Desenvolvimento Gráfico da Criança
Grafismo é todo e qual quer registo feito sobre uma superfície
"Antes eu desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma existência para aprender a desenhar como as crianças" Picasso “A arte não entra na criança; sai dela”
Arno Stern
“A criança mobiliza todo o seu ser quando se entrega espontaneamente a uma actividade criadora. É um verdadeiro meio de disciplina interior que envolve processos de formas superiores de vida mental e que traz à criança, no plano geral, equilíbrio e harmonia, preparando-a ainda para a aprendizagem formal da escola. Por que desenham as crianças? Desenham para apreender, compreender-se a si mesmas e as coisas que as rodeiam. Desenham a sua experiência de vida. Desenham os objectos que conhecem, as pessoas que conhecem, os personagens dos seus desejos e medos. São representações gráficas que denotam os recursos da sua educação e cultura.” Mahylda Bessa “Os primeiros estudos sobre a produção gráfica das crianças datam do final do século passado e estão fundados nas concepções psicológicas psicológicas e estéticas de então. É a psicologia genética que impõe o estudo científico do desenvolvimento desenvolvimento mental da criança (Rioux, 1951). As concepções de arte que permearam os primeiros estudos estavam baseadas numa produção estética idealista e naturalista de representação da realidade. Sendo a habilidade técnica, portanto, um factor prioritário. São os psicólogos que no final do século XIX descobrem a originalidade dos desenhos infantis, publicam as primeiras notas e observações sobre o assunto. As concepções relativas à infância modificaram-se progressivamente. A descoberta de leis próprias da psique infantil, i nfantil, a demonstração da originalidade do seu desenvolvimento, levaram a admitir a especificidade especificidade desse universo. A maneira de encarar o desenho infantil evolui paralelamente. Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é capaz de manter ritmos regulares e produzir os seus primeiros traços gráficos, fase conhecida como dos rabiscos ou garatuja (termo utilizado por Viktor Lowenfeld para nomear os rabiscos produzidos pela criança). Na evolução da garatuja para o desenho de formas mais estruturadas, a criança desenvolve a intenção de elaborar imagens criativas. Começando com símbolos muito simples, ela passa a articulá-los no espaço bidimensional do papel, na areia, na parede ou em qualquer outra superfície. Passa também a constatar a regularidade nos desenhos presentes no meio ambiente e nos trabalhos aos quais ela tem acesso, incorporando esse conhecimento nas suas próprias produções. No início, a criança trabalha sobre a hipótese de que o desenho serve para imprimir tudo o que ela sabe sobre o mundo. No decorrer da simbolização, a criança incorpora progressivamente progressivamente regularidades ou códigos de representação das imagens que vai memorizando, passando a considerar a hipótese de que o desenho
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serve para imprimir o que se vê. É assim que, por meio do desenho, a criança cria e recria individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade, que podem então ser apropriadas pelas leituras simbólicas de outras crianças e adultos”. “O desenho como possibilidade de brincar, o desenho como possibilidade de falar e de registar, marca o desenvolvimento da infância, porém em cada estádio, o desenho assume um carácter próprio. Estas fases definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças, apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. Esta maneira de desenhar própria de cada idade varia, inclusive, muito pouco de cultura para cultura”. Thereza Bordoni Os estádios de desenvolvimento da criança
“Não é possível programar as actividades da disciplina, para os Projectos Curriculares de Turma, sem as sequenciar progressivamente. É natural que o faça olhando para as características de desenvolvimento do aluno. A maior parte dos professores está consciente das diferenças de maturidade dos seus alunos. Normalmente estão relacionadas com o nível etário do grupo, no entanto certos alunos poderão trabalhar mais sofisticadamente que outros que ainda estarão a utilizar formas e técnicas mais simples. Apesar destas variações é possível estabelecer um padrão se estudarmos um número suficiente de trabalhos, ainda que o grau de desenvolvimento não esteja necessariamente ligado à idade ou capacidade intelectual, será difícil para o professor ignorar a evidência dos padrões paralelos de crescimento experimentados pelos alunos no seu desenvolvimento progressivo de estádio para estádio. Isto não é sugerir ao professor que utilize o seu conhecimento dos estádios de desenvolvimento para ensinar de um modo preconcebido segundo os seus conhecimentos das normas. O grau de desenvolvimento torna-se um mero enquadramento dentro do qual o professor é capaz de ver o trabalho dos seus alunos.” Maurice Barrett O importante é respeitar os ritmos de cada criança e permitir que ela possa desenhar livremente, sem intervenção directa, explorando diversos materiais, suportes e situações. O professor deve estar preparado para estimular, promover e aceitar a linguagem gráfica da criança como factor importante do seu desenvolvimento. Existem numerosos pedagogos, psicólogos e académicos que estudaram e desenvolveram este tema; vou aqui referir apenas os que considero mais significativos, e principalmente, os estádios de desenvolvimento do grupo etário do 2º ciclo (dos 9 aos 13 anos).
