´ ESPAC ¸ OS METRICOS l
20 08
ti en G
(COMENTADO) Cubo Hiper-M´agico
8
χ(0)
tχ(1)
t
t
4
χ 0
1
t 5
1
t
t
t3
t9
t
t7
t6 t2
ϕ
CBPF-NF-002/06
Curva de Peano (S)
t t t t t t t9t t
5
1
antica − Topologia Qu^
8
6
7
1
4
2
3
− O Milagre!: conexo por caminhos
3 4
11.09.2008
¬
1 2
1 4
1 4
¬
s
0
1 2
1
3 4
1
f (x) s↑
¬
9 9 9 0, 999 . . . = + + + ··· = 0 10 100 1000
1 2
0, 3333 . . . = 0 0, 4999 . . . = 0
lim x = 1
x→0
0
1 2
Teorema (Gentil/15.08.2008). Se 0, 999 . . . ´e um n´ umero ent˜ ao 1 = 0.
Gentil Lopes da Silva
→ s x
1
´ ESPAC ¸ OS METRICOS (COMENTADO) Gentil Lopes da Silva 28 de agosto de 2009
Aos servos cabe mentir; aos livres, dizer a verdade. ˆ nio. Apolo
˜ o me afadiguei so ´ para mim; - Vejam que eu na mas para todos aqueles que procuram ˜ o. a instruc ¸a
Eclesiastico 33 : 18
˜ es As mais belas orac ¸o e os mais belos sacrif´ıcios agradam menos a Divindade que uma alma virtuosa que se esforc ¸ a por assemelhar-se a Ela. ´ crates. So
A demonstra¸ca˜o ´e um ´ıdolo aos p´es do qual os matem´aticos se torturam a eles pr´oprios. Sir Arthur Eddington
Pref´ acio Este livro pretende estabelecer uma ponte entre o aluno e textos outros, de leitura mais ´ arida, por assim dizer. Acreditamos - por v´arias raz˜ oes - que o aluno de matem´atica deva ter `a ´ dentro sua disposi¸ca˜o mais que um livro da disciplina que esteja aprendendo. E deste contexto que situa-se esta obra, ou seja: nela o aluno ter´ a mais uma op¸ca˜o para auxili´ a-lo no seu aprendizado. Embora seja lugar-comum que figuras n˜ ao devam interferir na maior parte das demonstra¸co˜es da An´alise − no que estamos de acordo − n˜ ao hesitamos em us´a-las onde achamos que o entendimento do aluno poderia ser facilitado. ´ Obviamente que o peso maior ´e dado `a l´ogica que ´e quem valida uma demonstra¸ca˜o. Por oportuno, se em An´alise uma imagem n˜ ao vale mais que 1000 palavras; vale, pelo ao menos, umas 200. Via de regra o que se faz em um pref´ acio ´e discorrer sobre o conte´ udo da obra. Nos dispensamos deste of´ıcio em raz˜ ao de que o leitor, se assim o desejar, pode apreciar o conte´ udo deste livro a partir do sum´ ario, dado logo a seguir. Aproveito este pref´ acio para fazer algumas elucubra¸co˜es a respeito da Matem´ atica em si, as quais julgo de alguma importˆ ancia. Pensamos que uma raz˜ ao apenas ´e suficiente para justificar o aprendizado da matem´atica, em um n´ıvel mais avan¸cado: sua beleza intr´ınseca. Um belo teorema matem´ atico situa-se no mesmo n´ıvel de uma bela obra de arte. ´tica confunde-se com a Arte A uma certa altura a Matema Assim como n˜ ao tem sentido chegar-se em frente a uma obra de arte e perguntar para o que ela serve, t˜ ao pouco faz sentido priorizar a aplica¸ca˜o de um belo teorema. Um outro s´ımile: n˜ ao se pergunta a um compositor para o que serve a sua m´ usica. Aos utilitaristas, diremos que a matem´atica serve para o deleite espiritual de quantos a cultivam seriamente. Frente a esta aplica¸ca˜o as demais empalidecem. Embora, devo confessar, mesmo sem colocar poss´ıveis aplica¸co˜es num primeiro plano, n˜ ao raro tenho trope¸cado nas mesmas. Acreditamos que neste est´ agio de aprendizado o aluno deva desenvolver a percep¸ca˜o (sensibilidade) para contemplar a beleza-arte da matem´atica. Nestas alturas, a meu ver, aplica¸co˜es caem para um segundo ou terceiro plano − n˜ ao ´e o que deve interessar a um matem´atico puro, embora o seja a um “impuro”. Este livro n˜ ao cont´em lista de exerc´ıcios, por duas raz˜ oes. Primeira: no livro existem bastante exerc´ıcios resolvidos (exemplos). Segunda: Por experiˆencia sabemos que o aluno que estuda, pela primeira vez, disciplinas como An´alise e Topologia ainda n˜ ao tem maturidade suficiente para resolver exerc´ıcios destas disciplinas. Por outro lado acreditamos que o aprendizado do aluno se processa como o aprendizado das crian¸cas: por imita¸ca˜o (observa¸ca˜o) dos “adultos”. Sendo assim o que temos feito, quando ministramos espa¸cos m´etricos adotando este livro − e aqui vai uma sugest˜ao aos professores que, por ventura, o adotarem − ´e sugerir aos alunos que estudem atentamente os exerc´ıcios resolvidos (exemplos). Na avalia¸ca˜o constam estes exerc´ıcios ou ligeira varia¸ca˜o dos mesmos. Percebi uma interessante analogia entre o Universo da m´ usica e o Univeros da ciˆencia, a qual gostaria de compartilhar com o leitor: Sabe-se que na m´ usica alguns nascem, ou melhor, tˆem o dom de int´erpretes (s˜ao excelentes int´erpretes) mas n˜ ao s˜ao compositores. E rec´ıprocamente, outros h´ a que tˆem o dom da com-
posi¸ca˜o mas n˜ ao o de int´erprete; ambos s˜ao importantes para o universo musical. Na Ciˆencia, em particular na Matem´ atica, acontece algo semelhante: h´ a uma esp´ecie de gˆenios que s˜ao os int´erpretes, mas que n˜ ao comp˜oem, isto ´e, n˜ ao produzem nada de significativo (estes s˜ao a maioria) e h´ a “gˆenios”, embora n˜ ao gˆenios, os quais s˜ao “compositores” na Ciˆencia. Estes “gˆenios” embora, algumas vezes, n˜ ao sejam gˆenios (na acep¸ca˜o que se atribui a esta palavra) ´e desnecess´ario enfatizar que s˜ao t˜ ao (ou mais) importantes que os gˆenios. Tenho por certo que Einstein, por exemplo, foi um “gˆenio” embora n˜ ao tenha sido um gˆenio∗. Evidentemente que na Ciˆencia, como na m´ usica, h´ a os que s˜ ao gˆenios e ao mesmo tempo “gˆenios”, como por exemplo: Newton, Poincar´e, Gauss, Euler, Gallois, etc. Quanto a este ponto de vista, descobrir que n˜ ao estou s´o, vejam: “. . . A seu modo, Glasshow pode ser um extravagante ‘revolucion´ario anarquista’, mas a forma pela qual chega `as suas id´eias f´a-lo avan¸car constantemente com novos conceitos, muitos deles loucos e imposs´ıveis, mas outros s˜ao avan¸cos genu´ınos em f´ısica. Certamente que conta com a ajuda de outros para separar as id´eias m´as, n˜ ao obstante possui um instinto criativo que muitos n˜ ao possuem. Em f´ısica te´orica ser simplesmente brilhante n˜ ao ´e suficiente. Deve-se ser capaz de gerar novas id´eias, algumas bizarras, que s˜ao essenciais para o processo de descoberta cient´ıfica.” Do livro “Para Al´em de Eintein” de Michio Kaku/Jennifer Trainer. Da mesma forma digo que na matem´atica n˜ ao ´e suficiente ser brilhante: n˜ ao se deve olvidar o instinto criativo. Em resumo estou reinvidicando maior aten¸ca˜o aos “compositores” a exemplo do que tem ocorrido aos int´erpretes. Este livro foi escrito usando o processador de texto LATEX 2ε . Seremos gratos por cr´ıticas e/ou sugest˜oes: www.dmat.ufrr.br/∼gentil ∨
[email protected] Minha gratid˜ao maior ao bom Deus, por ter me concedido gestar e dar `a luz este trabalho. Isto ´e, assentar este tijolinho em sua magnˆanima obra. Gentil Lopes da Silva. Boa Vista − RR, setembro de 2008.
∗ Basta lembrar que Einstein foi reprovado nos exames de admiss˜ ao a ` Escola Polit´ ecnica de Zurich. Ou ent˜ ao, para se certificar de nossa afirmativa, leia o di´ alogo “sobre a natureza da verdade”, ocorrido em 1930 entre Einstein e o poeta indu Rabindranath Tagore. No nosso entendimento as concep¸co ˜es do poeta, no referido di´ alogo, foram geniais - ao contr´ ario das de Einstein, algumas das quais at´ e pueris.
ADENDO
Boa Vista-RR/30.05.2010
Foram feitas duas tentativas de publica¸ca˜o do presente livro. Na primeira o submetir ` a editora aqui mesmo da universidade (ufrr), ap´ os alguns meses conversei com o diretor da editora e numa conversa informal ele me disse que o livro havia sido submetido a dois especialistas da `area (referees) e que at´e aquele momento apenas um havia emitido seu parecer, por sinal favor´ avel, e que, ademais, a editora estava correndo atr´ as de recursos. Algum tempo depois a editora trocou de diretor e o novo me informou que a editora n˜ ao tinha recursos pr´oprios e que dependia de capta¸ca˜o de recursos externos. Desisti da empreitada e decidi enviar o livro a uma outra editora. Escolhi a editora da UNB (universidade de Bras´ılia). Aproximadamente um ano depois recebi uma carta com o parecer de um referee (´ arbitro). O livro n˜ ao foi aceito para publica¸ca˜o. Vou citar os t´ opicos mais relevantes do parecer, tidos como prejudiciais `a obra como um todo, e vou me permiti o direito de coment´ a-los (uma esp´ecie de r´eplica): Abrangˆ encia: O material abrange os t´ opicos fundamentais que geralmente s˜ ao abordados num curso de um semestre dessa disciplina e inclui um (longo) cap´ıtulo de “Pr´eRequisitos”, este com cerca de 70 p´ aginas; o autor explora com certo exagero, um grande n´ umero de exemplos a cada conceito introduzido. - Coment´ ario: De fato, o longo cap´ıtulo de pr´e-requisitos foi uma tentativa minha de tornar a obra auto-suficiente. Numerei-o como cap´ıtulo 0 e o tenho como um cap´ıtulo apenas de consulta (e referˆencias) tanto ´e que quando ministro essa disciplina inicio pelo cap´ıtulo 1, de espa¸cos m´etricos. No meu entendimento um grande n´ umero de exemplos s´o n˜ ao ´e bom para a editora∗ mas certamente ´e bom para os alunos. Qualidade do Conte´ udo e Organiza¸ c˜ ao L´ ogica: Em diversos pontos do texto o autor mistura aspectos de seu pr´ oprio entendimento filos´ ofico e religioso com a mat´eria espec´ıfica deste t´ opico da matem´ atica. Em outros, insere textos de palestras elementares, proferidas pelo mesmo em sua institui¸ca ˜o de origem, al´em de tecer in´ umeros coment´ arios pouco apropriados e at´e mesmo controversos; - Coment´ ario: A raz˜ ao pela qual a maioria das obras did´aticas de matem´atica s˜ao r´eplicas quase perfeitas umas das outras ´e que grande parte dos autores s˜ao apenas int´erpretes na matem´atica, poucos s˜ao os compositores. Na matem´atica me considero, al´em de int´erprete, compositor; com efeito, o meu livro encontrase eivado de novidades, composi¸co˜es minhas. O fato de algu´em conseguir unir matem´atica com filosofia e espiritualidade eu, sinceramente, n˜ ao vejo como um defeito, mas como uma excepcional qualidade. Digo espiritualidade e n˜ ao religi˜ ao, como o meu ´ arbitro se refere acima, fa¸co uma distin¸ca˜o entre ambas. No que diz respeito a mim, creio em Deus e em que a essˆencia do homem (como de resto de todos os seres vivos) ´e espiritual e n˜ ao material, n˜ ao obstante, n˜ ao possuo nenhuma religi˜ ao, muito pelo contr´ario, de uma dada perspectiva, sou contra as religi˜ oes institu´ıdas; portanto, reitero, aqui misturo topologia com filosofia, f´ısica quˆ antica e espiritualidade (n˜ao religi˜ ao). Ademais, ´e verdade que utilizo a matem´atica para perscrustar o universo da espiritualidade. ∗ Pois
o livro torna-se volumoso e, consequentemente, encarece os custos de produ¸ca ˜o.
Quanto a inserir textos de palestras “elementares”, de fato fiz uso da topologia dos espa¸cos m´etricos para contribuir com uma quest˜ ao bastante (h´a s´eculos) controversa na matem´atica, qual seja: como se deve interpretar a igualdade: 0, 999 . . . = 1 Leio no livro de um renomado matem´atico o seguinte: “E, conquanto as ideias e o pensamento matem´ aticos estejam em constante evolu¸ca ˜o [. . .] a maioria dos problemas b´ asicos fundamentais nunca desaparece.” (Gregory Chaitin/METAMAT!)
O meu ´ arbitro n˜ ao atinou com este pequeno detalhe na matem´ atica. Com efeito, o problema das representa¸co˜es decimais, como na igualdade acima, ´e um de tais problemas b´ asicos fundamentais que tem dado dor de cabe¸ca a muitos matem´aticos, inclusive no que diz respeito a interpreta¸co˜es equivocadas sobre as mesmas, como logramos demonstrar aqui. Por outro lado, e talvez mais importante ainda, muitas constru¸co˜es sofisticadas na matem´atica, a exemplo da curva de Peano, dependem de tais representa¸co˜es dos n´ umeros reais. Por exemplo aqui - pelo fato de havermos desvendado esta “quest˜ ao b´ asica” - construimos uma vers˜ao mais simples da curva de Peano bem como obtivemos uma outra transforma¸ca˜o, in´edita e t˜ ao esdr´ uxula quanto a de Peano: construimos a “volta” da curva de Peano. Quanto a “coment´ arios pouco apropriados” talvez o ´arbitro esteja se referindo ao fato de eu ter afirmado que at´e hoje os matem´aticos claudicam (trope¸cam) no conceito de n´ umero, em poucas palavras: muitos n˜ ao tˆem nitidez do que de fato seja um n´ umero (tanto ´e que alguns o tomam como um “conceito primitivo”, o que n˜ ao acho necess´ario). Com efeito, fa¸co esta afirmativa em um Resumo que encontra-se a partir da p´ agina 227, o leitor leia e julgue por si mesmo se tenho ou n˜ ao raz˜ ao. Por sinal publiquei este artigo (“Palestra”) h´ a mais de ano em minha home-page e h´ a v´arios meses no site Somatem´ atica e, at´e hoje, n˜ ao recebi nenhuma contesta¸ca˜o; pelo contr´ario, recebi um email entusiasmado de um leitor me dando conta de que leu, entendeu e concorda com tudo o que escrevi sobre o tema. Ademais, vejo uma incoerˆencia na afirmativa do referee: se discorro sobre um tema elementar (conte´ udo de minha Palestra - pg. 227) como posso fazer afirmativas controversas? Digo, ele, como ´arbitro, n˜ ao teria capacidade de decidir se o que falo tem ou n˜ ao fundamento? Em matem´atica, no que de fato ´e elementar, n˜ ao cabe controv´ersias, do contr´ario n˜ ao seria elementar. Continuando: Quanto a ` abordagem dos conte´ udos de Espa¸cos M´etricos em s´ı, h´ a um exagero de exemplos seguindo cada conceito apresentado, em detrimento de um tratamento mais conciso dos pontos centrais do tema. - Coment´ ario: De fato, ele tem raz˜ ao, exagerei no n´ umero de exemplos. Quando decidi escrever este livro um dos objetivos que mentalizei ´e que o mesmo servisse tamb´em ao estudante auto-didata; digo, `aquele que, por ventura, decidisse estudar (s´ ozinho) o assunto com antecedˆencia - para suavizar seu aprendizado a posteriori (digo, com o professor), da´ı eu ter exagerado no n´ umero de exemplos. Outros Aspectos Negativos: 1. O autor apresenta todo um cap´ıtulo, com cerca de 70 p´ aginas, a t´ıtulo de “Pr´e-Requisitos”, em que s˜ ao inclu´ıdos t´ opicos de L´ ogica, Teoria dos Conjuntos,
´ C´ alculo, An´ alise e Algebra Linear. Com todos esses pr´e-requisitos, causa estranheza a afirma¸ca ˜o do autor: “. . . Por experiˆencia sabemos que o aluno que estuda, pela primeira vez, disciplinas como An´ alise e Topologia ainda n˜ ao tem maturidade suficiente para resolver exerc´ıcios destas disciplinas. . . ”(cf. Pref´ acio). - Coment´ ario: Esqueci de dizer que escrevi este Cap´ıtulo 0 apenas para eventuais consultas e referˆencias, tanto ´e que j´a inicio a mat´eria pelo Cap´ıtulo 1; com isso creio que continua sendo verdadeiro o que afirmo a respeito da imaturidade dos alunos em resolver quest˜ oes de demonstra¸co˜es (prove que, mostre que, etc.); tamb´em por isso exagero no n´ umero de exerc´ıcios resolvidos (exemplos) e pe¸co apenas que os alunos os estudem atentamente procurando entendˆe-los 100%, creio que por essa via o aprendizado possa ocorrer sem grandes traumas - como ocorre ami´ ude. 2. No contexto do tema, o autor explora conceitos tais como “Topologia Quˆ antica” e “Propriedades Topol´ ogicas” sem sequer introduzir o conceito geral de “Espa¸co Topol´ ogico”. - Coment´ ario: Este “aspecto negativo” assinalado pelo referee n˜ ao procede. De fato, podemos falar de “Propriedades Topol´ogicas” apenas dentro do contexto dos espa¸cos m´etricos, sem necessidade de adentrarmos no conceito geral de “Espa¸co Topol´ ogico”, tanto isso ´e verdade que ´e assim mesmo que procede o Prof. Elon Lages em seu livro [5] (pg. 38); o mesmo se d´ a no que diz respeito ` a “Topologia Quˆ antica”, por sinal esse conceito foi criado por mim mesmo - me sinto muito ` a vontade para falar sobre o mesmo. Senhor referee, desta forma o senhor perde credibilidade! 3. Por fim, cabe observar que o autor utiliza cerca de 600 p´ aginas, usando fonte pequena e um n´ umero excessivo de figuras, para explorar assuntos que usualmente podem ser adequadamente abordados num texto de 250 a 300 p´ aginas. Bras´ılia, 05 de maio de 2009.
- Coment´ ario: Quando escrevo um livro confesso que a minha maior preocupa¸ca˜o n˜ ao ´e com o n´ umero de p´ aginas, mas sim em torn´a-lo did´atico, pensando em um aluno auto-didata at´e. Por exemplo, quanto ` as demonstra¸co˜es matem´aticas, existem autores que preferem as mais curtas e elegantes, esquecendo que a demonstra¸ca˜o mais curta nem sempre ´e a mais did´ atica e compreens´ıvel ao aluno. Ademais, uma demonstra¸ca˜o compacta n˜ ao raro esconde (camufla) a interrela¸ca˜o dos conceitos envolvidos, muitas vezes n˜ ao mostra como as id´eias est˜ ao interconectadas (imbrincadas); assim ´e que, por exemplo, uma demonstra¸ca˜o de apenas trˆes linhas em livros congˆeneres, aqui deliberadamente a fazemos at´e em uma p´ agina inteira - dando ˆenfase ` a articula¸ca˜o dos conceitos envolvidos; Quando o ´ arbitro coloca “um n´ umero excessivo de figuras ” como um aspecto negativo em uma obra, com toda certeza ele desconhece o n´ıvel com que a maioria dos alunos chega na maioria de nossas universidades. Se ele ´e professor ´e poss´ıvel que o seja apenas da p´ os-gradua¸ca˜o. ´ Disciplinas tais como Algebra Linear, Estruturas Alg´ebricas, An´alise e Topologia s˜ao abstratas - os alunos, oriundos dos falidos (capengas) ensinos fundamental e m´edio, n˜ ao raro adentram ` as universidades sem ao menos saberem fazer contas quanto mais terem condi¸co˜es de pensar abstratamente, da´ı que em minhas aulas, a toda exposi¸ca˜o de um tema abstrato∗ procuro fazer corresponder ∗ Em matem´ atica o que ´ e “abstrato” ou n˜ ao ´ e discut´ıvel, acontece que para a maioria dos alunos quase tudo em matem´ atica ´ e abstrato, quem ´ e professor destas disciplinas sabe disso.
uma figura, digo-lhes: “Observem . . . quem n˜ ao conseguir alcan¸car com a mente (racioc´ınio) procure ao menos enxergar com os olhos f´ısicos, j´a ´e alguma coisa”. Existe um ditado que diz que uma imagem vale mais que mil palavras, isto ´e ainda mais verdadeiro quando se trata de ensinar matem´atica abstrata a nossos alunos. Por oportuno, tenho em m˜aos um livro de matem´atica de um professor da UNB (publicado pela Editora da UNB), por t´ıtulo “Introdu¸ca ˜o a `a ´lgebra linear”, esse livro tem 156 p´ aginas, a primeira figura aparece na pg. de n´ umero 98 (isto ´e, bem depois da metade do livro), no livro todo constam apenas 5 figuras. Na minha opini˜ ao escrever um livro fino e com poucas figuras ´e muito f´acil (e at´e mais cˆ omodo) agora se vai resultar em um livro did´atico a´ı ´e outra hist´oria. Por exemplo, analisei detidamente o livro citado acima e, sinceramente, n˜ ao achei que tenha ficado nenhum um pouco did´atico. Poucos exemplos, chega-se ao absurdo de se definir espa¸cos vetoriais e n˜ ao se mostra um u ´ nico exemplo de espa¸co vetorial! ´ bem verdade que o autor, ap´os a defini¸ca˜o desses entes, exibe Nota: E apenas dois exemplos, entretanto n˜ ao prova, segundo a defini¸ca˜o dada, que realmente trata-se de tais objetos; ou pelo ao menos menciona ao aluno a necessidade de tal prova (da´ı n˜ ao considero como exemplos). Ademais, a qualidade da editora¸ca˜o eletrˆ onica dessa obra deixa muito a desejar. O que muitos autores de livros did´aticos de matem´atica para gradua¸ca˜o ainda n˜ ao se deram conta (e, por conseguinte as editoras) ´e que o p´ ublico que eles tem em mente quando escrevem seus livros deixou de existir h´ a muito tempo! Estou falando da vergonhosa situa¸ca˜o na qual se encontram os ensinos fundamental e m´edio em nosso Pa´ıs, o que se reflete de imediato no preparo da clientela das universidades brasileiras. Para citar apenas um exemplo, an passant, quando ingressei na universidade em 1981 j´a sabia derivar e integrar j´ a resolvia problemas de m´aximos e m´ınimos, bem como calculava volumes de s´olidos de revolu¸ca˜o∗, hoje os alunos adentram `a universidade com dificuldades (trope¸cando) na matem´atica do ensino fundamental . . . pasm´em! Conclus˜ ao: O referee em quest˜ ao s´o viu defeitos em minha obra, na sua carta ele n˜ ao cita um u ´ nico eventual ponto positivo. Creio que, com um pouco de boa vontade, podemos encontrar alguns. Por exemplo: exploro aqui uma m´etrica (“m´etrica divina”), a qual n˜ ao se encontra em nenhum outro livro sobre espa¸cos m´etricos (dos que eu conhe¸co, claro), a qual me permitiu descobrir toda uma s´erie de exemplos interessantes (“patol´ogicos”)† e in´editos, me dando ensejo inclusive de relacionar Topologia com F´ısica quˆantica. Ademais, essa mesma m´etrica me permitiu colocar um ponto final em um assunto bastante controverso (pouco compreendido) na matem´atica, qual seja, se 0, 999 . . . ´e ou n˜ ao igual a 1. Aqui mostramos, at´e prova em contr´ario, que at´e mesmo matem´aticos profissionais estiveram equivocados quanto ao significado (interpreta¸ca˜o) da igualdade 0, 999 . . . = 1. Esse, certamente, foi um dos “coment´ arios pouco apropriados” que contribuiu negativamente para uma aprecia¸ca˜o sobre meu livro. Em 1890 o matem´atico italiano Giuseppe Peano (1858−1932) causou grande estupefa¸ca˜o na comunidade matem´atica ao construir sua famosa Curva (que ∗ Estudei
C´ alculo - para prestar o vestibular - pelo vol. 8 de os “Fundamentos de Matem´ atica Elementar”, cole¸ca ˜o muito conhecida para o ensino m´ edio (de antigamente). † Por exemplo, com um de tais exemplos mostramos que o Prof. Elon equivocou-se ao afirmar em seu livro, [5], que “espa¸co conexo por caminhos, ´ e um conceito provido de mais significado intuitivo do que o conceito geral de espa¸co conexo”.
cobre toda a superf´ıcie de um quadrado); no presente trabalho, simplificamos a constru¸ca˜o dessa curva (tal como consta em [5]) e, o que ´e melhor, construimos tamb´em um outro objeto (“monstro”) matem´atico que pode ser visto como “complementar” ` a curva de Peano. Se, com tudo isso (e mais ainda), o referee s´o viu defeitos em minha obra gostaria de lembr´a-lo que ´e muito raro um livro de matem´atica que traga alguma contribui¸ca˜o (relevante). Por oportuno, neste preciso momento lembrei de que o meu primeiro livro publicado (no ano de 2000, ver [6]) j´ a vem com algumas contribui¸co˜es `a matem´atica (Por exemplo, destaco uma f´ ormula fechada para a soma de potˆencias dos primeiros naturais, que nenhum matem´atico - deste e de s´eculos anteriores - havia conseguido), por sinal esse livro mereceu elogios de um renomado matem´atico brasileiro (por coincidˆencia um top´ologo); n˜ ao obstante ele tenha emitido seu parecer (observo que de livre e expontˆ anea vontade, digo, sem eu ter solicitado) sobre esse meu primeiro livro, vou me permitir transcrever seu parecer (j´ a que o autor de ambos os livros ´e o mesmo), ei-lo: O endere¸co
[email protected] foi recusado. Gostaria que ele recebesse esse e-mail. De fato, gostei muito do livro. Um Abra¸co, Ubiratan Original Message From: Ubiratan D, Ambr´osio
To: Gentil Lopes da Silva Sent: Saturday, November 06, 2004 10:46 AM Subject: Obrigado pelo livro Caro Gentil Muito obrigado pelo livro que vocˆe mandou pelo Chateau. Est´ a muito bom, interessante e cheio de provoca¸co˜es. D´a oportunidade para os estudantes se iniciarem em pesquisas. Vocˆe fala que o livro destina-se a alunos de 2o e 3o graus. Eu diria que ´e tamb´em para a p´ os. Aritm´etica continua sendo grande fonte de problemas de pesquisa que podem ser trabalhados com relativamente pouco da complicada linguagem, nota¸co˜es e resultados que caracterizam muitas ´areas da matem´atica. S˜ ao formula¸co˜es simples que podem ser trabalhados com pouca t´ecnica, exigindo imagina¸ca˜o e criatividade. Vou recomendar aos meus alunos. Mas tive um problema. Nos sites das livrarias, o livro n˜ ao existe. E nem est´ a no site da Thesaurus. Recomendar um livro implica dizer como adquirir. O que vocˆe diz? Siga em frente com suas id´eias. As suas reflex˜ oes iniciais, a sua escolha de ep´ıgrafes, e a pr´opria capa, s˜ao uma grande contribui¸ca˜o para um novo pensar na urgente renova¸ca˜o da educa¸ca˜o em todos os n´ıveis. A sua trajet´oria desde seus estudos, lecionando em condi¸co˜es prec´arias, e com as dificuldades para publicar o livro ´e um exemplo, muit´ıssimo frequente, do processo (certamente intencional) de desencorajar o florescimento dos criativos, e abrir o espa¸co para os executores de id´eias de outros. ´ Uma curiosidade: vocˆe sabia que o Edouard Lucas, que vocˆe cita na p´ agina 393, ´e quem fez a revis˜ ao t´ecnica para a publica¸ca˜o p´ ostuma do livro “M´elanges de Calcul Int´egral”, de Joaquim Gomes de Souza, o Souzinha, em 1882? O livro havia sido recusado por in´ umeras editoras enquanto ele estava vivo. Muito obrigado. Um abra¸co, Ubiratan
Nota: Como o Prof. Ubiratan n˜ ao estava conseguindo acessar o meu antigo endere¸co eletrˆ onico ([email protected]) ele enviou o email a um seu ex-aluno (saudoso Chateaubriand), colega meu, que me repassou. Leio em uma obra de um eminente matem´atico: Finalmente, permita-me tamb´em dizer que a hist´ oria das id´eias ´e, penso eu, o melhor meio de aprender matem´ atica. Sempre detestei os compˆendios. Sempre detestei livros cheios de f´ ormulas, livros secos, opini˜ oes descoradas, sem personalidade! Os livros que eu amava eram livros em que transparece a personalidade do autor, livros com montes de palavras, explica¸ co ˜es e id´ eias, n˜ ao s´ o de f´ ormulas e equa¸ co ˜es!(Gregory Chaitin/METAMAT!)(Grifo nosso) Penso que o presente livro cumpre os requisitos em destaque. Com efeito, n˜ ao apenas em meus livros como tamb´em em meus artigos deixo transparecer algo de minha personalidade e, nesta, deliberei cultivar uma pequena nesga de iconoclastia - tanto na plataforma intelectual quanto na espiritual. ´ Nota: Obviamente que seria um direito meu revisar o livro seguindo todas as orienta¸co˜es (cr´ıticas) do referee e submetˆe-lo novamente `a Editora da UNB (ou a uma outra qualquer), decidi n˜ ao fazˆe-lo pois teria que mudar toda a filosofia do trabalho - j´ a me dou por satisfeito apenas por disponibiliz´a-lo em minha home-page. J´a disse alhures que vejo e trabalho a matem´atica como uma obra de arte, isto ´e, considero meu livro uma obra de arte. Assim como n˜ ao teria o menor sentido algu´em chegar em frente a um compositor de determinada m´ usica e d´ a palpites para que ele a alterasse (em pontos essenciais); ou, digamos, a um artista pl´astico para que ele alterasse (em pontos essenciais) uma obra sua, t˜ ao pouco vejo sentido algu´em, por exemplo, me sugerir que eu n˜ ao misture matem´atica com filosofia ou espiritualidade, n˜ ao tem cabimento!
Garimpando P´ erolas “Um exame superficial da matem´ atica pode dar uma impress˜ ao de que ela ´e o resultado de esfor¸cos individuais separados de muitos cientistas espalhados por continentes e ´epocas diversas. No entanto, a l´ ogica interna de seu desenvolvimento nos lembra muito mais o trabalho de um u ´nico intelecto, desenvolvendo o seu pensamento sistem´ atico e consistentemente, usando a variedade das individualidades humanas somente como um meio. Assemelha-se a uma orquestra executando uma sinfonia composta por algu´em. Um tema passa de um instrumento a outro, e quando chegou a hora de um dos participantes abandonar o tema, ele ´e substitu´ıdo por outro, que o executa com precis˜ ao irrepreens´ıvel...” I.R. Shafarevich “Nenhuma produ¸c˜ ao de ordem superior, nenhuma inven¸c˜ ao jamais procedeu do homem, mas emanou de uma fonte ultraterrena. Portanto, o homem deveria consider´ a-la um dom inspirado do Alto e aceit´ a-la com gratid˜ ao e venera¸c˜ ao. Nestas circunstˆ ancias, o homem ´e somente o instrumento de uma Potˆencia Superior, semelhante a um vaso julgado digno de receber um conte´ udo divino”. Goethe “A obten¸c˜ ao de um resultado novo em pesquisa ´e, para o cientista, uma fonte de intenso prazer, ligado intimamente ao instinto de cria¸c˜ ao e eternidade, pois, independentemente da importˆ ancia da contribui¸c˜ ao no contexto da ciˆencia, ou de sua utiliza¸c˜ ao, representa algo acrescentado ao conhecimento humano que marca sua existˆencia na terra”. Pierre Curie (F´ısico) “O que me solicita profundamente na vida ´e poder colaborar numa obra, numa Realidade, mais dur´ avel do que eu: ´e nesse esp´ırito e nessa perspectiva que procuro aperfei¸coar-me e dominar um pouco mais as coisas”. Teilhard de Chardin “Sois de tal modo levados a vos tomar por tipos do Universo, que credes sempre que fora do vosso mundo n˜ ao h´ a mais nada. Pareceis verdadeiramente com esses selvagens que nunca sa´ıram de sua ilha e crˆeem que o mundo n˜ ao vai mais longe”. O Livro dos M´ ediuns “Eu penso que seria uma aproxima¸c˜ ao relativamente boa da verdade (que ´e demasiadamente complexa para permitir qualquer coisa melhor que uma aproxima¸c˜ ao) dizer que as id´eias matem´ aticas tˆem a sua origem em situa¸c˜ oes emp´ıricas. . . Mas, uma vez concebidas, elas adquirem uma identidade e crescimento pr´ oprios governados quase que inteiramente por motiva¸c˜ oes est´eticas. . . ”. J. Von Newmann (1903 − 1957) “A matem´ atica ´e um campo demasiadamente ´ arduo e in´ ospito para agradar ` aqueles a quem n˜ ao oferece grandes recompensas. Recompensas que s˜ ao da mesma ´ındole que as do artista. . . . Acrescenta ainda que ´e no ato de criar que o matem´ atico encontra sua culminˆ ancia e que ‘nenhuma quantidade de trabalho ou corre¸c˜ ao t´ecnica pode substituir este momento de cria¸c˜ ao na vida de um matem´ atico, poeta ou m´ usico’ ”. Norbert Wiener “. . . que o meu pensamento quis aproximar-se dos problemas do esp´ırito pela via de uma diversa experimenta¸c˜ ao de car´ ater abstrato, especulativo, resultante das conclus˜ oes de processos l´ ogicos da mais moderna f´ısico-matem´ atica”. Pietro Ubaldi/Ascens˜ oes Humanas
´ uma experiˆencia como nenhuma outra que eu possa descrever, a melhor coisa “E que pode acontecer a um cientista, compreender que alguma coisa que ocorreu em ´ sua mente corresponde exatamente a alguma coisa que aconteceu na natureza. E surpreendente, todas as vezes que ocorre. Ficamos espantados com o fato de que um construto de nossa pr´ opria mente possa realmente materializar-se no mundo real que existe l´ a fora. Um grande choque, e uma alegria muito grande”. Leo Kadanoff “Apenas aqueles que pensam por metades se tornam ateus, aqueles que se aprofundam em seus pensamentos e vˆeem as maravilhosas rela¸c˜ oes entre as leis universais reconhecem um poder criador”. Max Planck “Um conceito ´e um estado vibrat´ orio individualizado e delicad´ıssimo que, uma vez perdido, n˜ ao mais se acha nem com a l´ ogica e muito menos com a vontade, n˜ ao retornando sen˜ ao quando excitado por uma conex˜ ao de id´eias, isto ´e, por uma nova passagem pr´ oxima num estado vibrat´ orio afim”. Pietro Ubaldi/As No´ ures “N˜ ao sabemos sen˜ ao em raz˜ ao da nossa faculdade de recep¸c˜ ao”.
Pit´ agoras
“Tenho agarrado pela garganta as inferiores leis biol´ ogicas da animalidade, para estrangul´ a-las e super´ a-las. Tenho vivido minhas afirma¸c˜ oes como realiza¸c˜ ao biol´ ogica antes de formul´ a-las em palavras”. Pietro Ubaldi/As No´ ures “A fus˜ ao entre f´e e ciˆencia, t˜ ao auspiciada, j´ a se completou em meu esp´ırito: vis˜ ao u ´nica na substˆ ancia e de uma a outra eu passo unicamente por uma mudan¸ca de perspectiva visual ou de focaliza¸c˜ ao de meus centros ps´ıquicos ”. Pietro Ubaldi/As No´ ures “N˜ ao se pode imaginar que tenacidade de resistˆencia, que massa de in´ercia representa o homem m´edio, justamente o que imp˜ oe as normas da vida social”. Pietro Ubaldi/As No´ ures “Um teorema possui vida em abundˆ ancia: nasce, cresce, reproduz-se e . . . n˜ ao morre”. Gentil “O fenˆ omeno baseia-se na sintoniza¸c˜ ao ps´ıquica e a mente do observador, se n˜ ao afasta com suas emana¸c˜ oes um objeto do microsc´ opio, nem influencia um fenˆ omeno f´ısico ou qu´ımico, pode paralisar, todavia, o funcionamento de um fenˆ omeno psiqu´ıco. O fenˆ omeno tem suas defesas e se retira em face da amea¸ca ` a sua vitalidade e, ent˜ ao, a ciˆencia n˜ ao consegue a observa¸c˜ ao, e sim, a destrui¸c˜ ao”. Pietro Ubaldi/As No´ ures “Para poder avan¸car na investiga¸c˜ ao cient´ıfica e ver no ´ıntimo das coisas, ´e indispens´ avel a sutiliza¸c˜ ao do instrumento de pesquisa - a consciˆencia”. Pietro Ubaldi/As No´ ures “Como na ciˆencia, tamb´em nas religi˜ oes, a investiga¸c˜ ao deveria ser livre, n˜ ao fechada e condenada”. Pietro Ubaldi/A Descida dos Ideais “O homem ´e o art´ıfice de seu destino: tem que arrostar o esfor¸co de criar a si mesmo”. Pietro Ubaldi/A Grande S´ıntese
Sum´ario
´ 1 PRE-REQUISITOS 1.1 Elementos de L´ ogica & Demonstra¸co˜es . . . . . 1.1.1 Opera¸co˜es L´ ogicas sobre Proposi¸co˜es . . 1.1.2 T´ecnicas (Engenharia) de Demonstra¸ca˜o 1.1.3 Fun¸co˜es Proposicionais/Quantificadores 1.2 Conjuntos, Fun¸co˜es e Fam´ılia de conjuntos . . . 1.3 T´ opicos em An´alise . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.1 Teoremas e Defini¸co˜es da An´alise Real . 1.3.2 Supremo e ´Infimo . . . . . . . . . . . . . 1.3.3 A Propriedade de Completeza . . . . . . 1.4 Espa¸cos vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.4.1 Norma/Espa¸cos Vetoriais Normados . . 1.4.2 Espa¸cos Vetoriais com Produto Interno ⊲ Apˆendice: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
17 17 18 22 29 35 54 56 58 64 68 72 75 80
´ 2 ESPAC ¸ OS METRICOS 2.1 Introdu¸ca˜o . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 Medindo distˆancias . . . . . . . . . . 2.3 Defini¸ca˜o de espa¸cos m´etricos . . . . 2.3.1 Exemplos de espa¸cos m´etricos 2.3.2 M´etricas sobre o R2 . . . . . 2.3.3 Distˆ ancia entre fun¸co˜es . . . 2.3.4 Espa¸cos de C´ odigos . . . . . 2.4 Distˆ ancia entre Ponto e Conjunto . . 2.5 Distˆ ancia entre conjuntos . . . . . . 2.6 Conjuntos limitados − Diˆ ametro . . ⊲ Apˆendice: Demonstra¸co˜es . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
83 83 84 86 87 95 101 108 118 122 124 128
˜ DE ESPAC ´ 3 CONSTRUC ¸ AO ¸ OS METRICOS 3.1 M´etricas a Partir de M´etricas . . . . . . . . . . 3.2 Subespa¸cos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3 M´etricas Induzidas por Normas . . . . . . . . . 3.4 M´etricas Induzidas por Produto Interno . . . . 3.5 M´etricas Induzidas Por Fun¸co˜es . . . . . . . . . 3.6 Produto de espa¸cos m´etricos . . . . . . . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
143 143 145 146 147 148 151
13
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
4 BOLAS ABERTAS 4.1 Defini¸ca˜o e exemplos . . 4.2 Bolas em subespa¸cos . . 4.3 Bolas no espa¸co produto 4.4 Proposi¸co˜es sobre bolas 4.5 Ponto isolado − Espa¸cos
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
159 159 172 176 178 186
¨ ENCIAS ˆ ´ 5 SEQU EM ESPAC ¸ OS METRICOS 5.1 Seq¨ uˆencias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.1.1 Subseq¨ uˆencias . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.2 Convergˆencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.3 Seq¨ uˆencias num Espa¸co Produto . . . . . . . . . . . 5.4 A M´etrica Divina e o Paradoxo de Zen˜ao . . . . . . 5.5 Seq¨ uˆencias em Espa¸cos Vetoriais Normados . . . . . 5.5.1 Seq¨ uˆencias em R, µ . . . . . . . . . . . . . 5.5.2 Seq¨ uˆencias em Espa¸cos Normados Quaisquer
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
195 195 198 199 214 216 243 243 244
. . . . . . . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . . . .
251 251 254 261 268 270 282 285 289 293 298
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . discretos
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
´ 6 A TOPOLOGIA DOS ESPAC ¸ OS METRICOS 6.1 Ponto interior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.2 Conjuntos abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.3 Ponto fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.4 Conjuntos fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.5 Ponto aderente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.6 Densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.7 Ponto de acumula¸ca˜o . . . . . . . . . . . . . . . . ⊲ Apˆendice: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Representa¸co˜s bin´ arias . . . . . . . . . . . . . . . . . Topologia quˆ antica . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . . . .
˜ 7 FUNC ¸ OES CONT´ıNUAS 7.1 Isometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.2 Propriedades das aplica¸co˜es cont´ınuas . . 7.3 Continuidade Uniforme . . . . . . . . . . 7.4 Homeomorfismos − Espa¸cos Homeomorfos 7.5 M´etricas Equivalentes . . . . . . . . . . . 7.5.1 Normas Equivalentes . . . . . . . . ⊲ Apˆendice: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Limites em espa¸cos m´etricos . . . . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
303 319 337 353 360 372 384 386 386
´ 8 ESPAC ¸ OS METRICOS CONEXOS 8.1 Defini¸ca˜o e Exemplos . . . . . . . . . 8.2 Conexos em R, µ . . . . . . . . . . 8.3 Conexidade por caminhos . . . . . . 8.4 Se¸ca˜o de Milagres . . . . . . . . . . . 8.5 Componentes Conexas . . . . . . . . ⊲ Apˆendice: . . . . . . . . . . . . . . . . . Topologia quˆ antica . . . . . . . . . . . . Supercordas . . . . . . . . . . . . . . . . Nosso universo e fenˆomenos n˜ ao-locais .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
395 395 400 407 418 434 438 438 438 439
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
´ 9 ESPAC ¸ OS METRICOS COMPLETOS 9.1 Seq¨ uˆencias de Cauchy . . . . . . . . . . 9.2 Espa¸cos m´etricos completos . . . . . . . 9.3 Espa¸cos de Banach . . . . . . . . . . . . 9.4 Espa¸cos de Hilbert . . . . . . . . . . . . 9.5 Completamento de Espa¸cos M´etricos . . 9.6 Espa¸cos topologicamente completos . . . 9.7 Teorema do Ponto Fixo de Banach . . . ⊲ Apˆendice: . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
447 447 454 464 466 477 487 496 499
´ 10 ESPAC ¸ OS METRICOS COMPACTOS 10.1 Cobertura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10.2 Compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10.2.1 Caracteriza¸ca˜o de Compacidade . . . . . . . 10.3 Produto Cartesiano de Conjuntos Compactos 10.3.1 Compactos no Rn . . . . . . . . . . . . . . . 10.4 Distˆ ancia Entre Conjuntos Compactos . . . . . . . . 10.5 N´ umero de Lebesgue Para Coberturas . . . . . . . . 10.6 Espa¸cos Localmente Compactos . . . . . . . . . . . . 10.7 Representa¸co˜es Decimais e Curva de Peano
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
501 501 504 516 519 520 521 524 527
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
(O Mito das Ambig¨ uidades nas Representa¸c˜ oes Decimais) . . . . . . . 529
10.7.1 A curva de Peano e o quadrado 10.8 O quadrado hiper-m´ agico . . . . . . . 10.9 A curva de Peano no cubo . . . . . . . 10.10 O cubo hiper-m´ agico . . . . . . . . . ⊲ Apˆendice: . . . . . . . . . . . . . . . . . . Produtos cartesianos infinitos . . . . . . .
hiper-m´ agico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
536 547 552 555 562 562
Resumo das M´ etricas Conjunto
M´ etrica (S´ımbolo)
R
Usual µ “zero-um”
M
[ 0, 1 [
δ Divina (quˆ antica) k Usual (Euclidiana) D1
R2
Da Soma D2 Do M´ aximo D3 Euclidiana D1
Mm×n (R)
B(X,R)
SN
M1 ×M2
µ(x, y)=|x−y|
87
n
1, se e s´ o se x6=y;
δ(x, y)=
88
0, se e s´ o se x=y.
k(x, y)=min
D1 (x, y)=
|x−y|, 1−|x−y|
√
95
D2 (x, y)=|x1 − y1 | + |x2 − y2 |
95
D3 (x, y)=max{ |x1 − y1 |, |x2 − y2 | }
96
D1 (A, B)=
√
(a11 −b11 )2 +···+ (amn −bmn )2
Do M´ aximo D3
D3 (A, B)=max |a11 −b11 |, ... ,|amn −bmn |
Γ
89
(x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2
D2 (A, B)=|a11 −b11 | +···+ |amn −bmn |
Γ(f, g)=
Rb a
|f (x)−g(x)| dx
99
99
99 101
Do M´ aximo Υ
Υ(f, g)=max{ |f (x)−g(x)| : x ∈ [ a, b ]}
102
Do Sup Ψ
Ψ(f, g)=sup{ |f (x)−g(x)| : x ∈ X }
106
Hamming σ
σ(x, y)=n´ umero de posi¸ co ˜es em que x e y diferem entre si.
110
rˆ o ρ tau τ
S∞
P´ ag.
Da Soma D2
Da Integral C[ a, b ]
Defini¸ ca ˜o
ni ν
P n−1 ·(x −y ) ρ(x, y)=| N n n | n=1 2
τ (x, y)=maior posi¸ ca ˜o em que x e y diferem entre si.
ν(x, y)=
P∞
n=1
|xn −yn | n 2
q d21 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 )
113 114
115 151
D1
D1 (x, y)=
D2
D2 (x, y)=d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 )
151
D3
D3 (x, y)=max {d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 )}
151
16
Cap´ıtulo
1
´ PRE-REQUISITOS “Eu disse:
V´ os sois deuses,
e v´ os outros sois todos filhos do Alt´ıssimo.” (Sl 82 : 6)
Introdu¸ c˜ ao: O objetivo deste cap´ıtulo ´e estabelecer alguns resultados que ser˜ao utilizados nos demais cap´ıtulos do livro.
1.1
Elementos de L´ ogica & Demonstra¸c˜ oes
Nesta sec¸ca˜o recordaremos, de modo resumido, alguns conceitos da L´ ogica Matem´ atica. De in´ıcio tecemos algumas considera¸co˜es sobre alguns s´ımbolos, objetivando transferi-los da L´ ogica para o contexto da Matem´ atica. Posteriormente estabeleceremos algumas t´ecnicas de demonstra¸co˜es matem´aticas. Proposi¸ c˜ ao: Chamamos conceito primitivo aquele conceito que aceitamos sem defini¸ca˜o. ´ o que acontece, por exemplo, com o conceito de proposi¸ca E ˜o. Portanto, n˜ ao o definiremos. N˜ ao obstante, nada impede que conhe¸camos suas qualidades, tendo em conta que proposi¸ca˜o ´e uma senten¸ca declarativa, afirmativa e que deve exprimir um pensamento de sentido completo; via de regra sendo escrita na linguagem usual ou na forma simb´ olica. Por exemplo, s˜ao proposi¸co˜es: π = 1. 2 √ 2) π < 2 2.
1) sen
3) Todo quadrado ´e um retˆ angulo. 4) Todo retˆ angulo ´e um quadrado. 17
Dizemos que o valor l´ ogico de uma proposi¸ca˜o ´e a verdade (V ) se a proposi¸ca˜o ´e verdadeira; ´e a falsidade (F ) se a proposi¸ca˜o ´e falsa. Por exemplo, para as proposi¸co˜es anteriores,temos 1) V
1.1.1
2) F
3) V
4) F
Opera¸c˜ oes L´ ogicas sobre Proposi¸c˜ oes
Faremos um resumo das opera¸co˜es do c´ alculo proposicional tamb´em chamadas opera¸co ˜es l´ ogicas. Os principais operadores (conectivos) l´ogicos s˜ao os seguintes: ∨ ∧ ¯ −→ ←→
Disjun¸ca˜o (“ou”) Conjun¸ca˜o (“e”) Nega¸ca˜o Condicional (“se...ent˜ ao”) Bicondicional (“se e somente se”)
cujas tabelas-verdade s˜ao dadas a seguir (estas tabelas definem os respectivos operadores): p
q
p∨q
p
q
p∧q
p
p¯
V
V
V
V
V
V
V
F
V
F
V
V
F
F
F
V
F
V
V
F
V
F
F
F
F
F
F
F
p
q
p −→ q
p
q
p ←→ q
p
p¯
q
p¯ ∨q
V
V
V
V
V
V
V
F
V
V
V
F
F
V
F
F
V
F
F
F
F
V
V
F
V
F
F
V
V
V
F
F
V
F
F
V
F
V
F
V
Acrescentamos a tabela-verdade da proposi¸ca˜o p¯ ∨q a qual nos ser´a de grande utilidade. Vamos agora enunciar uma rela¸ca˜o entre proposi¸co˜es, que se distingue dos operadores, porque n˜ ao cria nova proposi¸ca˜o. Defini¸ c˜ ao 1 (Implica¸ca˜o L´ ogica). Diz-se que uma proposi¸ca ˜o p implica logicamente ou apenas implica uma proposi¸ca ˜o q, se e somente se, na tabela de p e q, n˜ ao ocorre V F em nenhuma linha, com V na coluna de p e F na coluna de q. Exemplo: Da tabela a seguir inferimos que a proposi¸ca˜o q n˜ ao implica na proposi¸ca˜o p ∧ q, ao passo que a proposi¸ca˜o p ∧ q implica na proposi¸ca˜o q. p
q
p∧q
q
V
V
V
V
V
F
F
F
F
V
F
V
F
F
F
F
18
Indica-se que a proposi¸ca˜o p implica a proposi¸ca˜o q com a nota¸ca˜o: p =⇒ q. Nota: Os s´ımbolos −→ e =⇒ n˜ ao devem ser confundidos, pois p −→ q ´e uma proposi¸ca˜o enquanto p =⇒ q n˜ ao ´e proposi¸ca˜o. Isto ´e an´alogo ao que acontece com o sinal + e o sinal < na Aritm´etica: 2 + 5 ´e um n´ umero e 2 < 5 n˜ ao ´e um n´ umero. A escolha do conectivo (palavra) “se p ent˜ ao q” para a proposi¸ca˜o p −→ q, a nosso ver, foi infeliz. De fato, isto induz a que se conclua que a proposi¸ca˜o q se deduz ou ´e uma conseq¨ uˆ encia da proposi¸ca˜o p. Isto n˜ ao se d´ a, por exemplo: √ 5 ´e um n´ umero ´ımpar −→ 2 ´e irracional, (Se 5 ´ e um n´ umero ´ımpar ent˜ ao
√ 2´ e irracional)
´ ´e uma √ proposi¸ca˜o verdadeira (ver tabela-verdade do condicional). Obviamente ao ´e conseq¨ uˆencia de 5 ser um n´ umero ´ımpar. que 2 ser irracional n˜ Ao contr´ ario do que acontece na L´ ogica, em Matem´ atica n˜ ao comparece o operador l´ogico −→, mas apenas =⇒ com os seguintes significados para p =⇒ q: 1) Se p, ent˜ ao q; 2) Se p for verdadeira, ent˜ ao q ´e verdadeira; 3) p implica q; 4) q ´e implicada por p; 5) q segue de p; 6) p ´e uma condi¸ca˜o suficiente para q; 7) q ´e uma condi¸ca˜o necess´aria para p; ´ imposs´ıvel termos p verdadeira e q falsa simultˆ 8) E aneamente, dentre outros significados poss´ıveis. Neste momento temos uma importante observa¸ca˜o a fazer: Dos ´ıtens 1) e 3) vemos que a matem´atica funde (confunde) os s´ımbolos −→ e =⇒. Como sempre, nestes casos, o “galho quebra” do lado do mais fraco: o aluno que ter´ a que distinguir no contexto matem´atico se o s´ımbolo =⇒ est´ a se referindo a ele pr´oprio ou ao condicional −→. Chama-se tautologia toda proposi¸ca˜o composta cuja u ´ ltima coluna da sua tabela verdade encerra somente a letra V (verdade). Proposi¸ c˜ ao 1. A proposi¸ca ˜o p implica a proposi¸ca ˜o q (isto ´e, p =⇒ q) se, e somente se, a condicional p −→ q ´e tautol´ ogica. Prova: p q p −→ q (i) Se p implica q, ent˜ ao, n˜ ao ocorre que os valores l´ogicos simultˆ aneos destas duas proposi¸co˜es V V V sejam respectivamente V e F , e por conseguinte V F F na u ´ ltima coluna da tabela-verdade da condicional F V V p −→ q consta somente a letra V , logo, esta condiF F V cional ´e tautol´ ogica. (ii) Rec´ıprocamente, se a condicional p −→ q ´e tautol´ ogica, ent˜ ao n˜ ao ocorre 19
que os valores l´ogicos simultˆ aneos das proposi¸co˜es p e q sejam respectivamente V e F , e por conseguinte p implica q. Uma diferen¸ca b´ asica entre proposi¸ca˜o e teorema ´e que enquanto ´e l´ıcito se cogitar do valor l´ogico de uma proposi¸ca˜o (isto ´e, uma proposi¸ca˜o pode ser verdadeira ou falsa) o mesmo n˜ ao acontece com um teorema, que sempre ´e verdadeiro. N˜ ao se demonstra teoremas, mas sim proposi¸co˜es. Uma vez demonstrada a veracidade de uma proposi¸ca˜o: p −→ q, esta adquire status de teorema: p =⇒ q. p q p −→ q Em matem´atica, para demonstrar-se a validade de uma proposi¸ca˜o p −→ q assumimos a hip´otese V → V V p como sendo verdadeira. Sendo assim podemos V F F nos restringir ` as duas primeiras linhas da tabela F V V verdade do condicional −→. F F V Uma vez assumido p verdadeira se conseguirmos demonstrar a veracidade de q ent˜ ao podemos riscar a segunda linha da tabela verdade do condicional. Ap´os isto a proposi¸ca˜o p −→ q resulta tautol´ ogica e, por conseguinte, p =⇒ q
Isto ´e, a proposi¸ca˜o p −→ q tornou-se o teorema p =⇒ q. Defini¸ c˜ ao 2 (Equivalˆencia L´ ogica). Diz-se que uma proposi¸ca ˜o p ´e logicamente equivalente ou apenas equivalente a uma proposi¸ca ˜o q, se as tabelasverdade destas duas proposi¸co ˜es s˜ ao iguais. Indica-se que a proposi¸ca˜o p ´e equivalente a proposi¸ca˜o q com a nota¸ca˜o: p ⇐⇒ q Os s´ımbolos ←→ e ⇐⇒ n˜ ao devem ser confundidos, pois p ←→ q ´e uma proposi¸ca˜o enquanto p ⇐⇒ q n˜ ao ´e proposi¸ca˜o. Os argumentos arrolados anteriormente a respeito dos s´ımbolos −→ e =⇒ podem ser adaptados para os s´ımbolos ←→ e ⇐⇒. A seguir listamos v´arias maneiras de se formular p ⇐⇒ q em palavras∗: 1) Se p, ent˜ ao q e rec´ıprocamente; 2) Se q, ent˜ ao p e rec´ıprocamente; 3) q ´e verdadeira se, somente se, p for verdadeira; 4) p implica q e rec´ıprocamente; 5) p ´e uma condi¸ca˜o necess´aria e suficiente para q; 6) q ´e uma condi¸ca˜o necess´aria e suficiente para p; 7) p e q s˜ao proposi¸co˜es equivalentes. Dos ´ıtens 1) e 4) acima, vemos que a matem´atica (con) funde os s´ımbolos ←→ e ⇐⇒. ∗ Isto
na Matem´ atica, n˜ ao na L´ ogica.
20
Proposi¸ c˜ ao 2. A proposi¸ca ˜o p ´e equivalente a ` proposi¸ca ˜o q (isto ´e, p ⇐⇒ q) se, e somente se, a bicondicional p ←→ q ´e tautol´ ogica. Prova: (i) Se p ´e equivalente a q, ent˜ ao, tˆem tabelas-verdade iguais, e por conseguinte o valor l´ogico da bicondicional p ←→ q ´e sempre V , isto ´e, esta bicondicional ´e tautol´ ogica (ver tabela-verdade da bicondicional, pg. 18). (ii) Rec´ıprocamente, se a bicondicional p ←→ q ´e tautol´ ogica, ent˜ ao, a u ´ ltima coluna da sua tabela-verdade encerra somente a letra V , e por conseguinte os valores l´ogicos respectivos das proposi¸co˜es p e q s˜ao ambos V ou ambos F , isto ´e, estas duas proposi¸co˜es s˜ao equivalentes. Portanto, a toda equivalˆencia l´ogica corresponde uma bicondicional tautol´ ogica e vice-versa. Equivalencias Not´ aveis A seguir listamos algumas equivalencias entre proposi¸co˜es, as quais podem ser demonstradas com o aux´ılio das respectivas tabelas-verdade. 1) p¯ ⇐⇒ p
(Dupla Nega¸ca˜o)
2) Leis Idempotentes a) p ∨ p ⇐⇒ p b) p ∧ p ⇐⇒ p 3) Leis Comutativas a) p ∨ q ⇐⇒ q ∨ p b) p ∧ p ⇐⇒ q ∧ p 4) Leis Associativas a) p ∨ (q ∨ r) ⇐⇒ (p ∨ q) ∨ r b) p ∧ (q ∧ r) ⇐⇒ (p ∧ q) ∧ r 5) Leis de De Morgan∗ a) ( p ∨ q ) ⇐⇒ p¯ ∧ q¯ b) ( p ∧ q ) ⇐⇒ p¯ ∨ q¯ 6) Leis Distributivas a) p ∧ ( q ∨ r ) ⇐⇒ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r) b) p ∨ ( q ∧ r ) ⇐⇒ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r) ∗ Augustus De Morgan (1806 − 1873) lecionou no University College, Londres. Foi matem´ atico e l´ ogico, e contribuiu para preparar o caminho da L´ ogica matem´ atica moderna.
21
1.1.2
T´ ecnicas (Engenharia) de Demonstra¸c˜ ao
Os problemas em matem´atica dividem-se em duas classes: Determina¸ c˜ ao: calcule, encontre, ache, determine,. . . Demonstra¸ c˜ ao: mostre, prove, demonstre,. . . Costumo mesmo dizer que a matem´atica come¸ca com os problemas do segundo tipo. De fato, a resolu¸ca˜o da maioria dos problemas do primeiro tipo s˜ao algoritmicas (mecˆ anicas); enquanto os problemas do segundo tipo exigem muito de criatividade (engenhosidade). Um outro crit´erio que utilizo para distinguir n˜ ao-matem´ atica (algoritmo) de matem´atica, ´e que a n˜ ao-matem´ atica ´e suscept´ıvel de programa¸ca˜o − a exemplo dos poderosos softwares alg´ebricos − enquanto que a matem´atica em si (demostra¸co˜es) n˜ ao. Estou propenso a acreditar que podemos ver a maioria dos “objetos” como consistindo de mat´eria e esp´ırito. Para contextualizar minha tese vejamos alguns exemplos: 1o ) Um computador consiste de hardware e software, o hardware ´e a parte material e o software ´e o esp´ırito do computador. 2o ) Uma c´elula ´e composta de mat´eria (´e o que os bi´ologos enxergam ao microsc´opio) e esp´ırito (software que comanda suas atividades) que os bi´ologos n˜ ao enxergam ao microsc´opio. umeros inteiros, s˜ao compostos de mat´eria: 3o ) Os n´ Z = {. . . , −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . .} e esp´ırito, que s˜ao seus axiomas de manipula¸ca˜o da mat´eria (s´ımbolos) tais como: comutatividade, associatividade, elemento neutro, elemento oposto, Princ´ıpio da Boa Ordem, etc. De igual modo, a matem´atica possui uma parte material (s´ımbolos) e uma parte espiritual (conceitos, id´eias), o que se estar a manipular∗ por a´ı ´e apenas o corpo (cad´ aver) da matem´atica, seu esp´ırito fica de fora. − Para se lidar com o esp´ırito da matem´atica (viva) torna-se indispens´ avel o conhecimento de algumas t´ecnicas de demonstra¸ca˜o. 1. Proposi¸co˜es Aparentadas p −→ q
:
Direta
q −→ p
:
Rec´ıproca
p¯ −→ q¯
:
Contr´aria
q¯ −→ p¯
:
Contrapositiva (contra-rec´ıproca)
∗ Por a´ ı a que me refiro ´ e a matem´ atica praticada at´ e o ensino m´ edio e em algumas cadeiras da universidade, ´ e uma matem´ atica mecˆ anica, morta. O fato de vocˆ e manusear o controle remoto de sua televis˜ ao n˜ ao significa que vocˆ e compreende como ele funciona. De igual modo, muitos manipulam a matem´ atica sem compreender como ela funciona, ´ e uma matem´ atica sem vida, sem esp´ırito!
22
2. Equivalˆencia Entre Proposi¸co˜es Aparentadas 2.1 A proposi¸ca˜o direta equivale `a contra-rec´ıproca. p −→ q ⇐⇒ q¯ −→ p¯ Para provar isto faremos uso da seguinte identidade: p −→ q = p¯ ∨ q Esta identidade pode ser obtida das respectivas tabelas-verdade. Prova: (i) p −→ q = p¯ ∨ q
(ii) q¯ −→ p¯ = q¯ ∨ p¯ = p¯ ∨ q
Isto significa que as proposi¸co˜es p −→ q e q¯ −→ p¯ assumem sempre os mesmos valores l´ogicos; isto ´e, ou s˜ao ambas verdadeiras (V ) ou s˜ao ambas falsas (F ). Sendo assim acabamos de estabelecer nossa primeira t´ecnica de demonstra¸ca˜o indireta: (T-1) O teorema direto equivale ao contra-rec´ıproco† ¯ H =⇒ T ⇐⇒ T¯ =⇒ H Enunciemos nossa segunda t´ecnica de demonstra¸ca˜o indireta: (T-2) Anexa¸ca˜o ` a hip´ otese da nega¸ca˜o da tese H =⇒ T ⇐⇒
H ∧ T¯ =⇒ T
Prova: Provemos a seguinte equivalˆencia: p −→ q ⇐⇒ p ∧ q¯ −→ q
De fato,
(i) p −→ q = p¯ ∨ q. (ii) p ∧ q¯ −→ q = (p ∧ q¯) ∨ q = ( p¯ ∨ q¯) ∨ q
= p¯ ∨ q ∨ q = p¯ ∨ q. † H:
¯ Nega¸ca Hip´ otese, T : Tese, H: ˜o da hip´ otese, T¯ : Nega¸ca ˜o da tese.
23
(T-3) Redu¸ c˜ ao ao absurdo H =⇒ T ⇐⇒
H ∧ T¯ =⇒ f
Onde: f ´e uma proposi¸ca˜o de valor l´ogico falso (´e qualquer contradi¸ca˜o). Prova: Provemos a seguinte equivalˆencia: p −→ q ⇐⇒ p ∧ q¯ −→ f De fato,
(i) p −→ q = p¯ ∨ q. (ii) p ∧ q¯ −→ f = (p ∧ q¯) ∨ f = (p ∧ q¯)
= p¯ ∨ q¯
= p¯ ∨ q. Nota: Na tabela-verdade da proposi¸ca˜o p ∨ q vemos que quando o valor l´ogico de q ´e F , prevalece o valor l´ogico de p. Estamos dizendo que p ∨ f = p. Resumindo: Para utilizar esta t´ecnica em uma demonstra¸ca˜o, devemos anexar `a Hip´ otese a nega¸ca˜o da Tese e devemos exibir, ao final, alguma contradi¸ca˜o (algum absurdo). Uma Equivalencia Not´ avel Uma das equivalˆencias mais utilizadas em demonstra¸co˜es matem´aticas ´e a que segue (T-4) Teorema com hip´otese composta (∧) Se a hip´ otese de um teorema ´e formada pela conjun¸ca˜o de duas outras, ´e v´alida a seguinte equivalˆencia H1 ∧ H2 =⇒ T ⇐⇒
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Isto ´e, junta-se a uma das hip´oteses a nega¸ca˜o da tese e demonstrase a nega¸ca˜o da outra hip´otese. Prova: Provemos a seguinte equivalˆencia p ∧ q −→ r ⇐⇒ p ∧ r¯ −→ q¯ De fato, p ∧ q −→ r = (p ∧ q) ∨ r = (¯ p ∨ q¯) ∨ r = p¯ ∨ q¯ ∨ r. 24
Por outro lado, p ∧ r¯ −→ q¯ = (p ∧ r¯) ∨ q¯ = (¯ p ∨ r¯) ∨ q¯
= p¯ ∨ r ∨ q¯. Vejamos alguns exemplos de aplica¸ca˜o desta equivalˆencia: umeros: Se a divide b e a n˜ ao divide c ent˜ ao b n˜ ao divide c. 1o ) Em teoria dos n´ H1 : H2 :
a|b ⇒
a6|c
T:
b 6 | c.
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Prova: Para algum n1 e algum n2 inteiros, resulta H : 1 T¯ : Observe que
b = n1 a =⇒ c = n2 b
c c = n2 = b a · n1
c ¯2 = n1 · n2 ≡ H a
2o ) Em An´alise: Se a ≤ b e b ≤ a ent˜ ao a = b. H1 : H2 :
a≤b b≤a
⇒
T:
a = b.
¯2 H1 ∧ T¯ =⇒ H
Prova: Suponha a ≤ b e a 6= b, ent˜ ao a < b. 3o ) Em An´alise: Se n ∈ N, x ∈ R, e n < x < n + 1, ent˜ ao x 6∈ N. x>n H1 : ⇒ T: x 6∈ N. H2 : x
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2 Prova: Se x > n e x ∈ N ent˜ ao x ≥ n + 1.
4o ) Em Teologia (Unicidade de Deus) Suponhamos que existam dois Deuses D e D′ : D ´e Deus H1 : ⇒ T: D = D′ ′ H2 : D ´e Deus
Prova: H1 ∧ T¯ : Suponhamos que D ´e Deus e que D 6= D′ . Ent˜ ao existe algum atributo em D n˜ ao partilhado por D′ , por conseguinte D′ n˜ ao ´e Deus, o que contraria H2 .
Corol´ ario 1. Jesus Cristo n˜ ao ´e Deus. Sugest˜ ao: Quando vocˆe estudante encontrar-se frente a um teorema tipo H1 ∧ H2 =⇒ T e, ap´os bater o desespero (ou antes mesmo), tente demonstrar o equivalente ¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2 (T-5) O seguinte teorema n˜ ao ´e raro em matem´atica: H1 ⇐⇒ H2 =⇒ T ´ um teorema, tipo “se e somente se”, isto ´e E H1 =⇒ H2 =⇒ T H1 ⇐= H2 =⇒ T Ent˜ ao
(i) H1 =⇒ H2 =⇒ T Observemos que a tese do teorema acima ´e um outro teorema. Isto significa que assumindo H1 devemos demonstrar H2 =⇒ T . Isto ´e, devemos mostrar que H2 acarreta T . Ainda, H1 ∧ H2 =⇒ T Esta conclus˜ao pode ser provada assim: H1 −→ H2 −→ T = H¯1 ∨ H2 −→ T = H¯1 ∨ H¯2 ∨ T = (H1 ∧ H2 ) ∨ T
= H1 ∧ H2 −→ T. Portanto subsiste a seguinte equivalˆencia H1 =⇒ H2 =⇒ T ⇐⇒ H1 ∧ H2 =⇒ T 26
(ii) H2 =⇒ T =⇒ H1
Consideremos a contrapositiva: H¯1 =⇒ H2 =⇒ T . Ent˜ ao, ¯2 ∨ T H¯1 −→ H2 −→ T = H¯1 −→ H = H¯1 −→ H2 ∧ T¯
Portanto subsiste a seguinte equivalˆencia (H2 =⇒ T ) =⇒ H1 ⇐⇒ H¯1 =⇒ H2 ∧ T¯
(T-6) Teorema com hip´ otese composta (∨) Se a hip´ otese de um teorema ´e formada pela disjun¸ca˜o de duas outras, ´e v´alida a seguinte equivalˆencia H1 ∨ H2 =⇒ T ⇐⇒
H1 =⇒ T ∧ H2 =⇒ T
Prova: Provemos a seguinte equivalˆencia p ∨ q −→ r ⇐⇒ p −→ r ∧ q −→ r
De fato,
p ∨ q −→ r = (p ∨ q) ∨ r = (¯ p ∧ q¯) ∨ r = p¯ ∨ r ∧ q¯ ∨ r = p −→ r ∧ q −→ r
(T-7) Teorema com tese composta (∨) Se a tese de um teorema ´e formada pela disjun¸ca˜o de duas outras, ´e v´alida a seguinte equivalˆencia H =⇒ T1 ∨ T2
⇐⇒
H ∧ T¯1 =⇒ T2
Prova: Provemos a seguinte equivalˆencia
p −→ ( q ∨ r ) ⇐⇒ ( p ∧ q¯ ) −→ r De fato, p −→ ( q ∨ r ) = p¯ ∨ ( q ∨ r ) = ( p¯ ∨ q ) ∨ r = ( p ∧ q¯ ) ∨ r = ( p ∧ q¯ ) −→ r 27
Vejamos um exemplo de aplica¸ca˜o desta t´ecnica em espa¸cos vetorias. Proposi¸ c˜ ao: Uma igualdade λ u = 0, com λ ∈ R e u ∈ V , s´o ´e poss´ıvel se λ = 0 ou u = 0. Prova: Inicialmente vamos reescrever a proposi¸ca˜o da seguinte forma: T : λ=0 1 H: λu = 0 ⇒ ou T2 : u = 0 Temos,
H ∧ T¯1 : λ u = 0 e λ 6= 0.
Sendo assim existe o n´ umero real λ−1 , multiplicando λ u = 0 por λ−1 , obtemos λ−1 ( λ u ) = λ−1 0 ⇒ ( λ−1 · λ )u = 0 ⇒ 1 u = 0 ⇒ u = 0
Resumo das T´ ecnicas de Demonstra¸ c~ oes ¯ H ⇒ T ⇐⇒ T¯ ⇒ H
( T-2 )
H ⇒ T ⇐⇒
( T-3 )
H ⇒ T ⇐⇒ H1 ∧ H2 ⇒ T ⇐⇒
( T-4 )
( T-5 )
( T-6 ) ( T-7 ) ( T-8 )
H1 ⇐⇒ H2 ⇒ T
H1 ∨ H2
(
1
H1 =⇒ H2 ⇒ T
H1 ⇐= H2 ⇒ T
⇒ T ⇐⇒
H ⇒ T1 ∨ T2
H ∧ T¯ ⇒ T H ∧ T¯ ⇒ f ¯ H ∧ T¯ ⇒ H
⇐⇒
H ⇒ T ⇐⇒
(f =absurdo) 2
⇐⇒ H1 ∧ H2 ⇒ T
⇐⇒ H¯1 ⇒ H2 ∧ T¯
H1 ⇒ T ∧ H2 ⇒ T
H ∧ T¯1 ⇒ T2 ¯ H ∧ T¯ ⇒ H
28
Gentil
( T-1 )
Dois outros recursos u ´ teis para a formula¸ca˜o de defini¸co˜es em matem´atica s˜ao dados a seguir.
1.1.3
Fun¸c˜ oes Proposicionais/Quantificadores
Consideremos as proposi¸co˜es: p : x + 6 < 10, V ( p ) =? q : 2 + 6 < 10, V ( q ) = 1 A proposi¸ca˜o q, como se vˆe, ´e verdadeira, ao passo que nada podemos afirmar sobre o valor l´ogico de p : V (p) =?; que somente ser´a conhecido quando x for substituido por um n´ umero bem determinado. Neste caso, dizemos que a proposi¸ca˜o p ´e uma fun¸ca ˜o proposicional ( f.p. ) ou ainda, uma senten¸ca aberta. Na fun¸ca˜o proposicional p(x) : x + 6 < 10 o s´ımbolo x ´e chamado de vari´avel. Chamamos conjunto universo da vari´ avel ao conjunto das possibilidades que podem substituir a vari´avel na senten¸ca. Denotaremos este conjunto por U. Cada elemeto de U chama-se valor da vari´avel. Algumas vezes o conjunto universo U ´e imposto pelo contexto e outras vezes pode ser escolhido livremente pelo agente de estudo em quest˜ ao. Exemplos: 1o ) Consideremos a fun¸ca˜o proposicional p dada por p(x) : x + 6 < 10 Podemos escolher para o conjunto dos valores da vari´avel, por exemplo, um dos seguintes conjuntos: N, Z, Q, R ou {0, 2, 4, 6, . . .} 2o ) Consideremos a fun¸ca˜o proposicional p dada por p(x) : 1 ≤
x2 − 1 <3 x+1
Neste caso ainda temos uma certa liberdade na escolha do conjunto universo U, sendo que em qualquer escolha n˜ ao deve constar o n´ umero x = −1. Por exemplo, duas escolhas poss´ıveis s˜ao U = N e U = Z − {−1}. Conjunto-verdade (da senten¸ca aberta) ´e o conjunto dos valores da vari´avel para os quais a senten¸ca torna-se verdadeira. Denotaremos este conjunto por V: V = x ∈ U : V p(x) = V
Quantificador universal
Usaremos o s´ımbolo “ ∀ ” , chamado quantificador universal, para exprimir o fato de que “para todo x em um dado conjunto, a proposi¸ca˜o p(x) ´e verdadeira”. Uma proposi¸ca˜o do tipo “Para todo x; p(x)” ´e simbolicamente escrita como: ∀ x ; p(x). 29
Quantificador existencial No caso de proposi¸co˜es que envolvem express˜oes do tipo “Existe”, “H´a pelo menos um”, “para ao menos um” e “Algum”, usaremos o s´ımbolo “ ∃ ”, chamado quantificador existencial, para exprimir o fato de que para pelo ao menos um elemento de um dado conjunto a proposi¸ca˜o p(x) ´e verdadeira. Uma proposi¸ca˜o do tipo “Existe x tal que p(x)” pode ser escrita simbolicamente como: ∃ x ; p(x). Valores l´ ogicos de senten¸ cas quantificadas A senten¸ca ∀ x ; p(x) ´e verdadeira se, e somente se, o conjunto-verdade de p(x) e o conjunto universo forem iguais, isto ´e, V = U (ou se, substituindo de x por cada um dos elementos u do conjunto universo, p(u) ´e verdadeira) e, falsa quando V 6= U. Na tabela a seguir damos alguns exemplos do que acabamos de definir: ∀ x ; p(x) ∀ x ; x2 −4=0 x2 −4=0
U
V
V (∀ x ; p(x))
{ −2, 2 }
{ −2, 2 }
V
{ −2, 0, 2 }
{ −2, 2 }
F
∀x; x≤0
Z
Z−
F
∀x; x≤0 √ ∀ x ; x2 =x √ ∀ x ; x2 =|x|
Z−
Z−
V
R
R+
F
∀x;
∀x; ∀x;
R
R
V
x2 −1 x+1 =x−1
R−{−1}
R−{−1}
V
x2 −1 x+1 =x−1
N
N
V
A senten¸ca ∃ x ; p(x) ´e verdadeira se, e somente se, o conjunto-verdade de p(x) ´e n˜ ao-vazio, ou seja, V 6= ∅ e, falsa quando V = ∅. Na tabela a seguir damos alguns exemplos do que acabamos de definir: ∃ x ; p(x) ∃ x ; x2 −4=0
U
V
V (∃ x ; p(x))
{ −2, 3 }
{ −2 }
V
x2 +1=0
R
∅
F
∃ x ; x2 +1=0
C
{ −i, i }
V
∃x; x<0
C
∅
F
∃ x ; (−1)·x6=−x √ ∃ x ; x2 6= x
R
∅
F
R
R− ∗
V
∃ x ; |x|=x
{ −1, −2}
∅
F
∃ x ; |x|=−x
{ −1, 2}
∃x;
{ −1}
V
Nega¸ c˜ ao de senten¸ cas quantificadas J´a tivemos oportunidade de assinalar a diferen¸ca entre a atividade matem´atica (engenhosidade) e a atividade algoritmica (mecˆanica); pois bem, para fazerse matem´atica (isto ´e demonstra¸co˜es) o que h´ a de mais importante s˜ao as 30
defini¸ co ˜es e, juntamente com estas, suas nega¸co˜es; da´ı a importˆ ancia da nega¸ca ˜o de senten¸cas quantificadas. Proposi¸ c˜ ao 3 (Nega¸ca˜o de ∀ x ; p(x)). A seguinte equivalˆencia ´e v´ alida: ∀ x ; p(x) ⇐⇒ ∃ x ; p(x)
(1.1)
Prova: Mostraremos que as proposi¸co˜es ∀ x ; p(x) e ∃ x ; p(x) s˜ao equivalentes mostrando que elas concordam em seus valores l´ogicos, isto ´e, V ∀ x ; p(x) = V ∃ x ; p(x) De fato, suponha que ∀ x ; p(x) ´e verdadeira. Ent˜ ao, ∀ x ; p(x) ´e falsa e, deste modo, existe u ∈ U de modo que p(u) ´e falsa. Ent˜ ao, para este elemento p(u) ´e verdadeira. Sendo assim, ∃ x ; p(x) ´e verdadeira. ao, ∀ x; p(x) ´e verdadeira e, deste Suponha agora que ∀ x ; p(x) ´e falsa. Ent˜ modo, para todo u ∈ U, tem-se p(u) ´e verdadeira. Ent˜ ao, para todo u ∈ U, tem-se p(u) ´e falsa. Sendo assim, ∃ x ; p(x) ´e falsa. Um importante corol´ ario ´e o que vem dado a seguir: Corol´ ario 2. A seguinte equivalˆencia ´e v´ alida: ∀ x ; p(x) −→ q(x) ⇐⇒ ∃ x ; p(x) ∧ q(x) Prova: De fato, ∀ x ; p −→ q = ∃ x ; p −→ q = ∃ x ; p ∨ q = ∃ x ; p ∧ q. Deixamos como exerc´ıcio a prova da Proposi¸ c˜ ao 4 (Nega¸ca˜o de ∃ x ; p(x)). A seguinte equivalˆencia ´e v´ alida: ∃ x ; p(x) ⇐⇒ ∀ x ; p(x) 31
(1.2)
Valores l´ ogicos de senten¸ cas quantificadas de duas vari´ aveis Seja p(x, y) uma senten¸ca aberta (ou fun¸ca˜o proposicional) com duas vari´aveis. Inicialmente observamos que, n˜ ao necess´ariamente, as vari´aveis envolvidas tˆem o mesmo conjunto universo. Na “pr´ atica” ´e freq¨ uente que estes conjuntos sejam distintos. Assim ´e que os denotaremos por: Ux e Uy . Por exemplo, para a senten¸ca p(x, y) :
x2 − 1 y 2 − 1 + <0 x+1 y−1
os respectivos conjuntos universos s˜ao necess´ariamente distintos, podendo ser, por exemplo: Ux = R − {−1} e Uy = R − {1}.
Obs: Quando em um dado contexto citarmos apenas um conjunto universo, significa que este ´e o mesmo para as duas vari´aveis, isto ´e, Ux = Uy . a) A senten¸ca ∀ x ∀ y ; p(x, y). A senten¸ca ∀ x ∀ y ; p(x, y) ´e verdadeira se, e somente se, para toda substitui¸ca˜o de x por elementos a de Ux e y por elementos b de Uy , p(a, b) ´e verdadeira. Exemplo: A senten¸ca ∀ x ∀ y ; x · y = y · x, ´e verdadeira com os conjuntos universo Ux = N e Uy = Z; mas n˜ ao com os conjuntos universo Ux = M2 (N)= conjunto das matrizes quadradas de ordem 2, com elementos naturais e Uy = M2 (Z)= conjunto das matrizes quadradas de ordem 2, com elementos inteiros. Por exemplo, para 1 0 0 −1 x= , y= , 0 2 1 0 temos x · y 6= y · x. Exemplo: A senten¸ca ∀ x ∀ y ; x2 < y, com os conjuntos universo Ux = { −1, 0, 1} e Uy = { 1, 2} ´e falsa, porquanto substituindo x por −1 e y por 1, a senten¸ca (−1)2 < 1 resulta falsa. b) A senten¸ca ∃ x ∃ y ; p(x, y). A senten¸ca ∃ x ∃ y ; p(x, y) ´e verdadeira se, e somente se, p(a, b) ´e verdadeira. para alguma substitui¸ca˜o de x por um elemento a de Ux e y por um elemento b de Uy . Exemplo: A senten¸ca ∃ x ∃ y ; x · y = y · x, ´e verdadeira com os conjuntos universo Ux = M2 (N) e Uy = M2 (Z). Por exemplo 1 0 0 −1 x= , y= , 0 1 1 0 32
s˜ao tais que x · y = y · x. Exemplo: A senten¸ca ∃ x ∃ y ; x2 < y, com o conjunto universo { −1, 0, 1} ´e verdadeira, porquanto substituindo x por 0 e y por 1, a senten¸ca 02 < 1 resulta verdadeira. Exemplo: A senten¸ca x √ ∃ x ∃ y ; = 2, y com o conjunto universo Z ´e falsa. c) A senten¸ca ∀ x ∃ y ; p(x, y). A senten¸ca ∀ x ∃ y ; p(x, y) ´e verdadeira se, e somente se, para toda substitui¸ca˜o de x por elementos a de Ux , a senten¸ca (de uma u ´ nica vari´avel) ∃ y ; p(a, y) ´e verdadeira. Exemplo: A senten¸ca ∀x ∃y; x + y = 0 ´e verdadeira com o conjunto universo { −1, 0, 1}, porquanto ∃ y; ∃ y; ∃ y;
−1 + y = 0 0+y =0 1+y =0
(V ; y = 1) (V ; y = 0) ( V ; y = −1 )
Exemplo: A senten¸ca ∀x ∃y; y < x ´e falsa com o conjunto universo { 0, 1, 2}. Note que: ∃ y; ∃ y; ∃ y;
y<2 y<1 y<0
( V ; y = 0, ou 1 ) (V ; y = 0) (F; V = ∅)
d) A senten¸ca ∃ y ∀ x ; p(x, y). A senten¸ca ∃ y ∀ x ; p(x, y) ´e verdadeira se, e somente se, a senten¸ca (de uma u ´ nica vari´avel) ∀ x ; p(x, b) ´e verdadeira para alguma substitui¸ca˜o de y por um elemento b do conjunto universo Uy . Exemplo: A senten¸ca ∃ y ∀ x ; |x| + |y| = 1 ´e verdadeira com os conjuntos universo Uy = {−1, 0, 1} e Ux = {−i, i, −1, 1}, porquanto a senten¸ca ∀ x ; |x| + |0| = 1 ´e verdadeira. Exemplo: A senten¸ca 33
∃y ∀x; y > x ´e falsa com o conjunto universo { −1, 0, 1}, porquanto cada uma das senten¸cas ∀ x; ∀ x; ∀ x;
−1 > x 0>x 1>x
´e falsa. Exemplo: A senten¸ca ∃y ∀x; y ≥ x ´e verdadeira com o conjunto universo { −1, 0, 1}. Note que: ∀ x; ∀ x; ∀ x;
−1 ≥ x 0≥x 1≥x
( F ; x = 0, ou 1) (F; x = 1) (V ; y = 1)
Nega¸ c˜ ao de senten¸ cas quantificadas de duas vari´ aveis Observe que, por defini¸ca˜o, ∀ x ∃ y ; p(x, y) = ∀ x ; ∃ y ; p(x, y)
∀ x ∃ y ; p(x, y) = ∀ x ; ∃ y ; p(x, y)
Por conseguinte,
= ∃ x ; ∃ y ; p(x, y) = ∃ x ∀ y ; p(x, y)
Isto ´e, ∀ x ∃ y ; p(x, y) = ∃ x ∀ y ; p(x, y) Similarmente, ∃ x ∀ y ; p(x, y) = ∃ x ; ∀ y ; p(x, y)
∃ x ∀ y ; p(x, y) = ∃ x ; ∀ y ; p(x, y)
Por conseguinte,
= ∀ x ; ∀ y ; p(x, y) = ∀ x ∃ y ; p(x, y) Isto ´e, ∃ x ∀ y ; p(x, y) = ∀ x ∃ y ; p(x, y)
34
1.2
Conjuntos, Fun¸ c˜ oes e Fam´ılia de conjuntos
O objetivo desta se¸ca˜o ser´a um breve resumo de fun¸co˜es e fam´ılia de conjuntos para futuras referˆencias. Conjunto, Elementos O conceito de conjunto comparece em todos os ramos da Matem´ atica. Intuitivamente, um conjuto ´e qualquer cole¸ca˜o bem definida de objetos. Os conjuntos s˜ao designados por letras latinas mai´ usculas: A, B, C, . . . , X, Y, Z. Os objetos que constituem um conjunto chamam-se elementos do conjunto e ser˜ao designados por letras latinas min´ usculas: a, b, c, . . . , x, y, z. A afirma¸ca˜o “p ´e elemento de A” ou, de modo equivalente, “p pertence a A”, escreve-se p∈A A nega¸ca˜o de p ∈ A escreve-se p 6∈ A. S˜ ao duas as principais maneiras de se especificar - descrever - um dado conjunto. A primeira consiste em enumerar (evidentemente quando isto ´e poss´ıvel) seus elementos entre chaves e separados por v´ırgula. Por exemplo, A = {1, 2, 3, 4, 5} A segunda consiste em dar (sem ambig¨ uidade) uma propriedade - proposi¸ca˜o caracterizando todos os seus elementos. Por exemplo, B = {x : x ´e uma vogal} (lˆe-se: “B ´e o conjunto dos elementos x tais que x ´e uma vogal.”) Como mais um exemplo, C = {x : x ´e um n´ umero natural par} Subconjuntos Um conjunto A ´e dito subconjunto de B, escrevendo-se A ⊂ B ou B ⊃ A se, e somente se, todo elemento de A ´e tamb´em elemento de B. Em S´ımbolos, A ⊂ B ⇐⇒ ∀ x ∈ A ⇒ x ∈ B. Nota: A 6⊂ B quando existe um elemento em A que n˜ ao pertence a B. Por exemplo, consideremos os conjuntos A = {1, 3, 5, 7, . . .}, B = {2, 3, 5, 7, . . .} C = {4n − 1 : n ∈ N} = {3, 7, 11, . . .} 35
Temos C ⊂ A, porquanto todo elemento de C ´e um n´ umero ´ımpar; por outro lado B 6⊂ A, porquanto 2 ∈ B e 2 6∈ A. Observe que, segundo a defini¸ca˜o de subconjunto, o conjunto dos n´ umeros reais n˜ ao ´e subconjunto do conjunto dos n´ umeros complexos. Isto ´e, R 6⊂ C. Isto porque os elementos de C s˜ao pares ordenados de n´ umeros reais. De outro modo: os elementos destes conjuntos s˜ao de naturezas distintas. Por exemplo, (1, 3), (−1, 2), (3, 0) ∈ C; √ 2, 3, π ∈ R. Reiteramos: N˜ ao h´ a um u ´ nico n´ umero real que tamb´em seja um n´ umero complexo. Igualdade de Conjuntos Defini¸ c˜ ao 3. Dois conjuntos A e B s˜ ao iguais se, e somente se, A ⊂ B e B ⊂ A. Das defini¸co˜es dadas at´e aqui decorre o seguinte Teorema 1. Se A, B e C s˜ ao conjuntos quaisquer, ent˜ ao (i) (ii) (iii)
A ⊂ A; se A ⊂ B se A ⊂ B
B ⊂ A =⇒ A = B; B ⊂ C =⇒ A ⊂ C.
e e
Importante! Uma observa¸ca˜o importante − e oportuna −: quando devemos mostrar que dois conjuntos A e B s˜ao iguais, esta prova deve ser feita em duas etapas: primeiro provamos que A ⊂ B e, para isto, devemos tomar um elemento arbitr´ario em A e mostrar que este elemento tamb´em est´ a em B; segundo, provamos que B ⊂ A, desta vez tomamos um elemento arbitr´ario de B e mostramos que este elemento tamb´em est´ a em A. Conjunto Vazio e Conjunto Universo Para que possamos criar uma “´ algebra” de conjuntos - o que faremos logo mais - ´e conveniente introduzir o conceito de conjunto vazio, como sendo o conjunto desprovido de qualquer elemento. Este conjunto ´e denotado pelo s´ımbolo ∅. Em toda aplica¸ca˜o da Teoria dos Conjuntos, todos os elementos e subconjuntos em considera¸ca˜o est˜ ao em um conjunto fixo. Este conjunto fixo chama-se conjunto universo, e design´ a-lo-emos pela letra U . Amiude, a solu¸ca˜o de um problema depende do conjunto universo fixado. Por exemplo, para conjunto solu¸ca˜o da equa¸ca˜o 3x = 2, temos: Se Se Se Se
U U U U
=N =Z =Q =R
⇒ ⇒ ⇒ ⇒ 36
S S S S
=∅ = ∅ = 2/3 = 2/3
Para conjunto solu¸ca˜o da equa¸ca˜o 2x3 − x2 + 2x − 1 = 0, temos: Se Se Se Se Se
U U U U U
=N =Z =Q =R =C
⇒ ⇒ ⇒ ⇒ ⇒
S S S S S
Opera¸ co ˜es com conjuntos
=∅ =∅ = {1/2} = {1/2} = − i, i, 1/2
Introduziremos agora alguns m´etodos de constru¸ca˜o de novos conjuntos, a partir de conjuntos dados. Defini¸ c˜ ao 4 (Uni˜ao). Sejam A e B subconjuntos de um dado conjunto U . A uni˜ ao de A com B ´e o subconjunto de U , indicado por A∪B, assim determinado: A ∪ B = x ∈ U : x ∈ A ou x ∈ B A opera¸ca˜o de uni˜ ao goza das seguintes propriedades: N N N N N
A ∪ (B ∪ C) = (A ∪ B) ∪ C A∪B = B∪A A∪∅ =A A∪U =U A∪A= A
(associativa) (comutativa) (elemento neutro) (Identidade) (Idempotˆencia)
Defini¸ c˜ ao 5 (Intersec¸ca˜o). Sejam A e B subconjuntos de um dado conjunto U . A intersec¸ c˜ ao de A com B ´e o subconjunto de U , indicado por A ∩ B, assim determinado: A∩B = x∈U: x∈A e x∈B A opera¸ca˜o de intersec¸ca˜o goza das seguintes propriedades: N N N N N
A ∩ (B ∩ C) = (A ∩ B) ∩ C A∩B =B ∩A A∩∅ = ∅ A∩U = A A∩A =A
(associativa) (comutativa) (absor¸ca˜o) (Identidade) (Idempotˆencia)
As opera¸co˜es de uni˜ ao e intersec¸ca˜o est˜ ao relacionadas atrav´es das propriedades distributivas: N N
A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C) A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C)
Defini¸ c˜ ao 6 (Complementa¸ca˜o). Para cada subconjunto A ⊂ U , indica-se por A ∁U e chama-se complementar de A em rela¸ca ˜o a U , o seguinte subconjunto de U : A ∁U = x ∈ U : x 6∈ A Nota: Quando, em um determinado contexto, o conjunto U estiver fixado, A a nota¸ca˜o ∁U ser´a simplificada para Ac . 37
Defini¸ c˜ ao 7 (Diferen¸ca). Sejam A e B subconjuntos de um dado conjunto U . A diferen¸ ca entre A e B ´e o subconjunto de U , indicado por A − B, assim determinado: A − B = x ∈ U : x ∈ A e x 6∈ B ´ f´ E acil comprovar a seguinte identidade
A − B = A ∩ Bc A seguir relacionamos algumas propriedades envolvendo as opera¸co˜es de complementa¸ca˜o e diferen¸ca (para subconjuntos de um dado conjunto U ): N ∅c = U e c N Ac = A
Uc = ∅
N A ∩ Ac = ∅ e A ∪ Ac = U c c N A ∪ B = Ac ∩ B c ; A ∩ B = Ac ∪ B c N A ∩ (B − C) = (A ∩ B) − (A ∩ C) A
N Se A ⊂ B, ent˜ ao ∁B = Ac ∩ B. Proposi¸ c˜ ao 5. Os conjuntos A ∩ B e A − B s˜ ao disjuntos e A = (A ∩ B) ∪ (A − B) Prova: Suponhamos que exista x ∈ A ∩ B e x ∈ A − B. A primeira asser¸ca˜o nos diz que x ∈ A e x ∈ B, o que contradiz a segunda. Logo, os conjuntos s˜ao disjuntos. (⊂) Inicialmente mostremos que (ver Importante, pg. 36) A ⊂ (A ∩ B) ∪ (A − B) De fato, Seja x ∈ A, ent˜ ao ou x ∈ B ou x 6∈ B. No primeiro caso, x ∈ A e x ∈ B sendo assim x ∈ A ∩ B. No segundo caso, x ∈ A e x 6∈ B sendo assim x ∈ A − B. Em qualquer dos casos temos nossa tese comprovada. (⊂) Resta mostrar que (A ∩ B) ∪ (A − B) ⊂ A De fato, seja y ∈ (A ∩ B) ∪ (A − B), ent˜ ao ou y ∈ A ∩ B ou y ∈ A − B. Em qualquer dos casos temos nossa tese comprovada. Proposi¸ c˜ ao 6. Se A, B e C s˜ ao conjuntos quaisquer, ent˜ ao A − (B ∩ C) = (A − B) ∪ (A − C)
A − (B ∪ C) = (A − B) ∩ (A − C)
Prova: Provaremos a primeira identidade, deixando a segunda como exerc´ıcio. (⊂) Inicialmente mostremos que A − (B ∩ C) ⊂ (A − B) ∪ (A − C) 38
De fato, seja x ∈ A − (B ∩ C), ent˜ ao x ∈ A e x 6∈ B ∩ C; logo x ∈ A e x 6∈ B ou x 6∈ C, por conseguinte x ∈ A − B ou x ∈ A − C. Em qualquer dos casos temos nossa tese comprovada. (⊂) Resta mostrar que (A − B) ∪ (A − C) ⊂ A − (B ∩ C) De fato, seja y ∈ (A − B) ∪ (A − C), ent˜ ao ou y ∈ A − B ou y ∈ A − C. Sendo assim y ∈ A e y 6∈ B ou y ∈ A e y 6∈ C; logo y ∈ A e y 6∈ B ∩ C, do que decorre nossa tese. Produto Cartesiano de Conjuntos Daremos agora mais um m´etodo de constru¸ca˜o de conjuntos, a partir de conjuntos dados: O produto cartesiano∗. Defini¸ c˜ ao 8 (Produto Cartesiano). Sejam A e B dois conjuntos n˜ ao vazios. O produto (cartesiano) de A e B, denotado por A × B, ´e o conjunto de todos os pares ordenados (a, b), com a ∈ A e b ∈ B, isto ´e: A × B = (a, b) : a ∈ A e b ∈ B Nota: Esta defini¸ca˜o ´e um tanto informal, j´a que n˜ ao definimos a priori o que vem a ser um “par ordenado”. A propriedade fundamental destes entes ´e a que segue: (a, b) = (c, d) ⇐⇒ a = c e b = d.
O produto de um conjunto A por si pr´oprio, isto ´e, A × A, representa-se por A2 . Por exemplo, R × R = R2 = (a, b) : a ∈ R e b ∈ R R
6
r(a,b)
b
(0,0)
a
-R
O produto de trˆes conjuntos A, B e C - n˜ ao vazios - se define como A×B×C = A×B ×C = (a, b, c) : a ∈ A, b ∈ B e c ∈ C
O produto de n conjuntos A1 , A2 , . . . , An ´e definido, por indu¸ca˜o, como segue: A1 × A2 × · · · × An = A1 × A2 × · · · × An−1 × An = (x1 , x2 , . . . , xn ) : x1 ∈ A1 , . . . , xn ∈ An
∗ Ren´ e Descartes (1596 − 1650), criador da geometria anal´ıtica, foi um nobre francˆes, soldado, matem´ atico, e um dos maiores fil´ osofos de todos os tempos.
39
Sejam E1 , E2 , . . . , En conjuntos quaisquer. Para cada ´ındice i (1 ≤ i ≤ n) sejam Ai e Bi subconjuntos quaisquer de Ei . Colocamos, por defini¸ca˜o: A1 × A2 × · · · × An = ∅ ⇐⇒ ∃ i ∈ {1, 2, . . . , n} : Ai = ∅. Se Ai 6= ∅ (i = 1, 2, . . . , n), deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que (i) A1 × · · · × An ⊂ B1 × . . . × Bn ⇐⇒ A1 ⊂ B1 , . . . , An ⊂ Bn . (ii)
A1 × · · · × An ∩ B1 × . . . × Bn = (A1 ∩ B1 ) × · · · × (An ∩ Bn ).
Fun¸ co ˜es/Aplica¸ co ˜es/Transforma¸ co ˜es
O conceito de fun¸ca˜o ´e de fundamental importˆ ancia uma vez que comparece impl´ıcita ou expl´ıcitamente - em todos os ramos da ciˆencia. Pr´aticamente todas as equa¸co˜es alg´ebricas que comparecem na F´ısica, Biologia, Qu´ımica, Economia, Eletricidade, etc.; podem ser estudadas dentro do contexto de fun¸co˜es. Por exemplo: 1. Na F´ısica (i) P V = N R T (ii) S = S0 + v0 t + 12 t2 (iii) m =
m0 r
1−
(iv) E = m c2
v c
2
2. Na Eletricidade ℓ πr2 1 √ (ii) f0 = 2π LC
(i) R = ρ
3. Em Comunica¸ca˜o t < 0; 0, f (t) = A 1 − e−t/RC , 0 < t < τ; A 1 − e−τ /RC e−(t−τ )/RC , t > τ.
O conceito de fun¸ca˜o - como o entendemos hoje - veio evoluindo ao longo do tempo, sendo formalizado durante o s´eculo XIX. Na ´epoca de Euler† , fun¸ca˜o significava, em geral, aquelas que podiam ser expressas por uma equa¸ca˜o entre x e y, tais como: y = x3 − 2x2 + 5. Por exemplo a equa¸ca˜o dada por (sinal de x) † Leonard Euler (1707 − 1783), natural de Basil´ eia, Su´ı¸ca, estudou com Jo˜ ao Bernoulli. Residiu muitos anos em S˜ ao Petersburgo (hoje Leningrado), mas sua estada ali foi interrompida por um per´ıodo de 25 anos em Berlim. N˜ ao obstante ter sido pai de treze filhos e apesar de ter ficado cego, escreveu cerca de oitocentos “papers” e livros, tendo dado contribui¸co ˜es fundamentais a todos os ramos da matem´ atica.
40
R
6 1
sign(x)=
8 > > > > <
s
1, se x > 0; 0, se x = 0; > > > > :−1, se x < 0.
-R
−1
bem como aquela dada no ´ıtem 3. (Comunica¸ca˜o) n˜ ao representavam fun¸co˜es. Como vemos, a exigˆencia de que uma fun¸ca˜o seja dada por uma equa¸ca˜o ´e bastante restritiva. Com a necessidade crescente - e premente - de resolver-se problemas de outras ´areas - F´ısica por exemplo - ´e que surgiu a necessidade de se ampliar o conceito de fun¸ca˜o de modo a incluir uma classe bem maior de tais entes. Defini¸ c˜ ao 9 (Transforma¸ca˜o). Dados dois conjuntos A e B, ambos n˜ ao vazios, uma transforma¸ c~ ao de A em B ´e uma lei pela qual a cada elemento de A associa-se um u ´nico elemento de B. Se f indica essa lei e x representa um elemento gen´erico de A, ent˜ ao o (´ unico) elemento de B associado a x ´e representado por f (x) (lemos “f de x”) e se denomina imagem de x por f . A
B f
x t
t f (x)
O conjunto A ´e o dom´ınio e o conjunto B ´e o contradom´ınio da transforma¸ca˜o f. Alternativamente, podemos representar uma transforma¸ca˜o f de A em B, assim: f: A x
B 7→ f (x)
Nota: Os termos fun¸ c~ ao e aplica¸ c~ ao s˜ao sinˆ onimos da palavra transforma¸ca ˜o, embora alguns autores prefiram reservar a palavra “fun¸ca˜o” para se referir a aplica¸co˜es de valores reais ou complexos. Exemplos 1. Na F´ısica (i) A press˜ ao de um g´ as pode estar em fun¸ca˜o da temperatura ou em fun¸ca˜o do volume (ou de ambos): P (T ) =
N RT N RT ; P (V ) = ; V V 41
P (V, T ) =
N RT . V
(ii) A posi¸ca˜o de um m´ovel ´e fun¸ca˜o do tempo: 1 S(t) = S0 + v0 t + t2 2 (iii) A massa ´e fun¸ca˜o da velocidade: m0 m(v) = q 2 1 − vc
(iv) A energia ´e fun¸ca˜o da massa:
E(m) = m c2 2. Na Eletricidade (i) A resistˆencia de um condutor (cil´ındrico) ´e fun¸ca˜o do seu comprimento ou do raio de sua se¸ca˜o transversal (ou de ambos): R(ℓ) = ρ
ℓ ℓ ℓ ; R(r) = ρ 2 ; R(r, ℓ) = ρ 2 . πr2 πr πr
(ii) Em um receptor (r´adio, TV, etc.) a freq¨ uˆencia de ressonˆ ancia ´e fun¸ca˜o da indutˆancia (L) ou da capacitˆancia (C) (ou de ambas): f0 (L) =
1 1 1 √ √ ; f0 (C) = √ ; f0 (L, C) = . 2π LC 2π LC 2π LC
3. Na Matem´ atica Financeira O juro ´e fun¸ca˜o do capital (C) ou do tempo (t) (ou de ambos): a) Juros simples j(C) = C · i · t; j(t) = C · i · t; j(C, t) = C · i · t. b) Juros compostos j(C) = C[(1 + i)t − 1]; j(t) = C[(1 + i)t − 1]. 4. Na Geometria (i) A ´ area de um c´ırculo ´e fun¸ca˜o do raio: q
A : [0,+∞[ −→ [0,+∞[ r 7−→ πr 2
r տA(r)=πr2
(ii) A ´ area de um retˆ angulo ´e fun¸ca˜o da base ou da altura (ou de ambas): ⊤ h ⊥
↑ h ↓
A : [0,+∞[ −→ [0,+∞[ b 7−→ A(b)=b h
←− b −→ 42
A : [0,+∞[×[0,+∞[ −→ [0,+∞[ (b, h) 7−→ A(b, h)=b h
←− b −→
Imagem de um Conjunto Via Transforma¸c˜ ao Sejam f : A → B uma transforma¸ca˜o e X ⊂ A. Vamos reunir em um mesmo subconjunto de B todos os elementos que s˜ao imagem, por f , dos elementos de X. Formalizando, temos Defini¸ c˜ ao 10 (Imagem de Conjunto). Consideremos uma transforma¸ca ˜o f : A → B. Dado um subconjunto X ⊂ A, chama-se imagem de X por f , e indica-se por f (X), o seguinte subconjunto de B: f (X) = f (x) : x ∈ X A
X
sx
B
s
f
s
f (X)
f (x)
x′
s
f (x′ )
Se X = A, ent˜ ao f (A) recebe o nome de imagem de f e a nota¸ca˜o ser´a Im f . Portanto, Im f = { f (x) : x ∈ A } (1.3) Exemplos: 1) Consideremos a fun¸ca˜o f : R −→ R dada por f (x) = x2 . Seja X = {−2, −1, 0, 1, 2}. Ent˜ ao f (X) = f (x) : x ∈ X = f (−2), f (−1), f (0), f (1), f (2) = 4, 1, 0, 1, 4 = 0, 1, 4 Consideremos agora os seguintes subconjuntos do dom´ınio: Y = [−2, −1] e X = [1, 2]. Sendo assim teremos f (X) = f (Y ) = [1, 4] conforme dedu¸ca˜o seguinte. f (x)
6 1≤ x ≤2 ⇒ 12 ≤ x·x ≤22
−2≤ x ≤−1 ⇒ 2≥ −x ≥1 ⇒ 1≤ −x ≤2 ⇒
12 ≤ −x·(−x) ≤22
⇒
1≤ x2
f (Y )=[1, 4]
ց
≤4
⇒ 1≤ x2 ≤4
f (X)=[1, 4] 4
ւ
⇒ 1≤ f (x) ≤4
1
⇒ 1≤ f (x) ≤4
]
[
−2
−1 Y
43
0
]
[2
1
X
-x
2) Consideremos a fun¸ca˜o f : R −→ R dada por f (x) = sign(x) (pg. 41). Sendo assim temos, por exemplo X = {0} ⇒ f (X) = f (x) : x ∈ {0} = {0} Y = [−2, −1] ⇒ f (Y ) = f (x) : x ∈ [−2, −1] = {−1} Z = [−1, 1] ⇒ f (Z) = f (x) : x ∈ [−1, 1] = {−1, 0, 1} W = [1, 2] ⇒ f (W ) = f (x) : x ∈ [1, 2] = {1} Qualidades de Uma Transforma¸ c˜ ao
Uma transforma¸ca˜o F : U → V se diz injetora se, para quaisquer x, y ∈ U , x 6= y =⇒ f (x) 6= f (y). ou, de modo equivalente∗ f (x) = f (y) =⇒ x = y. Uma transforma¸ca˜o F : U → V se diz sobrejetora se Im(f ) = B; isto ´e ∀ y ∈ B, ∃ x ∈ A : f (x) = y. Uma aplica¸ca˜o f : A −→ B ao mesmo tempo injetora e sobrejetora chama-se bijetora. Propriedades das Imagens Diretas Proposi¸ c˜ ao 7. Seja f : A −→ B, e sejam X, Y ⊂ A. Temos: (a) Se X ⊂ Y , ent˜ ao f (X) ⊂ f (Y ). (b) f (X ∪ Y ) = f (X) ∪ f (Y ).
(c) f (X ∩ Y ) ⊂ f (X) ∩ f (Y ). (d) f (∅) = ∅.
(e) f (X − Y ) ⊂ f (X). Prova: (ver Importante, pg. 36) (a)
(b)
Seja
Seja
f (x) ∈ f (X)
⇒
⇒
f (x) ∈ f (X ∪ Y )
x∈X
f (x) ∈ f (Y )
⇒
x∈Y
f (X) ⊂ f (Y ).
⇒
x∈ X ∪Y
⇒
f (x) ∈ f (X) ou f (x) ∈ f (Y )
⇒
⇒
⇒
∗ Ver
⇒
(T − 1), pg. 23.
44
x ∈ X ou x ∈ Y
f (x) ∈ f (X) ∪ f (Y ).
f (X ∪ Y ) ⊂ f (X) ∪ f (Y ).
An´alogamente se mostra a inclus˜ao contr´aria. (c)
f (x) ∈ f (X ∩ Y )
Seja
⇒
x∈ X ∩Y
⇒
f (x) ∈ f (X) e f (x) ∈ f (Y )
⇒
⇒
⇒
(d) f (∅) =
x∈X ex∈Y
f (x) ∈ f (X) ∩ f (Y ).
f (X ∩ Y ) ⊂ f (X) ∩ f (Y ).
f (x) : x ∈ ∅
= ∅.
(e) decorre de (a). Para mostrar que a inclus˜ao contr´aria em (c) n˜ ao vale, consideremos a fun¸ca˜o do exemplo 1) (pg. 43). Observe que X = [1, 2] e Y = [−2, −1] ⇒ X ∩ Y = ∅
⇒ f (X ∩ Y ) = ∅.
por outro lado, f (X) ∩ f (Y ) = [1, 4] ∩ [1, 4] = [1, 4] ⇒ f (X) ∩ f (Y ) 6⊂ f (X ∩ Y ). Esta inclus˜ao n˜ ao se verifica precisamente por ser f uma fun¸ca˜o n˜ ao injetora: Se f ´e injetora, ent˜ ao f (X ∩ Y ) = f (X) ∩ f (Y ). De fato, seja z ∈ f (X) ∩ f (Y ), logo, existem x ∈ X e y ∈ Y tais que z = f (x) = f (y). Pela injetividade de f concluimos que x = y ∈ X ∩ Y . Donde z ∈ f (X ∩ Y ). Como a inclus˜ao contr´aria vale para f qualquer, fica provada a igualdade. Imagem Inversa de Conjunto Via Aplica¸ c˜ ao Sejam f : A −→ B uma aplica¸ca˜o e Y ⊂ B. Vamos reunir em um mesmo conjunto todos os elementos de A cujas imagens, por f , pertencem a Y . Formalizando, temos Defini¸ c˜ ao 11 (Imagem Inversa). Consideremos uma aplica¸ca ˜o f : A −→ B. Dado um subconjunto Y ⊂ B, chama-se imagem inversa de Y por f , e indicase por f −1 (Y ), o seguinte subconjunto de A: f −1 (Y ) = x ∈ A : f (x) ∈ Y A f −1 (Y
)
sx
B s
f
f (x)
45
Y
Observa¸ c˜ ao: N˜ ao confundir a nota¸ca˜o f −1 (Y ) com a da fun¸ca˜o inversa. Dada uma fun¸ca˜o f qualquer, a fun¸ca˜o inversa nem sempre existe, mas f −1 (Y ) sempre existe, podendo ser f −1 (Y ) = ∅. Todavia, se f −1 existe, ent˜ ao f −1 (Y ) −1 ´e a imagem direta de Y pela f . Exemplos: Consideremos a fun¸ca˜o f : R −→ R dada por f (x) = x2 . a) Seja Y =
0, 1, 4 . Ent˜ ao
f −1 (Y ) =
x ∈ A : f (x) ∈ Y
x ∈ R : f (x) ∈ { 0, 1, 4 } = x ∈ R : x2 ∈ { 0, 1, 4 } = {−2, −1, 0, 1, 2} =
Portanto,
f −1 { 0, 1, 4 } = {−2, −1, 0, 1, 2 }.
b) Seja agora Y = [1, 4]. Ent˜ ao,
f −1 (Y ) =
x ∈ A : f (x) ∈ Y
x ∈ R : f (x) ∈ [1, 4] = x ∈ R : x2 ∈ [1, 4] =
Resolvendo a dupla desigualdade: 1 ≤ x2 ≤ 4 ⇐⇒ x2 ≥ 1 e x2 ≤ 4.
encontramos
f −1 [1, 4] = [−2, −1] ∪ [1, 2]. f (x)
x2 ≥ 1 ⇒ x2 −1 ≥ 0
6
x2 ≤ 4 ⇒ x2 −4 ≤ 0
Y =[1, 4]
ց
⇒ x ∈ ]−∞, −1]∪[1, +∞[
⇒ x ∈ [−2, 2]
4
1
]
[
−2
−1
0
]
1
[2
-x
տ f −1 (Y ) ր Figura 1.1: Imagem inversa de Y por f . c) Seja agora Y = [−1, −2]. Ent˜ ao, −1 f (Y ) = x ∈ A : f (x) ∈ Y = x ∈ R : f (x) ∈ [−1, −2] = x ∈ R : x2 ∈ [−1, −2] . 46
Portanto, f −1 [−1, −2] = ∅. d) Seja f : R −→ R dada por f (x) =
(
1, se x ∈ Q; 0, caso contr´ario.
Seja Y ⊂ R, com um pouco de racioc´ınio, o ∅, se 1 6∈ Y Q, se 1 ∈ Y f −1 (Y ) = R − Q, se 1 6∈ Y R, se 1 ∈ Y
leitor h´ a de concordar que e 0 6∈ Y ;
e 0 6∈ Y ;
e 0∈ Y;
e 0 ∈ Y.
Por exemplo,
f −1 ] − 1, 1[ = R − Q f −1 ] − 1, 1] = R f −1
1 3 =Q , 2 2
Propriedades das Imagens Inversas Proposi¸ c˜ ao 8. Seja f : A −→ B, e sejam X, Y ⊂ B. Temos: (a) Se X ⊂ Y , ent˜ ao f −1 (X) ⊂ f −1 (Y ).
(b) f −1 (X ∪ Y ) = f −1 (X) ∪ f −1 (Y ).
(c) f −1 (X ∩ Y ) = f −1 (X) ∩ f −1 (Y ). c (d) f −1 (X c ) = f −1 (X) . (e) f (X − Y ) = f −1 (X) − f −1 (Y ).
Deixamos a prova desta proposi¸ca˜o como exerc´ıcio. Proposi¸ c˜ ao 9. f (X) ⊂ Y
⇐⇒ X ⊂ f −1 (Y ).
Prova: (⇒) De fato, Dado x ∈ X ⇒ f (x) ∈ f (X) ⇒ f (x) ∈ Y ⇒ x ∈ f −1 (Y ). (⇐) Seja f (x) ∈ f (X) ⇒ x ∈ X ⇒ x ∈ f −1 (Y ) ⇒ f (x) ∈ Y. Vamos agora relacionar as imagens direta e inversa. 47
Proposi¸ c˜ ao 10. Seja f : A −→ B. Ent˜ ao (a)
X ⊂A
=⇒
(b)
X ⊂A
=⇒
(c)
Y ⊂B
=⇒
(d)
Y ⊂B
=⇒
X ⊂ f −1 f (X) X = f −1 f (X) f f −1 (Y ) ⊂ Y f f −1 (Y ) = Y
(se f for injetora )
(se f for sobrejetora )
Prova: (a) De fato, se x ∈ X, ent˜ ao f (x) ∈ f (X) e da´ı, tendo em conta a defini¸ca˜o de imagem inversa, x ∈ f −1 f (X) . (b) Seja x ∈ f −1 f (X) , ent˜ ao f (x) ∈ f (X), portanto pela defini¸ca˜o de f (X) existe x′ ∈ X tal que f (x′ ) = f (x), da´ı, considerando a injetividade de f , x = x′ e portanto x ∈ X. (c) Seja y ∈ f f −1 (Y ) logo, pela defini¸ca˜o de imagem direta, existe x ∈ f −1 (Y ) tal que f (x) = y. Pela defini¸ca˜o de imagem inversa x ∈ f −1 (Y ) implica f (x) = y ∈Y. (d) Seja y ∈ Y , como f ´e sobrejetora, existe x ∈ A tal que f (x) = y ∈ Y . Pela defini¸ca˜o de imagem inversa, x ∈ f −1 (Y ) e pela defini¸ca˜o de imagem direta, f (x) = y ∈ f f −1 (Y ) . Igualdade Entre Aplica¸ co ˜es
Defini¸ c˜ ao 12 (Igualdade entre aplica¸co˜es). Dizemos que as aplica¸co ˜es f : A −→ B x 7−→ f (x)
e
g : C −→ D x 7−→ g(x)
s˜ ao iguais se, e somente se, A = C, B = D e f (x) = g(x) para todo x ∈ A. Exemplos: a) Se A = {1, 2, 3} e B = {−2, −1, 0, 1, 2}, ent˜ ao as fun¸co˜es de A em B definidas por: x2 − 1 f (x) = x − 1 e g(x) = x+1 s˜ao iguais, pois x=1 x=2 x=3
⇒
f (1) = 1 − 1 = 0
e
⇒
f (2) = 2 − 1 = 1
e
⇒
f (3) = 3 − 1 = 2
e
g(1) =
12 −1 1+1
= 0;
g(2) =
22 −1 2+1
= 1;
g(3) =
2
3 −1 3+1
= 2. (
b) As fun¸co˜es, de R em R, dadas por f (x) = |x−1| e g(x) = s˜ao iguais pois f (x) = g(x) para todo x real.
x − 1, se x ≥ 1; −x + 1, se x < 1.
c) As fun¸co˜es f : R −→ R e g : [0, ∞[ −→ R dadas por f (x) = x2 e g(x) = x2 s˜ao diferentes pois tˆem dom´ınios diferentes. Graficamente, temos 48
R
R
6
r(x, f (x)) -R
0
6
r(x, g(x)) - [0, ∞[
0
Observe que f n˜ ao ´e injetora e nem sobrejetora. g ´e injetora mas, n˜ ao sobrejetora. Se colocarmos h : [0, ∞[ −→ [0, ∞[ dada por h(x) = x2 , resulta h injetora e sobrejetora.
Fam´ılias Indexadas Seja A um conjunto e P(A) o conjunto de seus subconjuntos. Consideremos uma fun¸ca˜o f : I −→ P(A) i 7−→ f (i) Esta fun¸ca˜o ´e chamada fam´ılia indexada de subconjuntos de A. O dom´ınio I ´e chamado conjunto de ´ındices. Observe que f (i) ´e um elemento de P(A), ou seja, ´e um subconjunto de A; raz˜ ao porque trocaremos de nota¸ca˜o: f (i) = Ai . Nestas fun¸co˜es o aspecto que mais nos interessar´a ´e o conjunto imagem. Para a pr´opria fun¸ca˜o adotaremos uma nota¸ca˜o especial: Ai i∈I ou, simplesmente, Ai quando o conjunto de ´ındices estiver fixado em um determinado contexto. Exemplos: 1. Consideremos A = [0, 1] e I = N. Para cada n ∈ N definamos
Sendo assim An Por exemplo,
1 An = 0, n
n∈N
´e uma fam´ılia de subconjuntos do intervalo [0, 1].
⊢ 0
⊣ A1 1
⊢ 0
⊣ A2 1 2
⊢ 0
⊣ A3 1 3
2. Consideremos A = Z e I = N. Para cada n ∈ N definamos An =
m ∈ Z : m ´e m´ ultiplo de n 49
Por exemplo, A1 = Z A2 = {. . . , −6, −4, −2, 0, 2, 4, 6, . . .}
A3 = {. . . , −9, −6, −3, 0, 3, 6, 9, . . .}
3. Consideremos A = R2 e I = R. Para cada λ ∈ R definamos Aλ = (x, y) ∈ R2 : y = 2x + λ
Sendo assim Aλ λ∈R ´e uma fam´ılia de subconjuntos do R2 , onde cada conjunto Aλ ´e uma reta. Por exemplo, R
6 A√
3
−3q
q
3
A0
A−1 2 q 1 q −2q −1q q2 q1 0 −1 p −2 λ=0 √ p λ= 3
q3
-R
λ=−1
4. Consideremos A = M2×3 (R) o conjunto das matrizes de ordem 2 por 3 com entradas (elementos) reais e I = Z. Para cada m ∈ Z definamos m 1 3 Am = 3 0 mm 2 +1 Sendo assim Am m∈Z ´e uma fam´ılia de subconjuntos de M2×3 (R), onde cada conjunto Am ´e uma matriz. Por exemplo, 0 1 3 1 1 3 −1 1 3 ; A = . ; A = A−1 = 0 1 3 0 0 3 0 12 3 0 −1 2 Opera¸ co ˜es Generalizadas As opera¸co˜es de uni˜ ao e intersec¸ca˜o de conjuntos; originalmente definidas para dois conjuntos, agora podem ser generalizadas. 50
ao dos membros Seja Ai i∈I uma fam´ılia de subconjuntos de A. Para a uni˜ desta fam´ılia usaremos uma das seguintes nota¸co˜es: [ [ [ Ai ; Ai ; Ai : i ∈ I . i∈I
S´ o usaremos a segunda das nota¸co˜es acima, quando o conjunto de ´ındices estiver fixado em um determinado contexto. Pois bem, por defini¸ca˜o, temos: [ Ai = x : x ∈ Ai , para algum i ∈ I i∈I
Por exemplo, consideremos a fam´ılia Aλ λ∈R do exemplo 3. dado anteriormente. Temos [ Aλ = (x, y) : (x, y) ∈ Aλ , para algum λ ∈ R = R2 . λ∈R
Porquanto dado qualquer (a, b) ∈ R2 este ponto pertence ao Aλ para λ = b−2a. Quando o conjunto de ´ındices for I = {1, 2, . . . , n} ou I = N ent˜ ao escrevemos ∞ n [ [ Ai Ai ; i=1
i=1
para indicar a uni˜ ao das fam´ılias A1 , A2 , . . . , An respectivamente. Por exemplo, ∞ [
0,
i=1
e
A1 , A2 , . . . , An , . . .
1 = [0, 1]. i
De modo an´alogo, para a intersec¸ca˜o dos membros da fam´ılia Ai mos uma das nota¸co˜es abaixo: \ \ \ Ai : i ∈ I . Ai ; Ai ;
i∈I
usare-
i∈I
S´ o usaremos a segunda das nota¸co˜es acima, quando o conjunto de ´ındices estiver fixado em um determinado contexto. Pois bem, por defini¸ca˜o, temos: \ Ai = x : x ∈ Ai , para todo i ∈ I i∈I
Quando o conjunto de ´ındices for I = {1, 2, . . . , n} ou I = N ent˜ ao escrevemos ∞ n \ \ Ai Ai ; i=1
i=1
para indicar a intersec¸ca˜o das fam´ılias A1 , A2 , . . . , An e A1 , A2 , . . . , An , . . . respectivamente. Por exemplo, ∞ \
i=1
0,
1 = {0}. i 51
Tamb´em (ver exemplo 2. dado anteriormente), ∞ \
i=1
m ∈ Z : m ´e m´ ultiplo de i
= {0}.
Fica como exerc´ıcio a comprova¸ca˜o destas intersec¸co˜es. As leis distributivas tamb´em s˜ao v´alidas para opera¸co˜es generalizadas: Proposi¸ c˜ ao 11. Consideremos uma fam´ılia Ai i∈I de subconjuntos de um dado conjunto A e B ⊂ A. Ent˜ ao ! \ \ (i) B ∪ B ∪ Ai Ai = i∈I
i∈I
(ii) B ∩
[
Ai
i∈I
!
=
[
i∈I
B ∩ Ai
Prova: Mostraremos a primeira destas identidades. T T ao x ∈ B ou x ∈ i ∈ I Ai . Se x ∈ B (⊂) De fato, seja x ∈ B ∪ i ∈ I Ai ent˜ T ent˜ aT o x ∈ B ∪ Ai para todo i ∈ I, e da´ı x ∈ i ∈ I B ∪ Ai . Por outro lado se ao x ∈ Ai para todo i ∈ I, logo x ∈ B ∪ Ai para todo i ∈ I, no x ∈ i ∈ I Ai ent˜ T que implica x ∈ i ∈ I B ∪ Ai . T ao y ∈ B ∪ Ai para todo i ∈ I. (⊃) De fato, seja y ∈ i ∈ I B ∪ Ai , ent˜ Logo T y ∈ B ou x ∈ A para todo i ∈ I; em qualquer dos casos temos x ∈ i B∪ i ∈ I Ai .
As leis de De Morgan tamb´em s˜ao v´alidas para opera¸co˜es generalizadas: Proposi¸ c˜ ao 12. Consideremos uma fam´ılia Ai i∈I de subconjuntos de um dado conjunto A. Ent˜ ao !c [ \ (i) Ai = Aci i∈I
(ii)
\
i∈I
i∈I
Ai
!c
=
[
Aci
i∈I
Prova: Mostraremos S a primeira c destas identidades. S (⊂) De fato, seja x ∈ A ent˜ ao x 6∈ i ∈ I Ai o que significaTque x 6∈ i∈I i Ai para todo i ∈ I. LogoTx ∈ Aci para todo i ∈ I, resultando que x ∈ i ∈ I Aci ao y ∈ Aci para todo i ∈ I. No que implica (⊃) De fato, seja y ∈ i ∈ I Aci ent˜ c S S que y 6∈ Ai para todo i ∈ I, logo y 6∈ i ∈ I Ai , no que resulta y ∈ i ∈ I Ai . A seguinte proposi¸ca˜o ´e de alguma utilidade Proposi¸ c˜ ao 13. Seja A um conjunto qualquer[ e, para cada x ∈ A, seja Gx um subconjunto de A tal que x ∈ Gx . Ent˜ ao A = Gx . x∈A
52
Prova: (⊂) Seja p ∈ A. Ent˜ ao p ∈ Gp , portanto, p ∈ (⊃) Seja q ∈
[
x∈A
[
Gx .
x∈A
Gx . Ent˜ ao, existe x0 ∈ A de modo que q ∈ Gx ⊂ A; disto 0
concluimos pela validade da inclus˜ao desejada.
Proposi¸ c˜ ao 14. Seja Ai i∈I uma fam´ılia indexada e i0 ∈ I um ´ındice fixado. Ent˜ ao, \ [ Ai ⊂ Ai0 ⊂ Ai . i∈I
i∈I
T
ao, x ∈ Ai para todo i ∈ I. Em particular Prova: SejaTx ∈ i ∈ I Ai ; ent˜ x ∈ Ai0 . Logo, i ∈ I Ai ⊂ Ai0 . S S Seja agora y ∈ Ai0 . Como i0 ∈ I, resulta y ∈ i ∈ I Ai . Da´ı Ai0 ⊂ i ∈ I Ai . Imagens Diretas e Inversas de Conjuntos Indexados Proposi¸ c˜ ao 15. Consideremos uma fun¸ca ˜o f : A −→ B, uma fam´ılia Ai ao, de subconjuntos de A e uma fam´ılia Bj j∈J de subconjuntos de B. Ent˜ (i)
(ii) (iii) (iv)
i∈I
f ∪ Ai = ∪ f Ai f ∩ Ai ⊂ ∩ f Ai f −1 ∪ Bj = ∪ f −1 Bj f −1 ∩ Bj ⊂ ∩ f −1 Bj
Prova: Provemos as assertivas (i) e (iii). Ent˜ ao, (i) (⊂) Seja f (x) ∈ f ∪i∈I Ai ; pela defini¸ca˜o de imagem direta (pg. 43), x ∈ ∪i∈I Ai . Sendo assim x ∈ Ai′ para algum i′ ∈ I, acarretando; novamente ′ pela defini¸ ca˜o de imagem direta, que f (x) ∈ f Ai no que resulta f (x) ∈ ∪i∈I f Ai . (⊃) An´alogo. (iii) (⊂) Seja x ∈ f −1 ∪ Bj ; pela defini¸ca˜o de imagem inversa (pg. 45), f (x) ∈ ∪j∈J Bj . Sendo assim f (x) ∈ Bj′ para algum j ′ ∈ J, acarretando; novamente pela defini¸ca˜o de imagem inversa, que x ∈ f −1 Bj′ , da´ı resulta x ∈ ∪j∈J f −1 Bj .
(⊃) An´alogo.
53
1.3
T´ opicos em An´ alise
M´ odulo (Valor Absoluto) Se x ∈ R e x 6= 0, ent˜ ao um dos n´ umeros, x ou −x, ´e estritamente positivo. Defini¸ c˜ ao 13. Se x ∈ R, chamaremos m´ odulo de x (ou ainda: valor absoluto de x) e designaremos por |x| o maior dos n´ umeros x e −x; assim, por defini¸ca ˜o: |x| = max{ −x, x}. ´ f´ E acil ver que esta igualdade ´e equivalente a ( x, se x ≥ 0; |x| = −x, se x < 0.
Equa¸ca˜o esta que tamb´em ´e usada como defini¸ca˜o do m´odulo de x. Decorre trivialmente que |0| = 0. Intuitivamente ´e f´ acil constatar que, na interpreta¸ca˜o geom´etrica dos reais, o m´odulo do n´ umero x exprime (na unidade considerada) a distˆancia do ponto x, a origem do referencial, isto ´e, ao ponto O, correspondente ao n´ ` umero 0, assim:
⊢ r
|−x|=−(−x)
−x
|x|=x
⊢ ⊣
⊣
r
q0
-R
x
A seguir listamos algumas propriedades do m´odulo. Proposi¸ c˜ ao 16. Temos: (a) |x| = 0, se e somente se, x = 0. (b) | − x| = |x| para todo x ∈ R. (c) |x · y| = |x| · |y| para todo x, y ∈ R. x |x| . (d) Se y 6= 0, = y |y|
(e) Se c ≥ 0, ent˜ ao |x| ≤ c, se e somente se, −c ≤ x ≤ c. (f ) −|x| ≤ x ≤ |x| para todo x ∈ R. Prova: (a) Decorre trivialmente da defini¸ca˜o de m´odulo. (b) |x| = max{ −x, x} = max
− (−x), −x
= | − x|
(c) Se x > 0 e y > 0, ent˜ ao x·y > 0, de modo que |x·y| = x·y = |x|·|y|. Se x > 0 e y < 0, ent˜ ao x · y < 0, de modo que |x · y| = −(x · y) = x · (−y) = |x| · |y|. Os demais casos s˜ao tratados de modo an´alogo. 54
(d) Sendo y 6= 0 vale
x=y·
x y
e portanto, pelo ´ıtem anterior: x |x| = |y| · | |; y desta desigualdade (e tendo em conta que |y| = 6 0, por ser y 6= 0) decorre que: x |x| = y |y| .
(e) Temos
|x| ≤ c ⇒ ⇒
x≤c e −x≤c (
x≤c x ≥ −c
pois |x| = max{−x, x}
⇒ −c ≤ x ≤ c.
Rec´ıprocamente, se esta u ´ ltima desigualdade se verifica, ent˜ ao x ≤ c e −x ≤ c, donde |x| ≤ c.
(f ) Basta por c = |x| e utilizar o ´ıtem anterior. As pr´oximas desigualdades s˜ao utilizadas com bastante freq¨ uˆencia:
Proposi¸ c˜ ao 17 (Desigualdade triangular). Se x e y s˜ ao n´ umeros reais quaisquer, ent˜ ao |x| − |y| ≤ |x ± y| ≤ |x| + |y|. Prova: Utilizando os ´ıtens (f ) e (e) da proposi¸ca˜o 16, obtemos
−|x| ≤ x ≤ |x| −|y| ≤ y ≤ |y|
+ :
− |x|+|y| ≤ x+y ≤ |x|+|y|
(e) =⇒ |x+y| ≤ |x|+|y|.
Esta u ´ ltima desigualdade ´e conhecida como desigualdade triangular. Por outro lado, |x| = (x − y) + y ≤ |x − y| + |y| =⇒ |x| − |y| ≤ |x − y| |y| = (y − x) + x ≤ |y − x| + |x| =⇒ |y| − |x| ≤ |y − x|
Sendo assim, temos ( |x − y| ≥ |x| − |y|
|y − x| ≥ − |x| − |y|
=⇒ |x − y| ≥ |x| − |y| .
Esta ´e a primeira desigualdade com o sinal menos. Para obter a desigualdade com o sinal mais, substituimos (nesta u ´ ltima desigualdade) y por −y. 55
Defini¸ c˜ ao 14 (Distˆancia em R, |·| ). Sendo x e y n´ umeros reais, chamaremos distˆ ancia de x a y ao m´ odulo da diferen¸ca x − y; a distˆ ancia de x a y ser´ a designada pelo s´ımbolo d(x, y); sendo assim, por defini¸ca ˜o: d(x, y) = |x − y|. Segundo as proposi¸co˜es vistas para o m´odulo, assinalamos as seguintes propriedades para a distˆancia entre n´ umeros reais: (d1 ) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y ; (d2 ) d(x, y) = d(y, x) ; (d3 ) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y).
Esta u ´ ltima desigualdade ´e uma decorrencia imediata da desigualdade triangular, assim: x − y = (x − z) + (z − y) ⇒ |x − y| = (x − z) + (z − y) ⇒
≤ |x − z| + |z − y|.
No cap´ıtulo seguinte mostraremos como calcular a distˆancia entre elementos de quaisquer conjuntos. Da defini¸ca˜o de intervalo aberto e da proposi¸ca˜o 16, ´ıtem (e), decorrem as seguintes equivalˆencias: x ∈ ]a−r, a+r[ ⇐⇒ a−r < x
Em resumo: x ∈ ]a−r, a+r[ ⇐⇒ |x−a|
Esta equivalˆencia ´e interpretada da seguinte forma: x pertence ao intervalo aberto de “centro a e raio r” se, e somente se, a distˆancia de x a a n˜ ao excede r. Geometricamente tudo se passa como na figura a seguir:
⊢ ] a−r
1.3.1
r
x
|x−a|
⊣ qa
[
-R
a+r
Teoremas e Defini¸c˜ oes da An´ alise Real
A seguir enunciamos alguns resultados da An´alise Real (AR) para futuras referˆencias. A prova destes resultados ´e pertinente `a An´alise. 56
Um resultado freq¨ uentemente invocado ´e o teorema de Weierstrass∗ dado a seguir: Teorema[AR] 1 (Weierstrass). Toda fun¸ca ˜o cont´ınua f : [a, b] −→ R ´e limitada e assume valores m´ aximo e m´ınimo. (isto ´e, existem x1 e x2 ∈ [a, b] tais que f (x1 ) ≤ f (x) ≤ f (x2 ) para todo x ∈ [a, b].) Teorema[AR] 2. Sejam f e g duas fun¸co ˜es cujos dom´ınios contenham o intervlo I e suponha-se que f (x) = g(x) em cada ponto x ∈ I, com exce¸ca ˜o dos pontos de um conjunto finito. Ent˜ ao f ´e integr´ avel em I se, e s´ omente se, g o fˆ or e, nesta hip´ otese, Z Z g
f=
I
I
Teorema[AR] 3. Suponha-seP que, para todo n ∈ N, se tem 0 ≤ an ≤ bn . P Se bn ´e convergente, ent˜ ao an ´e tamb´em convergente. P P Teorema[AR] as s´eries an e bn convergem e k ´e um n´ umero qualP 4. SeP quer, ent˜ ao kan e (an + bn ) convergem e X X X X X kan = k an e (an + bn ) = an + bn . P Teorema[AR] 5. Sendo convergente a s´erie |an |, ´e tamb´em convergente a P s´erie an e tem-se ainda ∞ ∞ X X a ≤ |an |. n n=1
n=1
Teorema[AR] 6. Se lim xn = a ent˜ ao lim |xn | = |a|. Esta assertiva pode ser reformulada como segue: Se (xn ) ´e uma seq¨ uˆencia convergente ent˜ ao lim |xn | = | lim xn |. Teorema[AR] 7 (Passagem ao limite numa desigualdade). Sejam (xn ) e (yn ) seq¨ uˆencias convergentes. Se a condi¸ca ˜o xn ≤ yn ´e verificada por infinitos valores de n ent˜ ao lim xn ≤ lim yn . Rb Rb Teorema[AR] 8. Se f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, b], ent˜ ao a f (x) ≤ a g(x). Teorema[AR] 9. Se f ≥ 0 ´e uma fun¸ca ˜o cont´ınua num intervalo [a, b], com Rb f (c) > 0 em algum ponto c ∈ [a, b], ent˜ ao a f > 0.
