FICHAMENTO 1984
Referência: Orwell, George, 1903-1950. 1984 / George Orwell; tradução Alexandre Hubner, Heloisa Jahn; posfácio Erich Fromm, Bem Pimlott, ThomasPychon. ThomasPychon. – São São Paulo : Companhia das Letras, 2009. O livro é dividido em três partes:
Parte I: Nessa primeira parte do livro, Orwell nos apresenta seu universo através da vida de um membro do partido Winston Smith. Conhecemos Conhecemos como são as condições condições de vida das pessoas, pessoas, como funciona a sessão sessão de documentação dentro do Ministério da Verdade, local de trabalho de Winston. Também é possível saber como eram as relações entre homens e mulheres, o casamento, como é a vida dos proletas, entre outros aspectos importantes para entender o restante da história contado por Orwell em sua distopia. Mas para nós o mais importante é observarmos a importância do controle do passado, e do tempo pelo Partido, visto que recorrentemente nessa Parte I, vemos Winston demonstrar certa incerteza a respeito do ano em que está, de quando exatamente aconteceram determinados acontecimentos, mesmo ele sendo um dos poucos, talvez o único, a lembrar de coisas que não deveria. Percebemos a manipulação do Partido através da construção da imagem do Grande Irmão como grande herói, assim como a construção construção do inimigo universal, Goldstein, Goldstein, o primeiro traidor, assim como a presença do grande irmão, desde nas moedas, até em pôsteres de tamanhos originais nas casas das pessoas. É possível nessa parte I perceber o forte controle do partido em todos os ambientes, até mesmo no corpo dos indivíduos, o que deixa Winston bastante paranoico, pois segundo ele, até mesmo suas expressões faciais poderiam ser motivo motivo que alguém desconfiasse desconfiasse dele, dele, e o denunciasse denunciasse a Policia Policia das Ideias. E por fim também é notável a presença da visão socialista/marxista de Orwell em sua obra, uma vez que ele deixa claro por meio da visão de Winston, que apenas através dos proletas, trabalhadores, seria possível a verdadeira revolução, mas que para isso acontecesse eles teriam que se conscientizar.
Parte II: Nessa segunda parte do livro de Orwell podemos perceber como essa atmosfera da ditadura do Socing influencia na vida de seus membros. Acontece nesse momento do livro o envolvimento entre Julia e Winston, e também a sua rebeldia frente ao Partido, no momento em que ele tem contato com O’Brien, que supostamente está ligado a Confraria .
Depois acompanhamos a leitura de Winston do “livro” , supostamente escrito por Goldstein, no qual podemos entender os significados de dois dos slogans do Partido : GUERRA É PAZ, IGNORÂNCIA É FORÇA. E somos interrompidos no momento em que Julia e Winston são capturados.
Parte III : Essa última parte do livro vemos os relatos das torturas que Winston é submetido no prédio do Ministério do Amor. Não se sabe ao certo o tempo que Winston esteve lá, mas foi o necessário para que confessasse crimes que nem mesmo praticou, traísse a todos, inclusive Julia.
A intenção das torturas e da prisão, é na verdade converter Winston as convenções do Partido, fazer com que ele passe a amar o Grande Irmão. Winston não tem ideia do que pode lhe acontecer, depois as torturas é liberado, e sabe que a qualquer to, expurgado. O’Brien deixa claro a ele que todo criminoso do pensamento sabe momento poderá ser mor to,
que esse é o seu destino. No fim do livro, após o anúncio de um vitória da Oceania pelas teletelas t eletelas e enquanto ele observava um dos vários pôsteres do Grande Irmão no Café Castanheira, Winston de dá conta de que o processo havia chegado ao final: Ele agora amava o Grande Irmão, sendo assim, seu fim estava próximo.
Parte I: (p. 11 a 125 ) 1- Orwell inicia inicia o livro com com o personagem personagem principal, Winston Smith, dirigindo-se ao prédio prédio onde onde reside, as Mansões Victory. Nesse momento o autor faz uma descrição da aparência das ruas, das condições físicas do local onde Winston mora, e também sobre a onipresença da figura do Grande Irmão. “Em todos
os patamares, diante da porta do elevador, o pôster com o rosto enorme fitava- o na parede.” “Não havia lugar de destaque que não ostentasse aquele rosto de bigode negro e olhar para baixo.”p.12 baixo.”p.12 Outro ponto interessante, já apresentado nessa primeira página do romance são os cortes de itens básicos, visando uma economia permanente. “Não adiantava tentar o elevador, mesmo quando tudo ia bem, era
raro que funcionasse, e agora a eletricidade permanecia cortada, enquanto houvesse luz natural. Era parte parte do esforço de economia durante os preparativos para a Semana do ódio.”p.11. Além dos pôsteres em todos os lugares estampando o rosto do Grande Irmão, outra forma de constante presença do partido eram as teletelas, dispositivo encontrado em todos os ambientes, que recebia e enviava informações a todo tempo, e que causava uma sensação de se estar sendo observado sempre. “Claro não
havia como saber se você estava sendo observado num momento específico. Tentar adivinhar o sistema utilizado pela Policia das Ideias para conectar-se a cada aparelho individual ou a frequência com que fazia não passava de especulação. Era possível inclusive que ela controlasse todo mundo o tempo todo. Fosse como fosse, uma coisa era certa: tinha meios de conectar-se a seu aparelho sempre que quisesse. Você era obrigado a viver – e e vivia, em decorrência do hábito transformado em instinto – acreditando que todo som que fizesse seria ouvido e, se a escuridão não fosse completa, todo movimento examinado meticulosamente.” p.13 Ainda nessa parte inicial o autor nos fala a respeito da patrulha que se utilizava de helicópteros para bisbilhotar pelas janelas, janelas, e também o que Wisnton acredita acredita ser o único único problema, a Polícia das Ideias.
Winston , ao observar pela janela de seu apartamento nas Mansões Victory, começa a refletir acerca de Londres, uma das principais cidades do Oceânia. Nesse momento podemos notar o esforço de Winston em tentar lembrar aspectos de sua infância e da sua cidade em outros tempos “Aquela, pensou com uma
espécie de contrariedade difusa, aquela era Londres , principal cidade da Faixa Aérea Um, terceira mais populosa das províncias da Oceânia. Tentou localizar alguma lembrança da infância que lhe dissesse se Londres sempre fora assim. Será que sempre houvera aquele cenário de casas do século XIX caindo aos pedaços, paredes laterais, escoradas com vigas de madeira, janelas remendadas com papelão, telhados reforçados com chapas de ferro corrugado, decrépitos muros de jardins adernando em todos as direções? E os lugares bombardeados, onde o pó de gesso dançava no ar e a salgueirinha crescia e se espalhava sobre as pilhas de entulho? E os locais onde as bombas haviam aberto clareiras maiores e onde tinham brotado colônias sórdidas de cabanas de madeira que mais pareciam galinheiros? Não adiantava, ele não conseguia lembrar. Tudo o que lhe ficara da infância era um série tableaux* superiluminados, desprovidos de paisagem de fundo e quase sempre ininteligíveis.” P.14 Winston passa a descrever a estrutura dos prédios dos Ministérios do Governo, e sua grandiosidade em comparação aos edifícios circundantes. Ele também apresenta os slogans do partido : GUERRA É PAZ, LIBERDADE É ESCRAVIDÃO, IGNORÂNCIA É FORÇA. Os quatro ministérios, da Verdade, responsável pelas notícias , entretenimento, educação e belas artes, o da Pujança, pelas questões econômicas, da Paz, responsável pela guerra, e do Amor, responsável pela manutenção da ordem, são as divisões de todo o aparato governamental do partido. Depois da apresentação dos quatro ministérios onde jazia todo o poder do Partido, o autor nos apresenta as condições em que viva Winston (e os demais indivíduos certamente), escassez de mantimentos, e é interessante notar que todos os produtos consumidos pela população, possuem um nome genérico Victory, inclusive o prédio onde o protagonista mora. O autor agora passa a narrar o início da rebeldia de Winston frente ao sistema, no momento em que ele passa a utilizar um caderno e uma pena que havia comprado no comércio comum, e resolve começar a escrever, ele ainda não sabe exatamente sobre o que, mas sabe que se descoberto, isso lhe trará consequências bastante drásticas. “ A coisa que estava prestes a fazer era começar um diário. Não que isso fosse ilegal
(nada era ilegal, visto que já não existiam leis), mas se o fato fosse descoberto era praticamente certo que o punissem com a morte ou com pelo menos 25 anos de prisão em algum campo de trabalho forçado.” P.17 Então ficamos sabendo que o apartamento de Winston, possui uma teletela como todos os outros, mas estranhamente existe um local, que anteriormente poderia ter sido o lugar de uma estante, onde o dispositivo não pode vê-lo, apesar de ainda poder ouvi-lo. Então ele começa a escrever, e nesse primeiro momento ele apenas despeja palavras e mais palavras, sem fazer algum sentido para ele. O que nos é importante observar nessa passagem do livro, é que Winston não tem certeza de que ano está, se realmente o ano vigente é 1984. “Recostou-se na cadeira. Estava possuído por uma sensação de absoluto
desamparo. Para começar, não sabia com certeza se estava mesmo em 1984. Devia ser por aí, visto que
estava seguro de ter trinta e nove anos e acreditava ter nascido em 1944 ou 1945; mas nos tempos que corriam era impossível precisar uma data sem uma mar gem de um ou dois anos” p.17 Quando Winston está refletindo sobre para quem está escrevendo tal diário, ele pensa “Como fazer para
comunicar-se com o futuro? E ra algo impossível por natureza. Ou bem o futuro seria semelhante ao presente e não daria ouvidos ao que ele queria dizer, ou bem seri a diferente e sua iniciativa não fari a sentido.” P. 18.
Como sabemos que os livros de Orwell, são bastante biográficos, e que muitos acreditam
que o personagem Winston Smith seja inspirado nele mesmo, podemos deduzir que essa reflexão de Winston frente ao início do seu diário, foi a mesma que o autor se fez ao escrever a obra 1984, na qual queria denunciar os regimes totalitários. Para quem ele estava escrevendo? Quando
realmente ele inicia sua escrita ele apenas despeja palavras no papel, e depois não sabe ao certo
dizer por que escreveu tais coisas. Enquanto escrevia vêm a memória de Winston, o porque iniciou a escrita desse diário. Então ele começa a relembrar o momento em que viu duas pessoas que lhe chamaram atenção durante os dois minutos de ódio. Uma delas era Julia, uma membra do partido que trabalhava no departamento de ficção. Interessante notar que os livros eram produzidos por máquinas, e as pessoas, como Julia, apenas trabalhavam com as mesmas.
Ele a descreve, dando ênfase a faixa que Julia usava em sua
cintura, da Liga Juvenil Antissexo, e depois relata um encontro pelos corredores que tiveram em certa ocasião, em que houve uma troca de olhares, e que fez com ele por um momento acreditasse que ela pertencia a Policia da Ideias. A outra pessoa era O’Brien, uma membro do alto escalão do partido, o qual Winston irá descrever suas
características físicas, e as vezes em que cruzou com ele. Winston acreditava, ele não sabia por qual razão, que O’Brien não era uma pessoa totalmente fiel ao partido. “Era muito mais em razão de um crença
secreta – talvez nem chegasse a ser crença , talvez fosse apenas uma esperança – : a de que a ortodoxia política de O’Brien não era impecável.” P. 21 E esses três personagens, Winston, Julia e O’Brien, se encontram na celebração dos Dois Minutos de Ódio. Os Dois minutos de ódio, aconteciam diariamente, e todos os membros do partido precisavam participar. No início se ouvia um som estridente, e depois surgia na tela a imagem de Emanuel Goldstein, O Inimigo do Povo. “Goldstein era o renegado e apóstata que um dia, muito tempo antes (quanto tempo,
exatamente, era coisa que ninguém se lembrava), fora uma das figuras destacadas do Partido, quase tão importante quanto o próprio Grande Irmão, e que depois se entregara a atividades contrarrevolucionárias, fora condenado a morte e em seguida fugira misteriosamente e sumira do mapa.” p.22 Novamente Orwell nos alerta para o fato do tempo não ser algo certo e da falta de memória por parte dos indivíduos em sua obra.
