ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
ATIVIDADE FÍSIC A E SAÚDE Graduação
1
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
1 E D A D I N U
CONCEITOS DE ATIVIDADE FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NA PERSPECTIVA DA APTIDÃO FÍSICA RELACIONADA À SAÚDE Nesta primeira unidade conceituaremos e diferenciaremos saúde, atividade física e qualidade de vida, apresentaremos também os conceitos e a aplicabilidade da aptidão física relacionada à saúde. Assim, esperamos facilitar a identificação dos objetos de estudo destas áreas e das suas interfaces.
OBJETIVOS DA UNIDADE: • Conceituar e difere nciar ativida de física, saúde e qualid ade de vida, perspectivado na adoção de um estilo de vida saudável; • Iden tifica r os obje tos de e studo e as inte rface s entre os conteúdos destas áreas de conhecimento; • Identificar as variá veis da apt idão fís ica rela cionadas à saúd e, buscando desenvolver uma visão crítica destes conceitos e referências.
PLANO DA DISCIPLINA: • Conceito e abra ngência do term o saúde. • Conceito e abr angência do te rmo ‘ati vidade físic a’. • Conceito e abrangência do termo qualidade de vida relacionado a adoção do estilo de vida ativo. • Variáveis da aptidão física relacionadas à saúde.
Bem-vindo à primeira unidade de estudo. Sucesso!
13
UNIDADE 1 - CONCEITOS DE ATIVIDADE FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NA PERSPECTIVA DA APTIDÃO FÍSICA RELACIONADA À SAÚDE
CONCEITO E ABRANGÊNCIA DO TERMO SAÚDE Desde o início da nossa história que buscamos saúde, esta busca sofreu influência de vários fatores que deslocam o indivíduo de um pólo positivo a um pólo negativo. Mas, afinal, o que são estes pólos? O que influencia este deslocamento? Qual o papel da atividade física na melhoria da qualidade de vida? É comum escutarmos que esta ou aquela pessoa tem boa ou má aptidão física. Mas, afinal, o que é aptidão física? Quais as variáveis envolvidas? Qual a sua relação com a saúde e com o desempenho atlético? Responda a estas questões e estaremos iniciado muito bem o nosso estudo. E, então, vamos em frente?
Saúde: para a Organização Mundial da Saúde – OMS, em 1978 a saúde foi definida como uma multiplicidade de aspectos do comportamento humano voltados para um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Não apenas como ausência de doenças, como muitos imaginavam. Atualmente, para compreendermos melhor a grandiosidade desta pequena palavra, precisamos entender que não devemos olhar somente para os fatores biológicos, mas principalmente para o modo como se vive, ou seja, para o estilo de vida. Meio ambiente: local em que vivemos e nos relacionamos. Sazonal: relativo às estações climáticas do ano.
Os principais fatores influenciadores da sociais, biológicos e comportamentais.
saúde são: ambientais,
Os fatores ambientais, também conhecidos como meio ambiente , estão ligados a um grande grupo de variáveis, como por exemplo: sazonal , poluição, moradia e infra-estrutu ra urbana . Os fatores sociais dizem respeito a garantia à educação, ao transporte, à segurança e à saúde, além dos fatores ambientais favoráveis. Os fatores biológicos estão ligados à idade, ao gênero, à etnia e à predisposição genética. Os fatores comportamentais, por sua vez, estão ligados ao estilo de vida, podendo ser ativo ou sedentário, positivo ou negativo, configurando-se como principal foco de estudo da nossa disciplina. Desta forma podemos destacar que ao transitarmos de um lado ao outro dos pólos observamos que todas estas variáveis influenciam bastante na definição do estado de saúde das pessoas, portanto, não podemos avaliar a saúde de forma estática e unifatorial. Você pode perceber que a saúde, além de multifatorial na sua definição, impõe um olhar multiprofissional sobre si mesma.
14
Infra-estrutura urbana: saneamento básico, esgotos, ruas calçadas ou asfaltadas e com passeio, praças, parques arborizados, etc. Olhar Multiprofissional : relativo a análise feita por uma equipe formada por vários profissionais, das mais diversas áreas de conhecimento, sobre um problema específico que recebe influência de vários fatores.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Outro ponto que merece destaque ao estudarmos a saúde são os seus indicadores clássicos:
• A vital idade e o esta do fun ciona l da pes soa av aliada; • Sua co ndição epidemiológica ; • E sua qualidade de vida. Epidemiologia: é a ciência que estuda o fenômeno da relação entre a saúde e a doença e seus determinantes. Gasto energético:é ocasionado pelo gasto de energia acumulada no organismo em forma de glicogênio e gordura, durante as atividades físicas. Amadores:atletas que não vivem profissionalmente do esporte que praticam.
O estado funcional de uma pessoa recebe influência de vários aspectos, como por exemplo: idade, estado nutricional, histórico de doença e nível de aptidão física, este último sofre influência direta do nível de atividade física diária da pessoa. A condição epidemiológica diz respeito às condições gerais de saúde, assunto que iremos estudar mais adiante na 3ª unidade. Neste contexto, admitimos que as doenças são indicadores de eventuais desequilíbrios entre o homem, seu estilo de vida e o meio ambiente, e que a saúde deverá ser alcançada mediante a interação de ações que possam envolver o próprio homem através de suas atitudes frente às exigências ambientais e comportamentais representadas, por exemplo, pela alimentação, estresse, lazer, aspectos ambientais, financeiros e prática de atividade física, entre outros. (PITANGA, 2004)
CONCEITO E ABRANGÊNCIA DO TERMO ATIVIDADE FÍSICA Encontramos na literatura várias definições sobre atividade física. Em linhas gerais, atividade física pode ser definida como qualquer movimento produzido pela musculatura esquelética, que resulte em gasto energético maior que o gasto de repouso. No âmbito das atividades físicas observamos algumas variações que são determinadas pela intensidade, duração e frequência com que nos submetemos a elas. Além destas variações, temos também algumas características, como por exemplo: as atividades habituais ou da vida diária, verificadas nas tarefas domésticas, no deslocamento para o trabalho ou no próprio trabalho; as atividades de lazer ou de cunho recreativo que s ão voltadas para a me lhoria da saúde e da imagem corporal; ou ainda, as atividades esportivas. Estas últimas caracterizam-se por terem regras preestabelecidas e podem ser recreativas ou de rendimento, seus praticantes podem ser amadores ou profissionais.
15
UNIDADE 1 - CONCEITOS DE ATIVIDADE FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NA PERSPECTIVA DA APTIDÃO FÍSICA RELACIONADA À SAÚDE
CONCEITO E ABRANGÊNCIA DO TERMO QUALIDADE DE VIDA RELACIONADO AO ESTILO DE VIDA ATIVO. O termo qualidade de vida está em evidência na sociedade contemporânea, escutamos sempre frases do tipo: temos que melhorar a qualidade de vida das pessoas, fulano tem uma má, ou uma boa qualidade de vida! Mas afinal, o que é então qualidade de vida? Estepolissêmico é um termo , muito dinâmico e um tanto leva em consideração vários aspectos do cotidiano, como por exemplo: acesso a saúde, educação, alimentação, lazer, segurança, moradia, equipamentos e utensílios eletroeletrônicos, trabalho e participação política nas questões que dizem respeito a si e à sociedade, entre outros. Quanto mais efetivo for o acesso aos aspectos aqui destacados, mais qualidade de vida a pessoa tem (GONSALVES & VILARTA, 2004). Todos estes aspectos da qualidade de vida vêm influenciando as pessoas na adoção de um determinado estilo de vida. É bom lembrá-lo que o nosso foco é o estilo de vida ativo , saudável, positivo , pois há vários estudos que comprovam que a adoção deste estilo de vida influencia positivamente na melhoria da saúde e da qualidade de vida.
Polissêmico:termo que tem muitos significados.
Destacamos, que para efeito de estudo da área da Educação Física, temos os estilos de vida: sedentário, ativo e atleta .
A estreita relação entre qualidade de vida e estilo de vida tem levado as pessoas a utilizarem estes dois termos como sinônimos, tamanha a interface que há. Sendo assim, acreditamos que uma das principais contribuições dos profissionais de Educação Física seja o incentivo a melhoria da saúde e da qualidade de vida, através do fomento à adoção de um estilo de vida positivo incluindo em seu cotidiano atividades físicas e boa alimentação, afastando-os de atitudes negativas para a saúde como tabagismo, alcoolismo, depressão e sedentarismo, buscando melhorar sua aptidão física relacionada à saúde. Pesquisas no mundo inteiro, inclusive no Brasil, têm mostrado que o estilo de vida, mais do que nunca, passou a ser um dos mais importantes determinantes da saúde das pessoas.
16
Determinantes: Papel da atividade física e do exercício na prevenção de doenças e na reabilitação. (HEYWARD, 2004. p. 20).
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Determinantes da Saúde
Papel da atividade física e do exercício na prevenção de doenças e na reabilitação (HEYWARD, 2004. p. 20 ). Após analisar cada um desses conceitos e abrangência, você já pode ter uma idéia da responsabilidade do profissional de Educação Física na condução de atividades físicas objetivando a melhoria da saúde e da qualidade de vida, através do incentivo ao estilo de vida ativo. Até agora, você estudou os conceitos, as diferenças e as relações entre saúde, atividade física e qualidade de vida. Na sequência, você estudará a aptidão física relacionada à saúde.
VARIÁVEIS DA APTIDÃO FÍSICA RELACIONADAS À SAÚDE Já ouvimos falar muitas vezes que alguém tem boa ou má aptidão física, mas agora precisamos entender melhor este problema, pois, afinal, estaremos sempre nos deparando com estes conceitos em nosso cotidiano acadêmico e profissional. Então vamos continuar nosso caminho. De
acordo
com
a
Conferência
Internacional de Toronto, realizada em 1992, a aptidão física associada à saúde ficou entendida como a capacidade para realizarmos com vigor as tarefas do cotidiano,
17
UNIDADE 1 - CONCEITOS DE ATIVIDADE FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NA PERSPECTIVA DA APTIDÃO FÍSICA RELACIONADA À SAÚDE
além da demonstração de traços e capacidades que estão associados a um menor risco de desenvolvimento de doenças crônicas. Expressa ainda, um conjunto de qualidades que encontramos em cada pessoa; estas qualidades recebem influência de um grande número de fatores endógenos e exógenos. O modelo descritivo a seguir explica melhor esta complexa relação.
Doenças crônicas:são doenças que se instauram no organismo das pessoas de forma lenta e duradoura degenerando-o; para nossa área de estudo nos ateremos as nãotransmissíveis (crônicas degenerativas nãotransmissíveis), a exemplo das coronariopatias, da hipertensão, da obesidade, do diabetes, entre outras. Fatores endógenos: fatores que se manifestam internamente, próprio do organismo ou do corpo. Fatores exógenos:fatores que se manifestam externamente e que influenciam internamente o organismo ou corpo.
Tradicionalmente, os testes de aptidão física enfatizavam medidas relacionadas com a habilidade, a agilidade e o equilíbrio. Recentemente, estes testes enfatizaram também medidas relacionadas à saúde. Com base literatura especializada, criamos o seguinte esquema para facilitar seuna entendimento quanto aos componentes mais comumente avaliados em testes de aptidão física, tanto os relacionados ao desempenho atlético quanto os relacionados à saúde:
Nesta ótica, a aptidão física relacionada ao desempenho atlético deve levar em consideração a especificidade de cada especialidade esportiva, ao passo que a aptidão relacionada à saúde envolve, especialmente, aqueles componentes que, em questões motoras, podem influenciar positivamente no combate às doenças do tipo degenerativas não-transmissíveis (GUEDES e GUEDES, 2006).
18
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Capacidade aeróbia: No início da década de 70 Cooper apresentou seu conceito de resistência aeróbica e anaeróbica (que depois mudou a nomenclatura para aeróbia e anaeróbia). A resistência
Em nosso curso vamos estudar principalmente os componentes da aptidão física relacionadas à saúde, mesmo destacando, conforme vimos no esquema acima, que estes mesmos componentes também se relacionam com o desempenho atlético. Vamos começar pela resistência cardiorespiratória, também conhecida como capacidade aeróbia.
aeróbia tem relação com o consumo de Odireta 2 em situação de exercício físico, de moderado a intenso, seja por ocasião do cotidiano de trabalho ou das atividades domésticas, ou ainda aqueles relacionados à prática esportiva.
A capacidade aeróbia de uma pessoa é definida através de um fenômeno complexo (mas vamos tratá-lo de forma superficial). Podemos dizer que esta capacidade tem relação direta com o quanto uma pessoa é capaz de absorver oxigênio (O 2) para os pulmões, transportá-lo pela corrente sanguínea até os músculos esqueléticos que estiverem trabalhando em esforços vigorosos ou prolongados, contando ainda com a eficiência do coração (SHARKEY, 1998).
A literatura nos traz que a capacidade aeróbia é a melhor medida para avaliarmos a saúde e a capacidade do sistema respiratório, cardiovascular e músculo-esquelético de uma pessoa.
Assim, do ponto de vista individual, a capacidade aeróbia configura-se como o melhor indicador da aptidão física, pois além de refletir a capacidade de suportar esforços físicos por um longo período, também favorece, indiretamente, os outros componentes da aptidão física, por isso, se tivermos como avaliar a condição de aptidão aeróbia de uma pessoa, poderemos estimar o quanto ela é ou não ativa. Encontramos vários testes e protocolos na literatura para avaliar a aptidão aeróbia, de forma direta ou indireta, em condições de esforço máximo ou sub-máximo. Como exemplo, podemos citar o famoso teste de 12 minutos de Cooper encontrado em vários livros de avaliação física e fisiologia do exercício. Neste teste, os avaliados correm ou caminham (de preferência em uma pista de atletismo) durante os 12 minutos, pela maior distância possível, assim quanto maior a distância percorrida maior a resistência aeróbia. Este
19
UNIDADE 1 - CONCEITOS DE ATIVIDADE FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NA PERSPECTIVA DA APTIDÃO FÍSICA RELACIONADA À SAÚDE
teste inclusive estima-se, de forma indireta, o VO2max do avaliado e facilita a comparação do avaliado com o grupo ao qual ele pertence (por idade, gênero e condicionamento físico) e do avaliado com ele mesmo em um reteste, através de tabelas de referência encontradas na literatura especializada. Mesmo sendo de fácil aplicação, requer a presença de um profissional que deverá conhecer o avaliado para evitar riscos com a saúde, pois é um teste de esforço máximo.
