Ideias para um Envelhecimento Activo
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Edição: RUTIS - Associação Rede de Universidades da Terceira Idade Rua Conde da Taipa, 42.- 2080-069 Almeirim – Portugal - www.rutis.pt Titulo: Ideias para um envelhecimento activo Autores: Luis Jacob, Hélder Fernandes, Augusta Branco, Lucia França (BR), Emília Rodrigues, Teresa Almeida Pinto, Carla Santos, Colin Milner (CA), Dora Rodrigues e Helena Paiva Direitos de autor: RUTIS Colecção: RUTIS, nº 1 Foto da capa: Renato Nunes com Lurdes Martins, Joana Mar e Joaquim Martins Revisão: João Carlos Alvim 1ª Edição, Outubro de 2011 Depósito Legal: 334452/11 ISBN: 978-989-97524-0-5 978-989-97524-0-5 Reprodução interdita, interdita, total ou parcial, sem autorização prévia e expressa do autor, A cópia ilegal viola os direitos dos autores. Os prejudicados somos todos nós.
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Ideias para um Envelhecimento Activo Coordenação: Luís Jacob e Hélder Fernandes
Índice: Prefácio por Stella António
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1. O Envelhecimento Activo: Uma Perspectiva Psicossocial por Emília Magalhães
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2. Gestão de emoções em Seniores por Augusta Veiga Branco
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3. Memorize! por Hélder Fernandes
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4. Sexualidade na idade maior por Luís Jacob
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5. Universidades Seniores: Criar novos projectos de Vida por Luís Jacob
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6. Novas Tecnologias por Teresa Almeida Pinto
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7. Turismo sénior: Importância, Desafios e Estratégias por Carla Santos
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8. Preparação para a reforma: responsabilidade individual e colectiva por Lúcia 192 França (Brasil) 9. Testemunhos de um envelhecimento activo por Dora Rodrigues e Helena Paiva 219 10. Tendências do envelhecimento activo por Colin Milner (Canadá)
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11. 21 Ideias para o envelhecimento activo por Luís Jacob
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Autores
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1. O Envelhecimento Activo: Uma Perspectiva Psicossocial por Emília Magalhães «A tendência para colocar uma ênfase especial ou organizar a juventude nunca me foi cara; para mim, a noção de pessoa velha ou nova só se aplica às pessoas vulgares. Todos os seres humanos mais dotados e mais diferenciados são ora velhos ora novos, do mesmo modo que ora são tristes ora alegres…» Hermann Hesse (2002, p. 46)
1. Formas de Envelhecimento: promoção do envelhecimento activo Tendo em conta o modelo actual de desenvolvimento humano ao longo do ciclo de vida, com a evolução das diferentes capacidades, para a qual contribuem vários factores, pode-se dizer que a mudança dessas diferentes capacidades não é unidireccional, nem universal, nem irreversível. Embora algumas capacidades se possam deteriorar, outras mantêm-se e podem inclusive ser enriquecidas. As pessoas evoluem de maneira diferente é de salientar ainda que há mudanças que são reversíveis: por exemplo, o vigor da erecção na resposta sexual humana pode diminuir com a idade no homem, no entanto, a capacidade de ternura pode ser incrementada (López Sánchez e Olazábal Ulacia, (2005)). Mudar esta construção social da velhice é essencial para dar sentido a esta fase da vida que tem as suas próprias características. Fernández-Ballesteros (2004) menciona que o envelhecimento tem duas vertentes: o envelhecimento populacional e o envelhecimento individual. O primeiro refere-se ao que ocorre a nível macro-social, o segundo ocupa-se
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do conhecimento de como os indivíduos envelhecem, ou em termos mais precisos, que mudanças existem ao longo da vida ou com o passar dos anos. Desta forma as ciências que contribuem para o estudo do envelhecimento colocam em relevo um conjunto de características deste processo: ! A idade não é o único factor determinante dos processos de
desenvolvimento, estabilidade e decréscimo, já que a idade interage com circunstâncias históricas, sociais e pessoais. ! Ao longo da vida existem padrões diferenciados de crescimento,
estabilidade e decréscimo no conjunto das condições biomédicas, psicológicas, comportamentais e sociais. ! O envelhecimento psicológico não apresenta o mesmo padrão que o
envelhecimento biológico. ! Estes padrões de mudança têm uma enorme variabilidade inter-
sujeitos: enquanto uns indivíduos experimentam um relativo desenvolvimento, uma breve estabilidade e um acentuado decréscimo, outros apresentam padrões de amplo desenvolvimento, prolongada estabilidade e leve decréscimo. ! Os padrões individuais evolutivos não ocorrem de uma forma
aleatória, pois que o indivíduo e a sociedade podem orientar, promover e influenciar as formas de envelhecer. ! Envelhecer é um processo que não tem um início preciso, ocorre ao
longo da vida do indivíduo e tem a ver com as condições genéticas, biológicas, sociais e psicológicas. O envelhecimento é, pois, um fenómeno individual, já que a pessoa pode fazer muito para ser agente do seu próprio envelhecimento positivo.
