A Experiencia e o Incondicionado na Critica da Razão Pura de Kant

A EXPERIÊNCIA E O INCONDICIONADO NA CRÍTICA DA RAZÃO PURA DE KANT

Antônio José Resende Resumo: este artigo trata da função do entendimento como estudo do campo da experiência (ciência) e da função da razão, enquanto estudo do âmbito do conhecimento, que vai além de toda a experiência possível. Para a crít crític ica a kant kantia iana na,, trat trataa-se se do uso uso apod apodít ític ico o do ente entend ndim imen ento to no conhecimento da experiência possível da natureza, para a determinação conc conceit eitual ual (con (confo formi rmida dade de a leis) leis) da multi multipl plic icid idad ade e dada dada na intuiç intuição ão sensível, mediante suas formas puras, espaço e tempo; e do uso hipotético da razão que eleva as unidades das séries (sensíveis) à máxima unidade possível possível (totalidad (totalidade), e), regulando, regulando, com efeito, efeito, o corte entre entre o mundo mundo sensível sensível (fenomênico) e o âmbito do incondicionado.

Palavras-chave:

razã razão, o,

apod apodít ític ico o,

hipo hipoté téti tico co,,

expe experi riên ênci cia, a,

incondicionado, Kant. Crítica da razão razão pura, Kant No Apêndice à Dialética transcendental da Crítica enfatiza a distinção entre as duas formas de usos da razão -compreendida aqui em sentido geral (Gemüt ), ), e não como a faculdade de conhecimento específica da “Dialética” (Vernunft ) - que correspondem às atividades de investigação do entendi entendimen mento to e da própria própria razão. razão. A prime primeira ira corresp correspon onde de à analíti analítica ca e a segunda, à dialética. A for forma apo apodíti dítica ca do co con nhec eciimento ento co corr rres espo pon nde à ativ ativid idad ade e do entendi entendimen mento. to. Para se obter obter o conhec conhecime imento nto da realida realidade de fenomê fenomêni nica ca dos objetos, percebidos pela sensibilidade, é necessário partir do geral, isto é, de uma regra específica dada, para a determinação do particular. Ao contrário, a forma hipotética, correspondente à atividade da razão, vai do particular para a construção de uma regra geral que possa unificar a diversidade dos particulares. Kant descreve o uso apodítico da razão da seguinte forma: “Se a razão é uma faculdade de derivar o particular do universal, então ou o universal é já em si certo e dado, e em tal caso requer somente capacidade de julgar para a subsunção, e o particular é necessariamente determinado através da mesma”. 1 E, deste modo, o uso hipotético da razão: O universal universal é admitido admitido só problemati problematicame camente nte e é uma simples simples idéia, o particular particular é então então certo, mas a universalidade da regra para esta conseqüência é ainda um problema; deste modo, são experimentados na regra diversos casos particulares que são todos certos para ver se decorrem dela e neste caso, quando se tem a impressão de que todos os casos particulares indicáveis resultam dela, inferir-se-ão ulteriormente também todos os casos que em si mesmos não são dados .2

O que está em jogo nessas duas formas de juízos, apodítico e hipotético, são as condições do conhecimento da experiência e da extensão máxima de suas possibilidades enquanto unidade sistemática com referência à totalidade das séries.3 No primeiro caso, há a ação do entendimento que, por meio das regras a priori, juízos e categorias, fornece conceitos que determinam o conhecimento Fragm. Cult. Goiânia. v. 9. n. 6. p. 1309-1324. nov./dez. 1999

