Unidade III
Unidade III 9 COMPREENSÃO E AÇÃO CLÍNICA NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICOEXISTENCIAL Compreender a ação clínica na perspectiva fenomenológico-existencial e o lugar e as possibilidades do psicólogo nesse contexto teórico. Bibliografia básica
JARDIM, L.E. “Ação e compreensão na clínica fenomenológico-existencial” fenomenológic o-existencial” In: EVANGELISTA, P. (org.) (org.) Psicologia fenomenológico-existencial fenomenológico-existencial, p. 45-76. POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. “Uma caracterização da psicoterapia” p sicoterapia” In: Na presença do fenomenol ógica a questões existenciais básicas. São Paulo: EDUC, 2010. sentido: uma aproximação fenomenológica Bibliografia complementar
BARRETTO, BARRETTO, C.L.B.T. C.L.B.T. “A ação clínica e a perspectiva fenomenológica fe nomenológica existencial” In: MORATO, H. et al. (org.) Aconselhamento psicológico numa perspectiva perspectiva fenomenológica existencial: uma introdução, p. 41-51. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
10 PROCESSOS PSICOTERAPÊUTICOS DASEINSANALÍTICOS Apresentar a compreensão fenomenológico-existencial de fenômenos clínicos na relação terapêutica e seu manejo Bibliografia básica
FEIJOO, A. M. “3.1. Considerações acerca da criança e a clínica psicológica psicoló gica infantil” In: A Existência para além do Sujeito, pp. 90-107. FEIJOO, A. M. “3.2. A tonalidade da angústia e antecipação da finitude” In: A existência para além do sujeito, p. 133-147. Bibliografia complementar
FEIJOO, A. M.“3.4. A tonalidade afetiva do tédio” In: A existência para além do sujeito, p.173-195.
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PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA
11 COMPREENSÃO E AÇÃO CLÍNICA NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICOEXISTENCIAL Concepção de uma psicoterapia daseinsanalítica
Para uma compreensão adequada da ação clínica na perspectiva fenomenológico-existencial, temos de considerar a definição de psicoterapia daseinsanalítica como “procura, via poiesis , pela verdade que liberta para a dedicação ao sentido” (POMPÉIA, 2004, p. 169). Para entendermos o sentido dessa definição, precisamos ter clareza sobre os termos que a compõem, todos eles pertencentes ao contexto fenomenológico existencial. Em Ser e tempo , Heidegger (1927-1998) indica cura como essência do Dasein. Etimologicamente, cura remete a cuidado ; o Dasein é o ente que, existindo, cuida de ser. No contexto psicoterapêutico, o sofrimento psicológico indica restrições nas possibilidades de existir. Assim, a terapia é pro-cura, significando que ela vai em direção ao cuidado, favorecendo-o. Poiesis é o termo grego, origem da palavra poesia. Significa pro-dução, isto é, realização de algo que antes não existia, condução de algo possível ao aberto do mundo. Poiesis está associado a techné (Cf. Módulo 5), que é a ação que propicia o surgimento de algo. Poiesis é uma modalidade de discurso: a fala poiética. Nesse modo de discurso, algo se apresenta e pode ser abarcado, compreendido, compartilhado. O discurso poiético está no polo oposto do discurso lógico, persuasivo.
