Resumos Literários – Conhecimento Específico A Revolução Informacional – Jean Lojkine
Uma Abordagem Sistêmica da Revolução Informacional Jean Lojkine
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sociais de produção e agindo, com uma necessária autonomia, sobre a estrutura social?
forma capitalista, a antiga divisão do trabalho, destrói as garantias vitais, conduz às periódicas hecatombes do desemprego. Entretanto, para além das catástrofes que originam a grande indústria, “impõe” à
É verdade que a revolução do maquinismo ainda hoje é dominante - mas, ao mesmo tempo, ela está ultrapassada por uma nova revolução tecnológica radicalmente diferente. A revolução informacional abriga potencialidades de ultrapassagem das divisões atuais entre trabalhadores produtivos e trabalhadores improdutivos de mais-valia, trabalhadores da produção material e trabalhadores assalariados dos serviços, cujo número, em
sociedade “a necessidade de reconhecer o
1867, era ínfimo e, pois, “insignificante,”
trabalho variado” e o desenvolvime nto das
segundo a expressão do próprio Marx: “nos
aptidões do trabalhador: ela “obriga a sociedade, sob pena de morte, a substituir o indivíduo, operador de uma função produtiva de detalhe, pelo integral, capaz de enfrentar as exigências mais
estabelecimentos de ensino, os professores podem ser simples trabalhadores
Ao mesmo tempo em que a indústria moderna requer mudanças no trabalho, “a
fluidez de funções ”, “a mobilidade universal do trabalhador”, ela reproduz, sob sua
diversificadas do trabalho”. Em 1867, Marx só tem como exemplo a “legislação” fabril
que regulamenta o trabalho feminino e infantil, primeira concessão arrancada ao capital, simulacro de um verdadeiro ensino politécnico. Mas o conceito de potencialidade tecnológica contraditória já nascia. Igualmente, verificamos a importância dos modos de “combinação social” das
formas produtivas materiais e humanas: a divisão do trabalho, os resultados científicos, as relações ciências/tecnológicas, para Marx, fazem parte também também das forças forças produtivas. Mas, se a ampliação do conceito justifica-se em si mesma, o problema crucial permanece o da relação entre estes diferentes elementos do complexo. Existe ou não existe simetria entre a ação das forças produtivas materiais e a das forças produtivas humanas? Como conceber forças produtivas simultaneamente inervadas pelas relações
assalariados para os proprietários.” (...)
Todos esses fenômenos da produção capitalista, neste domínio, são tão insignificantes, se comparados ao conjunto da produção, que se pode deixá-los inteiramente de lado” (K. Marx, 1974, 1,
480). Confundindo as linhas de transmissão de usinagem dos anos 60 com unidades flexíveis assincrônicas, muitos sociólogos chegaram a identificar automação e sistema mecânico, pensando a eletrônica apenas como aperfeiçoamento do princípio de continuidade dos fluxos: “A automação não
é um fenômeno novo (...). Máquinas programadas que substituem o trabalho efetuado manualmente existem praticamente desde o surgimento da indústria. Os historiadores do maquinismo do século XIX, como Ure ou Babbage, descrevem detalhadamente (...) os automatismos das séries de operações efetuadas mecanicamente por máquinas”.