Como podemos perceber, depois da leitura dos textos em referência em anexo, links que apresento, e de importante consulta, podemos observar que, embora a abordagem e a nomenclatura usada variem, não existem divergências profundas entre os autores m encionados no que diz respeito à expressão gráfica da criança. Assim podemos considerar 4 fases/estádios essenciais e consensuais no desenvolvimento da expressão gráfica (desenho e pintura) da criança: 1º Rabisco ou garatuja. 2º Descoberta da relação existente entre o desenho e a realidade. 3º A criança passa a exprimir-se segundo o que ela vê. 4º Surgem as preocupações com a identidade e o mundo de forma aprofundada. O olhar passa a ser mais crítico e indagador.
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Para tentarmos entender melhor o universo infantil muitas vezes tentamos interpretar os seus desenhos, contudo devemo-nos lembrar que a interpretação de um desenho isolada do contexto em que foi elaborado não faz sentido. É aconselhável, ao professor, que ofereça às crianças o contacto com diferentes tipos de desenhos e obras de artes, que elas façam a leitura das suas produções e escutem a de outros e também que sugira à criança desenhar a partir de observações diversas (cenas, objectos, pessoas) para que possamos ajudá-la na recolha de informações e enriquecer o seu grafismo. Assim elas poderão reformular as suas ideias e construir novos conhecimentos . Enfim, a expressão infantil é um universo cheio de mundos a serem explorados
"A criança não é só o princípio mas também a aprendizagem da vida; é preciso, portanto, que o seu mecanismo psíquico seja adaptado à conservação da sua vida durante a infância e ao seu prolongamento na idade adulta". Luquet
"Como educadores, acreditamos no poder da criatividade das pessoas, na individualidade de cada ser humano, acreditamos na necessidade vital que a criança tem de se expressar; porque somos contra a acomodação e desejamos a transformação". Vianna - 1994
Apresenta-se a seguir recortes teóricos da obra desses autores na tentativa de produzir um referencial abrangente ainda que bastante sucinto sobre etapas e características de desenvolvimento do desenho infantil.
Paranormal - Pedro Santos / 6ºano
A evolução do desenho e pintura infantil – Resumo das principais teorias
O conhecimento do professor dos estádios de desenvolvimento psicológico e do desenho do aluno, permite-lhe ser capaz de atender a este na base de como ele está no processo de desenho em vez de se sentir compelido a orientar o aluno para um esquema universal. Não há uma única maneira de abordar o desenvolvimento artístico da criança que contenha a verdade essencial sobre todas as crianças nem que satisfaça o ponto de vista de todos os professores. A evidência que podemos estudar é a que é produzida diariamente na sala de aula e o professor deve aproveitar a oportunidade de estudar o trabalho das crianças de todas as idades e graus de desenvolvimento, que pode ser feito pedindo que desenhem (teste diagnóstico) um assunto comum: eu e a minha família ou a minha casa. Dá-nos uma ideia de como as crianças representam a figura humana e o seu ambiente próximo.
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- Quando a criança tem pouca compreensão espacial coloca a casa e outros objectos relacionados arbitrariamente uns com os outros. Mais tarde coloca a casa firmemente assente no chão (parte inferior da folha).
- Em breve a criança torna-se mais consciente do envolvimento da casa. Para mostrar o jardim em frente da casa, cria uma outra linha de base para a casa de modo a que o jardim fique em frente.
