A fotografia na era do Meme: o fenômeno da cocriação
Se você não sabe o que é um Meme, certamente já se divertiu com eles em algum momento. A palavra “Meme” deriva -se do termo Memética, teoria proposta pelo biólogo Richard
Dawkins. De forma bastante simplificada, a teoria de Dawkins afirma que as ideias (ou o Meme) podem ser contagiosas e, para sobreviver, deveM atingir, tal como um vírus, o maior número possível de pessoas. Neste sentido, o Big Mac e o iPhone podem ser considerados Memes, pois são ícones culturais e propagado de pessoa para pessoa. Apesar de ser um termo oriundo o riundo da biologia, o Meme tem sido exaustivamente utilizado como um meio para transmitir transmitir mensagens, crenças, valores, doutrinas. E, tão importante quanto isso, tem mostrado seu potencial catalisador da Cocriação. A prática da Cocriação pode ser considerada como “colaboração em um sentido diferente, ou seja, trabalho em conjunto para alcançar algo que os participantes poderiam não atingir por conta própria” (JENKIN S, 2014). Em “Cultura da Conexão”, Jenkins cita diversos exemplos de vídeos que se tornaram virais
através da ação criativa do próprio público em modifica-los. Através de repetições e variações, os usuários recriavam estes vídeos e transformavam-nos em algo que traduzisse sua realidade e, consequentemente, se tornaram mais profundamente incorporados na memória popular. No caso da fotografia, a prática do Meme é estrondosa. Qualquer acontecimento, seja ele político, social, econômico, vida de celebridades, não interessa! Tudo é motivo para criar um novo Meme. A vítima mais mai s recente do poder “memetizador” da i nternet, mais especificamente
das redes sociais, é o ex-governador Antony Garotinho. As fotografias que flagraram a sua transferência para o complexo penitenciário de Bangu, na noite de 17 de novembro, tomaram conta
da
grande
rede
(http://vejasp.abril.com.br/blogs/pop/2016/11/18/garotinho-
transferencia-ambulancia-memes/). Na ocasião, o ex-governador esperneou aos berros dentro da ambulância e teve de ser contido por enfermeiros e bombeiros. A internet não perdoou! A fotografia surgiu como um retrato do real e, com o passar das décadas, assumiu outros papéis diversos daquele que a consideravam um reflexo incontestável da verdade. O atual contexto digital em que vivemos aponta uma nova direção para a fotografia: hoje ela é cocriada, multidirecional, maleável. Lucia Santaella, no livro “Comunicação Ubíqua”, afirma que a fotografia é tal qual um vírus, visto que se transmuta initerruptamente, garantindo sua flexibilidade e perenidade. A fotografia na era do digital é híbrida, pois permite modificações em sua estrutura, permitindo a articulação de novas estéticas. Na esteira deste processo, Santaella anuncia a ascensão do Quarto Paradigma da Imagem. “O quarto paradigma da imagem, na sua natureza eminentemente híbrida, está nos dando a
chance de externalizar nossos pensamentos nas intrincadas misturas em que eles se processam na mente” (SANTAELLA, 2013).
A autora aponta o artista como o grande responsável por identificar estas novas possibilidades do uso da imagem. Porém, o próprio público, mesmo que inconscientemente, tem mostrado
seu potencial criativo, comunicador e produtor. O Meme faz florescer mais um potencial da fotografia, colocando-a em evidência no extenso oceano de conteúdos da internet. A “fotografia memetizada” foi apropriada e hoje serve como um instrumento de significação que
acaba se fixando na memória social coletiva. Esta é uma característica notável do mundo em que vivemos, tal como postula Jenkins “em um mundo em que algo, se não propagado , está morto, se não puder ser citado, pode não significar nada” (JENKINS, 2014). O usuário antenado
entendeu o recado e tem se esforçado para se tornar um membro superengajado nesta irresistível cultura da conexão.
Referências: BENTES,
Ivana.
A
memética
e
a
era
da
pós-verdade.
Disponível
http://revistacult.uol.com.br/home/2016/10/a-memetica-e-a-era-da-pos-verdade/.
em: Acesso
em: 02 dez.2016. JENKINS, Henry. GREEN, Joshua. FORD, Sam. Cultura da Conexão. Criando valor e significado por meio da mídia propagável. São Paulo: Aleph, 2014. SANTAELLA, Lucia. Comunicação Ubíqua: repercussões na cultura e na educação. São Paulo: Paulus, 2013. TEIXEIRA, Jeronimo. O DNA das ideias. Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/o-dnadas-ideias/. Acesso em: 02 dez.2016.