A capacidade aeróbia é influenciada diretamente pela hereditariedade e pelo treinamento, além ainda de outros fatores, tais como: idade, gênero, etnia, maturação biológica e a gordura corporal. Então é bom sabermos que a atuação consciente e capacitada de um bom profissional de Educação Física pode melhorar muito a saúde e a qualidade de vida da pessoa por ele assistida, através de programas de condicionamento aeróbios individualizados.
VO2max: Volume máximo de oxigênio que uma pessoa consome durante uma atividade física de esforço intenso por um período prolongado. Maturação biológica ou sexual: na área da Educação Física podemos observar este fenômeno de amadurecimento através dos estágios de desenvolvimento sexuais secundárias, verificados através do desenvolvimento da genitália e da pilosidade pubiana, para os meninos, e das mamas e pilosidade pubiana, para as meninas. Em média, este processo inicia-se entre os 10,5 ou 11 anos para as meninas, estendendo-se até os 13 ou 14 anos. E entre os meninos, inicia-se aproximadamente aos 11 ou 12,5 anos, estendendose até os 14 ou 15 anos.
Vamos estudar agora a Força e a Resistência Muscular. São vários os conceitos para definir força e resistência muscular. Howley e Franks (2000) definem força muscular como a capacidade que os músculos têm para exercerem força contrátil máxima contra uma carga, geralmente em uma só repetição. Por exemplo, o teste de uma repetição máxima (1RM), muito utilizado pelos instrutores de musculação para definir a carga máxima de trabalho de um determinado grupo muscular/ exercício. Neste teste o avaliado tenta realizar mais de uma repetição com uma carga de peso subjetivamente definida. O ideal é que se acerte no mínimo de tentativas para que a estimativa seja o mais confiável possível. De posse do resultado, estimase, em percentual da carga, a intensidade do esforço.
20
Subcutâneo: localizado abaixo da pele.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Já a resistência muscular é a capacidade desses mesmos músculos realizarem contrações repetitivas por um período de tempo com várias repetições. Por exemplo, o teste de máxima repetição em um minuto de exercícios abdominais. Neste teste estima-se o nível de resistência muscular localizada de abdômen, muito importante a saúde e para a performancepara esportiva. Desta forma, podemos perceber que pela proximidade entre estas duas qualidades motoras, tanto as estratégias de avaliação quanto as de treinamento podem ser similares, mas com ênfase diferente principalmente quando consideramos os objetivos de tais procedimentos. A força e a resistência muscular também são essenciais para permitirem que os indivíduos realizem atividades cotidianas com conforto e segurança e podem ser trabalhadas através de vários equipamentos, ou ainda, através de exercícios em que o peso corporal é a própria carga de trabalho, portanto, tem forte relação com a saúde.
Vamos estudar agora a flexibilidade A necessidade de movimentar-se nas diversas atividades do cotidiano faz da flexibilidade um componente fundamental para facilitar os movimentos, principalmente quando estes requerem uma amplitude maior. O estilo de vida pouco ativo e a falta de exercícios específicos de alongamento vem diminuindo drasticamente os níveis de flexibilidade das pessoas principalmente com o passar dos anos (ACHOUR JÚNIOR, 1999). Portanto, a flexibilidade representa um importante componente da aptidão física, sendo fundamental para a eficiência dos movimentos simples e complexos tanto no desempenho esportivo quanto na preservação da saúde.
21
UNIDADE 1 - CONCEITOS DE ATIVIDADE FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NA PERSPECTIVA DA APTIDÃO FÍSICA RELACIONADA À SAÚDE
A flexibilidade é entendida como a qualidade física responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, executado por uma ou mais articulações dentro doslimites morfológicos, evitando-se o risco de provocar lesão (DANTAS, 1998). Muitas vezes a flexibilidade foi subestimada nos programas de condicionamento físico especialmente quando o objetivo era o rendimento esportivo, pois para muitos “profissionais” as sessões de alongamento configuravam-se como perda de tempo, com exceção das modalidades esportivas em que esta componente relaciona-se ao rendimento. Por exemplo: ginástica artística, ginástica rítmica, dança competitiva, etc. Hoje, porém, os exercícios específicos de flexibilidade tornam-se importantes nos programas relacionados à saúde, sendo necessários pelo menos de 10 a 15 minutos de prática, durante a fase inicial das sessões de Educação Física nas escolas ou nos clubes de iniciação esportiva ou ainda em sessões de treinamento com adultos, em que o tempo deve ser maior.
A flexibilidade varia de pessoa para pessoa e sofre influência de vários fatores, os principais são: a idade, o gênero e o treinamento específico.
O gênero feminino apresenta, em média, melhor pré-disposição para a flexibilidade. Outro fator importante para a flexibilidade é a idade, pois a medida que envelhecemos perdemos mobilidade articular. O que nos tranquiliza é que a flexibilidade é uma componente que sofre excelente influência do treinamento, mas é bom não deixar para começar muito tarde, pois o tempo de vida sedentário é sempre inversamente proporcional aos bons níveis de flexibilidade. Do ponto de vista da saúde os baixos níveis de flexibilidade podem trazer riscos para lesões articulares e musculares. Mas, o principal problema é a íntima relação dos baixos níveis de flexibilidade da porção posterior das pernas, quadris e coluna lombar com as dores lombares muito comuns em mulheres e homens adultos. Este problema pode ser minimizado com a inclusão de exercícios de fortalecimento da região abdominal e de flexibilidade da região afetada. Mas, não se esqueça que o melhor remédio ainda é a prevenção através dos exercícios regulares. Destacamos que, segundo a literatura especializada, todos nós estamos sujeitos a termos pelo menos uma crise de lombalgia na vida, e que esta poderá tornar-se crônica se não combatermos ouosnprevinirmos com eficiência. Precisamos, entre outras medidas, acompanhar os níveis de flexibilidade da porção posterior das pernas, quadris e coluna lombar, além, é claro, do fortalecimento da região abdominal. São vários os testes para medirmos a flexibilidade para a região acima destacada. Temos o teste doSit and Reach conhecido por nós como Sentar-eAlcançar, configura-se como a técnica mais freqüentemente descrita na literatura e mais empregada em estudos populacionais (POLLOCK & WILMORE, 1993). 22
Limites morfológicos:limites naturais do movimento articular.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Neste teste, o avaliado senta-se de frente para uma caixa de madeira, especialmente construída para este teste, com as pernas estendidas e desliza as mãos sobrepostas no máximo que ele possa alcançar através da flexão do tronco à frente. Veja quanta relação as componentes da aptidão física aqui abordadas têm com a saúde. Então, vamos estudar agora a última componente: a composição corporal. Esta componente, inclusive, será bastante abordada em nosso curso, portanto, a trataremos de forma bem superficial. A preocupação em estudarmos e determinarmos a composição corporal surgiu da necessidade de melhor entendermos a distribuição e a quantificação dos principais componentes estruturais do corpo, a exemplo dos músculos, ossos e massa corporal gorda. Esta última componente tem-nos preocupado bastante pela sua forte relação com o surgimento de doenças crônicas, mas é bom lembrarmos também que a sua escassez pode levar a profundos comprometimentos do organismo e até a morte. Então é preciso destacar que quando nos referimos a composição corporal, estamos falando principalmente da relação entre a massa corporal magra, formada pelos músculos, e massa corporal gorda, formada pelo tecido adiposo.
Subcutâneo:localizado abaixo da pele.
Desde o inicio do século XX as espessuras do tecido adiposo subcutâneo têm sido mensuradas para efeito de predição da gordura corporal total. Quando associado a massa corporal total, podemos também prever a massa magra do avaliado. O método e suas equações evoluíram, tornandose hoje o mais usual principalmente em pesquisa epidemiológicas (WILMORE & COSTIL, 2001).
23
UNIDADE 1 - CONCEITOS DE ATIVIDADE FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NA PERSPECTIVA DA APTIDÃO FÍSICA RELACIONADA À SAÚDE
Nesta unidade você estudou a aptidão física relacionada à saúde, espero que esteja percebendo o quanto é importante o conhecimento deste assunto para a boa atuação profissional e para a produção de novos conhecimentos acerca da matéria estudada. Vamos ver o quanto você se empenhou nos estudos.
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudálo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Na unidade 2, vamos estudar os aspectos da epidemiologia aplicados a atividade física, principalmente, aqueles relacionados ao sedentarismo e a obesidade. Até lá!
24
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE Graduação
1
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
2 E D A D I N U
INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE Nesta unidade estudaremos a bases epidemiológicas da atividade física relacionada à saúde e contextualizaremos o sedentarismo e a obesidade enquanto problema de saúde pública. Identificaremos também a influência destes fenômenos com o surgimento das doenças crônicas mais comuns.
OBJETIVO DA UNIDADE: • Conhecer a epidemiologia enquanto ciência. • Analisar os aspectos teóricos e metodológicos da epidemiologia da atividade física. • Contextu alizar seden tarismo e obesidade como problema s epidemiológicos, identificando sua influência no surgimento das doenças crônicas degenerativas.
PLANO DA DISCIPLINA: • Conceito e a abrangência do termo epidemiologia. • Epid emio logi a da Ativi dade Fí sica e sua re laçã o com o sedentarismo e a obesidade. • Composição co rporal, so brepeso e o besidade. • Influência do sed entarismo e da obesi dade no surgimento das doenças crônicas.
Bons estudos!
25
UNIDADE 2 - INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE
Prezado aluno, você já estudou os conceitos de saúde, atividade física e qualidade de vida. Pode perceber, mesmo que de forma introdutória, o papel da atividade física na melhoria destes aspectos estudados. Conheceu também as principais componentes da aptidão física relacionada à saúde. E agora vamos estudar a inserção da atividade física nos problemas epidemiológicos no combate ao sedentarismoe seu e apapel obesidade. Fenômeno recente que deu grande status a Educação Física. Você vai entender como isso aconteceu. Então, vamos em frente.
CONCEITO E A ABRANGÊNCIA DA EPIDEMIOLOGIA Conhecida como a ciência que busca investigar e quantificar os vários fatores que determinam a ocorrência e os padrões das doenças dentro de um determinado grupo ou comunidade, a epidemiologia busca generalizar estas informações para uma população maior, a fim de compreender melhor, modificar ou controlar o padrão das doenças ou problemas de saúde (McARDLE; KATCH; KATCH, 1998). O termo epidemia remonta à Grécia antiga e significa, em linhas gerais, doença que surge em um determinado local ou região e acomete rapidamente e simultaneamente um vez grande de espanhol pessoas. Já o termo epidemiologia aparece pela primeira em número um texto sobre a peste no século XVI e também, em linhas gerais, significa o estudo do que afeta a população (PEREIRA, 2002). Compete, então, à Epidemiologia, estabelecer a magnitude de um dado problema de saúde, identificar os fatores causadores deste problema, as formas pelas quais esses fatores são transmitidos e, ainda, desenvolver bases científicas para implementação de ações preventivas. Sendo assim, podemos destacar a epidemiologia descritiva que tem como preocupação o acompanhamento da ocorrência de algumas doenças, correlacionando-as a dados como: idade, sexo, etnia, ocupação profissional, classe social e localização geográfica. Estudos sobre a epidemiologia associam o seu surgimento aos escritos vinculados a Hipócrates. Foi no século XIX que se estabeleceram as bases da epidemiologia moderna, pois nessa época com o advento da revolução industrial, as cidades cresceram e se agravaram as doenças oriundas da 26
Hipócrates (460-377 a.C.) - grego que é considerado o pai da medicina.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
falta de saneamento, surgindo, assim, a era das doenças infecciosas, que perdurou até meados do século XX. Entre os vários objetos de estudo da epidemiologia o processo saúde-doença, suas causas e determinantes, configuram-se como os principais (PITANGA, 2004).
IMC: O Índice de Massa Corporal (IMC), ou simplesmente índice de Quetelet é igual a divisão da massa corporal (kg) pela estatura em metro elevado ao quadrado (kg/m²). Tem sido bastante utilizado em estudos nacionais e internacionais, que buscam monitorar o estado de nutrição e crescimento sadio (obesidade x desnutrição). O IMC pode classificar o avaliado em condição de baixo peso (<18,5), faixa normal (18,5 - 24,9), sobrepeso (³ 25), obeso I (30 - 34,9), obeso II (35 39,9), obeso III (> 40).
Nesta perspectiva precisamos entender também a relação entre taxa de morbidade e mortalidade (morbimortalidade). A taxa de morbidade expressa o número de casos de doenças não-fatais em uma dada população de risco durante um determinado tempo. Por exemplo: a incidência de caso de hipertensão em brasileiros do sexo masculino com mais de 50 anos e IMC maior que 35 kg/m 2, entre as décadas de 80 e 90. Já a taxa de mortalidade expressa a incidência de óbitos em uma dada população durante determinado período de tempo. Pode ser apresentada de forma total (todas as causas) ou específica (relativa a uma determinada doença quando comparada com as outras). Por exemplo: mortes entre brasileiros do sexo masculino hipertensos com mais de 50 anos e IMC maior que 35 kg/m2, entre as décadas de 80 e 90. A partir da década de 60 no Brasil observou-se uma transição epidemiológica, a exemplo do que já acontecia em outros países industrializados, assim o perfil epidemiológico começou a mudar. As doenças transmissíveis deixaram de ser a primeira causa de morte para dar lugar às doenças crônicas não-transmissíveis, em especial, as cardiovasculares.