- À medida que a sua visão do envolvimento se torna mais complexa, ela descobre que tem de desenvolver modos de mostrar os lados e atrás da casa.
- Isto leva a criança a todas as espécies de considerações sobre como relacionar o espaço com a forma. Os lados das casas são inclinados de modo a que possam ser vistos de frente dando a impressão de múltiplos pontos de vista onde cada parte é desenhada como se fosse vista da melhor posição .
- A criança descobre então que, para representar telhados, varandas e escadas, necessita de desenvolver um controlo mais complexo da forma além da simplicidade do oblíquo. Isto conduz naturalmente ao desenvolvimento de regras de perspectiva visual observadas nalguns trabalhos de adolescentes.
Maurice Barrett
Henry Luquet
Distingue quatro estádios: 1. Realismo fortuito: começa por volta dos 2 anos e põe fim ao período chamado rabisco. A criança que começou por traçar signos sem desejo de representação descobre por acaso uma analogia com um objecto e passa a
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identificar o seu desenho. 2. Realismo fracassado: Geralmente entre 3 e 4 anos tendo descoberto a identidade forma-objecto, a criança procura reproduzir esta forma. 3. Realismo intelectual: estendendo-se dos 4 aos 10-12 anos, caracteriza-se pelo facto de que a criança desenha do objecto, não aquilo que vê, mas aquilo que sabe. Nesta fase ela mistura diversos pontos de vista (perspectivas). 4. Realismo visual: É geralmente por volta dos 12 anos, marcado pela descoberta da perspectiva e a submissão às suas leis, daí um empobrecimento progressivo do grafismo que tende a juntar-se às produções adultas. Maria Lúcia Batezat Duarte – Quatro autores e o realismo no desenho infantil
Jean Piaget Etapas do Desenvolvimento Cognitivo Estádio das operações concretas - Em média, a criança de por volta dos 7 anos de idade começa a passar do
estágio intuitivo para o estágio das operações concretas…
Em geral as operações concretas são aquelas que não são só intuitivas e subjectivas relacionadas com o ponto de vista que a criança tem da experiência como no estádio anterior, mas também acções que se relacionam com outras para formar sistemas reversíveis gerais, (uma acção reversível é aquela que pode ser delineada pela acção oposta). O mundo em que a criança vive torna-se compreendido em termos quantificáveis, espaciais e físicos. O aluno começa a compreender que o seu mundo é estruturado pela classificação, seriação e agrupamento. A acção física neste estádio começa a ser “interiorizada” como operações mentais. Juntamente, com isto, a criança torna-se menos egocêntrica e começa a trabalhar em grupo. Em resumo, durante o estádio das operações concretas (aproximadamente dos 7 aos 11 anos) o pensamento móvel é sistemático organiza e classifica a informação. O pensamento não está já centrado num determinado estado de um objecto, pode seguir mudanças sucessivas através de vários tipos de desvios e inversões. Em arte querem representar o seu ambiente em termos do que vêem. Apreciam as semelhanças e as diferenças entre os objectos comuns. Os seus desenhos também mostram a preocupação com a classificação, identificação, diferenciação tanto como a preocupação com a expressão de fantasia ou ideias. Eles sentir-se-ão tão felizes ao desenhar os pormenores das lojas, carros e pessoas que vêem na rua como ao exprimir os seus sentimentos sobre o Natal, por exemplo. Mais ou menos aos 11 anos, as crianças começam a passar do estágio das operações concretas para o estágio das operações abstractas. Estádio das operações abstractas-formais
A dificuldade para os professores em arte é as estratégias, para os alunos de cerca de 11 anos, baseadas na manipulação dos elementos da forma visual que poderiam ser ideais para alguns alunos e excessivas para outros ainda não suficientemente desenvolvidos. Por esta razão é vantajoso para o professor ser capaz de discriminar entre as crianças em qualquer dos dois estádios ou na transição entre eles. O estádio formal das operações é caracterizado pela capacidade de compreender as operações formais e abstractas do pensamento. A criança torna-se capaz de: raciocinar não só na base dos objectos, mas também na base de hipóteses e é capaz de executar “operações nas operações” de uma forma sistemática. A formação de hipóteses e a dedução das suas possíveis consequências, levam a um grau “hipotético-dedutivo” do pensamento que se exprime em formações linguísticas de proposições e construções lógicas. A estratégia ideal, de ensino, deveria ser planeada tendo em vista o conteúdo e a matéria e deixar para decidir na sala de aula a questão das operações concretas ou formais. Qualquer estratégia para um grupo de alunos neste difícil estádio de transição deve permitir desenvolver factores como personalidade, ambiente, envolvimento social e racial e formas de motivação. As operações formais nascem do desejo dos jovens adolescentes de cooperarem e discutirem soluções. A vida social estende-se para além da família e da sala de aula. A maior mobilidade, a comunicação de massas, os agrupamentos sociais mais vastos fornecem oportunidades de trocar ideias e avaliar as suas próprias com crianças da mesma idade e com adultos. A dinâmica de grupo requer uma extensão da capacidade de racionalizar, colaborar, trocar pontos de vista e justificar atitudes. Isto requer a flexibilidade de propor ideias alternativas, formas e estruturas onde quer que apareçam. A consciência crítica traz com ela a necessidade de olhar cuidadosamente para si próprio, para a sociedade, para a escola e para os pais.