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! As condições ambientais, económicas, culturais e sociais, num
determinado contexto histórico, também têm influência nas formas de envelhecer. Os países com maior nível económico contam com uma maior esperança de vida e esperança de vida livre de incapacidade, pelo facto de investirem mais nos programas de promoção e prevenção para a saúde. Assim também a sociedade e o contexto sociopolítico desempenham um papel importante neste processo do envelhecimento activo e com qualidade. É ainda de salientar, de acordo com a mesma autora, que este novo paradigma de contemplar a procura dos factores e condições que ajudam a identificar o potencial do envelhecimento e as vias para as modificar visa a ruptura com a visão tradicional que era uma visão negativa e preconceituosa. Num trabalho realizado por Fernández-Ballestero (2002), foram revistos os diferentes modelos sobre o envelhecimento com êxito ou positivo, formulados numa perspectiva populacional e individual por um conjunto de autores e organizações, que destacavam, todos eles, o modelo populacional de envelhecimento activo da Organização Mundial de Saúde (OMS) (2002) e o modelo individual de envelhecimento com êxito de Rowe e Khan (1997). De acordo com Sears (1999,p.140) a pirâmide de intervenções antienvelhecimento que se apresenta na figura que se segue, tem por base o componente mais importante de qualquer estilo de vida anti-envelhecimento: uma dieta de restrição calórica com níveis adequados de proteínas e pouca gordura, quantidades abundantes de vegetais frescos e quantidades moderadas de fruta fresca em cada refeição.
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O próximo passo do Estilo de Vida Anti-envelhecimento é o exercício moderado mas consistente, já que o exercício de níveis de intensidade mais altos leva ao aumento da formação de radicais livres e de cortisol. O topo da pirâmide tem a ver com a redução do stress, através da meditação. A meditação pode ter profundos efeitos hormonais, principalmente sobre os níveis de cortisol.
Fonte: Sears, Barry [1999] - Pirâmide do Estilo de Vida Anti-envelhecimento.
Assim se optarmos por reunir todos os componentes da pirâmide referida, certamente obteremos a chave para obter sucesso no combate ao envelhecimento. A OMS (2002, p.23) define o envelhecimento activo como «o processo de optimização das oportunidades de saúde, participação e segurança visando a melhoria do bem-estar das pessoas à medida que envelhecem». Estabelece ainda os factores que determinam o envelhecimento activo, salvaguardando, no entanto, que, tratando-se de um novo conceito, ainda não existe investigação suficiente que permita afirmar
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com certeza que os factores que determinam o envelhecimento activo são: económicos; sociais; ambiente físico; pessoais (biológicos e psicológicos); comportamentais (estilos de vida); serviços de saúde e sociais e ainda o género e a cultura. O modelo individual de envelhecimento com êxito, referido anteriormente, baseia-se nas investigações através de estudos longitudinais e aponta para quatro grupos de factores: 1) baixa probabilidade de adoecer e de incapacidade associada; 2) alto funcionamento cognitivo; 3) alto funcionamento físico; 4) compromisso com a vida. Pode concluir-se que qualquer programa que pretenda incrementar o envelhecimento activo ou com êxito deverá prevenir a doença e a incapacidade associada, optimizar o funcionamento psicológico e em
especial o funcionamento cognitivo, o ajuste físico e maximizar o compromisso com a vida, o que implica a participação social. Os factores psicológicos individuais foram nos últimos anos amplamente tratados como base do envelhecimento com êxito, mais concretamente a capacidade de enfrentar situações adversas, o controlo interno, o pensamento positivo, a auto-eficácia, são condições psicológicas da personalidade que aparecem associadas à longevidade e ao envelhecimento satisfatório. Importante ainda referir as áreas de intervenção psicológica que deveriam fazer parte de qualquer modelo de optimização do envelhecimento activo: promover a saúde e o ajuste físico e prevenir a incapacidade; optimizar e compensar as funções cognitivas, o desenvolvimento afectivo e da personalidade e maximizar a implicação social (Fernández-Ballesteros (2004)).
