Tatiana Avanço Ribeiro
05/05/2012
Licenciatura em Educação Musical – 1º ano Sociedade, Estado e Educação – Profª. Ana Clara Nery
RESENHA C RÍTICA Título:
A nova educação como ferramenta de transformação nacional
Texto: O manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932)
O texto relata como ocorreu a recepção e o desenvolvimento dos ideais propostos para a Educação Nova no Brasil durante o período da Segunda Segunda República. O primeiro tópico inicia discorrendo que a educação é o problema mais grave de todo o país, superando inclusive os problemas de ordem econômica daquela época. Mesmo com o atual desenvolvimento econômico do país, acredito que a educação seja não apenas o mais grave, mas a base de todos os problemas nacionais, uma vez que o crescimento de uma economia depende de mentes preparadas para colaborar com esse desenvolvimento. O sistema educacional anterior a esse período mostrava-se fragmentado, dominado pelo empirismo e sem cultura própria determinada a estabelecer os fins e objetivos para a educação. Tal desorganização deveu-se majoritariamente à falta de espírito científico dos pedagogos, devido à formação que visava o ensino da teoria teo ria dissociada da prática educacional. Os pioneiros da Educação Nova procuraram introduzir mais filosofia e metodologia científica para a resolução dos problemas da educação. Por terem caído na rotina e no egoísmo, as antigas instituições já necessitavam de uma nova forma de funcionamento. funcionamento. Já em toda a América Espanhola aconteciam transformações no no âmbito educacional, e no Brasil não poderia ser diferente. Levar a educação para ambientes além da escola e transformá-la num meio de influência sobre a sociedade foram objetivos da reforma proposta. Segundo Alberto Torres, os movimentos de mudança que são propostos no Brasil raramente chegam à sua total conclusão, pois não assimilamos as idéias o suficiente para vivê-las como doutrina. Porém, para os educadores adeptos da Educação Nova, a reforma em questão possui alicerces para fundar uma nova forma de ser em todo o âmbito educacional, já que ela analisou a educação observando a raiz de cada problema. Uma bela citação de Ernesto Nelson destaca que a educação não é privilégio sócio-econômico, mas um “caráter biológico” do ser humano, sendo direito de todo indivíduo ser educado “até onde permitam suas aptidões naturais”. Esse trecho vem justificar o direito e o dever à
educação não como imposição legislativa, mas como necessidade humana. A educação como concepção de vida irá se despir de concepções burguesas e chegar a uma posição mais social, preocupando-se em atender não aos interesses de classes, mas os do próprio indivíduo. A personalidade humana deve ser respeitada e estimulada a desenvolver-se, e a educação não tem o direito de t ransformar os homens em “máquinas do trabalho”.
O manifesto expõe quais são as obrigações educacionais do Estado, começando pela educação como função essencialmente pública. A família também possui seu papel de educadora, e as práticas educacionais escolares e familiares devem agir unidas, através da colaboração entre pais e professores. Essa concepção tem estado um tanto perdida ultimamente, pois os pais vêem a escola como fonte completa da educação, e isso ocorre muitas vezes por falta de tempo para educar pessoalmente os próprios filhos. Também são abordadas as questões da escola única, laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação. Todos esses fatores são estabelecidos para instituir a educação comum a todos e facilitar o processo educacional, não apenas para os educandos, mas também para os educadores. Em seguida são apresentadas as funções educacionais: - Unidade: se a educação procura formar o indivíduo como um todo, ela também deve ser única. Os manifestantes reagem contra tudo que possa quebrar a unidade educacional. - Autonomia: a unidade educacional estará ameaçada se o controle da educação estiver em mãos do Estado. Portanto, as instituições educacionais devem ser dirigidas e coordenadas por técnicos e educadores cientes dos problemas da educação e capacitados para resolvê-los. - Descentralização: o conceito de unidade não pressupõe centralismo, mas multiplicidade. A descentralização objetiva desenvolver um plano metódico comum a ser seguido por todo o país, porém adaptando-o de acordo com as características de cada região brasileira. O processo educativo enriqueceu-se quando conseguiu libertar-se do empirismo e alcançar uma visão mais científica e experimental. A antiga educação era pensada por acréscimo e o aluno era “moldado exteriormente” (educação bancária). A Nova Educação concebe o
processo educativo como sendo uma transformação que vem de dentro para fora, e deixa de ser mecânica para se tornar viva. As atividades deixam de ser passivas e intelectuais para serem espontâneas e de acordo com as necessidades biológicas do indivíduo. Esse último aspecto mostra-se, a meu ver, ineficiente enquanto se pretende uma unidade educacional, pois se cada um segue no seu próprio ritmo de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo, o resultado final será no mínimo heterogêneo. Para a reconstrução educacional tornou-se necessário corrigir o erro principal do sistema educacional: a falta de articulação entre os graus de ensino. A educação profissional e a intelectual devem ser postas ao mesmo nível para que haja adaptação de todas as classes sociais ao ensino comum. O ensino deve ser condizente com o meio social à sua volta, pois sem esse fator ele não faz sentido algum. A escola deve ser também um meio de irradiação cultural e artística, uma vez que a arte tem uma significação social de grande importância, aproxima os homens e estende o seu campo de visão do mundo. A estruturação do plano educacional em quatro períodos do desenvolvimento humano apresenta-se logicamente eficaz, principalmente a partir da bifurcação por preponderância intelectual, a partir dos 15 anos. É nessa época que o ser humano já consegue perceber quais são suas inclinações pessoais para cada área do conhecimento e pode definir quais caminhos seguir.
A educação nas universidades, a partir dos 18 anos, é estabelecida por um tripé altamente válido: criação de ciência, transmissão de conhecimentos e popularizadora das ciências e artes. Essas características indissociáveis são o que realmente fazem jus ao nome universidade, um centro não só de formação profissional, mas de interminável aperfeiçoamento do conhecimento. Também é um importante centro de difusão de idéias e reflexão para a resolução de problemas da sociedade. A Universidade como auge do saber buscará diferenciar os homens não através de poderes econômicos, mas por diferenciação de capacidades, de acordo com as inclinações naturais de cada um. Ser professor é o mais alto cargo de função pública e não era (ainda não é) tratado como tal. A formação de professores, na época, não oferecia bases sólidas para exercer a profissão. Essa formação ocorria durante o ensino secundário estendendo-se às universidades. Hoje, mesmo sem o devido reconhecimento da profissão, os professores formam-se obrigatoriamente em universidades, o que já é um grande avanço na criação do espírito científico e enriquecimento cultural desse profissional. Infelizmente, a escola é tratada como se não fizesse parte da natureza humana, quando a própria vida é uma grande escola. A educação, portanto, precisa ser motivo de convivência social e familiar, e as instituições extraescolares de caráter educativo devem estar incorporadas à escola ao mesmo tempo em que transpõem os seus muros. Isso potencializará o seu poder educativo. Por mais que existam obstáculos e dificuldades na transição da educação antiga para a nova, não se pode deixar de lutar para que a educação seja plena no território brasileiro, pois é assim que se constroem “os grandes homens e os grandes povos”. A educação é uma
ferramenta democrática, e os pioneiros acreditam que ela seja a fonte da identidade de consciência nacional, e isso para nós é um grande rumo à educação completa e de qualidade para todos.
Referências:
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb07a.htm - acesso em 01/05/2012