UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
RELATÓRIO 1
Belo Horizonte 2013 0
FELIPE JÚLIA LEANDRO NAYARA RENAN
RELATÓRIO 1 Trabalho apresentado na disciplina Análise Experimental do Comportamento – Prática para obtenção de nota, sob orientação do professor Edson Huziwara. Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.
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1) INTRODUÇÃO “Os homens agem sobre o mundo e o modificam e, por sua vez, são modificados pelas consequências de sua ação.” (SKINNER, 2003, p.489). Tal afirmação reflete um
dos mais antigos pressupostos da humanidade: cada ação tem uma reação. No entanto, essa dinâmica é mais complexa e envolve outros fatores para sua compreensão. Para a Psicologia Comportamental, comportamento é a relação do sujeito com o ambiente. Nessa relação, o sujeito modifica seu ambiente e é por ele modificado, de modo a produzir consequências que poderão ou não ser responsáveis pela repetição do mesmo comportamento. Comportamento operante é uma ação voluntária do indivíduo que opera sobre o ambiente (alterando-o e sofrendo as atuações do mesmo) e está sujeita a estímulos consequentes. Portanto, comportamento operante é adquirido e mantido devido às suas consequências e, assim, é aprendido. Reforço, por sua vez, é qualquer evento que ocorra subsequente à emissão de uma resposta de modo a torná-la mais frequente, aumentando a possibilidade desta resposta se repetir. Reforço primário é de ordem filogenética, independente das vontades do indivíduo, como, por exemplo, a necessidade de água, alimento, sexo, entre outros. São itens que reforçam nosso comportamento de forma natural. O reforço secundário, no entanto, é condicionado e é de ordem ontogenética. São elementos que se aliam ao reforço primário e o sujeito aprende a reconhecê-los como reforçador. Um exemplo disso é um estímulo neutro, como um barulho, que, aliado à necessidade de água (reforço primário), passa a ter sua presença reforçada após um determinado tempo (MOREIRA E MEDEIROS, 2007). Consequências reforçadoras aumentam as chances de determinada resposta ocorrer novamente. Há reforços positivos e reforços negativos. O primeiro fortalece uma resposta ao apresentar um estímulo agradável depois da ocorrência de uma resposta (por exemplo, dar água para o rato que está com sede), enquanto que o segundo fortalece a resposta com a retirada de algum estímulo aversivo (tomar remédio para “retirar” alguma dor, por
exemplo) (MYERS, 2006, p.102).
Denomina-se modelagem o método que permite ao indivíduo aprender um novo comportamento a partir de aproximações sucessivas e reforços diferenciais, ou seja, reforça-se os comportamentos mais próximos ao comportamento final desejado. Para isso, o reforço precisa ser apresenta imediatamente após a realização do comportamento desejado (LARGURA E BASQUEIRA, 2010). A extinção, no entanto, é um procedimento que provoca a redução da frequência do comportamento ao suspender o reforço que produziu a resposta. O comportamento 2
não é mais reforçado e, assim, reduz a frequência da resposta. A extinção não pune o comportamento; ela apenas remove o reforço, ocasionando a diminuição da frequência da resposta. Mesmo com a extinção, o comportamento depois de um tempo poderá se repetir, pois é um comportamento aprendido, podendo haver o recondicionamento do comportamento que pode ser por razão ou por intervalo. Diante disso, este experimento foi realizado com o objetivo de certificar-nos de que respostas podem ser instaladas, mantidas, enfraquecidas e novamente fortalecidas através da manipulação de apresentação de água como consequência destas respostas, utilizando ratos privados de água como sujeitos experimentais. Buscamos verificar a relação resposta-consequência, os possíveis efeitos de eventos consequentes sobre a frequência acumulada da resposta de pressão à barra por ratos. O trabalho de pesquisa experimental baseia-se na suposição de que os experimentadores observarão mudanças no comportamento de seus sujeitos experimentais como resultado de mudanças no ambiente experimental planejadas e sob controle dos experimentadores. Entretanto, para poder afirmar a existência ou não de relação entre a variável