Morada Paulista Luís Saia
Quadro Geral dos monumentos paulistas
Para o estudo, apreciação e consideração dos monumentos paulistas de historias e da arte, não podem aceitar os critérios e padrões armados para sustentar esquemas de formação histórico‐ histórico‐sócio‐ sócio‐ econômica totalmente diversos daquelas que assistiram ao nosso passado regional. Quando o extraordinário esforço do pensamento contemporâneo, voltado à defesa desses critérios e padrões, é duramente atingido pelas contradições do seu parcialmente interessado é resultante da sua vinculação aos cânones da lógica clássica, todo o aparente objetivismo dos estudos tradicionais de historias e de arte é substituído pela magia institucional. A tese principal do segundo período, que vai de 1554 até 1611, ano do estabelecimento de Parnaíba e Mogi das Cruzes, é a tese da mestiçagem. Essa mestiçagem representa um contraste com o que acontecia então na America Espanhola, onde a técnica de destruição do indígena atingiu níveis porventura maiores do que os conseguidos pelo europeu na África. Um comportamento despreconceituado e destemeroso da ação ultramarina é, sem duvida, uma componente fundamental da tese ancila de dessacralização da formação regional. Do período de formação paulista nada restou senão a lembrança dos locais dos estabelecimentos então fundados, provavelmente em temos tão precários e tão próximos da técnica indígena que o tempo tudo demoliu e arrasou menos aquele estranhado espírito ambulatório que bem mais tarde espantaria, e muito, ao conde de Assumar. Os restos de habitações das classes dirigentes paulistas do século XVII e começo do século XVIII são o testemunho cabal desse estilo da sociedade paulista. O próprio jesuíta, próprio jesuíta, tão insistente e jeitoso nas táticas de luta, foi afinal envolvido pela tese que era contrario aos interesses da companhia. O alto nível de adequação das residências paulistas da classe4 dirigente da época dos bandeirantes permitiu que muitos exemplares deste tipo de construção sobrevivessem às diferentes e sucessivas superposições de estruturas econômicas sociais, o que não deixa de ser notável, principalmente tendo em vista a precariedade do material utilizado. A arquitetura religiosa paulista do segundo século propunha aos arquitetos de então um problema de relação interior‐ interior‐exterior, com condição de funcionamento da igreja relacionada com a separação de
classes e com a lotação instantânea variável. Com armadora dialética, os resultados positivos da época bandeirista conduziram ao próprio aniquilamento. O período seguinte de 1721 até a vinda do Morgado de Mateus com a restauração da Capitania, em 1765, em que pesem os testemunhos tardios de iniciativas, habitações e demais estabelecimentos relacionados com a temática das bandeiras e das descobertas, pode ser interpretado com fenômeno de circunstancias. A região do litoral norte dificilmente se compõe com as demais do território paulista, sendo restritas e circunstanciais suas relações com o planalto e mesmo com Santos e São Vicente. As peças encontradas neste litoral, como restos das antigas instalações excelentes com projetos e geralmente, mas como execuções indicam que as soluções arquitetônicas ai aproveitadas proveram de uma experiência estranha ao ambiente. As construções e instalações que cobrem o desenvolvimento regional desde 1765 até 1834 não explicitam partidos capazes de representar uma preferência coletiva; ou representa a repercussão de soluções abstratas impostas ao sabor das circunstâncias, como é o caso de3 algumas residências urbanas e das construções religiosas, ou então irremediavelmente marcadas pela insubstância que procede da pobreza e da dependência. Do ponto de vista das construções rurais, alem dos edifícios que serviam a indústria do açúcar e cuja procedência da arquitetura residencial seiscentista é patente em alguns exemplares já identificados em Sorocaba e Itu, vale anotar a arquitetura dos mineiros que no começo do século XIX, já liquidada a exploração do ouro de lavagem, iniciou um movimento para São Paulo, trazendo consigo as características desconstruções montanhesas. O período que vai do Ato Adicional, responsável pela organização interna do país já politicamente independente, até 1929, ano em que uma crise internacional estourou as estrutura agrária colonial, tem com tese principal a da instituição do binário urbano‐rural, sob o qual se efetuou a ocupação territorial, demográfica e econômica da maior parte do Estado de São Paulo. O dinamizado desenvolvimento das cidades e seus compromissos iniciais de implantação, justamente com o aspecto financeiro que desde logo esmaga as administrações municipais, restringindo seu fôlego independente de ação a um minuto definido pela sua capacidade de reter, no âmbito municipal, uma parcela mínima de arrecadação tributaria, colocam o problema dos equipamentos urbanos numa dependência total e num estado carencial crônico. A importância de técnicos, que aqui sofriam um processo involutivo no sentido de perder integralmente a inteligência dos problemas, correspondeu à importação.
