Sistemas de Tratamento de Efluentes Documentação Complementar
Conceito de Tanque Ideal de Sedimentação A teoria da sedimentação discreta, apresentada anteriormente, possui três importantes limitações na sua aplicação real a câmaras de sedimentação graviticas para tratamento de águas residuais: i) as partículas de areias só esporadicamente são rigorosamente esféricas, ii) as partículas de areias não têm densidade uniforme, e iii) as partículas de areias podem possuir distribuições granulométricas demasiado amplas. Em geral estes desvios não constituem uma limitação ao dimensionamento do equipamento uma vez que a amplitude normal de variação dos parâmetros relativos à água residual (caudal, composição, temperatura, etc.), é em muitos casos o verdadeiro factor limitante. O dimensionamento de uma bacia de desarenação (gravitica) ideal baseia-se na remoção de todas as partículas com velocidade de sedimentação superior a um dado valor de velocidade de sedimentação definido. Historicamente, os trabalhos de Hazen 1 (1904) e posteriormente Camp 2 (1945), forneceram os fundamentos para a teoria da sedimentação discreta e sua aplicação ao dimensionamento dimensionamento de bacias de desarenação. O modelo de tanque de sedimentação aqui apresentado, consiste numa bacia de secção rectangular com escoamento horizontal ( Figura 3.1).
Figura 3.1. Diagrama de dimensões da
bacia de desarenação.
Na Figura 3.1, H representa a altura efectiva da zona de sedimentação, W é a largura da bacia e L o seu comprimento. A existência de dissipação de energia (turbulência) junto à entrada e à saída, obriga a que as dimensões reais da bacia sejam superiores às indicadas pelo modelo ideal.
1 2
Hazen, A. (1904) On Sedimentation, Transactions of the American Society of Civil Engineers, 53, pp. 46-88. Camp, T. R. (1945) Sedimentation and the Design of Settling Tanks, ASCE Transactions, 111, pp. 895-936.
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O desenvolvimento do modelo ideal assume a existência de quatro zonas ( Figura 3.2): 1. Zona de Entrada : O escoamento torna-se regular. Assume-se que no limite desta zona (isto é, ao longo da linha vertical xt ), as partículas estão uniformemente distribuídas em toda a secção transversal do afluente. 2. Zona de Sedimentação : Secção onde, por desaceleração do escoamento do fluido, existe uma efectiva sedimentação das partículas. Assume-se que os sólidos são removidas da suspensão assim que atingem o fundo desta zona (a linha horizontal ty). 3. Zona de Saída : Onde a água residual é recolhida antes de ser enviada para a próxima unidade de tratamento. Todas as partículas que alcancem esta zona são consideradas como não removidas. 4. Zona de Lamas : Constitui a entrada da caixa de areia. Esta zona serve para a remoção das lamas, a qual não faz parte da zona de sedimentação efectiva.
Figura 3.2. Diagrama de uma secção do tanque de sedimentação, normal ao escoamento da água residual ( Casos 1 e 2).
Os mais importantes pressupostos do modelo ideal são os seguintes: 1. Existe uma dispersão uniforme de água e partículas em suspensão ao longo da zona de entrada. Assim, a concentração de sólidos suspensos é a mesma em qualquer ponto da zona de entrada, o que pressupõe uma perfeita homogeneização da água na entrada da unidade de tratamento. 2. Existe escoamento contínuo de fluido a caudal constante (estado estacionário). Oscilações no caudal da água residual provocam variações no funcionamento e eficiência da unidade 3. Uma vez alcançada a zona de lamas uma partícula é considerada retida, isto é, não existe ressuspensão (rearrastamento) de partículas sedimentadas. 4. O tempo de permanência de um elemento do fluido é igual ao tempo de retenção, isto é, não existem espaços mortos ou curto circuitos no volume do tanque acima da zona de lamas (zona de sedimentação).
