FACULDADECÁSPERLÍBERO
CAMILAZANQUETA
Astroturfingeousodasmídiassociais conectadasnaseleiçõespr conectadasnaseleiçõespresidenciai esidenciaisde2010 sde2010
SãoPaulo 2011
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CAMILAZANQUETA
Astroturfingeousodasmídiassociais conectadasnaseleiçõespr conectadasnaseleiçõespresidenciai esidenciaisde2010 sde2010
TrabalhodeconclusãodecursodePós-Graduaçãolatosensu apresentadoàFaculdadeCásperLíberocomorequisitoparcialparaa e s p e c i a l i za ç ã o e m C o m u n i c a ç ã o O r g a n i z a ci o n a l Orientador:Prof.Dr.WalterTeixeiraLimaJunior
SãoPaulo 2011
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Astroturfingeousodasmídiassociaisconectadasnaseleições 1.1.1.1 Zanqueta,CamilaNazaréCardozo presidenciaisde2010/CamilaZanqueta--SãoPaulo,2011. .2.Astroturf.3.Eleições. 42f;30cm. Orientador:Prof.Dr.WalterTeixeiraLimaJuniorMonografia(pós-graduaçãolato sensu)–FaculdadeCásperLíbero,ProgramadePós-graduaçãoemComunicação 1.MídiasSociaisConectadas.2.Astroturfing3.Eleições.
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CAMILAZANQUETA
Astroturfingeousodasmídiassociais conectadasnaseleiçõespr conectadasnaseleiçõespresidenciai esidenciaisde2010 sde2010
TrabalhodeconclusãodecursodePós-Graduaçãolatosensu apresentadoàFaculdadeCásperLíberocomorequisitoparcialparaa e s p e c i a l i za ç ã o e m C o m u n i c a ç ã o O r g a n i z a ci o n a l Orientador:Prof.Dr.WalterTeixeiraLimaJunior
Datadaaprovação
Bancaexaminadora
SãoPaulo 2011
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Dedicoestaslinhasaomeuavôamado,HermanoAugustoCardoso, quemeguioupelavida,eaomeuorientador,Prof.Dr.WalterTeixeiraLimaJunior, quedespertoumeuencantopela quedespertoumeuencantopelaciência. ciência.
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AGRADECIMENTOS
Aomeuspais,pordesdemuitopequenamostraremaimportânciadaleituraeeducaçãoemminha vida. Aminhairmã,Carol,minhafortalezanosmomentosmaisdifíceiseminhaalegriaatodootempo. AoFaa,pelosmomentosdepurafelicidade,quemedãoforçaparacontinuar.
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“Sitodoslosríossondulces,¿dedóndesacasalelmar?” PabloNeruda
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RESUMO
O ponto fundamental desta pesquisa é compreender parte do processo de astroturfing nas mídias sociais sociais conectadas. conectadas. Para realizar o estudo será feito uma uma análise de prováveis ações de astroturfing nas campanhas para as eleições presidenciais de 2010 no Brasil. O estudo está focado nos possíveis mecanismos de astroturfing aplicados durante a eleição com a utilização de plataformas como blogs e o microblog Twitter criando falsas comunidades de apoio aos candidatos. Para fundamentar a pesquisa, conceitos básicos são apresentados e desenvolvidos: astroturfing, mídias sociais conectadas, engajamento político, interatividade entre outros. Exemplos de ações de astroturfing realizadas em outros países são apresentadas no trabalho para fundamentar a pesquisa e gerar insumos para a análise da prática no Brasil. Palavras-chave: astroturfing, mídias sociais conectadas, eleições, Twitter, Neofluxo, política, engajamento.
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ABSTRACT The key point of this research is to understand part of the process of astroturfing in connected social media. To perform the study it will be carried out an analysis of probable actions of astroturfing in the campaigns for the 2010 presidential elections in Brazil. The study focuses on possible astroturfing mechanisms applied during the election using platforms like blogs and the microblog Twitter by creating false communities to support candidates. To support the research, basic concepts are presented and developed: astroturfing, connected social media, political engagement, interactivity among others. Examples of astroturfing actions performed in other countries are presented in the paper to substantiate the research and generate inputs for the analysis of this practice in Brazil. Keywords: astroturfing, connected social media, elections, Twitter, Neofluxo, politics, engagement.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Redes de Comunicação
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Figura 2 – Topologias de Rede
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Figura 3 – Rede de Difusão de @barackobama @barackobama
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Figura 4 – Dados sobre eleitores e acesso à web
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Figura 5 – Website oficial da candidata Dilma Roussef
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Figura 6 – Website oficial do candidato José Serra
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Figura 7 – Website oficial da candidata Marina Silva
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Figura 8 – Website da empresa Pepper Comunicação
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Figura 9 – Website do Registro Br
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Figura 10 – Twitter Galera da Dilma
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Figura 11 – Análise do Twitter Galera da Dilma
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Figura 12 – Portal Transparência Brasil / ref. empresa Pepper Comunicação
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Figura 13 – Rede Social Dilma na Rede
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Figura 14 – Portal Transparência Brasil / ref. empresa Coopteclivre
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Figura 15 – Análise do Twitter Dilma na Rede
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Figura 16 – Visualização do projeto Neofluxo
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SUMÁRIO
1.