Enquanto as arquiteturas oficiais e religiosas sofreram mais com tal situação, posto que estivessem numa dependência mais direta da mentalidade dos grupos de cúpula, a arquitetura de residência, tanto rurais com urbana, de certo modo conseguiram se salvar. Das sedes das antigas fazendas de café do Estado vale indicar desde logo a da fazenda Pau‐d’Alho, no município de São Jose do Barreiros, a qual, pela circunstância de ser das mais antigas, das que expressam uma organização espacial inteiramente destemida pela monocultura.
Notas sobre a arquitetura rural paulista do segundo século
Desde o inicio de suas atividades no Estado de São Paulo tem Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional encontrado, entre as peças recenseadas no planalto, um tipo de residência rural que varias razoes induzem a considerar com solução arquitetônica típica para os fazendeiros mais abastados do século XVII. Algumas trazem a data de construção no portal de entrada: a do bairro de Santana, atualmente sede da chácara dos frades beneditinos, é de 1702; a da chácara Ressaca, no Jabaquara e a de Santo Amaro que são respectivamente de 1719 e 25 de novembro de 1725. Uma constante verificada em exemplares de ambas as épocas é a maneira de escolher o local onde se assentava a residência, e o próprio modo de agenciá‐la num determinado terreno. Uma segunda constante é que todos os exemplares estão assentados sobre plataformas; mesmo quando as condições de topografia não favorecem a libertação do edifício em relação aos acidentes do terreno, nessa ultima hipótese, estabeleciam‐se plataformas artificiais, às vezes de pedra, como no caso, do sitio Santo Antonio. Cumpre ter em vista que a analise deste tipo de residência não se deve prender unicamente à planta; para considerar mais completamente o funcionamento, a importância especial em mesmo a concepção do conjunto, torna‐se preciso estudar a aplicação desse esquema em três dimensões. De qualquer modo, porem, e mesmo nos exemplos mais tardios, permanece inalterado o traço dominante do funcionamento da faixa fronteira. Entre os exemplares recenseados, dois pedem uma analise especial, justamente porque parecem afastar‐se bastante das características gerais: casa do bairro Tatuapé e as ruínas da casa de Santo Amaro. A casa do bairro Tatuapé apresenta variações consideráveis quanto ao esquema geralmente aplicado: não só a capela se afasta da sua posição habitual, preferindo antes seu um apêndice da residência, embora se conserve dentro das normas de funcionamento e agenciamento e observadas na generalidade das residências rurais.
Sobre uma plataforma natural ou estabelecida especialmente e montadas em alicerces cuja profundidade media é de 50 cm, sobem as paredes de taipa de pilão, com espessura variando de 40 e 60 cm. Os alicerces são sempre de taipas, e apresentam indícios de terem sido objetos do mesmo cuidado de fatura que se dispensava as paredes. Outros cuidados distinguem das posteriores as paredes de taipas do segundo século: em 1º lugar, a excelência do barro escolhido e o seu preparo, a esse propósito é notado à resistência de certas ruínas, mesmo quando completamente desprotegidas. A taipa das construções do século seguinte não só apresentam os mesmo cuidados, como pelo contrario indica descuido na fatura propriamente dita e ainda no uso de quadro desse processo de edificar. Deve ser realmente supor que as condições desfavoráveis de economia e mobilidade demográfica, afligiram os séc. XVIII e XIX. É realmente digno de nota que uma residência encontrada em Santo Amaro, construída em 1725 seja mantida até poucos anos atrás, perfeitamente resistente, seus restos que pudemos estudar demonstram pela conservação quase completa das peças de madeira a eficiência da proteção que era possível conseguir a técnica de pau a pique. Passando em revista as peças de madeira, vale notar os cuidados especiais que recebiam os cachorros. Um exemplo bem está nos cachorros na casa do sítio do Padre Inácio que pelo sabor oriental faz relembrar certos detalhes de pintura religiosa, vistos em Embu e Sabará. Como já observamos em outros pontos desse estudo as residências do fim do Sec. XVII e XVII adotaram o costume de inscrever a data de construção na verga da porta principal, fora esse detalhe só alguns bancos e cabides completavam o