Fatores de riscos: são vários os fatores de riscos para o desenvolvimento de doenças crônicas. Mas podemos organizá-los em dois grandes grupos: os ligados aos fatores biológicos e os ligados aos fatores comportamentais. Este último recebe status , pois está diretamente ligado ao estilo de vida das pessoas, assunto já estudado antes, lembra?
Na figura abaixo podemos entender melhor esta transição. Mortalidade Proporcional Segundo Grupos de causas selecionadas em capitais brasileiras, entre 1930 a 1994 DIP Doenças Infecto-parasitárias; DCV Doenças Cardiovasculares; NEO Neoplasias; CE Causas Externas. (BARBOSA; BARCELO; MACHADO, 2001. p. 325). Começava, então, a era das doenças crônicas, aquelas denominadas “n ão- transm is síveis ” ou degenera tiva s, o qu e fez cres cer ba stante a preocupação com os fatores de riscos, que de forma isolada ou associada, predispunham as pessoas às doenças e a conseqüente morte.
27
UNIDADE 2 - INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE
Este fenômeno social ficou conhecido como transição epidemiológica e caracterizou-se especialmente pela queda da taxa de mortalidade, pelo aumento da expectativa de vida ao nascer, pelo conseqüente envelhecimento da população e, principalmente, pela mudança do padrão nosológico que passou a apresentar uma predominância das doenças crônicas em detrimento não-transmissíveis das doenças infectocontagiosas. Tudo isso desencadeou a necessidade de diálogo entre os especialistas das diversas áreas de conhecimento, buscando a compreensão dos novos problemas para a elaboração de programas mais eficazes de combate a estas doenças. Nesta época o sedentarismo e as demais atitudes negativas para a saúde começam a merecer mais atenção dos organismos governamentais no Brasil e no resto do mundo. Este problema também vem sendo tratado com muito cuidado e empenho na União Européia (U.E.), através de programas como o HealthEnhancing Physical Activity (HEPA) de promoção da saúde, que tem como estratégia o monitoramento e o fomento às atividades físicas e desportivas. Percentual de adultos fisicamente inativos durante uma semana típica:
Nosológico: referente à nosologia, que representa o estudo das moléstias. Comportamento positivo com a saúde:está relacionado aos bons hábitos alimentares, ao controle do estresse, ao não-tabagismo e ao menor consumo de bebidas alcoólicas, controle da composição corporal e, obviamente, ao aumento do gasto energético através das atividades físicas regulares.
(FOSTER, 2000 p. 7).
28
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Podemos perceber que dentre as comunidades monitoradas pela U.E. a Finlândia se destaca como a mais ativa e Portugal como a mais sedentária com valores próximos aos encontrados no Brasil.
EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE Em nosso país, estima-se que cerca de 70% da população apresente um estilo de vida sedentário. Como você pode observar este quadro predispõe nosso povo às mazelas oriundas deste estilo de vida, especialmente, no que concerne à predisposição elevada aos fatores de riscos para as doenças crônicas nãotransmissíveis, com destaque para as cardiovasculares, colocando o sedentarismo como problema de âmbito epidemiológico e, conseqüentemente, problema de saúde pública (BRASIL, 2001). Verificamos claramente que a cada dia que passa diminuímos nossos movimentos seja nos serviços domésticos, no trabalho ou nos momentos de lazer. Isto tem influenciado na diminuição do gasto energético, que, por conseguinte, tem repercutido no aumento da epidemia de obesidade. Este fenômeno tem sido potencializado, entre outros aspectos, pela insegurança, pela falta de um ambiente propício para a prática de atividades físicas e pelo advento tecnológico. A atividade física vem diminuindo gradativamente entre as pessoas e este fenômeno não poupa nem os mais jovens que estão cada vez mais expostos ao lazer sedentário, passando longas horas do dia em frente à TV, aos computadores e/ou aos jogos eletrônicos. Afinal, quem não gosta de descansar um pouquinho? O problema é o exagero. Cuide-se!
Comportamento positivo com a saúde:está relacionado aos bons hábitos alimentares, ao controle do estresse, ao não-tabagismo e ao menor consumo de bebidas alcoólicas, controle da composição corporal e, obviamente, ao aumento do gasto energético através das atividades físicas regulares.
Pelo exposto, podemos definir que a epidemiologia da atividade física busca aplicar as estratégias gerais das pesquisas epidemiológicas no entendimento da relação entre o estilo de vida e processo saúde/ doença. Observamos que há uma forte relação entre epidemiologia da atividade física, saúde e qualidade de vida, em que a associação da atividade física com a saúde vem determinando a mudança de hábitos e atitudes levando as pessoas a um comportamento positivo com a saúde. 29
UNIDADE 2 - INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE
Este comportamento positivo desencadeia outros comportamentos saudáveis que, por sua vez, melhoram e aumentam a qualidade e a expectativa de vida. É fácil encontramos na literatura resultados de investigações que evidenciam a forte contribuição positiva do treinamento com exercícios envolvendo resistência aeróbia, resistência muscular, flexibilidade e força, no combate às doenças crônicas. Nesta linha de pensamento, deve-se dar ênfase ao autogerenciamento da atividade física e à mudança do estilo de vida sedentário para o ativo, objetivando que esta mudança seja para toda a vida. Renomados pesquisadores vinculados ao Colégio Americano de Medicina do Esporte publicaram um consenso sobre a atividade física no combate as doenças cardiovasculares, em que ficou definido que todas as pessoas deveriam envolver-se em atividades físicas de moderada a intensa (60-80% da freqüência cardíaca máxima) de forma a acumular pelo menos 30 minutos diários, preferencialmente, todos os dias da semana (PATE, et. al., 1995). Não podemos falar de epidemiologia da atividade física sem citar os estudos clássicos de Morris e Raffer, tão amplamente citados na literatura, publicados no início da década de 50. Estes pesquisadores puderam constatar a íntima relação entre sedentarismo e doenças cardiovasculares, através de investigações com indivíduos que, no seu cotidiano profissional, eram mais ou menos ativos. Eles investigaram dois grupos de profissionais da mesma área, mas de atividades distintas, a exemplo dos carteiros que caminhavam e/ou pedalavam e seus colegas dos serviços burocráticos, como também, entre os cobradores que subiam e desciam diariamente as escadas dos ônibus londrinos de dois andares e seus colegas motoristas que passavam o mesmo tempo dirigindo. Fica fácil imaginar os resultados destes estudos, pois a incidência de doenças era muito maior entre os trabalhadores cuja atividades despedia pouca energia. Posteriormente, aos estudos de Morris e Raffer, outro clássico foi apresentado à comunidade científica da área, apresentado pelo Dr. Paffenbarger e seus colaboradores. Este estudo envolveu 16.936 ex-alunos de Harvard e ratificou os achados de Morris, demonstrando que um gasto energético voluntário igual ou superior a 2.000 Kcal por semana estaria relacionado a uma menor incidência de morte por todas as causas, especialmente, por problemas cardiovasculares. Encontramos vasto material na literatura que confirmam a atividade física como um importante fator de melhoria da saúde e da longevidade, diminuindo os riscos para doenças coronarianas (PAFFENBARGER, HYDE & WING, 1986; PAFFENBARGER & LEE, 1996).
30
Gasto energético voluntário: são as atividades físicas que realizamos voluntariamente além daquelas necessárias para nossa sobrevivência. Como por exemplo: ir a padaria caminhando em vez de ir de carro, subir as escadas do prédio em vez de ir pelo elevador, ou seja, estão ligadas ao quanto somos ativos nos dias da semana. Inclui-se aí atividades esportivas e recreativas. Kcal: É uma unidade de medida de energia que equivale a quantidade de calor necessária para se elevar em um grau centígrado um grama de água. Na nossa área é importante sabermos que para reduzirmos um grama de gordura corporal, precisamos “que imar” 7,7 Kcal. Assim , um gasto voluntário superior a 2.000 Kcal reduziria aproximadamente 260 gramas de gordura corporal.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Dentre os vários problemas desencadeados pelo estilo de vida negativo e o sedentário, temos o aumento da obesidade. Este fenômeno será melhor entendido no próximo tópico de estudo.
COMPOSIÇÃO CORPORAL, SOBREPESO E OBESIDADE. Vários estudiosos e institutos de pesquisa confirmam que a epidemia de obesidade tornou-se um dos principais desafios de saúde pública, em que o principal objetivo é tentar prevenir o previsível aumento da prevalência de diversas doenças degenerativas, especialmente, as cardiovasculares e metabólicas. Como já estudamos antes, a preocupação em determinar a composição corporal surge da necessidade de melhor entendermos a distribuição e a quantificação dos principais componentes estruturais do corpo, principalmente, a massa muscular e a massa gorda. Do ponto de vista da saúde, ao acompanharmos esta última componente, precisamos monitorar suas concentrações e distribuição. Vamos ver porquê. A preocupação com o sobrepeso e a obesidade torna-se legítima quando
Pesquisas longitudinais: pesquisas longas em que o resultado encontrado apresenta mais confiabilidade e respeito. IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística POF: Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada entre 2002-2003 e divulgado pelo IBGE em dez. 2004.
observamos os resultados de pesquisas longitudinais (1960 a 1991) realizadas nos Estados Unidos. Nesta pesquisa ficou constatado um aumento notável de sobrepeso durante a última década, o que fez o governo norteamericano projetar, através do Programa “Pessoas Saudáveis 2000” (Health People 2000), a redução do sobrepeso nos adultos. A prevalência da obesidade juvenil aumentou nos Estados Unidos em mais de 20% nas duas últimas décadas, principalmente, entre hispânicos e meninas afro-americanas, reforçando a tese de que este fenômeno tem relação direta com os baixos níveis socioeconômicos. Situação que também observamos aqui no Brasil, onde as classe populares apresentam maior nível de sobrepeso e obesidade. Pesquisas recentes publicadas pelo IBGE dão conta de que 38,6 milhões (40%) dos brasileiros adultos, estão acima do peso ideal (IMC entre 25 – 29 kg/m 2 ), deste contingente, 10,5 milhões são considerados obesos (IMC e” 30 kg/m 2 ). A divulgação dos resultados da POF trouxe à tona um fato curioso, se não para os especialistas da área, ao menos para a maioria dos brasileiros, de que não somos um país de desnutridos, mas, ao contrário, de obesos. Exatamente no momento em que os esforços do Governo Federal se concentravam no combate à fome através do Programa “Fome Zero”. A pesquisa destaca também que a desnutrição diminuiu em nosso país. Entre 1974 e 1975, 7,2% da população masculina e 10,2% da população feminina sofriam com o baixo peso (desnutrição). Em 1989 estes números
31
UNIDADE 2 - INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE
mudaram para 3,8 e 5,8%, respectivamente, e mais recentemente (200203), estas taxas ficaram entre 2,8 e 5,2% (RADIS, 2005). Projeções da OMS para o ano de 2025 já apontavam que o Brasil entraria no rol dos países considerados obesos, porém os resultados divulgados na 2ª parte da Pesquisa de Orçamentos Familiares divulgada pelo IBGE antecipam estas previsões. Já podemos considerar o Brasil um país com alto nível de sobrepeso e obesidade! Quanto à distribuição da gordura corporal, temos dois modelos tradicionalmente conhecidos: o andróide, modelo predominantemente masculino, em forma de maçã com concentração de gordura no tronco e abdómen e o ginóide, modelo predominantemente feminino, em forma de pêra com concentração de gordura nos quadris e nas coxas. Em termos de risco à saúde, o tipo andróide está mais associado às doenças cardiovasculares (Howley e Franks, 2000). Destacamos que a gordura visceral, localizada no abdômen e no tronco, tem maior relação com o desenvolvimento de doenças crônicas. É importante salientarmos que assim como o excesso de gordura corporal pode ser prejudicial à saúde, sua escassez pode comprometer o bem-estar das pessoas especialmente de jovens iniciando a fase de maturação sexual principalmente quando nos referimos à gordura essencial responsável pelo bom funcionamento fisiológico e à gordura de reserva responsável, entre outros fatores, pela proteção aos órgãos internos de possíveis traumatismos. Para o sexo feminino a demanda de gordura é relativamente maior que para o sexo masculino; conhecida como gordura específica, estes depósitos adicionais nas mulheres estão biologicamente associados à procriação e ao bom funcionamento dos hormônios (McARDLE, KATCH & KATCH, 1998). É por esse motivo queas mulheres sempre apresentaram, em média, uma maior concentração de gordura quando comparadas aos homens. A boa notícia em tudo isso é que a atividade física sistematizada e regular, aliada a uma reeducação alimentar, pode trazer bons resultados no combate e, principalmente, na prevenção do sobrepeso e da obesidade. O maior beneficio da atividade física reside na capacidade para mobilizar e metabolizar gordura, bem como diminuir os níveis de gordura (triglicérides e colesterol) circulantes no sangue. Mas, é importante destacarmos que a puberdade representa o principal período etário na definição da composição corporal principalmente quando nos referimos ao risco desses adolescentes tornarem-se adultos obesos.
32
Puberdade:período de adolescência em que acontece a principal fase de maturação sexual já abordado na unidade 1.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Intervenções positivas durante este período podem reduzir este risco em cerca de 30 a 45% (GUEDES & GUEDES, 2006). Isto demonstra que as tentativas de se instalar hábitos de estilo de vida saudáveis devem começar o mais cedo possível, pois serão sempre mais eficazes nesta fase que na fase adulta. Veja só a responsabilidade do profissional de Educação Física com este problema. Que outro profissional teria mais facilidade de estimular a juventude a aderirem ao estilo de vida ativo? Vamos entender um pouco do que acontece a nível celular. As células adiposas que são formadas ainda no período fetal podem aumentar de tamanho a qualquer momento do nascimento até a morte. Cientistas acreditam que a manutenção de um conteúdo baixo de gordura corporal total durante o período inicial do desenvolvimento reduz a quantidade geral de células adiposas, diminuindo, em muito, a obesidade na vida adulta. Aparentemente, quando as células adiposas tornam-se cheias de gordura, desencadeiam a criação de novas células adiposas (WILMORE & COSTIL, 2001). Período fetal: vida intrauterina, quando ainda somos apenas um feto em formação. Hipoatividade : pouca ou nenhuma atividade física voluntária. Só para lembrá-lo, atividade física voluntária é aquela que fazemos além das atividades extremamente necessária s.
