de tiN -+$id. ?editação , 1, pág. =45. Cam&m da sua vida na 8artu(a possu9mos poucos dados. 6a&emos que em 0;; se tornou a sua quarta priora, cargo que desempenhou at morte, ocorrida a 00 de Bevereiro de 010<. :e qualquer maneira, dos seus escritos não so&ressaem mudanças particulares no seu itinerário espiritual. Ela conce&e toda a sua vida como um caminho de purificação, at plena configuração com 8risto. 8risto o ivro que deve ser escrito, gravado quotidianamente no pr"prio coração e na pr"pria vida, de modo especial a sua 'ai(ão salv9fica. >a o&ra Speculu> ?argarida, referindose a si mesma na terceira pessoa, su&linha que pela graça do 6enhor Ltinha gravado no seu coração a santa vida que :eus, #esus 8risto, levou na terra, os seus &ons e(emplos e a sua &oa doutrina. Ela tinha inserido tão &em o d"cil #esus 8risto no seu coração, que at lhe parecia que Ele estava presente e segurasse um livro fechado na sua mão, para a instruirN -+$id. + , +1, pág. ;05. L>este livro ela encontrava inscrita a vida que #esus 8risto levou na terra, desde o seu nascimento at sua elevação ao 8uN -+$id. + , 0, pág. ;15. :iariamente, desde a manhã, ?argarida aplica+se ao estudo deste livro. E, depois de o o&servar atentamente, começa a ler no livro da sua consciIncia, que revela as falsidades e as mentiras da sua vida -cf. i$id. + , /+7, pág. ;52 escreve de si mesma para &eneficiar os outros e para fi(ar mais profundamente no pr"prio coração a graça da presença de :eus, ou seja, para fa%er com que todos os dias a sua e(istIncia seja marcada pelo confronto com as palavras e as o&ras de #esus, com o ivro da sua vida. E isto para que a vida de 8risto seja impressa na alma de modo estável e profundo, a ponto de poder ver o ivro no seu interior, ou seja, at contemplar o mistrio de :eus Crindade -cf. i$id. ++ , 03+2 , 1+3<, págs. ;3+4<5. Atravs dos seus escritos, ?argarida oferece+nos alguns ind9cios so&re a sua espiritualidade, permitindo+nos compreender algumas caracter9sticas da sua personalidade e dos seus dotes de governo. uma mulher muito culta2 escreve
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ha&itualmente em latim, a l9ngua dos eruditos, mas escreve inclusive em franco provençal, e tam&m esta uma raridade) assim os seus escritos são os primeiros, dos quais se conserva a mem"ria, redigidos nesta l9ngua. Ela vive uma e(istIncia rica de e(periIncias m9sticas, descritas com simplicidade, dei(ando intuir o mistrio inefável de :eus, su&linhando os limites da mente na sua compreensão e na inadequação da l9ngua humana para o manifestar. Ela tem uma personalidade linear, simples, a&erta, de d"cil carga afetiva, de grande equil9&rio e de discernimento perspica%, capa% de penetrar nas profundidades do esp9rito humano, de compreender os seus limites, as suas am&iguidades, mas tam&m as suas aspiraçDes e a tensão da alma para :eus. :emonstra uma acentuada disposição para o governo, unindo a sua profunda vida espiritual e m9stica, com o serviço s irmãs e comunidade. >este sentido, significativo um trecho de uma carta escrita a seu pai) L?eu d"cil pai, comunico+lhe que me encontro muito ocupada por causa das necessidades da nossa casa, que não me poss9vel aplicar o esp9rito em &ons pensamentos2 com efeito, tenho tantas coisas para fa%er que não sei por onde começar. >ão recolhemos o trigo no stimo mIs do ano, e os nossos vinhedos foram destru9dos pela tempestade. Alm disso, a nossa igreja encontra+se em condiçDes tão precárias, que somos o&rigadas a reconstru9+la parcialmenteN -+$id. 8artas, , 03, pág. 075. Tma monja cartu(a delineia assim a figura de ?argarida) LAtravs da sua o&ra, revela+nos uma personalidade fascinante, uma inteligIncia viva, orientada para a especulação e, ao mesmo tempo, favorecida por graças m9sticas, em s9ntese, uma mulher santa e sá&ia que sa&e e(pressar com um certo humorismo uma afetividade inteiramente espiritualN -Xna "%naca Cert%sina Cert%sineem KiOi%nari% degli +stituti di JerfeOi%ne oma 047=, col. 7775. >o dinamismo da vida m9stica, ?argarida valori%a a e(periIncia dos afetos naturais, purificados pela graça, como meio privilegiado para compreender mais profundamente e favorecer a ação divina com mais prontidão e ardor. ! motivo reside no fato de que a pessoa humana criada imagem de :eus, e por isso chamada a construir com :eus uma maravilhosa hist"ria de amor, dei(ando+se envolver totalmente pela sua iniciativa. ! :eus Crindade, o :eus amor que se revela em 8risto fascina+a, e ?argarida vive uma relação de amor profunda pelo 6enhor e, em contrapartida, vI a ingratidão humana at pusilanimidade, at ao parado(o da cru%. Ela afirma que a cru% de 8risto semelhante ao leito do parto. A dor de #esus na cru% comparada com a de uma mãe. Ela escreve) LA mãe que me trou(e no ventre sofreu enormemente ao dar+me lu%, por um dia ou por uma noite, mas Cu, &om e d"cil 6enhor, por mim foste atormentado não apenas por uma noite ou por um dia, mas por mais de trinta anos -...5 como padeceste amargamente por causa de mim, durante toda a tua vidaS E quando chegou o momento do parto, o seu sofrimento foi tão doloroso que o teu santo suor se transformou como que em gotas de sangue que desciam por todo o teu corpo at ao chãoN -+$id. ?editação , 11, pág. =45.
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Evocando as narraçDes da 'ai(ão de #esus, ?argarida contempla estas dores com profunda compai(ão) LCu foste depositado no duro leito da cru%, de tal modo que não te podias mover, nem virar ou agitar os teus mem&ros, como costuma fa%er um homem que padece uma grande dor, porque foste completamente estendido e te foram cravados os pregos -...5 e -...5 foram dilacerados todos os teus músculos e as tuas veias -...5 ?as todas estas dores -...5 ainda não te &astavam, e por isso quiseste que o teu lado fosse trespassado pela lança, com tanta crueldade a ponto de fa%er com que o teu d"cil corpo fosse totalmente arado e lacerado2 e o teu precioso sangue jorrava com tanta violIncia, que formou um longo percurso, como se fosse um grande regatoN. eferindo+se a ?aria, ela afirma) L>ão surpreende que a espada que trespassou o teu corpo tenha penetrado tam&m o 8oração da sua gloriosa ?ãe, que tanto amava sustentar+te -...5 porque o teu amor foi superior a todos os outros amoresN -+$id. ?editação , 1/+14.3, pág. /< s.5. 8aros amigos, ?argarida de !ingt convida+nos a meditar quotidianamente so&re a vida de dor e de amor de #esus, e da sua ?ãe, ?aria. nisto que consiste a nossa esperança, o sentido da nossa e(istIncia. :a contemplação do amor de 8risto por n"s &rotam a força e a alegria de responder com igual amor, colocando a nossa vida ao serviço de :eus e do pr"(imo. 8om ?argarida, digamos tam&m n"s) L:"cil 6enhor, tudo quanto reali%aste, por amor a mim e a todo o gInero humano, estimula+me a amar+te, mas a recordação da tua sant9ssima 'ai(ão infunde um vigor inaudito no meu poder de afeto para te amar. por isso que me parece -...5 que encontrei aquilo que eu tanto desejava) amar unicamente a ti, ou em ti ou por amor a tiN -+$id. ?editação , 3/, pág. /5. X primeira vista, esta figura de cartu(a medieval, assim como toda a sua vida e o seu pensamento parecem muito distantes de n"s, da nossa vida e do nosso modo de pensar e de agir. 8ontudo, se considerarmos o essencial desta vida, vemos que di% respeito tam&m a n"s e deveria tornar+se fundamental inclusive na nossa e(istIncia. !uvimos que ?argarida considerava o 6enhor como um livro, fi(ava o olhar no 6enhor, considerava+a como um espelho onde aparece tam&m a pr"pria consciIncia. E foi deste espelho que a lu% entrou na sua alma) dei(ou entrar a palavra, a vida de 8risto no seu pr"prio ser e assim foi transformada2 a consciIncia foi iluminada, encontrou critrios, lu%, e foi purificada. precisamente disto que tam&m n"s temos necessidade) dei(ar que as palavras, a vida e a lu% de 8risto entrem na nossa consciIncia, para que ela seja iluminada e compreenda o que verdadeiro e &om, e o que mau2 que a nossa consciIncia seja iluminada e purificada. >ão há imund9cie apenas nas diversas estradas do mundo. Há imund9cie tam&m nas nossas consciIncias e nas nossas almas. 6" a lu% do 6enhor, a sua força e o seu amor nos limpa, purifica e indica o caminho reto. 'ortanto, sigamos 6anta ?argarida neste olhar para #esus. eiamos no livro da sua vida, dei(emo+nos iluminar e purificar, para aprender a vida autIntica.