Defini¸ c˜ ao 15 (Continuidade Uniforme). Uma fun¸ca ˜o f : X → R diz-se uniformemente cont´ınua no conjunto X quando, para todo ε > 0 dado arbitrariamente, pode-se exibir δ > 0 de modo que x, y ∈ X, |x − y| < δ ⇒ |f (x) − f (y)| < ε. ∗ Karl Weierstrass (1815 − 1897) foi durante muitos anos professor em Berlim, e exerceu profunda influˆ encia no desenvolvimento da An´ alise. Sempre insistindo em demonstra¸co ˜es rigorosas, elaborou, mas n˜ ao publicou, uma introdu¸ca ˜o ao sistema de n´ umeros reais. Deu tamb´ em importantes contribui¸co ˜es a ` An´ alise Real e Complexa, a `s equa¸co ˜es diferenciais e ao c´ alculo das varia¸co ˜es.
57
Teorema[AR] 10. Seja X ⊂ R limitado e fechado. Toda fun¸ca ˜o cont´ınua f : X → R ´e uniformemente cont´ınua. Defini¸ c˜ ao 16 (Convergˆencia Simples ou Pontual). Diz-se que a seq¨ uˆencia de fun¸co ˜es fn : X → R converge simplesmente (ou pontualmente) para a fun¸ca ˜o f : X → R quando, para cada x ∈ X arbitrariamente fixado, a seq¨ uˆencia de n´ umeros reais fn (x) converge para o n´ umero f (x). Ou seja, para todo x ∈ X fixado, tem-se lim fn (x) = f (x). n→∞
Defini¸ c˜ ao 17 (Convergˆencia Uniforme). Diz-se que uma seq¨ uˆencia de fun¸co ˜es (fn ) converge uniformemente para uma fun¸ca ˜o f num dom´ınio D se, dado qualquer ε > 0, existe um ´ındice n0 tal que, para todo x ∈ D, n ≥ n0 ⇒ |fn (x) − f (x)| < ε. Teorema[AR] 11. Se (fn ) ´e uma seq¨ uˆencia de fun¸co ˜es cont´ınuas num mesmo dom´ınio D, que converge uniformemente para uma fun¸ca ˜o f , ent˜ ao f ´e cont´ınua em D. Teorema[AR] 12 (Teorema do Valor M´edio, de Lagrange). Se f : [a, b] → R ´e cont´ınua e, se f ´e diferenci´ avel em cada ponto do intervalo ]a, b[, ent˜ ao existe um ponto c ∈ ]a, b[, tal que f ′ (c) =
f (b) − f (a) . b−a
Teorema[AR] 13 (Teorema dos intervalos encaixados). Seja [ a1 , b 1 ] ⊃ [ a2 , b 2 ] ⊃ · · · ⊃ [ an , b n ] ⊃ · · · uma seq¨ uˆencia de intervalos fechados, n˜ ao-vazios e encaixados. Suponha, ademais, que a sucess˜ ao (bn − an ) dos comprimentos de tais intervalos tende a 0. Ent˜ ao, existe um u ´nico ponto comum a todos estes intervalos.
1.3.2
Supremo e ´Infimo
Os conceitos de supremo e ´ınfimo s˜ao da m´axima importˆ ancia tanto na An´alise Real quanto na teoria dos Espa¸cos M´etricos. O leitor n˜ ao tenha a ilus˜ ao de ir muito longe na matem´atica sem uma perfeita compreens˜ao destes conceitos. Antes definiremos Defini¸ c˜ ao 18 (Cota Superior/Cota Inferior). Seja K um subconjunto qualquer de R. (i) Diz-se que um elemento µ ∈ R ´e cota superior de K se µ ≥ k para todo k ∈ K. (ii) Diz-se que um elemento ν ∈ R ´e cota inferior de K se ν ≤ k para todo k ∈ K. 58
Uma primeira observa¸ca˜o importante ´e que a cota superior de um conjunto (se existir) pode ou n˜ ao pertencer ao conjunto. Por exemplo, o n´ umero real 1 ´e cota superior dos conjuntos K = [ 0, 1 ] e J =] 0, 1 [ mas pertence a K e n˜ ao a J. Observa¸ca˜o an´aloga vale para o ´ınfimo. Note-se que nem sempre um subconjunto K ⊂ R tem uma cota superior ou uma cota inferior. Por exemplo Z ⊂ R ´e um de tais conjuntos. Todavia, se um conjunto tem uma cota superior, ent˜ ao admite uma infinidade delas. De fato, se µ ´e uma cota superior de K, o mesmo se d´ a com µ + n, para todo n ∈ N. Quando um conjunto admite cota superior, dizemos que ele ´e cotado superiormente, e quando admite cota inferior, dizemos que ´e cotado inferiormente. Um conjunto dotado de cota superior e de cota inferior diz-se simplesmente cotado. Um conjunto que n˜ ao admite cota superior, ou inferior, diz-se n˜ ao-cotado. Por exemplo,
a) b) c) d)
Conjunto
Status
Z N ] − ∞, 1] ] − 1, 1]
N˜ ao cotado Cotado inferiormente Cotado superiormente Cotado
Defini¸ c˜ ao 19 (Supremo). Seja K um subconjunto qualquer de R. Se K ´e cotado superiormente, uma cota superior de K se diz supremo de K se ´e menor do que qualquer outra cota superior de K. Em outras palavras: Um n´ umero µ ∈ R se diz supremo de um subconjunto K de R se satisfaz as duas condi¸co˜es: (i) x ≤ µ para todo x ∈ K; (ii) se λ ´e um n´ umero tal que x ≤ λ para todo x ∈ K, ent˜ ao µ ≤ λ. De fato, pela condi¸ca˜o (i), µ ´e uma cota superior de K, e pela (ii), µ ´e menor que qualquer outra cota superior de K. O supremo µ de um subconjunto K de R, se existir, ´e u ´ nico. De fato, se µ1 e µ2 s˜ao supremos de K, ent˜ ao ambos verificam as condi¸co˜es (i) e (ii) acima, logo µ1 ≤ µ2 e µ2 ≤ µ1 , donde µ1 = µ2 . Nota¸ca ˜o: Se µ for o supremo de K, escrevemos µ = sup K A seguinte caracteriza¸ca˜o do supremo ´e u ´ til em muitas situa¸co˜es: Lema 1. Seja K ⊂ R. µ = sup K se, e somente se, µ for uma cota superior de K e, dado ε > 0, existe k ∈ K tal que µ − ε < k. Prova: (⇒) Se µ =sup K e ε > 0 ent˜ ao existe k ∈ K de modo que µ − ε < k. Vamos provar isto utilizando a t´ecnica (T − 4) (pg. 24). Fa¸camos ε>0 H1 : ⇒ T: ∃ k ∈ K : µ − ε < k. H2 : µ =sup K 59
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2 Suponha que n˜ ao exista k ∈ K satisfazendo µ − ε < k. Isto ´e, suponha que µ − ε ≥ k para todo k ∈ K. Ora, se k ≤ µ − ε para todo k ∈ K, significa que µ − ε ´e uma cota superior de K. Uma vez que ε > 0 temos que µ − ε < µ, logo n˜ ao temos µ =sup K (porquanto µ n˜ ao ´e a menor das cotas superiores de K). (⇐) Se µ ´e uma cota superior de K e para todo ε > 0 dado existe k ∈ K satisfazendo µ − ε < k ent˜ ao µ =sup K. Ainda mais uma vez utilizemos a t´ecnica (T − 4). Fa¸camos H1 : µ ´e cota superior de K.
H2 : ∀ ε > 0 ∃ k ∈ K : µ − ε < k.
⇒
T:
µ =sup K.
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Suponhamos µ cota superior de K e µ 6=sup K. Logo, µ n˜ ao ´e a menor das cotas superiores de K. Portanto existe ε > 0 tal que µ − ε ´e cota superior de K; o que traz como conseq¨ uˆencia que existe ε > 0 de modo que µ − ε ≥ k para todo k ∈ K. Isto ´e exatamente o que busc´ avamos: a nega¸ca˜o de H2 . Vejamos algumas aplica¸co˜es do lema anterior: Exemplos 1. Encontre o supremo de K = x ∈ R : 0 < x < 1 =] 0, 1[. Vamos mostrar que a cota superior µ = 1 ´e o supremo de K. Para tanto ´e suficiente - consoante o lema anterior (⇐) - para todo ε > 0 exibir x ∈ K de modo que 1 − ε < x. Para isto consideremos duas possibilidades: a) ε ≥ 1. Se ε ≥ 1 temos 1 − ε ≤ 0. Neste caso, tomando por exemplo x = 1/2, resulta 1 1−ε≤0
⇐⇒ ⇐⇒ ⇐⇒
0 > −ε > −1 −1 < −ε < 0 0 < 1 − ε < 1.
] 0
r ↑
[ 1
1−ε
Vamos tomar, por exemplo, o ponto m´edio entre 1 − ε e 1, isto ´e x=
1−ε+1 2
=1−
]
ε 2
0
60
r ↑
1−ε
r ↑
x
[ 1
e mostremos que este ponto satisfaz as duas condi¸co˜es desejadas: 1 a ) x ∈ K. Pois 0<1−
ε < 1 ⇐⇒ 0 < ε < 2. 2
e, por hip´ otese, ε < 1. 2 a ) 1 − ε < x. Pois 1−ε<1−
ε ε ⇐⇒ ε > . 2 2
Resumindo: dado ε > 0 tomamos ( 1 , se ε ≥ 1; xε = 2 ε 1 − 2 , se 0 < ε < 1. e teremos xε ∈ K e 1 − ε < xε , o que prova que sup ]0, 1[= 1. 2. Mostre que sup K = 1, onde n 1 2 3 , , , ··· , , ··· . K= 2 3 4 n+1 n < 1 para todo n natural. Sendo assim 1 ´e uma cota Temos que n+1 superior de K. Consoante o lema anterior, dado ε > 0 devemos exibir um x ∈ K de modo que 1 − ε < x. Ou ainda: para todo ε > 0 devemos encontrar n ∈ N de modo que
1−ε<
n . n+1
Esta desigualdade ´e satisfeita para todo n natural se 1 − ε < 0 (ε > 1). Sendo assim consideremos 1 − ε ≥ 0 (ε ≤ 1). Ent˜ ao, 1−ε<
n ⇐⇒ (1 − ε)(n + 1) < n n+1 1−ε ⇐⇒ n > . ε
Assim, dado ε > 0, escolhemos um natural nε > 1−ε <
1−ε ε
e teremos
nε . nε + 1
o que prova ser sup K = 1. Proposi¸ c˜ ao 18. Se µ for uma cota superior de K e µ ∈ K ent˜ ao µ = sup K. Prova: Por defini¸ca˜o de sup K (e tendo em conta que µ ´e uma cota superior de K) podemos escrever x ≤ sup K ≤ µ, ∀ x ∈ K. 61
Como, por hip´ otese, µ ∈ K temos em particular que µ ≤ sup K ≤ µ, donde µ = sup K. A proposi¸ca˜o que acabamos de provar nos permite obter alguns supremos a “olho n´ u”. Por exemplo, sup ]0, 1] = 1. Porquanto 1 ´e cota superior de ]0, 1] e pertence a este conjunto. Como mais um exemplo, consideremos 1 1 1 , , ··· , n, ··· K= 2 4 2 Ent˜ ao, sup K = 1/2. Isto se deve a que ´e cota superior de K e pertence a K.
1 2n
≤
1 2
para todo n natural. Isto ´e,
1 2
Defini¸ c˜ ao 20 (´Infimo). Seja K um subconjunto qualquer de R. Se K ´e cotado inferiormente, uma cota inferior de K se diz ´ınfimo de K se ´e maior do que qualquer outra cota inferior de K. Em outras palavras: Um n´ umero ν ∈ R se diz ´ınfimo de um subconjunto K de R se satisfaz as duas condi¸co˜es: (i) x ≥ ν para todo x ∈ K; (ii) se λ ´e um n´ umero tal que x ≥ λ para todo x ∈ K, ent˜ ao ν ≥ λ. De fato, pela condi¸ca˜o (i), ν ´e uma cota inferior de K, e pela (ii), ν ´e maior que qualquer outra cota inferior de K. O ´ınfimo ν de um subconjunto K de R, se existir, ´e u ´ nico. De fato, se ν1 e ν2 s˜ao ´ınfimos de K, ent˜ ao ambos verificam as condi¸co˜es (i) e (ii) acima, logo ν1 ≥ ν2 e ν2 ≥ ν1 , donde ν1 = ν2 . Nota¸ca ˜o: Se ν for o ´ınfimo de K, escrevemos: ν = inf K. A seguinte caracteriza¸ca˜o do ´ınfimo ´e u ´ til em muitas situa¸co˜es: Lema 2. Seja K ⊂ R. ν = inf K se, e somente se, ν for uma cota inferior de K e, dado ε > 0, existe k ∈ K tal que k < ν + ε. Prova: (⇒) Se ν = inf K e ε > 0 ent˜ ao existe k ∈ K de modo que k < ν + ε. Vamos provar isto utilizando a t´ecnica (T − 4) (pg. 24). Fa¸camos ε>0 H1 : ⇒ T: ∃ k ∈ K : k < ν + ε. H2 : ν = inf K ¯2 H1 ∧ T¯ =⇒ H
Suponha que n˜ ao exista k ∈ K satisfazendo k < ν + ε. Isto ´e, suponha que k ≥ ν + ε para todo k ∈ K. Ora, se k ≥ ν + ε para todo k ∈ K, significa que ν + ε ´e uma cota inferior de K. Uma vez que ε > 0 temos que ν + ε > ν, logo n˜ ao temos ν = inf K (porquanto ν n˜ ao ´e a maior das cotas inferiores de K). (⇐) Se ν ´e uma cota inferior de K e para todo ε > 0 dado existe k ∈ K satisfazendo k < ν + ε ent˜ ao ν = inf K. Ainda mais uma vez utilizemos a t´ecnica (T − 4). Fa¸camos 62
H1 : ν ´e cota inferior de K.
H2 : ∀ ε > 0 ∃ k ∈ K : k < ν + ε.
⇒
T:
ν = inf K.
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Suponhamos ν cota inferior de K e ν 6= inf K. Logo, ν n˜ ao ´e a maior das cotas inferiores de K. Portanto existe ε > 0 tal que ν + ε ´e cota inferior de K; o que traz como conseq¨ uˆencia que existe ε > 0 de modo que k ≥ ν + ε para todo k ∈ K. Isto ´e exatamente o que busc´ avamos: a nega¸ca˜o de H2 . Vejamos algumas aplica¸co˜es do lema anterior: Exemplos 1. Encontre o ´ınfimo de K = x ∈ R : 0 < x < 1 =] 0, 1[. Vamos mostrar que a cota inferior ν = 0 ´e o ´ınfimo de K. Para tanto ´e suficiente - consoante o lema anterior (⇐) - para todo ε > 0 exibir x ∈ K de modo que x < 0 + ε. Para isto consideremos duas possibilidades: a) ε ≥ 1. Se ε ≥ 1 qualquer x ∈ K serve aos nossos prop´ ositos, porquanto x ∈ K ⇒ 0 < x < 1 ≤ ε. b) 0 < ε < 1. Neste caso ´e suficiente tomar xε = 2ε , porquanto 1 ε < 2 2 ⇒ 0 < xε < 1 e xε < ε.
0<ε<1 ⇒ 0< 2. Encontre inf K, onde
1 1 1 K = 1, , , · · · , , · · · 2 3 n Sendo n1 > 0, para todo n natural, temos que 0 ´e uma cota inferior de K. Para mostrar que 0 = inf K ´e suficiente exibir um x ∈ K de modo que x < 0 + ε qualquer que seja o ε > 0. Pois bem, dado ε > 0 escolhamos um natural n0 satisfazendo∗ n0 · ε > 1, isto ´e, n1 < ε. Logo x = n1 serve. 0
0
3. Encontre inf K, onde K=
1 1 1 1, , , · · · , 2 , · · · 4 8 n
Sendo n12 > 0, para todo n natural, temos que 0 ´e uma cota inferior de K. Para mostrar que 0 = inf K ´e suficiente exibir um x ∈ K de modo que ∗ Este
natural sempre existe, conforme veremos logo mais.
63
x < 0 + ε qualquer que seja o ε > 0. Pois bem, dado ε > 0 escolhamos um natural n0 satisfazendo n0 · ε > 1, isto ´e, n1 < ε. Observe que este n0 n˜ ao
encerra a quest˜ ao pois x =
1 n0
0
pode n˜ ao pertencer a K. Mas com certeza
n20 serve aos nossos prop´ ositos uma vez que 1 1 ≤ < ε. n20 n0 Proposi¸ c˜ ao 19. Se ν for uma cota inferior de K e ν ∈ K ent˜ ao ν = inf K. Prova: Por defini¸ca˜o de inf K (e tendo em conta que ν ´e uma cota inferior de K) podemos escrever ν ≤ inf K ≤ x, ∀ x ∈ K. Como, por hip´ otese, ν ∈ K temos em particular que ν ≤ inf K ≤ ν, donde ν = inf K. A proposi¸ca˜o que acabamos de provar nos permite obter alguns ´ınfimos a “olho n´ u”. Por exemplo, inf [0, 1[= 0. Porquanto 0 ´e cota inferior de [0, 1[ e pertence a este conjunto. Proposi¸ c˜ ao 20. Se A ⊂ B ⊂ R ent˜ ao, inf B ≤ inf A ≤ sup A ≤ sup B. (supondo-se que estes quatro n´ umeros existam.) Prova: Vamos separar a prova em algumas etapas. 1 a ) inf B ≤ inf A. Suponha o contr´ ario, isto ´e, que inf A < inf B. Como inf A ´e a maior das cotas inferiores de A esta desigualdade implica que inf B n˜ ao ´e uma cota inferior de A logo, por defini¸ca˜o de cota inferior, existe x ∈ A de modo que x < inf B. Como, por hip´otese, A ⊂ B temos que x ∈ B e x < inf B. Isto nos diz que inf B n˜ ao ´e uma cota inferior de B. Piada! 2 a ) inf A ≤ sup A. Pela defini¸ca˜o de sup e inf, para todo x ∈ A temos inf A ≤ x ≤ sup A =⇒ inf A ≤ sup A. 3 a ) sup A ≤ sup B. Suponha, ao contr´ario, que sup B < sup A. Como sup A ´e a menor das cotas superiores de A esta desigualdade implica que sup B n˜ ao ´e cota superior de A; logo existe x ∈ A de modo que x > sup B. Como, por hip´otese, A ⊂ B temos que x ∈ B e x > sup B. Isto nos diz que sup B n˜ ao ´e uma cota superior de B. Piada!
1.3.3
A Propriedade de Completeza
Estudaremos agora a propriedade mais importante do sistema de n´ umeros reais. Ali`as ´e justamente esta propriedade que diferencia este sistema do sistema de n´ umeros racionais. Esta propriedade se constitui no alicerce sobre o qual se constr´oi todo o edif´ıcio da An´alise Real. 64
Axioma do Supremo: “Qualquer subconjunto de R n˜ ao vazio e cotado superiormente tem um supremo”. De posse deste axioma pode-se provar (exerc´ıcio) a seguinte Proposi¸ c˜ ao 21. Qualquer subconjunto de R n˜ ao vazio e cotado inferiormente tem um ´ınfimo. Uma das propriedades mais triviais e, n˜ ao obstante, das mais u ´ teis de toda a matem´atica ´e considerada a seguir A Propriedade Arquimediana Uma importante conseq¨ uˆencia do Axioma do Supremo ´e que o subconjunto N dos n´ umeros naturais n˜ ao ´e cotado superiormente em R. Isto significa, em particular, que dado um real x, existe um n´ umero natural n que ´e maior do que x. Provemos isto: Proposi¸ c˜ ao 22 (Propriedade Arquimediana). Para todo x ∈ R existe um natural n = nx tal que nx > x. Prova: Suponha que a tese n˜ ao se verifica, isto ´e, para todo n natural ocorre n ≤ x. Sendo assim N ´e cotado superiormente. Pelo axioma do supremo existe µ = sup N. Como µ − 1 < µ segue que µ − 1 n˜ ao pode ser cota superior de N. Sendo assim existe um natural n0 satisfazendo n0 > µ − 1, ent˜ ao µ < n0 + 1. Como n0 + 1 ´e natural isto contradiz o fato de ser µ o supremo de N. Corol´ ario 3. Se x, y ∈ R, com x > 0, ent˜ ao (a) Existe n ∈ N de modo que n · x > y; (b) Existe n ∈ N de modo que 0 <
1 < x; n
(c) Existe n ∈ N de modo que n − 1 ≤ x < n. Prova: (a) Pela proposi¸ca˜o 22 existe um n ∈ N de modo que n > y/x, da´ı n · x > y. (b) Ainda pela mesma proposi¸ca˜o existe um n ∈ N de modo que 0 < 1 da´ı 0 < < x. n
1 x
< n,
(c) A propriedade arquimediana nos assegura que existem n´ umeros naturais n tais que x < n. Seja n0 o menor desses n´ umeros naturais∗ . Ent˜ ao n 0 − 1 ≤ x < n0 . O ´ıtem (c) acima, nos diz que todo real positivo situa-se entre dois naturais consecutivos. Como mais uma aplica¸ca˜o da propriedade arquimediana vamos provar a seguinte Proposi¸ c˜ ao 23. Sejam a, b, ε ∈ R. Se ∀ ε > 0, a − ε ≤ b ent˜ ao a ≤ b. ∗ Estamos invocando o Princ´ ıpio da Boa Ordena¸c˜ ao: “Todo subconjunto n˜ ao-vazio de n´ umeros naturais possui um menor elemento”.
65
Prova: A prova ser´a feita segundo a t´ecnica (T − 1) (pg. 23). Assumindo a nega¸ca˜o da tese, vamos mostrar que existe um ε > 0 de modo que a − ε > b. De fato, supondo a > b temos que a − b > 0. Pela propriedade arquimediana existe n0 natural de modo que n1 < a − b. Tomemos ε = n1 . Ent˜ ao 0
ε=
0
1 < a − b ⇒ a − ε > b. n0
o que contradiz a hip´ otese.
Conjuntos Densos Vamos definir agora um importante conceito topol´ogico: Defini¸ c˜ ao 21 (Densidade). Um subconjunto X ⊂ R chama-se denso em R quando todo intervalo aberto ]a, b[ cont´em algum ponto de X. Mostraremos agora que entre dois reais distintos quaisquer existe um racional e um irracional (a bem da verdade, infinitos racionais e infinitos irracionais!), isto ´e, mostraremos que o conjunto Q dos n´ umeros racionais e o conjunto Qc dos n´ umeros irracionais s˜ao ambos densos em R. Proposi¸ c˜ ao 24. Sejam a e b n´ umeros reais, com a < b. (a) Ent˜ ao existe um racional r satisfazendo a < r < b; (b) Se µ ´e um irracional, ent˜ ao existe um racional s tal que o irracional µ · s satisfaz a < µ · s < b. Prova: Sem perda de generalidade vamos supor a > 0 (caso seja a < 0 trabalhamos com −a > 0). (a) Como b − a > 0, existe - pelo corol´ ario 3 (b) - um natural m satisfazendo 0 < 1/m < b − a (⋆). Pelo corol´ ario 3 (c) aplicado a m · a, existe um natural n satisfazendo n−1 ≤m·a< n
⇒
n−1 n ≤a< . m m
A prova estar´ a completa se mostrarmos que n/m < b. De fato, caso fosse n/m ≥ b teriamos a≥
n−1 m
n ≥b m
⇒ ⇒
−a ≤ b≤
1−n m ⇒
n m
b−a≤
1−n 1 n + = . m m m
o que contraria a escolha de m feita em (⋆). (b) Supondo 0 < a < b e µ > 0, decorre a/µ < b/µ. Logo, por (a), existe um racional s de modo que a/µ < s < b/µ. Donde, a < µ · s < b. ´ f´ E acil mostrar que µ · s ´e irracional, assumindo que µ seja irracional e s seja racional. De fato, utilizando a t´ecnica (T − 4) (pg. 24). Fa¸camos 66
H1 :
H2 :
s ´e racional µ ´e irracional
⇒
T:
µ · s ´e irracional.
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Suponha que µ·s seja racional; digamos, µ·s = r. Sendo assim µ = rs resulta racional, por ser o quociente de dois racionais. Para finalizar vamos rever, em uma outra forma por vezes u ´ til, os conceitos de sup e inf:
Defini¸ c˜ ao ( sup e inf ) Dada f : M → R, define-se: µ = sup f (x)
ν = inf f (x) x∈M
x∈M
atrav´es das propriedades: (i) f (x) ≤ µ
f (x) ≥ ν
′
∀ f (x′ ) > ν
(ii) ∀ f (x ) < µ ∃ x0 ∈ M t.q. f (x0 ) > f (x′ )
f (x0 ) < f (x′ )
67
Estruturas Alg´ ebricas Em matem´atica s˜ao freq¨ uentes conjuntos munidos de uma ou mais opera¸co˜es, que gozam de certas propriedades. Esses conjuntos com tais opera¸co˜es e respectivas propriedades constituem aquilo que denominamos estruturas alg´ebricas. A seguir apresentaremos uma destas estruturas:
1.4
Espa¸ cos vetoriais
Vamos introduzir o conceito de espa¸ co vetorial. Os espa¸cos vetoriais con´ stituem os objetos de estudo da Algebra Linear. Para construir um espa¸co vetorial vamos precisar de: (i) um conjunto E 6= ∅; (ii) uma opera¸ca˜o de adi¸ca˜o∗ + : E × E −→ E
(u, v) 7−→ u + v
sobre E × E, satisfazendo as seguintes propriedades: A1) u + v = v + u; ∀ u, v ∈ E (comutativa)
A2) (u + v) + w = u + (v + w); ∀ u, v, w ∈ E (associativa)
A3) Existe em E um elemento neutro para essa adi¸ca˜o o qual ser´a denotado por 0. Ou seja: ∃ 0 ∈ E : u + 0 = 0 + u = u; ∀ u ∈ E.
A4) Para todo elemento u de E existe o oposto para essa adi¸ca˜o o qual ser´a denotado por −u. Ou seja: ∀ u ∈ E, ∃ − u ∈ E : u + (−u) = −u + u = 0. (iii) uma opera¸ca˜o de multiplica¸ca˜o · : R × E −→ E
(λ, v) 7−→ λ · v
sobre R × E, satisfazendo as seguintes propriedades† : M 1)
λ (µ u) = (λ µ) u ;
AM )
(λ + µ)u = λ u + µ u ;
M A)
λ(u + v) = λ u + λ v ;
M 2)
1 u = u.
∀u ∈ E
∀u ∈ E
∀ u, v ∈ E
e e e
∀ λ, µ ∈ R.
∀ λ, µ ∈ R. ∀ λ ∈ R.
∗ A opera¸ ca ˜o de adi¸ca ˜o ´ e a que ocorre com mais freq¨ uˆ encia na teoria dos espa¸cos vetoriais, mas nada impede que a opera¸ca ˜o seja uma outra. † Estamos omitindo o ponto (·) da opera¸ ca ˜o de multiplica¸ca ˜o.
68
Nestas condi¸co˜es dizemos que a tripla ordenada E, +, · ´e um espa¸co vetorial. Os elementos de E agora s˜ao chamados de vetores. Os elementos de R: λ, µ, . . . s˜ao chamados de escalares. Chamamos a aten¸ca˜o para um detalhe na equa¸ca˜o AM ): a opera¸ca˜o (adi¸ca˜o) que aparece no lado esquerdo desta equa¸ca˜o se d´ a entre escalares (n´ umeros, via de regra) enquanto que a opera¸ca˜o (adi¸ca˜o) do lado direito se d´ a entre vetores (´e a opera¸ca˜o definida acima (ii), a qual ali`as nem adi¸ca˜o -usual- precisa ser). A rigor dever´ıamos usar s´ımbolos diferentes para estas opera¸co˜es. Exemplos (de espa¸cos vetoriais) 1. O espa¸co vetorial R, +, · . R, +, · ´e um espa¸co vetorial com a adi¸ca˜o e multiplica¸ca˜o usuais. Observe que Q, +, · e Z, +, · com as opera¸co˜es usuais n˜ ao s˜ao espa¸cos vetoriais. Isto se deve ao fato de que a opera¸ca˜o de multiplica¸ca˜o∗ · : R × Q −→ Q
(λ, v) 7−→ λ · v
n˜ ao est´ a bem definida. Por exemplo, √ √ 2, 3 7−→ 2 · 3 6∈ Q.
2. O espa¸co vetorial R2 , +, · Sobre o conjunto R2 = (x1 , x2 ) : x1 , x2 ∈ R podemos construir um espa¸co vetorial definindo (x1 , x2 ) + (y1 , y2 ) = (x1 + y1 , x2 + y2 ) λ(x1 , x2 ) = (λx1 , λx2 ) Deixamos ao leitor a verifica¸ca˜o de que R2 , +, · ´e de fato um espa¸co vetorial. Observe que 0 = (0, 0) ´e o elemento neutro desta adi¸ca˜o; u = (x1 , x2 ) ⇒ −u = (−x1 , −x2 ) ´e o oposto de u. 3. O espa¸co vetorial Rn , +, · Sobre o conjunto Rn = (x1 , x2 , . . . , xn ) : xi ∈ R podemos construir um espa¸co vetorial definindo (x1 , x2 , . . . , xn ) + (y1 , y2 , . . . , yn ) = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn ) λ(x1 , x2 , . . . , xn ) = (λx1 , λx2 , . . . , λxn ) Deixamos ao leitor a verifica¸ca˜o de que Rn , +, · ´e de fato um espa¸co vetorial. Observe que 0 = (0, 0, . . . , 0) ´e o elemento neutro desta adi¸ca˜o; u = (x1 , x2 , . . . , xn ) ⇒ −u = (−x1 , −x2 , . . . , −xn ) ∗ Ver
´ıtem (iii), pg. 68.
69
4. O espa¸co C[a, b], +, · .
Seja C[a, b] o conjunto das fun¸co˜es reais cont´ınuas definidas no intervalo fechado [a, b]. Isto ´e C[a, b] =
n
o f : [a, b] −→ R / f cont´ınua
Sobre este conjunto construimos um espaco vetorial assim: dados f, g ∈ C[a, b] e λ ∈ R definimos (f + g)(t) = f (t) + g(t), λf (t) = λf (t),
∀ t ∈ [a, b]
∀ t ∈ [a, b]
O C´ alculo nos assegura que ao ´e dif´ıcil f + g e λf s˜ao fun¸co˜es cont´ınuas. N˜ verificar que C[a, b], +, · ´e um espa¸co vetorial. Observamos que a fun¸ca˜o nula 0 : [a, b] −→ R t 7−→ 0
isto ´e, f (t) = 0, ∀ t ∈ [a, b] ´e o elemento neutro desta adi¸ca˜o. Dado f ∈ C[a, b] a fun¸ca˜o −f dada por (−f )(t) = −f (t), ∀ t ∈ [a, b] ´e tal que −f + f = 0 e f + (−f ) = 0. Isto ´e, −f ´e o oposto aditivo de f . Observe que somente dentro deste contexto ´e que uma fun¸ca˜o recebe a denomina¸ca˜o de vetor. 5. O espa¸co Mm×n (R), +, ·
Seja Mm×n (R) o conjunto das matrizes de ordem m por n com entradas (elementos) reais. Sobre este conjunto construimos um espa¸co vetorial assim: dados A = (aij ) e B = (bij ) matrizes m × n e λ ∈ R definimos a11 + b11 a12 + b12 · · · a1n + b1n a21 + b21 a22 + b22 · · · a2n + b2n A+B= ....................................... am1 + bm1 am2 + bm2 · · · amn + bmn
λa11 λa12 · · · λa1n λa21 λa22 · · · λa2n λ·A= ........................ λam1 λam2 · · · λamn N˜ ao ´e dif´ıcil a verifica¸ca˜o de que Mm×n (R), +, · ´e um espa¸co vetorial. S´ o observamos que 0 0 ··· 0 0 0 ··· 0 0= ............. 0 0 ··· 0 70
´e o elemento neutro para esta adi¸ca˜o e que −a11 −a12 · · · −a1n −a21 −a22 · · · −a2n −A = .......................... −am1 −am2 · · · −amn
´e o oposto aditivo da matriz A. Observe que somente dentro deste contexto ´e que uma matriz recebe a denomina¸ca˜o de vetor. 6. O espa¸co Pn (R), +, ·
Indicaremos por Pn (R) o conjunto dos polinˆomios com coeficientes reais de grau ≤ n, mais o polinˆomio nulo. Da teoria dos polinˆomios sabemos que f, g ∈ Pn (R)
a)
λ ∈ R, f ∈ Pn (R)
b)
⇒
⇒
f + g ∈ Pn (R); λ · f ∈ Pn (R).
Das propriedades destas opera¸co˜es concluimos que Pn (R), +, · ´e um espa¸co vetorial. Dentro deste contexto ´e que um polinˆomio passa a ser um vetor. 7. O espa¸co ℓ2 , +, ·
Consideremos agora ℓ2 das seq¨ uˆencias de n´ umeros reais P∞o conjunto 2 (xn ) tais que a s´erie n=1 xn seja convergente, isto ´e 2
ℓ =
(
(xn )n∈N ; xn ∈ R :
∞ X
n=1
2
)
xn < ∞
Por exemplo, sendo 1 1 1 1 √ √ √ √ , ,... = 1, xn = , n 2 3 4 1 1 1 1 yn = = 1, , , , . . . n 2 4 4 1 1 1 1, , , ,... 4 9 16 P∞ 2 Temos que (xn ) 6∈ ℓP porquanto n=1 n1 diverge, enquanto yn , zn ∈ ℓ2 ∞ devido a que a s´erie n=1 n1p para p > 1 converge. Tamb´em pertencem a ℓ2 todas as seq¨ uˆencias da forma zn =
1 n2
=
xn = (x1 , x2 , . . . , xk , 0, 0, 0, . . .); isto ´e, com termos nulos a partir de um certo ´ındice k. 71
Sobre o conjunto ℓ2 construimos um espaco vetorial assim: dados (xn ), (yn ) ∈ ℓ e λ ∈ R definimos 2
(xn ) + (yn ) = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . .) λ · (xn ) = (λ x1 , λ x2 , . . .) No apˆendice (pg. 80) mostramos que estas opera¸co˜es est˜ ao bem definidas, isto ´e que (xn ) + (yn ) ∈ ℓ2 e λ · (xn ) ∈ ℓ2 . podemos mostrar ainda que ℓ2 , +, · ´e um espa¸co vetorial. Para referˆencias futuras, destacaremos aqui o seguinte subconjunto de ℓ2 : C0 0 =conjunto das seq¨ uˆencias reais que s´o possuem uma quantidade finita de termos n˜ ao nulos. Temos que x = (x1 , x2 , x3 , . . . , xn , . . .) ∈ C0 0
se e, somente se, existe um ´ındice k = kx natural, de modo que xm = 0 para todo m > k. Ou ainda: uma seq¨ uˆencia pertence a C0 0 se, e somente se, todos os seus termos s˜ao nulos a partir de uma certa ordem. Observe que C0 0 , +, · ´e um espa¸co vetorial. Dizemos, um subespa¸co vetorial de ℓ2 , +, · .
1.4.1
Norma/Espa¸cos Vetoriais Normados
Seja E, +, · um espa¸co vetorial. Uma norma sobre este espa¸co ´e qualquer fun¸ca˜o real k · k : E −→ R
que associa a cada vetor u ∈ E o n´ umero real kuk, chamado a norma de u, desde que sejam satisfeitas as condi¸co˜es seguintes: N1 ) Se u 6= 0 ent˜ ao kuk 6= 0; N2 ) kλ · uk = |λ| · kuk,
∀ λ ∈ R e ∀ u ∈ E;
N3 ) ku + vk ≤ kuk + kvk, ∀ u, v ∈ E.
Observe que quando tomamos λ = 0 em N2 ) resulta k0 · uk = |0| · kuk ⇒ k0 · uk = k0k = 0
tomando λ = −1 nesta mesma igualdade obtemos k − uk = kuk. Por outro lado tomando v = −u em N3 ) resulta k0k = 0 ≤ kuk + k − uk = 2kuk da´ı kuk ≥ 0 para todo u ∈ E. Disto resulta que kuk > 0 ⇔ u 6= 0. Um espa¸co vetorial munido de uma norma ´e o que entendemos por um espa¸co vetorial normado. Ao acrescentarmos uma norma sobre um espa¸co vetorial, estamos enriquecendo esta estrutura. Por exemplo, em fun¸ca˜o da norma, podemos definir a ˆngulo e distˆ ancia entre vetores, no que resulta uma estrutura assaz enriquecida. Exemplos (de espa¸cos vetoriais normados): 72
1. Sobre o espa¸co vetorial R, +, · . A aplica¸ca˜o | · | : R −→ R
x 7−→ |x|
´e uma norma sobre o espa¸co R, +, · , porquanto a fun¸ca˜o m´odulo satisfaz todas as condi¸co˜es exigidas para uma norma. Ver proposi¸ca˜o 16 (pg. 54) ´ıtens (a) e (c) e proposi¸ca˜o 17 (pg. 55). Observamos, an passant, que norma e m´odulo n˜ ao s˜ao a mesma coisa, isto ´e, s˜ao conceitos distintos. De fato, a norma ´e definida no contexto de espa¸cos vetoriais, portanto s´o tem sentido falar de norma de um vetor. Por exemplo, se tivermos trabalhando no ao o m´odulo n˜ ao conjunto Q ou Z ent˜ ´e uma norma uma vez que Q, +, · e Z, +, · n˜ ao s˜ao espa¸cos vetoriais.
2. Sobre o espa¸co vetorial Rn , +, · consideremos as aplica¸co˜es x = (x1 , x2 , . . . , xn ) 7−→kxk =
q x21 + x22 + · · · + x2n
x = (x1 , x2 , . . . , xn ) 7−→kxk = |x1 | + |x2 | + · · · + |xn | x = (x1 , x2 , . . . , xn ) 7−→kxk = max |x1 |, |x2 |, . . . , |xn |
Aqui temos trˆes exemplos de norma sobre o espa¸co vetorial Rn , +, · . O leitor pode mostrar que as condi¸co˜es da defini¸ca˜o de norma s˜ao satisfeitas. 3. Normas sobre o espa¸co C[a, b], +, · . A aplica¸ca˜o k · k : C[a, b] −→ R definida por kf k = max |f (x)| : x ∈ [a, b]
´e uma norma sobre o espa¸co C[a, b], +, · . Isto est´ a demonstrado no apˆendice (pg. 81). Por exemplo consideremos a fun¸ca˜o (vetor): f : [−1, 1] −→ R
x 7−→ x2 + 1
temos −1 ≤ x ≤ 1 ⇒ 0 ≤ |x| ≤ 1 ⇒ 1 ≤ x2 + 1 ≤ 2
Geometricamente temos
⇒ 1 ≤ f (x) ≤ 2 ⇒ kf k = max |f (x)| : − 1 ≤ x ≤ 1 = 2. 73
f (x)
r
2
6
ւ q
kf k
r
1q
p −1
p 1
0
-x
A aplica¸ca˜o k · k : C[a, b] −→ R definida por kf k =
Z
b a
|f (x)| dx
´e uma outra norma sobre o espa¸co C[a, b], +, · . Isto est´ a demonstrado no apˆendice (pg. 82). Por exemplo consideremos a fun¸ca˜o (vetor): f : [−1, 1] −→ R
x 7−→ x2 + 1
temos kf k =
Z
1
−1
|x2 + 1| dx =
8 3
Esta norma ´e dada pela ´area sob o gr´afico da fun¸ca˜o: f (x)
r
2
6
q
r
1q kf k p −1
0
74
p 1
-x
1.4.2
Espa¸cos Vetoriais com Produto Interno
Seja E, +, · um espa¸co vetorial. Um produto interno sobre este espa¸co ´e qualquer fun¸ca˜o real h · , ·i : E × E −→ R que associa a cada par ordenado de vetores (u, v) ∈ E × E o n´ umero real hu, vi, chamado o produto interno de u por v, desde que sejam satisfeitas as condi¸co˜es seguintes: P1 ) P2 ) P3 ) P4 )
hu + v, wi = hu, wi + hv, wi,
hλ u, vi = λ · hu, vi,
hu, vi = hv, ui,
∀ u, v, w ∈ E;
∀ u, v ∈ E e ∀ λ ∈ R; ∀ u, v ∈ E;
u 6= 0 ⇒ hu, ui > 0.
Um espa¸co vetorial munido de um produto interno chama-se espa¸co vetorial com produto interno. Como corol´ ario das condi¸co˜es anteriores, obtemos: hu, v + wi = hu, vi + hu, wi; hu, λvi = λhu, vi; h0, vi = 0.
Mostremos a primeira identidade acima: P3
P1
P3
hu, v + wi = hv + w, ui = hv, ui + hw, ui = hu, vi + hu, wi. Ao acrescentarmos um produto interno sobre um espa¸co vetorial estamos enriquecendo esta estrutura. Por exemplo, em fun¸ca˜o do produto interno, podemos definir a ˆngulo e distˆ ancia entre vetores, no que resulta uma estrutura assaz enriquecida.
Norma Proveniente de Produto Interno O nosso objetivo agora ´e mostrar que, a partir de um produto interno, podemos obter uma norma. O que vai nos guiar em nosso objetivo ´e a seguinte exigˆencia: kλ · uk = |λ| · kuk,
∀ λ ∈ R e ∀ u ∈ E.
Em fun¸ca˜o disto consideremos a equa¸ca˜o hλu, λui = λ2 · hu, ui
(1.4)
A fim de satisfazer a exigˆencia mencionada vamos tomar a raiz quadrada nesta equa¸ca˜o: p p p hλu, λui = λ2 · hu, ui = |λ| · hu, ui Se definirmos
kuk =
p hu, ui
75
(1.5)
Teremos p hλu, λui p = λ2 · hu, ui p = |λ| hu, ui
kλ · uk =
= |λ| kuk
De imediato observamos que N1 ) e N2 ) (pg. 72) est˜ ao satisfeitas. Para provar N3 ) necessitamos da Desigualdade de Cauchy-Schwarz num espa¸co com produto interno que ´e a seguinte: hu, vi ≤ kuk kvk, ∀ u, v ∈ E. A prova desta desigualdade no caso particular em que u = 0 ou v = 0 ´e imediata. Se ambos estes vetores s˜ao n˜ ao nulos, ent˜ ao, para qualquer λ ∈ R, resulta: 0 ≤ ku + λvk2 = hu + λv, u + λvi
= hu, u + λvi + hλv, u + λvi = hu, ui + hu, λvi + hλv, ui + hλv, λvi = kuk2 + 2λhu, vi + kvk2 λ2 = kvk2 λ2 + 2 hu, viλ + kuk2 Aqui temos um trinˆomio do segundo grau em λ cujo valor ´e sempre n˜ ao negativo; no que resulta 2 ∆ = 2 hu, vi − 4kvk2 kuk2 ≤ 0 Logo
hu, vi2 ≤ kuk2 kvk2 ⇒ hu, vi ≤ kuk kvk.
Agora estamos habilitados a provar N3 ). Dados u, v ∈ E, temos: ku + vk2 = hu + v, u + vi
= hu, ui + hu, vi + hv, ui + hv, vi = kuk2 + 2hu, vi + kvk2 ≤ kuk2 + 2kuk kvk + kvk2 2 = kuk + kvk
Donde: ku + vk ≤ kuk + kvk. Sendo assim todo espa¸co vetorial com produto interno ´e tamb´em um espa¸co vetorial normado. Veremos oportunamente que a rec´ıproca deste fato n˜ ao vale. Exemplos (de espa¸cos vetoriais com produto interno) 1. Produto interno usual do espa¸co Rn , +, · Se u = (x1 , x2 , . . . , xn ) e v = (y1 , y2 , . . . , yn ) s˜ao vetores do espa¸co Rn , +, · , a aplica¸ca˜o (u, v) 7−→ hu, vi = x1 y1 + x2 y2 + · · · + xn yn . 76
´e um produto interno neste espa¸co (exerc´ıcio). Observe que v v u n n n u X X u uX t 2 xi yi ≤ |hu, vi| ≤ kuk kvk ⇒ xi · t yi2 i=1
i=1
i=1
n
que ´e a desigualdade de Cauchy-Schwarz no R . 2. Um produto interno sobre o espa¸co C[a, b], +, · . A aplica¸ca˜o Z b (f, g) 7−→ hf, gi = f (x) g(x) dx a
´e produto interno sobre o espa¸co C[a, b], +, · (Exerc´ıcio). 3. Um produto interno sobre o espa¸co ℓ2 , +, · . No apˆ endice (pg. 80) mostramos que se (xn ) e (yn ) s˜ao elementos de P ℓ2 ent˜ ao ∞ e um n´ umero real (isto ´e, esta s´erie ´e convergente). n=1 xn yn ´ Isto nos autoriza definir a aplica¸ca˜o h , i : ℓ × ℓ −→ R dada por
∞ X (xn ), (yn ) 7−→ xn yn n=1
que ´e um produto interno no espa¸co ℓ2 , +, · (Exerc´ıcio/sugest˜ao: ver [AR] 4, pg. 57). 4. Um produto interno sobre o espa¸co C0 0 , +, · . A mesma aplica¸ca˜o anterior ´e um produto interno no espa¸co C0 0 , +, · .
Segmento de reta em espa¸cos vetoriais Segmento de reta no espa¸ co Rn , +, ·
Consideremos a = (a1 , . . . , an ) e b = (b1 , . . . , bn ) dois pontos no Rn . Definimos segmento de reta de extremos a e b como sendo o conjunto [a, b] = x = (1 − t)a + t b ∈ Rn : t ∈ [0, 1] . Observe que
t=0 t=1
⇒ ⇒
x = (1 − 0)a + 0 b = a x = (1 − 1)a + 1 b = b
Exemplos: (i) n = 2. Sejam a = (0, 0) e b = (1, 1). Temos [a, b] = x = (1 − t)a + t b ∈ Rn : t ∈ [0, 1]
(0, 0); (1, 1) = x = (1 − t)(0, 0) + t (1, 1) ∈ R2 : t ∈ [0, 1] = x = (t, t) ∈ R2 : t ∈ [0, 1] 77
y
6
q"
b
1
q
a (0,0)
(1,1)
տ
q
[a,b]
-x
q1
Figura 1.2: Segmento de reta de extremos (0, 0) e (1, 1). (ii) n = 3. Sejam a = (0, 1, 1) e b = (1, 0, 1). Temos [a, b] = x = (1 − t)a + t b ∈ Rn : t ∈ [0, 1]
(0, 1, 1); (1, 0, 1) = x = (1 − t)(0, 1, 1) + t (1, 0, 1) ∈ R2 : t ∈ [0, 1] = x = (t, 1 − t, 1) ∈ R2 : t ∈ [0, 1] z
6
q"
b
1
q
(1,0,1)
#q
a
(0,1,1)
q1
-x
1− y
Figura 1.3: Segmento de reta de extremos (0, 1, 1) e (1, 0, 1).
Segmento de reta em Espa¸ cos Quaisquer A defini¸ca˜o anterior para segmento de reta no espa¸co Rn , +, · se estende sem dificuldade para um espa¸co vetorial E, +, · arbitr´ario: Dados a, b ∈ E o segmento de reta de extremos a e b, que se indica por [a, b] ´e o seguinte subconjunto de E: [a, b] = x = (1 − t)a + t b ∈ E : 0 ≤ t ≤ 1 .
78
Exemplos: (i) Seja M2 (R), +, · o espa¸co vetorial no qual M2 ´e o conjunto da matrizes quadradas de ordem 2 com elementos reais. Fa¸ca um esbo¸co do segmento de reta de extremos 2 1 0 −2 a= e b= . 3 0 3 4 Ent˜ ao 2 1 0 −2 [a, b] = x = (1 − t) +t ∈ M2 : t ∈ [0, 1] 3 0 3 4 Atribuindo alguns valores a t, obtemos s ↑ 2 1 3 0
t= 12
t=0
2 6 6 4
3
2
7 7 5
6 6 4
s ↑ 1 − 21 3 2
s ↑ 0 −2 3 4 t=1
3 7 7 5
2 6 6 4
3 7 7 5
(ii) Seja C[a, b] o conjunto das fun¸co˜es reais cont´ınuas definidas no intervalo fechado [a, b]. Consideremos o espa¸co vetorial constru´ıdo sobre este conjunto. Fa¸ca um esbo¸co do segmento de reta de extremos X
a : [a, b] −→ R x 7−→ 2x+4 Ent˜ ao [a, b] =
b : [a, b] −→ R x 7−→ 4x2 +6
x = (1 − t)a + t b ∈ C : t ∈ [a, b] .
Atribuindo alguns valores a t, obtemos s ↑ a : [a, b] −→ R x 7−→ 2x+4 t=0
t= 12
s ↑ x : [a, b] −→ R x 7−→ 2x2 +x+5
s ↑ b : [a, b] −→ R x 7−→ 4x2 +6 t=1
Observe que, para t = 12 , obtemos:
Logo,
x = (1 − t)a + t b 1 1 1 1 a + b = a + b. = 1− 2 2 2 2 1 1 1 1 a(x) + b(x) = (2x + 4) + (4x2 + 6) 2 2 2 2 = x + 2 + 2x2 + 3 = 2x2 + x + 5.
Portanto, x1 : [a, b] −→ R 2 x 7−→ 2x2 +x+5 79
Apˆ endice: 1. Prova de que a soma e o produto em ℓ2 , +, · est˜ ao bem definidas (pg. 71). De fato, dado (xn ) ∈ ℓ2 temos ∞ X
n=1
λ · xn
2
=
∞ X
n=1
= λ2 ·
λ2 · x2n ∞ X
x2n ,
n=1
P∞
como, por hip´ otese, n=1 x2n ´e um n´ umero real (isto ´e, converge) segue que 2 P∞ tamb´em ´e convergente. Isto ´e, n=1 λ · xn se (xn ) ∈ ℓ2 ⇒ λ · (xn ) ∈ ℓ2 .
ver: [AR] 4, pg. 57. Vamos agora mostrar que a soma est´ a bem definida. Sejam (xn ) e (yn ) elementos de ℓ2 . Ent˜ ao ∞ X
xn + yn
n=1
2
= =
∞ X
n=1 ∞ X
x2n + 2xn yn + yn2 x2n +
n=1
∞ X
yn2 + 2
n=1
∞ X
xn yn .
n=1
P∞ P∞ 2 2 Como, por hip´ otese, n=1 xn < ∞ e n=1 P∞yn < ∞ por serem (xn ) e (yn ) elementos de ℓ2 , resta mostrar que n=1 xn yn < ∞ para termos 2 P∞ < ∞. n=1 xn + yn A desigualdade de Cauchy-Schwarz no Rk (pg. 77) que ´e v v u k u k k uX X X u t x y ≤ x2n · t yn2 n n n=1
n=1
n=1
juntamente com a desigualdade triangular∗ nos fornece v v k u k u k k X X uX u X t 2 xn · t yn2 xn yn ≤ xn yn ≤ n=1
n=1
n=1
n=1
Fazendo k −→ ∞ nesta desigualdade, obtemos v v u∞ ∞ ∞ X u X uX u 2 t xn yn ≤ xn · t yn2 < ∞. n=1
n=1
n=1
P∞ Daqui concluimos que se (xn ) e (yn ) s˜ao elementos de ℓ2 ent˜ ao n=1 xn yn ´e um n´ umero real. Ou ainda: (xn ) + (yn ) ´e um elemento de ℓ2 . ∗ Desigualdade
generalizada: |x1 y1 + · · · + xk yk | ≤ |x1 y1 | + · · · + |xk yk |.
80
2. Prova de que a aplica¸ca˜o dada por kf k = max |f (x)| : x ∈ [a, b] ´e uma norma sobre o espa¸co vetorial C[a, b], +, · .
N1 ) Se f 6= 0 ent˜ ao f (x) 6= 0 para algum x ∈ [a, b], logo kf k = max |f (x)| : x ∈ [a, b] 6= 0; N2 ) Seja agora λ ∈ R. Ent˜ ao,
kλf k = max |λ f (x)| : x ∈ [a, b] = max |λ| · |f (x)| : x ∈ [a, b] = |λ| · max |f (x)| : x ∈ [a, b] = |λ| · kf k; N3 ) Sejam f e g fun¸co˜es em C[a, b], +, · . Devemos mostrar que kf + gk ≤ kf k + kgk
isto ´e, max |f (x) + g(x)| : x ∈ [a, b] ≤ max |f (x)| : x ∈ [a, b] + max |g(x)| : x ∈ [a, b]
Pelo teorema [AR] 1 (pg. 57): ∃ x1 ∈ [a, b] :
x∈[a, b]
max |f (x) + g(x)| = |f (x1 ) + g(x1 )|
(1.6)
∃ x2 ∈ [a, b] :
x∈[a, b]
max |f (x)| = |f (x2 )|
(1.7)
∃ x3 ∈ [a, b] :
x∈[a, b]
max |g(x)| = |g(x3 )|
(1.8)
sendo assim devemos mostrar que |f (x1 ) + g(x1 )| ≤ |f (x2 )| + |g(x3 )| De (1.7) temos |f (x1 )| ≤ |f (x2 )|
(1.9)
|g(x1 )| ≤ |g(x3 )|
(1.10)
|f (x1 )| + |g(x1 )| ≤ |f (x2 )| + |g(x3 )|
(1.11)
De (1.8) temos Logo, Por outro lado, temos |f (x1 ) + g(x1 )| ≤ |f (x1 )| + |g(x1 )| De (1.11) resulta: |f (x1 ) + g(x1 )| ≤ |f (x2 )| + |g(x3 )| 81
2. Prova de que a aplica¸ca˜o dada por kf k =
Z
b
|f (x)| dx
a
´e uma norma sobre o espa¸co vetorial C[a, b], +, · .
N1 ) Se f 6= 0 ent˜ ao f (x) 6= 0 para algum x ∈ [a, b], logo kf k =
Z
a
b
|f (x)| dx 6= 0;
Ver teorema [AR] 9 (pg. 57). N2 ) Seja agora λ ∈ R. Ent˜ ao, kλf k =
Z
b
a
= |λ|
|λf (x)| dx Z
b a
|f (x)| dx = |λ| · kf k;
N3 ) Sejam f e g fun¸co˜es em C[a, b], +, · . Devemos mostrar que kf + gk ≤ kf k + kgk
ent˜ ao, Z
b
kf + gk =
Z
b
≤
a
a
f + g (x) dx = f (x) dx +
Z
a
b
Z
a
b
f (x) + g(x) dx
g(x) dx = kf k + kgk.
Ver teorema [AR] 8 (pg. 57) + desigualdade △.
82
Cap´ıtulo
2
´ ESPAC ¸ OS METRICOS “A abstra¸ca˜o desobstrui o esp´ırito, o torna mais leve e dinˆ amico.” (Gaston Bachelard)
2.1
Introdu¸ c˜ ao
Na teoria dos espa¸cos m´etricos busca-se a generaliza¸ca˜o de alguns dos conceitos estudados no C´ alculo e na An´alise Real, especialmente aqueles onde intervˆem a no¸ca˜o de distˆancia (conceitos topol´ogicos). Esta generaliza¸ca˜o ser´a suficientemente ampla para se aplicar a qualquer conjunto. Como veremos, podemos calcular a distˆancia entre dois elementos de quaisquer conjuntos, n˜ ao importando a natureza destes elementos. A defini¸ca˜o de espa¸cos m´etricos dada a seguir ´e uma abstra¸ca˜o fundamentada, quase que totalmente, na experiˆencia com os n´ umeros reais. Mas esta defini¸ca˜o ´e suficientemente flex´ıvel para incluir uma grande variedade de espa¸cos m´etricos, como teremos oportunidade de constatar. Antes de apresentarmos a defini¸ca˜o de espa¸co m´etrico, lembramos ao leitor que a matem´atica assemelha-se aos jogos nos quais as regras s˜ao arbitradas. Por exemplo, as regras do xadrez, futebol, voleybol, etc. s˜ ao conven¸co˜es e como tal podem ser questionadas e at´e n˜ ao aceitas. Acontece que aquele que n˜ ao aceitar as regras do jogo, por uma quest˜ ao de coerˆencia, deve ficar de fora da “brincadeira”. A cita¸ca˜o a seguir ajudar´ a o leitor a enxergar com mais naturalidade a defini¸ca˜o de espa¸cos m´etricos, dada logo mais: “Uma das contribui¸co ˜es definitivas do s´eculo dezenove foi o reconhecimento de que a matem´ atica n˜ ao ´e uma ciˆencia natural, mas uma cria¸ca ˜o intelectual do homem. Bertrand Russel escreveu no International Monthly em 1901: ‘O s´eculo dezenove, que se orgulha da inven¸ca ˜o do vapor e da evolu¸ca ˜o, poderia derivar um t´ıtulo mais leg´ıtimo a ` fama da descoberta da matem´ atica pura.’ Pelo fim do s´eculo era geralmente reconhecido mesmo por n˜ ao-matem´ aticos que a matem´ atica ´e pensamento postulacional, em que de premissas arbitr´ arias s˜ ao tiradas conclus˜ oes v´ alidas. Que os postulados sejam ou n˜ ao verdadeiros num sentido cient´ıfico ´e indiferente”. (Extra´ıdo do Livro: “Curso Moderno de Filosofia”/Por Denis Huisman e Andr´e Vergez/Biblioteca Universit´aria Freitas Bastos) 83
Quanto ao papel desempenhado pelos axiomas em um sistema axiom´atico, como o que estaremos a considerar, vejamos a seguinte cita¸ca˜o∗ : Sendo os axiomas considerados n˜ ao mais como evidˆencias, mas simples conven¸co ˜es operat´ orias contingentes, as proposi¸co ˜es deles deduzidas, por sua vez, perdem o car´ ater de verdades absolutas. A soma dos a ˆngulos de um triˆ angulo ´e igual a dois retos? Sim, caso adotemos o axioma (ou postulado) euclidiano das paralelas; n˜ ao, caso adotemos axiomas n˜ ao-euclidianos. Como bem afirma Blanch´e: “N˜ ao h´ a mais, para os teoremas, verdade separada e, por assim dizer, atˆ omica: sua verdade ´e apenas sua integra¸ca ˜o no sistema; e ´e por isso que teoremas incompat´ıveis entre si podem ser igualmente verdadeiros, contanto que os relacionemos com sistemas diferentes. Os pr´ oprios axiomas n˜ ao s˜ ao nem verdadeiros nem falsos.” (Extra´ıdo do Livro: “Curso Moderno de Filosofia”/Por Denis Huisman e Andr´e Vergez/Biblioteca Universit´aria Freitas Bastos) Ainda da mesma obra vejamos o que se tem a dizer com respeito `as defini¸co˜es matem´aticas: As defini¸co ˜es matem´ aticas parecem opor-se radicalmente a `s defini¸co ˜es emp´ıricas porque os seres matem´ aticos n˜ ao s˜ ao objetos que se descubram na natureza. ˜es emp´ıricas, no fundo, s˜ ao simples descri¸co ˜es de coisas j´ a existentes As defini¸co . . . . O naturalista que define o p´ assaro, n˜ ao o cria: descobre-o. Contraria˜o do c´ırculo mente, o c´ırculo n˜ ao designa um objeto existente, mas ´e a defini¸ca que o cria. Tamb´em poder´ıamos dizer que “se a defini¸ca ˜o emp´ırica n˜ ao passa de uma c´ opia, a defini¸ca ˜o matem´ atica ´e um modelo”. A defini¸ca ˜o matem´ atica n˜ ao ´e descritiva ´e criadora. A rela¸ca ˜o entre o matem´ atico e os seres matem´ aticos ´e a mesma existente entre um deus e suas criaturas. A defini¸ca ˜o matem´ atica ´e uma regra operat´ oria. N˜ ao ´e mesmo necess´ ario que alguma coisa de concreto lhe corresponda (cf. o n´ umero negativo, os “imagin´ arios”), basta, como diz Le Roy, que o conceito por ela proposto “forne¸ca ao esp´ırito mat´eria de exerc´ıcio efetivo e operat´ orio”.
2.2
Medindo distˆ ancias
Dados dois pontos em um plano, como na figura a seguir, A
•
B
•
a matem´atica admite n˜ ao apenas uma mas v´ arias maneiras de se medir a distˆ ancia entre estes dois pontos.
A distˆancia (m´etrica) do “t´axi” Aqui tentaremos convencer o leitor de que, dados dois pontos, surgem de maneira natural diferentes modos de se medir a distˆancia entre estes pontos. De outro modo: em matem´atica (e tamb´em na f´ısica) n˜ ao existe uma u ´ nica maneira ∗ Esta cita¸ ca ˜o tamb´ em tem por objetivo “confortar” o leitor, em alguns momentos de “crise existencial” , pelos quais este certamente vir´ a a passar ao longo do nosso estudo.
84
de se medir distˆancias. Em outras palavras, a r´egua vendida em nossas livrarias, ou as trenas vendidas em nosso com´ercio n˜ ao s˜ao os u ´ nicos instrumentos de axi. Suponhamos medida. Vejamos um exemplo trivial do nosso dia a dia: o t´ que algu´em queira se deslocar (em um t´ axi) do ponto A ao ponto B - separados por uma esquina - e que o ponto B esteja a uma distˆancia de quatro unidades para a direita e trˆes unidades abaixo do ponto A, assim: A
A
•
4
•
ր
3
5
•B
•B
Pois bem, existem duas distˆancias entre os pontos A e B: a que ´e mais conveniente (e justa) para o taxista, 4 + 3 = 7; e a que seria mais conveniente para o passageiro: 5. A m´etrica (medida) do t´ axi ´e tamb´em conhecida em matem´atica como m´etrica da soma. A outra distˆancia (5) ´e conhecida como distˆancia usual ou euclidiana. • N~ ao existe uma dist^ ancia mais ou menos verdadeira que outra A estas alturas uma pergunta ingˆenua, todavia pertinente, seria: Em existindo mais que uma distˆ ancia entre dois pontos, qual a verdadeira? Vamos responder esta pergunta de um modo que o leitor sinta na pele, por assim dizer, nosso argumento. Suponhamos que vocˆe deseja se deslocar, em seu local de trabalho, do pr´edio A para o pr´edio B e que entre ambos existem dois caminhos dispon´ıveis, assim:
−→
B
ր
A
Ao chegar “no atalho” (bifurca¸ca˜o), vocˆe percebe que o caminho mais curto (linha reta) encontra-se sob um sol causticante e que o outro caminho encontrase `a sombra. Qual dos dois caminhos (distˆ ancias) escolher? Perceba aqui que o caminho (distˆ ancia) deve ser escolhido segundo um crit´erio particular (pessoal); nenhum ´e mais, ou menos, “verdadeiro” que o outro, apenas mais conveniente segundo um dado crit´erio. Por exemplo, se o 85
leitor tem tempo de sobra e n˜ ao quer suar, deve escolher o caminho mais longo; por outro lado, se tem pressa e n˜ ao se importa com o calor o caminho mais curto (euclidiano, “usual”) deve ser o escolhido. Do ponto de vista da matem´atica, isto ´e, da l´ogica, todas as m´etricas gozam do mesmo status. O que acontece ´e que a m´etrica (trena) usual ´e a mais conveniente para, por exemplo: o pedreiro, o carpinteiro, para o engenheiro civil, etc., porque esta ´e suficiente para resolver todos os seus problemas de medida. J´a para o matem´atico e o f´ısico, estes profissionais tˆem necessidade − em seus trabalhos − de “outras r´eguas”, as quais n˜ ao se encontram no com´ercio, pois s˜ao, por assim dizer, abstratas. A prop´ osito, acontece − no que diz respeito `as m´etricas − o mesmo que ocorre no ˆ ambito das geometrias euclidiana e n˜ ao-euclidianas. A de Euclides n˜ ao ´e nem mais nem menos verdadeira que as outras; pode ou n˜ ao ser a mais conveniente a determinados prop´ ositos; por exemplo, Einstein ao formular sua Teoria da Relatividade (Gravita¸ca˜o) preferiu optar por uma das geometrias n˜ aoeuclidianas (optou pela geometria riemanniana). Por exemplo, para provar (oportunamente) que os matem´aticos equivocaramse quanto ao significado da igualdade 0, 999 . . . = 1, utilizaremos uma m´etrica que n˜ ao ´e a euclidiana, esta n˜ ao serviria a esse prop´ osito. Quais s˜ao as exigˆencias que determinada “r´egua” deve satisfazer para que, de fato, seja considerada uma distˆancia? Todos os matem´aticos est˜ ao de acordo com a seguinte:
2.3
Defini¸ c˜ ao de espa¸cos m´ etricos
Defini¸ c˜ ao 22 (Espa¸co M´etrico). Seja M 6= ∅ um conjunto qualquer. Consi˜o d : M × M −→ R, que associa a cada par ordenado deremos uma aplica¸ca (x, y) ∈ M × M um n´ umero real d(x, y) satisfazendo as seguintes condi¸co ˜es (para quaisquer x, y e z em M ): (M1 ) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y ; (M2 ) d(x, y) = d(y, x) ; (M3 ) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y). Nestas condi¸co ˜es dizemos que d ´e uma m´etrica sobre M e que d(x, y) ´e a distˆ ancia do elemento x ao elemento y. Podemos dizer tamb´em que uma aplica¸ca ˜o d : M × M −→ R satisfazendo as condi¸co ˜es anteriores adquire status de m´etrica. O par (M, d) ´e o que entendemos por espa¸co m´etrico. Nota: Chamamos a aten¸ca˜o do leitor para o fato de que espa¸co m´etrico ´e ao um conjunto, tanto ´e que o mesmo conjunto munido uma “estrutura” e n˜ com m´etricas distintas d´ a origem a espa¸cos m´etricos distintos. Doravante cada elemento de um espa¸co m´etrico ser´a referido como ponto desse espa¸co, independentemente de sua natureza. A exigˆencia feita em (M1 ) ´e bastante intuitiva: uma distˆancia nunca ´e negativa; se a distˆancia entre dois pontos ´e nula ent˜ ao, obrigatoriamente, estes 86
pontos s˜ao o mesmo (s˜ ao iguais), e; reciprocamente: a distˆancia de um ponto para si mesmo deve ser nula. A exigˆencia feita em (M2 ), tamb´em assaz intuitiva, foi tomada de empr´estimo do dito popular que todos conhecemos: “fulano!! vem c´ a! E o fulano responde: vem c´ a t´ u, pois a distˆancia daqui pr´a l´a, ´e a mesma de l´a pr´a c´ a”. Como se vˆe, qualquer um j´ a possui, intuitivamente, os rudimentos para iniciar-se nos espa¸cos m´etricos. A exigˆencia feita em (M3 ), a menos intuitiva, ´e conhecida como desigualdade triangular e se inspira no fato de que na geometria elementar cada lado de um triˆangulo tem sempre medida menor que a soma das medidas dos outros dois lados. xs
d(x, y)
s
y
d(x, z)
s
z
d(z, y)
Pode ser u ´ til vermos um espa¸co m´etrico como um sistema de processamento de informa¸co˜es, onde temos: ( M, d ) software hardware
O conjunto de instru¸co ˜es (software) ´e passado atrav´es da m´etrica. Observe que se no par ( M, d ) mudarmos apenas a m´etrica (algoritmo, software) teremos um outro sistema de “processamento de informa¸co˜es”; um outro espa¸co m´etrico que − na maioria das vezes − pouco ter´ a a ver com o primeiro.
2.3.1 1)
Exemplos de espa¸cos m´ etricos
A reta usual (oficial) Considere o conjunto R dos n´ umeros reais. A fun¸ca˜o d : R × R −→ R, dada por d(x, y) = |x − y|,
´e uma m´etrica sobre R. As exigˆencias (M1 ) e (M2 ) s˜ao decorrˆencias imediatas das propriedades do m´odulo (ver pg. 56), quanto a (M3 ), devemos mostrar que |x − y| ≤ |x − z| + |z − y| Isto decorre da desigualdade triangular para n´ umeros reais. Assim |x − y| = (x − z) + (z − y) ≤ |x − z| + |z − y|. Por exemplo
d(5, 3) = |5 − 3| = 2 ; Geometricamente, temos
5 3 3 d , −1 = − (−1) = . 2 2 2 87
d
⊢
s q
−1
2)
= 32 −(−1) =2,5 ⊣
3 2 , −1
q0
s
q1
d(5, 3)=|5−3|=2
⊢
s q3
q2
⊣
q4
s q5
-R
A m´ etrica “zero-um” Uma importante m´etrica - aplic´ avel a qualquer conjunto - ´e dada a seguir: Seja M um conjunto qualquer. Consideremos d : M × M −→ R
definida por d(x, y) =
(
1, se e s´o se x 6= y; 0, se e s´o se x = y.
Vamos mostrar que d, assim definida, ´e uma m´etrica. De fato, esta aplica¸ca˜o, da maneira como foi definida, claramente satisfaz (M1 ) e (M2 ). Vamos mostrar que (M3 ) tamb´em ´e satisfeita: Dados x e y em M temos duas alternativas, x = y ou x 6= y: ( i ) Se x = y ent˜ ao d(x, y) = 0. Substituindo este resultado em (M3 ), temos 0 ≤ d(x, z) + d(z, y), como, pela defini¸ca˜o de d, d(x, z) ≥ 0 e d(z, y) ≥ 0, temos que esta desigualdade ´e trivialmente satisfeita. ( ii ) Se x 6= y ent˜ ao ou x 6= z ou y 6= z. Neste caso temos d(x, y) = 1 e ou d(x, z) = 1 ou d(y, z) = 1. Em qualquer situa¸ca˜o a desigualdade d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y) estar´ a satisfeita. Observe que esta prova n˜ ao depende da natureza dos elementos de M , o que implica que o par (M, d) ´e um espa¸co m´etrico independentemente de quem seja o conjunto M . • Por exemplo considere o conjunto das vogais A = { a, e, i, o, u }, ent˜ ao o par (A, d) ´e um espa¸co m´etrico onde, por exemplo, temos as seguintes distˆancias d(a, e) = 1 ; d(o, u) = 1 ; d(u, u) = 0. uma vez que a 6= e, o 6= u e u = u. • Considere o seguinte conjunto de caracteres C = { θ, ρ, $, Ω }, ent˜ ao o par (C, d) ´e um espa¸co m´etrico, onde, por exemplo temos as seguintes distˆancias d(θ, Ω) = 1 ; d(ρ, θ) = 1 ; d($, $) = 0. uma vez que θ 6= Ω, ρ 6= θ e $ = $. • Considere o conjunto R de n´ umeros reais , ent˜ ao o par (R, d) ´e um espa¸co m´etrico, onde, por exemplo temos as seguintes distˆancias 3 √ √ d(5, 3) = 1 ; d , −1 = 1 ; d( 2, 3) = 1 ; d(π, π) = 0. 2 88
Nota: Como neste livro trabalharemos com muitas m´etricas, vamos adotar s´ımbolos especiais para algumas e numerar (indexar) outras. Por exemplo a m´etrica “zero-um”, ser´a denotada por δ e a m´etrica oficial sobre R por µ. Novamente enfatizamos que os espa¸cos m´etricos ( R, µ) e ( R, δ) s˜ao distintos, inclusive por que para um mesmo par de pontos eles fornecem distˆancias diferentes, por exemplo: µ(5, 3) = |5 − 3| = 2 e δ(5, 3) = 1. 3)
A M´ etrica Divina (ou quˆ antica)
“Quando
o esp´ırito se apresenta a `
cultura cient´ıfica, nunca ´ e jovem. Ali´ as ´ e bem velho, porque tem a idade de seus preconceitos. Aceder a ` ciˆ encia ´ e rejuvenescer espiritualmente, ´ e aceitar uma brusca muta¸ca ˜o que contradiz o passado.” (Gaston Bachelard)
Consideremos a seguinte aplica¸ca˜o k : [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [−→ R definida por
k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y|
Deixamos como exerc´ıcio ao leitor provar que k ´e uma m´etrica em [ 0, 1 [. Observe por que devemos excluir o extremo direito do intervalo unit´ ario: isto se deve a que, caso contr´ ario, k(1, 0) = min |1 − 0|, 1 − |1 − 0| = 0
o que estaria em flagrante desrespeito `a exigˆencia (M1 ) da defini¸ca˜o de m´etrica, digo: d(x, y) = 0 ⇒ x = y. Esta m´etrica ´e de f´ acil manipula¸ca˜o e funciona assim: dados dois pontos x e y, ambos no intervalo [ 0, 1 [, entre chaves obteremos dois valores: escolhemos o menor deles como sendo a distˆancia entre os pontos x e y. Por exemplo, k(0, 2; 0, 6) = min |0, 2 − 0, 6|, 1 − |0, 2 − 0, 6| = min 0, 4; 0, 6 = 0, 4 k(0, 2; 0, 8) = min |0, 2 − 0, 8|, 1 − |0, 2 − 0, 8| = min 0, 6; 0, 4 = 0, 4 k(0, 2; 0, 9) = min |0, 2 − 0, 9|, 1 − |0, 2 − 0, 9| = min 0, 7; 0, 3 = 0, 3 t t t t ⊢ ⊢ 0
0, 2
1 2
0, 6
0, 8
0, 9
1
Por oportuno, observe que,
k ( 0, 2; 0, 6 ) = k ( 0, 2; 0, 8 ) > k ( 0, 2; 0, 9 ).
(2.1)
´ isto mesmo que o leitor presencia!!: a distˆ E ancia entre o primeiro e o segundo ponto − no diagrama acima − ´e igual `a distˆancia entre o primeiro e o terceiro ponto que . . . pasmem!! ´e maior que a distˆancia entre o primeiro e o quarto ponto! 89
Poder´ıamos, com inteira raz˜ ao, cham´ a-la de “m´etrica maluca” ou at´e, quem sabe, “m´etrica hiper-maluca”. No entanto, vejamos o que o eminente fil´osofo tem a nos dizer a este respeito, “Tudo isso, que a ` primeira vista parece excesso de irraz˜ ao, na verdade ´e o efeito da finura e da extens˜ ao do esp´ırito humano e o m´etodo para encontrar verdades at´e ent˜ ao desconhecidas.” (Voltaire) De fato, as palavras do fil´osofo me serviram, ami´ ude, de apoio psicol´ogico quando − a princ´ıpio − me sentir tentado a olhar com desd´em para a “m´etrica maluca”! A quest˜ ao ´e que alguns matem´aticos procedem como o pai que se det´em mais nas qualidades do “filho” e, obstinadamente, negligenciam seus “defeitos”. N´ os decididamente consideramos tamb´em os “defeitos”, pois somos dos que acreditam que podemos tirar grandes li¸co˜es dos mesmos. Uma vez que a crian¸ca foi gerada devemos assum´ı-la integralmente, mesmo correndo o “risco” de sermos escarnecidos. Sou fascinado por paradoxos cient´ıficos. A exemplo do que ocorre nas f´ısicas quˆ antica e relativistica, a matem´atica tamb´em comporta seus paradoxos (“patologias”). Por exemplo a m´etrica k nos brinda com muitos paradoxos interessantes, os quais estaremos exibindo ao longo do livro. Vamos necessitar da distˆancia de um ponto arbitr´ario x ∈ [ 0, 1[ ao ponto 0, assim k(x, 0) = min |x − 0|, 1 − |x − 0| = min |x|, 1 − |x| Como 0 ≤ x < 1, temos |x| = x, logo,
k(x, 0) = min x, 1 − x
Temos,
x≤ 1−x ⇔ x≤
1 2
Sendo assim, podemos escrever:
k(x, 0) = min x, 1 − x
=
x,
se 0 ≤ x ≤ 21 ;
1 − x,
se
1 2
(2.2)
≤ x < 1.
Esta equa¸ca˜o nos diz, simplesmente, que se x ´e um ponto na primeira metade do intervalo, ent˜ ao sua distˆancia para a origem ´e igual “a ele pr´oprio”. Se x ´e um ponto na metade direita do intervalo, ent˜ ao sua distˆancia para a origem ´e 1 − x. Veja, x 0
s
x
1−x
q12
x 1
0
q12
A seguir esbo¸camos o gr´afico da fun¸ca˜o dada por k(x, 0): 90
s
x
1−x
1
k(x, 0) 1
q
1 2
q
x
q
0
1
1 2
q12
0
s
1
x
Este gr´ afico nos mostra como varia a distˆancia de um ponto arbitr´ario x `a origem. Na figura a seguir acrescentamos ao gr´afico anterior (para efeito de compara¸ca˜o) a distˆancia usual, d(x, 0) = |x − 0|, de um ponto arbitr´ario x do intervalo [ 0, 1 [ ` a origem: k(x, 0) 1
q
1 2
q
x
q
0
1
1 2
A partir do gr´ afico de k(x, 0) constru´ımos a r´egua oficial do universo [0, 1[, k , assim:
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
1 INMETRO
0
Figura 2.1: R´egua divina Nota: Observamos que esta r´egua ´e t˜ ao leg´ıtima quanto a usual - vendida em nossas livrarias, tanto ´e que j´ a a homologamos junto ao Inmetro. Esta r´egua nos ser´a bastante u ´ til para destrinchar alguns paradoxos. Nota: O “1” no extremo direito da r´egua ´e “virtual”, digo, na verdade n˜ ao existe. Como funciona a r´egua Divina? Funciona de modo bem simples, n˜ ao ´e necess´ario nenhum manual de instru¸ca˜o. Com efeito, a r´egua acima nos fornece diretamente a distˆancia de um ponto qualquer para a origem 0. Ou ainda, mede a distˆancia de qualquer ponto do intervalo [ 0, 1 [ para a origem, graficamente: 91
1 2
1 4
p
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
p
0,4
0,3
1
0,2
0,1
1 INMETRO
0
3 4
p
J´a tive a oportunidade de mencionar que sou fascinado por paradoxos∗, por exemplo, observe que paradoxal, na ilustra¸ca˜o a seguir: As
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,4
Cs
0,3
0,2
0,1
1 INMETRO
ր0
Bs
Origem
Os pontos A e B encontram-se `a mesma distˆancia da origem . . . Pasm´em! Podemos escrever: k(A, 0) = 0, 4 = k(B, 0) E, o que ´e “pior”, o ponto C encontra-se mais pr´oximo da origem que qualquer dos pontos A e B . . . Pasm´em ao cubo!!! Podemos escrever: k(C, 0) = 0, 2 < 0, 4 = k(A, 0) = k(B, 0)
(2.3)
A raz˜ ao dos nomes da m´ etrica O gr´ afico de k(x, 0) mostra que quanto mais nos “afastamos” da origem a partir da metade - mais nos aproximamos. Precisamente por esta raz˜ ao decidimos chamar k de a m´etrica divina: mesmo tendo a impress˜ao de estar se afastando, na verdade vocˆe aproxima-se da origem. Digo, por mais que se caminhe (evolua) estamos sempre, a cada passo, mais pr´oximo da origem de tudo. O alfa (α) e o ˆ omega (ω) de Teilhard de Chardin se confundem! Uma aplica¸ c˜ ao na m´ıstica/M´ etrica divina e
Bhagavad Gita
Existem asser¸co˜es que, ao nos encontrar desprevenidos, nos d˜ ao a sensa¸ca˜o, por assim dizer, de “um estupro `a raz˜ ao”, tais como a afirmativa em destaque no verso seguinte : “Est´ a dentro e fora de todos os seres; ´ e movente e tamb´ em imovente; a perto e ao mesmo tempo distante". e t~ ´ ao sutil que ´ e impercept´ ıvel; est´ ( Bhagavad Gita - XIII-16 )
Veremos que, em casos como estes, a m´etrica divina nos restitui a “virgindade”. De fato, ao lˆe − pela primeira vez − a afirmativa: est´ a perto e ao mesmo tempo distante, confesso que senti um, por assim dizer, “desconforto intelectual”. Como algo pode est´ a perto e simultˆ aneamente distante? ∗ Como
o leitor pode ver, neste mundo de meu Deus existe maluco de tudo quanto ´ e tipo.
92
Devo admitir que minhas inquieta¸co˜es, a este respeito, foram totalmente dirimidas (dissipadas) com o uso da m´etrica divina; sen˜ ao vejamos: • 0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
1 INMETRO
0
Figura 2.2: R´egua divina e Bhagavad Gita Considere o ponto, do intervalo [ 0, 1 [, em destaque na r´egua acima, observe que ele est´ a perto e ao mesmo tempo distante da origem: k(0; 0, 9) = min |0, 9 − 0|, 1 − |0, 9 − 0| Distante pela r´egua humana: |0, 9 − 0| = 0, 9 e pr´oximo pela divina: 1 − |0, 9 − 0| = 0, 1. Ainda podemos vislumbrar o paradoxo acima graficamente, assim: k(x, 0)
1
q
0, 9
1 2
q
0, 1
•
0
x 1
Para os que ficaram insatisfeitos com a interpreta¸ca ˜o m´ıstica que demos para a m´etrica k, vejamos uma outra, um tanto quanto mais − por assim dizer − materialista (concreta): vamos curvar o intervalo [ 0, 1 [ segundo um rel´ogio de comprimento 1, ou ainda, de raio 2πr = 1, assim 1 0
rθ
p1
p1
2
2
93
tx
1 4
p
p
p
3 4
1 4
p
3 4
⌣
1 0
ty
Pois bem, definindo a “distˆ ancia angular” entre os ponteiros como sendo o menor dos angulos θ e 360o − θ, isto ´e d(x, y) = min{ θ, 360o − θ } ´ isto o que significa teremos uma id´eia de como funciona a m´etrica divina. E dizer que a m´etrica curva o espa¸co. Nas figuras seguintes ilustramos as rela¸co˜es dadas em (2.1) (pg. 89),
0, 8
r
s
s0, 2
3 4
1 4
r
p1
s
p1
p1
2
2
2
0, 6
C
s
1 4
0
1 4
p
3 4
1
p
Na figura da direita ilustramos as rela¸co˜es dadas em (2.3), pg. 92.
s0, 2
p
3 4
p
1 4
1 0 0, 9
p
s0, 2
p
r
p
p
3 4
1 0
s
1 0
s
B
p
1 2
s
A
Nota: Oportunamente (pg. 298) ficar´a claro o porque do nome alternativo: M´etrica quˆ antica.
94
2.3.2
M´ etricas sobre o R2
Vamos agora definir algumas m´etricas sobre o conjunto R×R = R2 dos pares ordenados de n´ umeros reais. 4) O plano usual (oficial) A fun¸ca˜o, D1 : R2 × R2 −→ R,
dada por
D1 (x, y) =
p (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2
onde x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ), ´e uma m´etrica sobre R2 . R
6
s
(x , x ) 1 2
D1 ց
⇒
s
⊡ (y , y ) 1 2
-R
0
D1 ´e conhecida como m´etrica euclidiana ou usual do R2 e naturalmente se inspira na f´ ormula da distˆancia entre dois pontos da geometria anal´ıtica plana. No apˆendice (pg. 132) provamos que D1 ´e de fato uma m´etrica sobre R2 . Exemplo: Calcular a distˆancia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5). Solu¸ c˜ ao: Temos x = (x1 , x2 ) = (1, 1) e y = (y1 , y2 ) = (4, 5). Ent˜ ao p D1 (x, y) = (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 p D1 (1, 1), (4, 5) = (1 − 4)2 + (1 − 5)2 = 5. 5)
A m´ etrica da soma (ou do t´ axi) A fun¸ca˜o,
D2 : R2 × R2 −→ R,
dada por
D2 (x, y) = |x1 − y1 | + |x2 − y2 |
onde x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ) ´e uma m´etrica sobre R2 . R
6
s(x1 , x2 ) |x2 −y2 |
(y1 , y2 )
s
⇒ D2 →
↓
⊡ |x −y | 1 1
-R
0
95
D2 ´e conhecida como m´etrica da soma (ou do t´ axi). No apˆendice (pg. 133) provamos que D2 ´e de fato uma m´etrica sobre R2 . Exemplo: Calcular a distˆancia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5). Solu¸ c˜ ao: Temos x = (x1 , x2 ) = (1, 1) e y = (y1 , y2 ) = (4, 5), ent˜ ao
6)
D2 (x, y) = |x1 − y1 | + |x2 − y2 | D2 (1, 1), (4, 5) = |1 − 4| + |1 − 5| = 7.
A m´ etrica do m´ aximo A fun¸ca˜o
D3 : R2 × R2 −→ R,
dada por
D3 (x, y) = max |x1 − y1 |, |x2 − y2 |
onde x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ) ´e uma m´etrica sobre R2 . R
6
(x , x ) 1 2
|x −y | 2 2
=⇒
D3 (y1 , y2 )
⊡ |x −y | 1 1
-R
0
D3 ´e conhecida como m´etrica do m´aximo. No apˆendice (pg. 134) provamos que D3 ´e de fato uma m´etrica sobre R2 . Exemplo: Calcular a distˆancia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5). Solu¸ c˜ ao: Temos x = (x1 , x2 ) = (1, 1) e y = (y1 , y2 ) = (4, 5), ent˜ ao D3 (x, y) = max |x1 − y1 |, |x2 − y2 | D3 (1, 1), (4, 5) = max |1 − 4|, |1 − 5| = max{ 3, 4 } = 4.
Como era de se esperar, os trˆes espa¸cos nos fornecem diferentes distˆancias para um mesmo par de pontos. Vejamos estas distˆancias graficamente: R
6
R
6
R
(4,5)
D1
5
4
5
3 (1,1) 0
6 (4,5)
(4,5)
5
4
(1,1) 0
Ou ainda, 96
D3
3
3
-R
4
D2
-R
(1,1) 0
-R
R
6
R
-R
0
6
R
-R
0
6
-R
0
Figura 2.3: Distˆ ancias diferentes para um mesmo par de pontos. ´ Parece Mas N˜ ao E Na geometria a circunferˆencia ´e definida como o lugar geom´etrico dos pontos de um plano eq¨ uidistantes de um ponto dado do mesmo plano. O ponto dado recebe o nome de centro da circunferˆencia, e a distˆancia comum de todos os pontos do lugar ao centro ´e denominado raio. Observe que nesta defini¸ca˜o interv´em o conceito de distˆancia. Por exemplo, a equa¸ca˜o da circunferˆencia de centro (0, 0) e raio r = 1, na m´etrica euclidiana fica R 1
√
s
(x−0)2 +(y−0)2 =1
⇓
6
−1
x2 +y 2 =1
1
-R
−1
Observe que esta figura n˜ ao ´e uma circunferˆencia nas m´etricas D2 e D3 . Por exemplo, R 1
D2 (1, 0), (0, 0) =|1−0|+|0−0|=1 D2
√
2 2 ,
√
2 2
√ √ √ , (0, 0) = 22 −0 +| 22 −0|= 2
6 ←(
−1
(0,0)
√
2 2 ,
s- R
√
2 2 )
1
−1
´ N˜ ao Parece Mas E Perguntamos: como seria o lugar geom´etrico da circunferˆencia nas m´etricas D2 e D3 ? A circunferˆencia de centro (0, 0) e raio r = 1, por exemplo, na m´etrica D2 ´e o seguinte subconjunto do R2 : C (0, 0); 1 = (x, y) ∈ R2 : D2 (x, y), (0, 0) = 1 = (x, y) ∈ R2 : |x − 0| + |y − 0| = 1 = (x, y) ∈ R2 : |x| + |y| = 1 ´ o conjunto dos pontos do plano que satisfazem a equa¸ca˜o: |x| + |y| = 1. E A circunferˆencia fica assim: 97
R
6
1
q C((0,0); 1)
−1
p
p1 −1
-R
q
A circunferˆencia de centro (0, 0) e raio r = 1, por exemplo, na m´etrica D3 ´e o seguinte subconjunto do R2 : C (0, 0); 1 = (x, y) ∈ R2 : D3 (x, y), (0, 0) = 1 = (x, y) ∈ R2 : max |x − 0|, |y − 0| = 1 = (x, y) ∈ R2 : max |x|, |y| = 1 ´ o conjunto dos pontos que satisfazem a equa¸ca˜o: max |x|, |y| = 1. E Uma alternativa para esbo¸car o gr´afico desta equa¸ca˜o ´e escrevˆe-la como |x| + |y| + |x| − |y| =1 (2.4) max |x|, |y| = 2 porquanto max{a, b} =
a+b+|a−b| 2
vale para a e b reais, como ´e f´acil de provar. R
Pois bem, separando a equa¸ca˜o (2.4) em cada um dos quadrantes visualizamos a circunferˆencia, na m´etrica D3 , como na figura ao lado.
1
−1
6 C((0,0); 1)
1
-R
−1
A t´ıtulo de curiosidade observe que |x|+|y|+ |x|−|y| = 2 ´e uma equa¸ca˜o cartesiana (euclidiana) para o quadrado da figura. As trˆes distˆancias vistas para o R2 s˜ao facilmente generalizadas para o n R , do seguinte modo: p D1 (x, y) = (x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2 (2.5) D2 (x, y) = |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | D3 (x, y) = max |x1 − y1 |, . . . , |xn − yn |
onde x = (x1 , x2 , . . . , xn ) e y = (y1 , y2 , . . . , yn ) ∈ Rn .
98
(2.6)
(2.7)
7)
Distˆ ancia entre matrizes
Seja Mm×n (R) o conjunto das matrizes reais de ordem m por n. Para calcular a distˆancia entre duas matrizes lan¸caremos m˜ao de um artif´ıcio: Identificaremos uma matriz do conjunto Mm×n (R) com um ponto do conjunto Rm×n do seguinte modo a11 . . . a1n a21 . . . a2n A= . . . . . . . . . . . . . . ↔ a = (a11 , . . . , a1n , a21 , . . . , a2n , . . . , am1 , . . . , amn ) am1 . . . amn b11 . . . b1n b21 . . . b2n B= . . . . . . . . . . . . . . ↔ b = (b11 , . . . , b1n , b21 , . . . , b2n , . . . , bm1 , . . . , bmn ) bm1 . . . bmn
Feito isto definiremos a distˆancia entre as matrizes A e B como sendo a distˆancia entre os respectivos pontos a e b. Sendo assim temos as seguintes distˆancias p D1 (A, B) = (a11 − b11 )2 + · · · + (amn − bmn )2 (2.8) D2 (A, B) = |a11 − b11 | + · · · + |amn − bmn | D3 (A, B) = max |a11 − b11 |, . . . , |amn − bmn |
(2.9)
(2.10)
Exemplo: Calcule a distˆancia entre as matrizes 2 1 3 0 2 1 A= e B= 3 0 2 3 4 5 Solu¸ c˜ ao: Temos A=
2 1 3 0
3 2
↔ a = (2, 1, 3, 3, 0, 2)
B=
0 3
1 5
↔ b = (0, 2, 1, 3, 4, 5)
2 −3
↔ a − b = (2, −1, 2, 0, −4, −3)
2 4
Ainda, A−B=
2 −1 0 −4
Vamos calcular a distˆ A e B em cada um dos espa¸cos ancia entre as matrizes m´etricos M2×3 (R), D1 , M2×3 (R), D2 e M2×3 (R), D3 onde D1 , D2 e D3 s˜ao dadas pelas equa¸co˜es (2.8), (2.9) e (2.10). Pois bem: √ p D1 A, B = 22 + (−1)2 + 22 + 02 + (−4)2 + (−3)2 = 34; D2 A, B = |2| + | − 1| + |2| + |0| + | − 4| + | − 3| = 12; D3 A, B = max |2|, | − 1|, |2|, |0|, | − 4|, | − 3| = 4. 99
A f´ ormula a seguir n = N (i − 1) + j
(2.11)
nos permite transferir os elementos de uma matriz de ordem M × N para um ponto de RM×N (para a prova desta f´ormula veja [6]). A f´ ormula nos diz em que posi¸ca˜o n (do ponto) devemos guardar o elemento aij da matriz. Por exemplo, para a matriz a11 a12 a13 a21 a22 a23 procedemos assim: a11
⇒
n = 3(1 − 1) + 1 = 1
⇒
( a11 , ?, ?, ?, ?, ? )
a12
⇒
n = 3(1 − 1) + 2 = 2
⇒
( a11 , a12 , ?, ?, ?, ? )
a13
⇒
n = 3(1 − 1) + 3 = 3
⇒
( a11 , a12 , a13 , ?, ?, ? )
a21
⇒
n = 3(2 − 1) + 1 = 4
⇒
( a11 , a12 , a13 , a21 , ?, ? )
a22
⇒
n = 3(2 − 1) + 2 = 5
⇒
( a11 , a12 , a13 , a21 , a22 , ? )
a23
⇒
n = 3(2 − 1) + 3 = 6
⇒
( a11 , a12 , a13 , a21 , a22 , a23 )
Portanto:
a11 a21
a12 a22
a13 a23
( a11 , a12 , a13 , a21 , a22 , a23 )
A f´ ormula a seguir (tamb´em uma contribui¸ca˜o minha): i = n−1 +1 N j = n − N n−1 N
´e a inversa da fun¸ca˜o dada em (2.11) e nos diz, caso desejemos, como transferir de volta as coordenadas do ponto para a matriz. N ´e o n´ umero de colunas na matriz. ⌊ x ⌋ ´e chamado o maior inteiro que n˜ ao supera x (fun¸ca˜o piso). Por exemplo, para a situa¸ca˜o anterior temos: i = 5−1 +1 =2 3 a5 ⇒ j = 5 − 3 5−1 = 2 3 Ou seja, a quinta coordenada do ponto (n = 5) ocupar´a a posi¸ca˜o (i, j) = (2, 2) da matriz, assim:
(a1 , a2 , a3 , a4 , a5 , a6 , )
− − − −
− −
Em [6] mostramos aplica¸co˜es destas f´ormulas na computa¸ca˜o. 100
2.3.3
Distˆ ancia entre fun¸ c˜ oes
− Espa¸co das fun¸co˜es reais cont´ınuas definidas num intervalo fechado 8)
O espa¸co C[a, b], Γ
Seja C[a, b] o conjunto das fun¸co˜es reais cont´ınuas definidas no intervalo fechado [a, b]. Isto ´e n o C[a, b] = f : [a, b] −→ R / f cont´ınua A aplica¸ca˜o
Γ : C[a, b] × C[a, b] −→ R definida por Γ(f, g) =
Z
b a
f (x) − g(x) dx
´e uma m´etrica sobre C[a, b]. Isto est´ a demonstrado no apˆendice (pg. 136). Exemplos: (a) Calcule a distˆancia entre as fun¸co˜es f, g : [0, 1] −→ R dadas por f (x) = 3x e g(x) = x. Solu¸ c˜ ao: b
Γ(f, g) =
Z
1
=
Z Z
1
a
f (x) − g(x) dx |3x − x| dx
0
=
2x dx = 1.
0
Interpreta¸ca˜o geom´etrica: A distˆancia entre as fun¸c˜oes f e g ´e dada pela ´ area da regi˜ ao entre seus gr´aficos; no caso a ´area do triˆangulo em destaque na figura a seguir y
3
6 q
2
q
1
q
(1, 3)
f (1, 1) g
0
q1
q2
-x (0, 0)
101
Para efeito de verifica¸ca˜o, podemos calcular a ´area deste triˆangulo, subtraindo da ´ area do triˆangulo sob o gr´afico de f a ´area do triˆangulo sob o gr´ afico de g, assim 1×3 1×1 − = 1 = Γ(f, g). 2 2 (b) Calcule a distˆancia entre as fun¸co˜es f, g : [−1, 1] −→ R dadas por f (x) = x3 e g(x) = x. Solu¸ c˜ ao: b
Γ(f, g) =
Z
1
=
Z
a
f (x) − g(x) dx
3 x − x dx = 1 . 2 −1
Interpreta¸ca˜o geom´etrica: A distˆancia entre as fun¸c˜oes f e g ´e dada pela area da regi˜ ´ ao entre seus gr´aficos: y
6
q
(1,1)
1⊥ g f
−1 ⊢
f
0
⊢1
-x q
g
⊥ −1
9)
(−1,−1)
Vejamos uma outra distˆancia no conjunto C[a, b].
O espa¸co C[a, b], Υ
Sabemos (da An´alise∗ ) que toda fun¸ca˜o cont´ınua definida em um intervalo fechado assume valores m´aximo e m´ınimo nesse intervalo. Sendo assim a aplica¸ca˜o Υ : C[a, b] × C[a, b] −→ R dada por Υ(f, g) = max
n
o |f (x) − g(x)| : x ∈ [a, b]
(2.12)
estar´ a bem definida. No apˆendice (pg. 137) mostramos que Υ ´e uma outra m´etrica sobre C[a, b].
∗ Teorema
de Weierstrass, [AR] 1 (pg. 57)
102
Exemplos: (a) Calcule a distˆancia entre as fun¸co˜es f, g : [0, 1] −→ R dadas por f (x) = 3x e g(x) = x. Solu¸ c˜ ao: n o Υ(f, g) = max |f (x) − g(x)| : x ∈ [a, b] = max |3x − x| : x ∈ [0, 1] = max 2x : x ∈ [0, 1] = 2.
Porquanto
0 ≤ x ≤ 1 ⇒ 0 ≤ 2x ≤ 2 ⇒ 2x ∈ [0, 2] Observe que os espa¸cos (C, Γ) e (C, Υ) nos fornecem distˆancias diferentes para o mesmo par de pontos (f, g). Interpreta¸ca˜o geom´etrica: A distˆancia Υ entre as fun¸co˜es f e g ´e o comprimento da maior corda vertical que se pode tra¸car ligando o gr´ afico de f ao gr´ afico de g. y
3
6 q
2
q
1
f
q g
0
q1
q2
-x
(1,3)
←Υ(f,g)=2 (1,1)
(0,0)
(b) Calcule a distˆancia entre as fun¸co˜es f, g : [−1, 1] −→ R dadas por f (x) = x3 e g(x) = x. Solu¸ c˜ ao:
Υ(f, g) = max |f (x) − g(x)| : x ∈ [a, b] = max |x3 − x| : x ∈ [−1, 1] 103
Devemos encontrar o m´aximo da fun¸ca˜o y = |x3 − x| para x percorrendo ´ f´acil mostrar que, o intervalo [−1, 1]. E 3 x − x =
(
x3 − x,
se x ∈ [−1, 0];
3
−x + x,
se x ∈ [0, 1].
Fazendo y(x) = −x3 + x e igualando a derivada a zero, temos 1 y ′ = −3x2 + 1 = 0 =⇒ x = + √ 3 ent˜ ao y
1 √ 3
=−
1 √ 3
3
+
1 √ 3
√ 2 3 = . 9
A outra alternativa nos conduz ao mesmo resultado, portanto Υ(f, g) = max
n
o 2√3 |x3 − x| : x ∈ [−1, 1] = ≈ 0, 38 9
Interpreta¸ca˜o geom´etrica: A distˆancia entre as fun¸c˜oes f e g ´e o comprimento da maior corda vertical que se pode tra¸car ligando o gr´afico de f ao gr´ afico de g. y
6
1⊥
√
−1
⊢
0
6 ←− Υ(f, g)= 2 9 3 ? -x ⊢ √ 1 q3 3
f
g
⊥ −1
Fun¸ co ˜es Limitadas Seja X um conjunto qualquer. Uma fun¸ca˜o f : X −→ R se diz limitada quando existe k ∈ R tal que |f (x)| ≤ k para todo x ∈ X. Exemplos a) Um exemplo de fun¸ca˜o limitada em toda a reta (X = R) ´e a fun¸ca˜o seno, pois −1 ≤ sen x ≤ 1, para todo x real. 104
y
6
1⊤ p −π
p −π 2
p π 2
0
p π
p R 2π
p 3π 2
−1⊤
Uma fun¸ca˜o pode n˜ ao ser limitada em um dom´ınio D, mas sim ´ o que veremos agora em um seu subconjunto D′ ⊂ D. E b) Das fun¸co˜es abaixo f : [−1, 1] −→ R x 7−→ x
♦
g : R −→ R x 7−→ x
apenas a primeira ´e limitada, uma vez que −1 ≤ x ≤ 1 ⇒ −1 ≤ f (x) ≤ 1 ⇒ |f (x)| ≤ 1. Por outro lado, n˜ ao existe k ∈ R de modo que |g(x)| = |x| ≤ k para todo x ∈ R. f (x)
6 1
q
−1q
q
g(x)
6
q q1
1
q
-x
−1
−1q
q1
-x
−1
q
q
Figura 2.4: f ´e limitada em seu dom´ınio; g n˜ ao. Sejam f e g fun¸co˜es limitadas, isto ´e, existem constantes k1 , k2 ∈ R tais que |f (x)| ≤ k1 e |g(x)| ≤ k2 , ent˜ ao as fun¸co˜es f ± g s˜ao ainda limitadas, devido a que |f (x) ± g(x)| ≤ |f (x)| + |g(x)| ≤ k1 + k2 . − Espa¸co das fun¸co˜es reais limitadas
10) O espa¸ co B(X, R), Ψ Indiquemos por B(X, R) o conjunto das fun¸co˜es reais e limitadas de X em R. A aplica¸ca˜o Ψ : B(X, R) × B(X, R) −→ R 105
dada por Ψ(f, g) = sup
|f (x) − g(x)| : x ∈ X
estar´ a bem definida (devido ao axioma do supremo pg. 65). No apˆendice (pg. 138) mostramos Ψ ´e uma m´etrica sobre B(X, R). Exemplo: Calcule a distˆancia entre as fun¸co˜es f, g : [ 0, 1 [−→ R dadas por f (x) = 3x e g(x) = x. Solu¸ c˜ ao: Ψ(f, g) = sup |f (x) − g(x)| : x ∈ [ 0, 1 [ = sup |3x − x| : x ∈ [ 0, 1 [ = sup 2x : x ∈ [ 0, 1 [ = 2,
porquanto
0 ≤ x < 1 ⇒ 0 ≤ 2x < 2 ⇒ |f (x) − g(x)| = 2x ∈ [ 0, 2 [. No gr´ afico fica assim y
6 3 q 2
1
q q
0
◦
(1,3)
f
◦
g
q1
q2
-x
6 ← Ψ(f,g)=2 ? (1,1)
(0,0)
Observe que enquanto o par B(X,R), Ψ ´e um espa¸co m´etrico j´a n˜ ao acontece o mesmo com o par B(X, R), Υ (ver pg. 102). No caso do exemplo anterior as fun¸co˜es f e g n˜ ao tˆem m´aximo no conjunto X = [ 0, 1 [: Υ(f, g) = max |3x − 2x| : x ∈ [ 0, 1 [ = max 2x : x ∈ [ 0, 1 [
n˜ ao existe, porquanto
0 ≤ x < 1 ⇒ 0 ≤ 2x < 2 ⇒ 2x ∈ [ 0, 2 [. Isto ´e, a aplica¸ca˜o Υ : B(X, R) × B(X, R) −→ R n˜ ao estar´ a bem definida. 106
Porque o par B(X, R), Γ n˜ ao ´ e um espa¸ co m´ etrico Mostraremos agora que Γ (pg. 101) n˜ ao ´e uma m´etrica sobre B(X, R). Consideremos X = [ 0, 1 ] e as fun¸co˜es f, g ∈ B [ 0, 1 ], R , isto ´e, f, g : [ 0, 1 ] −→ R; dadas por ( 1, se x 6= 1/2 f (x) = 1, ∀x ∈ [ 0, 1 ] e g(x) = 1/4, se x = 1/2. Os gr´ aficos de f e g s˜ao dados a seguir: f (x)
g(x)
6
6
1
1
q
q
1 2
-x
q1
0
1 4
r
q q
q21
0
q1
-x
Observe que f e g diferem em um u ´ nico ponto. Portanto pelo teorema [AR] 2 (pg. 57): Z 1 Z 1 f (x) dx = g(x) dx 0
0
logo,
Z
1 0
f (x) dx −
Z
0
1
g(x) dx = 0 ⇐⇒
Z
0
1
f (x) − g(x) dx = 0
observe que no intervalo dado f (x) ≥ g(x), isto ´e, f (x) − g(x) ≥ 0. Portanto neste intervalo |f (x) − g(x)| = f (x) − g(x), logo Γ(f, g) = =
Z Z
b
|f (x) − g(x)| dx
a 1 0
f (x) − g(x) dx = 0.
Resumindo: tomamos dois pontos, f 6= g ∈ B(X, R) e mostramos que Γ(f, g) = 0. Isto ´e, Γ n˜ ao preenche os requisitos para uma m´etrica (fere (M1 ) − pg. 86).
107
2.3.4
Espa¸cos de C´ odigos
Agora daremos um importante exemplo de espa¸co m´etrico, largamente empregado na inf´orm´atica (transmiss˜ ao de dados). C´ odigos que contˆem tanto caracteres alfab´eticos como num´ericos s˜ao necess´arios quando microcomputadores se comunicam com dispositivos como fax ou um terminal de v´ıdeo, ou ainda para transformar os caracteres de um teclado em linguagem de computador. Esses c´ odigos s˜ao chamados c´ odigos alfanum´ericos. O c´ odigo alfanum´erico mais comumente usado em sistemas de microcomputador ´e o AMERICAN STANDARD Code for Information Interchange (C´ odigo Americano Padr˜ ao para Troca de Informa¸co˜es) Uma listagem parcial do c´ odigo ASCII ´e mostrada na tabela a seguir Caracter
ASCII
Caracter
ASCII
<
00111100
A
01000001
>
00111110
B
01000010
!
00100001
C
01000011
P
11100100
D
00100100
#
00100011
E
01000101
$
00100100
F
01000110
%
00100101
G
01000111
&
00100110
H
01001000
(
00101000
I
01001001
)
00101001
J
01001010
∗
00101010
K
01001011
[
01011011
L
01001100
]
01011101
M
01001101
+
00101011
N
01001110
−
00101101
O
01001111
/
00101111
P
01010000
0
00110000
Q
01010001
1
00110001
R
01010010
2
00110010
S
01010011
3
00110011
T
01010100
4
00110100
U
01010101
5
00110101
V
01010110
6
00110110
W
01010111
7
00110111
X
01011000
8
00111000
Y
01011001
9
00111001
Z
01011010
− TABELA
ASCII
108
A seguir vemos o diagrama de blocos de uma calculadora. Entrada 7
8
9
4
5
6
1
2
3
+
0
−
Saida
Codificador
CPU
ր
00110001 00101011 00110010
Teclado
Decodificador
ր
00110011
Display
Na figura estamos simulando a soma 1 + 2 = 3. Ao digitarmos no teclado 1 + 2 existe um circuito codificador que codifica estas informa¸co˜es em bin´ario de acordo com a TABELA ASCII vista anteriormente, ou seja, 1 ↔ 00110001 + ↔ 00101011 2 ↔ 00110010 Estas sequˆencias bin´ arias (c´odigos) s˜ao entregues `a CPU (unidade central de processamento) que executa a soma pedida, o resultado ´e colocado na entrada de um circuito decodificador que decodifica, ainda de acordo com a TABELA ASCII, a sequˆencia bin´ aria em sua entrada e na saida (display) temos o resultado na base decimal. Um outro tipo de c´ odigos ´e o c´ odigo UPC associado aos c´ odigos de barra encontrados em muitos tipos de mercadorias.
0
74927 02094 6
As barras pretas e brancas escaneadas pelo laser da caixa registradora do mercado s˜ao codificadas em um vetor. O Nosso objetivo agora ser´a contruir alguns espa¸cos m´etricos sobre os c´ odigos bin´ arios. Sequˆencias bin´ arias de qualquer tamanho podem ser obtidas tomando-se o produto cartesiano do conjunto: S = { 0, 1 } Por exemplo: S2 = { 0, 1 } × { 0, 1 } = { 00, 10, 01, 11 } S3 = { 0, 1 } × { 0, 1 } × { 0, 1 } = { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 } 109
Temos: S2 = { 00, 10, 01, 11 } S3 = { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 } S4 = { 0000, 1000, 0100, 1100, 0010, 1010, 0110, 1110,
0001, 1001, 0101, 1101, 0011, 1011, 0111, 1111 }
O n´ umero de sequˆencias bin´arias no conjunto Sn ´e 2n ; observe que os c´ odigos (sequˆencias) do teclado de um computador (Tabela ASCII) pertencem todos ao conjunto S8 , neste conjunto podemos codificar at´e 28 = 256 caracteres. Vamos dispor os elementos de S4 segundo uma tabela, assim: 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 1 1 0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 0 1 1 0 1 1 1 0 0 0 0 1 1 0 0 1
⇒
S4 = 0000, 1000, 0100, 1100, 0010, 1010, 0110, 1110, 0001, 1001, 0101, 1101, 0011, 1011, 0111, 1111
0 1 0 1 1 1 0 1
0 0 1 1 1 0 1 1 0 1 1 1 1 1 1 1
11) Distˆ ancia de Hamming O espa¸co m´etrico que apresentaremos a seguir possui aplica¸co˜es em transmiss˜ao de dados - Na constru¸ca˜o de c´ odigos detectores de erro. Tomemos dois pontos x, y ∈ S4 e consideremos a seguinte aplica¸ca˜o σ : S4 × S4 −→ R definida por σ(x, y) = n´ umero de posi¸co˜es em que x e y diferem entre si. σ assim definida ´e uma m´etrica sobre S4 , ´e o que estaremos provando daqui a pouco.
110
Exemplos: Dados x = 1000, y = 0100 e z = 1111 em S4 , calcule a distˆancia entre x e y, e entre x e z. Solu¸ c˜ ao: temos, x: 1 0 0 0 y: 0 1 0 0
x: 1 0 0 0 z: 1 1 1 1
x e y diferem em duas posi¸co˜es, enquanto x e z diferem em trˆes posi¸co˜es, portanto σ(1000, 0100) = 2, σ(1000, 1111) = 3. Considerando xi como sendo a i−´esima entrada da seq¨ uˆencia x = (x1 x2 x3 x4 ) ∈ S4 podemos, alternativamente, definir σ(x, y) como σ(x, y) =
4 X i=1
|xi − yi |
Forma esta mais apropriada para programa¸ca˜o (e demonstra¸co˜es). Por exemplo calculemos a distˆancia entre as seq¨ uˆencias x = 1000 e y = 0100: 4 X |xi − yi | σ 1000, 0100 = i=1
= |x1 − y1 | + |x2 − y2 | + |x3 − y3 | + |x4 − y4 | = |1 − 0| + |0 − 1| + |0 − 0| + |0 − 0| = 2. Mostremos que (S4 , σ) ´e um espa¸co m´etrico: (M1 ) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y : Obviamente σ(x, y) ≥ 0. Se σ(x, y) = 0 ent˜ ao, pela defini¸ca˜o de σ, x e y diferem em 0 posi¸co˜es, isto ´e x = y. Se x = y ent˜ ao x e y coincidem em todas as posi¸co˜es, isto ´e σ(x, y) = 0. (M2 ) d(x, y) = d(y, x) : Obviamente que o n´ umero de posi¸co˜es em que x difere de y ´e igual ao n´ umero de posi¸co˜es em que y difere de x, ou seja, σ(x, y) = σ(y, x). (M3 ) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y) : Devemos mostrar que σ(x, y) ≤ σ(x, z) + σ(z, y). Isto ´e que 4 X i=1
|xi − yi | ≤
4 X i=1
|xi − zi | +
4 X i=1
|zi − yi |
(2.13)
Pois bem, usando a desigualdade triangular para n´ umeros reais, podemos escrever: |x1 − y1 | ≤ |x1 − z1 | + |z1 − y1 | .............................. |x4 − y4 | ≤ |x4 − z4 | + |z4 − y4 | Somando estas quatro desigualdades obtemos |x1 − y1 | + · · · + |x4 − y4 | ≤ |x1 − z1 | + · · · + |x4 − z4 | + |z1 − y1 | + · · · + |z4 − y4 | 111
que ´e exatamente a desigualdade (2.13). Com isto conclu´ımos a prova de que σ satisfaz a desigualdade triangular. O que fizemos para S4 podemos repetir para SN , sendo N ≥ 2 um natural arbitrariamente fixado.
Uma f´ ormula para gerar os c´ odigos em Sn Uma f´ ormula que me deu muita satisfa¸ca˜o em tˆe-la deduzido e demonstrado foi a seguinte∗ : 1, se xij = 0, se
i−1 2j−1 i−1 2j−1
´e ´ımpar; (2.14) ´e par.
Esta f´ ormula nos permite gerar os c´ odigos bin´arios; onde xij ´e o j−´esimo bit do c´ odigo i de Sn . Fixado n fazemos i = 1, 2, . . . , 2n e j = 1, 2, . . . , n Por exemplo, para n = 2, temos: i = 1, 2, 3, 4 e j = 1, 2. Ent˜ ao 1−1 i = 1, j = 1 ⇒ = 0 ⇒ x11 = 0 21−1 1−1 = 0 ⇒ x12 = 0 i = 1, j = 2 ⇒ 22−1 ............................................ 2−1 = 1 ⇒ x11 = 1 i = 2, j = 1 ⇒ 21−1 2−1 i = 2, j = 2 ⇒ = 0 ⇒ x12 = 0 22−1 ............................................ 3−1 = 2 ⇒ x11 = 0 i = 3, j = 1 ⇒ 21−1 3−1 = 1 ⇒ x12 = 1 i = 3, j = 2 ⇒ 22−1 ............................................ 4−1 i = 4, j = 1 ⇒ = 3 ⇒ x11 = 1 21−1 4−1 = 1 ⇒ x12 = 1 i = 4, j = 2 ⇒ 22−1
Sendo assim, temos:
S2 = { |{z} 00 , |{z} 10 , |{z} 01 , |{z} 11 } i=1
i=2
i=3
i=4
Deixamos como exerc´ıcio ao leitor provar que a f´ormula (2.14) de fato nos permite obter todos os c´ odigos bin´arios de Sn . Os dois espa¸cos m´etricos a seguir s˜ao contribui¸co˜es minha.
∗⌊ x ⌋
significa a parte inteira de x, por exemplo: ⌊ 2, 5 ⌋ = 2.
112
12)
O espa¸co S4 , ρ
Tomemos dois pontos x, y ∈ S4 e consideremos a seguinte aplica¸ca˜o ρ : S4 × S4 −→ R definida por
4 X i−1 2 · (xi − yi ) ρ(x, y) = i=1
ρ assim definida ´e uma m´etrica sobre S4 .
Exemplos: Dados x = 1000, y = 0100 e z = 1111 em S4 , calcule a distˆancia entre x e y, e entre x e z. Solu¸ c˜ ao: temos, 4 X 2i−1 · (xi − yi ) ρ 1000, 0100 = i=1
Tamb´em
= 20 · (1 − 0) + 21 · (0 − 1) + 22 · (0 − 0) + 23 · (0 − 0) = 1.
ρ 1000, 1111 = 20 · (1 − 1) + 21 · (0 − 1) + 22 · (0 − 1) + 23 · (0 − 1) = 14.
Compare com as distˆancias obtidas no espa¸co (S4 , σ) (pg. 111). No apˆendice (pg. 139) mostramos que ρ ´e uma m´etrica. Uma outra alternativa para se calcular a distˆancia ρ(x, y) ´e converter as seq¨ uˆencias x e y da base bin´ aria para a base 10 e usar a m´etrica µ. Na tabela seguinte a u ´ ltima coluna ´e o correspondente em decimal da seq¨ uˆencia bin´aria. 20 21 22 23 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 1 0 0 2 1 1 0 0 3 0 0 1 0 4 1 0 1 0 5
Por exemplo:
0 1 1 0 6 1 1 1 0 7
ρ(1000, 0100)=|1−2|=1.
0 0 0 1 8 1 0 0 1 9
ρ(1000, 1111)=|1−15|=14.
0 1 0 1 10 1 1 0 1 11 0 0 1 1 12 1 0 1 1 13 0 1 1 1 14 1 1 1 1 15
113
13)
O espa¸co SN , τ
Tomemos dois pontos x, y ∈ SN e consideremos a seguinte aplica¸ca˜o τ : SN × SN −→ R definida por τ (x, y) = max i : xi 6= yi ,
1 ≤ i ≤ N.
τ assim definida ´e uma m´etrica sobre SN . No apˆendice (pg. 140) mostramos que τ satisfaz a desigualdade triangular. Nota: max i : xi 6= yi = maior posi¸ca˜o em que x e y diferem entre si. Exemplos: Dados x = 1000, y = 0100 e z = 1111 em S4 , calcule a distˆancia entre x e y e entre x e z. Solu¸ c˜ ao: temos, x: 1 0 0 0 y: 0 1 0 0 Ent˜ ao: i : xi = 6 yi = {1, 2} i : xi = 6 zi = {2, 3, 4}
x: 1 0 0 0 z: 1 1 1 1
⇒ ⇒
max 1, 2 = 2 max 2, 3, 4 = 4
⇒
τ (x, y) = 2.
⇒
τ (x, z) = 4.
A tabela a seguir compara as distˆancias vistas nos trˆes espa¸cos m´etricos:
(x, y) (x, z)
σ
ρ
τ
2
1
2
3
14
4
x=1000 y=0100 z =1111
∞
14) O espa¸ co S , ν Consideremos agora o produto cartesiano infinito ∞
S
= {0, 1} × {0, 1} × {0, 1} × · · ·
Os elementos deste conjunto s˜ao seq¨ uˆencias infinitas x = (x1 x2 x3 . . .) de 0′ s e 1′ s, como por exemplo x =(1010101010 . . .) y =(1110101110 . . .) z =(0011001100 . . .) Sendo σ(x, y) =
N X
n=1
114
|xn − yn |
uma m´etrica sobre SN , poderiamos ser tentados a definir uma m´etrica sobre ∞ S como ∞ X |xn − yn | σ(x, y) = n=1
Acontece que neste caso temos uma soma infinita (s´erie) que pode n˜ ao resultar em um valor finito. Uma distˆancia ´e um n´ umero real. Por exemplo, seja x = (111111 . . .) e y = (000000 . . .), ent˜ ao x − y = (x1 − y1 , x2 − y2 , x3 − y3 , . . .) = (1 − 0, 1 − 0, 1 − 0, 1 − 0, . . .) = (1, 1, 1, 1, . . .) portanto σ(x, y) =
∞ X
n=1
|xn − yn |
= |x1 − y1 | + |x2 − y2 | + |x3 − y3 | + · · · = 1 + 1 + 1 + 1 + ··· Esta s´erie n˜ ao converge. Para contornar esta situa¸ca˜o vamos introduzir um “fator de convergˆencia” na s´erie anterior. Para mostrar que a aplica¸ca˜o ∞
ν: S
∞
×S
dada por ν(x, y) =
−→ R
∞ X |xn − yn | 2n n=1
est´ a bem definida, devemos mostrar que esta s´erie ´e convergente. ∞ Ent˜ ao, observe que para quaisquer x, y em S vale 0 ≤ |xn − yn | ≤ 1. Dividindo esta dupla desiguladade por 2n , temos 0≤
|xn − yn | 1 ≤ n 2n 2
P∞ 1 P∞ como a s´erie erie n=1 2n converge segue-se que a s´ n=1 converge. Sendo assim ν est´ a bem definida. A prop´ osito observe que ν(x, y) =
|xn −yn | 2n
tamb´em
∞ ∞ X |xn − yn | X 1 ≤ = 1. 2n 2n n=1 n=1
Resumindo: 0 ≤ uˆencias do espa¸co ν(x, y) ≤ 1. Isto ´e, a distˆancia entre duas seq¨ ∞ m´etrico S , ν nunca excede a unidade. Dos requisitos para uma m´etrica vamos mostrar que ν satisfaz a desigualdade triangular: A seguinte desigualdade |xn − yn | ≤ |xn − zn | + |zn − yn | 115
´e v´alida para xn , yn e zn reais (´e mais do que necessitamos). Dividindo a desigualdade anterior por 2n , temos |xn − yn | |x − z | |z − y | ≤ n n n + n n n n 2 2 2 por conseguinte ∞ ∞ ∞ X |xn − yn | X |xn − zn | X |zn − yn | ≤ + 2n 2n 2n n=1 n=1 n=1
isto ´e, ν(x, y) ≤ ν(x, z) + ν(z, y) Exemplos: Considere x = (111111 . . .), y = (000000 . . .) e z = (010101 . . .); calcule as distˆancias entre x e y e x e z. Solu¸ c˜ ao: x − y = (x1 − y1 , x2 − y2 , x3 − y3 , . . .) = (1 − 0, 1 − 0, 1 − 0, 1 − 0, . . .) = (1, 1, 1, 1, . . .). portanto ν(x, y) =
∞ X |xn − yn | 2n n=1
|x1 − y1 | |x2 − y2 | |x3 − y3 | + + + ··· 21 22 23 1 1 1 = 1 + 2 + 3 · · · = 1. 2 2 2
=
tamb´em x − z = (x1 − z1 , x2 − z2 , x3 − z3 , . . .) = (1 − 0, 1 − 1, 1 − 0, 1 − 1, . . .) = (1, 0, 1, 0, 1, 0, . . .). Portanto, ν(x, z) =
∞ X |xn − yn | 1 0 1 0 1 0 = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· n 2 2 2 2 2 2 2 n=1
=
1 1 1 1 + + + ··· = 2 2 8 32 1−
1 4
=
2 . 3 ∞
A proposi¸ca˜o seguinte assevera que se x e y s˜ao duas seq¨ uˆencias de S coincidentes nas primeiras j posi¸co˜es, ent˜ ao suas distˆancias n˜ ao excede 21j e rec´ıprocamente.
116
∞
Proposi¸ c˜ ao 25. Sejam x e y ∈ S e suponha xn = yn para n = 1, 2, . . . , j. ao xn = yn para n ≤ j. Ent˜ ao ν(x, y) ≤ 21j . Rec´ıprocamente, se ν(x, y) < 21j ent˜ Prova: (⇒) Se xn = yn para n ≤ j, ent˜ ao ν(x, y) =
=
∞ X |xn − yn | 2n n=1 j ∞ X X |xn − yn | |xn − yn | + n 2 2n n=1 n=j+1 | {z } =0
≤
∞ X
n=j+1
1 1 1 1 1 n = j+1 + j+2 + j+3 + · · · = 2 2 2 2 2j
(⇐) (T´ecnica (T-1) pg. 23) Suponha xk 6= yk para algum k ≤ j , ent˜ ao k ∞ X |xn − yn | X |xn − yn | 1 1 ≥ ≥ k ≥ j ν(x, y) = n n 2 2 2 2 n=1 n=1
Coment´ arios: A primeira das desigualdades acima ´e sempre v´alida (´ obvio, pois somar infinitos termos positivos resulta sempre maior ou igual ao resultado da soma de uma quantidade finita destes mesmos termos ). A segunda desigualPk |x −y | dade se justifica pois a soma n=1 n2n n ´e no m´ınimo gual a 1k , pois para o 2 ´ındice k temos xk 6= yk , isto ´e |xk − yk | = 1. A u ´ ltima desigualdade decorre de j ≥ k ⇒ 2j ≥ 2k ⇒
1 1 j ≤ 2 2k
A importˆ ancia deste resultado ´e que podemos decidir de imediato quando ou ∞ n˜ ao duas seq¨ uˆencias em S est˜ ao pr´oximas uma da outra. Intuitivamente este ∞ resultado diz que duas seq¨ uˆencias em S est˜ ao pr´oximas se suas “primeiras” entradas coincidem. ⊙
⊙
⊙
Para futuras referˆencias, mencionaremos uma generaliza¸ca˜o para n pontos, da desigualdade triangular: d(x1 , xn ) ≤ d(x1 , x2 ) + d(x2 , x3 ) + · · · + d(xn−1 , xn ) (M, d) • x1
• xn • x2
• x3
...
• xn−1
Esta desigualdade pode ser estabelecida por indu¸ca˜o sobre n. A seguinte desigualdade tamb´em nos ser´a u ´ til futuramente: 117
(2.15)
Proposi¸ c˜ ao 26. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se x, y e z s˜ ao pontos quaisquer em M , ent˜ ao a seguinte desigualdade d(x, y) − d(x, z) ≤ d(y, z)
´e verdadeira.
Prova: Da desigualdade triangular temos d(x, y) − d(x, z) ≤ d(z, y)
(♮)
Por outro lado a mesma desiguldade triangular pode ser expressa como d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z) ⇒ d(x, z) − d(x, y) ≤ d(y, z)
(♯)
De ( ♮ ) e ( ♯ ) obtemos: d(x, y) − d(x, z) ≤ d(y, z).
2.4
Distˆ ancia entre Ponto e Conjunto
Lembramos - da Geometria Anal´ıtica - que a distˆancia de um ponto p = x0 , y0 a uma reta r : ax + by + c = 0 ´e dada por y6
p •
dpr
dpr
a x0 + b y0 + c = √ a2 + b 2
0
q
r
-x
Ainda aqui temos uma situa¸ca˜o suscet´ıvel de generaliza¸ca˜o no contexto dos espa¸cos m´etricos: Defini¸ c˜ ao 23. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Dados X ⊂ M (X 6= ∅) e p ∈ M , chama-se distˆ ancia de p ao conjunto X, e indica-se por d(p, X), o seguinte n´ umero real n˜ ao negativo: d(p, X) = inf d( p, x) : x ∈ X 118
Observe d( p, X) assim definida existe pelo fato de que o conjunto d( p, x) : x ∈ X ´e limitado inferiormente por zero, pois 0 ≤ d( p, x), ∀ x ∈ X (ver prop. 21, pg. 65). Exemplos: 1) Seja M = R, p = 0 e seja 1 1 1 1 : n ∈ N = 1, , , , . . . ⊂ R. n 2 3 4 • No espa¸co (R, δ), temos X=
d(p, X) = inf { d(p, x) : x ∈ X } o n 1 = inf δ(0, x) : x ∈ { : n ∈ N } n 1 = inf δ(0, ) : n ∈ N n 1 1 = inf δ(0, 1), δ(0, ), δ(0, ), . . . 2 2 = inf { 1, 1, 1, . . .} = 1.
• No espa¸co (R, µ), temos
d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X n o 1 = inf µ(0, x) : x ∈ { : n ∈ N} n o n 1 = inf 0 − : n ∈ N n = inf
o n1 : n ∈ N = 0. n
Ver exemplo 2 (pg. 63). 2) Uma Patologia Seja M = [ 0, 1 [, seja X = [ 12 , 1 [ ⊂ M e seja p = 0 ∈ M . Veja, 0
1
s
0
1
1 2
M
X
Temos (ver subespa¸co, pg. 145), d(0, X) = 1/2,
no espa¸co
[ 0, 1 [, µ
d(0, X) = 0,
no espa¸co
[ 0, 1 [, k
De fato, d(0, X) = inf d(0, x) : x ∈ X = inf µ(0, x) : x ∈ X }
1 1 ,1 = = inf |x − 0| : x ∈ 2 2 119
Por outro lado, d(0, X) = inf d(0, x) : x ∈ X
1 = inf k(0, x) : x ∈ ,1 } 2
Temos (ver equa¸ca˜o (2.2), pg. 90), 1 1 1 ≤x <1 ⇒ 0<1−x≤ ⇒ k(0, x) = 1 − x ∈ 0, 2 2 2
Portanto,
1 1 = 0. , 1 } = inf 0, d(0, X) = inf k(0, x) : x ∈ 2 2 3) Seja M = [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ o quadrado unit´ ario, X = 21 , 1 × 21 , 1 ⊂ M ; e p = (0, 0) ∈ M . Vamos mostrar que, √ [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, D1 d(0, X) = 2/2, no espa¸co d(0, X) = 1, no espa¸co [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, D2 1
1
¬ 1 2
0
¬
1 2
s
1
0
1
De fato, d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X = inf D1 (0, 0); (x, y) : (x, y) ∈ X = inf
np o 1 (x − 0)2 + (y − 0)2 : ≤ x, y < 1 2
para encontrar d(p, X) vamos encontrar o ´ınfimo da fun¸ca˜o, F (x, y) = Ent˜ ao,
p 1 x2 + y 2 , para ≤ x, y < 1. 2
1 1 1 1 ≤x<1 ⇒ ≤ x2 < 1 / ≤y<1 ⇒ ≤ y 2 < 1, 2 4 2 4 120
portanto, 1 ≤ x2 + y 2 < 2 ⇒ 2 conclus˜ao: se
1 2
≤ x, y < 1 implica que F (x, y) =
portanto,
√ √ 2 p 2 ≤ x + y2 < 2 2
h p x2 + y 2 ∈
√ 2 √ h , 2 2
p 1 x2 + y 2 : ≤ x, y < 1 2 h √2 √ h √2 = inf , 2 = 2 2
d(p, X) = inf
Por outro lado,
d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X = inf D2 (0, 0); (x, y) : (x, y) ∈ X
o n 1 = inf |x − 0| + |y − 0| : ≤ x, y < 1 2
para encontrar d(p, X) vamos encontrar o ´ınfimo da fun¸ca˜o, F (x, y) = |x| + |y| , para
1 ≤ x, y < 1. 2
Ent˜ ao, 1 1 ≤x<1 / ≤y <1 ⇒ 1≤x+y <2 2 2 portanto, d(p, X) = inf [ 1, 2 [= 1. Proposi¸ c˜ ao 27. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se X ⊂ M (X 6= ∅) e p, q s˜ ao pontos fixados em M , tem-se d(p, X) − d(q, X) ≤ d(p, q) Prova: Tomemos y ∈ X arbitr´ario. Temos d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X ≤ d(p, y), uma vez que d(p, y) ´e um elemento do conjunto d(p, x) : x ∈ X . Portanto d(p, X) ≤ d(p, y) ≤ d(p, q) + d(q, y)
logo, d(p, X) − d(p, q) ≤ d(q, y). Como esta desigualdade vale para y ∈ X arbitr´ario, segue que a constante (n´ umero real) d(p, X) − d(p, q) ´e uma cota inferior do conjunto {d(q, x) : x ∈ X} 121
como inf {d(q, x) : x ∈ X} = d(q, X) ´e a maior de tais cotas, segue que d(p, X) − d(p, q) ≤ d(q, X) Esta desigualdade continua v´alida permutando-se p e q: d(q, X) − d(q, p) ≤ d(p, X) Destas desigualdades decorrem, respectivamente, d(p, X) − d(q, X) ≤ d(p, q) −d(p, q) ≤d(p, X) − d(q, X) donde −d(p, q) ≤ d(p, X) − d(q, X) ≤ d(p, q) isto ´e, d(p, X) − d(q, X) ≤ d(p, q)
O pr´oximo ´ıtem generaliza o anterior (Distˆancia entre ponto e conjunto).
2.5
Distˆ ancia entre conjuntos
Defini¸ c˜ ao 24. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Dados dois subconjuntos X e Y do conjunto M , ambos n˜ ao vazios, chama-se distˆ ancia de X a Y , e indica-se por D(X, Y ), o n´ umero real obtido da seguinte forma: D(X, Y ) = inf d(x, y) : x ∈ X e y ∈ Y
Observe que 0 ≤ d(x, y), ∀ x ∈ X, ∀ y ∈ Y . Isto implica em que o conjunto d(x, y) : x ∈ X e y ∈ Y ´e limitado inferiormente por zero, o que significa que D(X, Y ) sempre existe. Alternativamente podemos escrever D(X, Y ) = inf d(x, y) : (x, y) ∈ X × Y
Exemplos: 1) No conjunto S4 , sejam X, Y ⊂ S4 dados por
X = 0001, 0100, 1100 Y = 0101, 0011
• No espa¸co m´etrico S4 , σ temos o seguinte diagrama de distˆancias 122
Y
6
0011
1
3
4
0101
1
1
2
0001
0100
1100
-X
portanto, D(X, Y ) = inf σ(x, y) : (x, y) ∈ X × Y = inf { 1, 2, 3, 4 } = 1.
isto ´e
D {0001, 0100, 1100}; {0101, 0011} = 1.
2) Seja M = R; sejam X = [ 0, 1 ] e Y =] 3, 4 ] q0
q1
q2
q3
q4
q5
-R
• No espa¸co m´etrico ( R, δ), temos D(X, Y ) = inf δ(x, y) : x ∈ [ 0, 1 ] e y ∈ ] 3, 4 ]
Como X ∩ Y = ∅ segue que x 6= y, ∀ x ∈ X e ∀ y ∈ Y , portanto δ(x, y) = 1 para quaisquer (x, y) ∈ X × Y . Portanto, D [ 0, 1 ]; ] 3, 4 ] = inf δ(x, y) : x ∈ [ 0, 1 ] e y ∈] 3, 4 ] = inf { 1 } = 1.
• No espa¸co m´etrico ( R, µ), temos D(X, Y ) = inf µ(x, y) : x ∈ [ 0, 1 ] e y ∈ ] 3, 4 ] = inf |x − y| : x ∈ [ 0, 1 ] e y ∈ ] 3, 4 ]
como 0 ≤ x ≤ 1 e 3 < y ≤ 4, temos −4 ≤ x − y < −2, isto ´e, 2 < y − x ≤ 4, portanto 2 < |y − x| ≤ 4. Resumindo: Se 0 ≤ x ≤ 1 e 3 < y ≤ 4 ent˜ ao |y − x| ∈ ] 2, 4 ]. Portanto, D [ 0, 1 ]; ] 3, 4 ] = inf |x − y| : 0 ≤ x ≤ 1, 3 < y ≤ 4 = inf ] 2, 4 ] = 2. 123
3) Seja M = R; sejam X = { 0 } e Y = s ⊢ 0
rrrrr r r r . . . 41
r
1 3
r
1 :n∈N . n
1 2
r
-R
1
• No espa¸co m´etrico ( R, δ), temos 1 :n∈N D(X, Y ) = inf δ(x, y) : x ∈ { 0 } e y ∈ n 1 1 = inf δ(0, 1), δ 0, , δ 0, ,... 2 3 = inf { 1, 1, 1, . . .} = 1.
