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David L. Larsen
Vida
"Os tempos mudarain. O que isso muda no labor da pregação? David L. Larsen responde a essa pergunta, discutindo questões que afetam tanto a pieg pi egaç ação ão c o m o o pr preg egad ador or.. Sustentando a viabilidade da pregação como meio eleito por Deus para ser anunciado, o autor ajuda o pregador a encarar os novos tempos. Meios criativos e contemporâneos devem ser busc bu scad ados os e i ns nser erid idos os,, p o r é m se sem m nunca abrir mão do uso da loucura de pregar como opção de Deus acerca da apresentação de si mesmo." Ariovaldü Ramos, filósofo, teólogo e diretor acadêmico da Faculdade Latinoamericana de Teologia integral. É também missionário da Scpal e presidente da Visão Mundial.
"Um livro inquieíaníe, provocador e essência! na biblioteca de Iodos os que verdadeiramente levam a sério a preg pr egaç ação ão bí bíbl blic ica. a. O a u t or no noss c on ondu duzz a uma reflexão profunda sobre a mensagem que tem sido pregada no púl p úlpp i t o da dass igrej igrejas as c ha hama mada dass "evangélicas". Uma ferramenta importante nas mãos daqueles que desejam aperfeiçoar-se na arte da
Anatomia da pregação
DAVID
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Anatomia da pregação Identificando os aspectos relevantes ,para a pregação de hoje 1
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Tradução Emirson Justino
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Sumário
Prefácio
9
1 A pr eg aç ão t e m fut uro ? A questão da viabilidade
11
2 O q u e é a pr eg aç ão bíbl ica? A questão da autoridade
21
3 Qua l é o clima atual par a a comunicaç ão por ser mõe s? A questão da adequação
33
4 O qu e está ac on te ce nd o co m os pre gad ore s? A questão da espiritualidade
45
5 O q u e es ta mo s faz end o co m a es tr ut ur a? A questão da forma
57
6 O q u e faz u m s e r m ã o fluir? A questão da fluidez
69
7 C o m o fugir da previ sibil idade? A questão da variedade
80
8 Por q u e a apl ic açã o é t ão difícil? A questão da relevância
91
9 C o m o ser mai s imag inat ivo na pre gaçã o?
102
11 Q u an d o a per sua são se torn a man ipu laç ão? A questão da ética
124
12 C o m o usar a narrati va de man ei ra ma is eficiente? A questão da história
13 6
13 Q u an d o de ve mo s pregar a Cristo? A questão da cristocentricidade
149
14 C o m o de se nv ol ve r e afiar o estil o pess oal ? A questão da originalidade
16 1
15 C o m o me lh or ar a apr ese nta ção ? A questão da proclamação
17 3
Notas
185
Prefácio
O
atual ressurgimento do interesse na pregação chega em um momento de transição cultural. Se, por um lado, há muitos críticos que retratam freqüentemente e de for ma prematura a irrelevância e a impotência dessa arte, por ou tro, ex ist e a pr eo cu pa çã o justificável e dif und ida des se ti po de co mu ni ca çã o em um a soci edad e co mo a nossa de m ud an ça s rápidas e de ênfase cada vez maior no aspecto visual. A máxima de P. P. T. For syt li pe r m a n e c e ; "A igreja se le va nt a ou cai p o r ca us a da pregação". Tanto os pregadores jovens quanto os veteranos p r e c i s a m d e u m a n o ç ã o m u i t o c l a r a d o s p r i n c i p a i s p r o b l e m a s que hoje se apresentam para o púlpito. N ã o é difícil perceber quais são esses problemas. As ques tões discutidas neste I Í V T O surgiram durante meus muitos anos de pregação e ensino de homilética. Algumas perguntas são fei tas repetidamente em conferências para pregadores, A atual tor rente de literatura nesse campo dá uma idéia de seus limites. Os leigos preocupados ficam querendo saber para onde as dis cussões sobre a pregação estão levando a igreja de hoje. Cada um dos 15 capítulos a seguir busca identificar um as p e c t o r e l e v a n t e e a t u a l , a l e m d e a p r e s e n t a r u m c a m i n h o r a z o á vel e prudente para os pregadores de hoje. Aquilo que Frederick
sobre essa arte. A intenção deste livro não é prover ensinamento bá b á s i c o s o b r e a c o m u n i c a ç ã o d o p ú l p i t o , m a s a d i c i o n a r i d é i a s a essa reflexão. Aos colegas da administração, do corpo docente e aos alu nos da Trinity Evangelical Divinity School em Deerfield, Illinois, p r e s t o u m a g r a d e c i d o r e c o n h e c i m e n t o p e l a i n e s t i m á v e l d í v i d a que tenho para com eles. Para minha esposa, Jean, o mais pro fundo apreço por seu alegre incentivo e a incansável ajuda. Ad gloriam Dei.
A pregaç pregação ão tem tem futuro fut uro?? A questão da viabilidade
E
stá a pr eg aç ão sa in do d e ce na na co nd iç ão de ví ti ma de u m a era qu e pr ef er e a co mu ni ca çã o não-verba!? Q ua is são as perspectivas para a pregação diante da atual re volução das comunicações? Seriam os pregadores as tristes ví timas do próprio "veneno"? Essas são perguntas que cada vez mais se apresentam aos pr p r a t i c a n t e s d a a r t e . O p r e g a d o r d e i g r e j a l o c a l f a z u m i n c r í v e l investimento de tempo e esforço em várias preparações sema nais, milhares de sermões durante toda uma vida, compostos de milhões de palavras. Embora o pregador não seja um forne cedor de palavras, os trezentos mil pregadores dos Estados Uni dos são responsáveis por uma grande produção. Os críticos di zem qu e to do esse esforço é u m desp erdí cio de recur sos hu ma nos, afirmando que já se foi a época de a igreja ser despertada pe p e l a e l o q ü ê n c i a d e s e u s l í d e r e s . E claro que os que desdenham da pregação, quer letrados, quer não, não entraram em cena há pouco tempo. Sempre hou ve predições quanto à morte dessa antiga arte, juntamente com o desprezo popular e o ceticismo. O dicionário Webster da língua inglesa, em sua terceira ecüção, apresenta uma acepção da palavra "pregar" com o signifi
de Ma do nn a "Papa, do n ' t pr ca ch " [Papai, [Papai, nã o pr eg ue ]. At é os freqüentadores de igrejas fazem coro ao desdém secular quan do dizem "Ora, não me venha com sermãol". A conotação pejo rativa do termo é clara e dolorosamente incisiva. Todo pregador tem momentos de desânimo quando a totali dade do seu empenho parece inútil. Alguns sermões surgem r e p en t i n a me n t e n o me i o de u m e s t ud o , co m o l a v a d e r r e t id a fluindo do Vesúvio. Outras mensagens trazem consigo dificul dades indescritíveis. Para mim, algumas foram como um parto. O que arde e pulsa na preparação nem sempre pega fogo no p ú l p i t o . O l h a n d o p e l o l a d o m e n o s n e b u l o s o , a q u i l o q u e p a r e c i a sem vida na preparação pode ressuscitar no momento da entre ga da mensagem. Qualquer que seja o re su lt ad o individual, hoje som os ch am ad os para de fe nd er a via bihd ade de to do nosso tra b a l h o c o l e t i v o . A s p e r g t m t a s a q u e d e v e m o s r e s p o n d e r s e t o r na ra m inevitáveis: a pre gaç ão está de sa pa re ce nd o em nossa era televisiva? Que tipo de base e fundamento tem a prática da pre gação na igreja de Jesus Cristo? Essa base ainda é suficiente mente forte para edificarmos seu futuro sobre ela?
A árvore genealógica do sermão o se rm ão t e m sido sido u m a in st it ui çã o ce nt ra l na igreja igreja de s de o pr p r i n c í p i o , a l é m d e s e r u m g ê n e r o s i n g u l a r n a e x p r e s s ã o r e l i g i o sa mu nd ia l, ai nda ^que ^que o ju da ís mo e o isl ami smo te n h a m for mas equ iva len tes . N o b ud i sm o , para qu e fique claro, os mo ng es p o dem ensinar, mas esse ensinamento não tem nenhuma seme lha nça co m o dis cur so forma l qu e c h a m a m o s de se rm ão . N o islamismo, todas as sextas-feiras, ao contrário das orações diá rias costumeiras, são feitas recitações extras do Alcorão, e o imame (o líder das orações na mesquita) profere a khutbah — ou sermão — durante o qual ele em geral discute questões atuais p o r m e i o d a e l a b o r a ç ã o d o t e x t o s a g r a d o . O i m a m e c o l o c a - s e à frente c acima dos fiéis, freqüentemente incitando e lhes des
o se rm ão não é u ma aci den te históric o. Em bo ra te nh a sido cuituralmente moldado de modo a alcançar sua forma, o ser m ã o , c o n f o r m e a r g u m e n t a r e m o s a d i a n t e , f o i d a d o p o r D e u s para a i ns t ru ç ã o e a inspiração d e seu povo e para a propa ga ção do evangelho até os confins da terra. "No devido tempo, ele tr ou x e à luz a sua palavra , po r me io da pr eg aç ão a m i m confia da por ordem de Deus, nosso Salvador." (Tt 1.3) Desse modo, não po de mo s considerar o ser mão u m ac ont ec ime nt o fortuito e incidental. O sermão faz parte do mandamento de Deus, vin do daí sua notável e extraordinária longevidade. Do ponto de vista humano, o sermão não tem futuro. Há muito deveria ter sido atirado no monturo da obsolescência humana. A verdadeira origem da pregação pode ser encontrada no p ró p r i o D e u s e e m sua n at ur ez a . D e u s é c o n h e c i d o c o m o " D e u s da ve rd ad e" (SI 31. 5) e co mo "D eu s sábio" [ I S m 2.3 ). As Es critu ras de fi ne m a hu ma ni da de com o criada à ima gem de D eu s e, assim como Deus, possuidora de um ego racional e pensante. C o m o Logos, Cri sto ilumina to da pesso a que está no m u n d o [Jo 1.9). Deus não é mudo, uma vez que falou a suas criaturas hu manas (Hb 1.1-3). Nesse aspecto, somos como ele, pelo fato de falarmos tanto a ele quanto uns aos outros. As palavras e a lin guagem têm conteúdo, não obstante as distorções de signiiieado causadas pelo pecado. A possibihdade e a aceitabilidade da pre gação baseiam-se na mesma premissa de todos os discursos hu manos: Deus nos criou com capacidade de pensar, ouvir e falar.
O cert ificado d e pr oc ed ên ci a qu e o Ant igo Te st am en to (AT) co n fere à pr eg aç ão mo s tr a qu e ela é u ma das mai s im p or t an te s linhas de continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento [NT). Embora no início não houvesse nenhum tipo de discurso for mal e, certamente, nada estihzado, os discursos espirituais são ab un da nt es . O NT afirm a qu e "E no qu e, o sé ti mo a part ir d e Adão, profetizou" (Jd 14). Noé é caracterizado como "prega
ele proferiu durante os longos anos dc preparação da arca, mas p o d e m o s p r e s u m i r f ac i l m e nt e q u e h o u v e t a n t o a c o m u n i c a ç ã o oral como o testemunho simbólico de seus trabalhadores. O dis curso dc despedida de Moisés, conhecido como livro de Deuteronómio, tem forma genuinamente homilética. Isto signi fica, de acordo com a raiz literal da palavra homília, qu e ci e diz "a m e s m a coisa" qu e a Palavra de D eu s. Essas per or aç õe s no s convidam a uma análise cuidadosa, uma vez que são anteriores à proclamação cristã. As duas despedidas de Josué, encontra das nos capítulos 23 c 24 de seu livro, têm relevância semelhan t e , assim como a eloqüência de Davi na adoração e no louvor a Deus, e as palavras de Salomão na ocasião da dedicação do tem p l o ( I R s 8 ) . Essa antiga fo rma d e c o m u n i c a ç ã o deve ser vista como uma raiz importante da árvore genealógica da pregação. Encontramos no despertar dos profetas um dos mais signifi cativos precursores da gloriosa corporação dos pregadores. Devemos concluir que os profetas eram pregadores. Alguns eram provenientes das "escolas de profetas"; outros, dentre os quais Elias c o rude Amos, não tinham o mesmo requinte. Sendo tanto profeta quanto sacerdote, Esdras exemplifica princípios e práticas r u d i m e n t a r e s . Esdras era " u m escriba q u e conhecia muito a Lei de Moisés dada pelo S E N H O R , o Deus de Israel" [Ed 7.6). "Esdras tinha decidido dedicar-se a estudar a Lei do S E N H O R e a praticá-la, e a ensinar os seus decretos e m a n d a m e n t o s Jt)s i s r a e l i t a s " ( E d 7 . 1 0 ) . N o c a p í t u l o 8 d e N e e m i a s e n c o n t r a m o s o c o m o v e n t e regi st ro d e q u e Esdras lia o livro da Lei em voz alta para as pessoas desde a manhã até o meio-dia e que elas ouviam atentamente o hvro da Lei. Vemo-to abrindo o livro, o povo reverentemente cm pé enquanto Esdras o conduzia em adoração. Então os levitas se juntam a Esdras "a fim de qu e o po vo en te nd es se o q u e estava se nd o li do" (N e 8.8 ). O resultado foi grande alegria, uma vez que, dia após dia, a palavra era compartilhada com a assembléia.
Deus cm toda sua variedade e diversidade, assim como Isaías foi diferente de Jeremias e de Ezequiel. Achamos que conhece m o s Os ci as e Jo na s, ma s há po uc a in fo rm aç ão s ob re Jo el e N a u m . O m ís t ic o Zacarias co nt ra s t a c o m o e x o r t a t ó r i o p a s t o ral Malaquias, assim como o intelectual Habacuquc com o rús tico Miquéias. Ainda assim, cada um deles, em seu próprio am b ie n te , levou adia nte a tarefa d e dizer "assim diz o Senhor!" . O surgimento da sinagoga, ocorrido no período intertestamentárío, adicionou fundamentos ao culto e à comunicação cristãos. Yngve T. Brllioth argumenta corretamente que "é na sinagoga qu e o se rm ão jud aic o as su me sua form a", ' Ne ss e caso, a leitura das Escrituras cm hebraico e a tradução para a língua vernácula, juntamente com uma exposição explanatória, inter ligou elementos litúrgicos e exegétícos no culto de adoração dos judeus, tanto na Palestina quanto na diáspora. Os targums j udaic os, c o m suas t r a d u ç õ e s e ex pli ca çõe s das Escrituras e m aramaico, juntamente com os escritos exortatórios e de aplica ção, c o n h e c i d o s c o m o haggadah, são pa rt e de nossa tra diç ão de pregação. Recebemos um legado do "Pregador", de quem se diz: "O Pregador, além de sábio, ainda ensinou ao povo o co nhecimento; e, atentando e esquadrinhando, compôs muitos pro vérbios. Procurou o Pregador achar palavras agradáveis e es crever com retidão palavras de verdade" (Ec 12.9,10; RA).
João Batista, "enviado por Deus" como arauto, é o ancestral de todos os pregadores do evangelho. "Ele próprio não era a luz, mas veio como testemunha da luz" (Jo 1.8). E elo quem faz a p o n t e e n t r e o AT e o NT. Sua proclamação vigorosa c aminha in cansavelmente na direção de fazer um apelo à decisão. A procla mação e o apelo para a tomada de decisão estão inscparavelmente unidos na pregação autêntica. O próprio vocabulário da prega ção do NT é ancorado na urgência do arauto. "Jesus co me ço u a pre gar " (M t 4,1 7, 23 ). O filho uni gén ito de
para ler as Escrituras e, e m seguida, d e a c o r d o c o m o c o s t u m e , se sentou para dar uma interpretação e uma aplicação do texto c o m au to ri da de [Lc 4. 16 -2 1) . Esse é o manan cial de to da p re gação cristã. A pregação não é invenção nossa no sentido de representarmos Deus, mas conseqüência essencial de seus fei tos poderosos e de sua revelação a nós. As obras e as palavras de Cristo são reunidas para formar o Evangelho. É bem prová vel que não tenhamos sequer um único discurso completo de nosso Senhor, mas temos porções de pelo menos 48 mensagens e podemos analisar a abordagem e o método do mestre-professor. "Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as p essoas" ( M c 1 6 .1 5 ) ap r e s en t a- s e c o m o a o r d e m d e avançar d o Cristo vivo e é a esse mandado que procuramos ser fiéis em nossa época. Po rt an to , a pri maz ia da pr ega ção na igreja pri mit iv a não é surpresa, mesmo quando o tom é estabelecido por Pedro, não mais o covarde, mas o corajoso, levantando-se no Pentecostes. Sua mente está cheia das Escrituras e ele está habilitado nelas (At 2.14-40), tanto porque aprendeu na classe do mestre-professor quanto pelo fato de ter sido cheio do Espírito Santo de Deus. Esses são marcos perenes do genuíno pregador do evan gelho. O apóstolo molda cuidadosamente sua mensagem aos ouvintes, seu objetivo é claro (At 2.36), usa o formato preciso de argumentação e prossegue resoluto para a conclusão e a apli cação. É muito bom observar com atenção esse pregador prototípico divinamente inspirado e sua experiência. Proveniente da cultura helcnísttca, Estêvão é um tipo dife rente de pregador. Sua argumentação — conforme registra Atos 7 — é se me lh an te à da Epís tola aos He b re u s . O vigor d es te mi do de sua pregação definiu o caminho daqueles que não agem como mercenários, fugindo da batalha, nem como os que só querem agradar a homens. A pre gaç ão d o apó sto lo Pau lo é po der os a de sd e o início:^ "Log o começou a pregar nas sinagogas afirmando que Jesus é o Filho de
lando principalmente a o s j u d e u s d a dispersão ( A t 13.16-41), a ênfase de sua pregação se concentra n o Senhor Jesus Cristo e sua ressurreição. E m Atenas, Paulo demonstra adaptação à platéia, usando u m argumento lógico e metódico para levar os ouvintes de onde estavam para u m a c h a m a d a ao a r r e p e n d i m e n t o e um pos i ci ona ment o diante d a ressurreição d e Cristo (At 17.16-34). Apenas u m d o s s e r m õ e s d e Paulo registrado n o livro d e Atos dos Apóstolos é direcionado ao s c r e n t e s ( A t 20.17-38). Parece claro q u e p o d e m o s e n c o n t r a r no NT nossa me ns ag em e nosso método. E iguahnente certo dizer q u e a pregação é um veículo ordenado p o r Deus para a p r o p a g a ç ã o da s boas-novas. Esse fato n ã o exclui outros mé tod os , m a s c e r t a m e n t e n o s per mite afirmar q u e e m t o d a s as eras d a história d a igreja a prega ção vai p e r m a n e c e r c o m o a forma central d e comunicação. Paulo fala de sua disposição d e pregar e m R o m a n o s 1.15 e, de m a n e i ra decisiva, observa q u e "agradou a Deus salvar aqueles q u e c r ê e m p o r m e i o da loucura da pregação" ( I C o 1 . 2 1 ) . "Embora eu seja o m e n o r d o s m e n o r e s d e t o d o s os santos, foi-me con ce dida esta graça d e anunciar a o s gentios as in so nd áv ci s riquezas de Cristo", comenta e l e e m Efêsios 3 . 8 . Esse é o m a n t o que cai do mesmo modo sobre o pregador q u e vive hoje , sess ent a gera ções depois, assim como a declaração "Ai de mim se não pregar o evangelho!" ( I C o 9.16).
Os pregadores de poder na história da igreja
A fusão d a rica herança d o AT c o m a d o N T d e u origem a u m organismo espiritual, a igreja, d o qual Cristo é o c a b e ç a . Tal c o m o s u a pregação, a igreja t e m falhas, mas ela é a igreja d e Cristo "e as p o r t a s d o H a d e s n ã o p o d e r ã o v e n c ê d a " ( M t 16.18). A história d a igreja destaca, e m t o d a s a s eras, quanto s ão enor m e s e a n g u s t i a n t e s o s riscos d e pregar. A venerável arte t e m p e r d u r a d o a d e s p e i t o d a grande oposição e das mu it as vicissitud e s q u e a assolam.
Incontáveis pregadores dos primeiros séculos deram conti nuidade à obra dos profetas e dos apóstolos, mas nenhum se destacou tanto quanto João de Antioquia, também chamado de João Crisóstomo (c. 343-407 d.C). Ele é reconhecido como o maior dos pregadores dos primeiros séculos depois dos apósto los e os cerca de mil sermões de sua autoria que temos ainda hoje são um tesouro exegético. O uso que fazia das Escrituras estava de ac or do c o m a tr adi ção de ex eg es e de An ti oqu ia. Ist o significa que ele era obcecado por encontrar o significado lite ral e histórico do texto, demonstrando o estilo até certo ponto elaborado de sua época. O poder de João Crisóstomo pode ser compreendido em parte pela alegria com que afirmou: "Pregar me faz bem; tão logo abro a boca para falar, meu cansaço desa- p a r e c e " . ' O período que cobre o final do século quarto e início do quinto — época de Crisóstomo, Ambrósio e Agostinho — foi um tempo fantástico de pregação que antecedeu sete séculos de declínio. Agostinho foi o maior pregador latino. Seus 360 ser mões e um trabalho anterior sobre a arte da pregação, chama d o De doclrina chrisliana, nos mo st ra m o desafio co nt ín uo da contextualização do sermão. Como lidava com o mundo grecoromano, Agostinho lançava mão de obras como a Retórica, d e Aristóteles, bem como as de Cícero, usando os clássicos como referência para modelar a forma dc tran.smissão da Palavra. A cont ext uali zaçã o ^ necessária tan to na homi lét ica qua nt o na te o logia, ainda que arriscada. Em todas as eras, e a nosssa não c exceção, os comunicadores devem levar em conta as categorias e configurações do pensamento dos ouvintes. Devemos inter p r e t a r a c u l t u r a b e m c o m o as Escrituras se q u i s e r m o s ser fiéis e comunicar a Palavra de maneira autêntica. Falaremos mais so b r e isso nos cap ít ul os s eg ui nt e s .
(1483-1546) deixou-nos cerca de 2 300 sermões, extraídos de sua prodigiosa pregação e de seus textos. Lutero considerava a pregação u m a luta cscatológica na qual "C ri s t o deve ser s e m p r e p r e g a d o " . O t e x t o deveria controlar o s e r m ã o , q u e deveria t e r como objetivo alcançar tanto o coração quanto a mente. Sua pregação era cheia d e i magens e podia ser definida c o m o u m a "desordem heróica". A pregação também era fundamental para João Calvino (1509-1564). Seus mais de mil sermões mostram esse pregador talentoso caminhando livro a livro pelas Escritu ras para ajudar seu povo a alcançar a noção de coesão e coerên cia da Palavra. Ele nunca foi muito bom em retórica, não era forte no emprego de metáforas, e outras figuras de linguagem. Afirmav a que " De us de te rm in ar a qu e a Palavra era o ins tru mento pelo qual Jesus Cristo, com toda sua graça, é dispensado a nós". Teodoro Beza fez o seguinte comentário sobre a prega ção de Calvino: "Cada palavra sua pesa um quilo"."* Ulrlco Zuínglio (1 48 4- 15 31 ) liderou o mo vi me nt o da Reform a em Z uri que e não escreveu seus sermões. O despertamento chegou a Zurique quando Zuínglio começou a pregar sobre o evangelho de Mateus. Sua voz era fraca e a entrega do sermão era rápida, mas sua pregação tinha o objetivo de produzir um coração trans formado, que demonstrasse mudança definitiva e prática. A história da pregação apresenta uma notável sucessão de p r e g a d o r e s e m circ unstâ ncias i n c r i v e l m e n t e contra,stantes, e m todas as culturas c cm face de grande controvérsia e conflito espiritual. Houve idas e vindas, mas Deus continua a reconhe cer e abençoar a pregação de sua Palavra. A aprovação de Deus quanto à pregação da Palavra é evidente no poder demonstrado por J o h n Knox, J o h n D o n n e , J oh n Wcsley, G e o r g e W hi t e f i e l d, Jon ath an Edwa rds, Char les Ha dd on Spurge on, Al exa nde r Maclaren, John Hcnry Jowett, Joseph Parker, G. Campbell Morgan e tantos outros pregadores atuais. E fato inegável que onde a pregação viceja, a igreja também cresce. Qualquer aná lise sobre a saúde e a vitalidade espirituais no meio do povo de Deus não deixa de mostrar a importância da pregação nessa
equ açã o. A pregação bíblica forte está pr of un da me nt e relaciona da com o ministério espiritualmente eficiente e o testemunho.
Dr. Harry S. Stout, da Universidade Yale, nos dá um marcante exemplo em sua obra denominada The New England soul alma da Nova Inglaterra], qu e tr at a da pr ega ção na Nov a Ingla te rra Colonial.'' St ou t afirma qu e os se rm õe s na Nova Inglater ra dos séculos X\/Ii e X\'II[ eram um meio de comunicação "cuja abrangência de tópicos e influência social eram tão poderosas para m o l d a r os valores c ul tu rai s, o p e n s a m e n t o e o s e n s o d e p r o p ó s i t o coletivo q u e m e s m o a televisão se t or na u m a pálida comparação"." Stout argumenta que o impacto desses mais de 5 milhões de mensagens pregadas durante todo o período colo nial foi decisivo. O habitante típico da região ouviu cerca de sete mil sermões durante toda vida, totalizando cerca de quinze mil horas de atenção. As pessoas da Nova Inglaterra eram "um singular 'povo da Palavra'". Como destaca Stout, "a posição do local de reuniões, no centro da comunidade, também significava submissão ao p o d e r d e D e u s , o p o d e r q u e veio a u m p o v o q u e sujeitou t o d a a autoridade e instituição humana à infalível regra sola Scriptura"J A pregação moldou as famílias e as comunidades da Nova In glaterra. A palavra pregada sob o poder do Espírito Santo tor nou-se fundamental para üs valores e üs ideais daquela socieda de seminal. Cita Stout mais uma vez: "Os ministros gozavam de grande poder na sociedade da Nova Inglaterra [...] e, pelo fato de seus sermões se basearem no princípio sola Scriptura, até a autoridade dos ministros era limitada".^ O que era a reali dade básica da Nova Inglaterra no passado, é no presente e será no futuro: Jesus Cristo virá outra vez. E x i st e m cristão que naquilo que dc todas as
m ui t a s q ue s t õ e s in q u i et a n t e s pa r a o c om u n i c ad o r entrou no século X X I . Há mu it o traba lho a ser feito é uma gigantesca tarefa para o pregador desta era e outras. Mas podemos ficar confiantes quanto à via
o que é a pregação bíblica? A questão da autoridade
O
que é a Palavra de Deus e por que ela precisa ser pre gada? Antes de discutir a maneira de pregar a Palavra de Deus devemos nos concentrar na natureza da Pala vra e em sua autoridade. Não está totalmente claro para muitos dos que pregam, nem para nossa cultura em geral, que o prega dor deve ser O servo da Palavra, pa ra us ar o tí tu lo do livro de Herbert H. Farmer.' A autoridade é uma das questões cruciais e mais controver sas de nossa época. Em sua definição de autoridade, Bernard L. Ramm revelou o cerne da questão como: o direito ou poder de comandar a ação ou a aquiescência, ou de determinar crença ou costume, e.sperando obediência dos que es tão sob autoridade e, em contrapartida, prestar contas com res ponsabilidade desse direito ou do poder que é exercido.^ Os homens e as mulheres da era moderna se rebelam contra as autoridades tradicionais que lhes são impostas. A idéia geral de obediê ncia às or de ns e à aut ori dad e se mp re foi um a que stã o difícil para a hu ma ni da de d eca ída , mas, no clim a igualitário d o mundo de hoje, essa noção é, para muitos, simplesmente absur da. Desejamos ser pessoas autônomas, não sujeitas a nenhuma regra super ior a nossa au to de te rm in aç ão . A rebeldia co nt em â t t id d d i t di t
como governo, educação, lar e igreja. Isso tem varias implica ções para o pregador. C a r l F. H . H e n r y o b s e r v a c o r r e t a m e n t e q u e " e m
nenhum
ou tr o lugar a crise da teologi a mo de rn a en con tr a aspec to m ais crít ico do qu e na con tro vér sia sob re a re ali da de e a na tu re za da mani fest ação divina".-' A lgun s vão tã o longe a p on to de qu est io nar se existe uma verdade objetiva e se a verdade pode ser conhe cida, se é que ela existe. Tão forte é em alguns círculos a aversão à objetividade da ver dad e revelada, qu e exist e pr at ic am en te u m a fuga total para categorias não racionais. A fé histórica da igreja cristã é clara nesses assuntos, afir mando que a Bíblia 6 a ún ic a fo nt e infalível d e fé, d o u tr in a e p r á t i c a . E m i l B r u n n e r r e s s a l t o u q u e o d e s t i n o d a Bí bli a é o d e s tino do cristianismo. O princípio da Reforma era sola
Scriplura.
N o s s a a u t o r i d a d e é a Bíblia. R a m m está c e r t o ao af irmar q u e "o Esp íri to San to , fala ndo nas Esc rit ura s, q u e são o p r o d u t o d a ação revelatória e inspiradora do Espírito, é o princípio da auto ridade para a igreja cristã",''
"Foi isso mesmo que Deus disse?" A difundida perda de autoridade da Bíblia no meio da cristandade t e m pro voc ado um efeito lamentáv el sobr e a pregação de m o d o geral, fazendo e co à pe rg un ta d e D e u s a Jer emi as: "Vis to qu e rejeitaram a palavra do SENHOR, que sabedoria é essa que eles t ê m ? " (Jr 8 .9Í7 ).'P or vários sécu los a au to ri da de p len a da Bíblia não foi questionada dentro da igreja. O cjuc vemos hoje é uma trágica infiltração no princípio da Reforma, uma erosão da confi ança na autoridade das Escrituras que se volta para a "ilumina
ç ã o " cen tr ad a no h o m e m , e m vez da Refor ma ce nt rad a e m De us . Essa perda de nossa herança tem deixado muitos pregadores segurando uma Bíblia que é para eles apenas um registro huma no da resposta do homem a Deus. Hendrik W van Loon se refe riu ao AT c o m o a u m a esp éci e d e ál bu m nacion al de rec or te s d o
san do a ser apen as parti cipaçã o. Para os qu e cons ide ram repu g nante a revelação miraculosa sobrenatural, a revelação concedi da a Moisés no monte Sinai não c diferente da do escritor gnóstico que afirma ter recebido o evangelho de Poimandres ou da de Arjuna, que recebeu uma teofania do deus Krishna. Até mesmo David Strauss, cético notório, definiu essa visão como uma de sintegração da "doutrina or tod oxa das Escritu ras". A tentativa de construir alguma base de autoridade para a p r ocl am açã o a partir d o s da d o s naturais d o universo físico, da consciência humana ou mesmo da experiência religiosa termi na por deixar-nos sem autoridade. A abordagem de "cortar e colar" também afasta a Bíblia das pessoas leigas [...] parece que só os Ph.D. são capazes de separar a verdade do erro. J. I. Packer ch am a isso de par ad ox o do mo v i m en t o da crítica: "A Bíblia t e m sido oferecida à igreja de uma maneira que a tem privado da própr ia Bíblia, g e r a n d o u m a f o m e d e ouvir as pala\Tas do Se nhor".^ Em vez de cuidadoso expositor do texto sacro, o crítico racionalista passou a ser tábua de salvação. O efeito da moderna demolição da autoridade das Escri turas tem sido catastrófico. Sem as Escrituras como prínci pium unicum, c o m o insis tiam os re fo rm ad or es , a teologia en tr a no caos . Sc não exis te n e n h u m a dif er en ça significativa entre a Bíblia e as Fábulas d e Es op o ou as tá bu as de Jo.sep h Sraith, ent ão est amo s aban dona dos em meio a um a de se spe rada mi st ur a de ve rd ad e e er ro calc ulad a para fo me nt ar a hesitação e o equívoco no púlpito. Privado de consenso nor mativo quanto ao conteúdo autorizado, o pregador se volta p a r a a psicologia p o p u l a r , par a os a c o n t e c i m e n t o s a tu a is o u par a as r e s e n h a s d e livros, vis ando a a l i m e n t a r o r e b a n h o fa minto com essas coisas. Packer é feliz em dizer que a prega ção tem sido desprezada e que a igreja está sendo debilitada pela " per da da convicção histórica d e q u e o q u e as Escrituras dizem é o que Deus diz".'' A verdade é essencial para a confiança. Se co ns id er am os a Bíblia u m a te st em un ha , seria ela u m a falsa t e st em un h a? Se a Bíblia c julgada por co nt er erro s, d ev e mo s
"Deus dissel" é a segura premissa dc toda a pregação bíblica. A linguagem humana foi colocada a serviço divino. Embora con dic ion ada à cul tur a e, po rt an to , relativa, a linguagem p o d e ex p r e s s a r a v e r d a d e liter al. C o m t o d a s as m i n h a s l i m i t a ç õ es , po,sso ta nt o escrever qu an to emi tir prop osiç ões qu e co rr es po nd am à re a li da d e.
As pal avr as
nas
Es cr it ur as
re l at am
os
ato s
revclatórios cm forma de proposições e interpretam esses even tos por meio do Espírito Santo. C i t a n d o a m o r t e d o S e n h o r J e s u s C r i s t o c o m o u m f a t o h i s tóri co, Ge or ge Eldon La dd not a a nec ess ida de dc int erp ret açã o divina: Paulo diz que ela [a morte de Cristo] é a prova, a demonstração do amor de Deu s (Rm 5.8). Co mo po de mo s saber que
a morte
dc Cristo revela o amor de Deus? E.stariam os soldados romanos conscientes do amor de Deus quando viam Jesus morrer? Os poucos di scí pu los que p erm ane cer am próximos à cruz for am
atraído.H àquele lugar porque perceberam nesse ato que Deus estava dem on st ra nd o am or por eles? [...] Será qu e o Gólgo ta fala por si mesmo? Pelo contrário, os discípulos achavam que o fim d c seu m u n d o havia che gad o [...] So me nt e qu an do
a ressur
reição reverteu a aparente catá.strofc de sua morte, somente quando o próprio Cristo ressurrcto interpretou o significado de sua morte fLc 24.26,27), somente quando os apóstolos com p r e e n d e r a m
a
ati vid ade divina por trás de um fato qu e, de o ut ro
mo do , seria trágico, c qu e esse aco nte cim ent o passou a te r u m novo significado, sendo reconhecido pelo que realmente era: um ato do amor de Deus. Só sabemos que a morte de Jesus de mons tra o amo r de De us po r causa da int erp ret açã o profética desse fato.'
Os caprichos da teologia liberal, quer católica romana, quer t
t
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it
d
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alguma. O jornalista Ted Koppel proferiu uma cerimônia de formatura, uma condenação surpreendentemente eloqüente do subjetivismo: A verdade não c um e duc ado tapinha no s ombros, mas sim uma severa repreensão. Aquilo que Moisés trouxe du monte Sinai não era apenas um conjunto de palavras chamado Dez Sugestões, mas sim, os Dez Mandamentos. São, não eram. A radiante beleza dos Dez Mandamentos é que, com poucas pala\Tas, ele.s codificam o comportamento humano aceitável, não apenas para aquele tem po ou para hoje, mas para sempre." É essa im po rt ân ci a objetiva da Palavra en t re gu e por D e u s que sustenta e fortalece a proclamação, de modo que ela seja muito mais do que pura especulação. E por isso que William E. Gladstone, o grande primeiro-minis tro britânico, referiu-se à Bíblia como a "inexpugnável rocba da Sagrada Escritura" e Charles Haddon Spurgeon, um dos maiores pregadores d e todos t em pos, descreveu a questão da autoridade da Bíblia como uma batalha decisiva, "a Batalha das Termópilas da fé cristã". O pacto de Lausanne, de 1974, fez importantes e sábios progressos q ua n do declarou, diante d e t oda s as dificuldades, q u e "a Bíblia é ine rra nte em t u d o aquilo q u e afirma". C o m o Ed wa rd John Camell, desenvolvendo as idéias de Benjamin B. Warfield, tão bem percebeu: "Estamos certos do ensino da Bíblia para nossa informação sobre iodas as dou tri nas da fé cristã, incl usiv e a dou tri na da visão qu e a Bíblia t e m de si me sma ". ^ D e fato, em n e n h u m lugar a Bíblia protesta contra a identificação das Escrituras com a revelação divina. Os autores bíblicos não corrigem uns aos outros. Os escritores do NT não questionam o AT. Nossa a t i t u d e e m relação às Escrituras é i m p o r t a n t e se qui ser mos encar ar a prega ção ge nu in am en te bíblica co m confian ça na coerência e na natureza não contraditória de si mesmo do texto bíblico. A destruição de tal confiança tem sérias implica ções para nossa pregação. Considerando essas implicações, Donald Grey Barnhouse fez uma anáfise crítica perspicaz do
The mterpreter's Btble, q ue é ce rt am en te u m a das mais usadas e avançadas coleções de interpretação bíblica produzidas no sé culo X X . D e aco rdo co m essa obra, o co me nt ar is ta d e H e b r c u s 4. 3- 6 acha qu e o ar gu me nt o d o escr ito r bíblico é defi cien te, u m p r o b l e m a q u e o m e s m o c o m e n t a r i s t a t a m b é m identifica n o ca p í t ul o 7 d e H e b r e u s . ' " D o n a l d C r e y Bar n ho us e diz: " N e n h u m estudioso responsável dos dias de hoje deve brincar com as Es crituras dessa maneira , ob sc ur ecc nd o o pe ns am en to fun dam ent al do au to r" . " Barn hous e não me di u palavras para co nd ena r esse ataque ao Espírito Santo. Se o autor de Hebreus tivesse torcido as Escrituras, como o pregador poderia seguir fielmente o texto conforme foi escrito? Um elemento de incerteza e dubiedade tem se infiltrado lentamente na maneira pela qual as Escrituras de ve m ser con sid era das e rev ere nci ada s, e isso t e m pr of un do impacto na sua pregação.
"A palavra do SENHOR é para eles desprezível" o des vio pr át ic o d e nossa pos içã o so br e a au to ri da de da Bíblia para a pregação p o d e ser c l a r a m e n t e visto na obra r e c e n t e d e David G. Buttrick, intitulada Homiletic.'Trata -se de u m ex traordinário trabalho original que traz implicações profundas. O objeti vo de cl ar ad o d e But tr ick é vol tar aos pr im ór di os da arte da pregação e "compreender o que pode realmente aconte ce r na con sci ênc ia d u r a n t e a el abo ra ção e a aud iç ão de ser mões".'^ Abandonando muitos venerados e antigos fundamen tos da retórica clássica e da teoria homilética, faz uma exegese da cultura com profunda habilidade, abrindo novos caminhos em áreas que teremos a oportunidade de observar mais adian t e . Buttrick apresenta uma crítica brilhante da in.suficiência e im pr op ri ed ad e do mo de lo te rap êut ic o de Harry Eme rs on Fosdick e d o mo vi me nt o do potenc ial hu ma no . Faz dur as críti cas ao pietismo, ao decisionismo, ao conversionismo, ao perso nalismo e ao fundamentalismo. Ele se afasta claramente do mo
como narrativas e, portanto, da idéia de Karl Barth, que afirma que o sermão é o último elo da cadeia da revelação. Mas não deixa o pregador em melhor situação no final. Te mos à nossa disposição "os símbolos da revelação", mas nenhu ma revelação real por trás dos símbolos. Não existe nenhum senso impericso de entrega divina. "O que temos é a compreen são humana [...] Não existe nenhuma fé cristã certificada a qual p o s s a m o s n o s a b r a ç a r " . ' ' ' S e r v i m o - n o s d a s Es c r i t u r a s a p e n a s de maneira secundária. "Por que todo sermão deve destacar al guma citação das Escrituras?", pergunta ele."* Essa não é a per gunta de um pregador bíblico. A falência dessa posição com respeito à autoridade do púl p ito é e s p a n t o s a m e n t e e v i d e n t e . B u t tr ic k ensina q u e a n a r r a t i va da ressurreição de Marcos 16.1-8 tem significado "em nível simbólico"; tais histórias não poderiam ser pregadas num esti lo histórico ass eme lha do à post ura "vej a-o-q ue-re alme nteaco nte ceu ". Embora a ressurre ição te nh a ce rt am en te sido u m fato, as histórias d o Cr is to ress ur re to ape la m à fé d e ma nei ra simbólica. Elas não nos dão descrições reais do Cristo ressurreto nem da experiência sensória das testemunhas."' Segundo esse autor, não estamos lidando com a história obje tiva e m relação à res sur rei ção e de ve mo s te nt ar "di stanci ar a congregação das questões de hístoricidade".'' De acordo com a visão de Buttrick, o pregador não precisa "expor feito um escravo textos semana após semana. O essencial nas Escritu ras é a história do Deus conosco, e não textos isolados usufru in do sua pr óp ri a iner ràn cia ".' ^ O lugar da au to ri da de ne st e mar de subjetividade é ostensivamente solus Chrístus] Porém, sem a indefectível autoridade das Escrituras, devemos pergun tar: que Cristo? Buttrick insiste que não pregamos a partir de um texto, mas de dentro de um campo de consciência. A prova dessa aborda gem é o seu uso de modelos e exemplos ilustrativos. De que maneira devemos enfrentar a questão da ordenação de um ho
SC ausência
dc pecado é um requisito para a ordenação, então fica claro que não teremos clero. Além disso, será que a homossexuali da de interf ere n o ver dade iro traba lho do ministro, a saber, pregar e ministrar os sacramentos? De acordo com o evangelho, todos nós somos pecadores e todos somos perdoados na cruz.'^ Esse teria sido um bom lugar para voltar para a Bíblia em bus ca d e alguma luz d c D e u s para ser d e r r a m a d a sobre o assun to e anunciada às pessoas. E claro que aquilo em que acreditamos acerca da Bíblia de termina a maneira pela qual abordamos a questão da pregação da Bíblia. Se não cremos que a Bíblia é a revelação inspirada de D e u s , mirac ulosa e sobr enat ural , nós a ve re mo s co mo u m a p ra teleira cheia de produtos que podemos escolher como quiser m o s . Mas , se ac re di ta mo s qu e a Bíblia c ve rd ad ei ra me nt e a Pa lavra de De us , de ve mo s pr oc ur ar pre gar "tod a a vo nt ad e dc D e u s " como confiavelmente exposta em suas páginas.
