CURSO REAPRENDIZAGEM CRIATIVA MÓDULO 1 AULA 1 – MITO DO ARTISTA
Esse
primeiro
módulo
é
um
módulo
sobre
mitos.
Resumidamente, é um módulo sobre quatro mitos que você precisa esquecer urgentemente. Eu até reforço o esquecer urgentemente , porque as pessoas sempre que falam sobre esquecer, o pessoal acha que esquecer é um negócio ruim, que o bom é lembrar; que ser esquecido é ruim; quem esquece coisas não passa na prova... “Ah, eu esqueci o que aprendi na aula.” Esquecer é muito é muito importante. Valorizase muito a memória. A gente sempre vê livros do tipo: Turbine Sua Memória, Memorize Mais, SuperMemória para Concursos... Eu nunca vi
um livro para ensinar a esquecer. Deveria ter livros do tipo como: esquecer melhor, melhore seu esquecimento. Esquecer é tão importante quanto lembrar porque ao longo da vida, tudo que a gente ouve, tudo que a gente aprende vai moldando nossa forma de ver as coisas. Então, de vez em quando, para poder entrar novos conhecimentos e se adaptar ao novo, você precisa primeiro esquecer algumas coisas antigas. O cara que eu vou referenciar muito durante este curso é o Rubem Alves, grande educador, que faleceu há pouco tempo, no ano passado. Esta frase dele é legal! É meio complicado, mas é legal: “O que sabemos sabemos torna-se hábito de ver e de pensar que nos faze ver o novo através do óculos do velho – e o transforma no que sempre vimos, e tudo continua do jeito que sempre foi”. É meio complicado, mas é muito interessante, que mostra o que é isso. Tem que esquecer de vez em quando para poder olhar diferente para as coisas. Esquecer algumas premissas, algumas crenças limitantes que a gente ouve e molda a nossa forma de pensar. Já, Machado de Assis: “Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o
caso escrito”. A verdade é esta: de vez em quando, tem que dar uma apagada em algumas coisas. Nesse primeiro módulo de mitos, basicamente são quatro aulas. Cada aula é sobre desmistificar o mito e trazendo um novo fato para você apagar esse mito e escrever um novo fato. Primeiro mito: sempre que falo sobre criatividade, as pessoas associam logo dos publicitários, por exemplo, Washington Olivetto, Niemeyer, Thomas Edison, comediantes, artistas, o pessoal criativo. Mas isso é um mito. Eu chamo isso de Mito do Artista, o primeiro mito, porque é um mito pensar que criatividade é coisa para artistas, publicitários e inventores. A verdade é que criatividade é uma
ferramenta para resolver problemas .
O publicitário é um cara que resolve de forma criativa o problema de comunicação do cliente.
O arquiteto resolve de forma criativa o problema de espaço do cliente.
O cara que é inventor resolve um problema, seja qual for, de um grande número de pessoas.
O comediante resolve um problema de entretenimento das pessoas.
O designer resolve um problema de comunicação visual.
Essas pessoas, conhecidas como criativas, são resolvedoras de problemas. Criatividade serve para qualquer tipo de problema ; não só desses caras que são tachados como “os criativos”. A esta hora, você deve estar se perguntando: “Ah, Murilo, quer dizer que, então, tudo é problema? De fato, se você olhar no dicionário, resumidamente, “problema é qualquer questão levantada para consideração, discussão, decisão ou solução...”. Em outras palavras,
“qualquer coisa que demanda uma solução”. Se demanda uma solução, é um problema. O pessoal sempre acha que problema tem a ver com dificuldade. Por exemplo: “Ah, eu fui demitido”. “Tive um acidente...” Não. Problema é qualquer coisa que demande uma solução. Você pode estar super bem na sua carreira, “bombando”, a sua empresa pode ser líder de mercado, tudo certo, faturamento incrível, lucro e tudo mais. Mas você precisa, você quer lançar uma nova linha de produtos. Ou você quer fazer um reposicionamento de carreira. Isso é um problema. Problema pode ser sinônimo de desafio, de vez em quando, pode ser sinônimo de dificuldade, pode ser sinônimo de oportunidade. Eu conto lá na minha história, na palestra sobre O Segredo do Fracasso (está disponível como aula extra aqui do curso), que eu fui dono de um bar em Recife, porque eu passava lá na frente de uma faculdade grande e via aquela faculdade gigante sem nenhum lugar para o povo beber. Eu ficava pensando: “Poxa, eu tenho uma grande oportunidade aqui de montar um bar para esse povo beber”, e virou, para mim, um problema porque eu tinha que resolver aquilo ali. Eu me sentia obrigado a não deixar aquela oportunidade passar e acabei montando o bar. É uma longa história que eu conto na palestra. Um problema pode ser uma oportunidade, uma dificuldade, um desafio, qualquer coisa que demande uma solução. Sim, tudo é problema! Exemplos:
Como melhorar um processo, produto ou serviço...