Portanto, 1 : n ∈ N = 1. D { 0 }; n
• No espa¸co m´etrico ( R, µ), temos 1 D(X, Y ) = inf |x − y| : x ∈ { 0 } e y ∈ :n∈N n 1 = inf 0 − : n ∈ N n 1 : n = 1, 2, . . . = 0. = inf n Observe que X ∩ Y = ∅ e, no entanto, D(X, Y ) = 0.
2.6
Conjuntos limitados − Diˆ ametro
Defini¸ c˜ ao 25 (Conjunto limitado). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X um subconjunto de M . Se existir uma constante c > 0 tal que d(x, y) ≤ c para quaisquer x e y em X, dizemos que X ´e um conjunto limitado no espa¸co m´etrico (M, d). Exemplos: 1) R ´e limitado no espa¸co m´etrico (R, δ), pois δ(x, y) ≤ 1, ∀x, y ∈ R. 2) R n˜ ao ´e limitado no espa¸co m´etrico (R, µ), pois n˜ ao existe uma constante c > 0 de modo que, por exemplo, |x − 0| ≤ c, ∀ x ∈ R. 3) O conjunto SN das seq¨ uˆencias de comprimento N ´e limitado no espa¸co m´etrico SN , σ , pois duas seq¨ uˆencias quaisquer, neste conjunto, diferem em, no m´aximo, N posi¸co˜es: σ(x, y) ≤ N,
∀ x, y ∈ SN .
A prop´ osito as seq¨ uˆencias x = (000 . . . 0) e y = (111 . . . 1) diferem em N posi¸co˜es. 124
4) O conjunto SN ´e limitado no espa¸co m´etrico SN , ρ pois, ρ(x, y) ≤ 2N − 1, ∀ x, y ∈ SN (ver pg. 140). ∞ 5) O conjunto S das seq¨ uˆencias de comprimento infinito, ´e limitado no espa¸co ∞ m´etrico S , ν pois, conforme j´ a vimos (pg. 115) temos ν(x, y) ≤ 1, ∀ x, y ∈ ∞ S . Se existir uma tal constante c > 0 de modo que d(x, y) ≤ c para quaisquer x e y em X ent˜ ao o conjunto d(x, y) : x, y ∈ X ´e limitado superiormente e o seu supremo chama-se diˆ ametro de X e ´e denotado por diam (X). Sendo assim: diam (X) = sup d(x, y) : x, y ∈ X Alternativamente podemos escrever diam (X) = sup d(x, y) : (x, y) ∈ X × X
Se o conjunto X n˜ ao ´e limitado, por defini¸ca˜o, colocamos diam(X) = ∞. Exemplos: 1) Seja M = R = X. No espa¸co m´etrico ( R, δ) o diˆametro de R fica: diam(R) = sup δ(x, y) : x, y ∈ R = sup { 0, 1 } = 1. 2) Seja M = [ 0, 1 [, temos:
De fato,
diam(M ) = 1,
no espa¸co
[ 0, 1 [, µ
diam(M ) = 1/2,
no espa¸co
[ 0, 1 [, k
diam (M ) = sup |x − y| : (x, y) ∈ [ 0, 1 [×[ 0, 1 [
Ent˜ ao,
0 ≤ x, y < 1 ⇒ 0 ≤ |x − y| < 1
(2.16)
Portanto, diam (M ) = sup [ 0, 1 [= 1. Por outro lado,
Observe que,
diam (M ) = sup k(x, y) : (x, y) ∈ [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [
|x − y|, k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y| = 1 − |x − y|,
Ent˜ ao, se
|x − y| ≤ Caso contr´ ario |x − y| ≥ 1/2 ⇒
se |x − y| ≤ 21 ; se |x − y| ≥ 12 .
1 1 ⇒ k(x, y) = |x − y| ∈ 0, 2 2 1 1 ≤ |x − y| < 1 ⇒ 0 < 1 − |x − y| ≤ 2 2 125
sendo assim
Portanto
1 k(x, y) = 1 − |x − y| ∈ 0, 2
1 diam (M ) = sup k(x, y) : (x, y) ∈ [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ = 2
3) No espa¸co (S∞ , ν) temos
0 ≤ ν(x, y) ≤ 1 ⇒ ν(x, y) ∈ [ 0, 1 ]. Portanto, diam (S∞ ) = sup {ν(x, y) : (x, y) ∈ S∞ × S∞ } = sup [ 0, 1 ] = max [ 0, 1 ] = 1.
4) No espa¸co SN , σ temos que
σ(x, y) ∈
Portanto
0, 1, 2, . . . , N
diam SN = sup σ(x, y) : (x, y) ∈ SN × SN
= sup {0, 1, 2, . . . , N } = max {0, 1, 2, . . . , N } = N.
5) No espa¸co SN , ρ temos que
ρ(x, y) ∈
Portanto,
0, 1, 2, . . . , 2N − 1
diam SN = sup ρ(x, y) : (x, y) ∈ SN × SN = sup 0, 1, 2, . . . , 2N − 1 = 2N − 1.
6) Diˆ ametro do disco unit´ ario. Vamos calcular o diˆametro do seguinte conjunto R
x2 6
1
D
D=
x = (x1 , x2 ) ∈ R2 : x21 + x22 ≤ 1
no espa¸co m´etrico R2 , D1 . Temos
−1
1
x1 R
−1
Seja p = (0, 0) e sejam x = (x1 , x2 ) ∈ D e y = (y1 , y2 ) ∈ D arbitr´arios. D1 (x, y) ≤ D1 (x, p) + D1 (p, y) ≤ 2 126
porquanto p D1 (x, p) = D1 (x1 , x2 ), (0, 0) = (x1 − 0)2 + (x2 − 0)2 ≤ 1 p D1 (p, y) = D1 (0, 0), (y1 , y2 ) = (0 − y1 )2 + (0 − y2 )2 ≤ 1
Pois bem, 2 ´e uma cota superior do conjunto {D1 (x, y) : x, y ∈ D} = K. Para mostrar que 2 = sup K ´e suficiente, consoante o lema 1 (⇐) pg. 59, para todo ε > 0 dado exibir x, y ∈ D tais que: 2 − ε < D1 (x, y). Consideremos duas possibilidades: 1a ) ε ≥ 2, isto ´e, 2 − ε ≤ 0. Neste caso quaisquer x e y em D nos serve uma vez que D1 (x, y) > 0. 2a ) 0 < ε < 2. Neste caso temos 2 − ε > 0, pela propriedade arquimediana (pg. 65) existe n = nε ∈ N de modo que n > 2−ε ε . Vamos mostrar que, para este n, os pontos n n x= ,0 e y= − ,0 n+1 n+1 satisfazem as duas seguintes exigˆencias: a) x, y ∈ D, porquanto ±
n 2 + 02 ≤ 1 ⇐⇒ n ≤ n + 1 n+1
b) 2 − ε < D1 (x, y), porquanto r 2 n n + (0 − 0)2 = D1 (x, y) = n+1 − − n+1
2n n+1
e
2n 2−ε > 2 − ε ⇐⇒ n > n+1 ε
Esta u ´ ltima desigualdade ´e verdadeira porque assim escolhemos, a priori, o valor de n. Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que √ diam(D) = 2 2, na m´etrica D2 , diam(D) = 2,
na m´etrica D3 .
E mais: os pontos x, y cujas distˆancias proporcionam o diˆametro, em cada caso, s˜ao extremidades das cordas nas figuras a seguir:
Ou seja: Na m´etrica euclidiana a equa¸ca˜o D1 (x, y) = diam(D) ´e satisfeita por quaisquer pontos x, y extremos das cordas que passam pelo centro do disco. Na m´etrica D2 a equa¸ca˜o D2 (x, y) = diam(D) ´e satisfeita apenas pelos pontos x, y extremos das cordas que passam pelo centro segundo os ˆangulos de 45◦ e 127
135◦ . Na m´etrica D3 a equa¸ca˜o D3 (x, y) = diam(D) ´e satisfeita apenas pelos pontos x, y extremos das cordas que passam pelo centro segundo os ˆangulos de 0◦ e 90◦ . No caso da m´etrica D2 o diˆametro de D ´e como na figura a seguir: √
√ 2 2 2 , 2
−
√
√ 2 2 2 ,− 2
diam(D)=D2 (
√ √ √ √ 2 2 2 2 2 , 2 );(− 2 ,− 2 )
˛√ ˛ ˛√ ˛ √ √ ˛ ˛ ˛ ˛ =˛ 22 −(− 22 )˛+˛ 22 −(− 22 )˛
√ =2 2.
Apˆ endice: Demonstra¸c˜ oes 1. Vamos provar que [ 0, 1 [, k ´e um espa¸co m´etrico (pg. 89).
Teorema 2 (M´ etrica Divina/Gentil/23.05.08). A aplica¸ca ˜o, k : [ 0, 1 [ ×[ 0, 1 [−→ R
definida por
k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y|
´e uma m´etrica sobre M = [ 0, 1 [.
Prova: (M1 ) k(x, y) ≥ 0 e k(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y ; Temos ( 0≤x<1 0≤y<1
⇒
(
0≤x<1 −1 < −y ≤ 0
⇒ −1 < x − y < 1 ⇒ |x − y| < 1.
Sendo assim mostramos que k(x, y) ≥ 0. Agora suponhamos, k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y| = 0
J´a vimos que |x − y| < 1, isto ´e, 1 − |x − y| > 0. Ent˜ ao se k(x, y) = 0 s´o pode ser porque |x − y| = 0, isto ´e, x = y. Reciprocamente, se x = y, resulta, k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y| = min |0|, 1 − |0| = 0. (M2 ) k(x, y) = k(y, x) ;
Temos k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y| = min |y − x|, 1 − |y − x| = k(y, x). (M3 ) k(x, y) ≤ k(x, z) + k(z, y).
128
Devemos mostrar que k(x, y) ≤ k(x, z) + k(z, y). Isto ´e, min |x − y|, 1 − |x − y| ≤ min |x − z|, 1 − |x − z| + min |z − y|, 1 − |z − y|
(2.17)
Vamos separar o nosso problema em oito possibilidades, conforme tabela a seguir,
k(x, y)
k(x,z)
k(z,y)
Temos:
|x−y|
|x−z|
|z−y|
(P1)
1−|x−y|
|x−z|
|z−y|
(P2)
|x−y|
1−|x−z|
|z−y|
(P3)
1−|x−y|
1−|x−z|
|z−y|
|x−y|
|x−z|
1−|x−y|
|x−y|≤1−|x−y| ⇔ |x−y| ≤
1 2
1−|x−y|≤|x−y| ⇔ |x−y| ≥
1 2
(P4)
|x−z|≤1−|x−z| ⇔ |x−z| ≤
1 2
1−|z−y|
(P5)
1−|x−z|≤|x−z| ⇔ |x−z| ≥
1 2
|x−z|
1−|z−y|
(P6)
|x−y|
1−|x−z|
1−|z−y|
(P7)
1−|x−y|
1−|x−z|
1−|z−y|
(P8)
|z−y|≤1−|z−y| ⇔ |z−y| ≤
1 2
1−|z−y|≤|z−y| ⇔ |z−y| ≥
1 2
Ent˜ ao: (P1) Neste caso a desigualdade (2.17) reduz-se a |x − y| ≤ |x − z| + |z − y| a qual ´e trivialmente satisfeita por tratar-se da desigualdade triangular para n´ umeros reais. (P2) Neste caso a desigualdade (2.17) reduz-se a 1 − |x − y| ≤ |x − z| + |z − y| Vamos mostrar a desigualdade equivalente |x − y| + |x − z| + |z − y| ≥ 1 Observe que na possibilidade (P2) se verifica |x − y| ≥
(2.18) 1 2
(∗).
Inicialmente vamos mostrar que n˜ ao podemos ter |x − z| + |z − y| <
1 2
De fato, se isto fosse poss´ıvel teriamos (utilizando a desigualdade triangular) 1 |x − y| ≤ |x − z| + |z − y| < 2 contradizendo (∗). Sendo assim s´o pode ser |x − z| + |z − y| ≥ juntamente com (∗), nos fornece a desigualdade (2.18). 129
1 2
o que,
(P3) Neste caso a desigualdade (2.17) reduz-se a |x − y| ≤ 1 − |x − z| + |z − y| Vamos mostrar a desigualdade equivalente |x − y| + |x − z| − |z − y| ≤ 1
(2.19)
Pois bem, pela desigualdade triangular podemos escrever |x − z| ≤ |x − y| + |y − z| ⇐⇒ |x − z| − |z − y| ≤ |x − y| somando |x − y| a ambos os membros desta u ´ ltima desigualdade, obtemos |x−y|+|x−z|−|z−y| ≤ |x−y|+|x−y| ⇐⇒ |x−y|+|x−z|−|z−y| ≤ 2|x−y| ≤ 1. Na u ´ ltima desigualdade usamos o fato de que na possibilidade (P3) se verifica |x − y| ≤ 21 . (P4) Neste caso a desigualdade (2.17) reduz-se a 1 − |x − y| ≤ 1 − |x − z| + |z − y| Esta desigualdade ´e equivalente `a seguinte |x − z| ≤ |x − y| + |y − z| a qual ´e sempre verdadeira por tratar-se da desigualdade triangular para n´ umeros reais. (P5) Neste caso a desigualdade (2.17) reduz-se a |x − y| ≤ |x − z| + 1 − |z − y| Vamos mostrar a desigualdade equivalente |x − y| + |z − y| − |x − z| ≤ 1
(2.20)
Pois bem, pela desigualdade triangular podemos escrever |z − y| ≤ |z − x| + |x − y| ⇐⇒ |z − y| − |x − z| ≤ |x − y| somando |x − y| a ambos os membros desta u ´ ltima desigualdade, obtemos |x−y|+|z−y|−|x−z| ≤ |x−y|+|x−y| ⇐⇒ |x−y|+|z−y|−|x−z| ≤ 2|x−y| ≤ 1. Na u ´ ltima desigualdade usamos o fato de que na possibilidade (P5) se verifica |x − y| ≤ 21 . (P6) Neste caso a desigualdade (2.17) reduz-se a 1 − |x − y| ≤ |x − z| + 1 − |z − y| Esta desigualdade ´e equivalente `a seguinte |z − y| ≤ |z − x| + |x − y| 130
a qual ´e sempre verdadeira por tratar-se da desigualdade triangular para n´ umeros reais. (P7) Neste caso a desigualdade (2.17) reduz-se a |x − y| ≤ 1 − |x − z| + 1 − |z − y| Vamos mostrar a desigualdade equivalente |x − y| + |x − z| + |z − y| ≤ 2
(2.21)
Na possibilidade (P7) se verifica: (i) |x − y| ≤
1 2
(ii) |x − z| ≥
1 2
(iii) |z − y| ≥
1 . 2
Se dividirmos o intervalo [ 0, 1 [ ao meio; por (ii) vemos que x e z n˜ ao podem figurar na mesma metade do intervalo. Por (iii) acontece o mesmo com respeito a z e y. Devemos ter a seguinte configura¸ca˜o: t
y
⊢
0
t
x
t
z
⊢
1 2
1
A partir de (2.21) podemos escrever f (x, y, z) = |x − y| + |x − z| + |z − y|. Vamos mostrar que o maior valor que esta fun¸ca˜o pode assumir n˜ ao excede 2. Tendo em conta a figura anterior temos que, |x − y| = x − y,
|x − z| = z − x,
|z − y| = z − y
N˜ ao faz mal supor x ` a direita de y. Logo, f (x, y, z) = 2(z − y), ent˜ ao, ( 0 ≤ y ≤ 12 1 ⇒ − ≤ −y ≤ 0 ⇒ 0 ≤ z−y < 1 ⇒ 0 ≤ 2(z−y) < 2. 1 2 ≤z<1 2
Daqui inferimos que f (x, y, z) = |x−y|+|x−z|+|z −y| = 2(z −y) < 2, donde concluimos que a desigualdade (2.21) ser´a sempre verdadeira. (P8) Neste caso a desigualdade (2.17) reduz-se a 1 − |x − y| ≤ 1 − |x − z| + 1 − |z − y|
(2.22)
Esta alternativa (possibilidade) s´o pode ocorrer se tivermos simultˆ aneamente, (i) |x − y| ≥
1 2
(ii) |x − z| ≥
1 2
(iii) |z − y| ≥
1 . 2
Vamos mostrar que, dados trˆes pontos x, y e z arbitr´arios, estas trˆes possibilidades jamais ocorrem simultˆ aneamente e, por conseguinte, a possibilidade (2.22) n˜ ao pode ocorrer (pode ser ignorada, descartada). Com efeito, dados trˆes pontos x, y e z arbitr´arios existem as seguintes possibilidades: a) x = y = z b) x = y 6= z c) x = z 6= y d) y = z 6= x e) x 6= y 6= z. 131
As possibilidades a) e b) contradizem (i), a possibilidade c) contradiz (ii) e a possibilidade d) contradiz (iii). Portanto, s´o nos resta considerar a possibilidade e), em que os trˆes pontos s˜ao distintos. Ora, como ´e imposs´ıvel situarmos (ou escolhermos) trˆes pontos distintos, no intervalo [ 0, 1 [, satisfazendo (i), (ii) e (iii) simultˆ aneamente∗ segue que (2.22) jamais ocorre. 2. Rn , D1 ´e um espa¸co m´etrico. Vamos mostrar que
p D1 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = (x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2 ,
´e uma m´etrica sobre Rn . (M1 ) : Claramente D1 (x, y) ≥ 0. Tamb´em D1 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = 0, ⇔ p (x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2 = 0, ⇔ (x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2 = 0, ⇔ (xi − yi )2 = 0
(1 ≤ i ≤ n),
⇔
xi = yi (1 ≤ i ≤ n),
⇔
(x1 , . . . , xn ) = (y1 , . . . , yn ). (M2 ) : p D1 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = (x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2 p = (y1 − x1 )2 + · · · + (yn − xn )2 = D1 (y1 , . . . , yn ); (x1 , . . . , xn )
(M3 ) : Para demonstrar a desigualdade triangular devemos, antes, estabelecer a desigualdade de Cauchy-Schwarz no Rn cujo enunciado ´e o seguinte: Se x1 , . . . , xn e y1 , . . . , yn s˜ao n´ umeros reais arbitr´arios, ent˜ ao ! ! 1/2 1/2 n n n X X X x y ≤ y2 · x2 i
i=1
i
i
i
i=1
i=1
De fato, consideremos a desigualdade
(r − s)2 = r2 − 2rs + s2 ≥ 0 ⇔ 2rs ≤ r2 + s2 , v´alida para quaisquer r, s ∈ R. Sendo assim, se fizermos q q p = x21 + · · · + x2n e q = y12 + · · · + yn2
∗ Observe que estas trˆ es condi¸co ˜es nos dizem que os trˆ es pontos devem estar − simultˆ aneamente − em metades opostas do intervalo unit´ ario o que ´ e, evidentemente, imposs´ıvel.
132
s˜ao verdadeiras as desigualdades 2·
y2 x2 |xi | |yi | · ≤ 2i + i2 p q p q
(1 ≤ i ≤ n)
Somando em rela¸ca˜o ao ´ındice i teremos 2 X |xi yi | ≤ 1 + 1 p·q
logo
X
|xi yi | ≤ p · q =
q q x21 + · · · + x2n · y12 + · · · + yn2
que ´e a desigualdade de Cauchy-Schwarz. Agora estamos habilitados a demonstrar a desigualdade triangular. Sejam x = x1 , . . . , xn , y = y1 , . . . , yn e z = z1 , . . . , zn pontos do Rn . Ent˜ ao: n n h 2 2 X i2 X xi − zi + zi − yi xi − yi = = D1 x, y i=1
i=1
=
n X i=1
≤ +
n X i=1
n X i=1
xi − zi xi − zi zi − yi
2
+2
2
+2
n X
xi − zi
i=1
n hX i=1
n 2 X zi − yi zi − yi + i=1
n 2 i1/2 2 i1/2 h X · zi − yi xi − zi i=1
2
v v 2 u n u n uX 2 uX 2 =t xi − zi + t zi − yi i=1
i=1
2 = D1 (x, z) + D1 (z, y)
Por conseguinte: D1 (x, y) ≤ D1 (x, z) + D1 (z, y). 3. Rn , D2 ´e um espa¸co m´etrico. Vamos mostrar que D2 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | ´e uma m´etrica sobre Rn .
(M1 ) : Claramente D2 (x, y) ≥ 0. Tamb´em D2 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = 0, ⇔ |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | = 0, ⇔
|x1 − y1 | = 0, . . . , |xn − yn | = 0, ⇔ |xi − yi | = 0
(1 ≤ i ≤ n),
⇔
xi = yi (1 ≤ i ≤ n),
⇔
(x1 , . . . , xn ) = (y1 , . . . , yn ). 133
(M2 ) : D2 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn |
= |y1 − x1 | + · · · + |yn − xn |
= D2 (y1 , . . . , yn ); (x1 , . . . , xn )
(M3 ) : Sejam x = x1 , . . . , xn , y = y1 , . . . , yn e z = z1 , . . . , zn pontos do Rn . Devemos mostrar que D2 x, y ≤ D2 x, z + D2 z, y
Ou ainda
|x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | ≤ |x1 − z1 | + · · · + |xn − zn | + |z1 − y1 | + · · · + |zn − yn | Temos x1 − y1 = x1 − z1 + z1 − y1
.............................. xn − yn = xn − zn + zn − yn destas igualdades decorrem |x1 − y1 | ≤ |x1 − z1 | + |z1 − y1 |
.............................. |xn − yn | ≤ |xn − zn | + |zn − yn | Somando estas n desigualdades decorre o resultado desejado. Por conseguinte: D2 (x, y) ≤ D2 (x, z) + D2 (z, y). 4. Rn , D3 ´e um espa¸co m´etrico. Vamos mostrar que D3 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = max |x1 − y1 |, . . . , |xn − yn | ´e uma m´etrica sobre Rn .
(M1 ) : Claramente D3 (x, y) ≥ 0. Tamb´em D3 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = 0, ⇔ max |x1 − y1 |, . . . , |xn − yn | = 0, ⇔ |x1 − y1 | = 0, . . . , |xn − yn | = 0, ⇔ |xi − yi | = 0
(1 ≤ i ≤ n), ⇔
xi = yi (1 ≤ i ≤ n), ⇔ (x1 , . . . , xn ) = (y1 , . . . , yn ). 134
(M2 ) : D2 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = max{|x1 − y1 |, . . . , |xn − yn | = max |y1 − x1 |, . . . , |yn − xn | = D3 (y1 , . . . , yn ); (x1 , . . . , xn ) (M3 ) : Sejam x = x1 , . . . , xn , y = y1 , . . . , yn e z = z1 , . . . , zn pontos do Rn . Devemos mostrar que D3 x, y ≤ D3 x, z + D3 z, y Ou ainda
max |x1 − y1 |, . . . , |xn − yn | ≤ max |x1 − z1 |, . . . , |xn − zn | + max |z1 − y1 |, . . . , |zn − yn |
Observe que max |x1 − y1 |, . . . , |xn − yn | = |xi − yi | para algum 1 ≤ i ≤ n; (2.23) max |x1 − z1 |, . . . , |xn − zn | = |xj − zj | para algum 1 ≤ j ≤ n; (2.24) max |z1 − y1 |, . . . , |zn − yn | = |zk − yk | para algum 1 ≤ k ≤ n. (2.25) Sendo assim devemos mostrar que |xi − yi | ≤ |xj − zj | + |zk − yk | Temos por (2.24) ⇒
por (2.25) ⇒
|xi − zi | ≤ |xj − zj |
|zi − yi | ≤ |zk − yk |
Sendo assim, resulta |xi − yi | ≤ |xi − zi | + |zi − yi | ≤ |xj − zj | + |zk − yk | Por conseguinte: D3 (x, y) ≤ D3 (x, z) + D3 (z, y). Rela¸co˜es entre as m´etricas do Rn As m´etricas D1 , D2 e D3 , guardam entre si as seguintes rela¸co˜es: D3 (x, y) ≤ D1 (x, y) ≤ D2 (x, y) ≤ n D3 (x, y) De fato, D3 (x, y) = |xr − yr | para algum r (1 ≤ r ≤ n) 135
Logo D3 (x, y) = |xr − yr | =
p (xr − yr )2 ≤ D1 (x, y)
Por outro lado h i2 D1 (x, y) = (x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2 ≤ |x1 − y1 |2 + · · · + |xn − yn |2
+ 2|x1 − y1 | · |x2 − y2 | + · · · + 2|xn−1 − yn−1 | · |xn − yn | 2 = |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | h i2 = D2 (x, y) Portanto, D1 (x, y) ≤ D2 (x, y). Finalmente, supondo
ent˜ ao
|xr − yr | = max |x1 − y1 |, . . . , |xn − yn | |x1 − y1 | ≤ |xr − yr |, . . . , |xn − yn | ≤ |xr − yr |
portanto D2 (x, y) = |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | ≤ n |xr − yr | = n D3 (x, y). 5. C[a, b], Γ ´e um espa¸co m´etrico.
(M1 ) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y;
(M2 ) d(x, y) = d(y, x); (M3 ) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y). (M1 ) : Temos Γ(f, g) ≥ 0.
De fato, como |f (x) − g(x)| ≥ 0, para todo x ∈ [a, b], pelo teorema [AR] 8 (pg. 57): Z b |f (x) − g(x)| dx ≥ 0 a
(M1 ) : Γ(f, g) = 0 ⇒ f = g. Suponha f 6= g, isto ´e, f (c) 6= g(c) para algum c ∈ [a, b]. Logo |f (x) − g(x)| > 0, pelo teorema [AR] 9 (pg. 57): Z
b
a
|f (x) − g(x)| dx > 0 ⇒ Γ(f, g) 6= 0
Nota: Observe (hip´ otese do teorema [AR] 9) a necessidade de f e g serem cont´ınuas. (M1 ) : f = g ⇒ Γ(f, g) = 0. Ent˜ ao, f = g ⇒ f (x) = g(x), ∀ x ∈ [a, b] 136
logo, pelo teorema [AR] 2 (pg. 57): Z Z Z f= g ⇒
I
I
I
f −g =0
⇒ Γ(f, g) = 0. Nota: Observe (hip´ otese do teorema [AR] 2) que n˜ ao necessitamos das continuidades de f e g, e nem de que sejam iguais em todos os pontos do intervalo. (M2 ) : Temos Γ(f, g) = Γ(g, f ). De fato, isto ´e uma decorrencia imediata da igualdade |f (x) − g(x)| = |g(x) − f (x)|. (M3 ) : Temos Γ(f, g) ≤ Γ(f, h) + Γ(h, g). De fato, isto ´e f´ acil de provar tendo em conta que f (x) − g(x) = f (x) − h(x) + h(x) − g(x) logo, |f (x) − g(x)| = | f (x) − h(x) + h(x) − g(x) | ≤ |f (x) − h(x)| + |h(x) − g(x)|
uma vez que f (x), g(x) e h(x) s˜ao n´ umeros reais. Logo, pelo teorema [AR] 8: Z b Z b Z b |f (x) − g(x)| dx ≤ |f (x) − h(x)| dx + |h(x) − g(x)| dx a
a
a
6. C[a, b], Υ ´e um espa¸co m´etrico. (M1 ) : N˜ ao apresenta dificuladade. (M2 ) : ´ıdem. (M3 ) : Devemos mostrar que max |f (x) − g(x)| ≤ max |f (x) − h(x)| + max |h(x) − g(x)|
x∈[a, b]
x∈[a, b]
x∈[a, b]
Prova: Pelo teorema [AR] 1 (pg. 57): ∃ x1 ∈ [a, b] :
x∈[a, b]
max |f (x) − g(x)| = |f (x1 ) − g(x1 )|
(2.26)
∃ x2 ∈ [a, b] :
x∈[a, b]
max |f (x) − h(x)| = |f (x2 ) − h(x2 )|
(2.27)
∃ x3 ∈ [a, b] :
x∈[a, b]
max |h(x) − g(x)| = |h(x3 ) − g(x3 )|
(2.28)
sendo assim devemos mostrar que |f (x1 ) − g(x1 )| ≤ |f (x2 ) − h(x2 )| + |h(x3 ) − g(x3 )| 137
De (2.27) temos |f (x1 ) − h(x1 )| ≤ |f (x2 ) − h(x2 )|
(2.29)
|h(x1 ) − g(x1 )| ≤ |h(x3 ) − g(x3 )|
(2.30)
De (2.28) temos
Por outro lado, temos |f (x1 ) − g(x1 )| = |f (x1 ) − h(x1 ) + h(x1 ) − g(x1 )|
≤ |f (x1 ) − h(x1 )| + |h(x1 ) − g(x1 )|
De (2.29) e (2.30) resulta: |f (x1 ) − g(x1 )| ≤ |f (x2 ) − h(x2 )| + |h(x3 ) − g(x3 )| 7. B(X, R), Ψ ´e um espa¸co m´etrico.
(M1 ) : N˜ ao apresenta dificuladade. (M2 ) : ´ıdem. (M3 ) : Devemos mostrar que sup |f (x) − g(x)| ≤ sup |f (x) − h(x)| + sup |h(x) − g(x)|
x∈X
x∈X
x∈X
Prova: Como f , g e h s˜ao limitadas, existem M , N e P constantes positivas tais que |f (x) − g(x)| ≤ M , ∀ x ∈ X.
|f (x) − h(x)| ≤ N , ∀ x ∈ X. |h(x) − g(x)| ≤ P , ∀ x ∈ X. Antes vamos provar a seguinte proposi¸ca˜o:
Se |f (x) − g(x)| ≤ M , ∀ x ∈ X ent˜ ao sup |f (x) − g(x)| ≤ M. (2.31) x∈X
De fato, suponha, ao contr´ario, que L = sup |f (x) − g(x)| > M . x∈X
Tomemos ε = L − M > 0, pela defini¸ca˜o de sup (ver Lema 1, pg. 59) existe x0 ∈ X de modo que L − ε < |f (x0 ) − g(x0 )| , isto ´e, L − (L − M ) < |f (x0 ) − g(x0 )| ⇒ M < |f (x0 ) − g(x0 )| o que contraria a hip´otese. Pois bem, temos |f (x) − g(x)| = |f (x) − h(x) + h(x) − g(x)| < |f (x) − h(x)| + |h(x) − g(x)| 138
Mas, |f (x) − h(x)| ≤ sup |f (x) − h(x)| : x ∈ X |h(x) − g(x)| ≤ sup |h(x) − g(x)| : x ∈ X
logo,
|f (x) − g(x)| < sup |f (x) − h(x)| + sup |h(x) − g(x)| x∈X x∈X | {z } | {z } constante
constante
Por (2.31), resulta
sup |f (x) − g(x)| ≤ sup |f (x) − h(x)| + sup |h(x) − g(x)| x∈X
x∈X
x∈X
Nota: Esta prova ´e igualmente v´alida para o espa¸co C[a, b], Υ (pg. 137).
Espa¸cos de C´ odigos
• (S4 , ρ) ´e um espa¸co m´etrico (pg. 113) : (M1 ) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y : Obviamente ρ(x, y) ≥ 0. Se x = y ent˜ ao xi = yi (i = 1, 2, 3, 4.) e isto implica ρ(x, y) = 0. Se ρ(x, y) = 0 ent˜ ao 4 4 X X i−1 2i−1 · (xi − yi ) = 0. 2 · (xi − yi ) = 0 ⇒ i=1
i=1
isto ´e
1 · (x1 − y1 ) + 2 · (x2 − y2 ) + 4 · (x3 − y3 ) + 8 · (x4 − y4 ) = 0 Se fosse x1 6= y1 ter´ıamos 1 · (x1 − y1 ) = ±1. O que nos levaria a 2 · (x2 − y2 ) + 4 · (x3 − y3 ) + 8 · (x4 − y4 ) = ∓1 o que ´e, evidentemente, imposs´ıvel. Portanto nos resta 2 · (x2 − y2 ) + 4 · (x3 − y3 ) + 8 · (x4 − y4 ) = 0 Dividindo esta equa¸ca˜o por 2, temos 1 · (x2 − y2 ) + 2 · (x3 − y3 ) + 4 · (x4 − y4 ) = 0 e o racioc´ınio se repete. Conclus˜ ao x = y. (M2 ) d(x, y) = d(y, x) : 4 X i−1 2 · (xi − yi ) ρ(x, y) = i=1
4 X i−1 2 · (−1)(yi − xi ) = i=1
4 X i−1 2 · (yi − xi ) = ρ(y, x) = i=1
139
(M3 ) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y) Finalmente mostremos que ρ(x, y) ≤ ρ(x, z) + ρ(z, y). Ent˜ ao
20 (x1 − y1 ) + · · · + 23 (x4 − y4 ) = 20 (x1 − z1 + z1 − y1 ) + 21 (x2 − z2 + z2 − y2 ) + 22 (x3 − z3 + z3 − y3 ) + 23 (x4 − z4 + z4 − y4 ).
Aplicando o m´odulo nesta equa¸ca˜o e usando a desigualdade triangular para n´ umeros reais, temos 0 2 (x1 − y1 ) + · · · + 23 (x4 − y4 ) = 20 (x1 − z1 + z1 − y1 ) + · · · + 23 (x4 − z4 + z4 − y4 ) = 20 (x1 − z1 ) + · · · + 23 (x4 − z4 ) + 20 (z1 − y1 ) + · · · + 23 (z4 − y4 ) ≤ 20 (x1 − z1 ) + · · · + 23 (x4 − z4 ) + 20 (z1 − y1 ) + · · · + 23 (z4 − y4 ) . Conclus˜ ao: ρ(x, y) ≤ ρ(x, z) + ρ(z, y). A m´etrica ρ pode facilmente ser generalizada para SN : N X i−1 2 · (xi − yi ) . ρ(x, y) = i=1
Vamos mostrar que ρ(x, y), assim definida, satisfaz a desigualdade ρ(x, y) ≤ 2N − 1, ∀ x, y ∈ SN .
De fato, o maior valor que ρ(x, y) assume ocorre quando xi − yi = 1 (i = 1, 2, . . . , N ) - que corresponde a distˆancia entre os pontos x = (111 . . . 1) e N y = (000 . . . 0) - Sendo assim temos 20 + 21 + · · · + 2N −1 = 1·22−1−1 = 2N − 1. • (pg. 114) τ satisfaz a desigualdade triangular. Das condi¸co˜es envolvidas na defini¸ca˜o de m´etrica mostraremos (M3 ) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y). Prova: Primeiramente observe que τ pode ser escrita assim: τ (x, y) = max 1 · |x1 − y1 |, 2 · |x2 − y2 |, . . . , n · |xn − yn |
Pois bem, existem ´ındices i, j, k ∈ {1, 2, . . . , n} tais que τ (x, y) = max 1 · |x1 − y1 |, . . . , n · |xn − yn | = i · |xi − yi | τ (x, z) = max 1 · |x1 − z1 |, . . . , n · |xn − zn | = j · |xj − zj | τ (z, y) = max 1 · |z1 − y1 |, . . . , n · |zn − yn | = k · |zk − yk | 140
(2.32) (2.33) (2.34) (2.35)
Sendo assim, devemos mostrar que i · |xi − yi | ≤ j · |xj − zj | + k · |zk − yk |
(2.36)
Temos i · |xi − zi | ≤ j · |xj − zj |,
por (2.34)
i · |zi − yi | ≤ k · |zk − yk |,
por (2.35)
Pela desigualdade triangular para n´ umeros reais, podemos escrever |xi − yi | ≤ |xi − zi | + |zi − yi | Portanto i · |xi − yi | ≤ i · |xi − zi | + i · |zi − yi |
≤ j · |xj − zj | + k · |zk − yk |
o que prova (2.36).
141
142
Cap´ıtulo
3
˜ DE ESPAC CONSTRUC ¸ AO ¸ OS ´ METRICOS “ ...
ao atual monismo, que nos apre-
senta a Divindade n˜ ao s´ o como u ´ nica, justa e boa, mas realmente palpitante, qual sens´ıvel psiquismo animador, presente em todas as coisas.” (Pietro Ubaldi/As No´ ures)
Introdu¸ c˜ ao: O objetivo deste cap´ıtulo ´e fornecer algumas t´ecnicas para constru¸ca˜o de espa¸cos m´etricos.
3.1
M´ etricas a Partir de M´ etricas
Mudan¸ ca de Escala Dado um espa¸co m´etrico (M, d) a partir deste podemos obter um outro espa¸co (M, d′ ) tomando d′ = α d onde α ´e um n´ umero real positivo. Para que d′ seja de fato uma m´etrica, as seguintes condi¸co˜es devem ser satisfeitas: (M1 ) d′ (x, y) ≥ 0 e d′ (x, y) = 0 ⇐⇒ x = y ; (M2 ) d′ (x, y) = d′ (y, x) ; (M3 ) d′ (x, y) ≤ d′ (x, z) + d′ (z, y). De fato, todas estas condi¸co˜es decorrem trivialmente da hip´otese de que d ´e uma m´etrica e α > 0. Exemplos: (a) Calcular a distˆ a ncia entre os pontos x = 3 e y = 5 nos espa¸ c os R, µ e ′ ′ R, d , onde d = µ/2. 143
Temos µ(5, 3) = |5 − 3| = 2 e d′ (5, 3) =
|5 − 3| = 1. 2
(b) Calcular a distˆancia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5) nos espa¸cos (R2 , D2 ) e (R2 , d′ ), onde d′ = 1, 5 D2 . Solu¸ c˜ ao: Temos x = (x1 , x2 ) = (1, 1) e y = (y1 , y2 ) = (4, 5), ent˜ ao D2 (x, y) = |x1 − y1 | + |x2 − y2 | D2 (1, 1), (4, 5) = |1 − 4| + |1 − 5| = 7,
3 d′ (1, 1), (4, 5) = |1 − 4| + |1 − 5| = 10, 5. 2
Geometricamente, temos
R
R
r(4,5)
6 r
4
+
s
4 =D2
3
(1,1) 0
s(4,5) 6,0
⇒
3
6
⇒
6,0 =d′ + 4,5
4,5
(1,1)
-R 0
-R
O leitor imagine o plano constru´ıdo de borracha: ele esticou. Dado um espa¸co m´etrico (M, d) h´ a muitas outras maneiras de se construir, a partir deste, outros espa¸cos m´etricos. Para citar apenas trˆes: 1. d′ (x, y) = min{ 1, d(x, y) } p 2. d′′ (x, y) = d(x, y)
3. d′′′ (x, y) =
d(x, y) 1 + d(x, y)
Mostremos a primeira destas assertivas: (M1 ) d′ (x, y) ≥ 0 e d′ (x, y) = 0 ⇐⇒ x = y. De fato, d′ (x, y) = min{ 1, d(x, y) } ≥ 0 porquanto, por hip´otese, d(x, y) ≥ 0. d′ (x, y) = 0 = min{ 1, d(x, y) } ⇔ d(x, y) = 0 ⇔ x = y. (M2 ) d′ (x, y) = d′ (y, x). d′ (x, y) = min{ 1, d(x, y) } = min{ 1, d(y, x) } = d′ (y, x) (M3 ) d′ (x, y) ≤ d′ (x, z) + d′ (z, y). Devemos mostrar que min{ 1, d(x, y) } ≤ min{ 1, d(x, z) } + min{ 1, d(z, y) } 144
Suponhamos o contr´ ario: min{ 1, d(x, y) } > min{ 1, d(x, z) } + min{ 1, d(z, y) } Em particular: 1 > min{ 1, d(x, z) } + min{ 1, d(z, y) } d(x, y) > min{ 1, d(x, z) } + min{ 1, d(z, y) }
(⋆) (⋆⋆)
Da desigualdade (⋆) concluimos que min{ 1, d(x, z) } = d(x, z); min{ 1, d(z, y) } = d(z, y). Levando estes resultados na desigualdade (⋆⋆) obtemos d(x, y) > d(x, z) + d(z, y). O que contradiz o fato de d ser uma m´etrica. Exemplos: (a) Fixemos o espa¸co (R2 , D2 ). Calcular a distˆancia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5) nos espa¸cos (R2 , d′ ), (R2 , d′′ ) e (R2 , d′′′ ). Solu¸ c˜ ao: J´a vimos anteriormente que D2 (1, 1), (4, 5) = |1 − 4| + |1 − 5| = 7. Ent˜ ao,
d′ (x, y) = min{ 1, D2 (x, y) } = min{ 1, 7 } = 1. d′′ (x, y) =
p √ D2 (x, y) = 7.
D2 (x, y) 7 7 = = . 1 + D2 (x, y) 1+7 8 (b) Fixemos o espa¸co S4 , σ (pg. 110). Calcular a distˆ ancia entre os pontos x = 1000 e y = 0100 nos espa¸cos S4 , d′ , S4 , d′′ e S4 , d′′′ . d′′′ (x, y) =
Solu¸ c˜ ao: Temos σ(1000, 0100) = 2, portanto:
d′ (x, y) = min{ 1, σ(x, y) } = min{ 1, 2 } = 1. p √ d′′ (x, y) = σ(x, y) = 2.
d′′′ (x, y) =
3.2
σ(x, y) 2 2 = = . 1 + σ(x, y) 1+2 3
Subespa¸cos
Dado um espa¸co m´etrico (M, d) podemos, a partir deste, obter tantos espa¸cos quantos s˜ao os subconjuntos (n˜ao-vazios) de M . Se d : M × M −→ R ´e uma m´etrica em M e N ⊂ M ent˜ ao d′ = d : N × N −→ R ´e m´etrica em N . Em N ×N geral indica-se a m´etrica do subconjunto do mesmo modo que a m´etrica de M , isto ´e, faz-se d′ = d. 145
Defini¸ c˜ ao 26 (Subespa¸co). Se (M, d) ´e um espa¸co m´etrico e N ⊂ M ent˜ ao o par (N, d) ´e chamado subespa¸co de (M, d). A m´etrica do subespa¸co ´e chamada m´etrica induzida pela de (M, d). Exemplos: (a) (N, µ), (Z, µ) e (Q, µ) s˜ao subespa¸cos de (R, µ). (b) Consideremos o seguinte subconjunto do R2 : S 1 = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1 e S 1 , D3 s˜ao S 1 ´e o c´ırculo unit´ ario. Sendo assim S 1 , D1 , S 1 , D 2 subespa¸cos dos espa¸cos R2 , D1 , R2 , D2 e R2 , D3 , respectivamente. (c) Um subespa¸co de B(X, R), Ψ .
Quando no espa¸ co B(X, R), Ψ (pg. 105) tomamos X = [a, b] o espa¸co C[a, b], Υ (pg. 102) torna-se um subespa¸co do primeiro. (d) O par 1, 21 , 13 , . . . , µ ´e um subespa¸co de (R, µ) e tamb´em de (Q, µ).
3.3
M´ etricas Induzidas por Normas
Em um espa¸co vetorial dotado de norma ´e poss´ıvel calcularmos distˆancia entre vetores. Se E, +, · ´e um espa¸co vetorial normado, ent˜ ao d : E × E −→ R definida por d(u, v) = ku − vk ´e uma m´etrica sobre E pois (ver pg. 72): (M1 )
d(u, v) = ku − vk ≥ 0 e d(u, v) = ku − vk = 0 ⇔ u = v
(M2 )
d(u, v) = ku − vk = k(−1)(v − u)k = | − 1| kv − uk = d(v, u);
(M3 )
d(u, v) = ku − vk = k(u − w) + (w − v)k ≤ ku − wk + kw − vk = d(u, w) + d(w, v).
Exemplos: 1. Segundo o exemplo 1. (pg. 73) temos que d(u, v) = ku − vk = |u − v| ´e uma distˆancia entre vetores da reta real. Observe que nos restringindo ao subespa¸co (m´etrico) Q, µ n˜ ao podemos usar a norma para calcular distˆancias. De fato, Q, +, · n˜ ao ´e um espa¸co vetorial (sobre R). Por exemplo, d(3, 5) = k3 − 5k = |3 − 5| = 2 em R, +, · d(3, 5) = |3 − 5| = 2 em Q, +, · 146
2. Consideremos o espa¸co vetorial Rn , +, · . Sejam x = (x1 , x2 , . . . , xn ) y = (y1 , y2 , . . . , yn )
⇒
x − y = (x1 − y1 , x2 − y2 , . . . , xn − yn ).
Segundo o exemplo 2. (pg. 73) temos que d(x, y) = kx − yk =
q
x1 − y1
2
+ x2 − y2
2
+ · · · + xn − yn
d(x, y) = kx − yk = |x1 − y1 | + |x2 − y2 | + · · · + |xn − yn | d(x, y) = kx − yk = max |x1 − y1 |, |x2 − y2 |, . . . , |xn − yn |
2
s˜ao distˆancias, induzidas por normas, no espa¸co vetorial Rn , +, · . Observe que existe uma diferen¸ca intr´ınseca entre o espa¸co vetorial Rn , +, · munido destas distˆancias e os espa¸cos m´etricos R2 , D1 , R2 , D2 e R2 , D3 . De fato, o primeiro possui uma estrutura bem mais rica que os demais. Por exemplo, enquanto no primeiro podemos somar dois pontos, ou multiplicar um ponto por um n´ umero real, o mesmo j´a n˜ ao acontece nos espa¸cos m´etricos. Certa feita nos deparamos - em um livro texto - com a seguinte afirmativa: “Um espa¸co m´etrico n˜ ao ´e necessariamente um espa¸co vetorial.” Refutamos: um espa¸co m´etrico nunca ´e um espa¸co vetorial! (s˜ao estruturas distintas) O contr´ ario ´e que `as vezes se verifica. Isto ´e, um espa¸co vetorial pode tornar-se um espa¸co m´etrico (ao ser dotado de uma norma) - nesse caso dizemos que enriquecemos a estrutura de espa¸co vetorial com uma distˆancia. 3. Segundo o exemplo 3. (pg. 73) sobre o espa¸co vetorial C[a, b], +, · temos as duas seguintes distˆancias d(f, g) = kf − gk = max |f (x) − g(x)| : x ∈ [a, b] Z b |f (x) − g(x)| dx d(f, g) = kf − gk = a
Novamente observamos que o espa¸co vetorial C[a, b], +, · munido destas distˆancias e os espa¸cos m´etricos C[a, b], Υ e C[a, b], Γ s˜ao intr´ınsecamente distintos.
3.4
M´ etricas Induzidas por Produto Interno
Aqui s´o observamos que um produto interno sobre um espa¸co vetorial induz, neste, uma distˆancia segundo a equa¸ca˜o (ver equa¸ca˜o (1.5), pg. 75): d(u, v) = ku − vk = 147
p hu − v, u − vi
3.5
M´ etricas Induzidas Por Fun¸c˜ oes
Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e N um conjunto qualquer. Se existir uma aplica¸ca˜o f : N −→ M injetiva, ent˜ ao o par (N, d′ ), onde d′ (x, y) = d f (x), f (y)
´e um espa¸co m´etrico. A distˆancia entre dois pontos quaisquer de N ´e definida como sendo a distˆancia entre suas imagens respectivas. d′ ´e dita a m´etrica induzida por f . (N, d′ )
q
y
q
q
(M, d)
f (y)
f R
x
← d′ (x, y) q
f (x)
Provemos que d′ ´e de fato uma m´etrica. Temos (M1 ) d′ (x, y) = d f (x), f (y) ≥ 0
porquanto d ´e m´etrica. Ademais d′ (x, y) = d f (x), f (y) = 0 ⇐⇒ f (x) = f (y) ⇐⇒ x = y.
Au ´ ltima equivalˆencia se verifica em fun¸ca˜o de que f ´e injetora. (M2 ) d′ (x, y) = d f (x), f (y) = d f (y), f (x) = d′ (y, x). A desigualdade
(M3 ) d′ (x, y) ≤ d′ (x, z) + d′ (z, y). ´e verdadeira, porquanto d f (x), f (y) ≤ d f (x), f (z) + d f (z), f (y)
´e verdadeira. Exemplos: a) A partir da m´etrica µ vamos definir uma outra m´etrica sobre R com o aux´ılio da fun¸ca˜o injetiva f : R −→ R x 7−→ y = 2x Sendo assim obtemos o espa¸co (R, d′ ), onde d′ (x, y) = d f (x), f (y) = f (x) − f (y) = 2 x − 2 y 148
Por exemplo, a distˆancia entre −1 e 1, neste espa¸co, fica d′ (−1, 1) = 2−1 − 21 = 1, 5.
Geometricamente tudo se passa assim:
(R, µ)
6
2 d′ (−1, 1) −→ 1
−1q
y=2x
q q
0
q1
- (R, d′ )
b) Vamos construir uma m´etrica sobre R com o aux´ılio do espa¸co R2 , k · k e da aplica¸ca˜o injetora
f : R −→ R2
x 7−→ 12 (x + 1, x − 1)
Pois bem, obtemos o espa¸co (R, d′ ), onde d′ (x, y) = d f (x), f (y)
= f (x) − f (y)
1
1
= (x + 1, x − 1) − (y + 1, y − 1)
2 2 =
1
(x − y, x − y) 2
Por exemplo, a distˆancia entre −1 e 1, neste espa¸co, fica d′ (−1, 1) =
1
(−1 − 1, −1 − 1) = (−1, −1) 2
Tendo em conta o exemplo 2. (pg. 73), o espa¸co (R, d′ ) desdobra-se em trˆes espa¸cos, segundo cada uma das normas seguintes: x = (x1 , x2 ) 7−→kxk =
q x21 + x22
x = (x1 , x2 ) 7−→kxk′ = |x1 | + |x2 | x = (x1 , x2 ) 7−→kxk′′ = max |x1 |, |x2 | 149
A distˆancia entre −1 No espa¸co R, k · k No espa¸co R, k · k′ No espa¸co R, k · k′′
e 1 ´e dada por:
p √ d′ (−1, 1) = (−1, −1) = (−1)2 + (−1)2 = 2;
′ d′ (−1, 1) = (−1, −1) = | − 1| + | − 1| = 2;
′′ d′ (−1, 1) = (−1, −1) = max | − 1|, | − 1| = 1.
=⇒ =⇒ =⇒
A geometria da situa¸ca˜o ´e como a seguir:
(R, d′ )
1
0
r q q
−1 r q
R
R
6
6 f
-
1
−1q
q
6 1 f (1)
↓r q1
-R
−1 r← f (−1) q
150
−1q
q
−1 r q
√
2
r q1
-R
3.6
Produto de espa¸cos m´ etricos
Uma outra importante alternativa para se construir espa¸cos m´etricos ´e via produto cartesiano. Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. A partir destes dois vamos construir, por exemplo, trˆes outros espa¸cos, do seguinte modo: Tomemos dois pontos x = (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 = M e y = (y1 , y2 ) ∈ M1 × M2 = M e vamos definir trˆes fun¸co˜es D1 , D2 , D3 : M × M −→ R dadas por D1 (x, y) =
q d21 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 )
(3.1)
D2 (x, y) = d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 )
D3 (x, y) = max { d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 ) } Pode ser mostrado que (M, D1 ), (M, D2 ) e (M, D3 ) s˜ao tamb´em espa¸cos m´etricos. Observe que x1 , y1 ∈ M1 e x2 , y2 ∈ M2 de modo que d1 (x1 , y1 ) ´e calculado no espa¸co (M1 , d1 ) enquanto d2 (x2 , y2 ) ´e calculado no espa¸co (M2 , d2 ), assim: M1 ×M2
y
y2
x2
x
(M2 , d2 )
x1
y1
(M1 , d1 )
Observe ainda que n˜ ao h´ a necessidade de v´ınculo − afinidade − entre os elementos dos conjuntos M1 e M2 . Isto ´e, estes podem ser de naturezas completamente arbitr´arias. Com o escopo de convencer o leitor do grau de arbitrariedade de que estamos falando, vamos dar um exemplo: Sejam (M1 , d1 ) = (S4 , σ) e (M2 , d2 ) = M2×3 (R), D1 (ver pg. 99). Primeiramente observe que os elementos do conjunto M = S4 × M2×3 (R) 151
s˜ao pares ordenados (x1 , x2 ) onde x1 ´e uma seq¨ uˆencia e x2 ´e uma matriz. Exemplo: Calcule no espa¸co (M, D1 ) a distˆancia entre os pontos x e y dados por 2 1 3 x = (x1 , x2 ) = 1110, 3 0 2 0 2 y = (y1 , y2 ) = 1010, 3 4
1 5
Solu¸ c˜ ao: Devemos calcular a seguinte distˆancia q D1 (x, y) = d21 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 ) = Temos
q σ 2 (x1 , y1 ) + D12 (x2 , y2 )
x1 = 1110 , x2 =
2 3
1 0
3 2
y1 = 1010 , y2 =
0 2 3 4
1 5
Ent˜ ao,
σ(x1 , y1 ) = σ 1110, 1010 = 1 √ J´a vimos (pg.99) que D1 (x2 , y2 ) = 34. Portanto,
D1
1110,
2 3
1 3 0 2
; 1010,
0 3
2 1 4 5
152
q √ √ = 12 + ( 34 )2 = 35.
O quadrado m´ agico Vejamos mais um exemplo de espa¸co produto. A partir do espa¸co m´etrico [ 0, 1 [, k podemos obter outros trˆes, no conjunto [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [: 1
1
s(x1 , x2 )
s(y1 , y2 )
[ 0, 1 [ × [ 0, 1 [
0
1
0
1
assim: D1 (x, y) =
q k2 (x1 , y1 ) + k2 (x2 , y2 )
(3.2)
D2 (x, y) = k(x1 , y1 ) + k(x2 , y2 ) D3 (x, y) = max k(x1 , y1 ); k(x2 , y2 )
(3.3) (3.4)
Uma Patologia Surpreendente: As quatro seq¨uˆencias dadas a seguir 1
xn =
1 1 n+1 , 1− n+1
zn =
1 1 n+1 , n+1
ss
→
sx3 sx2
sz sz 2 ss 3
→
0
s
ss st 3
st 2
sy2 sy3 ss
1 1 , 1− n+1 ← tn = 1− n+1
1 ← yn = 1− n+1 ,
1 n+1
1
pertencem todas as diagonais do quadrado unit´ ario [0, 1[×[0, 1[. O centro do ` quadrado 12 , 21 ´e o primeiro termo de todas elas. Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que √ D1 ((0, 0); xn ) = D1 ((0, 0); yn ) = D1 ((0, 0); zn ) = D1 ((0, 0); tn ) = 2/(n + 1), D2 ((0, 0); xn ) = D2 ((0, 0); yn ) = D2 ((0, 0); zn ) = D2 ((0, 0); tn ) = 2/(n + 1), D3 ((0, 0); xn ) = D3 ((0, 0); yn ) = D3 ((0, 0); zn ) = D3 ((0, 0); tn ) = 1/(n + 1). Chamamos este quadrado de m´agico porquanto ele possui algumas propriedades interessantes. Por exemplo, todas as quatro seq¨ uˆencias dadas acima est˜ ao aproximando-se, ao contr´ ario do que parece, da origem: 0 = (0, 0) (ver pg. 204). 153
Uma outra propriedade esdr´ uxula ´e vista a seguir: • Uma Patologia Seja M = [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ o quadrado unit´ ario, X = 21 , 1 × 21 , 1 ⊂ M ; e p = (0, 0) ∈ M . Vamos mostrar que, √ [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, D1 d(p, X) = 2/2, no espa¸co d(p, X) = 0, no espa¸co [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, D1 1
1
¬ 1 2
0
¬
1 2
− Pasmem!:
s
1
0
1
A dist^ ancia de 0 para X ´ e nula!!!
A bem da verdade a primeira das distˆancias acima j´a mostramos no exemplo 3), pg. 120. Quanto a segunda, temos, d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X = inf D1 (0, 0); (x, y) : (x, y) ∈ X o nq 1 = inf k2 (x, 0) + k2 (y, 0) : ≤ x, y < 1 2 Temos,
k(x, 0) = min |x − 0|, 1 − |x − 0| = min x, 1 − x = 1 − x k(y, 0) = min |y − 0|, 1 − |y − 0| = min y, 1 − y = 1 − y
Devido ` a equa¸ca˜o (2.2) (pg. 90). Portanto, np o 1 d(p, X) = inf (x − 1)2 + (y − 1)2 : ≤ x, y < 1 2
Para encontrar d(p, X) vamos encontrar o ´ınfimo da fun¸ca˜o, F (x, y) = Ent˜ ao,
p 1 (x − 1)2 + (y − 1)2 , para ≤ x, y < 1. 2
1 1 1 ≤x<1 ⇒ 0<1−x≤ ⇒ 0 < (1 − x)2 ≤ 2 2 4 An´alogamente, 0 < (1 − y)2 ≤ 41 . Portanto,
√ p 1 2 2 2 ⇒ 0 < (1 − x) + (1 − y) ≤ 0 < (1 − x) + (1 − y) ≤ 2 2 2
2
154
Conclus˜ ao: se
Portanto,
1 2
≤ x, y < 1, implica que i p F (x, y) = (x − 1)2 + (y − 1)2 ∈ 0,
√ i 2 2
p 1 (x − 1)2 + (y − 1)2 : ≤ x, y < 1 2 i √2 i = inf 0, = 0. 2
d(p, X) = inf
Adendo: No que diz respeito a esse resultado, observando a igualdade, d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X = inf D1 (0, 0); (x, y) : (x, y) ∈ X = 0
e tendo em conta a defini¸ca˜o de ´ınfimo (ver Lema 2, pg. 62), concluimos que dado ε > 0 existe x ∈ X tal que d(p, x) < ε. Ou ainda, dado ε > 0 existe (x, y) ∈ X de modo que D1 (0, 0); (x, y) < ε. Ou ainda, arbitr´ariamente oximo da origem (0, 0) encontramos um ponto do quadrado X = 21 , 1 × pr´ 1 2 , 1 . Encontramos um de tais pontos sobre a diagonal principal (reta y = x) do quadrado (por quˆe)?, assim: 1
1
¬
s t1
1 2
0
¬
1 2
s
1
0
sss ss sր
1
− Pasmem!:
Arbitr´ ariamente pr´ oximo a 0 encontramos um ponto de X. Podemos escolher o ponto (x, y) ∈ X tal que D1 (0, 0); (x, y) < ε na 1 1 seq¨ uˆencia tn = 1 − n+1 , 1 − n+1 (ver quadrado m´agico, pg. 153) porquanto, √ D1 ((0, 0); tn ) = 2/(n + 1). √ √ Ent˜ ao, dado ε > 0 temos: D1 ((0, 0); tn ) = 2/(n + 1) < ε ⇒ n > ε2 − 1. Para qualquer ´ındice n satisfazendo a desigualdade anterior, resulta: D1 (0, 0); 1 −
1 1 <ε , 1− n+1 n+1
Observe que um ponto da seq¨ uˆencia (tn ) quanto mais afastado (m´etrica usual) estiver da origem, mais pr´oximo estar´ a da origem. ⊙
⊙
155
⊙
Vamos mostrar, por exemplo, que D1 (ver equa¸ca˜o (3.1), pg. 151) satisfaz a desiguldade triangular: D1 (x, y) ≤ D1 (x, z) + D1 (z, y) Prova: De fato, D21 (x1 , x2 ), (y1 , y2 ) = d21 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 )
como d1 e d2 s˜ao m´etricas vale
d1 (x1 , y1 ) ≤ d1 (x1 , z1 ) + d1 (z1 , y1 ) e d2 (x2 , y2 ) ≤ d1 (x2 , z2 ) + d1 (z2 , y2 ) Sendo assim, podemos escrever D21 x, y = d21 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 ) 2 2 ≤ d1 (x1 , z1 ) + d1 (z1 , y1 ) + d2 (x2 , z2 ) + d2 (z2 , y2 ) ≤ d21 (x1 , z1 ) + 2 d1 (x1 , z1 ) · d1 (z1 , y1 ) + d21 (z1 , y1 )
+ d22 (x2 , z2 ) + 2 d2 (x2 , z2 ) · d2 (z2 , y2 ) + d22 (z2 , y2 ) Logo, D21 x, y ≤ D21 x, z +2 d1 (x1 , z1 )·d1 (z1 , y1 )+d2 (x2 , z2 )·d2 (z2 , y2 ) +D21 z, y (3.5) Neste momento faremos uso da seguinte desigualdade p p |a b + c d| ≤ a2 + c2 · b2 + b2 v´alida para a, b, c e d reais (como o leitor facilmente pode mostrar). Ent˜ ao q d1 (x1 , z1 ) · d1 (z1 , y1 ) + d2 (x2 , z2 ) · d2 (z2 , y2 ) ≤ d21 (x1 , z1 ) + d22 (x2 , z2 ) q · d21 (z1 , y1 ) + d22 (z2 , y2 ) = D1 x, z · D1 z, y Sendo assim a equa¸ca˜o (3.5) pode ser escrita como D21 x, y ≤ D21 x, z + 2 D1 x, z · D1 z, y + D21 z, y 2 = D1 x, z + D1 z, y
Desta desigualdade − extraindo-se a raiz quadrada − decorre o resultado desejado.
156
A generaliza¸ca˜o para um produto de n espa¸cos m´etricos n˜ ao apresenta dificuldade: Dados os espa¸cos (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . ., (Mn , dn ), o produto cartesiano M = M1 × M2 × · · · × Mn ´e o conjunto das n−uplas ordenadas x = (x1 , x2 , . . . , xn ), onde x1 ∈ M1 , x2 ∈ M2 ,. . . , xn ∈ Mn . As trˆes fun¸co˜es dadas abaixo: q D1 (x, y) = d21 (x1 , y1 ) + · · · + d2n (xn , yn ) D2 (x, y) = d1 (x1 , y1 ) + · · · + dn (xn , yn )
D3 (x, y) = max { d1 (x1 , y1 ), . . . , dn (xn , yn ) } s˜ao m´etricas sobre M . Para x, y ∈ M arbitr´arios, valem as seguintes desigualdades: D3 (x, y) ≤ D1 (x, y) ≤ D2 (x, y) ≤ n · D3 (x, y) Observe que quando M1 = M2 = · · · = Mn = R e d1 = d2 = · · · = dn = µ, ent˜ ao D1 , D2 e D3 coincidem respectivamente com as m´etricas D1 , D2 e D3 definidas na p´ agina 98.
157
158
Cap´ıtulo
4
BOLAS ABERTAS “Sois
de tal modo levados a vos tomar por
tipos do Universo, que credes sempre que fora do vosso mundo n˜ ao h´ a mais nada. Pareceis verdadeiramente com esses selvagens que nunca sa´ıram de sua ilha e crˆ eem que o mundo n˜ ao vai mais longe.”
(O Livro dos M´ ediuns)
Bolas abertas Introdu¸ c˜ ao: Dada a importˆ ancia das bolas abertas para o estudo dos espa¸cos m´etricos, resolvemos abord´ a-las em um cap´ıtulo em separado. ´ de fundamental importˆ E ancia que o leitor compreenda bem este conceito, haja vista que muitas das defini¸co˜es em cap´ıtulos subseq¨ uentes s˜ao em fun¸ca˜o do mesmo. N˜ ao tenha a ilus˜ ao de ir muito longe na topologia sem uma perfeita compreens˜ ao deste t´ opico.
4.1
Defini¸ c˜ ao e exemplos
Defini¸ c˜ ao 27 (Bola Aberta). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Considere um ponto p ∈ M . Dado r > 0 um n´ umero real, a bola aberta de centro p e raio r, que indicaremos por B( p; r) ´e o seguinte subconjunto de M : B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r
Ou seja: a bola aberta de centro p e raio r > 0 ´e o conjunto formado pelos elementos de M que est˜ ao a uma distˆancia de p menor que r. De outro modo: fixado arbitrariamente um ponto p no conjunto M e dado, tamb´em arbitrariamente, um n´ umero real r > 0, pertencem `a bola aberta de centro p e raio r todos os elementos x ∈ M que satisfazem a desigualdade (inequa¸ca˜o): d(x, p) < r. Observe que tomando x = p, temos d(x = p, p) = 0 < r ⇒ p ∈ B( p; r). 159
Isto ´e, uma bola nunca ´e vazia, pois o pr´oprio centro sempre pertence `a mesma. Observa¸ c˜ ao: Quando necess´ario usaremos a nota¸ca˜o Bd ( p; r) para explicitar a m´etrica em quest˜ ao. Agora daremos v´arios exemplos de bolas em v´arios espa¸cos m´etricos. Exemplo 1: Considere M = R a reta real. Consideremos p = 3 ∈ R e r = 21 . • No espa¸co ( R, µ), temos B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r 1 1 B 3; = x ∈ R : µ(x, 3) < 2 2 1 = x ∈ R : |x − 3| < 2 1 1 = x ∈ R: − < x − 3 < 2 2 1 5 7 1 = x ∈ R: 3 − < x < 3 + = , 2 2 2 2 A visualiza¸ca˜o geom´etrica ´e como a seguir Bµ(3; ⊣ 0
⊣ 1
⊣ 2
] 5 2
1 2)
r [
3
7 2
⊣ 4
-R
De um modo geral, a bola aberta de centro p e raio r, no espa¸co m´etrico ( R, µ) coincide com o intervalo aberto de mesmo centro e mesmo raio. Assim B( p; r) = x ∈ R : |x − p| < r = x ∈ R: − r < x − p < r = x ∈ R : p − r < x < p + r = p − r, p + r Bµ ( p; r) = p − r, p + r Geometricamente, temos
r
Bµ ( p; r)
] p−r
p
-R
[ p+r
• No espa¸co ( R, δ), temos B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r 1 1 B 3; = x ∈ R : δ(x, 3) < 2 2 160
Nesta bola entram apenas os n´ umeros reais que satisfazem a desigualdade δ(x, 3) <
1 2
pela defini¸ca˜o de δ, temos δ(x, 3) =
(
1, se e s´o se x 6= 3; 0, se e s´o se x = 3.
Portanto o u ´ nico n´ umero real que satisfaz a exigˆencia δ(x, 3) < δ(3, 3) = 0 < 21 . Logo 1 1 B 3; = 3 . = x ∈ R : δ(x, 3) < 2 2
1 2
´e x = 3, pois
Este ´e um exemplo de que na bola s´o consta o seu pr´oprio centro. A geometria da situa¸ca˜o ´e a seguinte ⊣s 3
Bδ(3; ⊣ 0
⊣ 1
⊣ 2
1 2)
-R
Exemplo 2: Vamos agora caracterizar a bola aberta no espa¸co m´etrico (M, δ), onde M ´e um conjunto arbitr´ario. Na defini¸ca˜o de bola aberta temos que r > 0. Vamos separar a nossa an´alise em dois casos: 1o ) Suponhamos 0 < r ≤ 1. Considere p ∈ M , arbitrariamente fixado. Ent˜ ao B( p; r) = x ∈ M : δ(x, p) < r ≤ 1 observe que se x 6= p ent˜ ao δ(x, p) = 1, logo a desigualdade δ(x 6= p, p) = 1 < r ≤ 1 n˜ ao ´e verdadeira. Isto ´e nenhum x 6= p pode fazer parte de uma bola com 0 < r ≤ 1. Por conseguinte Bδ ( p; r) = p , para 0 < r ≤ 1.
2o ) Suponhamos r > 1. Considere p ∈ M , arbitrariamente fixado. Ent˜ ao B( p; r) = x ∈ M : δ(x, p) < r Como 0 ≤ δ(x, p) ≤ 1, a desigualdade
0 ≤ δ(x, p) ≤ 1 < r ´e satisfeita para todo x ∈ M . Por conseguinte Bδ ( p; r) = M, para r > 1.
161
Resumindo: A bola aberta no espa¸co m´etrico (M, δ) est´ a perfeitamente caracterizada como
Bδ ( p; r) =
p ,
se 0 < r ≤ 1;
M, se r > 1.
− Por exemplo considere M = M2 (Z) o conjunto das matrizes quadradas de ordem dois com elementos inteiros. Seja 2 1 p= 3 0 ent˜ ao Bδ
2 3
#) (" 2 1 , se 0 < r ≤ 1; 3 0 1 ;r = 0 M2 (Z), se r > 1.
− Como um outro exemplo, seja M = S4 . Considere p = 0101, ent˜ ao 0101 , se 0 < r ≤ 1; Bδ 0101; r = S4 , se r > 1. Exemplo 3: Bolas no Espa¸ co [ 0, 1 [, k
Vamos inicialmente esbo¸car a bola de centro 0 e raio r no espa¸co [ 0, 1 [, k . Isto ´e, queremos caracterizar Bk (0; r). Pois bem, Bk (0; r) = x ∈ [ 0, 1 [ : k(x, 0) < r = x ∈ [ 0, 1 [ : min |x − 0|, 1 − |x − 0| < r = x ∈ [ 0, 1 [ : min |x|, 1 − |x| < r
Isto ´e, pertencem ` a bola Bk (0; r) todos os 0 ≤ x < 1 que satisfazem a desigualdade (inequa¸ca˜o): min x, 1 − x < r. Observe que se 0 ≤ x ≤ 12 ; x, k(x, 0) = min x, 1 − x = 1 − x, se 1 ≤ x < 1. 2
A seguir (esquerda) esbo¸camos o gr´afico da fun¸ca˜o dada por k(x, 0): k(x, 0)
k(x, 0)
6
6
1
q
1
q
1 2
q
1 2
q
0
q
1 2
q1
r
-x
0
162
↑ r
q
1 2
↑
1−r
q1
-x
Com o objetivo de obter a bola Bk (0; r) fixamos (figura da direita) um valor para r. Uma an´alise deste gr´ afico nos informa os x ∈ [ 0, 1 [ que satisfazem a desigualdade k(x, 0) < r, assim: [ 0, r [ ∪ ] 1 − r, 1 [, se 0 < r ≤ 21 ; Bk (0; r) = [ 0, 1 [, se r > 12 . Observe,
0
r
1−r
0
1
Bk (0; r< 21 )
r
1
0
Bk (0; r= 21 )
1
Bk (0; r> 21 )
Nota: A figura do centro poderia ter sido incluida na figura da esquerda. Com um procedimento an´alogo (e bem mais trabalhoso) obtemos a bola de centro p e raio r no espa¸co [ 0, 1 [, k , assim: se 0 < r ≤ p; ] p − r, p + r [, Bk (p; r) = [ 0, p + r [ ∪ ] p − r + 1, 1 [, se p < r ≤ 21 ; [ 0, 1 [, se r > 21 . ] p − r, p + r [, se 0 < r < 1 − p; Bk (p; r) = [ 0, p + r − 1 [ ∪ ] p − r, 1 [, se 1 − p ≤ r ≤ 21 ; [ 0, 1 [, se r > 21 .
s
p
1 2
1
p< r ≤
1 2
0
p−r+1
1 2
p+r−1
¬
p
p+r
1
0< r ≤ p
1
1 2
p−r
0
1 2
0
1 2
¬
0
s
1 2
¬
0
p
p+r
¬
0
s
< p < 1, respectivamente. O esbo¸co das bolas no intervalo
¬
p−r
1 2
¬
para 0 < p < 12 e [ 0, 1 [ fica assim:
r> 21
163
p−r
s
p
s
p+r 1
p
1
p
1
s
0< r < 1−p
1−p≤ r ≤ r> 12
1 2
• Bolas nos Espa¸cos R2 , Di
Exemplo 4: Considere M = R2 , p = (0, 0) e r = 1. • No espa¸co R2 , D1 , temos
B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r B (0, 0); 1 = (x, y) ∈ R2 : D1 (x, y); (0, 0) < 1 o n p = (x, y) ∈ R2 : (x − 0)2 + (y − 0)2 < 1
Sendo assim B (0, 0); 1 ´e o conjunto dos pontos do plano cujas coordenadas satisfazem a desigualdade p (x − 0)2 + (y − 0)2 < 1,
isto ´e s˜ao os pontos interiores `a circunferˆencia de equa¸ca˜o: x2+ y 2 = 1. Para um ponto p = (a, b) ∈ R2 arbitr´ario, a bola B (a, b ; r) ´e o conjunto dos pontos interiores ao c´ırculo de equa¸ca˜o: (x − a)2 + (y − b)2 = r2 . R
1
R
6
b
B ((0, 0); 1) D 1
−1
1
-R
6
q 0
B ((a, b); r) D1
r
r-⊣ ⊢
ap
-R
−1
• No espa¸co R2 , D2 , temos
B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r B (0, 0); 1 = (x, y) ∈ R2 : D2 (x, y); (0, 0) < 1 = (x, y) ∈ R2 : |x − 0| + |y − 0| < 1
Sendo assim B (0, 0); 1 ´e o conjunto dos pontos do plano cujas coordenadas satisfazem a desigualdade: |x − 0| + |y − 0| < 1, isto ´e, s˜ao os pontos interiores a circunferˆencia de equa¸ca˜o: |x| + |y| = 1. ` Para esbo¸car o gr´ afico desta equa¸ca˜o podemos nos valer da tabela seguinte: Quad.
M´ odulo
Equa¸ ca ˜o
I
|x|=x , |y|=y
x+y=1
II
|x|=−x, |y|=y
−x+y=1
III
|x|=−x, |y|=−y
−x−y=1
IV
|x|=x , |y|=−y
x−y=1
Ent˜ ao, 164
@ @
R
R
6
@ 1 q@ @ @ @ @ @ -R @p −1 @ p1 @ @ @ @ @ @ −1 q@ −x+y=1 x+y=1 @ @ x−y=1
⇒
6
1
q
B ((0, 0); 1) D 2
p
p1
−1
−1
-R
q
−x−y=1
Obs: A origem (0, 0) faz parte das solu¸co˜es da inequa¸ca˜o determinada por cada uma das retas. Para um ponto p = (a, b) ∈ R2 arbitr´ario, a bola B (a, b ; r) ´e o conjunto dos pontos interiores ` a circunferˆencia de equa¸ca˜o R
|x − a| + |y − b| = r.
b
6
q
r
B ((a, b); r) D 2
r-⊣ ⊢ pa
-R
• No espa¸co R2 , D3 , temos B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r B (0, 0); 1 = (x, y) ∈ R2 : D3 (x, y); (0, 0) < 1 = (x, y) ∈ R2 : max {|x − 0|, |y − 0|} < 1
Sendo assim B (0, 0); 1 ´e o conjunto dos pontos do plano cujas coordenadas satisfazem a desigualdade: max |x − 0|, |y − 0| < 1. Isto ´e, s˜ao os pontos interiores ` a circunferˆencia de equa¸ca˜o (ver pg. 98): max |x|, |y| = 1. Inicialmente observe que max |x|, |y| < 1 ⇔ |x| < 1 e |y| < 1 ⇔ −1 < x < 1 e − 1 < y < 1.
A bola procurada ´e a intersec¸ca˜o das faixas horizontal e vertical, assim:
165
R
6
x=−1
x=1
y=1
q p
-R
p
y=−1
q
Para um ponto p = (a, b) ∈ R2 arbitr´ario, abola B (a, b ; r) ´e o conjunto dos pontos interiores ao c´ırculo de equa¸ca˜o: max |x − a|, |y − b| = r. R
R
6
1
B ((0, 0); 1) D3
b
q
p
p1
−1
-R
6
q
0
B ((a, b); r) D 3
r
ap
⊤
6
2r ⊥?
-R
q
−1
• Bolas nos quadrados [ 0, 1 [ ×[ 0, 1 [, Di Exemplo 5: Construiremos agora a bola BD (0, 0); 41 (ver equa¸ca˜o (3.2), pg. 1
153) e deixaremos como exerc´ıcio ao leitor a constru¸ca˜o desta mesma bola nas duas outras m´etricas. Temos, 1o 1 n BD1 (0, 0); = (x, y) ∈ [ 0, 1 [ ×[ 0, 1 [ : D1 (x, y); (0, 0) < 4 4 Pertencem a esta bola todos os pontos do quadrado que satisfazem a desigualdade: q 1 D1 (x, y); (0, 0) = k2 (x, 0) + k2 (y, 0) < 4 Temos, k(x, 0) = min |x − 0|, 1 − |x − 0| = min x, 1 − x k(y, 0) = min |y − 0|, 1 − |y − 0| = min y, 1 − y 166
Tendo em conta a equa¸ca˜o (2.2) (pg. distˆancias:
90), temos o seguinte diagrama de (1, 1)
1
k(x, 0) = 1 − x
k(x, 0) = x ¬
k(y, 0) = 1 − y k(y, 0) = 1 − y
1 2
k(x, 0) = x
k(x, 0) = 1 − x
k(y, 0) = y
k(y, 0) = y ¬ 1
0
1
2
Sendo assim, temos: k(x, 0) = x,
k(y, 0) = y
⇒
II )
k(x, 0) = 1 − x,
k(y, 0) = y
⇒
III )
k(x, 0) = 1 − x,
k(y, 0) = 1 − y
⇒
IV )
k(x, 0) = x,
k(y, 0) = 1 − y
⇒
I)
p (x − 0)2 + (y − 0)2 p (x − 1)2 + (y − 0)2 p (x − 1)2 + (y − 1)2 p (x − 0)2 + (y − 1)2
<
1 4
<
1 4
<
1 4
<
1 4
Tomando a interse¸ca˜o de cada uma destas circunferˆencias com o quadrado unit´ ario obtemos a bola aberta procurada, assim: (1, 1)
1
3 4
¬
1 2
BD (0, 0); 1
1 4
=⇒
1 4
1 4
¬
0
1 2
3 4
1
• Bolas nos Espa¸cos com S4 Exemplo 6: Consideremos o conjunto de s´ımbolos S4 = 0000, 1000, 0100, 1100, 0010, 1010, 0110, 1110, 0001, 1001, 0101, 1101, 0011, 1011, 0111, 1111 − Seja p = 0101 e r = 2. No espa¸co S4 , σ , temos B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r B 0101; 2 = x ∈ S4 : σ(x, 0101) < 2 167
As seq¨ uˆencias de S4 que pertencem `a bola procurada s˜ao aquelas que satisfazem a desigualdade 4 X |xn − pn | < 2 σ(x, 0101) =
x1 x2 x3 x4 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 X1 1 0 0 0 0 1 0 1 0 1 0
n=1
= |x1 − 0| + |x2 − 1| + |x3 − 0| + |x4 − 1| < 2 Ou ainda,
X X X X
X0 1 1 0 1 1 1 0 X 0 0 0 1 X1 0 0 1
x1 + |x2 − 1| + x3 + |x4 − 1| < 2 Observe que n˜ ao podemos ter x2 = x4 = 0 ou x1 = x3 = 1. Sendo assim obtemos Bσ 0101; 2 = 0100, 0001, 0101, 1101, 0111
0 1 0 1 1 1 0 1 X0 0 1 1 1 0 1 1 X 0 1 1 1 1 1 1 1 X
− Seja p = 0101 e r = 2. No espa¸co S4 , ρ , temos B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r B 0101; 2 = x ∈ S4 : ρ(x, 0101) < 2
As seq¨ uˆencias de S4 que pertencem `a bola procurada s˜ao aquelas que satisfazem 4 X n−1 ρ x, 0101 = 2 · (xn − pn ) < 2 n=1 = (x1 − 0) + 2 · (x2 − 1) + 4 · (x3 − 0) + 8 · (x4 − 1) < 2 ρ x, 0101 = x1 + 2 · (x2 − 1) + 4 · x3 + 8 · (x4 − 1) < 2 = x1 + 2x2 + 4 · x3 + 8x4 − 10 < 2
Refletindo um pouco sobre esta inequa¸ca˜o, podemos descartar todas as seq¨ uˆencias em que x4 = 0. Isto ´e, eliminamos de imediato as oito primeiras linhas da tabela de S4 , obtendo: Bρ 0101; 2 = 1001, 0101, 1101
x1 x2 x3 x4 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 1 1 0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 0 1 1 0 1 1 1 0
X0 0 0 1 1 0 0 1 0 1 0 1 1 1 0 1 X0 0 1 1 X1 0 1 1 X0 1 1 1 X1 1 1 1
168
X X X X X X X X
− Seja p = 0101 e r = 2. No espa¸co S4 , τ , temos B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r B 0101; 2 = x ∈ S4 : τ (x, 0101) < 2
As seq¨ uˆencias de S4 que pertencem `a bola procurada s˜ao aquelas que satisfazem a desigualdade (ver equa¸ca˜o (2.32), pg. 140): τ x, 0101 = max 1·|x1 −0|, 2·|x2 −1|, 3·|x3 −0|, 4·|x4 −1| < 2 Isto ´e,
max x1 , 2 · |x2 − 1|, 3 · x3 , 4 · |x4 − 1| < 2
Eliminamos de imediato as seq¨ uˆencias em que x2 = 0 ou x3 = 1 ou x4 = 0. Logo: Bτ 0101; 2 = 0101, 1101
x1 x2 x3 x4 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 1 1 0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 0 1 1 0 1 1 1 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 1 0 1 1 1 0 1 0 0 1 1 1 0 1 1 0 1 1 1 1 1 1 1
Deixamos como exerc´ıcio ao leitor justificar as seguintes igualdades: ( p , se 0 < r ≤ 1; Bσ p; r = N S se r > N.
Bρ p; r =
( p , se 0 < r ≤ 1;
Bτ p; r =
SN se r > 2N − 1. ( p , se 0 < r ≤ 1; SN
X X X X X X X X X X
se r > N.
X X X X
(4.1)
(4.2)
(4.3)
• Bolas no espa¸co C[a, b], Γ . Consideremos a fun¸ca˜o g : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ 0
isto ´e, g ´e a fun¸ca˜o identicamente nula (g ∼ = 0). Tomemos r = 21 . Vamos fazer algumas elucubra¸co˜es sobre a bola 1 1 B g; = f ∈ C[ 0, 1 ] : Γ(f, g) < 2 2 Z 1 1 = f ∈ C[ 0, 1 ] : |f (x) − g(x)| dx < 2 0 Z 1 1 = f ∈ C[ 0, 1 ] : |f (x) − 0| dx < 2 0 Tˆem livre acesso a esta bola todas as fun¸co˜es cont´ınuas, com dom´ınio no intervalo [ 0, 1 ], que satisfazem a desigualdade Z
0
1
|f (x)| dx < 169
1 . 2
Ou ainda: pertencem ` a bola em quest˜ ao todas as fun¸co˜es f , cont´ınuas e com dom´ınio no intervalo [ 0, 1 ], cuja ´area sob o gr´afico de |f | n˜ ao excede 0, 5. Exemplos: i) Perguntamos: a fun¸ca˜o
f : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ y = x2 pertence ` a bola BΓ 0; Solu¸ c˜ ao:
Temos:
Z
1 2
1
x2 dx = 0
? f (x)
x3 3
1
= 0
6
1 1 < 3 2 1
q 0
-x
q1
Resposta: Sim. ii) Perguntamos: a fun¸ca˜o f : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ y = sen x pertence ` a bola BΓ 0;
1 2
Solu¸ c˜ ao: Temos:
Z
0
? 1
1
sen x dx = − cos x
f (x)
1
= 1 − cos 1 ≈ 0, 46 <
6
0
1 2
q 0
Resposta: Sim. iii) Perguntamos: a fun¸ca˜o f : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ y = cos x pertence ` a bola BΓ 0;
1 2
?
170
q 1 q π2
qπ
-x
Solu¸ c˜ ao: f (x)
Temos:
Z
1
1
1
cos x dx = sen x
0
6
q
0
= sen 1 ≈ 0, 84 >
1 2
π 2
q1 q
0
qπ
-x
Resposta: N˜ ao. • Bolas no espa¸co (C[a, b], Υ) Consideremos a fun¸ca˜o:
g : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ 0
Tomemos r = 21 . Vamos fazer algumas elucubra¸co˜es sobre a bola 1 1 B g; = f ∈ C[ 0, 1 ] : Υ(f, g) < 2 2 1 = f ∈ C[ 0, 1 ] : max |f (x) − g(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] < 2 1 = f ∈ C[ 0, 1 ] : max |f (x)| : x ∈ [ 0, 1 ] < 2
Tˆem livre acesso a esta bola todas as fun¸co˜es cont´ınuas, com dom´ınio no intervalo [ 0, 1 ], que atendem a desigualdade
Isto equivale a
1 max |f (x)| : x ∈ [ 0, 1 ] < 2
|f (x)| < 0, 5 ; ∀ x ∈ [ 0, 1 ] ⇒ −
1 1 < f (x) < ; ∀ x ∈ [ 0, 1 ]. 2 2 y
1
Isto ´e, pertencem ` a bola BΥ g; 2 todas as fun¸co˜es reais cont´ınuas, com dom´ınio [ 0, 1 ], cujos gr´ aficos situam-se na faixa retangular ao lado.
1 2
6 q
0
− 21
q1
-x
q
De um modo geral ´e sempre poss´ıvel “visualizarmos” as bolas no espa¸co (C[a, b], Υ). Sendo B( g; r) = f ∈ C[a, b] : Υ(f, g) < r n o = f ∈ C[a, b] : max {|f (x) − g(x)| : x ∈ [a, b]} < r 171
Temos a seguinte equivalˆencia max { |f (x) − g(x)| : x ∈ [a, b] } < r ⇐⇒ |f (x) − g(x)| < r ∀x ∈ [a, b].
Isto ´e, pertencem `a bola B( g; r) todas as fun¸co˜es f ∈ C[a, b] tais que g(x) − r < f (x) < g(x) + r ; a ≤ x ≤ b. Lembramos que g ∈ C[a, b] ´e uma fun¸ca˜o a priori fixada. Pertencem `a bola B( g; r) as fun¸co˜es f : [a, b] → R cujos gr´aficos situam-se entre os gr´aficos de g − r e g + r. Graficamente esta bola fica assim: y
6
g+r
g
f
g−r 0
4.2
a
b
-x
Bolas em subespa¸cos
Dado um espa¸co m´etrico (M, d) e um subconjunto N ⊂ M , o nosso objetivo agora ser´a estudar as bolas abertas no subespa¸co (N, d). Dado p ∈ N e r > 0 a bola de centro p e raio r no “espa¸co universo” (M, d) continuar´ a a ser indicada por B(p; r), ou por Bd (p; r) quando houver necessidade de explicitar a m´etrica. Enquanto a sub-bola, digo, a bola no subespa¸co (N, d) ser´a indicada por B(p; r). Por defini¸ca˜o temos B(p; r) = {x ∈ N : d(p, x) < r} Sendo B(p; r) = {x ∈ M : d(p, x) < r}
Vamos mostrar que a sub-bola de centro p e raio r ´e igual `a bola no “espa¸co universo” interceptada com o conjunto N . Isto ´e, a seguinte identidade se verifica (M, d) qp
N
B(p; r) = B(p; r) ∩ N B(p; r)
172
B(p; r)
Prova: (Ver Importante! pg. 36) ⊂ De fato, Dado x ∈ B(p; r) ent˜ ao x ∈ N e d(p, x) < r. Como N ⊂ M temos que x ∈ M e d(p, x) < r, segue que x ∈ B(p; r). Portanto x ∈ B(p; r) ∩ N . ⊃ Dado x ∈ B(p; r)∩N segue que x ∈ N e d(p, x) < r, portanto x ∈ B(p; r). Veremos agora que as bolas em um dado subespa¸co s˜ao, amiude, totalmente diferentes daquelas no “espa¸co universo”. Exemplos: (1) Consideremos o espa¸co m´etrico R, µ . Seja N = { 0 } ∪ [ 1, 2 [. Encontre − e esboce − no subespa¸co N, µ as seguintes bolas: a) B 0;
1 2
Solu¸ c˜ ao:
b) B 0;
3 2
c) B 1;
1 2
a) Para encontrar B 0; 21 temos duas alternativas: encontrando diretamente da defini¸ca˜o ou calculando a bola no espa¸co universo e fazendo a interse¸ ca˜o com N . Vamos optar pela segunda alternativa. Temos ao B 0; 12 = − 21 , 12 , ent˜ 1 1 = B 0; ∩N 2 2 i 1 1h \ = − , { 0 } ∪ [ 1, 2 [ = 0 . 2 2
B 0;
O esbo¸co fica assim r
[
−1 2
]
r
-N
[
1
0
2
- B(0; 12 )
[1
0
2
r
- B(0; 12 )={ 0 }
0
b) Temos B 0; B 0;
3 2
= − 32 , 23 , ent˜ ao
3 3 = B 0; ∩N 2 2 3 i 3 3h \ { 0 } ∪ [ 1, 2 [ = 0 ∪ 1, . = − , 2 2 2
O esbo¸co fica assim r
0
−3 2
]
r
[
0
r
0
-N
[2
1
[3
- B(0; 23 )
[3
- B(0; 32 )={0}∪
2
[
1
2
173
1, 23
1 2
c) Temos B 1;
1
3 2, 2
r
[
, ent˜ ao
]
⊣ 0
-N
[2
1
0
1 2
1 1 = B 1; ∩N 2 2 3 i1 3h \ { 0 } ∪ [ 1, 2 [ = 1, . = , 2 2 2
B 1;
⊣ 0
=
1
r
[3
- B(1; 12 )
[
[3
- B(1; 12 )=
2
1
2
1, 23
(2) Considere o seguinte subconjunto de R2 : N = (x, y) ∈ R2 : xy = 1 . Fa¸ca um esbo¸co − nos subespa¸cos (N, Di )(i = 1, 2) − das bolas a) BD1 (1, 1); 12 b) BD2 (−1, −1); 21 Solu¸ c˜ ao: Nos subespa¸cos (N, Di ) uma bola aberta consiste de um arco de hip´erbole, aberto nas extremidades, resultado das seguintes intersec¸co˜es 1 1 \ = BD (1, 1); N 1 1 2 2 1 \ 1 = BD (−1, −1); N (−1, −1); 2 2 2
BD (1, 1); BD
2
R
N
−1q
ր
BD (−1, −1); 2
1 2
r
1
R
6 r
q
q1
0
q
BD (1, 1); 1
1 2
BD (1, 1); 1
N
-R
−1q
−1 BD (−1, −1); 2
174
6
ր 1 2
r
1
ւ r
q
q1
0
q
−1
1 2
-R
(3) Considere o seguinte subconjunto de R2 N = S 1 = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1} isto ´e, N ´e o c´ırculo unit´ ario. Fa¸ca um esbo¸co − nos subespa¸cos (S 1 , Di ) (i = 1, 2, 3.) − das bolas a) BD1 (1, 0); 21 b) BD2 (0, 1); 43 c) BD3 (1, 0); 34
Solu¸ c˜ ao: Nos subespa¸cos (S 1 , Di ) uma bola aberta consiste de um arco de c´ırculo, aberto nas extremidades, assim a) R 1 S1 −1q
R
6
q
BD (1, 0); 12
ւ
r
0
1
-R
6 ւ r
0
BD (1, 0); 12
(1,0)
1
-R
−1q
b) R
S
6 r
1
−1q
BD (0, 1); 43
ւ
2
6 BD (0, 1); 4 r ւ 2
3
-R
q1
0
R
-R
0
−1q
c) R 1 S1 −1q
R
6
q 0
BD (1, 0); 34 3
r
ւ
-R
−1q
175
6 BD (1, 0); 43 3
ւ 0
r
(1,0)
-R
4.3
Bolas no espa¸co produto
J´a esbo¸camos (pg. 166) a bola aberta no espa¸co R2 , D3 , onde D3 (x, y) = max |x1 − y1 |, |x2 − y2 | Alternativamente podemos escrever BD3 (a, b); r =] a − r, a + r [ × ] b − r, b + r [
Isto ´e, BD3 (a, b); r ´e o produto cartesiano das bolas de centro a e raio r e de centro b e raio r, ambas no espa¸co ( R, µ ). Em s´ımbolos: BD3 (a, b); r = Bµ (a; r) × Bµ (b; r) Geometricamente temos R
6
b+r
b
B ((a, b); r) D 3
⊢
2r
⊣
s
⊤6 2r
⊥?
b−r
]
0
a−r
s
a
[
-R
a+r
Este ´e um caso particular do seguinte resultado: Proposi¸ c˜ ao 28. Sejam (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . ., (Mn , dn ) espa¸cos m´etricos e consideremos sobre M = M1 × M2 × · · · × Mn a m´etrica D3 (x, y) = max d1 (x1 , y1 ), . . . , dn (xn , yn )
onde x = ( x1 , x2 , . . . , xn ) e y = ( y1 , y2 , . . . , yn ) s˜ ao ponto de M . Fixe um ponto p = ( p1 , p2 , . . . , pn ) ∈ M . Nestas condi¸co ˜es a seguinte identidade ´e v´ alida BD3( p; r) = Bd ( p1 ; r) × Bd ( p2 ; r) × · · · × Bdn( pn ; r) 1
2
Prova: Seja x = ( x1 , x2 , . . . , xn ) um ponto arbitr´ario de M . Ent˜ ao: x ∈ BD3( p; r) ⇐⇒ max d1 (x1 , p1 ), . . . , dn (xn , pn ) < r ⇐⇒ di ( xi , pi ) < r (i = 1, 2, . . . , n)
⇐⇒ xi ∈ Bd ( pi ; r) (i = 1, 2, . . . , n) i
⇐⇒ x ∈ Bd ( p1 ; r) × Bd ( p2 ; r) × · · · × Bdn( pn ; r) 1
2
176
Exemplo: Seja (M1 , d1 ) = S4 , σ
e (M2 , d2 ) = M2 (Z), δ . Considere
M = M1 × M2 = S4 × M2 (Z)
Calcule no espa¸co M, D3 a bola de centro p = ( p1 , p2 ) =
e raio r = 1.
2 0101, 3
1 0
Solu¸ c˜ ao: Pela proposi¸ca˜o anterior podemos escrever BD3( p; r) = Bd ( p1 ; r) × Bd ( p2 ; r) 1 2 ! ! 2 1 2 1 ;1 0101, ; 1 = Bσ 0101; 1 × Bδ 3 0 3 0
BD3
J´a vimos (pg’s: 162 e 169) que 2 1 2 ;1 = Bδ 3 0 3
BD
3
0101,
Bσ 0101; 1 = 0101
Portanto,
1 0
2 3
1 0
!
;1
!
= 0101 ×
2 1 3 0
=
0101,
2 1 3 0
Vejamos mais dois exemplos, desta vez no espa¸co [ 0, 1 [×[ 0, 1 [, D3 (ver pg. 153). Exemplo: Temos 1 1 1 BD (0, 0); = Bk 0; × Bk 0; 3 4 4 4 1 3 1 3 ∪ ∪ , 1 × 0, ,1 = 0, 4 4 4 4
Geometricamente esta bola fica assim: 1
3 4
=⇒
¬
1 2
1 4
1 4
¬
0
1 2
3 4
1
177
Seria bom o leitor rever o diagrama de bolas abertas `a p´ agina 163. Exemplo: Temos 1 3 1 1 1 3 1 = Bk ; ; × Bk ; , 3 4 4 3 4 3 4 3 7 11 1 5 ∪ ∪ , 1 × 0, ,1 = 0, 12 12 12 12
BD
Geometricamente esta bola fica assim: 1
rp
3 4
rp =⇒
¬
1 2 5 12
0
1 4
¬
1 12
1 2
7 12
11 12
1
Seria bom o leitor rever o diagrama das bolas abertas no espa¸co [ 0, 1 [, k (pg. 163).
4.4
Proposi¸ c˜ oes sobre bolas
Provaremos - e interpretaremos - algumas propriedades das bolas abertas B( p; r) de um espa¸co m´etrico (M, d); gen´erico. (P1 ) Dadas B( p; r) e B( p; s), se s ≤ r, ent˜ ao B( p; s) ⊂ B( p; r). Isto ´e: Se duas bolas tˆem o mesmo centro, a de menor raio est´a contida na outra. Embora isto pare¸ca trivial; em matem´atica devemos sempre desconfiar do obvio. Por exemplo, daqui a pouco mostraremos ao leitor que existem bolas ´ cujo raio ´e maior que o pr´oprio diˆametro!. Prova: Seja x ∈ B( p; s) ent˜ ao d(x, p) < s, logo d(x, p) < s ≤ r ⇒ d(x, p) < r ⇒ x ∈ B( p; r).
Portanto B( p; s) ⊂ B( p; r).
178
(P2 ) Dado q ∈ B( p; r), ent˜ ao existe s > 0 de maneira que B( q; s) ⊂ B( p; r). Isto ´e: Escolhido um ponto qualquer de uma bola aberta, podemos tornar este ponto o centro de uma nova bola contida na primeira. Prova: Como q ∈ B( p; r) temos que d(p, q) < r. A figura seguinte (esquerda) B( p; r)
B( p; r)
p
⊢ r ⊢
r
d(p, q)
⊣
rq
⊣ ⊢
s
p
⊣
rx rq r B( q; s)
nos sugere escolher s = r − d(p, q) > 0. Mostremos que, para esta escolha de s, efetivamente se verifica B( q; s) ⊂ B( p; r). Seja x ∈ B( q; s), ent˜ ao d(x, q) < s = r − d(p, q) ⇒ d(x, q) + d(p, q) < r
(♮)
A desigualdade triangular nos autoriza escrever d(x, p) ≤ d(x, q) + d(p, q) nos valendo da desigualdade (♮) decorre que d(x, p) < r, o que implica x ∈ B( p; r). Como x ∈ B( q; s) ´e arbitr´ario, segue que B( q; s) ⊂ B( p; r). (P3 ) Sejam B( p; r) e B( q; s) bolas que se interceptam. Para todo x ∈ B( p; r)∩ B( q; s), existe t > 0 satisfazendo B( x; t) ⊂ B( p; r) ∩ B( q; s). Isto ´e: Escolhido qualquer ponto na intersec¸ca˜o de duas bolas abertas, podemos centrar neste ponto uma terceira bola contida nesta intersec¸ca˜o. Prova: Seja x ∈ B( p; r) ∩ B( q; s), ent˜ ao x ∈ B( p; r) e x ∈ B( q; s). Devido `a propriedade (P2 ) existem t1 > 0 e t2 > 0 tais que B( x; t1 ) ⊂ B( p; r) e B( x; t2 ) ⊂ B( q; s)
179
Daqui segue que B( x; t1 ) ∩ B( x; t2 ) ⊂ B( p; r) ∩ B( q; s) B( p; r)
(4.4)
B( q; s)
p
r
rq
xr
6
B( x; t)
Seja t = min {t1 , t2 }, ent˜ ao pela propriedade (P1 ), temos as seguintes inclus˜oes B( x; t) ⊂ B( x; t1 ) e B( x; t) ⊂ B( x; t2 ) portanto, B( x; t) ⊂ B( x; t1 ) ∩ B( x; t2 ) de (4.4) conclu´ımos que B( x; t) ⊂ B( p; r) ∩ B( q; s) que ´e o resultado desejado. (P4 ) Sejam p 6= q pontos de um espa¸co (M, d). Ent˜ ao podemos centrar em cada um destes pontos, bolas abertas disjuntas. Prova: Como p 6= q ⇒ d( p,q) > 0. Vamos tomar r = d(p, q) e mostrar que, por exemplo, as bolas B p; 2r e B q; r2 s˜ao disjuntas. (M, d)
p
r
rq
⊢ ⊣ r=d(p, q)
ao Suponha, ao contr´ario, que exista w ∈ B p; 2r ∩ B q; 2r . Ent˜ d(w, p) < 2r e d(w, q) < 2r . Donde, invocando a desigualdade triangular, temos r = d( p, q) ≤ d( p, w) + d( w, q) <
r r + = r. 2 2
Esta contradi¸ca˜o mostra que a nossa suposi¸ca˜o (qual seja: a de que existe um elemento na interse¸ca˜o das bolas) ´e falsa. 180
(P5 ) Sejam as bolas B( p; r) e B( q; s), se r + s ≤ d(p, q), ent˜ ao B( p; r) ∩ B( q; s) = ∅ Isto ´e: Se a soma dos raios ´e menor ou igual `a distˆancia entre os centros, ent˜ ao estas bolas precisam ser disjuntas. Prova: Suponha, contr´ ariamente, que exista w ∈ B( p; r) ∩ B( q; s). Ent˜ ao d( w, p) < r e d( w, q) < s. Donde, invocando a desigualdade triangular, temos d( p, q) ≤ d( p, w) + d( w, q) < r + s ≤ d( p, q). Esta contradi¸ca˜o mostra que a nossa suposi¸ca˜o (qual seja: a de que existe um elemento na interse¸ca˜o das bolas) ´e falsa. (P6 ) O diˆametro de uma bola B( p; r) ´e menor ou igual a 2r. - Isto ´e, em qualquer espa¸co m´etrico a seguinte desigualdade sempre se verifica diam B( p; r) ≤ 2r.
Prova: Queremos mostrar que diam B( p; r) = sup d(x, y) : x, y ∈ B( p; r) ≤ 2r.
Sejam x e y pontos arbitr´arios de B( p; r), logo d(x, p) < r e d(y, p) < r, ent˜ ao d(x, y) ≤ d(x, p) + d(p, y) < r + r = 2r. portanto, 2r ´e uma cota superior do conjunto d(x, y) : x, y ∈ B( p; r) e, sendo sup d(x, y) : x, y ∈ B( p; r) a menor de tais cotas, disto segue o resultado desejado. Como corol´ ario: toda bola aberta ´e um conjunto limitado (pg. 124). Vamos dar um exemplo de que a desigualdade diam B( p; r) < 2r efetivamente pode ocorrer. • No espa¸co S4 , σ considere a bola (pg. 168) Bσ 0101; 2 = 0100, 0001, 0101, 1101, 0111
podemos calcular o diˆametro desta bola com o aux´ılio do seguinte diagrama de distˆancias Bσ (0101; 2)
6 0111
2
2
1
2
0
1101
2
2
1
0
2
0101
1
1
0
1
1
0001
2
0
1
2
2
0100
0
2
1
2
2
0100
0001
1101
0111
0101
181
- Bσ (0101; 2)
Ent˜ ao, diam Bσ (0101; 2) = sup σ(x, y) : (x, y) ∈ Bσ (0101; 2) × Bσ (0101; 2) = sup { 0, 1, 2 } = 2. Neste caso temos uma bola com diˆametro igual ao raio! O caro leitor n˜ ao se escandalize porquanto poderia ter sido pior. E de fato ´e: mostraremos agora uma, digo, uma infinidade de bolas com a seguinte propriedade: por mais que diminuamos o raio, ele permanece sempre maior que o diˆametro! Com efeito, considere qualquer conjunto M , munido da m´etrica δ. J´a vimos (pg. 162) que ( p , se 0 < r ≤ 1; Bδ ( p; r) = M, se r > 1. Ent˜ ao neste espa¸co toda bola com 0 < r ≤ 1 tem diˆametro dado por diam B( p; r) = sup d(x, y) : x, y ∈ B( p; r) = sup δ(x, y) : x, y ∈ { p } = sup δ(p, p) = sup 0 = 0.
Vamos mostrar que este comportamento “anˆomalo” das bolas abertas, n˜ ao ocorre em espa¸cos vetoriais normados. Antes vamos calcular o diˆametro da bola B( p; r) no espa¸co R2 , D2 (ver fig. pg. 165). Temos diam B( p; r) = sup D2 (x, y) : x, y ∈ B( p; r) = sup |x1 − y1 | + |x2 − y2 | : x, y ∈ B( p; r) onde, x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ). Se x, y ∈ B( p; r), ent˜ ao ( D2 (x, p)
⇒
D2 (y, p)
|x1 − p1 |+|x2 − p2 |
(⋆)
|y1 − p1 |+|y2 − p2 |
onde p = (p1 , p2 ). Pela desigualdade triangular podemos escrever |x1 − y1 | ≤ |x1 − p1 | + |y1 − p1 |
|x2 − y2 | ≤ |x2 − p2 | + |y2 − p2 |
Somando estas duas desigualdes e invocando ( ⋆ ), temos |x1 − y1 |+|x2 − y2 | ≤
|x1 − p1 |+|x2 − p2 | + |y1 − p1 |+|y2 − p2 |
< r+r.
isto ´e, 0 ≤ |x1 − y1 | + |x2 − y2 | < 2r ou ainda, |x1 − y1 | + |x2 − y2 | ∈ [ 0, 2r [ 182
Portanto, diam B( p; r) = sup |x1 − y1 | + |x2 − y2 | : x, y ∈ B( p; r) = sup [ 0, 2r [= 2r.
Vimos (exemplo 2., pg. 147) que a m´etrica D2 prov´em de uma norma, portanto o resultado anterior constitui-se num caso especial do seguinte resultado Proposi¸ c˜ ao 29. Em um espa¸co vetorial E, +, · normado com E 6= {0} sempre vale a seguinte igualdade diam B( p; r) = 2r. Prova: Qualquer que seja r > 0, temos trˆes possibilidades: diam B( p; r) > 2r ou diam B( p; r) = 2r ou diam B( p; r) < 2r
Pela propriedade (P6 ) (pg. 181) descartamos a primeira possibilidade. Sendo diam B(p; r) = sup d(x, y) : x, y ∈ B( p; r)
para excluir a terceira das possibilidades acima, devemos mostrar que nenhum n´ umero s < 2r pode ser cota superior do conjunto d(x, y) : x, y ∈ B( p; r) . Isto ´e, que 2r ´e efetivamente a menor de tais cotas. Ou ainda, que 2r = sup d(x, y) : x, y ∈ B( p; r) = diam B( p ; r) .
Para tanto ´e suficiente encontrar (construir) dois vetores x, y ∈ B( p; r) tal que d(x, y) > s. Tomemos 0 6= u ∈ E, vamos construir − a partir de u − os vetores x e u e y satisfazendo a desigualdade acima. Inicialmente obtemos os vetores kuk −u ambos de comprimento unit´ a rio. Como entre dois n´ u meros reais sempre kuk existe um terceiro, vamos escolher um n´ umero real ε satisfazendo s < ε < 2r e multiplicar os dois vetores anteriores por ε/2. Com isto asseguramos que os u ε −u ε novos vetores kuk em comprimentos menores que o 2 e kuk 2 assim obtidos, tˆ raio r da bola. Para obter os vetores x e y aplicamos, aos dois u ´ ltimos vetores, a seguinte transla¸ca˜o: p+
u ε −u ε =x , p+ =y kuk 2 kuk 2
Vamos mostrar que, de fato, estes vetores cairam dentro da bola:
±u ε k ± uk ε ε
=
= < r. kx − pk = ky − pk = kuk 2 kuk 2 2
Resta mostrar que d(x, y) > s. Com efeito,
−u ε u ε
= kuk ε = ε > s. − p + d(x, y) = kx − yk = p +
kuk 2 kuk 2 kuk
183
Nos reportando ao exemplo 6) (pg. 126) perguntamos: sendo R2 , D2 um √ espa¸co vetorial normado, por que resultou diam(D) = 2 2, na m´etrica D2 ? Para que o leitor sinta a for¸ca de um teorema (proposi¸ca˜o) perceba que a demonstra¸ca˜o anterior pode ser particularizada para uma infinidade de espa¸cos m´etricos. Por exemplo, para os seguintes: ( Rn , Di ) (i = 1, 2, 3.) (n = 1, 2, . . .) C[a, b], Γ ; C[a, b], Υ ; B(X, R), Ψ .
haja vista que a m´etrica de todos estes espa¸cos s˜ao oriundas de uma norma. Vamos dar alguns exemplos do que estamos falando: o 1 ) Considere o espa¸co C[ 0, 1 ], Γ e a fun¸ca˜o
p : [ 0, 1 ] −→ R t 7−→ t2 Vamos mostrar que diam B( p; r) = 2r. Seguindo os passos da demonstra¸ca˜o precedente, devemos inicialmente escolher qualquer vetor 0 6= u ∈ C[ 0, 1 ]; digamos,
u : [ 0, 1 ] −→ R t 7−→ t escolhemos agora um n´ umero real ε tal que s < ε < 2r. Com este vetor e este n´ umero, constru´ımos os vetores x, y ∈ C[ 0, 1 ] dados por −u ε u ε , y =p+ x=p+ kuk 2 kuk 2 precisamos da norma de u: Z 1 Z 1 1 kuk = |u(t)| dt = |t| = . 2 0 0 Portanto,
x(t) = p(t) + = t2 +
u(t) ε kuk 2
ε t · = t2 + ε · t 1/2 2
tamb´em, y(t) = p(t) + = t2 +
−u(t) ε kuk 2
−t ε · = t2 − ε · t 1/2 2
Vamos mostrar que x, y ∈ B( p; r) e Γ(x, y) > s. Ent˜ ao, Z 1 Z 1 2 t + ε t − t2 dt = ε Γ(x, p) = t dt 0
0
= ε
184
t2 2
1 0
=
ε < r. 2
tamb´em, Γ(y, p) =
Z
1
0
Por outro lado, Γ(x, y) =
Z
0
= 2ε
2 t − ε t − t2 dt = ε < r. 2 1
2 t + ε t − t2 − ε t dt
Z
1
t dt = ε > s.
0
Devido a escolha de ε que fizemos. 2o ) O exemplo 6) (pg. 126) pode ser resolvido seguindo-se os passos da prova da proposi¸ca˜o 29 (ver proposi¸ca˜o 64, pg. 278). Faremos mais que isto: mostraremos, de modo simultˆ aneo, que diam B((0, 0); 1) = 2 para as trˆes bolas seguintes R
6
R
1
-R
1
k(x , x )k 1 2 1
=
√
x21 +x22
-R
−1
R 1
−1
1
−1
−1 k(x , x )k 1 2 2
6
1
1
−1
−1
R
6
= |x1 |+|x2 |
k(x , x )k 1 2 3
= max{ |x1 |, |x2 | }
Vimos (propriedade (P6 ) pg. 181) que 2 ´e uma cota superior do conjunto d(x, y) : x, y ∈ B (0, 0); 1 = K
Resta mostrar que 2 ´e, de fato, sup deste conjunto. Para tanto ´e suficiente mostrar que nenhum n´ umero s < 2 pode ser cota superior de K. Faremos isto construindo dois vetores x, y ∈ B (0, 0); 1 tal que d(x, y) > s. Com este objetivo em mente, tomemos 0 6= u = (1, 0) ∈ R2 , vamos construir - a partir de u - os vetores x e y satisfazendo a desigualdade acima. Inicialmente obtemos os vetores u (1, 0) = = (1, 0) e kuk k(1, 0)k
−
u (1, 0) =− = (−1, 0), kuk k(1, 0)k
ambos de comprimento unit´ ario. Como entre dois n´ umeros reais sempre existe um terceiro, vamos escolher um n´ umero real ε satisfazendo s < ε < 2 e multiplicar os dois vetores anteriores por ε/2. Com isto asseguramos que os novos vetores u ε ε −u ε ε = ,0 e = − ,0 , kuk 2 2 kuk 2 2 assim obtidos, tˆem comprimentos menores que o raio r = 1 da bola. Para obter os vetores x e y aplicamos, aos dois u ´ ltimos vetores, a seguinte transla¸ca˜o: p+
−u ε u ε =x , p+ =y kuk 2 kuk 2 185
ou melhor,
ε ε , 0 = x , (0, 0) + − , 0 = y 2 2 Obviamente que, neste caso, a transla¸ca˜o ´e desneces´ aria. Vamos mostrar que, de fato, estes vetores cairam dentro da bola:
ε
ε
kxk = kyk = ± , 0 = < 1 2 2 (0, 0) +
Resta mostrar que d(x, y) > s. Com efeito,
ε ε
d(x, y) = kx − yk = , 0 − − , 0 = ε > s. 2 2
Nota: k k pode ser substituida por qualquer uma das trˆes normas k ki=1,2,3 .
4.5
Ponto isolado − Espa¸ cos discretos
Defini¸ c˜ ao 28 (Ponto Isolado). Seja um espa¸co m´etrico ( M, d ). Dado um ponto p ∈ M , se existir r > 0 de modo que { p } = B( p; r), ent˜ ao dizemos que p ´e um ponto isolado no espa¸co ( M, d ). Isto significa que n˜ ao existe ponto x ∈ M satisfazendo a desigualdade 0 < d(x, p) < r. Ou ainda: p ∈ M ´e isolado no espa¸co ( M, d ) se n˜ ao existe ponto de M a uma distˆancia de p menor que r. Observa¸ c˜ ao: Para mostrar que um ponto p ∈ M n˜ ao ´e isolado no espa¸co ( M, d ): ∀r > 0 dado, devemos exibir um outro ponto x = xr ∈ M tal que xr ∈ B( p; r). Isto ´e, 0 < d(xr , p) < r. Exemplos: (1) No espa¸co ( R, δ) todo n´ umero real ´e isolado. De fato, j´a vimos (pg. 162) que se 0 < r ≤ 1 ⇒ Bδ ( p; r) = { p }, ∀ p ∈ R. (2) No espa¸co ( R, µ) nenhum n´ umero real ´e isolado. De fato, neste espa¸co a bola aberta de centro p e raio r coincide com o intervalo aberto Bµ ( p; r) =] p − r, p + r [ Por exemplo, o ponto xr = xr 6= p e
p+p+r 2
= p + r2 , satisfaz 0 < d(xr , p) < r, pois
r r µ(xr , p) = (p + ) − p = < r. 2 2 r
Bµ( p; r)
] p−r
p
186
r
xr
[ p+r
-R
(3) No espa¸co ( Z, µ) todo ponto ´e isolado. De fato, dado p ∈ Z e r = 12 , por exemplo, temos 1 1 Bµ p; = x ∈ Z : |x − p| < 2 2 1 1 = { p }. = x ∈ Z: p − < x < p + 2 2 r
p−1
p− 21
p+ 12
r
]
r
[
p
-Z
p+1
Observe que um n´ umero inteiro qualquer, ´e isolado no espa¸co ( Z, µ ) mas n˜ ao no espa¸co ( R, µ). (4) O ponto p = 0101 ´e isolado em qualquer um dos espa¸cos S4 ; σ, ρ, τ . De fato, isso se deve a que, Bσ 0101; 1 = x ∈ S4 : σ(x, 0101) < 1 = { 0101 } Bρ 0101; 1 = x ∈ S4 : ρ(x, 0101) < 1 = { 0101 } Bτ 0101; 1 = x ∈ S4 : τ (x, 0101) < 1 = { 0101 } Observe que se x ∈ S4 , ent˜ ao,
σ(x, 0101) ∈ { 0, 1, 2, 3, 4 }
ρ(x, 0101) ∈ { 0, 1, 2, . . . , 9, 10 } τ (x, 0101) ∈ { 0, 1, 2, 3, 4 }
(5) Sendo X = n1 : n ∈ N ∪ { 0 }, todos os pontos de X, `a exce¸ca˜o do 0, s˜ao isolados no espa¸co (X, µ). De fato, dado r > 0, podemos invocar a propriedade arquimediana para mostrar que 0 n˜ ao ´e isolado: Escolhemos n = nr ∈ N de modo que 1 < r, portanto n r
1 1 1 ,0 = − 0 = < r. µ nr nr nr
Por outro lado, dado p = 1 . de p ´e x = n+1 r
0
Sendo,
1 n
···
∈ X o ponto de X que est´ a mais pr´oximo r
1 n+1
r
1 n
r ···
1 n−1
1 1 1 µ(x, p) = − = n+1 n n(n + 1)
1 para isolar p. basta escolher r = rn < n(n+1) 1 Resumindo: dado p = n ∈ X escolhemos r = rn <
187
r
1
1 n(n+1)
e o ponto
mais pr´oximo de p que ´e x =
1 n+1
estar´ a fora da bola B(p; rn ), porquanto
r < µ(x, p) =
1 n(n + 1)
Vejamos um exemplo: Para isolar o ponto r< s
0
rrrrr r r r] r . . . 14 31
1 3
∈ X, ´e suficiente escolher
1 1 = 3(3 + 1) 12 r
[
1 2
r
1
(6) Nos espa¸cos SN , σ , SN , ρ e SN , τ todos os pontos s˜ao isolados. De fato, podemos isolar qualquer ponto desses espa¸cos tomando 0 < r ≤ 1 (pg. 169). ∞ (7) No espa¸co S , ν nenhum ponto ´e isolado. ∞ De fato, seja p = (p1 p2 . . .) ∈ S , para todo r > 0 dado, devemos ∞
exibir x = (x1 x2 . . .) ∈ S de modo que 0 < ν(x, y) < r. ao, de acordo Dado r > 0 escolhemos n ∈ N tal que 21n < r. Ent˜ com a proposi¸ca˜o 25 (pg. 117) se escolhermos x coincidindo com p nas n primeiras posi¸co˜es teremos ν(x, p) < r. Para garantir ν(x, y) > 0, isto ´e, x 6= p basta escolher um termo de x, ap´os a posi¸ca˜o n, diferente do termo de mesma posi¸ca˜o de p. Por exemplo, o ponto x = p1 , . . . , pn , p¯(n+1) , p(n+2) , p(n+3) , . . .
onde,
p¯(n+1) =
(
1, se p(n+1) = 0; 0, se p(n+1) = 1.
satisfaz as exigˆencias mencionadas. Observe que a seq¨ uˆencia x coincide com a seq¨ uˆencia p em todas as posi¸co˜es, exceto na de n´ umero n + 1. Sendo assim, temos ν(x, p) =
∞ X |xi − pi | 1 1 = n+1 < n < r i 2 2 2 i=1
Resumindo: Dado p = ( pj ) ∈ S∞ e r > 0, para mostrar que p n˜ ao ´e isolado, escolhemos j ∈ N tal que 21j < r e tomamos x = (xn ) ∈ S∞ onde xj 6= pj e xn = pn , ∀ n ∈ N − {j}. ´ o que nos Em espa¸cos vetoriais normados n˜ ao existem pontos isolados. E assevera a seguinte
188
Proposi¸ c˜ ao 30. Em um espa¸co vetorial E, +, · normado com E 6= { 0 } n˜ ao existe ponto isolado. Prova: Dados, arbitrariamente, u ∈ E e r > 0 devemos exibir w = wr ∈ E de modo que 0 < d(u, wr ) < r. Escolhamos em E qualquer vetor v 6= u e consideremos o segmento de reta (ver pg. 78) [u, v] = (1 − t)u + tv : 0 ≤ t ≤ 1
Agora vamos determinar 0 < t ≤ 1 de tal modo que o vetor w = (1 − t)u + tv caia dentro da bola B(u, r). Isto ´e tal que d(u, w) = ku − wk < r. (E, k · k) B(u, r)
u t=0
ws
v
t=?
t=1
Ent˜ ao, w − u = (1 − t)u + tv − u = (−u + v)t logo kw − uk = k(−u + v)tk = tku − vk < r portanto ´e suficiente escolher 0
r ku − vk
De modo mais preciso 0 < t < min
r ,1 ku − vk
Para que o leitor n˜ ao duvide da potˆencia de um teorema, perceba que a demonstra¸ca˜o anterior pode ser particularizada para uma infinidade de espa¸cos m´etricos. Por exemplo, para os seguintes: ( Rn , Di ) (i = 1, 2, 3.) (n = 1, 2, . . .) C[a, b], Γ ; C[a, b], Υ ; B(X, R), Ψ .
haja vista que a m´etrica de todos estes espa¸cos s˜ao oriundas de uma norma. Vamos dar alguns exemplos do que estamos falando. 189
1o ) Aqui vamos apenas simular alguns trechos da prova da proposi¸ca˜o an terior. Considere os espa¸cos R2 , Di , o ponto u = (1, 1) e o raio r = 0, 75. Encontre um ponto wr satisfazendo as condi¸co˜es da prova anterior. Ent˜ ao, guiados pela prova da proposi¸ca˜o 30, vamos escolher o vetor v = (2, 2) e, ademais, vamos optar pela norma euclidiana (ver pg. 73), ent˜ ao, p √ u − v = (1, 1) − (2, 2) = (−1, −1) ⇒ ku − vk = (−1)2 + (−1)2 = 2 Agora vamos escolher um valor do parˆ ametro t satisfazendo, r 0, 75 0 < t < min ,1 ⇒ 0 < t < min √ , 1 = min {0, 53 . . . , 1} ku − vk 2 Escolhendo, por exemplo, t = 0, 4, obtemos, wr = (1 − t)u + tv ⇒ wr = (1 − 0, 4) · (1, 1) + 0, 4 · (2, 2) = (1, 4; 1, 4) Geometricamente, temos o seguinte esbo¸co:
2
q
1
q
s
v
w
0
u
q1
q2
Vejamos a mesma simula¸ca˜o escolhendo agora a norma da soma, assim: u − v = (1, 1) − (2, 2) = (−1, −1) ⇒ ku − vk = | − 1| + | − 1| = 2 Agora vamos escolher um valor do parˆ ametro t satisfazendo, 0, 75 r ,1 ⇒ 0 < t < min , 1 = min {0, 375 . . . , 1} 0 < t < min ku − vk 2 Escolhendo, por exemplo, t = 0, 2, obtemos, wr = (1 − t)u + tv ⇒ wr = (1 − 0, 2) · (1, 1) + 0, 2 · (2, 2) = (1, 2; 1, 2) Geometricamente, temos o seguinte esbo¸co (esquerda):
2
q
1
q 0
sw
v
u
q1
q2
2
q
1
q 0
190
s
u
q1
s
v
q2
Na figura da direita fizemos uma superposi¸ca˜o das duas simula¸co˜es. 2 ) Mostre que no espa¸co C[ −1, 1 ], Γ o ponto u ∈ C[ −1, 1 ] dado por o
u : [ −1, 1 ] −→ R x 7−→ x2
n˜ ao ´e isolado.
Solu¸ c˜ ao: Considere r > 0 dado. Seguindo os passos da demonstra¸ca˜o precedente, devemos inicialmente escolher qualquer vetor v 6= u ∈ C[ −1, 1 ]; digamos v : [ −1, 1 ] −→ R x 7−→ 0
Devemos escolher
0 < t < min
r ,1 ku − 0k
vetor (fun¸ ca ˜o) nulo (nula) .
⇒ 0 < t < min
r ,1 kuk
onde kuk = =
Z
1
|u(x)| dx
−1
Z
1
x2 dx =
−1
2 3
logo 0 < t < min
r ,1 kuk
⇒ 0 < t < min
3 r, 1 2
Escolhendo, por exemplo, t = r (supondo r ≤ 2/3) temos wr (x) = (1 − t) u(x) + tv(x)
= (1 − r) u(x) + t 0 = (1 − r)x2 .
Geometricamente temos w(x)
6
r=0,1 →
u w w w
1
q
ր ր r=0,3
r=0,2
−1q
0
1q
-
x
Lembramos que a distˆancia d(u, w) = ku − wk ´e o valor da ´area entre os 191
gr´ aficos das fun¸co˜es u e w. Por exemplo, para r = 0, 2 temos Z 1 |u(x) − w(x)| dx d(u, w) = −1
=
Z
1
|x2 − 0, 98x2 | dx
−1
=
Z
1
0, 2x2 dx =
−1
0, 4
A seguir visualizamos esta situa¸ca˜o:
w(x)
6
u
1
q
w
r=0,2
−1q
1q
0
x − d(u, w) ´ e dada pela a ´rea desta figura.
3o ) Vamos considerar o espa¸co M2×3 (R), k · kD3 , onde k · kD3 ´e a norma induzida de R2×3 , dada por (ver pg. 73) kAkD3 = max |a11 |, |a12 |, |a13 |, |a21 |, |a22 |, |a23 |
Mostremos que neste espa¸co o ponto 2 3 u= 0 1
−1 0
n˜ ao ´e isolado. Solu¸ c˜ ao: Considere r > 0 dado. Seguindo os passos da demonstra¸ca˜o precedente, devemos inicialmente escolher qualquer vetor v 6= u ∈ M2×3 (R); digamos 0 0 0 vetor (matriz) nulo (nula) . v= 0 0 0 Devemos escolher
0 < t < min
r ,1 ku − 0k
⇒ 0 < t < min
r ,1 kuk
onde, kukD = max |a11 |, |a12 |, |a13 |, |a21 |, |a22 |, |a23 | 3 = max |2|, |3|, | − 1|, |0|, |1|, |0| = 3. 192
logo,
nr o r 0 < t < min ,1 ⇒ 0 < t < min ,1 kuk 3 r Escolhendo, por exemplo, t = (supondo r ≤ 3) temos 10 w = (1 − t) u + tv r r r = 1− u+ u 0= 1− 10 10 10 r 2 3 −1 = 1− 0 1 0 10 Esta matriz satisfaz d(w, v) = kw − vk < r. De fato, r 2 3 −1 2 3 w−v = 1− − 0 1 0 0 1 10 2 3 −1 r = 1− −1 0 1 0 10 r 2 3 −1 = − 0 1 0 10
−1 0
ent˜ ao,
r 2 3 −1
kw − vk = − 0 1 0 10
r
2 3 −1 =
0 1 0 10 =
r ·3
Defini¸ c˜ ao 29 (Espa¸co Discreto). Um espa¸co m´etrico ´e dito discreto quando todos os seus pontos s˜ ao isolados. Como exemplos de espa¸cos discretos citamos: SN , σ ; SN , ρ ; SN , τ ;
R, δ
;
Z, µ ;
1 1 1, , . . . , , . . . , µ . 2 n
Observe que qualquer conjunto M munido da m´etrica δ resulta em um espa¸co m´etrico discreto. Da´ı esta ser conhecida como m´etrica discreta. Proposi¸ c˜ ao 31. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se M ´e finito ent˜ ao (M, d) ´e discreto. Prova: Seja M = a1 , a2 , . . . , an . Escolhendo r = min d(ai , aj ) : ai , aj ∈ M e i 6= j
nenhum aj ∈ M satisfaz d(ai , aj ) < r, a menos que j = i. Portanto B( ai , r) = {ai } 193
194
Cap´ıtulo
5
¨ ENCIAS ˆ SEQU EM ESPAC ¸ OS ´ METRICOS “O
matem´ atico, como o pin-
tor ou o poeta, ´ e um desenhista. Se os seus desenhos s˜ ao mais duradouros que os deles, ´ e porque s˜ ao feitos com id´ eias. (G.H. Hardy)
5.1
Seq¨ uˆ encias
Para definir seq¨ uˆencias n˜ ao precisamos estar inseridos no contexto de espa¸cos m´etricos. Com efeito, desde o ensino m´edio que passamos a lidar com seq¨ uˆencias como, por exemplo, as progress˜oes aritm´eticas e geom´etricas. Defini¸ c˜ ao 30 (Seq¨ uˆencia). Seja M um conjunto n˜ ao vazio, com elementos de natureza qualquer. Chamaremos de seq¨ uˆ encia de termos em M , ou apenas seq¨ uˆ encia em M a qualquer aplica¸ca ˜o x : N −→ M n 7−→ x(n) seguir
Para representar a seq¨ uˆencia x : N −→ M usaremos uma das nota¸co˜es a (x1 , x2 , x3 , . . .) ou
xn
n∈N
ou
xn .
A imagem de n ∈ N pela fun¸ca˜o x, isto ´e, x(n), ser´a indicada por xn ; ´e o n-´esimo termo da seq¨ uˆencia. Exemplos: ´ a progress˜ao ari(1) Seja a seq¨ uˆencia x : N −→ R dada por xn = 2n − 1. E tm´etica (1, 3, 5, 7, . . .). 195
(2) Seja a seq¨ uˆencia xn em R dada por 1 − (−1)n xn = 2
⇒
xn =
(
1, 0,
se n ´e impar; se n ´e par.
´e a seq¨ uˆencia (1, 0, 1, 0, 1, . . .). (3) Uma seq¨ uˆencia em R2 . Seja x : N −→ R2 n 7−→ 1 + (−1)n , 1 − (−1)n
Alternativamente: (0, 2), (2, 0), (0, 2), (2, 0), . . . .
(4) Uma seq¨ uˆencia de matrizes. Seja x : N −→ M2 (R), dada por 0 1 − n1 xn = 1 0 1− n A seq¨ uˆencia fica
0 0 0 0
,
1 2
0
0
1 2
,
2 3
0
0
2 3
, . . .
(5) Uma seq¨ uˆencia de fun¸co˜es. Seja x : N −→ C[ 0, 1 ] n 7−→ xn uˆencia (x1 , x2 , x3 , . . .) s˜ao fun¸co˜es onde, xn (t) = nt . Os termos da seq¨ cont´ınuas definidas no intervalo [ 0, 1 ], onde x1 (t) = t, x2 (t) =
t t , x3 (t) = , . . . 2 3
A seguir plotamos os trˆes primeiros termos da seq¨ uˆencia xn : x1 (t)
x2 (t)
x3 (t)
6
6
6
1
1
q
1
q
q
1 2
0
q1 t
1 3
q1 t
0
196
0
q1 t
• Um outro exemplo de seq¨ uˆencia no conjunto C[ 0, 1 ] podemos obter encontrando a equa¸ca˜o da reta no gr´afico x (t)
6n
1
q
0
1 n
-t
q1
Deste gr´ afico deduzimos a seguinte equa¸ca˜o para o termo geral de (xn ): xn (t) =
(
1 n;
1 − nt , se 0 ≤ t ≤ 0,
se
1 n
≤ t ≤ 1.
A seguir plotamos os trˆes primeiros termos da seq¨ uˆencia xn : x1 (t)
x2 (t)
x3 (t)
6
6
6
1
1
q
0
qA A
q1
-t
0
1
q
A A
A A 1 2
q1
-t
∞
0
(6) Uma seq¨ uˆencia em S . Considere a seq¨ uˆencia δn
δn = (δn1 , δn2 , δn3 , . . .) onde δnk =
(
n∈N
δ1 = (1, 0, 0, 0, 0, . . .) δ2 = (0, 1, 0, 0, 0, . . .) δ3 = (0, 0, 1, 0, 0, . . .) .. . δk = (0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0, . . .) .. ↑ k-´esima posi¸ca˜o. .
q1
-t
, definida assim
1, se n = k; 0, se n 6= k.
A seguir explicitamos os termos da seq¨ uˆencia (δn ).
197
1 3
5.1.1
Subseq¨ uˆ encias
Defini¸ c˜ ao 31 (Subseq¨ uˆencia). Dada uma seq¨ uˆencia x : N −→ M e um subconjunto (infinito) N1 = {n1 < n2 < n3 < . . .} de N, a restri¸ca ˜o x : N1 −→ M N
1
´e chamada subseq¨ uˆencia de xn .
´ importante observar, na defini¸ca˜o acima, que os ´ındices no conjunto Nota: E N1 s˜ao em n´ umero infinito e em ordem crescente. Para representar uma subseq¨ uˆencia usaremos uma das nota¸co˜es a seguir xn , xn , xn , . . . ou xn n∈N ou xn . 1
2
3
k
1
Exemplos:
n
, isto ´e, (1, 0, 1, 0, . . .). (1) Seja a seq¨ uˆencia em R dada por xn = 1−(−1) 2 Vamos obter duas subseq¨ uˆencias de (xn ) escolhendo, por exemplo N1 = {1, 3, 5, 7, . . .} (´ımpares) N2 = {2, 4, 6, 8, . . .} (pares) ent˜ ao xn xn
n∈N1
n∈N2
= (1, 1, 1, 1, . . .) = (0, 0, 0, 0, . . .) n
(2) Seja a seq¨ uˆencia em R dada por xn = 2n+1−(−1) , isto ´e, 4 xn = (1, 1, 2, 2, 3, 3, . . .)
Considere N1 e N2 como no exemplo anterior. Sendo assim, temos xn n∈N = (1, 2, 3, 4, . . .); xn n∈N = (1, 2, 3, 4, . . .) 2
1
Como retirar um n´ umero arbitr´ ario de subseq¨ uˆ encias de uma dada seq¨ uˆ encia/Parti¸ c˜ ao dos naturais Vamos mostrar agoracomo retirar um n´ umero arbitr´ario de subseq¨ uˆencias de uma dada seq¨ uˆencia xn . Em um outro contexto, mais tarde, iremos necessitar do que veremos agora. Se quisermos retirar duas subseq¨ uˆencias de uma dada seq¨ uˆencia podemos nos valer dos seguintes conjuntos de ´ındices: N1 = {1, 3, 5, 7, . . .} N2 = {2, 4, 6, 8, . . .} Assim, 198
(x1 x3 x5 x7 . . .) (x1 x2 x3 x4 x5 . . .) (x2 x4 x6 x8 . . .) Se quisermos retirar trˆes subseq¨ uˆencias de uma dada seq¨ uˆencia podemos nos valer dos seguintes conjuntos de ´ındices: N1 = {1, 4, 7, 10, . . .} N2 = {2, 5, 8, 11, . . .} N3 = {3, 6, 9, 12, . . .} Assim, (x1 x4 x7 x10 . . .) (x1 x2 x3 x4 x5 . . .)
(x2 x5 x8 x11 . . .) (x3 x6 x9 x12 . . .)
´ f´acil inferir a regra de constru¸ca˜o destes conjuntos. E Observamos que estes conjuntos (de ´ındices) s˜ao disjuntos, dois a dois, e que a reuni˜ ao dos mesmos resulta no conjunto dos naturais. Resumimos estas duas observa¸co˜es dizendo que estes conjuntos formam uma parti¸ca ˜o dos naturais.