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À medida que aumenta a capacidade para compreender diferenças e variações de opinião também aumenta a tolerância dos outros. O adolescente destaca-se do seu próprio egocentrismo e torna-se um observador mais objectivo. Há uma crescente consciência de si próprio com vantagens e desvantagens. O aluno pode tornar-se altamente crítico de si próprio e esperar auxílio positivo para atingir os padrões aceites da sociedade ou das crianças da mesma idade. http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00005.htm
Viktor Lowenfeld
2- 4 anos / Fase-estádio dos Rabiscos ou Garatujas (3 anos / A fase de símbolos) 4- 7 anos / Fase-estádio pré-esquemático Imagens que contam histórias 7-9 anos / O estádio esquemático Esta etapa é facilmente reconhecida pelo demonstrar da consciência do conceito de espaço… Esta fase do nascer do realismo também é conhecida como a idade do gangue. Grupos de amizades do mesmo sexo são mais comuns. Este é um período de auto conhecimento a ponto de ser extremamente autocrítico… 9-11 anos / estádio do gan gue / despertar do realismo
Estádio do realismo nascente
É a idade do grupo, trabalhando e brincando com outros, criando relações, estabelecendo e quebrando regras. Interroga-se sobre a atitude dos adultos e há um desenvolvimento crescente da independência social. Há uma maior consciencialização de si próprio, o que por sua vez aumenta o grau de relações formadas embora haja maior separação dos sexos. Os desenhos das crianças neste estádio são surpreendentemente parecidos com os desenhos dos adultos que não tiveram treino de arte formal ou expressão gráfica. Na idade do grupo o desenho esquemático atinge o seu estádio final. Com a crescente consciencialização das diferenças e o desejo de classificar, o desenho esquemático não suporta o grau de diferenciação de que o aluno necessita. As linhas geométricas já não são adequadas. A figura humana pode ser rígida e imóvel, mas há uma maior observação dos pormenores especificamente relacionados com o sujeito. Nos desenhos do envolvimento há um uso mais complexo de várias linhas de chão e uma consciência de planos. A criança começa a perceber o significado do horizonte e a linha do “céu” liga com a base, para exprimir o sentimento de espaço. Com a consciencialização crescente diminui a expressão das emoções pela dimensão exagerada e é substituída por uma concentração de pormenor na parte crucial do desenho. Há uma preocupação quase obsessiva com os pormenores para caracterizar o envolvimento. O desenho de transparência (raio-x) subjectivo já não é aceite pela criança. O uso da cor torna-se mais subjectivo, e apesar da escolha da cor estar mais relacionada com a cor do objecto, há uma crescente consciencialização das diferenças e semelhanças da cor. A cor também é utilizada subjectivamente para exprimir experiências emocionais. Esta crescente consciencialização é muitas vezes mais óbvia quando observam e qualificam objectos do envolvimento. As crianças estão agora conscientes das formas e das cores dos objectos naturais e dos feitos pelo homem. A partir desta observação os alunos desenvolvem um interesse pela decoração, desenho e padrão. Isto não é uma consideração formal de elementos de desenho mas trabalho derivado da impressão de objectos encontrados e da manipulação de materiais em formas simples (é a altura dos alunos explorarem a natureza dos materiais e aprenderem as suas qualidades/propriedades inerentes). É a altura de o aluno ser solicitado em duas direcções: a primeira, conformar-se com o padrão dos seus iguais; a segunda, exprimir-se à sua maneira e com as suas ideias. Ele (o aluno) responde às duas. O professor necessita de planear muito cuidadosamente de modo a que o programa não seja posto em prática à custa da criança (desmotivando-a) pois o preço será pago com juros durante a adolescência. Estádio do Realismo Nascente (9 aos 11 anos)
Características
Figura humana
Espaço
Cor
Desenho
. Idade do grupo . Libertação das linhas geométricas (esquemas)
. Atenção às roupas, dando ênfase às
. Libertação da expressão da linha de base .
