Luc Ferry: “A felicidade não existe. Só a serenidade” Para o filósofo francês, todas as grandes filosofias tentaram faer com !ue os "omens #encessem seus medos. $o%e, a ecologia se &aseia na 'rolifera(ão 'rolifera(ão do medo Branca Nunes
Luc Ferry em seu escritório em Paris (Bassignac Gilles/Gamma) Todas Todas as filosofias, assim como as religiões, querem a mesma coisa sal!ar os "omens do medo que os im#ede de !i!er $em% &ó que as grandes filosofias s'o as doutrinas da sal!a'o sem eus e sem a f*% + #o#ularidade do filósofo francs Luc Ferry, -. anos, tam$*m * alicerada na originalidade de suas frases de efeito% Por eem#lo 0+ felicidade felicidade n'o eiste, o que eiste * a serenidade1% 2u 0Todas as grandes filosofias e religiões tentaram fa3er com que os "omens !encessem seus medos% 4o5e, a ecologia #ol6tica se $aseia na #rolifera'o do medo1% medo1% Lanada Lanada em 7..-, Aprender a viver , sua o$ra de maior sucesso, !endeu mais de 8..%... eem#lares em de3enas de idiomas% 9ntre seus :ltimos li!ros est'o Famílias, amo vocês e A tentação do cristianismo% ;inistro da 9duca'o da Frana de 7..7 a 7..<, foi o ideali3ador da lei que #roi$iu o uso de !*u #or estudantes muulmanas nas escolas #:$licas francesas% +lto, ca$elos negros e ondulados, Ferry e#=s, entre uma tragada e outra, um #ouco da teoria que mistura filosofia, #sican>lise e irresist6!eis #itadas de autoa5uda%
)ual * o maior o&st+culo felicidade- + felicidade n'o eiste% Temos momentos de
alegria, mas n'o eiste um estado #ermanente de satisfa'o% &e#araões, a morte de #essoas queridas, doenas e acidentes s'o ine!it>!eis% ? #or isso que a $usca #ela felicidade #lena n'o fa3 sentido% 2 que #odemos alme5ar * a serenidade, algo com#letamente diferente% &ó se atinge a serenidade !encendo o medo% ? o medo que nos torna ego6stas e nos #aralisa, que nos im#ede de sorrir e de #ensar de forma inteligente, com li$erdade% 2s filósofos gregos costuma!am di3er que o s>$io * aquele que consegue !encer o medo% medo da morte * o maior o&st+culo 'ara o "omem- 9istem $asicamente trs
grandes medos% 2 #rimeiro * a timide3% 9le a#arece, #or eem#lo, quando somos a#resentados a algu*m muito im#ortante, ou quando #recisamos falar em #:$lico% ? a #ress'o da sociedade% 2 segundo medo s'o as fo$ias% ;edo do escuro, de insetos, de ficar #reso num ele!ador% 2 terceiro * o medo da morte% Tememos mais a morte de #essoas que amamos do que a nossa #ró#ria morte% N'o me refiro a#enas @ morte $iológica, mas a tudo o que * irre!ers6!el% 2 cor!o do #oema "om=nimo de 9dgar +lan Poe eem#lifica isso #erfeitamente% Ae#ete a todo momento, como um #a#agaio, a e#ress'o 0nunca mais1% 9ssa * a morte dentro da !ida% Para uma criana, #ode ser o di!órcio dos #ais, 5> que nunca mais os !er> 5untos% 2 nunca mais, a irre!ersi$ilidade da !ida, nos d> a e#erincia da morte% + grande quest'o da serenidade, e n'o da felicidade, * como !encer esse medo% Toda a filosofia, desde 4omero e Plat'o at* &c"o#en"auer e Niet3sc"e est> $aseada na doutrina da serenidade% Al*m das fo&ias con"ecidas, existem as modernas- i!emos a sociedade do medo%
