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ETAPA IV Apoio ao professor
Da Copa do Mundo de 2014 Sendo o futebol uma atividade que desperta extrema paixão na maioria das pessoas, é um instrumento ideal para a mistificação ideológica, tanto pelo governo quanto pela oposição
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aris, 12 de julho de 1998. O carioca Ronaldo Luís Nazário de Lima, apelidado, meses antes da Copa do Mundo, de Il Fenomeno pela imprensa italiana, mais um entre milhões de jovens brasileiros que buscam a ascensão social por meio do futebol, é a grande estrela da festa. Poucos anos depois de desistir do Flamengo, seu time do coração, por não ter dinheiro para pagar seu deslocamento até o local de treino das categorias de base, e iniciar sua carreira no São Cristovão, é duas vezes eleito o melhor jogador do mundo. Transfere-se, ao final da temporada 1996/1997, do Barcelona para a Inter de Milão por 32 milhões de dólares – valor exorbitante para uma época em que ainda eram raros os bilionários que se dispunham a lavar suas fortunas em clubes tradicionais. A Copa do Mundo é, sem dúvida, o principal torneio de futebol que existe. Muitos dizem que seu charme está no fato de só acontecer a cada quatro anos. Outros falam que ela é superestimada, já www.portalcienciaevida.com.br •
André Américo da Silva é graduado em Filosofia pela PUC-Campinas. Professor de Filosofia no ensino médio, estuda o problema da Ideologia aplicado ao cenário político brasileiro
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No futebol, decisões irr acionais, se dão certo, são aclamadas como “visionárias”, e não são consider adas frutos do acaso,
porque o imponder ável e a imprevisibilidade estão presentes de maneir a marcante
que muitos dos melhores jogadores não participam do torneio por representarem seleções inexpressivas que não conseguem se classificar para a disputa. De qualquer maneira, ainda que os campeonatos nacionais de clubes e as copas continentais, como a Copa Libertadores da América e a Copa dos Campeões da UEFA, sejam muito atrativos e as façanhas dos superatletas que as disputam sejam sempre lembradas pelos bardos contemporâneos, é somente após participar de uma Copa do Mundo que os melhores são alçados ao patamar de deuses do futebol, como Diego Maradona, Franz Beckenbauer e Pelé. Aclamado Rei do Futebol, o melhor jogador de todos os tempos nunca jogou na Europa, hoje pré-requisito para fazer parte do hall de estrelas do esporte. Muito de sua fama está diretamente ligada ao desempenho extraordinário pela seleção brasileira em Copas do Mundo (daí nota-se facilmente a grande importância do torneio), principalmente a de 1958, quando tinha apenas 17 anos, jogando ao lado de Garrincha; e a de 1970, naquele que ainda é considerado o melhor time da história do futebol, formado por craques como Jairzinho, Gérson, Tostão e Rivelino, em que muitos chegaram a abrir mão de jogar nas posições com as quais estavam habituados em seus clubes para que fosse possível reunir os maiores talentos em campo. De volta à Paris, 1998. O Fenômeno, astro da noite, passa por sérios e inesperados problemas de saúde.
Villoro e a ideologia Villoro define ideologia, em sua obra El concepto de ideología y otros ensayos, como um conjunto de crenças compartilhadas por um grupo social que não tem sua adesão suficientemente justificada e que cumpre a função social de promover e conservar o poder político desse grupo.
