Aula 2 – 23 de Agosto 1.
Neo-realismo ofensivo defensivo e neo-clássico - MEARSHEIMER, John J. The tragedy of great power politics.. New York/London: W.W Norton and Company, 2001. Caps 2 e 4: “Anarachy and the Strugglel for power”, pp. 29 -54. - MORGENTHAU, H. Política entre as nacões. Brasília, UNB/Imprensa Oficial SP, 2003. - ROSE, G. . “Neoclassical Realism and Theories of Foreign Policy,”, World Politics, 51(1), 1988. - WALTZ, Kenneth. Teoria das Relações Internacionais. Lisboa: Gradiva, 2002. Cap 6.
Neo-Realismo
- A teoria da política internacional concebida por Kenneth Waltz representou ponto de inflexão a partir da publicação de Theory of International Politics (1979), marco do NeoRealismo ou Realismo Estrutural. - Na teoria de Waltz, os resultados internacionais derivam de causas sistêmicas e não, como vislumbrava o realismo clássico, de variáveis pertencentes ao nível das unidades políticas. Na lógica dedutiva waltziana, o eixo desloca-se para os efeitos do sistema internacional. - Estrutura do sistema: o princípio ordenador (a anarquia); a função das unidades (como as unidades são funcionalmente similares, não teriam papel analítico); e a distribuição de poder entre grandes potências (polaridade). (po laridade). - A interação entre estrutura e unidades se dá em lógica explicativa “descendente” (top( topdown). Os resultados internacionais partem da estrutura do sistema. Nesse sentido, a teoria Neo-Realista serviria para explicar resultados internacionais; jamais para entender políticas externas específicas. - Balance of Power: Pressupondo uma constante no comportamento externo das unidades no sistema, como maximizadoras de segurança, o resultado internacional mais significativo que se depreende da teoria waltziana é a “contraposição de poder”. - Teoria da contraposição de poder: Prevê padrões recorrentes de grandes potências contrapondo grandes potências. potências. É a expressão da estrutura do do sistema internacional internacional sobre a política externa dos Estados. As contraposições de poder teriam caráter não intencional, produto da política internacional (sistema) e não da política externa (unidades e seus propósitos). - Um corolário do modelo waltziano é que a pressão da estrutura internacional, a restrição que impõe ao comportamento das unidades, supera os propósitos gerados internamente pelos Estados – isto é, os propósitos de sua política externa – na medida em que molda a interação das unidades. O comportamento agregado do sistema internacional restringe o comportamento das unidades. - Lógica sistêmica de Waltz: Waltz: não se faz necessário dotar a política externa das unidades de interesses diferenciados. Todas elas teriam, a priori, o mesmo propósito primário: a sobrevivência, ainda que, a posteriori, seus propósitos pudessem variar, desde a manutenção de sua posição no sistema até o domínio mundial. - Neo-Realismo x Realismo Clássico: Neo-Realismo, ao contrário do Realismo Clássico, considera que o sistema internacional é composto exclusivamente de Estados satisfeitos (Schweller, 1996).
- Sobrevivência (Waltz): Manutenção da posição da unidade no sistema é objetivo primário dos Estados. Esse objetivo é alcançado pela maximização da segurança. Somente quando a sobrevivência está assegurada, os Estados podem buscar outros objetivos. - A dedução a partir da estrutura anárquica do sistema internacional waltziano poderia ser vista do seguinte modo: ANARQUIA AUTO-AJUDA SOBREVIVÊNCIA POSICIONAL MAXIMIZAÇÃO DE SEGURANÇA DILEMA DE SEGURANÇA CONTRAPOSIÇÃO DE PODER - Como as unidades são idênticas, todos os Estados estariam dispostos a assumir custos e riscos altos para manter sua posição no sistema – e apenas custos e riscos baixos, marginais, para melhorá-la. - Modelo waltziano: A política externa aparecerá necessariamente como resposta contrapositiva (por meio de alianças ou de incremento do próprio poder nacional do Estado) a aumentos relativos de poder na estrutura do sistema. No entanto, nada há de inevitável ou automático nessa lógica, se considerarmos a percepção e as decisões dos líderes nacionais na história.
Realismo Neo-Clássico - Realismo neoclássico (World Politics, Gideon Rose (1998)): denominou essa vertente “realismo neoclássico”, da associação entre o neorrealismo e o realismo clássico.