+os trs grandes medos que eu falei, adicionaCse outro, ti#icamente ocidental o medo que se desen!ol!eu com a ecologia #olitica% ;edo do eleito estufa, do $uraco na camada de o3=nio, do aquecimento glo$al, de micró$ios, da #olui'o, do fim dos recursos naturais% + cada ano, um no!o medo se adiciona a todos os outros medo da carne !ermel"a, da gri#e a!i>ria, da aids, do seo, do ta$aco, da !elocidade dos carros% 2s grandes ecologistas e os filmes que tratam do tema tm como o$5eti!o #rinci#al tra3er o medo% No li!ro O princípio da responsabilidade , do filósofo alem'o 4ans Donas, "> um ca#6tulo c"amado 4eur6stica do medo% Nele, o medo * descrito como uma #ai'o #ositi!a e :til% 9m toda a "istória da filosofia ocidental, o medo * o inimigo, * algo infantil, que fa3 mal% + ecologia in!erte essa tradi'o filosófica ao sustentar que o medo * o comeo de uma no!a sa$edoria e que, graas ao medo, os seres "umanos !'o tomar conscincia dos #erigos que eistem no #laneta% 2 medo n'o * mais !isto como algo infantili3ado, mas como o #rimeiro #asso no camin"o da sa$edoria% ? o que os ecologistas c"amam de #rinc6#io da #recau'o% Esso n'o quer di3er que os ecologistas este5am errados% 4> um com#onente de !erdade no que di3em, mas "> tam$*m muita mentira% N'o aceito a ideia de um mo!imento #ol6tico que se $aseie eclusi!amente no medo% )ual a diferen(a entre a ang/stia #ista 'ela 'sican+lise e 'ela filosofia- + filosofia e
a #sican>lise lidam com ang:stias distintas% + #sican>lise luta contra a ang:stia #atológica, o conflito entre o dese5o e a moral, uma tentati!a de reconciliar o indi!6duo consigo #ró#rio% No entanto, mesmo se ating6ssemos uma #erfeita sa:de mental, de#ois de 7. anos de an>lise $em sucedida, restaria a ang:stia metaf6sica% +6 comea a filosofia, que ensina a alcanar a sa$edoria no sentido da serenidade, n'o da felicidade%
!ue "+ na filosofia !ue a religião não tem- Tanto a grande religi'o quanto a grande
filosofia #retendem fa3er com que as #essoas deiem de ter medo% 9ssencialmente, o que a religi'o di3 * que, se algu*m tem f*, se acredita em eus, n'o #recisa ter medo% N'o #recisa, #or eem#lo, temer a morte% +s religiões s'o a doutrina da sal!a'o #ela f*% Todas as filosofias querem a mesma coisa sal!ar os "omens do medo que os im#ede de !i!er $em% &ó que as grandes filosofias s'o as doutrinas da sal!a'o sem eus e sem a f*% 0om a dissemina(ão do medo, ficou mais dif1cil su'er+2lo- + #rimeira grande res#osta a essa #ergunta nasce na Odisséia, de 4omero% 2 #oema conta como lisses
!encer> os maiores medos da eistncia "umana o medo do #assado e do futuro% lisses, que !i!e em taca, uma cidade grega, com sua mul"er Pen*lo#e, #recisa #artir #ara a Guerra de Tróia% Fica 7. anos longe de casa, imerso no caos da guerra% + "istória mostra como lisses !ai do caos @ "armonia, da guerra @ #a3, do ódio ao amor de Pen*lo#e% urante 7. anos ele se agarra ao #assado, ou ao futuro, @ nostalgia de taca, ou @ es#erana de !oltar a taca% Huando retorna @ terra natal de#ois de tanto tem#o, #ode, enfim, !i!er no #resente% 2s filósofos gregos di3iam que o s>$io * aquele que consegue #ensar menos no #assado e ter menos es#erana% &e eu me se#arar, se mudar de casa, se trocar de em#rego% 2 #assado 5> aconteceu% 2 futuro * uma ilus'o% Por !ue o t1tulo do seu li#ro * Aprender a viver - 4ou!e uma mudana no ensino da
