Eduardo Santana Lopes Faculdade Projeção Taguatinga/DF, 14 de abril de 2010 BORGES, Vavy Pacheco. O QUE É HISTÓRIA. 2. ed. Brasiliense: São Paulo, 1993, 86p Sobre a autora: Vavy Pacheco Borges é, desde 1987, professora no Departamento de História da UNICAMP. Lecionou inicialmente no ensino particular de 1° e 2° graus; depois, por quase quinze anos, na PUC-SP, onde se interessou pelo ensino e divulgação da história. Nessa linha, publicou o livro O que é História? e em 1986 o livro Ensino da História: Revisão Urgente , resultado de projeto que coordenara no inicio dos anos 80.
Publ Public icou ou ta tamb mbém ém sua sua dis disse sert rtaçã açãoo de me mest stra rado do:: Getú Getúli lio o Varg Vargas as e a Olig Oligar arqu quia ia Paulistana: História de uma esperança e Muitos Desenganos (Brasiliense, 1979) e sua
tese de Doutorado: Tenentismo e Revolução Brasileira (Brasiliense, 1992). O livro aborda de maneira bastante abrangente a importância da “história” para a sociedade moderna, recebemos um convite para uma viagem ao arcabouço da história mundial, mesmo com breves passagens e de certo modo superficiais, nos deparamos com uma reflexão reflexão profunda e que deve extrapolar extrapolar as fronteiras fronteiras acadêmicas acadêmicas e ating atingir ir a sociedade de um modo geral, como podemos descuidar tanto do nosso passado, preocupar-se com o futuro sem preservar algo que compõe a identidade de povos, raças, credos, credos, etnias, etnias, tribos, tribos, etc. Olhar o ensino ensino de história com mais zelo é garantir garantir uma cidadania consciente.
“História é uma palavra de origem grega, que significa investigação, informação.” (p. 11)
“ [...] vemos porém que os homens, desde sempre, sentem a necessidade de explicar para si próprio sua origem e sua vida. A primeira forma de explicação que surge nas sociedades antigas é o mito [...]”(p. 11)
“ [...] Para nós, homens do século XX acostumados a um pensamento dito científico, uma explicação mítica parece pueril, irracional e ligada à superstição.” (p. 12)
“Nos mitos os homens são objetos passivos da ação dos Deuses, que são responsáveis pela criação do mundo (cosmos) [...]” (p. 12)
“Os fatos mitológicos são apresentados um após o outro, o que já mostra, portanto, uma seqüência temporal; mas o mito se refere a uma pseudotempo e não a um tempo real, pois não é datado de acordo com nenhuma realidade concreta.” (p. 1213)
“[...] o mito [...] é visto com um exemplo [...]” (p. 12)
“As sociedades são mostradas com tendo origem, geralmente, em lutas entre as diferentes divindades.” (p. 14)
“Os reis representam os Deuses e são eles que tudo decidem [...]”(p. 14)
“Entre essas civilizações destacam-se a egípcia e a mesopotâmica, duas das mais importantes na chamada Antigüidade Oriental.” (p. 14)
“A explicação mítica não vai, evidentemente, desaparecer, continuando até hoje em quase todas as manifestações cultuais [...] “(p. 18)
“A história como forma de explicação, nasce unida à filosofia.” (p. 18)
“Percebe-se que em geral os historiadores buscam explicações para os momentos e situações que atravessam as sociedades nas quais vivem.” (p. 19)
“Percebe-se, portanto, que os historiadores estão ligados à sua realidade mais imediata” (p. 20)
“Há uma narração temporal cronológica, referente agora a uma realidade concreta.” (p. 20)
“Há uma preocupação explícita com a verdade” (p. 20)
“A história é vista como mestra da vida, levando os homens a compreenderem o seu destino” (p. 21)
“A influência do cristianismo é tão grande em nossa civilização que toda a cronologia de nosso passado é feita em termos do seu acontecimento centra, a vinda do filho de Deus à Terra.” (p. 22)
“A história continua tendo uma visão do tempo linear, cujo desenvolvimento é conduzido segundo um plano da Providência Divina.” (p. 22)
“O cristianismo é uma religião eminentemente histórica, pois não prega uma cosmovisão atemporal, mas sim uma concepção que aceita um tempo linear [...]”(p. 23)
“Os primeiros séculos da Idade Média vão ser os da formação da civilização européia ocidental.” (p. 23)
“Os século iniciais da Idade Média são de regressão demográfica e cultural; a população vive em sua maior parte no campo e quase ninguém sabe ler.” (p. 24)
“Os documentos leigos só vão começar a aparecer bem mais tarde, nos séculos XII, VIII, com o renascimento urbano e comercial” (p. 25)
“A história escrita nesse período não apresenta o mesmo rigor crítico de investigação que apresentava entre os gregos” (p. 26)
“Há portanto nas obras deles uma nítida vontade de agradar a quem os emprega.” (p. 25)
“Aos poucos isso tudo vai sendo substituído por um melhor conhecimento do globo, que a Europa via descobri e explorar.” (p. 26)
“O interesse pelo homem como centro do mundo vai surgir dentro e em oposição a uma sociedade medieval que está preocupada com a fé cristã” (p. 26-27)
