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À minha família, ao meu grupo de oração Raio de Luz e à arquidiocese de Maringá; minhas bases de espiritualidade e missão.
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De fato, não é a nós mesmos que pr que pregamos, egamos, mas a Jesus Cristo, Cri sto, o Senhor. Senhor. Quanto a nós, apresentamo-nos como servos vossos, por causa de Jesus. (2Cor 4,5)
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Apresentação Começo esta apresentação com um texto do Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium1 – “Evangelho da Alegria” –, no qual ele ressalta fortemente a necessidade de sermos bons pregadores e estarmos bem preparados para que a mensagem do Evangelho não seja prejudicada: Alguns acreditam que podem ser bons pregadores por saber o que devem dizer, mas descuidam o como, a forma concreta do desenvolvimento de uma pregação. Zangam-se quando os outros não os ouvem ou não os apreciam, mas talvez não se tenham empenhado por encontrar a forma adequada de Evangelii Gaudium, n. 156). apresentar a mensagem ( Evangelii
Este livro nasceu com o intuito de ajudar na forma, no como ser um ser um bom pregador , valorizando o tom de voz, a postura, o domínio dos sentimentos, a segurança pessoal diante da plateia. É um conjunto de atitudes simples e concretas que, somadas, formam uma harmonia pessoal que é fundamental para ser um bom comunicador. Ning Ninguém uém nasce pronto. Tudo se faz dentro de um processo de aprendizagem, aprendizagem, no qual a abertura para aprender, independentemente da idade, é necessária para fazer a diferença em qualquer ambiente. Por isso a cura interior, a técnica vocal, os exercícios físicos para mudar a postura, o equilíbrio das emoções e a segurança no conhecimento são componentes indispensáveis a um comunicador. Ao mesmo tempo em que a técnica é um instrumental necessário para a comunicação, não se pode dispensar a experiência do sagrado, do sobrenatural: Não nos é pedido pedido que sejamos imaculados, imaculados, mas que não cessemos ces semos de melhorar, melhorar, vivamos vivamos o desejo profundo de progredir progr edir no c aminho do Evangelho, Evangelho, e não deixemos deixemos cair os braços. Indispensável é que o pregador esteja seguro de que Deus o ama, de que Jesus Jes us Cristo o salvou, de que o seu amor tem sempre a última palavra ( Evangelii Ev angelii Gaudium, Gaudium, n. 151).
Por isso o autor se preocupou em dedicar boa parte deste livro para recordar o valor profundo da oração, da exp experiênci eriênciaa em Deus. Seu objetivo objetivo princi principal pal é colocar colocar nas mãos de todos os pregadores, comunicadores da Boa Nova, um resumo prático de algumas técnicas e posturas interiores e exteriores necessárias para anunciar com competência o Evangelho e, ao mesmo tempo, oferecer um caminho que venha a favorecer uma linguagem clara, objetiva, que toca o coração do ouvinte. Diz o Papa Francisco que “um pregador pregador que não se prepara não é ‘espiri ‘espiritual tual’: ’: é desonesto e irresponsável quanto aos dons que recebeu” ( Evangelii Gaudium, n. 145). Obrigado, Everton, por ter ousado escrever este livro, com uma linguagem simples, direta e prática, para ajudar a todos os pregadores na missão de evangelizar. 9
DOM A NUAR B BATTISTI Arcebispo de Maringá (PR)
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Introdução Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos, não tenhais tenhai s medo”. (Mt 17,7) As fobias – medos excessivos – têm provocado muitos danos em nossa sociedade. Há pessoas com medo de se relacionar, medo de outras pessoas, medo da violência, medo do futuro, medo do passado, medo de evangelizar, medo de profetizar. Quanto medo! O medo é como uma grande trava em nossas pernas, que nos impede de caminhar, de dar passos. Por isso, se nos entregarmos a ele, corremos o grave risco de deixar de cumprir a nossa missão neste mundo. Eu também tive certo medo quando surgiu a inspiração de partilhar minhas experiências na área da comunicação por meio deste livro. Pensei várias em vezes em não levar esta ideia adiante. Não se tratava de fobia, apenas de receio. Porém, a Palavra de Deus, mais uma vez, me deu a garantia de que não era preciso temer. Muitos livros, artigos e estudos que tratam do medo de falar em público ocupam as prateleiras prateleiras das livrarias, vrarias, das universi universidades dades e até mesmo das institui nstituições ções reli religiosas. iosas. Mas, nesta caminhada profissional e missionária que tenho feito na comunicação católica, tenho percebido que um diferencial pode ser oferecido àqueles que precisam usar a fala como instrumento de evangelização. Esse algo a mais proposto aqui é o ato de aliar o desafio de falar em público ao apelo bíblico “não tenhais medo”. A frase “não tenhais medo” é recorrente na Palavra de Deus. Jesus diversas vezes exortou Seus discípulos a não terem medo. E, a partir da Palavra, eles aceitaram o desafio, romperam com o temor e conseguiram espalhar o cristianismo pelo mundo ao longo dos séculos. O ato de falar em público, seja para qual for o público, é sempre desafiador. De fato, é algo grandioso, emblemático, que humanamente pode provocar insegurança em quem fala. Neste livro, quero, humildemente, partilhar um olhar diferenciado sobre essa dinâmica. Espero que, com a força eficaz da Palavra de Deus, você possa ter a graça de olhar o mundo sob um aspecto mais leve, mais humano. Ao aliar uma experiência oracional à informação e à técnica, você vai perceber que falar em público é um dom de Deus e, por isso, não combina com o medo.
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A importância de se comunicar Deus disse: di sse: “Façamos o ser humano à nossa imagem i magem e segundo nossa semelhança”. (Gn 1,26) Não há dúvidas dúvidas de que se comunicar comunicar é fundamental para que as nossas relações relações sociais sejam estabelecidas, desenvolvidas e consolidadas. A comunicação pode ser estudada e analisada sob diversas óticas, e são várias as formas de se estabelecer processos de comunicação. comunicação. Mas, aqui, aqui, nosso foco será a comunicação comunicação verbal, verbal, pela pela palavra. palavra. Afinal Afinal,, estamos trabalhando trabalhando com o “falar” “falar” em públi público. Muitas pessoas têm a capacidade de arruinar a própria vida com palavras proclamadas proclamadas na hora errada, no lug ugar ar errado e para a pessoa errada. P alavras alavras maldi malditas tas podem provocar tragédi tragédias, as, acabar com famíli famílias, empresas, amizades. P or outro lado, pessoas inteli nteligentes, com sabedoria, sabedoria, constroem relacionamentos relacionamentos sóli sólidos também por meio de palavras, depois de submeterem seus pensamentos a um filtro rigoroso: “Se eu falar isso, acabarei ajudando ou atrapalhando?” A palavra é tão preciosa na comunicação que foi fecundada com muito carinho já no coração divino. O mundo foi criado pela Palavra de Deus, e o ser humano, também. “Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança” (Gn 1,26). Se lermos o primeiro capítulo de Gênesis com atenção, perceberemos que a palavra palavra foi o instrumento chave usado pelo pelo Criador Criador para dar forma à criação. criação. P or isso, devemos ter a clara consciência de que também nós, criaturas, temos o poder de construir construir ou destruir, destruir, dependendo da maneira maneira como a usamos. Em Provérbios vamos encontrar: “Língua pacificadora é árvore de vida; mas a ambiguidade quebranta o espírito” (Pr 15,4). Grandes oradores, palestrantes, advogados, políti políticos, cos, usam a palavra palavra para construir construir sua carreira. P or meio de discursos discursos escritos escritos e falados, além, é claro, do próprio testemunho, eles conseguem convencer o público de algo. Mas lembre-se de que pela palavra as pessoas oficializam o que pensam, o que sentem, por isso, ter cuidado com o que fala é o primeiro passo para fazer uma comunicação construtiva, que agrega, ao invés de provocar divisões. Faça agora o exercício de relembrar momentos em que você usou a palavra para construir e momentos em que as usou para destruir. Primeiro, pense nas situações em que você foi chamado a ser conciliador, aquela pessoa capaz de acalmar as confusões em casa, no trabalho, na comunidade ou em qualquer outro tipo de grupo do qual participe. 14
Analise como você usou as palavras, desde o conteúdo de seu discurso e os termos que foram utilizados até o tom e a impostação da voz. Depois, pense nas situações não tão agradáveis pelas quais passou. Você talvez já tenha provocado, com sua voz, tumulto, desconforto, inimizades, ira, raiva. Se isso aconteceu, tente relembrar quais palavras você usou e por que o fez. Esse exercício é fundamental para começarmos um trabalho de autocrítica do nosso jeito de nos comunicarmos. É um mecanismo de autoavaliação. Não podemos correr o risco risco de pensar que as palavras palavras destrutivas destrutivas só saem da boca dos outros, nunca da nossa. Tendo essa consciência, é possível dar passos concretos no caminho da boa comunicação. Como vivemos em comunidade, e não numa ilha, isolados, devemos usar as palavras como ponte para a felicidade. A importância de se comunicar é justamente essa: facilitar a resolução das nossas atividades. Se as nossas demandas são atendidas de modo mais fácil, podemos alcançar a felicidade de uma maneira muito mais simples, sem tumulto ou confusão. Para que criar barreiras, ou seja, confusão, com as nossas palavras, se podemos criar pontes? Por outro lado, temos que levar em consideração uma questão ainda mais grave: a que diz respeito às pessoas que, por medo, deixam de se comunicar. Evitam falar – especialmente quando se trata de falar para um público grande –, com receio de serem criticadas, julgadas. Esse receio pode ter origem na simples e, muitas vezes, natural timidez, mas pode agravar-se até tornar-se um medo contínuo, uma fobia e, posteriormente, posteriormente, uma síndrome (a síndrome do pânico, pânico, da qual o falar falar em públi público seria seria um gatilho). Esse caso é ainda mais delicado, pois essas pessoas, além de não particip participarem arem de um processo evoluti evolutivo, vo, de melhori melhoriaa no uso das palavras, palavras, sofrem demasiadamente por se sentirem isoladas, por não conseguirem se comunicar. Esse recolhimento forçado pelo medo paralisa a pessoa, impede que ela cumpra a vontade de Deus no mundo. Portanto, convidamos você a, tendo a consciência dessa realidade traumática do medo de falar em público, pedir a presença do Espírito Santo em sua vida, para que as barreiras que têm dificultado sua comunicação – consigo mesmo e com os outros – sejam derrubadas. Faça esta oração, pedindo ao Espírito Santo que o ajude a ser um vencedor na arte de se comunicar: Deus Pai, bondoso e cheio de misericórdia, misericórdia, em nome de Jesus, Jesus, peço que o Teu Espírito Santo venha em meu auxílio nesta área da minha vida. Reconheço que tenho medo de falar em público, de me relacionar com as pessoas. pessoas. A partir da revelação desta minha dificuldade, dif iculdade, clamo para que a luz l uz do Teu Espírito cure qualquer tipo de trauma que possa ter causado essa paralisia em mim. Que o Teu sangue, ó Pai, cure todas as feridas na minha alma. Abro-me neste momento à Tua graça. Entrego toda a minha vida vi da a Ti. E que, pelo poder do Teu Santo Nome, esta leitura e tudo que será proposto proposto
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neste livro possam me livrar de todo o medo de falar em público. Amém.
