Resenha: Avaliação da Aprendizagem Escolar Fabiana Aparecida Machado Sales Instituto Dados da Amazônia – Universidade Gama Filho Luckesi, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar: Estudos e proposições. 19ª Ed. – São Paulo: Cortez. 2008. ISBN 978-85-249-0550-6. CIPRIANO CARLOS LUCKESI é licenciado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Católica do Salvador, Bahia (1970), Bacharel em Teologia pela Fac uldade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1968), Mestre em Ciências Sociais pela Faculdade de Filo sofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal da Bahia (1976) e Doutor em Educação: História, Política, Sociedade pelo Programa de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1992). Atualmente é professor pós-aposentado da Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia. Foi professor do Departamento de Filosofia, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas/UFBA, ensinando na Graduação, de 1971 a 2002, quando aposentou-se. No Curso de Graduação em Filosofia, ensinou especialmente Introdução à Filosofia, Axiologia, Pensamento Filosófico na América Latina, Leitura do Texto Filosófico. Iniciou suas atividades na Pós-Graduação em Educação (Mestrado), na Faculdade de Educação/UFBA, em 1985, estando a ela vinculado até o presente momento, ensinando especialmente Filosofia da Educação, Metodologia da Pesquisa e Educação e Ludicidade, além de orientar mestrandos e doutorandos em suas atividades de pesquisa e elaboração de dissertações e teses. Seu contato com o tema avaliação da aprendizagem escolar iniciou em 1968 quando ainda era acadêmico do curso de Filosofia, desde então, tem realizado estudos, proferindo palestras em conferências e seminários sobre o assunto. Esta obra reúne um conjunto de artigos que foram publicados no decorrer de “longos anos de trabalho” e didaticamente divididos em nove capítulos, de fácil entendimento, servindo como eixo norteador a estudiosos que desejam trabalhar com a referida modalidade de pesquisa. Avaliação da aprendizagem escolar: apontamentos sobre a pedagogia do exame é o título do primeiro capítulo, onde Luckesi afirma que a nossa prática educativa é que a avaliação da aprendizagem ganhou um espaço tão amplo nos processos de ensino que passou a ser direcionada para o que ele chama de “pedagogia do exame”. Luckesi nos leva a uma discussão onde nosso exercício pedagógico está mais ligado as provas e exames do que propriamente para o ensino-aprendizagem, onde se predominam notas. Professores utilizando-se de instrumentos de ameaça para que os alunos sintam-se motivados a aprender; onde o aluno deve se dedicar ao estudo não porque os conteúdos são importantes, mas pelo medo. Os pais, por sua vez, estão preocupados nas promoções dos alunos no decorrer de sua caminhada na escola, sendo supervalorizadas as notas que irão levar a aprovação. As reuniões marcadas pela escola, que deveriam ter como objetivo uma conversa ampla e com a participação de todos, acabam resultando em diálogos somente com os pais daqueles rotulados como “problema”, enquanto os pais daqueles que obtiveram notas significativas não sentem a necessidade desta conversa. “Enquanto o estabelecimento de ensino estiver dentro dos ‘conformes’, o sistema social se contenta co ntenta com os quadros estatísticos.” (p. 21) Nossos estabelecimentos de ensino e também o Estado, estão preocupados com quadros estatísticos e gráficos gr áficos apontando o desempenho de nossos alunos, mas não levando em conta a real aprendizagem destes. Segundo o autor, a atenção centralizada nas provas, exames e notas apresentam desdobramentos especialmente na relação professor-aluno, onde professores fazem promessas de pontos a mais em função de atividades que não estão ligadas diretamente ao conteúdo e as notas, não são consideradas como o resultado de uma aprendizagem. Luckesi traz explicações da pedagogia dos séculos XVI e XVII, c rendo que estas explicações são uma visão equivocada histórica onde, a pedagogia jesuítica atendia um ritual de provas e exames. Após, a pedagogia c omeniana, deve-se dar atenção à educação como centro de interesse da ação do professor, porém, faz referência ao uso dos exames como forma de “estimular” o aluno ao trabalho intelectual da aprendizagem, mas enfatiza o medo como fator para manter a atenção dos alunos e desenvolver a aprendizagem. Já na sociedade burguesa, expansão das duas pedagogias, destacase a seletividade escolar e seus processos de formação da personalidade dos alunos. Onde o sistema educativo é