Como reduzir custos, desperdícios, reclamações, erros...
Como se diferenciar como profissional ou como empresário...
Como estimular seu filho a gostar de ler ou comer legumes... “Ah, meu filho não gosta de comer legumes.” Você pode ir para a solução: “Ou você come, ou você não vai jogar vídeo-game”. Ou você pode buscar uma solução criativa: “Como eu faço para que ele queira comer verdura? Se você colocar na Internet fun food , no Google, a galera que pega as verduras e os legumes e faz desenhinhos. Você transforma aquilo numa história, e a criança se entretém naquela história: “Papai, vamos brincar de casinha?”. E brincar de casinha é comer espinafre.
Todo problema pode ser resolvido de várias formas, e a melhor forma delas é a solução criativa.
Como driblar o trânsito no caminho para o trabalho...
Como pegar mulher na balada ou no Badoo...
Eu, quando vim para São Paulo, eu era solteiro ainda. Eu tinha um problema. Eu vinha para cá de vez em quando. Eu tinha um primo muito rico, e ele me levava para balada de rico, festa de rico, e para mim, era um problema porque eu ficava: “O que que eu vou fazer numa festa de rico?”, e eu tinha que resolver. E qual foi minha solução? Em festa de rico, fingir que é rico. Simples assim! Chegava na balava e incorporava o “ser rico”. Eu ia conversar com a menina: “Oi, tudo bom?”. “Tudo bom. Você trabalha com quê?” Eu falava: “Eu trabalho em negócios da família”. Ela perguntava: “Mas, a sua família trabalha com quê?”. Eu falava: “Aqui no Brasil? Petróleo”, porque petróleo, não tem erro: ou você é frentista ou é milionário. Decora o preço do barril, que a mulher em São Paulo sabe o preço do barril e do petróleo. Ai, eu ficava lá como o “sheik do petróleo”. Inclusive, uma vez, eu fiquei com
uma menina na balada: “Olha, eu dispensei o motorista; vamos pegar um táxi”. Eu falei para o taxista: “Toca para Guarulhos”. Ela falou: Tá louco? Fazer o quê em Guarulhos? Falei: “Vamos para a Itália, pegar um voo para a Itália agora; a gente vai jantar e volta”. Ela falou: “Tá louco! Nem passaporte eu tenho”. “Tá sem passaporte? Vamos para um motel, então, amigo.” Solução criativa para os seus problemas, sejam quais forem.
Como criar uma piada sobre guarda-chuva ou pasta de dente... Eu recebo demanda de eventos pedindo piadas sobre determinado assunto. É um problema para mim criar piada porque tem que ter uma solução.
Eu adoro o que eu chamo de microcriatividade. Não é essa criatividade de se fazer coisas gloriosas; é a dos pequenos problemas do dia a dia. Por exemplo, isso aqui é genial:
Uma fila qualquer, pode ser numa lotérica, em um caixa qualquer. Em vez de ficar na fila, o cara botou a sandália.
Se tudo então é problema, então eu tenho que ser criativo toda hora? Não, senão você enlouquece e fica improdutivo se fizer isso; não pode. Vou explicar quais problemas requerem criatividade e quais não requerem. Grosso modo, vamos supor que aqui sejam os seus problemas:
100% dos seus problemas estão aqui; tem cem quadradinhos aqui. Eu diria que 99% não requerem criatividade porque são problemas em que você já tem um banco de dados de soluções para aquele problema. Por exemplo, como eu faço para não sujar o pé? Bota a sandália. É um problema cuja solução já está aí. Não precisa ser criativo a toda hora, a não ser que você trabalhe com isso e queira criar um novo jeito de não sujar o pé.
