Slavoj Zizek
Problema no paraíso Do fim da história ao fim do capitalismo
Tradução:
Carlos Alberto Medeiros
ZAHAR
Para Jela Je la - um messias messi as que q ue chegou bem na hora
Títul o original: original: Trouble in Paradise (From (From the End o f History to the End o f Capitalism)
Tradução autorizada da primeira edição inglesa, publicada em 2014 por Alien Lane, um selo de Penguin Books, de Londres, Inglaterra Copyright © 2014, Slavoj Zizek Copyright desta edição © 2015: Jorge Zahar Editor Ltda. rua Marquês Marquê s de S. Vicente Vice nte 99 - 12 | 2245 2451-04 1-040 0 Rio de Janeiro, tel (21) 2529-47 2529-4750 50 I fax fa x (21) 2529-4787 2529-4787
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Z72P
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Zizek, Slavoj Problema no paraíso: paraíso: do fim da história ao fim do capitalismo/Slavoj capitalismo/Slavoj Zize k; tra tra dução Carlos A lberto Medeiros. - í.ed. - Rio de Janeir Janeiro: o: Za har, 2015. il. Tradução de: Trouble in paradise (from the end o f history t o the end of capitalis capitalism) m) Apên Ap êndic dicee i s b n 978-85-378-1468-0 1. Globalização. 2. Capitalismo. 3. Movimentos sociais. 4. Sociologia política, i. Título. cd d : 303.482 303.482
15-23568
cd u : 316.4 316.4 2
Sumário
Introdução: D ivididos vencerem os! 1. Diagno se: Hors Ho rs d ’oeuvre? ’oeuvre ? Cr ise, que crise? crise?
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25
25
Queb rar ovos sem fazer um a omelete A g o r a sa be m o s q u e m é J o h n Galt! Ga lt!
34
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Estar à beira da dívida como modo de vida 2. Cardiognose: D u jam bo n cr u ? Liberd ade nas nuv ens
63
63
Va V a m p iro ir o s v e rs u s zu m b is A in g e n u id ad e cín cí n ica ic a
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80
O rev erso obs curo da Le i
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Sup ereg o, ou a proibição proibida
93
3. Prognose: Unfaux-filet, peut-être? 106 M ortes no N ilo
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De m and as... e mais
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O fascín io do sofrim ento
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Raiv a e depressão na aldeia glob al Mamihlapinatapei
149
Lên in na Ucrân ia
152
143
4. Epignose: J Epignose: J ’ai hâte hâ te de vous vo us servi se rvir! r! 166 D e volta à Econ om ia do Presente A feri fe rid d a do e u r o c e n tr is m o Sol be m ol não , lá
186 186
198
Rum o a um novo Mestre
206
"O direito de nec essidade”
214
169
A p ê n d ic e : Not N ota a bene! bene ! 221 Batm an, Co ring a, Bane Traço Tra çoss de uto pia
224
231
Vio V io lên lê n c ia, ia , q u e viol vi olên ênci cia? a?
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Val V aloo res re s fam fa m ili ares ar es dos do s W e a th e rm en Fora do malttukbakgi 244 Notas
247 247
239
Introdução Divididos venceremos! venceremos!
Ladrão Ladrã o de alcova, alco va, obra-prima de Ernst L ubitsch de 193 1932, é a história de G as ton e Lily, Lily, um feliz casal de ladrões que vive rouband o os ricos ricos,, m as cuja cuja v id a se c o m p li c a q u a n d o G a s t o n se a p a ix o n a p o r M a r ie tt e , u m a d e su as abonadas vítimas. A letra da canção canção que se ou ve durante os créditos iniciai iniciaiss fornece um a definição definição do “problema”* a que o título se refere, refere, da m esma forma que as imagens que a acompanham: primeiro vemos as palavras “trouble “trouble in”, in” , em seguida, em baixo dessas dessas palavras, um a ampla cam a de casal casal,, e então, sobre a cama, em letras grandes, "paradise”. "paradise”. Assim, esse “paraíso” é o das relaçõ es sex uais plenas: plenas: “ T h at ’s paradise/ w hile arms entwine and lips are are kissing/ but i f there’ there’ss something missing/ that signifies/ trouble trouble in paradise paradise.” .” ** Falando de form form a brutalmen te direta, direta, “problema no paraíso” é o nom e dado por L ubitsch a il n ’y a pas de rapport sexuel. Então, onde está o problema no paraíso de Ladrão Ladr ão de alcova alco va?? Há uma am biguidade fund am ental em relação relação a esse esse aspecto-c aspecto-chave. have. A prim eira resposta resposta que se se im im põe é: embora G aston ame L ily tanto tanto quanto am a Ma riette, riette, a verdadeira relação relação sexu al “paradisíac “paradisíaca” a” seria com Mariette, m otivo pelo qual é essa relação que deverá permanecer impossível e irrealizada. Essa irrealização confere ao final do filme um toque de melancolia: todo o riso e a confu são do últim o m inuto, toda a festiva festiva exibição exibição da parceria parceria entre Gaston e Lily, Lily, só fazem preencher o va zio dessa dessa melancolia. melancolia. N ão está está Lubitsch apontando nessa direção com a repetida cena da cama de casal * O título original em inglês, tanto do filme como deste livro, é Trouble in Paradise [Pro Paradise [Pro b le m a n o p ar aíso aí so ]. (N.T. (N .T.)) ** Em tradução livre: "E o paraíso/ quando braços se enlaçam e lábios lábios se beijam/ mas se algu m a coisa estiver faltando/ faltando/ isso signifi significa/ ca/ u m p roblem a no paraíso.” paraíso.” (N.T. (N.T.))
Problem Problema a no paraíso paraíso
v a z ia n a ca sa d e M a r ie tt e , u m a c e n a q u e r e le m b r a a c a m a v a z ia d u r a n te os créditos créditos do filme? filme? Tam bém há, contudo, a possibili possibilidade dade de u m a leitura leitura exatam ente oposta: oposta: Será que o paraíso não é na verdade o escandaloso caso de amor de Gaston e Lily, dois ladrões chiques que cuidam um do outro, enquanto o problema é a sublime e escultural Mariette? Mariette? Será que Mariette, nu ma iron ia fascinante, fascinante, não é a cobra espreitando espreitando Ga ston em seu Jardim do Éden encantadoram ente pecaminoso? O paraíso, a boa vida, é a vida criminosa cheia de glamour e riscos, e a tentação maligna aparece sob a forma de madame Colet, cuja abastança sustenta a promessa de uma relaxada dolce vita sem vita sem a ousadia ou os subterfúgios do crime, apenas a monótona hipocrisia das classes respeitáveis.1 A b e l e z a d e ss a l e it u r a é q u e a i n o c ê n c ia p a r a d is ía c a e s tá s it u a d a n a glam ouro sa e dinâmica vida do crime crime , de mod o que o Jardim do Éden é equiparado ao submundo, enquanto o apelo da respeitabilidade asso ciada à alta sociedade é equiparado à tentação da serpente. Entretanto, essa essa inversão paradoxal é explicada pelo sincero e rude acesso acesso de raiva de Gaston, o primeiro e único no filme filme , representado representado sem elegância nem distanciamento irônico, depois que M ariette ariette se recusa a cham ar a polícia polícia quando ele lhe conta que o presidente do conselho de sua empresa tem roubado milhões dela, sistematicamente, durante anos. A reprovação de G aston deve-se ao fato de que, em bora esteja pronta a cham ar a polícia de imediato quando um ladrão ladrão com um como ele lhe rouba um a quantidade quantidade relativamen te pequ ena de dinh eiro ou bens, Mariette não hesita hesita em desviar os olhos quando um membro de sua própria e respeitável classe rouba milhões. Não estaria Gaston parafraseando nisso a famosa afirmação de Brecht Brecht:: "O que é roubar um banco comparado a fundar fundar um?” O que é um roubo direto direto com o os de Gaston e Lily comparado ao roubo de milhões sob o disfarce de obscuras operações financeiras? H á nisso, nisso, contudo, u m outro aspecto a ser notado: seria seria a vida cri m inosa de Gaston e L ily realm realm ente tão “cheia de de glam our e riscos”? riscos”? D e ba b a ix o d o g l a m o u r s u p e r fic fi c ia l d e se u s r o u b o s n ã o c o n s t it u ir ia m e les le s “u m
Introdu Introdução ção
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casal casal essencialm essencialm ente burgu ês, profissi profissionais onais diligentes diligentes com gostos caros yu y u p p ie s a n te s d o te m p o ? G a s t o n e M a r ie tte tt e , p o r o u t r o la d o , f a z e m o p a r ve v e r d a d e ir a m e n te ro m â n tic ti c o , o s a m a n tes te s a v e n tu r e ir o s e a u d az es . A o v o lt a r para Lily e para a criminalidade, Ga ston faz a coisa sensata sensata - retornar a sua ‘estação’, por assim dizer, optando pela vida rotineira que conhece. E ele o faz lamentando-se lamentando-se profund am ente, o que transparece em seu longo diálogo final com Mariette, cheio de angústia e intensidade exuberante de ambos os lados”.2 G.K. Chesterton observou como as histórias de detetive nos explicam de certa forma o fato de a civilização em si ser ser a mais sensacio nal das aventuras e a mais romântica das rebeliões ... Quando, num romance policial, um detetive se vê sozinho e de alguma forma se mostra absurda mente destemido em meio a facas e punhos no território dos bandidos, isso certamen te serve para nos fazer lemb rar que o agente da justiça social é que é a figura original e poética, enquanto ladrões e bandidos são apenas velhos e plácidos conservadores cósmicos, felizes na imemorial respeitabilidade dos macacos e dos lobos. O romance policial... baseia-se no fato de que a moral é a mais obscura e audaciosa das conspirações.3 Não é essa também a melhor definição de Gaston e Lily? Esses dois ladrões não estariam estari am v ivend o em seu paraís paraísoo antes antes da queda na paixão pai xão ética? O que é fundamental aqui é o paralelo entre crime (roubo) e pro miscuidade sexual: e se, em nosso mundo pós-moderno de transgressão autorizada, em que o compromisso marital é percebido como algo ridi culamente fora de época, os que se aferram a ele fossem os verdadeiros subversivos? E se, hoje em dia, o casamento convencional fosse "a mais obscu ra e aud aciosa das das transgressões”? Essa Essa é justam ente a prem issa issa im plícita plícita de outro filme de Lubitsch, Sócio Só cioss no amor: u amor: u m a m u l h er e r le le v a um um a vid v id a c a lm a e f e l iz c o m d o is h o m e n s; n u m a e x p e r iê n c ia p e r ig o sa , te n ta u m casam ento con vencional, m as a iniciativa iniciativa fracass fracassaa m iseravelm ente e ela re torna à segurança da vida com dois dois homens, de m odo que o resultado resultado final final pode ser parafraseado a partir das palavras de Chesterton citadas acima:
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Problem Problema a no paraí paraíso so
o casamento em si é a mais sensacional das aventuras e a mais romântica das rebeliões. Quando os amantes fazem seus votos matrimoniais, sozinhos e mostrando-se absurdamente destemidos em meio às múltiplas tentações dos prazeres promíscuos, isso certamente serve para nos fazer lembrar que o casamento é que é a figura original e poética, enquanto traidores e partici pantes de orgias são apenas velhos e plácidos conservadore s cósmicos, cósmico s, felizes na imemorial respeitabilidade dos macacos e dos lobos promíscuos. Os votos matrimoniais ... baseiam-se no fato de que o casamento é o mais obscuro e audacioso dos excessos sexuais. U m a a m b i g u id i d a d e h o m ó l o g a e s tá tá p r e se s e n t e n a e s c o lh lh a p o l í ti ti ca ca b á sica com que hoje nos defrontamos. O conformismo cínico nos diz que os ideais emancipatórios de maior igualdade, democracia e solidarie dade são são en fadonhos e até até perigosos, levando a um a sociedade sombria, exageradamente regulada, e que nosso único e verdadeiro paraíso é o "corrupto” universo capitalista existente. O engajamento emancipatório radical parte da premissa de que as dinâmicas capitalistas é que são são enfadonhas, oferecendo mais do m esm o sob o disfarce disfarce da m udança constante, e que a luta po r em ancipação é ainda a m ais perigosa de todas as aventuras. Há u m a m aravilhosa aravilhosa anedota franc f rancesa esa sobre sobre um inglês inglês esnobe em vis v is ita it a a P ar is q u e a ch a q u e e n te n d e fr an cê s. E le v a i a u m r e s ta u ra n te ca r o no Quartier Latin e, quando o garçom lhe pergunta “Hors d ’oeuvre? ’oeuvre?”” , sua resposta resposta é: é: “N ão, não estou desem pregado, gan ho o suficient suficientee para poder com er aqui aqui!! Algu m a sugestão de entrada? entrada?”” O ga rçom sugere presunto cru: cru: “Du jambon cru?” cru?” O esnobe responde: “Não, não acho que foi presunto que eu comi aqui da última vez. Mas tudo bem, pode servi-lo de novo. E o prato principal?” principal?” “Unfaux-filet, peut-êtreY’ O O esnobe explode: explode: "Traga-m e o ve v e rd a d e ir o , j á d isse is se q u e t e n h o d in h e ir o su fici fi ciee n te! te ! E d ep re ss a, p o r fa vo r!” r! ” O garçom lhe assegura: “J ’ai ai hâte de vous servir!”, servir!”, ao que o esnobe rebate: “Por que odeia me servir? Eu lhe daria uma boa gorjeta!” Finalmente, o esnobe ch ega à conclusão de qu e seu con hecim ento de francês francês é limita limitado; do; para salvar salvar sua sua reputação reputação e provar que é um hom em de cultura, decid decide, e,
Introd Introduçã uçãoo
II
ao ir emb ora no final da tarde, tarde, dar boa-noite boa-noite ao garço m em latim, latim, já já que o restaurante fica fica no Q uar tier Latin, Latin, e o brinda com um “Nota bene!”.
E s te l i v r o a v a n ç a
em cinco fases, imitando as gafes do infeliz esnobe
inglês. Começaremos pela diagnose diagnose das coordenadas básicas de nosso sis tema capitalista global; prosseguiremos então para a cardiognose, cardiognose, o "co nhecimento do coração” desse sistema, ou seja, a ideologia que nos faz aceitá-lo. Segue-se a progno pro gnose, se, a visão do futuro que nos aguarda se as coisas coisas continua rem com o estão, assi assim m co m o as presum íveis aberturas ou saídas. Vamos concluir com a epignose epignose (termo teológico que designa o conhecimento em que acreditamos, envolvendo-nos em nossos atos, sub je j e t iv a m e n t e a ss u m id o s ), d e lin li n e a n d o f o r m a s su b je tiv ti v a s e o r g a n iz a c io n a is apropriadas apropriadas à nova fase de nossa luta emancipatória. emancipatória. O apéndice vai exa m inar os impasses dess de ssaa luta luta em nossos dias dias usando co m o referência o último filme filme do Batman. Batman. O “paraíso” do título deste livro faz referência ao paraíso do Fim da Historia (tal como elaborado por Francis Fukuyama: o capitalismo libe ral-demócrata como a melhor ordem social possível enfim encontrada), e o “problema”, evidentemente, é a crise permanente que levou o próprio Fu kuyam a a abandonar sua ideia ideia de Fim da Historia. Historia. M inha premissa é que aquilo que Alain Badiou chama de “hipótese comunista” é o único arcabouço adequado ao diagnó stico da crise. crise. A inspiração veio da série série de palestras que dei em Seul em outubro de 2013 como o Eminent Scholar na Universidade Kyung Hee. Ao aceitar o convite, minha primeira reação foi: não é um a loucura total falar falar sobre sobre a Idei Ideiaa de Co m un ism o na C oreia do Sul? Sul? A d iv id id a C o r e ia n ão é o e x e m p lo m a is cl a ro im a g in á v e l, q u as e c lín lí n ic o , d e onde estamos hoje após o fim da G uerra Fri Fria? D e u m lado, lado, a Coreia do N orte dá corpo ao beco sem saída do projeto comunista do século XX; do outro, a Coreia do Sul vê-se em meio a um desenvolvimento capitalista explosivo, alcançando novos níveis níveis de prosperidade e m ode rnização tecnológica, com a Sam sun g solapando solapando a prim azia da própria Apple. N esse sentido, sentido, a Coreia do Su l não seria seria a prov a suprem a de com o é falso falso falar de um a crise global? global?
Proble Problema ma no no para paraíso íso
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O sofrimento sofrimento do pov o coreano no século século XX foi imenso. Não adm ira ira q u e - a ss s s im im m e c o n t a ra r a m - m e s m o h o j e s e ja ja t ab a b u n a C o r e i a fa f a l ar a r d as as atrocidades atrocidades com etidas etidas pelos japone ses durante a ocupação na Segund a Gu erra M undial. undial. Eles Eles tem em que falar sobre sobre isso isso possa perturba r a paz de espírito dos mais velhos: a destruição foi tão ampla que os coreanos fazem o possível para esquecer essa essa época e se guir em frente. frente. Essa atitude, atitude, portanto, portanto, envolve um a inversão inversão profundam ente nietzschiana nietzschiana da fórmula padrão "perdoamos, mas não esquecemos”. Com respeito às atrocidades esquecer, er, m as ja perpetradas pelos japoneses, os coreanos têm um dita ditado: do: esquec mais perdoar. perdoar. E estão certos certos:: há um a coisa coisa mu ito hipócrita na fórm ula “per doar, doar, m as não esquecer”, que é duplamente m anipulativa, anipulativa, já qu e en volve uma chantagem do superego: "Eu o perdoo, mas, não esquecendo seu erro, vo u gara ntir que vo cê sem pre se sint sintaa culpado por ele.” ele.” Logo , com o os coreanos supo rtam esse sofrimento? sofrimento? Gostaria de com eçar com o relato relato de Franco Berardi, teórico social italiano, de sua recente viagem a Seul: No final do século XX - após décadas de guerra, hu milhação, fom e e bo m bard ba rdeio eioss terr te rrív íveis eis
a pai p aisa sage gem m física fís ica e an trop tr op oló ol ó gica gi ca deste de ste país pa ís havi ha viaa sido
reduzida a uma espécie de abstração devastada. Naquele ponto, a vida hu mana e a cidade cidade se se entregaram docilmente à mão transformadora da forma mais elevada de niilismo niilismo contemporâneo. A Co reia re ia é o m arco ar co zero ze ro do plane p laneta, ta, u m m odelo od elo para pa ra o fut f utur ur o do m undo un do ... Depois da colonização e das guerras, da ditadura e da fome, a mente sulcoreana, liberta da carga do corpo natural, entrou tranquilamente na esfera digital com u m nível de resistênci resistênciaa cultural m ais baixo baixo do que praticamente praticamente qualquer outra população do mundo. Essa é, em minha opinião, a principal fonte do incrível desempenho eco nôm ico que esse esse país país tem tido no período da revolução eletrônica. eletrônica. N o espaço cu ltural esvaziado, a experiência coreana coreana é marcada por um grau extremo de individualização e ao mesmo tempo se orienta para o cabeamento final da mente coletiva. Essas mônadas solitárias caminham pelo espaço urbano em suave e con tínua interação interação com fotos, tuítes, tuítes, jog os surgindo de suas telinhas, telinhas, perfeita perfeita mente isoladas e conectadas à serena interface do fluxo ...
Introduç Introdução ão
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A Co reia re ia do Sul Su l tem te m a mais ma is alta taxa tax a de d e suicíd su icídios ios do m undo un do ... O suicíd sui cídio io é causa causa de mo rte mais co mu m de pessoas pessoas abaixo de quarenta anos neste neste país país ... Curiosam ente, a taxa taxa de suicídios suicídios na Coreia do Sul dobrou na últim a década ... No espaço de duas gerações, sua condição certamente melhorou do ponto de vista de renda, nutrição, liberd ade e possibilidade possibilidade de viajar para o exterior. Mas o preço dessa melhoria tem sido a desertificação da vida cotidiana, a hiperaceleração dos ritmos, a individualização extrema das biografias e a precariedade do trabalho, trabalho, que tam bém significa significa uma com petição agressiva agressiva ... O capital capitalismo ismo high-tech naturalmente implica uma produtividade produtividade sem pre crescente e uma intensificação incessante dos ritmos de trabalho, mas também é a condição que tornou possível uma melhoria impressionante dos padrões de vida, nutrição e consum o ... Mas a alienação alienação atual é um tipo diferente de inferno. A intensificação do ritmo de trabalho, a desertificação da paisagem paisagem e a virtualização da vida vida emo cional estão estão convergindo para para produzir um nível de solidão e desespero que é difícil de recusar e combater conscientemente ... Isolamento, competição, senso de insignificância, com pulsão e fracasso: fracasso: a cada ano, 28 pessoas e m cada 10 100 m il têm sucesso e m sua tentativa de escapar, e um número muito maior o tenta sem êxito. Como o suicídio pode ser considerado a marca decisiva da mutação an tropoló gica ligada à transformação e à precarização digitais, digitais, não surpreende que a Coreia do Sul esteja em primeiro lugar no mundo no que se refere à taxa de suicídios.4 O retrato retrato que B erardi faz da Coreia do Sul parece seg uir o incom pará v e l m o d e lo dess de ssas as re p re se n ta ç õ e s n as ú lt im a s d éc ad as , o fa m o s o re tr a to de Baudrillard Baudrillard de Los A ngeles (em (em Améric Am érica) a) co co m o um inferno hiper-r hiper-real eal.. É fá fá cil demais rejeitar rejeitar esse esse tipo tipo de retrato retrato com o u m exercício pretensioso pseudointelectual dointelectual de pós-modernistas pós-modernistas europeus que usam um a terra ou cidade cidade estrangeira com o tela em que projetam suas suas mórbidas distopi distopias. as. A despeito despeito de todos os exageros, há um grão de verdade neles neles;; o u m ais precisam precisam ente, parafraseando a conhecida frase de Adorno sobre a psicanálise, no retrato que Ba udrillard udrillard faz de Los Ang eles nada é verdade, verdade, exceto os exageros. E o m esm o va le para as impressões de Berardi sobre Seul: Seul: o que elas elas forneforne-
Proble Problema ma no no para paraíso íso
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cem é a im im agem de um lugar privado privado de sua histór história ia,, um lugar sem mundo. Badiou refleti refletiu u qu e vivem os nu m espaço espaço social progressivamente vivenciado com o sem m undo . Até o antissemitism antissemitism o nazista, nazista, com tod os os seus seus horrores, abriu as portas de um mundo: ele descrevia sua situação crítica concebendo um inim igo, a “conspiração “conspiração juda ica”: identific identificou ou u m objetivo objetivo e os meios de atingi atingi-l -lo. o. O nazism o ap resentou resentou a reali realidade dade de um a form a que permitia a seus súditos apreenderem um “mapa cognitivo” global, o qual incluía u m espaço espaço para seu en volvim ento signific significati ativo. vo. T alvez seja seja aí que se deva situar um dos principais perigos do capitalismo: embora seja global e abranja abranja o mun do inteiro, inteiro, ele mantém um a constelação ideológica ideológica sem m undo, stricto sensu, privando sensu, privando a grande m aioria aioria das pessoas pessoas de um m apa cog nitivo significativo, significativo, qualquer qu e seja seja.. O capitalismo capitalismo é a prim eira ordem socioeconómica a destotalizar o significado: significado: no nível deste, ele não é global. Afinal, não há propriamente uma "visão de mundo capitalista”, um a “civilização capitalist capitalista”: a”: a lição fun fun dam ental da glob alização é pre cisamente que o capitalismo pode se acomodar em todas as civilizações, da cristã à hindu ou budista, do Ocidente ao Oriente. A dimensão global do capitalismo capitalismo só pode ser formu lada no nível da verdade verdade sem signif signific icado, ado, com o o R eal do m ecanismo de m ercado ercado global. global. Um a ve z que na Eu ropa a mod ernização se difundiu durante séculos séculos,, tivemos tem po de nos acom odar a ela, ela, de sua vizar seu seu impacto esmagador, por meio do Kultu do Kulturarbe rarbeit, it, med iante a formação de novos m itos itos e narrativa narrativass socia sociais is,, enquanto outras outras sociedade sociedadess - por exemplo, a m uçulm ana - foram foram expostas expostas a esse esse im im pacto diretamente, sem um a tela tela protetora protetora ou u m m eca nismo de retardo temporal, de modo que seu universo simbólico foi per turbado com brutalidade brutalidade m uito m aior: aior: elas elas perderam sua base (simbó (simbóli lica ca)) sem terem tempo de estabelecer um novo equilíbrio (simbólico). Assim, não ad mira que a única forma qu e algum as dessas dessas sociedades sociedades encontraram para evitar a desintegração total tenha sido erigir, em pânico, o escudo do “fu nd am entalismo ”, a reafirma reafirma ção psicótico-del psicótico-delira irante-i nte-incestuosa ncestuosa da religião como uma visão direta do Real divino, com todas as terríveis consequências que essa reafirmação implica, até o retorno violento dos obscenos sacrifícios sacrifícios exigidos exigidos pela d ivindad ivindad e do sup erego. A ascensão ascensão do
Introduç Introdução ão
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superego é outra característic característicaa que a permissividade permissividade pós-m oderna e o n ovo fundam entalismo entalismo com partilham. partilham. O que os distingue distingue é o local de de onde é feita a exigência de satisfação: nós mesmos, na permissividade; Deus, no fundamentalismo.5 O m aior símbolo dessa dessa devastada devastada Co reia pós-históri pós-histórica ca talvez seja seja o grande acontecimento da música pop do verão de 2012: a música “Gangnam Style”, cantada cantada por Psy. Psy. C om o curiosidade, curiosidade, vale a pena observar que o vídeo de “Gangnam Style" superou o de "Beauty and a Beat”, de Justin Bieber, tornando-se o mais visto do YouTube em todos os tempos. Em 21 de dezembro de 2012, ele alcançou o número mágico de 1 bilhão de visualizaçõe visualizaçõe s - e, um a vez que 21 21 de dezem bro foi o dia que aqueles aqueles que levavam a sério as previsões do calendário maia esperavam ser o do fim do mundo, pode-se dizer que os antigos maias estavam certos: o fato de um vídeo como "Gangnam Style” chegar a 1 bilhão de visua lizações é efetivamente o sinal do colapso de uma civilização. A música não é apenas apenas altamente popular, popular, mas tam bém m obiliza as as pessoas num transe coletivo, com dezenas de milhares gritando e dançando de uma m aneira aneir a que im im ita ita alguém andando a caval c avalo, o, todos no m esmo ritmo ri tmo e com uma intensidade nunca vista desde os primeiros dias dos Beatles, e v e n e r a n d o P s y c o m o u m n o v o M e ss ias. ia s. A m ú s ic a é psytra psy trance nce em em seu pior, totalm ente insípida insípida e m ecanicam ente simples, na maior parte gerada por computador (le ( lembremos mbremos que Psy - o nom e do cantor cantor - é um a abrevia abreviação ção d e "psytrance”); o que a torna interes interessante sante é a form a com o co m bina transe transe coletivo coletivo com autoironia autoironia.. A letra da canção canção (e a m ontagem no vídeo) ob v ia m e n t e ir o n iz a v a a in s ig n ific if ic â n c ia e a v a c u id a d e d o es tilo ti lo G a n g n a m , até at é mesm o, dizem alguns, de um a forma sutilm sutilm ente subversi subversiva va - mas somos, não obstante, envolvidos no transe, capturados pelo estúpido ritmo de marcha, participando dela em pura mimese; fl a s h mobs mobs se materializam por todo o planeta imitando partes da canção etc. O estilo Gangnam não é um a ideolo gia apesar da irônica distância, distância, mas po r causa dela. dela. A iron ia desempenha o mesmo papel do estilo documental em Ondas do destino, de Lars von Trier, em que a forma austera de um pseudodocumentário torna palpável o conteúdo excessivo excessivo - de m odo estritamente estritamente hom ólogo,
Problem Problema a no paraíso paraíso
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a ironia autod epreciativa de “Gan gna m Style” torna palpável a joui jo uiss ssan ance ce estúpida da música rave. rave. Muitos espectadores acham a canção repulsiva mente atraente, ou seja, “amam odiá-la”, ou melhor, gostam de achá-la repulsiv repulsiva, a, de m odo que a tocam repetidamente repetidamente para prolongar sua repulsa repulsa - essa essa natureza co m pulsiva pulsiva da jo da jou u issa is sanc nc e obscena em tod a a sua estupidez é aquilo de que a verdadeira arte deveria nos libertar. Não deveríamos dar aqui um passo adiante e traçar um paralelo entre a apresentação de "Ga ngna m Style” Style” nu m estádio estádio de Seul e as as apresentaç apresentações ões montadas não m uito longe, além da fronteira, fronteira, em P yon gyan g, para celebrar a glória dos dos amados líderes norte-coreanos? Não estamos, em ambos os casos, num ritual neossacro d e jouissance jouissance obscena? obscena? Pode parecer que na Coreia, assim assim co m o em outros lugares, lugares, numerosas formas de sabedoria tradicional tradicional sobrevivem para servir de rede de proteção contra o choq ue da mo dernização . Mas é fácil fácil discernir com o esses esses rema nescentes nescentes da ideologia tradicional tradicional já foram transfuncionalizados, transfuncionalizados, transfor mad os em ferramentas ideológicas ideológicas destinadas destinadas a facili facilitar tar a m ode rnização acelerada acelerada - da mesm a forma que a cham ada espiritualidade espiritualidade oriental (bu (bu dismo), dismo), com sua abordag em m ais “suave”, equilibrada, holística, holística, ecológica (todas (todas as histórias sobre com o, d igam os, ao cavar a terra para estabelecer os alicerces alicerces de um a casa, casa, os budistas budistas tibetanos têm o cuidad o de não m atar nen hu m verme). Não é apenas apenas que o bud ismo o cidental, cidental, esse esse fenôm eno da cultura pop que prega o distanciamento interior e a indiferença diante do ritmo frenético da com petição de mercado, seja seja provav elmen te a maneira mais eficiente de participarmos plenamente da dinâmica capitalista, em bo b o r a m a n t e n d o u m a a p ar ên cia ci a d e sa n id a d e m e n t a l - e m su m a , a id i d e o lo g ia paradigmática do capitalismo tardio; deveríamos acrescentar que não é mais possível opor esse budismo ocidental à sua sua versão o riental riental “autên tica”, tica”, e nesse nesse po nto o caso do Japão Japão oferece u m a evidên cia conclusiva. Não apenas existe existe hoje, hoje, entre os gerentes japoneses, o fenó m eno genera lizado do “zen corporativo”, mas nos últimos 150 anos as rápidas industrializa ção e militarização do país, com sua ética de disciplina e sacrifício, foram sustentadas sustentadas pela pela grand e m aioria dos pensadores zen.
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O que encontramos aqui é a lógica dialética da transfuncionalização histórica: numa constelação histórica modificada, um remanescente do passado pré-moderno pode começar a funcionar como símbolo daquilo que é traum traum áticam áticam ente insuportável na modernidade extrema. O mesm o v a le p a r a o p a p e l d e v a m p ir o s e m n o s so im a g i n á r io id e o ló g ic o . S ta c e y A b b o t t 6 d e m o n s tr o u d e q u e m o d o o c in e m a r e in v e n to u t o t a lm e n te o ar qu é tipo do vampiro: em vez de representar o primitivo e o folclórico, o vam piro veio a encarnar a própria experiencia da modernidade. Não usando m ais a capa e o caixão, o vam piro de hoje m ora em g randes cidades cidades,, ouve música punk, abraça a tecnologia e se adapta a qualquer situação. Evidentemente, isso não implica de forma alguma que o budismo possa ser reduzido à ideologia capitalista. Para esclarecer esse ponto, to m em os um exemplo surpreendente. surpreendente. Em 1991, Richard Tarusk in publicou publicou uma resenha de livro na qual rejeitava ferozmente toda a música de Sergu ei Prokofiev como de m á qualidade qualidade,, com exceção da produ zida em sua ju v e n t u d e . A m ú si c a q u e P r o k o f ie v p r o d u z iu n o O c id e n te é “c o n ta m in a d a ou podre, justificadamente descartada e inaproveitável” em sua moder nidade superficial superficial;; deveria com petir com a de Stravinsky, Stravinsky, m as não conse guiu. P ercebendo isso, isso, Proko fiev refugiou-se na Rússia Rússia e em Stálin, onde suas obras foram foram arruinadas pelo "carreirism "carreirism o” e “talvez um a indiferença indiferença culpável ... camuflados por uma fachada apolítica”. Na União Soviética, Prokofiev foi primeiro um cúmplice de Stálin e depois sua vítima, mas, sob a superfície, superfície, havia sempre o "perfeito "perfeito va zio ” de um m úsico “absoluto” “que só escrevia m úsica, ou m elhor, que escre via apenas música” '.7 Injust Injustas as como possam ser, ser, ess essas as afirmações afirmações apontam para um tipo de atitude quase quase psicótica psicótica da da parte de Prokofiev: em contraste com outros com positores positores soviéticos arrastados no turbilhão das acusações stalinistas (Shostakovich, Khachaturian e outros), em Prokofiev não há dúvidas íntimas, histeria, ansiedade - ele supo rtou a cam pan ha an tiform alista de 19 1948 com um a serenidade quase psicótica, como se na verdade não lhe dissesse respeito. (A própria loucura de seu retorno à URSS em 1936, no aug e dos exp urgos stalinis stalinistas, tas, é um sinal eloque eloque nte de seu estado mental.) mental.) O destino de suas obras durante o stalinism stalinism o não deixa de ser irônico: irônico: a m aioria de seus
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trabalhos seg uindo a linha linha do partido foi criticada criticada e rejeit rejeitada ada com o fraca e insincera (o que de fato era), enquanto suas obras de câmara "dissidentes” de caráter íntim o (as sonatas para piano n úm eros 7 e 8, 8, a prim eira sonata para violino e a sonata sonata para violoncelo) violoncelo) lhe lhe rend eram o Prêm io Stálin. Stálin. De especial interesse foi a justificativa ideológica (obviamente sincera) que ele deu para sua obe diênc ia total às exigên cias stalinistas: stalinistas: o stalinism o foi adotado na sequência de sua sua adesão à Ciência C ristã. ristã. N o un iverso gnóstico da Ciên cia Cristã, a realidade realidade m aterial é apenas um a aparência que se deve superar para se se ch egar à beatitude espiritual mediante o trabalho duro e a renúncia. renúncia. P roko fiev transpôs transpôs essa essa m esm a atitude para o stalinismo, stalinismo, v e n d o as e x ig ê n c ia s - c h a v e da e s té tic ti c a s ta li n is ta - s im p lic li c id a d e , h a r m o n ia , felicidade felicidade - através das das lentes lentes gnósticas. Usando o term o prop osto por Jean-Claude Jean-Claude Milner, Milner, podem os dizer que, que, em bora o universo de Prokofiev não fosse fosse hom ogên eo ao stali stalinismo, nismo, era definitivamen definitivamen te homogénéisable (“hom oge neizáv el”) - Prokofiev não se acomodou simples simples e oportunist oportunistiicam ente à realidade realidade stalinis stalinista. ta. E essa m esm a questão deve ser posta hoje: hoje: em bora seja seja estúpido estúpido afirma r que a espiritual espiritualidade idade budista é hom ogên ea ao capitalis capitalismo mo g lobal, ela é definitivamen te hom oge neizá vel a ele. ele.
D e v o l t a à C o r e ia ,
essa análise parece ser confirmada por Propaganda, Propag anda,
u m doc um en tário de 2012 2012 (facilmente acessível on-l on-line) ine) sobre o capitalismo, o imperialismo e a manipulação de massa da cultura ocidental para fins de comodificação e como eles permeiam todos os aspectos das vidas das massas jubilosam ente ignorantes, à beira da zum bificação. bificação. É um mockumentary mentary apresentado como norte-coreano, embora tenha sido realizado p o r u m g r u p o d a N o v a Z e l â n d i a - m a s , co c o m o d i z e m n a I tá t á li li a , Se non no n è vero, è ben trovato. O uso do me do e da religião religião para m anipu lar as as massas massas,, assim como o papel da mídia, fornecendo distrações pitorescas para nos impedir de pensar sobre os problemas maiores, tudo é abordado. Uma das m elhores partes do filme filme é quando arrasa arrasa a cultura de veneração das celebri celebridades dades:: falando e m M adonn a e Brad e An gelin a “atrás “atrás de de crianças nos nos países do terceiro terceiro m und o”; a obsessão obsessão ocidental pelas pelas vidas glamo urosas de
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celebridades e por sua arrogância, ao me sm o tem po qu e ignora a sorte sorte dos sofredores e dos sem-te sem-teto; to; celebridades celebridades transform transform adas em instrum entos de comodificação a tal ponto que elas nem o percebem, o que muitas vezes as leva à insanidade insanidade - tudo isso isso é tão eviden te que assust assusta. a. É o m und o à nossa volta. O filme inteiro, inteiro, especialme nte a parte referente a M ichael Jackson - um olhar sobre sobre “o que os Estados Estados Unidos fizeram fizeram a ess essee hom em ” -, soa tão verdadeiro que é um pouco difícil de digerir. Se em Propaga Pro paganda nda alguém apagas apagasse se um a breve passagem passagem aqui e ali em que aparecem aparec em m en ções à sabedoria de seu grande e amado líder etc., teríamos uma crítica padrão - n ão ao estilo estilo marxista tradicional, tradicional, poré m m ais especificamen especificamen te na linha linha marxista ocidental ocidental da Escola Escola de Frankfurt - do consum ismo, da com odificação e da Ku da Kultu lturin rindu dustr strie. ie. M M as o que dev eria atrair nossa atenção é um a ad vertência que surge no início do filme: filme: a vo z do narrad or diz aos espectadores que, em bora a sujeira sujeira e a perversidade que vão ve r possam embaraçá-los embaraçá-los e chocá-los, chocá-los, o grande e amad o Líder decidiu confiar em que eles eles sejam sejam suficiente suficientemen men te maduros para ver a horrível verdade do mun do exterior - palavras palavras utilizadas utilizadas por um a autoridade autoridade maternal benevolente e protetora quando decide inform inform ar seus fil filhos hos de um fato desagradável. desagradável. Para entender a condição ideológica da Coreia do Norte, não se pode deixar de men cionar a mítica Xangri-Lá Xangri- Lá do filme fi lme Hor H oriz izoo n te perd pe rdid ido, o, de James Hilton, um vale isolado isolado do Tibete em que as pessoas levava m vidas felizes e modestas, totalm ente isoladas da corrupta civilização g lobal e sob o dom ínio benevolente de um a elite elite instruída. instruída. A Coreia do N orte é o mais próxim o que ch egam os de Xangri-Lá nos dias dias de hoje - em que sent sentid ido? o? A ideia ideia,, proposta por Pierre Legen dre e outros lacanianos, lacanianos, é que o problema de hoje é o de clínio do N om e-do-Pai, da sim sim bólica autoridade pater paterna: na: em sua ausênci ausência, a, explode o narcisism narcisism o patológico, evocando o espectro do Ve rdadeiro P ai primordial. Em bora essa essa ideia ideia de va ser rejeit rejeitada, ada, ela é plenamente justificada ao apontar que o declínio do Mestre não garante de modo algum a emancipação, mas pode muito bem engendrar formas muito mais opressivas de dominação. Seria a Coreia do Norte o último ba b a s t iã o d o s t a li n is m o , m is t u r a n d o o c o n t r o le t o t a li t á r io c o m o a u t o r it a rismo confuciano? Eis a letra da canção po lítica lítica mais po pula r naquele país país::
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Proble Problema ma no no paraíso paraíso
Ah A h , Parti Pa rtido do dos Trab Tr abalh alhad ador ores es Core Co rean anos os,, em cujo cu jo peito pei to Minha vida com eça e termina Seja eu enterrado no solo ou aspergido ao vento Continuo seu filho e uma vez mais retorno ao seu peito! Confiando meu corpo a seu olhar afetuoso, Sua mão am orosa estendida, estendida, Eu choro para sempre na vo z de uma criança, criança, Mãe! Não posso viver sem minha Mãe! Foi isso isso que sinalizaram os excessi excessivos vos lamen lamen tos após a m orte de K im Il-s Il-sung ung:: “N ão posso vive r sem m inha M ãe!” Ou tra prova disso disso são os ver be b e t e s “m ã e ” e “p a i ” d o Dic D icio ion n ár io da Líng Lí ngua ua Corean Cor eana, a, publicado naquele país em 1964: mãe: 1) A mulher que deu à luz alguém: Pai e mãe; amor de mãe. A benevo lência da mãe é maior que uma montanha, mais profunda que 0 oceano. Também usada no sentido de “uma mulher que tem um filho”: O que todas as mães ansiosamente desejam é que seus filhos cresçam saudáveis e se tornem grandes ope rários vermelhos. vermelhos. 2) Termo respeitoso para designar uma pessoa com idade semelhante à mãe de alguém: O Camarada Líder do Pelotão chamava a mãe de Dõngmani de “mãe” e sempre a ajudava em suas tarefas. 3) tarefas. 3) Metáfora para ser amável, cuidar de tudo e preocupar-se com os outros: Os funcionários do Partido devem tornar-se tornar-se mães que incessantemente amam e ensinam as massas de correligionários, assim como levantar a bandeira no front das atividades. Em outras palavras, uma pessoa encarregada dos alojamentos deve tornar-se mãe dos que ali se abrigam. Isso significa cuidar de tudo diligentemente: se alguém está resfriado ou doente, como estão comendo e assim por diante. 4) Metáfora para a fonte de que alguém se origina: O Partido è a grande mãe de tudo que é novo. A necessidade é a mãe da invenção. pai: o marido da mãe de nascença de alguém.8 Ta lvez seja seja por isso isso que, até o terceiro Kim , a mãe do líder nunca tenha sido mencionada em público: o Líder era hermafrodita, com uma predo-
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minância de traços femininos. Seria isso uma contradição com a política norte-coreana da “força militar em primeiro lugar”, com a dureza de sua disciplina e treinamento militares? Não, trata-se de dois lados da mesma moeda. A figura da mãe de que estamos tratando aqui é a cham ada mãe onipotente, devora dora e “não castrada”: a respeito da verda deira mãe, Jacques-Alain Jacques-Alain M iller iller o bservo u qu e “temos aí não apenas a m ãe insatis insatisfei feita, ta, mas tam bém a todo-poderosa. E o aspecto apavorante dessa dessa figura f igura da m ãe lacaniana é que ela é ao mesm o tem po todo -podero sa e insatisfei insatisfeita”. ta”.9 9 A í r e s id e o p a r a d o x o : q u a n t o m a is “ o n ip o t e n t e ” p a r e ç a u m a m ã e , m a is insatisfeita (ou seja, "carente”) será ela: “A mãe lacaniana corresponde à devoret: ela procura alguém para devorar, e assim fórmula quaerens quem devoret: Laca n a apresenta com o o croc odilo, o sujeito sujeito co m a bo ca aberta.”10 aberta.”10 Essa Essa m ãe devoradora não responde (à demanda do filho por um sinal sinal de amor) amor) e é com o tal que parece onipotente: onipotente: "C om o a mãe não responde ... ... é trans formada nu m agente real re al que detém detém o poder inclemen inclemen te ... ... se o O utro não responde, é transforma do n um pode r devorador.”11 devorador.”11 E por isso isso que os traços feminizados claramente discerníveis nos retratos oficiais dos dois Kim s não são acidentai acidentais. s. C itando B.R. Myers: Myers: Kim [Il-sung] foi mais uma mãe para seu povo do que um rígido patriarca confuciano: ele ainda é mostrado como suave e solícito, acolhendo adultos chorosos em seus amplos seios, seios, abaixando-se para atar os cadarços das botas de um jovem soldado ou deixando crianças excitadas pularem sobre ele. A tradição tradição prossegue com Kim jong -il, que foi chamado de “mais mãe do que que todas as mães do mundo”. Sua política de força militar em primeiro lugar pode vir com o título de General, mas os relatórios sobre suas infindáveis inspeções em bases do exército concentram-se fundamentalmente em sua escrupulosa preocupação com a saúde e o conforto das tropas. O ridículo internacional de sua aparência é, portanto, ao mesmo tempo injusto e tedioso. Qualqu er um que já tenha visto um a multidão de mães coreanas esperando esperando do lado de fora de uma sala de provas não terá dificuldade em reconhecer a parca insípida e os ombros curvados de Kim, nem a face sofredora sob o
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permanente em forma de almofada: essa é uma mãe que não tem tempo para pensar em si mesm a.12 a.12 Será então que a Coreia do Norte representa algo semelhante à Kali indiana - a deusa deusa benevolente/ass benevolente/assassi assina na - no poder? poder? D everíam os distin distin gu ir aqui a existência existência de níveis níveis:: na C oreia do No rte, o n ível superficial superficial do do discurso masculino-militar do Líder como “General”, com a ideia Ju ideia Juch chee de autodeterminação, da hum anidade co m o M estre de si m esm a e de seu destino, é sustentada pelo nível mais profundo do Líder como protetor maternal. Eis como Myers formula o axioma básico da ideología nortecoreana coreana:: “O povo coreano tem o sangue m uito uito puro, e portanto é dem a siado siado virtuo so para sobreviver neste mundo m aligno sem um grande líder líder paternal.”13 paternal.”13 Nã o seria esse esse um belo ex em plo da metáfora paternal segu ndo a fórmula lacaniana, do Nome-do-Pai como substituto metafórico do de sejo da mãe? O Nome-do-Pai (Líder/General) e, por baixo dele, o desejo protetor/destrutivo da mãe?14 Um dos lugares-com uns da nova era é que nós no O cidente somos d e masiadamente subjugados pelo principio masculino/paternal da domina ção, disciplina, disciplina, luta e assim por diante, e que, pa ra restabelec er o equ ilibrio, deveríamos reafirmar o princípio feminino da dedicação e da proteção amorosas. Entretanto, exemplos de figuras políticas “duras”, de Indira Gan dhi a Margaret Th atcher, deveriam nos fazer pensar. pens ar. Hoje em dia dia a figura de autoridade autoridade preponderante não é mais o Mestre patriarc patriarcal. al. N em mesmo o totalitarismo é um discurso do Mestre; mas a trágica experiên cia de muitas revoluções em que a derrubada do antigo Mestre terminou num terror m uito uito m ais ais brutal não deveria de forma a lgum a nos conduzir a advogar um retorno à autoridade paternal simbólica como único modo de escapar do impasse impasse autodestrutivo do s elf m ultiform e narcisista narcisista carac terístico do capitalismo tardio. E isso nos leva de volta a Berardi. Em bora sejam tão diferentes diferentes quanto se possa imaginar, as Coreias do No rte e do Sul com partilham um a qualidade bási básica: ca: ambas são sociedades pós-patri pós-patriarcai arcais. s. A s s im , o m o t i v o p e lo q u a l Propagan Prop aganda da frequentemen frequentemen te parece tão tão verda deiro que é difícil de aceitar é não apenas o fato, conhecido desde as Cartas
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persas persa s de Montesquieu, de que o olhar ingên uo de um estrangeiro é capaz de perceber em nossa cultura coisas que nós mesmos, imersos como es tamos nela, não conseguimos ver, mas também que a oposição extrema entre Coreia do Norte e do Sul é sustentada pela similitude subjacente indicada indicada pelo título do filme: filme: dois m odos extrem os de atem poralidade, poralidade, de suspensão da própria histori historicidade. cidade. (Por isso isso o term o "propaganda ” é ele m esm o emblemático: emblemático: o fals falsoo docu m entário usa com o título título um a palavra palavra que correspon de ao seu próprio univers o ideológico - norte-coreano.) norte-coreano.)
H Á u m a h i s t ó r i a ju j u d a i c a b e m c o n h e c id a s o b r e u m a c r ia n ç a q u e , d e pois de ouvir de um rabino rabino u m a lenda lenda antiga e maravilhosa, pergun ta a ele, entusiasmada: “Mas isso realmente aconteceu? É verdade?” O rabino responde: “Não aconteceu realmente, mas é verdade.” Essa afirmação da ve v e r d a d e s im b ó li c a “m a is p r o fu n d a ” e m c o n tr a s te c o m a f a c t u a l d e v e r ia ser se r com plementada por seu oposto - nossa nossa reação a m uitos uitos eventos “espeta “espeta culares” só pode ser uma: “Efetivamente, aconteceu, mas não é verdade.” A s s im , d e v e r ía m o s t o d o s s e r m a is g r a to s d ia n te de q u a lq u e r s in a l d e e s perança, não importa quão pequeno pareça, como a existência do Café Photo em São Paulo. Anunciado como "entretenimento com um toque especial”, especial”, ele ele é - segundo m e disseram disseram - um local de encontro de prosti pros ti tutas de alta classe classe com seus potenciais clientes. Em bora esse fato seja seja bem conh ecido do público, a inform ação nã o aparece no site site:: oficialm oficialm ente, “é um lugar para encontrar a me lhor com panh ia para sua sua noite”. Lá, as cois coisas as realmente acontecem com um toque especi especial al:: as própri próprias as prostit prostitutas utas - na maioria estudantes de ciência ciê nciass hum anas - pode m escolher escolher seus seus fregueses. fregueses. Os homens (potenciais clientes) entram, sentam-se à uma das mesas, pe dem um drinque e esperam, sendo observados pelas mulheres. Se uma m ulher ach a um deles deles aceitável, aceitável, senta-s senta-see à sua sua mesa, deixa-o pagar um drinque e inici iniciaa um a conversa sobre sobre algum tema intelectual, intelectual, geralmente algo ligado à cultura, cultura, por ve zes até m esm o teoria da arte. arte. Se considerar o ho m em suficientem suficientem ente inteligente inteligente e atraente, atraente, perg un ta se ele ele gostaria de levá-l levá-laa para a cam a e lhe d iz o preço. Esse é um tipo tipo de prostituição prostituição com
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Proble Problema ma no no para paraíso íso
um toque feminista, feminista, se é que isso isso é possível possível - m esmo que, como frequen temente ocorre, o toque feminista seja compensado por uma limitação de classe: classe: tanto prostitutas qu anto clientes são são de classe alta alta ou pelo me nos classe classe média alta alta.. Assim , hu m ildemen te, d edico este livro às prostitutas do Café Photo em São Paulo.
Hors d’ d ’oeuvre oeuvre? ? í. Diagnose: Hors
Crise, que crise? A s itu it u a ç ã o a tu a l n a C o r e ia d o S u l n ã o p o d e d e ix a r d e e v o c a r as fa m o s a s linhas iniciais de Um conto de duas cidades, de Cha rles Dickens:
.. foi a
primavera da esperança, o inverno do desespero, tínhamos tudo diante de nós, não tínhamos nada diante de nós, íamos todos diretamente para o Céu, estávamos todos indo diretamente no sentido oposto”. Assim, na Coreia do Sul, encontramos um desempenho econômico de ponta, mas com a intensidade frenética do ritmo de trabalho; um paraíso do consum ism o desenfreado, mas perm eado po r um inferno de solidão solidão e desesper desespero; o; um a riqueza m aterial abundante, mas com a desertifi desertificação cação da paisagem; paisagem; a imitação de tradições ancestrais, mas com a mais alta taxa de suicídios do mundo. Essa ambiguidade radical embaralha a imagem da Coreia do Sul com o a m aior história história de sucesso de nossos dias dias - sucesso, sucesso, sim, mas de que tipo? A e d iç ã o d o N a t a l d e 2012 20 12 d a r e v is ta Spec Sp ecta tato torr abria abria com o ed itorial itorial "Por que 201 2012 foi o m elhor de todos os anos”, que argu m enta co ntra a per cepção de que vivemos num “mundo perigoso, cruel, onde as coisas vão mal e estão piorando”: Pode não parecer, mas 2012 foi o melhor ano da história do mundo. Isso soa como um a afirmação extravagante, mas tem origem nas evidência evidências. s. Nunca houve m enos fome, menos doenças ou mais prosperidad prosperidade. e. O Ocidente con tinua na estagnação estagnação econô mica, m as a maioria dos dos países países em d esenvolvi men to está avançando, e pessoas estão sendo tiradas da da pobrez a à taxa mais
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elevada de que se tem registro. O custo em vidas cobrado pela guerra e pelos desastres naturais é também generosamente baixo. Estamos vivendo uma era de ouro.1 A m e s m a id e ia f o i d e s e n v o l v id a e m d e ta lh e s p o r M a tt R id le y - e is a sinopse de seu livro O otimista racional: Uma resposta vigorosa ao pessim ismo que prevalece em nossos dias, dias, [o livro livro]] prova, não importa o quanto desejemos pensar o contrário, que as coisas estão melhorand o. Por volta de 10 10 m il anos atrás havia m enos de 10 milhõ es de pessoas no planeta. planeta. H oje em dia há mais de 6 bilhões, 99% das quais quais têm mais alimentos, abrigos, diversão e proteção contra doenças do que seus an cestrais cestrais da Idade Idade da Pedra. Pedra. A disponibilidade de quase tudo que um a pessoa possa desejar ou necessitar tem aumentado de forma errática por 10 mil anos e se acelerou rapidamente nos últimos duzentos: calorias, vitaminas, água limpa, máquinas, privacidade, meios de viajar mais depressa do que podemos correr e capacidade de nos comunicarmos a distâncias mais longas do que as que seriam alcançáveis por nossos gritos. No entanto, estranhamente, por mais que as coisas melhorem em relação ao que eram antes, as pessoas ainda se agarram à crença de que o futuro será inevitavelmente desastroso.2
E Os anjos bons da nossa natureza, de Steven Pinker, nos fornece mais do mesmo. Eis sua sinopse: Acreditem ou não, hoje em dia podemos estar vi vend ve ndoo o m om ento en to mais ma is pacíf p acífico ico de nossa nos sa exist e xistênc ência ia com c om o espécie. espéci e. Nesta Ne sta nova no va obra cativante e po lêmica, o escritor Steven Pinker, autor best-seller best-seller do New do New York Times, mostra Times, mostra que, apesar das incessantes notícias sobre guerra, crime e terrorismo, a violência tem "na verdade” declinado ao longo da história. Demolindo mitos sobre a violência inerente da humanidade e o curso da modernidade, este livro ambicioso dá continuidade à investigação de Pinker sobre a essência da natureza humana, misturando psicologia e história para fornecer um retrato notável de um mundo cada ve z mais civilizado.3
Diagno Diagnose: se: Hors Hors d’oe d ’oeuv uvre re? ?
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Frequentemente se ouve na mídia, sobretudo nos países não europeus, uma versão mais modesta desse otimismo, com foco na economia: crise, que crise crise?? Vejam os BRIC s ou a Polônia, a Co reia do Sul, Cingap ura , Peru, muitos países da África subsaariana: estão todos progredindo. Os perde dores são apenas a Europa oc idental e, até certo ponto, os Estados Unidos, de modo que não estamos enfrentando uma crise global, somente uma mu dança na d inâm ica do progresso, que se afasta afasta do Ocidente. N ão seria seria um símbolo poderoso dessa mudança o fato de que ultimamente muitas pessoas estão estão voltando de Portug al, país que atravessa um a crise profunda, para Moçam bique e Ang ola, ex-colô ex-colônia niass portuguesas - mas agora como imigrantes econômicos, não como colonizadores? Nossa tão pranteada crise dificilmen dificilmen te seria seria dign a desse nom e se fosse um a simples simples crise crise local num quadro m ais amplo de progresso geral. Mesm o no que se refere refere aos aos direitos direitos humanos: será será que a situação situação na C hina e na Rússia Rússia não é m elhor agora do que cinquenta anos atrá atrás? s? Con denar a cris crisee econ ôm ica como um fenôm eno glob al é tipicamen tipicamen te um a visão eurocê ntrica - e, além além disso, disso, uma visão proveniente de esquerdistas que em geral se orgulham de seu antieurocentrismo. Com muitas restrições, pode-se quase aceitar os dados a que esses "ra cionalist cionalistas” as” se referem. referem. Sim, hoje em d iaviv em os d efinitivamente efinitivamente m elhor do que n ossos ancestrais de 10 10 m il anos atrás na Idade da Pedra, e mesm o um prisioneiro comum de Dachau (o campo de trabalho trabalho nazista, e não A u s c h w i t z , o c a m p o d e extermínio) provavelmente extermínio) provavelmente vivia vivi a pelo menos um pouco m elhor do que um escravo prisio prisioneiro neiro dos mongóis. E assim assim por diante. Mas há algo faltand o nessa história. história. Prim eiro - devem os refrear aqui nossa euforia euforia anticolonialista anticolonialista -, a pergunta a ser feita é: se a Europa está em gradual decadência, 0 que está substituindo sua hegemonia'? A resposta é: “o capitalismo com valores asiá ticos” ticos” (o qual, evidentemen te, nada tem a ver com o pov o da Ásia, e tudo com a clara clara e atual tendência tendência do capitali capitalismo smo contem porâneo de suspender suspender a democracia) democracia).. A partir de M arx, a esquerda realm ente radical nunca foi apenas "progressista”. Sempre foi obcecada pela pergunta: qual é o preço do progresso? progresso? M arx era fascinado fascinado pelo capitali capitalismo, smo, pe la produtividade sem
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Proble Problema ma no no paraíso paraíso
preceden tes por ele trazida; trazida; só que ele insisti insistiaa em que esse m esm o sucesso sucesso engendra antagonismos. antagonismos. E deveríamos fazer o m esm o com o progresso do capitalismo glob al nos dias dias de hoje: hoje: ter em vista o seu lado ocu lto som brio, que fom enta revoltas. revoltas. O que tud o isso isso implica é que os conservado res atuais atuais não são são realm ente conservadores. Embora endossem plenamente o processo de autorrevolução co ntinuada do capitalismo, capitalismo, que rem apenas torná-lo torná-lo m ais eficie eficiente, nte, com plemen tando-o com algum as instituições instituições tradicionais tradicionais (a (a religião, religião, por exemplo) a fim de restringir suas consequências negativas para a vida social social e manter a coesão coesão da sociedade. sociedade. H oje em dia, um verdad eiro conservador é aquele que adm ite plenam ente os antagonism os e dilemas dos capitali capitalis s mos globais, que rejeita o progressismo primário e está atento ao anverso obscuro do progresso. Nesse sentido, sentido, som som ente um esquerdista esquerdista radical radical pode ser agora um verdadeiro conservador. conservador. A s p e s so a s n ã o se r e b e la m q u a n d o "as "a s co isa is a s r e a lm e n te v ã o m a l” , m a s quando suas expectativas são frustradas. A Revolução Francesa ocorreu depois de o rei e os os nobres terem p erdido gradu almen te, d urante décadas, décadas, o controle do poder; a revolta anticomunista de 1956 na Hungria explodiu depois que Imre N ag y já era prim eiro-m inistro havia dois dois anos, anos, após de ba b a te s (r e la tiv ti v am e n te ) li v r e s e n tr e in te le c tu a is ; as p e s s o a s r e b e la ra m -s e n o Egito em 2011 011 porque tinha havido algu m progresso econô m ico durante o gov erno Mu barak, o que prop orcionara a ascensã ascensãoo de toda um a classe classe de de jo v e n s in s tr u íd o s q u e p a r tici ti cip p a v a m da c u ltu lt u r a d ig ita it a l u n iv e rs a l. E é p o r iss i ssoo que os comu nistas nistas chineses têm razão para estar em pânico: pânico: precisamente precisamente porque, na média, os chineses chineses agora vivem consideravelmente m elhor do que quarenta anos atrás, mas os antagonismos sociais (entre os novos-ricos e os outros) têm explodido, e as expectativas das pessoas são agora muito maiores. Esse é o problem a do de senvo lvimen to e do progresso: eles eles são são sempre desiguais, desiguais, dando o rigem a instabil instabilidades idades e antagonismo s e gerando expectativas expectativas que não po dem ser realizadas. realizadas. Na Tu nísia nísia ou no Egito pouco antes da Prim Prim avera Árabe, a maioria das pessoas provav elme nte vivia um pou co m elhor do que décadas atrás atrás,, mas os padrões pelos quais avaliavam sua (in)satisfação eram muito mais elevados.
Diag Diagno nose: se: Hors Hors d’oeu d ’oeuvre vre?
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De modo que, sim, a Spectator, Spectator, Ridley, Pinker e seus companheiros de via v ia g e m estã es tãoo cert ce rtos os,, e m prin pr incí cípi pio, o, m as os pr ó p rio ri o s f atos at os q u e e n fa tiz ti z a m estã es tãoo criando condições para a rebelião e a revolta. O erro a ser evitado é aquele cujo melhor exemplo é dado por uma história (apócrifa, talvez) a respeito do econo mista keynesiano de esquerda esquerda John Ken neth G albrait albraith. h. An tes de uma viagem à URSS no final da década de 1950, ele escreveu a seu amigo anticomu nista Sidney Sidney Hook: "Não se preocup e, não serei seduzido pelos soviéticos soviéticos nem voltarei para casa casa proclam ando que eles chegaram ao socia socia lismo!” lismo!” H oo k respondeu respondeu prontamente: prontamente: “Mas é isso isso que me preocupa - que vo v o c ê v o lte lt e a firm fi rm an d o q u e a U R S S n ã o é socia sociali lista sta!” !” O que preocupava H oo k era a defesa ingênua da pureza do conceito: se as coisas vão mal na cons trução de uma sociedade socialista, isso não invalida a ideia em si, apenas signifi significa ca que não a implemen tamos corretamente. Não detectamo detectamo s a mesma ingenuidade ingenuidade no atual fundamentalismo do mercado? mercado? Quando, durante um recente recente debate debate na T V na fran frances cesa, a, G uy So rman proclam ou qu e a democracia democracia e o capitalismo capitalismo andam necessariamente de mão s dadas, dadas, não pud e deixar de faze r a perg un ta óbvia: "Mas o qu e dizer da Ch ina atual?” atual?” Ele repli replicou: cou: “N ão existe capitalismo capitalismo na C hina!” Para Sorm an, fanaticam ente pró-capitali pró-capitalista sta,, se u m país não é dem ocrático, isso significa significa simplesm ente que não é de fato capital capitalis ista, ta, mas pratica pratica um a versão d esfigurada do capitali capitalismo, smo, da mesm a form a que, para para um comu nista democrático, democrático, o stalini stalinismo smo simplesmente simplesmente não era uma fo rm a autêntica autêntica de comu nismo . O erro subjacente subjacente não é difícil difícil de identi identifi ficar. car. É o m esm o da con hecida piada piada:: “M inha noiva nun ca cheg a atra atra sada sada para para um encontro porque no m om ento e m que se atras atrasar ar não será será mais m inha noiva!” É assim que os atuais atuais apologistas apologistas do livre mercado explicam a crise de 20 2008: não foi a deficiência deficiência do livre me rcado que causou crise, crise, e sim a regulam entação excessiva excessiva do Estado, Estado, ou seja seja,, o fato de nossa econom ia de mercado não ser autêntica, de ainda estar sob as garras do Estado de bemestar social. social. Qu and o nos aferram os a essa essa pu reza d o capitalismo capitalismo de m ercado, m inimizand o suas suas falha falhass com o infortúnios infortúnios acid acident entai ais, s, terminam os num progressismo ingênu o q ue ignora a dança insana insana dos opostos. opostos. Um dos exem plos mais m arcantes dessa dessa dança insana insana é, na esfer esferaa eco nôm ica, ica, a estranha estranha coexistência coexistência do pleno em prego co m a ameaça do dede-
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Prob Proble lem ma no no para paraís ísoo
semprego: quanto mais intensamente intensamente trabalham os que estão empregados, mais generalizada é a ameaça de desemprego. Assim, a situação atual nos compele a mudar a ênfase de nossa leitura de O capital, capital, de Marx, do tem a geral da rep rodução capitali capitalista sta para, com o diz Fredric Jameson, “a centrali centralidade dade estrutural estrutural fundam ental do desem prego no texto do próprio próprio O capital”: “o desemprego é estruturalmente inseparável da dinâmica de acumulação e expansão que constitui a própria natureza do capitalismo em si”.4 si”.4 Naq uele que é possivelmen te o ponto e xtrem o da “unidad e dos opostos” na esfera esfera econôm ica, é o próprio sucesso sucesso do capitalis capitalismo mo (aumento da produtividade etc.) que produz desemprego (tornando inúteis mais e mais trabalhadores): o que devia ser uma bênção (menor necessidade de trabalho duro) torna-se uma maldição. Dessa maneira, o mercado mun dial é, com respeito respeito a sua sua dinâm ica imanen te, “um espaço em qu e todos já j á fo r a m t r a b a lh a d o r e s p r o d u tiv ti v o s e e m q u e o tr a b a lh o c o m e ç o u p o r to d a parte a ser precificado fora do sistema”.5 Isso significa que, no contínuo processo de globalização capitali capitalista sta,, a categoria dos desemp regados ad quiriu um a nov a qualidade além da clássi clássica ca noção de “exército “exército de reserva de mão de obra”. De vem -se conside considerar, rar, em termo s da categoria do desem prego, “aquel “aquelas as enormes popu lações ao ao redor do mund o que foram, por assim dizer, expu lsas da história’, deliberad am ente excluídas dos pro je tos modernizantes do capitalismo do Primeiro Mundo e desvalorizadas com o casos sem sem esperança ou term inais”:6 inais”:6 os cham ados “Estados fali falidos” dos” (Congo, Somália), vítimas da fome ou de desastres ecológicos, presas de “ódios étnicos” pseudoarcaicos, objetos de filantropia e de ONGs ou (fre quen tem ente o m esm o povo) da “gu “gu erra contra o terror”. A ca tegoria dos desemp regados deveria assim assim ser ampliada para abranger o am plo arco popu lacional lacional que vai dos desem pregados tem porários, porários, passando pelos pelos não mais em pregáveis e pelos desempregados perm anentes, até as as pessoas pessoas que v i v e m e m fa v e la s e o u t r o s tip ti p o s d e g u e t o s (to (t o d as e la s fr e q u e n te m e n te m e nosprezadas por Marx como “lumpemproletariado”) e, finalmente, áreas, pop ulações ou Estados Estados inteiros inteiros excluídos excluídos do p rocesso capitalist capitalistaa global, como os espaços em branco dos mapas antigos. Será que essa ampliação do círculo dos "desem pregados” não nos leva de volta de M arx a Hegel:
Diagno Diagnose: se: Hors Hors à’oe à ’oeuv uvre re? ?
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a “plebe” retorna, emergindo no próprio cerne das lutas emancipatórias? Isso Isso signifi significa ca que essa recategorização mu da todo o “m apa cog nitivo” da situa situação: ção: o inerte pano de fund o da História se se torna um agente potencial da luta emancipatória. De vem os, contudo, apontar três três restrições restrições à apresent apresentação ação que Jameson faz dessa ideia. Primeiro, deve-se corrigir o bloco semiótico por ele pro posto, cujos termos são: 1) os trabalhadores; 2) o exército de reserva dos (temporariamente) desempregados; 3) os (permanentemente) desemprega dos e 4) os “form alm ente em pregad os”,7 os”,7 mas não em pregáveis. Um quarto termo mais apropriado não seria os ilegalmente empregados, empregados, desde os que trabalham nas favelas e nos mercados negros até as diferentes formas de escravi escravidão? dão? Em seg und o lugar, lugar, Jameson deixa de enfatizar o mo do com o esses “excluídos” são, não obstante, frequentemente incluídos incluídos no mundo do mercado. Tomemos o exemplo do Congo de hoje: por trás da fachada das “paixões “paixões étnicas prim itivas” mais um a ve z explodind o no “coração “coração das trevas” africano, é fácil discernir os contorn os do capitalismo capitalismo global. Apó s a queda de M obutu, o C ong o não m ais exis existe te como um Estado Estado unido em funcionamento; sua parte leste, em particular, consiste numa multiplici dade de territórios governados por chefes militares locais controlando sua faixa de terra com exércitos exércitos que, via de regra, inclue m crianças crianças drogadas. Cada um desses chefes tem vínculos de negócios com uma companhia ou corporação estrangeir estrangeiraa que explora a riqueza riqueza - principalmente principalmente m ine ral - da região. região. O s arranjos atendem às duas partes: partes: a corporação ga nh a os direitos direitos de mineração sem pagam ento de im im postos e assim por diante, diante, enquanto o chefe m ilitar ilitar recebe recebe sua remun eração. A iron ia é que esses esses recursos m inerais são são usados em p roduto s de alta alta tecnologia, com o laptops laptops e celulares. Assim, em suma, esqueça o hábito de culpar pelos conflitos os “costumes selvagens" das populações locais: basta tirar da equação as com panhias estrangeiras de alta alta tecnolog tecnolog ia e todo o ed ifício ifício das “guerras étnicas étnicas fomentadas po r antigas antigas paixões” irá desm oronar.8E, em terceiro terceiro lugar, a categoria dos "form alm ente em pregados” d eve ser comp lementada pelo seu oposto: oposto: os desempregados instruídos. Ho je em dia, toda um a gera ção de estudantes quase quase não tem chance de encontrar emp regos adequados,
Proble Problema ma no no para paraíso íso
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o que leva a protestos de massa. A pior m aneira de superar essa brecha é subordinar diretamen te a educação educação às exigências exigências do m ercado - se não por outra razão, pelo fato de a própria dinâm ica do mercad o tornar “obsoleta” a educação fornecida pelas universidades. univer sidades. Esses Esses estudantes não em pre gáveis estão estão destinados destinados a desem penhar um papel-chave papel-chave na organização dos futuros m ovime ntos emancipatóri emancipatórios os (como já fizeram no Egito Egito e nos protestos na Europa, da Grécia ao Reino Unido). Unido). A m ud ança radical nun ca é desencadeada apenas pelos pobres. A incorporação de uma geração de jo j o v e n s nã o em p r e g á v e is in s tr u íd o s (co (c o m b in ad a c o m u m a t e c n o lo g ia d ig ita it a l m oderna e amp lamente disponível) disponível) oferece a perspectiva perspectiva de um a situação situação propriamente revolucionária. Jameson acrescenta acrescenta aqui outro p onto-chave: ele caracteriza esse esse novo desemprego estrutural como u m a form form a de exploração. O exploração. O s explorados não são apenas trabalhadores trabalhadores p rod uzind o m ais-vali ais-valiaa apropriada pelo capital, capital, mas também aqueles estruturalmente impedidos de ser apanhados no v ó r t ic e c a p ita it a list li st a d o tr a b a lh o a ss a la ri a d o e x p lo r a d o , in c lu in d o r e g iõ e s e naçõ es inteiras. inteiras. Co m o, então, devem os repensar o conceito de exploração? exploração? A q u i se f a z n e c e s s á r ia u m a m u d a n ç a r a d ic a l: n u m a g u i n a d a a d e q u a d a m ente dialéti dialética, ca, a exploração inclui sua sua própria negação - os explorados não são apenas apenas os que prod uz em ou “criam “criam ”, mas tam bém (e até até mais) mais) os que estão estão condenados a não criar. não criar. Aqui, não estaríamos de volta à estrutura da conh ecida piada piada da última década da União Soviética sobre Rabinovitch, um jud eu que deseja deseja emigrar? emigrar? O burocra ta do escritório escritório de em igração lhe pergunta por quê e ele responde: “Há duas razões. A primeira é que tenho m edo de que os comun istas istas percam o p oder na União Soviética Soviética e os novos governantes ponh am nos judeus toda a culpa culpa pelos pelos crimes que com eteram - virão de novo os po gro m s...” s...” "Mas isso isso não faz nenhu m sen tido”, interrom pe o bu rocrata. "N ada pod e m udar na União Soviética, os os com unistas ficarão ficarão no poder para sempre!” sempre!” "B em ”, responde Ra binovitch com toda a calma, “essa é minha segunda razão.” Podemos facilmente im aginar um burocrata perguntando a um trabal trabalhador hador:: “Por que você pensa que é explorado?” explorado?” E o trabalhador respondendo: “P or dois m otivos. Primeiro, quando trabalho, o capitalista se apropria de minha mais-valia.”
Diagno Diagnose: se: Hors Hors d’oeu d ’oeuvre vre?
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“Mas agora você está desempregado; ninguém está se apropriando de sua mais-valia porque você não cria nenhuma!” "Esse é o segundo motivo...” Tudo gira em torno do fato de que a totalidade da produção capitalista não apenas precisa de trabalhadores, trabalhadores, mas tam bém pro du z o “exército de reserva” daqueles que não con segu em encontrar trabalho: trabalho: estes estes não estão estão simplesmente fora da circulação do capital, eles são ativamente produzidos com o não trabalhadores por essa m esm a circulação. circulação. Há u m a piada piada maravilhosam maravilhosam ente dialéti dialética ca em Nino Ni notch tchka ka,, de L ubitsch. O herói vai a uma cafeteria e pede um café sem creme, ao que o garçom responde: “Desculpe, estamos sem creme. Posso lhe trazer um café sem leite?” Em ambos os casos, o cliente consegue apenas café, mas esse café é a cada vez acompanhado de uma negação diferente, primeiro café sem creme, depois café sem leite. leite. O que en contram os aqu i é a lógica da didiferencial ferencialidade, idade, na qu al a própria própria falta falta funciona como um traço positivo positivo - paradoxo paradoxo adm iravelmen iravelmen te retrata retratado do por u m a antiga antiga piada piada iugoslava iugoslava so br b r e u m m o n t e n e g r in o (p o v o e s t ig m a t iz a d o c o m o p r e g u i ç o s o n a a n ti g a Iugoslávia): por que um cara de Montenegro, quando vai dormir, coloca ao lado da cama dois copos, um cheio e um vazio? Porque é preguiçoso demais para tentar imaginar se vai ter sede durante a noite. O eixo dessa piada é que a ausência em si tem de ser positivame nte registrada: registrada: não basta ter um copo cheio d'água , um a ve z que, se não tiver sed sede, e, o mon tenegrino v a i s im p le s m e n te ig n o r á -l o - es se fa to n e g a t iv o d e v e s e r e n f a t iz a d o p e lo copo v azio, ou seja, seja, a não necessidade necessidade de ág ua dev e ser materializada no v á c u o d e ss e co p o . Por que perder tem po com essas essas piadas piadas dialé dialéti ticas cas?? P orque elas elas nos per m item entender com o a ideologi ideologia, a, em seu maior grau de pureza, funciona em n ossos tempos sup ostam ente pós-ideológic pós-ideológicos. os. Para detectar as cham adas distorções ideológicas, deve-se observar não apenas o que é dito, mas a com plexa interação interação entre o que se diz e o q ue não se diz, o não dito implícito no que é dito dito:: quere m os café sem crem e ou café sem leite leite?? Há um equivalente político dessas dessas linhas. linhas. N um a co nhecida piada da Polônia sociali socialista, sta, um fre guê s entra num a loja loja e diz diz:: “V ocê provavelm ente não tem m anteiga, tem?” tem?” Resposta: Resposta: "Des culpe, m as esta é a loja que não tem papel higiênico. higiênico. Aq uela
Proble Problema ma no paraíso paraíso
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do ou tro lado lado da rua é a que que não tem m anteiga!” anteiga!” E que dizer de um a cena no Brasil de hoje, em que, no carnaval, pessoas de todos os níveis dançam ju j u n t a s na s ru a s , e s q u e c e n d o p o r o ra su a s d if e r e n ç a s d e ra ça e d e clas cl asse se?? Mas quando um trabalhador desempregado se entrega livremente à dança, esquecendo as preocupações com a subsistência da família, obviamente não é a mesm a coisa que um banqueiro qu ando relaxa relaxa por completo e se sent sentee b e m p o r e s ta r m is tu r a d o c o m o p o v o , e s q u e c e n d o n e ss e p r o c e s s o q u e se recusou a conceder um empréstimo ao trabalha trabalhador dor pobre. pobre. Na rua são ambos iguais, mas o trabalhador está dançando sem leite, enquanto o banqueiro está dançando sem creme. Os rótulos dos alimentos fornecem outro exem plo m arcante da ausência ausência com o fator determinante: determinante: quantas quantas vezes lemos nesses rótulos as palavras “sem adição de açúcar”, ou “sem conservantes ou aditivos” (para não mencionar "sem calorias”, “sem gordura" etc.)? A armadilha é que para cada “sem” é preciso aceitar (conscientemente ou não) a presença de um “com” (Coca-Cola sem calorias nem açúcar? Tudo be b e m , m as c o m ad o ça n tes te s arti ar tifi fici ciai aiss q u e t r a z e m seus se us p ró p rio ri o s risc ri scos os à saúde). saú de). Esse Esse paradoxo atinge o clím ax quando nos oferecem u m a coisa coisa sem ela própria - café sem café. café. Lem brem os o con tínuo debate sobre o sistema sistema de saúde unive rsal nos Estados Unidos: Unidos: os republicanos republicanos que re clam am que o sistema de saúde universal vai privar os indivíduos da liberdade de escolha estão efetivamente promovendo uma liberdade de escolha sem uma verda deira liberdade de escolha. O u seja, seja, o que os op onentes republicanos republicanos do sistema sistema de saúde universal são são incapazes de percebe r é que u m sistema sistema desse tipo tipo imposto pelo Estado Estado efetivamente efetivamente funciona com o um a rede de proteção proteção que perm ite à m aioria aioria desfrutar desfrutar de um espaço espaço m ais ais amp lo em termos de liberdade de ação. ação. Eles não estão estão apenas não trabalhando - seu não trabalhar é sua característica positiva, da mesma forma que o "café sem leite”.
Quebrar ovos sem fazer uma omelete A c r is e c u jo in d ic a d o r é o n o v o p a p e l d o d e s e m p r e g o r e v e l a “o s l im it e s estruturais que o capital encontra na tentativa de subjugar a economia
Diagn Diagnose ose:: Hors d’oeuvre? d’oeuvre?