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5. Existem condições de escoamento do tipo pistão (“ plug flow”) para o fluido e a sedimentação das partículas é discreta. A água residual possui a mesma velocidade em qualquer ponto do tanque e as trajectórias das partículas não são afectadas por partículas vizinhas. 6. As partículas movem-se longitudinalmente à mesma velocidade do líquido, ou seja, a fase dispersa possui inércia desprezável. 7. Não existe movimento de líquido na zona de lamas. A caixa de areia é considerada uma “zona estagnada” para o escoamento da água residual. As trajectórias das partículas que entram na zona de sedimentação nas posições x e x’ estão indicadas na Figura 3.2. Estes percursos de sedimentação são o resultado vectorial de duas componentes que actuam no sólido, a velocidade de sedimentação (vS ) da partícula (discutida anteriormente), e a velocidade de escoamento (v) da água na câmara de desarenação. v
Q
Q
= A = WH v
( 3.1 )
Na equação anterior, v representa a velocidade de escoamento do fluido (m/s), Q é o seu caudal (m3/s), Av é a secção transversal ao escoamento do fluido (m 2), de modo que A v = W H , sendo W a largura da zona de sedimentação (m) e H a altura de água na câmara (m). Na sedimentação discreta (Tipo I ), a velocidade de sedimentação é constante para qualquer trajectória específica de sedimentação, isto é, vS não varia ao longo do trajecto da partícula. Por este facto, a partícula discreta não é impedida ou auxiliada por outras partículas vizinhas portanto sedimenta com velocidade uniforme e igual a vS . Para a sedimentação floculenta (Tipo II ), a situação é diferente. A figura seguinte ilustra uma trajectória típica de uma sedimentação floculenta, característica de sólidos orgânicos. Á medida que ocorre a coalescência com partículas vizinhas, o diâmetro efectivo (massa) das partículas aumenta e portanto a velocidade de sedimentação também aumenta. O resultado é uma trajectória de sedimentação curva (partículas orgânicas), em contraste com as trajectórias lineares (partículas inertes) características da sedimentação discreta.
Figura 3.3. Trajectórias de sedimentação típicas de
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sólidos orgânicos.
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Consideremos os seguintes casos de sedimentação discreta ( Tipo I ) os quais assumem que as partículas são removidas da suspensão assim que alcançam o fundo da zona de sedimentação. CASO 1 –
Uma partícula no tempo t = 0 está localizada no ponto x (Figura 3.2) e possui uma velocidade de sedimentação vS (correspondente a um diâmetro d ), é removida no momento em que alcança o fundo da zona de sedimentação no ponto y, tendo seguido a trajectória xy).
CASO 2 –
Uma partícula no tempo t = 0 (Figura 3.2) está localizada em x’ (na mesma linha vertical do ponto x, mas abaixo de x), e tem uma velocidade de sedimentação vS (ou maior que vS ), é removida ao alcançar o fundo da zona de sedimentação à esquerda do ponto y (em y’ ).
Figura 3.4. Diagrama de uma secção do tanque de sedimentação, normal ao escoamento da água residual ( Casos 3 e 4). CASO 3 – Uma
partícula no tempo t = 0 está localizada em x” (Figura 3.4) e tem uma velocidade de sedimentação v1 (com v1 < vS ), não é removida uma vez que não alcança a base da zona de sedimentação (linha ty) a tempo de ser recolhida na zona de lamas.
CASO 4 –
Uma partícula com uma velocidade de sedimentação v1 (com v1 < vS ) e situada em x (com x < x”) a um tempo t = 0, é removida seguindo uma trajectória xy.
