UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA DISCIPLINA: Estudos Morfológicos do Português PROFESSOR : Evandro Silva Martins ALUNA: Ludmila Maria Bortolozo
RESENHA ESTRUTURAS MORFOLÓGICAS DO PORTUGUÊS
UBERLÂNDIA - MG 30 DE NOVEMBRO DE 2011
No livro “Estruturas Morfológicas do Português” o autor Luiz Carlos de Assis Rocha
apresenta no primeiro capítulo os objetivos de uma teoria morfológica, estes seriam decretar as “novas” palavras que os falantes de uma língua podem
formar, ou seja,
especificar as regras através das quais as palavras são formadas. O autor também defende neste primeiro capítulo que a morfologia deve constituir-se em um ramo autônomo da Linguística, com suas regras específicas que não coincidem com as da fonologia, sintaxe, semântica ou do discurso. Em seguida, ainda no capítulo um, o autor apresenta quatro grandes correntes que trabalharam com a morfologia, essas são o descritivismo, o historicismo, o estruturalismo e o gerativismo. O descritivismo foi uma corrente que se preocupou bastante com a fixação de paradigmas, apresentando as relações de regularidade (analogia) e irregularidade (anomalia) nas línguas. O historicismo introduziu nas pesquisas linguísticas uma abordagem diacrônica, esta gramática histórica ou comparativa preocupou-se mais com a evolução da palavra como um todo. Já o estruturalismo possuía um caráter mais empírico. Apoiado nas ideias de Saussure, chegou-se à conclusão de que a língua é um sistema de valores, oposições e de elementos que formam uma estrutura, nessa corrente a morfologia alcançou um progresso notável. Por fim, tem-se o gerativismo, essa corrente introduziu uma nova concepção nos estudos linguísticos. Seguindo os ideais de Chomsky, o gerativismo, diferentemente do estruturalismo, considera a linguagem não como um simples meio de comunicação, mas como uma projeção do próprio homem. Ademais, cabe acrescentar que o autor utiliza as teorias gerativistas como fundamento de seus estudos nesse livro. Para finalizar o capítulo um, o autor apresenta alguns conceitos básicos da morfologia gerativa, tais como: competência lexical, regras morfológicas e sintáticas, regras de análise estrutural e de formação de palavras e produtividade lexical. No capítulo dois, o autor inicia apresentando alguns questionamentos gerais com relação às gramática tradicionais. Para ele não se deve apenas criticar essa gramática e nem aceitar tudo que ela impõe, o ideal, e mais difícil, seria sugerir ideias para que essa gramática possa ser melhorada e fazer análises despreconceituosas, coerentes e racionais dos dados linguítiscos.
Em seguida, o autor adiciona alguns questionamentos específicos em relação ao ensino da sufixação nas gramáticas tradicionais, apresenta a confusão que essas gramáticas fazem entre os planos da sincronia e diacronia; a não-especificação dos critérios racionais para estabelecer se um item lexical é simples ou complexo, ou seja, se a palavra tem afixo ou não; a falta de sistematização dos dados que apresentam, pois muitas vezes essas gramáticas apresentam processos sufixais extremamente produtivos ao lado, por exemplo, de sufixação anômalas (casebre, carniça); e, por último, as gramáticas tradicionais costumam deixar a impressão de que o estudo da sufixação consiste apenas na apresentação de listas de sufixo, sem apresentar um estudo interpretativo ou sistemático desses elementos. No terceiro capítulo o autor aborda o léxico, assim, apresenta o conceito de Léxico Mental, esse seria um conjunto de formas linguísticas que um falante nativo tem internalizado, esse caso considera-se a competência lexical, não o dicionário da língua. Em seguida, o autor menciona que esse conjunto de formas linguísticas que os falantes possuem, são listas de itens lexicais que vão dos mais simples aos mais complexos, comos os morfemas e os lexemas que consistem respectivamente em unidades mínimas distintivas significativas e palavras que apresentam uma ou mais raízes. Ademais, o autor menciona que alguns autores afirmam que o léxico deve ser um conjunto de idiossincrasias, irregularidas. Porém, de acordo com Katamba (1993:83) hoje em dia grande parte dos gerativistas rejeita a ideia de que o léxico é uma mera lista de irregularidades. Após esse momento, Luiz Carlos Assis Rocha menciona a relatividade da lista de itens, pois para a morfologia gerativa é imprescindível que sejam fixados limites entre dialetos e comunidades linguísticas, para que interpretações ambíguas possam ser evitadas. O autor também discorre sobre a distinção entre a polissemia e a homofonia, sendo que a primeira caracteriza-se pelo fato de que uma palavras pode sofrer adaptações de sentido nas diversas circunstâncias em que é usada, já o segundo conceito refere-se aos vocábulos homófonos que possuem a mesma forma, mas não têm ligação de sentido. Nesse terceiro capítulo, o autor também menciona a necessidade de se distinguir os empréstimos dos hibridismos, sob uma perspectiva sincrônica e diacrônica. Para finalizar, é apresentado no capítulo as descrições de diversas entradas lexicais do português.