referente aos objetos do mundo exterior, percebidos pela experiência mediante a intuição realizada pela sensibilidade. No segundo caso, a razão, por intermédio das idéias transcendentais, alma, mundo e Deus, realiza a unidade sistemática do conhecimento ao fazer a interconexão a partir de um princípio4 e postula, por isso, uma unidade completa do conhecimento já realizado pelo entendimento. Na Primeira Seção, Do Fio Condutor Transcendental para a Descoberta de Todos os Conceitos Puros do Entendimento, da Analítica dos Conceitos, Kant afirma que o entendimento em geral pode ser representado como uma faculdade de julgar,5 por ser uma faculdade cognitiva não sensível, que conhece por meio de conceitos. Portanto, não intuitiva, mas discursiva. Nesse sentido, observa-se que os conceitos, como predicados de juízos possíveis, relacionam-se a alguma representação de um objeto ainda indeterminado. Por exemplo, o meu conceito de corpo é um conjunto de representações que podem servir para determinar um objeto e, portanto, para ser o predicado de um juízo, como ocorre quando digo: todo metal é um corpo. Enfim, pensar é julgar. Por meio dessa capacidade de julgar, o entendimento subsume regras, ou seja, discerne se algo se encontra subordinado a dada regra ou não. 6 Também é sua função mostrar que estas regras (juízos, categorias etc) são válidas universalmente, com relação ao conhecimento da experiência. Isso significa que se a regra é definida de determinada forma - e o particular deve ser, necessariamente, determinado pela mesma e não de outro modo - basta que ela seja aplicada para se obter o ordenamento do conhecimento da multiplicidade inerente aos objetos. Na tábua dos juízos, apresentada na Analítica Transcendental, verifica-se que a forma do juízo apodítico determina que o predicado se afirme do sujeito como tendo que ser necessariamente predicado do sujeito. Ou seja, S é necessariamente P, ou S tem que ser P. Por exemplo, quando afirmamos que a soma dos ângulos de um triângulo tem que ser dois retos ou não pode ser senão dois retos. E ao transformar os juízos para a conversão na tábua das categorias, constata-se a permanência do mesmo caráter de necessidade.7 Dessa maneira, o conhecimento apodítico do entendimento realiza a concordância dos conceitos com certos objetos percebidos, mediante a experiência realizada conforme determinação desses mesmos conceitos. 8 Como já explicitamos, o conhecimento realiza-se por uma unidade sintética da experiência. Tal unidade se forma conforme a elaboração das sínteses espaço-temporal e categorial. Aqui se interpõe uma das dificuldades principais para a teoria do conhecimento, ou seja, como é possível essa síntese mais ampla se as categorias são racionais/intelectuais e as sensações empíricas? como pode o conceito puro do entendimento que não procede da experiência referir-se aos conteúdos da experiência? Se isso é possível é porque o conceito já tem que estar originariamente referido à intuição sensível. Pois intuição e entendimento são dois modos de representação, um imediato, outro mediato. O objeto de conhecimento (Gegenstand) não é o que é sentido, nem o que é percebido, mas o que é representado universalmente no conceito. Pois, “mediante o fato do simples pensar não conheço qualquer objeto, mas somente posso conhecê-lo enquanto determino uma intuição dada com vista à unidade da consciência, na qual consiste todo o pensamento”.9 Portanto, intuir e pensar, elementos constitutivos do âmbito teórico do conhecimento, são os dois pólos da subjetividade que permitem a determinação,

Fragm. Cult. Goiânia. v. 9. n. 6. p. 1309-1324. nov./dez. 1999

mediação de uma representação à outra, para constituir uma síntese mais ampla que, por isso, realiza o conhecimento, mediante uma atividade originária do entendimento que Kant denomina a ‘unidade sintética da apercepção’, que, como ele explica, é o ponto máximo ao qual está ligado todo o uso do entendimento, enquanto construção lógica e, por isso, toda a filosofia transcendental que a determina.10 Para mostrar como é possível essa síntese que se alarga a todo o campo do nosso conhecimento fenomênico, isto é, da experiência, Kant recorre aqui à noção de esquema, produto da imaginação, que também é uma faculdade de conhecimento, embora não tenha princípios puros a priori, faz a mediação essencial entre os planos do sensível e do entendimento. O esquema não é propriamente uma imagem, mas um método de construir uma imagem em conformidade com um conceito. Por isso, ele consiste na determinação do tempo, segundo as exigências de cada categoria. E o tempo é, para Kant, ao realizar essa função, um termo intermediário, produto da força da imaginação, entre o conceito puro e a intuição pura. Por isso, são realizados tantos esquemas quanto for o número de categorias. Por exemplo, o esquema da causalidade consiste na sucessão irreversível dos fenômenos no tempo; o da substância, pelo contrário, a permanência de um fenômeno num certo intervalo de tempo etc. Portanto, todas as atribuições do tempo, quando comparadas com as categorias, correspondem respectivamente ao elenco de todos os conceitos puros originários conforme sua divisão.11 Esse esquema é, pois, ao mesmo tempo, a base das nossas representações sensíveis e se constitui conforme as categorias, representando, por conseguinte, tanto as nossas percepções como os conceitos puros ( a priori), ligando, portanto, o entendimento puro com a sensibilidade. Aquele, servindo-se das categorias, faz a ligação dos fenômenos e por meio dos esquemas subordina esses àquelas, efetuando os juízos conforme suas condições de possibilidades, isto é, de uma unidade a priori que, por isso mesmo, antecede qualquer ligação de representação e que, por isso, é o fundamento da unidade dos conceitos diversos do juízo. Esse processo é o que Kant chama de “esquematismo do entendimento puro”. O conhecimento consiste, portanto, na ligação de representações. A ligação, “representação da unidade sintética do múltiplo”12 é, para Kant, uma produção da subjetividade enquanto entendimento, pois os dados sensíveis, em si mesmos, são pura multiplicidade, donde da sua ligação não pode advir a representação dessa unidade, pois, “muito antes, pelo fato de ser acrescida à representação do múltiplo, a representação de tal unidade possibilita primeiramente o conceito de ligação”.13 Conforme Oliveira, em Lógica transcendental e lógica especulativa , para Kant, conhecer é um ato de autodeterminação do sujeito através do qual ele determina o múltiplo dado da sensibilidade” e que essa “ligação pressupõe como sua condição de possibilidade uma unidade a priori que antecede qualquer ligação de representação e que, por isto, é o fundamento da unidade dos conceitos diversos do juízo. 14