A análise das quatro situações apresentadas anteriormente ( Casos 1 a 4) permite concluir que o volume da bacia de desarenação ( V ) está relacionado com o caudal de afluente ( Q) e com a velocidade de sedimentação das partículas ( vS ). As partículas que demoram mais tempo a serem removidas são as que entram no topo da zona efectiva de sedimentação. A velocidade de sedimentação usada no dimensionamento da bacia, é igual a vS (Figura 3.2), a qual é a velocidade de sedimentação da partícula que sedimenta ao longo da altura efectiva total do tanque no tempo de retenção ( t R) teórico da água residual. H
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= vS × t R
( 3.2 )
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L
= v × t R
( 3.3 )
Substituindo a Equação 3.3 na Equação 3.2 obtém-se a Equação 3.4. v vS
vS
L
= H H
v L
ou
Q
H
vS
( 3.4 )
= H Q
Q
= v × L = W H × L = W L = A h
( 3.5 )
A equação anterior demonstra que o dimensionamento do desarenador é independente do tempo de residência ( t R) e da profundidade da bacia ( H ), ou seja, a eficiência da sedimentação é teoricamente uma função da área horizontal (A h) e do caudal de água residual a tratar ( Q). Esta constatação não é uma curiosidade matemática, mas sim uma relação de grande importância no dimensionamento dos desarenadores gravíticos de escoamento horizontal. Deste modo, na concepção de desarenadores gravíticos de escoamento horizontal as alturas das bacias são definidas por critérios técnicos relacionados com a operação da unidade. Em geral utilizam-se baixas profundidades, as únicas razões para se usarem maiores alturas de líquido são: i) satisfazer os requisitos de profundidade requeridos para a utilização de raspadores mecânicos para a remoção das areias sedimentadas, e ii) a componente horizontal da velocidade (velocidade de escoamento) deve ser mantida dentro de certos limites para evitar o rearrastamento de partículas já sedimentadas. O rearrastamento (resuspensão) ocorre quando a velocidade de escoamento ( v) é suficientemente elevada para suspender as partículas previamente sedimentadas. Assim, a velocidade de rearrastamento (vSC ) é o valor da velocidade de escoamento do fluido no canal de desarenação (= Q/W ·H ) para a qual as partículas previamente sedimentadas (zona de lamas) são arrastadas para a zona de sedimentação. A velocidade de rearrastamento pode ser estimada pela equação empírica de Camp-Shields 3 (Equação 3.6). vSC
=
8 β g (ρS − ρL) × d ) ρL ƒ
( 3.6 )
Nesta equação, vSC é a velocidade de rearrastamento (mm/s), isto é a velocidade de escoamento do fluido no canal que arrasta para fora da zona de lamas todas as partículas com diâmetro d ou inferior, β uma constante dependente da distribuição granulométrica dos sólidos (0,04 para areia unigranular e 0,06 para material não uniforme), ƒ é o factor de fricção de Weisbach-Darcy (0,03 para o betão), g a aceleração da gravidade (9 800 mm/s 2), d o diâmetro da partícula (mm), ρS a densidade da partícula (g/cm 3) e ρL a densidade do fluido (g/cm 3). Na prática, é vulgar ajustar a velocidade de escoamento do fluido no canal ( v) entre 0,15 e 0,30 m/s de modo a manter em suspensão o material orgânico (menos denso). Uma velocidade 3
Camp, T. R. (1942) Grit Chamber Design, Sewage Works J., 14, pp. 368-381.
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de 0,38 m/s arrastará para fora do canal as partículas de quartzo com diâmetros inferiores a 0,2 mm e as partículas de material orgânico até diâmetros nominais de 1,5 mm. O rearrastamento não é um problema vulgar em grandes tanques de sedimentação mas pode ser um factor importante em câmaras de desarenação arejadas e em canais estreitos. De acordo com o conceito de tanque ideal de sedimentação, todas as partículas com velocidades de sedimentação iguais ou superiores a vS serão removidas, e algumas partículas com velocidades de sedimentação inferiores a vS serão também removidas se entrarem na bacia a profundidades inferiores a H . Este ponto é fundamental na análise da eficiência de remoção da bacia. Assumindo que uma partícula com velocidade de sedimentação v1 (com v1 inferior a vS ) percorre uma distancia vertical h no tempo t R, pode-se estabelecer uma relação idêntica à da Equação 3.2. h
= v1 × t R
( 3.7 )
Todas as partículas com velocidade de sedimentação igual a v1 (ou superior) que entrem na zona de sedimentação a uma altura h (ou inferior) serão removidas. O critério geral para a remoção de partículas pode ser definido através da Equação 3.8 onde vi representa uma velocidade de sedimentação igual ou inferior a vS . vi vS
≥
h H
( 3.8 )
Uma vez que todas as partículas com velocidades de sedimentação vi estão uniformemente distribuídas ao longo da zona de entrada, a fracção de partículas removida ( ni) com essa velocidade de sedimentação é dada pela Equação 3.9. ni
h
vi
= H = v S
( 3.9 )
Em resumo, existem dois postulados fundamentais no desenvolvimento do conceito de tanque ideal de sedimentação: 1. existência de uma distribuição uniforme de partículas em suspensão ao longo da secção de entrada, isto é, ao longo da linha vertical xt (Figura 3.2); e 2. pressupõe-se que a partícula é considerada removida quando alcança a base da zona de sedimentação (linha horizontal ty). Tendo por base estes dois postulados chega-se a dois corolários: 1. todas as partículas com velocidades de sedimentação iguais ou superiores a vS são removidas completamente na bacia; e 2. todas as partículas com velocidades de sedimentação inferiores a vS são removidas na bacia numa proporção dada pela razão vi/vS . Teodoro / Outubro 2006
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Num exemplo simples assuma-se que H = 100 cm e h = 75 cm, considerando as partículas com velocidade de sedimentação v1 (v1 < vS ). De acordo com o postulado 1, 25 % dessas partículas, a t = 0, estão situadas entre x e x’ (H − h = 25 cm). Estes 25 % das partículas com velocidades de sedimentação v1 não são removidas uma vez que não alcançam o fundo da zona de sedimentação no tempo de residência t R. No entanto, os outros 75 % das partículas com velocidades de sedimentação v1, as quais a t = 0 estão situadas abaixo de x’ serão removidas, uma vez que alcançam o fundo da zona de sedimentação no ponto y ou à sua esquerda. Teoricamente, a fracção de remoção de partículas com velocidades de sedimentação vi (vi < vS ) é dada pela razão h/ H (neste caso h/ H = 75/100 = 0,75 ou seja 75 %).