. Libertação do estádio objectivo da cor
. Primeira abordagem consciente da decoração
Tópicos de Motivação
Materiais
. Consciencialização estimulada pela caracterização dos
.Recorte de papéis (colagens) . Lápis
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. Falta de cooperação com os adultos . Maior consciencialização de si próprio e das diferenças sexuais
diferenças entre rapazes e raparigas . Maior rigidez como resultado de uma atitude egocêntrica e a ênfase nos pormenores . Tendência para as linhas realistas
Ultrapassagem. O céu vem até ao chão . Descoberta do plano. . Enchimento do espaço entre as linhas de base . Dificuldades nas correlações espaciais como resultado da atitude egocêntrica e falta de cooperação
. Ênfase na abordagem emocional da cor. . Estádio subjectivo da cor . A cor é usada de acordo com a experiência subjectiva
. Conhecimento dos materiais e das suas funções
diferentes vestidos e fatos (profissões) . Cooperação e ultrapassagem através do trabalho de grupo .Cooperação subjectiva através do tipo de tópicos; ex: estamos a construir uma casa. . Cooperação objectiva através do trabalho de grupo
(materiais riscadores) .Pintura .Barro .Pasta de papel .Madeira .Metal .Outros…
11 - 13 anos A pseudo fase Realística / naturalista
Esta etapa marca o fim da arte como actividade espontânea e de como as crianças estão cada vez mais críticas dos seus desenhos e outros trabalhos. O foco agora está no produto final, enquanto lutam para criar "para os adultos verem" desenhos naturalistas. Luz e sombra, dobras e movimento são observadas com algum sucesso, traduzido para o papel. O espaço é descrito como tridimensional, diminuindo o tamanho dos objectos que estão mais distantes. A criança tem noção de como a cor muda sob diferentes condições externas. O estádio pseudo-naturalista
Vicktor Lowenfeld dá ênfase ao significado deste estádio imediatamente antes do que ele chama “a crise da adolescência”. Ele vê-o como a ponte entre a infância e a idade adulta. À medida que a consciência crítica do aluno aumenta produz-lhe uma falta de confiança na sua capacidade de desenhar ou produzir imagens satisfatórias. Lowenfeld acredita que o modo de tornar o período de transição tão leve quanto possível é tornar a criança consciente do sucesso numa altura em que ela não esteja suficientemente consciente dele. Deve-se elogiar quando a actividade criadora está completada de modo a não perder a espontaneidade. O professor deve, então, dar atenção ao esforço do aluno no seu trabalho e promover uma consciencialização desse esforço. Neste período, a criança ainda está a projectar a sua personalidade no seu trabalho, sem inibições. Considerações de beleza ou perfeição não fazem parte dele. A pressão para se conformar aos padrões exteriores, contudo, interrompe o fluxo directo do seu trabalho. O problema principal neste estádio é que a criança não só gosta que os outros gostem dela e de corresponder às suas expectativas, mas também quer o respeito e a atenção dos adultos. Isto traz um problema ao professor: se os alunos respondem positivamente ao que lhes é pedido pelo professor, estarão ou não a exprimir a própria realidade? É o preço que eles têm de pagar de forma a ganhar respeito e atenção. Os professores podem, por seu turno, encarar esta situação aprovadoramente como o caminho mais fácil de produzir trabalho agradável e ter controlo na turma, mas como já foi dito, o custo tem de ser pago mais tarde. Neste estádio o grau de habilidade é mais vasto dentro de um grupo etário do que nos estádios anteriores. Alguns alunos podem ainda estar a usar imagens esquemáticas enquanto outros já as ultrapassaram e fazem desenhos que demonstram naturalismo crescente.