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Você tem medo do microfone ou da crítica? Pois Deus não nos deu um espírito espíri to de covardia, mas de força, de amor e de moderação. (2Tm 1,7) Por meio da experiência com assessoria de comunicação e com o trabalho pastoral, tenho percebido que muitas pessoas que ocupam espaços de liderança na sociedade como um todo, e especificamente na Igreja, têm receio de expor suas ideias em público. São pessoas que, além de terem medo de falar para um grande público, não conseguem apresentar seus projetos e argumentos, pois não foram preparadas para serem criticadas. Afinal, quem gosta de ser criticado? Não é fácil fácil encontrar pessoas que recebem fortes críticas críticas e conseguem conseguem se levantar, evantar, com autoridade, e prosseguir com seu caminhar, sem sofrer algum tipo de abalo psicol psicológ ógiico. As que conseguem, conseguem, provavelmente provavelmente tiveram experiênci experiências as que as fizeram criar, criar, em sua mente, uma espécie de enclave, uma fortaleza capaz de filtrar rapidamente as críticas, para analisá-las e, posteriormente, guardar o que for produtivo e apagar o resto. Para falar em público, devemos ter ciência de que a exposição pessoal faz parte da liturgia do púlpito e, por si só, dará brechas para críticas. Todo mundo que se expõe corre o risco de ser criticado, inclusive publicamente. Faz parte do jogo. A partir do momento que o professor fala na sala de aula, que o padre faz a homilia, que o político profere o discurso, discurso, cada um deles deles se sujeitará sujeitará à análise análise de um públi público heterogêneo heterogêneo e, certamente, crítico. Até porque hoje em dia dificilmente encontramos públicos homogêneos em nossas plateias, e quanto mais diversificado for o público, maiores as probabil probabilidades de quem faz o uso da palavra receber uma crítica. crítica. Quando pergunto a uma pessoa se ela tem medo de usar o microfone, e ela responde positi positivamente, vamente, log ogoo a indag indagoo se o aparelho aparelho pode provocar-lhe provocar-lhe alg algum dano. A resposta é negativa, então prossigo: “Pegue o microfone, coloque perto da sua boca e continue a conversar comigo.” A pessoa, imediatamente, rejeita a ideia, dizendo que tem vergonha, que não gosta da própria pr ópria voz, entre e ntre outras outr as coisas. Diante disso, eu e u pergunto: “Você tem medo do microfone ou do que eu vou pensar da sua voz, do seu jeito de falar ou do que você vai falar?” Essa é uma pergunta chave que você pode fazer para identificar que teme não o microfone, mas a crítica. O medo do microfone é um pretexto para não ocupar os espaços públicos. Na realidade, as pessoas que têm esse medo sentem uma forte rejeição à possibilidade de 18
serem analisadas, observadas. Ao conhecer o passado de quem tem medo das críticas e de falar em público, notamos que são pessoas que tiveram sua personalidade formada em “ilhas”. São seres humanos inseguros, que sofreram um processo de isolamento em alguma etapa da vida – talvez na primeira infância, na infância, na adolescência – e não conseguiram corrigir isso, o que acabou por afetar-lhes a vida adulta. Chegaram à fase adulta sem trabalhar a convivência e a comunicação em grupo. O relacionamento comunitário foi afetado, por conta disso não conseguem se ver e se deixar ver sob a ótica conjunta da sociedade e em sociedade. Isolam-se, ficam trancadas em seus mundos e, quando são demandadas a falar em público, se sentem acuadas. Os calafrios são evidentes, a garganta seca, as mãos transpiram, as pernas não param de tremer e surge aquele branco na memória, no exato momento em que mais precisam dela. Com tanto medo, não há comunicação que se torne eficiente. Por isso, é necessário descobrir a ferida causada pelo trauma que provocou essa marca na personalidade daquele que teme e rezar por sua cura. Há, por exemplo, pessoas que, na infância, não receberam limites e não tiveram a contribuição afetiva e efetiva de uma autoridade familiar e escolar; essas pessoas provavelmente terão mais dificuldades para enfrentar críticas: críticas: ou se tornam pessoas arrogantes, arrogantes, que se acham “donas da verdade”, e por isso não levam crítica alguma em consideração, ou vão para o outro extremo, para o da timidez excessiva e para o isolamento, que pode ser doentio. A boa educação é aquela que nos prepara para conviver com o próximo e respeitar o que é diferente. Reconhecer que o outro pensa diferente de mim – e que isso é legítimo – é o primeiro passo para conviver com as críticas. Se o outro, pela sua natureza, pode pensar diferente diferente de mim, por qual motivo motivo eu deveria deveria supor que em nosso diálo diálogo go não pode haver discordância, discordância, um segundo ponto de vista? Ou você acha, realmente, realmente, que todo mundo tem que pensar e agir como você? O respeito às diferenças é algo tão fundamental para que convivamos com o outro que, em 2010, o Papa emérito Bento XVI dedicou parte do Discurso no Encontro com o Mundo da Cultura para tratar do respeito aos que pensam e agem de forma diferente: Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza (Discurso no Encontro com o Mundo da Cultura, Belém, Lisboa, 12 de maio de 2010).
Conviver com as críticas é saudável para que haja uma pacífica convivência com o diferente.
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A boa e a má crítica: a crítica dos amigos e a dos invejosos Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós! Se ele te ouvir, terás ganho o teu irmão. (Mt 18,15) Essa passagem do Evangelho segundo São Mateus trata da reação que o cristão deve ter para com a pessoa que está em pecado. Escolhi-a porque ela pode ser utilizada também para se referir àquele que precisa de correção em qualquer área, não somente no que diz respeito ao pecado. Muitas vezes, somos chamados a exortar, a corrigir, a aconselhar pessoas que precisam de referenciais para dar novos passos na vida, mas devemos saber como fazê-lo. A “correção” citada na passagem de Mt 18,15 se adéqua perfeitamente ao assunto que abordaremos neste tópico. Trata-se da crítica, da análise fraterna. É bom dizer que quando falamos em crítica não estamos resumindo e limitando o significado da palavra a seu sentido pejorativo. Ela é mais abrangente. Crítica deve ser entendida como análise, avaliação. E em muitos casos, a crítica pode ser positiva e se tornar uma ponte para o sucesso. Quando um amigo seu é convidado a expor um projeto na empresa e, durante sua fala, você percebe que ele precisa de dicas para aprimorar a apresentação, você se dispõe a ajudá-lo ou prefere ficar calado, para não criticá-lo? A pergunta é para nos posicionar como pessoas críticas. Temos medo da crítica, receio de fazer uma crítica positiva, mas às vezes fazemos críticas negativas sem nos importar com isso. Claro, é muito mais fácil atirar pedras do que ser vidraça. Todos somos seres críticos. Uns mais, outros menos, o que vai depender da nossa formação humana, educacional e cultural. E, neste aspecto, todos nós, em algum momento da vida, passamos por situações situações em que somos desafiados desafiados a anali analisar o outro e dar-lhe dar-lhe nossa opinião. E aí está o motivo de muita gente ofender o próximo. Sem discernimento, há pessoas que abrem a boca para destruir ao invés de ajudar. Em vez de aplicar a metodologia da correção fraterna, alguns preferem dizer palavras ásperas, desconcertantes e invejosas no momento de avaliar o outro. É importante reconhecer que muitas vezes somos vítimas disso. Por outro lado, há momentos em que nós nos tornamos a pessoa que não sabe corrigir com fraternidade. Quando isso acontece, também causamos os traumas que já citamos e que podem levar ao medo de 22
falar em público. Existem boas e más críticas. Como saber qual das duas me foi dirigida? É complexo. Peguemos o caso de Jesus, segundo o Evangelho narrado por São Mateus. O Mestre nos diz: “Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós!” (Mt 18,15). Aí já temos algumas chaves que podem nos ajudar. O verbo “corrigir” tem um significado maravilhoso; quer dizer suprimir os erros, provocar conversão, mudança de rumo, de atitudes. atitudes. Quem quer nos corrigi corrigir é porque nos ama, certo? Sim, mas nem sempre. A correção que parte de corações invejosos pode provocar o contrário. Ao invés de nos ajudar, pode nos atrapalhar e paralisar. O filtro que devemos ter é o da amizade verdadeira. Conforme indica Jesus, o primeiro passo da correção fraterna é o “estar a sós”. Certamente você já presenciou cenas em que pessoas foram corrigidas ou criticadas em público. Você se recorda de como essas pessoas reagiram? Será que elas gostaram? Será que a crítica pública fez bem ou mal para elas? É muito provável que tenha causado traumas. Quando o pai, a mãe, a professora, qualquer superior chama a atenção de uma criança na frente dos irmãos, dos coleguinhas ou até mesmo de adultos, a criança fica perdida, perdida, sente-se humil humilhada, sem direção, direção, e pode até ficar ficar com mágoa da pessoa que a corrigiu. A crítica, portanto, deve ser feita a sós, assim como nos ensinou o Mestre. Chamar uma criança para uma conversa em particular é muito mais saudável para sua vida psíquica do que expô-la de modo constrangedor na frente dos outros. Pessoas são indivíduos e devem ser tratadas de forma personalizada, caso contrário, corremos o risco de banalizar as nossas relações humanas e deixar de compreender os sentimentos alheios. O resultado dessa perigosa escolha pode ser desastroso no processo comunicacional. Depois de uma frutuosa conversa a sós, é hora de avaliar a reação do outro. Se a pessoa acolhe a crítica, o assunto está encerrado. Ago gora, ra, se ela não faz uma autocrítica autocrítica e deixa de evoluir e aplicar as melhorias sugeridas na correção, devemos voltar ao conselho de Jesus: “Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, de modo que toda questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas” (Mt 18,16). Sendo a crítica pública, torna-se mais difícil contornar e ignorar a situação. Além disso, dessa forma torna-se mais simples comprovar se a crítica é fraterna ou fruto da inveja, pois outras pessoas também se manifestarão a respeito. É muito mais fácil para a nossa convivência social seguir os passos de Jesus na área da comunicação. Com respeito, humildade e serenidade, é perfeitamente viável falar com nosso irmão a respeito dos erros que pode estar cometendo em sua comunicação. Todavia, infelizmente, não estamos rodeados apenas de pessoas amigas e agradáveis. 23
Ao nosso redor, no dia a dia, se aproximam de nós pessoas rancorosas, mal-amadas, mal resolvidas e invejosas. O relacionamento com essas pessoas deve ser muito radical e seletivo. Você mesmo pode tirar suas conclusões: vale a pena dar ouvidos a pessoas desse tipo? O invejoso, quando vai criticar, tem como objetivo destruir aquele de quem tem inveja, por isso seu ataque é feito especificamente contra a pessoa invejada. Assim, a pessoa vitimada vitimada com a crítica crítica destrutiva destrutiva corre o risco risco de se sentir sentir humil humilhada e de acabar parali paralisada e sem forças para retomar o caminho. caminho. Tome cuidado cuidado com os invejosos, pois pois eles são um perigo para os nossos projetos e sonhos. Fuja deles, mas, ao mesmo tempo, reze por eles. Em inúmeros casos, o medo de falar em público se enraizou na vida da pessoa por causa de más críticas, vindas, em grande parte das vezes, de dentro de sua própria casa, dos mais próximos. Por isso, todos nós precisamos rezar para que palavras maldosas, intencionalmente destrutivas, sejam eliminadas do nosso consciente e inconsciente. A certeza de que somos feitos para a vitória deve nos dar força para enfrentar todos os desafios da vida, inclusive o de se apresentar publicamente. Senhor Deus Pai, assim como agiste na vida de Moisés, dando a este Teu servo a graça de liderar um povo que estava perdido, pedimos que derrame agora em nossa vida a graça de enfrentar os desafios públicos que nos são apresentados. Moisés, que era gago e tinha grande dificuldade de se comunicar verbalmente, foi um dos maiores líderes que a história humana já registrou. Que o Teu Espírito Santo venha agora desbloquear o meu consciente e inconsciente, permitindo que eu dê passos passos na f é. Que pela oração a minha mente seja lav ada pelo Teu amor e que a partir disso eu entenda que o Teu poder é infinitamente maior do que qualquer crítica negativa e maldosa que eu tenha recebido quando estava no ventre materno, na minha primeira infância, na infância, na adolescência, na juventude ou na fase adulta. Creio em Deus Pai...