EXEMPLO 3.1. Uma bacia de sedimentação numa estação de tratamento de águas foi concebida para tratar um caudal de 0,2 m 3/s. A bacia é de secção rectangular, com 32 m de comprimento, 8 m de largura e 4 m de profundidade. Trace um gráfico da eficiência teórica de remoção da bacia em função do diâmetro das partículas, considerando uma temperatura média de 20ºC ( ρL = 998,2 kg/m3 e µL = 1,002 × 10−3 kg/s·m) e uma densidade dos sólidos de 2 500 kg/cm 3.
R ESOLUÇÃO: A velocidade de sedimentação crítica (a menor velocidade de sedimentação que possui eficiência de remoção a 100 %), é calculada com base no caudal de água e na área horizontal da bacia. vS
Q 0,2 = A = 8 × 32 = 7,8 × 10−4 m/s h
Assim, todas as partículas com velocidade de sedimentação igual ou superior a 0,078 cm/s ( vS ) são removidas na bacia com 100 % de eficiência, e as partículas com velocidade de sedimentação inferior ( vi) terão uma eficiência de remoção dada pela razão vi/vS . 100 % , O Ã Ç O M E R E D A I C N Ê I C I F E
80 60 40 20 0 0,000001
0,00001
0,0001
0,001
VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO, m/s
Agora é necessário relacionar cada velocidade de sedimentação ( vi) com a dimensão da partícula (diâmetro), o que é feito através da Lei de Newton. Uma vez que as velocidades de sedimentação são muito baixas, mesmo para partículas de elevada densidade ( ρS = 2 500 kg/m 3), a sedimentação desenvolve-se na região de Stokes. Teodoro / Outubro 2006
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d i
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18 vi μL = g (ρS − ρL)
=
18 (1,002 × 10−3) × vi = 9,8 (2 500 − 998,2)
1,225 × 10−6 vi
100 % , O Ã Ç O M E R E D A I C N Ê I C I F E
10
1
0,1 0,001
0,01
0,1
DIÂMETRO DA PARTÍCULA, mm
EXEMPLO 3.2.
Considere uma suspensão de areia ( ρS = 2,60 g/cm3) em água a 20ºC (3 785 m 3/dia) com uma distribuição uniforme de partículas ( d = 0,07 mm). a) Calcule
a área horizontal da câmara de desarenação para obter uma remoção de 70 % das partículas de areia.
b) Suponha que em vez de um diâmetro uniforme de partículas, a suspensão possuía, além das partículas de d = 0,07 mm, um conjunto de diâmetros superiores os quais são
completamente removidos na câmara projectada para remover 70 % das partículas com d = 0,07 mm. Determine qual o diâmetro mínimo para que exista remoção total. c) Para a situação anterior determine a velocidade de rearrastamento (v SC) para a qual todas
as partículas com velocidades de sedimentação inferiores às que são completamente removidas, são arrastadas no escoamento da água. Que combinação de comprimento (L), largura (W) e profundidade (H) da câmara de desarenação cumpre estes objectivos?