Para compreendermos “liberdade”, precisamos desdobrá-la em “liberdade de...” e “liberdade para...”. O senso comum entende liberdade como ausência de solicitações (“liberdade de...”). Em geral, quando alguém procura terapia está querendo se livrar de algo que oprime e restringe. Mas a terapia age na direção da liberdade para ouvir, compreender e poder (obedecer, de ob-audire ) lidar com as solicitações do existir. Na concepção latina, verdade vem do étimo veritas , que significa a correspondência entre a ideia (conceito) e o objeto. Ao longo da história filosófica ocidental, a correspondência é garantida pelo método, que deve seguir as regras lógicas de demonstração. Assim, a verdade (veritas ) é demonstrável. Mas veritas é a tradução latina para o termo grego aletheia, que significa des-velamento, des-ocultação. Heidegger (1927-1998) resgata o sentido original de verdade como o mostrar-se algo. Essa verdade (aletheia) é reconhecida, compreendida, pois se refere ao como algo se mostra para mim. Sentido é aquilo que na “hora em que falta, todos nós sabemos de que se trata” (POMPÉIA, 2010, p. 164). Sendo fundamentalmente possibilidade, o ser-no-mundo só existe enquanto encontra a significância das coisas, dos outros e de si mesmo, à luz dos projetos nos quais está lançado. É a dedicação ao projeto de sentido (que Pompéia chama de “sonhos”) que está comprometida quando a existência está restrita. Por isso, a psicoterapia daseinsanalítica visa resgatar a possibilidade de escutar o que o existir solicita (sentido) para poder ser. Atividades recomendadas
1. Leia os textos indicados. 37
Unidade III
2. Outras abordagens psicológicas enfatizam a importância do sentido para a existência humana. Pesquise que abordagens são essas e como tematizam a questão do sentido. 3. Acompanhe o exercício abaixo: João Augusto Pompéia define a psicoterapia daseinsanalítica da seguinte forma: “Terapia é a procura, via poiesis, pela verdade que liberta para a dedicação ao sentido .” (p.169) Considere as afirmações abaixo sobre os significados desses conceitos e indique a alternativa correta: I. Pro-cura significa que a psicoterapia age na direção da cura, isto é, da libertação daquilo que gera sofrimento. II. Poiesis é a raiz etimológica de Poesia, que significa que o psicólogo fenomenológico existencial precisa recorrer a estudos literários (principalmente poesias, que sintetizam experiências) para dialogar com o paciente. III. Na psicoterapia fenomenológica existencial, a verdade que se busca é a aletheia, que significa o recordar algo que se mostra para mim e, nesse mostrar-se, faz sentido. IV. Sentido significa “significação” e “direção”. Assim, é o fundamento do projetar-se do ser-aí ao futuro possível, isto é, nas possibilidades existenciais porvindouras. V. A vida sem sentido é uma vida vazia. A psicoterapia daseinsanalítica possibilita a busca pelo sentido singular da existência do paciente. Estão corretas apenas as afirmações: A) I, II e III. B) II, III e IV. C) III, IV e V. D) I, III e V. E) II, IV e V.
Se você leu atentamente o texto acima e a bibliografia indicada, pode identificar que as afirmações I e II apresentam definições erradas dos conceitos usados por Pompéia (2010) para caracterizar a psicoterapia daseinsanalítica. Pro-cura significa estar a favor da condição essencial do Dasein, que é ser cuidado. Poiesis significa pro-dução, permitindo que emerja algo que antes era uma possibilidade. As demais afirmações apresentam corretamente os conceitos que definem a psicoterapia daseinsanalítica. Portanto, a alternativa correta é a letra C. 38
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA
Ação e compreensão na clínica fenomenológico-existencial
A partir da caracterização de psicoterapia acima, a concepção de fenomenologia enquanto um arcabouço teórico não se sustenta e esta passa a ser entendida como uma postura do terapeuta que favorece ao paciente revelar-se como fenômeno. A postura do terapeuta exige, portanto, a escuta atenta e um demorar-se nas situações relatadas, visando explicitar os sentidos vividos pelo paciente nas descrições de suas experiências. A compreensão, na analítica do Dasein, é um aspecto fundamental da condição de estar lançado do homem implicando na condição de ser-no-mundo. O ser-aí habita o mundo faticamente em sua abertura constitutiva. Assim, a ação clínica enquanto disponibilidade para a compreensão do existir se configura como oportunidade para explicitação dos sentidos. O paciente e o terapeuta, no processo de psicoterapia, realizam o aí compartilhado a partir do qual os modos concretos de ser do paciente se mostram e podem ter seus sentidos des-velados. As tonalidades afetivas que tingem cada experiência podem ser reconhecidas e o paciente passa a se ver responsável pelas escolhas que faz. Desse modo, a ação clínica em uma perspectiva fenomenológico-existencial não está ocupada em resolver problemas, retirar sintomas ou adequar o paciente a referências alheias, mas está comprometida em oferecer uma experiência de retomada do próprio acontecer histórico; do já vivido, do atual e do porvir, recolocando o existir do paciente no processo de ser. Atividades recomendadas
