Fichamento Erich Fromm ANATOMIA DA DESTRUTIVIDADE HUMANA
INTRODUÇÃO
Anatomia da destrutividade humana é uma obra que destina-se ao estudo do c a r át á t e r h u ma m a n o, o , m a is i s e s pe p e c if i f i ca c a m en e n t e a a g re r e s si s i v id i d a de d e . P a ra r a u m a m e lh lh o r c o m p r ee e e n s ã o d o t e x t o , f a r e i u m a b r e v e i n t r o du d u ç ã o a a l g u ma ma s t e o r i a s q u e s e propuseram explicar a agressividade humana. Diferente do conceito cunhado por Lorenz, o criador da “ciência do comportamento” chamada “etologia”, F ro r o mm m m n ão ã o a ce c e it i t a q u e “ a a gr g r e ss s s iv i v id i d ad a d e d o h om o m em e m , e xp x p re r e ss s s a n o s eu eu c o mp m p o rt r t a me m e n to t o , t a l c o mo m o s e r eg e g i st s t r a n a g u er e r r a, a , n o c r im i m e , n o s c o nf n f l it it o s pessoais e em todas as espécies de comportamentos destrutivos e sádicos, é d e vi v i d a a u m i n st s t i nt n t o f i lo l o g en e n e ti t i c am a m e nt n t e p ro r o g ra r a m ad a d o , i n at a t o , q u e p ro r o c ur ur a descarga e aguarda a ocasião propícia para exprimir-se.” (FROMM, 22.). A
teoria instintivista nos obriga a aceitar os crimes, guerras e qualquer tipo de c o n f li l i t o n ã o s ó c o mo m o p a r t e d e n ós ó s , m a s s e nd n d o u m a o b r ig i g a ç ã o im i m p o s ta ta p o r n o s s a n a t u r e z a . O u t r a t e o r i a b a s t a n te t e a c e i ta t a , p r i n c ip i p a l m en e n t e p o r p s i c ól ól o g o s a m e r i c a n o s , é a b e h a v i o r i s t a q u e “ n ã o s e i n t er e r e ss ss a p e l a s f o r ç a s s u b j e t i v a s
que impulsionam o homem a comportar-se de uma certa forma: não está preocupada com o que ele sente, mas tão-somente com o modo por que ele se comporta e com o condicionamento social que molda o seu comportamento.”
(FROMM, 23). Para o autor o instintivismo e o behaviorismo não são teorias s u f i c i e n t e s p a r a a b a r c a r a c o m p l e x i d a d e d o c a r á t e r h u m a n o : “ A mb mb a s a s p o s i ç õ e s s ã o m o n o e x p l a n a t ó r i a s , d e p e n d e n t e s d e p r e c o n c e it it o s d o g m á t i c o s , e a o s i n v e st s t i ga g a d or o r es e s e x ig i g i -s - s e q u e e n c a ix i x e m o s d a do d o s e m u m a o u e m o u tr tr a dessas explanações.”
As variedades da agressão e da destrutividade e suas respectivas condições
9 Agressão benigna Observações preliminares
O homem difere-se do resto dos primatas principalmente pelo excesso de agressividade. Grande parte dessas comparações são feitas com estudo do c o mp m p o r ta t a m en e n t o d e p r im i m a ta t a s , d e ve v e f i ca c a r c l ar a r o , p o r ém é m , q u e a s c o nc n c l us u s õ es es feitas por estes testes estão, em sua grande parte, superadas. Por exemplo, F ro r o mm m m a fi f i rm r m a q ue u e o s c hi h i pa p a nz n z és é s s ão ã o a ni n i ma m a is i s p ac a c at a t os o s , p or o r ém é m , e st s t ud u d os os
