Thiago Souza Leão Soares da Silva Henrik Ibsen Nascido em Skien, na Noruega, no dia 20 de Março de 1828 Henrik Ibsen viveu boa parte de sua infância em uma situação de grande pobreza, devido a negócios mal sucedidos de seu pai, que era comerciante. Filho de pai alcoólatra e mãe submissa e religiosa, Ibsen era tímido, e talvez buscasse refúgio na Literatura e na Teologia. Ainda na adolescência, Henrik Ibsen começa a trabalhar em uma farmácia, a fim de garantir sustento. Tomando gosto pela Medicina, Ibsen até cogita iniciar carreira na área, mas, devido a reprovações nos exames da faculdade, Ibsen resolve dedicar-se unicamente a Literatura. Aos poucos Henrik ganhava espaço e autonomia na Farmácia, e foi nela em que começou a reunir amigos, a fim de discutir assuntos como: política, sociologia e literatura. Escreveu sua primeira peça em 1849, mas foi atingir sucesso popular apenas em 1856, co m “ A A Festa em Solhaug”, mesmo ano em que conheceu sua mulher, Suzannah, com a qual teve um único filho (Ibsen também possuía um filho ilegítimo, fruto de um relacionamento com uma criada). A sua situação financeira não era nada saudável, e Henrik cogitou por diversas vezes suicidarse. Em 1864 Ibsen vai para a Itália, onde viveria por 27 anos. É lá que se consagraria, e seria aclamado pela crítica, principalmente após escrever “Brand” e “Peer Gynt”. A partir de então, Ibsen começava a – cada vez mais –
impor seus jultamentos e suas crenças, explorando o que ele auto intitulou de “Drama das Idéias”. Um dos maiores nomes do realismo na Dramaturgia,
Henrik Ibsen inseria em seus textos críticas severas aos papéis dos Homens na sociedade, da religião, do sexo, entre outros assuntos. Obviamente, foi muito criticado, e teve peças proibidas p roibidas pela censura da época. Uma característica marcante em suas peças, é que sempre fazia analogias a sua própria vida e criação, coincidindo inclusive os nomes das personagens com os nomes dos membros de seu circulo familiar e social. Em
“Espectros”, coloca em pauta ao mesmo tempo várias questões: Religião,
Profissão, Sexo, Infidelidade, entre outras. Temáticas que causaram forte impacto na sociedade, ocasionando a proibição das apresentações. Logo após, Ibsen vai ainda mais longe, escrevendo “Um inimigo do Povo”, que era
claramente uma resposta às camadas sócias que haviam rejeitado “Espectros”. Outra característica de suas peças era a “derrubada” de todo e qualquer o tipo de Ideologia. De 1884 até 1899 , Ibsen escreve “O Pato Selvagem”, “Hedda Glaber”, “Rosmershlom”, “Solness, o Construtor”, “A dama do mar”,
entre outras. Abordando temas como: O papel da mulher na sociedade, Família, etc. Em 1899, Henrik Ibsen escreve sua última obra: "Quando Despertarmos de entre os Mortos". No ano seguinte, o dramaturgo contrai forte gripe, e passa a ter uma série de derrames. O terceiro, faz com que Ibsen perca a capacidade motora. Ganha, em 1902, Prêmio Nobel da Literatura. Sem escrever, Henrik Ibsen falece em 23 de maio de 1906.
Espectros – A peça PERSONAGENS: Mrs. Helene Alving (uma viúva), Oswald Alving (seu filho), Pastor Manders, Jacob Engstrand (um carpinteiro) e Regina Engstrand (acredita ser filha de Jacob Engstrand, mas é filha do falecido Capitão Alving. Ela também é empregada de Mrs. Alving). A peça se passa toda em um só cenário e espaço de tempo: Uma madrugada, na sala de estar da Mrs. Alving. Começa com Engstrand tentando convencer sua – até então - filha Regina a ajudá-lo num futuro empreendimento, que seria uma espécie de “albergue” para marinheiros.
Regina, por sua vez, não quer deixar a casa da Mrs. Alvin, a quem deve boa parte de sua educação. Engstrand vai embora. O pastor chega e insiste que Regina vá morar com seu pai, Regina reluta. Sai. O pastor começa então um diálogo com Mrs. Alving, em particular, para resolver questões a respeito de um orfanato que a viúva abriu, com o dinheiro do dote de seu marido, e que inaugurará no dia seguinte. Neste diálogo, Mrs. Alving revela ao pastor que ela esconde diversos males de seu casamento e que construiu este orfanato para esgotar todo o dinheiro vindo de seu falecido marido, para que seu filho, Oswald, nunca herde nada de seu pai. Além disso, a viúva conta que seu marido nunca fora fiel, e que ela passou a vida toda com ele apenas para que a sociedade não a condenasse. Seu filho chega de viagem, e está doente. Oswald se interessa por Regina. A viúva e o Pastor ficam desesperados com a idéia de que os dois irmãos estão juntos. Oswald conta a sua mãe que está com uma doença venérea, sem saber que herdou do pai. Várias outras ações da peça ocorrem como se fossem espectros do passado, tornando a vida dos Alvings cíclica. Assim que Mrs. Alving decide contar a verdade para Regina e Oswald, um incêndio toma conta do orfanato. A viúva finalmente conta a verdade, e a peça termina com Engstrand dizendo que tomará para si a culpa do incêndio, Manders diz que ajudará com as despesas de seu futuro bordel; Regina decide ir junto com os dois e abandonar Oswald e Mrs. Alving; Oswald pede para a mãe dar morfina a ele antes que ele perca autonomia de vida. Até o fim da peça, não sabemos se a mãe irá ou não acatar o pedido do filho.