Como não é nosso objetivo principal expor detalhadamente sobre a aplicação das categorias no conhecimento da experiência, ressaltamos ainda como fundamental compreender que Kant denomina ‘síntese’ esse ato pelo qual o entendimento realiza uma ligação numa multiplicidade dada. A multiplicidade, para tornar-se objeto, deve, necessariamente, ser unificada. Portanto, ligar por conceitos é a função do entendimento. Mas toda a reunião de representações Fragm. Cult. Goiânia. v. 9. n. 6. p. 1309-1324. nov./dez. 1999

exige, para Kant, a unidade da consciência nessa síntese, pois só se pode conceber uma ligação de elementos múltiplos ao conceber a própria multiplicidade como uma unidade. A unidade sintética da consciência é, portanto, uma condição objetiva de todo o conhecimento, de que preciso não apenas para mim a fim de conhecer um objeto, mas sob o qual toda intuição tem que estar a fim de tornar-se objeto para mim, pois de outra maneira e sem essa síntese o múltiplo não se reuniria numa consciência. 15

Como já mencionado, não temos um objeto do conhecimento a não ser que seja dado na intuição sensível, a qual deve tornar-se, então, o próprio objeto. O que nos é dado é uma multiplicidade de representações sensíveis e nunca uma unidade. Essa multiplicidade, para tornar-se objeto, terá de ser unificada. Pois, o objeto, para Kant, é justamente “aquilo em cujo conceito está ‘reunido’ o diverso de uma intuição dada”.16 Esse só se forma mediante transformação de uma diversidade de representações em unidade, pela organização da consciência. Essa unificação é uma função do entendimento e não da sensibilidade. Não advém, portanto, dos sentidos nem está contida na forma pura da intuição sensível. Kant explica que a representação transcendental é o princípio por meio do qual a síntese das representações é efetuada pelo pensamento. Pois é unicamente na sua relação com a unidade transcendental da apercepção que os fenômenos adquirem a sua objetividade. Essa unidade, pressuposta por toda ligação, é, para Kant, a do ‘eu penso’, ou seja, a unidade da consciência, que acompanha todas as minhas representações: O eu penso tem que poder acompanhar todas as minhas representações; pois do contrário, seria representado em mim algo que não poderia de modo algum ser pensado, o que equivale a dizer que a representação seria impossível ou, pelo menos para mim, não seria nada. 17

Uma vez que, para Kant, como supra, pensar é julgar, é por meio do juízo que o pensamento unifica as representações. O juízo, como função da unidade transcendental da apercepção referida a priori e sinteticamente ao diverso dado numa intuição, a ser determinado como objeto do pensamento, é considerado, por Kant, um juízo sintético a priori, que é a questão central apresentada inicialmente pela crítica. Como já dissemos, o objetivo da Lógica Transcendental - que é o que se verifica na seção introdutória da Analítica Transcendental - é mostrar a possibilidade do conhecimento da experiência como determinação objetiva dos elementos dados na intuição sensível. Grayeff resume tal questão dizendo que, para Kant, o conhecimento é possível porque ele considera que “a natureza objectiva é o produto do espírito humano que, pela sua função lógica, transforma a matéria dada aos sentidos em unidades (espacio-temporais), isto é, em objectos que tanto podem ser intuídos como pensados”, 18 donde resulta o conhecimento objetivo (conceitual) dos objetos dados a nós empiricamente, isto é, como fenômenos. Esta posição delineada na Analítica Transcendental, de que a explicação da possibilidade do conhecimento da experiência exige que se leve em consideração dois momentos, um dado pelos sentidos e outro gerado pelo entendimento, é ultrapassada por Kant na Dialética Transcendental, na medida em que se põe em curso o desenvolvimento peculiar da natureza da razão que, justamente por isso, propõe para si mesma questões que não pode evitar.


Podemos observar que este problema é apresentado por Kant logo no início do Prefácio da primeira edição da Crítica da razão pura: A razão humana, num determinado domínio dos seus conhecimentos, possui o singular destino de se ver atormentada por questões, que não pode evitar, pois lhe são impostas pela sua natureza, mas às quais também não pode dar resposta por ultrapassarem completamente as suas possibilidades. Não é por culpa sua que cai nessa perplexidade. Parte de princípios, cujo uso é inevitável no decorrer da experiência e, ao mesmo tempo, suficientemente garantido por esta. Ajudada por estes princípios eleva-se cada vez mais alto (como de resto lho consente a natureza) para condições mais remotas. Porém, logo se apercebe de que, desta maneira, a sua tarefa há-de ficar sempre inacabada, porque as questões nunca se esgotam; vê-se obrigada, por conseguinte, a refugiar-se em princípios, que ultrapassam todo o uso possível da experiência e, não obstante, estão ao abrigo de qualquer suspeita, pois o senso comum está de acordo com eles. 19