alpendre de entrada. Também o problema de fixação das portas e janelas apresenta dois tipos de solução: um por meio de gonzos, e outro de ferragem. Se for possível verificar conceituação da fachada que praticavam os arquitetos da época através de um tratamento especial dado aos cachorros e as portas principais a observação pode ser facilmente comprovada com analise das colunas dos alpendres. E quanto às plataformas fronteiras das residências em estudo apresentam sistematicamente um piso ou mesmo sapatas de pedra tanto piso do alpendre como os da sala que os serviços são de terra socada. Se uma relação à pintura das paredes a documentação escasseia, ou mesmo não acontece com a pintura das partes de madeira. O plano da casa do barão tanto pode servir ao dono para passar ali uns tempos como para receber amigos em férias ou travar conversações políticas ou promover caçadas. Em conseqüência podemos concluir sem perigo que de errar que o Séc. XVII, sobretudo, na segunda metade foi um período de
exploração intensiva de terras fechadas por uma linha que atingiria os limites mais distantes dos municípios de São Roque, Araçariguama, Guarulhos, Itapecerica, Cotia e Mogi das Cruzes. Só no fim do Sec.XVII e no inicio do sec. XVIII é que surgem números expressivos de uma orientação normal dos pedidos de terra em regiões mais distantes de Sorocaba até o Paraná, de Taubaté até os limites do estado do Rio, de Jundiaí até os campos do interior do Estado. Enquanto os fazendeiros seiscentistas de Piratininga preferem para residências locais situados a meia altura da paisagem, e em pontos internos de uma região já livre do perigo de ataques de índios, os pontos escolhidos pelos fazendeiros do litoral estão próximos do mar que seria caminho natural tanto para o transporte de mercadorias como para o de possíveis indios bravos. Vale comprar as sedes de fazendas do Sec. XVIII e XIX com as seiscentistas, do ponto de vista arquitetônico, ambos os tipos se equivalem inclusive no que podem constar a respeito de seus fundadores, e o que as casas seiscentistas contam dos seus fazendeiros é que seriam outros os seus problemas e outras as condições em que foram edificadas as suas residências. Como oficiavam os padres, quando hospedados nas fazendas seiscentistas, esclarece‐nos o Padre Manoel da Fonseca na vida do venerável Padre Belchior de Pontes. Especialmente sobre o modo como a família assista aos ofícios religiosos dá‐nos o A. informações, ao ensejo da passagem daquele pregador jesuíta pelas fazendas de Amador Bueno. A ocorrência sistemática de capela e alpendre nas habitações que tratamos seria, portanto um fenômeno peculiar da vida rural, nas cidades tal dispositivo deixaria de apresentar a mesma funcionalidade lógica pois aí não soa a comunidade não apresentaria os mesmos característicos, mas também haveria que ter em vista a igreja publica que predominaria sobre qualquer vestígio particular.
A Casa Bandeirista
Que caracteriza a sociedade bandeirista de São Paulo, especialmente em confronto com a outra coletividade nacional que no sec.XVII conseguiu criar condições peculiares de sobrevivência e evolução a sociedade açucareira do Nordeste. Talvez se deva a essa particularidade, e não tanto ao isolamento geográfico a relativa liberdade que os colonos se proporcionaram serra acima chegando a criar condições de desobediência e desacato aos delegados de ordem metropolitana. É verdade que hoje inicialmente uma longa luta armada pela posse da terra, luta que encheu toda segunda metade do sec. XVI e durante a qual os piratinganos levaram não poucos sustos, como aquele que
os tamoios pegaram ataque e arrasando a aldeia de Pinheiros, chegando mesmo aos precários muros da sede formal da vida Planaltina. Mas de cinqüenta anos tiveram os colonos empenhados nessa faina preparatória de instalação de base territorial e financeira, de produção de mamelucos, de aquisição de uma técnica militar especializada em função do que poderia comparecer na vida da colônia através do infiel, estranho sobrevivência da cavalaria medieval com uma legitima expressão de sociedade já diferenciada e de certo modo nacional que é na sua fisionomia social, quer nos resultados alcançados. Esse período de experimentação social e econômica a este esforço da adaptação dos conceitos medievais as condições especificas