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imaterial e a internet à lógica da comercialização, em que o princípio da gratuidade continua a predom inar a despeito despeito das tentativas tentativas de estabele estabele cer barreiras econômicas ao acesso e ampliar os direitos de propriedade intelectu al".9 Em outras palavras, a crise não resulta apenas de regulaç ões financeiras inadequadas, mas expressa “a dificuldade intrínseca de fazer o capital imaterial funcionar como capital e o capitalismo cognitivo funcio nar com o capitalismo ”.10 ”.10 D esse m od o, essa crise assinala assinala o fim do projeto da década de 1990 de uma Nova Economia, a ideia de que o capitalismo pod e ser revitalizado revitalizado em sua forma digital digital,, com programad ores e outros trabalhadores intelectuais transformados em capitalistas “criativos” (o so nho encarnado na revista Wired). E por isso isso que se faz necessária necessária um a in tervenção cada ve z m ais forte forte do Estado Estado para m anter viável o sistema. sistema. Não pod em os deixar de perceber a dupla dupla ironia ironia qu e isso isso encerra: encerra: há um tanto tanto de verdade na afirmação afirmação de que o socialismo socialismo de Estado Estado se desintegrou nos anos 1990 por não ser capaz de se adaptar à digitalização da vida social e econômica; entretanto, a mesma noção marxista tradicional da contradi ção entre forças produtivas e relações de produção está agora solapando o próprio capitali capitalismo. smo. (A renda renda m ínim a deveria, assim, assim, ser reconceitualizada não como um apoio ampliado aos desempregados, ou seja, uma medida redistributiva de seguro social, mas como um reconhecimento financeiro do fato fato de que, num a econo m ia baseada no conhecimento, a produtividade produtividade coletiva do “intelecto geral” é a principal fonte da riqueza.)11
O c o m u n i s m o c o n t i n u a sendo o horizonte, o ú nico ho rizonte, a partir do qual se po de não apenas avaliar avaliar,, mas até m esm o an alisar alisar adequadam ente o que está está acontecendo acontecendo hoje - um a espécie espécie de m ensuração iman ente da quilo que d eu errado. É por isso isso que se deveria deveria ab andonar o “pacto neorrineorricardiano entre trabalho assalariado e capital produtivo contra o poder das finanças”,12 finanças”,12 que ten ta ressuscitar o m od elo social-dem ocrata do E stado de be b e m - e s ta r so cia ci a l: to d a d e m o n iz a ç ã o d o ca p ita it a l fin fi n a n c e ir o é u m a m a n o b r a para ofuscar o antagon ismo básico da produção capital capitalist ista, a, transpondo-o para essa modalidade considerada “parasitária”. E não devem ser menos
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rejeitadas as tentativas do que não se pode chamar senão ironicamente de "friedm anism o de esquerda”, a ideia ideia defendida po r W an g H ui (entre (entre outros) outros) segundo a qual o que estamos testemunhando agora não é consequência da econom ia de mercado, m as um a distorção dela: dela: “a resistênci resistênciaa à m o nop olização e à opressi opressiva va tirania tirania do m ercado não pod e ser simplesmente igualada à luta contra’ o mercado, po is essa essa me sm a resistênci resistênciaa social inclui os esforços esforços em favor da justa com petição no mercado e da demo cracia cracia eco nômica”.13 Relembremos a noção de Habermas de comunicação distorcida (distorcida em função das relações de poder extralinguísticas de opressão e dominação): dominação): W an g H ui parece deixar implícita implícita a noção de com petição e perm uta de m ercado distorci distorcidas das - distorci distorcidas das devido às pressões externas das cond ições políticas, políticas, cu lturais e sociais sociais:: o movimento da economia está sempre inserido na política, na cultura e em outras condições sociais, de modo que lutar pelas condições de justa competição no mercado não equivale a se livrar do sistema político do Es tado, dos costumes sociais e de qualquer mecanismo de regulamentação. Pelo contrário, o aperfeiçoamento das condições de mercado visa reformar, limita r e expand ir esses esses sistemas sistemas a fim de criar condições sociais para para a inte ração justa. Nesse sentido, a luta por justiça social e pela justa competição no mercado não pode ser consider considerada ada equivalente a um a oposição à intervenção intervenção do Estado. Exige, em vez disso, uma democracia socialista, ou seja, evitar que o Estado se torne o protetor do monopólio doméstico e multinacional mediante seu controle democrático pela sociedade.14 A q u i , d e v e m o s c o n t in u a r s e n d o m a r x is t a s f r a n c a m e n t e o r t o d o x o s : W a n g H u i s u b e s tim ti m a a l ó g ic a im a n e n te das da s re la ç õ e s d e m e rc a d o , q u e tend te nd e à exploração e a excessos excessos desestabili desestabilizantes. zantes. Estaríamos exagerand o aqui no que se refere a substancializar a economia? Seria fácil realizar a operação desconstrucionista desconstrucionista padrão na "econom ia” e afirm afirm ar que não existe existe E co nomia como campo substancial unificado, que o que designamos como "econom ia” é u m espaço espaço inconsistente inconsistente atravessad atravessadoo po r um a m ultipli ultiplicidade cidade de práticas e discursos: da produção material da mão de obra primitiva
Diagno Diagnose: se: Hors Hors d’oeuv d ’oeuvre re?
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à produção automatizada, operações m onetárias, máq uinas publicit publicitári árias, as, intervençõe s dos aparelhos de Estado Estado,, regu lações e o brigações legais, legais, so nho s ideológicos, ideológicos, mitos religiosos, históri histórias as de dom inação, sofrim ento e humilhação, obsessões privadas com saúde e prazer e assim por diante. Em bora isso isso seja seja inegav elm ente verdade iro, existe, existe, não obstante, não um a “essência” mais profunda da economia, mas sim algo como um “materna” do capital capital,, um a m atriz formal de sua sua autorreprodução, como a que que M arx tentou elaborar em O capital. capital. Esse materna, essa essa m atriz form al trans-histótrans-histórica e transcultural, é o "real” do capital: aquilo que permanece o mesmo através de todo o processo do capitalismo global, cuja loucura se torna palpável palpável em mo men tos de crise. crise. M arx descreve os contornos dessa dessa loucura loucura quando fala do avarento tradicional como “um capitalista ensandecido”, acumulando seu tesouro num depósito secreto, em contraste com o ca pitali pitalista sta “norm al”, que aum enta seu tesouro colocando-o em circul circulação: ação: O processo incansável e interminável da obtenção de lucros é a única coisa que ele quer. Essa ânsia ânsia ilimitada por riqueza, essa essa busca apaixonada por va lor de troca, é comum ao capitalista e ao avarento; mas, enquanto o avarento é meramente um capitalista que ficou louco, o capitalista é um avarento racional. O aumento interminável do valor de troca, que o avarento está sempre tentando conseguir, ao poupar seu dinheiro e evitar que ele circule, é consagrado pelos capitalistas mais inteligentes, que estão sempre colocand o seu dinheiro em circulação.15 Essa loucura do avarento, não obstante, não é algo que simplesmente desapareça com a ascensão do capitalismo “normal” ou seu desvio pato lógico. E, em v ez disso disso,, inerente inerente a ele ele:: o avarento tem seu m om ento de triunfo na crise econômica. crise econômica. N um a crise, crise, não não é - como seria seria de de esperar esperar - o dinheiro qu e perde seu valor, valor, de m odo a precisarmos recorrer ao valor “real” das mercadorias; as próprias mercadorias (a encarnação do “valor [de [de uso] uso] real” ) tornam -se inúteis, inúteis, pois não há nin gu ém para comprá-las. comprá-las. N um a crisè crisè,,
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o dinheiro muda súbita súbita e imediatamente imediatamente de sua forma m eramente nom i nal, em conta, para dinheiro em espécie. Mercadorias comuns não podem mais substitui-lo. O valor de uso das mercadorias torna-se desvalorizado e se desvanece em face de sua própria forma de valor. valor. O b urguês , embriagado com a prosperidade e arrogantemente seguro de si, acaba de declarar que o dinheiro é um a criação criação puram ente imaginária. As mercadorias sozinhas sozinhas são o dinheiro, d iz ele. ele. Mas agora a observação oposta ressoa nos mercados do mundo: só o dinheiro é uma mercadoria ... Numa crise, a antítese entre mercadorias e sua forma de valor, o dinheiro, é elevada ao nível de uma contradição absoluta.16 Não significaria isso que nesse momento, longe de se desintegrar, o fetichismo é plenamente corroborado em sua loucura direta? Na crise, a crença subjacente, repudiada e apenas praticada, é assim diretamente corroborada. E o mesmo é válido para a atual crise permanente, à qual um a das reações reações espontâneas é recorrer a algum a orientação pragmática: pragmática: “Dívidas devem ser pagas!”, “Você não pode gastar mais do que produz!” ou algo sem elhante - e essa essa,, é claro, claro, é a pior coisa que se po de fazer, um a v e z q u e d essa es sa m a n e ir a se é a p a n h a d o n u m a es p ir a l d e sc e n d e n te . Em p rime iro lugar, esse esse saber saber elem entar é simp simp lesmente errado - os Estados Unidos foram muito bem durante décadas gastando muito mais dinheiro do que produziam. Num nível mais fundamental, deveríamos perceber claramente o paradoxo da dívida. O problema do slogan “Você não pode gastar mais do que produz!" é que, tomado universalmente, é um a banalidade banalidade tautológica, tautológica, um fato fato e não u m a norm a (evidentemente (evidentemente,, a hum anidade não pode con sum ir mais do que produ z, tal com o não se pode comer m ais ais com ida do que se tem tem no prato prato), ), mas no m om ento em que se caminha para determinado nível as coisas se tornam problemáticas e am bíguas. N o n ível m aterial direto direto da totalidade totalidade social, as dívidas dívidas são, são, de certa form a, irrelevantes, irrelevantes, até m esm o inexistentes, inexistentes, já qu e a hum anidade como um todo consom e aquilo aquilo que prod uz - por defini definição, ção, não não se pode con sum ir mais. Só se pod e falar falar razoav elm ente em dívida com respeito a recursos naturais (a destruição dos recursos naturais para a sobrevivência
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das futuras gerações), aí estamos em débito com futuras gerações que, precisamente, ainda não existem e que, não sem ironia, só virão a existi existirr por m eio de nós mesmos - e assim assim deverão a nós a sua sua exist existênc ência ia.. D e m odo que tam bém aqui o termo termo "dívida” "dívida” não tem u m senti sentido do liter literal al,, não pode ser "financiali "financializado”, zado”, quantificado quantificado num a soma em dinheiro. A dívida de que podem os falar falar ocorre quando, num a sociedade sociedade global, global, um grupo (naç (nação ão ou o que seja) consome mais do que produz, o que significa que outro gru po tem de con sum ir menos - mas aqui as as relações relações não são de forma algum a tão simples e claras claras com o possam parecer. parecer. As relações seriam seriam cla ras se, numa situação de dívida, o dinheiro fosse um instrumento neutro que medisse quão mais foi consumido por um grupo em relação ao que este pro du ziu, e à custa de quem - m as a situação real está distante disso. disso. Segu ndo dados de do m ínio público, público, cerca de 90% 90% do dinheiro em circula ção é dinheiro de crédito " virtu al”, de mo do que, se produ tores "reais” "reais” se encontrarem em dívida com instituições financeiras, têm-se boas razões para duv idar do status status dessa dívida: dívida: qu anto dela é resultado resultado de espe cula ções que ocorreram nu m a esfera esfera sem vínculo algum com a realidade realidade de de uma unidade de produção local? A s s im , q u a n d o u m p a ís se v ê so b p r e ss ã o d e in s t it u iç õ e s fin fi n a n c e ir a s internacionais, seja seja o FM I ou bancos privados, semp re se deve ter em m ente que essa pressão (traduzida em exigências concretas: reduzir o gasto pú bli b licc o d e sm o n ta n d o p a rt e s d o E stad st ad o d e b e m - e st a r so cial ci al,, p ri v a tiza ti za r, ab rir ri r o mercado, d esregulam entar os ba nco s... s...) não é a expressão expressão de algu m a lógica lógica ou conhecim ento objetivo e neutro, neutro, mas de um conhecimen to duplamente parcial ("interessado”) ("interessado”).. No n ível form form al, é u m conh ecim ento qu e incorpora uma série de pressupostos neoliberais, enquanto, no nível do conteúdo, privileg ia os interesses de certos Estados ou instituições (bancos etc. etc.). ). Quando o escritor comunista romeno Panait Istrati visitou a União Soviética no final da década de 192 1920, época dos prim eiros e xpu rgos e ju l gamentos teatrais, um apologista soviético que tentava convencê-lo da necessidade necessidade do uso da violência contra os inim inim igos d aquele país país invoco u um provérbio, “ Não se pod e fazer om eletes sem q uebrar ovos”, ao que Is Is trati concisamente replicou: “Certo. Estou vendo os ovos quebrados. Onde
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estão as omeletes?" Devemos dizer o mesmo sobre as medidas de auste ridade impostas pelo FMI, a respeito das quais os gregos estariam plena m ente justificados justificados ao dizer: dizer: “ Tudo bem , estamos qu ebrando os ovos para para a Europa inteira inteira,, mas onde estão estão as omeletes que vocês nos prome teram?” Se o ideal ideal da especulação financeira é obter um a om elete sem quebrar nenhum ovo, numa catástrofe financeira nós acabamos ficando apenas com ovos quebrados, como no caso de Chipre. Relembremos a clássica cena de de desenho an imado de um a gata que sim sim plesm ples m ente continua continua an dando a lém da beira do precipíci precipício, o, ignoran do o fato fato de não ter m ais chão em baixo de si si - ela só só cai quando o lha para baixo e perceb e que está no ar sobre o abismo. Não é assim que os cipriotas comuns devem estar se sentindo atualmente? Eles sabem que Chipre nunca mais será o mesmo, que têm pela frente um a queda catastrófica catastrófica em seu padrão de vida, mas o pleno imp acto dessa queda ainda não foi propriam ente sentido, sentido, de mod o que por um curto período eles eles pode m se dar ao luxo de prosseguir em suas vid v id a s co tid ti d ia n a s n o r m a is , ta l c o m o a g a ta q u e c a m in h a c a lm a m e n t e so br e o vazio. E não devem os condená-los. condená-los. Essa Essa protelação do im pacto total do choque é tamb ém um a estratégia estratégia de sobrevi sobrevivênci vência: a: o verdadeiro impacto chegará silenciosamente, quan do não ho uve r mais pânico. pânico. E por isso isso que é agora, quando a crise de Chipre desapareceu amplamente da mídia, que devem os pensar e escrev er sobre ela. ela. De volta à piada sobre Rabinovitch, é fácil imaginar uma conversa semelhante entre um administrador financeiro financeiro da União Eu ropeia e um Rabinovitch cipriota atual. Queixa-se este: “Há duas razões para estar mos em pânico por aqui. aqui. Primeiro, temos m edo de que a União Europeia simplesmen te nos abandone e deixe deixe nossa econ om ia entrar em colaps o...” o...” O administrador da da UE o interrompe: interrompe: “Mas vocês podem confiar em nós, não vamos abandoná-los, vamos controlá-los estritamente e lhes dizer o que fazer!” fazer!” "Bem ”, responde Rabinovitch com toda a calma, calma, “essa “essa é minh a segun da razão.” Esse dilema está no cerne da triste situação situação de Chipre: não é capaz de so breviver na prosperidade prosperidade sem a E uropa, mas com com a Europa tam bém não. As duas opções são piores, piores, com o diria Stál Stálin. in. Relem brem os a cruel piada de Ser Se r ou não nã o ser, ser, de Lubitsch: quando indagado sobre os
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campos de concentração alemães na Polônia ocupada, o oficial nazista responsável, responsável, “Erhardt Cam po de Co ncentração”, responde: responde: “Nó s fazem os a concentração, concentração, os poloneses faze faze m o camp o.” O m esm o não seria seria válido para a atual crise financeira europeia? A poderosa Europa setentrional, centrada na Alemanha, faz a concentração, enquanto o enfraquecido e v u l n e r á v e l s u l o c u p a o c a m p o . A s s im , sã o v is ív e is n o h o r i z o n t e o s c o n tornos de um a E uropa dividida: dividida: sua parte meridional será cada cada vez mais reduzida a um a região co m u m a força de trabalho trabalho barata, barata, fora da rede de seguran ça do Estado de bem-estar social social,, um dom ínio apropriado para a terceiriz terceirização ação e o turismo. turismo. Em suma, a brecha brecha entre o m undo desenvolvido desenvolvido e os que ficaram para trás agora está se abrindo na própria Europa. Essa brecha se reflete nas duas principais histórias sobre Chipre, a que correspondem duas histórias semelhantes sobre a Grécia. Há o que se po de cha m ar de história alemã: a liberalidade liberalidade no s gastos, as dívidas e a lavagem de dinheiro não po dem continuar indefinidamente. indefinidamente. E há a história história cipri cipriota ota:: as medidas brutais brutais da UE equivalem a um a nova ocupação alemã alemã que está tirando do país sua soberania. As duas histórias estão erradas e as exigências que im plicam não fazem senti sentido: do: Ch ipre, por definição, definição, não pode pagar sua dívida, enquanto Alemanha e UE não podem continuar simplesmente joga nd o dinheiro no po ço sem fun do das finança finançass cipriot cipriotas. as. A m b a s o c u l t a m u m fa to fu n d a m e n ta l: q u e h á a lg o e r r a d o n u m si s te m a em que a especulação bancária incontrolável incontrolável pode levar um país país inteiro inteiro à bancarrota. A crise de Chipre não é uma tempestade no copo d’água de um pequeno país marginal, mas um sintoma do que está errado em todo o sistema da UE. É por isso que a solução não é somente mais re gulam entação para evitar a lavagem de dinheiro e assi assim m por diante, mas (pelo menos) uma mudança radical em todo o sistema bancário bancário - para para dizer o indizível, algum tipo de socialização dos bancos. A bancos. A lição lição das quebras quebras que se acumulam pelo mundo desde 2008 (Wall Street, Islândia e assim por diante) é clara: toda a rede de transações e fundos financeiros, dos depó sitos sitos individuais e dos fundos de pensão até até o fun cionam ento de todos os tipos tipos de derivativos, derivativos, terá de ser ser colocada de algum a form a sob o controle social, social, ajustada ajustada e regulam entada. Isso Isso pode parecer utópico, m as a verda
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deira utopia é a noção de que podemos sobreviver de algum modo com pequenas m udanças cosméticas. cosméticas. Mas há aqu i um a arm adilha fatal fatal a ser ser evitada: evitada: a socialização socialização dos ban cos de que se necessita não é um acordo entre o trabalho assalariado e o capital produtivo contra o poder financeiro. Crises e colapsos financeiros são lembretes óbvios de que a circulação do capital não é um circuito fe chado capaz de sustentar a si m esm o - ou seja seja,, que essa circulação circulação aponta para a realidade de produzir e vender produtos reais que satisfaçam as necessidades reais das pessoas. Entretanto, a lição mais sutil dos colapsos e das crises é que não há retorno a essa realidade - toda a retóric retóricaa do "vamos sair do espaço virtual da especulação financeira e voltar às pessoas reais que pro du zem e consomem ” é profundam profundam ente equivocada: equivocada: é ideologia ideologia em sua forma m ais pura. O paradoxo do capitalismo capitalismo é qu e não se pod e jog ar fora a água suja das especulações financeiras e preservar o bebê saudável da economia real: a água suja é efetivamente a “genealog ia” do bebê bebê saudável.
Agor Ag oraa sabemos quem é John Galt! Esse paradoxo tornou-se palpável no outono de 2013 com a paralisação das atividades do aparelho de Estado norte-americano. O que foi real mente essa paralisação? Em meados de abril de 2009, eu estava descan sando num quarto d e ho tel em Syracuse, estado estado de N ov a York, York, dividindo dividindo minha atenção entre dois canais: um documentário da PBS sobre Pete Seeger, o grande cantor country esquerdista americano, e uma reporta gem da Fox N ew s sobre o "Tea P arty”, contrário contrário aos impostos, em Au stin, stin, Texas, em que outro cantor country apresentava uma canção populista anti-Obam anti-Obam a, cheia chei a de queixas quei xas sobre s obre como W ashington está está impon do impostos às pessoas comuns que trabalham duro para custear os ricos financist financistas as de W all Street Street.. H avia um a estranha similaridade similaridade en tre os dois dois cantor cantores: es: am bos form ulavam um a queixa populista ao Estado Estado e aos ric ricos os desonestos, pedindo medidas radicais, entre elas a desobediência civil. O que co nstitui nstitui outro doloroso lembrete de que, pelo m enos no que se refere refere
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à forma de organização, a direita radical-populista atual estranhamente nos lem bra a antiga esquerda radicalradical-populist populista. a. Será que os grup os cristã cristãos os sobrevivencialistas-fundamentalistas de hoje, com sua condição semilegal e vendo como principal ameaça à sua liberdade o aparelho opressivo do Estado, não estão organizados da mesma forma que os Panteras Negras lá na década de 1960? Em ambos os casos, temos um grupo militarizado se preparando p ara a batalha batalha final. final. Por qu anto tem po essa essa habilidosa habilidosa ma nipulação ideológica continuará funcionando? Por quanto tempo a base do Tea Party continuará se atendo à irracionalidade fundamental de sua agenda de proteger os interes interesses ses das das pessoas pessoas com uns que traba lham duro privilegiando os “ricos desonestos” e dessa forma contrariando literal mente seus próprios interesses? A l g u n s d e n ó s se r e c o r d a m d as v e lh a s e in f a m e s tir ti r a d a s c o m u n is t a s contra a liberdade liberdade "form al” burgu esa - p or mais ridículas ridículas que sejam, sejam, há um elemento de verdade verdade nessa disti distinção nção entre liberdade liberdade “ form al” e "real”. Um gerente de uma empresa em crise tem a “liberdade” de despedir o trabalhador A ou B, mas não de mudar a situação que lhe impôs essa es colha. colha. No m om ento em que abordamos dessa dessa m aneira o debate debate sobre sobre o sistema sistema d e saúde nos Estados Unidos, a "liberda de de esco lha” aparece de um a forma d iferente iferente.. É verdade que grand e parte da popu lação será será efeti efeti va v a m e n t e lib li b e r ta d a d a d u v id o sa “ lib li b e r d a d e ” d e se p r e o c u p a r c o m q u e m v a i cobrir sua doença, de encontrar um cam inho através através da intrincada intrincada rede de decisões financei financeiras ras e outras. outras. Po dend o tom ar com o certa a atenção atenção básica básica de saúde, contar com ela como se conta com o suprimento de água, sem se preocupar em ter de escolher o fornecedor, as pessoas simplesmente ganham mais tempo e energia para dedicar a outras coisas. A lição a ser extraída é que a liberdade de escolha é algo que só funciona de fato se hou ver u m a com plexa rede de con dições jurídicas, jurídicas, ed ucacionais, ucacionais, éticas éticas,, econômicas e outras como uma invisível base compacta para o exercício dessa liberdade. É por isso que, como um antídoto à ideologia da escolha, países países com o a No ruega d everiam everiam ser ser tomados tomados com o m odelo: odelo: em bora todos os principais agentes respeitem um acordo social básico e amplos projetos sociais sociais sejam sejam re alizados em solidari solidariedade, edade, a produ tividad tividad e e a dinâm ica
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sociais sociais encontram-se encont ram-se num nível extraordinário, extraordinário, negand o perem ptoria mente a visão de senso comum de que uma sociedade como essa deveria ser estagnada. N ã o m u i ta ta s p es e s s oa o a s s a b em e m - e u m n ú m e r o a i n d a m e n o r a p r ec e c ia ia a ironia do fato f ato - que "M y W ay”, a icônica icônica canção de F rank Sinatr Sinatraa que supostamente expressa o individualismo indivi dualismo n orte-americano, orte-americano, é um a versão americanizada da canção francesa "Comme d’habitude” , que significa “como de hábito” hábito” ou “como de costum e”. É mu ito fácil fácil ver esse par - o ori ginal francês e sua versão am ericana ericana - como outro exem plo da oposição oposição entre as maneiras estéreis estéreis dos franceses e a inven inven tividade dos am ericanos (os franceses seguem costumes estabelecidos, enquanto os americanos b u s c a m n o v a s s o lu ç õ e s ); m a s e se a b a n d o n a r m o s a f a ls a a p a r ê n c ia d e oposição e percebermos no hábito de “comme “comme d ’habitude" a triste verdade oculta da tão louvada busca por novos caminhos? Para conseguir fazer algo “do m eu jeito”, cada cada um de nós deve confiar em que um a série série de coisas coisas se se com porte comme comme d ’habitude. U ’habitude. U ma série série de coisas, coisas, em outras pala pala vr v r a s , d e v e se r r e g u la m e n t a d a p a ra q u e p o s s a m o s g o z a r d e n o ss a lib li b e r d a d e não regu lame ntada.17 ntada.17 Um a das estranhas conseq uênc ias do colapso finan ceiro d e 20 2008 e das medidas tomadas para enfrentá-lo (enormes somas de dinheiro para aju dar os bancos) bancos) foi a redescoberta da obra de Ay n Rand, a maior expressão ideológica do capitalismo radical ao estilo “a cobiça é boa": as vendas de A revolta de A tlas tl as,, sua magnum opus, e opus, e xplodiram . P ara alguns, já já há sinais sinais de que o cenário descrito em A revolta revol ta de A tlas tl as - os próprios “capitalistas “capitalistas criativos” criativos” entrando em grev e - está sendo montado. M as essa essa reação cons titui um a interpretação quase totalmen te equ ivocada da situaçã situação: o: a maior parte das gigantescas somas de socorro financeiro financeiro foi exatamente para os desregulamentados “titãs” randianos que fracassaram em seus esquemas "criativos” "criativos” e, ao fazê-l fazê-lo, o, prov ocar am o colapso. colapso. Não são os grande s gênios criativos criativos que estão a gora ajudando as pregu içosas pessoas comuns; em v e z d isso is so , o s c o n tr ib u in te s c o m u n s é q u e e s tã o a ju d a n d o o s "g ê n io s c r ia ti ti v o s ” frac fr ac a ss a d o s. B a sta st a ria ri a r e le m b ra r q u e o p a i p o líti lí ticc o -id -i d e o ló g ic o d o l o n g o processo econômico que se encerrou com o colapso de 2008 foi Alan
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Greenspan, um “objetivista” randiano de carteirinha. Assim, enfim fica m os sabendo qu em é John G alt - o idiota idiota responsável pelo colapso finan ceiro de 2008 e, logo, pela ameaça de paralisação do aparelho de Estado. Para realmente despertar do “sonho dogmático” capitalista randiano (como diria diria Kant), Kant), deveríam os aplicar a nossa nossa situação situação o velh o gracejo de comparado Brecht em sua Ópera dos três vinténs: “O que é roubar um banco comparado a fundar um?” O que é o roubo de alguns milhares de dólares, pelo qual va i-se i- se p re so , c o m p a r a d o às e s p e c u la ç õ e s fin fi n a n c ei ra s q u e t ir a m d e d e ze n a s de m ilhões seus lares lares e poupan ças e depois são recompen sadas pela ajuda ajuda do Estado em sua sublim sublim e grandeza? Talv ez José Sarama go estivesse certo certo quando propôs tratar os gerentes dos grandes bancos e ou tros responsáveis responsáveis pelo colapso como perpetradores de crimes contra a humanidade, cujo lugar é o T ribunal de Haia; talvez não devêssem os tratar essa essa propo sta com o u m m ero exagero poético ao estilo estilo de Jonathan Jonathan Sw ift, ift, m as levá levá-l -laa a sério. Isso, porém, nunca vai acontecer, pois, seguindo a doutrina do ba b a n c o grande dema is para fa lir lir (a lógica sendo que sua falência teria conse quências catastróf catastróficas icas para toda a economia), tem os a gora a do utrina do ba b a n c o grande demais para indiciar1 indiciar 18 (uma v ez que, pode-se a rgum entar, seu indiciamento teria consequências catastróficas para o status financeiro e moral das elites governantes). Essas elites, principais culpadas pelo colapso financeiro de 2008, agora se im põ em com o especialistas especialistas,, os únicos capazes de nos con du zir pelo ca m inho peno so da recuperação financeira financeira,, e cuja orientação orientação deveria agora prevalecer na política parlamentar, ou como disse Marió Monti: "Os que gove rnam não devem aceitar aceitar ser ser totalm totalm ente guiados pelos parlamenta par lamenta res.”19 O que é, então, essa força superior cuja autoridade pode suspen der as decisões dos representantes do povo democraticamente eleitos? A resposta foi dada já em 1998 por Han s Tietm eyer, então presidente do Deu tsches Bundesbank, qu e saudou os governos nacionais por preferirem preferirem “o plebiscito plebiscito pe rm anen te do s me rcado s globa is” ao “plebiscito “plebiscito das urnas” .20 Observe-se a retórica democrática dessa declaração obscena: os mercados são mais dem ocráticos do que as eleições eleições parlamen parlamen tares, pois neles o pro cesso cesso de voto continua perm anentem ente (e é perman entem ente refleti refletido do
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nas flutuações flutuações do mercado) mercado) e num nível global - não apenas a cada cada quatro anos e dentro dos limites de um Estado-nação. A ideia subjacente é que, libertas desse co ntrole superior dos m ercado s (e de seus especiali especialistas stas), ), as dem ocráticas ocráticas decisões parlamentares são “irresponsáveis”. A s c o n se q u ê n c ias ia s d esse es se p e n s a m e n to fo r a m - e são sã o - se n tida ti da s p o r to d a a Europa. Numa das últimas entrevistas antes de sua queda, Nicolae Ce au jescu revelou a um jornalista ocidental como justificava justificava o fato de os cidadãos romenos não poderem viajar livremente para o exterior, embora a liberdade liberdade de mo vim en to fosse garantida pela constituição da Romênia. A resposta de Cea usescu segu iu a me lhor linha do sofisma stali stalinist nista: a: verdade, a constituição constituição garantia a liberdade de mo vim ento , mas tam bém o direito direito das pessoas a um lar segu ro e próspero. Temos, então, então, um potencial conflito de direitos: se os cidadãos romenos tivessem permissão de deixar livremente o país, país, a prosperidade deste seria seria ame açada e eles colocariam em p erigo seu direito direito a u m lar seguro. N esse con flito de direito direitos, s, deve-se fazer um a escolha, e o direito direito a um país seguro e próspero tem evidente prioridade. prioridade. Parece que esse esse m esm o espírit espíritoo do sofisma stalinista stalinista está está viv o e bem de saúde na atual Eslovênia, onde, em 9 de dezembro de 2012, o Tribunal Con stitucional stitucional concluiu que um a proposta de referendo referendo a respeito respeito de um a lei que criava um “banco ru im” e um a holding soberana era era inconstitucio nal - proibindo, proibindo, assi assim, u m a votação pop ular sobre sobre o tema. O referendo referendo fora proposto por sindicatos contra a política econômica neoliberal do gov erno, e a proposta cons egu iu um núm ero suficiente suficiente de assinat assinaturas uras para torná-la torná-la constitucionalm ente ob rigatória. rigatória. A ideia do go vern o era transferir todos os créditos de maus pagadores dos principais principais bancos para um “banco ruim”, que então seria salvo com dinheiro do Estado (ou seja, à custa dos contribui contribuintes) ntes),, e vitando u m a investigação séria séria sobre o responsável pelo fiasco financeiro. Essa medida, uma questão de política financeira e eco nôm ica, foi debatida debatida durante m eses e estava long e de ser aceita aceita de mane ira geral até mesmo por especialistas em finanças. Assim, por que proibir o refere referendo? ndo? Em 2011, quando o go vern o Papandreou, na Grécia, propôs um referendo sobre medidas de austerid austeridade, ade, hou ve pânico em Bruxelas, Bruxelas, mas mesmo lá ninguém ousou diretamente proibi-lo.
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D e acordo com o Tribunal Co nstitucional esloveno, esloveno, o referendo referendo “teri “teriaa consequências inconstituci inconstitucionais” onais” - m as como? O T ribunal concordo u que o referendo era um direit direitoo constitucional constitucional,, mas afirm afirm ou que sua realização realização colocaría em perigo outros valores constitucionais que deviam ter prio ridade numa situação de crise econômica: o funcionamento eficiente da m áqu ina de Estado, Estado, sobretudo no qu e dizia respeito respeito à criação criação de condições para o crescimen to econôm ico; a efetivação efetivação dos direitos direitos hum anos, em es pecial aqueles referentes à segurança social e à livre iniciativa econômica. Em suma, em sua avaliação das consequências do referendo, o Tribunal Constitucional simplesmente aceitou como fato indiscutível o raciocínio das autoridades financeiras internacionais que exercem pressão sobre a Eslovênia para que adote novas medidas de austeri austeridade: dade: deixar de obed ecer aos ditam ditam es das instituições instituições financeiras internacionais internacionais (ou deixar de con cretizar suas expectati expectativas) vas) pode levar a um a crise polític políticaa e eco nôm ica e é, assi assim, m, inconstitucional. inconstitucional. Falando abertamente: um a ve z qu e con cretizar esses esses ditames/expectativas do setor financeiro financeiro é cond ição para man ter a ordem constitucional, eles têm prioridade sobre a con stituição (e, (e, portanto, sobre a sobera nia do Estado) Estado).. Não adm ira, assi assim, m, qu e a decisão decisão desse tribunal tribunal tenha deixado cho ca dos mu itos especialistas jurídico s. O dr. dr. France Bucar, a ntigo dissidente e um dos pais da independê ncia eslovena, eslovena, assinalou assinalou que, segu indo a lógica lógica do Tribunal C onstitucional, onstitucional, qualquer referendo referendo po de ser proibido, proibido, um a v e z q u e to d a aç ão t e m c o n s e q u ê n c ia s so ciai ci ais: s: “C o m essa es sa d e cisã ci sã o , os j u iz e s constitucionai constitucionaiss passaram passaram a si si m esmo s um cheque em branco que lhes lhes permite proibir qualquer coisa que se possa imaginar. De onde vem o direito do Tribunal Constitucional de avaliar o estado da economia ou das instituições bancárias? Ele só pode avaliar se determinada regulação ju j u r íd ic a e stá st á d e a co rd o c o m a c o n s titu ti tu iç ã o o u n ã o . Isso Is so é tu d o !” Evidentemen te, pode haver conflito entre d iferentes iferentes direit direitos os co nsti tucionais: se um grupo de pessoas propusesse, digamos, um referendo abertamen te racist racista, a, pedindo ao povo que endossasse endossasse um a lei perm itindo itindo a tortu ra policial, ele deveria ser indiscu tivelm ente proibido. En tretanto, tretanto, a razão da proibição proibição nesse nesse caso é que o princípio princípio pro m ovido pelo referendo
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(a aceitabilidade da tortura) choca-se diretamente com outros artigos da constituição, constituição, en quanto no caso da Eslovênia a razão da proibição proibição não diz respeito a princípios, princípios, mas às (pos (possí sívei veis) s) consequên cias pragm áticas de um a medida econômica. A E s lo v ê n ia p o d e se r u m p e q u e n o p a ís m a r g in a l, m a s a d e c is ã o de se u Tribuna l Con stitucional foi sintoma sintoma de um a tendência global no sentido de limitar a democracia. A ideia é que, numa situação econômica complexa com o a atual, a ma ioria das pessoas não está qualificada para decidir - elas elas só querem m anter intactos intactos seus seus privilégios, desconhecen do as consequên cias catastróficas que teriam lugar se suas exigências fossem aceitas. Essa linha linha de argumen tação não é nova. nova . N um a en trevist tr evistaa na te tellevisão evisão uma década atrás atrás,, o teórico R alf D ah ren do rf estabeleceu um a ligação ligação entre a crescente desconfiança na dem ocracia e o fato fato de que, depois de um a m u dança revolucionári revolucionária, a, o cam inho para um a nova prosperidade prosperidade passa passa por um “vale de lágrima s”. Ap ós o colapso colapso do socialismo, não se poderia passar passar diretamente para a abundância de uma próspera economia de mercado - era preciso desm ontar o limitado, limitado, m as verdadeiro, sistema sistema socialista socialista de be b e m -e s ta r e s e g u r a n ç a so c ia l, e o s p r im e ir o s p a s s o s sã o n e c e s s a ri a m e n te dolorosos. O mesmo vale para a Europa ocidental, em que a passagem do Estado de bem-estar social pós-Segunda Guerra Mundial para a nova econom ia global global en volve renúncias renúncias doloros dolorosas, as, men os segurança, m enos garan tias de assistência social. social. Na década de 1990, circulou na Alem anh a o rum or (se non è vero, è ben trovato) trovato) de que, numa visita a Berlim depois de perder o poder, Gorba chev deu um telefonem telefonem a de surpresa para o ex-chanceler W illy Brandt Brandt.. Entretanto, quand o ele (com seus seguranças) seguranças) che gou à casa casa de Brandt Brandt e tocou a campainha, este se recusou a vê-lo. Mais tarde, explicou a um am igo por que nunca perdoara G orbach ev por perm itir itir a dissolução dissolução do b lo c o c o m u n is ta - n ã o p o rq u e B ra n d t fo ss e u m a d m ir a d o r s e c re to d o c o munismo soviético, mas porque sabia muito bem que o desaparecimento do bloco comunista também acarretaria o fim do Estado de bem-estar social-democrático da Europa ocidental. Ou seja, Brandt sabia que o sis tema capitalista só está disposto a fazer consideráveis concessões aos tra
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ba b a lh a d o r e s e ao s p o b r e s d ia n te d a sé ria ri a a m e a ç a d e u m a a lte lt e rn a tiv ti v a , d e u m m odo de produção diferente diferente que prom eta conceder aos trabalhadores trabalhadores seus seus direit direitos. os. Para man ter sua legitim legitim idade, o capitalismo capitalismo d eve dem onstrar que funciona m elhor até para os trabalhadores trabalhadores e os pobres - e, no m om ento em que essa alternativa desaparece, pode-se ir em frente e desmontar o Estado de bem-estar social. Para Dahrendorf, contudo, o problema é mais bem resumido pelo simples fato de essa essa dolorosa passagem pe lo "vale de lágrim lágrim as" d urar mais do que o intervalo médio entre eleições (democráticas), de modo que há um a grande tentação tentação de postergar mudanças difíc difíceis eis em favor de ganhos eleitorai eleitoraiss de curto prazo. Na visão de D ahrend orf, a constelação constelação paradig mática que aqui se apresenta é a decepção do amplo espectro de nações pós-comu nistas com os resultados resultados econôm icos da nov a ordem dem ocrática. ocrática. Nos dias gloriosos de 1989, eles estabeleciam uma equivalência entre a dem ocracia e a abundância das sociedades sociedades de consu m o ocidentai ocidentais; s; agora, dez anos depois, quando a abundância ainda não chegou, eles culpam a própria dem ocracia por isso. isso. Infelizmente, Infelizmente, D ah ren do rf concentra-se concentra-se m uito menos na tentação oposta: se a maioria resiste às mudanças estruturais necessári necessárias as na econom ia, será que a conclusão lógica (ou pelo m enos u m a delas) não seria que, por uma década ou mais, uma elite iluminada assu misse o po der, ainda que po r m eios não dem ocráticos, a fim de aplicar aplicar as as medidas necessárias e assim estabelecer os alicerces de uma democracia ve v e r d a d e ir a m e n te es táve tá ve l? N e s s a m e s m a li n h a , F a re e d Z a k a r ia a s s in a lo u que a democracia só pode "pegar” em países economicamente desenvol vid v id o s : se p a ís e s e m d e s e n v o lv im e n to f o r e m " d e m o c r a ti z a d o s p r e m a tu r a m ente”, o resultado resultado é um popu lism lism o que term ina na catástrof catástrofee econôm ica e no despotism despotism o político. político. Não adm ira que os países países do Terceiro M undo mais bem-sucedidos bem-sucedidos eco nom icamente nos dias de de hoje (Taiwan, (Taiwan, Coreia do Sul, Sul, Chile) Chile) só tenha tenha m abraçado abraçado a democracia após após um período de gov erno autoritário. E, além disso, essa linha de pensamento não fornece o melhor argum ento para o reg ime autorit autoritári árioo da China? China? Não surpreende q ue exista hoje, hoje, entre algun s nacionalist nacionalistas as russos, russos, um a certa nostalgia de Iúri Iúri And ropov, o ch efe do K GB que se tornou secretári secretárioo-
Prob Problem lema a no paraís paraísoo
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geral do Partido C om unista soviético em 1982 mas m orreu apenas dezoito meses após che gar ao poder. Essa Essa nostalgia é por um tipo de história história alter nativa: nativa: se A nd rop ov tivesse vivid o m ais tem tem po, a URSS teria teria sobrevivido à m aneira chinesa. Ele queria introdu zir reform reform as eco nôm icas radicai radicais, s, e seu programa, no qual estava trabalhando desde 1965, era semelhante ao do C hile de Pinochet: um pode r de Estado Estado autoritário autoritário e centralizado centralizado intro duz, por meios não democráticos e sem debate público, um complexo de ' transformações modernizadoras impopulares voltadas à ocidentalização do país país.. A nd rop ov tinh a m uita consciência de que, que, por m uitos anos, seri seriaa necessária uma ditadura rígida, quase stalinista, em função da oposição que essas reformas liberais iriam provocar. Ele também queria abolir as divisões etnoterritoriais etnoterritoriais da URSS, um a ve z que, em sua opinião, abrir abrir mão das repúblicas repúblicas não russas significaria significaria destruir gran de parte da nomenklatura do partido. partido. C onseq uentem ente, considerava proibir a atividade atividade de todos os partidos (o que significava colocar o Partido Comunista na ilegalidade). Em lugar das repúbl repúblic icas, as, And rop ov queria queria criar dez regiões econôm icas concorrentes, a melho r das quais quais iria iria liderar liderar o país país com o um todo e su perar a degradação do sistema de maneira geral, seguindo em parte o m odelo chinês. Para dirigir essas essas regiões, An dro po v sabia sabia que precisaria precisaria de novos profissionai profissionais, s, e para isso isso tinh tinh a em vista algun s funcion ários do KGB e outros que estavam preparados para trabalhar com a agência agência nessa nessa direção. direção. A decisão decisão de An dro po v de im plantar polít políticas icas ultraliberai ultraliberaiss por me ios autoritári autoritários os era um reflexo reflexo do espírito espírito Reag an-Th atcher da década década de 19 1980 - para a Rússia, a alternativa do m od elo d e socialism o su eco era considerada inadeq uada .21 .21 A n o v id a d e h o je e m d ia é q u e , c o m a c o n ti n u id a d e d a c r is e in ic ia d a em 200 2008, essa essa me sm a descon fiança na dem ocrac ia - antes confinada ao Terceiro Terceiro M undo ou aos aos país países es pós-comunist pós-comunistas as em desenvolvimento - está está ganhando terreno nos próprios países desenvolvidos do Ocidente: o que uma ou duas décadas atrás era um conselho arrogante que dávamos a outros ago ra se aplica aplica a nós me sm os. M as e se se essa desconfiança for jus ti ficada? E se só os especialistas puderem nos salvar, com uma democracia plena ou menos que is isso? so? O m ínim o que podem os d izer é que a atual cri crise se
Diagn Diagnose ose:: Hors d’oeuvre? d’oeuvre?
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oferece m uitas provas de qu e não é o p ovo , mas os próprios especialist especialistas as que, em grande parte, não nã o sabem o que estão fazendo. fazendo. N a Europa ociden tal, estamos efetivamente testemunhando uma crescente incapacidade da elit elitee governante - eles eles sabem sabem cada cada vez m enos com o governar. Vejam como a Europa está lidando com a crise na Grécia: pressionando o país a pagar suas dívidas, mas ao mesmo tempo arruinando sua economia com a imposição de medidas de austeridade e assim garantindo que a dívida grega jam ais seja seja paga. No final final de d ezem bro de 201 2012, o próprio FMI publicou publicou um a pesquisa pesquisa m ostrando que o prejuízo prejuíz o econôm ico provo cado po r med idas agressivas agressivas de austeridade austeridade pode ser até até três três vezes m aior do que se imaginava antes, portanto revogando sua própria prescrição de austeridade para o enfrentamento da crise na Zona do Euro. Agora o FMI admite que forçar a Grécia e outros países assolados pelas dívidas a reduzir seus déficits com demasiada rapidez poderia ser contraproducente - agora, depois de de centenas centenas de milhares de em pregos terem sido sido perdidos perdidos em fu nção desse desse “erro de cálculo ”. E nisso nisso reside reside a verdadeira m ensage m dos protestos populares “irracionais” por toda a Europa. Os manifestantes sabem muito bem o que não sabem: não imaginam ter respostas rápidas e fácei fáceis, s, mas o que seu instinto lhes lhes d iz é, é, não obstante, verdade - que os que estão no poder também não sabem. Na Europa de hoje, cegos estão guiand o cegos. A política política de austeri austeridade dade não é verdadeiramente u m a ci ência ência,, nem m esmo num sentido sentido mínim o. Está mais próxim próxim a de ser ser um a forma co ntempo rânea de supersti superstição ção - um a espécie espécie de reação em ocional a uma situação impenetravelmente complexa, uma reação de senso comum do tipo “as coisas foram mal, temos alguma culpa, precisamos pagar o preço e sofr sofrer, er, assim assim vam os faze r algum a coisa dolorosa e gastar men os”. A a u s te r id a d e n ã o é “r a d ic a l d e m a is ” , c o m o a f ir m a m a lg u n s c r ít ic o s d e esquerda, mas, pelo contrário, superficial demais: um ato de negação das ve v e r d a d e ir a s r a íz e s d a cr ise. is e. O utro exem plo desse desse pensam ento mágico (e um verdadeiro mo delo da quilo que H egel deno m inou pensam ento abstra abstrato) to) é a cham ada “curv a de Laffe Laffer", r", evocada pelos defensor defensores es do livre livre m ercado com o u m argum ento contra a tributação excessiva. A curva de Laffer é uma representação da
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Proble Problema ma no paraíso paraíso
relação entre as possíveis taxas de tributação e os resultantes níveis de receita receita do governo, ilustrando o m odo com o a renda tributável vai mu dar em resposta a m odificações na taxa de tributa tributação. ção. Ela afirma que nen hum a receita fiscal fiscal é arrecadad a nas taxas ex trem as de o% e de 100 100%, %, e que deve haver pelo menos um a taxa em que essa essa renda seria seria um m áxim o diferente diferente de zero: mesmo do ponto de vista do governo que tributa as empresas, uma renda mais alta não é obtida por impostos mais altos. Há um ponto em que os impostos mais alto altoss com eçam a funcionar com o u m desincen desincen tivo, tivo, provoc ando a fuga de capit capitais ais e, consequentem ente, um a redução da receita receita fiscal fiscal.. A prem issa implícita implícita nesse raciocínio é qu e hoje em dia a taxa tributária já é m uito alta e reduzi-la reduzi-la iria, iria, portanto, não apenas ajudar as empresas, empresas, mas tam bém aum entar as rendas rendas tributáve tributáveis. is. O problema desse desse raciocínio é que, e m bora possa ser verda deiro nu m sentido abstrato abstrato,, as coi sas sas ficam ficam m ais complicadas complicadas no m om ento em que situamos a tributação tributação na totalidade totalidade da reprodução econ ôm ica. Grand e parte do dinhe dinhe iro recolhido recolhido por m eio de im im postos é novam ente gasto com p rodutos das das empresas empresas pri pri va v a d a s , d a n d o - lh e s a ss im u m in c e n t iv o . M a is im p o r t a n te a in d a, as r e c e ita it a s tributárias tributárias tamb ém são gastas gastas na criação criação de con dições adequadas para o funcionamento das empresas. Tomemos duas cidades comparáveis, uma com taxas tributári tributárias as baixas e a outra com taxas elevadas. elevadas. Na prim eira delas a educação e a saúde públicas estão em más condições, o crime está explodindo e assim por diante; enquanto isso, a outra gasta suas receitas maiores com m elhor educação, educação, melho r fornecimen fornecimen to de energia, energia, melhores transportes etc. etc. Não seria seria razoáv el supor que m uitas empresas considera riam a segun segun da cidade mais atraente em term os de investimentos? investimentos? Assim, paradoxalmente, se a primeira cidade decide decide segu ir a segunda em matéria de política política fisc fiscal, al, aum entar os im im postos pod e dar ma ior incentivo às em presas presas privadas. (E, (E, a propósito, m uitas antigas nações com unistas semidesenvolvidas nas quais os países países desen volvidos estão terceirizand o suas suas indústrias são são exploradas, um a ve z que, nelas, nelas, as emp resas ocidentais têm acesso a um a força de trabalho q ualificada e m ais barata que se ben eficiou da educação pública: assim, o Estado socialista fornece educação gratuita para a força de trab alho de e mp resas ocidentais.)2 ocidentais.)22
Diagno Diagnose: se: Hors Hors d ’oeuvr ’oeuvree?
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Estar à beira da dívida como modo de vida Um espectro paira hoje em dia sobre o capitali capit alismo smo - o espectro da dívida dívida.. Todos os poderes do capitalismo formaram uma sagrada aliança para exo rcizar esse espectro, espectro, m as será será que querem m esm o se livrar livrar dele? dele? MauMaurizio L azza rato 23 fornece u m a análise detalhada detalhada de com o, no capitali capitalismo smo global de hoje, a dívida dívida fun ciona através de toda um a ga m a de prátic práticas as e níveis sociais, desde os Estados-nação até os indivíduos. A ideologia neoliberal hegem ônica busca estender a lógica da comp etição de mercado a todas as áreas da vida social a fim de que, por exemplo, saúde e educa ção - ou m esm o as próprias decisões decisões políticas políticas (o (o voto) - sejam sejam percebidas com o investim entos feitos feitos por indivíduos c om seu próprio capital. capital. Dessa man eira, eira, o trabalhador não é mais concebido concebido m eramen te com o força de trabalho, mas como um capital pessoal tomando boas ou más decisões de “investimento” ao mudar de um emprego para outro e aumentar ou reduzir seu valor de capital. Essa nova conceituação do indivíduo como "empresário de si si m esm o” significa significa um a m udança imp ortante na nature za da governança: u m afastamento da relativa relativa passivi passividade dade e com partimen partimen talização dos regimes disciplinares (a escola, a fábrica, a prisão), assim como do tratam en to biopolítico da popu lação (pelo Estado de bem -estar social social). ). Com o se pode governa r indivíduos indivíduos concebid concebidos os como agentes agentes autônomos das escolhas escolhas do livre m ercado, o u seja, seja, com o “empresários de si m esm os” ? A g o v e r n a n ç a é a g o r a e x e r c id a n o n ív e l d o a m b ie n t e e m q u e as p e s s o a s t o m am suas decisões decisões aparentemen te autônomas: os riscos riscos são são terceirizados terceirizados de em presas e Estados Estados para indivíduos. Por m eio dessa individua lização da política política social e dessa dessa privatização da proteção social m ediante seu alinham ento com as norm as do mercado, a proteção torna-s torna-see condicional (não (não mais um direit direito) o) e é ligada ligada a indivíduos cujos com portam entos são, são, assim, expostos à avaliação. Para a maioria das pessoas, ser um “empresá rio de si si mes m o” refere-se à capacidade capacidade do indivíduo de lidar lidar com riscos riscos terceirizado terceirizado s sem ter os recursos o u o poder ne cessário cessário para fazê-lo de maneira adequada:
Problem Problema a no paraíso paraíso
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as atuais atuais políticas políticas neoliberais prod uze m um capital hum ano ou “empresário de si si mesm o” m ais ou menos endividado e mais ou menos pobre, mas sem pre precário. Para a maioria da população, tornar-se um “empresário de si mesmo” resume-se a gerenciar sua empregabilidade, suas dívidas, a queda do salário e da renda e a redução dos serviços sociais de acordo com a empresa e as normas de concor rência.24 rência.24 Como os indivíduos se tornam mais pobres devido à redução de seus salários e à remoção da proteção social, o neoliberalismo lhes oferece uma com pensação po r meio da dívida dívida e da promo ção da partici participação pação acionária. acionária. Dessa maneira, os salários ou pensões não aumentam, mas as pessoas têm acesso acesso ao crédito ao co nsum idor e são encorajadas encorajadas a se se preparar para a aposentadoria por meio de portfolios de ações pessoais; não têm mais direito à m oradia, mas têm acesso acesso ao crédito mediante hipoteca; não têm m ais direito direito à educação superior, superior, mas pode m usar o créd ito estudantil; estudantil; a proteção mútua e coletiva contra riscos é suprimida, mas as pessoas são encorajadas a fazer seguro privado. Dessa maneira, sem substituir todas as relações existentes, o nexo credor-dívida vem suplantá-las: os trabalha dores tornam-se trabalhadores endividados (tendo de pagar aos acionistas por empregá-l empregá-los) os);; os consum idores tornam -se consu m idores endividados; endividados; os cidadãos tornam-se cidadãos endividados, tendo de assumir responsa bil b il id a d e p o r su a p a r t e n a d ív id a d o país pa ís.. Lazzarato baseia-se aqui na ideia de Nietzsche, desenvolvida em Genea logia da moral, moral, de que o que distinguiu as sociedades humanas, à medida que se afastavam de suas origens primitivas, foi sua capacidade de pro du zir um ser hum ano apto apto a prom eter retribui retribuirr aos aos outros e reconhecer reconhecer sua dívida para com o grupo. Essa promessa sustenta um tipo particular de memória orientado para o futuro (“Eu me lembro de que lhe devo, portanto vou me com portar de maneiras que me perm itam itam pagar-lhe pagar-lhe a dívida”), e assim se torna uma forma de governar condutas futuras. Em grup os sociais sociais mais primitivos, primitivos, as dívidas dívidas para com outros eram limitadas limitadas e podiam ser descartadas, enquanto com a chegada dos impérios e dos m onoteísmos a dívida dívida social social ou divina de alguém tornou-se tornou-se efetivam efetivam ente
Diagno Diagnose: se: Hors Hors d’oeu d ’oeuvre vre? ?
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impagável. O cristianismo aperfeiçoou esse mecanismo: seu Deus todo poderoso significava uma dívida infinita; ao mesmo tempo, a culpa de alguém por não pagá-la pagá-la era era internali internalizada. zada. O único m odo de possivelmente possivelmente pagá-la pagá-la de algum a form a era por m eio da obediência: obediência: à vontade de D eus, à Igreja Igreja.. A dívida, dívida, ancorada nos com portam entos passados e futuros e com seu escopo moral, era uma formidável ferramenta de governo. Todo o restante devia ser secularizado. Essa constelação faz surgir um tipo de subjetividade caracterizado pela moralização e pela temporalização específica. O sujeito endividado faz dois tipos de trabalho: trabalho: o assalariado e aquele sobre seu eu, qu e é nece s sário sário para prod uzir um sujeit sujeitoo cap az de prometer, de pagar dívidas, dívidas, e que está pronto a assum ir a culpa por ser um sujeito sujeito endividado. Um conjunto particular de tem poralidades é associado associado ao endividamento: pa ra ser ser capaz de pagar (lembrar-se de sua promessa), a pessoa deve tornar seu com portam ento prev isível, isível, reg ular e calculado. Isso Isso não apenas m ilita ilita contra qualquer revolta futura, com sua inevitável destruição da capacidade de retribuição; também implica uma eliminação da memória de rebeliões e atos atos de resistência resistência coletiva coletiva do passado passado que interrom pera m o curso no rm al do tem po e levaram a com com portam entos imprevisíveis. imprevisíveis. Esse suje sujeit itoo endi vid v id a d o é c o n s ta n te m e n te e x p o s t o à in s p e ç ã o c r ític ít ic a d e o u tros tr os : a v a lia li a ç õ e s e objetivos individualizados no trabalho, análises de crédito, entrevistas individuais para os que recebe m ben efícios ou créd itos públicos. O sujeito sujeito é assim compelido não apenas a mostrar que é capaz de pagar a dívida (e de pagar a sociedade sociedade por meio de com portamentos corret corretos) os),, m as tam bém a ter as as atitudes atitudes certas e assum ir a culpa por toda s as falhas. E aq ui que a assimetria entre credor e d evedo r se torna palpável palpável:: o “emp resário de si mesmo” que deve é mais ativo que os sujeitos aos modos de governança anteriores, mais punitivos; entretanto, privado da capacidade de governar seu tempo, ou de av aliar aliar seus próprios com portam entos, sua capacidade capacidade de ação autônoma é estritam estritam ente reduzida. reduzida. Caso pareça que essa dívida é simplesmente um instrumento do go ve v e r n o d e st in a d o a m o d u la r o c o m p o r t a m e n to d e in d iv íd u o s, d ev e- se o b se r va v a r q u e té cn ic a s se m e lh a n te s p o d e m se r ap lic ad as (e o são) à g o v e r n a n ç a de
Problem Problema a no paraís paraísoo
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instituições instituições e países países.. Q ualqu er um que acomp anhe o desastre desastre autom obilís obilís tico em câm era lenta lenta que é a crise crise atual não po de d eixar de estar consciente de como países e instituições estão sob avaliação constante (por agências de avaliação de crédito, por exemplo), têm que aceitar a culpa moral por erros e excess excessos os anterior anteriores es e comp rometer-se rometer-se a assumir no futu ro u m bo m comportamento, de modo a garantir que, independentemente dos cortes que precisem ser feitos no corpo de sua assistência social, ou nos direitos de seus trabalhadores, serão capazes de pagar à agência que concedeu o em préstim o co rtando a própria carne.25 carne.25 Dessa maneira, o maior triunfo do capitalismo ocorre quando cada trabalhador se torna seu próprio capitalista, o “empresário de si mesmo” que decide quanto investir em seu futuro (educação, saúde e assim por diante diante)) pagando esses esses investim entos m ediante a contração contração de dívidas. dívidas. O que antes eram direitos formais (à educação, à saúde, à moradia) trans forma-se, forma-se, assim, assim, em livres decisões de investimen investimen to qu e estão estão form alm ente no mesmo nível da decisão do banqueiro ou capitalista de investir nesta ou naquela empresa, empresa, de m odo que - nesse nesse nível form form al - todos são são capi talistas talistas que ficam en dividados a fim de investir. investir. Estam os aqui um passo passo além da igu igu alda de for m al, aos olhos d a lei, lei, entre capitalista capitalista e trabalhador. trabalhador. A m b o s sã o a g o r a in v e s tid ti d o r e s ca p ita it a list li stas as ; e n tr e t a n t o , a m e s m a d if e r e n ç a na “fisi “fisiono ono m ia de nossas dramatis personae”, personae”, que, de acordo com Marx, aparece após a troca entre trabalho e capital, reaparece aqui entre o inves tidor capital capitalist istaa propriame nte dito e o trabalhador qu e é com pelido a agir agir com o o “empresário de si si m esm o”: “Um , cheio de imp ortância, sorris sorrisoo satisf satisfeit eitoo e ávido por negócios; o outro, tím tím ido, contrafeito, contrafeito, com o algu ém que vendeu a própria pele e só está esperando ser esfolado.”26 E ele está certo em p erm anece r tímido: tímido: a liberdade liberdade de escolha que lhe foi im im posta é um a liberdade falsa; falsa; é a própria form a de sua servidão.27 servidão.27 De que maneira a atual aparição do homem endividado, específica das condições do capitali capitalismo smo global, se com para à relação relação devedo r/credor como uma constante antropológica universal articulada por Nietzsche? E o paradoxo da realização direta que se transforma no seu oposto. O capitalismo global de hoje leva a relação devedor/credor ao seu extremo
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e ao mesm o tem po a sol solapa apa:: a dívida se se torna um excesso excesso o stensivamente ridículo. ridículo. Entramo s então no dom ínio da obsceni obscenidade: dade: quando u m crédito crédito é concedido, concedido, nem me smo se espera espera que o devedor venha a sald saldáá-lo lo - a dívida dívida é diretamente tratada como um meio de dominação e controle. É como se os fornecedores e zeladores da dívida acusassem os países endividados de não se sentirem suficientemen te culpados: culpados: são acusados de se sentirem sentirem inocentes. Lem brem os a atual pressão pressão da UE sobre a Grécia para que esta implemente medidas de austeridade, uma pressão que se encaixa perfeitame perfeitame nte naqu ilo que a psicanálise psicanálise cham a de "supe rego”. O superego não é propriamente uma agência ética, mas um agente sádico que bombardeia o sujeito com demandas impossíveis, deleitando-se obsce nam ente co m o fracasso do sujeit sujeitoo em atendê atendê-l -las. as. O paradoxo do sup erego é que, como Freud viu claramente, quanto m ais aceitamos aceitamos suas exigências, exigências, mais nos sentimo sentimo s culpados. culpados. Ima ginem u m professor pervertido que atri atri bu b u i a s eus eu s a lu n os ta re fa s im p o s s ív e is e d ep ois, oi s, sá d ic a m e n te , os r id ic u la r iz a ao perceber sua ansiedade ansiedade e pânico. É isso o qu e há de tão terrivelm ente errado com as exigências/ordens exigências/ordens da UE: elas não dão à Gré cia nem m esm o um a chance. O fracasso dos dos gre go s é parte do jog o. Aq ui, o objetivo da análise político-e político-e con ôm ica é apresentar estratégias para sair desse desse círculo infernal de dívida e culpa. Um paradoxo semelhante esteve em operação desde o início, eviden temente, já que u m a promessa/obrigação que jama is poderá ser cum cum prida está está na própria base base do sistema sistema bancário. bancário. Qu and o depositamos depositamos dinheiro nu m banco, este é obrigado obrigado a devolvê-lo devolvê-lo a nosso pedido - mas todos sabe mos que ele pode faze r isso isso para algum as pessoas, pessoas, m as não, não, por definição, definição, para todas. todas. En tretanto, esse esse paradoxo, o riginalm ente válido para a relação entre correntistas e seu banco, agora é válido também para a relação en tre o banco e as pessoas (físicas ou jurídicas) que nele pegaram dinheiro emprestado. O que isso isso im im plica plica é que o verda deiro objetivo objetivo de emprestar dinheiro a um devedor não é que a dívida seja saldada com lucro, mas a continuação da dívida, que mantém o devedor em permanente dependên cia cia e subordinação. Mais ou m enos um a década atrás, atrás, a Arg entina decidiu decidiu saldar saldar sua dívida dívida com o FM I antes do tem po pre visto (com ajuda financeira financeira
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Problem Problema a no paraí paraíso so
da Venezuela). Venezuela). A reação do FMI d iante iante disso foi de surpr surpresa: esa: em ve z de ficar ficar contente por recuperar seu dinheiro, o FMI (ou melhor, seus principais represent representante antes) s) expressou a preocup ação de que a Arg entina v iesse a usar sua recente liberdade liberdade e independê ncia financ financ eira em re lação a instituições internacionais para abandon ar um a política política rígida nessa nessa área e se se envolver em gastos irresponsáveis. irresponsáveis. Esse desconforto torno u palpáveis palpáveis as verdadeiras verdadeiras ba se s d a re la çã o de v ed o r/ cr e d or : a d ív id a é u m in s tr u m e n to p a ra c o n tr o la r e regu lar o devedor, e com o tal busca a sua própria e ampliada reprodução. O utra surpresa aqui é que a teologia e a poesia sabiam sabiam disso disso há mu ito tem po - confirmand o um a ve z mais a validade do tema "poesia e finanças” finanças” de Berardi. Berardi. Saltemos de volta à modernidade. Por que a história história de Orfeu foi o tem a da ópera no prime iro século de sua histór história, ia, com quase uma centena de versões conheci conhecidas? das? A figura de O rfeu pedindo aos Deuses que o levem de volta a Eurídice simb oliza um a constelação intersubjeti intersubjetiva va que fornece, por assim dizer, a matriz elementar da ópera, ou, mais precisa m ente, da ária operística: operística: a relação relação do sujeito sujeito (nos (nos dois sentidos do termo: agente autônom o e sujeito sujeito do po der jurídico) jurídico) co m seu Mestre (divind (divindade, ade, rei ou dama do amor cortês) é revelada por meio da canção do herói (o contraponto à coletivi coletividade dade en carnada no coro) coro),, a qual é basicam basicam ente um a súplica súplica endereçada ao M estre, estre, u m apelo por sua piedade, piedade, para que faça um a exceção ou, de algum a forma, perdoe o herói pelo seu crime. crime. A pri m eira forma, rudim entar, de subjetividade subjetividade é a v oz do sujeit sujeitoo implorando ao Mestre que suspenda, suspenda, por um b reve m om ento, sua própria Lei. Lei. Uma tensão dram ática ática na subjetivi subjetividade dade surge da am bivalência bivalência entre pode r e imp otência que afeta o gesto de clemên cia com o qu al o Mestre responde ao apelo do sujeito. Quanto à ideologia oficial, a clemência expressa o po der supremo do M estre, o poder de estar acima acima de sua própria lei lei:: só um M estre realmente pod eroso p ode se dar ao luxo de conceder misericórdia. misericórdia. O que tem os aqui é um a espécie de intercâm intercâm bio simbólico en tre o sujei sujeito to hu m an o e seu Mestre divino: quando o sujeit sujeito, o, hu m ano e m ortal, por me io de sua oferta de autossacrifício, autossacrifício, ultrapassa sua finitude finitude e alcança as alturas divinas, divinas, o M estre responde com o gesto sublime da Graça, a prova m aior d e sua su a human idade. Mas esse esse ato de de graça leva ao mesm o tem po à marca
Diagno Diagnose: se: Hors Hors d’oeu d ’oeuvre vre?
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irredutível de um gesto v azio e força forçado: do: o M estre, estre, em última instância instância,, pratic praticaa um a virtude por força da necess necessid idade, ade, promoven do com o livre um ato que de qualquer m aneira estaria obrigado a realizar. realizar. Se recusasse a clemên cia, correria o risco de o apelo respeitoso respeitoso do sujeito transformar-se em revolta declarada. declarada. D e especial interesse interesse aqui é La é La cleme cle menz nza a di Tito, ópera Tito, ópera tardia tardia de M ozart em que testemunham os um a sublime/ridíc sublime/ridícula ula explosão explosão de misericórdias. Pouco antes do perdão final, o próprio Tito execra a proliferação de mo tivos qu e o obriga a mu ltiplicar ltiplicar seus seus atos de clemência:
No próprio momento em que absolvo um criminoso, descubro outro ... Creio que as estrelas estrelas conspiram para me obrigar, a despeito despeito de mim mesmo, a me tornar cruel. Não: elas não vão ter essa satisfação. Minha virtude já garantiu que continuará na disputa. Vamos ver o que é mais constante, a traição dos outros ou a minha misericórdia ... Que Roma possa saber que eu sou o mesmo e que conheço todos, absolvo cada um deles e perdoo tudo. Quase se pode ouvir Tito se queixando, como o Figaro de Rossini, “Uno alia volta, per carità!” - “N ão tão rápido, rápido, por favor, favor, um de cada ve z, na fila, fila, por m isericórdia!” Mo strando-se preparado para a tarefa, tarefa, Tito per doa a todos, todos, m as aqueles que ele perdoa estão condenados a se se lemb rar para sempre:
s e x t o
: É verdade, verda de,
Imperador, o Mestre Mes tre me perdoou; perd oou; mas meu coração coraçã o não nã o
vai me absolver; vai v ai lamentar lame ntar esse erro e rro até que não tenha te nha mais memória m emória.. t i t o
:
O verdadeiro arrependimento, do qual você é capaz, é mais valioso do
que a fidelidade constante. Essas Essas palavras palavras do final revelam o obsceno segredo da Clemenza: o per dão na verdade não anula a dívida. dívida. Em v ez disso, disso, ele a torna infinita - te mos um a dívida eterna eterna com a pessoa que nos perdoou. perdoou. N ão adm ira ira que Tito preferisse o arrependimento à fidelidade: na fidelidade ao Mestre, eu o sigo por respeito, enquanto no arrependimento o que me liga a ele é um a culpa inextirpável inextirpável e infini infinita. ta. Nisso, Nisso, Tito é u m Mestre profundam ente
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Problem Problema a no paraís paraísoo
cristão. A ridícula multiplicação da misericórdia na Clemenza significa Clemenza significa que o poder não m ais ais funciona de m aneira norm al, de m odo que precis precisaa ser sustentado sustentado o tem po inteiro inteiro pela m iseric isericórdia: órdia: se o M estre precisa precisa mostrar m isericórdia, isso significa significa que a lei lei fracassou, qu e a máq uina jur ídica do Estado não é capaz de funcionar por si m esma e necessi necessita ta um a intervenção incessante vin da d e fora.28 fora.28 E o m esm o v ale para o ca pitalismo de hoje. Peter Buffett (fi (filho lho de Warren) p ublicou recentemen te um artigo na página de opinião do Ne w York Times Tim es em que explicou o "colonialismo filantrópico”:
Em qualquer encontro filantrópico importante veem-se chefes de Estado reunindo-se com gerentes de investimentos e líderes empresariais. Todos buscam bus cam respostas com a mão mã o direita para problemas prob lemas que outros out ros presentes presente s na sala criaram com a esquerda ... A filantropia tornou-se "o” veículo para elevar o nível do jogo e tem gerado um número crescente de encontros, worksho wor kshops ps e grup g rupos os de afinidade. afi nidade. Quanto mais vidas e comunidades são destruídas destruídas por um sistema sistema que cria “grandes quantidades de riqueza rique za para uns poucos, mais heroico parece pare ce "retri buir” bui r”.. É o que eu e u chama ch amaria ria de "lavage "lav agem m da consciênci c onsciência” a” - sentir-se bem acu acu mulando mais do que qualquer um poderia necessitar para viver, espargindo um pouco ao seu redor como um ato de caridade. Mas isso só faz manter de pé as estruturas de desigualdade existentes. Os ricos dormem melhor à noite, enquanto outros conseguem apenas o necessário para impedir que a panela transborde. E com mais pessoas de orientação corporativa entrando em cena, os princí pios empresariais são apresentado apresentadoss como com o um elemento importante impo rtante a ser adi cionado ao setor filantrópico ... Microempréstimos e alfabetização financeira (agora (agora vou incomodar incom odar pessoas maravilhosas e alguns amigos queridos) queridos) - de que realmente se trata isso? As pessoas certamente aprenderão a se integrar a nosso nosso sistema de dívida e pagamen to com lucro. As pessoas deixarão de ganhar dois dólares por dia para entrar em nosso mundo de bens e serviços de modo a poderem comprar mais. Mas será que tudo isso simplesmente não alimenta a fera ?29
Diagn Diagnose ose:: Hors d’oeu d ’oeuvre vre? ?
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Em bora a críti crítica ca de B uffett uffett perm aneça ideologicamente lim lim itada it ada a preocupações elementares elementares em relação relaçã o a um a vida hum ana m ais ais decente, decente, evitando questões referentes a mud anças básicas básicas de sistema (“Não defendo realmente o fim do capital capitalis ismo; mo; defendo o h um anism o” ), ele ele fornece um a descrição adequada de como a ideologia (e a prática) da caridade desem penha um papel fundamental no capitalismo global. Peter Sloterdijk, referindo-se à noção de George Bataille de "economia geral” da despesa soberana, que ele opõ e à “econo m ia contida” contida” do lucro incessante incessante do capi talismo talismo , fornece (em Ira e tempo) o tempo) o esb oço da separação separação que o capitalismo capitalismo produziu em si mesmo, sua superação imanente. O capitalismo culmina quando “cria “cria em si m esm o seu oposto m ais radical radical - e o único a prosperar totalme nte d iferente iferente daq uilo co m que a esquerda cláss clássic ica, a, prisioneira prisioneira de seu miserab ilism ilism o, co nse gu iu son har”.30 har”.30 A m enção po sitiva que Sloterdijk Sloterdijk faz a A nd rew Carneg ie mostra o caminho: o gesto soberano de autonega auto nega-ção da acumulação infindável de riquezas é gastar essa riqueza com coisas sem preço e fora da circulação de mercado: bens públicos, arte e ciência, saúde e assi assim m po r diante. diante. Qu and o d oa ao público sua riqueza a cumu lada, o capitali capitalista sta nega a si si m esm o co m o a m era personificação personificação do capital e de sua circulação reprodutiva: sua vida ganha significado. Não é mais apenas a reprodução amp liada liada de seu objetivo pessoal. Além disso, disso, o capitalist capitalistaa realiza assim a passagem do eros para eros para o thymos, thymos, da pervertida lógica "eró tica” tica” da acum ulação para o recon hecim ento e a respeit respeitabil abilidade idade públicos. públicos. O que a ideia de Sloterdijk significa é nada menos que a elevação de figuras como George Soros ou Bill Gates a personificações da inerente autonegação do próprio processo capitalista: sua obra de caridade, suas imensas doações para organ izações de previdência social, social, não é apenas uma idiossincrasia pessoal, sincera ou hipócrita, mas a conclusão lógica da circulação capitali capitalista sta,, necessária de um pon to de vista estritam estritam ente econ ôm ico, um a ve z que perm ite ao sistema sistema capitali capitalista sta po stergar sua cri crise. se. Ela restabel restabelece ece o equilíbrio - um a espécie espécie de redistribuição redistribuição da riqueza aos aos v e r d a d e ir a m e n te n e c e s s ita it a d o s - s e m c a ir n u m a a r m a d il h a fata fa ta l: a l ó g ic a destrutiva do ressentimento e da redistribuição redistribuição estatíst estatística ica da riqu riqu eza que só pode resultar na n a m iséri is ériaa generalizada. generali zada. (Tamb ém evita, evita, poderíam poderíam os
Proble Problema ma no no para paraíso íso
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acrescent acrescentar, ar, o ou tro m odo de restabelecer restabelecer um a espécie de equilíbrio e de afirmar o thymos m thymos m edian te a despesa soberana, o u seja, seja, as as guerras.) O u, ci tando um velho dita ditado do romano, velle bonum alicui: a alicui: a caridade (realizar boas ações) é o passatempo (diversão, distração) dos indiferentes (que realmente não se importam). Qu ando comp ramos produtos com o pasta pasta de dente dente ou refrig refrigerant erante, e, a parte de cim a da caixa ou garrafa co stum a ser de de cor diferente, diferente, com letras letras grandes d izendo “20% “20% grátis”: vo cê com pra o produ to e leva, leva, de graça, um a quantidade a mais. mais. Ta lvez possam os d izer que o sistema sistema capitali capitalista sta como um todo se dirige a nós de maneira semelhante: “Compre o capitalismo global, participe dele e irá ganhar 20% grátis sob a forma de caridade e doações filantrópicas!” Entretanto, no caso do capitalismo, o Poderoso Ch efão está fazendo um a oferta oferta que podem os e devem os recusa recusar. r.
2.
Cardiognose: Duja Du jam m bon bo n cru ?
Liberdade nas nuvens V is it a r Ju lia li a n A s s a n g e n a e m b a ix a d a d o E q u a d o r e m L o n d r e s , e m d e z e m br b r o d e 2013, 2013, fo i u m a e x p e r iê n c ia b a st a n te d e p r im e n te , a p e sa r d a c o rt e s ia dos funcionários. A embaixada é um apartamento de seis cômodos sem ja j a r d im , d e m o d o q u e A s s a n g e n ã o p o d e se q u e r fa z e r u m a c a m in h a d a d iá ria; ria; tam bém não pod e sair do apartam ento para o corredo r principal - há policiais policiais esperando por ele. ele. Há sempre um a dúz ia em volta do prédio e al guns nos prédios prédios vizinho vizinho s. H á até até m esmo um que fica fica embaixo da pequena ja j a n e la d o b a n h e ir o , p a ra o ca so d e A s s a n g e t e n t a r f u g ir p o r es se b u r a c o na parede. O apartamento é grampeado de cima a baixo e a conexão da internet, internet, estranh am ente lenta. lenta. A s s im , c o m o e x p li c a r q u e o g o v e r n o b r it â n ic o e m p r e g u e q u a s e c i n quenta pessoas pessoas em tem po integral para para vigiar Assange sob o pretexto de que ele se recusa a ir para a Suécia e ser interrogado sobre um delito sexual secundário (não existem acusações contra ele)? Somos tentados a nos torna r thatcheriano s e pergu ntar: com o isso se ajusta ajusta à política de aus teri teridade dade?? Se um zé-ninguém com o eu fosse fosse procurado p ela políci políciaa sueca para um interrogatório interrogatório simila similar, r, será será que o Reino Unido tam bém em pre garia cinquenta pessoas para me vigiar? A questão séria é a seguinte: de onde vem esse esse desejo desejo ridiculamente excessivo excessivo de vingança? vingança? O que fizeram A s s a n g e , se u s c o le g a s e as fo n te s d as d e n ú n c ia s p a ra m e re cê -lo -l o ? D e ce r ta maneira, pode-se compreender as autoridades. Assange e seus colegas são frequ entem ente acusados de serem traidores, traidores, m as são algo m uito pior (ao (aoss olhos das autoridades):
Problem Problema a no paraíso paraíso
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Mesmo que Snowden vendesse discretamente suas informações a outro ser viço vi ço de inte i ntelig ligên ência cia,, esse ato ainda ain da seria ser ia vis v isto to com co m o p arte ar te dos "jog "j og os patr pa trió ióti ti cos”, e se necessário ele seria liquidado como "traidor”. No caso de Snowden, contudo, trata-se de uma coisa totalmente diferente. Trata-se de um gesto que questiona a própria lógica, o próprio status quo, quo, que por um bom tempo ve m serv se rvin indo do com co m o o ún ico ic o alice ali cerc rcee da (não) políti pol ítica ca "ocid "o cid enta en tal” l”.. Um gesto ge sto que, por assim dizer, põe tudo em risco, sem consideração por lucros e sem interesses interesses próprios: próprios: ele assume o risco p orque se baseia na conclusão de que o que está acontecendo é simplesmente errado. Snowde n não propôs alterna tiva alguma . Ele mesmo - ou melhor, a lógica de seu gesto, como, digam os, antes dele, dele, o gesto de Ch elsea M ann ing - é a alternativa.1 O feit feitoo do W ikiLea ks é admiravelmen te resumido pela irônica irônica auto auto-designação designação de Assange com o um "espi "espião ão do povo ”. “Espionar para o povo ” não é uma negação direta da espionagem (o que significaria atuar como um agente duplo, vendendo segredos ao inimigo), mas sua autonegação, ou seja, solapa o próprio princípio da espionagem, o princípio do sigilo, um a ve z que seu objetivo é fazer com que segredos se tornem público públicos. s. Funciona, portanto, de forma semelhante ao modo como a “ditadura do proletariado” marxista deveria funcionar (mas raramente funcionou, é clar claro) o):: com o a autonegação im anen te do próprio princípio princípio de u m a ditadura. ditadura. Para Para os que que veem o com unismo como u m espantal espantalho, ho, devemos dizer que aquilo que o W ikiL eak s está fazend o é a prática prática do comunism o. Ele apenas apenas realiza a comun alidade da informação. informação. Na luta das ideias, a ascensão da modernidade burguesa foi exempli ficada ficada p ela Ency En cyclo clopé pédie die francesa (1751-72), uma aventura gigantesca que apresentou apresentou a um grande público, público, sistematicamente, sistematicamente, todo o c onhe cimen to disponível. O destinatário desse conhecimento não era o Estado, mas o público em si. si. Pode parecer que a Wik ipéd ia é a Ency a Encyclop clopédie édie atual, atual, mas lhe falta falta algo: algo: o con hecim ento que é ignorad ignorad o e reprim ido no espaço público, público, reprim reprim ido porque d iz respei respeito to precisamente precisamente à forma com o os mecan is mos e agências do Estado controlam e regulam todos nós. O objetivo do W i k i L e a k s d e v e r ia se r t o r n a r es se c o n h e c im e n to d is p o n ív e l a t o d o s n ó s
Cardiog Cardiognose nose:: Du jambon cru?