filosofia, uma guinada da #r>tica #ara o discurso decorrente da !itória do cristianismo so$re o mundo ocidental% + #artir da Edade ;*dia a religi'o assume um #a#el mais im#ortante que a filosofia% 9la det*m o mono#ólio do que * a !ida $eata, do que * a sal!a'o, e #ro6$e a filosofia de cuidar dessa quest'o% ? a6 que a filosofia se torna a#enas um discurso, uma an>lise de conceitos e n'o mais uma #r>tica que tem #or o$5eti!o ensinar a !i!er% 9scol"i o t6tulo Aprender a viver #ara difundir a ideia de que a filosofia n'o * a#enas um discurso, mas um a#rendi3ado da !ida% Aesumidamente, a filosofia * uma concorrente da religi'o e da #sican>lise% ensino da filosofia de#eria ser o&rigatório nas escolas- Tudo de#ende da forma
como ensinamos% Enfeli3mente, a maior #arte do tem#o, ao menos na Frana, redu3imos a filosofia a um ti#o de instru'o ci!il% +#resentamos aos alunos questões sem res#ostas #oss6!eis 02 que * o $eloI1, 0o que * o $emI1, 0o que * o tem#oI1% Esso n'o tem nada a !er com a filosofia% ? uma im$ecilidade, uma estu#ide3% ? mel"or n'o ensinar filosofia do que ensinar dessa forma% &e um dia quisermos que as crianas #ensem #or si #ró#rias, #recisamos ensinar a "istória de grandes !isões do mundo% Jontar, #or eem#lo, que na filosofia eistem cinco grandes res#ostas #ara a #ergunta 0o que * a !ida $oa1 a grega, a crist', a do "umanismo moderno, a de #ensadores como Niet3sc"e e a contem#orKnea% Esso * a#aionante% + filosofia n'o consiste em tentar construir um argumento #ara res#onder a uma quest'o a$surda% + filosofia * a#render a !i!er% 0omo se ensina#a filosofia nas grandes escolas gregas- +o contr>rio do que ocorre
nas nossas, nas escolas gregas n'o "a!ia discursos, mas eerc6cios de a#rendi3ado da sa$edoria% m eem#lo na escola estóica, no s*culo E +%J%, en'o de J6tio, o #rimeiro estóico, #edia a seus alunos que #egassem um #eie morto na feira e o amarrassem em uma coleira #ara le!>Clo #ara #assear como se fosse um cac"orro% Huando #assa!am, quase todos ol"a!am e 3om$a!am% 2 que #retendiamI Hue os alunos n'o temessem o que os outros di3iam% 2 s>$io n'o * a#enas aquele que !ence o medo do ol"ar al"eio, do que os outros #ensam% 2 s>$io n'o se im#orta com as
con!enões artificiais dessas 0$oas #essoas1% 9le des!ia o ol"ar #ara concentrarCse na nature3a, no cosmos% i!e em "armonia com a ordem natural, com ele #ró#rio e com o mundo% 0omo ministro da 3duca(ão, o sen"or 'ro#ocou contro#*rsia ao &anir o uso de #*u 'elas estudantes mu(ulmanas e do solid*u 'elos %udeus nas escolas '/&licas. !ue o sen"or 'ensa "o%e dessa 'olêmica- Na Frana, a #olmica n'o foi t'o grande quanto
nos outros #a6ses que n'o entenderam a nossa #osi'o% Temos a maior comunidade 5udaica do mundo, de#ois de Esrael e No!a Mor, assim como temos a maior comunidade muulmana da 9uro#a% e#ois da segunda intifada (7...), que aguou o conflito entre israelenses e #alestinos, "ou!e um aumento enorme de atos !iolentos dentro das escolas% +s crianas muulmanas se sentiam #alestinas, em$ora fossem francesas% 9 os 5udeus retruca!am como sendo israelenses% ;esmo sendo, antes de tudo, franceses% LimiteiCme a di3er que, no ensino fundamental, at* os O- anos, todos os sinais religiosos esta!am #roi$idos% ;'o só o !*u islKmico, mas o qui#> e a cru3% + decis'o se limitou @s crianas, n'o atingiu as ruas, os adultos% 2 #rofessor n'o #recisa sa$er qual * a religi'o dos alunos, se s'o 5udeus, católicos ou muulmanos% +o mesmo tem#o, temos que lutar #ela li$erta'o das nossas mul"eres e #roteger nossas crianas% 2 islamismo radical * o na3ismo dos nossos dias% Por !ue os maiores filósofos do mundo são gregos e alemães- Tanto no caso grego,