5.2
Convergˆ encia
Para falar de convergˆencia de seq¨ uˆencias necessitamos de uma m´etrica. Tˆem interesse especial as chamadas seq¨ uˆencias convergentes. Intuitivamente, uma seq¨ uˆencia (an ) ´e convergente se, `a medida que o ´ındice n aumenta, o termo an vai-se tornando arbitrariamente pr´oximo de um certo n´ umero a, chamado o limite da seq¨ uˆencia. A proximidade entre an e a ´e medida pela distˆancia d(xn , a) entre esses termos. Portanto, dizer que an vai-se tornando arbitrariamente pr´oximo de a equivale dizer que d(xn , a) torna-se arbitrariamente pequeno. Vejamos a defini¸ca˜o precisa de Defini¸ c˜ ao 32 (Convergˆencia). Sejam ( M, d ) um espa¸co m´etrico e xn uma seq¨ uˆencia em M . Diremos que xn converge para a ∈ M quando, para todo n´ umero ε > 0 dado arbitrariamente, pudermos obter n0 ∈ N tal que se n ≥ n0 ⇒ d(xn , a) < ε. (5.1) Em palavras: uma seq¨ uˆencia xn converge para um ponto a ∈ M se, e somente se, existir uma posi¸ca˜o n0 a partir da qual a distˆancia de qualquer termo da seq¨ uˆencia para o ponto a n˜ ao excede ε. Uma seq¨ uˆencia que n˜ ao converge ´e dita divergente. A seguir escrevemos, em s´ımbolos, a defini¸ca˜o de convergˆencia e de divergˆencia: ∀ε > 0
∃ n0 ∈ N :
∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , a) < ε
(convergˆ encia)
∃ε > 0 :
∀ n0 ∈ N
∃ n ≥ n0 ∧
(divergˆ encia)
199
d(xn , a) ≥ ε
Para indicar que xn converge para a, usaremos uma das seguintes nota¸co˜es lim xn = a; lim xn = a; lim xn = a; xn −→ a.
n→∞
n
d
Ou ainda, xn −→ a, quando quisermos enfatizar a m´etrica. ´ importante observar na defini¸ca˜o 32 que, uma vez dado o ε > 0, esse E n´ umero permanece fixo e n˜ ao muda at´e a determina¸ca˜o do ´ındice n0 correspondente. Via de regra o ´ındice n0 depende - ´e fun¸ca˜o - do ε > 0 dado, raz˜ ao pela qual algumas vezes escreveremos n0 = n0 (ε). Importante! Deve ficar bem claro (transparente) para o leitor o papel desempenhado pelo n´ umero ε e o ´ındice n0 , na defini¸ca˜o de convergˆencia. Com este intuito observemos o conte´ udo desta defini¸ca˜o de uma outra perspectiva: Suponhamos que o leitor queira provar, a um seu - fict´ıcio - advers´ario, que lim xn = a. Pois bem, seu advers´ario fornecer´ a a vocˆe leitor os valores de ε > 0. Para cada valor de ε - arbitrariamente fixado - vocˆe ter´ a que devolver ao seu advers´ario um ´ındice n0 satisfazendo a condi¸ca˜o ∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , a) < ε Se o leitor conseguir esta fa¸canha, para cada valor de ε que lhe for fornecido arbitrariamente, ent˜ ao ter´ a provado que a seq¨ uˆencia converge para o ponto a.
Caracteriza¸c˜ ao de Convergˆ encia Via Bolas Abertas Proposi¸ c˜ ao 32. Uma seq¨ uˆencia xn em M converge para a ∈ M se, e somente se, para toda bola B(a; ε) − arbitrariamente fixada − existe um ´ındice n0 tal que n ≥ n0 ⇒ xn ∈ B(a; ε) (5.2) ´ imediato pois: d(x , a) < ε ⇐⇒ x ∈ B(a; ε). Prova: E n n ao existe um ´ındice n0 a partir Em palavras: Se a ∈ M ´e limite de xn ent˜ do qual todos os termos da seq¨ uˆencia caem dentro da bola B(a; ε). Reciprocamente, se existe um ´ındice n0 a partir do qual todos os termos da seq¨ uˆencia caem dentro da bola B(a; ε) ent˜ ao a ∈ M ´e limite de xn . Daqui concluimos que se lim xn = a, ent˜ ao a bola (de raio ε) centrada em a cont´em infinitos termos da seq¨ uˆencia xn : (xn0 , xn0 +1 , xn0 +2 , . . .). ao, fora de qualquer bola centrada Ou ainda: se a ∈ M ´e limite de xn ent˜ em a fica apenas um n´ umero finito de termos da seq¨ uˆencia (este n´ umero finito pode ser “zero termos”): (x1 , x2 , . . . , xn −1 ). Graficamente temos: 0
s s s s s s ss s ssssr ε a
s
xs5 sx4 x6 s s x3 x7 s s x8 s s x2 ε s ssssr a
n0 (ε) = 9 200
sx
1
xs5 sx4 x6 s s x3 x7 s x2 s x8 s s s ssssr ε′ a
sx
n0 (ε′ ) = 11
1
Na figura da direita reduzimos o raio da bola (ε′ < ε) o que tem como consequˆencia o aumento do ´ındice do primeiro termo a cair dentro da nova bola. Observa¸ co ˜es: ao converge para a ∈ M quando existeuma bola cen(i) Uma seq¨ uˆencia xn n˜ trada em a fora da qual ficam infinitos termos da seq¨ uˆencia xn . (ii) A convergˆencia - ou divergˆencia - de uma seq¨ uˆencia em um espa¸co m´etrico ( M, d ) depende tanto do conjunto M quanto da m´etrica d, como teremos oportunidade de ver. Podemos caracterizar (reduzir) a convergˆencia em um espa¸co m´etrico (M, d) qualquer via convergˆencia no espa¸co (R, µ). Este ´e o conte´ udo da pr´oxima Proposi¸ c˜ ao 33. A seq¨ uˆencia xn converge para a em ( M, d ) se, e somente ∗ se, a seq¨ uˆencia d(xn , a) converge para 0 no espa¸co ( R, µ ). Prova: d (=⇒) H: xn −→ a
µ
⇒
T: d(xn , a) −→ 0.
De fato, para mostrar que d(xn , a) converge para 0 em ( R, µ), devemos mostrar que ∀ ε > 0 dado existe n0 ∈ N tal que d(xn , a) − 0 < ε para todo n ≥ n0 . d Por hip´ otese, xn −→ a; logo ∀ ε > 0 dado existe n0 tal que d(xn , a) < ε para todo n ≥ n0 . ε > 0, tomamos este mesmo n0 e garantimos Fixado (arbitrariamente) d(xn , a) − 0 = d(xn , a) < ε, ∀n ≥ n0 . µ
(⇐=) H: d(xn , a) −→ 0
⇒
d
T: xn −→ a.
De fato, para mostrar que xn converge para a em (M, d) devemos, ∀ ε > 0 dado, exibir um n0 tal que d(xn , a) < ε para todo n ≥ n0 . Por hip´ otese, a seq¨ uˆencia d(xn , a) converge para 0 no espa¸co (R, µ); isto ´e, ∀ ε > 0 dado, existe um n0 tal que d(xn , a) − 0 = d(xn , a) < ε. Logo, o mesmo n0 - oriundo da hip´ otese - serve para corroborar a tese. Teremos agora oportunidade de ilustrar o conte´ udo das duas proposi¸co˜es anteriores (proposi¸co˜es 32 e 33). Exemplos: 1) Em qualquer espa¸co m´etrico ( M, d ) uma seq¨ uˆencia (a, a, a, . . .) de termos constantes converge para este termo. De fato, dentro de qualquer bola B(a; ε) est˜ ao todos os termos da seq¨ uˆencia. 1 1 1 uˆencia xn = (1, 2 , 3 , . . .) n˜ ao ´e con2) Seja M = R e xn = n ∈ R. A seq¨ vergente no espa¸co ( R, δ ). No espa¸co ( R, µ) esta seq¨ uˆencia converge para 0. Isto ´e δ
/ c xn −→
e
µ
xn −→ 0.
Onde c pode ser qualquer n´ umero real. Inicialmente vamos mostrar a primeira destas assertivas. O faremos de dois modos: ∗ Observe
` ´ que d(xn , a) ´ e uma seq¨ uˆ encia de n´ umeros reais n˜ ao negativos.
201
1o ) Basta observar que todos os termos da seq¨ uˆencia xn , `a exce¸ca˜o poss´ıvel de um deles, est˜ ao fora da bola Bδ c ; 1 = { c } (ver pg. 162).
2o ) Vamos mostrar que a seq¨ uˆencia d(xn , c) = δ(xn , c) n˜ ao converge para 0, no espa¸co ( R, µ). De fato, dado qualquer c ∈ R temos duas possibilidades ( i ) c 6= n1 , ∀ n ∈ N; ( ii ) c = n1′ , para algum n′ ∈ N. Sendo assim temos
δ(xn , c) =
µ (1, 1, 1, 1, . . .) −→ 1
µ (1, 1, . . . , 1, 0, 1, 1, . . .) −→ 1 ↑
por ( i ) por ( ii )
posi¸ ca ˜o n′
Portanto, pela proposi¸ca˜o 33, a seq¨ uˆencia em quest˜ ao n˜ ao converge no espa¸co ( R, δ ). Infelizmente no espa¸co (R, δ) n˜ ao podemos dar uma representa¸ca˜o geom´etrica para a seq¨ uˆencia (1, 21 , 31 , . . .). µ Vamos mostrar agora que xn −→ 0. Inicialmente centramos uma bola Bµ , de raio ε, em 0, assim Bµ (0; ε) = 0 − ε, 0 + ε = − ε, +ε Observe que
1 < ε. n Segundo a propriedade arquimediana, ∀ ε > 0 existe um n0 (ε) ∈ N tal que 1 estimo a Arquimedes - este n0 , resultando n < ε. Tomamos - de empr´ xn ∈ Bµ (0; ε) ⇐⇒ −ε <
0
∀ n ≥ n0 ⇒
1 1 < ε ⇒ xn ∈ Bµ (0; ε). ≤ n n0
Fa¸camos duas simula¸co˜es: - Por exemplo, tomando ε = 13 , temos 1 1 <ε= ⇐⇒ n0 > 3. n0 3 Ou seja, todos os termos uˆencia, a partir do quarto (inclusive), caem da seq¨ 3 dentro da bola Bµ 0; 13 . J´a para ε = 20 , temos 3 20 1 <ε= ⇐⇒ n0 > , n0 20 3
isto s´o acontece a partir do s´etimo termo. Veja a ilustra¸ca˜o a seguir
202
qqq q q ··· q q xq 4 xq 3
⊢ 0 ] −ε=− 31
⊢ 0 ] −ε
⊢ 0
qqq q q q q q
··· x4
···
q
q
x2
[q ε= 31
qqq q q[ q q xq 4 xq 3 3 ε= 20
1
q
q
x2
x1
q
q
x2
xr2 ¬1
0
2
-
n0 =4
1 x1
-
n0 =7
1
3) Considere a seq¨ uˆencia dada por xn = 1 − plotados na figura a seguir: xr1
xn
x1
xr3
1 n
r rrrr
∈ [ 0, 1 [, cujos termos est˜ ao
1
O leitor diria que os termos desta seq¨ uˆencia aproximam-se de que n´ umero? Vamos mostrar que para os habitantes do universo [ 0, 1 [, k , os termos da seq¨ uˆencia (xn ) aproximam-se arbitrariamente de 0. De outro modo: Toda bola centrada em 0 cont´em todos os termos da seq¨ uˆencia, a partir de uma certa ordem. Vamos mostrar que 1 = 0. lim 1 − n→∞ n Prova: De fato, dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 (ε) de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ xn ∈ Bk 0; ε . Ent˜ ao
xn ∈ Bk 0; ε
⇐⇒ k(xn , 0) < ε ⇐⇒ min |xn − 0|, 1 − |xn − 0| < ε ⇐⇒ min xn , 1 − xn < ε n 1 1 o ⇐⇒ min 1 − , 1 − 1 − <ε n n n 1 1o ⇐⇒ min 1 − , <ε n n
Tendo em conta que
1 1 ≤1− ⇐⇒ n ≥ 2. n n
Temos
n 1 1o 1 min 1 − , = , ∀ n ≥ 2. n n n Portanto, ´e suficiente tomar n1 < ε, isto ´e, n > 1ε . Fa¸camos duas simula¸co˜es. Tomando, por exemplo, ε = 41 , temos n0 (ε) >
1 1 4
= 4 ⇒ n0 = 5. 203
Logo, todos os termos da seq¨ uˆencia, a partir do quinto (inclusive), caem dentro da bola Bk 0; 41 . J´a para ε = 16 : n0 (ε) >
1 1 6
= 6 ⇒ n0 = 7.
isto s´o acontece a partir do s´etimo termo. Veja ilustra¸co˜es a seguir (ver pg. 163): r
x1 Bk (0;
1 4)
r
r r rrrr
x2
0
1 4
x3 x4
3 4
r
x1 Bk (0;
1
1 6)
0
r
x2
1 6
r r rrrr
x3 x4
5 6
1
4) As quatro seq¨ uˆencias dadas a seguir 1
xn =
1 1 n+1 , 1− n+1
zn =
1 1 n+1 , n+1
ss
→
sx3 sx2
sz sz 2 ss 3
→
s
ss st 3
st 2
1 1 ← tn = 1− n+1 , 1− n+1
sy2 sy3 ss
1 , ← yn = 1− n+1
0
1 n+1
1
pertencem todas ` as diagonais do quadrado unit´ ario [ 0, 1 [×[ 0, 1 [. O centro do quadrado 12 , 21 ´e o primeiro termo de todas elas. Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que √ 2 D1 ((0, 0); xn ) = D1 ((0, 0); yn ) = D1 ((0, 0); zn ) = D1 ((0, 0); tn ) = , (n + 1) D2 ((0, 0); xn ) = D2 ((0, 0); yn ) = D2 ((0, 0); zn ) = D2 ((0, 0); tn ) =
2 , (n + 1)
D3 ((0, 0); xn ) = D3 ((0, 0); yn ) = D3 ((0, 0); zn ) = D3 ((0, 0); tn ) =
1 . (n + 1)
Pois bem, o leitor pode mostrar que qualquer uma destas seq¨ uˆencias converge para a origem nos espa¸cos [ 0, 1 [×[ 0, 1 [, Di (sugest˜ao: prop. 33, pg. 201). Isto ´e, mostre que: 1 1 1 1 lim = (0, 0), lim 1 − = (0, 0) , 1− , n→∞ n + 1 n→∞ n+1 n+1 n+1 lim
n→∞
1 1 = (0, 0), , n+1 n+1
lim
n→∞
1−
1 1 = (0, 0) , 1− n+1 n+1
A bola aberta cujo esbo¸co encontra-se na pg. 177, nos ajuda a compreender por que isto acontece. 204
5) Consideremos a seq¨ uˆencia xn de pontos do R2 dada por 1 2 xn = 1 − , 2 − n n Vamos mostrar (e ilustrar) que xn −→ (1, 2) nos espa¸cos R2 , Di (i = 1, 2, 3.). Consideremos inicialmente o espa¸co R2 , D1 . Prova: De fato, dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 (ε) de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ xn ∈ BD1 (1, 2); ε .
Ent˜ ao
xn ∈ BD (1, 2); ε 1
⇐⇒ D1 ⇐⇒ ⇐⇒
r
1 2 1− , 2− ; (1, 2) < ε n n
1−
2 2 1 2 −1 + 2− −2 <ε n n
√ 5 < ε. n
Logo, dado ε > 0 escolhemos um ´ındice n0 (ε) satisfazendo a desigualdade √ n0 (ε) > ε5 e teremos ∀ n ≥ n0
√ 5 1 1 ⇒ < < ε ⇒ xn ∈ BD (1, 2); ε . ≤ 1 n n0 n0
Fa¸camos duas simula¸co˜es: - Tomando, por exemplo, ε = 23 , temos n0
√ √ 3 5 2 5 > = = 3, 354 . . . ⇒ n0 = 4. 3 2/3 2
Logo, todos os termos da seq¨ uˆencia, a partir do quarto (inclusive), caem dentro da bola BD (1, 2); 23 . 1
- J´a para ε = seguir.
2
1
6 q q
(0,0)
q
x 1
q
q
1 3
isto s´o acontece a partir do s´etimo termo. Veja ilustra¸c˜ao a 2ε= 4 3-⊣ ⊢
q(1,2) qpq qq
2
6 q
x x4 3
x 2
q1
1
q
(0,0)
qx1
qx
q qpq qq
qxx34
2
q1 205
n =4 0
2
1
6 q q
(0,0)
qx1
2ε= 32 -⊣ ⊢
qx
q qpq qq xq
n =7 0
x4 3
2
q1
-
• Consideremos agora o espa¸co R2 , D2 . Prova: De fato, dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 (ε) de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ xn ∈ BD2 (1, 2); ε .
Ent˜ ao
xn ∈ BD (1, 2); ε 2
1 2 ; (1, 2) < ε ⇐⇒ D2 1 − , 2 − n n 1 2 ⇐⇒ 1 − − 1 + 2 − − 2 < ε n n
⇐⇒
3 < ε. n
Logo, dado ε > 0 escolhemos um ´ındice n0 (ε) satisfazendo a desigualdade n0 (ε) > 3ε e teremos ∀ n ≥ n0 ⇒
1 3 1 ≤ < < ε ⇒ xn ∈ BD2 (1, 2); ε . n n0 n0
Fa¸camos duas simula¸co˜es: - Tomando, por exemplo, ε = 23 , temos n0
3 9 2 > = = 4, 5 ⇒ n0 = 5. 3 2/3 2
Logo, todos os termos da seq¨ uˆencia, a partir do quinto (inclusive), caem dentro da bola BD (1, 2); 32 . 2
− J´a para ε = seguir.
2
6 q
1 3
isto s´o acontece a partir do d´ecimo termo. Veja a ilustra¸ca˜o a 2ε= 4 3-⊣ ⊢
q(1,2) qq pq q x4
qx2 3
2
6 q
x
1
q
(0,0)
qx
1
q1
1
q
(0,0)
q
x 1
q
q qq pq q x4
n0 =5
2
6 q
x 3
1
x2
q
-
q1
(0,0)
2ε= 23 -⊣ ⊢
q
q qq pq q x4
n0 =10
x 3
x2
qx
1
q1
-
• Consideremos agora o espa¸co R2 , D3 . Prova: De fato, dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 (ε) de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ xn ∈ BD (1, 2); ε . 3
206
Ent˜ ao
xn ∈ BD (1, 2); ε 3
1 2 ; (1, 2) < ε ⇐⇒ D3 1 − , 2 − n n 1 2 ⇐⇒ max 1 − − 1 , 2 − − 2 < ε n n 1 2 <ε , ⇐⇒ max n n 2 ⇐⇒ < ε. n
Logo, dado ε > 0 escolhemos um ´ındice n0 (ε) satisfazendo a desigualdade n0 (ε) > 2ε e teremos
∀ n ≥ n0 ⇒
1 2 1 < < ε ⇒ xn ∈ BD (1, 2); ε . ≤ 3 n n0 n0
Fa¸camos duas simula¸co˜es: - Tomando, por exemplo, ε = 32 , temos
n0
2 2 > = 3 ⇒ n0 = 4. 3 2/3
Logo, todos os termos da seq¨ uˆencia, a partir do quarto (inclusive), caem dentro da bola BD3 (1, 2); 23 . − J´a para ε = 13 isto s´o acontece a partir do s´etimo termo. Veja a ilustra¸ca˜o a seguir.
2
1
6 q q
(0,0)
q
x 1
q
2ε= 4 3-⊣ ⊢
q pq (1,2) qq q qx4
2
6 q
x 3
1
x2
q1
q
(0,0)
q
x 1
q
q pq qq q qx4
n0 =4
2
6 q
x 3
q pq qq q q x4
qx2 3
q
(0,0)
qx
1
Na figura seguinte juntamos as trˆes bolas em um s´o gr´afico 207
n0 =7
x
1
x2
q1
2ε= 32 -⊣ ⊢
q1
-
⊢
6
2
1
(0,0)
2ε =
2 3
-⊣
t u u usu uu u ux4
q
ux2
q
ux3
ux1
-
q1
6) Seja ( M, d ) um espa¸co discreto. Toda seq¨ uˆencia xn convergente em ( M, d ), deve ser constante a partir de um certo ´ındice. De fato, suponha que xn −→ a ∈ M . Ent˜ ao para todo ε > 0 dado, existe um ´ındice nε de modo que para todo n ≥ nε temos xn ∈ B(a; ε). Como ( M, d) ´e discreto, existe εa > 0 de modo que B(a; εa ) = { a }. Logo, para este εa existe um ´ındice nεa de modo que Se n ≥ nεa ⇒ xn ∈ B(a; εa ) = {a} ⇒ xn = a. Observe que esta ´e uma condi¸ca˜o necess´aria (e tamb´em suficiente) para que uma seq¨ uˆencia seja convergente em um espa¸co discreto. Em particular, a seq¨ uˆencia (1, 21 , 13 , . . .) n˜ ao converge no espa¸co ( R, δ ) (ver ex. 2) pg. 201). 7) Vamos mostrar que a seq¨ uˆencia de fun¸co˜es xn , dada por (ver pg. 197) xn (t) =
(
1 − nt , se 0 ≤ t ≤ 0,
se
1 n
1 n;
≤ t ≤ 1.
converge para a fun¸ca˜o nula, no espa¸co C[ 0, 1 ], Γ , mas n˜ ao no espa¸co C[ 0, 1 ], Υ . Isto ´e Γ
xn −→ 0
e
Υ
/ 0 xn −→
Vamos mostrar a convergˆencia de dois modos: Prova: (pela proposi¸ca˜o 32 pg. 200) 208
Vamos centrar uma bola, de raio ε arbitr´ario, na fun¸ca˜o nula: BΓ(0; ε) = f ∈ C[ 0, 1 ] : Γ(f, 0) < ε Z n = f ∈ C[ 0, 1 ] :
0
1
|f (x) − 0| dx < ε
Queremos obter n0 ∈ N de modo que:
∀ n ≥ n0 ⇒ Γ(xn , 0) < ε Temos Γ(xn , 0) =
Z
ou ainda xn ∈ BΓ(0; ε)
1
0
o
|xn (t)| dt =
1 2n
Obs: Esta integral ´e dada pela ´ area sob o gr´afico de xn (t) (pg. 197). Impondo, 1 1 <ε ⇒ n> 2n 2ε 1 Portanto qualquer n0 maior que 2ε serve aos nossos prop´ ositos.
Prova: (pela proposi¸ca˜o 33 pg. 201) µ
Mostremos que d(xn , 0) = Γ(xn , 0) −→ 0. De fato, Γ(xn , 0) =
1 µ −→ 0 2n
Geometricamente esta convergˆencia significa que as ´areas (distˆ ancias) entre os gr´aficos das fun¸co˜es xn e da fun¸ca˜o nula v˜ao tendendo a zero, `a medida que n cresce. Veja: x1 (t)
x2 (t)
x3 (t)
6
6
6
1
1
q
1
q
q1 t
0
0
q
1 2
q1 t
0
1 3
Vamos mostrar a divergˆencia Pela proposi¸ca˜o 33 (pg. 201). Prova: Temos Υ(xn , 0) = max |xn (t) − 0| : t ∈ [ 0, 1 ] = max |xn (t)| : t ∈ [ 0, 1 ] se 0 ≤ t ≤
1 n,
ent˜ ao
0 ≤ nt ≤ 1 ⇒ −1 ≤ −nt ≤ 0 ⇒ 0 ≤ 1 − nt ≤ 1 ⇒ xn (t) ∈ [ 0, 1 ]. 209
q1 t
e se n1 ≤ t ≤ 1 ent˜ ao, por defini¸ca˜o, xn (t) = 0. Logo xn (t) = |xn (t)| ∈ [ 0, 1 ] para todo 0 ≤ t ≤ 1 e para todo n ∈ N. Logo, para todo n natural temos Υ(xn , 0) = max |xn (t)| : t ∈ [ 0, 1 ] = max [ 0, 1 ] = 1.
Geometricamente Υ(xn , 0) representa o comprimento da maior corda ligando o gr´ afico de xn ao gr´ afico da fun¸ca˜o nula 0. No gr´afico seguinte xn (t)
6
1
q
maior corda →
0
1 n
q1
-t
Observamos que o comprimento da maior corda ´e 1, para todo n natural, isto ´e, Υ(xn , 0) = 1, ∀ n ∈ N. Pois bem, µ d(xn , 0) = Υ(xn , 0) = (1, 1, 1, . . .) −→ 1. Portanto a seq¨ ao n˜ ao converge para a fun¸ca˜o nula, no espa¸co uˆencia em quest˜ C[ 0, 1 ], Υ .
210
ao existe uma bola Proposi¸ c˜ ao 34. Se uma seq¨ uˆencia xn ´e convergente, ent˜ que cont´em todos os seus termos. Prova: De fato, se xn −→ a ∈ M , ent˜ ao para todo ε1 dado, existe n0 ∈ N de modo que d( xn , a) < ε1 , ∀ n ≥ n0 . tomemos
ε2 > max d(xi , a) : i = 1, 2, . . . , n0 − 1 ,
logo
d(xi , a) < ε2 , i = 1, 2, . . . , n0 − 1. seja ε > max{ε1 , ε2 }. Logo d(xn , a) < ε1 < ε , ∀ n ≥ n0 ,
d(xi , a) < ε2 < ε , i = 1, 2, . . . , n0 − 1.
Portanto todos os termos da seq¨ uˆencia cabem dentro da bola B(a; ε). xs5 sx4 x6 s s x3 x7 s s x8 s s x2 ε s ssssr 1 a
n0 (ε1 ) = 9
sx
1
sx5 sx4 x6 s s x3 x7 s ε s 2 x8 s s s ssssr ε1
sx
1
a
ε2 >max
sx5 sx4 x6 s s x3 x7 s ε s 2 x8 s s s ssssr ε1 a
d(x1 , a),...,d(x8 , a)
sx
1
ε
Cabe aqui perguntar se uma seq¨ uˆencia pode convergir para dois pontos distintos de um espa¸co m´etrico. Nos espa¸cos topol´ogicos − que s˜ao generaliza¸co˜es dos espa¸cos m´etricos − isto de fato pode acontecer. Mas n˜ ao nos espa¸cos m´etricos especificamente. Isto ´e o que nos garante a pr´oxima uˆencia convergente Proposi¸ c˜ ao 35 (Unicidade do limite). Seja xn uma seq¨ no espa¸co m´etrico ( M, d ). Ent˜ ao ´e u ´nico o limite dessa seq¨ uˆencia. ∗
Daremos duas provas desta proposi¸ca˜o: Prova: Suponhamos, ao contr´ ario, que lim xn = p e lim xn = q com p 6= q. n
n
Sendo assim temos d(p, q) > 0, tomando ε=
d(p, q) 2
resulta que existem ´ındices i e j tais que ∀ n ≥ i ⇒ d(xn , p) < ε ∀ n ≥ j ⇒ d(xn , q) < ε ∗ Faremos
uso da t´ ecnica (T − 3) (pg. 24).
211
(5.3)
Tomando k = max{i, j}, teremos ∀ n ≥ k ⇒ d(xn , p) < ε e d(xn , q) < ε ent˜ ao, para todo n ≥ k resulta d(p, q) ≤ d(p, xn ) + d(xn , q) < ε + ε
⇒ d(p, q) < 2ε
o que contradiz (5.3). ‡ Prova: Temos H1 : H2 :
lim xn = p n
⇒
lim xn = q
T:
p = q.
n
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Suponha p 6= q. Pela propriedade (P4 ) (pg. 180) podemos centrar em cada ao existe um um destes pontos, bolas abertas disjuntas. Como lim xn = p ent˜ n ´ındice n0 a partir do qual todos os termos da seq¨ uˆencia caem dentro da bola de centro p; por conseguinte n˜ ao podemos ter lim xn = q (ver prop. 32, pg. 200). n uˆencia de Proposi¸ c˜ ao 36. Seja ( M, d ) um espa¸co m´etrico e xn uma seq¨ pontos em M . Se lim xn = a, ent˜ ao toda subseq¨ uˆencia de xn tamb´em converge para a. Prova: De fato, seja xn n∈N , onde N1 = {n1 < n2 < n3 < . . .}, uma 1 . Dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice k ∈ N de modo subseq¨ uˆencia de xn n∈N que (5.4) d(xn , a) < ε, ∀ nj ∈ N1 : nj ≥ k j converge para a, ent˜ ao ∀ ε > 0 dado, existe um Como, por hip´ otese, xn n∈N ´ındice n0 ∈ N de modo que d(xn , a) < ε, ∀ n ≥ n0
(5.5)
como N1 ⊂ N ´e infinito, segue que existe um ´ındice k ∈ N1 tal que k ≥ n0 . Ent˜ ao, para todo ´ındice nj ∈ N1 tal que nj ≥ k ≥ n0 temos, por (5.5), que a satisfeita. d(xn , a) < ε e, portanto, (5.4) estar´ j
Esta proposi¸ca˜o ´e de utilidade tanto para mostrar que uma seq¨ uˆencia converge quanto para mostrar que uma seq¨ uˆencia diverge. Por exemplo as seq¨ uˆencias reais zn e wn dadas por zn =
‡ Faremos
1 1 e wn = 2 2n n
uso da t´ ecnica (T − 4) (pg. 24).
212
s˜ao ambas convegentes para 0 no espa¸co ( R, µ). De fato, temos que zn = xn n∈N 1 wn = xn n∈N 2
onde
N1 = {2, 4, 8, 16, 32, . . .}; N2 = {1, 4, 9, 16, 25, . . .}.
uˆencia vista no exemplo 2) (pg. 201). e xn ´e a seq¨ Por outro lado, para mostrar que uma dada seq¨ uˆencia diverge ´e suficiente exibir duas subseq¨ uˆencias convergindo para limites distintos (isto ´e conseq¨ uˆencia das proposi¸co˜es 35 e 36). Por exemplo a seq¨ uˆencia (1, −1, 1, −1, 1, −1, . . .) diverge, em todo espa¸co m´etrico, visto que temos duas subseq¨ uˆencias x2n−1 = (1, 1, 1, . . .) −→ 1 , x2n = (−1, −1, −1, . . .) −→ −1. convergindo para limites distintos. Seq¨ uˆ encias limitadas Uma seq¨ uˆencia (x1 , x2 , x3 , . . .) pode ser vista como uma “lista” ordenada infinita. Usaremos a seguinte nota¸ca˜o {x1 , x2 , x3 , . . .} para o conjunto de seus termos. Aqui a ordem dos termos n˜ ao interessa e este conjunto pode ser finito, ao contr´ ario da lista, que ´e sempre infinita. Por exemplo, seja a seq¨ uˆencia xn dada por xn = (−1)n−1 . Temos xn = (1, −1, 1, −1, 1, −1, . . .) xn = − 1, 1 }
Uma seq¨ uˆencia foi definida como uma aplica¸ca˜o x : N −→ M , por conseguinte o conjunto dos termos da seq¨ uˆencia ´e a imagem direta de N pela aplica¸ca˜o, isto ´e, {xn } = x(N). Defini¸ c˜ ao 33 (Seq¨ uˆencia limitada). Sejam ( M, d ) um espa¸co m´etrico e xn uma seq¨ uˆencia de pontos em M . A seq¨ uˆencia xn se diz limitada no espa¸co ( M, d ) quando o conjunto {xn } de seus termos ´e limitado. Ou ainda (Ver defini¸ca˜o ` a pg. 124): xn ´e limitada no espa¸co (M, d) se existir uma constante c > 0 tal que d(x, y) ≤ c para quaisquer x e y em {xn }. Exemplo: a seq¨ uˆencia (1, 2, 3, 4, . . .) ´e limitada no espa¸co ( R, δ ), mas n˜ ao no espa¸co ( R, µ ). Proposi¸ c˜ ao 37. Toda seq¨ uˆencia convergente ´e limitada. Prova: Se uma seq¨ uˆencia ´e convergente ent˜ ao existe uma bola no espa¸co contendo todos os seus termos, logo, pela proriedade (P6 ) (pg. 181) das bolas abertas, concluimos que a seq¨ uˆencia ´e limitada. A reciproca da proposi¸ca˜o anterior n˜ ao vale. Isto ´e, uma seq¨ u ˆ e ncia limitada pode ou n˜ ao convergir. Por exemplo, a seq¨ uˆencia 1, 12 , 13 , . . . ´e limitada nos espa¸cos (R, µ) e (R, δ), mas ´e convergente apenas no primeiro destes espa¸cos (Exemplo 2), pg. 201). 213
5.3
Seq¨ uˆ encias num Espa¸ co Produto
Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos e xn = (x1 , x2 , x3 , . . .), yn = (y1 , y2 , y3 , . . .)
seq¨ uˆencias em M1 e M2 , respectivamente. O “produto cartesiano” destas seq¨ uˆencias xn × yn = (x1 , x2 , x3 , . . .) × (y1 , y2 , y3 , . . .) = (x1 , y1 ), (x2 , y2 ), (x3 , y3 ), . . .
´e uma seq¨ uˆencia no produto cartesiano M1 × M2 = M . A convergˆencia (ou divergˆencia) da seq¨ uˆencia (xn , yn ) nos espa¸cos M, Di (i = 1, 2, 3.) ´e objeto da pr´oxima, Proposi¸ c˜ ao 38. Uma seq¨ uˆencia (xn , yn ) de pontos no produto M = M1 ×M2 converge no espa¸co M, Di (i = 1, 2, 3.) para (a, b) ∈ M1 × M2 se, e somente se, xn −→ a em (M1 , d1 ) e yn −→ b em (M2 , d2 ). M1 ×M2 b ↑
(a, b)
.. .
··
y3
·
ր
(x , y ) 3 3
y2
(x , y ) 2 2
y1
(x , y ) 1 1
(M2 , d2 )
x1
Prova: (=⇒)
x2
D
(M1 , d1 )
x3 ··· → a
i
T:
H: (xn , yn )−→ (a,b)
8 d 1 > < xn −→ a > :
d2
yn −→ b
Faremos a prova para a m´etrica D3 (x, y) = max d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 )
uma vez que segundo a proposi¸ca˜o 92 (pg. 379) se uma seq¨ uˆencia converge em um destas m´etricas tamb´em converge nas outras duas. De fato, seja ε > 0 dado, ent˜ ao existe um ´ındice n0 tal que n ≥ n0 ⇒ D3 (xn , yn ); (a, b) = max d1 (xn , a); d2 (yn , b) < ε portanto, para todo n ≥ n0 , temos
d1 (xn , a) < ε e d2 (yn , b) < ε 214
o que nos garante d
1 xn −→ a
(⇐=) H:
e
d 8 1 > < xn −→ a
> :
d
2 yn −→ b
D
3
T: (xn , yn )−→ (a,b)
d2
yn −→ b
Dado ε > 0, por hip´ otese, existem ´ındices n1 e n2 tais que n ≥ n1 ⇒ d1 (xn , a) < ε e n ≥ n2 ⇒ d2 (yn , b) < ε Considerando n0 = max{n1 , n2 }, temos n ≥ n0 ⇒ d1 (xn , a) < ε e d2 (yn , b) < ε ⇒ max d1 (xn , a); d2 (yn , b) < ε ⇒ D3 (xn , yn ); (a, b) < ε. D
3 Portanto (xn , yn ) −→ (a, b).
Exemplos: uˆencia xn , yn = n1 , 1 , isto ´e (1) No espa¸co R2 , D1 a seq¨ 1 1 ,1 , , 1 , ... (1, 1), 2 3 converge para o ponto (0, 1), pois µ
µ
xn −→ 0 e yn −→ 1 Observa¸ c˜ ao: Na verdade temos ( para i = 1, 2, 3.) Di (0, 1). xn , yn −→
devido a proposi¸ca˜o 92, pg. 379. uˆencia xn , yn = n1 , (−1)n , (2) Nos espa¸cos R2 , Di (i = 1, 2, 3.) a seq¨ isto ´e 1 1 (1, −1), ,1 , , −1 , . . . 2 3 ao converge n˜ ao converge. Isto se deve a que yn = (−1, 1, −1, 1, . . .) n˜ em R, µ . uˆencia de pontos do plano dada por (3) Seja o espa¸co m´etrico R2 , Di e a seq¨ 2 1 , ent˜ ao xn −→ (1, 2). xn , yn = 1 − , 2 − n n Isto se deve a que
µ
µ
xn −→ 1 e yn −→ 2
Comparar com o exemplo 5) pg. 205. (4) Ver exemplo 4) pg. 204. 215
5.4
A M´ etrica Divina e o Paradoxo de Zen˜ ao
Neste ponto incluiremos trechos de um artigo que escrevemos intitulado:
A M´ etrica Divina (Aquiles e a Tartaruga/Ou A Revanche da Tartaruga) Gentil Lopes da Silva 14 de mar¸co de 2006 “. . . que
“Porque
o meu pensamento quis
os meus pensa-
aproximar-se dos problemas do esp´ırito
mentos n˜ ao s˜ ao os vossos pen-
pela via de uma diversa experi-
samentos, nem os vossos cam-
menta¸ ca ˜o de car´ ater abstrato, espe-
inhos, os meus caminhos, diz
culativo, resultante das conclus˜ oes de
o Senhor.”
(Is. 55 : 08)
processos l´ ogicos da mais moderna f´ısico-matem´ atica.” (Pietro Ubaldi/Ascens˜ oes Humanas)
Resumo: Este artigo nasceu de um sentimento meu de solidariedade com os “menos favorecidos”. No caso do − cl´assico − paradoxo de Zen˜ao, Aquiles, numa atitude de puro esnobismo d´ a uma vantagem inicial `a tartaruga. Em nosso paradoxo a situa¸ca˜o se inverte: a tartaruga dar´ a uma distˆancia inicial a Aquiles para logo em seguida ultrapass´a-lo e vencer a corrida. Mostraremos, com t´ecnicas matem´aticas recentes, que n˜ ao trata-se de um engodo − n˜ ao tomariamos em v˜ao o precioso (e j´ a escasso) tempo do leitor! Introdu¸ c˜ ao ´ sabido que alguns animais tˆem conhecimento de matem´atica universit´aria. E Veja-se por exemplo, o caso das aranhas ao tecerem suas redes; os engenheiros, at´e hoje, pelejam para fazer algo parecido; ou o caso das abelhas, que conhecem de C´ alculo I, porquanto conseguem construir seus alv´eolos de modo a armazenarem a maior quantidade de mel, com o m´ınimo gasto de material. Neste artigo mostraremos que as tartarugas tˆem conhecimento de Topologia . . . pasmem!: To-po-lo-gia! O paradoxo que construimos aqui est´ a em acordo com a mais estrita l´ogica matem´atica e, sendo assim, n˜ ao poder´ a ser refutado por nenhum matem´atico em s˜a consciˆencia (isto ´e, munido apenas da l´ogica matem´atica). O paradoxo consiste no seguinte: Aquiles e a tartaruga disputar˜ ao uma corrida; a tartaruga, desta vez esnobando Aquiles, oferece-lhe uma vantagem inicial (isto mesmo, Aquiles posta-se `a frente da tartaruga) para logo em seguida ultrapass´ a-lo e vencer a corrida. Como assim?! por acaso a tartaruga estaria mancomunada com algum pol´ıtico e subornar´ ao´ arbitro da contenda? N˜ ao, n˜ ao se trata desse expediente, porquanto constituiremos como ´arbitro da porfia um matem´atico puro (e, diga-se an passant, diretor do Inmetro) e, sendo assim, este estar´ a munido apenas da mais pura e cristalina l´ogica matem´atica. Por outro lado, e talvez isto seja o mais importante, com este artigo estamos 216
pretendendo iniciar uma nova disciplina, qual seja: a Teomatem´atica que ter´ a como escopo principal o estudo de Deus com o aux´ılio (respaldo) da matem´atica. De fato, neste artigo estaremos apresentando a m´etrica Divina, a qual “opera prod´ıgios inacredit´aveis” , conforme constataremos, inclusive o paradoxo que descrevemos. Algumas defini¸ co ˜es necess´ arias Desde j´ a deixemos bem claro os seguintes conceitos: Defini¸ c˜ ao 1 (Paradoxo). Entendemos como paradoxal n˜ ao aquilo que ´e absurdo, mas sim o que, n˜ ao obstante, ser contr´ ario ao senso-comum, encontra explica¸ca ˜o (isto ´e, pode ser justificado - resolvido) dentro das leis da l´ ogica matem´ atica (ou ainda: aquilo que ´e contr´ ario ao senso comum, mas que, no entanto, ´e corroborado por todos os matem´ aticos - todo matem´ atico “assina em baixo”). Ao contr´ ario do que se poder´ a pensar, os paradoxos pertencem sim ao nosso mundo real, veja-se por exemplo, a Teoria da Relatividade (de Einstein) que nos fornece in´ umeros exemplos; isto para n˜ ao falar sobre a pr´opria f´ısica quˆ antica onde sobejam os exemplos de fenˆomenos que agridem nosso bom senso! A bem da verdade, oportunamente estaremos relacionando o presente contexto matem´atico com a f´ısica quˆ antica. ` Defini¸ c˜ ao 2 (Estar ` a frente). Dados dois objetos A e B diremos que B est´ aa frente de A (ou que A encontra-se atr´ as de B) quando a posi¸ca ˜o de B ´e maior que a posi¸ca ˜o de A, ambas medidas a partir de um referencial comum. Por exemplo, na figura abaixo D
• −2q
C
• −1q
A
0q
• q1
B
• q2
R
a `a frente de D, B est´ a ` a frente de A, porquanto xB = 2 > 1 = xA e C est´ porquanto. xC = −1 > −2 = xD . O que aconteceria se formularmos esta defini¸ca˜o em termos de distˆancias?, assim: B est´ a` a frente de A quando sua distˆancia (para a origem) ´e maior que a de A. Estas defini¸co˜es s˜ao equivalentes? A resposta ´e n˜ ao. Veja: Considerando o mesmo diagrama, B est´ a` a frente de A, porquanto dB = |2 − 0| > |1 − 0| = dA . Agora acontece algo interessante: D est´ a `a frente de C, porquanto dC = |0 − (−1)| < |0 − (−2)| = xD . Tendo em conta a defini¸ca˜o de m´odulo: ( x, se x ≥ 0; |x| = −x, se x ≤ 0. concluimos que as duas defini¸co˜es tornam-se equivalentes se nos restringirmos ao semi-eixo positivo (isto ´e, [ 0, +∞ [ ) uma vez que aqui a distˆancia (para a ´ esta a situa¸ca˜o que nos interessa (apenas origem) coincide com a posi¸ca˜o. E posi¸co˜es positivas). O importante a enfatizar ´e que definimos estar `a frente em fun¸ca˜o de distˆancias. Inicialmente vamos normalizar a distˆancia a ser percorrida, isto ´e, torn´a-la igual 217
a “1” (1 m, 1 km, 1 ano-luz, etc. . . ), isto ´e, a disputa se dar´ a no intervalo [ 0, 1 [. Oportunamente o leitor saber´a por que devemos excluir o 1 deste intervalo. Assumiremos tamb´em que o diretor do Inmetro seja um matem´atico. Esta hip´otese se deve a que este diretor n˜ ao se recusar´ a a colocar o selo do Inmetro na r´egua que construiremos para medir as distˆancias de nossos contendores (Aquiles e a tartaruga).
Defini¸ c˜ ao 3 (Atingir a meta). Diremos que um contendor atingi a meta quando sua distˆ ancia (“final”) para a meta ´e nula.
Defini¸ c˜ ao 4 (Vencer). Numa porfia entre dois contendores A e B diremos que B vence A se B atinge a meta e se existe um instante de tempo, a partir do qual, B estar´ a sempre a ` frente de A.
A Contenda Deixaremos o caso da porfia (paradoxo) entre Aquiles e a tartaruga para o final. Aqui construiremos um outro bem mais interessante/emocionante. A corrida que descreveremos a seguir deu-se ainda no tempo de Zen˜ao (s´eculo V a.C.). Pois bem, a corrida acontecer´ a na arena [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ com quatro contendores: Aquiles (A), a tartaruga (T ), a lesma (L) e o bicho-pregui¸ca (P ). Os quatro advers´arios dever˜ao posicionar-se inicialmente nos quatro pontos assinalados no quadrado abaixo: (1, 1)
1
3 4
1 2
1 4
q
r
r
q
C
q ↑
q 12
q 41
r r q 34
1
O=(0, 0)
O objetivo da disputa ser´a atingir o v´ertice O (inferior esquerdo do tabuleiro), sendo que os participantes s´ o poder˜ ao deslocar-se sobre as diagonais do tabuleiro. Aquiles, por ser o mais inteligente dos animais, at´e “racional” ˆele se considera, manipula o sorteio das posi¸co˜es iniciais de modo que ir´ a posicionar-se no centro do quadrado. De formas que, para os animais “irracionais”, a escolha torna-se agora irrelevante; portanto a configura¸ca˜o inicial da disputa fica assim: 218
(1, 1)
1
3 4
1 2
1 4
rL
q
rT
r
q
A
rP
q q 12
q 41
↑
q 34
1
O=(0, 0)
Os trˆes animais irracionais desenvolver˜ao a mesma velocidade V e Aquiles, num acordo de cavalheiros, decide desenvolver uma velocidade que ´e apenas o dobro de V . Vamos resumir as condi¸co˜es do pleito: 1o ) Os advers´arios s´o poder˜ ao deslocar-se sobre as diagonais do tabuleiro; o ao chegar no v´ertice O (inferior esquerdo do tabuleiro); 2 ) Dever˜ o 3 ) Aquiles, que encontra-se posicionado no centro do tabuleiro, desenvolver´a “apenas” o dobro da velocidade de seus advers´arios. Pedimos ao leitor que reflita sobre as circunstˆ ancias (condi¸co˜es) estabelecidas no pleito, e nos diga se “humanamente falando”, digo, racionalmente (logicamente) falando existe a menor chance de que algum dos “animais irracionais” ven¸ca Aquiles. O deslocamento de Aquiles se dar´ a da seguinte forma: num primeiro est´ agio (“passo”) de seu movimento percorrer´a a metade da distˆancia C O. No segundo est´ agio, percorre a metade do que resta, e assim sucessivamente. Pois bem, ´e dada a largada!!! O que, estarrecidos/embasbacados!, observamos?, veja: 1
3 4
1 2
1 4
q
rr
r
q q
O
r
r
L
r
r
r
A
q 14
q 21
rT rP q 34
r
r
rr
(1, 1)
rr
1
Figura 5.1: Precisava ser t˜ ao irracional? Pasmem! a tartaruga est´ a seguindo no sentido do v´ertice (1, 1), a pregui¸ca no sentido do v´ertice (1, 0) e a lesma no sentido do v´ertice (0, 1). Que pena . . . os coitados devem ter ficado atordoados com o tiro de largada. S´ o pode ser isto! Bem, de qualquer forma precisamos preencher a s´ umula do resultado final: 219
Aquiles em 1o lugar!?; quanto aos irracionais temos duas alternativas, ou os desclassificamos de imediato, ou os classificamos de acordo com suas distˆancias finais para a meta, assim: Animal Aquiles
Classif.
1o
Animal Aquiles
Pregui.
Desclas.
Pregui.
Lesma
Desclas.
Lesma
Tartar.
Desclas.
Tartar.
Classif.
D.O.
1o 2o 2o 3o
0 1 1 √
2
O que aconteceu? O ego venceu? mas como o mal pode sair vencedor em um Universo de ordem?
. . . 26 s´ eculos depois/A Justi¸ca tarda mas n˜ ao falha! Os animais irracionais protestaram contra o resultado anterior alegando que disputaram a corrida pela m´etrica Divina e que esta injusti¸ca seria prontamente reparada em s´eculos posteriores (profetizaram at´e o dia da repara¸ca˜o: 14.03.06). Eu j´ a sabia que as abelhas tˆem conhecimento de matem´atica universit´aria, uma vez que conseguem construir seus alv´eolos de modo a armazenarem a maior quantidade de mel, com o m´ınimo gasto de material. Agora que lesma, tartaruga e pregui¸ca entendam de topologia, ah! essa eu n˜ ao sabia, pago pr´a ver!. Bem, j´ a que as abelhas conhecem de c´ alculo I, n˜ ao nos custa nada averiguar se lesma conhece de topologia. Apelando para a jus. . . , digo, apelando para a m´etrica divina, vejamos o que podemos fazer. A partir da m´etrica k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y| , do intervalo [ 0, 1 [ podemos construir trˆes outras no quadrado [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, assim: 1
D1 (x, y) =
INMETRO
p 2 k (x1 , y1 ) + k2 (x2 , y2 )
s(x1 , x2 )
D2 (x, y) = k(x1 , y1 ) + k(x2 , y2 ) D3 (x, y) = max k(x1 , y1 ); k(x2 , y2 )
s(y1 , y2 )
Onde: x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ).
0
1
Todas j´ a devidamente homologadas pelo Inmetro - lembramos que na dire¸ca˜o do Inmetro temos um matem´atico. Dados os crit´erios estabelecidos no pleito, podemos nos valer das seguintes seq¨ uˆencias, para descrever o deslocamento dos quatro contendores: an = ln =
1 1 2n , 2n 1 2n+1 ,
,
1−
1 2n+1
,
pn = 1 −
1 1 2n+1 , 2n+1
tn = 1 −
1 2n+1 ,
1−
1 2n+1
Para prosseguir em nosso desiderato (averiguar se, de fato, tartaruga, lesma e bicho-pregui¸ca entendem de topologia) precisamos apelar para distˆancia entre ponto e conjunto em espa¸cos m´etricos (ver defini¸ca˜o 23, pg. 118). Para medir distˆancias na arena [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ podemos usar qualquer uma 220
das trˆes m´etricas apresentadas acima. Vamos usar por, exemplo, a r´egua D2 : D2 (x, y) = k(x1 , y1 ) + k(x2 , y2 ), O conjunto das posi¸co˜es da tartaruga ao longo da diagonal ´e dado por, o n 1 1 T = { tn : n ∈ N } = 1 − n+1 , 1 − n+1 : n ∈ N 2 2
Para mostrar que a tartaruga atinge a meta - segundo a defini¸ca˜o 3 - devemos mostrar que sua distˆancia para a origem ´e nula; ou ainda: d(O, T ) = 0 (ver defini¸ca˜o 23, pg. 118). Ent˜ ao, d(O, T ) = inf d( O, x) : x ∈ T = inf D2 (O, tn ) : tn ∈ T (5.6) Temos,
D2 (O, tn ) = D2
1−
1 2n+1
, 1−
1 ; (0, 0)
2n+1
1 1 , 0 + k 1 − n+1 , 0 2n+1 2 1 = 2 · k 1 − n+1 , 0 . 2 =k 1−
Ent˜ ao,
1 1 1 k 1 − n+1 , 0 = min 1 − n+1 − 0 , 1 − 1 − n+1 − 0 = n+1 2 2 2 2 1
Portanto,
D2 (O, tn ) = 2 · k 1 −
1
2n+1
Este resultado em (5.6), nos fornece: d(O, T ) = inf
, 0 =2·
1 1 = n. 2n+1 2
1 :n∈N =0 n 2
Portanto a reinvidica¸ca˜o da dona tartaruga ´e perfeitamente/l´ogicamente justa! Ela de fato chega na origem!!! Est´ a coberta de raz˜ oes! De modo inteiramente an´alogo mostramos que Aquiles tamb´em atinge a meta. E agora quem vence a disputa? Bem vamos recorrer `a defini¸ca˜o de vencedor (pg. 218). O referencial comum para saber quem est´ a `a frente de quem, ´e o centro do quadrado, sendo assim devemos calcular D2 (tn , C) e D2 (an , C). Pois ent˜ ao, 1 1 1 1 , D2 (tn , C) = D2 1 − n+1 , 1 − n+1 ; 2 2 2 2 1 1 1 1 = k 1 − n+1 , + k 1 − n+1 , 2 2 2 2 1 1 . = 2 · k 1 − n+1 , 2 2 221
Temos, k 1−
1
2
, n+1
Portanto,
1 1 1 1 1 1 1 = min 1 − n+1 − , 1 − 1 − n+1 − = − n+1 2 2 2 2 2 2 2
D2 (tn , C) = 2 · k 1 −
1 2n+1
,
Por outro lado, temos
1 1 1 1 =2· − n+1 = 1 − n 2 2 2 2
1 1 , ; 2n 2n 1 1 = k n, +k 2 2 1 1 . = 2 · k n, 2 2
D2 (an , C) = D2
Temos,
Portanto,
1 1 , 2 2 1 1 , 2n 2
1 1 1 1 1 1 1 1 k n, = min n − , 1 − n − = − n 2 2 2 2 2 2 2 2 D2 (an , C) = 2 · k
Como, 1−
1 1 1 1 1 =2· , = 1 − n−1 − 2n 2 2 2n 2
1 1 > 1 − n−1 , ∀ n ∈ N n 2 2
Conclus˜ ao: D2 (tn , C) > D2 (an , C);
∀ n ∈ N.
Isto ´e, a tartaruga sempre esteve `a frente de Aquiles (e n´ os nem desconfi´ avamos!), por conseguinte ´e declarada vencedora!!! Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que os outros dois animais irracionais tamb´em vencem Aquiles (virou saco de pancada), por qualquer uma das r´eguas (m´etricas) que utilizemos. Ufa! ap´os tanto tempo, finalmente podemos fazer justi¸ca. A nova s´ umula fica assim: Animal Tartar.
Classif.
1o
Pregui. Lesma Aquiles
Desclas.
Nota: Decidimos desclassificar o Aquiles porque ele roubou por ocasi˜ao do sorteio das posi¸co˜es iniciais. Observem que os animais vencem Aquiles de trˆes modos distintos, isto ´e, por qualquer uma das trˆes r´eguas D1 , D2 ou D3 ; enquanto que Aquiles s´o os venceria de um u ´ nico modo, pela r´egua usual (m´etrica euclidiana).
222
Exegese “Porque
“Por
os meus pensa-
um momento imaginei que
mentos n˜ ao s˜ ao os vossos pen-
Deus fosse matem´ atico . . . equivoquei-me,
samentos, nem os vossos cam-
Deus ´ e enxadrista posto que, propor-
inhos, os meus caminhos, diz
cionalmente a ` voracidade do advers´ ario,
o Senhor.”
sacrifica suas pe¸ cas e, ao final, arremata
(Is. 55 : 08)
com um lance brilhante!”
(Gentil)
Bem, quanto os pensamentos Divinos diferem do nosso j´a tivemos um vislumbre (sentimento), e quanto aos seus caminhos? Digo, e quanto a afirmativa, “nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor.” ? Ainda aqui podemos ter um sentimento desta assertiva, veja: 1
3 4
1 2
1 4
1
3 4
q
r
q
1 2
A
1 4
q O
q 14
q 12
q 34
1
− Caminho do homem para atingir
q
r
q
D
q O
q 41
q 12
q 34
1
− Caminhos de Deus para atingir
O
O
Ou seja, enquanto o homem, para alcan¸car o ponto 0 dirige-se para o Norte, Deus, para atingir o mesmo ponto, pode dirigir-se tanto para o Leste quanto para o Oeste ou at´e mesmo para o Sul. “Qu˜ ao
grandes s˜ao, ´o Senhor, as tuas obras! qu˜ao profundos s˜ao os teus pensamentos! O homem bruto nada sabe, e o louco n˜ao entende isto.” ( Sl. 92 : 5-6 )
223
´ A M´ etrica Divina e a Etica Uma outra − sutil/profunda − li¸ca˜o que a m´etrica Divina tem a nos transmitir, diz respeito ao campo da ´etica. Sen˜ao vejamos: qual a distˆancia que Aquiles acreditava est´ a usurpando de seus advers´arios? Observe: (1, 1)
1
3 4
1 2
1 4
q
L r A
q
rT
r
=⇒
q 41
r
rP
q
O
distˆ ancia “usurpada”
q 12
A
q 34
rT 1 4
1 4
1
Ele acredita (pela a usurpando da pobre tartaruga uma √ l´ogica do homem) est´ distˆancia igual a 2/4. Para o leitor perceber que ´e exatamente esta distˆancia que ele est´ a, ` a revelia, concedendo `a tartaruga, perceba que a m´etrica divina “transfere” a origem para todos os outros v´ertices do quadrado, assim: O
O
3 4
1 2
1 4
q
L r A
q
r
q
O
q 41
q 12
rT rP q 34
O
Nota: Deixamos como exerc´ıcio ao leitor provar que essa transferˆencia se deve ` a bola aberta de centro na origem (ver, por exemplo, pg. 167) Moral da f´ abula: A justi¸ca tarda (neste caso 26 s´eculos!), mas n˜ ao falha. Deus cumpre seus des´ıgnios - para n´ os muitas vezes incompreens´ıveis - e se permite o luxo de fazˆe-lo de trˆes modos distintos, assim o queira. Deus, agindo estritamente de acordo com as leis da mais cristalina l´ogica, n˜ ao raras vezes “agride” nosso bom senso. Para Deus bom-senso e l´ogica s˜ao equivalentes (se confundem), isto, evidentemente, n˜ ao acontece para n´ os humanos. Uma aplica¸ca˜o da m´etrica k (talvez a mais importante) ´e nos auxiliar a entender que os des´ıgnios divinos, que − muitas vezes − nos parecem destituidos de sentido (isto ´e que carecem de l´ogica), est˜ ao em concordˆancia com as leis da mais pura e cristalina das l´ogicas. 224
Para mim, que escrevi este trabalho∗ , o aprendizado n˜ ao se deu tanto no aspecto da matem´atica em si, mas no espiritual. Entendo perfeitamente a cita¸ca˜o (em ep´ıgrafe) de Pietro Ubaldi. Caso unidimensional Para observarmos o pleito (paradoxo) entre Aquiles e a tartaruga, prometido na introdu¸ca˜o deste trabalho, basta fazer a proje¸ca˜o (“no eixo x”) do caso bidimensional. Ao ser dado o tiro de largada Aquiles age como qualquer “racional” agiria, e segue em demanda de sua meta; a tartaruga (agora uma ex´ımia topologista), para estupefa¸ca˜o da plat´eia segue em sentido contr´ario! . . . o ´arbitro da contenda queda-se embasbacado!!! Pois bem, qual a distˆancia que Aquiles acreditava est´ a usurpando de seu advers´ario? Observe: •
≀
∼
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
y y 0,4
0,3
0,2
1
0,1
1 INMETRO
0
·········· · q 43
q 12
q 14
0
Ele acredita (pela l´ogica do homem) est´ a usurpando da pobre tartaruga uma distˆancia igual a 41 = 0, 25 (que ´e a distˆancia em que ele se encontra `a frente do quelˆonio). Ora, perceba o caro leitor que ´e precisamente esta mesma distˆancia que ele est´ a, `a revelia, concedendo ` a tartaruga. Perceba que a m´etrica divina “transfere” a origem “0” para o outro v´ertice do intervalo† . De uma outra perspectiva: Observe que na configura¸ca˜o inicial do pleito a distˆancia de Aquiles para a meta, em qualquer das m´etricas ´e 0, 5; enquanto que a distˆancia da tartaruga para a meta, na m´etrica divina, ´e de apenas 0, 25. Podemos ver o equ´ıvoco de Aquiles de um outro ˆangulo, no gr´ afico `a pg. 91, assim:
∗ Por † Ou
conta de uma experiˆ encia m´ıstico-matem´ atica. ainda a m´ etrica divina curva o espa¸co − ver pg. 94.
225
k(x, 0)
1
q
0, 75
1 2
q
0, 25
0
•
A ←
•
T →
x 1
Observe que a distˆancia inicial de Aquiles para a origem, tanto na concep¸ca ˜o humana quanto na divina∗ , ´e a mesma: 0, 5. J´a para a tartaruga − que corre segundo a m´etrica divina − na concep¸ca˜o humana sua distˆancia inicial ´e de 0, 75 (atr´as de Aquiles, portanto), j´a na concep¸ca˜o divina (que faz justi¸ca aos “oprimidos” ) a distˆancia inicial da tartaruga ´e de apenas 0, 25, encontrando-se, portanto, ` a frente de Aquiles!
“Tudo
“Finalizando,
isso, que a ` primeira
desejo exprimir
vista parece excesso de irraz˜ ao,
a esperan¸ ca de que . . . a matem´ atica
na verdade ´ e o efeito da finura e
possa servir agora como modelo
da extens˜ ao do esp´ırito humano
para a solu¸ ca ˜o de muitos problemas
e o m´ etodo para encontrar ver-
de nossa ´ epoca: revelar um obje-
dades at´ e ent˜ ao desconhecidas.”
tivo religioso supremo e avaliar o
Voltaire (17 a Carta)
significado da atividade espiritual da humanidade.” (I.R. Shafarevitch)
Nota: No que se segue apresentamos o conte´ udo (resumo) de uma palestra que proferimos no dia 01.09.2008 em nossa universidade (ufrr); esta ´e mais uma aplica¸ca˜o da m´etrica divina.
∗ Digo,
etrica divina. tanto na m´ etrica euclidiana (gr´ afico em azul) quanto na m´
226
PALESTRA T´ ıtulo: 0, 999 . . . = 1 ? Introdu¸c˜ao: Um dos resultados mais controversos de toda a matem´atica diz respeito `a igualdade 0, 999 . . . = 1. Na referˆencia [1] o autor faz uma an´alise das representa¸c˜oes decimais onde lemos: “Comecemos com o caso mais simples, que ´e tamb´em o mais intrigante. Trata-se da express˜ao decimal, ou seja, do n´ umero real 9 9 9 α = 0, 999 . . . = + + + ··· 10 100 1000 Afirmamos que α = 1”. (grifo nosso) Na referˆencia [2] lemos: “[· · · ] vocˆe deve ter concluido que 0, 999 . . . = 1. Esse sinal de igual ´e igual mesmo! N˜ao se trata de aproxima¸c˜ao: 0, 999 . . . e 1 s˜ao duas formas diferentes de apresentar o mesmo n´ umero”. (grifo nosso) Nesta palestra provaremos que 0, 999 . . . = 0 (n˜ao, n˜ao trata-se de um erro de digita¸c˜ao!) e que, portanto, est˜ao equivocados os que afirmam que: 0, 999 . . . = 1, mesmo! Data: 01.09.2008 Local: UFRR/Bloco III/SALA 329/18 : 00 hs Prof. Gentil Referˆ encias [1] Lima, Elon Lages. et alii A Matem´ atica do Ensino M´edio Vol. 1. Rio de Janeiro: SBM, 1997. [2] Brolezzi, Antonio Carlos/Monteiro, Martha Salerno, Matem´ atica: N´ umeros para quˆe? Universidade de S˜ ao Paulo, Publica¸ca˜o eletrˆ onica.
227
Palestra “E
aquilo que nesse momento
se revelar´ a aos povos, surpreender´ a a todos n˜ ao por ser ex´ otico mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando ter´ a sido o o ´bvio.” (O ´ındio/Caetano V.)
Introdu¸ c~ ao: Decidi redigir um (pequeno) ensaio em fun¸ca˜o da palestra anunciada na p´ agina anterior, depois mudei de id´eia e decidi ampliar o texto para disponibiliz´a-lo em minha home-page. O objetivo desta palestra ´e esclarecer o significado da igualdade, 0, 999 . . . = 1
(5.7)
Igualdades esp´ urias Inicialmente chamamos a aten¸ca˜o para o fato de que, na matem´atica, existem igualdades que na verdade n˜ ao s˜ao igualdades. Ou ainda, que precisam ser colocadas em seu devido contexto. Como um primeiro exemplo citamos a seguinte “igualdade”: 3 1 = (5.8) 3 9 Todos sabemos que estas n˜ ao s˜ao fra¸co˜es iguais mas sim equivalentes, o que quer dizer que, 3 1 ∼ ⇔ 1·9= 3·3 (5.9) 3 9 Outros exemplos de “igualdades esp´ urias” encontramos quando do estudo dos n´ umeros complexos. A bem da verdade, um n´ umero complexo ´e um par ordenado de n´ umeros reais. Em livros-texto nos deparamos com igualdades tipo, z = 1 + 2i = (1, 2) Ou, z = (1, 0) = 1 + 0i = 1 Estas “igualdades” s´o podem ser devidamente compreendidas dentro do conceito de isomorfismo entre estruturas alg´ebricas, um assunto pertinente `a ´algebra moderna; aqui s´o chamamos a aten¸ca˜o, nesta u ´ ltima igualdade, que ´e imposs´ıvel (il´ogico) um par ordenado ser igual a um n´ umero. Por conseguinte, a rigor n˜ ao ´e correto dizer que os Reais s˜ao subconjunto dos Complexos, uma vez que estes “conjuntos” tˆem elementos de naturezas distintas. Voltando ` a igualdade (5.8) entre fra¸co˜es, talvez o leitor nunca − em toda a sua vida − tenha sentido a necessidade de fazer distin¸ca˜o entre igualdade e equivalˆencia entre fra¸co˜es. Confesso que eu, uma u ´ nica vez senti esta necessidade, foi quando achei por bem corrigir uma quest˜ ao em um gabarito de um cursinho. A quest˜ ao era mais ou menos assim: “Encontre uma fra¸ca˜o (pr´ opria) x/y em que a soma do numerador com o denominador seja 12 e o produto seja 27”. 228
Para resolver esta quest˜ ao montamos o seguinte sistema: ( cuja (a) (b) (c) (d) (e)
x+y
= 12
x·y
= 27
solu¸ca˜o ´e: x = 3 e y = 9. Na prova foram dadas algumas alternativas: − − −− − − −− − − −− 1 3
N.R.A
No gabarito a resposta “correta” foi dada como sendo a letra ( d ), a fra¸ca˜o equivalente da correta. Fiz ver que esta n˜ ao poderia ser a resposta porquanto a ao satisfaz o enunciado do problema (n˜ao satisfaz o sistema). A fra¸ca˜o xy = 31 n˜ resposta do gabarito foi mudada para a letra ( e ). Pois bem, defendemos que a “maioria” − inclusive − por negligenciar este contexto (das “igualdades esp´ urias”), n˜ ao est´ a sabendo interpretar corretamente igualdades tipo (5.7); estas devem ser entendidas em seu devido contexto; o objetivo de nossa palestra ´e deixar claro este contexto. Devemos agora lembrar o conceito de s´erie:
S´ eries Este tema j´ a comparece no ensino m´edio quando procuramos por exemplo pela “soma infinita”, 1 1 1 + + + ··· 2 4 8 que ´e dada pela f´ ormula da soma dos infinitos termos de uma progress˜ao geom´etrica: a1 , v´alida sempre que −1 < q < 1. No caso da s´erie anterior, temos, S∞ = 1−q 1 1 1 1 + + + ··· = 2 2 4 8 1−
1 2
=1
(5.10)
Formalizando a “teoria das s´eries”, temos: Seja ( an ) uma seq¨ uˆencia de n´ umeros reais. A partir dela, formamos uma nova seq¨ uˆencia ( sn ) cujos termos s˜ao as somas: s1 = a1 s2 = a1 + a2 s3 = a1 + a2 + a3 −− − − − − − − − − − − − − sn = a1 + a2 + a3 + · · · + an
Os termos da seq¨ uˆencia ( sn ) s˜ao chamados somas parciais da s´erie infinita P an . Se existir o limite, lim sn = lim (a1 + a2 + a3 + · · · + an ) n→∞
229
P diremos que a s´erie an ´e convergente e, nesse caso, lim sn = ℓ ´e chamado de soma da s´erie. Em sendo este o caso, escrevemos, ℓ=
X
an =
∞ X
n=1
an = a1 + a2 + a3 + · · · + an + · · ·
uˆencia ( sn ), de somas parciais, n˜ ao convergir, diremos que a s´erie P∞Se a seq¨ a ´ e divergente. n=1 n P Resumindo: A soma de uma s´erie, an , ´e simplesmente o limite da seq¨ uˆencia , ( sn ), de somas parciais. A t´ıtulo de exemplo, vamos calcular a soma da s´erie vista em (5.10), para tanto vamos encontrar sua seq¨ uˆencia de somas parciais, assim: 1 2 1 1 s2 = + 2 4 1 1 1 s3 = + + 2 4 8 −− − − − − − − − − − − − − 1 1 1 1 sn = + + + · · · + n 2 4 8 2 s1 =
Vamos necessitar da f´ormula da soma dos n primeiros termos de uma P.G.: Sn =
a1 (q n − 1) q−1
Ent˜ ao, 1 1 1 1 sn = + + + · · · + n = 2 4 8 2
1 2
·
1 2
1 n 2
−1
−1
=1−
1 n 2
Para provar que esta seq¨ uˆencia converge para 1 na m´etrica usual, devemos mostrar que† d(sn , 1) → 0. De fato, 1 1 n − 1 = n → 0 d(sn , 1) = µ(sn , 1) = |sn − 1| = 1 − 2 2
− Esta seq¨ uˆencia converge para 0 porque “podemos tornar 21n arbitrariamente pequeno, tomando n suficientemente grande”. Vamos agora provar que esta mesma s´erie converge para 0 na m´etrica divina, isto ´e, 1 1 1 + + + ··· = 0 2 4 8 † Veja
proposi¸ca ˜o 33, pg. 201.
230
Com efeito, ´e suficiente provar que k(sn , 0) → 0, assim∗ : k(sn , 0) = min sn , 1 − sn 1 1 = min 1 − n , 1 − 1 − n 2 2 1 1 1 = min 1 − n , n = n → 0 2 2 2
Observe que,
1 1 ≤ 1 − n ⇔ 2n ≥ 2. n 2 2 Agora vamos calcular a soma da s´erie: 9 9 9 + + + ··· 10 100 1000 Neste caso, para o c´ alculo na m´etrica usual basta usar a f´ormula da soma dos infinitos termos de uma P.G., entretanto, vamos calcular em nosso contexto de espa¸cos m´etricos; para tanto necessitaremos da seq¨ uˆencia de somas parciais: 0, 999 . . . =
9 10 9 9 + s2 = 10 100 −− − − − − − − − − − − − − 9 9 9 sn = + + ···+ n 10 100 10 Aplicando a f´ ormula da P.G., obtemos: s1 =
sn =
1 9 9 1 1 9 + + ··· + n = 9 · + + ··· + n 10 100 10 10 100 10 1 1 1 n − 1 = 9 · 10 110 = 1− n 10 − 1 10
Vamos mostrar que a s´erie em quest˜ ao converge para 1 na m´etrica euclidiana, com efeito, 1 1 µ(sn , 1) = 1 − n − 1 = n → 0 10 10 Vamos provar que esta mesma s´erie converge para 0 na m´etrica k, com efeito, k(sn , 0) = min sn , 1 − sn 1 1 = min 1 − n , 1 − 1 − n 10 10 1 1 1 = min 1 − n , n = n → 0 10 10 10 Em resumo, provamos que: 0, 999 . . . = 1 0, 999 . . . = 0 ∗ Veja
equa¸ca ˜o (2.2), pg. 90
231
Uma exegese de nossos resultados Observe que n˜ ao podemos concluir apressadamente que 1 = 0, porquanto estes resultados pertencem a universos distintos: 0, 999 . . . = 1, em ([ 0, 1 ], µ)
(5.11)
0, 999 . . . = 0, em ([ 0, 1 [, k)
(5.12)
Um primeiro corol´ ario que se segue deste resultado ´e que 0, 999 . . . n˜ ao ´e um n´ umero porquanto depende da topologia (m´etrica) adotada. Reiteramos: Um n´ umero ´e um conceito alg´ebrico, n˜ ao topol´ogico; digo, n˜ ao pode variar com a topologia adotada. A conclus˜ao ´e ´ obvia: a “entidade” 0, 999 . . . s´o pode ser vista como uma s´erie (ou uma representa¸ca ˜o decimal, n˜ ao faz mal)∗ e nunca como um n´ umero. A igualdade (5.11) nos diz que a soma desta s´erie ´e 1 na m´etrica µ; de igual modo, a igualdade (5.12) nos diz que a soma desta mesma s´erie ´e 0 na m´etrica k. Observe que em nosso universo ([ 0, 1 [, k) n˜ ao est˜ ao definidas opera¸co˜es alg´ebricas, raz˜ ao por que n˜ ao podemos sair multiplicando a esmo. Entretanto, observando que se 0 ≤ x < 1 e 0 ≤ y < 1 ent˜ ao 0 ≤ x · y < 1 significa que em nosso universo, · : [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ −→ [ 0, 1 [ a multiplica¸ca˜o ´e uma opera¸ca˜o perfeitamente l´ıcita.
Se 1 6= 0 ent˜ao 0, 999 . . . n˜ao ´e um n´ umero
Dissemos anteriormente que, a despeito das igualdades 0, 999 . . . = 1 e 0, 999 . . . = 0, n˜ ao podemos concluir que 1 = 0 por conta de que estes resultados est˜ ao em universos distintos; entretanto, podemos cavar uma contradi¸ca˜o caso insistamos no disparate de acreditar em miragens (fantasmas), digo: confundir uma s´erie com seu limite. Vamos estabelecer agora mais um limite que ser´a u ´ til em nossos argumentos posteriores. Consideremos a seguinte s´erie, 0, 111 . . . =
1 1 1 + + ···+ n + ··· 10 100 10
cuja seq¨ uˆencia de somas parciais ´e dada assim, 1 1 βn = · 1 − n 9 10
Afirmamos que esta seq¨ uˆencia converge para 1/9 na m´etrica k. De fato, n 1 o 1 k(βn , 1/9) = min βn − , 1 − βn − 9 9
ou ainda,
n 1 1 o 1 1 − 1 − 1 k(βn , 1/9) = min − − , 1 − 9 9 · 10n 9 9 9 · 10n 9 o n 1 1 1 = , 1− →0 = min 9 · 10n 9 · 10n 9 · 10n
∗ Queira
por favor lˆ er a cita¸ca ˜o em ep´ıgrafe deste artigo.
232
Portanto,
1 1 1 1 + + ··· + n + ··· = 10 100 10 9
(5.13)
O pr´oximo teorema rompe um paradigma de alguns s´eculos: Teorema 3 (Gentil/15.08.2008). Se 0, 999 . . . ´e um n´ umero ent˜ ao 1 = 0. Prova: De fato, consideremos a igualdade, 0, 999 . . . =
9 9 9 + + · · · + n + · · · = 0, 10 100 10
demonstrada anteriormente; sendo 0, 999 . . . por hip´otese um n´ umero, esta igualdade nos diz que este n´ umero ´e igual a zero, vamos multiplic´a-lo por 1/9, obtendo: 1 1 1 0, 111 . . . = + + · · · + n + · · · = 0. 10 100 10 Deste resultado e da equa¸ca˜o (5.13) concluimos que,
1 9
= 0, donde 1 = 0.
O que o nosso teorema mostra ´e que confundir uma s´erie com seu limite n˜ ao ´e uma “brincadeira sem importˆ ancia”, ´e t˜ ao grave quanto confundir 1 = 0. ´ − Obviamente que nossa conclus˜ao a respeito da representa¸ca˜o decimal 0, 999 . . . se estende a todas as outras; por exemplo: 0, 4999 . . . pelas mesmas raz˜ oes n˜ ao ´e um n´ umero. A prop´ osito, podemos mostrar que a aplica¸ca˜o, k : [ 0, 1/2 [ × [ 0, 1/2 [−→ R dada por
k(x, y) = min |x − y|, 1/2 − |x − y|
´e uma m´etrica; portanto o par ([ 0, 1/2 [, k) ´e um espa¸co m´etrico. Neste espa¸co n˜ ao ´e dif´ıcil provar a seguinte igualdade: 0, 4999 . . . = 0 De fato, a seq¨ uˆencia de somas parciais desta s´erie, 0, 4, 0, 49, 0, 499, 0, 4999, . . . ´e dada por γn = 1/2 − 1/10n, sendo assim, temos: 1 k(γn , 0) = min |γn − 0|, 1/2 − |γn − 0| = n → 0 10
• Podemos ainda mostrar que, que a aplica¸ca˜o,
k : [ 0, 1/3 [ × [ 0, 1/3 [−→ R dada por
k(x, y) = min |x − y|, 1/3 − |x − y| 233
´e uma m´etrica; portanto o par ([ 0, 1/3 [, k) ´e um espa¸co m´etrico. Neste espa¸co n˜ ao ´e dif´ıcil provar a seguinte igualdade: 0, 333 . . . = 0
(5.14)
De fato, a seq¨ uˆencia de somas parciais desta s´erie, 0, 3, 0, 33, 0, 333, 0, 3333, . . . ´e dada por ξn = 1/3 − 1/(3 · 10n ), sendo assim, temos: k(ξn , 0) = min |ξn − 0|, 1/3 − |ξn − 0| =
1 → 0 3 · 10n
Conclus˜ ao: o resultado (5.14) nos for¸ca a ver 0, 333 . . . n˜ ao como um n´ umero, mas como uma s´erie, porquanto depende da topologia considerada. Veja ainda, a igualdade 0, 999 . . . =
9 9 9 + + + ··· = 0 10 100 1000
n˜ ao significa que “a soma de infinitas parcelas positivas ´e igual a zero”; o verdadeiro significado desta igualdade ´e que a seq¨ uˆencia αn = 1 − 101n , de somas parciais da s´erie, converge para 0 na m´etrica k, ´e s´o isto! A igualdade 0, 999 . . . = 0 e a teoria da gravita¸ c~ ao de Einstein Os que gozam de uma acuidade visual razo´avel n˜ ao ter˜ ao dificuldade de enxergar que o paradigma quebrado pelo teorema 3 de certa forma ´e similar ao paradigma quebrado pela teoria da gravita¸ca˜o de Einstein relativamente `a de Newton. De fato, na teoria de Newton, por exemplo, sempre se acreditou que a luz se propagava em linha reta (n˜ao fazia curva) por conta de que esta teoria era fundamentada na geometria euclidiana; j´a a de Einstein em uma “geometria curva”: a massa introduz uma curvatura (distor¸ca˜o) no espa¸co circunjacente. De igual modo, sempre se acreditou que 0, 999 . . . = 1 por conta de que esta igualdade esteve sempre atrelada `a geometria, digo, m´etrica euclidiana (esta n˜ ao curva o espa¸co); quando introduzimos uma m´etrica que curva o espa¸co, como ´e o caso da m´etrica k, a´ı se revelou a verdadeira natureza de 0, 999 . . ., curva-se tal como um raio de luz em uma nova geometria! Conclus˜ ao: A miopia (catarata) que grassou durante todos estes s´eculos a respeito da igualdade 0, 999 . . . = 1 foi decorrˆencia de se ter acreditado que 0, 999 . . . era independente da “geometria” (m´etrica) considerada; a igualdade 0, 999 . . . = 0 desfaz este equ´ıvoco. − Acredito mesmo que uma outra raz˜ ao pela qual os matem´aticos estiveram equivocados durante “todo este tempo” − ao afirmarem que 0, 999 . . . ´e um n´ umero − se deve ao fato de que, parece mentira, eles n˜ ao sabem o que ´e um n´ umero. De fato, a come¸car pelo pr´oprio Peano que ao encetar sua constru¸ca˜o dos n´ umeros naturais toma “n´ umero” como um conceito primitivo, isto prova que ele n˜ ao sabia como definir n´ umero. ´ Obviamente que quando se fala daquilo que n˜ ao se compreende corre-se o risco de proferir tolices. Foi o que ocorreu!
234
Na internet me deparei com a seguinte “prova” de que 0, 999 . . . = 1: “Tente escrever um n´ umero x tal que 0, 999 . . . < x < 1, ver´a que ´e imposs´ıvel. Dado que n˜ ao existe um tal x em R ent˜ ao 0, 999 . . . = 1.” • Esta ´e uma “prova” por demais ingˆenua. De fato, nunca poderemos exibir um tal x simplesmente porque 0, 999 . . . n˜ ao ´e um n´ umero, isto ´e, n˜ ao encontrase na reta real. Para vermos a ingenuidade desta prova de um outro ˆangulo (uma analogia), consideremos que a seq¨ uˆencia (pn ) de pol´ıgonos na figura a seguir, ... → p3
p4
p5 . . .
. . . p11
... →
σ
converge para o c´ırculo σ, isto ´e, lim pn = σ. n→∞ Observe a analogia: 0, 9 ; 0, 99 ; 0, 999 ; 0, 9999 ; . . . ; αn ; · · · → 1 onde, αn = 0, 999 . . . 9 = 1 −
1 10n .
Temos, lim αn = 1
n→∞
Escrever este resultado da seguinte forma, α∞ = 0, 999 . . . = 1 ´ como se para o limite, ´e apenas, e t˜ ao somente, uma nota¸ca˜o. E lim pn = σ
n→∞
escrevessemos, p∞ = σ ´ t˜ E ao ingˆenuo pretender que um pol´ıgono de infinitos lados seja igual a um c´ırculo quanto pretender que uma decimal com infinitas casas, no caso 0, 999 . . ., seja um n´ umero (= 1). Deveras, s˜ao objetos de naturezas distintas. Ent˜ ao, voltando ` a “prova” anterior, isto ´e, sobre a impossibilidade de se encontrar um n´ umero x tal que 0, 999 . . . < x < 1; ´e a mesma coisa que se pretender provar que um pol´ıgono de infinitos lados ´e um dado c´ırculo, pela impossibilidade de se encontrar um outro c´ırculo x entre ambos, assim: p∞ < x < σ
235
Adendo (19.12.2008) Enviei, no dia 20.10.2008, `a Revista Matem´ atica Universit´ aria, uma vers˜ao compacta (13 p.) e “politicamente correta” deste trabalho, sob o t´ıtulo “Se 1 6= 0 ent˜ ao 0, 999 . . . n˜ ao ´e um n´ umero”, para poss´ıvel publica¸ca˜o. Algum tempo depois recebi o seguinte email:
Gentil Lopes
Matem´ atica Universit´ aria 1 mensagem Eduardo Colli 5 de dezembro de 2008 12:23 Para: [email protected] Prezado Gentil, mais uma vez agradecemos o interesse em publicar na Matem´ atica Universit´aria. Em raz˜ ao da firme convic¸ca˜o do Corpo Editorial de que 0, 999 . . . ´e igual a 1 no corpo dos reais, e de que 0 ´e igual 1 no quociente de R por Z mas n˜ ao no corpo dos reais, lamentamos comunicar-lhe que seu artigo “Se 1 < > 0 ent˜ ao 0.999 . . . n˜ ao ´e um n´ umero” n˜ ao ser´a publicado na revista. Quanto ao seu outro artigo, “Tra¸cados 3 − D. Um aux´ılio para o tra¸cado de figuras no LaTeX”, os editores o examinaram e julgaram que n˜ ao se enqua dra no perfil da revista. Atenciosamente, Eduardo Colli Editor-chefe da Matem´ atica Universit´aria
Confesso que, ao receber este email, me senti um tanto quanto feliz e at´e sorri. Como assim? n˜ ao est´ as sendo hip´ocrita? Minha consciˆencia me diz que n˜ ao. De fato, de imediato vislumbrei que a incompreens˜ao (ignorˆancia) dos editores viria a valorizar ainda mais nossas aquisi¸co˜es; com efeito, como se vˆe, estamos lidando com quest˜ oes “filos´ oficas” sutis∗ e n˜ ao tenho como n˜ ao exultar em ser o primeiro terr´aqueo a enxergar n˜ ao com os olhos f´ısicos mas com os da l´ogica - tais sutilezas. Ou¸camos, novamente, o que os mais velhos tˆem a nos dizer: “Tudo isso, que a ` primeira vista parece excesso de irraz˜ ao, na verdade ´ e o efeito da finura e da extens˜ ao do esp´ırito humano e o m´ etodo para encontrar verdades at´ e ent˜ ao desconhecidas.” Voltaire ∗ Digo, sutis para os editores - que “trope¸ caram ao meio dia como se fosse no crep´ usculo” -, para mim s˜ ao quest˜ oes triviais.
236
Acreditamos - e vamos provar - que o “Corpo Editorial” n˜ ao compreendeu o nosso Artigo. Este equ´ıvoco, pelo ao menos a mim, prova mais uma vez que os matem´aticos n˜ ao possuem uma clareza suficiente do que seja um n´ umero. Primeiro ponto: a ˆenfase do meu artigo, desde a capa, n˜ ao ´e contra a igualdade 0, 999 . . . = 1, mas sim contra a sua interpreta¸ca˜o literal, qual seja: a de umero” 0, 999 . . . seja igual ao n´ umero 1. Temos sempre dito que esta que o “n´ igualdade ´e insuficiente para conferir o status de n´ umero `a representa¸ca˜o decimal 0, 999 . . .; como o meu artigo foi rejeitado devo assumir que os editores n˜ ao est˜ ao de acordo com minha tese principal; ou ainda: que ˆeles, tal como o prof. Elon, acreditam que 0, 999 . . . = 1 mesmo! Pois bem, o Corpo Editorial alega que tem “convic¸ca˜o” de que 0, 999 . . . = 1 no corpo dos reais. ´ muito f´ E acil refutar-lhe se nos dermos conta de que o estabelecimento da igualdade 0, 999 . . . = 1 n˜ ao depende das propriedades de corpo dos n´ umeros reais.† Vamos seguir o itiner´ario do Prof. Elon em∗ para estabelecer a referida igualdade e mostrar que todos os passos podem ser aplicados ao nosso Universo [ 0, 1 [. Na pg. 59 o autor escreve: Uma express˜ ao decimal ´e um s´ımbolo da forma α = a0 , a1 a2 · · · a n · · · , onde a0 ´e um n´ umero inteiro ≥ 0 e a1 a2 · · · an · · · , s˜ao d´ıgitos, isto ´e, n´ umeros inteiros tais que 0 ≤ an ≤ 9. ao decimal. • Vemos que aqui temos uma defini¸ca˜o do que seja uma express˜ ´ importante observar que para esta defini¸ca˜o n˜ E ao precisamos das propriedades de corpo dos n´ umeros reais; tanto ´e que podemos adot´ a-la em nosso Universo; apenas que, em nosso contexto, fica: Uma express˜ ao decimal ´e um s´ımbolo da forma α = 0, a1 a2 · · · an · · · ,
(5.15)
onde a1 a2 · · · an · · · , s˜ao d´ıgitos, isto ´e, n´ umeros inteiros tais que 0 ≤ an ≤ 9. Observe que os nossos s´ımbolos, dados em (5.15), s˜ao os mesmos dos reais n˜ ao h´ a nenhuma raz˜ ao para que sejam diferentes. Mais ` a frente, ainda na mesma p´ agina, o autor escreve: Mais de que forma uma seq¨ uˆencia de d´ıgitos, precedida de um n´ umero inteiro, representa um n´ umero real? A resposta ´e: a express˜ao decimal α, dada acima, representa o n´ umero real (∗)
α ¯ = a0 +
a a a1 + 2 + · · · + nn + · · · . 10 102 10
Na realidade, ´e meio pedante usar uma nota¸ca˜o diferente, α ¯ , para indicar o n´ umero real cuja express˜ao decimal ´e α. Na pr´atica, n˜ ao se faz isso. Vamos ent˜ ao seguir o costume e usar a mesma nota¸ca˜o α, para o n´ umero e sua express˜ao decimal. † Digo,
∗ Lima,
pelo ao menos ao ponto de invalidar meus argumentos. Elon Lages. et alii A Matem´ atica do Ensino M´ edio Vol. 1. Rio de Janeiro:SBM,
1997.
237
• Aqui temos a defini¸ca˜o de um outro s´ımbolo; dizer que α ¯ representa um n´ umero real, no momento ´e apenas um abuso de linguagem por parte do prof. uma vez que como ˆele mesmo admite um pouco mais `a frente “Mais importante ´e explicar o significado daquelas reticˆ encias no final da igualdade. Elas d˜ ao a entender de que se trata de uma soma com infinitas parcelas, mas isto ´ e uma coisa que n˜ ao tem sentido, pelo ao menos em princ´ıpio.”
(grifo nosso)
Pois bem, α ¯ ´e a defini¸c˜ ao de um outro s´ımbolo associado a α. Mais uma vez observamos que, para esta defini¸c˜ ao, n˜ ao precisamos das propriedades de corpo dos reais, tanto ´e que podemos adot´ a-la em nosso Universo; ent˜ ao, ao s´ımbolo (5.15) associamos um outro, da seguinte forma: α ¯=
a1 a a + 22 + · · · + nn + · · · . 10 10 10
(5.16)
Observe que podemos definir este s´ımbolo em nosso Universo mesmo que n˜ ao contemos com uma adi¸c˜ ao no mesmo; como bem pontuou o prof. Elon, de momento este s´ımbolo n˜ ao tem sentido, nem nos reais e nem em nosso Universo. Ainda observamos que os s´ımbolos s˜ ao os mesmos tanto nos reais quanto em [ 0, 1 [, n˜ ao h´ a nenhuma raz˜ ao para serem diferentes. Agora o prof. vai atribuir um significado ao s´ımbolo α ¯ que comparece em (∗), que ´e o significado que todos conhecemos: associa-se a este s´ımbolo uma seq¨ uˆencia (de somas parciais, ou reduzidas); S0 = a 0 S1 = a 0 +
a1 10
a1 a + 22 10 10 −− − − − − − − − − − − − − − − a a a Sn = a0 + 1 + 22 + · · · + nn 10 10 10 S2 = a 0 +
dizemos que o limite desta seq¨ uˆencia, quando existir, ´e a soma da “s´erie” dada em (∗). Precisamos atribuir um significado ao nosso s´ımbolo α ¯ que comparece em (5.16), para tanto, tal como nos reais, associemos a este a seguinte seq¨ uˆencia: s1 =
a1 10
a1 a + 22 10 10 −− − − − − − − − − − − − − a a a sn = 1 + 22 + · · · + nn 10 10 10 s2 =
onde, agora, a adi¸c˜ ao que comparece acima ´e a mesma dos reais. Uma quest˜ ao que temos que resolver de imediato ´e se estas express˜ oes fazem sentido em nosso universo [ 0, 1 [. Ou ainda: a seq¨ uˆencia ( sn ) de somas parciais de fato ´e uma seq¨ uˆencia em [ 0, 1 [? A situa¸c˜ ao mais “cr´ıtica” que pode ocorrer ´e quando sn =
9 9 9 + 2 + ··· + n 10 10 10
238
e, neste caso, sn =
`1 9 9 1 1 ´ 9 + + ··· + n = 9 · + +··· + n 10 100 10 10 100 10 ` 1 ´ 1 −1 1 10 10n =9· =1− n <1 1 10 − 1 10
Portanto, nosso desiderato foi atendido! At´e aqui a defini¸c˜ ao (e significado) de nossos s´ımbolos (express˜ oes decimais e s´eries) ´e a mesma que nos reais, em particular o s´ımbolo 0, 999 . . . ´e o mesmo nos dois sistemas e, lembramos, trata-se de uma defini¸c˜ ao que n˜ ao depende das propriedades de corpo dos reais.∗ Agora, considerando a topologia (m´etrica) dos respectivos conjuntos, obtemos: 0, 999 . . . = 1,
em (R, µ)
0, 999 . . . = 0,
em ([ 0, 1 [, k)
Conclus˜ ao: o mesmo s´ımbolo assume valores distintos a depender da topologia considerada; logo, n˜ ao pode ser um n´ umero. Vamos resumir (compactar) nossos argumentos: 1o ) Definimos express˜ oes decimais, assim: α = 0, a1 a2 · · · an · · · , onde a1 a2 · · · an · · · , s˜ ao d´ıgitos, isto ´e, n´ umeros inteiros tais que 0 ≤ an ≤ 9.
Esta ´e apenas um caso especial de α = a0 , a1 a2 · · · an · · · , com a0 = 0. Pois bem, para uma tal defini¸c˜ ao n˜ ao precisamos das propriedades de corpo dos n´ umeros reais. 2o ) Em seguida associamos ao s´ımbolo anterior um outro s´ımbolo, α ¯=
a a a1 + 22 + · · · + nn + · · · . 10 10 10
(5.17)
que ´e um caso especial de ( ∗ ). Novamente, para uma tal defini¸c˜ ao n˜ ao precisamos das propriedades de corpo dos n´ umeros reais; a bem da verdade podemos considerar estes s´ımbolos mesmo que n˜ ao existissem os n´ umeros reais, uma vez que em suas defini¸c˜ oes entram apenas (alguns) inteiros positivos. 3o ) Agora precisamos atribuir um sentido ao s´ımbolo (5.17), para tanto devemos considerar a seq¨ uˆencia, sn =
a1 a a + 22 + · · · + nn 10 10 10
Para obter sn consideramos a adi¸c˜ ao de R restrita a [ 0, 1 [; isto ´e poss´ıvel mesmo n˜ ao ` ´ sendo [ 0, 1 [, ×, + um corpo; digo, isto n˜ ao ´e necess´ ario. Deste modo o significado dado a (5.17) ´e: α ¯ = lim sn . Reitero: os s´ımbolos e seus significados n˜ ao dependem da estrutura de corpo dos reais, tanto ´e que s˜ ao perfeitamente v´ alidos no intervalo [ 0, 1 [ (desde que este conte com uma m´etrica). Sendo assim, temos:
µ
0, 999 . . . = 1 0, 999 . . .
k
0, 999 . . . = 0
∗ Entenda-se bem: n˜ ao depende ao ponto de nos impedir de adotar (e interpretar) estas defini¸co ˜es em nosso universo [ 0, 1 [, tanto ´ e que o fizemos.
239
Conclus˜ ao: A igualdade 0, 999 . . . = ? vai depender apenas da topologia que se considere. N˜ ao entendo por que raz˜ ao o s´ımbolo 0, 999 . . . deve adquirir o status de n´ umero real − como crˆeem todos matem´ aticos e, em particular, os editores da Matem´ atica Universit´ aria. Uma considera¸c˜ ao final: Acredito que os editores precipitaram-se ao ignorar o teorema 3 (pg. 233), deixo aqui aos matem´ aticos o desafio de me mostrarem onde encontra-se uma falha (l´ ogica) no mesmo.
Adendo:
Ocorreu-me mais um argumento contra a “igualdade mesmo!” entre representa¸c˜ oes e n´ umeros reais. Vamos partir do ponto em que o prof. Elon define representa¸c˜ oes decimais (pg. 237). Pergunto: como definir igualdade entre representa¸c˜ oes? ? a 0 , a 1 a 2 · · · a n · · · = b0 , b 1 b2 · · · bn · · ·
Para definir esta igualdade vou me inspirar (copiar) a defini¸c˜ ao de igualdade entre seq¨ uˆencias, qual seja: a1 a2 · · · an · · · = b1 b2 · · · bn · · · ⇐⇒ ai = bi , ∀ i ∈ N De igual modo (a bem da verdade uma representa¸c˜ ao decimal ´e uma seq¨ uˆencia), entre duas representa¸c˜ oes deve d´ a-se: a0 , a1 a2 · · · an · · · = b0 , b1 b2 · · · bn · · · ⇐⇒ ai = bi , ∀ i ∈ N ∪ { 0 }
(5.18)
Acho esta defini¸c˜ ao bastante razo´ avel e se, por ventura, algum matem´ atico se op˜ oe ` a mesma gostaria que me argumentasse suas raz˜ oes. Pois bem, vamos considerar as duas representa¸c˜ oes seguintes: 1, 0 0 0 · · · 0, 9 9 9 · · · Seguindo o desenvolvimento das id´eias, temos (ver ( ∗ ), pg. 237): 1, 0 0 0 · · · = 1 +
0 0 0 + 2 + 3 + ··· = 1 10 10 10
(5.19)
Tamb´em, 0, 9 9 9 · · · =
9 9 9 + 2 + 3 + ··· = 1 10 10 10
(5.20)
Ora, se, 1, 0 0 0 · · · = 1 (mesmo!)
(5.21)
0, 9 9 9 · · · = 1 (mesmo!)
(5.22)
e,
e, usando o axioma de que duas quantidades iguais a uma terceira s˜ ao iguais entre si, obtemos, 1, 0 0 0 · · · = 0, 9 9 9 · · ·
(mesmo!)
Tendo em conta nossa defini¸c˜ ao em (5.18) concluimos que, 1 = 0 e 0 = 9 (mesmo!) Conclus˜ ao: Os matem´ aticos diriam que fui insensato em estabelecer a defini¸c˜ ao (5.18).
240
Da minha perspectiva; digo, para tentar me livrar da pecha de insensato, vejo as coisas da seguinte forma: primeiro, mantenho a defini¸c˜ ao (5.18), n˜ ao vejo nenhuma estult´ıcie nesta defini¸c˜ ao. Depois interpreto as (segundas) igualdades em (5.19) e (5.20) como a convergˆencia de duas s´eries para um mesmo limite. Do exposto n˜ ao posso concluir (como o fazem os matem´ aticos) que as igualdades (5.21) e (5.22) s˜ ao absolutas! digo, que 0, 9 9 9 · · · e 1 representam o mesmo n´ umero! N˜ ao, n˜ ao trata-se disto senhores matem´ aticos, por favor parem um pouco pr´ a raciocinar! Reitero: podemos adotar a defini¸c˜ ao (5.18), entre representa¸c˜ oes, sem nenhum sentimento de culpa, da´ı que 0, 9 9 9 · · · e 1, 0 0 0 · · · s˜ ao duas representa¸c˜ oes distintas, bem como as respectivas s´eries em (5.19) e (5.20); agora o que estas s´eries tˆem em comum ´e o mesmo limite: 1. Daqui, seria tolice de minha parte confundir uma s´erie com seu limite e concluir que 0, 9 9 9 · · · = 1, mesmo!
Ainda observe - para clarear a exposi¸c˜ ao - que, no presente contexto, podemos invocar o conceito de igualdades esp´ urias, com o qual abrimos nosso trabalho. Por exemplo, a primeira igualdade em (5.19) ´e uma de tais igualdades; digo, n˜ ao ´e uma igualdade absoluta, deve ser interpretada dentro de um contexto apropriado. N˜ ao ´e absoluta porque trata-se de dois s´ımbolos distintos. Podemos justificar (interpretar) esta igualdade se considerarmos uma bije¸c˜ ao (identifica¸ c~ ao) entre dois conjuntos: o das representa¸c˜ oes decimais e o das s´eries, assim: a0 , a1 a2 · · · an · · · ↔ a0 +
a1 a a + 22 + · · · + nn + · · · . 10 10 10
Conclus˜ ao: Vou prosseguir pela vida afora discordando dos matem´ aticos de que 0, 999 . . . = 1 (mesmo!) e, cˆ onscio de que minha u ´nica “insensatez” (no presente contexto) foi ter adotado a defini¸c˜ ao (5.18). ∗
∗
∗ “E,
conquanto as ideias e o
pensamento matem´ aticos estejam em constante evolu¸ ca ˜o [. . .] a maioria dos problemas b´ asicos fundamentais nunca desaparece.”
“Eu
(G. Chaitin)
deveria logo dizer que discordo completamente daqueles que afirmam que o campo da
matem´ atica incorpora eternamente uma perfei¸ ca ˜o est´ atica, e que as ideias matem´ aticas n˜ ao s˜ ao humanas, nem mut´ aveis. Ao contr´ ario, esses estudos de caso, essas hist´ orias intelectuais ilustram o fato de que a matem´ atica est´ a constantemente em evolu¸ ca ˜o e mudan¸ ca, e que nossa perspectiva, mesmo nas quest˜ oes de matem´ atica b´ asica e mais aprofundada, se desloca, ami´ ude, de maneira surpreendente e inesperada. Tudo o que ela necessita ´ e de uma nova ideia! Vocˆ e precisa apenas estar inspirado e depois trabalhar feito louco para desenvolver sua nova concep¸ ca ˜o. De in´ıcio, as pessoas ir˜ ao combatˆ e-lo, mas, se vocˆ e estiver certo, ent˜ ao todos dir˜ ao, no fim de contas, que obviamente era o modo de encarar o problema, e que sua contribui¸ ca ˜o foi pequena ou nula! De certa maneira, este ´ e o maior dos cumprimentos.” (Gregory Chaitin/Metamat!/pg. 30-Grifo nosso)
241
Adendo
(12.06.2010):
Publiquei no site Somatematica um artigo intitulado:
“Sobre as v´ arias defini¸c˜ oes de n´ umero Complexos ” datado de 25.05.2009, no qual cito: “Que os matem´ aticos do s´eculo XVIII ainda n˜ ao tinham uma compreens˜ ao satisfat´ oria do conceito de n´ umeros - em particular o de n´ umeros complexos ´e o que se depreende da cita¸c˜ ao a seguir (ver [15]): A ambivalˆ encia dos matem´ aticos do s´ eculo XVIII em rela¸ ca ˜o aos n´ umeros complexos pode mais uma vez ser evidenciada em Euler. Apesar de seus trabalhos em que ensinava a operar com eles, afirma “Como todos os n´ umeros conceb´ıveis s˜ ao maiores ou menores do que zero ou iguais a zero, fica ent˜ ao claro que as ra´ızes quadradas de n´ umeros negativos n˜ ao podem ser inclu´ıdas entre os n´ umeros poss´ıveis [n´ umeros reais]. E esta circunstˆ ancia nos conduz ao conceito de tais n´ umeros, os quais, por sua pr´ opria natureza, s˜ ao imposs´ıveis, e que s˜ ao geralmente chamados de n´ umeros imagin´ arios, pois existem somente na imagina¸ ca ˜o.”
Observe que, na mente de Euler, “todos os n´ umeros conceb´ıveis s˜ ao maiores ou menores do que zero ou iguais a zero”; o que prova que Euler e, por extens˜ ao os demais matem´ aticos, n˜ ao havia ainda atinado com uma compreens˜ ao necess´ aria do conceito de n´ umero. Nota: Como dissemos o conceito de n´ umero veio evoluindo ao longo dos s´eculos; portanto ´e perfeitamente compreens´ıvel que os matem´ aticos, de ent˜ ao, n˜ ao se sentissem ` a vontade com este conceito, bem sabemos que isto em nada diminui os m´eritos destes grandes matem´ aticos, o que n˜ ao nos impede, todavia, de pˆ or em evidˆencia esta curiosa particularidade. Agora, o que ´e de surpreender ´e que uma parcela consider´ avel dos matem´ aticos hodiernos ainda se sintam trˆ opegos quanto ao conceito em quest˜ ao, como estaremos mostrando”. − O que me levou a acrescentar este adendo ´e o fato de que, nesse preciso momento, encontro-me lendo a obra “A forma¸c˜ ao do esp´ırito cient´ıfico ” do fil´ osofo e educador Gaston Bachelard na qual ele faz uma an´ alise contundente das diferentes etapas hist´ oricas do pensamento cient´ıfico; nessa an´ alise ele distingui um primeiro per´ıodo chamado o “estado pr´e-cient´ıfico ”, comprendendo tanto a Antiguidade cl´ assica quanto os s´eculos de renascimento e de novas buscas, como os s´eculos XVI, XVII e at´e XVIII. Bachelard det´em-se preferencialmente na an´ alise de textos da alquimia, da qu´ımica e da f´ısica dos s´eculos XVII e XVIII. Pois bem, um aspecto que chama a aten¸c˜ ao de um leitor moderno desta obra ´e a ingenuidade (puerilidade) com que s˜ ao tratados (expostos) muitos temas “cient´ıficos” que proliferam nos textos analisados . . . ´e surpreendente! Com raz˜ ao ele a denominou de fase “pr´e-cient´ıfica” da ciˆencia. N˜ ao me passou despercebido que a referida an´ alise poderia muito bem se estender aos matem´ aticos do s´eculo XVIII, ao menos no que diz respeito ao conceito de n´ umero, como atesta a supra-cita¸c˜ ao atribuida a Euler. Com efeito, a afirmativa de que “todos os n´ umeros conceb´ıveis s˜ ao maiores ou menores do que zero ou iguais a zero ” e, ademais: “fica ent˜ ao claro que as ra´ızes quadradas de n´ umeros negativos n˜ ao podem ser inclu´ıdas entre os n´ umeros poss´ıveis. E esta circunstˆ ancia nos conduz ao conceito de tais n´ umeros, os quais, por sua pr´ opria natureza, s˜ ao imposs´ıveis, e que s˜ ao geralmente chamados de n´ umeros imagin´ arios, pois existem somente na imagina¸c˜ ao.” se inclui na mesma categoria de muitos textos esdr´ uxulos - do mesmo s´eculo XVIII, enfatizo - analisados por Bachelard. Podemos tamb´em chamar a essa concep¸c˜ ao de n´ umero como “pr´e-cient´ıfica”. Mas o que surpreende mesmo, reitero, ´e que proeminentes matem´ aticos em pleno s´eculo XXI ainda sintam-se trˆ opegos quanto ao que seja um n´ umero. Com efeito, afirmar - como afirma o prof. Elon Lages e por extens˜ ao quase todos - que 0, 999 . . . ´e um n´ umero e que este n´ umero ´e igual a 1 (mesmo!), isto soar´ a t˜ ao ingˆenuo ` as gera¸c˜ oes “futuras”, como a afirmativa de Euler nos parece hoje.
242
5.5 5.5.1
Seq¨ uˆ encias em Espa¸ cos Vetoriais Normados Seq¨ uˆ encias em R, µ
` ´ No espa¸co R, µ s˜ ao importantes as chamadas seq¨ uˆencias mon´ otonas que s˜ ao classificadas como: (a) Crescentes s˜ ao as seq¨ uˆencias (xn ) tais que xn ≤ xn+1 , para todo ´ındice n. Em particular, quando xn < xn+1 , ∀n ∈ N, ent˜ ao (xn ) se diz estritamente crescente.
q
q
x1
x2
q
q q ··· q q qqqq
-R
x3 x4
ao as seq¨ uˆencias (xn ) tais que xn ≥ xn+1 , para todo ´ındice n. (b) Decrescentes s˜ Em particular, quando xn > xn+1 , ∀n ∈ N, ent˜ ao (xn ) se diz estritamente decrescente.
qqq q q ··· q q xq 4 xq 3
q
q
x2
x1
-R
Exemplos: (i) (ii) (iii) (iv)
`
`
“
“
´
1 n n∈N
1−
` = 1,
´
1 n n∈N
` = 0,
2n+1−(−1)n 4 1−(−1)n 2
”
1 1 , , 2 3
”
´ ...
1 2 , , 2 3
´e estritamente decrescente. ´ ...
´e estritamente crescente.
= (1, 1, 2, 2, 3, 3, . . .)
´e crescente.
n∈N
= (1, 0, 1, 0, . . .)
n˜ ao ´e mon´ otona.
n∈N
Proposi¸ c˜ ao 39. Toda seq¨ uˆencia crescente cujo conjunto dos termos ´e limitado superiormente converge para o supremo desse conjunto. ` ´ Prova: Suponhamos xn uma seq¨ uˆencia em R satisfazendo: (i) x1 ≤ x2 ≤ x3 ≤ · · · ˘ ¯ (ii) xn limitado. Isto ´e, existe c > 0 de modo que
˘ ¯ d(xi , xj ) ≤ c ; ∀ xi , xj ∈ xn .
Respaldados na propriedade do supremo∗ fa¸camos ˘ ¯ sup xn : n = 1, 2, 3, . . . = p
Afirmamos que lim xn = p. De fato, dado ε > 0, n˜ ao pode ocorrer xn ≤ p−ε para todo n ˘ ¯ ´ındice n pois isto implicaria numa cota superior - para o conjunto xn - menor do que p (isto ´e, p n˜ ao seria supremo). Logo, existe um ´ındice r de modo que p − ε < xr ≤ p. Como a seq¨ uˆencia ´e crescente, temos x1 ≤ x2 ≤ · · · ≤ xr ≤ xr+1 ≤ xr+2 ≤ · · · ∗ Todo
conjunto limitado superiormente tem supremo.
243
logo p − ε < xr ≤ xr+1 ≤ xr+2 ≤ · · ·
isto ´e,
p − ε < xn < p + ε, ∀ n ≥ r.
Por conseguinte
n ≥ r ⇒ |xn − p| < ε
o que garante nossa tese: lim xn = p. n
Nota: De modo an´ alogo prova-se que: “Toda seq¨ uˆencia decrescente cujo conjunto dos termos ´e limitado inferiormente converge para o ´ınfimo desse conjunto.” Proposi¸ a´o 40. (Conserva¸ c˜ ao do sinal) ` c˜ (a) Se xn ´e uma seq¨ uˆencia em R com lim xn = p > 0, ent˜ ao existem um ´ındice r e n
uma constante c > 0 de modo que xn > c para todo n ≥ r. Isto ´e, se o limite de uma seq¨ uˆencia ´e um n´ umero positivo ent˜ ao, a partir de uma certa ordem, todos os seus termos s˜ ao positivos. (b) Se lim xn = p < 0, ent˜ ao existem um ´ındice r e uma constante c < 0 de modo que n
xn < c para todo n ≥ r. Prova: (a) Como lim xn = p, para todo ε > 0 existe um ´ındice n0 tal que n
n ≥ n0 ⇒ |xn − p| < ε seja, por exemplo, ε =
p 2
> 0 e r = n0 , ent˜ ao
n ≥ r ⇒ |xn − p| <
p p p ⇒ − < xn − p < 2 2 2 ⇒
3p p < xn < . 2 2
p . 2 |p| . (b) A demonstra¸c˜ ao deste caso ´e an´ aloga, toma-se ε = 2 Tome c =
5.5.2
Seq¨ uˆ encias em Espa¸cos Normados Quaisquer
` ´ Consideraremos agora um espa¸co vetorial E, +, · normado qualquer. Lembramos que a origem de E, denotadad por O, ´e o elemento neutro da adi¸c˜ ao (vetor nulo). ` ´ ` ´ Proposi¸ c˜ ao 41. Seja xn uma seq¨ uˆencia de pontos em um espa¸co vetorial E, +, · normado, que converge para p ∈ E. Ent˜ ao existe uma bola de centro na origem contendo todos os termos da seq¨ uˆencia. Prova: que Sendo
Como lim xn = p, para todo ε > 0 dado, existe um ´ındice n0 de modo n
∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , p) = kxn − pk < ε
(♯)
kxn k = kxn − p + pk ≤ kxn − pk + kpk
ent˜ ao para todo n ≥ n0 tem-se
kxn k ≤ kxn − pk + kpk < kpk + ε onde somamos kpk na desigualdade (♯). Seja ˘ λ > max kx1 k, kx2 k, . . . , kxn
244
0
(♭)
−1
k, kpk + ε
¯
Logo, usando (♭), podemos escrever kxn k < λ,
∀ n ∈ N.
` ´ Vamos concretizar a proposi¸c˜ ao anterior para a seq¨ uˆencia xn vista no exemplo 5) (pg. 205). Temos „ « 2 1 1− ,2− −→ p = (1, 2). n n
Vamos fixar ε = 23 . ` ´ a vimos que para ε = 1o ) Espa¸co R2 , k · kD . J´ 1
2 3
resulta n0 = 4. Escolhamos
λ > max kx1 kD , kx2 kD , kx3 kD , kpkD + 1
1
1
1
2 3
ff
onde kx1 kD = k(0, 0)kD = 1
1
p
02 + 02 = 0
r √ ‚ ‚ ‚` 1 ´ ‚ ` 1 ´2 5 2 = ‚ , 1 + 1 = kx2 kD = ‚ ‚ ‚ 2 1 2 2 D 1
kx3 kD
1
r √ ‚ ‚ ‚` 2 4 ´‚ ` 2 ´2 ` 4 ´2 2 5 ‚ ‚ =‚ , = + = 3 3 ‚D 3 3 3 1
kpkD = k(1, 2)kD = 1
1
Portanto
p
12 + 22 =
√
5.
√ √ ff √ 5 2 5 √ 2 2 λ > max 0, , , 5+ ⇒ λ > 5 + = 2, 902 . . . 2 3 3 3 Na ilustra¸c˜ ao seguinte tomamos λ = 2, 91
2
1
6 q q
(0,0)
q
x 1
q
q pq qxq q q4
k·k
x 3
x 2
`
(0,0); λ
D1
´
-
q1
` ´ 2o ) Espa¸co R2 , k · kD . J´ a vimos que para ε = 2
B
2 3
resulta n0 = 5. Escolhamos
ff 2 , onde λ > max kx1 kD , kx2 kD , kx3 kD , kx4 kD , kpkD + 2 2 2 2 2 3
245
kx1 kD = k(0, 0)kD = |0| + |0| = 0 2 2 ‚ ‚ ‚` 1 ´ ‚ ˛1˛ 3 ‚ kx2 kD = ‚ = ˛ ˛ + |1| = ‚ 2, 1 ‚ 2 2 2 D 2
kx3 kD
2
‚ ‚ ˛2˛ ˛4˛ ‚` 2 4 ´ ‚ ‚ , = ˛ ˛+˛ ˛ =2 =‚ ‚ 3 3 ‚ 3 3 D 2
kx4 kD
2
‚ ‚ ‚` 3 6 ´ ‚ ˛3˛ ˛6˛ 9 ‚ , = ˛ ˛+˛ ˛ = =‚ ‚ 4 4 ‚ 4 4 4 D 2
kpkD = k(1, 2)kD = |1| + |2| = 3. 2
2
Portanto
ff 3 9 2 11 λ > max 0, , 2, , 3 + ⇒ λ> = 3, 666 . . . 2 4 3 3 Na ilustra¸c˜ ao seguinte tomamos λ = 3, 7
2
6 q
q qq pq q x4
qx2
k·k
x 3
1
q
(0,0)
qx1
q1
`
(0,0); λ
B
D2
´
-
` ´ 3o ) Espa¸co R2 , k · kD . J´ a vimos que para ε = 23 resulta n0 = 4. Escolhamos 3 ff 2 λ > max kx1 kD , kx2 kD , kx3 kD , kpkD + , onde 3 3 3 3 3 ˘ ¯ kx1 kD = k(0, 0)kD = max |0|, |0| = 0 3 3 ‚ ‚ ff ˛1˛ ‚` 1 ´ ‚ ‚ ˛ ˛, |1| = 1 , 1 = max kx2 kD = ‚ ‚ ‚ 2 3 2 D 3
kx3 kD
3
‚ ‚ ff ‚` 2 4 ´ ‚ ˛2˛ ˛4˛ ‚ ˛ ˛, ˛ ˛ = 4 , = max =‚ ‚ 3 3 ‚ 3 3 3 D 3
˘ ¯ kpkD = k(1, 2)kD = max |1|, |2| = 2. 3 3 ¯ ˘ ⇒ λ > 38 = 2, 666 . . .. Na ilustra¸c˜ ao seguinte Portanto, λ > max 0, 1, 43 , 2 + 32 tomamos λ = 2, 7:
246
2
1
6 q
B
k·k
x 3
qx1
q1
`
D 3
x2
q
(0,0)
q
q pq qqxq4
(0,0); λ
´
-
` ´ ` ´ ` ´ ` ´ Defini¸ a´o 34. Sejam xn e yn seq¨ uˆencias em E, +, · . Chama-se soma de xn ` c˜ com yn a seq¨ uˆencia ` ´ ` ´ ` ´ ` ´ x n + yn = x n + yn = x 1 + y1 , x 2 + y2 , . . . ` ´ ` ´ ` ´ Se λn ´e uma seq¨ uˆencia de elementos em R. Chama-se produto de λn com xn a seq¨ uˆencia ` ´` ´ ` ´ ` ´ λn x n = λn x n = λ1 x 1 , λ2 x 2 , λ3 x 3 , . . . ` ´ ` ´ ` ´ Proposi¸ c˜ ao 42. Sejam xn e yn seq¨ uˆencias ` em um ´ espa¸co vetorial E, +, · normado. Se lim xn = p e lim yn = q, ent˜ ao lim xn + yn = p + q. n
n
n
Prova: Dado ε > 0, por hip´ otese, existem ´ındices r e s tais que: ∀ n ≥ r ⇒ kxn − pk < ε/2 ∀ n ≥ s ⇒ kyn − qk < ε/2
Seja t = max{r, s}, ent˜ ao ‚` ´ ` ´‚ ∀ n ≥ t ⇒ ‚ xn + yn − p + q ‚ ≤ kxn − pk + kyn − qk < ε ` ´ o que implica xn + yn −→ p + q. ` ´ Proposi¸ ao 43. Se xn ´e uma seq¨ ` ´c˜ ` ´ uˆencia convergente em um um espa¸co vetorial E, +, · normado, ent˜ ao lim − xn = − lim xn . n
n
Prova: Suponha lim xn = p, ent˜ ao dado ε > 0 existe um ´ındice n0 de modo que n
∀ n ≥ n0 ⇒ kxn − pk < ε ` ´ ⇒ k(−1) xn − p k < ε ` ´ ⇒ k − xn − (−p)k < ε ⇒ lim(−xn ) = −p. n
Obs: Ver N2 ) pg. 72. ` ´ ` ´ ` ´ Corol´ ario 4. Se xn e yn s˜ ao seq¨ uˆencias convergentes em R, µ e se xn ≤ yn , a partir de uma determinada posi¸c˜ ao m, ent˜ ao lim xn ≤ lim yn . n
247
n
††
Prova: H : xn ≤ yn , ∀n ≥ m. T : lim xn ≤ lim yn n
n
` ´ De fato, suponhamos que lim xn > lim yn e consideremos a seq¨ uˆencia xn − yn . n n Ent˜ ao ` ´ lim xn − yn = lim xn − lim yn > 0 n
n
n
pela proposi¸c˜ ao 40 (pg. 244) existe um ´ındice r de modo que xn − yn > 0 para todo ´ındice n ≥ r. Escolhamos um ´ındice k > max{r, m}, ent˜ ao xk > yk o que contradiz a hip´ otese. ` ´ ` ´ Proposi¸ c˜ ao 44. Seja xn uma seq¨ uˆencia de pontos ` ´de um espa¸co vetorial E, +, · normado uˆencia de pontos do ` que ´converge para um ponto p ∈ E. Se λn ´e uma seq¨ espa¸co R, µ tal que lim λn = λ, ent˜ ao lim λn xn = λ p. n
n
Prova: Dado ε > 0, como lim λn = λ decorre que n
(i) tomando c > kpk, existe um ´ındice r de modo que ∀ n ≥ r ⇒ |λn − λ| <
ε 2c
(5.23)
(ii) segundo a proposi¸c˜ ao 41 (pg. 244) existe k > 0, tal que |λn | < k, para todo ´ındice n. Por outro lado, como lim xn = p, existe um ´ındice m de modo que n
∀ n ≥ m ⇒ kxn − pk <
ε 2k
Temos ‚ ‚ ‚ ‚ ‚ λn x n − λ p ‚ = ‚ λn x n − λn p + λn p − λ p ‚ ‚ ` ´ ` ´ ‚ = ‚ λn x n − p + λn − λ p ‚ ‚ ` ´‚ ‚` ´ ‚ ≤ ‚ λn x n − p ‚ + ‚ λn − λ p ‚ ˛ ˛ ‚ ‚ ˛ ˛ ‚ ‚ = ˛λn ˛ · ‚ xn − p ‚ + ˛λn − λ˛ · ‚p‚
De (5.23) e (5.24) decorre
˛ ˛ ‚ ‚ ‚ ‚ ˛λn − λ˛ · ‚p‚ < ε · ‚p‚, 2c
˛ ˛ ‚ ‚ ˛ ˛ ˛λn ˛ · ‚ xn − p ‚ < ˛λn ˛ · ε , 2k
∀ n ≥ r. ∀ n ≥ m.
Ent˜ ao, para n ≥ max{ r, m } sucede
Por outro lado
†† Faremos
˛ ˛ ‚ ‚ ˛ ˛ ‚ ‚ ‚ ‚ ˛ ˛ ˛λn − λ˛ · ‚p‚ + ˛λn ˛ · ‚ xn − p ‚ < ε · ‚p‚ + ˛λn ˛ · ε 2c 2k ˛ ˛ ˛ ˛ ˛λn ˛ < k ⇒ ˛λn ˛ · ε < k · ε = ε 2k 2k 2
uso da t´ ecnica (T − 1) (pg. 23).
248
(5.24)
‚ ‚ como c > ‚p‚, isto ´e
‚ ‚ ‚p ‚ < c ⇒
Por conseguinte
‚ ε ε ε ‚ · ‚p‚ < ·c = 2c 2c 2
‚ ‚ ˛ ˛ ‚ ‚ ˛ ˛ ‚ ‚ ‚ λn x n − λ p ‚ ≤ ˛ λn ˛ · ‚ x n − p ‚ + ˛ λn − λ˛ · ‚ p ‚ ‚ ˛ ˛ ε ε ‚ · ‚ p ‚ + ˛ λn ˛ · 2c 2k ε ε < + = ε. 2 2
<
Desta desigualdade decorre a tese. ` ´ ` ´ Lema 3. `Seja´ xn uma seq¨ uˆencia de pontos em `um espa¸ ´ co vetorial E, +, · normado. Se xn converge para p, ent˜ ao a seq¨ uˆencia kxn k converge para kpk. Prova: Na proposi¸c˜ ao 27 (pg. 121) tomando obtemos ˛ ˛ ˛ kp − 0k − kxn − 0k ˛ ≤ kp − xn k ⇒
X = { 0 } ⊂ M = E, p = p e q = xn ˛ ˛ ˛ kxn k − kpk ˛ ≤ kxn − pk
Por outro lado, dado ε > 0, por hip´ otese existe um ´ındice n0 de modo que kxn −pk < ε, para todo n ≥ n0 . Portanto ˛ ˛ ˛ kxn k − kpk ˛ ≤ kxn − pk < ε para todo n ≥ n0 . Antes de passarmos ` a pr´ o xima proposi¸ c ˜ a o vejamos um exemplo. Consideremos a ` ´ seq¨ uˆencia xn do exemplo 5) (pg. 205): „ « 1 2 xn = 1 − , 2 − −→ p = (1, 2) n n Temos
” “ (i) No espa¸co R2 , k · kD : 1
‚ ‚ ‚x n ‚
D 1
=
Por outro lado
r
„ « √ ` 1 ´2 ` 1 2 ´2 √ 1− −→ 5 + 2− = 5 1− n n n
‚ ‚ ‚p ‚
D1
“
(ii) No espa¸co R2 , k · kD
2
Por outro lado “
‚ ‚ ‚x n ‚
” :
D 2
(iii) No espa¸co R2 , k · kD
3
‚ ‚ ‚x n ‚
Por outro lado
D3
D1
=
p √ 12 + 22 = 5.
„ « ˛ 1˛ ˛ 2˛ 1 = ˛1 − ˛ + ˛2 − ˛ = 3 1 − −→ 3 n n n
‚ ‚ ‚p‚ ”
‚ ‚ = ‚(1, 2)‚
:
D2
‚ ‚ = ‚(1, 2)‚
D2
= |1| + |2| = 3.
˛ 1˛ ˛ 2˛ = max ˛1 − ˛, ˛2 − ˛ n n
‚ ‚ ‚p ‚
D2
‚ ‚ = ‚(1, 2)‚
D2
249
ff
„
1 =2 1− n
«
= max{ |1|, |2| } = 2.
−→ 2
` ´ ` ´ Proposi¸ c˜ ao 45. Seja λn uma seq¨ uˆencia de pontos no espa¸co R, µ tal que lim λn = n ` ´ λ 6= 0. Ent˜ ao a seq¨ uˆencia βn definida por 8 > se λn = 0; <0, βn = 1 > se λn 6= 0. : λn
converge para
1 . λ
Prova: Devemos mostrar que o quociente ˛ ˛ ˛ 1 |λ − λ| 1 ˛˛ ˛ = n − ˛λ λ˛ |λn | · |λ| n
a partir de um certo ´ındice n0 , ´e menor que qualquer ε > 0 dado arbitrariamente. De fato, como lim λn = λ segue, pelo lema anterior, que lim |λn | = |λ|. Como, por
hip´ otese
n
n
λ 6= 0 ⇒ lim |λn | = |λ| > 0. n
Pela proposi¸c˜ ao 40 (pg. 244) existem um ´ındice r e uma constante c > 0 de modo que |λn | > c,
∀ n ≥ r.
(5.25)
Por outro lado, como lim λn = λ, dado ε > 0 arbitr´ ario, existe um ´ındice m de modo n que |λn − λ| < c |λ| ε, ∀ n ≥ m. (5.26) De (5.25) temos
De (5.26) temos
logo
c cε <1 ⇒ < ε, |λn | |λn |
∀ n ≥ r.
c |λ| ε |λn − λ| < = c ε, |λ| |λ|
∀ n ≥ m.
|λn − λ| cε < , |λn | · |λ| |λn |
(5.27)
∀ n ≥ m.
Considerando n0 ≥ max{r, m} e usando (5.27) podemos escrever |λn − λ| < ε, |λn | · |λ|
∀ n ≥ n0 .
250
Cap´ıtulo
6
A TOPOLOGIA DOS ESPAC ¸ OS ´ METRICOS “A
raz˜ ao frui emo¸ co ˜es
“Semeia
que os pr´ oprios cora¸ co ˜es
um pensamento e co-
lher´ as uma a¸ ca ˜o. Semeia uma
desconhecem.” ( ¬Pascal)
a¸ ca ˜o e colher´ as um h´ abito. Semeia um h´ abito e colher´ as um car´ ater. Semeia um car´ ater e colher´ as um destino.” (Buda)
Introdu¸ c˜ ao Lembramos que um espa¸co m´etrico pode ser visto como um sistema de processamento de dados, onde temos: ( M, d ) software hardware O conjunto de instru¸c˜ oes (software) ´e passado atrav´es da m´etrica. Por exemplo, uma das instru¸c˜ oes (programa) que j´ a vimos ´e como calcular uma bola aberta no sistema ( M, d ). Observe - dentro de nossa analogia - que um mesmo hardware ( M ) pode suportar softwares diversos. Uma instru¸c˜ ao que incorporaremos agora em nosso sistema ´e como decidir se um ponto ´e ou n˜ ao interior a um conjunto.
6.1
Ponto interior
Defini¸ c˜ ao 35 (Ponto Interior). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Considere X ⊂ M . Um ponto p ∈ X ´e chamado ponto interior de X se existir r > 0, tal que B( p; r) ⊂ X. Isto ´e, um ponto p ∈ X ´e ponto interior de X, se for poss´ıvel “centrar” neste ponto uma bola aberta que esteja contida em X.
251
Nota: Para provar que um ponto p ∈ X n˜ ao ´e ponto interior de X devemos mostrar que para todo r > 0, arbitrariamente fixado, B( p; r) 6⊂ X. Isto ´e: ∀ r > 0, devemos exibir x ∈ B( p; r) tal que x 6∈ X. Em geral este x, que devemos exibir, depende - ´e fun¸c˜ ao - do raio r dado, da´ı em algumas situa¸c˜ oes usarmos a nota¸c˜ ao x = xr .
Importante! Vamos chamar a aten¸c˜ ao do leitor para um aspecto, embora trivial, importante: Na defini¸c˜ ao de ponto interior interv´em, de forma expl´ıcita, a bola aberta B( p; r) = {x ∈ M : d(p, x) < r}. E esta, como se vˆe, depende tanto da m´etrica d quanto do conjunto M . Portanto o fato de um ponto p ser interior, ou n˜ ao, a um subconjunto X ⊂ M vai depender essencialmente da m´etrica d e do conjunto M , como n˜ ao poderia deixar de ser. Ou ainda: um mesmo hardware ( M ) pode nos responder de modo distinto a depender do software ( d ). Esta observa¸c˜ ao se estende a outros tipos de pontos que ser˜ ao vistos neste cap´ıtulo. Para ilustrar o que estamos falando vejamos um exemplo. Consideremos M = R e X = [ 0, 1 ]. Temos que 0 ´e ponto interior de X na m´etrica δ, o que n˜ ao acontece na m´etrica µ. De fato, Bδ (0; 1) = { 0 } ⊂ X
e
Bµ (0; r) =] − r, r [ 6⊂ X,
∀r > 0
Exemplos: (1) Seja M = {a, b, c, . . . , x, y, z} e seja X = {a, e, i, o, u}. No espa¸co (M, δ) todo ponto p ∈ X ´e ponto interior de X. Por exemplo, seja a ∈ X e r = 1, ent˜ ao Bδ ( a; 1) = { a } ⊂ X Generalizando este exemplo, temos (2) Seja M um conjunto qualquer e X ⊂ M . No espa¸co (M, δ) todo ponto p ∈ X ´e ponto interior de X. De fato, j´ a vimos (pg. 162) que
Bδ ( p; r) =
8˘ ¯ > < p , > :
se 0 < r ≤ 1;
M,
se r > 1.
Isto significa que para “interiorizar” qualquer ponto p ∈ X, basta escolher r no intervalo 0 < r ≤ 1, pois Bδ ( p; r) = { p } ⊂ X. (3) Chamamos, novamente, a aten¸c˜ ao do leitor para o fato de que a no¸c˜ ao de ponto interior depende essencialmente da m´etrica d (software). Por exemplo, seja M = R e X = { 0 } ∪ [ 1, 2 [⊂ R. Temos que 0 e 1 s˜ ao pontos interiores de X no espa¸co ( R, δ), mas n˜ ao no espa¸co (R, µ), prove isto!. ◦
◦
− O conjunto dos pontos interiores de X ser´ a indicado por X ou por X d quando desejarmos destacar a m´etrica. Isto ´e, ◦
Xd =
˘
p ∈ X : ∃ r > 0, com Bd( p; r) ⊂ X
¯
(4) Seja M = R e X = [ a, b ]. Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que ◦
◦
X µ =] a, b [ ; X δ = [ a, b ].
252
(5) Seja M = R e X = {1, 21 , 13 , . . .}, temos que ◦
◦
X µ = ∅ ; X δ = X. De fato, dado qualquer p ∈ X temos Bµ( p; r) =] p − r, p + r [ . Sendo assim ´e imposs´ıvel exibir r > 0 de modo que Bµ( p; r) =] p − r, p + r [ ⊂ X uma vez que todo intervalo aberto cont´em n´ umeros irracionais. Por conseguinte nenhum ponto p ∈ X pode ser ponto interior a X no espa¸co ( R, µ). Por outro ◦
lado, que X δ = X decorre do exemplo (2).
(6) Seja M = R e X = Q, temos que ◦
◦
Q µ = ∅ ; Q δ = Q. De fato, dado qualquer p ∈ Q temos Bµ( p; r) =] p − r, p + r [ . Sendo assim ´e imposs´ıvel exibir r > 0 de modo que Bµ( p; r) =] p − r, p + r [ ⊂ Q uma vez que todo intervalo aberto cont´em n´ umeros irracionais. ◦
Por conseguinte nenhum ponto p ∈ Q ´e interior a Q. Isto ´e Q µ = ∅. ◦
Por outro lado, Q δ = Q decorre do exemplo (2). ◦
ao enfatize a dependˆencia do interior de X com Observa¸c˜ ao: Embora a nota¸c˜ ao X d n˜ respeito ao conjunto M , do qual X ´e subconjunto, isto est´ a impl´ıcito em ◦
Xd =
˘
p ∈ X : ∃ r > 0, com Bd ( p; r) ⊂ X
precisamente porque, Bd ( p; r) = {x ∈ M : d(p, x) < r}.
¯
◦
Uma nota¸c˜ ao para enfatizar ambas as dependencias seria X (M, d) . Por exemplo, segundo esta nota¸c˜ ao temos ◦
◦
Q (R,µ) = ∅ ; Q (Q,µ) = Q. A segunda das igualdades acima decorre do fato de que, na defini¸c˜ ao de ponto interior, tomando X = M , todo ponto p ∈ X ´e interior a X, uma vez que qualquer que seja r > 0 temos B( p; r) = {x ∈ M : d(x, p) < r} ⊂ X = M Em outras palavras: Todo ponto x ∈ M ´e interior ao “conjunto universo” M . A seguir estaremos enriquecendo nosso sistema de processamento de informa¸c˜ oes com mais uma instru¸c˜ ao.
253
6.2
Conjuntos abertos
Defini¸ c˜ ao 36 (Conjunto Aberto). Seja (M, d ) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Diremos que X ´e um conjunto aberto em (M, d ) quando todo ponto de X for ponto interior de X. ◦
Observe que pela defini¸c˜ ao de ponto interior temos X ⊂ X; quando a inclus˜ ao ◦
◦
contr´ aria se verificar, isto ´e, quando X ⊂ X , isto ´e, X = X , diremos que X ´e aberto no espa¸co ( M, d). Um conjunto deixa de ser aberto quando pelo ao menos um de seus pontos n˜ ao ´e ponto interior. Observa¸c˜ ao: Quando queremos mostrar que um subconjunto X ⊂ M ´e aberto, em geral tomamos um ponto x ∈ X arbitr´ ario, e mostramos que este ponto ´e ponto interior de X. Isto ´e, devemos exibir r > 0 de modo que B(x; r) ⊂ X. Via de regra, este r que buscamos depende - ´e fun¸c˜ ao - do ponto x. Da´ı em algumas situa¸c˜ oes usarmos a nota¸c˜ ao r = rx . Exemplos: 1) O conjunto X =] a, +∞ [ ´e aberto no espa¸co (R, µ). De fato, fixado arbitrariamente x ∈ X, temos que x > a, isto ´e x − a > 0. nos faculta Mostremos que rx = x−a 3 Bµ (x; rx ) =] x − rx , x + rx [ ⊂ ] a, +∞ [
rxa
]
] x−rx
r
x
-X
[ x+rx
De fato, seja y ∈ ] x−rx , x+rx [, ent˜ ao y > x−rx = x− x−a = 2x+a > a; portanto, 3 3 com este raio temos Bµ( x; rx ) ⊂ ] a, +∞ [ ; o que prova que todo ponto x > a ´e ponto interior de X; por conseguinte X ´e aberto. ˘ ¯ 2) O conjunto X = (x, y) ∈ R2 : x > 0 ´e aberto em R2 com qualquer uma das m´etricas Di (i = 1, 2, 3.). R
R
6
R
6
-R
-R
254
6
-R
Provaremos que X ´e aberto na m´etrica D1 e o leitor provar´ a para as duas outras m´etricas. De fato, dado P = (p, q) ∈ X arbitr´ ario, para mostrar que P `´e ponto interior, ´ centramos neste `ponto uma ´ bola de raio r = p > 0 e mostremos que B (p, q); p ⊂ X. Seja (x, y) ∈ B (p, q); p , se x = p > 0 ent˜ ao (x, y) ∈ X, nada mais restando a mostrar. R
R
6
6
r(p, q) r=p
r(x, y) r(p, q)
-R
-R
Suponha x 6= p. Ent˜ ao, ` ´ (x, y) ∈ B (p, q); p ⇒ (x − p)2 + (y − q)2 < p2 ⇒ (x − p)2 < p2
⇒ 0 < |x − p| < p ⇒ x > 0 ` ´ ⇒ (x, y) ∈ X ⇒ B (p, q); p ⊂ X ˘ ¯ 3) O conjunto X = (x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x, y ≤ 1 = [ 0, 1 ] × [ 0, 1 ] n˜ ao ´e aberto em 2 R com qualquer uma das m´etricas Di (i = 1, 2, 3.). R
R
6
R
6
-
-
R
R
6
-
R
Por exemplo p = (0, 0) n˜ ao ´e ponto interior de X, porquanto nenhuma bola de centro neste ponto pode estar totalmente contida em X. Observe que X ´e aberto no espa¸co (R2 , δ) (por quˆe?). ˘ ¯ 4) O conjunto X = (x, y) ∈ R2 : 0 < x, y < 1 =] 0, 1 [×] 0, 1 [ ´e aberto em R2 com qualquer uma das m´etricas Di (i = 1, 2, 3.), como o leitor pode mostrar.