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Santa !uliana de Cornillon uerid%s ir>?%s e ir>?s Cam&m esta manhã gostaria de vos apresentar uma figura feminina pouco conhecida, mas qual a greja deve um grande reconhecimento, não apenas pela sua santidade de vida, mas tam&m porque, com o seu intenso fervor, contri&uiu para a instituição de uma das solenidades litúrgicas mais importantes do ano, a do C%rpus C4risti. Crata+se de 6anta #uliana de 8ornillon, tam&m conhecida como 6anta #uliana de iege. :ispomos de alguns dados so&re a sua vida, so&retudo atravs de uma &iografia, escrita provavelmente por um eclesiástico seu contemporFneo, em que são reunidos vários testemunhos de pessoas que conheceram a 6anta de modo direto. #uliana nasceu entre 0040 e 004 nos arredores de iege, na Olgica. importante ressaltar esta localidade, porque naquela poca a :iocese de iege era, por assim di%er, um verdadeiro Lcenáculo eucar9sticoN. Antes de #uliana, te"logos insignes e(plicaram ali o valor supremo do 6acramento da Eucaristia e, ainda em iege, havia grupos femininos generosamente dedicados ao culto eucar9stico e comunhão fervorosa. !rientadas por sacerdotes e(emplares, elas viviam juntas, dedicando+se oração e s o&ras de caridade. Cendo ficado "rfã com = anos de idade, #uliana com a sua irmã nIs foram confiadas aos cuidados das monjas agostinianas do convento+leprosário de ?ont+ 8ornillon. Boi educada principalmente por uma religiosa chamada 6apiIncia, que
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acompanhou tam&m o seu amadurecimento espiritual, at quando a pr"pria #uliana rece&eu o há&ito religioso, tornando+se tam&m ela uma monja agostiniana. Adquiriu uma cultura notável, a tal ponto que lia as o&ras dos 'adres da greja em l9ngua latina, em particular 6anto Agostinho e 6ão Oernardo. Alm de ter uma inteligIncia perspica%, #uliana demonstrava desde o in9cio uma propensão especial para a contemplação2 era dotada de um profundo sentido da presença de 8risto, que e(perimentava vivendo de modo particular o 6acramento da Eucaristia e detendo+se com frequIncia para meditar so&re estas palavras de #esus) LEis que Eu estou convosco todos os dias, at ao fim do mundoN -"t ;, <5. 8om a idade de 0/ anos teve uma primeira visão, que depois se repetiu várias ve%es nas suas adoraçDes eucar9sticas. A visão apresentava a lua no seu mais completo esplendor, com uma fai(a escura que a atravessava diametralmente. ! 6enhor levou+a a compreender o significado daquilo que lhe tinha aparecido. A lua sim&oli%ava a vida da greja na terra, a linha opaca representava, ao contrário, a ausIncia de uma festa litúrgica, para cuja instituição se pedia a #uliana que tra&alhasse de maneira efica%) ou seja, uma festa em que os fiis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a f, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao 6ant9ssimo 6acramento. :urante cerca de < anos #uliana, que entretanto se tinha tornado priora do convento, conservou no segredo esta revelação, que tinha enchido de alegria o seu coração. 6ucessivamente, confiou+se com outras duas fervorosas adoradoras da Eucaristia) a Oeata Eva, que levava uma vida erem9tica, e sa&el, que se tinha unido a ela no mosteiro de ?ont+8ornillon. As trIs mulheres esta&eleceram uma espcie de Laliança espiritualN, com o prop"sito de glorificar o 6ant9ssimo 6acramento. Zuiseram envolver tam&m um sacerdote muito estimado, #oão de ausanne, c$nego na igreja de 6ão ?artinho em iege, pedindo+lhe que interpelasse te"logos e eclesiásticos so&re aquilo que elas estimavam. As respostas foram positivas e encorajadoras. ! que aconteceu com #uliana de 8ornillon repete+se frequentemente na vida dos 6antos) para ter uma confirmação de que uma inspiração vem de :eus, preciso imergir+se sempre na oração, sa&er esperar com paciIncia, procurar a ami%ade e o confronto com outras almas &oas e su&meter tudo ao ju9%o dos 'astores da greja. Boi precisamente o Oispo de iege, :. o&erto de Chourotte que, ap"s hesitaçDes iniciais, aceitou a proposta de #uliana e das suas companheiras, e instituiu pela primeira ve% a solenidade do C%rpus C4risti na sua :iocese. ?ais tarde, tam&m outros Oispos o imitaram, esta&elecendo a mesma festa nos territ"rios confiados aos seus cuidados pastorais. Codavia, aos 6antos o 6enhor pede com frequIncia que superem as provas, para que a sua f seja incrementada. Aconteceu tam&m com #uliana, que teve de sofrer a dura oposição de alguns mem&ros do clero e do pr"prio superior de quem
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dependia o seu mosteiro. Então, voluntariamente, #uliana dei(ou o convento de ?ont+8ornillon com algumas companheiras e, durante 0< anos, de 03; a 0=;, foi h"spede de vários mosteiros de religiosas cistercienses. Edificava todos com a sua humildade, nunca tinha palavras de cr9tica ou de repreensão para os seus adversários, mas continuava a difundir com %elo o culto eucar9stico. Baleceu no ano de 0=; em Bosses+a+@ille, na Olgica. >a cela onde ja%ia foi e(posto o 6ant9ssimo 6acramento e, segundo as palavras do seu &i"grafo, #uliana faleceu contemplando com um último 9mpeto de amor #esus Eucaristia, por ela sempre amado, honrado e adorado. 'ela &oa causa da festa do C%rpus C4risti foi conquistado tam&m Ciago 'antaleão de CroQes, que conhecera a 6anta durante o seu ministrio de arquidiácono em iege. Boi precisamente ele que, tendo+se tornado 'apa com o nome de Tr&ano @, em 0/3, instituiu a solenidade do C%rpus C4risti como festa de preceito para a greja universal, na quinta+feira sucessiva ao 'entecostes. >a Oula de instituição, intitulada :ransiturus de 4%c >und% -00 de Agosto de 0/35, o 'apa Tr&ano evoca com discrição tam&m as e(periIncias m9sticas de #uliana, valori%ando a sua autenticidade, e escreve) LEm&ora a Eucaristia seja cele&rada solenemente todos os dias, na nossa opinião justo que, pelo menos uma ve% por ano, se lhe reserve mais honra e solene mem"ria. 8om efeito, as outras coisas que comemoramos, compreendemo+las com o esp9rito e com a mente, mas não por isso alcançamos a sua presença real. Ao contrário, nesta comemoração sacramental de 8risto, ainda que seja de outra forma, #esus 8risto está presente no meio de n"s na sua pr"pria su&stFncia. 8om efeito, quando estava prestes a su&ir ao 8u, Ele disse) JEis que Eu estou convosco todos os dias, at ao fim do mundoK -"t ;, <5N. ! pr"prio 'ont9fice quis dar o e(emplo, cele&rando a solenidade do C%rpus C4risti em !rvieto, cidade onde então residia. 'recisamente por uma sua ordem, na 8atedral dessa 8idade conservava+se M e ainda hoje se conserva M o cle&re corporal com os vest9gios do milagre eucar9stico ocorrido no ano precedente, 0/1, em Oolsena. Enquanto consagrava o pão e o vinho, um sacerdote foi arre&atado por fortes dúvidas so&re a presença real do 8orpo e do 6angue de 8risto no 6acramento da Eucaristia. ?ilagrosamente, algumas gotas de sangue começaram a &rotar da H"stia consagrada, confirmando desta maneira o que a nossa f professa. Tr&ano @ pediu a um dos maiores te"logos da hist"ria, 6. Comás de Aquino M que naquela poca acompanhava o 'apa e estava em !rvieto M que compusesse os te(tos do of9cio litúrgico desta grande festividade. Eles, ainda hoje em vigor na greja, são o&ras+primas em que se fundem teologia e poesia. 6ão te(tos que fa%em vi&rar as cordas do coração para e(pressar louvor e gratidão ao 6ant9ssimo 6acramento, enquanto a inteligIncia, insinuando+se com admiração no mistrio, reconhece na Eucaristia a presença viva e verdadeira de #esus, do seu 6acrif9cio de amor que nos reconcilia com o 'ai e nos confere a salvação.
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Em&ora depois da morte de Tr&ano @ a cele&ração da festa do C%rpus C4risti tenha sido limitada a algumas regiDes da Brança, da Alemanha, da Hungria e da tália setentrional, foi ainda um 'ont9fice, #oão PP, que em 0107 a resta&eleceu para toda a greja. :essa poca em diante, a festa conheceu um desenvolvimento maravilhoso, e ainda agora muito sentida pelo povo cristão. Rostaria de afirmar com alegria que hoje, na greja, tem lugar uma Lprimavera eucar9sticaN) quantas pessoas se detIm silenciosas diante do Ca&ernáculo, para manter um diálogo de amor com #esusS consolador sa&er que não poucos grupos de jovens redesco&riram a &ele%a de re%ar em adoração diante do 6ant9ssimo 6acramento. 'enso, por e(emplo, na nossa adoração eucar9stica no HQde 'arY, em ondres. e%o a fim de que esta LprimaveraN eucar9stica se difunda cada ve% mais em todas as par"quias, de modo particular na Olgica, pátria de 6anta #uliana. ! @enerável #oão 'aulo , na Enc9clica Icclesia de Iuc4aristia constatava que Lem muitos lugares dedicado amplo espaço adoração do 6ant9ssimo 6acramento, tornando+se fonte inesgotável de santidade. A devota participação dos fiis na procissão eucar9stica da solenidade do 8orpo e 6angue de 8risto uma graça do 6enhor que anualmente enche de alegria quantos nela participam. E mais sinais positivos de f e de amor eucar9sticos se poderiam mencionarN -n. 0<5. ecordando 6anta #uliana de 8ornillon, renovemos tam&m n"s a f na presença real de 8risto na Eucaristia. 8omo nos ensina o C%>pêndi% d% Catecis>% da +greNa CatQlica L#esus 8risto está presente na Eucaristia de um modo único e incomparável. :e fato, está presente de modo verdadeiro, real e su&stancial) com o seu 8orpo e o seu 6angue, com a sua Alma e a sua :ivindade. >ela está presente de modo sacramental, isto , so& as espcies eucar9sticas do pão e do vinho, 8risto completo) :eus e homemN -n. ;5. 8aros amigos, a fidelidade ao encontro com 8risto Eucar9stico na 6anta ?issa dominical essencial para o caminho de f, mas procuremos tam&m ir visitar frequentemente o 6enhor presente no Ca&ernáculoS 8ontemplando em adoração a H"stia consagrada, n"s encontramos o dom do amor de :eus, encontramos a 'ai(ão e a 8ru% de #esus, assim como a sua essurreição. 'recisamente atravs do nosso olhar de adoração, o 6enhor atrai+nos para 6i, para dentro do seu mistrio, em vista de nos transformar do mesmo modo como transforma o pão e o vinho. !s 6antos sempre hauriram força, consolação e alegria do encontro eucar9stico. 8om as palavras do Hino eucar9stico Ad%r% te de8%te repitamos diante do 6enhor presente no 6ant9ssimo 6acramento) LBa%ei+me crer cada ve% mais em @"s, que em @"s eu tenha esperança, que eu vos ameSN.
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Santa Catarina de Sena uerid%s ir>?%s e ir>?s, Hoje gostaria de vos falar so&re uma mulher que desempenhou um papel eminente na hist"ria da greja. Crata+se de 6anta 8atarina de 6ena. ! sculo em que ela viveu M o dcimo quarto M foi uma poca dif9cil para a vida da greja e de todo o tecido social, tanto na tália como na Europa. Codavia, mesmo nos momentos de maior dificuldade, o 6enhor não cessa de a&ençoar o seu 'ovo, suscitando 6antos e 6antas que despertam as mentes e os coraçDes, levando a conversão e renovação. 8atarina uma delas, e ainda hoje nos fala e nos leva a caminhar com coragem rumo santidade para sermos, de modo cada ve% mais pleno, disc9pulos do 6enhor. >asceu em 6ena em 0137, numa fam9lia muito numerosa, e faleceu em oma em 01;<. 8om 0/ anos, impelida por uma visão de 6ão :omingos, entrou na Cerceira !rdem :ominicana, no ramo feminino chamado das "anteladas. 'ermanecendo em fam9lia, confirmou o voto de virgindade feita de modo particular, quando ainda era uma adolescente, dedicando+se oração, penitIncia e s o&ras de caridade, so&retudo em &enef9cio dos enfermos. Zuando a fama da sua santidade se difundiu, foi protagonista de uma intensa atividade de conselho espiritual em relação a todas as categorias de pessoas) no&res e homens pol9ticos, artistas e pessoas do povo, pessoas consagradas, eclesiásticos, inclusive o 'apa Rreg"rio (i que nesse per9odo residia em Avinhão e que 8atarina e(ortou enrgica e efica%mente a regressar a oma. @iajou muito para
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solicitar a reforma interior da greja e para favorecer a pa% entre os Estados) tam&m por este motivo, o @enerável #oão 'aulo quis declará+la co+'adroeira da Europa) o @elho 8ontinente nunca esqueça as ra9%es cristãs que estão na essIncia do seu caminho e continue a haurir do Evangelho os valores fundamentais que asseguram a justiça e a conc"rdia. 8atarina sofreu muito, como numerosos 6antos. 8hegou+se mesmo a pensar que era necessário desconfiar dela, a tal ponto que, em 0173, seis anos antes da sua morte, o cap9tulo geral dos :ominicanos a convocou em Blorença para a interrogar. 'useram ao seu lado um frade douto e humilde, aimundo de 8ápua, futuro ?estre+Reral da !rdem. Cendo+se tornado seu confessor e tam&m seu Lfilho espiritualN, escreveu uma primeira &iografia completa da 6anta. Ela foi canoni%ada em 03/0. A doutrina de 8atarina, que aprendeu a ler com dificuldade e a escrever quando já era adulta, está contida em / KiEl%g% da Jr%8idência Ki8ina ou seja @i8r% da K%utrina Ki8ina uma o&ra+prima da literatura espiritual, no seu Ipist%lEri% e na coletFnea das suas /raPVes. ! seu ensinamento dotado de uma rique%a tão profunda, que o 6ervo de :eus 'aulo @, em 047<, a declarou :outora da greja, t9tulo que se acrescentava ao de co+'adroeira da cidade de oma, por desejo do Oeato 'io P, e de 'adroeira da tália, segundo a decisão do @enerável 'io P. >uma visão que nunca mais se cancelou do coração e da mente de 8atarina, >ossa 6enhora apresentou+a a #esus, que lhe confiou um anel maravilhoso, di%endo+lhe) LEu, teu 8riador e 6alvador, desposo+te na f, que conservarás sempre pura, at quando cele&rares comigo no 8u as tuas &odas eternasN -aimundo de 8ápua, Santa Catarina de Sena @egenda >ai%r , n. 00=, 6ena 044;5. Aquele anel permaneceu vis9vel unicamente para ela. >este epis"dio e(traordinário vemos o centro vital da religiosidade de 8atarina e de toda a espiritualidade autIntica) o cristocentrismo. 8risto para ela como o esposo, com quem está em relação de intimidade, de comunhão e de fidelidade2 o &em+amado acima de qualquer outro &em. Esta profunda união com o 6enhor ilustrada por outro epis"dio tirado da vida desta insigne m9stica) a troca do coração. 6egundo aimundo de 8ápua, que transmite as confidIncias rece&idas de 8atarina, o 6enhor #esus apareceu+lhe tendo na mão um coração humano vermelho resplandecente, a&riu+lhe o peito, introdu%iu+o nele e disse+lhe) L8ar9ssima filhinha, dado que no outro dia tomei o teu coração, que tu me oferecias, eis que agora te concedo o meu, e doravante estará no lugar que o teu ocupavaN -+$ide>5. 8atarina viveu verdadeiramente as palavras de 6ão 'aulo, L... já não sou eu que vivo, mas 8risto que vive em mimN -Gl , <5. 8omo a 6anta de 6ena, cada fiel sente a necessidade de se uniformi%ar com os sentimentos do 8oração de 8risto para amar a :eus e ao pr"(imo como o pr"prio
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8risto ama. E todos n"s podemos dei(ar+nos transformar o coração e aprender a amar como 8risto, numa familiaridade com Ele alimentada pela oração, pela meditação so&re a 'alavra de :eus e pelos 6acramentos, principalmente rece&endo de maneira frequente e com devoção a 6agrada 8omunhão. Cam&m 8atarina pertence quela plIiade de 6antos eucar9sticos, com a qual eu quis concluir a minha E(ortação Apost"lica Sacra>entu> caritatis -cf. n. 435. Estimados irmãos e irmãs, a Eucaristia uma dádiva e(traordinária de amor que :eus nos renova continuamente para alimentar o nosso caminho de f, revigorar a nossa esperança e inflamar a nossa caridade, para nos tornar cada ve% mais semelhantes a Ele. Em volta de uma personalidade tão vigorosa e autIntica, foi+se constituindo uma verdadeira fam9lia espiritual. Cratava+se de pessoas fascinadas pela respeita&ilidade moral desta jovem mulher de elevad9ssimo n9vel de vida, e por ve%es impressionadas tam&m pelos fen$menos m9sticos aos quais assistiam, como os frequentes I(tases. ?uitos se puseram ao seu serviço e so&retudo consideraram um privilgio ser orientados espiritualmente por 8atarina. 8hamavam+lhe Lmãe%inhaN, porque como filhos espirituais dela rece&iam o alimento do esp9rito. Cam&m hoje a greja rece&e um grande &enef9cio do e(erc9cio da maternidade espiritual de numerosas mulheres, consagradas e leigas, que alimentam nas almas o pensamento de :eus, revigoram a f das pessoas e orientam a vida cristã rumo a metas cada ve% mais elevadas. L:igo+vos e chamo+vos filho M escreve 8atarina, dirigindo+se a um dos seus filhos espirituais, o cartu(o Riovanni 6a&&atini M enquanto vos dou lu% mediante cont9nuas oraçDes e desejos diante de :eus, do mesmo modo como uma mãe dá lu% o seu filhoN -Epistolário Carta n. 1'1T A d%> Gi%8anni de Sa$$atini5. Ao frade dominicano Oartolomeu de :ominici, ela estava ha&ituada a dirigir+se com estas e(pressDes) LAmad9ssimo e car9ssimo irmão e filhinho em 8risto, d"cil #esusN. !utra caracter9stica da espiritualidade de 8atarina está vinculada ao dom das lágrimas. Elas e(primem uma sensi&ilidade su&lime e profunda, uma capacidade de comoção e de ternura. >ão poucos 6antos tiveram o dom das lágrimas, renovando a emoção do pr"prio #esus, que não impediu nem escondeu o seu pranto diante do sepulcro do amigo á%aro e do sofrimento de ?aria e de ?arta, e da visão de #erusalm nos seus últimos dias terrenos. 6egundo 8atarina, as lágrimas dos 6antos misturam+se com o 6angue de 8risto, do qual ela falava com tonalidades vi&rantes e imagens sim&"licas muito efica%es) Lecordai 8risto crucificado, :eus e homem -...5. 'onde+vos como o&jetivo 8risto crucificado, escondei+vos nas chagas de 8risto crucificado, afogai+vos no sangue de 8risto crucificadoN -Epistolário Carta n. 21T A algu> s%$re cuN% n%>e n?% se pr%nuncia5.