quanto no alem'o, o grande moti!o * a #roimidade entre religi'o e filosofia% + filosofia sem#re foi a seculari3a'o e a laici3a'o de uma religi'o 5> eistente% + filosofia grega, #or eem#lo, * uma !ers'o secular e laica da mitologia grega% a mesma forma, toda a filosofia alem' * uma a#resenta'o racional da teologia #rotestante de Lutero% +o afirmar 0eu n'o quero ler a $6$lia com a tradu'o latina1, 0eu desconfio daqueles que est'o no aticano1, Lutero resumiu o grande gesto do #rotestantismo a $usca #ela !erdade a$soluta% 9sse gesto a$arca toda a filosofia alem'% +ntes da filosofia, os dois #o!os !i!eram momentos muito im#ortantes na religi'o% oc n'o tem isso nos 9stados nidos, nem na Frana% +o contr>rio do que #ensam os franceses, escartes n'o * um $om filósofo%
+ fam6lia !irou sagrada 2 filósofo francs que se tornou $estCseller ao e#or suas id*ias de forma sim#les di3 que os fil"os tomaram o lugar da f* e das ideologias na !ida es#iritual do "omem moderno Ga$riela Jarelli Pierre erdy/+FP
"No Ocidente, não se aceita mais morrer por um deus, uma pátria ou uma revolução. Mas não coneço pai !ue não arriscaria a vida pela prole"
2 francs Luc Ferry, de 8 anos, * um caso raro de filósofo que transforma seus li!ros em $estCsellers% &ua o$ra Aprender a iver, lanada em 7..-, !endeu 8.. ... eem#lares, <. ... deles no Brasil% &eu segredo * com$inar forma'o acadmica sólida com um teto le!e e $emC"umorado% Ferry se alin"a com o c"amado "umanismo secular% 9ssa corrente da filosofia #ro#õe o uso da ra3'o cr6tica em !e3 da f* na $usca de res#ostas #ara os assuntos que mais intrigam a "umanidade, como o amor, a morte e a #rocura da felicidade% Ferry tam$*m atua na #ol6tica% Jomo ministro da 9duca'o da Frana de 7..7 a 7..<, foi o mentor da #olmica lei que $aniu o uso de !*u #elas estudantes muulmanas nas escolas #:$licas francesas% +tualmente, ele n'o ocu#a cargo oficial, mas sa$eCse que o #residente francs Nicolas &aro3y costuma ou!ir suas o#iniões com aten'o% + no!a o$ra de Ferry, Famílias, Amo ocês, aca$a de c"egar @s li!rarias $rasileiras% Nela, o filósofo defende a id*ia de que a fam6lia * a :nica coisa que resta de sagrado no mundo% Ferry deu a seguinte entre!ista a 9D+% 3m seu no#o li#ro, Famílias, Amo Vocês , o sen"or argumenta !ue a fam1lia su&stituiu a religião como entidade sagrada no mundo moderno. 4sso não contradi a constata(ão do aumento no n/mero de fi*is em di#ersas igre%as de todo o mundo-
9ssa corrida #ara as igre5as n'o c"ega nem #erto do que acontece quando o assunto * fam6lia% Pergunte aos mil"ões desses no!os fi*is se eles morreriam #elo seu deus% + res#osta ser> n'o% + fam6lia * a :nica entidade realmente sagrada na sociedade moderna, aquela #ela qual todos nós, ocidentais, aceitar6amos morrer, se #reciso% 2s :nicos seres #elos quais arriscar6amos a !ida no mundo de "o5e s'o aqueles #róimos de nós a
fam6lia, os amigos e, em um n:mero $em menor, #essoas mais distantes que nos causam grande como'o% No s*culo QQ, o ser "umano !irou sagrado% !ue o sen"or considera sagrado-