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A imprensa anuncia que o jogador sofreu uma convulsão e não entrará em campo. Minutos antes do apito inicial, a comissão técnica brasileira resolve escalar o jogador, o que deixa um clima de dúvida e tensão no ar. Por que escalar um jogador que não está em suas condições ideais no principal jogo do torneio mais importante, prejudicando o time? Não é o futebol um esporte coletivo? Valeria a pena arriscar toda uma estratégia pela esperança de um lapso de genialidade de Ronaldo? “E o Denílson, o Edmundo?” certamente se perguntaram muitos dos torcedores brasileiros, inclusive este que vos escreve. Mas, no fim, a grande maioria sempre pensa: “futebol é assim mesmo, o craque tem de entrar em campo!”. No contexto do futebol, decisões completamente irracionais são perdoadas e aclamadas como “visionárias” (se dão certo), e não são consideradas frutos de puro acaso e sorte porque o imponderável e a imprevisibilidade estão presentes de maneira muito marcante, talvez mais do que em qualquer outro esporte. Se o atual melhor jogador do mundo puder se apresentar enquanto tal por apenas 5 minutos, tudo estará a salvo. Não naquela noite. O melhor jogador do mundo era então um jovem apático, assustado, visivelmente debilitado. Jogando na prática com um a menos, a seleção brasileira se vê dominada pela francesa, anfitriã empurrada por 80 mil apaixonados no Stade de F rance. O primeiro tempo termina com placar de 2 x 0 para os donos da casa, sendo os dois gols de Zinedine Zidane, argelino que representa a seleção francesa e que virá a se tornar o melhor do mundo nos anos seguintes. Segundo tempo apenas protocolar, mais um gol dos Bleus2 para fechar o marcador, e a Canarinha sai humi2 Les Bleus, Os Azuis, como os franceses se referem à sua seleção de futebol.
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lhada do campo. Uma derrota seria totalmente aceitável, afinal eram dois times de altíssimo nível. Ainda que, no selecionado brasileiro, desfilassem os maiores talentos, o time francês era bastante competente e tinha a imensa vantagem de jogar em casa. Então, por que os torcedores brasileiros não se conformavam? Por que parecia que algo estava errado? Mais uma vez surgia o complexo de vira-latas, e pululavam justificativas para a derrota: roubaram-nos, foi comprado, a patrocinadora da seleção obrigou a comissão técnica a escalar seu maior garoto propaganda à época porque quem iria vencer era um problema secundário, apenas interessava a vitrine de marketing. Tomadas no calor do momento, principalmente quando essa exaltação natural se associava a boas doses de bebidas alcoólicas, tais conclusões pareceram bastante plausíveis. Ora, “um país como a França, de passado sabidamente imperialista, poderia ter comprado o título em casa para exaltar sua superioridade”. Ou “a grande multinacional que patrocina a seleção brasileira jamais aceitaria que Ronaldo ficasse de fora, está explicado!” No entanto, observadas à luz da razão, essas conclusões podem ser facilmente refutadas. Se a França realmente comprou o título, comprou-o de quem? Quanto dinheiro seria necessário para convencer um atleta, que já ganha milhões de euros, a desistir de um título que poderia fazer seus rendimentos dobrarem do dia para a noite por meio de transferências milionárias para os maiores centros esportivos do mundo, e isso para os poucos que já não estavam em clubes de ponta da Europa. Ademais, seria uma boa estratégia de marketing para a patrocinadora da seleção mostrar seu principal produto em seu pior estado, ainda que na melhor vitrine? Claramente, quando se trata de futebol e, em especial, da Copa do
Quando se trata da Copa do Mundo, que é a expressão máxima da mística que
o futebol representa, os juízos de valor são totalmente confundidos Mundo, que é a expressão máxima da mística que esse esporte representa, os juízos de valor são totalmente confundidos. O que leva um jovem bem-educado a agredir atletas do time adversário com insultos racistas? Ou um pai de família, trabalhador, a se digladiar com torcedores rivais em batalhas transmitidas ao vivo pela TV, que muitas vezes acabam em morte? O que nos atrapalha o discernimento quando se trata de futebol? A Filosofia como instrumento de domínio Segundo o filósofo espanhol naturalizado mexicano Luis Villoro (1922-2014), a Filosofia, entendida como uma interpretação sobre o marco conceitual suposto em qualquer pensamento a respeito dos fatos e objetos do mundo, se expressa sempre por meio de um discurso, ou seja, um conjunto de teses que podem ser aceitas ou rechaçadas por um interlocutor.3 De modo análogo, o filósofo italiano Antonio de Gramsci (18911937) entende a Filosofia como um conjunto de noções e conceitos determinados, que se manifesta na vida cotidiana por meio da Linguagem, da sabedoria popular, da religião e em todo sistema de crenças, superstições, opiniões e modos de agir.4 Para Gramsci, a Filosofia está fundamentalmente ligada à Linguagem no sentido de que não é pura e 3
VILLORO, 1985
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GRAMSCI, 2001
simplesmente um amontoado de palavras gramaticalmente vazias de conteúdo. Nesse sentido, podemos dizer que ela está presente na linguagem do cotidiano, ainda que aquele que discursa não se dê conta disso.5 Está também presente na religião na medida em que, durante a experiência religiosa, as pessoas travam contato com questões e conceitos (Deus, alma, morte etc.) que são objeto de reflexão dos filósofos. Já a sabedoria popular tem dois aspectos: o do senso comum e o do bom senso. O primeiro se refere ao conjunto de valores, crenças, opi5
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ARÉCIO et al., 2012
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GRAMSCI, op. cit.