dessa parte da colônia portuguesa, corresponde uma fase de experimentação arquitetônica. Quando os fenômenos conquistam uma fisionomia própria e solida, em meados do sec.XVII, todos os quadros da sociedade bandeirista estão desenhados de conformidade com a experiência local e com uma linguagem característica. É claro que retratando a vida da classe dominante paulista por todo um século do qual o bandeirismo atingiu o apogeu, terminando por se diluir na decadência que prelimina o seu completo desaparecimento, no decorrer do século XVIII, é claro que essas residências apresentam de exemplares clássicos, excepcionalmente puros, como a residência de Fernão Vaz de Barros no atual sítio Santo Antonio em São Roque, e na de Roque Soares de Medela, atual sitio do Padre Inácio em Cotia. Em São Paulo, porem foi sujeita as características da classe dominante bandeirista a que serviu o que pode ser verificada não apenas na sistematização de uso a que foi submetida, mas especialmente na adequação do funcionamento que proporciona e que a torna regional. O funcionamento da faixa fronteira da morada seiscentistas de São Paulo fixa o caráter feudal da sociedade bandeirista e denuncia os elementos fundamentais da organização da família da época, separada do mundo e muçulmanamente enclausurada no interior da habitação de janelas gradeadas, até a faixa fronteira chegam os hospedes, o agregado ou um mameluco e o escravo, sendo‐lhe, entretanto vedado o acesso a partes mais intimas da casa. A capela que se costuma colocar nos extremos da faixa social da morada seiscentistas de Piratininga, é, pois outros traços que caracteriza a sua cimetrização com a classe dominante paulista do sec. XVII. As circunstancias de a cozinha só comparecer em meados do sec. XVIII referindo por vezes, a integridade da aliança da planta em retângulo, paredes de taipas e telhados de quatro águas. A arquitetura bandeirista, especialmente a da classe dominante, a mais expressiva do fenômeno oferece multiplicidade de aspectos cuja analise, de legitimidade, mas monográfica, forja o âmbito do presente trabalho, ensejado pela restauração da morada do sítio Butantã hoje inserida em pleno perímetro
urbana de São Paulo, mas que na época da construção foi morada rural nas bandas do Ubiaçaba, como se dizia ainda do século XVIII.
Arquitetura de circunstância
O século XVIII brasileiro viveu sob o signo d ouro, principalmente, não apenas pelo que a mineração representou para o fenômeno do povoamento interior, pelo significado completar que conferiu afinal ao ciclo bandeirante e razão que facultou ao ciclo pastoril, que nele encontrou mais uma justificativa para o tipo preferido de povoamento ralo, especialmente vantajoso nas então condições demográficas, mas também por causa das iniciativas da administração ultramarina, tendentes ao resguardo dos interesses, Fo fisco, as quais, posto que de sentido sensivelmente negativo para a vitalidade da Colona. Nas residências rurais, agenciadas sempre em função do transporte marítimo e em condições fáceis para o aproveitamento das ribeiras, cujas águas eram utilizadas para acionar moendas, os setores de trabalho e moradia foram resolvidos num único bloco de construção. O esquema construtivo destas sedes de engenho aproveita, para o embasamento da residência e estrutura dos locais de trabalho, a pedra entaipada, e para os pavimentos mais altos, recheados de tijolos ou pau‐a‐ pique.
Intermezzo Roceiro
A aventura bandeirista e a exploração aurífera das Minas Gerais e do Oeste deixaram São Paulo sem gente, sem vitalidade e sem governo. Os exemplos de residência desta região, em pontos longínquos entre si, que primeiro recebeu os torna viagem, posto que se diferencie bastante na organização do espaço interno, se identificam, contudo, através de soluções particulares que trazem a marca mineira. O pavimento inferior destas residências é geralmente aproveitado para deposito, que indicasse o uso desta parte do espaço construído para qualquer agenciamento de trabalho. Na arquitetura urbana, de que se encontram ainda alguns exemplares em Parnaíba e Sorocaba, a preferência pelo assombradamento da habitação é bastante sensível, mesmo quando venha representar um notável sacrifício do pé‐direito do pavimento superior, com as vergas das janelas deste se confundindo com o frechal.