No capítulo quatro, o autor aborda o surgimento de novos vocábulos, nesse processo de formação de palavras há três funções: a função de mudança categorial, função expressiva de avaliação e a função de rotulação. Após discorrer sobre as funções das formações de novos vocábulos, o autor menciona a formação esporádica (FE) e a formação institucionalizada (FI). A primeira refere-se as criações de vocábulos novos e complexos, criados pelos falantas/escritores no impulso do momento, essa pode ser institucionalizada no momento em que se tornar familiar aos falantes de uma língua. Portanto, a FE pode virar uma FI quando passar a ser familiar a uma comidade linguística. Em seguida, Rocha apresenta as condições da formação de novos vocábulos, tais como: as condições de produtividade e as condições de produção. Nesse capítulo, o autor também mostra a lexicalização e suas variações, essas são: lexicalização categorial, prosódica, estrutural, semântica e rizomórfica. Por fim, o autor discute a dicionarização que seria a inclusão de palavras instituicionalizadas no dicionário, e a fossilização. No quinto capítulo, Rocha trata dos processos de dericação sufixal nos processos de formação de palavras, esse é um dos processos mais ricos e diversificados da língua portuguesa e, por consequëncia, o mais acionado pelos falantes. Nesse capítulo o autor, primeiramente, propõe trës processos produtivos de formação de vocábulos no portuguës contemporâneo, esses são a derivação, a composição e a onomatopeia. Em seguida, antes de entrar na derivação, ele faz uma distinção entre base, raiz e radical. Após esse momento, Rocha aborda a derivação sufixal na morfologia gerativa e apresenta os diversos problemas decorrentes desse conceito, como sufixação com bases livres, bases presas, basoides, e a questão dos sufixoides. No fim do capítulo cinco, o autor expõe a teoria dos padrões sufixais, assim como apresenta os vários tipos de sufixos, além de discorrer sobre a nominalização. No capítulo seis, Rocha faz uma descrição da formação de palavra da regra S → S – eiro. Primeiramente, para o estudo da regra o autor faz uma distinção entre as condições de produtividade
e as condições de produção . O primeiro conceito diz respeito à
caracterização da regra em si, enquanto que o segundo conceito refere-se às possíves restrições relacionadas com a existência real de um produto. Essas restrições podem ser de diversa natureza, tais como fonológicas, paradigmáticas e discursivas. Em outro
momento do texto, Rocha considera a inércia morfológica como um outro tipo de restrição. Ademais, o autor explica que inúmeras vezes a base pode apresentar as condições ideais de produtividade, mas o produto não existe como um produto real por causa da ação de um bloqueio, ou seja, esse produto não pode existir devido à existência de outro. Existem quatro tipos de bloqueio, esses são: bloqueio paradigmático, heterônimo, homofônico e parônimo. Por fim, Rocha apresenta o conceito de transgressão sufixal, essa seria a violação a uma determinada RFP (regra de formação de palavras) de sufixação, entendendo essa regra sob o ponto de vista exclusivo da produtividade. No sétimo capítulo, o autor aborda a derivação prefixal, essa seria um processo de criação lexical, no qual forma-se uma nova palavra ao acrescentar um prefixo a uma base já existente. Em seguida, o autor discute alguns problemas relacionados a prefixação, tais como: a possibilidade da prefixação ser uma derivação ou um processo de composição; e também sobre a dificuldade de se estabelecer uma distinção entre base presa e prefixos. Outro ponto debatido neste capítulo, seria a distinção dos estudos sincrônicos e diacrônicos na prefixação. Por fim, no capítulo sete, Rocha discorre sobre a mudança de classe na prefixação, e estabelece como a prefixação pode se dar, com base livre, presa e basoide. Além de apresentar os conceitos de prefixoides, prefixos homófonos e prefixos concorrentes. No capítulo oito, Rocha trata de outros processos de formação de palavras, tais como: derivação parassintética, conversiva, siglada e truncada. O autor inicia descrevendo a derivação parassintética, essa é um processo de formação de palavra que consiste na criação de um novo vocábulo a partir do acréscimo simultâneo de um sufixo e um prefixo, tal como: amanhecer. Logo após, o autor discorre sobre a derivação conversiva, essa consiste no emprego de um vocábulo de uma determinada classe lexical em outra classe, tal como: olhar para a paisagem e o olhar da garota. Em seguida, o autor descreve a derivação siglada ou acronímia, essa seria um processo de formação de palavras que se caracteriza pela economia de linguagem, por exemplo: CEP, CPI e FGTS. Essa derivação apresenta vários tipos, tais como: a grafêmica, a silábica, a grafo-silábica e a fortuita. A derivação truncada assemelha-se bastante com a