Introdução..............................................................................................................................12
2. Astroturf:umexércitocomopropósitod Astroturf:umexércitocomopropósitodepromover epromover.............................................13 .............................................13 3.
Opapeldawebnoengajamentopolítico.....................................................................15
4.
Engajamento,interatividadeeinform Engajamento,interatividadeeinformaçõesnarede açõesnarede...............................................18 ...............................................18
5. Astroturfing–dooff-lineàsociedadeemrede..........................................................22 6. Afraquezadasredes...........................................................................................................25 7.
Exemplosdeastroturfingesuaconfig Exemplosdeastroturfingesuaconfiguração uração.............................................................27 .............................................................27
8. Asmídiassociaisconectadasnasele Asmídiassociaisconectadasnaseleiçõespreside içõespresidenciaisde2010......................30 nciaisde2010......................30 9. 10.
Conclusão................................................................................................................................39 ReferênciasBibliográficas..............................................................................................41
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1. Introdução
Antes das eleições de 2010 uma das mais acaloradas discussões na imprensa tratava do papel das mídias sociais conectadas, termo cunhado pelo Prof. Dr. Walter Lima Jr., no processo eleitoral – qual seu impacto, quais as plataformas com mais aderência, como os candidatos deveriam tratá-las, quem seriam os especialistas contratados. O assunto não dominou apenas a imprensa, mas também os negócios que movimentam milhões antes das eleições. Consultorias e empresas especializadas começaram a montar equipes focadas em atender candidatos em todos os cantos do país. As eleições presidenciais contaram com nomes de peso no comando da área de mídias sociais conectadas das campanhas. O Partido dos Trabalhadores (PT) contratou Marcelo Branco, até então coordenador da Campus Party Brasil, maior evento de tecnologia do país, para comandar a campanha da candidata Dilma Rousseff nas plataformas sociais. Já no PSDB uma empresa era a responsável pela estratégia digital de José Serra, que depois agregou a jornalista Soninha Francine a sua equipe. Já Marina Silva, candidata do Partido Verde (PV) contava com o jornalista e professor universitário Caio Túlio Costa, como responsável pela sua campanha nas redes. O candidato do PSTU, Plínio de Arruda Sampaio, ganhou destaque nos debates eleitorais e também no Twitter mesmo sem um profissional renomado dedicado às mídias sociais conectadas em sua equipe. Posicionar bem o candidato na web foi uma das estratégias mais utilizadas nas campanhas campanhas das eleições presidenciais presidenciais de 2010. Para alcançar este objetivo as equipes de campanha lançaram mão de diversos mecanismos, o astroturfing é um dos processos que nasceu no mundo off-line e foi levado à web.
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2. Astroturf: um exército com o propósito propósito de promover
Astroturfing é um termo derivado da palavra “astroturf”, que significa grama artificial. Quanto aplicada ao marketing, a palavra ganha novo sentido, ela representa a criação artificial de um “buzz” para alavancar um produto, serviço ou político. Aplicada na Internet, esta prática pode utilizar-se de perfis falsos para construir uma impressão de grande apoio a uma causa, produto ou marca. O termo “astroturfing” foi cunhado em 1985 pelo então senador norteamericano, Lloyd Bentsen. O político utilizou o astroturfing para descrever as inúmeras cartas que recebera promovendo o interesse de empresas de seguro. Ele comparou grama real com “astroturf”, a grama artificial, para ressaltar que as cartas recebidas não eram genuínas representações da opinião da população. Desde então, o uso de aglomerados de pessoas expressando suas opiniões é analisado e pode ser considerado uma prática de astroturfing. Nos anos 80 a prática se dava por meio de cartas, protestos presenciais e outras ações. Os exemplos do uso deste mecanismo estão em diversos segmentos. Em 2008, no Japão, o McDonalds contratou pessoas para ficarem nas filas de suas lanchonetes para a compra de um novo sanduíche. Já no Canadá, o exemplo passa pelo poder público, a agência Morrow Communications criou um blog para promover o uso de bicicletas na cidade de Montreal. O projeto incluía ações nas mídias sociais conectadas, com vídeos e uma página do Facebook. Todas as informações eram falsas, a ação era parte de uma campanha de marketing para o lançamento de um novo sistema público de bicicletas na cidade. Diversas ferramentas ferramentas da Internet são utilizadas para praticar o astroturfing, entre elas e-mails, blogs, fóruns, podcasts, wikis, depositórios de vídeos (YouTube, Vimeo), salas de chat e as mídias sociais conectadas, como o Twitter, Facebook e Orkut na construção de um buzz artificial. Entre as técnicas de astroturfing está a criação de uma personagem totalmente fictícia, destinada a se passar por uma pessoa real.
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O uso político do astroturfing é realizado por indivíduos ou organizações que centralizam o controle de diversas contas em mídias sociais conectadas para criar um aparente apoio a um candidato ou opinião.