R ESOLUÇÃO: a) Para d = 0,07 mm e ρS = 2 600 kg/m3 µ = 1,002 × 10 −3 kg/s·m), determina-se a
à temperatura de 20ºC ( ρL = 998,2 kg/m3 e velocidade de sedimentação ( vS ). Tratando-se de L partículas de muito pequeno diâmetro, o seu deslocamento durante a sedimentação efectua-se na região de Stokes (N Re ≤ 2), na qual é aplicável a seguinte expressão. vS
=
g
(ρS − ρL) 18 μL
d 2
=
9,8 × (2 600 − 998,2) × (0,00007)2 = 0,004265 m/s 18 × 1,002 × 10 −3
Após o cálculo da velocidade de sedimentação ( vS = 0,43 cm/s), determina-se a área mínima da secção horizontal (Ah) necessária para a remoção de 100 % destas partículas. Teodoro / Outubro 2006
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Q
Ah(100%) = v = S
⁄ 3 785 m3/dia h dia 2 × × 0,0043 m/s 3 600 s 24 ⁄ h = 10,2 m
Com este valor de área obtém-se 100 % de remoção para as partículas de d = 0,07 mm, para se obter 70 % de remoção o tempo de residência (a portanto a área) deve ser reduzido de 30 %. Ah(70%) = 0,7 × Ah(100%) = 0,7 × 10,2 = 7,1 m 2 Nestas circunstâncias, a velocidade de sedimentação para uma remoção de 100 % é: vS
Q
= A = h
3 785 m3/dia = 533 m/dia ≡ 0,62 cm/s 7,1 m2
NOTA: Verificação
da percentagem de remoção. Uma vez que a velocidade de sedimentação para partículas de d = 0,07 mm é igual a 0,43 cm/s, a sua percentagem de remoção pode ser confirmada através do quociente vi/vS . vi vS
0,43 cm/s = 0,62 cm/s = 0,694
As partículas removidas são aquelas que, no final da zona de entrada ( t = 0), ao longo da linha xt (Figura 3.4), estão a uma distância h (ou inferior a h) do fundo da zona de sedimentação.
⎧ ⎨ ⎩
vi = 0,43 cm/s
(remoção de 70 %) vS = 0,62 cm/s (remoção de 100 %)
b) De
novo como a sedimentação se desenvolve na região de Stokes (N Re ≤ 2), o diâmetro de partícula que possui uma velocidade de sedimentação igual a 0,62 cm/s é determinada pela seguinte expressão: d
=
18 μL v = g (ρS − ρL) S
18 × 1,002 × 10 −3 × 0,0062 = 0,000085 m 9,8 × (2 600 − 998,2)
Assim, se for conhecida a distribuição de partículas no afluente, é possível estimar a percentagem de remoção correspondente a cada grupo de partículas de um dado diâmetro. c) A velocidade de rearrastamento necessária para elutriar todas as partículas com velocidades de sedimentação inferiores às de remoção total, é determinada através da Equação 3.6: vSC
=
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8 × 0,04 × 9 800 × (2,65 − 0,998) × 0,07 = 110 mm/s 0,03 × 0,998
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Assumindo que a suspensão contém somente dois diâmetros de partículas (0,070 e 0,085 mm), uma velocidade de rearrastamento de 0,110 m/s elutria todas as partículas de diâmetro igual a 0,07 mm deixando na zona de lamas as de d = 0,085 mm. A secção vertical da bacia é determinada pela equação: Av =
Q v
3 785 m3/dia h dia ⁄ 2 × × 0,110 m/s 3 600 s 24 ⁄ h = 0,40 m
=
Qualquer combinação prática de comprimento (L), largura (W) e profundidade (H) usada para satisfazer os requisitos de A h = L W = 7,1 m2 e Av = W H = 0,40 m 2 é aplicável.
EXEMPLO 3.3. Suponha que para o exemplo anterior, em vez de tamanhos de partículas uniforme existia uma distribuição de diâmetros. Assuma a mesma densidade das partículas e temperatura da água, e que por cada 100 kg de areia é aplicável a seguinte distribuição granulométrica de partículas. GRUPO NÚMERO
DIÂMETRO ( mm )
MASSA ( kg )
1 2 3 4
0,085 0,070 0,060 0,050
50 20 20 10
a) Determine a velocidade de sedimentação de cada grupo de partículas. b) Calcule a fracção (mássica)de remoção de cada grupo de c) Determine a massa de areia
partículas.
removida por sedimentação para cada grupo de partículas.
d) Qual a percentagem (mássica) total de
areia removida por sedimentação.
que a área da secção vertical do canal (A v) é 0,80 m2 (2 × 0,4 m2), determine qual a velocidade de escoamento do fluido e qual o diâmetro máximo de partícula elutriado por essa velocidade.
e) Considere
f) Nestas condições determine a percentagem de remoção de areias do canal. g) Considere
que a altura da zona de sedimentação no canal (H) é 1,22 m. Para uma área horizontal (Ah = L W) de 7,1 m 2 e vertical (Av = W H) de 0,8 m 2, determine o tempo de residência ( t R) da água no canal.