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Timidez Vendo o Senhor que Moisés se aproximava para observar, Deus o chamou do meio da sarça: “Moisés! Moisés!” Ele respondeu: “Aqui estou!” (Ex 3,4) Você se considera uma pessoa tímida, acanhada? Essa característica da sua personali personalidade tem o atrapalhado atrapalhado e impedido mpedido que você desenvolva desenvolva relações relações sociai sociaiss mais profundas? Ou você se considera considera apenas uma pessoa “na sua”, cautelosa, cautelosa, observadora, que prefere falar pouco e pensar mais? Timidez é uma palavra originária do latim, derivada do verbo timere, que significa temer ou ter medo. Temos que compreender que a timidez não é uma doença. Nada disso. Todos nós temos o direito de ser tímidos em determinadas fases e situações da vida. Mas a timidez pode se tornar um grave problema na vida das pessoas quando é excessiva, ao ponto de se tornar um mecanismo agressor em que a pessoa passa a não exprimir seus sentimentos, vontades, desejos e pensamentos, tudo por causa do medo de ser o foco da atenção dos outros e alvo de seus comentários. O isolamento social da pessoa tímida aumenta a cada dia, como uma bola de neve. Em alguns casos, a timidez antecede a depressão, e, aí sim, se torna um problema de saúde. Todos nós temos a necessidade intrínseca de nos expressar, de sermos reconhecidos e ouvidos. É da nossa natureza. Precisamos do outro o tempo todo. E a timidez excessiva impede que essa característica natural faça parte do nosso ser. O oposto da timidez é o exibicionismo, característico de gente que faz de tudo para aparecer. Devemos ter um equilíbrio, para evitar os dois extremos. Precisamos ser pessoas livres, seguras, seguras, capazes de discerni discernirr os momentos em que devemos sil silenciar enciar e quando devemos aparecer. apare cer. Mas se sou tímido, como vencer isso em minha vida? Neste capítulo, vamos nos atentar a dois exemplos bíblicos: Moisés, do Antigo Testamento, e São Pedro, já contemporâneo a Cristo. Cristo. A gagueira de Moisés poderia ser uma boa desculpa para não aceitar a ordem de Deus, que queria que ele fosse instrumento da libertação do povo israelense no Egito. Mas, prontamente, Moisés disse “sim” ao projeto de Deus. “Ele respondeu ‘Aqui estou!’” (Ex 3,4). Porém, dizer sim a Deus naquele momento não significava que ele não tinha receio. 26
Pensativo – como geralmente o são pessoas equilibradas –, Moisés questionou o Senhor, quando Ele disse como deveria ser a missão libertadora do povo: “Mas se eles não acreditarem em mim, nem atenderem, mas disserem ‘O Senhor não te apareceu’?” (Ex 4,1). Moisés era um homem que tinha tudo para ser retraído, tímido, inseguro, já que fora rejeitado, abandonado no rio Nilo para morrer nas correntezas. No entanto, ele preferiu superar todos os traumas, inclusive a fala truncada, e dialogou com o Senhor. No diálogo, Deus agiu, conversou com ele e mostrou-lhe as etapas da difícil tarefa de conduzir um povo como aquele, de cabeça tão dura. A timidez poderia ter sido responsável por interromper a conversa logo no início, mas não foi isso que aconteceu. Após Moisés Lhe revelar sua deficiência de fala, Deus o instruiu, dizendo que Aarão seria a pessoa que o auxiliaria na comunicação: Moisés disse ao Senhor: “Pobre de mim, Senhor! Nunca tive facilidade para falar, nem antes, nem agora que falas a teu servo. Tenho boca e língua pesadas”. O Senhor respondeu-lhe: “E quem é que dá a boca ao ser humano? Quem faz o surdo e o mudo, o cego e aquele que vê? Por acaso não sou eu, o Senhor? Vai, portanto, que eu estarei com tua boca e te ensinarei o que deverás dizer”. Moisés replicou: “Pobre de mim, Senhor! Por favor, manda um outro”. O Senhor ficou irritado com Moisés e disse: “Não tens teu irmão Aarão, o levita? Eu sei que ele fala muito bem. Ele está vindo pessoalmente a teu encontro e ficará alegre em te ver. Tu lhe falarás e lhe transmitirás as mensagens, e eu estarei com os dois para falardes, e vos mostrarei o que deveis fazer. Ele falará por ti ao povo e será teu porta-voz, e tu serás um deus para ele. Leva contigo esta vara. É com ela que deverás realizar os sinais” (Ex 4,10-18).
Podemos dizer que Aarão foi uma espécie de Secretário da Comunicação de Moisés, a quem, como vemos, não faltou apoio espiritual e humano. Aos poucos, graças a esse apoio, Moisés começou a enfrentar as autoridades, a resolver problemas e a profetizar em nome de Deus. Se a timidez tivesse tomado conta de sua vida, a história da humanidade seria outra. Talvez você também precise de um auxílio para vencer o medo de falar em público. esse exemplo bíblico, Aarão falava por Moisés, mas você talvez precise buscar outros auxílios, como um tratamento psicológico ou de um fonoaudiólogo, que pode ajudá-lo a vencer os traumas que o bloqueiam. Hoje em dia, Deus nos ajuda disponibilizando outros recursos, diferentes dos disponibilizados a Moisés, para concluir a travessia do nosso êxodo pessoal. Nunca deix deixe de se lembrar do sim de Moisés, bem como do sim de Maria, que respondeu positivamente ao receber a mensagem do Anjo Gabriel, que dizia que ela iria conceber o Salvador sem ter tido relação com homem algum. Os milagres de Deus em nossa vida acontecem sempre por meio de uma ação conjunta, por meio de uma atitude proativa proativa de nossa parte. “Aqui estou!” estou!” (Ex 3,4). Atentemo-nos, agora, ao exemplo do apóstolo Pedro. Pescador, de origem humilde e sem estudos (cf. At 4,13), São Pedro foi escolhido por Jesus para ser o primeiro “chefe” 27
da Igreja primitiva. Nós, católicos, temos Pedro como o primeiro Papa da história. Jesus poderia poderia ter escolhi escolhido do qualquer outro com mais instrução instrução do que o pescador, pescador, mas preferiu Pedro, pois acreditava que ele não permitiria que os problemas de seu passado se tornassem um bloqueio em sua missão. Pedro, depois de aceitar o desafio colocado pelo Mestre, deixou toda a vergonha e apatia de lado e liderou a maior preparação para se propagar o Evangelho, missão posteriormente posteriormente executada executada por São P aulo. aulo. Muitos Muitos afirmam afirmam que o cristi cristiani anismo smo se tornou conhecido, inicialmente, por causa da liderança de Pedro, e posteriormente pela estratégia de marketing e propaganda que São Paulo soube muito bem utilizar. Pedro sabia que proclamar o Evangelho se tratava de uma missão e que por isso amais poderia deixar-se vencer pela timidez. O exemplo de Pedro é prático: “Não podemos deixar deixar de falar falar sobre o que vimos e ouvimos” ouvimos” (At 4,20). 4, 20). Assim ssim também devem proceder todos os que querem vencer o medo de falar falar em públi público. Falar Falar em públi público e vencer a timidez requer uma atitude imediata. O processo de cura interior talvez não seja tão rápido, mas a ação de sair de casa, do casulo, da ilha, ou de qualquer que seja a prisão prisão em que você se isolou, solou, deve ser um ato prático prático de fé. Peço, agora, licença para contar o meu testemunho de luta contra a timidez. Na minha infância, eu tinha muita vergonha de fazer novas amizades, de me relacionar com colegas de outras salas de aula e de outros grupos. Ficava restrito sempre às mesmas amizades, às pessoas com as quais me sentia mais seguro. Também nas reuniões e nos almoços de domingo da família, eu ficava retraído. Havia dias em que, nesses almoços, não dizia sequer uma palavra. Entrava mudo e saía calado. Chegou um momento da minha vida, no início da adolescência, em que eu já não aguentava mais segurar a vontade de me expressar, de falar, de fazer novas amizades. Mas eu não sabia por onde começar e muito menos como pedir ajuda. Logo que fiz dezesseis anos, no entanto, decidi dar um passo na fé. Para muitos, apenas mais uma loucura de um adolescente em época de inquietação. Desde criança – até hoje, pela graça de Deus –, costumo fazer minhas orações na igreja quase todos os dias da semana. No meio do dia, depois de rezar diante do Santíssimo na igreja Nossa Senhora de Fátima, em Cianorte, Paraná, Deus me impulsionou a escrever uma carta para o dono de uma rádio e pedir a oportunidade para aprender a ser locutor. Fui para casa, escrevi a carta e a entreguei pessoalmente na emissora. Dias depois, o gerente da rádio me ligou, dizendo que eu estava sendo convidado a fazer uma experiência, já que ele havia sido tocado pelas minhas palavras. Foi uma das experiências mais marcantes da minha vida, pois eu não conhecia ninguém que pudesse me indicar para um emprego daqueles. Foi pela graça de Deus. Quando comecei a fazer locução, ninguém acreditava que 28
era eu quem falava no microfone da rádio da cidade. Era no estúdio fechado que conseguia me expressar, e ali não tinha vergonha nem medo. Aos poucos, fui dando outros passos e comecei a falar em lugares públicos, a fazer leituras nas missas, nos cerimoniais, até que um dia ousei ainda mais e decidi largar uma vaga no curso de administração em uma universidade pública, depois de um concorrido vestibular, para fazer jornalismo na faculdade privada. Uma decisão radical que me fez transformar o “falar em público” em profissão. Confesso que até hoje há momentos de frio na barriga, quando vou me apresentar para qualquer tipo de público e para qualquer quantidade de pessoas. Mas o que me dá força e segurança é a certeza de que tudo é para a glóri glóriaa de Deus, e não pela nossa vaidade humana e passageira. passageira. Quando temos o encontro pessoal com Jesus, não olhamos mais para o lado e não perdemos mais tempo com preocupações desnecessárias, desnecessárias, como o receio das críticas críticas e dos comentários dos outros sobre o nosso jeito de falar, de se vestir, de andar etc. E depois que fazemos essa experiência de ousar e vencer a timidez, temos a coragem de impulsionar os outros a fazerem a mesma coisa. É o que estamos propondo neste livro. “Apresentai-vos no templo e anunciai ao povo toda a mensagem a respeito desta Vida” (At (At 5,20). 5, 20). Romper com a cadeia da timidez não significa necessariamente desenvolver o desejo de ser um apresentador de televisão, um grande orador ou pregador. Quem sabe a sua missão – não menos grandiosa! – seja falar apenas com seus familiares, vizinhos, colegas de trabalho, da comunidade. Conforme for vencendo a timidez, você irá perceber qual é a sua missão e como é essencial vencer o medo de se relacionar para cumprir a vontade de Deus na sua vida. Pai, em nome de Jesus, Jesus, clamo agora que o Teu Espírito Santo, o mesmo que agiu em Moisés, que impulsionou Maria e que deu segurança a Pedro, me conceda a graça de vencer a timidez. Que a partir de uma decisão pessoal, eu possa me levantar para uma vida nova. Que nada seja capaz de impedir a realização da Tua promessa em minha vida. Sei que sou pecador, limitado e cheio de defeitos. Mas também sei que sou Teu f ilho querido e amado e, por isso, não preciso preciso ter t er medo de seguir em f rente. Mesmo ainda sem todas as forças f orças para para me lev antar, antar, me coloco a caminho, em Teu Nome. Ave Maria... M aria...
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A diferença entre humildade e timidez A humildade humi ldade exprime expri me uma das raras certezas que exi stem: a de que ninguém ni nguém é superior a ninguém. ni nguém. (Paulo Freire) São Francisco de Assis, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce e Zilda Arns eram pessoas humil humildes, não tímidas. tímidas. Muita Muita gente confunde timi timidez dez com humil humildade. Não têm nada a ver, assim como timidez não significa o mesmo que introversão, e esta última pode até ser uma grande quali qualidade. Muitos Muitos introvertidos ntrovertidos são altamente altamente criativos, criativos, pois pois dedicam o tempo que passam sozinhos para se preparar, estudar e promover grandes inovações sociais. Não é preciso preciso deix deixar de ser humil humilde para deix deixar de ser tímido. tímido. Você pode, e deve, vencer a timidez preservando a humildade. No entanto, há quem crie um personagem, vista uma máscara, para parecer uma pessoa humilde. Tentam combater a timidez com uma espécie de “falsa humildade”, um desmerecimento de si próprio que, no fundo, é uma tática teatralizada para chamar a atenção dos outros. A falsa humildade é uma máscara usada por aqueles que ainda não conseguiram ultrapassar os desafios da luta contra a timidez e se tornaram pessoas “excessivamente quietinhas”, que não abrem a boca pra nada quando estão em público, tentam esconder e minimizar seus feitos, mas, no fundo, não se reconhecem assim e sabem que isso é apenas uma representação. Elas têm consciência do que estão fazendo e, quando estão em um grupo menor, mais íntimo, mostram como são verdadeiramente, já que ninguém consegue viver com uma máscara por muito tempo e em todo lugar. A humildade verdadeira brota do interior. Ser humilde não significa, necessariamente, que eu tenha de andar com roupas sujas, velhas, desgastadas; essa é uma imagem estereotipada de falsa humildade. Por isso, no início do capítulo, citei os nomes de Francisco, Tereza, Dulce e Zilda. Neles, vejo exemplos extraordinários de uma humildade verdadeira e revolucionária. Francisco decidiu pela radicalidade, também a exterior, pois na época em que ele viveu era imprescindível que a própria Igreja se revestisse de uma pobreza maior, necessária para um testemunho coerente. Tereza, em Calcutá e no mundo inteiro, se fez pobre, mas nunca se curvou a nenhum tipo tipo de poder opressor que quisesse quisesse iludi iludirr e explorar ainda mais o povo sofrido. Dulce, o Anjo Bom da Bahia, tinha voz baixa, olhar modesto, mas por dentro era uma fortaleza sem precedentes, capaz de enfrentar autoridades em benefício do povo 31
pobre, que tinha tinha fome. Zil Zilda não precisou precisou deix deixar de se vestir vestir de maneira maneira elegante, elegante, como gostava, para defender as crianças do Brasil e do mundo. Inclusive, todas as vezes que tive a oportunidade de estar com doutora Zilda notei essa qualidade nela: a de se vestir muito bem para estar bem com os outros. A beleza externa de dona Zilda era o reflexo da própria própria doçura interna, contagi contagiante e que estimul estimulava ava as líderes da P astoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa a serem pessoas mais bonitas, alegres e cheias de vida. Tive a oportunidade de entrevistar dona Zilda Arns em 2008, e a última pergunta que a fiz foi se ela imaginava um dia ocupar o lugar dos santos na Igreja. Ela, surpresa com a pergunta, pergunta, sorriu sorriu e disse, disse, humil humildemente, que para “ser santa faltava faltava tudo”. Mas, ao mesmo tempo em que sabia que poderia soar como prepotente falar sobre a própria santidade, dona Zilda apontou caminhos: “Eu procuro fazer com que o amor se espalhe. O amor é capaz de fazer milagres. Mas não é que eu vá ser santa. Isso é uma obrigação de todo cristão.” Vejam como dona Zilda era humilde, pé no chão e confiante. A confiança dela estava em Cristo. A timidez não fez parte da vida pública de dona Zilda. Se tivesse feito, o mundo não conheceria os benefícios das pastorais criadas por ela. Humildade faz a pessoa ter firmeza nos propósitos. Os sonhos e metas ganham segurança e terreno propício para o desenvolvimento de projetos. Ser humilde não é ser tímido. A humildade nos fornece alicerce seguro para buscarmos sempre uma força interior capaz de nos proporcionar a resiliência, que é a qualidade de saber lidar com os problemas problemas e superar os obstáculos obstáculos da vida. vida. Final Finalizamos izamos este capítulo capítulo com uma frase de Madre Tereza que nos motiva a lutar por essa força inspiradora que será uma grande aliada na luta contra o medo: “Tem sempre presente que a pele se enruga, que o cabelo se torna branco, que os dias se convertem em anos, mas o mais importante mão muda: tua força interior” (Madre Tereza de Calcutá).