puramente avaliativo contextualizado no medo, que é um mecanismo imprescindível na sociedade que não opera com transparência. A provas e exames estão sendo utilizados como ferramentas e realizados conforme o interesse do sistema de ensino e do professor, onde as notas são consideradas não levando em conta a aprendizagem do aluno, sendo somente médias. É a nota que domina, sendo em função dela que se vive a prática escolar. Como consequência desta “pedagogia do exame”, a avaliação da aprendizagem, enquanto for priorizada por exames, não terá como real função decidir sobre a melhoria da aprendizagem; ficando mais ligada c om a reprovação do que com a aprovação. O segundo capítulo tem como objetivo discutir a questão do autoritarismo na prática da avaliação educacional escolar e sua possível superação. “A prática escolar predominante hoje se realiza dentro de um modelo teórico de compreensão que pressupõe a educação como um mecanismo de conservação e reprodução da sociedade. O autoritarismo é elemento necessário para a garantida desse modelo social, daí a prática da avaliação manifestar-se de forma autoritária.” (p. 28) O autor especifica a avaliação para além do autoritarismo, afirmando que avaliação está ligada como uma concepção teórica da educação, que se traduz uma concepção teórica de sociedade, como mecanismo de conservação e reprodução da sociedade, exemplificando que a avaliação tem sido para aprovar ou reprovar os alunos, caracterizando como ameaças autoritárias, intimidando o aluno, concretizando que avaliação deve ser uma ato amoroso e que nada mais é que um auxilio na aprendizagem, e não um processo doloroso, penoso, como é vivenciado, acreditando que do instrumento avaliativo deve-se ressaltar a reflexão, a compreensão com fim diagnóstico para a construção do conhecimento, e não para classificar, selecionar ou excluir. Assim sendo, o autor vê a necessidade de mudar o processo avaliativo, pois há de existir uma provável mudança na escola, entendendo uma pedagogia de transformação social, excluindo a avaliação de formação mecânica, mas sim, refletida no encaminhamento político e decisório a favor da participação democrática da vida social, tendo a ação pedagógica compreensiva pautada na reflexão a todo instante. Prática escolar: do erro como fonte de castigo ao erro como fonte de virtude é o terceiro capítulo que mostra a visão do castigo “como forma de correção e direção da aprendizagem, tomando a avaliação como suporte na decisão.” (p. 48) O autor nos retoma que no passado existia a palmatória, que consistia em um instrumento com o qual o professor batia em seus alunos. Existia, também, o castigo físico, no qual o aluno deveria ficar de joelhos sobre grãos de milho. Eram castigos físicos aplicados de acordo com a gravidade do erro. Hoje, os professores se utilizam da “violência simbólica”, incutindo medo através de ameaças de castigo a seus alunos. Na prática escolar, o erro se desenvolve, reforçando no aluno uma compreensão culposa da vida, na qual sofre ainda a autopunição. “O medo tolhe a vida e a liberdade, criando a dependência e a incapacidade para ir sempre em frente.” (p. 51) Para o autor, a culpa já está articulada com concepção filosófica-religiosa, onde de acordo com o texto bíblico de Gênesis, nascemos do pecado. A culpa gera uma limitação da vida e produz um engessamento de conduta. “A sociedade conservadora não suporta existir sem os mecanismos de controle internalizados pelos indivíduos – a culpa é, assim, muito útil.” (p. 53) Deve-se ver o erro como uma fonte de virtude, uma ponte para o crescimento; mas para isso, é necessário deixar o preconceito de lado e passar a observar primeiro e fazer o julgamento após essa observação. Para isso, temos que reaprender esta nova conduta. Devemos reconhecer que o erro pode trazer benefícios ao aprendizado do aluno, pois o professor ao se deparar com o erro do aluno pode intervir explicando a partir deste, possibilitando a oportunidade de revisão e o crescimento na aprendizagem. Segundo Luckesi, o erro no caso da aprendizagem, não deve ser fonte de castigo, mas um suporte para a autocompreensão, um suporte para o crescimento. O quarto capítulo intitulado Avaliação do aluno: a favor ou contra a democratização do ensino?! discute a questão da avaliação relacionada a questão da democratização do ensino desenvolvendo tópicos sobre a democratização do ensino e a avaliação do aluno; a atual prática da avaliação e democratização do ensino e a proposição de encaminhamento – a avaliação diagnóstica. Luckesi abre a discussão mostrando a realidade brasileira onde a ineficiência se torna eficiente, pois quanto mais ignorante as camadas populares, mais fácil controlar as pessoas às necessidades da camada capitalista.