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R ESOLUÇÃO: a) De modo semelhante ao indicado no exemplo anterior, a velocidade de sedimentação de cada grupo de partículas é determinado pela lei de Stokes. vS
=
g
(ρS − ρL) 18 μL
d 2
=
9,8 × (2 600 − 998,2) 2 × d 18 × 1,002 × 10 −3
GRUPO
1
2
3
4
vi (cm/s)
0,629
0,427
0,313
0,218
Grupo Número
Diâmetro
( mm )
vi
( cm/s )
% Remoção ( 100 × vi / 0,629 )
1 2 3 4
0,085 0,070 0,060 0,050
0,629 0,427 0,313 0,218
100 67,9 49,8 34,7
b)
c) Grupo 1 : Grupo 2 : Grupo 3 : Grupo 4 :
1,000 × 50 0,679 × 20 0,498 × 20 0,347 × 10
= = = =
50,00 kg 13,58 kg 9,96 kg 3,47 kg 77,01 kg
d) Se a área da secção vertical (A v) é tomada como igual a 0,4 m 2, todas as partículas de d = 0,07 mm e inferiores são elutriadas ( vSC = 0,11 m/s). Assim a percentagem de remoção da areia é somente de 50 % ( Grupo 1).
a área da secção vertical duplica (2 × 0,4 m 2) a velocidade de escoamento do fluido reduz-se para metade ( vSC = 0,5 × 110 = 55 mm/s). Como o vSC é proporcional à raiz quadrada do diâmetro da partícula, o diâmetro máximo das partículas que são rearrastadas pelo escoamento é: 0,07 d = 4 = 0,0175 mm Para este cálculo, em alternativa poderemos utilizar a expressão da velocidade de rearrastamento, explicitando-a em relação ao diâmetro da partícula. e) Como
vSC
=
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8 β g (ρS − ρL) × d ƒ ρL
d
=
v2SC × ƒ ρL
8 β g (ρS − ρL) Página 11
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d
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(55)2 × 0,03 × 998 = = 0,0175 mm 8 × 0,04 × 9 800 × (2600 − 998)
Portanto, só partículas com diâmetros iguais ou inferiores a 0,0175 mm são totalmente arrastadas pelo escoamento do efluente através do canal. Na distribuição granulométrica indicada, a partícula mais pequena possui d = 0,050 mm, portanto não existe rearrastamento destas partículas. f) Não existindo rearrastamento das partículas sedimentadas, a percentagem de remoção de areias no canal é de 77,01 %, tal como foi determinado na resolução da alínea c).
M = 1 × 50 + 0,679 × 20 + 0,498 × 20 + 0,347 × 10 = 77,01 kg g) t R
=
WLH Q
7,1 m2 × 1,22 m = = 0,00229 dia ≡ 3,3 min 3 785 m3/dia
NOTA: Os tempos de residência típicos em
canais de desarenação são da ordem dos 30 segundos a 1 minuto. Este exemplo não é característico das condições existentes nos canais uma vez que os diâmetros de partículas são demasiadamente pequenos para remoção gravítica. Ordinariamente as partículas de areia para as quais são dimensionados desarenadores possuem diâmetros na gama entre 0,1 e 1 mm.
Um dos principais problemas no dimensionamento de câmaras de desarenação gravíticas de escoamento horizontal é a manutenção de uma velocidade de escoamento constante, uma vez que o caudal de água resídual que chega à estação de tratamento (e portanto atravessa a câmara) varia ao longo do dia. A relação entre a velocidade de escoamento da água na unidade ( v) e o tempo de residência ( t R) é estabelecida através do comprimento do canal de desarenação (L) como se mostra na Equação 3.10, já anteriormente apresentada ( Equação 3.3). t R
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V WLH L = Q = v×WH = v
( 3.10 )
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