Ainda que a programação dos dois minutos de ódio variasse, sempre girava em torno da figura de Emanuel Goldstein, pois o mesmo era o grande traidor, e tudo o que acontecia era apontado como influência dele. Os dois minutos de ódio era um momento que mexia com as emoções das pessoas ali presentes, levando-as a histeria, muitas vezes chegando a arremessar coisas na tela. Goldstein discursava com uma voz que lembrava o som de uma ovelha, criticando o Grande Irmão, pedindo liberdade de imprensa, denunciava a ditadura do Partido, e enquanto falava fileiras e fileiras de soldados inimigos armado, apareciam marchando
atrás da figura do grande traidor. “ Não haviam nem meio minuto que o Ódio havia começado e metade das pessoas presentes no salão já começara a emitir exclamações incontroláveis de fúria. Impossível tolerar a visão do rosto ovino repleto de empáfia na tela e o poder aterrador do exército eurasiano logo atrás. Além disso, a visão ou mesmo a ideia de Goldstein produziam automaticamente medo e ira. Ele era um objeto de ódio maior ainda mais constante do que a Eurásia ou a Lestácia, já que sempre que a Oceania entrava em guerra com uma dessas potências, costumava estar em paz com a outra”. p.23 A Oceania sempre estava em guerra, ora com Lestacia, ora com Eurásia, mas o inimigo principal continuava sempre sendo Goldstein. Importante observar, que mais a frente no livro, Winston volta a falar sobre as guerras contra Eurásia e Lestácia, relacionando-as a falta de memória das pessoas, uma vez que quando se está em guerra com uma, todos acreditam que sempre estiveram em guerra contra essa, não lembram que a pouco o inimigo era a outra, menos Winston, que não entende como as pessoas podem esquecer.
Winston fala sobre a Confraria, que é o nome dado as pessoas que se unem a Golstein, e são contra o partido, e sobre o livro que circula clandestinamente, que não possuía sequer título, e as pessoas falavam apenas O Livro, onde estavam todas as heresias contra o Grande Irmão. Dando continuidade aos 2 minutos de ódio, o ódio toma conta do local, e as pessoas ficam aparentemente transtornadas e possuídas por uma conjunto de emoções . “Num momento de lucidez, Winston constatou estar berrando junto com os outros e percebeu que golpeava violentamente a trave de sua cadeira com os calcanhares. O mais horrível dos Dois Minutos de Ódio não era o fato de a pessoa ser obrigada a desempenhar um papel, mas de ser impossível manter-se a margem. Depois de trinta segundos já não era preciso fingir. Um êxtase horrendo de medo e sentimento de vingança, um desejo de matar, de torturar, de afundar rostos com uma marreta, parecia circular pela plateia inteira como uma corrente elétrica, transformando as pessoas , mesmo contra sua vontade, em malucos a berrar, rostos deformados pela fúria.” p.25 Quando o Ódio chega a seu nível máximo, a voz do traidor que brada seu discurso é transformada em um balido de ovelha, e seu rosto vais aos poucos tomando a forma de uma ovelha. Por fim, enquanto a imagem da ovelha vai se dissipando, aos poucos vai surgindo a imagem do Grande Irmão. “ No mesmo instante , porém, levando todos os presentes a suspirara aliviados, o personagem hostil desapareceu para dar lugar ao rosto do Grande Irmão, cabelo preto, bigode preto, cheio de força e misteriosa calma, e tão intenso que quase enchia a tela inteira.” P .26 E conforme sua imagem foi se esmaecendo, surgem em letras maiúsculas os slogans do Partido. GUERRA É PAZ, LIBERDADE É ESCRAVIDÃO, IGNORÂNCIA É FORÇA. As pessoas ficam agora num êxtase de grande adoração, de gratidão ao seu salvador, ao Grande Irmão, alguns até fazem orações, e então todos juntos, entoam: “G – I, G-I ....” “ Tratava-se de um refrão ouvido com frequência em momentos de emoção avassaladora. Em parte era uma espécie de hino a sabedoria e à majestade do Grande Irmão, mas antes de mais nada era um ato de auto hipnose, um embotamento voluntário da consciência por intermédio de um ruído rítmico.”p.27 No momento do ódio geral Winston era tomado pelo sentimento, assim como os outros presentes, mas nesse momento em que entoavam esse refrão em adoração ao grande irmão, lhe causava horror. “ Claro que cantava com os outros, impossível não fazê-los. Dissimular os próprios sentimentos, manter a expressão do rosto sob controle, fazer o que os outros fazem: tudo reações instintivas.” P.27 É nesse momento que ele acreditava que seus olhos e os de O’Brien se cruzaram, mostrando algo em comum entre eles, que ambos eram contra aquele sistema imposto pelo partido, por um momento ele acreditou que isso aconteceu, nos demais já não tinha certeza se realmente havia acontecido. E quando voltou de suas lembranças, ele que estava com o caderno e a pena em mãos, percebeu que enquanto lembrava daquele acontecimento continuara escrevendo de forma automática, em letras garrafais: ABAIXO O GRANDE IRMÃO, ABAIXO O GRANDE IRMÃO.
Quando se deu conta do que havia feito pensou em rasgar o papel e joga-lo fora, mas não o fez. Sabia que apenas ter pensando naquilo já era considerado um crime, um pensamento-crime. “O fato de escrever ou deixar de escrever ABAIXO O GRANDE IRMÃO era irrelevante. Não fazia a menor diferença levar o diário adiante ou não. De toda maneira, a Polícia das Ideias haveria de apanhá-lo. Cometera – e teria cometido, mesmo que jamais houvesse aproximado a pena do papel – o crime essencial que englobava todos os outros. Pensamento-crime, eles o chamavam.” P. 29 Sabendo disso, ele acreditava que era questão de tempo para que o pegassem. “Na vasta maioria dos casos não havia julgamento, não havia registro de prisão. As pessoas simplesmente desapareciam, sempre durante a noite. Seus nomes eram removidos dos arquivos, todas as menções a qualquer coisa que tivessem feito eram apagadas, suas existências anteriores eram negadas e em seguida esquecidas. Você era cancelado, aniquilado. Vaporizado era o termo costumeiro.” P.30 Enquanto pensava no que poderia lhe acontecer, alguém bateu violentamente a porta. E ele se perguntou: Já?.
2.- Quem batia a porta era uma vizinha de andar de Wisnton, Senhora Parsons, que batera para pedir que a ajudasse a concertar algo em sua casa. Winston vai até o apartamento dos Parsons, onde observa tudo, e constata que mais importante do que a Policia das Ideias para a manutenção do sistema, são as pessoas como Parsons. Parsons era daqueles que estava envolvido em todas as atividades do partido. O que lhe chamou atenção na verdade foram as crianças, filhos dos Parsons, que desde pequenos inseridos naquela dinâmica eram pequenos perpetuadores dos ideiais do partido. Enquanto brincavam com seus uniformes de espiões, o acusaram de traidor, de criminoso do pensamento, o que o deixou um pouco incomodado, devido aos últimos acontecimentos. As crianças bradavam a mãe para leva-los ao enforcamento. “Alguns prisioneiros eurasianos, prati cantes de crime de guerra, seriam enforcados no Parque naquela noite, lembrou-se Winston. Isso acontecia aproximadamente uma vez por mês, e era um espetáculo muito popular. As crianças faziam questão de que os pais as levassem para assistir.” P. 35 “Quase todas as crianças eram horríveis atualmente. O pior de tudo era que, por meio de organizações como a dos Espiões, elas eram transformadas em selvagens incontroláveis de maneira sistemática – e nem assim mostravam a menor inclinação para rebelar-se contra a disciplina do partido.” p.36 Essa citação no mostra que o Partido investia pesadamente nas crianças, visando a perpetuação do Partido no poder. Winston de volta a seu apartamento, depois de ajudar a senhora Parsons, volta a lembrar de O’Brien, e de
um sonho que teve algum tempo antes, talvez anos, com um homem, que agora ele diz ter certeza se tratar de O’Brien. Ele teria dito, a seguinte frase: “Ainda nos encontraremos no lugar onde não há escuridão.” P.36 Alguns instantes depois Winston é interrompido por uma voz vinda da teletela, que trazia uma boa noticia sobre uma grande vitória sobre os inimigos eurasianos, e logo após como ele antecipara, viria uma noticia de corte de gastos: a ração de chocolate seria reduzida de trinta para vinte. E então a teletela logo emendou com um hino à Oceania, e outras musicas. Winston ouviu o som de bombas foguetes estourando, era comum que isso acontecesse, e ao observar um dos tantos cartazes do Grande Irmão sendo sacudido pelo vento, ele começa a refletir sobre os princípios do partido. “Lá embaixo, na rua, o vento castigava o cartaz rasgado, agitando-o de um lado para outro, e a palavra Socing, condizentemente, aparecia e desaparecia. Socing. Os sagrados princípios do Socing: Novafala, duplipensamento, a mutabilidade do passado. Winston tinha a sensação de estar vagando pelas florestas do mar, perdido num mundo monstruoso em que o monstro era ele próprio. Estava sozinho. O passado estava morto, o futuro era inimaginável. Que certeza podia ter de que naquele
momento uma criatura humana, uma que fosse, estivesse ao lado dele? E como saber se o domínio do partido não seria para sempre?” p.38 Os princípios do partido, visam que cada vez menos as pessoas pensem, ou tenham controle de algo. A Novafala é a diminuição progressiva das palavras, o duplipensamento é o fato de a pessoa ser capaz de aceitar duas informações opostas e mutabilidade do passado, que diz respeito ao controle do tempo pelo Partido, a criação do tempo artificial, uma vez que as pessoas não sabem mais em que ano estão, não tem memória do que foi, sendo assim aceitam aquilo que o partido impõe sem resistência.
Winston tira uma moeda do bolso, e percebe que ali também estão os três slogans do partido: GUERRA É PAZ, LIBERDADE É ESCRAVIDÃO,IGNORÂNCIA É FORÇA. “Tirou do bolso uma moeda de 25 centavos. Ali também, em letras maiúsculas e precisas, estavam inscritos os mesmos slogans, e do outro lado da moeda via-se a cabeça do Grande Irmão. Até na moeda os olhos perseguiam a pessoa. Nas moedas, nos selos, nas capas dos livros, em bandeiras, em cartazes e nas embalagens dos maços de cigarro – em toda a parte. Sempre aqueles olhos observando a pessoa e a voz a envolvê-la. Dormindo ou acordada, trabalhando ou correndo, dentro ou fora de casa, no banho ou na cama – não havia saída. Com exceção dos poucos centímetros que cada um possuía dentro do crânio, ninguém tinha nada de seu.” P.38 Pouco antes de retornar ao trabalho Winston volta a refletir sobre para quem está escrevendo tal diário, e escreve o seguinte: “ Ao futuro ou ao passado, a um tempo em que o pensamento seja livre, em que os homens sejam diferentes uns dos outros, em que não vivam sós – a um tempo em que a verdade exista e em que o for feito não possa ser desfeito. Da era da uniformidade, da era da solidão, da era do Grande Irmão, da era do duplipensamento – saudações! ” P.39 Ele acredita que já um homem morto, pelo fato de estar infringindo as normas do partido, e escreve: “ O pensamento crime não acarreta a morte: O pensamento crime é a morte”. P.40 Percebe que seus dedos estão sujos de tinta, e então trata de eliminar quaisquer pistas do crime que estava a cometer, e se prepara para retornar ao trabalho no ministério da Verdade.