O que é doutrina? Segundo o Vocabulário técnico e crítico da Filosofia, de André Lalande, doutrina é o que se ensina, e, por generalização, o que se afirma ser verdadeiro em matéria teológica, filosófica ou científica, implicando este termo na ideia de um corpo de verdades organizadas, solidárias e ligadas à ação, não de uma asserção isolada ou de pura teoria.
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Todos os homens guardam em si a possibilidade de serem filósofos. A diferença está no fato de que um filósofo chamado por Gramsci de “profissional ou técnico não só pensa com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema do que os outros homens, mas também conhece toda a história do pensamento, isto é, sabe as razões do desenvolvimento que o pensamento sofreu até ele e está em condições de retomar os problemas a partir do ponto em que eles se encontram após terem sofrido a mais alta tentativa de solução. Ele tem, no campo do pensamento, a mesma função que, nos diversos campos científicos, tem os especialistas”.8 Se essa diferença existe, e é bastante significativa, por que então dizer que todos os homens são filósofos? À resposta do filósofo italiano de que essa afirmação serve para combater o preconceito de que a Filosofia é uma atividade restrita a pessoas de capacidade intelectual avançada, podemos acrescentar outra: a possibilidade de se analisar discursos alheios aos cânones filosóficos, como aquele de jornalistas, articulistas políticos e/ ou “formadores de opinião”, sob uma perspectiva filosófica com a certeza de que este é, de fato, um objeto de estudos adequado à ela, já que a Filosofia pode dar contribuição significativa para a desmistificação de certas crenças injustificadas, chamadas por Luis Villoro de ideologias. Se não se limita a repetir teses preestabelecidas, a Filosofia é, segundo Villoro, historicamente considerada um pensamento de libertação. Isso se deve principalmente ao fato de que, além de pôr em questão as crenças adquiridas por se fazer parte de um determinado grupo social, ela conduz a uma crítica da razão por si própria, 8
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niões e preferências que constitui a nossa visão de mundo e que orienta nossas ações e escolhas cotidianas, que são geralmente assimilados acriticamente, de maneira espontânea ou por imposição de uma tradição étnica, religiosa e/ou cultural. Muitos desses valores têm origem na Filosofia, sem que as pessoas que os assumem tenham plena consciência disso e sem que exista uma necessidade naquele que assume determinado valor ou crença de fundamentar as razões que o levaram a essa atitude. No nível do senso comum, as pessoas se conformam com argumentos superficiais, inconsistentes e até mesmo contraditórios. 6 O segundo, por conseguinte, se manifesta como o contrário do senso comum, coincidindo, assim, com a Filosofia. O bom senso pressupõe refletir, apelando para o uso da razão no enfrentamento dos problemas, evitando se deixar levar por “impulsos instintivos e violentos”.7 Dessa perspectiva gramsciana, podemos dizer que mesmo no nível do senso comum, fazendo uso do “bom senso” é possível refletir de maneira crítica sobre a realidade. Isto é, de certo modo, filosofar, o que leva a crer que todos os humanos guardam em si a possibilidade de se tornarem filósofos, sem que, para isso, seja necessário ter profundo conhecimento da História da Filosofia.