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Aqui podemos compreender por que motivo 8atarina, em&ora estivesse consciente das faltas humanas dos sacerdotes, sempre teve uma grand9ssima reverIncia por eles) eles dispensam, atravs dos 6acramentos e da 'alavra, a força salv9fica do 6angue de 8risto. A 6anta de 6ena convidava sempre os ministros sagrados, at o 'apa, a quem chamava Ldoce 8risto na terraN, a serem fiis s suas responsa&ilidades, impelida sempre e unicamente pelo seu amor profundo e constante pela greja. Antes de morrer, ela disse) L'artindo do corpo eu, na verdade consumi e entreguei a minha vida na greja e pela 6anta greja, o que para mim uma graça e(tremamente singularN -aimundo de 8ápua, Santa Catarina de Sena @egenda >ai%r , n. 1/15. 'ortanto, de 6anta 8atarina n"s aprendemos a ciIncia mais su&lime) conhecer e amar #esus 8risto e a sua greja. >o KiEl%g% da Jr%8idência Ki8ina ela, com uma imagem singular, descreve 8risto como uma ponte lançada entre o cu e a terra. Ela formada por trIs grandes escadas, constitu9das pelos ps, pelo lado e pela &oca de #esus. Elevando+se atravs destas grandes escadas, a alma passa pelas trIs etapas de cada caminho de santificação) o afastamento do pecado, a prática da virtude e do amor, a união d"cil e afetuosa com :eus. 8aros irmãos e irmãs, aprendamos de 6anta 8atarina a amar com coragem, de maneira intensa e sincera, 8risto e a greja. 'or isso, façamos nossas as palavras de 6anta 8atarina, que podemos ler no KiEl%g% da Jr%8idência Ki8ina na conclusão do cap9tulo que fala de 8risto+ponte) L'or miseric"rdia @"s lavastes+nos no 6angue e por miseric"rdia desejastes dialogar com as criaturas. \ ouco de amorS >ão vos foi suficiente encarnar, mas tam&m quisestes morrerS -...5 \ miseric"rdiaS ! meu coração ofega+me quando penso em @"s) para onde eu me dirija a pensar, mais não encontro do que miseric"rdiaN -cap. 1<, págs. 74+;<5.
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!uliana de "or#ic$ JreOad%s ir>?%s e ir>?s ecordo ainda com grande alegria a @iagem apost"lica reali%ada ao eino Tnido no passado mIs de 6etem&ro. A nglaterra o solo onde nasceram muitas figuras ilustres que, com o seu testemunho e o seu ensinamento, adornam a hist"ria da greja. Tma delas, venerada tanto pela greja cat"lica como pela 8omunhão anglicana, a m9stica #uliana de >orbich, da qual gostaria de vos falar esta manhã. As not9cias de que dispomos so&re a sua vida M não muitas M são tiradas principalmente do livro em que esta mulher gentil e piedosa reuniu o conteúdo das suas visDes, intitulado e8elaPVes d% A>%r di8in%. 6a&e+se que viveu apro(imadamente entre 013 e 031<, anos atormentados tanto para a greja, dilacerada pelo cisma que se seguiu ao regresso do 'apa de Avinhão para oma, como para a vida da população que sofria as consequIncias de uma longa guerra entre o reino da nglaterra e o reino da Brança. 'orm, mesmo nos tempos de tri&ulação, :eus não cessa de suscitar figuras como #uliana de >orbich, para chamar os homens pa%, ao amor e alegria. 8omo ela mesma nos narra, provavelmente no dia 01 de ?aio de 0171, foi atingida por uma doença grav9ssima e repentina, que em trIs dias deu a impressão de a levar morte. :epois que o sacerdote, tendo acorrido sua ca&eceira, lhe mostrou o 8rucifi(o, #uliana não s" readquiriu prontamente a saúde, mas rece&eu as 0/ revelaçDes que sucessivamente escreveu e comentou no seu livro so&re
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as e8elaPVes d% A>%r di8in%. E foi precisamente o 6enhor quem, quin%e anos depois destes acontecimentos e(traordinários, lhe revelou o sentido daquelas visDes. LRostarias de sa&er o que quis di%er o teu 6enhor e conhecer o sentido desta revelaçãoU 6a&e+o &em) aquilo que Ele quis di%er o amor. Zuem to revelaU ! amor. 'or que to revelaU 'or amor... Assim aprendi que nosso 6enhor significa amorN -#uliana de >orbich, +l li$r% delle ri8elaOi%ni cap. ;/, ?ilão 0447, p. 1<5. nspirada pelo amor divino, #uliana tomou uma decisão radical. 8omo uma antiga anacoreta, escolheu viver no interior de uma cela, situada perto da igreja intitulada a 6ão #uliano, na cidade de >orbich, nessa poca um importante centro ur&ano, nos arredores de ondres. Calve% tenha adotado o nome de #uliana, devido ao 6anto ao qual era dedicada a igreja perto da qual viveu por muitos anos, at morte. Esta decisão de viver LpresaN, como se di%ia na sua poca, poderia surpreender+nos e at dei(ar+nos perple(os. ?as não foi a única a fa%er tal escolha) naqueles sculos um número considerável de mulheres optou por este tipo de vida, adotando regras especialmente ela&oradas para elas, como aquela composta por 6anto Aelredo de ievaul(. As anacoretas, ou LpresasN no interior da sua cela, dedicavam+se oração, meditação e ao estudo. :este modo, amadureciam uma elevada sensi&ilidade humana e religiosa, que as tornavam veneradas pelo povo. Homens e mulheres de todas as idades e condiçDes, necessitados de conselhos e de conforto, procuravam+nas devotamente. 'ortanto, não era uma escolha individualista2 precisamente mediante esta pro(imidade ao 6enhor amadurecia nela tam&m a capacidade de ser conselheira para muitas pessoas, de ajudar quantos viviam esta vida com dificuldade. 6a&emos que tam&m #uliana rece&ia visitas frequentes, como nos testemunhado pela auto&iografia de outra cristã fervorosa do seu tempo, ?argerQ `empe, que foi a >orbich em 0301 para rece&er sugestDes so&re a sua vida espiritual. Eis por que motivo, quando #uliana ainda vivia era chamada, como está escrito no monumento fúne&re que conserva os seus despojos mortais) L?ãe #ulianaN. Cornou+se uma mãe para muitos. As mulheres e os homens que se retiram para viver em companhia de :eus, precisamente graças a esta sua escolha, adquirem um grande sentido de compai(ão pelos sofrimentos e pelas de&ilidades do pr"(imo. Amigas e amigos de :eus, dispDem de uma sa&edoria que o mundo, do qual se afastam, não possui e, compartilham+na amavelmente com aqueles que &atem sua porta. 'ortanto, penso com admiração e reconhecimento nos mosteiros de clausura femininos e masculinos que, hoje mais do que nunca, são oásis de pa% e de esperança, tesouro precioso para a greja inteira, especialmente ao evocar a prima%ia de :eus e a importFncia de uma oração constante e intensa para o caminho de f. Boi precisamente na solidão ha&itada por :eus que #uliana de >orbich comp$s as e8elaPVes d% A>%r di8in% das quais chegaram at n"s dois te(tos, um mais
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&reve, provavelmente o mais antigo, e outro mais longo. Este livro contm uma mensagem de otimismo fundado na certe%a de sermos amados por :eus e de sermos protegidos pela sua 'rovidIncia. >este livro lemos estas palavras maravilhosas) L@i com certe%a a&soluta... que, ainda antes de nos criar, :eus nos amou com um amor que nunca esmoreceu, e jamais faltará. E foi neste amor que Ele reali%ou todas as suas o&ras, foi neste amor que Ele fe% com que todas as coisas nos fossem úteis, e neste amor que a nossa vida dura para sempre... >este amor n"s temos o nosso princ9pio, e veremos tudo isto no :eus infinitoN -+l li$r% delle ri8elaOi%ni cap. ;/, p. 1<5. ! tema do amor divino volta com frequIncia nas visDes de #uliana de >orbich que, com uma certa audácia, não hesita em compará+lo tam&m com o amor materno. Esta uma das mensagens mais caracter9sticas da sua teologia m9stica. A ternura, a solicitude e a docilidade da &ondade de :eus para conosco são tão grandes que, para n"s peregrinos na terra, evocam o amor de uma mãe pelos seus filhos. >a realidade, tam&m os profetas &9&licos usaram por ve%es esta linguagem, que realça a ternura, a intensidade e a totalidade do amor de :eus, que se manifesta na criação e em toda a hist"ria da salvação, tendo o seu ápice na Encarnação do Bilho. 'orm, :eus supera sempre todo o amor humano, come di% o profeta sa9as) L'ode uma mulher esquecer+se do seu filhoU >ão se comover com o fruto do seu ventreU E mesmo que ela o esquecesse, eu nunca te esqueceriaN -34, 0=5. #uliana de >orbich compreendeu a mensagem central para a vida espiritual) :eus amor, e s" quando nos a&rirmos, totalmente e com confiança integral, a este amor, e dei(armos que ele se torne a única guia da e(istIncia, tudo se transfigura, levando+ nos a encontrar a verdadeira pa% e a autIntica alegria, tornando+nos capa%es de as difundir ao nosso redor. Rostaria de su&linhar mais um aspecto. Zuando e(pDe o ponto de vista da f cat"lica, so&re um tema que não cessa de constituir uma provocação para todos os fiis, o Catecis>% da +greNa CatQlica cita as palavras de #uliana de >orbich -cf. nn. 1<3+1035. 6e :eus sumamente &om e sá&io, por que e(istem o mal e o sofrimento dos inocentesU At os santos, precisamente os santos, se questionaram so&re isto. luminados pela f, eles dão+nos uma resposta que a&re o nosso coração confiança e esperança) nos des9gnios misteriosos da 'rovidIncia, at do mal :eus tira um &em maior, como #uliana de >orbich escreveu) LAprendi da graça de :eus que eu devia permanecer firmemente na f, e portanto devia crer s"lida e perfeitamente que tudo teria terminado &em...N -+l li$r% delle ri8elaOi%ni cap. 1, p. 0715. 6im, caros irmãos e irmãs, as promessas de :eus são sempre maiores que as nossas e(pectativas. 6e confiarmos a :eus, ao seu amor imenso, os desejos mais puros e mais profundos do nosso coração, nunca seremos decepcionados. LE tudo será um &emN, Ltudo será para o &emN) esta a mensagem final que #uliana de >orbich nos transmite, e que tam&m eu vos proponho hoje.