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3. O papel da web no engajamento engajamento político
Um dos principais objetivos das campanhas políticas na utilização de astroturfing é alcançar o engajamento dos eleitores usuários de Internet e, consequentemente, seus votos. Por isso a importância de compreender o papel da Internet no engajamento político de uma parcela da população. Ou seja, de que maneiras as novas tecnologias da comunicação influenciam no engajamento político. Seria a rede uma ferramenta fundamental para o engajamento ou apenas uma tecnologia que modificará o fluxo de informações sem necessariamente uma mudança social? Segundo a pesquisa TIC Domicílios e Usuários 2010 – do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação, a faixa etária com mais acesso à Internet no Brasil é de 16 a 24 anos com 75% de indivíduos que já acessaram a Internet. Ao analisarmos pesquisa realizada com alunos do ensino médio do estado de São Paulo (1.152 questionários), a maioria dentro da faixa de 16 a 24 anos, vemos indiferença de boa parte da população jovem no que diz respeito à política. O estudo mostra que 49.83% dos entrevistados não participam da política, 27,78% participam de grupos de discussão e 8,89% atuam no grêmio estudantil. O estudo foi promovido pelo Instituto da Cidadania em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. A metodologia foi desenvolvida pelo departamento de Métodos Quantitativos e Atuariais da FEA/PUC-SP. Pesquisa intitulada Sonho Brasileiro, realizada pelo Datafolha e Agência Box1824, entrevistou 1180 jovens de 18 a 24 anos, em quatro capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre. Quando perguntados sobre suas motivações para acessar a internet, 12% dos entrevistados responderam que a utilizam para passar adiante causas que acreditam e 3% para cobrar e fiscalizar o poder público. Na amostra, 59% afirma não ter nenhum partido político de preferência. Quando perguntados sobre sua concordância em relação à afirmação “o poder político concentrado nas mãos de poucas pessoas é o grande problema do Brasil”; 62% concorda plenamente, 21% concorda em partes e 5% discorda totalmente. O estudo também mostrou que 71% dos jovens acreditam que usar a
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Internet para mobilizar as pessoas é uma maneira de fazer política.
Pesquisa
disponível em . .br/indexi2.php?id=1201>. O acesso a rede é uma ferramenta fundamental para o engajamento político de uma parcela da população? Será que o jovem, por exemplo, que não tem interesse por política pode passar a ter com uma simples conexão à web? Pode ser que o acesso estimule uma maior participação política do jovem? O acesso à web é um dos principais motivadores da atuação política de pessoas que antes não tinham tal interesse ou ele apenas facilita a formação de novos grupos? Com a possível prática de astroturfing, a busca por informações políticas na web está contaminada? Desde o momento em que a pessoa é impactada pela informação na web até que engaje-se politicamente ou decida seu voto, inúmeras variáveis participam deste processo. A Internet tem sido analisada como uma ferramenta fundamental para defender direitos básicos dos cidadãos: direto à informação, participação política, organização social entre outros. Imputa-se uma ‘responsabilidade’ social descabida às redes, de alguma maneira há uma euforia na análise do papel das redes. Yochai Benkler, em Wealth of Networks (2006), afirma que a tecnologia sozinha não determina mudanças na estrutura social, mas ela cria espaços e facilita a prática social, é preciso analisar de maneira mais crítica o papel do ator social e suas intenções. No livro The Net Delusion, o autor Evgeny Morozov (2011, tradução nossa) fala sobre a expectativa colocada na web como tecnologia com poder de ajudar a sociedade: Com a Internet, parece, que tudo é possível, mesmo porque tudo está facilmente ao alcance. Isso é a Internet, não é energia nuclear, ela é vista facilmente como a tecnologia que irá resolver todos os problemas da humanidade. Ela não irá resolvê-los, mas pode fazê-los menos visíveis ou menos dolorosos. Como a Internet barateia soluções tecnológicas, a tentação de aplicá-las agressivamente e indiscriminadamente também cresce. E o quanto mais fácil for para implementá-las, mais difícil é para que críticos argumentem que tais soluções não devam ser aplicadas. Morozov fala sobre a facilidade, baixo custo custo e quão fora de controle é iniciar uma rede social. No livro ele mostra como isso, em países autoritários, em que ativistas
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formam redes, pode ser uma fonte de informações para o governo. Mas estas características podem ser aplicadas ao astroturfing também. A facilidade e baixo custo para iniciar uma ação nas mídias sociais conectadas é uma vantagem para aqueles que desejam aumentar o apoio a um candidato. A falta de controle e a possibilidade de ter acesso aos dados pessoais daqueles que integrarem a mídia social conectada após sua concepção, sem saber que se trata de uma ação de falso apoio, também é uma enorme vantagem. Uma das ferramentas mais valiosas para as campanhas é a formação de mailings para contato com possíveis eleitores, a prática de astroturfing permite o levantamento de lista de pessoas interessadas em uma causa ou em um candidato. Neste trabalho aborda-se somente aquelas diretamente relacionadas ao acesso às redes, mas sem desconsiderar os inúmeros fatores sociais, econômicos, culturais entre outros.