Economia de sobremesa
A produção extensiva e monocultora de café no Brasil foi uma conseqüência indireta da aventura napoleônica e do Bloqueio Continental. Desde que fora introduzida no Norte por Mello Palheta e trazido para o Rio de Janeiro no ultimo quartel do século XVIII, e depois de ter sido importado de Portugal como produto, em 1768, na época da independência o café já sairia dos jardins, das chácaras e das boticas cariocas, ganhando foros de cultivo econômico nas novas fazendas que se abriam nos caminhos de Minas e São Paulo. Nesse período, os primeiros vinte anos do século XIX, essa gente e essa experiência de café plantado virgem, fornecem as duas associações que acompanharam a historia do café no Brasil. Inicialmente o café é apenas uma perspectiva de produção aparceirada com a cana‐de‐açúcar de há muito já estabelecida. Como expressão rural, o partido escolhido pela sede da fazenda de café é uma solução mestiça para a qual converge a experiência das atividades de beneficiamento da cana‐de‐açúcar, da mandioca e do milho, e mesmo de cereais como o feijão, em termos de uma arranjada espacial operação de construção. Dois tipos de residências comparecem numa sede de fazenda de café: a morada do proprietário e a senzala. A senzala é concebida e construída como um conjunto especialmente agenciado com as demais das edificações. A residência principal da sede cafezista, tudo leva a acreditar que tenha tido como ponto de partida a habitação do engenho, devidamente despojada daqueles compromissos que o seu acoplamento com as áreas de trabalho lhe conferia. Os exemplos de sedes de planejamento mais apurado denunciam uma preferência pelos sítios com farta disponibilidade quanto á água corrente. O regime urbano corresponde a esta primeira fase adulta da arquitetura do café não proporcionou modificações substanciais naquele tipo de arcabouço urbano resultante de uma discreta economia de açúcar e cereais. A classe dirigente que esteve na vanguarda da instalação cafezista não estava predisposta a aceitar o oficialismo da Missão Francesa que Humboldt e o Conde da Barca haviam introduzido, no afã de fornecer ao novo Império uma linguagem artística erudita, repetindo a política cortesã da época, sempre inclinada a importar uma aparência de boa figura. Foi neste tempo e nesta região (Mogi Mirim e Piracicaba) que o café encontrou a taipa de pilão da tradição paulista, e foi esse o tempo das estradas Cesáreas e de ligação para o litoral rumo a Ubatuba, São Sebastião, Parati e Santos.
Entre 1850 e 1860, isto é na fase que preliminou a instalção ferroviária em São Paulo, ocorreram algum fato de importância regional decisiva: as terras do vale do Paraíba dão os sinais de pauperamento incontornável, apontando as necessidades de abertura de novas áreas culturais para o já prestigiadíssimo café. No período de 1834/60, a arquitetura do café tomou conhecimento de varias novidades, em primeiro lugar, a convicção empresarial de um resultado seguro permitiu maior desenvoltura nesse tipo de empreendimento, as construções se avantajaram. Mas a convicção que a cultura do café era uma saída econômica de futuro solido foi responsável pela introdução de uma quantidade grande de melhoramentos nas tarefas de produção. De qualquer modo, embora o desenvolvimento ascensional da economia do café infundisse uma confiança capaz de promover um numero maior de instalações de fazendas de café e muitas dessas de porte avantajado e fatura maior cuidado, inclusive na parte residencial que procurava soluções de conforto, permitindo a organização de fazendas como a Ribeiro Frio, que Zaluar descreve com entusiasmo com uma residência espaçosa e branca, dentro de um terreiro de trezentas e onze braças de circunferência. É certo que um viajante como Zaluar, que percorreu as cidades de São Paulo exatamente no momento da instalação ferroviária e que fixou, portanto, os resultados do período de 1836/60, são certos que suas informações e descrições paradisíacas, como aquela excelente casa de morada, adornada com vistosa varanda, em cuja frente se enlaça sanefas de enramadas trepadeiras das quais pendem os cálices azuis de mil perfumadas flores. O desenho da maioria das cidades, com seus respectivos compromissos de ruas, lotes e partido arquitetônico, passou a fixar soluções que prevaleceram durante todo restante do ciclo paulista do café e que ainda repercutem no refazimento delas e das habitações, mesmo depois de superadas as motivações que lhe deram origem. Dada a origem da grande maioria destas cidades fundadas no interior do Estado Paulista de São Paulo geralmente patrimônios doados pelos fazendeiros para a capela que fundavam muitas fazendas tiveram como um dos limites a própria cidade, preparando assim um problema para a expansão das cidades. A historia dos edifícios urbanos paulistas deste período, pelo menos ate o fim do século passado, é a historia da sobrevivência da taipa de pilão como processo construtivo profundamente travado ao desenvolvimento regional. Um dispositivo típico das habitações urbanas do Estado de São Paulo, e que chegou mesmo a invadir planos de residências procedentes da invasão estilísticas suscitada pelo espírito importador que se apossou da classe dirigente cafezista a partir da Republica, é o alpendre disposto de tal modo que seve como peça de
receber, nunca na frontaria, que invarialmente se colocou no alinhamento, mas ao lado e junto a um jardim. Do ponto de vista do planejamento da sede rural cafezista no período que vai da instalação ferroviária até 1930 permaneceu o partido tradicional, em que pese à enorme quantidade de soluções particulares novas que se introduziram nesse projeto‐tipo. Outro personagem que agregou a sede da fazenda de café foi o pomar, outrora reduzido e vencido pela presença da mata protetora das aguadas úteis, mas pouco a pouco ganhando personalidade e porte, a ponto de se tornar uma nota característica da paisagem cafezista.