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Santa %er&nica !uliani uerid%s ir>?%s e ir>?s Hoje, gostaria de apresentar uma m9stica que não da poca medieval2 trata+se de 6anta @er$nica #uliani, monja clarissa capuchinha. ! motivo que no pr"(imo dia 7 de :e%em&ro se cele&ra o 1=< aniversário do seu nascimento. 8itt di 8astello, lugar onde ela viveu durante muitos anos e faleceu, assim como ?ercatello M sua cidade natal M e a diocese de Tr&ino, vivem este acontecimento com alegria. @er$nica nasce precisamente no dia 7 de :e%em&ro de 0//< em ?ercatello, no vale do ?etauro, filha de Brancesco #uliani e Oenedetta ?ancini2 a última de sete irmãs, das quais outras trIs a&raçarão a vida monástica2 +lhe conferido o nome de rsula. Aos sete anos perde a mãe, e o pai transfere+se para 'iacen%a como superintendente das alfFndegas do ducado de 'arma. >essa cidade, rsula sente crescer em si o desejo de dedicar a vida a 8risto. ! apelo fa%+se cada ve% mais urgente, a tal ponto que, com 07 anos, entra na estrita clausura do mosteiro das 8larissas 8apuchinhas de 8itt di 8astello, onde permanecerá durante toda a sua vida. Ali rece&e o nome de @er$nica, que significa Lverdadeira imagemN e, com efeito, ela tornar+se+á deveras imagem de 8risto 8rucificado. Tm ano depois, emite a solene profissão religiosa) começa para ela o caminho de configuração com 8risto atravs de muitas penitIncias, grandes sofrimentos e algumas e(periIncias m9sticas ligadas 'ai(ão de #esus) a coroação de espinhos, as &odas m9sticas, a ferida no coração e os estigmas. Em 070/, com =/ anos, torna+se a&adessa do
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mosteiro e reconfirmada nesta função at sua morte, ocorrida em 077, depois de uma doloros9ssima agonia de 11 dias, que culmina numa profunda alegria, a tal ponto que as suas últimas palavras foram) LEncontrei o Amor, o Amor dei(ou+se verS Esta a causa do meu padecimento. :i%ei+o a todas, di%ei+o a todasSN -Su>>ariu> $eatificati%nis 00=+0<5. Em 4 de #ulho dei(a a morada terrena para o encontro com :eus. Cem /7 anos, =< dos quais transcorridos no mosteiro de 8itt di 8astello. proclamada 6anta no dia / de ?aio de 0;14 pelo 'apa Rreg"rio P@. @er$nica #uliani escreveu muito) cartas, relat"rios auto&iográficos e poesias. Codavia, a fonte principal para reconstruir o seu pensamento o seu KiEri% iniciado em 0/41) vinte e duas mil páginas manuscritas, que a&rangem um arco de trinta e quatro anos de vida claustral. A escrita flui espontFnea e cont9nua, não há cancelamentos ou correçDes, nem sinais de pontuação ou distri&uição da matria em cap9tulos ou partes, segundo um des9gnio previamente esta&elecido. @er$nica não queria compor uma o&ra literária2 aliás, foi o&rigada a escrever as suas e(periIncias pelo 'adre Rirolamo Oastianelli, religioso dos Bilippini, de acordo com o Oispo diocesano Antonio Eustachi. 6anta @er$nica tem uma espiritualidade acentuadamente cristol"gico+esponsal) a e(periIncia de ser amada por 8risto, Esposo fiel e sincero, e querer corresponder com um amor cada ve% mais comprometido e apai(onado. >ela, tudo interpretado em chave de amor, e isto infunde+lhe uma profunda serenidade. Cudo vivido em união com 8risto, por amor a Ele, e com a alegria de poder demonstrar+ lhe todo o amor de que a criatura capa%. ! 8risto ao qual @er$nica está profundamente unida aquele que sofre na pai(ão, morte e ressurreição2 #esus no gesto de se imolar ao 'ai para nos salvar. desta e(periIncia que deriva tam&m o amor intenso e sofredor pela greja, na dúplice forma da oração e da oferenda. A 6anta vive nesta perspectiva) re%a, sofre e procura a Lsanta po&re%aN como Le(propriaçãoN, perda de si -cf. i$id. , =15, precisamente para ser como 8risto, que se entregou inteiramente a si mesmo. Em cada página dos seus escritos, @er$nica recomenda algum ao 6enhor, corro&orando as suas preces de intercessão com a oferta de si em cada sofrimento. ! seu amor dilata+se a todas Las necessidades da 6anta grejaN, vivendo com ansiedade o desejo da salvação de Ltodo o universoN -+$id. +@, passi>5. @er$nica clama) L\ pecadores, " pecadoras... todos e todas, ide ao 8oração de #esus2 ide lavanda do seu precios9ssimo 6angue... Ele espera+vos com os &raços a&ertos para vos a&raçarN -+$id. , 0/+075. Animada por uma caridade fervorosa, ela presta atenção, compreensão e perdão s irmãs do mosteiro2 oferece as suas oraçDes e os seus sacrif9cios pelo 'apa, pelo seu &ispo, pelos sacerdotes e por todas as pessoas necessitadas, inclusive pelas almas do purgat"rio. esume a sua missão contemplativa com estas palavras) L>ão podemos ir pregando pelo mundo, para
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converter as almas, mas somos o&rigadas a re%ar incessantemente por todas aquelas almas que ofendem a :eus... de modo particular com os nossos sofrimentos, ou seja, com um princ9pio de vida crucificadaN -+$id. @, ;775. A nossa 6anta conce&e esta missão como um Lestar no meioN, entre os homens e :eus, entre os pecadores e 8risto crucificado. @er$nica vive de modo profundo a participação no amor sofredor de #esus, convicta de que o Lsofrer com alegriaN a Lchave do amorN -cf. i$id. , 44.3072 , 11<.1<1.;702 @, 045. Ela evidencia que #esus padece pelos pecados dos homens, mas tam&m pelos sofrimentos que os seus servos fiis tiveram que suportar ao longo dos sculos, no tempo da greja, precisamente mediante a sua f s"lida e coerente. Ela escreve) L! seu 'ai eterno fe%+lhe ver e sentir, nessa altura, todos os padecimentos que deviam suportar os seus eleitos, as suas almas mais amadas, ou seja, aquelas que teriam &eneficiado do seu 6angue e de todos os seus sofrimentosN -+$id., , 07<5. 8omo di% de si o Ap"stolo 'aulo) LAgora alegro+me nos sofrimentos suportados por v"s. ! que falta s tri&ulaçDes de 8risto, completo na minha carne, pelo seu corpo que a grejaN -Cl 0, 35. @er$nica chega a pedir a #esus para ser crucificada com Ele) L>um instante M escreve M vi sair das suas sant9ssimas chagas cinco raios resplandecentes2 e todos vieram ao meu redor. E eu via estes raios tornar+se como que pequenas chamas. Em quatro delas havia os pregos2 e numa a lança, como que de ouro, inteiramente a&rasada) e trespassou+me o coração, de um lado para o outro... e os pregos trespassaram+me as mãos e os ps. 6enti uma grande dor2 mas, na mesma dor, eu via+me a mim mesma, sentia+me inteiramente transformada em :eusN -KiEri% , ;475. A 6anta está convencida de participar antecipadamente no eino de :eus mas, ao mesmo tempo, invoca todos os 6antos da 'átria &em+aventurada para que venham em sua ajuda no caminho terreno da sua doação, espera da &em+aventurança eterna2 esta a aspiração constante da sua vida -cf. i$id. , 4<42 @, 3/5. Em relação pregação dessa poca, centrada não raro na Lsalvação da pr"pria almaN em termos individuais, @er$nica mostra um forte sentido LsolidárioN, de comunhão com todos os irmãos e irmãs, caminho rumo ao 8u, e vive, re%a e sofre por todos. As realidades penúltimas, terrenas, ao contrário, em&ora sejam apreciadas em sentido franciscano como um dom do 8riador, são sempre relativas, inteiramente su&ordinadas ao LgostoN de :eus e so& o sinal de uma po&re%a radical. >a c%>>uni% sanct%ru> ela esclarece a sua doação eclesial, assim como a relação entre a greja peregrina e a greja celeste. LCodos os 6antos M escreve M estão lá em cima mediante os mritos e a pai(ão de #esus2 mas para tudo quanto nosso 6enhor reali%ou, eles cooperaram, de tal modo que a sua vida foi inteiramente ordenada, regulada pelas -suas5 mesmas o&rasN -+$id., , <15. >os escritos de @er$nica encontramos muitas citaçDes &9&licas, s ve%es de modo indireto, mas sempre claras) ela revela familiaridade com o Ce(to sagrado, do qual se nutre a sua e(periIncia espiritual. Alm disso, há que revelar que os momentos
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fortes da e(periIncia m9stica de @er$nica nunca estão separados dos acontecimentos salv9ficos, cele&rados na liturgia, onde ocupam um lugar particular a proclamação e a escuta da 'alavra de :eus. 'ortanto, a 6agrada Escritura ilumina, purifica e confirma a e(periIncia de @er$nica, tornando+a eclesial. ?as por outro lado, precisamente a sua e(periIncia, alicerçada na 6agrada Escritura com uma intensidade e(cepcional, guia a uma leitura mais profunda e LespiritualN do mesmo Ce(to, entra na profundidade escondida do te(to. Ela não s" se e(prime com as palavras da 6agrada Escritura, mas tam&m vive realmente destas palavras, que nela se tornam vivas. 'or e(emplo, a nossa 6anta cita com frequIncia a e(pressão do Ap"stolo 'aulo) L6e :eus por n"s, quem será contra n"sUN -> ;, 102 cf. KiEri% , 7032 , 00/.0<02 , 3;5. >ela, a assimilação deste te(to paulino, esta sua grande confiança e profunda alegria tornam+se um acontecimento completo na sua pr"pria pessoa) LA minha alma M escreve M foi unida vontade divina, e eu esta&eleci+me verdadeiramente e fi(ei+me para sempre na vontade de :eus. 'arecia que nunca mais me iria afastar desta vontade de :eus, e voltei a mim com estas palavras espec9ficas) nada me poderá separar da vontade de :eus, nem angústias, nem penas, nem dificuldades, nem despre%os, nem tentaçDes, nem criaturas, nem dem$nios, nem o&scuridades, nem sequer a pr"pria morte, porque na vida e na morte, desejo inteiramente, e em tudo, a vontade de :eusN -KiEri% @, 75. Assim, temos tam&m a certe%a de que a morte não a última palavra, estamos fi(os na vontade de :eus e assim, realmente, na vida para sempre. @er$nica revela+se, em particular, uma testemunha corajosa da &ele%a e do poder do Amor divino, que a atrai, permeia e inflama. o Amor crucificado que se imprimiu na sua carne, como na de 6ão Brancisco de Assis, com os estigmas de #esus. L?inha esposa M sussurrava+me 8risto crucificado M são+me preciosas as penitIncias que fa%es por aqueles que estão em desgraça diante de mim... :epois, tirando um &raço da cru%, fe%+me sinal que me apro(imasse do seu lado... E encontrei+me nos &raços do 8rucificado. >ão posso descrever aquilo que senti naquele momento) queria estar sempre no sant9ssimo ladoN -+$id., , 175. tam&m uma imagem do seu caminho espiritual, da sua vida interior) estar no a&raço do 8rucificado e assim permanecer no amor de 8risto pelos outros. Cam&m com a @irgem ?aria, @er$nica vive uma relação de profunda intimidade, testemunhada pelas palavras que um dia ouve >ossa 6enhora di%er, e que ela cita no seu KiEri%T LBi%+te repousar no meu seio, rece&este a união minha alma e por ela, como que em voo, foste levada diante de :eusN -@, 4<05. 6anta @er$nica #uliani convida+nos a fa%er crescer, na nossa vida cristã, a união com o 6enhor no ser pelos outros, a&andonando+nos sua vontade com confiança completa e total, e a união com a greja, Esposa de 8risto2 convida+nos a participar no amor sofredor de #esus crucificado pela salvação de todos os pecadores2 convida+nos a manter o olhar fi(o no 'ara9so, meta do nosso caminho terreno,
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onde viveremos juntamente com muitos irmãos e irmãs a alegria da plena comunhão com :eus2 convida+nos a nutrir+nos quotidianamente da 'alavra de :eus para aquecer o nosso coração e orientar a nossa vida. As últimas palavras da 6anta podem considerar+se a s9ntese da sua apai(onada e(periIncia m9stica) LEncontrei o Amor, o Amor dei(ou+se verSN.