255
R
R
6
R
6
-
6
-
R
-
R
R
5) Seja M um conjunto qualquer e X ⊂ M . No espa¸co (M, δ) todo ponto p ∈ X ´e ponto interior de X (ver exemplo (2), pg. 252). Logo, todo subconjunto X ⊂ M ´e aberto no espa¸co (M, δ). Mais geralmente: Um espa¸co (M, d) ´e discreto se, e somente se, todos os seus subconjuntos s˜ ao abertos. Prova: (=⇒) Se (M, d) ´e discreto e X ⊂ M , ent˜ ao X ´e aberto. Com efeito, dado x ∈ X, x ´e isolado em (M, d). Portanto, existe rx > 0 tal que B(x; rx ) = {x} ⊂ X. Logo, x ´e ponto interior de X, portanto X ´e aberto. (⇐=) Se todo subconjuntos X ⊂ M ´e aberto, ent˜ ao (M, d) ´e discreto. De fato, em particular { x } ´e aberto para todo x ∈ M . Portanto existe rx > 0 tal que B(x; rx ) ⊂ { x }. Logo, B(x; rx ) = { x }. Isto implica que todo ponto x de M ´e isolado, isto ´e, (M, d) ´e discreto. Na pg. 193 temos v´ arios exemplos de espa¸cos discretos. 6) Vimos anteriormente que “todo ponto x ∈ M ´e interior ao conjunto universo M ”. Isto significa que o conjunto universo ´e aberto. ◦
7) Observe que a igualdade X = X d deixa claro que a no¸c˜ ao de conjunto aberto depende essencialmente da m´etrica d. Isto significa, por exemplo, que um subconjunto X ⊂ M aberto no espa¸co (M, d) pode n˜ ao ser aberto em um outro espa¸co (M, d′ ). ◦
Por exemplo seja X = { 0 } ∪ [ 1, 2 [ ⊂ R. J´ a vimos que X δ = { 0 } ∪ [ 1, 2 [ = X e ◦
que 0 6∈ X µ . Portanto X ´e aberto no espa¸co (R, δ), mas n˜ ao no espa¸co (R, µ).
8) Vimos na propriedade (P2 ) das bolas abertas (pg. 179) que “Escolhido um ponto qualquer de uma bola aberta, podemos tornar este ponto, o centro de uma nova bola, contida na primeira”. Isto ´e, todo ponto de uma bola aberta ´e um ponto interior desta bola, por conseguinte uma bola aberta ´e um conjunto aberto; em qualquer espa¸co (M, d). 9) O conjunto { a } ⊂ M ´e aberto no espa¸co (M, d) se, e s´ omente se, a ´e ponto isolado deste espa¸co. Prova: (=⇒) Se { a } ´e aberto ent˜ ao existe r > 0 de modo que B(a; r) ⊂ { a }, isto ´e, B(a; r) = { a }. Logo a ´e isolado neste espa¸co. (⇐=) Se a ´e isolado, ent˜ ao existe r > 0 tal que B(a; r) = { a }, isto ´e B(a; r) ⊂ { a }, logo, a ´e ponto interior de { a }. Portanto { a } ´e aberto. 10) Q n˜ ao ´e aberto no espa¸co (R, µ). De fato, nenhum ponto p ∈ Q ´e ponto interior de Q, porquanto ] p − r, p + r [ 6⊂ Q; ∀ r > 0, uma vez que em todo intervalo aberto encontramos n´ umeros irracionais. 11) Uma observa¸c˜ ao importante ´e a de que um conjunto pode n˜ ao ser aberto em um dado espa¸co m´etrico, mas pode ser em um seu subespa¸co. Este fenˆ omeno se deve a que a bola aberta no subespa¸co ´e diferente da bola aberta no espa¸co, como ser´ a ilustrado agora:
256
Por exemplo, consideremos o espa¸co (R, µ) e o seu subespa¸co (N, µ), onde N = [ 0, 2 ]. O conjunto X = [ 0, 1 [ n˜ ao ´e aberto no espa¸co (R, µ) uma vez que 0 n˜ ao ´e ◦
ponto interior de X neste espa¸co. Isto ´e 0 6∈ X (R, µ) . Vamos mostrar que X ´e aberto no subespa¸co (N, µ). Para isto devemos mostrar que todo ponto x ∈ X ´e ponto interior de X, neste subespa¸co. Inicialmente vamos mostrar que 0 ´e ponto interior de X. Para mostrar que 0 ∈ ◦
X (N,µ) devemos exibir uma bola, digo uma sub-bola B(0; r), de modo que B(0; r) ⊂ X. Temos (ver pg. 172): B(0; r) = B(0; r) ∩ N = ] − r, r [ ∩ [ 0, 2 ] ( [ 0, r [, se r≤2;
=
[ 0, 2 ], se r>2.
onde B(0; r) =] 0 − r, 0 + r [ ´e a bola aberta no espa¸co universo (R, µ).
O diagrama seguinte nos sugere o valor que devemos escolher para r: 1q
0
−r
0q
r
0
r
N
2
B(0; r)
B(0; r)
0
X
1
Devemos ajustar o raio r, de tal modo a inserir a sub-bola dentro de X. Isto ´e, devemos ter [ 0, r [ ⊂ [ 0, 1 [. Qualquer r ≤ 1 serve. Com isto mostramos que ◦
◦
0 ∈ X (N, µ) . Agora resta mostrar que se 0 < x < 1 ent˜ ao x ∈ X (N, µ) (Exerc´ıcio).
12) O conjunto X = {x ∈ R : 0 < x < 1} =] 0, 1 [ ´e aberto no espa¸co (R, µ). Enquanto o conjunto Y = {(x, 0) ∈ R2 : 0 < x < 1} =] 0, 1 [×{ 0 } n˜ ao ´e aberto no espa¸co (R2 , D1 ). De fato, X ´e aberto em (R, µ) porque ´e uma bola aberta. ao ´e Por outro lado, podemos mostrar (exerc´ıcio) que, por exemplo, ( 21 , 0) ∈ Y n˜ ponto interior de Y (sugest˜ ao: ver figuras a seguir). y
y
6
6 `
BD ( 1 ,0); r 2 1
Bµ( 1 ; r) 2
] 0
@ Rr 1 2
[1 - X
r
Y (0,0)
-x
( 1 ,0) 2
(1,0)
pr
(0,0)
r r r R @
´
-x
(1,0)
Observe que Y tamb´em n˜ ao ´e aberto nos espa¸cos (R2 , D2 ) e (R2 , D3 ). Veja ilustra¸c˜ oes a seguir:
257
y
y
6 `
1 ,0); r BD ( 2 2
pr (0,0)
r r
6 `
´
1 ,0); r BD ( 2 3
pr
-x
(1,0)
(0,0)
r r
´
-x
(1,0)
Observe que Y ´e aberto no espa¸co ( R2 , δ). Proposi¸ c˜ ao 46. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M aberto. Seja p ∈ X. Nestas condi¸c˜ oes, o conjunto X − { p } ´e aberto. Isto ´e: retirando-se um ponto de um conjunto aberto, esta propriedade se mant´em. Prova: Devemos mostrar que dado x ∈ X − { p } arbitr´ ario, existe r > 0 de modo que B(x; r) ⊂ X − { p }. Ent˜ ao, seja x ∈ X − { p }, logo x ∈ X e x 6= p. Como, por hip´ otese, X ´e aberto, existe r > 0 tal que B(x; r) ⊂ X. Temos duas possibilidades: (i) p 6∈ B(x; r) (i) Ent˜ ao,
(ii) p ∈ B(x; r)
8
(⋆) (⋆⋆)
Vamos mostrar que estas duas condi¸c˜ oes, conjuntamente, implicam em que B(x; r) ⊂ X − { p }. M
M X−{ p }
X
qp xq B(x; r) qy ←−
xq ←− B(x; r) ◦
De fato, seja y ∈ B(x; r) ent˜ ao, por (⋆), y ∈ X e, por (⋆⋆), y 6= p, isto ´e, y 6∈ { p }, logo y ∈ X − { p }. Por conseguinte B(x; r) ⊂ X − { p }.
(ii) Vejamos a segunda possibilidade: se p ∈ B(x; r) ⇒ d(x, p) < r e como x 6= p temos d(x, p) > 0, sendo assim podemos tomar 0 < r ′ = d(x, p) < r, logo B(x; r ′ ) ⊂ B(x; r) ⊂ X. Portanto, temos ( B(x; r ′ ) ⊂ X p 6∈ B(x; r ′ ). M X
M X−{ p }
qp q x
◦
m q
x
B(x; r′ )
B(x; r)
258
Estas duas condi¸c˜ oes, conjuntamente, implicam B(x; r ′ ) ⊂ X − { p }. Portanto, x ´e ponto interior de X − { p }; por conseguinte X − { p } ´e aberto.
Por indu¸c˜ ao: Se X ´e aberto, ent˜ ao X − {a1 , a2 , . . . , an } ´e aberto. Ou ainda: Se retirarmos uma quantidade finita de pontos de um conjunto aberto, ele n˜ ao perde esta propriedade. Observe que se acrescentarmos um u ´nico ponto a um conjunto aberto, esta propriedade se perde. Por exemplo X =] 0, 1 [ ∪ { 1 } n˜ ao ´e aberto no espa¸co (R, µ). Proposi¸ c˜ ao 47. Seja (M, d ) um espa¸co m´etrico. (i) M e ∅ s˜ ao abertos;
(ii) Se X1 , X2 , . . . , Xn s˜ ao abertos, ent˜ ao X1 ∩ X2 ∩ · · · ∩ Xn ´e aberto; (iii) Se {Xλ }λ∈L ´e uma fam´ılia arbitr´ aria de abertos, ent˜ ao [ Xλ ´e aberto. X= λ∈L
Prova: (i) J´ a vimos que o conjunto universo M ´e aberto. Para mostrar que um conjunto n˜ ao ´e aberto devemos exibir um ponto deste conjunto que n˜ ao ´e ponto interior. Como isto n˜ ao pode ser feito no caso do conjunto vazio, segue que o mesmo ´e aberto. (ii) Seja X = X1 ∩X2 ∩· · ·∩Xn . Se algum dos Xi for vazio, ou se dois quaisquer deles forem disjuntos, ent˜ ao X ser´ a vazio e, portanto, pelo ´ıtem anterior, aberto. Caso contr´ ario X 6= ∅. Seja p ∈ X, mostremos que p ´e ponto interior de X. Temos p ∈ X1 , . . . , p ∈ Xn . Como X1 , X2 , . . . , Xn s˜ ao abertos existem n´ umeros positivos r1 , r2 , . . . , rn tais que B( p; r1 ) ⊂ X1 , B( p; r2 ) ⊂ X2 , . . . , B( p; rn ) ⊂ Xn . Tomando r = min {r1 , r2 , . . . , rn } temos pela propriedade (P1 ) (pg. 178) B( p; r) ⊂ B( p; r1 ), B( p; r) ⊂ B( p; r2 ), . . . , B( p; r) ⊂ B( p; rn ) portanto, pela transitividade da inclus˜ ao, temos B( p; r) ⊂ X1 , B( p; r) ⊂ X2 , . . . , B( p; r) ⊂ Xn isto ´e B( p; r) ⊂ X1 ∩ X2 ∩ · · · ∩ Xn = X.
portanto p ´e ponto interior de X. Isto ´e, X ´e aberto.
otese, (iii) Seja p ∈ X = ∪λ∈L Xλ . Ent˜ ao p ∈ Xλ′ para algum λ′ ∈ L. Como, por hip´ ′ este Xλ ´e aberto, existe r > 0 de modo que B( p; r) ⊂ Xλ′ . Logo [ Xλ = X, B( p; r) ⊂ λ∈L
portanto p ´e ponto interior de X. Isto ´e, X ´e aberto.
Observa¸ c˜ ao: A interse¸c˜ ao de uma fam´ılia infinita de conjuntos abertos pode n˜ ao ser um conjunto aberto. Contra-exemplo: Seja a fam´ılia {Xn }n∈N , onde Xn =] − n1 , n1 [. No espa¸co (R, µ), os Xn (n = 1, 2, . . .) s˜ ao bolas abertas e, portanto, conjuntos abertos. Mas \ Xn = { 0 }, n∈N
n˜ ao ´e aberto neste espa¸co.
259
Corol´ ario . Um subconjunto X ⊂ M ´e aberto se, e somente se, ´e uma reuni˜ ao de bolas abertas. Prova: (=⇒) De fato, como X ´e aberto, ent˜ ao para cada x ∈ X, existe uma bola Bx tal que x ∈[Bx ⊂ X. Tomando, na proposi¸c˜ ao 13 (pg. 52), X = A e Bx = Gx Bx . Isto mostra que todo aberto ´e uma reuni˜ ao de bolas abertas. obtemos X = x∈X
(⇐=) Se X = ∪Bλ ´e uma reuni˜ ao de bolas abertas , ent˜ ao X ´e aberto, pelo ´ıtem (iii) do teorema. Uma aplica¸c˜ ao trivial deste corol´ ario ´e: No espa¸co (M, δ) todo X ⊂ M ´e aberto. De fato, se X = ∅ ´e imediato. Se X 6= ∅, ent˜ ao [ [ Bδ(x; 1) {x} = X= x∈X
x∈X
o que prova que X ´e aberto.
Abertos em subespa¸ cos Proposi¸ c˜ ao 48. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e (N, d) um subespa¸co de (M, d). Um subconjunto X ⊂ N ´e aberto (no subespa¸co) se, e somente se, existir um conjunto A, aberto em (M, d), tal que X = A ∩ N. Prova: (=⇒) Se X ⊂ N ´e aberto em (N, d) ent˜ ao existe um conjunto A, aberto em (M, d), tal que X = A ∩ N. Com efeito, como X ´e aberto em (N, d) ent˜ ao, pelo corol´ ario anterior, X pode ser escrito como uma reuni˜ ao de bolas abertas (em (N, d)), isto ´e de sub-bolas [ B(x; rx ) X= x∈X
J´ a vimos que B(x; rx ) = B(x; rx ) ∩ N , onde B(x; rx ) ´e a bola aberta em (M, d). Portanto podemos escrever∗ ” [ ` ´ “ [ B(x; rx ) ∩ N. B(x; rx ) ∩ N = X= x∈X
x∈X
como a reuni˜ [ ao de uma fam´ılia qualquer de abertos ´e um conjunto aberto, podemos escrever B(x; rx ) = A. Portanto, X = A ∩ N . x∈X
(⇐=) Seja X ⊂ N . Suponha que exista A ⊂ M , aberto em (M, d), de modo que X = A ∩ N . Ent˜ ao X ´e aberto no subespa¸co (N, d). Com efeito, seja x ∈ X um ponto arbitr´ ario de X. Devemos mostrar que x ∈ ◦
X (N, d) . Como, por hip´ otese, X = A ∩ N ent˜ ao x ∈ A ∩ N , logo x ∈ A e como A ´e aberto em (M, d) existe rx > 0 de modo que B(x; rx ) ⊂ A. Logo B(x; rx ) ∩ N ⊂ A ∩ N ; mas B(x; rx ) ∩ N = B(x; rx ) ⇒ B(x; rx ) ⊂ X. Conclus˜ ao: Dado x ∈ X arbitr´ ario, existe rx > 0 de modo que B(x; rx ) ⊂ X, isto ´e, ◦
x ∈ X (N, d) . Disto conclu´ımos que X, for¸cosamente, ´e aberto no subespa¸co (N, d).
∗ Ver
proposi¸ca ˜o 11 pg. 52
260
Proposi¸ c˜ ao 49. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se N ´e aberto em (M, d) e ◦
◦
U ⊂ N ent˜ ao U (N, d) = U (M, d) . (M, d) N
U
◦ ` ´ Prova: ⊂ De fato, dado p ∈ U (N, d) ent˜ ao existe um conjunto V , aberto em (N, d), tal que p ∈ V ⊂ U . Ent˜ ao, pela proposi¸c˜ ao anterior, V = V1 ∩ N para algum aberto V1 em (M, d). Como N ´e aberto em (M, d) temos que V tamb´em ´e aberto em ◦
(M, d), portanto p ∈ U (M, d) . ◦ ` ´ ⊃ Reciprocamente, dado q ∈ U (M, d) , existe W aberto em (M, d) com q ∈ W ⊂ U . ◦
Ent˜ ao W ∩ N ´e aberto em (N, d) e q ∈ W ∩ N ⊂ U , o que nos d´ a q ∈ U (N, d) .
Proposi¸ c˜ ao 50 (Abertos em produtos cartesianos). Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. Consideremos X1 ⊂ M1 e X2 ⊂ M2 subconjuntos abertos. Ent˜ ao X1 × X2 ´e aberto no espa¸co (M, Di ), onde i = 1, 2, 3 e M = M1 × M2 . Prova: Faremos a prova aqui apenas para a m´etrica ˘ ¯ D3 (x, y) = max d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 )
para as outras duas sai como conseq¨ uˆencia da proposi¸c˜ ao 92 (pg. 379). Seja x = (x1 , x2 ) ∈ X1 × X2 , mostremos que x ´e ponto interior deste produto. De fato, x1 ∈ X1 e x2 ∈ X2 , portanto existem r1 , r2 > 0 de maneira que Bd ( x1 ; r1 ) ⊂ X1 e Bd ( x2 ; r2 ) ⊂ X2 . Escolhemos r = min{r1 , r2 }, logo 1 2 Bd ( x1 ; r) ⊂ X1 e Bd ( x2 ; r) ⊂ X2 e da´ı 1
2
Bd ( x1 ; r) × Bd ( x2 ; r) ⊂ X1 × X2 1
2
j´ a vimos (pg. 176) que ` ´ BD (x1 , x2 ); r = Bd ( x1 ; r) × Bd ( x2 ; r) 3
portanto,
1
2
` ´ BD (x1 , x2 ); r ⊂ X1 × X2 3
o que mostra que X1 × X2 ´e aberto no espa¸co (M, D3 ).
A seguir estaremos enriquecendo nosso sistema de processamento de informa¸ c~ oes com com mais uma instru¸c˜ ao.
6.3
Ponto fronteira
Defini¸ c˜ ao 37 (Ponto fronteira). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Um ponto p ∈ M ´e dito ponto fronteira de X, se para todo r > 0, tivermos na bola B( p; r) algum ponto de X e tamb´em algum ponto do complementar de X.
261
Isto ´e: p ∈ M ´e ponto fronteira de X se para todo r > 0 B( p; r) ∩ X 6= ∅ e B( p; r) ∩ X c 6= ∅. Ao conjunto de todos os pontos de fronteira de X, chamamos fronteira de X e o indicamos por ∂X ou por ∂Xd , quando quisermos enfatizar a m´etrica em quest˜ ao. Exemplos: (1) Seja M = R e X =] a, b ]. No espa¸co (R, µ) b ´e ponto fronteira de X, mas n˜ ao ponto interior. No espa¸co (R, δ) sucede exatamente o contr´ ario. A tabela seguinte resume nossas asser¸c˜ oes ◦
(R, µ)
b ∈ ∂Xµ
b 6∈ X µ
(R, δ)
b 6∈ ∂Xδ
b ∈ Xδ
◦
Deixamos ao leitor as justificativas. ˘ ¯ (2) A fronteira do quadrado aberto X = (x, y) ∈ R2 : 0 < x, y < 1 =] 0, 1 [×] 0, 1 [ em R2 , com qualquer uma das m´etricas Di (i = 1, 2, 3.) ´e o quadrado , como o leitor pode mostrar. R
R
6
R
6
տ
տ
∂X
∂X
-R
-R
6
տ
∂X
-R
Observe que em R2 com a m´etrica δ, temos ∂Xδ = ∅.
(3) Seja M = R e X = Q. Deixamos como exerc´ıcio ao leitor a confirma¸c˜ ao da tabela: ◦
Q ∂Q (R, µ)
∅
R
(R, δ)
Q
∅
Aqui temos um exemplo de um conjunto que est´ a contido, propriamente, em sua fronteira: ∂ Q = R. ¯ ˘ (4) Seja M = R e X = 1, 21 , 31 , . . . . Deixamos ao leitor constatar que ∂Xµ = X ∪ { 0 } ; ∂Xδ = ∅.
Aqui temos um outro exemplo de um conjunto que est´ a contido, propriamente, em sua fronteira. Vejamos um outro exemplo neste sentido. ` ´ (5) Consideremos o espa¸co m´etrico [ 0, 1 ], µ e seja X = Q ∩ [ 0, 1 ]. Sendo assim, temos: ∂X = [ 0, 1 ].
262
(6) Seja (M, d) um espa¸co discreto e X ⊂ M . Ent˜ ao ∂X = ∅.
De fato, dado x ∈ M existe rx > 0 tal que B(x; rx ) = { x }. Temos que x ∈ X ou x ∈ X c , implicando B(x; rx ) ∩ X = ∅ ou B(x; rx ) ∩ X c = ∅.
Isto ´e, nenhum ponto x ∈ M pode estar na fronteira de um subconjunto de um espa¸co discreto. • Uma patologia A seguir colocaremos em um mesmo hardware duas instru¸c˜ oes distintas (ou ainda, softwares distintos) e veremos como o sistema responde. ˆ ˆ ao, 0 n˜ (7) Seja M = [ 0, 1 [ e X = 12 , 1 ; ent˜ ao est´ a na fronteira de X se tomarmos a na fronteira de X se tomarmos em M a m´etrica usual e, ao contr´ ario, 0 estar´ em M a m´etrica divina. De fato, inicialmente observemos estes conjuntos graficamente: 1 2
0
s
s
1
M=[ 0, 1 [
X=[
X c =[ 0,
1 2
1 2,1[
[
Figura 6.1: 0 ´e e n˜ ao ´e ponto fronteira de X. Para provar que 0 6∈ ∂Xµ observe que a bola Bµ (0; 41 ) n˜ ao intercepta X. J´ a a bola Bk (0; 41 ) intercepta o conjunto X e seu complementar, veja graficamente estas duas situa¸c˜ oes: Bµ (0;
1 4)
0
1 4
Xc
X=[
1 2
Bk (0;
1 4)
0
1 4
3 4
1 2,1[
1
Figura 6.2: 0 ´e e n˜ ao ´e ponto fronteira de X. Observe (na defini¸c˜ ao de ponto fronteira) que para provar que um ponto p ∈ M est´ a na fronteira de X n˜ ao ´e suficiente exibir uma bola (centrada em p) que intercepta X e seu complemento, isto deve se verificar para toda bola centrada em p. No caso em quest˜ ao, digo, para se convencer de que 0 ∈ ∂Xk veja o diagrama de bolas abertas, Bk (0; r), ` a pg. 163. − Ponto Exterior: Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Considere X ⊂ M . Um ponto p 6∈ X ´e chamado ponto exterior de X se existir r > 0, tal que B( p; r) ⊂ X c . Ou seja, um ponto ´e exterior a um conjunto quando ´e interior do complementar deste conjunto. Sendo assim, faz todo sentido a figura seguinte:
s
0
− Pasmem!:
1 2
s
1
0 n~ ao ´ e um ponto exterior a X!!!
Podemos depurar nosso programa e n˜ ao encontraremos erro algum!
263
(8) O exemplo anterior pode ser estendido para “duas ˆ ˆ ˆdimens˜ ˆ oes”, assim: Seja M = [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ o quadrado unit´ ario e X = 21 , 1 × 12 , 1 ⊂ M ; ent˜ ao, 0 = (0, 0) n˜ ao est´ a na fronteira de X se tomarmos em M qualquer uma das trˆes m´etricas a na fronteira de X se tomarmos em M a m´etrica “usuais” e, ao contr´ ario, 0 estar´ divina. De fato, inicialmente observemos estes conjuntos graficamente: 1
1
0
1
1
0
1
0
1
Figura 6.3: 0 = (0, 0) ´e e n˜ ao ´e ponto fronteira de X. Na figura do centro temos o conjunto X e na figura da direita temos o conjunto X c . Para provar que 0 6∈ ∂X observe que a bola B(0; “usuais”) n˜ ao intercepta X. 1
1 ) 4
(em qualquer das m´etricas
1
0
1
1
0
1
0
1
` ´ J´ a a bola BD 0; 41 intercepta o conjunto X e seu complementar, veja isto grafica3 mente (ver pg. 177): 1
1
1
3 4
1 4
0
1 4
3 4
1
0
1
0
Figura 6.4: 0 = (0, 0) ´e ponto fronteira de X. Nota: Vale aqui a mesma observa¸c˜ ao do final do exemplo anterior.
264
1
` Tamb´em a bola BD 0; 1 graficamente:
1 4
´
intercepta o conjunto X e seu complementar, veja isto
1
1
1
3 4
1 4
0
1 4
3 4
0
1
1
0
1
• Uma patologia 1
s
0
− Pasmem!:
1
0 n~ ao ´ e um ponto exterior a X!!!
Podemos depurar nosso programa e n˜ ao encontraremos erro algum! Proposi¸ c˜ ao 51. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Ent˜ ao ∂X ∩ X = ∅ ⇐⇒ X ´e aberto. Prova: (=⇒) Seja x ∈ X, tendo em conta a hip´ otese, temos que x 6∈ ∂X. Isto significa que existe r > 0 tal que B(x; r) ∩ X c = ∅, portanto B(x; r) ⊂ X; o que mostra que x ´e ponto interior de X, por conseguinte X ´e aberto. (⇐=) Dado x ∈ X existe r > 0 tal que B(x; r) ⊂ X, logo B(x; r) ∩ X c = ∅, isto ´e, x 6∈ ∂X; portanto ∂X ∩ X = ∅. Proposi¸ c˜ ao 52. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Ent˜ ao, X − ∂X ´e um conjunto aberto. Prova: Com efeito, seja x ∈ X − ∂X, logo x ∈ X e x 6∈ ∂X, ent˜ ao existe r > 0 tal que B(x; r) ∩ X c = ∅; portanto B(x; r) ⊂ X. Vamos mostrar que B(x; r) ⊂ X − ∂X. Para tanto ´e suficiente mostrar que para todo y ∈ B(x; r) ⇒ y 6∈ ∂X. Ent˜ ao, seja y ∈ B(x; r), como B(x; r) ´e um conjunto aberto existe r ′ > 0 tal que B(y; r ′ ) ⊂ B(x; r) ⇒ B(y; r ′ ) ∩ X c = ∅ ⇒ y 6∈ ∂X. Portanto x ´e ponto interior de X − ∂X, o que mostra que este conjunto ´e aberto. Observe,˘geometricamente, esta proposi¸ ao no caso do quadrado: ¯ c˜ X = (x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x, y ≤ 1 = [ 0, 1 ] × [ 0, 1 ]:
265
R
6
R
X
6
R
∂X
−
6
=
-R
-R
-R
Proposi¸ c˜ ao 53. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico, X ⊂ M e p ∈ M . Se p ∈ ∂X ⇒ d(p, X) = 0. ˘ ¯ Prova: Seja p ∈ ∂X, para provar que d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X = 0, dado ε > 0 arbitr´ ario devemos exibir x ∈ X de modo que d(p, x) < ε (ver Lema 2, pg. 62).
De fato, pela defini¸c˜ ao de ponto fronteira, ∀ ε > 0 acontce B( p; ε) ∩ X 6= ∅, o que significa que ∀ ε > 0 existe x ∈ X tal que d(p, x) < ε. Observe que a rec´ıproca da proposi¸c˜ ao anterior n˜ ao vale.
Observa¸c˜ ao: A partir das defini¸c˜ oes de ponto interior e ponto de fronteira observamos que: ◦ ◦ se x ∈ ∂X = ∂X c ⇒ x 6∈ X e x 6∈ X c ⇒
◦
∂X ∩ X = ∅
e
◦
∂X ∩ X c = ∅.
Sendo (M, d) um espa¸co m´etrico, temos ˘ ¯ B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r ` ´c ˘ ¯ B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) ≥ r
Nota: A partir deste momento usaremos, onde acharmos conveniente, a nota¸c˜ ao int X ◦
para o interior do conjunto X; isto ´e, estaremos trocando a nota¸c˜ ao X pela nota¸c˜ ao int X.
266
Proposi¸ c˜ ao 54. Num espa¸co m´etrico (M, d) se ∂B( p; r) 6= ∅ ent˜ ao ˘ ¯ ∂B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) = r ◦
Prova: De fato, se na indentidade ∂X ∩ X = ∅ tomarmos X = B( p; r) concluiremos que nenhum ponto x ∈ M que satisfa¸ca d(x, p) < r pode estar na fronteira da bola. Portanto os pontos da fronteira (se existirem) satisfazem d(x, p) ≥ r. Vamos inicialmente ` ´cmostrar que todo ponto que satisfaz d(x, p) > r pertence ao conjunto int B( p; r) . Seja q satisfazendo d(p, q) > r, devemos mostrar que existe s > 0 satisfazendo ` ´c B( q; s) ⊂ B( p; r) (6.1)
Tomemos s = d(p, q) − r > 0 e mostremos que a inclus˜ ao (6.1) estar´ a satisfeita. Ent˜ ao, dado x ∈ B( q; s) ⇒ d(x, q) < s = d(p, q) − r
⇒ d(x, q) + r < d(p, q). ` ´c Devemos mostrar que x ∈ B( p; r) , isto ´e, que d(x, p) > r. (M, d)
s
s
q
B(p; r)
p
s
sx `
r
B(p; r)
´c
Pela desigualdade do triˆ angulo, temos d(p, q) ≤ d(q, x) + d(x, p) logo d(x, q) + r < d(p, q) ≤ d(q, x) + d(x, p) ⇒ r < d(x, p). ◦
Por outro lado, se na identidade ∂X ∩ X c= ∅ tomarmos X = B( p; r) concluiremos que nenhum ponto x ∈ M que satisfa¸ca d(x, p) > r pode estar na fronteira da bola. Portanto, se a fronteira de uma bola aberta n˜ ao for vazia, teremos necessariamente ˘ ¯ ∂B( p; r) = x ∈ M : d(x, p) = r
Por exemplo, vamos determinar a fronteira de uma bola aberta no espa¸co (Q, µ), ˘ ¯ ∂B( p; r) = x ∈ Q : |x − p| = r ˘ ¯ = x ∈ Q: x = p ± r
Portanto,
∂B( p; r) =
(
{ p − r, p + r }, ∅,
267
se r ∈ Q; se r 6∈ Q.
` ´ Corol´ ario 5. Em um espa¸co vetorial E, +, · normado, com E 6= { 0 } a fronteira de uma bola aberta ´e sempre n˜ ao vazia. Prova: Dada uma bola aberta B( p; r) e, tendo em conta a proposi¸c˜ ao anterior, ´e suficiente mostrar que existe um q ∈ E satisfazendo d(p, q) = kp − qk = r. De fato, isto ´e verdade precisamente por estarmos em um espa¸co vetorial. Por exemplo o vetor q =p+
v r kvk
onde v ∈ E ´e qualquer vetor n˜ ao nulo, satisfaz esta exigˆencia.
6.4
Conjuntos fechados
A partir dos conjuntos abertos definimos conjunto fechado Defini¸ c˜ ao 38 (Conjunto fechado). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Um subconjunto F ⊂ M se diz fechado no espa¸co (M, d) se, e somente se, seu complementar F c = M − F ´e aberto em (M, d). Esta defini¸c˜ ao nos diz que os conjuntos fechados de um espa¸co m´etrico s˜ ao os complementos dos conjuntos abertos deste espa¸co. Ao contr´ ario da linguagem ordin´ aria onde fechado e aberto s˜ ao antˆ onimos, e excludentes, na topologia temos conjuntos que n˜ ao s˜ ao nem fechados e nem abertos; e o que ´e pior: existem conjuntos que s˜ ao ao mesmo tempo abertos e fechados. Exemplos (1) F = [ a, b ] ´e fechado no espa¸co (R, µ) uma vez que F c = [ a, b ]c =] − ∞, a [ ∪ ] b, +∞[ ´e a uni˜ ao de dois abertos, portanto aberto. (2) O conjunto A =] a, b ] ⊂ R n˜ ao ´e aberto e nem fehado no espa¸co (R, µ), uma vez que Ac =] a, b ]c =] − ∞, a ] ∪ ] b, +∞[ n˜ ao ´e aberto, pois a ∈ Ac n˜ ao ´e ponto interior de Ac .
(3) Seja M = R e X = Q. Aqui temos um outro exemplo de conjunto que n˜ ao ´e aberto, nem fechado (em (R, µ)). Isto decorre do fato de que em todo intervalo aberto temos n´ umeros racionais e irracionais. Observe que Q ´e ao mesmo tempo aberto e fechado no espa¸co (R, δ). Este ´e um caso especial do pr´ oximo exemplo. (4) Em um espa¸co (M, d) discreto, todo subconjunto F ⊂ M ´e aberto e fechado ao mesmo tempo. De fato, vimos no exemplo 5) (pg. 256) que todo subconjunto de M ´e aberto. Por outro lado, dado F ⊂ M , temos que F c = M − F , continua sendo um subconjunto de M e, portanto, aberto; por conseguinte F ´e fechado. (5) Vamos mostrar que o conjunto X = {1, 12 , 31 , . . .} n˜ ao ´e fechado em (R, µ). Para isto mostremos que o seu complemento n˜ ao ´e aberto. Vamos mostrar que 0 ∈ X c n˜ ao ´e ponto interior de X c . Temos Bµ(0; r) =] − r, r [. Dado r > 0 escolhemos nr ∈ N de tal modo que n1 < r. Logo n1 ∈ Bµ(0; r) e n1 6∈ X c . Isto ´e, nenhuma r r r bola centrada em 0 pode estar contida em X c . (6) Em um espa¸co m´etrico (M, d) qualquer; todo conjunto finito {a1 , a2 , . . . , an } ´e fechado. Em particular o conjunto unit´ ario { a } ⊂ M ´e fechado. De fato, F c = M − { a1 , a2 , . . . , an } ´e aberto, pela proposi¸c˜ ao 46 (pg. 258).
268
(7) O conjunto X = {x ∈ R : 0 ≤ x ≤ 1} = [ 0, 1 ] ´e fechado no espa¸co (R, µ). Enquanto o conjunto Y = {(x, 0) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1} = [ 0, 1 ] × { 0 } ´e fechado no espa¸co (R2 , D1 ). Esse ´e um caso especial do pr´ oximo resultado Proposi¸ c˜ ao 55 (Fechados em produtos cartesianos). Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. Consideremos F1 ⊂ M1 e F2 ⊂ M2 subconjuntos fechados. Ent˜ ao F1 × F2 ´e fechado no espa¸co (M, Di ), onde i = 1, 2, 3 e M = M1 × M2 . Prova: Vamos mostrar que (F1 × F2 )c ´e aberto. Para tanto ´e suficiente mostrar a seguinte identidade∗ (F1 × F2 )c = (F1c × M2 ) ∪ (M1 × F2c ) (⊂) Seja x = (x1 , x2 ) ∈ (F1 × F2 )c , logo (x1 , x2 ) 6∈ F1 × F2 ⇒ x1 6∈ F1 ou x2 6∈ F2 ⇒ x1 ∈ F1c ou x2 ∈ F2c ⇒ (x1 , x2 ) ∈ F1c × M2 ou (x1 , x2 ) ∈ M1 × F2c , logo (x1 , x2 ) ∈ (F1c × M2 ) ∪ (M1 × F2c ) (⊃) Seja x = (x1 , x2 ) ∈ (F1c × M2 )∪(M1 × F2c ), logo (x1 , x2 ) ∈ F1c ×M2 ou (x1 , x2 ) ∈ M1 × F2c , logo x1 ∈ F1c e x2 ∈ M2 ou x1 ∈ M1 e x2 ∈ F2c , logo x1 6∈ F1 ou x2 6∈ F2 , logo (x1 , x2 ) 6∈ F1 × F2 , isto ´e (x1 , x2 ) ∈ (F1 × F2 )c . Pois bem, F1 e F2 sendo fechados, por hip´ otese, temos que F1c e F2c s˜ ao abertos. c Pela proposi¸c˜ ao 50 (pg. 261) temos que F1 × M2 e M1 × F2c s˜ ao abertos, logo a uni˜ ao destes ´e aberto. Isto conclui a prova. Ainda como conseq¨ uˆencia do resultado anterior temos que Q = [ a, b ] × [ a, b ] ´e fechado nos espa¸cos (M, Di ), onde i = 1, 2, 3. Teorema 4. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. (i) M e ∅ s˜ ao fechados; (ii) Se F1 , F2 , . . . , Fn s˜ ao fechados, ent˜ ao F1 ∪ F2 ∪ · · · ∪ Fn ´e fechado; (iii) Se {Fλ }λ∈L ´e uma fam´ılia arbitr´ aria de fechados ent˜ ao F =
\
Fλ ´e fechado.
λ∈L
Prova: (i) J´ a vimos que M e ∅ s˜ ao abertos, portanto M c = ∅ e ∅c = M s˜ ao fechados.
(ii) Como cada Fi ´e fechado, ent˜ ao cada Fic ´e aberto e, pela propo. 47 (pg. 259), F1c ∩ F2c ∩ · · · ∩ Fnc ´e aberto; por conseguinte (F1c ∩ F2c ∩ · · · ∩ Fnc )c = F1 ∪ F2 ∪ · · · ∪ Fn . ´e fechado. ∗ Ver
proposi¸ca ˜o proposi¸ca ˜o 50 (pg. 261).
269
(iii) Como cada Fλ ´e fechado, ent˜ ao Fλc ´e aberto e, pelo teorema 47, aberto, por conseguinte 0 1c [ c \ @ Fλ A = Fλ λ∈L
S
λ∈L
Fλc ´e
λ∈L
´e fechado.
Do ´ıtem (ii) acima, juntamente com o exemplo (6) (pg. 268), conclu´ımos que se acrescentarmos uma quantidade finita de pontos a um conjunto fechado, esta propriedade n˜ ao ´e perdida. Obs: A uni˜ ao de uma fam´ılia infinita de conjuntos fechados pode ou n˜ ao ser um conjunto fechado. Contra-exemplo: Seja a fam´ılia {Xn }n∈N , onde Xn = { n1 }. Em qualquer espa¸co m´etrico os Xn (n = 1, 2, . . .) s˜ ao conjuntos fechados, por serem unit´ arios. Mas [ 1 1 Xn = {1, , , . . .}, 2 3 n∈N
n˜ ao ´e fechado no espa¸co (R, µ) embora o seja no espa¸co (R, δ). Ver: Exemplos (5) pg. 268 e (4) pg. 268.
6.5
Ponto aderente
Defini¸ c˜ ao 39 (Ponto aderente). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Um ponto p ∈ M se diz ponto aderente ao conjunto X se, para todo r > 0, se verifica B( p; r) ∩ X 6= ∅ Isto ´e, se toda bola centrada em p intersecta X. O conjunto dos pontos aderentes a X chama-se fecho (ou aderˆencia) de X e ´e ¯ ou por X ¯ quando quisermos enfatizar a m´etrica. indicado por X d Na defini¸c˜ ao anterior o ponto p ∈ M pode ou n˜ ao pertencer a X. Caso p ∈ X ¯ portanto X ⊂ X. ¯ Ou ent˜ ao trivialmente se verifica B( p; r) ∩ X 6= ∅, isto ´e, p ∈ X, ainda: todo ponto de um conjunto ´e aderente a este conjunto. • Comparando as defini¸c˜ oes de ponto aderente e de fronteira, concluimos que todo ponto fronteira ´e tamb´em ponto aderente, a reciproca n˜ ao vale. ¯ devemos exibir r > 0 tal que B( p; r) ∩ X = ∅. Obs: Para mostrar que p 6∈ X Exemplos: (1) Seja M = R e X =] a, b ], ent˜ ao a ∈ R ´e ponto aderente a X no espa¸co (R, µ), mas n˜ ao no espa¸co (R, δ). Isto ´e ¯µ ; a 6∈ X ¯ . a∈X δ ¯ µ basta ver que a ∈ ∂Xµ . De fato, para provar que a ∈ X
Por outro lado, por exemplo Bδ(a; 1) = { a }, logo Bδ(a; 1) ∩ X = ∅, o que ¯ . mostra que a 6∈ X δ
(2) Seja M = R e X =] a, b ]. Vamos mostrar que
¯ µ = [ a, b ] , X ¯ =] a, b ]. X δ ¯ e, tendo em conta o exemplo anterior, resta mostrar que se x < a Como X ⊂ X ¯ µ e x 6∈ X ¯δ . ou x > b ent˜ ao x 6∈ X
270
De fato, tomando r = 1 temos Bδ(x; 1)∩X = { x } ∩ ] a, b ] = ∅, o que mostra ¯ . que x 6∈ X δ ´ f´ Por outro lado, para x < a, tomamos, por exemplo, rx = a−x . E acil 2 mostrar que esta bola n˜ ao intersecta X.
r
Bµ(x; rx )
-
X
x
x−r
x+r
a
b
¯µ. De modo an´ alogo se mostra o caso x > b. Portanto x 6∈ X
(3) Seja M = R e X = Q. No espa¸co (R, µ) todo n´ umero real ´e aderente ao conjunto Q. Isto j´ a n˜ ao acontece no espa¸co (R, δ). Isto ´e ¯µ = R Q
e
¯ 6= R. Q δ
De fato, dado x ∈ R, temos Bµ(x; r) =] x − r, x + r [ como temos n´ umeros racionais presentes em qualquer intervalo aberto, segue que Bµ(x; r) ∩ Q 6= ∅, ¯ µ. logo x ∈ Q Agora, por exemplo, Bδ(x; 1) = { x }. Se x for irracional, obviamente Bδ(x; 1)∩ ¯ . Portanto Q = ∅, o que mostra que x 6∈ Q δ ¯µ = R , Q ¯ = Q. Q δ ˘ ¯ ¯ µ , mas 0 6∈ X ¯ . (4) Seja M = R e X = 1, 21 , 31 , . . . . Ent˜ ao 0 ∈ X δ De fato Bδ(0; 1) = { 0 } ⇒ Bδ(0; 1) ∩ X = ∅. ¯ . o que mostra que 0 6∈ X δ
Por outro lado, Bµ(0; r) =] − r, r [, dado r > 0 escolha n ∈ N tal que ent˜ ao ˛ ˛ ˛1 ˛ 1 1 1 ˛ µ(0, ) = ˛ − 0˛˛ = < r ⇒ ∈ Bµ(0; r) n n n n ¯µ . isto ´e, Bµ(0; r) ∩ X 6= ∅, isto mostra que 0 ∈ X ˘ 1 1 ¯ (5) Seja M = R e X = 1, 2 , 3 , . . . . Vamos mostrar que
1 n
< r,
¯µ = X ∪ { 0 } , X ¯ =X X δ
¯ e mais o exemplo (4), vamos mostrar que dado Tendo em conta que X ⊂ X ¯µ . x ∈ R, x 6= 0 e x 6∈ X n˜ ao temos x ∈ X De fato, temos trˆes casos a considerar i) x < 0
iii) 0 < x < 1 (x 6∈ X)
ii) x > 1
Se x < 0 ou x > 1, escolhemos respectivamente rx = −x e rx = x − 1, neste caso temos (exerc´ıcio) Bµ (x; rx ) ∩ X = ∅; isto mostra que nenhum ponto nestes intervalos ´e aderente a X, no espa¸co (R, µ).
rx =−x r ⊣
x
rx =x−1 ⊣ 1
0
r
x
-
oes escolAgora suponhamos 0 < x < 1 (x 6= n1 , ∀ n ∈ N). Nestas condi¸c˜ hemos o menor n0 natural tal que n1 < x. Logo n0 − 1 n˜ ao satisfaz esta 0 desigualdade , digo 1 1
271
⊣ 0
r
q1
n0
Escolhamos
-
⊣ 1
q1
x
n0 −1
ff 1 1 rx = min x − , −x n0 n0 − 1
vamos mostrar que com esta escolha temos Bµ (x; rx ) ∩ X = ∅. Suponha ao contr´ ario, isto ´e, que exista n′ ∈ N tal que n1′ ∈ B(x; rx ) ∩ X. Logo ˛ ˛ ˛ 1˛ 1 µ(x, ′ ) < rx ⇒ ˛˛x − ′ ˛˛ < rx n n Consideremos duas possibilidades 1a ) rx = x −
Logo
1 n0
∴ x−
1 n0
≤
˛ ˛ ˛ ˛ ˛x − 1 ˛ < x − 1 ˛ ′ n ˛ n0
1 n0 −1
− x ∴ 2x −
⇐⇒ −x +
1 n0
≤
1 . n0 −1
Ent˜ ao
1 1 1 < ′ −x < x− n0 n n0
1 1 1 1 1 1 1 < ′ < 2x − ≤ ⇒ < ′ < n0 n n0 n0 − 1 n0 n n0 − 1 Sendo assim, temos 8 8 1 1 ′ > > > < n0 < n′ > > : ′ : 1′ < 1 n0 − 1 < n n n −1 0
Contradi¸c˜ ao pois entre n0 − 1 e n0 n˜ ao pode haver outro natural.
2a ) rx =
1 n0 −1
−x ∴
1 n0 −1
−x ≤x−
1 n0
∴
1 n0
≤ 2x −
1 . n0 −1
Com racioc´ınio an´ alogo ao anterior chegamos a uma inverdade. ¯ = X, isto sai como um caso especial do pr´ Quanto a X oximo exemplo δ (6) Se um espa¸co (M, d) ´e discreto ent˜ ao os pontos de aderˆencia de um subconjunto ¯ X ⊂ M s˜ ao os seus pr´ oprios pontos. Isto ´e, se a 6∈ X ent˜ ao a 6∈ X. De fato, se (M, d) ´e discreto, existe r > 0 tal que B(a; r) = { a }; e se a 6∈ X temos B(a; r) = { a } ∩ X = ∅. Isto mostra que a n˜ ao ´e aderente a X.
(7) Lembramos que todo ponto fronteira ´e tamb´em ponto aderente. Sendo assim, exibimos duas patologias, por conta da m´etrica divina:
s
X 1 2
0
− Pasmem!: Em 2 − D, temos:
0 ´ e um ponto aderente a X!!! 1
s
0
− Pasmem!:
1
1
0 ´ e um ponto aderente a X!!!
272
Proposi¸ c˜ ao 56. Em todo espa¸co m´etrico s˜ ao v´ alidas as duas seguintes identidades. ◦
◦
¯ c = Xc (ii) X
(i) X c = cX
Nota: Estamos convencionando as seguintes nota¸c˜ oes: c
◦
X = complementar do interior de X
◦
X c = interior do complementar de X Ent˜ ao: (i) O fecho do complementar de X ´e igual ao complemento do interior de X. (ii) O complemento do fecho de X ´e igual ao interior do complementar de X. Prova: (i) seja x ∈ X c ⇐⇒ ∀r > 0, B(x; r) ∩ X c 6= ∅ ⇐⇒ ∀r > 0, B(x; r) 6⊂ X ◦
◦
⇐⇒ x 6∈ X ⇐⇒ x ∈ c X . ¯ c ⇐⇒ x 6∈ X ¯ ⇐⇒ ∃ r > 0 : B(x; r) ∩ X = ∅ (ii) seja x ∈ (X) ◦
⇐⇒ ∃ r > 0 : B(x; r) ⊂ X c ⇐⇒ x ∈ X c. Proposi¸ c˜ ao 57. O fecho de qualquer conjunto, ´e sempre um conjunto fechado. ◦
¯ c = X c. Prova: Isto ´e imediato, a partir da identidade X
Proposi¸ c˜ ao 58. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. F ⊂ M ´e fechado se, e somente se, F¯ = F . Isto ´e: um conjunto ´e fechado se, e somente se, cont´em todos os seus pontos aderentes. Prova: (=⇒)∗ Se F ´e fechado ent˜ ao F¯ = F . Com efeito, A inclus˜ ao F ⊂ F¯ ´e sempre v´ alida;, resta mostrar que F¯ ⊂ F . Suponha que n˜ ao. Ent˜ ao existe p ∈ F¯ tal que p 6∈ F ; logo p ∈ F c . Como, por hip´ otese, F ´e fechado, segue que F c ´e aberto. Portanto existe r > 0 tal que B(p; r) ⊂ F c , o que implica B(p; r) ∩ F = ∅. Ora, mas isto contradiz o fato de que p ∈ F¯ . (⇐=) Se F¯ = F ent˜ ao F ´e fechado. Isto ´e imediato, a partir da proposi¸c˜ ao 57.
Coment´ ario: Vimos (exemplo (5) pg. 268) que o conjunto X = {1, 21 , 31 , . . .} n˜ ao ´e fechado no espa¸co (R, µ); o teorema anterior ( juntamente com o exemplo (4), pg. 271 ¯ e 0 6∈ X. ) nos diz precisamente porque isto acontece: 0 ∈ X ¯ = { 0 } ∪ {1, 1 , 1 , . . .} ´e fechado neste espa¸co. Portanto X 2 3 ¯ = X, o que mostra que X ´e fechado no No exemplo (6) (pg. 272) vimos que X δ espa¸co (R, δ). A pr´ oxima proposi¸c˜ ao relaciona o fecho de um conjunto no espa¸co com o fecho deste conjunto em um subespa¸co. ∗ Usaremos
a t´ ecnica (T − 3), pg. 24.
273
Proposi¸ c˜ ao 59. Seja (N, d) um subespa¸co do espa¸co m´etrico (M, d). Dado um subconjunto X ⊂ N a seguinte identidade ´e v´ alida ¯ ¯ X =X ∩ N. (N, d) (M, d) (M, d) (N, d) X
Prova:
`
⊂
´
¯ Seja p ∈ X , isto implica em que (N, d) p ∈ N e ∀ ε > 0, B(p, ε) ∩ X 6= ∅
(♮)
¯ Para mostrar que p ∈ X ´e suficiente mostrar que (M, d) ∀ ǫ > 0, B(p, ǫ) ∩ X 6= ∅ Pois bem, dado ǫ > 0, B(p, ǫ)∩N ´e uma bola no subespa¸co (N, d), isto ´e B(p, ǫ)∩N = B(p, ǫ) portanto, invocando (♮), podemos escrever ` ´ ` ´ B(p, ǫ) ∩ N ∩ X 6= ∅ ⇒ B(p, ǫ) ∩ N ∩ X 6= ∅ como ` ´ X ⊂ N ⇒ N ∩ X = X, portanto B(p, ǫ) ∩ X 6= ∅. ¯ ¯ ⊃ Seja q ∈ X ∩ N . Para mostrar que q ∈ X ´e suficiente mostrar que (M, d) (N, d) ∀ ε > 0, B(q, ε) ∩ X 6= ∅
De fato, ∀ ε > 0, B(q, ε) = B(q, ε) ∩ N , onde B(q, ε) ´e uma bola em (M, d). Como, ¯ por hip´ otese, q ∈ X ent˜ ao B(p, ε) ∩ X 6= ∅. Por outro lado (M, d) ` ´ X ⊂ N ⇒ X = X ∩ N ⇒ B(q, ε) ∩ X ∩ N 6= ∅
` ´ ¯ ⇒ B(q, ε) ∩ N ∩ X 6= ∅ ⇒ B(q, ε) ∩ X 6= ∅ ⇒ q ∈ X . (N, d)
Segundo a proposi¸c˜ ao anterior para encontrarmos o fecho de um conjunto X ⊂ N no subespa¸co (N, d) basta encontrar o fecho no espa¸co (M, d) e intersectar ˜ com ˆ N. Por exemplo, sejam (M, d) = (R, µ) a reta usual, N = [ 0, 1 [ e X = 12 , 1 ¬ 0
¬1
0
¬ 0
1
1 2
1
274
-R
-N -X
¯ J´ a vimos que X = (R, µ)
ˆ1 2
˜ , 1 , sendo assim temos
¯ ¯ X =X ∩N (N,µ) (R,µ) =
ˆ1 ˆ ˆ1 ˜ , 1 ∩ [ 0, 1 [= ,1 2 2
ˆ ˆ ¯ Observe que 21 , 1 = X ´e um conjunto fechado no subespa¸co (N, µ) embora n˜ ao (N, µ) o seja no espa¸co (R, µ). Uma quest˜ ao para o leitor refletir: O ponto p = 1 ´e aderente a X no espa¸co (R, µ) mas n˜ ao no subespa¸co (N, µ), embora tenhamos B(1, ε) ∩ X 6= ∅, ∀ε > 0. Como se explica isto? O corol´ ario a seguir nos conta por que os dois fechos no exemplo acima resultaram diferentes Corol´ ario 6. Seja (N, d) um subespa¸co fechado do espa¸co (M, d), ent˜ ao para todo X ⊂ N , tem-se ¯ ¯ X =X (N, d) (M, d) Prova: Temos as seguintes implica¸c˜ oes ¯ ⊂N ¯ =N ⇒ X ¯ ∩ N = X. ¯ X⊂N ⇒ X Portanto† , da proposi¸c˜ ao 59 concluimos ¯ ¯ ¯ ¯ X =X ∩N ⇒ X =X . (N, d) (M, d) (N, d) (M, d) Corol´ ario 7. Os subconjuntos fechados do subespa¸co (N, d) s˜ ao as interse¸c˜ oes F ∩ N , onde F ´e fechado em (M, d). Prova: Devemos mostrar que o
1 ) se F ´e fechado em (M, d) ent˜ ao F ∩ N ´e fechado em (N, d). De fato, F ∩ N = F¯(M, d) ∩ N = F¯(N, d) logo F ∩ N ´e fechado em (N, d).
2o ) se X ´e um subconjunto fechado em (N, d) ent˜ ao X = F ∩N para algum F fechado em (M, d). De fato, ¯ ¯ ¯ X=X ⇒ X=X =X ∩N (N, d) (N, d) (M, d) =F ∩N ¯ onde X = F ´e um fechado em (M, d). (M, d)
† Nota:
¯ =X ¯ ¯ =N ¯ X eN (M, d) (M, d)
275
Proposi¸ c˜ ao 60. Em qualquer espa¸co m´etrico ´e v´ alida a seguinte identidade ¯ ∩ Xc ∂X = X Prova: De fato, x ∈ ∂X ⇐⇒ ∀r > 0, B(x; r) ∩ X 6= ∅ e B(x; r) ∩ X c 6= ∅ ¯ e x ∈ Xc ⇐⇒ x ∈ X ¯ ∩ X c. ⇐⇒ x ∈ X
Proposi¸ c˜ ao 61. Em qualquer espa¸co m´etrico (M, d) a aderencia (fecho) de um subconjunto X ⊂ M ´e a reuni˜ ao do seu interior com sua fronteira. Prova: ◦ ◦ ` ´ `◦ ´ `◦ ´ ¯ ∩ Xc = X ∪ X ¯ ∩ X ∪ Xc X ∪ ∂X = X ∪ X ◦ ´ `◦ ¯ ∩ X ∪ cX =X
¯ ∩ M = X. ¯ =X
R
Observe, geometricamente, esta proposi¸c˜ ao no caso do quadrado: ˘ ¯ 2 X = (x, y) ∈ R : 0 < x, y < 1 =] 0, 1 [ × ] 0, 1 [:
6
◦
R
X
6
R
∂X
∪
6
¯ X
=
-R
-R ◦
-R ◦
¯ ´e disjunta; isto ´e, X ∩ ∂X = ∅, pelas pr´ Observa¸c˜ ao: A reuni˜ ao X ∪ ∂X = X oprias defini¸c˜ oes de ponto interior e ponto fronteira. ¯ tamb´em ´e v´ A identidade X ∪ ∂X = X alida, s´ o que aqui n˜ ao temos uma uni˜ ao ¯ = [ a, b ] e ∂X = disjunta. Por exemplo para X =] a, b ] no espa¸co (R, µ), temos X { a, b }. Corol´ ario8. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . A seguinte identidade subsiste ◦
¯ −X ∂X = X ◦
◦
¯ ⇒ ∂X = X ¯ −X. Prova: ∂X ∪ X = X Observa¸c˜ ao: N˜ ao tente realizar o procedimento anterior sem antes certificar-se de que a reuni˜ ao envolvida ´e disjunta. Observe, geometricamente, esta proposi¸c˜ ao no caso do quadrado: ˘ ¯ 2 X = (x, y) ∈ R : 0 < x, y < 1 =] 0, 1 [ × ] 0, 1 [:
276
R
6
R
∂X
6
R
¯ X
-R
1,
◦
X
−
=
˘
6
-R
-R
Podemos ¯ usar a identidade anterior para mostrar que a fronteira de X = . . . no espa¸co (R, µ) ´e ∂X = X ∪ { 0 }. ¯µ = X ∪ { 0 } e no exemplo (5) (pg. De fato, vimos no exemplo (5) (pg. 271) que X 1 1 , , 2 3
◦
253) que X µ = ∅.
Corol´ ario 9. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e seja X ⊂ M . Ent˜ ao ∂X = ∅ ⇐⇒ X ´e aberto e fechado. Prova: (⇒) Temos ◦
◦
¯ X ∪ ∂X = X
⇒
¯ X =X
¯ = X ∪ ∂X X
⇒
¯ =X X
Portanto X ´e aberto e fechado.
⇒
◦
¯ = X. X =X
◦
¯ levando este resultado na identidade (⇐) Se X ´e aberto e fechado ent˜ ao X = X = X, ◦ ¯ − X resulta ∂X = ∅. ∂X = X ` ´ Corol´ ario 10. Seja um espa¸co vetorial E, +, · normado com E 6= { 0 }. Ent˜ ao ˘ ¯ B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) ≤ r Isto ´e, o fecho da bola aberta ´e a bola fechada.
◦
´ uma decorrˆencia imediata da identidade X ¯ = X ∪ ∂X juntamente com Prova: E a proposi¸c˜ ao 54 (pg. 267) e seu corol´ ario 5 (pg. 268). Esta afirmativa ´e falsa em um espa¸co n˜ ao normado. De fato, consideremos o espa¸co (R, δ). Neste espa¸co temos B(0; 1) = { 0 }. Como B ´e um conjunto fechado resulta que B(0; 1) = B(0; 1). Por outro lado, B[ 0; 1 ] = {x ∈ R : δ(x, 0) ≤ 1} = R. Proposi¸ c˜ ao 62. Em qualquer espa¸co m´etrico (M, d) a fronteira de um subconjunto X ⊂ M ´e um conjunto fechado. Prova: De fato, para conjuntos A e B quaisquer vale A − B = A ∩ B c , logo ◦
◦
¯ −X =X ¯ ∩ c X . Vamos mostrar que (∂X)c ´e um conjunto aberto: ∂X = X ◦ ◦ ´ ` ¯ ∩ cX c = X ¯c ∪ X (∂X)c = X ◦
◦
= Xc ∪ X .
logo (∂X)c ´e um conjunto aberto, por ser a uni˜ ao de dois abertos; por conseguinte ∂X ´e um conjunto fechado.
277
Proposi¸ c˜ ao 63. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se p ∈ M e X ⊂ M , ent˜ ao ¯ d(p, X) = 0 se, e somente se, p ∈ X. ¯ Prova: (=⇒) Se d(p, X) = 0 ent˜ ao p ∈ X.
Por hip´ otese
d(p, X) = inf { d(p, x) : x ∈ X } = 0
(6.2)
Isto ´e, 0 ´e a maior das cotas inferiores do conjunto { d(p, x) : x ∈ X }. Ou seja, qualquer r > 0 n˜ ao pode ser cota inferior deste conjunto. Logo, ∀ r > 0 existe x ∈ X de modo que d(p, x) < r. Ou ainda: para todo r > 0, temos B(x; r) ∩ X 6= ∅; o que ¯ mostra que p ∈ X. ¯ ent˜ (⇐=) Se p ∈ X ao d(p, X) = 0
Devemos mostrar que a igualdade (6.2) se verifica. Isto ´e, que 0 ´e a maior das cotas inferiores do conjunto { d(p, x) : x ∈ X }. De outro modo: nenhum r > 0 pode ser cota inferior deste conjunto. Para isto devemos exibir x ∈ X tal que d(p, x) < r. ¯ isto ´e, ∀ r > 0, temos B( p; r) ∩ X 6= ∅. Logo, Pois bem, por hip´ otese, p ∈ X, ∀ r > 0 existe x ∈ X de modo que d(p, x) < r. Isto conclui a prova. Proposi¸ c˜ ao 64. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Ent˜ ao para todo subconjunto X ⊂ M ¯ ´e l´ıcita a igualdade diam(X) = diam(X). Prova: Temos diam(X) = sup { d(x, y) : x, y ∈ X } ¯ = sup { d(x, y) : x, y ∈ X ¯} diam(X) Por defini¸c˜ ao de supremo temos d(x, y) ≤ diam(X), ∀ x, y ∈ X ¯ ¯ d(x, y) ≤ diam(X), ∀ x, y ∈ X ¯ s˜ e mais: diam(X) e diam(X) ao os menores n´ umeros satisfazendo estas desigualdades. Como ¯ ⇒ d(x, y) ≤ diam(X), ¯ X⊂X ∀ x, y ∈ X
mas como diam(X) ´e o menor n´ umero satisfazendo esta desigualdade, segue que ¯ diam(X) ≤ diam(X). ¯ temos B(x; r ) ∩ X 6= ∅ e Por outro lado, dado r > 0, para quaisquer x, y ∈ X 2 ′ ′ r B(y; 2 ) ∩ X 6= ∅, logo existem x , y ∈ X tais que d(x, x′ ) <
r 2
e
d(y, y ′ ) <
r 2
Da equa¸c˜ ao (2.15) (pg. 117), temos d(x1 , x4 ) ≤ d(x1 , x2 ) + d(x2 , x3 ) + d(x3 , x4 ) ent˜ ao d(x, y) ≤ d(x, x′ ) + d(x′ , y ′ ) + d(y ′ , y) < r + diam(X)
Isto mostra que r + diam(X) ´e uma cota superior do conjunto ¯} { d(x, y) : x, y ∈ X ¯ ≤ r + diam(X), isto ´e, portanto diam(X) ¯ − r ≤ diam(X). diam(X)
278
¯ ≤ diam(X). PorComo esta desigualdade vale para todo r > 0, temos∗ que diam(X) ¯ = diam(X). tanto diam(X) Obs.: Uma aplica¸c˜ ao desta proposi¸c˜ ao ´e que, ao inv´es de` calcular diam(X), pode´ ¯ E qual a vantagem disto? Quando X, ¯ d ´e compacto, sendo mos calcular diam(X). d : X × X −→ R (x, y) 7−→ d(x, y)
cont´ınua (ver (ii), pg. 328), aplicamos o teorema de Weierstrass (pg. 512). Trocamos sup { d(x, y) : x, y ∈ X } por max { d(x, y) : x, y ∈ X } e teremos ` a nossa disposi¸c˜ ao as t´ecnicas de m´ aximos e m´ınimos de fun¸c˜ oes reais. Observe que, ainda segundo o ¯ de modo teorema de Weierstrass, nas condi¸c˜ oes referidas, sempre existir˜ ao x′ , y ′ ∈ X ′ ′ ¯ que d(x , y ) = diam(X) = diam(X). ¯ ent˜ Proposi¸ c˜ ao 65. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Se p ∈ X, ao existe uma seq¨ uˆencia (xn ) de pontos de X tal que lim xn = p. ¯ ent˜ Prova: Como p ∈ X, ao para cada r > 0 temos B( p; r)∩X 6= ∅. Em particular 1 para r = n , temos ` 1´ B p; ∩ X 6= ∅ , (n = 1, 2, . . .) n Daqui retiramos uma seq¨ uˆencia (x1 , x2 , . . . , xn , . . .) de pontos de X tal que xn ∈ B( p; n1 ). Vamos mostrar que xn → p.
B( p; 1 ) , (n=1,2,...) p n p p qj p (M, d)
X
Temos xn ∈ B( p;
1 ) n
⇒ d(xn , p) <
0 ≤ d(xn , p) <
1 , n
ou ainda 0 ≤ d(xn , p) <
1 . n
Ent˜ ao
1 1 ⇒† lim 0 ≤ lim d(xn , p) ≤ lim n n
isto ´e, 0 ≤ lim d(xn , p) ≤ 0, ent˜ ao lim d(xn , p) = 0 ⇒‡ xn → p.
∗ Proposi¸ ca ˜o
23, pg. 65 4, pg. 247. ‡ proposi¸ ca ˜o 33, pg. 201. † corol´ ario
279
Exemplos: ¯ ˘ a ) Vimos no exemplo (4) (pg. 271) que sendo M = R e X = 1, 12 , 13 , . . . , ent˜ ao ¯ µ , mas 0 6∈ X ¯ . Pela proposi¸c˜ 0 ∈ X ao anterior existe uma seq¨ uˆencia de pontos de δ X que converge para 0. De fato, como a seq¨ uˆencia dada por xn = n1 converge para 0 (com a m´etrica µ), qualquer subseq¨ uˆencia sua tamb´em converge para 0. Por outro ¯ n˜ lado, como 0 6∈ X ao existe seq¨ uˆencia de X convergindo para 0. De fato, vimos que δ toda seq¨ uˆencia convergente em (M, δ) deve ser constante a partir de uma certa ordem. b ) Consideremos M = R e X = Q. Dado qualquer n´ umero q irracional existe uma seq¨ uˆencia de racionais convergindo para q (na m´etrica usual). De fato, basta ter em conta o exemplo (3), pg. 271. Por exemplo, √ (1, 1, 4, 1, 41, 1, 414, 1, 4142, . . .) → 2 Tamb´em,
“
” 1 1 1 + − + ··· → π 3 5 7 c ) Exerc´ıcio: Tendo em conta as duas patologias do exemplo (7) (pg. 272) encontre uma seq¨ uˆencia convergindo para o ponto 0 nas duas situa¸c˜ oes. 4·
1−
A rec´ıproca da proposi¸c˜ ao anterior tamb´em vale: Proposi¸ c˜ ao 66. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Se existe uma seq¨ uˆencia ¯ (xn ) de pontos de X tal que lim xn = p ent˜ ao p ∈ X. Prova: Com efeito, se lim xn = p e xn ∈ X ent˜ ao toda bola aberta de centro p ¯ (ver proposi¸c˜ intersecta X, portanto p ∈ X ao 32, pg. 200). Vejamos dois exemplos desta situa¸c˜ ao: (i) Consideremos o seguinte subconjunto do plano R2 ˘ ¯ X = (x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1, y = x/n, n ∈ N
O conjunto X ´e formado dos pontos do segmento que liga a origem (0, 0) aos pontos (1, 1/n), n ∈ N. Vamos mostrar que todo ponto do conjunto
´e ponto aderente a X.
¯ ˘ 1 A = (x, 0) ∈ R2 : ≤ x ≤ 1 2
6
1
q
1
6
1
q 0
q
6
q p1
-
0
1 2
p
p1
0
280
1 2
p
q q qq
.. . p1
-
` ´ ` ´ Fixado 12 ≤ x ≤ 1 a seq¨ uˆencia x, nx de pontos de X ´e tal que x, nx → (x, 0) ∈ A, isto prova que todo ponto de A ´e aderente a X. A figura anterior ilustra esta situa¸c˜ ao para o ponto x = 34 . (ii) Consideremos o seguinte subconjunto do plano R2 (m´etrica euclidiana). ff `1´ 2 X = (x, y) ∈ R : x > 0 e y = cos x Vamos mostrar que todo ponto do conjunto ˘ ¯ A = (0, y) ∈ R2 : − 1 ≤ y ≤ 1 = { 0 } × [−1, 1 ].
´e ponto aderente a X. A seguir vemos o conjunto X (gr´ afico da fun¸c˜ ao f (x) = cos(1/x)) em “tamanho natural” e ampliado 2 × . f (x)
6
1 f (x) 1
6
q
0 −1
q
X
X
-x
0
-x
q −1
q
De fato, fixado y ∈ [−1, 1 ] resolvendo a equa¸c˜ ao cos
` ´ `1´ = y = cos cos−1 (y) x
` ` ´´ 1 de uˆencia xn , cos x1 obtemos a seguinte seq¨ uˆencia, xn = 2nπ+cos −1 (y) . A seq¨ n pontos de X converge para o ponto (0, y) ∈ A e isto prova que todo ponto de A ´e aderente a X. A t´ıtulo de exemplo consideremos y = 1/2, neste caso temos 1 1 = → 0. 2nπ + cos−1 (1/2) 2nπ + π3 ` ` ´´ situam-se sobre a reta y = 1/2 e convergem os pontos da seq¨ uˆencia xn , cos x1 n ´ ` para o ponto 0, 21 ∈ A. xn =
281
6 f (x) X
1¬
m qq q
A
q
-x
ր
−1 ¬
` ´ Observe que toda bola centrada no ponto 0, 12 intersecta o conjunto X. Toda bola centrada neste cont´em infinitos pontos de X. Por exemplo pontos da ` ` ponto ´´ seq¨ uˆencia xn , cos x1 . n
Proposi¸ c˜ ao 67. Seja F ⊂ M . F ´e fechado se, e somente se, para toda seq¨ uˆencia (xn ) de pontos de F com lim xn = a ∈ M tivermos a ∈ F .
Prova: (=⇒) Seja F fechado e (xn ) uma seq¨ uˆencia de pontos de F com lim xn = a ∈ M . Ent˜ ao, pela proposi¸c˜ ao 66 (pg. 280) a ∈ F¯ , como F ´e fechado temos que F = F¯ , portanto a ∈ F . (⇐=) Suponhamos que toda seq¨ uˆencia convergente de pontos de F tem limite em F , e mostremos que F = F¯ . Como F ⊂ F¯ , basta mostrar que F¯ ⊂ F . Seja a ∈ F¯ . Pela proposi¸c˜ ao 65 (pg. 279) existe uma seq¨ uˆencia (xn ) de pontos de F tal que lim xn = p. Pela nossa hip´ otese, temos p ∈ F . Logo F¯ ⊂ F .
6.6
Densidade
Defini¸ c˜ ao 40 (Densidade). Dado um espa¸co m´etrico (M, d), um subconjunto X ⊂ M ¯ = M. se diz denso em M se X Isto significa: fixados arbitrariamente um ponto p ∈ M e um raio r > 0, B( p; r) ∩ X 6= ∅. Ou seja, arbitrariamente pr´ oximo de p encontramos um ponto de X. Exemplos: (1) Seja M = R e X = Q. No exemplo (3) (pg. 271) vimos que ¯µ = R , Q ¯ = Q R. δ 6 portanto Q ´e denso em R no espa¸co (R, µ); mas n˜ ao no espa¸co (R, δ). (2) Seja M = C[a, b] e X = P onde P ´e o conjunto de polinˆ omios. P ´e denso no espa¸co (C[a, b], Υ). Isto ´e o que nos diz o Teorema da aproxima¸c˜ ao de Weierstrass: “Dada uma fun¸c˜ ao cont´ınua f : [a, b] → R, existe uma seq¨ uˆencia de polinˆ omios (pn ) tais que lim pn = f uniformemente em [a, b].” (ver [5] ). Logo, pela proposi¸c˜ ao anterior (proposi¸c˜ ao 66, pg. 280), temos f ∈ P¯Υ .
282
Nota: O corol´ ario 6 (pg. 275) nos permite inferir um resultado que ser´ a utilizado posteriormente, a saber: ¯ d ). X ´e denso no subespa¸co (X, De fato, para que esta assertiva seja verdadeira ´e suficiente mostrar que ¯ ¯ ¯ =X ¯ X =X (M, d) (X, d) ¯ no corol´ Para tanto basta tomar N = X ario. Proposi¸ c˜ ao 68. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se X ⊂ M ´e denso em M , ent˜ ao X ∩ A 6= ∅, para todo aberto A 6= ∅ desse espa¸co. Prova: Dado p ∈ A ⊂ M , ent˜ ao existe r > 0 de modo que B( p; r) ⊂ A. Como ¯ = M , p ´e aderente a X. Logo, B( p; r) ∩ X 6= ∅. Portanto existe q ∈ X e X q ∈ B( p; r) ⊂ A, logo A ∩ X 6= ∅.
Importˆ ancia da densidade A densidade nos permite aproximar − com precis˜ ao arbitr´ aria − pontos de um conjunto M por pontos de um seu subconjunto (´e o que nos diz a proposi¸c˜ ao 65 pg. 279). Perceba que isto n˜ ao ´e pouco. Por exemplo, por raz˜ oes t´ecnicas, um computador ¯ µ = R isto significa que podemos n˜ ao opera com n´ umeros reais, mas pelo fato de que Q representar um n´ umero real por um racional com a precis˜ ao que desejarmos. Ainda mais: a proposi¸c˜ ao 65 (pg. 279) nos assegura que existe uma seq¨ uˆencia de racionais convergindo para qualquer n´ umero real. Por exemplo, da conhecida identidade π 1 1 1 = 1 − + − + ··· 4 3 5 7 obtemos a seguinte seq¨ uˆencia de n´ umeros racionais convergindo para π an = 4 ·
n X (−1)i−1 2i − 1 i=1
A seguir exemplificamos como esta seq¨ uˆencia converge para π, n
an → π
1
4
2
2, 66667
.. .
.. .
800
3, 14034
.. .
.. .
1500
3, 14093
uma convergencia, como se vˆe, bastante lenta. Mas converge. Como mais um exemplo, a seq¨ uˆencia dada pela seguinte f´ ormula de recorrˆencia – » 1 c an+1 = (N − 1)an + N −1 N an nos permite aproximar - com precis˜ ao arbitr´ aria - a raiz N −´esima de c > 0, apartir de um valor inicial a0 > 0 qualquer. √ Isto ´e, a partir de qualquer a0 > 0 dado, temos an → N c
283
A seguir apresentamos duas tabelas que exemplificam a f´ ormula anterior. Em ambas adotamos a0 = 1. √
n
an →
2
n
√ an → 3 5
0
1, 00000
0
1, 00000
1
1, 50000
1
2, 33333
2
1, 41667
2
1, 86168
3
1, 41422
3
1, 72200
4
1, 41421
4
1, 71006
5
1, 41421
5
1, 70998
Os valores fornecidos pelo computador s˜ ao √ 2 = 1, 41421356237 √ 3 5 = 1, 70997594668 Os circuitos aritm´eticos de computadores realizam apenas a opera¸c˜ ao de soma (as outras opera¸c˜ oes aritm´eticas podem ser implementadas a partir de circuitos somadores). Como ent˜ ao realizar c´ alculos mais complicados, digamos...transcendentes? A densidade de P no espa¸co das fun¸c˜ oes cont´ınuas nos garante que para toda fun¸c˜ ao cont´ınua existe um polinˆ omio que a aproxima com precis˜ ao arbitr´ aria. A t´ıtulo de exemplo, a seq¨ uˆencia de polinˆ omios dada a seguir ´e uma aproxima¸c˜ ao para a fun¸c˜ ao seno p1 (x) = x x3 6 x3 x5 p3 (x) = x − + 6 120 − − − − − − − − − − − − − − − − − − − − −− p2 (x) = x −
pn (x) = x −
x3 x5 x2n−1 + − . . . + (−1)n−1 6 120 (2n − 1)!
π A tabela a seguir mostra o c´ alculo do seno de 15o ( 12 rad): π x= 12
π ) → sen ( π ) pn ( 12 12
p1 (x)
0, 261799
p2 (x)
0, 258809
p3 (x)
0, 258819
284
O terceiro polinˆ omio, p3 , da seq¨ uˆencia j´ a nos fornece o valor correto com seis casas decimais. Confira p √ “π” 2− 3 sen = = 0, 258819 . . . 12 2
Mais dois exemplos de densidade No apˆendice (pg. 289) mostramos mais dois exemplos de densidade: ( i ) O conjunto das fun¸ oes parcialmente lineares (ou fun¸c˜ oes poligonais) ´e denso no espa¸co ` ´ c˜ C([0, 1]); Υ . Isto significa que qualquer fun¸c˜ ao cont´ınua pode ser aproximada (arbitrariamente) por uma fun¸c˜ ao poligonal. ( ii ) Seja D o conjunto das fra¸c˜ oes di´ adicas (fra¸c˜ oes cujos denominadores s˜ ao potˆencias de 2) no intervalo [ 0, 1 [, ou seja ff 13 15 1 1 3 1 3 5 7 1 3 , , , , , , , , , ..., , , ... D= 2 4 4 8 8 8 8 16 16 16 16 D ´e denso em [ 0, 1 [. Isto significa que qualquer n´ umero do intervalo [ 0, 1 [ (irracionais, por exemplo) pode ser aproximado (arbitrariamente) por uma fra¸c˜ ao di´ adica.
6.7
Ponto de acumula¸ c˜ ao
Defini¸ c˜ ao 41 (Ponto de acumula¸c˜ ao). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Um ponto p ∈ M se diz ponto de acumula¸c˜ ao de X se, e somente se, para todo r > 0, se verifica ` ´ B( p; r) − { p } ∩ X 6= ∅ Isto ´e, se toda “bola furada” (sem o centro) centrada em p intersecta X.
(M, d)
(M, d)
X
s
X
B(p; r)
p
s
B(p; r)−{ p }
O conjunto dos pontos de acumula¸c˜ ao de X ´e chamado conjunto derivado de X e ´e indicado por X ′ ou por Xd′ quando desejarmos enfatizar a m´etrica. Observa¸ c˜ oes: (i) Dizer que p ∈ M n˜ ao ´e ponto de acumula¸c˜ ao de X, isto ´e, p 6∈ X ′ , significa dizer que existe r > 0 tal que ` ´ B( p; r) − { p } ∩ X = ∅ .
` ´ (ii) Se ∀ r > 0 tivermos B( p; r) − { p } ∩ X 6= ∅, com mais raz˜ ao ainda teremos B( p; r) ∩ X 6= ∅, o que significa que todo ponto de acumula¸c˜ ao de X ´e tamb´em ponto ¯ sempre se verifica. aderente de X (ver defini¸c˜ ao 39, pg. 270). Isto ´e, a inclus˜ ao X ′ ⊂ X Exemplos:
285
˘ (1) Seja M = R e X = 1,
1 1 , , 2 3
¯ . . . . Ent˜ ao
Xµ′ = { 0 } ; Xδ′ = ∅.
De fato, a prova da primeira destas afirmativas est´ a contida nos exemplos (4) e (5) (pg. 271). Neste espa¸co podemos visualizar os elementos do conjunto X “acumulandose” em torno de 0. Observe |
0
p pp p p p p p p p p p p p p p
1 1 ··· 5 4
p
p
1 2
1 3
p
1
A igualdade Xδ′ = ∅ ´e um caso especial do exemplo seguinte
(2) Se (M, d) ´e um espa¸co discreto e X ⊂ M ent˜ ao X ′ = ∅. Com efeito, dado p ∈ M existe rp > 0 de´modo que B( p; rp ) = { p }, logo ` B( p; rp ) − { p } = ∅, portanto B( p; rp ) − { p } ∩ X = ∅. Isto prova que nenhum ponto de M pode ser ponto de acumula¸c˜ ao de X. Em particular considere o espa¸co (R, δ) e X =] 0, 1 ]; 0 n˜ ao ´e ponto aderente a X, 1 ´e ponto aderente, mas n˜ ao ponto de acumula¸c˜ ao de X no espa¸co (R, δ) (ver exemplo (1), pg. 270). (3) Seja M = R , X = Q e Y = Z. Ent˜ ao Q′µ = R ; Z′µ = ∅. De fato, dado p ∈ R e r > 0 temos que ` ´ ` ´ B( p; r) − { p } ∩ Q = ] p − r, p + r [ − { p } ∩ Q 6= ∅
Por outro lado, dado p ∈ R, p ou ´e um inteiro ou est´ a entre dois inteiros consecutivos, digamos: n e n + 1. No primeiro caso tomamos r = 12 e no `segundo tomamos ´ r = min{ p − n, n + 1 − p }; em ambos os casos teremos B( p; r) − { p } ∩ Z = ∅. p− 1 2
p∈Z
p 6∈ Z
p
p+ 1 2
p
p−1
p
p
⊢
p−n
p n
⊣
p
p
p
⊢
-R
p+1
-R
n+1 n+1−p
⊣
(4) Seja M = [ 0, 1 [, X` = [ 1/2, ao, 0 ´e ponto de acumula¸c˜ ao ´ 1 [ ⊂ M e p = 0 ∈ M . Ent˜ de X no espa¸co M, k , veja:
s
0
− Pasmem!:
X
1 2
1
0 ´ e um ponto de acumula¸ c~ ao de X!!!
para se convencer disto basta volver ao diagrama de bolas abertas Bk (0; r), ` a pg. 163.
286
ˆ ˆ ˆ ˆ (5) Seja M = [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ o quadrado unit´ ario e X = 12 , 1 × 21 , 1 ⊂ M ; ent˜ ao, 0 = (0, 0) n˜ ao ´e ponto de acumula¸c˜ ao de X se tomarmos em M qualquer uma das trˆes m´etricas “usuais” e, ao contr´ ario, 0 ser´ a ponto de acumula¸c˜ ao de X se tomarmos em M a m´etrica divina. Veja: 1
s
0
− Pasmem!:
1
0 ´ e um ponto de acumula¸ c~ ao de X!!!
Para se convencer de que 0 n˜ ao ´e ponto de acumula¸c˜ ao de X (nas trˆes m´etricas usuais) reveja a figura (n˜ ao legendada) na pg. 264. Deixamos ao leitor a seguinte tarefa: dado r > 0 encontre (x, y) ∈ X de modo que, ` ´ B( 0; r) − { 0 } ∩ X 6= ∅. Escolha a bola em qualquer uma das m´etricas no espa¸co produto (pg. 153).
Proposi¸ c˜ ao 69. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . A seguinte identidade se verifica ¯ = X ∪ X′ X ¯ logo para todo r > 0 temos B( p; r) ∩ X 6= ∅ (⋆). Temos Prova: (⊂) Seja p ∈ X, ¯ ⊂ X ∪ X ′ . Se p 6∈ X ent˜ duas alternativas: p ∈ X ou p `6∈ X. Se p ∈ X´ ent˜ ao X ao de (⋆) conclu´ımos que ∀ r > 0 B( p; r) − { p } ∩ X 6= ∅, isto ´e, p ∈ X ′ . Neste caso ¯ ⊂ X ∪ X ′. tamb´em temos X ¯ e X ′ ⊂ X, ¯ logo X ∪ X ′ ⊂ X. ¯ O que demonstra a identidade. (⊃) J´ a vimos que X ⊂ X
287
Proposi¸ c˜ ao 70. Se p ´e um ponto de acumula¸c˜ ao de X ⊂ M , ent˜ ao toda bola aberta centrada em p cont´em infinitos pontos de X. Prova: Seja B(p; r) uma bola aberta que cont´em p e s´ omente um n´ umero finito de pontos de X diferentes de p (digamos a1 , a2 , . . . , an ). Precisamos mostrar que p n˜ ao ´e ponto de acumula¸c˜ ao de X. Para isto ´e suficiente exibir -construir- uma bola de centro p que n˜ ao cont´em quaisquer outros pontos de X diferentes de p. Com este intuito, escolhamos ε > 0 menor do que r e menor do que a distˆ ancia de p a qualquer dos pontos a1 , a2 , . . . , a n . Ent˜ ao ε < r ⇒ B(p; ε) ⊂ B(p; r)
e mais:
(6.3)
a1 6∈ B(p; ε)
ε < d(p, a1 ) ε < d(p, a2 ) ............... ε < d(p, an )
⇒
a2 6∈ B(p; ε) ............... an 6∈ B(p; ε)
Ent˜ ao a bola aberta B(p; ε) que cont´em p n˜ ao cont´em a1 , a2 , . . . , an ; e por (6.3) B(p; ε) n˜ ao cont´em quaisquer outros pontos de X diferentes de p. Esta u ´ltima conclus˜ ao contradiz o fato de que p ´e ponto de acumula¸c˜ ao de X. (M, d)
X
r rr r rp rr r rr
(M, d)
B(p; r)
X
r rr r rp rr r rr
B(p; r)
B(p; ε)
Proposi¸ c˜ ao 71. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. F ⊂ M ´e fechado se, e somente se, F ′ ⊂ F. Prova: (=⇒) Se F ´e fechado ent˜ ao F ′ ⊂ F .
Com efeito, j´ a vimos (proposi¸c˜ ao 58, pg. 273) que F ⊂ M ´e fechado ⇐⇒ F¯ = F
(⋆)
Se F ´e fechado ent˜ ao por (⋆) F¯ ⊂ F , mas como F ′ ⊂ F¯ ⇒ F ′ ⊂ F¯ ⊂ F.
(⇐=) Se F ′ ⊂ F ent˜ ao F ´e fechado. Com efeito, a inclus˜ ao F ⊂ F¯ ´e sempre v´ alida e como, por hip´ otese, F ′ ⊂ F , temos ′ ′ ¯ ¯ que F ∪ F ⊂ F ∪ F ⇒ F = F ∪ F ⊂ F . Portanto F = F e, novamente por (⋆), temos que F ´e fechado.
288
A tabela a seguir resume os diversos pontos vistos: Ponto
Defini¸ ca ˜o
Isolado
Conjunto
∃ r>0 : B( p; r)={ p }
(p∈M ) Interior
◦ X ou int X
∃ r>0 : B( p; r) ⊂ X
(p∈X ⊂M ) Fronteira (p∈M ) Aderente (p∈M ) Acumula¸ ca ˜o
∀ r>0 : B( p; r) ∩ X6= ∅ e B( p; r) ∩ X c 6= ∅
∂ X ou fr X
∀ r>0 : B( p; r) ∩ X6= ∅
¯ X
(fecho)
X′
(derivado)
∀ r>0 :
(p∈M )
`
´
B( p; r)−{ p } ∩ X6= ∅
Apˆ endice: Vejamos mais dois exemplos de densidade: 1o ) Seja f ∈ C[0, 1] e ε > 0 dado. Mostremos que ∃ n0 ∈ N e pontos ` i ε · ki ´ ` ε · kn 0 ´ ` ε · k0 ´ , , . . . , pi = , . . . , pn0 = 1, p0 = 0, 5 n0 5 5
ao inteiros) tais que, se g ´e a poligonal ligando os pi , ent˜ ao, (onde k0 , . . . , ki , . . . , kn s˜ 0
Υ(f, g) = max
n
o |f (x) − g(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] < ε
Em outras palavras, o `conjunto das´fun¸c˜ oes parcialmente lineares (ou fun¸c˜ oes poligonais) ´e denso no espa¸co C([0, 1]); Υ . yk
4ε 5 3ε 5 2ε 5
ε 5
0 −ε 5 − 2ε 5
6 r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r r r r r
f
g
r
r
r r r
1/n
r
r
r 0
r r
2/n
r
r 0
r r r
r
r
r
r
r
r r r @ r @r r @ r r @ @r
r
r
r r
289
r r
r r r
r r r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r r
⊢
r
- xi
1
1 n0
r
⊣
⊤ ⊥
ε 5
Prova: f sendo cont´ınua no intervalo I = [ 0, 1 ], ´e tamb´em uniformemente cont´ınua neste mesmo intervalo (teorema [AR] 10, pg. 58) ent˜ ao, por defini¸c˜ ao de continuidade uniforme (ver pg. 58), dado ε > 0 existe δ > 0 de modo que ∀ x, y ∈ [ 0, 1 ], |x − y| < δ ⇒ |f (x) − f (y)| <
ε 5
(♮)
1 < δ, logo se (♮) ´e verdade, com mais raz˜ ao n0
Para este δ > 0 existe n0 ∈ N tal que ainda ´e verdade que
∀ x, y ∈ [ 0, 1 ], |x − y| ≤
ε 1 < δ ⇒ |f (x) − f (y)| < n0 5
(6.4)
Consideremos o seguinte subconjunto de I × R: ff i ε·k A = (xi , yk ) : xi = , yk = onde i = 0, 1, . . . , n0 ; k ∈ Z n0 5 Obs: A, na figura anterior, ´e a malha discreta. umero real e, como tal, Seja xi arbitrariamente fixado, temos que 5ε · f (xi ) ´e um n´ situa-se entre dois inteiros consecutivos, isto ´e, existe k ∈ Z de modo que k≤
5 · f (xi ) < k + 1 ε
multiplicando esta desigualdade por ε/5 temos ε·k ε ε·k ≤ f (xi ) < + 5 5 5 Fa¸camos yk = ε · k/5. Conclus˜ ao: existe um ponto (xi , yk ) ∈ A tal que yk ≤ f (xi ) < yk + 5ε . Ou ainda: fixado arbitrariamente uma abscissa xi existe uma ordenada yk de modo que (ver gr´ afico anterior) 0 ≤ f (xi ) − yk <
ε ε ⇒ |f (xi ) − yk | < 5 5
Observe que
ε 5 Conclus˜ ao: Fixada qualquer abscissa xi sempre podemos obter uma ordenada yk = g(xi ) de tal modo que a distˆ ancia (vertical) entre f (xi ) e g(xi ) ´e menor que ε/5. E mais: o ponto (xi , yk ) ∈ A satisfazendo a desigualdade anterior encontra-se abaixo do gr´ afico de f . Isto pode ser constatado no gr´ afico anterior. yk = g(xi ) ⇒ |f (xi ) − g(xi | <
Vamos agora interromper, por um momento, nossa demonstra¸c˜ ao para exemplificar a conclus˜ ao anterior para a fun¸c˜ ao dada por f (x) = x2 + 14 , por exemplo. Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se x, y ∈ [ 0, 1 ] ent˜ ao |x − y| < δ ⇒ |f (x) − f (y)| < ε ⇒ |x2 − y 2 | < ε ⇒ |x + y| · |x − y| < ε Por outro lado 0 ≤ x, y ≤ 1
⇒
0 ≤ x+y ≤ 2
⇒
0 ≤ (x + y)|x − y| ≤ 2|x − y|
290
Dado ε > 0, tomando δ =
ε 2
teremos
|x − y| < δ =
ε ⇒ 2|x − y| < ε 2 ⇒ |x + y||x − y| ≤ 2|x − y| < ε ⇒ |x2 − y 2 | < ε.
Por exemplo, para ε = 1 temos: n1 < δ = 2ε ⇒ n1 < 12 . Vamos escolher n0 = 4 0 0 (seria igualmente v´ alido n0 = 3). Ent˜ ao ff i 1·k A = (xi , yk ) : xi = , yk = onde i = 0, 1, 2, 3, 4.; k ∈ Z 4 5 A seguir fornecemos maiores detalhes:
xi
f (xi )
5 ·f (x ) ε i
k
·k yk = ε 5
f (xi )−yk
ε 5
0.00
0.2500
1.2500
1
0.2
0.0500
0.2
0.25
0.3125
1.5625
1
0.2
0.1125
0.2
0.50
0.5000
2.5000
2
0.4
0.1000
0.2
0.75
0.8125
4.0625
4
0.8
0.0125
0.2
1.00
1.2500
6.2500
6
1.2
0.0500
0.2
6 q q q q q 1.0 q q q q q q q 0.4 q f 0.2 q g q q q 0 0.25 q −0.2 q q −0.4 q
q q q q q q q q q q
q q q q q q q q 0.75 q q
ε=1 ; n0 =4.
q q q q q q q q q1 q q
Vejamos mais um exemplo. Consideremos desta vez ε = 0, 5; ent˜ ao 1 ε 1 1 <δ= ⇒ < n0 2 n0 4 Vamos escolher n0 = 5. Ent˜ ao ff 0, 5 · k i onde i = 0, 1, 2, 3, 4, 5.; k ∈ Z A = (xi , yk ) : xi = , yk = 5 5 A seguir fornecemos maiores detalhes
xi
f (xi )
5 ·f (x ) ε i
k
ε ·k yk = 5
f (xi )−yk
ε 5
0.0
0.25
2.5
2
0.2
0.05
0.1
0.2
0.29
2.9
2
0.2
0.09
0.1
0.4
0.41
4.1
4
0.4
0.01
0.1
0.6
0.61
6.1
6
0.6
0.01
0.1
0.8
0.89
8.9
8
0.8
0.09
0.1
1.0
1.25
12.5
12
1.2
0.05
0.1
6 q q q q q q q 1.0 q qq q q q q q q q q q q 0.4 q 0.3 q f q q q 0.2 g q 0.1 q q 0.2q 0q q q −0.2 q
q q q q q q q q q q q q q q q q
q q q q q q q q q q q q q q 0.6 q q
q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q1 q qq q q
ε=0.5 ; n0 =5.
291
Pois bem, voltando ` a demonstra¸c˜ ao, temos i 1 1 i+1 − = ⇒ |xi+1 − xi | ≤ n0 n0 n0 n0 ˛ ˛ Portanto, de (6.4), temos ˛f (xi+1 ) − f (xi )˛ < ε/5. Sendo assim temos xi+1 − xi =
˛ ˛ ˛ ˛ ˛g(xi+1 ) − g(xi )˛ ≤ |f (xi ) − g(xi )| + ˛f (xi+1 ) − f (xi )˛ ˛ ˛ + ˛g(xi+1 ) − f (xi+1 )˛ <
ε ε ε 3ε + + = 5 5 5 5
Para qualquer ponto z ∈ [ 0, 1 ] existe xi satisfazendo xi ≤ z < xi+1 . Como o gr´ afico de g entre xi e xi+1 ´e um segmento de reta, temos duas possibilidades: g ´e n˜ ao-decrescente ou g ´e n˜ ao-crescente entre xi e xi+1 . Consideremos g n˜ ao-decrescente neste intervalo (para g n˜ ao-crescente o racioc´ınio ´e o mesmo e seremos conduzidos ao mesmo resultado), ent˜ ao xi ≤ z < xi+1 ⇒ g(xi ) ≤ g(z) ≤ g(xi+1 ) ⇒ 0 ≤ g(z) − g(xi ) ≤ g(xi+1 ) − g(xi ) ˛ ˛ 3ε ⇒ 0 ≤ |g(z) − g(xi )| ≤ ˛g(xi+1 ) − g(xi )˛ < 5
Tamb´em
xi ≤ z < xi+1 ⇒ 0 ≤ z − xi < xi+1 − xi = ⇒ |f (z) − f (xi )| <
1 n0
ε 5
Logo, |f (z) − g(z)| ≤ |f (z) − f (xi )| + |f (xi ) − g(xi )| + |g(xi ) − g(z)| <
ε 5
ε 5
+
+
3ε 5
Como z ∈ [ 0, 1 ] ´e arbitr´ ario, segue que n o max |f (x) − g(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] < ε ⇒ Υ(f, g) < ε.
292
=ε
Representa¸ c˜ os bin´ arias 2o ) O nosso objetivo agora ser´ a estabelecer um algoritmo que nos permita escrever um n´ umero x ∈ [ 0, 1 [ na base bin´ aria. Proposi¸ c˜ ao 72. Seja D o conjunto das fra¸c˜ oes di´ adicas (fra¸c˜ oes cujos denominadores s˜ ao potˆencias de 2) no intervalo [ 0, 1 [, ou seja ff 1 1 3 1 3 5 7 1 3 13 15 D= , , , , , , , , , ..., , , ... 2 4 4 8 8 8 8 16 16 16 16 D ´e denso em [ 0, 1 [ (munido da m´etrica µ). Prova: Seja x ∈ [ 0, 1 [; dado ε > 0 arbitr´ ario devemos mostrar que no intervalo ]x − ε, x + ε[ existe um ponto m/q ∈ D. 1 1 A desigualdade n < vale para todo n natural. Pela propriedade arquimediana 2 n existe um natural n0 de modo que 1 1 1 <ε ⇒ < ε. < n 0 n0 n 2 0 n
Tomando q = 2 0 , considere os intervalos » » » » » » » » » » 1 1 2 2 3 q−2 q−1 q−1 0, , , , ,1 , , , ..., , q q q q q q q q h h cont´em x, , m+1 Como [ 0, 1 [ ´e a uni˜ ao dos intervalos acima, um dˆeles, digamos m q q isto ´e,
m q
≤x<
m+1 . q
Ent˜ ao
m m+1 m m 1 ≤x< ⇔ ≤x< + q q q q q Mas
1 q
< ε; logo 1 m 1 m <ε ⇒ + < +ε q q q q ⇒ x<
m 1 m + < +ε q q q
⇒ x−ε<
m . q
Portanto
m ≤x
O teorema seguinte nos mostra como obter a representa¸c˜ ao bin´ aria de qualquer ponto do intervalo [ 0, 1 [. Teorema 5 (Gentil). Dado x ∈ [ 0, 1 [ e ε > 0 existem um natural n0 e digitos xi ∈ { 0, 1 } tais que xn −1 xn x x x = 11 + 22 + · · · + n 0 −1 + n00 2 2 2 2 0 com erro menor que ε.
293
n0
Prova: Escolhamos n0 ∈ N de modo que n10 < ε. Fa¸camos 2 2 na proposi¸c˜ ao 72 existe um natural m de modo que
= q. Tal como
m+1 m ≤x< q q
(6.6)
Desta equa¸c˜ ao obtemos m, assim: m+1 m ≤x< ⇒ m ≤ q · x < m + 1 ⇒ m = ⌊q · x⌋. q q De seguida obtemos o desenvolvimento bin´ ario do natural m, assim: n −1 0
m = x1 · 2
n −2 0
+ x2 · 2
+ · · · + xn
n −(n −1) 0 0
0
−1
·2
n −n 0 0
+ xn0 · 2
Ou seja, n0 −1
m = x1 · 2
n0 −2
+ x2 · 2 n0
Dividindo a equa¸c˜ ao anterior por 2
+ · · · + xn
0
−1
· 21 + xn0 · 20
(6.7)
obtemos
xn −1 xn m x x = 11 + 22 + · · · + n 0 −1 + n00 n 0 2 2 2 0 2 2
(6.8)
Da equa¸c˜ ao (6.6) vemos que (6.8) ´e um valor aproximado (menor ou igual) de x, isto ´e xn −1 xn x1 m x2 0 0 ≃x n0 = n 1 + 2 + ··· + n −1 + 0 2 2 2 2 0 2 e, pelo lema, temos que m (6.9) |x − x ˜| < ε, onde x ˜ = n0 . 2 ⊙ ⊙ ⊙
Justificativa de (6.7): Os digitos bin´ arios no desenvolvimento de m devem ser n todos nulos a partir da potˆencia 2 0 (inclusive). n De fato, se tal n˜ aon acontecesse ter´ıamos m ≥ 2 0 , o que ´e inconsistente com 0 m ≤ q · x, isto ´e, m ≤ 2 · x; pois sendo n
x<1 ⇒ 2
0
n
·x<2
0
n
⇒ m<2
0
.
Questionamento: Os digitos (x1 x2 . . . xn0 ) est˜ ao corretos (e s˜ ao u ´nicos) para a fra¸c˜ ao x ˜= m e apenas uma aproxima¸c˜ ao para x (isto ´e, |x − x ˜| < ε). At´e n0 , mas esta ´ 2 que ponto podemos confiar que estes sejam os n0 primeiros digitos do desenvolvimento de x?. Supondo que o desenvolvimento de x seja x=
xn −1 xn +1 xn +2 xn x x1 + 22 + · · · + n 0 −1 + n00 + n 0 +1 + n 0 +2 + · · · 0 0 21 2 2 2 2 2 0
para nos assegurar que os digitos (x1 x2 . . . xn ) estejam corretos para x, devemos 0 escolher∗ o menor natural n0 satisfazendo n01+1 < ε, isto ´e, 2
1 (n −1)+1 0
2
=
1 n0
2
≥ε
∗ A propriedade arquimediana e o Princ´ ıpio da boa ordena¸ca ˜o, conjuntamente, nos garantem que esta escolha sempre ´ e poss´ıvel.
294
De fato, suponhamos que apenas o digito xn0 esteja incorreto, sendo assim |x − x ˜| =
1 n
2
0
+
xn
+1 0 n +1 0
2
+··· ≥ ε
Isto contradiz (6.9). Se qualquer outro digito xk com k < n0 estiver incorreto, chegaremos ` a mesma contradi¸c˜ ao. Conclus˜ ao: Escolhendo n0 o menor natural satisfazendo n01+1 < ε podemos asse2
ario de x ∈ [0, 1[, est˜ ao gurar que os digitos x1 , x2 , . . . , xn , no desenvolvimento bin´ 0 todos corretos.
Algoritmo Os argumentos anteriores nos facultam um algoritmo para o desenvolvimento bin´ ario de um x ∈ [ 0, 1 [. Vejamos como atrav´es de um
Exemplo: Obter o desenvolvimento bin´ ario de x = 1/3 com uma precis˜ ao ε = 0, 01. Solu¸ c˜ ao: Vimos que devemos escolher o menor n0 satisfazendo
< ε, ent˜ ao
j 1k ⇒ n0 = log 2ε
1
n0 + 1 > log2ε Sendo assim,
1 n +1 2 0
— — 1 1 = 21. n0 = log 20,01 = 6 ⇒ m = 26 · 3
Observe que
˛ ˛ ˛ ˛ ˛m ˛ ˛ ˛ ˛ − x˛ = ˛ 21 − 1 ˛ = 0, 005208 . . . < ε. ˛ ˛ 26 ˛q 3˛
Agora desenvolvemos m = 21 na base bin´ aria:
21 = 1 · 24 + 0 · 23 + 1 · 22 + 0 · 21 + 1 · 20 n0
Dividindo a equa¸c˜ ao anterior por q = 2
6
= 2 , temos
21 1 0 1 0 1 = 2 + 3 + 4 + 5 + 6 26 2 2 2 2 2 =
0 1 0 1 0 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 21 2 2 2 2 2
Conclus˜ ao: (010101)2 ´e o desenvolvimento bin´ ario de x = 1/3 com erro menor que um cent´esimo. Para que possamos “automatizar” todo o processo anterior, vamos fornecer uma f´ ormula (a prova da mesma encontra-se em [6]) que nos faculta o desenvolvimento bin´ ario de um natural m, consoante o algoritmo anterior xn =
j
m n0 −n
2
k
j −2
m n0 −n+1
2
k ;
(n = 1, 2, . . . , n0 )
Exemplo: Considere o exemplo anterior em que n0 = 6 e m = 21. Pois bem, xn =
j 21 k j 21 k − 2 6−n+1 ; 6−n 2 2
295
(n = 1, 2, . . . , 6.)
ent˜ ao j 21 k j 21 k − 2 6−1+1 = 0, 6−1 2 2 j 21 k j 21 k − 2 6−2+1 = 1, n = 2 ⇒ x2 = 26−2 2 j 21 k j 21 k n = 3 ⇒ x3 = − 2 6−3+1 = 0, 26−3 2
n = 1 ⇒ x1 =
e assim por diante.
Representa¸ co ˜es tern´ arias O que foi feito para a base 2 pode ser repetido para a base 3. Dado ε > 0 escolhemos o menor n0 de modo que j 1k 1 1 ⇒ n0 + 1 > log 3ε ⇒ n0 = log3ε n +1 < ε 3 0 n
Obtido q = 3
0
, da equa¸c˜ ao
m q
≤x<
m+1 q
obtemos m; assim:
m+1 m ≤x< ⇒ m ≤ q · x < m + 1 ⇒ m = ⌊q · x⌋ q q Em seguida obtemos o desenvolvimento tern´ ario de m ∈ N, ou seja n −1 0
m = x1 · 3
n −2 0
+ x2 · 3 n
Dividindo a equa¸c˜ ao anterior por 3
0
+ · · · + xn
0 −1
· 31 + xn0 · 30
, temos
xn −1 xn x m x = 11 + 22 + · · · + n 0 −1 + n00 ≃ x n 0 3 3 3 3 3 0 Ilustraremos o desenvolvimento em base 3 atrav´es de um exemplo. Exemplo: • Obter o desenvolvimento tern´ ario de x = 2/7 com uma precis˜ ao ε = 0, 01. Solu¸ c˜ ao:
Observe que
— — 1 2 n0 = log30,01 = 4 ⇒ m = 34 · = 23. 7
˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛m 2 ˛˛ ˛ − x˛ = ˛ 23 − = 0, 001764 . . . < 0, 01. ˛ ˛ 34 ˛q 7˛ Agora desenvolvemos m = 23 na base 3, temos 23 = 2 · 32 + 1 · 31 + 2 · 30 n0
Dividindo a equa¸c˜ ao anterior por q = 3
4
= 3 , temos
2 1 2 23 = 2 + 3 + 4 34 3 3 3 =
0 2 1 2 + 2 + 3 + 4 31 3 3 3
Conclus˜ ao: (0212)3 ´e o desenvolvimento na base 3 de x = 2/7 com erro menor que um cent´esimo.
296
Para que possamos “automatizar” todo o processo anterior, vamos fornecer uma f´ ormula que nos faculta o desenvolvimento na base 3 de um natural m, consoante o algoritmo anterior j k j m k m − 3 n −n+1 (n = 1, 2, . . . , n0 ) xn = n0 −n 0 3 3 Exemplo: Considere o exemplo anterior em que n0 = 4 e m = 23. Ent˜ ao j 23 k j 23 k − 3 4−n+1 ; (n = 1, 2, 3, 4.) xn = 34−n 3
ent˜ ao
j 23 k j 23 k − 3 4−1+1 = 0. 4−1 3 3 j 23 k j 23 k n = 2 ⇒ x2 = − 3 4−2+1 = 2. 34−2 3 j 23 k j 23 k n = 3 ⇒ x3 = − 3 4−3+1 = 1. 34−3 3
n = 1 ⇒ x1 =
E assim por diante.
297
Topologia quˆ antica Nota: Apenas para efeitos did´ aticos unificarei os conceitos de ponto fronteira, ponto aderente e ponto de acumula¸c˜ ao a um conjunto. Se um ponto estiver na fronteira, for aderente ou de acumula¸c˜ ao a um conjunto direi que este ponto est´ a “colado” ao conjunto. Meditando algum tempo sobre os (surpreendentes) resultados topol´ ogicos deste cap´ıtulo fui conduzido a um insuspeito paralelo com a f´ısica quˆ antica. Com efeito, observemos a figura a seguir,
s
X 1 2
0
− Pasmem!:
1
0 est´ a colado ao conjunto X!!!
Ou ainda, esta mesma figura em duas dimens˜ oes, 1
s
0
− Pasmem!:
1
0 est´ a colado ao conjunto X!!!
Perguntamos: o que faz com que o ponto 0 esteja colado† , ou n˜ ao, ao conjunto X? Uma resposta ´ obvia seria: a m´etrica escolhida. Contudo ainda estamos insatisfeitos. Perguntamos ainda: no caso do ponto est´ a colado, seria poss´ıvel vermos a “cola” que o liga ao conjunto? A resposta ´e afrimativa: Sim! esta cola ´e, precisamente, a bola aberta, veja: 1
1
0
1
0
− M´etrica cl´ assica:
1
− M´etrica divina:
0 n˜ ao est´ a colado a X.
0 est´ a colado a X.
No segundo caso, como se vˆe, de fato existe “algo” ligando (conectando) o ponto 0 ao conjunto X.
† Ou
ainda: que sua distˆ ancia ao conjunto seja nula.
298
Onda topol´ ogica Em 1924 o f´ısico francˆes Louis De Broglie levantou a conjectura de que a mat´eria, em certas circunstˆ ancias, poderia ter caracter´ısticas ondulat´ orias, o que foi confirmado experimentalmente em 1927 atrav´es dos experimentos de C. J. Davisson e L.H. Germer, dos Bell Telephone Laboratories. Aqui, inspirados pelas ondas de mat´eria de De Broglie, estaremos associando a um ponto topol´ ogico∗ uma “onda” e provaremos que por conta desta onda um ponto matem´ atico (topol´ ogico) pode encontrar-se simultˆ aneamente em v´ arios lugares e, ademais, pode transitar entre v´ arias regi˜ oes disjuntas† sem passar por pontos interm´edios (isto ´e, por pontos “entre as regi˜ oes”). Raciocinamos: se isto pode se dar com um ponto matem´ atico - que ´e um ente abstrato e sem dimens˜ ao - com mais raz˜ ao ainda pode dar-se com um objeto quˆ antico. Pois bem, a todo ponto topol´ ogico podemos associar uma onda: uma bola aberta de centro neste ponto. ` ´ Observe que a “onda cl´ assica”, BD (0, 0); r , n˜ ao consegue conectar o ponto (0, 0) 1 ao conjunto X, tendo em vista que a defini¸c˜ ao de ponto aderente exige que para todo r > 0, a “onda” intercepte o conjunto X. Esta exigˆencia ´e satisfeita pela “onda ` ´ divina”: BD (0, 0); r . 1
Uma outra observa¸c˜ ao ´e que podemos ver uma “onda topol´ ogica” em seu aspecto dinˆ amico uma vez que “ ∀ r > 0 ” faz as vezes do tempo, t > 0. Ou seja, em ambas as situa¸c˜ oes anteriores podemos ver a “dinˆ amica” da onda. No caso da “topologia cl´ assica”, digo, no caso da topologia euclidiana, nem todas as ondas interceptam o conjunto X, raz˜ ao porque a√distˆ ancia da origem (0, 0) ao conjunto X ´e positiva, mais precisamente d(0, X) = 2/2. No caso da “topologia quˆ antica”, digo, m´etrica divina, todas as ondas interceptam o conjunto X, raz˜ ao porque a distˆ ancia da origem (0, 0) ao conjunto X ´e nula. Nota: O que distingue a topologia quˆ antica da cl´ assica ´e apenas esta nova vis˜ ao (com todos os seus - poss´ıveis - corol´ arios) de que a todo ponto p, geom´etrico, est´ a associado uma onda (pulsante, quando necess´ ario): B(p, r).
Assim como foi decisiva, para o estabelecimento da mecˆ anica quˆ antica, a conjectura de De Broglie a respeito das ondas de mat´eria; de igual modo nossa, n˜ ao conjectura, mas perspectiva de associar uma onda a um ponto geom´etrico dever´ a inaugurar uma nova disciplina: a Topologia Qu^ antica. Vamos mostrar agora que algumas assertivas da f´ısica quˆ antica, que agridem o nosso “bom” senso - como por exemplo a de que um objeto pode est´ a em v´ arios lugares simultˆ aneamente - encontram respaldo na topologia quˆ antica. Defini¸ c˜ ao 5. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico, R ⊂ M uma regi˜ ao (subconjunto) de M , e p um ponto de M. Dizemos que o ponto p encontra-se na regi˜ ao R se e s´ o se sua distˆ ancia para esta regi˜ ao for nula. N˜ ao ´e dif´ıcil provar que um ponto estar´ a presente em uma regi˜ ao se, e somente se, sua onda intercepta a regi˜ ao:
∗ Isto
† Isto
´ e, a um ponto de um espa¸co topol´ ogico. Um espa¸co m´ etrico ´ e um espa¸co topol´ ogico. ´ e, sem pontos em comum.
299
Proposi¸ c˜ ao 73. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico, R ⊂ M uma regi˜ ao de M , e p um ponto de M. Ent˜ ao, d(p, R) = 0 ⇐⇒ B(p; r) ∩ R 6= ∅;
∀ r > 0.
Prova: ¯ logo, por defini¸c˜ ( ⇒ ) De fato, pela proposi¸c˜ ao 63 (pg. 278) p ∈ R, ao de ponto aderente, decorre a tese. ¯ portanto - ainda pela proposi¸c˜ ( ⇐ ) Com efeito, da hip´ otese decorre que p ∈ R, ao 63 - temos d(p, R) = 0.
Desta forma, uma quest˜ ao que resolvemos com a maior facilidade na topologia quˆ antica ´e: pode um objeto “est´ a simultˆ aneamente em dois (ou mais) lugares”? Respondemos que sim, e dizemos porquˆe. De fato, considere M = [ 0, 1 [, R = [ 1/2, 1[ e p = 0. Observe:
s
1 4
0
1 2
3 4
1
R
onde, em azul, temos a bola aberta Bk (0, 1/4). Tendo em conta a proposi¸c˜ ao anterior e o diagrama de bolas abertas ` a pg. 163 podemos dizer que o ponto p encontra-se em dois lugares (regi˜ oes, subconjuntos) simultˆ aneamente, quais sejam: R1 = { 0 } e R2 = [ 1/2, 1[ Observe que um ponto pode estar presente em v´ arios lugares por interm´edio (influˆencia) de sua onda. A figura acima nos mostra ainda como ´e plaus´ıvel a conjectura quˆ antica de que um ponto pode “deslocar-se” de um lugar a outro sem passar por pontos interm´edios. Estaremos provando isto no cap´ıtulo 7 (pg. 438). O n´ umero de regi˜ oes em que um ponto pode estar presente simultˆ aneamente ´e fun¸c˜ ao da “dimens˜ ao” do espa¸co (hipercubo [ 0, 1[ n ). Por exemplo, no quadrado [ 0, 1[ 2 um ponto pode estar presente, simultˆ aneamente, em quatro regi˜ oes. Observe a figura a seguir, (1, 1)
1
3 4
¬
1 2
` BD (0, 0); 1
1 4
´
=⇒
1 4
1 4
¬
0
1 2
3 4
1
O ponto p = 0 est´ a presente, simultˆ aneamente, em quaisquer quatro regi˜ oes que “contenham” os v´ertices do quadrado (ver capa deste livro).
300
De um modo geral, no hipercubo [ 0, 1[ n um ponto pode estar presente em at´e 2n regi˜ oes. Por exemplo, no cubo a seguir (n = 3),
s
s
a origem (ponto em destaque) encontra-se presente em quaisquer oito regi˜ oes que contenham os v´ertices do cubo. Observe que, sob uma determinada ´ otica, n˜ ao ´e relevante se ´e assim mesmo que “ocorre na realidade”, o que importa aqui (o que ´e relevante) ´e que a matem´ atica nos fornece uma ferramenta para tentarmos compreender o que pode ocorrer no mundo subatˆ omico. Neste sentido ´e que afirmo que a matem´ atica ´e o mais poderoso dos microsc´ opios, como tamb´em o mais poderoso dos telesc´ opios. Pelo ao menos no que diz respeito a mim, quando lia na literatura a respeito de algumas “excentricidades quˆ anticas”, n˜ ao dispunha de nenhum fulcro para al¸car minha compreens˜ ao, a topologia quˆ antica me fornece um ponto de apoio. Ademais, o nosso ponto de vista se coaduna com o do cientista Stephen Hawking quando este assevera: N˜ ao h´ a, por´em, como discernir o que ´e real no universo sem uma teoria. Assumo por isso o ponto de vista, j´ a qualificado de simpl´ orio ou ingˆenuo, de que uma teoria da f´ısica ´e nada mais nada menos que um modelo matem´ atico que usamos para expressar os resultados de observa¸c˜ oes. Uma teoria ´e boa se for um modelo elegante, se descrever uma ampla classe de observa¸c˜ oes, e se previr o resultado de novas observa¸c˜ oes. N˜ ao faz sentido ir al´em disso, perguntando se ela corresponde a ` realidade, porque, independentemente de uma teoria, n˜ ao sabemos o que ´e realidade. (Do livro: “Buracos Negros, Universos-Bebˆ es”)
Noumeno e Fenˆomeno Ainda dentro do contexto em pauta, o idealismo transcendental daquele que ´e considerado o mais importante filos´ ofo moderno, o alem˜ ao Immanuel Kant (1724 − 1804) aceita a existˆencia de coisas-em-si (“noumeno”), mas considera que a ciˆencia s´ o tem acesso ` as coisas-para-n´ os, os “fenˆ omenos”. Tais fenˆ omenos, por´em, seriam organizados pelo nosso aparelho perceptivo e cognitivo, sendo assim em parte dependentes do sujeito.
301
Desafios
´ (Ilus˜ oes de Otica × Ilus˜ oes de L´ ogica)
Introdu¸ c˜ ao: O leitor certamente possui conhecimento de algumas ilus˜ oes de ´ otica tais como as trˆes a seguir:
Em cada uma destas figuras podemos enxergar duas realidades distintas. Pois bem, pela primeira vez na hist´ oria, assim acreditamos, estamos criando as ilus˜ oes de l´ ogica - que s˜ ao figuras (“matem´ aticas”) nas quais podemos enxergar duas realidades distintas, tal como numa ilus˜ ao de ´ otica. No presente desafio apresentamos duas ilus˜ oes de l´ ogica. 1o )
Desafio
Na figura ao lado ponto 0 encontra-se isolado das trˆes regi˜ oes em destaque, esta ´e uma realidade. A outra realidade ´e que podemos ver este mesmo ponto como n˜ ao isolado das trˆes regi˜ oes. Nota: N˜ ao isolado significa “colado”, aderente. O desafio que deixamos ao leitor consiste precisamente em encontrar uma l´ ogica de modo que possamos ver esta segunda possibilidade.
s
0
Nota: Existe uma proposi¸c˜ ao (afirmativa) da f´ısica quˆ antica de que um objeto quˆ antico (´eletron, por exemplo) pode est´ a em v´ arios lugares simultˆ aneamente. Podemos considerar esta nossa ilus˜ ao de l´ ogica (paradoxo) como sendo uma vers˜ ao matem´ atica desta proposi¸c˜ ao quˆ antica - uma vez que podemos ver (na segunda realidade) o ponto 0 nas trˆes regi˜ oes simultˆ aneamente. 2o )
Desafio
Dados dois pontos quaisquer na figura ao lado n˜ ao podemos un´ı-los por um tra¸co cont´ınuo totalmente contido na figura (como ilustrado). De outro modo: sentando a ponta de um l´ apis no primeiro ponto n˜ ao podemos alcan¸car o segundo sem levantar a ponta e sem sair da figura. Esta ´e uma realidade. O desafio consiste em encontrar uma l´ ogica de tal forma que isto sempre seja poss´ıvel (esta ´e a segunda realidade).
s
s
s
0
Nota: Existe uma proposi¸c˜ ao da f´ısica quˆ antica de que um objeto quˆ antico pode transitar entre v´ arias regi˜ oes disjuntas (sem pontos em comum) sem passar por pontos interm´edios (pontos “entre” as regi˜ oes). Podemos considerar esta nossa ilus˜ ao de l´ ogica como sendo uma vers˜ ao matem´ atica desta proposi¸c˜ ao quˆ antica - uma vez que podemos tra¸car um caminho (tra¸co cont´ınuo) do ponto 0 a qualquer outro ponto das outras regi˜ oes. (www.dmat.ufrr.br/∼gentil)
302
Cap´ıtulo
7
˜ FUNC ¸ OES CONT´ıNUAS “Quando o esp´ırito se apresenta a` cultura cient´ıfica, nunca ´ e jovem. Ali´ as ´ e bem velho, porque tem a idade de seus preconceitos. Aceder a ` ciˆ encia ´ e rejuvenescer espiritualmente, ´ e aceitar uma brusca muta¸ca ˜o que contradiz o passado.” (Gaston Bachelard)
Introdu¸ c˜ ao Aqui generalizamos para o contexto dos espa¸cos m´etricos o (importante) conceito de fun¸c˜ ao cont´ınua, estudado no C´ alculo e na An´ alise. Prevendo poss´ıveis “crises existˆenciais” pelas quais o leitor poder´ a vir a passar em mais este cap´ıtulo ´e que julgamos oportuno lembrar: “[. . .] e ´e por isto que resultados incompat´ıveis entre si podem ser igualmente verdadeiros, contanto que os relacionemos com m´ etricas diferentes” (par´ afrase, pg. 84). Defini¸ c˜ ao 42 (Continuidade). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Diz-se que a aplica¸c˜ ao f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e cont´ınua no ponto a ∈ M quando, para todo ε > 0 dado arbitrariamente, pudermos exibir δ > 0 de modo que se ` ´ d1(x, a) < δ ⇒ d2 f (x), f (a) < ε.
f
(M, d1 )
qa
qf (x) q ε f (a)
x δ
(N, d2 )
∃ δ>0
∀ ε>0
Figura 7.1: Defini¸ca˜o de continuidade em um ponto a ∈ M. Diremos que f ´e cont´ınua em M quando f for cont´ınua em todo ponto a ∈ M . A seguir damos uma outra caracteriza¸c˜ ao de continuidade - via bolas abertas.
303
Proposi¸ c˜ ao 74. Uma fun¸c˜ ao f : (M, d1 ) −→ (N, `d2 ) ´e cont´ ´ ınua no ponto a ∈ M se, e somente se, dada arbitrariamente uma bola Bd f (a); ε existe uma bola Bd (a; δ) 2 1 de modo que ` ´ ` ´ f Bd (a; δ) ⊂ Bd f (a); ε 1
(M, d1 )
Bd (a; δ) 1
δ
(N, d2 )
q
qa x
2
f
q
qf (x)
-
Bd (f (a); ε) 2
f (a)
6
∃ δ>0
∀ ε>0
f ( Bd (a; δ) )={ f (x) : x ∈ Bd (a; δ) } 1
1
Resumindo: para mostrar que f : M −→ N ´e cont´ınua em a ∈ M primeiramente devemos centrar em f (a) uma bola de raio ε. Em seguida devemos procurar um raio δ > 0 de tal modo que a imagem, por f , de todo ponto x ∈ Bd (a; δ) caia dentro da 1 ` ´ bola Bd f (a); ε . 2
Descontinuidade
Quando uma fun¸c˜ ao f n˜ ao ´e cont´ınua no ponto que f ´e descont´ınua nesse ` a, dizemos ´ ponto. Isto significa que existe uma bola Bd f (a); ε0 com a seguinte propriedade: 2 para toda bola centrada em a, isto ´e, Bd (a; δ), podemos exibir um ponto xδ ∈ Bd (a; δ) 1 1 ´ ` tal que f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0 . 2 A seguir colocamos em s´ımbolos, tanto a continuidade quanto a descontinuidade em um ponto a ∈ M : (continuidade em a)
∀
ε>0
∃
δ>0
∀
“
∃
∀
∃
“
ε0 >0
δ>0
x
xδ
` ´” x ∈ Bd (a; δ) ⇒ f (x) ∈ Bd f (a); ε 1
2
` ´” xδ ∈ Bd (a; δ) ∧ f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0 1
2
(descontinuidade em a)
Nota: Para entender a nega¸c˜ ao de continuidade ver corol´ ario 2 (pg. 31).
Importante! Deve ficar bem claro (transparente) para o leitor o papel desempenhado pelos n´ umeros ε e δ, na defini¸c˜ ao de continuidade. Com este intuito observemos o conte´ udo desta defini¸c˜ ao de uma outra perspectiva: Suponhamos que vocˆe queira provar, a um seu - fict´ıcio - advers´ ario, que f ´e cont´ınua em um ponto a ∈ M . Pois bem, seu advers´ ario fornecer´ a a vocˆe os valores de ε > 0. Para cada valor de ε (que lhe for fornecido) vocˆe ter´ a que devolver ao seu advers´ ario um n´ umero δ > 0 satisfazendo a condi¸c˜ ao ` ´ ∀ x ∈ M com d1(x, a) < δ ⇒ d2 f (x), f (a) < ε. Se o leitor conseguir esta fa¸canha, para cada valor de ε que lhe for fornecido arbitrariamente, ent˜ ao ter´ a provado que f ´e cont´ınua no ponto a. O raio δ procurado ´e fun¸c˜ ao do ε fornecido, o que justificar´ a a nota¸c˜ ao δ = δ(ε) = δε .
304
Generalizando Por oportuno, n˜ ao apenas na defini¸c˜ ao de continuidade, mas em qualquer outra que aparecer “para todo” ( ∀ ) ´e seu advers´ ario quem fixa (arbitrariamente) um valor; j´ a onde aparece “existe” ( ∃ ) ´e vocˆe que devolve (exibe) a ˆele um valor (por exemplo, veja a defini¸c˜ ao de convergˆencia de seq¨ uˆencias, pg. 199). Como ilustra¸c˜ ao, vejamos a defini¸c˜ ao de descontinuidade em um ponto: ∃
ε0 >0
∀
δ>0
∃
xδ
“
` ´” xδ ∈ Bd (a; δ) ∧ f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0 1
2
(descontinuidade em a)
Neste caso se vocˆe leitor quer provar a seu advers´ ario que uma dada fun¸c˜ ao ´e descont´ınua num ponto a ∈ M , ent˜ ao vocˆe deve exibir a ˆele um ε0 > 0 de sorte que: para todo δ > 0 que seu advers´ ario fixar, vocˆe deve exibir um ponto xδ dentro da bola de centro a e raio δ e tal que a imagem deste ponto n˜ ao caia dentro da bola de centro f (a) e raio ε0 (que vocˆe exibiu inicialmente). A afirmativa, remanescente do C´ alculo, de que o gr´ afico de uma fun¸c˜ ao cont´ınua em um ponto n˜ ao apresenta “salto” neste ponto, deixa de valer na An´ alise. A seguir veremos um exemplo de uma fun¸c˜ ao cont´ınua em um ponto cujo gr´ afico apresenta um salto neste mesmo ponto. Por outro lado veremos tamb´em o caso de uma fun¸c˜ ao (identidade) cujo gr´ afico n˜ ao apresenta salto em ponto algum, mesmo assim a fun¸c˜ ao ´e descont´ınua em todo ponto. Exemplos e Contra-exemplos: (
1) Seja f : R −→ R dada por f (x) =
x,
se x 6= 1;
2,
se x = 1.
cujo gr´ afico est´ a dado a seguir f (x)
6 2
q
1
q
r
q1
305
-x
O nosso objetivo ser´ a estudar a continuidade de f no ponto x = 1, em diferentes espa¸cos m´etricos. Vamos confirmar a seguinte tabela f : (M, d1 )−→(N, d2 )
x=1
1.1)
(R, δ)
(R, δ)
C
1.2)
(R, µ)
(R, δ)
D
1.3)
(R, δ)
(R, µ)
C
1.4)
(R, µ)
(R, µ)
D
onde: C significa cont´ınua e D significa descont´ınua. 1.1) f : (R, δ) −→ (R, δ)
Aqui existe a possibilidade de confus˜ ao entre a m´etrica δ e o n´ umero real δ > 0, raz˜ ao porque quando os dois ocorrerem em um mesmo contexto colocaremos um ponto ˙ sobre o delta m´etrica: δ. Para mostrar que f ´e cont´ınua no ponto x = 1 vamos centrar uma bola − de raio ε arbitr´ ario − em f (1) = 2. Temos (˘ ¯ f (1) , se 0 < ε ≤ 1; ` ´ Bδ˙ f (1); ε = R, se ε > 1. Devemos exibir δ > 0 de tal modo que a imagem de todo ponto dentro da bola Bδ˙(1; δ) caia dentro da bola Bδ˙ (2; ε). ´ suficiente escolher δ = 1 . Pois E 2 “ ` 1 ´” ` ´ = f ({ 1 }) = { 2 } ⊂ Bδ˙ f (1); ε ; ∀ ε > 0. f Bδ˙ 1; 2
Analise figura a seguir f (x) B˙(f (1); ε>1) =R δ
f (x)
6 2
q
1
q
B˙(f (1); ε≤1) ={ 2 }
r
ց
ց 2
1
1
q
6
δ
-x
տ
={ 1 } B˙(1; 1 2) δ
r
q
q 1
q
-x
տ
1 ={ 1 } B˙(1; 2 ) δ
Isto mostra que f ´e cont´ınua no ponto x = 1, considerando (R, δ) como espa¸co de partida e de chegada de f . 1.2) f : (R, µ) −→ (R, δ)
Para mostrar que f ´e descont´ınua no ponto x = 1 vamos centrar uma bola em f (1) = 2, de raio, por exemplo, ε0 = 12 . Vamos mostrar que, qualquer que seja δ > 0, na bola Bµ(1; δ) =]1 − δ, 1 + δ[ encontraremos um ponto xδ de modo que ` ´ f (xδ ) 6∈ Bδ˙ f (1); 21 = {f (1)} = { 2 }.
306
Vamos tomar, por exemplo, xδ =
(1−δ)+1 2
= 1 − 2δ .
f (x) ) ={ 2 } B˙(f (1); 1 2 δ
6 ց 2
q
1 f (xδ )q
r ] rq 1 [ տ 1+δ
1−δ
-x
xδ
Como δ 6= 0 ⇒ xδ 6= 1 ⇒ f (xδ ) = xδ = 1 − 2δ . Observe que, ` δ 1´ = {2} ⇐⇒ 1 − = 2 ⇐⇒ δ = −2. f (xδ ) ∈ Bδ˙ f (1); 2 2 ` ´ Isto mostra a impossibilidade de que f (xδ ) ∈ Bδ˙ f (1); 21 , qualquer que seja δ > 0. Portanto f ´e descont´ınua no ponto x = 1, considerando (R, µ) como espa¸co de partida e (R, δ) como espa¸co de chegada de f . 1.3) f : (R, δ) −→ (R, µ)
Para mostrar que f ´e cont´ınua no ponto x = 1 vamos centrar uma bola - de raio ε arbitr´ ario - em f (1) = 2: Bµ(f (1); ε) =]f (1) − ε, f (1) + ε[=]2 − ε, 2 + ε[ Devemos exibir δ > 0 de tal modo que a imagem de todo ponto dentro da bola ´ suficiente escolher δ = 1 . Bδ˙(1; δ) caia dentro da bola Bµ(2; ε). E 2 f (x)
6
2+ε 2
q
2−ε 1
r
q
q
1տ
-x
1 ={ 1 } B˙ 1; 2 δ
(
)
Observe que “ ` 1 ´” f Bδ˙ 1; = f ({ 1 }) = {2} ⊂ Bµ(f (1); ε) =] 2 − ε, 2 + ε [; ∀ ε > 0. 2
Isto mostra que f ´e cont´ınua no ponto x = 1, considerando (R, δ) como espa¸co de partida e (R, µ) como espa¸co de chegada de f . Nota: Observe que o δ ´e constante, isto ´e, n˜ ao depende do ε fornecido. 1.4) f : (R, µ) −→ (R, µ)
Para mostrar que f ´e descont´ınua no ponto x = 1 vamos centrar uma bola em
307
f (1) = 2, de raio, por exemplo, ε0 = 12 . Vamos mostrar que, qualquer que seja δ > 0, na bola Bµ(1; δ) =]1 − δ, 1 + δ[ encontraremos um ponto xδ de modo que ` ´ ˜ ˆ ˜ ˆ f (xδ ) 6∈ Bµ f (1); 21 = 2 − 12 , 2 + 21 = 23 , 52 . Vamos tomar, por exemplo, xδ =
(1−δ)+1 2
= 1 − δ2 .
f (x) 5 2
2
6
r
q
3 2
1 f (xδ )q
] q q1 [ տ 1+δ
1−δ
-x
xδ
Como δ 6= 0 ⇒ xδ 6= 1 ⇒ f (xδ ) = xδ = 1 − 2δ . ` ´ Observe que 1 − 2δ < 1, o que significa que f (xδ ) 6∈ Bµ 2; 12 , ∀ δ > 0. Isto mostra que f ´e descont´ınua no ponto x = 1, considerando (R, µ) como espa¸co de partida e de chegada de f . 2) A fun¸c˜ ao f : (R − { 0 }, µ) −→ (R, µ) definida por R
6 1
x f (x) = = |x|
(
1, se x > 0; −1, se x < 0.
- R−{ 0 }
∴
−1
´e cont´ınua em todo ponto do seu dom´ınio. Com efeito, dado ε > 0 e a ∈ R − { 0 } ´e suficiente escolher 8 < a , se a > 0; 2 δ= :− a , se a < 0. 2 Pois (para a > 0)
∀ x ∈ Bµ(a; δ) =]a − δ, a + δ[=
–
a 3a , 2 2
»
⇒ x>
a >0 2
⇒ f (x) = 1 ∈ Bµ(f (a); ε) =]1 − ε, 1 + ε[ tamb´em (para a < 0) ∀ x ∈ Bµ(a, δ) =]a − δ, a + δ[=
–
3a a , 2 2
»
⇒ x<
a <0 2
⇒ f (x) = −1 ∈ Bµ(f (a), ε) =] − 1 − ε, −1 + ε[
308
Observe que δ = δ(a) independe do ε > 0 dado. R
R
6
6
1+ε
1
1
1−ε
q
]
a
a−δ
[a+δ
R−{ 0 }
∴
] a−δ
q
a
- R−{ 0 }
[ a+δ −1+ε
−1
−1
−1−ε
3) A fun¸c˜ ao f : (R∗+ , µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = Com efeito, dados a ∈ R∗+ e ε > 0 escolhemos a−δ =
1 a
1 ´e cont´ınua. x
1 a2 ε ⇒ δ= 1 + aε +ε
f (x)
6 f
1 +ε a 1 a 1 −ε a
0
q
1 1 +ε a
!
= 1 +ε ⇒ f −1 a
( a1 +ε)= 1 1+ε =a−δ a
] q[ a
a−δ
-x
a+δ
Vamos mostrar que para este δ = δ(ε, a), temos x ∈ R∗+ , |x − a| < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < ε De fato,
ent˜ ao,
8 |x−a| a2 ε < xa < xa(1+aε) a2 ε |x − a| < ⇒ : 1 + aε a2 ε x − a > − 1+aε x−a>
(♭)
a2 ε a −a2 ε ⇒ x>a− = 1 + aε 1 + aε 1 + aε ⇒ x> ⇒
a ⇒ a < x(1 + aε) 1 + aε
a a2 ε <1 ⇒ < ε. x(1 + aε) xa(1 + aε)
309
Com aux´ılio da desigualdade ( ♭ ) conclu´ımos que |f (x) − f (a)| =
|x − a| <ε xa
Isto mostra que f ´e cont´ınua em a. 4) A fun¸c˜ ao f : (R, µ) −→ (R, δ) dada por f (x) = x (identidade) ´e descont´ınua em cada ponto do seu dom´ınio. Vamos mostrar que f ´e descont´ınua no ponto x = 1 (em qualquer outro ponto o racioc´ınio ´e o mesmo). Para mostrar que f ´e descont´ınua no ponto x = 1 vamos centrar uma bola em f (1) = 1, de raio, por exemplo, ε0 = 12 : ` 1´ Bδ˙ f (1); = { f (1) } = { 1 }. 2
Vamos mostrar que, qualquer que seja δ > 0, na bola
Bµ(1; δ) =]1 − δ, 1 + δ[ encontraremos um ponto xδ de modo que ` ´ f (xδ ) 6∈ Bδ˙ f (1); 12 . Vamos tomar xδ = (1−δ)+1 = 1 − 2δ . 2 f (x)
6 1 ={ 1 } B˙(f (1); 2 ) δ
ց 1
f (xδ )
ր
r q
] rq 1 [ տ 1+δ
1−δ
-x
xδ
Como δ 6= 0 ⇒ xδ 6= 1, logo ` 1´ f (xδ ) = xδ 6= 1 6∈ Bδ˙ f (1); = { f (1) } = { 1 }. 2 ´ ` Isto mostra a impossibilidade de que f (xδ ) ∈ Bδ˙ f (1); 12 , qualquer que seja δ > 0, portanto f ´e descont´ınua no ponto x = 1.