3- Esse novo capítulo inicia-se com Winston relatando alguns sonhos que tem tido recorrentemente. O primeiro com a mãe e irmã, que já morreram, ele fala sobre como se esforça mas não consegue se lembrar de muita coisa do passado. Lembra-se que a mãe e a irmã se sacrificaram por ele, mas não sabe nem porque, nem como. Lembra que quando a mãe morreu foi um momento difícil para ele, mas ele diz que atualmente isso já não aconteceria, pois as famílias já não se amparam, as relações agora não são como antes, não existem este tipo de sentimento. Apenas o ódio, o medo, o terror. Depois ele passa a falar sobre outro sonho, desta vez com Julia, a mulher que vira nos dois minutos de ódio. É despertado pela teletela, e passa os exercícios físicos comandados por uma mulher, mantendo expressão recomendada para tal atividade. Enquanto Winston realiza as atividade físicas, tem um forte ataque de tosse, o que novamente pode nos dar pistas de que Orwell ao escrever essa obra á bastante autobiográfico, uma vez que enquanto escrevia 1984, era acometido pela tuberculose, que pouco tempo depois o mataria.
“No instante seguinte ele se viu dobrado ao meio por uma violenta crise de tosse que quase sempre o atacava logo depois que ele acordava. A tosse esvaziava seus pulmões completamente, que ele só conseguiu voltar a respirar depois que deitou de costas e aspirou o ar profundamente algumas vezes.” P. 44 Winston tenta relembrar coisas do seu passado, de sua infância . “(...) Se esforçava para recuar o pensamento para o período difuso de sua primeira infância. Era extraordinariamente difícil, Até o fim da década de 1950, nenhum problema; daí em diante, tudo desbotava. Na ausência de todo e qualquer registro externo a que recorrer até mesmo o contorno de sua própria vida perdia a nitidez.” P. 44 Percebemos aqui as faltas de qualquer registro anterior ao inicio da ditadura do partido, e mais frente vemos
Winston dizer que devido a manipulação do partido, muitas vezes vêm a tona acontecimentos que nunca aconteceram de verdade. “A pessoa conseguia evocar os acontecimentos mais notáveis, que muito provavelmente jamais haviam ocorrido. Lembrava-se dos detalhes de incidentes sem conseguir recompor sua atmosfera, e havia longos períodos em branco aos quais não conseguia atribuir fato algum. Naquele tempo tudo era diferente. Mesmo o nome dos países e suas formas do mapa, tudo era diferente. A Pisa de Pouso Um, por exemplo, na época não era chamada assim: na época seu nome era Inglaterra, ou Grã-Bretanha, embora Londres – disto estava seguro – sempre tivesse se chamado Londres.” P.45 O autor nos fala do estado permanente de guerra em que a Oceania se encontrava . “ Winston não conseguia se lembrar de jeito nenhum de uma época em que seu país não estivesse em guerra, mas era evidente que existira um intervalo bastante prolongado de paz durante a sua infância, porque uma de suas memórias mais antigas era de um ataque aéreo que aparentemente pegara todo mundo de surpresa.” P.45 A seguir ele vai juntando suas lembranças a cerca do ataque nuclear, onde todos desceram a abrigos subterrâneos, e ele estava com o pai, a mãe, e primeiramente achou que lembrava da irmã estar junto, depois já na tinha certeza, demonstrando novamente a dificuldade de tornar alguma lembrança que fosse dos tempos antes do domínio do partido. Depois volta novamente a falar sobre as guerras: “ Desde mais ou menos aquela época, a guerra fora literalmente contínua, embora, a rigor, não tivesse sido o tempo todo a mesma guerra. Durante vários meses, em seus tempos de criança, houvera combates confusos nas ruas de Londres, e de alguns deles Winston guardava uma lembrança nítida. Só que seria praticamente impossível reconstruir a história de todo aquele período, dizer quem lutava contra quem neste ou naquele dado momento, pois não havia registros escritos e os relatos orais jamais se referiam a algum quadro politico diferente do vigente. Naquele momento, por exemplo, em 1984 (se é que estavam em 1984), a Oceania estava em guerra com a Eurásia e era aliada da Lestácia. Nunca em nenhuma declaração publica ou privada, era admitido que as três potências alguma vez tivessem se agrupado de modo diferente.” P.46 Winston estranhamente conseguia lembrar-se que a quatro anos atrás a Oceania estava em guerra com a Lestácia, e era aliada da Eurasia, mas segundo ele isso acontecia porque sua memória não estava corretamente controlada. “Em termos oficiais a troca de aliados jamais acontecera. A Oceania estava em guerra com a Eurásia, em consequência, a Oceania sempre estivera me guerra com a Eurásia. O inimigo do momento sempre representava o mal absoluto, com o resultado óbvio de que todo e qualquer acordo passado ou futuro com ele era impossível.” P. 47 Winston acredita que o fato de o partido ter domínio sobre o passado, era mais assustador que qualquer tortura que pudesse sofrer. “ Se o Partido era capaz de meter a mão no passado e afirmar que esta ou aquela ocorrência jamais acontecera – sem duvida isso era mais aterrorizante do que a mera tortura ou a morte.” P. 47 Winston sabia que Oceania fora , em outros tempos, aliada da Eurásia, mas o partido dizia ao contrário, e não existia nem uma fonte, nem uma pessoa que pudesse confirmar o que ele dizia, isso existia apenas em sua cabeça. “O partido dizia que a Oceania jamais fora aliada da Eurásia. Ele, Winston Smith, sabia que a Oceania fora aliada da Eurásia não mais de quatro anos antes. Mas em que local existia esse conhecimento? Apenas em sua própria consciência que, de todo modo, em breve seria aniquilada.”p. 47
** “ E se todos os outros aceitassem a mentira imposta pelo Partido – se todos os registros contassem a mesma história -, a mentira tornava- se história e virava verdade. “Quem controla o passado
controla o futuro; quem controla o presente controla o passado”, rezava o lema do Partido. E com tudo isso o passado, mesmo com sua natureza alterável, jamais fora alterado.” P.47 Nesse momento do livro, temos a definição do duplipensamento, e podemos perceber como isso está intrinsicamente ligada ao controle/alteração do passado por meio do Partido. “Tudo o que fosse verdade agora fora verdade desde sempre, a vida toda. Muito simples. O individuo só precisava obter uma série interminável de vitórias sobre a própria memória. “Controle da realidade”, era a designação adotada. Em Novafala, “duplipensamento” p. 47 Então a instrutora dos exercícios da teletela lhe chama atenção, e ele volta ao foco nas atividades físicas. 4- Nesse nosso capitulo o autor descreve o local de trabalho de Winston Smtith no Ministério da Verdade. Na parede havia três orifícios, uma para papéis escritos, outra para jornais, e o destinado aos papéis a serem descartados, presente em todos os lugares do edifício, conhecido como buraco da memória. “Por algum motivo, tinham recebido o apelido de buracos da memória. Quando a pessoa sabia que determinado documento precisava ser destruído, ou mesmo quando topava com um pedaço qualquer de papel usado, levantava automaticamente a tampa do buraco da memória mais próximo e o jogava ali dentro, e então o papel ia torvelinhando numa corrente de ar quente até cair numa das fornalhas descomunais que permaneciam ocultas nos recessos do edifício.” P.52 Naquele dia Winston recebeu quatro mensagens contendo dados antes noticiados pelo times, que agora deveriam ser retificadas. Esse era seu trabalho no ministério da verdade, ele precisava encontrar a edição no qual continha a noticia, e alterá-la de forma que não existisse duvidas de que ela nunca fora diferente. Das quatro mensagens que Winston recebeu, ele deixou a quarta por ultimo, por ser tratar de “um serviço complicado e de muita responsabilidade” p.52 A primeira tratava-se de um discurso do Grande Irmão a respeito de confrontos no norte da Àfrica, ele havia dito que as coisas continuariam calmas, mas como isso não aconteceu, a edição contendo o discurso deveria ser alterada. “Assim, era necessário reescrever um parágrafo do discurso do Grande Irmão, de forma a garantir que a previsão que ele havia feito estivesse de acordo com aquilo que realmente acontecera.” P.53 As outras duas traziam informações sobre a produção de bens de consumo, e do corte de ração de chocolate, e como a noticia acima precisavam ser retificados. Terminado o serviço, ele as jogou no buraco da memória, logo ao lado de sua mesa, para que fossem consumidos pelas chamas. “Depois de efetuadas todas as correções a que determinada edição do Times precisava ser submetida, e uma vez procedida a inclusão de todas as emendas, a edição era reimpressa , o original era destruído e a cópia corrigida era arquivada no lugar da outra.”p.5 4 Esse processo de correção/ retificação acontecia não apenas com os exemplares de jornais, mas também com livros, fotos, panfletos, e etc. “Esse processo de alteração contínua valia não apenas para jornais como também para livros, periódicos, panfletos, cartazes, folhetos, filmes, trilhas sonoras, desenhos animados, fotos – enfim, para todo tipo de literatura ou documentação que pudesse vir a ter algum significado político ou ideológico.” P.54 O autor chama esse processo de atualização do passado : *** “Dia a dia e quase minuto a minuto o passado era atualizado. Desse modo era possível comprovar com evidências documentais que todas as previsões feitas pelo Partido haviam sido acertadas; sendo que, simultaneamente, todo vestígio da notícia ou manifestação de opinião conflitante com as necessidades do momento eram eliminados” p. 54 A história para Winston: “ A história não passava de um palimpsesto, raspado e reescrito tantas vezes quanto fosse necessário.” P.54
Interessante observar que segundo os ideais do Partido, nesse processo não acontece nenhuma falsificação , e sim correções de equívocos, deslizes, erros de impressão e entre outros, que eram necessários serem modificados. No Departamento de Documentação onde Winston trabalhava, as pessoas não falavam sobre suas funções, e quase ninguém se conhecia. *** (solidão) Ele ainda fala sobre a variedade de atividades desenvolvidas nesse departamento, e ele fala sobre a função primordial do Ministério da Verdade, uma vez que o Departamento de Documentação, era apenas uma das seções deste. “E, no fim das contas, o Departame nto de Documentação não passava de uma ramo do Ministério da Verdade cuja função primeira não era reconstruir o passado e sim abastecer os cidadão da Oceania com jornais, filmes, livros escolares, programas de teletela, peças dramáticas, romances - com todo tipo imaginável de informação, ensino ou entretenimento , de estátuas, slogans, de poemas líricos e tratados de biologia, de cartilhas de ortografia a dicionários de Novafala.” P.57 Quando Winston, volta a quarta noticia que havia recebido, e segundo as instruções que recebera, tal noticia fazia referência a pessoas que não existem. A noticia era sobre o elogio que o Grande Irmão havia feito a uma Fundação, e fazendo menção a um determinado membro da mesma, Withers. O fato é que por algum motivo, Whiters e a fundação já não existiam para o Partido, e por esse motivo a noticia deveria ser reescrita. Winston então passa a falar sobre os expurgos, como eram chamados o desaparecimento das pessoas que caiam em desgraça no partido. “O mais comum eram que pessoa s que caiam em desgraça no Partido simplesmente desaparecessem e nunca mais se ouvisse falar delas. Ninguém fazia a menor ideia de que fim teriam levado. Em alguns casos podiam nem estar mortas. Winston possivelmente havia testemunhado o desaparecimento de trinta conhecidos seus ao longo dos anos, isso sem contar seus pais” p.59 Ao pensar sobre o porquê de Whiters ter desaparecido, levanta algumas hipóteses, mas por fim conclui que os expurgos eram parte fundamental da manutenção do sistema do Partido: “Talvez Whiters ou alguém próximo a ele estivesse sob suspeita de abrigar tendências heréticas. Ou talvez – e o mais provável- a coisa acontecera apenas e tão somente porque expurgos e pulverizações eram elementos indispensáveis à mecânica governamental” p.60 Ao realizar o trabalho o que lhe cabia, ou seja reescrever a noticia sobre Whiters que agora era uma despessoa (palavra em novafala), ele acaba criando uma pessoa que nunca existiu, ao substituir a menção a Whiters pela menção a esse camarada Ogilvy, detentor de um trajetória admirável aos olhos do partido, e que morrera em confronto com as tropas inimigas aos 23 anos. Winston sabe que por meio desta edição do times, Ogylgy que nunca existiu no presente, agora existia no passado.