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Pode assim concluir-se que, a nível populacional, é de todo o interesse colocar quais as acções sociopolíticas que devem ser abordadas para potenciar o envelhecimento positivo numa determinada população (melhorar o sistema de saúde e de protecção social, aumentar as pensões, adaptar as condições ambientais, etc.); sob o ponto de vista psicossocial torna-se importante potenciar nos indivíduos as condições que optimizem um envelhecimento satisfatório. Havighurst e Albrecht (1953) na sua publicação Older people referem que a teoria da actividade, por eles formulada, é a teoria psicossocial mais antiga fundamentando-se na seguinte hipótese: «La realización de un elevado número de roles sociales o interpersonales correlaciona de forma significativa con un elevado nivel de adaptación y satisfacción vital percibido por la persona mayor». Segundo esta teoria, o indivíduo alcança uma velhice satisfatória quando descobre e realiza novos papéis ou continua com os que vinha a desempenhar (Atchley (1980), citado por Motte Celia, Alexis e Moñoz Tortosa (2002)). Para verificar esta hipótese os autores aplicaram um questionário sobre uma amostra de cem sujeitos eleitos de uma população de 670 indivíduos de 65 anos e mais, e os resultados do estudo avaliaram uma correlação positiva entre o número de actividades realizadas e a adaptação sentida pelos indivíduos. Assim os autores concluíram que as pessoas idosas que são mais activas vivenciam a sua velhice com maior adaptação e bem-estar. Mais tarde, Tartler (1961), citado pelo mesmo autor, reforça esta mesma ideia declarando que a satisfação da vida se vincula com os papéis familiares, laborais, sociais, etc., de forma que quanto mais papel a pessoa idosa tiver maior será a sua auto-estima e satisfação. Só é feliz quem se
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sente activo, e útil. De acordo com a maioria dos autores parece que a melhor forma de envelhecer radica em adquirir novos papéis ou manter os anteriores (Maddox y Eisdorfer (1962); Reichard, Livson y Peterson (1962); Madox (1963 y 1968); Atchley (1977); Longino y Kart (1982)), citados por Yuste Rossell, N. (2004)). Esta teoria tem como princípios básicos: ! A satisfação da vida vincula-se a papéis familiares, sociais e laborais; ! Ao prolongar a actividade prolonga-se a idade adulta e a meia-idade; ! É preciso valorizar a idade e atribuir ao idoso papéis apreciados
socialmente; ! A actividade depende do estado de ânimo; ! A satisfação está vinculada com o tipo de actividade.
Burgess (1954), Tobin e Neugarten (1961) e Palmore (1968), através de um estudo longitudinal onde se comprovou que a redução de actividades e papéis está associada a uma diminuição de satisfação de vida das pessoas idosas (Motte Celia, Alexis, M. e Moñoz Tortosa, Juan (2002)). Segundo os mesmos autores é de salientar que a adaptação dos indivíduos e a qualidade das actividades têm mais importância que a quantidade e que esta teoria só é válida para os velhos jovens que têm meios económicos suficientes. Fernandez- Ballesteros, R. (2000) refere que esta teoria tem tido enorme importância aplicada, no sentido de ter orientado políticas sociais até aos nossos dias. Nos pontos 3 e 4 do texto, serão descritas algumas dessas orientações políticas.
2. A Política Social para as Pessoas Idosas
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O empenho político em programas de desenvolvimento humano deverá ter em consideração a promoção da saúde ao longo do ciclo de vida, com vista a um envelhecimento activo em todas as suas vertentes: física, cognitiva, social e espiritual, produtiva, etc. A longevidade e a manutenção da capacidade funcional, tanto física como mental, são os novos indicadores de saúde, consequentes à redução da morbilidade e da mortalidade, e devem incorporar-se aos instrumentos de avaliação das políticas públicas, permitindo que os resultados representem ganhos nos níveis de saúde (Sayeg, M.A., Mesquita, R.A.V. e Costa, N. E. (2006)). A promoção da saúde a favor do envelhecimento bem sucedido requer o incremento e a renovação dos modelos de atendimento, cuidado, prevenção, reabilitação, e de directrizes que incluam as alternativas que permitam a participação da comunidade, que vão desde a defesa dos direitos sociais e da cidadania até à qualidade de vida (Lima-Costa &Veras (2003)). No nosso país, é notória a carência de redes de apoio formal ao idoso, desde instituições de idosos (lares) até ao serviço de assistência domiciliária em contexto gerontológico (SAD), podendo afirmar-se este último como inexistente. O incremento deste serviço, em nosso entender, seria um passo que marcaria a diferença em termos de políticas de apoio ao idoso, permitindo que este pudesse permanecer no seu ambiente com as vantagens daí inerentes, contrariamente ao que acontece quando tem de ir para um lar como a sua última residência, o que irá, na maior parte dos casos, acelerar o processo de envelhecimento, por múltiplas perdas: ambiente; objectos; amigos; autonomia; actividade física e cognitiva; etc.