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Bullying e a sociedade individualista A ninguém ni nguém pagueis paguei s o mal com o mal. Empenhai-vos em fazer o bem diante di ante de todos. Na medida medi da do possível e enquanto depender de vós, vi vei em paz com todos. (Rm 12,17-18) Que nossa sociedade é desigual e individualista não é segredo para ninguém. Todos nós sentimos na pele os reflexos das desigualdades sociais e agora, talvez mais do que nunca, estamos presenciando o convívio com uma coletividade segregada, em que todos estão juntos e separados ao mesmo tempo. Quanto mais perdemos o afeto pelo coletivo, pela pela comunidade, mais agressi agressivos vos estamos nos tornando. O isolamento e a segregação social têm feito que a quantidade de condomínios fechados em todos os cantos do Brasil ganhe estatísticas alarmantes. Cercas, grades, muros altos, tudo para dizer que uns vivem “mais seguros” e que os outros são perig perigosos. Essa civil civiliização em que estamos incluídos ncluídos agora deu nome a um perigo perigoso so jeito de se comportar de indivíduos frutos dessa sociedade individualista e violenta: bullying . Antigamente também havia casos de bullying , mas apenas recentemente essa denominação denominação ganhou destaque e passou a ser alvo de campanhas cam panhas de conscienti conscientização, zação, que vão contra tal prática. Na minha minha infância, nfância, talvez talvez na sua também, as crianças crianças brincavam brincavam nas ruas dos bairros, bairros, nos parques, com a vizin vizinhança. hança. Hoje, em seus condomínios condomínios “altamente “altamente seguros”, elas não têm contato algum com o diferente. Estudiosos têm alertado que aí está uma das causas da prática do bullying , situação em que há violência física ou psicol psicológ ógiica de um indivíduo ndivíduo sobre o outro em uma relação muito muito desig desigual de poder, poder, na qual a vítima não consegue pedir ajuda e acaba sofrendo transtornos seríssimos pelo resto da vida. Não vamos aqui aprofundar as discussões discussões sobre o bullying . Contudo, trazer a temática para a nossa abordagem pode ser de grande valia para pessoas que têm medo de falar em público. A opressão, o assédio moral e todos os tipos de violência praticados contra crianças e adolescentes estão entre as principais causas do medo da exposição pública. ormalmente, quem sofre bullying não tem coragem de denunciar, por causa da constante ameaça do agressor. A vítima se retrai a tal ponto que chega a pensar que é ela quem está errada, correndo o risco de ficar presa em uma espécie de jaula, cujo carcereiro é quem agride. A chave dessa prisão está com o agressor. A vítima se anula, 34
não se desenvolve e se torna uma pessoa extremamente retraída, fechada, insegura, e falar em público, por conta disso, provavelmente se tornará um grande pavor. O bullying é uma covardia. Precisa ser denunciado. Repare nas crianças e nos adolescentes que convivem com você e tente notar se há algum indício de que esse crime esteja ocorrendo. Além disso, também é prudente saber quem são as pessoas que fazem parte de sua vida. Acompanhar a trajetória trajetória escolar, escolar, conhecer os amigos amigos e ficar ficar atento até mesmo aos relacionamentos dos familiares são atitudes importantes que devem ser constantes para evitar que qualquer tipo de violência seja cometido contra nossas crianças crianças e jovens. Se você não souber como ajudar a criança ou o adolescente, ou até mesmo o adulto, que sofre com isso, peça ajuda. Procure especialistas que possam acompanhar o caso mais mais profundamente. No decorrer da nossa cami c aminhada, nhada, temos encontrado pessoas que foram vítimas vítimas desse tipo de violência; eram extremamente tímidas, mas conseguiram dar um salto qualitativo em suas vidas e hoje são pessoas confiantes, empreendedoras e felizes. O acompanhamento, o bom conselho, a vida familiar saudável e um bom lugar para os momentos de oração são algumas bases que vão ajudar muito quem tem medo de falar em público e sabe que esse temor surgiu com o bullying .
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O autoconhecimento e a cura interior no combate à timidez Cura-me, Senhor, e ficarei curado; salva-me e serei salvo, porque és tu a minha glória. (Jr 17,14) Quando vamos ao médico, temos que dizer a ele quais são as nossas queixas, dores, o que nos incomoda e todas as demais informações que ele precisa saber para fazer um diagnóstico preciso e prescrever um tratamento. Na nossa vida espiritual também é assim. Para que sejamos curados das nossas feridas da alma, precisamos saber quais são exatamente essas feridas e quais as origens de cada uma delas. Se o medo de se relacionar e de falar em público está atrelado a um trauma, a uma ferida causada por uma situação ou por uma pessoa, é urgente que se resgate o histórico dos acontecimentos, não para provocar mais sofrimento, mas para limpar o machucado que permanece aberto e causando dor. Muitas pessoas que sofrem de transtornos psíquicos não souberam enfrentar a própria própria históri históriaa e se deix deixaram vencer pelos pelos pensamentos ruins, ruins, e nossa mente precisa precisa estar livre para estar segura e feliz. Mente suja é lugar fértil para pesadelos e uma vida demasiadamente triste, e o material higienizador que varre por completo as sujeiras que poluem o nosso dia a dia é a oração. Sem ela fica mais difícil limpar as imundícies colocadas no nosso consciente e inconsciente, mas eu só sou capaz de limpar o que está sujo com a oração a partir do momento em que eu identifico a sujeira. Tente lembrar agora da situação que possivelmente provocou em você o medo de falar em público. Comece a fazer essa varredura desde a infância. Se tiver dificuldades para lembrar, faça perguntas perguntas a você mesmo. Algumas sugestões: sugestões: como era o relacionamento entre você e os seus familiares, amigos do jardim de infância, professores, vizi vizinhos? nhos? Você foi agredi agredido, do, acuado, amedrontado ou até mesmo se sentiu sentiu abandonado? Você tinha liberdade para brincar? Você era uma criança feliz? Sofreu bullying ? Como era o relacionamento entre seu pai e sua mãe? Se você é órfão, como lidou com a perda do pai, da mãe, ou de ambos? Construa mais perguntas sobre a sua adolescência e juventude. Escreva as repostas e dedique um bom tempo para refletir sobre o seu passado. A partir dessa autoanálise, comece a rezar. Ore pelas pessoas que fizeram parte da sua infância, da sua adolescência 37
e que ainda fazem parte da sua vida. Reze pedindo que o Espírito Santo faça parte da vida vida dessas pessoas também. Com suas próprias palavras, peça que o Sangue de Jesus seja derramado sobre a história de quem o ofendeu, o magoou ou provocou traumas maiores na sua vida. É certo que em alguma fase da nossa vida houve alguém que nos roubou a paz, por palavras palavras ou atos. Peça Peç a que Deus visi visite te agora o momento em que isso aconteceu e cure as feridas provocadas. Se você tiver vontade de chorar, não tenha receio. As lágrimas são necessárias no processo de cura. No caso de orfandade, muitos muitos que perderam os pais pais na infância nfância não conseguem conseguem perdoar Deus, como se Ele Ele fosse culpado culpado pela pela morte repentina repentina dos seus genitores. enitores. Aí também é necessário reconhecer que estamos alimentando uma barreira entre nós e Deus, colocando a culpa dos nossos traumas Naquele que só nos quer bem e nos ama por completo. Se isso acontece com você, peça que o Espírito Santo derrame o Amor da Trindade Trindade Santa em seu relacio relacionamento namento com Deus Pai P ai.. O perdão é primordial no processo de cura e libertação. Perdoe, perdoe, perdoe. Por mais dramática que possa ter sido a situação de trauma, não carregue mais esse peso. Perdoe. Deus precisa dessa sua atitude para realizar coisas grandiosas em você. Há muitas pessoas que teriam tudo para ser tristes, mas por uma decisão radical, escolheram a liberdade, perdoaram, venceram os medos e se tornaram grandiosas. Havia um menino na Polônia que perdera a sua mãe quando tinha apenas nove anos. Criado pelo pai, oficial do exército, a criança cresceu segura com os ensinamentos paternos, porém a marca da perda da mãe causou um vazio muito grande em sua vida. vida. Com o passar dos anos, quando percebeu que mesmo com a morte da mãe havia uma possibi possibillidade de recomeçar, ele ele optou por canalizar canalizar seus sentimentos sentimentos no esporte, na música, na dramaturgia e na filosofia. Posteriormente, perdeu o pai, e o drama da ausência materna e paterna colou um grande ponto de interrogação em sua vida. Desistir de tudo ou seguir em frente? Ele optou por prosseguir; decidiu ser padre. Depois, Karol Wojtyla foi eleito Papa e tornouse João Paulo II, um grande exemplo de homem resiliente. Ele soube lidar com as perdas mais dolorosas e, com a graça de Deus, acabou sendo um instrumento revolucionário para o mundo atual. atual. Wojtyla viveu durante a guerra e sofreu muitos traumas que poderiam torná-lo uma pessoa tímida, tímida, retraída, com medo de falar em públi público. Acabou sendo um dos maiores maiores comunicadores da história da humanidade. Um santo. Não temos dúvidas dúvidas que João Paul P auloo II foi capaz de fazer tudo o que fez por causa de sua capacidade intelectual, no entanto, seus feitos se devem também à graça de Deus, porque Wojtyla ojtyla se afundou nos mistéri mistérios os de Sua misericórdi misericórdia. a. Acreditar creditar cegamente cegamente na 38
Divina Misericórdia foi a grande força propulsora do Papa polonês. Eis um desafio para nós, hoje: vencer os nossos medos, acreditando na Divina Misericórdia. Como o próprio João Paulo II disse na Carta Encíclica Dives in Misericor Miseri cordia dia , em 1980: “A mentalidade contemporânea, talvez mais do que a do homem do passado, parece opor-se ao Deus de misericórdi misericórdiaa e, além além disso, tende a separar da vida vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia.” Deus Pai P ai de infinita inf inita misericórdia, misericórdia, entrego entrego a minha vida vi da em Tuas mãos. Tu tens conhecimento profundo de toda a minha história. Consegues enxergar tudo aquilo que eu não consigo relembrar neste momento. És o Amor, Amor, és a Misericórdia, Misericórdia, carrega-me carrega-me em Teus braços de Pai e de Mãe. Cura-me Cura-me as f eridas, as chagas, os traumas. Dá-me a motivação que vem do Teu Espírito para que eu possa tomar decisões radicais e escolher o caminho da paz, da felicidade e da alegria. Em nome de Jesus, renuncio renuncio agora a todo rancor, todo ódio, toda mágoa, todo ressentimento, ressentimento, e perdoo perdoo todas as pessoas que me feriram. Entrego também elas à Tua Misericórdia. Não quero mais fazer julgamentos. Sei que Tu és o único Juiz e por isso me comprometo hoje a nunca mais condenar as pessoas pelo mal que elas me fizeram. Estão perdoadas. E que eu também possa possa me perdoar perdoar.. Sei que sou pecador, pecador, mas sou f ilho Teu. Amado, querido por Ti, sou mais que vencedor. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém.