Para entender o que * sagrado * #reciso con"ecer a "istória do sacrif6cio, ou se5a, #or quais ra3ões os "umanos 5> aceitaram sacrificar a #ró#ria !ida% No fundo, esse * o significado do sagrado algo #elo qual !ale a #ena morrer% 2 "omem a$riu m'o da !ida #or trs grandes causas atra!*s dos tem#os #or eus, #ela #>tria e #elas re!oluões% ;atou e #ro!ocou a morte de mil"ões de #essoas em guerras religiosas, $atal"as nacionalistas e em$ates re!olucion>rios% 4o5e, no 2cidente, ningu*m mais aceita morrer #or um deus, um #a6s ou um ideal% 4>, sim, religiosos etremistas no Esl'% 4> gente na J"ec"nia ou na 2ss*tia dis#osta a morrer #ela na'o% ;as garanto que n'o "> cidad'os com tais intenões na +leman"a, na Frana ou nos 9stados nidos% 9m contra#artida, n'o con"eo #ai que n'o arriscaria a !ida #or seus fil"os% 2s fil"os se tornaram o #rinci#al canal #ara o "omem tentar transcender es#iritualmente% +s crianas su$stitu6ram as instituiões des#edaadas que citei acima% s 'ais de antigamente ama#am menos seus fil"os !ue os de "o%e-
2 amor dos #ais #elos fil"os * instinti!o e descrito desde a +ntiguidade em mitos e lendas% 9sse sentimento, #or*m, esta!a longe de ser uma #rioridade #ara os casais% 2 escritor francs ;ic"el de ;ontaigne (ORRCOS7), cele$rado como grande "umanista, confessou n'o se lem$rar do n:mero eato de fil"os seus que morreram enquanto ainda eram amamentados% 2 filósofo su6o DeanCDacques Aousseau (O8O7CO88), um dos #róceres do Eluminismo, a$andonou seus cinco fil"os sem dó nem #iedade% 9sses eem#los #arecem $i3arros, mas temos de lem$rar que, at* a Edade ;*dia, n'o "a!ia sequer o conceito de infKncia% Foi entre os s*culos QEE e QEEE que a infKncia #assou a ser definida como um #er6odo de fragilidade e ingenuidade, no qual se de!e #ro!er as crianas de mimos e carin"os% !ue 'ro#ocou essas mudan(as-
Praticamente todas as relaões familiares da sociedade contem#orKnea tm origem no casamento #or amor, que nasceu com o ca#italismo% +ntes disso, o casamento se destina!a a atender a uma s*rie de interesses% 2 sentimento era o que menos conta!a% Jasa!aCse #ara dar continuidade @ fam6lia, manter a lin"agem e a #ro#riedade% Jom o ca#italismo e tudo o que * deri!ado dele, como o sal>rio e o mercado de tra$al"o, uma no!a ordem se esta$eleceu% +s mul"eres, antes confinadas em suas casas, foram #ara as cidades tra$al"ar na casa dos $urgueses, como em#regadas, ou se tornaram o#er>rias nas f>$ricas% 9ssa mul"er comeou a gan"ar o seu din"eiro U #ouco, mas seu U e a conquistar a inde#endncia% Jom isso, "ou!e uma grande ru#tura% + #erce#'o a res#eito dos fil"os e das crianas em geral tam$*m sofreu grande modifica'o% A fre!5ência com !ue os casais "o%e se di#orciam e iniciam no#os relacionamentos não desmonta o argumento de !ue a fam1lia * sagrada-
9ssa id*ia n'o se sustenta nem do #onto de !ista "istórico nem do filosófico% 4> !>rios argumentos que desmentem os clic"s "o5e #ro#agados so$re o decl6nio do casamento e o fim da fam6lia nuclear% + fam6lia na Edade ;*dia era muito mais di!idida do que "o5e% 4a!ia muito mais #ais e m'es so3in"os cuidando de seus fil"os% Por causa da ele!ada taa de mortalidade, as #essoas se casa!am mais !e3es e tin"am mais fil"os com outros #arceiros% Huem alardeia o decl6nio da institui'o familiar esquece que o di!órcio foi in!entado 5unto com o casamento #or amor% + #artir do momento em que a uni'o entre
