UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGEM CURSO COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO PUBLICIDADE E PROPAGANDA
RESENHA DA BOSSA NOVA A TROPICALIA
Disciplina: Iniciação ao Trabalho Científico Professora: Ludmila Brandão Aluno: Antonio Benedito
CUIABÁ – 2014 2014
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGEM CURSO COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO PUBLICIDADE E PROPAGANDA
RESENHA DA BOSSA NOVA A TROPICALIA
Aluno: Antonio Benedito
Resenha apresentada à disciplina Iniciação ao Trabalho Científico sob orientação da Professora Ludmila Brandão.
CUIABÁ - 2014
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NAVES, Santuza Cambraia. Da Bossa Nova à Tropicália: contenção e excesso na música popular , Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 15 nº 43 junho/2000, pp. 35-44. “
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A presente resenha aborda o artigo de Santuza Cambraia Naves “Da Bossa Nova à Tropicália: contenção e excesso na música popular” publicado em junho de
2000, na Revista Brasileira de Ciências Sociais. O trabalho analisa os estilos que surgiram na música popular brasileira na década de 60, mostrando sua historicidade, tentando compreende-lo em relação com a bossa nova. O texto expositivo inicia-se com a apresentação do livro de Augusto Campo, “Balanço da bossa: antologia crítica da moderna música popular brasileira ”, que reúne vários artigos de diversos autores, que embora os fossem favoráveis a postura internacionalista e moderna na música popular, ressaltam a atitude inovadora dos criadores da bossa nova, particularmente João Gilberto, que assume uma postura de contenção aos excessos na música popular, movimento assemelhado a outras manifestações estéticas dos anos 50, como a poesia concreta e a arquitetura de Oscar Niemeyer. A argumentação partir dos experimentos musicais dos bossanovistas influenciando uma geração de compositores que surgiram posteriormente, porém estes não aderiram à estética de contenção, idéia de racionalidade, mas foram resgatando a historicidade da música popular brasileira, até uma abertura total aos estilos regionalistas e internacionais chegando à tropicália. A articulista afirma que com a inserção do cool jazz, a bossa nova acompanha a racionalidade cultural de sua época. Foi um movimento de ruptura com as tradições anteriores. Assim como os poetas concretos fizeram com as tradições na literatura, os bossa-novistas rejeitaram os sambas-canções e os boleros melodramáticos e operísticos do período anterior. Daí a idéia de que João Gilberto foi o precursor de um musical afinado às propostas da poesia concreta. A nova tendência introduziu com musicas de Tom Jobim um procedimento em que letra e música conversam entre si, com elementos de transgressão da bossa nova, presente em “Desafinado ”, que no momento da pronuncia “desafino” ocorre, no plano da música, uma nota inesperada, que representa uma transgressão aos padrões harmônicos da música popular convencional. À bossa nova só interessa os concretos que é o objetivo da proposta de João Gilberto. Nesse ponto do artigo a autora chama a atenção para outros dados que se convencionou chamar de estilo bossa-nova. Para ela, nem todos os integrantes da
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bossa nova, como João Gilberto, fizeram uma ruptura radical com o passado da música popular. A bossa nova permite diversas leituras onde procedimentos diferentes fizeram-lhes os músicos desta nova tendência. Muitas influências fizeram a bossa nova, diz Naves: o jazz requintado; o bolero impactante de Lucho Gatica que influencia Roberto Menescal, com o violão dialogando com o baixo; Carlos Lyra que vê os boleros de Agustin Lara, importantes e também não abandona de vez os sambas-canções, em composições musicais de transição para a bossa nova; também o bolero mexicano, o jazz de diversos compositores mais as misturas brasileiras de samba, xaxado da valsa ao baião. Para a autora, no movimento modernista brasileiro, músicos e poetas do tiveram postura antropofágica, ajustando-se mais ao perfil do bricoleur delineado por Lévi-Strauss. O que interessa pra ela, é ressaltar o fato dos músicos e poetas modernistas no Brasil partilharem uma mesma visão do universo cultural do país, incorporando essa riqueza ao trabalho artístico. João Gilberto apenas teria dado forma à bossa nova, pois não resultado de um projeto. Então a autora retoma o argumento de que, o estilo bossa-nova não se exaure com a estética de João Gilberto, mostrando-se, bastante diversificado. Para autenticar seu argumento, a articulista, apresenta a trajetória musical de Tom Jobim, onde ele mesmo declara que a bossa nova foi uma fase na sua carreira. Desde os primeiros passos como musico até sua consagração internacional, Tom mostra uma tendência de continuidade a uma tradição musical “erudita” que foi marcada pelo modernismo nacionalista de Villa-Lobos, uma tradição que recorre ao excesso “tanto sinfônico quanto coral” como forma de representar grandiosamente o Brasil.