A pregação bíblica é, portanto, segura, a proclamação capacita da pe lo Esp íri to, aplica ção do qu e a Bíblia ensina. Essa pro cl a ma çã o precisa ser equi lib rad a. E possível pr oc la ma r u m aspe c to da verdade bíblica excluindo outras verdades vitais relacio nadas, também ensinadas nas Escrituras e, desse modo, ser totalmente não-l^lÍco na proclamação. Não devemos construir um templo onde as Escrituras levantem apenas uma tenda. A pregação bíblica é a p r o c l a m a ç ã o c o r r e t a e r e v e r e n t e d o q u e a Bíblia ensina. Discernir o que é correto e reverente exige a de dicação consciente do pregador de lutar tanto com o significa do qu an to com a imp ort ânc ia do te xt o, A impo siçã o de nossas próp ri as idéias p o d e d i m i n u i r e d i s t o r c e r a m e n s a g e m bíblica. Pregar biblicamente é uma enorme responsabilidade. Há alguns anos, em um acampamento bíblico no norte do estado de Minnesota, vi lindos beija-flores bebendo uma solu
vam aquelas criaturas disseram-me que é preciso ter muito cui dado para garantir que a solução não seja fraca demais, pois, desse modo, os beija-flores ficariam fracos e talvez até incapa zes de voar as grandes distâncias que cobrem cm suas viagens migratórias. Cuidado .semelhante deve ser tomado para que a pregação seja rica no a s p e c t o bíblico e fiel ao i n t e n t o dos a u t o res humanos e divino. Uma solução muito fraca pode causar debilidade. Existem vários tipos clássicos de sermões, todos p o d e m ser bíblicos e, e m d e t e r m i n a d a s situações, q u a l q u e r u m p o d e ser t o t a l m e n t e antibíblico. A homilia é uma breve série de obser\'ações c exortações baseadas em uma passagem curta das Lscrituras. E comumcnte usada em funerais, casamentos e outras ocasiões especiais em que uma me n sagem mais longa ou mais cuidadosamente elaborada não seria adequada. O sermão tópico reúne tudo o que as Escrituras ensinam sobre um determinado assunto. A pregação tópica tem um lugar de de.staque na história dessa arte. Sua legitimidade .se vè na eficácia da teologia bíblica e sistemática. Embora es.sa não deva ser a primei ra opção do pastor-mestre, todo pastor pregará um sermão tópi co em determinada ocasião. Pregar sobre aborto, divórcio e novo casamento, o pape! da mulher no ministério ou sobre o que a Bíblia ensina acerca da cura do corpo muito provavelmente se dará de maneira tópica. Pelo fato dc poder ser mais infíexivelmente unitário, é fácil perceber que qualquer lista dos dez ser mões mais importantes e que mais influenciaram a cultura do mundo e da .sociedade consiste principalmente, se não totalmen te, em sermões tópicos. O sennão tópico-textual ancora-se nu m te xt o bíblico de uma brevida de tal que o desenvolvimento do raciocínio é semelhante ao do sermão tópico. Podemos pregar uma série sobre os dez manda mentos, sobre as bem-aventuranças, sobre o "fmto do Espírito" ou sobre os componentes de "toda a armadura dc Deus". Se eu for pregar sobre o primeiro mandamento — "Não terás outros
si para determinar a forma do sermão. Barnhouse e D. Martyn LIoyd-Joncs muitas vezes tomaram um pequeno pedaço de texto e, num tipo de pirâmide invertida, extraíram muito do ensino sistemático das Escrituras relativo àquele pequeno texto. Essa abordagem pode ser biblicamente rica, como foi com esses mes tres da pregação, ou totalmente trivial e desconexa. ü sermão textual consiste em um versículo ou dois no qual o desen volvimento dos pontos principais segue exatamente a ordem das palavras do texto. É muito prazeroso para o pregador quando o próprio texto dita a configuração do sermão. Spurgeon pregou de forma textu al em algumas ocasiões, embora a part e p re po nd e rante de sua pregação tenha sido textual-tópica. Um exame mais microscópico de uma pequena porção dc texto pode provocar uma bem-vinda alteração de rumo. Independentemente da por ção ser longa ou curta, é preciso tomar muito cuidado para considerá-la dentro de seu contexto. Es.se deve continuar sendo nosso desafio mesmo quando o texto é um capítulo inteiro. O sermão expositivo dev e ser a forma preferida do pa sto r-m est re desejoso de alimentar o rebanho de maneira sistemática. Lectio selecia ou encolher, culto a culto, que te xt o pregar, c correr um grande risco dc desequilíbrio ou de pregar apenas os textos de predileção pessoal, ao contrário do que se faz no lectio continua, a pregação sistemática através dos livros da Bíblia ou de acordo co m um lecionário de te xt os qu e aco mpa nha m o ano eclesiástico. A pregação íxpositiva extrai tanto os pontos principais quanto os secundários da unid ade natural de pen sam ent o do te xt o. E bíblica na própria essência e serve de modelo para a congregação da ma neira pela qual a Palavra de Deus deve ser usada e estudada, o qu e ne nh um a out ra forma de pregação faz. A fraqueza histórica da pregação expositiva é sua falta de unidade. Ela se tornou um tipo de comentário didático corrido do texto, um agrupamento de \ários pequenos sermões. Todo sermão precisa dizer basica mente uma única coisa, assim como aconteceu com os sermões de Paulo no livro dos Atos dos Apóstolos, os quais orbitavam ao redor de um pensamento unificador. O expositor eficiente se deleita com
a infinita riqueza da Palavra escrita, mas nem sempre se dá conta de que os ouvintes podem estar perdidos, Toda pregação implica seletividadecuidadosa. In de pe nd en te me nt e da forma qu e a pregação po de assumir, nossa responsabilidade e desafio é pregar biblicamente por cau sa do que acreditamos com relação à Bíblia. As várias culturas valorizam diferentes formas de discurso, como, por exemplo, na igreja africana ou nas igrejas negras dos Estados Unidos. Em todos os casos, somos chamados a ministrar sermões bíblicos em nossa pregação,
"A Palavra de Deus é viva e eficaz" Deus prometeu abençoar sua Palavra na salvação do perdido, na edificação e na maturidade dos crentes e no estímulo e de senvolvimento da igreja. O poder da Palavra de Deus é visto na criação, é celebrado na poesia hebraica, como no Salmo 119, o "Cântico da Palavra", c corroborado na história. A história da Bíblia e da pregação bíblica é uma história de milagres. O livro dos Atos dos Apóstolos narra uma explosão sobre natural e espiritual que virou de cabeça para baixo o mundo conhecido da época. Os apóstolos se dedicavam "à oração e ao ministério da palavra" (At 6.4). O resultado surgiu: "Assim, a palavra d e D e u s se espalhava. Cr es c i a r a p i d a m e n t e o n ú m e r o dc discípulos cm Jerusalém; também um grande número de sacerdotes obedecia à fé" (At 6.7). Arrogantes estruturas hu ma na s iam se nd o de mo li da s à me di da qu e "a Palavra de D e u s continuava a crescer e a espalhar-sc" (At 12.24). As cidadelas da idolatria foram devastadas, conforme "a palavra d o Se nh or muito se difundia e se fortalecia" (At 19.20). Essa mesma his tória continua nos dias de hoje. Uma das maiores necessidades da igreja atual é ter uma pre gação ve rd ad ei ra me nt e bíblica. Di ant e das dúvidas, da confu
claro". Billy Graham deve ser nosso modelo de compromisso com as Escrituras. Em seu testemunho amplamente divulgado, ele fala de suas dúvidas e incertezas quando ainda era um jovem ministro e conta que se ajoelhou diante do Senhor com a Bíblia aberta e orou com sinceridade: Senhor, não entendo muitas coisas deste livro. Mas o Senhor dis se que "o justo viverá pela fé". Tudo o que recebi do Senhor, recebi pela fé. Neste exato momento, aceito a Bíblia como sua palavra. Eu a aceito por inteiro. Aceito-a sem reservas. O n d e hou ver o que eu não entenda, reservarei meu julgamento até que receba mais luz. Se isso agrada ao Senhor, dê-me autoridade ao proclamar sua Palavra, dc modo que, por meio dessa autoridade, homens e mulheres sc convençam do pecado e se voltem para o Salvador.^"
Qual é o clima atual para a comunicação por sermões? A questão da adequação
P
or todos os séculos, os comunicadores têm seguido os passos d e A r is t ót el es c sua obra intitulada Retórica. Tal vez tenbamos nos escravizado por demais ao seu siste ma, de modo que nós pregadores, certamente devemos reexa minar nossos débitos c nossos créditos. Precisamos nos lem b r a r q u e A r i s t ó t e l e s n ã o i n v e n t o u a lei d a c o n t r a d i ç ã o . A i n d a assim, muito provavelmente não conseguiremos melhorar a di visão clássica do discurso conforme propôs esse filósofo: logos, a m e n s a g e m ; ethos, o ora dor ; pathos, o públ íco- alv o. Alguns pensadores da Europa continental menosprezaram a análise do público-alvo. Nessa linha, Dietrich RitschI está cor reto em insistir que "a proclamação da vontade de Deus não d e p e n d e da sit uaç ão e da histór ia d o m u n d o " . ' Afinal, a Bíblia é um registro de fatos e, se quisermos manter sua integridade, não podemos alterar e conformar suas informações de modo que se amoldem aos caprichos e modas da modernidade. As sim, embora não ancoremos a pregação na análise dos ouvin tes, não existe pregação sem congregação. O Senhor Jesus analisou os diferentes tipos de solo, não com ü objetivo de mudar a semente, mas para nos ajudar na trans missão da mensagem, O pregador deve levar em conta o públi
de nossos ouvintes. A análise da público é definida por Wavne persuasão], Minnick, em seu livro Ari of persuasion [A arle da como "a aplicação dc tudo o que se conhece sobre o comporta m e n t o h u m a n o e m geral a u m gr upo específ ico, co m o objet ivo de prever ou avaliar sua reação diante de uma comunicação p ers ua si va" .- A a d a p t a ç ã o da a b o r d a g e m d e v e ser c o n s i d e r a d a du ra nt e a pre par açã o do serm ão, en qu an to o ser mão está sen do proferido c depois da apresentação. Existe o perigo de haver uma conversa de surdos ou aquilo que Daniel T. Niles lamentou quando observou que "perdemos contato com o mundo". Podemos ver uma abordagem mais sofisticada e técnica na "crítica do pú bl ic o" d e J. A r t h u r Baird, q u e cita T. W Ma ns on , dizendo que "tanto o assunto quanto o método de ensino de Jes us est ão con dic ion ados à natu reza dos ouv int es" .' Cer ca de 9 8 % d a logia (mensagem) do evangelho sc identificam com os ouvintes. Baird fala de quatro diferentes públicos a que Jesus se dirigiu e analisa os padrões contrastantes empregados para al cançar cada um deles. Os discípulos de Jesus, por exemplo, ca racterizam-se por falta de compreensão, senso de espanto, des crença persistente e oposição a Jesus."* As palavras dc Jesus são proferidas d e ac or do c o m a co nd i çã o d e l e s . O s p r e g a d o r e s d e todas as épocas e situações devem imitar seu Mestre. Qual é, e n t ã o , o clima atual para a comunicação por sermões?
"Destruído por falta de conhecimento" As vezes, o pregador se sente como quem está tentando pene trar a carapaça de uma tartaruga usando um canudo de papel. Parte do que assola nosso público é um analfabetismo cultural generalizado em nossa sociedade. Existe a forte evidência de uma imensa ignorância teológica e bíblica em nossas igrejas mais conservadoras. U m a s ur p r e e n d e n t e e st i ma t iv a a f ir m a q u e 6 1 % d a p o p ul a ção teric não ler it to
sua obra Cultural Uliteracy: wh at every Ame ric an nee ds t o kn ow [Analfabetismo cultural: o qu e to do nor te -am eri ca no precisa saber].^ A pontuação alcançada pelos alunos do ensino funda mental e do ensino médio estão em queda contínua e os níveis de realizações dos melhores alunos estão ficando visivelmente cada vez mais baixos. Hirsch considera a crescente falta de "in formação básica necessária para se destacar no mundo moder no". Ele identifica cinco mil termos — nomes, eventos, datas — qu e .são con sid era dos inf orma ções básicas ma s de sc onh ec id os no meio de um grupo cada vez maior em nossa sociedade. Isso tem enorme implicação para o comunicador do evangelho. Destacando um aspecto semelhante com referência à educa ção superior, a obra O declínio da cultura ocidental, de All an Bloom,'' fala de quanto o fracasso da educação superior tem em pobrecido a alma dos es t ud a nt e s d e hoje. Essa obra é u m a p o d e rosa acusação formal à predominância do relativismo em nossa cultura. Bloom afirma categoricamente: "Nos Estados Unidos, falando de maneira prática, a Bíblia era a única cultura comum, aquela que unia o simples e o sofisticado, o pobre e o rico, o j ovem e o velho e [...] q u e de u o caráter d e seriedade aos livros".^ Mas essa cultura comum está desaparecendo. O desaparecimento quase inacreditável do conhecimento da Bíblia em nosso t e m p o levou Ge or ge St ei ner a esc rev er es te lamento para a revista Netv Yorker: De fato, .somos tentados a definir o inodernismo na cultura oci dental em termos da exclusão do Antigo c do Novo Testamentos do reconhecimento atual [...] Esse reconhecimento era o ponto de apoio da alfabeiizaçào, a matéria comum do intelecto c do senti mento desde o século X\ T até hoje [...] o espaço que .separa o bíblico do comum no comércio de idéias e propostas , a advertência e a promessa no corpo político ocidental acarretam uma autêntica mptura da solidariedade, da concórdia dentro da dissensão.* Essa trágica perda da Bíblia como ponto de referência preci sa ser encarada pelo comunicador preocupado com a pregação b í b h
É impressionante ouvir uma pessoa dizer que achava que "li bido" era u m n o m e d e d e m ô n i o e q u e n e u r o s e e psicose e r a m duas mulheres da Bíblia, mas é ainda mais desolador perceber q u e a ignorância cr es ce nt e e o m au uso da s Escrituras es tej am em evidência entre os que professam crer na Bíblia. Apenas metade dos protestantes entrevistados foi capaz de citar até quatro dos dez mandamentos. Há quinhentos milhões de bíblias em circulação nos Estados Unidos, mas 40% dos protestantes a lêem "nunca ou quase nunca".^ Um estudo descobriu que, en tre os protestantes entrevistados que freqüentam igreja, 63% nã o co ns eg ui ra m sa be r a di fe re nça e n t r e o AT e o NT, p ou co s sabiam pelo menos alguma coisa sobre os profetas e menos ain da conseguiam aplicar a história do bom samaritano à vida diá ria. Assuntos bíblicos como esse foram "apenas parcialmente com pre end ido s". '" Q ual é o problema?
"Jamais conseguem chegar ao conhecimento da verdade" Sejam quais forem as causas, o pregador percebe que a situa ção é ruim. Um jovem pastor do Arizona escrcveu-mc dizendo sobre seus sermões: "Fico desanimado com a qua nti dad e de coisas que as pessoas de fato entendem do que estou falando. Eu derramo o coração quando prego e preparo o sermão com diligência, mas fico só imaginando quanto de tudo i.sso é absor vido ". O fato é«que estamos vivendo uma revolução das comu nicações. Como diz o filósofo holandês Arend van Leewen, pas samos rapidamente da era ontocrática, com sua consciência unificada de realidade cósmica, para a era tecnológica, que é funcionai, pragmát ica e co mp le ta me nt e secular. " Podemos caracterizar a situação atual da comunicaçã o em nossa cultura por meio de seus componentes básicos:
Superestimulação. Vivemos numa sociedade caracterizada pela infor mação e pelos aspectos visuais. Uma família comum deixa o televi sor ligado sete horas por dia. O jo\em comum tie nossa cultura já
ensino médio, e quinze mil diante da televisão. Nentiuma geração anterior toi siiperestimulada dessa maneira por uma tão impiedosa artilharia de imagens, sons e atrações. Dessensibilização. Este bom bar dei o cons tant e da mídia resulta nu m clima de crise perpétua. Ficamos sabendo de desastres, crises e violência de maneira imediata e instantânea por meio dos satélites de comunicação. A pjausibilidade de que o mundo inteiro veja o assassinato das duas testemunhas nas ruas de Jerusalém (Ap 1 1.810) é muito grande nos dias de hoje devido aos avanços tecnológi cos. A anestesia constante da mídia cria um mecanismo dc defesa contra qualquer estímulo. Como mecanismo dc aulodefe.sa, des cartamos muito do que vemos e ouvimos. Não somos mais capa zes de no.s sentir chocados com a violência e o horror porque já vimos muito disso, E difícil algo nos comover. Impotência. A pessoa co mu m se sen te arrasada en qu an to nações, ins tituições e pessoas cambaleiam de cri.se em crise. O que posso fazer em relação a tudo isso? Parecemos lasquinhas, restos de um naufrágio atiradas de um lado para outro num imenso e turbulen to mar. A mudança parece improvável. Bertrand Russell disse que os seres humanos são como moscas tontas tentando desesperadamente pousar sobre os rotores acelerados de um dínamo. Esta mos atordoados e estupefatos em face da enormidade de questões que atingem as sociedades modernas. Despersonalização. Di an te de tu do isso, o indivíduo parece cada vez menos importante. Somos apenas números, cifras de pouca con seqüência. Somos como um grão de areia no meio do deserto. Pense na grande mensagem das Escrituras que temos de anunciar, aquela que fala de um Deus que nos conhece genuinamente e se importa conosco, que sabe quantos fios de cabelo temos na cabe ça. Apesar disso, nos dirigimos a pessoas qu e se sentem irrelevantes, pulverizadas e jogadas fora. Preferência pelo náo-verbcd. Palavras, prop osiçõ es e arg ume ntos cui dadosamente elaborados são menos atraentes que imagens. Os pregadores tendem a ser comunicadores que não fazem uso de
propôskional e qu e pregam melhor sobre parles didáticas d as Es crituras. Vivemos uma época acostumada a sentimentos, enquan to muitos de nós ainda pregam n u m clima avesso a excesso d e sentimento. Confusão. Inúmeras pessoas ficam feridas e prostradas diante do fragor dc vo7.es conflitantes. Sempre houve declarações concorrentes afirmando ser a ver dad e nessa balbúrdia de injustiça e m q u e vive mos, mas com o pod emo s achar nosso caminho por entre a insis tência dos vendedores e as mensagens subliminares qu e nos atin gem por Iodos os lados? Senti mo-no s golpeados pelas corrent es conflitantes da alta crítica, d o narcisismo, d o existencialismo, d o materialismo c d o niilismo, cada vez mais fortes. O s ouvintes parecem entorpecidos e inertes.
U m a d a s análises mais provocativas e p r o f u n d a s e m curso no cenário d a s c o m u n i c a ç õ e s c o n t e m p o r â n e a s é o livro Ámusing ourselues to death: public discourse in the age of show busincss {Morrendo de tanto entretenimento], d e Neil Postman. Profes sor d e c o m u n i c a ç õ e s na Universidade d e Nova York, Postman a r g u m e n t a q u e o s nort e-amer icano s merg ulh aram nuna trivialidade t ã o p r o f u n d a q u e está provocando a dissolução d o dis curso público. A televisão é o paradigma: Na televisão, o discurso é transmitido e m grande parte por meio d e aspectos visuais, o que eqüivale a dizer que ela nos fornece um^i conversação p o r imagens, não por palavras. O surgimento d o consultor d e imagem na arena política e o concomitante desaparecimento do escritor d c discursos, atesta o fato de que a televisão exige u m tipo d e cont eúdo difere nte do de outros meios d e comunicação. Sua forma trab alha con tra o conteúdo.'^ Postman afirma q u e a nossa idéia do que c a v e r d a d e t e m m u d a d o e m c o n s e q ü ê n c i a d o a b a n d o n o d a cult ura impress a, e m q u e a s pessoas Ha m. " D e s d e o início a t é o século XIX, o s Estados Unidos foram dominados pela palavra impressa e pela
n as e m p a r t e u m le ga do d a t r a d iç ã o p r o t e s t a n t e " . O s d is c ur sos dos grandes comunicadores de nossa história, religiosos ou seculares, foram modelados pelas páginas impressas durante aquilo que Postman chama de a "era da exposição". O primeiro passo dado para que a cultura passasse a ser cen tralizada nas imagens foi o telégrafo, que libertou os "demônios do discurso", a irrelevància em grande escala, a incapacidade e a coerê ncia. Hoj e a inf orm açã o desc ont ext ual iza da nos faz flu tuar num oceano dc informações, alterando muito o que Postman chama de "relação informação—ação". Em tempos passados, o que as pessoas sabiam tinha valor de ação [...] Desse modo, temos aqui um grande ciclo de impotência: as notícias trazem à tona uma variedade de opiniões sobre as quais não se pode fazer nada, a não ser oferecê-las como mais notícias, sobre as quais também não se pode fazer nada.'"* N a t u r a l m e n t e , esse novo m u n d o traz benefícios e não há p r o b l e m a a lg um c om o e n t r e t e n i m e n t o . Mas a televisão m o d e r n a se tornou a nossa cultura, transformando nossa vida numa "vasta arena para o show business".'^ Ela é a m e t á f or a de t o d o s os discursos. Tudo precisa ter valor de entretenimento. O comer cial be m- su ce di do é o qu e traz en tr et en im en to . O prog rama que atrai interesse é o que diverte. E necessário haver uma infindável sucessão de imagens novas, tentadoras e cintilantes. Assim como a tipografia certa vez determinou o estilo de conduzir a política, a religião, os negócios, a educação, a lei e outros assun tos sociais importantes, hoje c a televisão que assume o comando. Nos tribunais, nos centros cirúrgicos, nas salas de reuniões, nas igrejas e até nos aviões, os norte-americanos não conversam mais uns com os outros, mas se entretêm uns aos outros."' A metáfora da televisão é não-seqüencial, passageira e visual m en t e est imu lan te. A TV projeta ra pi da me nt e imagens carrega das de emoção. Temos os "políticos visuais", c o tele-cvangclista é uma celebridade. A igreja ainda não usou a televisão para ne-
nhum propósito sério, mas ninguém mais fez isso. O resultado é que os norte-americanos são o povo mais entretido e menos in formado do mundo. E nesse ambiente social que o comunicador cristão se ocupa da arte da pregação.
"E conhecerão a verdade..." E m b o r a e s t e e s t u d o c o m o um t o d o se esf orc e par a int era gir com essas questões, precisamos apresentar certos axiomas bá sicos para começar a esclarecer nossa posição. A igreja crista deve ser em primeiro lugar contracultural. A corrente predominante de nosso tempo e os doutores de nossa cultura apontam para o fim da "era da exposição", e o clima está voltado para o pluralismo, que faz da teologia ura assunto rele gado à indiferença. N ão pod em os ir por esse cam inh o. N u m a época em que "autoridade" é uma palavra proibida, ainda nos mantemos apegados à autoridade bíblica. Ouvimos aqui e ali q u e a preg ação foi exp urg ada da vida do b o m e m mo de rn o, ma s p o d e m o s ver a eficácia da c om u ni c a ç ã o verbal d e massa na es tridente década dos sessentas. Leio no jornal da manhã que a oratória de um dos políticos de boje "está indo ao encontro de uma platéia ansiosa". Seria um erro crasso os pregadores se desfazerem do sermão como algo que se possa negligenciar. Segundo, devemos levar a sério nossa antiga confissão, na qual dizemos "creio no Espírito Santo". E nisso que somos for talecidos e estabilizados para levar adiante a empreitada sobre natural da qual fazemos parte. O Espírito Santo está sempre p r e s e n t e na Palavra, c o m a Palavra e p o r t rá s da Palavra. A p r o messa da Palavra é que o Espírito Santo vai convencer o mundo do pe ca do , da justiç a e do juízo (Jo 16 .8 -1 1] . A tarefa de c om u nicar a sabedoria de Deus a nossa geração seria impossível de realizar sem a ação do Espírito da verdade. No próximo capítu lo tratarei de nosso relacionamento com o Espírito Santo e do pape! d e l e na vida e no mi nis té r io d o pregador. Terceiro, diante do desafio hercúleo da comunicação de nos sa era, precisamos dedicar o máximo de atenção para discernir
que adaptações na forma e no estilo devem contexttializar a men sagem aos ouvintes modernos sem com isso comprometer o con teúdo divinamente outorgado. A superestrutura dessa ponte para os ouvintes de fioje deve ser apoiada nos seguintes pilares: A pregação deve ser ilustrada. Embora alguns pregadores te nh am aban donado "a velha pregação conceituai", e muitos outros confiem quase que exclusivamente na pregação narrativa, alguns tciii demo rado muito para desenvolver habilidade e experiência no gênero narr.itivo. A teologia como história é a tendência atual, mas, infe lizmente, a história tem muitas vezes se tornado í\ "minha" histó ria, em vez de ser a história de Deus. Nossa pregação ficou muito majs próxima do hemisfério esquerdo — muito lógica, muito analí tica, muito propôsicional. Esses elementos essenciais podem ser comunicados de modo a estimular o hemisfério direito do cérebro, que é criativo, imaginativo, emotivo e pidórico. Precisamos mais de um pensamento que abranja todo o cérebro, menos do que se chama de "a doentia ditadura do hemisfério esquerdo".'' Voltare mos a este aspecto no capítulo 9. A pregação deve ser pessoal. Charles Haddon Spurgeon costumava dizer que nunca leremos dc fato pregado sc não dissermos "Você". Não pregamos para a congregação como u m todo, mas para cada indivíduo que forma a congregação. A pregação deve ser prática. Os mais fracos comp on en tes da pregação contemporânea são, infelizmente, a conclusão e a aplicação. Pre cisamos nos dedicar muito mais para ter aplicações eficientes por todo o sermão, o que é mais eficaz do que uma única aplicação compacta no final (o cap. 8 traz mais orientações sobre esse as pecto) . A pregação deve ser participativa. Creio qu e um dia não haverá mais o pregador que lê os seu s sermões. O papel não é u m bom condu tor de calor. O estilo oral cria a noção de contato entre o prega dor e .is pessoas. Toda maneira agradável de incrementar a im pressão de uma experiência de diálogo é útil Réplicas e variedade
A pregação deve ser objetiva. Poucos pregadores nos Estados Uni dos são capazes de pregar por mais de 30 minutos. Minha querida esposa sennpre me lembra que eu normalmente não digo muito mais coisas em 45 minutos do que poderia dizer em 30 minutos. Devemos levar em conta que os ouvintes são impacientes c que têm um período de atenção bastante pequeno. Até a televisão está se ad ap ta nd o a isso. Alien Funt , do prog rama "C an did Ca me ra " [Càm era indiscreta], diz que ele costumava produzir epi sódios que duravam cinco min utos. Hoje, esses episódios tê m em média dc um minuto e meio a dois minutas de duração. "Faça e vá embora", diz Funt.'^ Juntamente com P T. Forsyih, podemos la mentar nossa "fatal urgência pela brevidade", mas é sábio e sensível dc nossa parte reconhecer que os puritanos pregavam numa época diferente. Questões de forma e estilo que sejam tradições cultu rais, e não mandamentos bíblicos, podem ser adaptadas. Quarto, a pregação precisa se encaixar no plano da experi ência do culto como um todo. O ressurgimento do interes,sc na experiência do culto nos traz grandes esperanças para a edificação do corpo de Cristo e para o louvor ao nosso Deus, estando também relacionado com o desafio da pregação de nossa époc a. C o m bas tan te freqüência pens am os no se rmã o co mo uma arte separada do culto. Alguns de nós, líderes da igreja e dev oto s de um a liturgia livre, t ê m usa do exp res sõe s c o mo "m o mento de abertura" e "preliminares" para se referir ao período de adoração. Embora o sermão seja o clímax do culto, ele é uma parte integrante de um todo. Coisas impressionantes estão acontecendo entre nós durante o louvor, e isso é um bom prcsságio para a pregação. O planejamento cuidadoso do culto ao redor de um tema, mantendo o movimento c os passos adequados, é um grande desafio. O culto ortodoxo é como um drama, repetindo e retra t a n d o a história divina dos gra nde s ato s re de nt or es de D e u s
o assunto a ser abo rda do. In de pe nd en te me nt e de on de cstejanios em termos de liturgia, o conceito de que o sermão é uma p a r t e d o cu l to d e ad or ação c o m o u m t o d o abre vastos horizon tes de possibilidade.
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A necessidade de interpretar nossa cultura é a quinta conside ração. Assim como o pregador deve interpretar o te.vto a ser pre gado de maneira fiel e diligente, do mesmo modo deve interpre tar os padrões de pensamento e os sistemas de valores que mol da m c de te rm in am o co nt ex to de pe rc ep çã o dos ouvint es. Enquanto pastoreia seu rebanho, o pastor sensível capta certas nuanças que dão leves pinceladas no retrato da necessidade. Con t u d o , a tela como um todo precisa ser estudada. Livros como Habits of lhe heart: índividualism and co mm it me nt in Ame ri can life [Hábitos do coração: indiv iduali smo e co mp ro mi ss o na vida norte-americana], no qual Robert N. Bellah e vários co-autores estudam a qualidade do compromisso espiritual norte-america no, nos mostram, por exemplo, que "sentir-se bem" substituiu a exp res são "ser bom". '^ Crumbling foiindations: de at h and rebirt h in an age of upheaval [Fundamentos despedaçados: mo r te e re na sc im en to em um a épo ca co nt ur ba da ] , de Don ald G. Bloesch, ou Megatruth: th e ch ur ch in t h e age of In fo rm ati on {Megaverdade: a igreja na era da in fo rm aç ão ], d e Dav id Mc Ker ma , são exemplos de estudos pormenorizados que visam a ajudar o comunicador a sc aproximar do manancial da vida e do pensa mento modernos.^" O livro Evangeiicalism: th e comi ng genera tion \Evangelicalismo: a pró xima geração ], de Jam es D. Hun ter , tam b é m apr esenta u m a análise profunda e sóbria. The naked public square: religion and de mo cr ac y in Ame ri ca [Revelações em praça pública: religião e dem ocr aci a nos Estado s Un id os ], de Richard J. Ne ub au s, forn ece um a prof und a refle xão sob re a religião na vida pública dos Estados Unidos hoje.-' O estudo contínuo dá ao pregador u m a c o m p r e e n s ã o realista d e q u e m são seus ouvintes e onde estão. Precisamos de referenciais que nos digam se esta mos respondendo às perguntas que ninguém está fazendo e por que as perguntas certas não estão sendo feitas.
Em uma era de mudanças rápidas, o pregador bíblico não p r e c i sa se afastar d o c e n t r o n e m fazer ajustes d e s c u i d a d o s e sem sentido para se ajustar à última moda, Ainda assim, a revo lução nas comunicações modernas não nos dá oportunidade de si mp le sm ent e nos sen tar mos com pla ce nte s. Existe um a forte necessidade de o pregador considerar o que estamos fazendo e como podemos fazer melhor para a glória de Deus e o bem da igreja.
o que está acontecendo com os pregadores? A questão da espiritualidade
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ão seguiremos adiante na questão da pregação sem dar alguma atenção ao pregador. O texto pregado na minha ordenação tem sido uma constante em toda minha vida: "At ent e b e m para a sua pró pri a vida e para a do ut ri na " ( I T m 4.16). O apóstolo inspirado insiste: "Portanto, visto que temos este ministério pela misericórdia que nos foi dada, não desani mamos. Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e ver gonhos os; não us am os de enga no, n e m tor ce mo s a Palavra de De us " [2 Co 4. 1, 2) . O carát er do pr eg ado r e a na tu re za de sua caminhada espiritual estão intrinsecamente ligados ao fato da p r e g a ç ã o . Aristóteles tem muito a dizer que: sobre o caráter do orador em sua obra Retórica. Q u e s t õ e s c o m o p e r s o n a l i d a de , p r e p a r a ção e atitudes do orador são altamente significativas no discur so. A importância fundamental do caráter é indicada na insis tência de Aristóteles em dizer que a persuasão é alcançada pelo caráter pessoal do orador quando o discurso é proferido de forma a nos fazer considerá-lo crível. Acre ditamos mais plena e prontamente nos homens bons do que nos outros: isto é uma verdade geral, qualqiier que seja a questão, e é
A pregação da verdade de Deus não se faz sem referência à vida e à exp eri ênc ia do co mu ni ca do r h u ma n o . Isso não qu er dizer que o Espírito Santo não possa abençoar a Palavra de Deus em situações singulares, mesmo quando ela for articulada por um mau caráter ou um vigarista. Num episódio bem conhecido até a mula de Balaão foi o instrumento escolhido! Mas é curioso e ainda mais lamentável que tantos livros bási cos de homilética e cursos acadêmicos sobre pregação pratica mente ignorem os aspectos vitais da espiritualidade do prega dor. Isso é apenas mais um sinal de que a espiritualidade foi em grande parte banida da educação teológica protestante até bem p o u c o t e m p o . A fo rmação do caráter e d a - i d e n t i d a d e t e m sido deixada de lado cm favor de preocupações com o desenvolvi mento dc habilidades e competências exigidas para o ministé rio de hoje. Um dos mais estimulantes avanços em relação ã tarefa da pregação é a renovação do interesse pela espiritualidade cristã na igreja. A reedição de grandes clássicos e uma grande quantidade de novos títulos são testemunhas da vitalidade des se movimento. Ele se repete com novas ênfases em muitos se minários e escolas de formação. Várias edições recentes de obras c o m o Educação teológica, pub lica da pela Associação Ame ri ca na de Seminários Teológicos, tratam desse aspecto fundamen tal de pr ep ar ar es pi ri tu al me nt e os min ist ro s para sua taref a.- O p r eg ad o r da Palavra não é n e m v e n d e d o r n e m shounnan: el e é um porta-vozl £ por isso que nossa teologia da proclamação de ve estar i n t i ma me n t e ligada a nossa teologia de de vo ção . N i n g u é m a b o r d o u essa q u e s t ã o d e m an e i r a mais concisa e co nv in ce nt e do qu e Benjamin B. Warfield: "Nos sos pú lp it os pr e cisam que os santüs-letrados sc tornem pregadores. O objetivo p r i n c i p a l d o s e m i n á r i o t e o l ó g i c o é fazer isso acontecer".-* O p r e g a d o r d eve ser a l i m e n t a d o não ap en a s n o berçário d o a p r e n dizado, mas também no berçário da piedade. O dito de Agosti nho está essencialmente correto: "Comunico aquilo que vivo". John Ncvvton disse: "Ninguém pode formar um ministro, a não
subtítulo a sua obra voltada aos alunos do ministério: "Os anjos se preparam para tocar a trombeta".' O recente livro de Lyle E. Scballer, intitulado It's a different world: tbe challenge for today's pastor [O mundo mudou: o des a fio ao pas tor co nt em po râ ne o] ,' explica por qu e a dinâm ica esp i ritual int erio r é tã o vital hoje. Mu da nç as f und ame nta is est ão ac on tecendo na sociedade e na vida eclesiástica, o que faz ser pastor hoje muito mais difícil que era há trinta anos. Na vanguarda da batalha espiritual, o pastor-pregador d es c ob re q u e a televisão deu aos membros de sua igreja uma nova base de comparação. Com p e t i ç ã o m u i t o mais ferrenha, erosão das lealdades tradicionais, me no s ho mo ge ne id ad e na congregação e a mul tip hc açã o de op ções devido à nossa fartura, tudo isso põe nova ênfase na compe tência, na personalidade e no desempenho do ministro.
O pregador e a identidade em Cristo A obra de Erik H. Erikson e outros sobre a formação da identi dade tem demonstrado que uma base interior inadequada pode incapacitar a pessoa com uma autoconsciência exagerada, pro vocando uma tendência à fragihdade e à inaptidão nas questões interpessoais.*" Por outro lado, "Jesus sabia que o Pai havia colo cado todas as coisas debaixo do seu poder, e que viera de Deus e estava voltando para Deus; assim, levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura" (Jo 13.3,4], O equi líbrio e a noç ão dc pro pós it o do Salvador origin aram-s e da consciência que ele tinha de quem era e de uma relação har moniosa e correta com o Pai. Uma pesquisa feita com os alunos da Trinity Evangelical Divinity School indicou que os formandos desejavam ter rece bido mais assi,stência, na é p o c a d e e s t u d a n t e s , nas áreas d e a u t o compreen.são, auto-avaliação, avaliação de pontos fortes e fra cos e na cultura da vida interior. A crescente incidência de pro b l e m a s c o m o c l e r o a c e n t u a a c o n s c i ê n c i a d a s c r e s c e n t e s pressões, da ampla cjuantidade e varie dad e d e tarefas e das ex
Alguns de nós são muito introspectivos e tonscieneiosos. Na biografia d e dois v o l u m e s da vida d e G e o r g e W hi tcfi eld , escrita p o r A r n o l d A. D al l i m o r c , p o d e - se v er o ostinato con st ant e de sua luta interior: "Oh, que eu possa ser sério", suspira ele. "Toda semana eu clamo: minha pobreza, minha pobreza!" "Certamen te sou u m v er me inútil!" "Não me re ço ne m me s m o a pa te nt e d e soldado raso no exército de Cristo."' Uma angústia excessiva como essa pode ser debilitante. Alguns de nós são mais propensos ao "ego inflado", com enor me propensão ao auto-serviço. Seja qual for o extremo, o evan gelho é que nos liberta dessa obsessão por nós mesmos. Em Cristo eu enxergo minha infinita capacidade de me decepcio nar a mim mesmo, pois, na cruz de Cristo, devo reconhecer me us pec ad os e a per ver sid ad e de mi nh a natur eza deca ída . E aqui que encontro liberdade e alívio pelo perdão de todos os meus pecados por meio do sangue de Jesus, tornando-me uma nova pessoa em Cristo. Q u e r o me u pr ob le ma seja m as minu cio sas exigênci as de um superego altamente desenvolvido e seu resultante perfeccio nismo compulsivo, quer seja baixa auto-estima, meu direito de pregar e r e p r e s e n t a r o D e u s san to não d e p e n d e d c m i n h a s ob ras meritórias assim como também não minha salvação eterna. Eu vi a glória de D e u s , confes sei qu e sou i m p u r o e im pe rf ei to e meu pecado foi tirado (como em Isaías 6, o paradigma da cha mada do profeta). Minha carência interior de autoconfiança, mi nh a falta de ítr ati vi dad c ext erna c mi nh a edu caç ão s uper ior devem dar lugar ao determinante decisivo de minha identidade essencial: sou aceito em Cristo e estou sendo curado. Meu triste pecado, por meu Salvador Foi pago de um modo total. Valcu-me o Senhor, oh, que amor sem igual! Sou feliz, graças dou a Jesus. Hor a ti o G.Spafford
ça, por me io da re de nç ão qu e há e m Cr is to Je sus " (R m 3.24) fornecem a matriz para a identidade do pregador c senso de chamada e capacitação.
O pregador e a Palavra o ex-prinielro-ministro da Inglaterra David LIoyd George dis se: "Quando a carruagem da humanidade ficar atolada na lama, nada vai levantá-la de Ia a não ser a forte pregação bíblica que vai direto ao coração e à mente". A disciplina exigida para o "ministro da palavra" fiel e abalizado é admirável e exigente. Para alimentar outros, nós mesmos precisamos estar alimenta dos. Se desejamos dar, precisamos estar cheios e plenos. No livro O peregrino, Cri stã o vê cen as marav ilhos as qu an do chega à Casa do Intérprete, entre elas, o retrato de uma pessoa distinta pendurado na parede, Era assim; tinha olhos erguidos aos céus, o melhor dos livros na mão, a lei da verdade estava cm seus lábios, e estava de costas para o mundo, Ele SC colocava ali como que implorando aos homens e tinha uma coroa de ouro sobre a cabeça, Essa c a metáfora dc John Bunyan para o ministro cristão como homem da Palavra. Somente quando a Palavra for verda deiramente guardada em nosso coração é que seremos capazes de declarar sua verdade aos outros com autoridade e graça. Tudo o mais na piedade c no ministério pcs.soal se coloca em relação a uma vida real e diária das Escrituras. John A, Broadus, o notável estudioso e especialista em homilética ligado à Con venção Batista do Sul dos Estados Unidos, deu em seu último discurso grande ênfase a que todo pregador busca.sse ser "pode roso nas Escrituras" (At 18.24, ARA), l.sso significa muito mais do que fazer uma exegese disciplinada e rigorosa dos textos, vis an do à me lh or ia dos s er mõ es qu e vai preg ar. Significa u m estudo diligente, pessoal e devocional da Bíblia. E interessante notar que o mais prestigiado centro dc estudos islâmicos do
com trinta mil alunos. O prc-requisito para estudar ali é a capa cidade de recitar o Alcorão d e cor.** O al co ra o t e m 114 suras (capítulos) e cerca de 78 mil palavras. Essa é uma medida da disciplina e da devoção de outros. Martinho Lutero testificou que seu estudo da Palavra era se melhante ao ato de colher maçãs. Ele chacoalhava a árvore toda, d e m o d o qu e as frutas mai s ma du ra s pu de ss em cair. E m segui da, subia na árvore e chacoalhava cada ramo, cada galho e cada b r o t o . De pois, procurava de baix o d e cada folha. O pregador pr e cisa desse tipo de entusiasmo e estímulo pela Palavra de Deus. A congregação logo percebe se o pregador está fazendo novas des cobertas nas Escrituras, trazendo coisas novas e coisas velhas. O S al mo 11 9 é u m jard im dc med it aç õe s na Palavra d e D e u s sobre o qual Franz Delitzch afirma; "Temos difundida aqui a inesgotável plenitude do que a Palavra de Deus é para nós e de como devemos nos comportar cm relação a ela"." Esse salmo contém 183 referências à Palavra (usando oito expressões dife rentes para se referir às Escrituras). Um estudo das expressões usadas para definir nossa abordagem da verdade revelada na Palavra de Deus mostra que devemos buscá-la, nos alegrar nela, meditar (pensar delibcradamente nela; lembrar que a preocu p a ç ã o d e n o s s o t e m p o — e n t r e t e n i m e n t o — significa literal mente "não pensar em nada"), conservar, preferir, desejar, amála, del eit ar- se nela, le mb ra r- se dela, consi der ar e guardá- la e m nosso coração. * N o s s o S e n h o r J e s u s co nhe cia a Palavra, confiava na Palavra, amava a Palavra e usava a Palavra. E sempre um privilégio para o estudante das Escrituras estar na presença do autor divino. Como fã de Charles Dickens, já li as obras dele, conheço pro fundamente sua biografia, visitei lugares relacionados a ele na Inglaterra e pertenci à Comunidade Charles Dickens. Mas não tenho nenhum contato pessoal nem proximidade com Dickens em pessoa. Contudo, minha maior alegria é estar diariamente na presença do meu Deus e em seguir sua verdade com sua
d e n t e m e n t e d e outros livros o u obras q u e possam os c onb ece r m u i t o e gostar, a Bíblia continua sendo O Livro.
O pregador e a oração Seria estranho s e qua lqu er discussão sobre a pregação a conte cesse fora d o c o n t e x t o da oração do crente. Não e s t a r e m o s p r e pa r a d os e n q u a n t o n ã o or ar mo s. Karl Barth disse: " S e n ã o hou ve r grande agonia e m nosso coração, n ã o haverá gran des pala vras cm nossos lábios". O princípio aqui é o fato fr eq üen te me nte r e p e t i d o : " N i n g u é m t e m o p o d e r d e Deus para c o m o s h o m e n s se não tiver poder c o m Deus para o s ho me ns ". Ap esa r disso, e s t u d o s d e m o n s t r a m q u e u m a vida devocional morna é consi d e r a d a o problema mais sério q u e o s p a s t o r e s e n f r e n t a m e m sua vida diária. WiHiam Hulme pediu a d o z e m i l m i n i s t r o s luteranos n o s Estados Unidos que a p o n t a s s e m as áreas do mi nistério q u e lhes dão maior satisfação e as que mais lhes per tur b a m . O r e s u l t a d o f oi q u e 6 5 % d o s ministros estavam pert urba d o s c o m s u a vida devocional e 5 0 % disseram q u e a falta d e vida devocional causava-lhes grande estresse. William E. H u l m e afir ma que a vida devocional dá ao c r e n t e u m foco, o u c e n t r o , a par tir d o qual p o d e analisar a vida: a ide nti dad e.' " Isso precisa receber prioridade mais elevada. N ã o p o d e m o s representar D e u s diante d o s h o m e n s se nã o no s tivermos apresentado diante d e Deus. Portanto, para m i m é mais importante ensinar o aluno a orar do que a pregar. A avalanche d e livTos sobre o tema oração n o s lembra q u e é mais fácil conversar sobre oração d o q u e orar propriamente, mas a oração fa z tamanha diferença q u e u m a situação nunca é a mesma depois d e termos orado por ela. Exis tem mu it as coisas q u e nã o compreendo sobre a oração — estou ficando cada vez mais mísrico c o m relação a ela. Mas u m estudo indutivo do que a Bíblia diz sobre a oração reforça a convicção d e Blaise Pascal d e q u e "Deus criou a oração para nos dar o sabor d o q u e significa s e r u m criador". Aquilo e m q u e r e a l m e n t e c r e m o s s e d e m o n s t r a na maneira
afirmou: "Fico tão ocupado que não consigo gastar menos do que duas horas em oração". Jesus disse: "Vocês não puderam vi giar comigo nem por uma hora?" (Mt 26.40). Robert Murray McCheyne pediu a seus colegas ciue se voltassem para a Bíblia em oração. Em conseqüência, mais de trinta reuniões de oração aconteciam por semana na igreja dc Dundee, Escócia, sendo que cinco dessas reuniões eram exclusivamente para crianças. Dav id Brain erd falou a u m p e q u e n o gr up o de cristã os, o q u e a oração significava para ele: Orei em particular com um ou dois amigos cristãos próximos, Acho que poucas vezes lancei-me tão longe no imenso oceano com minha alma alegre e triunfantc sobre todos os perigos das praias da mortalidade. Creio que o tempo, todos os seus deleites atraentes e seus cméis desapontamentos nunca me pareceram tão sem importância. John Henry Jov/ett tinha um lugar especial para orar. No caso desse príncipe dos pregadores, era uma sala no andar su p e r i o r d e s ua casa. N o local, havia d u a s c a d e i r a s , u m a d e l a s es tav a se m p r e vazia. So br e a me sa , não havia na da a n ão ser uma Bíblia. Jowett se sentava numa das cadeiras, lia a Palavra e conversava com o Senhor. Diz-se que ele passava horas com o Mestre em profunda e doce comunhão. Cha rle s Ha dd on Spur geo n atribuía a en or me bên ção dc De us sobre seu ministério em Londres à fidelidade dos membros de sua igreja cm orar por ele. Conta-se muito uma história de que cinco estudantes universitários vieram ouvir Spurgeon pregar no Tabernáculo Metropolitano. Enquanto esperavam que as por tas se abrissem, foram saudados por um senhor que se ofereceu pa ra lhes m o s t r a r as instalações. "Vocês gos tariam d e c o n h e c e r nossa sistema de aquecimento?", perguntou. E claro que os jo vens não estavam interessados nisso, principalmente porque era dia quente de julho na Inglaterra. Ainda a.ssim, eles o seguiram,
dantes surpresos viram cerca de setecentas pessoas ajoelhadas em oração, intercedendo pelo culto que estava prestes a come çar no andar de cima e por seu amado pastor. Fechando a porta com cuidado, o homem se apresentou aos universitários. Era o p r ó p r i o S p u r g e o n . U m ad or ad or da Igreja Igreja Livre d e São Ge o r g e, a oe st e de Edimburgo, aproximou-se de Alexander Whyte depois de uma mensagem particularmente inspirativa e declarou: — D r . W h y t e , o s e n h o r p r e g o u h o j e c o m o s e t i v e s s e a c a b a d o de sair da própria sala do trono do Todo-poderoso — ao que Whyte respondeu: — P a r a d i z e r a v e r d a d e , s a í . O s segr edo s da vida ocul ta de oração e je ju m de v em ser bu s cados por aqueles que pretendem pregar não "somente em Pa lavra, mas também em poder, no Espírito Santo e em plena convicção" (ITs 1 .5). Precisamos nos acostumar à solitude e à altitude de George Muller, Hudson Taylor, Andrew Murray, Rees Howells e de Armin Gesswein. "Senhor, ensina-nos a orar",
O pregador e o Espírito Santo Precisamos ter a mesma preocupação que o apóstolo Paulo ti nha com sua pregação: Minha mensagem c minha pregação não coitóistiram de palavras pers pe rsua uasi siva vass d e s abed ab edoo r ia, ia , m a s c o n s is t i r a m d e d e m o n s t r a ç ã o d o po p o d e r d o Espí Es píri rito to,, para pa ra q u e a fé f é q u e vo você cêss t ê m n ão se base ba seas asse se n a sabedoria humana, mas no poder de Deus (ICo 2.4,5). O q ue tor na nossos plá cid os lagos lagos de pr os a con vin cen tes ? O que garante que as idéias em gestação vão nascer com vigor? Os expedientes não fazem isso — algo como descer da galeria para o púlpito equilibrando-se numa corda bamba segurand o uma rosa nos de nt es . E a reno vaçã o e a pl en it ud e do ben di to Espírito Santo que lazem com que nossa pregação seja viva. Uma evidência daquilo que denominei como um novo despertamento do interesse na espiritualidade cristã é a pubhcação de um excelente livro chamado Preaching in the Spirit
Kinlaw, do As bu ry Coi le ge [Pregando no Espírito], d e De nn is Kinlaw, em Wilmore, Kcntucky. Esse livro trata da necessidade dc ter mos total confiança no ministério do Espírito Santo, citando Alb cr t B. Si mp so n ao dize r qu e "som os possi bili dade s nulas at é que ele nos alcance"." Parece-me que o ministério do Espírito Santo se relaciona com a tarefa da pregação em pelo menos quatro aspectos: 1. O Espirito ajuda na preparação. Ele vei o par a no s gui ar a toda a verdade. Depois do Pentecostes, os discípulos de Jesus passaram a ter compreensão. Prega r é u m e m 2 . O Espirito dá coragem por antecipação. p r e e n d i m e n t o a u d a c i o s o . D e q u e m a n e i r a P e d r o , q u e h a via falhado tão catastroficamente, pôde se levantar e en carar toda aquela multidão com tamanha audácia e bra vura? Ele estava cheio do Espírito Santo. Nos sa total d e 3. O Espírito dá inspiração na apresentação. p e n d ê n c i a d o E s p í r i t o é a n g u s t i a n t e , c o m o s e v c e m Zacarias 4.1-14. Quando John Bunyan pregava na Lon dres do século XVII, atraía mais público do que os clérigos instruídos, porque era óbvio o poder por meio do qual ele pr p r e g a v a . O c o n h e c i d í s s i m o J o h n O w e n c o m p a r e c i a a o s se rm õe s de Buny an co m ba st ant e freqüência. Co nt a- se qu e qu an do Carlo s II exp re sso u surpre sa ao saber qu e u m homem com o conhecimento de Owen conseguia ouvir "o latoeiro pregar", Owen respondeu: "Se eu tivesse a ca p a c i d a d e d o l a t o e i r o , v o s s a M a j e s t a d e , a l e g r e m e n t e a b d i caria de todo o meu sabor".'Q u e m a c o m p a a 4. O Espírito acompanha a implementação. nha a boa semente que foi plantada? O Espírito Santo dará p r o s s e g u i m e n t o a s e u o f í c i o g r a c i o s o p o r t o d o s o s l u g a r e s aonde forem nossos ouvintes. Em todas as fases e todos os momentos, a necessidade gri tante é sermos controlados e cheios do Espírito Santo. Uma
Espírito, compartilhando tanto seus dons quanto seus talentos. "Deixem-se encher pelo Espírito" [Ef 5.18). Essa c a pregação que está debaixo da unção, que não se apoia na areia da carne, mas no óleo do Espírito Santo.