duas #essoas se am#ara a#enas na lógica do sentimento, $asta que o amor se a#ague #ara que outro amor se im#on"a% + fam6lia $urguesa * a#arentemente est>!el, mas na maioria dos casos est> carcomida #or infelicidades% 9la * inse#ar>!el de outra institui'o a infidelidade% ;uitas mul"eres sacrificam a #rofiss'o e, em seguida, a !ida afeti!a #or um marido que as engana% 6ma sociedade sem religi7es e sem ideologias, como o sen"or a #islum&ra, não * contr+ria 1ndole "umana-
"#uem alardeia o declínio da $amília es!uece !ue o div%rcio e 5eito nen"um% ;uitas religiões e ideologias fi3eram $oi inventado &unto com o as sociedades e os indi!6duos sacrificarCse #or ideais casamento por amor. #uando a in:teis% 2 sociólogo alem'o ;a Ve$er costuma!a união se ampara apenas no di3er que era #oss6!el encontrar os !alores tradicionais sentimento, basta !ue o amor se do sacrif6cio no código do mar% &egundo esse código, o apa'ue para !ue outro amor se comandante de um na!io de!e morrer com sua impona"
em$arca'o naufragada, mesmo quando os #assageiros e a tri#ula'o se sal!am% Para continuar a met>fora, eu diria que "o5e ningu*m mais est> dis#osto a morrer #elo casco do na!io, mas somente #elos #assageiros que ele a$riga% Esso * um grande #rogresso% N'o ten"o nen"uma saudade dos etremistas religiosos ou nacionalistas que #ro!ocaram a morte de . mil"ões de #essoas na EE Guerra%
sen"or argumenta !ue o amor d+ sentido #ida. A &usca desenfreada 'elo amor não causa mais sofrimento-
+ condi'o do "omem moderno * mais tr>gica do que nunca% 2 casamento #or amor nos condiciona a amar mais e mais% + #erda do ser amado tornouCse um luto% Esso só aumenta o descontentamento do mundo ocidental, no qual o "omem se transformou num ser eternamente insatisfeito% 3ntão o sen"or concorda com a tese de muitos filósofos contem'or8neos de !ue o "omem nunca foi tão infeli-
4> um descontentamento generali3ado no mundo moderno% + sociedade se interessa mais #elos meios em si do que #elos fins% m ol"ar so$re o Eluminismo a5uda a com#reender esse no!o mundo% +s mentes mais $ril"antes do s*culo QEEE $usca!am nas cincias e nas artes emanci#ar a "umanidade do o$scurantismo da Edade ;*dia% Tudo era feito com o o$5eti!o de, no fim, alcanar a li$erdade e a felicidade% 4o5e, o mo!imento das sociedades n'o se ins#ira em ideais su#eriores em termos de ci!ili3a'o% + sociedade se mo!imenta no sentido de esta$elecer a concorrncia acirrada entre todos os indi!6duos, sem o$5eti!os finais claros% + "istória n'o se mo!e #ela as#ira'o a um mundo mel"or, mas #ela a'o mecKnica da com#eti'o% 2 ito #essoal * o que im#orta% Precisamos ter #oder, din"eiro, um carro no!o, uma mul"er no!a, os fil"os mais $onitos, tudo #ara conseguir o recon"ecimento al"eio e nos sentir su#eriores aos outros% Jomo di3ia o filósofo romano &neca, enquanto es#eramos !i!er, a !ida #assa ra#idamente% 9entro dessa 'ers'ecti#a, a felicidade * 'oss1#el-
2 filósofo alem'o Emmanuel Want tem um ótimo argumento so$re isso% &e a felicidade fi3esse #arte da nature3a "umana, eus n'o nos teria dado a inteligncia% esde sem#re o ser "umano !i!e seus conflitos e tenta gerenci>Clos da forma que #ode% 4o5e, !i!emos na era do "i#erconsumo% 2 que nos d> a sensa'o de #rogredir, de ser feli3es, #elo