Como é que eu abro a porta? Pela maçaneta. Como é que eu tiro um negócio do meio dos dentes? Tem o fio dental, tem o palito... Têm soluções para esses problemas já. Agora, tem 1% dos problemas, uma pequena parte dos problemas que não tem soluções-padrões, ou as soluções-padrões não servem mais, e tem que ser criativo. Eu diria que esse quadradinho é que faz toda a diferença na vida de uma pessoa porque, literalmente, aqui formou um quadrado, ou seja, quem resolve seus problemas, 100% deles com soluções-padrões virou uma pessoa quadrada literalmente, seguindo o meu exemplo aqui.
Já, se você não usa a criatividade, basta uma parte deles, o quadrado já se desconfigura.
E esses pequenos problemas são os problemas... Tem um livro do Roberto Mena Barreto muito legal: Criatividade, um problema na vida, em que ele fala que os problemas que demandam soluções
criativas são os problemas que pagam cinquenta mil reais. São os problemas que valem mais, são os problemas que fazem a diferença na vida. E se você não resolvê-los, eles não somem sozinhos, eles vão se acumulando. E por isso, a solução criativa. Para quê? Porque não há uma solução já prevista para esse problema. Então, se você é 100% padrão, você vira uma pessoa “quadrada” e que vive a vida no pilo to automático, ou seja, é uma pessoa que não está com as rédeas de sua vida. Você deixa no piloto automático de modo que tudo que vem na sua vida, que demanda solução – seja um desafio, seja uma oportunidade, seja uma dificuldade – você resolve com soluçõespadrões já conhecidas e que outras pessoas fizeram; clichê! Todo mundo no piloto automático, todo mundo vai para o mesmo caminho. E qual o problema em ficar no piloto automático? Tem outro livro legal do Roger von Oech, um grande autor sobre livro de criatividade, que diz que existem dois tipos de pessoas: as pessoas
que gostam de dividir as coisas em dois grupos e as pessoas que não gostam de dividir as coisas em dois grupos . Eu sou do grupo das pessoas que gostam de dividir as coisas em dois grupos. Portanto, eu acho que têm dois tipos de problemas: os problemas que o
computador consegue resolver e os problemas que o computador não consegue resolver . O que eu quis dizer com “computador” são aqueles problemas mais lineares, mais estruturados que se resolvem apenas seguindo um processo lógico sem necessidade de um salto criativo. Aqui estão 100% dos seus problemas. Eu dividi em problemas estruturados, lineares e programáveis e nos problemas não estruturados, não lineares e não programáveis. O que eu quero dizer com isso? Um problema estruturado, linear e programável é um
problema que, para você resolver, basta você analisar um conjunto de dados, aplicar uma fórmula, um script , uma programação que a solução vai. Ele é linear. Ele não requer um salto de lógica, não requer uma mente humana; basta seguir uma programação; ele já está arrumadinho. A máquina (o software, os programas, a robótica) é muito boa em resolver problemas lineares. Mas, está ficando cada vez melhor. Por quê? Primeiro: nós estamos ficando melhores em estruturar, linearizar e programar problemas. Nós estamos, cada vez mais, empacotando as coisas de uma forma estruturada, de modo que a gente está facilitando para a máquina resolver, ou seja, essa área aqui está se movendo para cá, e a gente está entregando de bandeja. Além disso, um outro fenômeno: a máquina está ficando melhor em resolver problemas – eu chamei de ñELP (não estruturados, lineares e programáveis). A máquina é artificial intelligence. Quando eu morei lá na NASA, na Singularity, era um dos assuntos mais falados, como a inteligência artificial está ficando cada vez mais inteligente, ou seja, ela está ficando melhor em resolver os problemas não estruturados. Ou seja, é como se, seguindo esse ritmo, as coisas estivesse entrando no piloto automático. Por falar em piloto automático, lá no Vale do Silício, toda vez que a gente saía na rua, lá em São Francisco, no Mountain View, a gente via um carro autônomo, um self drive, um carro do Google.