A informática e a eletrônica teriam, apenas, “ampliado” a automação de tarefas
Resumos Literários – Conhecimento Específico A Revolução Informacional – Jean Lojkine a novos domínios, como o burocrático, sem introduzir uma ruptura significativa com o panorama dos tempos de Babbage ou Ure? É impossível uma confusão mais completa entre automatismo e automação - entre o autômato de Vaucanson e o comando à distância de um avião ou de processos químicos por computador. É preciso, pois, cuidar para, aqui também, não sucumbir ao mito proudhoniano que vê na máquina uma espécie de recomposição espontânea de funções do trabalho humano. Ofício polivalente destinado a operários polivalentes, o processo Jac-quard foi certamente utilizado pelos artesãos lioneses sem colocar em causa sua qualificação e sua polivalência, o que remete à relação de forças muito específica que eles souberam impor, até 1930, aos comerciantes capitalistas. Contudo, é preciso notar, que, ainda aqui, estas alternativas organizacionais não afetam o fundamento capitalista da mecanização, que é a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, fabricação e concepção. As três fases citadas permanecem, realmente, circunscritas à cooperação horizontal do trabalho - não concernem à cooperação vertical entre os trabalhos de organização, gestão, concepção e os trabalhos de fabricação (enriquecimento do trabalho). O que está em jogo, tanto aqui como em outros confrontos, é a tradução social das novas competências requeridas: como elas serão reconhecidas nas classificações profissionais? O“chefe” é identificado a um
técnico, por vezes a um gerente, ou permanece confinado no escalão operário? Quantos operários se beneficiarão da formação que confere o certificado profissional de chefe de instalação? E
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especialmente: estas questões poderiam ser colocadas na oficina de montagem manual? Entre as informações operacionais (de detalhe) e as informações estratégicas não existe apenas, de fato, nas redes informáticas, um fosso que separa os que comandam dos que executam. A própria complexidade das operações nas novas instalações automatizadas implica que o operador, para evitar avarias que acarretam custos altíssimos, disponha, em seus terminais, de todas as informações concernentes aos incidentes, tenham acesso aos dados estocados e tratados, mas, também e sobretudo, possam antecipar os incidentes, diagnosticá-los, otimizar o funcionamento dos equipamentos - e, muito especialmente, possam intervir sobre a organização e a gestão . Está dada aqui uma pressão para começar a ultrapassar as divisões hierárquicas e substituí-las por gradações flexíveis entre especialidades e campos de intervenção.
O DESAFIO DO CONTROLE DA INFORMAÇÃO
Propiciando uma economia maciça e sistemática dos meios materiais utilizados (miniaturização dos componentes eletrônicos, poupança de energia), as novas tecnologias da informação (ligadas às biotecnologias) favorecem as aplicações em tempo real, abre a possibilidade de funcionamentos interativos e de diálogos homem-máquina (P. Boccara, 1984). Simultaneamente, o deslocamento, para os materiais, de certas funções cerebrais confere uma importância crescente às funções de informação que reclamam trabalho intelectual e comunicação (e aí se
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incluem os espaços de produção) portanto, não se pode separar a transformação da natureza material do grande desenvolvimento das funções informacionais.
organizacionais? Que relações de poder emergirão destas revoluções nas funções envolvidas? Aí reside, para nós, o desafio posto pelas Novas Tecnologias da Informação (NTI).
De um lado, no “sistema” de tipo
A automatização do trabalho do tratamento de dados não provocará, portanto, nenhuma modificação na estrutura tripartite fundamental e inerente.
parsoniano, tem-se um maquinismo social funcionalista que só propicia autocorreções, com os desvios e as anomias jamais ameaçando a sua reprodução; de outro, tem-se um jogo aleatório de agentes e atores “livres” (para trocar e discutir), do
qual não se sabe como se insere nos constrangimentos sistêmicos e como pode agir sobre eles.
MÁQUINAS PARA INFORMAR OU INSTRUMENTOS PARA PENSAR
A revolução industrial sabe-se, caracterizou-se pela divisão entre aqueles que tinham a tarefa de transformar a matéria e aqueles que tratavam a informação; mas o próprio tratamento da informação subdividia-se em, pelo menos, três níveis; o trabalho do tratamento estandartizado da informação - que podia estar ligado ao contato com o cliente, o usuário; o empregado do escritório exercia esta função; o trabalho de seleção e de interpretação das informações remetidas aos “quadros”
encarregados de decisões operacionais (quadros intermediários e quadros funcionais); e, enfim, o trabalho de elaboração das decisões estratégicas (quadros de direção). Em que medida uma tecnologia pode liberar estes diferentes fluxos de informação e estas funções
- a eficácia do sistema de informação supõe, pois, que o output do sistema seja “pequeno em relação a seu input, de
maneira que ele economize a atenção, em vez de solicitá-la mais” (H. A.Simon, 1983). Resta saber se a inteligência humana pode ser simulada por um aparelho construído segundo uma lógica binária, discreta, incapaz de aprender especialmente o conjunto de processos analógicos que supõem a continuidade, mas também as rupturas diacrônicas, a contradição, a ambivalência, a ambiguidade. É claro que não se deve negar o caráter especulativo e idealista da sua contribuição, mas ela tem o inegável mérito de desvelar, para além de uma pseudoneutralidade técnica, os pressupostos behavioristas que orientam inúmeras pesquisas sobre a inteligência artificial e os sistemas inteligentes. Com a inteligência artificial (IA), e levando em conta a natureza específica do que o programa objetiva (capacidades humanas de julgamento, de diagnósticos, de cálculo etc.), é pertinente indagar se a objetivação, pela primeira vez, não é também uma possibilidade de parceria, de troca entre homem e uma máquina - uma “prótese
intelectual”.