Espectros – Análise Fanatismo, incesto, Eutanásia, papel da mulher na sociedade, padrões de comportamento, infidelidade, disparidade entre classes sociais. Estes são os principais temas pelos quais a peça dialoga. Com uma profundidade incrível, Ibsen consegue transmitir toda a podridão desta sociedade que, aos olhos de fora, parece completamente em harmonia, mas que esconde grandes males e sujeiras. Extremamente atual, a peça explora a alma do ser humano. A tentativa de Mrs. Alving de deixar seu filho imune a qualquer tipo de herança proveniente do pai, só mostra que, por mais que as pessoas tentem mascarar sua “podridão”, ela se torna aparente de alguma maneira. Temos em
Jacob um Homem que quer mudar de posição na sociedade. Mostrar para todos e para ele mesmo, que é capaz de possuir um negócio próprio, e crescer. Voltando a falar de Mrs. Alving, vemos que é uma personagem que não respeitou a manifestação de seu próprio ser, pois, passou a vida inteira se preocupando no “dever”, e com isso, teve uma vida que não era a que queria
para ela. E pagou por não respeitar este seu “ser”. Seu filho Oswald, quer encontrar consigo mesmo, quer viver. Temos também um representante da igreja, que coloca a instituição num grau de importância maior do que a própria religião. Pensando na época em que foi escrita, pode-se dizer que o autor realizou um processo de desconstrução de todos os valores da sociedade, que, se hoje são mais normais de serem discutidos, na época eram enormes Tabus. Sugerir, no século XIX, que a mulher possua autonomia para se livrar de maridos infiéis deveria ser incabível. E mexer com tais valores desconstruía não só estes próprios valores, mas também a alma de cada ser humano, que se via invadido representado daquela maneira, p ois “descobria” seu verdadeiro Ser. Destaco a maneira com que Capitão Alving iria ser lembrado: Tendo seu nome atrelado a um orfanato. Local onde circulam crianças, a inocência, a virgindade, onde se educa. E agora destado a maneira com que Capitão Alving
será lembrado, ao final da peça: Tendo seu nome atrelado a um bordel. Local onde circulam indivíduos que não possuem um lar familiar, ou marinheiros, que provavelmente estão muito distantes da família, Local onde existem prostitutas, dançarinas, bebidas. A peça é completa, pois nos cinco personagens, está toda a sociedade. E é uma peça que têm como temática as máscaras. Nada tão atual quanto essas máscaras que a sociedade “veste” para esconder a falta de algo mais
rígido nas suas bases. Traçando um paralelo atual, podemos pensar inclusive na figura do príncipe Harry e princesa Kate, se todos aqueles sorrisos diante às câmeras do mundo todo são ou não “reais” (sem pensar em nenhum trocadilho com a palavra “reais”). câmeras que invadem a privacidade do “casal” em prol de um
ideal de família que se formos a fundo é totalmente frágil. Ou indo ainda menos longe, pensemos na “festa de casamento”. Se gasta dinheiro com vestido de
noiva, decoração, festa, comida, bebida... Tudo para mostrar para os outros o que deveria estar claro, no mínimo – e antes de tudo – para você mesmo. O que é o casamento senão um desfile de máscaras? “Olha amga, estou feliz no meu vestido alugado. Tenho um dono, e você?”; “Olha mãe, lembra quando
você me vestiu de dama de honra quando eu tinha dois anos... de lá pra cá, toda mudança da minha vida foi representada com vestidos”; “Olha só meu pai,
seu filho aqui é um homem de negócios, ganha bem.. pode até pagar por esta festa”. Resumindo: Toda máscara existe para esconder o que não é tão belo
assim. E é isto que Henrik Ibsen, no século XIX tentava transmitir em suas peças. Palpado nisto – infelizmente – me arrisco a dizer, que por muito tempo esta peça continuará atual.
Referências: - MENEZES, Tereza. Ibsen e o novo sujeito damodernidade. São Paulo: Perspectiva, 2006 (Coleção Estudos, 229) - IBSEN, Henrik (1984), Um Inimigo do Povo , Rio de Janeiro: Editora Globo. - ISBN Biografia e comentários sobre a obra de Ibsen (Vidal de Oliveira) - http://pt.wikipedia.org/wiki/Henrik_Ibsen - http://www.ufjf.br/secom/2011/06/16/%E2%80%9Cespectros-um-dramafamiliar%E2%80%9D-fica-em-cartaz-ate-o-final-do-mes-na-casa-de-cultura/ - http://www.dokpro.uio.no/ - http://ibsen.nb.no/id/471.0 - http://www.leme.pt/biografias/i/ibsen.html - http://espectros-bergman.blogspot.com.br/2011/01/ficha-tecnica.html - SILVA, Jane Pessoa da. Ibsen no Brasil. Historiografia, Seleção de textos Críticos e Catálogo Bibliográfico. São Paulo: USP, 2007. Tese. p. 438