“As mudanças são lentas, mas constantes, em direção a um abandono da antiga visão religiosa da história que, porém, ainda influencia os filósofos e estudiosos dos séculos posteriores e possui adeptos até mesmo no nosso século.” (p. 27)
“O conhecimento não parte mais de uma revelação divina, mas de uma explicação da razão. O racionalismo se impõe daí em diante” (p. 27)
“Durante o renascimento, a cultura européia ocidental, desprezando os dez século medieval, procura retomar a Antigüidade greco-romana, seus valores, sua arte, etc.” (p. 27)
“Do século XVI ao XIX vão se multiplicar as técnicas, para reunir, preparar e criticar toda essa documentação, que fornece os dados e os elementos para a interpretação histórica” (p. 28)
“Há um esforço contínuo, através dessas técnicas, para se aprender a escolher os documentos significativos, situa-los no tempo e no espaço, classificá-los quanto ao gênero e criticá-los quanto ao grau de credibilidade” (p. 29)
“No século XVIII, [...] com a desestruturação final do sistema feudal e o avanço da ordem burguesa, surge o iluminismo, corrente filosófica que procura mostrar a história como sendo o desenvolvimento linear progressivo e ininterrupto da razão humana ” (p. 29)
“ [...] (Iluminismo vem de “luz”). Para esses filósofos, a humanidade irá cada vez mais dominar a natureza, numa evolução progressiva constante.” (p. 30)
“O liberalismo é a explicação, a justificação racional dessa nova sociedade; essa corrente filosófica reclama o progresso através da liberdade, contra a forte autoridade das monarquias e da Igreja, que se exerceu, durante muito tempo em todos os níveis da sociedade.” (p. 30)
“No século XIX, temos a afirmação dos nacionalismos europeus e conflitos daí recorrentes.” (p. 32)
“É na Alemanha que surge a preocupação de transformar a história em uma ciência.” (p. 33)
“O positivismo como filosofia surge ligado às transformações da sociedade européia ocidental, na implantação de sua industrialização.” (p. 34)
“A história por eles escrita é uma sucessão de acontecimentos isolados, relatando sobretudo os feitos políticos de grandes heróis, os problemas dinásticos, as batalhas, os tratados diplomáticos, etc.” (p. 34)
“Nessa nova sociedade que se impõe no século XIX aparece uma corrente filosófica, o idealismo alemão [...]” (p. 34)
“No século XIX, temos a efetivação da sociedade burguesa e a implantação do capitalismo industrial.” (p. 35)
“O materialismo histórico mostra que os homens, para sobreviver, precisam transformar a natureza, o mundo em que vivem” (p. 36)
“O ponto de partida do conhecimento da realidade são as relações que os homens mantêm com a natureza e com os outros homens; não são as idéias que vão provocar as transformações, mas as condições materiais e as relações entre os homens.” (p. 37)
Para Marx e Engels, a história é um processo dinâmico, dialético, no qual cada realidade social traz dentro de si o próprio de sua própria contradição, o que gera a transformação constante na história. (p. 37)
“Os trabalhistas marxistas sobre a história vão proliferar na Rússia, da segunda década do século em diante, com a subida de Stalin ao poder (1924). Eles são porém, dominado por uma visão dogmática, autoritária, sem que as finalidades políticas de implantação de uma sociedade socialista, segundo a visão de Stalin e seu partido, superam a finalidade de uma procura cuidadosa de explicação da realidade. Esse dogmatismo leva a um empobrecimento do pensamento Marxista” (p. 38)
“Na Europa, as primeiras universidades datam do século XIII, mas é somente no século XIX que o conhecimento histórico passa a ter uma presença específica em seus currículo.” (p. 38)
“[...] até o século XX, a chamada história positivista; é uma história escrita sempre sob o viés nacional, orientada por preocupação essencialmente política.” (p. 39)
“É sobretudo na França que ocorrem as primeiras transformações dessa história.” (p. 39)
“A expansão colonialista levou a Europa a entrar em contato com outros povos, [...] mas essas outras formas de organização social eram sempre comparadas com a forma de organização européia, que era considerada como padrão.” (p. 40)
“[...] ela parece ter como meta final a civilização européia ocidental conforme esta se apresenta constituída no início do século, com seu grande desenvolvimento técnico, econômico e cultural.” (p. 40-41)
“É preciso, para se entender a presente situação, começar a olhar para as outras partes de nosso globo. As mudanças ocorrem muito vagarosamente, e até hoje temos muita influência dessa visão eurocentrista.” (p. 41)
“As maiores influências nos trabalhos de história, da metade do século em diante, são, portanto do mundo ocidental, a visão do materialismo histórico e a visão da “história das civilizações”, ligada à escola dos “Anaes”, também chamada “escola francesa”. (p. 41)
“Percebeu-se, a partir da segunda metade deste século XX, que a história que fica escrita é sempre marcada pela visão, pelos desejos, pelos interesses da chamada “classe dominante” (p. 43)
“A dominação tem suas próprias contradições e ambigüidades” (p. 44)
