FEITURA DE SANTO DE YAWÔ, OGAN E EKÉDI NO OMOLOKÔ
A Feitura de Santo é uma das maiores festas do dentro do Omolokô, pois é quando um Yawô nasce para seu Orixá, representando assim o nascimento para uma vida nova, um nascimento e uma vida espiritual junto a seu Orixá. O conteúdo tratado aqui é o praticado no meu Axé. Existem diferenças entre casas de Omolokô quanto a Feitura de Santo, e não pretendo entrar no mérito do certo ou errado. Passo aqui neste Post o que aprendi e o que sigo fazendo. Esse Ritual dura de 07 (sete) a 21 (vinte e um)dias, de acordo com o pedido nos Búzios, onde 7 desses dias é confinado no Hunkó ou Roncó. Nesse tempo o iniciado que deixará de ser Abian (Não Iniciado) passará a ser Yawó (Iniciado no Culto aos Orixás), podendo também ser confirmado cargo como acontece nos casos de Ogan e Ekédi. Durante o confinamento o Yawô aprenderá rezas, segredos, cantos, danças, e outros fundamentos. No caso dos Ogans e Ekédis aprenderão ainda procedimentos relativos às funções que desempenharão. Além disso o tempo de confinamento co nfinamento serve como período de repouso e meditação, proporcionando que o Yawô se desligue do mundo externo, bem como dos problemas do dia-dia, preocupando-se apenas com o espiritual. No meu Axé adotamos alguns preceitos antes de recolher o Yawô, Ogan ou Ekédi ao Hunkó. Despacha-se Exu na noite anterior, antes de entrar ao Hunkó o iniciado deve tomar alguns Banhos de limpeza. Após isso já dentro do Terreiro passará por uma cerimônia chamada de cruzamento para Oxalá, e em seguida irá para o rio ou cachoeira onde tomará um banho nas águas de Oxum. Por fim antes de entrar no Hunkó prestará o juramento do Yawô. Feito isto então será recolhido ao Hunkó para a Feitura de Santo propriamente dita. O Yawô durante seu recolhimento também passará por limpezas rituais e ebós específico com a finalidade de limpar seu corpo e espírito. Por fim passará pelo processo de Feitura propriamente dito. Este processo praticamente se divide em duas parte principais, inicialmente os Ebós e banhos que tem a finalidade de limpeza. São os seguintes Ebós: – Ebó de Esù ònòn (Ebó de Exu no caminho. Tem a finalidade de abrir os caminhos do futuro
Yawô, trazendo-lhe boa sorte). – Ebó Iku (para afastar a morte e as doenças do caminho do futuro Yawô). – Dar um Obi a Cabeça do iniciado. – Ebó Onilè (Ebó da Terra. Pedindo a proteção a Onilè ao futuro Yawô). – Ebó omi (Ebó de Águas. Divide-se em Ebó omidùn das águas doces, e Ebó omi iyò das águas
salgadas. Em locais longe do litoral costuma-se fazer os dois juntos na beira de um Rio).
– Ebó Igbó (Ebó nas matas. Feito para os Orixás das matas) – Wè ariàse (Banho de folhas sagradas. Tem a finalidade de purificar o Yawô)
Após estes Ebós e Banhos o Yawô passará pelo ritual de Feitura propriamente dito, sendo realizado as raspagens, abertura de curas, sacrifícios, assentamentos e demais ritos necessários. A Feitura de Santo despende muito gasto, tanto em material, da mão do Zelador(a) e do Ajeum (festa). Todo o ritual deve ser conduzido por um Zelador que tenha Axé para tal, e que esteja com suas obrigações em dia. Após a feitura o Yawô deve ainda cumprir o tempo de Kelê, que no meu Axé são 21 (vinte e um) dias. Durante este período o Yawô deverá passar por várias restrições tais como: não cortar o cabelo, não tomar banho de mar, dormir na esteira, vestir-se de branco, usar contra eguns, entre outras. Os Ogan e Ekédis quando iniciados já são confirmados, sendo então tratados como Egbomí, pois nasceram com seus cargos. No entanto ainda tem que passar pelas demais obrigações. O Yawó quando for inciado terá no “Barco” um nome por ordem de iniciação dentro do Hunkó.
A ordem é: o primeiro Dofono, o segundo dofonitinho, o terceiro será chamado de Fomo, o quarto de Fomutinho, o quinto de Gamo, o sexto de Gamutinho, o sétimo de Vimo, o oitavo de Vimutinho, o nono de Gremo, o décimo de Gremutinho, o décimo primeiro de Caçula e daí por diante, no entanto o costume é recolher no máximo três ou quatro Yawôs, devido ao trabalho que dá. Tal ordem é definida em que “Bolaram” no seu Orixá ou pelo Jogo de Búzios. Ogans e
Ekedis não entram nessa contagem, visto que não são iniciados para Yawô e sim para cargo no Terreiro, sendo no entanto sempre os primeiros no barco, ou seja são os Dofonos. É uma cerimônia que necessita da colaboração de toda uma Familia de Santo, devido a sua complexidade e volume de trabalho, lembrando que dentro do Hunkó só podem entrar iniciados. A Feitura de Ogan e Ekédi é diferente, haja visto que eles não são inciados como Yawô, ele é confirmado, pois são considerados Sacerdotes (Bàbás e Iyás). São geralmente pessoas escolhidas pelo Bàbálorixa/Iyalorixá, pelo Orixá da casa, ou pelo Jogo de Búzios, sendo primeiramente supensos/levantados e após isso já devem se preparar para iniciação (confirmação). Ogan e Ekédi não entram em transe, por isso sua Feitura e Saída de Santo possui algumas diferenças de um Yawô. Geralmente não recebem Adosú, pois não incorporam, no entanto alguns (escolhidos pelo Babá/Yá) podem receber este fundamento para poderem dar determinados preceitos à Yawôs. Devido a complexidade destes cargos eles permanecem seu tempo de Kelê no Terreiro afim de aprenderem seus afazeres, no entanto esta regra não é
seguida em todas as Casas. É necessário também determinar qual Orixá dará a sua Dijina, uma vez que não incorporam. Normalmente tal ato cabe ao Orixá que os levantou. No Omolokô Ogan e Ekédi passam pelo processo de raspagem, terá curas feitas e demais rituais de assentamentos, sacrifícios e Ebós. Aprendem dentro do Hunkó tudo o que um Yawô aprende, além de aprender as obrigações específicas de seus cargos. A Saída de Santo de Ogan e Ekédi também se diferencia de um Yawô. É feita a Saída de Branco em saudação a Oxalá, a Saída da Dijina ou Orunkó e por fim a Saída onde receberá o seu cargo. Nesta última saída o Ogan e Ekédi receberá os instrumentos necessário para a execução de sua função, terminando com o Ogan e Ekédi dançando com seus Orixás (incorporados em outras pessoas). Encerrando a Ekédi ou Ogan iniciado sentará em uma cadeira ao lado de seu Orixá e Zelador(a), e receberá as homenagens dos presentes. No final canta-se para Oxalá.