Prolongando
o
desenvolvimento maciço de serviços para economizar materiais, assistir-se-ia aqui ao
Resumos Literários – Conhecimento Específico A Revolução Informacional – Jean Lojkine início da substituição dos homens por meios materiais (P. Boccara, 1984). O autônomo, produto do artífice humano, é aqui o modelo epistemológico de uma razão analítica capaz, de acordo com Hobbes, “de conceber uma soma total a partir da adição das partes”; sua utilização
metafórica, através da imagem do artefato, permite a H. Simon vincular a estrutura do pensamento à dos sistemas sociais cuja hierarquia organizacional (“uma estrutura
articulada em que as partes se encaixam mutuamente”) repousa, como o Levi atã, na estabilidade e no equilíbrio complexo entre dominantes e dominados, unidos por um “pacto” social que transforma os sujeitos humanos em “atores” dotados de “papéis”.
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recomposições - cada vez mais sistemáticas - do trabalho dos operadores. “Na
era
da
automatização,
da
robotização e da sociedade da informação, a competitividade das empresas está hipotecada à inteligência dos assalariados, à sua iniciativa, ao seu senso de responsabilidade e de antecipação (...). A capacidade nominal de uma máquina e a cronometragem das tarefas nada significam quanto à eficácia produtiva (...). A nova produtividade, denominada global, depende, inteiramente, da qualidade da nova relação homem/máquina, capital/trabalho. Se, nesta relação, houver recusa, fratura, ignorância, tensão (...) “a resultante será a perda da
INFORMAÇÃO E PODER: REVOLUÇÃO INFORMACIONAL E REVOLUÇÃO ORGANIZACIONAL
O desenvolvimento das máquinas de tratamento da informação não reduziu os confrontos de poder que estão na base das grandes organizações. De certo modo, este debate se encontra na utilização que se fez do conceito de retroação (feedback), nascido da teoria da informação e da cibernética, para explicar as regulações sociais e organizacionais. Tomemos, por exemplo, os
célebres
“círculos
competitividade”.
Mas os limites da intervenção dos assalariados sobre a gestão não dependem apenas do tempo tornado disponível para as atividades de manipulação e de tratamento estandartizado da informação. Forças sociais podem ter interesse em pressionar esse tempo disponível para buscar uma nova intensificação do trabalho e, então, reforçar um controle mesquinho sobre o trabalho dos operadores.
viciosos
burocráticos” (M. Crozier, 1963).
Os círculos viciosos das Novas Tecnologias da Informação (NTI), nas grandes empresas capitalistas geridas segundo a lei do lucro são obstáculo estrutural: a ausência de uma verdadeira descentralização, de um verdadeiro questionamento da estrutura primordial do poder informacional, malgrado as
A INFORMAÇÃO É UMA MERCADORIA?
A tese da “industrialização” da
informação conduz, bem ou mal, a identificar o tratamento da informação (inclusive o tratamento informático) como aquele que se dá à matéria na grande indústria capitalista. Por isso, os defensores da tese da industrialização da informação
Resumos Literários – Conhecimento Específico A Revolução Informacional – Jean Lojkine reconhecem o que sempre diferenciou o trabalho burocrático mais aborrecido do trabalho
industrial
em
série:
“Nos
escritórios, raramente a máquina impõe seu ritmo àquele que a utiliza. Mesmo nas formas mais” industrializadas “do trabalh o burocrático, como nas seções de datilografia, o ritmo do trabalho depende dos próprios empregados e do controle exercido pela hierarquia e nunca das máquinas. Neste sentido, uma seção de datilografia se parece mais a uma manufatura que a uma cadeia de montagem, na qual as cadências podem depender diretamente do ritmo de uma” esteira “(A. Chenu, 1990).