O pessoal ouve falar que um carro que anda sozinho é coisa de laboratório. Não é! Ele está na rua. Você sai de casa no Vale do Silício. Há chances altíssimas de e encontrar um carro dirigindo sozinho. Veja que louco! Não é filme. Faz três anos que ele tem autorização para rodar. Acho que uns quatro anos já, em alguns estados: Nevada, Califórnia, mais dois estados, e sem acidentes. Parece que há pouco tempo, teve um acidente, mas é uma taxa ridícula de acidentes. Eu conheci o carro autônomo. Um dos caras que participou do desenvolvimento deu uma palestra para a gente. Estudos mostram que o robô do Google é um motorista mais suave, mais seguro do que você e eu. Parece que duzentos anos após a criação do automóvel chegamos a conclusão de que nós não somos bom em dirigir. A máquina é melhor do que a gente. Sabe por que ela é melhor? Essa é a visão da máquina:
é assim que ela vê a rua; uma visão por satélite; ela sabe o que vem na próxima esquina, na outra, no cruzamento; ela prevê; tem um olho muito mais potente do que o nosso; ela respeita regras; ela não fura semáforos; não ultrapassa velocidade. Inclusive, se tiver um ciclista e ele colocar a mãozinha, o computador lê a mãozinha, o carro freia, o ciclista passa. Estatísticas mostram que 90% dos acidentes são erros humanos. É louco pensar que estamos prestes a reduzir 90% dos acidentes de carro. Quando eu digo “prestes” é em alguns anos; não muitos; menos do que você imagina, porque nós estruturamos, linearizamos, programamos esse problema melhor, com todas as variáveis, empacotamos e colocamos uma inteligência artificial que vai fazer isso para a gente. Teve um acidente, um tempo atrás, com um carro do Google, que foi quando um humano assumiu o volante e deu uma batidinha dentro da sede do Google.
Isso é um exemplo que vale para uma reflexão. A minha mulher está grávida e a minha filha, Maria Valentina, nasce em setembro. Tem uma grande chance de a minha filha ou quem tem filho pequeno nunca aprender a dirigir porque não vai ser necessário porque dirigir é um problema que já foi estruturado, linearizado, programado, empacotado de uma forma tal que a gente delega para a máquina fazer porque ela faz melhor do que a gente. E vamos focar nas atividades em que a gente usa o nosso cérebro. Só para citar outros exemplos sobre funções que estão linearizando e que o software faz melhor do que humanos. Por exemplo, pagamentos. Hoje em dia, está acabando cada vez mais os caixas, dando lugar aos caixas automáticos. Se não houvesse caixas automáticos, quantos milhões a mais de caixas teriam que haver? Implica desemprego, claro, em curto prazo, mas, em médio prazo, novas oportunidades surgem também. Nunca faltam tarefas para humanos. Eu vi em Londres, já, muitos estabelecimentos como supermercados, livrarias, onde você mesmo passa o código de barras e paga. Pode dar problema de segurança, mas tem uma metodologia lá para fazer isso. Pedágio, Sem Parar, catraca de shopping... Lembra que antigamente ficava uma pessoa ali? Saiu. Por quê? Não precisa. A máquina faz melhor para o cliente. “Ah, mas causou desemprego.” A tecnologia implica mudanças. Por isso, que eu quis fazer esse curso porque o mundo está mudando. A conclusão a que eu vou chegar é a de que criatividade é a habilidade que faz a diferença, é o que lhe protege dessa invasão das máquinas, sem querer ser muito hollywoodiano.
A moça do pedágio é orientada, muitas vezes, a oferecer o Sem Parar. Você vai pagar e ela fala: “Você quer colocar o Sem Parar?”. Mas ela é orientada a vender e dever ter até uma comissão sobre as vendas. Eu acho bizarra essa relação porque, se você parar para pensar, teoricamente, quanto mais ela vender, maior a chance de perder o emprego. Hoje em dia, existem seis cabines do Sem Parar e seis com atendentes. Pode notar: daqui a um tempo, vai ser cinco e três; quatro, três e dois; vai diminuindo, achatando. Quanto mais ela for melhor na performance, mais estará arriscando o negócio dela. É muito louco!