Isso anuncia a peculiar natureza da razão que, conforme nos mostra a crítica, se define pela procura do incondicionado. Isso representa, para Kant, a necessidade que a razão tem de ultrapassar a experiência sensível e de transcender-se, na medida em que tenta pensar aquilo que está, pelo menos para nós, além da nossa capacidade intuitiva. Antes de explicitarmos melhor esta questão, é importante verificar que esse pensamento se relaciona diretamente com o que está exposto no início da parte II da introdução à Dialética Transcendental: “Todo o nosso conhecimento parte dos sentidos, vai daí ao entendimento e termina na razão, acima da qual não é encontrado em nós nada mais alto para elaborar a matéria da intuição e levá-la à suprema unidade do pensamento”,20 o que é confirmado da mesma forma no final da Dialética, ao se explicitar o propósito último da dialética natural da razão pura: “Deste modo, todo o nosso conhecimento humano inicia com intuições, parte delas para conceitos e termina com idéias”. 21 Desse modo, a Dialética Transcendental mostra como a razão produz idéias, ou conceitos puros da razão, mediante o seu uso transcendental enquanto razão pura. Essa é, para Kant, a tarefa fundamental que pode verificar a exata influência e o valor da razão pura na descoberta e fundamentação dos seus princípios e demonstrar a impossibilidade de uma metafísica dogmática. Por isso, esse é o lugar onde se estabelece o argumento contundente do tribunal que deve julgar os mecanismos que produzem inevitavelmente a ilusão, quando a razão é impelida, por sua própria natureza, a desenvolver o seu uso hiperfísico. O uso dialético, para a crítica, trata da pretensão da razão pura de ultrapassar o campo da fenomenalidade, de ir além dos limites determinados para o nosso poder de conhecer. Veja-se que Kant quer mostrar como a razão se define pela procura do incondicionado, isso implica em que o uso hipotético dessa faculdade, fundamentado em idéias consideradas conceitos problemáticos, 22 por serem somente princípios postulados pela razão e não conceitos determinados de coisas reais, ocupe-se, dentro de suas possibilidades, em proporcionar ao conhecimento uma unidade dos particulares e conduzir a regra - o princípio considerado problemático - a se aproximar da universalidade. O uso hipotético da razão não se confunde com o que Kant chama de uso apodítico dela. Como foi definido anteriormente, o uso apodítico se fundamenta em regras gerais já dadas e certas em si e, assim, o entendimento, ao funcionar


como faculdade de julgar, opera a subsunção do particular à regra, e, desse modo, o particular passa, então, a ser “determinado necessariamente”.23 Entendimento e razão não são iguais e possuem funções diferentes. Se o entendimento é a faculdade de reunir o múltiplo no objeto (fenômeno), segundo conceitos (regras), que são postos a priori de acordo com as exigências da dedução transcendental, por outro lado, a razão, não em sentido geral, mas a faculdade de conhecimento específica da dialética (Vernunft), é a faculdade da unidade das regras do entendimento sob princípios. Dito de outro modo, a razão reúne o múltiplo dos conceitos mediante idéias, ao dar uma ‘unidade coletiva’ às ações do entendimento, as quais, ao contrário, só se ocupam com uma ‘unidade distributiva’. Segundo Kant, o entendimento constrói uma unidade distributiva, na medida em que aplica as categorias no conhecimento da multiplicidade da natureza, isto é, das coisas ( Ding = objetos = fenômenos / Phäenomena), dandolhes uma unidade objetiva determinada. Por exemplo, a partir da ‘noção de causalidade’, explicam-se as leis do movimento. No entanto, não se pode, mediante o uso das categorias do entendimento, responder a seguinte pergunta: o mundo tem começo e fim? Ora, segundo a análise crítico-transcendental, pensa-se somente a unidade do mundo a partir de uma idéia da razão. Essa unidade não tem um valor objetivo para o conhecimento da natureza, mas é inevitável, pois, a idéia da totalidade do mundo, já exemplificada, é necessária na medida em que serve para responder, ou ao menos para se ocupar dos interesses inerentes e inevitáveis da razão humana. Na composição da unidade do conhecimento da experiência realizada pelo entendimento e da sua unidade sistemática feita pela razão, pode-se verificar que o entendimento, mediante os seus conceitos ou categorias, refere-se diretamente às coisas e prescreve, portanto, as condições para a existência empírica dos fenômenos. A razão não se refere diretamente aos objetos empíricos, mas unicamente ao entendimento porém, por intermédio dele, evidentemente, ela também os atinge. Assim, a razão não produz conceitos (de objetos), mas apenas os ‘ordena’ e dá-lhes aquela unidade que podem ter na sua máxima extensão possível, isto é, com referência à totalidade das séries, a qual não é absolutamente considerada pelo entendimento, que se ocupa só com a conexão ‘pela qual’, por toda a parte, as séries das condições são produzidas segundo conceitos.24