Em geral, o excesso de peso e de gordura corporal nesta fase é identificado como precursor de inúmeros fatores de riscos que levam a disfunções crônico-degenerativas em idades mais avançadas, elevando os índices de morbidade e mortalidade. O traço mais característico do jovem obeso é sua hipoatividade, que, num ciclo vicioso, deixa-o desmotivado para as práticas esportivas, tornando-o cada vez mais hipoativo.
33
UNIDADE 2 - INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SUA RELAÇÃO COM O SEDENTARISMO E A OBESIDADE
Então, vamos movimentar essa juventude! Vamos resumir! Para que a pessoa possa permanecer dentro da faixa ideal de percentual de gordura, deve equilibrar o consumo dietético de calorias com o gasto energético, através do equilíbrio da balança calórica. Essa idéia da balança calórica facilita muito nosso entendimento, quando queremos perder peso a balança tem que ficar negativa (diminui o consumo calórico e aumenta o gasto energético) e para ganharmos peso ela deve ficar positiva (aumenta o consumo calórico e diminui o gasto energético). Entendeu?
INFLUÊNCIA DO SEDENTARISMO E DA OBESIDADE NO SURGIMENTO DAS DOENÇAS CRÔNICAS. Quando recorremos à literatura, verificamos que os baixos níveis de atividade física, associados à obesidade e ao estilo de vida negativo, configuram-se como importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas. Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS (2004), as doenças crônicas não transmissíveis aumentaram rapidamente em escala mundial. Em 2001, estas doenças foram responsáveis por 47% da carga mundial de mortalidade, constituindo-se num grande desafio para a saúde pública mundial. Esta entidade tão respeitada informou que são poucos os fatores de risco importantes que influenciam na morbimortalidade geral para as doenças não-transmissíveis, destacando: • a hipertensão arterial; • a hipercolesterolemia; • a pouca ingestão de frutas e hortaliças na dieta diária; • o excesso de peso e a ob esidade; • a falta ou a pouca atividade física diária; e • o consumo de tabaco. Podemos observar que cinco dos seis fatores aqui apontados estão estreitamente associados à má alimentação e ao sedentarismo. É possível imaginarmos inclusive que até o tabagismo diminua à medida que a pessoa adote um estilo de vida mais ativo. No Brasil, como já foi possível observar, o sedentarismo já é considerado um dos principais inimigos da saúde pública e está presente em cerca de 70% da população, sendo responsabilizado por 54% do risco de morte por infarto e por 50% do risco de morte por derrame cerebral. Estes dados já seriam mais que suficiente para justificarmos uma ação coletiva em prol do combate ao sedentarismo, mas é sempre bom reforçá-
34
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
los. Veja as recomendações da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte – SBME para o combate ao sedentarismo junto aos mais jovens e entenda melhor a responsabilidade do profissional de Educação Física neste processo. Para SBME as atividades físicas e esportivas devem ser consideradas prioridade para crianças e adolescentes, desta forma destaca: 1 – Os profissionais da área de saúde devem combater o sedentarismo na infância e na adolescência, estimulando a prática do exercício físico no cotidiano e/ou de forma estruturada através de modalidades desportivas, mesmo na presença de doenças, visto que são raras as contradições absolutas ao exercício físico; 2 – Os profissionais envolvidos com crianças e adolescentes que praticam atividade física devem priorizar seus aspectos lúdicos sobre os de competição e evitar a prática em temperaturas extremas; 3 – A educação física escolar bem aplicada deve ser considerada essencial e parte indissociável do processo global de educação das crianças e adolescentes (LAZZOLI et. al., 1998). Sendo assim, parece-nos óbvio que a responsabilidade de elevarmos os níveis de atividade física e saúde em nossa população e em especial junto aos mais jovens, não pode ser entendida como uma ação isolada do professor de Educação Física, dos pais ou até mesmo das instituições governamentais e não-governamentais. Estas ações devem buscar a parceria de todos para reversão dos atuais quadros de baixa atividade física da população brasileira. Então, mãos à obra e vamos estudar um pouco mais para melhoramos nossa ação profissional. Nesta unidade você estudou sobre a epidemiologia e sua relação com o estilo de vida sedentário e a obesidade, que deu srcem a uma área de estudo conhecida como epidemiologia da atividade física. Viu, ainda, que estes fatores quando associados podem predispor o surgimento de algumas doenças crônicas, são o que chamamos de fatores de riscos associados, que serão melhor estudados na próxima unidade.
É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudálo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Na próxima unidade, estudaremos também algumas doenças crônicas relacionadas à obesidade e ao estilo de vida sedentário, sua etiologia e relação com a atividade física. Mas, antes, vamos ver o que você aprendeu. 35
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
ATIVIDADE FÍSICA E S AÚDE Graduação
1
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
3 E D A D I N U
PRINCIPAIS DOENÇAS CRÔNICAS DEGENERATIVAS LIGADAS AO SEDENTARISMO E A OBESIDADE Vimos na unidade anterior que o sobrepeso, a obesidade e o sedentarismo atingiram status de problema epidemiológico e neste cenário surgiu uma nova área de investigação, a epidemiologia da atividade física, buscando aplicar as estratégias gerais das pesquisas epidemiológicas no estudo da atividade física relacionada à saúde. Nesta unidade veremos as principais doenças crônicas degenerativas ligadas ao sedentarismo e a obesidade. Buscaremos, ainda, conhecer a etiologia destas doenças e o papel do estilo de vida positivo e da atividade física no combate às mesmas. Vamos em frente!
OBJETIVO DA UNIDADE: Identificar e analisar as principais doenças crônicas degenerativas ligadas ao sedentarismo e a obesidade. Conhecer a etiologia destas doenças e o papel do estilo de vida positivo e da atividade física no combate a estas doenças.
PLANO DA DISCIPLINA: • Hipertensão art erial • Diabetes Melito • Colesterol a lto • Doenças ca rdiovasculares.
Bons estudos.
37
UNIDADE 3 - PRINCIPAIS DOENÇAS CRÔNICAS DEGENERATIVAS LIGADAS AO SEDENTARISMO E A OBESIDADE
Falar das principais doenças crônicas não é tarefa fácil, pois estão tão interligadasque, quando falamos da etiologia de uma delas, esbarramos quase sempre na outra. Mas vamos em frente.
1. HIPERTENSÃO ARTERIAL É comum escutarmos que esta ou aquela pessoa tem pressão alta e isto é compreensível tamanho o número de pessoas acometidas por este mal. Mas, afinal, o que é hipertensão? Qual sua relação com o sedentarismo, a obesidade e os maus hábitos alimentares? Estas são algumas questões que tentaremos responder neste tópico. Vamos começar entendendo o mecanismo da pressão arterial. O sangue bombeado pelo coração é transportado pelas artérias, veias e capilares para todos os tecidos e órgãos do corpo. Este processo envolve duas fases distintas do batimento do coração: a sístole, que é a fase de contração em que o coração impulsiona o sangue pelo corpo, e a diástole, quando o coração “relaxa” brevemente para que suas câmaras sejam enchidas de sangue e reinicie o novo processo de bombeamento. Durante a fase da sístole o sangue invade as artérias e na sua passagem pressiona suas paredes tencionando-as. Esta tensão é medida por um aparelho (esfigmomanômetro) colocado externamente ao vaso, por sobre a pele, a função adopressão aparelho é pressionar no sentido contrário ao do sangue, medindo assim arterial sistólica. Durante o período de “relaxamento” do coração, conhecido como diástole, conseguimos mensurar a pressão diastólica.
medirmoso aatual pressão arterial de alguém precisamos de referências paraAosabermos estado de saúde da pessoa avaliada.
38
Etiologia: aqui entendida
como parte da medicina que trata da causa das doenças.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Assim, temos como precisar se esta pessoa esta sofrendo ou não de hipertensão e, ainda, qual o nível de comprometimento do estado hipertensivo. Pressões em torno 120 por 80mmHg (milímetros de mercúrio) são consideradas normais. Conhecidas por nós apenas como 12/8. A hipertensão arterial geralmente apresenta sinais de sua existência que possa advertir o portadornão desta patologia, por precoces isso é conhecida como “assassina silenciosa”. Ela sozinha aumenta potencialmente o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares como veremos a seguir. Quando associada a outros fatores de risco como tabagismo, colesterol alto, alimentação rica em sal e gorduras, estresse e histórico familiar pode se tornar realmente uma doença muito perigosa. Por não apresentar sintomas claros de sua existência, ou seja, por ser assintomática, a hipertensão arterial é conhecida como “assassina silenciosa”. Ela sozinha aumenta muito o risco de doenças cardiovasculares. As doenças hipertensivas aumentam muito o peso sobre a morbimortalidade geral e, em especial, sobre as cardiovasculares. Após destacar a alta correlação entre a hipertensão arterial e algumas das mais temíveis doenças crônicas, um grupo de especialistas da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2004) anunciou, durante a publicação das IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, que esta doença configura-se como um dos principais agravos à saúde no Brasil, elevando sobremaneira o custo médico-social. Estes especialistas anunciaram ainda que o combate a esta doença tão perigosa e comum na população brasileira, só seria eficaz através de uma abordagem multipofissional dado ao caráter multifatorial da
39
UNIDADE 3 - PRINCIPAIS DOENÇAS CRÔNICAS DEGENERATIVAS LIGADAS AO SEDENTARISMO E A OBESIDADE
doença. Anunciaram, também, as medidas de maior eficiência no tratamento não-medicamentoso . São elas: · redução do peso c orporal e ma nutenção do pes o idea l (IMC entre 20 e 25 kg/m 2). · redução da ingestão de sódio (o ideal seria ingerir até 6 g/dia de sal, correspondente a 4 colheres rasas de café). · maior inge stão d e potá ssio ( dieta rica e m vegetais e fru tas, entre 2 e 4 g/dia de potássio). · redução de beb idas alcoólicas (30g álcool/dia, aproximadamente uma cerveja de 600 ml). · exercícios físicos regulares (pelo menos 30 minu tos de ati vidades física moderada na maioria dos dias da semana). Observe que todas estas medidas estão diretamente associadas ao estilo de vida positivo, reforçando o quanto este estilo de vida é importante no combate a morbimortalidade causado pelas doenças crônicas. Só para refoçarmos o que estamos dizendo, segundo Nieman (1999), a obesidade sozinha triplica o risco de hipertensão arterial. Imagine só quando associamos a outros fatores de riscos, como, por exemplo, o sedentarismo. Estima-se que o sedentarismo aumenta em até 50% o risco de hipertensão. Ainda bem que basta perder peso para diminuir muito os valores de pressão arterial, mas a melhor estratégia é associar uma alimentação saudável a um programa regular de atividade aeróbia. E você sabe como está sua pressão arterial? Durante os exercícios aeróbios a frequência cardíaca sobe e com ela a tensão arterial, a vantagem neste processo é que o organismo durante a prática de exercícios físicos entra num estado que chamamos de prontidão para o esforço, neste momento acontece um aquecimento do corpo e um processo de vasodilatação, que é a ampliação do calibre ou luz dos vasos sanguíneos, para facilitar a passagem de suprimento (O 2 e glicose) trazidos pela corrente sanguínea para os músculos e demais órgãos. Após o término da sessão de exercício, a pressão arterial cai abaixo dos níveis normais por um período em torno de 20 a 120 minutos, este efeito é que chamamos de agudo e se destaca ainda mais quando a pessoa é hipertensa. Se esta prática se torna rotineira este efeito começa a aumentar durante a fase pós-exercício, além, é claro, dos efeitos benéficos adicionais, como a redução do peso corporal, a diminuição do estresse, a melhoria do perfil lipídico sanguíneo, a conseqüente melhora do padrão alimentar, entre outros.
2. DIABETES MELITO
O diabetes melito ou simplesmente diabetes, a exemplo das demais doenças crônicas, tem sua etiologia ainda um tanto confusa, mas vamos analisá-la de forma geral.
40
sem a Não-medicamentoso: utilização de medicamentos. : causado imeEfeito agudo diatamente à atividade física e passageiro.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Temos dois tipos de diabetes diagnosticados, o insulino-dependente ou do tipo 1 e o não insulino-dependente ou do tipo 2. Em linhas gerais, esta desordem metabólica diminui a capacidade do organismo em metabolizar (“queimar”) a glicose que é responsável por alimentar de energia as células do nosso organismo. No caso do diabetes tipo 1 o pâncreas deixa de produzir ou produz em baixa escala o hormônio insulina, que é responsável por permitir a entrada da glicose no interior das células (uma espécie de chave), assim a glicose se acumula no sangue e depois é eliminado pela urina através dos rins. Por razões ainda não bem esclarecidas, as células betas, que são as células pancreáticas responsáveis por produzirem a insulina, são atacadas pelo sistema imunológico e deixam de produzir a insulina, por isso a pessoa acometida por este tipo de diabetes precisa receber insulina para que as concentrações de glicose sejam metabolizadas e o corpo possa receber esta energia tão importante, daí o nome insulino-dependente. No caso do diabetes tipo 1 o pâncreas deixa de produzir insulina e o portador dessa doença precisa de insulina externa. Por isso, o termo insulino-dependente. Como este tipo de diabetes se iniciava mais na juventude, ficou conhecido como diabetes juvenil, nome que hoje não mais se aplica, pois este tipo de diabetes pode aparecer em qualquer idade. Os sintomas do diabetes tipo 1 são facilmente identificáveis: • micção excessiva e freqüente; • fome insaciável; • sede intensa; • perda de peso; • visão turva, náuseas e vôm itos; • fraqueza, tontura, irritabilidade e fadiga extrema; • dificuldade de cicatrização de pequenos ferimentos, na gengiva por exemplo. O diabetes tipo 2, não insulino-dependente, tem um mecanismo etiológico diferente. Neste caso, o pâncreas produz a insulina, mas as células do organismo, que precisam da glicose para se alimentar, começam a ficar insensíveis à insulina, é como se a fechadura, neste caso, os receptores de insulina, não reconhecessem a chave. Como resultado desse processo, começa a se acumular no sangue a insulina e a glicose, sobrando para os rins a difícil tarefa de eliminá-los pela urina. No caso do diabetes tipo 2 o pâncreas produz insulina, mas as células do corpo ficam insensíveis ao hormônio, o portador dessa doença só em alguns casos/momentos vai precisar de insulina externa. Por isso, o termo não insulino-dependente. 41
UNIDADE 3 - PRINCIPAIS DOENÇAS CRÔNICAS DEGENERATIVAS LIGADAS AO SEDENTARISMO E A OBESIDADE
Os sintomas do diabetes tipo 2 são mais discretos e não se pronunciam com tanta nitidez como a do tipo 1; são mais lentos e geralmente se pronunciam após os 30 anos e vão aumentando com o passar da idade. Um fator isolado que acelera bastante o processo de instauração do diabetes 2 é o aumento do peso. Só nos Estados Unidos, 85% dos diagnósticos de diabetes 2 foram feitos em pessoas com excesso de peso e a medida que aumenta o IMC aumenta potencialmente o risco desta diabetes (NIEMAN, 1999).