O pregador e a santidade pessoal A revista norte-americana norte-americana Time falou falou da "i ma ge m esf arr apa da do evangelicismo". Como se lê no artigo, o ministério tem sido grandemente desacreditado por escândalos sórdidos. O evan gelicismo aculturado tem-se encaminhado para uma queda e, p o r m a i s q u e seja se ja d o l o r o s o o e x p u r g o . D e u s f a r á c o m q u e s u a ira contra os homens redunde em louvor a ele! (v. SI 76.10), Todos nós precisamos da humilhação e da sacudida que recebe mos como um terrível lembrete de que devemos viver olhando pa p a r a J e s u s ( H b 1 2 , 1 , 2 ) . A c o n s c i ê n c i a d a r e a l i d a d e d o S e n h o r nos dá confiança para não ser arrogantes, O fato de Jesus ter vindo para nos salvar de nossos pecados (Mt 1,21) deveria fazer c o m q u e a igreja igreja fosse m u i t o di fe re nt e do mu n d o . Por me io d a graça santificadora do Senhor Jesus Cristo, Paulo pôde dizer: "Vocês sabem como vivi todo o tempo em que estive com vo c ê s " (At 20.18). Na tumba de Basílio (c. 329-379 d,C,), bispo de Cesaréia, há o seguinte epitáfio: "Suas palavras eram tro vão, sua vida um raio". McCheyne costumava dizer: "A maior ne ce ss id ad e das pess oas ao me u red or é a mi nh a sa nt id ad e p e s s o a l " . Co nt ud o, o pe ca do habita pr of un da me nt e de nt ro de nós. D. L. Moody falou sobre um jovem pregador que ouvira: "Ele é muito .semelhante a um machado", A doença dos pregadores abertamente mal-humorados e combativos: áreas de resistên cia disfarçadas na vida interior. Uma afiada observação do bió grafo de Gilbert Tennent (1703-1764) faz brilhar uma luz no p r o f u n d o d a a l m a d e t o d o s n ó s : " O e g o d e T e n n e n t e s t a v a s u j e i t o ao m e s m o su po st o orgu lho qu e figuras figu ras co mo Whi tef iel d, Zi nz en do rf e mu it os out ro s gr an de s pe rs on ag en s dos reavivamentos contemporâneos dos Estados Unidos e da Ingla
Desse modo, somos "chamados à santidade", a exalar a fragráncia de nosso Salvador àqueles que estão ao nosso redor por meio de uma vida gentil, compassiva e correta, cheia de pureza c integridade. Essa é a batalha diária contra o mundo, a carne e o Diabo, para a qual vestimos "toda a armadura dc Deus". Isso significa tomarmos posse da libertação prometida em Roma nos 6, onde lemos que "o pecado não os dominará" (Rm 6.14). En qu an to a justificação é ins tan tân ea, a santificação ca mi nh a r u m o à ma tu ri da de ( H b 6.1-3), o cr es ci me nt o "na graça e no c on he c im e nt o de nosso Se nho r e Salvad or Jes us Cr is to " (2Pe 3.18). Como sabiamente disse Oswald Chambers, "santi ficação é permitir que as pcrfeições do Senhor Jesus se expres sem por meio da personalidade humana". Alfr ed Lo rd Ten nys on definir o pe ca do c o m o "prá tica q u e arde no sangue". George Bernanos afirmou que respiramos o p e c a d o n a p r ó p r i a a t m o s f e r a . A i n d a a s s i m , s o m o s c h a m a d o s a ve nc er a batalha na nossa n ossa vida de p en sa me nt os , a tra zer "cativo to do pe ns am en to a Crist o". Ce rt o dia, dia , qua ndo estav e stavaa profunda mente desanimado, Frederick W. Robertson visitou um lojista membro de sua igreja. O vendedor mostrou-lhe um retrato de Robertson, pendurado na parede. Disse que todas as vezes que era te n ta d o a ve nd e r alguma coisa coisa d e qu al id ad e inferio r a al guém, olhava para o retrato de seu pastor e era incentivado a agir corretamente. Que tão bela obra da graça se realize tanto no meu q u a n t o . n o seu coração, para que possamos ser minis tros da nova aliança verdadeiramente capazes.
o que estamos fazendo com a estrutura? A questão da forma
O
grande \ivro de Pau! E. Johnson, intitulado Tempos mo dernos, co me ça afirman do que , n u m ce rto dia de pr ima vera de 1919, o mundo da física newtoníana, com to das as suas Unhas de força e ângulos retos, foi forçada a dar lugar ao uni ver so relativista e nã o- es tr ut ur ad o de A lb er t Einstein.' A reação contrária à estrutura de nossos tempos pode ser vista no protesto contra a idéia do sistema de Georg F. W Hegel, no qual a seqüência é tão importante. Soren Kierkegaard e os existencialistas, assim como os pragmáticos e os positivistas lógicos, argumentaram contra a estrutura. Esta é a era da evolu ção emergente de lioyd Morgan, com sua imprevisibilidade, e o princípio da i nd e te rmi n aç à o, d e We rner K. He isenberg. V emos esse clima no desenrolar da trama dos romances e no teatro do absurdo. O abandono geral da coerência da estrutura nas artes encontra sua derradeira expressão em Jacques Derrida e nos "desc onstru cionis tas", qu e at ua lm en te só m a n tê m influência e m lugares como a Universidade Yale, por exemplo, e só se preocu p a m e m p r o t e s t a r q u e a gramática é fascista e q u e não p o d e mos conhecer a mente do autor. Isso é o abandono de qualquer compreensão normativa do texto. "Nós fazemos os passos à medida que caminhamos."^ Há um tanto de verdade na noção de que a beleza analisada é
mais reduciünista sustentar que uma definição racional de amor é suficiente. Todavia, lamentamos muitos dos resultados da re ação contrária às estruturas que vemos hoje em dia. O prega do r dev e partir da exe ges e do te xt o para a mo de la ge m do ser m ã o . A pro pos içã o ce nt ra ! deriv ada do te x to e dese nvolv ida co m material de apoio deve ser embalada de modo a se adequar à forma de co mun ica çã o. O co nt eú do dev e rec ebe r forma. O modo clássico e tradicional tem sido projetar uma série de idéias p r i n c i p a i s e s u b i t e n s p a r a d e s e n v o l v e r o a r g u m e n t o . A g o s t i nho insistia que tanto a seqüência quanto a eloqüência são ne cessária s para o dis cu rso efi cie nte, u m proc es so qu e a re tó ri ca clássica chama de invenção (as idéias) ca mi nh an do para o ar ranjo ou a disposição (a orde naçã o das idéias). De mó st en es re conhecia que a persuasão dependia tanto da ordem da apresen tação quanto da força do argumento. His tor ica men te, a pregaçã o t e m enfatizado por de ma is as partes , t r a n s f o r m a n d o o p re g a do r n u m or ad o r cuja análise b e m p la ne j a da f a c i l m e n t e se t o r n a u m fim e m si m e s m a . J o h n A. Broadus fala da "excessiva multiplicação de divisões e subdivi sões formais".-' Triunfou o modelo silogístico, os famosos três p o n t o s seguidos d e u m final e l ab o ra do . Essa g r a n d e ênfase n e o escolástica na estrutura produziu muitas fraquezas na pregação, incluindo o altamente ornamentado sermão verniz francês. A reação da cultura geral contra a estrutura e o excesso vitoriano aconteceu há cerca dc um século, quando Matthcw Arnold argumentou que o sermão deveria se parecer mais com um discurso informal sem divisões. Em termos mais moder nos, o mote passou a ser "fora com a homilética enlatada", em que tudo é picado e cortado em cubos; as velhas formas são sim ple sme nte a reedição do pe ns am en to aristotélico, inadequa do e impróprio. O resultado é que muitos pregadores criaram o que se pode chamar de redação oral. A tendência é que grandes reservatórios de protoplasma literário sejam liberados para fluir simultaneamente em todas as direções. O sermão se parece com
tou a essa era dc hesitação que se dá no crepúsculo da autorida de, mas será que seria satisfatório se aplicássemos a frase "as sim diz o Senhor" às ambigüidades estudadas de nossa era? Não quero me antecipar aqui na questão das formas não atrativas, mas os disjecta membra (part es espa lhad as] dc mui tas prega ções modernas não nos levam a lugar algum. Vam os de fe nd er aqui a co mu ni ca çã o holística, u m pa dr ão gestáltico com forte afirmação dos pontos principais e diminui ção deliberada da ênfase nos subitcns, O modelo poderia ser o de um a ár\'ore, co m tr on co , galhos e ra mo s fo rm an do u m to do orgânico dotado de beleza e simetria. Também poderia .ser visto como um filho, um bebê em vez de um edifício. O reverendo Canon Charles Minifie, presidente do colégio de pregadores de Washington, DC, obser\^ou que o pêndulo está oscilando de vol ta "ao retorno para as velhas maneiras de colocar juntas as par tes de um sermão. Não somos mais iludidos pelas teorias da com uni caç ão que se dese nvol veram no m u n d o aca dêm ico de baixo d o i m p a c t o da televisão".*
A defesa da estrutura Há pregações que poderiam ser definidas como um labirinto se m ma pa . Algum as t a m b é m se pa re ce m co m u m a discussão nada esclarecedora sobre problemas irreais em linguagem ininteligível. O resultado c o mesmo de atirar um ovo no venti lador, O sermão deve ter forma e conteúdo, Ronald E, Sleeth falou sobre o desprezo ao pensamento linear com todas as suas limi tações, mas concordou com Roger Copeland, o dramaturgo, q ue o p e n s a me n t o linea r e a lógica aris totél ica ainda t ê m "fo rte p o d e r t eat ra l a g u a r d a n d o p a r a ser l ibera do, tal c o m o ma t e r i a l físsil se aproximando da massa crítica".' Sleeth concluiu que deve haver um movimento de progressão no sermão. Mesmo David G. Buttrick, que dá muita ênfase ao que espera venha a ser o desmantelamento da velha homilética, reconhece que "todo
que um murmúrio engenhoso, então o arranjo correto da for ma é fundamental. Substância e forma, porém, influenciam uma à outra. Cada um dos sermões de Paulo desenvolve um tema ao redor de um único pensamento. Há muito tempo, Aristóteles disse que a beleza depende de ordem e de magnitude. E neces sário baver alguma magnitude para que se possa organizar, pois a elaboração de algo insignificante não faz que isso deixe de ser insignificante. A empolada elaboração do óbvio não faz nenhu ma contribuição positiva, O pregador fica com a aparência de um hipopótamo cassando uma ervilha. Mais de vinte oradores no encontro anual de oratória cha mado "Oradores Beecber", realizado na Universidade Yale, se concentraram em organizar e arranjar o sermão de modo que ele tenha maior eficácia. Alguns zombam do esquema "1-2-3", mas é necessário haver um método pelo qual o progresso e o movimento da ação possam ser mensurados. Assim como nos esportes, existem certas linhas e demarcações necessárias. Os p o n t o s principa is d e u m s e r m ã o são c o m o t a c a d a s sucessivas do golfe para se chegar ao buraco. Há mais coisas a dizer em favor da clara afirmação dos pontos principais do que contrárias a eles. Alvin C. Rueter chama a clareza de o "fator alça" para ajudar as pessoas a entenderem o sermão.' Se a alça precisa ser invisível, ela não é funcional. A afirmação dos aspectos princi pais dá aos o uvi nt e s o q u e o título da notícia d e u m jornal ou d e um livro dá ao feitor. São indispensáveis para a comunicação. A criatura marinha que tenta caminhar na terra seca sem ser do tada de esqueleto se espalha no chão feito gelatina, como desta ca Ha lfo rd Lucc ock. Austin Phelps sustentava que o sermão é uma estrutura e qu e fazer a classificação de um mat er ial te n d e a unificá -lo. Blaise Pascal observou que "bons pensamentos são abundantes, mas a arte de organizá-los não é". Gerald Kennedy achava que a falta de organização é a maior fraqueza na pregação de hoje. Apren demos mais facilmente sobre os assuntos que nos são apresen
p e n s a m e n t o organizado. N a falta d c c o n e x ã o da vida m o d e r n a , existe também um grande clamor pelo senso de ordem e arti culação, assim c o m o carê ncia pel o nosso D e us da or de m. U m a afirmação clara e tocante sobre essa necessidade não satisfeita a nível pessoal foi feita por "Rebecca", uma mulher cujos sérios p r o b l e m a s emocionais for am descritos p or Oliver Sacks. O l h a n do para o carpete do consultório, Rebecca disse ao terapcuta: "Sou como uma espécie de carpete vivo. Preciso de um padrão, um desenho, assim como esse de seu carpete. Se eu não tiver u m p adr ão, eu m e desf aço, eu de sm an cho ". ^ E por isso q u e o sermão também precisa ter um padrão. O sermão também deve ter em vista um destino, ao contrá rio da flecha atirada ao ar: "Ela caiu na terra, não sei aonde". Clüvis Campbell costumava dizer que o sermão deveria ser como uma jornada: você começa, viaja e chega. E isso que a estrutura possibilita. A estrutura precisa de um esboço que estabeleça claramente quais são os pontos principais. Jean Ciaude (1619-1687), o pre gador buguenote francês, reconhece em seu estudo sobre "a composição de um sermão" que as divisões do texto bíblico devem se repetir nas divisões do sermão a ser pregado sobre esse texto. Essas divisões devem ser poucas, nunca mais do que quatro ou cinco, de preferência duas ou três. Alguns estudantes da arte tem dificuldade de fazer esboços, de modo que deveria haver mais prática e aplicação nesse aspecto, porque esboçar corretamente os pontos principais é fundamental. Muitos pon tos enfraquecem o aspecto principal. Também é bom que a es trutura se mostre, mas que não seja multo esquelética, tal como uma vítima de fome prolongada. Faça com que esses pontos pr incipais se d e s t a q u e m , p e r m i t i n d o q u e cada palavra r e c e b a ênfase forte e plena. Se a forma de esqueleto parecer multo p r o e m i n e n t e ou i n o p o r t u n a , a saída não é r e m o v e r a e s t r ut u r a , mas revesti-la de tecido vivo. Em resumo, a reação contra a estrutura tem sido desastrosa
da qual viemos. O sermão didático precisa de um esboço claro sem que se destaque dos subitens. Algumas formas mais inova doras e o sermão narrativo, hoje tão em voga, possuem regras básicas t o t a l m e n t e d if er ent es, o q u e será di scu ti do n o s cap í tu los a seguir. Por ter um forte laço com o senso de projeto claro e convincente das porções didáticas das Escrituras, percebo que preciso d e o u t r o m o d e l o ou p arad ig ma para a narrativa. Temo s nela uma gama maior de opções e um gênero completamente diferente. Porém, em todos os casos, a sensibihdade ao texto deve determinar a estrutura.
A nova homilética Foi só uma questão de tempo para que a nova hermenêutica fosse seguida dc uma nova homilética. A obra de Buttrick já foi criticada por sua visão falha das Escrituras, mas deve ser lida p e l o e s t u d a n t e sério dessa a r t e . B u t t r i ck é u m d emolicion ista, mas ainda entende que "os sermões implicam uma seqüência orden ada".^ Co nt ud o, curva o dor so homi léti co dian te do qu e j ul g a e s t a r m u i t o p r ó x i m o da a b o r d a g e m d a e s t r u t u r a na homilética tradicional. Rapidamente concordaríamos que mui to sermões são ccrtinbos demais. São proferidos em porções separadas com precisão, cm pedaços e partes que se encaixam p e r f e i t a m e n t e . Ele p r o p õ e q u e , c m vez d e falar d e p o n t o s d o sermão, devemos pensar em "movimentos". O simples fato de citarmos essa rnetáfora já nos dá uma idéia de fluidez. Em vez de termos um esboço, temos um plano e, ao contrário da pro posição, t e m o s a i n t en çã o . Há u m p o u c o d c sen ti do nisso. A essência da argumentação de Buttrick c que a velha prega ção conceituai está fora de moda. Temos disponibilidade de tem p o m u i t o m e n o r e d e v e m o s usar imagens. "Planejar m o v i m e n t o s implica teologia inteligente e habilidade retórica", afirma.'" Tal como um ponto, um movimento coerente se abre, se desenvolve e se fecha. Contudo, o movimento é mais precisamente estrutu rado se não tiver mais do que três partes internas. O grande peri go é fragmentar o movimento e dividir o campo de consciência,
Buttrick se opõe à enumeração dos movimentos porque isso introduz a idéia de tempo c induz à inquietação. Abstendo-sc das transições tradicionais, ele deseja a conexão que não supri me a identidade distintiva de cada movimento. De modo ne nhum fica claro em que aspectos isso é substancialmente dife rente dc nosso desejo de ter uma transição suave. Ele é total mente contrário ao anúncio prévio do plano. "Positivamente, a destruição do suspense é indelicada,"" É estranho, mas a narrativa pessoal é um tabu. A objeção de Buttrick é o perigo de dividir o foco. Um exemplo é reservado para cada m o v i m e n t o e nunc a se d e v e colocar mai s d o q u e t rê s exemplos encadeados. Da mesma forma, permite-se uma ilus tração para cada movimento. O alinhamento da ilustração com a força do movimento é muito enfatizado. Buttrick realça a im portância d o encaixe perfeito d e u m a ilustração c o m aíjuilo q u e ela ilustra. Os movimentos cruciais precisam ser ilustrados; ima gens comprimidas no campo comum da consciência atingem facilmente seu propósito.'^ Buttrick promove uma grande cruzada contra os pontos está ticos do sermão, mas não quer que os ossos do sermão apare çam. Sua aversão a qualquer idéia de uma autoridade fixa das Escrituras transforma o tão subjetivo campo atual de consciên cia no ponto da determinação decisiva.'-* Seu próprio livro care ce de notas de rodapé para documentar extensas declarações, uma demonstração dc que ele se alegra em viver sem submeterse 3 nenhuma autoridade, Como ele mesmo diz, "não estamos transformando um texto num sermão, mas, em vez disso, esta mos representando um campo de entendimento na forma de ser mã o — um ser mão contemporâneo".'•* E ve rda de que não prec i samos necessariamente usar um texto ou extrair idéias das Escri turas. Na consciência contemporânea, o sentido é quem comanda to ta lm en te o ca mp o da her men êu tic a hu man a. O pregador se p õ e n u m trágico agnosticlsmo d ia nt e das Escrituras, e m vez d e se aproximar do texto sagrado com a humildade devida, Na visão
hoje o significado original d o s t e x t o s " . ' ^ A nova her men êut ica chegou ao ápice n a nova hotnilética. Existem algumas idéias e x t r a o r d i n a r i a m e n t e ú t e i s a ser descobertas aqui n o s a s p e c t o s d a e s t r u t u r a e m relação à c o m u n i c a ç ã o d e hoje, m a s , e m t e r m o s essenciais, isso é receber u m a pedra qu an do precisamos de pão.
Dividindo a proposição centrai
Nossa p r i me i r a respo nsab ili dad e é d e s c o b r i r o que o te xt o q uer dizer e, então, pregar o que ele diz. O p r o p ó s i t o d o s t ó p i c o s é desenvolver e c o m e n t a r a idéia central o u a proposição d o ser m ã o . O s tópicos precisam t e r relação clara c óbvia c o m o t e m a que está sendo desenvolvido. Para ilustrar essa afirmação, veja a seguir exemplos e m q u e isso não acontece; Sobre Gênesis 1.1: I.
D eu s criou a terra.
II. De u s criou a terr a co nt en do três quarto s d e água.
III. D e d u z o q u e existe aqui u m princípio para o batismo.
S o b r e o texto "Balaão levantou-se pela manhã, p ô s a sela s o b r e a sua j u m e n t a " : I.
U m b o m traço pessoal e m u m caráter ruim.
II. A a n t i g ü i d a d e d a selaria.
III. Alguns pensamentos sobre a m u l h e r d e Samaria."'
Ao apresentar os tópicos, tenha o c u i d a d o d e usar u m a b o a forma homilética. Varie a quantidade. Três tópicos são o mais c o m u m . U s a r m a i s q u e q u a t r o t ó p i c o s n ã o é a l g o m u i t o exeqüível. Frederick W R o b e r t s o n e W a l t e r A . Meie r u sav am s e m p r e d o i s t ó p i c o s , n o r m a l m e n t e s e g u i n d o o p a d r ã o p r o b l e
,Iüão Calvino usava duas e Alexander Maclaren usava três divi sões nat urai s e mem or áv ei s. H en ry P. Li dd on usava trê s su btí tulos, e os sermões textuais de Charles Haddon Spurgeon em p r eg av am a subdivisão aristotélica. A própria declaração dos tópicos é uma importante habili dade a ser desenvohnda. Embora possam ser usadas frases, ora ções e palavras únicas para anunciar os tópicos, as orações com p l e t a s , com sujeito e predicado, são mais assertivas. As ora ções completas servem de base ao nosso argumento. A sentença declarati va é mel ho r, co m uso ocasional do im pe rat iv o. Usa r muitos imperativos c pesado para a congregação. A exortação e a ad mo es ta çã o surgirão no fe ch am en to de sse tó pic o ou mo vimento, de modo que não é necessário transformar o próprio título do tópico em imperativo. O uso do nome de Deus é sempre adequado, mas preferencialmente não use nomes pró prios d o s t e m p o s bíblicos, u m a vez q u e c r i am distância t e m poral e n t r e o t e x t o e seus ou vi nt es, O u s o d a p r i me i r a pessoa do plural tende a fazer que o público seja motivado a agir. Os tópicos devem ser discretos, ou seja, mutuamente exclusivos. Haverá problemas no desenvolvimento se dois tópicos forem si mp le sm en te maneir as difer entes de afirmar a me s ma v erda de. Os tópicos devem ser sintaticamente paralelos, O uso cui dadoso de aliteração e assonância pode ajudar tanto o prega dor quanto o ouvinte a se lembrar do esboço. O melhor uso da arte é ocultá-la. Existe uma técnica para definir os pontos principais que traz vida ao sermão, ou seja, ele passa a ser uma arte que comunica. Às vezes o título do tópico fica confuso por causa das palavras utilizadas, O arcebispo James Ussher observou que é preciso reunir todo o conhecimento para deixar as idéias bastante cla ras. O dr. Obvio poderia tentar pegar o seguinte esboço, mas os p o n t o s são m u i t o p r ó x i m o s : I.
Moi sés foi u m h o m e m fabulo so.
II. Moisés foi u m h o m e m b o m.
o di scu rs o a ni m ad o e a ação par ti cip ati va são o co ra çã o da comunicação bíblica. O uso do tempo passado, nomes próprios m u i t o antigos e ve rb os fracos co m adje tiv os triviais só se rv em para arruinar a m e n s a g e m . O p r e g a do r j o v e m n o r m a l m e n t e faz muitas tentativas, mas o resultado é desajeitado. Aprenda a de limitar. Como Ronald Ward gostava de dizer, "afinal, o sermão é u m a monograf ia, não um a encic lopé dia" . Perceba t a m b é m q u e , no esboço sobre Moisés, não foi usado nenhum texto. Este se rm ão t en d e a te r u m to m moral ista . M e s m o se o t e x t o tivesse escarlatina, o sermão não a pegaria. O livro Designing for preaching [Planejando a pregação], dc H. Grady Davis, ajuda bastante no desenvolvimento do pensa m e n t o a par ti r dos tó pi co s. Ele afirma qu e "a pr eg aç ão real mente boa sempre usa o tempo presente".'^ A Bíblia não é uma fábrica de antigüidades. Corremos o risco de ficar presos den tro do próprio texto, naquilo que jamais poderemos tirar do mundo antigo e de suas circunstâncias. Davis apela para que não entreguemos às pessoas os cavacos que produzimos ao esculpir a estátua, mas sim a própria estátua. Ele nos lembra que as primei ras palavras qu e nos so Se nh or Jes us falou pu bl ic am en t e for am pr onunciadas no t e m p o pr e s en t e: "Hoje se cu mp ri u a Escri tura qu e vocês acab ara m de ouvir " [Lc 4. 21 , grifo do aut or ). Gosto de ter à mão uma folha com os diferentes tipos de esboço de sermão quando vou planejar as declarações dos meus tópicos. Broadus e otitros autores têm uma boa lista. Termos criativos co mo "a escad a", "o di am an te ", "pr obl ema — solu ção", "jogo de adivinhação", "a dialética", "briga de cachorro" e "o subversivo" descrevem diferentes padrões que pod em ser usad os visa ndo a me lh or ia do se rm ão .
Além do esboço lógico, existe o esboço emocional, raramente
momentos de grande intensidade e, em seguida, um retorno aos momentos dc descanso para a congregação. Trabalhar a meia força o t e m p o t od o nã o funcion a. O m e s m o oc orr e se us ar mo s sempre a carga máxima de energia, como se fosse um raio de brilho c on s t a n t e q u e m m c a cai e m lugar algum. Os sermões aRmdam por falta de um esboço emocional. É muito comum vermos uma explosão de entusiasmo num tópi co inicial longo e forte. O segundo tópico tem cinco minutos a menos e o último é apenas uma bala que passa zunindo. A curva emo cio nal é de sc en de nt e. Preci samos equilibrar os tóp ico s. O p r i m e i r o e o ú l t i m o r e q u e r e m c u i d a d o especial. Existe u m rit mo emocional na pregação que é especialmente dominante nos se rm õe s das igrejas negras dos Estad os Uni do s. É u m a espéc ie de "bate-bola" que é parte integrante do padrão tradicional das igrejas de negros. Trata-se da resposta rítmica da congregação à expressão crescente de emoção por parte do pregador. E um tipo de diálogo magnífico, raramente experimentado fora des sas igrejas nos Estados Unidos. Atri bui -se a Ralp h Wa ld o Em er so n alguma s consi deraç ões sobre uma série de sermões que proferiu: "Uma preparação fria e mecânica [...] coisas boas, interessantes, sábias, mas des p r o v i d a s d e flechas, d e m a c h a d o , d e n é c t a r , d e r o s n a d o , d e p e n e t r a ç ã o , d e a m or , d e e n c a n t a m e n t o " . Isso d e s c r e v e u m a experiência que todos nós já tivemos na pregação. A falta de ignição pode ser causada por alguma coisa em nosso coração, em nossa preparação ou na congregação. Também pode ser conseqüência dc nossa estrutura. O esboço emocional pode ser distorcido por causa de tópicos fracos. Podemos, por exem plo, ter um primeiro tópico que explode com tanta força e di na m is mo qu e o re st o só p o d e fluir ladeira aba ixo . Isso po d e fazer co m c^ue t e n h a m o s de deli mi ta r o pr im ei ro tó pi co ou reformular e reagrupar nosso material. De vez em quando ou vimos uma ilustração logo no começo do sermão que é tão p o d e r o s a q u e faz c o m q u e o r e s t o da m e n s a g e m j o r r e c o m o uma fonte. Pode ser excessivo em outras partes, mas, quando
ap ar ec e logo no co m eç o, o pr eg ad or fica co m u m sério pro b l e m a d e r e c u p e r a ç ã o nas m ã o s . N u m a situação ideal, o p a d r ã o d e u m s e r m ã o p o d e ser defi nido como sinfônico. Precisamos de movimentos que promo vam um crescendo e, depois, precisamos diminuir. A diminui ção da força e do volume é importante para alcançar o que se chama de clímax na filosofia aristotélica. Por vezes, descobri mos que a ação está nos subitens, em vez de nos tópicos princi pais. Isso exige uma mudança na estrutura de modo que os tó picos principais e f e t i v a m e n t e c o n d u z a m o s e r m ã o . A q u e s t ã o não é se vamos tentar usar a estrutura, mas como vamos usar os componentes estruturais que de fato melhoram a comunica ção do evangelho duradouro.
o que faz um sermão fluir? A questão da fluidez
A
p r e g a ç ã o t e m r e c e b i d o p o u c a s críticas elogiosas a tu al mente. O interesse não tem sido alto. A pregação tem dc ser mais atraente que um jogo de futebol, mas nor malmente é tão sem graça quanto uma gelatina sem sabor. Em nossa pesquisa, pedimos aos pregadores que dessem nota de I a 10 para sua pregação. Os pregadores deram notas entre 5 e 6, m a s os ouv in tes varia ram de 1,5 a 4. H e n ry W ad s wo rt h Longfellow poderia muito bem estar descrevendo sermões quan do escreveu; Cada vez mais escuras, as negras nuvens caem. Sono c desânimo é o que vem. Os movimentos da congregação variam entre pestanejar, bocejar e "pescar". Não é à toa que muitos membros estão se filiando à igreja do colchão. Um dos principais problemas do sermão moroso é a falta de movimento. A história do pássaro que entrou no santuário e fi cou voando durante o sermão é oportuna. Um dos diáconos esta va perturbado com a distração, mas outro o consolou dizendo: "Graças a Deus alguma coisa está se mexendo!". A percepção geral de que grande parte dos sermões é desinteressante e sem vida levanta a questão da fluidez e do movimento dentro do con
Vam os part ir da prem issa d e qu e o pr eg ad or t e m algo a dizer. O movimento está fora de questão sc não existe substância. Charles Haddon Spurgeon ressaltou que as pessoas ouvem com avidez a leitura de um testamento no tribunal e um homem presta muita atenção quando o juiz pronuncia sua sentença. Devemos fazer muito mais do que nos prender a detalhes insignificantes, pois as pessoas ^já viveram tempo demais comendo apenas as migalhas da Palavra de Deus. Joseph Conrad disse que "o que vem fácil favorece uma interpretação insípida". Isso também se aplica à pregação.
Movimento dentro de um sermão Devemos continuamente procurar idéias — para evitar simplifi cação excessiva — c pensamentos esclarecedores por meio de um trabalho duro em cima do texto. Todos os a.spectos relacio nad os à pregação eficiente são tra bal ho ár du o. Co m o r esul tad o, às vezes par ece que viv emos nu m tip o de crepú.sculo espirit ual, ve nd o, p or um lado, coisas vagas e, po r ou tr o, pr ofu nd as riq ueza s da verdade de Deus, ainda que mostradas de passagem. James R. Bjorge fala de uma mtdher que estava à margem do maravilhoso lago Louise, em Alberta, Canadá, e perguntou: — O senhor poderia me dizer onde podemos encontrar o lago Louise? Meio confuso, o homem respondeu: — Minha senhora, este é o lago Louise, A mulher deu uma olhada, entrou no carro e disse ao marido: — Querido, já vimos o lago Louise! Deram meia-volta e foram embora.' Essa mentalidade de turista às vezes se transporta para a pre p a r a ç ã o da p r e g a ç ã o . Mas até o sermão mais bem preparado pode se estragar, e uma das razões é o ritmo da entrega do sermão. Alguns fazem isso tão rápi do, qu e ou\'i-los é se me lh an te a be be r água d e u m hid ran te. N e m s e m p r e a pregação p o d e ir n o ritmo de u m galope O movi
ria. N o se rm ão ta in bé m existe um tipo de inat ança homilética. O problema mais c o m u m é que, e m VC7. d e te rm os a leveza de u m beija-flor, nós nos arrastamos n u m estilo elefantino, ou seja, volu moso e pesado demais. Em outras situações, descobrimos o que alguns chamam de "sermão roda-gigante", aquele que fica girando e nunca chega a lugar algum. Se a fluidez ou o mo^mento forem mí nimos, o sermão tenderá a se tomar circular e repetitivo. Poucos são os pregadores que não precisam de ajuda quando o assunto é fluidez.
Bem-aventurado é o pregador que consegue fazer seu sermão decolar sem precisar gastar muito tempo. A decolagem — ou introdução — é essencial na determinação da fluidez. A intro dução é o contrato de comunicação. Se o pregador não cativar a atenção da platéia nos primeiros dois ou três minutos, cie p r o v a v e l m e n t e não conseguirá mai s fazer isso. C í c e r o a r g u m e n tava que a introdução visa a três objetivos: desperta o interesse, assegura o favor dos ouvintes e serve de rumo. A introdução não de ve du ra r ma is do qu e 1 0% a 1 5 % do te m p o da pre ga çã o como um todo. Diz-se que John Owen gastava tanto tempo co locando a mesa que as pessoas perdiam o apetite pelo sermão. Existe um ditado entre os pregadores segundo o qual a introdu ção é como um portão para um campo aberto, e o pregador não deve levar muito tempo para abri-lo. Como Euclides sabiamente observou, o mau começo signifi ca u m final ru im . Port ant o, o pre gad or precisa ded ica r b as ta nt e atenção ao início. Não deve começar a falar antes de chegar ao p úl pi t o e d e t e r e st a b e le c i d o c o n t a t o visual c o m os ouvintes. O pr e ga do r não de ve deixar qu e a cascata homi lé ti ca jorre m u i t o depressa. A introdução deve ser relativamente curta, senão para on de irem os depois dela? Con str ua o mo vi me nt o gra dua lme n te . Existe muito de verdade nos versos que dizem: Comece pequeno, fale sereno, Vá cresc end o cm" fogo bra ndo , Prossiga com tranqüilidade, sente-se durante a tempestade
Meu ex-colega, Lloyd M, Perry, sabiamente aconselhou que a introdução deve ser composta dc poucos movimentos. O pe rigo de falar muito nesse ponto é bastante óbvio, conforme tra tado em outro trecho poético: Para fora corre este ofegante dizer Levando tudo, sem a ninguém convencer H. Grady Davis cita Giibert Highet quanto à importância das primeiras palavras de um livro: "não precisam ser impres sionantes n em me s mo claras. Mas de ve m pren de r a m en t e do leito r e co me ça r a mo ld ar -l he a disposição".^ C om eç ar u m sermão usando a frase "o texto desta manhã é" significa colo car e m risco a ace ita ção p or pa rt e do s ouv int es. Fr ed Cr a d d o c k adverte os pregadores dizendo que devem construir o ninho antes de botar os ove^,. Estude as linhas de abertura das gran des peça s literárias. A abe rtu ra est abe lec e u m to m de confian ça, como Gertrude Stein enfatizou para um jovem escritor norte-americano que estava timidamente servindo chá a seus convidados na sala: "Quando servir, meu jovem", vociferou ela, "sirva co m co nv ic çã o! ". ' G eo rg e Orvvell inicia a obra 1984 destacando: "Era um dia claro e frio do mês de abril e os reló gios batiam 13 horas". Dividir a introdução é construir uma barreira para a fluidez. Os antigos pregadores alemães costumavam apresentar a intro dução antes dos textos, mas é preferível ler o texto em primei ro lugar, talvez antes do sermão, dentro da ordem do culto, ou imediatamente após ter-se levantado para pregar. Uma intro dução dupla, alternando entre um ponto de contato contempo râneo e considerações contcxtuais, cria dificuldades. Esses ele mentos devem ser cuidadosamente relacionados, tendo algum assunto de fundo introduzido no corpo do sermão. A introdu ção deve ser a mais direta possível, um tecido sem costura, em qUe a primeira transição se dá na direção do corpo da mensa ge m e do prim ei ro tó pi co Davi d G. Bu ttr ick é ba st an te claro
a solução para o nosso problema não é planejar um a introduç ão em duas partes [...] pois essa introdução não ofereceria um foco único para a compreensão. De alguma maneira a introdução deve evocar \im campo gerai de significado' e, ao mesmo tempo, pre parar-nos para um primeiro movimento.'' Já vimos anteriormente sua advertência contra o anúncio prévio dos t ó p i c os ainda na i n t r o d u ç ã o . S e m p r e q u e possível, mantenha todos os fatores de suspense possíveis. A forte tendência na pregação de hoje é o afastamento de asstintos ligados ao fundo histórico e de considerações contcx tu ai s qu e nos pr en de ra m ao pas sad o, lev and o-n os mai s para o c o n t a t o e a r e l e v â n c i a c o n t e m p o r â n e a . " U m a d a s p r i n cipais discussões de hoje se refere aos padrões indutivo ou dedutivo de pregação. A abordagem indutiva vai do particu lar pa ra o geral, en q u a n t o na de du ti v a o or ad or vai d o geral pa r a o p a r t i c u l a r . O s q u e d e f e n d e m a p r e g a ç ã o i n d u t i v a — co mo Fr ed C ra d do c k e Ralp h Lewis — t e n d e m a exag erar n a defes a. E óbvi o qu e o di sc urs o prec isa ter os dois e le me nt o s, O bo m raciocínio exige am bo s. O s er mã o an ed ot ic o p ar ec e nunca resultar em generalização, o que é necessário. Mas a concretização é igualmente importante. Tão logo o pregador evangélico te nh a lido u m te xt o, po ré m, a con clu são básica já est á ex po st a a t o d o s . No ss a visão da Pala vra c m rel aç ão à p r e g a ç ã o d e t e r m i n a isso. D a m e s m a m a n e i r a , u m psicólogo evangélico nunca pode ser estritamente não-dÍretÍvo ou rogeriano, pois sempre existem algumas concessões. Desse modo, o sermão precisa combinar tanto os elementos indu tivos quanto os dedutivos, mas a introdução deve ser o mais indutiv a possível, c o me ç a nd o onde as pess oas est ão, co m p o n t o s d c c o n t a t o c o n t e m p o r â n e o s s ign ifica tivo s. V o c ê p o derá encontrar mais ajuda sobre como montar sua introdu the sermon: t h e art of co mp el li ng ção no livro Introducing do sermão: a ar te d o início co nv ii P be g in ni ng s [A introdução
Ao alcançar e sustentar o movimento, procuramos formas que lhe d ê e m co nt in ui da de . Já ex pu s e def end i a es tr ut ur a clara. Se o se rm ão t e m tan ta s idéias a p o n t o de sofrer de sob rec arg a d e informações, ele vai afundar por causa do seu próprio peso. Certamente não vai atingir tima altura que ultrapasse a copa das árvores. Acúmulo de conteúdo c o principal promotor de de so rd en s para o jov em preg ado r. Muit a coisa des pej ada sobr e a congregação. Uma das grandes habilidades ligada.s à pregação é a arte de resistir à tentação de inserir tudo num único sermão. Somos atraídos por caminhos fascinantes que, na verdade, não se referem ao assunto do qual se está falando. Sábias indagações sobre hebraico c grego e estudos de algumas palavras em espe cial são atividades particularmente tentadoras. Isso interessará a alguns, mas será como um sinal de adeus para a maioria. Alguns procuram desesperadamente compensar os proble mas nos pontos principais fazendo uso de exageros emocionais. Um de meus colegas inadvertidamente leu as anotações no es b o ç o d e s e r m ã o d e u m p a sto r, d e i x a d o s o b r e a m e s a a p ó s o estudo: "Chorar at[ui". Outro pastor escreveu em seu rascunho: "Ponto fraco — griteV. E mu it o mel hor co mp re en de r as pat o logias que afligem os tópicos c evitá-las. Algumas da.s doenças mais comuns que atingem os tópicos são: 1. Volta de eícposição clara. Ja me s D en ne y sust entav a qu e a regra número 1 da pregação eficiente é a lucidez, a regra número 2 é a lucidez e a regra número 3 é a lucidez, 2.
Muita obviedade ou muita brandura. O ar in er te da fam iliaridade sufoca, e o clichê pode matar.
3. Falta de assertividade. Os tópic os funcion am co mo aqu e les ganch os met áli cos usa dos para escalar u m a mo nt an ha . Eles precisam estabelecer o caminho para a ascensão.
5. Concepção errada. N ão sc po de cobrir o as sun to "os qu a tro cavaleiros do Apocalipse" usando apenas três pontos.
6. Clímax prematuro. O úl ti mo tóp ico dev e ser climáti co, a não ser que o sermão seja um diamante, em que cada pon t o t e m valor igual, de mo d o qu e a jóia é fo rm ad a pel o to d o. 7. Falta de funcionalidade. Todo pre gado r ex per im en ta even tualmente um tópico que não decola. Isso precisa ser ana lisado na questão de conteúdo e forma.
Os pontos principais são os componentes estruturais de maior responsabilidade para fazer com que o sermão progrida. Se não p r o g r e d i m o s c o m o d e v e r í a m o s , t e m o s d c analisar os t ó p i c o s , uma vez que já passamos da introdução. Sc os tópicos parece rem bons mas o progresso ainda é lento, o problema pode estar nas tran siçõ es esco lhid as. To do se rmã o c on t ém afir mações transicionais, ou seja, pontes que nos ajudam a caminhar pelos tópicos, tanto de um para o outro quanto a entrar c sair dos subitens e caminhar por entre as ilustrações e matérias de apoio. Mas há momentos em que as pontes estragam tudo. Se estamos "sobrecarregados de idéias inertes", para usar a incisiva frase de Alfred North Whitehead, nem mesmo as boas transições vão nos ajudar (obser\'ou-se que os últimos roman ces de H. G. Wells começaram bem, mas, depois, se assenta ram como uma maçã cozida no próprio sumo). È bem possível que o problema desse sermão sejam o assunto c o esboço. E provável que haja u m a m o n t o a d o d e fibras q u e dei xe a t e x t u r a áspera e grosseira. Vez por outra vejo um aluno numa verdadei ra corrida dur an te o se rm ão . O tóp ico principal foi des pre zad o sem que nem mesmo o aluno notasse. Podemos facilmente sair dos trilhos. Essa é outra razão pela qual as transições e os conectivos precisam ser fortes e eficientes. Devemos evitar a fragmentação e a dcscontinuidade. A ilus traç ão ade qu ad a é valiosíssima. A ilustr ação nu nc a es- ' tabelece uma verdade, apenas destaca essa verdade. A história
correta pode dar uma velocidade significativa ao sermão, mas a história errada ou a história que não ilustra adequadamente um p o n t o e m q u e s t ã o vai e n fra q ue c e r e dissipar r a p i d a m e n t e a for ça do impacto. A boa ilustração é extraída de dentro de um p o n t o e, p o r t a n t o , não d e v e ser esticada n e m e s p r e m i d a . U m a ilu str açã o m u i t o longa ou q u e pre cis e .ser exp lic ada ca usa mais danos do que benefícios. Também precisa ser verídica se for apresentada como tal. Um aspecto quase totalmente negligen cia do na discu ssão da mat éri a ilustrativa é o papel fu nd am en ta l das transições realizadas com cuidado para entrar numa histó ria e sair dela. Esses são aspectos aos quais sc deve dar muita atenção. Eu tento praticar com antecedência minhas entradas e saídas para garantir a precisão e a eficácia. De modo geral, devem-se evitar livros de ilustração. As ilus trações de Spurgeon erãfn para outro tempo. Hoje em dia elas cheiram a umidade, a mofo e bolor. Faça uso de uma boa mistura f d e ilu str açõ es bíblicas, pessoais e at uai s. Cr ie ur a sister aa de \ armazenamento e recuperação de idéias. O ideal é ter um índice geral de seus livros, arquivos e ilustrações. As boas ilustrações, desenvolvidas com atenção e de maneira apropriada e cercadas de cuidadosas transições, possuem um enorme poder tanto para o esboço lógico-nocional quanto para o emocional-sentimental.