manipulada (neste caso, a água) e as possíveis alterações no comportamento dos sujeitos experimentais (a instalação, fortalecimento e enfraquecimento), além de intervir na situação e observar o que acontece, um conjunto de cuidados deve ser tomado. Em primeiro lugar, é preciso obter informações sobre o fenômeno estudado (neste caso, determinadas respostas do sujeito experimental) em situações nas quais a variável manipulada não esteja presente. Esta é uma condição necessária para se atribuir as eventuais alterações observadas no repertório do sujeito experimental à variável manipulada. Uma maneira de fazer isto é observar o fenômeno estudado antes da introdução da variável manipulada na situação experimental. Chamamos esta observação de linha de base. Em algumas ocasiões, a linha de base é representada pelo nível operante de uma dada resposta. O termo “nível operante de uma resposta” diz respeito às características (como
por exemplo, sua ocorrência ou freqüência) de uma determinada resposta emitida por um organismo, como parte de sua atividade geral, antes de qualquer manipulação experimental. O nível operante de uma resposta varia com a espécie, o sexo, a idade e o grau de privação do organismo observado, o tipo de resposta, o equipamento utilizado, etc. Além disso, ainda que se mantenham constantes todas estas variáveis, sujeitos individuais podem mostrar grandes variações no nível operante de qualquer resposta 3
observada. Quando se mede o nível operante de uma dada resposta, portanto, o que se tenta fazer é estabelecer uma base sobre a qual se comparam eventuais mudanças no desempenho do sujeito experimental, após uma determinada manipulação experimental. Em segundo lugar, há um conjunto de aspectos envolvidos na situação experimental, além da variável manipulada, que podem produzir alterações no comportamento dos sujeitos experimentais. Estes aspectos, ou variáveis, podem englobar desde características e condições do sujeito experimental (espécie, sexo, idade e grau de privação, por exemplo) até características da situação experimental (equipamento utilizado, horário da sessão experimental, condições da situação, por exemplo). Se algumas destas variáveis “variarem” junto com a variável manipulada, não
se poderá atribuir as possíveis alterações no comportamento do sujeito experimental à variável manipulada. O delineamento experimental seguido procurou respeitar estes dois cuidados: obtendo-se uma medida de nível operante das respostas estudadas e manipulando-se uma variável de cada vez, enquanto se mantinham constantes variáveis como privação, caixa experimental e condições ambientais.
2) MÉTODOS 2.1) Sujeitos Para essas sessões foi utilizado um rato albino macho da raça Wistar, com aproximadamente três meses. Antes dos experimentos eles estavam privados de água por aproximadamente 48 horas. 2.2) Equipamentos Foi utilizada, para todos os experimentos, uma caixa experimental, ou caixa de Skinner. A caixa possuía uma porta de acrílico transparente, que possibilitava os alunos observar o rato, e outras três paredes de metal. Em uma das paredes de metal encontrava-se uma barra na altura média e um bebedouro abaixo, que estavam ligados a um controle externo, que possuía três opções: desligado, automático e manual. Quando em desligado, após uma pressão na barra, nada acontecia. No modo automático, ao pressionar-se a barra, acionava-se o bebedouro que recolhia uma gota d’água de um reservatório, e esse processo resultava em um som característico. A opção manual permitia aos alunos acionarem o bebedouro (juntamente com o som) sempre que desejado. O piso da caixa era uma grade com barras paralelas, com um depósito ao 4
fundo removível e forrado com jornal. A parte superior da caixa permitia a entrada de luz que, durante o experimento, era produzida por uma lâmpada que permitia cinco diferentes intensidades. Para o experimento, foi utilizada a intensidade 3. 2.3) Procedimentos 2.3.1) Experimento I Este experimento teve uma duração de 30 minutos, durante os quais foi realizada a observação do rato albino na caixa experimental. Ao longo desse tempo, registramos a quantidade de vezes que o sujeito pressionava a barra, que se encontrava na opção desligado.