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Requejo Osório, A. (2007) afirma que o problema das pessoas idosas é muito mais do que apenas um problema de número: trata-se de um problema que, como já tivemos ocasião de referir, tem uma dimensão social. Assim, será conveniente avançar para uma análise das pessoas idosas enquanto fenómeno social que tem de ser entendido a partir dos gastos que pode gerar (saúde, assistência, pensões, etc.) como também a partir do problema de reconhecimento do seu papel social. Assim, torna-se importante uma política social desenvolvida e configurada no denominado “ Estado de Bem-Estar”, que junta os cidadãos a favor da solidariedade e coesão social, assegurando-lhes uma série de cuidados. O chamado “ Estado de Bem-Estar” surge e desenvolve-se no fim da Segunda Guerra Mundial, na Europa. A política social é uma política aplicada pelos Estados e pelos poderes políticos, que pretende cobrir e satisfazer as necessidades sociais, apoiar os direitos pessoais e de grupo capazes de proporcionar bem-estar e qualidade de vida aos cidadãos, através de sistemas públicos de acção social. (Fermoso, P. (1998, pp. 81-130)). Esta política desenvolve-se num conjunto de políticas sectoriais concentradas basicamente no sistema educativo, sistema de saúde, serviços sociais, sistema de pensões, políticas activas de incremento do emprego e protecção no desemprego, habitação social, etc. Tal pressupõe tornar possíveis alguns dos princípios básicos de um Estado de direito: fomentar a igualdade de oportunidades (educação, políticas activas de emprego); - Direito à saúde (sistema sanitário); protecção na privação ou redução de rendimento em relação ao trabalho (desemprego, serviços
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sociais, pensões) e apoio à família (serviços sociais, habitação social, etc.). (Maravall Gomez- Allende, H. (1998) citado por Requejo Osório, A. (2007)). O mesmo autor declara ainda que, a partir de uma orientação sócio histórica, é possível ter uma política social não determinista e fatalista, contrariamente às concepções tradicionais. Assim os princípios que a devem reger são os definidos, com carácter geral e normativo, pelas Nações Unidas em 1991, e que foram revistos em 2001: princípio da independência , que inclui temas como a alimentação, a habitação, a saúde, os rendimentos, trabalho e educação; princípio da participação nas políticas que afectam directamente o bem-estar próprio; princípio da assistência e cuidados na área da saúde e também no do acesso aos serviços sociais e jurídicos; princípio da auto-realização , no que diz respeito aos recursos educativos,
culturais, espirituais e recreativos da sociedade; e por fim princípio da dignidade, para poder conviver satisfatoriamente e com segurança, livre de
exploração e de maus - tratos físicos e psíquicos. Citando George Minois (1999, p.18), « Cada sociedade tem os velhos que merece, como a história antiga e a medieval amplamente demonstram. Cada tipo de organização socioeconómica e cultural é responsável pelo papel e imagem dos seus velhos. Cada sociedade segrega um modelo de homem ideal e é desse modelo que depende a imagem da velhice, a sua desvalorização ou valorização.»
3. Perspectiva Internacional: I Assembleia Mundial de Viena (1982); II Assembleia Mundial de Madrid (2002) e III Assembleia Mundial de León (2007)
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Requejo Osório, A. y Pinto Cabral, F. (2007) referem que foram diversos os acontecimentos internacionais que marcaram a política social em relação às pessoas idosas a partir dos anos setenta, altura em que se vislumbraram as primeiras tendências do envelhecimento da população. O primeiro, foi a celebração da I Assembleia Mundial de Viena sobre o envelhecimento, em 1982; o segundo, a Assembleia das Nações Unidas a favor dos idosos, em 1991, que orientou os princípios gerais básicos da política social para a promoção desta faixa etária. A primeira reunião mundial para analisar as questões relacionadas com as pessoas idosas teve lugar em Viena, como referido, tendo sido aí redigido o “ Plano de Viena”, constituído por duas partes: considerações gerais de política social e recomendações pontuais de acção. Como resultado, destacam-se três aspectos fundamentais: 1) desenvolvimento de um papel activo na sociedade; 2) preparação para esse papel na fase de reforma; 3) proporcionar nesta fase a oportunidade de realização pessoal através de uma série de actividades, entre as quais se incluem as de formação contínua. No que diz respeito às recomendações pontuais para as acções, foram tidas em atenção as preocupações das pessoas idosas e circunscreveram-se aos seguintes aspectos: saúde e nutrição; habitação e meio ambiente; família; bem-estar social; segurança do rendimento e emprego e educação. De salientar que estas últimas estão relacionadas com aspectos tão essenciais como os que vão desde a utilização das pessoas idosas como transmissores de conhecimento, cultura e valores espirituais para as novas gerações, à concepção de uma educação disponível para todas as idades, sem esquecer os aspectos de educação do público sobre o processo de envelhecimento.
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Vinte anos após este acontecimento em Viena, surge a II Assembleia das Nações Unidas em 2002, que teve lugar em Madrid, cujo lema básico foi “uma sociedade para todas as idades”, o que implica quatro considerações (Magalhães, E. E.R. (2004)): 1) O desenvolvimento individual durante toda a vida; 2) As relações multi-geracionais; 3) A relação mútua entre envelhecimento da população e o desenvolvimento; 4) A situação das pessoas idosas. As orientações prioritárias relativas a essas considerações propostas para serem cumpridas são: assegurar e manter o desenvolvimento em todas as idades, criar ambientes potenciadores para todos os grupos etários; assegurar o bem-estar das pessoas idosas. O autor supra citado refere ainda que na II Assembleia Mundial, se ampliaram e aprofundaram os temas iniciados na I Assembleia, e que se assumiu que os problemas do envelhecimento afectam mundialmente todos os países, seja qual for o nível de desenvolvimento de cada um. A Declaração Ministerial de León, realizada em León em 2007,
centrou-se no tema Una Sociedad para Todas las Edades: Retos y Oportunidades (Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales (2007)). Dos 24
pontos desta declaração, todos eles de extrema importância, podem-se salientar os pontos 7, 8, 12, 13 e 17 por estarem estreitamente relacionados com a temática em questão. Declararam a importância de fomentar uma imagem positiva das pessoas idosas, através do sistema educacional e campanhas nos mass medi a, mostrando o desenvolvimento de actividades onde os mais velhos
podem dar a sua contribuição quer na família, quer na sociedade. Para
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promover a participação, consideram importante que o meio envolvente seja propício a incrementar uma velhice activa: educação permanente; acesso às tecnologias modernas e à informação; o voluntariado e a acção cívica. A promoção da participação das pessoas, à medida que envelhecem, na vida económica, social, cultural e política da sua sociedade. Esta participação deve ser plena para conseguir uma velhice activa. Salientam ainda os aspectos relacionados com os maus tratos e abandono, sendo necessária uma protecção especial às pessoas idosas. Consideram o crescimento económico um factor importante para uma sociedade em que todas as idades sejam contempladas, pelo que será preciso retirar o máximo partido da experiência e da competência que as pessoas de idade adquiriram ao longo das suas vidas. Para terminar, esta declaração ministerial considerou ainda a importância de promover a solidariedade intergeracional, como sendo um dos pilares da coesão social e da sociedade civil, para o que é preciso sensibilizar o público sobre o potencial dos jovens e das pessoas idosas para promover a compreensão do envelhecimento.