O movimento das palavras Assim como existem sentenças geradoras e operativas que ace leram o dese nvolv imento do pe ns am en to , ta mb ém ex iste m pa lavras que abrem os portões e palavras que fecham. As palavras são muito mais do que sons, Existem palavras que atuam como gatilhos que fazem as coisas andar, O perigo do amante das pa lavras é tran,sformar-se num simples malabarista das sentenças. O que buscamos é o forte sabor da novidade, Como pregado res, as palavras são a nossa moeda de negociação, de rriodo que p r e c i s a m o s ajustar s eu u s o c o m c u i d a d o , ~~ Est udo s d em on s tr am qu e o vocabulário cresce de forma impressionante durante a infância; em seguida, diminui o ritmo
à casa dos vinte anos, Uma vez que o vocabulário é vital para a clareza e a energia da pregação, os pregadores devem se preve nir contra esse declínio e continuar sendo estudantes das pala vras.' Devemos fazer com que as palavras funcionem para nós, pois a diferença e n t r e a palavra certa e u m a q u e é quase c ert a é a me s m a diferença en tr e u m relâ mpag o e u m vaga-lume , O e m pre it ei ro das palavras avalia os jargões c o m c u i d ad o e usa a voz ativa para pintar imagens que conduzem os ouvintes, em vez de fazer deles apenas espectadores. Existem duas abordagens principais na construção de vocabu lário. Wilfred J. Funk reúne famílias de significado, tais como "ver bos d e violência" e "substantivos d e alegria". Essa é u m a maneira de categorizar as palavras por meio de seus sinônimos e antônimos.^ N o r m a n Lewis, por outro lado, segue a abordagem etimológica ao estudar as raízes, prefixos c sufixos latinos e gregos," E uma abor dagem muito frutífera, mas não enriquece o pregador de fala anglosaxônica (é interessante perceber as muitas palavras curtas, vivas e descritivas que derivam do anglo-saxão). "Leia sempre com uma caneta na mão", disse Benjamin Franklin. Há muito tempo tenbo um caderno de anotações. Tome nota de todas as palavras e procure seu significado. O pregador deve ser um estudante da conotação das palavras, olhando para além do que uma palavra significa, chegando até o que ela deixa implícito, S, L Flayakawa observa que existem palavras que "rosnam" e outras que "ronronam". Palavras "evasivas" dizem o que nã o q ue r e mo s dizer. Palavras "cha tas " são as qu e já fora m de s gas tad as c o m o pe dr as no lei to de u m rio: nã o b a t e m mais e apenas rolam correnteza abaixo, A pobreza de expressão e a incapacidade de dizer algo de maneira contundente estorvam o pr eg a do r d e nossa é po c a. Nos sa língua c rica, façamos u s o d e s sa riqu eza para tr an smi ti r a me ns ag em co m clareza .
O movimento da emoção N a origem, o fluxo da entrega do s e r m ã o d e p e n d e d e q u a n t o
tecnia no púlpito. Outros talam como sc tivessem medo de serem ouvidos pelos agentes do FBI. Preci samos de um a per sonalidade agradável e extrovertida, que tenha paixão e não m a n t e n h a d i s t â n c i a f ri a. P r e c i s a m o s d e u m a c o m u n i c a ç ã o evocatória. Como nos adverte Walter Wangerin, "afine-se com o púb lic o e não se es qu eç a das crian ças!" . Th o ma s G u t h r i e disse que o modo dc pregar tem o mesmo significado da pól vora para o canhão, Mas estamos falando aqui de uma pólvora e de um tiro que são disparados com um objetivo ou, como John Cotton aconse lha os pregadores, "acertar na mosca". Todas as pessoas presen tes na platéia de George Whitefield sentiam-se como se a men sagem fosse pregada diretamente para elas. Ele se revestia de urgência profética e pessoal. Alguns pregadores não mostram carisma suficiente porque abordam esse assunto com pouca .. autoridade. No Uvro History, de H . G . Wells , o au to r usa e m .' 72 6 ocasiões exp res sõe s co mo " pen so qu e" , "eu su po nh o" ou "minha opinião é". Não há espaço para um pregador que gaguc. ja a frase "penso c^ue todo aquele que não está em Cristo vai para o inferno" . '\ N ã o es to u m e e s qu e c e n d o de q ue a falta de força vital p o d e ser causada pela existência de um temperamento reser\'ado. Não vou afirmar que uma pessoa introvertida não possa ser um pre gador eficiente, pois uma pessoa que fala suavemente pode ter momentos de grande intensidade. Não estou falando sobre o vo lume, mas sobre o sentimento, como Richard Baxter descreveu: Prego como se nunca mais fosse pregar, Como homem moribundo querendo aos outros ajudar. U m dos can did ato s à pres idên cia dos Esta dos Uni do s nas eleições primárias de 1988 tinha uma organização afiada como uma navalha, bem como algumas boas aptidões, mas suas apa rições públicas eram um fiasco. Observou-se que ele carecia da habilidade de "reduzir questões complexas a simples imagens
fosse capaz de inspirá-la".'" Donald M. Maclcod cita a defini ção de carisma de David H . C. Read como sendo "a indefinívcl qualidade do charme, do magnetismo pessoal e do poder pessoal, a ca pac id ad e d e en tu si as ma r as pe ss oa s" ." Se essa defi nição o desanima porque você acha que tem o carisma de uma lesma, Macleod nos lembra que estamos falando aqui da dinâmica es piritual. A s p e c t o s r elacionados a esse as sun to serão dis cut ido s nos capítulos seguintes, que tratam da criatividade e do uso da imaginação. N o en ta nt o, está além de qua lqu er qu es ti on am en to o fato de que existe a nec ess ida de de haver ter nu ra e paixão nesta era do gelo espiritual, que Jonathan Edwards define como "comprometimento permanente do coração". T. Harvt 'ood Pattison nos apresenta esta quase alegoria de João Crisóstomo, o "boca de ouro", pregador de Constantinopla: Conforme avançava da exposição para os apelos práticos, sua pre gação ia se tomando cada vez mais rápida, sua aparência mais animada, sua voz mais viva e intensa. Os ouvintes começavam a segurar o fôlego e as juntas de seus quadris amoleciarn. A mesma sensação produzida por uma sério de ondas elétricas se abatia sobre eles. Sentiam como se estivessem sendo atraídos ao púlpito por um tipo de influencia magnética [,,,] alguns se levantavam do banco, outros eram acometidos por uma espécie de fraqueza, e a grande multidão só conseguia levar as mãos à cabeça, e dar vazão às emoções por meio de lágrimas. Dom natural? Poder do Espírito? Certamente havia os dois. A única coisa que posso fazer é orar juntamente com João Calvino, como ele costumava fazer quando subia ao púlpito em Genebra: "Venha, Espírito Santo, venha".
Como fugir da previsibilidade? A questão da variedade
D
ê uma olhada em seus sermões do mês passado. Existem pa drõe s q u e per sis te m? É possível ohser\'ar alguns sulcos ou valas com potencial para se transformarem em nos sas sepulturas? Uma das calamidades do púlpito contemporâ neo é a total previsibilidade. Isso é letal. "Ao pregar, você nâo sabe o que está fazendo: você é quem ma nd a! ", disse Aug ust L ec er f Será? A velha ma tr ac a se exibe em seu gueto gótico encarando mares de lugares vazios. São onze horas e tudo vai bem. O pregador treinado em sua fábrica de educação parece impenetrável na carapaça de tartaruga. Pre gador e congregação são narcotizados pelo gotejamento sema nal do status quo. Th om as Carlyle co nd en ou o infindável co rte de palha realizado no púlpito.
Ir à igreja deveria ser semelhante a se aproximar de um vul cão. Nossas igrejas estão cheias de cristãos antigos cuja princi pal p r e o c u p a ç ã o é a c o m e m o r a ç ã o d e e v e n t o s d o passado. Es ses cristãos não estão indo a lugar algum. Estão surdos para a música do céu. Os corredores de sua mente estão serenos. O versículo bíblico preferido deles parece .ser "Nada me abalará!" ou, possivelmente, "Meu coração está firme". Parece que eles estão usando tapa-ouvidos invisíveis, dc modo que a pregação não lhes causa nenhum efeito.
enfadonha conversa infantil, basicamente um especia l de sá b a d o à n o i t e . São p o b r e m e n t e p r e p a r a d o s . N ã o é d e a d m i r a r que os pães homüéticos pareçam mal assados. A velha cozi nha irlande sa com e ça a rec eit a de en so pa do irl and ês da se gui nte man eir a: "Pri me ir am en te , cace o coe lho ". É prec iso haver algo substancioso para falar no sermão senão ele será ape nas u m a bo ba ge m psicológica sobre a últ im a mania. O qu e p o d e m o s fazer para q u e nossos o u v i n t e s t i r e m o t a p a -o u v i d o? Uma sugestão é sermos menos entediantes na pregação. O p r e g a d o r p re ci sa est ar "vivido, ma le áve l e s e m p r e na janela", como disse o primeiro-ministro britânico WiUiam E. Gladstone (1809-1898J, sobre quem se disse: "Ele sempre se mantém na linha da descoberta". O que torna uma pregação insípida e totalmente indesculpável é qu e a Palavra de De us é ex tr ao rd in ar ia me nt e int ere ssa nte . A própria Escritura t e m u m a variedade inacreditável. Assim c o m o as obras de Deus na criação mostram uma imensa diversidade, a Palavra de Deus na revelação mostra uma matriz inesgotável dc passagens suculentas. Deus ama a variedade e nós também de ve mo s te r o m e s m o se nt im en to. U m a pessoa se gabou dize n do: "Nosso pregador pode pregar doze sermões diferentes a pa rt ir d e u m ún i c o t e x t o " , ao q u e o amigo r e s p o n d e u : "Nosso p re g a dor p o d e pegar q ua l q ue r t e x t o e pregar s e m p r e o m e s m o sermão". O pregador de hoje precisa constantemente espreitar, pro curar novos caminhos para comunicar a "velha história", que é sempre nova. Stephen Olford disse que numa seqüência de qua tro sermões não deve haver duas mensagens iguais. Precisamos' da coragem de olhar para o que estamos fazendo e nos dispormo s a pr om ov er alguma mud an ça . Ao fazer isso, re co nh ec e mo s o poten cial in ere nte a qua lqu er inovação de ch am ar aten ção para si me sm a. ' Isso seria pr om ov er a próp ria derr ot a. Tam b é m d e v e m o s t e r c u i da d o c o m o de s r e sp e i t o da falta d e sabor. Como alcançar o objetivo de ter uma pregação variada dentro das fronteiras do adequado?
Variedade por meio da seleção e do plano de pregação A seleção aleatória de textos e tópicos está fadada à monotonia. Ao pregarmos de maneira sistemática e ampta sobre todo o conselho de Deus, seremos mais aptos a refletir as profundezas da glória das Sagradas Escri tura s. Ch arl es fi ad do n Sp urg eon fez o seguinte comentário: "Dè-me a Bíblia e o Espirito Santo, e eu posso continuar pregando para sempre". Ao que parece, sa b e m o s cada vez ma is s o b r e ca d a v ez m e n o s . A c o n t i n u a r p o r esse caminho, em breve saberemos tudo sobre coisa alguma. Assim, a pregação moderna tem cada vez mais se tornado me n o s sistemátic a, deix an do de lado a fulgurante c impres sio nante enormidade da revelação divina para lidar com tri\'iahdades men o re s. Q u e m ,se im po rt a com o fato de qu e Harcá cio , rei da Pérsia, séculos atrás, foi um notável caçador de toupeiras? Algumas pessoas sofrem por causa dos sermões. Se o pregador não estiver disposto a pagar o preço, a congregação pagará. A preparação que resulta da variedade de seleção é um tra b a l h o d u r o . A p r eg açã o d e c er t a m a n e i r a se as s eme l h a a t e n t a r fazer com que água suba a colina. A preparação pode ser de duas maneiras: indireta, caracterizada pelo estudo c a leitura que fazemos com o passar dos anos; e direta, aquilo que faze m o s para pre para r um a mens ag em específica. Se nos t or tu ra mo s se ma na lm en te co m a pe rg un ta "o qu e vou pregar?", ent ão estamos muito suscetíveis aos caminhos previsíveis e conheci dos. Precisamos de um plano. O plano pode consistir de uma série de pregações expositivas de livros da Bíblia, mesclados com uma série de sermões biográficos e doutrinários, ou ainda preg ar d e a c o r d o c o m o ano eclesiástico e a t é u m a c o m b i n a ç ã o de tudo isso. Eu faço uso de um plano de dois a três anos para me assegurar de que, tendo de pregar três ou quatro vezes por semana, não caia no desequilíbrio. Preciso ter certeza de que vou falar t a n t o so br e o AT q u an t o so br e o NT, so br e os eva ng e lhos e as epístolas, tendo perspectivas tanto panorâmicas quan
IJüão à noite seria tim erro. Precisamos equilibrar o sermão mais didático da manbã com uma serie mais narrativa a noite. George Morrison, da Igreja dc Welíington, em Glasgow, Escó cia, seguia uma linha mais expositiva de manhã e algo de esco po ma is a m p l o à noite. A obra Planning a year's pulpit work [Pl ane jam ent o para um ano de púlpito], de Andrew W. Blackwood, hoje antiquada mas ainda pertinente, defende uma linha de ação que leve em conta as épocas do ano: De Do Da Do
setembro até o Natal — preparação Natal até a Páscoa — recrutamento Páscoa ao Pentecostes — instrução Pentecostes a setejnbro — encorajamento^
Embora o Natal e a Páscoa sejam os pontos altos do ano eclesiástico, as ocasiões mais celebradas da igreja, sempre acho que esses são os momentos mais difíceis para pregar, porque já se disse muita coisa sobre o assunto. N ã o há p r o b l e m a e m fazer u m s e r m ã o s o b re a Páscoa d u rante vários anos. Se estivermos pregando preponderantemen te a partir do registro dos evangelhos, talvez devamos nos diri gir para o livro de Atos dos Apóstolos ou para o primeiro capí tu lo do Apo cal ips e ou m e s m o usar algum te x to d o AT para tra zer alguma mudança. A filosofia que diz "sc você precisa planejar, então planeje depois" é uma abdicação patética da responsabilidade. A prega ção pastoral em funerais e as homílias de casamento são casos urgentes. Dizemos sempre as mesmas coisas? Desenvolva um livro dc anotações sobre funerais com os versículos e pensa mentos que podem ser plantados como mudas que vão brotar e germinar e depois ser transportadas para uma situação de ne cessidade específica. Planej ar c o m an te ce dê nc ia evita qu e se vá co m fre qüê nci a ao tonei. Todo pregador, até os servos itinerantes de Cristo, pre
res de se mi ná rio e ex ec ut iv os de no mi na ci on ai s p o d e m ficar antiquados pela repetição perpétua dos assuntos usados ante riormente. N u m a igreja q u e p a s t or e ei , p e rc e b i q u e m e u a n t e c e s s o r ti nha feito exposições soberbas c profundas durante 25 anos. Vi sando a uma mudança de passo para a congregação e para mim mesmo, demos início a um programa de leitura da Bíblia toda em cinco anos, lendo Gênesis e Mateus, Êxodo e Marcos, até que tivéssemos lido o AT int eir o e o N T dua s vezes em cin co anos. As mensagens eram extraídas das porções lidas durante a se ma na . U m pr og ra ma de rádi o diár io de cinc o mi nu to s enfatizava a aplicação prática da leitura daquele dia e era trans mitido logo depois do meio-dia, de modo que muitos operários p o d i a m ouvir d u r a n t e a hora d o a l mo ç o . Esse p r o g r a m a foi u m excelente tônico para minha própria alma. Qualquer série precisa estar sujeita a uma interrupção. Uma crise nacio nal ou u m ass unt o local r e qu e re m a inse rção de um a me ns ag em apro pri ada para ajudar nosso povo a in te rp re ta r a situação dentro de um referencial bíblico. Os quatro domingos que antecedem o Natal — conhecidos por Advento — permi tem que mesmo as igrejas menos lilúrgicas tenham uma opor tunidade de aprofundar a compreensão da encarnaçào de Cris to , Sou tão litúrgico quanto um sabugo dc milho, mas dou cada vez mais valor ao período da Quaresma (os quarenta dias que antecedem o domindo de Páscoa) como oportunidade para fa lar alg uma cois» espe cial s obr e a cruz, Fico pe rp le xo ao no ta r que pouquíssimos evangélicos fazem algum destaque do domingo ou da semana de Pentecostes, o dia que nos lembra o derrama mento do Espírito Santo, O fato é que se o dia das mães e o Pentecostes coincidirem, o Espírito Santo não terá muita chance. Qu an to s preg adore s nunca abo rda ram o ass unto da ascensão de nosso Senhor? Mariano di Gangi nos deu uma excelente am os tr a de c o m o pre ga r no ano ecle siá stic o^, e m e u colega Richard A. Bodey publicou um volume recente de sermões su gestivos que podem disseminar essa idéia. A pregação biográfica é quase sempre uma boa mudança no
p r e g a ç ã o d ou tr i n ár ia , na qual b u s c a m o s r e u ni r g r a n de s t e x t o s que tratam de temas fundamentais dc nossa fé. Phillips Brooks atingiu o alvo em cheio quando nos advertiu: "Pregue doutrina. Pregue toda doutrina que você conhece e sempre aprenda mais e mais. Mas pregue isso sempre, não para que os homens acre ditem nela, mas para que os homens sejam salvos por acreditar naquilo que é pregado".' Embora já tenha sido bastante enfati zada em alguns círculos, a escatologia é um dos pontos mais relevantes e práticos da articulação da esperança cristã. E um b o m c o n t r a p o n t o para o culto da noite. E m algumas regiões, os cultos da noite estão em plena forma. E possível que estejamos ca mi nh an do para a ép oc a e m que certas igrejas de po r te de de terminadas áreas geográficas terão o culto da noite, mas a res posta não é o raso e o e f ê m e r o , m a s o sólido c o substancial. Em qua lqu er eve nto , o pl an ej am en to cuida dos o feito deb aix o de oração, com alguma antecedência para a reflexão e a medita ção, vai nos permitir dar passos largos na direção de uma maior variedade em nossa pregação.
Uso criativo dos componentes Nossa p r e m i s s a básica des car ta o u s o d e e x p e d i e n t e s e t r u q u e s . Ja me s De nn ey arg ume nta qu e nin gué m po de pregar a Cr is to e ser trapaceiro ao mesmo tempo. Fico horrorizado quando leio que um pregador acha que o púlpito é algo tão obsoleto que, em vez de proferir um sermão, lê recortes de jornal e divide sua congregação em grupos para discutir o assunto. Temos que per manecer com a Bíblia! Mas também precisamos refletir honestamente sobre as ar madilhas em que temos caído. Em um aspecto, podemos variar o tamanho do texto da pregação. Uma das séries de pregações de domingo à noite que me foram mais gratificantes foi a deno minada "Os profetas falam aos nossos dias". Coloquei a mensa ge m essencial de cada pro fet a do AT em u m a única me ns ag em , como "Amos fala sobre a fartura" e "Jonas fala sobre o nosso
um capítulo, u m parágrafo ou simplesmente um único versículo, dando cuidadosa atenção ao contexto em todas as situações. Existem caminhos alternativos que fazem que a variedade seja eficiente. Precisamos ser detetives espirituais, procurando pe p i t a s n u m e n t u s i a s m o i n fi nd áv el p e l a d e s c o b e r t a . N o l ivro Variety in your preaching [Variedade na pregação], hoje esgo ta do mas ainda muito interessante, Lloyd M. Perry e Faris D. Whitesell mostram um pouco da ampla gama de variações pos síveis no uso de nossos ingredientes.'' Outro auxílio alentador é variar o início de u m sermão. Uma pergunta investigativa, u m a citação p u n g en te , u m a descrição to cante ou uma breve ilustração são apenas algumas das muitas pos sibilidades de variação. Usar um número diferente de pontos prin cipais é importante. Saia um pouco da tríade. Choque sua congre gação co m uma boa me ns ag em dc apen as dois po nto s (pro blema — solução) o u não use n e n h u m tipo d e formalidade, pregando u m sermão narrativo. A singularidade do sermão narrativo é um as sunto de grande importância diante da carência atual de se "conta rem histórias", e alguns pregadores têm ncgUgenciado sessões nar rativas das Escrituras, gerando o grande empobrecimento dc seus rebanhos. Bruce Waitke afirma que 75% do AT é narrativo. Q u e material explosivo para a pregação contemporânea. As ilustrações precisam ser uma espécie de "espeto misto". N ã o d e \ e m o s n e m abusar n e m desp rezar as ilustrações pessoais. Algumas congregações estão saturadas de histórias da área de esportes. Os viciados nas questões esportivas precisam se lem brar q u e algumas pessoas n ã o s u p o r t a m os jogos d e q uarta-fei ra à noite. Algumas congregações recebem uma rica dieta de histórias sobre cães ou crianças. Desde pequenos, meus filhos me fizeram prometer que não seriam usados como ilustrações nos meus sermões, Eles fizeram um grande favor a todo mun d o . Devemos usar exemplos de dificuldades diversas com mui to cuidado, caso contrário fecharemos as portas para quaisquer opo rtu nid ades de aco nsel hame nto . Até me sm o o uso de certos
miss ão cJys pa rt es envolvidas. Ape sar d e acha rm os qu e es ta mo s segur os para usar um mat eri al antigo, exi ste a possib ilid ade de membros da igreja de outras épocas estarem visitando o local em que estamos pregando. E preciso dar muita atenção às varia ções na conclusão. E aqui que a previsível recapitulação se tor na um convite à desatenção. O compositor musical habilidoso no desenvolvimento de um tema introduz um acorde de sétima menor que permite a mu dança para um a ton ali dad e nova e co mp l et am e nt e dif ere nte . Precisamos ter direções novas e inesperadas em nossos sermões pa ra e n f r e n t a r o fato d e q u e as p e ss o a s s a b e m o q u e v a m o s dizer antes de abrirmos a boca. Uma vez que nossa mensagem vem das Escrituras, os pregadores evangélicos e fundamentalistas pre cisam dar total a t e n ç ã o ao uso criativo e imaginativo da es tr ut ur a c da form a. Precisamos cultivar a avaliação estilística. Muitos de nós so mos cuidadosos e cansativos no estilo. Precisamos fazer um uso sábio do h u m o r para aliviar a te ns ão .' Jo ão Cal vin o def end ia qu e o sermão deveria ser vivo. Isso significa que devemos pregar de maneira sugestiva e não exaustiva. De maneira geral, não temos mais o mesmo tempo para pregar como antes. Sem nos render m o s ao q u e P. T. Fo rs yt be ch a mo u d e a "urg ênc ia fatal pela br evi dade", devemos deixar os ouvintes esperando por mais. Esta é a época em que a troca de óleo de af)enas dez minutos é muito lenta, quando o caixa eletrônico é muito devagar, e o microondas é lerdo demais. Precisamos conscientemente variar o passo, o to m, o vo lu me c a força de nossa pregação. I nd ep e nd e nt e me n te de quanto seja rico nosso conteúdo, sc olhamos sempre pelo retrovisor, teremos um grave prejuízo na eficiência da pregação ,se ma nt iv er mo s os pa dr õe s previsíveis de ent re ga da me ns ag em .
Formas e técnicas inovadoras Até que ponto ousamos ser aventureiros e inovadores? Uma contribuição muito importante a esse respeito é o livro dc Harold Freeman, intitulado Variety in biblical preaching [Variedade na bo pl do de algum as fo pregação bíblica].^ E
mas alternativas, mas, até certo ponto, a inovação deve se en caixar na personalidade do pregador. Todo esse aspecto é uma espécie de mina de ouro, mas raramente enveredamos pelas novas possibilidades para um uso ocasionai. Ao empregar uma determinada forma pela primeira vez, é sábio preparar o cami n h o , talvez usando-a no culto da noite ou em algum outro culto ocasional em primeiro lugar. Procure ouvir comentários e su gestõ es. Co ns tr ua u m clima e um a atmo sfe ra e m qu e alg um risco po ss a ser as su mi do , o q u e vai p er m i t i r a oc or rê nc ia de alguns erros e gerar um espaço para crescimento e progresso. Será que tudo deve ser sempre perfeito? Essas .são questões im p o r t a n t e s a ser levantad as q u a n d o avaliamos novas fo rmas. Freeman não está propwndo que a inovação substitua o tradi cional, mas que aumente c melhore o tradicional. Um exemplo disso é o monólogo dramático ou o "sermão em primeira pes soa". Quando ensino sobre a variedade na pregação, geralmente estabeleço duas rodadas de pregação. Na primeira rodada, enfatizo o uso da variedade na estmtura e nos componentes, tanto com passagens didáticas q u a n t o narrativas. N a seg und a r o d ad a exijo tanto um sermão em primeira pessoa quanto um sermão cm for ma de diálogo. Isso é algo completamente novo para os alunos sem experiência em representação ou interpretação oral. As pos sibilidades de variação são infinitas. Alguns alun os se ve st em c o m o o personagem. Outros usam peças de roupa ou alguns apetrech os e rec ur sos vis uai s. Ai nd a ou tr os pass am tod a a men,sag em representando uma personagem como Acã, no capítulo 7 de Josué. Um aluno nos apresentou o livro de Rute em três partes: Noemi, depois Boaz e, finalmente, José, no capítulo 1 de Mateus, anahsando sua decisão com relação a Maria e se ele deveria agir de acordo com o princípio da hesed (miseri córdi a) c o m o Boaz, seu ancestral. Alguns chegam a representar uma determinada perso nagem durante um tempo e depois mudam para outra, cami nhando para um segmento final de interpretação e aplicação, isso está ligado à decisão dc ter ou não uma aplicação direta. Também
o perigo qu e existe e m fazer u m des env olv ime nto c uid ado so c amplo da situação bíblica é que podemos "deixar a situação para trás, e m b a l s a m a d a na história". A ex pe r iê n ci a mai s agra dável que tive com essa idéia de representação de um evento aconteceu com a epístola a Fi le mo m, qu an do ele, Afia e Ar qu ip o vêem Oncsimo, o escravo fugitivo, retornar para sua proprie dade no vale do Lico. Onésimo está trazendo um rolo do após tolo Paulo. Então, no papel de Filemom, eu leio a carta, faz end o comentários e observações. O formato levanta a importância e o impacto espiritual desse notável exemplo da cortesia cristã. Vários pregadores amigos meus estão usando a abordagem da "primeira pessoa" para a manhã do domingo dc Páscoa a fim de evocar interesse e atenção da comunidade em geral. Alguns têm usado vestimentas de época. A questão sobre qual perso nagem será usado num determinado ano tem aumentado o in teresse. Um dos meus alunos do doutorado em ministério tem desenvolvido tanta habilidade que usa a forma dramática com regularidade. Ele tem sido convidado para falar tanto em seu país quanto no exterior pelo fato dc ser um comunicador eficiente. O sermão em forma dc diálogo exige a pr es en ça de dua s pessoas q u e se c o n h e ç a m b e m e q u e possam interagir u m a ao lado da outra. Existem muitos outros formatos possíveis. Há alguns anos, meu irmão e eu fizemos um sermão em forma de diálogo int itu lad o "A cer tez a cristã dia nte da pe rp le xi da de m o derna". O aspecto geral de um perfil cada vez mais voltado ao diálogo na pregação é importante para nós. Nas igrejas onde o culto de adoração antecede o horário da escola dominical, o diálogo p o d e levar a u m a pro vei tos a dis cus são do se rm ão e m classe. Eu tenho usado com bastante freqüência um período de discussão do sermão depois do culto dominical da noite. Quan do abordamos algum tema provocativo — como 'os Dez Man damentos e as crises atuais" ou alguma série baseada num as su nt o espe cífi co — tr an sf er im os a pr og ra ma çã o para o salão social, servindo café e biscoitos e abrindo o microfone para quem quiser falar. O objetivo do diálogo é fazer um contraponto à
separação c à síndromc de espectador que tem afligido tão gra vemente várias igrejas. Há for mas ilimi tadas d e me lh or ar a pr ega ção c om míd ias diversas. O uso de arteíatos e recursos visuais na pregação deve ser feito com cuidado c um bom planejamento e integração. Já usei uma reprodução de um dos pregos usados para crucificar Jesus e alguns espinhos semelhantes aos que crescem no jardim do Getsêmane. Um pregador muito capaz usou cinco ou seis slides n o c o m e ç o de cad a ex po si çã o so br e as se te igrejas da Ásia Menor. Isso exige planejamento e trabalho! Embora H, Marshall McLuhan estivesse correto ao afirmar que "a palavra falada envolve todos os sentidos no aspecto dramáti co",^ precisamos reconhecer que as pessoas reagem de maneiras diferentes na questão emocional ou naquilo que os pesquisadores chamam de "modalidades". Um ex-aluno de mestrado em teolo gia, chamado Toby Sorrels, apUcou essas modalidades à pregação num grande trabalho de pesquisa. Ele ob,serva que existem pessoas que são com certeza inais visuais. A televisão lhes é bastante atraen te, Elas são capazes dc dizer "eu enxergo o que você está dizendo". Outras são mais auditivas — "estou ouvindo o que você está dizen do", é a reação delas. Essas pessoas estão num tipo de diálogo in terno consigo mesmas. Há ainda outras, as mais cinestésicas, que dizem coisas como "peguei" ou "não sinto isso", Para se comunicar com um grupo heterogêneo, o pregador deve estar disposto a fazer contato com essas três modalidades de pessoas, Essa área carece de mais pesquisa e exploração no que se refere à pregação e às oportunidades de comunicação de nossa época. N i n g u é m está livre da angústia e d o trabalho d u r o d e b usc ar uma variedade mais eficiente na pregação. Thomas Babington Macaulay falou o seguinte sobre lorde Henri Gahvay, na Batalha de Almanza, travada em 1707: "Julgávamos mais honroso fracas sar de acordo com as regras do que ser bem-sucedidos pela ino vação". Até que ponto estamos realmente desejosos de ser bemsucedidos na comunicação? Gosto muito da forma em que o bis
Por que a aplicação é tão difíci A questão da relevância
Q
uando Maria Desligada e João Avoado Saíram da igreja no domingo, Disse Maria Desligada a João Avoado: "Amanhã é segunda-feira — que lindo!" (adaptado do inglês)
Ouvi Haddon Robinson citar essa cantilcna muitas vezes e ela é o protótipo de um dos mais persistentes problemas do pre gador. O p r e g a d o r d e v e p r e o c u p a r - s e e m fazer a p o n t e e n t r e os mundos da verdade da Palavra de Deus e a realidade da vida das pe sso as. Ha ro ld F re em an as ava a analogia da solda da "arca da pregação" para fundir a revelação bíblica c a .situação atual.' J. Randall Nichols afirma corretamente que as pessoas não têm muita vontade de ouvir o que aconteceu aos jebuseus. Quando se lê o texto, os membros da congregação podem ficar pensan do, como supõe Merrill Abbey; "O que c que um bando de jó queis de camelo têm a dizer para mim hoje, na era das viagens espaciais?". O propósito da pregação vai além da exposição pre cisa do texto bíblico. O sermão que começa na Bíblia e perma nece na Bíblia não é bíblico. E correto afirmar que uma das principais diferenças entre a pregação e o e ns i no é q u e pregaçã o é aplicação. J o h n A. Broadu s afirma qu e a aplic ação de u m se rm ão "não é m e r a m e n t e u m suplemento para discussão ou uma parte subordinada dela, mas
ga para mim, quero que ele transforme o discurso numa ques tão pessoal, uma questão muito pessoall".' A aplicação não é algo a mais. Ela extrai do texto um significado para a vida do modo que tem sido vivida. "To da a Es cr it ur a é in sp ir ad a po r De u s e titil " (v. 2 T m 3.16,17). A Bíblia é relevante para indivíduos, para a vida da congregação e para a experiência em todos os níveis. É na pró pria nat ureza d a v e r d a d e útil d e D e u s q u e ela d e v e ser aplicada. Em sua cuidadosa exposição do livro de Efésios, D. Martyn Llo yd -Jo nes insiste qu e "a ve rd ad e dev e ser se mp r e a plica da [...] a compreensão genuína da verdade sempre conduz à apli cação . Po rt an to , se u m ho m e m não aplica a ve rd ad e, seu real p r o b l e m a é q u e n ã o a c o m p r e e n d e u " . ' ' Pronunciamos a verdade e os ouvintes legitimamente pergun tam: "E daí?". Quer você esteja chamando dc concreção, amplificação, contextuaíização ou "usos", como faziam os puritanos, estamos lidando com uma parte integrante da autêntica prega ção bíbhca. Exposição sem aplicação é como um banquete sem prataria. O s dois são interligados. C o n t u d o , é m u i t o c o m u m ofen der os nossos ouvintes com a má utihzação das palavras e apUcações fora de propósito. Fazer a aplicação é algo difícil. S em p re exi ste alguma te ns ão en t re a teori a e a práti ca. O grande amor que o estudante das Escrituras tem pela verdade fa ci lm en te o leva a valorizar a v er d ad e tão -só pe lo fato de ser verdade. O conhecimento pode se tornar um ornamento útil. Soren Kierkegaard estava certo quando disse: "Não existe falta de informação [...] o que está faltando é alguma outra coisa". Devemos tomar cuidado com o que é puramente cognitivo. As palavras d o r o m an c i st a Saul Bellow p o d e r i a m caracterizar a d e quadamente muitas pregações dos dias de hoje: "Por sentimen to ou reação, eles substituem atos de compreensão".' Mas a distração é sempre grande inimiga da pregação. O sermão é um convite. E uma batida na porta. Não deve servir apenas para informar, mas deve inflamar. • As vezes he si ta mo s e m fazer u ma aplicação p or q ue t e m e -
felizes apenas pregando generalidades. Essa atitude é expressa p o r l o r d e M e l b o u r n e , o p r i m e i r o - m i n i s t r o d a rainha V it ór ia , q u e la me nt ou diz end o: "As coisas cheg arão a u m a situaç ão co m plicada se a religião c o m e ç a r a ser pessoal".** T u d o con tinu ará b e m se o p re ga d or p r o c l a ma r ap ena s o princípio geral d o oitavo mandamento. No entanto, quando ele começar a pregar contra • o furto de materiais da firma, comum até entre membros da ^ igreja, ele terá sérios problemas. As vezes receamos fazer a aplicação porque achamos que nós mesmos somos deficientes em determinado aspecto. Devemos não apenas encontrar o texto, mas temos de deixar que o texto tam b é m nos e n co n tr e, confiantes d e q u e aquilo q ue falou ao no ss o' coração falará também ao coração das outras pessoas. Fazer a apli cação é tão difícil, que alguns de nós .se voltam para a posição de G. Campbell Morgan, quando afirma que é o Espírito Santo quem deve fazer a aplicação. Mas, se for assim, qual c a nossa parte?
Os pré-requisitos para a aplicação Se é necessário fazer a aplicação correta do texto, então deve mos lidar com ele de maneira cuidadosa. Devemos fazer mais do que mergulhar em seu conteúdo e, como observou John He nr y Ne w ma n , a de te rm in aç ão é vital: "N ad a é tão m or ta l para o efeito do sermão quanto o hábito de pregar dois ou três assuntos ao mesmo tempo". John Henry Newman observou que p o d e m o s extrair p o u c a coisa d e u m discurso geral s o br e a vir t u d e . O pregador "deve ter por objetivo estampar no coração uma mensagem que nunca vai sair dali; o pregador não pode fazer isso a não ser q u e use a si m e s m o em algum as pe ct o" .' A aplicação eficaz resulta da clara correspondência entre o texto e a situação. As cinco pedras que Davi usou para matar Golias dificilmente podem ser usadas para resumir cinco princípios do ensino da homilética num seminário. Isso seria desatenção com o que as pedras representam. O texto das Escrituras não é meramente uma citação de aber
ao seu texto: "Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes". Devemos fazer a difícil pergunta sobre o texto: ele é descritivo ou prescritivo? E ad eq ua d am en t e ilustrativo? Noss o insti nto d e b u s ca r a relevância d e v e p ro vo car solicitude p elo t e x t o q u e q u e remos aplicar. Devemos ser estetostópicos. Precisamos dar ou vidos ao texto, Com o objetivo de pregar "um evangelho carnud o " , precisamos primeiramente enfiar nossos dentes no texto. A aplicação poderosa também exige que conheçamos nos sos ouvintes. As vezes nosso fracasso como pregadores aconte ce porque deixamos de ser pastores. Veja o contexto moral de um dos sermões dc Paulo no livro de Atos dos Apóstolos para um determinado grupo de crentes (At 20.13-38). O toque pessoal é necessário, mais do que simplesmente amizade social. "Você pre cisa primeiramente amar as pessoas que quer mudar" é o que se diz ultimamente. A aplicação habilidosa surge da sensibilida de de pastor c da amorosa atenção para com o rebanho. Esta mos percebendo o olhar ávido de homens e mulheres necessita dos? Quanto são tocantes as tristezas deste mundo, como é do loroso o estigma de falta de identidade! De fato, existe esse grande vazio do espírito humano sem a presença de Deus.
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E claro que haverá resústência dos consumidores. Martinho Lutero disse que, quando pregarmos a verdade, os cães come çarão a latir. Deu o seguinte conselho a Philip Melanchton: "Pregu e de u m m o d o tal qu e, se as pess oas não od ia re m os pe ca do s ; dela s, vão odiar* vo cê" . Mas Ll oy d-J on es s ab ia me nt e ad v er te so b r e o esperar m u i t o das pessoas c o l o c an d o a prateleira t ã o alta que o rebanho não consegue alcançar o feno." Devemos ter o cuidado de não colocar pimenta demais. Certo pregador foi des crito como zangado e ralhador, um cruzamento entre Atila, o Huno, e um cachorro bravo. A verdade necessária e sua aplica ção nem sempre serão percebidas como tais pelos ouvintes. Por vezes, levantamos uma cjuestão que ninguém pergunta por que precisa ser feita, H á m o m e n t o s e m q u e as fortes p r e o c u p a ç õ e s sobre o futuro não apelam para as pessoas mais interessadas
apela para que se façam pregações sobre questões de longo pra zo e qu e p o d e m não pare cer im ed ia ta me nt e rele vant es, m as ousam olhar para o futuro.' Tanto o trabalho fundamental cuidadoso em cima do texto quanto o conhecimento sensível das pessoas são requisitos para a aplicação eficaz.
Os parâmetros da aplicação A aplicação começa na introdução. Pontos de contato pessoal contemporâneos e significativos expressados logo no início da comunicação lançam sólidos fundamentos para as pontes que serão const ruíd as. Tra dici onal ment e, a aplicação nort e- ame ri cana tem sido feita na conclusão, ao passo que os pregadores br itânicos t e n d e m a fazer u m a aplicação contí nua . N a maioria dos casos (exceto para os esboços do tipo escada, interrogativo c bu sc a- so lu çã o] , a aplicaçã o con tín ua de ve ser nossa pre fer ên cia. Há risco em deixar a aplicação para o último trecho, já no final. S e ela se p e r d e ali, o i m p a c t o é nu lo . A co nc lu sã o fica mais parecida com um adendo se for totalmente protelada, asse me lh an do -s e a u m anú nci o com erc ial feito no final de u m p r o g r a m a : f a c i l m e n t e d i s p e n s á v e l . Se e s t i v e r e n t r e t e c i d a n o corpo da mensagem em desenvoK^mento, cairá sobre nós de maneira quase imperceptível. A aplicação deve ser direta ou indireta? A aplicação direta diz detalhada e exatamente o que objetiva a implementação do princípio. Existe lugar para a aplicação dir eta, m a s ela abre m ã o de todas as sutilezas. Há o perigo de alguém achar que você está falando diretamente para congregação, tratando-a de forma pa ternalista ao enfatizar o óbvio. É possível explicar demais. Uma men ina peq uen a diz a mã e bem -in ten cio nad a: "Eu ach o qu e te ria entendido mesmo se você não tivesse tentado me explicar". A aplicação indireta é sempre sugestiva e não exaustiva, O pre gador age mais como um condutor do que como o oráculo de toda a sabedoria. Fred Craddock defendeu o que chama de "ou
as pessoas estão se tomando cada vez mais relutantes para aceitar em sua vida diária a aplicação explícita, religiosa ou outra qual quer. Esse tipo de prescrição implica que uma pessoa está cm posição de dizer a outras exatamente o que devem fazer da vida.'" N u m a e x c e l e n t e discussão, J. Dan iel B a u m a n n relaciona q u a tro diferentes tipos dc aplicação indireta que podem ser aplica das em sentido amplo: ilustração, múltiplas opções, narração e testemunho." Desse modo, o pregador joga a bola para as mãos dos ouvintes e diz: "Tomem. Agora é com vocês". Precisamos tanto da aphcação direta quanto da indireta. "Você é esse ho mem '. ", grit ou Na tã ao rei Davi e m 2S am ue l 12 .7 . A mistura das duas na aplicação contínua parece ser bastante van tajosa. Deixar a aplicação sempre no nível do genérico é fugir da questão. O perigo da especificidade está na concentração do foco. Se citarmos um pecado específico, os que não são culpa dos dessa transgressão se sentem desprezados. Usar um caso como exemplo abre as portas para a aphcação. Deve haver o sentimento claro de que o pregador não está falan do à congregação dc maneira geral, mas para as pessoas presen tes na reunião. Muitas dicas e sinais de natureza vocal e não vocal p o d e m reforçar a i mp res são d e q u e es t a mo s s en d o vistos c o m o pessoas. A pregação d o t i p o "situação d a vida" d a úl tima geração, normalmente abordava necessidades e dores sentidas pelas pes soas, mas freqüentemente não se baseava na autoridade das Es cr it ur as . A idéia pri ncip al d o t ex to dev e ser a idéia fu nd am en ta l da aplicação.'^ E isso que, de maneira tão singular, o pregador oferece a p a r t i r das E s c r i t u r a s . C o m o d isse R e i n h o l d N i e b u b r , " s e m o sermão adequado, não se tem nenhuma idéia do propósito mo ral que está oculto no meio do mistério e a reverência fica sem conteúdo ético".
Os padrões da aplicação A impressão de grande dificuldade da aplicação é corroborada
b r c o a s s u n t o . V á ri os a lu n o s d e d o u t o r a d o q u e o r i e n t e i e st ão trabalhando nessa área e confirmam a escassez de material. De maneira geral, a formação oferecida pelos seminários não está ajudando nesse aspecto. Nosso deão da Trinity Evangelical Divinity School, Walter C. Kaiser Jr., fala sobre esse ponto; Existe um hiato de grandes proporções entre os passos geral mente esboçados na maioria dos seminários ou classes de treina mento bíblico na questão da exegese e a dura realidade que a maioria dos pa.stores enfrenta todas as semanas ao preparar o sermão. Em nenhum lugar do currículo teológico o estudante é mais abandonado c deixado por conta própria do que na tarefa de fazer a ponte sobre o imenso abismo que se interpõe entre a com preensão do conteúdo das Escrituras, conforme foi dado no passa do, e a proclamação desse conteúdo com tamanha relevância no presente a ponto de produzir fé, vida e obras bonafide.'^ Muito sermões nos motivam a fazer algo, seja servir, teste munhar, seja esperar ou sc alegrar, mas somos abandonados numa posição vulnerável porque o "como fazer" não nos foi explicado. No início do meu ministério fui detido pelo angusti ante remorso de um irmão dedicado que disse: "Pastor, eu que ro muito ganhar uma alma para Cristo, mas, depois de todos esses anos, nunca consegui ganhar ninguém para o Salvador. N i n g u é m jamais m e ensinou a fazer isso", Se o ensino é basica mente um assunto para ser inculcado, a pregação é basicamen te u m obj eti vo para ser al ca nç ad o no dia-a-d ia. U m espe cial ista secular em comunicações disse: "Quando aprendermos a pôr em palavras os nossos propósitos de maneira a provocar rea ções específicas nos que estão ouvindo nossa mensagem, então teremos dado o primeiro passo rumo a uma comunicação efici ente e eficaz".'" Nesse sentido, o sermão deve ser concreto como uma calçada. J. I. Packer chama a atenção para o pensamento e a prática dos puritanos com respeito à pregação da palavra.'' Essa idéia
the public worship of God [Guia de Wc st mi ns te r para o cul to p úbli co]. Referindo-se a essa tarefa do pregador, ele diz:
Não deve ater-se apen as à doutrina geral que, apesar de clara c confirmada, precisa ser esclarecida pelo uso especial e pela aplica ção feita aos ouvintes. Embora isso sc mostre um trabalho de grande dificuldade para si mesmo, exigindo muita prudência, zelo e meditação, além de ser bastante desagradável para o homem natural e corrompido. Ainda assim, o pregador deve se esforçar para entregá-la dessa maneira, de modo que seus ouvintes sintani que a Palavra de Deus é viva c eficaz, capaz de discernir os pensa mentos c as intenções do coração. Se houver algum não-crcnte ou não-conhecedor do evangelho no lugar, os segredos do seu coração serão expostos e ele adorará a Deus.'^' Paclcer preparou uma grade de aplicação semelhante à que é empregada pelos pregadores puritanos, na qual ele identifica cinco objetivos da aplicação: 1. Falar ao intelecto sobre a verdade a ser compreendida e a
fal sid ade a ser c\'it ada; 2. Causar impacto na vontade quanto às tarefas a ser assu
midas e aos meios a ser empregados; 3. Motivar os sentimentos de modo a mostrar a penúria e os perigos d o p e c a d o , j u n t a m e n t e c o m o r e m é d i o e as m e lhores maneiras de evitá-lo;
4. Consolar, animar de maneira geral ou particular, e res p o n d e r c o m a t e n ç ã o às p er gu n t as q u e afligem o coração p e r t u r b a d o e o espírito aflito; 5. Incentivar o auto-exame dos que estão passando por pro
vações.