Sabemos também que a grande maioria, cerca de 90% dos casos de diabetes, são do tipo 2. Fica até fácil sabermos o porquê, pois sua alta relação com o estilo de vida sedentário, com a má alimentação e com a obesidade explica boa parte deste fenômeno. Devido ao efeito tóxico dos níveis elevados de glicose na corrente sanguínea sobre os vasos, nervos e outros tecidos do corpo, o portador de diabetes tem aumentado sua vulnerabilidade ao surgimento de várias doenças. As pessoas com diabetes estão até quatro vezes mais susceptíveis a morrerem por doenças cardiovasculares. Cerca de 75% dos casos de óbito por diabetes estão ligadas às doenças cardiovasculares. Os valores recomendados de concentração de glicose sanguínea não devem ultrapassar as 110mg/dl (miligramas por decilitros) após 12hs de jejum. Qual é a boa notícia? Isto mesmo, o exercícios aeróbios regulares, associados à boa alimentação e a adoção de um estilo de vida positivo, combatem principalmente o diabetes 2, chegando a incrível marca de 90% dos casos serem resolvidos com esta mudança no estilo de vida. É bom relembrá-lo que a adoção do estilo de vida positivo combate à obesidade, à hipertensão, ao colesterol alto e, conseqüentemente, diminui substancialmente os riscos das doenças cardiovasculares. Durante o exercício, como já foi colocado anteriormente, o corpo entra em estado de prontidão potencializando o metabolismo para as solicitações de gasto energético. Durante este período os músculos podem aumentar 42
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
de 7 a 20 vezes a captação de glicose aumentando a sensibilidade dos receptores na presença, inclusive, de pouca insulina, isso faz com que as taxas de glicose sanguínea caiam abaixo dos patamares normais. Este fenômeno, dependendo da duração e intensidade do exercício, pode durar de várias horas até dois dias após a sessão. Se estas sessões se repetem regularmente este efeito pode se tornar crônico trazendo enorme benefício para os diabéticos. Porém, alguns cuidados devem ser tomados durante a prática dos exercícios. Por exemplo: deverá monitorar seus níveis de glicemia para evitar a hipoglicemia facilmente identificada na sensação de tontura que este estado provoca. Se o diabético for insulino-dependente, deve tomar cuidados adicionais com os pés, pois é natural a perda de sensibilidade nas extremidades do corpo, o que pode ocasionar pequenos ferimentos que como você já sabe tornam-se sempre mais difíceis de curar no diabético, principalmente, nos pés. Mas, isso não deve ser impedimento para a prática esportiva dos diabéticos tipo 1. Temos casos de atletas até de triathlon que controlam seus níveis durante as provas.
3. COLESTEROL ALTO
Colesterol: substância pre-
sente em todas as células do corpo, responsável por várias funções bioquímicas, presente na gordura de origem animal muitas vezes até confundida com ela ou usada como sinônimo de gordura ou lipídio.
O colesterol alto é um dos principais fatores predisponentes para as doenças cardiovasculares, mas em concentrações normais torna-se imprescindível para o bom funcionamento do organismo. Então, vamos entender melhor como é este mecanismo. Nosso organismo produz colesterol para seu próprio funcionamento, mas também absorve colesterol dos alimentos, principalmente, os de srcem animal. Quando os níveis de colesterol estão elevados uma parte do excesso fica depositado nas paredes das artérias, aumentando, com isso, os riscos de doenças cardiovasculares. Mas, basta iniciarmos uma mudança do estilo de vida para termos uma diminuição deste risco. Mas, afinal, o colesterol é bom ou ruim para o organismo? Como funciona? O colesterol, a exemplo do triglicerídes e de outras gorduras ou lipídeos, é carregado pela corrente sanguínea por transportadores conhecidos como lipoproteínas, que se dividem em lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e de alta densidade (HDL). O LDL-colesterol é tido como mau colesterol, pois influencia para o “acúmulo de gordura” nas paredes das artérias aumentando os riscos das doenças cardiovasculares. Os níveis considerados aceitáveis não podem ultrapassar as 130mg/dl (130 miligramas de LDL-colesterol por decilitros de sangue). Seu nível ideal é de 100mg/dl. Já o HDL-colesterol é conhecido como o bom colesterol, pois é responsável por levar o colesterol até o fígado para ser transformado em ácidos biliares ou simplesmente bile e, às vezes, até para ser eliminado do organismo pelas fezes. Configurando-se no mecanismo de controle do colesterol.
43
UNIDADE 3 - PRINCIPAIS DOENÇAS CRÔNICAS DEGENERATIVAS LIGADAS AO SEDENTARISMO E A OBESIDADE
Em linhas gerais, podemos dizer que o LDL-colesterol é o mau colesterol, pois influencia no “acúmulo de gordura” nas paredes das artérias. E o HDLcolesterol é o bom colesterol, pois leva o excesso até o fígado para ser transformado, controlando as taxas de colesterol sanguíneo. Da mesma forma que exemplificamos a insulina como uma chave que facilita a entrada da glicose da célula, o HDL-colesterol seria uma espécie de caminhão de lixo que coleta a gordura pelo organismo e a recicla ou joga fora através do fígado. Quando os níveis de HDL-colesterol são elevados (e”60mg/dl), observamos uma redução dos riscos de doenças cardiovasculares. A proporção ideal de colesterol seria de 100mg/dl para o LDL e 60mg/dl HDL, ou seja, um colesterol total de 160mg/dl. A notícia ruim é que as pessoas com HDL superior a 60mg/dl são bem raras. Provavelmente, isto estaria ligado a algum fator genético ainda não explicado. Quando o colesterol total ultrapassa os 200mg/dl é preciso ficar atento para os riscos que isso pode trazer. Você já avaliou seus níveis de colesterol? É sempre recomendado monitorá-lo, ok? A notícia boa é que o exercício aeróbio regular aparece em primeiro lugar na ordem de importância para o aumento do HDL e diminuição do LDL, seguido pela redução do peso corporal, interrupção do tabagismo e diminuição do consumo de álcool. Para a redução do LDL também é preciso uma reeducação alimentar, principalmente, no tocante à redução do consumo de gordura saturada, tão abundante em alimentos industrializados.
4. DOENÇAS CARDIOVASCULARES Pelo que já estudamos até agora foi possível perceber que as doenças cardiovasculares são as que mais predispõem as pessoas ao quadro de morbimortalidade. Só para termos uma idéia do impacto destas doenças, além de serem responsáveis por mais da metade do total geral de óbitos nos países desenvolvidos, como já observamos na unidade anterior, se elas fossem eliminadas, teríamos um acréscimo de 10 anos na expectativa de vida. Temos mais de 20 diferentes doenças ligadas ao coração e aos vasos, por isso o termo “doenças cardiovasculares” é entendido de forma genérica. Estudaremos, então, as principais. Vamos começar! É inquestionável o papel das doenças cardiovasculares na morbimortalidade no mundo contemporâneo ocidental, tanto para os países desenvolvidos quanto para os em desenvolvimento. As doenças cardiovasculares a cardiopatia isquêmica acidente vascular cerebral são e especialmente serão, conforme projeção para 2020, ase o principais causas de morte, morte prematura e de anos perdidos com incapacitação (MATOS et. al., 2004).
44
aconCardiopatia isquêmica: tece quando suprimento de sangue é interrompido causando a isquemia, ou seja, a morte do tecido cardíaco por falta de suprimento sanguíneo.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
4.1. Cardiopatia ou doença coronariana
Lipoproteínas oxidadas:
neste processo o LDL pode ser oxidado pelo fumo e/ou pela ausência das vitaminas antioxidante (A, E e C). Monócitos: leucócitos ou
Para estudarmos a doença coronariana, precisamos entender a sua etiologia. Neste contexto, vamos estudar a aterosclerose que, em linhas gerais, é conhecida pela formação de uma placa de substância gordurosa na camada interna dos vasos sanguíneos. É tida como fator subjacente em aproximadamente 85% dos casos de doenças cardiovasculares. A aterosclerose pode desencadear a cardiopatia, o acidente vascular cerebral (AVC) e a doença arterial periférica.
glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do organismo.
A aterosclerose é tida como fator subjacente em aproximadamente 85% dos casos de doenças cardiovasculares.
Fagocitose:é a ingestão e
Vejamos como se forma a placa aterosclerótica. O mecanismo é bem complexo e controverso, mas vamos abordá-lo superficialmente e de forma didática.
destruição de uma partícula de microrganismo por uma célula, conhecida como fagócito.
Segundo Nieman (1999), o processo tem início na lesão da parede do vaso ocasionada por vários fatores associados, entre eles podemos destacar: o nível elevado de colesterol e as lipoproteínas oxidadas , a pressão arterial elevada, o tabagismo, a má alimentação, entre outros. Em resposta a esta lesão, os monócitossão atraídos para o local, se acumulam no revestimento interno do vaso (conhecido como íntima) e se transformam em macrófagos Fatores de risco secundário: (células comedoras). Estes macrófagos, ao realizarem a fagocitose, liberam tão importante quanto os primários ainda precisam proteínas que estimulam a produção de colágeno e de outras substâncias passar por mais estudos que formam o tecido fibroso da placa aterosclerótica. Como resultado deste para uma melhor compreenprocesso, temos um estreitamento progressivo da luz do vaso, que, por são no mecanismo conseguinte, pode desencadear um ataque cardíaco, um AVC ou até uma etiológico da doença. já Fatores de risco primário: amplamente comprovados, em que não há mais dúvidas de sua participação na etiologia da doença
doença arterial periférica (varizes).
Então, você já está percebendo porque colocamos as doenças cardiovasculares nesta sequência. Veja só os fatores de risco para o surgimento da doença coronariana, principal doença cardiovascular. Antes, porém, precisamos dividir estes fatores em primáriose secundáriospara entendermos melhor o quanto os fatores associados podem predispor a pessoa a esta doença tão perigosa e também, quanto o estilo de vida positivo pode contribuir na prevenção e no combate a esta doença.
Segundo Pollock & Wilmore (1993), os fatores primários podem ser alteráveis, basta a pessoa se esforçar e modificar seu estilo de vida. São eles: • a hipertensão arterial. • os lipíde os sangu íneos ( LDL-C ele vado e HDL-C redu zido, triglicerídeos elevado). • tabagismo. 45
UNIDADE 3 - PRINCIPAIS DOENÇAS CRÔNICAS DEGENERATIVAS LIGADAS AO SEDENTARISMO E A OBESIDADE
Já os fatores secundários são divididos em alteráveis e inalteráveis. Alteráveis: • diabetes. • estresse. • sedentarismo. • obesida de. Inalteráveis: • idade. • gênero ma sculino e h ereditariedade. Ainda segundo estes renomados cientistas, a hipertensão tornou-se a principal preditora da doença coronariana, especialmente, quando associada a outros fatores aqui apresentados.
4.2. Acidente Vascular Cerebral – AVC Outra doença muito perigosa é o acidente vascular cerebral, conhecido simplesmente como AVC ou ainda derrame. O nosso cérebro requer aproximadamente 25% do volume de sangue bombeado pelo corpo e ainda 75% da glicose presente no sangue. Então, não se assuste com a fome que sentimos quando estamos estudando, mas é que realmente precisamos nos alimentar bem nesta hora, mas não vamos exagerar! Diferente de outros órgãos do corpo, como, por exemplo, os músculos, o cérebro não possui energia armazenada em forma de glicogênio e se ficar privado de sangue por pouco tempo já será suficiente para perder a função da região afetada e as consequências podem ser irreversíveis ou até fatais. Os AVCs podem ser isquêmicos onde o suprimento sanguíneo é interrompido e a área afetada sofre uma necrose. Ou hemorrágico (derrame) onde acontece o sangramento dentro do cérebro. Este primeiro tipo de acidente pode ser transitório, quando um coágulo ou trombo sanguíneo interrompe transitoriamente a passagem do sangue ou, ainda, o definitivo quando esta interrupção causa a morte da região afetada por falta de sangue. No caso do hemorrágico, acontece o rompimento da artéria cerebral e o vazamento do sangue para outras regiões do cérebro, este tipo é mais raro, mas muito mais fatal. Em ambos os casos, a aterosclerose e a hipertensão são os fatores subjacentes. Como sempre, a boa notícia é que os fatores de risco, como a hipertensão, a obesidade, além da má alimentação, do tabagismo e do estresse, podem ser
46
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
combatidos pela mudança do estilo de vida de sedentário para ativo, esta doença também pode ser evitada com atitudes simples e econômicas. Vamos orientar as pessoas para esta mudança? Nesta unidade você estudou sobre as principais doenças crônicas e pode perceber que os fatores de riscos associados e o estilo de vida negativo, em que a obesidade, os maus hábitos alimentares, o tabagismo e o estresse, podem aumentar muito os riscos de morte prematura, invalidez e diminuição da qualidade de vida das pessoas. Percebeu também quanto o estilo de vida positivo, em que a atividade física regular associada a uma boa alimentação e ao não-tabagismo, pode influenciar na prevenção e tratamento destas doenças, melhorando a qualidade de vida e a longevidade das pessoas.
