PODE O OCIDENTE CONTRIBUIR PARA RESOLVER A CRISE NA ÁFRICA?
O ensaio Pode a África Contribuir para resolver a crise do Ocidente? (Barcelona, 2004) do economista e filósofo Serge Latouche é uma obra singular na discussão entre o continente africano e o Ocidente. Ao invés de apresentar a lógica tradicional econômica criada no Ocidente para resolver os problemas da África, o autor inverte a lógica e discorre sobre as capacidades da África resolver os problemas do Ocidente em questões como meio-ambiente, relações sociais, familiares etc. Precisaríamos, segundo ele diz já na introdução do ensaio, “confessar que o que acreditamos oferecer à África nos interessa menos do que aquilo que ela nos oferece” colocando oferece” colocando o continete num patamar de discussão que foge dos tradicionais receituários econômicos ocidentais do desenvolvimento, que impõe seus dogmas para outros países, principalmente para aqueles com menor taxa de “desenvolvimento”, como é o caso dos países do continente. Na primeira parte do trabalho O fracasso previsível do desenvolvimento desenvolvimento “alternativo” segundo o modelo africano, africano, o autor mostra que a lógica econômica ocidental do desenvolvimento não é reproduzida no continente africano. Na África subsaariana, por exemplo, a chamada “economia do débrouille” débrouille” é um núcleo central do setor informal que são as pequenas empresas, os artesãos, os pequenos comerciantes etc. Latouche questiona que o reconhecido desempenho do setor informal em matéria de emprego no continente não representaria a marca de uma outra economia, até mais importante do que a formal, que não deveria ser considerada? É interessante que o autor busca a hermenêutica de algumas palavras importantes do cotidiano ocidental como “economia” economia” e “desenvolvimento” desenvolvimento” para mostrar que isso não corresponde a interpretação do imaginário africano – africano – por por isso as aspas aspas nessas palavras palavras durante esta resenha resenha - e até mesmo não possui nenhum equivalente em algumas sociedades. Isso é para ele um indicativo de que a sociedade africana não baseia seus valores nos mesmos modelos ocidentais tradicionais, mesmo que essa afirmação em por si mesma não prove a ausência de qualquer visão “desenvolvimentista” desenvolvimentista” e “econômica” econômica” no continente. O que ocorre para ele é que esse tipo de arranjo não é uma outra economia, distinta na forma e no conteúdo do ocidente tradicional, mas um outro tipo de sociedade, onde o setor informal, em que se encontra o débrouille, está incorporado na sociedade e nas redes que a estruturam. Isso já responde o porquê de ele considerar essas sociedades como vernaculares. Já na segunda parte do trabalho sob o título A título A outra África como modelo de saída da economia, Latouche mostra que existem dois tipos de África: A primeira é a Oficial que entrou, segundo ele, em falência econômica e política, um continente dos golpes de Estado, da guerra civil, da corrupção, do genocídio etc. Mas é também, por outro lado, uma África das savanas, das aldeias e florestas, dos subúrbios, subúrbios, uma África “da sociedade civil”, civil” , capaz de se auto-organizar e de inventar a verdadeira alegria de viver.
Essa alegria de viver do africano para ele está sendo pressionada pela individualização da sociedade, que se contrapõe à concepção de “solidariedade africana” em que a ideia de parentesco é muito além da família, se estendendo para as amizades, a vizinhança, a associação desportiva, a religião, a política etc. O ensaio é singular justamente para invertemos essa lógica de ensinamento do “desenvolvimento” para o continente e passarmos a olhar essas concepções de solidariedade e realização coletiva da sociedade. Mas não podemos esquecer que problemas como da edução e saúde no continente ainda é elevado e o aprendizado com o Ocidente para a África pode ser de grande valia. Caso autor expusesse essa realidade, seu texto poderia mostar que a troca de experiências é sempre a mais eneiquecedora possível. Os africanos também precisam compreender isso.