5- Esse capítulo se passa na cantina enquanto Winston almoça com seus companheiros, Syme e Parsons. No meio da conversa entre eles, novamente surge a questão dos cortes de gastos, e da forma precária que viviam os membros do partido, quando os camaradas pedem emprestado a Winston uma lâmina de barbear, e ele mente que não tem mais, apesar de ter algumas ainda sem uso, que conseguiu no mercado livre. Também nesse capítulo conhecemos um pouco mais sobre a novafala, e sua função para o Partido, no que concerne a capacidade dos indivíduos de pensar, de se tornarem conscientes. Syme, era especialista em novafala, e estava trabalhando no desenvolvimento da 13º edição do dicionário de novafala. “Você não vê que a verdadeira finalidade da Novafala é estreitar o âmbito do pensamento? No fim, teremos tornado o pensamento-crime literalmente impossível, já que não haverá palavras para expressá-lo . Todo conceito de que pudermos necessitar será expresso por apenas uma palavra, com significado rigidamente definido, e todos os seus significados subsidiários serão eliminados e esquecidos.” P. 68
“Na realidade não haverá pensamento tal como entendemos hoje. Ortodoxia significa não pensar – não ter necessidade de pensar. Ortodoxia é Inconsciência .” P. 70 Winston ao ver Syme falar, está certo que logo seu companheiro será vaporizado, não por ser herege, ou não adorar o Grande Irmão, mas sim por ser inteligente demais, e não pensar no que fala. As pessoas gastavam cerca de ¼ de seus rendimentos, com contribuições voluntárias, como a solicitada por Parsons a Winston na cantina, para a realização da Semana do ódio. “Cerca de um quarto do salário do individuo tinha de ser reservado para contribuições voluntárias difíceis de controlar, de tão numerosas.” P.73 Durante a refeição, a conversa é interrompida por um aviso da teletela. São noticias em relação a produção, números positivos, todos ouvem com atenção, e ao final saúdam o Grande Irmão. Mas enquanto todos estão felizes pelas noticias trazidas pela teletela, Winston está pensando: “Naquele momento tinha os ouvidos fechados para os ruídos mais afastados e estava escutando o que a teletela transmitia. Foi informado de que houvera inclusive manifestações de agradecimento ao Grande Irmão pelo fato de ter elevado a ração de chocolate para vinte gramas por semana. Sendo que ainda ontem, refletiu, fora anunciada a redução da ração para vinte gramas por semana. Seria possível as pessoas engolirem aquela, passadas apenas vinte e quatro horas do anúncio? Sim, engoliam.” P.76 Winston passa a refletir que dia após dia as teletelas, os jornais , trazem noticias de grande produção, de aumento em relação a anos anteriores, em todos os setores, desde a alimentação até o vestuário, e que ainda assim não se vê essas coisas, as pessoa estão cada vez em condições mais precárias, as comidas cada vez com gosto mais medonho, as casas cada vez com mais problemas, roupas de segunda. “ O tempo todo, no estômago, na pele, havia uma espécie de protesto, uma sensação de logro: a sensação de que você havia sido despojado de alguma coisa que tinha direito de possuir.”p.76 Novamente nesse ponto vemos a importância do controle da memória, do passado, para a manutenção da ditadura do Partido, quando ele fala sobre as pessoas aceitaram tudo aquilo de bom grado :
“Por que razão o individuo acharia aquilo intolerável se não tivesse algum tipo de memória ancestral de que um dia as coisas haviam sido diferentes? P.77 Nessa reflexão de Winston, também podemos perceber que existia um modelo ideal de pessoas nas propagandas do partido, que não condizia com a realidade das pessoas da Faixa Aérea Um: “Como era fácil, pensou Winston, se você evitasse olhar ao redor, acreditar que o tipo físico estabelecido como ideal pelo Partido – jovens altos e musculosos e donzelas de peito farto, louras, vigorosas, queimadas de sol, despreocupadas – existia e até predominava. Na realidade, até onde ele era capaz de julgar, a maioria dos habitantes de Faixa Aérea Um era mirrada, escura e pouco favorecida” p.77 Ele percebe de Julia na cantina, e nota que já a tinha visto no salão durante os dois minutos de ódio, e passa paranoicamente, a pensar que ela é um espiã que está o observando buscando pistas que o enquadrem como um criminoso do pensamento. Ele preocupa-se inclusive com suas expressões faciais, pois até mesmo isso poderia ser motivo para ser denunciado a Policia das Ideias. E ele finaliza esse capítulo com Parsons falando sobre como os filhos eram espertos, e se destacavam nos treinamentos na escola de espiões, e então a teletela avisa a todos que está na hora de voltar ao trabalho. 6- O controle sobre o sexo, e sua desvirtuação é discutido. Wisnton relembra da ex-mulher, e de como o sexo é tido como repulsivo pelo partido, sendo apenas visto como uma forma de procriar, e que inclusive sua ex-esposa denominava como “nossa obrigação para com o partido.”. “A intenção do partido não era apenas impedir que homens e mulheres desenvolvessem laços de lealdade que eventualmente pudessem escapar de seu controle. O objetivo verdadeiro e não declarado era eliminar todo o prazer do ato sexual. O inimigo era menos o amor do que o erotismo, tanto dentro como fora do matrimônio” p.83
Os casamentos tinham que ser aprovados pelo partido. Mas por outro lado, o partido incentivava a prostituição, desde que fosse com mulheres proletas. Por fim ele escreve o seu diário uma experiência que teve com uma prostituta certa vez, e finaliza falando de como a manipulação do partido fez com que as mulheres se tornassem todas iguais. “todo sentimento natural fora arrancado delas” p. 86
7- No início desse capítulo Winston diz que “ a esperança está nos proletas” p.88 . Como um socialista e simpatizante do marxismo, Orwell deixa claro que o verdadeiro socialismo só acontecerá quando o proletariado se conscientizar e se rebelar. No caso do contexto de 1984, os proletas são esse trabalhadores que são vistos pelos membros internos do partido como animais. A eles não são impostas nenhuma das ordens do partido, a promiscuidade é permitida, assim como o divórcio, a prostituição, entre outras coisas proibidas aos membros do partido. Winston vê força nessas pessoas, e acredita que apenas elas tem a capacidade de derrubar o partido, mas antes elas precisariam conscientizar-se. “Os proletas, porém, se de algum modo acontecesse o milagre de que se conscientizassem da força que possuíam, não teriam necessidade de conspirar. Bastava que se sublevassem e se sacudissem, como um cavalo se sacode para espantar as moscas. Se quisessem, podiam a cabar com o Partido na manhã seguinte.” P. 88 E escreve em seu diário : “Enquanto eles não se conscientizarem, não serão rebeldes autênticos e, enquanto não se rebelarem, não tem como se conscientizar” p.90 Ele conta que o Partido se vangloria de ter libertado os proletas dos capitalistas, que os escravizavam, e faziam com que eles trabalhassem dia e noite, recebendo pouco, em péssimas condições. Quando ele volta a mesma duvida de outras vezes: como as pessoas iriam saber como eram as coisas antes da Revolução?, então ele passa a falar sobre outro meio de controle por meio do partido, a doutrinação por meio dos livros de história das crianças. Ele copia uns dos trechos no diário, que fala sobre os capitalistas, de como eles eram homens maus, que usavam cartolas e tinham em suas mãos todas as riquezas do mundo. Mas para o Winston a questão que ficava era como comprovar se tudo aquilo escrito realmente era verdadeiro, o que era verdadeiro em toda aquela história? “Como saber quais daquelas coisas eram mentirosas? Talvez fosse verdade que as condições de vida do ser humano médio fossem melhores hoje do que eram antes da Revolução. Os únicos indícios em contrário eram o protesto mudo que você sentia nos ossos, a percepção instintiva de que suas condições de vida eram intoleráveis e de que era impossível que em outros tempos elas não tivessem sido diferentes.”p.93 Winston se lembra de todas as estatísticas apresentadas e noticiadas pelo Partido, em contraposição a realidade das pessoas, da cidade de Londres. O Partido tinha seu discurso, e não havia como contestar tais fatos , uma vez que eles eram os detentores da verdade, e não haviam provas que fossem contrárias. Winston se lembra de uma única vez em que teve em suas mãos uma prova das mentiras contadas pelo partido. Tratava-se de uma mensagem no papel sobre traidores do partido que como ele pode comprovar não praticaram nada daquilo que foram obrigados a confessar. Esteve com ela em suas mãos por pouco tempo, pelo medo que de alguma forma fosse descoberto, a jogou no buraco da memória, e agora certamente, era apenas cinzas. Chega a passar pela cabeça de Winston que ele seja um doente mental, por não conseguir aceitar a tudo, e acreditar nas verdades do partido como os demais. Para Winston o Partido fazia com que qualquer um negasse as provas materiais que tinha em sua frente, acreditando cegamente no que lhe era dito. “No fim o partido haveria de anunciar que dois e dois são cinco, e você seria obrigado a acreditar” p.100 E por fim escreve em seu diário: “Liberdade é a liberdade de dizer que dois mais dois são quatro. Se isso for admitido, tudo o mais é decorrência” p. 101
8- Nesse ultimo capítulo da Parte I do livro, temos Winston andando pelas ruas do território onde vivem os proletas. Na busca de tentar responder a pergunta de como as coisas eram antes da Revolução, ele tenta conversar com um senhor dentro de um pub dos proletas, apesar de todos o olharem de maneira estranha por conta de seu uniforme azul do partido, ele insiste e tenta descobrir algo por meio daquela conversa. Quando se dá conta de que não adiantaria ficar insistindo, pois ainda que os proletas possuíssem memória, diferentes dos membros do partido, percebeu isso ao olhar dois homens discutindo acerca dos resultados da loteria de meses atrás, ainda assim sua memória era voltada para coisas pequenas e sem importância, e Winston percebe que dificilmente conseguirá responder sua pergunta. “Dali no máximo vinte anos, refletiu, aquela questão tão enorme e tão simples, “Antes da Revolução a vida era melhor do que agora ?”, deixaria de uma vez por todas de ser respondível. Mas no fundo a pergunta já era irrespondível, visto que os poucos e esparsos sobreviventes do mundo antigo que ainda era possível encontrar mostravam-se in capazes de comparar uma era com a outra.” p.114 Então ele sai do pub, e continuar a andar pelas ruas e acaba retornando a loja onde comprara o caderno o qual estava escrevendo seu diário. Ele pensa em não entrar, pois sabe das consequências que poderia sofrer caso fosse encontrado ali pela Policia das Ideias, mas acaba não resistindo e entrando. Ele tem uma conversa longa com o proprietário da loja, um senhor de 63 anos, que conversa com ele sobre como era a cidade de Londres, e alguns prédios da cidade, que agora estão em ruínas. E Winston começa a pensar como até mesmo a história das edificações foram alteradas pelo Partido. “Era sempre muito difícil determinar a idade dos edifícios londrinos. Tudo o que fosse grande e portentoso, se tivesse uma aparência razoavelmente nova, recebia de forma automática o carimbo de obra posterior a Revolução, ao passo que todas que evidentemente destacavam de épocas anteriores eram atribuídas a um período indistinto denominado Idade Média. Os séculos do capitalismo, diziam, não haviam produzido nada de valor. Conhecer a história pela arquitetura era tão inviável quanto conhecê-la pelos livros.”p. 120 Por fim Winston compra um peso de papel de vidro na loja de antiguidades do senhor, e este lhe apresenta um outro cômodo todo arrumado como em outros tempos, com quadros na parede, lareira, uma cama de mogno, e ele logo pensa em alugar aquele quarto por um tempo, mas sabe que não é um ideia racional, e então vai embora, mas no fundo sabe que vai retornar. Quando retornava para as Mansões Victory, encontra com Julia, e então passa a ter certeza que ela o segue, pois seria coincidência demais encontra-la tantas vezes, como estava acontecendo nos últimos tempos. O autor finaliza a primeira parte do livro com as reflexões de Winston, e seu medo paranoico do que o esperava, pensou até mesmo em suicídio, o que segundo ele era bastante comum. “Muitos dos desaparecimentos eram na verdade suicídios”. P 124 Sabia que acabaria morrendo por conta do pensamento-crime, mas até chegar o momento de ser executado sofreria as piores torturas . “Contudo, antes da morte (ninguém falada nada sobre isso, e no entanto a coisa era de conhecimento geral), seria preciso passar pela rotina da confissão: rastejar pelo chão, implorar clemência, ouvir o estalido dos ossos se partindo, ter os dentes quebrados, ver os chumaços de cabelo ensanguentado. Por que submeter as pessoas àquilo, se o fim era sempre o mesmo?” p.125
PARTE II (p. 129 a 264) 1- No primeiro capítulo temos a primeira real aproximação entre Julia e Winston, quando ela ao encontra-lo no corredor, cria todo uma cena e entrega-lhe um bilhete dizendo que o ama. Depois disso vemos Winston tentando de todas as formas possíveis encontrar uma forma de se aproximar da garota sem ser notado, visto que a aproximação entre membros do partido do sexo oposto é proibida. “Mas a dificuldade física do encontro era monumental” p.134