É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudálo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Na próxima unidade, estudaremos o Sistema Único de Saúde – SUS e as políticas públicas para a promoção da saúde e melhoria da qualidade de Vida. Você perceberá onde a profissão de Educação Física se insere na área de saúde. Vamos lá!
47
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE Graduação
1
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
4 E D A D I N U
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA Na unidade anterior, vimos as principais doenças crônicas degenerativas ligadas ao sedentarismo e à obesidade. Você pôde perceber também o papel do estilo de vida positivo e da atividade física no combate a estas doenças. Nesta unidade, veremos como a Educação Física foi reconhecida enquanto área da saúde e o que isso implica na atuação profissional e responsabilidade social. Conheceremos a organização da saúde em nosso país e as principais estratégias governamentais no combate às doenças crônicas, melhoria da saúde e da qualidade de vida da população brasileira, além de alguns protocolos de avaliação do nível de atividade física. Vamos continuar nossa jornada! OBJETIVOS:
Conhecer e discutir o Sistema Único de Saúde – SUS. Analisar e discutir políticas públicas para a promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida através do incentivo à adoção de um estilo de vida ativo. Discutir a inserção do profissional de Educação Física na atenção básica à saúde. Conhecer instrumentos de avaliação do nível de atividade física habitual e de saúde.
PLANO DA DISCIPLINA: • Sistema Nacional de Saúde. • Criação do Sistema Único de Saúde – SUS. • Atenção Básica à Saúde. • Programa Saúde da Família – PSF - como estratégia de atenção básica. • Inserção do profissional de Educação Física na Atenção Básica à Saúde. • Políticas públicas de promoção da saúde através do incentivo ao estilo de vida ativo. • Medida s de avaliaç ão e monitor amento da atividade física e saúde. Bons estudos!
49
UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA
A história recente da Educação Física no Brasil aponta a estreita relação da nossa área com a saúde de tal forma que em 1997 o Ministério da Saúde, através 1, da Resolução nº 218 de 6 de Março de 1997 reconheceu a Educação Física como área da saúde. Isto não quer dizer que saímos da área escolar, muito pelo contrário, este fato ampliou ainda mais nossa possibilidade de intervenção profissional, assim como, nossa responsabilidade social, inclusive, reforçou ainda mais nossa intervenção no contexto educacional. Você verá porque na sequência das unidades. Outro fato recente que merece destaque, foi a promulgação da Lei 9.696/98 que criou o sistema Conselho Federal/Conselhos Regionais de Educação Física – CONFEF/CREFs. Este ditame legal veio consolidar o entendimento social do atual estado da área de intervenção profissional em Educação Física. Uma vez que esta intervenção situa-se na saúde, na “outra ponta” pode trazer riscos a própria saúde do assistido. É sobre essa égide que se sustenta a criação do sistema CONFEF/CREFs, ou seja, proteger a sociedade do mau profissional através da promulgação e fiscalização das normas de conduta ético-profissional. Agora precisamos conhecer o Sistema Nacional de Saúde.
SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE Em linhas gerais, o Sistema Nacional de Saúde é formado por três níveis de atenção à saúde. O primeiro nível, também conhecido como atenção primária ou básica, lida com a prevenção de doenças através da orientação e cuidados com as pessoas na comunidade em que vivem, ou, ainda, com pequenas enfermidades que não necessitam de internamento. Este assunto será melhor abordado na sequência da nossa unidade. A atenção secundária acontece no ambiente médico-hospitalar, e tem relação mais próxima com as consultas e encaminhamento de tratamento medicamentoso. A atenção terciária também acontece no ambiente hospitalar, mas tem relação com os tratamentos e manejo de enfermidade a longo prazo onde a pessoa assistida precisa ficar internada. Estes três níveis acontecem tanto na saúde pública quanto na saúde privada. Esta última se destaca mais nos níveis secundários e terciários de atenção à saúde.
50
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
A CRIAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS
modelo Paradigma sanitário: de saúde.
A saúde no Brasil do século XX foi marcada por várias mudanças contextuais, assim vimos um sistema que transitou do sanitarismo campanhista (início do século até 1965) para o modelo médico-assistencial privado, até chegar, no final do anos 80, ao modelo plural hoje vigente, que tem como sistema público o SUS. Esta nova dimensão tem seu caráter políticoideológico, uma vez que parte de uma concepção ampliada do processo saúde-doença e de um novo paradigma sanitário e tem também seu caráter científico-tecnológico, uma vez que utiliza conhecimentos e técnicas para sua implementação (MENDES,1999).
Não podemos dizer que o SUS, enquanto um processo social em marcha, tenha iniciado em 1988 com a sua consagração constitucional 2, mas não podemos deixar de registrar este salto qualitativo da saúde brasileira na busca de garantir um sistema único em todo território nacional, garantindo seus princípios doutrinários através dos seguintes preceitos constitucionais: ·
da universalidade, em que todas as pessoas têm direitos aos serviços do SUS;
·
da eqüidade, em que é garantido o acesso de qualquer pessoa, em igualdade de condições aos diferentes níveis de complexidade do sistema de saúde. Determinado pelas prioridades epidemiológicas e não pelos privilégios ou favorecimento desigual e;
·
da integralidade, em que as a ções de promoção e recuperação da saúde não podem ser compartimentalizadas.
Sua organização está baseada na: ·
regionalização e hierarquização, em que os s erviços devem ser organizados em níveis de complexidade crescente, sempre dispostos numa área geográfica delimitada e com definição da população a ser atendida;
·
resolutividade, em que os se rviços devem resolver os probl emas de saúde até o nível da sua competência;
·
descentralização, em que cabe aos municípios a execução da maioria das ações, cabendo-lhe, principalmente, a responsabilidade política pela saúde de seus cidadãos;
·
participação dos cidadãos, através do controle social exercido nos Conselhos e Conferências de Saúde de forma paritária com o governo, os profissionais de saúde envolvidos e os prestadores de serviços e, ainda;
·
comp leme ntar idad e do set or priv ado, a trav és da lí cita contratação de serviços privados previstos na Carta Constitucional (COSTA & CARBONE, 2004).
51
UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA
Ainda segundo as autoras, existe atualmente no mundo inteiro uma forte pressão sobre o sistema de saúde oriunda do aumento da demanda de serviços. Este fenômeno tem várias razões, mas podemos destaca algumas: · as mudanças demográficas motivadas pelo envelhecimento da população, onde esta população, geralmente, padece de mais de uma patologia crônico-degenerativa demandando consultas e controle freqüentes e exames mais sofisticados; · as novas doenças que demandam diagnósticos e tratamentos mais sofisticados; · os novos tratamentos que prolongam a sobrevida e aumentam dependência do acompanhamento médico e, por fim; · a exp ecta tiva d os pa cien tes, que a travé s dos m eios de comunicação cada vez mais acessíveis, atualizam-se e exigem do sistema de saúde melhores serviços. São questões como estas que colocam a Atenção Básica e o Sistema Único de Saúde em constante discussão visando seu aprimoramento e sua consolidação, e por se tratar de um processo em marcha, merece destaque, além de ser uma das poucas políticas perenes em nosso país. Como brasileiros e universitários, não podemos ficar de fora desta discussão, pois a consolidação deste sistema é mais que uma necessidade é a garantia da soberania nacional e da eqüidade entre os filhos desta nação.
ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE Não são recentes os problemas com a atenção básica ou primária à saúde no Brasil, desde 1949 quando a OMS passou a conceituar a saúde como sendo um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença, ficou evidenciado o conceito ampliado da relação saúde/doença e da necessidade de mudança do foco, que, até então, era na doença e deveria passar para a saúde, ou seja, para a prevenção das doenças e melhoria da qualidade de vida. Conceito este que você já teve oportunidade de aprender. Porém, na contramão desta declaração, a partir da década de 50, houve uma excessiva valorização dos tratamentos medicamentosos em detrimento da prevenção e da elevação da saúde. Nesta mesma época, você deve lembrar, iniciava-se a transição epidemiológica que se ratificou na década de 60 em que as doenças infecto-parasitárias deram lugar às cardiovasculares. Foi então que o foco da saúde começou a ser discutido para a mudança que tantos defendiam. Um fato interessante de se destacar aconteceu em 1974, quando o, então, Ministro da Saúde do Canadá Marc Lalonde, chamou a atenção para os excessivos gastos com os serviços de saúde daquele país, destacando a importância do estilo de vida, da biologia humana e dos fatores ambientais como os principais determinantes do processo saúde/ doença e como tais, merecedores de uma melhor compreensão deste processo multifacetado (COSTA & CARBONE, 2004).
52
Processo multifacetado:
processo em que se considera muitos aspectos intervenientes.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Esta nova perspectiva de atenção à saúde foi confirmada ainda em vários encontros internacionais, a exemplo da I Conferência Internacional de Promoção de Saúde, também no Canadá em 1986 (Carta de Ottawa), onde se destacou a importância das dimensões socioeconômicas, políticas e culturais sobre o impacto nas condições de saúde da população mundial. Em 1992, no Rio de Janeiro, a Agenda 21 uniu o conceito de saúde ao de cidade saudável, alicerçado numa dimensão tríplice de qualidade de vida, intersetorialidade e participação popular. Em todo o mundo, a reforma da atenção à saúde é uma constante, mesmo para aqueles países com um sistema de saúde mais estável. Boa parte deste ímpeto por reforma, dá-se pelos custos financeiros sempre crescentes, destinados a atenção à saúde. Este fenômeno acontece, em parte, pelo crescente envelhecimento da população, pela ampliação da sobrevivência dos portadores de doenças crônicas que se beneficiaram dos resultado de tratamentos aprimorados, dos custos com equipamentos sofisticados e das drogas mais eficazes no manejo destas doenças (STARFIELD, 2002). Comum entre os sistemas de serviços de saúde pública, são duas as metas internacionalmente aceitas como imprescindíveis: a primeira baseiase na otimização da saúde da população através da utilização do que há de mais avançado em conhecimento sobre a causa das enfermidades, manejo das doenças e maximização da saúde. A segunda, igualmente importante, trata de minimizar as disparidades entre os subgrupos populacionais, perspectivando evitar as desvantagens da população mais pobre em relação ao acesso aos serviços de saúde do mais alto nível. Duas metas internacionais são imprescindíveis aos sistemas de serviços de saúde pública, são elas: a otimização da saúde da população e a diminuição das disparidades entre os subgrupos populacionais. desigualIniqüidades sociais: dades sociais. Iniqüidade, antônimo de eqüidade ou igualdade.
Diante deste fato e, em reconhecimento às crescentes iniqüidades sociais e de saúde em quase todos os países, a OMS adotou um conjunto de princípios para construir a atenção primária à saúde. Conhecida como Carta de Lubliana, nela ficou proposta que os sistemas de atenção à saúde deveriam ser: ·
dirig idos p or valo res de digni dade huma na, e qüid ade, solidariedade e ética profissional;
·
direcionados à proteção e promoção da saúde;
·
centrados nas pes soas, permitindo que os cida dãos influenciem os serviços de saúde e assumam a responsabilidade por sua própria saúde;
53
UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA
· focados na qualidade, incluindo a relação custo-efetividade; · basea dos e m fin anciam ento susten tável, para permiti r a cobertura universal e o acesso eqüitativo e; · direcionados para a a tenção primária. (STARFIELD, 2002. p. 19-20).
A Comunidade adotou princípios poissocial. eles têm como base uma Européia longa tradição deestes luta em direçãoem da 1996, eqüidade Mas, afinal, como conceituar a atenção primária à saúde? Para Starfield (op. cit), a atenção primária é uma abordagem que forma a base e determina o trabalho de todos os outros níveis do sistema de saúde. Aborda os problemas mais comuns na comunidade, oferece serviços de prevenção, cura e reabilitação para maximizar a saúde e o bem-estar da população. Lida com o contexto onde a doença existe e busca influenciar positivamente as pessoas na resolução de seus problemas de saúde. É também a atenção que organiza e racionaliza o uso de todos os recursos tanto básicos como especializados, objetivando a promoção, manutenção e melhoria da saúde. Diferencia-se da atenção secundária (consulta de curta duração) e da atenção terciária (manejo de enfermidade a longo prazo), pois lida com os problemas mais comuns e menos definidos geralmente próxima à unidade comunitária, tem um caráter mais preventivo, e justamente por estar mais próxima e integrada à acomunidade, seus profissionais tem uma posição privilegiada para avaliar influência dos múltiplos e interativos determinantes da doença e da saúde. Pelo que foi colocado até agora, você já tem uma idéia dos três níveis de atenção à saúde e já percebeu onde a Educação Física melhor se encaixa neste complexo sistema. E mais, pode perceber ainda o quanto é importante para o profissional de Educação Física conhecer melhor o sistema de saúde nacional. Vamos em frente, pois precisamos saber onde melhor nos colocamos profissionalmente.
PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA – PSF COMO ESTRATÉGIA DE ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE. A atenção à saúde da família que inicialmente foi proposta em forma de programa (Programa Saúde da Família - PSF) configura-se hoje como a principal estratégia do Governo Federal e do Ministério da Saúde para reorientar o modelo assistencial do SUS a partir da Atenção Básica. Esta estratégia destina-se a realizar atenção contínua nas especialidades básicas, através de uma equipe multiprofissional habilitada para desenvolver as atividades 54
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
de promoção, proteção e recuperação da saúde, características do nível de atenção primário já apresentado. Porém, é preciso relembrar que esta estratégia foi iniciada em 1991, com a implementação do Programa de Agentes Comunitários – PACs, voltado à redução dos altos índices de mortalidade infantil e materna na Região Nordeste, uma vez que esta região concentrava a maior população em situação de pobreza e, conseqüentemente, mais exposta aos riscos de doenças e mortes (BRASIL, 2002). Estes agentes comunitários eram recrutados e treinados nos postos de saúde ou hospitais existentes na comunidade. Por serem oriundos da comunidade, tinham uma visão mais específica de seus problemas, além de uma maior aceitação pelos membros da comunidade. Esta estratégia desencadeou uma ampla discussão sobre a descentralização e a municipalização dos recursos para a atenção primária à saúde, pois os agentes comunitários passaram a ser um valioso instrumento para retratar a realidade social de sua comunidade repercutindo também na análise da reforma do modelo assistencial de saúde. Uma parte desta discussão sustentava-se na insuficiência do PACs para provocar mudanças efetivas na forma de organização dos serviços básicos de saúde. Um outro problema era o reconhecimento da crise do modelo assistencial de saúde que precisava ser enfrentado para consolidar o processo de reforma da saúde brasileira iniciado pela implantação do SUS, que já expressava avanços significativos com a descentralização e a municipalização dos serviços de saúde. Portanto, era preciso romper com o modelo centrado na doença para um novo modelo, agora centrado na saúde. Diante disto, iniciou-se a formulação das diretrizes do Programa Saúde da Família lançado em março de 1994, tendo como principal estratégia atuar diretamente na comunidade, através de uma equipe multiprofissional concebida inicialmente e minimamente por um médico, um enfermeiro, dois técnicos em enfermagem e quatro agentes comunitários; estes assumiriam um território onde vivessem em torno de 4.500 pessoas ou 1.000 famílias. As Equipes de Saúde da Família – ESF - assumiram o desafio da atenção básica e continuada no primeiro nível de atenção à saúde, cumprindo seu relevante papel social de reorganização e reformulação do modelo assistencial de saúde em vigor. O PSF (agora conhecido como ESF) completa hoje 13 anos e atendeu em 2006 mais de 83 milhões de brasileiros, a expectativa é aumentar ainda mais estes número no ano de 2007.
55
UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA
Cada ESF é capacitada para conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis, elaborando com a participação da comunidade, um plano local para enfrentarem os determinantes do processo saúde/ doença (COSTA & CARBONE, 2004). Diante do que já estudamos até agora e fundamentado na literatura especializada, defendemos que o profissional de Educação Física precisa ser inserido na Atenção Básica à Saúde principalmente no que diz respeito à proteção e promoção da saúde. Você já imaginou o contingente de brasileiros que podem ter sua qualidade de vida melhorada pela nossa intervenção profissional? Pois é, precisamos primeiro nos convencermos disso, aprendermos como funciona o sistema e depois buscar nosso espaço na atenção básica.
INSERÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE Em janeiro de 2003, durante a quinquagésima oitava Assembléia Geral das Nações Unidas – ONU - em Paris, os Ministros responsáveis pelo Esporte e pela Educação Física proclamaram que 2005 seria o Ano Internacional do Esporte e da Educação Física 3. O objetivo desta assembléia foi o de destinar investimentos dos governos e dos países membros, para de Educação Física e para o Esporte, com a perspectiva de melhoria da educação, da saúde, do desenvolvimento e dos processos de paz. Diante destes fatos recentes, o Governo Federal, através do Ministério da Saúde e de suas secretarias Executiva e de Atenção à Saúde, propôs em 2004 a criação do Núcleo de Atenção Integral na Saúde da Família, proposta essa, que foi promulgada pela portaria nº 1065 de 04 de Julho de 2005, 4 com o então Ministro Humberto Costa. Esta portaria destaca a integralidade e a resolubilidade como um dos princípios fundamentais do SUS e um dos pilares da organização da Atenção Básica. A integralidade fundamenta-se em dois princípios: o primeiro destinase à abordagem do cidadão no seu contexto familiar e social e o segundo refere-se à organização das práticas de saúde, integrando ações de promoção, prevenção, assistência e reabilitação. Outro ponto que merece destaque na fundamentação da criação do Núcleo é o entendimento que o Ministério da Saúde tem de que precisa combater o sedentarismo através do incentivo ao aumento das atividades físicas, buscando minimizar os riscos de desenvolvimento de algumas doenças crônicas, a exemplo das cardiovasculares, do diabetes mellitus e a da hipertensão arterial. 56
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Você sabe inclusive o potencial de morbimortalidade destas doenças. Imagine então os custos financeiros que estas doenças causam aos cofres públicos em consultas, medicamentos e internações, além é claro, dos custos com afastamento do trabalho. A proposta de criação do Núcleo de Atenção Integral na Saúde da Família baseia-se na qualificação e ampliação da atenção básica à saúde, através de quatro modalidades de ação em saúde: ·
alimentação/nutrição e ativ idade fís ica.
·
atividade física.
·
saúde mental.
·
reabilitação.
Estas modalidades serão implantadas em municípios que já são assistidos pelas ESF, com população igual ou superior a 40 mil habitantes, a exceção da Amazônia Legal onde será permitido a instalação em municípios com 30 mil habitantes. É possível percebermos o status da Educação Física, pois é a área que esta presente em duas das quatro modalidades propostas. Outro ponto que está na portaria e que reforça nosso bom momento, é o fato de serem justamente as duas modalidades que podem ser implantadas sem a presença da ESF no município. Além do profissional de Educação Física, participarão deste núcleo profissionais de Psicologia, Assistência Social, Nutricionistas, Fisioterapeutas e Instrutores de práticas corporais. Todos eles incorporando novos saberes e práticas ao processo de trabalho das ESF. Nesta perspectiva, a modalidade Atividade Física (que no primeiro texto recebia a nomenclatura Atividade Física e Saúde) foi concebida buscando desenvolver ações que promovam atividades físicas e práticas corporais, proporcionando a melhoria da qualidade de vida da população e a redução dos agravos e danos decorrentes das doenças crônicas não-transmissíveis. Esta boa notícia demonstra o quanto o Governo Federal está preocupado em implementar políticas públicas no sentido de combater os agravos à saúde, através do fomento às atividades físicas nas suas versões habituais ou do cotidiano, de lazer e/ou esportivas, unindo ações interministeriais (Ministérios da Saúde, da Educação e dos Esportes), além de fazer valer sua 5
função de tutor dos direitos constitucionais de acesso às práticas esportivas .
57
UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA
POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE ATRAVÉS DO INCENTIVO AO ESTILO DE VIDA ATIVO As políticas públicas de incentivo ao estilo de vida ativo devem acontecer nas esferas municipais, estaduais e federais, com a participação e parceria da iniciativa privada e das organizações não-governamentais (ONGs), além da iniciativa pessoal e coletiva dentro da comunidade, ou seja, é da responsabilidade de todos nós. No Brasil, a exemplo do que já acontece na maioria dos países desenvolvidos, várias foram as iniciativas no sentido de elaborar e consolidar políticas públicas de incentivo ao estilo de vida ativo. Uma das principais iniciativas teve início no Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul – CELAFISCS, coordenado pelo Dr. Victor Matsudo, que desde 1996 vem desenvolvendo trabalhos em parceria com as Secretarias de Estado da Saúde de São Paulo, quando foi fundado o Programa Agita São Paulo que tem a coordenação técnico-científica do CELAFISCS. O Programa Agita São Paulo tem vários parceiros nos setores governamentais, não-governamentais e privados, em âmbito nacional e internacional; tem como objetivos principais: aumentar o nível de atividade física e o conhecimento das pessoas sobre os benefícios da atividade física e do estilo de vida ativo. Possui três grandes focos de atuação: escolares, trabalhadores (adultos) e idosos.
Ao longo dos anos que se segue, após sua criação, esta brilhante iniciativa cresceu e se multiplicou pelo Brasil e por outros países das Américas. Continuou sua expansão por outros continentes até ganhar seu reconhecimento e notoriedade pela OMS, que instituiu em 2002 a rede mundial “Agita Mundo”. Nesta mesma época, o governo brasileiro criava, através do Ministério da Saúde, o Programa Agita Brasil envolvendo gestores estaduais e municipais do SUS, além, obviamente, de contar com o respaldo técnico-científico do CELAFISCS. Já em 2002, o Agita Mundo conseguiu mobilizar cerca de 148 países, num total de 1.987 eventos espalhados pelo mundo, tendo seu slogan traduzido em 63 diferentes idiomas. Quem diria que uma iniciativa brasileira chegaria a este patamar! E não parou por aí… Recebeu vários prêmios, entre eles: o 1º prêmio do CDC (respeitado Centro de Controle de Doenças de Atlanta, USA em 2004); a participação do programa na Estratégia Global de Promoção de Atividade Física e Nutrição Saudável em combate à Obesidade, promovida pela OMS em 2005 e 58
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
o reconhecimento do Banco Mundial em 2005 sobre os benefícios (custobenefício) alcançados pelo programa em âmbito mundial, pois teve o potencial de economizar 310 milhões de dólares, fazendo com que o Banco Mundial o recomendasse como modelo de política pública de saúde para os países membros (MATSUDO, 2006). Para saber mais sobre o programa, acesse: http://www.agitasp.com.br e fique deslumbrado com que já fomos capazes de fazer. Medidas de avaliação e monitoramento da atividade física e saúde
Atividade física habitual (AFH): aqui entendidas
como ocupacionais ou de trabalho, de lazer e esportivas, ou seja, as atividades do diaa-dia de cada um.
Ao falarmos de políticas públicas de incentivo ao estilo de vida ativo precisamos conhecer alguns protocolos de medição de níveis de atividade física habitualgeralmente empregados em pesquisas de epidemiologia da atividade física, ou seja, pesquisas populacionais que visam avaliar o impacto do sedentarismo e do estilo de negativo. Neste contexto, ao recorrermos à literatura encontramos mais de 30 diferentes protocolos que se baseiam no método de informações fornecidas pelas pessoas que participam da pesquisa. Estes métodos geralmente trabalham com três diferentes estratégias de coleta de informação, a saber: o questionário, em que a pessoa responde às perguntas preestabelecidas sem a necessidade do pesquisador por perto e configura-se como o mais utilizado, devido sua praticidade e economia; a entrevista, que como a própria palavra diz, pressupõe a presença do entrevistador e é o mais dispendioso desta modalidade de coleta, pois pressupõe a utilização, quase sempre, de gravadores de voz e finalmente, o diário de atividade, onde a pessoa deve levá-lo consigo por alguns dias e anotar tudo que faz. É o mais complexo e mais dependente do envolvimento do avaliado com o estudo. Todos os protocolos devem ser validados com procedimentos estatísticos para garantir a confiabilidade das informações e o nível de reprodutibilidade dos mesmos. Alguns destes instrumentos ganham notoriedade em âmbito mundial pela sua competência e nível de confiança. Outro ponto que estimula a reprodução destes protocolos é a possibilidade de comparação entre as populações pesquisadas, porém eles devem passar por um processo de revalidação para a população específica. Mas, por que isso? Acontece que as perguntas que são elaboradas levam em consideração os aspectos do cotidiano de cada povo/ região, ou seja, as perguntas que são feitas na China, por exemplo, precisam passar por adequação aqui no Brasil. No Brasil temos vários pesquisadores, laboratórios e instituições que se ocupam de desenvolver, aplicar e tratar os resultados de protocolos de avaliação atividade física de e saúde. Podemos destacar, seme demérito dos demais, o de NuPAF – Núcleo Pesquisa em Atividade Física Saúde, da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, coordenado pelo Profº Dr. Markus Nahas. E o Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul – CELAFISCS, coordenado pelo Dr. Victor Matsudo, o 59
UNIDADE 4 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA
qual já falamos anteriormente. Estes dois laboratórios desenvolveram estudos em grupos, lugares e épocas diferentes, com o propósito de revalidar aqui no Brasil a versão 6 do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), proposto pela OMS em 1998. Posteriormente, apresentaram os resultados de seus estudos em revistas científicas, seminários e congressos. A divulgação destes e de outros trabalhos para a comunidade acadêmica, tornou-se bastante relevante na perspectiva de continuidade e ampliação dos estudos, além, é claro, de podermos comparar os resultados destes estudos em âmbito nacional e até mundial. Caso você tenha se interessado em conhecer mais sobre estes e outros protocolos pode acessar os seguintes endereços eletrônicos: http:// www.celafiscs.org.br - (Celafiscs) e http://www.nupaf.ufsc.br - (NuPAF). Outra preocupação que achamos prudente destacar é com o estado de prontidão para atividade física, pois a pessoa, principalmente adulta, que nunca se envolveu com a prática de atividade física deve tomar alguns cuidados ao iniciar. Com o intuito de prevenir este tipo de risco, a Sociedade Canadense para Fisiologia do Exercício e Saúde propôs o Questionário sobre Prontidão para Atividade Física – PAR-Q, que tem sido recomendado como padrão mínimo de inquérito para iniciação de atividades físicas moderadas em todo o mundo (ACSM, 2000). Este questionário é facilmente encontrado na literatura especializada e na internet 6 e constitui-se de sete perguntas objetivas (sim e não). Se a pessoa que responde marcar algum item “sim” deverá procurar um médico antes de iniciar o programa de atividade física. Afinal, prevenir é sempre melhor que remediar!