siglada, nessa o vocábulo sofre um corte que pode acontecer de diversas maneiras, mas é possível descrever dois tipos básicos de truncamento: o estrututal e o não-estrutural. Por fim, o autor discorre sobre o problema da derivação regressiva e a classifica como derivação sufixal zero, pertencente a um padrão lexical geral do português. Ademais, Rocha descreve a composição, essa configura-se como um processo autönomo de formação de vocábulos em portuguës. Nela junta-se duas bases preexistentes na língua, para que o falante possa criar um novo vocábulo, dito composto, tal como: trem-de-ferro, aguardente. Por fim, o autor cita a onomatopeia, nela o falante pode criar uma palavra nova ao tentar imitar um barulho, tal como: miar, zum-zum. No capítulo nove, Rocha procura estabelecer as regras da flexão e da derivação na língua portuguesa. O autor toma como ponto de partida as ideias de Mattoso Câmara (1970:71-76) em relação as distinções de flexão e derivação. Dessa forma, Rocha apresenta as regularidades e as irregularidades, as concordâncias e não-concordâncias, a opcionalidade e a não-opcionalidade presentes no mecanismo da flexão. Após examinar esses critérios, o autor chega a conclusão de que não poderia adotar todos simultâneamente, devido aos desencontros entre eles. Por fim, de acordo com os critérios de concordância propostos por Mattoso Câmara, Rocha afirma que a flexão não é um fenömeno somente morfológico, pois também está ligada está ligada à sintax. Dessa forma, a flexão pode ser vista como um Mecanismo Linguístico onde a morfologia e a sintaxe interagem. Portanto, pode-se afirmar que a língua portuguesa apresenta dois mecanismos linguísticos de flexão: o nominal e o verbal. No décimo capítulo, o autor aborda o gênero do substantivo no português e suas implicações nos demais elementos da língua. O gênero apresenta-se quase idêntico ao numeral, porém estes apresentam algumas distinções, enquanto o numeral nos substantivos é regular, o gênero é indicado exclusivamente através de expediente sintático. Na flexão de gênero, de acordo com Rocha, o substantivo não é submetido as regras morfológicas, porém obriga os seus determinantes flexíveis a concordarem com ele. Quando o substantivo sofre alteração de gênero, ocorrem processos de derivação.
Portanto, o gênero é um mecanismo linguístico complexo, nele atuam regras sintáticas, de concordância, de derivação e flexão (sobre os determinantes e sobre o substantivo). No capítulo onze, o autor trata do grau e do aspecto verbo na língua portuguesa. O grau, segundo Cegalla (1979:94) é a propriedade que os substantivos têm de exprimir as variações de tamanho dos seres. De acordo com Rocha, o grau não poderia ser um processo de flexão, mas sim de derivação, pois não envolve regras sintáticas, apenas morfológicas. Por outro lado, o aspecto por ser um fenômeno linguístico controlado simultâneamente por regras morfológicas e sintáticas, é considerado um mecanismo da flexão, juntamente com a pessoa, número, tempo e modo do verbo. Em relação ao livro de Luiz Carlos de Assis Rocha, este apresenta uma linguagem clara e uma variedade muito grande e detalhada de conceitos sobre as estruturas morfológicas da língua portuguesa. Além disso, Rocha apresenta conceitos de autores diferentes em sua obra, o que a torna mais abrangente. Portanto, essa obra que apresenta estudos com base na Morfologia Gerativa é fundamental para os acadêmicos que pesquisam nessa área, pois além de apresentar uma riqueza de conceitos que se mostra fundamental, ela pode ser tida como uma importante introdução a esses estudos. Enfim, o livro possui uma continuidade ao longo de seus capítulos, porém estes também podem ser lidos de forma avulsa, pois apesar de estarem interligados, cada um apresenta um novo conceito.
Referência: ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Estruturas Morfológicas do Português . Belo Horizonte: Ed UFMG, 1998.