menos momentaneamente, * com#rar, com#rar e com#rar% Jlaro que isso n'o $asta% + lógica contem#orKnea aumenta a insatisfa'o e nos incute medos cotidianos e recorrentes% )ue medos acometem o "omem contem'or8neo-
Nós, ocidentais, temos medo de tudo% a !elocidade, do seo, do >lcool, do ta$aco, da carne !ermel"a, de frango, da 9uro#a, do efeito estufa, da glo$ali3a'o, das notas escolares das crianas, e #or a6 !ai% Todo ano se acrescenta um no!o medo aos anteriores% Na *#oca em que era ministro da 9duca'o, fiquei com medo quando !i 5o!ens franceses que mal tin"am sa6do da uni!ersidade fa3endo #asseatas em defesa da a#osentadoria deles% 9m meus anos no go!erno, nunca rece$i uma delega'o sindical que n'o comeasse a con!ersa com um X&en"or, estamos muito #reocu#adosX% 9 n'o "> nen"uma ironia nisso% 2 medo * uma das #aiões dominantes das sociedades democr>ticas% 9le n'o eistia dessa forma no Eluminismo% Huando eu era criana, era feio ter medo% &u#er>Clo era um dos marcos da c"egada @ idade adulta% 4o5e, ter medo n'o im#lica cul#a% ? atra!*s do medo que os mo!imentos ecológicos radicais, #or eem#lo, se im#õem% "A sociedade atual não se 0omo os medos cotidianos 're%udicam a sociedade- inspira em ideais superiores em Hualquer ameaa, como o terrorismo, o aquecimento termos de civili(ação, como no glo$al ou a gri#e a!i>ria, des#erta uma neurose glo$al% )luminismo. O !ue nos dá a sensação de pro'redir é + ang:stia que essa "isteria causa indi!idualmente * comprar, comprar, comprar. mais #re5udicial do que a ameaa a que ela se contra#õe% e5a o eem#lo do aquecimento glo$al% +os *ssa l%'ica apenas aumenta nossa insatis$ação" ol"os das no!as ideologias, a nature3a * admir>!el e a
cincia, ameaadora e mal*fica% 0omo ministro da 3duca(ão, o sen"or foi acusado de racista ao &anir o uso de #*u 'elas estudantes mu(ulmanas e de solid*u 'elos %udeus nas escolas '/&licas. sen"or tomaria essa medida no#amente-
Jertamente% 9m #rimeiro lugar, essa lei te!e a a#ro!a'o de 8Y dos franceses% Foi a#oiada tanto #ela direita quanto #ela esquerda, o que * muito raro na Frana, uma na'o singular% Nela con!i!em enormes comunidades 5udaicas e muulmanas% &ó "> mais 5udeus em Esrael e nos 9stados nidos% 9stimamos que eistam mil"ões de muulmanos no #a6s% +#ós o in6cio da segunda intifada, !imos aumentar e#onencialmente os conflitos entre os dois gru#os% 2 m6nimo que #oder6amos fa3er era deiar nossas crianas fora desse clima de guerra% N'o foi uma medida antiCreligiosa, muito menos racista, mas de #romo'o da #a3% Seu li#ro anterior, Aprender a Viver , foi um enorme sucesso mesmo tratando de um assunto !ue não atrai muitos leitores, a filosofia. A !ue o sen"or atri&ui esse êxito-
2 ser "umano #recisa da filosofia mais do que imagina% + filosofia grega surgiu #ara a5udar o "omem a su#erar seus medos e ang:stias e, assim, encontrar a serenidade% 2s gregos #ro#un"am a refle'o como eerc6cio de sa$edoria% +s #rinci#ais correntes filosóficas s'o, na !erdade, grandes doutrinas de sal!a'o, assim como as religiões% + diferena entre religi'o e filosofia * que a #rimeira tenta encontrar a #a3 interior e a felicidade atra!*s da f*, enquanto a outra $usca o mesmo #ela ra3'o, sem a inter!en'o de um deus% ;ais do que nunca, !i!emos num mundo no qual a religi'o n'o * suficiente #ara dar ao "omem as res#ostas que ele #rocura%