Desde o início desta sessão, o sujeito estava com a pata esquerda traseira
ferida, o que foi identificado por um pouco de sangue na caixa. Concluiu-se que isso aconteceu por estresse, pois é comum eventos do tipo com esses sujeitos. O tempo foi registrado em cronômetro e, assim que finalizado, o sujeito foi retirado da caixa e levado ao biotério, onde foi devidamente tratado. 2.3.2) Experimento II Este experimento foi realizado em duas sessões. A primeira foi dedicada ao treino ao bebedouro e ao início da modelagem, e na segunda realizou-se o término da modelagem e dedicou-se 30 minutos para o fortalecimento da resposta. Na primeira sessão, o sujeito recebeu um reforçador logo no início e, antes de terminar a gota d’água, os alunos liberaram outra, com o controle da barra na opção manual ,
até
totalizarem dez gotas. Depois disso, esperava-se o rato distanciar do bebedouro para liberar outra gota, com a intenção de que ele se aproximasse rapidamente ao ouvir o “clique”. Após perceberem que o rato, uma vez distante, demorava a aproximar -se
do
bebedouro quando o barulho característico soava, os alunos decidiram, com a orientação do professor, começar a modelagem. Iniciaram a reforçar qualquer proximidade do sujeito à barra e, aos poucos, iniciaram a reforçar respostas que mais se aproximavam a pressionar a barra (ex: erguer a cabeça até a altura da barra). Nesta sessão, após a liberação de 24 gotas e passados 26 minutos, o rato estava sendo reforçado apenas quando levantava suas patas. Na sessão seguinte, após 30 gotas d’água e 13 minutos, os
alunos consideraram que o sujeito já estava devidamente treinado, e passaram o controle da barra para o modo “automático”, resultando na liberação de uma gota d’água por pressão à barra. Isso caracteriza o fortalecimento da resposta desejada e o reforço contínuo (CRF), no qual, a cada resposta de pressão à barra, o rato recebe o reforçador (água). Durante a sessão, registrou-se em uma folha de registro a quantidade de vezes 5
que o sujeito pressionava a barra por minuto, contabilizando-se, também, a frequência acumulada de respostas. Assim que finalizada a sessão, o sujeito foi retirado da caixa e levado ao biotério. 2.3.3) Experimento III Este experimento foi realizado em uma sessão de 35 minutos cronometrados, divididos entre 5 minutos em CRF e 30 minutos em extinção. Ao ser colocado na caixa, o controle da barra estava na opção automática, liberando uma gota de água no bebedouro a cada resposta de pressão à barra (Rpb). Passados os 5 minutos iniciais, os alunos mudaram para desligado, o que cessou a liberação de um reforçador por Rpb. Durante toda a sessão foram contabilizados os números de Rpb por minuto, e os alunos se mantiveram atentos às mudanças de comportamentos do sujeito em cada etapa. Após finalizada a sessão, o sujeito foi retirado da caixa e levado ao biotério.
3) RESULTADOS 3.1) Experimento I Na primeira sessão realizada, podemos identificar uma frequência muito baixa de pressões à barra, totalizando uma pressão durante os 30 minutos de observação.
Nº DE PRESSÕES À BARRA POR MINUTO 20
15
A R R A B 10 À S E Õ5 S S E R P
Nº ACUMULADO DE PRESSÕES …
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
0
1
3
5
7
9
11
13
15
17
19
21
23
25
27
29
…
3.2) Experimento II Após a realização do treino ao bebedouro e da modelagem, as Rpb eram sempre acompanhadas de reforçamento positivo em CRF. Como indicado no gráfico, o número de Rpb do sujeito passou a ser muito superior. Durante os 10 primeiros minutos a 6
quantidade de Rpb foi maior (variação de 4 a 11 respostas de pressão à barra por minuto (Rpb/min)) que no decorrer na sessão (variação de 0 a 7 Rpb/min), porém, o tempo sem Rpb nunca foi superior a 4 minutos seguidos. Nº DE PRESSÕES À BARRA POR MINUTO 100
95
96
97
97
97
90
90
85 81
87
77
80 A70 R R A60 B 50 À S40 E Õ30 S S E20 R P10
87
81
70 64
64
64
64
64
66
66
67
60 57 53
Nº ACULADO DE PRESSÕES À BARRA
48 42 33 25 18 11
0 1
3
5
7
9
11
13
15
17
19
21
23
25
27
29
MINUTOS
3.3) Experimento III Durante a sessão de extinção do comportamento, retirou-se o reforço positivo após 5 minutos. No momento inicial houve um grande número de Rpb/min, variando de 8 a 18. Após o sexto minuto, já sem o reforçamento, o número de Rpb reduziu muito, não superando 6 Rpb/min e com espaçamento entre respostas de até 6 minutos seguidos.