Outro exemplo são os postos de gasolina. No Brasil, ainda existe o frentista, mas em vários países, não existe mais. Aqui, tem um lobby trabalhista para manter isso aí. Não estou querendo assustar, ou melhor, estou querendo assustar. O objetivo é fazer um pequeno “terrorismozinho”. Parece meio hollywoodiano, e é meio hollywoodiano. As pessoas quando veem uma coisa: “Ah, isso está parecendo aquele filme de Hollywood”. Você não pode achar que algo é mentira só porque Hollywood falou. Hollywood é igual ao Nélson Rubens: aumenta mas não inventa. Tudo que a gente vê em Hollywood, de ficção científica é baseado, a maioria das vezes, em cientistas, em caras futuristas, sempre baseado em alguma realidade, e Hollywood adiciona uma camada de drama, uma história de “alguém querendo comer alguém” para ficar Hollywood. Não descredibilize as coisas só porque Hollywood mostrou; pelo contrário. Pense naqueles filmes Eu, Robô, Matrix entre outros. Pense: de onde surgiu isso aí? O que faz sentido ou não? É legal filosofar um pouco.
A Amazon contratou dez mil robôs para trabalhar em armazéns, fazer tarefas lineares, resolver problemas lineares, estruturados e programáveis. A bateria do Iphone6 é feita só por robôs na China. Segundo a revista Forbes, analistas esperam uma queda nos lucros da Symantec enquanto a companhia reporta o seu quarto trimestre de resultados. Apesar de a empresa ter reportado um lucro de 42% um ano atrás, o consenso estima que... Tudo isso é normal. Isso foi escrito por um software. Parece o texto de uma pessoa, mas é uma análise feita por um software. Chama-se Narrative Science. Esse software está muito focado, hoje em dia, em Bolsa de Valores e Esporte. Por quê? Porque são atividades com grande volume de dados que podem ser analisados, e de acordo com algumas regras, ele combina uma inteligência artificial que consegue escrever um texto parecendo um humano. E a Forbes contrata esse software para escrever textos para a Forbes. Veja bem. Eu estava dando exemplos antes de coisas muito manuais. Estou falando de algo que é escrever, que é mais humano; mas, mesmo assim, a máquina está se metendo a invadir. Eles chamam de “O Jornalista que Nunca Dorme”. Há histórias que começam, que parecem pessoas, e já está em portais como a Forbes. A Amélia, que é uma articial intelligence, pode ler, interpretar textos, seguir processo, resolver problemas e aprender por meio da experiência, pode substituir humanos em vários tipos de trabalhos.
Ficou assustado? Eu queria assustar um pouco. Mas o fato de você estar aqui fazendo esse curso é um sinal de que você está querendo mudar, estar querendo usar mais essa grande habilidade que nós temos, que é a habilidade de resover problemas de forma criativa. Para finalizar esse assunto, um estudo que eu vi lá na Singularity, um paper de Oxford: “O Futuro dos Empregos: O Quão Suscetível O Seu Emprego Está Para a Automação”. No final de 2013, os caras pegaram setecentas e duas profissões oficiais da Previdência Social Americana e criaram um algoritmo para calcular qual a probabilidade de cada profissão ser automatizada. Claro, não é uma coisa perfeita, mas é um estudo de Oxford. Fizeram um ranking. A profissão mais ameaçada é o telemarketing. O pessoal que trabalha, na grande maioria; não todas, nesse tipo de atendimento é orientado a seguir processos, a seguir script . Uma vez, uma menina colocou no meu Facebook: “Eu trabalho
com telemarketing. Se eu for criativa, eu serei demitida”. Isso me chocou! Que louco! Existem profissões que não permitem ser criativo. O problema é: para seguir scripts, para seguir processos, para analisar
dados e seguir regras e dar respostas, a máquina é melhor do que a gente. Agora, para pensar, não! Para pensar soluções criativas. Não. É aí que está nosso diferencial. E quais foram os critérios desse estudo? Três critérios: percepção e manipulação. É muito mais a parte manual, o que ele chama de “a destreza dos dedos”. A mão é uma parte óssea do corpo com muitos detalhes pequenos e perfeitos. Essa habilidade de fazer pequenos microsmovimentos. A robótica tem muito dificuldade em chegar perto; na verdade ainda está muito longe para conseguir a mesma percepção. O homem também é muito bom para trabalhar em posições difíceis: estar trabalhando em uma coisa e precisar mover, continuar e mexer. Então, tudo que envolve esse tipo de manipulação mínima, apesar de não envolver diretamente o pensamento, o homem está mais protegido.