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com um simples simples clique. clique. Assan ge é o D A lem be rt dos dias dias de hoje, hoje, o editor dessa nov a Encyc En cyclop lopédie édie,, a verdade ira enciclopédia do povo do século XXI. Po r quê? quê? Nossa comunalidade informacional emergiu recentemente como um dos territórios-chave da luta de classes em dois de seus aspectos: o eco nômico, no sentido estrito, e o sociopolítico. De um lado, a nova mídia digital digital nos confronta com o impasse da "po breza intelectual”. A própria própria natureza da W orld W ide W eb parece ser comun ista, ista, tendendo ao livre l ivre fluxo de dados dados - CD s e D V D s estão estão aos poucos desparecendo, desparecendo, m ilhões de pessoas simp simp lesmente baixam músicas e vídeos, quase sem pre de graça. É por isso que o establishment empresarial se empenha numa luta desespe rada para im im por sobre esse esse fluxo a forma da propriedade propriedade privada mediante a aplicação aplicação das leis leis sobre a propriedade intelectual. Eviden teme nte, essa essa livre c irculação acarreta novo s perigos, com o assinalou Jaron Lan ier,2 que enxerg a um a am eaça no próprio cerne do espaço espaço digital que é geralm ente celebrada com o sua m aior realização social, social, a livre circulação de dados e idei ideias as:: essa m esm a abertura deu or igem a proved ores não criativos criativos (Google, Facebook) que exercem u m po der quase mon opo lístico lístico no que se refere a regu lar o fluxo de dados, dados, enquanto os indivíduos que criam o conteúdo se perdem no ano nimato da rede. rede. A solução solução de Lanier é um retorno maciço à propriedade privada: privada: tudo que circu la na we b, incluindo dados pessoais pessoais (quais sites tenho visitado, digamos, ou quais livros tenho procurado na A m a z o n ) , d e v e r ia se r t r a ta d o e r e m u n e r a d o c o m o u m a m e r c a d o r ia v a lio li o s a , e tudo deveria ser claramente atribuído atribuído a um a fonte hum ana individual. individual. Em bora La nier esteja esteja certo ao afirm ar que a livre circulação, an árquica e anônim a, en gendra suas próprias próprias redes redes de poder, poder, deve-se no entanto ques tionar a solução por ele proposta: proposta: seria a privatização/com odificação g lobal a única form a de fazer iss isso? o? Não haveria outras formas de regulaçã o global? global? Por outro lado, a mídia digital (especialmente com o acesso quase un iversal à internet internet e aos telefones celulares) celulares) abriu abriu novo s cam inho s para m ilhões ilhões de pessoas pessoas comun s estabelecerem estabelecerem um a rede e coordenarem suas suas atividades coletivas, oferecendo ao mesmo tempo a agências de Estado e empresas privadas possibilidades inimagináveis de rastrear nossas ações
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Proble Problema ma no no para paraíso íso
públicas públicas e privadas. privadas. Foi nessa luta que o W ikiL ea ks inter veio de m aneira tão exp losiva. Para Jacques Lacan , o axiom a da ética da psicanálise era: era: “Não comprometa o seu desejo.” Não seria também uma designação ade quada para os atos atos dos denunciantes? denunciantes? Essa posição posição não conciliatória conciliatória é u m lem brete cons tante de que, em nossas nossas vidas cotidianas, cotidianas, cada ve z m ais nos parecem os com babuínos. babuínos. O u sej seja, por que os babuínos têm nádegas ver m elhas, grandes, protub erantes e sem pelos? pelos? A p rincipal razão parece ser que o traseiro traseiro de um a fêmea no cio incha, incha, de mod o a informar o m acho de que ela está pronta para o acasalamento. Isso também funciona como um sinal de submissão, em que um animal se vira e apresenta o traseiro ao outro, dizend o imp licit licitamen amen te: “ Eu sei que você é mais forte forte do que eu, portanto não vam os brigar mais!” mais!” As fêmeas com traseir traseiros os m ais ver m elhos e menos pelos atraem atraem um núm ero m aior de de parceiros parceiros e têm um a prole mais num erosa, a qual, por sua ve z, é favorecida pelo fato de ter, ter, na média, traseiros mais vermelhos e com menos pelos do que o resto. Não é isso isso que a luta luta por he gem onia ideológica parec parece? e? Indivíduos Indivíduos exibem suas suas nádegas protuberan tes e sem pelos, pelos, oferecendo-se para serem penetrados por mensagens ideológicas. Não há necessidade de imposições violentas; a vítim a se oferece oferece voluntariam ente - com o ficou ficou claro com o que se se descobriu sobre o m aciço controle digital de nossas nossas vidas. É por isso isso que não basta basta enxergar enxergar o W ikiLeaks como u m fenômeno antiameri anti americano cano.. O u sej seja, com o é que os atos atos do presidente Ob am a se encaixam na constela ção formada pelas revelações do WikiLeaks? Enquanto os republicanos denunciam Obama como um perigoso esquerdista que divide o povo norte-americano e representa represe nta um a am eaça ao Am ao Am eric er ican an way ofli of life fe,, alguns esquerdistas esquerdistas o den unciam com o “pior do que Bu sh” em sua adesão adesão a um a política externa imperialista. Quando, ainda em 2009, Obama ganhou o N obe l da Paz, todos sabíamos que não era um prêm io por suas realizações, realizações, mas um gesto de esperança, uma tentativa desesperada de aumentar a pressão sobre ele de modo que mantivesse as promessas de campanha e funcionasse como um anti-Bush. A ideia de conceder o Nobel da Paz a Chelsea M ann ing deve ser abra abraçada çada como um a justificável justificável reação reação diante diante do fato fato de Ob am a não ter conseguido conc retizar essas essas expectativas. Para Para
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explicar essa essa decepção, deve-se deve-se ter em m ente a forma com o O bam a se ree legeu em 2012. Jean-Claude M ilner propôs recen teme nte a noçã o de “classe “classe estabilizadora”: não a antiga classe dominante, mas a ampla classe com posta por aqueles que estão estão plenam ente com prom etidos com a estabi estabili lidade dade e a continuidade da ordem social, econômica e política atual, a classe dos que, mesm o quando ped em m udanças, udanças, só o fazem para impo r aquel aquelas as que tornam o sistema sistema m ais efici eficiente ente e garantem que nada realmente vá m udar.3 udar.3 Essa é a chave para a interpretação dos resultados eleitorais nos Estados desenvolvidos do Ocidente de hoje: quem teve sucesso em ganhar dessa clas classe se?? Lon ge de ser percebido percebido com o u m transformad transformad or radical radical,, O bam a ganhou deles ganhou deles,, e por isso foi reelei reeleito. to. A m aioria que v oto u ne le havia sido posta de lado pelas mudanças radicais propostas pelo mercado e pelos fundam entalistas religiosos republicanos. republicanos. Todos nós nos lem lem bram os da face face sorridente de Obam a, cheia de fé fé e esperança, ao repetir repetir o slogan de sua prim eira campanh a: “ Yes, we can!" sim, nós podem os nos livrar do cinismo da era Bush e trazer a justiça e o be b e m - e s ta r ao p o v o n o r te - a m e r ic a n o , p o d e m o s f a z e r d e ste st e pa ís n o v a m e n te a terra terra dos sonhos e da esperanç esperança. a. Ag ora que os EU A continua m com suas suas operações secretas, usando drones e expandindo sua rede de controle e informações, espionando até mesmo seus aliados, alguns manifestantes têm exibido exibido cartazes com um slogan slogan ligeiram ligeiram ente alte altera rado: do: “ Yes, Yes, we scan!” - sim, nós escaneamos! Talvez uma variação mais pertinente fosse ima ginar Obama olhando para nós com um maldoso sorriso zombeteiro e respondendo “Sim, nós podemos!” aos manifestantes que gritam p ara ele: ele: "Não se pod e usar drones para matar!”, matar!” , “Você n ão pode querer espionar espionar até mesm o no ssos aliados!”. aliados!”. Mas essa person alização elem entar está equivocada: a ameaça a nossa liberdade revelada pelos denunciantes tem raízes sistêmicas muito mais profundas. Edward Snowden deve ser defendido não apenas porque suas ações ações incom incom odaram e em baraçaram os serviços serviços secretos secretos americanos americanos - o que ele revelou é algo que não apenas os Estados Unidos, mas todas as outras grandes (e não tão grandes) potências (da China à Rússia, da Ale manha a Israel) estão fazendo (na medida de sua capacidade). As ações de
Probl Problem ema a no paraís paraísoo
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Snowden, assim, fornecem uma base factual a nossas premonições sobre o quanto som os mon itorados itorados e controlados - sua lição lição é global, global, chegand o m uito além dos abusos típicos típicos dos americanos. americanos. Realm ente não aprende mos com S nowd en (ou (ou com M anning) nada nada além além do que já presumíamo s ser verdade - mas u m a coisa é pensar nisso nisso de m aneira geral e outra é obter dados dados concretos. concretos. É um p ou co co m o saber que seu parceiro sexual o está enganando. Pode-se aceitar o conhecimento abstrato disso, mas a dor surge quando se descobrem detalhes indecentes, quando se conseguem fotografias fotografias do que eles fizer am ... ... Por vezes tomam os conhecim ento desse dessess detalhes detalhes indecent indecentes es por m eio de países países menores, marginais, marginais, que im plemen tam medidas de segurança de maneira muito mais aberta e direta. Por exemplo, no verão de 2012, o par lamento hú ngaro aprovou um a nova lei lei de de segurança nacional nacional que habilita o círculo interno do governo a espionar pessoas que ocupam cargos importantes. Co m essa essa lei, lei, muitos funcionários do governo devem "consen tir” em ser observados da maneira mais intrusiva (telefones grampeados, casas vigiadas, e-mails invadidos) durante até dois meses por ano, embora não saibam saibam em que período estarão estarão sob vigilância. Talvez im aginem que estão sendo vigiados o temp o todo. Ta lvez seja essa essa a questão. questão. Mais de vinte anos depois depois de a Hun gria sair do mund o descrito descrito no rom ance 1984 de 1984 de George Orwell, a vigilância de Estado está de volta. Ora, se o govern o do primeiro-ministro Viktor Orbán, do partido Fidesz, Fidesz, descobre algo de que não gosta - e não há limites limites ao que ele pode a char digno de objeção -, os que estão sendo vigiados podem ser despedidos. As pessoas do escalão mais elevado do governo estão amplamente isentas de vigilância - mas essa lei atinge atinge seus representantes, os me mb mbros ros de sua equipe e todos os serviços de segurança, alguns juizes, procuradores, diplomatas e oficiais militares, assim como alguns escritórios "independentes” que o governo Orbán não deveria controlar.4 E eis eis com o o gov erno hú nga ro justifica justifica essas medidas: medidas:
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Autoridad Autor idades es do gove g overno rno húnga hú ngaro ro dirão dirã o que o que estão fazendo faze ndo não é nov n ovi i dade. Outros países, apontarão, têm formas de determinar se funcionários de alto escalão têm tratado de maneira irresponsável segredos de Estado ou se pessoas que gozam da confiança do público são corruptas. Como se mos trou agora, o governo norte-americano acompanha telefonemas e e-mails de todo mundo, então como é possível criticar criticar o que o governo da Hungria está fazendo ?5 Qu and o con frontado co m tais fato fatos, s, será será que todo cidadão americano decente não se sente como um babuíno subitamente sufocado pela ver gon ha de seu saliente traseiro verm elho? Já em 1843, o jov em Karl M arx afirmava que o ancien régime régime alemão alemão "apenas "apenas ima gina crer em si m esm o e exige que o mu ndo ima gine a m esm a coisa”. coisa”.6 6 N um a situação situação dessa dessas, s, colocar a culpa nos que estão no poder torna-s torna-see um a arm a - ou, com o explica Marx: Marx: "A verdad eira pressão pressão deve ser m ais premen te adicionando-se a consciência da pressã pressão, o, a vergon ha deve ser mais vergon hos a ao ser divulgada.” 7 E é exatam ente essa essa a nossa nossa situação situação nos dias de hoje: hoje: estam os encara ndo o cinismo desavergonhad o da atual ordem global, cujos cujos agentes só im agi nam acreditar em suas ideias ideias de democracia, direitos hum ano s e assim por diante, diante, e, graças ao Wik iLea ks, a verg on ha (nossa (nossa vergo nh a por tolerarmos tolerarmos esse poder sobre nós) se torna mais vergonhosa ao ser divulgada. O que deveria deveria nos en vergonh ar é o processo global de redução gradual do uso público da razão. Q uan do P aulo diz que, de um ponto de vista cristão, cristão, "não "não há hom ens nem mulheres, não há judeus nem greg os”, está afirm afirm ando que raízes étnicas, identidad identidadee na cional e gên ero não são categorias de verdade; verdade; ou, utilizando termos kantianos precisos, ao refletirmos sobre nossas raízes étnicas, étnicas, envolvem o-nos no uso privado da razão, razão, confinados por pressupos tos dogm áticos contingentes, contingentes, ou sej seja, agimos com o indivíduos "imaturo s”, não com o seres seres hum anos livres que acreditam na universalidade universalidade da razão. O espaço espaço público da “sociedade “sociedade civil m un dial” designa o paradoxo da sin gularidad e universal, de um sujei sujeito to singular que, num a espécie de curtocircuito, circuito, con torna a med iação do pa rticular para participar participar diretamen te do Universal. É o que Kant, na fam fam osa passagem de “O que é o iluminism iluminism o?”,
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Proble Problema ma no paraíso paraíso
quer dizer quando fala do "público” em oposição ao “privado”: “privado” não significa os laços pessoais de um indivíduo em oposição a seus laços laços comunais, mas a própria ordem comunal-institucional de uma identifi cação particular, particular, enqu anto “público” é a universalidade universalidade transnacional do exercício exercício da Razã o de a lguém . Vem os onde K ant se afasta afasta de nosso senso senso comum liberal: o domínio do próprio Estado é, à sua maneira, "privado” exatamente no sentido sentido kantiano do "uso "uso privado da Razão” em suas suas má quinas administrativo e ideológico, enquanto os individuos que refletem sobre sobre questões gerais gerais usam a razão razão de um a form a "públi "pública”. ca”. Essa distinção kantiana é especialm ente pertinen te no caso da internet internet e de outras novas mídias divididas entre o “uso pú blico” livre e o crescen te controle “privado”. Assim, nossa luta deve concentrar-se nas ameaças à esfera pública internacional, como a recente tendência a organizar o ciberespaço em "n uven s”: dessa m aneira, abstraem-se detalhes dos con sumidores, sumidores, que não mais precisam precisam dom inar ou controlar controlar a infraestrutura infraestrutura tecno lógica “na nuve m ” que sustenta sua ativi atividade. dade. Du as palavras são são aqui reveladoras: abstraem-se e abstraem-se e controlar -p ar a gerenciar gerenciar uma nuvem , é nece necess ssá á rio um sistema sistema de m onitoram ento que con trole seu seu funcionam funcionam ento, e esse esse sistema é, por definição, oculto aos usuários. O paradoxo é que, quanto mais o pequeno aparelho (smartphone ou iPod) que tenho nas mãos é personalizado, fácil de usar, “transparente” em seu funcionamento, mais o arranjo arranjo com o um todo deve se basear num trabalho feit feitoo em outro lugar, lugar, nu m vasto circuito de máquinas que coor den am a experiência do usuário. usuário. Q ua nto m ais a nossa experiência é não alienada, espontânea, transparente, mais é regulada e controlada pela rede invisível de agências do Estado e grandes empresas privadas privadas que se guem suas agendas agendas secreta secretas. s. O que torna tão perigoso o controle total de nossas nossas vidas não é perder m os nossa privacidade, privacidade, todos os nossos segredos serem expostos ao o lhar do Grande Irmão. Não existe agência de Estado capaz de exercer esse controle - não porque não sabem o suficiente, suficiente, mas porqu e sabem demais. O próprio tamanho dos conjuntos de dados é grande demais, e, apesar de todos os intrincados intrincados prog ram as de detecção de m ensagens suspei suspeitas tas,, os computadores que registram tantos detalhes são demasiado estúpidos
Cardi Cardiog ognos nose: e: Dujambo Duja mbon n cm ?
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para interpretá-los e avaliá-los adequadamente, o que leva a erros ridícu los em que espectadores inocentes são tidos como potenciais terroristas. É isso que torna tão perigoso o controle de nossas comunicações pelo Estado. Estado. Sem saber por qu ê, sem fazer nada ilegal, ilegal, pod em os nos enco ntrar subitamente numa lista de potenciais terroristas. Lembremos a lendária resposta resposta do editor editor de um jorn al de W illiam illiam Randolph Hearst à pergun ta deste deste sobre por que não queria aproveitar aproveitar um m erecido erecido feri feriado ado:: "Tenho m edo de que, se se sai sair, r, instaure-se instaure-se o caos, caos, tudo desm orone - po rém tenho m ais med o ainda de descobrir que, se sai sair, r, as as coisas coisas sem m im prossigam norm almente, um a prova de que não sou de fato fato neces necessár sário! io!”” A lgo seme lhante pode ser dito sobre o controle de nossas comunicações pelo Estado: devemos ter medo de não poder mais ter segredos, de que as agências secret secretas as do Estado possam saber saber tudo, porém o que devem os tem er mais ainda é que não co nsigam fazê-l fazê-lo. o.
O s d e n u n c i a n t e s d e s e m p e n h a m u m p a p e l c r u c ia ia l e m m a n t e r v i v a a “razão pública”. Assange, Manning, Snowden: esses são nossos novos he róis, casos exemplares da nova ética que se aplica a nossa era digital. Não são mais apenas denunciantes que expõem práticas ilegais de empresas privadas (bancos, com panh ias de tabaco tabaco e petróleo e assim assim po r diante diante)) ou autoridades públicas; eles denunciam as próprias autoridades públicas quand o estas estas se se envo lvem no “uso privado da razão”. Precisam os de outros M annings e Snow dens tamb ém na China, na Rússia Rússia,, em toda part parte. e. Esta dos como China e Rússia são, evidentemente, muito mais opressivos que os Estados Estados Unidos - im agine apenas o que teria teria acontecido acontecido co m alguém com o M anning num tribunal russo ou chinês (provavelmen (provavelmen te não haveria haveria um ju lgam ento público; público; um M ann ing chinês teria teria apenas desapa desapare reci cido) do).. Entretanto, não se deve exagerar quanto à benevolência dos Estados Uni dos: dos: na verdade, esse esse país país não trata os prisioneiros prisioneiros com a mesm a bru tali dade da China ou da Rússia - em função de sua superiori superioridade dade tecnológica, simplesmente não precisa de uma abordagem abertamente brutal (que está mais que preparado para usar quando necessário). Nesse sentido, os
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Estados Unidos são até mais perigosos do que a China, já que suas me didas de controle não são percebidas como tais, enquanto a brutalidade chinesa é abertamente demonstrada. Isso significa que, enquanto num país como a Chin a as limitações à liberdade são são evidentes para todos - não há ilusões sobre isso, isso, o Estado Estado é um meca nismo abertamen te opressivo opressivo nos Estados Unidos as liberdades formais são oficialmente garantidas, de m odo que a maioria dos indivíduos indivíduos percebe suas suas vidas como livres e não não está consciente consciente sequer da extensão em que é controlada por mecanism os do Estado. Imaginem só como podemos aprender uns sobre os outros ve v e r ific if ic a n d o noss no ssas as co nta nt a s-co s- co rren rr en tes, te s, q u e liv li v ro s c o m p ra m o s na A m a z o n , nossos e-mails e-mails e assim assim por diante. diante. Os den unciantes fazem algo m uito mais importante do que afirmar o óbvio ao denunciar regimes abertamente opressivos: tornam pública a falta de liberdade subjacente à própria situa ção que nós mesmos vivenciamos como livre. Essa característica característica não se limita ao espaço digital. Está profu ndam ente impregnada na forma de subjetividade que caracteriza a “permissiva” so ciedade liberal. liberal. D esde que a liberdade liberdade de escolha foi elevada à condição de va lo r supr su prem em o, o co n tro tr o le e a d o m ina in a çã o soci so ciai aiss nã o p o d e m m ais ai s p arec ar ec er infring ir a liberdade liberdade do sujei sujeito to;; d evem parecer a própria experiência pes soal dos indivíduos como livres (e por ela ser sustentados). Essa falta de liberdade aparece sob o disfarce do seu oposto: quando privados de um sistema sistema de saúde saúde universal, universal, dizem-nos que ganh am os u m a nova liberdade liberdade de escolha (de escolher nosso plano de saúde); quando não podemos mais confiar confiar no em prego a longo prazo e somos compelidos a buscar um novo emprego precário a cada dois anos ou até a cada duas semanas, dizemnos que ganhamos a oportunidade de nos reinventar e descobrir nosso inesperado potencial criativo; quando temos de pagar pela educação de nossos filhos filhos,, dizem-nos que nos tornam os “empresários “empresários de nós me smos”, agindo como capitalistas que só precisam escolher livremente o modo com o vão investir os recursos recursos que possuem (ou (ou tomara m emprestados) emprestados) em educação, saúde, saúde, viagens. viagens. C onstantem ente bombardead os por “livres escolhas” que nos são impostas, forçados a tomar decisões para as quais não estamos adequadamente qualificados (ou sobre as quais não temos
Cardiogn Cardiognose: ose: Du jambón cm?
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inform ações suficien suficientes tes), ), vivenciam os cada ve z m ais nossa nossa liberdade liberdade com o um fardo que provoca u m a ansiedade ansiedade insustent insustentável. ável. Incapazes Incapazes de rom per sozinhos, como indivíduos isolados, esse círculo vicioso, uma vez que, quanto m ais agim agim os livrem livrem ente, m ais ais nos tornam t ornam os escravizados pelo pelo sist sistema, ema, p recisam recisam os d espertar desse desse estupo r do gm ático da falsa falsa liberdade liberdade pelo em purrão da figura figura de um Mestre Mestre.. Em maio de 2002, relatou-se que cientistas da Universidade de Nova Y o r k h a v ia m c r ia d o u m c h ip d e c o m p u t a d o r c a p a z d e t r a n s m it i r s in ai s bá b á s ico ic o s d ir e t a m e n t e ao c é r e b r o d e u m ra to , o q u e lh e s p e r m itia it ia c o n tr o la r os m ovime ntos do anim al por meio de um m ecanismo de direçã direçãoo (como (como num carrinho de brinquedo com controle remoto). Pela primeira vez a "vontade” de um agente animal vivo, suas decisões “espontâneas” sobre seus seus m ovime ntos foram dom inadas inadas por um m ecanismo externo. externo. Eviden temente, a grande questão filosófica nesse caso é como o pobre rato "vi ve v e n c io u ” es ses se s m o v im e n t o s d e ci d id o s a p a r tir ti r d e fora fo ra:: se rá q u e c o n t in u o u a ' vivenciá-los” com o esp ontân eos (em outras palavras, será será que estava totalm totalm ente inconscient inconscientee de que seus m ovim entos estavam sendo sendo co ntro lados lados?) ?) ou sabia que a lgu m a coisa estava errada? errada? E talv ez resida nisso a di ferença en tre os cidadãos ch ineses e nós, cidadãos livres livres dos países liberai liberaiss do O cidente; os ratos ratos hum anos chineses estão estão pelo m enos conscientes de serem controlados, enq uanto nós som os os ratos ratos estúpidos passeando por aí sem saber como nossos movimentos são monitorados. É fund fund am ental que a nova enciclopédia enciclopédia que está está surgindo em torno do W ikiLeak s ganh e um a base base nacional nacional independent independente, e, de m odo que o hum ilhante jog o de atira atirarr um grande Estado contra contra outro (como Snowden tendo de buscar proteção na Rússia Rússia)) sej sejaa minim izado. Nosso axiom a de ve ria ria ser que Sn owden e o P ussy R iot são são parte parte da m esma luta - precisamos precisamos de uma nova Internacional, de uma rede internacional para organizar a proteção dos denunciantes e a disseminação disseminação de sua men sagem . A lista já está crescendo: Manning, Assange, Snowden... e Utku Kali, um praça da gendarmerie turca que vazou um relatório dos serviços de informações revelando que o m assacre assacre de Reyh anli, cidade cidade turca na fronteira fronteira com a Síria Síria (um a explosão , e m 11 de m aio d e 20 2013, que m ato u m ais de 170 170 pessoas;
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o nú m ero oficial oficial é 53), foi foi org aniza do pelo g ru po radical islámico islámico El-Nusra. El-Nusra. Logo após a explosão, o governo turco culpou o regime sírio de Assad, mas o vazamento mostrou que ele sabia com antecedência do atentado e nada fez para evitá-l evitá-loo - ou talve z tenha até “guiad o” essa essa operação sob falsa falsa bandeira. Utku Ka li foi im im ediatam ente d etido etido e agora está na prisão, prisão, acusado de vazar segredos militares.8Esses vazamentos fornecem uma vis v is ã o d o q u e r e a lm e n te es tá a co n te ce n d o p o r tr á s do s p an o s n a S íria ír ia d e ho je. je .
Os denunciantes denunciantes são nossos nossos heróis porqu e prova m que, se eles eles - os que estão estão no poder - p ode m fazê-lo, fazê-lo, nós tamb ém podem os. Ho je em dia, dia, ouvimos com frequência que a democracia só pode ser renovada a partir do nível de base das das comunidades locais, locais, um a vez que os mecanism os do Estado são cristalizados cristalizados d emais e insensíveis às preocu pações elementares das das pessoa pessoas; s; mas os problemas que hoje confrontamo s tamb ém exigem organizações e formas de atividades atividades globais globais - o bom e velho EstadoEstado-naçã naçãoo é ao mesmo tempo muito grande e muito pequeno. O contraponto ideal ao Estado seria seria um curto-circ uito direto entre os dois dois nívei níveis: s: organ izações locais da sociedade sociedade civil forman do redes transnacionais. transnacionais. O problema, na turalmente, é que os manifestantes manifestantes que com põe m essa essass redes redes constituem constituem uma evidente minoria. A reação da grande maioria, após as revelações de Snowden serem amplamente divulgadas, pode ser sintetizada pelos N ashv hvill ille, e, de Altman, na inter memoráveis versos da última canção de Nas
pretação de Barbara Harris Harris:: “Você po de d izer que não sou livre, mas isso isso não me incomoda”.
Vampiros Vam piros versus versu s zumbis zum bis Essa Essa luta luta pelo controle do ciberespaço é no fund o u m a questão de classe, classe, o que demonstra que a luta de classes está viva e gozando de boa saúde. Quando o presidente Obama foi acusado de introduzir na política, irres ponsavelmente, uma “guerra de classes", Warren Buífett exultou: “Há, sim, uma guerra de classes, mas é a minha classe, a classe dos ricos, que está está fazendo a guerra, e estamos ven cend o .” 9 Se a guerra de classes ainda
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é um anátema no d iscurso público norte-americano, esse esse tem tem a reprimido está es tá voltando voltando com ímpeto em H ollywo od. Aqu i não não é preciso preciso procurar m uito pela luta luta de classes classes - querend o ou não, nós a encontram os rápida rápida e inesperadamente. Basta pensar nos blockbusters (e blockbusters (e até video games) pósapocalípti apocalípticos cos com o Elysium Ely sium (2013), (2013), de Neill Blomkamp, que se passa no ano de 215 2154, quand o os ricos viv em nu m a gigantesca estação estação espacial, espacial, enquanto o resto da pop ulação reside reside num a Terra em ruínas que parece um a favela favela latino-am latino-am ericana am pliada.1 pliada.10 Esse filme filme é o ú ltimo de um a série inici iniciada ada c o m Za râoz râ oz (1 (1974), de John Bo orm an, que m ostra u m a Ter ra pós-apocalíptica, em 2293, habitada sobretudo pelos “Brutais”, seres humanos comuns v iv e n d o e m c o n d iç ã o d e m is é r ia e v io lê n c ia . E le s sã o g o v e r n a d o s p e lo s "Imortais”, que usam um grupo privilegiado de Brutais, os "Exterminadores”, com o um a classe classe de gue rreiros para controlácontrolá-los. los. Os Exterm inado res cultuam o deus Zard oz, u m a enorm e cabeça de pedra flutuante flutuante e estát estátic icaa cuja m ensa gem é: "A arma é o bem , o pênis é o mal. O pênis lança raízes e cria cria novas vidas vidas para envenenar a Terra com um a praga de homens, com o era no passado, mas a arma os mata e purifica a Terra da sujeira dos Bru tais. Vão em frente... e matem!" A cabeça do deus Zardoz fornece armas aos Exterm Exterm inadores, enquan to estes estes lhe lhe fornecem grãos para alim alim entar os Imortai Imortaiss que vivem no Vo rtex, rtex, um a com unidade isola isolada, da, com posta de pessoas civilizadas, civilizadas, protegida po r um cam po de força invisível invisível.. Im ortais, ortais, os Imortais Imortais levam um a vida agradável, agradável, mas, em última instânci instância, a, limitada, limitada, e previsivelme nte o film film e term ina com a ruptu ra do escudo e os Imortais Imortais redescobrindo, em funçã o disso disso,, o sexo e a m ortalidade.11 ortalidade.11 Esses filmes são produzidos numa sociedade radicalmente dividida se gun do linhas de cla class sse, e, porém de uma form a bem específ específica ica - um a forma descrita po r Peter Sloterdíjk em In the World Interior Inte rior o f Capital, u Capital, u m a audacios audaciosaa afirmação da grande narrativa de nossa modernidade capitalista global.12 Sloterdijk Sloterdijk explica explica que, na fase final da globalização, o sistema m und ial com pletou seu dese nvolvim ento e, com o sistema capital capitalist ista, a, passou a determ inar todas as condições da vida. O primeiro sinal dessa mudança foi o Palácio de Cristal, em Londres, local da Primeira Exposição Universal em 1851: ele sintetizou sintetizou a inevitável exclusi exclusividade vidade da globalização co m o a construção e
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expansão de um mundo interior cujas fronteiras são invisíveis, ainda que v ir tu a lm e n te in tr a n sp o n ív e is p a ra q u e m v e m d e fo ra , e q u e é h a b ita it a d o p o r 1,5 bilhão de vencedo res da globalização. globalização. U m nú m ero três três ve zes m aior ficou ficou do lado de fora. fora. Consequen temente, “o mu ndo interior do capit capital al não é um a ágora nem um a feira feira comercial a céu abert aberto, o, m as um a estufa que atraiu atraiu para dentro de si si tud o aq uilo que co stum ava ficar de fora”.1 fora”.13 Co nstru ído sobre os excessos capitalistas, esse interior determina tudo: “O fato básico da Idade M oderna não foi que a Terra Terra gira em torno do Sol, Sol, mas que o dinheiro gira em torno da Terra.”14 Depois do processo que transformou o mundo num globo, “a vida social só podia ter lugar lugar nu m interior interior ampliado, ampliado, um espaço espaço interno domesticamente organizado e artificialmente climatizado”.15 Com o domínio do capitalismo cultural, são contidas todas as convulsões capazes de conformar o m undo: "N enh um outro evento histórico histórico poderia poderia ter ter lugar lugar em tais tais condições - n o m áxim o, acidentes dom ésticos.”1 ésticos.”16 6 Em i2 de dez em bro de 20 2013, pelo men os sete pessoas pessoas m orrera m quando um a fábrica fábrica de roupas de propriedade propriedade chinesa num a zon a industrial industrial ita ita liana liana conhecida com o Prato, a dez qu ilôme tros do centro de Florença, Florença, pe gou fogo, matando trabalhadores trabalhadores que ficaram ficaram presos presos num dorm itório itório im provisado, de papelão, papelão, con struído n o local.17 local.17 O acidente acidente oco rreu no distrito distrito industrial industrial de M acrolotto, acrolotto, co nhecido pelo grande núm ero de fábri fábricas cas de roupas. Robe rto Pistonina, funcionário de um sindicato sindicato local, comentou: "N ingu ém pod e dizer que ficou ficou surpreso com isso isso porque todos sabiam sabiam há anos que, na área entre Florença e Prato, centenas, se não m ilhares de pe s soas, soas, vivem e trabalham em condições análogas à escravidão. escravidão.”” 18 Som ente Prato tem 15 m il imigrantes legalmen te registrados registrados (numa pop ulação total de aproxim adam ente 20 200 m il pessoa pessoas), s), be m com o m ais de 4 m il empresas de propriedade de chineses. Acredita-se que outros milhares de imigrantes chineses vivam ilegalmente na cidade, trabalhando até dezesseis horas por dia para u m a rede de atacadistas atacadistas e oficinas oficinas na produ ção d e roupas baratas. baratas. A s s im , n ã o p r e c is a m o s p r o c u r a r a v id a m is e r á v e l fo r a d o D o m o g lo b a l, lá longe nos subúrbios de Xangai (ou pelo menos em Dubai ou no Catar), e hipocritam ente criticar criticar a China. A Foxcon n está está be m aqui, em nossa casa casa - apenas não a vem os (ou (ou melhor, fingim os não vê-la vê-la). ).
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O que Sloterdijk Sloterdijk corretamen te aponta é qu e a globalização capital capitalist istaa não representa apenas abertura, conquista, mas também um globo autoconfinado a separar o Dentro do Fora. Os dois aspectos são inseparáveis: o alcance alcance global do capitali capitalismo smo baseia-s baseia-see na forma com o ele introd uz u m a divisão radical de classe por todo o planeta, separando os protegidos pela esfera dos que estão fora de sua cobertura. Um exemplo m ais ais surpreendente surpreendente da luta luta de cla class sses es em H ollyw oo d é fornecido pelos dois filmes sobre Abraham Lincoln lançados em 2012: o grande, liberal, agradável e de “alta qualidade” Linco Lin coln, ln, de de Spielberg, e seu primo pobre, obviamente ridículo, Abra Ab raha ham m Lincol Lin coln: n: caçad caç ador or de vampiros. Co m o observo u um críti crítico, co, Spielberg Spielberg "falseia "falseia positivam positivam ente a figura figura de Lincoln da mesm a forma que se fez com M artin artin Luther King em nossa cultura política, que enfatiza o aperfeiçoamento e a unidade à custa da v e r d a d e e d a ju s t iç a ” .19 .19 P o u c o a n te s d a v i t ó r ia n a G u e r r a C iv i l , L in c o ln conseguiu im por a emenda que extingu ia a escrava escravatura tura por m eio de uma “advocacia inteligente, inteligente, de algu m patrocínio e da vontad e pessoal. pessoal. A ação ação concentra-se nas elites governantes, retratando Lincoln como o grande be b e m -in -i n fo rm a d o .” 20 E m e v id e n te co n tr as te , Abraha Abr aham m Lincoln: Lincol n: caçador caçad or de vam vam piros piro s m ostra como "a transform transform ação revolucionária é realizada realizada m ediante a m ilitância ilitância e a mo bilização dos excluídos e op rimido s”.2 s”.21 Lincoln, cuja mãe foi m orta por vam piros, descobre que estes estes tam bém estão estão por trás dos se se paratistas paratistas confederados. O líder dos vamp iros faz u m acordo co m Jefferson Jefferson Davis: eles eles vão ajudar o exército confederado se o sul lhes fornecer regu larmente escravos negros com o fonte do sangue de que necessit necessitam am para se alimentar. Quando Lincoln descobre a trama, usa as reservas de prata dos Estados Unidos para p rod uzir balas para o exército, exército, e assim assim ga rantir a vitória do norte em Ge ttysburg. R idículo? idículo? Sim, Sim, d efiniti efinitivam vam ente. M as o caráter caráter joco so é em si m esmo um sintom sintom a de repressã repressãoo ideológica ideológica ou, o que é ainda mais grave, de rejeição rejeição psicót psicótica ica:: o que é excluído do S imbó lico lico retorna no R eal de um a alucinação, alucinação, e o que é excluído é a luta de clas classes ses em toda a sua brutalidade. brutalidade. Seria Seria possível aventar a hipótese de que os filmes filmes de terror registram a diferença de classe sob o disfarce da diferença entre va v a m p ir o s e z u m b is . O s v a m p ir o s são sã o b e m - e d u c a d o s , e le g a n te s, a ris ri s to cr á -
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ticos e vivem entre as pessoas normais, enquanto os zumbis são rudes, inertes e sujo sujos, s, e atacam a partir de fora, fora, com o u m a revolta primitiva de excluídos. A equação entre zumbis e classe trabalhadora ficou explícita e m Zumb Zu mbii branco (1 branco (19 932, dirigido po r Victor e Ed w ard H alperin), alperin), o prim eiro longa-metragem sobre zumb is produzido antes antes de d e o C ódigo Hays, que proibia referên cias diretas a capitalistas capitalistas bru tais e à luta luta dos trabalhadores, com eçar a regular os fil filmes mes de H ollywo od . N ão há vampiros nesse nesse fil film me mas, signifi significati cativamen vamen te, o papel do principal vilão que controla os zum bis é desem penhado p or Bela Lugosi, que u m ano antes antes ficara ficara famo so no papel de Drácu la. Zumb Zu mbii branco se passa num a plantação no Haiti, Haiti, local da m ais famosa revolta de escravos. Lugosi recebe outro fazendeiro e lhe mostra sua fábrica de açúcar, onde os trabalhadores são zumbis que, como Lugosi se apress apressaa em explicar, explicar, não se que ixam da duração da jornad a de trabalho, não e xigem a criaç criação ão de sindica sindicatos tos e nunca fazem greve , apenas continuam trabalhando o tem po todo. U m filme assim só pôd e ser realizado antes da da imposição do Cód igo Hays. Hays. É só contra esse pan o de fun do da luta de classes classes que se po de d iscernir a lógica subjacente das posições políticas em conflito. Alain Badiou22 dis tinguiu quatro principais orientações sociopolíticas nos dias de hoje, e é fácil perceber como elas formam outro quadrado semiótico greimasiano: 1) capitalismo liberal global puro; 2) sua versão mais suave, do Estado de be b e m -e st a r so c ia l (ace (a ce itam it am o s o ca p ital it al ism is m o , d es d e q u e e le seja se ja r e g u la d o p a ra garantir saúde, educação, solidariedade em relação aos pobres e assim por diante); 3) fundamentalismo anticapitalista reacionário explícito; 4) movi m entos em ancipatórios ancipatórios radic radicai ais. s. As qu atro posições pode m ser agrupadas agrupadas ao longo de três eixos: pró-capitalismo (1-2) versus anticapitalismo (3-4); direita (1-3) versus esquerda (2-4); puro (1-4) versus impuro (2-3), em que "pureza” designa um a posição consistente consistente que extrai todas as consequências consequências de sua premissa básica (capitalista ou anticapitalista), enquanto “impuro” se refere refere a um com prom isso (digamos, a social-democracia social-democracia do Estado de b e m - e s ta r s o c ia l r e p r e s e n ta o c a p ita it a li s m o r e g u l a d o , c o n tr o la d o e m i s t u rado com os padrões d a solidariedade e da justiça universais). universais). E talve z haja haja mais duas posições: 5) o capitalismo autoritário (como o capitalismo com
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"valores asiáticos” praticado na China e em Cingapura); 6) o que restou do velho com unismo “totali “totalitári tário” o” (Cuba, (Cuba, Kh m er Verm elho no Camb oja, Co reia do N orte, rebeldes m aoistas na India e no N epal). A p osição 5 é de direita, pró-capitalista e impura; a 6 é de esquerda, anticapitalista e pura. H á posições posições que são claramente o espelho u m a da outra - as posições 5 e 2, por exemplo: opostas ao longo do eixo direita versus esquerda, ambas b u s c a m r e g u la r o s ex ce s s o s d o c a p ita it a lis li s m o li b e r a l p u r o , a p r im e ir a c o m va v a lo r e s tr a d ic io n a is e E sta st a d o a u to ri tá ri o , a s e g u n d a c o m m e c a n is m o s de b e m - e s ta r so cia ci a l. D a m e s m a fo r m a , as p o s iç õ e s 3 e 6 e s p e lh a m -s e u m a à outra ao longo do eixo esquerda-di esquerda-direi reita: ta: ambas buscam sair sair do universo capitalista reorganizando a vida social segundo o projeto "totalitário” de uma sociedade fechada. Finalmente, as posições 1 e 4 também se espe lham ao longo do mesmo eixo no sentido de que ambas incorporam cla ramente os dois polos do antagonismo sociopolítico básico: capitalismo glob al versus sua superação superação em ancipatória. ancipatória. Evidentemen te, o ponto-chave é distinguir a posição 6 da posição 4, assim como a 5 da 3. No caso do capitalismo autoritário (5) e do anticapitalismo reacionário explícito (3), a diferença parece clara, mas na verdade tende a desaparecer. Todos os regim es religiosos "fu nda m entalistas”, po r mais anticapital anticapitalist istaa que possa ser sua retóric retórica, a, tendem a encontrar urna urna forma não apenas apenas de se acostum ar ao capitalismo global, mas até de se integrar perfeitamente a ele (pensem na Ará bia Saudita Saudita). ). No caso de 4 versus 6, tem os o oposto: tanto o re gim e do Khmer Vermelho quanto os movimentos emancipatórios radicais são puros, de esquerda e anticapita anticapitali listas stas,, poré m há um a d iferença mais radical radical que qualquer outra a separá-los. Para discernir essa diferença, é fundamental reconhecer as diferenças entre descrições aparentemente semelhantes ou até idénticas. Por exemplo, u m dos traços traços com uns en tre as as atuais atuais revoltas popu lares na Europa, esp e cialm ente na Espanha, é a rejeição rejeição a toda a “elite “elite política”, de esqu erda ou de direita. Todos os políticos são rejeitados como corruptos, sem contato com as verdadeiras necessidades das pessoas comuns e assim por diante. Entretanto, tal descrição descrição pod e o cultar duas posições radicalmen te opostas: opostas: de um lado, a rejeição rejeição po pu lista-m lista-m oralista a toda a classe política política ("são toto-
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Proble Problema ma no no paraíso paraíso
dos iguais, iguais, a política política é um a putaria”), putaria”), que, com o regra, ocu lta o apelo por um novo Mestre que vai limpar esse ninho de corrupção e introduzir a honestidade; po r outro lado, algo totalmente diferente, que diferente, que verdadeiramente se afasta da oposição binária que define os contornos do espaço político hegemônico (republicanos versus democratas, conservadores versus tra ba b a lh ista is ta s) . N o s e g u n d o ca so , a l ó g ic a su b ja ce n te n ã o é "s ão to d o s ig u a is ”, mas, "evidentemente, nosso principal inimigo é a direita capitalista, mas também rejeitamos a chantagem da esquerda tradicional que nos con clama a apoiá-la como única forma de bloquear a direita". Essa segunda posição posição é a do “nem um nem outro”: não queremo s X, X, mas tamb ém não querem os sua inerente negação, a oposição a ele ele que perm anece no m esmo campo. Isso não significa que sejam “todos iguais”, mas precisamente que eles não são “todos” (no sentido lacaniano dos paradoxos do não todo, do todo sustentando-se sustentando-se num a exceçã exceção). o). “São todos iguais" significa significa que que rem os a exceção, um a política política d ireta/honesta ireta/honesta isenta da política corrupta costumeira, nem de direita nem de esquerda. Entretanto, no caso do “nem u m nem ou tro”, a neg ação d a direita direita nos dá a esquerd a (tradici (tradicional), onal), mas a negação da esquerda não nos dá novamente a direita, mas uma não es querda que está mais à esquerda do que a própria esquerda (tradicional).
A ingenuid ing enuidade ade cínica cínic a Para sair dessa confusão, precisamos ro m per nossas limitações limitações ideológicas - mas como? Seria essa essa um a op ção ainda válida nos dias dias de hoje, em que o cinismo dos que estão estão no po der é frequentemen te tão direto direto e aberto aberto que não pare ce haver necessidade necessidade de u m a crítica crítica da ideologia ideologia?? Po r que p erdería mos tempo envolvendo-nos numa árdua “leitura sintomática”, detectando lacunas e repressões no discurso público dos que estão no poder, quando esse discurso admite, de forma mais ou menos aberta e desavergonhada, seus interess interesses es particula particulares? res? Há, n o entanto, m uitos problem as co m essa tese. tese. Essa noção de um a sociedade cínica cínica em que os que estão estão no pod er adm item br b r u ta lm e n te o q u e f a z e m n ã o é de fo r m a a lg u m a su fic ient ie nte. e. É p re cisa ci sa m e n te
Cardiog Cardiognose nose:: Du jambon jamb on cru ?
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quand o ad m item aberta e "realisti "realisticamente” camente” que, em últim a instân instância, cia, tudo tudo se resum e ao poder, ao ao dinhe iro ou à influência que eles eles com etem o maior erro; seu seu realism realism o sem ilusões é a própria condição condição de sua cegueira. O que eles eles fatalmente fatalmente subestim am é a eficiênc eficiência ia das das ilusões ilusões que estrutura m e sus tentam seus impiedo sos jog os de pod er ou es peculações financeiras. financeiras. No início do governo de Hitler, foram os grandes cínicos capitalistas que dis seram a si mesmo s: “V am os deixar Hitler assum ir e nos livrar da esquerda, esquerda, e dep ois a gente se livra dele.” dele.” A crise finan finan ceira de 20 2008 foi foi provo cad a por ba b a n q u e ir o s c ín ic o s a g in d o s e g u n d o o p r in cí p io d e “a c o b iç a é b o a ” , e n ão po r ideali idealistas stas cegos. A í reside reside o lim ite da velha fórm ula da razão cínica de Sloterdijk: "Eles sabem o que estão fazendo, mas assim mesmo o fazem.”23 Eles estão estão ceg os às ilusões ilusões inerentes à brutal po stura “realist “realista”. a”. Lem brem onos da brilhante análise análise de M arx sobre co m o, na R evolução Francesa de 18 1848, o Partido da Ordem, conservador-republicano, funcionou como uma coa lizão dos dois braços do monarquismo (orleanistas e legitimistas) no “reino anô nim o da Repúb lica”. lica”.224 Os representantes parlamentares d o P artido da Ord em concebiam seu republicani republicanismo smo com o u m a fars farsa: a: nos debates debates parla parla mentares, constantem ente ridicularizavam a República para evidenciar que seu verdadeiro objetivo era restaurar a monarquia. O que não sabiam é que eles próprios estavam enganados quanto ao verdadeiro impacto social de seu governo. O que estavam fazen do era na verdade verdade estabelecer estabelecer as as condi ções da ordem republicana burguesa que tanto desprezavam (por exemplo, garantindo a segurança da propriedade privada). Assim, não é que fossem apenas apenas m onarquistas d isfarçados isfarçados de republicanos: republicanos: em bora se vissem dessa dessa forma, sua própria convicção monarquista “interior” é que constituiu a fa chada ilusória a m ascarar seu verdad eiro papel social. social. Em suma, lon ge de ser a verdade ocu lta de seu seu republicanism republicanism o público, público, seu mo narqu ismo sincero sincero era o suporte fantasmátic fantasmáticoo de seu republicanismo republicanismo real. real. C om o afirmou Marx, os monarqu istas istas
enganavam a si mesmos a respeito do fato de seu governo unificado. Não compreendiam que, se cada uma de suas facções, vista separadamente, por si mesma, era monarquista, o produto de sua combinação química tinha de
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Proble Problema ma no no paraís paraísoo
ser necessariamente republicano ... Assim, vemos esses monarquistas, no começo, acreditando numa restauração imediata, mais tarde preservando a forma republicana espumando de raiva e com uma condenação violenta nos lábios lábios,, e finalmente confessando que só podem pod em suportar-se mutuamente na república e postergando a restauração indefinidamente [die Restauration aufs Unbestimmte vertagen], O próprio gozo do governo unificado [der Genuss dervereinigten Herrschaft ] reforçou refor çou as duas facções e as tornou torno u ainda mais incapazes
e indispostas a se subordinar uma à outra, ou seja, a restaurar a monarquia .25 M arx descreve descreve aqui precisamente precisamente u m caso caso de econom ia libi libidinal dinal per ve v e r t id a : h á u m O b je t i v o (a r e s t a u r a ç ã o d a m o n a r q u ia ) q u e os m e m b r o s do grup o v ivenciam como verdadeiro, verdadeiro, mas que, por m otivos tát tátic icos, os, tem de ser publicam ente repudiado; repudiado; mas o que pro porciona o g oz o não são as as mú ltipl ltiplas as formas de ridicularizar ridicularizar de m odo obsceno a ideologia que são obrigados a seguir publicamente (a raiva e as ofensas ao republicanismo), mas a própria protelação protelação indefinida da concretização de seu O bjetivo ofi cial (que lhes permite um governo unificado). Imaginem o seguinte ce nário: na esfera privada, tenho um casamento infeliz, zombo de minha m ulher o temp o todo, declarando m inha intenção de abandonáabandoná-la la para me unir a minha amante, a quem realmente am o, e, embora tenha pequenos peq uenos prazeres com as ofensas ofensas a m inha esposa, esposa, o goz o que me sustenta sustenta é gerado pela protelação indefinida da separação. De volta à política, será que os republicanos norte-americanos durante o governo Reagan não se pare ciam muito com o Partido da Ordem? Seus orleanistas eram capitalistas liberais new-tech e new-tech e seus legitimistas eram os populistas populistas antiestablishment antiestablishment (que (que mais tarde tarde se transformaram no Tea Party) Party) - odiavam-se odiavam-se mu tuamente, mas sabiam sabiam que só podiam govern ar juntos, de modo que adiaram adiaram inde finidamente as medidas com as quais realmente se importavam (como a proibição do aborto). Esta é a fórmula do cinismo político atual: quem é realmente enganado são os próprios cínicos, que não têm a consciência de que sua verdade está naquilo que ridicularizam, não em suas crenças ocultas. Como tal, o cinismo é uma atitude pervertida: transpõe para seus outros ingênuos (não cínicos) sua própria divisão. E por isso que, como
Cardiog Cardiognos nose: e: Du jambon cru?
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assinalou Freud, a atividade perversa não é uma exposição aberta do in consciente, mas sua maior dissimulação. Há um a coisa sobre He nry Kissinger, Kissinger, o maior cínico da Realpo Rea lpolitik litik,, que realmente se destaca: quão profundamente erradas foram todas as suas previsões. Quando chegou ao Ocidente a notícia do golpe militar antiGorbachev, em 1991, ele na mesma hora aceitou o novo regime (que cairia ignominiosamente três dias depois) como um fato. Em suma, quando os regimes socialistas já eram mortos-vivos, ele contava manter com eles um pacto de longo longo p razo. O que esse esse exemplo m ostra perfeitamente perfeitamente é a limitação do cinismo: os cínicos são, na linguagem de Lacan, les non-dupes qui errent; errent; o que não conseguem reconhecer é a eficiência simbólica das ilusões, ilusões, o m odo com o elas elas regulam a atividade atividade que gera a realidade realidade social social.. A p o s iç ã o d o c in is m o é a d a s a b e d o r ia - o c ín ic o p a r a d ig m á ti c o lh e d iz privadam ente, em vo z baixa e tom tom confidencia confidencial: l: "Mas você não percebeu que no fundo se trata de dinheiro/poder/sexo, que todos os princípios e va v a lo r e s e le v a d o s são sã o ap en a s e x p r e ss õ e s v a z ia s q u e n ã o s e r v e m p a ra n ad a? ” Nesse sentido, os filósofos efetivamente acreditam no poder das ideias, acreditam que as ideia ideiass govern am o mun do, e os cínicos cínicos têm plena razão ao acusá-los acusá-los desse desse pecado - m as o que os cínicos cínicos não perceb em é sua sua própria ingenuidade, a ingenuidade de sua sabedoria cínica. Os filósofos é que são os verdad eiros realistas: realistas: têm plena con sciência de que a posição cínica é impo ssível e inconsistente, inconsistente, de que os cínicos cínicos efetivam ente seg uem o princí princípio pio do qual zom bam em público. público. Stálin Stálin era era um cínico cínico exemplar mas era por isso isso que acreditava sinceramente no com unism o. A q u e s tã o t e ó r ic a g e r a l s u b ja c e n te a e ss a c e g u e i r a d o c in is m o é q u e um a crítica crítica da ideologia ideologia tem de incluir um a teoria da ignorância construída. construída. De modo muito semelhante ao conhecimento, a ignorância também é socialmente construída, em todos os seus cinquenta tons, desde a simples ignorância direta, em que nem sequer sabemos que não sabemos, até ig norar polidam polidam ente o que sabemos m uito bem, e cobrindo cobrindo todo s os níveis níveis intermediários, e m particular o Inconsciente Inconsciente institucional.2 institucional.26 Lem brem os a apropriação apropriação liberal liberal de Martin Luther King, em si m esm o u m caso exemplar de desaprendizagem. desaprendizagem. H enry Louis Taylor recentemente recentemente observou:
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Todo mundo sabe, até um garoto pequeno, que o momento mais famoso da vida de Martin M artin Luther Luth er King Ki ng foi o discurso “Eu tenho tenh o um sonho”. sonh o”. Ning N inguém uém consegue ir além dessa sentença. Tudo que sabemos é que esse cara tinha um sonho. Não sabemos que sonho era esse .27 King havia percorrido um longo caminho desde as multidões que o aclamaram durante a Marcha sobre Washington, em 1963, quando foi apresentado com o “o líder líder m oral desta desta nação"; nação"; incorporan do questões es tranhas à segregação, segregação, tinha perdido grande parte do apoio público público e com e çava a ser visto com o um pária. pária. C om o disse Harv ard Sitkoff Sitkoff,, ele assumiu as questões da pobreza e do militarismo por considerá-las fundamentais “para tornar a igualdade uma coisa real, e não apenas a fraternidade racial, m as a igualdad e de fato”.2 fato”.28 U tilizand tilizand o a term inolog ia de Badiou, K ing levou o “axioma da igualdade” muito além do tema da segregação racial: estava envolvido nas lutas lutas contra a pobrez a e contra a guerra quan do foi assassinado. Tinha se manifestado contra a Guerra do Vietnã e estava em Memphis para apoiar a greve dos trabalhadores da limpeza pública quand o foi morto, em abril abril de 19 1968. “Ser um segu idor de K ing significava cam inh ar pela estrada estrada impop ular, não pela popular.”29 popular.”29 Em sum a, elevar K ing à condição de ícone mo ral envolveu apagar sistematica sis tematicam m ente tudo aquilo que se conh ecia sobre ele. ele. O utro caso de desap rendizage m sistemática sistemática diz respeito à psica psicanáli nálise: se: com o G erard Wajcm an corretam corretam ente observou, em nossa era e ra,, que se con sidera permissiva, violando todos os tabus e repressões sexuais, e assim tornand o a psicanálise psicanálise obsoleta, obsoleta, a percepção fund am ental de Freud sobre a sexualidade infantil é estranham ente ignorada: ignorada:
A única úni ca proibição pro ibição remanescente remane scente,, o único valor val or sagrado em nossa sociedade sociedad e que parece persistir, tem a ver com as crianças. É proibido tocar num fio de cabelo de suas cabecinhas louras, como se as crianças tivessem redesco berto bert o aquela pureza pure za angelical ang elical sobre a qual qua l Freud consegu cons eguiu iu lançar algum alg umaa dúvida. E é sem dúvida a figura diabólica de Freud que hoje condenamos, vendo-o vendo -o como co mo aquele que, ao revelar reve lar a relação da infância com a sexualidade,
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simplesmente simplesmente depravou nossas nossas infâncias infâncias virginais. Numa Num a época é poca em que a sexualidade é exibida a cada esquina, a imagem da criança inocente, estra nhamente, retornou com toda a força .30 Pode-se prosseguir indefinidamente enumerando casos similares ba b a st a le m b r a r a d e s a p r e n d iz a g e m sis si s te m á tic ti c a , im p o s ta p e lo s c o lo n iz a d o res, dos fatos referentes aos povos colonizados. Essa desaprendizagem diz respeito não apenas a fatos, porém mais ainda ao espaço ideológico que fornece as coordenadas para nossa compreensão dos "primitivos”. (Por exemplo, quando os primeiros etnólogos encontraram uma tribo cujo totem era er a um pássa pás saro, ro, autom aticamente aticamente atribuíram atribuíram a seus seus mem bros a crença ridícula de que tinham origem nesse pássaro.) A ignorância mais funda m ental, contudo , é im im anente à Lei: Lei: diz respeito respeito a seu próprio e o bs ceno reverso. reverso. N o dia 3 de d ezem bro de 20 2013, o jor na l israelense israelense Ha aret ar etz z relatou relatou que “patrulhas “patrulhas da decência” decência” ultraortodoxas ultraortodoxas informais vendiam óculos co m ade sivos capazes de em baçar suas lent lentes: es: eles eles propiciavam um a visão clara do que estava estava a até até alguns metros, de mo do a não imped ir o mov imen to, mas tud o que estivesse estivesse mais distante ficava ficava em baçado - incluindo m ulheres.31 ulheres.31 Seguindo um a linha linha semelhante, semelhante, pode-se pode-se m uito bem imag inar sioni sionist stas as agressi agres sivos vos vendendo v endendo óculos que de algum a forma em bacem a visão visão de palestinos palestinos e seus prédios, de m odo que se possa ver a Terra Santa Santa da m a neira como ela deveria ser.
O reverso obscuro da Lei D iz a lenda lenda que certa vez Alfred H itchcock (um católi católico) co) estava estava atraves sando de carro uma pequena cidade da Suíça. De repente, ele apontou algo p ela jan ela do carro e diss disse: e: “Essa é a coisa coisa mais terríve l que já v i!” Um amigo sentado a seu lado olhou na direção por ele apontada e ficou surpreso: não viu nada de estranho, apenas um padre que, conversando com um garoto, colocara a m ão no braço deste deste.. H itchcock parou o carro, carro ,
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b a ix o u o v id r o e g ri to u : “C o rr a , m e n in o , sa lv e su a v id a !” E m b o ra p o ss a ser se r tida tida com o u m a am ostra do excêntrico excêntrico exibicionismo exibicionismo de H itchcock, itchcock, essa essa anedota de fato nos leva ao “coração das trevas” da Igreja católica. Como? V a m o s e s c la r e c e r e ss a q u e s tã o m e d ia n t e u m a sé r ie d e e x e m p lo s e x traídos de diferentes áreas. Num episódio de O sentido da vida, vida, do Monty Python , um professor professor pergu nta aos alunos alunos com o se faz para para estimular uma v a g in a . A p a n h a d o s e m su a ig n o r â n c ia , o s a lu n o s c o n s t r a n g id o s e v it a m seu olhar e apresentam respostas semiarticuladas, enquanto o professor os repreende severamente por não praticarem praticarem o con teúdo em casa casa.. C om a ajuda de sua esposa, ele demonstra então a penetração do pênis na vagina. Entediado, Entediado, um dos rapazes rapazes lança um olhar furtivo através através da janela e o professor lhe pergu nta com sarcas sarcasmo: mo: "Vo cê teria a gentileza de nos dizer o que há de tão atraente lá no pátio?” Essa cena é tão fantástica porque revela, à plena luz do dia, a forma como o gozo sexual é sustentado por um imp erativo erativo do superego: superego: ele ele não vem espontaneamente, espontaneamente, é um dever dever.. O p róprio início desse desse episódio acen tua isso isso de mod o ainda m ais claro. claro. Os alunos estão esperando pela chegado do professor; estão entediados, sentados sentados sobre as carteira carteiras, s, sonolentos e olhando para o vazio. Q uan do o jo j o v e m se n tad ta d o p e r to d a p o r ta g r ita it a “O p ro fe ss o r es tá c h e g a n d o !”, !” , o s alu al u n o s explod em n um a atividade atividade feroz, gritando, joga nd o papéis uns nos outros, sacudindo suas mesas e assi a ssim m por diante diante - tudo aquilo que se presum e que os alunos façam na ausência do professor, professor, de m odo que, ao entrar na sala, ele possa incomodar-se e gritar: “Parem com esse circo! Silêncio!” O que essa cena deixa claro é que a comoção “transgressora” que inco m oda o professor professor é de fato fato d irigida irigida a ele - não é um a diversão espontânea, mas um a performa nce para o profe profess ssor. or. Será Será que o m esm o não é válido válido para nossas form form as m ais intensas intensas de prazer, as quais não seriam acessos acessos espontâneos, mas algo aprendido por imitação, um gosto adquirido? Re lem brem os as primeiras experiências com cigarros ou bebidas fort fortes: es: via via de regra, é um parceiro um pouco mais velho que me conta, quase como se fosse fosse u m segredo, qu e os adultos adultos fazem isso, isso, e então m e oferece um a prov a do cigarro ou da bebida, e minh a reação inicial inicial é, com o seria seria de es perar, perar, de repugnân cia - com eço a toss tossir ir,, cuspo e exclamo: exclamo: “D everia achar
Cardio Cardiogno gnose: se: Du D u jambón cru?
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isso agradável ?” ? ” Depois, aos poucos, aprendo a gostar da coisa, e talvez chegue a ficar viciado. (Algo semelhante acontece até com a Coca-Cola: quando a lguém a prova pela primeira vez, percebe perce be na m esma hora por que essa essa bebida, com seu sabor amargo, foi a princípio princípio apresentada apresentada com o remédio.) remédio.) Q uan do algu ém quer apenas um simples simples prazer, prazer, não precisa precisa de de coisas coisas com o álcool ou tabaco tabaco - um bo m suco de frutas frutas ou um a bebida bebida à ba b a se d e c h o c o la te t e m m e lh o r r e su lta lt a d o . E se rá q u e isso is so n ã o é v á lid li d o , e m últim a instância, instância, até até m esm o para o sexo? sexo? Um a coisa coisa diretamen te agradável provavelmente envolve certa premência rítmica, talvez a masturbação, e não, definitivamente, o complexo esforço de uma cópula completa, que, um a ve z m ais, ais, é preciso preciso aprender aprender.. Uma lição semelhante pode ser aprendida com o xingamento. Pode parecer que, no meio de uma conversa educada, quando uma pessoa fica realmente exaltada exaltada e não não co nsegue se conter, conter, ela ela explode em xingam entos fero zes ... ... m as será será que é isso isso mesmo? Eu ten ho um ritual com (alguns (alguns de) de) meus melhores amigos: durante os cinco primeiros minutos de nossos encontros, nós nos envolvem os num a sessão sessão de xingam entos grosseiros e de mau g osto (tudo quanto é “que se foda a sua sua mãe” e “que você sufoq ue na própria merda” que se possa imaginar); então, quando nos cansamos, indicam indicam os com um breve aceno que esse esse tedioso tedioso m as inevitável inevitável ritual ritual introdutório ch egou ao fim fim e, aliviados aliviados por term term os cum prido nosso dever, dever, relaxamos relaxamos e com eçamo s a fala falarr de forma norm al, educada, educada, em con sonân cia com o tipo de pessoas pessoas gentis e am igáveis que realmen te somos. Assim, novam ente, a lição lição é que, em bora os prazeres possam ser espontâneos, não há nada de espontâneo nessas nessas explosões excessi excessivas vas de prazer - elas elas devem ser aprendidas do modo mais difícil. Deveríamos aplicar essa lição também a formas de violência coletiva como estupros e assassinatos cometidos por gangues. Um dos efeitos as sustadores sustadores da não contem poraneidade de d iferentes iferentes níveis níveis de vida social é o crescim crescim ento da violência violência contra m ulheres - não som ente a violênci violênciaa aleatória, mas a violência sistêmica, específica de certo contexto social, que segue um padrão e transmite transmite um a m ensagem clar clara. a. Em bora estivés estivés semos certos ao nos nos horrorizar com os estupros estupros com etidos etidos por gang ues na
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índia, a ressonância ressonância m und ial desses desses casos é, é, não obstante, suspeita. suspeita. C om o A r u n d h a ti R o y assi as sina nalo lou, u, a caus ca usaa dess de ssaa exp ex p losã lo sãoo u n â n im e de ju lg a m e n to moral foi o fato de os estupradores serem pobres. Assim, talvez fosse re comen dável ampliarmos nossa percepção e incluirmos incluirmos outros fenômenos similares. similares. Os assassinat assassinatos os em série série de mu lheres em Ciudad Juárez, na fron teira mexica na com o Texas, não são apenas patologias privadas, mas uma atividade atividade ritualizada, ritualizada, p arte da subcu ltura das gang ues locais locais (primeiro o estupro pela gangue , depois depois a tortura até até a morte, incluindo cortar os bicos bicos dos seios seios co m tesouras) tesouras),, e dirigida a jove ns solteiras solteiras que trab alham nas nas novas unidades unidades de montagem - um claro claro exemplo de reação reação machista à nova classe de mulheres trabalhadoras independentes .32 Mais inesperados ainda são os estupros e assassinatos em série de mulheres aborígenes no oeste do Canadá, perto de reservas em torno de Vancouver, d esmentindo a pretensão do Canadá de ser um modelo de Estado de bem-estar social caracterizado pela tolerância: um grupo de homens brancos sequestra, estupra e mata uma mulher, e depois deposita o corpo mutilado dentro do território da reserva, o que o coloca legalmente sob a jurisdição da polícia tribal, tribal, totalme nte despreparada para lidar com casos como esse esses. s. Qua ndo as autori autoridades dades canadenses são contatadas, contatadas, tendem a limitar sua investigação à comunidade nativa a fim de apresentar o crime como um caso de violência doméstica local ligado ligado a drogas e álcool .33 Em todos esses casos, casos, o de slocamento social devido à industrialização industrialização e à modern ização acelerada aceleradass provoca u m a reação brutal da parte de homens que vivenciam esse desenvolvimento como uma ameaça. E a característica crucial de todos esses casos é que o ato de violência não é uma explosão espontânea de energia pura, brutal, quebrando as correntes dos costumes civilizados, mas algo aprendido, imposto de fora, parte da substância simbólica de uma comunidade. O que é suprimido ao olhar "inocente” do público não é a brutalidade cruel da ação, mas precisamente seu caráter “cultural”, ritualístico, de costume simbólico. A m e sm a ló l ó gica gi ca so cio ci o rrit rr itu u a l pe p e rver rv er tid ti d a está est á e m ação aç ão nos no s cas c asos os de pedo pe do-filia que constantemente abalam a Igreja católica: quando representantes da Igreja Igreja insistem em afirmar qu e esses esses casos, casos, por m ais deploráveis que
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sejam, sejam, constituem constituem um problema interno, interno, e mo stram grande relutânci relutânciaa em colaborar com a polícia em suas investigações, eles estão em parte certos. A p e d o fi lia li a d o s p a d re s c a tó lic li c o s n ão é a lg o q u e d ig a r e s p e ito it o u n ic a m e n t e àqueles que por acaso escolheram o sacerdócio em função de razões con tingentes de sua história privada se m relação c om a Igreja Igreja com o institui instituição; ção; é um fenôm eno que d iz respeito respeito à Igrej Igrejaa católica católica em si, que se inscreve no seu próprio funcionamento como instituição sociossimbólica. Não afeta o inconsciente “privado” de indivíduos, indivíduos, mas o “inconsciente” da própria instituição. Não é algo que aconteça porque a instituição tenha de se aco m od ar às realidades realidades patológicas patológicas da vida libidinal libidinal a fim de sobreviver, mas um a coisa de que a própria instituição necessita necessita para se se reprodu zir. Pode-se mu ito ito bem imag inar um padre não pedófilo pedófilo que, depois depois de anos de serviç serviço, o, ve v e n h a a se e n v o lv e r c o m a p e d o fili fi liaa p o r q u e a p ró p ria ri a ló g ic a d a in s titu ti tu iç ã o o sed uz a isso. isso. Tal Incon Inc onscie sciente nte inst in stit ituc uc iona io na l designa designa o lado oculto rejeitado e obsceno que, precisam ente po r ser rejeit rejeitado, ado, sustenta a instituição pública. pública. (No exército, esse reverso consiste em obscenos rituais sexualizados que sustentam a solidariedade do grupo.) Em outras palavras, não é simples m ente que, por m otivos con formistas, a Igreja Igreja tente abafar abafar os embaraçosos escândalos relacionados à pedofilia; ao se defender, ela defende seu mais íntimo segredo obsceno. O que isso significa é que a identificação com esse esse lado lado secreto secreto é um constituinte constituinte fun dam ental da própria identi identidade dade de um sacerdote cristão: se um deles denuncia seriamente (não apenas retoricamente) esses escândalos, está assim excluindo-se da comunidade eclesi eclesiást ástic ica. a. Não é m ais "um de nós” (exatamente (exatamente da m esm a forma co m o um cidadão cidadão qu e denunciasse a Ku K lux K lan à polícia no sul dos Estados Estados Unido s na década de 192 1920 se se exclu iria da com unida de, ou seja seja,, teria traído traído sua solidariedade fu nda m ental).34 ental).34 Casos estruturalmente semelhantes podem ser encontrados por toda parte na forma com o funciona a autor autorida idade. de. Du rante o longo govern o de Kem al Ataturk, o “pai” da Turquia moderna, do fim da Prim Prim eira eira G uerra M undial até sua m orte na década de 19 1930, ho uve um persistent persistentee rum or entre os turcos de que, em contraste com sua imagem oficial de líder ascético ascético trabalhando dia e noite por seu país país,, ele era um grand e playbo y
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que dormia com as mulheres de todos os seus colaboradores. Os beminformados, porém, afirmam que, pelo menos de meados da década de 1920 em diante diante,, o verdadeiro A taturk foi um bêbado impo tente que apenas apenas por vezes consegu ia se se divertir divertir com com rapazes rapazes muito novos - o rum or sobre sobre suas seduções seduções em série série foi foi um m ito oficial oficial cuidado sam ente propagado. O que é interessante nisso é que, embora esse rumor fosse oficialmente ne gado (uma pessoa podia ser severam ente punida po r falar falar demais sobre a promiscuidade sexual de Ataturk), era difundido de forma discreta pelas mesmas autoridades que puniam com rigor aqueles que maculavam a imagem oficial do líder espalhando histórias sobre suas aventuras eróti cas, cas, e desem pen hou u m papel crucial na sustentação sustentação de sua aura. aura. Pode-se facilm facilm ente im aginar u m a situação situação constranged ora na Tu rquia em 1930: num a reunião pública, pública, um orador oficial oficial kem alista alista ataca ataca os os que espalham rumores indecentes sobre a promiscuidade do líder; um desconhecido se levanta em m eio ao público e man ifesta ifesta apoio total ao orador, orador, enfatizando o fato fato de todos saberem que os boatos sobre as proeza s sexuais de A tatur k são absolutamen te fals falsos. os. Em bora só esteja esteja confirm ando o que afirm ou o orador, orador, ele ne ga dessa form a o reverso da ideologia oficia oficial. l. O u seja seja,, quand o o orad or oficial oficial estava estava atacando os boatos sobre Ataturk , todo s sabiam que ele fazia fazia isso isso unicam ente pro form fo rm a, efetivamente a, efetivamente confirman do sua verdade com o algo sobre o qu al não se deveria falar falar em público.35 público.35 De volta à Igreja católica. No verão de 2012, teve lugar na Eslovênia uma exibição quase clinicamente pura da obscenidade dessa instituição. En volveu dois atores, atores, o cardeal Franc Rode, conservador, o esloveno m ais b e m s itu it u a d o n a nomenklatura nomenklatura da Igreja, e Alojz Uran, o arcebispo que pri meiro foi deposto pelo Vaticano e depois recebeu a ordem de deixar ime diatamente o país até que certas acusações contra ele fossem esclarecidas. Co m o Uran era mu ito ito pop ular entre os fié fiéis is cató católi licos, cos, come çaram a circu circu lar boatos sobre o que teria provocado essa punição extraordinariamente severa. severa. Após m ais ou men os um a semana de um silênci silêncioo constrangido, as autoridades da Igreja Igreja declararam cautelosam ente que U ran era suspeito suspeito de ser pai de um a filha filha ilegítim ilegítim a - explicação que, por um a série série de mo tivos, foi recebida recebida com um a descrença generalizada. generalizada. Primeiro, tendo em vista
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que rumores sobre a paternidade de Uran haviam circulado por décadas, por que a Igreja Igreja não toma ra medidas antes, antes, quando ele foi foi nomeado arce bisp bi spoo da Eslov Es lovên ênia? ia? E m se gu n d o luga lu gar, r, o próp pr ópri rioo U ran ra n p ro cla cl a m o u pu blic bl ica a mente que estava estava pronto pronto a fazer um teste de de D N A ou qualquer outro para provar que não tinha filhos. filhos. Por fim, mas não meno s importante, sabe sabe-s -see muito bem que havia anos travava-se uma luta na Igreja eslovena, entre conservadores (incluindo Rode) e moderados (incluindo Uran). Qualquer que seja a verdade, contudo, o público ficou chocado com o duplo padrão exibido pela nomenklatura católi católica: ca: enquanto Uran recebeu ordem de dei dei xar o país devido à simples suspeita de ter um a filha, a reação da Igreja foi infinitamente mais branda em relação aos numerosos casos de pedofilia entre os sacerdotes - esses casos nunca fora m relatados à polícia, os padres responsáveis jam ais fora m punidos, apenas transferidos transferidos para outras partes do país, houve pressão sobre os pais das crianças vítimas de abusos para que m antivessem silêncio silêncio e assim por diante .36 O que piorou ainda mais as coisas foi o "realismo” patente, cínico, demonstrado pelo cardeal Rode: em uma de suas entrevistas radiofônicas, ele disse que, "estatisticamente, esse é um problema irrelevante - um ou no máximo dois entre cem padres tiveram uma espécie de aventura ”.37 O que atraiu de imediato a atenção do público foi a expressão “uma espécie de aventura” usada como eufemismo para pedofilia: o crime brutal de estuprar crianças foi apresentado como uma exibição normal de "vivaci dade” (outro termo usado por Rode) irresponsável, como minimizou ele em outra entrevista: entrevista: “N um período de quarenta anos, anos, pode-se pode-se esperar que ?” 38 Essa é a obscenidade católica alguns pecados aconteçam, aconteçam, não é mesm o ?”3
em sua forma m ais pura: pura: nen hu m a solidariedade às vítim as (crianç (crianças as), ), e o que encontramo s debaixo da postura m oralme nte rígida é apenas apenas um a so lidariedade lidariedade superficia superficialmente lmente o culta aos crimino crimino sos em nom e do realismo cínico (assim (assim é a vida, padres també m p ode m ser aventureiros e viv az es ...) ...), de mo do que, no final, as únicas verda deiras vítim as parec iam ser a Igreja Igreja e os próprios criminosos expostos a um a injusta injusta camp anha midiática. midiática. As linhas são assim assim clarame nte traçada traçadas: s: a pedofilia é nossa, nosso próprio segredo sujo, e como tal normalizada, o alicerce secreto de nossa normali-
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dade, dade, enquanto ter um filho filho é a verdadeira violação a ser ser impiedosamente rejeit rejeitada ada - ou, como afirmou afirmou G.K. Ch esterton um século atrá atráss em Orto palavras): ): doxia (desconhecendo, é claro, as consequ ências plenas de suas palavras O círculo externo do cristianismo cristianismo é um a proteção rígida de abnegações ética éticass e sacerdotes sacerdotes profiss profissionai ionais; s; mas dentro dessa dessa proteção d esumana v ocê encon trará a velha vida humana dançando como dançam as crianças e bebendo vin v in h o co m o be b em os hom ho m ens; en s; pois po is o cris cr isti tian an ism is m o é a ú nica ni ca m oldu ol du ra da liberdade liberd ade p agã.39 agã.39
A co n clu cl u sã o p e rv e rsa rs a é a qu i inev in ev itáv it áv el: el : v o c ê q u er u s u fr u ir do son so n h o pagão de um a vida prazerosa sem pagar por ela ela o preço da tristeza tristeza me lan cólica? Escolha o cristianismo! Podemos perceber traços desse paradoxo na figur a do padre (ou freira freira)) católico c om o o po rtado r absoluto da sabedoria sabedoria no viça a rebelde: rebelde: sexual. Recordemos aquela que é a cena mais poderosa de A noviç
depois que Maria foge da família Trapp de volta ao mosteiro, incapaz de lidar com sua atração sexual pelo barão von Trapp, não consegue encon trar a paz, já q ue ainda o deseja deseja.. Ela é então cham ada à presença da Madre Superiora, que a aconselha a voltar para família Trapp e tentar resolver sua situação com o barão. A mensagem é transmitida por uma estranha canção intitulada “Climb Every Mountain!”, cujo surpreendente tema é: Faça! Assuma o risco e faça tudo que seu coração mandar! Não permita que considerações menores se coloquem em seu caminho! O poder incrí ve v e l dess de ssaa cen ce n a resid re sidee na ines in espe pe rad ra d a ex ibiç ib ição ão do es pe tácu tá cu lo do desej de sejo, o, que qu e a torna verdadeiramente constrangedora: a pessoa de quem se esperaria que pregas se a abstinência e a renú ncia revela-se a agente d a fidelidade fidelidade de uma pessoa a seu desejo. Hoje em dia, com casos de pedofilia pipocando por toda parte na Igreja católica, pode-se facilmente imaginar uma nova vi ça rebelde: um jovem padre se ve v e rs ã o dess de ssaa ce n a de A no viça se aproxima aproxima do
abade, queixando-se de ser ainda torturado pelo desejo que os garotos lhe provocam e pedindo um a nova punição punição.. Essa é a contradição imanente que se encontra no próprio cerne identitário da Igreja, Igreja, o que faz dela a principal força anticristã em nossos dias. dias.
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D iz a lenda que, em 1804, 04, quand o o papa se aproxim ou dele para coroá-lo imperador, imperador, Napo leão tom ou-lhe a coroa das mãos e a colocou ele próprio na cabeça. O pap a retrucou: “Sei que seu ob jetivo é destru ir a cristandade. cristandade. Mas creia-me, sire, está sire, está destinado a fracassar fracassar - a Igreja Igreja vem tentando fazer isso isso há pelo pelo menos 2 m il anos an os e ainda ainda não conseguiu..
Com pesso pessoas as como como o
cardeal Rode da Eslovênia, Eslovênia, pode m os ver com o a Igrej Igrejaa continua a fazê-l fazê-lo, o, e não há m otivo p ara nos regozijarm regozijarm os co m esse esse triste triste fato - o legado cristão é precioso precioso d emais e, atualm atualm ente, mais pertinente que nunca. Em seu Notas Not as para u ma definiçã def iniçãoo de d e cultura, cultu ra, T.S. T.S. Eliot Eliot observou que há mom entos em que a ún ica escolha é entre a heresia heresia e a descrença, em que a única m aneira de m anter viv a um a religião é separarseparar-se se sectariame sectariame nte de seu corpus. corpus. Isso é o q ue precisa ser feito feito agora.
Superego, ou a proibição proibida Essa Essa contradição inerente da ordem ideológico-jurídica ideológico-jurídica não se limita a instituições eclesiásticas eclesiásticas - u m dos casos m ais visíveis na atualidade é o da China. Como é que os teóricos comunistas oficiais reagem quando con frontados frontados com a mais do que óbvia contradi contradição: ção: um Partido Partido Co m unista que ainda se se legitima legitima em term os m arxistas, arxistas, mas que renun cia à premissa bá b á si ca d o m a r x is m o , a d a o r g a n iz a ç ã o a u tô n o m a d o s tr a b a lh a d o r e s c o m o força revolucioná ria para derruba r o capitali capitalismo? smo? E difícil difícil evitar a im im pressão de que todos os recursos da lendária polidez chinesa estão aqui m obilizados; obilizados; é considerado considerado indelicado fazer diretamen te essas essas pergun tas (ou insisti insistirr no tema). Esse recurso à po lidez é n ecessário ecessário p or ser a ún ica forma de co m binar o que não pode ser ser combinado: combinado: aplicar aplicar o marxismo com o ideologia oficial oficial e ao ao m esm o tem po proibir seus seus principai principaiss axiom as causaria o colapso de todo o edifício ideológico, tornando-o assim sem signifi significado. cado. E m resultado, resultado, em bora certas certas coisas coisas sejam sejam claramen te proibi das, essa proibição não pode ser anunciada em público, sendo ela mesma proibida. Não é proibido apenas levantar a questão da organização autô noma dos trabalhadores contra a exploração capitalista como princípio
Proble Problema ma no paraís paraísoo
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fundamental do marxismo; também é proibido afirmar em público que é proibido lev anta r essa essa questão.40 questão.40 D essa ma neira, vio lam os o qu e Kan t cham ou de “ fórm ula transcendental do direito direito público”: "Todas as ações ações relativas aos direitos de outros homens cuja máxima não se conciliar com a publicidade publicidade são são injustas.” injustas.” U m a lei secreta, secreta, desco nhe cida dos cidadãos, cidadãos, legitim legitim aria o despotismo arbitrár arbitrário io daqueles que a exercem - compare-se com essa essa fórmu la o título título de um a recente reportagem sobre a China: China: "Até "Até o qu e é secreto é um segred o na Ch ina.”41 ina.”41 Intelectuais incon incon venientes que denunciam a opressão política, as catástrofes ecológicas e a pobreza rural pegam anos de prisão por traírem um Estado secreto. O problema é que m uitos regulam entos e lei leiss que com põe m o regim e do Estado Estado secreto são são tam bém confidenciai confidenciais, s, tornando difícil difícil para os indivíduos indivíduos saberem com o e quando os estão estão violando - e o que as revelações de Snowde n tornaram palpável é o grau em que as agências que monitoram planos secretos de terrorist terroristas as funcion am à maneira chinesa. chinesa. Esse reforço autorreferencial da Lei proibicionista que se torna ela própria proibida proibida transforma-a nu m Real traum ático, ático, e isso isso nos leva de vo v o lt a a o s u p e r e g o - n o m e d ad o p o r F re u d a u m a L e i q u e fu n c io n a co m o real-impossível. Na cena do tribunal em O mercador de Veneza, Veneza, Pórcia, dis farçada farçada de Baltazar, Baltazar, ordena a Sh ylock que não vá em bora depois de perder perder seu processo processo sobre a libra de carne: carne: “Espere um pou co/ .../ Espere, judeu ,/ A le i t e m o u tr a fo r m a de co nt ro lá-l lá -lo. o.”4 ”422 Qu Q u e Lei? Le i? A le i d o s u p e re g o o b sc en o , o reverso da misericórdia misericórdia (um contrassenso contrassenso jurídico) jurídico) - você o queria (uma libra de carne), agora tem tem de aceitá-lo! Percebemos aqui uma referência irônica à afirmação de Paulo de que os cristãos não precisam da circun cisão cisão externa, mas da circuncisão do coração - e é com o se O mercador de Veneza con Veneza con cretizasse isso isso literalmente, fo rçando Shy lock a aceitar aceitar sua libra libra de carne com o u m a circuncisão do coração.43 coração.43 A pressão pressão do superego é aqui exercida com uma contorção adicional: você o queria, agora tem de aceitáaceitá-lo, lo, não p od e recusar. Mas passemos passemos a um exemplo contem porâneo dessa dessa amb iguidade iguidade o bs cena do poder legal: o dilema das campanhas contra o fumo. Em agosto de 2012, noticiou-se que, a partir de dezembro daquele ano, as empresas
Cardiognose: Du jambon cru?