r ec en te s fe it os p el o pr im at ól og o Fr an s de Wa ll , m os tr am n ão s ó assassinatos entre chipanzés, mas também chacinas entre membros do mesmo g r u p o . F r o m m , a i n d a a s s i m, t e m t o d a r a z ã o e m p r o c u r ar u m a c a u s a o u , p e l o m en os , c au sa s r az oá ve is p ar a o q ue e le d en om in a “ hi pe ra gr es sã o” n o h o m e m : “ C om o s e d e ve e x pl i ca r e s sa h i pe r ag re s sã o n o h o me m ? Te r á a mesma origem que a agressão animal, ou será que o homem é dotado de um o u t r o p o t e n c i a l e s p e c i f i c a m e n te h u m a n o q u e o l e v a à d e s t r u t i v i d a d e ? ”
de antemão temos que aceitar, e não só ouvir, a afirmativa que o homem, durante a maior parte de sua história, tem vivido num jardim zoológico e não na selva. Ou seja, o homem é humanizado desde o momento de sua e s t r e ia n a t e r r a a t é o d i a q u e i r á j a z er p a r a a e t e r ni d a d e. E l e é c e r c a d o p o r u m a m bi en te c o m p l et a m en te a r t if ic i al , c ad a o b j e to à s u a v o l ta provavelmente foi fabricado por mãos humanas, começando pela cama onde d or me e a co rd a e b oa p ar te d os a li me nt os q ue i ng er e. “ A t es e a s er desenvolvida neste capítulo é a de que a destrutividade e a crueldade do homem não podem ser explicadas em termos de hereditariedade animal ou e m t e r m o s d e u m i n s t i n t o d e d e s t ru t i v id a d e , m a s d e v e s e r e n t e n d id a à b a s e dos fatores segundo os quais o homem difere de seus ancestrais animais.”
P ar a e nt ra rm os e fe ti va m en te n o a ss un to é p re ci so u ma d is ti nç ão e nt r e a gr es sã o b en ig na e m al ig na : “ a a gre ss ão b io lo gi ca me nt e a da pt at iv a, b e n i gn a , é u m a r ea ç ã o à s a m e a ça s a i n t e re s s e s v i t a i s, é f i l og e n e ti c a m en t e p ro gr am ad a, é c om u m a os a ni ma is e a o h om em ; n ão é e sp on tâ ne a o u a ut op ro pu ls or a, m as re at iv a e d ef en si va ; v is a á re mo çã o d a a me aç a, destruindo ou afastando sua origem. (…) A agressão biologicamente nãoadaptativa, maligna, isto é, a destrutividade e a crueldade, não constitui d ef es a c on tr a u ma a me aç a, n ão é f il og en et ic am en te p ro gr am ad a; é c a r a ct e r í st i c a a p e n a s d o h o m e m ; s u a s m a n i f e s t aç õ e s p r i n c i pa i s – o a t o d e m at ar e a c ru el da de – s ão p ra ze ro sa s s em n ec es si ta re m d e q ua lq ue r objetivo; é danosa, não apenas à pessoa atacada, mas também à que ataca . A agressão maligna, embora não seja um instinto, é um potencial h umano enraizado nas próprias condições da existência humana.”
Agressão acidental
É o a t o a g r e s s iv o q u e c a u s a l e s ã o a u m a t e r c e i ra p e s s o a , m a s q u e n ã o t i n h a essa intenção danosa. O exemplo clássico desse tipo é o de um revolver disparado e que, acidentalmente, fere ou mata uma pessoa que atravessa seu a lv o. D e a co rd o c om o a ut or, a p si ca ná li se r e du zi u a s im pl ic id ad e d a definição legal dos atos acidentais, introduzindo o conceito de motivação inconsciente, de modo que se pode levantar a questão de se o que parece ser a c i d en t a l n ã o t e r á s i d o i n c on s c i en t e m en t e d e s e ja d o p e l o a g r e s s o r. D e m o d o b as ta nt e p er s pi ca z e le m es mo r eb at e o a rg um en to d iz en do q ue : “ e s s a consideração baixaria o número de casos que recaem sob a categoria de agressão não intencional, mas seria simples super simplificação dogmátic a pensar que toda agressão acidental é devida a motivações inconscientes.”
