O Cavaleiro da Dinamarca –
Sophia de Mello Breyner
Andresen
1º Parágrafo Localização da Dinamarca: No Norte da Europa.
Os Invernos
Longos e rigorosos Noites muito compridas. Dias curtos, pálidos e gelados A neve neve cobre a terra e os telhados telhados Os rios gelam
Os pássaros emigram As árvores perdem as suas suas folhas As florestas geladas e despidas. Grande silêncio imóvel e branco.
Descrição: enumera!o, ad"ectiva!o m#ltipla, personifica!o, sensa$es visuais e tácteis
Os Pinheiros: %&ó os pinheiros continuam verdes. &ó eles parecem vivos no meio do grande silêncio imóvel e branco.' ( O )inheiro * um s+mbolo da da imortalidade no -tremo Oriente, devido persistência da sua folha.
2º Parágrafo Localização da acção no empo e no !spaço" #Imprecisão e indefinição$ empo: %á m&itos anos' há dezena e centenas de anos( !spaço: )radação do espaço' do geral para o partic&lar: Dinamarca *orte do pa+s em frente - porta &m Pinheiro
,loresta
casa na clareira
O Pinheiro: . &m elemento f&lcral e f&ndamental da hist/ria !stá presente no in+cio da narrativa e no final da mesma: . o pren0ncio votivo de &ma empresa em s&cedida pelo cavaleiro" O sentimento &e a presidi& foi &m sentimento religioso' a ,3" . o ,arol de regresso regresso
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4º Parágrafo 5s 3t&las coriam6se de 7ovens folhas leves e claras 5 neve desaparecia O degelo soltava as ág&as do rio' c&7a corrente começava a cantar dia e noite 5 floresta enchia6se de flores' morangos e de cog&melos selvagens
*a primavera
Os pássaros voltam do 8&l O chão coria6se de flores Os es&ilos saltavam de árvore em árvore" O ar povoa6se de vozes e aelhas 5 risa s&ss&rrava nas ramagens
*o erão
*o O&tono
*o Inverno
9anhãs verdes e doiradas as crianças saiam cedo e iam colher flores' morangos' amoras' fr&tos silvestres 5s crianças teciam grinaldas( 5s crianças dançavam e cantavam so a somra das árvores
o vento despia os arvoredos
5 ,loresta ficava im/vel e m&da' presa em se&s vestidos de neve e gelo
*o entanto: . no Inverno &e decorre
6 a maior festa do ano 6 a maior alegria
O *55L 2
*ota: oda a descrição feita' o ;
es do ano' 3 tão realista e impressionista &e se pode dizer &e' nesta ora de 8ophia de 9ello ?re@ner 5ndresen' descrever 3 ; pintar com palavras=" 6 Predomina na descrição o Pret3rito ImperfeitoA 6
Cº Parágrafo *OI! D! *55L: *oite de *atal
Permite conhecer os preparada e vivida
rit&ais' o modo como era a&ela noite
&ntava6se a fam+lia e os amigos e os servos da floresta !m frente da lareira armava6se &ma enorme mesa para todos Eomiam' eiam vinho &ente e cerve7a com mel
*arravam6se hist/rias de/
Lobos e ursos Gnomos e an$es 0rist!o e 1solda Alf, rei da Dinamarca e &igurd 2eis 3agos e pastores
Na casa do cavaleiro, reinava um verdadeiro esp+rito de Natal, de pa4, harmonia, e de confraterni4a!o. % Lá fora havia gelo, vento e neve. 3as em casa do cavaleiro havia calor, lu4, riso e alegria'
5á um contraste entre o interior e o e-terior. 3
Primavera:
O 6avaleiro inicia a sua viagem - Palestina:
Demora 7uase &m ano/ os pormenores da viagem n!o s!o narrados"
&m ano depois: De4embro' antes do *atal
er&sal3m
Ehega - Palestina
8isitou os lugares santos 2e4ou no monte do 6alvário e no 9ardim das Oliveiras Lavou a cara no rio 9ord!o 8iu as águas a4uis do lago de 0iber+ade )rocurou no testemunho mudo das pedras o rasto do sangue e sofrimento de 6risto 6aminhou no monte da 9udeia.
*a )r&ta de ?el3m 2e4ou toda a noite pelo fim das mis*rias e da guerra )ediu a Deus 7ue o fi4esse um homem de boa vontade 9ulgou ouvir a ora!o dos an"os
*oite de *atal Desceu sobre ele uma grande pa4 e confiana :ei"ou as pedras da gruta )ediu aos an"os 7ue o protegessem e guiassem na viagem de regresso para 7ue, da+ a um ano pudesse celebrar o Natal com os seus.