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de tabaco da Au strália strália não pod eriam mais m ostrar suas suas cores, cores, desenhos e logotipos nos maços de cigarros. Para tornar o hábito de fumar o menos glam orou so possível, possível, os m aços teriam teriam u m a cor verde-oliva acinzentada acinzentada e apresentariam apresentariam advertências médicas e imagens de bocas deformadas pelo câncer, câncer, glob os oculares tom ado s pela cegu eira e crianças doentes.44 doentes.44 O que estamos testemunhando é uma espécie de Selbst Sel bst-Au Aufhe fhebun bung g da forma mer cadoria: nenhum logotipo, nenhuma “estética da mercadoria” que possa nos seduzir a comprar o produto. Pelo contrário, o maço atrai a atenção, clara e abertamente, para o fato de o produto ser perigoso, fornecendo razões para não comprá-lo. A apresentação antimercadológica de uma mercadoria é em em si m esma um a novidade - é também responsável pelo fascínio de produtos “culturais”, como a pintura ou a música, que “não são estritamente mercadorias; só vale a pena comprá-los quando a simula ção de não serem m ercadorias pud er ser m antida co m sucesso”.4 sucesso”.45 Aq ui, o antagonismo entre mercadoria e não mercadoria funciona como o exato oposto dos cigarros sem logotipo; a injunção do superego é: “Você deve estar estar preparado preparado para pagar u m preço exorbitante exorbitante por essa mercadoria pre cisamente por ela ser ser muito mais que um a simples simples mercadoria!” No caso caso dos cigarros sem logotipo, obtemos o valor de uso básico privado de sua forma logotipada (de (de mod o semelhante, podem os com prar açúcar açúcar,, café e doces sem logotipo em lojas de descontos); no caso de uma pintura, o próprio logotipo “contradiz” o valor de uso, ou seja se ja,, com o o bservou M arx, o preço parece d eterminar o valor. valor. Mas será que essa “contradição pragmática” direta nos afasta do feti chismo da mercadoria? mercadoria? Será Será que ela não nos fornece, em ve z disso, disso, outro exem plo da clivagem fetichist fetichistaa assinalada assinalada pela co nhecida frase j frase jee sais sa is très bien, mais quand même... même ...?? Mais ou m enos um a década atrás atrás foi prod uzido na A le m a n h a u m c a r t a z d o s c ig a r r o s M ar lb o r o : su a fi g u r a p a d r ã o d o c a u b ó i agora apontava o dedo para a afirm afirm ação ob rigatória rigatória "Fu m ar é perigoso para a saúde!”, com o acréscimo das palavras “Jetzt erst rechts!”, rechts!”, q u e p o dem ser traduzidas aproximadamente como “Agora a coisa está ficando séria séria!”. !”. O significado significado imp lícito lícito é claro; claro; agora que vo cê sabe sabe com o fu m ar é perigoso, perigoso, tem um a chance de provar que tem t em coragem para continuar
Problem Problema a no paraí paraíso so
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fumand o! E m outras palavras, palavras, a resposta esperada é: é: "Eu co nheço m uito b e m o s p e r ig o s d e fu m a r , m a s n ã o so u u m c o v a r d e , so u u m h o m e m d e ve v e r d a d e e, c o m o tal, ta l, e s to u p r o n to a a s s u m ir o s r isc is c o s e p e r m a n e c e r fie fi e l a m eu com prom isso de fum ante!” É apena apenass desse desse m odo que fum ar se se torna torna efetivamente efetivamente um a forma de consumismo: “Estou “Estou preparado preparado para consum ir cigarros ‘além do princípio do prazer’, além das limitadas considerações utilitárias a respeito de saúde.” E essa dimensão do gozo excessivo letal não estaria estaria em fun cionam ento em toda publicida publicidade de ou apelo apelo de consumo? Todas as considerações utilitárias utilitárias (este (este alim alim ento é saudável, saudável, foi pro du zido de forma orgânica, sob co ndições justas de com ércio e assim assim po r diant diante) e) não seriam apenas um a superfície superfície enganosa contendo um a injunção injunção m ais profunda do superego: “Desfrute! Desfrute até o final, sem se preocupar com as consequências!”? O m aço "negativo” australiano australiano vai, portanto, nos revelar a injunção injunção do superego que estava ali ali o temp o tod o - ou seja: eja: será será que um fumante, ao comprar cigarros com uma embalagem “negativa”, não vai ou vir por baixo dela a vo z silenci silenciosa, osa, po rém ainda mais presente presente e imperativa, imperativa, d o superego? Essa Essa voz responderá sua pergunta: “ Se todos todos esses esses perigos de fum ar são são verdade iros - e os aceito aceito com o tal
por que
então continuo comprando cigarros?” A m e s m a in ju n ç ã o d o s u p e r e g o f u n c io n a de m o d o in v e r tid ti d o e m o u tr o momento climático da campanha antifumo que mostra claramente seu contorno moralista: a atual onda de medidas proibitivas que têm como alvo os cigarros eletrônicos. Dois anos atrás, Michael Bloomberg, então prefeito de Nova York, assinou uma lei banindo o uso de cigarros eletrô nicos nicos em qualquer lugar lugar em que o u so dos cigarros convencionais convencionais fosse fosse proibido; seguiram-se as grandes empresas aéreas americanas; os donos de restaurantes tam bém tendem a proibiproibi-los los,, e assim por diante. Mas por quê, já j á q u e tu d o q u e o s c ig a r r o s e le tr ô n ic o s e m it e m é v a p o r d 'á g u a in o d o ro ? O argumento básico é que, quando se fuma um cigarro eletrônico num espaço público, público, dem onstra-se onstra-se um vício covarde, assim assim com o po uca força de vo v o n ta d e (não (n ão se é fo r te o su fici fi ciee n te p a ra r es is tir ti r à te n ta çã o d e fu m ar ), e isso is so pod e exercer exercer má influência sobre sobre outras pessoas pessoas ou pelo m enos incomodálas. las. Em sum a, não se é pun ido p or qu estões de saúde, pelos efeitos do que
Cardiog Cardiognos nose: e: Du jambon jambo n cru?
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se está está fazendo, mas simplesmente por exibir uma p ostura ou disposição, disposição, sem apresentar ameaça alguma a quem quer que seja - é como proibir o consum o público de tortas tortas sem açúcar porqu e ao comê-las comê-las se demonstra estar viciado em comer tortas. A torção do superego reside aqui no fato de que sou culpado mesmo sendo inocente porque sou inocente de uma forma errada (admitindo (admitindo meu desejo desejo de fum ar sob o disfarce disfarce de meu pró prio esforço para não fumar). A s s im , m a is u m a v e z , o q u e é o su p e re g o ? Ne càk aj na maj ma j (Não espere até até maio) - um pop ular filme filme esloveno esloveno de 19 1957, um dos prim prim eiros produ zidos na Eslovênia Eslovênia após a Segu nda Gu erra M un dial a afirmar o direito da nova geração de se divertir divertir e aproveitar aproveitar a vida - é um a com édia romântica surpreendentemente refinada, quase tão boa quanto as obras-primas de Ernst Lubitsch. Lubitsch. C onta a história de um casal de estudantes apaixonados: apaixonados: ela, ela, Vesna, Vesna, é filha de um severo professor de matem ática do ensino m édio, um viúvo que m ora com a irmã soltei solteira, ra, um a velha senhora que nunca fez sexo; sexo; ele, ele, Samo, é um piloto am ador de aviões esportivos. Eis Eis u m resum o ba b a st a n t e si m p li fic fi c a d o d o ro te ir o : q u a n d o o s d o is v ã o p a ss a r u m c u r t o p e ríodo de férias esquiando com amigos, o pai de Vesna, preocupado com os perigos de um feriado longe da família, pede à irmã para acompanhálos e ficar de olho na sobrinha. Designada para ser uma guardiã, a velha senhora, evidentem ente, acaba sendo sendo a pessoa que un e os am antes. Apó s alguns m al-entendi al-entendidos dos que prov ocam ciúm ciúm e, o casal se se vê sozinho, mas não vai além de algun s beijos beijos - Vesna não quer se envolver num a relação relação sexual plena, pois deseja uma conexão para toda a vida, não apenas um caso passageiro. passageiro. D epois de voltarem para casa e de Vesna contar ao pai que quer se casar, este proíbe terminantemente o casamento até que ela termine os estudos. Vesna então elabora um plano: deixa falsos indícios de que está grávida (“esquece” na cama u m livro livro sobre gravidez e finge finge ter indisposições matinais) e então foge com Samo. Quando o pai e os b a r u lh e n t o s v i z in h o s r e c e b e m a n o tíci tí ci a , e x p lo d e m b o a to s so b r e a p r o m is cuidade da nova geração e a ausência ausência de um a bússola m oral entre os jovens. A o s p o u c o s , p o r é m , o p a i e a t ia se r e n d e m e se p r e p a r a m a le g r e m e n t e para o casamento casamento e o bebê de Vesna e Samo, comprando u m a cam inha e
Problem Problema a no paraíso paraíso
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roupas de criança. Então, quando estão todos reunidos em frente de casa, Ves V esna na e Sam Sa m o in esp es p era er a d am en te reto re to rn a m , con co n tan ta n do -lh -l h es que qu e n ão exis ex iste te gravidez, u m a vez que não aproveitaram aproveitaram a oportunidade para se se envolver em prazeres sexuais ilícitos. A mesma vizinhança fofoqueira aproveita o ensejo e mais uma vez reage criticamente, com o principal moralista afirmando afirmando com ar de de desdém: desdém: “Vejam vocês, o rapaz nem aproveitou a oportunidade! Eu sempre soube que ele não valia para nada!” Até o pai de Vesna fica desapontado e ataca a mãe de Samo: "Que tipo de filho você criou que não soube nem mesmo engravidar a minha filha? Ele não é digno dela!” Os amantes fogem; sozinhos no avião, bem alto sobre a cidade, Ves V es n a su ssu ss u rra rr a a lg u m a coisa co isa q ue nã o c o n s e g u im o s en te n d er n o o u v id o de Samo, os dois amantes riem e se abraçam, e o filme termina assim... Pode-se Pode-se imagin ar o que ela sussurrou no ou vido dele - algo com o “Ag ora vo v o cê p o d e m e com co m er!” er !” A es trat tr atég ég ia de V esna es na fin fi n g in d o esta es tarr g rá v id a é com co m plex pl exa: a: seu se u ob jeti je tivo vo não é apenas fazer a família aceitar seu casamento confrontando-a com um (falso) fa tudo) f a it accompli, m as tem a ver tam bém (e na verdade antes de tudo) com a economia psíquica interna da relação do casal, como fazê-lo chegar ao ato completo. O u seja, seja, é evidente qu e Vesna não quer segu ir o caminh o da pura transgressão, violando a norma imposta pelo pai; não está pronta a assumir a plena responsabilidade pelo ato (sexual (sexual)) em desafio ao grande Outro (nesse caso, a autoridade paterna). O que ela deseja não é apenas fazer sexo de maneira legítima, mas, de forma ainda mais perversa, ser forçada a fazê-lo pela própria autoridade cuja função é proibi-lo, e é por isso que faz o oposto daquilo que os jovens normalmente fazem: em vez de manter uma aparência de castidade e fazer sexo discretamente, longe das vistas do Outro, ela cria uma (falsa) aparência de sexo ilícito enquanto, na verdade, preserva a castidade. A premissa é que não somos hipócritas fingindo ser puros e castos, castos, mas nos env olvendo secretamente em prazeres ilícitos; pelo contrário, somos hipócritas que fingem desfrutar de praze res ilícitos enquanto secretamente preferimos a castidade. A falsa aparência de prazeres ilícitos ilícitos gera ex pectativas obscenas que se frustram quando essa essa aparência aparência se revela falsa falsa - e nesse nesse ponto ela pode finalme nte fazer sexo sob
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a égide do grande Ou tro da autorida autoridade de paterna, paterna, obedecendo a sua sua injunção injunção obscena. Essa estratégia desnuda a ambiguidade da autoridade paterna. Força a autorida autoridade de a exibir abertamente seu reverso obsceno. Ao mesm o tempo, dem onstra como u m ato sexual efetivo efetivo não é apenas apenas uma questão de paixões íntimas, mas deve ser mediado pelo grande Ou tro representado representado por alg um a autoridade autoridade simbólic simbólica. a. A m u d an ça de re ação aç ão dos do s v iz in h o s fo foq fo q u e iro ir o s fo rn e ce u m ex em p lo perfeito de como o superego funciona: ele exerce pressão pressão para para impo r res trições sexuais, para impedir o contato sexual; mas, debaixo dessa aparên cia superficial, a verdadeira injunção é: "Façam, desfrutem! Quero que vo cês façam façam exatamente aquilo que os estou proibindo de fazer!” Em outras outras palavras, palavras, vo cê é culpado se violar a proibição, proibição, porém mais culpado ainda se obedecer a ela (o que explica o paradoxo do superego: quando mais vo v o c ê obed ob ed ece ec e as suas s uas orden ord ens, s, m ais ai s culp cu lpad adoo é). é). Freu Fr eud d lev l evaa essa am bigu bi gu idad id adee fundamental constitutiva da agência do superego - quando transgride o padrão moral, você é culpado; quando não aproveita a oportunidade de transgredi-lo, transgredi-lo, é mais culpado ainda - ao extremo : “ Parece que o superego está dizendo: em todo caso você é culpado .”46 Essa Essa culpa constitutiva é responsável por outra inversão do senso co Str afbed edür ürfni fnis, s, a necessidade de ser punido, a estranha mum, referente à Strafb
satisfação provocada por uma punição dolorosa: não é o crime que pro duz o sentimento de culpa e a punição; é a necessidade de ser punido que gera a culpa e produz intenções (e ocasionalmente ações) criminosas. De onde vem, então, essa necessidade de ser punido? Em vez de localizála diretamente em algum tipo de masoquismo primordial, que tenta en contrar o prazer na dor, dor, Freud propõe u m cenário mais complexo referente à própria matriz básica da socialização, do ingresso numa ordem jurí dica. Não é apenas que, de uma forma pseudo-hegeliana, a ordem jurídica precise de transgressões ocasionais (crimes) para afirmar sua autoridade m ediante a punição dos criminoso s - todos nós, inclusive inclusive os que jama is com eteram crime a lgum , somos constituídos constituídos com o sujeitos sujeitos jurídicos ao sermos considerados crim crim inosos potenciais. Freud elaborou esse ce nário em sua conhecida análise de Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski,
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em que um grupo de irmãos é suspeito de ter matado o pai, um père pè re jo u isse is se u r obsceno: A ques qu estão tão de qu em real re alm m en te co m eteu et eu o crim cr im e é ind ifere ife rente nte . A psico ps icolo logia gia preocupa-se apenas em saber quem emocionalmente o desejou e a quem ele satisfez satisfez quando cometido. E po r esse esse m otivo todo s os irmãos, com exceção da figura figura contrastante de Aliócha , são são igualm ente culpados - o sensualist sensualistaa impulsivo, o cético cínico e o criminoso epiléptico. Em Os irmãos Karamázov há um a cena particularmente particularmente reveladora. reveladora. D urante sua conversa conversa com Dmitri, o monge Zossima reconhece que seu interlocutor está prestes a cometer suicídio e se ajoelha a seus pés. É impossível que isso signifique uma ex pressão de admiração; deve expressar que o santo homem está rejeitando a tentação de desprezar ou detestar o assassino e por esse motivo se humilha diante dele. A simpatia de Dostoiévski pelo criminoso é, de fato, ilimitada; va i m u ito além al ém da pied pi edad adee a que qu e o in fe liz li z tem te m d ireito ire ito , e nos no s faz fa z lem le m brar br ar o "temor sagrado" com que epiléticos e lunáticos eram encarados no passado. Um crimino so é para ele quase um Redentor que assumiu para si a culpa que de outra forma recairia sobre outros. Já não há necessidade de que alguém mate, mate, um a vez que elejá ele já m atou; e há que lhe ser grato p orque, não fosse ele, nós nos vería mo s obrigados a matar.4 matar.477 Na medida em que o crime primordial (o assassinato do obsceno UrUrVater) é Vater) é con stitutivo stitutivo do corpo social consolidado consolidado po r um a Lei, a definiç definição ão legal de um sujeit sujeitoo inocente é: uma pessoa que não precisa mais matar porque uma outra outra - o “sag “sagra rado do assassi assassino” no” - j á matou por ela, ela, percebendo o desejo do inocente. inocente. Som os assim assim incorporados incorporados a um a ordem legal por meio do crim e e da culpa: culpa: o sujeito sujeito da Lei é, é, por definição, definição, um po tencial crimino so. Essa Essa culpa com um que co nstitui nstitui a universali universalidade dade dos cidadãos cidadãos nos traz de volta ao reforço reflexivo da proibição (legal (legal). ). A Le i não apenas proíbe, mas é ela mesm a proibida proibida:: Lei é proibição: isso não significa que ela proíbe, mas que é ela mesma proibida, um lugar proibido ... não se pode alcançar a lei, e, para ter com ela uma rela-
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ção de respeito, não se deve ter uma relação com a lei, deve-se interromper a relação. Deve-se entrar numa relação apenas com os representantes da lei, seus exemplos, seus guardiães. Estes são ao mesmo tempo intrusos e mensageiros. Não se deve saber quem ou o que é a lei, e tampouco onde ela está .48 Por que não? Porque, se alguém viesse a saber, a Lei perderia sua legi timidade: seu alicerce num ato de violência ilegal se tornaria evidente. (É por isso que Kant proibia o questionamento da ordem legal.) O que deve continu ar proibido é o reverso crim inoso da Lei, Lei, a “violên “violên cia mítica” (Ben(Ben ja m in ) d e su a in s tau ta u ra çã o , a vio v io lê n c ia q u e su ste st e n ta c o n tin ti n u a m e n te o E sta st a do de direito. Essa proibição (repressão) funciona transpondo pressão sobre o sujeit sujeito: o: este deve ser percebido com o apriori (formalmente) (formalmente) culpado, de m odo que a culpa culpa (violência (violência obscena) obscena) do grande O utro, da própria Lei, Lei, permaneça invisível. Entretanto, para funcionar, essa transposição deve assumir duas formas: primeiro, a do sujeito culpado que efetivamente cometeu o crime, e, depois, a dos espectadores inocentes que lucraram com ele, uma vez que a ação do criminoso os livrou da necessidade de matar: “Eu assumo o crime de m odo qu e o grande O utro (a Lei) continue puro, imaculado.” A n o ç ã o d e s a c r if íc io e m g e r a l a s s o c ia d a à p s ic a n á li s e l a c a n ia n a é a de um gesto que revela ao desfavoreci desfavorecido do a impotência do grande Outro. Em sua forma mais elementar, o sujeito não oferece seu sacrifício em proveito pessoal, pessoal, m as para preencher a lacuna do O utro, para sustentar sua aparência aparência de onipotência ou, pelo m enos, consistênci consistência. a. N o film e Beau Bea u Geste Geste (1939), Gary Cooper, que faz o papel do mais velho de três irmãos que vivem com u m a tia tia benevolente, benevolente, rouba um colar de diamantes diamantes extre mamente caro que é o orgulho da família da tia, no que parece ser um gesto de crueldade excessiva e ingrata. Então, desaparece com ele, ele, sabendo que sua reputação está arruinada, que será para sempre lembrado como o ingrato que roubou sua benfeitora. Ora, por que ele fez isso? No final do filme, descobrimos que foi para evitar a revelação constrangedora de que o colar era era fal falso: so: sem que nin gu ém m ais soubesse, soubesse, a tia tia tinha vendido o colar algum tempo antes antes a um rico rico m arajá arajá para para im im pedir que a família
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fosse à falência, substituindo-o por uma imitação barata. Pouco antes de cometer o “roubo”, ele ficara sabendo que um tio distante, coproprietário do colar, colar, queria vendê-lo para obter lucro financeiro; financeiro; se o colar fosse fosse ven dido, sua falsidade seria indubitavelmente descoberta. Em consequência, a única form a de m anter a honra da tia (e (e, assim, assim, d a família) família) foi encenar o seu roubo. E a camuflagem adequada do crime de roubar: ocultar o fato de que, em última instância, não há nada a ser roubado roubado - dessa maneira, a falta constitutiva do Outro é anulada (ou seja, mantém-se a ilusão de que o que o O utro possuía foi dele roubado). roubado). Se, Se, no amor, é dado o que não se possui, possui, num crime de amo r se se rouba do do O utro amado o que este não pos sui. E a isso que alude o Beau Bea u Geste Gest e do título do filme. E aí também reside o significado do sacrifício: a pessoa sacrifica a si mesma (sua honra e seu futuro) para manter a aparência aparência da honra do Ou tro, para livrar o O utro amado da vergonha. Depois, existe a culpa virtual dos espectadores inocentes, do coletivo que lucra com um (nece (necess ssár ário io)) crime. O paradoxo freudiano "Q uanto mais vo v o c ê é ino i no cent ce nte, e, m ais é cu lpad lp ad o” v ale al e pa ra eles: qu an to m ais são ino in o cent ce ntes es do crime real, mais são culpados por se beneficiarem de seus frutos sem terem de pagar o preço por estes. Entra aqui a pressão do superego, ti rando van tage m dessa culpa de uma form a mu ito específica: específica: a pressão do superego não anula a individualidade do sujeito, seu efeito não é imergi-lo num a m ultidão em que sua individualidade seja seja dissolvi dissolvida; da; pelo contrário, contrário, a pressão do supereg o individualiza o sujeito, sujeito, ou, citando a ma ravilhosa in vers ve rsão ão feita feit a por p or Balib Ba libar ar da clássica clás sica fó rm ula ul a de A lthus lth usse ser, r, o superego interpela os sujeitos como indivíduos. O superego me aborda como u m indivíduo único,
confrontando-me com minha culpa e responsabilidade: "Não fuja para generalidades, não recorra a circunstâncias objetivas, olhe para o fundo de seu coração e se pergunte onde falhou com respeito a seus deveres!” É por isso que a pressão pressão do su perego gera ansiedade: ansiedade: aos olhos do superego, estou sozinho, não há um grande Ou tro atrás atrás do do qual possa me esconde esconder, r, e sou "culpado da acusação” porque a própria posição de acusado me torna form almen te culpado - se alego alego inocência, isso isso só sinaliza sinaliza minha culpa adicional por n egar a culpa. culpa.
Cardiogn Cardiognose: ose: Du jambon cru?
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Um a série de situações situações que ca racterizam a sociedade sociedade atual exem plifica plifica perfeitamen te esse tipo de individu alização do superego: ecologia, correção política política e pobreza. O discurso ecológico predom inante que nos aborda como culpados apriori, em apriori, em dívida com a m ãe natureza, sob a pressão pressão constante da agência ecológica do superego, dirige-se a nós como indivíduos: o que você fez hoje para quitar seu seu débito com a natureza? natureza? Co locou todos os jornais no depósito de reciclagem adequado? E todas aquelas garrafas de cerveja ou latas latas de Coca-Cola? U sou seu carro q uando poderia ter usado a biciclet bicicletaa o u o transpo rte público? público? Usa o ar-condicionado em ve z de apenas abrir a janela?49 janela?49 São facilmen te d iscerníveis os riscos riscos ideológicos dessa dessa individualização: fico fico perdido em m inh a própria própria autoavaliação autoavaliação em ve z de levantar questões questões globais mu ito mais pertinentes pertinentes sobre nossa nossa civilização civilização industrial industrial como um todo. O m esmo vale para a infindável autoavaliação autoavaliação politicamente politicamente corret correta: a: será que olhei para a comissária de bordo de maneira demasiadamente intrusiva e sexualm ente ofens ofensiva iva?? Será que usei palavras palavras com um a possível conotação sexista quando me dirigi a ela? O prazer, até mesmo excitação, gerado por esse esse autoexam e é evidente - basta basta lembrar como o remorso resultante da autocrítica se mistura com a satisfação quando você descobre que sua piada inocente nã o foi, no final das contas, contas, tão inocen te assim, que ela ela tinha um a conotação racis racista. ta. Q uan to à caridade, caridade, lembre-se lembre-se de como somos bombardeados o tem po todo p or m ensagens destina destinadas das a nos fazer sentir sentir culpados culpados por nosso m odo de vida con fortável enquanto crianças crianças passam fom fom e na Somália Somália ou m orrem sem necessi necessidade dade em função de doen ças facilmen facilmen te curáveis curáveis - m ensagens que ao ao mesm o temp o oferecem um a saída fácil ("Você pode pod e fazer a diferença! Basta doar dez dólares mensais para fazer fazer u m órfão negro feliz!”) feliz!”).. Um a ve z m ais, ais, a base base ideológica ideológica é aqui facilmente facilmente discernív discernível. el. A noção de Lazza rato do “hom em endividado” endividado” for nece a estrutu ra gera l dessa dessa subjetividade subjetividade de que a pressão pressão do sup erego po r estar em dívida é constitutiva constitutiva - parafraseando D escartes, escartes, estou endividado, endividado, logo existo como sujeito integrado à ordem social. E será que isso não se aplica até mesmo ao medo patológico de alguns esquerdistas liberais do Ocidente de poderem ser considerados culpados de islamofobia? Qualquer crítica ao islã é denunciada como expressão da
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Problem Problema a no paraíso paraíso
islamofobia ocidental, Salman Rushdie é denunciado por provocar desneces sariamente os m uçulm ano s e ser (ao (ao menos e m parte) parte) responsável pela fatxva que o condenou à morte, e assim por diante. O resultado dessas posturas é o que seria de esperar em casos assim: quanto mais os esquerdistas liberais do O cidente vivencia m sua culpa, culpa, mais são acusados acusados por fundamentalistas islâmicos de serem hipócritas que tentam ocultar seu ódio ao islã. Mais um a vez, essa essa constelação constelação reproduz perfeitamente o paradoxo do superego: superego: quanto mais você obedece às demandas que o Outro lhe faz, mais culpado é. E como se, quanto maior sua tolerância ao islã, mais forte fosse a pres são sobre você. O que isso implica é que os fundamentalistas terroristas, quer sejam cristãos ou muçulmanos, não são realmente fundamentalistas no sentido autêntico autêntico do term o - o que lhes falta falta é um a característica característica fácil de discernir nos fundamentalistas autênticos, dos budistas tibetanos aos amish norte-americanos: norte-americanos: a ausência ausência de ressentimento e inveja, inveja, a profunda
indiferença em relação ao modo de vida dos não crentes. Se os chamados fundamentalistas atuais realmente acreditassem haver encontrado seu ca minho em direção à Verdade, por que se sentiriam ameaçados pelos não crentes crentes,, por que deveriam invej invejáá-lo los? s? Qu ando um budista encontra encontra um he donista ocidental, ocidental, dificilmente o condena. Só observa c om benevo lência que a busca do hedon ista por felicidade felicidade é autodestrutiva. autodestrutiva. Em contraste contraste co m os ve rdad rd ad eiro ei ross fu n d am e n tali ta list stas as , os pseu ps eu do fun fu n da m en talis ta lis tas ta s terr te rror oris ista tass são profundamen te incomodados, intrigados intrigados e fascinados fascinados pela vida vida pecam inosa dos não crentes. Pode-se perceber que, ao lutarem contra o pecaminoso outro, estão lutando contra sua própria tentação. A intensidade apaixonada da turba fundamentalista é testemunho da falta de uma verdadeira convic ção; no fundo de si mesmos, os fundamentalistas terroristas carecem dessa convicção - suas explosões explosões de violência são a prova disso. disso. Q ual seria seria o grau de fragilidade fragilidade da crença de um m uçulm ano se ele se se sentisse sentisse ameaçado por, por, digamos, u ma estúpida estúpida caricatura caricatura publicada publicada num jornal dinamarquês de ba ix a circ ci rcul ulaç ação ão?? O te rror rr or fu n d am en ta list li staa islâ is lâm m ico ic o não se baseia na con vic v ic ç ão de su pe rior ri orid idad ad e dos do s terr te rror oris ista tass e em seu se u de se jo de p re se rv a r sua su a identidade identidade cultural-religiosa cultural-religiosa da agressão agressão da civilização consum ista global. global. O problema dos fundame fundame ntalistas ntalistas não é que os consideremos inferiores inferiores a nós,
Cardiogn Cardiognose: ose: Du jambón jam bón cm?
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mas, em vez disso, disso, que eles próprios se consideram secretamente inferiores. É por isso que nossas garantias paternalistas politicamente corretas de que não nos sentimos superiores superiores a eles eles só os deixam m ais furiosos e alim alim entam seu ressentimento. O problema não é a diferença cultural (o esforço de pre servarem sua identidade), mas o oposto: o fato de que os fundamentalistas já são sã o c o m o nó s, d e qu e, se cr e ta m e n te , j á in te r n a liz li z a r a m no ssos ss os p a d rõ es e se avaliam avaliam de acordo com eles eles.. D e m aneira paradoxal, paradoxal, o que falta falta aos fun fun damen talistas talistas é precisamente u m a dose daquela convicção verdadeiram ente "racista” de sua própria superioridade. O mecanismo de formação de multidões descrito em detalhes por Freud deve ser concebido concebido precisamente com o u m a reação a essa essa pressão pressão individualizante do superego: a atividade da multidão é uma espécie de “re torno do rep rimido” , de violência m ítica, ítica, e a dissolução dissolução da individualidade individualidade dos participantes participantes tamb ém dissolve dissolve a ansiedade e a culpa culpa que os afligem afligem como indivíduos isolados. Nesse sentido, pode-se dizer que a atividade da turba gira em torno do paradoxo do superego freudiano: quando nos envolvem os na violência da turba (como nos pogroms), quanto m ais somos somos culpados, mais somos inocentes - quanto m ais bruta l for for a nossa nossa violência, violência, m ais conseguirem os escapar ao círculo vicioso vicioso do superego. superego. E, poderíamos acrescentar, quanto mais somos capturados pela obs cena espiritualidade espiritualidade capitalistacapitalista-cri cristã, stã, mais a gim os com o anim ais egoístas. egoístas. V l a d i m i r S o lo v io v , o o r t o d o x o r u s s o c r í ti c o d o c o m u n is m o , e x p r e s s o u a tensão da sociedade ateísta, presa entre o materialismo darwinista e sua ética ética da da elevada elevada compaixão, com o seguinte non sequitur: " O h om om e m evoluiu a partir do macaco - portanto, é nosso nosso dever am armo s uns aos outros.”50 outros.”50 Mas h averá re alm ente u m hiato entre as duas proposições? proposições? Será que um a ética sobrevivencialista sobrevivencialista impiedosa que condena os fracos à m orte é realmente o resultado imanente do materialismo darwinista? E se o su posto non sequitur do socialismo ateu girar apenas em torno do non sequitur ideológico de nossas sociedades capitalis capitalistas tas crist cristãs? ãs? A id eologia capitalista capitalista cristã cristã efeti efetivam vam ente nos diz diz:: "O ho m em é um a criatura de de Deus dotada dotada de um a alm a imo rtal - portanto, portanto, d evemos m ergulhar na busca busca utili utilitári táriaa humano-animal do prazer.”
3. Prognose: Unfaux-jilet, peut-être?
N ietzsche afirmou ,
a propósito de Hamle Ha mlet: t: "O que uma pessoa deve
ter sofrido sofrido para precisar ser ser um palhaço de mo do tão intenso intenso?? - Será que foi compreendido? Não é a dúvida que o enraivece, m as a certeza .” 1 Haml Ha mlet et foi Há duas proposições distintas combinadas nessa passagem. Primeiro, a ver v er sã o de N ie tzsc tz sc h e do an tig ti g o sabe sa berr do d eses es es pe ro à es prei pr eita ta p o r trá s da máscara de um palhaço - Ham let deve sofrer tremendam ente caso se se sinta compelido a fazer o papel de um palhaço louco; em segundo lugar, o que o faz sofrer, o que enraivece, não é a dúvida, mas a certe za sobre quem matou seu pai pai;; e sua dúvida, sua busca busca pela prova m aior da culpa de Cláudio, Cláudio, é um a fuga de sua certez certeza. a. O utro mo do de fugir dessa dessa certeza certeza insuportável pode ser contentar-se com o que parecem ser piadas de mau gosto. Um analist analistaa cultur al bósnio ficou surpreso ao descobrir que dezenas de piadas piadas sobre o massacre na Sér via circu lam entre pessoas cujos parentes parentes m orrera m e m Srebrenica. Srebrenica. Eis um exemplo (que (que se refere a comprar carne na antiga antiga Iugoslávi Iugosláviaa - o açou gueiro geralmen te perguntava: "Co m ou sem osso?”, já que era frequente usar os ossos para fazer sopa de carne): "Quero comprar um terreno terreno para construir uma casa casa perto perto de Srebreni Srebrenica ca vo v o c ê sabe sab e qu an to custa? cus ta?”” "O s pr eços eç os va riam ri am , depe de pend nd endo en do do tip o de terr te rraa que você quer - com ou sem osso.” osso.” Longe de expressar expressar um mau gosto desrespeitoso, desrespeitoso, essas essas piadas piadas são são a única form a de lidar com um a realidade insuportavelmente traumática; elas expõem de modo bastante adequado nossa perplexidade impotente, repudiando toda patética compaixão pelas víti ví tim m as co m o blas bl asfê fêm m ias de ve rd ad eiro ei ro m au gosto go sto . Lembremos a adaptação feita por Paul Robeson de sua lendária “Ol’ Man River”, um modelo de intervenção crítico-ideológica simples e efiio 6
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Prog Progno nose: se: Un faux-filet, peut-êtreî peut-êtreî
cient ciente. e. Na versão original do musical hollyw ood iano Show Sh ow Boat Bo at (1936), o rio (o Mississippi) é apresentado como a encarnação do enigmático e indi ferente Destino, um velho sábio que “deve saber alguma coisa, mas não diz nada”, e continua fluindo, retendo sua silente sabedoria. Na versão nova,2 o rio não é m ais porta dor de um a an ônim a e im ensurá vel sabedoria sabedoria coletiva, coletiva, mas sim de um a estupidez coletiva, de um a tolerância passiv passivaa ao sofrimento inexplicável, e a resposta da vítim a deve ser um a gargalhada soberana. Eis os versos finais da canção original: ... you gets a little drunk, an’ you land in jail. But I gets weary, and sick sick o f tryin ’, I’m I’m t ired o f livin ’, and scared scared o f dyin’. But ol’ man river, he just keeps rollin’ along* E eis a versão m odificada: ... you show a little grit, an’ you lands in jail. But I keeps laug hin’, instead o f cryin ’, I must keep fightin’, until I’m dyin. An A n d o l’ m an river, rive r, he ’ ll just ju st keep ke ep rolli ro llin’ n’ along.** alon g.** Um a estratégia radical para escapar a essa ess a realidade realidade insu portável é a da “d esrealização”. Em sua análise análise das grandes batalhas de trincheiras trincheiras da Prim eira Guerra M undial, com o as de de Ypres e do Som m e, em que centenas centenas de m ilhares ilhares m orreram para avançar alguns m etros, Paul Fussel Fusselll assinalou assinalou com o a natureza infernal do que estava ocorrendo fez os partici participantes pantes vivi v e n c ia r e m a situ si tu a ç ã o c o m o a lg o te a tra tr a l: p a r a eles el es,, er a im p o s s ív e l a cr e d it a r
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Proble Problema ma no paraíso paraíso
que estavam participando participando daquele daquele esforço esforço m ortífero em pessoa, com o "eles "eles próprios próprios". ". A coisa coisa toda era absurda, absurda, perversa, cruel e grotesca demais para ser percebida com o parte de suas “vidas reais”. Em outras palavras, a experiência da guerra como performance teatral possibilitava aos partici pantes escapar da realidade do que estava acontecendo. Permitia-lhes se gu ir suas ordens ordens e realizar seus seus deveres militares militares sem terem de abandonar sua convicção interior de de que o m undo real ainda era era um lugar racional racional e não um hospício. hospício.33 E um lugar-com lugar-com um a afirmação afirmação de que a Grande Gran de G uerra funcionou funcionou como um imenso choque, um encontro encontro do Real que assinal assinalou ou o fim fim de uma civilização inteira. Embora todos a esperassem, as pessoas não fica ram meno s surpresas surpresas quando a guerra realmente explodiu, e (fat (fatoo ainda mais enigm ático) a própria surpresa surpresa foi rapidamente renorm alizada, co mo se a guerra tivesse se se tornado um novo m odo de vida. C om o se atingiu atingiu essa essa renormalização? Não surpreende que tenha sido sido por meio do uso m aciço de antigos mitos e narrativas ideológicos, que fizeram a guerra parecer parte do fluxo n orm al das cois coisas: as: a terra de ningu ém entre as trincheiras, cheia de minas, buracos e desolação, torna-se uma nova versão da Terra De vastada do m ito do Gra al.4 Essa m obilização de antigos mitos e lendas lendas é a maior prova da novidade traumática que foi a Grande Guerra: precisa m ente porque algo de que nunca se ouv ira falar falar havia acontecido, acontecido, todos os mitos an tigos deveriam ser postos em operação para dar conta da novidade. novidade. Evidentemente, esses mitos tendem a ser relatos de fantasias paranoicas em v ez de narrativas simbólicas adequadas. adequadas. Parafraseando Lacan, o qu e é paranoico dem ais para para ser integrado ao Sim bólico bólico retorna no Real com o alucinação ou construto paranoico. Não admira que a Grande Guerra te nha gerado u m a explosão de paranoia interpretati interpretativa va - seu problema era o mesmo do stalinismo: como explicar os constrangedores fracassos do que se imagina va ser o m elhor dos sistemas. sistemas. A resposta stalinista stalinista foi en xergar com plôs e traidores traidores con trarrevolucionários trarrevolucionários por toda parte, mu ito ito semelhante à resposta dada pelo S.O. S.O . S. S. de Reginald Grant, publicado no curso da P rimeira G uerra M undial, um a insuperável coletânea coletânea de mentiras, mentiras, lendas e mitos, todos todos levados extrem am ente a sério. sério. O problem a de Grant
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era simple simples: s: ele não acreditava qu e os alem ães fossem a stutos o suficiente para localizar os alvos de sua a rtilharia rtilharia através das linhas linhas adversárias adversárias anali sando sando o som e a luz do fogo inimigo, de modo que imaginou que o interio interiorr da Bélgica por trás das linhas britânicas devia estar cheio de fazendeiros traiçoeiros indicando as posições dos can hões ingleses para os alemães. Ele acreditava que isso era feito de várias maneiras: 1) moinhos começando de repen te a gir ar na direçã o co ntrá ria ao ven to;5 2) relóg ios das torres das igrejas locais mostrando a hora errada; 3) donas de casa pendurando a roupa para secar em frente a suas residências, as cores das roupas (duas camisas brancas, depois um a preta...) preta...) enviando enviando um a men sagem em código. O problem a é com o distinguir essa (fal (falsa sa)) paranóia ideológica da pos tura paranóica básica básica que é um ingrediente irredutível de toda crítica crítica da ideolog ideologia. ia. N um a praia praia de um país país mediterrâneo, mediterrâneo, m ostraram-m ostraram-m e um pesca pesca dor solitário consertando uma rede; enquanto meus anfitriões desejavam apresentar o trabalho tradicional baseado na experiência e no conheci m ento artesanal ancestral ancestral,, m inha reação imediata a essa essa apresentaç apresentação ão foi paranóica: e se o espetáculo que eu via fosse uma autenticidade forjada, algo destinado a impressionar turistas turistas,, com o preparar com ida fresca fresca em lojas de departamentos ou exemplos semelhantes de falsa transparência no processo de produção? E se eu tivesse me aproximado da rede, visto uma pequena etiqueta com os dizeres “made in in China” e observado que o pescador “autêntico” estava apenas fazend fazend o de conta? conta? O u, m elhor ainda, reimaginando a cena como um detalhe de um filme de Hitchcock: e se o pescador fosse fosse um agente estrangeiro e estives estivesse se costurando a rede de alguma forma codificada de maneira que outro agente a decodificasse com o um a m ensagem secreta secreta (terr (terror oris ista ta)? )? A le n d a a b s u r d a m a is b r il h a n t e d a G r a n d e G u e r r a fo i o p e r s is t e n t e rum or de que gangues de desert des ertores ores meio loucos viviam em algum lugar da terra terra de nin gué m entre as trincheiras trincheiras das linhas linhas de frente, frente, num a área devastada e desolada desolada de terra terra seca e deserta, deserta, cheia de corpos em deco m po sição, sição, crateras crateras produzid as por bomb as, trincheiras, cavernas e túneis aban donados. donados. Essas Essas gangues eram supostamente constituídas constituídas por mem bros de todos os exércitos e nações participantes - alemães, franceses, britânicos,
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australianos, australianos, poloneses, croatas, belgas, italianos italianos -, e todos eles viv iam em p az e am izade, e vitando serem detectados e ajudando ajudando uns aos outros. outros. Ve V e s tid ti d o s c o m an d rajo ra jos, s, c o m lo n g a s ba rb as , n u n c a p e r m it ia m q u e os v is s e m - de tempos e m tempos, ouviam-se seus gritos e canções canções insanos. insanos. Só saíam saíam de seu subm und o duran te a noite, depois depois de um a batalha, a fim de saquear os corpos e obter água e comida. A be leza dessa lenda é que ela descreve claramen te um tipo de comun idade alternativa alternativa dizend o “N ão!" à loucura dos cam cam pos de batalha: batalha: um g rup o em que mem bros das nações em conflito v i v i a m p a c if ic a m e n te , s e u ú n ic o in im i g o se n d o a p r ó p r ia g u e rr a . E m b o r a possam parecer parecer a im im agem da guerra em sua loucura extrema - renegados renegados levando um a vida selvagem
são são ao m esmo tempo sua autonegação, autonegação, um a
ilha de paz entre as linhas de frente e o surgim ento de um a fraternidade fraternidade unive rsal que ignora essas ess as linhas. linhas. Precisam ente por ignorarem as fron teiras oficiais entre Nós e Eles, representam a verdadeira divisão, a única que importa, ou seja, a negação de todo o espaço do conflito imperialista. Co nstituem o terceiro terceiro elem ento que subverte a oposição oposição entre Nós e Eles, Eles, nosso inim igo - em suma, são são os verdadeiros leninistas leninistas nessa nessa situação, situação, repetindo a recusa de Lênin a ser atraído pelo fervor patriótico. E essa é nossa tarefa, hoje mais do que nunca: distinguir a verda deira divisão na mêlée mêlée de lutas secundárias. Eis dois casos extremos dessa falsa divisão. A lu ta id e o ló g ic a n o P e r u à é p o c a d a r e b e li ã o d o S e n d e ro L u m in o s o (1980-92) mostrou perfeitamente o dilema político daquele país. De um lado, “a identidade coletiva do Sendero Lu m inos o era educativa”:6 m esm o sua violência mais brutal “tinha o propósito de educar o povo sobre a revolução e o Estado sobre seu desastre iminente”.7 Essa educação era extremamente autoritária, exercida pelos que acreditavam possuir a ver dade e se proclam avam no direito direito de ter o poder absoluto. absoluto. Por ou tro lado, lado, a contraestratégia contraestratégia do govern o foi ainda ainda mais maligna: um a estratégia de pura d esm obilização obilização e desm oralização oralização política política.. A imprensa, controlada controlada e/ou man ipulada pelo pelo E stado, stado, prom oveu ativam ativam ente o que os analist analistas as chamam de “síndrome do mundo iníquo”. O governo desencadeou uma explosão da pren pr ensa sa chica ch ica , tabloides especializados em fofocas sobre ceie-
Prog Progno nose se:: Unfaux-filet, peut-être peut-être?
III
br b r id a d es e h is tó ri a s de c r im e s , a lé m de talk shows shows concentrados em “casos reais” de vício em drogas, violên cia familiar, adultério e assim por diante. diante. O objetivo objetivo dessa estratégia estratégia era "im obilizar socialmente o po vo u tilizando tilizando o m edo e atom izar a esfera esfera pública”8pública”8- a mensagem era que o mun do cons tituía um lugar perigoso em que tudo que se pod ia fazer era cuidar de si si m esmo, u m a vez que não havia esperança de solidar solidariedade iedade,, apenas inveja inveja dos ricos ricos e famosos, a lém de prazer por seus problemas. R aram ente na his tória tória m oderna o espaço ideológico de um país foi foi tão tão claramente dividido entre o educacionismo “totalitário”, que mergulha os indivíduos num cole tivo político que exige o autossacrifício total, e o egoísmo atomizado, que impede a solidariedade engajada, enquanto o liberalismo tradicional era reduzido a uma depreciada atração secundária. Embora essa divisão seja pura e radical, nela não há lugar para a política emancipatória autêntica. O utra luta falsa falsa d iz respeito à atual condição do sionismo e do antisseantissemitismo. Para algun s esquerdistas pró-islamitas, pró-islamitas, o sionismo é hoje o caso exem plar do racismo n eocolonial, m otivo pelo qual a luta luta dos palesti palestinos nos contra Israel é o paradigma de todas as outras lutas contra o racismo e o imperialismo. De uma forma estritamente invertida, para alguns sionis tas o an tissemitismo (que (que para eles eles se oculta em toda crítica crítica ao sionismo) sionismo) é o caso exem plar do do racismo racismo atual, atual, de m odo que, em amb os os exemplos, exemplos, o sionismo (ou (ou o antissemitismo) antissemitismo) é a forma p articular de racismo racismo que re presenta todas as outras. O verdadeiro teste do antirracismo hoje em dia é lutar contra o antissemitismo (ou o sionismo), ou seja, se alguém não endossa plenamente essa luta em particular, é acusado pelos outros de fazer secretamente o jog o dos raci racistas stas (e (e, um passo passo adiante adiante na m esma di reção, qualquer observação crítica sobre o islã é considerada equivalente à “islamofobia”). Embora se tenha escrito o suficiente sobre a natureza profun dam ente problem ática de se se igualar qu alquer crítica crítica a Israe Israell ao an tissemitismo, também se deveria problematizar a elevação do sionismo ao grau de racism racism o imperialista por excelência. excelência. Críticos de Israel Israel frequente m ente afirm am que deveríamos ve r o sionismo dessa dessa maneira, e a opres opressão são sionista sionista aos aos palestinos palestinos com o o caso parad igmático da opressão opressão imp erialista erialista atual. atual. Q uan do se pergun ta por que Israe Israell deve ocup ar essa essa posição posição excep
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Prob Problem lema a no paraíso paraíso
cional quando há certam ente m uitos casos casos de opressão opressão m ais brutal pelo mu ndo, a resposta padrão é que essa proeminên cia é resultado da presente presente luta luta por hegemonia que ningu ém consegue controlar - os judeus foram escolhidos para ser um caso exemplar, e temos de seguir essa lógica. É isso isso que eu eu acho profundam ente problemático. problemático. Qua ndo u m g rupo étnico étnico específico é “escolhido” como símbolo (ou personificação) de uma atitude universal negativa, nunca se trata de uma operação neutra, mas de uma escolha dentro de um espaço bem definido definido da tradição tradição ideológica. ideológica. Os ju deus já foram escolhidos escolhidos duas veze s em sua história, história, primeiro pelo próprio D eus (na (na visão religiosa deles deles), ), depois depois com o a lvo do an tissemitismo, tissemitismo, com o personificação da corrupção moral, de modo que qualquer outra "escolha” deve ser lida contra o pa no de fu nd o das an teriores.9 Se o Estado jud eu, fazendo coisas coisas indubitavelmente indubitavelmente problemáticas do p onto de vista ético e político, político, é "escolhido” com o símb olo do que há de errado errado no mun do, então o excedente de energia libidi libidinal nal que nos perm ite transformá-lo transformá-lo em símbolo un iversal só pode v ir do passado (antisse (antissemita mita). ). E o qu e há de errado nessa "escolha” é, mais um a vez, a nega ção da luta de class classes. es. A le s s a n d r o R u s so m o s t r o u 10 co c o m o a e s q u e r d a r a d ic a l da d é c a d a de 1960 era definida pela indecisão entre o metaclassismo (adotando uma posição acima da divisão de classes: falando sobre a multidão, o povo, a unidade de todas as forças progressistas, com a exclusão apenas dos traidores)11 traidores)11 e o hiperclassism o (concentrando-se num a parte da classe classe tra ba b a lh a d o r a c o m o o a g e n te r e v o lu c io n á r io p ri v ile il e g ia d o : o “c o g n it a r ia d o ” , o "precariado”, "precariado”, os im im igrantes ilegai ilegais) s).. Atu alm ente p arece possível discernir a mesma indecisão indecisão na obra de An tonio Negri: m ultidão ultidão versus Império e trabalhado res versus capital. capital. Mas será será que o prim eiro par tem algum a coisa a ver co m o capital capital?? As veze s N eg ri identifica identifica im im plicitamen te os dois pares, falando sobre governo (capitalista) versus multidão (proletária), às vezes distingue no funcionamento “desterritorializante” do capita lismo mais dinâmico de hoje (chegando às especulações financeiras) a dimensão da multidão, concluindo que nas formas mais avançadas do capitalis capitalism m o estam os “quase lá”, quase no com unism o - só precisam precisam os livrar-nos livrar-nos da form a capitalis capitalista. ta.
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O problema à esprei espreita ta por baixo dessa indecisão indecisão é u m problema fund a mental: o de definir o que de fato fato nos divide atualmente, u m a vez que não é m ais o tradicional con flito flito de classes classes (a (a divisão entre m ultidão e gov erno não é suficientemente forte para desempenhar esse papel). E se ainda for a luta de classes, porém, com a expansão do escopo do proletariado, en contrar o que procura m os não tem mais com o foco a clas classe se trabalhadora trabalhadora tradicional, tradicional, m as inclui todos aqueles que são atualm ente explorados, os trabalhadores, os desempregados e os não empregáveis, o “precariado”, o “cognitariado”, os imigrantes, os moradores de favelas, os "Estados vilões” excluídos do espaço “civilizado”.12 (Deveríamos ter em mente aqui que já é discernível em Marx uma sutil diferença subterrânea entre a classe tra ba b a lh a d o r a e o p ro leta le ta ria ri a d o : a “cla “c la ss e t r a b a lh a d o r a ” é, e m ú lt im a in st â n c ia , um a categoria em pírica pírica que designa um a parte da sociedade sociedade [trabalha [trabalhadore doress assala assalaria riados dos], ], enqua nto o proletariado é um a ca tegoria form form al que designa a “parte da não parte” do corpo social, o ponto de sua torção sintomática ou, com o d izia Marx, a irrazão dentro da razão - a estrutura estrutura racional de um a sociedade. sociedade.)) É por isso que, com o propôs recentem ente A lain Badiou,13 Badiou,13 de uma forma ao mesmo tempo irônica e séria, hoje em dia deveríamos procurar a “contradição principal” dentro dentro do próprio povo (classes), não entre o po vo e seus inimigo s, ou en tre o povo e o Estado: Estado: o fato fato primordial é um racha/antagonismo no próprio cerne daquilo daquilo que cham am os de povo.
Mortes no Nilo Co m o então rom per as fals falsas as divisões para atingir a verdadeira (verdadei (verdadeira ra no sentido precis preciso, o, lacani lacaniano) ano)?? Tom em os o caso do Egito. Qua ndo , no verão de 2013, o exército egípcio decidiu acabar com o impasse e remover do espaço público os manifestantes islamitas, matando centenas ou talvez m ilhares deles, deles, a primeira coisa coisa a fazer seria seria apenas apenas imag inar a tur bu lên cia que isso teria causado se o mesmo banho de sangue tivesse ocorrido num país com com o o Irã. Irã. Entretanto, Entretanto, é mais urgente recuar um passo passo e fo calizar a terceira parte ausente no atual conflito: onde estão os agentes
Problem Problema a no paraíso paraíso
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dos protestos da praça Tahr ir de dois anos antes antes?? Seu papel a gora não seria seria sem elhante àquele àquele desempenh ado pela Irmandade M uçulm ana durante a Prima vera Árab e de 201 2011 - o de observadores surpresos, impassí impassívei veis? s? Em ju n h o de 2013, 2013, o ex é rc ito it o e g íp ci o, in ic ia lm e n te a p oiad oi ad o p e lo s m a n ife if e s ta n te s que dois anos antes antes haviam de rrubado o regim e de M ubarak, depôs o pre sidente e o governo democraticamente eleitos. Os manifestantes que ha v i a m d e p o s to M u b a r a k e e x ig id o d e m o c r a c ia a p o ia r a m p a s s iv a m e n te u m golpe de Estado militar que aboliu a dem ocracia. O que está acontecendo? acontecendo? A in t e r p r e ta ç ã o p r e d o m in a n te , a fi n a d a c o m a id e o lo g ia h e g e m ô n ic a , foi proposta por, por, entre outros, outros, Fuku yam a: o m ovim ento de protesto que derrubou Mubarak foi predominantemente a revolta da classe média ins truída, truída, co m trabalhadores trabalhadores e agricultores pobres reduzidos ao papel de de observadores (favoráveis). Mas, uma vez abertas as portas da democracia, a Irmandade Muçulmana, cuja base social é a maioria pobre, venceu as eleições eleições democrática democráticass e formou um governo dominado por fundamentalistas listas islâmic islâmicos, os, de m odo que, com preensivelmente, o núcleo origina l dos manifestantes seculares se voltou contra eles e correu a apoiar até mesmo um golpe m ilitar ilitar com o form a de bloqueábloqueá-los los.. E ntretanto ntretanto essa visão simpli ficada ficada ignora u m a característica-chave característica-chave do mov im ento de protesto: protesto: a explo são de organizações heterogêneas (de estudantes, mulheres trabalhadoras etc.) sob o disfarce das quais a sociedade civil começou a articular seus interesses fora do escopo do Estado e das instituições religiosas. A ampla rede de novas formas sociais, muito mais que a derrubada de Mubarak, é o principal ganho da Primavera Árabe. É um processo em andamento, independente de grandes m udanças sociais sociais com o o golpe do exército con tra o governo da Irmandade Muçulmana; é mais profundo que a divisão entre religioso s e liberais. liberais. O antagonismo entre o exército e a Irmandade Muçulmana não é, portanto, o principal principal antagonismo da sociedade sociedade egípcia. egípcia. Lon ge de ser um neutro e benevolente mediador e guardião da estabilidade social, o exér cito cito representa e encarna um certo program a político político e social - falando falando d e m o d o g e n é r i co c o , a in i n t e g r a ç ã o a o m e r c a d o g lo lo b a l , u m a p o s t u r a p o l í tica tica pró-Ocidente e o capitalismo capitalismo autorit autoritári ário. o. C om o tal, a intervenção do
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exército se faz necessária na na m edida em que a m aioria não está está preparada para aceitar aceitar "dem ocraticamen te” o capitalis capitalismo. mo. Em contraste contraste com a visão secular do exército, a Irmandade Muçulmana tenta impor um governo ba b a se a d o n o fu n d a m e n ta lis li s m o r elig el ig io so . A s du as v is õ e s id e o ló g ic a s e x c lu e m aquilo que os manifestantes realmente defendiam: a emancipação social e política universal. Os atuais eventos eventos no Egito Egito fornecem m ais um exemplo da dinâmica bá b á si ca da s r e v o lta lt a s so cia ci a is , q u e co n s is te e m d oi s p a ss o s p r in c ip a is t r a d ic io nalmente designados por pares como "1789/1793” (no caso da Revolução Francesa) ou "fevereiro/outubro” (no caso da Revolução Russa). O pri meiro passo, que Badiou recentemente denominou o "renascimento da história”, história”, culm ina num levante levante plenamente popular contra um a odiada figura no pod er (Mubarak, no caso do Egito, ou o xá, no caso do Irã três décadas atrás). Pessoas de todos os estratos sociais afirmam-se como um agente coletivo contra o sistema sistema de poder, o qual perde rapidam rapidam ente a le gitim gitim idade, e no m undo inteiro inteiro podem os segu ir pelas pelas tel telas as de T V aqueles aqueles momentos mágicos de unidade extática em que milhares de pessoas se reúnem em praças públicas por dias seguidos e garantem que não irão a parte algum a até que o tirano seja seja derrubado. derrubado. Esses Esses mom entos sim boli zam um a unidade imaginária naqu ilo ilo que ela ela pode ter de mais sublime: sublime: todas as diferenças, diferenças, todos os conflitos de interesses interesses são esquecidos quand o a sociedade inteira parece unida em oposição ao odiado tirano. No final da década de 1980, algo semelhante aconteceu nos regimes comunistas em desintegração, em que todos os grupos se uniram em sua rejeição ao Partido Com unista, em bora por mo tivos difer diferentes entes e, e, em ú ltim ltim a instân cia, cia, até incom patíveis: as pessoas religiosas o o diava m por seu ateísmo; ateísmo; os liberais seculares, por seu dogmatismo ideológico; os trabalhadores comuns, por obrigá-los a viver na pobreza; os potenciais capitalistas, por ele inibir a propriedade privada; os intelectuais, pela falta de liberdade pessoal; os nacionalistas, por ele haver traído suas raízes étnicas em fa v o r d o i n t e r n a c io n a li s m o p r o le tá r io ; o s c o s m o p o li t a s , p e lo fe c h a m e n t o de fronteiras e a falta de contato intelectual com outros países; os jovens, pelo fato de ele rejeitar a cultu ra pop o cidental; os artistas, artistas, pelas lim lim itações
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Problem Problema a no para paraíso íso
imp ostas a sua expressão criativa, criativa, e assim assim por diante. Entretanto, um a vez desintegrado o antigo regim e, essa unidade im aginária é logo logo rompida, e novos (ou melhor, velhos, mas reprimidos) conflitos reaparecem com toda a força: força: fundam entalistas religiosos religiosos e nacionalistas nacionalistas versus mod ernizado res seculares, seculares, um grup o étnico contra outro, anticomunistas fanáti fa náticos cos contra os suspeitos suspeitos de simpatia pelo antigo reg ime . Essa série série de an tagonismo s tende a se cristalizar num grande antagonismo político, quase sempre segundo o eixo tradicionalistas religiosos versus capitalistas seculares, pró-ocidentais, multiculturais e liberal-democratas, embora o conteúdo desse antagonismo predominante possa variar (na Turquia, os islamitas são mais favoráveis à inclusão do país no capitalismo global do que os kemalistas, de orientação nacionalista secular; ex-comunistas podem se aliar a "progressist "progressistas” as” seculares - com o na H ung ria ou na Polônia - ou a naciona listas listas religiosos - co m o na Rússi Rússia) a).. Tentem os esclarecer esse as as pecto fund am ental mediante um paralelo paralelo talvez inesperado inesperado com a idei ideiaa pau lina lina de passar passar da Lei para o amor. E m am bos os casos (na (na Lei e no amor), estamos lidando com uma divisão, com um "sujeito dividido”; a m odalidade da divisão, divisão, contudo, é totalm ente diferente. O sujeito sujeito da Lei é “descentrado”, no sentido sentido de estar preso no círculo vicioso autodestrutivo do pecado e da Lei, no qual um polo en gendra seu oposto. oposto. P aulo forneceu um a descrição insuperáv insuperáv el dessa dessa associaç associação ão em Rom anos 7: 7: Sabemos que a Lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido como escravo ao pecado. Realmente não consigo entender o que faço; pois não pratico o que quero, mas faço o que detesto. Ora, se faço o que não quero, eu reconheço que a Lei é boa. Na realidade, não sou mais eu que pratico a ação, mas o pecado que habita em mim. Eu sei que o bem não mora em mim, isto é, na minha carne. Pois o querer o bem está ao meu alcance, não porém o praticá-lo. Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não sou eu que estou agindo, e sim o pecado que habita em mim. Verifico pois esta lei: quando eu quero fazer o bem, é o mal que se me apresenta. Eu me comprazo na lei de Deus segundo o homem interior; mas percebo outra lei em meus membros, que
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peleja contra a lei da minha razão e que me acorrenta à lei do pecado que existe em meus membros. Infeliz de mim!* A s s im , n ã o é q u e e u es te ja a p en a s d iv id id o e n tr e os d oi s o p o s to s , L e i e pecado; o problema é que não consigo sequer distingui-los claramente: quero seguir a lei e acabo no pecado. Esse círculo vicioso não é superado, mas rom pido. Pode-se Pode-se rompê-lo com a experiência experiência do amor, m ais precisa precisa me nte co m a experiência experiência da brecha radical que separa separa a Lei do amor. Reside Reside aí a diferença entre a dupla Lei/pecado e a dupla Lei/amor. A brecha que separa Lei e pecado não é um a diferença real: real: sua verdade é sua implica ção ou confusão m útua. A Lei gera o pecado e dele se se alimenta. alimenta. É apenas apenas em relação à dupla Lei/amor que vemos uma diferença real: esses dois m om entos são são radicalmente distintos, distintos, não são "m ediados”, um deles deles não é a form a do seu oposto. É errado, portanto, perguntar: "Então estamos condenad os para sempre à divisão entre Lei e amor? E que d izer da síntese síntese entre Lei e amor?” A divisão entre Lei e pecado é radicalm ente diferente da divisão entre entre Lei e amor: em v ez de um círculo vicioso vicioso de reforço reforço m útuo, ficamos com uma distinção de dois domínios diferentes que simplesmente não existem no mesmo nível. É por isso que, uma vez que nos tornamos plenam ente conscientes conscientes da dimen são do am or em sua diferença radical em relação à Lei, o am or de certa form a já ven ceu, já que essa diferença diferença só é vis v is ív e l do p o n t o d e v i s ta do am or . O motivo desta excursão teológica deveria estar claro agora: a luta infindável entre a permissividade permissividade liberal liberal e a intolerância intolerância fundam entalista entalista funciona de um a forma hom óloga à divis divisão ão entre Lei e pecado - em ambos os casos, casos, os dois poios im im plicam e reforçam u m ao outro: seu antago nism o é constitutivo de nossa difícil condição. Além disso, a distinção entre Lei e amor é homóloga à distinção entre a totalidade do atual universo capi talista global (cujo antagonismo imanente é aquele entre a democracia liberal e o fundamentalismo) e a ideia emancipatória radical (comunista) de sair dele. dele.
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A d ife if e re n ç a e n tr e o lib li b e r a li sm o e a es q u e rd a r a d ic a l é qu e, e m b o r a se refiram aos mesm os três elem entos (o centro liberal, liberal, a direita direita populista e a esquerda radical) radical),, eles os os localiza m n um a tipologia diferente: para o centro liberal, a esquerda e a direita direita radicais radicais são duas form as do m esm o excesso “totalitário”, enquanto para a esquerda a única alternativa verdadeira é entre ela própria e o liberalismo convencional, com a direita populista “radical” sendo apenas um sintoma sintoma da inabilidade do liberalismo em lidar com a ameaça esquerdis esquerdista. ta. Q uand o ouvim os hoje políti políticos cos ou ideólogos oferecendo-nos uma escolha entre a liberdade liberal e a opressão fundamentalista, e fazendo triunfantemente a pergunta (puramente retórica) "Você s querem que as mulhere s sejam excluídas da vida pública e privadas de seus direit direitos os bási básico cos? s? Qu e todo s que zom bam da religião religião sejam sejam punidos com a morte?”, quem é que poderia gostar disso'? O problema é que esse universalismo liberal simplista perdeu a inocência muito tempo atrás. É por isso que, para um verdadeiro esquerdist esquerdista, a, o conflito entre a permissivipermissividade liberal liberal e o fundam entalismo é um fa um fals lsoo conflito conflito - um círculo vicioso vicioso em que os dois dois poios poios geram e pressupõem um ao outro. outro. D everíam os dar um passo atrás, atrás, ao mod o hegeliano, e questionar o próprio grau em que o fundam entalismo aparece em todo o seu seu horror. horror. O que Max H orkheim er afirm ou sobre fascismo e capitalismo lá na década de 193 1930 (aquel (aqueles es que não querem falar falar criti criticam cam ente do capitalismo capitalismo tam bém deveriam se manter calados no que diz respeito ao fascismo) pode ser aplicado ao fundamen talismo atual: atual: aqueles que não qu erem falar (critic (criticamente) amente) da dem ocracia liberal e seus nobres princípios também deveriam ficar calados sobre o fundamentalismo religioso. Com o devemos entender essa essa transformação de um a pressão pressão emanciemancipatória patória num populismo fundamentalist fundamentalista? a? R eagindo à conh ecida caracteri caracteri zação do m arxism o co mo "o islã islã do do século XX”, que seculariza o fanatismo fanatismo abstrato do islã, islã, Jean-Pierre Ta gu ieff afirm ou que ele está se tornando “o marxismo do século XXI”, prolongando, após o declínio do comunismo, seu anticapitalismo violento.14 Mas será que as recentes vicissitudes do fundam entalismo islâmico não confirm am a antiga idei ideiaa de W alter Benj Benjaamin de que “cada ascensão do fascismo é testemunha do fracasso de uma
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revolução”?15 A ascensão do fascismo não apenas significa o fracasso da esquerda esquerda,, m as tam bém é prova de que havia um potencial revoluci revolucionário, onário, um a insatisfação, insatisfação, que a esquerda esquerda não foi capaz de mob ilizar. E será que o m esmo não é válido para para o cham ado "islam "islam ofascismo” atual atual?? A ascensão ascensão do islamism o radical não seria o correlativo correlativo exato do desaparecim ento da esquerda esquerda secular nos países países muçulmanos? Qua ndo se mostra o Afeganistão com o a nação fund am entalista entalista islâmica islâmica mais radical, radical, quem ainda se se lembra lembra de que, quarenta anos atrás, o país tinha uma forte tradição secular e um poderoso partido comu nista que assumiu o poder independentemente da União Soviética? Soviética? Mesmo no caso de movimentos claramente fundamentalistas, devese ter cuidado para não deixar escapar o componente social. O Talibã é regularmente apresentado como um grupo islâmico fundamentalista que impõ e seu dom ínio pelo pelo terror - quando, porém, na primavera de 2009, o grupo conquistou o vale do Swat, no Paquistão, o New Ne w York Time T imess relatou que ele havia engendrado "uma revolta de classe que explora as profundas fissuras entre um pequeno grupo de proprietários abastados e seus arrendatários sem terras”. O viés ideológico do artigo do Ne w York Times Times é discernível no modo como o jornal descreve a capacidade do Ta libã de "explorar as divisões de classe”, como se a “verdadeira” agenda do grupo fosse fosse outra - o funda m entalismo religioso - e ele ele estives estivesse se apenas apenas "tirando van tagem ” da condição dos pobres agricultores sem terras. terras. A isso poderíamos acrescentar simplesmente duas coisas. Primeiro, essa distin ção entre a “verdadeira” agenda e a manipulação instrumental é imposta externam ente ao Talibã - com o se os pobres pobres agricultores agricultores sem terras não viv v iv e n c ia s s e m su a co n d iç ã o e m te r m o s " fu n d a m e n ta li s ta s r e li g io s o s ” ! S e gundo, se, "tirando vantagem” da condição dos agricultores, o Talibã “faz soar o alarme sobre os riscos ao Paquistão, que permanece amplamente feuda l”, o que im pede os liberal-democratas liberal-democratas paquistaneses, paquistaneses, assim com o os norte-americanos, de m odo similar, "tirar "tirar van tagem ” dessa dessa condição e tentar ajudar os ag ricultores sem terras? terras? A triste im im plicação do fato de essa questão óbvia não ser levantada na reportagem do Ne do New w York Times Time s é que as forças feudais feudais do P aquistão são "aliados "aliados natura is” da dem ocracia liberal.16 liberal.16
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Problem Problema a no paraíso paraíso
Essa Essa é a lição lição verda deiram ente am eaçadora d a revolta revolta egípcia: egípcia: se as forças liberais moderadas continuarem ignorando a esquerda radical, vão gerar uma onda fundamentalista insuperável. Para que o legado liberal bá b á si co p o ss a s o b re v iv e r, os lib li b er a is p r e c is a m da a juda ju da fr a te rn a da es q u er d a radical. Embora (quase) todos tenham apoiado entusiasticamente essas explosões democráticas, há uma luta surda por sua apropriação. Os cír culos oficiais e a maior parte da mídia ocidental comemoram-nas como se fossem fossem o m esmo que as revoluções revoluções de veludo “pró-dem ocráticas” ocráticas” que ocorreram no Leste Europeu: o desejo desejo de adotar um a dem ocracia liberal liberal de tipo ocidental, o desejo de se tornar como o Ocidente. E por isso que surge a inquietação quando se vê que há algo mais funcionando nesses protestos protestos:: u m a dem anda po r justiça social. social. Essa luta luta por reapropriação não é somente uma questão de interpretação, mas tem consequências práticas cruciais. Não deveríamos ficar tão fascinados com os sublimes momentos de unidad e nacional. A questão-ch ave é: o que aco ntece no dia seguinte? seguinte? Co m o é que essa essa explosão explosão ema ncipatória ncipatória será traduzida num a nova ordem social? Como já assinalamos, nas últimas décadas temos testemunhado um a série de explosões populares ema ncipatórias ncipatórias que foram reapropriadas reapropriadas pela ord em capitalista capitalista global, seja em sua form a liberal (da (da Áfr ica d o Sul às Filip Filipina inas) s) ou fun dam entalista (Irã (Irã). ). Não deveríamos esquecer que nenhu m dos países países árabes árabes em que houv e levantes levantes populares é form form almen te dem o crático: eram todos mais ou menos autoritários, de modo que a demanda por justiça social social e econôm ica se integrou integrou espontaneamente à demanda por dem ocracia, com o se a pob reza fosse o resultado resultado da am bição e da corrupção das pessoas no poder e bastasse livrar-se delas. O que acontece se obtemos democracia, democracia, mas a pobreza perm anece - o que fazer fazer nesse caso! Isso Isso nos traz de volta à pergun ta básic básica: a: a eufórica unidade do povo na praça praça Ta hrir foi apenas apenas um a ilusão ima ginária a ser im im placavelm placavelm ente desfeita na sequência dos fatos? Será que os eventos no Egito não confir m am a afirmação afirmação de Hegel de que, que, quando um m ovim ento político político vence, vence, o preço da vitória é a sua sua divisão em facções antagônicas? A u nidad e antiantiMubarak teria sido uma ficção que ocultou o antagonismo real subjacente entre mo dem izador es seculares pró-ocidentai pró-ocidentaiss (mem bros da crescente classe classe
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média) e fundam entalistas islâm islâm icos com apoio principalmente nas classes classes baix ba ixas as?? E m o u tr a s p a la vr a s, e st a re m o s as sist si stin indo do a u m a lu ta de clas cl as ses se s c o m um diferencial? E verdade que existe existe um a certa unidade unidade imaginária no primeiro clím clím ax da revolta, quando todos os grupos estão unidos na rejeição ao tirano. Há mais nessa nessa unidade, contudo, do que um a ilusão ilusão ideológica ideológica ima ginária toda revolta revolta radical radical contém, contém, po r defini definição, ção, um a dim ensão com unista, um sonh o de solidariedade e justiça igualitária que ultrapassa a esfera estrita estrita da política para alcançar a econom ia, a vida privada e a cultura, perm eand o a totalidade totalidade do edifício edifício social. social. Está Está em fun cionam ento aqui exatamente um m ovim ento dialético dialético de opostos. Na revolta inicial inicial,, temo s a ampla unidade do povo, e aqui a unidade já coincide com a divisão divisão (entre (entre o povo e os que ainda trabalham para o tirano). Só quando o tirano é derrubado é que começa o verdadeiro trabalho, o da transformação social radical. Nesse período, todos são formalmente favoráveis à revolução, mas os esforços dos que desejam a “revolução sem revo lução” (Robespie (Robespierre) rre) se se voltam para convencer as pessoas de que a revolução acabou, de que, uma vez que o tirano caiu, a vida pode voltar ao normal (é isso que o exército representa hoje no Egito). Nesse momento, quando todos são a favor da revolução, é preciso preciso insistir insistir na divisão divisão rígida entre os que realmen realmen te querem um a re vo lução e os que desejam um a “revolução sem revolução” . Voltemo s a M artin Luther King: nos termos de Badiou, Badiou, K ing seguiu o “axioma da igualdade” igualdade” m uito além do tem a da segregação racial, racial, e a disposi disposição ção de rea lizar esse esse trabalho o torna u m verdadeiro com batente pela pela em ancipação. ancipação. É isso isso que Badiou quer dizer quando afirma que uma Ideia verdadeira é algo que separa, separa, que nos perm ite traçar um a linha d ivisóri ivisória: a: nu m a Ideia Ideia verdadeira, universalidade universalidade e divisão divisão constituem dois dois lados lados de uma m esma m oeda. O comunismo é essa Ideia que divide. Nos países autoritários de di reita, todos os que lutam (não importa se pacificamente) por democracia, liberdade, liberdade, justiça e outros objetivos liberais liberais eram (e em a lguns casos ainda são) denunciados como comunistas ou crédulos ignorantes manipulados por estes, que constituem o maior inimigo do Estado. A reação liberal bá b á si ca a es sa s a c u s a çõ e s é a n e g a çã o : “ N ã o , s o m o s a p e n a s m il it a n te s s in
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Problem Problema a no paraíso paraíso
ceros da liberdade e da democracia, e como vocês (os que estão no poder) são realmente contra a liberdade e a democracia, mas não estão prontos a adm itir isso isso em público, ridiculam ridiculam ente nos acusam de comun istas.” Mas e se os direit direitist istas as que denun ciam aqueles aqueles que lutam por liberdade liberdade de serem serem com unistas disfarçados estiverem certos, em ú ltima instância? instância? E se, num a situação de intensa luta emancipatória, quando os oportunistas ficarem com medo da explosão da ira popular e tenderem a firmar um compro m isso com a direita direita no poder, os comun istas forem os ún icos a defender a liberdade e a justiça contra o poder autoritário? Assim, depois de rejeitar tais acusações ("Comunista, eu? Você está maluco? Somos apenas liberais consequentes!”), consequentes!”), chega o mom ento e m qu e a única reação consequen te é aceitar as acusações: “ s i m , e daí, nós somos comunistas, somos comunistas, você nos em purrou nessa direção!” direção!” Além disso disso,, qu ando os com unistas precisam precisam recorrer a um a lingu age m evasiva em condições nas nas quais quais a autodesignação autodesignação direta direta como “comu nista” é im possível (censurada) (censurada),, não se d eve tem er nem rejeitar rejeitar essas essas va v a ri a ç õ e s (“ve (“v e rd a d e ir a d e m oc ra c ia ”, “ju “j u s tiç ti ç a ” etc. et c. e m v e z de “co “c o m u n is m o ” ) com o um a m anipulação perigosa a obscurecer a verdadeira verdadeira linha da luta luta:: elas são úteis porque podem expandir o campo de nossa luta e permitir que nela adaptem os/priorizemos as lutas lutas por justiça, liberdade e igualdade. E por isso que toda revolução deve ser repetida. Só depois que a en tusiásti tusiástica ca unidade inicial se desintegra é que se pode form ular a verda deira universalidade, uma universalidade não mais sustentada por ilu sões imaginárias. Só depois de se dissolver a unidade inicial das pessoas é que o verdadeiro trabalho começa, o trabalho árduo de assumir todas as imp licações licações da luta por um a sociedade justa justa e igualitári igualitária. a. Não basta basta simplesmente livrar-se livrar-se do tirano; tirano; a sociedade qu e o deu à luz tem de ser profun dam ente transformada. Só os que estão preparados para para se envolver nesse trabalho árduo permanecem fiéis ao cerne radical da apaixonante unidade inicial. Esse árduo trabalho de fidelidade é o processo de dividir, de traçar a linha que separa a Ideia de comunismo das ilusões imaginá rias rias sobre solidar solidariedade iedade e unidade que perm anecem dentro dos lim lim ites ites ideológicos da ordem existente. Esse Esse esclarecim ento paciente é o trabalho trabalho revolucionário propriamente dito. Enquanto, para seus oponentes, essa
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atividade é uma tentativa de “manipular” as pessoas, de seduzir manifes tantes bem -intencionados para transformá transformá -los em violentos e perigosos radicai radicais, s, imputando-lhe o que nunca realm ente desejaram, desejaram, para o ve rda deiro revolucionário nada mais é que o entusiástico evento original: quer realm ente justiça justiça e solidar solidariedade? iedade? Eis Eis o qu e precisa fazer. fazer. N ão adm ira que sejam sejam tão raros os mom entos genuinamen te revoluci revolucionários onários:: nenhu m a teleología teleología os garante; garante; dependem de haver um agente político político capaz de aproveitar uma (contingente, imprevisível) abertura. De volta ao Egito, o paralelo que devem os estabelecer é entre a revolta revolta egípcia e a fracassada fracassada Revoluçã o Ve rde que o corre u no Irã em 201 2011. A cor ve v e r d e a d o ta d a p e lo s p a rt id á r io s d o ca n d id a to p r es id e n c ia l M o u s a v i, il e g a l me nte derrotado, os gritos de “Allahu akbar!” que ressoaram pelos telhados de Teerã na escuridão da noite, indicavam claramente que eles viam sua atividade como a repetição da revolução de Khomeini, em 1979, como um retorno às raízes, a derrota da corrupção que depois alcançou a revolução. Essa Essa volta às raízes não foi apenas program ática. Referia-se Referia-se mais ainda à forma de atividade das massas: a enfática unidade do povo, toda a sua ampla solidariedade, a auto-organização criativa, a improvisação de modos de articular o protesto, a mistura singu lar de espontaneidade e disciplina, disciplina, com o a am eaçadora march a de m ilhares de pessoas pessoas em completo silênc silêncio io.. Estávamos lidando com um genuíno levante popular dos decepcionados entusiasta entusiastass da revolução revolução de Khom eini: o nom e de M ousavi representava representava a verdadeira ressurreição do sonho popular que sustentou a revolução. O que isso significa é que a revolução de Khomeini não pode ser reduzida a um a tom ada do poder pela linha linha dura isl islamita amita - foi m uito mais. mais. O próprio próprio fato fato de essa essa explosão precisar ser ser reprimida d em onstra que a revolução revolução de Kh om eini foi foi um evento político político autênti autêntico, co, um a abertura m abertura m o m e n t â n ea ea que liberou liberou forças de transformação transformação social desconhecidas, desconhecidas, um m om ento em que tudo pareceu possível possível.. O que se seguiu foi um gradual fec gradual fecham ham ento, ent o, mediante a tomada do controle político pelo establishment islâmico. Como costumávamos dizer quase meio século atrás, não é preciso ser meteorologista para saber para que lado sopra o vento no Egito: para o lado do Irã. Mesmo que o exército vença e estabilize a situação, essa
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vit v it ó r ia e m si só p o d e g e r a r u m a e r u p ç ã o s e m e lh a n te à re v o lu ç ã o d e K h o m eini que tomará conta do Egito dentro de alguns anos - mas será que ela ela tam bém será será apropriada apropriada pelos fundam entalistas entalistas mu çulmanos? O que nos pode salvar dessa possibilidade é apenas a unidade da luta por liberdade e dem ocracia com a luta luta por justiça social e econôm ica. Essa unidade, e somente ela, é o objetivo universal.