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4. Engajamento, interatividade interatividade e informações na na rede
Três pontos são considerados fundamentais para sua compreender como a prática de astroturfing acontece na web: o conceito de engajamento, a interatividade, as informações na rede. “O engajamento é mais uma maneira de ser em uma direção social humana,e de lhe dar um sentido” disse Sartre. (“Penser L’art”. Revue Obliques n.24-25p.20) Segundo o dicionário Houaiss a palavra engajamento tem origem francesa (engagement). No século XII significava garantia por meio de documento ou dinheiro. Com o tempo passou a receber outros significados como “angariação de indivíduos para fins de emigração”. No século XX, o adjetivo engajado (engagé) ganha o sentido de comprometimento comprometimento com algo, uma causa ou empenho e o substantivo engajamento como “participação ativa em assuntos e circunstâncias de relevo político e social”. Na filosofia existencialista, como o "empenho ético e político na realização das escolhas absolutamente livre se impreteríveis, por meio das quais o ser humano inventa a si mesmo e o seu mundo". Uma das ações da prática de astroturfing é a exposição de pessoas falsamente engajadas. O engajamento de terceiros pode influenciar usuários na web, por isso a utilização deste mecanismo. A Internet é uma fonte de informação e possibilita a interatividade, mas não deve ser considerada sinônimo de instrumento de conhecimento e educação. A rede não fomenta, necessariamente, o interesse em temas de relevância social ou mesmo em engajamento acerca de tais assuntos. Ou seja, é uma ferramenta a ser apropriada de maneiras diferentes pelos atores sociais, que farão uso, primeiramente, de acordo com suas necessidades imediatas, moldadas também por suas experiências, cultura entre outros fatores. Há outros fatores determinantes ao engajamento que extrapolam o acesso à web. Pierre Lévy, em ‘O que é o virtual?’ (1996), lembra que os seres humanos não pensam sozinhos ou sem ferramentas, ele aponta o desenvolvimento da
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comunicação assistida por computadores e das redes digitais como a constituição de novas formas de inteligência coletiva, mais flexíveis e democráticas. Mas tal democratização dependeria de uma utilização totalmente ética das redes digitais, o que é impossível garantir. garantir. O autor também destaca o ciberespaço ciberespaço como meio para para uma comunicação não midiática em grande escala que representa um avanço decisivo a novas e mais evoluídas formas de inteligência coletiva. E é neste ambiente que as pessoas se encontram, como Lévy destaca, de acordo com seus interesses – talvez previamente existentes ou despertos na rede, mas não necessariamente frutos de sua presença no ciberespaço. Neste ambiente em que as pessoas já estão em hubs de acordo com seus interesses, é mais prático para que aqueles que trabalham com ações de astroturfing encontrem grupos para influenciar. O papel da interatividade também tem sido elevado a níveis que extrapolam suas funções e resultados possíveis, algumas vezes é associada ou pensada como uma propulsora do engajamento. Em seu paper “Interactivity: A Forgotten Art?” (1997, disponível em < http://intro.base.org/docs/interact/>), sobre interatividade em plataformas educacionais, Roderick Sims cita o conceito de interatividade no processo de aprendizagem de Paul Baker, que a define como mecanismo fundamental para aquisição de conhecimento e desenvolvimento das capacidades cognitivas e físicas. No entanto tal definição não se aplica na interação homemmáquina, Sims defende que neste contexto a interatividade é uma descoberta individual. Tal colocação remete ao paradoxo da atividade essencialmente individual ao estar conectado a uma máquina computacional – principalmente em desktop ou notebook - que, ao mesmo tempo, tempo, possibilita a conexão com milhões de pessoas – o que é uma possibilidade não uma certeza. Por mais que a interatividade seja um passo para comunicação interpessoal na web, antes de mais nada é uma atividade individual essencialmente baseada na interação homem máquina e dependente de uma interface amigável. A definição de Jonathan Steuer do termo claramente diferencia interatividade de engajamento ou envolvimento, conceitos que aparentemente ainda geram confusão. O estudo ‘Machines and Mindlessness: Social Responses to Computers’ (2000, disponível em < http://www.stanford.edu/~nass/nass http://www.stanford.edu/~nass/nassmoon00.pdf>), moon00.pdf>), de Clifford
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Nass
e
Youngme
inconscientemente as
Moon,
mostra que
pessoas aplicam
há
regras
claras
evidências
sociais
e
de
expectativas
que a
computadores. O paper foi publicado em 2000, os estudos já mostram o ‘avanço’ da relação homem-máquina com características de relações entre humanos. Ou seja, as pessoas reproduzem comportamentos que fazem parte de sua rotina diária no ciberespaço. A interatividade em sua plenitude – avançando o momento homem máquina para levar à conexão com outras pessoas - não é um fator decisivo para o sucesso do astroturfing, segundo Jakob Nielsen (2006, disponível em < http://www.useit.com/alertbox/participation_inequality.html>),
na
maioria
das