Agressão lúdica
A agressão lúdica é o exercício de uma habilidade. Não visa à destruição ou ao dano, e não é motivada pelo ódio, embora o ato de duelar, de lutar com espadas e a arte de atirar com arcos tenham-se desenvolvido a partir da n ec es si da de d e m at ar o i ni mi go n a d ef es a o u n o a ta qu e, a s ua f un çã o original tem sido quase que completamente esquecida, e passaram a ser expressão de arte. Essa arte é praticada, por exemplo, na luta de espadas do Z e n- B u di s mo , q u e d e ma n da g r an d e p e rí c ia , c o mp l et o c o nt r ol e d e t o do o corpo e completa concentração. O arco e a flecha foram, um dia, também a rm as d e a ta qu e e d ef es a, c om a f in al id ad e d e c au sa r d es tr ui çã o, m as atualmente a arte de lidar com o arco é um puro exercício de perícia. Identicamente, entre as tribos primitivas vemos frequentemente as lutas que p ar ec em s er u m a mp la e xib iç ão d e pe ríc ia e s ó e m p eq ue na e sca la d em on st r aç ão d e a gr es sã o e d e d es tr u ti vi da d e. É i mp or ta nt e n ot ar q ue mesmo sem a necessidade de defender ou atacar o homem mantém certos comportamentos que imitam guerras e confrontos. Por exemplo, a analogia q ue p od em os f az er e nt re o s a nt ig os g la di ad or e s, n o C ol is eu r ep le to d e expectadores, e os estádios de futebol com imenso público admirando dois grupos se confrontando.
Agressão Auto-Afirmativa
É a g r e s s ã o , n o s e n t i d o l i t e r a l d e s u a r a i z – a g g r e d i , d e a d g r a d i ( g r a d u s significa degrau e ad, em direção a), o que significa movimentar-se para frente – exatamente como regressão, de reggredi, significa mover-se para t r á s . S e r a g r e s s i vo p o d e s e r d e f i n id o c o m o m o v e r - s e p a r a f r e n t e r u m o a u m objeto sem uma indevida hesitação, dúvida ou medo. O conceito de agressão positiva parece encontrar alguma confirmação nas observações da vinculação entre o hormônio masculino e a agressão. Um grande número de experiências tê m m os t r ad o q ue o h o r m ô n io s m a s cu li n os te nd em a f az er g e r a r comportamento agressivo. Em resposta à pergunta de por que as coisas se passam dessa maneira, devemos considerar o fato de que uma das diferenças fundamentais entre o macho e a fêmea está na diferença de função durante o ato sexual. As condições anatômicas e fisiológicas do funcionamento sexual masculino exigem que o macho seja capaz trespassar o hímen da virgem; que não deve ser detido pelo medo, pela hesitação, ou mesmo pela resistência q u e s e p o s s a e x p r e ss a r. M a s a a g r e s sã o a u t o - a f i rm a t i v a n ã o e s t á r e s t r it a a o comportamento sexual. É uma dimensão básica requerida em várias situações da vida, como no comportamento de um cirurgião ou e um escalador de montanhas e na maioria dos esportes. Em todas as situações, uma atuação b em s oc ie da de s ó s e t or n a p os sí ve l q ua nd o a p es so a e nv ol vi da e st iv er possuída de uma auto-afirmação não obstada - isto é, quando puder perseguir s eus o bj et ivo s c om de te rm in açã o e s em s er b ar rad a p or q uai squ er obstáculos.
Agressão defensiva Diferença entre os ani mais e o homem
A agressão defensiva e biologicamente adaptativa, poder-se-ia dizer que o equipamento neural destinado à agressão defensiva é o mesmo, tanto nos a n i m ai s q u a n t o n o h o m e m ; e s t a c o n s t a ta ç ã o é c o r r e ta , c o n tu d o , a p e n a s n u m s en ti do l im it ad o. E ss e f at o o co rr e p or q ue e ss as á r ea s d a i nt eg ra çã o d a agressão são parte de todo o cérebro, e porque o cérebro humano, com seu amplo neocórtex e o seu vastamente maior número de conexões neurais, é diferente do cérebro animal. O a n i m a l c o m o a m e a ç a a p e n a s o p e r i g o n í t i d o e p r e s e nt e . O h o m e m é c a p a z não apenas de prever perigos reais a ocorrer no futuro; é também capaz de s e r p e r s u a d id o e d e s e r s u b m et i d o à l a v a ge m d e c é r e br o p e l os s e u s l í d e r es , para o fim de enxergar perigos que, na realidade não existem. Uma terceira c o n d iç ã o e s p e ci f i ca m e n t e h u m a n a d e e x i st ê n c ia c o n t ri b u i p a r a u m a u m e nt o ulterior de agressividade animal. O homem, como animal, defende-se contra a a me aç a a os s eu s i nt er e ss es v it ai s. M as a f ai xa d os i nt er es se s v it ai s humanos é muito mais ampla do que a dos animais. O homem precisa não só de uma estrutura de orientação como também de o bj et os d e d ev oç ão , q ue s e t ra ns fo r ma m n um a n ec es s id ad e v it al a o s eu equilíbrio emocional. Quaisquer que sejam – valores, ideais, ancestrais, pai, mãe, a terra, a religião e outros fenômenos – são tomados como sagrados.