Dem andas... e mais Em seus seus prim prim eiros textos, Marx descreveu a situação situação da A lem anh a com o um a em que a solução solução de problemas particulares só era possível por m eio de um a solução universal: a revolução revolução radical global. Aí reside a fórm fórm ula mais sucinta da diferença entre um período reformista e um período revolucionári revolucionário: o: nu m p eríodo reformista, a revolução revolução global perm anece com o um sonho que, na m elhor das hipóteses, hipóteses, sustenta sustenta nossas nossas tentati tentativas vas de implem entar m udanças locais (e na pior delas delas nos impe de de realizar mudanças reais), enquanto uma situação revolucionária assoma quando fica claro que só uma mudança radical global pode resolver problemas particulares. particulares. Nesse sentido puram ente form al, 19 1990 foi foi um ano rev olucio nário: tornou-se claro que as reformas parciais dos Estados comunistas não fariam o serviço, que era necessária necessária um a ruptura radical global para resolver até até problemas parciais parciais com o o su primento adequado de alimentos. A s s im , o n d e e s ta m o s h o je n o q u e se r e fe r e a e ss a d ife if e re n ça ? O d il e m a bá b á s ic o é si m p le s e b r u ta l: se rá q u e os p r o t e s to s q u e t ê m o c o r r id o n o s ú l timos anos estão sinalizando uma crise global que se aproxima de modo gradual, mas inexorável, inexorável, ou seriam seriam apenas apenas obstáculos obstáculos men ores que pode m ser contidos, contidos, se não resolvidos, m edian te interve nçõ es precisas, precisas, riieramen riieramen te problemas locais num processo de reajustamento global a uma nova era progressista? O mais surpreenden te e perigoso no que d iz respeito respeito aos protestos é que não estão estão explodindo apenas apenas,, ou m esmo fundam entalmente, nos pon tos fracos fracos do sistema, sistema, mas em lugares até recentemente percebidos com o
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histórias histórias de sucesso sucesso.. Um problema no inferno parece com preensível - sa b e m o s p o r q u e as p e s s o a s e s tã o p r o t e s t a n d o n a G r é c ia o u n a E s p a n h a ; mas por que há um problema no Paraíso, em países prósperos ou pelo menos em rápido desenvolvimento, como a Turquia, o Brasil ou mesmo a Suécia (onde vimos recentemente violentos protestos de imigrantes que v i v e m n o s su b ú rb io s) ? E m r e t r o s p e c t o , p o d e m o s p e r c e b e r a g o r a q u e o primeiro “problema no Paraíso” foi a revolução de Khomeini no Irã, um país que estava oficialmente prosperando, caminhando a passos largos rumo à modernização pró-ocidental, e que constituía o aliado mais con fiável fiável do O cidente na região. região. Talvez haja algum a coisa coisa errada errada com nossa nossa ideia de Paraíso. A n t e s d a a tu a l o n d a d e p ro te s to s , a T u r q u ia er a q u e n te - u m a e c o n o mia liberal floresce florescente nte combinada co m um islamism islamism o m oderado e de face face humana, conveniente à Europa, num bem-vindo contraste com a Grécia, m ais “europeia”, presa num velho impasse ideológico ideológico e fadada fadada à autodes truição econômica. Havia, é verdade, alguns sinais de perigo aqui e ali (a persistente negação do holocausto armênio, a prisão e o indiciamento de centenas de jorna listas, a condição indefinida dos curdos, os apelos por um a G rande Turquia que ressusci ressuscitari tariaa a tradição tradição do Império Império O tom ano, a impo sição o casional de leis leis religi religiosas osas), ), mas tu do isso isso era descartado co m o pequenas manchas que não conseguiam m acular o quadro geral. geral. Era um país em que a última última coisa coisa que se poderia esperar eram protestos em ampla escala - eles simplesm ente não d everiam ter aparecido. aparecido. Então aconteceu o inesperado inesperado - explodiram os protestos protestos na praça praça TakTaksim. sim. To do m undo sabe sabe que a planejada planejada transforma transforma ção de um parque fron teiriço teiriço à praça Taksim, no centro de Istambul, Istambul, nu m shopping center não não foi o “verdadeiro motivo” dos protestos, que uma insatisfação muito mais profunda estava ganhando força por baixo da superfície. O mesmo vale para os protestos que irrom pera m n o Brasil em m eados de jun ho de 20 2013: o que os desencadeou foi f oi um pequeno aumento no preço do transporte público, público, mas eles eles prosseguiram após a medida ser revogada. revogada. No vam ente, o s p r o t es e s t o s e c lo l o d i r a m n u m p a ís ís q u e - p e l o m e n o s s e g u n d o a m í d ia ia atrave atravess ssava ava um boom econômico, econômico, vivenciando um a grande esperança esperança no
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futuro. Para aume ntar o mistério, tem tem os o fato fato de que os protestos protestos foram imed iatamen te apoiados apoiados pela presidente presidente D ilm a Rousseíf, que afirmo u estar “encantada” com eles - então quais são os verdadeiros alvos dos m anifestan tes insatisfeitos com a corrupção e a desintegração dos serviços públicos? Em suma, de quente a Turquia subitamente passou a fria. Então, qual o verdad eiro m otivo dos prote protesto stos? s? É fun dam ental não limitá-lo limitá-loss à ideia ideia de um a sociedade sociedade civil secular lutando lutando contra um govern o autoritá autoritário rio islâmico islâmico apoiado apoiado pela maioria silenc silencios iosaa m uçulm ana. O que complica esse esse quadro é o sentido anticapitalista anticapitalista dessas dessas man ifestações (a privatizaç ão do espaço público) - o principal eixo eixo dos protestos na Turqu ia foi o víncu lo en tre o islamismo autoritári autoritárioo e a privatização do espaço público pelo livre m ercado. Esse vínculo é que torna o caso da Turquia tão interessante e de amplo alcance: alcance: os manifestantes perceberam intuitivamen te que a liberdade liberdade de mercado e o fundam entalism entalism o religioso religioso não são mutuam ente excludente excludentes, s, que pod em trabalhar de mãos dadas dadas - um sinal sinal claro claro de que a união "eterna” "eterna” entre dem ocracia e capitalismo capitalismo está se aproximand o do d ivórcio. ivórcio. O paradoxo é que, precisamente por carecer de legitimidade demo cráti crática, ca, um regim e autorit autoritári árioo pod e por vezes ser m ais responsável responsável em relação relação a seus seus súditos súditos do que um regim e d em ocraticam ocraticam ente eleito eleito:: com o lhe falta falta legitim legitim idade dem ocrática, ocrática, ele precisa precisa legitimar-se legitimar-se fornecendo serviços a seus cidadãos, com o seguinte raciocínio subjacente: "É ver dade, dade, não fomos d em ocraticamente eleitos eleitos,, mas, sendo assim, assim, e um a vez que não precisamos fazer o jog o de buscar a populari popularidade dade barata, barata, podemos nos concen trar nas nas verdadeiras necessidades necessidades dos cidadãos. cidadãos.”” U m govern o democraticamente eleito, pelo contrário, pode exercer de maneira plena o seu poder em prol dos interesses privados restritos de seus membros; sua legitimida legitimida de já lhes foi outorgada p elas eleições, eleições, de m odo que eles eles não precisam precisam de mais legiti legitim m ação e podem se sentir sentir seguros fazend o o que quiserem - pode m dizer aos aos queixos queixosos: os: “Vocês nos elegeram, agora é tarde demais.” Deve-se aqui evitar o essenciali essencialismo: smo: não h á um único objetivo “real” a m otivar os manifestantes, algum a coisa a que se possa redu zir esse esse sen timen to geral de insatisfaç insatisfação. ão. Não po dem os d izer que os protestos sejam sejam
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realmente contra o capitalismo global, contra o fundamentalismo reli gioso, pelas liberdades liberdades civis civis e pela democracia. U rna característi característica ca com um à maioria dos manifestantes é um sentimento fluido de insatisfação e des contentamento que sustenta sustenta e unifica demandas particulares. particulares. Aqui, mais um a vez, o lema de Hegel “Os segredos segredos dos antigos antigos egípcios egípcios tam tam bém eram segredos para os próprios egípcios” é totalmente válido para os egípcios de hoje: a luta pela interpretação dos protestos não é apenas uma luta “epistemológica”, a luta de jornalistas e teóricos a respeito do verdadeiro conteúdo dos próprios protes protestos tos:: seria seria apenas uma luta contra um gove rno municipal corrupto? Uma luta contra um governo islâmico autoritário? Uma luta contra a privatização do espaço público? O resultado está em aberto; será o resultado do processo político em curso. O mesmo vale para a dimensão espacial dos protestos. Já em 2011, quando manifestações irrompiam por toda a Europa e Oriente Médio, mu itos observadores insistiam insistiam em que não se devia tratá tratá-l -los os como m om en tos de um mesmo movimento global, que cada um deles era uma reação a uma situação específica: no Egito, os manifestantes exigiam liberdade e dem ocracia, algo de que as as sociedades sociedades em que se iniciou o mo vim ento Occupy W all Stree Streett já dispunham; dispunham; mesm o em países países muçulman os, a Prim a ve v e r a Á r a b e n o E g it o fo i f u n d a m e n ta lm e n t e d ife if e re n te da R e v o lu ç ã o V e rd e no Irã, porque aquela se voltava contra um regime autoritário corrupto pró-ocidental, enquanto esta tinha como alvo o autoritarismo islâmico. E fácil perceber como essa particularização dos protestos ajuda os defenso res da da ordem global existent existente: e: não há u m a am eaça à ordem global em si, apenas problema s locais específicos. específicos. Neste ponto, contudo, deveríamos ressuscitar a velha e boa noção m arxista arxista de totalidade, totalidade, neste caso a totalidade do capitalismo global. O capitalismo global é um processo complexo que afeta diferentes países de diferentes maneiras, e o que unifica os protestos em sua multiplicidade é o fato fato de serem todos reações a diferentes diferentes facetas facetas da globalizaçã o capi talista. talista. Ho je em dia, dia, a tendência geral do capitalism capitalis m o g lobal é na direção de uma expansão maior do domínio do mercado em combinação com o progressivo fechamento do espaço público, a redução dos serviços
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públicos (saúde, educação, cultura) e o incremento do autoritarismo. É nesse contexto que os gregos estão protestando contra o dominio do capital financeiro internacional e seu próprio Estado ineficiente e cor rupto, cada ve z m enos capaz de prov er os serviços sociais básicos; básicos; que os turcos estão protestando contra a comercialização do espaço público e o autoritarismo autoritarismo religioso; religioso; que os egípcios protestaram contra um regime autoritário e corrupto apoiado por potências ocidentais; que os iranianos protestaram contra um fundamentalismo religioso corrupto e ineficiente; e assim por diante. O que une esses protestos é o fato de não se poder redu zir nenhum deles deles a urna única questão: questão: todos enfren tam um a com binação específica específica de (pel (peloo m enos) dois dois fatores fatores,, um deles deles m a i s o u m e n o s r a d i c a l d o p o n t o d e v i s t a e c o n ô m i c o ( da da l u t a c o n t ra ra a corrupção e a ineficiência ao anticapitalismo declarado), o outro de ca ráter político-ideológico (de demandas por democracia a demandas pela derrubada da dem ocracia mu ltipartidári ltipartidáriaa padrão) padrão).. E o m esm o não seria seria vá v á li d o t a m b é m p a ra o m o v i m e n t o O c c u p y W a ll Stre St reet et?? P o r b a ix o d a p r o fusão de explicações (frequentemen (frequentemen te confusas confusas), ), o m ovim ento tinha duas avaliaçõe s básicas: básicas: i) a insatisfação com o capitalism o como um sistema sistema - o problem a é o sistem sistem a capitalista capitalista em si, si, não sua corru pção particu lar -; 2) 2) a consciência consciência de que a forma institucionalizada institucionalizada de dem ocracia mu ltipar ltipar tidária não é suficiente para enfrentar os excessos capitalistas, ou seja, a democracia precisa ser reinventada. O capitalism capitalism o glob al tende a red uz ir os com uns [as classes classes baixas] baixas] a res nullius, nullius, expressão que no direito romano designa qualquer coisa que possa ser possuída, até mesmo um escravo (em oposição a um cidadão), mas que ainda não é objeto dos direitos direitos de nen hu m sujeito sujeito específico - coi sas sas consideradas propriedades sem dono, “ livres para serem possuíd as”. A paradoxa l expressão “propriedade “propriedade sem d ono” indica a operação ideológica ideológica subjacente à noção de res nullius: nullius: é como se as coisas que ainda não são possuídas o fossem potencialmente, como se a condição de propriedade já j á e s ti v e s s e in s c r it a n o s e u p r ó p r io se r (c o m o n u m a i d e o l o g ia p a tr ia r c a l em que um a m ulher não casada casada constitui constitui uma espécie de “propriedade “propriedade sem dono ” esperand o ser “possuída” por u m marido). marido). No direito internacional,
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a res nullius nul lius é é cham cham ada de terra nullius: um nullius: um Estado pode a firm firm ar o controle controle de um território não reivindicado e obter esse esse controle se um de seus seus cida dãos (frequentemen (frequentemen te num a expedição m ilitar ilitar e/ou exploratór exploratória) ia) nele nele se instalar. instalar. C om o seria de esperar, esperar, essa essa noção justificava a colonização : já no século XVI, a Igreja declarou grande parte da América e da África como terra terra nullius , afirman do que, em bora povos indígenas vivessem nessas nessas ter ter ras recém-descob ertas, era direito das nações cristãs cristãs civilizadas ocupá-las ocupá-las e fazer bom uso delas. delas. Isso Isso,, evidentem ente, não significa que, que, um a ve z que a verdadeira causa subjacente dos protestos é o capitalismo global, a única solução seja derrubáderrubá-lo. lo. A própria própria alternativa alternativa de lidar lidar pragm aticamente com proble mas particulares (“pessoas estão morrendo agora em Ruanda, então se esqueçam da luta anti-imperialista, vamos evitar o massacre”) e espe rar pacientem pacientem ente por um a transforma ção radical é falsa falsa por ignorar o fato de que o capitalismo global é necessariamente inconsistente: a liber dade de mercado caminha de mãos dadas com o apoio dos Estados Unidos a seus seus agricultores, agricultores, a pregação da democra cia cam inha de mãos dadas com o apo io à Arábia Saudita. Saudita. Essa inconsistência, essa necessidade necessidade de quebra r as próprias regras, abre espaço para intervenções políticas genuínas: uma v e z q u e a in c o n s is tê n ci a é n e ce ss á ri a , q u e o si s te m a c a p ita it a list li st a g lo b a l p r e cisa violar suas próprias regras (livre concorrência, democracia), insistir na consistência, ou seja, nos princípios do próprio sistema, em pontos estrategicamente selecionados nos quais o sistema não pode deixar de segu ir seus seus princípios, leva leva a desafiar desafiar o sistema sistema com o u m todo. E m o utras palavras, palavras, a arte da política política reside reside em insistir insistir num a dem anda pa rticular que, embora profundamente realista, perturbe o próprio cerne da ideologia hegem ônica e implique implique um a m udança m uito mais radical radical,, porque talvez definitivam definitivam ente viáve l e legítima, legítima, mas de fato impossível. A proposta de O bam a de um sistema sistema de saúde universal foi algo desse tipo tipo:: em bora fosse um a proposta modesta e reali rea list sta, a, obviam ente perturbou o cerne da ideo logia americana. Na Turquia atual, uma simples demanda por tolerância m ulticultural (endoss (endossada ada com o princípio princípio autoevidente na m aior parte da Europa ocidental) tem um potencial explosivo. Na Grécia, um razoável
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apelo apelo por u m aparelho de Estado m ais eficient eficientee e livre de co rrupção, se apresentado apresentado seriamente, im plica a reconstrução total do Estado. É po r isso isso que não há valor ana lítico lítico em culpar o neo liberalism liberalism o por nossas misérias misérias particulare particulares: s: a ordem m undial hoje é um a totalidade totalidade concreta dentro da qual situações específic específicas as exige m ações específi específicas. cas. Um a m edida (digamos, (digamos, a defesa defesa dos direitos direitos humanos) geralm ente considerada considerada banal pode p rovo car consequências explosivas num contexto específico. O lema de grand e parte da esquerda radical de hoje poderia ser: ser: “Te mos de estar de fora. Esta é uma ideia pós-moderna. A ideia é que posso subtrair-me ao jogo do poder.”17 Essa postura é típica do pensamento po lítico lítico de esquerda n a França, que se concentra no Estado e seu aparato: aparato: a luta ema ncipatória radical é um a luta que deve ser travada fora do Estado, em última instância contra ele. (E aqui que se deveria também aplicar a lição de Hegel sobre absoluter Gegenstoss: Gegenstoss: é essa própria resistência ao Es tado que o constitu i como p onto de referê referência.) ncia.) O que se tende a esquecer aqui é a perspectiva marxista, hoje mais válida do que nunca, de que o antagonismo básico que define a sociedade atual não é a resistência ao Estado, mas a “luta de classes” no interio r da sociedade, fora sociedade, fora do Estado. Em suma, a posição marxista não é diretamente contra o Estado, e sim mais preocupada com a forma de mudar a sociedade sociedade de maneira que ela não precise m ais do Estado.18 Estado.18 A s s im , a in d a q u e a lu t a e m a n c ip a tó r ia t e n h a i n í c i o c o m o u m a o p o sição aos aparelhos do Estado, ela precisa mudar de alvo. Alain Badiou opõe uma nova dialética “afirmativa” àquilo que ele considera a lógica dialética clássica da negatividade, que engendra, a partir de seu próprio movimento, uma nova positividade. Para ele, o ponto de partida de um processo emancipatório não deveria ser a negatividade, a resistência, a disposição de destruir, mas uma nova visão afirmativa revelada em um Evento - nós nos opom os à ordem existente a partir de nossa fideli fidelidade dade a esse evento, levando adiante suas consequências. Sem esse momento afirm afirm ativo, o processo em ancipatório ancipatório acaba necessariamente necessariamente impon do um a nova ordem positiva positiva que constitui um a imitação da antiga, antiga, por vezes radicalizando seus piores aspectos. Mas a essa noção "afirmativa” da dia-
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lética deveria se opor a noção hegeliana do processo proces so dialético dialético qu e se inicia com uma ideia afirmativa para a qual ele se empenha, mas no curso do qual a própria ideia pas sa por uma profund a transformação (não transformação (não apenas uma acom odaçã o tática, tática, m as um a redefinição essencial) essencial),, pois a própria ideia ideia é revelada no processo, (sobre)determinada por sua concretização.19 Diga m os que tem os um a revolta revolta m otivada pelo pelo desejo de justiça: justiça: um a ve z que as pessoas estejam realmente envolvidas, tomam consciência de que para traze r a verdad eira justiça é necessário m uito m ais do que as limitadas exigências com que com eçaram (por exemplo, abolir alguma s lei leis). s). Sem dúvida, o problem a é saber precisam precisam ente o que significa esse esse “m uito m ais”. A id e ia li b e ra l- p ra g m á ti c a é q u e se p o d e r e s o lv e r o s p ro b le m a s aos ao s p o u c o s , um por um. John John Capu to recentemente escreveu: escreveu: Eu ficaria plenamente feliz se os políticos de extrema esquerda nos Esta dos Unidos fossem capazes de reformar o sistema fornecendo um sistema de saúde universal, redistribuindo efetivamente a riqueza de maneira mais equitativa com a revisão dos critérios do imposto de renda, restringindo de mane ira eficaz o financiam financiam ento de campanhas, gar antindo os direitos de todos os eleitores, tratando os trabalhadores imigrantes com humanidade e implementando uma política externa multilateral que pudesse integrar o governo norte-americano à comunidade internacional etc., ou seja, intervir no capitalismo mediante reformas sérias e de longo alcance ... Se, depois de fazerem tudo isso, isso, Badiou e Ziz ek se queixassem queixassem de que um Monstro chamado Capital ainda nos persegue, eu estaria inclinado a cumprimentar esse Monstro com um bocejo.20 bocejo.20 Mark Manolopoulos maliciosamente batizou essa defesa do capita lismo de “C apu tolismo ”.2 ”.21 O problem a aqui não é a conclusão de Caputo: se é possível alcançar tudo isso dentro do capitalismo, por que não per m anec er nel nele? e? O problem a é a premissa subjacente subjacente de que é pos é possível sível atingir atingir tudo isso dentro das coordenadas do capitalismo global de hoje. E se as disfunções particulares particulares do capitalismo capitalismo enum eradas por Caputo não fo rem apenas distúrbios acidentais, mas estruturalmente necessários? E se
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o sonho de Caputo for um sonho de universalidade universalidade (a ordem capital capitalist istaa universal) sem os seus sintomas, sintomas, sem os pon tos críticos críticos em que se articula a “verdade reprimida"? Os protestos e revoltas atuais são sustentados pela superposição de diferentes diferentes níveis, níveis, e isso isso explica sua força: força: lutam po r um a dem ocracia "nor mal”, parlamentar, contra regimes autoritários; contra o racismo e o sexismo, em especial contra o ódio dirigido a imigrantes e refugiados; pelo Estado de bem-estar social e contra o neoliberalismo; contra a corrupção na política política e na econo m ia (a (as empresas empresas que poluem o m eio am biente, biente, por exemplo); e por novas formas de democracia que ultrapassem os rituais multipartidários. Questionam o sistema capitalista global em si e tentam manter viva a ideia de uma sociedade não capitalista. Duas armadilhas devem ser aqui evitad evitadas: as: o falso falso radicalismo radicalismo ("O que realm ente im porta é a abolição do capitalismo liberal-parlamentar, todas as outras lutas são secundárias”), assim como o falso gradualismo ("Agora estamos lutando contra a ditadura militar e pela dem ocracia básica, básica, esqueça m seus sonhos sonhos socialistas socialistas,, isso vem depois - talvez"). A si tu a çã o é a ss im p r o p r ia m e n t e sobredeterminada, e aqui se deveriam m obilizar desavergonhadam ente as velhas distinções maoistas entre con tradições (ou melhor, antagonismos) principais e secundárias, entre o an tagonismo que é principal na análise final e aquele que predomina agora. Por exemplo, há situações situações concretas concretas em que insistir insistir no a ntagonismo prin cipal signific significaa perder a oportunidade de dar um golpe decisivo em favor da luta luta atual. atual. Apenas um a política política que leve plenam plenam ente em conta toda a complexidade da sobredeterm sobredeterm inação m erece o nom e de estratégia po estratégia po lítica. lítica. Qu ando precisamos travar um a luta específ específica, ica, a questão-chave questão-chave é: como o nosso engajamento ou desengajamento vai afetar outras lutas? A regra geral é que, quando começa uma revolta contra um regime opressivo, semidemocrático, como foi o caso no Oriente Médio em 2011, é fácil mo b i li z a r g r a n d e s m u lt id õ e s c o m sl o g a n s q u e só p o d e m se r c a r a c t e r iz a d o s com o feitos para agra dar as massas - pela dem ocracia, contra a corrupção e assim por diante. Mas depois vão se apresentando gradualmente escolhas mais difíceis, quando nossa revolta consegue atingir seu objetivo direto e
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com eçam os a perceber que aquilo aquilo que realmente nos incom odava (fal (falta ta de liberdade, liberdade, hum ilhação, co rrupção social, social, ausência de perspectivas de uma vida decente) prossegue sob um novo disfarce. No Egito, os mani festantes se livraram do regime opressivo de Mubarak, mas a corrupção não desapareceu, e a perspectiva de um a vida d ecente ficou ficou ainda m ais distante. Após a derrubada de um regime autoritário, os últimos vestígios da atenção atenção patriarcal patriarcal para para com os pobres pod em desaparec desaparecer, er, de m odo que a liberdade recém-obtida é de fato reduzida à liberdade de escolher a form a preferida preferida de sua própria m iséria - a maioria das pessoas não apenas continua pobre, mas, pior pior ainda, ainda, é inform inform ada de que, um a ve z que agora estão livres, são responsáveis por sua pobreza. Nessa condição, temos de adm itir itir que havia um a falha no próprio objetivo, objetivo, que ele não era suficien suficien temen te específico específico - digamo s, que a dem ocracia política política padrão també m pod e se rvir com o a própria forma da falta falta de liber liberdade: dade: a liberdade liberdade política pode facilm facilm ente fornecer a estrutura jurídica para a escravidão escravidão econômica, com os desprivilegiados vendendo-se "livremente” à servidão. Somos as sim levados a exigir m ais do que d em ocracia polític política: a: precisamos de um a democratização da vida social e econômica. Em suma, temos de admitir que aquilo que percebemos de início como fracasso em concretizar um nobre princípio princípio de liberdade dem ocrática ocrática é u m a falha inerente a esse esse prin cípio cípio em si. Aprend er com o a distorção distorção de um a noção, sua concretização incompleta, se baseia na distorção imanente a essa noção é um grande passo em matéria de edu cação políti política. ca. A id e o lo g ia d o m in a n t e m o b il iz a t o d o o s e u a rs e n a l p a ra n o s im p e d ir de alcançar ess essaa com preensão radical radical.. N ossos governantes nos d izem que a liberdade liberdade dem ocrática acarreta sua própria responsabili responsabilidade, dade, qu e ela tem um preço, que ainda ainda não estamos estamos m aduros se esperamos demais da dem o cracia cracia.. D essa maneira, eles eles nos culpam por nossa condição condição:: nu m a sociedade livre, assim nos d izem , som os todos capitalis capitalistas tas investindo investindo em nossas vidas, decidindo dedicar mais à educação do que à diversão se quisermos ter su cesso. cesso. Nu m nível mais d iretamente político, político, os Estados Estados Unidos elaboraram um a estratégia detalhada de política externa sobre com o aplicar o controle de danos recanalizando uma revolta popular para dentro de limites parla-
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mentares-capitalistas mentares-capitalistas aceitávei aceitáveis, s, com o foi feito feito co m sucesso na Áfr ica do Sul pós-apartheid, nas Filipinas após a queda de Marcos, na Indonésia após a queda de Suharto e assim por diante. É exatamente nessa conjuntura que a política em ancipatória enfrenta seu m aior desafi desafio: o: co m o fazer as coisas coisas avançarem depois de alcançado o primeiro e entusiástico estágio, como dar o passo passo seguinte sem sucum bir à catástrof catástrofee da tentação tentação "totalitária” "totalitária” - em suma, com o ir além de Mandela sem se tornar tornar um Mugabe.
Nas duas últimas décadas
de sua vida, vida, N elson M andela foi celebr celebrado ado
como um m odelo de como libert libertar ar um país país do jug o colonial colonial sem sem sucumbir à tentação tentação de assum ir um poder ditatorial ditatorial e um a po stura anticapi anticapital talist ista. a. Em suma, Mandela não era Mugabe, e a África do Sul continuou sendo uma democracia multipartidária com imprensa livre e uma economia vi br b r a n t e b e m in t e g r a d a ao m e r c a d o g lo b a l e im u n e a e x p e r im e n t o s so c ia listas impulsivos. Quando sua morte foi anunciada, em 5 de dezembro de 2013, seu prestígio de homem sábio e virtuoso parecia confirmado para a eter eternidade nidade:: há film film es hollyw ood ianos sobre ele ele - quem fez seu papel papel foi Morgan Freeman, cujos papéis anteriores incluíram o de Deus e o de pelo m enos um presidente presidente norte-am norte-am ericano ericano - , e astros astros do rock, líderes líderes religiosos, desportistas e políticos, de Bill Clinton a Fidel Castro, estão todos unidos em sua beatificação. Mas seria essa essa a história toda? Do is fatores fatores funda m entais for am ocultos por seu retrato retrato co m o celebri celebridade. dade. Na Á frica do Sul, a vida m iserável da m aioria continua a mesm a da época do apartheid apartheid,, e a conquista conquista de direi tos políticos e civis foi contrabalançada pelo aumento da insegurança, da vio v io lê n c ia e do cr im e . A p ri n ci p a l m u d a n ça é q u e a a n ti g a cla cl a ss e d o m in a n te br b r a n c a g a n h o u a c o m p a n h ia de u m a n o v a e lite li te n e g r a . E m s e g u n d o lu ga r, as pessoas pessoas se lembram de que o velho Con gresso Na cional Africano h avia prom etido não apenas o fim fim do apartheid, apartheid, m as tam bém justiça social, social, até mesmo uma espécie de socialismo. Esse passado muito mais radical do CN A está está sendo sendo gradualmente apagado apagado da memória. Não adm ira ira que o ódio esteja crescendo entre a população negra pobre.
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A Á fr i c a d o Su l é ap en as u m a v e rs ã o da h is to ri a r e c o r re n te d a es q u er d a contemporânea. Um líder ou partido é eleito com entusiasmo universal, prometendo um "novo mundo” - mas então, mais cedo ou mais tarde, depara-se com o dilema-chave: ter a ousadia de enfrentar os mecanismos capitali capitalista stass o u preferir fazer fazer o jogo? Se algué m perturba esses esses m ecanis m os, é rapidam rapidam ente “punido” por agitações do do mercado, caos econôm ico e todo o resto. É por isso que é simples demais criticar Mandela por aban donar a perspectiva socialista após o fim do apartheid: ele teria mesmo uma escolha? Caminhar em direção ao socialismo era uma opção real? É fácil fácil ridicularizar ridicularizar Ay n Rand, mas há um grão de verdade no famoso “hin o ao dinheiro” de seu A revolta de Atlas: Atlas: “Até e a menos que descubra que o dinheiro é a raiz de tudo que é bom, você estará pedindo sua própria destruição. Quando o dinheiro deixa de se tornar um meio pelo qual os hom ens lidam lidam uns com os outros, outros, eles eles se se tornam instrum entos de outros hom ens. Sangue, chicote e revólveres revólveres - ou dólares. dólares. Faça Faça sua escolha escolha - não existe outra.”22 outra.”22 M arx não teria dito dito algo sem elhante qu ando obse rvou que as relações entre as pessoas assumem o disfarce de relações entre coisas?23 Na economia de mercado, as relações entre pessoas podem parecer rela ções de liberdade liberdade e igualdade m utuam ente reconhecidas: reconhecidas: a dom inação não é mais diretame nte exercida e visível com o tal. tal. O que é problemático é a premissa subjacente de Rand: que a única escolha é entre relações diretas e indiretas de dominação e exploração, com todas as alternativas descartadas com o utópicas utópicas.. D eve-se eve-se ter em mente, contudo, o m om ento de verdade na afirmaçã o de Rand, que sob ou tros aspectos pode ser considerada ridicula mente ideológica: a grande lição do socialismo de Estado é que a abolição direta da propriedade privada e das trocas reguladas pelo mercado sem formas concretas de regulação social do processo de produção necessaria mente ressuscita relações de servidão e dominação. Se apenas abolimos o m ercado (inclui (incluindo ndo a exploração exploração do mercado) sem substit substituíuí-lo lo por um a form a adequada de organ ização com unista da produção e das das trocas, trocas, a dom inação retorna de form a violenta, violenta, e com ela a exploração direta direta.. Essa Essa dim dim ensão ocu lta de fato fato em ergiu em m eio às cerimônias cerimônias do fu neral de Mandela. Nossas vidas cotidianas são principalmente uma mis-
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Proble Problema ma no paraí paraíso so
tura de rotina enfadonha com surpre surpresas sas ruins ruins - entretanto, entretanto, de tempos tempos em tempos acontece acontece um a coisa coisa inesperada inesperada que cai com o um raio e faz a vida vida va v a le r a p en a . A l g o d essa es sa o r d e m o c o r r e u n a c e r im ó n ia do fu n e r a l de M an dela, dela, em 10 de deze m bro de 20 2013, no gran de estádio FN B em Joanesbu rgo, onde dezenas de milhares de pessoas ouviam líderes mundiais fazendo declarações. E en tão ... ... acon teceu (ou melhor, já estava acontecendo h avia algum tempo antes que o percebêssemos). De pé ao lado de dignitários de todo todo o m undo, incl incluindo uindo Barack Obam a, estava estava um hom em n egro em trajes formais, um intérprete para os surdos, que foi visto por milhões de espectadores espectadores de televisão televisão de toda parte traduzindo o serviço fúnebre de Nelson Mandela na linguagem de sinais. Quem conhece essa linguagem foi percebendo que um a coisa estranha estranha estava estava acontecendo acontecendo:: o hom em era era uma fraude, estava fazendo seus próprios sinais, agitando as mãos, sem que houvesse nen hum signifi significado cado naquilo. Um dia depois, uma investigação oficial revelou que o homem, Tham sanqa Jantjie, Jantjie, 34 anos, era um intérprete q ualificado ualificado contratado p elo Congresso Nacional Africano. Numa entrevista ao Star St ar de Joanesburgo, Jantjie atribuiu seu comportamento a um súbito ataque de esquizofre nia. Ele disse ao jornal que um episódio esquizofrênico fora responsável por sua gesticulação gesticulação sem sentido sentido durante toda a cerimôn ia - não con se guia concentrar concentrar-se -se e com eçou a ouv ir vozes e ter ter alucinações alucinações.. "Não havia nada que eu pudesse fazer. fazer. Eu estava estava só num a situação m uito perigosa”, disse ele. "Tentei me controlar para não mostrar ao mundo o que estava acontecendo. E stou m uito triste. triste. Foi essa a situação situação que passei.” passei.” Ap esar disso, disso, Jantjie Jantjie insistiu insistiu desafiadoramen te em dizer q ue estava feliz com seu desempenho: "Totalmente! Totalmente! O que eu tenho feito, acho que tenho sido um campeão da linguagem de sinais.” O dia seguinte trouxe um a nova e surpreendente guinada: gui nada: a mídia m ostrou que Jantji Jantjiee havia sido preso pelo menos cinco vezes desde meados da década de 1990, mas supostam ente escapara à prisão por incapacidade incapacidade men tal de enfrentar um ju lg a m e n to . F o ra a cu sa d o de es tu p ro , ro u b o , in v a s ã o de d o m ic ílio íl io e d a n os a propriedade; propriedade; seu mais recente cho que com a lei ocorrera e m 2003, quand o enfrentou acusações de assassinato, tentativa de assassinato e sequestro.
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A s re a ç õ e s a es se e s t r a n h o e p is ó d io f o r a m do ris ri s o ( g r a d u a lm e n t e r e primido como vulgar) à indignação. Houve, é claro, preocupações de segurança: como foi possível que, apesar das estritas medidas adotadas, uma pessoa dessas pudesse estar tão perto de líderes mundiais? O que se escondia por trás dessas dessas preocu paçõ es era o sen timen to de que a aparição aparição de Jantjie Jantjie fora um a espécie de m ilagre, com o se ele tivesse surgido do nada ou de uma outra dimensão da realidade. Esse sentimento pareceu confirmar-se mais ainda pelas declarações, suspeitamente repetitivas, de organizações de surdos surdos e mudos garantindo que os sinai sinaiss dejan tjie não ti nh am signifi significado, cado, que não correspondiam a nenh um a lingu lingu age m de sina sinais is existent existente, e, co m o que para eliminar a suspeit suspeitaa de que talvez houvesse alguma houvesse alguma mensagem oculta transmitida por seus gestos. E se ele estivesse fazendo sinais sinais para alienígenas num a lingu age m desconhecida? desconhecida? E se se - já que na maior parte do tempo ele permaneceu imóvel e só “traduziu” oradores com falas falas muito curtas, que pareciam estranham ente semelhantes entre entre si - estivesse estivesse fazendo repetidam ente um a declaração precisa precisa na lingua gem de sinai sinais: s: “O orador só está reiterand o o blá-bl blá-blá-bl á-bláá usual, não é preciso traduzir os detalhes!” detalhes!” A p rópria performa nce de Jantjie Jantjie pareceu apontar nessa direção: não havia vivacidade em seus gestos, nenhum indício de que estivess estivessee en volvido volvido num a possível piada piada - ele ele fazia os m ovim entos com u m a calm a sem expressão, expressão, quase robótica. robótica. A p e r fo r m a n c e de Ja nt jie n ã o fo i in e x p r e s s iv a - p r e c is a m e n te p o r n ã o transmitir nenhum significado em particular, ela expôs de maneira direta seu significado significado com o tal, a simulação do significado. significado. Aqueles de nós que o u v e m b e m e n ã o c o m p r e e n d e m a l i n g u a g e m d e s in a is p r e s u m i r a m q u e os gestos deja ntjie tinham signif significado, icado, emb ora não fôssemos capazes de entendê-los. E isso nos leva ao cerne da questão: será que os tradutores da linguagem de sinais para surdos se destinam realmente aos que não con segu em ou vir a palavra falada? falada? Será que na verdade não servem a nós fazendo-nos sentir bem ao vê-los vê-los ao lado do orador, orador, o que nos proporciona a satisfação politicamente correta de estarmos fazendo a coisa certa, cui dando dos desval desvalidos idos?? Lem bro-m e agora, nas primeiras eleições eleições “livres" realizadas na E slovênia, em 1990, 990, de que um dos partidos de esqu erda
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produziu um a propaganda propaganda de T V em que o políti político co que transmiti transmitiaa a men sagem era acompanhad o por um a intérprete intérprete (uma jov em delicada delicada)) que a traduzia para a lingu lingu age m de sinai sinais. s. Todos sabíamos que os verdadeiros destinatários da tradução não eram os surdos, mas aqueles que podiam ouvir: a verdadeira mensagem era que o partido defendia os deficientes. Era como os grandes grandes espetáculos de caridade caridade que não têm realm ente a ver com crianças com câncer ou vítimas de uma inundação, mas cujo obje tivo é fazer saber a nós, o público, público, que estamos fazend o u m a coisa boa e m ostrando solidari solidariedade. edade. A g o r a p o d e m o s v e r p o r q u e a g e st ic u la ç ã o de Ja n tjie tj ie te v e u m e fe ito it o tã o extraordiná rio quand o se tornou claro que ela não tinha sentido: sentido: o que ele nos fez confrontar foi a verdade da tradução da ling ling uag em de sinai sinaiss - não imp orta se há surdos assist assistindo indo:: o tradutor está ali ali para fazer com que nós que não compreendemos essa essa lingu lingu agem nos sintamos sintamos bem. E isso isso também não seria válido para o fune ral de Mandela? Todas as lágrima s de croco dilo das autoridades autoridades foram um exercício de au tocongra tulação, e Jantji Jantjiee as tra duz iu no que elas realm ente eram: frivolidades. frivolidades. O que os líderes m und iais celebraram foi o exitoso adiamento da verdadeira crise que vai explodir quando os negros sul-afri sul-africanos canos que continuam destituídos destituídos se tornarem u m agente político coletivo. Essas massas de negros pobres foram o Primeiro A u s e n t e p a ra q u e m Ja n tjie tj ie e st a v a s in a li z a n d o , e su a m e n s a g e m e ra q u e as autoridades realmente não dão a mínima. Por meio de sua falsa tradução, Jantji Jantjiee torno u palpáve l a falsidade falsidade de toda aquela cerim ônia. Se quisermos permanecer fiéis ao legado de Mandela, devemos es quecer as lágrimas de crocod ilo com em orativas orativas e nos concentrar nas nas pro messas irreali irrealizadas zadas que sua liderança liderança ensejou. ensejou. Pod em os presum ir com com segurança que, por conta de sua indubitável indubitável grandeza m oral e política, política, ele tivesse toda a consciência de que seu próprio triunfo político e sua eleva ção à categoria de herói universal m ascaravam u m a derrota amarga. Sua glória glória universal é tam t am bém um sinal sinal de que ele realmente realmente não perturbou a ordem g lobal de poder. O problem a aqui, aqui, mais um a ve z, é saber precisam ente o que significa significa esse "muito mais” (mudar mais a sociedade do que torná-la apenas uma
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dem ocracia libera liberal) l).. Todo m undo co nhece o gracejo de W inston Churchill sobre a democracia, com frequência citado: citado: “A “A dem ocracia é o pior pior regim e possível, possível, salvo salvo todos os outros.” O que C hu rchill realmente diss dissee (na Cámara dos Comuns em 11 de novembro de 1947) foi ligeiramente m enos paradoxal e espiri espirituos tuoso: o: “M uitas uitas forma forma s de governo têm sido sido exp e rimentadas e o serão serão neste m undo de pecado e miséria. miséria. N ingué m im agina que a democracia seja perfeita ou onisciente. Com efeito, tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as outras que têm sido sido experim entadas de tempo s em tempos.”24 tempos.”24 A lógica subjacente subjacente se ex pressa de forma mais clara quando aplicamos ao preceito de Churchill a “fórmu la da sexuação” de Lacan e o reformu lamos da seguinte maneira: maneira: “A dem ocracia é o pior de todos os sistemas; sistemas; entretanto, com parad o a ele, ele, qualquer outro sistema é pior.” Se tomarmos todos os sistemas possíveis e os avaliarmos como um todo em termos de valor, a democracia será o pior e ficar ficaráá no final final;; se, contudo, com pararm os a dem ocracia com todos os outros sistemas, um por um , ela será será me lho r que qualqu er um deles.2 deles.255 A l g o s e m e lh a n t e n ã o é v á l id o (o u p a r e c e ser) se r) p a r a o c a p it a li s m o ? Se o analisarmo s de form a abstrata, abstrata, tentando situá-l situá-loo na hierarquia de todos os sistem sistem as possíveis, possíveis, ele vai parecer o pio r - caótico, injusto, de strutivo. Entretanto, Entretanto, se o comp ararm os de forma concreta, pragmática, a qualquer alternativa que seja, ele será melhor que qualquer outro. Esse desequilíbrio “ilógico” entre o universal e o particular é uma indicação direta da eficiência da ideologia. Uma pesquisa de opinião feita nos Estados U nidos no final de jun h o de 2012 2012,, pouc o antes da decisão da Suprema Corte sobre a reforma da saúde de Obama, mostrou que “a grand e m aioria aprova a m aior parte do que está está na lei”: “A m aioria dos norte-americanos se opõe à reforma da saúde proposta pelo presidente Barack O bam a ainda que apoie decididam decididam ente a m aior parte de suas cláu cláu sulas, sulas, com o um a pesquisa Reuters/ Reuters/Ips Ipsos os m ostrou no dom ingo, dias dias antes antes de a Suprem a C orte decidir se se a lei deveria valer. valer. O s resultados da pesquisa indicam que os republicanos estão convencendo os eleitores a rejeitar a reforma de Obama mesmo que gostem da maior parte de seu conteúdo, como perm itir itir que os filhos filhos perman eçam protegidos pelo pelo seguro de seus seus
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pais até a idade de 26 anos.”2 anos.”26 6 En con tram os aq ui a ideologia em seu estado mais puro: puro: a m aioria quer comer o bolo (ideol (ideológi ógico) co) e ao ao m esm o tem po fi car com ele. ele. Q uere m os lucros reais reais da reform reform a da saúde saúde ao m esm o tem po que rejeitam sua forma ideológica (que percebem como uma ameaça à “liberdade de escolha”) escolha”) - rejeitam rejeitam a água, mas aceitam o H 20, ou melhor, rejeitam a fruta (o (o conceito conceito desta) desta),, mas qu erem m açãs, am eixas e mora ngos.
O fascínio do sofrimento Um a form a de resolver (ou (ou pelo m enos neutralizar) essas essas confusões é fazer um a referência referência direta direta ao sofrimento sofrimento hum ano: é certo que podem os intervir para aliviá-lo? Entretanto, tudo que há de falso na ideia e na prática das intervenções humanitárias veio a nu diante do exemplo da Síria. Há um ditador perverso que está está usando gases venenosos contra seu próprio povo - mas qu em se opõe a esse esse regime? regime? Parece que o que restava da resi resistê stência ncia secular-democrática agora afundou no caos de grupos fundamentalistas islâmicos apoiados pela Turquia e pela Arábia Saudita, Saudita, com forte presença presença ve v e la d a da A l- Q a e d a . (L e m b r e m o s qu e, u m an o atrá at rás, s, u m c lé r ig o sa u dita di ta de alto alto escalão incitou incitou as meninas m uçulm ana s a irem irem para a Síri Síriaa e apoiarem os rebeldes rebeldes oferecendo-se oferecendo-se como objeto de estupro coletivo, coletivo, um a ve z que os rebeldes precisavam satisfazersatisfazer-se se sexualm ente!) Q ua nto a Assad, sua Síria Síria pelo men os fingia ser um Estado secular, secular, de m odo que não adm ira que cristã cristãos os e outras minorias tendam agora a fica ficarr do lado dele dele contra os rebeldes rebeldes sunitas. sunitas. Em suma, estamos lidando co m um conflito obscuro, vagamente semelhante à revolta dos libios contra Kad afi - não há apostas políticas políticas claras claras nem sinais sinais de um a am pla coa li zão emancipatório-democrática, apenas uma complexa rede de alianças étnicas étnicas e religiosas sobredeterm inada pela influência de sup erpotências (Estados Unidos e Europa ocidental de um lado, Rússia e China do ou tro). Em tais condições, qualquer intervenção militar direta representa um a loucu ra po lítica lítica com riscos riscos incalculáveis. incalculáveis. E se os radicais radicais islâmicos islâmicos tomarem o poder após a queda de Assad? Os Estados Unidos repetirão
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o erro que cometeram no Afeganistão de armar os futuros quadros da A l- Q a e d a e d o T a libã li bã ? Numa situação confusa como essa, a intervenção militar só pode ser ju s ti fi c a d a p e lo o p o r tu n is m o de c u r to p r a z o , a u to d e st ru tiv ti v o . A in d ig n a ç ã o moral que poderia fornecer um pretexto racional para a compulsão de intervir ("Não p odem os perm itir o uso de gases venenosos contra civis!”) civis!”) é falsa e obviamente nem mesmo se leva a sério. (Como sabemos agora, os Estados Estados Unidos mais que toleraram o uso de gases gases venenosos contra o exército iranian iranian o por Saddam Hussein, fornecendo-lhe im agens de satéli satélite te do inim igo para ajudá ajudá-l -loo - onde estavam então as preocupações m orai orais? s?)) Con frontados com um a ética estranha estranha que justifi justifica ca ficar ficar do lado lado de um grupo fundamentalista criminoso contra outro, não podemos senão con cordar coma reação de R on Paul à defes defesa, a, por John M cCain, de um a ampla intervenção: “Com políticos como esses, quem precisa de terroristas?”27 A lu ta n a Sí ria ri a é, e m ú lt i m a in s tâ n c ia , u m a lu ta fa lsa ls a , u m c o n flit fl it o e m relação relação ao qual deveríamos nos m anter indifere indiferentes. ntes. A ún ica coisa coisa que se deve ter em mente é que essa pseudoluta prospera em função do Ter ceiro Ausente, u m a forte oposição oposição radical-emancipatóri radical-emancipatóriaa cujos elementos eram claram ente perceptíveis perceptíveis no Egito. Nada de realm realm ente especial está está acontecendo na Síria, Síria, exceto pelo fato de a Ch ina estar mais próxim a de se tornar uma nova superpotência mundial enquanto seus concorrentes enfraquecem ativamente uns aos outros. outros. Uma vez mais, porém, que dizer do aspecto humanitário, do sofri m ento de m ilhões? ilhões? Muitas vezes, é impossível não ficarmos chocados com o excesso de indiferença em relação ao sofrimento, mesmo e sobretudo quando esse esse sofrim sofrim ento é am plamente d ivulgado pela mídia e condenado, condenado, com o se a própria indignação indignação causada causada pelo sofrimento nos transformasse em espectadores espectadores imobilizados, fascinad fascinados. os. Relem bremos, no início da dé cada de 1990, o cerco de Sarajevo, que durou três anos, com a população passando fome, exposta perman entem ente a bombardeios e à ação de ati ati radores de elite. O grande dilema aqui é: embora a mídia apresentasse mu itas fotografias fotografias e reportagens, por que as as forças forças da ONU , da O T A N ou dos Estados Estados Unidos não co nsegu iram realizar a pequena ação de romper 0
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cerco de Sarajevo, Sarajevo, im por a abertura de um corredor por onde pessoas pessoas e su primen tos pudessem passar livremente? livremente? Não teria teria custado nada: nada: com um po uq uin ho de pressão séria séria sobre as as forças forças sérvias, sérvias, o prolonga do espetáculo de um a Sarajevo cercada, ex posta a doses diárias de terror, terror, teria term inado. ( N u m c a so so s e m e l h a n te te , R a d o v a n K a r a d z i c m e n c i o n o u c e r ta ta v e z n u m a entrevista como tinha ficado surpreso pelo fato de as forças da OTAN não terem dividido dividido o território território sérvio na B ósnia em duas part partes: es: a única passagem entre as áreas leste e oeste era uma trilha estreita que poderia ter sido facilmente ocupada por uma pequena unidade de paraquedistas da O TA N , e a parte o este do território território sérvio na Bósnia teria sido sido sufocada e derrotada. derrotada. Tam bém se deve observar o que Karad zic disse disse no início início da guerra da pós-Iugoslávia: o que os sérvios da Bósnia desejam é metade do territóri territórioo co m men os de 10% de habitant habitantes es não sérvios - e foi exatamen exatamen te o que o btiveram em Dayton!) Só existe existe um a resposta resposta para para esse enigma, a q u e la la p ro ro p o s t a p o r R o n y B r a u m a n , q u e , e m n o m e d a C r u z V e r m e l h a , coord eno u a ajuda a Sarajevo Sarajevo:: a própria apresen tação da crise de Sarajevo com o "hum anitária”, a própria recategorização do co nflito político-militar político-militar em termos hum anitários, anitários, era sustent sustentada ada por um a escolha eminentem ente po lític lít ica a (basicamen te, ficando do lado dos sé rvios nesse conflito) conflito):: A com co m em oraç or ação ão da "in terv te rven ençã çãoo hum h um anitá an itária ria”” na n a Iug I ugosl osláv ávia ia ass a ssum umiu iu o pape p apell de um discurso político político,, desqualificando antecipadamente todo o debate debate con flituoso ... Ao que parece não foi possível, para François Mitterrand, expressar essa análise da guerra na Iugoslávia. Com uma reação estritamente humani tária, ele descobriu uma fonte inesperada de comunicação ou, mais precisa mente, de cosméticos, o que é mais ou menos a mesma coisa ... Mitterrand perman eceu favorável à man utenção da Iugoslávia Iugoslávia dentro de suas fronteiras fronteiras e foi persuadido de que só um g overn o sé rvio poderoso estaria estaria na posição posição de garantir certa estabilidade nessa região explosiva. Essa posição logo se tornou inaceitável inaceitável aos olhos do povo francês. Toda essa movim entação e o discurso human itário permitiram-lhe, permitiram-lhe, no final, reafirmar o com promisso inelutável da França com os Direitos do Homem e encenar uma oposição ao fascismo da Grande Grand e Sérvia, esforçando-se ao máx imo im o para lhe dar rédeas livres.28 livres.28
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Esse tipo de solidariedade pelas vítimas, que politicamente implica o apoio àqueles que as tornaram vítimas, está longe de ser uma exceção: o próprio fascínio fascínio qu e nos desperta sua condição nos imob iliza, iliza, tran sfor m ando-nos em observadores impassívei impassíveiss e assim assim red uzindo nossa nossa capa cidade de interferir interferir politicamen politicamen te. Um a ve z m ais, com o quebrar o feitiç feitiçoo desse fascínio m órbido? órbido?
R a i v a e d e p r e s s ã o n a a l d e ia ia g l o b a l Um século atrás, G.K. Chesterton fez alguns comentários úteis sobre os m ovimen tos em favor de de um a m udança social social radi radica call: Indaguemos a nós mesmos, em primeiro lugar, o que realmente desejamos, não aquilo que as recentes decisões jurídicas nos fizeram desejar, ou que as recentes filosofias lógicas provaram que devemos desejar, nem tampouco o que as recentes profecias sociais predisseram que poderemos desejar algum dia ... Se é para haver socialismo, que ele seja social; ou seja, tão diferente quanto possível de todos os grandes departamentos comerciais de hoje. O verd ve rdad ad eiro ei ro alfai alf aiat atee arte ar tesa sana nall não n ão corta co rta o seu casaco cas aco de acord aco rdoo com co m o tecido tec ido que tem; pede mais tecido. O verdadeiro estadista prático não se ajusta às condições existentes, mas as denuncia como inadequadas.29 Essa consequência lógica (talvez idealizada demais e, portanto, falsa) é o que está conspicuamente ausente da raiva que explode hoje por toda a Europa - essa essa raiva, diz Franco B ifo ifo B erardi, erardi, é impotente e inconsequente, já que a consciência e a ação coordenada pare cem estar além do alcance da sociedade atual. Vejam a crise europeia. Nunca em nossas vidas tivemos uma situação tão cheia de oportunidades revolucio nárias. Nunca em nossas vidas fomos tão impotentes. Nunca intelectuais e militantes estiveram tão silenciosos, tão incapazes de encontrar uma forma de apresentar uma nova direção poss ível.30 ível.30
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Berardi situa a origem dessa impotência na velocidade explosiva do funcionamento do grande Outro (a substância simbólica de nossas vidas) e na lentidão da reatividade humana (em função da cultura, da corporalidade, das doenças e assim po r diant diante) e):: “o regim e liberal de longa duração solapou as bases culturais da civiliza ção social, que era o cerne progressista da modernidade. E isso é irreversível. Temos de confrontá-lo."31 Surtos de raiva impotente são o testemu nho dos efeit efeitos os devastadores de uma ideologia capitali capitalista sta global que com bina o individualismo hedonista com o trabalho frenético, frenético, com petitivo, fechan do assim o espaço à ação ação coletiva coordenada. Lem bremo s a grande onda de protesto protestoss que irrompeu por toda a Europa em 2011, da Grécia à Espanh a e de Londres a Paris. Paris. M esm o qu e dificilme dificilme nte ho u ve ss e a lg u m pr o je to p o líti lí ti co co n sist si st en te a m o b iliz il iz a r os m a n ifes if es ta n te s, esses es ses protest protestos os funcionaram como parte de um processo processo educacional em ampla ampla escala: a miséria e a insatisfação dos manifestantes foram transformadas num grande ato de mo bilização coletiva - centenas de milhares de pessoas pessoas reuniram-se em praças públicas, proclamando que não aguentavam mais, que as coisas não poderiam continuar como estavam. Entretanto, embora esses esses protestos constitu am os indivíduos que deles deles participam com o sujeitos sujeitos políticos políticos universais, universais, perma necem no nível da universalidade universalidade puram ente formal. O que essas manifestações representam é um gesto puramente ne gativo de rejeição rejeição raivosa raivosa e um a d eman da igualm ente abstrata abstrata por justiça, justiça, faltando-l faltando-lhes hes a capacidade de traduzir essa essa dem anda n um projeto político político concreto. concreto. Em suma, esses esses protestos protestos ainda não fora m atos políticos políticos adequa dos, dos, mas sim dem andas abstratas abstratas endereçadas a um O utro do qual se espera espera a ação. ação. Q ue po de ser feit feitoo num a situação situação com o essa, essa, em q ue m anifestações anifestações e mesmo eleições democráticas são inúteis? Apenas o recuo, a passividade e o abandono das das ilus ilusões ões podem abrir abrir um n ovo caminho: “ Somente co mu nidades autossufic autossuficient ientes es que aband onam o cam po da com petição social social podem abrir abrir o cam inho para um a nova esperança esperança."3 ."32 Não se pode deixar de perceber a cruel ironia desse desse contraste entre Be rardi e Hardt/Negri. Os últimos celebram o "capitalismo cognitivo” como responsável por abrir um caminho em direção à "democracia absoluta", um a vez que o objeto - a “substânc “substância”-, ia”-, do trabalho imaterial é cada cada vez
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mais constituído de relações sociais: “O que a multidão produz não são apenas apenas bens ou serviços serviços;; ela tam bém produ z, o que é mais importante, a coop eração , a comu nicaç ão, form as de vida e relações sociais.”33 sociais.”33 Em sum a, a produção imaterial é diretamen te biopolítica, biopolítica, a produção da vida social. social. M arx enfatizou qu e a produção m aterial aterial tamb ém é sempre a (re) (re)pro produç dução ão das relações sociais dentro das quais ela ocorre; com o capitalismo atual, contudo, a produção de relações sociais é a finalidade/objetivo imediato da produção: produção: “Essas “Essas novas formas de trabalho ... apresentam novas possi bil b ilid id a d e s p a r a o a u t o g e r e n c ia m e n to e c o n ô m ic o , u m a v e z q u e o s m e c a n is m os de coop eração necessários necessários para a produção estão estão contidos no próprio trabalho .”34 .”34 A aposta de Hardt e N egr i é que essa pro duçã o im aterial dire tam ente socializada não apenas torna torna os proprietários proprietários progressivame nte supérfluos (quem precisa deles quando a produção é diretamente social, tanto na form form a quanto no cont conteú eúdo do?) ?);; os produtores produtores tam bém dom inam a regulaç ão do espaço social, já que as relações relações sociais (a (a política) política) são a substância substância de seu seu trabalho: trabalho: a produção econô m ica torna-s torna-see produção p o lítica, a produção da própria sociedade. Isso abre caminho à “democracia absoluta”, permitindo aos produtores regular diretamente suas relações sociais, sociais, superando a representação dem ocrática. A ilusão qu e aqui opera foi sucintam sucintam ente formulada por Althusser quando observou que M arx jamais c o n s e g u i u a b a n d o n a r a " id id e ia ia m í ti ti c a d o c o m u n i s m o c o m o um modo de produçã pro duçãoo sem se m relações de d e produção; no comunismo, o livre desenvolvimento dos indivíduo s assum e o luga r das relações sociais no m od o de pro du ção ”.3 ”.35 Será Será que essa essa ideia ideia do comu nism o com o “m odo de produção sem relações relações de produ ção” não é tam bém o que motiva N egri e Hardt Hardt?? Qu and o as rela ções sociais (inclusive as relações de produção) são diretamente resultantes da produção social, não são mais propriamente relações sociais (ou seja, um arcabouço estrutural, dado de antemão, dentro do qual tem lugar a produção social), mas se tornam diretamente planejadas e produzidas e, com o tal, tal, transparentes por completo. Essa posição posição encontra sua expressão mais clara no movimento aceleracionista, baseado na premissa de que a única resposta política radical ao capitalismo não é o protesto, a agitação ou a crítica, não é resistir em nome de antigas formas de vida comunal
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ameaçadas pelo agressivo poder capitalista, não é esperar sua dissolução devido a suas próprias contradições, m as acelerar suas tendên tendên cias desagregadoras, alienantes, decodificadoras, abstrativas.36 A c o n c lu s ã o d e B e r a rd i é e x a ta m e n te o p os ta : lo n g e d e t r a z e r u m a p o tencial transp transp arência à vida social, o atual "capitalismo cog nitivo ” a torna m ais impen etrável do que nunca, solapando as própria própriass con dições subjeti subjeti va v a s d e q u a lq u e r fo r m a d e so lid li d a rie ri e d a d e c o le tiv ti v a d o "c o g n ita it a r ia d o ”.37 ”.37 O q u e é sintomático sintomático aqui é a form form a com o o m esm o aparato conceituai leva a duas duas conclusões radicalm ente opostas. opostas. Berardi nos previne contra o que cham a de “evang elho da desterritoriali desterritorialização zação hiperdinâm ica” deleuziano - para ele, ele, se não form form os capa zes de abandon ar a compulsão do sistema, sistema, a brecha entre a dinâm ica frenética por ele im posta e nossas limitaçõ limitaçõ es corpo rais e cognitivas mais cedo ou mais tarde poderá nos levar à depressão. Berardi faz essa essa afirmação a propósito propósito de F élix Guattari, Guattari, seu am igo qu e pregava o evan gelho teórico da desterritorial desterritorialização ização hiperdinâmica ao m esm o o tem po que pessoalm ente sofria sofria com longos períodos de depressã depressão: o: Na verdade, o problema da depressão e da exaustão nunca é elaborado de maneira explícita por Guattari. Guattari. V ejo aqui um problema cru cial da teoria teoria do desejo: a negação da questão dos limites na esfera orgânica ... A noção do “corpo sem órgãos” sugere a ideia de que o organismo não é algo que se possa definir, definir, mas um processo de exceder, ultrapassar ultrapassar uma fronteira, “dev ir outro”. Esse é um ponto crucial, mas também perigoso ... Que corpo, que mente está passando passando por um a transformação e se tornando alg um a coisa coisa?? Que invariante subjaz ao processo de vir a ser outro? Caso se queira respon der essa pergu nta, é preciso reco nhec er a morte, a fmitude e a depressão.3 depressão.38 8 Depressão, finitude e exaustão não constituem categorias categorias empírico-p empírico-psisicológica cológicas, s, m as indicações indicações de um a limitação ontológica básic básica. a. Q uand o B e rardi fala fala de depressão, refere-se refere-se prop riam ente à interpelaçã o, ou seja, seja, um a reação reação do anim al huma no à Causa que nos im im portuna, especificamen especificamen te à também à m obilização em ancipaancipainterpelação do capitalismo tardio, mas também à tória. tória. A crítica crítica da representação representação política como um a alienação apassivadora apassivadora
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(em vez de permitir que outros falem por elas, as pessoas deveriam se or ga niza r diretam ente em associa associações ções)) atinge aqu i o seu limite. limite. A ideia ideia de um a sociedade organizadora em sua totali totalidade dade com o rede de associ associações ações é um a utopia que ofusca u m a tripla tripla impossibilidade:39 impossibilidade:39 • há num erosos casos em que representar representar (fal (falar ar por) por) outros é um a neces sidade; é cinismo dizer que as vítimas de violência em larga escala, de A u s c h w i t z a R u a n d a (e o s d o e n te s m e n t a is , as c r ia n ç a s e tc ., p a r a n ã o mencionar os animais expostos ao sofrimento), deveriam se organizar e falar por si mesm as; • quando efetivamente conseguim os a m obilização obilização m aciça aciça de centenas centenas de milhares de pessoas que se auto-organizam horizontalmente (praça Tahrir, parque G ez i...) i...), não podem os esquecer que elas elas continuam sendo sendo um a m inoria e que a maioria silencios silenciosaa fica fica de fora, não representada (foi (foi assim que, no Egito, a maioria silenciosa derrotou a multidão da praça Tah rir e elegeu elegeu a Irman Irman dade Muçulmana); • o engajam ento político político perman ente é por temp o limitado: limitado: depois de algumas semanas ou, raramente, meses, a maioria se desassocia e o problem a é preservar os resultados resultados do levante quand o as cois coisas as voltam ao normal. Seria Seria isso isso simplesmente um a rendição resignada à estrutura de poder hegem ônica? Não. Não há nada de inerentemen te "conservador” em ficar ficar cansado das demandas esquerdistas usuais por mobilização permanente e partici participação pação ativa, ativa, dem andas que seguem a lógica do superego - quanto mais obedecemos a elas, mais somos culpados. A batalha tem de ser ganha aqui, no aqui, no domínio da passividade dos cidadãos, quando as coisas voltam ao normal na manhã seguinte às extasiantes revoltas; é (relativamente) fácil m ontar um extasiante extasiante espetáculo de unidade sublime, sublime, m as com o é que as pessoas comuns vão perceber a diferença em suas vidas cotidianas? Não admira que os conservadores gostem de ver explosões sublimes de tempos em tem pos - elas elas lembra m às pessoas que que nada pode realmen te mudar, que as coisas coisas voltam ao norm al no dia seguinte.
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E tem m ais: ais: a própria natu reza está em desordem hoje em dia, dia, não por sobrecarregar nossas capacidades cognitivas, mas basicamente por não sermos capazes de dom inar os efeitos efeitos de nossas nossas intervenções em seu curso - quem sabe quais serão serão as principais consequ consequ ências de nossa nossa engenh aria bio b io ge n é tica ti ca o u do a q u e cim ci m e n to glob gl obal al?? A su rp re sa v e m d e n ó s m e sm o s e d iz respeit respeitoo à opacidade opacidade do m odo com o nos encaixamos nesse quadro. quadro. É contra esse esse pano de fund o que se deveria entender a tese de Jacques Jacques Lacan: "II y a un grand désordre désordre dans le réel ” (Há um a gra nde desordem no real) real).4 .40 0 É assim que Miller caracteriza a forma como a realidade nos aparece se vivenciamos o imp acto total de dois dois agentes fundam entais: a ciência ciência e o capitalismo capitalismo m ode r nos. nos. A naturez a com o o real em que tudo, das estrel estrelas as ao sol, sol, sempre volta a seu lugar apropriado, como o domínio de ciclos amplos e confiáveis e das leis leis estáveis estáveis que os regulam , está sendo substituída substituída por u m real profund a men te contingente, contingente, u m real fora da Lei, Lei, um real que está está perman entemente revolucionand o suas próprias próprias regras, um real que resiste resiste a qualquer inclusão inclusão nu m Mun do (universo (universo de signif significa icado) do) totalizado, totalizado, m otivo pelo qual Badiou caracteriza o capitalismo capitalismo com o a prim prim eira civilização civilização sem m undo. Como deveríamos reagir a essa constelação? Deveríamos assumir uma abordagem defensiv defensivaa e buscar um novo limite, limite, um retorno a (ou (ou melhor, melhor, a invençã invençã o de) um nov o equilíbrio? equilíbrio? Isso Isso é o que a bioética se empen ha em fazer com respeit respeitoo à biotecnologia biotecnologia e o m otivo pelo qual as duas duas form am um par: par: a biotecno logia busca novas possibilidades de interven ção científica (ge nética, manipulações, clonagem) e a bioética impõe limites morais àquilo que a biotecn ologia nos habilita habilita a fazer. fazer. Co m o tal, a bioética não é iman ente à prática científica; científica; ela intervé m nessa prática a partir de fora, impo ndo- lhe uma moral externa. Mas a bioética não é precisamente a traição da ética im anente ao em preendim ento científ científico, ico, a ética ética do "não transija transija em seu desejo desejo científic científico, o, m as siga siga inexo ravelm ente o ca m inho deste”? O lem a dos manifestantes manifestantes de Porto Alegre, "Um outro mu ndo é possível”, possível”, propõe um nov o limite, e, neste ponto, até a ecologia se oferece com o pro vedor deste (“Não podemos avançar mais em nossa exploração da natureza, ela não v a i to lera le ra r, v a i e n tr a r e m co la p s o ” ). O u d e v e rí a m o s s e g u i r o pa ss o o p o st o me ncionado antes antes (de (de De leuze e Negri, entre outros outros), ), obedecen do à lei lei caca-
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pitalista pitalista de apropriação da mais-valia, de mo do que a tarefa não seja limitar, ma s forçá-la forçá-la a ultrapassar seus limite limites? s? Em outras palavras, d everíam os correr o risco de parafrasear o conhecido lema de Mao Tsé-Tung: há uma desordem n o real, real, de mo do que a situação é excelente excelente?? Talve z o cam inho a seguir seja seja ess esse, e, emb ora não exatamente no sentido sentido proposto por De leuze e N egri ao celebrarem a desterrit desterritorial orialização? ização? Miller afirma que o R eal puro, puro, sem lei, resiste à apreensão simbólica, de modo que deveríamos estar sem pre con scientes de que nossas tentativas de conceituá-lo são m eras fachadas, elucubrações defensivas defensi vas - mas e se se ainda existir existir um a ordem ordem subjacente que gera essa desordem, uma matriz que lhe fornece as coordenadas? É isso isso que ta m bém explica a repetitiva repetitiva similaridade da din âm ica capitali capitalista sta:: quanto mais as coisas mudam, mais continuam as mesmas. E também é por isso isso que o reverso da estonteante dinâm ica capitali capitalista sta é um a orde m de dom inação hierárquica claramente reconhecível. reconhecível.
Mamihlapinatapei D eve ríam os acom pan har T.J T.J.. Cla rk41 rk41 em sua rejeição à noçã o escatológica do Fu turo que o m arxism o herdou da tradição cristã cristã,, e cuja versão mais concisa foi apresentada nos conhecidos versos de Hölderlin: "Mas onde está o perigo também cresce o poder de salvar.” Talvez resida aí a lição das assustadoras experiências da esquerda no século XX, cuja ação nos com pele a retornar de Ma rx a H egel, o u seja seja,, da escatologia revolucionária revolucionária m arxista à trágica visão visão de Heg el de um a história história que perma nece sem pre radicalmente aberta, já que o processo histórico sempre redireciona nossa atividade numa direção inesperada. Talvez a esquerda devesse aprender plenamente a aceitar a "alienação” básica do processo histórico: não po dem os controlar as consequências de nossos nossos próprios atos atos - nã o porque sejamos sejamos apenas marionetes nas nas mãos de um M estre estre ou D estino secreto secreto que man eja os cordões, cordões, mas precisam precisam ente pelo m otivo oposto: não existe existe um grande Outro, um agente da responsabilidade plena que possa levar em conta as consequências de nossas próprias ações. Essa aceitação da
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"alienação” "alienação” não envolve de m odo algum um distanciamento cínico; cínico; implica um a posição totalm ente engajada e consciente dos riscos riscos envolvidos - não existe um a N ecessidade ecessidade histórica mais elevada cujos instrumentos sejamos sejamos nós e que garan ta o resultado final de nossa nossass intervenções. D esse ponto de vista, nosso desespero diante do dilema atual aparece sob uma nova luz: luz: temos de renunciar ao próprio esquem a escatológico escatológico que d etermina o nosso desespero. Jamais haverá uma esquerda que transforme magica m ente revoltas revoltas e protestos protestos con fusos num grande e consistente consistente Projeto de Salvação; tudo que temos é nossa atividade, aberta a todos os riscos de um a história história contingente. Franco Berardi afirmo afirmo u isso isso apaixonadamente com respeito aos atuais atuais eventos na Grécia: "R ejeito toda consideração dos atuais eventos. De certo m odo, rejeito conscientem ente a possibilidade possibilidade de que o m undo de hoje possa possa ser m elhorado, já que é preciso preciso não ter mais nenh um a esperança esperança para pod erm os enxergar novas possibil possibilidade idades.” s.”442 Significa Significa isto isto que devem os simplesmente abandonar o tema (e a expe riência) de "viver no fim dos tempos”, de nos aproximar do apocalíptico ponto sem retorno em que "as cois coisas as não podem continuar mais assim” assim” ? Q ue devem os substituí-lo substituí-lo pela feliz visão “pós-m etafísica”, etafísica”, de caráter li li ber b er a l- p r o g r e ss ista is ta , de m o d e st a s in t e r v e n ç õ e s p r a g m á t ic a s, a rr is ca d a s m a s cautelosas? Não, a coisa a fazer é separar a experiência apocalíptica da escatologi escatologia: a: agora que nos aproximam os de um a espécie espécie de ponto zero ecológica, econôm ica e socialm socialm ente - as coisas coisas vão mudar, e a mu dança será mais radical se não fizermos coisa alguma, mas não existe à nossa frente uma curva escatológica que aponte para o ato de Salvação global. Em polític política, a, um Evento autêntico autêntico não é aquele que os marxistas tradicio tradici o nais estão esperando (o grand e D esper tar do Sujeito Sujeito revolucionário), mas algo que ocorre como u m episódio episódio colateral colateral imprevisto. Lem brem os que, que, apenas alguns meses antes do levante revolucionário de 1917 na Rússia, Lên in fez um discurso para mem bros da juven tud e socialista socialista suíça suíça no qual afirm ou q ue a geração deles deles pod eria ser a prim eira a testemu nhar, d entro de algum as décadas, décadas, um a revolução sociali socialista sta.. Perm itam-m e assim con cluir retornando aos protestos em dois dois países países viz v iz in h o s , G ré c ia e T u rq u ia . À p r im e ir a v is ta , p o d e m p a re c e r i n t e ir a m e n te
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diferente diferentes: s: a Grécia en volvida num a ruinosa po lítica lítica de austeridade, austeridade, en q u a n to to a T u r q u ia i a a t ra r a v es es sa sa u m b o o m e c o n ô m i c o e e m e r g e c o m o n o v a superpotência regional. Mas e se cada Turquia gerasse e contivesse sua própria Grécia, suas próprias ilhas de miséria? Em uma de suas "Elegias de H ollyw oo d”, Brecht escreveu escreveu sobre essa essa aldei aldeia, a, com o ele ele a chama: A aldeia ald eia de H o lly ll y w o o d foi planej pla nejada ada segu se gund ndoo a noç n oção ão Que as pessoas desse lugar fazem do céu. Nesse lugar Chegaram à conclusão de que Deus, Necessitando de um inferno e de um céu, não precisou Planejar dois dois estabelecimentos, mas Apen Ap enas as um: um : o céu. céu . Este Funciona, para os pobres e desafortunados, Co m o infern o.43 o.43 Será que o mesmo é válido para a aldeia global de hoje, exemplar mente para aldeias como o Qatar ou Dubai, com glamour para os ricos e semiescravidão para os trabalhadores imigrantes? Não admira, então, que um olhar mais de perto revele a similaridade similaridade oculta entre a Turqu ia e a Grécia: Grécia: privatização, fecham ento dos espaços espaços públicos públicos,, pulverizaçã o dos serviços sociais, emergência de uma política autoritária (compare-se a ameaça de fechar a T V pública na Grécia com os sinai sinaiss de censura na Turquia). Nesse nível elementar, os manifestantes dos dois países estão envolvidos na mesma luta. O verdadeiro evento teria sido, assim, coor denar as duas lutas, lutas, rejeitar tentações tentações “patriótic “patrióticas", as", recu sar preocupar-se com as preocupações dos outros (com a Grécia e a Turquia como inimigos históricos) e organizar manifestações comuns de solidariedade. Ta lvez o próprio futuro dos protest protestos os dependa da capacidade capacidade de organi zar essa solidariedade global. A língua fueguina falada em algumas partes do Chile tem a maravilhosa palavra mamihlapinatapei: mamihlapinatapei: u m olhar trocado trocado entre duas pessoas - digamo s, em nosso caso, caso, um m anifestante greg o e um m anifestante turco -, ambas interessadas interessadas em estabelecer estabelecer contato, contato, mas nenh um a delas delas disposta a tom ar a iniciat iniciativa. iva. Mas a lguém precisa precisa correr
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o risco e fazê-lo. E os eventos atuais na Ucrânia também poderiam ser interpretados a essa luz.