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Cada um desses objetivos deve ser pesado em relação a cer tos tipos de ouvintes: os adormecidos, os que estão em busca de algo, os jovens, os velhos, os caídos e os tristes. Objetivos e
de todos os sermões, mas um certo aspecto de abrangência deve ser buscado durante a pregação. Esses "usos" devem ser sele cionados "à medida que, de acordo com o tempo de convívio e o relacionamento com seu rebanbo, o pregador os considere mais úteis e apropriados. Dentre esses, muitos podem ter a alma atra ída para Cristo, a verdadeira fonte de luz, santidade e consola ção". Uma grade como essa e um planejamento cuidadoso po dem ser extremamente úteis na busca que qualquer pastor faça p o r aplicação eficiente.
Os problemas da aplicação Qualquer pregador que consulta as Escrituras sistematicamente e ouve o clamor dos ouvintes que perguntam "quais são as b oa s - no va s ?" vai pr e ga r o kerygma, ou seja, me ns ag en s eva ngelísticas. Pregar apenas mensagens evangelísticas seria matar o povo de Deus dc fome. Contudo, nunca pregar a mensagem' do evan gelh o c não convida r os pe ca do re s a r ec eb er em a Cr is - I to é fracassar na proclamação de todo o conselho de Deus. A p r e g a ç ã o evangelística d e v e ser e s p e c i a l m e n t e d o u t r i n á r i a e, na maior parte do tempo, apologética. Construir pontes até a mente secular é um desafio especial, parte do que Fredcrick W Robe rtso n ch am ou de "o int ens o ent usi asm o da prega ção". Alguns possuem dons especiais para pregar ao não converti d o , mas todos os pastores que "estão fazendo a obra de um evangelista" pre cis am desenvo lver as habil idade s que p o d e m fazer a aplicação evangelística com sutileza e poder. Não de vemos nos surpreender com a possibihdade de haver vários freqüentadores de longa data de nossos cultos que nunca nas ceram de novo. N e n h u m estilo é tão assolado pelo histrionismo q u a n t o a pr e gação evangelística. A arena política atual, na qual as pessoas co m u n s são tã o bem -vi ndas qua nt o formigas n um p iqu eni que , é análoga ao foco evangelístico atual, co nc en tr ad o e m persona lida des, em vez de princípios. As mensagens são consumidas em ape
tipo de exercício cerebral porque parece que muitos evangelistas p u s e r a m o c é r e b r o para descansar e n q u a n t o p r e g a m . Embora certas mensagens sejam de propósito declaradamente evangelístico, c possível, mesmo sem torcer o significado nem destruir o fluxo da mensagem, compartilhar um conteúdo sufi ciente sobre Jesus Cristo em todas as mensagens, de modo que uma pessoa não convertida possa ouvir o bastante para ser sal va. Não há obrigatoriedade dc a mensagem bíblica se referir de man eir a ciara e incisiva ao Se nh or Jes us, c om qu e m p o d e m o s ter um relacionamento pessoal por meio da fé em seu sacrifício p l e n a m e n t e s u f ic ie n te pa ra o p e r d ã o d o s p e c a d o s . A l g u n s r e cursos maravilhosos estão disponíveis para nos ajudar na apli cação evangelística e na realização de um apelo público em vá rios contextos.'^ A preocupação com a relevância e a aplicação prática nos ex p õ e i n c o n s c i e n t e m e n t e a o p e r i g o d e n o s t o r n a r p o r d e m a i s exortatórios. Alguns pregadores são realmente exortadores. Pa rece que esse era o chamado especial do falecido Vance Havner, p r e g ad o r itin er a nte na maior p a r te d e seu ministério. M a s o pas tor local dev e te r o cu ida do de não lançar co nt in ua me nt e fardos muito pesados para serem carregados por sua congregação. Exis tem muitos corações partidos por aí, por isso a pregação não deve ser um ordálio culto após culto. A pregação exortatória ten de ao mor ali smo , a u m am o nt oa do infindável dc "po de " c "não p o d e " . L e m b r o - m e d c u m a oficina me c â n ic a e m Minneapolis q u e tinha o seguinte convite: "Entre mancando, saia pulando". Não é uma maravilhosa descrição do que deveria ser a experiência co mum dc nosso povo quando vem à igreja para adorar? Embora nossos objetivos sejam elevados no que diz respeito a refletir a grande expectativa que Cristo tem de nós, devemos te r o cu id ad o na aplicação d c não es ta be lec er u m objeti vo tã o elevado que termine por dcscstimular o fervor. Jesus disse: "O meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mt 11.30) e 1 Jo ão 5.3
mente quando disse: "Portanto, julgo que não devemos pôr difi culdades aos gentios que estão se convertendo a Deus" (At 15.19). Per ceba ta m b é m o q u e disse a cart a enviada pel o conci lio: "Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não impor a vocês nada além das seguintes exigências necessárias" (At 15.28). N o s s o alcance e x c e d e nossa c o m p r e e n s ã o . Até nosso divino Senhor disse aos seus discípulos: "Tenho ainda muito que lhes dizer, mas vocês não o podem suportar agora" (Jo 16.12). Enquanto enfrentamos, por um lado, os pe rigos de diluir as normas do NT numa teologia do factível, deve mos também nos esforçar para que, ao fazer a aplicação a uma platéia h e t e r o g ê n e a , nossos objetivos sejam específicos, m e n .suráveis, concretos e atingíveis. Lembro-me muito bem de al guns experimentos realizados quando eu ainda estava na facul d a d e . Eram conhecidos como fatores de discrepância do objeti vo. Está pro vad o que ,se p o d e m es tab ele cer objet ivos tão altos q u e a c a b a m sc t o r n a n d o c o n t r a p r o d u c e n t e s e d e s a n i m a d o r e s . Do mesmo modo que estabelecer um padrão muito baixo sa crifica qualquer valor motivacional da fixação de objetivos como um todo. O professor ou o pregador sábio e sensível estabelece os objetivos num nível suficientemente alto para motivar os in divíduos a buscá-los de fato, mas não tão acima do alcance a p o n t o d e os c o r r e d o r e s se c o n si d e r a r e m i naptos. N â o e xi st e c a m i n h o rá pi do e fácil para a aplicação eficiente da pregação. O processo exige muito pensamento e oração. Seria muito bom que os ouvintes percebessem que o pregador que lhes fala também está num processo de peregrinação rumo ao p r ê m i o . C o m o certa v ez d e s t a c o u s a b i a m e n t e u m pre gador nor te-americano, não foi o servo de Eliseu quem realizou o mila gre, mesmo tendo colocado o homem de Deus diante da crian ça morta. Foi o poder de Deus por meio do toque pessoal.
Como ser mais imaginativo na pregação? A questão da criatividade
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e criatividade ais imaginação na pregação é u m do s tópicos mais discutidos em qualquer clínica ou con gresso sobre a pregação de boje. Pregar é uma ativida de imensamente criativa, Isso não quer dizer que "maquiamos" o sermão. Precisamos deixar claro que a Bíblia é a nossa fonte. Elizabeth Acbtemeier relata que o púlpito cristão está sofrendo com pregação não bíblica e mesmo herética. Ela destaca, por exemplo, um clérigo da Califórnia que lhe disse: "Creio que todos nós somos encarnações de Deus". Acbtemeier diz que esse clero prega sermões não bíblicos "não apenas porque não sabe o q u e a Bíblia diz e c o m o est udá -la , ma s t a m b é m p o rq u e nã o c o m p r e e n d e m a mais básica teologia da igreja cristã".' N u m vazio como esse, a criatividade seria desastrosa.
Contudo, dada a riqueza da revelação bíblica, devemos insis tir que a pregação é tanto "teologia quanto arte", como afirma Acbtemeier O pregador não é apenas um técnico, mas um ar te sã o e artista q ue manej a, ord en a e ex pre ss a a ve rd ad e de De us . O texto deve governar o sermão, mas se seu auditório o ouve como se fosse um monte de massa de pão, de quem é a culpa? A lealdade ao cristianismo bíblico pleno não é desculpa para
é monótono porque, com muita freqüência, adotamos os mo dos racionais seculares sem preservarmos seus aspectos poéti cos",^ É por isso que Henry Ward Beecher foi tão longe, a pon to de dizer que "o primeiro elemento do qual nossa pregação vai depender grandemente para ter poder e sucesso — e você p o d e SC su rp re en de r c om isso — é a ima gina ção, o qu e eu co n sidero o mais importante de todos os elementos que formam os pr eg ad or es " . Existe u m a e s t a r r e c e d o r a e n a u s e a n t e doenç a d e criatividade em mtiitas pregações que parece compri mir um mínimo dc idéias em um máximo de palavTas. Em um sentido, a criatividade está fazendo o que outras pes soas não fazem. Há os adeptos da expressão criativa que po dem pregar sobre a arca de Noé fazendo com que seus ouvintes até mesmo ouçam a cbuva! Isso é trazer algo novo à vida. Pablo Picasso disse que seu objetivo era "levar a mente a uma direção a que ela não está acostumada a ir e então despertá-íal". Para que o pregador consiga impacto semelhante ao de Picasso, o objetivo deve ser conhecer c experimentar o texto. Os fatos de u m te xt o são se me lh an te s às pr op ri ed ad es botâ nica s de u ma flor. Mas queremos ir muito além da botânica; também quere m o s a fragrâncial Há mui to t e m po , Aris tóte les afirmou q ue a alma nun ca pensa se nã o ti ver i m a g e m . As pessoas d e hoje são ainda mais tocadas por imagens do que por idéias. Temos muitos argu mentos cm nossos sermões — o texto do discurso está desti tuído de seu mistério —, mas não existe muita encenação. A música de um viohno foi descrita como crinas de cavalo se esfregando sobre tripas de gato. Essa definição tem autentici da de literal, ma s não é ju st a para de sc re ve r u m co nc er to de violino. Se você quiser encontrar imagens e metáforas criati vas e ricas, volte-se para nosso Senhor e para os escritores bíblicos. W M a c N e i l l c D i x o n a r g u m e n t a v a q u e "a m e n t e d o homem 6 mais semelhante a uma galeria de arte do que a uma câmara de debates".^ Contudo, muitos pregadores dizem: "Te nho a imaginação dc um javali". E possível fazer alguma coisa com relação a isso?
A dinâmica da criatividade Muitos pregadores evangélicos são fracos no uso de imagens porcjue o asp e c to p ic t ó ric o é e s t r a n h o àq ueles q u e l i d a m c o m verdades abstratas. Mesmo assim, desejo desesperadamente não apenas afirmar a ve rd ad e, mas t a m b é m comuni cá-l a. A imagi nação é um aspecto da criatividade. A imaginação alimenta os impulsos, os insights e o en tu sia sm o pelas idéias. O res ult ad o disso c a criatividade, Na imaginação explodem as idéias para escrever um roniancc; na criatividade, essas idéias resultam no p r ó p r i o r o m a n c e , Para ser g e n u i n a m e n t e criativa, u m a p e s s o a deve imaginar, Frederick Buechner, um dos homens mais cria• tivos e co nt ag ia nt es d e noss a era, afi rma q u e a im ag in aç ão é a conjuração interior, por meio de um músculo intelectual bas tante específico, que faz com que aquilo que está ausente ou é ilusório se torne concreto. Depois de escavarmos nosso texto, sabemos o que precisa ser dito, mas então enfrentamos o dilema de como dizer isso co m o má xi mo de clareza e notabil idade. Q ue r em os a t od o cus to evitar as formas pré-fabricadas que suprimem o pensamen t o . Devemos nos voltar para o processo criativo e artístico para •.•gerar aplicações vivas dos conceitos. Isso implica aspectos como \\suposição — esco lher alguns pr es se nt im en to s e segui-los —, pro-
1.
• jeção
— aco lh er \'isões das pos sib ili dad es e das op çõ es ab er ta s a nós —, presciência — relativa a pr op os iç õe s e con clu sõe s. A ' criativid ade resifltante não é me ro em be le za me nt o, efeito esp e cial ou esperteza, E a perícia possibilitada por um processo disci plinado d e estimulação e m o d e la g e m da imaginação. Alguns dos mais conhecidos exemplos de pregadores que apresentam grande capacidade nessa área e devem ser segui dos, cm minha opinião, são Buechner, sobre quem já falamos, Calvin Miller, Eu gen e Pete rson e Wal ter Wang erin , De ve m os i m i t a r W a n g e r i n " p o r q u e "sua p r e g a ç ã o o p õ e o m o d o explanatório, que ensina e usa histórias como ilustrações, e o
anos de idade, 90'/n das pessoas são consideradas altamente criati vas, mas ape nas 2% dos adu lto s alc anç am essa me sm a ma rc a. O que Percy Bysshe Shelley chamou de "o olhar tardio do mun do" cobra de nós um altíssimo preço. Nós, os adultos, nos torna mos sofisticados e psicologicamente muito controlados. Somos ainda mais vit ima dos por aquilo qu e foi ad eq ua da me nt e definido como "a queda da aura", identificada pela primeira vez na obra The work of art in the age of mechanical reproduction \A obra de arte na era da reprodução mecanizada] (1 93 6] . Os meios mec â nicos de reprodução de materiais trouxeram um grande benefí cio ao aumentar enormementc a disponibilidade, mas a reprodu ção toma a arte muito próxima e acessível. Nossos sentidos fatigados se tornam francamente passivos e sonolcntos. E por isso que G. Campbell Morgan classifica a imaginação como a arte suprema da preparação. John Ruskin ensinou que a imaginaçã o trabal ha de tr ês mane ira s: c pe ne tr an te , atingindo as ' camadas mais sensíveis; associativa, pois, para nós, compara o espiritual com o espiritual; e contemplativa. Andrew W. Bla ckwood também falou de três tipos de imaginação pertinentes à pregação: descritiva — o q u e está \'isível; construtiva — o q u e está implícito — e criativa — o que virá a ser. Em todos os casos, a ima gin açã o nà o de ve ser fantasia pur a. O plur al is mo radic al de , nossos tempos, na verdade, atrapalha a criatividade e a imaginação, pois ele se relaciona com a não realidade e, assim, se enca minha para o caos e a anarquia. Podemos argumentar que a cria tividade humana é um reflexo da imago Dei. O pró pri o De u s é intensa e eficientemente criativo. Ele até nos desafia, dizendo: "Eis que eu lhes digo um mistério". Desejamos algo além de um sermão ao estilo suplemento de domingo. O Deus que cria e re dime entrou em nossa vida. Nos céus de tons anis Na terra, nos campos de verdura tal Brilha neles, rica em matiz Beleza que nunca viu o olho mortal George Robinson
D o r o t h y L. Sayers defini u a cri ati vida de e m t e r mo s da obr a da Santa Trindade: Deus Pai é o autor da idéia criativa; Deus Filho é a expressão das idéias por meio das formas de arte re s u lt a n t e s c o m o p o em a , pi n t u r a , s i nf o n i a o u se r m ã o ; o D e u s ÍEspírito Santo c responsável pela comunicação às pessoas. É ; tra nqü ili zad or rec on he ce r qu e es ta mo s ligados ao De us vivo nesse '-Sprocesso criat ivo de co mu ni ca çã o, n o qua l a m e n s a g e m c po d e rosamente carregada por sons, cores e palavras. E fascinante descobrir profundidade no comum. O cristianismo é, na verda d e , uma nova maneira de enxergar. Alexander Whyte, D. L. Moody, T. De Witt Talmadge, Joseph Parker e Clarence Macartney usaram essa visão especial. Thomas Guthrie foi um prega dor pictórico, assim como Peter Marshall. Por me io des se pr oc es so , o pr eg ad or leva ao co ra çã o d os ouv int es o significado e a im po rt ân ci a de fatos e ve rd ad es q ue estão além do nosso âmbito comum, A linguagem pictórica in fo rm a o in te le ct o e faz a ve rd ad e to ca r as em oç õe s. Ch ar le s Jefferson mantinha seu público fascinado quando refletia sobre as possíveis razões por que os nove leprosos não voltaram para agra dece r a Jesus . Ge or ge Whi tef iel d de scr eve u tão b e m u m h o m e m qu e estava pr es te s a saltar de u m penh asc o, que Philip, o lorde Chesterfield, levantou-se e disse: "Oh, ele morreu! Ele , mo rr eu !" . U m antigo pre gad or gales re pr es en to u c o m tal vee1 mência a intenção do filho pródigo, que, ao dizer "eu me porei a • ca mi nh o c voltar ei para m e u p ai", du as mil pess oas se le vant a ram das cadeiras. Certamente estamos lidando com alguns dos dons muito especiais do corpo de Cristo, mas, ainda assim, há espe ranç a para a gr an de maio ria dos me di an os co m o nós, se definirmos quais são os impedimentos à criatividade e como se dá o desenvolvimento da criatividade.
Impedimentos à criatividade A criatividade não está relacionada à inteligência. A criatividade
mos reconhecer Í M O . Gosto de !er uma boa história de mistério para desafiar c es t imul ar m i n h a apreciação das técnicas q u e for mam o suspense. Qualquer suspense de Agatha Cbristie envol ve um vilão qtie, dentre todos os possíveis suspeitos, tem moti vos, meios e oportunidades para cometer o crime. Sherlock Holmes certa vez resolveu o caso lembrando-se que um cão não havia latido. O his tori ado r britâ nico He r b e rt Butter field, ao ilustrar a im por tâ nc ia da imagi nação co me nt ou : As histórias de detetives podem não ser verdadeiras no tocante à vida real, mas é fato que, nos relacionamentos humanos, o mes mo conjunto de pistas, consideradas de um nível de pensamento mais elevado [...], pode produzir um novo mapa do caso como um todo, uma história totalmente inesperada para ser narrada.•* Friedrich Nietzsche falou de "caminhos ocultos para o caos". O pregador que deseja ser mais imaginativo deve evitá-los. To dos nós podemos ser sedados pelo status quo, presos na gaiola de aço da vida moderna. Ralph Waldo Emerson disse: "Aquele qu e deseja ser u m h o m e m dev e ser não- con form ist a". Nos so clamor pela conformidade invariavelmente nos derruba no meio do caminho da menor resistência. Não ousamos largar do tra- l pé z i o p o r q u e s o m o s escravos da i m i t a ç ã o . E p o r isso q u e os estilos e a m o d a ex e r c e m influê ncia tã o decisiva sobr e nós . Queremos estar no passo correto. Um professor de seminário • muito admirado feriu-se na primeira guerra mundial e ficou co m o om br o direi to caíd o. Toda um a geraçã o dc for ma ndo s daque la escola mo st ro u a ten dên cia de cam inh ar co m o o mb ro direito mais baixo. Watchman Nee tinha o costume de cerrar os dentes quando orava, e seus admiradores faziam exatamente a mesma coisa, quer tivessem dentes, quer não. Existem muitas coisas, cm especial em nossos maus hábitos, que sufocam a criatividade. Precisamos lubrificar as rodas do carro. Boas idéias podem se perder se não tomarmos nota delas q u a n d o s u r g e m c m m o m e n t o s i n e s p e r a d o s . E l as p o d e m s e r
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to mal planejado. A criatividade pode até se perder por querer mos enquadrá-la na técnica. Nossa técnica pode se tornar um fim em si mesma como se tornou no teatro clássico grego, na música alemã e na pintura italiana. Acima de tudo, precisamos estar abertos a novas idéias, à trilha não explorada, ao risco. É entusiasmante ver alguns de meus alunos se dedicarem à busca de criatividade e novidades no ministério da pregação. O triunfo é aquele lampejo, aquela idéia sim pl es e básica. A co nc ep çã o dessa idéia é u m m o m e n t o glorioso, mas para experimentá-la precisamos nos livrar das ti ranias e do fardo desta era maligna.
O desenvolvimento da criatividade Variáveis específicas co m p õ e m a eq ua çã o da cri ati vid ade . N o campo do imaginário, lidamos com a capacidade de ver e, por t a n t o , precisamos primeiramente aprender a ven William Blake chegou a afirmar que "somos o que contemplamos". H á m u i t o que enxergar. Será que notamos tudo? Perto da igreja de Madeleine, na cidade de Paris, numa adorável manhã de primavera, dois mendigos pediam esmolas. Um deles tinha uma placa que dizia: "Cego de nascença". Ninguém prestava atenção nele. O outro mendigo tinha um sinal com as seguintes palavras: "Você p o d e ver a primavera; eu não po.sso". Seu cha p é u estava cheio d e di nheir o. Mas q u a n t o s r e a l m e n t e est avam vendo a prima \4era? N a t h a n i e l Shaler se considerava d e v e d o r a u m professor c o m quem estudou na Universidade de Harvard. O professor lhe dera um peixinho conservado e pediu que ele o estudasse. De pois d e 1 hora, Shaler estava pronto para fazer um relatório, mas lhe foi pedido que continuasse a estudar o peixe por duas semanas, perfazendo um total dc várias centenas de horas. Shaler ficou im pr ess io nad o com a qu an ti da de de coisas qu e pô de apr en der. Com nossas agendas cheias feito listas telefônicas, será que
coisas que seus olhos treinados podiam enxergar quando cami nhávamos pela floresta. Precisamos estudar arte, escultura c a f natureza. Jesus via as pessoas com os olhos tanto do conheci mento pleno quanto do amor compreensivo. Ele verdad eira- , mente respeitava seus ouvintes no sentido literal da palavra res peito (i.e., "olha r para trás par a ver de novo ") . Pas sam os di an te \ de muitas pessoas sem de fato notá-las. Para ver o mundo num grão de areia E a beleza dos céus no sol da aurora Ponha o infinito cm sua mão direita E a eternidade numa única hora. William Blake Assim como o servo de Eliseu em Dota (2Rs 6), precisamos que nossos olhos sejam abertos. Ver de verdade significa manter nossas lembranças frescas. O escritor francês ganhador do prêmio Nobel, François Mauriac, advertiu que as marcas que um indivíduo deixa em outro são eternas. Em certo sentido, devemos nos esquecer "das coisas que ficaram para trás" (Fp 3.13), a fim dc que elas não impe çam nosso progresso. Por outro lado, nosso passado contém os tesouros do testemunho da obra de Deus em nós. "Não esqueça nenhuma de suas bênçãos!" é a ordem que encontramos em Salmos 103.2. No romance O5 irmãos Karamazou, Aly osh a diz aos meninos que não existe nada mais alto, mais forte, mais completo e melhor para a vida no futuro do que uma boa lembr ança, especialmente uma lembrança da infância, de casa. Pode-se receber uma boa educação das pessoas, mas algumas lembranças sagradas, preser vadas desde a infância, talvez sejam a melhor educação. Segundo, devemos seguir o que lemos. Uma das melhores maneiras de desenvolver a imaginação é ler bons livros. A lite ratura refina nossa sensibilidade e nutre o poder criativo. Francis
Bacon afirmava que a conversação faz o homem pronto e o es crever cria o homem correto, mas ler gera o homem pleno. Sua experiência lhe ensinou que alguns livros se provam, outros se devoram, mas muito poucos se provam, devoram e se digerem. Todo pregador deve ter um programa sistemático de leitura com uma mescla equilibrada de vários tipos de bons assuntos. Fre der ick No r w o o d obser vou que, co mo o rio, o ser mã o necessita de uma grande quantidade de água. Está bastante cla ro que cada vez menos seminaristas têm uma educação clássica p ara p o d e r discutir o u t r o s g r a n d e s livros. J o se p h Sittler c o n t a de maneira incisiva que os cristãos não estão cumprindo sua obrigação intelectual de usar as artes: Simplesmente não estamos cultivando as pessoas de nosso tempo. Um historiador disse o seguinte sobre a igreja antiga: "Nos três primeiros séculos, a igreja conquistou o império porque sobreviveu a ele, ultrapassou-o em pensamento e continuou depiíi.s dele", abran gendo feitos intelectuais e artísticos. Mas muito da vida intelectual e estética dentro da congregação contemporânea é simplesmente desprezível. Seria a estupidez o preço da piedade?^ Devemos nos lembrar que a Bíblia tem exercido sobre a lite ratura uma influência maior do que todas as outras forças reu, nidas. Pense cm praticamente toda obra verdadeiramente imortal de prosa ou poesia — Paraíso perdido, dc Milton; a trilogia de Thomas Mann íobre José; Road to Endor, d e Rudyard^KiiiHngj Ahitophel ou Rizpah, de Dr yd en . O pre gad or de ve ser a m a n t e e lei tor d c lit era tur a. T S, Eliot, o ma is influ ent e es cri tor de lín gua inglesa de nossos te m p o s , lida c o m o t e m a da con ver são . John Ciardi exalta o grande valor de ler poesia como meio de obter experiência e estender nossa capacidade de enfrentar a vida. John Donne, William Wordsworth, William Cowper, Alfred, Lord Tcnnyson, Robert Brov^ning e Robert Frost forne c e m co mb us tí ve l pa ra a for nal ha das im ag en s e d o est ilo . A
Dickens e Anthony Trüllope, isso sem falar dos romancistas do século X X qu e nos de r a m gr an de s séries de est ud os sob re as eras e a natureza humana (p. ex. A saga de Forsyte, de Jo hn G a l s w o r t h y , o u Friends and strangers, d e C . P. S n o w ] . U m a obra que traz especial satisfação é o estudo da vida inglesa antes c durante a segunda guerra mundial, composto de vários volu mes, de Anthony Powell. Escritores étnicos, dramaturgos e au tores menos conhecidos como Barbara Pym são de imenso va-/ lor na caracterização de pessoas, dignos de consideração pelo estilo de expressão e comunicação. Dou um bom conselho: se quisermos ser artistas, estudemos as grandes telas. Se quiser-/ mos ser pictóricos e imagísticos, devemos deixar que os mes tres nos ensinem. Terceiro, devemos esperar tempo suficiente para que a criatividade brote. A incubação dc idéias não pode ser apressa da. A criatividade precisa de tempo reservado para ela, não de horas vagas. Perguntaram a Isaac Newton como ele resolvia um p r ob l e ma . Sua r es pos t a foi: "Eu o m a n t e n h o d i a n t e d e m i m " . Para alguns, a fórmula pode ser a solidão no interior ou junto a u m lago. Para ou tr os , é me l ho r ir a u m pa rq ue da ci da de para ver pessoas e crianças. Nossos estilos e padrões são tão diversi ficados quanto nossa personalidade, mas não haverá criatividade se não organizarmos nossa vida de forma muito mais profunda do que seguir uma rotina ou ver televisão. Frost saiu de casa e nasceu a obra "Stopping by the woods on a snow>' evening". René Descartes meditava diante do fogo. Afirma-se que Newton ficou obs erv and o a maç ã. Ed wa rd Gi bb on passeava por en tr e as ruínas romanas. Thomas Hobbes sempre carregava a pena e um pouco de tinta. Devemos ao nosso Senhor e ao seu rebanho as mensagens extraídas da Palavra que evidenciam muito zelo pela c o m u n i c a ç ã o . Q u e o nosso p e c a d o nã o resida n o des cui do de nosso trabalho. Quarto, nossa odisséia deve envolver anseio pelo uso cuida doso mas criativo das palavras. Que Deus não permita que seja mos meros entregadores de palavras, agindo como aquele que
"ob scu rec e o m eu conselh o co m palavras se m c on he ci me nt o" (Jó 38.2). Gosto muito do tributo que John F. Kennedy prestou a Winston Churchill, sobre quem disse: "Ele mobilizou o idioma inglês e o colocou na batalha", Precisamos ver as palavras como aparelhos de ignição. A tendência é vivermos de lemas, mas p r e c i s a m o s t e r m u i t o c u i d a d o ao us ar palavras q u e d i s p a r a m , qu e p o d e m ter con ota çõe s qu e co mu ni ca m algo dif er ent e do que gostaríamos de dizer. Fred Craddock recomenda que mer gulhemos no que as Escrituras dizem sobre as palavras, como \ e m Isaías 5 0, 4 - 6 e 5 5 , 1 0 , 1 1 ; Mateus 12,33-37 e Romanos IÜ.I4; 17.'' Leia os mestres da linguagem e apenas ouça, especialmen/ te as crianças. Elimine de suas mensagens palavras e expressões vagas e difíceis de entender. Ouça boa miísica e perceba a precminència do tema. Com posições c o m o Serenata, de Franz Sc hu be rt, Losl hope de Louis G o t s c h a l k , Lohengrin, de Richar d Wagner, Rapsódias húngaras de Franz Liszt ou Sonata ao luar de Lu dw ig van Be et ho ve n. Leia Shakespeare em voz alta para perceber o poder que teve tão grande influência sobre o idioma inglês. Além do mais, ele fez mai s d e I 2 0 0 re fer ênc ias às Esc ritu ras em suas 37 pe ça s, N ã o igriDre-..ps mar avi lhos os son eto s, pa rt ic ul ar me nt e os n ú m e r o s •ifig a 146:) "A questão da pregação criativa nos leva aos recursos interio res de Deus. Dag Hammarskjõld, cujo estilo mí.stico dc fé cris tã faz dc Markings u m desa fio dig no d e lei tur a, disse e m seu diário: "Num sonho, eu caminhava com Deus por entre os luga res profundos da criação". Foi esse sentimento em relação ao que Deus fez e está fazendo que inspirou e motivou seu espírito. Comunicar esse sentimento deve ser um dos mais profundos desejos e um dos maiores anseios do pregador contemporâneo.
De que maneira devemos concluir? A questão da intencionalidade
A
conclusão do sermão é o momento em que deveríamos focalizar nossa atenção de forma mais evidente. Contu do , é a p ar te mai s fraca da pre gaç ão no rt e- am er ic an a de hoje. Não apenas entre os pregadores neófitos dos laborató rios de homilética, a quem eu ouço às centenas, mas também nas igrejas afora, as conclusões confusas são o mais sério sinto ma do mal-estar da pregação. De todas as coisas que mais cau sam dissabores no plano homilético, essa é a mais vexatória. Jesus nos fala do ridículo enfrentado por um homem que começou a construir c não foi capaz de concluir sua obra (Lc 1 4 . 3 0 ) . Em muitos sermões parece que o pregador perde o r u m o . A mensagem pode começar muito promissora e conti nuar de modo poderoso, mas depois parece não haver vapor suficiente na caldeira para concluir com eficiência. E como um foguete de brinquedo que sobe de maneira espetacular, mas cai b r u s c a m e n t e d e m o d o inglório. E c o m o u m avião q u e se a p r o xima do aeroporto, mas não consegue aterrissar e, assim, con tinua voando em círculos. Quantas vezes já sentimos isso com relação a nossa própri a prega ção, ou seja: c o mo po d e mo s ater rissar? Precisamos abordar algumas propostas e ações específi cas para o que se chama de "o último terço fatal". John Killinger cila Herman Melville no que se refere ao enorme poder da cau
gos do antílope e a adorável plumagem de vários pássaros. Sou menos celestial e, por isso, celebro uma cauda".' Neste capítu lo, estamos celebrando a cauda. O sermão deve caminbar resolutamente rumo à conclusão, s e n ã o p e r m a n e c e r á l í m p i d o c o m o u m l ag o d e m a r g e n s o r n a mentadas por lírios, G. Campbell Morgan sabiamente adver t e : " N ã o p e r c a m u i t o t e m p o p r e p a r a n d o e p o s i c i o n a n d o a s ar ma s de m o d o qu e não lhe sobr e op or tu ni da de e voc ê ac abe sem dar um tiro sequer". Foi feita a seguinte obser\'ação em relação a Samuel Johnson: "Ele sabia terminar, assim como começar". Essa realmente é uma qualidade que todo pregador deveria imitar. U m de nossos gra ndes pr ob lem as está rela cion ado ao te m p o disponível. Pressionado pelo tempo em todas as direções, o pre gador não tem muito tempo disponível para a conclusão e con ta que terá condições suficientes, dadas pelo Espírito Santo, para improvisar o fechamento. Isso raramente funciona e não pode mo s co nt ar c o m isso, E aqui qu e a pre gaç ão se difer encia m u i t o do discurso. O pregador deve trabalhar a conclusão, conside rando-a absolutamente fundamentai para a comunicação. De ve mo s rese rvar t e m p o suficiente para a conc lusão . Em b o r a ela t e n h a d e ,ser r e l a t i v a m e n t e c u r ta , precisa ser m u i t o b e m modelada. Bem-aventurado é o pregador cuja linha de pensa mento tem um freio. A divagação deve ser controlada com fir mez a sc qu er em os d ar a vitalid ade qu e gostarí amos à pa rt e fi nal. John Stuart Mill sustentava que todos os grandes assuntos ainda possuem algo a ser dito mesmo depois de terem sido ex p li c a d o s . N ã o c o n s e g u i m o s dizer t u d o o q u e d e s e j a m o s s ob r e um determinado tema, mas devemos reunir todos os aspectos e concluir de maneira poderosa. O sermão médio de um domin go de manhã tem cerca de 4 500 palavras, Isso quer dizer que, em toda a sua vida, o pregador fala cerca de 8,28 milhões de palavras nos s e r m õ e s . Esse valor du plic a q u a n d o se considera o se rm ão de domi ngo à noit e, e triplica co nsi de ra ndo um cult o
cisamos aprender a afiar a conclusão, caso contrário parece re mo s u m fanático qu e p e r d e a visão do objetiv o, ma s re do br a o esf orç o par a cb eg ar lá. Co nf us ão no foco ou a pos sív el a u sência de um movimento de encerramento são catastrói^icas na pregação. Recomendo aos meus alunos que gastem dois terços de seu tempo para preparar o terço finai da mensagem. Em qualquer convenção ou conferência de vendas, o montante de tempo dis ponível é gasto t ra b a l ha n d o- s e os ú lt i m o s cinco m i n u t o s da a p r e sentação dos vendedores c isso acontece por uma boa razão. Corremos o sério risco de estar meia geração atrás de nossa cultura, e uma maneira de evitar isso é reconhecer a necessida de de um fmal educado mas desafiador. Gastar tempo em ape los especiais ou tentando desembaraçar a trama dc uma lógica ilusória no final do sermão destrói o impacto sobre a "geração dos ata lho s". Qt ia nd o p er gu nt ar am a u m alun o sc cic quer ia comprar um dicionário, ele respondeu: "Não, obrigado. Estou es pe ra nd o a vers ão e m filme" .
Objetivos da conclusão Toda conclusão tem certos propósitos comuns, e alcançar esses objetivos faz o trabalho da preparação da conclusão valer a pena. O primeiro desses objetivos básicos é nosso desejo de causar um efeito no fechamento. È na conclusão que a unidade do dis curso desabrocha num agradável sentido de completude. Al guns sermões fazem um desenvolvimento cuidadoso nas priineiras fases. Talvez quinze minutos sejam dedicados ao primei ro tópico, sete ao segundo, prosseguindo sem paradas para os três minutos do último tópico. Então, de repente, se dá um sal to para a conclusão. Isso é perturbador para os ouvintes e deixa a impressão de uma preparação inadequada. A sensibilidade pastoral imprime sobre nós a imensa impor tânci a de reforçar a relevância prátic a do se rm ão no m ov im en to da conclusão. E nesse ponto que se faz necessário existir um
ral. É aqui que nos detemos em convidar os omintes a terem uma reação adequada. Isso nâo deve ser prolongado nem contorcido de dor, mas também nâo deve ser apressado, pois não p o d e m o s seguir p o r esse c a m i n h o e, n o final, r e t e r o i m p a c t o . Tanto o mi ni st ro qu an t o a con gre gaç ão est ão fatiga dos nes se momento crítico, mas esse é o nosso último momento com nos sos amigos. Devemos nos esforçar nessas últimas palavras, Elas devem ser corretas. Killinger cita Henry Sloane Coffin, para qu em "muito s sermõ es de ix am impre ssão sem elh ant e à do del ta do Mississipi [,..] ele se esparrama em todas as direções, em vez d e chegar a u m de st in o claro".^ Se a in tr od uç ão é se me lh an te ao pó rt ic o de u m edifício, a con cl usã o é c o m o o pin ác ul o que aponta para cima e deixa uma última impressão correta nos aspectos psicológicos, estruturais e estéticos. Segun do, ao enfatizarmo s o fec ham ent o, qu er em os alcançar um clímax. Em termos de um esboço emocional, é nesse ponto qu e co me ça mo s a bu sc ar u m cre sc en do . No ss o passo e nosso im pa ct o emo ci on al são mu i t o im po rt an te s para a eficácia da co mun ic aç ão. O qu e no m u n d o secular se cha ma de "m otiva ção da oratória" realmente tem sua contraparte no sermão. E um dos maiores desafios do pregador iniciante. Muitas vezes, ele acha que pode se encaminhar para um fechamento horizon tal. Pregar não é apenas informar, mas inflamar com poder se melhante ao relatado em Atos 11.15: "Quando comecei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles". E possível ver as evidências de fome emocional entre nós. Nossa pregação t e m a p r e s e n t a d o a t e n d ê n c i a d e ser m u i t o cere bral. C e r t a m e n t e e x i st e m e x t r e m o s e excessos a ser v e e m e n t e mente evitados. Concordo plenamente com James Joyce que "o sentimentalismo é uma emoção imerecida". Não estou dizendo que devemos fazer algo em volume mais elevado nem de manei ra tempestuosa, mas apelo por um elemento de intensidade ade quada à medida que nos encaminhamos para o fim.
ro dá no tijolo, fazendo-o ficar firme no seu devido lugar.^ A última batida é necessária porque faz com que as transições se j a m eficazes. E necessário bavcr u m b o m senso d e coesão se o passo s e g ui nt e d o cu lt o for o e n c e r r a m e n t o c o m u m hino d e adoração ou dc compromisso. Se o item seguinte for a celebra ção da Ceia do Senhor, a conclusão deve ser estabelecida de ma neira sólida. Se vamos fazer um apelo, é preciso haver uma con figuração e u m co nt or no ap ro pr ia do s na concKi são d o se rm ão . Algumas dificuldades que enfrentamos hoje no apelo têm origem em conclusões sentimentalistas. Se o apelo for um tipo de pr oc ed im en to co ndi cio nado e au to má ti co , passa a nã o ser mu it o im po rt an te , su pon ho , ma s a prega ção bíblica deve^fazer com que as pessoas tomem uma posição. Õ único tipo de pro clamação conhecida na igreja apostólica envolvia perstiasão, exortação e apelo. Os aspectos éticos da persuasão serão anali sados no cap ítu lo 11 , ma s, co m o disse Jo hn A. Broadu s, "o nde não há convite, não há sermão". O coração é tocado em passos lentos, mas chega um momento em que devemos puxar a rede, Jo hn R. W. St ot t afirma mu it o b e m qu e a pre gaç ão aut ênt ica envolve tanto a exposição quanto o apelo. Não pode haver ex posição v er da deir a s e m o a pel o para a t o m a d a d e decisão, as sim como não pode haver apelo sem a exposição.'' A mistura clara desses ingredientes aguça nossa consciência quanto à im por tância da conclusão d o s e r m ã o .
Opções para a conclusão Pregar é a mais requintada das artes e certamente a arte da conclusão não é uma tarefa simples. David G. Buttrick nos lem b r a q u e "as c o n c l u s õ e s são g o v e r n a d a s pel a in te n çã o " .^ Isso eqüivale a dizer que a natureza e a forma de nossa direção bási ca e de nosso propósito no sermão vão determinar a natureza e a forma da conclusão. A conclusão deve ser adequada ao ser mão desenvolvido. Assim como existem vários padrões estru turais básicos, existem várias opções para a conclusão. Vamos considerar agora essas opções.
O discurso dc Josuc ao povo de Israel (Js 2 4 . 2 - 1 6 ) tem uma viva conclusão: "Escolham hoje a quem irão servir" (Js 24,15). Vários sermões presentes no livro de Atos dos Apóstolos são exemplos esplêndidos do emprego do apelo pessoal. Nesse mo mento, o pregador é um cooperador do Espírito Santo de uma maneira particularmente tocante, como vemos em Atos 2,364 0 . Somente o Espírito Santo pode penetrar o coração, mas, como em todos os aspectos da pregação, o Espírito Santo usa lábios de barro como instrumentos, O majestoso discurso de Paulo em Atenas é outro exemplo que deve ser citado, quando o apóstolo convence seus ouvintes do dever dc se arrepende rem: "No passado Deus não levou cm conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com jus tiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a t o d o s , ressuscitando-o dentre os mortos" (At 17.30,31).
Muitas congregações ficam decepcionadas porque não existe nenhuma indicação de para onde ir a partir daquele ponto. O sermão pode ter sido bom até o momento, mas os ouvintes são abandonados prematuramente, O anjo deixou Pedro somente depois de acompanhá-lo por todos os portões e passar por to dos os guardas, levando-o para fora na noite fria. Depois de toda a co mp le xi da de do Se rmã o do Mo nt e, nosso Sen hor fina lizou com uma magnífica ilustração da aplicação (Mt 7,24-26). Se o desenvolvimento de nossa proposição foi correto, é inevi tável uma determinada conclusão. Mudar de direção na conclu são re qu er a mu da nç a d e t o d o o ser mão , É aqui que nossa força não deve falhar e não devemos nos deixar intimidar pelo temor dos homens. Nesse ponto discordamos veementemente da fa mosa frase do diretor de cinema Alan Rudolph: "Verdade é tudo o que recebe maior aplauso". O sapato pode machucar, mas
Os resumos podem ser muito entediantes c previsíveis. Con cluir sempre dizendo "agora que já vimos que..." é cair numa infeliz armadilha. Apenas num sermão muito argumentativo ou numa progressão muito bem delineada é necessário reservar valiosos momentos de conclusão para rever os pas,sos. Uma b r e ve r e c a p i t u l a ç ã o e m q u e se c i t a m os p o n t o s já a b o r d a d o s deve ser suficiente na maioria dos casos, deixando assim espa ço aberto para o impulso final. Se o desenvolvimento não esti ver claro até esse m o m e nt o , não ser emo s be m- su cc di do s e m resgatar o sermão de sua incoerência nos cinco minutos fmais. A recapitulação reforça a impressão de um padrão por demais silogístico. Qualquer citação breve dos pontos, na maioria dos casos, deve ser mais sutil e sugestiva. Essa técnica é muito pesa da e deve ser evitada.
Henry Ward Beecher era muito hábil cm pintar uma imagem por meio de palavras. Visualize, por exemplo, o trono do julgamento dc Cristo e o crente comparecendo para prestar contas, ou en tão, o gra nde tro no bra nco e os qu e se ap r es en ta m di ant e de De us para o jul gam ent o final. N u m a det er mi na da ocasião, desça do púlpito.(usando o microfone sem fio) para ,se sentir mais pró ximo das pessoas e fale em tom de conversa. Sinta o palhos das almas eternamente perdidas. Sinta a angústia dos gentios de Efésios 2.12 que e.stão "sem esperança e sem Deus no mundo".^
o uso de dois ou qu at r o vers os de um a poesia po d e a bra nge r toda a mensagem central de maneira sucinta. A poesia pode ser memorizada. Isso além de facilitar seu emprego eficiente dá a medida certa. Quebrar o contato visual tão importante nos mo mentos de fechamento do sermão lendo longos trechos de poe sia ou prosa é simplesmente suicídio. Não despreze a estrofe de
plar a r u d e C r u z e m q u e p o r m i m m o r r e u J es us " para a crista lização da resposta a um sermão cujo tema foi "O Cristo cruci ficado"?
Aquilo que se chama de ilustração "enganosa" se vê com maior fr eqü ênc ia na co nc lus ão . E possível nes se po nt o coloc ar u m a b o m b a d o ti p o a rra sa- quar tcirà o, u m a i ma g e m tão pe sa da q u e o resto do sermão é esquecido. Esse problema não é comum, mas devemos ter cuidado, pois um derramamento de lágrimas p o d e levar p o r água abaixo o i m p u ls o v e r d a d e i r o . A ilustração nunca deve ser longa demais e sair do controle. Livre-se dos detalhes desnecessários. Um exemplo do tipo de história que p o d e ser b e m - s u c e d i d a é o co ns elh o q u e o e s c u lto r B e r t o l d o di Gio van ni de u ao jo ve m Mich elâ nge lo sob re o per igo de realizar alguma coisa com desprezo. Entrando no estúdio certa manhã, ele viu seu talentoso aprendiz esculpindo uma insignificante peça de escultura. O mestre pegou uma marreta e esmagou a peça, dizendo: "O talento é barato, mas a dedicação é muito cara". N ã o é ne ces sár io usar ma is palavras p ara explicar a m e n s a g e m . Deixe que ela se aprofunde por si só.
Quase sempre se empregam citações para dar mais peso à con clusão, embora Buttrick teça uma forte reprimenda sobre a in trodução dc outra voz nesse ponto importante, dizendo que isso faz com que o pregador se transforme num boneco de ventríloq u o . De maneira geral, Buttrick acha que as conclusões mais convencionais "se intrometem no discurso direto e, portanto, interrompem a conscientização",' Mais uma vez, alguém gosta ria que Buttrick tivesse documentado suas idéias sobre o cam p o d a c onscien tiz ação q u a n d o ele afirma q u e "se o o ra dor e x p h ca para a platéia como é levar o cachorro para passear, 95% das pes.soas nào vão ima g ina r n a da " ou "pesquis as i n d i c a m q u e as
afirmar que o uso excessivo de qualquer uma das técnicas seria inintcligente e que, de maneira geral, muitos pregadores usam citações demais, Mas é fato que a citação correta pode ser mui to proveitosa,
Mesmo Buttrick reconhece que "existe algum indicativo de que a conclusão de um sermão feita em círculos vai tomar forma e p e r m a n e c e r no c ons cie nte" , '' Se c o m e ç a m o s c o m u m a ilustra ção ou uma abertura especial, podemos voltar para ela na con clusão e capitalizar juntando os elementos. Se um sermão so b re o b o m s a m a r i t a n o c o m e ç a r c o m a lgum p o n t o d e c o n t a t o contemporâneo — o chamado efeito do espectador'" — posso voltar, na concl usão, com o m e s m o efeito do esp ecta dor, N e m todas as introduções e conclusões podem ser correlacionadas dessa maneira, mas essa é uma estratégia básica que tem méri to considerável.