comunidades online, 90% dos participantes são observadores – ou seja – eles não participam, apenas leem e observam, 9% participam eventualmente e 1% são ativos. Ao alcançar os observadores e conseguir influenciá-los, o objetivo do astroturfer já estará realizado. Em um mundo em que conceitos antes sólidos e inflexíveis estão sendo discutidos, e muitos deles reformulados: como autoria, meios de comunicação, direito autoral. As características da web podem incentivar a participação política ou mesmo o interesse pelo tema. A política parruda pode ser mais palatável sendo aberta ao remix, ao mundo dos games e das mídias sociais conectadas. No entanto, percebe-se que a maioria dos partidos políticos não são adeptos da colaboração, tão pertinente à web, não existem muitas experiências políticas em que o remix seja incentivado, mesmo a presença dos partidos políticos tradicionais nas mídias sociais conectadas não é transparente. Tal ambiente privilegia o sistema de informação apresentado por Fred Dretske (1999), em que o fluxo dela é descentralizado e distribuído, com intersecção das representações, a política tornaria-se, assim, um assunto mais discutido, já que não está elevado ao conceito de ‘conhecimento’, mas sim uma informação que transita livremente entre os agentes do sistema. Neste contexto, a maneira como as informações circulam na web e, consequentemente, na sociedade (em transformação) tornariam a política um assunto mais atraente. Outro ponto a ser analisado é o da aplicação das tecnologias cognitvas, definidas por Marcelo Dascal (2009,
disponível
em
<
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http://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/viewFile/958/678>) http://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/viewFile/958/678 >) como as que “influenciam e conformam o modo como pensamos e afetam a própria natureza da cognição”.
22
5. Astroturfing – do off-line à sociedade sociedade em rede
Os sistemas de informação são de extrema importância nesta pesquisa. São inúmeras possibilidades de estudo, esta pesquisa não tem a pretensão de esgotálos, mas analisar o impacto das mudanças que estão ocorrendo. Manuel Castells, em ‘A Sociedade em Rede’ (1996:2000), destaca as desigualdades na Internet, mas também fala sobre a capacidade da ‘rede das redes’: boa parte das comunicações que acontecem na Internet são espontâneas, não-organizadas e diversificadas em finalidade e adesão. O autor ressalta que quanto maior for a diversidade de mensagens e participantes, mais alta será a massa crítica da rede. Mas para que esta massa seja crítica e crescente é necessário que a arquitetura da rede seja preservada, mantendo os três princípios de Paul Baran: estrutura descentralizada, poder computacional distribuído por nós e redundância de conexões para reduzir os riscos de desconexão. desconexão. A prática de astroturfing descaracteriza descaracteriza a espontaneidade espontaneidade da rede, tornando a comunicação direcionada e falsa. A tecnologia busca o controle, e assim é o astroturfing, que apropria-se da tecnologia para controlar certa parcela da sociedade.
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Figura 1: Baran, Paul (1964). “On distributed communications: I. Introduction to distributed communications networks” in Memorandum RM-3420-PR, August 1964. Santa Mônica: The Rand Corporation, 1964.
O sistema de informação apresentado por Fred Dretske, por exemplo, aplicase muito bem ao funcionamento das mídias sociais conectadas. O conhecimento é visto como uma informação que causa crença. Uma análise do livro de Dretske, ‘Knowledge and the Flow of Information’, feita por Anthony Kulic, apresenta as definições essenciais para a compreensão do sistema. Ele mostra que o autor define “conhecimento é simples informação que produziu crença”, já “a crença de pensar que algo é da maneira que é. Isto é caracterizado em termos de estruturas neurais que, através da aprendizagem, adquiriu um papel de transporte de certas informações” (tradução nossa). O modelo de Dretske ajuda a compreender o fluxo de informações nas mídias sociais conectadas, principalmente se pensarmos naquelas mais disseminadas. Nas plataformas com maior audiência o conceito de conhecimento proposto pelo autor é
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muito presente, assim como as atitudes propositai”s, aparentemente altamente disseminadas pelo Twitter, por exemplo. exemplo. Ao analisar casos casos como o da morte da cantora Amy Winehouse e episódios da campanha eleitoral de 2010, pode-se observar os fluxos propostos por Dretske: as informações são publicadas por agentes e replicadas por outros que aplicam suas representações. As informações podem ser transmitidas, processadas e entregues não somente por pessoas como por máquinas computacionais, não são necessariamente verdadeiras ou falsas. Os fluxos não são lineares e hierárquicos como, por exemplo, na comunicação feita pela grande mídia, pelo Estado, em muitas empresas e sistemas educacionais. Tal mecanismo de disseminação da informação, descentralizado e não hierárquico - proporcionado pelas redes, pode incentivar a disseminação democrática de informações como também facilita a prática de astroturfing - a criação de um falso buzz em mídias sociais conectadas é aparentemente mais simples que no mundo off-line.