É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudálo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco! Na próxima unidade, estudaremos a Educação para a Saúde. Vamos em frente ! NOTAS 1
Ver: http://www.confef.org.br/extra/juris/
2
Art. 198, BRASIL - Constituição da Republica Federativa do Brasil
– 1988. 5ª ed. 1993. p.137. 3
Ver: http://www.unicrio.org.br/Agenda.php
5
Art. 217. Constituição da Republica Federativa do Brasil
4
Ver: http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2005/GM/GM-1065.htm
– 1988. 5ª ed. (1993). 6
Veja
este
enderço,
por
conteudo_print.asp?cod_noticia=481 60
exemplo:http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE Graduação
1
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE
5 E D A D I N U
Na unidade anterior, vimos como a Educação Física foi reconhecida enquanto área da saúde e o que isso implicou no redimensionamento da atuação profissional e na responsabilidade social. Conhecemos a organização da saúde em nosso país e as principais estratégias governamentais no combate às doenças crônicas, melhoria da saúde e da qualidade de vida da população brasileira. Além de alguns protocolos de avaliação do nível de atividade física e saúde. Nesta última unidade, estudaremos outras ações que vão no mesmo sentido das anteriormente estudadas. Qual seja, justificar a adoção de um estilo de vida positivo através da Educação para a Saúde, outra iniciativa governamental que prioriza as atividades físicas como elemento educacional, voltado para a adoção e manutenção do estilo ativo e da melhoria da qualidade de vida através do alto gerenciamento do estilo saudável pelo educando.
OBJETIVOS: Conhecer a proposta da educação para a saúde e o papel do profissional de educação física no fomento a esta proposta. Analisar a saúde como tema transversal dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN/MEC.
PLANO DA DISCIPLINA: • Conceito e aplicação da educação para a saúde • Educação para a saúde na pro posta dos Parâm etros Curric ulares Nacionais – PCN/MEC • Educação Física na educação para a saúde.
Bons estudos!
61
UNIDADE 5 -EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE
CONCEITO E APLICAÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE A Educação para a Saúde configura-se como uma excelente estratégia de melhoria do entendimento do processo saúde/doença, colocando o educando no centro do problema, fomentando sua compreensão no sentido de que ele entenda como acontece o processo e possa preocupar-se com a sua saúde e a da população. Mas nem sempre foi assim… Este conteúdo foi sendo inserido de forma natural e não-planejada desde o final do século XIX, através das contribuições de disciplinas como: Higiene, Puericultura, Nutrição e Dietética, além, é claro, da nossa Educação Física. Refletia a forma com que a saúde era tratada e compreendida na sociedade da época (BRASIL, 1998).
Puericultura:conjunto de téc-
nicas e procedimentos empregadas para assegurar o perfeito desenvolvimento físico, mental e moral da criança, desde o período da gestação.
Posteriormente, este conteúdo passou para as disciplinas de Ciências Naturais e Biologia, ambas com a preocupação de tratar o tema apenas no âmbito do mecanismo fisiológico pelo qual as pessoas adoecem ou se previnem de doenças. Esta forma de tratar a saúde ficou conhecida em nosso meio como visão biologicista. Nesta visão, não se discutia, por exemplo: as determinantes socioeconômicas e políticas das doenças. Mesmo estando tradicionalmente presente no currículo escolar a tanto tempo, só em 1971, através da Lei 5.6921, a temática da saúde foi inserida oficialmente no currículo escolar, com a designação de Programas de Saúde. Tinha como objetivo levar o educando ao desenvolvimento de hábitos saudáveis quanto à higiene pessoal, alimentação, prática esportiva, trabalho e lazer. Buscando incutir no educando o sentimento e responsabilidade por sua saúde e dos outros. Propositadamente, esta temática não foi colocada como disciplina e sim como uma estratégia geral de formação escolar, que deveria ser trabalhada paralelamente e transversalmente por vários componentes curriculares, especialmente, as disciplinas de Ciências, Estudos Sociais e a nossa querida Educação Física. Veja, o movimento que observamos hoje em torno da adoção de um estilo de vida ativo e positivo, não é assim tão rescente, nem muito menos o importante papel da Educação Física neste contexto. Mesmo depois da segunda metade da década de 80, quando as tendências progressistas tomavam força na reformulação dos currículos
toTendências progressistas:
escolares, a temática tratada nos Programas de Saúde ainda mantinham seu forte caráter biologicista, centrados nos aspectos da higiene e dos mecanismos biológicos do processo saúde/doença.
mavam como base o discurso da justiça social e busca-
62
vam elevar o nível de análise crítica dos educandos, contextualizando-os historicamente e politicamente.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
A relação da Educação formal (garantida pela escola) com a Educação para a Saúde é muito forte, principalmente, quando analisamos a função desta educação na formação de um cidadão consciente de si e do seu papel social com a melhoria da saúde e da qualidade de vida de todos. Mesmo considerando que a educação para a saúde é responsabilidade de todos e aí inclui-se o próprio Ministério da Saúde. Acredito que a escola é o local privilegiado de fomento à saúde e à vida.
EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE NA PROPOSTA DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PCN/MEC Eixo articulador:eixo con-
dutor da proposta em que todas as sugestões se articulavam e se amoldavam.
Após o advento da promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) para a educação nacional, Lei nº 9.394/96, tivemos a elaboração e apresentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs em 1998, que trouxe grande contribuição na medida em que apontou as referências curriculares nacionais comuns para a educação em todo território nacional. Este documento orientou a elaboração de vários outros em âmbito estadual e municipal, tendo como referência e principal eixo articuladora formação cidadã. Este documento trouxe a formulação de propostas curriculares para a educação básica nacional, formada pelos ensinos: infantil, fundamental e médio. Entre os vários avanços desta proposta, destacamos os temas transversais, que foram escolhidos pela relevância social e urgente necessidade de discussão na escola. São eles: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo. Estes temas deverão ser tratados simultaneamente e transversalmente pelas áreas de conhecimento (disciplinas) convencionais do currículo escolar. Nosso destaque é para o tema transversal Saúde, que volta ao cenário escolar na perspectiva renovada da educação para a saúde, onde todas as áreas de conhecimento, a exemplo da Educação Física, devem contribuir para seu aproveitamento. Segundo o próprio texto do documento, o complexo processo saúde/doença já justificaria a escolha da educação para a saúde como tema transversal (que nesta proposta ficou apenas com o termo Saúde), pois, como tal, precisa de múltiplos olhares para formar no educando a consciência que se espera que ele tenha deste complexo processo. A estratégia é recompor os conhecimentos do processo saúde/doença que foram fragmentados ao longo da história através da criação e especialização de várias subáreas. Bem como, contextualizá-lo nos aspectos ambientais, sociais, culturais, econômicos e políticos, além, é claro, de manter sua raiz na biologia, mas, desta feita, contextualizada em todos esses aspectos aqui abordados.
63
UNIDADE 5 -EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE Pelo que já foi visto até agora, a contribuição da Educação Física com a educação para a saúde deve ser total, haja vista que o conteúdo da área é privilegiado no que tange atingirmos os objetivos da educação para a saúde. Prova disso é o Art. 7 do Manifesto Mundial da Educação Física apresentado pela Federação Internacional de Educação Física – FIEP em Janeiro de 20002 que traz: A Educação Física, para que exerça sua função de Educação para a Saúde e possa atuar preventivamente na redução de enfermidades relacionadas com a obesidade, as enfermidades cardíacas, a hipertensão, algumas formas de câncer e depressões, contribuindo para a qualidade de vida de seus beneficiários, deve desenvolver hábitos de práticas regular de atividades físicas nas pessoas.
Corroborando com o nosso pensamento, Guedes (1999), afirma que a Educação para a Saúde deve avançar para além dos referenciais biológicos e higienistas e se concentrar, principalmente, num contexto didáticopedagógico, em que a Educação Física tem fórum privilegiado em razão das características de seu objeto de estudoe de sua atuação. Podemos até imaginar uma aula de Educação Física escolar onde o(a) professor(a) solicita aos alunos que falem sobre a importância da atividade física no combate à obesidade. De posse das respostas e discussões que devem se seguir à pergunta do professor, este elabora um plano de ação para tratar do tema, apresenta este plano aos demais professores e equipe técnico-pedagógica da escola para as possíveis retificações e contribuições. Depois dos ajustes à proposta, devem abordar o tema transversalmente em suas disciplinas. Com esta estratégia, os educandos receberão informações de várias áreas do conhecimento convergindo para o tema escolhido pela escola. Esta mesma estratégia pode ser usada para outros temas transversais, o importante é que haja planejamento e cumplicidade na execução da proposta. O conteúdo da área de Educação Física proposto nos PCNs traz três grandes blocos de conteúdo que se relacionam entre si, por terem vários conteúdos comuns, mas salvaguardando suas especificidades. São eles: · esportes, jogos, lutas e ginástica; · atividades rítmicas e expressivas; · conhecimento sobre o corpo. Este último bloco, além de se relacionar com os demais, deverá ser transversal aos outros dois, ou seja, se estivermos tratando da seleção de conteúdo para uma aula específica, teremos que colocar no planejamento um momento para falarmos sobre o corpo.
64
Objeto de estudo:termo uti-
lizado na academia (universidade) para se referir ao conteúdo temático de investigação e produção de uma determinada área de conhecimento.
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Este corpo aparece nas suas mais complexas e dissociáveis dimensões, mas uma das principais dimensões é dada a conquista e manutenção da saúde e do estilo de vida positivo. Este tema que ao longo do nosso curso escutamos e haveremos de escutar mais e mais, é que justifica esta disciplina. Acredito, que a esta altura, você já pôde perceber. Mas, vamos adiante para entendermos melhor a dimensão da Educação Física na Educação para a Saúde. Ao promulgar a Carta Brasileira de Educação Física, o CONFEF trouxe a público sua intenção de construção de uma Educação Física de Qualidade, conduzida por profissionais habilitados e com compromisso técnico, pedagógico e ético de desenvolver nos brasileiros o estilo de vida ativo, além de contribuir para a melhoria da saúde e qualidade de vida da população. O sistema CONFEF/CREFs defende uma Educação Física de Qualidade, apoiada na ética e na conduta profissional voltada ao estilo de vida ativo. Visite a Carta Brasileira de Educação Física, encontrada na página do CONFEF na net. http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/conteudo.asp?cd_resol=82 Esta proposta referencia-se no compromisso de desenvolver nas pessoas o entendimento do papel da atividade física na promoção da saúde, através de atividade interdisciplinares. Prevenção:na ótica do tex-
to da carta, significa tratar de se antecipar, de fazer leitura prévia e identificação de situações sociais inadequadas que, a curto, médio e longo prazo, possam trazer prejuízos à população e que, por este, fato precisa de controle.
Outro documento que reforça o compromisso da área de Educação Física com a saúde foi promulgado pelo CONFEF em 2005. Intitulado: Carta Brasileira de Prevenção Integral na Área de Saúde. Esta carta de intenções foi respaldada pelos conselhos das demais área da saúde no Fórum Nacional de Prevenção Integral na Área de Saúde, realizado na cidade de Belo Horizonte em Setembro de 2005. Foi por este motivo, reconhecendo a importância da prevenção, que o Fórum foi realizado, buscando a intermediação do saber e do fazer próprio de cada área para construção do elo entre teoria e prática de forma interdisciplinar. O foco na prevenção, que faz parte da atenção básica à saúde, foi entendido e acordado como prioritário na construção de Políticas Públicas de Saúde. Deste entendimento, surgiu a propositura da Carta Brasileira de Prevenção Integral na Área de Saúde. Para construção filosófica do documento, elegeu-se o Prof. Dr. Manoel José Gomes Tubino, ou “simplesmente” Profº Tubino, como é mais conhecido este baluarte da Educação Física brasileira e mundial. Gostaria inclusive de convidar você a ler o documento na íntegra3 para que possa perceber de maneira mais clara, o atual momento da Educação Física frente aos desafios modernos de combate ao sedentarismo e difusão dos o estilo de vida positivo e da atividade física como meioconhecimentos de se alcançarsobre e manter a saúde.
65
UNIDADE 5 -EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE
Nesta proposta, a Educação Física volta à Educação para a Saúde, toma ainda mais força, pois é entendida como direito humano de todas as pessoas principalmente das crianças. Farei, então, alguns “recortes” desta carta. Ao falar do conceito de prevenção e promoção da saúde, o relator anuncia que esta tarefa será melhor alcançada por meio de ações interdisciplinares e intersetoriais, reforçando o que já estudamos antes. Enquanto estratégia interdisciplinar e intersetorial, a promoção da saúde deverá unir esforços das áreas de Assistência Social, Biologia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Terapia Ocupacional e outros, na perspectiva de ação coletiva. A propósito, todas estas áreas estiveram representadas pelos seus respectivos Conselhos no Fórum em questão. Embora seja unânime o reconhecimento da contribuição de todas as áreas a favor da prevenção e promoção da saúde, há um consenso internacional no mundo científico de que a atividade física é imprescindível para o sucesso de qualquer ação neste sentido. Mas, é bom lembrá-lo com base ainda no texto da Carta, que para a atividade física se configurar em atitude positiva para a saúde, precisa ser desenvolvida num contexto de Educação Física, ou seja, num processo educacional, seja por vias formais (escola) ou não-formais (fora da escola). Cabe, então, a Educação Física promover ações que favoreçam a Educação para a Saúde, respeitando o direito de todos às atividades físicas sistematizadas e culturalmente acumuladas, em forma de jogos, esportes, danças, ginásticas e lutas, respeitando também as leis biológicas e os aspectos culturais, sociais, políticos e filosóficos das pessoas, assim como, as ações interdisciplinares, seja no contexto da escola ou fora dela. Sempre voltada para o objetivo de fomentar o conhecimento e a adoção de um estilo de vida positivo, em que a prática de atividade física se configure como estratégia principal.
É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudálo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Chegamos ao fimAté do outra nosso oportunidade estudo. Espero que tenhas gostado. Foi ótimo estar contigo. e sucesso daqui para frente! Depois dessa longa jornada, sinta-se convidado a ser mais um “amante da sabedoria,” “da saúde e do estilo de vida ativo”.
66
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
NOTAS 1 Lei de Diretrizes e Bases (LDB) para a educação nacional. Já revogada pela nova LDB 9.394/96. 2 3
Ver: http://www.fiepbrasil.org/ Ver: http://www.confef.org.br/extra/corpo.asp
67