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Deus capacita Mas o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, sábi os, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte. (1Cor 1,27) Na P alavra alavra de Deus encontramos vários vários exempl exemplos os que comprovam a frase “Deus capacita os escolhidos”. Não é uma frase bíblica, mas sim um conceito, comprovado por passagens passagens da P alavra. alavra. P eguemos eguemos o conhecido conhecido exemplo exemplo do Rei Davi, Davi, fil filho de Jessé. Deus havia ordenado que Samuel escolhesse como rei um dos filhos de Jessé. Os filhos mais velhos eram fortes, aparentemente mais capacitados; o menor, que menos chamava a atenção, era Davi, mas foi justamente ele o escolhido por Deus para ser o rei do povo de Israel. Na histórica histórica batalha entre Davi e Golias, Golias, Israel venceu os fili filisteus por causa dos dons que Davi recebeu do Senhor. Ele foi ungido e capacitado e, ainda adolescente, deu um grande passo na fé, se dispondo a lutar contra um gigante. A habilidade sem o passo decidido de Davi seria como uma fé sem obras e, consequentemente, sem frutos; seria um fracasso, na certa. Davi, com a confiança de que Deus lhe havia agraciado com muitos dons, se ofereceu para lutar, mesmo antes de se tornar rei. Não ficou à espera. Ele se ofereceu e foi. E venceu. Temos que ter a atitude de Davi. Qual é o seu Golias? Já parou para pensar que talvez o desafio de falar em público possa ser como um monstro na sua vida? E será que esse monstro gigante é invencível? Você sabe que não. Jamais podemos cair na tentação de pensar que não será possível vencer um obstáculo. Para vencer a guerra, no entanto, Davi teve que usar de sua inteligência e arquitetou um plano estratégico. E você, o que tem planejado e feito para vencer o medo de falar em público? A vontade é fundamental, mas a técnica e o treinamento também são primordi primordiais ais.. É sobre isso que vamos falar no próximo próximo capítulo. A confiança de que Deus é quem faz e a certeza de que Deus provê e sempre proverá me levam a buscar os meios meios necessários necessários para, a partir partir da técnica, técnica, ser capaz de realizar a vontade do Pai na minha vida. Falar em público requer graça e treinamento. Há aquelas pessoas que parecem que nascem com o dom da comunicação e têm mais desenvoltura para enfrentar o grande públi público, bem como os pequenos encontros famili familiares, profissi profissionai onaiss e da Igreja. P or outro lado, há outras que precisam de um esforço maior. E não é em um passe de mágica que 41
o medo irá se dissipar e a habilidade irá surgir. É necessário estudar e treinar. Fechamos este capítulo com uma das mais belas orações com que a Bíblia nos presenteia. presenteia. O Salmo 23, de Davi, uma das minhas orações preferidas. preferidas. Quando a ouço ou leio, me entrego à Divina Providência. Perceba que neste Salmo Davi está sempre em movimento. Expressões como “me conduz”, “pelo caminho”, “andar” e “acompanhar” denotam essa condição de caminhada. E é na luta do dia a dia que Deus provê e capacita. Não adianta adianta querer que a graça aconteça se você não se levantar e tomar uma decisão. Faça essa experiência de procurar capacitação, como você já tem feito por meio da leitura deste livro, e se entregue ao Deus que tudo pode realizar. O Senhor é meu pastor, nada me falta. Ele me faz descansar em verdes prados, a águas tranquilas me conduz. Restaura minhas forças, guia-me pelo caminho certo, por amor do seu nome. Se eu tiver de andar por vale escuro, não temerei mal nenhum, pois comigo estás. O teu bastão e teu cajado me dão segurança. Diante de mim preparas preparas uma mesa aos olhos de meus inimigos; ini migos; unges com óleo minha cabeça, meu cálice transborda. Felicidade e graça vão me acompanhar todos os dias da minha vida vi da e vou morar na casa do Senhor por muitíssimos anos (Sl 23,1-6).
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Dicas para par a con conquistar quistar o públ público ico O desafio duma pregação inculturada consiste em transmitir a síntese da mensagem evangélica, e não ideias ou valores soltos. (Papa Francisco) O título desse capítulo poderia ser “Dicas para falar em público”? Poderia. Mas pensei em ir além, além, já que o objetivo objetivo do nosso trabalho trabalho é levar você, leitor, eitor, a uma maturidade ao se colocar no caminho da exposição pública. Se considerarmos que o “falar em público” foi um desafio vencido por meio do caminho espiritual já traçado até aqui, passa a ser necessário saber como conquistar os ouvidos e o coração da plateia. Há palestras, aulas, pregações e até mesmo certas homilias nas missas que são difíceis de aguentar. A fala sem ritmo do orador, por exemplo, pode provocar sonolência no público, e a mensagem deixa de ser comunicada, ao passo que a credibilidade de quem está com o microfone é gravemente afetada. O público vai pensar duas vezes antes de ir novamente à palestra palestra do mesmo conferencista. Alguns acabam deixando de ir à missa naquela igreja por causa da maneira como o padre usa a fala. Nós, católi católicos, sabemos que os fiéis fiéis não devem deixar deixar de ir à missa missa por causa do padre ou por qualquer que seja o motivo. Entretanto, as pessoas estão cada vez mais exigentes e evitam espaços em que o pregador tem dificuldades para se comunicar. Na Igreja Igreja chamamos a arte de comunicar comunicar a Pal Pa lavra de Deus durante a homil homilia das missas de homilética. Essa disciplina faz parte da grade curricular dos seminários, portanto, é amplamente amplamente conhecida conhecida pelo pelo clero. clero. Além disso, disso, mesmo a homil homilética ética sendo pauta no ensino ensino obrigat obrigatóri órioo dos padres, muitos muitos deles deles têm buscado também por conta própria própria novos caminhos e métodos para se aperfeiçoar na comunicação com os fiéis. fiéis.
Dicas práticas ntes de falar é necessário ouvir e observar Quando conquistamos o Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo na categoria rádio, em 2010, eu e meu colega jornalista Fábio Guilen tivemos uma experiência marcante na nossa vida profissional. Na série de reportagens “Aldeia urbana: o caminho para a Universidade” relatamos a experiência de um grupo de voluntários que criou em Maringá (PR) (PR ) um espaço para abrigar abrigar uma pequena comunidade comunidade indígena. indígena. Enquanto alguns membros da família estudam na universidade pública, outros fazem artesanato para o sustento de todos. A série recebeu o prêmio das mãos da presidente do 44
Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, pois mostrou para o Brasil que os índios podem vencer o desafio de cursar uma faculdade, desde que recebam apoio condizente com a realidade em que vivem. Conto esse fato para demonstrar como é significativo ter os ouvidos e olhos atentos antes de falar. Quando ligamos na comunidade para marcar as entrevistas com os índios, ficamos surpresos com a forma como fomos recebidos. Nós nos apresentamos para uma das líderes do grupo, dissemos que gostaríamos de entrevistá-los e marcamos um horário; foi quando ela nos questionou: “E o que vocês vão trazer em troca?” Nós não entendemos, ficamos pensativos e devolvemos a pergunta: “É necessário levar algo?” Ela, com muita tranquilidade, explicou que poderíamos trazer melancias, laranjas, bolachas e sucos. Então eu percebi que aquilo se tratava de algo cultural. Fui, então, conversar com uma das voluntárias da associação responsável pelo projeto, e ela, rindo, me explicou: “Isso faz parte da cultura deles. É na base da troca que eles vivem. É um negócio. Eles dão a entrevista e vocês oferecem o alimento.” E a nossa parceria foi um sucesso. Para conquistar qualquer público, é crucial que, antes de falar, façamos o exercício da observação profunda. Não podemos observar pela margem, de maneira superficial. É preciso preciso passar pela pela inculturação, nculturação, ou seja, temos que compreender o modo como tal grupo vive, pensa, convive, para depois levar-lhe a mensagem que pretendo. Impor qualquer mensagem a qualquer pessoa ou grupo pode levar a um choque de relacionamento entre as partes. Nossa mensagem não pode ser imposta, mas sim exposta, exposta, apresentada. Antes de falar, custa ouvir e observar? Não custa. Ouvir leva tempo, e observar demanda conhecimento prévio, sensibilidade e humildade para entender que eu posso ter algo a falar, a argumentar, mas o outro tem um passado, uma história, e isso deve ser respeitado. Além disso, o outro em questão talvez tenha muito mais a me ensinar do que eu tenho a falar. Esse observar e o “inculturar-se” têm sido tema de debate teológico na Igreja. Há um risco, mas a inculturação não se trata de diminuir a validade da minha mensagem, ou de acreditar menos nela, para me relacionar com o outro. A inculturação é o processo de respeito às identidades. Ao respeitar, passo a conhecer, e somente assim o diálogo tornase possível. Não anulo a verdade que é a base da minha fé, mas respeito a condição do outro. Por exemplo, se você for morador de São Paulo e for fazer uma palestra em Porto Alegre, para conquistar o público gaúcho, você usará em seu discurso um case – histórias e exemplos – com conteúdos que lembrem a cultura paulistana ou sulista? Se você não conhecer o mínimo da cultura do Rio Grande do Sul, certamente terá dificuldades em se comunicar. No Brasil, país com dimensões continentais, não dá para pensar em 45
comunicação eficaz sem passar pela teoria da inculturação. E não é preciso ir longe. Um padre que estava numa comunidade há décadas, por exemplo, é surpreendido com uma transferência feita pelo bispo. Ele continuará na mesma diocese, mas, ao mudar de bairro, já sente diferença na cultura local. E se ele não respeitar a cultura daquele grupo, pode ter problemas sérios de relacionamento. Quantas e quantas vezes recebemos notícias de casos como esse... Ao ocupar o altar – o palco, o púlpito ou o que for – o líder tem que se encurvar para ouvir o seu público. Já passou a época em que o líder tinha o poder absoluto das coisas e resolvia e determinava tudo de forma unilateral. As pessoas já não são mais passivas diante de posturas ditatoriais. Há um senso crítico muito maior hoje em dia, e cabe ao comunicador ter a disposição e a prontidão diária para dialogar com o seu público.
Estudo aprofundado aprofundado do tema Há de se destacar também a primordial importância de conhecer com profundidade o assunto que será abordado em seu discurso. Depois de entender a cultura do público, é preciso preciso preparar-se tecnicamente. tecnicamente. Claro, não é uma ordem imutável, mutável, e ela ela pode ser invertida. Conhecer é contextualizar, fazer as correlações e paralelos necessários para não “se perder” em um eventual questionamento questionamento mais complexo complexo por parte do público. público. Essa preparação demanda tempo, pesquisa, dedicação. Até mesmo profissionais graduados em comunicação chegam a cometer o grande erro de subestimar o conteúdo que será apresentado em programas de rádio e TV, e o mesmo pode acontecer com padres, em suas homili homilias. as. O resultado resultado é trágico trágico,, e em alg alguns casos cômico cômico e, por que não, constrangedor. Apresentadores e repórteres que trabalham ao vivo na televisão, por exemplo, quando “se perdem” no meio de seu discurso e cometem erros criam sérias falhas – que chamamos de ruídos – no processo de comunicação. O público acaba prestando mais atenção ao erro do que ao conteúdo da informação, e com as redes sociais rapidamente os vídeos com gafes se alastram. O profissional que cometeu o erro, resultado do total despreparo, torna-se motivo de risos, e isso acaba marcado tanto na memória do público quanto em sua própria memória, o que pode gerar traumas e causar medo e insegurança em futuras apresentações. Quando a pessoa se prepara com informações sólidas, estatísticas e conceitos fundamentais sobre o tema que será apresentado, as probabilidades de acontecer um erro desses são muito menores. Uma técnica que tenho usado para preparar pregações é o questionar-se sobre possíveis possíveis intervenções do ouvinte. ouvinte. Eu mesmo elaboro elaboro uma série série de questões que 46
poderiam poderiam surgi surgir sobre o tema e, depois, depois, pesquiso pesquiso a respeito, respeito, para encontrar respostas pertinentes. pertinentes. Como todo exercício exercício,, esse demanda tempo, mas enquanto elabora elabora esse questionário, você consegue descobrir um amplo e novo leque de chaves de leitura do tema em pauta. Quanto às homilias, recorro ao que tem dito o nosso Papa Francisco. Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho) – um verdadeiro presente para nós pregadores –, sua Santidade é objetivo ao reconhecer, por exemplo, que os padres têm a necessidade urgente de uma renovação no método de fazer as homilias. Com muita franqueza, Francisco também faz um alerta para que os pregadores priori priorizem zem a preparação da pregação: “Um pregador que não se prepara não é ‘espiritual ‘espiritual’: ’: é desonesto e irresponsável quanto aos dons que recebeu.” Com tanta clareza nas palavras do nosso Papa, nos resta tomar iniciativa e tomar posse desse novo impulso impulso proposto por Franci Fr ancisco, sco, na perspectiva de pregar pregar a Pal Pa lavra de Deus com muito mais entusiasmo, criatividade, segurança, sem nunca esquecer a humil humildade. Tudo para que vidas sejam transformadas pela pela Palavra. P alavra.