A unidade alcançada pelo entendimento não vai além do ordenamento e do conhecimento dos fatos, por isso a razão tem como meta ir além do conhecimento da experiência realizada pelo entendimento. Ela contém uma capacidade de síntese mais ampla que a do entendimento, vai além dos resultados condicionados pela experiência, embora jamais a negue ou a perca de vista. Deste modo, o entendimento torna-se objeto para a razão, e essa deve se encarregar das condições de seu emprego adequado, cuja função é tornar sistemática a unidade de todos os seus atos empíricos ao realizar a unidade sistemática do conhecimento. A construção dessa mais ampla unidade é possível mediante o uso lógico da razão que opera somente por idéias ( a priori), e não a partir de intuições. Ao visar uma unidade total, impossível de ser realizada pelo entendimento, a razão imprime sobre essa unidade do diverso da natureza uma realidade que a conduz a uma certa objetividade. Assim diz Kant:


...de maneira a se poder dizer que todos os conhecimentos possíveis do entendimento (entre eles os empíricos) possuem unidade da razão e estão sob princípios comuns dos quais podem ser derivados sem levar em conta sua diversidade, então isto seria um princípio transcendental da razão que tornaria a unidade sistemática necessária não só subjetiva e logicamente, enquanto método, mas também objetivamente. 25

Todo esforço aqui empreendido tem como objetivo elevar a multiplicidade a uma possível unidade (identidade). A análise exaustiva e o rigor do texto kantiano mostram que a ilusão dialética consiste justamente na dificuldade apresentada pela carência de homogeneidade. Ora, é o diverso na natureza que salta aos nossos olhos, daí a necessidade do uso da reflexão, “como a faculdade de comparar entre si conceito”, 26 pois, para Kant, nesse caso, só a partir do seu exercício é possível construir uma unidade. Kant exemplifica o uso da razão que, na heterogeneidade da diversidade dos fenômenos, pode possibilitar uma ligação entre eles, fornecendo assim pontos precisos para a homogeneidade. Mais precisamente, “entre as diversas espécies de unidade segundo conceitos do entendimento, inclui-se também a da causalidade de uma substância, denominada ‘força’ ”. 27 Encontra-se, portanto, em toda a natureza uma diversidade de forças e, para que seja possível encontrar uma unidade sistemática das mesmas, fundamentada por um princípio transcendental, a razão utiliza a “idéia de uma força fundamental, cuja lógica de modo algum pode descobrir, (que) é pelo menos o problema de uma representação sistemática da multiplicidade das forças”. 28 A função desta idéia de uma força fundamental é comparativa, como se verifica no exemplo que Kant utiliza para ilustrar esta afirmação: Na mente do homem (existem) a sensação, a consciência, a imaginação, a recordação, o humor, a capacidade de distinguir, o prazer, o desejo, etc. De início, uma máxima lógica ordena que se diminua o quanto for possível essa aparente diversidade, descobrindo mediante comparação a identidade oculta e examinando a questão se imaginação e consciência não estão ligadas, se recordação, humor e capacidade de distinguir não são talvez e propriamente entendimento e razão. 29

Portanto, o objetivo é, mediante o confronto dessas forças fundamentais comparativas, descobrir sua unidade ao “aproximá-las de uma única força fundamental radical, isto é, absoluta”. 30 Mas, a partir do ponto de vista da razão, ao buscar uma unidade simplesmente hipotética, “não se afirma que uma tal unidade tem que ser encontrada de fato, mas que se tem que procurar em benefício da razão”.31 Por outro lado, ao se observar o uso transcendental do entendimento, verifica-se que, essa idéia de uma força fundamental em geral está destinada ao uso hipotético não meramente como problema, mas pretende ter uma realidade objetiva pela qual é postulada a unidade sistemática das diversas forças de uma substância e é estabelecido um princípio apodítico da razão. 32

Entende-se que Kant quer sustentar, com esta afirmação, que o princípio da razão possui também uma característica objetiva e, para tanto, verifica-se que o que ocorre segundo um princípio lógico-transcendental encontra-se também de forma correspondente na lei interna da natureza. Diz Kant: “... a razão pressupõe uma unidade sistemática de forças diversas, uma vez que leis particulares da natureza estão sob leis mais gerais e que a economia de princípios torna-se Fragm. Cult. Goiânia. v. 9. n. 6. p. 1309-1324. nov./dez. 1999