310
` ´ ` ´ 5) A fun¸c˜ ao f : [0, 1[, k −→ [0, 1[, µ dada por f (x) = x (identidade) ´e descont´ınua na origem. Para mostrar que f ´e descont´ınua no ponto x = 0 vamos centrar uma bola em f (0) = 0, de raio, por exemplo, ε0 = 41 : ` 1´ ˆ 1ˆ Bµ f (0); = 0, 4 4
Vamos mostrar que, qualquer`que seja´ δ > 0, na bola Bk (0; δ) encontraremos um ponto xδ de modo que f (xδ ) 6∈ Bµ f (0); 41 . O esbo¸co da bola Bk (0; r), ` a pg. 163, nos sugere o ponto xδ . Por exemplo, podemos = 1 − δ2 . Observe que, tomar xδ = (1−δ)+1 2 f (xδ ) = xδ = 1 −
δ 1 3 ≥ ⇐⇒ δ ≤ . 2 4 2
Se δ > 23 , temos Bk (0; δ) = [ 0, 1 [, podemos tomar, por exemplo, xδ = 12 . A geometria da situa¸c˜ ao ´e como a seguir (para δ < 21 ) 1 f (xδ )
¬ [
1 2
`
1 Bµ f (0); 4
´
0
δ
¬1
1−δ
2
s
1
xδ
` ´ ` ´ 6) A fun¸c˜ ao f : [0, 1], µ −→ [0, 1[, k dada por, 1
(
x,
0 ≤ x < 1;
0,
x = 1.
¬
f (x) =
1 2
¬1
0
2
s
1
´e cont´ınua em todo ponto do seu dom´ınio. Por exemplo, para mostrar que f ´e cont´ınua em x = 0 e x = 1; centramos uma bola de raio ε > 0 em 0 = f (0) = f (1), assim: 0
ε
1−ε
311
1
Nota: N˜ ao h´ a nenhum mal em considerarmos 0 < ε <
1 2
(ver pg. 163).
Esta bola encontra-se no contradom´ınio (“eixo vertical”), assim: 1
1
1−ε
1−ε
¬
¬ 1 2
1 2
ε
ε
0 0
s
¬1
0 δ= ε
0
1
2
Bµ(0; δ)
¬1
2
s
1
Bµ(1; δ)
Na figura da direita observamos que se tomarmos um raio δ = ε, ent˜ ao a imagem dos pontos nas (sub)bolas Bµ(0; δ) e Bµ(1; δ) caem dentro da bola Bk(0; ε). Nos demais pontos do dom´ınio vale um argumento an´ alogo, inclusive podemos tomar ainda δ = ε (ver diagramas de bolas abertas ` a pg. 163). Nota: Nossos “argumentos gr´ aficos” n˜ ao dispensam uma prova anal´ıtica a qual deixamos ao leitor. Em An´ alise (ou Topologia) se uma imagem n˜ ao vale mais que 1000 palavras, vale - pelo ao menos - umas 200; digo, ajuda bastante. ( 1, se x ∈ Q; 7) Seja f : R −→ R dada por f (x) = 0, caso contr´ ario. cujo gr´ afico n˜ ao pode ser plotado. O nosso objetivo ser´ a estudar a continuidade de f em um ponto a ∈ R arbitr´ ario, em diferentes espa¸cos m´etricos. Vamos confirmar a seguinte tabela f : (M, d1 )−→(N, d2 )
a∈R
7.1)
(R, δ)
(R, δ)
C
7.2)
(R, µ)
(R, δ)
D
7.3)
(R, δ)
(R, µ)
C
7.4)
(R, µ)
(R, µ)
D
7.1) f : (R, δ) −→ (R, δ)
Para mostrar que f cont´ınua no ponto a ∈ R vamos centrar uma bola - de raio ε arbitr´ ario - em f (a). Temos ` ´ Bδ˙ f (a); ε =
(˘
¯ f (a) ,
R,
se 0 < ε ≤ 1; se ε > 1.
Devemos exibir δ > 0 de tal modo que a imagem de todo ponto dentro da bola Bδ˙(a, δ) caia dentro da bola Bδ˙ (f (a), ε).
312
´ suficiente escolher δ = 1. Pois E ` ´ ` ´ ` ´ f Bδ˙(a; 1) = f { a } = { f (a) } ⊂ Bδ˙ f (a); ε ; ∀ ε > 0.
Isto mostra que f ´e cont´ınua no ponto a, considerando (R, δ) como espa¸co de partida e de chegada de f . Observe que o δ escolhido n˜ ao depende do ε fornecido. 7.2) f : (R, µ) −→ (R, δ)
Para mostrar que f ´e descont´ınua no ponto a vamos centrar uma bola em f (a), de raio, por exemplo, ε0 = 1 ` ´ Bδ˙ f (a); 1 = { f (a) }.
Vamos mostrar que, qualquer que seja δ > 0, na bola Bµ(a; δ) =]a − δ, a + δ[ encontraremos um ponto xδ de modo que f (xδ ) 6∈ Bδ˙ (f (a); 1). Consideremos duas possibilidades: (i) a ´e racional.
Neste caso Bδ˙(f (a); 1) = { f (a) } = { 1 }. Como em todo intervalo aberto ]a − δ, a + δ[ existem n´ umeros racionais e irracionais em abundˆ ancia vamos escolher um xδ irracional. Sendo assim ` ´ f (xδ ) = 0 6∈ Bδ˙ f (a); 1 = { f (a) } = { 1 }. (R, µ)
6
(R, δ)
ցq 1
→r
q0
a⊥
Q 6∋ xδ
a−δ
6
B (f (a); 1) δ˙
a+δ
f
(ii) a ´e irracional. Neste caso Bδ˙(f (a); 1) = { f (a) } = { 0 }. Agora vamos escolher na bola aberta ]a − δ, a + δ[ um xδ racional, sendo assim ` ´ f (xδ ) = 1 6∈ Bδ˙ f (a); 1 = { f (a) } = { 0 }. (R, µ)
6 →r
a+δ Q ∋ xδ
(R, δ)
6
-
q1
f
a⊥
a−δ B (f (a); 1) δ˙
ր
q0
Portanto f ´e descont´ınua em qualquer ponto a ∈ R, considerando (R, µ) como espa¸co de partida e (R, δ) como espa¸co de chegada de f . 7.3) f : (R, δ) −→ (R, µ)
313
Para mostrar que f ´e cont´ınua no ponto a vamos centrar uma bola − de raio ε arbitr´ ario − em f (a): ˜ ˆ Bµ(f (a); ε) = f (a) − ε, f (a) + ε . Devemos exibir δ > 0 de tal modo que a imagem de todo ponto dentro da bola Bδ˙(a; δ) caia dentro da bola Bµ(f (a); ε). ´ suficiente escolher δ = 1. E (R, δ)
(R, µ)
6
a
ր
B˙(a; 1) δ
q
6f (a)+ε
f
r f (a)
*
f (a)−ε
Observe que ` ` ´´ f Bδ˙ a; 1 = f ({ a }) = { f (a) } ⊂ ]f (a) − ε, f (a) + ε[; ∀ ε > 0.
Isto mostra que f ´e cont´ınua no ponto a, considerando (R, δ) como espa¸co de partida e (R, µ) como espa¸co de chegada de f . Observe que o δ escolhido n˜ ao depende do ε fornecido. 7.4) f : (R, µ) −→ (R, µ)
Para mostrar que f ´e descont´ınua no ponto a vamos centrar uma bola em f (a), de raio, por exemplo, ε0 = 1: ` ´ ˜ ˆ Bµ f (a); 1 = f (a) − 1, f (a) + 1 .
Vamos mostrar que, qualquer que seja δ > 0, na`bola Bµ´(a; δ) =]a − δ, a + δ[ encontraremos um ponto xδ de modo que f (xδ ) 6∈ Bµ f (a); 1 . Consideremos duas possibilidades: (i) a ´e racional.
` ´ ˜ ˆ Neste caso Bµ f (a); 1 = f (a) − 1, f (a) + 1 =] 0, 2 [. Como em todo intervalo aberto ]a − δ, a + δ[ existem n´ umeros racionais e irracionais em abundˆ ancia vamos escolher um xδ irracional, sendo assim ` ´ f (xδ ) = 0 6∈ Bµ f (a); 1 =] 0, 2 [ (R, µ)
(R, µ)
6 Bµ(f (a); 1)
a+δ
ց
→r a⊥
Q 6∋ xδ
a−δ
6 2
⊥1
q
R f
0
314
(ii) a ´e irracional. ` ´ ˜ ˆ Neste caso Bµ f (a); 1 = f (a) − 1, f (a) + 1 =] − 1, 1 [. Agora vamos escolher na bola aberta ]a − δ, a + δ[ um xδ racional, sendo assim
` ´ f (xδ ) = 1 6∈ Bµ f (a); 1 =] − 1, 1 [
(R, µ)
(R, µ)
6
f
→r
a+δ Q ∋ xδ
6
-
q1
a⊥
a−δ
⊥0 Bµ(f (a); 1)
ր −1
Portanto f ´e descont´ınua em qualquer ponto a ∈ R, considerando (R, µ) como espa¸co de partida e de chegada de f . ˘1 ¯ 8) `Seja ao f : (M, µ) −→ (R, µ) definida por f (0) = 0 ´ M = n : n ∈ N ∪{ 0 }. A fun¸c1˜ 1 e f n = n ´e cont´ınua em todo ponto n ∈ M mas n˜ ao ´e cont´ınua no ponto 0. De fato, o conjunto M −{ 0 } ´e discreto (pg. 193), o que significa que, fixado n0 ∈ N existe δn0 > 0 de modo que
` 1 ´ ˜ 1 ˆ 1 Bµ ; δn0 = − δn0 , + δn0 ∩ M = n0 n0 n0
1 n0
ff
˛ ˛ ˛ ˛ Nota: podemos tomar, por exemplo, δn = ˛ n1 − n 1+1 ˛ = n (n1 +1) . 0 0 0 0 0 Portanto dado ε > 0 para todo x na bola anterior se verifica a seguinte desigualdade
˛ ˛ ` ˛f (x) − f 1 ˛ n
0
˛ ˛ ´˛ ˛ ` 1 ´ ` 1 ˛ = ˛f ˛ ˛ n −f n 0
Isto prova que f ´e cont´ınua em todo ponto
1 n
315
0
∈ M.
˛ ´˛ ˛ = 0 < ε. ˛
f (x)
3
2
6 r1 ( 3 ,3)
q
R
6 f (x)
r( 12 ,2)
q
Bµ( n1 ; δn )={ n1 }
q
0
1
r(1,1)
q
(0,0)
r qqq q q q ... 1 1
43
1 2
0
0
ր
1 n0 +1
]q
ցq տ 0
-⊣
⊢
1 n0
[ q ↑
1 n0 −1
* f ⊣q - M
q
n0 +ε 1
f ( n0 )=n0 n0 −ε
··· 1
δn
0
q -x
q1
Observe que, no presente caso, δn0 n˜ ao depende do ε fornecido, mas t˜ ao somente do ponto n1 no qual examinamos a continuidade. Para mostrar que f n˜ ao ´e cont´ınua no ponto 0 ∈ M devemos mostrar que existe ε0 > 0 de modo que para todo δ > 0 ´e poss´ıvel encontrar xδ ∈ Bµ (0; δ) satisfazendo a seguinte condi¸c˜ ao xδ ∈ ]0 − δ, 0 + δ[ ⇒ |f (xδ ) − f (0)| ≥ ε0 Isto ´e −δ < xδ < δ ∴ |xδ | = xδ < δ ⇒ |f (xδ )| ≥ ε0 .
Ou ainda (tendo em conta o dom´ınio de f ) devemos mostrar que, para todo δ > 0, existe um natural n ( n1 = xδ ) de modo que n1 < δ e f (xδ ) = f ( n1 ) = n ≥ ε0 . Escolhendo ε0 = 1 a propriedade arquimediana nos garante a existˆencia do n procurado. ` ´ ` ´ 9) Seja ν : S4 , σ −→ S4 , ρ Onde x = (x1 x2 x3 x4 ) 7−→ y = (y1 y2 y3 y4 ) ´e tal que ( 1, se xi = 0; yi = 0, se xi = 1.
Por exemplo,
` ´ ` ´ ν 1010 = 0101 ; ν 1100 = 0011.
ν ´e cont´ınua em todo ponto a ∈ S4 . De fato, isto decorre da seguinte
316
Proposi¸ c˜ ao 75. Seja f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) se (M, d1 ) ´e um espa¸co discreto ent˜ ao f ´e cont´ınua. Prova: De fato, dado a ∈ M e ε > 0 arbitr´ ario, como (M, d1 ) ´e discreto ent˜ ao a ´e isolado, o que significa que existe δa > 0 de modo que Bd (a; δa ) = { a }, por 1 conseguinte ` ´ ` ´ ˘ ¯ ` ´ f Bd (a; δa ) = f { a } = f (a) ⊂ Bd f (a); ε ; ∀ ε > 0. 1
2
q q qq q '$ q q qq q q qa q q q q q δa &% ∃ δa >0 q
f -
(M, d1 )
'$ (N, d2 )
q (a) f ε &% ∀ ε>0
Ver exemplos: 1.1), pg. 306; 1.3), pg. 307 e 7), pg. 312. ∞
10) Seja a fun¸c˜ ao f : S
−→ [ 0, 1 ] dada por (ver pg. 114): ∞ “ ” X xn f (xn ) = 2n n=1
Exemplos: (i) Calcule, por f , a imagem da seq¨ uˆencia (xn ) = (011000 . . .). Solu¸ c˜ ao: ∞ ` ´ X xn 1 1 0 0 1 0 1 3 f (xn ) = + = n = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 +··· = 2 4 8 8 2 2 2 2 2 n=1
(ii) Calcule, por f , a imagem da seq¨ uˆencia (xn ) = (10101010 . . .). Solu¸ c˜ ao: ∞ ` ´ X 0 1 0 1 0 1 xn f (xn ) = n = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· 2 2 2 2 2 2 2 n=1 1
=
1 1 1 2 + 3 + 5 +··· = 21 2 2 1−
(10101010...)
(01100000...)
=
2 . 3
-f
∞
S
1 2 2
q
⊤1
q 23
q
f
-
q 38
⊥0
Na pg. 295 mostramos um algoritmo para converter um n´ umero decimal do ∞ intervalo [ 0, 1 ] para a base 2. A fun¸c˜ ao f : S −→ [ 0, 1 ] faz o procedimento contr´ ario.
317
` ∞ ´ ` ´ ∞ Vamos mostrar que f : S , ν −→ [ 0, 1 ], µ ´e cont´ınua em todo ponto a ∈ S . ∞
Seja a = (a1 a2 a3 . . .) ∈ S , dado ε > 0 escolhemos n0 ∈ N tal que
Tomemos δ =
1
1 n 2 0
< ε.
e consideremos a bola
n 2 0
Vamos mostrar que se,
n ∞ 1 o Bν(a; δ) = x ∈ S : ν(x, a) < n0 2
` ´ ˜ ˆ x ∈ Bν(a; δ) ⇒ f (x) ∈ Bµ f (a); ε = f (a) − ε, f (a) + ε ∩ [ 0, 1 ] `
∞
S
,ν
´
⊤1
'$
f (a)+ε
qa
f
xq &% δ
δ= n1 2 0
-
q f (a) q f (x)
f (a)−ε
⊥0
ao 25 (pg. 117) Ent˜ ao, seja x ∈ Bν(a; δ), logo ν(x, a) < n10 , pela proposi¸c˜ 2 xn = an ; n = 1, 2, . . . , n0 , portanto (ver teoremas [AR] 4 pg. 57 e [AR] 5 pg. 57) ˛∞ ˛ ˛∞ ˛ ∞ ∞ ˛X ˛ ˛ ˛ X xn an ˛ ˛ X xn − an ˛ X |xn − an | ˛ |f (x) − f (a)| = ˛ − = ≤ ˛ ˛ ˛ ˛ 2n 2n ˛ ˛n=1 2n ˛ n=1 2n n=1 n=1 =
n0 ∞ X X |xn − an | |xn − an | + n 2 2n n=n0 +1 n=1 | {z } =0
=
∞ X
n=n0 +1
|xn − an | 1 1 1 ≤ n +1 + n +2 + · · · = n0 < ε. 0 0 2n 2 2 2
∞
11) Considere a aplica¸c˜ ao f : S
∞
−→ S
dada por f (x1 x2 x3 x4 . . .) = (x2 x3 x4 x5 . . .).
Mostremos que f ´e cont´ınua. De fato, ∞ Seja a = (a1 a2 a3 . . .) ∈ S , dado ε > 0 escolhemos n0 ∈ N tal que
Tomemos δ =
1
1 n 2 0
< ε.
ao pela proposi¸c˜ ao n +1 . Se x = x1 x2 x3 x4 . . . satisfaz ν(x, a) < δ, ent˜ 0
2
25 (pg. 117) xi = ai para i ≤ n + ` 1. Sendo ´assim as i−´esimas entradas de f (x) e f (a) concordam para i ≤ n. Isto ´e, ν f (x), f (a) ≤ n10 < ε. 2
Veremos agora algumas aplica¸c˜ oes cont´ınuas especiais:
318
7.1
Isometria
Defini¸ c˜ ao 43 (Imers˜ ao isom´etrica). Uma fun¸c˜ aof : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e chamada uma imers˜ ao isom´etrica quando preserva distˆ a ncias, isto ´e, quando para quaisquer ` ´ x, y ∈ M tivermos d2 f (x), f (y) = d1(x, y). (M, d1 )
q
y d1(x, y)
q
→
q
(M, d2 )
f (y)
f
R
x
q
← d2(f (x), f (y))
f (x)
Toda imers˜ ao isom´etrica ´e cont´ınua. De fato, dado a ∈ M e ε > 0 arbitr´ ario, ´e suficiente tomar δ = ε, pois ` ´ d1(x, a) < δ = ε =⇒ d2 f (x), f (a) = d1(x, a) < ε.
Exemplos:
(i) A fun¸c˜ ao f : (R, µ) −→ (R2 , D1 ) dada por f (x) = (x, 0) leva a reta no plano euclidiano.
R
x
0
6 q
f
R
-
6
⊤
(0,0)
q
(x,0)
տ
R
f (R)
f ´e uma imers˜ ao isom´etrica. De fato, ` ´ p ` ´ D1 f (x), f (y) = D1 (x, 0); (y, 0) = (x − y)2 + (0 − 0)2
= |x − y| = µ(x, y). ` 2 ´ Se no espa¸co R , D1 trocarmos D1 por D2 ou por D3 , f continua uma imers˜ ao isom´etrica. Exerc´ıcio.
319
´ ` ´ ´ ` ` (ii) A fun¸c˜ ao f : R2 , D1 −→ R3 , D1 dada por f (x1 , x2 ) = (x1 , x2 , 0) leva o plano euclidiano no espa¸co euclidiano. R
R
6
x2
6
f
q(x1 , x2 )
q
-
qx1
-R
x2
R
q(x1 , x2 , 0)
x1 R
f ´e uma imers˜ ao isom´etrica. De fato, ` ´ ` ´ D1 f (x1 , x2 ); f (y1 , y2 ) = D1 (x1 , x2 , 0); (y1 , y2 , 0) =
p
(x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 + (0 − 0)2
p
(x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 ` ´ = D1 (x1 , x2 ); (y1 , y2 ) =
` ´ Se no espa¸co R2 , D1 trocarmos D1 por D2 ou D3 , f n˜ ao ser´ a mais uma imers˜ ao isom´etrica. Por exemplo ` ´ D2 (1, 1); (2, 2) = |1 − 2| + |1 − 2| = 2.
enquanto,
√ ` ´ p D1 (1, 1, 0); (2, 2, 0) = (1 − 2)2 + (1 − 2)2 + (0 − 0)2 = 2. R
2
1
R
f
6
q
6 R
(2,2)
q
q
(1,1)
q
q1
`
← D2
q2
´
(1,1); (2,2) =2
-
R
1 2 R
320
q
y1
q
←−
y2
-
R
` ´ √ D1 (1,1,0); (2,2,0) = 2
(iii) Consideremos a aplica¸c˜ ao R
x
f : (R, µ)−→(R2 , Di ) x 7−→ (x, x)
6 q
R f
−→
6
x
q
q f (x) x
-R
Considerando sobre R2 a m´etrica D3 resulta que f ´e imers˜ ao isom´etrica. De fato, ` ´ ` ´ D3 f (x), f (y) = D3 (x, x); (y, y)
= max{|x − y|, |x − y|} = |x − y| = µ(x, y).
Geometricamente tudo se passa assim:
R
(R, µ)
6 q
y |x−y| → x
0
q
6
q
y f
−→
x
q
q x
|x−y|
|x−y|
y
-R
Considerando sobre R2 a m´etrica D1 ou D2 resulta que f n˜ ao ´e imers˜ ao isom´etrica. Vejamos um contra-exemplo (x = 1, y = 2): ` ´ ` ´ D1 f (1), f (2) = D1 (1, 1); (2, 2) p = (1 − 2)2 + (1 − 2)2 √ = 2 6= 1 = µ(1, 2). Tamb´em ` ´ ` ´ D2 f (1), f (2) = D2 (1, 1); (2, 2) = |1 − 2| + |1 − 2|
= 2 6= 1 = µ(1, 2). Geometricamente tudo se passa assim:
321
R
(R, µ)
6 2 q 1 q 0
2
6 q
qf (1) →
D 1
f
1
−→
q
q1
q
Exerc´ıcio:
qf (2)
R 2
6 q
q
qf (2) 1
f (1)
1
q2
q
-R
տ
1
q1
D 2
q2
-R
Perguntamos se existe (ou n˜ ao) uma imers˜ ao isom´etrica: ϕ : ( [ 0, 1 [, µ ) −→ ( [ 0, 1 [, k )
Se existe, exiba - a; se n˜ ao, prove! Uma imers˜ ao isom´etrica f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e sempre uma aplica¸c˜ ao injetiva. De fato, ` ´ f (x) = f (y) ⇒ d2 f (x), f (y) = 0 = d1(x, y) ⇒ x = y.
Defini¸ c˜ ao 44 (Isometria). Uma fun¸c˜ ao f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e chamada isometria se ela for uma imers˜ ao isom´etrica sobrejetiva. Exemplos: (1) Transla¸c˜ ao ` ´ Num espa¸co vetorial E, +, · normado fixamos um vetor a ∈ E. A aplica¸c˜ ao Ta : E −→ E dada por Ta (x) = x + a, executa uma “transla¸c˜ ao” no vetor x. Ta ´e uma isometria. De fato, 1o ) Ta ´e uma imers˜ ao isom´etrica. d
“
” Ta (x), Ta (y) = kTa (x) − Ta (y)k
= k(x + a) − (y + a)k = kx − yk = d(x, y).
2o ) Ta ´e sobrejetiva. Dado y ∈ E devemos exibir x ∈ E de modo que Ta (x) = y. Ent˜ ao basta resolver a equa¸c˜ ao x + a = y. Logo, x = y − a ´e tal que Ta (x) = Ta (y − a) = (y − a) + a = y. ao Rθ : R2 −→ R2 , dada por (2) Rota¸c˜ ao. A transforma¸c˜ Rθ(x, y) = (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ) executa uma rota¸c˜ ao (anti-hor´ aria) - de θ graus - do ponto (x, y) em torno da origem.
322
Rθ
R
R
6
6
R
Rθ(x, y)
q
r
(x, y)
q
θ
-R
q
(0,0)
(x, y)
q
(0,0)
q
-R
q
Para mostrar que Rθ : (R2 , D1 ) −→ (R2 , D1 ) ´e uma isometria:
1o ) Rθ ´e uma imers˜ ao isom´etrica. Considere as duas imagens a seguir ` ´ Rθ(x1 , x2 ) = x1 cos θ − x2 sen θ, x1 sen θ + x2 cos θ ` ´ Rθ(y1 , y2 ) = y1 cos θ − y2 sen θ, y1 sen θ + y2 cos θ mostre que
` ´ ` ´ D1 Rθ(x1 , x2 ); Rθ(y1 , y2 ) = D1 (x1 , x2 ); (y1 , y2 )
2o ) Rθ ´e sobrejetiva. Dado (x′ , y ′ ) ∈ R2 , encontre um par ordenado (x, y) ∈ R2 tal que Rθ(x, y) = (x′ , y ′ ). Isto ´e, resolva o seguinte sistema linear ( x cos θ − y sen θ = x′ x sen θ + y cos θ = y ′
Conclua que dado (x′ , y ′ ) ∈ R2 para obter sua pr´e-imagem basta rotacion´ a-lo de θ graus no sentido hor´ ario. • A rota¸c˜ ao de um ˆ angulo θ em torno de um ponto ´e uma transforma¸c˜ ao que ancia; em sendo assim, a rota¸c˜ ao depende da m´etrica considerada. Por preserva a distˆ exemplo, a rota¸c˜ ao do ponto (1, 0) de 90o em torno da origem nas trˆes m´etricas do 2 R , fica assim:
(0,1)
6 s s
(0,1)
-
(1,0)
6 s s
(0,1)
-
(1,0)
6 s s
-
(1,0)
Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que a transforma¸c˜ ao rota¸c˜ ao em qualquer uma destas m´etricas n˜ ao ´e uma isometria em qualquer uma das outras duas m´etricas.
323
` ´ (3) Isometrias em SN , σ
Veremos agora uma fam´ılia de isometrias no espa¸co de s´ımbolos. Se π ´e uma bije¸c˜ ao do conjunto {1, 2, . . . , n} nele pr´ oprio, tamb´em chamada de permuta¸c˜ ao, a aplica¸c˜ ao permuta¸c˜ ao de coordenadas SN
Γπ :
SN
(x1 , x2 , ...,xn )
(x
π(1)
,x
π(2)
, ...,x
π(n)
)
` ´ ´e uma isometria no espa¸co SN , σ . O n´ umero de bije¸c˜ oes (permuta¸c˜ oes) do conjunto {1, 2, . . . , n} nele pr´ oprio ´e n! Listamos a seguir todas as permuta¸c˜ oes do conjunto {1, 2, 3}: « « „ « „ « „ « „ « „ 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 . , , , , , 3 2 1 3 1 2 2 3 1 2 1 3 1 3 2 « „ 1 2 3 = π. Fixemos, a t´ıtulo de exemplo, uma destas permuta¸c˜ oes: 2 3 1 Sendo assim, temos „
1 2 3 1 2 3
π(1) = 2, π(2) = 3, π(3) = 1. Ent˜ ao, S3
Γπ :
S3
(x1 , x2 , x3 )
(x
π(1)
,x
π(2)
,x
π(3)
)
A aplica¸c˜ ao Γπ executa a seguinte permuta¸c˜ ao nos termos de uma seq¨ uˆencia de S3 : Γπ
` ´ x1 , x2 , x3 Por exemplo,
` ´ Γπ 101 = 011;
` ´ x2 , x3 , x1
(>)
` ´ Γπ 010 = 100.
` ´ 3 Veja acil mostrar que Γπ ´e `uma isometria: ` como ´e´ f´ ´ Dados x = x1 , x2 , x3 ∈ S e 3 y = y1 , y2 , y3 ∈ S mostremos que σ Γπ (x), Γπ (y) = σ(x, y). Pois bem, ` ´ x1 , x2 , x3
` ´ y1 , y2 , y3
Temos σ(x, y) =
Γπ
Γπ
` ´ x2 , x3 , x1 ` ´ y2 , y3 , y1
3 X ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛xn − yn ˛ = ˛x1 − y1 ˛ + ˛x2 − y2 ˛ + ˛x3 − y3 ˛
n=1
Por outro lado,
3 ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ` ´ X ˛x − yπ(n) ˛ = ˛xπ(1) − yπ(1) ˛ + ˛xπ(2) − yπ(2) ˛ + ˛xπ(3) − yπ(3) ˛ σ Γπ (x), Γπ (y) = π(n) n=1
` ´ Portanto, σ Γπ (x), Γπ (y) = σ(x, y).
˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ = ˛x2 − y2 ˛ + ˛x3 − y3 ˛ + ˛x1 − y1 ˛
324
A sobrejetividade de Γπ decorre do fato de que as permuta¸c˜ oes s˜ ao bije¸c˜ oes (isto ´e, tˆem inversa). Seja, por exemplo, y = 110 ∈ S3 , calcule sua pr´e-imagem por Γπ . Isto ´e, encontre x ∈ S3 tal que Γπ (x) = y. « „ 1 2 3 −1 . Temos, Solu¸ c˜ ao: Basta calcular Γπ−1 ( y ), onde π = 3 1 2 ` ´ Γπ−1 ( y1 , y2 , y3 ) = yπ−1 (1) , yπ−1 (2) , yπ−1 (3) = ( y3 , y1 , y2 ) Ent˜ ao, Γπ−1 ( 110 ) = 011. Observe que Γπ ( 011 ) = 110 (ver equa¸c˜ ao ( > )). ` N ´ ` N ´ (4) Uma Isometria em S , σ e S , τ .
Veremos agora um exemplo de isometria nos espa¸cos acima. Trata-se da aplica¸c˜ ao complementa¸c˜ ao, assim definida T :
SN
SN
(x1 , x2 , ...,xn )
onde xi =
(x1 , x2 , ...,xn )
(
1,
se xi = 0;
0,
se xi = 1.
Exemplos, ` ´ 1101
Observe que
Por outro lado,
` ´ 0111
T
T
` ´ 0010 ` ´ 1000
` ´ ` ´ σ 1 1 0 1, 0 1 1 1 = 2 ; σ 0 0 1 0, 1 0 0 0 = 2. ` ´ ` ´ τ 1 1 0 1, 0 1 1 1 = 3 ; τ 0 0 1 0, 1 0 0 0 = 3.
Isto ´e, ambas as distˆ ancias foram preservadas. Deixamos como exerc´ırcio ao leitor mostrar que `isto sempre ´ ` acontece ´ e que T ´e sobrejetiva. Isto ´e, que T ´e uma isometria nos espa¸cos SN , σ e SN , τ . ` ´ Perguntamos ao leitor se T ´e isometria no espa¸co SN , ρ .
Defini¸ c˜ ao 45 (Contra¸c˜ ao). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma aplica¸c˜ ao f : M −→ N ´e chamada uma contra¸c˜ ao quando existe uma constante α, com 0 ≤ α < 1, tal que ` ´ d2 f (x), f (y) ≤ α d1 (x, y) para quaisquer x, y ∈ M.
Assim, numa contra¸c˜ ao, a distˆ ancia entre as imagens de dois pontos quaisquer ´e menor que a distˆ ancia entre os respectivos pontos. ` ´ Exemplo: Considere o espa¸co normado R2 , k · k e seja f : R2 −→ R2 , dada por ao f ´e uma contra¸c˜ ao, pois f (p) = 12 p. Ent˜ ‚ ‚ ‚1 ` ´ 1 ‚ ‚ p − q d2 f (p), f (q) = kf (p) − f (q)k = ‚ ‚2 2 ‚ 1 1 = kp − qk = d1 (p, q) < d1 (p, q). 2 2
325
Por exemplo, seja p = (3, 3) e q = (4, 1), ent˜ ao f (3, 3) =
`3 3´ ` 1´ 1 1 (3, 3) = , ♦ f (4, 1) = (4, 1) = 2, . 2 2 2 2 2 R
6 4
q
3
q
2
q
1
p
f (p)
q
q f (q)
(0,0)
q1
q2
q3
-R
q4
Toda contra¸c˜ ao f ´e cont´ınua. De fato, dado ε > 0, ´e suficiente tomar δε = ε/α, pois ` ´ d1 (x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) ≤ α d1 (x, y) < α · δ = ε. Defini¸ c˜ ao 46 (Fun¸c˜ oes de Lipschitz). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma aplica¸c˜ ao f : M −→ N ´e uma fun¸c˜ ao de Lipschitz∗ (ou lipschitziana) quando existe uma constante c > 0 (chamada constante de Lipschitz) satisfazendo ` ´ d2 f (x), f (y) ≤ c d1 (x, y) para quaisquer x, y ∈ M. Toda fun¸c˜ ao de Lipschitz ´e cont´ınua. De fato, dado ε > 0 ´e suficiente tomar δ = d1 (x, y) < δ = Exemplos:
ε c
e teremos
` ´ ε =⇒ d2 f (x), f (y) ≤ c d1 (x, y) < ε. c
` ´ 1) Dado um espa¸co vetorial E, +, · normado, cada escalar λ 6= 0 determina uma homotetia hλ : (E, k.k) −→ (E, k.k) definida por hλ(x) = λx, ∀ x ∈ E. Escolhamos c > 0 tal que c ≥ |λ|. Para quaisquer x, y ∈ E, temos: d2 (hλ(x), hλ(y)) = d2 (λx, λy) = kλx − λyk
= |λ| · kx − yk ≤ c kx − yk = c d1 (x, y)
e portanto hλ ´e lipschitziana e, por conseguinte, cont´ınua. 2) Para as fun¸c˜ oes f : (R, µ) −→ (R, µ) a condi¸c˜ ao de Lipschtiz significa que |f (x) − f (y)| ≤ c |x − y| =⇒ |f (x) − f (y)|/|x − y| ≤ c ou seja, a inclina¸c˜ ao de qualquer secante ao gr´ afico de f ´e, em valor absoluto, ≤ c. Se uma fun¸c˜ ao f : (I, µ) −→ (R, µ), definida em um intervalo I, tem derivada ∗ Rudolph Lipschitz (1832 − 1903) foi professor em Bonn. Deu contribui¸ co ˜es a ` a ´lgebra, a ` teoria dos n´ umeros, a ` geometria diferencial e a ` an´ alise.
326
limitada para todo x ∈ I − isto ´e existe c > 0 tal que |f ′ (x)| ≤ c, ∀ x ∈ I − ent˜ ao pelo teorema do valor m´edio ([AR] 12 (pg. 58)), dados x, y ∈ I quaisquer, existe um ponto t entre x e y, tal que f (x) − f (y) = f ′ (t)(x − y), portanto, |f (x) − f (y)| = |f ′ (t)| ≤ c =⇒ |f (x) − f (y)| ≤ c |x − y|. |x − y| Resumindo: toda fun¸c˜ ao com derivada limitada em um intervalo ´e lipschitziana. Por exemplo, das fun¸c˜ oes abaixo f : R −→ R
g : [ −1, 1 ] −→ R
e
x 7−→ x2
x 7−→ x2 Apenas g ´e lipschitziana.
De fato, se f fosse de Lipschitz existiria c > 0 de modo que |x2 − y 2 | ≤ c |x − y| =⇒ |x + y| ≤ c, ∀ x 6= y ∈ R isto, em particular, implicaria em R ser limitado. Esta inverdade prova nossa assertiva. Por outro lado, sendo |x| ≤ 1 e |y| ≤ 1 para todo x, y ∈ [−1, 1 ], temos |x + y| ≤ |x| + |y| ≤ 2, logo |x2 − y 2 | = |x − y| · |x + y| ≤ 2|x − y| ⇒ |f (x) − f (y)| ≤ 2|x − y|. Isto mostra que f ´e de Lipschitz. Observe que g ′ (x) = 2x e como −1 ≤ x ≤ 1 temos −2 ≤ 2x ≤ 2 =⇒ |2x| = |g ′ (x)| ≤ 2. isto ´e, g possui derivada limitada no intervalo [−1, 1 ]. Veja:
g ′ (x)
6 2
q
1
q
g(x)
6 1
−1 q
q 0
-x
q1
−1 q
0
−1
q
−2
327
q
-x
q1
3) Dados M1 , M2 , . . . , Mn , para cada i (i = 1, 2, . . . , n) fixado a fun¸c˜ ao pi : M1 × . . . × Mn −→ Mi (x1 ,... , xi , ..., xn )
chama-se proje¸c˜ ao i-´esima.
7−→
xi
A figura a seguir ilustra esta situa¸c˜ ao para o caso de dois espa¸cos m´etricos: M2
ր
p2 (x)=x2
s
M1 ×M2
sx = (x1 , x2 )
p2
ր
p1 (x)=x1
s
p1 M1
As proje¸c˜ oes s˜ ao exemplos de fun¸c˜ oes de Lipschitz. De fato, sejam x = (x1 , . . . , xn ) e y = (y1 , . . . , yn ) pontos arbitr´ arios de M = M1 × M2 × · · · × Mn , ent˜ ao (pg. 157) di (pi (x), pi (y)) = di (xi , yi ) ≤ Dk(x, y) (k = 1, 2, 3.)
Portanto as fun¸c˜ oes pi s˜ ao lipschitzianas com constante de Lipschitz c = 1.
As aplica¸c˜ oes lipschitzianas nas quais c = 1 s˜ ao tamb´em conhecidas como contra¸ c˜ oes fracas. Vejamos mais alguns exemplos de contra¸c˜ oes fracas: ` ´ (i) Num espa¸co vetorial E, +, · normado a adi¸c˜ ao de vetores s : E ×E −→ E definida por s(x, y) = x + y ´e uma contra¸c˜ ao fraca (portanto ´e uma aplica¸c˜ ao cont´ınua). Vamos usar em E × E a m´etrica (pg. 151) ` ´ D2 (x1 , x2 ); (y1 , y2 ) = d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 ) = kx1 − y1 k + kx2 − y2 k.
Com efeito, para quaisquer (x1 , x2 ), (y1 , y2 ) ∈ M × M , temos ` ´ ` ´ d2 s(x1 , x2 ); s(y1 , y2 ) = d2 x1 + x2 ; y1 + y2
(ii) A pr´ opria m´etrica
= k(x1 + x2 ) − (y1 + y2 )k = k(x1 − y1 ) + (x2 − y2 )k ` ´ ≤ kx1 − y1 k + kx2 − y2 k = D2 (x1 , x2 ); (y1 , y2 )
d : M × M −→ R (x, y) 7−→ d(x, y) ´e uma contra¸c˜ ao fraca. De fato, Vamos usar em M × M a m´etrica ` ´ D2 (x1 , x2 ); (y1 , y2 ) = d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 ) = d(x1 , y1 ) + d(x2 , y2 ).
Com efeito, para quaisquer (x1 , x2 ), (y1 , y2 ) ∈ M × M , temos ˛ ˛ ˛ ˛ ˛d(x1 , x2 ) − d(y1 , y2 )˛ = ˛d(x1 , x2 ) − d(x2 , y1 ) + d(x2 , y1 ) − d(y1 , y2 )˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ≤ ˛d(x2 , x1 ) − d(x2 , y1 )˛ + ˛d(y1 , x2 ) − d(y1 , y2 )˛ ` ´ ≤ d(x1 , y1 ) + d(x2 , y2 ) = D2 (x1 , x2 ); (y1 , y2 ) .
328
Na u ´ltima desigualdade fizemos uso da proposi¸c˜ ao 26 (pg. 118) (iii) A norma k · k : E −→ R x 7−→ kxk
´e uma contra¸c˜ ao fraca. Com efeito, para quaisquer x, y ∈ E temos ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ kxk − kyk ˛ = ˛d(x, 0) − d(y, 0)˛ ≤ d(x, y)
(iv) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Fixemos A ⊂ M . A fun¸c˜ ao f : M −→ (R, µ) x 7−→ d(x, A) ´e uma contra¸c˜ ao fraca. Com efeito, para quaisquer x, y ∈ M , temos (prop. 27 pg. 121): ˛ ˛ ˛ d(x, A) − d(y, A) ˛ ≤ d(x, y)
Em particular, tomando A = { a }, temos que a aplica¸c˜ ao da : M −→ R
x 7−→ d(x, a)
´e cont´ınua. (v) A aplica¸c˜ ao f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = |x| ´e uma contra¸c˜ ao fraca. Com efeito, isto ´e uma conseq¨ uˆencia imediata da desigualdade ˛ ˛ ˛|x| − |y|˛ ≤ |x − y| , ∀x, y ∈ R. Uma aplica¸c˜ ao f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) se diz localmente lipschitziana se, para cada ponto a ∈ M , existe uma bola Bd (a; r) ⊂ M de modo que a restri¸c˜ ao de f a essa 1 bola ´e lipschtziana. Uma aplica¸c˜ ao localmente lipschitziana ´e cont´ınua. De fato, dado a ∈ M existe uma bola Bd (a; r) de mameira que f restrita a essa bola ´e lipschtziana, logo existe 1 c > 0 tal que ` ´ d2 f (x), f (y) ≤ c d1 (x, y), ∀ x, y ∈ Bd (a; r). 1 ` ´ Assim, dada uma bola Bd f (a); ε , com ε arbitrariamente fixado, escolhemos δ > 0 2 de maneira que δ < r e δ < εc . Sendo assim temos: (
i) Seja f : (R, µ) −→ (R, µ) definida por f (x) = xn , onde n ´e um natural arbitrariamente fixado. Seja a ∈ R, consideremos a bola Bµ(a; r) =]a − r, a + r[. Tendo em conta que toda bola aberta ´e um conjunto limitado, existe k ∈ R de maneira que |x| ≤ k para todo x ∈ Bµ(a; r) =]a − r, a + r[
329
(⋆)
Devido ao teorema do valor m´edio, se x, y ∈ Bµ(a; r), x 6= y existe t ∈ R, situado entre x e y de modo que f (x) − f (y) = f ′ (t)(x − y) = n · tn−1 (x − y) Ent˜ ao,
|f (x) − f (y)| = n · |t|n−1 · |x − y|,
por (⋆), temos
∀ x, y ∈ ]a − r, a + r[
|t| ≤ k ⇒ |t|n−1 ≤ kn−1 ⇒ n · |t|n−1 · |x − y| ≤ n · kn−1 · |x − y| por conseguinte |f (x) − f (y)| ≤ n · kn−1 · |x − y|,
∀ x, y ∈ ]a − r, a + r[
isto ´e, f ´e localmente lipschtziana com constante de Lipschitz c = nkn−1 . Observe que a fun¸c˜ ao f : R −→ R dada por f (x) = x2 n˜ ao ´e lipschitziana, mas sim localmente lipschitziana. 1 ii) Seja f : (R∗ , µ) −→ (R, µ) definida por f (x) = , ∀ x ∈ R∗ . x Tomemos inicialmente a ∈ R∗ =] − ∞, 0 [ ∪ ] 0, +∞ [ e a > 0. Como o conjunto ] 0, +∞ [ ´e aberto podemos centrar neste ponto uma bola aberta Bµ(a; r) = ] a − r, a + r [ ⊂ ] 0, +∞ [. Fa¸camos a − r = s > 0, ent˜ ao ∀ x, y ∈ ] a − r, a + r [=] s, s + 2r [ ⇒ x > s > 0 e y > s > 0 1 1 |x − y| |x − y| < 2 ⇒ < . |x| · |y| s |x| · |y| s2
⇒ |x| · |y| > s2 ⇒ f (x)
6
|f (x)−f (y)|
⊥ →⊤ 0
] a−r
⊢
⊣
q
x
⊢
q
a
q
y
[
-x
a+r
⊣
s |x−y| Pois bem, ∀ x, y ∈ ]a − r, a + r[, temos ˛ ˛ ˛1 |x − y| 1˛ 1 |f (x) − f (y)| = ˛˛ − ˛˛ = < 2 |x − y|. x y |x| · |y| s
Isto prova que f restrita a Bµ(a; r) ´e lipschitziana ( para a < 0 o tratamento ´e an´ alogo).
330
` ´ iii) Num espa¸co vetorial E, +, · normado, a multiplica¸c˜ ao por escalares m : R × E −→ E (α, u) 7−→ α u ´e localmente lipschitziana. Provaremos nossa assertiva usando sobre R × E a m´etrica ˘ ¯ D3 (x, y) = max d1 (x1 , y1 ), d2 (x2 , y2 )
Nota: Aqui d1 ´e m´etrica usual de R:
d1 (x1 , y1 ) = |x1 − y1 |; ∀ x1 , y1 ∈ R. d2 ´e m´etrica de E: d2 (x2 , y2 ) = kx2 − y2 k; ∀ x2 , y2 ∈ E. Portanto,
˘ ¯ D3 (x, y) = max |x1 − y1 |, kx2 − y2 k
onde x = (x1 , x2 ) ∈ R × E e y = (y1 , y2 ) ∈ R × E. Seja a = (α, u) um ponto arbitr´ ario de R × E, centremos neste ponto uma bola BD (a, r). 3 Primeiramente vamos mostrar que existe uma bola de centro na origem 0 = (0, 0) ∈ R × E e raio conveniente s, de maneira que BD (a; r) ⊂ BD (0; s). 3 3 Tomando s = D3(0, a) + r, vamos mostrar que BD (a; r) ⊂ BD (0; s). 3
# r qa BD (a; r) 3 "!
E
3
R×E
BD (0; s)
D3(0, a)
3
r
0=(0, 0)
R
Com efeito, seja x = (β, v) ∈ BD (a; r) um ponto arbitr´ ario nesta bola; logo 3 D3(x, a) < r, ou ainda ` ´ ˘ ¯ D3 (β, v); (α, u) = max |β − α|, ku − vk < r (7.1) Devemos mostrar que x ∈ BD (0; s) onde 3
` ´ s = D3(0, a) + r = D3 (0, 0); (α, u) + r ˘ ¯ = max |0 − α|, k0 − uk + r ˘ ¯ = max |α|, kuk + r.
Para tanto basta mostrar que D3(x, 0) < s. Sendo ` ´ D3(x, 0) = D3 (β, v); (0, 0) ˘ ¯ = max |β − 0|, kv − 0k ˘ ¯ = max |β|, kvk .
331
Devemos mostrar que De (7.1) temos
˘ ¯ ˘ ¯ max |β|, kvk < s = max |α|, kuk + r
(7.2)
|β − α| < r e ku − vk < r
(7.3)
Por outro lado
kvk = kv − u + uk ≤ ku − vk + kuk |β| = |β − α + α| ≤ |α − β| + |α|
com aux´ılio de (7.3) escrevemos kvk ≤ ku − vk + kuk < kuk + r |β| ≤ |α − β| + |α| < |α| + r
portanto, (
kvk < kuk + r |β| < |α| + r
˘ ¯ ˘ ¯ =⇒ max |β|, kvk < max |α|, kuk + r
E isto prova (7.2). Por conseguinte BD (a; r) ⊂ BD (0; s). 3
3
Pois bem, dados dois pontos quaisquer (α, u) e (β, v) na bola BD (a; r), como estes 3 pontos est˜ ao na bola BD (0; s), valem as desigualdades 3 ` ´ ` ´ D3 (α, u); (0, 0) < s e D3 (β, v); (0, 0) < s isto ´e
˘ ¯ ˘ ¯ max |α|, kuk < s e max |β|, kvk < s Agora calculemos a distˆ ancia entre as imagens, por m, destes pontos: ` ´ ` ´ d2 m(α, u); m(β, v) = d2 αu, βv = kαu − βvk
(7.4)
= kαu − βu + βu − βvk
= k(α − β)u + β(u − v)k ≤ |α − β| · kuk + |β| · ku − vk
(♯)
Sendo assim kαu − βvk ≤ |α − β| · kuk + |β| · ku − vk ˘ ¯ ≤ 2 max |α − β| · kuk, |β| · ku − vk
(♮)
De (7.4) temos,
kuk < s =⇒ |α − β| · kuk < s|α − β| |β| < s =⇒ |β| · ku − vk < sku − vk Destas desigualdades inferimos que ˘ ¯ ˘ ¯ max |α − β| · kuk, |β| · ku − vk < max s |α − β|, s ku − vk Ou ainda,
˘ ¯ ˘ ¯ 2 max |α − β| · kuk, |β| · ku − vk < 2s max |α − β|, ku − vk ` ´ = 2s D3 (α, u); (β, v)
Portanto de ( ♯ ), ( ♮ ) e ( ♭ ) conclu´ımos que ` ´ ` ´ d2 m(α, u); m(β, v) < 2s D3 (α, u); (β, v) Isto prova que m ´e localmente lipschitziana.
332
(♭)
Caracteriza¸ c˜ ao de Continuidade Via Convergˆ encia de Seq¨ uˆ encias Proposi¸ c˜ ao 76. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Se f : M −→ N ´e cont´ınua no ponto a ∈ M e (xn ) ´e uma seq¨ uˆencia de pontos de M convergindo para a ent˜ ao f (xn ) −→ f (a). (N, d2 )
(M, d1 )
sxր n
s
s
s
f (xn )
f (x2 )
f
·
···
··
x2
s
a
s ···
f (x3 )
ց
f (x1 )
·
s
s
x3
··
s
x1
s
f (a)
Em resumo: H:
(
f ≀a lim xn = a
=⇒ T : lim f (xn ) = f (a)
Nota: A nota¸c˜ ao f ≀ a significa: f ´e cont´ ` ınua´no ponto a. Prova: Para mostrar que a` seq¨ uˆencia f (xn ) converge para o ponto f (a), centremos ´ neste ponto uma bola Bd f (a); ε de raio ε arbitr´ ario. Devemos exibir um ´ındice 2 ` ´ n0 `∈ N a partir do qual todos os termos da seq¨ u ˆ e ncia f (xn ) caiam dentro da bola ´ Bd f (a); ε . Isto ´e devemos exibir um ´ındice n0 ∈ N tal que 2
` ´ se n ≥ n0 ⇒ d2 f (xn ), f (a) < ε
(7.5)
Como f ´e cont´ınua em a ∈ M , para o ε dado existe δε > 0 de modo que ` ´ se x ∈ Bd (a; δε ) ⇒ f (x) ∈ Bd f (a); ε 1
isto ´e
2
` ´ se d1 (x, a) < δε ⇒ d2 f (x), f (a) < ε.
(7.6)
Por outro lado, como xn −→ a, para todo δ > 0 existe nδ ∈ N tal que se n ≥ nδ ⇒ d1 (xn , a) < δ Daqui e de (7.6) concluimos que ` ´ se n ≥ n0 = nδ ⇒ d1 (xn , a) < δ = δε ⇒ d2 f (xn ), f (a) < ε.
Isto prova (7.5)
De forma sugestiva, a proposi¸c˜ ao anterior poderia ainda exprimir-se dizendo que a continuidade de f no ponto a equivale ` a possibilidade de permutar os s´ımbolos “lim” e “f ”: lim f (xn ) = f (lim xn ) (7.7)
333
Proposi¸ c˜ ao 77. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Se f : M −→ N n˜ ao ´e cont´ınua no ponto a ∈ M ent˜ ao existe uma seq¨ uˆencia M ∋ xn −→ a tal que f (xn ) −→ 6 f (a). Em resumo: H : f6 ≀ a =⇒ T :
8 <∃ (xn ) : lim xn = a :f (x ) −→ 6 f (a) n
Prova: Com efeito, n˜ ao sendo f cont´ınua em a (pg. 304), existe ε0 > 0 tal que, qualquer que seja δ > 0 haver´ a pelo ao menos um ponto xδ ∈ M verificando ambas as condi¸c˜ oes: ´ ` xδ ∈ Bd (a; δ) e f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0 1
isto ´e
2
` ´ d1 (xδ , a) < δ e f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0 2
1 Fa¸camos δ = ; ent˜ ao para todo n ∈ N existir´ a xn ∈ M tal que n ` ´ 1 d1 (xn , a) < e f (xn ) 6∈ Bd f (a); ε0 2 n portanto f (xn ) −→ 6 f (a); por´em 0 ≤ d1 (xn , a) <
1 1 ⇒ lim 0 ≤ lim d1 (xn , a) ≤ lim n n ⇒ lim d1 (xn , a) = 0 ⇒ xn −→ a.
¯ da proposi¸c˜ Observe que a contra-positiva T¯ −→ H ao anterior ´e:
Proposi¸ c˜ ao 78. Se para toda seq¨ uˆencia (xn ) com xn −→ a tivermos f (xn ) −→ f (a) ent˜ ao f ´e cont´ınua em a. A rec´ıproca da proposi¸c˜ ao 77 tamb´em vale, Proposi¸ c˜ ao 79. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Se existe uma seq¨ uˆencia M ∋ xn −→ a tal que f (xn ) −→ 6 f (a) ent˜ ao f : M −→ N n˜ ao ´e cont´ınua no ponto a ∈ M . Em resumo: H:
8 <∃ (xn ) : lim xn = a :f (x ) −→ 6 f (a) n
=⇒ T : f6 ≀ a
Prova: Com efeito, se xn −→ a, ent˜ ao
∀ δ > 0, ∃ n0 ∈ N tal que n ≥ n0 ⇒ xn ∈ Bd (a; δ) 1
(§)
Por outro lado, como f (xn ) −→ 6 f (a), ent˜ ao (ver pg. 199) existe ε0 > 0 de modo que ` ´ ∀ n ∈ N, ∃ n′ ≥ n tal que f (xn′ ) 6∈ Bd f (a); ε0 2
` ´ Em particular, para n = n0 existe n′ ≥ n = n0 tal que f (xn′ ) 6∈ Bd f (a); ε0 mas por 2 ( § ) temos que xn′ ∈ Bd (a; δ). 1 Conclus˜ ao: ∃ ε0 tal que ∀ δ > 0 conseguimos um ponto xn′ ∈ Bd (a; δ) com 1 ` ´ f (xn′ ) 6∈ Bd f (a); ε0 . Isto mostra que f n˜ ao ´e cont´ınua em a. 2 Esta proposi¸c˜ ao pode ser de grande utilidade para mostrar que uma fun¸c˜ ao f : M −→ N n˜ ao ´e cont´ınua em um ponto a: Basta exibir uma seq¨ uˆencia (xn ) com xn −→ a ∈ M tal que f (xn ) −→ 6 f (a).
334
Vejamos alguns exemplos do que estamos falando: 1. Consideremos a fun¸c˜ ao sinal de x (de (R, µ) em (R, µ)) 8 > > > > <
1, sign(x)= 0, > > > > : −1,
se x > 0; se x = 0; se x < 0.
1 Esta fun¸c˜ ao ´e descont´ınua em x = 0. Com efeito, a seq¨ uˆencia ` (xn´) dada por xn = n converge para 0, por outro lado como f (xn ) = 1, resulta f (xn ) = (1, 1, 1, . . .) → 1 6= 0 = f (0). R
1
s
6r r R
6
1
rr
-R
... x 2
r r
x1
-R
−1
−1
` ´ ` ´ 2. A fun¸c˜ ao f : [ 0, 1, [, k −→ [ 0, 1 [, µ dada por f (x) = x (identidade) ´e descont´ınua na origem (ver exemplo 5), pg. 311). De fato,` tomando uˆencia xn = 1− n1 de pontos no dom´ınio, temos `que xn −→ ´ a seq¨ ´ 0 no espa¸co [ 0, 1 [, k ; enquanto que f (xn ) = xn n˜ ao converge no espa¸co [ 0, 1 [, µ . 3. Considere a fun¸c˜ ao (de (R2 , D1 ) em (R, µ)) f : R2 −→ R n 2, (x, y) 7−→ z= 1,
(0,
se y>0; se y≤0.
Esta fun¸c˜ ao ´e descont´ınua no ponto a = (0, 0) (origem). De fato, a seq¨ uˆencia 1 1 ) converge para (0, 0), por outro lado, temos f (0, ) = 2, isto ´ e , n n ` 1 ´ f (0, ) = (2, 2, 2, . . .) → 2 6= 1 = f (0, 0) n z
s
2
f (a)=1
s
s s
s
semi-plano z=2
y
տ
sx2
a
sx3
sx1
x
335
A fun¸c˜ ao anterior ´e descont´ınua em todo ponto da forma (x, 0) (eixo x). Vejamos agora - via bolas abertas - como fica a demonstra¸c˜ ao de que esta fun¸c˜ ao ´e descont´ınua em (0, 0). De fato, consideremos uma bola (intervalo) centrado em f (0, 0) = 1 e de raio = 21 . Dado δ > 0 escolhemos n natural de modo que n1 < δ, “ ε0 ” ` ´ ˜ ˆ 1 sendo assim xδ = 0, n ∈ B (0, 0); δ e, no entanto, f (xδ ) = 2 6∈ 1 − 12 , 1 + 21 . Veja a figura seguinte, z
f (xδ )=2
→ s
) B(1; 1 2
B((0, 0); δ)
→
s
y
r s← xδ x
4. A fun¸c˜ ao f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) =
(
1,
se x ∈ Q;
0,
caso contr´ ario.
´e descont´ınua em todo ponto a real. Vamos considerar duas possibilidades: i) a ∈ Q.
Com efeito, sendo R − Q denso no espa¸co (R, µ), existe uma seq¨ uˆencia (xn ) de irracionais tal que xn −→ a. Portanto ` ´ f (xn ) = 0, ∀ n ∈ N ⇒ f (xn ) = (0, 0, 0, . . .) −→ 0 6= 1 = f (a).
ii) a 6∈ Q.
Com efeito, sendo Q denso no espa¸co (R, µ), existe uma seq¨ uˆencia (xn ) de racionais tal que xn −→ a. Portanto ` ´ f (xn ) = 1, ∀ n ∈ N ⇒ f (xn ) = (1, 1, 1, . . .) −→ 1 6= 0 = f (a).
5. A fun¸c˜ ao f : R2 → R dada por 8 x·y > , se (x, y) 6= (0, 0); > > < x2 + y 2 f (x, y) = > > > : 1 , se (x, y) = (0, 0). 2
336
´e cont´ınua no ponto (0, 0)? Solu¸ c˜ ao: Tomando, por exemplo, a seq¨ uˆencia (xn , yn ) = (0, 0) e f (xn , yn ) = isto ´e,
“
1 1 , n n
´
teremos (xn , yn ) →
1 · n1 x n · yn 1 n = “ ” “ ”2 = , 2 x2n + yn2 2 1 + n1 n
” ` ´ “1 1 1 1 , , , . . . → = f (0, 0). f (xn , yn ) = 2 2 2 2 Contudo, segundo a proposi¸c˜ ao 78 (pg. 334), isto n˜ ao ´e suficiente para garantir a continuidade da fun¸c˜ ao na origem, pois pode existir uma outra seq¨ uˆencia (xn , yn ) convergindo para (0, 0) mas com f (xn , yn ) n˜ ao convergindo para 12 = f (0, 0). De fato, tal seq¨ uˆencia existe pois “1 2” (xn , yn ) = → (0, 0) , n n e, no entanto, 1 · 2 x ·y 2 f (xn , yn ) = 2n n2 = “ ”2n n“ ”2 = , x n + yn 5 1 + n2 n isto ´e,
” ` ´ “2 2 2 2 1 , , , . . . → 6= = f (0, 0). f (xn , yn ) = 5 5 5 5 2 ` ´ Sendo assim, f n˜ ao ´e cont´ınua em (0, 0). Observe que os pontos da seq¨ uˆencia n1 , n1 converge para (0, 0)) est˜ ao sobre a reta y = x e que os pontos da seq¨ uˆencia ´ `(que 1 2 , (que tamb´ e m converge para (0, 0)) est˜ a o sobre a reta y = 2x. n n
7.2
Propriedades das aplica¸c˜ oes cont´ınuas
Proposi¸ c˜ ao 80. A composi¸c˜ ao de aplica¸c˜ oes preserva a continuidade. Mais precisamente: se f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e cont´ınua no ponto a e g : (N, d2 ) −→ (P, d3 ) ´e cont´ınua no ponto f (a), ent˜ ao g ◦ f : (M, d1 ) −→ (P, d3 ) ´e cont´ınua no ponto a.
Prova: Dado ε > 0, a continuidade de g no ponto f (a) nos assegura δ ′ > 0 de modo que se y ∈ N e ` ´ ` ´ d2 y, f (a) < δ ′ ⇒ d3 g(y), g(f (a)) < ε.
Por outro lado, para este δ ′ a continuidade de f no ponto a nos assegura δ > 0 de modo que se x ∈ M e ` ´ ` ´ d1(x, a) < δ ⇒ d2 f (x), f (a) < δ ′ ⇒ d3 g(f (x)), g(f (a)) < ε. (M, d1 )
# @ I @a q δ
q x "!
(P, d3 )
(N, d2 )
f
-
#
@ I @ qf (a) q y=f (x) "! δ′
g
-
337
ε @ I @ qgf (a) gf (x) q "!
g◦f
#
Corol´ ario 11. A restri¸c˜ ao de uma fun¸c˜ ao cont´ınua f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) a um subespa¸co (X, d1 ) de (M, d1 ) ´e tamb´em cont´ınua. Prova: Com efeito, sendo i : X ⊂ M −→ M a inclus˜ ao (i.e., i(x) = x), temos ˛ (f ˛X)(x) = f (x), ∀ x ∈ X ` ´ = f i(x) , ∀ x ∈ X ` ´ = f ◦ i (x), ∀ x ∈ X. ˛ ˛ Portanto f ˛X = f ◦ i, ∀ x ∈ X. Como f e i s˜ ao cont´ınuas ent˜ ao f ˛X ´e tamb´em cont´ınua.
Sejam (M, dM ) e (N1 , d1 ), (N2 , d2 ), . . . , (Nn , dn ) espa¸cos m´etricos e sejam as aplica¸c˜ oes f1 : M −→ N1 , f2 : M −→ N2 , . . . , fn : M −→ Nn A partir destas n aplica¸c˜ oes construimos uma aplica¸c˜ ao f de M no produto cartesiano N1 × N2 × · · · × Nn dada por f : M −→ N1 × N2 × · · · × Nn ` ´ x 7−→ f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x)
A seguinte proposi¸c˜ ao caracteriza a continuidade de f em termos da continuidade das fun¸c˜ oes f1 , f2 , . . . , fn ; denominadas “as coordenadas de f ”.
338
Proposi¸ c˜ ao 81. A aplica¸c˜ ao f : M −→ N1 × N2 × · · · × Nn definida por ` ´ f (x) = f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) , ∀ x ∈ M,
´e cont´ınua se, e somente se, suas coordenadas f1 : M −→ N1 , . . . , fn : M −→ Nn s˜ ao cont´ınuas. Prova: (=⇒) Vamos nos valer das fun¸c˜ oes proje¸c˜ oes (pg. 328) ` ´ p1 ◦ f (x) = p1 f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) = f1 (x) ⇒ p1 ◦f = f1
−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−− ` ´ pn ◦ f (x) = pn f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) = fn (x) ⇒ pn ◦f = fn .
Como f e cada proje¸c˜ ao pi s˜ ao cont´ınuas, segue que cada fun¸c˜ ao coordenada fi tamb´em ´e cont´ınua. (⇐=) Para provar a rec´ıproca usaremos em N1 × N2 × · · · × Nn a m´etrica D3 (pg. 151). Sendo a um ponto arbitr´ ario de M , dado ε > 0 existe para cada ´ındice i = 1, 2, . . . , n um n´ umero δi > 0 de modo que ` ´ dM(x, a) < δi ⇒ di fi (x), fi (a) < ε. ˘ ¯ Pondo δ = min δ1 , δ2 , . . . , δn , temos 8 ` ´ > ´ : ` dn fn (x), fn (a) < ε Sendo assim, temos
´ ` ´¯ ˘ ` dM(x, a) < δ ⇒ max d1 f1 (x), f1 (a) , . . . , dn fn (x), fn (a) < ε ` ´ ⇒ D3 f (x), f (a) < ε. (M, dM )
# @ I @q q a x δ1
(N1 , d1 )
-
f1
"!
#
ε @ I @ qf1(a) f (x) q 1 "!
(Nn , dn )
(M, dM )
# δ I @ @anq q x
-
fn
"!
# @ I @aq q x δ
−−−−−−−−−−−−−−−
#
ε @ I @ qfn(a) fn(x) q "!
(N1 ×···×Nn ,D3 )
(M, dM )
f
-
"!
#
ε @ I @ qf(a) f(x) q "!
339
Corol´ ario 12. Se as n fun¸c˜ oes f1 : M1 −→ N1
,
f2 : M2 −→ N2
x1 7−→ f1 (x1 )
,...,
fn : Mn −→ Nn
x2 7−→ f2 (x2 )
xn 7−→ fn (xn )
s˜ ao cont´ınuas, ent˜ ao a fun¸c˜ ao f : M1 × . . . × Mn −→ N1 × . . . × Nn ` ´ x = (x1 , . . . , xn ) 7−→ f1 (x1 ), . . . , fn (xn )
tamb´em ´e cont´ınua.
Prova: Considerando as proje¸c˜ oes i−´esimas (i = 1, 2, . . . , n.) pi : M1 × . . . × Mn −→ Mi (x1 ,... , xi , ..., xn )
7−→
xi
podemos escrever ` ´ f (x) = f1 (x1 ), f2 (x2 ), . . . , fn (xn ) ` ´ = f1 ( p1 (x1 , . . . , xn ) ), . . . , fn ( pn (x1 , . . . , xn ) ) | | {z } {z } =x1
=xn
` ´ = f1 ◦ p1 (x1 , . . . , xn ), . . . , fn ◦ pn (x1 , . . . , xn ) ` ´ Portanto f = f1 ◦ p1 , f2 ◦ p2 , . . . , fn ◦ pn . Isto ´e, as fun¸c˜ oes fi ◦ pi s˜ ao as coordenadas de f . Sendo estas coordenadas fun¸c˜ oes cont´ınuas - por serem expressas como composi¸c˜ ao de fun¸c˜ oes cont´ınuas - segue que f tamb´em ´e cont´ınua.
Opera¸c˜ oes com Fun¸c˜ oes cont´ınuas (I) Soma. Dadas duas fun¸c˜ oes f : A −→ B
g : A −→ B
e
x 7−→ f (x)
x 7−→ g(x)
gostariamos de obter uma terceira fun¸c˜ ao que seria a soma de f com g f + g : A −→ B x 7−→ f (x) + g(x)
Ent˜ ao ´e evidente que no conjunto B dever´ a ser poss´ıvel somarmos dois elementos quaisquer. Sendo assim exigiremos que B esteja inserido em´ uma estrutura de espa¸co ` vetorial. Isto ´e, consideraremos um espa¸co vetorial E, +, ` · constru´ ´ ıdo sobre B = E. E mais: para falarmos de continuidade consideraremos E, +, · um espa¸co vetorial normado. ` ´ Proposi¸ c˜ ao 82. Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico; E, +, · um espa¸co vetorial normado e f : M −→ E, g : M −→ E fun¸c˜ oes. Se f e g s˜ ao cont´ınuas ent˜ ao f + g : M −→ E ´e tamb´em cont´ınua. Prova: Com efeito, consideremos as duas seguintes “fun¸c˜ oes auxiliares” h : M −→ E × E ` ´ x 7−→ f (x), g(x)
e
s : E × E −→ E (x, y) 7−→ x + y
340
Vamos compor estas duas fun¸c˜ oes M
Isto ´e
h
s
E ×E
E ` ´ x 7−→ f (x), g(x) 7−→ f (x) + g(x) s◦h : M −→ E x 7−→ f (x) + g(x)
Observe, ` ´ ` ´ ` ´ s◦h (x) = s h(x) = s (f (x), g(x)) = f (x) + g(x).
Conclus˜ ao: s ◦ h = f + g ´e cont´ınua por ser expressa como composi¸c˜ ao de fun¸c˜ oes cont´ınuas. Observa¸c˜ ao: h ´e cont´ınua devido a proposi¸c˜ ao 81 (pg. 339). A continuidade de s foi demonstrada no ´ıtem (i) (pg. 328). oes (II) Multiplica¸c˜ ao. Dadas duas fun¸c˜ f : A −→ B
g : A −→ B
e
x 7−→ f (x)
x 7−→ g(x)
gostar´ıamos de obter uma terceira fun¸c˜ ao que seria o produto de f com g f · g : A −→ B x 7−→ f (x) · g(x) Ent˜ ao ´e evidente que no conjunto B dever´ a ser poss´ıvel multiplicarmos dois elementos quaisquer. No presente contexto n˜ ao podemos tomar o conjunto B de um espa¸co vetorial arbitr´ ario, uma vez que nesta estrutura n˜ ao contamos com produto de vetores. Nos contentaremos em tomar B = R. Proposi¸ c˜ ao 83. Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico; o espa¸co vetorial normado (R, | · |) e f : M −→ R, g : M −→ R fun¸c˜ oes. Se f e g s˜ ao cont´ınuas ent˜ ao f · g : M −→ R ´e tamb´em cont´ınua.
Prova: Com efeito, consideremos as duas seguintes “fun¸c˜ oes auxiliares” h : M −→ R × R ` ´ x 7−→ f (x), g(x)
e
m : R × R −→ R (x, y) 7−→ x · y
Vamos compor estas duas fun¸c˜ oes
Isto ´e
h
m
R×R R ` ´ x 7−→ f (x), g(x) 7−→ f (x) · g(x)
M
341
m◦h : M −→ R x 7−→ f (x) · g(x) Observe, `
´ ` ´ ` ´ m◦h (x) = m h(x) = m (f (x), g(x)) = f (x) · g(x).
Conclus˜ ao: m ◦ h = f · g ´e cont´ınua por ser expressa como composi¸c˜ ao de fun¸c˜ oes cont´ınuas. Observa¸c˜ ao: A continuidade de m foi demonstrada no ´ıtem iii) (pg. 331). Como um exemplo trivial de aplica¸c˜ ao desta proposi¸c˜ ao conclu´ımos que a fun¸c˜ ao, de (R, µ) em (R, µ), dada por f (x) = x · x = x2 ´e cont´ınua, devido a que a aplica¸c˜ ao identidade f (x) = x ´e cont´ınua. oes (III) Quociente. Dadas duas fun¸c˜ f : A −→ R
e
g : A −→ R
x 7−→ f (x)
x 7−→ g(x)
Se g(x) 6= 0, ∀ x ∈ A, definimos a fun¸c˜ ao quociente de f e g por f : A −→ R g x 7−→ f (x)/g(x) Proposi¸ c˜ ao 84. Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico; o espa¸co vetorial normado (R, | · |) e f : M −→ R, g : M −→ R fun¸c˜ oes. Se f e g (g(x) 6= 0, ∀ x ∈ M ) s˜ ao cont´ınuas ent˜ ao f /g : M −→ R ´e tamb´em cont´ınua. Prova: Com efeito, consideremos as trˆes seguintes “fun¸c˜ oes auxiliares” h : M −→ R × R∗ ; ` ´ x 7−→ f (x), g(x)
j : R × R∗ −→ R × R ` ´ (x, t) 7−→ x, 1t
;
m : R × R −→ R (x, y) 7−→ x · y
Vamos compor estas trˆes fun¸c˜ oes
Isto ´e
h
R × R∗
j
m
R×R R ” “ ` ´ 1 1 7−→ f (x) · g(x) x 7−→ f (x), g(x) 7−→ f (x), g(x)
M
m◦j ◦h : M −→ R x 7−→
f (x) g(x)
Observe, ` ´ ` ´` ´ ` ´` ´ m◦j ◦h (x) = m◦j h(x) = m◦j (f (x), g(x)) « „ ` ´ ` 1 1 ´ = f (x) · = m j((f (x), g(x))) = m f (x), g(x) g(x)
342
Conclus˜ ao: m ◦ j ◦ h =
f ´e cont´ınua por ser expressa como composi¸c˜ ao de fun¸c˜ oes g
cont´ınuas. Observa¸c˜ ao: A continuidade de j se deve ao corol´ ario 12 (pg. 340). A continuidade 1 de t 7−→ foi demonstrada no ´ıtem ii) (pg. 330). t fun¸ c˜ ao de Urysohn: Dados dois conjuntos fechados disjuntos F e G num espa¸co ` ´ m´etrico (M, d), a fun¸c˜ ao f : (M, d) −→ [0, 1], µ dada por f (x) =
d(x, F ) d(x, F ) + d(x, G)
´e cont´ınua† . Observe∗ que f (x) = 0, para todo x ∈ F e f (x) = 1, para todo x ∈ G. Ou ainda f (F ) = { 0 } e f (G) = { 1 }. (M, d) ⊤1 F
G f
-
@ @q x
⊥0
Uma tal f ´e o que se chama uma fun¸c˜ ao de Urysohn do par F, G.
Caracteriza¸ c˜ ao da continuidade das transforma¸ co ˜es lineares. ` ´ ` ´ Proposi¸ c˜ ao 85. Sejam E, +, ·, k · k1 e F, +, ·, k · k2 espa¸cos vetoriais normados sobre R. Se T : E −→ F ´e uma transforma¸c˜ ao linear , ent˜ ao as seguintes afirma¸c˜ oes s˜ ao equivalentes (i) T ´e cont´ınua; (ii) T ´e cont´ınua no ponto 0 ∈ E;
(iii) Existe k > 0 tal que kT (v)k2 ≤ kkvk1 , para todo v ∈ E;
(iv) T ´e lipschitziana.
Prova: Devemos provar as seguintes implica¸c˜ oes (i) ⇒ (ii) ⇒ (iii) ⇒ (iv) ⇒ (i). Com efeito, a implica¸c˜ ao (i) ⇒ (ii) vale por defini¸c˜ ao. Provaremos que (ii) ⇒ (iii): Sendo T cont´ınua em 0 para ε = 1, por exemplo, existe δ > 0 de maneira que ` ´ d1 (u, 0) = ku − 0k1 < δ ⇒ d2 T (u), T (0) = kT (u) − T (0)k2 < ε = 1. isto ´e
se kuk1 < δ ⇒ kT (u)k2 < 1 (♮) 1 Vamos escolher k > 0 de modo que < δ. Assim, dado qualquer vetor v 6= 0 de E, o k 1 v vetor ´e tal que k kvk1 ‚ ‚ ‚ ‚ ‚ ‚ ‚1 v ‚ ‚ = 1 ‚ v ‚ = 1 kvk1 = 1 < δ ‚ ‚ ‚ k kvk ‚ k kvk1 ‚1 k kvk1 k 1 1 † Exemplo
(iv), pg. 329 63, pg. 278.
∗ Proposi¸ ca ˜o
343
portanto, por ( ♮ ), temos
‚ „ «‚ ‚ ‚ ‚T 1 v ‚ <1 ‚ k kvk1 ‚2
Da linearidade de T decorre ‚ ‚ ‚ ‚ 1 ‚ = 1 kT (v)k2 < 1 ‚ T (v) ‚ ‚ kkvk kkvk1 1 2 Donde:
kT (v)k2 < kkvk1
Esta desigualdade vale para todo v 6= 0 de E. Se v = 0 vale a igualdade kT (0)k2 = kk0k1 , posto que kT (0)k2 = k0k2 = 0 e k0k1 = 0. Portanto a tese: kT (v)k2 ≤ kkvk1 vale sem restri¸c˜ oes. (iii) ⇒ (iv). Dados u, v ∈ E, temos
kT (u) − T (v)k2 = kT (u − v)k2 ≤ kku − vk1 Portanto T ´e de Lipschitz. (iv) ⇒ (i). Toda aplica¸c˜ ao lipschitziana ´e cont´ınua (pg. 326).
Corol´ ario` 13. Seja (Rn ,´ k · k1 ) onde k · k1 ´e qualquer uma das normas usuais sobre ao toda aplica¸c˜ ao Rn e seja E, +, ·, k · k2 um espa¸co vetorial normado qualquer, ent˜ linear T : Rn −→ E ´e cont´ınua. Prova: Consideremos sobre Rn a base canˆ onica {e1 , e2 , . . . , en }: e1 = (1, 0, 0, . . . , 0) , e2 = (0, 1, 0, . . . , 0) , . . . , en = (0, 0, 0, . . . , 1). Podemos escrever qualquer vetor u ∈ Rn da seguinte forma u = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn ⇒ u = x1 e1 + · · · + xn en . Ent˜ ao ‚ ‚ kT (u)k2 = ‚T (x1 e1 + · · · + xn en )‚ 2 ‚ ‚ ‚ = x1 T (e1 ) + · · · + xn T (en )‚ 2 ‚ ‚ ≤ ‚x1 T (e1 )k2 + · · · + kxn T (en )‚
2
≤ |x1 | · kT (e1 )k2 + · · · + |xn | · kT (en )k2 .
Vamos pˆ or portanto
˘ ¯ max kT (e1 )k2 , . . . , kT (en )k2 = k ` ´ kT (u)k2 ≤ k |x1 | + · · · + |xn | = kkuk1
onde (ver exemplo 2 pg. 73) kuk1 = k(x1 , . . . , xn )k1 = |x1 | + · · · + |xn |. Sendo assim a proposi¸c˜ ao anterior nos assegura a continuidade de T .
Nota: Veremos oportunamente em que sentido as normas usuais sobre Rn (pg. 73) s˜ ao equivalentes.
344
Caracteriza¸ c˜ ao de Continuidade Via Conjuntos Abertos A pr´ oxima proposi¸c˜ ao caracteriza a continuidade em fun¸c˜ ao de abertos. Proposi¸ c˜ ao 86. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma fun¸c˜ ao f : M −→ N ´e cont´ınua se, e somente se, para todo aberto Y ⊂ N tivermos f −1 (Y ) aberto em M . Prova: (=⇒) Suponha, por hip´ otese, f cont´ınua e Y ⊂ N aberto. Devemos mostrar que f −1 (Y ) ´e aberto em M . De` fato, considere a ∈ f −1 (Y ), logo f (a) ∈ Y . ´ Sendo Y aberto, existe ε > 0 tal que Bd f (a); ε ⊂ Y . Como f ´e cont´ınua, para este 2` ´ ` ´ ε podemos obter δ > 0 de modo que f Bd (a; δ) ⊂ Bd f (a); ε , sendo assim (ver 1 2 proposi¸c˜ ao 9, pg. 47), ` ´ f Bd (a; δ) ⊂ Y ⇒ Bd (a; δ) ⊂ f −1 (Y ). 1
1
Isto prova que f −1 (Y ) ´e aberto.
#
f −1 (Y )
(M, d1 )
#
Y
@ I @q δ
f
"! a
-
(N, d2 )
ε @ I @q
"! f (a)
(⇐=) Reciprocamente, suponha que a imagem inversa, por f , de todo aberto em N seja um aberto em M . Devemos mostrar que f ´e cont´ınua em M . De fato, se para todo aberto Y` ⊂ N tivermos f −1 (Y ) aberto em M , ent˜ ao dado a ∈ M e ε > 0, ´ tomemos Y = Bd f (a); ε . Ent˜ ao f −1 (Y ) ´e aberto. Como a ∈ f −1 (Y ) existe δ > 0 2
de modo que Bd (a; δ) ⊂ f −1 (Y ). Portanto 1
` ´ ` ´ Bd (a; δ) ⊂ f −1 (Y ) ⇒ f Bd (a; δ) ⊂ Y = Bd f (a); ε . 1
1
2
Como a ∈ M foi tomado arbitrariamente, temos f cont´ınua em M .
#
f −1 (Y )
@ I @aq
(M, d1 )
δ
"!
#
Y f
-
(N, d2 )
ε @ I @q
"! f (a)
Exemplos: 1) Vimos no exemplo 4) (pg. 310) que a fun¸c˜ ao f : (R, µ) −→ (R, δ) dada por f (x) = x ´e descont´ınua em cada ponto do seu dom´ınio. Mostremos isto com o aux´ılio da proposi¸c˜ ao anterior.
345
` ´ Consideremos c ∈ R, temos que { c } ´e aberto em (R, δ) enquanto f −1 { c } = { c } n˜ ao ´e aberto em (R, µ). (R,δ)
6 ց qc
{c} aberto
q
- (R,µ)
c
տ
f −1 ({c})={c} n˜ ao aberto
2) Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Seja f : M −→ N qualquer fun¸c˜ ao. Se (M, d1 ) ´e discreto ent˜ ao f ´e cont´ınua. De fato, sendo (M, d1 ) discreto todos os seus subconjuntos s˜ ao abertos. Isto ´e, f −1 (Y ) ´e aberto em (M, d1 ) para qualquer Y ⊂ N . Isto mostra que f ´e cont´ınua. ( 1, se x ∈ Q; 3) Seja f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = 0, caso contr´ ario. ˜ ˆ Vamos mostrar que f n˜ ao ´e cont´ınua. Seja, por exemplo, o aberto Y = 21 , 32 , ent˜ ao – »ff 1 3 , f −1 (Y ) = x ∈ R : f (x) ∈ =Q 2 2 Isto ´e, a pr´e-imagem do aberto Y resultou em Q, que n˜ ao ´e aberto. Por conseguinte f n˜ ao ´e cont´ınua. Ver exemplo d), pg. 47. 4) Seja M = [ 1, 2 ] ∪ { 3 }. Considere f : (M, µ) −→ (R, µ) dada por R
6
f (x) =
(
1,
se x ∈ [ 1, 2 ];
2,
se x = 3.
2
q
1
q
∴
0
r
[ 1
] 2
s
3
-M
Vamos mostrar que f ´e cont´ınua em M . Inicialmente observe que f (x) ∈ { 1, 2 }, ∀ x ∈ M. Seja Y ⊂ R um aberto qualquer. Temos quatro possibilidades a considerar: ˘ ¯ i) 1 6∈ Y e 2 6∈ Y ⇒ f −1 (Y ) = x ∈ M : f (x) ∈ Y = ∅; ii) 1 ∈ Y e 2 6∈ Y
⇒
f −1 (Y ) = [ 1, 2 ];
iii) 1 6∈ Y e 2 ∈ Y
⇒
f −1 (Y ) = { 3 };
iv) 1 ∈ Y e 2 ∈ Y
⇒
f −1 (Y ) = M .
346
Temos que ∅ e M s˜ ao abertos, por outro lado ` 1´ [ 1, 2 ] = M − { 3 } , { 3 } = B 3; . 2 Deste modo a pr´e-imagem de todo aberto Y ⊂ R ´e um aberto (ver prop. 46 pg. 258) em M ; portanto f ´e cont´ınua. Corol´ arios Corol´ ario 14. Seja f : (M, d) −→ (R, µ) uma fun¸c˜ ao real cont´ınua. O conjunto A = {x ∈ M : f (x) > 0} ´e aberto. R
6
(M, d) A
q
f
x
-
rf (x) 0
Prova: Temos que ` ´ ˘ ¯ f −1 ] 0, +∞ [ = x ∈ M : f (x) ∈ ] 0, +∞ [ = A.
Como a pr´e-imagem de um conjunto aberto por uma fun¸c˜ ao cont´ınua ´e um conjunto aberto, segue que A ´e ˘ aberto. ¯ Observe que Ac = x ∈ M : f (x) ≤ 0 ´e fechado. Exemplo 1: No C´ alculo prova-se que a fun¸c˜ ao f (x) = sen x de (R, µ) em (R, µ) ´e cont´ınua. Resolvendo a inequa¸c˜ ao ˘ ¯ f (x) = sen x > 0 ⇒ S = x ∈ R : 2kπ < x < π + 2kπ ⇒ S=
[˜
2kπ, (2k + 1)π
k∈Z
ˆ
conclu´ımos que S ´e um conjunto aberto (propo. 47, pg. 259). y
6
1
q
q
q
−2π
q
q −π
q
0
−1
...
a
−2π
a
−π
q
qπ
q
q2π
q
q3π
R q
q
4π
q
a
a
0
π
a
2π
a ...
3π
S
˘ ¯ Exemplo 2: Seja ∆ = (x, x) : x ∈ M a diagonal do produto M × M , onde (M, d) ´e um espa¸co m´etrico. O conjunto ˘ ¯ A = (x, y) ∈ M × M : d(x, y) > 0 = M × M − ∆
´e aberto (´ıtem (ii), pg. 328).
347
Corol´ ario 15. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Sejam f, g : M −→ N fun¸c˜ oes cont´ınuas. O conjunto ˘ ¯ A = x ∈ M : f (x) 6= g(x)
´e aberto em M.
Prova: Sendo f : M −→ N
g : M −→ N
e
x 7−→ f (x)
x 7−→ g(x)
fun¸c˜ oes cont´ınuas, segue (proposi¸c˜ ao 81, pg. 339) que a fun¸c˜ ao h : M −→ N × N
x 7−→ (f (x), g(x))
´e cont´ınua. Vamos construir a seguinte fun¸c˜ ao auxiliar M
h
N ×N
d2
R ` ´ ` ´ x 7−→ f (x), g(x) 7−→ d2 f (x), g(x)
Portanto a fun¸c˜ ao auxiliar φ, dada por
φ = d2 ◦h : M −→ R
` ´ x 7−→ d2 f (x), g(x)
´e cont´ınua, pois d2 ´e cont´ınua (´ıtem (ii), pg. 328). Portanto, pelo corol´ ario 14 (pg. 347) o conjunto ˘ ¯ ˘ ` ´ ¯ A = x ∈ M : φ(x) > 0 = x ∈ M : φ(x) = d2 f (x), g(x) > 0 ˘ ¯ = x ∈ M : f (x) 6= g(x)
´e aberto. Observa¸ c˜ ao: Observe que o conjunto ˘ ¯ F = Ac = M − A = x ∈ M : f (x) = g(x)
(7.8)
´e fechado. Em particular, tomando g(x) = 0, o conjunto ˘ ¯ R = x ∈ M : f (x) = 0 das ra´ızes de uma fun¸c˜ ao, ´e fechado. Como mais uma aplica¸c˜ ao de (7.8) temos o seguinte
Corol´ ario 16. Sejam f, g : M −→ N fun¸c˜ oes cont´ınuas. Se f (x) = g(x) para todo ¯ ponto x pertencente a um subconjunto X ⊂ M ent˜ ao f (y) = g(y) para todo y ∈ X. Isto ´e, se duas fun¸c˜ oes cont´ınuas coincidem em um subconjunto, ent˜ ao coincidem tamb´em no fecho deste mesmo subconjunto. Prova: De fato, o conjunto dos pontos x ∈ M para os quais f (x) = g(x) ´e fechado e ¯ cont´em X, logo cont´em o fecho de X. Como conseq¨ uˆencia deste corol´ ario concluimos que se f, g : M −→ N s˜ ao cont´ınuas e coincidem num subconjunto denso X ⊂ M ent˜ ao f = g. Por exemplo, se f, g : I −→ R s˜ ao cont´ınuas em um intervalo I e f (x) = g(x) para todo x ∈ I racional ent˜ ao f (x) = g(x) para todo x ∈ R.
348
Como preliminar ` a demonstra¸c˜ ao do pr´ oximo corol´ ario faremos as seguintes considera¸c˜ oes: Dados M1 e M2 conjuntos quaisquer, consideremos A1 ⊂ M1 e A2 ⊂ M2 . Sejam as proje¸c˜ oes p1 : M1 × M2 −→ M1
e
(x1 , x2 ) 7−→ x1
p2 : M1 × M2 −→ M2 (x1 , x2 ) 7−→ x2
Temos
An´ alogamente
` ´ ˘ ¯ A1 = x ∈ M1 × M2 : p1 (x) ∈ A1 p−1 1 ¯ ` ´ ˘ = (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 : p1 (x1 , x2 ) ∈ A1 ˘ ¯ = (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 : x1 ∈ A1 ` ´ ˘ ¯ p−1 A2 = (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 : x2 ∈ A2 2
Queremos provar a seguinte identidade ` ´ ` ´ A2 A1 × A2 = p−1 A1 ∩ p−1 1 2
De fato, temos
(x1 , x2 ) ∈ A1 × A2 ⇐⇒ x1 ∈ A1 e x2 ∈ A2 ` ´ ` ´ A2 A1 e (x1 , x2 ) ∈ p−1 ⇐⇒ (x1 , x2 ) ∈ p−1 2 1 ` ´ ` ´ −1 −1 ⇐⇒ (x1 , x2 ) ∈ p1 A1 ∩ p2 A2 .
O que foi feito aqui para dois conjuntos se estende sem dificuldades para n conjuntos. Corol´ ario17. Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. Ent˜ ao o produto A1 ×A2 , onde cada Ai ⊂ Mi ´e um conjunto aberto (i=1, 2.) ´e aberto no espa¸co produto M1 ×M2 (em rela¸c˜ ao a qualquer das m´etricas Dk (k = 1, 2, 3.)) ` ´ ` ´ A2 s˜ ao conjuntos abertos devido a que as proje¸c˜ oes s˜ ao A1 e p−1 Prova: p−1 2 1 cont´ınuas; por conseguinte ` ´ ` ´ A2 A1 ∩ p−1 A1 × A2 = p−1 2 1
´e aberto por ser a intersec¸c˜ ao de dois conjuntos abertos. Por indu¸c˜ ao o resultado anterior se estende a um n´ umero finito qualquer de conjuntos. Para demonstrar o pr´ oximo corol´ ario lembramos a seguinte identidade (pg. 47) ` ´”c ` ´ “ f −1 Ac = f −1 A
Corol´ ario 18. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma fun¸c˜ ao f : M −→ N ´e cont´ınua se, e somente se, para todo Fechado F ⊂ N tivermos f −1 (F ) fechado em M.
Prova: (=⇒) Suponha, por hip´ otese, f cont´ınua e F ⊂ N fechado. Devemos mostrar que f −1 (F ) ´e fechado em M . ` ´ De fato, sendo F fechado, F c ´e aberto, logo pela proposi¸c˜ ao 86 (pg. 345) f −1 F c ”c “ ` ´ ´e fechado. Por conseguinte ´e aberto. Portanto f −1 F c ´e fechado.
“
` ´”c “` −1 ´c ”c = f −1 (F ) f −1 F c = f (F )
349
(⇐=) Reciprocamente, suponha que a imagem inversa, por f , de todo fechado em N seja um fechado em M . Devemos mostrar que f ´e cont´ınua em ` M ´ . De fato, considere A ⊂ N um aberto qualquer, ent˜ ao Ac ´e fechado. Logo f −1 Ac ´e fechado, portanto “ ` ´”c “` −1 ´c ”c f −1 Ac = f (A) = f −1 (A)
´e aberto, logo f ´e cont´ınua.
Corol´ ario 19. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Se A e B s˜ ao˛ subconjuntos ˛ fechados de M tais que M = A ∪ B e se f : M −→ N ´e tal que g = f ˛A e h = f ˛B s˜ ao cont´ınuas, ent˜ ao f tamb´em ´e cont´ınua. Prova: Seja P ⊂ N . Inicialmente mostremos a seguinte identidade f −1 (P ) = g −1 (P ) ∪ h−1 (P ) (M, d1 ) A
(N, d2 ) B
P f
h−1 (P ) g−1 (P )
h g
A t´ıtulo de recorda¸c˜ ao temos
`
˘ ¯ f −1 (P ) = x ∈ M : f (x) ∈ P ˘ ¯ g −1 (P ) = x ∈ A : g(x) ∈ P ˘ ¯ h−1 (P ) = x ∈ B : h(x) ∈ P
´ ⊂ Dado x ∈ f −1 (P ) ⇒ x ∈ M = A ∪ B e f (x) ∈ P . Logo x ∈ A e f (x) ∈ P ou x ∈ B e f (x) ∈ P . Se x ∈ A ent˜ ao g(x) = f (x) ∈ P ou se x ∈ B ent˜ ao h(x) = f (x) ∈ P , −1 −1 em qualquer dos casos x ∈ g (P ) ∪ h (P ). ` ´ ⊃ Seja x ∈ g −1 (P ) ∪ h−1 (P ), portanto x ∈ g −1 (P ) ou x ∈ h−1 (P ) ⇒ x ∈ A e g(x) ∈ P ou x ∈ B e h(x) ∈ P . Se x ∈ A e g(x) ∈ P ent˜ ao x ∈ M e f (x) = g(x) ∈ P ou se x ∈ B e h(x) ∈ P ent˜ ao x ∈ M e f (x) = h(x) ∈ P em qualquer dos casos x ∈ f −1 (P ). Pois bem, se P ´e um subconjunto fechado de N ent˜ ao pelo corol´ ario 18, g −1 (P ) ´e fechado em (A, d1 ), e portanto (corolario 6, pg. 275) fechado em (M, d1 ). Analogamente, h−1 (P ) ´e fechado em (M, d1 ). Logo f −1 (P ) = g −1 (P ) ∪ h−1 (P ) ´e fechado em (M, d1 ). Logo, ainda nos valendo do corol´ ario 18, concluimos que f ´e cont´ınua.
350
Fun¸c˜ao Aberta Dada uma aplica¸c˜ ao cont´ınua ` ´ f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) e um subconjunto aberto A ⊂ M , sua imagem direta f A = {f (x) : x ∈ A} ⊂ N n˜ ao precisa ser um conjunto aberto em (N, d2 ). Por exemplo, considere f : (M, d) −→ (R, µ) onde (M, d) ´e discreto; ent˜ ao todo subconjunto A ⊂ M ´e aberto e f ´e cont´ınua (prop. 75, pg. 317). Em particular ` ´ ˘ ¯ ˘ ¯ f { a } = f (x) : x ∈ { a } = f (a) n˜ ao ´e um conjunto aberto em (R, µ).
Defini¸ c˜ ao 47 (fun¸c˜ ao aberta). Uma aplica¸c˜ ao f : (M,` d´1 ) −→ (N, d2 ) chama-se aberta quando para cada A ⊂ M aberto, sua imagem f A ´e um subconjunto aberto de (N, d2 ). Isto ´e, quando f transforma abertos em abertos. Vimos que uma aplica¸c˜ ao cont´ınua n˜ ao precisa ser aberta. Tamb´em uma aplica¸c˜ ao aberta n˜ ao precisa ser cont´ınua. Por exemplo, considere f : (R, µ) −→ (R, δ) dada por f (x) = x, f ´e aberta∗ mas n˜ ao ´e cont´ınua† . O nosso objetivo agora ser´ a mostrar que as fun¸c˜ oes proje¸c˜ ao: pi : M1 × . . . × Mn −→ Mi (x1 ,... , xi , ..., xn )
7−→
xi
s˜ ao abertas (i = 1, 2, . . . , n). Prova: Das trˆes m´etricas usuais para o produto cartesiano (pg. 157) trabalharemos com a seguinte: D3 (x, y) = max {d1 (x1 , y1 ), . . . , dn (xn , yn )} j´ a que, como ser´ a demonstrado oportunamente (prop. 92, pg. 379), os abertos de M = M1 × · · · × Mn relativos a essas m´etricas s˜ ao os mesmos. Consideremos q = (q1 , . . . , qi , . . . , qn ) ∈ M = M1 × · · · × Mi × · · · × Mn . Vamos mostrar inicialmente que “ ” pi BD ( q; r) = Bdi( qi ; r) (i = 1, . . . , n) 3
onde (ver prop. 28, pg. 176)
BD ( q; r) = Bd1( q1 ; r) × · · · × Bdi( qi ; r) × · · · × Bdn( qn ; r) 3
e
˘ ¯ Bdi( qi ; r) = xi ∈ Mi : di (xi , qi ) < r
Pois bem, “ ” n o pi BD ( q; r) = pi (x) : x ∈ BD ( q; r) 3 3 n ` o ´ = pi (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) : (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) ∈ BD ( q; r) 3 ˘ ` ´ ¯ = xi : D3 (x1 , . . . , xi , . . . , xn ), (q1 , . . . , qi , . . . , qn ) < r ˘ ¯ = xi : di (xi , qi ) < r, (i = 1, . . . , n) = Bdi( qi ; r) (i = 1, . . . , n).
Sejam A ⊂ M aberto e ` ´ ˘ ¯ qi ∈ pi A = pi (x) : x ∈ A ˘ ` ´ ¯ = pi (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) : (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) ∈ A ˘ ¯ = xi : (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) ∈ A
∗ Exemplo
† Exemplo
5), pg. 256 4), pg. 310
351
` ´ pi A ´e o conjunto das i−´e`simas ´ coordenadas de todos os pontos (x1 , . . . , xn ) ∈ A. Pois bem, como qi ∈ pi A , existe q = (q1 , . . . , qi , . . . , qn ) ∈ A tal que pi (q) = qi . Como A ´e aberto, existe r > 0 tal que BD ( q; r) ⊂ A. Pela proposi¸c˜ ao 7 (a) (pg. 44), 3 temos “ ” BD ( q; r) ⊂ A ⇒ pi BD ( q; r) ⊂ pi (A) 3
3
⇒ Bdi( qi ; r) ⊂ pi (A)
e assim qi resulta ponto interior de pi (A), por conseguinte, pi (A) ´e aberto em (Mi , di ). Portanto pi (i = 1, . . . , n) ´e uma fun¸c˜ ao aberta.
(Mi , di )
(M, D3 ) A q
q
pi (A)
pi
-
r
qi =pi (q)
352
7.3
Continuidade Uniforme
Vamos lembrar o que significa dizer que uma fun¸c˜ ao f : (M, d1 ) −→ (M, d2 ) seja cont´ınua em todo o seu dom´ınio. f ´e cont´ınua em um ponto arbitr´ ario y ∈ M quando: qualquer que seja ε > 0 dado, pudermos obter δ > 0 tal que x ∈ M , d1 (x, y) < δ ⇒ d2 (f (x), f (y)) < ε. Isto pode traduzir-se pela f´ ormula: ∀
ε>0
∀
∃
y∈M
δ>0
∀
“
` ´” x ∈ Bd (y; δ) ⇒ f (x) ∈ Bd f (y); ε
∀
`
` ´ ´ d1 (x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) < ε
x∈M
Ou, de outro modo: ∀
ε>0
∀
∃
y∈M
x∈M
δ>0
1
2
Se atentarmos para os exemplos de continuidade, j´ a vistos, podemos perceber que podem ocorrer quatro situa¸c˜ oes quanto a dependencia do δ procurado, com respeito ao ponto a no qual se analisa a continuidade e ao ε fornecido, veja: δ = fun¸c˜ ao
Exemplos
δ = cte
1.3) : pg. 307; 7.3) : pg. 313 − Toda imers˜ ao isom´etrica: pg. 319 − Toda contra¸c˜ ao: pg. 326
δ = δ(ε)
− Toda fun¸c˜ ao de Lipschitz: pg. 326 δ = δ(a)
2) : pg. 308;
δ = δ(ε, a)
3) : pg. 309.
8) : pg. 315
No caso deste u ´ltimo exemplo (ver 3), pg. 309) ainda se poderia perguntar: n˜ ao poderia existir um δ = δ(ε) > 0 que n˜ ao dependa do particular ponto a em que se esteja analisando a continuidade? A resposta ´e pela negativa. De fato, suponhamos a > 0 e ε > 0 dados arbitrariamente. Temos ˛ ˛ 1˛ |x − a| ˛1 |f (x) − f (a)| = ˛ − ˛ = x a ax
Considerando |x − a| < δ (∗), isto ´e, a − δ < x < a + δ e tomando x > a − δ ⇒ ax > a(a − δ) ⇒
1 1 δ δ < ⇒ < ax a(a − δ) ax a(a − δ)
Multiplicando (∗) por 1/ax, obtemos |x − a| |x − a| δ δ < ⇒ |f (x) − f (a)| = < ax ax ax a(a − δ) Desta forma para que se tenha |x − a| < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < ε ´e suficiente tomar
δ a(a−δ)
a−δ =a−
= ε, ou ainda, δ =
2
a ε 1+aε
(7.9)
(⋄). Observe que,
a2 ε a 1 + aε 1 = ⇒ f (a − δ) = = +ε 1 + aε 1 + aε a a
Mostraremos agora que δ dado por (⋄) ´e o maior valor que δ pode assumir de modo que (7.9) ainda se verifique. Com efeito, consideremos δ ′ > 0 satisfazendo
353
δ < δ ′ < a, ent˜ ao −δ > −δ ′ > −a ⇒ a − δ > a − δ ′ > 0; tomemos x satisfazendo ′ a − δ < x < a − δ, como f ´e decrescente resulta, ˜1 1 − ε, + ε[ f (a − δ ′ ) > f (x) > f (a − δ) ⇒ f (x) 6∈ ]f (a) − ε, f (a) + ε[= a a ˘ ¯ Considere agora A = a2 ε/(1 + aε) : a > 0 , sendo assim, ˘ ¯ inf A = inf a2 ε/(1 + aε) : a > 0 = 0
Como δ dado por (⋄) ´e o maior valor que δ pode assumir (de modo que (7.9) se verifique), segue-se que se existir δ ′ > 0, independente do ponto a que se tome em ]0, +∞[, este deve satisfazer 0 < δ′ < δ =
a2 ε 1 + aε
(7.10)
Como inf A = 0 e δ ′ > 0 isto significa que δ ′ n˜ ao pode ser cota inferior de A, logo ′ a′2 ε < δ , ou ainda, existe a′ > 0 satisfazendo 1+a ′ε a2 ε a′2 ε < δ′ < δ = ′ 1+a ε 1 + aε Acontece que para o a′ em quest˜ ao o maior valor que δ pode assumir (de modo que 2 ′ a′2 ε (7.9) se verifique) ´e δ = 1+a ′ ε , ora (7.10) nos diz que existe um δ (= a ε/(1+a ε)) > δ que satisfaz (7.9), o que ´e contradit´ orio; sendo assim ´e imposs´ıvel encontrar um δ > 0 satisfazendo (7.9) que independa do ponto a em considera¸c˜ ao. As fun¸c˜ oes cont´ınuas para as quais o δ encontrado n˜ ao depende do particular ponto a onde se analisa a continuidade, gozam de certas propriedades n˜ ao partilhadas por fun¸c˜ oes cont´ınuas em geral; da´ı a necessidade de isolarmos estas fun¸c˜ oes para estudos. ´ o que faremos agora atrav´es da seguinte E Defini¸ c˜ ao 48 (Continuidade uniforme). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Diz-se que uma aplica¸c˜ ao f : M −→ N ´e uniformemente cont´ınua quando, para todo ε > 0 dado arbitrariamente, pudermos exibir δ(ε) > 0 tal que ` ´ ∀ x, y ∈ M, d1(x, y) < δ(ε) ⇒ d2 f (x), f (y) < ε
A seguir escrevemos a defini¸c˜ ao de continuidade uniforme juntamente com sua nega¸c˜ ao:
ε>0
∀
δ>0
∃
y∈M
∀
x∈M
∃
∀
∃
∃
ε>0
δ>0
y∈M
∀
x∈M
`
`
d1 (x, y) < δ ⇒ d2 (f (x), f (y)) < ε d1 (x, y) < δ ∧ d2 (f (x), f (y)) ≥ ε
´
´
Comparando as duas continuidades temos: continuidade
∀
ε>0
∀
y∈M
∃
δ>0
∀
` ´ d1 (x, y) < δ ⇒ d2 (f (x), f (y)) < ε
∀
` ´ d1 (x, y) < δ ⇒ d2 (f (x), f (y)) < ε
x∈M
δ=δ(ε,y)
continuidade uniforme
∀
ε>0
∃
δ>0 δ=δ(ε)
∀
y∈M
x∈M
Obseve que a segunda f´ ormula “s´ o” difere da primeira pela troca de posi¸c˜ ao de dois quantificadores.
354
Nota: Deve ficar bem claro (transparente) para o leitor a diferen¸ca entre os dois tipos de continuidade. Com este intuito reveja pg. 305 (Generalizando). Proposi¸ c˜ ao 87. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Toda aplica¸c˜ ao lipschitziana ´e uniformemente cont´ınua. Prova: De fato, sendo (pg. 326): d2 (f (x), f (y)) ≤ c d1 (x, y) para quaisquer x, y ∈ M ent˜ ao dado ε > 0, tomamos δ(ε) = εc . Logo se d1 (x, y) < δ =
ε ⇒ c d1 (x, y) < ε ⇒ d2 (f (x), f (y)) ≤ c d1 (x, y) < ε. c
Em particular, s˜ ao uniformemente cont´ınuas (pgs. 326-329): As homotetias, as fun¸c˜ oes reais com derivadas limitadas em um intervalo, as proje¸c˜ oes, as contra¸c˜ oes. Proposi¸ c˜ ao 88. Se f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) e g : (N, d2 ) −→ (P, d3 ) s˜ ao aplica¸c˜ oes uniformemente cont´ınuas ent˜ ao g ◦f : (M, d1 ) −→ (P, d3 ) ´e tamb´em uniformemente cont´ınua. Prova: Dado ε > 0, sendo g uniformemente cont´ınua existe δ ′ > 0 tal que ` ´ (§) ∀ z, t ∈ N ; d2 (z, t) < δ ′ ⇒ d3 g(z), g(t) < ε
Como f ´e tamb´em uniformemente cont´ınua, para este δ ′ existe δ > 0 tal que ` ´ ∀ x, y ∈ M ; d1 (x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) < δ ′ (‡)
De ( § ) e ( ‡ ) concluimos que
` ´ ∀ x, y ∈ M ; d1 (x, y) < δ ⇒ d3 g(f (x)), g(f (y)) < ε
isto ´e
` ´ ` ´ d3 g(f (x)), g(f (y)) = d3 (g ◦ f )(x), (g ◦ f )(y) < ε (M, d1 )
q
x
q
(N, d2 )
d1(x, y)<δ
q
f (x)
y
f
-
`
q
(P, d3 )
q
g(f (x)) g
-
f (y)
´
d2 f (x), f (y) <δ ′
g◦f
`
q
g(f (y))
´
d3 g(f (x)), g(f (y)) <ε
-
Proposi¸ ao 89. A aplica¸c˜ ao f ´: M −→ N1 × N2 × · · · × Nn definida por `c˜ f (x) = f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) , ∀ x ∈ M , ´e uniformemente cont´ınua se, e somente se, suas coordenadas f1 : M −→ N1 , . . . , fn : M −→ Nn s˜ ao uniformemente cont´ınuas.
355
Prova: (=⇒) Vamos nos valer das fun¸c˜ oes proje¸c˜ oes ` ´ p1 ◦ f (x) = p1 f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) = f1 (x) ⇒ p1 ◦f = f1
−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−−− ` ´ pn ◦ f (x) = pn f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) = fn (x) ⇒ pn ◦f = fn .
Como f e cada proje¸c˜ ao pi s˜ ao uniformemente cont´ınuas, segue que cada fun¸c˜ ao coordenada fi tamb´em ´e uniformemente cont´ınua. (⇐=) Para provar a rec´ıproca usaremos em N1 × N2 × · · · × Nn a m´etrica ˘ ¯ D3 (x, y) = max d1 (x1 , y1 ), d2 (x2 , y2 ), . . . , dn (xn , yn )
Suponha que cada fi ´e uniformemente cont´ınua. Dado ε > 0 existe para cada ´ındice i = 1, 2, . . . , n um n´ umero δi > 0 de modo que ` ´ ∀ x, y ∈ M ; dM(x, a) < δi ⇒ di fi (x), fi (a) < ε. Pondo δ = min{δ1 , δ2 , . . . , δn }, temos
8 ` ´ > ´ : ` dn fn (x), fn (a) < ε
Sendo assim, temos
˘ ` ´ ` ´¯ ∀ x, y ∈ M ; dM(x, a) < δ ⇒ max d1 f1 (x), f1 (a) , . . . , dn fn (x), fn (a) < ε ` ´ ⇒ D3 f (x), f (a) < ε.
` ´ Proposi¸ c˜ ao 90. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e E, +, · um espa¸co vetorial normado. Se f, g : M −→ E s˜ ao aplica¸c˜ oes uniformemente cont´ınuas ent˜ ao f + g : −→ E ´e tamb´em uniformemente cont´ınua. Prova: Exerc´ıcio. Vimos (proposi¸c˜ ao 75, pg. 317) que f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) onde (M, d1 ) ´e um espa¸co discreto ´e cont´ınua; todavia n˜ ao uniformemente cont´ınua, porquanto δ = δa . Ver exemplo 8), pg. 315. Nota: O produto de fun¸c˜ oes uniformemente cont´ınuas pode n˜ ao ser uniformemente cont´ınuo. Por exemplo, a aplica¸c˜ ao f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = x ´e uniformemente cont´ınua, mas g : (R, µ) −→ (R, µ) dada por g(x) = f (x) · f (x) = x2 n˜ ao o ´e, conforme ser´ a visto no exemplo 2o ) adiante. Toda fun¸c˜ ao uniformemente cont´ınua ´e cont´ınua (prove isto!); mas a rec´ıproca, amiude n˜ ao se verifica, como veremos agora: 1o ) J´ a vimos (pg. 308) que a fun¸c˜ ao f : (R − { 0 }, µ) −→ (R, µ) definida por f (x) = x/|x| ´e cont´ınua. Mostraremos que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua. Para mostrar que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua devemos exibir um ε > 0 tal que, para todo δ > 0 possamos encontrar dois pontos x e y tais que |x − y| < δ e |f (x) − f (y)| ≥ ε. (Ver nega¸c˜ ao em s´ımbolos, pg. 354). Observe que f (x) ∈ { −1, 1 }, ∀ x ∈ R − { 0 }, portanto |f (x) − f (y)| ∈ { 0, 2 } ∀ x, y ∈ R − { 0 },
356
mais precisamente ˛ ˛ ˛f (x) − f (y)˛ =
(
0, se xy > 0; 2, se xy < 0.
Se escolhermos qualquer ε ≤ 2, para todo δ > 0 existir˜ ao sempre pontos x, y ∈ R − { 0 } tais que |x − y| < δ e |f (x) − f (y)| ≥ ε Por exemplo, tomando x = −δ/3 e y = δ/3, temos |x − y| =
2δ < δ e |f (x) − f (y)| = 2 ≥ ε. 3 R
6
|f (x)−f (y)|=2≥ε
⊤
1
q
q
x=− δ 3
y= δ 3
⊥
- R−{ 0 }
−1
⊢
⊣
|x−y|= 2δ <δ 3
2o ) A fun¸c˜ ao f : (R, µ) −→ (R, µ) definida por f (x) = x2 ´e cont´ınua (produto de fun¸c˜ oes cont´ınuas). Mostraremos que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua. Para mostrar que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua devemos exibir um ε > 0 tal que, para todo δ > 0 possamos encontrar dois pontos x e y tais que |x − y| < δ e |f (x) − f (y)| ≥ ε Tomemos qualquer ε ≤ 2. Dado δ > 0, pela propriedade arquimediana existe n ∈ N tal que n1 < δ. Utilizando este n fa¸camos x = n e y = n + n1 . Ent˜ ao |x − y| = n1 < δ e, no entanto ˛ «2 ˛˛ „ ˛ 1 1 ˛ ˛ 2 |f (x) − f (y)| = ˛n − n + ˛=2+ 2 >ε ˛ n ˛ n f (x)
6
|f (x)−f (y)|=2+ 12 >ε n
ց⊤ ⊥ n
0
n+ 1 n
-x
x |x−y|= n1 <δ ⊢ ⊣ Nota: f ´e localmente lipschitziana (pg. 329), isto implica que em cada ponto a ∈ R existe uma bola ]a − r, a + r[ tal que a restri¸c˜ ao de f a essa bola ´e
357
uniformemente cont´ınua. Consideremos ainda f (x) = x2 desta vez sobre o dom´ınio [ 0, b ], onde b ´e qualquer n´ umero positivo. Dado ε > 0 escolhamos δ = ε/2b. Ent˜ ao se x, y ∈ [ 0, b ] e |x − y| < δ, temos ˛ ˛ ˛f (x) − f (y)˛ = |x2 − y 2 | = |x + y| · |x − y| ≤ 2b |x − y| < 2b δ = ε.
Sendo assim f (x) = x2 ´e uniformmente cont´ınua sobre [ 0, b ]. Este ´e um caso especial da proposi¸c˜ ao 142, pg. 526.
O exemplo acima mostra a dependencia da continuidade uniforme com respeito ao dom´ınio da fun¸c˜ ao. 3o ) J´ a vimos (pg. 309) que a fun¸c˜ ao f : (R∗+ , µ) −→ (R, µ) definida por f (x) = 1/x ´e cont´ınua. Mostraremos que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua. Para mostrar que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua devemos exibir um ε > 0 tal que, para todo δ > 0 possamos encontrar dois pontos x e y tais que |x − y| < δ e |f (x) − f (y)| ≥ ε Tomemos qualquer ε ≤ 1. Dado δ > 0, pela propriedade arquimediana escolhemos n ∈ N tal que 1 n
<δ ⇒
1 n(n+1)
Utilizando o n de Arquimedes fa¸camos x = |x − y| =
1 n+1
<δ
ey=
1 . n
Ent˜ ao
1 < δ e |f (x) − f (y)| = |n − (n + 1)| = 1 ≥ ε. n(n + 1) f (x)
6
|f (x)−f (y)|=1≥ε
ց⊤ ⊥ 0
1 n+1
⊢
-x
1 n 1 <δ x |x−y|= n(n+1) ⊣
Nota: f ´e localmente lipschitziana (pg. 330), isto implica que em cada ponto a ∈ R∗+ existe uma bola ]a − r, a + r[ tal que a restri¸c˜ ao de f a essa bola ´e uniformemente cont´ınua. 4o ) A fun¸c˜ ao f : (R∗ , µ) −→ (R, µ) definida por f (x) = sen ( x1 ) ´e cont´ınua e limitada, mas n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua. Para mostrar que f ´e cont´ınua consideremos as fun¸c˜ oes g e h g : R −→ R e h : R∗ −→ R x 7−→ sen x
358
x 7−→ 1/x
compondo estas duas fun¸c˜ oes, temos g
h
R∗ −→ R −→ R 1 x
x 7−→
7−→ sen ( x1 )
f = g◦h : R∗ −→ R
Isto ´e,
x 7−→ sen ( x1 )
´e cont´ınua.
Para mostrar que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua devemos exibir um ε > 0 tal que, para todo δ > 0 possamos encontrar dois pontos x e y tais que |x − y| < δ e |f (x) − f (y)| ≥ ε Tomemos qualquer ε ≤ 2. Dado δ > 0, pela propriedade arquimediana existe n ∈ N tal que 1 1 <δ ⇒ <δ ⇒ n 2n
1 2
1 <δ + 2n
⇒ `3 2
Utilizando o n de Arquimedes fa¸camos x= Ent˜ ao
3π 2
˛ ˛ 1 |x − y| = ˛˛ 3π − + 2nπ 2
e, no entanto
1 ´ ` ´ < δ. + 2n · 21 + 2n
1 , y= + 2nπ
π 2
π 2
1 + 2nπ
˛ ˛ 1 1 ˛= ` ´ `1 ´ <δ 3 + 2nπ ˛ + 2n · 2 + 2n 2
˛ “ 3π ” “π ”˛˛ ˛ ˛ |f (x) − f (y)| = ˛ sen + 2nπ − sen + 2nπ ˛˛ 2 2 ˛ ˛ = ˛ − 1 − 1˛ = 2 ≥ ε.
Agora daremos um exemplo de fun¸c˜ ao uniformemente cont´ınua mas n˜ ao lipschitziana. Trata-se da fun¸c˜ ao ` ´ ` ´ √ f : [0, +∞[, µ −→ [0, +∞[, µ definida por f (x) = x.
Para mostrar que f ´e uniformemente cont´ınua, para todo ε > 0 dado devemos exibir δ(ε) > 0 tal que ˛√ √ ˛ |x − y| < δ(ε) ⇒ ˛ x − y ˛ < ε Antes vamos estabelecer uma desigualdade auxiliar: para a, b ≥ 0, temos a + b ≥ a − b e a + b ≥ −(a − b) ⇒ |a + b| ≥ |a − b|. ˛√ √ ˛ ˛√ √ ˛ portanto ˛ x − y ˛ ≤ ˛ x + y˛ , ∀ x, y ≥ 0, logo ˛ ˛√ ˛ ˛√ ˛ ˛√ ˛ ˛√ ˛ x − √y ˛ · ˛ x − √y ˛ ≤ ˛ x − √y ˛ · ˛ x + √y ˛ ˛√ √ ˛2 ⇒ ˛ x − y˛ ≤ |x − y| ˛√ √ ˛ p ⇒ ˛ x − y ˛ ≤ |x − y|
359
Ent˜ ao, tomando δ(ε) = ε2 , temos p √ ˛√ √ ˛ |x − y| < δ = ε2 ⇒ ε = ε2 > |x − y| ≥ ˛ x − y ˛ ˛√ √ ˛ ⇒ ˛ x − y ˛ < ε.
Agora vamos mostrar que f n˜ ao ´e de Lipschitz. Para tanto (pg. 326) devemos provar que para qualquer c > 0, existem x, y ∈ [ 0, +∞[, x 6= y, tal que ˛ ˛√ ˛ x − √y˛ > c |x − y|
sendo
˛√ ˛ ˛ x − √y ˛ |x − y|
˛ ˛√ ˛ x − √y ˛ 1 = ˛˛√ √ √ ˛ ˛√ √ ˛ = √ x+ y x − y˛ · ˛ x + y ˛
basta tomar, por exemplo, x = √
7.4
1 16c2
1 √ = q x+ y
ey=
1 ; 4c2
posto que
1 1 16c2
+
q
1 4c2
=
4c >c 3
Homeomorfismos − Espa¸ cos Homeomorfos
Na ´ algebra, se existe uma bije¸c˜ ao entre dois grupos (G, ∗) e (J, △) que preserva as opera¸c˜ oes, ent˜ ao estes grupos s˜ ao ditos isomorfos e s˜ ao indistingu´ıveis sob o ponto de vista alg´ebrico. De modo an´ alogo, em topologia se existe uma bije¸c˜ ao entre dois espa¸cos (M, d1 ) e (N, d2 ) que preserva os abertos (isto ´e, abertos s˜ ao tranformados em abertos), ent˜ ao estes espa¸cos s˜ ao ditos homeomorfos (ou topologicamente equivalentes) e s˜ ao indistingu´ıveis sob o ponto de vista da topologia. Vamos tornar estas considera¸c˜ oes mais precisas: Inicialmente chamamos a aten¸c˜ ao do leitor para o fato de que em topologia podemos ter uma bije¸c˜ ao cont´ınua, por exemplo a identidade (prop. 75, pg. 317): i : (R, δ) −→ (R, µ) x 7−→ x
cuja inversa (a qual tamb´em ´e a identidade) i−1 : (R, µ) −→ (R, δ) x 7−→ x
seja descont´ınua (exemplo 4) pg. 310). Veja tamb´em o exemplo 5), pg. 311. Defini¸ c˜ ao 49 (Homeomorfismo). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Dizemos que uma aplica¸c˜ ao f : M −→ N ´e um homeomorfismo do espa¸co (M, d1 ) no espa¸co (N, d2 ) se, e somente se, (a) f ´e bijetora; (b) f e sua inversa f −1 s˜ ao ambas cont´ınuas. De imediato concluimos, respaldados na proposi¸c˜ ao 86 (pg. 345), que se f ´e um homeomorfismo ent˜ ao todo aberto A ⊂ N ´e transformado por f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) em um aberto de M . Reciprocamente, todo aberto A ⊂ M ´e transformado por f −1 : (N, d2 ) −→ (M, d1 )
360
em um aberto de N . Dizemos ent˜ ao que o homeomorfismo preserva (n˜ ao destr´ oi) os conjuntos abertos destes espa¸cos. Defini¸ c˜ ao 50 (Espa¸cos Homeomorfos). Dois espa¸cos m´etricos (M, d1 ) e (N, d2 ) dizem-se homeomorfos ou topol´ ogicamente equivalentes se existe um homeomorfismo f : M −→ N . Exemplos de homeomorfismos/espa¸ cos homeomorfos: 1) A inversa de toda isometria ´e uma isometria, portanto toda isometria ´e um homeomorfismo; mas a rec´ıproca ´e falsa, ´e o caso do exemplo a seguir: ` ´ 2) Os espa¸cos (R, µ) e ] − 1, 1 [, µ s˜ ao homeomorfos, pois f : R −→ ] − 1, 1 [ x 7−→
e
f −1 : ] − 1, 1 [ −→ R
x 1+|x|
x x 7−→ 1−|x|
s˜ ao cont´ınuas (a cargo do leitor). Observe,
f (x)
f −1 (x)
6
6
1
-x
0
−1
´e f´ acil ver que f n˜ ao ´e isometria.
361
−1
0
1
-x
Propriedades topol´ ogicas Uma propriedade P , de conjuntos, ´e chamada topol´ ogica ou invariante topol´ ogico se, sempre que um espa¸co m´etrico (M, d) goza de P , ent˜ ao todo espa¸co homeomorfo a (M, d) tamb´em goza de P . Se P ´e uma propriedade topol´ ogica e sendo toda isometria um homeomorfismo, ent˜ ao P ´e preservada por isometrias; logo, toda propriedade topol´ ogica ´e tamb´em uma propriedade m´etrica − que s˜ ao aquelas preservadas por isometrias − mas a rec´ıproca n˜ ao se verifica, como veremos. Como vimos no exemplo anterior a reta real R ´e homeomorfa ao intervalo aberto X =] − 1, 1 [. Ent˜ ao, “diˆ ametro” n˜ ao ´e um invariante topol´ ogico (mas sim m´etrico), pois X e R tˆem diˆ ametros diferentes. Tamb´em a propriedade de ser limitado n˜ ao ´e uma propriedade topol´ ogica, pois X ´e limitado enquanto R n˜ ao o ´e. Temos um outro exemplo desta situa¸c˜ ao ao consideramos os conjuntos ˘ 1 ¯ 1 N = {1, 2, . . . , n, . . .} e M = 1, , . . . , , . . . 2 n
ambos com a m´etrica µ. A aplica¸c˜ ao,
f : N −→ M n 7−→ n1
´e um homeomorfismo, pois ´e uma bije¸c˜ ao e ambos os espa¸cos (N, µ) e (M, µ) s˜ ao discretos; isto ´e f e f −1 s˜ ao cont´ınuas; mas enquanto M ´e limitado, N n˜ ao o ´e. Mostraremos agora que ser discreto ´e uma propriedade topol´ ogica (portanto, m´etrica). Seja f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) um homeomorfismo. Se (N, d2 ) ´e discreto ent˜ ao (M, d1 ) tamb´em o ´e. Com efeito, fixado arbitrariamente um ponto a ∈ M ; sendo (N, d2 ) discreto ent˜ ao f (a) ´e isolado, o que implica na existˆencia de um ε = εf (a) > 0 tal que a bola Bd (f (a); ε) = { f (a) } se reduz ao seu centro. Sendo f cont´ınua, existe δ = δ(ε, a) > 0 2 tal que se x ∈ Bd (a; δ) ⇒ f (x) ∈ Bd (f (a); ε) = { f (a) }, 1
2
e como f ´e injetiva conclui-se que na bola Bd (a; δ) s´ o existe o seu pr´ oprio centro, isto 1 ´e, Bd (a; δ) = { a }. Com isto mostramos que a ∈ M ´e isolado; como a foi tomado 1 arbitrariamente segue que (M, d1 ) ´e discreto. • A estrutura topol´ ogica de um espa¸co m´etrico ´e determinada pela cole¸c˜ ao dos abertos desse espa¸co. Isto se deve ` a proposi¸c˜ ao 47, pg. 259. 3) Homeomorfismo entre bolas: Duas bolas quaisquer em um espa¸co vetorial normado s˜ ao homeomorfas. ` ´ Dadas duas bolas B(a; r) e B(b; s) em um espa¸co vetorial E, +, · normado, vamos mostrar que existe um homeomorfismo entre ambas. A aplica¸c˜ ao, ϕ : E −→ E x 7−→ b + rs (x − a) isto ´e, ϕ(x) = b + sr (x − a), ´e cont´ınua por ser a composta das fun¸c˜ oes cont´ınuas: transla¸c˜ ao, homotetia e transla¸c˜ ao. E
T−a
hs
E
r
x 7−→ x − a 7−→
E s (x r
Tb
− a) 7−→ b +
isto ´e
362
E s (x r
− a)
ϕ = Tb ◦ hs ◦ T−a r
´ injetiva, pois E s s ϕ(x) = ϕ(y) ⇒ b + (x − a) = b + (y − a) ⇒ x = y r r ´e sobrejetiva, pois dado y ∈ E, existe x ∈ E de modo que ϕ(x) = y: r s ϕ(x) = b + (x − a) = y ⇒ x = a + (y − b) r s Observe que para este x, temos ϕ(x) = b + A inversa de ϕ ´e dada por
” ´ r s “` a + (y − b) − a = y r s
r ϕ−1 (x) = a + (x − b) s que tamb´em ´e cont´ınua, por ser composta por fun¸c˜ oes cont´ınuas. Com isto provamos que ϕ : E −→ E ´e um homeomorfismo. Para mostrar que a restri¸c˜ ao (ver corol´ ario 11, pg. 338) ˛ ˛ ϕ′ = ϕ˛ : B(a; r) −→ B(b; s) B(a; r)
´e um homeomorfismo ´e suficiente mostrar que ´e sobrejetiva; isto ´e, que dado y ∈ B(b; s) existe x ∈ B(a; r) de modo que ϕ′ (x) = y. Para tanto basta mostrar que x = a + rs (y − b) ∈ B(a; r), isto ´e que kx − ak < r. Com efeito, ‚“` ‚ ´” r r ‚ ‚ kx − ak = ‚ a + (y − b) − a‚ = ky − bk s s como r r y ∈ B(b; s) ⇒ ky − bk < s ⇒ ky − bk < · s ⇒ kx − ak < r. s s O diˆ ametro de um conjunto ´e um invariante m´etrico − se mant´em inalterado por isometrias. Com a demonstra¸c˜ ao anterior mais uma vez constatamos que o diˆ ametro de um conjunto n˜ ao ´e um invariante topol´ ogico. A transtorma¸c˜ ao∗ , ϕ : B(a; r) −→ B(b; s) transforma a primeira bola na segunda. De fato, ela pode ser desdobrada como, T−a
hs r
B(a; r) B(0; r) x 7−→ x − a 7−→
Tb
B(0; s) B(b; s) s − 7 → (x − a) b + rs (x − a) r
Onde: i) A transforma¸c˜ ao T−a translada a bola B(a; r) para a origem; ii) a transforma¸c˜ ao hs “expande” (caso r/s > 1) ou “contrai” (caso r/s < 1) a bola r B(0; r) de modo que esta fique com o raio s; iii) a transforma¸c˜ ao Tb superp˜ oe (via transla¸c˜ ao) a bola B(0; s) ` a bola B(b; s).
∗ Voltamos
a usar a nota¸ca ˜o ϕ.
363
Exemplos: ` ´ 1 ) No espa¸co R, | · | o homeomosfismo entre as bolas, o
B(a; r) = Bµ(0; 1) =] − 1, 1 [ e B(b; s) = Bµ(4; 2) =] 2, 6 [
´e dado por, s ϕ(x) = b + (x − a) r =4+ por exemplo, ϕ( 12 ) = 2 ·
1 2
2 (x − 0) = 2x + 4 1
+ 4 = 5. No gr´ afico fica assim, R
6
6
5
q
4
q
3
q
1
q
←−
ϕ=2x+4
2
]
[
0
−1
1
364
-R
` ´ 2o ) No espa¸co R2 , k · k o homeomosfismo entre as bolas,
“ “ 1” 3” B(a; r) = B (1, 1); e B(b; s) = B (3, 2); 2 2
´e dado por,
(7.11)
s ϕ(x) = b + (x − a) r = (3, 2) +
3 2 1 2
Ou ainda,
` ´ x − (1, 1)
` ´ ` ´ ϕ (x, y) = (3, 2) + 3 (x, y) − (1, 1) ` ´ = 3x, 3y − 1
A aplica¸c˜ ao ϕ transforma continuamente a primeira bola dada em (7.11) na segunda, assim: Na norma euclidiana (ver pg. 73), temos R
R
6
2
q
1
q
ϕ −→
q q1
0
q2
6
3
q
2
q
1
q
-R
r
q1
0
q2
q3
q4
-R
Na norma da soma, temos R
R
6
2
q
1
q
0
ϕ −→
q q1
q2
6
3
q
2
q
1
q
-R
0
365
r
q1
q2
q3
q4
-R
Na norma do m´ aximo, temos R
R
6
2
q
1
q
0
ϕ −→
q q1
3
q
2
q
1
q
-R
q2
6
r
q1
0
q2
q3
q4
-R
Observe que a aplica¸c˜ ao ϕ−1 transforma continuamente a segunda bola dada em (7.11) na primeira. Em um espa¸co m´etrico arbitr´ ario, duas bolas abertas podem n˜ ao ser homeomorfas. Por exemplo, tomemos o n 1 1 M = 1, , . . . , , . . . ∪ { 0 } 2 n com a m´etrica µ induzida da reta. Por exemplo, as bolas i 1 1h 1 ∩ M = { 1 } e Bµ(0; s) =] 0 − s, 0 + s [ ∩ M Bµ(1; ) = 1 − , 1 + 2 2 2
n˜ ao s˜ ao homeomorfas qualquer que seja s > 0, pois n˜ ao pode existir uma bije¸c˜ ao entre um conjunto unit´ ario e um conjunto infinito. ]
q qqqqqqqqqq q q q q q
s ⇀ [ 0↑
... 1 1
Bµ(0; s)=]−s,s[ ∩ M
5
4
q
1 3
q
1 2
q
1տ
-M
1 )={ 1 } Bµ(1; 2
Nota: Observe que a fun¸c˜ ao m´ odulo | · | : R −→ R ´e uma norma sobre o espa¸co vetorial ( R, | · | ) enquanto que a mesma fun¸c˜ ao restrita a M n˜ ao ´e uma norma sobre o par ( M, | · | ). De fato, M n˜ ao ´e um espa¸co vetorial e norma s´ o est´ a definida em espa¸cos vetoriais. Estamos tentando dizer que nem sempre o m´ odulo ´e uma norma, isto ´e, s˜ ao conceitos distintos. ( M, | · | ) ´e um espa¸co m´etrico (ou um subespa¸co de ( R, µ ), como queira), mas n˜ ao normado, isto ´e sua m´etrica n˜ ao prov´em de uma norma. Um outro exemplo de bolas abertas n˜ ao homeomorfas, s˜ ao dadas por Bδ (0; 1) = { 0 } e Bδ (0; 2) = R no espa¸co ( R, δ ). ` ´ 4) Em um espa¸co vetorial E, +, · normado, qualquer bola aberta ´e homeomorfa ao espa¸co inteiro. Este caso ´e uma generaliza¸c˜ ao do exemplo 2) pg. 361. Tendo em conta que duas bolas quaisquer s˜ ao homeomorfas, ´e suficiente exibir um homeomorfismo f : E −→ B(0; 1), onde aqui o homeomorfismo e seu inverso s˜ ao dados por f (x) =
x x e f −1 (x) = 1 + kxk 1 − kxk
4.1) Do exemplo anterior decorre que todo intervalo aberto limitado ] a, b [ ´e homeomorfo ao espa¸co ( R, µ ) uma vez que neste espa¸co o intervalo ] a, b [ ´e a bola aberta de centro no seu ponto m´edio e raio r = (b − a)/2 > 0. De fato,
366
Bµ
`a + b ´ ˜a + b ˆ a+b ;r = − r, +r 2 2 2 ˜a + b b−a a+b b − aˆ = − , + = ] a, b [. 2 2 2 2
q
] a
r=
a−b 2
-
-
[ b
a+b 2
4.2) Pra falar a verdade todo intervalo aberto da reta ´e homeomorfo a R. De fato, se o intervalo for do tipo ] a, +∞ [, podemos considerar o seguinte o homeomorfismo, X
f : R −→ ] a, +∞ [
f −1 : ] a, +∞ [ −→ R
x 7−→ y = a + ex
x 7−→ y = ln(x − a)
A seguir plotamos os gr´ aficos de f e f −1 . ] a, +∞ [
6
f (x)=a+ex
R
6 f −1 (x)=ln(x−a)
a
0
-R
0
-
]a
] a, +∞ [
Se o intervalo for do tipo ] − ∞, b [, podemos considerar o seguinte o homeomorfismo f : R −→ ] − ∞, b [
X
f −1 : ] − ∞, b [ −→ R
x 7−→ y = b − e−x
x 7−→ y = − ln(b − x)
367
A seguir plotamos os gr´ aficos de f e f −1 . R
6
b f (x)=b−e−x
-
-
] −∞, b [
R 0
0
6
b
[
f −1 (x)=− ln(b−x)
] −∞, b [
5) Proje¸c˜ ao estereogr´ afica. Sejam S 1 = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1} e p = (0, 1). Consideremos os seguintes subespa¸cos, ` 1 ´ ` ´ S − { p }, D1 e (R × { 0 }, D1 ) de R2 , D1
Vamos agora construir um homeomorfismo entre estes subespa¸cos. A proje¸c˜ ao estereogr´ afica, π : S 1 − { p } −→ R × { 0 } ´e a aplica¸c˜ ao que associa a cada ponto q = (xc , yc ) ∈ S 1 − { p } o ponto π(q) ∈ R × {0}, obtido pela interse¸c˜ ao da semi-reta que liga p a q, com o eixo dos x.
6 p S
r
q
1
r
↑
π(q)
R×{ 0 } (r)
Para determinar analiticamente o ponto π(q) = (?, 0) devemos encontrar a equa¸c˜ ao da reta (r) que passa por p = (0, 1) e q = (xc , yc ): yr − 1 =
´ 1 − yc ` y −1 · xr − 0 ⇒ yr = 1 + c · xr 0 − xc xc
Fazendo yr = 0 encontramos, xr =
xc 1 − yc
⇒ π(q) =
Portanto a aplica¸c˜ ao π ´e dada por,
368
“ x ” c ,0 1 − yc
π : S 1 − { p } −→ R × { 0 } ` ´ x ,0 (x, y) 7−→ 1−y
Desejamos mostrar que π ´e um homeomorfismo. Mostremos inicialmente que π ´e uma bije¸c˜ ao. Dado (a, 0) ∈ R × { 0 }, consideremos a reta (s) que passa por (a, 0) e p = (0, 1).