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6. A fraqueza das redes
Assistimos a uma disseminação cada vez maior de informações sem relevância social. O jornalista Andrew Keen (2009), autor do livro Culto Amador, defende que a Internet está matando nossa cultura. Por outro lado, há iniciativas de cunho social que nascem na rede ou encontram nela um suporte e merecem atenção e estudo. De certa maneira, a questão abordada por Lev Manovich logo no início
de
Software
takes
Command
(2008,
disponível
em
<
http://softwarestudies.com/softbook/manovich_so http://softwarestudies.com/softbo ok/manovich_softbook_11_20_2008 ftbook_11_20_2008.pdf>) .pdf>) aplica-se a esta pesquisa, estudar e entender software é essencial para que a compreensão das causas e não apenas dos efeitos. A Internet está se popularizando, dados do CGI br – Comitê Gestor da Internet no Brasil - apontam que mais de um terço da população já teve acesso à rede, principalmente em centros de acesso pago, as famosas lan-houses. Os sites mais acessados no país são Google, Facebook, YouTube, Uol, Windows Live, Globo e Orkut segundo Alexa (dados de agosto de 2011, disponível em < http://www.alexa.com/topsites/countries/BR>), mostrando que o uso da rede é essencialmente para comunicação interpessoal no país – comportamento também revelado na última pesquisa do CGI br. É importante analisarmos agora como as redes estão influenciando o comportamento dos brasileiros, como a população está se apropriando das ferramentas e possibilidades da rede e compreender como a audiência reage à temática de relevância social. Os partidos políticos brasileiros estão atentos à rede e querem conquistar esta audiência. Mas quais mecanismos são utilizados para tal e nas mãos de quem está esta missão? A Internet possibilita uma comunicação democrática, mas também abre portas para práticas que influenciam negativamente a população em processos essenciais como as eleições. Compreender como a rede está é utilizada em momentos relevantes da história do país também abre espaço para outra reflexão fundamental: o papel do jornalista, ou outros profissionais de comunicação, como organizador das
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informações na rede. As investigações feitas por estes comunicadores sobre este processo são essenciais para orientar a população. Mas nossos profissionais estão preparados?
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7. Exemplos de astroturfing e sua configuração configuração
Na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, o “Center for Complex Networks and Systems Research”, realizou um estudo sobre o uso do astroturfing nas
eleições
de
2010
no
país
(disponível
em
<
http://truthy.indiana.edu/site_media/pdfs/ratkiewicz_www2011_truthy.pdf>). O grupo responsável pela pesquisa utilizou um sistema que combinou dados topológicos, recursos com base em conteúdo e crowdsourced redes de difusão da informação no Twitter para detectar as fases iniciais de disseminação viral de informação política. Os resultados preliminares apontaram 96% de conteúdo astroturf nas eleições de 2010 nos Estados Unidos. A topologia de difusão dos memes foi determinante para a identificação do astroturfing. O termo meme foi cunhado por Richard Dawkins (1976), o autor define um ‘meme de idéia’ como uma entidade capaz de ser transmitida de um cérebro para outro. Ele analisa o aspecto ‘egoísta e implacável’ dos memes, já que eles disputam a atenção de um cérebro humano, que faz somente uma ou algumas coisas de cada vez, com memes rivais. O que se faz cada vez mais presente na era da ‘economia da atenção’. Como não possuem capacidade de previsão, tendem em direção à evolução das qualidades egoístas, ele não abre dispensa vantagens egoístas a curto prazo mesmo que possam ser vantajosas a longo prazo. Os memes são os replicadores fundamentais, a Internet é um espaço infinito para a replicação, é o maior depositário de informações na humanidade. A replicação, na web, muitas vezes é considerada um indício de credibilidade do ator.
O estudo da Universidade de Indiana mostrou possíveis consequências da prática: Usando um pequeno número de contas falsas, os autores do ataque foram capazes de fazer com que um link fosse retuitado (por legítimos usuários) o suficiente para aparecer nos resultados do Google em tempo real na busca de um nome de candidato político. Este tipo de ataque, que pode ser montado com baixo custo, pode potencialmente atingir um público ainda maior do que os anúncios tradicionais, certamente vai ser usado novamente. Enquanto algumas das técnicas
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associadas com spam (como a criação em massa de contas para se parecer com usuários reais) são compartilhadas com astroturfing políticos, spam e astroturf diferem de várias maneiras. Spammers geralmente têm como objetivo que os usuários cliquem em um link, já os astroturfers querem um tweet particular ou ideia para gerar um falso sentimento de consenso do grupo. Além disso, muitos dos usuários envolvidos na propagação de uma mensagem de sucesso astroturfed podem ser de fato os usuários legítimos, involuntariamente cúmplices na fraude, tendo sido enganados pelo núcleo original de contas falsas. (tradução nossa)
Figura 2: Exemplos de topologias
detectadas
pelo
projeto
disponível
em
As linhas 1 e 2 mostram topologias que caracterizam possíveis práticas de astroturfing, com nós centralizando o envio de informações. Na linha 3 encontramos
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topologias características de movimentos descentralizados e genuínos – o segundo meme representa as conversações sobre o Presidente Obama, por exemplo. O cluster laranja mostra as pessoas que mencionaram @barackobama em seus tweets. O perfil @barackobama é também considerado um broadcaster, já que muitos retuitam seus tweets – representados em azul.