Ser autêntico conquista mais e por mais tempo A falta de segurança em nós mesmos pode nos levar a um perigoso caminho na comunicação: a falta de autenticidade. Na adolescência, quando o nosso corpo e a nossa mente passam por um turbilhão de transformações, isso é muito comum. Nessa fase, adolescentes tendem a imitar aqueles que para eles são referências. A busca por modelos referenciais é algo normal, desde a infância. Sempre, em todas as fases da vida, buscamos em outras pessoas exemplos de modos de viver que possam ser aplicados à nossa própria história. O problema é quando eu perco a minha autonomia e passo a fazer tudo que a pessoa copiada faz. Agora vamos avançar e pensar no que é ser autêntico. Apesar de me espelhar em outras pessoas em determinadas situações da vida, sou chamado a emitir opiniões próprias, próprias, a falar falar por mim mesmo, a decidi decidir, a argumentar argumentar em situações situações de confli conflito. É aí que entra o ser autêntico. Você já parou para pensar se na hora da sua comunicação você é verdadeiro, sólido, seguro e, portanto, autêntico? Ao falar em público devemos nos apresentar como somos verdadeiramente, mesmo com todas as limitações que nos marcam. A fala autêntica agrega muito mais e por mais tempo. Há pessoas tão inseguras que chegam a copiar até o comportamento de comunicadores renomados. Por isso, se tornam pessoas rasas, com conteúdo limitado, e acabam caindo no ridículo. Para você ser um bom comunicador, seja famoso ou nem tão conhecido pelo grande públi público, é fundamental que construa a sua imagem imagem aos poucos, com a sua maneira de 47
ser. Deus nos criou únicos, por isso, devemos ter consciência de que Ele tem um plano específico para a nossa história. Ao termos a clara noção da ação de Deus na nossa individualidade, somos capazes de compreender melhor o que significa sermos autênticos. Garantir a autenticidade não quer dizer que não é necessário corrigir erros, como, por exemplo, os de vocabulário, ou então dar um retoque no visual, que pode não estar de acordo com o público que você quer atingir, ou quem sabe até consultar um fonoaudiólogo para aprimorar a consciência vocal e melhorar a pronúncia das palavras. Elementos como esses vão dar ao comunicador mais segurança quando ele estiver no palco, palco, e isso isso fortalece a autenticidade autenticidade e melhora a comunicação. Quando comecei minha carreira no rádio imitava locutores que eu admirava. As pessoas me diziam: diziam: “Nossa, você tem o jeito jeito de falar do fulano.” Eu fi f icava feliz, feliz, e aquilo aquilo era um grande fator motivador. Até que chegou um momento em que eu comecei a me questionar. Após profunda reflexão, percebi que aquilo era uma máscara. O Everton não estava sendo quem realmente deveria ser. Seguir o exemplo dos outros me ajudou no desenvolvimento da técnica, mas seria prejudicial para a minha carreira se eu continuasse seguindo aqueles modelos de forma cega, como se eu não tivesse capacidade para ser quem eu sou. Estamos falando de comunicação, mas isso acomete muitas pessoas em diversas profissões. profissões. Pessoas que chegam ao final final da carreira e se arrependem profundamente, pois pois não souberam fazer escolhas escolhas por conta própria própria e acabaram sendo conduzidas conduzidas pela pela personali personalidade alheia. alheia.
Conquiste primeiro a sua família e depois as multidões O processo de falar em público gera maturidade no orador, mas isso só acontece quando ele, de fato, enfrenta o público. Há especialistas em oratória que sugerem usar o espelho para ensaiar e fazer discursos ou então gravar as palestras em uma câmera em casa, pois isso daria mais segurança ao orador. Claro que isso ajuda, sim. Mas para que a pessoa ganh ganhee uma segurança segurança real e não ilusóri ilusória, a, a dica dica é fazer uso da palavra palavra primeiramente primeiramente para os mais próxi próximos, no caso os famili familiares. Para quem tem medo de falar até mesmo com os familiares, o espelho e a câmera podem ser usados para que a pessoa se veja, se ouça e comece a se identifi dentificar car como orador. Mas é bom que o contato com os outros aconteça, pois é no relacionamento humano que somos fortalecidos fortalecidos e crescemos. Faça a experiência da conquista durante encontros com as pessoas da sua família. Depois, passe a usar a palavra nas reuniões da comunidade, dos grupos de oração, de 48
reflexão, e aos poucos você ganhará segurança para falar para públicos maiores. Quando você for convidado para fazer uma leitura na missa da sua paróquia, não recuse o convite. É lá que você poderá testar toda sua habilidade de falar para uma plateia maior. Após conquistar as pessoas mais próximas, terá muito mais facilidade para fazer discursos em lugares não tão familiares. O feedback é é um instrumento de grande valia. Pergunte aos mais próximos em quais aspectos você deve melhorar, questione se eles entendem o que você quer dizer, se a sua mensagem é clara, se você convence. Com o apoio da sua família, você terá sucesso em tudo, inclusive na arte de falar em público.
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Treinamento: sem técnica é mais difícil O Espírito do Senhor falou por meio de mim, sobre minha língua estava sua palavra. (2Sm 23,2) Eu tenho tanto pra lhe falar, falar, mas com palavras não sei dizer... dizer... O início da música “Como é grande o meu amor por você”, de Roberto Carlos, demonstra que também na nossa vida sentimental temos dificuldades de nos expressar. O autor tem “tanto pra falar”, mas “com palavras” ele não sabe dizer e reconhece isso. E agora cantor? Treinamento Treinamento ajuda? Claro Claro que ajuda. Como falamos no capítulo anterior, o melhor treinamento pode começar dentro de casa. Tente falar “como é grande o meu amor por você” para quem você ama. Expressar o amor é muito mais difícil do que expressar rancor. Não deveria ser assim, mas parece que desde pequenos aprendemos, erroneamente, que falar de amor é coisa de gente frágil, não é coisa de homem, e por aí vai. Para quem quer ser um bom orador, a expressão amorosa com os mais próximos é o primeiro primeiro passo do treinamento. treinamento. E para quem tem difi dificul culdades dades para dar o primeiro primeiro passo na procura por capacitação é significativo que a oração entre como base do processo. Mais uma vez, é tempo de clamar o Espírito Santo para que Ele esclareça quais caminhos caminhos você deve percorrer. A epígrafe usada no começo deste capítulo é um trecho do último poema do Rei Davi. O Espírito do Senhor falou por meio de mim, sobre sobre minha língua estava sua alavra. O orador também terá essa experiência ao se deixar ser usado pelo Espírito do Senhor e, ao mesmo tempo, procurar ter conhecimento da técnica. No caso, Davi era cumulado de amplo conhecimento da Palavra de Deus, e essa era a base de sua técnica. Ser vitorioso como Davi em nosso chamado é abrir-se ao projeto de capacitação que Deus tem para nós. Não tenha medo. Vá em frente e procure se capacitar.
Técnica Assim como o autoconhecimento é importante na vida espiritual, também o é na hora de aperfeiçoar sua técnica. Sem o autoconhecimento, não é possível fazer um diagnóstico preciso de qual a melhor metodologia de treinamento para o seu caso.
emória e anotações 51
Quem tem boa memória, fluidez de pensamentos e é bom de improviso, já tem uma vantagem. Nesses casos, o bloco de anotações pode ficar de lado, mas nunca deve ser esquecido. Mesmo com essas vantagens, é sempre muito útil levar anotações para uma apresentação. Caso esqueça algo, o papel com anotações vai ajudá-lo. Hoje em dia, há outros recursos tecnológicos com os quais você pode contar, mas não esqueça que eles podem falhar, falhar, e o papel nunca vai deixar deixar você na mão. Há oradores que escrevem suas palestras e acabam nem olhando para o rascunho. Apenas o ato de escrever já lhes dá uma garantia, uma segurança. Escrever o discurso cria uma linha contínua no cérebro, o que facilita a fala. O início, meio e fim, fundamentais em um bom discurso, ficam claros primeiro na mente quando eu escrevo o que pretendo falar. Depois de certo tempo de prática, você começa a ganhar ainda mais segurança e a agregar novas ideias, que surgem enquanto você fala, ao seu discurso, o que somente enriquecerá seu conteúdo. Quando menos esperar, suas anotações já estarão se resumindo a tópicos e a frases curtas.
Cuidados com a voz Também faz parte da técnica a preocupação com a saúde da voz. As nossas cordas vocais precisam ser aquecidas antes de longos discursos. Nesses casos, a dica é ter o acompanhamento de um profissional da voz, pois é ele quem vai verificar suas necessidades e indicar exercícios adequados para que as suas cordas vocais tenham saúde e vida longa. Cuidados básicos e bem conhecidos também devem fazer parte da nossa rotina, como beber muita água e evitar bebidas alcoólicas e o cigarro, além de preferir alimentos saudáveis. A maçã, por exemplo, é símbolo do cuidado com a voz, enquanto o chocolate, o leite, o chá preto e o café são reconhecidamente prejudiciais às cordas vocais. icrofone O microfone deve ser usado com segurança. Procure com antecedência o local da sua palestra e teste o aparelho com o técnico de som. Fale, treine se for o caso, sinta o ambiente e peça a orientação do técnico. Uma boa conversa com quem está na mesa de som é o tipo de detalhe que faz toda a diferença. Muitas vezes, por não testá-lo previamente, previamente, o palestrante palestrante acaba usando um microfone ruim, já desgastado, desgastado, e isso pode prejudicar prejudicar a imagem magem e a comunicação de quem fal fa la. Acertar a distância entre o microfone e a boca é outra coisa em que o técnico de som pode ajudá-lo, ajudá-lo, caso você não tenha exp experiênci eriênciaa com o uso do aparelho. aparelho. Falar Falar perto demais, por exemplo, provoca o que chamamos de puff – um efeito causado pelo 52
deslocamento de ar que surge quando emitimos consoantes bilabiais, como o p e o b. O ar deslocado, ao bater no microfone, faz nossas palavras, principalmente as iniciadas com essas letras, causarem um barulho barulho chato nos ouvidos da plateia. plateia. Por outro lado, falar longe do microfone vai inviabilizar a captação da sua voz, e ninguém ouvirá com clareza o que você está dizendo. A distância ideal você aprenderá conforme for usando o aparelho e, aos poucos, com a prática, você vai desenvolver a capacidade de autocrítica em relação à entonação da voz.
Ritmo e tom da voz Qual o seu ritmo? Você fala rápido demais ou é muito lento? Não sabe? Isso é comum. Não é todo mundo que tem noção sobre qual é o próprio ritmo de fala. Nesse caso, a gravação é um bom auxílio: grave a própria fala e a avalie; a boa fala é aquela que tem bom ritmo. Mas o que é “bom ritmo”? Em uma das aulas mais marcantes que tive quando cursei jornalismo analisamos o padrão que a jornali jornalista Alice Maria Maria exig exigia dos textos textos dos repórteres e apresentadores da Rede Globo. Segunda ela, o texto de um repórter tinha que ter “bom ritmo”, terminologia que me chamou atenção. Trata-se da cadência, do compasso das nossas palavras. Uma boa história não pode ser contada com uma fala sem emoção, mas também não podemos nos perder com o excesso excesso de sentimentali sentimentalismo quando a contamos. As palavras palavras fortes devem ser valorizadas e expressadas com o auxílio da nossa linguagem corporal, pois pois os nossos gestos, ora suaves, ora mais agressi agressivos, vos, devem fazer parte do nosso compasso. Quem nos ouve quer sentir prazer em nosso discurso, e temos que agradar ao falar. Uma voz grave demais pode ser tão incômoda quanto uma aguda demais, porém, a gravidade da voz, em determinados momentos, pode ser benéfica. O mesmo vale para o agudo. O orador deve fazer o exercício da interpretação no palco, e alternar o tom da voz é muito bom para agradar os ouvidos das pessoas, além de evitar um discurso sonolento. O seu ritmo, você constrói. Vestuário Depois de falar da memória, da voz, do microfone e do ritmo, é hora de falar da roupa, que também faz parte do quadro técnico. Ao se apresentar em público, não queira chamar a atenção com o seu vestuário: seja discreto. Você será elegante sempre que se vestir de acordo com cada ocasião. O bom senso é que conta, e o auxílio de alguém que goste e entenda de moda pode ajudá-lo muito. Isso é marketing pessoal e auxilia na comunicação eficaz. Quando o palestrante usa uma roupa chamativa demais, os posteriores comentários 53
dos ouvintes podem se resumir ao seu modo de vestir-se, abafando o conteúdo. A roupa confere credibil credibilidade quando adequada, mas m as também pode provocar o contrário. Na comunicação comunicação pastoral há um exemplo exemplo que é dig digno de atenção. Em 2012, o Papa Pa pa emérito Bento XVI determinou que sacerdotes e religiosos na Cúria Romana deviam “vestir-se adequadamente com o hábito talar ou clergyman próprios do seu estado de acordo à disciplina da Igreja”. Isso é um sinal para a Igreja no mundo inteiro. Todos nós quando nos deparamos com um padre que usa o clergyman – o colarinho característico das vestes sacerdotais – logo percebemos que ali está um representante da Igreja. É muito mais demorado e difícil identificar um sacerdote sem clergyman. Eis uma grande demonstração de que a vestimenta comunica fortemente e confere uma identificação superior à sua própria imagem, mostrando que o sacerdote pertence a um corpo maior que é a Igreja, que ali está alguém que, por si só, já comunica todo o histórico e os princípios de um todo, que é a Igreja. O símbolo, a vestimenta, enfim, tudo o que nos identifica carrega consigo elementos simbólicos altamente comunicativos. O que colocamos em nosso corpo, seja um crucifixo, uma imagem, uma marca de roupa, comunica. Tenho consciência de que muitos na Igreja não defendem o uso do clergyman, como proposto por Bento XV XVI, I, mas deixo deixo este exempl exemploo para reflexão. reflexão. Em um mundo em que as simbologias também se perdem no secularismo e no relativismo prático, a comunicação visual é uma grande aliada na comunicação católica.