6
S
1
?
r
r
bp
- R×{0}
(a,0)
(s)
A equa¸c˜ ao desta reta ´e y = 1 − x/a. Vamos verificar se existe algum ponto da reta (s) em S 1 − { p }. Resolvendo o sistema 8 < x2 + y 2 = 1 :y = 1 −
x a
encontramos duas solu¸c˜ oes; uma ´e o ponto (0, 1) que n˜ ao pertence a S 1 − { p } ` 2a a2 −1 ´ e a outra ´e o ponto v = a2 +1 , a2 +1 que ´e o u ´nico ponto de S 1 − { p } tal que π(v) = (a, 0). Isto mostra que π ´e sobrejetiva e injetiva. Pelo que vimos acima, a fun¸c˜ ao inversa de π ´e dada por π −1 : R × { 0 } −→ S 1 − { p } ` ´ 2x , x2 −1 (x, 0) 7−→ x2 +1 x2 +1
Vejamos porque π e π −1 s˜ ao cont´ınuas. As fun¸c˜ oes, R2 −→ R ,
(x, y) 7−→ x
R2 −→ R ,
(x, y) 7−→ 1
R2 −→ R
(x, y) 7−→ y
s˜ ao cont´ınuas. A primeira e a u ´ltima por tratar-se de proje¸c˜ oes e a segunda porque ´e constante. Logo tamb´em ´e cont´ınua a fun¸c˜ ao, R2 −→ R
(x, y) 7−→ 1−y
369
diferen¸ca de fun¸c˜ oes cont´ınuas. Portanto as fun¸c˜ oes, R2 − {(0, 1)} −→ R (x, y)
7−→
R2 − {(0, 1)} −→ R
>
(x, y)
x
7−→
1−y
s˜ ao cont´ınuas (ver corol. pg. 338). Portanto a fun¸c˜ ao quociente, R2 − {(0, 1)} −→ R (x, y)
x 7−→ 1−y
tamb´em ´e cont´ınua (prop. 84, pg. 342). As fun¸c˜ oes R2 −→ {0}
R2 − {(0, 1)} −→ {0}
>
(x, y) 7−→ 0
(x, y)
7−→
0
s˜ ao cont´ınuas. Tomando M = R2 − {(0, 1)} na proposi¸c˜ ao 81 (pg. 339) temos que a fun¸c˜ ao f : R2 − {(0, 1)} −→ R × {0} ´ ` x ,0 (x, y) 7−→ 1−y ˛ ˛ ´e cont´ınua. Sendo π = f ˛ concluimos a continuidade de π. 1 S −{ p }
Para mostrar a continuidade de π −1 voltemos ` a proposi¸c˜ ao 81 com, M = R × { 0 } e consideremos as fun¸c˜ oes f1 : R × {0} −→ R (x, 0)
7−→
>
2x x2 +1
f2 : R × {0} −→ R (x, 0)
7−→
x2 −1 x2 +1
f1 e f2 s˜ ao cont´ınuas devido a proposi¸c˜ ao 84 (pg. 342). Portanto f : R × {0} −→ R × R ` ´ 2x , x2 −1 (x, 0) 7−→ x2 +1 x2 +1
´e cont´ınua. Isto prova que π −1 : R × { 0 } −→ S 1 − { p } ´e cont´ınua. Notas:
(i) Dada uma aplica¸c˜ ao f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ), sendo (P, d2 ) um subespa¸co tal que f (x) ∈ P para todo x ∈ M , ent˜ ao a aplica¸c˜ ao fP : (M, d1 ) −→ (P, d2 ) ´e cont´ınua se, e somente se, f ´e cont´ınua. (ii) S 1 − { p } ´e tamb´em homeomorfo a R uma vez que R × {0} −→ R (x, 0)
7−→
x
´e um homeomorfismo, como o leitor pode comprovar. 6) O gr´ afico de uma aplica¸c˜ ao cont´ınua ´e homeomorfo ao dom´ınio. Seja f : M −→ N uma fun¸c˜ ao cont´ınua. O gr´ afico de f ´e o subconjunto G(f ) ⊂ M × N do produto cartesiano M × N , definido por ˘` ´ ¯ G(f ) = x, f (x) : x ∈ M Vamos construir um homeomorfismo entre G(f ) e M : As fun¸c˜ oes
370
f1 : M −→ M x 7−→ x
f2 : M −→ N x 7−→ f (x)
>
s˜ ao cont´ınuas. Portanto a fun¸c˜ ao, ∴
F : M −→ M × N ` ´ x 7−→ f (x), f (x) 1 2
F : M −→ M × N ` ´ x 7−→ x, f (x)
´e cont´ınua. Logo, tendo em conta a nota (i) dada anteriormente, temos que a fun¸c˜ ao,
´e cont´ınua. Sua inversa,
FG(f ) : M −→ G(f ) ` ´ x 7−→ x, f (x) −1
FG(f ) : G(f ) −→ M ` ´ x, f (x) 7−→ x tamb´em ´e cont´ınua por ser a restri¸c˜ ao ao gr´ afico de f da primeira proje¸c˜ ao, isto ´e, ˛ −1 ˛ FG(f ) = p1˛ G(f )
6
q 6
(x, f (x)) F
G(f )
G(f )
−1 G(f )
F
? q
x
M
Vejamos dois casos particulares desse homeomorfismo: ˘ ¯ a) Considerando o c´ırculo unit´ ario S 1 = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1 , o seguinte subconjunto de S 1 ˘ ¯ 1 S+ = (x, y) ∈ S 1 : y > 0
tamb´em conhecido como hemisf´erio norte, ´e homeomorfo ` a bola aberta Bµ(0, 1) = ] − 1, +1 [ , uma vez que este hemisf´erio ´e o gr´ afico da fun¸c˜ ao, R
f : R −→ R √ x 7−→ 1−x2 −1
a
6 1 +
S
a -R
1
que ´e cont´ınua porquanto pode ser expressa como composta de fun¸c˜ oes cont´ınuas. ˘` ´ ¯ 2 b) A reta R ´e homeomorfa ` a par´ abola P = x, f (x) ∈ R : f (x) = x2 uma vez que esta par´ abola ´e o gr´ afico da fun¸c˜ ao
371
R
6
f : R −→ R x
7−→
p (x, f (x))
x2
p
x
7.5
-R
M´ etricas Equivalentes
Neste ´ıtem vamos considerar duas m´etricas d1 e d2 sobre um mesmo conjunto M , o que dar´ a origem a dois espa¸cos m´etricos distintos: (M, d1 ) e (M, d2 ). Iremos ver em que sentido estes dois espa¸cos podem ser considerados equivalentes. J´ a vimos no exemplo 4) (pg. 310) que a aplica¸c˜ ao identidade, i : (R, µ) −→ (R, δ) x 7−→ x ´e descont´ınua. Tamb´em vimos no exemplo 5) (pg. 311) que a aplica¸c˜ ao identidade, ` ´ ` ´ i : [ 0, 1 [, k −→ [ 0, 1 [, µ x 7−→ x ´e descont´ınua. Isto d´ a sentido ` a seguinte: Defini¸ c˜ ao 51. Dadas duas m´etricas d1 e d2 sobre um mesmo conjunto M , diremos que d1 ´e mais fina do que d2 e escrevemos d1 ≻ d2 quando a aplica¸c˜ ao identidade i12 : (M, d1 ) −→ (M, d2 ) x 7−→ x
for cont´ınua. Exemplos:
• Tendo em conta que iµδ : (R, µ) −→ (R, δ) n˜ ao ´e cont´ınua temos que µ 6≻ δ. Por outro lado, temos que iδµ : (R, δ) −→ (R, µ) ´e cont´ınua (Proposic˜ ao 75, pg. 317), portanto δ ≻ µ. ` ´ ` ´ • Tendo em conta que ikµ : [ 0, 1 [, k −→ [ 0, 1 [, µ n˜ ao ´e cont´ınua temos que k 6≻ µ. ` ´ ` ´ Por outro lado, temos que iµk : [ 0, 1 [, µ −→ [ 0, 1 [, k ´e cont´ınua (exerc´ıcio), portanto µ ≻ k. A imagem direta de qualquer subconjunto A ⊂ M pela aplica¸c˜ ao identidade i : M −→ M ´e o pr´ oprio A: ` ´ i A = { i(x) : x ∈ A }
= { x : x ∈ A } = A. ` ´ Em particular i B(a; r) = B(a; r). Tendo em conta a proposi¸c˜ ao 74 (pg. 304) deduzimos que se d1 ≻ d2` (isto ´e, se ´ a identidade i12 ´e cont´ınua) ent˜ ao para todo a ∈ M e para toda bola Bd i12 (a); r = 2 ` ´ Bd a; r existe uma bola Bd (a; s) de modo que 2 1 ` ´ ` ´ ` ´ i12 Bd (a; s) ⊂ Bd i12 (a); r ⇒ Bd (a; s) ⊂ Bd a; r 1
2
1
372
2
` ´ Ou ainda: Se d1 ≻ d2 ent˜ ao dada qualquer bola Bd a; r centrada em um ponto a 2 ` ´ arbitr´ ario, existe uma bola Bd (a; s) de modo que: Bd (a; s) ⊂ Bd a; r . No gr´ afico 1 1 2 fica assim: ( M, d1 )
( M, d2 )
∀ Bd (a; r)
∃ Bd (a; s)
2
1
i12
s
s
∀ r>0
a
r
a
∃ s>0
i12
que
`
´
Bd (a; s) =Bd (a; s) ⊂ Bd (a; r) 1
1
2
` ´ Reciprocamente, se para toda bola Bd a; r existe uma bola Bd (a; s) de modo 2
1
` ´ Bd (a; s) ⊂ Bd a; r 1
isto ´e
2
` ´ ` ´ i12 Bd (a; s) ⊂ Bd i12 (a); r 1
2
ent˜ ao (ainda pela proposi¸c˜ ao 74) i12 ´e cont´ınua, logo d1 ≻ d2 . Em resumo: ` ´ ` ´ d1 ≻ d2 ⇔ ∀ Bd a; r , ∃ Bd (a; s) : Bd (a; s) ⊂ Bd a; r 2
1
1
2
Quando acontecer d1 ≻ d2 e d2 ≻ d1 diremos que d1 e d2 s˜ ao equivalentes (ou topologicamente equivalentes) e escrevemos d1 ∼ d2 . De outro modo: d1 e d2 s˜ ao equivalentes quando a aplica¸c˜ ao identidade, for um homeomorfismo.
i12 : (M, d1 ) −→ (M, d2 )
• J´ a vimos que iδµ : (R, δ) −→ (R, µ) n˜ ao ´e um homeomorfismo porque sua inversa −1 iδµ = iµδ n˜ ao ´e cont´ınua. Portanto µ e δ n˜ ao s˜ ao m´etricas equivalentes em R. ` ´ ` ´ • J´ a vimos que iµk : [ 0, 1 [, µ −→ [ 0, 1 [, k n˜ ao ´e um homeomorfismo porque sua −1 inversa iµk = ikµ n˜ ao ´e cont´ınua. Portanto k e µ n˜ ao s˜ ao m´etricas equivalentes em [ 0, 1 [. ´ f´ E acil mostrar que “d1 ∼ d2 ” ´e uma rela¸c˜ ao de equivalˆencia em qualquer cole¸c˜ ao de m´etricas em um conjunto M . Exemplos e contra-exemplos: 1) Consideremos as m´etricas δ e µ sobre R. δ ≻ µ, pois dados a ∈ R e r > 0, escolhemos s = 1 obtendo Bδ (a; 1) = { a } ⊂ Bµ(a; r) =] a − r, a + r [. ] a−r
r
a
↑
[
-R
a+r
Bδ(a; 1)
Para mostrar que µ 6≻ δ escolhemos Bδ (a; 1) = { a } e vemos que Bµ (a; s) =] a − s, a + s [ 6⊂ Bδ (a; 1), ∀s > 0. 2) No conjunto S4 as m´etricas σ e ρ s˜ ao equivalentes. De fato, ´e suficiente o leitor considerar as equa¸c˜ oes (4.1) e (4.2) na pg. 169. Os dois exemplos anteriores s˜ ao casos especiais do seguinte
373
3) Se o espa¸co (M, d1 ) ´e discreto (neste caso dizemos que a m´etrica d1 ´e discreta) ent˜ ao d1 ≻ d2 qualquer que seja a m´etrica d2 sobre M . De fato, sendo (M, d1 ) discreto ent˜ ao dado a ∈ M existe s = s(a) > 0 de modo que Bd (a; s) = { a } e, obviamente, { a } ⊂ Bd (a; r) qualquer que seja a 1 2 m´etrica d2 e qualquer que seja o raio r > 0. 4) No conjunto N as m´etricas δ e µ s˜ ao equivalentes. De fato, basta mostrar que µ ≻ δ, ent˜ ao Bµ (n; 1) = Bµ (n; 1) ∩ N
=] n − 1, n + 1 [ ∩ N
= { n } ⊂ Bδ (n; r), ∀ r > 0.
5) No conjunto R2 as m´etricas D1 , D2 e D3 s˜ ao duas a duas equivalentes. Isto se deve ao fato de que dada uma bola B(a; r) em qualquer uma destas m´etricas, podemos “inscrever” nesta uma bola em qualquer uma das outras duas m´etricas. Por exemplo, conforme as figuras abaixo: r 6
r q 2
r 6
r 6 r@ q@ 2 @ @
r q 2
@ 6 r @ r q @
@ 2 @ @
6) Seja C[ 0, 1 ] o conjunto de todas as fun¸c˜ oes cont´ınuas reais definidas no intervalo I = [ 0, 1 ]. Considere as m´etricas Υ e Γ em C[ 0, 1 ] definidas por n o Υ(f, g) = max |f (x) − g(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] Γ(f, g) =
Z
1
0
|f (x) − g(x)| dx
Vamos mostrar que Υ ≻ Γ e que Γ 6≻ Υ. Seja BΓ (p; r) uma bola aberta com centro p ∈ C[ 0, 1 ] e raio r > 0 dado. Vamos tomar s = r e mostrar que, BΥ (p; s) ⊂ BΓ (p; r) De fato, seja f ∈ BΥ (p; s), logo n o Υ(f, p) = max |f (x) − p(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] < s
sendo,
|f (x) − p(x)| ≤ max x∈I
temos, Z
1 0
|f (x) − p(x)| dx ≤ max x∈I
n
n
o |f (x) − p(x)| < s
(7.12)
o |f (x) − p(x)| < s ⇒ Γ(f, p) < s = r ⇒ f ∈ BΓ (p; r).
Sendo assim, Υ ≻ Γ.
Lembrete: Dada f : [ a, b ] −→ R, integr´ avel, se m ≤ f (x) ≤ M para todo x ∈ [ a, b ] Rb ent˜ ao m(b − a) ≤ a f (x) dx ≤ M (b − a). Na desigualdade (7.12), temos M = n o max |f (x) − p(x)| . x∈I
374
Agora vamos mostrar Γ 6≻ Υ. Para isto devemos exibir uma bola BΥ (p; r) centrada em um ponto p ∈ C[ 0, 1 ] de modo que BΓ (p; s) 6⊂ BΥ (p; r), ∀ s > 0. Vamos escolher a fun¸c˜ ao constante, ∴
p : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ 2
p(x) = 2, ∀x ∈ [ 0, 1 ].
e o raio r = 1 e mostrar que, BΓ (p; s) 6⊂ BΥ (p; 1), ∀ s > 0. Para tanto ´e suficiente mostrar que qualquer que seja s > 0 podemos exibir uma fun¸c˜ ao fs ∈ BΓ (p; s) de modo que fs 6∈ BΥ (p; 1). A bola aberta BΥ (p; 1) constitui-se de todas as fun¸c˜ oes g situadas entre as fun¸c˜ oes p − 1 e p + 1, isto ´e (pg. 172): p(x) − 1 < g(x) < p(x) + 1 ⇒ 1 < g(x) < 3, ∀ x ∈ [ 0, 1 ].
6 4¬ p+1 3¬ 2¬
xp g
1¬
p−1 ¬ 1
0
-
Figura 7.2: Bola Aberta: BΥ (p; 1) Dado s > 0 para escolher fs ∈ BΓ (p; s) consideremos duas possibilidades: b) s ≥ 3.
a) 0 < s < 3
Se 0 < s < 3 consideremos fs a fun¸c˜ ao que consiste no segmento de reta entre os pontos (0, 0) e ( 31 s, 2) e no segmento de reta entre os pontos ( 31 s, 2) e (1, 2). Isto ´e, fs est´ a definida assim: 8 6x > se 0 ≤ x < s3 ; : 2, se 3s ≤ x ≤ 1. Se s ≥ 3 tomamos fs como sendo a fun¸c˜ ao constante dada por fs (x) = 1, ∀x ∈ I.
6
6
4¬
4¬
3¬
3¬
x fs
2¬ 1¬ 0
¬ 1s 3
¬
2¬ 1¬
-
1
0
xp x fs ¬
-
1
Agora vamos mostrar que estas fun¸c˜ oes preenchem os dois requisitos mencionados anteriormente.
375
Para 0 < s < 3, temos Z 1 Γ(fs , p) = |fs (x) − g(x)| dx 0
=
Z
s 3
=
Z
s 3
0
Z 1 ˛ 6x ˛ ˛ ˛ − 2 dx + |2 − 2| dx ˛ ˛ s s 3
0
“
” 6x s − + 2 dx = < s ⇒ fs ∈ BΓ (p, s). s 3
Observe que, 0≤x<
s 6x ⇒ 0 ≤ 6x < 2s ⇒ 0 ≤ <2 3 s ⇒ −2 ≤
˛ ˛ „ « ˛ 6x ˛ 6x 6x − 2 < 0 ⇒ ˛˛ − 2˛˛ = − −2 . s s s
Calculando a distancia Υ entre fs e p, temos n o Υ(fs , p) = max |fs (x) − p(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] = 2
(7.13)
⇒ fs 6∈ BΥ (p; 1).
Observe que, s 6x 6x ⇒ −2 ≤ −2<0 ⇒ 0 <2− ≤2 3 s s
para 0 ≤ x <
para
˛ ˛ 6x − 2˛ ≤ 2 ⇒ |fs (x) − p(x)| ∈ ] 0, 2 ] ⇒ 0<˛ s
s ≤ x ≤ 1 ⇒ |fs (x) − p(x)| = |2 − 2| = 0. 3
Da´ı (7.13). Quando s ≥ 3 temos fs (x) = 1, portanto Γ(fs , p) = =
Z
Z
1
|fs (x) − g(x)| dx
0 1 0
|1 − 2| dx = 1 < 3 ≤ s ⇒ fs ∈ BΓ (p; s).
Ainda, o |fs (x) − p(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] n o = max |1 − 2| : x ∈ [ 0, 1 ] = 1 ⇒ fs 6∈ BΥ (p; 1).
Υ(fs , p) = max
n
Observe que podemos concluir “a olho n´ u” que a fun¸c˜ ao fs n˜ ao pertence ` a bola BΥ (p; 1); veja que seu gr´ afico n˜ ao se encontra dentro das faixas horizontais p − 1 e p + 1, na figura 7.2. Em particular concluimos que as m´etricas Υ e Γ n˜ ao s˜ ao equivalentes em C[ 0, 1 ].
376
7) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Com aux´ılio da m´etrica d vamos definir uma outra m´etrica, ν digamos, dada por (ver 1. pg. 144) ˘ ¯ ν(x, y) = min 1, d(x, y) . Vamos mostrar que:
(i) para todo ε ∈ R tal que 0 < ε ≤ 1, temos Bd(a; ε) = Bν(a; ε);
(ii) d e ν s˜ ao equivalentes.
(i) Ent˜ ao, vamos mostrar inicialmente que Bd(a; ε) ⊂ Bν(a; ε). Seja x ∈ Bd(a; ε), isto ´e˘ , d(x, a) <¯ε, devemos mostrar que x ∈ Bν(a; ε), isto ´e, que ν(x, a) = min 1, d(x, a) < ε.
Resumindo (devemos mostrar que):
˘ ¯ Se 0 < ε ≤ 1 e d(x, a) < ε ent˜ ao min 1, d(x, a) < ε.
Pois bem, juntando as hip´ oteses podemos escrever ˘ ¯ d(x, a) < ε ≤ 1 ⇒ min 1, d(x, a) = d(x, a) < ε.
Agora vamos ˘ mostrar¯que Bν(a; ε) ⊂ Bd(a; ε). Seja x ∈ Bν(a; ε), isto ´e, ν(x, a) = min 1, d(x, a) < ε, devemos mostrar que x ∈ Bd(a; ε), isto ´e, que d(x, a) < ε. Resumindo (devemos mostrar que): ˘ ¯ Se 0 < ε ≤ 1 e min 1, d(x, a) < ε ent˜ ao d(x, a) < ε. Pois bem, juntando as hip´ oteses podemos escrever ˘ ¯ min 1, d(x, a) < ε ≤ 1,
portanto
˘ ¯ min 1, d(x, a) = d(x, a) < ε. ˘ ¯ Observe que n˜ ao pode ser min 1, d(x, a) = 1 sen˜ ao teriamos 1 < ε ≤ 1. (ii) Para mostrar que d e ν s˜ ao equivalentes devemos mostrar que dada Bd(a; ε) existe δ > 0 tal que Bν(a; δ) ⊂ Bd(a; ε) e vice-versa. Ent˜ ao, pelo ´ıtem anterior se 0 < ε ≤ 1 basta tomar δ = ε e teremos Bν(a; ε) = Bd(a; ε). Portanto resta considerar ε > 1. Seja ε > 1, queremos mostrar que existe˘δ > 0 tal ¯ que Bν(a; δ) ⊂ Bd(a; ε). Seja x ∈ Bν(a; δ), isto ´e, ν(x, a) = min 1, d(x, a) < δ; queremos mostrar (com uma escolha apropriada de δ) que x ∈ Bd(a; ε), isto ´e, que d(x, a) < ε. Isto ´e ˘ ¯ Se ε > 1 e min 1, d(x, a) < δ ent˜ ao d(x, a) < ε.
Pois bem, observe que tomando δ = 1 teremos ˘ ¯ Se ε > 1 e min 1, d(x, a) < 1 ⇒ d(x, a) < 1
⇒ d(x, a) < 1 < ε ⇒ x ∈ Bd(a; ε).
Por outro lado, dado ε > 1 vamos mostrar que existe δ > 0 de modo que Bd(a; δ) ⊂ Bν(a; ε). Ent˜ ao, seja x ∈ Bd(a; δ), devemos mostrar que x ∈ Bν(a; ε). Isto ´e ˘ ¯ Se ε > 1 e d(x, a) < δ ent˜ ao min 1, d(x, a) < ε.
377
Tomando δ = 1 teremos ˘ ¯ Se ε > 1 e d(x, a) < 1 ⇒ min 1, d(x, a) = d(x, a) < 1 ˘ ¯ ⇒ min 1, d(x, a) < ε ⇒ x ∈ Bν(a; ε).
8) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Com aux´ılio da m´etrica d vamos definir uma outra m´etrica, ν digamos, dada por (ver 3., pg. 144) ν(x, y) =
d(x, y) 1 + d(x, y)
Vamos mostrar que d e ν s˜ ao equivalentes. Inicialmente mostremos que dados a ∈ M e ε > 0 existe δ > 0 de modo que Bd(a; δ) ⊂ Bν(a; ε). Tomando δ = ε, dado x ∈ Bd(a; δ = ε) vamos mostrar que x ∈ Bν(a; ε), isto ´e que d(x, a) d(x, a) < ε ⇒ ν(x, a) = <ε 1 + d(x, a) Isto ´e imediato pois d(x, a) < ε ⇒ d(x, a) < ε + ε · d(x, a) ⇒
d(x, a) < ε. 1 + d(x, a)
ε Por outro lado, dado ε > 0, podemos tomar δε = 1+ε e mostrar que Bν(a; δε ) ⊂ Bd(a; ε). Isto ´e, seja x ∈ Bν(a; δε ) queremos mostrar que
ε d(x, a) < ⇒ d(x, a) < ε 1 + d(x, a) 1+ε Isto ´e verdade porquanto d(x, y) ε < ⇔ d(x, a) + ε d(x, a) < ε + ε d(x, a) 1 + d(x, y) 1+ε ⇔ d(x, a) < ε Os dois u ´ltimos exemplos mostram que toda m´etrica ´e equivalente a duas (pelo ao menos) m´etricas limitadas, uma vez que ν(x, y) ≤ 1. Proposi¸ c˜ ao 91. Sejam d1 e d2 m´etricas num conjunto M . Se existir uma constante α > 0 tal que d2(x, y) ≤ α d1(x, y) para todo x, y ∈ M ent˜ ao d1 ≻ d2 . Prova: Vamos mostrar que a aplica¸c˜ ao identidade i12 : (M, d1 ) −→ (M, d2 ) ´e cont´ınua. De fato, dados a ∈ M e ε > 0 ´e suficiente tomar δ = d1(x, y) < δ temos ` ´ d2 i12 (x), i12 (a) = d2(x, a)
ε α
e ent˜ ao quando
≤ α d1(x, a) ε < αδ = α = ε α
Isto mostra que i12 ´e cont´ınua e, por conseguinte, d1 ≻ d2 . Corol´ ario 20. Se existirem constantes α > 0 e β > 0 tais que α d1(x, y) ≤ d2(x, y) ≤ β d1(x, y) para quaisquer x, y ∈ M , ent˜ ao d1 ∼ d2 .
378
Prova: Pela proposi¸c˜ ao anterior, se d2(x, y) ≤ β d1(x, y) decorre que d1 ≻ d2 . Por outro lado, se α d1(x, y) ≤ d2(x, y) decorre d1(x, y) ≤ α1 d2(x, y) e, novamente pela proposi¸c˜ ao anterior, temos d2 ≻ d1 . Portanto d1 ∼ d2 .
Nota: A rec´ıproca deste corol´ ario n˜ ao vale. Isto ´e, se duas m´etricas s˜ ao equivalentes n˜ ao implica que existam constantes α e β satisfazendo as desigualdades presentes no corol´ ario. |x−y| Para mostrar isto considere M = R e d(x, y) = |x − y|. Seja ν(x, y) = 1+|x−y| , j´ a vimos que ν ∼ d, no entanto n˜ ao existe uma constante β > 0 de modo que d(x, y) ≤ β ν(x, y) , ∀ x, y ∈ R. Pois, caso contr´ ario, ter´ıamos |x − y| ≤ β
|x − y| ⇒ 1 + |x − y| ≤ β (x 6= y) 1 + |x − y|
e isto implicaria em d ser uma m´etrica limitada, o que n˜ ao ´e verdade, como j´ a vimos. Exemplos: As trˆes m´etricas usuais do Rn s˜ ao equivalentes (ver pg. 135). Dados os espa¸cos (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . ., (Mn , dn ), o produto cartesiano M = M1 × M2 × · · · × Mn ´e o conjunto das n−uplas ordenadas x = (x1 , x2 , . . . , xn ), onde x1 ∈ M1 , x2 ∈ M2 ,. . . , xn ∈ Mn . Para as trˆes m´etricas abaixo D1 (x, y) =
q
d21 (x1 , y1 ) + · · · + d2n (xn , yn )
D2 (x, y) = d1 (x1 , y1 ) + · · · + dn (xn , yn ) D3 (x, y) = max {d1 (x1 , y1 ), . . . , dn (xn , yn )} valem as seguintes desigualdades: D3 (x, y) ≤ D1 (x, y) ≤ D2 (x, y) ≤ n · D3 (x, y)
(7.14)
as quais provamos de modo inteiramente an´ alogo ao do caso anterior. Portanto, estas m´etricas s˜ ao equivalentes. Proposi¸ c˜ ao 92. Sejam d e d′ m´etricas equivalentes sobre M . Se A ´e a cole¸c˜ ao dos conjuntos abertos de (M, d) e A′ ´e a cole¸c˜ ao dos conjuntos abertos de (M, d′ ), ent˜ ao A = A′ . Prova: Seja um aberto A ∈ A e considere a ∈ A um ponto arbitrariamente fixado. Ent˜ ao, por A ser aberto, existe ε > 0 tal que Bd (a; ε) ⊂ A. Da equivalˆencia d ∼ d′ decorre que existe λ > 0 de maneira que Bd′ (a; λ) ⊂ Bd(a; ε). Sendo assim aloga se Bd′ (a; λ) ⊂ A o que mostra que A ∈ A′ . Portanto A ⊂ A′ . De maneira an´ mostra que A′ ⊂ A, o que conclui a demonstra¸c˜ ao. Nota: O significado da proposi¸c˜ ao anterior ´e que m´etricas equivalentes determinam a mesma estrutura topol´ ogica. Segundo esta proposi¸c˜ ao, para mostrar que duas m´etricas n˜ ao s˜ ao equivalentes basta exibir um conjunto aberto em uma delas e n˜ ao na outra. Vejamos um exemplo do que estamos falando: As m´etricas dos espa¸cos (R, δ) e (R, µ) n˜ ao s˜ ao equivalentes. Com efeito, o conjunto ] 0, 1 ] ´e um aberto no primeiro destes espa¸cos, mas n˜ ao no segundo. Julgamos oportuno tamb´em ressaltar que esta proposi¸c˜ ao n˜ ao diz que os espa¸cos (M, d) e (M, d′ ) tˆem a mesma cole¸c˜ ao de bolas abertas; mas t˜ ao somente de conjuntos abertos.
379
r
Por exemplo, a figura a esquerda ´e uma ` 2` ´ bola aberta no espa¸ c o R , D mas n˜ ao no 1 ` ´ espa¸co R2 , D2 (neste espa¸co ´e t˜ ao somente um conjunto aberto). Com a figura da direita sucede o contr´ ario (ver pg. 97).
r
Teorema 6. Sejam (M, d1 ), (N, d2 ), (M, d′1 ) e (N, d′2 ) espa¸cos m´etricos. Sendo ao f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e cont´ınua se, e somente se, d1 ∼ d′1 e d2 ∼ d′2 a aplica¸c˜ f : (M, d′1 ) −→ (N, d′2 ) ´e cont´ınua. Prova: (=⇒) Consideremos f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) cont´ınua e mostremos que f : (M, d′1 ) −→ (N, d′2 ) ´e cont´ınua. Para “tanto ´e suficiente mostrarmos que: dados ` ´” ` ´ a ∈ M e ε > 0 existe δ > 0 de modo que f Bd′ a; δ ⊂ Bd′ f (a); ε . Pois bem, 1
2
1 Como d2 ∼ d′2 ent˜ ao a identidade iN : (N, d2 ) −→ (N, d′2 ) ´e`cont´ınua. ´ Em particular ´e cont´ınua no ponto f (a), o que significa que para a bola Bd′ f (a); ε existe δ ′ > 0 de “ ` ´” ` ´ ` ´2 modo que iN Bd f (a); δ ′ = Bd f (a); δ ′ ⊂ Bd′ f (a); ε (⋆) 2
2
2
2 Como f`: (M, d1´) −→ (N, d2 ) ´e cont´ınua otese), isto implica em que para ` (por ´ hip´ a bola Bd f (a); δ ′ existe uma bola Bd a; δ ′′ de modo que 2 1 “ ` ´” ` ´ ′′ f Bd a; δ ⊂ Bd f (a); δ ′ (⋆⋆) 1
2
′
3 Como Como d1 ∼ d1 ent˜ ao` a identidade iM : (M, d′1 ) −→ ` (M, ´ d1 ) ´e cont´ınua, o que ´ ′′ significa que para a bola Bd a; δ existe uma bola Bd′ a; δ de modo que 1 1 “ ` ´” ` ´ ` ´ iM Bd′ a, δ = Bd′ a; δ ⊂ Bd a; δ ′′ 1
1
1
Aplicando f no lado direito desta igualdade e invocando (⋆⋆), temos “ ` “ ` “ ` ´” ´” ´” ´ ` f Bd′ a; δ ⊂ f Bd a; δ ′′ ⇒ f Bd′ a; δ ⊂ Bd f (a); δ ′ 1 2 1 1 “ ` ` ´ ´” ⊂ Bd′ f (a); ε . Era o que quer´ıamos mas por (⋆) podemos escrever f Bd′ a; δ 2 1 provar. (M, d1 )
#
Bd (a; δ ′′ ) 1
qa
iM
1
∃δ >0
3
2
∃δ >0
iN
q
1
"!
1
?
(M, d′ )
a
δ
q "! ′ f (a)
δ′
6
#
B ′ (a; δ) d
#
-
f
"! ′′ δ ′′
(N, d2 )
Bd (f (a); δ ′ ) 2
(N, d′ )
#
2
B ′ (f (a); ε) d 2
f
-
∃δ=?
q "! f (a)
ε
∀ε>0
(⇐=) An´ alogo.
380
Notas: i) No teorema anterior, obviamente podemos ter os casos particulares: d1 = d′1 ou d2 = d′2 . ii) Ao longo deste livro j´ a tivemos oportunidade de aplicar este teorema por diversas vezes.
Homeomorfismos Uniformes √ A fun¸c˜ ao f : R+ −→ R+ dada por f (x) = x ´e bijetora, uniformemente cont´ınua (pg. 359) mas sua inversa, dada por x 7−→ x2 , n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua (pg. 357). Faz sentido a seguinte Defini¸ c˜ ao 52 (Homeomorfismo Uniforme). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma aplica¸c˜ ao f : M −→ N ´e chamada homeomorfismo uniforme se f ´e bijetora, ´e uniformemente cont´ınua e sua inversa f −1 tamb´em ´e uniformemente cont´ınua. Exemplo: Toda isometria f : M −→ N ´e um homeomorfismo uniforme porque ´e bijetora, lipschitziana (logo uniformemente cont´ınua - pg. 355) e sua inversa ´e tamb´em uma isometria. Em particular as transla¸c˜ oes em um espa¸co vetorial normado (pg. 322) e as rota¸c˜ oes no espa¸co euclidiano (pg. 322) s˜ ao homeomorfismos uniformes.
M´ etricas Uniformemente Equivalentes Defini¸ c˜ ao 53. Sejam d1 e d2 m´etricas sobre o mesmo conjunto M . Dizemos que d1 e d2 s˜ ao uniformemente equivalentes se a identidade i12 : (M, d1 ) −→ (M, d2 ) ´e um homeomorfismo uniforme. Nota¸c˜ ao: d1 ≃ d2 para indicar que d1 e d2 s˜ ao uniformemente equivalentes. Exemplos e Contra-exemplos: 1) Sejam d1 e d2 m´etricas sobre M . Se existirem constantes α > 0 e β > 0 tais que α d1(x, y) ≤ d2(x, y) ≤ β d1(x, y), ∀x, y ∈ M ent˜ ao as m´etricas d1 e d2 ser˜ ao uniformemente equivalentes. De fato as desigualdades 1 d1(x, y) ≤ d2(x, y) X d2(x, y) ≤ β d1(x, y), ∀x, y ∈ M α provam respectivamente que as identidades i12 : (M, d1 ) −→ (M, d2 ) X i21 : (M, d2 ) −→ (M, d1 ) s˜ ao lipschitzianas (pg. 326) e, por conseguinte, uniformemente cont´ınuas (prop. 87, pg. 355). Em particular as trˆes m´etricas do espa¸co produto M1 × M2 × · · · × Mn = M s˜ ao uniformemente equivalentes visto que vale (7.14) (pg. 379). 2) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. A m´etrica dada por ˘ ¯ ν(x, y) = min 1, d(x, y)
´e uniformemente equivalente a d. Para provar esta afirma¸c˜ ao basta mostrar que a aplica¸c˜ ao identidade idν : (M, d) −→ (M, ν) ´e um homeomosfismo uniforme. Pois bem, como ˘ ¯ ν(x, y) = min 1, d(x, y) ≤ d(x, y) ` ´ ⇒ ν idν(x), idν(y) ≤ d(x, y)
381
segue que a identidade idν : (M, d) −→ (M, ν) ´e lipschitziana e, por conseguinte, uniformemente cont´ınua. Agora vamos mostrar que a identidade −1 idν = iνd : (M, ν) −→ (M, d)
´e uniformemente cont´ınua. Para isto dado ε > 0 devemos exibir δ = δ(ε) > 0 de modo que ` ´ ν(x, y) < δ ⇒ d iνd(x), iνd(y) < ε Vamos mostrar que δ dado por δ(ε) = min{ 1, ε } serve. Pois, bem de ( ν(x, y) < 1 (⋆) ν(x, y) < δ = min{ 1, ε } ⇒ ν(x, y) < ε (⋆⋆)
˘ ¯ da defini¸c˜ ao ν(x, y) = min 1, d(x, y) e de (⋆) concluimos que devemos ter ν(x, y) = d(x, y) e de (⋆⋆) devemos ter ` ´ d(x, y) < ε ⇒ d(x, y) = d iνd(x), iνd(y) < ε
Portanto de fato a escolha δ(ε) = min{1, ε} nos conduz ao resultado desejado. Isto ´e, nos permitiu mostrar que a identidade iνd ´e uniformemente cont´ınua. 3) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. A m´etrica dada por ν(x, y) =
d(x, y) 1 + d(x, y)
´e uniformemente equivalente a d. Para provar esta afirma¸c˜ ao basta mostrar que a aplica¸c˜ ao identidade idν : (M, d) −→ (M, ν) ´e um homeomosfismo uniforme. Ent˜ ao ν(x, y) =
` ´ d(x, y) ≤ d(x, y) ⇒ ν idν (x), idν (y) ≤ d(x, y) 1 + d(x, y)
Isto mostra que idν ´e lipschitziana e, portanto, uniformemente cont´ınua. Agora vamos mostrar que a identidade −1 idν = iνd : (M, ν) −→ (M, d)
´e uniformemente cont´ınua. Para isto dado ε > 0 devemos exibir δ = δ(ε) > 0 de modo que ` ´ ν(x, y) < δ ⇒ d iνd(x), iνd(y) < ε Vamos mostrar que δ dado por δ(ε) = ν(x, y) < δ =
ε 1+ε
serve. Pois bem,
d(x, y) ε ε ⇒ ν(x, y) = < 1+ε 1 + d(x, y) 1+ε
Temos que d(x, y) ε < ⇔ d(x, y) + ε d(x, y) < ε + ε d(x, y) 1 + d(x, y) 1+ε ⇔ d(x, y) < ε ` ´ ε portanto ν(x, y) < δ ⇒ d iνd(x), iνd(y) < ε. De fato a escolha δ(ε) = 1+ε nos conduz ao resultado desejado. Isto ´e, nos permitiu mostrar que a identidade iνd ´e uniformemente cont´ınua. Os dois exemplos anteriores mostram que toda m´etrica possui pelo ao menos duas m´etricas limitadas que lhe s˜ ao uniformemente equivalentes.
382
4) Vejamos agora um exemplo de m´etricas equivalentes mas n˜ ao uniformemente equiv˙ onde alentes. Consideremos os espa¸cos (M, µ) e (M, δ), ( 1 se e s´ o se, x 6= y; ˘ 1 1 ¯ ˙ M = 1, , , . . . X δ(x, y) = 2 3 0 se e s´ o se, x = y. ˙ s˜ e µ(x, y) = |x − y|. Os espa¸cos (M, µ) e (M, δ) ao ambos discretos, logo as ˙ m´etricas µ e δ s˜ ao equivalentes (exemplo 3), pg. 374). No entanto a aplica¸c˜ ao ˙ n˜ identidade i : (M, µ) −→ (M, δ) ao ´e uniformemente cont´ınua. Para mostrar que i n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua devemos exibir um ε > 0 tal que para todo δ > 0 possamos encontrar dois pontos x, y ∈ M tais que ` ´ µ(x, y) < δ e δ˙ i(x), i(y) ≥ ε
Pois bem, tome qualquer ε ≤ 1. Para todo δ > 0 existe n ∈ N tal que 1 e y = n1 , ent˜ ao Vamos tomar x = n+1 |x − y| =
1 n(n+1)
< δ.
` ´ ` 1 1´ 1 < δ e δ˙ i(x), i(y) = δ˙ , = 1 ≥ ε. n(n + 1) n+1 n
A continuidade uniforme n˜ ao ´e uma propriedade topol´ ogica (pg. 362). Isto ´e, uma fun¸c˜ ao uniformemente cont´ınua f : M −→ N pode perder esta propriedade caso troquemos a m´etrica de M e/ou a de N por outra equivalente. Vejamos um caso destes. Consideremos M , µ, δ˙ como no exemplo anterior e verifiquemos o seguinte diagrama ˙ −→ (R, µ) f : (M, δ)
⇒
f ´ e uniformemente cont´ınua.
f : (M, µ) −→ (R, µ)
⇒
f n˜ ao ´ e uniformemente cont´ınua.
l∼
` ´ ˙ −→ (R, µ) ´e uniformeonde f ´e dada por f n1 = n. Vamos mostrar que f : (M, δ) mente cont´ınua. Para todo ε > 0 dado devemos exibir δ > 0 de modo que se ` ´ ˙ δ(x, y) < δ ⇒ µ f (x), f (y) < ε Tomando δ = 1, temos que
˙ ˙ se δ(x, y) < 1 ⇒ δ(x, y) = 0 ⇒ x = y ⇒ f (x) = f (y) ` ´ ⇒ µ f (x), f (y) = 0 < ε.
Agora vamos mostrar que f : (M, µ) −→ (R, µ) n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua. Para mostrar que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua devemos exibir um ε > 0 tal que para todo δ > 0 possamos encontrar dois pontos x, y ∈ M tais que ` ´ µ(x, y) < δ e µ f (x), f (y) ≥ ε Pois bem, tome qualquer ε ≤ 1. Para todo δ > 0 existe n ∈ N tal que 1 e y = n1 , ent˜ ao Vamos tomar x = n+1 |x − y| =
1 n(n+1)
` ´ 1 < δ e µ f (x), f (y) = |(n + 1) − n| = 1 ≥ ε. n(n + 1)
< δ.
Neste exemplo a continuidade uniforme foi perdida ao trocarmos uma m´etrica por outra equivalente - mas n˜ ao uniformemente equivalente - Perguntamos: E se trocarmos uma m´etrica por outra que lhe seja uniformemente equivalente n˜ ao teriamos a continuidade uniforme preservada? Isto de fato acontece:
383
Proposi¸ c˜ ao 93. Seja f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) uma fun¸c˜ ao uniformemente cont´ınua. A aplica¸c˜ ao f n˜ ao perde esta propriedade quando se substitui a m´etrica de M e/ou a de N por outra que lhe(s) seja(m) uniformemente equivalente(s). Prova: Vamos conduzir a prova para o caso particular de substituirmos d1 por d′1 ≃ d1 . As demais possibilidades s˜ ao tratadas de modo an´ alogo. Temos hip´ otese
f : (M, d1 ) −→ (N, d2 )
(f ´ e uniformemente cont´ınua.)
l≃
′
f : (M, d1 ) −→ (N, d2 )
Tese
(f ´ e uniformemente cont´ınua.)
Dado ε > 0 existe, por hip´ otese, ρ > 0 de modo que ` ´ d1(x, y) < ρ ⇒ d2 f (x), f (y) < ε (⋆)
Como a identidade
i : (M, d′1 ) −→ (M, d1 )
´e uniformemente cont´ınua, devido a que d′1 ≃ d1 , ent˜ ao para o ρ > 0 acima existe δ = δ(ρ) > 0 de modo que ` ´ d′1(x, y) < δ ⇒ d1 i(x), i(y) = d1(x, y) < ρ portanto, invocando (⋆), temos
` ´ d′1(x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) < ε
o que garante a continuidade uniforme de
f : (M, d′1 ) −→ (N, d2 )
7.5.1
Normas Equivalentes
` ´ Vamos Considerar duas normas distintas sobre um mesmo espa¸co vetorial E, +, · . Para diferenci´ a-las usaremos a nota¸c˜ ao k k1 para uma delas e k k2 para a outra. Sendo assim d1 e d2 dadas por d1 (x, y) = kx − yk1 e d2 (x, y) = kx − yk2 ser˜ ao as m´etricas induzidas sobre E por essas normas. Defini¸ c´˜ ao 54 (Normas Equivalentes). Duas normas sobre o mesmo espa¸co vetorial ` E, +, · dizem-se equivalentes se, e somente se, as m´etricas induzidas por essas normas sobre E s˜ ao equivalentes. Se k k1 e k k2 s˜ ao as normas consideradas e d1 e d2 as respectivas m´etricas induzidas por` essas normas, ent˜ ao a equivalˆencia definida ´ ` ´ acima significa que: dada uma bola Bd p; r , com p ∈ E, existe uma bola Bd p; s de modo que 1
2
` ´ ` ´ Bd p; s ⊂ Bd p; r 2
1
e, rec´ıprocamente. J´ a vimos que a existˆencia de n´ umeros reais α > 0 e β > 0 tais que α d1(x, y) ≤ d2(x, y) ≤ β d1(x, y) ´e uma condi¸c˜ ao suficiente para que as m´etricas d1 e d2 sejam equivalentes, mas esta condi¸c˜ ao n˜ ao ´e necess´ aria (ver nota pg. 379). Veremos agora que esta condi¸c˜ ao que ´e apenas suficiente para a equivalˆencia de m´etricas em geral, ´e tamb´em necess´ aria quando tais m´etricas provˆem de normas.
384
` ´ Proposi¸ c˜ ao 94. Duas normas k k1 e k k2 num espa¸co vetorial E, +, · s˜ ao equivalentes se, e somente se, existem constantes α > 0 e β > 0 tais que αkxk1 ≤ kxk2 ≤ βkxk1 para qualquer x ∈ E.
Prova: (⇐=) Dados x, y ∈ E, por hip´ otese, temos αkx − yk1 ≤ kx − yk2 ≤ βkx − yk1
ou seja, αd1(x, y) ≤ d2(x, y) ≤ β d1(x, y).
Sendo assim o corol´ ario 20 (pg. 378) nos assegura que d1 ∼ d2 o que, por sua vez implica, por defini¸c˜ ao, que as normas s˜ ao equivalentes. ` ´ (=⇒) Por hip´ otese as normas dadas s˜ ao equivalentes. Portanto, dada a bola Bd 0; 1 1 ` ´ existe uma bola Bd 0; r de modo que 2 ` ´ ` ´ Bd 0; r ⊂ Bd 0; 1 2
1
αx , para todo Escolhendo um n´ umero real α de modo que 0 < α < r, o vetor kxk 2 ` ´ 0 6= x ∈ E, pertence ` a bola Bd 0; r pois 2 ‚ ‚ ‚ ‚ αx ‚ = αkxk2 = α < r ‚ − 0 ‚ ‚ kxk kxk2 2 2 ` ´ portanto esse vetor tamb´em pertence ` a bola Bd 0; 1 , o que implica 1 ‚ ‚ ‚ αx ‚ αkxk1 ‚ ‚ ‚ kxk − 0‚ = kxk < 1 2 2 1
ou seja,
αkxk1 < kxk2 ` ´ ` ´ Por outro lado, dada a bola Bd 0; 1 existe uma bola Bd 0; s de modo que 2 1 ` ´ ` ´ Bd 0; s ⊂ Bd 0; 1 1
2
Escolhamos um n´ umero real β que satisfa¸ca as desigualdades 0 < β1 < s. Logo, para ` ´ x todo 0 6= x ∈ E, o vetor βkxk pertence ` a bola Bd 0; s pois 1 1 ‚ ‚ ‚ ‚ x ‚ = kxk1 = 1 < s ‚ − 0 ‚ ‚ βkxk βkxk1 β 1 1 ` ´ portanto esse vetor tamb´em pertence ` a bola Bd 0; 1 o que implica 2 ‚ ‚ ‚ x ‚ kxk 2 ‚ ‚ ‚ βkxk − 0‚ = βkxk < 1 1 1 2 ou seja
Sendo assim temos para todo vetor x 6= 0. Lembramos que isto implica em que
kxk2 < βkxk1
α kxk1 < kxk2 < β kxk1 k0k1 = 0 = k0k2
α k0k1 = k0k2 = β k0k1 o que implica na tese: existem n´ umeros α > 0 e β > 0 tais que αkxk1 ≤ kxk2 ≤ βkxk1 para qualquer x ∈ E.
385
Apˆ endice: Limites em espa¸cos m´ etricos O conceito de limites de fun¸c˜ oes, estudado no C´ alculo e na An´ alise Real, ´e suscept´ıvel de generaliza¸c˜ ao para espa¸cos m´etricos arbitr´ arios, assim: Defini¸ c˜ ao 55. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e a ∈ M um ponto de acumula¸c˜ ao de X. Dada uma fun¸c˜ ao f : X −→ N , diremos que f tem limite b, em a, se, para todo ε > 0 dado, existir um δ > 0 tal que, para todo x ∈ X, a senten¸ca ` ´ 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), b < ε
´e verdadeira. Tal n´ umero b ser´ a indicado por lim f (x) = b. x→a
(M, d1 )
#
X
δ r ra
f
x
-
"!
#
(N, d2 )
ε @ I @q b qf (x) "!
A seguir colocamos, em s´ımbolos, a defini¸c˜ ao de limite juntamente com sua nega¸c˜ ao: (b ´ e limite de f em a)
∀
ε>0
∃
δ>0
∀
x∈X
` ´ ; 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), b < ε
∃
∀
∃
` ´ ; 0 < d1 (xδ , a) < δ ∧ d2 f (xδ ), b ≥ ε0
ε0 >0
δ>0
xδ ∈X
( b n˜ ao ´ e limite de f em a)
Observa¸ c˜ oes: a
o tem sentido indagarmos pelo limite de uma fun¸c˜ ao f : X −→ N em um ponto 1 ) S´ a ∈ M , quando este ponto ´e de acumula¸c˜ ao do dom´ınio X de f . O que significa que se X tiver pontos isolados, ent˜ ao n˜ ao podemos perguntar pelo limite em tais pontos. Se desej´ assemos considerar a mesma defini¸c˜ ao no caso em que a 6∈ X ′ (isto ´e, para pontos isolados do dom´ınio da fun¸c˜ ao) ent˜ ao todo n´ umero real b seria limite de f (x) em a. Para provar esta assertiva faremos uma exegese da defini¸c˜ ao de limite, dada em s´ımbolos. De fato, se`a 6∈ X ′ (isto ´ e , se a ´ e ponto isolado do dom´ınio de f ) ent˜ ao ´ existe δ ′ > 0 tal que X − { a } ∩ Bd (a; δ) = ∅. Isto ´e, 0 < d1 (x, a) < δ ′ , x ∈ X 1 n˜ ao se verifica para nenhum ponto x do dom´ınio. Isto quer dizer que, para o tal δ ′ , a senten¸ca ∀
x∈X
; 0 < d1 (x, a) < δ ′
´e falsa. Esta senten¸ca pode ser reescrita assim: ∃
δ>0
∀
x∈X
; 0 < d1 (x, a) < δ
386
Pois bem, sendo esta senten¸ca falsa, torna-se verdadeira a senten¸ca: ` ´ ∃ ∀ ; 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), b < ε δ>0
x∈X
` ´ independentemente do valor l´ ogico da senten¸ca q(x) : d2 f (x), b < ε. Isto ´e, independentemente do valor de b e de ε > 0. Porp tanto, sendo a senten¸ca: ∀
ε>0
∃
δ>0
∀
x∈X
` ´ ; 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), b < ε
verdadeira temos, por defini¸c˜ ao, lim f (x) = b. x→a
q
p −→ q
V
V
V
V
F
F
F
V
V
F
F
V
Portanto esta ´e a justificativa para exigirmos que a seja um ponto de acumula¸c˜ ao de X. Observe (prop. 70, pg. 288) que sendo a um um ponto de acumula¸c˜ ao de X, ent˜ ao todo intervalo aberto centrado em a cont´em infinitos pontos do dom´ınio. ao de X, a pode ou n˜ ao pertencer ao dom´ınio X 2a ) Sendo a um ponto de acumula¸c˜ da fun¸c˜ ao. Nos casos mais importantes de limite, tem-se a 6∈ X.
3a ) Considerando um ponto a do dom´ınio o valor b = lim f (x) (quando existe) pode x→a
ser independente do valor que f assume em a, isto ´e, de f (a). Quando estivermos interessados no limite de f em a, basta olharmos para os valores que f assume numa “pequena” bola aberta centrada em a; o conceito de limite ´e um conceito local. 4a ) Suponhamos f definida em a. Oportunamente mostraremos que f cont´ınua em a ⇐⇒
lim f (x) = f (a).
x→a
Proposi¸ c˜ ao 95 (Unicidade do limite). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e a ∈ X ′ . Dada f : X −→ N , se lim f (x) = b e lim f (x) = c, ent˜ ao b = c. x→a
x→a
Prova: Se lim f (x) = b e lim f (x) = c ent˜ ao dado x→a
x→a
ε > 0 existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que ` ´ ε 0 < d1 (x, a) < δ1 =⇒ d2 f (x), b < 2 ` ´ ε 0 < d1 (x, a) < δ2 =⇒ d2 f (x), c < 2
Seja δ = min{ δ1 , δ2 }. Ent˜ ao, se x′ ∈ X − { a } temos 8 `
´ b < ´ c <
ε 2 ε 2
` ´ ` ´ ε ε d2 (b, c) ≤ d2 b, f (x′ ) + d2 f (x′ ), c < + = ε 2 2 Como ε > 0 ´e arbitr´ ario, concluimos que d2 (b, c) = 0 e assim b = c.
Exemplo 1. Considere a aplica¸c˜ ao f : [ 0, 1[ −→ [ 0, 1[ identidade f (x) = x. Mostre que para: ` ´ a) f : [ 0, 1[, µ −→ ([ 0, 1[, k) temos que lim x = 0; x→0 ` ´ b) f : [ 0, 1[, k −→ ([ 0, 1[, µ) temos que lim x 6= 0. x→0
Solu¸ c˜ ao:
a) Devemos mostrar que ´e verdadeira a senten¸ca
387
∃
δ>0
x∈X
∀
` ´ ; 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), b < ε
∃
∀
; 0 < |x − 0| < δ
∀
∀
δ>0 x∈[0,1[
ε>0
ε>0
` ´ =⇒ k f (x), 0 < ε
¯ , ε , resulta que ` ´ ` ´ 0 < x < δ =⇒ k f (x), 0 = k x, 0 = min{ x, 1 − x } = x < ε.
Tomando δ = min
˘1
2
Isto prova que lim x = 0. x→0
b) Devemos mostrar que ´e verdadeira a senten¸ca
ε0 >0
∃
ε0 >0
δ>0
∃
xδ ∈X
` ´ ; 0 < d1 (xδ , a) < δ ∧ d2 f (xδ ), b ≥ ε0
∀
∃
; 0 < k(xδ , 0) < δ
∀
Para mostrar que 1 4
xδ ∈X
δ>0
lim x
x→0
6=
0 1
tomemos ε0 = e mostremos que ∀ δ > 0, ˛∃ xδ ∈˛ [ 0, 1 [ com ; 0 < k(xδ , 0) < δ e ˛f (xδ )˛ ≥ 14 . Sem perda de generalidade consideremos δ < 21 e escolhamos = 1 − δ/2. Observe que xδ = (1−δ)+1 2 k(xδ , 0) = min{ xδ , 1 − xδ } = 1 − xδ = δ < δ e, 2
f (xδ )
¬
f (xδ ) = xδ = 1 −
˛ ˛ ∧ ˛f (xδ ) − 0˛ ≥ ε0
1 2
1 4
1 3 δ ≥ ⇐⇒ δ ≤ . 2 4 2
[
∃
0
δ
¬1
2
Na figura temos δ < 12 . Sendo assim mostramos que lim x 6= 0. x→0
1−δ
s
1
xδ
Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que lim x n˜ ao existe. x→0
1 Exemplo 2. Consideremos ` ´o espa¸co m´etrico ([ 0, 1[, k) e X = [ 2 , 1 [. Considere a aplica¸c˜ ao, f : X −→ [ 0, 1[, µ dada por f (x) = x. Mostre que lim x 6= 0. x→0
Solu¸ c˜ ao: Inicialmente vejamos graficamente o que est´ a acontecendo: 1 f (x)
s↑
¬ 1 2
s
→ 0
1 2
388
x
1
Por curiosidade observe que se no espa¸co ([ 0, 1[, k) trocarmos de m´etrica, isto ´e, se substituirmos k por µ, resulta que 0 n˜ ao ´e um ponto de acumula¸c˜ ao de X, o que significa que n˜ ao faz sentido indagarmos pelo limite lim f (x). Entretanto, em fun¸c˜ ao x→0
do exemplo (4), pg. 286, estamos autorizados a perquirir o referido limite. Pois bem, devemos mostrar que ´e verdadeira a senten¸ca,
∃
ε0 >0
∃
ε0 >0
δ>0
∃
xδ ∈X
` ´ ; 0 < d1 (xδ , a) < δ ∧ d2 f (xδ ), b ≥ ε0
∀
∃
; 0 < k(xδ , 0) < δ
∀
˛ ˛ ∧ ˛f (xδ ) − 0˛ ≥ ε0
δ>0 x ∈[1/2, 1[ δ
A prova ´e similar a do exemplo anterior; aqui s´ o observamos (graficamente) a raz˜ ao do por que lim x 6= 0: ´e que, enquanto x aproxima-se de 0, sua imagem afasta-se de x→0 0. − Neste mesmo exemplo, deixamos como exerc´ıcio ao leitor fechar o intervalo unit´ ario no contra-dom´ınio e mostrar que lim x = 1 (ver capa deste livro). x→0
Proposi¸ c˜ ao 96. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e a ∈ X. Seja uma fun¸c˜ ao f : X −→ N . Se a ∈ X ′ , f ser´ a cont´ınua em a, se e somente se, lim f (x) = f (a). x→a
ao dado ε > 0 existir´ a δ > 0 de modo que ` Prova: Se´ f ´e cont´ınua no ponto a, ent˜ d2 f (x), f (a) < ε para todo x ∈ X com d (x, a) < δ. Em particular, se x ∈ X e 1 ` ´ 0 < d1 (x, a) < δ teremos d2 f (x), f (a) < ε. Logo lim f (x) = f (a). x→a
Reciprocamente, se lim f (x) = f (a), dado ε > 0 existir´ a δ > 0 de modo que x→a ` ´ ` ´ d2 f (x), f (a) < ε para todo x ∈ X−{a} com d1 (x, a) < δ.` Como por´ ´em, d2 f (a), f (a) = 0 < ε, temos que x ∈ X com d1 (x, a) < δ implica em d2 f (x), f (a) < ε. Logo f ´e cont´ınua no ponto a. Proposi¸ c˜ ao 97. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e a ∈ X ′ . Dada uma fun¸c˜ ao f : X −→ N teremos lim f (x) = p, se e somente se, para toda seq¨ uˆencia x→a
(xn ) em X − {a} com lim xn = a tivermos lim f (xn ) = p. n
n
Coment´ ario: O teorema afirma a equivalˆencia entre duas senten¸cas abertas P e Q, que s˜ ao: P : lim f (x) = p x→a
Q : ∀ (xn ) ; lim xn = a =⇒ lim f (xn ) = p n
n
Prova: (P =⇒ Q) Aplicaremos a t´ecnica (T-5) (pg. 26): Suponhamos lim f (x) = p. Ent˜ ao, para todo ε > 0 dado, existe um δ > 0 tal que, x→a
para todo x ∈ X,
` ´ 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), p < ε.
Se (xn ) ´e uma seq¨ uˆencia em X − {a} com lim xn = a, para este δ > 0 existe um ´ındice n0 tal que
n
n ≥ n0 =⇒ 0 < d1 (xn , a) < δ ` ´ Logo, para todo n ≥ n0 acontece d2 f (xn ), p < ε, e assim lim f (xn ) = p. n
389
(Q =⇒ P ) Provaremos a contrapositiva desta proposi¸c˜ ao, isto ´e: P =⇒ Q. Antes vejamos como ficam estas nega¸c˜ oes: P : lim f (x) 6= p x→a
Q : ∃ (xn ) ; lim xn = a ∧ lim f (xn ) 6= p n
n
Para entender a nega¸c˜ ao de Q o aluno dever´ a consultar o corol´ ario 2 (pg. 31). Pois bem, vamos supor que lim f (x) 6= p. Neste caso existe um ε0 > 0 tal que para x→a ` ´ todo δ > 0 se pode obter um ponto xδ ∈ X−{a} com d1 (xδ , a) < δ e d2 f (xδ ), p ≥ ε. Em particular, tomando δ > 0 da forma` δ = 1/n,´ para cada n ∈ N, podemos obter xn ∈ X − {a} com d1 (xn , a) < 1/n e d2 f (xn ), p ≥ ε. Logo a seq¨ uˆencia (xn ) assim obtida cumpre lim xn = a mas n˜ ao cumpre lim f (xn ) = p. n
n
Destacamos o seguinte importante Corol´ ario21. Se existe uma seq¨ uˆencia xn ∈ X −{ a } com lim xn = a e lim f (xn ) 6= p, n
n
ent˜ ao lim f (x) 6= p. x→a
Prova: De fato, ´e suficiente considerar a contrapositiva de (P =⇒ Q) (neste caso vale a rec´ıproca de P =⇒ Q) Exemplo 1. para: ` a) f : [ 0, 1], ` b) g : [ 0, 1[,
Solu¸ c˜ ao:
Considere as fun¸c˜ oes f e g dadas assim f (x) = g(x) = x2 . Mostre que ´ µ −→ ([ 0, 1[, k) temos que lim x2 = 0; x→0 ´ k −→ ([ 0, 1], µ) temos que lim x2 6= 0. x→0
a) Considere uma seq¨ uˆencia (xn ) em X − {0} = [ 0, 1 ] − { 0 } =] 0, 1 ] de modo que µ µ xn −→ 0, sendo assim x2n −→ 0, donde concluimos que∗ x2n −→ 0, isto ´e, lim f (xn ) = 0 k n
e, pela proposi¸c˜ ao 97, concluimos que
lim f (x) = lim x2 = 0.
x→0 µ
x→0 µ
1 , sendo assim b) Considere a seq¨ uˆencia (xn ) em ] 0, 1 [ dada por xn = 1 − n+1 ´ ` 2 µ k 1 −→ 1. Sendo lim f (xn ) 6= 0, pelo xn −→ 0. Por outro lado, f (xn ) = 1 − n+1 n
corol´ ario 21, concluimos que
lim f (x) = lim x2 6= 0.
x→0 k
x→0 k
Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que o limite lim x2 n˜ ao existe. x→0 k
Exemplo 2. Mostraremos agora que n˜ ao existe o limite da fun¸c˜ ao f dada por f (x) = sen x1 no ponto 0. De fato, basta observar que a seq¨ uˆencia xn =
π 2
1 + nπ
converge para zero e, no entanto, f (xn ) = sen ∗ Ver
corol´ ario 34, pg. 461.
`π ´ + nπ = (−1)n . 2
390
n˜ ao tem limite. ¯ ˘ Exemplo 3. Considere M = n1 : n ∈ N ∪ {0} e a fun¸c˜ ao f : M −→ N ∪ {0} definida `1´ por f (0) = 0 e f n = n, fa¸ca um estudo de lim f (x). x→a
(Obs: considere a m´etrica µ no dom´ınio e no contradom´ınio de f ).
Solu¸c˜ ao: O conjunto M − {0} ´e discreto (ver exemplo (5), pg. 187). Como o u ´nico ponto de acumula¸c˜ ao do dom´ınio de f ´e a = 0 significa que este ´e o u ´nico ponto em que faz sentido a pesquisa de lim f (x). Por outro lado, como f n˜ ao ´e cont´ınua no x→a
ponto 0, significa isto que lim f (x) 6= f (0) = 0. Observe que o fato de a fun¸c˜ ao n˜ ao x→0
ser cont´ınua em 0, nos permite concluir que o limite n˜ ao ´e f (0), o que n˜ ao significa que n˜ ao possa ser um outro n´ umero; isto ´e, at´e o presente momento n˜ ao podemos concluir que o limite em quest˜ ao n˜ ao existe. Observe que ` ´ f M − {0} = { 1, 2, 3, . . .} = N, o que significa que se lim f (x) existir, ent˜ ao dever´ a ser um n´ umero natural n′ . x→0
Vamos agora provar que qualquer que seja o natural n′ = b, arbitrariamente fixado, n˜ ao temos lim f (x) =
f (x)
6 r 1 (n
x→0
0<|
1 nδ
nδ
1 n′ + 2
q
δ
r( n1′ , n′ )
δ
−0| < δ e
n′
n′ − 1 2
q [
˛ ˛ ` 1 ´ ˛ ˛ − n′ ˛ = |nδ − n′ | ≥ ε0 ˛f nδ
, nδ )
[
b. Faremos isto seguindo a nega¸c˜ ao de limite, dada anteriormente em s´ımbolos. Pois bem, consideremos ε0 = 1/2, para todo δ > 0 na bola B(0; δ) existem infinitos pontos (0 ´e ponto de acumula¸c˜ ao), tomemos ao um natural nδ de modo que n1 < δ e nδ 6= n′ , ent˜
r
Portanto, n˜ ao existe lim f (x). x→0
q
r qqq q q [ q . . . q - x −→
(0,0)
1 n′
B(0; δ)
` ∞ ´ ` ´ Exemplo 4. Seja a fun¸c˜ ao f : S , ν −→ [ 0, 1 ], µ dada por ∞ “ ” X xn f (xn ) = 2n n=1
Calcule
lim
x → 101010...
f (x).
` ∞ ´ Solu¸c˜ ao: Primeiramente observe que S , ν n˜ ao tem pontos isolados, ou ainda: todos os seus pontos s˜ ao de acumula¸c˜ ao, o que significa que podemos perguntar por lim f (x) x→a
∞
em todo a ∈ S . Como f ´e cont´ınua (pg. 317) segue que lim
x → 101010...
f (x) = f (101010 . . .) =
391
2 . 3
Extens˜ ao de aplica¸ co ˜es cont´ınuas Consideremos uma aplica¸c˜ ao f : X ⊂ Y −→ N . A aplica¸c˜ ao F : Y −→ N ˛chama-se uma extens˜ ao de f quando F (x) = f (x) para todo x ∈ X, isto ´e, quando F ˛ X = f . Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e f : X −→ N cont´ınua. Diremos que f se estende continuamente a M quando f possui uma extens˜ ao F : M −→ N cont´ınua. Para os nossos prop´ ositos, no que diz respeito a extens˜ ao de aplica¸c˜ oes cont´ınuas, nos restringiremos a uma aplica¸c˜ ao f : X −→ N definida em um subconjunto denso X ⊂ M . Neste caso mostraremos que uma tal extens˜ ao ´e poss´ıvel se existe, para cada ponto a ∈ M o limite lim f (x). Dentro deste contexto h´ a de se x→a
notar que nem toda aplica¸c˜ ao cont´ınua f : X −→ N pode ser estendida continuamente ao espa¸co inteiro. Por exemplo a aplica¸c˜ ao (cont´ınua) f : ] 0, 1 [ −→ R x
7−→
1 x(x−1)
n˜ ao possui extens˜ ao cont´ınua a nenhum conjunto M contendo o intervalo fechado [ 0, 1 ], isto se deve a que n˜ ao existem os limites lim f (x) e lim f (x). x→0
x→1
Proposi¸ c˜ ao 98. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e ¯ − X existe lim f (x), ent˜ f : X −→ N cont´ınua. Se para todo a ∈ X ao a fun¸c˜ ao x→a ¯ F : X −→ N dada por F (y) =
8 < f (y),
se y ∈ X;
: lim f (x), x→y
´e cont´ınua.
¯ − X. se y ∈ X
¯ Prova: Como f ´e cont´ınua em todo ponto a ∈ X, decorre que, seja qual for a ∈ X, temos F (a) = lim f (x). Da defini¸c˜ ao de limite resulta que dado ε > 0, existe δ > 0 x→a
de modo que, para todo x ∈ X
` ´ ε 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), F (a) < . 2
(7.15)
¯ e Afirmamos que se y ∈ X
` ´ d1 (y, a) < δ =⇒ d2 F (y), F (a) < ε
(F ´e cont´ınua em a.)
¯ segue que existe uma seq¨ De fato, como y ∈ X uˆencia (xn ) com xn ∈ X de modo que lim xn = y. n
Como xn → y, tomando um raio 0 < δ1 ≤ δ − d1 (a, y), a partir de uma certa ordem n0 todos os termos da seq¨ uˆencia (xn ) caem dentro da bola B(y; δ1 ) ⊂ B(a; δ). Escolhamos dentro desta bola um termo xm diferente de y e de a. Sendo assim temos 0 < d1 (xm , y) < δ1 e 0 < d1 (xm , a) < δ. Logo
r r ar δ1 y
xm
` ´ ` ´ ` ´ ε ε d2 F (y), F (a) ≤ d2 F (y), f (xm ) + d2 f (xm ), F (a) < + = ε. 2 2
Como afirmamos.
392
δ
¯ em particular vale para y ∈ X, ¯ da´ı que Nota: (7.15) vale seja qual for a ∈ X, ` ´ ε 0 < d1 (xm , y) < δ1 < δ =⇒ d2 f (xm ), F (y) < . 2
Proposi¸ c˜ ao 99. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, com (N, d2 ) completo. Se X ⊂ M e f : X −→ N ´e uniformemente cont´ınua ent˜ ao existe lim f (x) para todo x→a ¯ − X. (ou mais geralmente, para todo a ∈ X ′ ). a∈X Prova: Para demonstrar esta proposi¸ ao provaremos que para toda seq¨ uˆencia (xn ) ` ´ c˜ em X com lim xn = a, existe lim f xn (prop. 97, pg. 389). Seja ent˜ ao (xn ) uma n
n
seq¨ uˆencia em X com lim xn = a. Ent˜ ao (xn ) ´e de Cauchy. Dado ε > 0, a continuidade n
uniforme de f assegura um δ > 0 tal que (pg. 354) ` ´ ∀ x, y ∈ X, d1(x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) < ε.
Sendo (xn ) de Cauchy, para este δ > 0 existe um ´ındice n ` 0 tal que d1(x´n , xm ) < δ sempre` que m, n ≥ n . Assim, para m, n ≥ n teremos d 0 0 2 f (xn ), f (xm ) < ε, sendo ´ assim f (xn ) resulta uma seq¨ u ˆ e ncia de Cauchy em (N, d2 ). Como (N, d2 ) ´e com` ´ pleto, existe lim f xn e, por conseguinte, existe lim f (x). n
x→a
Proposi¸ c˜ ao 100. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, com (N, d2 ) completo. Se X ⊂ M ´e denso toda aplica¸c˜ ao f : X −→ N uniformemente cont´ınua, possui uma u ´nica extens˜ ao cont´ınua F : M −→ N dada por 8 < f (y), se y ∈ X; F (y) = : lim f (x), se y ∈ M − X. x→y
F ´e tamb´em uniformemente cont´ınua.
¯ − X = M − X existe Prova: Da proposi¸c˜ ao 99 sabemos que para todo y ∈ X lim f (x). Assim, F est´ a bem definida e a proposi¸c˜ ao 98 nos assegura a continuidade de
x→y
F . Resta agora mostrar que F ´e uniformemente cont´ınua. Dado ε > 0, a continuidade uniforme de f nos assegura um δ = δ(ε) > 0 tal que ` ´ ε ∀ x, y ∈ X, d1(x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) < . 2
Afirmamos que este mesmo δ atende ao ε para a continuidade uniforme de F . De fato, Sejam u, v ∈ M com d1(u, v) < δ. Da densidade de X em (M, d1 ) obtemos seq¨ uˆencias (xn ) e (yn ) em X com lim xn = u e lim yn = v. Ent˜ ao, pela continuidade da fun¸c˜ ao n
n
distˆ ancia resulta ` ´ ` ´ d1 (u, v) = d1 lim xn , lim yn = lim d1 xn , yn < δ n
n
n
` ´ e portanto existe um ´ındice n0 de modo que d1 xn , yn < δ para todo n ≥ n0 , o que fornece ` ´ ε d2 f (xn ), f (yn ) < , ∀ n ≥ n0 . 2 Logo, ` ´ ` ´ d2 F (u), F (v) = d2 lim f (xn ), lim f (yn ) (7.16) ` ´ = lim d2 f (xn ), f (yn ) n
ε ≤ < ε. 2
393
Isto prova que F ´e uniformemente cont´ınua. Para provar que a extens˜ ao F ´e u ´nica basta recorrer ao corol´ ario 16 (pg. 348). Nota: A igualdade em (7.16) se justifica assim: como xn ∈ X e tendo em conta a defini¸c˜ ao de F resulta que F (xn ) = f (xn ). Como F ´e cont´ınua, obt´em-se ` ´ lim F (xn ) = lim f (xn ) ⇒ F lim xn = lim f (xn ) n
n
n
n
` ´ ⇒ F u = lim f (xn ). n
` ´ An´ alogamente se mostra que F v = lim f (yn ). n
Corol´ ario 22. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos completos e f : X −→ Y um homeomorfismo uniforme entre subespa¸cos densos X ⊂ M e Y ⊂ N , f se estende, de modo u ´nico, a um homeomorfismo uniforme F : M −→ N .
Prova: De fato, seja g : Y −→ X o inverso de f . Pela proposi¸c˜ ao 100 existem aplica¸c˜ oes uniformemente cont´ınuas F : M −→ N e G : N −→ M extens˜ oes de f e g respectivamente. oes cont´ınuas G`◦ F : M ao ` ´ As aplica¸c˜ ´ −→ M e F ◦ G : N −→ N s˜ tais que G ◦ F (x) = x para todo x ∈ X e F ◦ G (y) = y para todo y ∈ Y . Como X ⊂ M e Y ⊂ N s˜ ao ambos densos, segue que G ◦ F = idM e F ◦ G = idN . Logo, G = F −1 e, portanto, F ´e um homeomorfismo uniforme de M sobre N . Adendo:
Logo,
˛ F ˛X = f ⇒ F (x) = f (x), ∀ x ∈ X; ˛ G˛Y = g ⇒ G(y) = g(y), ∀ y ∈ Y. ` ´ ` ´ ` ´ ` ´ G ◦ F (x) = G F (x) = G f (x) = g f (x) = x, ∀ x ∈ X; ´ ` ´ ` ´ ` ´ ` F ◦ G (Y ) = F G(y) = F g(y) = f g(y) = y, ∀ y ∈ Y.
¯ = M ; duas aplica¸c˜ Portanto, G ◦ F = idX , como X oes que coincidem em um subconjunto denso s˜ ao iguais (ver corol. 16, pg. 348), isto ´e, G ◦ F = idM . O mesmo raciocinio se aplica ao caso F ◦ G = idN .
394
Cap´ıtulo
8
´ ESPAC ¸ OS METRICOS CONEXOS “O
senhor deu aos homens a
ciˆ encia para que pudessem glorific´ a-lo por causa das maravilhas ´ dele.” (ECLESIASTICO 38 : 6)
8.1
Defini¸ c˜ ao e Exemplos
Introdu¸ c˜ ao: A conexidade de um conjunto ´e mais um conceito importado da An´ alise Real; nesta - grosso modo - podemos dizer que um conjunto ´e conexo quando ´e constituido de um s´ o peda¸co. Em espa¸cos m´etricos em geral esta no¸c˜ ao “intuitiva” de conexidade deixa de valer, como teremos oportunidade de constatar em v´ arias oportunidades. Defini¸ c˜ ao 56 (Espa¸co desconexo). Um espa¸co m´etrico (M, d) se diz desconexo quando existem dois conjuntos abertos A e B, ambos n˜ ao vazios, de maneira que A∩B =∅ e A∪B =M
(8.1)
Diz-se ent˜ ao que o par A e B constitui uma desconex˜ ao de M . As condi¸c˜ oes dadas em (8.1) nos dizem que A = B c , o que significa que A tamb´em ´e fechado em M e ainda B = Ac o qual tamb´em ´e fechado em M . Em resumo, numa desconex˜ ao os conjuntos A e B s˜ ao simultˆ aneamente abertos e fechados em M . Um espa¸co conexo ´e um espa¸co que n˜ ao ´e desconexo. Portanto, dizer que M ´e conexo significa dizer que n˜ ao existe nenhuma desconex˜ ao de M . Um subconjunto X ⊂ M se diz conexo quando o subespa¸co (X, d), onde d ´e a m´etrica induzida sobre X pela m´etrica de M , ´e conexo. Exemplos 1. Em todo espa¸co m´etrico (M, d) um conjunto unit´ ario { a } ´e conexo. Com efeito, ´e imposs´ıvel exibir dois abertos A 6= ∅ e B = 6 ∅ tais que A ∩ B = ∅ e A ∪ B = { a }. 2. O espa¸co (R, δ) ´e desconexo, enquanto o espa¸co (R, µ) ´e conexo.
395
Prova: Consideremos qualquer a ∈ R. Os conjuntos A = { a } e B = R − { a } s˜ ao abertos no espa¸co (R, δ). Sendo assim A e B constituem uma desconex˜ ao de R. Para mostrar que o espa¸co (R, µ) ´e conexo procederemos por contradi¸c˜ ao, supondo que existem A e B abertos de modo que A 6= ∅, B 6= ∅; A ∩ B = ∅; A ∪ B = R. Tomemos a ∈ A e b ∈ B e suponhamos a < b. Consideremos o conjunto ˘ ¯ X = x ∈ A: x < b
de todos os elementos de A situados ` a esquerda de b. Pois bem, temos que a ∈ X e que b ´e uma cota superior de X. Portanto sendo X um conjunto n˜ ao-vazio e limitado superiormente possui supremo, digamos c = sup X. Como o supremo de um conjunto ´e a menor de suas cotas superiores resulta que c ≤ b (♯). Pela defini¸c˜ ao de supremo, para todo ε > 0 existe x ∈ X (por conseguinte x ∈ A) tal que c − ε < x ≤ c ∴ c − ε < x < c + ε ∴ x ∈ ] c − ε, c + ε [. De outro modo, ∀ ε > 0 ⇒ Bµ(c; ε) ∩ A 6= ∅ x∈A
]
ց
c−ε
r ¬ c
-R
[ c+ε
¯ Sendo A fechado temos que c ∈ A. portanto c ´e ponto aderente de A (c ∈ A). Portanto c 6= b, e, considerando (♯), concluimos que c < b. Sendo A aberto c ´e ponto interior de A, logo existe ǫ > 0 de modo que ] c − ǫ, c + ǫ [ ⊂ A. Invocando a propriedade arquimediana podemos encontrar dois ˘ naturais n′ e n′′ satisfazendo n1′ < ǫ e n1′′ < b − c. Vamos escolher n0 = max n′ , n′′ }, portanto n0 ≥ n′ e n0 ≥ n′′ do que resulta 1 1 ≤ ′ n0 n portanto,
8 1 > > < n0 ≤ > > :
1 n0
≤
de (♭) concluimos que c + 1 n0
1 n′ 1 n′′
1 n0
X
1 1 ≤ ′′ n0 n
<ǫ
⇒ c+
1 n0
< c+ǫ
(♭)
< b−c
⇒ c+
1 n0
(♮)
∈ ] c − ǫ, c + ǫ [ ⊂ A e, considerando (♮), concluimos que
∈ X. Isto contradiz o fato de que c = sup X. ˘ 3. Os espa¸cos (N, µ) e (M, µ), onde M = 1, 21 , . . . , Estes s˜ ao casos especiais da seguinte
c+
1 , n
...
¯
s˜ ao ambos desconexos.
Proposi¸ c˜ ao 101. Todo espa¸co (M, d) discreto (no qual M tem mais que um elemento) ´e desconexo. Prova: De fato, em um espa¸co m´etrico (M, d) discreto, todo subconjunto de M ´e aberto (exemplo 5), pg. 256). Sendo assim { a } e M − { a }, onde a ∈ M ´e arbitr´ ario, constitue uma desconex˜ ao do espa¸co M . 4. Q com a m´etrica µ induzida de R ´e desconexo. De fato, para exibir uma desconex˜ ao de Q tome α um irracional qualquer e considere os seguintes subconjuntos de Q A = {x ∈ Q : x < α} X B = {x ∈ Q : x > α}
396
Vamos mostrar que A e B s˜ ao abertos no subespa¸co (Q, µ). Para tanto considere os seguintes subconjuntos de R C = {x ∈ R : x < α} =] − ∞, α [ X D = {x ∈ R : x > α} =] α, +∞ [ C e D s˜ ao abertos em (R, µ). Como A = Q ∩ C e B = Q ∩ D segue que A e B s˜ ao abertos∗ no espa¸co (Q, µ). Al´em do mais temos, ` ´ ` ´ A∩B = Q∩C ∩ Q∩D ` ´ =Q∩ C ∩D =Q∩∅=∅
tamb´em, ` ´ ` ´ A∪B = Q∩C ∪ Q∩D ` ´ =Q∩ C ∪D ` ´ = Q ∩ R − {α} = Q
Portanto A e B constituem uma desconex˜ ao de Q. ˘ ¯ 5. Consideremos o subconjunto X = (x, y) ∈ R2 : xy = 1 do R2 . O subespa¸co 2 (X, D1 ), onde D1 ´e a m´etrica usual do R , ´e desconexo. De fato, para exibir uma desconex˜ ao de X considere os seguintes subconjuntos ˘ ¯ ˘ ¯ A = (x, y) ∈ X : x > 0 X B = (x, y) ∈ X : x < 0 Vamos mostrar que A e B s˜ ao abertos no subespa¸co (X, D1 ). Para tanto considere os seguintes subconjuntos de R2 ˘ ¯ ˘ ¯ C = (x, y) ∈ R2 : x, y > 0 X D = (x, y) ∈ R2 : x, y < 0 C e D s˜ ao abertos em (R2 , D1 ). R
6
R
6 C
A
X
-
-
R
R
B
D
Como A = X ∩ C e B = X ∩ D segue que A e B s˜ ao abertos no subespa¸co (X, D1 ). Al´em do mais temos, ` ´ ` ´ A∩B = X ∩C ∩ X ∩D ` ´ =X ∩ C ∩D =X ∩∅=∅
∗ proposi¸ ca ˜o
48, pg. 260.
397
tamb´em ` ´ ` ´ A∪B = X ∩C ∪ X ∩D ` ´ =X ∩ C ∪D = X.
Portanto A e B constituem uma desconex˜ ao de X. Proposi¸ c˜ ao 102. A imagem de um conjunto conexo por uma aplica¸c˜ ao f : M −→ N cont´ınua ´e um conjunto conexo. Prova: Vamos provar inicialmente para o caso particular em que f ´e sobrejetora, isto ´e f (M ) = N , e M ´e conexo. Procederemos por contradi¸c˜ ao. Suponhamos que existam abertos A, B ⊂ N formando uma desconex˜ ao de N , isto ´e, tais que A, B 6= ∅ , A ∩ B = ∅ , A ∪ B = N. Sendo assim obtemos ` ´ ` ´ f −1 A ∩ B = f −1 ∅
` ´ ` ´ ⇒ f −1 A ∩ f −1 B = ∅
` ´ ` ´ ` ´ ` ´ f −1 A ∪ B = f −1 N ⇒ f −1 A ∪ f −1 B = M ` ´ ` ´ Destas igualdades concluimos que f −1 A e f −1 B formariam uma desconex˜ ao (ver proposi¸c˜ ao 86, pg. 345) de M , contrariando a hip´ o tese de que o mesmo ´ e conexo. ` ´ ` ´ Nota: De N = f (M ) ⇒ f −1 N = f −1 f (M ) = M esta u ´ltima igualdade s´ o vale se f ´e sobrejetora. O caso geral reduz-se a este uma vez que sendo f : M −→ N cont´ınua e dado X ⊂ M conexo, ent˜ ao f : X −→ f (X) ´e uma sobreje¸c˜ ao cont´ınua o que implica na conexidade de f (X) pelo que acabamos de provar. Corol´ ario 23. Se M ´e conexo e N ´e homeomorfo a M , ent˜ ao N tamb´em ´e conexo. Portanto a conexidade ´e uma propriedade topol´ ogica. Dizemos: ´e um invariante topol´ ogico. Corol´ ario 24. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico conexo. Se d′ ∼ d ent˜ ao o espa¸co ′ (M, d ) tamb´em ´e conexo. Prova: Se d ∼ d′ ent˜ ao a aplica¸c˜ ao identidade i : (M, d) −→ (M, d′ ) ´e um homeomorfismo. Portanto o corol´ ario anterior nos assegura que se (M, d) ´e conexo decorre que (M, d′ ) tamb´em ´e conexo. ¯ d) Proposi¸ c˜ ao 103. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se (X, d) ´e conexo ent˜ ao (X, tamb´em o ´e. Em outras palavras: o fecho de um conjunto conexo ´e conexo. ¯ = M (isto ´e, X ´e denso Prova: Vejamos inicialmente o caso particular em que X ¯ em M ). Procederemos por contradi¸c˜ ao. Suponha que X = M n˜ ao ´e conexo, ent˜ ao existem A, B abertos n˜ ao vazios tais que A∩B =∅ , A∪B =M
(♮)
Temos que A ∩ X e B ∩ X s˜ ao abertos (prop. 48, pg. 260) no subespa¸co (X, d) al´em do que s˜ ao n˜ ao-vazios (prop. 68, pg. 283). Pretendemos mostrar que estes conjuntos formam uma desconex˜ ao de X ∗ . Isto ´e, que ( (A ∩ X) ∪ (B ∩ X) = (A ∪ B) ∩ X = X (A ∩ X) ∩ (B ∩ X) = (A ∩ B) ∩ X = ∅ ∗ Se
o subespa¸co (X, d) n˜ ao ´ e conexo ent˜ ao X ⊂ M n˜ ao ´ e conexo, por defini¸ca ˜o, pg. 395.
398
Invocando (♮), temos (A ∪ B) ∩ X = M ∩ X = X; tamb´em (A ∩ B) ∩ X = ∅ ∩ X = ∅. Portanto temos uma nega¸c˜ ao de nossa hip´ otese. ¯ ´e conexo. Este caso No caso geral, considerando X conexo queremos provar que X ¯ d) conforme nota da reduz-se ao anterior uma vez que X ´e denso no subespa¸co (X, pg. 283. ¯ e X ´e conexo, ent˜ Corol´ ario 25. Se X ⊂ Y ⊂ X ao Y ´e conexo. Prova: De fato, o fecho de X no subespa¸co (Y, d) ´e† ¯ ¯ X =X ∩Y (Y, d) (M, d) ¯ ¯ ¯ como, por hip´ otese, Y ⊂ X segue que X ∩ Y = Y , portanto X = Y logo (M, d) (M, d) (Y, d) ¯ X ´e denso no subespa¸co (Y, d) e portanto, sendo X conexo, X(Y, d) = Y ´e conexo. − Um conexo com “dois peda¸cos”
Agora faremos uma aplica¸c˜ ao deste corol´ ario para chegarmos a uma “surpreendente” conclus˜ ao: a de que existem conjuntos conexos “formados de mais de um peda¸co”. Para construirmos um tal conjunto consideremos o espa¸co (R2 , D1 ), isto ´e o plano 2 R com sua m´etrica usual (poderia ser qualquer outra m´etrica equivalente a D1 ). Seja ˘ ¯ X = (x, y) ∈ R2 : y = cos(1/x), x > 0 .
Como a fun¸c˜ ao f dada por f (x) = cos(1/x) ´e cont´ınua − por ser composta de fun¸c˜ oes cont´ınuas − pelo exemplo 6) pg. 370, concluimos que X ´e homeomorfo ao dom´ınio ] 0, +∞ [ de f . Portanto X ´e conexo. Seja ainda o seguinte subconjunto do R2 ˘ ¯ Y = (0, y) ∈ R2 : − 1 ≤ y ≤ 1 = { 0 } × [ −1, 1 ]. Todo ponto y ∈ Y ´e aderente a X ( exemplo (ii), pg. 281). Y ´e fechado (proposi¸c˜ ao 55, pg. 269). Ent˜ ao ¯ ⇒ Y ⊂X ¯ ⇒ Y¯ = Y ⊂ X. ¯ ⇒ y∈X
y∈Y Ent˜ ao para todo
¯ ⇒ X ∪Z ⊂X ∪X ¯ =X ¯ Z⊂Y ⇒ Z⊂X ¯ ⇒ X ⊂ X ∪ Z ⊂ X. ¯ ⇒X ∪Z ⊂X Portanto, pelo corol´ ario anterior, X ∪ Z ´e conexo. No caso particular em que Z = Y temos que o conjunto na figura a seguir ´e conexo. X
1¬
0¬
−1 † proposi¸ ca ˜o
y
59 pg. 274
399
Observe que, n˜ ao obstante Y ∩ X = ∅, toda bola centrada em qualquer ponto de Y intersecta X, o que n˜ ao se configura no gr´ afico por raz˜ oes t´ecnicas (ver pg. 282).
Conexos em R, µ
8.2
Iremos agora caracterizar os conjuntos conexos da reta. Mostraremos que na reta usual de fato um conjunto ´e conexo se, e somente se, ´e constituido de um s´ o “peda¸co”. Proposi¸ c˜ ao 104. Um subconjunto da reta ´e conexo se, e somente se, ´e um intervalo. Lembramos que os intervalos em R s˜ ao da seguinte forma: ] a, b [, ] a, b ], [ a, b [, [ a, b ];
intervalos limitados;
] − ∞, a [, ] − ∞, a ], ] a, +∞ [, [ a, +∞ [, ] − ∞, +∞ [; intervalos ilimitados. Um intervalo X pode caracterizar-se pela seguinte propriedade: a, b ∈ X, a < x < b ⇒ x ∈ X. `
´
Prova: ⇐= Todo intervalo aberto ´e conexo por ser homeomorfo a R (Exemplo 4.1 pg. 366). Daqui e da proposi¸c˜ ao 103 (pg. 398) concluimos que todo intervalo fechado ou semi-fechado ´ e conexo. ` ´ =⇒ Suponha X ⊂ R conexo e mostremos que X ´e um intervalo. Suponha a, b ∈ X e que a < c < b. Provaremos que c ∈ X. Com efeito, suponha contrariamente que c 6∈ X, fa¸camos A = X∩ ] − ∞, c [ , B = X∩ ] c, +∞ [
q
q
a
c
-
[
] −∞, c [
]
q
-R
b
] c, +∞ [
A e B s˜ ao abertos (no subespa¸co (X, µ)) s˜ ao n˜ ao vazios porque a ∈ A e b ∈ B. Mostremos que A e B formam uma desconex˜ ao de X. Ent˜ ao “ ”\“ ” A ∩ B = X∩ ] − ∞, c [ X∩ ] c, +∞ [ ” \“ =X ] − ∞, c [ ∩ ] c, +∞ [ = X ∩ ∅ = ∅.
Tamb´em “ ”[“ ´ A ∪ B = X∩ ] − ∞, c [ X∩ ] c, +∞ [ ” \“ =X ] − ∞, c [ ∪ ] c, +∞ [ ` ´ = X ∩ R − {c} = X.
Observe que neste momento usamos a hip´ otese de que c 6∈ X, pois se fosse c ∈ X ter´ıamos ` ´ X ∩ R −{c} = X − {c} = 6 X.
Conclus˜ ao: Se assumirmos que c 6∈ X ent˜ ao resulta X desconexo, contrariando a hip´ otese. Portanto X ´e um intervalo.
400
Corol´ ario 26. Se (M, d) ´e um espa¸co m´etrico conexo e f : M −→ R ´e uma fun¸c˜ ao cont´ınua, ent˜ ao f (M ) ´e um intervalo. Prova: De fato, tendo em conta a proposi¸c˜ ao 102 (pg. 398), f (M ) ´e um subconjunto conexo da reta e, portanto, um intervalo. (Nota: No caso em que f ´e constante f (M ) ser´ a um intervalo degenerado do tipo [ a, a ]).
Aplica¸ co ˜es do Corol´ ario 26 : 1. Teorema do Valor Intermedi´ ario Corol´ ario27. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico conexo e f : M −→ R uma fun¸c˜ ao cont´ınua. Se y1 , y2 ∈ f (M ) e y1 < y < y2 , ent˜ ao existe x ∈ M tal que f (x) = y. Prova: Como f ´e cont´ınua, segue que f (M ) ⊂ R ´e conexo. Da´ı f (M ) ´e um intervalo e portanto y ∈ f (M ) = {f (x) : x ∈ M }. Portanto existe x ∈ M de modo que f (x) = y. Em outras palavras: Se o dom´ınio de uma fun¸c˜ ao cont´ınua ´e conexo, ent˜ ao f toma todos os valores entre dois valores quaisquer de sua imagem. A seguir ilustramos esta situa¸c˜ ao para o caso especial em que M ´e um intervalo da reta. R f (x)
6
⊤
f (M )
?
⊥
6
y2 y y y y1 y
p
0
x1
⊢
p
x
-R
p
x2
M
-⊣
Defini¸ c˜ ao 57 (Ponto fixo). Um ponto fixo de uma aplica¸c˜ ao f : M −→ M ´e um ponto p ∈ M tal que f (p) = p. 2. Teorema do Ponto fixo de Brower Caso Particular: Dada uma fun¸c˜ ao cont´ınua f : [ a, b ] −→ [ a, b ], existe c ∈ [ a, b ] de maneira que f (c) = c. Prova: Com efeito, se f (a) = a ou f (b) = b nada a fazer. Suponhamos f (a) 6= a e f (b) 6= b. Sendo assim podemos escrever a < f (a) < b X a < f (b) < b. Consideremos a fun¸c˜ ao auxiliar g : [ a, b ] −→ R dada por g(x) = x − f (x). Obviamente g ´e cont´ınua (diferen¸ca de duas fun¸c˜ oes cont´ınuas) e ademais g(a) = a − f (a) < 0 X g(b) = b − f (b) > 0.
401
R
6
⊤
6
g(b) y
g([ a, b ])
g
a[
0
c
r
-x
]b
? g(a) y
⊥
Sendo g(a) < 0 < g(b) segue - do teorema do valor intermedi´ ario - que existe c ∈ [ a, b ] de modo que g(c) = 0 ⇒ c − f (c) = 0 ⇒ f (c) = c. Geometricamente o significado do teorema do ponto fixo ´e que a reta y = x intercepta o gr´ afico de y = f (x) em pelo ao menos um ponto: (c, f (c)). f (x)
6
b
y=x
f (x)
6
f
f (c) y
f (c) y
a ∡ 45o qc
0
-
x
0
a
[
qc
]b
Exemplos: 1. A fun¸c˜ ao dada por f (x) = x2 tem dois pontos fixos: x = 0 e x = 1. De fato, f (x) = x2 = x ⇒ x · (x − 1) = 0 ⇒ x = 0, x = 1.
402
-x
f (x)
6
-x
x=1
2. A fun¸c˜ ao cosseno tem como ponto fixo x ¯ = 0, 739085133215 . . ., com precis˜ ao suficiente para n˜ ao ser denunciado por qualquer calculadora cient´ıfica.
y=cos x
y=x
6 1
x ¯
π 2
π
-
3π 2
2π
x
−1
Figura 8.1: Um ponto fixo: x ¯ = 0, 739085133215 . . .. π = 1, 5707963268 . . . 2 π π = 0, 628318530718 . . . X = 0, 785398163398 . . . 5 4 π π
cos(0, 739085133215) = 0, 739085133215 Observa¸ c˜ ao: Sua calculadora deve estar no modo rad (radiano). 3. A fun¸c˜ ao cossecante (csc) tamb´em tem o seu ponto fixo: x = 1, 11415714087 . . . Uma vez que csc(1, 11415714087 . . .) =
1 sen (1, 11415714087 . . .)
= 1, 11415714087 . . .
403
Nota: No cap´ıtulo 8 aprenderemos como encontrar o ponto fixo de uma aplica¸c˜ ao. Consideremos a seguinte aplica¸c˜ ao (ver pg. 77) f : [ 0, 1 ] −→ Rn t 7−→ (1−t)a+t b Isto ´e, f (t) = (1 − t)a + t b. Ent˜ ao f (t) = (1 − t)a + t b
= (1 − t)(a1 , . . . , an ) + t(b1 , . . . , bn ) ` ´ = (1 − t)a1 + t b1 , . . . , (1 − t)an + t bn
As fun¸c˜ oes dadas a seguir
fi : [ 0, 1 ] −→ R t 7−→ (1−t)ai +t bi
(i = 1, 2, . . . , n)
` ´ isto ´e, fi (t) = − ai − bi t + ai s˜ ao fun¸c˜ oes cont´ınuas, disto segue - pela proposi¸c˜ ao 81, pg. 339 - que f ´e cont´ınua. Por outro lado ` ´ ˘ ¯ f [ 0, 1 ] = f (t) : t ∈ [ 0, 1 ] ˘ ¯ = (1 − t)a + t b : t ∈ [ 0, 1 ] = [ a, b ].
De modo que o segmento [ a, b ] ´e imagem do conexo [ 0, 1 ] pela aplica¸c˜ ao cont´ınua f . Portanto todo segmento de reta no Rn ´e conexo. Observe que a reuni˜ ao de conjuntos conexos n˜ ao ´e necessariamente conexa. Por exemplo os conjuntos X =] − ∞, 0 [ e Y =] 0, ∞ [ s˜ ao conexos no espa¸co (R, µ), mas X ∪ Y =] − ∞, 0 [ ∪ ] 0, ∞ [ n˜ ao ´e conexo neste espa¸co. Isto acontece porque X e Y ´ o que nos assevera a seguinte s˜ ao disjuntos. E ` ´ uma fam´ılia arbitr´ aria de conjuntos conexos num Proposi¸ c˜ ao 105. Seja Xλ λ∈L espa¸co m´etrico[(M, d). Se todos os Xλ contˆem um ponto comum a ∈ M , ent˜ ao a Xλ tamb´em ´e conexa. reuni˜ ao X = λ∈L
Prova: Para mostrar que o subespa¸co (X, d) ´e conexo procederemos por contradi¸c˜ ao. Suponhamos que existam A e B abertos de modo que A, B 6= ∅, A ∩ B = ∅ e A ∪ B = X. Pois bem, o ponto a comum a todos os Xλ pertence a A ou a B. Suponhamos a ∈ A. Como B 6= ∅ e A ∩ B = ∅, existe b 6= a em X com b ∈ B. Este ponto b por sua vez dever´ a estar, para algum µ ∈ L, no conjunto Xµ . Os conjuntos A ∩ Xµ e B ∩ Xµ s˜ ao abertos no subespa¸co (X, d) e s˜ ao ambos n˜ ao-vazios uma vez que a ∈ A ∩ Xµ e b ∈ B ∩ Xµ . Por outro lado temos ` ´ ` ´ ` ´ A ∩ Xµ ∩ B ∩ Xµ = A ∩ B ∩ Xµ = ∅ tamb´em
` ´ ` ´ ` ´ A ∩ Xµ ∪ B ∩ Xµ = A ∪ B ∩ Xµ
= X ∩ Xµ = Xµ .
Portanto A ∩ Xµ e B ∩ Xµ formam `uma´ desconex˜ ao de Xµ , contrariando a hip´ otese de que todos os conjuntos da fam´ılia Xλ s˜ ao conexos. λ∈L
404
Corol´ ario 28. Um espa¸co m´etrico (M, d) ´e conexo se, e somente se, dois quaisquer de seus pontos estiverem contidos em algum conexo Xab ⊂ M . Prova: (=⇒) Dados a, b ∈ M e sendo M conexo por hip´ otese, fazemos M = Xab e a proposi¸c˜ ao est´ a provada. [ Xab . Como a ∈ Xab para (⇐=) Neste caso fixando a ∈ M podemos escrever M = b∈M
todo b ∈ M , a proposi¸c˜ ao 105 nos assegura que M ´e conexo.
Exemplos:
(i) Com o aux´ılio do corol´ ario anterior podemos mostrar que o espa¸co (Rn , D1 ) ´e conexo. Com efeito, dados dois pontos quaisquer a, b ∈ Rn o segmento de reta [a, b] ´e um conjunto conexo que cont´em a e b. (ii) Com aux´ılio da proposi¸c˜ ao 105 vamos construir mais um conjunto conexo “formado de dois peda¸cos”: Consideremos o seguinte subconjunto do plano R2 ˘ ¯ X = (x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1, y = x/n, n ∈ N
Este conjunto ´e formado dos pontos do segmento de reta que liga a origem (0, 0) aos pontos (1, 1/n), n ∈ N. De outro modo: [ ˆ 1 ˜ Xn , onde Xn = (0, 0); (1, ) X= n n∈N
Todo segmento Xn ´e conexo; ademais (0, 0) ∈ Xn , ∀n ∈ N; portanto pela proposi¸c˜ ao 105 X ´e conexo. Por outro lado considere o seguinte subconjunto do R2 ¯ ˆ1 ˜ ˘ 1 , 1 × {0} Y = (x, 0) ∈ R2 : ≤ x ≤ 1 = 2 2 Todo ponto y ∈ Y ´e aderente a X (ver exemplo (i) pg. 280). Y ´e fechado (proposi¸c˜ ao 55, pg. 269). Ent˜ ao ¯ ⇒ Y ⊂X ¯ ⇒ Y¯ = Y ⊂ X. ¯ ⇒ y∈X
y∈Y Ent˜ ao para todo
¯ ⇒ X ∪Z ⊂X ∪X ¯ =X ¯ Z⊂Y ⇒ Z⊂X ¯ ⇒ X ⊂ X ∪ Z ⊂ X. ¯ ⇒X ∪Z ⊂X Portanto, pelo corol´ ario 25 (pg. 399) X ∪ Z ´e conexo. No caso particular em que Z = Y temos que o conjunto a seguir ´e conexo. R
6
1
X 1
q
X 2 X3
0
1 2
p
.. . -R p1
.. . 0
Veremos agora que a conexidade ´e preservada pelo produto cartesiano
405
Proposi¸ c˜ ao 106. Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. Ent˜ ao M1 × M2 ´e conexo, se e somente se, M1 e M2 s˜ ao conexos. Prova: (=⇒) Suponhamos M1 × M2 conexo. Consideremos as proje¸c˜ oes p1 : M1 × M2 −→ M1
e
p2 : M1 × M2 −→ M2
(x1 , x2 ) 7−→ x1
(x1 , x2 ) 7−→ x2
Temos ` ´ ˘ ` ´ ¯ p1 M1 × M2 = p1 (x1 , x2 ) : (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 ˘ ¯ = x1 : (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 = M1 ` ´ An´ alogamente p2 M1 × M2 = M2 . Como as proje¸c˜ oes s˜ ao cont´ınuas temos pela proposi¸c˜ ao 102 (pg. 398) que M1 e M2 s˜ ao conexos. (⇐=) Reciprocamente suponhamos M1 e M2 conexos e mostremos que M1 × M2 ´e conexo. A demonstra¸c˜ ao consistir´ a no seguinte: dados dois pontos quaisquer a = (a1 , a2 ) e b = (b1 , b2 ) em M1 ×M2 mostraremos que existe um conexo Xab ⊂ M1 ×M2 que os contˆem e da´ı , pelo corol´ ario 28 (pg. 405), M1 × M2 resultar´ a conexo. Pois bem, inicialmente observemos que os conjuntos M1 × {b2 } e {a1 } × M2 s˜ ao conexos por serem homeomorfos a M1 e M2 , respectivamente. Por exemplo, a seguir temos dois homeomorfismos f : M1 −→ M1 × {b2 }
e
g : M2 −→ {a1 } × M2
x 7−→ (x, b2 )
x 7−→ (a1 , x)
´ ` ´ ` Por outro lado ` temos que ´ o `ponto (a1 , b´2 ) ∈ M1 ×{b2 } ∩ {a1 }×M2 implicando em que Xab = M1 × {b2 } ∪ {a1 } × M2 ´e um conexo (propos. 105, pg. 404) que cont´em a e b. {a1 }×M2
b2
a2
M2
↓
r
r
r
M1 ×M2
(a1 , b2 )
r
←
r
M1
(b1 , b2 )
r(a1 , a2 )
r
a1
b1
M1 ×{b2 }
Corol´ ario 29. Sejam (M1 , d1 ), . . ., (Mn , dn ) espa¸cos m´etricos. Ent˜ ao M1 × . . . × Mn ´e conexo se, e somente se, cada Mi (i = 1, 2, . . . , n) ´e conexo. Corol´ ario 30. Rn = R × · · · × R ´e conexo.
406
8.3
Conexidade por caminhos
Estudaremos agora um outro tipo de conexidade: A conexidade por caminhos. Intuitivamente dizemos que um conjunto M ´e conexo por caminhos quando dois quaisquer de seus pontos podem ser ligados por uma linha cont´ınua totalmente contida em M. Vamos tornar este conceito mais preciso. Antes definiremos, Defini¸ c˜ ao 58 (Caminho em espa¸cos m´etricos). Um caminho num espa¸co m´etrico (M, d) ´e uma aplica¸c˜ ao cont´ınua f : [ 0, 1 ] −→ M . Os pontos f (0) e f (1) s˜ ao chamados ponto inicial e ponto final, respectivamente, do caminho. (M, d)
-r
f (1)
1
f
- rf (0)
0
Figura 8.2: Caminho em espa¸co m´etrico. Um exemplo de caminho em qualquer espa¸co m´etrico (M, d) ´e o caminho constante f : [ 0, 1 ] −→ M
t 7−→ c onde c ∈ M ´e arbitrariamente fixado. Dados dois caminhos f, g : [ 0, 1 ] −→ M tal que f (1) = g(0), definamos a aplica¸c˜ ao f ∨ g : [ 0, 1 ] −→ M pondo 8 < f (2t), se 0 ≤ t ≤ 12 ; ` ´ (8.2) f ∨ g (t) = : g(2t − 1), se 1 ≤ t ≤ 1. 2
Como f (2t) coincide com g(2t − 1) no ponto t = 21 , ent˜ ao f ∨ g est´ a bem definida. Ademais f ∨ g ´e cont´ınua (ver corolario 19, pg. 350). Portanto f ∨ g : [ 0, 1 ] −→ M ´e um caminho (chamado caminho justaposto). Exemplo: Sejam os caminhos f : [ 0, 1 ] −→ R2 X g : [ 0, 1 ] −→ R2 t 7−→ (2t, 2t+1) t 7−→ (2t+2, 6t2 −5t+3) Nas figuras seguintes temos um esbo¸co dos caminhos f e g: R
6
rf (1)
3 1
⊤
0⊥
q
f
2
q
1
rf (0)
q
0
q
1
407
q
2
q
3
-R
R
6
rg(1)
4
q
r
g(0) 3 1
q
⊤
g
2
q
0⊥
1
q
0
Sendo Como
q
1
q
q
2
q
3
4
-R
f (t) = (2t, 2t + 1) X g(t) = (2t + 2, 6t2 − 5t + 3) f (1) = (2 · 1, 2 · 1 + 1) = (2, 3)
g(0) = (2 · 0 + 2, 6 · 02 − 5 · 0 + 3) = (2, 3)
podemos justapor estes caminhos. Encontremos o caminho justaposto f ∨ g: ` ´ f (2t) = 2(2t), 2(2t) + 1 = (4t, 4t + 1)
ainda, ` ´ g(2t − 1) = 2(2t − 1) + 2, 6(2t − 1)2 − 5(2t − 1) + 3 = (4t, 24t2 − 34t + 14)
Resumindo, temos ` ´ f ∨ g (t) =
(
(4t, 4t + 1) , (4t, 24t2 − 34t + 14) ,
A seguir mostramos um esbo¸co deste caminho
408
se 0 ≤ t ≤ 12 ; se
1 2
≤ t ≤ 1.
R
6
r(f ∨g)(1)
4
q
r
(f ∨g)( 1 ) 2
3 1
q
⊤
f ∨g
2
q
0⊥
r q (f ∨g)(0)
1
0
q
q
1
2
q
q4
3
-R
Figura 8.3: O caminho justaposto: f ∨ g. Defini¸ c˜ ao 59 (Espa¸cos conexos por caminhos). Um espa¸co m´etrico (M, d) se diz conexo por caminhos quando dois pontos quaisquer de M podem ser ligados por um caminho contido em M . (M, d)
r
y = f (1) 1
f
rx = f (0)
0
Figura 8.4: (M, d) ´e conexo por caminhos. Dizemos que um subconjunto X ⊂ M ´e conexo por por caminhos quando o subespa¸co (X, d) for conexo por caminhos. Exemplos: (i) O espa¸co (R, µ) ´e conexo por caminhos pois fixados x, y ∈ R o caminho ∴
f : [ 0, 1 ] −→ R t 7−→ (1−t)x+ty ´e tal que f (0) = x e f (1) = y. Veja:
s
x
s
y
f (t) = (1−t)x+ty
R
(ii) O espa¸co (Rn , Di ), para i = 1, 2, 3 ´e conexo por caminhos, pois fixados x, y ∈ Rn o caminho f : [ 0, 1 ] −→ Rn t 7−→ (1−t)x+ty
´e tal que f (0) = x e f (1) = y.
409
` ´ Defini¸ c˜ ao 60 (Conjuntos convexos). Seja E, +, · um espa¸co vetorial. Um subconjunto X ⊂ E chama-se convexo quando sempre que a, b ∈ X ⇒ [ a, b ] ⊂ X, ou seja, o segmento de reta que liga dois pontos quaisquer de X est´ a contido em X. Por exemplo, dos conjuntos abaixo Y
X
Z
a b
b
a
a
b
apenas o conjunto X ´e convexo. Todo subconjunto X ⊂ E convexo ´e conexo por caminhos porque, dados quaisquer a, b ∈ X o caminho retil´ıneo f : [ 0, 1 ] −→ E t 7−→ (1−t)a+tb ´e tal que f (0) = a e f (1) = b. Exemplos de conjuntos convexos: i) Um subespa¸co vetorial, X ⊂ E, ´e fechado para as opera¸c˜ oes do espa¸co (adi¸c˜ ao e multiplica¸c˜ ao por escalar), da´ı ´e f´ acil concluir que todo subespa¸co vetorial ´e um conjunto convexo. ` ´ ii) Toda bola aberta B(a; r) num espa¸co vetorial E, +, · normado.
Prova: Fixados x, y ∈ B(a; r), devemos provar que [ x, y ] ⊂ B(a; r). Seja ent˜ ao z ∈ [ x, y ] um vetor qualquer do segmento. Logo, existe 0 ≤ t′ ≤ 1 de modo que z = (1 − t′ ) x + t′ y. Por outro lado temos, 8 8 < |1 − t′ | kx − ak < |1 − t′ | r < kx − ak < r ⇒ : : ky − ak < r |t′ | ky − ak < |t′ | r Nota: Ao multiplicarmos as desigualdades da esquerda, e mantendo as desigualdades estritas ` a direita, estamos supondo t′ 6= 0 e t′ 6= 1 (caso contr´ ario a prova ´e imediata). Temos: kz − ak = k(1 − t′ ) x + t′ y − ak = k(1 − t′ )(x − a) + t′ (y − a)k
≤ |1 − t′ | kx − ak + |t′ | ky − ak
< |1 − t′ | r + |t′ | r = (1 − t′ ) r + t′ r = r.
portanto, z ∈ B(a; r) logo [ x, y ] ⊂ B(a; r).
iii) Se X ⊂ Rn ´e um conjunto convexo, ent˜ ao a aderˆencia de X ´e convexa. De fato, ¯ pontos de aderˆencia, logo existem (proposi¸c˜ sejam a, b ∈ X ao 65, pg. 279) seq¨ uˆencias ` ´ ` ´ ak e bk de pontos de X tais que
ak → a e bk → b ˜ como X ´e convexo temos ak , bk ⊂ X. Para 0 ≤ t ≤ 1 fixado arbitrariamente, temos (proposi¸c˜ oes 42, 44; pgs. 247, 248) ˆ
(1 − t) ak + t bk → (1 − t) a + t b
410
¯ isto ´e [a, b] ⊂ X. ¯ Portanto pela propos. 66 (pg. 280), temos (1 − t) a + t b ∈ X,
Vejamos um exemplo de ˘ ¯ uma fam´ılia de conjuntos conexos por caminhos: A esfera S n = x ∈ Rn+1 : kxk = 1 ´e conexa por caminhos. De fato, dados x, y ∈ S n consideremos duas possibilidades: 1 ) x 6= −y. Deixamos como exerc´ıcio ao leitor provar a proposi¸c˜ ao: a
Se x 6= −y ent˜ ao (1 − t) x + t y 6= 0 Pois bem, considerando f : [ 0, 1 ] −→ S n dada por f (t) =
(1 − t) x + t y k(1 − t) x + t yk
fica definido um caminho tal que f (0) = x e f (1) = y. 2a ) x = −y. Neste caso tomamos um ponto z ∈ S n − {x, y} do que obviamente resulta z 6= x e z 6= y, isto ´e, z 6= −x e z 6= −y. Devido ao caso anterior existe um caminho de x a z e um outro de z a y. Justapondo estes caminhos ligamos x a y. Vamos concretizar o que foi visto atrav´es de alguns exemplos: 1. Sejam n = 1, x = (1, 0), y = (0, 1). Ent˜ ao
f (t) =
=
(1 − t)x + ty k(1 − t)x + tyk (1 − t)(1, 0) + t(0, 1) (1 − t, t) = k(1 − t)(1, 0) + t(0, 1)k k(1 − t, t)k
1.1. Consideremos k(a, b)k = max{ |a|, |b| }. Ent˜ ao f (t) = =
(1 − t, t) ˘ ¯ max |1 − t|, |t| (1 − t, t) ˘ ¯ max 1 − t, t
mas 1 − t ≥ t ⇔ t ≤ 21 . Logo
f (t) =
8 (1−t, t) 1 > < 1−t , se 0 ≤ t ≤ 2 ; > : (1−t, t) t
Isto ´e,
f (t) =
Geometricamente, temos
8“ > > < 1,
t 1−t
, se
”
1 2
≤ t ≤ 1.
, se 0 ≤ t ≤ 12 ;
> > :` 1−t , 1´ , se t
411
1 2
≤ t ≤ 1.
R
S
1
6
(0, 1)
1 1y 2
-
f
(1, 0)
-R
0
1.2. Agora consideremos a norma euclidiana k(a, b)k =
f (t) =
√
a2 + b2 . Ent˜ ao
(1 − t, t) k(1 − t, t)k
= p
(1 − t, t) (1 − t)2 + t2
Logo f (t) =
„
√
1−t t ,√ 2t2 − 2t + 1 2t2 − 2t + 1
«
Geometricamente, temos R
6
(0, 1)
S
1
f
1
(1, 0)
0
1.3. Agora consideremos k(a, b)k = |a| + |b|. Ent˜ ao
f (t) =
(1 − t, t) k(1 − t, t)k
=
(1 − t, t) |1 − t| + |t|
=
(1 − t, t) = (1 − t, t). 1−t+t
Geometricamente, temos
412
-R
R
6
(0, 1)
S
1
-
f
@ @ @
1
@ @ @
0
(1, 0)
-R
2. Sejam n = 2, x = (1, 0, 0) e y = (−1, 0, 0). Neste caso como x = −y vamos escolher um terceiro ponto, digamos z = (0, 0, 1). z
z=(0, 0, 1)
6 r
r
r
y=(−1, 0, 0)
y
-x
x=(1, 0, 0)
Agora encontramos um caminho ligando x a z f (t) =
(1 − t)x + tz k(1 − t)x + tzk
=
(1 − t)(1, 0, 0) + t(0, 0, 1) k(1 − t)(1, 0, 0) + t(0, 0, 1)k
=
(1 − t, 0, t) = (1 − t, 0, t). 1−t+0+t
onde consideramos k(a, b, c)k = |a| + |b| + |c|. E um outro ligando z a y g(t) = =
(1 − t)z + ty k(1 − t)z + tyk (1 − t)(0, 0, 1) + t(−1, 0, 0) k(1 − t)(0, 0, 1) + t(−1, 0, 0)k
= (−t, 0, 1 − t) Agora vamos justapor estes caminhos: f (2t) = (1−2t, 0, 2t), tamb´em (ver equa¸c˜ ao (8.2), pg. 407) ` ´ g(2t − 1) = − (2t − 1), 0, 1 − (2t − 1) = (−2t + 1, 0, 2 − 2t)
Portanto
8 < (1 − 2t, 0, 2t), ` ´ f ∨ g (t) = : (−2t + 1, 0, 2 − 2t),
413
se 0 ≤ t ≤ 21 ; se
1 2
≤ t ≤ 1.
Geometricamente, temos z
(0, 0, 1)
S
f ∨g
r
ւ
(f ∨g)( 1 ) 2
2
r
1 1y 2
6
-
r
(−1, 0, 0)
0
y
-x
(1, 0, 0)
` ´ 3. Seja E, +, · um espa¸co vetorial normado, com dim E > 1. Para todo a ∈ E, E − { a } ´e conexo por caminhos. De fato, sejam x, y ∈ E − { a }. Se [ x, y ] ⊂ E − { a } este segmento de reta ´e um caminho em E − { a } ligando x a y. Por outro lado, se a ∈ [ x, y ], como dim E > 1, existe um ponto z n˜ ao alinhado com x e y. Ent˜ ao o caminho justaposto [ x, z ] ∨ [ z, y ] liga x com y em E − { a }. E−{ a }
q
a ◦
q
E−{ a }
x
a ◦
y
y
x
z
Todo conjunto conexo por caminhos ´e conexo. Este ´e o conte´ udo da pr´ oxima Proposi¸ c˜ ao 107. Se o espa¸co m´etrico (M, d) ´e conexo por caminhos, ent˜ ao (M, d) ´e tamb´em conexo. Prova: Seja (M, d) conexo por caminhos. Dados a, b ∈ M existe um caminho f : [ 0, 1 ] −→` M tal´ que˘ f (0) = a e f (1) ¯ = b. Como f ´e cont´ınua e [ 0, 1 ] ´e conexo, temos que f [ 0, 1 ] = f (t) : t ∈ [ 0, 1 ] ´e um conjunto conexo (prop. 102, pg. 398) que cont´em a e b. Logo, pelo corol´ ario 28 (pg. 405) M ´e conexo.
- br
1
f
0
-r a
(M, d)
A proposi¸c˜ ao rec´ıproca da anterior n˜ ao ´e verdadeira. Vejamos um contra-exemplo:
414
Um espa¸co conexo, mas n˜ ao conexo por caminhos Considere o espa¸co m´etrico (R2 , D1 ) e o subespa¸co (X, D1 ), no qual ff ` ˘ ¯ 1 ´ X= x, cos( ) ∈ R2 : x > 0 ∪ (0, 0) x
´ f´ E acil mostrar (basta adaptar o exemplo da pg. 399) que X ´e conexo. Mostraremos que X n˜ ao ´e conexo por caminhos. Para tanto mostraremos que todo caminho λ : [ 0, 1 ] −→ X com λ(0) = (0, 0) ´e constante. Sendo assim n˜ ao se pode obter um caminho ligando (0, 0) a qualquer outro ponto de X, o que garante n˜ ao ser X conexo por caminhos. Com efeito, considerando um caminho λ : [ 0, 1 ] −→ X podemos escrever ` ´ λ(t) = λ1 (t), λ2 (t) , ∀ t ∈ [ 0, 1 ]. Onde λ1 e λ2 s˜ ao cont´ınuas com ` ´ λ(0) = λ1 (0), λ2 (0) = (0, 0) ⇒ λ1 (0) = 0; λ2 (0) = 0. R
1
t 0
r
λ
λ(0)=(0, 0)
q
6 q
q
X
տ (λ տλ
1
1
(t), λ (t)) 2
-R
(t)
Para nossa prova devemos considerar a primeira proje¸c˜ ao, assim: p1 :
X
R
( λ1 (t), λ2 (t) )
Consideremos, A= 1
˘
t ∈ [ 0, 1 ] : λ1 (t) = 0
λ1
0
λ1 (t)
λ1 (0)=0
q
¯
-R
Desejamos provar que A = [ 0, 1 ]. Inicialmente observe que A ´e fechado‡ e n˜ aovazio, pois 0 ∈ A. Vamos mostrar que A ´e tamb´em aberto no subespa¸co ([ 0, 1 ], µ). Tomemos um ponto arbitr´ ario t`0 ∈ A´ e mostremos que t0 ´e ponto interior de A, isto ´e que que existe r > 0 tal que B t0 ; r ⊂ A. ` ´ A continuidade de λ : [ 0, 1 ] −→ X em t0 nos d´ a uma bola aberta B t0 ; δ de modo que ` ´ ` ´ ∀ t ∈ B t0 ; δ ⇒ D1 λ(t), λ(t0 ) < 1 como
‡ ver
t0 ∈ A ⇒ λ1 (t0 ) = 0 ⇒ λ(t0 ) = (0, 0) ` ´ ` ´ ⇒ ∀ t ∈ B t0 ; δ ⇒ D1 λ(t), (0, 0) < 1
oberva¸ca ˜o a ` pg. 348
415
(8.3)
Nota: N˜ ao pode ser λ(t0 ) = (0, c) com c 6= 0 porquanto este ponto n˜ ao pertence a X. Fa¸camos uma mudan¸ca de nota¸c˜ ao: ` ´ ` ´ B t0 ; δ = B t0 ; δ ∩ [ 0, 1 ] =] t0 − δ, t0 + δ [ ∩ [ 0, 1 ] = J
De modo que J (sub-bola) ´e um intervalo. Logo ` ´ ˘ ¯ λ1 J = λ1 (t) : t ∈ J
´e um intervalo† contendo 0, uma vez que
t0 ∈ J e t0 ∈ A ⇒ λ1 (t0 ) = 0. ` ´ ` ´ Afirmamos que λ1 J = { 0 }, isto ´e, que λ1 J ´e um intervalo degenerado. De fato, se o contr´ ario`´e ´que fosse verdade existiria, pela propriedade arquimediana, n ∈ N tal 1 1 que 2πn ∈ λ1 J , ent˜ ao existiria t ∈ J de modo que λ1 (t) = 2πn , o que acarretaria “ 1 ” “ 1 ” λ(t) = , cos(2πn) = ,1 2πn 2πn
contrariando (8.3) . Portanto,
∀ t ∈ J ⇒ λ1 (t) = 0 ⇒ J ⊂ A. Isto prova que A ´e aberto no subespa¸co ([ 0, 1 ], µ). A sendo aberto e fechado decorre∗ que A = [ 0, 1 ]. Sendo assim λ(t) = 0 para todo t ∈ [ 0, 1 ]; isto ´e, n˜ ao pode haver nenhum caminho ligando 0 a qualquer outro ponto de X; logo, X ´e conexo mas n˜ ao conexo por caminhos. Proposi¸ c˜ ao 108. A imagem de um conjunto conexo por caminhos atrav´es de uma aplica¸c˜ ao cont´ınua ´e conexa por caminhos. Prova: Sejam M conexo por caminhos e f : M −→ N cont´ınua. Dados p, q ∈ f (M ) = {f (x) : x ∈ M }, existem a, b ∈ M tais que f (a) = p e f (b) = q. Como M ´e conexo por caminhos existe um caminho g : [ 0, 1 ] −→ M tal que g(0) = a e g(1) = b. Ent˜ ao a aplica¸c˜ ao f ◦ g : [ 0, 1 ] −→ f (M ) ´e cont´ınua e, ademais ` ´ ` ´ f ◦ g (0) = f g(0) = f (a) = p, ` ´ ` ´ f ◦ g (1) = f g(1) = f (b) = q. M
r
b=g(1) 1
⊤
g
0⊥
-
rg(0)=a
r
q
f
-
-
rp
N
f (M )
f ◦g
Logo, f ◦ g ´e um caminho em f (M ) ligando p a q. Portanto f (M ) ´e conexo por caminhos. Corol´ ario 31. Se M e N s˜ ao homeomorfos ent˜ ao M ´e conexo por caminhos se, e somente se, N o for. † proposi¸ co ˜es
104, 102; pgs. 400, 398. fosse A 6= [ 0, 1 ], teriamos Ac 6= ∅, seria tamb´ em aberto e fechado, logo A e Ac constituiriam uma desconex˜ ao do conexo [ 0, 1 ] o que ´ e absurdo. ∗ Se
416
Proposi¸ c˜ ao 109. Se M e N s˜ ao conexos por caminhos ent˜ ao M ×N ´e tamb´em conexo por caminhos. Prova: Sejam x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ) dois pontos arbitr´ arios em M ×N . Como M e N s˜ ao conexos por caminhos, existe um caminho f : [ 0, 1 ] −→ M com f (0) = x1 e f (1) = y1 e um outro caminho g : [ 0, 1 ] −→ N com g(0) = x2 e g(1) = y2 . Com estes dois caminhos podemos construir a seguinte aplica¸c˜ ao h : [ 0, 1 ] −→ M × N t 7−→ (f (t), g(t)) Com o aux´ılio da proposi¸c˜ ao 81, pg. 339 concluimos que h ´e cont´ınua e, ` ´ h(0) = f (0), g(0) = (x1 , x2 ) = x; ` ´ h(1) = f (1), g(1) = (y1 , y2 ) = y.
Portanto h ´e um caminho ligando x a y e, por conseguinte, M × N ´e conexo por caminhos.
q
N
y y2 1
⊤
q
-
g
0⊥
x2
y
x
M ×N
h
q
⊤
1
⊥0
xp1
6 f ⊢
M
qy1 ⊣
1 ` ´ uma fam´ılia arbitr´ aria de conjuntos conexos por camProposi¸ c˜ ao 110. Seja Xλ λ∈L inhos, num espa¸co m´e[ trico (M, d). Se todos os Xλ contˆem um ponto comum a ∈ M , Xλ tamb´em ´e conexa por caminhos. ent˜ ao a reuni˜ ao X = 0
λ∈L
Prova: Com efeito, dados x, y ∈ X, existem µ, ν ∈ L tais que x ∈ Xµ e y ∈ Xν . Existem, por hip´ otese, dois caminhos f : [ 0, 1 ] −→ Xµ e g : [ 0, 1 ] −→ Xν tais que f (0) = x, f (1) = a, g(0) = a e g(1) = y, j´ a que o ponto a pertence a todos os Xλ . Justapondo os caminhos f e g obtemos um caminho ligando x a y. X
q
f (0)=x 1
⊤
-
f
Xµ 0⊥
r
Xν
q
g(1)=y
f (1)=g(0)=a
g
⊤
1
⊥0
6 f ∨g ⊢
0
⊣
1
417
8.4
Se¸ c˜ ao de Milagres
Produzir milagres n˜ ao ´ e prerrogativa de m´ısticos e avatares Introdu¸c˜ ao: Tenho dito que a produ¸c˜ao de milagres n˜ao ´e privil´egio de m´ısticos ou avatares. De fato, os matem´ aticos tamb´em os produzem! (literalmente falando!). Por oportuno, advirto ao leitor contra o erro de imaginar que os milagres do matem´ atico s˜ ao − apenas − de natureza abstrata (intelectual), nada mais falso! Os milagres do plano intelectual se imiscuem sim na mat´eria! Por exemplo, Peano em 1890 realizou um de tais milagre (“A Curva de Peano”∗ ) que hoje encontra aplica¸c˜ oes na inform´ atica − compacta¸c˜ ao de dados. ´ uma experiˆ “E encia como nenhuma outra que eu possa descrever, a melhor coisa que pode acontecer a um cientista, compreender que alguma coisa que ocorreu em sua mente corresponde exatamente a al´ surpreenguma coisa que aconteceu na natureza. E dente, todas as vezes que ocorre. Ficamos espantados com o fato de que um construto de nossa pr´ opria mente possa realmente materializar-se no mundo real que existe l´ a fora. Um grande choque, e uma alegria muito grande”(Leo Kadanoff)
Nota: Observe que este cientista corrobora nossa tese de que um milagre do intelecto pode reverberar na mat´eria “l´ a fora”. Consultando um dicion´ ario estabelecemos a seguinte: Defini¸ c~ ao(Milagre) − Feito ou ocorrˆencia extraordin´ aria, que n˜ ao se explica pelas leis da natureza; − Acontecimento admir´ avel, espantoso;
− Ocorrˆencia que produz admira¸c˜ ao ou surpresa.
Estaremos agora produzindo um de tais milagre e, a seu devido tempo, faremos uma ponte (um caminho) entre nosso milagre e algumas quest˜ oes relevantes da f´ısica atual. O milagre consta do seguinte, Teorema 7 (O milagre/Gentil/11.09.2008). Considere a seguinte mutila¸c˜ ao de um quadrado unit´ ario:
Afirmamos que este ´e um conjunto conexo por caminhos! De modo intuitivo: Dados dois pontos quaisquer neste conjunto podemos sentar a ponta de um l´ apis em um deles e desloc´ a-la at´e o outro ponto, sem abandonar a regi˜ ao, isto ´e sem “levantar” a ponta do l´ apis! ∗ No
u ´ltimo cap´ıtulo estaremos estudando esta Curva e exibiremos um outro milagre nosso.
418
Prova: Nosso ambiente de trabalho ser´ a o “quadrado divino”, assim: 1
[ 0, 1 [ × [ 0, 1 [
0
1
no qual tomaremos a seguinte mutila¸c˜ ao: 1
2 3
s
2 3
0
1
Nota: Sem perda de generalidade, do quadradinho inferior esquerdo estamos considerando apenas a origem; isto ´e, os pontos dos outros “peda¸cos” do conjunto estar˜ ao sendo ligados ` a origem. − Inicialmente vamos estabelecer um caminho entre o (sub)quadrado superior esquerdo e a origem, assim:
1
(0, 1)
1 , 1) (3
2) (0, 3
1 , 2 )=f (0) (3 3
f
s
0
(0, 0) =f (1)
` ´ ` Temos f (t) = f1 (t), f2 (t) , onde devemos ter f (0) = 13 , ent˜ ao deve ser, f2 (0) = 23 t = 0 ⇒ f1 (0) = 13 , t=1
⇒
f1 (1) = 0,
2 3
´
f2 (1) = 0
− Nestas condi¸c˜ oes temos, para f1 (t), f1 (t) 1
⇒ f1 (t) = t 0
1
419
1 3
−
1 3
t
e f (1) = (0, 0),
− Para f2 (t) temos, (1, 1)
1
) (0, 2 3
⇒ f2
f2 (t) =
s
0
8 < 32 +
1 3
t,
: 0,
0 ≤ t < 1; t = 1.
1
Agora vamos provar que f ´e cont´ınua, isto ´e, que de fato ´e um caminho. Inicialmente provemos que f ´e cont´ınua em 0. Para tanto vamos tomar no`intervalo [ 0, 1 ] ´ uma seq¨ uˆencia (tn ) tal que tn → 0 e provemos que f (tn ) → f (0) = 31 , 23 . Temos, ` f (tn ) = f1 (tn ), f2 (tn ) )
onde, f1 (tn ) =
1 3
−
1 3
tn e,
f2 (tn ) =
8 < 23 + :
1 3
tn ,
0,
0 ≤ tn < 1; tn = 1.
Para nossas considera¸c˜ oes podemos tomar no quadrado qualquer uma de suas trˆes m´etricas. Vamos tomar, por exemplo, a m´etrica da soma: D2 (x, y) = k(x1 , y1 ) + k(x2 , y2 ) ` ´ Para mostrar que f (tn ) → f (0) = 13 , 32 , mostremos que, “ ` 1 2 ´” D2 f (tn ), , → 0. 3 3 Onde,
f (tn ) = Temos,
“1 1 2 1 ” − tn , + tn 3 3 3 3
1 1” tn , 3 3 3 “2 1 2” + tn , k(x2 , y2 ) = k 3 3 3 k(x1 , y1 ) = k
Ent˜ ao, k(x1 , y1 ) = k
“1
3
−
“1
−
n˛1 ˛1 1 1” 1 1˛ 1 1˛ o = min ˛ − tn − ˛, 1 − ˛ − tn − ˛ tn , 3 3 3 3 3 3 3 3 = min
De modo an´ alogo, obtemos: k(x2 , y2 ) = k
n1 1 o 1 tn , 1 − tn = tn 3 3 3
“2 1 1 2” = tn + tn , 3 3 3 3
Substituindo estes resultados em (8.4), obtemos “ ` 1 2 ´” 2 , = tn → 0 D2 f (tn ), 3 3 3 uma vez que tn → 0.
420
(8.4)
Agora provemos que f ´e cont´ınua em 1. Para tanto vamos tomar no intervalo [ 0, 1 ] uma seq¨ uˆencia (tn ) tal que tn → 1 e provemos que f (tn ) → f (1) = (0, 0). Temos, ` f (tn ) = f1 (tn ), f2 (tn ) )
onde, f1 (tn ) =
1 3
−
1 3
tn e,
f2 (tn ) =
8 < 23 +
1 3
0 ≤ tn < 1;
tn ,
: 0,
tn = 1.
Consideremos duas possibilidades: ( i ) Se tn = 1, ent˜ ao, f (tn ) =
” “1 1 − tn , 0 3 3
Para mostrar que f (tn ) → f (1) = (0, 0), mostremos que, “ ” D2 f (tn ), (0, 0) → 0
Temos,
k(x1 , y1 ) = k
“1
3
−
” 1 tn , 0 3
k(x2 , y2 ) = k( 0, 0 ) = 0 Ent˜ ao, k(x1 , y1 ) = k
“1 3
−
” n ˛1 ˛ ˛1 ˛o 1 1 1 tn , 0 = min ˛ − tn − 0˛, 1 − ˛ − tn − 0˛ 3 3 3 3 3 = min
= min
n ˛1 ˛ ˛ ˛o ˛ − 1 tn ˛ , 1 − ˛ 1 − 1 tn ˛ 3 3 3 3
n1 1 2 1 o 1 1 − tn , + tn = − tn 3 3 3 3 3 3
Substituindo estes resultados em (8.4), obtemos
uma vez que tn → 1.
“ ” 1 1 D2 f (tn ), (0, 0) = − tn → 0 3 3
( ii ) Consideremos agora 0 ≤ tn < 1, sendo assim temos, f (tn ) =
“1
3
−
1 2 1 ” tn , + tn 3 3 3
Para mostrar que f (tn ) → f (1) = (0, 0), mostremos que, “ ” D2 f (tn ), (0, 0) → 0
Temos,
k(x1 , y1 ) = k
“1
k(x2 , y2 ) = k(
3
−
” 1 tn , 0 3
1 2 + tn , 0 ) 3 3
421
Como no caso anterior, k(x1 , y1 ) =
1 1 − tn 3 3
k(x2 , y2 ) =
1 1 − tn 3 3
Tamb´em,
Substituindo estes resultados em (8.4), obtemos “ ” 2 2 D2 f (tn ), (0, 0) = − tn → 0 3 3
uma vez que tn → 1.
Agora vamos provar que f ´e cont´ınua em um ponto p ∈ [ 0, 1 ] e 0 < p < 1. Para tanto vamos tomar neste intervalo uma seq¨ uˆencia (tn ) tal que tn → p e provemos que f (tn ) → f (p). Temos, ` f (tn ) = f1 (tn ), f2 (tn ) ) onde, f1 (tn ) = 13 − 13 tn e f2 (tn ) = 23 + 13 tn . Por outro lado, temos f (p) = ` ao, f1 (p), f2 (p) ), onde f1 (p) = 31 − 13 p e f2 (p) = 32 + 31 p. Ent˜
Logo, k(x1 , y1 ) = k
“1
1 1 1 ” tn , − p 3 3 3 3 “2 1 2 1 ” + tn , + p k(x2 , y2 ) = k 3 3 3 3 k(x1 , y1 ) = k
−
“1 n˛ 1 ˛ 1 1 1 1 ” 1 ˛ 1 ˛o − tn , − p = min ˛ − tn + p ˛, 1 − ˛ − tn + p ˛ 3 3 3 3 3 3 3 3 ˛ 1 1 ˛ 1 = ˛ − tn + p ˛ = | p − tn | 3 3 3
Por outro lado, k(x1 , y1 ) = k
“2
3
+
n˛1 ˛1 1 2 1 ” 1 ˛ 1 ˛o tn , + p = min ˛ tn − p ˛, 1 − ˛ tn − p ˛ 3 3 3 3 3 3 3 ˛1 1 ˛ 1 = ˛ tn − p ˛ = | p − tn | 3 3 3
Substituindo estes resultados em (8.4), obtemos
uma vez que tn → p.