A inclusão de uma referência muito pessoal sempre requer cui dados. Em um sermão baseado no capítulo 3 do livro de Daniel co m o te ma " qua nd o a nã o- co nf or mid ad e é necessária ", con cluí dize ndo que , emb ora De us não ten ha pro me ti do se mpr e nos livrar das grandes fornalhas da vida, ele prometeu estar conosco durante as provações. Em vez de usar as experiências de outros, sejam bíblicas, sejam clássicas, achei importante fa lar à igreja de uma fornalha pela qual minha esposa e eu passa m o s , não em detalhes, mas de maneira bastante existencial. Dc acordo com meu instinto pastoral, existe lugar para o testemu nho pessoal, especialmente sc não procurar reforçar, nem mes mo de maneira implícita, que estamos acima da congregação üu que vencemos determinada provação.
Precisamos finalizar e polir, mas às vezes precisamos deixar um
finalizar co m um a pe rg un ta , c om o fez Ar th u r Go ss ip e m seu sermão "Em tempos de mudança": "Sempre haverá duas pes soas. E quem pode se sentir sozinho, insatisfeito ou temeroso j u n t o c o m J esus?". Talvez p o s s a mo s finalizar c o m u m a s imp le s reiteração do texto. Também podemos ocasionalmente usar em nossas pregações um final surpreendente como os que vemos nos contos de Guy de Maupassant {The necklace) ou d e Wi ll ia m Sidney Porter com o pseudônimo O. Henry (The gifl of the magi].
Oportunidades na conclusão Nossa o p o r t u n i d a d e na c o n c lu s ã o a p r e s e n t a u m e n o r m e desa fio. E aqu i q u e a riqueza e o p o d e r da Palav ra d e D e u s p o d e m ter o máximo alcance. No teatro da cidade de Glasgow, na Es cócia, havia logo acima da entrada principal, para que todas as gerações pudessem ler, esta inscrição: "Que Glasgow floresça pela pr e ga çã o da Palavra". D e p o i s d a s e g u n d a guerra m u n d i a l , o prédio foi reformado e o ditado da cidade antiga foi encurta d o , tr an sf or ma nd o- se e m " Q u e Gl as go w floresça". O ritmo d a vida moderna eliminou o que era absolutamente essencial. Não devemos modernizar tanto nossas conclusões a ponto de omitir ou perder o claro c pungente impacto da Palavra pregada. N ã o a c h o q u e p o d e m o s de ixa r n o p â n t a n o u m a c on gr eg aç ão repleta de almas feridas. Eu contesto a idéia de que os amantes nunca falam de maneira negativa ou duvidosa. A Palavra é uma espada de dois gumes que tanto corta quanto cura. Mas é certo q u e , como ministros da nova aliança, dificilmente podemos pre• gar a lei se m o evan gelh o. Pr ec is am os dos dois, ma s não p o de r m o s de ix ar nos so po vo se m u m a pal avr a de es pe ra nç a. Essa p o d e ser a ú ltima m e n s a g e m q u e a l g u é m ouvirá. Se o t e x t o te r mina numa palavra de desespero, temos todo direito de enxergálo em seu contexto mais amplo e falar ã fome voraz do nosso p ov o , d a n d o - l h e a lg uma a f ir ma ç ã o d e e s p e r a n ç a e boas- novas . Devemos evitar o exagero na conclusão, aquele que vai adi
conclusão dúbia que divide o foco. Precisamos de uma conclu são objetiva, com uma palavra simples e direta. Podemos per der as pessoas se o nosso percurso for acidentado como o do rio Jordão. Não acrescente matéria nova na conclusão, o que, com efeito, faz q ue ela se tr an sf or me n um p se ud op on to princi pal. Pare enquanto a congregação ainda está querendo mais. N ã o e nfei te sua conclus ão c o m frases c o m o "agora, e m con clus ão" ou "fique comigo mais u m pou co ". A m e n t e bu ma na p a r e c e usar u m p á r a - q u e d a s e salta c o m a m e n o r p ro vo c a çã o . Também não bata no rebanho. Seja vigoroso e questionador, mas não áspero nem combativo na sua conclusão. N o livro Fartners in preaching {Parceiros na pregação], Reuel L. H o w e fala de suas de sc obe rta s a par tir de um a pes quis a co m leigos que foram entrevistados com relação à opinião sobre a p r e g a ç ã o q u e o u v e m . " D e n t r e as várias o p ç õ e s , seis ite ns fo ram destacados no que se refere à pregação: 1.
É comum os sermões apresentarem muitas idéias;
2. Os sermões têm muita análise e pouca resposta; 3 . Os sermões são muito formais e impessoais;
4. O preg ado r pr es u me qu e os ouvin tes tê m mu it o mais co m p r e e n s ã o e c o n h e c i m e n t o biblico e teológico do ciue real mente têm; 5. O s se rm õe s são mu it o prop osic iona is e t ê m poucas ilus trações; é muito comum vermos ilustrações muito literá rias e pouco úteis;
6. Muitos sermões simplesmente acabam num beco sem saída e não dão nenhuma orientação para o compromisso e a ação. Esses aspectos são apropriados para serem p re g a do r ansioso p o r c o m u n i c a r o evangelho contradizer todas elas em nossas conclusões, conclusão não deve ser um beco sem saída,
investigados pelo eterno, Podemos Certamente nossa mas uma avenida
Quando a persuasão se torna manipulação? A questão da ética
A
ar te da pe rs ua sã o t e m sido pr at ic ad a na família h u m a n a desde o começo de nossa história. Os antigos rcgos ti nham mais consciência da natureza do discurso persuasivo do qu e talvez qu al qu er o ut ro po vo .' Em bo ra a ret óri ca e a oratória gregas tenham raízes em Homero, foi o surgimento das cidades-estado que deu nova importância às técnicas de co municação e persuasão. A técnica da persuasão é sempre críti ca numa sociedade democrática e igualitária, O indivíduo que falava com clareza e argumentava de modo p e r s u a s i v o era a l t a m e n t e c o n s i d e r a d o . Ta nto S ó c r a t e s q u a n t o Platão, com sua inclinação elitista e monárquica, de modo geral desdenhavam da retórica e da persuasão. Platão, na verdade, as desprezava, qualificando-as de "bajulação". Na obra Fedro, ele analisa as três maneiras pelas quais a linguagem nos afeta, mas ele não está sozinho em expressar considerável apreensão so b r e o m a u u s o d a p e r s u a s ã o , ' A Retórica de Aris tóte les as su me a posição de qu e "o es tu do retórico, em seu exato sentido, sc preocupa com os modos de pe r su as ã o, A p e r s u a s ã o é po r c e r t o u m ti p o d e d e m o n s t r a ç ã o , uma vez que somos mais plenamente persuadidos quando leva m o s e m c o n s i d e r a ç ã o a lg o q u e f oi d e m o n s t r a d o " . D e f a t o ,
suasão".-' De acordo com Aristóteles, o persuasor utiliza três vias d e ab or da ge m: 1.
Argumento para o intelecto, a habilidosa ordenação dos fatos e a lógica. O comunicador deve sc precaver dc gene ralidades vagas, afirmações nào embasadas e raciocínio f a l h o . Afirmações gerais precisam ser exploradas com infcrências precisas. Na obra The elhics of rhetoric \A éti ca da retórica\, Rich ard Wea ver traça os pa dr õe s históri cos de argumentação e observa que a prodigiosa presun ção e o provincianismo do homem moderno se expres sam na argumentação que busca efeito imediato, ao contrário da verdade derradeira.''
2. Ape lo às em oç õe s, a inescapávcl neces sid ade de confr on tar a reali dade do se nt im en to , do hu m or e da predi sposi ção. No Livro 2 da Retórica, Aris tótele s identifica um a dezena de emoções numa grande exposição que Lester De Kostcr chama de "a contraparte paga do saltério [...] O pregador dispos to a m o l d a r os s e n t i m e n t o aos pr opósitos divinos vai achar em Aristóteles uma fonte inesgotável".^ 3 . Afirmação de caráter. Esta é característica indispensável de Aristóteles. Já destacamos seu comentário dc que a pers uasão se alcança pelo caráter pessoal d o orador. Acre ditamos mais pronta e plenamente nos homens bons do que nos outros.*'
A ênfase grega na teoria da retórica levou a uma considerá vel ornamentação. O estilo simples deu lugar a um estilo media no mais enérgico e, em muitos lugares, era moda o estilo empo lado. A escola asiática de oradores foi particularmente exagera da. A his tór ia e a pr át ic a da pe rs ua sã o ju st if ic am t a n t o o estabelecimento da retórica como uma das grandes idéias do m u n d o ocid enta l qu an to a obser vação feita por Mo r ti me r J. Adler e seus associados: "Na tradição dos grandes livros, ao mesmo tempo se exalta a retórica como uma disciplina útil,
se condena como uma arte desonesta, à qual os homens decen tes não devem se curvar".' Dessc modo, em muitos lugares a palavra retórica adqui riu cono taç ão deprec iativ a. Ta mb ém existe um ditado antigo que diz que oratória é dizer nada, mas dizer melhor. Os ouvintes são dissuadidos se a oratória for muito es corregadia. Weaver argumenta que o caráter especioso da velha retórica acrobática e ambiciosa desperta hoje a antipatia, e não a indiferença, embora os sucessos de alguns na atual arena polí tica possa fazer com que lancemos ressalvas sobre o julgamen to de Weaver nessa questão. Mas de que modo os comunicadores p o d e r ã o a char es pa ço se desejam e xpr e s sa r a v e r d a d e c o m sin cer id ad e ética e co mp et ên ci a retór ica?
A legitimidade da persuasão Hoje em dia, as pessoas são cuidadosas com a persuasão, e fa zem bem, pois ela nos interessa profundamente. Estima-se que duas mil mensagens persuasivas atacam cada um de nós diaria m e n t e . A o se for mar n o ensi no mé di o, o j ov e m já te rá assi stid o a mai s d e 35 0 mil anún ci os na tel evi são. Bil! Hy be l s de st ac a que at ua lm en te as pessoas são "b omb ar dea das por ca mp an ha s publi ci tárias persuasivas e, d e p o i s d e u m c e r t o t e m p o , a p r e n dem a levantar defesas, como se estivessem dizendo 'não vou deixar que isso me atinja'".** Os inseguros são mais suscetíveis aos persuasores e todos nos sentimos explorados. As 910 pes soas que se suicidaram em Jonestown nos lembram quanto os seres humanos podem ser manipulados por pessoas habilidosas destituídas de princípios. N o s s o forte desejo é a p r e s e n t a r a v e r d a d e de D e u s d e m o d o a vermos vidas transformadas por Jesus Cristo. A expressão vocal c parte do processo de uma batalha feroz que se trava pela mente de homens e mulheres. Além da preparação intrínseca para a pregação, visando a a p r e s e n t a r d e m a n e i r a c or r e t a o con teúdo verdadeiro das Escrituras, enfrentamos o desafio sema nal da preparação extrínseca para determinar a forma, a estru
ração são totalmente dependentes da liderança e da orientação do Espírito Santo. N o s evangelhos som os t o c a d o s pela suave per suasão de J c stis. A pregação apostólica sempre foi orientada para levar a uma decisão. Um estudo cuidadoso do verbo peitho (persuadir, convencer) mostra quanto isso era vital no ministério de Paulo: •
Atos 13.43: Paulo c Barnabé se dirigiam aos convertidos "recomendando-lhes que continuassem na graça de Deus".
• At os 18.4 : Paulo "d eb at ia na sinagoga, e con ven cia j ud eu s e gregos". • Ato s 19.8: Patdo argu ment ava "con vin ce nte me nt e acerca do Reino de Deus". " Atos 26 .2 8: Paulo proc urav a "con venc ê-lo s a re spe ito d e Jesus". "
2Co rí nti os 5.1 1; Paulo disse: "U m a vez qu e co nh ec em os o temor ao Senhor, procuramos persuadir os homens".
Em ICoríntios 2.1-5 está claro que Paulo não via a exposi ção da verdade de Deus como sua única responsabilidade. Pre cisava haver também persuasão, assim como deve acontecer todos as vezes que penetrarmos na cidadela do desejo humano, Richar d Ro ber ts afirma que "s omo s ch am ad os a per sua dir e, quando for o caso, a convencer. Se não for para uma tomada de decisão, então não estamos pregando". John A. Broadus tam b é m nã o exagera na q ues t ão q u a n d o diz q u e a parte principal do que normalmente chamamos de aplicação é na verdade persuasão, Não é suficiente convencer os homens a respeito da verdade, nem fazê-los ver como cia se aplica a eles e como pode ser praticada, mas devemos "persuadir" os homens.'' Raymond W. McLaughlin cita George F. Sweazey, que afir ma que nossa vantagem na pregação evangelística é podermos
rio de Richard R. Caemmerer: "O discurso persuasivo não é ape nas para entretenimento. Ele faz diferença nas pessoas"." As pessoas com as quais lidamos foram privadas de idéias e valores que antigamente nos pareciam óbvios. A corrosão da moralidade tradicional, o menosprezo à virtude e a erosão da linguagem dificultam nossa tarefa. O que Robert Bellah define como "o minguar da vitahdade cultural" também é bem eviden t e . O senso de obrigação reduziu-se drasticamente, e o adia mento da recompensa não é atraente. O que predomina é urna morahdade utilitária de interesse próprio. A tarefa seria impos sível se não fosse por um fator: o Espírito Santo.
Os limites da persuasão Todos os comunicadores do evangelho cün.scientes deveriam ler o bom livro de McLaughhn, intitulado The ethics of persuasive preaching [A ética da pregação persuasiva] e The mind changers: de mentes: the art of Christian persuasion [Os transformadores a arte da persuasão cristã], dc Emory A. Griffin.'- Existem li mites a serem observados e algumas linhas muito importantes d e v e m ser tr aç ad as se qu is er mo s ser per sua siv os, c não manipuladores. Griffin vai ao cerne do assunto em seu axioma: "Q ua lq ue r esforço persuasi vo qu e restrinja a li ber dad e do indi víduo de escolher ou rejeitar a Jesus está errado".'^ Esse princí pio d e v e ser vigente e m t r ê s áreas ligadas à persua,são. Prime irame nje, a probi dade e a hone sti dade de ve m c ont ro lar o uso que fazemos dos elementos do discurso. Não devemos exagerar o que o texto diz. È uma grande vantagem ter as ferra mentas para lidar com a língua original, pois precisamos ser cuidadosos com nossas informações. Ao buscarmos a exposi ção das idéias, utilizamos materiais de apoio. Dentre eles deve haver, como sugere Otis M. Walter, dados estatísticos, exem plos h i p o t é t i c o s , analogias, r e s u m o s , t e s t e m u n h o s e r e c u r s o s visuais.''' Se todas as partes do discurso são honestas e justas, o p r ó p r i o discur so t e r á m a i o r possibilidade d e ser h o n e s t o e j us
Segundo, devemos observar nossos motivos. A integridade deve ser mantida intacta, sadia e completa. E impossível desco b r i r a m o t i v a ç ã o t o t a l m e n t e pu r a , m a s p r e c i s a m o s q u e s t i o n a r nossas intenções quando fazemos embelezamentos e elabora ções. Devemos desejar ser capazes de dizer o que Paulo disse: "Não falamos para agradar pessoas, mas a Deus, que prova o nosso coração. Vocês bem sabem que a nossa palavra nunca foi de bajulação nem de pretexto para ganância; Deus c testemu nha. Nem buscamos reconhecimento humano, quer de vocês quer de outros" (ITs 2Ab-6). A obsessão pelos res ulta dos po de nos dominar e tomar conta da nossa preocupação pelas pessoas. Mudamos nossa ênfase, transformando-as em objetos a ser usa dos. Se apenas nós conseguimos que alguém responda publica m e n t e a u m apelo , en tã o es ta mo s fora do r u m o . E nesse p on to que nos tornamos aéticos em nossa busca de objetivos divina mente confirmados. N o e x c e l e n t e artigo "A credibilidade d o pr egador" , D o n a l d R. Sunukjian discute essa questão muito bem." Embora a com petência seja u m i m p o r t a n t e fator para a cr edibilidade, Sunukjian afirma que ainda mais importante é a convicção de que o ora dor tem qualidades pessoais admiráveis e consegue manter o interesse do ouvinte.'" Uma mistura de assertividade, leveza e sensatez é bastante apropriada. Gestos faciais agradáveis e ura tom de voz receptivo ajudam muito. Os ouvintes sabem se real mente nos importamos com eles e falamos porque os amamos. N ó s os a m a m o s d e m a i s para usá-los. Terceiro, de ve mo s ter cuid ado co m o uso de mé to do s. O s fins nunca justificam os meios que fazem uso da manipulação. Eve ret t L. Sh os tr om co mp ar a as qual idad es do ma ni pu la do r com as do verdadeiro persuasor. Visando a ajudar na avaliação dos métodos numa situação específica, resumo esse pensamen to na Figura 1 1 . 1 . A coer ção e um a abo rda gem mu it o autoritária con st itu em violação e interferem no direito de escolher. O próprio Deus
grimas de crocodilo sobre Jerusalém. Deploramos o.s demago gos que nâo aceitam "não" como resposta. Sc nào houver uma ação moral livre, não haverá a tomada de uma verdadeira deci são ética e, se não houver tomada de decisão de modo ético, não há moralidade. Há sérias implicações éticas no uso que fa zemos da persuasão,
F I G U R A O
o
1. 2.
MA NI PU LA DO R
MANIPULADOR
Frai.ide, imp ost ura Falta de co nsc iê nci a, falta de visão
1 1 . 1 E
O
P E R S UA S OR '
O
PER SUA SOR
1. Ho ne st id ad e, trans parên cia 2 , Con sci ên cia , interesse
3. Cont role , en co br im en to
verdadeiro, vivacidade 3. Abert ura, espo ntün eida de, liberdade
4. Ci ni smo , desconf iança
4. Con fia nça , fé, crença
* Adaptado d c Everett L, S h o s t r o m , Man the manipulator. the inner journey from manipulatkin to actualization. NashviUe: Ahingdon, 1 9 6 7 , p, 5 0 -1.
As leis da persuasão As bases da persuasão devem estar na posse e no domínio ba b i h d o s o d e i n f o r m a ç õ e s f ac tua is. A lógica e a razão f o r m a m o síne qua non do processo decisório inteligente. Decisões fei tas sob coerção emocional podem não ser prudentes. Se a dis cussão envolve mais calor do que luz, temos uma situação de p o u c a vi s ib i lid a d e e c o r r e m o s g ra ve p e r i g o . O p r ó p r i o D e u s nos convida a "refletir juntos" (Is I.ISJ. Stephen A. Douglas refugiava-se quase sempre no meio termo, enquanto Abraham Lincoln, com seu extraordinário senso de perspectiva, quase que invariavelmente se baseava pouco nos precedentes, mas muito nos princípios básicos. Não há substituto para a causa cor ret a e a ve rd ad e e m qual qu er ten tat iva de pers uas ão.
gü Howard Gardner, psicólogo da Escola de Educação de Ha rv ar d, os pe rs ua so res são pes soa s do ta da s de "intelig ência relacionai", ou seja, um conjunto de habilidades que os capacita a compreender e a influenciar situações sociais. E por isso que o uso cuidadoso e apropriado de humor pode ser tão útil duran t e a pe rs ua são . No ss o pr op ós it o não é criar u m am bi en te de anedotas — e certamente alguns pregadores exageram nesse aspecto —, mas é fato que vnn pouco de humor no momento correto descontrai tanto o orador quanto os ouvintes, reduzin do a con trov érsi a, de sa rm an do os âni mos e au me n t an d o a receptividade. O conhecimento e a afinidade são essenciais para a co mu ni ca çã o da ve rd ad e a nó s conf iada. A ob st ru çã o nã o é uma técnica de persuasão particularmente eficaz. Lembro-me de testemunhar para uraa mulher cuja principal reclamação é que lhe parecia que Jesus não tinha senso de humor, que era muito sombrio. Coloquei o livro The humor of Christ [ O hu mor de Cristo\, de D. Elto n Tru ebl ood , nas mã os de la. '' Qu an do uma irmã repreendeu Charles Haddon Spurgeon por usar um pouco de bmiior no púlpito, diz-se que ele respondeu: "Bem, madame, é bem possível que a senhora esteja certa, mas se a senh ora sou be sse o cjuanto m e con tiv e, pr ov av el me nt e m e da ria mais crédito do que está dando agora". O príncipe dos pre gadores era uma pessoa com inteligência relacionai. Rob ert B. Cialdin i, pro fesso r da Un iv ers id ad e Estadua l d o Arizona, presenteou-nos com um provocativo estudo chamado Influence: h o w an d wh y pe op le agree to do thi ngs [Influência: c o m o e p o r qu e as pess oas co n co r d am e m fazer coi sas ].' " O autor é um profissional reconhecido por suscitar o comporta mento condescendente, e seti arsenal de armas de influencia c suficiente para fazer gelar o sangue de qualquer um. Ele vê mais complacência impensada no passo cada vez mais acelerado e na compressão de informação de nosso tempo. Seu livro gera o mesmo efeito de um passeio por uma fábrica de mísseis. Fala das armas usadas tão habilmente por nossos adversários e dos
rio dc promover a comunicação, É por isso que as regras de Cialdini são particularmente instrutivas para nós pregadores: A regra da reciprocidade cria senso dc obrigação, A estratégia ch ama da dc "bcnfeitor diante do mendigo" é usada pelos Hare Krishnas ao dar uma flor ou um livro antes de pedir uma contribuição. Reagimos como se estivéssemos pagando um favor, Isso está por trás de alguns cartões dc Natal que recebemos de pessoas que não conhecemos e da técnica da amostra gratuita, Até os presentes nào desejados e supérfluos são eficientes. Contudo, mais astuta é a abordagem chamada "rejeição e retratação": quando o bilhete da rifa é rejeitado, vende-se uma barra dc chocolate. Devemos ajudar as pessoas a ver que isso é uma técnica dc condescendência, c não um favor, A regra da reciprocidade é o que está por trás da síndrome de Estocolmo, na qual as vítimas mantidas em cativeiro por ter roristas e criminosos tornam-se simpáticas aos seus captores, A regra da coerência e do compromisso amar ra as pessoas a decisões passadas que podem não ser relevantes nem sábias. Esquecemonos do sábio conselho de Ralph Waldo Emerson, que diz que "a coerência tola é o bicho-papão das mentes pequenas". Essa regra manipida tão bem porque fomece um padrão fácil dc ser seguido e não exige que se pense nas novas situações. Os primeiros a fazer um compromisso público são os mais obstinados a não mudá-lo. Isso é parte da dinâmica dos Alcoólatras Anônimos. A lei da proPa social simplesmente afirma que, em vez de iniciar alguma coisa, a maioria vai apenas imitar. Quase não sc percebe a presença da claque (risadas gravadas em programas humorísti cos), mas quando outras pessoas riem, nós também rimos. Quan to maior o número de observadores, menor será a probabilidade de sairmos dos padrões. Esse reflexo é tão poderoso que é usado para explicar a tragédia dos suicídios e m grande escala. Devemos ensinar as pessoas a dizerem nào!
na a impessoalidade da loja. A condescendência amigável, efusiva c agradável dos participantes faz que sejamos verdadeiros patos num lago. A regra da autoridade influencia as pessoas po rq ue os tít ulo s e as armadilhas do poder levam ã condescendência respcilo.sa diante das supostas ou verda deiras figuras dc autor ida de. O ped estre distraído usando temo risca de giz c como o flautista mágico de Hamelin. As pessoas vão segui-lo, em vez de ir atrás do homem que e.stá usando uma simples blusa de lã. A regra da escassez atribui valor a um a verdadeira ou suposta rarida de. Corremos para ver o templo mórmon porque cm breve ele será fechado ao público em geral. A técnica do limite de estoque pega muitos dc nós. Todas as vezes que nossa liberdade de ter alguma coisa é limitada, nosso desejo por ela aumenta considera velmente.'^
Est amos vulneráveis a expl orad ores nu m mu n d o co m um a desçoncertante gama de opções, nas quais a maioria das infor mações tem menos de quinze anos. Nosso apelo na condição de co mu ni ca do re s cristãos é de não nos mi st ur ar a essa sit uação atual, mas nos fazer protetores da liberdade e firmes oponentes de todo tipo de exploração.
A linguagem da persuasão Jo hn D e w e y afirm ou qu e ni ng ué m é lev ado a pe ns ar a nã o ser que seja confrontado com uma dificuldade. Deparamos com ouvintes de fé, mas também olhamos para aquele que está hesi tante, indiferente e hostil. E preciso estabelecer estratégias que ve nh am a ab or da r as dif icul dade s de cada categor ia. A preg a ção precisa diversificar o apelo. A Figura 11.2 reproduz a su gestão de Ronal d E. Sle etb para a me lh or or d e m de pri ori dad e no uso da experiência, autoridade e razão a fim de apelar às diversas categorias de ouvintes. O pregador persuasivo precisa te r e m me n t e as várias co nd iç õe s da cong reg ação e fazer u m a distribuição mais regular do apelo.
Figura 11.2 Categorias de ouvintes: Variação do apelo* Crédulo
Duvidoso
Experiência A utoridade Razão
Raz.lo Autoridade Experiência
Hostil A u l o r i d a d e Razão Experiência
Indiferente Torna-st; igual aos outros quando o interesse é despertado
* Baseado na matéria de Ronald E. SLEETH no livro Persuasive preaching (Ntw York: Harptrand Brothm, 1956]. David Kipni.s
e S t u a r t S c h m i d t d i r i g ir a m u m a p e s q u i s a p a r a
d e s c o b r i r c o m o o s c a sa i s e o s g e r e n t e s c o m e r c i a i s t e n t a m
in
f l u e n c i a r s e u s p a r c e i r o s o u e m p r e g a d o s , r e s p e c t i v a me n t e , H a via três estratégias básicas; forte, suave e racional. Forte signi fica assertivo, exigente. Suave significa afirmativo, carinhoso. Racional significa lógico, negociável. A estratégia utilizada de p e n d e d o o b j e t i v o p r o p o s t o ,
Q u e m controla recursos, emoções
e finanças tem vantagem especial no relacionamento. Es.sa pes soa tende
a usar a estr atégi a " for te" co m mais freqüênc ia, Isso se
ch am a "a lei do po de r de ferro" . Prev er a resistência
fa ta lm en te
au me nt a a inflexibilidade. Alg uma s vezes, esp era mo s
enc on tr ar
resistência onde não vai acontecer nada tão significativo, princi
se nâo t em o s confiança ou um a au to -i ma ge m suficien t e m e n t e forte. •Situações sociais e p e n d ê n c i a s t a m b é m p o d e m influenciar as exp ectat iva s, A imp res são d e qu e "essas pess oas
p a l m e n t e
são dife rentes d e mi m" fr eq üe nt em en te leva à conclusão de qu e "elas não são tã o racionais qu an to e u " . ^ E nece ssár io hav er fir meza, sua'\'idade e racionalidade na linguagem da persuasão. Po d e m - s e i d e n t i f i c a r e s s a s t r ê s c a r a c t e r í s t i c a s n a s co r r e s p o n d ê n cias de Paulo à igreja de Corinto. Os autores, embora reconhe çam o valor de cada um dos três aspectos, acham que o ideal é
uma postura racional, lógica e negociável. Wil lia m Ja m es disse qu e "o q u e ch am a a at en çã o t e n d e a
página d e s c r e v e n d o as colinas. P re cis am os c o m e ç a r d e m a n e i ra criativa e alcançar uma boa mistura e variação de elementos. Sleetb aconselha os pregadores a não se parecerem com um condutor de metrô, que vai anunciando as paradas. A congrega ção também não quer que ninguém fique lendo para ela duran te trinta minutos. "O próprio fundamento de nosso conceito de ci\'ÍlÍzação é a persuasão", d e a c o r d o c o m Michael N ovak. O livro The hidden persuaders [Os persuasores ocultos], de Van ce O . Pac kar d, nos mo st ra os gr an de s perig os da persua são. ^' Todos nós já fo mos p e r s u a d i d o s a fazer coisas irracionais e das quais nos a r r e p e n demos. Por um lado, Win.ston Churchil! fez a Inglaterra acredi tar qu e a Al em an ha podia ser de rr ot ad a e Susan B. An th on y per s uadi u os n o r t e - a m e r i c a n o s a a c e i t a r e m o voto das m u l h e res. Por outro, Adolf Hitler colocou a Alemanha no pior confli t o da hist óri a, e V 1. Lê ni n rea liz ou a re vo lu çã o ma rx is ta na Rússia. A persuasão é ao mesmo tempo assustadora e uma opor tunidade para entrar no mercado de idéias e, por meio do Espí rito Santo, de competir com falsas ideologias e a tirania das mentiras. Graças a Deus temos a verdade. O ministério fiel do Espírito, que convence o mundo do pe cado, da justiça e do juízo, continua hoje e vai perdurar até a volta de Je su s. Veja o di sc ur so d e Paulo a Fclix e Drus Ua "ac er ca da justiça, do domínio próprio e do juízo vindouro" (At 24.25). O persuasor cristão trabalha com Deus na abertura do coração humano ao evangelho. Como escreveu C. S. Lewis sobre sua conversão: "Eu estava ali, diante de uma escolha, podia abrir a por ta ou m an tê - l a fechada. Eu poder ia de s tr an ca r o armár io ou mantê-lo fechado. Mas resolvi abri-lo, soltar a rédea".-- O re sultado é o troféu da graça de Deus, tal como o apóstolo Paulo disse várias vezes: "estou persuadido".
Como usar a narrativa de maneira mais eficiente? A questão da história
A
revolução de Copérnico na homilética, como é cha mada, é o ahandono de uma abordagem tradicional e conceituai que não funciona mais porque deixa de cap turar o interesse dos ouvintes.' A partir das "novas e vigorosas abordagens da interpretação bíblica", exigindo desmembramen to da velha homilética, surge a nova homilética, em que o obje tivo não é mais descobrir a mensagem do texto, "Em vez disso, o texto está sendo visto agora como um mundo diferente, com sua forma singular c intenção teológica próprias,"^ O foco está em pregar como se se contasse uma história, o que se tornou moda nos círculos protestantes, católicos romanos e judaicos. Embora os expoentes dessa área reconheçam que ela ainda não foi devidamente explorada, essa é a direção do momento. O bode expiatório, naturalmente, é o sermão didático e o discurso racionaii.sta, Ouvimos dizer que agora o estilo é mais importante do que o conteúdo no que se refere ao significado.^ Eugene Lowry argumenta que devemos sair do paradigma es pacial, o r g a n i z a n d o idéias e v e r d a d e s prop os ic iona is , para u m p ar ad ig ma d e t e m p o , no qual o c o n t e ú d o co nce itua i seja su bs ti tuído pela história. Era outras palavras, não precisamos de uma planta, ma s d e u m m a p a . " U m a vez lançada a propos ição, t u d o se encerra; o fechamento já ocorreu e somente com grande di
vez."'' A resposta é concentrar-se nos fatos, e não nas idéias ou nos temas, isso significa história. Sem dúvida a nova homilética está dizendo algo importante e, se ignorarmos essa declaração, correremos grande perigo. A meu ver, a pregação evangélica deve declarar-se culpada de ser excessivamente didática com a total c evidente falta de ênfase nos aspectos emocional e pessoal. O caráter revolucionário do modelo de história pode nos ensinar muito. Nós c]ue nos orgu lhamos de pregar a Bíblia completa temos, dc modo geral, dado p o u q u í s s i m a a t e n çã o à narrativa e m nossa p r eg ação . Se prega mos biografias e narrativas bíblicas, temos a tendência de usar a metodologia didática. Em nossa sociedade visual, contar his tórias tem possibilidades infinitas. Contudo, até a conclusão de st e livro, nã o ex ist e ainda seq ue r u m a obr a significativa q u e aborde a pregação da narrativa e o desafio singular desse gêne ro a partir de uma perspectiva evangélica. Mais uma vez vemos a tendência evangélica de reagir, em vez de agir. A n t e s , po ré m, de co me ça rm os ap res sad ame nt e a imitar os outros, devemos observar que, na homilética, a ação de contar uma história surge de uma abordagem literária das Escrituras e de uma teologia narrativa que os evangélicos devem julgar defi ciente.^ A nova homilética surgiu da nova hermenêutica (a ser considerada no próximo capítulo), que ficou conhecida por vá rias razões. Primeiramente, a teologia das linhas principais mantém sua cáustica aversão à revelação proposicionai. A ênfase do mundo po steri o r à S e g u n d a G u e r r a M u n d i a l são os "p o deroso s atos dc Deus", e a teologia da prova {Heilsgeschichte) te nt ou encontrar refúgio no não-cognitivo. A teologia existencial não pode acei tar a idéia de qu e a ve rd ad e implica corr espo ndê ncia prop osici onal com a realidade. Por isso, um destacado intérprete católico romano da teologia da história nos diz que "é mais importante a narrativa ser interessante do que verdadeira".'' Ele define a nar rativa co mo a ju nç ão de fatos a u m conj un to d e pro pó sit os de
a de uma operação dc resgate para encontrar o que é compatí vel com o pensamento moderno. "O aspecto apocalíptico não é com patí vel co m nossa f é " / e assim po r dia nte . A ve rd ad e está m u d a n d o e, p o r t a n t o , e n q u a n t o e l e c i t a D a g H a m m a r s k j õ l d , Martin Luther King, Clarence Jordan e Charles Ives como exem p l o s c o n t e m p o r â n e o s d e g r a n d e d e s t a q u e , n ã o p o d e i n c l u i r madre Teresa de Calcutá porque ela não nos mostra nenhuma "nova maneira de fazer Cristo presente". Esse pluralismo radi cal revela sua própria falta de certeza. Não existe uma única his tóri a ve rd ad ei ra . "Essa falta de ce rt ez a é a bo a notícia",^ u m a vez que deixa espaço para o crescimento. O problema aqui é a total derrota da autoridade bíblica. Se gu nd o, a teologia da ala mai s co ns er va do ra está n u m "es tágio estético", conforme argumenta meu amigo Kevin J. Vanhoozer em um artigo muito interessante.^ Isso significa que, nessa condição, o autor e o conteúdo das Escrituras estão su b o r d i n a d o s à a t u a l f o r m a literária d o t e x t o ; d e s s e m o d o , ele p e r d e o significado objetivo. N a t u r a l m e n t e , q u a n d o a hi.stória é o mais importante e as parábolas são paradigmáticas, temos, com efeito, um novo cânon. Existe muita coisa nas Escrituras que nâo é história. Deveríamos restringir nossa pregação às p a r t e s da Bíblia cjue t r a t a m d e narrativas históricas? Se us ar mo s u m a ca tegoria espacial, não existe o per igo de impor uma categoria temporal? Immanuel Kant concordaria que tanto estas qua;ito outras são apenas categorias da mente. Por que então são tratadas como uma ou outra? Jerome Bruner afir ma que existem dois modos de pensamento: o paradigmático [o mais didático ou abstrato) e o narrativo (mais estético, dra má ti c o e simb ól ic o) .' " Por qu e a preg açã o nã o po de ri a ser as duas coisas, no melhor sentido? Estamos vendo o efeito pêndu lo perigosamente em ação? Terceiro, a ala mais conservadora da teologia reflete a entronização do eu como autoridade religiosa, concedendo au to ri da de à expe riên cia hum an a. A inaceitável subje tivida de d es
ra de Gabriel Fackrc c sua obra The Christian story \A narrati va cristal, até o trab alho caóti co e to ta lm en te horizon tal de Rob ert McA fee Brown, o qual arg ume nt a ser ia men te qu e C ub a c o exemplo de uma nação que está ministrando para Cristo de maneira adequada," Esse estado de anarquia e a crise de linguagem a ela associa da foram os responsáveis pelo declínio da pregação em nossa époc a, O pre ga do r p er de u a confiança na palavTa falada, Não é de su rp re en d er qtie as con clu sõe s sejam fracas, m e s m o não exi ste nt es, p o r q u e a teologia é fraca, O con tí nu o de sp re zo da coerência racional e da verificação empírica só vai fazer com que afundemos cada vez mais na lama. As Fábulas de Eso po seriam capazes de fornecer uma matriz promissora para a interação dessa subjetividade tanto quanto as histórias bíblicas. Em que aspecto elas são de fato diferentes? Posso até ouvir Johann Goethe dizer: "Dc-me suas convicções, não suas espe culações. Eu já tenho dúvidas suficientes". Podemos anunciar as infinitas verdades da Palavra de Deus c isso é muito oportu no . Devemos nos apegar às Escrituras, mas também não deve mos viver numa terra de dinossauros no que se refere à homilética, A esttipidez dos generais franceses no início da Se gunda Guerra Mundial é uma advertência do grande perigo de não levar cm conta as mudanças no mundo real a nossa volta e de não adaptarmos nossas estratégias de acordo com isso.
O apelo da narrativa Em bo ra não con co rd e co m a idéia de qu e as histór ias estão m ais p r ó x i m a s da real i d ad e d o q u e u m a discussão d e idéias, c o m o afirma Peter Macky, eu na verdade concordo com seu apoio às observações de Robert Roth e que as histórias "são vivas e pe netram nas complexidades da vida [..,] pois reconhecem o lu gar de mistério como elemento natural da realidade",'^ Temos recursos imensamente ricos na narrativa bíblica que mal chega mos a tocar, e o trabalho que fazemos com eles é quase sempre
zem p a r t e do AT e, de a c o r d o c o m u m e s t u d i o s o , 7 5 % do AT é c o m p o s t o d e narrativa. Isso sem falar do NT, com suas narrati vas, e as extraordinárias parábolas de nosso Senh or. " C o n t e u m a história, papai", diziam m e u s filhos p eq ue no s. N ã o e x is t e m a i o r privilégio d o q u e ensinar a alma d e u m a cri ança. A história é tim m e i o m u i t o e x c e l e n t e . S e m p r e m e i n t e ressei e m observar q u e , n o s e g m e n t o c h a m a d o " p ú l p i t o d a s cri a n ç a s " n o c u l t o da m a n h ã , o s adu lto s qu as e se mp re ficavam mais interessados d o q u e a s crianças! O q u e é u m a história? A história n o s fala d e algo q u e a c o n t e c e u , c o m e ç a n d o c o m u m p o n t o d e t e n s ã o e f i n a l m e n t e l e v a n d o a u m a reso lução dessa t e n s ã o . A vida é d r a m a e, d e s s e m o d o , a história t e m u m m e c a n i s m o i n t e r n o d e ação e progresso. LowTy d e s c r e v e c o m habili d a d e o "laço" homilético e o que ele pode fazer p o r n ó s n a p r e gação. A história começa c o m u m a discrepância, u m a r u p t u r a do equilíbrio e u m a análise dessa tensão. A ação vai da coceira a o a r r a n h ã o , do p r o b l e m a p a r a a s o l u ç ã o . A o m e s m o t e m p o q u e o p a d r ã o d o e n ç a — c u r a é básico e não atípico n a s Escritu ras [fazendo u m paralelo d a q u e s t ã o lei e graça no sentido real), existem muitos outros padrões para serem discernidos. O m o v i m e n t o " c o n t e u m a história" está propenso a u m a c o n s i d e r á vel previsibilidade. A pregação p o r m e i o d e narrativas é quase i n v a r i a v e l m e n t e u m m o d o d e comunicação indireta. E p o r isso q u e t e m apelo óbvio numa sociedade visual, m a s p o d e facil m e n t e se tornai* maçante e tedioso. O pregador narrativo é c o m o o monge desconhecido na cate dral européia, q u e tira a cortina d e u m a imagem sacra e compara frente a frente seu ofício c o m o crucificado. Todo pregador deveria ouvir algumas fitas d a s histórias d e Garrison Kcillor sobre "O lago Wobegon", de seu programa d e rádio intitulado " O companheiro da casa n a pradaria". Temos aqui u m m e s t r e e m contar histórias, e seu sucesso merece ser analisado. E m entrevista há algum tempo, Keillor disse o seguinte sobre o trabalho d o pregador:
igreja para ouvir discursos sobre comportamento ético. Vamos até lá para ver mistérios, e todos os substitutos da comunhão com Deus juntos não são dignos de receber a dedicação de tempo dc alguém. O ministro que se levanta e ocupa vinte minutos do culto só precisa dizer uma coisa para que o sermão valha a pena: apenas uma imagem clara, uma proposição que possa ser levada para casa com o c r e n t e . " "Por que narrativa agora?", pergunta Fackre. Sua resposta é imediata: O clima está correto. Contar histórias é algo que floresce i-m tempos e lugares onde a imaginação, a intuição e o afeto estão presentes. A relativa atrofia dessas dimensões da personalidade numa cultura dominada pela ciência e tecnologia modernas f,,,] é uma busca pelo resgate do espontâneo [...] o desafio da domina ção do hemisfério esquerdo do cérebro, t u d o isso nos ajuda a ve r o ap el o qu e a hist ória p o s s u i . " A nar rativa carrega consigo um pouco da vivacidade emocional, mui to proveitosa hoje. Pense num dos mais atraentes comerciais de TV dos últ im os anos e verá qu e os cria dore s enf ati zam a pri ma zia das emoções tanto nos anúncios quanto nas vendas. Deve mos aprender com eles. Embora o evangelho seguramente não seja um teatro de va riedades, a Palavra de Deus com certeza é um ferro em brasa. Algumas câmaras congeladas de nosso coração precisam dar pa ss age m a pr e ga d o re s c o m a lgu m fogo no espírito. A s í n d r o m e de espectador deve ceder lugar, e a história é um convite à par ticipação. A redescoberta da história pode nos trazer uma sau dável variação e maior equilíbrio, assim como cativar novamente os nossos ouvintes com o poder e o apelo do evangelho.
Nossa abordagem da narrativa o pr eg ad or qu e deseja dese nvo lve r ap ti dã o par a lidar co m a
cadeira de criança, Cümo define Krister Stendatil. Precisamos ter uma verdadeira queda por esse gênero. De grande ajuda é o narrative clássico de Robert Alter, intitulado The art of biblical [A arte da narrativa bíblica}.^'' Alter é u m est udi oso ju de u que tem muito a nos ensinar sobre a narratologia. Ele é magistral e m mo st ra r a ina deq uaç ão de gran de pa rt e da erud ição con ven cional e crítica, com sua tendência de juntar e separar o texto bíblico. Ele nos dá u m a definição mais prática do q u e co n st i tu i um fato narrativo (uma importante questão para o pregador que está escolhendo seu material]: Um fato narrativo adcquadn ocorre quando o passo da narrativa diminui o suficiente para podermos distinguir uma cena determi nada, ter a ilusão da 'presença' dc uma cena à medida que ela se desenrola, ser capazes de imaginar a interação das personagens ou, às vezes, das personagens e seus grupos, juntos com o trans porte das motivações, dos objetivos ocultos, dos traços de cará ter, da ação política, social ou religiosa, dos propósitos morais e teológicos, conduzidos por seu discurso, seus gestos e seus atos. Alter classifica as técnicas usadas na narrativa bíblica em ca racterização, reticência, emprego de motivos e temas, funções complementares da narração e do diálogo e uso da repetição. A abordagem mais tradicional e padronizada da pregação narrativa é certamente viável. Os esboços que seguem estru turas como cenário/ história/ significado ou história/ princí p i o / aplicação são arriscados. Contamos a história e depois co mp ar ti lh am os o eq ui va le nt e a u m come rcia l de televisão ou de rád io no final. Q u an t o mel ho r co nt ar mo s a história, mais prováv el será q u e nossos o u v i n t e s f i q u e m i m p a c i e n t e s d i a n t e do esforço mais elaborado em busca da relevância. O esboço que se adapta melhor a nossos propósitos é o da situação/ com p l i c aç ã o / solução, c o m ap li cações i n d i r et a s à m e d i d a q u e p r o s seguimos. Mesmo as piores peças têm atos e cenas que demarcam o
história em s u a a n á h s e . O u s o d e u m flashback dram átic o nu ma narrativa mais longa permite q u e e n t r e m o s e m ação n u m p o n t o m a i s d r a m á t i c o s e m q u e p r e c i s e m o s c o m e ç a r desde o início. Isso t e m m a i o r a p e l o q u a n d o t r a t a m o s d e livros co mo Ru te , E s t e r o u J o n a s e m nossas me ns ag en s. De ve mo s ficar a te nt os para n ã o f o r ç ar n e n h u m d e s s e s p a d r õ e s n o t e x t o se eles n ã o e s t i v e r e m r e a l m e n t e p r e s e n t e s . E possível tisar u m a narrativa mais longa ( a t é u m livro inteiro d a Bíblia) e extrair seus princí pios, c o m o v e m o s n o e s b o ç o a seguir sobre o livro d e Ester: Princípio I ; "Até a ira d o Deus contra os homens redundará e m lou vor a ele" (o plano contra Mardoqueii e os jud eus). Princípio 2; "Deus age e m todas as coisas para o bem" (a coragem dc Ester, o sono inquieto do rei). Princípio 3: "O SENHOR cumprirá o seu propósito para comigo" (o que aconteceu a Ester, a Mardoqueu e aos judeus) Alguns técnicos d a h o m i l é t i c a n ã o c o n s e g u e m ü d a r c o m a n a r r a t i v a . A d e p t o s d e um d e t e r m i n a d o m é t o d o m e d i s s e r a m que eles nunca pregaram sobre as parábolas d e J e s u s p o r q u e o s e u m é t o d o n ã o estava adaptado à narrativa. E p o r isso q u e p r e cisamos s e r flexíveis e ecléticos. Qu an do Dav id G . Buttrick r e c o n h e c e u q u e o s salmos e outros materiais e m f o r m a t o d e hino n ã o p o d e m s e r p r o c e s s a d o s por sua h o m i l é t i c a , p a r e c e u - m e q u e ele precisava alterar sua a b o r d a g e m e m alguns aspe ctos . E mb o ra algumas coisas fascinantes estejam sendo feitas atualmente na narrativa, e u detestaria ouvir apenas narrativa, domingo após domingo. Eugene Lowry faz algum as exc ele ntes sugestõe s sobre c om o escavar u m a passagem . Essas sugestões p o d e m s e r úteis inde p e n d e n t e m e n t e d a técnica emp rega da: 1.