4. Gerontagogia: Intervenção Socioeducativa com Pessoas Idosas A Gerontologia Educativa centra-se na análise das mudanças psicossociais, afectivas e cognitivas que ocorrem nas últimas fases do ciclo vital, para a partir daí poder potenciar os aspectos positivos dessas mudanças e mesmo se possível diminuir os seus efeitos negativos. Deste modo o trabalho do educador especializado em Gerontologia consiste em descobrir o melhor modo de ajudar cada um a reconhecer as possibilidades oferecidas pelas diferentes fases da vida, para melhor
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adaptação e uma maior satisfação vital e a manutenção de níveis óptimos de qualidade de vida (Requejo Osório, A. e Pinto Cabral, F. (2007, p.56)). Um dos princípios básicos assumidos pela Gerontologia Educativa está relacionado com o objectivo de positivar o envelhecimento e a velhice, acentuando as potencialidades do ser humano, seja qual for a sua idade vital. Sendo necessário dar ênfase à potencialidade cognitiva, à aprendizagem ao longo do ciclo vital e à noção de envelhecimento activo. A noção de potencialidade cognitiva tem de ser entendida como a capacidade de mudar e aprender ao longo de toda a vida, que depende fundamentalmente dos contextos, sociais, culturais e do meio, e não somente dos factores cognitivos. O que significa que a concepção e o desenvolvimento de programas em Gerontologia Educativa devem ter em atenção a influência dos efeitos geracionais e de “corte”, o desenvolvimento cognitivo, a sensibilidade dos adultos e idoso perante determinados programas de intervenção socioeducativa, em função da natureza desses contextos e de variáveis como o sexo, a idade, o nível educativo e o nível de saúde. O conceito de aprendizagem ao longo do ciclo de vida implica uma orientação no sentido de reorganizar os sistemas de ensino e construção de uma sociedade de conhecimento. Entender a aprendizagem como resultado que se espera da educação, da formação e da capacitação de idosos implica também aumentar a consideração da potencialidade cognitiva de aprendizagem de todos os sujeitos de qualquer idade. Por fim, a noção de envelhecimento activo , a qual já foi referida anteriormente, pressupõe que, do ponto de vista educativo, as propostas de intervenção assentem na oferta de um enquadramento da actividade onde se procura desenvolver uma atitude, uma nova filosofia de vida, um novo
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modo de viver a velhice, liberto de estereótipos (Víctor Martín, A. (2007, p.58)). O mesmo autor declara que a Gerontologia Educativa como área de intervenção pode, por um lado, assumir a maior parte dos pressupostos teóricos e de actividade promovidos na educação social de adultos, tais como: desenvolvimento comunitário; actividades próprias da educação popular (participação cívica, recuperação de tradições populares…), acções de educação para o desenvolvimento, de solidariedade e cooperação social (voluntariado, grupos de auto-apoio e auto-ajuda, etc.), ou em programas de educação e formação básicas. Por outro lado, é necessário especificar também que todas as intervenções devem atender ao princípio da individualidade, considerar que cada idoso tem as suas capacidades, necessidades e interesses próprios, precisando para tal de uma atenção particularizada, mesmo que seja dada dentro de um grupo.
5. Programas Intergeracionais/Algumas considerações Os Programas Intergeracionais, cuja designação se apresenta bem clara, são programas que envolvem várias gerações, cujos objectivos serão apresentados mais à frente e que se pode adiantar que têm de ser de interesse para todos os envolvidos e também à própria sociedade. Vega Vega e Buéno (2001) referem-se a este tipo de programa quando envolve várias gerações, em actividades planeadas, com o objectivo de desenvolver novas relações e alcançar objectivos específicos. O Consórcio Internacional para os Programas Intergeracionais (ICIP) (1999) chegaram a acordo na seguinte definição do que é um programa intergeracional: «Los programas intergeracionales son vehículos para el
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intercambio determinado y continuado de recursos y aprendizage entre las geraciones mayores y las más jóvenes con el fin de conseguir benefícios individuales y sociales», citado por Sánchez Martínez, M. e Díaz Conde, P. (2005, p. 393). Para se perceber melhor esta designação entenderam os autores que tinham de ter um conjunto de características essenciais e que se passam a descrever: ! Demonstrar benefícios mútuos para os participantes; ! Estabelecer novos papéis sociais e /ou novas perspectivas para as
crianças, jovens e idosos implicados; ! Envolver várias gerações, incluindo pelo menos duas gerações,
não adjacentes e sem laços familiares; ! Promover maior conhecimento e compreensão entre as gerações
mais jovens e as mais idosas, bem como o aumento da autoestima para ambas as gerações; ! Ocupar-se dos problemas sociais e das políticas mais apropriadas
para as gerações implicadas; ! Incluir os elementos necessários para uma boa planificação do
programa; ! Proporcionar o desenvolvimento de relações intergeracionais.