Depois de muitas tentativas frustradas, eles conseguem conversar na cantina, e marcar um novo encontro. Se encontram dessa vez na praça perto de um monumento, onde mais uma vez Winston expões a manipulação do partido até mesmo na arquitetura/ monumentos e etc. “Ficou dando voltas na base da enorme coluna canelada sobre o topo da qual a estátua do Grande Irmão fitava os céus ao sul, onde derrotara a viação eurasiana ( alguns anos antes fora a aviação lestasiana) na Batalha da Faixa Aérea Um” p. 138 No momento do encontro havia uma grande multidão na praça, pois estava passando vários caminhões com prisioneiros eurasianos, e eles aproveitam a euforia da multidão para poderem combinar um novo encontro. Julia passa as coordenadas a Winston, discretamente, os dois nem se quer se olham nos olhos, para não levantarem suspeitas. Nesse capítulo fala um pouco sobre os prisioneiros de guerra, enquanto o comboio passava: “Além disso, ninguém nunca sabia qual era o destino deles, sem contar os poucos que acabavam enforcados como criminosos de guerra; os outros simplesmente evaporavam, enviados talvez para campos de trabalho forçado” p. 141
2- No capítulo dois o autor narra enfim o encontro entre Julia e Winston, num esconderijo que pelo sua descrição se encontra bastante distante da cidade de Londres, na área rural provavelmente. “Em geral não se podia supor que a pessoa estivesse muito mais se gura no campo do que em Londres. Não havia teletelas, claro, mas sempre corria o risco de que o lugar fosse vigiado por microfones escondidos, que haveriam de captar e identificar a voz de quem aparecesse por ali.” P.143 Eles se encontram ainda no caminho, e apenas conversam quando chegam ao local. Winston fala Julia que acreditava que ela era da Policia das Ideias, e ela demonstra sua total repugnância para com o partido, deixando Winston admirado. Julia dá a Winston um chocolate adquirido no mercado negro. “Antes mesmo de leva-lo a boca ele percebeu pelo cheiro que se tratava deum tipo muito incomum de chocolate. Era escuro e lustroso e estava embalado em papel prateado. As barras de chocolate normalmente eram coisas marrons, foscas, farelentas, cujo gosto, até onde era possível descrevê-lo , lembrava a fumaça saída dos incineradores de lixo.” P. 148 Eles passam a tarde juntos, e é possível perceber o grau de paranoia que o partido cria na cabeça dos indivíduos, quando um pássaro canta perto deles, e Winston começa a desconfiar do mesmo.
“Pra quem ou com que finalidade cantava aquele passarinho? Não havia parceiras nem rival por perto. O que o levara a pousar nos limites de um bosque solitário e verter uma música para o nada? Perguntou se a si mesmo se era verdade que não havia um microfone escondido por ali” p.151 Também Julia compartilha dessa preocupação em relação ao vigiamento da policia das ideias, como podemos observar no momento em que eles chegam ao local do esconderijo. “ “Eu não queria falar nada no caminho” continuou ela “porque podia haver algum microfone escondido. Há sempre o risco de um daqueles pulhas reconhecerem a voz da gente.” ” P.145 Eles tem uma relação sexual, e Winston avalia aquele momento, vai muito além de amor, mas é um ato de afronta ao Partido. “Antigamente, pensou, um homem olhava para o corpo de uma garota, via que ele era desejável, e a coisa ficava por aí. Hoje, porém, não havia como sentir um puro amor ou um puro desejo. Nenhuma emoção era pura, pois tudo estava misturado ao medo e ao ódio. A união dos dois fora uma batalha; o gozo, uma vitória. Era um golpe assentado contra o Partido. Um ato político.” P. 153
3- Juliae Winston continuam a se encontrar, em lugares diferentes é claro, sempre tentando manter o máximo de discrição. Em vários diálogos travados entre esse personagens é possível captar algumas característica o universo de Oceania. Uma delas são as grandes cargas horárias de trabalho: “Winston tinha uma semana de trabalho de sessenta horas, a de Julia era ainda mais carregada, e o dia de folga de ambos variava segundo a pressão do trabalho – e raramente coincidia.” P.156 E também a frequência de mísseis e bombas que caiam em Londres: “(...) quando de ouviu um estrondo ensurdecedor, a terra balançou, o ar escureceu e Winston viu-se deitado de lado, ferido e aterrorizado. Uma bomba-foguete devia ter caído nas cercanias” p. 156 Conhecemos um pouco mais sobre Julia, e descobrimos que ela sempre destacou-se nas atividades do partido, sendo sempre um membro modelo. “Chegara a ser selecionada – sinal infalível de boa reputação – para trabalhar na pornodiv, divisão do departamento de ficção encarregada de produzir ponrografia barata para os proletas.” P.158 “Winston ficou sabendo, atônito, que todos os trabalhadores da pornodiv, exceto o chefe da divisão, eram moças. “ p.158 Os dirigentes do Partido acreditavam que as moças, corriam menos riscos do que os homens, de serem afetadas pelo conteúdo que estavam produzindo, demonstrando novamente o esforço em tratar as mulheres como seres desprovidos de qualquer desejo sexual. E essa questão da distribuição da pornografia para os proletas traz outra questão, a da utilização da repressão do ato sexual como uma forma de controle dos indivíduos. Winston nos relata que Julia tinha sua concepção acerca do puritanismo do partido, e depois ele mesmo concordaria com ele. “Diferentemente de Winston, entendera o significado profundo d o puritanismo sexual do Partido. Não era apenas que o instinto sexual criasse um mundo próprio fora do controle do Partido – um instinto que, por isso, se possível, tinha de ser destruído. O mais importante era que a privação sexual levava a histeria, desejável porque podia ser transformada em fervor guerreiro e veneração ao líder.”p. 161 “Tudo muito verdadeiro, ele pensou. Havia uma conexão íntima e direta entre castidade e ortodoxia política. Porque, de que maneira manter no diapasão certo o medo, o ódio, e a credulidade imbecil que o Partido necessitava encontrar em seus membros se algum instinto poderoso não fosse represado e depois usado como força motriz” p. 161 Eles continuam suas conversas, perpassando pelo casamento fracassado de Winston, e finalizam combinando seu próximo encontro, que deveria acontecer no mesmo local onde acontecera o primeiro. 4- Quando Winston retornara loja de antiguidades onde havia comprado o caderno, ele pensou em alugar o quarto que o proprietário lhe mostrara. Mas logo esqueceu a ideia, mas depois de tanta dificuldade em encontrar um bom esconderijo para seus encontros amorosos com Julia, ele alugou o quarto, e eles se encontram ali. A dificuldade em se encontrar, além das usuais, agora também acontecia devido ao aumento das horas de trabalho, visando a realização da Semana do Ódio. “O período de trabalho fora drasticamente ampliado em virtude dos preparativos para a Semana do Ódio.” p.167
Julia traz café, açúcar e pão que diz ter conseguido através do mercado negro, uma vez que membros como eles não tinham acesso a esse tipo de produtos, consumindo produtos genéricos de péssima qualidade. “É tudo reservado para o consumo do núcleo do Partido. Os pulhas tem de tudo, para eles nunca falta nada.” P.170 Eles passam a tarde juntos no quarto da loja de antiguidades. Julia usa maquiagens e perfumes, coisa que as mulheres do Partido não utilizam, e dentro daquele quarto Winston tem a sensação que estão em um mundo paralelo. Ao observar os móveis do quarto, e aquele peso de papel que comprara ali mesmo, ele reflete. “Era como se a superfície do vidro fosse o arco do céu, encerrando um mundo minúsculo em sua atmosfera completa. Winston tinha a sensação de que seria capaz de entrar ali e de que na verdade estava ali dentro, ele, a cama de mogno, a mesinha de abas dobráveis, o relógio, a gravura de aço e o próprio peso de papéis. O peso de papéis era o quarto onde ele estava, e o coral era a vida dele e a de Julia, fixadas numa espécie de eternidade no coração do cristal” p.176
5- O amigo de Winston, Syme, desaparecera. Nada alarmante já que ele mesmo havia previsto que isso aconteceria com Syme. “Syme deixara de existir, aliás, nunca existira” p.177 Todas as pessoas estão empenhadas na realização da Semana do Ódio, que aparenta ser um grade evento. “Desfiles, reuniões, paradas militares, conferências, exposições de personagens de cera, exibições de filmes, programas de teletela (..)” p. 178 E também existia uma canção tema, chamada canção do Ódio, que fazia sucesso naquele momento na boca de todos, inclusive das crianças e dos proletas. Outra característica da preparação para a semana do ódio, era o estímulo ao patriotismo dos proletas. Naqueles dias foram distribuídos por todos os lugares pôsteres enormes representando soldados eurasianos munidos de uma metralhadora, e colocados em circulação boatos que levavam os proletas a uma histeria desejada pelo Partido. “Os proletas, normalmente apáticos no que dizia respeito a guerra, estavam sendo incitados a entrar em um de seus surtos periódicos de patrio tismo.” P.179 Por coincidência, ou não, as bombas-foguete eram mais frequentes, e estavam matando muita gente, inclusive crianças. “Outra bomba caiu num terreno baldio usado como playground, e dezenas de crianças foram destroçadas. Houve novas demonstrações de ira, a imagem de Goldstein foi queimada, centenas de cópias do pôster do soldado eurasiano foram arrancadas e jogadas nas fogueiras e diversas lojas foram saqueadas no decorrer do tumulto. Em seguida circulou o boato de que as bombasfoguetes estavam sendo manobradas por controle remoto por espiões, e um casal idoso suspeito de ser de procedência estrangeira teve sua casa incendiada e pereceu sufocado pela fumaça” p. 180 Os encontros entre Julia e Winston continuam a acontecer no quarto acima da loja de antiguidade, e durante as longas conversas que tinham, Winston começou a perceber que Julia, ainda que odiasse o Partido, não acreditava que a Confraria, ou qualquer outra organização existisse, nesse sentido. Para ele era impossível derrubar o Partido, ela não conseguia mensurar um mundo diferente daquilo. “A única forma de rebelar-se contra ele era mediante a desobediência secreta ou, na melhor das hipóteses , praticando atos isolados de violência, por exemplo matando alguém ou explodindo alguma coisa” p. 183
Winston admirou-se ao perceber que Julia assim como os outros membros do Partido, não tinha se dado conta de a menos de quatro anos a Oceania estava em guerra com a Lestácia, para ela, o inimigo sempre fora a Eurásia. Ele insistiu até que ela conseguiu lembrar, mas ainda assim não demonstrou interesse algum nessa informação. Ela tinha sua própria opinião sobre as guerras: “(...) ela o surpreendera ao dizer despreocupadamente que em sua opinião aquela guerra não estava acontecendo. Que era provável que as bombas-foguetes que caíam diariamente sobre a cidade fossem disparadas pelo próprio Governo da Oceania, “só para manter a população amedrontada.” P.183 Para Julia essas questões que eram tão pertinentes para Winston, não lhe causavam o menor interesse: “Acreditava, por exemplo, depois de aprender isso na escola , que o Partido inventara o avião. (Em seus próprios tempos na escola, no final dos anos 1950, Winston recordava que o Partido só reivindicava a invenção do helicóptero; uma década depois, na época em que Julia estava na escola, já reivindicava a invenção do avião; uma geração mais e estaria reivindicando a invenção da máquina a vapor.) E quando ele dissera a Julia que os aviões já existiam muito antes de ele nascer, portanto muito antes da Revolução, ela achara esse fato extremamente desinteressante. Afinal de contas, que interesse havia em saber quem tinha inventado o avião?” p.184 Winston fala do seu trabalho, das falsificações, da mutabilidade do passado, coisas que o preocupam, e percebe que Julia apesar de sua esperteza , faz parte de uma geração que não se importa, e que não presta atenção nesse tipo de coisa. Por fim, ele conlclui, “Conversando com ela, ele percebeu como era fácil exibir um ar de ortodoxia sem fazer a menor ideia do que fosse “ortodoxia”. De certa maneira, a visão de mundo do Partido era adotada com maior convicção entre as pessoas incapazes de entende-la. Essas pessoas podiam ser levadas a acreditar nas violações mais flagrantes da realidade porque nunca entendiam por inteiro a enormidade do que se solicitava delas, e não estavam suficientemente interessadas nos acontecimentos públicos para perceber o que se passava. Graças ao fato de não entenderem, conservavam a saúde mental. Limitavam-se a engolir tudo, e o que engoliam não lhes faziam mal, porque não deixava nenhum resíduo, exatamente como um grão de milho passa pelo corpo de uma ave ser digerido.” P. 187 A personalidade de Julia, muito se assemelha as pessoas que durante os regimes totalitários, particularmente o nazista, não enxergavam as atrocidades que estavam acontecendo, assim como ela, não prestavam atenção, e não demonstravam interesse por esse tipo de coisas.