P r e s t e a t e n ç ã o a t é n a s linhas mais insi gnific ante s.
2. P r o c u r e n a s e n t r e l i n h a s o que não foi dito. 3. Examine cada encontro.
5. Veja qual é a mot iv açã o por trás do co m p o r t a m e n t o .
6. Analise a dinâmica que está por trás dos fatos. 7. Utilize os sentidos.
8. Mude de identidade. 9. Ut il iz e a voz ativa, 10, A l t e r n e e n t r e a primeira e a segunda pessoas.''
A não ser que o pregador tome bastante cuidado ao pôr seus pés na narrativa bíblica, m a n t e n d o - s e firme d u r a n t e t o d o o p r o cesso, a história po de fac il men te se tr an sf or ma r apen as e m "minha história".
A aorta da pregação narrativa Qual é o significado da narrativa? Um contador de histórias eficiente será ouvido por causa da história viva e atraente que ele conta. E nesse aspecto que nossa visão das Escrituras exige que extraiamos o significado básico da história das próprias Es crit uras . As vezes a pas sag em explica ab er ta me n t e o significado da história. O texto de João 2.11 nos diz qual era o significado fundamental do primeiro milagre que Jesus realizou e se har moniza com o propósito geral do quarto evangelho (compare com Jo 20.30,31). Qual é o propósito intencional do autor? Walter C. Kaiser Jr. chama isso de "o p o n t o cent ral de referê nci a".' ^ Essa é a idéia cen tr al da pas sag em e s e mp r e c mais fácil enc ont rá- la n u ma sessão didática ou poética, Frank Kermode nos dá o consolo de qu e "o te xt o oferecerá u m indício n u m de te rm in ad o po nt o, u m sinal ou emblema que represente o todo, como se fosse um guia para a leitura d a obra co mp l e t a ". ' ^ Veja a seguir algumas suges tões que podem nos ajudar a encontrar o significado dentro do p r ó p r i o t e x t o ; 1. Estude o cenário e o contexto maior da perícope (o texto b as e d o s e r m ã o ) Se p o r e x e m p l o ele faz p a r t e d e círcu
pistas i m p o r t a n t e s o b s e r v a n d o a ação se d e s e n v o l v e n d o dentro do todo. 2 . Às vezes a própria forma pode nos ajudar a entender o significado. Padrões de repetição e arranjo podem nos fornecer a pista de que precisamos. 3. Preste atenção na seleção dos detalhes.
4. Analise o clímax da história. Normalmente ele é uma gran
de revelação. Certas questões centrais sobre o significado de uma passa g e m , e s p e c i a l m e n t e n o AT, são dis cuti das d e ma ne ir a caloro sa hoje em dia e receberão atenção no capítulo 13, particularmen te o uso da tipologia e dc como pregar Cristo a partir do AT. Certamente existe a noção de que a igreja é uma comunidade moldada pela história. O ato de contar e recontar essa velha história é uma parte importante para a conscientização da co munidade. A ênfase em "contar" a história deve garantir a im p or tân cia d o a s p e c t o oral da c o m u n i c a ç ã o .
A aventura da narrativa Ao defender a história e mesmo nossa visão das sessões didáti cas como parte da história da redenção, Eugene Pctcrson cita o crítico literário Northrop Frye: 'A ênfase na narrativa e o fato de que toda a Bíblia está inserida dentro de um arcabouço nar rativo distingue a Bíblia de muitos outros bons livros sagrados".™ N o m o m e n t o atual, t e m - s e d a d o mui ta a t e n ç ão às parábolas d e Jesus. A frase "não lhes dizia nada sem usar alguma parábola" (Mc 4.34) nos dá a dimensão da importância que Jesus dava à narrativa. As parábolas de Jesus nào devem receber todo o es forço de nossa luta com essas questões, mas elas nos dão algu mas idéias principais da questão da narrativa como um todo. Jesus, o habilidoso comunicador, fez centenas dc perguntas que estão registradas, o que nos faz lembrar das observações de
do co nh ec im en to . Jesus usava com par açõ es e metáf oras (com p a r a ç õ e s explícitas e imph'citas) assim c o m o alegorias ( M t 2 2 . 1 14; Jo 15.1- 10), ma s ensinou basic amen te por mei o de par ábo las (colocar uma coisa ao íado de outra). Nosso Senhor profe riu cinqüenta parábolas, o que corresponde a cerca de 35% dc seu ensinamento. A parábola tinha o objetivo tanto de esconder quanto de revelar (Mc 4.11), assim como usar um vidro escu recido para ver um eclipse do sol esconde alguns objetos para p o d e r revelar o u t r o s . O escopo dos assuntos nas parábolas e nas pequenas compa rações usadas por Jesus é surpreendente. Herman H. Horne fez o estudo clássico em que se baseia a Figura 12.1.
Figura 12.1
Assuntos das parábolas e comparações de Jesus Obj eto s ina nim ado s Plant as An im ai s Pess oas
16 7 4 34
26% 11,5% 7% 55,5%
• Herman H . H O K N G , Jesus: the mastor ti-acher, ed, reimpr, Grand Rapids; Kregel, 1964, p. 86. Usado com permissão. A extensão e^a abrangência do quadro de referência do Sal vador são instrutivas. Nos primeiros séculos da igreja primiti va, a alegorização das parábolas chegou ao extremo, tendo Agos tinho argumentado que, na parábola do bom samaritano, o dono da hospedaria era o apóstolo Paulo, e os dois denários eram os dois grandes mandamentos. João Crisóstomo defendia a exis tência de um único significado para as parábolas, e João Calvino se enfureceu contra os medievalistas por sua espiritualização. Adolf Jülicher defende a necessidade de reparação do abuso ao afirmar qu e cada paráb ola t e m u m úni co p o nt o e u ma úni ca lição mor al. C. H D o d d e Jo ac hi m Je re mi as insi ste m q u e as
todas as partes da parábola em relação ao propósito de Jesus de contá-la. O tratamento básico da compreensão e da pregação da parábola foi propagado por Milton S. Terr\': 1.
D e t e r m i n e a ocasião e o objetivo da paráb ola .
2. Analise o assunto c as imagens utilizadas. 3. Des env olv a as várias pa rt es e de st aq ue a ve rd ad e centra l,^'
Mais uma vez, devemos estar atentos quanto à estrutura ce nário/ história/ importância. Um estimado pregador falou so b r e a história m ira cul os a d e J o ã o 2.1-11 b a s e a n d o - s e c m t rê s pilares: oração confiante, fé o b e d i e n t e e p o d e r criativo. Mi n h a p e r g u n t a deve ser: t e m o s r e a l m e n t e t rê s p e q u e n o s s e r m õ e s aqui? Todos eles são verd ade iros , ma s existe re al me nt e fu nd am en to no propósito do autor, conforme indicado no versículo 11, de transformar esse fato numa seleção cuidadosa de outros três p e q u e n o s a c o n t e c i m e n t o s ? A notoriamente difícil parábola dos trabalhadores da vinha [Mt 19,27 — 20.16J nos dá a oportunidade de tirar algumas con clusões sobre o propósito de nosso Senhor em contar essa histó ria. Para mim, nessa parábola Jesus fala a respeito do sentido p r e s e n t e e m 19 .27 , n o qua l Pe dro, o "apóstolo n o r te - a m e r ic a no", está, na verdade, querendo ser o número uml Aplicando os palpites h e r m e - n ê u t i c o s já a p re s e n ta do s , e u estaria inclinado a estabelecer um esboço do tipo escada, procurando fazer justiça aos detalhes c ao contexto da história, tornando-a viva e fazendo com que ela tenha uma intersecção com nossa vida hoje. Mas quero ter certeza de que estou a caminho do clímax e do contex to maior, com a própria sentença interpretativa final dc Jesus. Meu esboço seria ou mais ou menos assim: I. De us tem trabalh o para nós — o dono da ter ra contrata trabalha dores para a vinha. II. Deus tem trabalho para todos nós — nem todos têm a mesma oportunidade, a mesma força, ou o mesmo talento, mas há coisas
III.Deus tem trabalho para todos nós numa aliança dc graça a. Não é uma transação comercial; b. Os últimos a chegar nào têm do que se orgulhar;
c. As comparações são condenadas. A eferv escênc ia c om rela ção à narrativ a está replet a d e p eri gos se navegarmos desgovernados por entre os bancos de areia da subjetividade, mas estará cheia de grandes perspectivas para o povo de Deus à medida que somos despertados para as possi bilidades e o po tencial d e nosso rico t e s o u r o narrativo.
Quando devemos pregar a Cristo? A questão da cristocentricidade
P
od em os de fe nd er c o m vigor a au to ri da de das Sagradas Escrituras — e na verdade devemos fazer isso —, mas p e r d e r t u d o na hora d a h e r m e n ê u t i c a , a a r t e e a ciência da interpretação (Hermes era o mensageiro dos deuses gregos, vindo daí a palavra hermenêutica). A Bíblia é ve rd ad ei ra , ma s esse fato e m si não t e m ne n h um a con se qü ên cia se não pro ss e guirmos perguntando: "Sim, mas o que ela diz?". His tor ica men te, a he rme nêu tic a te m lidado co m os princí pios e as regras pelas quais os vários g ê n er o s literários das Es c r i t u r a s d e v e m s e r c o m p r e e n d i d o s . E s s a s s ã o a s f e r ra m e n t a s com as quais o pregador escava o texto. Geralmente procura mo s c o mp r e e n d e r a Bíblia co mo o faze mos co m qu al qu er ou tro livro. Levando em conta o referencial do autor c .sua inten ção, damos ao texto uma leitura literal, plana e normal, levando em consideração, obviamente, as figuras de linguagem. A pre gação bíblica, como definimos, baseia-se fortemente nas habili dades dadas pelo Espírito Santo para o intérprete consciente. Uma das grandes belezas e glórias das Escrituras é ser vista em toda sua clareza. A Bíblia foi escrita para ser compreendida, não é obscura e muito menos ambígua. Certamente existem "algumas coisas difíceis de entender" (2Pe 3.16). J. I. Packer
Para um homem piedoso, deveria ser como era com Moisés. Quan do o homem piedoso vê a Bihlia em aparente contradição com as informações seculares, deve fazer o que Moisés fez quando viu um egípcio lutando com um isracHta: mata o egípcio. Ele desconsidera o testemunho secular, sabendo que a Palavra de Deus é verdadeira. Mas quando vê uma aparente incoerência entre duas passagens das Escrituras, ele faz o que Moisés fez quando viu dois israelitas discutindo: tenta reconciliá-los. Diz: "Ah, esses dois são irmãos. Preciso fazer com que fiquem em paz". E isso o que faz o homem piedoso.' Como disse Agostinho, "a Bíblia é como um rio cm que uma criança pode nadar e um elefante atravessa com dificuldade por causa da correnteza". Qualquer crente sincero e orientado pelo Espírito Santo pode compreender e lidar com a Palavra. O es tudo e a meditação são exigidos e devem continuamen te ser aprimorados com mais c mais ferramentas que permitam apro f u n d a m e n t o c o n s t a n t e e compreensão cada vez mais satisfatória. N o s úl timos anos, a h e r m e n ê u t i c a se envolveu c o m que st õe s filosóficas e te oló gic as sobr e a pr óp ri a Escr it ur a. A nov a hermenêutica surgida a partir de Rudolf Bultmann e Martin Hei deg ger afirma que a própria li nguagem é um a inte rpr et açã o e não pode ser compreendida em relação aos textos antigos como se, de alguma maneira, incorporasse uma verdade objetiva. Com p r e e n d e r é essencial, envolvendo u m "círculo h e r m e n ê u t i c o " e m que a personalfdade e o texto se encontram numa vida diária contemporânea (co "campo de consciência" de David G. Buttrick). N u m a pro fun da discussão dessas q u e s t õe s , A n t h o n y T h i s e l t o n insiste qu e, se o t e x t o anti go de ve ser vivo hoj e para qu e de fato atinja seu objetivo, dois horizontes devem ser usados conjunta mente, tanto o do texto quanto o do intérprete moderno, e isso deve acontecer num nível mais conceituai. N ã o há p r o bl e m a d e coisa de "exegese .sem que a afirmação de uma interpretar as Escrituras
no s l e m b r a r e m d e q u e não existe essa pressuposição". J. D. Smart argumenta objetividade absolutamente científica ao "envolve o intérprete numa ilusão tal
sobre si m e s m o qu e sua objeti vidade é inibida".^ A he rm en êu ti ca não é uma ciência exata. Todos nós trazemos nossos sistemas, tradições, preconceitos e pecado para a tarefa de interpretar as Escrituras. Essa é uma das razões pelas quais nossa compreensão difere e, em muitos casos, é simplesmente errada. Contudo, cons cientes de nossas predileçõcs e humildemente ansiosos pela ins trução do Espírito Santo, podemos nos aproximar do texto das Escrituras para compreendê-lo. A postura diante do texto é muito diferente da de rendição a um Deus transcendente, que nos fala por meio de \ e r d a d e s obje tivas. A nova hermenêutica tem perdido essencialmente o signi ficado bíblico porque dá ênfase muito grande à autocompreensão, O fruto te m sido a confusã o her me nê ut ic a, u m plur alism o ardiloso sem foco. O pregador deve manter a confiança na Bíblia que temos nas mãos como um conhecimento objetivo. A Bíblia t e m status de verdade revelada in de pe nd en te me nt e da pessoa t [ue se aproxima dela e de como o faz. Ela tem vida independente mente da minha compreensão. Não é uma verdade instável. No ss a tarefa ao p reg ar é averiguar o significado d o t e x t o bí b h c o . Eric D. Hirsch Jr. fez a importante distinção entre signifi cado e significáncia: Significado é o que é representado por um texto; é o que o autor queria dizer com o uso dc uma seqüência particular de sinais; é o qu e os sinais repr esen ta m. Por ou tr o lado, a significáncia especifi ca a relação entre o significado e uma pessoa, um conceito ou uma situação,'' A busca pelo significado é plenamente fundamental para o p r e g a d o r q u e deseja c o m u n i c a r a significáncia d o t e x t o bíblico no mundo dc hoje.
Pontos de tensão na hermenêutica evangélica Por trás do significado do texto está a intenção do autor. Preci
Para um homem piedoso, deveria ser como era com Moisés. Quan do o homem piedoso vê a Bíblia em aparente contradição com as informações seculares, deve fazer o que Moisés fez quando viu um egípcio lutando com um israelita: mata o egípcio, Ele desconsidera o te stei uunho secular, sabendo que a Palavra de De us é verdadeira. Mas quando vê uma aparente incoerência entre duas passagens das Escrituras, ele faz O que Moisés íez quando viu dois israelitas discutindo: tenta reconciliá-los. Diz: "Ah, esses dois são irmãos, l'rcciso fazer com que fiquem em paz". É isso o que faz o homem piedoso,' Como disse Agostinho, "a Bíblia é como um rio em que uma criança p o d e nad ar e u m elefan te atravessa co m dific ulda de po r causa da correnteza". Qualquer crente sincero e orientado pelo Espírito Santo pode compreender e lidar com a Palavra. O es tudo e a meditação são exigidos e devem continuamente ser apr imo rad os co m mais e mais ferrame ntas q ue pe rm it am apro fundamento constante e compreensão cada vez mais satisfatória. N o s líltimos anos, a h e r m e n ê u t i c a se envolveu c o m qtiestões filosóficas e teo lóg ic as so br e a pr óp ri a Es cr it ur a, A nova hermenêutica surgida a partir de Rudolf Bultmann e Martin Heidegger afirma que a própria linguagem é uma interpretação e não pode ser compreendida em relação aos textos antigos como se, de alguma maneira, incorporasse uma verdade objetiva. Com p r e e n d e r é essencial, envolvendo u m "círculo h e r m e n ê u t i c o " e m qu e a per so nal ida de e o t e xt o se en co nt ra m nu m a vida diária contemporânea (é o "campo de consciência" de David G. Buttrick]. N u m a p ro f u n d a disctissão dessas q u e s t õ e s , A n t h o n y Th i s e l t o n insi ste qu e, se o t e x t o an tig o de ve ser vivo hoj e para q u e d e fa to atinja seu objetivo, dois horizontes devem ser usados conjunta mente, tanto o do texto quanto o do intérprete moderno, e isso deve acontecer num nível mais conceituai.^ N ã o há p r o bl e m a d e nos l e m b r a r e m d e q u e não existe essa coisa de "exegese sem pressuposição". J. D. Smart argumenta que a afirmação de uma objetividade absolutamente científica ao
sobre si mesmo que sua objetividade é inibida".' A hermenêutica nâo é uma ciência exata, Todos nós trazemos nossos sistemas, tradições, preconceitos e pecado para a tarefa de interpretar as Escrituras. Essa é uma das razões pelas quais nossa compreensão difere e, em muitos casos, é simplesmente errada. Contudo, c o n s cientes de nossas predileções e humildemente ansiosos pela ins trução do Espírito Santo, podemos nos aproximar do texto das Escrituras para compreendê-lo. A postura diante do texto é muito diferente da de rendição a um Deus transcendente, que nos fala por meio de verdades obje tivas, A nova hermenêutica tem perdido essencialmente o signi ficado bíblico porque dá ênfase muito grande à autocomprecnsão. O fruto tem sido a conftisão hermenêutica, um pluralismo ardiloso sem foco. O pregador de\'e manter a confiança na Bíblia que temos nas mãos como um conhecimento objetivo, A Bíblia t e m status de ver dad e revelada in de pe nd en te me nt e da pessoa que se aproxima dela e de como o faz. Ela tem vida independente mente da minha compreensão. Não c uma verdade instável. N o s s a tarefa ao pregar é averiguar o significado d o t e x t o bí b h c o . Eric D . H i r s c h Jr. fez a i m p o r t a n t e distinção e n t r e signifi cado e significáncia: Significado é o que é representado por um texto; é o que o autor queria dizer com o uso de uma seqüência particular de sinais; é o tjuc os sinais repr es en ta m. Por outro lado, a significáncia especifi ca a relação entre o significado e uma pes.soa, um conceito ou uma situação."* A busca pelo significado é plenamente fundamental para o p re g a d o r q u e deseja c o m u n i c a r a significáncia d o t e x t o bíblico no mundo de hoje.
Pontos de tensão na hermenêutica evangélica Por trás do significado do texto está a intenção do autor. Preci samos fazer uso de todas as ferramentas disponíveis para a ta
sintaxe, informações arqueológicas e históricas (com bons co mentários que sirvam de ajuda e verificação no processo), ape nas para citar algumas. Algumas passagens apresentam mais cl ara men te a int enç ão d o aut or d o q u e out ras. Em to da s essas situações, estamos lidando com probabilidades. As passagens narrativas de maior dificuldade podem ser menos presumíveis do que certas seções didáticas em que a intenção básica parece ser afirmada de maneira bastante clara. É onde vemos que a hermenêutica não é uma ciência exata, uma vez que intérpretes p i e d o so s n e m s e m p r e en x e rg a rã o o a s s u n t o d o m e s m o m o d o . N à o existe u m livro infalível q u e forneça o p ro p ó si to d o a u t o r em toda e qualquer passagem. Uma salvaguarda importante para nós na interpretação é a analogia Scriptura, ou aq ui lo q u e as Escrituras ensinam como um todo, e a analogia fidei, aquilo que a igreja como um todo acredita sobre aquele assunto. De vemos ser cuidadosos para não impor categorias e conceitos da revelação po ste ri or sob re os te xt os antigos , po rq ue acre dit a mos na revelação progressiva. Contudo, nenhuma parte ou seg mento da revelação divina pode jamais contradizer outra parte ou se gm en to . O s po ste ri ore s se bas eia m nos ant eri or es em bel a harmonia, como vemos no venerável sistema sacrificial do AT substituído pelo sacrifício definitivo de Jesus Cristo. N ã o se d e v e p r e s u m i r q u e o significado q u e o au t o r quis d a r ao te xt o deva ser se mp re simpl es, pois a inte ncio nali dade n e m sempre é simples. Qualquer escritor ou agente (bíbhco ou de outra área) pode ter uma intenção bastante complexa. Jesus realizou milagres como expressão de sua compaixão, mas tam b é m c o m o i n t u i t o d e dar c r é d i t o ao seu mi n i st é r i o e en si n ar hções e verdades (Lc 5.24). A narrativa da ressurreição tem vários propósitos. Em algumas passagens, pode ser mais difícil compreendermos o intuito linico do autor, enquanto em outras compreendemos facilmente a possibilidade das múltiplas inten ções. Seja qual for o caso, as descobertas da hermenêutica de vem ser todas justificadas pelo próprio texto analisado dentro
Outra questão crítica na hermenêutica evangélica é como distinguir, dentro das próprias Escrituras, as proposições uni versais normativas para todos os tempos e os elementos cultu rais que partem de um âmbito temporal definido. Estamos li dando aqui com a parte da "significância" da definição de Hirsch. Pode haver implicações para nós até numa mensagem bastante específica p ara u m rei antig o, m e s m o se a sit uaçã o c o mo u m todo não tiver relevância. Na segunda reunião de cúpula do Conselho Internacional sobre a Inerrància da Bíblia, realizado e m 198 2, J. Robe rtso n McQu il ke n apr es ent ou a posição de qu e "todo ensinamento das Escrituras é universal, a não ser que as p r ó p r i a s E s cr i t u r a s o t r a t e m c o m o l i m i t a d o " . M c Q u i l k e n le vanta sete importantes perguntas para o intérprete: 1.
O co n te x t o limita o re ce pt or ou a aplicação?
2 . A revelação subseqüente limita o receptor ou a aplica
ção? 3. Este ensinamento específico está em conflito com outro
ensinamento bíblico? 4. A razão para determinada norma é apresentada nas Es crituras? Essa razão é tratada como normativa? 5. O ensinamento específico é normativo assim como o prin cípio por trás dele?
6. A BibHa trata o contexto histórico como normativo? 7. A Bíblia trata o contexto cultural como limitado?^
E óbvio que essas perguntas são importantíssimas para quem deseja se contextualizar com nossa cultura e, em especial, no contexto missionário em outros países. Poucas áreas têm sido mais difíceis para nós do que as ques tõ es rel acio nad as ao NT c co mo elas p o d e m ser us ada s no AT. Parece-me que é desnecessário argumentar que os escritores d o AT en ten di am p len ame nt e tu do aquilo sobre o qu e eles pro fetizaram. A idéia de múltiplos cumprimentos da profecia do
tivesse en te nd id o pl en am en te a imp ort ânc ia do qu e escre veu. Um escritor qualque r têm total c om pr eensão das cons eqüên cias do que escreve? Não perdemos controle da interpretação reconhecendo que os profetas não entendiam plenamen te o mo m e n t o e m qu e suas profecias dev eri am cum pri r-s e (I P e 1.1012). Daniel escreveu sobre períodos de tempo [como em Dn 9.24-27) e tão claramente sobre coisas que ele não compreen dia. Será que um leitor do Salmo 16 poderia compreender que esse texto é uma profecia sobre alguém que morreria e voltaria à vida no va me nt e? Qu a n t o Davi en ten di a de si m e sm o ? Teria Balaão compreensão clara das duas vindas de Cristo quando profetizou (v. N m 24 .17 ,18 )? Será qu e Abr aão co mp re en de u a real ext en são da sua de sc en dê nc ia con fo rm e the fora p ro me ti do ? Existe um tipo de sensus plenior [significad o ma io r da s Es crituras) a ser \'isto quando a revelação progressiva se comple ta. E por isso que J. I. Packer argumenta que se o significado c a mensagem de Deus ex ce de m o que o escritor humano tinha em men te , esse significado extra c apenas extensão e desenvolvimento dele, um esboço das implicações e o estabelecimento de relaçõe.s entre suas palavras e as de outros, talvez declarações bíblicas posteriores de uma manei ra que o próprio escritor, diante do caso, não poderia fazer.^ Esse reconhecimento não visa a introduzir nenhum elemen to arbitrário cm nossa peregrinação em busca do significado e da significância do texto das Escrituras. Em última anáhse, permanecemos ao lado dos reformad o res, acreditando que o todo das Escrituras deve interpretar as p a r t e s d a s E s c r i t u r a s . E m b o r a t e n h a m o s d i f i c u l d a d e s c o m Daniel, um profeta do sexto século antes de Cristo, e pesemos com cuidado suas profecias à luz da situação histórica e de seu conhecimento, terminamos por mesclar Daniel e Apocalipse quando, como futuristas, falamos dos acontecimentos dos últi
nas um autor divino. Associamos Daniel, Joei, Zacarias, o Ser mão do Monte, 2TessalonÍcenses e Apocalipse. Desse modo, o NT, de acordo com a compreensão geral da igreja por todos os séculos, deve finalmente ser decisivo para nossa compreensão do AT.
A central idade d e Cristo Um foco crítico para várias dessas questões hermenêuticas c a própria questão prática d e qu an do Cristo deve ser pregado no AT. "Ouço poucos sermões sobre Jesus" diz o inicio de um re cente e interessante lamento da ala liberal.' O pregador cris t ã o , c[uer esteja pregando a partir do AT, quer do NT, deve apresentar Cristo como o referencial. O pregador cristão não p o d e p r e g a r n e n h u m t e x t o d o AT c o m o se fosse u m r a b i n o, p o r q u e o c u m p r i m e n t o d as p r o m e s s a s se d e u e m C r i s t o , e vivemos debaixo da nova aliança. O pregador cristão tem um caso de amor eterno com o AT, a Bíblia que Cristo e os apósto los tanto presavam. A nossa pregação de qualquer parte das Escrituras deve inserir-se dentro de uma clara percepção do constructo teológico e, para o pregador cristão, esse constructo é cristocêntrico. N ess e sentido, t o d a pregação bíbhca é doutrinária. A nossa p r e g a ç ã o e s t á d e n t r o d e u m s i s t e m a d e c o m p r e e n s ã o . Esse constructo teológico deve ser o produto da exegese, da teologia bíblica, da teologia histórica e da teologia s is te má ti ca . A fra queza da pregação sem essa consciência de construção é dolo rosa para a congregação com o passar do tempo, embora talvez os membros não sejam capazes de mo.strar exatamente qual é o pr o b l e m a . A falta d e c o n t i n u i da d e e coesão e a incoerência ge ral encontrada em muitas pregações somente ratificam que, embora haja análise, não tem havido uma quantidade significa tiva de síntese. A D e c l a r a ç ã o d e C h i c a g o s o b r e a H e r m e n ê u t i c a B í bl i ca [1 98 2} afi rma d e ma ne ir a in equ ív oca : "A pe ss oa e a obra de Je Cr is to são foco cen tr al de tod BíbÜ Af ir
não é cor ret o nen hu m mé t od o de int erp reta ção que rejeite ou obs cur eça a ce nt ra h da d e de Cri st o na Bíbha".'^ E desse m o d o que nosso Senhor via as Escrituras do AT: " E c o m e ç a n d o p o r Moisés e todos os profetas, exphcou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras" (Lc 24.27). Jesus disse sobre o AT: "São as Escrituras qu e t e s t e m u n h a m a me u respe i t o " [Jo 5.39). Os pregadores apostólicos viram o cumprimen to do AT e m Cri sto e pr ega ram a Cri sto co nfo rme ele foi anun cia do no AT [At 2.3 1; 3. 24 ,2 5; 8. 35 e out ras pass agen s). Paulo via o AT de mane ira cristológica [2 Co 1.20). He br eu s é u m exe mpl o p a r t i c u l a r m e n t e vivo d e enxergar o AT a part ir da pl en it ud e da revelação em Cristo presente no NT (p.ex . H b 10. 7). N ã o p o s s u í m o s u m m a n u a l d e i n t e r p r e t a ç ã o d o AT escrito p e l o s a p ó s t o l o s , c o m o R i c h a r d N . L o n g n e c k e r m o s t r o u t ã o b r i l h a n t e m e n t e na o bra Biblical exegesis in the aposlolic period Ma is u m a vez fica {Exegese bíblica no período apQstálico\r mos impressionados com o fato de que a hermenêutica não é uma ciência exata. O que está claro é que Jesus Cristo, como o unigcnito filho de Deus, está no centro do "eterno plano" de De u s. E a vo nt ad e de D e u s qu e "e m t u d o [C ris to] te nh a a s u p r e m a c i a " [ C l 1 . 1 8 ) . E o contínuo e fiel ministério do Espí rito Santo para glorificar e dar testemunho de Cristo. Ele é o único caminho para o Pai, o único e suficiente mediador, por meio de quem podemos ser salvos, como se afirma em João 1 4 . 6 , l T i m ó t e o ' 2 . 5 e A t o s 4 . 1 2 . D e s s e m o d o , P a u l o in si st i a fr eq ü en te me nt e q ue pregava a Jesus Cri st o, o Sen ho r crucifi cado. O tema mais perfeito do pregador cristão deve ser o Senhor Jesus Cristo. Charles Haddon Spurgeon disse que a verdadeira magnificência da pregação c exaltar nela a pessoa de Cr is to . A his tór ia da pr eg aç ão co rr ob or a a alega ção de Ronald Ward: "Se o pregador se abstém de comunicar a Cris t o , ele não está pregando". O que era verdadeiro para os pais da igreja, os reformadores, OS pu ri ta no s, para Jo hn Wesle y e Al ex an de r Mac lar en não é me n o s ve rd ad ei ro para nós. U m
A centralidade de Cristo no Antigo Testamento Existe hoje em dia muita discussão frutífera sobre a relação en tr e os dois te st am en to s (v. os livros re ce nt es d e Wal ter C. Kaiser Jr. e de Thomas E. McComiskey, assim como o clássico de S. Levi/is Johnson).'" Ninguém é mais claro que John Bright quando afirma: "Cristo c para nós, na verdade, a coroa da reve lação, por me io de q u e m a ve rd ad ei ra significáncia do An tig o T e s t a m e n t o se to m a fina lme nte e vi de nt e" ." Es,sa é a est rut ura fundamental dentro da qual o pregador de Cristo vai ao AT. Va mos analisar os depósitos de verdade incomparavelmente ricos tjue con st it ue m o Al' scp ara ndo -os e m tr ês ca tego rias. Profecias de Cristo no Amigo Testamento. O min éri o cristológico mai s ób vi o a ser ga ri m pa d o n o A'l" sã o as profecias messiâni cas diretas. A Bíblia tem um corpo singular de profecia preditiva e de promessas. Isso tem imenso valor apologético, mas também é rico e cheio de verdades práticas para nós. O Talmude afirma que "todos os profetas profetizaram somente sobre o Messias" [Sanhedrin fSinédrioJ 99ci}. Afirma-se que cerca de 456 referên cias ao Mes si as for am ide nti fic ada s no AT na sinagoga. A r t h u r T. Pierson falou do que ele chamava de estágio mosaico ou germi nal, estágio davídico ou embrionário e o estágio profético ou adul t o . C a n o n He n r y P Li dd on cha ma o livro d e Isaías d e "a ma is rica mina da profecia messiânica". A grande obra Cristologia do An tigo Testamento, de Erne st W He ngs te nbe rg, ainda é u m a ferra menta muito útil na busca de tesouros relativos ao que o AT pre diz sobre a pessoa e a obra do "Desejado de todas as nações" {Almeida Revista e Corrigida). Me no s pre cis as e Figuras de Cristo no Antigo Testamento. determinadas do que as verdadeiras profecias de Cristo são os tip os ou figuras de Cr is to no AT. Jo hn so n afirma c om pr ov ei to que "tipologia é o estudo das correspondências espirituais entre pessoas, e v e n t o s e coisas d e n t r o d o p l a n o his tórico da revelação especial de Deu s". '^ Isso pr es su põ e um a co mp re en sã o linear da história. Jo hn so n cita B. F. We st co tt , q ue diz qu e "u m tip o
C e r t a m e n t e h o u v e a l g u n s e x c e s s o s na t i p o l o g i a a p o n t o d e s e a c h a r q u e c a d a p r e g o d o t a b e r n á c u l o d e I s r a e l e t o d o fi o d e cab elo da bar ba de u m b o d e e m Daniel são con sid er ado s c o m o p o s s u i d o r e s d e m u i t o sign ific ado . M a s a r e a ç ã o a e s s e s e x c e s sos t ê m sido tão forte qu e pare ce hav er u m re to rn o a u m a visão mais equi libr ada qu e enfatiza a exis tênc ia de pessoas , ev en tos , in st itu iç õe s, ofícios e açõ es pic tór ico s. As Es cri tur as fala m
dc
tipos e nos dizem que a "rocha era Cristo" (ICo 10.4). O livro de Hebreus usa a tipologia como sua hermenêutica básica. E certo que estamos pisando em terreno seguro quando o
NT
estabelece
d e man ei ra explícita a cor re spo ndê nci a — seja c o m Ad ão , c o m dilúvio, seja com Melquisedeque. Nào há questionamento sobre a se rp en te abrasadora, o maná, a Páscoa, Jonas de nt r o do pe ix e ou o casamento de Oséias. No caso das cidades, de refúgio, da vida de José, do sábado judaico c do calendário religioso, o bom senso e o ju lg am en to ctud ado so nos aju da m a pe rc eb er asp ec tos e nuanças da obra redentora de nosso Salvador. Preparações
para
Cristo
no Antigo
salvadora de Deus está em todo o tu do o qu e aco nte ce no
AT
AT.
Testamento.
A o b r a
Nes se s ent ido holístico,
pre pa ra para Cri sto e se c u m p r e
n e l e . N ã o p o d e m o s p r e g a r o AT c o m o s e n ã o h o u v e s s e u m c u m p r i m e n t o f u t u r o . M u i t o d a p r e g a ç ã o c o n t e m p o r â n e a c m a m b o s os te st am en to s ten de a ser fo rt em en te exortativa, te nd o apenas u m a fina ca ma da dev ocio nal. A Bíblia é vista hoje ba si ca me nt e como fonte de instrtiçâo moral, com segredos para o sucesso, modelos de hderança e de ajuda. Fazer isso é sc afastar do mo tivo principal das Escrituras: a intervenção divina por intermé dio dc Jesus Cristo. E dentro desse arcabouço que a responsabi lid ad e ét ica e social se to rn a significativa e realizá vel. O s
De z
Mandamentos são proclamados nesse contexto: "Eu sou o SE NHOR, o t e u D e u s , q u e t e t i r o u d o Egito, da t e r r a d a e s c r a v i d ã o " (v. Ex 2 0. 2 - 17 ) . A pa rt e dos atos re de nt or es d e Deu s, só nos res ta o l o r m e n t o de u m ideal não alc an çad o. A lei é o tu to r q u e nos leva a Cristo (Gl 3 . 2 4 ) . N ã o e x i s t e n e n h u m a s e ç ã o o u p a r t e
sitor não pode encerrar sua participação deixando apenas um aforismo moralista ou um imperativo, ainda que seja necessá rio. São privilégio e alegria nossos colocar a moldura de Cristo em volta da passagem. O propósito de Deus em Cristo é criati vo, redentor, providencial e escatológico, ou seja, ele faz, salva, cuida e completa. E em Jesus Cristo que tudo isso acontece. Cristo é o ponto principal. ness e m e s m o sent ido qu e eu co mp re en do a exor taç ão qu e Cha rl es H a d d o n Spurg eon fez a um jov em pregador; E
Você não sabe, meu jovem, que de toda a cidade, de todo vilarejo e de toda aldeia na Inglaterra, onde quer que sc possa e.star, existe uma estrada que vai para Londres? Do mesmo modo, cm todos os textos das Escrituras existe uma estrada para Cristo. Meu caro irmão, ao se aproximar de um texto, sua função é dizer qual é a estrada para Cristo. Nunca encontrei um texto que não tives.se uma estrada para Cristo dentro dele mesmo e, se encontrar um, irei aos trancos e barrancos, mas chegarei até meu Mestre, pois o sermão não pode fazer outro bem que não seja conter um sabor de Cristo dentro de si mesmo.'"' O fato é que, se você pegar uma melancia, não importa por on de você a cort e; ela con ti nua se ndo um a mela nci a. Ro be rt Capon acusa os teólogos do século XX de, por vezes, jogarem "imensas quantidades da mais perfeitamente alinhada idiotice". O ex erc íci o q ue But tr ic k faz sobre a teolo gia homi lé ti ca na obr a Preaching Jesus Christ [Pregando Jesus Cristo] é bastante útil p a r a t e s t a r a va l id ad e d e a l g u m a s d e nossas crític as. Para al guém cuja "nova homilética" se encaixa perfeitamente na "nova hermenêutica", não é dc surpreender que por toda sua obra ele seja historicamente cético e agnóstico. Ele acha que os fatos da vida de Jesus, seus milagres e ensinamentos, não podem ser certificados.'^ A cristologia parece horizontalizada. Existe um horizontalismo opressivo na pregação. A literatura apocalíptica é desprezada como destitu ída de significado para o homem moderno [em minha opinião, uma
curiosa má interpretação de nossos próprios tempos apocalíp t i c o s ) . "Cristo é sempre uma figura misteriosa e simbólica.""" Ao destilar seu barthianismo, Buttrick parece ter perdido gran de parte do elemento transcendente do Senhor Jesus. Como salvador pessoal, Jesus recebe as costas da mão. Nossa procla mação deve ser a salvação social. As imagens apocalípticas da ressurreição passada e futura devem ser postas de lado para descobrir o núcleo que permanece, a noção de uma nova era que está nascendo.'" Alguns dos velhos pais da igreja descambaram para a alegoria da pior espécie. Um deles entendeu que os três cestos do sonho que o padeiro contou a José eram a Santa Trindade e que o cabe lo da noiva em Cântico dos Cânticos era a "massa de nações con vertidas ao cristianismo". Outro enxergava os quatro barris de água do confronto de Elias com os profetas de Baal como os qua tro evangelhos. Um luminar posterior via o navio no mar da Galiléia como a igreja da Inglaterra e os "outros barcos" como os não conformistas. Os amigos de Jó eram hereges, seus sete filhos eram os doze apóstolos (?), suas sete mil ovelhas eram o povo fiel de Deus e seus três mil camelos eram os gentios depravados. Que caricatura! Contudo, Bernard Ramm observa que foi a cristocentricidade da exegese alegórica que impediu que ela ,se to rn ass e u m mate ri al descart ável .'^ E tri ste , mas dev e ser dit o que, nos caminhos da nova hermenêutica, a cri,stoiogia foi deson rada e reduzida. A questão principal da igreja sempre foi o que p e n s a mo s de Cristo. Ele é o p o n t o principal d e t o d a a história. Que nos,sa pregação reflita e irradie com fidelidade e ardor a doutrina bíblica de Jesus Cristo. Ele ainda salva!'"*
Como desenvolver e afiar o estilo pessoal? A questão da originalidade
N
osso estilo de pregar é a maneira como fazemos, é o que funciona melhor para nós, A origem do termo "estilo" vem do no me dad o a u m ins tr um en to metá lico pont iag udo usado para escrever, vindo daí a referência que fazemos hoje ao estilo de escrever. George Louis Leclerc de Buffon, o estilista francês, disse: " O estilo é o pr óp ri o h o m e m " . William Str unk , ele prórpio um estilista habilidoso, fala do estilo como "aquilo que distingue ou pelo que se c distinguido, é caminhar para a notoriedade". As Escrituras nos lembram que "temos esse te souro em vasos de barro" [2Co 4.7) e não temos dúvida de que as marcas de nossa produção estão bem evidentes em toda a mensagem que pregamos.