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Algumas crianças podem oscilar entre os dois grupos, estando isso dependente do seu envolvimento ou aproximação do assunto. Às crianças que ainda não desenvolveram o controlo completo sobre as suas emoções, Lowenfeld sugere que essas emoções sejam utilizadas na produção de arte (por exemplo na pintura). Neste tipo de trabalho haverá exagero e ênfase na cor e na forma; isto deve ser considerado aceitável de modo que a criança se torne consciente do grau de possibilidades que se lhe deparam. O professor não deve esperar que as crianças correspondam à sua ideia de arte, deve promover o desenvolvimento das ideias e expressões infantis. A qualidade e o êxito do trabalho artístico são de menor importância que as decisões (do aluno) tomadas no processo criativo. À medida que a consciência perceptiva se desenvolve, as crianças incluem no seu trabalho a textura e as sensações tácteis. Esta sensibilidade à textura pode ser ensinada, deve derivar da experiência sensorial. Durante este estádio os alunos tornam-se mais conscientes do desenho total do seu trabalho; como usar a cor, como organizar o espaço do desenho, o que deve e não deve incluir. Ao desenhar a figura humana a criança começa a representar braços e pernas dobrados. Esta consciencialização deve ser encorajada. Deve ser acentuado que não é a altura de ensinar os elementos formais do desenho mas que as crianças se devem tornar conscientes da beleza no que estão a fazer. O professor deve, então, encorajar o uso dos materiais apropriados para exprimir as ideias. As crianças neste estádio estão prontas para apreciar as qualidades dos materiais e compreender a gama do seu uso tanto funcional como expressivamente. Neste estádio é necessário introduzir a ideia de Lowenfeld dos dois principais tipos criativos, (visual e háptico), usando-os para acentuar que todo o trabalho deve derivar da personalidade da criança. Estes tipos não são distintos mas reflectem extremos operacionais. São extremamente raros os tipos extremos (háptico ou visual), e muitas vezes ambas as tendências são expressas. O tipo Visual
Começa desde a percepção da criança do seu envolvimento que ele experimenta como observador/espectador. Os seus desenhos registam as dobras de um vestido, as rugas num rosto. Os seus desenhos do espaço mostram consciencialização do tamanho relativo e alguma noção de perspectiva. O aluno visual preocupar-se-á muito mais com a forma e a cor do que com as qualidades tácteis. Estádio Pseudo Naturalista (dos 11 aos 13 anos)
Características
Figura humana
.Inteligência desenvolvida ainda que inconscientemente .Aproximação naturalista (inconsciente) . Tendência para a preocupação visual e não visual .Gosto pela dramatização e acção
.Ligações. Observação visual das acções do corpo .Proporções .Ênfase na expressão, não dando importância ao visual
Espaço
Cor
Desenho
Tópicos de Motivação
Materiais
.Necessidade de expressão tridimensional .Diminuição das dimensões dos objectos distantes .Linha do horizonte (importância) da visualização) .Envolvimento quando significante (sem importância visual)
.Mudança de cor da natureza conforme a distância e o aspecto (importância da visualização) .Reacção emocional à cor (sem dar importância à visualização)
.Primeira aproximação consciente da estilização .Símbolos das profissões .Funções dos diferentes materiais, e respectivos desenhos
.Acções dramáticas no envolvimento .Acções de imaginação e pose (com movimento) .Proporções através da ênfase no conteúdo .Aspectos da cor
.Diversos tipos de tintas .Pintura de cartaz .Barro .Linóleo .Pasta de Papel .Têxteis
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Maurice Barrett
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Herbert Read Realismo descritivo 7-8 anos