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Santa Catarina de Bolon$a JreOad%s ir>?%s e ir>?s >uma recente catequese falei de santa 8atarina de 6ena. Hoje gostaria de vos apresentar outra santa, menos conhecida, que tem o mesmo nome) santa 8atarina de Oolonha, mulher de vasta cultura, mas muito humilde2 dedicada oração, mas sempre pronta a servir2 generosa no sacrif9cio, mas cheia de alegria no acolhimento da cru% com 8risto. >asce em Oolonha a ; de 6etem&ro de 0301, primogInita de Oenvenuta ?ammolini e de Riovanni de @igri, patr9cio rico e culto de Berrara, doutor em leis e leitor pú&lico em 'ádua, onde desempenhava funçDes diplomáticas para >iccol dEste, marquIs de Berrara. As not9cias so&re a infFncia e a adolescIncia de 8atarina são escassas e nem todas são certas. @ive a infFncia em Oolonha, na casa dos av"s2 ali educada pelos parentes, so&retudo pela mãe, mulher de grande f. Cransfere+se com ela para Berrara com cerca de de% anos e entra na corte de >iccol iii dEste como don%ela de honra de ?argherita, filha natural de >iccol. ! marquIs está a transformar Berrara numa cidade esplendorosa, chamando artistas e letrados de vários pa9ses. 'romove a cultura e, em&ora leve uma vida particular não e(emplar, cuida muito do &em espiritual, da conduta moral e da educação dos sú&ditos. Em Berrara 8atarina não ressente dos aspectos negativos, que muitas ve%es a vida de corte comportava2 go%a da ami%ade de ?argherita e torna+se a sua confidente,
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enriquecendo a sua cultura) estuda música, pintura e dança2 aprende a poeti%ar, a escrever composiçDes literárias e a tocar violão2 torna+se perita na arte da miniatura e das transcriçDes2 aperfeiçoa o estudo do latim. >a futura vida monástica valori%ará muito o patrim$nio cultural e art9stico adquirido nesses anos. Aprende com facilidade, com pai(ão e com tenacidade2 mostra grande prudIncia, modstia singular, graça e gentile%a no comportamento. 8ontudo, uma caracter9stica distingue+a de modo a&solutamente claro) o seu esp9rito constantemente dirigido para as realidades do 8u. Em 037, com apenas 03 anos, tam&m ap"s alguns acontecimentos familiares, 8atarina decide dei(ar a corte para se unir a um grupo de jovens mulheres provenientes de fam9lias no&res que viviam em comum, consagrando+se a :eus. 8om f, a mãe consente, em&ora tivesse outros projetos para ela. >ão conhecemos o caminho espiritual de 8atarina antes desta escolha. Balando em terceira pessoa, ela afirma que entrou ao serviço de :eus Liluminada pela graça divina -...5 com consciIncia reta e grande fervorN, sol9cita noite e dia santa oração, comprometendo+se em conquistar todas as virtudes que via nos outros, Lnão por inveja, mas para agradar mais a :eus, em quem tinha posto todo o seu amorN - @e sette ar>i spirituali @, ;, Oolonha 044;, p. 05. 6ão notáveis os seus progressos espirituais nesta nova fase da vida, mas são tam&m grandes e terr9veis as provas, os sofrimentos interiores, so&retudo as tentaçDes do dem$nio. Atravessa uma profunda crise espiritual, at ao limitar do desespero -cf. i$id. @, pp. 0+45. @ive na noite do esp9rito, provada tam&m pela tentação da incredulidade em relação Eucaristia. :epois de sofrer muito, o 6enhor consola+a) numa visão, concede+lhe um conhecimento claro da presença eucar9stica real, um conhecimento tão luminoso que 8atarina não consegue e(pressar com palavras -cf. i$id. @, , pp. 3+3/5. >o mesmo per9odo, uma prova dolorosa a&ate+se so&re a comunidade) surgem tensDes entre quem quer seguir a espiritualidade agostiniana e quem está mais orientado para a espiritualidade franciscana. Entre 034 e 031< a responsável do grupo, ucia ?ascheroni, decide fundar um mosteiro agostiniano. 8atarina, ao contrário, com outras escolhe vincular+se regra de santa 8lara de Assis. um dom da 'rovidIncia, porque a comunidade ha&ita perto da igreja do Esp9rito 6anto, ane(a ao convento dos Brades ?enores que aderiram ao movimento da !&servFncia. Assim, 8atarina e as companheiras podem participar regularmente nas cele&raçDes litúrgicas e rece&er uma assistIncia espiritual adequada. CIm tam&m a alegria de ouvir a pregação de são Oernardino de 6ena -cf. i$id. @, /, p. /5. 8atarina narra que, em 034 M terceiro ano da sua conversão M vai confessar+se com um dos Brades ?enores que ela estimava, reali%a uma &oa 8onfissão e pede intensamente ao 6enhor que lhe conceda o perdão de todos os pecados e da pena a eles ligada. :eus revela+lhe em visão que lhe perdoou tudo. uma e(periIncia muito forte da miseric"rdia divina, que a marca para sempre, dando+lhe novo impulso para responder com generosidade ao imenso amor de :eus -cf. i$id. P, , pp. 3/+3;5.
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Em 0310 tem uma visão do ju9%o final. A cena assustadora dos condenados impele+ a a intensificar oraçDes e penitIncias para a salvação dos pecadores. ! dem$nio continua a atacá+la e ela confia+se de modo cada ve% mais total ao 6enhor e @irgem ?aria -cf. i$id. P, 1, pp. =1+=35. >os escritos, 8atarina dei(a+nos algumas notas essenciais deste com&ate misterioso, do qual sai vitoriosa com a graça de :eus. Bá+lo para instruir as suas irmãs de há&ito e aquelas que tencionam percorrer o caminho da perfeição) quer alertar contra as tentaçDes do dem$nio, que muitas ve%es se esconde so& aparIncias enganadoras, para depois insinuar dúvidas de f, incerte%as vocacionais e sensualidades. >o tratado auto&iográfico e didascálico As sete ar>as espirituais 8atarina oferece a este prop"sito ensinamentos de grande sa&edoria e de profundo discernimento. Bala em terceira pessoa, citando as graças e(traordinárias que o 6enhor lhe concede, e em primeira pessoa para confessar os pr"prios pecados. :o seu escrito transparece a pure%a da sua f em :eus, a profunda humildade, a simplicidade de coração, o ardor missionário e a pai(ão pela salvação das almas. :elineia sete armas de luta contra o mal, contra o dem$nio) 0. ter o cuidado e a solicitude de reali%ar sempre o &em2 . acreditar que so%inhos nunca poderemos fa%er algo verdadeiramente &om2 1. confiar em :eus e, por amor a Ele, jamais ter medo da &atalha contra o mal, quer no mundo, quer em n"s mesmos2 3. meditar com frequIncia so&re os acontecimentos e as palavras da vida de #esus, so&retudo a sua pai(ão e morte2 =. recordar+se que devemos morrer2 /. ter fi(a na mente a mem"ria dos &ens do 'ara9so2 7. ter familiaridade com a 6agrada Escritura, tra%endo+a sempre no coração para que oriente todos os pensamentos e toda as o&ras. Tm &onito programa de vida espiritual, tam&m hoje, para cada um de n"sS >o convento, não o&stante fosse ha&ituada corte de Berrara, 8atarina desempenha funçDes de lavadeira, costureira, padeira e encarregada de cuidar dos animais. Ba% tudo, at os serviços mais humildes, com amor e pronta o&ediIncia, oferecendo s irmãs de há&ito um testemunho luminoso. 8om efeito, ela vI na deso&ediIncia aquele orgulho espiritual que destr"i todas as outras virtudes. 'or o&ediIncia aceita o cargo de mestra das noviças, não o&stante se considere incapa% de desempenhar tal função, e :eus continua a animá+la com a sua presença e os seus dons) com efeito, uma mestra sá&ia e apreciada. Em seguida confiam+lhe o serviço do parlat"rio. 8usta+lhe muito interromper com frequIncia a oração para responder s pessoas que se apresentam grade do mosteiro, mas tam&m desta ve% o 6enhor não dei(a de a visitar e de lhe estar pr"(imo. 8om ela, o mosteiro cada ve% mais um lugar de oração, de oferta, de silIncio, de cansaço e de alegria. Zuando faleceu a a&adessa, os superiores pensam imediatamente nela, mas 8atarina impele+as a dirigir+se s 8larissas de ?Fntua, mais instru9das nas constituiçDes e nas o&servFncias religiosas. 8ontudo, poucos anos depois, em 03=/, pede+se ao seu mosteiro que crie uma nova fundação em Oolonha. 8atarina preferiria terminar os seus dias em Berrara, mas o 6enhor
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aparece+lhe e e(orta+a a cumprir a vontade de :eus e ir a Oolonha como a&adessa. 'repara+se para o novo compromisso com jejuns, disciplinas e penitIncias. 'arte para Oolonha com de%oito irmãs de há&ito. 8omo superiora a primeira na oração e no serviço2 vive em profunda humildade e po&re%a. Zuando termina o mandato do triInio de a&adessa, feli% por ser su&stitu9da, mas depois de um ano deve retomar as suas funçDes, porque a nova eleita ficou cega. Apesar do sofrimento e das graves enfermidades que a atormentam, ela desempenha o seu serviço com generosidade e dedicação. Ainda por um ano e(orta as irmãs de há&ito vida evanglica, paciIncia e constFncia nas provas, ao amor fraterno, união com o Esposo divino, #esus, para preparar deste modo o seu dote para as &odas eternas. Tm dote que 8atarina vI no sa&er compartilhar os sofrimentos de 8risto, enfrentando com serenidade as dificuldades, angústias, despre%os e incompreensDes -cf. @e sette ar>i spirituali P, <, pp. =7+=;5. >o in9cio de 03/1 as enfermidades agravam+se2 reúne as irmãs de há&ito pela última ve% no 8ap9tulo, para lhes anunciar a sua morte e recomendar a o&servFncia da regra. 'or volta do fim de Bevereiro provada por fortes sofrimentos que já não a dei(arão, mas ela que conforta as irmãs na dor, assegurando+lhes a sua ajuda inclusive do 8u. :epois de ter rece&ido os últimos 6acramentos, entrega ao confessor o escrito As sete ar>as espirituais e entra em agonia2 o seu rosto fa%+se &onito e luminoso2 olha ainda com amor para quantas a circundam e e(pira docilmente, pronunciando trIs ve%es o nome de #esus) o dia 4 de ?arço de 03/1 -cf. . Oem&o, Specc4i% di illu>inaOi%ne. 5ita di S. Caterina a B%l%gnaBlorença <<0, cap. 5. 8atarina será canoni%ada pelo 'apa 8lemente P no dia de ?aio de 070. A cidade de Oolonha, na capela do mosteiro do C%rpus K%>ini conserva o seu corpo incorrupto. 8aros amigos, santa 8atarina de Oolonha, com as suas palavras e com a sua vida, um forte convite a dei(ar+nos guiar sempre por :eus, a cumprir quotidianamente a sua vontade, em&ora muitas ve%es não corresponda aos nossos des9gnios, a confiar na sua 'rovidIncia que jamais nos dei(a so%inhos. >esta perspectiva, santa 8atarina fala conosco2 distFncia de muitos sculos, ainda muito moderna e fala nossa vida. 8omo n"s, ela sofre a tentação, padece as tentaçDes da incredulidade, da sensualidade, de um dif9cil com&ate espiritual. 6ente+se a&andonada por :eus, encontra+se na o&scuridade da f. ?as em todas estas situaçDes apoia+se sempre na mão do 6enhor, não ! dei(a, não ! a&andona. E caminhando de mãos dadas com o 6enhor, percorre a via reta e encontra o caminho da lu%. Assim, di%+nos tam&m a n"s) coragem, tam&m na noite da f, mesmo em muitas dúvidas que possam e(istir, não dei(a a mão do 6enhor, caminha de mãos dadas com Ele, crI na &ondade de :eus2 assim caminhar pela vida retaS E gostaria de ressaltar outro aspecto, o da sua grande humildade) uma pessoa que não quer ser algum ou algo2 não deseja aparecer2 não quer governar. :eseja servir, cumprir a vontade de :eus, estar ao serviço dos outros. E precisamente por isso, 8atarina era cred9vel na autoridade, porque se podia ver que para ela a autoridade era precisamente servir
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o pr"(imo. 'eçamos a :eus, por intercessão da nossa santa, o dom de reali%ar o programa que Ele tem para n"s, com coragem e generosidade, para que somente Ele seja a rocha s"lida so&re a qual se edifica a nossa vida.