Muitas influências fizeram de nós as pessoas que viemos a ser. Em Abraham Lincoln podemos ver a cadência da Bíblia, as sutilezas de Willia m Sh ak es pe ar e e a h um a ni d ad e de Bobb y Burns, Wi ns to n Chu rch ilí apr ofu ndo u-s c nos historia dores Ed wa rd G i b b o n e Th om as Babington Macaulay, Macaulay, e po de mo s ver esses homens trabalhando na poderosa linguagem que emana daquele mestre da comunicação. Paul Gericke analisou a pre gação d e Rob ert G . Lee, cujo estilo foi foi g r an d em en te influencia do por Edwin M. Poteat e T. DeWitt Talmadgc. Seu estilo de pr p r e g a ç ã o e r a c a r a c t e r i z a d o p o r c l a r e z a , e n e r g i a , g r a n d e e l e g â n cia de expressão, imaginação viva e humor.
o estilo foi foi c h a m a d o de "a "a assi natu ra do pr eg ad or ", em b or a diversos aspectos de nossa pregação mostrem a influência cons ciente e inconsciente de nossos modelos. As vezes podemos so frer da doença dos modelos. Robert W Dale sempre tinha os textos de Edmund Burke ao alcance e sua pregação altamente lógica e doutrinária é a prova disso. John tfenry Jowett é consi derado o "estilista do púlpito inglês" e talvez nenhum outro pre gador do século XX tenha usado o idioma inglês de maneira mais bela na pregação. James Stewart da Escócia, pessoalmen te muito reservado em seus modos, tinha "um estilo polido e requintado". Thomas Chalmers pegava fogo e aos poucos Henry Van Dyke e ra capaz dc ca minhar mesmo sentado. Benja min Franklin foi um ávido estudante dos ensaios dc Joseph Addison e Richard Steele, chamados Spectator [Espectador], os qua is in fluenciaram grandemente seu estilo. Diz-se que Francis Patton citüu a obra obra !n memorian, de Tenny son, pel o m e n o s um a vez em cada sermão que pregou. Pregar é um processo pessoal e, conseqüentemente, não existe muito sermão modelo nem sermão perfeito. Todos nós temos dificuldades com o que Clyde Fant chama de "o doloroso em ba b a r a ç o d a p r e g a ç ã o : c o l o c a r a v e r d a d e d e D e u s e m f o r m a h u ma na ". O fato de algu ém te r rel aci ona do 2 9 30 di fe ren te s pe r sonalidades bíblicas testifica o uso que Deus faz da diversidade e da individualidade. Ralph V^^aldo Emerson adverte que, em b o r a d e v a m o s e s t u d a r o s m e s t r e s , é p r e c i s o l e v a r e m c o n t a que nós mesmos temos a nossa parcela. Tal qual aqueles que gostam muito de imitar, às vezes assumimos as características idiossincráticas de nossos heróis. Minha própria vida foi gran demente enriquecida pelos diversificados estilos de pregadores que ouvi em minha adolescência em Twin Cities: Gustaf F. Jo hnson, William Bell Riley, Earle Y Pierce, George Vallentyne, Paul S. Rees e Billy Graham em seus primeiros anos em Minne apolis. Todos nós somos devedores de algo que nunca podere
Michelângelo trabalhava com uma vela na testa a fim de que sua própria sombra não se projetasse sobre a superfície de seu trabalho. Inevitavelmente, a nossa sombra vai se projetar no que fazemos. Existe um tipo de originalidade e "esperteza" na pr p r e g a ç ã o q u e t e m o r i g e m e m n o s s a a r r o g â n c i a e p r e s u n ç ã o . E s s e é o peri go do di le ta nt e ou do ve ne ra do r do pú lp it o. P. P. T For sy thc tem algo muito bom a dizer sobre o "o príncipe do púlpito", um cuidado que todos nós devemos ter: Basicamente, cic não está no púlpito para fazer daquele lugar a pl p l a t a f o r m a de o n d e po poss ssaa dar da r a mp mpll a vazão vaz ão a sua s ua indi in divi vidd ual ua l idad id adee e mais liberdade à própria idiossincrasia. Ele está ali tanto como servo da Palavra quanto da igreja, para fazer determinada obra, pa p a r a d e c l a r a r u m a m e n s a g e m , para pa ra f o m e n t a r u m a d e t e r m i n a d a confiança [,.. [,..]] Ele nâo nâ o está es tá no pú púlp lpit itoo co mo sc aquele aqu ele fosse o lugar mais espaçoso para se tornar cie mesmo e, assim, desenvol ver seu gcnio,' Ser nós mesmos genuinamente no púlpito é ser original no mais perfeito sentido da palavra. Diz-se que usar alguma frase de uma única pessoa é plágio, mas citar idéias de centenas de pe p e s s o a s é p e s q u i s a . A s s i m c o m o o pr ega dor qu e está faze ndo a exegese pode facilmente ir aos comentários e deixar de se aprofundar no texto, do mesmo modo o pregador pode ir muito rapidamente para os sermões escritos por outros e simples mente sc livrar de sua própria labuta exegética. O problema de ser original aumenta cora a alta pressão da falta de tempo. P r e c i s a m o s f a z e r n o s s o t r a b a l h o à nossa ma ne ir a se quiser mos ser realmente abençoados. Touchstone disse em As you like it: "E u m a coisa de sa gr adá ve l, senh or , ra r aas é min ha !" . Q u a n d o us am os os raateriais de ou tr os , de ve r ao s nos ac au te lar com relação às orientações que Al Fasol desenvolveu: seja inspirado mas não copie; dê crédito onde o crédito é devido; tenha sempre o cuidado de usar material de ilustração com integridade. N u n c a d e v e m o s f u n d i r n o s s a i n c o m p e t ê n c i a e i n d o l ê n c i a c o r a o caminho da cruz. Existem pregadores que se sentem incapa-
zes e são afligidos por deficiências nas ferramentas básicas. To do s nos se re mo s incapazes se a ve rd ad e for for dit a. E an im ad or ler a reaç ão de Ma rt in ho Lu te ro a seu pr im ei ro serm ão: " C o m o tremia quando subi ao púlpito pela primeira vez! De bom grado eu arrumaria uma desculpa para não pregar, mas eles me força ram a isso!". O talentoso Agostinho não se sentia mais bem p r e p a r a d o : Minha pregação quase sempre me desagrada. Fico ansioso por apre sent ar alguma alguma coisa coisa melhor, sobre a qual eu fr eq üe nt em en te tenho alegria interior antes de partir para expressar meus pensa mentos em palavras audíveis. Então, quando deixo dc proclamar o que pensava tão claramente como eu havia concebido, fico de sapontado que minha Ungua seja incapaz de fazer justiça ao que está no meu coração. A razão principal é que a concepção ilumina a mente com um lampejo, ao passo que a pregação do sermão é lenta, morosa e muito diferente do que ela transmite.^ Isso sempre acontece com quem prega. Quero sugerir algumas características estilísticas importan tes que todos os pregadores deveriam ter, independentemente de nossos toques de estilo pessoal. falar so br e Jo hn Buny an, Ch ar le s Precisamos ser bíblicos. A o falar Haddon Spurgeon disse que "seu sangue era feito de 'biblina'". Lutero queria acima de tudo ser cativo da Palavra de Deus. Não são os nossos comentários que fornecem o agente de mudança, ma s sim a viva e po de ro sa Palavra d e De u s . Ja me s I da Ingl ater ra reclamou certa ocasião sobre o trabalho do pregador da cor t e : "Ele não está pregando, está apenas brincando com o texto". O paradoxo da pregação é profundo: "Eu, mas não eu...". E o que está além de nós mesmos e vem do próprio Deus e de sua Palavra que vai deixar pegadas na areia do tempo. Os sermões de lanchonete não farão isso. A prestidigitação verbal também não fará. Teologia dc água-de-lavanda também não será capaz
p a ra s u s t e n t a r a m o r a l i d a d e n e m a v e r d a d e i r a c o m u n h ã o . A ahordagem "Senhor, você já leu o New York Times?" não vai se sustentar. "Pregue a palavra" é o que ensina o apóstolo Paulo cm 2T im üt eo 4.2. Esse foco na Bíblia que se pode ver na pregação é trabalho duro, mas, como comenta sir Joshua Reynolds em sua memo rável obra Lectures on painting, "D eu s nã o dá exc elê nci a ao homem, mas recompensa seu trabalho". Quando paramos dc estudar, paramos de fato. O que vale para os seminaristas tam b é m vale para os p r e g a d o re s d e t o d o s os lugares: p od e- s e levar uma pessoa para o seminário, mas nào se pode fazê-la pensar. Anúncios oferecendo doutorado para não residentes num perío do de nove a doze meses indicam quanto são chamativos os atalhos que não exigem raciocínio c como todos nós podemos ser felizes evitando o trabalho duro e a labuta. Quando o chefe da Igreja da Escócia participa da coroação da realeza britânica, ele dá ao novo rei ou rainha uma Bíblia e diz: "A coisa mais preciosa que este mundo pode dar, a coisa mai s preci osa qu e est e m u n d o con he ce , a viva Palavra d e De us ". Esse é um tesouro que temos de compartilhar, e a nossa grandio sa tarefa nào é decidir o que ela significa, mas descobrir o que ela quer dizer. São Bernardo pregou uma série de 85 sermões sobre os primeiros dois capítulos dc Cântico dos Cânticos. Na Inglaterra do século XVII Jo hn H o w e pregou 14 ser mõe s sobre a ex pre ss ão "Nessa es per an ça fom os salvos", pr es en te em Ro manos 8.24, além de 17 sermões sobre IJoão 4.20 e 18 ser mõ es so bre Joã o 3. 16. Se a ho mi lé ti ca significa li te ra lm en te "dizer a mesma coisa que" o texto diz, até essa cuidadosa elabo ração do texto sagrado exige que façamos a seguinte pergunta a Deus e a nós mesmos: "Isto é verdadeiramente bíblico?". Haverá momentos em que nosso Deus soberano usará uma p a r t e ínfima d o t e x t o para t o c a r alguns co raç õe s necessitados, ou mesmo salvar um homem que testifica que se chegou a Cris to porque o pregador disse "vamos agora passar da primeira p a r a a s e g u n d a p a r t e " . O h o m e m foi l e v a d o a pensar: "Bem ,
você precisa encerrar a primeira parte de sua vida e começar uma segunda parte". Esse é o maravilhoso poder da Palavra de Deus por meio do Espírito Santo. Quando o celebrado livre p e n s a d o r C h ar l e s Bradlaugh desafiou H u g h Price H u g h e s para deb ate r, este aceito u co m a con diçã o de qu e cada u m tr ou xe ss e c e m p e s s o a s c u ja v i d a t i v e s s e s i d o t r a n s f o r m a d a p o r s e u s ensinamentos. Bradlaugh nunca apareceu e o encontro da cen tena de pessoas trazidas por Hughes transformou-se numa gran de reunião de testemunho ptiblico. James M. Wall obser\'a que o ambiente do ministério dc hoje em grande parle se baseia nas aparências superficiais. Os meios de comunicação de massa — televisão, jornais, revi.stas — e a cultura que eles moldam valoriza o superficial, o fácil, o previsível. Pre gar nesse ambiente é como remar rÍo acima. De vez em quando, é tentador levantar os remos e flutuar com a corrente. Mas esses poucos momentos de descan so resultam num avanço mais ráp ido do barco correnteza abaixo.^ Diante desse cenário, a necessidade do estilo de pregação bíblica é ainda mais u r g e n t e . R o b er t M u r r a y M c C h e y n e tinha a p e rs p ect i v a correta: "Temo s m u i t o p o u c o t e m p o disponível para n o s l e v a n t a r e p r e g a r C r i s t o , m a s , d e p o i s d i s s o , t er e m o s a infindável quantidade de anos da eternidade". Precisamos ser fiéis. " E s te j a p r e p a r a d o a t e m p o e fora d e tempo" (2Tm 4*.2J é um chamado constante para um ministé rio firme c vigoroso da Palavra. Em sentido bem real, pregar é a arte de fabricar um pregador, adicionar uma grande alma e em seguida entregá-la. O sermão é o pregador atualizado. Estamos na verdade falando de um aspecto dc caráter aqui, e caráter é fide lida de à vocaçã o de D e u s . A to do ins tan te, o min ist éri o lan ça a tentação particular de se virar e desviar do curso diante de nós. Logo de início, o ministro deve revisar as expectativas para satisfazer as realidades da obra. O perigo é ter expectativas su ficientemente elevadas durante os anos de ministério e cora
com que o evangelho seja acessível e não torná-lo aceitável, o que nos ajuda a desanimar. As adversidades podem noS tornar sensíveis ou resistente s. Qu an d o pedi ram a Jo nat ha n Edw ard s para de i x a r N o r t h a m p t o n , M a s s a c h u s e t t s , d e p o i s d e m e m o r á veis 24 anos, ele partiu sem amargura nem rancor. Continuou subindo. A fragilidade do cântaro de barro atinge todos nós, D. L. Moody sempre foi um verdadeiro assassino do inglês, pronun cia ndo "N ab uc od on os or " co mo se fosse um a palavra de u ma única sílaba, Spur geon e M a t t h c w Simps on er am pr of un da me nt e melancólicos. A. T, Robertson hesitava no discurso. Phillips Brooks e George Morrison nem sequer tinham voz adequada . John Henry Jowett tinha uma anemia profunda e estava sem p r e a d o e n t a d o . Ri cha rd Sibbies gaguejava. Ernest Ma nnin g fun gava e resfolegava. Isso não é muito diferente do que acontece em outros campos de atuação, William Wordsworth era terri velmente feio, mas quem pensa nisso? Josiah Wedgewood era inválido e o sobrinho de John Dryden lhe disse: "Você nunca será poeta", G, Campbell Morgan foi reprovado na primeira sabatina para o ministério. O escocês James MacGregor tinha membros tão deformados que não lhe deram esperanças para o ministério, mas Deus lhe deu quarenta magníficos anos na igre ja d e Saint C u t h b e r t e m E d i m b u r g o . H e n r y P. L id do n estava tão abaixo do peso em sua fraqueza humana que escreveu na noite anterior ao início de seu ministério na Igreja de São Paulo em Londres que se sentia impotente para a tarefa, tanto física qu an to e moc io na Im en te . Ma s q u e m é ap to para essas coisas? Somente Deus faz de nós ministros capazes da nova aliança, Quando David Livingstone foi pregar seu primeiro sermão es tudantil em Stanford Rivers, na Escócia, sua mente ficou total mente em branco. Mais tarde, clc escreveu: "Ainda sou um pre gador bastante limitado e minha pregação é ruim. Alguns di zem que se soubessem que eu ia pregar, não entravam na capela". É importante dar a volta por cima. Lincoln foi derrotado sete vezes nas eleições políticas. Benjamin Disraeíi fracassou em tudo
o que tentou fazer como jornalista e escritor. Babe Ruth errou mais vezes que qualquer outro jogador de beisebol. Mas todos eles seguiram adiante. Dois inimigos podem acabar com a fidelidade. Por um lado, a lisonja, o afrodisíaco profissional, pode criar o desejo ardente p e l o a p l au s o . Por o u t r o , p o d e m o s ficar i n t o x ic ad o s c o m a fu maça da modéstia a ponto de acreditar que não temos valor e não podemos fazer nada. A permanência do profeta Daniel na "Caldeira do Diabo" ("Peyton Place") em que vivia no sexto século a.C. dá amplo testemunho do sustento de Deus c de seu p o d e r m a n t e n e d o r . Ele é fiel c p e d e q u e sejamos fiéis até a m o r t e . Precisamos ser agradáveis. Emb ora pr eci sem os de dignida d e e não de pompa no púlpito, é necessário mo st ra r u m po uc o de vigor e energia na proclamação. E concebível ter des pr ezo p e l a s co isas san t as? U m viajante q u e c a m i n h a v a n u m a n o i t e escura se en co nt ro u com u m h o m e m qu e, hesi tan te, fez-lhe um a sugestão: "Creio que existe alguma coisa naquela ponte à frente [...] nã o sei, ma s algo m e di z q u e há al gu m p r o b l em a [...] ac h o que seria melhor você parar e reconsiderar". Mas o viajante prosseguiu. E m seguida, veio o u t r o h o m e m , co r re n d o , s e m fô lego, que disse ao viajante: "Pare! Não prossiga! A ponte caiu!". Essa mensagem convenceu e constrangiu. Dizia-se que John Brown, d e Ha dd in gt on , Escócia, falava sob re De us com t an t o fervor que o cético David Hume comentou: "Ele prega como se Jesus Cristo estivesse ao alcance dele". Cada um de nós deve enc on tra r seu pró pri o rit mo, ma s a músi ca precisa co mp le me n tar as palavras na pregação. Aprender a variar o tamanho das frases e períodos e limitar o número de orações subordinadas, p o d e p e r m i t i r q u e nos m o v a m o s d c ma n e i r a mais vigorosa e m nosso discurso. Precisamos refletir conscientemente sobre nosso estilo e procurar fazer alguma coisa para melhorá-lo. Eventualmente, um estudante ou um pregador diz que seu p a d r ã o d e d iscurso reflete q u e m ele é e q u e seria u m a violência ser alguma coisa diferente. Isso não tem sentido atualmente. A
melhoria c o desemolvimento dc habilidades são fundamen tais. Até o pregador reservado pode desenvolver grande asserti vidade e confiança. Leciono no seminário um curso de oratória de improviso. Esse curso não é uma preparação para o púlpito, mas dá oportunidade de fazer uma análise. Também descobri que um pequeno livro de Randolph Sanders e H. Newton Maloney é uma das melhores ferramentas para desenvolver a con fiança.^ Alguns pregadores apresentam severos impedimentos por causa da t imi d ez ao falar, m as eles não estão sozinhos. C e r c a de 40% da população em gera! afirmam que a ansiedade por falar em público é o seu maior medo. Existe ajuda para pessoas tími das, e um pregador tímido tem um grande desafio a enfrentar.'' U m estilo de pre gaç ão efic ien te Precisamos ser relacionais. e x p l o r a as p r o f u n d i d a d e s d o r e l a c i o n a m e n t o " e u - v o c ê " q u e ocorre entre o pregador e os ouvintes. O pregador precisa ter conhecimento de sua platéia e ser sensível às pessoas, cobrin do o que ele diz com vibração e entusiasmo. Diz-se que um p r e g a d o r n ã o t i n h a c o n t e ú d o e m sua c o nv e rs a . Ele era c o m o u ma gravação: a pessoa estava ause nt e. U m dos dir eto res do Dartmouth College foi criticado por seu estilo impessoal. Ele estava conversando com a filha sobre o assunto c perguntou: — Susan, você acha q u e e u sou frio, i n d if e re n t e e nã o c o m u nicativo? A re sp os ta da filha foi pr of un da : — Ah, não, s e n ho r diretor, não creio, Poderia ser esse o retrato de nossa pregação? A habilidade de lidar com o livTO-texto não é a questão aqui. O aluno de botânica qu e po de recitar fl ue nt em en te informa ções e descrições mas não consegue identificar uma flor verda deira tem paralelo no ministério. Por vivermos numa época em me io a ac on te ci me nt os , en fr en ta mo s pessoa s que foram privatizadas, pulverizadas e polarizadas. N e m s e m p r e p o d e m o s curar, mas sempre podemos nos importar. O personagem Biff em A morte de um caixeiro viajante diz de maneira melancóli
ter controle sobre este tipo de vida". Edna St. Vincent Millay se deses pera: "A vida t e m qu e conti nuar, mas eu sim pl es me nt e es queci por que". As previsões da década de 1980 diziam que, no ano 2000, se o Senhor não voltasse, 50% das crianças que mo ram nos Estados Unidos seriam criadas por lares com apenas um dos pais. Nosso estilo de pregação precisa ser agradavelmentc pessoal, e o p reg ador precisa ser acessível e c o m u n i c a t i v o . Precisamos ser claros. Ja m es W. C ox co nt a q u e Sp ur geo n às vezes achava que seu estilo estava se tornando muito leve. Quan do isso acontecia, ele lia Thomas Caríyle, cujo estilo mais pe ne tr an te o aju dou a colocar mai s vida e m sua pre gaç ão. C o m q u e seriedade refletimos sobre essas nuanças em nossa pregação? Es tari a nos so discu rso ficando ma is d u r o e cada vez mai s opa co? N o d e s e j o d e n o s t o r n a r m o s ma is p r o f u n d o s , às vezes n o s tornamos polissilábicos. Nosso grande desejo deve ser tornar nossas idéias bem claras. Esse é o grande valor de escrever com regularidade. Se pudermos escrever de maneira clara, seremos capazes de falar claramente. As vezes, ao experimentarmos as maiores dificuldades na pregação, podemos sofrer para enten der a verdadeira razão do problema porque usamos a lingua gem de Sião mas não explicamos nem interpretamos seu signi ficado. O aba nd on o da te rm in ol og ia bíblica básic a, c o m o "justi ficação pela fé", por ex e m p l o , não é ac on se lh áv el , ma s é c e r t a m e n t e n e c e s s á r i o t r a d u z i r e s sa s e x p r e s s õ e s p a r a u m referencial compreensível. O conceito de "aceitar o inaceitável" é muito próximo e bem mais claro. Precisamos ser reais. A i mp os tu ra não é fácil d e ser i dent ifi cada n u m pri me ir o m o m e n t o , mas o qu e é gen uín o se mos tr a em inumeráveis contextos de interação. Por exemplo: o pastor p o d e falar b a s t a n t e s o b r e o c u i d a d o q u e d e v e m o s t e r c o m as pessoas e, e m seguida, p ô r t u d o a p e r d e r q u a n d o o c h o r o d e u m b e b ê i n t e r r o m p e o s e r m ã o c o m u m a i n t e n s i d a d e p o u c o m e n o r que o som de uma britadeira pneumátíca. O modo no qual o d à i t ã d l l l t ê
impedir sua liderança apelando para um exame da realidade de sua vida, "não aquilo que ele professa ser, mas aquilo que ele é: maravilhoso com as palavras, impaciente nos atos; razoável no discurso, pérfido nas ações". Se queremos c^ue a igreja seja uma noiva radiante em vez de esposa rcsmungona, devemos dar o exemplo em tom e textura. Já nos disseram para não nos preocu par c o m o q u e as pessoas estão p e n s a n d o d e nós p o rq u e, na ver dade, elas não estão pensando. Mas as congregações pensam em seu pastor. Existe algo de "real" acontecendo? A biografia do brilhante Francis Bacon, escrita por Catherine Drinker Bowen, conta quanto ele foi culpado de aceitar subor no enquanto esteve nos altos gabinetes, caindo posteriormente em desgraça e sendo banido de Londres. Ela registra uma de suas orações qtiando ele reflete sobre o desperdício de stia \'ida em con seq üê nc ia d e não te r gan ho a ba tal ha int erio r sob re "o mal que espreita por dentro". Ele escreve; "Posso dizer verda deiramente que minha alma foi uma estranha na minha pere grinação".'* Um espírito profundamente dependente e verda deiramente humilde que busca a Deus é admirável. Essas são características genéricas de estilo que eu desejo e pelas quais oro. As d e m a i s coisas t e n d e r ã o a ser co rretas d e n tro da gloriosa diversidade dos dons e da capacitação dc Deus se isso desabrochar e vicejar por sua graça. Marcus Dods, inte lectual e escritor, disse no crepúsculo do século XIX que não invejava aqu ele s qu e carr ega riam a ba nd ei ra do cristiani smo para o século XX. Depois, refletiu e disse: "Sim, talvez eu inveje, mas será uma batalha brutal". A batalha é feroz e as armas estão p r o n t as . A p r e o c u p a ç ã o c o m o estilo na p reg ação não dev e se transformar em tecnolatria, ou em adoração aos métodos e às técn icas , ma s é váHdo hav er pr eo cu pa çã o de co mo nossa per so nalidade se destaca e influencia a nossa pregação. N a cat ed ral d e Dijon, na França, u m edifício q u e d e m o d o algum se destaca pela arquitetura, existe, próximo ao púlpito, a escultura de um anjo com uma pena. O anjo está voltado para o
Deus ouvem e avaliam. Karl Barth acreditava piamente na pre gação. "Na manhã de domingo, quando os sinos retincm para chamar a congregação e os ministros da igreja, há no ar a ex pectativa d e alguma coisa gr ande, crucial e at é decisiva q u e está para ac o nt e ce r " , disse.'* Será este o caso? Existe tal s e n t i m e n t o entre nós? Parece que contemplar é algo grandioso demais para cr ia tur as tã o frágeis c o m o nó s. A fam osa e st át ua d e P hillip s Brooks em Boston, feita por Augustus Saint Gauden, nos dá u m a boa idéia do qu e está env olv ido na qu es tã o: a m ã o es qu er da d c Bro oks está so br e a Bíblia e sua m ã o di re it a ges tic ula c o m o se estivesse pregando. Por trás dele está o Senhor Jesus Cristo, com os dedos sobre o ombro esquerdo do pregador. Diz-se que, depois de ler sobre a vida de Brooks, o escultor pediu os evan gelhos e se converteu lendo-os. Nossa suficiência vem de Deus.
Como melhorar a apresentação? A questão da proclamação
e vo cê en te di ar o júri, pe rd er á a causa ", afirma u m grande advogado. A pregação foi chamada de a mais fina das artes. Essa arte imphca habilidade na ela b o r a ç ã o (o a s p e c t o p r i v a d o ] e h a b i l i d a d e na p r o c l a m a ç ã o (o aspecto público]. O aspecto da habilidade na proclamação não re ce be aten çã o significativa em mui to s livros so br e pr ega çã o nem em muitos currículos para formação de pregadores, ainda que se possa pôr tudo a perder nesse ato. Quem pode negar a enorme importância da transmissão oral das idéias em relação a todos os aspectos do processo? ijj Ç
Insistimos mais uma vez que é preciso existir idéias substan tivas para comunicar. Todos os nossos esforços para fazer uma p r o c l a m a ç ã o habilidosa s e r ã o e m vão se não t i v e r m o s u m e s t u do muito bem-feito. O irmão mais velho do pregador disse-lhe o seguinte: — Se e u fosse u m a raposa, fugiria e m e e sc o nd er ia d e você num lugar onde você jamais pudesse me encontrar — ao que o irmão replicouf — E o n d e seria esse lugar? — N o s e u e s t u d o — r e s p o n d e u o mais ve lho . A sensação de ter feito uma descoberta completamente nova
colega. "Na verdade, você repetiu um ano quarenta vezes." Acon te ce o m e s m o conosco? A proclamação deve vir basicamente de nossa própria natu reza. O dr. Virgil An de rs on , da Uni ve rsi dad e St anf or d, disse que não existe uma única maneira correta de fazer determinada coisa, mas existem várias maneiras menos eficientes de tentar fazer. Alguns serão mais conversacionais e outros mais voltados à oratória, mas ninguém pode pregar no estÜo um para um. Quando levantamos nossa voz e nos dirigimos à multidão, como fez Pedro (At 2.14), estamos num tipo diferente de comunicação. Os servos de Deus precisam ser "clarões reluzentes" (Hb 1.7). A pregação precisa mesmo de trovões e relâmpagos se isso for nec ess ári o pa ra q u e as pess oas o u ç a m a me n sa g em n o me io do tr op el e da co mp et iç ão de vozes con fli tan tes. O dese jo d e com un ica r a ver dad e, e m vez dc si mp le sm en te afirmar a ver dade, deve ser uma compulsão obsessiva. A pesquisa meticulo sa impregnada de oração precisa e.star combinada com algumas intuições do shoiu business. Afi rmo cla ra me nt e q ue isso é cada vez mais necessário. Jesus fez uso do drama c nós devemos fa zer exatamente igual. Não estou defendendo um banho de bo lhas de emoções perpétuas, mas estou dizendo que não pode mos ser incolores, repetindo de maneira hesitante coisas que já fo ram di tas . Eu pref eriri a esfriar u m faná tico a aq u ec er u m cor p o i n er t e no laboratório d a pregação. Thomas Guthrie estava certo quando disse que, na prega ção, "o modo está para o assunto assim como a pólvora está p a r a a b al a ". P r e c i s a m o s p e n e t r a r n o a s s u n t o q u a n d o p r eg a m o s , reagindo ao que dizemos à medida que falamos. O prega dor que sofre de langor emocional congênito recua diante dessa situação. Nosso objetivo aqui é cmbeber esses pregadores com o que Frederick W. Robertson, dc Brighton, Inglaterra, chama va de "o intenso entusiasmo da pregação". Se nossa pregação ass eme lha -se a nad ar no me la do , há passos q u e p o d e m ser d a dos para corrigir esse problema. Se nossos ouvintes escutam
nossa. Se nossos sermões malogram como fogos de artifício molhados, temos alguma lição de casa por fazer. N e n h u m p r a t i c a n t e da a r t e p o d e se d a r o l ux o d e e n f e r r u jar e m seus p r ó p r i o s lau r éis. S c, q u a n d o e s t i v e r m o s c o n t a n d o histórias, agirmos de maneira fraca diante do que a Bíblia faz muito bem, então precisamos trabalhar. Estamos determina dos a pr ov oc ar fascinação? Tem os a te nd ên ci a de ex ph ca r d e mais? Precisamos nos esforçar para não ser nem tão .sutis nem diretos demais. Com freqüência, por volta das 11 horas da manhã do sába d o , eu entro no santuário da Primeira Igreja da Aliança (First Covenant Church) em Minneapohs, sento-me na cadeira pas tor al e pr eg o a m e n s a g e m da ma n h ã do dia seg ui nt e. Pre go o l h a n d o pa ra a gal eri a e pa ra pes so as espe cí fi ca s na ala do templo que fica próxima à avenida Chicago e, depois, voltome para a minha esquerda, no nível mais baixo. A especifici dade da face e as necessidades das pessoas sempre me toca ram e me prepararam para pregar com mais afinco no dia do Senhor. Recomendo essa prática como parte de uma prepara ção cuidadosa.
O relaxamento é um pré-requisito James W. Cox afirma que o pregador eficiente nâo é exata mente formado, mas sim liberto. Altos níveis de tensão impe dem a comunicação e, por isso, o pregador precisa se contro lar, explodindo de entusiasmo apenas pela verdade da Palavra. E necessário haver momentos de grande intensidade durante a mensagem, mas o indivíduo hipertenso não sc relaciona bem com as outras pessoas. Temos consciência da tensão. Precisa mo s de ajuda para red uzi r a aut oco nsc iên cia . O apósto lo Pau lo foi an im ad o: "Não te nh a m ed o , con ti nu e falando" [At 18 .9) . Um pouco de temor e medo são bons para nós. Não devemos esperar que não haja nem um pouco de frio no estômago, mas, em vez disso, devemos procurar fazer com que esse frio traba
so vai provocar primeiramente dó, depois simpatia e, por últi m o , i m p a c i ê n c i a . Alt os níveis de te ns ão cons pi ra m contr a a boa res pir açã o diafragmática. Todo pregador deve dominar e rever a miraculosa psicologia d o discurso c o m a ajuda d e u m b o m t e x t o básico d c discurso. A voz falada normal deve ser capaz de se projetar sa tisfatoriamente por 4 ou 5 boras, mas a tensão faz com que a voz fique tensa e áspera. A tensão também pode causar a secura da boca. O orador deve estar bem hidratado, bebendo água na temperatura ambiente e evitando água gelada, que vai provocar a contração das pregas vocais. Uma boa pastilha para a gargan ta irritada é aquela que não provoca excesso de salivação como efeito colateral. Algumas técnicas de relaxamento são importantes para o p r e g a d o r . E i m p o s s í v e l l e m b r a r d e t o d o s os e x e r c í c i o s p a r a relaxamento sem ter algum material impresso ou em vídeo. Co nt ud o, a mem ori zaç ão po de ocorrer qu an do realizamos pe qu en as dos es co m o passa r do t e m p o , c o m a ajuda de ce rt os dispositivos mnemônicos. Antes de pregar, o comunicador deve fazer algum exercício na parte superior do tronco, juntamente com massagem facial, com o objetivo de facilitar as expres sões faciais positivas e agradáveis. Deixe seu maxilar cair li vremente — é bem possível que você fique perfeitamente igual a u m ma c a c o d u r a n t e esse exe rc íc io , ma s isso vai ajudá -lo a re la xa r u m poucCi. Alguns pregadores sobem ao púlpito "respirando ainda amea ças e morte". Alguns podem ser de fato pessoas zangadas, mas a maioria está simplesmente tensa, mantendo uma atitude do tipo "estou mais sério do que você ". Nã o estamo s de fe nd en do 3 vee mê nci a, ma s a vital idade na preg ação . A es po nt an ei da de ou a livre expressão de emoções exige relaxamento. A prega ção dc hoje deve ver o ser humano como uma mistura que in clui sentimentos. Aqueles que zombam dos sentimentos devem ler Archibald Maclcish, destacado poeta e ex-bibliotecário do
Ter uma emoção é, em última análise, nào sentir nada. O crime contra a vida, o pior dc todos os crimes, é não sentir. E possível que jamais tenha havido uma civilização em que esse crime, o crime do torpor, da letargia, da apatia, o pecado da frieza no coração — que é como uma serpente — tenha vivido ao nosso lado como viu em nossa civilização tecnológica, em que as emo ções sem emoção dos rapazes adolescentes são reproduzidas à exaustão nas telas dos televisores dc modo a querer produzir sen timentos em nós. O sonho da vida de uma mulher é pen'ertido por comerciais cheios dc música sobre um novo detergente, tama nho família, que vai manter suas mãos tão limpas como se ela nunca tivesse existido, É a moderna morte sem dor, a atrofia comercializada do coração, Nenhum de nós está a salvo dela. Ainda assim, a fé bíblica é o melhor solo em que essa expres são pode crescer, como G. K. Chesterton tão habilmente disse: "Na da sub li me me nt e artíst ico surgiu a par tir da me ra arte [...] sempre é necessário haver um rico solo moral para qualquer grande crescimento estético".
Ler as Escrituras em voz alta U m desafio c on st an te para o pr eg ad or é a leitura públi ca das Sagradas Escrituras. Fico assustado em saber que nós, os que defendemos tanto a nossa visão das Escrituras, lemos esses tex tos de man eir a tã o ru im em púb lic o. "D ed iq ue -s e à leitu ra p ú blica da Escrit ura" disse Paulo, a d m o e s t a n d o a T i m ó t e o ( I T m 4.13). Com o leigo cada vez mais envolvido com leituras públi cas, é imperativo que os pastores sejam os modelos cuidadosos da leitura pública da Palavra de Deus. E axiomático, mas, se não p u d e r m o s ler b e m em voz alta, não pr eg ar em os b e m. ' Toda leitura das Escrituras é uma interpretação e isso exige prepara ção cuidadosa. Será que achamos que podemos ler qualquer p as s ag em d e p r o n t o s e m n e n h u m e s t u d o e p r e p a r a ç ã o ? E u e um colega lecionamos um curso sobre como ler as Escrituras em voz alta. Cada um de nós tem um estilo diferente, mas con
interpretação oral esmerada. Assim como na própria pregação, é n e c e s s á r i o h a v e r u m a a v a l i a ç ã o a d e q u a d a d o r i t m o , d a entonação, do volume e da energia. A leitura deve ser introduzida com palavras variadas e em p e q u e n o n ú m e r o . D e v e - s e d a r a m p l a o p o r t u n i d a d e p a r a q u e to da a congr egaçã o en co nt re o t e xt o in di cad o para a leit ura. A não ser nos casos em que uma grande Bíblia dc púlpito torne sua movimentação impraticável, sou a favor de segurar a Bíblia nas mãos durante a leitura de modo a permitir mais oportuni da de s de u m i mp or ta nt e cont at o visual. A próp ria man eir a pela qual a Palavra é tomada nas mãos e manipulada já transmite u m a me ns ag em . U m a pro nún ci a mai s atlétic a das palavras e uma melhor "mastigação" de certos sons ajudam as pessoas a entenderem a interpretação. Tudo isso exige mais trabalho e aplicação, mas esses itens são inegociáveis. Pr at ic am en te to da s as profissões exig em ed u cação continuada. Deveriam os pastores e ministros se conten tar com menos? Precisamos nos manter afiados em no.ssas ha bili dades e n ã o ficar satisfeitos c o m nosso nível d e c o m p e t ê n cia. Será qu e re al me nt e pod em os dizer q ue a man eir a que nos p o r t a m o s n o p ú l p i t o está d e a c o r d o c o m o alto c h a m a d o q u e recebemos? Se nós, profissionais da fala, aprendêssemos a ou vir, perceberíamos que coisas interessantes e estimulantes es tão acontecendo e que precisamos fazer parte desse progresso. A voz falada d ev e ser u m p ro je to para a vida in te ir a de t o d o pr egador . E u m a f e r r a m e n t a i m p o r t a n t í s s i m a e d e v e m o s t o m a r gr an de cind ado para usá-la co m a má xi ma eficiência.
A questão de pregar sem anotações H i s t o r i c a m e n t e , d i f e r e n t e s m é t o d o s t e m si d o e m p r e g a d o s na p r o c l a m a ç ã o da m e n s a g e m . C h a r l e s G . Fi nney usava o m é t o d o do improviso no início de suas excursões evangelisticas, mas isso diminuiu quando ele se tornou pastor do Tabernáculo da Broadway, na cidade de Nova York, e presidente da Obcrlin.
ministério estabelecido, embora se suspeite que seu uso seja mais amplo do que se queria reconbecer. E certo que, ao prepa rar a pregação, c assim o culto como um todo, o Espírito Santo p o d e nos guiar a n t e c i p a d a m e n t e e m relação à qu e le e v e n t o , t ã o certo quanto num momento específico. A leitura do sermão escrito na verdade se originou durante o reinado de Henrique V I I I da Inglaterra. Este é o mais difícil e o menos aceito dos métodos de pregação usados em nossos dias. O grande problema com esse método é que fica muito aparente o fato de ele ter sido escrito e estar sendo lido, A sociedade visual na qual vivemos nos inseriu no novo jogo da comunica ção, O mundo do impresso deve dar lugar ao evento falado, e os espectadores da televisão estão acostumados com comunica dores que não sc prendem ao material escrito. Apenas de vez cm quando é que temos consciência de que cies estão usando p e q u e n o s c a r t õ e s ou o u t r o s m e i o s tecnológicos . N ov a s e sofis ticadas tecnologias capacitam o presidente a fazer seu discurso sobre a situação do país sem aparentemente se basear em nenhtim material escrito. Contudo, muito antes da televisão, percebeu-se que ler o ser mão criava distância. Herbert H. Farmer argumentou convin ce nt em en te que o en con tro direto co m a vont ade é imp ed id o quando o sermão é lido. O papel não é um bom condutor de calor. Certa vez alguém reclamou de um pregador pelo fato de ele estar íendo seu sermão. O fato é que o pregador não lia bem e o sermão não era digno de ser lido. É certo que a pratica que p rev a le ce u é reduzir o m a t e r i a l p r e p a r a d o a p e q u e n a s n o t a s a serem levadas para o púlpito. Citações e leitura dc longas pas sagens são uma técnica ruim, embora as referências ocasionais às notas seja algo tranqüilo para muitos pregadores, especial mente quando estão começando, Toda quebra do contato visual é arri.scada, especialmente quando essa ruptura acontece no fi nal de uma sentença e é em geral acompanhada por uma queda no tom vocal, O falecido bispo Fulton J. Shecn abandonou to
setitações depois de ouvir uma senhora irlandesa de bastante idade reclamar: "Se o autor não consegue se lembrar de seu p r ó p r i o s e r m ã o , c o m o e s p e r a q u e n ó s l e m b r e m o s ? " . A memorização do sermão inteiro {memoriler] não é te nt ad a com muita freqüência, ainda que existam na história da pregação os que fizeram uso dessa técnica. Embora o contato visual seja mantido, a memorização ainda usa o manuscrito e mantém o som de coisa escrita. A tarefa é imensa e, na maioria dos casos, o resultado ainda c bastante insatisfatório. O improviso ou o método de proclamação livre se encaixa melhor na situação da pregação de hoje e merece sérias consi derações. Se a regra é a Hberdade diante de um público, este é o m é t o d o pre fer ido . Harr y Em er so n Fosdick co me ço u a ler seus sermões e achava que nada estava sendo sacrificado, mas um estudo sério concluiu que ele nunca foi tão eficiente na comuni cação até o dia quando adotou o método da livre proclamação. A res pos ta da cong rega ção indi cou a u m jo ve m preg ado r q u e abandonar sua dependência de um manuscrito, incrementar o contato visual e os gestos e ficar mais relaxado teria como con.seqüência uma grande melhoria na eficiência de sua pregação. O olh o é v e r d a d e i r a m e n t e u m órgão da fala. O foco visual indeterminado ou movimentos oculares furtivos são insatisfa tórios para os ouvintes. O famoso verso de Samuel Taylor Coleridge — "ele o prende com seus olhos brilhantes" — é bas tante correto. Em qualquer congregação existem várias faces qu e es pe lh am a reação d e u m a mane ira par ti cu la rm en te út il. N i n g u é m d e v e olhar p o r m u i t o t e m p o para u m a pessoa só, m a s é melhor olhar para seis ouvintes do que para uma dúzia, pois assim o contato visual será mais do que simplesmente um rápi do olhar. N a C â m a r a dos C o m u n s da Inglaterra, o discurso d e u m dos membros pode ser interrompido quando alguém diz "gostaria de c ha m ar a at en çã o pa ra o fa to d e q u e o di le to colega est á lendo seus comentários". George Whitefield foi um dos pri
T. D e Wi tt Talma dge. Ric har d Storrs esc rev eu um p e qu e no li vro defendendo a livre proclamação depois de ter notado que um bom advogado nunca usa notas quando dirige seu discurso ao jllri. Tanto Clarence MaCartney quanto Charles Killer tem de fendido vee me nt em en te a pregação sem nen hu m uso de notas; este argumenta que o método é 40% preparação, 50% satura ção e 10% memorização. O estilo livre exige uma estrutura cla ra e forte, um vocabulário crescente e o difícil trabalho da pro funda saturaç ão. Eu no rm al me nt e me mo ri zo minha int rod u ção, enfatizo a afirmação dos pontos principais e das transições, entrando e saindo de minhas ilustrações e fechando as senten ças. Quando mergulho a mente e a alma na preparação, prego certas seções em voz alta e penso nos parágrafos. Se não con sigo fazer que um determinado aspecto entre em minha men t e , é m u i t o prová vel qu e m e u des env olv ime nto nào esteja sen do coerente. Dada a situação contemporânea da comunicação, pregar sem notas ou com um mínimo de anotações deve ser nosso objetivo. Isso certamente é trabalho duro, mas poucos são os que, depois de prova r o mé t o d o , t er mi na m po r aba ndo ná- lo. Ben Hog an praticava d e seis a oit o h o r a s p o r dia a sua t é c n i c a d e golfe. Albe rt Sc hwe itz er chegava a praticar a co mp le xi da de musical das composições de Bach por toda uma noite. Sc estamos mo tivados a nos esforçar mais na comunicação oral, então come ça re mo s a ve r u ma no va eficácia no pú lp it o.
Trabalhando com a voz A fé está relacionada à acústica, como uma paráfrase de Roma nos 10,14 poderia nos lembrar. Nào obstante o culto ao não verbal, a palavra falada é a for ma básica da lingu agem . "C ui da do com a linguagem" sempre foi uma das partes principais do conselho que John Sittler dava aos pregadores. Precisamos ser estudantes da linguagem, cuidadosos com a gramática e a sinta
Mas tudü isso será em vão se não pudermos realmente ser ouvidos. Nossa voz falada pode se colocar no meio do caminho. Alguns pregadores são dotados de registros vocais de tal quali dade e ressonância que chegam a causar inveja aos irmãos. Aque le tom de voz semelhante a um Órgão ou a ura violino contrasta muito com aquela voz rouca e deselegante. Algumas vozes estrondam como uma matilha de cães em plena fúria, enquanto outras têm o som dc um trenó. Whitcfield tinha algo muito maior que um murmúrio. Era a "pregação que espantava uma nação" e, numa determinada ocasião, ele pôde ser ouvido a mais de um quilômetro dc distância. Spurgeon advertiu contra o la mento do púlpito, "tons sepulcrais que poderiam chamar a aten ção de um coveiro, mas Lázaro nao saiu da tumba por ter ouvi do gemidos tímidos". Nenhtim de nós deve prestmiir que a voz que temos e as habilidades que possuímos são suficientes para a comunicação. A voz falada pode ser desenvolvida dentro de cer tos parâmetros. A urgência de nossa mensagem deve nos moti var a buscar a melhoria. Todos os pregadores devem fazer alguma análise vocal. Será que desenvolvemos algum detestável padrão de inflexão? De senvolvemos algum calo nas cordas vocais? Estamos mostran do sinais de tensão na voz? Eu particularmente preciso traba lhar a questão de diminuir o tom. Existem alguns exercícios a fazer para trabalhar na região do palato mole [utilizando sons c o m o "da -da , ga-ga, ga-g a, ta-la") ta-l a") q u e re fo rç am a mu sc ul at ur a para os registros inferiores e melhoram o timbre e a ressonância. Ao que parece, o apóstolo Paulo carecia de uma voz mais p o t e n t e , d e m o d o q u e d e v e m o s n o s s e n t i r e n c o r a j a d o s n ã o a p e nas a reconhecer, mas também a corrigir os nossos problemas. Obviamente, precisamos extirpar as gírias e juramentos falsos, q u e , com certeza, são impróprios para o púlpito. Ás vezes nos so problema são lábios preguiçosos. Precisamos trabalhar a ques tão do mo m e n t o co rr et o, do ritmo e do s sons específicos. No s
p o v o s d e l í n g u a i n g l e s a , d i z - s e q u e , p a r a p r o n u n c i a r p a l a v r a s galesas, precisamos de um resfriado na cabeça, um nó na língua e um grão de cevada na garganta. Precisamos saber o que pro duz o som (fonaçãoj o que modula o som (articulação) e o que amplifica o som (ressonância). E melhor falar um pouco mais rápido que a média (cerca de 190 palavras por minuto) do que mu it o devagar, pois pois a vel oci dad e é pe rc eb id a co mo en tu si as mo e paixão. Foi praticamente impossível ouvir Phillips Brooks na pr p r i m e i r a v e z q u e e l e f a l o u n a a b a d i a d e W e s t m i n s t e r , E l e f e z cem aulas de impostaçào vocal e não se ou\iu nenhuma recla mação quando ele falou ali outra vez.^ Não seria bom que o p r e g a d o r f i z e s s e s é r i a s c o n s i d e r a ç õ e s c o m r e l a ç ã o à v o z p e l a cjual a mensagem da vida e da morte será proclamada?
A importância do não-vocal Cícero tinha eloqüência na ponta dos dedos e dizia-se que o ator inglês David Garrick "era capaz de produzir um efeito tal com o movimento de seu cotovelo, que nenhuma palavra pode ria alcançar". Elegância e postura fazem uma declaração antes m e s m o dc alg uém com eç ar a fala falar, r, Na ling uage m corpor al é importante que as palavras e a música caminhem juntas. O ros to humano pode fazer cerca de quinhentas mil expressões dife rentes. Hoje, com cabelo longo na moda, temos de lidar com p r e g a d o r e s q u e o b s c u r e c e m g e s t o s f a c i a i s p o s i t i v o s o u e s c o n dem o sorriso. David Lloyd-George fez uma advertência contra o uso das mãos ou dos pulsos, aconselhando que somente os braços deve riam ser usados nos gestos. Os gestos apenas dos ombros dizem muito; gestos pequenos c obscuros carregam apenas intensida d e . Os gestos úteis são descritivos, enfáticos ou diretivos. Qual quer coisa que façamos com freqüência ou de maneira habitual não é muito eficiente. Assim, o gesto de orar com as mãos jun tas, o ato de virar para trás ou a expressão de cortar lenha no pú p ú l p i t o s ã o a t i t u d e s n e r v o s a s q u e a p e n a s d i s t r a e m . C a d a p r e g a
da forma e dos hábitos tolos que podem obstruir a pregação. Lembro-me de um professor que me ajudou muito, mostrando que eu sempre iniciava o sermão com uma elevação das narinas tal qual um búfalo farejando o chão. Era um gesto de arrogân cia e qtie precisava de atenção imediata. Henry VVadsviíorth Longfellow pegou alguns trejeitos dc tim p r e g a d o r ; " E u n ã o c o n s e g u i a e n t e n d e r o q u e e l e e s t a v a i n s i n u ando, exceto que ele não queria parecer ofensivo à congrega ç ã o " . N o s s o s m o d o s c o m u n i c a m . A b r a h a m L i n c o l n d i s s e q u e gostava muito de ouvir o pregador que falava como se estivesse lutando contra um enxame de abelhas. Ele lembrou-se de um p r e g a d o r q u e g u a r d a v a d o i s t i j o l o s n o s b o l s o s p a r a p o d e r p e r manecer no lugar. E natural que o movimento seja significativo, e o ato dc vagar pela plataforma é simplesmente outro tipo de gesticulação não definida. Alguns pregadores se debatem como p e i x e e m á g u a r a s a . P a r e c e q u e h á a t e n d ê n c i a d o t i g r e e n j a u l a do naqueles pregadores que caminham de um lado para outro. Henry Venn impressionava seus ouvintes olhando para eles como se estivesse pronto para pular do púlpito. Parece que virou moda em alguns círculos desconsiderar o púlpito enquanto se prega. Acho que, pelo menos, é melhor começar no púlpito. Em al guns de nossos cenários cada vez menos eclesiásticos, o púlpito p o d e s e r u m d o s p o u c o s s í m b o l o s c r i s t ã o s q u e a i n d a r e s t a m n o ambiente. Afastar e se aproximar, contanto que exista um obje tivo para isso, pqde ser um gesto bastante positivo. As mãos no bo b o l s o o u n a s c o s t a s s ã o g e s t o s q u e m o s t r a m i n d i f e r e n ç a o u d i s tância e não produzem nenhum bem. Mexer o queixo ou jogar a cabeça para trás são atitudes bastante negativas em determi nadas culturas. Estudos mostraram até que ponto as expres sões faciais afetam os ouvintes até nos aspectos psicológicos.^ Existe algum desafio maior que o que sobrevém ao comuni cador do evangelho neste novo milênio? Diante da vastidão de to do mat eri al relaci onado à pro cla maç ão da me ns age m, deve mo s orar co m T h o m a s M or e: "Dá- nos a graça, bo nd os o Se
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Church
Today n." 20
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•IN
Ncslas páginas você en co nt rar á um dos mais relevantes trabalhos escritos sobre a ane da preg;^áo, O autor não sc limita aos métodos acadêmicos da homilética, apontando os principais desafios dos pregadores cm nossos dias. LciEiira iínprescindívcl [>arn quem dfseja pregar com eficiência."
lofé Hélio Lima, coordenador nacional dos histitiiioí Teológicos O Brasil para Cristo c nicsiraiido na Ui}jvcrsiãadc Mmdisia LWlliSP.
"Hste livro ilesafia o leitor a tonsideriiiem suas mensagens queslõcs como: aitloridade biblica, espiritualidade do pregador, rele\'áncia da mensagem e criatividade na comiinica(;ão. Quem ler, estudar e aplicar as sugeslòes e os ternas abordados ceio autor serã grandemente enriquecido na nobre tarefa de procíamaçáo da Palavra."
itamir Neves de Souza, iiiestreem Novo Testamento peta Universidade Metodista UMESP e professor de Pre^ai^ào xpositiva da Faculdade Teológica 3aliíia de Sáo Paulo.
D av id L. Lar se n pa s to r e ou igrejas p o r 32 an os , é a u t o r - d e diversas ob r as e pro fe sso r e mé r it o na T rin ity '
Evangé lica! Divinit>' Sc hoo l, em Illi nois,
EL'A.