. Os desenhos são ainda lógicos, mais do que visuais. A criança “põe o que conhece, não o que vê (Ideografismo); e ainda pensa não no indivíduo presente, mas sim no tipo genérico” Realismo Visual 9-10 anos
. A criança passa da fase do desenho de memória e imaginação para a fase do desenho da natureza: a) fase bidimensional – apenas usa o contorno b) fase tridimensional – tenta a consciência. Dá-se atenção à sobreposição e à perspectiva Repressão 11-14 anos
. Esta fase começa mais vulgarmente aos 13 anos. O progresso na tentativa para reproduzir objectos é agora mais laborioso e lento, e a criança fica facilmente desiludida e desencorajada. O interesse é transferido para a expressão através da linguagem. Herbert Read - Educação pela Arte / edições 70 – 2007
Arno Stern
Ele diz que as crianças têm ritmos diferentes de evolução, estes são influenciados com o meio ambiente em que vivemos. A evolução do desenho, e essencialmente da pintura, para Arno, divide-se em 2 partes: a pré-figurativa (dos 18 meses até 3 anos e meio) e a figurativa (dos 4 aos 12 anos). Arno Stern não classifica por idades porque uma criança pode ter 3 anos, mas estar numa fase mais avançada. Figurativa: 1ª fase / 4 e 5 anos– Faz a figura humana (casas, árvores), mas continua associar a cor à afectividade. Quando deixam de pintar em relação à afectividade, passam a desenhar com as cores em relação à realidade. Nesta fase, a criança começa a fazer os “girinos” (primeira figura humana). 2ª fase / 6 e 7 anos – Começa por fazer o céu e a terra no desenho, dão características humanas a seres inanimados (humanização). Os tamanhos das figuras estão associados à afectividade (quanto mais gosta, maior os faz). 3ª fase / 7 e 8 anos – Ocupa a folha toda de desenho porque é tímida ou porque os professores disseram que a criança desenhava mal. A partir desta idade, as crianças caracterizam mais os bonecos (totós, saltos altos, ganchos, laços). 4ª fase / 9 a 12 anos – Faz linha de horizonte, superfície vista de cima, preocupação de registar a realidade. Arno Stern - “Iniciação à educação criadora” Socicultur 1977
Vygotsky
Vygotsky denomina a adolescência, fase que na sua concepção se estende dos 10 anos de idade até a fase adulta, "Idade de transição". Caracteriza-a como "um período em que ocorre uma profunda mudança na imaginação, passando de subjectiva a objectiva." Etapa simbólica - porque, como o propio Vygotsky diz, "o pequeno artista é muito mais simbolista que naturalista "; Etapa simbólico-formalista - porque neste período já se começa a "sentir a forma e a linha"; Etapa formalista-realista (formalista-verosímil) - onde passa a existir uma "representação mais verdadeira-realista"
dos objetos desenhados;
Etapa formalista plástica (ou formalista propriamente dita) - porque neste período já se consegue identificar "a imagem plástica" . Maria Lúcia Batezat Duarte – Quatro autores e o realismo no desenho infantil
Henri Wallon e Liliane Lurçat
Observando os resultados indicam que: a) entre as crianças de 6 a 10 anos, as maiores preocupações e dificuldades referem-se à capacidade de desenhar o "boneco" de frente e de perfil… b) para as crianças de 10, 12 anos, o maior problema é "obter, graças a uma técnica melhor, uma representação mais vívida do personagem". Reflectem ainda que ao desenhar personagens as crianças podem produzir imagens de pouca precisão não porque não sejam
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capazes de desenhar com maior exactidão ou detalhes, mas apenas porque a "representação simplificada é mais fácil de repetir em série"… Maria Lúcia Batezat Duarte – Quatro autores e o realismo no desenho infantil
Bruno Duborgel (ver mais em anexo)