Lênin na Ucrânia Nas reportagens de T V sobre os grandes protestos protestos em K iev contra o go ve v e r n o Y a n u k o v ic h , v im o s re p e ti d a s v e z e s m a n if e s ta n t e s e n ra iv e c id o s d e r rubando estátuas de Lênin. Esses ataques furiosos são compreensíveis, já que essas essas estátuas estátuas funciona vam com o símbolos da opressão opressão soviética, soviética, e a Rússia de Putin é vista como o prosseguimento da política soviética de submeter os países países vizinho s à dominação russa. russa. Tam bém se deve ter em m ente o mom ento histórico histórico preciso preciso em que as estátuas estátuas de de Lênin com eça ram a proliferar proliferar pela Un ião Soviética: antes de 195 1956, as de Stálin eram mu ito mais numerosas, e só naquele ano, depois de Stálin ter sido denunciado no XX C ongresso do Partido Partido C om unista, é que elas elas foram substit substituídas uídas en masse pelas de Lênin. Este foi foi literalm literalm ente u m substituto de Stálin, Stálin, com o ficou claro graças a algo estranho que aconteceu em 1962 na primeira página do Pravda, o jorn jorn al o ficial ficial soviético: soviético: Lênin apareceu na manchete principal do Pravda Pravda em 1945 (pode-se sugerir, especulativamente, que apareceu ali para reafirmar a autoridade de Stálin sobre o Partido - à luz da força potenc ialmen te perturbadora dos soldados soldados retornados, que tinham visto tanto a morte quanto a Europa burguesa, e à luz dos mitos correntes de que Lênin havia advertido sobre Stálin em seu leito de morte). morte). Em 1961 1961 - quando, no XXII Congress Con gress o do Partido Com unista, Stálin Stálin foi publicamente publicamente denunciado - duas imagens de Lênin subitamente aparecem na primeira página, com o se o estranh o L ênin duplicado estivesse estivesse ocultando o saudoso "outro líder” que na verdade nunca estivera ali!44 ali!44 Por que, então, dois perfis idênticos idênticos de L ênin publicados lado a lad lado? o? Nessa estranha repetição, repetição, Stálin estava estava de certo m odo, em sua ausência ausência,, mais presente presente do que nunca, u m a ve z que sua fantasm fantas m agórica agórica presença presença
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era a resposta a uma pergunta óbvia: "Por que mostrar dois Lênins em v e z d e u m ? ” De qualquer forma forma , foi foi profundam ente irônico ver os ucranianos der rubando estátuas estátuas de Lênin com o símbolo de sua disposiç disposição ão de romp er com o domínio soviético e afirmar sua soberania nacional: a era de ouro da identidade naciona l ucranian a não foi a da Rússia czarista (em que a autoautoafirma afirma ção da Ucrânia com o n ação foi restri restringida) ngida),, m as a primeira década da União Soviética, qua ndo foi estabelecida estabelecida sua identidade naciona l plena. Eis o texto da W ikipé dia sobre a Ucrâ nia na década de 19 1920: A g u er r a ci vil vi l que qu e acab ac abou ou leva le va nd o o g ov er n o so viét vi étic icoo ao po de r deva de vast stou ou a Ucrânia. Deixou cerca de 1,5 milhão de mortos e centenas de milhares desabrigados. Além disso, a Ucrânia soviética teve de enfrentar a fome de 1921. Vendo uma Ucrânia exaurida, o governo soviético permaneceu muito flexível durante a década de 1920. Assim, sob a égide da política de ucranização aplicada pela liderança nacional comunista de Mikola Skripnik, os líderes soviéticos estimularam um renascimento nacional nas artes e na literatura. A cu ltu ra e a lín l ín gu a ucra uc rani nian anas as tive ti vera ram m um a revi re vita tali liza zaçã ção, o, e a ucr u cran an izaç iz ação ão tornou-se a forma local de implementação da política geral soviética de "korenização” (literalmente, indigenização). Os bolcheviques também estavam engajados na introdução introdução da assistência assistência médica, da educação e da seguridade social universais, universais, assim como do direito ao trabalho e à moradia. Os direitos direitos das mulheres se ampliaram muito por meio de novas leis destinadas a eli minar desigualdades seculares. A maioria dessas políticas foi drasticamente revertida no início da década de 193 1930, quan do Josef Stálin gradua lment e co n solidou seu poder para se tornar o verdadeiro líder do Partido Comunista. Essa "indigenização” seguiu os princípios formulados por Lênin em term os bastante explícitos: explícitos: O proletariado não pode deixar de lutar contra a retenção forçada das na ções oprimidas dentro das fronteiras de determinado Estado, e é exatamente isso que significa a luta pelo direito à autodeterminação. O proletariado
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deve exigir o direito de secessão política das colónias e das nações que “sua própria” nação oprime. A menos que o faça, o internacionalismo proletário continuará sendo uma expressão carente de sentido; a confiança mútua e a solidariedade de classe entre os trabalhadores das nações opressoras e opri midas serão impossíveis .45 Lên in perm an eceu fiel a essa essa posição até o fim: logo depois da Re volu ção de Outubro, ele se envolveu numa polemica com Rosa Luxemburgo, que defendia que as pequenas nações só obteriam a soberania plena se as forças forças progressi progressistas stas predominassem no n ovo Estado, Estado, enquanto Lênin sustentava o direito incondicional à secessão, mesmo que os "vilões” esti ve v e s s e m n o p o d e r n o n o v o E st a do . E m su a ú lt im a lu ta c o n tr a o p r o je to de Sálin Sálin de um a União Soviética Soviética centralizada, centralizada, Lên in defendeu um a vez mais o direito incondicional de pequenas nações se separarem (no caso, era a Geórgia que estava em jogo), insistindo na soberania plena das entidades nacionais nacionais que com punh am o Estado soviéti soviético. co. N ão ad mira que, em 17 de de setembro de 1922, numa carta aos membros do Politburo, Stálin acusasse Lên in abertam ente de defender o "nacional-liberal "nacional-liberalismo”. ismo”. A direção em que sopravam os ventos de Stálin era clara a partir da forma como ele propôs aplicar a decisão de simplesmente proclamar o governo da Rússia Soviética como o governo das cinco outras repúblicas (Ucrânia, Bielorrússia, Azer bai b ai jão jã o , A r m ê n ia e G eó rg ia ):
Se a presente decisão for confirmada pelo Comitê Central do PCR, não será tornada pública, mas comunicada aos Comitês Centrais das Repúblicas para circular entre os órgãos soviéticos, os Comitês Centrais Executivos ou o Congresso dos Sovietes das ditas Repúblicas antes da convocação do Con gresso dos Sovietes de Toda a Rússia, em que será proclamada como sendo o desejo dessas Repúblicas .46 A in te r a ç ã o d a a u to ri d a d e s u p re m a (o C o m it é C e n tr a l) c o m su a b a se foi abolida de modo que essa autoridade pudesse impor sua vontade, e, para piorar a situação, essa relação virou de cabeça para baixo: o Comitê
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Central decidia o que a base iria pedir que a autoridade maior executasse, com o se fosse fosse um desejo desejo próprio. próprio. Lem brem os o exem plo mais conspícuo conspícuo desse tipo de encenação, ocorrido em 1939, quando os três Estados bálticos livrem ente ped iram pa ra se jun tar à União Soviética, que aceitou o pedido. O que S tálin fez no início da década de 193 1930 foi simp simp lesmen te um retorno à política pré-revolucionária (por exem plo, com o parte dessa guinada, a colonização da Sibéria e da Ásia islâmica pela Rússia não foi mais con denada como expansão imperialista, mas celebrada como a introdução de uma modernização contínua que sacudiu a inércia dessas sociedades tradicionais). E a política externa de Putin é uma clara continuação dessa linha czarista-stalinista. De acordo com ele, após a Revolução Russa de 1917 foi a vez de os bolcheviques prejudicarem os interesses russos: Os bolcheviques, bolcheviques, por uma série série de razões - que Deus os julg ue - , acrescen acrescen taram amplas áreas do histórico sul da Rússia à República da Ucrânia. Isso foi feito sem que se considerasse considerasse a form form ação étnica da população, e hoje em dia essas áreas constituem o sudeste da Ucrânia.47 Nã o adm ira que agora vejamo s novam ente retratos retratos de Stáli Stálin n durante paradas militares militares e com em orações públicas, públicas, enquanto L ênin foi apagado. apagado. Numa grande pesquisa de opinião feita alguns anos atrás, Stálin foi con siderado siderado o terceiro terceiro russo m ais im im portante de todos os tempos, tempos, enquanto Lênin sequer apareceu. Stálin não é celebrado como um comunista, mas com o um restaurador restaurador da grand eza da Rússia Rússia após após o im im patriótico “de svio” de Lênin. Putin recentemen te referi referiu-se u-se aos aos condados do sudeste sudeste da Ucrâ nia com com o Novor No voruss ussiya iya (N (N ova Rússia Rússia), ), ressusci ressuscitando tando um term o que não era era usado desde 19 1917. A tend ência leninista, leninista, em bora reprim ida, continu ou a existir na oposição com unista subterrânea a Stálin. Stálin. Os críticos comun istas do stalinismo certamente estavam cheios de ilusões, mas, como assinalou Ch ristopher H itchens, itchens, m uito antes antes de Soljenitsi Soljenitsin, n, “as “as perguntas cruciais cruciais referentes ao gulag estavam sendo feitas por oposicionistas de esquerda, de Boris Souvarine e Victor Serge a C.L.R. James, em tempo real e com gran de perigo. Esses hereg es corajosos e prescientes foram foram de certa form form a
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excluidos da historia (ele (eless esperavam coisas coisas m uito piores do que isso, isso, e frequen tem ente as receberam receberam )”.4 )”.48 Esse m ovim en to crítico crítico de grand e es cala era inerente ao m ovim ento comun ista, em evidente contraste com com o fascismo. fascismo. Co m o d iz Hitchens: Hitchens: “ningu ém p ode ser forçado a gastar mu ita energía imaginando se o fascismo poderia se tornar algo melhor, dadas circunstâncias mais propicias. E não havia dissidentes no Partido Nazista arriscando arriscando a vida ao afirm afirm ar que o F ührer havia traído a verdadeira essên essê n cia do Nacion al-Socialism o.”49 o.”49 Precisa m ente po r causa dessa tensão im a nente no próprio cerne do movimento comunista, o lugar mais perigoso para se estar à época dos terríveis expurgos da década de 1930 na União Soviética era o topo da nomenklatura: em poucos anos, 80% 80% dos m em bros do Com ité Central e do coman do do Exército Exército Verm elho foram m ortos.50 ortos.50 A l é m d isso is so , n ã o se d e v e su b e s ti m a r o p o te n c ia l t o ta litá li tá r io , a ss im c o m o a b r u ta lid li d a d e e x p líc lí c ita it a , da s fo r ça s b ra n ca s, c o n tr a r r e v o lu c io n á r ia s , d u r a n te a Guerra Civil. Se estas tivessem vencido, diz Hitchens (repetindo uma afirmação feita por Trótski), a palavra com um para d esignar o fascismo seria russa, russa, não italiana. Os Proto colos dos Sábios de Sião foram Sião foram trazidos para o O cidente por imigrantes russos branc bra ncos os ... O major ma jor-ge -ge nera ne rall W illi il liaa m Grav Gr aves, es, que qu e com co m an dou do u a Força Fo rça Expe Ex pedi di cionária Ame ricana durante a invasão da Sibéria Sibéria em 191 1918 (um evento profu n damente m aquiado em todos os livros didáticos norte-americ norte-americanos), anos), escreveu em suas memórias sobre o a ntissemitismo letal e onipresente que dominava a direita direita russa e acrescen acrescentou: tou: “ Duv ido qu e a história venha a mostra r algum país do mundo nos últimos cinquenta anos em que o assassinato assassinato pudesse pudesse ser cometido com tanta segurança, e com menos perigo de punição, do que na Sibéria sob o domínio de Kolchak.51 Não admira que Kolchak tenha sido recentemente celebrado como um ilustre ilustre patriota patriota e soldado soldado russo n um film film e épico-biogr épico-biográfic áfico, o, Almir Al miran ante te (2008), dirigido por Andrei Kravchuk. E como que ecoando esse passado som brio, toda a direita neofascista neofascista europ eia (na (na Hun gria, na França, na Itá Itá lia e na Sérvia) Sérvia) está está apoiando firm em ente a Rússia Rússia na atual crise ucraniana,
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que desmente a apresentação oficial russa do referendo na Crimeia como um a escolha entre a dem ocracia russa russa e o fascismo fascismo ucraniano. Os atuais atuais eventos na Ucrânia Ucrânia - os enormes protestos protestos que derrubaram Y anukovich e seu governo - devem , assim, assim, ser entendidos entendidos com o um a defesa defesa contra esse esse legado som brio ressuscitado ressuscitado por Putin: foram desencadeados pela pela decisão do gov erno u cranian o de dar prioridade prioridade às boas relações com a Rússia Rússia em detrimento da integração integração da Ucrânia à União Europeia. Previsivelmente, Previsivelmente, m uitos anti-imperiali anti-imperialistas stas de esquerda esquerda reagiram à notícia notícia com a tradicio tradicio nal condescendên cia para com os pobres ucranianos: com o estão iludidos, iludidos, ainda idealizando a Europa, não são capazes de perceber que ela se encon tra em declínio e que integrar-se integrar-se à União Europeia só transforma ria a Ucrâ nia num a Colôni Colôniaa econôm ica da Europa ocidental que mais cedo ou m ais tarde seria forçada a assumir a posição da Grécia. O que esses esquerdistas ignor am é que os ucranianos estão longe de ser cegos à realidade realidade da União Europ eia e têm plena consciência de seus problem as e disparidades disparidades - sua m ensagem foi simplesmente simplesmente que sua situação situação é m uito pior pior.. Os problemas da Europa ainda são problemas problemas dos ricos ricos - basta lembrar que, a despeito da terrível condição da Grécia, refugiados africanos ainda chegam em massa àquele país, provocando a ira dos que se proclamam patriotas. Deveríamos então simplesmente apoiar o lado ucraniano do conflito? Existe até uma razão "leninista” para isso. Nos últimos textos de Lênin, m uito depois de ele ele haver renunciado à utopia de O Estad Est adoo e a Revolução Revo lução,, pod em os discernir os contornos de um projeto mod esto, “realista”, “realista”, do que o govern o bolchevique deveria fazer. fazer. O subdesenvolvimento subdesenvolvimento econôm ico e o atraso cultural das massas massas russas russas signific significavam avam que não havia u m m eio de a Rússia “passar “passar diretame nte ao socialismo”; tudo que o po der soviético podia fazer era combinar as políticas moderadas do “capitalismo de Estado” com um a intensa intensa educação cultural das massas massas campon esas inertes inertes - não um a lavagem cerebral cerebral de “propaganda com unista”, apenas apenas a imposição paciente, gradua l, de padrões desenvolvidos, civilizados. Fatos e números revelam, afirma Lênin, "o amplo volum e de trabalho trabalho preliminar urgente que ainda temos de fazer para alcançar o padrão de um país civilizado com um da Europa ocidental ocidental ... De vem os ter em em m ente a ignorância se se-
Proble Problema ma no no paraís paraísoo
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miasiática de que ainda não nos livramos”.52 Não poderíamos encarar a referência referência dos m anifestantes ucranian os à "Europa” com o um sinal de que seu objetivo também é “alcançar o padrão de um país civilizado comum da Europa ocidental”? Mas é aqui que as coisas rapidamente se complicam: qual é, exata mente, o m otivo que os manifestantes manifestantes ucranianos apresentam apresentam para sua posição? Ele não pode ser reduzido a uma única ideia: inclui elementos fascistas e nacionalistas, e também a ideia daquilo que Étienne Balibar c h a m a d e égaliberté, égaliberté, liberdade na igualdade, a singular contribuição da Europa ao im aginário político global, global, me smo que hoje em dia sej sejaa cada vez m ais traída pelas pelas próprias próprias instituições instituições e pelo pró prio po vo europeus. Entre esses esses dois dois poios, poios, há tam bém um a co nfiança ingênua no capitalismo capitalismo liberalliberaldem ocrático europeu. O que a Europa deveria enxergar nos protestos protestos da Ucrâ nia são seus m elhor es e piores aspectos. aspectos. Mas, para ver isso isso claram ente, a Europa precisa olhar para fora de si si m esma , o lhar para a Ucrânia. A d irei ir eita ta n a ci o n a list li st a u c ra n ia n a é u m ex em pl o d o qu e es tá a co n te ce n d o hoje dos Bálcãs à Escandinávia, dos Estados Unidos a Israel, da África Central à índia: uma nova Idade das Trevas está se aproximando, com paixões étnicas e religiosas explodindo, enquanto retrocedem os valores do Iluminism o. Essas paixões espreitavam o tem po todo nas sombras, sombras, mas o que é novo agora é a forma totalmente despudorada com que se apre sentam. Em m eados de 20 2013, dois dois protestos públicos foram anunciados na Croácia, país que atravess atravessaa um a grave crise crise econôm ica, com elevadas elevadas taxas de desemprego e um profundo sentimento de desespero entre a população: sindicatos tentaram organizar uma marcha em apoio aos di reitos dos trabalhadores, enquanto nacionalistas de direita iniciavam um m ovim ento de protesto contra o uso de letras letras ciríli cirílicas cas em p rédios públicos públicos de cidades cidades com u m a m inoria sérvia. sérvia. Os sindicatos sindicatos levaram alguma s cente nas de pessoas a um a grande praça em Zag reb, enquanto os nacionali nacionalistas stas cons eguiram m obilizar centenas de m ilhares, ilhares, o que tornou a acontecer em protestos contra o casam ento gay. E fund fund am ental constatar essa regressão ética ética com o o reverso do desenvolvim ento explosivo do capitalismo capitalismo global - são são dois dois lados lados da m esma m oeda.
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A e x p re ss ã o a le m ã rückgängig rückgängig ma chen chen (“desmanche retroativo”, fazer parecer que a lgum a coisa não aconteceu) aconteceu) é perfeitam perfeitam ente adequada a esse esse processo. processo. Im aginem u m a sociedade que tenha integrado totalm ente a essa essa substância ética os grandes axiomas modernos de liberdade, igualdade, direitos direitos dem ocráticos, ocráticos, o d ever da sociedade sociedade de prover educação e cuida dos básicos de saúde a todos os seus membros, tornando o racismo e o sexismo simplesmente inaceitáveis inaceitáveis e ridículos. Nã o h averia necessidade necessidade de argum entar contra o racismo, racismo, já que qualquer um que o defendes defendesse se abertamente seria percebido de imediato como um excêntrico esquisito que não deveria ser levado a sério. Mas então, passo a passo, embora a sociedade continuasse defendendo esses axiomas da boca para fora, eles seriam de fato privados de sua substância substância.. Eis um exem plo recente: recente: no ve rão de 201 2012, 2, Vik tor O rbán, prim eiro-m inistro da H ungria, de direit direita, a, disse disse que era preciso moldar um novo sistema sistema econôm ico na Europa central central:: e esperemos que Deus nos ajude e não tenhamos de inventar um novo tipo de sistema sistema político que precise ser introduzido em luga r da democracia, para fins de sobrevivência econômica ... Cooperação é uma questão de força, não de intenção. Talvez haja países em que as coisas não funcionem dessa maneira, por exemplo, os países escandinavos, mas um povo semiasiático desorgan izado como o nosso só pode se unir pela força.53 força.53 A ir o n ia d es sa s li n h a s n ã o d e ix o u d e se r c a p ta d a p o r a lg u n s v e lh o s dissidentes húngaros: quando o exército soviético se dirigiu a Budapeste para esm agar o levante an ticomunista de 19 1956, a m ensage m repetidamente enviada ao Ocidente pelos líderes húngaros sitiados foi: "Estamos aqui defendendo a Europa.” (Contra os comunistas asiáticos, é claro.) Agora que o com unism o desm oronou, o gove rno cristão cristão conservador apres apresenta enta seu principal principal inim igo com o sendo a dem ocracia liberal liberal consum ista que a Europa ocidental hoje defende, defende, e clama clama por um a nova ordem , m ais orgâ nica e comunitária, para substituir a “turbulenta” democracia liberal das duas últimas décadas. O rbán já expressou sua simpatia pelo "capitalismo "capitalismo com valores asiáticos”, de modo que, se continuar a pressão europeia sobre
Prob Problem lema a no paraíso paraíso
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ele, podemos facilmente imaginá-lo enviando uma mensagem ao Oriente: “Estamos aqui defendendo a Ásia!” O atual populismo anti-imigração substituiu a barbárie explícita por uma barbárie com face humana. E uma regressão do amor ao próximo dos cristãos cristãos à prática prática pagã de p rivilegiar nossa tribo tribo (gregos, romanos) em relação relação ao O utro bárbaro. M esmo que seja seja apres apresenta entado do com o u m a defesa defesa dos valores cristãos, é em si mesmo a maior ameaça ao legado do cristia nismo. Um século atrás, G.K. Chesterton mostrou claramente o dilema fundam ental em que se encontram os críticos críticos da rel religi igião: ão: “Ho m ens que com eçam a lutar contra contra a Igreja Igreja em nom e da liberdade liberdade e da human idade acabam joga joga nd o fora a liberdade liberdade e a hum anidad e se sua luta é apenas apenas con tra a Igreja Igreja ... Os secularistas não a niquilara m as coisas coisas divinas; divinas; mas a ni quilaram coisas seculares, se é que isso lhes serve de conforto.”54 Será que o mesmo não vale para os defensores da religião? Quantos fanáticos dessa natureza não começaram atacando ferozmente a cultura secular contem porânea e acabaram dando as costas a qualquer experiência religiosa sig nificativa? De modo similar, muitos guerreiros liberais são tão ávidos em lutar lutar contra contra o fundam entalism entalism o a ntidemocrático ntidemocrático que acabam jogand o fora a própria liberdade liberdade e a dem ocracia se sua sua luta se dirige dirige apenas contra o terror. terror. Se os “terroristas” “terroristas” se dispõem a destruir este este m undo por am or a um outro, nossos guerreiros contra o terror se dispõem di spõem e destruir seu seu próprio mundo por ódio ao outro islâmico. Alguns deles amam tanto a dignidade hum ana que se dispõem a legalizar a tortura - a derradei derradeira ra degradação dessa dignidade - para defendê defendê-l -la. a. E será que o mesm o não se aplica à recente ascensão dos defensores da Europa contra a ameaça representada representada pelos imigrantes? imigrantes? N o afã de pro teger a herança judaico-cri judaico-cristã, stã, os protetores se dispõem eles m esmos a renegar o próprio cerne do legado cristão. Eles, que defendem a Europa dos imigrantes, e não a multidão de imigran tes supo stamen te esperando p ara invadi-l invadi-la, a, são a verdadeira verdadeira am eaça a esse esse continente. Um dos sinais dessa regressão é a demanda da nova direita euro peia por uma visão mais “equilibrada” dos dois "extremismos”, o de direita e o de esquerda: repetidamente nos dizem que se deveria tratar
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a extrema esquerda (o (o comunismo) de mod o sem elhante à forma com o a Europa tratou a extrema direita (os fascistas e nazistas derrotados) após a Segun da G uerra M undial. Mas esse esse novo “equilibrio” é altamen altamen te desequilibrado: a equação de fascismo e comunismo privilegia secre tamente o primeiro, como se pode ver por uma série de argumentos, como a ideia de que o fascismo copiou o comunismo, que o precedera: antes de se tornar fascist fascista, a, M ussolini foi socialist socialista, a, e mesm o H itler itler era um nacional-socialista; campos de concentração e genocidios existiram na União Soviética urna década antes de os nazistas usarem os mesmos meios; meios; a a niquilação niquilação dos judeus teve um claro precedente na aniquilação aniquilação da classe inimiga, e assim por diante. A base desse argumento é que o fascismo fascismo m oderado foi um a resposta resposta legítim legítim a à am eaça com unista (afi (afir r mação feita muito tempo atrás por Ernst Noite em sua defesa do envol v i m e n t o d e H e i d e g g e r c o m o n a z is m o e m 1933 1933). ). N a E s lo v ê n ia , a d ir e it a defende a reabilitação reabilitação da Guarda N acional anticom unista que enfrentou a resistênci resistênciaa durante a Segunda G uerra M undial: undial: seus m em bros fizeram a difícil difícil escolha escolha de co laborar com os nazistas nazistas para evitar o M al maior, maior, absoluto, do comunismo. Mas o mesmo poderia ser dito dos nazistas (ou dos fascistas, pelo menos): fizeram o que fizeram para evitar o Mal absoluto do com unism o.55 o.55 O que podem os fazer nu m a situação dess dessas as?? Os liberais liberais convencionais nos dizem que, quando os valores democráticos básicos são ameaçados por fundam entalistas entalistas étnicos étnicos ou religiosos, religiosos, deveríamos todos nos unir pela agenda liberal-democrática da tolerância cultural, preservar o que for possível e deixar de lado os sonhos de uma transformação social mais radical. Há, contudo, um problema fatal nesse apelo à solidariedade: ele ignora com o a permissividade liberal liberal e o fundam entalismo estão estão presos presos no m esmo círculo vicioso, vicioso, como dois dois polos que geram e pressupõem um ao outro. A s s im , q u a l é o d e s ti n o d o s o n h o e u r o p e u ca p it a list li st a e lib li b e ra l-d l- d e m o crático na Ucrânia? Não se pode dizer com certeza o que espera esse país caso ele se integre à União Europeia. Lembremos a piada de Rabinovitch citada citada no Capítulo 1 - pode-se pode-se facilmente facilmente im aginar um a conversa conversa seme
Problem Problema a no paraíso paraíso
lhante envolvendo um ucraniano críti crítico co e u m adm inistr inistrador ador financeir financeiroo a serviço da União Europeia. O ucraniano se queixa: "Há duas razões para estarm estarm os em pânico aqui na Ucrânia. Ucrânia. Primeiro, tem os medo de que que a UE simplesmente nos abandone e deixe nossa econom ia naufragar.” naufragar.” O adm inistrador inistrador da UE o interrompe: interrompe: “Mas podem confiar em nós, não va m os abandoná-lo abandoná-los, s, vam os m antê-los antê-los sob um controle estrito estrito e lhes lhes d izer o que fazer!” “Bem”, responde o ucraniano com toda a calma, “essa é a segunda razão.” A s s im , a q u e st ã o n ã o é se a U c râ n ia es tá à a lt u r a d a E u r o p a o u é su fi fi cientemente boa para ingressar na UE, mas se a Europa de hoje está está à al tura das mais profundas aspirações dos ucranian os. Se a Ucrâ nia termin ar com o um a m istura de fundam entalism entalism o étnico e capital capitalismo ismo liberal liberal,, com oligarcas controlando nas sombras, ela será tão europeia quanto a Rússia (ou a Hungria) é hoje. (E, a propósito, seria fundamental contar toda a história do conflito entre diferentes gru pos de oligarcas - os "pró-russos” e os "pró-ocidentais” "pró-ocidentais” - que con stitui o pano de fund o dos atuais eventos na Ucrânia. Ucrânia.)) Co m entaristas políticos políticos têm afirma afirma do que a União Eu ropeia não está fazendo o suficiente para apoiar a Ucrânia em seu conflito com a Rússia, Rússia, que sua resposta à ocup ação e à anexaçã o da Crim eia pelos russos russos foi hesitante. Mas há um a o utra coisa que a UE não pô de o u não se dispôs a fazer: oferecer à Ucrânia um a estratégia viáv el para resolver esse dilema. dilema. Para fazêfazê-lo, lo, a Europa deveria primeiro se transformar e renovar seu com prom isso com o cerne eman cipatório cipatório de sua sua herança. herança. Falando abertamente, se a Nova Ordem Mundial emergente é nosso destino inegociável, então a Europa está perdida, de modo que a única solução para ela é assumir o risco e quebrar o feitiço. Só numa Europa assim renovada é que a Ucrânia poderia encontrar seu lugar. Não são os ucranianos que devem aprender aprender com a Europa; a própria Europa tem de aprender aprender a incorporar o son ho que m otivou os manifestantes manifestantes de Maidan. Hoje, mais do que nunca, a fidelidade ao cerne emancipatório da herança europeia se faz necessária. A lição que os liberais assustados deveriam aprender é est esta: a: hoje em dia, dia, só um a esquerda m ais radicalizada radicalizada pode preservar o que vale a pena ser preservado da herança liberal.
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Como,então, devemos proceder ?
Não precisamos ir m uito além além da Cro á
cia. Em fevereiro de 2014, cidades ardiam na Federação Bósnia. Tudo co meçou em Tuzla, cidade de maioria muçulmana; os protestos então se espalharam para Sarajevo, Sarajevo, Zenica, M ostar (com (com grande presença presença de po pulação croata) e Banja Luka (capital da parte sérvia da Bósnia). Milhares de manifestantes manifestantes enfurecidos enfurecidos o cuparam, destruíram destruíram e incendiaram incendiaram pré dios do govern o, incluind o o da Presidência da Federação Federação Bósnia. Esses Esses eventos deram imediatamente origem a teorias conspiratórias (segundo um dos cenári cenários, os, o govern o sérvio havia organ izado os protestos protestos a fim fim de derrubar a liderança bósnia), mas devemos seguramente ignorá-los, um a ve z que está está claro que, independentemente do que possa possa se esconder esconder “por trás”, o desespero dos manifestantes é autêntico. Aqui, mais uma vez, som os tentados a parafrasear a fam fam osa afirmaçã o de Mao: a Bósnia está um caos, caos, a situação situação é excelente! excelente! Por quê? quê? As dem andas dos m anifestantes foram as mais simples possíveis: queremos empregos, a oportunidade de ter um a vida decente e o fim da corrupção. Mas eles m obilizaram pessoas pessoas na Bósnia, Bósnia, país que, nas últimas décadas, veio a simbolizar uma limpeza étnica feroz que levou à morte centenas de milhares de pessoas. Numa das fotos dos protestos, vemos os manifestantes agitando lado a lado três ba b a n d e ir a s - a b ó s n ia , a s é r v ia e a c r o a ta - , e x p r e s s a n d o se u d es e jo d e ig norar diferenças étnicas. Em suma, estamos lidando com uma rebelião contra elites nacionalistas. O povo da Bósnia finalmente entendeu qual é seu verdadeiro inimigo: não outros grupos étnicos, mas suas próprias elites elites nacionalistas nacionalistas que fingem p rotegê-lo dos outros. E com o se o velh o e repetitivo repetitivo lem a de Tito de “irm andade e unidade” das nações iugoslav iugoslavas as agora se tornasse relevante. Um dos alvos dos manifestantes era a administração da União Eu ropeia que supervisiona o Estado bósnio, garantindo a paz entre as três nações e fornecendo importante ajuda financeira, que possibilita o funcio nam ento do Estado. Isso Isso pode ser um a surpresa, surpresa, já que os objetivos objetivos dos manifestantes são nominalmente os mesmos da administração da UE: prosperidade, fim das tensões étnicas e da corrupção. En tretanto, enquan to a adm inistração inistração da UE sim ula agir para superar superar o ódio étnico e promo ver
Problem Problema a no paraí paraíso so
a tolerância multicultural, a forma como efetivamente governa a Bosnia estabelece divisões: a UE trata as elites nacionalistas como parceiros pri vil v il e g ia d o s , co n ci li a n d o - s e c o m elas. ela s. O que o levante na Bosnia confirma é que não se pode realmente su perar as paixões étnicas com a imposição da agenda liberal. O que uniu os manifestantes foi um projeto radical de de justiça. O passo seguinte, m ais complicado, complicado, seri seriaa organizar os protest protestos os com o u m novo m ovim ento social social que ignorasse ignorasse as divisões divisões étnicas étnicas e prom over novas m anifestações anifestações - é pos sível im agina r bosnios e sérvios, sérvios, juntos, protestan do e m Sarajev Sarajevo? o? Mesm o que os protestos protestos percam g radua lmen te sua força, força, continuarão sendo vistos vistos com o urna breve centelha centelha de esperança, esperança, algo com o soldados soldados inimigos con fraternizando en tre as trincheiras trincheiras na Prim eira G uerra M undial. undial. Eventos emancipatórios autênticos sempre envolvem ignorar identidades parti culares com o irrelevantes. irrelevantes. E o m esmo vale para a recente visit visitaa de duas integrantes do grupo Pussy Riot a Nova York; num grande show de gala, elas elas foram foram apresentadas apresentadas por M adon na na presença de de Bob Geldof, Richard Gere e outras celebri celebridades dades - a turm a de sempre dos direitos direitos hum anos. O que elas deveriam fazer ali era apenas uma coisa: expressar solidariedade a Edw ard Snowden, a firmar firmar que ele e o Pussy Riot são são parte parte de um m esmo movimento global. Sem esses gestos, juntando grupos que parecem in compatíveis (muçulmanos, sérvios e croatas na Bosnia; secularistas e mu çulm an os anticapitalistas anticapitalistas na Turquia, e assim por diante) diante),, os m ovim en tos de protesto serão sempre manipulados por uma superpotência em sua luta contra a outra. E o mesmo vale para a Ucrânia. Sim, os manifestantes de Maidan foram heróis, mas a verdadeira luta com eça agora, a luta por a quilo que a no va U crânia será, e essa essa luta luta vai ser m uito m ais dura do q ue a luta contra contra a intervenção de Putin. Putin. U m n ovo heroísm o, m uito m ais arrisc arriscado, ado, se fará fará necessário.56 necessário.56 O m ode lo para isso são são os russos que corajosam ente se opõ em ao nacionali nacionalismo smo de seu país país e o denunciam com o u m instrumento dos que estão no poder. O que se faz necessário aqui é a rejeição dos próprios termos do conflito e a solidariedade de ucranianos e russos. Deve-se começar pela organ ização de eventos de confraternização p or sobre as divisões impostas, impostas,
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estabelecendo estabelecendo redes redes organ izacionais com partilhadas partilhadas entre o cerne emancipatório autêntico dos agentes políticos ucranian os e a oposição russa ao regim e de Putin. Isso Isso pode parecer utópico, utópico, m as só atos “loucos” co m o esse esse pod em levar à emancipação. emancipação. D e outra forma, teremos apenas um conflito conflito de paixões nacionalistas ma nipulado por oligarcas. oligarcas. E sses sses jog os p olíticos olíticos na disputa disputa por esferas esferas de influência influência não têm interesse interesse algu m para a políti política ca emancipatória autêntica.
4. Epignose: J ’ai hâte de vous vous servir! servir!
O
t í t u l o
d o
r o m a n c e
de Julien Gracq, O litoral das Sirtes, Sirtes, se refere à
região do extremo sul de Orsenna, um equivalente ficcional da Itália, onde existem carros, mas não eletricidade, um país governado pela a n t i g a e d e c a d en e n t e c i d ad ad e d e m e s m o n o m e q u e p a r e c e s e r - m a s n ã o é exatamente - V eneza. Q uase todos os personagens do romance têm nomes italianos. Nos últimos trezentos anos, Orsenna tem vivido uma situação de guerra latente com o Farguestão, país desértico e bárbaro do ou tro lado do m ar, ao sul. sul. C om suas duas principais cidades cidades situadas situadas na região costeira e suas intermináveis dunas de areia, o Farguestão se a s s em e m e l h a m u i to t o à Líbia, Líbia, em bora algun s lugares mu dem de posi posição: ção: o monte Etna é deslocado para a Líbia e se torna o Tángri; as ruínas de Sabrata trocam a Líbia pela Itália Itália e se torn torn am Sagra; Sirte va i para a Itáli Itáliaa e se transforma em Sirtes. Aldo, o narrador e protagonista do romance, pertence a uma das famílias governantes de Orsenna. Enviado como o b s e r v a d o r à dilapidada base naval de Sirtes, pertencente a Orsenna, A l d o se r e n d e ao fa s c ín i o d o F a r g u e s t ã o ; a t r a v e s s a a fr o n t e i r a p r o ib id a que atravessa o mar Morto, navegando até a cidade de Rhages, na costa inimiga. Lá, seu navio é recebido com três tiros de canhão. Tendo com esse ato irreparável reacendido a guerra que vai destruir Orsenna, Aldo realiza o gesto suicida pelo qual todo o povo secretamente ansiava: ao retornar de Sirtes a Orsenna, ele descobre que a elite governante está u s a n d o o p r e t e x t o d e u m a g u e r r a c o m o F a r g u e s t ã o p a ra ra e s t i m u l a r o patriotismo nacionalista. Danielo, um dos senhores de Orsenna, explica como as ações de Aldo se mostraram úteis:
Epign Epignos ose: e:J ’ai hâte de vous vous ser servir vir!!
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Quan do se governa, nada é pior do que perd que perder er 0 contr controle ole.. Quando a Coisa veio a mim, foi uma estranha descoberta perceber que essa essa era a única form a de manter o controle sobre Orsenna. Tudo aquilo que mais uma vez se concen trava em Sirtes, tudo que conduziu ao renascimento do seu ... episódio fez os velh ve lhos os inst in stru rum m ento en to s gira gi ra rem re m com co m fant fa ntas asm m agór ag óric icaa facili fa cilida dade, de, tudo tu do que dei dei xou de lhe preocupar chocou-se com uma muralha de inércia e indiferença. A Co isa is a tiro ti ro u va n tage ta ge m de toda to dass as pos p ossib sibili ilida dade dess - os gest ge stos os de acelerá-l acele rá-laa e os gestos de lhe reduzir a velocidade -, como um homem deslizando pelo declive de um telhado. telhado. Um a vez feita a pergunta - como posso lhe apresentar apresentar isso? -, tudo foi mobilizado de acordo.1 ( O b s e r v em em c o m o a p ri ri m e i r a s e n te te n ç a - " Q u a n d o s e g o v e r n a , n a d a é pior do que perd pe rder er 0 cont co ntrol role” e” - parece a advertência advertência de Mao ao poder revolucionário: revolucionário: “Acim a de tudo, m antenha m o pod er [do [do Estado Estado], ], jama is perm itam que o pod er [do [do Estad Estado] o] escape escape às suas suas m ão s” ) Entretanto, além da óbvia observação de que G racq descreve descreve o retrocesso de Orsenna em direção ao fascismo fascismo (evocando um a am eaça externa para criar criar um estado estado de emergência, e assim por diante), deveríamos discernir aqui um dilema existencial mais profundo: o que é m ais desejável, desejável, um a vida serena, serena, inerte, de pequenas satisfações, de forma alguma uma vida real, ou correr um risco que pode muito bem levar a uma catástrofe? Essa escolha é o cerne daquilo daquilo que Badiou pretende atingir com sua fórmula mieux mie ux vaut un désast désastre re qu’un désêtre: désêtre: antes um desastre (o resultado catastrófico de um evento) do que um a sobrevivência sobrevivência desimportante desimportante num universo hedonista-ut hedonista-util ilit itário ário ou, em termos políticos brutais, antes o pior do stalinismo do que o melhor do Estado de bem-estar social liberal-capitalista. Por quê? Uma vez que, hoje em dia, o capitalismo define e estrutura a totali dade da civilização civilização hum ana, todo territóri territórioo “comunista” foi e é - um a vez mais, a despeito de seus horrores e fracassos fracassos - um a espécie de “território libertad o”, com o disse Fredric Jam eson a propó sito de Cuba . O que esta mos tratando tratando aqui é da velha noção estrutural da brecha entre o Espaço Espaço e o conteúdo positivo que o preenche. Embora, no que dizia respeito a seu conteúdo positivo, positivo, os regimes comun istas istas constituíssem constituíssem u m doloroso doloroso
Proble Problema ma no paraíso paraíso
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fracasso, fonte de terror e miséria, ao mesmo tempo eles abriram certo espaço, o espaço das expectativas utópicas, que entre outras coisas nos perm itiu itiu m ensura r o fracasso fracasso do próprio "socialismo "socialismo de fato fato existente”. (O que os dissidentes anticomunistas via de regra tendem a subestimar é que o próprio espaço a partir do qual eles mesmos criticavam e denuncia va v a m o te r ro r e a m is é r ia c o tid ti d ia n o s fo i a b e rt o e su st e n ta d o p el a a sce sc e n sã o do comunismo, por sua tentativa de escapar à lógica do capital.) É assim que devem os entender o mieux vaut un désastre qu’un désêtre de désêtre de Badiou, Badiou, um a ideia tão chocante para as sensibilidades liberais; antes o pior terror stalinista do que a d em ocracia capitali capitalista sta mais liberal. liberal. Evidentemente, quando se compara o conteúdo positivo de ambos, a democracia capitalista orien tada para o Estado Estado de bem-estar social é incomparavelm ente melhor, m as o que redime o "totalitarismo” stalinista stalinista é o aspecto formal, o espaço que espaço que ele abre abre.. Pode-se im im aginar um ponto utópico em que esse esse nível subterrâneo subterrâneo do Outro Espaço utópico se una ao espaço positivo da vida social "nor m al” ? A questão-chave do ponto de vista político político é: é: haveria ainda em nossa nossa era "pós-mo derna” espaço para tais comunidades? Estariam estas limitadas às periferias subdesenvolvidas (favelas, guetos) ou será que o espaço para elas elas está surgindo no pró prio núcleo da paisa gem “pós-industrial” ? Pode-se fazer a aposta aposta cega de que a dinâmica do capitalismo "pós-mod erno”, com a ascensão de novas e excêntricas comunidades de geeks, geeks, está oferecendo aqui um a no va chance? chance? Q ue, ta lvez pela primeira vez na históri história, a, a lógica lógica das comunidades alternativas possa ser implantada no último estágio da tecnologia? Mas talvez não seja seja suficiente suficiente dizer ist isto. o. Prim eiro, o ex emplo de Gracq não seria equivocado? O não ser hedonista-decadente da sociedade de Orsenna tem uma falsa aparência devido a um viés de classe que obscurece os antagonismos sociais sociais subjacent subjacentes es - um obscurecimento levado adiante adiante pelo pseudoeven to da gue rra com o Farguestão.2 Assim , há três termo termo s e não dois: dois: o even to (que (que pod e term inar e m desast desastre) re),, o pseu doeve nto (o fascismo ou, nesse caso, a guerra) e a biopolítica hedon ista-utilitária ista-utilitária do não ser que regula a vida animal-humana.3A dificuldade hoje é como distin gu ir o primeiro do segundo, já que frequentemente com partilham partilham muitas
Epign Epignos ose: e:J ’ai hâte de vous vous ser servi vir! r!
caracter característ ística icas. s. Em suma, m esmo que concordemos com a fórmula mieux vaut un u n désastre qu ’un désêtre, désêtre, que dizer de mie ux vaut un pseudo-évenement pseudo-évenement qu’un désêtre? désêtre? Um “evento” fascista também seria melhor que uma sobre viv v iv ê n c ia c a p ita it a list li st a se m im p o rt â n cia ci a ?
De volta à Economia do Presente Em princípio, a resposta pode parecer simples. Toda situação histórica contém sua própria própria e singular perspectiva perspectiva utópica, utópica, um a visão im anente do que está está errado com ela, ela, um a representação representação ideal ideal de de como, com algumas mudanças, ela pode m elhorar muito. muito. Q uand o surge o desejo desejo de mudança social radical, é lógico, portanto, que os primeiros esforços sejam para concretizar essa visão utópica imanen te - e esse esforç esforçoo é o que caracteriza toda luta emancipatória autêntica. Aqui, porém, começam os problemas: por que, até agora, todas as tentativas de fazer isso, de concretizar o po tencial utópico imanente a uma situação histórica, têm terminado em catástrofe? É nesse nesse nível que deveríamos tam bém discernir discernir um erro de Marx. Ele percebeu o modo como o capitalismo desencadeou a dinâmica impres sionante da da produtividade autom otivadora - pode-se testemunhá -lo em suas fascinadas descrições de como, no capitalismo, “tudo que é sólido desmancha no ar”, de como o capitalismo capitalismo é o m aior reform reform ador de toda a história história da da human idade. Ele também percebeu claramen te que essa di nâm ica capitali capitalista sta é propelida propelida por seu próprio ob stáculo ou antagonismo interno; que o derradeiro limite do capitalismo (de sua produtividade autopropulsora) propulsora) é o próprio próprio capital capital - o desenvo lvim lvim ento e a transforma transforma ção in cessantes das condições materiais do próprio capitalismo, a dança louca de sua espiral espiral de prod utividade incondicional. O capital não está, em últim a instância, envolvido em coisa alguma a não ser numa fuga desesperada na tentativa de escapar a sua própria e inerente contradição debilitante. O erro fundamental de Marx foi concluir a partir dessas ideias que fosse possível um a nova e mais elevada ordem social (o (o comunismo), a qual não
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apenas manteria, mas elevaria a um grau maior e, com efeito, liberaria totalmen te o poten cial da espiral espiral de de produtividade autoacum uladora que, no capitalismo capitalismo - em fun ção de seu obstáculo (contr (contradiç adição) ão) inerente inerente -, é repetidamente red uzido por crises crises econôm icas socialmente destruti destrutivas. vas. Em suma, o que M arx negligenciou, negligenciou, usando a terminologia-padrão terminologia-padrão de Derrida, foi que esse obstáculo/antagonismo inerente como a "condi ção de impossibilidade” do pleno emprego das forças produtivas é simul taneam ente sua “cond ição de possibili possibilidade”: dade”: se abolimos o obstáculo, a contradição contradição inerente do capitalismo, capitalismo, não o btemos o im pulso plenamente liberado da produtividade finalmen te livre livre de seu imp edime nto, perdem os precisamente essa produtividade que parecia ser ser gerada e ao m esm o tem po limitada pelo capitalismo. Se afastamos o obstáculo, o próprio potencial por ele limitado se dissipa (aí reside a crítica de Lacan a Marx, que se con centra na superposição ambígua de mais-valia e mais-gozar). Assim, os críticos críticos do do com unism o estavam de certa form a corretos ao afirma afirma r que o com unism o m arxista é um a fantasi fantasiaa impossível impossível.. O que não perceberam é que o co mu nismo marxista, essa essa noção de um a sociedade de de produtividade produtividade pura, liberada, liberada, fora da m oldura do capital capital,, era um a fantasia fantasia inerente ao próprio capitalismo, capitalismo, a inerente transgressão capitalista capitalista em sua form form a m ais pura, uma fantasia estritamente ideológica de manter a pressão sobre a produtividade gerada pelo capitali capitalismo, smo, livrando-se ao mesm o tem po dos "obstáculos "obstáculos”” e an tagonismos que eram - com o demonstra a trist tristee experiên cia do “capitalis “capitalismo mo de fato fato existente” existente” - o ún ico a rcabouço possível para para a existênci existênciaa m aterial aterial efetiva efetiva de u m a sociedade sociedade caracterizada caracterizada por um a produ tividade permanentemente autoacumuladora. É por isso que uma revolu ção deve ser repetida: repetida: só a experiência catastrófica catastrófica pode to rnar co nsciente o agente revo lucionário das lim lim itações fatais fatais da prim eira tentativa. tentativa. M arx (sobretudo (sobretudo nos textos que escreve u na juventude) fornece a fórmu la básica básica da ilusão ilusão em que essa essa limitação fatal se se baseia, baseia, num a série de teses teses do tipo “em ve z de”: sua linha linha de raciocínio (por veze s explíci explícita) ta) começa com “em v e z d e ” (o q u e r e p r e s e n t a o e s ta d o s u p o s t a m e n t e “ n o r m a l ” d a s co isa is a s), s) , prosseguindo para descrever a inversão alienada desse estado “normal”. Eis Eis um a longa passagem de seus seus Manu Ma nuscr scrito itoss económico-filo económ ico-filosóficos, sóficos, de 1844:
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A tal ta l po nto nt o apar ap arece ece a r ea liza li za çã o do trab tr abal alho ho com co m o desr de srea ealiz lizaç ação ão do trab tr aba a lhador que este é desrealizado até chegar a morrer de fome. A a prop pr op riaç ri ação ão do ob jeto je to ap arec ar ecee em ta l m ed ida id a com co m o a lie n aç ão que, qu e, quanto mais objetos produz o trabalhador, tanto menos consegue possuir e tanto mais submetido fica à dominação de seu produto, quer dizer, do capital. capital. Todas essas consequências estão implícitas na afirmação de que o traba lhador se relaciona com o produto produto do trab trabalh alhoo como um objeto estranho. estranho. Pois a partir dessa dessa premissa fica fica claro que, quanto mais o trabalhador se entrega, mais poderoso se torna o estranho mundo dos objetos que ele cria sobre e contra si mesm o, quan to mais pobre se torna sua vida interior, interior, tanto m enos ele se pertence a si próprio. O mesmo se dá com a religião. Quanto mais o homem dá a Deus, menos retém para si. O trabalhador coloca sua vida no objeto; mas agora sua vida não mais pertence a si, mas ao objeto. Assim, quanto ma ior sua atividade, atividade, mais o trabalhador carece de objetos. objetos. Q ualquer que seja o produto de seu trabalho, ele não é. Portanto, quanto maior o produto, m enor é ele própri próprio. o. (Segundo as leis econômicas, o estranhamento do trabalhador frente a seu objeto assim se expressa: quanto mais ele produz, menos tem para consumir; quanto mais valores cria, mais desvalorizado, m ais degradado se torna ele; ele; quanto m ais refinado é o seu produto, m ais deformado se torna o trabalhador; trabalhador; quanto mais civiliza do é o seu objeto, objeto, mais bárbaro se torna o tra balha ba lhado dor; r; quan qu anto to m ais po dero de roso so é o seu tra balh ba lho, o, mais ma is im pote po tent ntee se torn to rnaa o trabalhador; quanto mais engenhoso é o seu trabalho, menos engenhoso e mais escravo da natureza se torna o trabalhador.) Em resultado, portanto, o hom em (o trabalhador) trabalhador) só se sente sente livremente ativo em suas funçõe s animais - comer, beber, procriar, ou no máx imo em ter habitação e vestir-se vestir-se etc.; etc.; e em suas funções hum anas só se sente sente com o animal. O que é animal se se torna humano e o que é hum ano se torna animal.4 Seria Seria fácil reconstru ir essa essa frase frase na formu lação “em ve z de”: em v ez de ser a realização do trabalhador, trabalhador, o trabalho aparece com o a perda dessa rea lização; lização; em v ez de aparecer com o o que é, a apropriação apropriação do objeto por meio do trabalho aparece aparece com o seu estranhamento; em vez de possuir mais
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daquilo que produz quanto m ais produz, o trabalhador trabalhador possui possui menos; menos; em v e z d e ci v iliz il iz a r- se m e d ia n te a pr p r o d u çã o d e o bje bj e to s c iv iliz il iz a d o s, q u a n to m ais ai s civilizad o o objeto, mais bárbaro se torna o trabalhador, e assim por diante. O desejo desejo de con cretizar esse esse estado estado "norm al” é ideologia ideologia em sua mais pura forma e não pode resultar senão em catástrofe. Uma forma que esse reverso catastrófico pode assum ir é a inesperada inesperada interpretação prática do ideal com unista que transforma sua concretização num pesadelo pesadelo.. Du rante o Grande Salto para a Frente do final da década de 1950, os comunistas chineses resolveram que a Ch ina d everia ultrapassar ultrapassar o socialismo e entrar diretamente no comun ismo. Referiam-se Referiam-se à famosa fórmula do comu nismo elaborada elaborada por Marx: “D e cada um conform e suas capac capacida idades des,, a cada um con form e suas necessid necessidades!” ades!” O p roblem a era a leitura que se fez dela a fim de legitim legitim ar a militarização to tal da vida em com unas agrícolas: agrícolas: o quadro do Partido que coman da um a com una sabe o que cada cada agricultor é capaz de fazer, de modo que estabelece o plano e especifica as obrigações dos indivíduos segundo suas capacidades, e também sabe do que os agriculto res realmente necessitam para sobreviver, e de acordo com isso organiza a distribuição distribuição de co mida e outros itens necessários necessários para sustentar a vida. vida. A condição de pobreza extrem a m ilitarizada ilitarizada torna-se torna-se,, assim, assim, a concretização concretização do comunismo, e, é claro, não é suficiente afirmar que essa leitura falsifica um a ideia ideia nobre nobre - em v ez diss disso, o, deveríamos dizer que ela ja z adormecida no com unismo com o um a possi possibil bilida idade. de. Ass A ss im , u m a v e z m ais, ai s, c o m o p o d e m o s sair sa ir de ssa ss a ar m a d ilh il h a, se d e ve m o s renunciar à expectativa de um a Grand e Ruptura que venh a con cretizar a tendência central de nossa época e produzir o reverso do que sonhamos? Um cam inho p ossível é o delineado delineado po r Kojin Karatani, cuja cuja premissa premissa bá b á s ic a é o u s o de m o d o s d e t r o c a (em (e m v e z de m o d o s de p r o d u ç ã o , c o m o no m arxismo) arxismo) com o ferramenta para analisar a história história da hum anidade.5 Karatani distingue quadro m odos de troca progressivos: progressivos: A) troca troca de pre sentes, sentes, que pred om ina em sociedades pré-est pré-estatais atais (cl (clãs ãs ou tribos trocan do presen presentes tes); ); B) B) dom inação e proteção, q ue predo m ina em sociedades escra vis v is ta s e fe u d a is (aqu (a qui,i, a e x p lo r a ç ã o se b a se ia n a d o m in a ç ã o d ir et a , c o m a class classee dom inante tendo algo a oferecer em troca - por exemplo, proteger
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seus súditos súditos do perigo; C) troca m aterial de objetos, objetos, que predo m ina no capitalismo (indivíduos livres trocam não apenas seus produtos, mas tam b é m su a p r ó p r ia fo r ç a d e tr a b a lh o ); X) u m o u t r o e s tá g io v i n d o u r o , u m retorno à troca de presentes num nível mais elevado. Esse X é uma ideia reguladora kantiana, uma visão que tem assumido diferentes disfarces na história da humanidade, de comunidades religiosas igualitárias baseadas na solidariedade comunal a cooperativas anarquistas e projetos comunis tas. Karatani introduz duas outras complicações: 1) Há uma ruptura fun damental, a chamada “revolução sedentária”, que tem lugar em antigas sociedades pré-estatais: a passagem de grupos nômades de caçadores-coletores a grupos permanentemente estabelecidos organizados em tribos ou clãs. No nível da troca, passamos do presente “puro” à complexa rede de presentes e contrapresentes. contrapresentes. Essa distinção é crucial porqu e a passa gem vindou ra para X vai produzir, produzir, n um nível mais elevado, elevado, o retorno do modo de existência social característico dos nômades; 2) Na passagem de A p a ra B e a ss im p o r d ia n te , o e s tá g io a n te r io r n ã o d e sa p a re ce ; e m b o r a seja seja "reprimido”, o reprimido reprimido retorna sob nova forma. Co m a passagem de A para B, a troca de presentes presentes sobrevive com o o espírito religioso religioso da conciliação e da solidariedade; com a passagem de B para C, A sobrevive com o nação, comu nidade nacional, nacional, e B (dominação (dominação)) sobrevive com o poder de Estado. Por essa razão, o capitalismo não é para Karatani um domínio “puro ” de B, mas um a tríade tríade (ou melhor, um nó borrom eano) constituída constituída por Nação-Estado-Capital; a nação com o a form a de solidariedade solidariedade comunal, o Estado como a forma de dominação direta, o capital como a forma de intercâmbio econômico. Todos os três são necessários para a reprodução da sociedade capitalista. Os casos exemplares desse "retorno do reprimido” são as comunidades religiosas milenaristas radicais que encontramos na cristandade (Canu dos no Brasil, por exemplo) e no islã (Alamut, por exemplo). Não admira que, tão logo uma religião se estabeleça como instituição ideológica legiti man do as relações relações de p oder existentes, existentes, ela precise precise lutar contra seu próprio excesso endógeno. A Igreja cristã enfrentou um problema comum do sé culo IV em diante, quando se tornou a religião do Estado: como conciliar
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a sociedade de classes feudal, em que os senhores ricos governavam cam poneses em pobrecidos, co m a po breza igua litária dos coletivos de crentes crentes descritos nos Evangelhos? A solução de Tom ás de Aq uin o é que, embora, em princípi princípio, o, a propriedade propriedade co m um seja seja melhor, isso só vale para human os perfeitos; perfeitos; para a m aioria de nós, que vivem os no pecado, a propriedade privada e a diferença de riquezas riquezas são naturais, e é até até pecam inoso exigir a abolição abolição da propriedade propriedade privada ou pro m over o igualitarism igualitarism o em nossas nossas sociedades decaídas, ou seja seja,, ex igir para pessoas imperfeitas o que só vale para as perfeitas. Essa é a contradição im ane nte qu e está no cerne da identi dade eclesiástica, eclesiástica, tor nan do a Igreja Igreja estabelecida a principal força anticristã de nossos dias dias.. O núcleo subversivo da ex periência religiosa autêntica não aponta para a noção marxista padrão de uma ilusória unidade religiosa mascarando divisões reais, mas para algo muito mais forte: o alicerce de uma nova forma verdadeira de vida em sociedade. Talvez devêssemos reabilitar a ideia ideia de Heid egge r de que “só um deus pod e nos salvar" - não, evidentemente, que um deus que agora reside em algum lugar no além vá v á d e c id ir i n t e r v i r , m a s n o s e n ti d o d e q u e a lg o c o m o u m e n g a ja m e n to religioso religioso adequado possa voltar a acontecer - “deus acontece”, quase no m esm o sentido sentido de "coisas "coisas ruins acontecem”. Ta lvez devêssemos tam bém revisar a antiga lógica da D M A (Destruição (Destruição M utuam ente Assegurada) Assegurada) que nos ajudou a sobreviver na Guerra Fria: hoje em dia, não é mais que não possa possa haver um a guerra global a menos que ocorra um acidente inesperado, e sim que estamos condenados à catástrofe a menos que ocorra um milagre imprevisto que possa nos salvar. salvar. Não Não foi Nietzsche, o grande crítico da religião, que brincou co m a ideia ideia de um m ilagre com o esse esse?? Via de regra, ignoraignorase o modo como as comemorações da guerra e da luta selvagem como o único cam inho em direção direção à grandeza do homem , segundo N ietzsche, ietzsche, são são acompanhadas por um fluxo contínuo de declarações “pacifistas”, sendo a mais famosa famosa o apelo a um a “ deposição deposição de espadas” espadas” - o apelo a um ato ato político verdadeiramente autêntico. E talvez chegue o grand e dia em que um povo, celebr celebrado ado por guerras e vitó rias e pelo mais elevado desenvolvimento de uma ordem e uma inteligência
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militares, e acostumado a fazer os piores sacrifícios por essas coisas, venha a exclamar por vontade própria: "Estamos depondo a espada”, e destrua desde os alicerces todas as suas instalações militares. Desarmar-se quando se teve o melh or armam ento, em fun ção de sentimentos elevados - esse é o caminho que leva à verdadeira paz, a qual deve sempre basear-se na paz de espírito; enquanto a chamada paz armada, que agora existe em todos os países, países, é a ausência da paz de espírito. espírito. Não se confia nem em si mesm o nem no próximo, e, um pouco por ódio, um pouco por medo, não se depõem as armas. Melhor perecer do que odiar e temer, e duas vezes melhor perecer do que se se fazer odiado e temido - essa essa deve ser ser também , um dia, dia, a máx ima maior de toda comunidade.6 Essa Essa linha linha de pensamento culm ina num a observação observação de Nietzsche em 1883: "Dominar? Impor a outros minha marca? Revoltante! Minha sorte não está precisamente em contemplar muitos outros?”7 E deveríamos imaginar uma série de presentes semelhantes: e se o Brasil renunciasse à destruição destruição da floresta floresta am azônica com o presente à hum anidade, e se a M i croso ft renunciasse renunciasse aos direitos de propriedade sobre seus softwares, e as sim por diante? diante? Tais presentes não seriam interpretados com o "ajuda” "ajuda” aos subdesenvolvidos e pobres ou qualquer ou tro tipo de justiça redistribut redistributiva: iva: a ajuda serve para gerar mais acumulação de capital nos países avançados. Nisso, a ajuda se parece com as políticas domésticas de bem-estar social nesses países: em ambos os casos, a redistribuição funciona simplesmente como outro elo no processo de acumulação capitalista. Longe de eliminar a desigualdade, a justiça redistribu tiva na verdade faz com que esta prolifere.8 Mas essa visão de u m a sociedade baseada na troca de presentes presentes não seria uma utopia sem chance de sucesso na vida real? Aqui as coisas são mais ambíguas e abertas: sinais que apontam para uma nova economia da troca de presentes são abundantes em nossas sociedades.9 sociedades.9 Por exemplo, o que é estranho em relação à tentativa de Peter Sloterdijk de defender (como solução para o que se é tentado a cha m ar de "antinom ias do Estado
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de bem -estar social) social) um a “ética do presen te” 10 para além da mera troca de mercad o ego ísta e possessiva é que ela nos leva inesperada m ente a nos aproximarm os da visão com unista. Sloterdij Sloterdijkk é guiado pela lição lição elem entar da dialéti dialética: ca: por ve zes a oposição entre m anter as coisas coisas do jeito antigo e mudá-las não cobre todo o campo, ou seja, por vezes a única forma de m anter o que vale a pena perm anecer da form form a antiga é intervir e mudar radicalmen te as cois coisas. as. Se algué m deseja deseja hoje preservar o cerne do Estado de bem-estar social, social, d eve precisamente abandonar qu alquer nostalgia pela pela social-dem social-dem ocracia do século XX. O que Sloterdijk Sloterdijk prop õe é um a espécie de nova revolução cultural, uma mudança psicossocial radical baseada na comp reensão de que atualmen te o estrato estrato produtivo explorado não é mais a classe trabalhadora, mas a classe média (alta): seus membros são os ver dadeiros “doadores” cujos pesados impostos financiam a educação, a saúde etc. da maioria. Para re alizar essa m udan ça, seria preciso d eixar para trás o estadismo, estadismo, esse remanescente absolutista absolutista que, estranham ente, sobre viveu em nossa era democrática: a ideia, surpreendentemente poderosa mesmo entre a esquerda tradicional, tradicional, de que o Estado tem o direito inquestionável de tributar seus cidadãos, determinar e apreender (mediante a coerção legal, se necessário) parte de seu produto. Não é que os cidadãos deem parte de sua renda ao Estado; são são tratados com o se estivessem apriori e e m dívida com este. este. Essa atitude atitude é sustentada sustentada por um a premissa m isantrópica que é mais forte na própria esquerda esquerda que, em outras circunstâncias, prega a solidariedade: solidariedade: as pessoas pessoas são basicamen te egoístas; deve m ser forçadas forçadas a contribuir contribuir com algu m a coisa coisa pelo bem-estar com um , e só o Estado, Estado, m e diante seu aparato de coerção legal, pode realizar a tarefa de assegurar a solidariedade e a redistribuição necessárias. Deveríamos aprender, prossegue Sloterdijk, a tratar aqueles que são os produtores produtores da riqueza riqueza não com o um grupo suspei suspeito to apriori de de se recusar a paga r sua sua dívida com a sociedade, sociedade, mas com o os verdadeiros doadores cuja contribuição deveria ser plenam ente reconhecida, de mod o que eles pudes sem ter orgu lho de sua generosidade. Esse prim eiro passo é a m udan ça do proletariado para o voluntariado: voluntariado: em v ez de taxar excessivamen te os rico ricos, s, deveríam os lhes conceder o direito (legal (legal)) de decidir volun tariam ente que
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parte de sua riqueza riqueza vão doar pelo bem-estar comum . Para com eçar, não não se deve, é claro, reduzir radicalmente os impostos, mas abrir pelo menos uma pequena área em que os doadores tenham a liberdade de decidir quanto e para o que vão doar. Esse início, modesto como seja, mudaria gradualmente toda a ética em que se baseia a coesão social. Não estaría m os enredados aqui no velho paradoxo de escolher escolher livrem livrem ente aquilo aquilo que de toda forma somos obrigados a fazer? Ou seja, a liberdade de escolha concedida ao “voluntariado” dos “empreendedores” não seria uma falsa liberdade baseada numa opção forçada? Para que a sociedade funcione normalmente, os “empreendedores” seriam livres para escolher (dar di nh eiro a um a socieda de o u não) apenas se fizessem a escolha certa (dá(dá-llo)? Há um a série série de problemas problemas nessa idei ideia, a, m as a resposta resposta fund am ental a Sloterdijk deveria ser: por que ele proclama a generosidade apenas den tro dos limites do capitalismo, que é a ordem da competição possessiva? Dentro desses limites, toda generosidade é a priori reduzida ao reverso dessa dessa possessi possessividade vidade brutal, brutal, u m Dr. Jekyll benevolente para um Mr. Hyde capital capitalis ista. ta. Basta lembrar aqui o primeiro m odelo de generosidade m encio nado por Sloter Sloterdij dijk: k: Carn egie, o hom em de aço com um coração de ouro, ouro, como dizem. Primeiro, Carnegie usou detetives da agência Pinkerton e um exército privado para esm agar a resistênci resistênciaa dos trabalhadores, e então então m ostro u generosidade de volvendo (parcialmente) (parcialmente) o que havia (não (não criado, criado, mas) tomado. M esm o em relação relação a Bill Gates, com o se pod e esquecer suas suas táticas táticas brutais brutais para esm agar concorrentes concorrentes e g anh ar o m ono pólio (tát (tátic icas as que fizeram as autori autoridades dades am ericanas ericanas abrirem u m a m ultipli ultiplicidade cidade de processos con tra a Microsoft Microsoft)? )? A q uestão-chave, po rtanto, é: não há lugar para a generosidad e fora do arca bouço capital capitalist ista? a? Será que cada um desses desses projetos é um exemplo de ideologia sentimental moralista? A s a r m a d ilh il h a s de im a g in a r u m a p o ss ív e l m u d a n ç a são sã o c la ra m e n te p e r ceptíveis em O capital no século XXI, XXI, de Thomas Piketty,11 uma espécie de contraponto "realista” às especulações de Sloterdijk, resultado de mais de um a década de pesquisa sobre sobre m udanças históricas na concentração de renda e riqueza. N os séculos XVIII e XIX, XIX, a sociedade da Europa ociden tal era altamente desigual: a riqueza privada apequenava a renda nacional e
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se concentrava nas mãos das famílias ricas dentro de uma rígida estru tura de class classes. es. Essa situação perm aneceu , ainda qu e a indu indu strialização strialização lentamente contribuísse para aumentar os salários dos trabalhadores, e a tendência a um aumento da desigualdade só foi revertida entre 1930 e 1975, graças a um a série de circunstâncias circunstâncias singulares. As duas guerras m undiais, a Grande D epressão, epressão, assim com o a ascensão dos Estados Estados comunistas, es timu laram governo s de Estados Estados capitali capitalistas stas desenvolvidos desenvolvidos a implem entar medidas voltadas à redistribuição da renda. (Observem a peculiaridade desse desse fat fato: o: o igualitarismo e o bem -estar universal foram condicionados condicionados pelas inima giná veis catástrofes das guerr as m undiais e da crise. crise.)) A par tir de de 1975 1975,, e em especial após a queda do co m unism o, a tendên cia à desigualdade reapareceu; se o sistema capitalista capitalista global puder segu ir sua lógica lógica im anente, Pike tty prevê um m undo de baixo baixo crescimento crescimento econômico, rejei rejeitando tando a ideia ideia de que surtos de avanço tecnológico levem o crescimento de volta aos aos níveis do século XX. Só uma forte intervenção política pode contra-atacar a desigualdade desigualdade explosiva explosiva - Pike tty propõe um imposto globa l anual de de até 2%, com binado com um imp osto de renda progressivo de até 80%. 80%. Surge aqui um a pergun ta óbvia: óbvia: se a lógica im im anente do capitali capitalismo smo o em purra em direção ao crescimento da desigualdade e a um enfraquecimento da democracia, por que nosso objetivo não é superar o próprio capitalismo? Para Piketty, o problema é o fato não menos óbvio de que as alternativas do século XX ao capitalismo não funcionaram: o capitalismo deve ser aceito como a única opção. A única solução viável é, assim, permitir que a máq uina capitalist capitalistaa faça seu seu trabalho em sua esfera esfera própria própria e im por po liticamente a justiça igualitária por meio de um poder democrático que regule o sistema econômico e implemente a redistribuição. Não se deve aqui subestimar Piketty: de m aneira tipicamente francesa, francesa, a ingenuidade (da (da qual ele tem plena consciência) consciência) de sua propos ta é parte d e sua estratégia de pintar pintar um quadro deprim ente de nossa situação situação - eis a solução óbvia, e todos sabemos que isso não pode acontecer... Embora essa solução seja superficialmente oposta à Sloterdijk, elas com partilham um a premissa implíc implícita ita:: a máqu ina capitali capitalista sta deve ser ser m an tida, tida, já que é a única form a eficiente de pro du zir riqueza, e a desigualdade desigualdade
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deve ser corrigida pela redistribuição da rique za aos desprivilegiados. desprivilegiados. E m v e z d e tr a n s fo r m a r o m o d o de p r o d u ç ã o ca p ita it a list li st a , d e v e m o s n o s li m it a r a uma mudança na distribuição. E as duas soluções são, por esse motivo, utópicas utópicas no sentido sentido exato do termo. P iketty está consciente consciente de que o m o delo delo que propõ e só funcionaria se im im plementado globalm ente, além das das fronteiras dos Estados-naç Estados-nação ão (de outro m odo o capital fugiria fugiria para E sta dos com menores impostos impostos); ); essa essa medida de alcance global pressupõe pressupõe u m pod er globa l já existente dotado de força e autoridade para implementá-la. implementá-la. Entretanto esse poder global é inimaginável dentro dos limites do capi talismo talismo global de hoje e dos m ecanism os políticos políticos que ele implica - em sum a, se tal pode r existisse, existisse, o problema básico já teria sido resolvido. resolvido. Podemos assim repetir, repetir, a propósito dessa noçã o de pod er global, o m esm o q ue disse Freud sobre a psicanálise: numa situação em que as condições para a prá tica psicanalítica psicanalítica tivessem sido sido alcançadas em sua plenitude, a psicanálise não seria seria m ais necessária. necessária. É neste ponto que deveríam os analisar o sistema sistema capitalist capitalistaa com o um a totalidade constituída totalidade constituída de elos elos interdependentes interdependentes e, e, ao exam inar um a m edida, concentrar-nos sempre no que constituem seus pressupostos e implicações: em que condições é possível imaginar as medidas propostas por Piketty? D e que outras m edidas iria iria necessi necessitar tar a im im posição global de altos altos imp os tos po r ele proposta? Evidentem ente, a ún ica saída desse desse círculo vicio so é simplesmente cortar o nó g órdio e agir. agir. N unca há condições perfeitas perfeitas para um a ação - toda ação, ação, por definição, definição, chega cedo demais; demais; é preciso preciso com e çar de algum lugar, com uma intervenção particular, e ter em mente as outras complicações que essa ação irá acarretar. Em outras palavras, o que é verdadeiramente utópico é imag inar o capitalismo capitalismo global com o atual mente o conh ecemos, ainda funcionando funcionando da forma com o funciona, mas com os altos altos im im postos propostos por Piketty. Talvez, então, haja haj a algum a ve v e r d a d e n a s id e ia s d e S lo te r d ijk ij k , e d e v e r ía m o s i m a g i n a r u m a m u d a n ç a mais radical radical,, um m ovim ento rum o a um a econom ia de troca de presen presente tes. s. Co m frequência frequência ouvim os que a visão visão com unista se se baseia baseia num a perigosa perigosa idealização idealização dos seres seres humanos, atribuindo-l atribuindo-lhes hes um a espécie de “bon dade natural” que é simplesmente estranha a nossa natureza (egoísta e assim
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por diante) diante).. E m seu livro Motiv Mo tivaçã açãoo 3.0,12 3.0,12 contudo, Daniel Pink refere-se a um corpo de pesquisa pesquisa em ciênci ciências as comportam entais que sugere que, pelo meno s algum as vezes, incentivos externos (recompensa financei financeira) ra) pod em ser contraproducentes: o desempenho ótimo é obtido quando as pessoas encontram um signif significado icado intrínseco intrínseco em seu trabal trabalho. ho. Incentivos Incentivos pode m ser úteis para estimular as pessoas a realizar tarefas rotineiras entediantes; quando se trata de tarefas mais exigentes do ponto de vista intelectual, o sucesso sucesso de indivíduos e organ izações depende cada ve z m ais de engenhosiengenhosidade e inovação, de m odo que há um a necessidade crescente de as pessoas pessoas encon trarem um valor intrínseco em seu trabalho. Pin k identifi identifica ca três três ele mentos que enfatizam essa essa motivação intrínseca intrínseca:: auton om ia - a capaci capacidade dade de escolher as tarefas a serem concluídas e o m odo de fazê-las fazê-las - perícia - o processo de se torna r apto a um a atividade atividade
e propó sito - o desejo desejo de
m elhora r o mundo. Eis o relato relato de Pin k de um estudo realizado pelo MIT: Eles chamaram um grupo de alunos e lhes apresentaram um conjunto de desafios. desafios. Coisas como me mo rizar séries séries de dígitos, resolver quebra-cabeças quebra-cabeças,, outros tipos de enigmas espaciais, e até mesmo tarefas físicas como lançar uma bola através de um arco. Para incentivar seu desempenho, ofereceramlhes três níveis de recompensa: se você se saísse suficientemente bem, ga nhava uma pequena recompensa monetária; se tivesse um desempenho médio, ganhava uma recompensa monetária monetária média; média; e se fosse realm ente bem, conseguindo ficar entre os de melhor desempenho, recebia um grande prêmio em dinheiro. Eis o que descobriram. Se a tarefa envolvesse unica mente habilidades habilidades mecânicas, o bônus funcion ava com o esperad esperado: o: quanto maior a recompensa, melhor o desempenho. Mas quando a tarefa exigia habilidades cognitivas, ainda que rudimentares, um prêmio maior levava a um desempenho inferior. Como isso é possível? Essa conclusão parece contrariar o que muitos de nós aprendemos em economia, que, quanto maior a recompensa, melhor o desempenho. E eles estão dizendo que, quando você consegue desenvolver habilidades cognitivas acima do rudi mentar, o que oco rre é exatam ente o o posto, o que faz co m que a ideia ideia de que essas recompensas não funcionam dessa maneira pareça vagamente
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de esquerda esquerda e socialista, socialista, não é mesmo? É como um a estranha conspiração socialista. Para aqueles de vocês que cultivam essas teorias conspiratórias, quero assinalar que um grupo notoriamente esquerdista e socialista finan ciou a pesquis pesquisa: a: o Federal Reserve Bank. T alvez esse esse prêmio de cinquenta ou sessenta dólares não seja motivação suficiente para um aluno do MIT - de modo que eles eles foram para Madurai, Madurai, na índia rural, onde uma quantia como essa constitui uma soma significativa de dinheiro. Eles replicaram o experimento na índia e o que aconteceu foi que as pessoas às quais se ofereceu uma recompensa média não se saíram melhor do que aquelas a que se prometeu um prêmio menor, mas dessa vez as pessoas às quais foi oferecida a recompensa maior tiveram o pior desempenho: os maiores incentivos produziram o pior desempenho. Esse experimento tem sido replicado muitas vezes por psicólogos, sociólogos, econom istas: para tarefas tarefas simples, diretas, esses tipos de incentivos funcionam, mas, quando a tarefa exige a lguma form a de pensamento criativo, criativo, conceituai, conceituai, comprovadamente não funcionam. O melhor uso do dinheiro com o fator motivador é pagar às pessoas o suficiente para tirar de jogo a questão do dinheiro. Pague às pessoas o suficiente, suficiente, de modo que elas não não precisem pensar em dinheiro e sim no trabalho. Há um monte de pessoas realizando tarefas que requerem altas altas habilidades habilidades,, mas fazendo isso isso de graça e oferecendo voluntariam ente trinta, às vezes quarenta horas de seu tempo semanal; e o que criam elas não vendem, elas dão. Por que essas pessoas, muitas delas altamente qua lificadas e tecnicamente sofisticadas, que têm empregos, estão realizando um trabalho igualmente sofisticado, se não mais, do ponto de vista técnico, não para seu empregador, mas para outra pessoa e de graça? E um com portamento estranho do ponto de vista econômico.13 Esse "comportamento estranho” é o de um comunista que segue o conh ecido lema de Marx: “D e cada um confo rm e suas capacidades, capacidades, a cada um conform e suas suas necessidad necessidades” es” - essa essa é a única "ética do presente” que tem algum a dim ensão autenticamente autenticamente utópic utópica. a. K aratani enfatiza enfatiza que essa essa guinada no rum o de um a econom ia de troca de presentes presentes só pode o correr num nível global; global; refere-s refere-see a Kant, que, em seu ensaio ensaio sobre a paz perm a
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nente, delineia a visão de uma federação mundial de Estados: “O único princípio princípio capaz de sustentar sustentar o estabelecimento de um a federação de nações com o um no vo sistema sistema m und ial é a reciprocidade do presente.”1 presente.”14 4 An tes de descartar descartar essa essa ideia ideia como u m a utopia fútil e vazia, devem os ter em m ente que todos os problemas globais com que nos confrontam os atualm ente ecologia, propriedade propri edade intelectual, Estado de bem -estar social social - exigem um a intervenção global. global. A ameaça ecológica ecológica só pode ser contida contida - se é que que pode - m ediante um a coordenação m undial de medid medidas; as; a “propr “proprieda iedade de intelectua l” é cada vez mais solapada pela circulação descontrolada de dados; dados; o Estado de bem -estar social social é ameaçad o pela com petição de mão de obra sub-remunerada em países países pobres, pobres, e assim assim p or diante. diante. Essa Essa falt faltaa de um a coordenação global é agud am ente sentida: sentida: o pro b le m a é q u e h o je e m d ia , e m n o s s o e m e r g e n t e m u n d o m u lt ic e n t r a d o , ainda estamos buscando as regras que vão regular as relações entre esses múltiplos centros.15 Conhecer uma sociedade não é apenas conhecer suas regras explícit explícitas. as. Tam bém se deve saber como aplicar essas regras: regras: quando usá-las usá-las ou não; não; qua ndo violá-las violá-las;; quan do nã o aceitar um a op ção o ferecida; ferecida; quando reconhecer a obrigação de fazer alguma coisa, mas fingir que se está está fazendo p or livre livre escolha. escolha. R elembrem os o paradoxo das ofertas ofertas que se destinam a ser recusadas: é um hábito recusar essas ofertas, e quem a aceit aceitaa está está cometendo um erro vulgar. Q uan do sou convidado por um tio tio rico a ir ir a um restaurante, restaurante, am bos sabem os que ele ele vai pagar a conta, conta, m as ainda assim assim devo insistir insistir um pou co em divididividi-la la - im aginem a surpresa surpresa se se m eu tio simplesmente diss disses esse: se: “Tudo bem , então você paga!” Durante a caótica era Iéltsin, na Rússia pós-soviética, o problema podia ser situado neste nível: embora as normas jurídicas fossem conhecidas (e, em geral, as mesm as dos tempo s de União Soviética) Soviética),, o que se desintegrou foi a complexa rede de regras não escritas que sustentava a totalidade do edifício social. Se, na União Soviética, você desejasse, digamos, obter um m elhor tratamento tratamento hospitalar hospitalar ou um novo apartamento, apartamento, se fize fizesse sse uma queixa contra autoridades, autoridades, se fosse fosse conv ocado a compa recer a um tribunal ou quisesse que seu filho filho fosse aceito aceito num a escola de ponta, se um gerente de fábrica precisasse de matérias-primas, mas estas não fossem entregues
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a tem po pelos fornecedo res do Estado, e assim assim por diante, todos sabiam o que realm ente deveria ser fei feito, to, a quem procurar, a quem pagar propina, o que se poderia fazer ou não. Após o colapso do poder soviético, um dos aspectos mais frustrantes da experiência cotidiana das pessoas pess oas com uns foi que essas essas regras não escritas tornaram -se am plam ente obscuras. As pessoas simplesmente não sabiam mais o que fazer, como reagir, como se relacionar com as norm as jurídica s explíci explícitas: tas: o que se pod e ignorar? ignorar? Qu an do a pr o pina funciona etc.? etc.? (Um (Um a das das funções do crim e orga nizad o foi prover um a espécie de pseudolegalidade: pseudolegalidade: se vo cê fosse dono de um pequ eno n egóc io e um freguês lhe lhe devesse devesse dinheiro, dinheiro, você recorria recorria a um protetor mañoso que iria tratar tratar do problema, u m a ve z que o sistema jurídico era inefi ineficie ciente. nte.)) A estabilização sob o regime de Putin representa em grande parte a transpa rência recém-estabelecida recém-estabelecida dessas regras regras não escri escritas tas:: agora, um a v ez mais, as pessoas pessoas geralmen geralmen te sabem com o agir ou reagir no no com plexo emaranhado de interações sociais. Na política internacional internacional ainda não alcançamos esse esse estágio. estágio. N a década de 199 1990, um pacto silencioso silencioso re gulav a a relação entre as grand es potências do Ocidente e a Rússia: os Estados ocidentais tratavam a Rússia como grande potência sob a condição de que esta não agisse de fato como tal. Evidentemente, o problema aqui é: e se a pessoa a quem se faz a oferta a ser rejeitada acaba por aceitá-la? E se a Rússia de fato começar a agir como uma grande potência? Uma situação como essa é propriamente catastró fica. Ela ameaça romper todo o tecido das relações existentes. Com efeito, algo sem elhante aconteceu apenas alguns anos atrás atrás na Geórgia: cansada cansada de ser som ente tratada tratada com o u m a superpotência, a Rússia Rússia agiu com o tal. tal. Co m o ela chegou a isso isso?? O “século norte-americano” terminou e estamos entrando num perío do de forma ção de mú ltipl ltiplos os centros do capitalismo capitalismo global: Estados Estados Uni dos, dos, Europa, C hina, talvez A m érica Latina. Cada um representa representa o capita capita lismo com um a característica característica específic específica: a: os Estados Unidos, o capitalism capitalism o neoliberal; a China, o capitalismo autoritário com “valores orientais”; a A m é r ic a L a tin ti n a , o ca p ita it a lism li sm o p o p u list li st a . A p ó s o fra fr a ca ss o da t en ta tiv ti v a n or tete am ericana de se imp or com o a única superpotência (o policial policial universal universal), ),
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existe agora a necessidade de estabelecer as regras de interação entre esses centros locais, no caso de terem interesses interesses conflitantes. conflitantes. Essa é um a das razõ es pelas quais E stados Unidos e Israel Israel,, dois Estadosnação ilustrativos no que se refere à obsessão pela soberania, são aliados naturais e, em algum nível profundo e obscuro, percebem a União Euro peia como o inim igo. Essa Essa percepção, percepção, m antida sob controle no discurso político político público, explode em seu obsceno correspondente subterrâneo, a v is ã o p o lí t ic a d a e x t r e m a d ir e it a fu n d a m e n t a li s t a cr is tã , c o m se u m e d o obsessi obsessivo vo da Nova Ordem Mundial (Obama está num con luio secret secretoo com as Nações Unidas, forças internacionais vão intervir nos EUA e colocar todos os verdadeiros patriotas americanos em campos de concentração - alguns anos atrás atrás,, havia rum ores de que tropas latino-am latino-am ericanas já esta v a m na s p la n íc ie s do m e io -o e st e , c o n s tr u in d o es se s c a m p o s . ..). Es sa v is ã o é encontrada no fundamentalismo cristão linha-dura exemplificado nas obras obras de de Tim LaH aye et consortes. O título de um de seus seus últimos roma nces aponta nessa direção: A Conspir Con spiraçã açãoo Europa. Os verdadeiros inim igos dos EUA não são terroris terroristas tas mu çulma nos - estes estes são são apenas apenas m arionetes arionetes secre tam ente m anipuladas pelos secularistas secularistas europeus, as verdadeiras forças forças do Anticristo que desejam enfraquecer os Estados Unidos e estabelecer uma Nova Ordem Mundial sob o domínio da ONU... De certa forma, eles estão certos nessa percepção: a Europa não é apenas outro bloco de poder geopolítico, geopolítico, m as um a visão global em últim a instância instância incomp atível com os Estados nacionais. Essa dimensão da UE fornece a chave para a chamada "fraqueza” europeia: há uma surpreendente correlação entre a unificação europeia e sua perda de poder político-militar global. Se, con tudo, a União Europeia está se se tornando tornando cada ve z m ais um a impotente confederação transestatal necessitada da proteção americana, por que os Estados Unidos se mostram cada vez mais desconfortáveis diante dela? Relembremos os indícios de que os EUA deram apoio financeiro às forças que organizaram na Irlanda a campanha do "Não” no referendo sobre o novo tratado tratado europeu. E por isso que nossa época é bem mais perigosa do que pode pare cer à primeira vista. Durante a Guerra Fria, as regras do comportamento
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internacional eram claras, claras, garantidas garantidas pela loucur a da D M A (D estruição Mutuamente Assegurada). Quando a União Soviética violou essas regras não escritas escritas ao invadir o Afeganistão, p agou caro por essa essa infração infração - a guerra no A feganistão foi o com eço do seu fim. fim. Agora, as antigas e novas superpotências estão testando testando u m as às outras, outras, tentando im por sua própria ve v e r sã o d as re g r a s g lo b a is , e x p e r im e n ta n d o -a s p o r m e io d e su b st itu it u to s, qu e, evidentemente, são pequenos Estados e nações. Karl Popper certa vez louv ou a verificação verificação científica científica de hipóteses, hipóteses, dizend o que, dessa dessa maneira, permitimos que nossas hipóteses morram em vez de nós. Na verificação atual, atual, pequenas nações sofrem no lugar das grandes - os georgiano s, com o sempre, estão pagand o o preço de um tal processo, e, em bora as justificati va v a s o fici fi ciai ai s p a ra isso is so t e n h a m u m c u n h o a lta lt a m e n te m o r a l (dir (d irei eito toss h u m a n o s e liberdade liberdade etc. etc.), ), a nature za do jog o é clara. clara. E os eventos na Ucrânia que com eçaram no início início de 20 2014 não seriam seriam o próximo estágio dessa luta geopolítica por controle num mundo multicentrado e não regu lado, algo co m o “a crise na G eórgia, pa rte 2” 2” ? Este é definitivamente o momento de ensinar boas maneiras às superpotências - mas qu em fará isso isso?? E claro que apenas um a entidade transnacional transnacional po deria fazê-l fazê-lo. o. M ais de duzen tos anos atrás, atrás, Kan t percebeu a necessidade necessidade de um a ordem jurídica transnacional baseada na ascensão ascensão de um a sociedade g l o b a l.l. " U m a v e z q u e a m e n o r o u a m a i s a m p l a c o m u n i d a d e d e p o v o s da terra se desenvolveu tanto que uma violação de direitos num lugar é sentida sentida por tod o o m undo, a ideia ideia de de um a lei de de cidadania mu ndial não é um a noção extravag ante ou exagerada.” 16 Isso Isso,, contudo, nos leva àquilo que é possivelmente a "principal contradição” da Nova Ordem Mundial: a im im possibilidade possibilidade estrutural de encontrar um a ordem política política global que corresponda à econom ia capitali capitalista sta global. global. E se, se, por m otivos estruturais - e não apenas lim lim itações em píricas píricas -, não for possível a existência de um a dem ocracia ocracia m undial ou de um governo m undial repre represe sentat ntativ ivo? o? O problem a estru tural (antinomia) (antinomia) do capitalismo glob al reside reside na impossibi lidade (e, ao mesmo tempo, necessidade) de uma ordem sociopolítica que se ajuste ajuste a ele: ele: a econom ia de m ercado glob al não pod e ser diretam diretam ente organizada como uma democracia liberal global, com eleições e tudo o
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mais. Em política, o "reprimido” da economia faz seu retorno: fixações arcaicas, identidades particu lares (étnicas, (étnicas, religiosas, religiosas, culturais). Esse suple m ento constranged or é a condição de impossibilidade impossibilidade e possibil possibilidade idade da econ om ia global. Essa tensão define nossa atual condição: a livre circulação globa l de mercadorias, acom panhad a pela crescente separação separação na esfera esfera social propriam ente dita. dita. C om o, então, podem os passar passar do globa globa lismo das m ercadorias ercadorias a um globalismo político político m ais radi radica cal? l?