Agressão e liberdade
Entre todas as ameaças aos interesses vitais do homem, a ameaça à liberdade é d e i m p or tâ n ci a ex t r a o r d in á r i a, in d iv i d u a l o u s oc ia lm en te . E m c on tr ap os iç ão à o pi ni ão a mp la me nt e a dm it id a d e q ue e ss e d es ej o d e li be rda de é u m pr od uto d e c ult ur a e , m ais es pe ci fi ca me nte , d e u m c o nd i ci o na m en t o d e a p re n di z ag e m, h á a m pl a s p r ov a s a i n di c ar q u e e s se d es ej o d e l ib er da de é u ma r ea çã o b io ló gi ca d o o rg an is mo h um an o. É i mp or ta nt e m os tr ar -s e a o f at o d e q uã o f ac il me nt e a a gr es sã o a pe na s d e fe n si v a a c ha - s e m i st u ra d a à d e st r ut i vi d ad e (n ã o- d ef e ns i va ) e a o d e se j o s ád ic o d e i nv er te r a s it ua çã o, c on tr ol an do o s o ut ro s e m l ug ar d e s er controlada. Agressão e Narcisismo
O narcisismo pode ser descrito como uma estado da experiência em que só a p r óp r ia p es so a, s eu c or po , s ua s n ec es si da de s, s eu s s en ti me nt os , s eu s p en sa me nto s, seu s at ri bu to s, tu do e t od os qu e l he p er ten çam s ão experimentados como plenamente real, enquanto que tudo e todos que não f o r m a m p a r t e d a s u a p e s s o a o u n ã o c o n s t i t ue m o b j e to d e s u a s n e c e ss i d a de s n ã o s ã o t i d o s c o m o i n t e r e s s an t e s , n ã o s ã o p l e n a m e nt e r e a i s, s ã o p e r c e b i d os
s om en te p or um m ei o d e u m r eco nh ec im en to in tel ect ua l, e nq ua nto afetivamente sem peso e sem cor. Quando os outros ferem o seu narcisismo, a o d e sf e it e ar e m a p e ss o a, c r it i ca n do - a, e x po n do - a, q u an d o d i ss e a l gu m a c oi sa e rr ad a, b at en do -a n um j og o q ua lq ue r o u e m n um er os as o ut ra s oportunidades, a pessoa narcisista geralmente reage com ódio intenso ou c om r aiv a, m os tr e o u n ão is to o u te nh a m es mo d el a c on sci ên ci a. A intensidade dessa reação agressiva pode ser vista, frequentemente, no fato de que uma pessoa assim nunca perdoará alguém que lhe tenha ferido o n ar c is is mo e g er a lm en te s en te u m d es ej o d e v in ga nç a q ue s er i a m en os intenso se o seu corpo ou suas qualidades não tivessem sido atacadas.
10 Agressão Mali gna: Pressupostos
Observações preliminares
O h o m e m p o s s u i u m a s i n g u l a r id a d e d i a n t e d o s o u t r o s s e r e s, é o f a t o d e q u e pode ser levado por impulsos a matar e a torturar e o de que sente prazer em proceder dessa maneira; é o único animal que pode ser um assassino e um destruidor de sua própria espécie sem qualquer ganho racional, biológico ou e co nô mi co . A a gr es são m al ig na, é b om q ue n os le mbr em os di ss o, é especificamente humana e não originada de um instinto animal. Não serve à sobrevivência fisiológica do homem, não obstante é parte importante de seu f u nc i on a me n to m e nt a l. É u m a p a ix ã o d o mi n an t e e p o de r os a s e m a l gu n s indivíduos e em certas culturas, embora não em todas. Essa hipótese faz com que seja necessário elaborar-se uma base teórica sobre a qual poder-se-ia tentar examinar as seguintes questões: Quais são as condições específicas da existência humana? Qual a natureza ou a essência do homem?