simplesmente não um princípio econômico da razão, mas lei interna da natureza”.33 Portanto, ao tornar possível a unidade sistemática da diversidade da natureza, a razão realiza não somente uma análise lógico-hipotética, como parece inicialmente ser somente seu objetivo, mas uma análise que conduz esta unidade também a uma certa validade objetiva. PRINCÍPIOS CONSTITUTIVOS E REGULADORES O entendimento possui uma função constitutiva do conhecimento da experiência. Mas como isto ocorre? Para que se possa realizar a experiência são necessárias não somente as formas da intuição: espaço e tempo, mas também os conceitos puros do entendimento, as categorias. Sem elas não poder-se-ia dar forma ao conhecimento que se adquire ao realizar a experiência. Sem o uso das categorias haveria somente um emaranhado de representações (sensações) dispersas. São elas que organizam conceitualmente o conhecimento das coisas. Os princípios do entendimento são constitutivos na medida em que os objetos de experiência não podem ser constituídos senão de acordo com eles. Com efeito, o uso do entendimento é propriamente constitutivo porque realiza a concordância dos conceitos com os objetos e lhes confere uma realidade formal e objetiva tornando-os, portanto, inteligíveis. Isto é o que mostra a reflexão crítico-transcendental, segundo a qual o conhecimento a priori permite, através das faculdades de conhecimento, neste caso, da sensibilidade e do entendimento, descobrir e elaborar conceitos que determinam a realização da experiência e possibilitam a construção de leis que a regem transformando-a numa realidade objetiva. Por outro lado, os princípios da razão, isto é, as idéias transcendentais, alma, mundo e Deus, funcionam apenas como princípios reguladores e tornam possível a unidade sistemática do conhecimento. Portanto, eles orientam o pensamento em seu esforço de sistematização e possuem, pois, um uso regulador. Por isso, não determinam a constituição de nenhum objeto da experiência, mas servem de regra ao espírito para realizar a máxima unidade sistemática possível do conhecimento. AS IDÉIAS DA RAZÃO PURA E A DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL Para Kant, há três espécies de idéias transcendentais reguladoras da razão que, segundo o seu proceder, consistem em máximas necessárias da mesma. São elas: a do sujeito completo (alma); a da série completa das condições (mundo); e a de um conjunto perfeito de todos os conceitos possíveis (Deus). A razão, também uma faculdade de unificação,34 ultrapassa o limite determinado pela experiência para o conhecimento e procura um objeto a que se possam aplicar as categorias, além do sensível. A busca desta mais alta unidade faz aparecerem as idéias, que são, com efeito, conceitos necessários da razão aos quais não corresponde qualquer objeto dado pelos sentidos. Essas idéias são dadas pela natureza da nossa razão. Não são dialéticas por si mesmas, mas o erro e o simples abuso delas quando mal utilizadas constróem uma aparência enganosa. Pois a aparência transcendental repousa também sobre o abuso de uma faculdade fora dos seus limites. Por outro lado, o seu uso correto resulta em benefícios para o conhecimento da razão.


Antes de se dar a definição de cada uma dessas idéias, serão verificadas as exigências da crítica no que diz respeito às possibilidades do conhecimento da razão. Segundo Kant, não se pode servir com segurança de um conceito a priori sem ter levado a termo a sua dedução transcendental. Entretanto, em relação às idéias da razão pura, não se permite aplicar uma dedução transcendental como a que foi aplicada às categorias do entendimento. Pois, elas estão relacionadas diretamente com a experiência, enquanto as idéias da razão são destinadas à construção da unidade sistemática do conhecimento, a qual vai além da experiência. Com efeito, se essas idéias devem ter pelo menos alguma validade objetiva, mesmo que só indeterminada, e se não devem representar meramente vazios entes de pensamento ( entia rationis ratiocinantis ), então uma dedução de tais idéias tem que ser inteiramente possível, mesmo supondo que divirja bastante da dedução que se pode empreender com as categorias.35

Por isso, a dedução transcendental, que permite delimitar as possibilidades, os limites e as esferas de aplicação do conhecimento, é uma exigência da crítica que possibilita a realização plena de sua tarefa. Em consonância com as exigências da dedução transcendental, a função da idéia como forma de um todo do conhecimento permite delimitar, segundo Philonenko, “o horizonte no interior do qual a subordinação se efetuará”. 36 Mais precisamente, mediante os princípios da razão pura, toda a diversidade do conhecimento, seja ela proveniente de qualquer espécie de objetos, pode ser conectada em uma unidade, mesmo que indeterminada. A unidade da razão é indeterminada porque não se refere diretamente à experiência, mas à totalidade de todas as séries dela, realizada ou a realizar. Por isso, tal unidade não comporta um limite demarcado pelo campo da experiência, como ocorre no caso da síntese do entendimento, mas busca o conhecimento da totalidade que só é possível ser pensada indeterminadamente. Portanto, as idéias puras da razão, formadas independentemente de qualquer experiência, levam os conceitos do entendimento ao máximo de extensão e de unidade. A exigência da razão é a de representar-se o universo como uma totalidade. Ela não apreende nenhum objeto, mas essa idéia de universo, esse ideal de um universo, impele o espírito a levar adiante as sínteses empíricas. Isso mostra que as sínteses realizadas pelo entendimento não bastam à razão. O mundo empírico não a satisfaz, visto não ser mais que um conjunto de fenômenos, e não um todo, conforme pode ser pensado pela razão. A idéia da alma (psicológica) representa a totalidade da experiência em relação ao sujeito. Por ser apenas uma idéia, e por não designar nenhum objeto da experiência, dela só pode advir benefício para o conhecimento, contanto que se evite fazê-la valer por algo mais que uma simples idéia. O conceito de alma, como idéia da razão, só pode ser empregado relativamente ao uso sistemático dela com vistas aos fenômenos da nossa alma. Pois essa idéia “tampouco (...) pode significar outra coisa a não ser o esquema de um conceito regulativo”.37 A idéia do mundo (cosmológica) representa essa totalidade em relação aos objetos fenomênicos. Assim, as idéias cosmológicas “nada mais são que princípios regulativos, estando muito distantes de estabelecer, por assim dizer, constitutivamente, uma totalidade real das séries” 38 de todos os fenômenos passíveis de serem constituídos pela experiência.