Concentração Antes de uma partida de futebol profissional, os jogadores ficam na concentração, local em que uma série de regras são observadas para que os atletas não percam o foco do jogo e garantam a vitória. Antes de uma apresentação, devemos nos concentrar também. Assim como jogadores, iremos para uma partida em que devemos marcar pontos para vencer. A concentração é fundamental para que o palestrante não perca o foco do conteúdo que deve ser repassado. A pessoa que vai se apresentar deve criar uma metodologia própria própria para se concentrar. O recolhiment recolhimentoo nos minutos minutos que antecedem a fala em público público pode lhe trazer à memóri mem óriaa algo algo novo, uma informação nova, uma inspiração, inspiração, e isso pode agradar o público muito mais do que se você apresentasse apenas o que havia programado programado horas antes. Estar concentrado vai lhe possibilitar uma observação valiosa do ambiente em que ocorrerá a fala. O bom observador presta atenção em todos os detalhes. Lembre-se de que tudo é comunicação, e muitas vezes a grande sacada da sua fala pode estar logo ali, naquilo que ninguém dá valor e pode ser captado no ambiente da sua exposição. 54
Outro benefício da concentração é que neste momento, em que estamos recolhidos, temos maior consciência intelectual e corporal, por isso prestamos mais atenção na nossa postura, na nossa imagem. A concentração nos preserva do tumulto tumulto e do barulho barulho que normalmente acometem os minutos que antecedem um evento e nos faz reencontrar nosso próprio eu. É exatamente neste espaço de tempo que antecede a fala que muitos se perdem. Se S e não há um lugar lugar para o “eu” sil silenciar, enciar, corro o risco risco de perder o foco. f oco. A partir partir daí surgem a insegurança, o branco, o medo, o calafrio, a dor no estômago e tudo que você possa imaginar de negativo na vida de um orador. Faça esta oração nos momentos de concentração, pedindo que a Santíssima Trindade o ajude a manter-se focado e seguro: Ó Espírito Santo Paráclito, meu defensor e consolador. Ó Santíssima Trindade, que nunca me desamparaste, eu me entrego agora, neste momento que antecede a minha fala, a todo o Teu querer e poder. Reconheço que não posso dar um passo sequer sem o Teu sopro, Espírito Santo. Por isso, Pai, necessito que neste momento derrames abundantemente sobre mim toda a Tua unção. Derrama-a também sobre o local da minha palestra, sobre sobre as pessoas pessoas que vão me ouvir, ouvir, sobre sobre os músicos, músicos, os técnicos de som e todas as demais pessoas pessoas que participam deste evento. Faço tudo pela Tua honra e Glória. Agradeço-Te, Agradeço-Te, ó Senhor Jesus, por estar ao meu lado e me dar a segurança necessária para falar. Obrigado pelo dom da palavra. Obrigado, obrigado, obrigado.
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Redes sociais digitais como novos espaços públicos. públicos. E agora? O ambiente digital não é um mundo paralelo ou puramente virtual, mas faz parte da realidade cotidiana de muitas pessoas, especialmente dos mais jovens. (Papa emérito Bento XVI) As redes sociais são o verdadeiro exemplo de espaço público – público mesmo. Até agora trabalhamos com o conceito de espaços públicos concretos e limitados fisicamente. As redes sociais são espaços virtuais, que a partir da virtualidade ganham caráter real, mas não se concentram em um espaço físico delimitado. Hoje consideramos que a fala em redes sociais pode ser muito mais abrangente do que a fala para um público presente, mesmo que seja um grande público. Estar nas redes sociais é uma necessidade. Não há mais espaço para preconceitos, para discursos discursos semelhantes semelhantes aos dos que ainda ainda pregam pregam a não presença nesses meios. meios. No campo religioso, o Papa emérito Bento XVI conclamou os fiéis católicos para evangelizarem no mundo virtual. Bento XVI, mesmo com idade avançada, não teve receio de criar seu próprio perfil nas mais conhecidas redes sociais da atualidade, como o Twitter e o Facebook . Uma atitude jovem e que denotou espírito de abertura às novas tecnologias por parte de Joseph Ratzinger quando exercia seu pontificado. Escrever e se manifestar na frente de um computador é muito mais fácil, para alguns, do que enfrentar um grande público em um auditório. A não humanidade da máquina à nossa frente parece nos dar mais coragem para escrever, para se comunicar. Algumas pessoas conseguem conseguem manifestar manifestar o seu pensamento perfeitamente perfeitamente bem diante diante de um computador, mas não conseguem fazer o mesmo para um público presente. O problema é que esse falso conceito de “não presença humana” tem levado muitos a prejudicarem a própria imagem pública. Atualmente, estar no mundo virtual e, consequentemente, falar através dele requer as mesmas precauções e cuidados de quando se quer falar para um público presencial. Tecnicamente, falar para o público virtual requer um conceito próprio, mas a precaução quanto à autoimagem deve ser a mesma. 57
A dica básica para falar pelas redes sociais é: no mundo virtual tenha os mesmos comportamentos que você teria no mundo real – afinal, as consequências de ambos são “reais”. Não escreva nada que você não diria para alguém pessoalmente. Lembre que a virtualidade tem uma memória muito maior do que a nossa memória humana e que no mundo das redes sociais não há o conceito de misericórdia. Na Internet não há perdão. Todo e qualquer tropeço que você cometer ou deixar que cometam em seu nome na Internet pode ser fatal. Há pessoas que usam as redes sociais para relatar coisas íntimas e banais como, por exemplo: “Indo ao banheiro”; ou, então: “Acabei de brigar com o meu vizinho. Ele é um chato.” Claro, aqui coloco exemplos até simplistas, mas o importante é que compreendamos que o mesmo senso crítico sobre as regras para enfrentar o público do qual falamos até agora neste livro deve ser aplicado à comunicação virtual. Você sai falando por aí, para os quatro cantos, que você “agora está indo ao banheiro”? banheiro”? Você conta para os desconhecidos desconhecidos do seu bairro bairro que você “acabou de brig brigar com o seu vizinho, que é chato”? Eu imagino que não. Se fizesse isso, provavelmente iria cair no ridículo. Se você não tem este comportamento com o público presencial, há algum motivo para expor essas picuinhas nas mídias sociais? As redes sociais refletem a nossa imagem real; ao menos deveria ser assim. Mas isso só acontece quando colocamos na Internet aqueles elementos que demonstram verdadeiramente quem somos. Nem tudo precisa ser postado. Quem gosta de “se aparecer” presencialmente, normalmente adora se expor ao máximo também na virtualidade. Quem fala demais pessoalmente causa problemas com o que diz também nas redes sociais. Aquele que não dá valor à própria imagem real não faz questão de se preocupar com seu marketing marketing pessoal na Internet. As mídias sociais vieram para facilitar a nossa vida e não deveriam ser causadoras de problemas. problemas. Fazer uma boa comunicação, comunicação, que faça o outro crescer, ser melhor melhor,, é o nosso desafio, tanto na nossa casa, na escola e na Igreja quanto no palco, no computador ou onde quer que sejamos chamados a falar. Comunicar é um dom de Deus. Por isso, nos coloquemos a caminho em todos os ambientes a que formos chamados, inclusive nas redes sociais. Começamos este capítulo com uma citação de Bento XVI retirada da Mensagem pelo pelo Dia Dia Mundial Mundial das Comunicações Comunicações Sociais Sociais,, 2013, e o final finaliizamos com outro trecho do mesmo documento, que bem reflete a necessidade de se pensar como público também os espaços virtuais: “Não deveria haver falta de coerência ou unidade entre a expressão da nossa fé e o nosso testemunho do Evangelho na realidade onde somos chamados a viver, seja ela física ou digital” (Bento XVI – Mensagem pelo Dia Mundial das Comunicações 58
Sociais2, 2013).
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Boa comunicação, melhor qualidade de vida e um testemunho de fé Ide pelo mundo inteir intei ro e anunciai anunci ai a Boa-Nova a toda criatura. cri atura. (Mc 16,15) Quando vencemos os nossos medos também conquistamos melhor qualidade de vida, pois vencendo a fobia de falar em público nos tornamos mais confiantes e seguros em todos os nossos relacionamentos. É um efeito cascata, também conhecido como efeito dominó. Mas ao invés de causar queda, como no caso do dominó, o resultado é construtivo. Todas as áreas da nossa vida são beneficiadas. Nós não devemos fazer da busca pela pela excelência excelência em qualid qualidade ade de vida vida uma meta doentia. Se for assim, corremos o risco de conseguir o oposto: a má qualidade de vida. Mas ter uma boa autoestima nos garante maior motivação para vencer os obstáculos da vida, e quem não gosta de se sentir bem diante de si mesmo e dos outros? Abro espaço aqui para que você conheça a experiência de um padre que teve o seu ministério transformado após a decisão de aprimorar a maneira de se comunicar. Com o acompanhamento da fonoaudióloga Denise Pimentel, regente do Coral Arquidiocesano de Maringá, padre Claudemir Afonso Caprioli conseguiu melhorar a sua comunicação verbal de forma surpreendente. Hoje, é um testemunho eficaz de que a nossa qualidade de vida é transformada quando conseguimos aprimorar nossa comunicação. Aos 10 anos de idade comecei minha vida pública, ao proclamar a primeira leitura na missa da minha primeira primeira comunhão. O tempo passou e ao chegar ao seminário, meu reitor, Mons. Claudir Martinelli, me alertou que havia qualquer coisa de errado com minha voz. Tomei consciência de que tinha a voz de um adolescente, de um menino, e não de um homem formado. Um problema para quem queria ser padre e necessariamente iria ter que usar a voz para proclamar a Palavra de Deus. Tomei a decisão de procurar uma fonoaudióloga. Após uma primeira visita, fui aconselhado a procurar um otorrinolaringologista. Deram-me vários diagnósticos imprecisos e desencorajadores. Deveria fazer um sério tratamento de voz. No caminho sofri sofri bullying – bullying – embora em 1994 esse ess e nome não fosse foss e usado. Usávamos outra terminologia menos elegante, mas de prática tão nociva quanto a usada hoje. O que era motivo de alegria, emprestar a voz para Deus a serviço do Seu povo, passou a ser um tormento para mim. Sempre que podia, me esquivava de falar em público, público, de proclamar pr oclamar as leituras leituras nas missas, de ler ou falar na sala de aula. Do microfone, fugia constantemente. O bullying era a pior e mais amarga de todas as condenações: a consequência era o isolamento, o medo e a tristeza. Porém, tudo isso se tornou para mim desafio e motivação. Aprendi muito cedo que a “crise nos leva para frente”. fr ente”. O caminho foi longo. No período que morei na Argentina, repeti o mesmo processo: otorrinolaringologista, fonoaudióloga, exames, diagnósticos negativos, desencorajadores e muitos exercícios. Somado aos diagnósticos dos formadores e colegas, que insistiam em afirmar que a minha voz era problemática porque