Embora esta caracterização possa ser discutida há um aspecto que não suscita de dúvidas: para falar destes programas, não é suficiente que pessoas de diferentes gerações participem numa actividade. Trata-se de um programa e não de simples actividades o que implica uma complexidade maior, pois o facto de colocar em contacto diferentes grupos de idades não garante êxito nem o cumprimento de qualquer objectivo. O facto de estarem presentes diferentes gerações deve ser entendido como a chave da
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planificação para a intervenção e não como um elemento decorativo (Fox e Giles (1993), citados por Sánchez Martínez, M. e Díaz Conde, P. (2005, p. 394)). De salientar que o termo geração tem uma concepção problemática. Para um melhor entendimento passa-se a citar uma nova definição numa perspectiva da sociologia da relação: «La Generación es el conjunto de personas que comparten una relación, aquella que liga su colocación en la descendencia propia de la esfera familiar-parental (esto es: hijo, padre, abuelo, etc.) con la posición definida en la esfera societal con base en el “edad social» (es decir, de acuerdo con los grupos de edad: jóvenes, adultos, ancianos, etc.)” (Donati, (1999, p. 37)). A melhor forma de ilustrar o que é um programa intergeracional será recorrer a alguns exemplos destes programas a funcionar num certo número de países: ! Abuelos por decisión própria (Uruguai): pessoas idosas formadas
adequadamente, quase sem relação com filhos e netos devido à emigração destes, visitam e mantêm contacto telefónico semanal com crianças vítimas de abusos, internadas em centros de protecção; ! Los mayores tambén cuentan (Espanha): A Fundação Girassol
promove a formação de pessoas idosas como contadoras de contos para intervirem mais tarde em bibliotecas, escolas, prisões, associações de imigrantes e outros espaços. Assim ao mesmo tempo que os idosos adquirem habilidades e capacidades para manter a sua memória em boas condições, grupos de crianças e jovens aprendem, entre outras coisas, a relacionar-se e a valorizar os idosos;
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! Experience corps (EEUU): pessoas idosas, em ligação com escolas e
famílias, dedicam quinze horas semanais a melhorar as habilidades de leitura e escrita de crianças que estão na Educação Primária; ! Magic Me (Grã-Bretanha): esta organização dedica-se a programas
intergeracionais que, através da arte, consigam facilitar a interacção entre crianças na idade escolar, por exemplo, idosos com demência que vivem em residências ou em centros de dia. Também pretende promover a compreensão cultural e reduzir o isolamento social de imigrantes jovens e idosos; ! The granded program (Suécia): com a finalidade de que a figura da
pessoa idosa esteja mais perto das crianças, voluntários idosos vão às escolas para realizar trabalhos de apoio diversos (preparação de acontecimentos, ajuda na organização de actividades lúdicas, resolução de conflitos, etc.) em coordenação com os profissionais desses centros educativos.
6. O Ócio e Intervenção com Pessoas Idosas O ócio é um conceito complexo que foi definido de diferentes maneiras e teve diversas abordagens ao longo da história. A preocupação intelectual com o ócio – scholé – termo grego que significa “parar-se”, ter repouso, ter paz, ter tempo desocupado ou ter tempo para a formação própria, aparece pela primeira vez na Grécia. Assim scholé ou ócio significa dispor de tempo para a formação não utilitária da pessoa. Entre os gregos, o ócio é o oposto do trabalho; implica libertar-se da necessidade do trabalho e dispor de tempo para si mesmo (Pedro y García, F. (1984), citado por Rodríguez Carrajo, M. (1999)).