Bruno Duborgel recorre principalmente aos postulados filosóficos de Gaston Bachelar e à psicologia genética de Jean Piaget, para analisar desenhos de crianças e pré-adolescentes. Desenha as coisas que estão no seu pensamento: personagens, objectos. Nomeia-os no desenho como os nomeia pela palavra. O duplo esforço realista coincidente com o ingresso na escola e com a abertura socializante na experiência infantil remete a três factores: a) O intenso contacto com a poética formal vigente, isto é, com as normas do "bom desenho" que solicitam uma semelhança (figuração) com objectos da natureza… b) As necessidades internas de constituir-se como sujeito na sua sociedade buscando adequar-se às suas regras, e identificar-se com os seus pares a partir da assimilação de modos e modelos de comportamento… c) O esforço empreendido no acto de desenhar que levaria à obtenção e conquista de esquemas gráficos facilitadores … Entende-se que essas considerações tornam evidente a necessidade de repensar o ensino das Artes Plásticas e Visuais na infância, cuja prática mais pertinente se tem mostrado voltada para duas metodologias: o abandono do aluno ao seu próprio fazer, que não raro se mostra repetitivo e automatizado; ou a execução de propostas extremamente "criativas" cujo idealizador é o professor, e a actividade do aluno é de mero executor desinformado, perplexo e acrítico. Maria Lúcia Batezat Duarte – Quatro autores e o realismo no desenho infantil
Referências Bibliográficas e Redegrafia:
Jean Piaget - Estádios do Desenvolvimento Cognitivo / http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00005.htm Juliana Cassab Lopes – O desenvolvimento histórico do processo de estudo do desenho no desenvolvimento da criança (PDF) / http://julianacassab.com/Arquivosdownload/Monografia/Monografia_JulianaCassab.pdf Maria de Fátima Rodrigues Ribeiro – Gr afismo infantil – dos 0 aos 12 anos (PDF) www.nead.unama.br/site/bibdigital/.../grafismo_infantil.pdf Maria Lúcia Batezat Duarte – Quatro autores e o re alismo no desenho infantil / http://www.faced.ufba.br/anped/ra96/duarte.txt Henri Luquet - "O desenho infantil", 1927 / http://www.faced.ufba.br/anped/ra96/duarte.txt Maria Dolores Souza – A expressão plástica infantil com ênfase na história da educação http://www.histedbr.fae.unicamp.br/art08_18.pdf. Thereza Bordoni - Descoberta de um universo - A evolução do desenho infantil http://www.profala.com/arteducesp62.htm Mahylda Bessa - “A Arte e o desenvolvimento da criança” http://www.prof2000.pt/users/forma.tic/constinternet/cfpvnp/2003/grupo04/arte/arte.htm
Sara R. Oliveira - Arte-terapia (As crianças e os seus segredos) http://www.educare.pt/educare/Actualidade.Noticia.aspx?contentid=47B34A8D1F5235B4E04400144F16FAAE&opsel= 1&channelid=0
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Abigail Housen - Estádios do desenvolvimento estético / Funções da Arte e Educação Estética - “Educação Estética e artística” – abordagens transdisciplinares - FCG 2000 (coordenação João Pedro Fróis) Dalila D´Alte Rodrigues - A infância da Arte e a Arte da infância – edições Asa 2002 Maurice Barrett - Educação em Arte – Uma estratégia para a estruturação de um curso – Editorial Presença 1979 Henri Luquet - Arte Infantil. Lisboa: Companhia Editora do Minho, 1969 Viktor Lowenfeld - “Creative and Mental Growth”- O Desenho e o desenvolvimento das crianças
Links:
http://www.prof2000.pt/users/hjco/viseuweb/gravasco/Sentir.htm http://web.letras.up.pt/7clbheporto/trabalhos_finais/eixo1/IA1622.pdf http://www.ced.ufsc.br/~nee0a6/LEITE.pdf http://www.histedbr.fae.unicamp.br/art08_18.pdf http://dre.madeira-edu.pt/gcea/images/stories/Formacao/material_apoio_dialago_com_obra_arte.pdf http://julianacassab.com/Arquivosdownload/Monografia/Monografia_JulianaCassab.pdf http://www.arteducacao.pro.br/Artigos/arte_e_educacao.htm Fases do desenho infantil – vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=24ESEERMoHg&eurl=http://fases-do desenho.pbwiki.com/FrontPage&feature=player_embedded http://www.youtube.com/watch?v=O_niI4AraoU&NR=1 Desenvolvimento cognitivo-Piaget www.youtube.com/watch?v=EnRlAQDN2go
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