Quanto à terceira idéia da razão pura, o conceito racional de Deus (teológica) representa a totalidade da experiência em relação a todo objeto possível, fenomênico ou não. Essa idéia “contém uma suposição meramente relativa de um ente, como causa una e totalmente suficiente de todas as séries cosmológicas”,39 e não se esconde sob essa idéia qualquer princípio constitutivo do seu uso dirigido à experiência possível. Ou seja, ela significa somente que a razão considera toda a conexão do mundo segundo princípios de uma unidade sistemática, ‘como se’ o próprio mundo sensível fosse oriundo de um único ser, que tudo abrange como causa suprema e totalmente suficiente. Essas idéias são os meios aos quais a razão recorre para unificar os conhecimentos dos dados empíricos do entendimento e, com efeito, elevá-los à uma unidade máxima. Essa máxima unidade formal, construída unicamente a partir dos conceitos da razão, “é a unidade das coisas ‘conforme a um fim’; e o interesse especulativo da razão torna necessário encarar toda a ordem do mundo ‘como se’ brotasse da intenção de uma razão mais elevada que todas”. 40 É este “como se” que torna possível pensar o objeto da idéia de perfeita unidade sistemática, conforme um princípio regulador do máximo uso empírico possível da razão. Verifica-se, evidentemente, que esse procedimento usado por Kant é baseado numa analogia. Vale lembrar que esse é um objeto que não pode ser verificado por experiência alguma, mas também não é inventado arbitrariamente, porém proposto pela natureza da própria razão, e que se relaciona necessariamente ao uso total do entendimento. Portanto, as idéias transcendentais da razão, alma, mundo e Deus, representam, cada uma à sua maneira, a totalidade absoluta da experiência. Mas, uma vez que ela nunca pode se tornar uma experiência, nenhuma delas tem valor objetivo e, precisamente por isso, são apenas idéias e não realidades. Assim como também por não se dirigirem diretamente ao conhecimento da experiência, elas não têm conteúdo concreto em relação à possibilidade da realização da experiência. Por isso, Kant considera uma “ilusão transcendental” a atribuição de existência real a essas idéias, embora ela seja uma inclinação natural da razão. O objetivo a ser alcançado pela razão, a construção de uma unidade total das séries, constitui uma tarefa problemática, porque essa unidade não pode ser afirmada como tal pela experiência, mas somente ser pensada mediante uma unidade indeterminada. A razão não pode representar uma unidade real e constitutiva da experiência, mas somente uma unidade sistemática e, por isso, mesmo assim, torna-se a via possível para regular a determinação da coerência da unidade do nosso conhecimento com relação às coisas e à possibilidade da representação da totalidade de todas as coisas. A unidade sistemática da razão, enfim possuidora de uma realidade metafísica por natureza, presta-se ao conhecimento como princípio subjetivo e regulador de uma unidade que possui o objetivo de indicar o rumo do nosso conhecimento da multiplicidade subjacente no mundo, com vistas a uma possível unidade total do mesmo.41 Notas Cf. Kant, 1983, p. 320 B 674. Cf. Kant, 1983, p. 321 B 674-675. 3 Cf. Kant, 1983, p. 319 B 671-672. 4 Para melhor esclarecimento sobre o entendimento como faculdade das regras e a razão como faculdade dos princípios, cf. Kant, 1983, p. 179-180 B 356-357. 1 2