*5<<5FGO Predomina o ero #de movimento$" isito&' proc&ro&' caminho&' dirigi&6 se( !ste segmento tem &m carácter dinHmico' de avanço da acção" #Predom+nio do Pret3rito Perfeito$
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O Cavaleiro da Dinamarca – Sophia de Mello Breyner Andresen (Cont..)
iagem de regresso Finais de Fevereiro, dirigiu-se para o porto de Jafa, onde tem o 1º contratempo Devido ao mau tempo, só puderam embarcar em meados de Março ( Note-se que oi em Março que i!iciou a sua via"em # $a%esti!a e & , tamb&m, em Março que se despede da $a%esti!a'.
*o 9ar
5 empestade
;< contratempo
O navio ora subia na crista da vaga ora recaía pesadamente estremecendo de ponta a ponta. Os mastros e os cabos estalavam e gemiam. As ondas batiam com fúria no casco e varriam a popa. O navio ora virava todo para a esquerda, ora virava todo para a direita. Os marinheiros davam à bomba. O vento rasgava as velas em pedaços. Navegavam sem governo ao sabor do mar.
Descrição: linguagem rica de e-pressividade, sensa$es visuais e auditivas, recursos estil+sticos com realce para a personifica!o e a alitera!o =repeti!o de sons>
s be%as i"re)as s a%tas !aves *s %eves arcos s i!as i%eiras de co%u!as *s mosaicos mu%tico%ores com es"uias i"uras de rai!+as e sa!tos
reer!cia # opu%!cia e prosperidade das cidades do Norte da t%ia & um i!dicador do tempo cro!o%ó"ico da !arrativa pri!cipa%, pois sabemos que as cidades ita%ia!as oram pa%co de um "ra!de dese!vo%vime!to comercia%, eco!ómico e cu%tura% !o s&cu%o /0. * ava%eiro decidiu aceitar o co!vite do Mercador e se"uiu com e%e para Veneza.
VEE!"
s ruas eram ca!ais o!de des%iavam estreitos barcos i!os e escuros. *s pa%cios cresciam das "uas que re%ectiam os mrmores, as pi!turas, as co%u!as &rea e %eve a cidade pousava sobre as "uas verdes, ao %o!"o da sua própria ima"em 0oes, risos, ca!çes e si!os e!c+iam o ar da tarde. 5a!ta riquea e ta!ta be%ea praça de 67o Marcos, a e!orme catedra%, o a%to campa!rio8
9 precisame!te !este espaço propcio #s +istórias de e!ca!tar que sur"e a primeira das quatro !arrativas de Encai#e, a $ist%ria de Vanina, uma +istória secu!dria, mas tamb&m e%a e!ca!tadora, bem ao "osto roma!esco. ;istória de 0a!i!a
;istória de
;istória De V)"'E* D+ "V"LE)+ .arrativa /rincipal0 $ero Dias ;istória de ;istória de $ro Da!te Dias
;istória de Vanina & uma +istória de amor com desec+o aberto. * espaço em que o cava%eiro est & o mesmo do de 0a!i!a, 0e!ea, por&m o tempo cro!o%ó"ico & diere!te. * narrador & o Mercador, o narrat&rio & o cava%eiro. E oi, em co!versas, estas, ceias e passeios, que se passou um ms. * ava%eiro a!u!ciou a sua i!te!ç7o de prosse"uir via"em, recusa!do o co!vite do Mercador para se associar aos seus !e"ócios e estabe%ecer a sua vida em 0e!ea. $artiu em direcç7o a '(nova com cartas de aprese!taç7o para ser recebido pe%os +ome!s mais !obres das cidades do Norte da t%ia. Estava-se em bri%. co!se%+ado pe%o Mercador, decidiu !o e!ta!to aer, a meio da via"em para <&!ova, um desvio para co!+ecer a c&%ebre cidade de =%ore!ça.
$assou por =errara, >o%o!+a e, !o pri!cpio de Maio, c+e"ou a Florença .
Florença ?
Em casa an2ueiro "verardo
FLO
discutiam os movime!tos do 6o% e da %ua discutiam os mist&rios do c&u e da 5erra a%avam de Matemtica, de stro!omia, de =i%osoia a%avam de esttuas a!ti"as a%avam de pi!turas acabadas de pi!tar a%avam do passado, do prese!te e do uturo a%avam de poesia, de m@sica e de arquitectura. Em suma3 $arecia que toda a sabedoria da 5erra
estava reu!ida !aque%a sa%a .
45 arrativa encai#ada 6ist%ria de 'iotto o!do!e oi um pi!tor ita%ia!o !ascido em o%%e di 0espi"!a!o, )u!to de =%ore!ça, em 12?? ou 12?A, e a%ecido em =%ore!ça, em 133A. ssim se!do, icamos a saber que a +istória da via"em do ava%eiro decorre !o s&cu%o /0. iotto tornou!se assim o pintor mais c"lebre daquele tempo.