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eu era inseguro, tinha problemas psicológicos e outras coisas, haviam ainda outro agravante, com o qual convivia naquela época: era extremamente difícil me comunicar em uma língua estrangeira. Meu refúgio naquele período foi estudar. Isolava-me no quarto. A fé se fazia mais forte, a leitura teológica me fortalecia e a oração me consolava. O terceiro momento, e decisivo, foi o período da vida presbiteral. Perguntava-me persistentemente por que Deus escolhera alguém que mal consegue falar para evangelizar. Deus queria mesmo usar da minha voz para falar ao Seu povo? Sim, Ele queria. No meu interior, interior, havia uma certeza cert eza e uma ousadia ous adia que jamais jamais me abandonaram. Mas tudo naquele momento era mais difícil. A fala era meu único modo de exercer o ministério. Não podia me esconder, não podia fugir. Decidi então enfrentar de cabeça erguida. Mas era decepcionante chegar ao final das missas. Eu pregava como se falasse às paredes. Minha voz não impactava. Os comentários dos paroquianos eram terríveis e causavam muita mágoa no meu coração. Certo dia, disse para mim mesmo e para Deus: basta! Amanhã vou falar ao bispo que me dê qualquer outro trabalho, mas rezar missa em público e trabalhar em paróquia, nunca mais. Acho que até Deus ficou preocupado, assim ass im como Mons. Claudi Claudir, r, que no dia seguinte foi falar com o bispo, antes que eu pudesse fazê-lo. Dom Vicente Costa, que estava chegando à Umuarama como bispo diocesano, foi muito prestativo, como lhe é próprio. Comentou com Mons. Claudir sobre uma jovem fonoaudióloga de Maringá (PR), especialista em voz. Orientado pelo monsenhor e pelo bispo, que naquele momento foram verdadeiros pais, entrei em contanto com a Dra. Denise Pimentel, regente do Coral Arquidiocesano de Maringá. Fui à sua procura, mas estava descrente como o mais feroz ateu. Encontrei na Dra. Denise uma pessoa que foi profissional, ousada e, principalmente, instrumento de Deus. Poucos meses antes, eu tinha ido ao Santuário Nacional de Aparecida e, como sempre, fizera minha oração pedindo pedindo uma nova voz. Na verdade, eram duas coisas que pedia pedia a Deus: também queria a confirmação vocacional. Para alguém que viveu a vida para “ser padre”, dizer isso a Deus era mesmo um “último suspiro”. Doía-me mais pensar que a resposta poderia ser negativa. Mas, enfim, o pedido de um duplo milagre estava agora nas mãos da Virgem Maria. A reposta não tardou a chegar. Submeti-me a novos exames e ao novo tratamento de fonoaudiologia, que, felizmente, produziu frutos imediatos. O diagnóstico foi preciso: se tratava de uma mudança de voz incompleta na adolescênc ia. ia. Depois de apenas três sessões, a Dra. Denise me mostrou qual era o registro da minha voz. Foi como aprender a andar de novo, recomeçar a falar, começar a viver! Denise me pediu que não presidisse as missas do final de semana, que fosse devagar e que continuasse os exercícios enquanto me adaptava aos poucos ao novo registro de voz. A alegria era imensa, e entusiasmante foi a reação do bispo e do Mons. Claudir, assim como a reação de todos os que me ouviriam falar a partir daquele momento. Liguei para meus pais, mas eles não reconheceram minha voz, achavam que era um trote. Não pude convencê-los por telefone. Somente pessoalmente é que fui reconhecido. Na missa, em que concelebrei com o Mons. Claudir, na Catedral de Umuarama, ele explicou a situação, mas somente quando fui proclamar o Evangelho as pessoas se deram conta do que estava acontecendo. A transformação tinha acontecido e agora a minha voz era a de um homem e não mais de um adolescente. Alguns pensavam que eu estava dublando. No final da missa, eu mesmo contei o que estou relatando aqui. bullying , mas este era mais simpático. Por muito tempo fui chamada de “Cid Na nova fase, sofria sofr ia um novo novo bullying Moreira”. O final da missa passou a ser um momento de festa. Passei a receber elogios pela pregação e pela voz. “Que voz bela, padre!” Não me canso de ouvir esta frase com alegria, pois todas as vezes que alguém a diz, recordo que Deus não se esquece de mim e do Seu povo. O fato é que minha vida mudou, meu ministério recomeçou com qualidade e eficácia, e minha autoestima e minha qualidade de vida melhoraram. Ora, para quem não podia falar, me dei ao luxo de continuar o tratamento e fazer aulas de canto. Agora nas missas posso cantar e pregar às pessoas. Coincidência ou não, todas as vezes que vou a Aparecida, me convidam a proclamar o Evangelho, sem ao menos imaginarem o que aconteceu comigo. Contei este acontecimento por vários meses, e continuo contando-o e fazendo aquilo que mais amo: ser instrumento da comunicação de Deus com Seu povo, por meio da liturgia e do Seu Evangelho. Para Deus, nada é impossível. Espero que este meu testemunho sirva de inspiração para muitos que precisam vencer o medo de falar de em público. público. Que Nossa Noss a Senhora mostre mostr e a você voc ê o c aminho necessário necess ário para que o seu mil m ilagre agre aconteça. ac onteça.
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PADRE CLAUDEMIR AFONSO CAPRIOLI Sacerdote do clero da diocese de Umuarama (PR) mestre em teologia sacramentária pelo Ateneo Santo Anselmo de Roma e doutor em teologia sacramentária, no Institut no Institut Catholique de Paris.
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A importância do silêncio na comunicação Se não [tens o que dizer], escuta-me; cala-te, e eu te ensinarei a Sabedoria. (Jó 33,33) Abordar o silêncio como meio de comunicação no último capítulo de um livro que trata justamente do medo de falar em público pode parecer estranho. Mas, também aqui, isso é intencional. Só sabe silenciar diante de tanto barulho quem já está maduro o suficiente para identificar a urgente necessidade de ouvir mais e falar menos. Também decidi abordar esse assunto depois de ser profundamente tocado pela sabedoria contida nas palavras proferidas pelo Papa emérito Bento XVI por ocasião do 46º Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado em 2012, cujo tema foi “Silêncio e Palavra: caminho de evangelização” 3. A reflexão nos faz parar e contemplar algo pouco sugerido para aqueles que têm medo de falar em público: é preciso também saber estar em silêncio. Vejamos o que Bento XVI nos diz: O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permitenos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena. É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. expres são.
Mesmo depois de perder o medo de falar em público, sempre achei prudente reservar ocasiões de silêncio em meu dia. Há momentos em que faço o exercício de ficar quieto, sem conversar, sem emitir opiniões, tendo, assim, um tempo livre para a contemplação. Faço isso mesmo que eu esteja em um lugar barulhento. O silêncio deve ser interior. Há casos em que a pessoa morre de medo de falar em públi público, não abre a boca pra nada, mas seu coração está inquieto nquieto e barulhento. barulhento. Nas etapas da luta para vencer o medo precisamos nos atentar e nunca esquecer que estar em silêncio nos dá segurança e uma visão mais clara para enfrentar diretamente os inimigos interiores que nos provocam essa fobia. Por isso os retiros de oração são importantes para nos aproximarmos de nós mesmos. É no “retiro” que eu consigo me desligar do ativismo, das coisas feitas automaticamente, sem racionalidade. As experiências de quem faz retiros de oração se 65
transformam em prova concreta de que se retirar é fundamental para silenciar. Quando estamos em ambientes especialmente preparados para a oração pessoal, conseguimos ter um olhar diferente sobre a nossa própria história. O silêncio passa a ter reflexo na minha visão. Não apenas os meus ouvidos e a minha boca vão notar que o meu corpo “sil “silenciou”, enciou”, mas todos os demais demais membros passarão a enxergar a realidade de uma maneira diferente. O processo de cura interior, que vai me garantir a segurança de um vencedor, começa pelo silêncio e termina no silêncio. Pode-se dizer que é um ciclo necessário. A partir do silêncio da oração eu consigo restabelecer as minhas forças em Deus, prossegui prosseguirr na caminhada caminhada e, depois, depois, repousar novamente no sil silêncio. êncio. Aqui está a marca de Maria. A Mulher do silêncio mudou a história da humanidade por causa da sua decisão radical em aceitar o desejo de Deus Pai de gerar numa Virgem o Seu Filho Redentor. Que Nossa Senhora, a Virgem do silêncio, nos ensine a silenciar também e a contemplar as maravilhas que Deus já fez em nosso favor. Amigos, não precisamos ter medo, pois Jesus mesmo nos garantiu: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Força, entusiasmo e fé. Sucesso. Deus o abençoe! Relate seu testemunho em: facebook.com/EvertonBastazini facebook.com/EvertonBastaziniBarbosa Barbosa
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3 Disponível . Acesso em: 25 mar. 2014.
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1 Disponível em: < http://www.vatican.va/holy_father/francesco/ apost_exhortations/documents/papafrancesc franc esco_esortazione-ap_20131 o_esortazione-ap_20131124_evangel 124_evangelii ii-gaudium_po.html -gaudium_po.html>. >. Acesso em: 02 abr. 2014.
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2 Disponível . Acesso em: 25 mar. 2014.
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30 minutos para mudar o seu dia Mendes, Márcio 9788576771494 87 páginas páginas
Compre agora e leia As orações orações neste livro livro são poderosas poderosas em Deus, Deus, capazes capazes de derru derrubar bar as barr barreir eiras as que nos afastam Dele. Elas nos ajudarão muito naqueles dias difíceis em que nem sequer sabemos por onde começar a rezar. Contudo, você verá que pouco a pouco o Espírito Santo vai conduzir você a personalizar sempre mais cada uma delas. A oração é simples, mas é poderosa para mudar qualquer vida. Coisas muito boas nascerão desse momento diário com o Senhor. Tudo pode acontecer quando Deus é envolvido na causa, e você mesmo constatará isso. O Espírito Santo quer lhe mostrar que existe uma maneira muito mais cheia de amor e mais realizadora de se viver. Trata-se de um mergulho no amor de Deus que nos cura e salva. Quanto mais você se entregar, mais experimentará a graça de Deus purificar, libertar e curar seu coração. Você receberá fortalecimento e proteção. Mas, o melhor de tudo é que Deus lhe dará uma efusão do Espírito Santo tão grande que mudará toda a sua vida. Você sentirá crescer a cada dia em seu interior uma paz e uma força que nunca havia imaginado ser possível. Compre agora e leia
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Famílias edificadas no Senhor Alessi essio, Padre Alexandre exandre 9788576775188 393 páginas páginas
Compre agora e leia Neste livro, Pe. Alexandre nos leva a refletir sobre o significado da família, especialmente da família cristã, uma instituição tão humana quanto divina, concebida pelo matrimônio. Ela é o nosso primeiro referencial, de onde são transmitidos nossos valores, princípios, ideais, e principalmente a nossa fé. Por outro lado, a família é uma instituição que está sendo cada vez mais enfraquecida. O inimigo tem investido fortemente na sua dissolução. Por isso urge que falemos sobre ela e que a defendamos bravamente. Embora a família realize-se entre seres humanos, excede nossas competências, de tal modo que devemos nos colocar como receptores deste dom e nos tornarmos seus zelosos guardiões. A família deve ser edificada no Senhor, pois, assim, romperá as visões mundanas, percebendo a vida com os óculos da fé e trilhando os seus caminhos com os passos da fé. O livro Famílias edificadas no Senhor, não pretende ser um manual de teologia da família. O objetivo é, com uma linguagem muito simples, falar de família, das coisas de família, a fim de promovê-la, não deixando que ela nos seja roubada, pois é um grande dom de Deus a nós, transmitindo, assim, a sua imagem às futuras gerações. Compre agora e leia
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Jovem, o caminho se faz caminhando Dunga 9788576775270 178 páginas páginas
Compre agora e leia "Caminhante, não há caminho; o caminho se faz caminhando - desde que caminhemos com nosso Deus.” Ao ler este comentário na introdução do livro dos Números, na Bíblia, o autor, Dunga, percebeu que a cada passo em nossa vida, a cada decisão, queda, vitória ou derrota, escrevemos uma história que testemunhará, ou não, que Jesus Cristo vive. Os fatos e as palavras que em Deus experimentamos serão setas indicando o caminho a ser seguido. E o caminho é Jesus. Revisada, atualizada e com um capítulo inédito, esta nova edição de Jovem, o caminho se faz caminhando nos mostra que a cura para nossa vida é a alma saciada por Deus. Integre essa nova geração de jovens que acreditam na infinitude do amor do Pai e que vivem, dia após dia, Seus ensinamentos e Seus projetos. Pois a sede de Deus faz brotar em nós uma procura interior, que nos conduz, invariavelmente, a Ele. E, para alcançá-Lo, basta caminhar, seguindo a rota que Jesus Cristo lhe indicará. Compre agora e leia
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Olhar avesso Ribas, Márcia 9788576775386 359 páginas páginas
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Índice Diagramacao_Ide_e_anunciai Diagramacao_Ide_e_anunciai-1 Diagramacao_Ide_e_anunciai-2 Diagramacao_Ide_e_anunciai-3 Diagramacao_Ide_e_anunciai-4 Diagramacao_Ide_e_anunciai-5 Diagramacao_Ide_e_anunciai-6 Diagramacao_Ide_e_anunciai-7 Diagramacao_Ide_e_anunciai-8 Diagramacao_Ide_e_anunciai-9 Diagramacao_Ide_e_anunciai-10 Diagramacao_Ide_e_anunciai-11 Diagramacao_Ide_e_anunciai-12 Diagramacao_Ide_e_anunciai-13 Diagramacao_Ide_e_anunciai-14 Diagramacao_Ide_e_anunciai-15
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