1. Leia os textos indicados. 2. Pesquise as matrizes do pensamento psicológico e diferencie a concepção de homem e mundo presentes nas diferentes matrizes. 3. Acompanhe o exercício abaixo: Fernanda procura atendimento psicológico porque tem estado intranquila e confusa desde que seu marido faleceu, há 6 meses, em acidente automobilístico. Diz-se muito só e abandonada, e que suas relações de amizade e parentesco têm se deteriorado. Comenta que todos a veem de modo diferente agora – viúva jovem (30 anos) –, tendo surgido preocupações e interesses novos em relação a ela. Fala de sua solidão, sobre o sentimento de abandono e, apesar de saber racionalmente que seu marido não a abandonou, esse sentimento a confunde. Comenta em seguida que o convívio com a família (a dela e a do marido) não tem sido algo que a ajude porque ambas têm a preocupação de que ela imponha respeito, tome cuidado com as amizades, não se aproxime de outros homens para respeitar a memória de seu marido, o que a faz sentir-se envolvida por uma atmosfera de controle. Por outro lado, vê-se como jovem, não quer fechar novas possibilidades para si e para seu filho de três anos na vida que têm pela frente. Por outro lado, tem 39
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sido cortejada por homens que há pouco eram apenas seus amigos e vive essa mudança repentina com dificuldade. Não estando mais segura dessas amizades, nem pode avaliar com clareza as intenções das pessoas que se oferecem para apoiá-la. Comenta que o resultado tem sido o recuo e percebe claramente que isso só tem agravado ainda mais seu mal-estar. Fica um pouco em silêncio, chora discretamente... Em seguida, fala que é bom poder falar com liberdade sobre tudo isso. O psicólogo que atende Fernanda é daseinsanalista. De que forma (supostamente) ele conduziria essa sessão? I. Nesse caso, o psicólogo deverá direcionar as reflexões para o luto que a moça está vivendo. Antes de pensar em qualquer outra possibilidade, ela deverá se conscientizar sobre a importância de viver o luto da perda de seu marido. II. Percebendo que Fernanda está falando de uma experiência muito forte para ela, o psicólogo poderá fazer algumas perguntas para compreendê-la melhor. III. O psicólogo acolhe Fernanda em sua dor e pode sugerir que ela oriente as pessoas de sua família e as do marido a procurarem um processo psicoterápico, para que possam compreender que ela é ainda muito nova e precisa vivenciar novas experiências. IV. O psicólogo poderá comentar que percebeu o quanto está sendo importante para ela fazer tais comentários e que a procura de atendimento está sendo a tentativa de abrir uma nova porta, alternativa à postura de recuo que vem tomando. V. O psicólogo analisará a situação global e aconselhará Fernanda a dar início ao processo com ele e a procurar terapia para o filho. Estão corretas apenas as afirmações: A) II e IV. B) I e II. C) I, II e V. D) I, II, III e IV. E) II, IV e V.
Se você leu atentamente a situação clínica acima e a bibliografia indicada, pode identificar que as afirmações I, III e V apresentam condutas não compatíveis com o manejo clínico apresentados por Jardim (2013) e Barreto (2009). As demais afirmações apresentam corretamente as condutas de um psicólogo daseinsanalista, que está comprometido com o desvelamento de sentidos e a busca por possibilidades mais autênticas de existir do paciente. Portanto, a alternativa correta é a letra A. 40
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA
Estude a bibliografia indicada e realize os exercícios deste módulo. Se persistirem as dúvidas, procure um(a) professor(a) desta disciplina para esclarecimentos. Bibliografia básica
JARDIM, L.E. “Ação e compreensão na clínica fenomenológico-existencial” In: EVANGELISTA, P. (org.) Psicologia fenomenológico-existencial, p. 45-76. POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. “Uma caracterização da psicoterapia” In: Na presença do sentido: uma aproximação fenomenológica a questões existenciais básicas. São Paulo: EDUC, 2010. Bibliografia complementar
BARRETTO, C.L.B.T. “A ação clínica e a perspectiva fenomenológica existencial” In: MORATO, H. et al. (org.) Aconselhamento psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial: uma introdução, p. 41-51. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