A f e r i d a d o e u r o c e n t r i s m o Q uan do antiglobalistas antiglobalistas e outros militantes pela em ancipação radical se se en gajam em sua luta, geralmente endossam uma série de axiomas referentes a suas ideias e organização que parecem formar uma espécie de resumo d o a priori da esquerda atual. Em primeiro lugar, eles enfatizam o antieurocentrismo rocentrismo , a necessid necessidade ade urgente de romper os limites limites do pensam ento ocidental que deu origem à mod ernização capital capitalis ista. ta. Em segundo lugar, lugar, ao criticarem o vir-a-ser-passivo de nossas vidas (quanto mais parecemos freneticam freneticam ente ativos, ativos, m ais somos elementos passiv passivos os regulados por u m a ordem anônima), anônima), eles eles insistem insistem na necessidade necessidade de um engajamen to ativo ativo contra a mera representação representação política. política. Por fim, afirm am que a era era das or dens hierárquicas dominada pela figura de um Mestre chegou ao fim: estamos entrando num novo universo de pluralidades, de elos laterais di nâm icos, de auto-organizações m oleculares que não podem ser totalizadas. totalizadas. Mas o que é precisamente essa tríade que constitui o principal “obstá culo epistemológico” à renovação da esquerda? Com respeit respeitoo ao capitali capitalismo smo global - que, embora originário da Eu ropa, é hoje hoje em dia um sistema sistema em que ela ela está está perdendo cada vez mais o papel de liderança liderança -, deve-se deve-se ter um cuidado especial para não sucu m bir ao antieurocentrism o não reflexivo que p or vezes serve de m áscara eleitoral eleitoral à rejeição rejeição daquilo por que vale lutar na herança europeia. U m caso exemplar de alguém que faz exatamente isso é W alter D. M ignolo, em sua recente recente crítica a minha defesa do eurocentrismo esquerdista:
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Como pensador não europeu, meus sentidos reagiram à primeira sentença do artigo de Zizek: Quando se diz eurocentrismo, todo intelectual pós-moderno de esquerda dotado de autorrespeito tem uma reação violenta, semelhante àquela de Joseph Goebbels à cultura - buscar um um revólv revólver, er, vomitando acusações de im perialismo cultural eurocêntrico protofascista. protofascista. É possível, possível, porém, imaginar uma apropriação apropriação esquerdista da herança herança política europeia? ... ... Minha resposta a esse parágrafo, apresentada em algumas publicações, é a seguinte: Quando se diz eurocentrismo, todo intelectual descolonial dotado de autorrespeito não tem uma reação reação tão violenta viole nta quanto a de Joseph Goebbels à cultura - buscar um revól ver, er, vomitando acusações de imperialismo cultural cultu ral eurocêntrico protofascista. Um intelectual descolonial dotado de autorrespeito recorreria, em vez disso, a Frantz Fanon Fanon:: “Agor Agora, a, camarad camaradas, as, agora agora é o momento momento de decidir decidir mudar mudar de de lado. lado. Devemo Devemoss despir o grande manto da noite que nos tem envolvido e buscar a luz. O novo dia que está chegando deve nos encontrar determinados, esclarecidos e resolutos. Assim, meus irmãos, como poderíamos deixar de entender que temos coisas melhores a faze fa zerr do que seguir seguir as pegad pegadas as da Europa” Europa” ... .. . nós, intelectuais descoloniais, se não filósofos, "temos coisas melhores a fazer”, como diria Fanon, do que nos envolver com questões debatidas por filósofos europe us.17 us.17 O que Mignolo propõe é, assim, uma versão do grito de guerra de Baudrillard, “Esqueçam Foucault”: esqueçam a Europa, temos coisas melhores a fazer do que nos ocupar com a filosofia europeia, do que desconstruí-la infindavelmente. A ironia aqui é que esse grito de guerra obviamente não valeu para o próprio Fanon, que se ocup ou ampla e intensamente de Hegel, psicanálise, Sartre e até Lacan. Assim, quando leio textos como o de Mignolo, tam bém recorro a Fanon - este este Fanon: Fanon: Sou um h omem e o que devo recapturar é todo o passado passado do mundo. Não sou responsável unicamente pela revolta de escravos em Santo Domingo. Cada ve v e z que qu e um h om em cont co ntri ribu buiu iu para pa ra a vitó vi tóri riaa da digni dig nida dade de do espíri esp írito, to, cada ve z que u m hom ho m em disse nã o a um a tenta te ntativ tivaa de subjug sub jugar ar seus com panhei pan heiros ros,, senti senti solidariedade solidariedade por seu ato. De form a algu ma minha vocação básica deve ser deduzida a partir do passado dos povos de cor. De forma alguma devo me
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dedicar a reviver civilizações negras injustamente ignoradas. Não vou me transformar num hom em de passado passado algum ... M inha pele pele negra não é um repositório de valores específicos ... Será que não tenho coisas melhores a fazer nesta terra do que vingar os negros do século XVII?... Como homem de cor, não tenho o direito de esperar que haja no homem branco uma cris talização da culpa em relação ao passado de minha raça. Com o homem de cor, cor, não tenho o direito de procurar maneiras de suprim ir o orgulh o de meu antigo senhor. Tampouco tenho o direito nem o dever de exigir reparações por meus ancestrais subjugados. Não existe missão negra; não existe fardo bran br an co ... N ão qu ero er o ser se r a v ítim ít im a do en go do de u m m un d o n e gr o ... .. . Será Se rá que vou pe dir a um h omem branco de hoje que responda pelos pelos traficantes traficantes de escravos do século XVII? Será que vou tentar por todos os meios disponí veis ve is fa ze r com co m que qu e a c ulpa ul pa brot br otee em suas su as a lm a s ?... ?. .. N ão sou so u u m escr es crav avoo da escravidão que desumanizou meus ancestrais ... seria de enorme interesse descobrir uma literatura ou arquitetura negra do século III a.C. Ficaríamos muito felizes em saber da existência de uma correspondência entre algum filósofo negro e Platão. Mas não conseguimos ver, de modo algum, como esse fato iria mudar a vida de garotos de oito anos de idade trabalhando em plantações de cana-de-açúcar na Martinica ou em Guadalupe ... Eu me en contro no mundo e reconheço ter um único direito: o de exigir dos outros um comportamento humano.18 O que Fanon viu com toda a clareza é que o mundo global de hoje é capital capitalist istaa e com o tal não pod e ser problem problem atizado efetivamente do ponto de vista de cultu ras locais pré-capitalistas. pré-capitalistas. É por isso que a lição lição dos dois pequ enos artigos artigos de M arx sobre a índia, publicados em 1853 ("A ("A dom ina ção britânica britânica na índia” e “R esultados esultados futuro s da dom inação britânica na índia”), geralmente rejeitados pelos estudos pós-coloniais como exemplos emb araçosos do eurocen trismo de seu autor autor,, é hoje mais relevante do que nunca. M arx adm ite sem restrições restrições a brutalidade e a hipocrisia hipocrisia degradante da colonização britânica na índia, incluindo o uso sistemático da tortura, proibido proibido no Ocidente, m as "terceirizado” a indianos (realmente, (realmente, nada de
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novo sob o sol sol - hou ve G uantán am os na índia índia britânica britânica em m eados do século XIX): XIX): “a profun da hipo crisia e a barbá rie ineren ineren te à civilização b ur guesa se revelam diante de meus olhos, transferindo-se de seu lar, onde assum em form as respeitáveis, para as colônias, colônias, on de se põ em a nu.”19 nu.”19 Tudo que M arx acrescentou foi foi que a Inglaterra destruiu todo o arcabouço da sociedade indiana, sem que te nham surgido quaisquer sinais de de sua reconstrução. Essa perda do mundo antigo, sem que se tenha ganhado um novo, acrescenta um tipo especial de melancolia à atual miséria dos hindus, e separa o Hindustão, governado pelos britânicos, de suas tradições ancestrais e de toda a sua história passada passada ... A Inglaterra, é verdade, ao causar uma revolução social no Hindustão, foi movida un icame nte pelos mais torpes interesses, interesses, e foi estúpida estúpida em sua sua forma de defendê-los. Mas não é essa a questão. A questão é: será que a humanidade pode realizar seu destino sem uma revolução fundamental nas condições sociais da Ásia? Senão, quaisquer que tenham sido os crimes da Inglaterra, ela foi o instrumento inconsciente da história ao provocar essa revolução.20 Não se deve rejeitar o discurso do “instrumento inconsciente da his tória” como a expressão de uma teleología ingênua, de uma confiança na Artima nha da Razão que faz dos dos crimes crimes m ais torpes torpes instrum instrum entos do progresso. A questão é simplesm simplesm ente que a colonização britânica da índia í ndia criou condições para a dupla libertação desse país: das restrições de sua tradição e da própria colonização. É por isso que a passagem citada não exibe a mesma atitude desdenhosa em relação a “nações não históricas” claramen te discernível em “A luta hú ngara”, artigo escrito por Friedrich Friedrich Engels e publicado no Neue Ne ue Rh eini ei nisc sche he Zeitu Ze itu ng em 13 de janeiro de 1849. O contexto histórico desse texto é a iminente derrota da revolução de 1848, depois que as pequenas nações eslavas (com exceção da Polônia) deram apoio m ilitar ilitar ao im im perador austríaco austríaco em seu esforço esforço para esma gar o le va v a n t e h ú n g a r o (o q u e e x p lic li c a a fu r io s a a g re s s ã o de En gels) ge ls)::
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Entre todas as grandes e pequenas nações da Áustria, apenas três três porta-ban deiras do progresso fizeram parte ativa da história e irão manter sua vitali dade - os alemães, os poloneses e os e os húngaros. D húngaros. D aí serem agora revolucionários. revolucionários. E todos os outros povos e nacionalidades, grandes e pequenos, estão des tinados a perecer muito antes na tormen ta revolucioná ria mundial. P or esse esse motivo, são agora contrarrevolucionários ... Não existe país da Europa que não tenha num canto ou noutro um ou vários fragmentos de povos, os re manescentes de uma população anterior que foi conquistada e mantida na servidão pela nação nação que mais tarde se tornou o principal veículo veículo do desenvol vim vi m en to histó his tóric rico. o. As relíqu rel íqu ias de um u m a naçã n açãoo impie im piedo dosa sam m ente en te esm agad ag adaa no no curso da história, como diz Hegel, esses fragmen esses fragmentos tos residuais residuais de de povos povos sempre se tornaram porta-bandeiras da da contrarrevolução e assim permane cem até a extirpação total ou a perda de seu caráter nacional, tal com o a totalidade de sua existência é ela própria, em geral, um protesto contra uma grande revo lução histórica ... Mas com os primeiros levantes vitoriosos do proletariado francês, que Luís Napoleão está fazendo o possível para evocar, os alemães e os húngaro s da Áustria vão libertar-se libertar-se e provo car um a vinga nça sangrenta contra os bárbaros eslavos. A guerra geral que então se desencadeará há de esmagar esse Sonderbund eslavo e varrer todas essas minúsculas nações conservadoras, inclusive seus próprios nomes. nomes. A pr óx im a g u e rr a m u nd ial ia l va i resu re sult ltar ar no desa de sa pa reci re cim m en to da face fa ce da terra não apenas das classes reacionárias e dinásticas, mas também de povos reacionários inteiros. E isso tam bém é um passo à frente.21 frente.21 Esse Esse trecho se assemelha à distinção distinção de M ao entre nações burguesas e proletárias, mas no sentido inverso: inverso: a luta não é apenas entre classes dentro de nações; também se dá entre nações progressistas e revolucionárias, com tudo que isso implica, ou seja, a destruição dessas “minúsculas nações con servadoras, servadoras, inclusive seus próprios nom es”, no pro cesso revolucionário. A linha de pensam ento de Engels basei baseia-se a-se num p seudo-hegelianismo simpli ficad ficado: o: há o progresso histórico, há nações qu e fazem parte desse progresso progresso ("nações históricas”) e nações que dele são espectadoras inertes ou mesmo opositoras ativas, ativas, e estas estão destinada s a perecer. (Engels leva adian te essa
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linha de pensam ento com u m a guinad a reflexiva reflexiva de aparência aparência hegeliana hegeliana:: com o essas nações po deriam ser não reacionárias se sua própria existência é um a reação, reação, um rem anescen te do passa passado? do?)) Engels ma ntev e sua posição até o fim, conv encido de que, com exceção dos poloneses, poloneses, as pequenas nações eslavas estavam todas olha ndo para a Rússia, Rússia, o bastião da reação, reação, em busca de sua libertação. Em 1882, ele esc reveu a Bernstein (que tinha simpatias pe los eslavos eslavos do sul) sul):: “De vem os cooperar na tarefa tarefa de libertar o proletariado proletariado da Europ a ocidental e subordinar tudo ma is a esse objetivo. Não im porta quão interessante possam ser os eslavos dos Bálcãs etc., no momento seu desejo de libertação libertação se choca co m os interes interesses ses do proletari proletariado, ado, por m im p odem ser todos enforcados. enforcados.”” E num a carta a Kautsky, Kautsky, no m esm o ano, ele volta a afirm ar a oposição en tre nações progressistas e reacionárias reacionárias:: Ass A ss im , suste su ste nto nt o a vis v isão ão de que qu e há duas duas nações na Europa que não apenas têm o direito, mas o dever de serem nacionalistas antes de se tornarem intemacionalistas: a Irlanda e a Polônia. Sendo muito nacionalistas, elas são intemacionalistas da melhor espécie. Os poloneses entenderam isso em todas as crises e o provaram nos campos de batalha de todas as revoluções. Tirem deles a expectativa de restabelecer a Polônia, ou convençam-nos de que a nova Polônia logo lhes será entregue por si mesma, e seu interesse interesse pela Revolução Europeia chegará ao fim.22 fim.22 Quanto aos eslavos do sul: Só com o colapso do czarismo é que a ambição nacionalista desses mi núsculos povos ficará livre da associação com tendências pan-eslavistas de dominação mundial, só então poderemos deixá-los tomar seu destino nas próprias mãos. E estou certo de que seis meses de independência serão suficientes para a maioria dos eslavos austro-húngaros chegar a um ponto em que vão implorar sua readmissão. readmissão. Mas essas pequeninas nações ta lvez nunca tenham o direito, que agora se atribuem na Sérvia, na Bulgária e na Rumélia oriental, de evitar a extensão da rede ferroviária europeia a Constantinopla.23
Proble Problema ma no no paraíso paraíso
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Co m o já vimo s, o grande oponen te de Engels Engels quanto a isso isso é nin guém menos que Lênin; mas os textos de Marx sobre a índia também divergem radicalm radicalm ente da posição posição de Engels. Engels. O argum ento de M arx não é que os indianos “estejam destinados a perecer muito antes da tormenta revolucionária mundial”, mas quase o exato oposto: serem enredados na dinâm ica do capitalism capitalism o u niversal vai possibilitar possibilitar que se livrem livrem de suas lim lim itações tradicionais tradicionais e envolvê-los envolvê-los num a luta m oderna pela libertação libertação do jug o colonial britânico. britânico. Lên in tam bém se apegou a sua visã visão: o: quando o fracasso da revolução na Europa se evidenciou, no início da década de 1920, ele percebeu que a principal principal tarefa do p oder soviético era trazer para a Rússia a modernidade europeia: em vez de falar sobre grandes metas, como construir o socialismo, era preciso envolver-se pacientemente na difusão da cultura e da civilização (burguesas), em total oposição ao “so cialismo num só país”. A modéstia dessa ambição é por vezes expressa de modo surpreendentemente aberto, como quando Lênin zomba de todas as tentativas de "construir o socialismo” na União Soviética. Como é dife rente essa po stura da visão de M ignolo da luta anticapital anticapitalist ista: a: Com o aprendemos com a história, história, a identificação identificação do problema não significa significa que só haja uma solução. Ou, melhor ainda, podemos coincidir na perspec tiva da harmonia como um futuro global desejável, mas o comunismo é apenas apenas uma forma de caminh ar nessa nessa direção. direção. Não pode haver uma ú nica solução simplesmente porque há muitas maneiras de ser, o que significa de pensar e de agir. O comunismo é uma opção e não um Universal Abs trato ... No m undo não europeu, o com unism o é parte do do problema problema e não não a solução. O que não quer dizer que, se não se é comunista no mundo não europeu, é-se capitalista ... Assim, o fato de ¿izek e outros intelectuais europeus estarem repensando seriamen te o com unismo significa significa que eles eles estão se engajando numa opção (a reorientação da esquerda) entre muitas que marcham, atualmente, em direção à perspectiva da harmonia supe rando a necessidade da guerra; superando o sucesso e a competição que geram corrupção e egoísmo, e promovendo a plenitude da vida acima do desenvolvim ento e da morte.24 morte.24
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Mignolo baseia-se aqui numa distinção absolutamente ingênua entre problema e solução. Se há uma coisa que realmente aprendemos com a história é que, em bora “a identificação do problema não sign ifique que haja haja apenas uma solução”, também não existe uma única identificação do pro blem bl em a. Q u a n d o n o s d efro ef ro n ta m o s c o m u m p ro b lem le m a (com (c om o a cris c risee eco ec o n ô m ica ic a global), chegamos a uma multiplicidade de formulações a respeito de onde reside reside esse problem a e quais são suas causas (ou, (ou, num viés m ais pós-moderno , chega m os a um a m ultiplici ultiplicidade dade de narrati narrativas vas): ): excessiva excessiva regulação do Es tado, insuficiente insuficiente regulaç ão do E stado, falhas morais, o assom broso pode r do capital, capital, o capitalismo em si e assim por diante. Essas diferentes diferentes identificações do problema problema form am um a unidade dialética dialética com as soluç soluções ões proposta propostass - ou poderíam os dizer que a identif identificação icação do problem a já é formulada a partir do ponto de vista da solução solução alegada/imaginada. alegada/imaginada. O com unismo é, portanto, não apenas uma das soluções, mas, antes de tudo, uma formulação singular do problema, tal como ele aparece aparece no horiz onte comunista. A identificação identificação do problema por Mignolo, assim assim com o sua formulação do o bjetivo bjetivo com um de todas as soluções propostas, é uma prova de sua limitação, e como tal vale a pena lêlê-lo lo cuidadosamente: cuidadosamente: o objetivo com um - "marchar em "marchar em direção à perspectiva da harmonia, pro m oven do a plenitude da vida" vida";; o problema - “a necessidad necessidadee da guerra ... o sucesso sucesso e a competição que geram a corrupção corrupção e o egoísmo ... o desen volvime nto e a m orte”. Seu objetivo objetivo - a harm onia, a plenitude plenitude da vida - é um verdadeiro U niversal Abstrato, um contêiner va v a z io q u e p o d e si g n ific if ic a r m uita ui ta s co isas is as in co m p a tív tí v e is (dep (d ep en den de n do d o qu e possamos compreender por "harmonia” e "plenitude da vida”). (Também poderíam os acrescentar acrescentar causticamente causticamente que m uitos movim entos anticapi anticapita ta listas listas atingira m gran des resultados em "superar o sucesso”.) sucesso”.) A fácil equação do desenvolvimento e da morte, assim como a rejeição abstrata da guerra, da corrupção e do egoísmo, não são abstrações insignificantes. (E, a propó sito, a oposição abstrata entre guerra e harmonia é especialmente suspeita, já j á q u e t a m b é m p o d e se r lid li d a c o m o u m a p e lo c o n t r a o a g r a v a m e n t o do s antagonismo s sociais sociais,, por um a harm onia pacífica pacífica do organism o social social.. Se for essa essa a direção escolhida, prefiro mu ito ma is ser cham ado de “fascista de esquerda”, insistindo insistindo na dim ensão em ancipatória da luta luta.) .)
Problem Problema a no paraís paraísoo
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O
q u e
M ignolo oferece
não são m odernidades alternati alternativas, vas, m as urna urna
espécie de pós-modernidade alternativa, ou seja, maneiras diferentes de superar a modernidade (capitalista) europeia. Contra essa abordagem, a herança universalista universalista europeia d everia everia sem dúvida ser defendida defendida - mas precisamente em que sentido? Segundo alguns teóricos culturais indianos, o fato de serem obrigados a usar a língua inglesa inglesa é um a form a de colonia lismo cultural que censura sua verdadeira identidade. Sua linha de argu mentação é: “Som os obrigados a falar falar um a língua estrangeira im im posta para expressar nossa identidade mais profunda, e será que isso não nos coloca num a posição de alienação alienação radical - até nossa resistência resistência à colonizaçã o tem de ser formu lada na língu língu a do colonizador?” colonizador?” A resposta resposta é: sim - mas essa imposição do inglês (como língua estrangeira) criou o próprio X que é por ela “opr im ido” : ou seja, seja, o que é op rim ido não é a índia pré-colonial, mas o sonho autêntico autêntico de um a nova índia universalista e democrática. democrática. Será Será que M alcolm X não estari estariaa seguindo a mesma ideia ao adotar o X com o sobrenome? sobrenome? O m otivo de escolher escolher o X - desse desse modo assinala assinalando ndo que os escravagistas escravagistas que trou xeram africanos africanos escravizados de sua terra natal natal os privaram brutalmente de suas raízes familiares e étnicas, de todo o seu mu ndo de vida cu ltural - não era m obilizar os negros a lutar pelo retorno a algum as raízes africanas prim prim ordiais, mas precisamen te aproveitar a abertura que um X proporciona, uma nova identidade desconhecida (ou a falta desta) engendrada pelo próprio processo da escravidão que fez as raízes africanas se perderem para sempre. A ideia é que esse X, que priva os negros de suas tradições particulares, oferece uma chance única de redefinirem (reinvent (reinventarem) arem) a si si mesmos, de constituírem livremen te um a nova identidade identidade m uito m ais universal do que a universalidade universalidade professada professada pelos brancos. brancos. (Malcolm X, evidentemente, encontrou essa essa nova identidade identidade no universalismo do islã.) A s s im , d e v o l t a à ín d ia , “ r e c o n c il i a ç ã o ” s ig n if ic a r e c o n c il ia ç ã o c o m a língua inglesa, que deve ser aceita não como obstáculo a uma nova índia, a ser descartado por alguma língua local, mas como um veículo habilitador, condição positiva para a libertação. Uma verdadeira vitória sobre a colonização colonização não é o retorno a um a existência pré-colonial pré-colonial “autên“autên-
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tica”, muito menos uma "síntese” entre civilização moderna e origens prém odernas - mas, de form form a paradoxal, paradoxal, a per a perda da plen pl enam am ente en te alcan alc ançad çada a dessas origens prê-modernas. prê-modernas. E m o utras palavras, o colonialismo não é superado superado quando a intrusão da língu a inglesa inglesa com o veículo é abolida, abolida, mas quando os colonizadores são, por assim dizer, derrotados no seu próprio jog o quando a nova identidade indiana indiana é formulada sem esforço esforço em inglês, inglês, ou seja seja,, quand o a língu a inglesa é "desn aturalizada”, quando perde seu elo elo privilegiado com os falantes "nativos”, anglo-saxões, do inglês. E funda m ental assinalar que esse esse papel da língu a inglesa foi claram claram ente percebido por muitos intelectuais entre os dalits, o dalits, o u " intocá veis”, a casta mais baixa: baixa: um a grande proporção deles deles saudou o inglês inglês e, e, na verdade, verdade, até o choque colonial como um todo. Para Ambedkar (a principal figura política da casta dos dalits) dalits) e seus seus sucessores, sucessores, o colon ialismo britânico - indesejada e incidentalmente - abre espaço espaço ao chamad o d om ínio da lei lei e à igualdade formal para todos os indianos. Antes, os indianos haviam tido apenas leis de castas, que davam aos dalits quase dalits quase nenhum direito, somente deveres.25 A lé m diss di sso, o, n a ín d ia de h o je os g r u p o s tr ib a is v e r d a d e ir a m e n te a m e a ça d o s (com os das florestas em torno de Hyderabad) não lutam por seus valores e vínculos tradicionais; estão muito mais engajados na luta maoista (o m ovim ento g uerrilheiro naxalit naxalita) a),, formulada com o objetivo universal de de superar o capitalismo. São os teóricos pós-coloniais de classe alta e castas elevadas elevadas (sobretudo (sobretudo brâmanes) brâmanes),, e não os que realmente pertence m a gr u pos indígenas tribais, que celebram a perseverança das tradições locais e da ética comunal como constituintes de uma resistência ao capitalismo. N um nível mais geral, geral, deve-se deve-se ter em m ente que o capitalismo capitalismo g lobal não empurra automaticamente todos os seus súditos na direção do indi vid v id u a li s m o h e d o n is t a / p e r m is s iv o , e t a m b é m q u e, e m d iv e r so s p a íse ís e s q u e entraram recentemente no caminho da modernização capitalista acele rada (como a índia índia), ), mu itos indivíduo s se apegam a crenças e à ética ditas ditas tradicionais tradicionais (pré-modernas) (pré-modernas) - valores fam iliares, iliares, rejeição rejeição do hedo nismo desenfreado, forte identificação identificação étnica, étnica, preferência por laços com unitários sobre a realização individual, respeito respeito pelos m ais velhos e assim por diante. diante. Isso Isso não prova de m aneira algum a que não sejam sejam totalmen te "m odernos”,
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com o se as as pessoas pessoas no O cidente liberal liberal fossem fossem capazes de um a plena plena e direta modernização capitalista enquanto as dos países menos desenvol vi v i d o s d a Á s ia , d a Á f r i c a e d a A m é r ic a L a t in a só p u d e s s e m s o b r e v iv e r à ofensiva da dinâm ica capitalista capitalista com a ajuda ajuda dos vín culo s tradicionais, ou seja, como se os valores tradicionais fossem necessários quando populações locais não são capazes de sobreviver ao capitalismo mediante a adoção de sua própria ética individua lista e hedonista-liberal. hedonista-liberal. Teó ricos pós-coloniais "subalternos”, "subalternos”, que d etectam na persistência persistência de tradições pré-modernas pré-modernas um a resistência ao capitalismo global e a sua modernização violenta, estão pro fundamente errados: pelo contrário, a fidelidade a valores pré-modernos (“asiáticos”) é paradoxalmente a própria característica característica que perm ite a paí ses ses como China, C ingapura e índia índia acom panharem o ritm ritm o da dinâmica capitalista capitalista de mod o ainda m ais radical do que países países liberais liberais ocidentais. A referência a valores tradicionais capacita os indivíduos a justificarem seu engajamento feroz na competição de mercado em termos éticos (“Real m ente estou fazendo isso isso para ajudar ajudar meus pais, pais, para gan har dinheiro de m odo que m eus filhos filhos e primos po ssam estudar”, e assim assim por diante) diante).2 .26 6 Há uma piada agradavelmente vulgar sobre Cristo: na noite anterior ao dia em que ele é preso e crucificado, seus seguidores começam a se preocupar - Cristo ainda é virgem , não seria seria bo m que experimen experimen tasse um pouco de prazer antes de morrer? Assim, pedem a Maria Madalena que vá v á a té a te n d a e m q u e C r is t o e st á r e p o u s a n d o e o se d u za . E la c o n co r d a d e b o m g r a d o e e n tr a n a te n d a , m a s c in c o m in u to s d e p o is sa i de lá g r it a n d o , horrorizada e furiosa. Os seguidores perguntam o que aconteceu e ela explica explica:: “Eu m e despi lentamente, lentamente, abri as pernas e m ostrei minh a boceta a Cristo. Ele a olhou e disse: 'Que ferida horrível! Precisa ser curada!’, e delicadamente colocou sua mão sobre ela.” Assim, cuidado com pessoas interessadas interessadas demais em curar as feridas feridas dos dos outros - e se alguém gostar da própria ferida? Da mesma forma, curar diretamente as feridas do co lonialismo (retornando efetivamente à realidade pré-colonial) seria um pesadelo: se os indianos de hoje se vissem numa realidade pré-colonial, sem dúvida soltariam o m esm o grito de terror de Maria Madalena. É exa tamente a propósito da ferida do colonialismo que a mensagem final de
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Parsifal, de Parsifal, de R ichard W agner, afirma: afirma: "A ferida ferida só só pod e ser curada pela lança que a produziu” ( Die D ie W unde un de schlies sch liesst st der Speer Spee r nur nu r der de r Sie S ie schlug). sc hlug). A A própria própria desintegração das formas tradicionais abre espaço espaço para a libertaç libertação. ão. Co m o estava claro para Nelson Mandela e o Congresso Nacional Africano, a suprem acia branca e a tentação de reto rnar às raízes tribais são dois lados lados da mesm a m oeda.27 oeda.27 Segun do o m ito liberal liberal padrão, a universalidade universalidade dos direitos direitos hum anos traz a paz: paz: estabelece estabelece as condições de coexistência pacífica pacífica entre um a m ul tiplicidade de culturas particulares. Do ponto de vista do colonizado, por outro lado, a universalidade universalidade liberal é fal falsa: sa: funciona co m o a intrusão violenta de um a cu ltura estranha, dissolve dissolvendo ndo nossas raízes raízes particular particulares. es. D e um a perspectiva propriamen te dialétic dialética, a, d everíamos lutar por (ou melhor, en dossar a necessidade de) de) um a ab orda gem que fosse o exato inverso: a ferida ferida em si é libertadora libertadora - ou melhor, contém em si um po tencial libertador libertador
de
m odo que, que, em bora sem sem dúvida devamos devamos problem atizar atizar o conteúdo posi posi tivo da universalidade imposta (o conteúdo particular que ela secretamente secretamente privilegia), privilegia), devem os defender plenam ente o aspecto libertador (para (para nossa nossa iden tidade pa rticular) da ferida em si.2 si.28 A p r e s e n ta n d o a q u e s tã o de o u tr a fo r m a , o q u e a e x p e r iê n c ia d a lí n g u a inglesa inglesa com o imposição opressiva opressiva ofusca ofusca é que o m esmo é válido válido para qual quer l quer língua: íngua: a língu língu a é, em si, um parasítico parasítico invasor estrangeiro. estrangeiro. Por toda a sua sua obra, obra, Lacan reconstrói reconstrói o tema tema heideggeriano da lingu lingu agem como a morada do ser: a linguagem não é criação e instrumento do homem, o hom em é que “mora” na lingu lingu agem . “A psicanálise”, psicanálise”, afirm afirm a ele, ele, “devia ser a ciência da lingu ag em habitada pelo sujeito.”2 sujeito.”29 9 A g uin ada "paranó ica” de Lacan, sua outra volta do parafu so freudiana, d eriva de sua sua caracteri zação dessa dessa morada como um a casa de tortura: tortura : "Na perspectiva freudiana, o hom em é o sujeito sujeito preso preso e torturad o pela lingua gem .”30 .”30 Nã o som ente o ho m em m ora na “casa“casa-pri prisão são da lingua gem ” (título (título do primeiro livro de Fredric Jam eson sobre o estruturalismo*), estruturalismo*), m as num a casa de tortura da lingu lingu agem : toda a psicopatologia psicopatologia apresentada apresentada por Freud, dos sintomas
*No Brasil, o livro recebeu o título de A prisão da linguagem. (N.T.)
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de conversã o inscritos no cor po aos surtos psicóticos psicóticos totais, totais, são cicatrizes dessa dessa tortura permanen te, tantos sinai sinaiss de um vácu o o riginal e irrem edi ável entre o sujeito e a linguagem, tantos sinais de que o homem nunca pode se sentir em casa no seu próprio lar. É isso que Heidegger ignora: esse esse outro lado somb rio e torturante de nosso nosso habitar na ling ling uag em - e é por isso isso que tam bém não há lugar para o Real da da joui jo uiss ssan an ce no ed ifício de Heidegger, já que o aspecto torturante da lingu age m refere refere-se -se basicamente às vicissitudes da libido.
Sol bemol não, lá Portanto, se descartarmos a noção obscena de que é melh or ser torturado "autenticamente” por sua "própria” língua do que por uma língua estran geira imposta, devemos enfatizar primeiro o aspecto libertador de ser comp elido elido a usar um a língua estrangeira "unive rsal”. H á certa sabedoria sabedoria histórica no fato de que, desde os tempos medievais até recentemente, a língua franca do Ocidente foi o latim, uma língua “secundária” inautên tica, uma “queda” em relação ao grego, e não o próprio grego com todo o seu fardo autêntico: foi essa própria vacuidade e "inautenticidade" do latim que permitiu que os europeus o preenchessem com seus próprios conteúdos particulares, em contraste com a natureza atulhada e impe riosa da língua grega. Tendo aprendido precisamente essa lição, Samuel Beckett com eçou a escrever em francê francês, s, um a língua estrangeir estrangeira, a, deixando atrás de si a "autenticidade” de suas raízes. Recapitulando: a função de experimentar uma língua estrangeira como uma imposição opressiva é ofuscar essa dimensão opressiva em nossa própria língua, ou seja, elevar retroativam retroativam ente nossa própria própria língua m aterna ao paraíso paraíso perdido da ex pressão pressão plenam ente autêntica. autêntica. Assim, a passagem a ser ser realizada realizada quando percebemos a língua estrangeira imposta como opressiva, fora de sintonia com nossa vida interior, é transpor essa discordância para nossa língua materna. Essa passagem, é claro, é de um tipo extremamente doloroso: é com o perd er a próp ria substância de nosso ser, ser, de nossas raízes históricas
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concretas. Significa que, como disse George Orwell, eu tenho de certa f o r m a q u e “ m u d a r a m i m m e s m o t ã o c o m p l e ta ta m e n t e q u e n o fi fi n a l m a l seria reconhe reconhe cido com o a me sm a pessoa”. Estamos p rontos para isso isso?? Já em 1937, Orwell mostrou a ambiguidade da atitude esquerdista predominante diante das diferenças de classe: classe: Todos nós censuramos as distinções de classe, mas poucos desejam se riamente aboli-las. Aí se chega ao importante fato de que toda opinião revolucionária extrai parte de sua força da convicção secreta de que nada pode ser mudado ... O fato que precisa ser enfrentado é que abolir as distinções de classe significa abolir um a parte de si mesm o. Aq ui estou eu, um típico me mb ro da classe média. É fácil para mim dizer que quero ficar livre das distinções de classe, mas quase tudo que pen so e faço é resultado dessas dessas distinções. distinções. Todas as minhas noções - de bem e mal, de prazeroso e desagradável, de alegre e sério, sério, de feio feio e bonito - são essencialmente noções de classe média; meu média; meu gosto por livros, comida e roupas, meu senso de honradez, até os movimentos característicos do meu corpo são produ tos de um tipo especial de criação e de um nicho especial situado mais ou menos no meio da hierarquia social.31 A s s im , o n d e é q u e e s tá O r w e l l aqui? aq ui? E le re je ita it a c u l ti v a r a c o m p a ix ã o ou qu aisquer tentativas tentativas de “tornar-se “tornar-se igual aos trabalhadores” - com efeit efeito, o, deseja que os trabalhadores se refinem mais, e assim po r diante. Mas será que isso significa que ele deseja continuar sendo de classe média e por tanto aceita que as diferenças de classe permaneçam? O problema é que a maneira com o O rw ell formu la a alter alternativa nativa - “apegar-s “apegar-see aos valores da classe m édia ou tornar-se como os trabalhadore trabalhadore s” - é fals falsa: a: ser um revolu cionário autêntico nada tem a ver com "tornar-se como os trabalhadores”, com imitar o estilo de vida das classes pobres. O objetivo da atividade re vo v o lu c io n á r ia é, p e lo c o n tr á r io , m u d a r a situ si tu a ç ã o so c ia l c o m o u m to d o , de modo que os próprios trabalhadores não sejam mais "trabalhadores”. Em outras palavras, palavras, os dois poios do dilem a de O rw ell - apegar-se aos aos valores da classe classe méd ia ou tornar-se tornar-se de fato fato com o os trabalhadores trabalhadores - são opções
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tipicamente de classe classe média. C om efeito efeito,, Ro bespierre bespierre e Lênin eram inequi vo v o c a m e n t e d e cla cl a sse ss e m é d ia e m t e r m o s de su a se n s ib ilid il id a d e p r iv a d a , m a s isso isso é irrelevante - a questão aqui não é tornar-se com o os trabalhadores, mas m udar a condição deste destes. s. A visão de O rw ell é válida válida apenas para para um a certa espécie de esquerdista esquerdista "b urg uês” . Há esquerdistas esquerdistas que têm de fato fato a coragem de suas suas convicções convicções,, que não querem som ente um a “revolução sem revoluç ão”, nas palavras de Robespierre - jacobinos e bolcheviques, en tre outros. O pon to de partida desses desses revolucionários po de ser de fato fato a própria posição dos esquerdistas esquerdistas “b urgu eses”: o que oco rre é que, em m eio a sua sua postura pseudorradical, pseudorradical, eles eles acabam se enredando em seu próprio próprio jog o e com eçam a questionar questionar realmente sua posição posição subjeti subjetiva. va. É difícil difícil im im aginar um exemplo político político m ais significati significativo vo do peso da distinção distinção de Lacan entre o “sujeito do enunciado” e o “sujeito da enunciação”: primeiro, numa ne gação direta, direta, o sujeito sujeito com eça desejando desejando "mudar o m undo ” sem am eaçar a posição subjetiva a partir da qual está preparado para implementar a mudan ça; depois, na “negaçã “negaçã o da negação ”, o sujeito sujeito que realiza a muda nça está preparado para pagar o seu preço, preço, m udar a si m esm o ou, citando a fórmu la de Gan dhi, ser ele ele próprio próprio a mudan ça que deseja deseja ver no m undo. Será que "mudar a mim mesmo tão completamente que no final mal seria seria reconhecido com o a m esma pessoa” não seria seria um evento de autotransautotransformação radical radical comparável a um renasci renascimento? mento? O argum ento de O rw ell é que os radicais evocam a necessidade de uma mudança revolucionária como uma espécie de símbolo religioso destinado a atingir o oposto, ou seja, evitar que evitar que a mudança efetivam efetivam ente ocorra, da mesm a man eira que o esquerdista acadêmico de hoje que critica o imperialismo cultural capita lista está na verdade horrorizado com a ideia de que seu campo de estudo ve v e n h a a e n tr a r e m co lap la p so . P e n s e m n o m u n d o das da s g r a n d e s b ie n a is d e a rt e internaci internacionais, onais, um em preendimen to verdadeiramente capital capitalist istaa que, via de regra, é sustentado sustentado por um a ideologia "anticapi "anticapital talist ista” a” cuja form a predo m inante é um a m istura de antieurocentris antieurocentrismo, mo, críti críticas cas à modernidade ("vi ve v e m o s n u m u n iv e r so p ó s- k a n tia ti a n o ” ) e a d ve rt ên cia ci a s so br e c o m o até at é m e sm o eventos artísticos artísticos constituem m om entos de circulação do capital capital - às quais quais só podemo s responder com u m a versão da antiga antiga piada piada dos irmãos M arx: arx:
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“D izem que a cena artística artística de hoje é parte da máqu ina capitalist capitalista, a, m as isso isso não deve enganá-lo - ela é realmente parte da máq uina capitalista! capitalista!”” O s fa m osos versos versos do segundo ato de de Otelo, Otelo, "Cuidado, gentil dama,/ que outra coisa coisa não sou, tirante um crítico crítico mod esto”, parecem traduzir perfeitamente perfeitamente a posição atual do crítico de arte: no momento em que se confronta com seu trabalho, trabalho, não pode deixar de de denunciar intensamente a forma com o a produção, a distribuição, o consumo e a crítica de arte são determinados pelas coordenadas capitalis capitalistas tas globais. globais. N o labirinto dessas dessas negações ideo ló gicas, gicas, é reconfortante, subversivo até, encontrar um a afirma ção direta dos va v a lo r e s “ b u r g u e s e s ”, co m o o fe z R o b e r t P ip pi n, qu e r e ce n te m e n te a firm fi rm o u que todo o seu projeto filosófico é para defender o modo de vida burguês. Q uem é suficiente suficientemente mente consistente consistente nessa nessa afirmação afirmação logo descobre descobre incon sist sistênci ências as no m odo de vida burguês, as quais quais o fa zem avançar para além desse desse m odo de vida precisamente co m a finalidade finalidade de preservar nele o que m erece ser preservado. Estaria Estaria então um a conferência sobre a ideia ideia de com unism o, tal como a que se realizou em Seul de 24 a 29 de setembro de 2013, igualmente destinada a se tornar um tipo semelhante de pseudoevento, uma bienal comunist comunista? a? Ou estarí estaríamos amos colocando colocando em m ovimen to algo que tem o po tencial de se transform transform ar num a verdadeira força de transforma ção social social?? Pode parecer que hoje em dia não não é possível agir agir,, que tudo que realmente podem os fazer é proclam ar cois coisas. as. Mas, num a situação situação com o a atual, atual, pro clamar o que é pode ser muito mais forte do que apelos à ação, que em regra consistem unicamente em muitas desculpas para não não fazer coisa algum a. Perm itam-m e citar a audacio audaciosa sa tese tese de Alain Badiou: Badiou: “ É melhor não fazer nada do qu e contribuir para para a invenção de m aneiras formais de tornar visível visível aquilo que o Im pério já reconh ece com o existente.” existente.” E m e lhor não fazer nada do que se engajar em ações localizadas cuja principal função é fazer o sistema funcionar com maior fluidez (ações como abrir espaço a uma miríade de novas subjetividades etc.). A ameaça atual não é a passivi passividade, dade, m as a pseudoatividade, o im pulso de “ser ativo”, de “partici par”, de mascarar a Nulidade do que está ocorrendo. As pessoas intervêm o tempo todo, enquanto acadêmicos participam de “debates” sem sentido,
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e assim assim por diante, e o que é verda deiram ente d ifícil ifícil é dar um passo atrás, atrás, excluir-se excluir-se de tudo isso isso.. O s que estão estão no po der com frequência preferem até mesmo uma participação "crítica”, um intercâmbio de qualquer tipo, ao silênci silêncioo - apenas a fim de nos envolver num "diálogo ” para garantir que nossa perigosa passividade passividade seja seja rompida. É por isso que o título do qua rto encontro "A Ideia do Comunismo”, realizado em Seul em setembro de 2013, foi plenam ente justificado: justificado: "Pa rem p ara pensar!” Eventos apontam nessa direção até num país como a Coreia do Sul, com seu desenvolvimento econômico explosivo. Há na Coreia uma resis tência tência generalizada dos trabalhadores trabalhadores à rápida rápida passagem para um a so cie dade pós-histórica, e essa resistência vai muito além de uma simples luta dos trabalhadores trabalhadores por m elhores salári salários os e condições de trabalho - é uma luta por todo um modo de vida, a resistência de um mundo mundo a m e a ç a d o pela mo dernização acelerada acelerada daquele daquele país. país. "M undo” representa representa aqui um horizonte de significado específico, toda uma civilização, ou melhor, uma cultura, cultura, com seus rituais e procedimentos cotidianos, ameaçados pela comodificação pós-histórica. Seria então conservadora essa resistência? Os autodeclarados conservadores políticos e culturais convencionais de hoje não são realme nte conservadores: ao oferecer pleno pleno apoio ao processo co n tínuo de autorrevolução capitalista, desejam apenas torná-lo mais eficiente, adicionando-lhe algumas instituições tradicionais (como a religião) a fim de conter suas consequências destrutivas para a vida social e man ter coesa a sociedade. sociedade. Hoje em dia, dia, um verdadeiro co nservado r é aquele aquele que adm ite plenam ente os antagonism os e dilemas do capitalismo capitalismo global, que rejeita rejeita o progressismo puro e simples e está atento ao reverso obscuro do progresso. Nesse sentido sentido,, somente u m esquerdis esquerdista ta radical radical pode ser hoje u m verdadeiro conservador. Essa postura foi descrita há m uito tem po por John Jay Chapm an (18 (1862-19 -1933), um ensa ísta e ativ ista po lític o32 o32 qua se esq uec ido h oje em dia que escreveu sobre os radicais na política: Os radicais na verdade estão sempre dizendo a mesma coisa. Eles não mu dam; todos os outros, sim. São acusados dos crimes mais incompatíveis, de egoísmo e mania de poder, indiferença ao destino de sua própria causa, fa
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natismo, trivialidade, falta de humor, deboche e irreverência. Mas eles to cam determinada nota. Daí o grande poder prático dos radicais consistentes. Aparentemente, Aparentement e, ningu ni nguém ém os segue, mas todos acreditam neles. neles. Eles seguram segu ram um diapasão diapasão e fazem soar um lá, lá, e todo mundo mun do sabe que é realmente um lá, lá, embora o tom tradicional seja sol bemol. Nada pode evitar uma tendência ascendente no tom popular enquanto o verdadeiro lá estiver soando .33 Deveríamos enfatizar aqui o momento de passividade e imobilidade; nos termos de Kierkegaard, um radical não é um gênio criativo, mas um apóstolo que apenas apenas encarna e transm transm ite um a verdade - segue repetindo e repetindo a mesma mensagem (“a luta de classes continua”; "o capita lismo gera antagonismos”, e assim por diante), e, embora possa parecer que ning uém o segue, todos acreditam nele, ou seja, seja, todos sabem secreta m ente que ele está está dizendo a verdade -, m otivo pelo qual é com frequência acusado “dos crimes mais incompatíveis, de egoísmo e mania de poder, indiferença ao destino de sua própria causa, fanatismo, trivialidade, falta de humor, debo che e irreverência”. E o que isso isso significa é que, na escolha escolha entre a dignidade e o risco de parecer um bufão, um verdadeiro radical político político facilmen te renuncia à dignidade. dignidade. O lem a a unir, em 2013, os turcos que protestaram na praça Taksim , em Istambul Istambul,, foi “Dignidade!” “Dignidade!” - um bom slogan slogan,, em bora ambíguo. O termo “dignidade” é adequado por tornar evidente qu e os protestos protestos não se referem referem apenas a demandas materiais particulares, mas também à liberdade e à emancipação dos manifestantes. No caso dos protestos da praça Taksim, o apelo à dignidade dizia respeito não apenas à corrupção e à venalidade i n st s t it it u c io io n a i s, s, m a s t a m b é m - f u n d a m e n t a lm l m e n t e - à id id e o lo l o g i a p at a t e rn rn a lista lista do do primeiro-m inistro turco, turco, R ecep Tayyip E rdogan. O alvo direto direto dos man ifestantes ifestantes da praça Taksim não era o capitalis capitalismo mo neoliberal nem o islamismo, mas a personalidade de Erdogan: a demanda era de que ele fosse fosse deposto - mas por quê? quê? O que havia nele que o tornou o alvo de man ifestantes ifestantes seculare secularess instruídos instruídos,, assim assim com o da juventu de m uçulm ana anticapitalista, objeto de um ódio que fundiu as duas tendências? Eis a explicação explicação de Bülent Somay:
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Proble Problema ma no paraíso paraíso
Todos queriam que o primeiro-ministro Erdogan renunciass renunciasse. e. Porque, como explicaram muitos ativistas durante e após a Resistência, ele com frequência interferia em seus estilos de vida, dizendo às mulheres que tivessem pelo menos três filhos, que não fizessem cesarianas, cesarianas, não fizessem abortos, dizendo às pessoas que não bebessem, não fuma ssem, não dessem as mãos em público, público, que fossem obedientes e religiosas. religiosas. Estava o tempo to do lhes dizend o o que era melhor para elas elas (‘co mprem e rezem” ). Essa Essa era provavelmente a melhor indicação do neoliberalismo ("comprem”) e do islamismo suave ("rezem”) que caracteriza m o g overn o do Partido Justiça Justiça e Desenvolvimen to: a utopia do primeiro-ministro Erdogan para Istambul (e devemos lembrar que ele foi foi prefeito dessa cidade por quatro anos) era um enorme shopping center e uma imensa m esquita na praça praça Taksim e no parque Gez i. Ele se tornara o "papai "papai sabe-tudo” em todas as áreas da vida e tentou fazê-lo sob um disfarce paterna paterna lista inadequado, descartado sem demora durante os eventos do parque Gezi, revelando o personagem profundamente autoritário por trás da imagem.34 “Comprem e rezem” não é uma perfeita versão capitalista tardia do v e lh o ora et labora labora cristão, com a identidade do trabalhador (do campo) substituída pela pela do consumidor? A aposta latente, latente, é claro, é que essa oração (codinome da fideli fidelidade dade às velhas tradições comunais) nos torn a m elhores “compradores”, ou seja, participantes do mercado capitalista global. Mas o apelo à dignidade não é apenas um protesto contra essa recomendação paternalista; dignidade também é a aparência de dignidade, e nesse caso a demanda por dignidade significa que desejo ser iludido e controlado de maneira que as aparências adequadas sejam mantidas, que eu não perca minha reputação. Não é essa uma característica-chave de nossas demo crac cracia ias? s? W alter Lippmann, esse esse ícone do jornalismo norte-americano do século século XX, desem penhou u m papel funda funda m ental na na autocompreensão da democracia de seu país; em Opinião pública (1922),35 pública (1922),35 ele afirmou que uma "classe "classe gov erna nte” deve apresentar-se apresentar-se para enfrentar o desafio - ele via o público público da mesma form a que Platã Platão, o, um a enorm e fera fera ou um rebanho per plexo, chafurdando no “caos das opiniões locais”. Assim, esse rebanho de cidadãos deve ser governado por "uma classe especializada cujos interesses
Epign Epignos ose: e:J ’ai hâte de vous vous servir servir!!
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v ã o a lé m d a lo c a li d a d e ” , e es sa c la ss e de e lite li te d e v e a g ir c o m o u m a p a ra to de conhecimento que supere o defeito básico da democracia, o ideal im possível do "cidadão "cidadão onicom petente”. É assim assim que a dem ocracia funciona - com n osso consentimento. N ão há mistério nas palavras de Lippmann: tratatrata-se se de um fato óbvio. O m istério istério é que, que, m esm o sabendo disso, disso, ainda a s si si m f a z e m o s o jo jo g o . A g i m o s como se se fôssemos livres e decidíssemos li vr v r e m e n t e , e m si lê n ci o , n ã o a p en a s a c e it a n d o , m a s a té exigindo exigindo q u e u m a recom endaçã o in visível (inscr (inscrita ita na própria form a de nossa liberdade liberdade de expressão) nos diga o que fazer e como pensar. Como Marx percebeu m uito tem po atrás atrás,, o segredo está está na própria forma. forma. Nesse sentido sentido,, num a d e m o c r a c i a, a , t o d o c i d ad a d ã o c o m u m é e fe fe t iv iv a m e n t e u m r e i - m a s u m r ei ei num a dem ocracia constitucional, constitucional, um rei que só decide decide form form almen te, cuja cuja função é sancionar sancionar medidas propostas por um a adm inistração executiva. executiva. É por isso isso que o problem a dos rituais rituais democráticos é hom ólogo ao grande problem a da dem ocracia constitucional: constitucional: com o protege r a dignidade do rei? rei? Como manter a aparência de que ele efetivamente decide, quando todos sabem que isso isso não é verdad verdade? e? O que cha m am os de "crise "crise da democracia” não ocorre quando as pessoas param de acreditar em seu próprio poder, mas, pelo contrário, quando deixam de confiar nas elites, aquelas cujos m em bros supostam ente sabem por elas elas e fornecem as orientações orientações;; quando vi v i v e n c i a m a a n s ie d a d e s in a li z a n d o q u e “ o (v e rd ad ei ro ) t r o n o es tá v a z io ” , que a decisão agora é realmente realmente delas. Portanto, sempre há nas “eleições livres” um m ínim o a specto specto de polidez: polidez: os que estão no poder fingem edu cadam ente que de fato não detêm o poder, e nos nos pedem para decidirm os livreme nte se desejamos desejamos conceder-lhes conceder-lhes esse esse poder - de um a form a que espelha a lógica da oferta destinada a ser recusada, como mencionamos antes. Assim, de volta à Turquia, seria esse o único tipo de dignidade que os manifestantes desejam, cansados como estão da forma primitiva e abertamente direta como são enganados e manipulados? Sua demanda seria seria m esmo "Querem os ser enganados de de um a forma adequada - façam façam pelo m enos um esforço esforço honesto para nos enganar sem insultar nossa nossa in teligência!”, ou seria realmente mais que isso? Se nosso objetivo é maior, devem os então ter consciência consciência de que o p rime iro passo para a libertação libertação
Problem Problema a no paraíso paraíso
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é livrar-se da falsa aparência de liberdade e proclamar abertamente que não somos livres. O primeiro passo, digamos, para a libertação feminina é desfazer-se da aparência de respeito pelas mulheres e proclamar aberta m ente que elas são oprimidas oprimidas - m ais do que nunca, o senhor de hoje não quer parece r um senhor.36 senhor.36
Rumo a um novo Mestre Nas páginas finais de A Segunda Segu nda Guerra Guer ra M un dial di al,, uma obra monumental, W i n s t o n C h u r c h il l r e fle fl e te so b re o e n ig m a d e u m a d e cisã ci sã o m ilit il it a r . D e p o is de especialistas (analistas econômicos e militares, psicólogos, meteoro logistas...) apresentarem suas múltiplas, elaboradas e refinadas análises, alguém deve assum ir a ação ação simples, simples, e por isso isso mesm o m uito difícil, difícil, de tradu zir essa essa multiplici multiplicidade dade comp lexa - em que para cada razão a favor há duas razõe s contra - num simples “Sim” ou "N ão”: devem os atacar atacar;; devem os continu ar esperando. Esse Esse gesto, que nunca pode se basear intei ram ente na razão, é o de u m Mestre. O s especialistas especialistas devem apresentar a si tuação em sua complexidade; o Mestre deve simplificá-la, transformando-a num ponto de decis decisão. ão. Essa figura do Mestre é necessária especialmente em situações de crise profunda. profunda. A função do Mestre aqui é realizar realizar um a divisão divisão autênti autêntica ca - um a divisão entre os que d esejam persistir persistir dentro dos antigos parâm etros e os que estão conscientes conscientes da m udan ça necessári necessária. a. O presidente Oba m a é com frequência acusado de dividir o povo norte-americano em vez de uni-lo para en contrar am plas soluções bipartidárias - ma s e se se for isso, isso, exata m ente, o que h á de bo m nele? nele? Essa Essa divisão, divisão, e não acordos op ortunistas, é o único caminho que leva à verdadeira unidade. Tomemos um exemplo certamente não problemático: a França em 1940. Mesmo Jacques Duelos, o segundo homem na hierarquia do Partido Comunista francês, admitiu nu m a conversa privada que se, na época, fossem re alizadas eleições livres no país, país, o m arechal Pétain teria ter ia ganh ado com 90% dos dos votos. Q uando De Gaulle, em seu ato histórico, se recusou a reconhecer a capitulação
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de Pétain à Alemanha e continuou a resistir, afirmando que apenas ele, e não o regime de Vichy, falava em nome da verdadeira França (em nome da França em si, não somente em nome da "maioria dos franceses”), o que estava dizendo era profundamente verdadeiro, mesmo que em ter mos "democráticos” tal atitude não apenas carecesse de legitimação, mas fosse claram claram ente oposta à opinião da m aioria do povo francês. E Ma rgaret Thatcher, a “dama que não é de voltar atrás”, também era um Mestre desse tipo, aferrando-se a seu projeto de liberalismo econômico de início percebido como louco e gradualmente elevando sua loucura singular ao nível de uma norma aceitável. Quando Thatcher foi indagada sobre sua maior realização, respondeu prontamente: “o Novo Trabalhismo”. E ela estava certa: certa: seu triunfo foi o fato de até mesm o seus adversários políticos políticos adotarem suas práticas econômicas básicas. O verdadeiro triunfo não é a vi v i t ó r i a s o b r e o in im ig o ; ele el e o c o r r e q u a n d o o p r ó p r io i n i m i g o c o m e ç a a usar sua lingu lingu agem , de m odo que suas ideia ideiass passam a constituir o alicerce alicerce do campo como um todo. A s si m , o q u e re st a h o je e m d ia do le g a d o de T h a tc h er ? A h e g e m o n ia neoliberal está claramente desmoronando. A única solução é repetir o gesto de Tha tcher na direção oposta. Tha tcher talvez tenh a sido sido a única única thatcherista verdad eira - ela acreditava acreditava claram ente em suas ideia ideias. s. O neoliberalismo atual, pelo contrário, “só im im agina que acredita em si m esm o e exige que o m undo im agine a mesm a coisa” coisa” (para (para citar Marx). Marx). Lem brem os um a ve z m ais a cruel piad piada, a, já m encionada, de Ser ou não ser, ser, de Lubitsch: questionado questionado sobre os cam pos de concentração concentração alemães na Polônia ocupada, o oficial nazista responsável, “Erhardt Campo de Concentração”, rebate: "Nós fazem os a concentr concentração, ação, os poloneses poloneses fazem o campo.” O m esmo não se aplicaria aplicaria à falência da En ron, em jane iro de 2002 2002 (assim (assim com o a todas as catástrofes catástrofes financeiras financeiras subsequente subsequentes), s), que po de ser interpretada com o uma espécie de comentário irônico sobre a noção de sociedade de risco? Os milhares de empregados que perderam suas ocupações e poupanças certam ente foram expostos ao risco, risco, mas sem nen hu m a opção verdadeira: verdadeira: o risco risco lhes apareceu apareceu com o u m destino destino inevitável. inevitável. Aqu eles que, que, pelo con trário, tinham efetivamente uma visão dos riscos, assim como da possibi-
Proble Problema ma no no para paraíso íso
lidade de intervir na situação (os gerentes de alto escalão), minimizaram seus próprios riscos liquidan liquidan do suas ações e opções antes da falência falência - de m odo que é verdade que vivem os num a sociedade de escolhas escolhas arris arriscada cadas, s, mas alguns (os gerentes de Wall Street) de fato escolhem, enquanto outros (as pessoas com uns que pag am hipotecas) hipotecas) se arriscam. arriscam. Co m o já assinalamos, um a das estranhas estranhas consequências do colapso colapso financeiro e das medidas tomadas para enfrentá-lo (enormes somas de dinheiro para ajudar os bancos) foi um renascimento das obras de Ayn Rand, o mais próximo que se pode chegar de um ideólogo do capitali capitalismo smo do tipo “a cobiça é boa” - as vendas de sua magnum opus, A revolta revolta de Atlas, vo v o lt a r a m a e x p lo d ir . D e a co rd o c o m a lg u m a s a n á lise li se s, j á h á sin si n ais ai s de qu e o cenário descrito em A revolta de Atla At lass - os próprios capitalistas capitalistas criativos criativos entrando em grev e - está está se se consumando. John Campbell, um parlamentar republicano, disse em apoio ao movimento Tea Party: “Os realizadores estão estão entrando em greve. Estou vendo, num nível menor, uma espécie espécie de protesto protesto de pessoas pessoas que criam criam empregos ... ... qu e estão estão reduzindo suas suas am biç b iç õ e s p o r p e r c e b e r e m c o m o se rã o p u n id a s e m fu n ç ã o d ela el a s.” s. ” O a b su rd o dessa reação é que ela representa uma leitura equivocada da situação: a maior parte das gigantescas somas utilizadas para o resgate de institui ções financeiras foi precisamente para os “titãs” randianos desregulados que fracassaram em seus esquemas “criativos” e por isso provocaram o colapso. colapso. Não são os grandes gên ios criativos que estão agora ajudando as preguiçosas pessoas comuns, mas os contribuintes comuns é que estão ajudando os “gênios criativos” falidos. falidos. O outro aspecto do legado de Thatcher atacado por seus críticos de esquerda foi sua forma "autoritária" de liderança, sua falta de um senso de coordenação democrática. Nesse ponto, contudo, as coisas são mais complexas do que pode m parecer parecer.. Os atuais atuais protestos protestos populares por toda a Europa convergem num a série série de demandas que, em sua própria própria espon taneidade taneidade e franqueza, con stituem stituem u m a espécie de “obstáculo epistemo epistemo ló gico” a qualquer confrontação adequada da presente crise de nosso sistema polític político. o. Essas Essas demandas d evem ser ser lidas lidas efetivamente efetivamente com o u m a versão pop ularizad a da política deleuziana: deleuziana: as pessoas sabem o que querem , têm
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capacidade de descobrir e formular esse desejo, mas somente por meio d e u m e n g a j a m e n t o e u m a a t i v id id a d e p er er m a n e n t e s , d e m o d o q u e p r e c i samos de um a dem ocracia ocracia participat participativa iva eficaz, eficaz, não de um a dem ocracia ocracia representativa com seu ritual eleitoral que a cada quatro anos interrompe a passividade dos eleitores; precisamos de uma multidão auto-organizada, não de um Partido Le ninista com seu Líd Líder er.. Mas esse m ito da auto -organ ização d ireta não representativa não seria seria a últim a arm adilha, a ilusão ma is profunda, à qual é m ais difícil renuncia renunciar? r? Sim, existem em todo processo revolucionário momentos eufóricos de solidariedade grupai, quando milhares, centenas de milhares, ocupam ju j u n t o s u m a p r a ç a p ú b li ca , c o m o a p r a ç a T a h r ir , n o C a i r o , e m 2011; sim si m , há m om entos de intensa partic participação ipação coletiva em que com unidades locais locais debatem e decidem, em que as pessoas vivem num a espécie de estado estado de emergência permanente, tomando as coisas em suas próprias mãos, sem um Líder para para guiá-las. guiá-las. Mas essas essas condições não são sã o perm anen tes - e o “cansaço” não é aqui um simples fato psicológico, mas uma categoria de ontologia ontologia social. social. A am pla maioria maioria - inclusive inclusive eu - deseja deseja ser passiva e confiar num aparato de Estado eficiente para garantir o funcionamento tranquilo de todo o edifício edifício social, social, de mod o que eu possa possa realizar meu trabalho em paz. Seguindo o espírito da ideologia atual, que exige passar da hierarquia tradicional, uma subordinação ao Mestre do tipo pirâmide, para redes rizom áticas pluralizantes, a análise política política gosta de assinalar que os novos protestos protestos antiglobalistas antiglobalistas por toda a Europa e os Estados Unidos, do O ccupy W a ll S tr ee t à G r é c ia e à E sp a n h a , n ã o t ê m u m a a g ê n c ia p r in cip ci p a l, u m C o mitê Central, coordenando suas atividades. Em vez disso, trata-se apenas de múltiplos grupos interagindo, na maioria das vezes por meio de novas mídias como o Facebook ou o Twitter, e coordenando sua atividade de ma neira espontânea. E por isso isso que, quando os mecanism os do pod er policial policial procuram por comitês organizadores organizadores secret secretos, os, só só fazem errar o alvo - em Liubliana, capital da Eslovênia, 10 10 m il m anifestan tes reuniram -se em fren te ao Parlamento, em fevereiro de 2014, e orgulhosamente proclamaram: "O protesto tem a presença de 10 10 m il organizad ores.” M as será que essa essa autoauto-
Problem Problema a no paraíso paraíso
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organização “molecular” espontánea é realmente um modo novo e mais eficiente de “resistência”? Será que o lado oposto, especialmente o capital, já j á n ã o a g e ca d a v e z m a is c o m o a q u ilo il o q u e a te o ri a d e D e le u z e c h a m a de mu ltidão ltidão pós-edipi pós-edipiana?3 ana?377 O próprio pod er tem de entrar nu m diálogo nesse nesse nivel, respondendo respondendo tuíte com tuíte - com efeito, efeito, agora o papa e primeirosm inistros inistros estão no Tw itter. itter. Nã o d everíamos ter m edo de levar levar essa essa linha linha de raciocínio à sua conclus conclusão: ão: a oposição entre poder vertical hierárquicocentralizado e mu ltidões ltidões h orizontais é inerente à ordem social e política política existente; nenhum dos dois é apriori “m “m elho r” ou m ais “progressista”.38 A lé m diss di sso, o, n o q u e d iz re sp e ito it o à m u lt id ã o m o le c u la r a u to -o r g a n iz a d a contra a ordem hierárquica sustentada pela referência a um Líder carismá tico, tico, vale a pena o bservar a ironia de a Venezu ela, celebrada por m uitos por suas tentativas tentativas de desen volver formas de dem ocracia direta (conselhos (conselhos locais, locais, coop erativas, fábricas fábricas dirigidas dirigidas por trabalhadores) trabalhadores),, ser tam bém um país cujo presidente era Hugo Chávez, um poderoso líder carismático. É com o se a regra freudiana da transferência transferência tamb ém estivesse estivesse valendo aqui: aqui: para que os indivíduos “ultrapassem a si mesmos”, rompam a passividade da política representativa e se tornem eles próprios agentes políticos diretos, faz-se faz-se necessária necessária a referência ao Líder, Líder, um Líder que lhes perm ita escapar do pântano, como o Barão de Münch hausen, u m líder líder que "supostamente sabe” sabe” o que eles eles desejam. desejam. É po r isso isso que, em seu livro livro de diálogos, Alain Badiou e Elisabeth Elisabeth Roudinesco estavam certos ao ao apontar que, que, ao mesm o tem po que realmente solapam o Mestre clássico, as redes horizontais alimentam novas formas de dom inação m uito mais fortes fortes do que esse esse m esm o Mestre. A tese tese de Badiou é que um sujeito precisa de um Mestre para se elevar acima do “anim al hum an o” e praticar a fideli fidelidade dade a um Evento-Verdade: Evento-Verdade:
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Em última instância, o que se perdeu nas sociedades psicana-
líticas líticas foi a posição do Mestre em benefício da posição do pequeno chefe. chefe. a e s c h i m a n n roudinesco
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O que você quer dizer com "mestre”? "mestre”? posição do mestre permite perm ite a transferência: o psicanalista "su
postamente sabe” o que o analisando vai descobrir. Sem esse conhecimento atribuído ao psicanalista, a busca da origem do sofrimento é quase impossível.
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Mas será esse efetivamente o caso? Será que a única alternativa ao Mestre é o chefe (potencialmente “totalitário”)? Em psicanálise, o Mestre é por definição um impostor, e o problem a do processo ana lític líticoo resumese a dissolver a transferência ao Mestre qua qu a “sujeito “sujeito sup osto saber” - a conclusão da análise envolve a queda do sujeito suposto saber. Embora
212
Problem Problema a no paraíso paraíso
Jacques-Alain Miller (como analista) confirme essa queda, não obstante concorda com Badiou em que o reino da polític políticaa é o dom inio do discurso do Mestre. A diferença entre eles reside no fato de que, enquanto Badiou opta pelo pleno engajamento, Miller defende um distanciamento cínico em relação relação ao Mestre: Mestre: um psicanalist psicanalistaa
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Deve-se rejeitar essa premissa comum: um axioma da política emancipatória radical é que o Mestre não nã o é o derradeiro horizonte de nossa v id a so ci a l, q u e se p o d e fo r m a r u m c o le t iv o q u e n ã o seja se ja u n id o p o r u m a figura do Mestre. Sem esse axioma, não existe uma política comunista propriam ente dita, dita, apenas aperfeiçoam aperfeiçoam entos pragm áticos da ordem atual. atual. Entretanto, deveríamos ao mesm o tem po seguir a lição lição da psic psicanáli análise: se: o único cam inho no rum o da libert libertação ação passa pela transferê transferência, ncia, e é por isso isso que a figura de um M estre é inevitável. Assim , deveríam os segu ir sem sem m edo a sugestão sugestão de Badiou: Badiou: para acordar efetivam efetivam ente os indivíduos de seu dogmático “sono democrático”, de sua confiança cega em formas institu cionalizadas de dem ocracia representati representativa, va, os apelos à auto-organização direta não são suficientes: faz-se necessária uma nova figura do Mestre. Lembremos os famosos versos de “Uma razão”, de Arthur Rimbaud:
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213 213
Não há absolutamente nada nesses versos que seja inerentemente "fascist "fascista”. a”. O suprem o paradoxo da dinám ica política política é ser ser necessário necessário um M estre para tirar os individuos individuos do impasse de sua inercia inercia e m otivá-los otivá-los a se envolver na luta emancipatória autotranscendente por sua liberdade. A s s im , o q u e p r e c is a m o s h o je e m d ia, ia , n e s ta si tu a ç ã o , é d e u m a T h a t c h e r de esquerda: um líder que repita o gesto de Thatcher na direção oposta, transformando todo o campo de pressupostos compartilhado pela atual elite política de todas as principais orientações. Também é por isso que devem os rejeitar rejeitar a ideologia daquilo que Saroj Saroj Giri cha m ou de “ horizontalismo anárquico”, a desconfiança desconfiança em todas as estruturas hierárquicas devem os reafirmar sem pudor a ideia ideia de “vanguarda", quando u m a parte do m ovim ento p rogressista rogressista assume a liderança liderança e mob iliza iliza outras: outras:
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Giri tom tom a o exemplo do Conselho de Porta-Voz Porta-Vozes, es, em O akland, do m o v im e n t o O c c u p y W a ll S tr ee t, u m a e s tr u tu r a d is tin ti n ta da A s s e m b le ia G e ra l:
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de a minoria forn ecer a rota rota do movimento não equivale a uma subjetivida de reificada.44
O m esm o vale para as cham adas táticas táticas “extremistas”, que podem ser ser contrapr contraproducent oducentes, es, mas tam bém podem radicalizar radicalizar um amplo círculo círculo de
Problem Problema a no para paraíso íso
214 214
apoiadores: "essas práticas, que constituem as ações de uma minoria radi cal, não leva m à desunião, mas a um a unidad e revolucio nár ia superior.”4 superior.”455
“O direito de necessidade” Portanto, qual é o gesto elementar desse Mestre? Surpreendentemente, aqui Hegel apontou o caminho. Com ecem os com sua sua explanação explanação sobre sobre o "direito de necessidade” ( Notrec No trecht ht ):46 ):46 § i2j A s i m
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Epign Epignos ose: e:J ’ai hâte de vous vous serv servir! ir!
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§ 128 Essa necessidade revela a finitude e, portanto, a contingência tanto do direito quanto de sua satisfação como a incorporação abstrata da liberdade sem incorpora r a pessoa pessoa particular, e da satisfação como a esfera esfera da vontade particular sem a universalidade do direito. H egel não fala fala aqui das consider considerações ações hum anitárias anitárias que devem temp e rar nosso nosso zelo legalista legalista (se (se um pai em pobrecido rouba pão para alimen tar seu filho filho fam into, devem os dem onstrar misericórdia misericórdia e compaixão, ainda que ele tenha descumprido a lei). Os partidários dessa abordagem, que limitam seu zelo a lutar lutar contra o sofrimento, sofrimento, enqu anto deixam intacto intacto o edifício jurídico- econ ôm ico dentro do qual esse esse sofrimento o corre, “só “só demonstram que, a despeito de seu brado sanguinário falsamente huma nista, nista, encaram as condições sociais sociais em que a burgu esia é domin ante com o o produto final, o non plus ultra ultra da história”47 história”47 - a caracterizaçã o de M arx, que se ajusta perfeitamente a humanitaristas de hoje como Bill Gates. He gel está falando de um direito jurídico básico, um direito que é como tal superior a quaisquer outros direitos jurídicos. Em outras palavras, não estamos tratando simplesmente do conflito entre as demandas da vida e as restrições restrições do sistema juríd ico de direitos, direitos, m as do direito (à vida) que se sobrepõe a todos os direitos formais, ou seja, do conflito inerente inerente à esfera dos direitos, um conflito inevitável e necessário, necessário, já que serve como indi cador da finitude, da inconsistência e do caráter “abstrato” do sistema de direitos direitos jurídicos em si. “Recusar que um hom em cuja vida corre perigo tom e essa essass medidas para sua autopreservação [como roubar a com ida de que n ecessita ecessita para sua sobrevivência] seria estigmatizá-lo como sem direitos.” direitos.” A s s im , u m a v e z m a is , a q u e s tã o n ã o é q u e a p u n iç ã o p o r u m r o u b o ju s t i ficado iria privar o sujeito de sua vida, mas que iria excluí-lo do domínio dos direito direitos, s, ou seja, seja, o reduziria a um a vida desprotegida fora do dom ínio da lei, lei, da ord em juríd juríd ica. Em outras palavras, essa recusa priva o sujeito sujeito de seu próprio direito a ter direitos. direitos. Além disso, a Nota No ta citada citada aplica essa lógica à situação situação de um devedor, devedor, afirm ando que lhe deveria ser perm itido m anter seus recursos no grau considerado indispensável para que ele continuasse sua vida vida n ão apenas no nível da mera sobrevivência, sobrevivência, m as "em seu próprio
Problem Problema a no para paraíso íso
216
nível social” social” - um a afirmação totalmente relevante em nossos nosso s dias dias com respeito respeito à situação situação da maioria em pobrecida em Estados devedores como a Grécia. Entretanto, a questão-chave aqui é: podemos universalizar esse “direito de necessidade”, estendendo-o a toda uma classe social e a seus atos atos contra a propriedade propriedade de um a outra clas classe se?? Em bora H egel não aborde diretame nte essa questão, questão, um a resposta positiva positiva se imp õe a partir de sua sua descrição da “ralé” como um grupo ou classe cuja exclusão do domínio do reconhecimento social é sistemática: 244 244 Acréscimo : U
§ n i m
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N um a situação com o essa, essa, em que toda um a classe classe de pessoas é siste siste maticamente empurrada abaixo do nível da sobrevivência digna, recusar que elas tomem “medidas para a sua autopreservação” (que, nesse caso, só pode significar a rebelião aberta contra a ordem jurídica estabelecida) estabelecida) é estigmat izá-las como sem direitos direitos.. Em suma, o que extraímo s dessa dessa leitura leitura d e H e g e l é na n a d a m e n o s q u e u m H e g e l m a o is i s ta ta , u m H e g e l q u e n o s d i z o que Mao dizia aos jove ns no início da Rev olução Cu ltural: "É correto rebelar-se!” rebelar-se!” Essa é a lição do verd adeiro Mao. Um verdadeiro Mestre não é um agente da disciplina e da proibição. Sua mensagem não é “Você não pode!” nem “Você deve...!”, mas um “Você pode!” libertador. Mas “pode” o quê? Fazer o impensável, isto é, o que parece impossível dentro das coordenadas da constelação existente - e hoje em dia isso isso significa algo algo m uito preciso: preciso: você s pode m pen sar além do capitalismo e da democracia liberal como arcabouço final de suas vidas. Um Mestre é um mediador evanescente que o devolve a si mesmo, que o entrega ao abismo de sua liberdade: quando ouvimos um verdadeiro líder, líder, descobrimos o que querem os (ou melhor, o que sempre-já sempre-já queríam os sem o sabe saber) r).. Um M estre é necessário necessário porq ue não po dem os a ceder a nossa liberdade liberdade d iretam iretam ente - para obter esse acess acesso, o, tem os de ser empurrados a partir de fora, já que nosso "estado natural” é o do hedonismo inerte,
Epign Epignose ose:: J ’ai hâte de vous vous serv servir! ir!