Quando os critérios capitalistas de avaliação da produtividade entram em crise, em função do desenvolvimento de atividades econômicas nas quais a qualidade dos serviços impõe-se sobre o rendimento em volume e sobre a taxa de ocupação da mão-de-obra, a economia das sociedades não-mercantis adquire um interesse inteiramente diverso. Já não mais
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triagem e pagamento) -, é compreensível que se torne inútil esperar da mera junção de normas mercantis e normas nãomercantis uma modificação decisiva do jogo de forças do mercado em proveito de normas não-mercantis ou mistas (mas predominantemente não mercantis). Evidentemente, não se trata de ocultar as constrições objetivas que se impõem a todos os atores, inclusive às empresas multi-nacionais: a revolução informacional é também uma força material, na medida em que as exigências de parceria e de circulação de informação científica são, hoje, um componente maior e incontornável da eficácia das cooperações entre laboratórios e empresas. Aqui, reencontramos a especificidade da gênese e da circulação das inovações na empresa nos procedimentos transversais de gestão de projeto. O CONSÓRCIO ENTRE INFORMAÇÃO E PRODUÇÃO
à moda das “robinsonadas” dos séculos
A tese da substituição do “valor -
XVIII e XIX, com as quais fatalmente se naturalizam as sociedades não-mercantis; e sim para melhor compreender a racionalidade de uma sociedade em que a produção material é dominada pela prestação social e pelas relações diretas entre os homens.
trabalho” da sociedade industrial pelo saber (abstrato), na sociedade “informacional”,
tem duas dimensões. De um lado, ela pretende que a própria automação tenha anacronizado a medida capitalista do progresso técnico pelo aumento da maisvalia relativa, em proveito do “nível geral da ciência e do progresso da técnica” ( K. Marx,
O AVANÇO DO NÃO-MERCANTIL NOS SERVIÇOS
Na medida em que “a difusão dos
resultados está submetida às regras opostas da partilha e da confidencialidade” – com o círculo de participantes na pesquisa opondo-se àquele de empresas que, fora dela, receberão as informações (após
1980, 2,p. 192-193). De outro, ela postula que o saber abstrato substituiria a experiência do trabalho e que, por consequência, os cientistas e os engenheiros imporiam as suas concepções aos produtores e aos operadores, reduzidos assim a uma obediência passiva (segundo as concepções de Taylor, mas também já de Ure).
Resumos Literários – Conhecimento Específico A Revolução Informacional – Jean Lojkine É claro que não se trata de idealizar um sistema de organização que também possui os seus limites, na medida em que é subordinado à lógica da rentabilidade. A imagem tradicional da inovação na indústria supõe, de fato, um processo linear, sem rotação, em uma sucessão de fases da pesquisa-desenvolvimento à fabricação e, em seguida, à venda. Ela supõe, pois, que a pesquisa tecnológica precede e é completamente divorciada da produção, reduzindo a inovação industrial à adoção e à difusão de produtos ou de máquinas concebidos previamente em instâncias independentes das instâncias produtivas (J.L. Gaffard, 1989). O novo modelo da inovação, ao contrário, privilegia menos o ritmo das inovações particulares e mais o fato de que
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voltadas para a inovação e a pesquisa. Nesta revolução, de fato, o homem não deixa de transformar a matéria, em proveito de atividades puramente comunicacionais. Mas na verdade, atualmente, é que cada vez é menos preciso matéria, a um custo progressivamente menor, e gasta-se mais com “recursos humanos” para obter um produto especialmente, um produto que incorpore componentes microeletrônicos. Assim, as matérias-primas necessárias para a construção dos componentes microeletrônicos mais avançados não constituem mais que 2 a 3% do seu custo de fabricação (cinquenta quilos de fibra ótica transmitem, a igual distância, tantas mensagens telefônicas quanto uma tonelada de cobre, e sua produção consome vinte vezes menos energia.