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Para os romanos, o ócio é um tempo de descanso e de recreação do espírito, necessário depois do trabalho para poder voltar a ele, não é um fim em si mesmo, como na Grécia. Durante a Idade Média o trabalho e o ócio eram controlados pelas horas de sol e pela Igreja. A duração do trabalho oscilava assim entre o mínimo de oito ou nove horas e o máximo de dezasseis, segundo Inverno ou Verão. A Igreja determinava os dias festivos para além dos domingos, nos quais homens e mulheres não trabalhavam. A partir do século XVII, os novos valores éticos e religiosos que passam a considerem o trabalho como uma virtude suprema e o ócio como um detestável vício, o que leva à desvalorização do ócio. Com a Revolução Francesa surgem as últimas mudanças que terminam com a configuração do trabalho e ócio modernos. Surge assim a sociologia do ócio, que nasce nos Estados Unidos, aproximadamente nos primeiros vinte e cinco anos do século XX, e depois mais tarde passa à Europa e à União Soviética. Prepara-se assim o terreno para poder levar a cabo as actividades do ócio e se estender o tempo livre a todas as classes sociais (Puig Rovira, J. e Trilla, J. (1996), citados por Rodríguez Carrajo, M. (1999)). Martínez Rodríguez S. e Gómez Marroquín, I. (2005, p. 434), citam Neulinger (1981) e Neulinger e Breit (1969), que descreveram o ócio sob uma perspectiva psicológica: a percepção da liberdade por parte do sujeito e o tipo de motivação que o impulsiona a uma determinada prática. Com esta caracterização entende-se que qualquer actividade pode ser experimentada como ócio pela pessoa, se esta a elegeu livremente e se sente motivada por ela, pela satisfação que a própria actividade lhe proporciona. Esta concepção permite perceber que o ócio não pode ser entendido como um tempo determinado (férias, fim-de-semana, etc.) ou uma série de
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actividades concretas (ler, ir ao cinema, ver televisão, etc.), mas sim como uma experiência pessoal e subjectiva , e é neste sentido que deve ser orientada a intervenção pelos profissionais da Gerontologia. As múltiplas investigações sobre os benefícios do ócio justificam que seja considerado pelos profissionais da Gerontologia como um recurso a utilizar nas intervenções com pessoas idosas (Driver, Brown e Peterson (1991) citados por Martínez Rodríguez, S. e Gómez Marroquín, I. (2005, p. 434)). Também Vega e Bueno (2000) se referem aos benefícios das actividades de ócio nas pessoas idosas, pois que têm muito mais tempo livre e podem desfrutar de novas referências e significados que estas lhes proporcionam. Um trabalho realizado por Driver e Bruns (1999) salientou os benefícios do ócio em quatro categorias: benefícios pessoais (psicológicos e psico-fisiológicos); benefícios sociais e culturais; benefícios económicos e benefícios do meio ambiente. O conhecimento destas vantagens associadas ao desfrute do ócio pode proporcionar ao gerontólogo aspectos importantes para a sua intervenção e servir como argumento para motivar a participação e reflexão dos indivíduos ou grupos que o necessitem (Martínez Rodríguez, S. e Gómez Marroquín, I. (2005, p. 435)). O mesmo autor declara que, apesar de o ócio acarretar importantes benefícios para as pessoas de qualquer idade, melhorando a qualidade de vida, e de constituir um recurso de primeira importância no ajuste com êxito em situações vitais durante a velhice (reforma, doença, luto, etc.), sabe-se através das estatísticas que, em geral, as práticas de ócio são mais pobres, menos frequentes e menos variadas do que seria desejável.
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Os mais importantes modelos conceptuais de ócio terapêutico elaborados por Peterson e Gunn (1984), Dattilo e Kleiber (1993) e Widmer e Ellis (1997), citados por (Martínez Rodríguez, S. e Gómez Marroquín, I. (2005, p. 435)), incluem a educação para o ócio entre as fases do processo terapêutico. A educação para o ócio deve permitir que a pessoa adquira a autonomia que lhe permita aceder a experiências de ócio satisfatórias. Esta autonomia inclui não só a sensibilidade suficiente sobre a importância do ócio, mas ainda os recursos pessoais que permitam tomar decisões sobre o mesmo e, especialmente, adquirir confiança em si mesma e iniciativa pessoal. Martínez Rodríguez, S. e Gómez Marroquín, I. (2005, p. 445) referem que a função de uma educação para o ócio, numa perspectiva de desenvolvimento da autonomia pessoal, tem dupla acção: ! Ampliar horizontes de ócio, para que a pessoa descubra novas
realidades (experiências, informações, opiniões, recursos…) que, directa ou indirectamente, possam favorecer as suas vivências de ócio, promovendo o aumento de uma sensação pessoal de controlo e capacidade; ! Constituir um espaço prático de autonomia onde possa desenvolver a
sua criatividade para prosseguir activamente com as novas realidades. Assim, o uso de actividades lúdicas e de ócio com pessoas idosas não pode ser concebido de maneira nenhuma como um recurso «para ter a pessoa entretida, mas sim como forma de considerar o valor que têm para estimular o sujeito de várias formas, com a finalidade de provocar o aparecimento de estados emocionais positivos e para se envolverem em
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acções que mantenham a possibilidade de actividade, a integração no ambiente e que proporcionem sentido à vida. Importante introduzir, nos programas de intervenção que o gerontólogo se propõe executar, esta sensibilidade para o ócio, pois que o desfrutar o ócio é um recurso fundamental para a vivência de experiências positivas, óptimas, que favorecem estados afectivos positivos, que levam por sua vez à melhoria das habilidades sociais, treino das funções cognitivas e funcionais, e estas são as bases para que a pessoa seja autónoma no treino e desenvolvimento das suas faculdades físicas e psíquicas.