Figura 3: Rede de difusão de @barackobama, disponível em Outro recente exemplo de “astroturfing” publicado na imprensa aconteceu durante a reforma do Sistema de Saúde nos Estados Unidos. A Casa Branca, por meio de seu porta-voz Robert Gibbs, acusou a oposição de organizar falsos grupos de protesto.
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8. As mídias sociais conectadas conectadas nas eleições presidenciais de 2010
Para compreender o potencial de impacto das mídias sociais conectadas na campanha eleitoral é preciso analisar o número de eleitores com acesso à web e a porcentagem que utiliza tais plataformas.
Figura 4: Dados sobre eleitores e acesso a web - Príncipe Digital, Prof. Marcelo Coutinho, disponível em Segundo pesquisa TIC, do CGI, com dados de setembro e outubro de 2010, 69% dos brasileiros com acesso a internet a utilizam para participar de sites de relacionamento e 14% para microblogs. Observamos, então, que dos 46.767.156 eleitores, cerca de 69% deles é impactado pelas mídias sociais conectadas, um total de 32.269.338 eleitores. Dilma Roussef foi eleita com 55.752.529 votos, equivalente a 56,05% dos eleitores, José Serra alcançou 43.711.388 votos, 43,95%.
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As eleições presidenciais de 2010 foram marcadas por uma campanha inicialmente polarizada entre os dois principais candidatos: Dilma Roussef, do PT, apoiada pelo presidente Lula e José Serra, candidato da oposição. A ex-ministra do Meio Ambiente e então candidata do PV, Marina Silva, ganhou destaque há algumas semanas do primeiro turno. Abaixo exemplos dos websites lançados pelos candidatos, os layouts, estruturas e conteúdos sofreram inúmeras modificações durante a campanha conforme as estratégias dos candidatos e suas equipes. Website Dilma
Figura 5: website oficial da então candidata Dilma Roussef.
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Website José Serra
Figura 6: website oficial do candidato José Serra Website Marina Silva
Figura 7: website oficial da candidata Marina Silva
33
As campanhas investiram em equipes responsáveis pela estratégia dos candidatos na web. Antes do início das campanhas sinais de práticas de astroturfing eram identificados com inúmeros blogs de apoios aos candidatos. O blog Mulheres com Dilma é um dos exemplos, em sua área “Quem Somos”, um texto diz que o blog é feito por mulheres que se identificam com Dilma Roussef. Ao pesquisar o proprietário do domínio do blog, descobrimos que é a empresa Pepper Comunicação – responsável pelo website da campanha da candidata, conforme o site da empresa.
Figura
8:
Website
da
empresa
http://www.peppernet.com.br/site/trabalhos> http://www.peppernet.com.br/site/trabalhos >
Pepper
–
disponível
em
<
34
Figura 9: Página de consulta por proprietário de website no Registro Br, disponível em < https://registro.br/cgi-bin/whois/?qr=mulherescomdilma.com.br > O
mesmo
acontece
com
os
blogs
Galera
da
Dilma
, que afirma ser de autoria de jovens que apoiavam a candidata, mas também é registrado pela empresa Pepper Comunicação. O Blog mantinha também um Twitter @Galera_Dilma, com 5723 seguidores e 4755 tweets.
Figura 10: Twitter Galera da Dilma Por meio da ferramenta BrandTweet é possível identificar que a maioria dos posts retuitados pelo perfil são de fontes oficiais do PT, como @DilmaBr, ou de apoio à candidata, @Dilmanarede.
35
Figura 11: Análise Twitter Galera da Dilma Disponível em < http://stats.brandtweet.com/?user=Galera_Dilma&mode=from> http://stats.brandtweet.com/?user=Galera_Dilma&mode=from > A Pepper Comunicação já prestava alguns serviços ao governo federal antes da campanha de Dilma Roussef. De acordo com o Portal Transparência Brasil, a empresa continua fornecendo serviços ao governo, em 2011, o Fundo Nacional de Saúde teve despesas correntes de R$ 134.470,00 com dois trabalhos prestados pela empresa. Nos dois casos há contratos de publicidade relacionados com uma terceira empresa, empresa, Agnelo Pacheco Criação e Propaganda, com valores de R$ 4,964,645.22 e R$ 250,000.00.