“[...] dentro do campo específico da história, há um certo controle, não explícito mas prático, do registro e da documentação.” (p. 44)
“Do ponto de vista das técnicas de pesquisa, a história está em desenvolvimento constante.” (p. 45)
“A história se faz com documentos e fontes, com idéias e imaginação.” (p. 46)
“A função da história, desde seu início, foi a de fornecer à sociedade uma explicação sobre ela mesma.” (p. 49)
“A história procura especificamente ver as transformações pelas quais passaram as sociedades humanas.” (p. 50)
“Percebe-se, ligado a isso, uma preocupação cada vez maior dos historiadores não só com mudanças mas também com as permanências.” (p. 51)
“Quase sempre que a história da humanidade nos é apresentada, é a evolução da sociedade européia ocidental que é tomada como modelo de desenvolvimento. Essa posição Eurocêntrica é errada: [...]” (p. 51)
“Não se deve, portanto, identificar a idéia de processo histórico com a de progresso necessário” (p. 52)
“[...] a história da humanidade é diferente da natureza e a natureza também tem sua história, pois ela também passa por mudanças; todo o universo, nas suas mais diferentes partes, sofre mudanças, e por isso tem sua história.” (p. 53)
“A entidade “História” não existe. Uma força superior externa aos homens [...] que os conduzisse como veículos, não existe.” (p. 53)
“A trajetória do homem na Terra é indeterminada, em busca de sua própria razão de ser.” (p. 54)
“O homem é um ser finito, temporal e histórico. Ele tem consciência de sua historicidade” (p. 55)
“A ligação da história com o futuro, porém, é bom mais útil: não se pode falar em uma história do futuro.” (p. 56)
“Para muitos o conhecimento do passado serve para manter as tradições, por vezes no sentido de tentar impedir as permanentes mudanças; para outros, o sentido da história é propiciar o desenvolvimento de forças transformadoras das sociedades.” (p. 58)
“O historiador examina sempre uma determinada realidade [...] Sua primeira tarefa é situar no tempo e no espaço o objeto que ele quer estudar.” (p. 58)
“O homem tem história desde que ele vive na Terra, mesmo que ela não esteja devidamente documentada para as gerações que vieram depois.” (p. 60)
“As fontes ou documentos não são um espelho fiel da realidade, mas são sempre a representação de parte ou momentos particulares do objeto em questão.” (p. 61)
“Fazer-se uma listagem de fatos, sem caráter explicativo, não é história, é cronologia.” (p. 61)
“[...] É preciso que nos lembremos sempre que a pressa é a grande inimiga do trabalho intelectual” (p. 62)
“Um historiador, ao se propor a fazer uma pesquisa, [...] é sempre encaminhada pela sua situação concreta.” (p. 65)
“Em história, surge sempre uma tarefa primordial: periodizar, isto é, organizar a sucessão de diferentes períodos cronológicos.” (p. 66)
“[...] percebemos uma discussão de fundo entre historiadores [...] alguns deles se recusam a se preocupar com a chamada macro história, com grandes sínteses, com as estruturas sociais.” (p. 69)
“Também recentemente, sobretudo depois da segunda metade dos anos 80, se começa a estudar cada vez mais as relações entre a história e a memória.” (p. 69)
“[...] escrever história não é estabelecer certezas, mas é reduzir o campo das incertezas, é estabelecer um feixe de probabilidades.” (p. 69)
“Um “saber absoluto” uma “verdade absoluta” não servem aos estudiosos sérios e dignos de nome.” (p. 70)
“O sistema capitalista é composto essencialmente de partes diferentes e relacionadas entre si. Não se deve pensar que, necessariamente vamos seguir o modelo de desenvolvimento das outras partes do sistema [...]” (p. 72)
“Ao contrário da América espanhola que possui universidades desde o início da colonização, o Brasil só vai ter universidades a partir do século XX.” (p. 73)
“Na universidade, a introdução da história se dá sobretudo através da influência da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, fundada na década de 30.” (p. 75)
“É uma história feita de vilões e heróis: a metrópole (Portugal), contra a colônia (Brasil), o imperialismo (primeiro inglês, depois americano) contra a nação brasileira, etc.” (p. 76)
“Não se vê preocupação em descobrir as origens das contradições de nossa sociedade;” (p. 76)
“Não se fala da destruição das tribos indígenas pelos portugueses e o fato de os bandeirantes saírem para aprisioná-las é elogiado como um grande feito territorial.” (p. 78)
“Nas universidades há toda uma produção que procura rever esses mitos.” (p. 78)
“O marxismo, em suas diversas tendências, influenciou nossos trabalhos de história, muitas vezes de forma bastante pragmática.” (p. 80)
Comentários: O texto é bastante rico e sem sombra de dúvidas fundamental para introduzir a realidade do ensino de história à alunos recém-chegados ao curso de Licenciatura em História. O choque de realidade proposto pela autora é tão bem estruturado que ao mesmo tempo em que alerta, motiva, desafia, encoraja.