A autora acha importante a análise do perfil musical de Radamés para a identificação modernista, pois suas composições, tais como outros, alimentam-se do repertório popular. Na Rádio Nacional que Radamés amadurece como orquestrador e compositor, exercitando livremente a sua criatividade. Aqui está, segundo Neves, a mistura produzida, que teria sido um parâmetro para os músicos que, no final dos anos 50, partiram para a experiência bossa-novista. A autora afirma que a própria estética bossa-novista em determinado momento passa a conviver com a recuperação do excesso. Primeiro, com a estética da bossa nova com ritmos nordestinos, depois, com a geração músicos como Chico Buarque de Hollanda, Edu Lobo, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Chico Buarque incorpora à bossa nova, outros ritmos do musical. Ele afirma que a ruptura não durou muitos anos e também não impossibilitou a busca de outras fontes para suas composições. Logo depois, alguns dos mais importantes nomes da bossa nova retornam a Noel Rosa, Cartola e Nelson Cavaquinho, compondo canções que já não podem se enquadrar na estética bossa-novista. Assim, como
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alguns músicos da nova tendência criaram regras para a bossa nova, outros abriram o estilo, pois teriam começado a perceber que o Brasil não é só o Rio de Janeiro. A autora diz que isso parece a idéia de “recriação”. Apresenta Edward Sapir, que fundamentado em Nietzsche, fala sobre criar uma identidade nacional a partir aceitação passiva do legado do passado. O que Chico Buarque e Edu Lobo faz em não só valorizar a tradição musical brasileira, mas criam algo singular a partir das opções disponíveis. Na música brasileira dos anos 60, fica claro que todas elas com exceção da bossa nova - apresentam uma um procedimento que se pauta pela inclusão, muito próximo ao do bricoleur analisado por Lévi-Strauss. Chico Buarque e Edu Lobo optam pela recriação, comum a tradição modernista como o neoromantismo alemão, mostra-se muita viva no pensamento modernista de Mário de Andrade. Então se deduz que os músicos posteriores a bossa nova até a tropicália, recuperou a tradição modernista de ter o Brasil como universo cultural inesgotável. Os músicos tropicalistas deram uma concepção de “riqueza cultural” que abrange desde o rock alienígena aos ritmos regionais já consagrados, e mostra-se flexível o suficiente para incluir o kitsch como um item a mais do tesouro nacional, além da criação mais “sofisticada”, o esteticamente “pobre” passa a ser precioso.
A bossa nova opta pela contenção, a tropicália vai ao excesso, retomando uma tradição que foi renegada pelos músicos bossa-novistas. Não há regras para a canção tropicalista. O movimento desconstrói a oposição de todas as existentes no período: a que se faz entre o “nacional” e “autêntico”, de um lado, e o “alienígena” e “descaracterizador” de outro.
Conclui a autora, que a atitude excludente de o engenheiro, se deu em período curto e relativamente atípico, Depois do auge da modernização a estratégia o bricoleur, retoma a sua posição que vinha mantendo desde o início do século XX.