Considera que, a prática escolar e a prática docente devem criar condições necessárias a aprendizagem, desenvolvendo meios efetivos para que o conteúdo que está sendo proposto seja ensinado. É antidemocrático uma má qualidade de aprendizagem, pois esta, não possibilita ao aluno um processo emancipador. O autor afirma que a avaliação da aprendizagem existe propriamente para garantir a qualidade da aprendizagem do aluno possibilitando uma qualificação da aprendizagem, porém, a atual prática tem estado contra a democratização do ensino, na medida em que não colabora para a permanência e promoção do aluno. A atual prática da avaliação e democratização do ensino passa por rituais, nos quais durante um determinado período de aulas e exercícios, intitulado como unidades de estudo, o professor faz a verificação da aprendizagem formulando testes ou provas, esperando uma manifestação de conduta do aluno que irá expressar seus entendimentos, compreensões e habilidades que foram ensinadas no decorrer desse período. É antidemocrático com os alunos, na medida em que aprovamos ou reprovamos, impedindo o surgimento de pessoas criativas, inventivas, pois manifestamos uma prática que não é essencial à aprendizagem escolar e não serve para o crescimento do aluno. “Avaliação deverá ser assumida como um instrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para que possa avançar no seu processo de aprendizagem.” (p.81) A avaliação diagnóstica não pode ser isolada, é de sua existência ser uma concepção pedagógica progressista. Luckesi faz uma comparação entre o diagnóstico de um médico, preocupado com a melhoria da saúde de seu paciente, com o diagnóstico da avaliação da aprendizagem estar preocupada com o crescimento do educando; caso contrário, nunca será diagnóstica. O quinto capítulo faz uma análise crítica que pretende proceder da prática avaliativa, identificando-a com o conceito de verificação ou de avaliação. A avaliação da aprendizagem apenas será possível quando se estiver interessado na aprendizagem do aluno. O sistema social que se vive não está preocupado com que o aluno aprenda, a isso, talvez, se deva tão pouco investimento em educação. Tanto o sistema, quanto pais e professores estão preocupados em aprovação ou reprovação dos alunos e pouco atentos à questão do seu efetivo desenvolvimento. Se, ao ensinar ao aluno e este não aprender, é preciso que sejam revistos os conceitos e ensinar até que realmente aprendam. “A avaliação só pode funcionar efetivamente num trabalho educativo com essas caract erísticas. Sem essa perspectiva dinâmica de aprendizagem para o desenvolvimento, a avaliação não terá espaço; terá espaço sim, a verificação.” (p. 100) Planejamento e avaliação na escola: articulação e necessária determinação ideológica é o título do sexto capítulo que o autor faz uma crítica ao ato de planejar, sendo este uma atividade intencional pelo qual se projetam fins e se estabelecem meios para atingi-los, e o planejar da prática escolar, sem atentar aos significados ideológicos, políticos, sendo eles meramente preenchimentos de formulários, conteúdos transcritos de índices dos livros didáticos e colocam seus objetivos a partir do assunto a explanar. Sendo este planejar, um ato neutro. “Enquanto o planejamento dimensiona o que se vai construir, a avaliação subsidia essa construção, porque fundamenta novas decisões.”(p. 116) A avaliação será um ato amoroso e cuidadoso pelo qual se verifica como está desenvolvendo o processo ensinoaprendizagem, e como trabalhar para sua evolução e desenvolvimento integral. No sétimo capitulo é observado a prática docente, refletindo-a e colocando em pauta a predominância da técnica, ou seja, muitos cumprem seu papel mecanicamente, concebendo a consequência negativa desse ato, que serve para o desequilíbrio efetivo da aprendizagem, sabendo que a sociedade não investe o suficiente no desenvolvimento do educando, dado ao longo da história, vê-se a necessidade do professor assumir uma postura com perspectiva de democratização, interessado no desenvolvimento do educando, e como a mediação de conhecimento professor-aluno se assimila na visão e transformação social de mundo, constituindo que a prática docente, se interliga dentro de todo contexto, que o planejamento não é um ato burocrático, técnico, mas um ato político, na medida em que se estabelece uma finalidade a ser construída, e decisório que conduziria seus objetivos políticos, científicos, técnicos, sendo uma dinâmica que sofre alterações e adaptações. No oitavo capítulo, Planejamento, execução e avaliação do ensino: a busca de um desejo, o autor conceitua o que é o agir, o planejar e o avaliar estabelecendo metas definidas, colocando que o ser humano age em função de resultados,
consciente ou inconsciente. Vislumbra a verdadeira tarefa do educador, estando atrelados aos desejos e objetivos claros, mirados no limite, com entrega e esforço construindo uma aprendizagem satisfatória e sadia, com a verdadeira integração do planejamento, avaliação, conhecimento e execução, sendo recursos da busca do desejo, afins de construir resultados satisfatórios, processando o autocrescimento. No nono e último capítulo, Avaliação da aprendizagem escolar: um ato amoroso, Luckesi se dedica a desvendar as tramas nas quais a prática da avaliação é praticada nas escolas, de forma autoritária, ameaçadora e seletiva; mas entendendo ser o ato de avaliar, um ato amoroso.