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Santa Catarina de G'noa JreOad%s ir>?%s e ir>?s Hoje gostaria de vos falar de outra santa que tem o nome de 8atarina, depois de 8atarina de 6ena e 8atarina de Oolonha2 falo de 8atarina de RInova, conhecida so&retudo pela sua visão so&re o purgat"rio. ! te(to que descreve a sua vida e o seu pensamento foi pu&licado nessa cidade da igúria em 0==02 ele dividido em trIs parte) a 5ida propriamente dita, a Ke>%nstraP?% e declaraP?% d% purgatQri% M mais conhecida como :ratad% M e o KiEl%g% entre a al>a e % c%rp% -cf. @i8r% da 5ida ad>irE8el e da d%utrina santa da $eata Catarina de Gên%8a que c%nt> u>a til e catQlica de>%nstraP?% e declaraP?% d% purgatQri% RInova, 0==05. ! redator final foi o confessor de 8atarina, o sacerdote 8attaneo ?ara&otto. 8atarina nasceu em RInova, em 03372 última de cinco filhos, ficou "rfã do pai, Riacomo Bieschi, ainda em tenra idade. A mãe, Brancesca di >egro, dispensou uma válida educação cristã, a tal ponto que a maior das duas filhas se tornou religiosa. 8om 0/ anos, 8atarina foi concedida como esposa a Riuliano Adorno, um homem que, depois de várias e(periIncias comerciais e militares no ?dio !riente, tinha regressado a RInova para casar. A vida matrimonial não foi fácil, tam&m devido 9ndole do marido, apai(onado pelo jogo de a%ar. nicialmente, a pr"pria 8atarina foi indu%ida a levar um tipo de vida mundana em que, contudo, não conseguia encontrar a serenidade. :epois de de% anos, no seu coração havia um profundo sentido de va%io e de amargura.
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A conversão teve in9cio a < de ?arço de 0371, graças a uma e(periIncia singular. Cendo ido igreja de são Oento e ao mosteiro de >ossa 6enhora das Rraças para se confessar, ajoelhou+se diante do sacerdote e Lrece&eu M como ela mesma escreve M uma chaga no coração, de um imenso amor de :eusN, com uma visão tão clarividente das suas misrias e dos seus defeitos e, ao mesmo tempo, da &ondade de :eus, que quase desmaiou. Boi tocada no coração por este conhecimento de si mesma, da vida va%ia que ela levava e da &ondade de :eus. :esta e(periIncia derivou a decisão que orientou toda a sua vida, e(pressa com estas palavras) LOasta com o mundo e com os pecadosN -cf. 5ida ad>irE8el 1rv5. Então 8atarina fugiu, suspendendo a 8onfissão. @oltou para casa, entrou no quarto mais escondido e chorou prolongadamente. >aquele momento, foi instru9da interiormente so&re a oração e adquiriu a consciIncia do imenso amor de :eus por ela, pecadora, uma e(periIncia espiritual que não conseguia e(pressar com palavras -cf. 5ida ad>irE8el 3r5. Boi nessa ocasião que lhe apareceu #esus sofredor que carregava a cru%, como frequentemente representado na iconografia da santa. 'oucos dias depois, foi ter com o sacerdote para finalmente reali%ar uma &oa 8onfissão. Aqui teve in9cio aquela Lvida de purificaçãoN que, durante muito tempo, lhe fe% sentir uma dor constante pelos pecados cometidos e que a impeliu a impor+se penitIncias e sacrif9cios para demonstrar o seu amor a :eus. >este caminho, 8atarina foi+se apro(imando cada ve% mais do 6enhor, at entrar naquela que denominada Lvida unitivaN, ou seja, uma relação de profunda união com :eus. >a 5ida está escrito que a sua alma era orientada e ensinada interiormente s" pelo d"cil amor de :eus, que lhe concedia tudo aquilo que ela precisava. 8atarina a&andonou+se de modo tão total nas mãos do 6enhor que chegou a viver, durante cerca de vinte e cinco anos M como ela escreve M Lsem o intermdio de qualquer criatura, instru9da e governada unicamente por :eusN -5ida 007r+00;r5, alimentada so&retudo pela oração constante e pela 6agrada 8omunhão rece&ida todos os dias, o que não era comum na sua poca. 6" muitos anos mais tarde o 6enhor lhe concedeu um sacerdote que cuidasse da sua alma. 8atarina hesitava sempre em confiar e manifestar a sua e(periIncia de comunhão m9stica com :eus, so&retudo pela profunda humildade que sentia diante das graças do 6enhor. Boi s" a perspectiva de dar gl"ria a Ele e de poder favorecer o caminho espiritual de outros que a levou a narrar aquilo que se verificava nela, a partir do momento da sua conversão, que a sua e(periIncia originária e fundamental. ! lugar da sua ascensão aos vrtices m9sticos foi o hospital de 'ammatone, a maior estrutura hospitalar genovesa, da qual foi diretora e animadora. 'ortanto, não o&stante esta profundidade da sua vida interior, 8atarina vive uma e(istIncia totalmente ativa. Em 'ammatone foi+se formando ao seu redor um grupo de seguidores, disc9pulos e cola&oradores, fascinados pela sua vida de f e pela sua caridade. ! pr"prio marido, Riuliano Adorno, foi conquistado por ela, a ponto de a&andonar a sua vida desregrada, de se tornar terciário franciscano e de se transferir para o hospital, para oferecer a sua ajuda esposa. ! compromisso de
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8atarina no cuidado dos doentes continuou at ao fim do seu caminho terreno, a 0= de 6etem&ro de 0=0<. :esde a conversão at morte, não houve acontecimentos e(traordinários, mas dois elementos caracteri%aram toda a sua e(istIncia) por um lado a e(periIncia m9stica, ou seja, a profunda união com :eus, sentida como uma união esponsal e, por outro, a assistIncia aos enfermos, a organi%ação do hospital e o serviço ao pr"(imo, especialmente aos mais necessitados e a&andonados. Estes dois p"los M :eus e o pr"(imo M preencheram totalmente a sua vida, transcorrida praticamente entre as paredes do hospital. Estimados amigos, nunca devemos esquecer que quanto mais amarmos a :eus e formos constantes na oração, tanto mais conseguiremos amar verdadeiramente quantos estão ao nosso redor, quem está perto de n"s, porque seremos capa%es de ver em cada pessoa o osto do 6enhor, que ama sem limites nem distinçDes. A m9stica não cria distFncias em relação ao outro, não cria uma vida a&strata, mas so&retudo apro(ima do outro, porque se começa a ver e a agir com os olhos, com o 8oração de :eus. ! pensamento de 8atarina so&re o purgat"rio, pelo qual ela particularmente conhecida, está condensado nas últimas duas partes do livro citado no in9cio) o :ratad% so&re o purgat"rio e o KiEl%g% entre a al>a e % c%rp%. importante o&servar que, na sua e(periIncia m9stica, 8atarina jamais tem revelaçDes espec9ficas so&re o purgat"rio ou so&re as almas que ali estão a purificar+se. Codavia, nos escritos inspirados pela nossa santa, um elemento central, e o modo de o descrever tem caracter9sticas originais em relação sua poca. ! primeiro traço original di% respeito ao LlugarN da purificação das almas. >o seu tempo, ele era representado principalmente com o recurso a imagens ligadas ao espaço) pensava+se num certo espaço, onde se encontraria o purgat"rio. Em 8atarina, ao contrário, o purgat"rio não apresentado como um elemento da paisagem das v9sceras da terra) um fogo não e(terior, mas interior. Este o purgat"rio, um fogo interior. A santa fala do caminho de purificação da alma, rumo plena comunhão com :eus, a partir da pr"pria e(periIncia de profunda dor pelos pecados cometidos, em relação ao amor infinito de :eus -cf. 5ida ad>irE8el 070v5. !uvimos so&re o momento da conversão, quando 8atarina sente repentinamente a &ondade de :eus, a distFncia infinita da pr"pria vida desta &ondade e um fogo ardente no interior de si mesma. E este o fogo que purifica, o fogo interior do purgat"rio. Cam&m aqui há um traço original em relação ao pensamento do tempo. 8om efeito, não se começa a partir do alm para narrar os tormentos do purgat"rio M como era ha&itual naquela poca e talve% ainda hoje M e depois indicar o caminho para a purificação ou a conversão, mas a nossa santa começa a partir da pr"pria e(periIncia interior da sua vida a caminho da eternidade. A alma M di% 8atarina M apresenta+se a :eus ainda vinculada aos desejos e pena que derivam do pecado, e isto torna+lhe imposs9vel rego%ijar com a visão &eat9fica de :eus. 8atarina afirma que :eus tão puro e santo que a alma com as manchas do pecado não pode encontrar+se na presença da majestade divina -cf. 5ida
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ad>irE8el 077r5. E tam&m n"s sentimos como estamos distantes, como estamos repletos de tantas coisas, a ponto de não podermos ver :eus. A alma está consciente do imenso amor e da justiça perfeita de :eus e, por conseguinte, sofre por não ter correspondido de modo correto e perfeito a tal amor, e precisamente o amor a :eus torna+se chama, o pr"prio amor que a purifica das suas esc"rias de pecado. Em 8atarina entrevI+se a presença de fontes teol"gicas e m9sticas das quais era normal haurir na sua poca. Em particular, encontra+se uma imagem t9pica de :ion9sio, o Areopagita, ou seja, aquela do fio de ouro que liga o coração humano ao pr"prio :eus. Zuando :eus purifica o homem, liga+o com um fio de ouro e(tremamente fino, que o seu mor, e atrai+o a si com um afeto tão forte, que o homem permanece como que Lsuperado, vencido e totalmente fora de siN. Assim, o coração do homem invadido pelo amor de :eus, que se torna o único guia, o único motor da sua e(istIncia -cf. 5ida ad>irE8el 3/rv5. Esta situação de elevação a :eus e de a&andono sua vontade, e(pressa na imagem do fio, utili%ada por 8atarina para manifestar a o&ra da lu% divina nas almas do purgat"rio, lu% que as purifica e eleva aos esplendores dos raios fúlgidos de :eus -cf. 5ida ad>irE8el 074r5. Zueridos amigos, na sua e(periIncia de união com :eus os santos alcançam um Lsa&erN tão profundo dos mistrios divinos, no qual o amor e o conhecimento se compenetram, a ponto de ajudarem os pr"prios te"logos no seu compromisso de estudo, de intelligentia fidei deintelligentia dos mistrios da f, de aprofundamento real dos mistrios, por e(emplo daquilo que o purgat"rio. 8om a sua vida, santa 8atarina ensina+nos que quanto mais amamos a :eus e entramos em intimidade com Ele na oração, tanto mais Ele se fa% conhecer e acende o nosso coração com o seu amor. Escrevendo acerca do purgat"rio, a santa recorda+nos uma verdade fundamental da f, que se torna para n"s um convite a re%ar pelos defuntos, a fim de que eles possam chegar visão &eat9fica de :eus na comunhão dos santos -cf. Catecis>% da +greNa CatQlica n. 0<15. Alm disso, o serviço humilde, fiel e generoso, que a santa prestou durante toda a sua vida no hospital de 'ammatone, um e(emplo luminoso de caridade para todos e um encorajamento especialmente para as mulheres que oferecem uma contri&uição fundamental para a sociedade e a greja com a sua o&ra preciosa, enriquecida pela sua sensi&ilidade e pela atenção aos mais po&res e necessitados.