Ciclo ferroviário
A economia do café, comandando a distribuição demográfica no Estado de São Paulo do século passado, contaminou a instalação ferroviária. É evidente que uma sociedade cuja direção estava prevalecendo voltada ao uso dos bens materiais, que prevalece voltada ao uso dos bens materiais e constituíam o aspecto externo de sociedades em estagio mais avançado de industrialização, não apresentava uma oportunidade de resolver, com adequação necessária, seus verdadeiros problemas de organização social, econômica e política, e também arquitetônica.
Notas para teorização de São Paulo
Do meio milheiro de cidades que cobrem atualmente a área do Estado de São Paulo, apenas 29 foram originadas fora de orbita da economia do café. Cada período característico da formação regional contém pelo menos uma tese principal e uma família de teses ancilares. Abandonando a solução pelágica, que era a única que se entrosava com o mercantilismo oficial, os colonos ficaram à vontade para realizar a escolha de uma sede, é ai que realmente começa a historia de São Paulo. A vitória formal sobre os índios que ameaçavam São Paulo, o abandono dos muros que tentavam transformar Piratininga num baluarte oficial, a valorização da vila pela incorporação da população de Santo André e, afinal, a formação de dois núcleos (Mogi e Parnaíba). A hierarquização das teses nesse período aponta duas fases bem distintas, numa primeira fase, que vai até meados do século XVII, a luta entre colonos e jesuítas trazia dialeticamente duas idéias. A tese principal dessa fase é a da dessacralização, as demais são teses ancilares, na segunda fase desse período a tese central é de negação do binário urbano‐rural. Mesmo no seu período mais vivo,, com um território de base alargada para um raio de cerca 100 quilômetros, com vários estabelecimentos já consolidados, com uma capacidade de ação que atingia todos os pontos da colônia e com uma considerável folha de serviços prestados, o paulista se manteve fiel a sua tese principal.
A cidade de São Paulo, que em meados do século XVIII apresentava uma população de cerca de 4000habitantes, em 1810 já atingia 20000, cifra essa que seria dobrada em 70 anos, na época da proclamação da republica. Uma condição na monocultura do café destaca‐se sobre os demais agentes qua atuaram no crescimento demográfico regional: o numero de pessoas empenhadas no plantio, trato, colheita, beneficiamento e comercialização de produtos. Do ponto de vista puramente urbano, a evolução da cidade de São Paulo durante a vigência do ciclo do café constitui uma decorrência simples dos compromissos de formados pelo tipo colonial da economia: o aumento demográfico, a estrutura de cidade formada por reticulados sucessivos estabelecimentos de conformidade com a orientação das divisas das glebas primitivas, a aglutinação São Paulo‐Santos. Alem da nova escala urbana não ter atendido de um modo correto, outro aspecto revolucionário da metropolização paulista, o da organização dos serviços públicos, não foi tratada de conformidade com sua nova compleição problemática. O nascimento e os compromissos do atual período estão de tal modo travado às próprias condições particulares da formação regional, que seu eventual esquecimento pode distorcer a compreensão dos problemas que devem ser formulados e resolvidos. A segunda proposição peculiar do esquema de industrialização implantado em São Paulo resulta da negação ao exclusivismo do binário urbano‐rural, em outras épocas e outras áreas, as indústrias se aninhavam ou no interior do âmbito urbano, ou na franja de sua extensão, de qualquer modo, se colocava na dependência dele. Em aditamento a essas proposições, deve‐se considerar que a atual situação da indústria de São Paulo não é definitiva. A área de São Paulo possui um agenciamento extraordinário fácil para proporcionar um sistema de transporte bastante completo e econômico. A capacidade de administração realizar esse alto desideratum é plena, pois nem lhe faltam leis e nem é justo alegar que a coletividade pode arrepiar carreira diante do vu8lto e da importância dos empreendimentos que, a nosso ver, coincidem com os seus desígnios.