Reintroduz a dimensão histórica das relações internacionais. Ressurge a contingência das decisões de política externa, a escolha dos estadistas em seu tempo e espaço, em suas circunstâncias políticas e históricas. - Stephen Walt “(...) enquanto Waltz insistiu que sua teoria não era uma teoria de política externa, a corrente neoclássica da teoria realista dá menos atenção às propriedades do sistema como um todo e se concentra primordialmente na explicação das decisões de políticas externas específicas”. - Modelos do Realismo Neoclássico: Procuram, em princípio, superar a separação rígida entre os níveis de análise, proposta por David Singer, os quais não se poderiam combinar Política internacional e Política externa poderiam ser teoricamente integradas em modelos analíticos e tratadas a partir de uma abordagem clássica. - Ao contrário do que informa o neorrealismo, o comportamento atribuído às unidades pela estrutura do sistema internacional não seria unicamente a maximização da segurança. A posição relativa do Estado no sistema de poder internacional poderá estabelecer o parâmetro inicial de sua política externa. Mas a tradução das dinâmicas de
poder no sistema internacional em comportamentos de política externa não é automática. As escolhas passam por variáveis intervenientes, expressas por certos fatores no nível doméstico das unidades. - Ações de política externa: Decorrem não de maneira automática das dinâmicas de poder no sistema internacional, mas passam por filtros intervenientes - A avaliação das dinâmicas de poder : Essencialmente estratégica. Para as elites de política externa, isso implica um jogo constante de percepções relativas, um processo contínuo de avaliação do próprio potencial em relação ao poder dos demais países, nos movimentos por posições internacionais. - O potencial nacional de um país: Depende de seus recursos de poder – tangíveis e intangíveis –, de sua estrutura doméstica, de sua posição geográfica, de sua experiência histórica. Traduzido em estratégia e canalizado para a política externa, esse potencial poderá transformar-se em poder efetivo no sistema internacional.
Neo-Realismo Defensivo (Kenneth Waltz ): - A segurança se dá através de uma balança de poder defensiva. - O temor é considerado variável importante, o que leva os Estados a priorizar
elementos defensivos. - O Neo-realismo defensivo não consegue resolver o dilema de segurança, já que um ator não consegue convencer o outro de que está se armando defensivamente, no que é conhecido como reciprocidade negativa. - Hipótese do pior dos casos: os armamentos devem privilegiar balanças de poder defensivas, já que estas só tem a finalidade de dissuasão, mostrando para o outro ator o alto custo de um eventual first strike (doutrina da mútua destruição assegurada). Logo, armamentos defensivos só têm um uso potencial (decorrência da balança de poder defensiva). - O custo da guerra leva o ator a se preparar para a pior das hipóteses. - Metas de segurança de curto prazo e metas de defesa militar são priorizadas em relação às metas econômicas. Entretanto, no longo prazo, o desenvolvimento econômico é procurado.
Neo-Realismo Ofensivo:
- Existência de preferências entre metas de segurança de curto e de longo prazo. Os Estados partem da categoria de probabilidades: por exemplo, os benefícios de uma política de segurança de longo prazo podem ser superiores aos custos de curto prazo. - Robert Gilpin afirma que os Estados se movimentam com essa política de trade-offs. As metas de curto e longo prazo são intercambiáveis. - Existem incentivos para a mudança do sistema, e não para o status quo. - Gilpin e John Mearsheimer consideram os fatores domésticos, isto é, a percepção da sociedade sobre os custos de um empreendimento. Mearsheimer coloca o tema do nacionalismo como importante variável doméstica, principalmente na Europa. Gilpin tem um conceito mais amplo de poder, a definição de poder complexa. Há uma visão mais complexa dos objetivos, que são simultâneos e múltiplos.
Neoliberalism (neoliberal institutionalism), Neorealism (structural realism) and World Politics BALDWIN, David
Neorealism and Its Critics: Livro editado por Keohane, que se focava na reformulação do modo de
pensar do Realismo tradicional, de Kenneth Waltz. A ideia é trazer para a teoria as novas instituições internacionais ou regimes. Neoliberalism and Neorealism: Terms of Contemporary Debate
The Nature and Consequences of Anarchy Arthur Stein: “independent decision making” x “joint decision making”. Estados autônomos em
um cenário de anarquia leva a construção de regimes internacionais. Charles Lipson: Reconhece a importância da interdependência. Axelrod e Keohane: Cenário anárquico é a falta de governo, mas essa permite que os Estados possuam interações variadas entre si. Grieco: Neoliberais institucionalistas não dão importância às preocupações sobre a sobrevivência como um fator motivador para definir o comportamento dos Estados. Neorrealistas acreditam que a anarquia causa nos Estado muito mais constrangimento do que pensam os Neoliberais. Anarquia tem sido exageradamente considerada, ao passo que a interdependência tem sido renegada.
International Cooperation
Grieco: Neorrealistas acreditam que cooperação internacional é mais difícil de ser alcançada,
mais complicada de ser mantida, e muito dependente do poder do estado.
O futuro da EU será um marco importantíssimo para o arcabouço teórico das duas correntes.