* narrador desta +istória & =i%ppo e o narrat&rio & o cava%eiro
75 arrativa encai#ada Dante e a Divina om(dia +VE 89L+:
viram os que est7o cobertos por c+uvas de %ama viram os que s7o eter!ame!te arrastados em tempestades de ve!to viram os que moram de!tro do o"o viram os traidores presos em %a"os de "e%o
" repetição ;viram os 2ue ; serve para intensificar a 2uantidade de almas 2ue padecem mart
)FE+
$or toda a parte rei!ava a escurid7o como !uma mi!a. $or toda a parte se er"uiam mo!stros e demó!ios Era um rei!o subterrB!eo, sem so%, sem %ua e sem estre%as, i%umi!ado ape!as pe%as c+amas i!er!ais
A
=i!da a visita ao )nferno, vo%taram # %u do so% e c+e"aram ao /urgat%rio, descrito como um monte no meio de uma ilha subindo para o céu. qui e!co!tram-se as a%mas que, atrav&s de preces e pe!it!cias, a"uardam o perd7o e a admiss7o ao $araso.. $or im c+e"aram ao cimo do mo!te do $ur"atório o!de ica o /araerrestre e oi a que se deu o ree!co!tro de Dante com eatriz. E!t7o eatriz eCp%icou-%+e que o ob)ectivo de o %evar a aer aque%a via"em oi para que e%e tivesse co!sci!cia do qua!to sorem os i!)ustos e pecami!osos e se eme!dasse, para que osse di"!o da e%icidade e a%e"ria que rei!a !o c&u. $ediu-%+e ai!da que, ao vo%tar # terra, escrevesse um %ivro o!de co!tasse tudo o que viu, de modo a e!si!ar os +ome!s a detestarem o ma% e a dese)arem o bem. Da!te assim e e esse %ivro & A #ivina $om"dia?
(u @ /ara
%ocus amoenus
)nferno o!de!ados +uvas de %ama tempestades o"o presos %a"os de "e%o mo!stros demó!ios
%ocus horrendus
t& 1, aproCimadame!te, o ttu%o do poema de Da!te era ape!as Commoedia (om&dia'. Esta desi"!aç7o era atribuda, !a &poca, #s composiçes que abordavam assu!tos em que ao sub%ime se combi!asse o trivia% o re%i"ioso ao proa!o e!im, a co!tradiç7o que & o +omem "over!ado por se!time!tos e paiCes. * ad)ectivo Fdivi!aG que co!sta do actua% !ome do poema oi-%+e i!troduido por occaccio que, co!sidera!do o poema ime!surve% pe%o !ve% artstico, pe%o tema, pe%a ambie!taç7o, pe%a actua%idade e pe%o e!dereçame!to certo # imorta%idade, qua%iicou-o com o ad)ectivo que mais %+e parecia cabve%: Divi!aH
Mas !em todo este espa!to e e!tusiasmo por =%ore!ça, !em mesmo o co!vite que o ba!queiro verardo e ao ava%eiro para se estabe%ecer em =%ore!ça e associar-se aos seus !e"ócios, o demoveram de cumprir a promessa eita # am%ia: - Quero passar com eles o próximo Natal como lhes prometi. Dentro de tr&s dias terei de partir.
E assim oi, te!do-%+e sido dada uma carta de recome!daç7o para um rico comercia!te da =%a!dres, ami"o do ba!queiro verardo.
I
Diri"ia-se e!t7o para '(nova o ava%eiro, para embarcar !o porto !um dos !avios que, !o pri!cpio do 0er7o, sobem de t%ia para !tu&rpia. Mas outro imprevisto aco!tece ao ava%eiro: adoece. ( devido ta%ve ao so% esca%da!te ou # "ua !7o potve% que bebera pe%o cami!+o e v-se obri"ado a pedir "uarida !um co!ve!to'
o onvento , oi aco%+ido e tratado pe%os rades com chás de raízes de flores, com pílulas de aloés, com xaropes de mel e inho !uente, com pós misteriosos e emplastros de farinhas e eras
:uAstantivos co!ve!to ce%a c%austro pi!turas mi%a"res rosas c&u
"dBectivos peque!o, ca%mo e si%e!cioso caiada quadrado suaves maravi%+osos bra!cas au%
5odos estes e%eme!tos descritivos se co!)u"am de modo a deiCarem ema!ar um esprito de paz, de alegria e de amor. E oi, com eeito, !esta pa que as orças do ava%eiro se oram restabe%ece!do at& poder prosse"uir a sua via"em. +e"a a <&!ova em i!ais de 6etembro, mas ) todos os !avios que iam para a =%a!dres ti!+am partido8
=oi a cava%o Flandres?