6- O capítulo seis trata- se do relato do encontro entre O’Brien, membro do Núcleo do Partido, o qual Winston secretamente nutria esperança que fosse como ele um inimigo do Partido. No mesmo corredor onde se encontrou com Julia, O’Brien começou uma conve rsa com ele, e o convidou para ir a sua casa, com o pretexto de entregar-lhe uma nova edição do dicionário de Novafala. Era o que o Winston queria. “A conspiração com que Winston sonhara de fato existia, e ele acabara de se aproximar de seus limites externos.”p. 191 7- Winston acorda de um sonho que o remetera a lembranças da sua infância. Ele lembra da mãe, do pai e da irmã. É perceptível a incerteza dele perante a datas: “Não estava certo da data, mas ele não devia ter mais de dez anos, talvez doze, quando aquilo se passara” p. 193
“ Seu pai desaparecera algum tempo antes, quanto tempo antes, era incapaz de se recordar.” P. 193 Ele lembra das circunstâncias de sua infância, da fome, da irmã doente, da reação da mãe perante tudo, e de certa forma a admira. Começa a lembrar-se da ultima vez que a viu, na ocasião haviam distribuído ração de chocolate, o que era raro, e ele e sua família haviam recebido uma porção suficiente para os três, mas Winston, insistiu para que a mãe lhe desse toda a barra, e como isso não aconteceu, ele rouba a parte que a mãe dera a irmã pequena. Depois por medo, foge, e quando retorna não as encontra mais. “Quando chegou a mãe havia desaparecido. Era algo que naquela época estava se tornando normal. Não faltava nada no quarto, só a mãe e a irmã. Não haviam levado nenhuma roupa, nem mesmo o agasalho da mãe. Até agora Winston não tinha certeza de que a mãe havia morrido. Era perfeitamente possível que apenas a houvessem mandado para um campo de trabalhos forçados. Quanto a irmã talvez tivesse sido removida , como o próprio Winston, para uma das colônias para crianças sem lar ( Centros de Coleta, era como as chamavam) surgidas com o resultado da guerra civil; ou então, talvez tivesse sido mandada para o campo de trabalho junto com a mãe, ou simplesmente abandonada em algum lugar para morrer.” P. 196 Ele lembra que a mãe tinha o hábito de abraçar a filha doente, e a ele mesmo, mesmo sabendo que aquele ato não mudaria em nada o que estava para acontecer. “O que o Partido fizera de terrível fora convencer as pessoas de que meros impulsos, meros sentimentos, não servem para nada, destituindo-as, ao mesmo tempo, de todo e qualquer poder do mundo material” p. 197 Para Winston os únicos que mantiveram sua humanidade foram os proletas. “Os proletas haviam permanecido humanos. Não estavam enrijecidos por dentro”. p.198 Ele e Julia conversam a respeito disso, de como o Partido pode obrigar-lhes a confessar, mas que não podem obriga-los a deixar de sentirem. “Mas se eles conseguirem me obrigar a deixar de amar você... Isso sim, seria traição.”p. 199
8- Depois de tomar coragem Winston juntamente de Jul ia, vai a casa O’Brien e podemos novam ente constatar que os membros do núcleo do Partido tinha alguns privilégios em relação aos demais. Um deles é que as suas teletelas podem ser desligadas se assim o desejarem, e que eles tem acesso a alguns itens como o vinho por exemplo, que os outros membros como Winston e Julia, nunca haviam me experimentado. O’Brien se revela a eles como um inimigo do Partido, e passa a eles algumas instruções a respeito da
Confraria, e faz perguntas a eles, buscando saber até que ponto eles eram capazes de chegar para destruir o Partido, e Winston e Julia respondem que estão dispostos a tudo. Então O’Brien diz que eles devem esperar, que logo serão solicitadas a sua contribuição nas sabotagens, planos para a derrubada do Partido.
9- Winston estava extremante cansado pelo tanto que havia trabalhado no Ministério nos últimos dias. Tudo por conta que durante a realização da Semana do ódio, no meio de um discurso o inimigo mudou. Agora estiveram sempre em Guerra com a Lestácia, claro, ninguém além de Winston percebeu a mudança. “É óbvio que não houve nenhum reconhecimento de que algo mudara. Simplesmente tornou -se sabido, de maneira muito repentina e em toda parte ao mesmo tempo, que agora o inimigo era a Lestácia – e não a Eurásia.”p.215 Sendo assim tudo o que fora produzido nos últimos anos, noticias, livros, fotos, tudo teve que ser alterado pelo Ministério da Verdade, o que levou Winston a um cansaço extremo.
“Um feito grandioso, que jamais poderiam mencionar, acabava de ser realizado. Agora nenhum ser humano seria capaz de provar com uma evidência documental que algum dia a Oceânia estivera em guerra com a Eurásia.” P.218 Enquanto Winston aguardava Julia no quarto acima da loja de antiguidades, começou a ler “o livro”, aquele que continha todas as heresias de Goldstei n, e que havia conseguido por meio de O’Brien.
Winston começou a ler o primeiro capítulo que se chamava : IGNORÂNCIA É FORÇA, mas logo interrompeu a leitura, e o abriu em uma página diferente. Mais precisamente no terceiro capítulo, denominado: GUERRA É PAZ. Esse capítulo do livro de Goldstein é de suma importância, pois nesse momento Orwell nos apresenta um panorama com os acontecimentos anteriores que levaram a situação atual da Oceânia. “A divisão do mundo em três grandes superestados foi um evento que já podia ser previsto – e o foi de fato – antes de meados do século XX. Com a absorção da Europa pela Rússia e do Império Britânico pelos Estados Unidos, formaram-se duas das grandes potências hoje existentes: a Eurásia e a Oceânia. A terceira delas, a Lestácia, só emergiu como unidade distinta depois de mais de uma década de conflitos armados.” P. 220 As duas potências mundiais do período em que Orwell escreve sua distopia, Russia e EUA, são em 1984, as potências que ao anexarem outros países dão origem as duas das superpotências presentes no universo distópico. “Em combinações variáveis esses três Estados estão permanentemente em guerra: tem sido
assim nos últimos 25 anos. A guerra, contudo, já não é o confronto desesperado, aniquilador, que era nas primeiras décadas do século XX. É uma luta de objetivos limitados entre combatentes que não tem como destruir-se uns aos outros, carecem de causas concretas para lutar e não estão divididos por nenhuma diferença ideológica genuína” p. 221 As guerras entre essas potências acontecem em locais que nenhum cidadão comum tem como saber, ou então em plataformas flutuantes. “Nos centros de civilização, guerra significa simplesmente escassez contínua de bens de consumo, e por vezes, a explosão de uma bomba-foguete capaz de provocar algumas dezenas de mortes.” P.221 O autor nos diz que os motivos que levam a guerra mudaram, e que por mais que mudem os adversários, a guerra é sempre a mesma, e que é impossível que alguém seja vitorioso. “Nenhum dos três superestados poderia ser definitivamente conquistado – nem mesmo com a aliança dos outros dois.” P. 222 Os três superestados são autossuficiente, e tudo que precisam pode ser encontrado dentro de suas próprias fronteiras. E por esse motivo o autor deixa claro que a guerra não se da pela disputa de matérias primas, ou de mercado, mas sim por força de trabalho. Em um território, um quadrilátero entre as fronteiras, que não pertence a nenhum dessas potências, vive cerca de 1/5 da população mundi, e esse é o motivo de disputa e guerra entre Oceânia, Lestácia e Eurásia.
No mapa acima temos a demonstração dos territórios dos superstados , e em rosa claro, o território disputado por eles.