Creative Intelligence: originalidade e habilidade de ter
ideias espertas e não comuns, não usuais sobre um assunto, uma situação, ou a capacidade de desenvolver formas criativas de resolver um problema ou um assunto. Isso é um dos critérios que protege aquela ocupação em relação à automação.
Artes finas: tudo que envolva produções artísticas. A criatividade no sentido de soluções.
Social intelligence: é a parte humana de perceber as
pessoas, de sentir a reação das pessoas, compreender e de “ler” pessoas. A máquina não é boa em “ler” pessoas. Humanos são bons em ler pessoas.
Negociação: trabalhar com as diferenças, chegar num acordo.
Persuasão: influenciar pessoas.
Assistir pessoas: dar carinho, dar cuidado, assistência médica, pessoal, psicológica. Tudo isso a máquina tem dificuldade.
É legal sempre pensar o quanto o seu trabalho hoje em dia requer essas três habilidades, porque se não requerer, é bom ligar um pequeno alerta. E no futuro, vão faltar problemas não estruturados? A máquina vai estruturar e o mundo vai acabar! Bem, existe, como eu falei, Hollywood, filmes que traçam esse cenário em que o negócio vai vindo, vai vindo e chega uma hora em que está encurralado. Isso é Matrix . Eu não acredito nisso, mas é o momento em que as máquinas ficam muito mais inteligentes do que o homem, e só nos resta entregar-nos a ela, entrar em uma Matrix. O nome da minha escola que eu fiz lá na NASA chama-se Singularity porque é baseado neste livro, nesta teoria do Ray Kurzweil, que é o reitor da escola: A Singularidade Está Perto. A singularidade é quando os homens transcendem a Biologia; quando a máquina fica tão mais inteligente do que a gente, e a gente se une a ela. É meio Matrix . É uma teoria dele. Não quer dizer que a minha escola prega isso; não é uma evangelização dessa teoria. É uma teoria que fala sobre o futuro. Eu não acredito muito que isso possa acontecer tão cedo. Por quê? Como eu falei, tem pessoas que acham que isso vai encurralando a gente. Mas, por outro lado, eu acho que novos problemas não estruturados surgem ao longo do tempo e fazem isso voltar um pouco para cá.
Nós somos muito bons em criar problemas para resolvê-los. Por exemplo: a própria Internet – lembrando que problema não é dificuldade; problema é oportunidade e desafio. Quantas novas oportunidades a Internet criou? Essa aqui de estar falando com vocês. Você pode estar em qualquer lugar do mundo, e a gente estar aqui se falando, trocando ideias. Isso é um novo problema que eu, para
resolver, aprendi técnicas de se fazer cursos on-line, como funciona, e resolvi esse problema e estou aqui agora. Esse azul representa novos problemas; são coisas para as quais não existem soluções ainda. O mundo está mudando muito rápido e
acelerado. É muito importante essa diferença. Não é só rápido; ele é acelerado também. Acelerado significa ficar cada vem mais rápido. Lá na Singularity, esse era o gráfico que resumia a Singularity University, representando a diferença entre um crescimento linear e um crescimento exponencial. Lembra-se de PA e PG? Progressão aritmética é linear, e progressão geométrica é o exponencial. As tecnologias crescem num ritmo exponencial, elas vão se duplicando. Por quê? Porque você sempre usa a tecnologia mais atual para criar a próxima e da próxima, você usa para criar outra. Você está sempre partindo de uma base maior para criar algo maior ainda; então ela cresce em exponencial; e nós pensamos de maneira linear. Isso faz uma diferença tão grande... Nós somos muito ruins em fazer previsões tecnológicas para o futuro porque pensamos de forma linear. Nós olhamos para o passado e observamos qual tem sido o ritmo de crescimento e pegamos esse ritmo e projetamos igualzinho, linearmente para frente. Só que a tecnologia não está nem aí para a sua forma de pensar. A tecnologia cresce de forma exponencial, em outro ritmo, criando um gargalo entre as duas coisas, que é o que se chama de dejupção, que é a diferença da nossa forma de prever o futuro e como as coisas acontecem. Tem que gente que pensa que essa história de que o mundo está mudando sempre foi assim: “Ah, o mundo sempre mudou. Na época do meu pai, ele falava isso também”. O mundo sempre mudou, mas, agora está, de fato, mais rápido e acelerado. Os problemas estão mudando
rápido e acelerado. Soluções antigas não resolvem problemas novos.