at& ruges, atravessou os %pes, e !o !ver!o, c+e"a #
J
">9C/)"- asa do negociante Flamengo
5 6ist%ria encai#ada ./ro Dias0 $assamos e!t7o, a partir daqui, a ter o capit7o dos !avios como !arrador das via"e!s martimas por e%e prota"o!iadas, estamos, porta!to, !a prese!ça de um !arrador participa!te. Deu-%+e e!t7o a co!+ecer que via)ara por todos os portos da Europa, desde o mar >%tico at& ao MediterrB!eo, embora !ave"asse sobretudo e!tre os portos da =%a!dres e da $e!!su%a b&rica. Mereceu, !o e!ta!to, destaque a !arraç7o de uma +istória em que, com o dese)o de ir mais %o!"e do que o +abitua%, reso%veu a%istar-se !as eCpediçes portu"uesas que !ave"am para o 6u% # procura de !ovos pases. Este dado & tamb&m importa!te, pois sabemos que o perodo &ureo dos descobrime!tos portu"ueses & o s&cu%o /0, o que a%is vem corroborar a i%aç7o tirada re%ativame!te ao tempo cro!o%ó"ico da !arrativa pri!cipa%, atrav&s da +istória de imabue e
/ro Dias te!ta estabe%ecer co!tacto com um i!d"e!a: primeiro atrav&s da oerta de pa!os co%oridos, depois atrav&s da %i!"ua"em verba%, e por im atrav&s da %i!"ua"em "estua%. $or&m, o resu%tado oi a morte de ambos, se!do a causa o dese!te!dime!to das %!"uas, a i!capacidade de ma!ter um di%o"o. Em ovemAro dei#a "ntu(rpia e parte para a Dinamarca Viagem para a Dinamarca
*s rios estavam "e%ados terra coberta de !eve * rio aume!tava *s dias eram cada ve mais curtos, os cami!+os pareciam !7o ter im
a antev(spera do atal, ao im da tarde, c+e"ou a uma peque!a povoaç7o que icava a poucos qui%ómetros da sua %oresta. recuperou as suas orças e, !a madru"ada de 24 de Deembro, partiu, pois ti!+a de c+e"ar a casa a!tes da meia -!oite e o dia era curto e a travessia da %oresta dici%, pois estava coberta de !eve. $e!etra e!t7o na floresta, o espaço por eCce%!cia da obra, o!de ir7o decorrer as @%timas perip&cias da via"em do ava%eiro, e que ocupa cerca de o!e p"i!as, o que atesta a sua re%evB!cia. pós dois a!os de aus!cia, esta parecia -%+e a!tstica e estra!+a.
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Deparamo-nos então com uma descrição da floresta :
FLORESTA
tudo estava imóve%, mudo, suspe!so o si%!cio e a so%id7o pareciam assustadores e desme!tidos as rvores estavam despidas, os ramos !us dese!+avam-se !e"ros, esbra!quiçados, averme%+ados só os pin$eiros cobertos de a"u%+as continuavam verdes
+ pin$eiro, a%is, o @!ico sinal de vida na floresta . * pi!+eiro sur"e assim como smbo%o de espera!ça. E !ote-se que estes pi!+eiros s7o abetos, cu)a orma se asseme%+a a um co!e: %ar"os em baiCo e ai%ados em cima. 9 precisame!te esta rvore da am%ia dos pi!+eiros que o cato%icismo acabou por i!corporar em rituais re%i"iosos, atribui!do%+e, pe%a sua orma tria!"u%ar, uma simbo%o"ia: passou a represe!tar a 6a!tssima 5ri!dade ($ai, =i%+o e Esprito 6a!to'. 8* ava%eiro E!+9 e ava!çou em direcç7o a # luz que )u%"ava ser a de uma o"ueira de a%"um %e!+ador perdido. *as a lu' continuava a crescer e à medida que crescia, subindo do ch(o para o c"u, ia tomando a forma dum cone.
E qua!do c+e"ou dia!te da claridade, o ava%eiro viu que estava !a c%areira de b&tu%as o!de icava a sua casa e que aque%a o"ueira era o "ra!de aAeto que icava )u!to de%a e que estava coberto de %ues. Luzes que só poderiam ter sido % co%ocadas pe%os a!)os do Nata% para "uiar o ava%eiro. E assim termi!a a saga do avaleiro . E di-se que oi "raças a esta +istória que sur"iu o +bito de se e!eitarem os pi!+eiros !a !oite de Nata%, para "uiarem todos aque%es que se e!co!tram perdidos. Desta orma, O $avaleiro da #inamarca vem perpetuar, atrav&s de uma vers7o escrita, esta %e!da eCp%icativa da ori"em de uma tradiç7o !ata%cia: a iluminação dos pin$eiros?
=M. $ro. ;e%e!a =erreira
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