12 PROCESSOS PSICOTERAPÊUTICOS DASEINSANALÍTICOS Compreensão dos fenômenos clínicos atuais Ana Maria Feijoo (2011) delimita pontos fundamentais para uma psicologia fenomenológicoexistencial. Afirma que o ser-para-morte presente na obra Ser e tempo de Heidegger refere-se “ao horizonte de finitude em que todas as possibilidades sempre se encontram, e no qual o ser-aí se abre como cuidado, em seu ter de ser quem ele sempre é, para o caráter de indeterminação de sua existência. Portanto, cabe ao ser-aí e apenas a ele a sua tutela: é isto que a decisão antecipadora da morte revela, determinando o seu próprio modo de ser” (FEIJOO, 2011, p. 133). Essa consideração implica o horizonte possível para a clínica psicológica na perspectiva fenomenológico-existencial. Inicialmente, propõe que a atitude fenomenológica é a base da atenção clínica e está comprometida em ilustrar o exercício hermenêutico presente nos atendimentos psicológicos, comprometidos em desvelar os sentidos das vivências ônticas. Esse compromisso da clínica fenomenológico-existencial considera que as experiências de sofrimentos são articuladas com a restrição do poder-ser do homem e, portanto, a realização da existência é aproximar-se do seu ser-próprio. Assim, a prática clínica nessa abordagem está comprometida com a desconstrução das identificações restritivas e o que exige deslocamento existencial da disposição afetiva fundamental. Uma das possibilidades do processo terapêutico é a revelação da verdade clínica que liberta da restrição identitária do aqui-agora. Mais uma vez, a compreensão é entendida enquanto ação na clínica fenomenológica, pois compreender possibilita esclarecer o modo de ser-no-mundo dos pacientes. O esclarecimento contribui para que os pacientes possam se tornar responsáveis por suas escolhas, oportunizando decisões que os aproximem do seu poder-ser. 41
Unidade III
A clínica fenomenológico-existencial não está comprometida em tratar, adequar ou fazer com que o paciente se adapte ao mundo, mas em oferecer espaço para que o cuidado pela própria existência possa ser vivido pelo paciente, o que contribui para alcançar um modo-de-ser mais autêntico, ou seja, afinado com as possibilidades reais de cada pessoa. Atividades recomendadas
1. Leia os textos indicados. 2. Localize nos casos clínicos da bibliografia as intervenções realizadas pelo psicólogo e justifique cada uma das posturas dele considerando os objetivos da terapia fenomenológico-existencial. 3. Responda: qual é o papel do paciente na psicoterapia? E do psicólogo? 4. Acompanhe o exercício abaixo: Jaime procura terapia e é recebido por um daseinsanalista. O paciente conta: “Desde que minha esposa me largou, nunca mais consegui ser feliz. Nem no trabalho, que eu gostava tanto, me realizo mais. Eu trabalhava bastante e estava indo bem; tinha sido promovido a gerente de negócios em todo o Estado. Com isso tive um ótimo aumento, de modo que ia conseguir quitar o financiamento de nossa casa. Mas aí, de repente, ela aparece e diz que sou um acomodado, que não faço nada para nós dois, que só penso em trabalhar, e me larga. Meus amigos tentam me levar para happy hours, mas nem sei mais como chegar numa mulher. Sinto saudades da minha esposa.” Compreendendo a narrativa de Jaime à luz da fenomenologia-existencial, é correto afirmar: I. Jaime está passando por um episódio depressivo. A falta de prazer no trabalho é sintoma de sua depressão, motivada pelo abandono da esposa. II. As frases “nunca mais consegui ser feliz” e “nem sei mais como chegar numa mulher” são ouvidas pelo terapeuta como experiências associadas à restrição do poder-ser de Jaime. III. Quando o deixa, a esposa de Jaime produz um abalo em seu cotidiano, gerando perplexidade e deixando-o paralisado. A única saída para Jaime é se reconciliar com sua esposa para poder recuperar o sentido de sua vida. IV. Ao procurar psicoterapia, Jaime está sinalizando que está se questionando e marcado por um sofrimento. A terapia oferece a ele o colocar-se diante de sua existência, desafiando-o a ser ele mesmo e partindo em busca de possíveis sentidos dentro do incompreendido. Estão corretas somente as afirmações: A) I, II e III. 42
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA B) II e IV. C) I e IV. D) II e III. E) IV.
Se você leu os textos e compreendeu o manejo clínico nesta abordagem, foi capaz de identificar que as afirmações I e III estão incorretas. A primeira propõe a delimitação de um diagnóstico para compreender o paciente, quando o objetivo da terapia é o esclarecimento da situação existencial vivida. A terceira apresenta uma solução para a vida de Jaime, na qual a responsabilidade é atribuída a um terceiro – no caso, sua esposa. Porém, a terapia busca explicitar os sentidos vividos para que os pacientes possam se apropriar deles. A alternativa correta, portanto, é a letra B. Atendimento a crianças Para compreender o atendimento clínico existencial com crianças é necessário que deixemos de lado as “teorias tradicionais acerca do desenvolvimento, da personalidade, da aprendizagem da criança” (FEIJOO, p. 91) que postulam a chegada de um bebê ao mundo como um ser autocentrado e/ou encapsulado. Para a fenomenologia-existencial o ser-aí da criança já se constitui como um Dasein. O nascimento biológico do ser humano delimita a inauguração da existência e, portanto, da condição de estar lançado no mundo. Assim, o ser-aí da criança é entendido enquanto um ente com caráter indeterminado. Para aprofundar a compreensão do ser-aí da criança é necessário retomar a noção de intencionalidade proposta por