Cf. Kant, 1983, p. 68 B 94, p. 57 B 75-76. Esta definição é desenvolvida em toda a “Analítica dos princípios”, mediante a explicação da doutrina transcendental da capacidade de julgar. Para uma explicação mais aprofundada sobre as diversas definições do entendimento apresentadas por Kant, ver Verneaux, 1973. Sobretudo p. 59-69. 6 Cf. Kant, 1983, p. 101 s. B 171 s. 7 Sobre a forma do juízo apodítico e a passagem dos juízos às categorias, cf. parágrafos nove e dez das Seções Segunda e Terceira do “Fio condutor para a descoberta de todos os conceitos puros do Entendimento”. (Cf. Kant, 1983, p. 69 s. B 95 s). 8 Esta afirmação é decorrente não só da análise desenvolvida na “Analítica” dos “Conceitos” e dos “Princípios”, mas também da distinção que Kant faz entre conhecimento a priori e a posteriori. Sobre isto ver inicialmente a introdução à Crítica da Razão Pura, p. 23 s. B 1 s. e o parágrafo 1 da “Estética Transcendental”. Tal afirmação é também concernente à uma significativa passagem da Crítica, onde Kant, referindo-se aos cientistas da natureza, exprime o sentido do projeto (método) da ciência moderna. Eis o texto: “Deram-se conta que a razão só compreende o que ela mesma produz segundo seu projeto, que ela teria que ir à frente com princípios dos seus juízos segundo leis constantes e obrigar a natureza a responder às suas perguntas, mas sem se deixar conduzir por ela como se estivesse presa a um laço; do contrário, observações feitas ao acaso, sem um plano previamente projetado, não se interconectariam numa lei necessária, coisa que a razão todavia procura e necessita. A razão tem que ir à natureza tendo numa das mãos os princípios unicamente segundo os quais fenômenos concordantes entre si podem valer como leis, e na outra o experimento que ela imaginou segundo os seus princípios, claro que para ser instruída pela natureza, não porém na qualidade de um aluno que deixa ditar tudo o que o professor quer, mas sim na de um juiz nomeado que obriga as testemunhas a responder às perguntas que lhes propõe”. (Cf. Kant, 1983, p. 11 B XIII). 9 Cf. Kant, 1983, p. 203 B 406. 10 Cf. Kant, 1983, “parág. 16. Da unidade sintética originária da apercepção”, p. 85 B 34, nota. 11 Cf. Kant, 1983, p. 103-104 B 176 s. 12 Cf. Kant, 1983, p. 84 B 130-131. 13 Cf. Kant, 1983, p. 84 B 131. 14 Cf. Oliveira, 1981, p. 14. 15 Cf. Kant, 1983, p. 87 B 138. 16 Cf. Kant, 1983, p. 87 B 137. 17 Cf. Kant, 1983, p. 85 B 132. 18 Cf. Grayeff, 1987, p. 157. 19 Cf. Kant, 1983, A VII-VIII. 20 Cf. Kant, 1983, p. 179 B 355. 21 Cf. Kant, 1983, p. 344 B 730. 22 Cf. Kant, 1983, p. 70-71 B 98 s. 23 Cf. Kant, 1983, p. 320 B 674. 24 Cf. Kant, 1983, p. 319 B 671. Grifos do autor. 25 Cf. Kant, 1983, p. 321 B 676. 26 Cf. Kant, 1959, p. 98-99, parágrafo 39, e especialmente a nota 119, p. 205, do tradutor. Cf. também Kant, 1983, p. 162 s. B 316 s. (Apêndice: Da anfibiologia dos conceitos de reflexão através da confusão do uso empírico do entendimento com o uso transcendental); Cf. Kant, 1992, p. 112 A 145-147 – AK 94-95. 27 Cf. Kant, 1983, p. 321 B 676. 28 Cf. Kant, 1983, p. 322 B 677. 29 Cf. Kant, 1983, p. 322 B 677. 30 Cf. Kant, 1983, p. 322 B 677. 31 Cf. Kant, 1983, p. 322 B 677-678. 32 Cf. Kant, 1983, p. 322 B 678. 33 Cf. Kant, 1983, p. 322 B 678. 34 Cf. Kant, 1983, p. 319 B 672. 35 Cf. Kant, 1983, p. 330-331 B 697-698. 36 Cf. Philonenko, 1975, p. 320. 37 Cf. Kant, 1983, p. 336 B 712. 38 Cf. Kant, 1983, p. 337 B 713. 39 Cf. Kant, 1983, p. 337 B 713. 40 Cf. Kant, 1983, p. 338 B 714. 41 Sobre o problema da multiplicidade e da unidade, com relação à sistematicidade, conferir sobretudo a Primeira Introdução à Crítica da Faculdade do Juízo, de 1790, onde Kant retoma esta questão interpelando os dois campos da filosofia: teórico e prático. 5

Referências bibliográficas KANT, I. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Pensadores) . Prolegômenos a toda metafísica futura que possa apresentar-se como ciência. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 1959. . Lógica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992. CASSIRER, E. Kant, vida y doctrina. México: Fondo de Cultura Económico, 1993. GRAYEF, F. Exposição e interpretação da filosofia teórica de Kant . Lisboa: Edições 70, 1987.


OLIVEIRA, M. A. de (Org.). Kant . Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981. (Cadernos UNB) PHILONENKO, A. L’Oeuvre de Kant, I: La philosophie pré-critique et la Critique de la raison pure. Paris: J. Vrin, 1975. . L’Oeuvre de Kant, I: la philosophie critique. Paris: J. Vrin, 1975. VERNEAUX, R. Le vocabulaire de Kant. Les pouvoirs de l ‘esprit. Paris: Aubier Montaigne, 1973. V.II. GRAYEFF, F. Exposição e interpretação da filosofia teórica de Kant . Lisboa: Edições 70, 1987.

Abstract: the article deals with the function of understanding as a study of the field of experience (science) and with the function of reason, as a study in the sphere of knowledge, which goes beyond all possible experience. For the Kantian Critique, it is a question of the incontestable use of understanding in the knowledge of the possible experience of nature, for conceptually determining (conformity to laws) the given multiplicity in perceptible intuition, by means of its pure forms, space and time; and of the hypothetical use of reason which raises the series units perceptible to the greatest possible unity (totality) regulating, with effect, the divide between the perceptible world and the sphere of the absolute.

Key words: reason, incontestable, hypothetical, experience , absolute, Kant.


A Experiencia e o Incondicionado na Critica da Razão Pura de Kant

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