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4) DISCUSSÃO O experimento I, que consistia apenas na observação do sujeito explorando a caixa de Skinner em nível operante, mostrou que a Rpb não constava em seu repertório, acontecendo apenas uma vez durante os 30 minutos, provavelmente resultado da exploração aleatória do rato. Durante a sessão foram identificadas outras ações predominantes (farejar, levantar, limpar-se), que são comportamentos que já pertenciam ao repertório do sujeito. Isso indica que a Rpb não o oferecia nenhum atrativo antes da intervenção. O número reduzido de Rpb pode ter sido ocasionado, também, pelo ferimento já citado, porém, este não foi um fator considerado capaz de alterar a conclusão desta sessão. A segunda parte do experimento II, à qual o gráfico se refere (fortalecimento da Rpb), foi antecedida pelo final da modelagem, o que aumentou a probabilidade do sujeito de pressionar a barra. Pelo fato de o treino ao bebedouro e da modelagem não terem se concluído em uma sessão, foi necessário passar o final da modelagem para outra. Por conta disso, antes de se realizar o fortalecimento da Rpb, o sujeito já havia bebido certa quantidade de água. Esta quantidade de água pode ter o saciado em algum nível, e levado a um menor número de respostas durante parte da sessão. Porém, isso não prejudicou o experimento, o que pôde ser visto na sessão seguinte. Ao iniciar a sessão relacionada ao experimento III, o sujeito mostrou haver, de fato, aumentado sua frequência de Rpb, e provou que os acontecimentos da sessão anterior não foram prejudiciais ao experimento como um todo. Após o quinto minuto em CRF, quando já retirado o reforço positivo, pode-se, inicialmente, observar um número de resposta dentro do normal, se comparado ao gráfico do Experimento II. A diferença encontra-se nos minutos 8 e 9, durante os quais houve um número de resposta crescente, acompanhado por um claro estresse e inquietação do sujeito. Após esse momento, o sujeito manteve-se por 6 minutos sem pressionar a barra, explorando a caixa incessantemente. Após esse tempo, houveram algumas Rpb espaçadas por um longo período sem tentativas. Durante toda a parte da sessão dedicada à extinção da Rpb, o rato mostrou-se inquieto. Estes dados obtidos estão de acordo com a teoria estudada, e mostram uma grande alteração das respostas do sujeito ao longo dos experimentos. Ao tornar a água contingente à Rpb, este comportamento se tornou muito mais frequente, pois a água, no contexto do sujeito, era um forte reforçador. Ao retirar este reforço por um longo 8
período, o sujeito mostrou-se estressado, como o esperado, pois a relação “Rpb → recompensa” foi subitamente cortada e, antes de diminuir muito o número de Rpb, há um pequeno momento de aumento dessa resposta. Esta é uma característica adaptativa do comportamento, assim como as posteriores tentativas também identificadas neste experimento. Isso responde positivamente, então, as hipóteses propostas e corrobora com a teoria.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, F. R. P.; ANDERY, M. A.; GUEDES, M. L.; BENVENUTI, M.; MICHELETTO, N.; GOIA, P. S.; BANACO, R. A.; SÉRGIO, T. M. A.. O estudo de processos comportamentais básicos no laboratório. São Paulo, 2006. CATANIA, C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1999. LARGURA, Walmor Almeida Nogueira. BASQUEIRA, Ana Paula. Análise Experimental do Comportamento. São Paulo: Pearson Education do Brasil. 2010. MOREIRA, Márcio Borges. MEDEIROS, Carlos Augusto. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007. MYERS, David G. Processos Psicológicos Básicos. Rio de Janeiro: LTC, 2006. MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A.. Princípios básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2008. 838 p. SKINNER, Burrhus Frederic. Ciência e comportamento humano. 11.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
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