Husserl. Nela a consciência é considerada em sua imanência, ou seja, realiza-se enquanto uma ação de “dirigir-se a...” e constitui a cooriginalidade de homem e mundo. Todo ato é tido como intencional, incluindo os atos de sugar, chorar e dormir do bebê que podem ser, equivocadamente, entendidos enquanto reflexos. Com isso, afastamo-nos das determinações biológicas ou sociais e aproximamo-nos da ideia que o mundo oferece possibilidades para a criança ser do seu modo. O ser-aí do bebê é marcado pela quietude, calor, alimentação e estado de sono. Porém, o ato de assustar-se com algum barulho já evidencia a articulação do bebê com o espaço. Por fim, temos de considerar que a responsabilidade e a liberdade são dimensões constitutivas do ser-aí para a psicologia fenomenológico-existencial. Porém, na vida das crianças tais dimensões estão sob tutela temporária dos adultos responsáveis por elas. Essa peculiaridade do modo de ser da criança estabelece objetivos claros para o atendimento psicológico infantil, pois a terapia, nesse contexto, deve oferecer espaço para que a criança possa preencher com seus significados e experimentar na sessão sua responsabilidade para ser, sendo acompanhada no desenrolar do processo. Desse modo, a criança pode experimentar as dimensões ontológicas e cuidar de si. 43
Unidade III
Neste sentido, o atendimento psicológico infantil não deve ser confundido com psicodiagnóstico ou trabalho pedagógico como reforço escolar. O psicólogo não deve ocupar o lugar dos pais ou da escola, que assumem a tutela temporária das responsabilidades da criança, pois esta ainda não pode assumi-las por completo. Atividades recomendadas
1. Leia os textos indicados. 2. Outras abordagens psicológicas enfatizam a importância do sentido para a existência humana. Pesquise que abordagens são essas e como tematizam a questão do sentido. 3. Acompanhe o exercício abaixo: Marília chega ao consultório, por pedido da escola, em busca de atendimento psicológico para seu filho de 8 anos com a seguinte fala: “A escola reclama que meu filho não consegue se concentrar nas tarefas da escola, não consegue ficar sentado na sala de aula e atrapalha os coleguinhas. Disseram que ele sofre de TDAH. Em casa ele também é muito levado, bagunceiro e tem o sono muito agitado. Não sei mais o que fazer, estou desesperada, já tentei de tudo, por isso eu vim aqui, para a senhora me falar o que devo fazer.” Diante desse relato há diferentes possibilidades de conduta do psicólogo. Escolha a(s) fala(s) que se refere(m) a uma postura de um psicólogo de orientação fenomenológico-existencial. I. “Esse tipo de manifestação aponta para o como o seu filho lida com o desejo do outro. Então, é importante considerarmos as relações estabelecidas entre as pessoas que compõem a família”. II. “Hoje em dia é muito comum crianças sofrerem de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Mas a senhora não precisa se preocupar, pois existem diversos estudos que comprovam o alto índice de sucesso para tratamentos desses casos”. III. “Marília, para compreender o que se passa com seu filho, não adianta eu me debruçar num diagnóstico fechado. Preciso que você me descreva detalhadamente como seu filho é para podermos nos aproximar do sentido que essa patologia tem na vida dele”. IV. “Marília, estou percebendo a sua aflição e gostaria que você me contasse um pouco mais sobre como se sente, pode ser? Depois marcamos uma sessão para seu filho”. Estão corretas: A) apenas a fala I. B) as falas I e IV. 44
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA C) apenas a fala III. D) as falas II, III e IV E) apenas a fala IV.
Se você leu os textos e compreendeu o manejo clínico nessa abordagem com crianças, foi capaz de identificar que as falas I, II e III estão incorretas. A primeira fala está comprometida em encontrar a causa da doença, e não em compreender como os sintomas são vivenciados pelo filho de Marília. A segunda fala busca tranquilizar Marília, oferecendo uma solução – com alto índice de sucesso – para a situação. A terceira convida Marília a falar sobre seu filho para que o psicólogo possa compreendê-lo. Porém, a revelação dos sentidos vividos só pode ser acessada por ele mesmo. A alternativa correta, portanto, é a letra E, pois o psicólogo oferece escuta e acolhimento à mãe e se disponibiliza a se encontrar com seu filho. Estude a bibliografia indicada e realize os exercícios deste módulo. Se persistirem as dúvidas, procure um(a) professor(a) desta disciplina para esclarecimentos. Bibliografia básica
FEIJOO, A. M. “3.1. Considerações acerca da criança e a clínica psicológica infantil” In: A Existência para além do Sujeito, pp. 90-107. FEIJOO, A. M. “3.2. A tonalidade da angústia e antecipação da finitude” In: A existência para além do sujeito, p. 133-147. Bibliografia complementar
FEIJOO, A. M.“3.4. A tonalidade afetiva do tédio” In: A existência para além do sujeito, p.173-195.
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Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000