217 217
o que Badiou chama de “animal humano”. O paradoxo subjacente aqui é que, quanto mais vivem os com o “indivíduos livres livres sem um M estre”, m ais somos efetivamen te não livres, presos presos ao arcab ouço de possibil possibilidades idades existent existente: e: tem os de ser empurrados/excitados empurrados/excitados à liberdade por um Mestre. Mestre. E m Art A rt /V iole io len n ce , de Udi Aloni, um docum entário tributo a Juliano Juliano M er Kham is, fundador do Teatro da Liberdade de Jenin, Jenin, um a jov em atriz palestina descrev e o que Juliano significava para ela e seus seus colegas: colegas: ele ele lhes deu sua liberdade, ou seja, seja, os torn ou co nscientes do que pod em fazer, abriu uma nova possibilidade para eles, filhos sem lar de um campo de refugiados. Esse é o papel de um autêntico Mestre: Mestre: quando tem os m edo de algum a coisa (e (e o m edo da morte é o m edo m aior que nos torna escrav escravos) os),, um verdadeiro amigo dirá algo como: “Não tenha medo, veja, eu farei aquilo aquilo de que vo cê tem medo, e o farei farei de graça - não porque precise, precise, mas pelo am or que tenho por você; não tenho m edo!” Ele o faz faz e dessa dessa forma nos liberta, liberta, demo nstrando in actu que actu que pode ser feit feito, o, que tam bém podem os fazê-lo, que não somos escravos... H ouv e um traço desse desse apelo apelo do autêntico autêntico M estre no slogan da primeira cam panh a presidencial presidencial de Obama: “Sim, podem os!”, frase que assim assim abria abria um a nova possibil possibilidade. idade. Mas, Mas, algué m pod eria dizer, dizer, Hitler tam bém não fez algo formalm ente semelhante? semelhante? Sua Sua mensagem ao povo alemão não foi “Sim, “Sim, pode m os” m atar os judeus, esm agar a democracia, agir de forma racist racista, a, atacar outras nações? Uma análise mais atenta mostra-nos imediatamente a diferença: longe de ser um autêntico Mestre, Hitler foi um demagogo populista que jog ou cuidadosamente com os desejos desejos obscuros das pess pessoas oas.. Pod e parecer que, que, ao fazer isso, isso, estivesse estivesse seguindo o abom inável lema de Steve Jobs: Jobs: "M uitas vezes, as pessoas não sabem o que qu erem até que v o c ê lh e s m o s t r e . ” E n t r e t a n t o , a d e s p e it o d e t u d o q u e se p o s s a c r it ic a r quan to às atividades de Jobs, Jobs, ele estava perto de ser um autêntico M estre no m odo como entendi entendiaa o seu lema. lema. Q uando lhe perguntaram o quanto quanto a Apple investiga sobre o que os clientes desejam, ele respondeu: “Nada. Não é tarefa dos clientes saber o que desejam... nós imaginamos o que nós desejamos.”4 desejamos.”48 Ob servem a surpreendente guinad a de seu argumento: após negar que os clientes clientes saibam o que querem, Jobs não prosseg ue co m o
Problem Problema a no paraíso paraíso
reverso direto que seria de esperar - "É tarefa nossa (a (a tarefa do capitalismo criativo) imaginar o que os clientes desejam e depois ‘mostrá-lo’ no mer cado.” cado.” Em ve z disso, disso, continua continua ele: ele: “nós im im aginam os o qu e nós desejam nós desejam os.” É assim que um verdadeiro Mestre funciona. funciona. N ão tenta adivinhar o que as pessoas desejam; simplesmente obedece a seu próprio desejo, de maneira que cabe às pessoas decidir se irão segui-lo. segui-lo. E m outras palavras, seu pod er deriva de sua fidelidade a seu desejo, de não comprometê-lo. Aí reside a diferença diferença entre um verdadeiro Mestre e, digamos, u m líder líder stalinist stalinistaa que finge saber (mais do que elas próprias) aquilo que as pessoas realmente desejam (o que realmente é bom para elas), e está então preparado para lhes impor isso mesm o contra a vontade delas. delas. A s o lu ç ã o de H e g e l p a ra o d il e m a d o M e s t r e - te r u m M e s t r e (co (c o m o um rei) rei) reduzido a seu Nom e, um a autoridade puram ente simbólica total total mente dissociada de todas as verdadeiras qualificações para seu trabalho, um a m onarca cuja única função é assinar assinar propostas preparadas por espe ciali cialista stass - não deve ser confundida com a cínica cínica postura de “Querem os um Mestre que sabemos ser um idiota”. Não podemos trapacear dessa maneira, um a vez que é preciso fazer fazer um a escolha: escolha: ou não levamo s a figura figura do mestre a sério (e nesse caso o Mestre simplesmente não funciona de m odo perform ativo) ou o levamo s a sério sério na man eira de agirm agirm os, apesar de nossa consciente consciente ironia direta (que (que podem os desenvolver ao pon to de realmente desprezarmos o Mestre). Se assim fosse, estaríamos simples me nte tratando de um caso de rejeição, rejeição, de “Eu sei m uito bem , m as”: nosso distanciamento irôn ico é parte da relação relação transferencial com a figura figura do Mestre; funciona como uma ilusão subjetiva que nos habilita a suportar efetivam efetivam ente o M estre - ou seja seja,, fingimo s não levar o M estre a séri sérioo para poderm os suportar o fato de o Mestre ser realmente o no sso mestre. mestre. Um m ecanism o de trapaça semelhante é aceitar a necessidade necessidade da da figura de um M estre político, político, mas a firmar que essa figura figura só pod e ascender após um processo de deliberação deliberação coletiva: coletiva: o M estre não pode ser convocado a trazer a solução quando as pessoas se encontram num dilema. Nesse caso, só se conseg ue um ditador que de fato fato não sabe o que fazer. fazer. Prim eiro as pessoas têm de unir sua vontade em torno de determinado projeto, e só
Epign Epignos ose: e: J ’ai hâte de de vous vous serv servir! ir!
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depois perm itir que um a figura figura sem elhante a um M estre as as cond uza pelo pelo cam inho delineado delineado nesse projet projeto. o. L ógica com o possa parecer, parecer, essa essa noção põ e a carroç a à frente frente dos bois: bois: com o foi discutido, os verdadeiros líderes não faze m o que as pessoas querem ou planejam; planejam; eles dizem às pessoas o que elas querem, e é só por meio deles que elas percebem o que querem. A í re sid si d e a a çã o de u m v e r d a d e ir o líd lí d e r p o líti lí tico co : a pó s o u v i- lo o u o u v i-la i- la , as pessoas subitamente percebem o que sempre souberam desejar desejar - ouv ir o M estre faz com que entend am m elhor sua própria própria posição e as habilita habilita a reconh ecerem a si mesm as, suas necessi necessidades dades mais profundas, no projeto projeto que lhes é apresentado. Mas um Mestre autêntico autêntico não precisa precisa ser um líde líder: r: M arek Edelman (1919919-20 200 09) foi um ativista po lítico e so cial jud eu polon ês. A ntes da Se gun da Gu erra M undial, ele havia atuado na U nião Judaica Judaica Trabalhista, Trabalhista, de tendência esquerdista (que se opunha ao projeto sionista); durante a guerra, foi cofundador da O rgan ização Judaica Judaica de Com bate, participou participou do L evan te do G ueto de Varsóvia, em 1943 (tornando(tornando-se se líder líder após a morte de Mordechaj Anielewicz), e também do levante geral da cidade em 1944. Depois da guerra, Edelman se tornou um cardiologista famoso; a partir da década de 1970, colaborou com o Comitê de Defesa dos Trabalhadores; como membro do Solidariedade, participou das chamadas Mesas-Redon das Polonesas em 1989. 89. Em bora e nfrentasse o a ntissem itismo em seu país país,, Ed elm an foi sempre um antissionis antissionista; ta; num a entrevista conce dida em 1985, ele disse que o sionismo era uma “causa perdida” e questionou a viabili dade de Israel. Perto do fim da vida, defendeu publicamente a resistência palestina, palestina, afirm afirm ando que a autodefesa autodefesa dos judeus p ela qual havia lutado corria o perigo de cruzar a linha que a separava da opressão. Em agosto de 200 20022, escr eveu um a carta a berta aos líderes da resistência palestina; palestina; em bora criticasse criticasse os ataques suicidas suicidas com etidos por palestinos, palestinos, seu tom enfureceu o gove rno e a imprensa imprensa israele israelenses nses,, um a ve z que foi escrita escrita no no espírito de solidariedade de um companheiro de luta na resistência, um antigo líder de de um levante judaico que não fora diferente, diferente, em termo s de desespero, do levante palestino nos territórios territórios ocupados. E m fun ção disso, disso, Edelm an nunca o bteve nenhu m reconhecim ento oficial oficial israe israelens lensee por seu seu
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Problem Problema a no paraíso paraíso
heroís heroísmo; mo; quando visitou visitou a Polônia Polônia com o primeiro-ministro e Edelma n fazia parte da delegação delegação que aguarda va por ele no aeroporto de Varsóvia, Y it z h a k R a b in se r e c u s o u a lh e a p e r ta r a m ã o (a ra r a z ã o q u e d eu fo i q u e n ã o queria apertar apertar as mãos de um m em bro do Bund).4 Bund).49 9 Ch am ar Edelm an de um “judeu que o diava a si si mesm o” teria sido sido a maior das obscenida obscenidades, des, já que ele represent representaa um a certa certa postura ética raramente encontrada hoje em dia: dia: sabia sabia quan do deveria a gir (contra (contra os alemães), alemães), faze r declaraçõe s públi cas (em (em favor dos palestinos), palestinos), envo lver-se em atividades políticas (pelo Soli dariedade) ou simplesmente estar ali. Quando esposa e filhos emigraram, no auge de uma crescente campanha antissemita, em 1968, ele resolveu ficar na Polônia, comparando-se às pedras dos prédios em ruínas no local onde ficava o campo de extermínio de Auschwitz: "Afinal, alguém tinha de perm anecer aqui jun to com todos os que morreram .” Isso Isso diz tudo: tudo: o que im portava era, era, em últim a instância, instância, sua pura e simples presença ali, ali, não suas suas declarações - a consciência consciência da presença de Edelm an, o próprio fato de ele “estar ali”, é que libertava as pessoas.
Apêndice: Nota bene! bene!
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d e “ nota bene” - “preste muita atenção, observe
b e m ” (o co rr e to ) e “ b o a n o it e ” (o fa ls o , b a s e a d o n u m a t r a d u ç ã o e q u i v o cada de "nota" por "noite”) "noite”) - m ostram com m uita precisão precisão o destino destino do crítico crítico da ideologia na atualidade. Em nossa era de indiferença cínica, a m ensagem do crític críticoo da ideologia ideologia é “P restem m uita atenção atenção ao que estou dizen do, acorde m para a sua realidade!”, realidade!”, enquanto a resposta a esse esse apelo apelo frequen teme nte é: é: “Vo cê é chato, me deixa com sono, portanto, bo a noite!” noite!” Como romper esse torpor dogmático, como passar do “boa noite” ao "es tou ouvindo o que você diz”? O que torna tão difícil essa tarefa é que os sonhos ideológicos não são simplesmente opostos à realidade: eles estruturam (aquilo que vivenciamos como) a realidade. Se, contudo, o que vivenciamos como realidade é estruturado pela fantasia, e se a fantasia serve como a tela que nos pro tege de sermos diretamente afetados pela frieza do Real, então a própria realidade realidade pode fun cion ar como como um a form a de evitar o encontro encontro com o Real. N a oposição entre sonho e realidade, a fantasia está do lado desta última, e é nos sonhos que encontramos o Real traumático. Logo, não é que os so nhos sejam sejam para aqueles aqueles que não p odem aguen tar a realidad realidade; e; na verdade, a própria realidade é que é para aqueles que não podem aguentar (o Real que se anuncia em) seus sonhos. Essa é uma lição que Lacan extraiu do famoso sonho, relatado por Freud em A inter int erpr pret etaçã açã o dos sonho son hos, s, do pai que adormece enquanto vigia o caixão do filho. No seu sonho, o filho m orto lhe a parece, parece, pronunciando o terrível apel apelo: o: “Pai, não vê que estou queimando ?” Q uan do o pai acorda, acorda, descobre descobre que um a das velas velas acesa acesass sobre o caixão do filho havia caído, ateando fogo ao pano que o cobria. 221 221
Proble Problema ma no paraíso paraíso
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Então, por que o pai acordou? Teria sido porque o cheiro da fumaça ficou tão forte que não era mais possível possível prolongar o sono, incorporando-o ao sonho improvisado? Lacan propõe uma leitura muito mais interessante: não foi a interferência do sinal vindo da realidade externa que acordou esse esse pai infeliz, infeliz, mas o caráter insuportavelm ente traum ático daquilo que encontrou no sonho - enquanto “sonhar” significa significa fantasi fantasiar ar para para evitar o confronto com o Real, o pai literalmente acordou para poder continuar sonhando. O cenário foi o seguinte: quando seu sono foi perturbado pela f u m a ç a , o p a i r a p id id a m e n t e c o n s t r u i u u m s o n h o q u e i n c o r p o r o u o e l e e m ento perturbad or (fumaça/fogo) (fumaça/fogo) a fim fim de prolongar o sono; sono; mas o que ele ele con frontou no sonho foi um traum a (sua (sua responsabili responsabilidade dade pela morte do filho) muito maior que a realidade, de modo que ele acordou para esta a fim fim de evitar o Real. O que isso significa é que a crítica da ideologia não deve começar criticando a realidade, mas criticando nossos sonhos. A arte do sonhar revolucionário pode desem penhar um papel crucial em tempos pré-revo pré-revo-lucionários. Esse sonh ar não se limita apenas a forças forças radicai radicais: s: tam bém se pode aprender muito com a forma distorcida como um agente histórico conservador ou liberal im agina a sombra sombra am eaçadora do Evento emancipador. pador. Até um Evento virtual pode deixar vestígios, vestígios, servir como ponto de referência referência am bíguo - aí reside reside o interess interessee do filme de Christopher N olan sobre Batman, O Cavaleiro das Trevas ressurge, ressurge, que só pode ser adequada mente entendido contra o pano de fundo do Evento que imagina. Eis o roteiro d o filme (um tanto simplifi simplificado). cado). Oito anos antes dos eventos de O Cavaleiro das Trevas, a lei e a ordem p r e v a l e ce c e m e m G o t h a m C i t y : c o m o s ex e x t r a o rd r d i n á r io io s p o d e r e s q u e lh lh e foram conferidos conferidos pela Lei de Dent, o com issário issário G ordon praticamente erradicou o crim e violento e o rganizado. Mas sente-s sente-see culpado pelo aco b e r t a m e n to d os c r im e s d e H a r v e y D e n t (ao t e n ta r m a t a r o fi lh o d e G o r don, antes que Batman o salvasse, Dent caiu e morreu, e Batman assumiu a queda em favor do mito de Dent, possibilitando que ele próprio fosse demonizado como o vilão de Gotham City) e planeja revelar a conspi ração num evento público público em hom enagem a ele, ele, antes antes de decidir decidir que a
Apêndice: Apêndice: Nota bene bene!!
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cidade não está preparada para a verdade. Não mais atuando como Batman, Bruce Wayne vive isolado em sua mansão, enquanto seus negócios sucum bem depois depois de ele investir num projeto de energia limpa limpa destinado destinado a controlar a fusão atômica, mas encerrado depois que Bruce descobre que o núcleo poderia ser alterado para se tornar uma arma nuclear. En quanto isso, a bela Miranda Tate, membro do conselho executivo das Empresas W ayne, estim estim ula Bruce a voltar voltar à sociedade sociedade e continuar continuar com seus trabalhos filantrópicos. A q u i e n tr a o (p rim ri m e ir o) v il ã o do film fi lm e . B a n e , u m lí d e r te r r o r is ta q u e foi membro da Liga das Sombras, obtém uma cópia do discurso de Gordon. Dep ois que as m aquinações financeiras financeiras de Bane levam a empresa empresa de Wa yne quase à bancarrota, W ayn e passa passa o controle desta desta a Miranda e tam bém se envolve num bre ve caso caso am oroso com ela. ela. (Nisso (Nisso ela ela compete com Selina Kyle, uma ladra de carros que tira dos ricos para redistribuir a riqueza, mas finalmente se une a Wayne e às forças da lei e da ordem.) A o d e s c o b r ir q u e B a n e a s s u m iu o c o n t r o le d e se u n ú c le o de fu s ã o , W a y n e retorna como Batman e confronta Bane, que diz ter recebido o comando da Liga das Som bras após a mo rte de seu líder líder,, Ra s al Ghul. D epo is de ferir ferir Batman num combate corpo a corpo, Bane o detém numa prisão da qual fug ir é praticamente im possível: possível: os detentos detentos contam a W ayn e a história história da única pessoa a escapar com sucesso, uma criança levada pela necessidade e pela pela pura força força de vontade. Enquan to o prisioneiro prisioneiro W ayn e se recupera de seus ferimentos ferimentos e volta a treinar treinar para ser Batman, Bane co nsegue trans formar Gotham City numa cidade-Estado isolada. Primeiro atrai a maior parte dos policiais policiais da cidade para o subsolo e os deixa presos; presos; depois detona explosões que destroem a maioria das pontes que ligam Gotham City ao continen te, anu nciando que qua lquer tentativa de sair da cidade cidade vai resul tar na detonação do núcleo de fusão de Wayne, convertido numa bomba. A q u i c h e g a m o s a o m o m e n to c r u c ia l d o film fi lm e: a c o n q u is t a d e B a n e é acompanhada de uma ampla ofensiva político-ideológica. Ele revela publi camente o acobertam ento da m orte de D ent e liberta liberta os presos condenados condenados pela lei lei que leva o no m e deste. deste. Co ndena ndo os ricos ricos e poderosos, poderosos, prom ete devolver o pod er às pessoas com uns, conclama ndo-as a "retom ar sua cidade”. cidade”.
Problem Problema a no paraíso paraíso
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Bane se revela “o inequívoco participante do Occupy Wall Street, convo cando os 99% a m archa r unidos e derruba r as as elites elites da sociedade”.10 sociedade”.10 que se segue é a idei ideiaa do filme sobre o pod er popular: popular: julgam ento s sum ários e exe cuções de ricos, ruas caóticas com crimes e atrocidades, e assim por diante. Dep ois de alguns meses, W ayne consegue escapar escapar da prisão, prisão, retorna retorna a Goth am com o Batman e convoc a seus seus am igos a ajudá ajudá-l -loo a libertar libertar a ci ci dade e interromper a bomba de fusão antes que ela exploda. Ele enfrenta e derrota Bane, mas Miranda intervém e o ataca, revelando ser Talia al Gh ul, a filha filha de R a s: s: foi ela ela que escapou da prisão prisão qu ando criança, e Bane foi a única pessoa a ajudáajudá-la la em sua fuga. fuga. A pó s anu nciar seu plano de co m pletar o trabalho do pai destruindo Gotham, Talia foge. No pandemônio subsequente, Gor don elimina a possibilidade possibilidade de a bom ba ser detonada por controle remoto enquanto Selina mata Bane, permitindo que Batman saia à caça de Talia. Talia. E le tenta forçáforçá-la la a levar a bom ba para a câ m ara de fusão, onde pode ser estabilizada, estabilizada, m as ela inunda a sala sala.. Talia m orre qu ando seu cam inhão bate fora da estrada, estrada, e Batm an leva a bom ba além dos limites limites da cidade cidade,, onde ela explode no oceano e presumivelm ente o m ata. ata. Batman é agora celebrado como um herói cujo sacrifício salvou Go tham City, enquanto Wa yne, ao que se presume, m orreu nos tum tum ultos. ultos. Qua ndo a propriedade propriedade de Wa yne é dividi dividida, da, seu fiel fiel m ordom o A lfred o vê ao lado lado de Selina Selina num café café em Florença, Florença, enquanto Blake, um jovem poli cial honesto que conhece a identidade de Batman, é nomeado herdeiro da Batcaverna. Em suma, Batm an evita o desastre, sai sai ileso e passa a ter uma vid v id a n o r m a l, c o m o u tr a p e s so a a s s u m in d o se u p a p e l n a d efes ef es a do si st em a .2
B a t m a n , C o r in in g a , B a n e A p ri m e ir a pist pi staa d o alic al icer erce ce id e ol ó g ico ic o de sse ss e fin f in a l é fo rn ec id a pe p e lo m o rd o m o A lfr lf r e d , qu e, n o (supo (su posto sto)) f u n e r a l de W a y n e , lê as ú ltim lt im a s lin li n h a s de Um conto de duas cidades, cidades, de Dickens: "Esta é, sem dúvida, a melhor coisa que faço e que jam ais fiz; fiz; este é, sem dúvida, o m elho r descanso que terei e que jam ais tive.” tive.” Algun s críticos críticos do filme tom aram essa essa fala fala com o indicação de que ele
Apêndice: Apêndice: Nota bene! bene!
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E efetivam efetivam ente, dessa dessa perspectiva, perspectiva, há apenas um recuo de D ickens a Cristo no Calvário: "Pois aquele que quiser salvar a sua vida vai perdê-la, ma s o que perder a sua vida por causa de m im vai encontrá-l encontrá-la. a. D e fato, fato, que aproveitará aproveitará ao hom em se ganh ar o m undo inteiro m as arruinar a sua vida?” vida?” (Mateus 16:25-26). O sacrifício de Batman como a repetição da morte de Cristo? Cristo? Essa ideia não seria seria prejudicada pela última cena do filme (W ayn e com Selina num café de Florenç Florença) a)?? A contrapartida contrapartida religiosa desse final final não seria, seria, em v ez disso, disso, a conhecida ideia ideia blasfema de que Cristo na verdade so br b r e v i v e u a su a c r u c if ic a ç ã o e t e v e u m a v id a lo n g a e t r a n q u il a (na ín d ia o u talvez no Tibete, segund o algum as font fontes es))? A ú nica forma de redim ir essa essa cena final teria sido interpretá-la como um devaneio (alucinação) de Alfred, sentado sozinh o no tal café café de Florença. Florença. O utra característi característica ca dickensiana do filme é a reprovação despolitizada do fosso entre ricos e pobres. No início início do filme, filme, Selina Selina sussurra sussurra a W ayn e enquan to dançam num a festa festa ex clusiva de classe classe alta alta:: “U m a tempesta de se aproxima, sr. sr. Wa yne. E m elhor que o senho r e seus seus amigo s se preparem, pois quando ela chegar vocês vão ficar ficar surpresos surpresos por terem imag inado que pudessem vive r à larga larga e deixar tão pouco para o resto de nós.” nós.” Jonathan N olan, irmã o de C hristopher e coautor do roteiro, está (como todo bom liberal) "preocupado” com essa disparidade e admite que tal preocupação está presente no filme:
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Embora os espectadores saibam que Wayne é bilionário, tendem a esquecer a fonte de sua riqueza: produção de armas mais especulações no m ercado financeiro, m otivo pelo qual as jogad as de Ban e na bolsa bolsa de va lo re s p o d e m d e st r u ir se u im p ér io . C o m e r c ia n t e d e a rm a s e e s p e cu la d o r esse esse é o verdad eiro segredo que se oculta sob a má scara de Batman. C om o o filme lida com isso? Ressuscitando a arquetípica alegoria de Dickens de um bo m capitali capitalista sta que se envo lve no financiam financiam ento de orfanatos (Wayne) contra um capitalist capitalistaa ruim e amb icioso icioso (Stryver, (Stryver, no caso de Dickens). Dickens ). Nessa superm oralização de Dickens, a dispari disparidade dade econ ôm ica entre rico ricoss e pobres se traduz por “desonestidade”, a qual deveria ser "honestamente” analisada, embora nos falte um levantamento cognitivo confiável. Essa abordagem "honesta” leva a outro paralelo paralelo com Dickens - com o Jonathan No lan afirma abertamente: abertamente: "Um conto de duas cidades f o i p a r a m i m u m a espécie de retrato excruciante de uma civilização identificável, reconhe cível, que havia se desmantelado totalmente. Com o Terror em Paris, na França daquele período, não é difícil imaginar que as coisas pudessem ir tão mal.”5 As cenas dos popu listas ving ativo s se insurg indo n o filme (uma turba sedenta do sangue dos ricos que os negligenciaram e exploraram) evoca as descrições descrições que que D ickens faz do Terror, Terror, de m odo que, em bora "nada "nada tenha a ver com política” política” (como d iz Christophe r Nolan), Nolan), o filme filme segue o rom ance de Dickens ao retratar retratar "honestam ente” os revolucionários revolucionários como fanáticos endemoniados, e assim fornece
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Tom Charity estava certo ao observar "a defesa que o filme faz do establishm establishm ent na forma de bilionários bilionários filantrópic filantrópicos os e policiais policiais incorruptí ve v e is ” 7 - e m su a d e sc o n fia fi a n ça e m re la çã o às p es so a s q u e q u e r e m r e s o lv e r as coisas coisas por si mesm as, o filme “de m onstra tanto u m desejo desejo de justiça social quanto o medo de como as coisas podem ficar nas mãos de uma turba”.8 Ra m akrishnan K arthick levanta levanta aqui um a questão perspicaz perspicaz com respeito respeito à imensa po pularidade da figura do C oring a no film e anterior: anterior: por que essa essa atitude dura em relação a Bane quan do o Co ringa foi tratado com leniência no outro filme? A resposta é simples e convincente:
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Entretanto, mesmo que Bane não tenha o fascínio do Coringa de H eath Ledger, há um a característica característica que o distingue deste: deste: o am or incon dicional, dicional, a própria fonte de sua fortaleza. fortaleza. N um a cena curta, porém tocante, tocante, ele conta a Wayne como, num ato de amor em meio a um sofrimento terrível, terrível, salvou a men ina Talia, sem se im im portar co m as consequências e pagando um alto preço por isso (quase morreu apanhando para defendêla). la).110K arth ick tem toda a razão q uand o situa esse esse even to na longa tradição, tradição, de Cristo a Che Guevara, que exalta a violência como "obra do amor”, como nas famosas palavras do diário deste último: “Permitam-me dizer, sob o risco risco de parecer ridículo, ridículo, que o verdadeiro revolucioná rio é guiado
Proble Problema ma no no paraí paraíso so
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por grandes sentimentos de amor. É impo ssível im aginar um verdadeiro revolucionário sem essa qualidade.”1 qualidade.”111 O que encontram os aqui não é tanto a “cris “cristif tificação icação do Ch e” qu anto a “cheização” do próprio próprio C risto - o C risto cujas cujas palavras palavras "escandalosas” "escandalosas” (“Se (“Se alguém vem a m im e não odeia seu pró prio pai e mãe, m ulher, filhos, filhos, irmãos, irmã s e até a própria vida, não pode ser m eu d iscípulo” iscípulo” - Lucas 14: 14:26) apontam exatamen te na mesm a direção da fam fam osa frase frase de Che: “Há que ser duro, mas sem perder a ternura.” ternura.” A afirmação de que "o verdadeiro revolucionário é guiado po r grandes sen timentos de am or” deveria ser lida lida juntam ente com sua descri descrição, ção, mu ito m ais “problemá “problemá tica”, tica”, dos revolucionários revolucionários com o "máquinas de m atar”:
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Ou, novamente parafraseando Kant e Robespierre: o amor sem cruel dade é impotente; a crueldade sem amor é cega, uma paixão temporária que perde o seu contorno persistente. Aqui Guevara está parafraseando as declarações declarações de Cristo sobre a unidade do am or e da espada espada - em ambos os casos, o paradoxo subjacente é que o que torna o amor angélico, o que o eleva acima do sentimentalismo mais instável e patético, é sua própria crueldade, seu elo com a violência. É esse elo que leva o amor acima e além das limitações naturais do homem e assim o transforma num impulso incondicional. incondicional. Desse modo, em bora Ch e Gu evara certamen te acredit acreditasse asse no pode r transforma transforma dor do amor, nunca se poderia ouvi-lo ouvi-lo dizer que "tudo de que se precisa é amor”. O que se precisa é de amor com ódio, ódio, ou, como disse Kierkegaard, a consequência necessária (a "verdade”) da obrigação cristã de amar seu inimigo é
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cristianismo impor a exigência do amor se o amor significar o cumprimento da lei. Portanto, ele ensina que o cristão deve, se lhe for exigido, ser capaz de odiar o pai, a mãe, a irmã e o ser amado.13 Em contraste contraste com o am or erótico, erótico, essa essa noção de am or deveria rece b e r a q u i t o d o o se u p e s o p a u li n o : o dominio da violencia pura, pura, o d o m i n io io fora da lei (poder (poder jurídico), jurídico), o dom ínio da violência qu e não se baseia na lei lei nem tam pou co a sustenta, é o dom inio da ágape (am or incond icional).14 icional).14 Portanto, não estamos lidando aqui simplesmente com um ódio brutal exigido por um Deus cruel e invejoso: o ódio prescrito por Cristo não é uma espécie de oposto pseudodialético do amor, mas uma expressão direta direta da ágape. ágape. É o próprio a mo r que nos prescreve prescreve o "desligam ento” da com unidade orgânica em que nascemos; nascemos; ou, com o dizia são são Paulo, para o c r is i s tã tã o n ã o e x i s te te n e m h o m e m n e m m u l h e r, r, n e m j u d e u s n e m g r e g o s. s. A s si m , m a is u m a v e z , se os a to s d e v io lê n c ia r e v o lu c io n á r ia sã o “ o b ra s do am or” no sentido estrit est ritam am ente kierkegaardiano do termo , não é porque a violência revolucionária “realmente” vise estabelecer uma harmonia não violenta. Pelo contrário, a libertação libertação revolucionária autêntica autêntica é m ais diretam ente identificada identificada com a violência violência - é a violência em si (o gesto vi v i o le n t o d e d e sc a r ta r , d e e s ta b e le c e r u m a d if e r e n ç a , de t r a ç a r u m a li n h a divisória) que liberta. A liberdade não é um estado encantadoramente neutro de harm onia e equilíbrio, equilíbrio, m as o próprio ato violento que perturba esse equilíbrio. É po r isso isso que, de vo lta a O Cavaleiro das Trevas ressurge, o ún ico am or autêntico no film film e é aquele expresso por Bane, o “terrorista”, em evidente contraste com Batman. Seguindo a mesma linha, a figura de Ras al Ghul, o pai de Talia, me rece um olhar mais atento. atento. Ra s é um a m istura de traços árabes árabes e ociden tais, tais, um agente do terror virtuoso lutando para se se contrapor à civilização civilização ocidental corrupta. corrupta. Seu papel cabe a Liam Neeson, ator cuja cuja persona persona cine matográfica geralmente irradia a bondade e a sabedoria dignificadas (ele é Z e u s e m Fúria Fú ria de Titãs), Titãs) , que também faz o papel de Qu i-Gon Jinn Jinn em A ameaça ameaça fantasma , primeiro episódio da série Guerra nas estrelas. estrelas. Q u i - G o n é um cavaleiro Jedi, Jedi, o m entor de Obi-Wan Kenobi, assim com o aquele aquele
Problem Problema a no paraíso paraíso
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que descobre Anakin Skywalker, acreditando que este seja o Escolhido que irá restaurar restaurar o eq uilíbrio uilíbrio do universo, ignoran do as advertências advertências do Y o d a so b re a n a t u r e z a in s tá v e l d e A n a k i n ; n o fi n a l d e A ameaça ame aça fant fa ntas asm m a, Qu i-Gon é morto por Da rth M aul.1 aul.15 N a t r il i l o g i a Ba tm an , R a ’ s é ta t a m b é m o p r o fe fe s s o r d o j o v e m W a y n e . Q u a n d o , e m Ba tm an Begin Be gins, s, e le le e n c o n t ra ra o j o v e m W a y n e n u m a p ri ri sã sã o chinesa, apresenta-se como "Henri Ducard”, oferecendo ao garoto um “cam inh o”. De pois de W ayn e ser libertado, libertado, ele vai até até o lar da Liga Liga das Sombras, onde Ducard está à espera, posando como o servo de um ho m em chamado Ra’s Ra’s al Ghul. Ao fim fim de um longo e doloroso doloroso treinamento, treinamento, D u c a r d e x p l ic ic a q u e B r u c e d e v e f a z e r o p o s s í v e l p a ra ra e n f r e n t a r o m a l , revelando ao mesmo tempo que eles o haviam treinado com a intenção de que liderasse a Liga na destruição de Gotham City, que acreditavam ter se se tornado irrem ediavelm ente corrupta. Meses depois, depois, R a s reaparece inesperadamente e revela não ser Henri Ducard, mas Ra’s al Ghul. No confronto que se segue, Ra’s faz um relato minucioso das aventuras da Liga das Sombras através da história (saqueando Roma, disseminando a Peste Negra e iniciando o Grande Incêndio de Londres). Ele explica que a destruição de Gotham City é apenas outra missão da Liga para corrigir as recorrentes man ifestações ifestações de decadência decadência da hum anidade e, presu m i ve v e lm e n te , p r o t e g e r o m e io a m b ie n te . R a ’s m a n d a e n tã o se u s c ú m p li c e s incendiarem a Man são W ayne com a intenção de matar Bruce e diz: diz: “A “A ju j u s t i ç a é u m a b a la n ç a . V o c ê q u e im o u m in h a ca sa e m e t o m o u p o r m o r to ; considere-nos quites.” Wayne sobrevive ao incêndio e, como Batman, en frenta Ra’s. Ra’s. Depo is de derrotá-l derrotá-lo, o, Batm an o deixa à m orte num trem que explode; Ra’s usa seus últimos momentos para meditar e é dado como morto, embora seu corpo não seja encontrado nos destroços. Ra’s não é, assim, apenas uma encarnação do Mal: representa uma combinação de virtude e terror, terror, a discipl disciplina ina igualitária lutando lut ando contra um imp ério corrupto; pertence assim à linhagem que vai (na ficção recente) de Paul A t r e i d e s e m Du D u n a a Leó nid as em 30 300. E é cru cial que W ay ne seja seu seu discípulo: foi com ele que se formou como Batman.
Apêndice Apêndice:: Nota bene bene!!
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Traços de utopia A g o r a p o d e m o s v e r c o m o a t r i lo g i a Batm Ba tm an an de Nolan segue claramente um a lógica im anente.16 anente.16 Em Batm Ba tman an Begins, Beg ins, o herói perm anece dentro dos lim lim ites de um a ordem liberal liberal:: o sistema pode ser defendido defendido com método s moralmente aceitáveis. O Cavaleiro das Trevas Trevas é e f e ti ti v a m e n t e u m a n o v a ve v e r s ã o d o s d o is w e s t e r n s cl á ss ic o s de J o h n F o r d ( Sangu Sa nguee de heróis her óis e
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mem que matou 0facínora ), o s q u ai a i s m o s t r a m c o m o , p a r a c i v i li li z a r o V e lho Oeste, foi preciso "im prim ir a lenda” e ignorar a verdade - em suma, com o nossa civilizaçã civilizaçã o de ve sustentar-s sustentar-see num a Mentira: é preciso quebrar as regras para defender o sistema.17 Ou, em outras palavras, em Batm Ba tman an Begin Be ginss o herói é simplesmente um clássi clássico co justiceiro urbano que pune os criminosos quando a polícia não o consegue. O prob lema é que a polícia, polícia, a agência oficial oficial de imposição da lei lei,, tem um a reação am bígua à ajuda ajuda de Batman: embora admitindo sua eficiência, o percebe como uma ameaça a seu monopólio do uso da força e uma testemunha de sua própria ine ficiência. A transgressão de Batman, contudo, é aqui puramente formal. Reside em agir a favor da lei sem ter legitimidade para tal: em seus atos, ele nunca tra nsgrid e a lei lei.. O Cavaleiro das Trevas muda Trevas muda essas coordenadas: o verdadeiro verdadeiro rival de Batm an não é o Coringa, seu oponente, mas H arvey Dent, o "cavaleiro branco ”, o novo e agressivo agressivo procura dor distrital distrital,, um a espécie de justiceiro oficial oficial cujo fanatismo na luta contra o crim e o leva a assassinar pessoas inocentes e à sua destruição. É como se Dent fosse a resposta da ordem jurídica à am eaça que B atm an representa: representa: contra a luta luta deste com o justiceiro, o sistema sistema ge ra sua própria exorbitância jurídica, seu próprio justiceiro, justiceiro, que - m uito mais violento do que Batm an - transgride diretam ente a lei lei.. H á assim um a justiça poética no fato de que, que, quand o Bruce planeja revelar publicamente sua identidade, Dent se adiante e se apresent apresentee com o B atman - ele ele é “mais Batman do que o próprio próprio Batm an” -, concr etizand o a tentação a que este ainda conseg uia resist resistir. ir. Assim , quan do, no final do filme, filme, Batm an assum e com o seus os crimes crimes com etidos por Den t a fim fim de preservar a reputação reputação do herói popular que encarna a esperança das pessoas com com uns, seu ato de hum ildade con tém u m a partícula de verver-
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dade: Batman devolve, de certa forma, o favor que Dent lhe fizera. Seu ato é um gesto de troca simbólica: simbólica: primeiro Den t assume a identi identidade dade de B a t m a n , d e p o is is W a y n e - o v e r d a d ei e i ro r o B a t m a n - a s su s u m e o s c r im im e s q u e Den t cometeu. cometeu. Finalmente, O Cavaleiro das Trevas ressurge leva ressurge leva as coisas coisas m ais adiante ainda: ainda: Bane não seria seria De nt levado ao extrem o sua autonegação? autonegação? Um Den t que chega à conclusão de que o próprio sistema é injusto, de modo que, para efetivamente enfrentar a injustiça, é preciso se voltar diretamente contra o sistema sistema e destru destruíí-lo? lo? E, com o parte da m esm a mudan ça, um Den t que perde todas as inibições e está pronto a usar toda a brutalidade assas sina para atingir seu objetivo? O surgimento de uma figura assim muda toda a constelação: constelação: para todos os participantes, Batm an inclusive, a mora l é relativiz relativizada, ada, torna-se torna-se um a questão de conveniência, a lgo determ inado pelas circunstâncias - trata-s trata-see de um a gu erra de classes classes declarada declarada e tudo é perm itido em defesa defesa do sistema sistema quand o se lida lida não apenas com gángsteres loucos, loucos, m as com um levante popula popular. r. Isso é tudo? Será que o filme deveria ser simplesmente rejeitado por aqueles que estão engajados em lutas em ancipatórias radicai radicais? s? Realm ente não. As coisas são são mais am bíguas e é preciso preciso interpretar interpretar o filme da m aneira que se faz para revelar um poem a político chinês: chinês: ausências ausências e presenças presenças surpreendentes são relevantes. Lembremos o velho conto francês sobre uma esposa que se queixa ao melhor amigo do marido de que ele está lhe fazendo propostas sexuais ilí ilíci citas tas:: leva algu m tem po para o surpreso am igo entender - dessa dessa forma enviesada, enviesada, ela o está convidando a seduzi seduzi-la. E como o inconsciente freudiano que não conhece a negação: o que interess interessaa não é um a avaliação negativa de algum a coisa, coisa, m as o simples fato fato de essa essa coisa coisa ser ser m encionada - em
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das pessoas está aqui, aqui, apresentada como um Evento, num passo à frente fundam ental em relação relação aos oponentes usuais de Batm an (megacapital (megacapitalist istas as criminosos, gángsteres e terroristas). Tem os aqui a primeira primeira pista pista da profunda profunda amb iguidade do film film e - a pos sibil sibilidade idade de o mov im ento O ccup y Wa ll Street Street tom ar o poder e estabele estabelecer cer um a dem ocracia popu lar em M anhattan é tão patentemente absurda, absurda, tão tão
Apêndice: Apêndice: Nota bene bene!!
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vis v is c e r a lm e n t e ir r e a lis li s ta , q u e n ã o se p o d e d e ix a r d e in d a g a r : p o r q u e u m grande blockbuster holly blockbuster holly wo odian o sonharia sonharia com isso isso?? Por que invocar esse esse espect espectro? ro? Por que sonhar com o O W S irrompendo n um a tomada de poder vio vi o len le n ta ? A re sp o s ta ó b v ia (m a c u la r o O W S c o m a c u sa çõ e s de q u e co n té m um poten cial terrorista-totali terrorista-totalitário) tário) não é suficiente para ex plicar a estranh a atração exercida pela possibilidade possibilidade do "poder popu lar”. N ão a dm ira que o funcionam ento adequado desse desse poder perman eça no vácuo, ausent ausente: e: não se fornecem detalhes sobre como esse poder popular funciona, o que as pessoas mobilizadas estão fazendo (lembremos que Bane diz a elas que pod em fazer o que q uiserem - não está lhes im im pond o sua própria própria ordem). ordem). Pode-se até falar aqui de uma censura censura necessária: qualquer representação do povo auto-organizado durante o dom ínio de Bane teria teria prejudicado prejudicado o efeito do filme, deixando evidentes suas inconsistências. É por isso que isso que o film e m erece um a leitura m ais atenta:1 atenta:18 8 o Eve nto - a “re pública pública popular de Goth am C ity”, a ditadur ditaduraa do proletariad proletariadoo em Man hattan - é imanente ao imanente ao filme; é (usando um a expressã o gas ta da déca da de 197 1970) seu “centro ausente”. É por isso que a crítica crítica externa do film e ("sua representação representação do do m ínio do O W S é um a caricatura ridícula”) não é suficient suficiente: e: a críti crítica ca deve ser iman ente, deve situar dentro do próprio filme u m a mu ltiplic ltiplicidade idade de sinais que apontam na direção do Evento autêntico. (Lembremos, por exemplo, que Bane não é som ente um terrorista terrorista brutal, mas um a pessoa pessoa capaz de am or e sacrifício sacrifício profundos.) profundos.) Em suma, ide ologia pura não é pos sível. A autenticidade de Bane deve deixar deve deixar sua marca n a textura do filme.19 filme.19
Violênc Vio lência, ia, que violência? Há, não obstante, duas contestações sensatas que se impõem a propósito de nossa leitura leitura do filme filme de Nolan. Prim eiro, houve viol houve violência ência e m onstruosos assassinatos em massa em revoluções reais, do stalinismo ao Khmer V e r m e lh o , d e m o d o q u e o film fi lm e , e v id e n te m e n te , n ã o es tá ap en as en ga ja d o na im im agina ção reacionária. Então vem a segunda desaprovação, de caráter caráter oposto: oposto: o m ovim ento O W S real era era pacífico pacífico e seu objetivo definitivamen definitivamen te
Problem Problema a no paraíso paraíso
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não era um novo reinado do terror; terror; na medida em que a revolta revolta de Bane supostamente extrapola a tendência tendência do m ovim ento OW S, o filme falsif falsific icaa de forma ridícula seus objetivos e estratégias. Os atuais protestos antiglo b a li z a ç ã o sã o o p r ó p r io o p o s to d o t e r r o r b r u t a l d e B a ne : e s te r e p re s e n ta a im im agem especular do terror terror de Estado, Estado, de um a seita seita fundam entalista entalista assass assassina ina assumindo o poder e governan do pelo terror, terror, não da superação do terror de Estado mediante a auto-organização popular. O que ambas as contestações com partilham é sua rejei rejeição ção à figura de Bane. A resposta resposta às duas é complexa. Primeiro, deve-se deixar claro o real escopo da violência. A melhor resposta à afirm afirm ação de que a reação violenta da turba à opressão opressão é pior do que a própria opressão original foi dada por Mark Twain em seu Um ianque na corte do rei Artur: Artur:
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Para apreender essa natureza paraláxica da violência, deve-se enfocar os curtos-circuitos entre diferentes níveis, digamos, entre poder e violência socia social: l: um a crise crise econôm ica que causa causa devastaç devastação ão é vivenciada como u m po der incontrolável incontrolável quase natural - mas deveria ser ser vivenciada vivenciada com o violência. violência. Em segundo lugar, não é apenas o filme de Nolan que é incapaz de imaginar u m poder popular autênti autê ntico. co. Os próprios próprios m ovimen tos emanciemancipatórios radicais radicais “reais” “reais” tam bém têm sido sido incapazes de fazê-l fazê-lo: o: perm ane
Apêndice Apêndice:: Nota bene bene!!
235 235
ceram confinados confinados às coordenadas da antiga sociedade, sociedade, m otivo pelo qual o verdadeiro "poder popu lar” foi frequentem ente u m horro r violento.20 violento.20 Há uma certa brutalidade revolucionária, um desprezo pelos custos hu ma nos de nossos atos atos que pode ser legitimam legitimam ente questionado. Quan do, por exemplo, um país está sob ocupação e a maioria da população hesita e não c ons egue decidir se deve se unir à luta ou não, a resistência resistência radical é por vezes tentada a provocar fortes retaliações retaliações da parte dos ocupantes (incendiar aldeias, aldeias, assassinar assassinar refén reféns) s) para au m entar a raiva da popu lação - os terrív terríveis eis custos custos hum anos são aceitos aceitos como o preço a ser ser pago pela m o bil b il iz a ç ã o d o p o v o . (A o c o n tr a - a rg u m e n to de q u e essa es sa é u m a t á ti c a r a d ic a l que envolve um risco além das considerações pragmáticas, deveríamos responder com outra paráfrase da já mencionada piada do Ser ou não ser de Lubitsch Lubitsch - "Nó s fazem fazem os a concentração, concentração, os poloneses fazem o cam po”: os líderes não estão arriscando as próprias vidas, estão provocando os ocupantes, pessoas comuns estão sofrendo as consequências.) A lé m diss di ssoo , é p r e ci so d es m it ific if ic a r o p r o b le m a da v io lê n ci a , re je ita it a n d o afirmações simplist simplistas as de que o comun ismo do século XX usou em demasia a violência assassina e de que deveríamos ter cuidado para não voltar a cair nessa nessa armadilha. C om o um fato, fato, isto isto é terrivelmen te verdadeiro, verdadeiro, é claro claro mas esse foco direto na violência ofusca a pergunta subjacente: o que havia de inerentemente errado com o projeto comunista do século XX e que fra queza im anente desse desse projeto projeto forçou os comu nistas no pod er (e não apenas apenas eles eles)) a recorrer à violência irrestri irrestrita? ta? Em outras palavras, não basta dize r que os com unistas "desprezaram o problema da violência”: violência”: foi um equívoco sociopolítico sociopolítico mais profundo que os emp urrou para a violência. violência. (O mesm o va v a le p a ra a n o çã o de q u e os c o m u n is ta s " d e s p r e z a r a m a d e m o cr a c ia ” : se u projeto geral de transformação social lhes impôs esse “desprezo”.) E m o u t r a s p a la la v r a s , d e v e m o s r e j e it it a r t e r m i n a n t e m e n t e a p r ó p r ia ia questão da "suspensão ética do político-teológico” - a ideia ideia de que de ve v e m o s es ta r p re p a r a d o s p a r a r e s t r in g i r n o s so e n v o lv im e n t o p o lí t ic o (ou (o u político-rel político-religioso) igioso) quando este este leva a violar norm as m orais elementares, quando n os faz com eter assassi assassinatos natos em m assa e prov ocar outras formas formas de sofrimento. Assim, o que há de errado com o raciocínio que segue a
Problem Problema a no paraíso paraíso
236 236
linha do “Qua ndo vo cê está obcecado po r um a visão política (ou (ou religi religiosa) osa),, não trab alhe apenas para trazê-la à realidade, realidade, dê um passo atrás para ver como ela ela afetará afetará outras pess pessoas, oas, como perturbará suas vidas - existem existem certas normas morais básicas (não torture, não use assassinatos como ins trum ento etc. etc.)) acima de qualquer engajam ento político”? A questão não é se deveríamos inverter a suspensão e afirmar que o engajamento (teológico-)polít gico-)político ico justifica a violação de norm as m orais básicas básicas.. A questão, em v e z diss di sso, o, é q u e n o ssa ss a cr ític ít ic a d e u m a v is ã o (te (t e oló ol ó gi co -)po -) po lít ica ic a q u e ju s t if ic a assassi assassinatos natos em massa e assim assim po r diante deveria ser imanente. imanente. N ão basta basta rejeitar essa visão em nome de escrúpulos morais externos: deve haver algo de errado co m essa essa visão em si, em seus próprios term os (teológi (teológicoco-)) polític políticos. os. D essa ma neira, o stalinismo stalinismo não deve ser rejeitad rejeitadoo por ser imo ral e assassino, assassino, mas po r ter fracassado fracassado em seus próprios termos, por ter traído traído suas premissas. Por últim últim o, m as não menos im portante, é simples simples demais afirmar afirmar que não exist existee um potencial crim crim inoso no OW S e em m ovimentos semelhan tes. Exi E xist stee violência violência funcionando em todo processo reivindicatório reivindicatório autên tico: tico: o problem a com
0 Cavaleiro
das Trevas ressurge é ressurge é ter equivocadam equivocadam ente
traduzido essa violência em terror brutal. Permitam-me esclarecer esse aspecto com uma digressão sobre meus críticos que, quando forçados a adm itir itir que min ha declaração declaração de que “Hitler não não foi sufici suficientemente entemente vio lento” não significou um apelo por apavorantes assassinatos em massa, tendem a dirigir suas reprovações para suas próprias cabeças, dizendo que só usei usei um a linguagem provocativa provocativa para aprese apresentar ntar um argumento ba b a n a l e d es in te re ss a n te . Eis Ei s o q u e u m de les le s e s c re v e u a pr p r o p ó s it o d e m in h a afirmação de que Ga ndh i foi foi mais violento violento que Hitler: Hitler: Zizek usa aquí a linguagem de uma forma que pretende ser provocativa e confundir as pessoas. Ele não quis realmente dizer realmente dizer que Gandh i foi mais mais viol vi olen ento to que H itle it lerr ... .. . O que ele quer qu er faze f azer, r, em ve z disso, diss o, é alte a ltera rarr a com co m pre pr e ensão típica da palavra “violento”, de modo que as formas de protesto não viole vi olent ntoo de Ga ndhi nd hi contra con tra os britân bri tânico icoss sejam se jam consider cons ideradas adas mais ma is viol v iolen entas tas do que as tentativas de Hitler, incrivelmente violentas, de dominação do mundo
Apêndice Apêndice:: Nota bene bene!!
2.37
e de genocídio. Violência para Zize k, nesse nesse exemplo particular, na verdade significa aquilo que provoca um levante social de massa. Dessa maneira, da mesma forma que muita coisa que ele escreve, não é realmente nada de novo, interessante ou surpreendente. E é por isso isso que ele prefere prefere escrever de maneira provocativa, confusa e bizarra e não de uma forma direta. Se tivesse tivesse escrito que G andh i realizou mais por meio da não violência violência voltada à mudança sistêmica do que Hitler usando a violência, todos concordaría mos ... mas também saberíamos que não há nenhuma profundidade numa declaração dessas. Zizek tenta nos chocar e, ao fazê-lo, mascara uma con clusão totalmente trivial sobre Gandhi e Hitler que todos já acreditavam ser ve rdad rd adei eira ra antes ant es de lere le rem m Z iz e k . O mesm o vale para seu argum ento controverso a respeito respeito de judeus e anantissemitas. Não há nada de notável no argumento de que na mente de todo nazista que odeia judeus deve existir também um jud eu ficcional para para que esse nazista o odeie. E assim qua lquer tentativa de tirar dos nazistas os judeus jude us que estão estão dentro deles, deles, como Ziz ek afirma afirma que Hitler uma ve z disse, disse, resulta ria na destruição dos próprios nazistas (uma ve z que os próprios antissemitas antissemitas precisam da existência desse judeu dentro de si). Em outras palavras, Zizek está mais um a ve z fazendo um a confusa salada salada de palavras na tentativa tentativa de revestir banalidades banalidades com o profundidade. O método de Gand hi para para mudar as coisas funcionou porque ele visou o sistema em si. O antissemita jamais pode matar o objeto de seu ódio porque sua visão de mundo necessita do ju d e u ficcio fic cio nal.2 na l.211 Em am bos os casos, a crítica crítica é a me sma: que tentei vend er a tese banal de que Gandhi visava mudar o sistema e não destruir pessoas, mas, sendo isso um lugar-comum, eu o formulei de maneira mais provocativa, am pliando estranhamente o significado da palavra “violência” para incluir m udanças institucionais; institucionais; e o me sm o vale para m inha d eclaração de que “o ju d e u es tá n o a n tiss ti ss em ita it a , m as o a n tiss ti ss e m ita it a é t a m b é m u m ju d e u ”: tra t rata ta-s -see apenas de um a form a distorcida distorcida de apresentar apresentar o lugar-com um de que, na m ente de todo todo nazista que odeia odei a judeus, deve haver tam bém um judeu ficcional para ser odiado. Mas será esse o caso? caso? E se o pon to-cha ve se perder
Proble Problema ma no paraíso paraíso
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nessa nessa tradução de minh a "confusa salada salada de palavras” com o senso comum ? No segundo caso, meu argumento não é apenas a afirmação (efetivamente óbvia) de que o "judeu” a que o nazista se refere é uma ficção ideológica, mas que, ao m esm o tem po, sua própria própria identidade identidade ideológica ideológica també m se ba b a se ia n es sa ficç fi cç ã o (não (n ão si m p le s m e n te d e p e n d e dela): del a): o n a z is t a é - e m su a autopercepção autopercepção - um personagem de seu próprio sonho sohre os “judeus”. “judeus”. Isso está está longe de ser um a banalidade óbvia. Então, por que chamar as tentativas de Gandhi de solapar o Estado br b r it â n ic o n a ín d ia de " m a is v io le n t a s ” do q u e os a ss a ss in a to s e m m a ss a d e Hitler? Precisamente a fim de chamar a atenção para a violência funda m ental que que sustenta sustenta o funcionam ento "norm al” de um Estado Estado (Benjamín a cham ou de "violência mítica”) e para a violência não men os fundam ental que sustenta toda tentativa tentativa de solapar o funcionam ento do Estado (a “di vi v i n a v io lê n c ia ” d e B en ja m ín ).2 ). 22 E p o r isso is so q u e a r e a ç ã o do p o d e r de E s ta d o aos que o colocam em perigo é tão brutal e que, que, em sua própria brutalidade, brutalidade, é precisam precisam ente "reativa”, "reativa”, de proteção. proteção. Assim , longe de ser ser um a excentri cidade, a ampliação da noção de violência se baseia numa compreensão teórica fund am enta l - e é a limitaç ão da violência a esse aspecto físico físico diretamente visível que, longe de ser “nor “nor m al”, se baseia num a distorção ideológica. ideológica. Tam bém é por isso isso que a crítica crítica de que sou fascinado fascinado por um a vio v io lê n c ia u ltr lt r a r r a d ic a l c o m p a ra d a à q u a l H it le r e o K h m e r V e r m e lh o "n ã o foram suficient suficientemente emente longe” está está com pletamente equivocada e m relação relação a m eu objetivo, que não é ir adiante com esse t esse tipo ipo de violência, violência, m as mu dar todo o terreno. E difícil ser realmente violento, realizar um ato que perturbe violen tamen te os parâmetros básicos básicos da vida social. social. Qu and o Bertolt Brecht viu um a m áscara japonesa de um demô nio, registrou que suas veias veias saltad saltadas as e sua sua expressão expressão oculta “indicam / com o é cansativo/ cansativo/ ser mau ”. O m esm o va v a le p a r a a v i o lê n c ia q u e t e n h a q u a lq u e r e fe it o s o b re o si st e m a . A R e v o lução Cultural chinesa serve aqui de lição: destruir velhos monumentos mostrou não ser uma verdadeira negação do passado. Foi, em vez disso, um a impotente impotente passage passage à Vacte, Vacte, u u m gesto que testemu testemu nhou o fracass fracassoo em se livrar do passado. Há um a espécie de justiça poé tica no fato de o resultado
Apêndice Apêndice:: Nota bene bene!!
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final final da Revolução C ultura l de Mao ser a atual explosão explosão inigua lável da dinâm ica capital capitalist istaa na China: existe existe urna profunda profunda h om ología estrutural entre a perm anen te auto rrevolução m aoista, a luta peren e contra a cristali cristali zação das estruturas do Estado e a dinâm ica inerente do capitalismo. capitalismo. M ais urna vez parafraseando Brecht: "O que é roubar um banco comparado a fundar um?” O que foram os violentos e destrutivos destrutivos surtos de um guarda ve v e r m e lh o e n v o lv id o n a R e v o lu ç ã o C u lt u r a l e m c o m p a r a ç ã o c o m a v e r d a deira Revolução C ultural, a dissolução dissolução perma nente de todas as formas de vid v id a q u e é d it a d a p e la r e p r o d u ç ã o ca pita pi tali list sta? a? Evidentemente, o mesmo se aplica à Alemanha nazista, onde o espe táculo da aniquilação brutal de milhões não nos d eve enganar. A carac terização de Hitler que o apresenta como um sujeito mau, responsável pela morte de milhões, mas não obstante um homem com coragem que perseguiu seus objetivos com uma vontade de ferro, não é apenas eti camente repulsiva, mas também simplesmente errada. errada. Não, Hitler não tinha realmente “colhões” para mudar as coisas. Todas as suas ações fo ram fun dam entalm ente reações: reações: ele ele agiu de de maneira que nada realm realm ente mudasse; agiu para evitar a ameaça com unista de mud ança real. real. Apo ntar os judeu s com o alvo foi, foi, em última instância, um a ação de deslocamento em que ele evitou o verdadeiro inim igo - o cerne das própri próprias as relações relações sociais sociais capital capitalis istas tas.. H itler itler mo ntou u m a R evolução-espetáculo evolução-espetácul o de mod o que a ordem capitalista pudesse sobreviver. A ironia foi que seus grandes gestos de desprezo à autocomplacência da burguesia possibilitaram, em últim a instância, instância, qu e essa complacência continuasse: continuasse: longe de perturbar a tão tão desprezada ordem burgu esa “decadente”, longe de despertar os ale ale mães, o n azism o foi um sonho que lhes possibili possibilitou tou adiar esse esse despertar, despertar, que só acon teceu c om a derrota de 194 1945.
Valores familiare fami liaress dos Weather We athermen men Trau m atizada co m a experiência stalinist stalinista, a, grand e parte da esquerda atual atual tende a ofuscar o tema sensível da violência, como transparece em Sem
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Proble Problema ma no paraíso paraíso
prote pr oteção ção (2012), de Robert Redford, filme que trata de ex-radicais de es querda em confronto com o passado. Simplificando ao máximo, a história concentra-se no recém-enviuvado e pai solteiro Jim Grant, ex-membro do W e a t h e r U n d e r g r o u n d e m i li t a n te c o n tr a a G u e r r a d o V i e t n ã p r o c u r a d o por ho m icídio e assalto assalto a banco, que se escondeu do FBI por m ais de trinta trinta anos passando-se por advogado em Albany, Nova York. Ele se torna um fugitivo quando sua verdadeira identidade identidade é exposta e precisa precisa encontrar sua ex-amante, ex-amante, M imi, única pessoa que pode limpar seu nom e antes que o FBI o prenda - do contrário vai perder tudo, incluindo incluindo a fil filha ha de on ze anos, Isabel Isabel.. Sua busca po r M im i o ob riga a atravessar os Estados Estados Unidos, fazendo contato com mu itos de seus seus ex-col ex-colegas egas Weatherm en; finalmente, Jimi e Mim i se se encontram num a cabana rem rem ota às margens de um lago próx im o à fronteira fronteira com o Canadá. Ela ainda tem tem p aixão pelos objetivos objetivos dos Weathermen e não se sente culpada pelas ações cometidas trinta anos antes, antes, mas Jim responde com amargura: “N ão m e cansei. cansei. Cresci.” Mesm o que ainda acredite acredite na causa causa,, ele agora se tornou u m responsável hom em de família. família. Jim pede a M im i que se entregue e apresente apresente um álibi álibi em em seu favor, pelo bem de sua filha, Isabel; ele não quer deixá-la para trás e re petir o erro que ele e Mim i cometera m trinta trinta anos antes, antes, abandonando a filha. filha. Na m anh ã seguinte, M imi d eixa a cabana cabana a fim fim de ir ir de barco para o Canadá, mas acaba dando meia-volta e retornando aos Estados Unidos para se entregar; no dia seguinte, Jim é solto e se reencon tra com Isabe Isabel. l. E verdade que, como um crítico causticamente apontou, Sem pr ote ot e ção ção m anifesta anifesta um a nostalgia nostalgia pelo tempo em que terrori terroristas stas ainda ainda eram pessoas que se pareciam conosco, se vestiam como nós e tinham nomes reconhecidamente anglo-saxões. O filme tem, contudo, um toque de au tenticidade tenticidade no mod o com o aprese apresenta nta,, de forma quase insuportavelmen te dolorosa, o desaparecimento da esquerda radical de nossa realidade po lítica e ideológica. Os sobreviventes da antiga esquerda radical são como simpáticos mortos-vivos, remanescentes de uma outra era, estranhos à deriva deriva num mu ndo estranho estranho - não adm ira que Redford Redford tenha sido sido atacad atacadoo por con servadores por sua solidari solidariedade edade e cump licidade licidade co m terrori terroristas stas.. O toque autêntico do filme (e também o do romance de Neal Gordon em
Apêndice: Apêndice: Nota Nota bene! bene!
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que ele se basei baseia) a) transpira não apenas no retrato geralm ente simpático dos ex-Weathermen, porém m ais ainda em m aravilhosos detalhes da narrativa, narrativa, com o as longas e porm enorizadas descrições descrições da vida subterrânea subterrânea (como ve v e r if ic a r se a lg u é m está es tá se n d o se g u id o e d es pi st a r po ss ív e is p e r se g u id o r e s, como criar uma nova identidade e assim por diante). Qu anto ao W eather Un derground em si, deve-se deve-se insist insistir ir em que os W e a th e r m e n n ã o e s ta v a m d o la d o do t e r r o r póspó s-68 68,, a re g r e s sã o da p o líti lí ti ca propriamente dita para o Real da ação bruta: suas ações visavam destruir prédios, não m atar pessoas. pessoas. (O assalto assalto ao Ban co de M ichiga n foi feito feito por um a pequena facção após a dissolu dissolução ção forma l do grupo.) grupo.) Os W eatherm en são frequentem frequentem ente acusados acusados de d estruírem a esquerda nos Estados Uni dos, de alienarem o apoio do amplo espectro de manifestantes e até de serem m anipu lados pelo FBI - ma s essas essas crític críticas as são equivocadas. O uso da violência pelos Weathermen foi uma tentativa desesperada de reagir ao fracass fracassoo do SDS (Estudantes (Estudantes por um a Sociedade Demo crática) crática) em m o b i li z a r p e ss o a s e a ca b a r c o m a G u e r r a n o V ie tn ã . E m o u tr a s p a la v ra s , o fracasso da esquerda já era evidente: a violência dos W eath erm en foi um sintoma desse desse fracasso, fracasso, seu efeito efeito e não sua causa. causa. Se algu ém pro cura r os erros na atividade desse grupo, vai encontrá-los em outro lugar, em sua própria estrutura e prática organizacionais. Por exemplo, os “coletivos W e a th e r ” p r a ti c a v a m u m a e sp éc ie de r o ta ç ã o se xu a l: ex ig ia -s e q u e to d o s os membros de sexo feminino tivessem relações sexuais com todos os m embros de sexo sexo masculino, e mulheres tam t am bém tinham relações relações com com outras mulheres, uma vez que as relações monogâmicas eram considera das contrarrevolucionárias. A questão não é que essa prática sexual fosse "radical demais”: pelo contrário, essa promiscuidade regulada se encaixa m uito bem na permissividade e no m edo de víncu los “excessivos “excessivos”” dos dias dias de hoje. Pensando estarem solapando a ideologia burguesa, os Weather men estavam apenas abrindo caminho para seu estágio capitalista tardio. O n d e Sem proteçã pro teçãoo fracassa é em confrontar o aspecto da atividade dos W eatherm en que é hoje mais problemático para nós: nós: sua decisão decisão de assumir o caminho da ação violenta. Embora o filme obviamente simpa tize co m a causa da esquerda radical radical,, seu tom pr edom inan te é de rejeição rejeição
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Problem Problema a no para paraíso íso
ao caminho da violência em termos da maturação, da passagem de um entusiasmo juvenil (que pode facilmente transformar-se em fanatismo vio v io le n to ) à c o n s c iê n c ia a m a d u r e c id a de q u e e x is t e m c o is a s c o m o a v id a fam iliar iliar e a responsabilidade responsabilidade em relação relação aos filhos filhos que n enhu m a causa política política deveria nos fazer violar - ou, com o o herói d iz à ex-amante ex-amante:: "T e m os um a responsabili responsabilidade dade que vai além da Causa. Temo s um beb ê.” Lido dessa forma, Sem proteção é proteção é,, como algué m com entou a respeito respeito do roma nce original de Neal Gordon, le roman des illu sion s perdues.23 perdues.23 Mas será que essa referência a amadu recime nto, responsabilidade fa m iliar e assim assim por diante cons titui um a sabedoria neutra, apolíti apolítica, ca, que coloca um lim lim ite a nosso nosso engajamento políti político co - ou é, em ve z disso, disso, um a forma de a ideologia ideologia intervi intervir, r, evitando que analisemos com toda a profu n didade o enigma político em que nos encontramos? O que essa segunda opção significa significa não é um a tentativa tentativa en coberta de justificar justificar o terror vio lento, mas a obrigação de analisá-lo e avaliá-lo em seus próprios termos. Im aginem os qu e Jim não tivesse um a filha filha:: o problema da estratégia dos W e a t h e r m e n a in d a a s s im e x is t ir ia . S e m e s s e ti p o d e a u t o e x a m e r a d ic a l, acabam os endossando a ordem jurídica jurídica e política política existente com o o arca b o u ç o q u e g a r a n t e a e s ta b il id a d e d e n o s s a s v id a s p ri v a d a s . D if ic il m e n t e surpreenderia que, em termos legais, Sem legais, Sem proteç pro teção ão tratasse tratasse da reabilitação ju r í d ic a d o h e ró i, se u e s fo rç o p a ra se to r n a r u m c id a d ã o n o r m a l s e m u m passado sombrio a ameaçá-lo. M esmo aqui, porém , as coisas coisas são são bem m ais suti sutis. s. Não é possível dei dei xar de ad m irar a atmosfera mítica em que a reunião final de Jim e M imi é apresentada apresentada no filme, filme, e mais ainda no rom ance: há um a necessidade necessidade ético-metafórica ético-metafórica de que eles se encontrem encontrem , com o no encontro final entre entre eus,, minha min ha adorada, a adorada, a obra-prima de Chandler. Moose M alloy alloy e Velma em Ad em Adeus Qu and o Jim e M im i estão estão a cam inho de seu encontro num a cabana soli solitár tária ia em meio a um a flores floresta ta à beira beira de um lago, lago, o rom ance recorre recorre a um enge nhoso procedimento narrativo: a viagem deles é apresentada como uma série de relatos relatos curtos feitos feitos por e-mail, escritos alternad am ente por ele e por ela; ela; mas ele fornece detalhes da viag em dela e dela e ela, ela, da viage m dele, como dele, como se a jornada fosse coordenada por alg um tipo tipo de com unh ão m ística. ística. Não
Apêndice: Apêndice: Nota bene! bene!
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admira que, quando os ex-amantes finalmente se reúnem, seu encontro seja mostrado em termos atemporais, como um momento de eternidade: o lapso lapso de mais de vinte anos desde desde a últim últim a ve z em que estiveram juntos simplesmen simplesmen te desaparec desaparece. e. E com o se eles eles chegassem a um ponto da eter nidade em que passado e presente presente estivessem estivessem diretamente superpostos superpostos.. A h is t ó r ia t e r m in a c o m u m a b e la g u i n a d a étic ét ica: a: s u r g e r e a lm e n te u m casal - não Jim e M imi, m as Ben Schulberg, o jornalista investigativo que revelo u a identidade de Jim, e Rebe ccah Osb orne, filha de Jim e M im i, adotada por um honesto agente do FBI. FBI. Em bora possa parecer que o filme segue a fórmula-padr fórmula-padrão ão ho llyw llyw ood iana da produção de um casal casal,, o que reverbera aqui é o tema de um teste teste ético. ético. Q uem é tes testad tado? o? Não Jim, tam pou co M im i (qu (que, e, fugin do para o Canadá, faz o barco retornar aos Estado Estadoss Unidos para se entregar e salvá-lo), mas o próprio Ben, que, no final do filme, decide não publicar a grande matéria sobre o fato de Rebeccah ser filha filha de Jim e M imi, provan do desse desse m odo que a merece. A m o b il iz a ç ã o d a fa m íl ia s e r v e a s s im p a r a p r e e n c h e r u m v a z io , p o s sibilitando sibilitando ao film e (assim (assim com o a nós, espectadores) evitar o difícil tem tem a da violência, violência, sua justificação justificação ou inaceitabili inaceitabilidade. dade. Está claro que u m a de dicação total e feroz à "violenta” luta luta terrorista terrorista poderia ser razoa velm ente legitimad legitimad a num país sob ocupação ou ditadura brutal - se, se, digamos, um m em bro da resistência resistência francesa durante a Segun da G uerra M undial tivesse tivesse dito a seus colegas que iria abandonar a luta por haver amadurecido e tomado consciência de sua responsabilidade em relação à família, seu ato estaria estaria longe longe de ser ser autoevidente. autoevidente. N um a con hecida passagem de O exis tencialismo é um humanismo, Sartre Sartre apresento apresentou u o dilema dilema de um jovem na França em 1942, dividido entre o dever de ajudar a mãe doente e solitária e o de entrar para a resistência e enfrentar os alemães. Não há para esse dilema dilema um a resposta resposta a priori: priori: o jovem tem de assumir toda a responsabi lidade por sua decisão. Assim, não é que a Causa tenha prioridade e que a opção pelas obrigações fam iliares iliares seja seja equivalente a um a traição m oral. O dilema é real, real, não há com o evitar o sofrimento. sofrimento.
Probl Problem ema a no paraíso paraíso
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F o r a d o malttukbakgi A s s im , o n d e e s ta m o s p o st a d o s hoje? ho je? T a lv e z n e m m e s m o e st e ja m o s p o s ta dos, mas apenas inclinados inclinados à frente de um a form a m uito específica. específica. Perto do m useu das crianças crianças em Seul, Seul, há um a estátua estranha que, para os não iniciados, iniciados, só pode pa recer uma cena de extrema obscenidade. obscenidade. Parece nada mais nada menos que uma fila de garotos curvados, um atrás do outro, com as cabeças cabeças nas nádegas do da frente; de pé, na frente da fila, fila, um outro garoto tem a genitália genitália pressi pressionada onada pela pela cabeça do prime iro garo to curvado. Quando perguntamos o que é isso, somos informados de que a estátua simplesmente representa o malttukbakgi, um jogo engraçad engraçadoo que meninos e meninas coreanos praticam até o ensino médio. Existem dois times; o time A tem u m a pessoa pessoa em pé encostada na parede parede e o resto resto do time com a cabeça na área das nádegas ou da genitália genitália de o utra pessoa para form form ar o que parece parece ser um grande cavalo. cavalo. O time B pula pula então no cavalo huma no um por um , cada qual com a m aior força força possív possível el.. Se algu ém de qualquer time cair no chão, esse time perde. Essa Essa estátua não é um a perfeita perfeita metáfora das pessoas pessoas comuns como nós, de nossa condição n o capitalism o globa l de hoje hoje?? Nossa visão é restrita restrita
Apêndice: Apêndice: Nota bene bene!!
245
ao que podem os ver com a cabeça cabeça enterrada enterrada na bunda de algué m bem na nossa frente, e nossa ideia de quem é nosso Mestre é o sujeito na frente cujo pênis e/ou saco saco o prim eiro da fila fila parece estar lam lam bend o - mas o ve v e rd a d e ir o M es tr e, in v is ív e l p a ra n ós , é o q u e p u la li v r e m e n te so b re no ssas ss as costas costas,, o m ovim ento autônom o do capit capital al..
HÁ
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e comum termo escocês, tartle, tartle, que designa o mo
mento constrangedor em que um orador esquece temporariamente o nome de alguém (geralmente o de um parceiro ou parceira numa con vers ve rsa) a),, e é u sa d o p a ra e v it a r esse es se o c a si o n a l e m b a ra ç o , c o m o em : “Sony, I tartled tartled therefor a moment!” , desculpe, tive um lapso por um instante! Será que não tivem os todos esse tipo de lapso lapso nas últim últim as décadas, esquecendo o nome "comunismo” como designação do horizonte final de nossas lutas emancipató emancipatória rias? s? C heg ou o m om ento de lembrar plenam plenam ente essa essa palavra. palavra. Este livrinho também pode parecer uma vítima desse tipo de lapso, pulando de nossa nossa econo m ia orientada pela pela dívida para a luta luta pelo con trole do ciberespaço, ciberespaço, dos impasses da Prima vera Árab e para a futilidade futilidade do antieurocentrismo, da pressão do superego da ideologia para o papel am bíguo da violência violência em nossas nossas lutas lutas.. N ão há u m a ideia ideia única subjacente subjacente a esse bric-à-brac, bric-à-brac, nada como a "multidão” de Negri ou o “explore os ricos” de Piketty para reorientar as análises do livro na direção de uma estraté gia política clara. O autor, não obstante, espera que o leitor atento possa discernir discernir por baixo dos múltiplos múltiplos temas o h orizonte comunista. Com unism o é hoje hoje o nom e não de um a soluçã solução, o, mas de um problema, problema , o problema dos comuns em comuns em todas as suas dimen sões - os comuns da natureza com o substância substância de nossa nossa vida, o problema de nossos comuns biogenéticos, o problema de nossos comuns culturais (“propriedade intelectual”) e, por fim, fim, m as não menos importante, os comun s com o o espaço espaço universal da da humanidade do qual ninguém deveria ser excluído. Qualquer que seja a solução, ela terá terá de en frentar esses esses problemas. É por isso que, como disse certa certa ve z Álva ro Garcia Linera, Linera, nosso horizonte precisa precisa permanecer co mu nista - um horizonte que não seja seja um ideal inacess inacessív ível, el, mas um espaço espaço de ideias dentro do qual nos movemos.
Notas Notas
Introdução (p.7-24) 1 .
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3. Prognose: Unfaux-filet, peut-être? (p.106-65) 1 .
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The Year Year ofDreaming Dangerously Dangerously ( L o n d r e s , V e r s o B o o k s , 2 0 1 2 ) O ano em que sonhamos perigosamente, S ã o P a u l o , B o i t e m p o , 2 0 1 2 ] . V e r P e t e r S l o t e r d i j k , Repenser Yimpôt Yimpôt,, P a r i s , L i b e l l a , 2 0 1 2 . V e r T h o m a s P i k e t t y , Capital in the Twenty-First Century, N o v a Y o r k , B e l l k n a p P Drive:: The Th e Surprising Truth Truth about about what Motivates Motivates Us, N V e r D a n i e l H . P i n k , Drive í t u
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Die g an ze frü here Gesch ichte O streich bew eist es bis auf diesen diesen Tag, un d das Jahr 18 1848 hat es bestägit. Unter allen den Nationen und Natiönchen Ostreichs sind nur drei, die die Träger des Fortschritts waren, die aktiv in die Geschichte eingegriffen haben, die noch jetzt lebensfähig lebensfähig sin d-d ie Deutsche Deut schen, n, die die Polen, die Magyaren. die Magyaren. D D aher sind sie sie jet zt revolutionär. A ll e än d er n g ro ss e n u n d kl e in e n S tä m m e u n d V ö lk e r h ab e n zu n ä c h st di e M issi is sion on , im revolutionären Weltsturn unterzugehen. Daher sind sie jetzt kontrerevolutionär ... ... Es ist kein Lan d in in Europa, das nicht in irgen irgen deine m W inke l eine oder mehrere V ö lk e rr u in e n b e s it zt , Ü be rb le ib se l ei ne r fr ü h e re n B e w o h n e rs ch af t, z u rü c k g e d rä n g t und unterjocht von der Nation, welche später später Trägerin der geschichtlichen Entw icklun g w u rd e . D ie se Re ste st e ei ne r v on de m G an g de r G es ch ic ht e, w ie H eg el sa gt, gt , u n b ar m h er zi g zertretenen Nation, diese Völkerabfälle werden Völkerabfälle werden jedesmal und bleiben bleiben bis zu ihrer gän zli chen Vertilgung oder Entnationalisierung die fanatischen Träger der Kontrerevolution, w ie ih re g a n z e E x is te n z ü be rh au pt sc ho n e in P ro te st g e g e n ei ne g ro s se g e sc h ic h tl i che Rev olution ist ist ... Abe r bei dem ersten siegreichen siegreichen Au fstand des französischen französischen Proletar Proletariat iats, s, den Louis-Napoleon m it aller Gew alt heraufzubeschw ören b em üht ist, ist, w er d en die di e ös te rr ei ch is ch en D eu ts ch en u n d M ag y ar e n frei fr ei w er d en u n d an de n sl aw is chen Barbaren blutige blutige Rache nehmen. Der allgemeine K rieg, der dann ausbricht ausbricht,, wird diesen slawischen Sonderbun d zersprengen un d alle kleinen stierköpfigen Nationen bis auf ihren ihren N amen vernichten. Der nächste W eltkrieg wird nicht nur reaktionäre reaktionäre Klassen und Dynastien, er wird auch ganze reaktionäre reaktionäre Völker vom Erdboden verschwinden machen. Und das ist auch auch ein F ortschritt. ortschritt. A
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Tais Tais experimentos com versões alternati alternativas vas muitas vezes contêm um potencial Superman - Entre Entre afoice e o martelo martelo,, de Mark M illar crítico-i crítico-ideológico. deológico. A premissa de Superman illar (DC C omics, 2 0 0 3 ) , é que o Sup er-Hom em foi criado na União Soviética; Soviética; a historia historia (que (que m istura versões alternativas dos super-herói super-heróiss da D C com versões alternati alternativasvasrealistas de figuras políticas reais como Stálin e Kennedy) começa com a nave do Super-Hom em aterriss aterrissando ando num a fazenda coletiva coletiva da U crânia, crânia, e não no Kansas, Ame rican way ofl o flif ife” e” , o de modo que, em vez de lutar por "verdade, justiça e o American Super-Hom em é descrito descrito nas transmissões de rádio rádio soviéticas soviéticas com o “o ídolo do trabalhador comum que trava uma b atalha sem fim fim po r Stáli Stálin, n, pelo socialismo e Entre afoice e 0 martelo martelo pela expansão internacional do Pacto de Varsóvia”. Será que Entre não fornece um belo exemplo da “alienação” (Verfremdung) br ec h tian ti an a? O ef ei to perturbador do foguete do Sup er-Homem aterris aterrissando sando na União Soviética, Soviética, o sen timento espontâneo de que “algum a coisa está está errada”, errada”, de que o Super-Hom em aterrissou num lugar errado, nos torna conscientes de como a figura desse herói está está firmem ente arraigada no un iverso ideológico norte-americano. 2 0 .
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