A natureza do hom em
É e v i d e n t e q u e e x i s t e u m a c o i s a q u e s e c h a m a n a t u r ez a h u m a n a , u m a c o i s a que constitui a essência do homem. Houve vários pontos de vista sobre aquilo que a constitui, mas há concordância em que essa essência existequer dizer, que existe algo em virtude do qual o homem é homem. Dessa forma, o homem era definido como um ser racional, como um animal social, u m a ni ma l q ue p od e f az er i ns tr um en to s o u u m a ni ma l c ap az d e f az er símbolos. O argumento principal a favo da pressuposição da existência da natureza humana está em que podemos definir a essência do Homo sapiens e m t er m os m or f ol óg ic os , a na tô mi co s, f is io ló gi co s e n eu ro ló gi co s. N a v e r d a de , d a m o s u m a d e f i n i ç ão e x a t a e g e r a lm e n t e a c e i ta d a e s p é c i e h o m e m a tr a vé s d e d ad os q ue r ef er e m- s e à p os tu r a, à f or ma çã o d o c ér e br o , d os d en te s, d a s ua d ie ta e d e m ui to s o utr os fa to res p or m ei o d os q ua is c l ar a me n te d if er e n ci a m os dos p r i ma ta s não h u m a no s m ai s
desenvolvidos.”Certamente, devemos presumir, a menos que regressemos a u m p on to d e v is ta q ue c o ns id er a o c o rp o e a m en te c om o d o mí n io s separados, que a espécie homem tem de ser definível tanto mental quanto fisicamente.”
É i mp or ta nt e v er if ic ar q ue o h om em é u m a ni ma l, m as é m ui to m ai s im po rt an te v er if ica r q ue a es sê nci a d e s ua na tu re za s in gu la r e stá , precisamente, naquelas características que ele não compartilha com as de q u a i sq u e r o u t r o s a n i m a i s . S e u l u g a r n a n a t u r ez a e s u a s i g n if i c a çã o n ã o s ã o definidos por sua animalidade, mas por sua humanidade, diz G. G. Sompson. “ O c o nf l it o e x is t en c ia l d o h o me m a c ar re t a d e te r mi n ad a s n e ce s si d ad e s p s í q ui c a s c o m u n s a t o d o s o s h o m e ns . V ê - s e f o r ç a do a s u p er a r o h o r ro r d a s in gu la ri za çã o, d a d es va li a e d a s it ua çã o d e d es ga rr ad o e m q ue s e e n c o n t r a , e b u s c a r n o v a s f o r m a s d e r e l a c io n a r - s e a s i m e s m o c o m o m u n d o a fim de que esteja habilitado a sentir-se em sua casa. Mas cada uma d essas n e ce s si d ad e s p o de s e r s a ti s fe i ta d e d i fe re n te s m a ne i ra s , q u e v a ri a m e m função das diferenças de sua condição social, essas diferentes maneiras de satisfazer as exigências existenciais têm a necessidade de se manisfestar n a s p a i x õ e s c o m o o a m o r, a t e r n u r a , a l u t a p e l a j u s t i ç a , p e l a i n d e p e n d ê n c i a , p el a v erd ad e; o ó di o, o s ad is mo , o m as oq ui sm o, a d es tr ut iv id ad e, o n a rc i si sm o . C h am o -l h es p a ix õ es a r ra i ga d as n o â m bi t o d o c ar á te r – o u simplesmente paixões humanas – porque acham-se integradas no caráter do homem.”
Pode-se compreender o caráter como o substitutivo humano para os instintos animais ausentes; é a segunda natureza do homem. O que todos os homens t ê m e m c o m u m s ã o a s i m p u ls õ e s o r g â n i c as ( e m b o r a a l t a m e nt e m o d i fi c á v ei s pela experiência) e suas necessidades existenciais. O que não têm em comum s ã o a s e s p é ci e s d e p a i x õe s d o m i n a n t es e m s e u r e s p e ct i v o c a r á t e r – p a i xõ e s que acham-se enraizadas no âmbito do caráter.