fazendo uso de três operações conjuntas: a análise dos conceitos, a reforma da nossa capacidade de questionar e o exame das razões em que se fundam os discursos que expressam nossas crenças, exame este que pode revelar o caminho de uma vida mais justa na medida em que nos leva a rechaçar valores tradicionais e buscar outros para substituí-los, baseados fundamentalmente no uso da razão.9 Como dito anteriormente, a Filosofia sempre se manifesta por meio de um discurso, que pode ser aceito ou rechaçado. Dessa maneira, torna-se independente da atividade racional que o produziu, um produto da razão, que pode se converter em uma doutrina. Esse produto da razão pode ser manejado como uma concepção de mundo, crença comum de uma escola ou corrente filosófica. Assim, um tipo de pensamento que pretende nos libertar de toda crença socialmente adquirida e compartilhada pode se tornar um novo sistema de crenças compartilhadas. Essa transmutação da Filosofia libertadora em crença compartilhada se encaixa perfeitamente no propósito de se dirigir a ação de outros indivíduos, servindo como instrumento de domínio e convertendo-se em ideologia. Futebol e ideologia Yokohama, 30 de junho de 2002. Ronaldo, o Fenômeno, volta a ser o centro das atenções. Depois de passar pelos quatro piores anos de sua carreira, com lesões gravíssimas que chegaram a pôr em risco sua condição de atleta profissional, o jogador brasileiro tem, mais uma vez, a chance de provar que merece figurar no panteão de divindades do esporte bretão. Pouquíssimos atletas tiveram o privilégio de disputar uma partida como essa, 9
VILLORO, op. cit.
A transmutação da Filosofia libertadora em crença compartilhada se encaixa perfeitamente no propósito de se dirigir a ação de outros indivíduos quanto mais pela segunda vez, e em contextos absolutamente distintos. Ronaldo já não era mais considerado o melhor jogador do mundo e começava a ter problemas para controlar o peso em meio a tantos períodos fora dos treinamentos. A própria seleção brasileira não era mais a mesma, teve grandes dificuldades em se classificar para a disputa e não era de forma alguma a grande favorita. A redenção não poderia ser mais épica. Com dois gols do Fenômeno, os comandados de Luiz Felipe S colari conquistam o pentacampeonato. Não bastasse o título, Ronaldo recebe o prêmio de melhor jogador da final, artilheiro da competição e, ao final do ano de 2002, é novamente eleito o melhor jogador do mundo, muito mais pelo seu desempenho durante as sete partidas da Copa do que por todo o resto do ano atuando por clubes. Um dos grandes destaques do adversário do Brasil na final, a seleção da Alemanha, era o goleiro Oliver Kahn. Escolhido como o melhor jogador do torneio antes mesmo da partida final10, decepcionou: falhou de maneira bizarra em um dos gols do Brasil e praticamente enterrou as chances de seu time conquistar o título. Apesar disso, a vitória foi muito comemorada pelos torcedores brasileiros, e seria difícil encontrar alguém que sinceramente achasse ser Oliver Kahn passível de qualquer espécie de suborno. Por que a aceitação quanto à veracida10 A prática de se eleger o melhor jogador de uma Copa do Mundo antes da partida final foi abolida depois de 2002
de do resultado foi tão antagônica se comparada a de 1998? Uma crença justificada pode ser aceita ao levarmos em conta a simples exposição dos fatos, como a Ciência. A sentença “os metais conduzem eletricidade” é aceita porque todos os metais até hoje conhecidos e testados de fato conduzem eletricidade. No entanto, uma crença injustificada, que mais tarde poderá servir como instrumento de domínio, só pode ser aceita na medida em que se apresente como se fosse justificada, ou seja, é necessário um processo de mistificação, ocultamento ou engano.11 Esse ocultamento pode se manifestar, segundo Villoro, de duas formas principais: 1. Um enunciado descritivo E, com um sentido claro a se funda em uma série de razões consideradas suficientes. Mas, ao ser utilizado politicamente em benefício de um grupo ou classe social, serve para dominar, adquirindo um novo sentido b confuso, que se acrescenta a sem substituí-lo. O ideólogo apresenta b com as mesmas razões para justificar a, levando ao engano; 2. Um enunciado valorativo E, com um sentido claro a, pode 11
VILLORO, op. cit.