“É pelo domínio dessas regiões densamente povoadas, bem como da calota de gelo do polo Norte, que as três potências lutam sem cessar. Na prática, nenhuma potência chega a controlar a totalidade da área disputada.” P.223 Essas guerras são travadas pelo controle dessa massa de trabalhadores, que são utilizados para produzir armamentos para a guerra, somente. “Esses povos nada a acrescentam a riqueza do mundo, visto que tudo que produzem é usado para fins de guerra, o objetivo de travar uma guerra é sempre estar em melhor posição para travar outra guerra.”p. 224 “O objetivo primário da guerra moderna ( em consonância com os princípios do duplipensamento, esse objetivo é ao mesmo tempo reconhecido e não reconhecido pelos cérebros dirigentes do Núcleo do Partido) é usar os produtos da máquina sem elevar o padrão geral de vida.”p. 224 Orwell fala sobre o excedente da produção em massa, que era um grande problema a ser solucionado no século XIX, mas que em 1984 é não é um problema, pois conseguiram encontrar uma forma efetiva de livra-se desse excedente, sem causar danos a hierarquia do Partido. **“O mundo atual é um lugar desolado, destruído, faminto se comparado ao mundo que existia antes de 1914, e ainda mais se comparado ao futuro imaginário para o qual as pessoas daquela época pensavam q ue estavam caminhando”p.224 “No início do século XX, a visão de uma sociedade futura inacreditavelmente rica, ociosa, organizada, e eficiente - um mundo antisséptico, cintilante, de vidro e aço e concreto branquíssimo – fazia parte da consciência de praticamente toda pessoa culta. A ciência e a tecnologia desenvolviam-se a uma velocidade estonteante, e parecia natural acreditar que continuariam se desenvolvendo.” p. 224 Vemos que Orwell nos introduz a sociedade do início do século XX, a qual vivenciou, e depois ele nos apresentará os motivos que fizeram com que esse futuro brilhante imaginado não se concretizasse. “Isso não aconteceu, em parte devido ao empobrecimento provocado por uma série longa de guerras e revoluções, em parte porque o avanço científico e tecnológico dependia do hábito empírico do pensamento, que não pôde sobreviver numa sociedade regimentada de maneira escrita. O mundo hoje, como um todo, é mais primitivo do que há cinquenta anos” p.224
“Algumas áreas atrasadas progrediram e vários dispositivos foram desenvolvidos, sempre de alguma maneira relacionados à espionagem policial, mas a experimentação e a invenção praticamente deixaram de existir, os estragos causados pela guerra atômica da década de 1950 jamais foram inteiramente reparados.” P.224 Orwell fala sobre o surgimento das máquinas no final do século XIX, e como isso poderia ser positivo na vida dos indivíduos, se fossem utilizadas de maneira a propiciar uma vida melhor aos cidadão. E de como isso poderia diminuir a desigualdade no mundo, acabar com a hierarquização, o que segundo ele, era algo não desejável pelos grandes poderosos. “Porque se lazer e segurança fossem desfrutados por todos igualmente, a grande massa de seres humanos que costuma ser embrutecida pela pobreza se alfabetizaria e aprenderia a pensar por si; e depois que isso acontecesse mais cedo ou mais tarde essa massa se daria conta de que a minoria privilegiada não tinha função nenhuma e acabaria com ela” p. 226 Como resolver essa questão era um grande problema, visto que o mundo vivia um momento de mecanização, e aquele que não aderisse corria riscos em termos militares. “O problema era: como manter as rodas da indústria em ação sem aumentar a riqueza real das pessoas? Era preciso produzir mercadorias, mas as mercadorias não podiam ser distribuídas. Na prática, a única maneira de conseguir isso foi com a guerra ininterrupta” p.226 A definição de guerra para o autor: “O ato essencial da guerra é a destruição, não necessariamente de vidas humanas, mas dos produtos do trabalho humano. A guerra é uma forma de despedaçar, de projetar para a estratosfera ou afundar nas profundezas do mar materiais que, não fosse isso, poderiam ser usados para conferir conforto excessivo às massas e, em consequência, a longo prazo, torna-las inteligentes demais”. p.227 São utilizados materiais e mão de obra na produção de armas, e artigos para a guerra que serão destruídas, ou tornar-se obsoletos sem nunca trazer algo benéfico a sociedade, sendo apenas suas necessidades mais básicas atendidas. “Na prática, as necessidades da população são sempre subestimadas, verificando -se dessa maneira uma escassez crônica de metade dos artigos necessários à vida; isso, porém, é visto como uma vantagem. É política deliberada manter até mesmo os grupos favorecidos no limite da penúria, uma vez que o estado geral de escassez reforça a importância de pequenos privilégios e assim torna mais marcada a diferença entre um grupo e outro.” p. 227 Sendo assim, no universo de 1984, os membros do núcleo do Partido apresentam vantagens em relação aos membros do Partido externo , e esses em relação aos Proletas. “A guerra, como veremos, não apenas efetua a necessária d estruição como a efetua de uma forma psicologicamente aceitável” p. 228 Orwell fala também sobre a importância do estado de guerra apara a base emocional que mantém o Partido no poder. Não apenas em relação as massas, mas principalmente no que diz respeito aso membros do Partido. Desde o menor dos militantes, até as altas patentes é necessário que eles tenham consciência do estado de guerra. Isso acontece inclusive no mais alto escalão do Núcleo do Partido: “Em sua qualidade administrador, muitas vezes é necessário que um membro do núcleo do Partido saiba que este ou aquele item do noticiário de guerra é fictício, e acontece com frequência estar ciente de que a guerra inteira é espúria e que ela ou não está acontecendo, ou está acontecendo por razões bem diferentes das declaradas: mas esse conhecimento é facilmente neutralizado pela técnica do duplipensamento. Ao mesmo tempo nenhum membro do Núcleo do Partido vacila por um instante sequer em sua fé mística de que a guerra é real, e de que ela está fadada a terminar com a vitória da Oceânia, que passará a senhora incontestável do mundo” p. 228
“Os dois objetivos do Partido são: primeiro conquistar toda a superfície da Terra; segundo , extinguir de uma vez por todas a possibilidade do pensamento independent e”. P. 229 Por esse motivo a ciência como antigamente já não existe mais, agora todos os esforços são concentrados em descobrir o que as pessoas pensam, e inventar armas destrutivas. Orwell fala sobre o fato de as bombas atômicas já existirem desde a década de 1940, mas o Partido reivindica a invenção para si. Os superstados produzem armas, e até mesmo bombas atômicas sem utilizá-las, apenas armazenando. “Nenhum dos três superstados jamais realiza manobras que envolvam riscos de derrotas sérias.” P. 231 Orwell também explica nesse capítulo do livro de Goldstein, porque razão o Partido impede o contato de todos com estrangeiros. “Se tivesse permissão para manter contato com estrangeiros, descobriria que são criaturas semelhantes a ele, e que tudo que lhe disseram sobre essas pessoas é mentira. O mundo lacrado em que vive seria aberto, e o medo, ódio e a presunção sobre os quais se apoia sua disposição para a luta poderiam evaporar-se.”p.233 Outro fato importante que nos é revelado aqui, é que tanto Oceania, Lestacia e Eurasia, tem filosofias bastante semelhantes. “Na verdade, as três filosofias não tem quase nenhuma diferença entre si, e os sistemas sociais que elas justificam são idênticos. Em toda a parte existe a mesma estrutura piramidal, a mesma adoração a um líder semidivino, a mesma economia justificada única e exclusivamente por uma atividade contínua de guerra” p. 233 A meu ver, neste ponto Orwell coloca na mesma balança todos os regimes totalitários, e mesmo o EUA. Ele fala sobre a guerra em tempos anteriores, de como os adversários lutavam verdadeiramente uns contra os outros, e que agora a guerra tem apenas uma finalidade, manter a estrutura hierárquica. “A guerra se trava entre cada grupo dominante e seus súditos, e o objetivo dela não é obter o u evitar conquistas de território, mas manter inata a estrutura social” p. 236 Por fim o sentido do lema do Partido, GUERRA É PAZ, está em que a guerra contínua ou a paz continua entre as potências seria praticamente a mesma coisa. Terminando de ler esse capítulo, Julia chegou, e depois de um tempo Winston retoma a leitura, dessa vez em voz alta, para que ela também pudesse escutar. Volta ao primeiro capítulo , ao qual tinha iniciado anteriormente, IGNORÂNCIA É FORÇA. Nesse capítulo do “livro” ele começa a dizer que sempre na história, existiram os Altos, os grupos
dominantes, os Médios, que em determinando momento tomariam/tentariam ocupar o lugar dos Altos, e por fim os Baixos, que sempre permaneceriam na mesma posição. Para ele os objetivos desse três grupos são inconciliáveis. Ele vai fazendo uma recapitulação da história, e constatando que essas três classes distintas sempre existiram, ora os altos e médios se reagrupando após revoluções, mas os baixos sempre no mesmo lugar. Então ele inicia a falar sobre o Socialismo, que buscava a igualdade de classes. “O socialismo, teoria aparecida no início do século dezenove é o último elo duma cadeia de pensamento que se iniciava nas rebeliões dos escravos antigos, ainda estava profundamente infeccionado pelo Utopismo do passado. Mas em cada variante de Socialismo que apareceu de 1900 para cá, o propósito de estabelecer a liberdade e a igualdade ia sendo abandonado cada vez mais abertamente.” P.240 “Mas o objetivo de todos era deter o progresso e congelar a história num dado momento.” P.240
Nesse momento vemos Orwell, um socialista, fazendo uma autocrítica ao governos que se disseram socialistas, como a União Soviética, e que deram origem a regimes totalitários. O autor fala que por volta de 1930, todas as correntes de pensamento políticos estavam tornando-se autoritárias. “Os herdeiros das revoluções inglesas, francesa e americana haviam parcialmente acreditado nas suas próprias frases a respeito dos direitos do homem, liberdade de palavra, igualdade perante a lei, e quejandas, e até haviam permitido que sua conduta fosse por elas influenciadas, dentro de certos limites. Mas ao advir a quarta década do século vinte, eram autoritárias todas as principais correntes de pensamento político. O paraíso terreno se desacreditara no momento exato em que se tornara realizável. Cada nova teoria política, fosse qual fosse o seu rótulo, conduzia de novo à hierarquia e à regimentação. E no endurecimento geral de atitudes verificado por volta de 1930, práticas havia longo tempo abandonadas, em alguns casos durante séculos - prisão sem julgamento, uso de prisioneiros de guerra como escravos, execuções públicas, tortura para arrancar confissões, o uso de reféns e deportação de populações inteiras - não só voltaram a ser comuns como eram toleradas e até defendidas por pessoas que se consideravam esclarecidas e progressistas.” P. 241 E depois de guerras, e revoluções constantes, é nesse cenário que o Socing, surge como uma corrente de pensamento Político. O autor vai falar também das bases do Partido no coletivismo, no regime de Oligárquia. “ Depois do período revolucionário de 1950 a 1970, a sociedade reagrupou-se, como sempre, em Alta, Média e Baixa. Mas a nova Alta, ao contrário das antecessoras, não agia por instinto: sabia o que era preciso para garantir sua posição. Havia muito tempo se percebera que a única base segura da oligarquia é o coletivismo. A riqueza e o privilégio são mais fáceis de defender quando possuídos em conjunto. A chamada "abolição da propriedade privada", que se verificou em meados do século, significou, com efeito a concentração da propriedade em número muito menor de mãos, mas com a diferença de que os novos donos eram um grupo em vez de uma massa de indivíduos. Individualmente, nenhum membro do Partido possui coisa e alguma, com exceção de bens pessoais insignificantes.” P.243 A estrutura Piramidal, tendo o Grande Irmão no topo, abaixo o Núcleo do Partido, o Partido Externo e por fim, os proletas. “No topo da pirâmide está o Grande Irmão. O Grande Irmão é infalível e todo -poderoso. Todos os sucessos, todas as realizações, todas as vitórias, todas as experiências científicas, todo o conhecimento, toda a sabedoria, toda a felicidade, toda a virtude, seriam um produto direto de sua liderança e inspiração.” p. 245 Nesse sentido, o Núcleo do Partido seria o cérebro, e o Partido Externo , as mãos do Partido. O autor também aborda a questão de como a invenção da imprensa e da televisão, contribuíram para a controle da população. “A invenção da imprensa , contudo, facilitara a tarefa de manipular a opinião pública, e o cinema e o rádio aprofundaram o processo. Com o desenvolvimento da televisão e o avanço técnico que possibilitou a recepção e a transmissão simultâneas por intermédio do mesmo aparelho, a vida privada chegou ao fim. Todos os cidadãos, ou pelo menos todos os cidadão suficientemente importante para justificar a vigilância, podiam ser mantidos vinte e quatro horas por dia sob os olhos da polícia, ouvindo a propagando oficial, com todos os outros canais de comunicação fechados. A possibilidade de obrigar todos os cidadãos a observar a estrita obediência às determinações do Estado e completa uniformidade de opinião sobre todos os assuntos existia pela primeira vez” p. 242 E também de como o controle, principalmente sobre os membros do Partido , é de extrema importância para a manutenção do Partido.