elas “devem ser concebidas e desenvolvidas
no interior do próprio processo de produção” - todos os recursos humanos, em todos os momentos do processo de produção, são envolvidos pela inovação. Assim, a caracterização da atual revolução tecnológica deixa de ser feita apenas pelo impacto da ciência sobre a produção; ao contrário, o que entra na ordem do dia é a criação, a estocagem, a fecundação recíproca, a circulação da informação em todos os setores da empresa e da sociedade, quer se trate da exploração das riquezas inovadoras acumuladas entre os usuários de equipamentos ou dos circuitos inovadores que unem os clientes e usuários aos produtores e aos que concebem os produtos. O que vale para as relações entre saber científico e experiência vale, igualmente, para as relações entre as atividades industriais portadoras dessas experiências e as atividades informacionais
A DIVISÃO CLASSISTA EM QUESTÃO “Pode-se representar a organização
como um bolo composto por três camadas. Na camada de baixo, encontramos os processos de base do trabalho (...). Na camada intermediária, temos os processos de decisão programada - processos que regulam o funcionamento cotidiano do sistema de fabricação e de distribuição. Na camada superior, estão os processos de decisão não-programada processos que implicam a concepção e a remodelação do sistema interior, que lhe fornecem suas metas e objetivos básicos e zelam pelos seus resultados” (H. A. Simon, 1980). A enorme complexificação das funções de direção e de gestão na revelação informacional transformou uma pequena elite pertencente à classe dirigente em uma vasta categoria social multiforme, em
Resumos Literários – Conhecimento Específico A Revolução Informacional – Jean Lojkine grande expansão há trinta anos. E uma elite de quadros dirigentes se opõe cada vez mais a uma pluralidade de frações sociais dominadas e frequentemente exploradas, mesmo que suas funções de criação e de organização erguam uma barreira eficaz contra toda assimilação simplista ao salariato e ao mundo do “trabalho”. Aquela determinação original de trabalho produtivo não é, com efeito, característica do sistema capitalista, pois ela se aplica tanto ao Egito dos faraós como a qualquer sociedade fundada na divisão do trabalho manual e do intelectual, entre aqueles que são encarregados da produção de bens materiais e aqueles que se voltam para a gestão do sobre-trabalho e da direção política e ideológica da sociedade: os reis, os sacerdotes e os guerreiros; ao nível do processo de produção, os escribas (contadores e gestores) e os villici romanos, encarregados da vigilância do trabalho produtivo ( dos escravos). A revolução informacional, portanto, subverte as relações que cada assalariado mantém com o trabalho produtivo e improdutivo: o engenheirochefe da oficina, o novo agente de controle ou o condutor de instalação automatizado são, simultaneamente, produtivos, mas em graus diferentes e com conteúdos diversos para o trabalho improdutivo. Entretanto, a diferença da divisão que opunha o escravotrabalhador ao escriba, o operário especializado ao engenheiro na revolução industrial, com a revolução informacional o trabalho improdutivo deixa de ser o monopólio de uma categoria social. Os trabalhadores produtivos começam, portanto, a participar do trabalho improdutivo - e isto será potencialmente revolucionário na nova mutação tecnológica. Entretanto, nestas mutações do sistema de produção, há muito mais que
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uma simples aproximação entre a forma de conduzir, manter e programar: com a implementação de relações diretas entre fabricantes (aí incluídos operários) e clientes - de que o kan-ban é apenas um aspecto -, a própria oficina pode, de uma certa maneira, transformar-se em prestadora de serviço para a clientela, o que romperia a divisão fundamental, na revolução industrial, entre produção e serviços. As mutações em curso hoje, na avaliação de certas categorias operárias, notadamente a introdução de entrevistas individuais de avaliação ou a iniciação econômica, expressam, a seu modo, a generalização do trabalho informacional para além de categorias que, antes, detinham o seu monopólio social.
Bibliografia: Uma Abordagem Sistêmica da Revolução Informacional Jean Lojkine Cortez Editora 2002