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2! de 0aneir% de 2&11
Santa !oana dArc Isti>ad%s ir>?%s e ir>?s Hoje gostaria de vos falar de #oana dArc, uma jovem santa do fim da dade ?dia, morta com 04 anos em 0310. Esta santa francesa, citada várias ve%es no Catecis>% da +greNa CatQlica está particularmente pr"(ima de santa 8atarina de 6ena, padroeira da tália e da Europa, de quem falei numa catequese recente. 8om efeito, são duas jovens do povo, leigas e consagradas na virgindade2 duas m9sticas comprometidas, não no claustro, mas sim no meio das realidades mais dramáticas da greja e do mundo da sua poca. 6ão, talve%, as figuras mais caracter9sticas daquelas Lmulheres fortesN que, no final da dade ?dia, propagaram sem medo a grande lu% do Evangelho nas comple(as vicissitudes da hist"ria. 'oder9amos compará+las com as santas mulheres que permaneceram no 8alvário, perto de #esus 8rucificado e de ?aria, sua ?ãe, enquanto os Ap"stolos fugiram e o pr"prio 'edro ! tinha negado trIs ve%es. >aquele per9odo, a greja vivia a profunda crise do grande cisma do !cidente, que durou quase 3< anos. Zuando 8atarina de 6iena faleceu, em 01;<, havia um 'apa e um antipapa2 quando #oana nasceu, em 030, havia um 'apa e dois antipapas. #untamente com esta laceração no interior da greja havia cont9nuas guerras fratricidas entre os povos cristãos da Europa, das quais a mais dramática foi a interminável LRuerra dos cem anosN entre a Brança e a nglaterra.
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#oana dArc não sa&ia ler nem escrever, mas pode ser conhecida no mais profunda da sua alma graças a duas fontes de e(traordinário valor hist"rico) os dois Jr%cess%s que lhe di%em respeito. ! primeiro, o Jr%cess% de C%ndenaP?% (JC%n) contm a transcrição dos longos e numerosos interrogat"rios de #oana, durante os últimos meses da sua vida -Bevereiro+?aio de 03105, e cita as pr"prias palavras da santa. ! segundo, o Jr%cess% de ulidade da C%ndenaP?% ou de Lea&ilitaçãoN (Jul) contm as desposiçDes de cerca de 0< testemunhas oculares de todos os per9odos da sua vida -cf. Jr%cYs de C%nda>nati%n de 0eanne dZArc 1 vols. e Jr%cYs en ullit de la C%nda>nati%n de 0eanne dZArc = vols., ed. `lincYsiecY, 'aris 04/<+04;45. #oana nasce em :omremQ, um pequeno povoado situado na fronteira entre a Brança e a orena. !s seus pais são camponeses a&astados, conhecidos por todos como cristãos e(celentes. :eles rece&e uma &oa educação religiosa, com uma notável influIncia da espiritualidade do %>e de 0esus ensinada por são Oernardino de 6ena e propagada na Europa pelos franciscanos. Ao %>e de 0esus sempre unido o %>e de "aria e assim, por detrás da religiosidade popular, a espiritualidade de #oana profundamente cristocIntrica e mariana. :esde a infFncia, ela demonstra uma grande caridade e compai(ão pelos mais po&res, pelos doentes e por todos os que sofrem, no conte(to dramático da guerra. :as suas pr"prias palavras sa&emos que a vida religiosa de #oana amadurece como e(periIncia m9stica a partir da idade de 01 anos -JC%n + , pp. 37+3;5. Atravs da Lvo%N do arcanjo são ?iguel, #oana sente+se chamada pelo 6enhor a intensificar a sua vida cristã e tam&m a comprometer+se pessoalmente pela li&ertação do seu povo. A sua resposta imediata, o seu LsimN o voto de virgindade, com um novo compromisso na vida sacramental e na oração) participação quotidiana na ?issa, 8onfissão e 8omunhão frequentes, longos momentos de oração silenciosa diante do 8rucifi(o ou da imagem de >ossa 6enhora. A compai(ão e o compromisso da jovem camponesa francesa diante do sofrimento do seu povo tornam+se mais intensos graças sua relação m9stica com :eus. Tm dos aspectos mais originais da santidade desta jovem precisamente este v9nculo entre e(periIncia m9stica e missão pol9tica. :epois dos anos de vida escondida e de amadurecimento interior segue+se o &iInio &reve, mas intenso, da sua vida pú&lica) um ano de aP?% e um ano de paiW?%. >o in9cio do ano de 034, #oana começa a sua o&ra de li&ertação. !s numerosos testemunhos mostram+nos esta jovem de apenas 07 anos como uma pessoa muito forte e determinada, capa% de convencer homens inseguros e desanimados. 6uperando todos os o&stáculos, encontra o :elfim da Brança, o futuro ei 8arlos @, que em 'oitiers a su&mete a um e(ame da parte de alguns te"logos da Tniversidade. ! seu ju9%o positivo) nela não vIem nada de mal, mas s" uma &oa cristã.
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A de ?arço de 034, #oana dita uma importante carta ao ei da nglaterra e aos seus homens que assediam a cidade de !rlans -+$id. pp. 0+5. A sua proposta de verdadeira pa% na justiça entre os dois povos cristãos, lu% dos >omes de #esus e de ?aria, mas rejeitada, e #oana deve empenhar+se na luta pela li&ertação da cidade, que tem lugar no dia ; de ?aio. ! outro momento culminante da sua o&ra a coroação do ei 8arlos @ em eims, no dia 07 de #ulho de 034. :urante um ano inteiro, #oana vive com os soldados, reali%ando no meio deles uma verdadeira missão de evangeli%ação. 6ão numerosos os testemunhos relativos sua &ondade, sua coragem e sua pure%a e(traordinária. chamada por todos e ela mesma define+se La don%elaN, ou seja, a virgem. A paiW?% de #oana tem in9cio a 1 de ?aio de 031<, quando cai prisioneira nas mãos dos seus inimigos. >o dia 1 de :e%em&ro condu%ida cidade de ouen. ali que se reali%a o longo e dramático Jr%cess% de C%ndenaP?% que começa em Bevereiro de 0310 e termina a 1< de ?aio, com a fogueira. um processo grande e solene, presidido por dois ju9%es eclesiásticos, o &ispo 'ierre 8auchon e o inquisidor #ean le ?aistre, mas na realidade inteiramente orientado por um numeroso grupo de te"logos da cle&re Tniversidade de 'aris, que participam no processo como assessores. 6ão eclesiásticos franceses que, tendo feito uma escolha pol9tica oposta quela de #oana, tIm a pri%ri um ju9%o negativo so&re a sua pessoa e a sua missão. Este processo uma página devastante da hist"ria da santidade e tam&m uma página iluminadora so&re o mistrio da greja que, segundo as palavras do 8onc9lio @aticano , Lsimultaneamente santa e sempre necessitada de purificaçãoN -@G ;5. o encontro dramático entre esta santa e os seus ju9%es, que são eclesiásticos. #oana acusada e julgada por eles, a ponto de ser condenada como herege e enviada morte terr9vel na fogueira. :iversamente dos santos te"logos que tinham iluminado a Tniversidade de 'aris, como são Ooaventura, são Comas de Aquino e o &eato :uns 6coto, dos quais falei em algumas catequeses, estes ju9%es são te"logos aos quais faltam a caridade e a humildade de ver nesta jovem a o&ra de :eus. @Im mente as palavra de #esus, segundo as quais os mistrios de :eus são revelados queles que tIm o coração das crianças, enquanto permanecem escondidos aos doutos e sá&ios que não tIm humildade -cf. @c 0<, 05. Assim, os ju9%es de #oana são radicalmente incapa%es de a compreender, de ver a &ele%a da sua alma) não sa&iam que condenavam uma santa. ! apelo de #oana ao ju9%o do 'apa, a 3 de ?aio, rejeitado pelo tri&unal. >a manhã de 1< de ?aio ela rece&e pela última ve% a sagrada 8omunhão no cárcere e imediatamente condu%ida ao supl9cio na praça do velho mercado. 'ede a um dos sacerdotes que conserve diante da fogueira uma cru% de procissão. Assim, morre contemplando #esus 8rucificado e pronunciando várias ve%es e em vo% alta o %>e de 0esus (Jul + , p. 3=72 cf. Catecis>% da +greNa CatQlica 31=5. 8erca de = anos mais tarde, o Jr%cess% de ulidade a&erto so& a autoridade do 'apa 8alisto , conclui+se com uma solene sentença que declara nula a condenação -7 de #ulho de 03=/2 Jul ++ , pp. /<3+/0<5. Este longo processo, que reuniu as deposiçDes das
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testemunhas e os ju9%os de muitos te"logos, todos favoráveis a #oana, evidencia a sua inocIncia e a sua fidelidade perfeita greja. #oana dArc será depois canoni%ada por Oento P@, em 04<. 're%ados irmãos e irmãs o %>e de 0esus invocado pela nossa santa at nos últimos instantes da sua vida terrena, era como que o suspiro cont9nuo da sua alma, como a palpitação do seu coração, o centro de toda a sua vida. ! L?istrio da caridade de #oana dArcN, que tanto tinha fascinado o poeta 8harles 'guQ, este amor total por #esus, e pelo pr"(imo em #esus e por #esus. Esta santa tinha compreendido que o Amor a&raça toda a realidade de :eus e do homem, do cu e da terra, da greja e do mundo. #esus está sempre em primeiro lugar na sua vida, segundo a sua &onita e(pressão) L>osso 6enhor, o primeiro a ser servidoN -JC%n + , p. ;;2 cf. Catecis>% da +greNa CatQlica 15. Amá+lo significa o&edecer sempre sua vontade. Ela afirma com total confiança e a&andono) LEntrego+me a :eus meu 8riador, amo+! com todo o meu coraçãoN -+$id. p. 1175. 8om o voto de virgindade, #oana consagra de modo e(clusivo toda a sua pessoa ao único Amor de #esus) La sua promessa feita a nosso 6enhor, de conservar &em a sua virgindade de corpo e de almaN -+$id. pp. 034+0=<5. A virgindade da alma o estado de graça, valor supremo, para ela mais precioso do que a vida) um dom de :eus, que deve ser rece&ido e conservado com humildade e confiança. Tm dos te(tos mais conhecidos do primeiro Jr%cess% di% respeito precisamente a isto) nterrogada se sa&ia que estava na graça de :eus, responde) se não estou nela, que :eus me queira p$r2 se a9 estou, :eus me queira conservarN -+$id. p. /2 cf. Catecis>% da +greNa CatQlica n. <<=5. A nossa santa vive a oração na forma de um diálogo cont9nuo com o 6enhor, que ilumina tam&m o seu diálogo com os ju9%es e lhe dá pa% e segurança. Ela pede com confiança) L:ulc9ssimo :eus, em honra da vossa santa 'ai(ão, peço+vos, se me amais, que me reveleis como devo responder a estes homens de grejaN -+$id. p. =5. #esus contemplado por #oana como o Lei do 8u e da CerraN. Assim, no seu estandarte, #oana mandou pintar a imagem de L>osso 6enhor que mantm o mundoN -+$id. p. 075) 9cone da sua missão pol9tica. A li&ertação do seu povo uma o&ra de justiça humana, que #oana reali%a na caridade, por amor a #esus. ! seu um &onito e(emplo de santidade para os leigos comprometidos na vida pol9tica, so&retudo nas situaçDes mais dif9ceis. A f a lu% que orienta todas as opçDes, como testemunhará um sculo mais tarde outro grande santo, o inglIs Comás ?ore. Em #esus, #oana contempla tam&m toda a realidade da greja, tanto a Lgreja triunfanteN do 8u, como a Lgreja militanteN da terra. 6egundo as suas palavras, Lum s" >osso 6enhor e a grejaN -+$id. p. 0//5. Esta afirmação, citada pelo Catecis>% da +greNa CatQlica -cf. n. 74=5, tem uma 9ndole verdadeiramente her"ica no conte(to do Jr%cess% de C%ndenaP?% diante dos seus ju9%es, homens de greja, que a perseguiram e a condenaram. >o Amor de #esus, #oana encontra a força para amar a greja at ao fim, inclusive no momento da condenação.
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Apra%+me recordar como santa #oana dArc teve uma profunda influIncia so&re uma jovem santa da poca moderna) Ceresa do ?enino #esus. >uma vida completamente diferente, transcorrida na clausura, a carmelita de isieu( sentia+se muito pr"(ima de #oana, vivendo no coração da greja e participando nos padecimentos de 8risto para a salvação do mundo. A greja reuniu+as como 'adroeiras da Brança, depois da @irgem ?aria. 6anta Ceresa tinha e(pressado o seu desejo de morrer como #oana, pronunciando o %>e de 0esus -"anuscritt% B 1r5, e era animada pelo mesmo grande amor a #esus e ao pr"(imo, vivido na virgindade consagrada. Zueridos irmãos e irmãs, com o seu testemunho luminoso, santa #oana dArc convida+nos a uma medida alta da vida cristã) fa%er da oração o fio condutor dos nossos dias2 ter plena confiança no cumprimento da vontade de :eus, qualquer que ela seja2 viver a caridade sem favoritismos, sem limites e, como ela, haurindo do Amor de #esus um profundo amor pela greja.