Criatividade é o que resolve problemas novos. Esses problemas em azul, que vão começar a aparecer, não tem solução em banco de dados prevista para eles. Nós temos que ser criativos para criarmos soluções, ou você pode esperar alguém criar, e você apenas acompanhar. Todo mundo fala que tem que seguir as tendências. Quem segue está atrasado. Seguir implicar estar atrás. Você precisa antecipar as tendências, ser o primeiro a resolver as tendências, ser o pioneiro nas coisas e não ficar sempre esperando alguém fazer para depois você seguir. O profissional diferenciado é aquele cara que não espera; ele resolve os problemas novos mesmo que não tenha soluções porque ele cria soluções para os novos ou até para os antigos. Portanto, fechando esse primeiro mito, “Criatividade é Coisa para Artistas, Publicitários e Inventores”, é um mito. Criatividade é coisa para quem tem problema, ou seja, todo mundo. Só por curiosidade, aquele paper que eu mostrei, que tinha o ranking das profissões, telemarketing é a mais ameaçada e a mais protegida, aquela que eles perceberam que é mais difícil a máquina simular e avançar, é recreational therapist (terapeuta recreacional). Nós, os comediantes. Nós somos terapeutas recreacionais. Por que eles estão em primeiro lugar? Porque, de fato, para entreter pessoas requer social intelligence: persuasão, influência, percepção das pessoas,
inteligência criativa, criar coisas novas, surpreender... Requer muito daquelas habilidades que eles colocaram como requisitos. Eu não estou falando só de comediante. Estou falando do cara que é recreador de um resort lá na Bahia. Uma máquina, um robô consegue recrear vinte pessoas? Cada pessoa com uma percepção diferente, uma motivação diferente, uma idade, uma faixa etária, um
tipo físico... Veja quanta percepção é necessária para engajar todo mundo, e a máquina não consegue. Então, eu estou protegido. E a pergunta que eu faço é: você está protegido? Eu queria fechar esse primeira aula com essa reflexão. É importante que você, de fato, reflita senão não estará levando o negócio a sério. Reflita: do que você faz hoje em dia – 100% do seu trabalho – quantos por cento são estruturados, lineares e programáveis e quantos por cento não? Requer o humano, requer criatividade? Pare para pensar um pouco nisso. Não existe número perfeito até porque isso é muito vago; você não consegue. Filosofe. Apenas para checar se a sua atividade requer mais ou menos criatividade, é mais automático. Quem sabe, um dia, um software ainda poderá te substituir. Por exemplo, advogado: requer persuasão e influência no tribunal, uma parte humana de criatividade, argumentação e tal. Ok. Mas, imagine se do outro lado tem um advogado que não tem essa parte humana, mas ele tem acesso instantâneo a todas as legislações dos tribunais do Brasil, com todas as decisões, todas as jurisprudências, e ele interpreta o problema, consulta na hora. É outro tipo de habilidade que ele tem e que é difícil porque requer mudança no mundo da advocacia. Se você faz advocacia de preencher “gapzinhos”, aquela advocacia industrial, em que é tudo muito igual, você está ameaçado. Não tem esse negócio de que toda profissão é garantida. Se você é um comediante que trabalha num portal de comédia e seu trabalho é o de catalogar piadas, você, na verdade, não está criando nada; está fazendo um trabalho linear, estruturado e programável. Uma vez que você definiu que uma parte dos seus problemas requer criatividade, como você está se saindo nessa parte? Você está se
saindo bem? Estão vindo demandas que requerem criatividade, e você está respondendo a elas com soluções-padrões. Aí, não adianta. Ou você está buscando sempre uma solução diferenciada e se diferenciando? Eu espero encerrar essa aula e que você esteja comigo na seguinte questão: Ok, criatividade é importante para mim. “Ah, mas eu trabalho com não sei o quê. É importante?” É. É importante para todas as atividades; umas, mais; outras, menos, porque toda atividade requer soluções de problemas, desafios e oportunidades. “Mas será que eu sou criativo?” Acho que você concordou agora que é imp ortante para se preparar para o futuro. Mas, será que você é criativo?
Bem, aqui encerramos o Mito do Artista. E esse pergunta – se você é criativo – eu vou responder no próximo mito, o Mito do Dom. Beleza? Um abraço!