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A avalanche de críticas a que a realização da Copa do Mundo no Brasil tem sido exposta diariamente na mídia tem função ideológica
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Revista Carta Capital, edição n. 796, p. 60
Obviamente, esses dados podem ser questionados. No entanto, refletir sobre a eterna e acirrada disputa entre os países para sediar tamanho evento pode clarear nosso julgamento: será que todos os países estão sempre com tamanho montante sobrando para desperdiçar em jogos de futebol? O que se pretende não é simplesmente defender a todo custo a realização do megaevento no Brasil. As estatísticas do Ministério do Esporte podem estar absolutamente incorretas, sem descartar a possibilidade de uma manipulação intencional dos números para justificar a realização do evento. E os formadores de opinião não podem ser isentos de críticas (vide o apoio dos maiores conglomerados de mídia do Brasil ao Golpe de 1964, mantido, reforçado e reafirmado durante os longos anos de ditadura militar). Mas, para além de se defender ou não a realização Copa no Brasil, a questão principal é chamar atenção para a notável habilidade do establishment político-midiático brasileiro de manipular as vontades populares com o objetivo de fazer valer suas intenções, que nem sempre coincidem com que é melhor para o País. referências
despertarem qualquer homem um conjunto de emoções a respeito dos objetos ou valores a que se destina. Mas, ao ser usado politicamente, em benefício de um grupo ou classe, pode adquirir um significado confuso b, que é aceito por despertar as mesmas emoções que a, mas que, se isolado de a, despertaria emoções contrárias. Analisando atentamente a questão da Copa do Mundo de 2014, que acontece entre os meses de junho e julho no Brasil, fica claro que a avalanche de críticas a que o evento tem sido exposto na mídia diariamente tem função indiscutivelmente ideológica, ou seja, tem a função de promover o poder político de determinado grupo político, notadamente aquele identificado como de “oposição” no atual sistema democrático brasileiro, ou seja, que não está no poder (em especial, PSDB e DEM). A intenção é utilizar o “problema” Copa do Mundo como arma para vencer as eleições de Outubro e tirar do poder o partido que assumiu a presidência há 12 anos (PT). Nessa cruzada, os partidos de oposição ao governo federal tem grande ajuda da conservadora mídia brasileira (jornais de grande circulação, TV aberta e revistas semanais), pouco ou nada identificada com o atual governo, de origem trabalhadora (ainda que todos esses rótulos sejam fartamente contestáveis). Ora, o que há de errado com as críticas que têm sido feitas à organização
da Copa do Mundo no Brasil? Dizer que o país tem outras prioridades, que o dinheiro gasto com a construção de estádios e demais equipamentos necessários à realização do evento deveria ser investido em escolas e hospitais não é justo? O problema das críticas feitas à realização da Copa do Mundo no Brasil se encaixa perfeitamente no segundo tipo de mistificação ideológica, em que a crença justificada de que “é melhor investir o dinheiro dos impostos na construção de escolas e hospitais do que em estádios de futebol” é usada politicamente para justificar a afirmação de que “a Copa do Mundo é ruim para o país, e o responsável por realizá-la deve ser alijado do poder”. Que construir escolas e hospitais é melhor do que construir estádios de futebol é óbvio e autodemonstrável, mas essa é uma escolha que precisa ser feita? Se as críticas estão relacionadas ao aspecto financeiro da Copa do Mundo, um dado recente parece ser bastante revelador: segundo o Ministério do Esporte, os 25,6 bilhões de reais investidos na realização da Copa do Mundo no Brasil acrescentarão, no mínimo, 183 bilhões de reais à economia do país nos próximos cinco anos. Além disso, o aumento de 21% na oferta de quartos para hospedagem irá criar muitos empregos, já que cada novo quarto construído gera um emprego direto e seis indiretos.12
ARÉCIO, D.; MARQUES, E.; AUGUSTO, J. C. et al. Caderno do aluno: Filosofia. 3a série. v. 1. São Paulo: Plural, 2012, p. 22. GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. 2. ed. v. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999. VILLORO, L. El concepto de ideología y otros ensayos. México: F.C.E., 1985.