Relative x Absolute Gains
Stein: Visão liberal de interesse próprio coincide com o interesse comum de todos os Estados, já
que eles almejam aumentar seus ganhos relativos, entretanto, para o autor essa maximização não caracteriza interesses comuns. Lipson: Ganhos relativos são mais consideráveis quando se trata de questões de segurança, mais que questões econômicas.
Priority of State Goals
Neoliberais e Neorrealistas concordam que tanto a segurança nacional quanto o bem estar econômico são importantes, mas divergem na ênfase que direcionam a esses elementos.
Lipson: Cooperação internacional é mais provável no âmbito da economia do que no âmbito da
segurança. Como os neoliberais voltam-se mais para o estudo de economia política, ao passo que os neorrealistas voltam-se para questões de segurança, é possível que a cooperação esteja mais ligada à área de estudo em si.
Intentions x Capabilities
Morgenthau: Assume que os “statesmen” pensam e agem segundo interesses definidos pelo
poder, entretanto, neorrealistas, tendem a enfatizar capacidades mais do que intenções.
Krasner : Critica os neoliberais por se focarem muito em intenções, interesses e informação, e
deixarem de lado a distribuição das capacidades. Stein: Capacidades somente são importantes caso afetem preferências e intenções do Estado.
Institutions and Regimes
Ambos reconhecem a ascensão dos regimes e de instituições internacionais, mas os neorrealistas são céticos quanto a real eficácia desses novos elementos frente o cenário anárquico e a cooperação inter-estatal, ao passo que os institucionalistas acreditam que esses novos atores são significantes. Pontos convergentes: Entendem o Estado como egoístas e maximizadores; Embora divirjam do papel dos atores não-estatais, ambos consideram o Estado como sendo o elemento principal; Não é mais um debate entre teorias de cooperação e teorias de conflito, já quem ambos entendem esses elementos como intrínsecos ao sistemas.
Historical Roots of the Debate
Filósofos cristãos: comércio entre as regiões permitiriam maior cooperação, evitando assim, conflitos entre eles. Mercantilistas: (século XVII e XVIII): riqueza e poder como jogos de soma-zero. Iluministas: Cidadão internacional, comunidade internacional. Woodrow Wilson: livre-comércio promoveria a paz, bem como a ideia de uma instituição universal para fomentar o mesmo objetivo. Pós 2ª Grande Guerra: Fortalecimento do Realismo. Década de 70-80: Intensificação do debate entre neorrealismo e liberais institucionalistas,
Anarchy and Social Order
Anarquia: caos e desordem (Estado de Hobbes – todos contra todos); ausência de governo. O que seria o governo? Deve ser alguma característica que a nível internacional não se faz presente. Kenneth Boulding (sistema proveniente das ciências sociais, que engloba em si elementos das duas vertentes teóricas): Três mecanismos sociais que são responsáveis pela ordem na estrutura da família, podem ser responsáveis pela ordem no sistema político internacional e entre os Estados-Nação: “Exchange relations” (recompensas); “threat systems” (constrangimentos); “image integration” (harmonia da percepção de interesses).
Capabilities and Cooperation
Scoope and Domain
Poder: tipo de relação causal em que o poder de um terceiro ator afeta o comportamento, crença, atitudes e propensão a agir do outro. Necessidade de definição do âmbito e do domínio em que o poder terá efeito. Waltz: Rejeita a lógica causal de noção de poder. Ambos os atores podem ser afetado. Esse conceito alternativo não descarta a definição do escopo (que efeitos serão observados), domínio (que outros serão afetados). Capacidade do Estado: Terceiro poderia ser afetado de que maneira?
Waltz: tamanho da população e território, recursos naturais, capacidade econômica, força
militar, estabilidade política, competência. Capacidade de um Estado não poderia ser definida fora de um contexto específico.
The Zero-Sum Problem
Soma zero: Se um ator ganha, isso implicará, obrigatoriamente, na perda para o outro ator (discutível). Conceptualização multidimensional x unidimensional do poder. Na política internacional, pode existir tanto situações em que todos ganham, como situações em que todos perdem.
Fungibility
Esse termo refere-se à facilidade com que a capacidade de uma área pode ser utilizada em outro contexto. Uso do dinheiro como uma variável para calcular o valor dos ganhos e perdas no cenário político, entretanto, é complicado atribuir uma conceptualização política para essa unidade.
Future Directions
O que coíbe ou incentiva a cooperação internacional? - Estratégia da reciprocidade; - Inúmeros estados propensos a cooperarem entre si; - Expectativas futuras dos atores irá incentivar maior cooperação; - Promoção da cooperação por meio dos Regimes; - Comunidades epistêmicas; - Distribuição de poder entre os atores. Como combinar política doméstica e política externa? - Fatores domésticos são essenciais para compreender o modo pelo qual os ganhos relativos são traduzidos na política. Utilidade da força militar. Constrangimentos ou Oportunidades?