36
Figura
12:
Portal
Transparência
Brasil,
disponível
em
<
http://www.portaldatransparencia.gov.br/PortalComprasDiretasFavo http://www.portaldatransparencia.gov .br/PortalComprasDiretasFavorecidosUG.asp?T recidosUG.asp?T ipoPesquisa=2&Ano=2011&ValorTipoPesquis ipoPesquisa=2&Ano=2 011&ValorTipoPesquisa=2586519652502 a=2586519652502&Valor=&textoPesq &Valor=&textoPesq uisa=pepper&idFavorecido=30552220&Nom uisa=pepper&idFavorec ido=30552220&NomeFavorecido=PEPPE eFavorecido=PEPPER+COMUNICACA R+COMUNICACA O+INTERATIVA+LTDA%2E+%5BPEPPER+INTERATIVA%5D& O+INTERATIVA+LTDA%2E+%5B PEPPER+INTERATIVA%5D&valorFavorecido=13 valorFavorecido=13 447000&codigoED=39&nomeED=Outras%2 447000&codigoED=3 9&nomeED=Outras%20Despesas%20Corren 0Despesas%20CorrentestesOutros%20Servi%E7os%20de%20Terceiros%20%20Pessoa%20Jur%EDdica&codigoGD=3&n %20Pessoa%20Ju r%EDdica&codigoGD=3&nomeGD=Outras%20Des omeGD=Outras%20Despesas%20Corr pesas%20Corr entes&valorED=13447000> entes&valorED=13447000 > A rede social Dilma na Rede , construída com software Noosfero permite aos seus participantes postar materiais de apoio à então candidata e atual presidente. A rede é identificada como um veículo de apoio a Lula, Dilma e qualquer político de esquerda progressista.
Figura 13: Rede Social Dilma na Rede, disponível em
37
A rede conta com 7760 pessoas cadastradas, o Twitter @dilmanarede possui 12149 seguidores. O domínio está registrado em nome da empresa Cooperativa de Tecnologias Livres LTDA, responsável por projetos realizados para a Presidência da República em 2008. A rede Dilma na Rede não esclarece ao visitante sua ligação com a empresa fornecedora do governo federal.
Figura 14: Página do Portal Transparência Brasil que mostra os valores recebidos pela Coopteclivre durante 2008. A atuação do Twitter @dilmanarede mostra forte reforço das mensagens dos canais oficiais e praticantes de astroturfing da campanha – como os perfis @mulheres_dilma e @galera_dilma.
Figura 15: Análise do Twitter Dilma na Rede pela ferramenta TweetStats O projeto Dilma na Rede apresentou o conceito #ondavermelha, observando os dados do projeto Neofluxo, realizado pelo TECCRED – Grupo de Pesquisa Tecnologia, Comunicação e Cultura de Rede, da Pós Graduação da Faculdade Cásper Líbero, observamos o uso da hashtag proposta pelo grupo nos tweets sobre a candidata:
38
Figura
16:
Visualização
do
projeto
Neofluxo,
disponível
em
<
http://www.neofluxo.net/graf_dilma.php>. http://www.neofluxo.net/graf_dilma.php >. A análise do gráfico permite identificar que a hashtag #ondavermelha teve impacto semelhante ao tweets sobre o caso Erenice Guerra. As visualizações refletem os dados coletados durante o primeiro turno. A pesquisa realizada por mecanismos de busca não encontrou situação semelhante em blogs de apoio aos candidatos José Serra e Marina Silva. No caso do então candidato do PSDB, o domínio , por exemplo, está em processo de liberação, portanto não é possível investigar o proprietário.
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9. Conclusão
A prática de astroturfing traz prejuízos ao exercício da cidadania durante processo eleitoral, falso apoio a ideias e candidatos nas mídias sociais conectadas é apenas mais um indício de como as campanhas eleitorais são conduzidas no Brasil. A prática indiscriminada de astroturfing revela fragilidades em diversos aspectos de nossa sociedade. Com o aumento do acesso à Internet, criou-se a expectativa de que a rede poderia tornar o processo eleitoral mais democrático e menos polarizado entre os partidos que já estão no poder. A última campanha eleitoral mostrou que pouco se mudou na configuração política do país. Portanto é preciso analisar os reais impactos do acesso à Internet no engajamento político e processos eleitorais. A prática de astroturfing mostra que o uso da Internet também pode reforçar o atual modelo político. A falta de compromisso de partidos políticos e candidatos com a lisura durante o processo eleitoral é clara quando vemos que são aprovadas a criação de falsos blogs e perfis nas mídias sociais conectadas. A mesma falta de responsabilidade pode ser aplicada às empresas que trabalham desta maneira. Os órgãos responsáveis pela fiscalização f iscalização também mostram pouco ou nenhum interesse no controle do astroturfing. Com a falta de clamor social por tal ação, é provável que esta situação permaneça. A imprensa, por sua vez, assume uma postura de denúncia apenas quando as acusações caem em seu colo. Pouco se vê no que se refere à investigação e levantamento de novas informações, por exemplo. Os eleitores são vítimas deste processo, mas também expressam pouco interesse pela política, como revela pesquisa apresentada neste estudo. A impressão de que a Internet é uma ferramenta democrática pode reforçar a prática de astroturfing, protegendo seus autores da suspeita e investigação. O estudo desta prática, dos mecanismos utilizados por seus praticantes e ferramentas que revelem estas ações podem ajudar a combater o astroturfing. A
40
participação da sociedade é fundamental: universidades, grupos de pesquisa, imprensa e outros setores podem trabalhar juntos para identificar e revelar como astroturfing afeta o processo eleitoral.
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10. Referências Bibliográficas
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