“Os membros do Partido passam a vida, dos nascimento à morte, sob controle das Polícia das Ideias. Mesmo quando sozinhos, nunca podem ter certeza de que estão sós. Onde quer que estejam, dormindo ou acordados, trabalhando ou descansando, no banho ou na cama, podem ser inspecionados sem aviso e sem tomar conhecimento de que estão sendo inspecionados. Nada do que fazem é indiferente. Seus amigos, suas distrações, seu comportamento para com esposas e filhos, a expressão de seus rostos quando estão sozinhos, as palavras que murmuram no sono, mesmo os movimentos característicos de seus corpos, são rigorosamente escrutinados. Não apenas seus delitos efetivos, mas toda a excentricidade por menor que seja, toda a mudança de hábitos, todo maneirismo nervoso que apresente a possibilidade de ser sintoma de um conflito interno, não deixam de ser detectadas”p.248 É desejável que os membros do mais alto escalão do partido, sejam aqueles cuja que sejam mais fanáticos pela doutrina do Partido, essa que se inicia na mais tenra idade de seus membros. “De qualquer forma, porém, um elaborado treinamento mental, aplicado na infância, e relacionado as palavras criminterrupção, negribranco e dupliepensamento, em Novafala , o deixa sem desejo nem capacidade de pensar muito profundamente em qualquer assunto”p.249 Finalizando essa parte, ele ainda vai abordar os três conceitos principais no que concerne ao controle das mentes dos sujeitos. São eles o criminterrupção, o negribranco e o duplipensamento. “Criminterrupção significa a capacidade de estacar, como por instinto, no limiar de todo pensamento perigoso. O conceito inclui a capacidade de não entender analogias, de deixar de perceber erros lógicos, de compreender mal os argumentos simples, caso sejam antagônicos ao Socing, e de sentirse entediados ou incomodados por toda a sequência de raciocínio capaz de enveredar por um rumo herético” p. 249
“A sociedade oceânica, repousa em ultima análise, na crença de que o Grande Irmão é onipotente e o Partido é infalível. Mas, dado que na realidade o Grande Irmão não é onipotente e o Partido não é infalível, existe a necessidade de adotar-se o tempo todo uma flexibilidade incessante no tratamento dos fatos. A palavra chave no caso, é negribranco.” P. 250 Negribranco como todas as palavras em novafala, possui significados contraditórios. “Aplicada a um membro do Partido, manifesta a leal disposição de afirmar que o negro é branco sempre que a disciplina do Partido exigir. Mas significa ao mesmo tempo a capacidade de acreditar que o negro é branco e, mais, de saber que o negro é branco, e de esquecer que algum dia julgou ao contrário. “ p.250 O conceito de negribranco necessita de uma alteração constante do passado para que se torne efetivo, e nesse sentido, temos a importância da mutabilidade do passado, que é um dos lemas do Partido. A respeito da mutabilidade do passado, o livro de Goldstein nos diz: “A mutabilidade do passado é o ponto central da doutrina do Socing. “ p. 251 “O passado é tudo aquilo a respeito do que há coincidên cia entre registros e memórias. Considerando que o Partido mantém absoluto mantém absoluto controle sobre todos os registros e sobre todas as mentes de seus membros, decorre que o passado é tudo aquilo que o Partido decide que ele seja. Decorre ainda que, embora seja possível alterar o passado, o passado jamais foi alterado em nenhuma instância especifica. Isso porque nas ocasiões em que é recriado na forma exigida pelas circunstâncias, a nova versão passa a ser o passado, e nenhum outro passado pode ter existido algum dia ” p. 251 Já o duplipensamento, é o conceito que norteia todo as ações do Partido, e que possibilita sua permanência como grupo dominante. Está presente em toda as suas ações, inclusive nos slogans do Partido, e na nomenclatura de seus ministérios. “Duplipensamento significa a capacidade de abrigar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias e acreditar em ambas. O intelectual do Partido sabe em que direção suas memórias precisam ser alteradas; em consequência , sabe que está manipulando a realidade;
mas, graças ao exercício do duplipensamento, ele também se convence de que a realidade não está sendo violada” p. 252 “Em ultima instância, foi graças ao duplipensamento que o Partido foi capaz – e, até onde sabemos, continuará sendo por milhares de anos – de deter o curso da história p.252 “Mesmo o nome dos quatro ministérios que nos governam exibem uma espécie de descaramento na inversão deliberada dos fatos. O Ministério da Paz cuida dos assuntos de guerra, o Ministério da Verdade trata das mentiras; o Ministério do Amor pratica a tortura; e o Ministério da Pujança lida com a escassez de alimentos. Essas contradições não são acidentais e não resultam da mera hipocrisia: são exercícios deliberados do duplipensamento. ” p. 254 Enquanto lia Wisnton percebeu que Julia havia adormecido, e concluiu que a leitura desse capítulo, assim como o anterior, não trazia nada do que ele já não soubesse. Por fim também adormece junto a Júlia. 10- No último capítulo da Parte II, temos o momento em que Winston e Julia são capturados pela Polícia das Ideias. Descobrimos que o tempo todo estavam sendo vigiados por uma teletela escondida atrás de um quadro no quarto que alugaram acima da loja de antiguidades, e que o senhor proprietário da mesma, era um policial das ideias disfarçado. Julia e Winston são presos, finalizando assim essa parte da trama de 1984.
PARTE III ( P. 267 a 346) 1- Neste primeiro capítulo temos Winston, em uma cela esperando, enquanto vários prisioneiros vão e vem, entre eles alguns conhecidos, como Parsons, que como Winston já havia antecipado, foi denunciado pela filha a Policia das Ideias,pois segundo ele, enquanto dormia disse: Abaixo o Grande Irmão! Interessante observar, que tamanho é o controle a influência do Partido sobre a vida de Parsons, que mesmo preso ele ainda demonstra uma enorme adoração pelos ideais do Partido e pelo Grande Irmão: “ “Claro que eu sou culpado!”, exclamou Parsons com um olhar servil para a teletela. “Você acha que o Partido iria prender um inocente?”p. 275 Winston não sabe por quanto tempo foi mantido ali, pois a sala não possuía janelas, sendo assim, ele não conseguia nem ao menos identificar se era dia ou noite. No final do capítulo, temos a revelação de que O’Brien todo o tempo fora um membro da Policia
das Ideias, e nunca um inimigo do Partido como pensara Winston.
2- No segundo capítulo temos o relato das diversas torturas pelas quais Winston passou, desde a fome, frio, equipamento de tortura, e até mesmo uma máquina que levava ao esquecimento. Todas elas manuseadas por O’Brien.
Winston também fala de uma pessoa de jaleco branco que recorrentemente lhe aplica injeções, provavelmente drogando-o. Temos alguns diálogos interessantes entres os dois personagens , Winston e O’Brien, no qual o ultimo tenta dissuadir o primeiro a respeito de suas lembranças e convicções, tratando-o como um demente. O’Brien fala a ele da importância do controle da mente, e Winston questiona a todo tempo. O’Brien diz a Winston que a intenção das torturas é converter a pessoa, a ponto que ela seja o
mais puro seguidor do grande Irmão, para ai sim elimina-lo. Ao fazer isso, sem que a pessoa abandone suas convicções permite-se que surjam mártires. Ele deixa bem claro a Winston, que
ele está ali para regenerar-se, mas assim que estiver completo o processo, mais cedo ou mais tarde ele será eliminado, pois esse é o destino daqueles que cometem o pensamento-crime. “E sobretudo não permitimos que os mortos se levantem contra nós. Você precisa parar de ficar achando que a posteridade o absolverá, Winston. A posteridade nunca ouvirá falar de você. Você será excluído do rio da história” p. 298 Depois de todas as torturas sofridas, e da máquina que aparentemente criava vazios na memória, quando O’Brien mostrou quatro dedos, perguntou a Winston quantos tinha, ele diz que realmente
via cinco. Não sabia explicar como, mas via cinco dedos. “E de fato os viu, por um brevíssimo insta nte, antes que o cenário de sua mente se alterasse . Viu cinco dedos, e não havia deformação.”p.302 Por fim O’Brien permite que Winston lhe faça algumas perguntas, e algumas delas ele responde ,
outras simplesmente devolve a Winston. Quando Winston pergunta sobre o que seria o quarto 101, onde muitos dos prisioneiros que dividiram cela com ele foram enviado, ele simplesmente responde: “Você sabe o que tem no quarto 101, Winston. Todo mundo sabe o que tem no quarto 101.” P.304
3 / 4- Nos capítulos 3 e 4, temos longos diálogos entre Winston e O’Brien a respeito dos dogmas do Partido, e Wisnton se dá conta de que por mais inteligente que O’Brien seja, ele é totalmente
doutrinado pelo Partido, e acredita em tudo que fala , apesar de ter muito mais conhecimento do que ele a respeito das sabotagens, das mentiras realizadas em nome do Partido. Ao contrário do que Winston imaginava, O’Brien diz que o Partido está no poder pelo poder, e
não por qualquer outro motivo. E diz a Winston: “Se você quer formar uma imagem do futuro, imagine uma bota pisoteando um rosto humano – para sempre” p. 312 No capítulo quatro temos a recuperação de Winston. Passam a alimentá-lo melhor, as torturas param por um tempo, o deixam tomar uma banho, e conforme o tempo vai passando, ele mesmo passa a se policiar para aderir ao Partido, e passar a ver as coisas como deve. A controlar a sua mente. Então em um dado momento, enquanto dormia, ele chama por Julia, e acorda sobressaltado. Percebe que aquele momento foi sua perdição, visto que não existe nada que passe despercebido no Ministério do Amor. Logo em seguida vemos O’Brien e outro soldado, adentrar a cela, e levarem Winston ao quarto
101.
5- Winston tinha curiosidade de saber o que acontecia no quarto 101 para onde todos os prisioneiros eram levados. Lá a pessoa devia enfrentar aquilo que mais lhe causava medo, pavor. E no caso de Winston, eram os ratos. O’Brien coloca uma gaiola de ratos, preso a uma espécie de máscara ao rosto de Winston, na
qual existe duas travas que abrem duas portinhas antes que elas cheguem ao rosto de Winston , para devorar sua carne. Assim que O’Brien abre a primeira, Winston é tomado pelo medo, e sem pensar duas vezes faz o
que não tinha feito até então: trai Julia. E então O’Brien trava as portas da gaiola, liberando Winston daquele terrível fim.
6- No ultimo capítulo do livro, percebemos que depois de passar pelo quarto 101, Winston é libertado. Ele se encontra no Café das Castanheiras, bebendo seu gim Victory.
Ele tem um cargo maior do que antes dentro do Ministério, e relata de certa vez ter encontrado Julia, e de como não conseguiam permanecer perto um do outro, talvez por tudo que haviam passado. Enquanto está ali tem lampejos de memória de sua infância, e a teletela diz que em determinado horário fará um aviso importante. Ele torce para que seja uma notícia da derrota da Oceania, mas quando o anúncio é feito, é precedido por um clarim, e ele e todos sabem que o clarim significa um anúncio de vitória. Todos são tomados por um sentimento de alegria , e Winston, sem nem sair do lugar, ao observar o rosto do Grande Irmão, é tomado por aquele sentimento, e de dá conta de que o processo iniciado no ministério do amor estava concluído, ele enfim amava o Grande Irmão.