7. Uma abordagem ao Envelhecimento Produtivo. Será uma forma de Ócio? Num trabalho recente, Butler (2000, p.12), citado por G. Caro, F. e Mariano Sánchez (2005) precisava o envelhecimento produtivo desta forma: «La capacidad de un individuo o una población para servir en la fuerza de trabajo remunerada, en actividades de voluntariado, ayudar en la familia y mantenerse tan independiente como sea posible». Esta concepção mostrou-se limitada, uma vez que define com muita precisão os âmbitos da aplicação da produtividade.Uma outra proposta que parece ser mais adequada refere que «El envejecimiento productivo es cualquier actividad, remunerada o no, desarrollada por una persona mayor, que produce bienes o servicios o desarrolla la capacidad para producirlos». Este conceito coloca mais claramente o envelhecimento produtivo no espaço da sociedade, deixando de lado a possibilidade de que as acções que uma pessoa idosa efectua para seu próprio benefício e cuidado sejam também produtivas Bass, Caro e Chen (1993, p.6).
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Posto isto, então em que consiste o envelhecimento produtivo? Que conceito de produtividade deveremos utilizar? Os autores supra citados declaram que o verdadeiro interesse do envelhecimento produtivo e o que a distancia dos outros envelhecimentos (envelhecimento satisfatório, envelhecimento saudável, envelhecimento activo, envelhecimento normativo, envelhecimento competente…) é a ênfase
no impacto que as actividades realizadas pelas pessoas idosas podem ter sobre as condições sociais e económicas, a criação de riqueza e o bem comum. Neste sentido não se presta atenção a acções individuais que têm como objectivo fundamental a procura de benefício individual: exemplo disso é o exercício físico para manter-se em forma ou a aprendizagem dirigida para a activação cognitiva. Assim o envelhecimento produtivo centra o seu interesse no bem-estar colectivo e questiona-se sobre o que podem fazer as pessoas idosas para contribuir para o mesmo. O que interessa para o envelhecimento produtivo não é a obrigação de participar mas as oportunidades para fazê-lo, os contextos e as repercussões dessa participação. Pelo que será importante saber o que os idosos desejam e conceder-lhes esse direito. A hipótese de Bass, S.A., Caro, F.G. e Chen, Y.P. (1993,pp. 12-13) clarifica esta ideia dizendo que, se o trabalho e o voluntariado se apresentassem de modo mais atractivo como opções na fase mais avançada da vida, muitas destas pessoas se implicariam. G. Caro, F. e Mariano Sánchez (2005) referem que o envelhecimento produtivo está ligado ao desenho das políticas de envelhecimento, que propõem o seguinte: ! Ampliar a vida laboral: recomenda-se, como já está a acontecer no
contexto europeu, flexibilizar o conceito de reforma;
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! Fortalecimento dos serviços através do voluntariado: estudando-se de
que maneira pode complementar os serviços públicos; ! Desenvolvimento comunitário mediante a implicação cívica: a
participação das pessoas idosas pode ser muito significativa nesta construção. Uma maneira frutífera de encarar o envelhecimento produtivo seria ter em conta as expectativas públicas acerca das necessidades dos idosos, sobre a sua capacidade para contribuir significativamente, e acerca da relação ócio-produtividade. Nesta linha de pensamento o ócio pode ser produtivo, se os idosos o pretenderem, o que implica serem autónomos na decisão dessa implicação social.
8. Conclusão Salienta-se a importância do envelhecimento activo para uma melhor qualidade de vida do idoso e a importância do envolvimento pessoal neste processo que leva a um envelhecimento com êxito. Urge a implicação político-social neste contexto, com a adopção de medidas anunciadas nas reuniões da I, II e III Assembleias das Nações Unidas, o que significa que a preocupação dos países envolvidos no fenómeno do envelhecimento populacional vem pelo menos de há vinte e seis anos, altura em que a I Assembleia reuniu em Viena, como já tivemos ocasião de referir no texto. O grande passo acontecerá pois, quando as sociedades partirem da realidade, ou seja, da velhice vivida, em vez da sua concepção abstracta. Para isso será importante estudar os próprios velhos e adaptar a sociedade
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às suas necessidades, permitindo a sua plena satisfação física, psíquica e social, em vez de decretar que o velho é o sábio e querer obrigá-lo a ser. Cabe ainda dar relevância à perspectiva psicológica do ócio, já referida anteriormente, sendo a percepção de liberdade por parte do sujeito e o tipo de motivação que o impulsiona a uma determinada prática a chave do êxito. Ou seja, qualquer actividade pode ser experimentada como ócio pela pessoa se esta a elegeu livremente e se sente motivada por ela, pela satisfação que a própria actividade lhe proporciona. Dentro desta perspectiva é de salientar a alusão feita no texto ao envelhecimento produtivo , tendo a noção que não é para todas as pessoas
idosas, mas salvaguarda as que estão interessadas e podem participar em actividades socialmente significativas. Para finalizar, passa-se a citar: «Quando as pessoas mais jovens, com a superioridade das suas forças e da sua atitude confiante, se riem de nós nas costas e acham engraçado o nosso penoso andar, os nossos cabelos brancos e os nossos pescoços emagrecidos e tendinosos, também nós nos lembramos de ter em tempos idos, em posse de igual vigor e confiança, rido da mesma maneira; não nos sentimos derrotados nem inferiores, em vez disso alegramo-nos por ter atingido esta fase da vida e por nos termos tornado um bocadinho mais espertos e mais tolerantes.»Hermann Hesse (2002, p. 67)
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