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2 de e8ereir% de 2&11
Santa *eresa de +ila ,de !esus- JreOad%s ir>?%s e ir>?s :urante as 8atequeses que eu quis dedicar aos 'adres da greja e a grandes figuras de te"logos e de mulheres da dade ?dia tive a oportunidade de meditar tam&m so&re alguns 6antos e 6antas que foram proclamados :outores da greja pela sua doutrina eminente. Hoje gostaria de começar uma &reve srie de encontros para completar a apresentação dos :outores da greja. E começo com uma santa que representa um dos vrtices da espiritualidade cristã de todos os tempos) santa Ceresa de Gvila Vde #esusW. >asce em Gvila, na Espanha, em 0=0=, com o nome de Ceresa de Ahumada. >a auto&iografia ela menciona alguns pormenores da sua infFncia) o nascimento de Lpais virtuosos e tementes a :eusN, numa fam9lia numerosa, com nove irmãos e trIs irmãs. Ainda menina, com menos de 4 anos, tem a ocasião de ler as vidas de alguns mártires que lhe inspiram o desejo do mart9rio, a tal ponto que improvisa uma &reve fuga de casa para morrer mártir e su&ir ao 8u -cf. 5ida 0, 352 LZuero ver :eusN, di% a pequena aos pais. Alguns anos depois, Ceresa falará da suas leituras da infFncia e afirmará que nelas desco&riu a verdade, que resume com dois princ9pios fundamentais) por um lado, Lo fato de que tudo o que pertence ao mundo daqui, passaN2 por outro, que s" :eus Lpara sempreN, tema que retorna na cele&rrima poesia L>ada te tur&e [ nada te espante2 [ tudo passa. :eus não muda2 [ a paciIncia o&tm tudo2 [ quem possui :eus [ nada lhe falta [ s" :eus
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&astaSN. Cendo ficado "rfã de mãe com do%e anos, pede @irgem 6ant9ssima que lhe seja mãe -cf.5ida 0, 75. 6e na adolescIncia a leitura de livros profanos a tinha levado s distraçDes de uma vida mundana, a e(periIncia como aluna das monjas agostinianas de 6anta ?aria das Rraças de Gvila e a leitura de livros espirituais, so&retudo clássicos de espiritualidade franciscana, ensinam+lhe o recolhimento e a oração. 8om vinte anos entra no mosteiro carmelita da Encarnação, ainda em Gvila2 na vida religiosa assume o nome de Ceresa de #esus. CrIs anos depois adoece gravemente, a ponto de ficar 3 dias de coma, aparentemente morta -cf. 5ida =, 45. At na luta contra as pr"prias doenças a santa vI o com&ate contra as fraque%as e as resistIncias chamada de :eus) LEu desejava viver M escreve M porque entendia &em que não estava a viver, mas sim a lutar com uma som&ra de morte, e não tinha algum que me desse vida, e nem eu a podia tomar, e Aquele que ma podia dar tinha ra%ão de não me socorrer, dado que muitas ve%es me dirigira para Ele, e eu ! tinha a&andonadoN -5ida ;, 5. Em 0=31 perde a pro(imidade dos familiares) o pai falece e todos os seus irmãos emigram, um ap"s o outro, para a Amrica. >a Zuaresma de 0==3, com 14 anos, Ceresa chega ao ápice da luta contra as pr"prias de&ilidades. A desco&erta da imagem de Lum 8risto muito chagadoN marca profundamente a sua vida -cf. 5ida 45. A santa, que nesse per9odo encontra profunda consonFncia com o santo Agostinho das C%nfissVes assim descreve o dia decisivo da sua e(periIncia m9stica) LAcontece... que de repente tive a sensação da presença de :eus, que de nenhum modo eu podia duvidar que estava dentro de mim, e que eu estava totalmente a&sorvida neleN -5ida 0<, 05. 'aralelamente ao amadurecimento da sua interioridade, a santa começa a desenvolver de modo concreto o ideal de reforma da !rdem carmelita) em 0=/ funda em Gvila, com o apoio do Oispo da cidade, :. Glvaro de ?endo%a, o primeiro 8armelo reformado, e pouco depois rece&e tam&m a aprovação do 6uperior+Reral da !rdem, Riovanni Oattista ossi. >os anos seguintes continua as fundaçDes de novos 8armelos, 07 no total. fundamental o encontro com são #oão da 8ru% com quem, em 0=/;, constitui em :uruelo, perto de Gvila, o primeiro convento de 8armelitas descalços. Em 0=;< o&tm de oma a ereção a 'rov9ncia aut$noma para os seus 8armelos reformados, ponto de partida da !rdem religiosa dos 8armelitas descalços. Ceresa termina a sua vida terrena precisamente enquanto está empenhada na tarefa de fundação. 8om efeito em 0=;, depois de ter constitu9do o 8armelo de Ourgos e enquanto voltava para Gvila, falece na noite de 0= de !utu&ro em Al&a de Cormes, repetindo humildemente duas e(pressDes) L>o fim, morro como filha da grejaN e L?eu Esposo, chegou a hora de nos vermosN. Tma e(istIncia consumida na Espanha, mas despendida pela greja inteira. Oeatificata pelo 'apa 'aulo @ em 0/03 e canoni%ada em 0/ por Rreg"rio P@, proclamada L:outora da grejaN pelo 6ervo de :eus 'aulo @ em 047<.
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Ceresa de #esus não tinha uma formação acadImica, mas sempre valori%ou os ensinamentos de te"logos, letrados e mestres espirituais. 8omo escritora, sempre se ateve quilo que pessoalmente vivera ou vira na e(periIncia do pr"(imo -cf. JrQl%g% a% Ca>in4% de JerfeiP?%5, isto , a partir da e(periIncia. Ceresa consegue manter relaçDes de ami%ade espiritual com muitos santos, em especial com são #oão da 8ru%. Ao mesmo tempo, alimenta+se com a leitura dos 'adres da greja, são #er$nimo, são Rreg"rio ?agno e santo Agostinho. Entre as suas principais o&ras deve+se recordar so&retudo a auto&iografia, intitulada @i8r% da 8ida ao qual ela chama @i8r% das "isericQrdias d% Sen4%r. 8omposta no 8armelo de Gvila em 0=/=, discorre so&re o percurso &iográfico e espiritual, escrito como afirma a pr"pria Ceresa, para su&meter a sua alma ao discernimento do L?estre dos espirituaisN, são #oão de Gvila. A finalidade evidenciar a presença e a ação de :eus misericordioso na sua vida) por isso, a o&ra cita com frequIncia o diálogo de oração com o 6enhor. uma leitura que fascina, porque a santa não s" narra, mas mostra que revive a profunda e(periIncia da sua relação com :eus. Em 0=//, Ceresa escreve o Ca>in4% de JerfeiP?%, por ela chamado Ad>%estaPVes e c%nsel4%s que :eresa dE de 0esus às suas >%nNas. :estinatárias são as do%e noviças do 8armelo de são #os em Gvila. Ceresa propDe+lhes um intenso programa de vida contemplativa ao serviço da greja, em cuja &ase estão as virtudes evanglicas e a oração. Entre os trechos mais preciosos, o comentário ao Jai-%ss% modelo de oração. A o&ra m9stica mais famosa de santa Ceresa o Castel% interi%r escrito em 0=77, em plena maturidade. Crata+se de uma releitura do pr"prio caminho de vida espiritual e, ao mesmo tempo, de uma codificação do poss9vel desenvolvimento da vida cristã rumo sua plenitude, a santidade, so& a ação do Esp9rito 6anto. Ceresa inspira+se na estrutura de um castelo com sete quartos, como imagem da interioridade do homem, introdu%indo ao mesmo tempo o s9m&olo do &icho da seda que renasce como &or&oleta, para e(pressar a passagem do natural ao so&renatural. A santa inspira+se na 6agrada Escritura, em particular no CUntic% d%s CUntic%s para o s9m&olo final dos Ldois EspososN, que lhe permite descrever no stimo quarto o ápice da vida cristã nos seus quatro aspectos) trinitário, cristol"gico, antropol"gico e eclesial. X sua o&ra de fundadora dos 8armelos reformados, Ceresa dedica o @i8r% das fundaPVes escrito de 0=71 a 0=;, em que fala da vida do grupo religioso nascente. 8omo na auto&iografia, a narração visa frisar so&retudo a ação de :eus na o&ra de fundação dos novos mosteiros. >ão fácil resumir em poucas palavras a profunda e minuciosa espiritualidade teresiana. Rostaria de mencionar alguns pontos essenciais. Em primeiro lugar, santa Ceresa propDe as virtudes evanglicas como &ase de toda a vida cristã e humana) em especial, o desapego dos &ens, ou po&re%a evanglica, e isto di% respeito a todos n"s2 o amor mútuo como elemento &ásico da vida comunitária e social2 a humildade como amor verdade2 a determinação como fruto da audácia cristã2 a esperança teologal, que descreve como sede de água viva. 6em esquecer as virtudes humanas) a afa&ilidade, veracidade, modstia, cortesia, alegria e cultura.
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Em segundo lugar, santa Ceresa propDe uma profunda sintonia com as grandes figuras &9&licas e a escuta viva da 'alavra de :eus. Ela sente+se em sintonia so&retudo com a esposa do CUntic% d%s CUntic%s e com o ap"stolo 'aulo, mas tam&m com o 8risto da 'ai(ão e com #esus Eucar9stico. :epois, a santa realça como a oração essencial2 orar, di%, Lsignifica frequentar com ami%ade, porque frequentamos face a face Aquele que sa&emos que nos amaN -5ida ;, =5. A ideia de santa Ceresa coincide com a definição que s. Comás de Aquino dá da caridade teologal, comoa>icitia quaeda> 4%>inis ad Keu>R um tipo de ami%ade do homem com :eus, que foi o primeiro a oferecer a sua ami%ade ao homem2 a iniciativa vem de :eus -cf. Su>>a :4e%l%giae ++ +, 1, 05. A oração vida e desenvolve+se gradualmente com o crescimento da vida cristã) começa com a prece vocal, passa pela interiori%ação mediante a meditação e o recolhimento, at chegar união de amor com 8risto e a 6ant9ssima Crindade. !&viamente, não se trata de um desenvolvimento em que su&ir os degraus mais altos quer di%er dei(ar o precedente tipo di oração, mas antes um aprofundar+se gradual da relação com :eus que envolve toda a vida. ?ais do que uma pedagogia da oração, a de Ceresa uma verdadeira LmistagogiaN) ao leitor das suas o&ras ensina a re%ar, orando ela mesma com ele2 com efeito, frequentemente interrompe a narração ou a e(posição para irromper em oração. !utro tema amado pela santa a centralidade da humanidade de 8risto. 8om efeito, para Ceresa a vida cristã relação pessoal com #esus, que culmina na união com Ele pela graça, amor e imitação. :aqui a importFncia que ela atri&ui meditação da 'ai(ão e Eucaristia, como presença de 8risto na greja, pela vida de cada crente e como centro da liturgia. 6anta Ceresa vive um amor incondicional greja) manifesta um sensus IcclesiaeR vivo diante dos epis"dios de divisão e conflito na greja do seu tempo. eforma a !rdem carmelita com a intenção de melhor servir e defender a L6anta greja 8at"lica omanaN, disposta a dar a vida por ela -cf. 5ida 11, =5. Tm último aspecto essencial da doutrina teresiana, que gostaria de frisar, a perfeição, como aspiração de toda a vida cristã e sua meta final. A santa tem uma ideia muito clara da LplenitudeN de 8risto, revivida pelo cristão. >o final do percurso do Castel% interi%r no último LquartoN, Ceresa descreve tal plenitude reali%ada na morada da Crindade, na união a 8risto atravs do mistrio da sua humanidade. 8aros irmãos e irmãs, santa Ceresa de #esus verdadeira mestra de vida cristã para os fiis de todos os tempos. >a nossa sociedade, muitas ve%es carente de valores espirituais, santa Ceresa ensina+nos a ser testemunhas indefessas de :eus, da sua presença e ação, ensina+nos a sentir realmente esta sede de :eus que e(iste na profundidade do nosso coração, este desejo de ver :eus, de ! procurar, de dialogar com Ele e de ser seu amigo. Esta a ami%ade necessária para todos n"s e que
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devemos &uscar de novo, dia ap"s dia. ! e(emplo desta santa, profundamente contemplativa e efica% nas suas o&ras, leve+nos tam&m a n"s a dedicar cada dia o justo tempo oração, a esta a&ertura a :eus, a este caminho para procurar :eus, para ! ver, para encontrar a sua ami%ade e assim a vida verdadeira2 porque realmente muitos de n"s deveriam di%er) L>ão vivo, não vivo realmente, porque não vivo a essIncia da minha vidaN. 'or isso, o tempo da oração não perdido, tempo em que se a&re o caminho da vida, para aprender de :eus um amor ardente a Ele, sua greja, e uma caridade concreta para com os nossos irmãos.
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