“ ” 2 D2 f (tn ), f (p) = | p − tn | → 0 3
• Agora vamos estabelecer um caminho entre o (sub)quadrado inferior e a origem, assim:
1
0
2, 1) g(1)=( 3 3 ց
g
s
(1, 0)
g(0)=(0, 0)
422
` ´ ` ´ Temos g(t) = g1 (t), g2 (t) , onde devemos ter g(0) = 0, 0 e g(1) = ( 32 , ent˜ ao deve ser, t = 0 ⇒ g1 (0) = 0, g2 (0) = 0 t=1
g1 (1) = 23 ,
⇒
g2 (1) =
1 ), 3
1 3
− Nestas condi¸c˜ oes temos, para g2 (t), g2 (t) 1 1 3
⇒ g2 (t) =
t
t 0
1
− Para g1 (t) temos, (1, 1)
1
2) (0, 3
⇒
g1 (t) =
g1
s
0
8 <0, :
t = 0;
1−
1 3
t,
0 < t ≤ 1.
1
Para provar que g ´e cont´ınua procedemos de modo inteiramente an´ alogo ao do caminho f . − Agora vamos estabelecer um caminho entre o (sub)quadrado superior direito e a origem, assim: 2 , 1) (3
(1, 1)
2 , 2 )=λ(1) (3 3
1
(1, 2 ) 3
λ
s
0
(0, 0) =λ(0)
` ´ ` Temos λ(t) = λ1 (t), λ2 (t) , onde devemos ter λ(0) = (0, 0) e λ(1) = 23 , ent˜ ao deve ser, t = 0 ⇒ λ1 (0) = 0, λ2 (0) = 0 t=1
⇒
λ1 (1) = 32 ,
− Nestas condi¸c˜ oes temos, para λ1 (t),
423
λ2 (1) =
2 3
2 3
´ ,
(1, 1)
1
2) (1, 3
) (0, 2 3
⇒
s
λ1 (t) =
λ1
0
8 <0,
: 1−
t = 0; 1 3
t,
0 < t ≤ 1.
1
De igual modo, resulta, λ2 (t) =
8 <0,
t = 0;
: 1−
1 3
t,
0 < t ≤ 1.
− Decidimos explorar outros aspectos daˆaplica¸ ao ˆλ. Porˆ exemplo, podemos mostrar ˆc˜ que λ de fato est´ a contido no conjunto 23 , 1 × 32 , 1 ∪ { (0, 0) }. Por exemplo, mostremos que ˆ2 ˆ , 1 ∪ {0} 0 ≤ t ≤ 1 ⇒ λ1 (t) ∈ 3 De fato, para t = 0 temos λ1 (0) = 0. Tamb´em, Se 0 < t ≤ 1 ⇒
2 1 2 ≤1− t<1 ⇒ ≤ λ1 (t) < 1. 3 3 3
Agora vamos mostrar que λ ´e de fato um caminho, s´ o que o faremos por uma t´ecnica diferente da que usamos para provar a continuidade de f . ` ´ ` ´ Provaremos que λ1 : [ 0, 1 ], µ → { 0 } ∪ [ 23 , 1 [, k ´e cont´ınua.
• Pela defini¸c˜ ao de continuidade. Inicialmente vamos mostrar que λ1 ´e cont´ınua em 0. De fato, dado ε > 0 arbitr´ ario∗ , devemos exibir δ > 0 de modo que se, ` ´ | t − 0| < δ ⇒ k λ1 (t), λ1 (0) < ε (8.5) Em termos de bolas abertas tudo se passa assim: 1
(
1− ε 2 3
sε
)
δ
)
λ1
0
Pois bem, a implica¸c˜ ao (8.5) fica, ` ´ t < δ ⇒ k λ1 (t), 0 = min{ λ1 (t), 1 − λ1 (t) } < ε
∗A
bem da verdade n˜ ao faz mal considerarmos 0 < ε <
424
1 , 3
´ e o que faremos.
Ent˜ ao, 0
1 1 δ <1− t<1 3 3
Tomando δ = 3ε, resulta, ` ´ 0 < t < δ ⇒ 1 − ε < λ1 (t) < 1 ⇒ 0 < 1 − λ1 (t) < ε ⇒ k λ1 (t), λ1 (0) < ε
Nota: Estamos considerando 0 < ε < 31 , ent˜ ao em que 23 1 − λ1 (t).
2 < 1 − ε < 1 e isto implica 3 ` ´ < λ1 (t) < 1 e, nestas condi¸c˜ oes, k λ1 (t), 0 = min{ λ1 (t), 1 − λ1 (t) } =
• Vamos agora mostrar que λ1 ´e cont´ınua em 1. De fato, dado ε > 0 arbitr´ ario, devemos exibir δ > 0 de modo que se, ` ´ | t − 1| < δ ⇒ k λ1 (t), λ1 (1) < ε (8.6) Em termos de bolas abertas tudo se passa assim: 1
)
(
1−δ
2 3
λ1
2+ 3
ε
s
0
Pois bem, a implica¸c˜ ao (8.7) fica, n˛ “ ˛ 2˛ 2˛ o 2” = min ˛λ1 (t) − ˛, 1 − ˛λ1 (t) − ˛ < ε 1 − δ < t ≤ 1 ⇒ k λ1 (t), 3 3 3
Ent˜ ao,
1−δ < t≤1 ⇒
2 1 2 1 ≤ 1− t< + δ 3 3 3 3
Tomando δ = 3ε, resulta, | t − 1| < δ ⇒
` 2 2 2 2´ ≤ λ1 (t) < + ε ⇒ 0 ≤ λ1 (t) − < ε ⇒ k λ1 (t), <ε 3 3 3 3
• Vamos agora mostrar que λ1 ´e cont´ınua em 0 < p < 1. De fato, dado ε > 0 arbitr´ ario, devemos exibir δ > 0 de modo que se, ` ´ | t − p| < δ ⇒ k λ1 (t), λ1 (p) < ε (8.7) Em termos de bolas abertas tudo se passa assim:
s
2 3
λ1
1
(
p
p−δ
( )
)
p+δ
ւ 1 s←− λ1 (p) տ λ (p)−ε λ (p)+ε
1
0
425
s
Pois bem, a implica¸c˜ ao (8.7) fica, p−δ
1 1 1 1 1 p− δ <1− t<1− p+ δ 3 3 3 3 3
Tomando δ = 3ε, resulta, | t − p| < δ ⇒ λ1 (p) − ε < λ1 (t) < λ1 (p) + ε ou ainda,
` ´ | t − p| < δ ⇒ |λ1 (t) − λ1 (p)| = k λ1 (t), λ1 (p) < ε
Sendo δ = 3ε temos que λ1 ´e uniformemente cont´ınua, o mesmo vale para λ2 e, por conseguinte, para λ. Esta conclus˜ ao vale tamb´em para os caminhos f e g. Para concluir a prova do nosso teorema nos valemos da propo. 110 (pg. 417) . Notas: − Este ´e um resultado totalmente contra-intuitivo, por exemplo, na referˆencia [5], lemos: “Outra maneira de exprimir a conexidade de um espa¸co ´e dizer que se pode passar de um qualquer de seus pontos para outro por um movimento cont´ınuo, sem sair do espa¸ co. Isto nos leva a ` no¸ ca ˜o de espa¸ co conexo por caminhos, conceito mais particular e provido de mais significado intuitivo do que o conceito geral de espa¸ co conexo.”
(grifo nosso). − A maior dificuldade relacionada com este teorema n˜ ao se deu em sua prova, mas em sua descoberta. De fato, observando o conjunto (quadrado mutilado) ningu´em diria que ele ´e conexo por caminhos e, ´e ´ obvio, ningu´em iria tentar demonstrar o contr´ ario daquilo que “tem certeza” (que acredita), “a vis˜ ao nos cegou a todos”: durante dois dias de trabalho (exaustivo) tentei provar o contr´ ario do teorema. − Podemos realizar um feito semelhante num cubo e at´e num hipercubo. Perguntamos: como ficaria nosso milagre em um cubo? (ver pg. 301). − No apˆendice (p´ a. 438) estaremos levantando algumas quest˜ oes da f´ısica te´ orica como corol´ ario de nosso teorema. Nota: Na pg. 399 exibimos um conjunto, com partes disjuntas, e conexo, mas n˜ ao conexo por caminhos (pg. 415). Destaco (coloco em relevo) o fato de que sou o primeiro matem´ atico (assim creio) a exibir (construir) um conjunto, com partes disjuntas, e conexo por caminhos. Acredito que o nosso seja o primeiro exemplo (“elementar”) da hist´ oria!
Justaposi¸ c˜ ao dos caminhos f e g A t´ıtulo de curiosidade (e para referˆencias posteriores) vamos justapor os caminhos f e g de nossa demonstra¸c˜ ao anterior. Temos, h = f ∨ g, onde ( f (2t), se 0 ≤ t ≤ 12 ; h(t) = g(2t − 1), se 12 ≤ t ≤ 1. Ent˜ ao,
Temos,
8 f (t) = 31 − 31 t > > > 1 > ` ´ < 8 f (t) = f1 (t), f2 (t) = < 32 + 13 t, > > > f (t) = > : 2 : 0, 8 8 <0, > > > > g (t) = ` ´ < 1 : 1− g(t) = g1 (t), g2 (t) = > > > > : g2 (t) = 13 t
426
1 3
t,
0 ≤ t < 1; t = 1. t = 0; 0 < t ≤ 1.
Ent˜ ao, 8 f1 (2t) = 13 − 31 2t > > > > ` ´ < 8 f (2t) = f1 (2t), f2 (2t) = < 32 + 13 2t, > > > f (2t) = > : 2 : 0,
0 ≤ 2t < 1; 2t = 1.
E mais, 8 8 <0, > > > > g (2t − 1) = ` ´ < 1 : 1 − 13 (2t − 1), g(2t−1) = g1 (2t−1), g2 (2t−1) = > > > > : g2 (2t − 1) = 13 (2t − 1)
2t − 1 = 0; 0 < 2t − 1 ≤ 1.
Sendo assim temos,
h(t) =
80 > > > > @1 − > 3 > > > > > > > <
2 3
> > > > 08 > > < > 0, > > > @ > > : :4 − 3
t,
8 <2 + 3
2 3
t,
0 ≤ t < 12 ; t = 21 .
:0,
1 2
t,
A,
0 ≤ t ≤ 12 ; (8.8)
t = 21 ; 2 3
1
< t ≤ 1.
,
2 3
t−
1
1A , 3
1 2
≤ t ≤ 1.
Uma exegese de nosso teorema J´ a se disse, alhures, que um assunto s´ o est´ a devidamente compreendido quando pudermos explic´ a-lo ao primeiro transeunte que encontrar-mos na rua; pensando nisto vamos envidar esfor¸cos para tentar aproximar nosso milagre do leigo em matem´ atica. Tentaremos entender de modo ao mesmo tempo intuitivo e l´ ogico (matem´ atico) como podemos ligar quaisquer dois pontos do conjunto,
s
por um tra¸co cont´ınuo totalmente contido no mesmo, isto ´e sem levantar a ponta do l´ apis. Inicialmente vamos necessitar do seguinte gr´ afico:
427
k(x, 0)
1
1 2
q
q
x
¬ 1
0
1
2
que nos d´ a a distˆ ancia de um ponto arbitr´ ario x ∈ [ 0, 1 [ ` a origem. Observe na figura seguinte,
k(x, 0)
1
1 2
0
q
q
x
¬ 1
y
2
x 1
que os pontos x e y est˜ ao ` a mesma distˆ ancia da origem. Definindo no intervalo unit´ ario a seguinte rela¸c˜ ao, x ∼ y ⇔ k(x, 0) = k(y, 0) ao o podemos considerar estes pontos equivalentes do ponto de vista da m´etrica: s˜ ´ f´ “mesmo” ponto. E acil ver que pontos sim´etricos em rela¸c˜ ao ` a reta x = 12 s˜ ao equivalentes. De outro modo: dado um ponto do intervalo a “imagem” deste ponto, visto em um espelho (plano) colocado no centro do intervalo, ´e o seu equivalente. Observe outrossim, que os pontos 0 e (reflex˜ ao), isto ´e, n˜ ao se “movem”.
1 2
s˜ ao pontos fixos em rela¸c˜ ao ao espelho
Consideremos o subespa¸co (conexo po caminhos) a seguir,
428
s
Tomando a “proje¸c˜ ao horizontal” ( p1 ) obtemos, assim:
r De sorte que esta proje¸c˜ ao ´e conexa por caminhos, assim: 1
λ1
r
2 3
0 0
1
Nota: Lembramos que o caminho λ1 est´ a explicitado na pg. 424. Isto significa, por exemplo, que se sentarmos a ponta do l´ apis em 0 podemos lig´ a-lo a qualquer outro ponto sem sair do conjunto. Como pode ser isto? Veja, vamos sentar a ponta do l´ apis na origem, assim: 1
λ1
r
2 3
0 0
1
Colocando um espelho na metade do intervalo, o que vemos?
1
λ1
r
0 0
1 3
2 3
◦
1
Os pontos do lado direito s˜ ao refletidos para o lado esquerdo, a´ı fica f´ acil deslocar o l´ apis sem sair do conjunto. O mesmo se d´ a no caso bidimensional, no qual existem trˆes espelhos, assim:
429
⊙
s Nota: Temos um espelho no centro do quadrado (interse¸c˜ ao dos outros dois). Os trˆes quadradinhos s˜ ao refletidos para a origem . . . “Se Maom´e n˜ ao vai ` a montanha, a montanha vai a Maom´e” − Bem, esta foi uma tentativa que levamos a efeito para tentar traduzir o teorema 7 para o leigo em matem´ atica. Mas, a rigor o que sucede? A rigor, a ponta do l´ apis percorre o intervalo [ 0, 1 ] enquanto sua imagem (pela fun¸c˜ ao, que ´e o caminho) ´e que percorre o sistema (conjunto∗ ). Para nos fazer entender, retomemos o exemplo unidimensional anterior. Na figura a seguir, a ponta do l´ apis aponta para a origem 0 do intervalo: 1
r
λ1
0 0
2 3
1
Sua imagem por λ1 ,
λ1 (t) =
8 <0,
t = 0;
: 1−
1 3
t,
0 < t ≤ 1.
apis (seta em azul) aponta para a origem do sitema. Pois bem, quando a ponta do l´ percorre − a partir de 0 − o intervalo o que acontece com sua imagem em X? Acontece o seguinte:
0
1 2 1 2 1 t ≤ , ..., ≤ 1 − t < 1 ⇒ ≤ λ1 (t) < 1 3 3 3 3 3
Sua imagem percorre o intervalo [ 2/3, 1[.
∗ Digo,
conjunto X = { 0 } ∪ [ 2/3, 1[
430
Fa¸camos algumas simula¸c˜ oes na tabela a seguir:
t = 0, 0 t = 0, 1 t = 0, 2 t = 0, 3 t = 0, 4 t = 0, 5 t = 0, 6 t = 0, 7 t = 0, 8 t = 0, 9 t = 1, 0
⇒
λ1 (0, 0) = 0
⇒
λ1 (0, 2) = 0, 9333 . . .
⇒
λ1 (0, 4) = 0, 8667 . . .
⇒
λ1 (0, 6) = 0, 8000
⇒
λ1 (0, 8) = 0, 7333 . . .
⇒
λ1 (1, 0) = 0, 6667 . . .
⇒
λ1 (0, 1) = 0, 9667 . . .
⇒
λ1 (0, 3) = 0, 9000
⇒
λ1 (0, 5) = 0, 8333 . . .
⇒
λ1 (0, 7) = 0, 7667 . . .
⇒
λ1 (0, 9) = 0, 7000
Na realidade est´ a ocorrendo o seguinte:
1
↑
r
λ1
← 2 3
0 0
↑
1
λ1 (0) =0
λ1 (1) =2/3
inicio do caminho
fim do caminho
Ao movermos a ponta do l´ apis por “um infinit´esimo sequer” sua imagem j´ a “aparece do outro lado”, isto tudo “continuamente”, que ´e o mais importante! Ou seja, n˜ ao precisamos “levantar” a ponta do l´ apis para ligar dois pontos quaisquer de X. Novamente, ´e como se a m´etrica curvasse o espa¸co de modo a que o “buraco em 1” coincida com a origem, assim:
0 1
↑
0
λ1 2 3
1 3
− Voltemos ao nosso teorema pr´ opriamente dito (caso bidimensional):
431
(0, 1)
1 , 1) (3 1 , 2 )=f (0) (3 3
2) (0, 3
1
p
1 2
, 1) g(1)=( 2 3 3 ց
f ∨g
s
0
(1, 0)
↑
f (1/2) =(0, 0) =g(1/2)
Nesta figura representamos a justaposi¸ c~ ao dos caminhos f e g (ver equa¸c˜ ao (8.8), pg. 427). Observe que para 0 ≤ t ≤ 12 o caminho f ´e descrito. Este caminho inicia no v´ertice inferior direito (do quadradinho superior esquerdo), e termina na origem. Para 21 ≤ t ≤ 1 ´e descrito o caminho g, o qual inicia na origem e termina no v´ertice superior esquerdo (quadradinho inferior ` a direita). Fa¸camos algumas simula¸c˜ oes na tabela a seguir: t=0
⇒
t = 0, 1
⇒
t = 0, 2
⇒
t = 0, 3
⇒
t = 0, 4
⇒
t = 0, 5
⇒
t = 0, 6
⇒
t = 0, 7
⇒
t = 0, 8
⇒
t = 0, 9
⇒
t=1
⇒
h(0) = (0.3333 . . . , 0.6667 . . .) `1´ h 10 = (0.2667 . . . , 0.7333 . . .) `2´ h 10 = (0.2000, 0.8000) `3´ h 10 = (0.1333 . . . , 0.8667 . . .) `4´ h 10 = (0.0667 . . . , 0.9333 . . .) `5´ h 10 = (0, 0) `6´ = (0.9333 . . . , 0.0667 . . .) h 10 `7´ h 10 = (0.8667 . . . , 0.1333 . . .) `8´ = (0.8000, 0.2000) h 10 `9´ h 10 = (0.7333 . . . , 0.2667 . . .) h(1) = (0.6667 . . . , 0.3333 . . .)
− Vamos plotar os pontos do caminho justaposto h dados na tabela anterior, assim (pontos em vermelho):
s
(0, 1)
2) (0, 3
1
p
1 2
0
f ∨g
s
↑
s
s
s
1 , 1) (3
s( 31 , 23 )=f (0)
f (1/2) =(0, 0) =g(1/2)
432
s
g(1)=( 2 , 1) 3 3 ց
s
s
s
s
(1, 0)
Para gerar a tabela anterior utilizamos o seguinte programa (calculadoras HP − 48, 49, 50): ≪ → t ≪
IF
′
t ≥ 0 AN D t ≤ 0.5 ′ ′
T HEN IF
′
1/3 − 2/3 ∗ t ′ EV AL
t == 0.5 ′
T HEN ELSE EN D ELSE IF
′
0 ′
2/3 + 2/3 ∗ t ′ EV AL
R→C
t == 0 ′
T HEN ELSE
EN D
0
′
2/3 ∗ t − 1/3 ′ EV AL R → C
′
4/3 − 2/3 ∗ t ′ EV AL
′
2/3 ∗ t − 1/3 ′ EV AL R → C
EN D ≫
≫
Neste programa entramos com 0 ≤ t ≤ 1 e o mesmo sai com h(t) dado pela equa¸c˜ ao (8.8) (pg. 427).
433
8.5
Componentes Conexas
Defini¸ c˜ ao 61 (Parti¸c˜ ao de um conjunto). Chama-se parti¸c˜ ao de um conjunto n˜ ao vazio A todo conjunto P cujos elementos s˜ ao subconjuntos n˜ ao vazios de A, disjuntos dois a dois e cuja reuni˜ ao ´e A. Em outros termos, parti¸c˜ ao de um conjunto n˜ ao vazio A ´e todo conjunto P cujos elementos s˜ ao subconjuntos de A que satisfazem as trˆes seguintes condi¸c˜ oes: ` ´` ´ (i) ∀X ∈ P X 6= ∅ ` ´` ´ (ii) ∀ X, Y ∈ P e X 6= Y X ∩Y =∅ [ X=A (iii) X∈P
Cada elemento do conjunto P chama-se uma cela da parti¸c˜ ao. Todo elemento do conjunto A pertence a uma e somente uma cela da parti¸c˜ ao P. Nosso objetivo agora ser´ a mostrar a existˆencia de importante parti¸c˜ ao em todo espa¸co m´etrico (M, d): ou este ´e conexo ou ´e formado de partes conexas, disjuntas entre si. ˘ ¯ Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e fixemos p ∈ M . Seja Ap = Ai a cole¸c˜ ao dos subconjuntos conexos de M que contˆem p. Ap n˜ ao ´e vazia pois { p } ∈ Ap (exemplo 1, pg. 395). S Consideremos ainda Cp = i Ai e provemos que (a) Cp ´e conexo;
(b) Se B ´e um conjunto conexo de M contendo p, ent˜ ao B ⊂ Cp ; (c) Cp ´e um conjunto conexo maximal de M (isto ´e, Cp ´e o maior subconjunto conexo de M que cont´em p); (d) Cp ´e um conjunto fechado. De fato, (a) Como cada A ao p ∈ Si ∈ P cont´em p ent˜ 404) Cp = i Ai ´e conexo.
T
i
Ai , e assim, pela proposi¸c˜ ao 105 (pg.
(b) Se B ´e S um subconjunto conexo de M contendo p, ent˜ ao B ∈ Ap e, assim, B ⊂ Cp = {Ai : Ai ∈ Ap }. (c) Seja Cp ⊂ D, sendo D conexo. Como
[ ˘ ¯ Ai ⇒ p ∈ D { p } ∈ Ap = Ai ⇒ p ∈ Cp = i
logo, por (b), D ⊂ Cp ; isto ´e, Cp = D. (d) De fato, o fecho C¯p de Cp ´e conexo (proposi¸c˜ ao 103, pg. 398). Se Cp n˜ ao fosse ¯p seria pr´ fechado, a inclus˜ ao Cp ⊂ C opria, contradizendo (c) acima. Portanto ¯p . Cp = C Para cada p ∈ M , Cp ´e chamada componente conexa de p. Os fatos b´ asicos referentes ` as componentes conexas de um espa¸co (M, d) acham-se englobados na seguinte Proposi¸ c˜ ao 111. As componentes conexas de um espa¸co m´etrico (M, d) formam uma parti¸c˜ ao de M . Ademais, todo subconjunto conexo de M est´ a contido em alguma componente. Prova: ` ´` ´ (i) ∀ Cp Cp 6= ∅, pois p ∈ Cp
434
(ii)
` ´` ´ ∀ Cp , ∀ Cq ; p 6= q Cp ∩ Cq = ∅
Mostremos que componentes distintas s˜ ao disjuntas, ou, de modo equivalente, se Cp ∩ Cq 6= ∅, ent˜ ao Cp = Cq . De fato, se existisse x ∈ Cp ∩ Cq , ent˜ ao a reuni˜ ao Cp ∪ Cq tamb´em seria conexa e, pelo ´ıtem (c) provado anteriormente, Cp = Cp ∪ Cq , ou seja, Cq ⊂ Cp . Analogamente se chegaria a que Cp ⊂ Cq e, por conseguinte, valeria a igualdade Cp = Cq . ¯ S˘ ´ (iii) Obviamente M= Cp : p ∈ M .
Finalmente, se X ´e um subconjunto conexo n˜ ao-vazio de M , ent˜ ao X cont´em um ponto p0 ∈ M e, assim, X ⊂ Cp0 , pelo ´ıtem (b) provado anteriormente. E, se X = ∅, ent˜ ao X est´ a contido em toda componente. Exemplos: a) Seja o espa¸co (M, µ) onde M = [ 0, 1 ] ∪ [ 2, 3 ]. ˘ ¯ Consideremos, por exemplo, o ponto p = 0. Ent˜ ao, A0 = Ai ´e a cole¸c˜ ao dos subconjuntos conexos de M que contˆem 0. Como todo subconjunto conexo na reta ´e um intervalo, pertencem a A0 : { 0 }, Ai = [ 0, i [, 0 < i ≤ 1
Ai = [ 0, i ], 0 < i ≤ 1
Ent˜ ao C0 =
[
0
Ai = [ 0, i [ ∪ [ 0, i ] = [ 0, 1 ].
Observe que C0 = Cp , 0 ≤ p ≤ 1. De modo semelhante concluimos que C2 = [ 2, 3 ]. b) Se um espa¸co ´e conexo ent˜ ao obviamente s´ o h´ a uma componente conexa, que ´e o pr´ oprio espa¸co. Em particular no espa¸co (R, µ), Cp = R, onde p ∈ R pode ser arbitrariamente fixado. c) As componentes conexas do espa¸co (R, δ) s˜ ao subconjuntos unit´ arios de R (ver exemplo 2, pg. 395). De fato, se X ⊂ R ´e um subconjunto n˜ ao vazio e n˜ ao unit´ ario, tomando-se p ∈ X os conjuntos A = X − {p} = 6 ∅ e B = {p} s˜ ao abertos e, al´em do mais, A ∩ B = ∅ e A ∪ B = X. Portanto X ´e desconexo. Por outro lado, todo subconjunto { p } ⊂ R ´e conexo. d) As componentes conexas do espa¸co (Q, µ) dos n´ umeros racionais s˜ ao subconjuntos unit´ arios de Q. De fato, se X ⊂ Q ´e um subconjunto n˜ ao vazio e n˜ ao unit´ ario, tomando-se p, q ∈ X de modo que p < q, seja α um n´ umero racional entre p e q: p < α < q (lembre-se que Q ´e denso no espa¸co (R, µ)). Com raciocinio an´ alogo ao do exemplo 4. pg. 396 podemos mostrar que A =] − ∞, α [ ∩ X e B =] α, +∞ [ ∩ X formam uma desconex˜ ao de X. Como, por outro lado, todo subconjunto unit´ ario de um espa¸co (M, d) ´e conexo, resulta que a cole¸c˜ ao dos subconjuntos unit´ arios de Q ´e a cole¸c˜ ao das componentes deste espa¸co.
435
e) Generalizando o exemplo anterior mostraremos que as componentes conexas de todo espa¸co (M, d) com M enumer´ avel reduzem-se a um u ´nico ponto. Em outras palavras: se (M, d) ´e um espa¸co conexo com mais de um ponto ent˜ ao M n˜ ao pode ser enumer´ avel: 8 > > M ´e conexo; > H1 : < ⇒ T: M n˜ ao ´e enumer´ avel. > H : M tem mais > 2 > : de um ponto. Prova: Com efeito, fixemos a ∈ M e consideremos a fun¸c˜ ao
da : M −→ R
x
x 7−→ d(x, a)
r
a
r b
R
6
(M, d)
r
da
rd(x, a)
⊢0
J´ a vimos∗ que da ´e cont´ınua. Sendo M conexo ent˜ ao ` ´ ˘ ¯ da M = d(x, a) : x ∈ M = J
´e um intervalo. Como existe em M um ponto umeros ` ´ b 6= a, J cont´em os n´ ao ´e um intervalo degenerado, 0 = d(a, a) e d(a, b) > 0. Portanto J = da M n˜ isto ´e, ´e n˜ ao enumer´ avel. Por conseguinte, M tamb´em n˜ ao ´e enumer´ avel.
Vejamos esta proposi¸c˜ ao sob outros ˆ angulos:
¯2 H1 ∧ T¯ −→ H Isto ´e, se M ´e conexo e enumer´ avel ent˜ ao M n˜ ao tem mais de um ponto. Logo, os u ´nicos conjuntos conexos enumer´ aveis s˜ ao os unit´ arios. ¯1 H2 ∧ T¯ −→ H Se M tem mais de um ponto e ´e enumer´ avel ent˜ ao M n˜ ao ´e conexo. Daqui conclui-se que as componentes conexas de todo conjunto enumer´ avel s˜ ao conjuntos unit´ arios. De fato, se uma componente conexa tiver dois elementos, digamos {a, b}, como cada conjunto unit´ ario ´e conexo ent˜ ao ˘ ¯ ˘ ¯ a, b ∩ a 6= ∅
a intersec¸c˜ ao de duas componentes conexas n˜ ao seria ¯ ˘ vazia. ao os conjuntos Em particular as componentes conexas de M = 0, 1, 21 , 31 , . . . s˜ conexos ˘1¯ C0 = { 0 }, Cn = (n = 1, 2, 3, . . .) n − O conjunto de Cantor ´e construido assim: dividimos o intervalo [ 0, 1 ] em trˆes partes iguais e removemos o intervalo aberto do meio, ( 31 , 13 ). Agora ficamos com dois intervalos fechados, I11 e I12 ; em cada um destes intervalos repetimos a mesma opera¸c˜ ao, removendo os intervalos (abertos) do meio. Isto nos deixa com quatro intervalos fechados, I21 , I22 , I23 e I24 (veja figuras a seguir). Deste modo prosseguimos indefinidamente. O conjunto C de Cantor ´e o conjunto dos pontos n˜ ao removidos. ∗ Exemplo
(iv), pg. 329
436
0
1
⊢
⊣ 1 3
0
⊢ 1 9
0
⊢ 0
2 3
⊣
⊣ 1 2 27 27
⊢ ⊣
1 9
⊢ ⊣
2 9
2 9
⊣ 7 8 27 27
⊢ ⊣
⊣
2 3
1 3
⊢
1
⊢ 7 9
⊢
1 3
2 3
⊢ ⊣
⊣ 19 20 27 27
⊢ ⊣
7 9
⊢ ⊣
8 9
1
⊢ 8 9
⊣ 25 26 27 27
⊢ ⊣
1
⊢ ⊣
Para referˆencia futura destacamos que o conjunto de Cantor ´e um subconjunto fechado do espa¸co ([ 0, 1 ], µ). De fato, como cada intervalo aberto retirado de [ 0, 1 ], na constru¸c˜ ao, ´e um conjunto aberto em (R, µ), e tamb´em em ([ 0, 1 ], µ) (ver proposi¸c˜ ao 48, pg. 260) para construir o conjunto de Cantor foi retirado de [ 0, 1 ] uma reuni˜ ao de conjuntos abertos, que ´e por sua vez um conjunto aberto (propo. 47, pg. 259) tanto em (R, µ), como tamb´em em ([ 0, 1 ], µ). Logo, o conjunto de Cantor ´e complementar de um aberto, portanto fechado.
437
Apˆ endice: Topologia quˆ antica Os f´ısicos quˆ anticos afirmam† que: 1a ) Um objeto quˆ antico pode estar em v´ arios lugares simultˆ aneamente; antico pode transitar entre duas regi˜ oes sem passar pelos pon2a ) Um objeto quˆ tos interm´edios (pontos “entre as regi˜ oes”). Para trazer estas assertivas para o campo da matem´ atica precisamos de trˆes defini¸c˜ oes: • (Estar em uma regi~ ao) Diremos que um objeto encontra-se em uma regi˜ ao quando sua distˆ ancia para esta regi˜ ao for nula; • (Transitar) Diremos que um objeto pode transitar entre duas (ou mais) regi˜ oes se existe um caminho ligando este objeto a qualquer ponto destas regi˜ oes. • (Transitar sem passar por pontos interm´ edios) Diremos que um objeto transita (ou pode transitar) entre duas regi˜ oes disjuntas − sem passar por pontos interm´edios − quando existe um caminho ligando este ponto a qualquer outro ponto destas regi˜ oes e, caminho este, totalmente contido nestas regi˜ oes. A plausibilidade matem´ atica da primeira assertiva acima foi provada no cap´ıtulo 5. Se todos estamos de acordo com estas defini¸c˜ oes ent˜ ao decorre, como um corol´ ario do teorema 7 (pg. 418), que: Um ponto topol´ ogico pode transitar entre duas regi˜ oes sem passar pelos pontos interm´edios∗ . Se um ponto topol´ ogico (matem´ atico) que ´e um ente sem dimens˜ ao est´ a sujeito a estas propriedades com mais raz˜ ao ainda isto pode se verificar no caso de um ponto quˆ antico (um objeto real, por assim dizer). N˜ ao h´ a, por´ em, como discernir o que ´ e real no universo sem uma teoria. Assumo por isso o ponto de vista, j´ a qualificado de simpl´ orio ou ingˆ enuo, de que uma teoria da f´ısica ´ e nada mais nada menos que um modelo matem´ atico que usamos para expressar o resultado de observa¸ co ˜es. Uma teoria ´ e boa se for um modelo elegante, se descrever uma ampla classe de observa¸ co ˜es, e se previr o resultado de novas observa¸ co ˜es. N˜ ao faz sentido ir al´ em disso, perguntando se ela corresponde a ` realidade, porque, independentemente de uma teoria, n˜ ao sabemos o que ´ e a realidade. (grifo nosso) (Stephen Hawking/Buracos Negros, Universos-Bebˆ es/Rocco)
Supercordas Estribados em nosso teorema conjecturamos que se no mundo subatˆ omico da f´ısica quˆ antica um objeto pode estar em v´ arios lugares simultˆ aneamente e, ademais, pode transitar em v´ arias regi˜ oes − disjuntas − sem passar por pontos interm´edios, s´ o pode ser em raz˜ ao de que o microcosmo tal como o macrocosmo (da teoria da gravita¸c˜ ao de Einstein) ´e curvo! Ou ainda: a geometria do submundo quˆ antico n˜ ao ´e euclidiana (plana) mas sim curva, tal como a geometria de Einstein. Pergunto: n˜ ao ´e precisamente isto que a teoria f´ısica das supercordas conjectura ao afirmar a respeito das “microdimens˜ oes enroladas”? ´ poss´ıvel que aqui resida o quid que falta para a unifica¸c˜ E ao da teoria quˆ antica com a gravita¸c˜ ao: o universo subatˆ omico ´e curvo, ou ainda: deve existir uma u ´nica geometria (m´etrica) que unifica ambos os dom´ınios! Penso que esta conjectura encontra respaldo em nosso teorema! † Ou
∗ Um
conjecturam, desconhe¸co se h´ a consenso. ` ´ ponto topol´ ogico ´ e um ponto do espa¸co topol´ ogico [ 0, 1[ n , kn .
438
Nosso universo e fenˆ omenos n˜ ao-locais Introdu¸ c~ ao: Einstein, em 1905, publica numa revista cient´ıfica alem˜ a o trabalho intitulado “Sobre a eletrodinˆ amica dos corpos em movimento”, este trabalho se desenvolveu alicer¸cado sobre dois postulados (afirma¸c˜ oes aceitas como v´ alidas, sem necessidade de demonstra¸c˜ oes). O primeiro destes postulados foi chamado por Einstein de Princ´ıpio da relatividade: Postulado 1: As leis da f´ısica s˜ ao as mesmas para todos os referenciais inercias. Postulado 2: A velocidade da luz no v´ acuo tem o mesmo valor c em qualquer referencial inercial, independentemente da velocidade da fonte de luz. Este segundo postulado foi o mais dif´ıcil de ser aceito, mesmo por f´ısicos famosos, pois contraria nossa experiˆencia di´ aria (o “bom senso”). Alguns fenˆ omenos na f´ısica quˆ antica parecem violar o segundo postulado da teoria da relatividade de Einstein. Na referˆencia [14], lemos: -
A defesa de uma n˜ ao-localidade no n´ıvel das potencialidades parece trazer problemas agudos
com rela¸ ca ˜o a ` Teoria da Relatividade Restrita. Ser´ a que a viola¸ ca ˜o da independˆ encia de resultados pode ser vista como uma influˆ encia causal entre eventos microsc´ opicos ou vari´ aveis ocultas? Se dermos primazia a ` Relatividade Restrita, nossa conclus˜ ao ser´ a que n˜ ao, pois segundo esta teoria nenhuma influˆ encia causal (ou transmiss˜ ao de informa¸ ca ˜o) pode se dar a uma velocidade igual ou superior a ` da luz no v´ acuo [. . .].
Acredito que em nosso Universo ([ 0, 1 [, k) podemos resolver este paradoxo. O problema todo que impede de interpretar-mos a “n˜ ao-localidade” ´e que somos v´ıtimas de uma “mente euclidiana”, digo, ami´ ude, estamos tentando ver (explicar) os fenˆ omenos presos a um modelo “linear” de tempo e espa¸co. Inicialmente vamos argumentar no sentido de mostrar que esta vis˜ ao euclidiana, arraigada em nosso psicol´ ogico (mente), pode f´ acilmente nos induzir ao erro; digo, podemos − inadvertidamente − concluir que em nosso universo a informa¸c˜ ao viaja com velocidade superior ` a da luz (isto ´e, contraria o segundo postulado de Einstein). De fato, retomemos o sistema (unidimensional) analisado anteriormente (o qual repetimos aqui para comodidade do leitor): 1
r
λ1
0 0
2 3
1
Aqui, no instante t = 0 a imagem da ponta do l´ apis encontra-se na origem, 0, do sistema X. Um “infinit´esimo” de tempo depois esta mesma imagem encontra-se no outro extremo do intervalo, assim: 1
↑
r
λ1
0 0
← 2 3
1
Enfatizamos: Em t = 0 a ponta do l´ apis encontra-se no 0 do intervalo [ 0, 1 ], sua imagem encontra-se no 0 de X; qualquer δ > 0 de deslocamento que se dˆe no l´ apis (n˜ ao importa qu˜ ao pequeno seja), sua imagem aparece “instantˆ aneamente” do outro lado do intervalo! Daqui podemos concluir que em nosso sistema a informa¸c˜ ao pode viajar com velocidade (muito) superior ` a da luz. Na verdade instantˆ aneamente:
439
Considerando um deslocamento ∆ s = 1 (da imagem da ponta do l´ apis), temos: v = lim
∆ t→0
∆s 1 = lim = +∞ ∆ t→0 ∆ t ∆t
Vejamos o fenˆ omeno acima em duas dimens˜ oes, consideremos o sistema a seguir,
s
(0, 1)
2) (0, 3
1
p
↑
f ∨g
s
s
s
1 , 1) (3
s( 31 , 23 )=f (0) s
g(1)=( 2 , 1) 3 3 ց
s
0
↑
s
s
s
s
(1, 0)
f (1/2) =(0, 0) =g(1/2)
em t = 0 a`ponta apis encontra-se no 0 do intervalo [ 0, 1 ], sua imagem encontra-se ´ do l´ no ponto 31 , 23 ; ` a medida que deslocamos a ponta do l´ apis (t cresce) sua imagem vai tra¸cando a diagonal do (sub)quadrado (superior) rumo ao “v´ertice” (0, 1) do quadrado. Quando a ponta do l´ apis atingi a metade do intervalo sua imagem aparece “instantˆ aneamente” na origem do quadrado! A partir deste instante (digo, t = 1/2) qualquer δ > 0 de deslocamento que se dˆe no l´ apis (n˜ ao importa qu˜ ao pequeno seja), sua imagem aparece “instantˆ aneamente” no (sub)quadrado ` a direita! Nunca ´e demais lembrar que o caminho justaposto h ´e cont´ınuo, n˜ ao houve nenhum “salto”. − Chego ` a conclus˜ ao de que para avan¸carmos ainda mais na ciˆencia (interpreta¸c˜ ao, fundamentos) teremos que, paulatinamente, ir nos libertando das informa¸c˜ oes que nos s˜ ao transmitidas pelos sentidos, notadamente pela vis˜ ao − haja vista o nosso pr´ oprio teorema 7 (pg. 418): a vis˜ ao nos diz que ali n˜ ao podemos ter um conjunto conexo por caminhos, a l´ ogica nos diz o contr´ ario. Entre os sentidos e a l´ ogica, fico com esta u ´ltima! Ao concluir, a partir dos argumentos anteriores, que a informa¸c˜ ao pode viajar instantˆ aneamente; novamente fomos ludibriados pelo sentido da vis˜ ao. Veremos que, estribados na l´ ogica, podemos ver diversamente (isto ´e, de um novo ˆ angulo) os fenˆ omenos anteriores. De fato, nosso pr´ oximo desiderato ser´ a compreender por que raz˜ ao fomos enganados no sentido de imaginar que em nosso “universo divino” a informa¸c˜ ao pode viajar instantˆ aneamente. Tudo come¸ca em raz˜ ao de que nosso universo∗ ´e conexo (por caminhos). E por que nosso universo ´e conexo? Porque 0 ´e aderente a Y = [ 2/3, 1 [, e por que 0 ´e aderente a Y ? Porque toda onda, digo, toda bola de centro 0 intercepta Y . Ver Conclus˜ ao: Em nosso universo o fenˆ omeno da n˜ ao-localidade† se deve a que a onda de centro em 0 tem uma contra-parte no outro extremo do sistema, veja: 1
↑
r )
λ1
0 0
∗ No
|
{z
) Bk (0; r< 1 2
← ( }
1
presente contexto, universo: ({ 0 } ∪ [ 2/3, 1 [, k). a imagem da ponta do l´ apis mover-se “instˆ aneamente” de uma extremidade a ` outra do sistema. † Digo,
440
Ent˜ ao, esta onda que encontra-se de um extremo ao outro (de nosso universo) ´e que carrega (transfere) a informa¸c˜ ao. Insistimos, ´e por causa desta onda que a informa¸c˜ ao ´e transmitida de modo cont´ınuo, digo a continuidade de λ1 se deve ` a esta bola, veja (pg. 424):
2 3
0
sε
)
sε
)
δ
1− ε 2 3
λ1
)
)
λ1 δ
1
1− ε
(
(
1
0
Na figura da esquerda a ponta do l´ apis aponta para a origem do intervalo ( t = 0 ), sua imagem aponta para o 0 do conjunto (isto ´e, λ1 (0) = 0). Na figura da direita movemos a ponta do l´ apis de um “infinit´esimo” , a continuidade de λ1 exige que a imagem da ponta (seta em azul) caia dentro da bola Bk (0; ε); ora, como a aplica¸c˜ ao λ1 ´e injetiva a imagem n˜ ao pode cair na “parte inferior” da bola, ent˜ ao ter´ a que cair na “parte superior”, isto ´e, no outro extremo de X. Vimos (pg. 441) que, 0 < t < δ ⇒ 1 − ε < λ1 (t) < 1 ´ poss´ıvel que os f´ısicos estejam sendo ludibriados pelo sentido da vis˜ −E ao Vamos expor o que dissemos anteriormente de uma nova perspectiva (matem´ atica). No que diz respeito aos fenˆ omenos de a¸c˜ ao ` a distˆ ancia ´e poss´ıvel que os f´ısicos estejam sendo v´ıtimas da vista corp´ orea. De fato, a “vista espiritual” (intelecto, l´ ogica) pode nos mostrar algo diverso daquilo que a vis˜ ao ordin´ aria nos mostra‡ . Estou, a respeito da n˜ ao-localidade, conjecturando que toda aquela distˆ ancia que os cientistas vˆeem entre as partes do sistema n˜ ao existe! (ou ainda: ´e nula!) Como uma distˆ ancia que os nossos olhos carnais seguramente vˆeem ainda assim pode ser nula? Respondo, ´e simples, (re)veja a figura a seguir:
s
a distˆ ancia entre a origem e as demais partes do sistema, n˜ ao existe! ´e nula, como j´ a ´ que o ponto ´e aderente provamos.∗ E qual a raz˜ ao para a nulidade destas distˆ ancia? E aos trˆes conjuntos (ver proposi¸c˜ ao 63, pg. 278). Vamos tentar ligar esta conclus˜ ao ` a situa¸c˜ ao f´ısica em si: Por que o ponto ´e aderoes, esta ´e a raz˜ ao ente? Porque toda onda (bola) de centro no ponto intercepta as regi˜ para que a distˆ ancia seja nula, conforme mostramos na proposi¸c˜ ao 73 (pg. 300). ‡ Para se convencer disto basta rever o enunciado do teorema 7. A raz˜ ao ´ e que tudo na Natureza incorpora um software e este n˜ ao pode ser detectado pela “vista” ou mesmo por instrumentos especiais, apenas pela matem´ atica, ´ e o que mostramos em nosso trabalho. ∗ A distˆ ancia divina, bem entendido; a euclidiana existe sim. Acontece que o sistema pode muito bem estar programado, digo, funcionando segundo a m´ etrica k2 .
441
Conclus˜ ao: Conjecturamos que toda aquela distˆ ancia, entre as partes do sistema, que os cientistas vˆeem nos fenˆ omenos de a¸c˜ ao ` a distˆ ancia, n˜ ao existe, ´e nula! Dos argumentos anteriores podemos concluir que esta distˆ ancia ´e nula porque existem ondas ligando as partes do sistema; ou seja, a distˆ ancia existe para a vista c´ orporea mas, na verdade, inexiste por conta de que as partes do sistema est˜ ao conectadas por ondas. Em sendo assim, enfatizo, o teorema 73 nos garante que esta distˆ ancia ´e nula (n˜ ao importa qu˜ ao grande seja a distˆ ancia euclidiana, isto ´e, a que nossos olhos testemunham). Com uma distˆ ancia nula n˜ ao ´e necess´ ario que a informa¸c˜ ao se desloque com velocidade superluminal! E assim pretendemos ter contribuido para reconciliar os fenˆ omenos de a¸c˜ ao ` a distˆ ancia com o segundo postulado de Einstein. Adendo: Ao dar cr´edito ` a vis˜ ao concluimos que a informa¸c˜ ao pode viajar com velocidade superluminal (na verdade instantˆ aneamente), a l´ ogica nos patenteou uma interpreta¸c˜ ao alternativa: tudo se deve a que a onda Bk (0; r), embora conexa, tem duas partes disjuntas, uma delas no outro extremo do sistema. − Reitero: Temos duas alternativas: pela m´etrica (topologia, vis˜ ao) euclidiana podemos interpretar nosso fenˆ omeno como sendo instantˆ aneo; pela topologia kn surge uma nova interpreta¸c˜ ao: O fenˆ omeno se deve a uma onda com partes disjuntas, por´em conexa! ´ − Obviamente que em nosso universo devemos optar pela segunda alternativa acima. Devo esclarecer um outro ponto. Sou dos que acreditam que no nosso Universo as informa¸c˜ oes n˜ ao est˜ ao limitadas pela velocidade da luz, como preconiza o segundo postulado de Einstein; creio na realidade das ondas superluminais sem nenhum “artif´ıcio”− embora n˜ ao seja necess´ ario em nosso sistema apelar a este recurso para justificarmos fenˆ omenos “n˜ ao-locais” como o da “ponta do l´ apis”. O desiderato desta exegese ´e apontar um poss´ıvel caminho para os f´ısicos lidarem com seus paradoxos da n˜ ao-localidade. Quem sabe l´ a n˜ ao se resolva o paradoxo de forma similar (ou algo como a “curvatura” do espa¸co). Por oportuno, enfatizo que em todas as minhas incurs˜ oes na f´ısica n˜ ao fa¸co outra coisa sen˜ ao isto: apontar caminhos a serem investigados pelos f´ısicos; apenas desejo − secundado pela l´ ogica-matem´ atica − disponibilizar meios, ferramentas, no sentido de colaborar; meditem sobre minhas sugest˜ oes, se h´ a algo que se possa aproveitar ´ otimo, se n˜ ao . . . desculpo-me por tomarlhes o tempo. De outro modo: procedo como um matem´ atico que, atrav´es de c´ alculos matem´ aticos, delimita uma regi˜ ao do espa¸co de prov´ avel existˆencia de um planeta; ele comunica seu resultado a um astrˆ onomo, cabe a este assestar seu telesc´ opio e vasculhar a regi˜ ao sugerida pelos c´ alculos matem´ aticos. Assim, pretendo com meus teoremas e corol´ arios delimitar aos f´ısicos uma regi˜ ao (caminho) de investiga¸c˜ ao . . . apontem seus “telesc´ opios”. O que me instiga a d´ a sugest˜ oes (palpites, se acharem melhor) em uma ´ area que n˜ ao ´e a minha ´e apenas − e t˜ ao s´ omente − uma f´e demasiada nas estruturas matem´ aticas como int´erpretes idˆ oneas da Natureza. E, digo mesmo, a partir da experiˆencia acumulada com o teorema 7 agora ´e que tenho sobejas raz˜ oes para desconfiar dos sentidos (e instrumentos, por mais precisos que sejam) e d´ a cada vez mais cr´edito ao que as estruturas matem´ aticas me fazem “ver”. A prop´ osito, antes de atinar com a demonstra¸c˜ ao do referido teorema, trabalhei exaustivamente durante dois dias tentando demonstrar o seu contr´ ario, isto ´e, que o sistema n˜ ao era conexo por caminhos. A minha confian¸ca no que a vis˜ ao me patenteava era tanta que at´e cheguei, em certa ocasi˜ ao, a “provar” minha cren¸ca . . . posteriormente detectei uma falha em meus argumentos. Numa atitude de quase desespero decidi “fechar os olhos”; digo, ir contra o que os meus olhos me mostravam e, por fim, conclui (provei) que ˆeles de fato me haviam cegado.
442
Deveras, sinto um certo deleite em ser o primeiro matem´ atico a construir um conjunto, com partes disjuntas, e mesmo assim conexo por caminhos! “O prazer ´e apenas um artif´ıcio imaginado pela natureza para obter do ser vivo a conserva¸ ca ˜o da vida; mas n˜ ao indica a dire¸ ca ˜o em que a vida ´ e lan¸ cada. J´ a o deleite anuncia sempre que a vida teve ˆ exito, que ganhou terreno, que alcan¸ cou uma vit´ oria: todo deleite tem um acento triunfal.” Bergson (em A Energia Espiritual)
O nosso universo ( [ 0, 1 [, k ) como modelo para o nosso Universo J´ a provamos que em nosso universo podemos justificar matem´ aticamente alguns fenˆ omenos da f´ısica quˆ antica. Animados por estes resultados ´e que, ousamos, propor nosso universo como um modelo para o nosso Universo (digo, nosso Universo de verdade!). Observe que vou argumentar com um universo unidimensional, no caso ( M = [ 0, 1 [, k ), apenas por raz˜ oes did´ aticas, isto ´e, para facilitar minha exposi¸c˜ ao e, concomitantemente, facilitar o entendimento do leitor − haja vista que meus argumentos podem f´ acilmente ser transferidos para qualquer dimens˜ ao, digo, para o universo: ( [ 0, 1 [ n , kn ). − Inicialmente observo que nosso universo comporta at´e o modelo te´ orico do bigbang, assim:
0
1 M
↑ -Origem -Singularidade -Big-bang
-Expans˜ ao
↑ -Fronteira
Vejam algumas das propriedades do nosso universo: − Limitado;
− Conexo por caminhos; − Compacto† ;
− “Curvo” (por conta de sua m´etrica, onda, topologia); − Fronteira aberta; − Em Expans˜ ao.
Nota: Com expans˜ ao, quero dizer que nosso universo (intervalo) pode ser expandido (ou “dilatado”) ` a vontade e ainda assim manter´ a suas propriedades topol´ ogicas. Nosso universo est´ a “normalizado”. − Como j´ a vimos, em nosso universo (Universo) podemos at´e justificar fenˆ omenos n˜ ao-locais (“instantˆ aneos”), da f´ısica quˆ antica, por conta da onda de centro na origem, lembramos: †A
ser provado no u ´ltimo cap´ıtulo.
443
1
↑
r )
λ1
0 0
|
{z
Bk (0; r< 1 ) 2
← ( }
1
Para fazer uma ponte, ou ainda, estabelecer um caminho entre nosso modelo te´ orico e nosso Universo ´e que terei que levantar uma conjectura, qual seja: “No big-bang (origem do nosso Universo) foi gerada uma onda e esta onda conecta a origem com sua fronteira”. Logo, por conta desta onda ´e que podemos explicar fenˆ omenos n˜ ao-locais da f´ısica; igualmente como se d´ a em nosso modelo te´ orico. Observemos esta onda em nosso modelo bidimensional:
s
s
sr
Admitindo nossa onda como um modelo para a “onda primordial” (digo, a onda gerada no big-bang) podemos dizer que esta (onda) ´e conexa por caminhos, ou ainda: conecta (por caminhos) todo o Universo. Insisto: Esta Onda (primordial) ´e quem transmite informa¸c˜ oes “instantˆ aneas” ` as diversas partes do nosso Universo que, volto a lembrar, ´e conexo! (por caminhos, justamente por conta desta Onda). Observe que nosso modelo nos permite fazer algumas previs˜ oes interessantes (surpreendentes) tais como: suponhamos que em nosso Universo surjam alguns “buracos negros” (t´ uneis, hiatos, etc.) tais como,
1
1
⇒
[ 0, 1 [ × [ 0, 1 [
0
1
0
1
N˜ ao h´ a o menor problema pois todas as partes remanescentes continuam interagindo entre si (continuam intercomunicantes); digo: a informa¸c˜ ao pode transitar livremente entre os “peda¸cos” de nosso Universo; ou ainda: um objeto (ponto) pode transitar livremente entre as partes. Isto se deve a que nosso universo mutilado continua conexo por caminhos e, esta conexidade se deve ` a Onda, veja:
444
1
s
0
1
Observe que conseguimos colocar nosso Universo em uma casca de noz: [ 0, 1 [. Como diria Stephen Hawking. − Adendo: Dissemos anteriormente que nosso modelo, [ 0, 1 [ n , para o Universo ´e limitado, daqui segue-se que estou postulando (conjecturando) que nosso Universo ´e limitado. Penso que aqui cabe um esclarecimento: O “Universo informacional”∗ ´e que ´e limitado; com este conceito me refiro ao Universo tomado pela frente da onda promordial† , que encontra-se em expans˜ ao; agora, ´ obviamente que esta expans˜ ao deve d´ ar-se em “algo”; este “algo” podemos conceber como sendo o “vazio infinito”. Pontuando (resumindo): O Universo limitado refere-se ` aquele alcan¸cado pela frente da onda primordial. A “fronteira do Universo” refere-se ` a frente da onda primordial. “Tendo ouvido algu´em ler num livro, cujo autor era Anax´ agoras, que ´ e o esp´ırito que ´ e o organizador e a causa de todas as coisas, a id´ eia dessa causa encantou-me, e pareceu-me que era de certa forma perfeito que o esp´ırito fosse a causa de tudo” (S´ocrates/F´edon, 97 b)
∗ Universo
onde transita a “informa¸ca ˜o primordial”. no big-bang, lembramos.
† Originada
445
446
Cap´ıtulo
9
´ ESPAC ¸ OS METRICOS COMPLETOS “O
homem ´ e o art´ıfice
de seu destino: tem de arrostar o esfor¸ co de criar a si mesmo.” (Pietro Ubaldi)
Introdu¸ c˜ ao: Em An´ alise Real aprendemos que R ´e um corpo ordenado completo. Muitos resultados importantes, como por exemplo teoremas de existˆencia dependem da completeza de R. Como uma modesta amostra podemos provar que em R existe solu¸c˜ ao para a equa¸c˜ ao x2 = 2. Desejamos estender para espa¸cos m´etricos em geral o importante conceito de comalise aprendemos que R ´e completo porque nele vale a propriedade (ou pleteza. Na An´ axioma) do supremo: “Se A ⊂ R ´e n˜ ao-vazio e majorado, ent˜ ao A tem supremo”. Acontece que para se definir supremo necessitamos de uma ordem (ver pg. 64), como num espa¸co m´etrico arbitr´ ario n˜ ao contamos com uma ordena¸c˜ ao entre seus elementos segue que n˜ ao podemos usar o axioma do supremo para definir espa¸co m´etrico completo, tal como ocorre no corpo ordenado R. A n˜ ao ser que exista uma outra caracteriza¸c˜ ao de completeza suscet´ıvel de generaliza¸c˜ ao para os espa¸cos m´etricos. Felizmente existe uma tal caracteriza¸c˜ ao, via seq¨ uˆencias de Cauchy, portanto:
9.1
Seq¨ uˆ encias de Cauchy
Defini¸ c˜ ao 62 (Seq¨ uˆencias de Cauchy). Seja (xn ) uma seq¨ uˆencia num espa¸co m´etrico (M, d). Diremos que (xn ) ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy se dado ε > 0 existir um ´ındice n0 tal que ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(xm , xn ) < ε. A seguir escrevemos em s´ımbolos a defini¸c˜ ao anterior e sua nega¸c˜ ao:
∀ ε>0
∃ : ∀ (m, n ≥ n0 ) ⇒ d(xm , xn )< ε n0 ∈N m, n∈N
∃ : ∀ ε>0 n0 ∈N
∃ (m, n ≥ n0 ) ∧ d(xm , xn )≥ ε m, n∈N
447
• De imediato inferimos que se (N, d) ´e um subespa¸co de (M, d), uma seq¨ uˆencia ( xn ) de pontos de N ´e de Cauchy em (N, d) se, e somente se, ´e de Cauchy em (M, d). Proposi¸ c˜ ao 112. Se (xn ) ´e uma seq¨ uˆencia convergente num espa¸co m´etrico (M, d) ent˜ ao (xn ) ´e de Cauchy. Prova: Consideremos (xn ) uma seq¨ uˆencia convergente em um espa¸co m´etrico (M, d). Seja lim xn = a. Ent˜ ao dado ε > 0 existe n0 tal que d(xn , a) < ε2 para todo n ≥ n0 . Logo, para m, n ≥ n0 temos d(xm , xn ) ≤ d(xm , a) + d(a, xn ) <
ε ε + =ε 2 2
ent˜ ao, m, n ≥ n0 =⇒ d(xm , xn ) < ε.
Sendo assim, obtivemos uma condi¸c˜ ao sobre os termos da seq¨ uˆencia na qual n˜ ao interv´em o limite a. Intuitivamente essa condi¸c˜ ao nos mostra que se uma seq¨ uˆencia (xn ) ´e convergente ent˜ ao, para ´ındices suficientemente grandes, seus termos aproximam-se arbitrariamente um dos outros. ´ o caso, por exemplo, da seq¨ E uˆencia dada por xn = 1 , no espa¸co (R, µ). n
⊢ 0
qqq q q ··· q q xq 4 xq 3
q
x2
q
x1
-R
1
Aqui se faz oportuna a quest˜ ao de saber se toda seq¨ uˆencia de Cauchy converge. A resposta ´e pela negativa. H´ a casos em que uma seq¨ uˆencia de Cauchy em (M, d) n˜ ao converge por “culpa” do conjunto M e outras vezes por “culpa” da m´etrica d. Vamos exemplificar estas duas possibilidades: (a) Consideremos a seq¨ uˆencia dada por xn = n1 e os espa¸cos (R, µ) e ( ] 0, 1 ], µ). Esta seq¨ uˆencia converge para 0 no primeiro destes espa¸cos, portanto ´e de Cauchy − tanto no espa¸co quanto no subespa¸co. Se (xn ) convergisse no espa¸co ( ] 0, 1 ], µ), ent˜ ao iria convergir para um ponto 0 < p ≤ 1; sendo ] 0, 1 ] ⊂ R teriamos a unicidade do limite contraditada. Logo (xn ) n˜ ao converge em ( ] 0, 1 ], µ). (b) Consideremos a seq¨ uˆencia dada por xn = 1 − n1 e os espa¸cos ( [ 0, 1 [, k) e ( [ 0, 1 [, µ). Esta seq¨ uˆencia converge para 0 no primeiro destes espa¸cos, portanto ´e de Cauchy. A prova de que ´e de Cauchy no segundo destes espa¸cos, ´e an´ aloga ` a prova feita em (a). Se (xn ) convergisse no espa¸co ( [ 0, 1 [, µ), ent˜ ao iria convergir para um ponto 0 ≤ p < 1; sendo [ 0, 1 [ ⊂ R teriamos a unicidade do limite contraditada. Logo (xn ) n˜ ao converge em ( [ 0, 1 [, µ). Proposi¸ c˜ ao 113. Sendo M um conjunto arbitr´ ario, qualquer seq¨ uˆencia de Cauchy converge no espa¸co (M, δ). Prova: De fato, se (xn ) ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy no espa¸co (M, δ), ent˜ ao para ε = 1 existe um ´ındice n0 de maneira que: ∀ m, n ≥ n0 ⇒ δ(xm , xn ) < 1 Logo, ∀ m, n ≥ n0 ⇒ xm = xn
ou seja, toda seq¨ uˆencia de Cauchy no espa¸co (M, δ) ´e constante a partir de uma certa ordem, portanto converge para o termo que se repete. Nota: N˜ ao ´e verdade que sendo (M, d) discreto qualquer seq¨ uˆencia de Cauchy seja convergente. Por exemplo, tome M = { n1 : n ∈ N } com a m´etrica usual.
Vimos (prop. 41, pg. 244) que se uma seq¨ uˆencia, em um espa¸co vetorial normado, ´e convergente ent˜ ao existe uma bola de centro no vetor nulo que cont´em todos os termos da seq¨ uˆencia. Veremos agora que as seq¨ uˆencias de Cauchy tamb´em gozam desta propriedade.
448
` ´ Proposi¸ c˜ ao 114. Seja (xn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy em um espa¸co vetorial E, +, · normado. Ent˜ ao existe uma bola de centro no vetor nulo que cont´em todos os termos da seq¨ uˆencia. Prova: Inicialmente observemos que B(0; r) = {x ∈ E : d(x, 0) < r}
= {x ∈ E : kx − 0k < r} = {x ∈ E : kxk < r}
Sendo assim devemos encontrar um raio r de tal modo que todos os termos da seq¨ uˆencia satisfa¸cam: kxn k < r. Por hip´ otese (xn ) ´e de Cauchy, logo tomando ε = 1 existe um ´ındice n0 tal que m, n ≥ n0 ⇒ d(xn , xm ) = kxn − xm k < 1. Sendo kxn − xm k < 1, ∀ m, n ≥ n0 ; fixemos m = n0 , ent˜ ao kxn − xn k < 1, ∀ n ≥ n0 .
(9.1)
kxn k = kxn − xn0 + xn0 k ≤ kxn − xn0 k + kxn0 k
(9.2)
0
Mas, De (9.1) temos, ∀ n ≥ n0 , kxn − xn k < 1 ⇒ kxn − xn k + kxn k < 1 + kxn k 0
0
0
0
este resultado em (9.2) resulta: kxn k < 1 + kxn0 k, ∀ n ≥ n0 .
Esta desigualdade est´ a a nos dizer que todos os termos da seq¨ uˆencia (xn ), com ´ındices iguais ou superiores a n0 , est˜ ao dentro da bola de centro no vetor nulo e raio r ′ = 1 + kxn0 k. Para que possamos incluir os termos restantes: x1 , x2 , . . . , xn −1 , 0 escolhamos qualquer ˘ ¯ r > max kx1 k, kx2 k, . . . , kxn −1 k, 1 + kxn0 k (9.3) 0
Sendo assim temos,
kx1 k < r, kx2 k < r, . . . , kxn
0 −1
k < r, e
kxn k < 1 + kxn k < r, ∀ n ≥ n0 . 0
Portanto temos, kxn k < r, ∀ n ∈ N.
Sendo assim o raio escolhido em (9.3) consegue incluir todos os termos da seq¨ uˆencia (xn ) em uma bola de centro no vetor nulo. Observe que a diferen¸ca desta proposi¸c˜ ao para aquela em que a seq¨ uˆencia converge (prop. 41, pg. 244) ´e que na presente demonstra¸c˜ ao n˜ ao interv´em o limite da seq¨ uˆencia; ou ainda; n˜ ao exigimos que a seq¨ uˆencia seja convergente, T˜ ao somente que seja de Cauchy. Seria instrutivo concretizarmos a demonstra¸c˜ ao anterior com um exemplo espec´ıfico. Consideremos o espa¸co vetorial normado ` 2 ´ R , k · k onde k(x, y)k = max{ |x|, |y| } ` ´ e a seq¨ uˆencia (xn ) dada por xn = 1 − n1 , 2 − n2 . Esta seq¨ uˆencia ´e convergente, portanto ´e de Cauchy. Seguindo os passos da demonstra¸c˜ ao anterior vamos encontrar um raio r que inclua todos os termos da seq¨ uˆencia em uma bola centrada no vetor nulo. Para ε = 1 a partir
449
de que ´ındice n0 teremos d(xn , xm ) = kxn − xm k < 1? Sendo,
xn = temos,
„ « „ « 1 2 2 1 1− , 2− , xm = 1 − , 2 − n n m m „ « 2 1 − 1− , 2− m m « „ 1 2 2 1 = − + ,− + n m n m
xn − xm =
„
1−
2 1 , 2− n n
«
portanto, ˛ 1 kxn − xm k = max ˛ − + n ˛ 1 = max ˛ − + n ˛ 1 1˛ = 2˛ − + ˛. n m
Temos,
1 ˛˛ ˛˛ 2 2˛ , − + ˛ m n m
ff
ff 1 ˛˛ ˛˛ 1 1 ˛˛ ,2 − + m n m
˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ ˛1 ˛ − 1 ˛ ≤ ˛ 1 ˛ + ˛− 1 ˛ = 1 + 1 ˛m n˛ ˛m˛ ˛ n˛ m n
Agora se m, n ≥ n0 , teremos
1 1 1 1 1 1 2 ≤ , ≤ ⇒ + ≤ . m n0 n n0 m n n0 Vamos impor a restri¸c˜ ao
4 n0
< 1. Sendo assim, temos
˛ 1 4 1˛ kxn − xm k = 2˛ − + ˛ ≤ < 1. n m n0
Portanto para quaisquer m, n ≥ n0 = 5 garantimos kxn − xm k < 1. A desigualdade kxn k < 1 + kxn k, ∀ n ≥ n0 0
isto ´e, kxn k < 1 + kx5 k, ∀ n ≥ 5, nos garante que todos os termos da seq¨ uˆencia, a partir uma bola de centro no vetor nulo e raio r ′ = 1 + kx5 k. x5 : « „ „ 2 4 1 , = x5 = 1 − , 2 − 5 5 5 ⇒ kx5 k = max
4 8 , 5 5
ff
=
Portanto, kxn k < 1 +
8 , ∀ n ≥ 5. 5
450
do quinto, est˜ ao incluidos em Calculemos a norma do vetor 8 5
«
8 . 5
Agora tomemos qualquer ˘ ¯ r > max kx1 k, kx2 k, . . . , kx4 k, 1 + kx5 k
Ent˜ ao,
x1 = (0, 0)
⇒
kx1 k = 0
´ x2 = 2 , 1
⇒
kx2 k = 1
⇒
kx3 k =
4 3
⇒
kx4 k =
6 4
x3 = x4 = portanto,
`1
`2 3
`3
4
,
4 3
,
6 4
´ ´
ff 4 6 8 13 r > max 0, 1, , , 1 + = = 2, 6 3 4 5 5 Geometricamente temos,
6
R
2
q
p (1,2) qpq qq xq4
qx2
x 3
(0,0)
`
B (0,0); r
´
qx1
q1
-R
→
Nota: A rec´ıproca desta u ´ltima proposi¸c˜ ao n˜ ao vale: se todos os termos de uma seq¨ uˆencia est˜ ao incluidos em uma bola com centro na origem, n˜ ao implica que a seq¨ uˆencia seja de Cauchy. De fato, todos os termos da seq¨ uˆencia (1, −1, 1, −1, . . .) de pontos de R est˜ ao contidos na bola Bµ (0; 2) =] − 2, 2 [, mas esta seq¨ uˆencia n˜ ao ´e de Cauchy, uma vez que se tomarmos ε = 1, para qualquer ´ındice n0 , sempre existir˜ ao ´ındices m, n ≥ n0 tais que d(xm , xn ) = |xm − xn | = 2 > ε. Vimos (proposi¸c˜ ao 37, pg. 213) que toda seq¨ uˆencia convergente ´e limitada. Na proposi¸c˜ ao seguinte mostraremos que as seq¨ uˆencias de Cauchy tamb´em gozam desta propriedade. Proposi¸ c˜ ao 115. Toda seq¨ uˆencia de Cauchy ´e limitada. Prova: Seja (xn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy num espa¸co m´etrico (M, d). Ent˜ ao para ε = 1, existe um ´ındice n0 tal que ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(xn , xm ) < 1
451
fixemos m = n0 , ent˜ ao ∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , xn0 ) < 1 ⇒ xn ∈ B(xn0 ; 1). Fazendo X = {x1 , x2 , . . . , xn
0
−1
}, temos
{x1 , x2 , . . . , xn , . . .} = X ∪ {xn0 , xn
0
+1
, xn
0
+2
, . . .}
⊂ X ∪ B(xn ; 1) 0
Como X ´e limitado por ser finito, resulta que X ∪ B(xn0 ; 1) ´e limitado. Portanto o conjunto dos termos da seq¨ uˆencia ´e limitado. Proposi¸ c˜ ao 116. Seja (xn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy em um espa¸co m´etrico (M, d). Se existe uma subseq¨ uˆencia de (xn ) que converge para p ∈ M , ent˜ ao lim xn = p. Prova: Seja (xn1 , xn2 , . . .) uma subseq¨ uˆencia conforme o enunciado. Ent˜ ao para todo ε > 0, existe um ´ındice nk tal que: ∀ ni ≥ nk =⇒ d(xn , p) < i
ε 2
(9.4)
Por outro lado, sendo (xn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy, existe um ´ındice n0 tal que: ∀ m, n ≥ n0 =⇒ d(xm , xn ) <
ε 2
(9.5)
uˆencia. A desigualdade Consideremos um ponto xn da subseq¨ j
d(xn , p) ≤ d(xn , xn ) + d(xn , p) j
j
´e sempre v´ alida. Gostar´ıamos que fosse d(xn , p) ≤ d(xn , xn ) + d(xn , p) < ε j
j
para isto ´e suficiente que tenhamos d(xn , p) < j
ε ε e d(xn , xn ) < j 2 2
(9.6)
Por (9.4) devemos escolher nj ≥ nk e por (9.5) devemos escolher n ≥ n0 e nj ≥ n0 . A fim de unificar os ´ındices fa¸camos ν = max{n0 , nk }. Logo, para nj ≥ ν e n ≥ ν teremos as desigualdades em (9.6) satisfeitas. Sendo assim, n˜ ao sem algum esfor¸co, conseguimos um ´ındice ν de modo que ∀ n ≥ ν ⇒ d(xn , p) < ε. Isto ´e suficiente para garantir a convergˆecia de (xn ).
Corol´ ario . Se uma seq¨ uˆencia (xn ) em um espa¸co m´etrico (M, d) cont´em duas subseq¨ uˆencias que convergem para pontos diferentes desse espa¸co, ent˜ ao a seq¨ uˆencia n˜ ao ´e de Cauchy. A imagem de uma seq¨ uˆencia de Cauchy por uma aplica¸c˜ ao cont´ınua pode n˜ ao resultar em uma seq¨ uˆencia de Cauchy. Vejamos dois contra-exemplos: (i) A fun¸c˜ ao, 1 f : ] 0, 1 ] → R, dada por f (x) = x ` ´ transforma a seq¨ uˆencia de Cauchy ( n1 ) na seq¨ uˆencia f (1/n) = (1, 2, 3, . . .) que n˜ ao ´e de Cauchy. Nota: Estamos considerando a m´etrica µ tanto no dom´ınio quanto no contradom´ınio de f .
452
(ii) A fun¸c˜ ao, g : ] 0, 1 ] → R, dada por g(x) = cos
„ « 1 x
` ´ 1 transforma a seq¨ uˆencia de Cauchy ( 2nπ ) na seq¨ uˆencia g(1/2nπ) = (1, 1, 1, . . .) que ´e de Cauchy. 1 ) na seq¨ uˆencia fun¸c˜ ao transforma a seq¨ uˆencia de Cauchy ( nπ ` Esta mesma ´ g(1/nπ) = (−1, 1, −1, . . .) que n˜ ao ´e de Cauchy.
Uma aplica¸c˜ ao uniformemente cont´ınua transforma, necess´ ariamente, seq¨ uˆencias de Cauchy em seq¨ uˆencias de Cauchy. Este ´e o conte´ udo da pr´ oxima
Proposi¸ c˜ ao 117. A imagem de uma seq¨ uˆencia de Cauchy por uma aplica¸c˜ ao uniformemente cont´ınua ´e tamb´em uma seq¨ uˆencia de Cauchy. Prova: Suponhamos f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) uniformemente cont´ınua e seja (xn ) uma seq¨ uˆencias de Cauchy em M . Dado ε > 0, existe ent˜ ao δ > 0 tal que (def. 48, pg. 354): ` ´ d1 (x, y) < δ =⇒ d2 f (x), f (y) < ε. Por outro lado, para o δ em quest˜ ao, existe um ´ındice n0 de modo que m, n ≥ n0 =⇒ d1 (xm , xn ) < δ. Por conseguinte
` ´ m, n ≥ n0 =⇒ d2 f (xm ), f (xn ) < δ. ` ´ Isto mostra que a seq¨ uˆencia f (xn ) ´e de Cauchy.
′
Corol´ ario 32. Se d e d s˜ ao m´etricas uniformemente equivalentes sobre M , ent˜ ao as seq¨ uˆencias de Cauchy de (M, d) e (M, d′ ) s˜ ao as mesmas.
Em particular os espa¸cos produtos (M, D1 ), (M, D2 ) e (M, D3 ) (pg. 151) tˆem as mesmas seq¨ uˆencias de Cauchy. Prova: Seja (xn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy de (M, d). Como i : (M, d) →` (M,´d′ ) (onde i indica a aplica¸c˜ ao identidade de M ) ´e uniformemente cont´ınua† , logo i (xn ) = (xn ) ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy de (M, d′ ). Analogamente se prova que toda seq¨ uˆencia de Cauchy de (M, d′ ) tamb´em ´e seq¨ uˆencia de Cauchy de (M, d). Nota: A rec´ıproca desta proposi¸c˜ ao: “se uma aplica¸c˜ ao transforma seq¨ uˆencias de Cauchy em seq¨ uˆencias de Cauchy, ent˜ ao esta aplica¸c˜ ao ´e uniformemente cont´ınua” n˜ ao ´e verdadeira. Para mostrar isto consideremos a fun¸c˜ ao f : R → R, dada por f (x) = x2 . Esta fun¸c˜ ao n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua, como j´ a vimos. Mas transforma seq¨ uˆencias de Cauchy em seq¨ uˆencias de Cauchy. De fato, se (xn ) ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy em (R, µ), ent˜ ao existe r > 0 tal que |xn | < r, ∀ n ∈ N (proposi¸c˜ ao 114, pg. 449). Mas a restri¸c`˜ ao de´f ` a bola ] − r, r [ ´e uniformemente cont´ınua (conforme Nota pg. 357). Donde f (xn ) ´e seq¨ uˆencia de Cauchy em R. ` ´ Proposi¸ c˜ ao 118. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma seq¨ uˆencia (xn , yn ) de pontos de M × N ´e de Cauchy se, e somente se, as seq¨ uˆencias (xn ) em M e (yn ) em N s˜ ao de Cauchy. Prova: O enunciado refere-se a qualquer das m´etricas usuais (pg. 151) em M × N , indistintas no que a convergˆencia (usaremos a m´etrica do m´ aximo). ` tange´` (=⇒) Seja (xn , yn ) de Cauchy em M × N , ent˜ ao dado ε > 0 existe um ´ındice n0 de modo que: ` ´ ˘ ¯ m, n ≥ n0 ⇒ D3 (xm , ym ), (xn , yn ) = max d1 (xm , xn ), d2 (ym , yn ) < ε † defini¸ co ˜es
52 (pg. 381) e 53 (pg. 381)
453
Segue que: d1 (xm , xn ) < ε e d2 (ym , yn ) < ε para quaisquer m, n ≥ n0 ; e portanto (xn ) e (yn ) s˜ ao seq¨ uˆencias de Cauchy. (⇐=) Sendo (xn ) e (yn ) seq¨ uˆencias de Cauchy, dado ε > 0 existem por hip´ otese ´ındices m0 e n0 tais que: ∀ m, n ≥ m0 ⇒ d1 (xm , xn ) < ε e ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d2 (ym , yn ) < ε. Considerando p0 = max{ m0 , n0 } temos ent˜ ao que: ∀ m, n ≥ p0 ⇒ d1 (xm , xn ) < ε e d2 (ym , yn ) < ε ˘ ¯ ⇒ max d1 (xm , xn ), d2 (ym , yn ) < ε ` ´ ⇒ D3 (xm , ym ), (xn , yn ) < ε
` ´ Isto prova que a seq¨ uˆencia (xn , yn ) ´e de Cauchy em M × N .
A generaliza¸c˜ ao do resultado anterior para um produto M = M1 × M2 × · · · × Mn ´e imediata. • A (outra) caracteriza¸c˜ ao de completeza, em R, a qual nos referimos na Introdu¸c˜ ao, ´e que a propriedade do supremo implica em que toda seq¨ uˆencia de Cauchy de R converge (como ser´ a visto logo mais), a rec´ıproca∗ ´e vista na constru¸c˜ ao dos reais pelo m´etodo de Cantor, como o leitor poder´ a apreciar na referˆencia [10].
9.2
Espa¸ cos m´ etricos completos
Defini¸ c˜ ao 63 (Espa¸cos m´etricos completos). Um espa¸co m´etrico (M, d) ´e chamado completo se toda seq¨ uˆencia de Cauchy desse espa¸co converge para um ponto de M . Vejamos alguns exemplos de espa¸cos m´etricos completos e n˜ ao completos: 1. O espa¸co (Q, δ) ´e completo enquanto o espa¸co (Q, µ) n˜ ao o ´e. De fato, a “completeza” do espa¸co (Q, δ) ´e uma decorrˆencia imediata da proposi¸c˜ ao 113 (pg. 448). Para mostrar que o espa¸co (Q, µ) n˜ ao ´e completo podemos nos valer do exemplo (3) (pg. 271) juntamente com a proposi¸c˜ ao 65 (pg. 279). Assim: Tomamos a ∈ R − Q ent˜ ao existe uma seq¨ uˆencia (xn ) de racionais convergindo para a irracional. Sendo (xn ) convergente em (R, µ) ent˜ ao ´e de Cauchy, inclusive em (Q, µ). Pela unicidade do limite (xn ) n˜ ao pode convergir para um racional. Portanto (Q, µ) n˜ ao ´e completo, j´ a que conseguimos uma seq¨ uˆencia de Cauchy em (Q, µ) que n˜ ao converge para um ponto de Q. Nota: De modo an´ alogo podemos mostrar que o espa¸co m´etrico (M, δ), onde M ´e qualquer conjunto n˜ ao vazio, ´e completo. 2. Veremos agora que o espa¸co (R, µ) ´e completo. Prova: Consideremos (xn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy em (R, µ). Devido ` a proposi¸c˜ ao 114 (pg. 449) existe k > 0 tal que |xn | < k para todo n natural. De outro modo −k < xn < k, ∀ n ∈ N.
(9.7)
Por conta disto o conjunto {x1 , x2 , . . .} dos termos da seq¨ uˆencia ´e limitado, logo possui supremo e inf´ımo. A partir da seq¨ uˆencia (xn ) definamos uma outra seq¨ uˆencia (yn ) do seguinte modo: ∗ Isto
´ e, a convergˆ encia de toda seq¨ uˆ encia de Cauchy implica na propriedade do supremo.
454
y1 = inf{x1 , x2 , x3 , . . .} y2 = inf{x2 , x3 , x4 , . . .} y3 = inf{x3 , x4 , x5 , . . .} −− − − − − − − − − − − − −− yn = inf{xn , xn+1 , xn+2 , . . .}
−− − − − − − − − − − − − −− Todos estes n´ umeros est˜ ao bem definidos. Observe, por exemplo que {x2 , x3 , x4 , . . .} ⊂ {x1 , x2 , x3 , . . .}, ent˜ ao∗ inf{x1 , x2 , x3 , . . .} ≤ inf{x2 , x3 , . . .} ⇒ y1 ≤ y2 . O que esta nova seq¨ uˆencia tem de essencial ´e o fato de ser mon´ otona e limitada, isto ´e y1 ≤ y2 ≤ · · · ≤ yn ≤ · · · < k Observe que, por defini¸c˜ ao, yn ≤ xn , ∀ n ∈ N mas, por (9.7), podemos escrever yn ≤ xn < k ⇒ yn < k, ∀ n ∈ N. Conclus˜ ao∗ : (yn ) converge para p = sup { yn : n = 1, 2, . . .} que ´e um ponto de R. Mostremos que lim xn = p. Dado ε > 0 existe um ´ındice r tal que: n ≥ r ⇒ |yn − p| <
ε 3
por outro lado (xn ) sendo de Cauchy, existe um ´ındice s de modo que: m, n ≥ s ⇒ |xm − xn | <
ε 3
Agora vamos escolher um ´ındice t ≥ max{ r, s }. Tendo em conta que yt = inf{ xt , xt+1 , xt+2 , . . .} yt ´e a maior cota inferior do conjunto { xt , xt+1 , xt+2 , . . .} o que implica em que yt + 3ε n˜ ao ´e cota inferior deste conjunto. Por conseguinte existe um ´ındice j ≥ t de modo que ε ε ε yt ≤ x j < yt + ⇔ 0 ≤ x j − yt < ⇒ |xj − yt | < 3 3 3 Do artif´ıcio, xn − p = (xn − xj ) + (xj − yt ) + (yt − p) segue que |xn − p| = |(xn − xj ) + (xj − yt ) + (yt − p)| ≤ |xn − xj | + |xj − yt | + |yt − p| <
ε ε ε + + = ε, 3 3 3
∀ n ≥ t.
isto prova que lim xn = p.
3. O conjunto P[ 0, 1 ] das fun¸c˜ oes polinomiais p : [ 0, 1 ] → R ´e um espa¸co vetorial (exemplo 3, pg. 73). Podemos considerar em P[ 0, 1 ] a norma kpk = max{ |p(t)| : 0 ≤ t ≤ 1 } ∗ Lembramos:
∗ Ver
Se A ⊂ B ⇒ inf B ≤ inf A (prop. 20, pg. 64) proposi¸ca ˜o 39, pg. 243
455
do que resulta a m´etrica d sobre P[ 0, 1 ] dada por d(p, q) = max{ |p(t) − q(t)| : 0 ≤ t ≤ 1 } ` ´ O espa¸co m´etrico P[ 0, 1 ], d n˜ ao ´e completo. De fato, demonstra-se (no C´ alculo ou na An´ alise Real) que a seq¨ uˆencia (pn ) de polinˆ omios dada por pn (t) = 1 + t +
t2 tn + ··· + 2! n!
converge uniformemente em ([ 0, 1 ], µ) para a fun¸c˜ ao cont´ınua f : [ 0, 1 ] → R, dada por f (t) = et que n˜ ao ´e um polinˆ omio. Como toda seq¨ ´e de Cauchy segue-se que ` uˆencia convergente ´ (pn ) ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy em P[ 0, 1 ], d que n˜ ao converge para um ponto deste espa¸co. ` ´ ` ´ 4. O espa¸co de fun¸c˜ oes C[ a, b ], Υ ´e completo enquanto o espa¸co C[ a, b ], Γ n˜ ao ´e completo. ` ´ Prova: (i) Temos de provar que, sendo (fn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy em C[ a, b ], Υ , existe uma fun¸c˜ ao f ∈ C[ a, b ] para a qual a seq¨ uˆencia (fn ) converge. Isto ´e, tal que kfn − f kΥ → 0† . Por hip´ otese, para qualquer ε > 0 existe um ´ındice n0 de modo que para todo m, n ≥ n0 temos n o ε Υ(fm , fn ) = max |fm (x) − fn (x)| : x ∈ [ a, b ] < 2 Conseq¨ uentemente para qualquer x ∈ [ a, b ] fixado, |fm (x) − fn (x)| <
ε 2
(m, n ≥ n0 ).
`
(9.8)
´
Isto mostra que f1 (x), f2 (x), . . . , fm (x), . . . ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy de n´ umeros reais∗ . Visto que (R, µ) ´e completo, esta seq¨ uˆencia convergir´ a para um n´ umero real (em geral dependente de x) que podemos designar por f (x), ficando assim bem definida uma fun¸c˜ ao f : [ a, b ] → R dada por f (x) = lim fm (x), ∀ x ∈ [ a, b ]. m→∞
Vamos agora ver que f ´e cont´ınua em [ a, b ] (isto ´e, que f ∈ C[ a, b ]) e que se tem de fato kfn − f kΥ → 0, o que concluir´ a a demonstra¸c˜ ao. Na desigualdade (9.8) vamos conservar n fixo (embora arbitr´ ario, desde que maior ou igual a n0 ) e x fixo (arbitr´ ario em [ a, b ]) e tomar o limite quando m → +∞: lim |fm (x) − fn (x)| ≤ lim
m→∞
m→∞
ε 2
(n ≥ n0 )
Logo
˛ ` ´˛˛ ε ε ˛ ⇒ |f (x) − fn (x)| ≤ . ˛ lim fm (x) − fn (x) ˛ ≤ m→∞ 2 2 Deste modo mostramos que ˛ ˛ ˛f (x) − fn (x)˛ < ε, ∀ n ≥ n0 .
Segue, da defini¸c˜ ao de convergˆencia uniforme de uma seq¨ uˆencia de fun¸c˜ oes (pg. 58), que a seq¨ uˆencia funcional (fn ) converge uniformente para a fun¸c˜ ao f . Isto ´e, a convergˆencia fn → f ´e uniforme. Portanto pelo [AR] 11 (pg. 58) concluimos que f ´e † proposi¸ ca ˜o
33, pg. 201 (fn ) ´ e uma seq¨ uˆ encia de fun¸co ˜es enquanto, para x ∈ [ a, b ] fixado, (fn (x)) ´ e uma seq¨ uˆ encia de n´ umeros reais. ∗ Nota:
456
cont´ınua, isto ´e, f ∈ C[a, b]. Finalmente, da desigualdade: |f (x) − fn (x)| < ε, v´ alida para qualquer x ∈ [ a, b ] e qualquer n ≥ n0 , deduz-se (ver teorema [AR] 1 (pg. 57)) que se verificar´ a tamb´em, para n ≥ n0 , max |f (x) − fn (x)| = kfn − f kΥ < ε, x∈[ a, b ]
o que prova que kfn − f kΥ → 0 se n → +∞, ao. ` terminando ´ esta parte da demonstra¸c˜ (ii) Para mostrar que o espa¸co m´etrico C[ 0, 1 ], Γ n˜ ao ´e completo devemos exibir uma seq¨ uˆencia de Cauchy e provar que esta seq¨ uˆencia n˜ ao converge neste espa¸co. Consideremos a seq¨ uˆencia de fun¸c˜ oes (fn ) cujo termo geral ´e dado por 8 > 0, 0 ≤ x ≤ 21 ; > > > < 1 fn (x) = 2n(x − 12 ), 12 ≤ x ≤ 21 + 2n ; > > > > :1, 1 1 + 2n ≤ x ≤ 1. 2 Na figura seguinte plotamos os trˆes primeiros termos desta seq¨ uˆencia:
f1 (x) 1
f2 (x)
6
1
q
f3 (x)
6
0
q
1 2
-x
q
0
q1
6
1
q
q
1 2
-x
q1
3 4
0
q
1 2
-x
q1
2 3
Vamos mostrar que a seq¨ uˆencia (fn ) ´e de Cauchy. Para isto dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 de modo que ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(fm , fn ) =
Z
1 0
|fm (x) − fn (x)| dx < ε
Do gr´ afico seguinte (` a direita) fn (x) ⊢
6
1 2n
⊢
⊣
6
1
1 2n
⊣
1 2m
1
q
q
fm
fn
0
q
1 2
an
q1
-x
0
q
1 2
am
an
q1
-x
concluimos que a distˆ ancia em quest˜ ao ´e dada pela ´ area do triˆ angulo compreendido
457
entre os gr´ aficos de fn e fm e vale `1 ´ „ « 1 − 2m ·1 1 1 1 B·h = 2n = · − A= 2 2 4 n m 1 onde estamos considerando m > n. Temos que an = 21 + 2n . Pois bem, queremos encontrar n0 de maneira que „ « 1 1 1 m, n ≥ n0 ⇒ · − <ε 4 n m
temos, m ≥ n0 , n ≥ n0 ⇒
1 1 1 1 ≤ , ≤ m n0 n n0
1 1 + ≤ m n „ 1 1 ⇒ · + 4 m
⇒
2 n0 « 1 1 2 ≤ · n 4 n0
por outro lado,
„ « „ « 1 1 1 1 1 1 1 · − < · + ≤ <ε 4 n m 4 m n 2n0 Au ´tima das desigualdades acima foi imposta. 1 Portanto dado ε > 0 escolhemos n0 > . Sen˜ ao vejamos: 2ε 1 1 1 1 m> , n> ⇒ < ε, <ε 2ε 2ε 2m 2n ⇒
1 1 + < 2ε 2m 2n
⇒
1 · 4
„
1 1 + m n
«
<ε
por outro lado,
„ „ « « 1 1 1 1 1 1 · − + < · <ε 4 m n 4 m n Com isto concluimos a prova de que a seq¨ uˆencia (fn ) `de fato ´e de ´ Cauchy. S´ o nos resta mostrar que (fn ) n˜ ao converge em C[ 0, 1 ], Γ . Suponha, por um momento, que f seja uma fun¸c˜ ao em C[ 0, 1 ] tal que lim fn = f . Suponhamos ainda f (c) 6= 0 para algum 0 ≤ c ≤ 21 . Ent˜ ao ˛ ˛ ˛ ˛ ˛fn (c) − f (c)˛ = ˛f (c)˛ > 0, para algum c ∈ [ 0, 1 ] 2
Logo (teorema [AR] 9, pg. 57),
d(fn , f ) = ≥ =
Z
Z
Z
1
|fn − f |
0 1 2
0 1 2
0
458
|fn − f | |f | > 0
Para todo n. Passando ao limite, temos lim d(fn , f ) ≥ lim
n→∞
n→∞
Z
1 2
0
|f | =
Z
1 2
0
|f | > 0
contrariando a hip´ otese de que lim fn = f (ver prop. 33, pg. 201). Logo n˜ ao temos f (c) 6= 0 para algum 0 ≤ c ≤ 1/2. Ou ainda, f (x) = 0 para todo 0 ≤ x ≤ 1/2. Esta ´e a primeira conclus˜ ao que tiramos a respeito de f = lim fn . Agora suponhamos que para 21 < c ≤ 1 tiv´essemos f (c) 6= 1. Ent˜ ao |fn (c) − f (c)| = |1 − f (c)| > 0
(9.9)
desde que n satisfa¸ca, 1 1 1 + < c ≤ 1, isto ´e n > 2 2n 2c − 1 Resumindo: Supondo que aconte¸ca f (c) 6= 1 para algum 1/2 < c ≤ 1, consideramos 1 , obtendo fn (c) = 1 e da´ı a validade de (9.9) a partir apenas as fn a partir de n > 2c−1 1 de n > 2c−1 . Ent˜ ao, Z 1 d(fn , f ) = |fn − f | 0
≥ = Para todo n >
1 . 2c−1
Z
Z
1
1 2
|fn − f |
1 1 2
|1 − f | > 0
Passando ao limite, temos
lim d(fn , f ) ≥ lim
n→∞
n→∞
Z
1 1 2
|1 − f | =
Z
1
|1 − f | > 0
1 2
contrariando a hip´ otese de que lim fn = f . Logo n˜ ao temos f (c) 6= 1 para algum 1 1 ´ a segunda conclus˜ < c ≤ 1. Ou ainda, f (x) = 1 para todo < x ≤ 1. E ao que 2 2 tiramos a respeito de f = lim fn . Resumindo, temos f : [ 0, 1 ] → R, dada por f (x) 1
f (x) =
8 > <0, > : 1,
6
q
se 0 ≤ x ≤ 21 ; se
1 2
< x ≤ 1. 0
q 12
-x
q1
o que ´e imposs´ıvel` para uma´ fun¸c˜ ao cont´ınua no espa¸co ([ 0, 1 ], µ). Isto prova que n˜ ao existe lim fn em C[ a, b ], Γ . Vimos que o espa¸co (Q, µ) n˜ ao ´e completo. A pr´ oxima proposi¸c˜ ao nos mostra que isto acontece precisamente pelo fato de Q n˜ ao ser um subconjunto fechado em (R, µ) (conforme exemplo (3), pg. 268). Proposi¸ c˜ ao 119. Um subespa¸co fechado de um espa¸co m´etrico completo ´e completo. Rec´ıprocamente, um subespa¸co completo de qualquer espa¸co m´etrico ´e fechado.
459
Prova: (=⇒) Seja (xn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy em (N, d) (N ⊂ M ). Como (M, d) ´e completo, (xn ) converge em (M, d), isto ´e, existe a ∈ M tal que lim xn = a. Assim, temos que a ∈ N (pois N ´e fechado em (M, d) − ver proposi¸c˜ ao 66, pg. 280). Portanto (xn ) ´e convergente em (N, d) e (N, d) resulta completo. (⇐=) Para mostrar que (N, d) ´e fechado em (M, d) ´e suficiente tomar uma seq¨ uˆencia de pontos em N convergindo para um ponto a ∈ M e mostrar que a ∈ N ( segundo ´ o que faremos: Seja (xn ) uma seq¨ proposi¸c˜ ao 67, pg. 282). E uˆencia de pontos em N com lim xn = a ∈ M . Ent˜ ao pela proposi¸c˜ ao 112 (pg. 448) (xn ) ´e de Cauchy. Sendo (N, d) completo, (xn ) converge em (N, d). Isto ´e, existe b ∈ N tal que lim xn = b. Pela unicidade do limite de uma seq¨ uˆencia temos b = a. Portanto a ∈ N . Assim, por exemplo, todo subespa¸co ([ a, b ], µ) ´e completo, por ser um subespa¸co fechado de (R, µ) que ´e completo. O produto cartesiano de espa¸cos m´etricos completos ´e completo. A pr´ oxima proposi¸c˜ ao sustenta mais que isto. Proposi¸ c˜ ao 120. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Ent˜ ao o espa¸co (M × N, D) ´e completo se, e somente se, (M, d1 ) e (N, d2 ) s˜ ao completos. Prova: O enunciado refere-se a qualquer das m´etricas usuais (pg. 151) em (M × N, D) uma vez que, conforme j´ a vimos (corol´ ario 32, pg. 453), determinam neste espa¸co as mesmas seq¨ uˆencias de Cauchy (usaremos a m´etrica do m´ aximo). (=⇒) Seja (x ) uma seq¨ u ˆ e ncia de Cauchy em (M, d ), ent˜ a o para cada y ∈ N , a n 1 ` ´ seq¨ uˆencia (x1 , y); (x2 , y); . . . ´e de Cauchy no espa¸co (M × N, D3 ). De fato, dado ε > 0, existe um ´ındice n0 tal que: ` ´ ˘ ¯ m, n ≥ n0 ⇒ D3 (xm , y); (xn , y) = max d1 (xm , xn ), d2 (y, y)
= d1 (xm , xn ) < ε ` ´ Portanto, (xn , y) converge para um ponto (p, q) ∈ M × N e da´ı (xn ) converge para p ∈ M (proposi¸c˜ ao 38, pg. 214), logo (M, d1 ) resulta completo. De maneira an´ aloga se prova que (N, d2 ) ´e completo. ` ´ (⇐=) Seja (xn , yn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy no espa¸co (M × N, D3 ), ent˜ ao (xn ) e (yn ) s˜ ao seq¨ uˆencias de Cauchy em (M, d1 ) e (N, d2 ), respectivamente (proposi¸c˜ ao 118, pg. 453), e sendo completos estes espa¸cos, existem p ∈ M e q ∈ N de maneira que lim xn = p e lim yn = q. Portanto, novamente pela proposi¸c˜ ao 38 acima citada lim(xn , yn ) = ( p, q ) ` ´ Isto prova que (xn , yn ) ´e de Cauchy.
Corol´ ario 33. Sejam (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . . , (Mn , dn ) espa¸cos m´etricos completos. Ent˜ ao (M1 × M2 × · · · × Mn , D) ´e completo se, e somente se, (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . . , (Mn , dn ) s˜ ao completos. Prova: Basta aplicar n − 1 vezes a proposi¸c˜ ao 120. Em particular temos o importante exemplo: Exemplo: J´ a vimos que o espa¸co (R, µ) ´e completo. Resulta da´ı que o espa¸co (Rn , Di ) ´e completo. Vamos mostrar agora que “ser completo” ou “n˜ ao ser completo” n˜ ao ´e uma propriedade topol´ ogica (pg. 362) mas sim m´etrica. ` ´ Vimos (exemplo 2), pg. 361) que` os espa¸cos (R, ao home´ µ) e ] − 1, 1 [, µ s˜ omorfos, por´em (R, µ) ´e completo e ] − 1, 1 [, µ n˜ ao ´e. Logo “ser completo” ou “n˜ ao ser completo” n˜ ao ´e uma propriedade topol´ ogica, visto que n˜ ao ´e preservada por homeomorfismos. A proposi¸c˜ ao a seguir mostra que esta ´e uma propriedade “m´etrica”, isto ´e, propriedade que ´e preservada por isometrias (pg. 322).
460
Proposi¸ c˜ ao 121. Se f : (M, d1 ) → (N, d2 ) ´e uma isometria ent˜ ao (M, d1 ) ´e completo se, e somente se, (N, d2 ) o for. Prova: Sejam (M, d1 ) completo e f : (M, d1 ) → (N, d2 ) uma isometria. Dada uma seq¨ uˆencia de Cauchy (yn ) em (N, d2 ), a seq¨ uˆencia dada por xn = f −1 (yn ) ´e tamb´em de Cauchy, pois ` ´ d1 (xn , xm ) = d2 f (xn ), f (xm ) = d2 (yn , ym ).
Sendo (M, d1 ) completo, (xn ) converge. Seja a = lim xn . Ent˜ ao sendo f cont´ınua, da proposi¸c˜ ao 76 (pg. 333), podemos escrever a = lim xn ⇒ f (a) = f (lim xn ) ⇒ f (a) = lim f (xn ) = lim yn .
Portanto (yn ) ´e convergente e (N, d2 ) resulta completo. A outra parte da demonstra¸c˜ ao ´e an´ aloga. ´ o caso, por exemplo, do Nota: `Um espa¸c´o pode ser conexo e n˜ ao ser completo. E espa¸co ] 0, 1 ], µ . Como j´ a vimos (proposi¸c˜ ao 104, pg. 400) no espa¸co (R, µ) todos os intervalos s˜ ao conexos. Como por´em a seq¨ uˆencia (1, 1/2, 1/3, . .`.) de pontos em ´ ] 0, 1 ] ´e de Cauchy mas n˜ ao converge neste espa¸co, ent˜ ao de fato ] 0, 1 ], µ n˜ ao ´e completo. Tamb´em pode ocorrer de um espa¸co ser completo sem ser conexo: basta considerar o espa¸co (M, δ), onde M ´e qualquer conjunto com pelo menos dois elementos. Em nota ` a pg. 454 dissemos que (M, δ) ´e completo. J´ a na proposi¸c˜ ao 101 (pg. 396) vimos que (M, δ) ´e desconexo.
O espa¸ co [ 0, 1 [, k ´ e completo
Para provar a pr´ oxima proposi¸c˜ ao lan¸caremos m˜ ao do fato de que o intervalo fechado [ 0, 1 ] ´e completo. Antes necessitaremos dos seguintes lemas:
Lema 4. ´ Considere (xn ) tal que 0 ≤ xn < 1. Se para 1 no espa¸co ` ` (xn ) converge ´ [ 0, 1 ], µ , ent˜ ao (xn ) converge para 0 no espa¸co [ 0, 1 [, k . Prova: Dado ε > 0, existe um ´ındice n0 de modo que ` ´ ∀ n ≥ n0 ⇒ xn ∈ Bµ 1; ε . ` ´ Temos que Bµ 1; ε =] 1 − ε, 1 ]. Sendo assim (mostre) “ ` ” ´ Bµ 1; ε − { 1 } =] 1 − ε, 1 [ ⊂ Bk (0; ε) k portanto, xn −→ 0.
Nota: Nesta prova n˜ ao faz mal impor a restri¸c˜ ao ε ≤ 1. ` ´ Lema 5. Considere 0 ≤ p < 1 e r > 0, ent˜ ao Bµ p; r ⊂ Bk (p; r). ` ´ Prova: Seja x ∈ Bµ p; r ent˜ ao |x − p| < r. Temos duas possibilidades: ˘ ¯ k(x, p) = min |x − p|, 1 − |x − p| = |x − p| < r ˘ ¯ k(x, p) = min |x − p|, 1 − |x − p| = 1 − |x − p| ≤ |x − p| < r Em qualquer dos casos x ∈ Bk (p; r).
Corol´ ario 34. Toda uˆencia (xn ) (0 ≤ xn < 1) que converge para o` ponto p´(0 ≤ ` seq¨ ´ p < 1) no espa¸co [ 0, 1 ], µ , converge para o mesmo ponto no espa¸co [ 0, 1 [, k . Em particular, toda seq¨ uˆencia, (xn ) (0 ≤ xn < 1), de Cauchy no espa¸co [ 0, 1 ] tamb´em o ´e em [ 0, 1 [; mas a rec´ıproca ´e falsa, como veremos.
461
` ´ Proposi¸ c˜ ao 122 (Gentil/01.07.05). O espa¸co m´etrico [ 0, 1 [, k ´e completo. ` ´ Prova: Seja (xn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy em [ 0, 1 [, k . Isto significa que: ˘ ¯ ∀ ε > 0, ∃ n0 : ∀ m, n ≥ n0 ⇒ k(xm , xn ) = min |xm − xn |, 1 − |xm − xn | < ε (9.10) Temos duas alternativas: ` ´ 1a ) (xn ) ´e de Cauchy em [ 0, 1 ], µ . Neste caso, como este espa¸co ´e completo, (xn ) converge: µ
µ
k k Se xn −→ 1, ent˜ ao xn −→ 0. Se xn −→ p 6= 1, ent˜ ao xn −→ p. ` ´ a 2 ) (xn ) n˜ ao ´e de Cauchy em [ 0, 1 ], µ .
k Neste caso afirmamos que a seq¨ uˆencia converge para 0, isto ´e: xn −→ 0. ` ´ De fato, se (xn ) n˜ ao ´e de Cauchy em [ 0, 1 ], µ , ent˜ ao (pg. 447): : ∀ ∃ ε0 >0 k∈N
∃ (m, n ≥ k) ∧ |xm − xn | ≥ ε0 m, n∈N
(9.11)
Podemos acompanhar a prova pelo seguinte fluxograma: ∃ ε0 > 0 (fixo) Tome k : 1/k < ε0 Tome ε<
(9.11)
(9.10)
1 k
∃ n0 ∈ N, n0 = n0 (ε)
( xm , xm , ... ) 1
2
( xn , xn , ... ) 1
2
Tome
(9.11)
k ≥ max{ n0 , k } ∃ mi , ni ≥ k
Tome um novo k > max{ mi , ni }
( 1−|xm −xn |< ε ) i i
Na primeira itera¸c˜ ao ( i = 1 ) por (9.11) existe ε0 > 0 (este est´ a fixo) em seguida, pela propriedade arquimediana, escolhemos um ´ındice k tal que k1 < ε0 . A´ı entramos na segunda caixa do fluxograma, tomando ε < k1 . Tome agora k ≥ max{ n0 , k }; sendo assim, por (9.11), podemos escolher dois ´ındices, digamos: m1 , n1 ≥ k de modo que |xm1 − xn1 | ≥ ε0 . A desigualdade (9.10) ´e satisfeita por todos os ´ındices superiores a n0 , como este ´e o caso dos ´ındices m1 e n1 , temos que ¯ ˘ k(xm1 , xn1 ) = min |xm1 − xn1 |, 1 − |xm1 − xn1 | < ε < ε0 ≤ |xm1 − xn1 |
Esta desigualdade imp˜ oe que seja k(xm1 , xn1 ) = 1 − |xm1 − xn1 | < ε. Observe que, 1 − |xm1 − xn1 | < |xm1 − xn1 |, ou ainda, |xm1 − xn1 | > 1/2; sendo assim os dois termos patrocinados por (9.11) resultam, for¸cosamente, em lados opostos do intervalo (ou metades opostas). Aqui termina a primeira itera¸c˜ ao. Iniciemos a segunda (i = 2); agora escolhemos um novo ´ındice k satisfazendo k > max{ m1 , n1 } e retornamos a (9.10).
462
Por raz˜ oes an´ alogas ao do caso precedente concluimos que: k(xm2 , xn2 ) = 1 − |xm2 − xn2 | < ε Geometricamente tudo se passa assim: xm
0
xn
2
xm
t
p 1 4
t
xn
t
1
p 1 2
2
t
1
p 3 4
1
Nota: N˜ ao faz mal escolhermos os ´ındices mj associados aos termos da esquerda e os ´ındices nj associados aos termos da direita. Fazemos duas observa¸c˜ oes quanto ao fluxograma: 1a ) k ≥ max{ n0 , k } garante que os ´ındices mi , ni ≥ k, patrocinados por (9.11), tamb´em satisfazem (9.10) o que vai garantir que 1 − |xm − xn | < ε. i
i
ao o novo k ´e maior 2a ) k > max{ mi , ni } ≥ k garante que a cada nova itera¸c˜ que o k da itera¸c˜ ao anterior, o que garante sempre ε < k1 < ε0 e, ademais, for¸ca (atrav´es de ∃ mi , ni ≥ k) que os ´ındices mi , ni sejam sempre crescentes (ver defini¸c˜ ao de subseq¨ uˆencia).
Pois bem, por indu¸c˜ ao, obtemos duas subseq¨ uˆencias (xm ), no primeiro quarto do j ´ltimo quarto do intervalo, tais que intervalo e (xn ), no u j
k(xm , xn ) = 1 − |xm − xn | < ε
(9.12)
j
j
j
j
Como ε ´e arbitrariamente pequeno (tendo em conta que k ´e sempre crescente a cada itera¸c˜ ao) a desigualdade (9.12) imp˜ oe que a distˆ ancia ( µ ): |xm − xn | aproxime-se j j arbitrariamente de 1; e isto for¸ca os termos de ambas as subseq¨ uˆencias a aproximaremse, arbitrariamente, das extremidades do intervalo [ 0, 1 [. Lembrando da bola Bk (0; r): 1) Bk (0; r< 2
0
r
1−r
1
concluimos que ambas as subseq¨ uˆencias (xm ) e (xn ) convergem para 0. Portanto, j ` j ´ k com o aux´ılio da prop. 116 (pg. 452), temos xn −→ 0 e [ 0, 1 [, k resulta completo.
Observe que esta prova caracteriza (nos diz quem s˜ ao e porque) todas as seq¨ uˆencias (xn ) do intervalo [ 0, 1 [ que convergem neste, mas n˜ ao convergem no intervalo [ 0, 1 ]: s˜ ao as seq¨ uˆencias que possuem uma subseq¨ uˆencia na primeira metade do intervalo e outra na segunda metade. E mais: estas subseq¨ uˆencias aproximam-se indefinidamente das extremidades do intervalo, ou seja, uma converge para 0 e a outra para 1, no intervalo [ 0, 1 ], da´ı a raz˜ ao da seq¨ uˆencia (xn ) n˜ ao convergir em [ 0, 1 ]. Podemos observar um caso destes escolhendo a seq¨ uˆencia (xn ) dada por, xn =
(1
n
,
1−
se n ´e par; 1 , n
se n ´e ´ımpar.
cujos primeiros termos est˜ ao plotados a seguir: x1
x6
s ... s
0
x4
x2
s
s
463
x3
s
x5
x7
s s. . .
1
Os termos de ´ındices pares convergem para 0 e os de ´ındices ´ımpares tamb´em (na m´etrica k), portanto a seq¨ uˆencia converge para 0 e resulta de Cauchy. O mesmo j´ a n˜ ao acontece com respeito ` a m´etrica µ. Corol´ ario 35. Os trˆes quadrados ( [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ , Di ) s˜ ao completos. (ver pg. 153).
9.3
Espa¸ cos de Banach
Defini¸ c˜ ao 64 (Espa¸cos de Banach). Um espa¸co vetorial normado e completo em rela¸c˜ ao ` a m´etrica induzida por esta norma ´e chamado espa¸co de Banach. Exemplos: 1. Exemplos de espa¸cos de Banach s˜ ao (Rn , k · k), (Rn , k · k′ ) e (Rn , k · k′′ ), onde, para x = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn se tem !1/2 n X p 2 kxk = |xi | = |x1 |2 + · · · + |xn |2 i=1
kxk′ =
n X i=1
|xi | = |x1 | + · · · + |xn |
kxk′′ = max |xi | = max{|x1 |, . . . , |xn |} 1≤i≤n
Ver corol´ ario 33 (pg. 460). ` ´ 2. O espa¸ co C[ a, b ], k · k , onde
kf k = max
n
o |f (x)| : x ∈ [ a, b ]
´e de Banach. A completeza deste espa¸co foi mostrada no exemplo 4. ` a pg. 456. ` ´ 3. O espa¸ co C[ a, b ], k · k , onde Z 1 kf k = |f (x)| dx 0
n˜ ao ´e de Banach. A incompleteza deste espa¸co foi mostrada no exemplo 4. ` a pg. 456. ` ´ ` p´ 4. O espa¸ co B(X, R), k · k . A agina 105 consideramos o conjunto B(X, R) das fun¸c˜ oes limitadas de de X em R. Neste conjunto consideramos a m´etrica ˘ ¯ Ψ(f, g) = sup |f (x) − g(x)| : x ∈ X a qual ´e proveniente da norma
˘ ¯ kf kΨ = sup |f (x)| : x ∈ X
Mostraremos agora que o espa¸co vetorial aqui descrito ´e um espa¸co de Banach. ` ´ Prova: Temos de provar que, sendo (fn ) de Cauchy em B(X, R), k · kΨ , existe uma fun¸c˜ ao f ∈ B(X, R) para a qual (fn ) converge, isto ´e, tal que kfn − f kΨ → 0. Por hip´ otese, para qualquer ε > 0 existe um ´ındice n0 de modo que para todo m, n ≥ n0 temos n o ε Ψ(fm , fn ) = sup |fm (x) − fn (x)| : x ∈ X < 2 Conseq¨ uentemente para qualquer x ∈ X fixado, ˛ ˛ ˛fm (x) − fn (x)˛ < ε 2
464
(m, n ≥ n0 ).
(9.13)
` ´ Isto mostra que f1 (x), f2 (x), . . . , fm (x), . . . ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy de n´ umeros reais. Visto que (R, µ) ´e completo, esta seq¨ uˆencia convergir´ a para um n´ umero real (em geral dependente de x) que podemos designar por f (x), ficando assim bem definida uma fun¸c˜ ao f : X → R dada por f (x) = lim fm (x), ∀ x ∈ X. m→∞
Vamos agora ver que f ´e limitada em X (isto ´e, que f ∈ B(X, R)) e que se tem de fato kfn − f kΨ → 0, o que concluir´ a a demonstra¸c˜ ao. Na desigualdade (9.13) vamos conservar n fixo (embora arbitr´ ario, desde que maior do que n0 ) e x fixo (arbitr´ ario em X) e tomar o limite quando m → +∞: lim |fm (x) − fn (x)| ≤ lim
m→∞
m→∞
ε 2
(n ≥ n0 )
Logo,
˛ ` ´˛˛ ε ε ˛ ⇒ |f (x) − fn (x)| ≤ . ˛ lim fm (x) − fn (x) ˛ ≤ m→∞ 2 2 Deste modo mostramos que |f (x) − fn (x)| ≤
Em particular, sendo assim,
ε < ε, ∀ n ≥ n0 e ∀ x ∈ X. 2
˛ ˛ ˛ ˛ ˛f (x) − fn0 (x)˛ < ε,
(9.14)
∀x ∈ X
|f (x)| = |f (x) − fn (x) + fn (x)| 0
0
≤ |f (x) − fn (x)| + |fn (x)| 0
0
< ε + |fn (x)| 0
para todo x ∈ X. Como fn (x) ∈ B(X, R), existe k tal que 0
|fn0 (x)| ≤ k,
∀ x ∈ X.
Logo, |f (x)| < ε + k,
∀ x ∈ X.
Isto mostra que f ´e limitada, ou seja f ∈ B(X, R). A desigualdade (9.14) nos diz que ε ´e uma cota superior do conjunto 2 ˘ ¯ |f (x) − fn (x)| : x ∈ X para n ≥ n0 . Como o sup ´e a menor de tais cotas superiores segue que
logo,
˘ ¯ ε sup |f (x) − fn (x)| : x ∈ X ≤ 2
˘ ¯ ε kfn − f kΨ = sup |f (x) − fn (x)| : x ∈ X ≤ < ε 2 o que prova que kfn − f kΨ → 0 se n → +∞; terminando a demonstra¸c˜ ao. Para o nosso pr´ oximo exemplo de espa¸co de Banach chamamos a aten¸c˜ ao do leitor para o fato de que estaremos considerando (simultaneamente) dois espa¸cos m´etricos:
i) ( X, d ), onde X 6= ∅ ´e um conjunto qualquer e d ´e uma m´etrica qualquer sobre X; ` ´ ii) B(X, R); k · kΨ , onde B(X, R) ´e o conjunto das fun¸c˜ oes f : X → R limitadas e k · kΨ ´e a m´etrica (norma) dada por ˘ ¯ kf − gkΨ = sup |f (x) − g(x)| : x ∈ X = Ψ(f, g)
465
Pois bem, dada uma fun¸c˜ ao f ∈ B(X, R) esta pode ou n˜ ao ser cont´ınua. Indicaremos por BC(X, R) o conjunto das fun¸c˜ oes limitadas e cont´ınuas f : X → R. Deixamos a cargo do leitor provar que BC(X, R) ´e um subespa¸co vetorial de B(X, R). ` ´ 5. `No presente exemplo mostraremos que BC(X, R); k · kΨ ´e um subespa¸co fechado ´ de B(X, R); k · kΨ e portanto um espa¸co m´etrico completo em virtude´ da proposi¸c˜ ao ` 119 (pg. 459). Em outras palavras, mostraremos que BC(X, R); k · kΨ ´e tamb´em um espa¸co de Banach. ` ´ ` ´ Prova: Para provar que BC(X, R); k·kΨ ´e um subespa¸co fechado de B(X, R); k· kΨ − consoante a proposi¸c˜ ao 67 (pg. 282) − basta mostrar que se (fn ) ´e uma seq¨ uˆencia em BC(X, R) tal que lim fn = f ∈ B(X, R), ent˜ ao f ∈ BC(X, R). Para mostrar que f : ( X, d ) → R ´e cont´ınua, temos de provar que, fixado arbitrariamente um ponto a ∈ X e dado um n´ umero ε > 0 existe δ > 0 tal que, para x ∈ X e d(x, a) < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < ε. Consideremos ent˜ ao uma seq¨ uˆencia (fn ) de fun¸c˜ oes cont´ınuas e limitadas fn : X → R, com lim fn = f ∈ B(X, R) Sendo assim dado ε > 0 existe um ´ındice n0 de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ d(fn , f ) = kfn − f kΨ n o ε = sup |fn (x) − f (x)| : x ∈ X < ; 3
assim, escolhido um inteiro k ≥ n0 , ter-se-´ a |fk (x) − f (x)| <
ε ; 3
∀ x ∈ X.
Como fk : ( X, d ) → R ´e, por hip´ otese, uma fun¸c˜ ao cont´ınua existir´ a δ > 0 tal que |fk (x) − fk (a)| <
ε ; 3
∀ x ∈ X com d(x, a) < δ.
Logo, se x ∈ X e d(x, a) < δ teremos |f (x) − f (a)| = |f (x) − fk (x) + fk (x) − fk (a) + fk (a) − f (a)| ≤ |f (x) − fk (x)| + |fk (x) − fk (a)| + |fk (a) − f (a)| <
ε ε ε + + = ε. 3 3 3
o que prova a continuidade de f , ou seja f ∈ BC(X, R). ` ´ No exemplo 4. (pg. 456) dissemos que o espa¸ c o de fun¸ c ˜ o es cont´ ınuas C[ a, b ], Υ ´e ` ´ completo; isto ´e que C[ a, b ], k · kΥ ´e um espa¸co de Banach. Esta conclus˜ a o sai como ` ´ um caso particular do exemplo 5 acima desde que tomemos ( X, d ) = [ a, b ], µ .
9.4
Espa¸ cos de Hilbert
Defini¸ c˜ ao 65 (Espa¸cos de Hilbert). Um espa¸co de Hilbert ´e um espa¸co vetorial com produto interno que ´e completo em rela¸c˜ ao ` a m´etrica induzida por este produto interno. Os espa¸cos de Hilbert s˜ ao de grande utilidade na formaliza¸c˜ ao matem´ atica da Mecˆ anica Quˆ antica. Exemplos/contra-exemplos:
466
1. Vimos no exemplo 1. (pg. 464) que os espa¸cos (Rn , k · k), (Rn , k · k′ ) e (Rn , k · k′′ ), onde, para x = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn temos
kxk = kxk′ =
n “X i=1
n X i=1
|xi |2
”1/2
=
p
|x1 |2 + · · · + |xn |2
|xi | = |x1 | + · · · + |xn |
kxk′′ = max |xi | = max{|x1 |, . . . , |xn |} 1≤ i ≤n
s˜ ao todos espa¸cos de Banach. Destes apenas o primeiro ´e tamb´em um espa¸co de Hilbert. Isto se deve a que apenas a primeira destas normas ´e oriunda de um produto interno (prove isto!). 2. Vejamos mais um exemplo de um espa¸co que ´e de `Banach mas ´n˜ ao de Hilbert. Mostramos no exemplo 4. (pg. 456) que o espa¸co C[ a, b ], k · k , onde kf k = max
n
o |f (x)| : x ∈ [ a, b ]
´e de Banach. Por outro lado, esta norma n˜ ao ´e proveniente de um produto interno. ` ´ 3. O espa¸co ℓ 2 , +, · . Este espa¸co j´ a foi estudado (pg. 71). Veremos agora que o mesmo ´e um espa¸co de Hilbert. Vamos definir a aplica¸c˜ ao h· , ·i : ℓ 2 × ℓ 2 −→ R P∞ (x, y) 7−→ n=1 xn yn ` 2 ´ que ´e um produto interno ` 2 em ´ℓ , +, · (pg. 77). O espa¸co vetorial ℓ ` , +, · ´e´ chamado: “O espa¸co das seq¨ uˆencias de quadrado som´ avel ”. A norma em ℓ 2 , +, · se define da maneira usual por v u∞ p uX kxk = hx, xi = t x2n n=1
e a m´etrica induzida por esta norma ´e v u∞ uX (xn − yn )2 . d(x, y) = kx − yk = t n=1
Proposi¸ c˜ ao 123. O espa¸co espa¸co de Hilbert.
`
´ ℓ 2 , +, · , das seq¨ uˆencias de quadrado som´ avel ´e um
467
Prova: Seja (xn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy em ℓ 2 . Digamos∗ x1 = (x11 , x12 , x13 , . . . , x1k , . . .) x2 = (x21 , x22 , x23 , . . . , x2k , . . .) x3 = (x31 , x32 , x33 , . . . , x3k , . . .) ................................. xn = (xn1 , xn2 , xn3 , . . . , xnk , . . .) .................................... xm = (xm1 , xm2 , xm3 , . . . , xmk , . . .) .................................... Sendo (xn ) de Cauchy, dado ε > 0 existe um ´ındice n0 tal que ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(xm , xn ) < ε isto ´e, Mas,
∀ m, n ≥ n0 ⇒ kxm − xn k < ε xm − xn = (xm1 , xm2 , xm3 , . . . , xmk , . . .) − (xn1 , xn2 , xn3 , . . . , xnk , . . .) = (xm1 − xn1 , xm2 − xn2 , . . . , xmk − xnk , . . .)
Logo, para todo m, n ≥ n0 kxm
v u∞ uX − xn k = t (x k=1
mk
− xnk )2 < ε
(9.15)
Com mais raz˜ ao ainda, para cada componente da seq¨ uˆencia (xm − xn ) vale q (xmk − xnk )2 < ε (k = 1, 2, . . .) ou seja,
|xmk − xnk | < ε
(k = 1, 2, . . .)
Assim, para cada k fixado, a seq¨ uˆencia (xmk )m∈N ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy em (R, µ). Esta seq¨ uˆencia converge visto que (R, µ) ´e completo. Para cada k ∈ N fa¸camos, ak = lim xmk m→∞
Usando estes limites colocamos, (a1 , a2 , a3 , . . .) = a Para um melhor entendimento observe a figura seguinte
∗ Observe que uma seq¨ uˆ encia (xn ) de pontos no espa¸co ℓ 2 , ´ e uma “seq¨ uˆ encia de seq¨ uˆ encias”. Isto ´ e, cada termo da seq¨ uˆ encia (xn ) ´ e, por sua vez, uma seq¨ uˆ encia.
468
?
(xmk )m∈N
x1 = (x11 , x12 , x13 , . . . , x1k , . . .) x2 = (x21 , x22 , x23 , . . . , x2k , . . .) x3 = (x31 , x32 , x33 , . . . , x3k , . . .) .. .. .. .. .. . . . . . ?↓ ↓ ↓ ↓ ↓ a = (a1 , a2 , a3 , . . . , ak , . . .) Vamos agora ver que a ∈ ℓ 2 e que se tem de fato lim xn = a, o que termina a demonstra¸c˜ ao. De (9.15) temos para todo m, n ≥ n0 j X
k=1
(xmk − xnk )2 < ε2
(j = 1, 2, . . .)
Nesta desigualdade podemos fazer m → ∞ conservando n fixo (embora arbitr´ ario, desde que maior ou igual a n0 ), ent˜ ao, j X
lim
m→∞
k=1
(xmk − xnk )2 ≤ lim ε2 m→∞
Logo,‡ j “ X k=1
Portanto,
lim xmk − xnk
m→∞
j X
(ak − xnk )2 ≤ ε2
∞ X
(ak − xnk )2 ≤ ε2
k=1
”2
≤ ε2
(∀ n ≥ n0 )
Agora podemos fazer j → ∞, obtendo
k=1
(∀ n ≥ n0 )
(9.16)
Sendo xn = (xn1 , xn2 , . . . , xnk , . . .) o n-´esimo termo da seq¨ uˆencia de Cauchy em ℓ 2 e a = (a1 , a2 , . . . , ak , . . .) a seq¨ uˆencia constru´ıda anteriormente; desta u ´ltima desigualdade concluimos que a − xn ∈ ℓ 2 − para todo n ≥ n0 bem entendido. Portanto, para todo n ≥ n0 , temos (a − xn ) + xn = a ∈ ℓ 2 visto estarmos em um espa¸co vetorial. Finalmente de (9.16) obtemos, para todo n ≥ n0 v u∞ uX t (ak − xnk )2 ≤ ε < 2ε k=1
isto ´e, d(xn , a) < 2ε para todo n ≥ n0 , ou seja, lim xn = a. Com isto completamos a prova da completeza de ℓ 2 . ‡ proposi¸ ca ˜o
42, pg. 247; proposi¸ca ˜o 44, pg. 248
469
Para vermos que nem todo espa¸ `co vetorial com ´ produto interno ´e um espa¸co de Hilbert, vamos considerar o espa¸co C[ 0, 1 ], h·, ·i , onde Z 1 hf, gi = f ·g 0
ent˜ ao, kf k = Neste espa¸co temos,
p
hf, f i ⇒ kf k =
d(f, g) = kf − gk =
sZ
sZ
1
0
f ·f
1
0
(f − g)2
` ´ O espa¸co C[ 0, 1 ], d n˜ ao ´e um espa¸co de Hilbert. Prova: Para provar esta assertiva consideremos a seq¨ uˆencia (fn ) de fun¸c˜ oes cujo termo geral ´e dado por (ver pg. 457) 8 > 0, 0 ≤ x ≤ 21 ; > > < 1 fn (x) = 2n(x − 12 ), 21 ≤ x ≤ 21 + 2n ; > > > :1, 1 1 + 2n ≤ x ≤ 1. 2 ` ´ Inicialmente mostremos que (fn ) ´e de Cauchy no espa¸co C[ 0, 1 ], d . Ent˜ ao sZ 1
d(fm , fn ) =
0
Temos (ver gr´ afico pg. 457) Z 1 0
·=
onde, an =
Z
1 2
0
· +
Z
am 1 2
(fm − fn )2
+
Z
an
am
· +
Z
1 an
·
1 1 1 1 + X am = + 2 2n 2 2m
Mas, Z
1 2
0
·=
Z
1
an
·=0
Pois, nestes intervalos, fm = fn ⇒ (fm − fn )2 = 0. Logo, Z 1 Z am Z an ·= · + · 1 2
0
am
Para 1/2 ≤ x ≤ am , temos ` ` 1´ 1´ − 2n x − fm (x) − fn (x) = 2m x − 2 2 ` 1´ = 2(m − n) x − 2
e para am ≤ x ≤ an , temos
` 1´ fm (x) − fn (x) = 1 − 2n x − . 2
Ent˜ ao, Z
am 1 2
(fm − fn )2 =
Z
1+ 1 2 2m 1 2
` 1 ´2 (m − n)2 4(m − n)2 x − = 2 6m3
470
tamb´em, Z
an am
(fm − fn )2 =
Donde,
Sendo assim, temos
Z
1 0
·=
Z
1+ 1 2 2n 1+ 1 2 2m
Temos,
` (m − n)3 1 ´˜2 = 1 − 2n x − 2 6m3 · n
(m − n)2 (m − n)3 (m − n)2 + = 3 3 6m 6m · n 6m2 · n r
(m − n)2 6m2 · n
(n ≤ m)
1 m−n √ d(fm , fn ) = √ · m · n 6
(n ≤ m)
d(fm , fn ) = ou ainda,
ˆ
1 1 m−n m √ · √ < √ · √ <ε 6 m· n 6 m· n onde a u ´ltima das desigualdades ´e uma imposi¸c˜ ao de nossa parte. Ent˜ ao √
n>
ε·
1 √
6
⇒ n>
1 . 6ε2
Portanto, dado ε > 0 escolhemos n0 > 1/(6ε2 ). Agora consideremos o caso em que n > m. Sendo d(fm , fn ) = d(fn , fm ) podemos escrever 8 m−n √ , < √1 · m· se n ≤ m; n 6 d(fm , fn ) = : √1 · n−m √ , se n > m. n· m 6 Em resumo dado ε > 0 escolhemos n0 >
1 6ε2
e teremos
∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(fm , fn ) < ε ` ´ Isto ´e, a seq¨ uˆencia (fn ) ´e de Cauchy no espa¸co C[ a, b ], h·, ·i . Vamos simular uma situa¸c˜ ao. Por exemplo, seja ε = 0, 01, ent˜ ao n0 >
1 6ε2
⇒ n0 >
1 = 1.666, 667 6 · 0, 012
Vamos tomar, ainda como exemplo, m = 1667 e n = 1700, ent˜ ao 1 1 n−m 1700 − 1667 √ = √ · √ d(fm , fn ) = √ · ≃ 1, 9 · 10−4 < ε. 6 n· m 6 1700 · 1667 Seja ainda, m = 1668 e n = 1667, ent˜ ao 1 1 m−n 1668 − 1667 √ = √ · √ d(fm , fn ) = √ · ≃ 6, 0 · 10−6 < ε. 6 m· n 6 1668 · 1667 ` ´ S´ o nos resta mostrar que (fn ) n˜ ao converge em C[ 0, 1 ], h·, ·i . Suponha, ao contr´ ario, que f seja uma fun¸c˜ ao em C[ 0, 1 ] tal que lim fn = f . Suponhamos ainda ao, f (c) 6= 0 para algum 0 ≤ c ≤ 21 . Ent˜ |fn (c) − f (c)| = |f (c)| > 0 ⇒
` ´2 ˆ 1˜ f (c) > 0 para algum c ∈ 0, . 2
471
Logo, sZ
d(fn , f ) =
1
0
s
≥
s
=
Z
1 2
Z
1 2
(fn − f )2
0
(fn − f )2 f2 > 0
0
Para todo n. Passando ao limite, temos lim d(fn , f ) ≥ lim
n→∞
n→∞
s
Z
1 2
f2
=
0
s Z
1 2
f2 > 0
0
contrariando a hip´ otese de que lim fn = f . Logo n˜ ao temos f (c) 6= 0 para algum 0 ≤ c ≤ 1/2. Ou ainda, f (x) = 0 para todo 0 ≤ x ≤ 1/2. Esta ´e a primeira conclus˜ ao que tiramos a respeito de f = lim fn . Agora suponhamos f (c) 6= 1 para ao algum 21 < c ≤ 1, ent˜ ` ´2 |fn (c) − f (c)| = |1 − f (c)| > 0 ⇒ 1 − f (c) > 0 (9.17)
desde que n satisfa¸ca
1 1 1 + < c ≤ 1, isto ´e n > . 2 2n 2c − 1
Resumindo: Supondo que aconte¸ca f (c) 6= 1 para algum 1/2 < c ≤ 1, consideramos 1 apenas as fn a partir de n > 2c−1 , obtendo fn (c) = 1 e da´ı a validade de (9.17) a 1 ao, apartir de n > 2c−1 . Ent˜ sZ 1
(fn − f )2
d(fn , f ) =
0
≥ =
1 . 2c−1
Para todo n >
sZ
sZ
1 1 2
(fn − f )2
1 1 2
(1 − f )2 > 0
Passando ao limite, temos sZ 1
lim d(fn , f ) ≥ lim
n→∞
n→∞
1 2
(1 − f )2 =
sZ
1 1 2
(1 − f )2 > 0
contrariando a hip´ otese de que lim fn = f . Logo n˜ ao temos f (c) 6= 1 para algum 1 1 ´ a segunda conclus˜ < c ≤ 1. Ou ainda, f (x) = 1 para todo < x ≤ 1. E ao que 2 2 tiramos a respeito de f = lim fn . Resumindo, temos f : [ 0, 1 ] → R, dada por f (x) 1
f (x) =
8 > <0, > :
1,
6
q
se 0 ≤ x ≤ 12 ; se
1 2
< x ≤ 1.
472
0
q 12
-x
q1
o que ´e imposs´ıvel` para uma fun¸ ao cont´ınua no espa¸co ([ 0, 1 ], µ). Isto prova que n˜ ao ´ c˜ existe lim fn em C[ a, b ], h·, ·i . Por conseguinte este espa¸co n˜ ao ´e de Hilbert.
Vejamos mais um exemplo de espa¸co vetorial com produto interno e que n˜ ao ´e de Hilbert. Exemplo − Considere o conjunto C0 0 das seq¨ uˆencias reais que s´ o possuem uma quantidade finita de termos` n˜ ao nulos.´ Consideremos o espa¸co C0 0 , h·, ·i onde (ver pgs. 72 e 77) ∞ ˙ ¸ X (xn ), (yn ) = x n yn n=1
Neste espa¸co temos v u∞ q˙ uX ¸ (xn ), (xn ) ⇒ k(xn )k = t k(xn )k = xn xn n=1
A distˆ ancia entre duas seq¨ uˆencias fica assim
v u∞ uX ` ´ (xn − yn )2 . d (xn ), (yn ) = k(xn ) − (yn )k = t n=1
Consideremos em C0 0 a seq¨ uˆencia (xn ), de termos
x1 = (x11 , x12 , x13 , . . . , x1k , . . .) x2 = (x21 , x22 , x23 , . . . , x2k , . . .) x3 = (x31 , x32 , x33 , . . . , x3k , . . .) ................................. xn = (xn1 , xn2 , xn3 , . . . , xnk , . . .) ................................. ` ´ onde os termos xn de (xn ) s˜ ao seq¨ uˆencias xn = xnk k∈N com termos dados por xnk =
8 <
1 , 2k−1
:0,
se k ≤ n;
(9.18)
se k > n.
A seguir explicitamos os termos de (xn ): x1 = (1, 0, 0, 0, 0, . . .) ` x2 = 1,
1 , 2
´ 0, 0, 0, . . .
` ´ x3 = 1, 21 , 41 , 0, 0, . . . . . . . . . .`. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ´. . 1 1 xn = 1, 12 , 41 , . . . , 2n−2 , 2n−1 , 0, 0, . . . . . . . . . . `. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ´ 1 1 1 1 , 2n−1 , 21n , . . . , 2m−2 , 2m−1 , 0, . . . xm = 1, 21 , 14 , . . . , 2n−2 .........................................................
Em nossas argumenta¸c˜ oes iremos considerar n < m. Pois bem, mostremos que esta seq¨ uˆencia ´e de Cauchy. Isto ´e, dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 tal que ` ´ ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d xm , xn = kxm − xn k < ε
473
Temos, xm − xn = Logo,
„
0, 0, . . . , 0,
1 1 1 1 , , . . . , m−2 , m−1 , 0, 0, . . . 2n 2n+1 2 2
«
v v um−1 „ «2 um−1 X 1 uX 1 ` ´ u =t d xm , xn = t i 2 4i i=n i=n
No radicando em quest˜ ao temos a soma dos (m − 1 − n) + 1 termos da progress˜ ao geom´etrica de primeiro termo a1 = 41n e raz˜ ao q = 14 . Ent˜ ao “` ´ ” m−n 1 « „ · 41 −1 4n 1 1 1 = · − Sm−n = 1 3 4n−1 4m−1 −1 4 Portanto,
Fa¸camos,
√
3 · 3
Mas,
r
` ´ d xm , xn =
√
3 · 3
r
1 1 − m−1 4n−1 4
1 1 1 1 − m−1 < ε ⇒ − m−1 < 3 ε2 4n−1 4 4n−1 4
1 1 1 − m−1 < n−1 < 3 ε2 4n−1 4 4 onde a u ´ltima desigualdade ´e uma imposi¸c˜ ao de nossa parte. Logo, 4n−1 >
1 3 ε2
⇒
`
2n−1
´2
>
1 3 ε2
√1 1 ⇒ 2n−1 > √ ⇒ n − 1 > log2 3 ε . 3ε
Portanto dado ε > 0 exibimos
√
n0 > 1 − log2 3·ε
e teremos nossas aspira¸c˜ oes satisfeitas. Em resumo, dado ε > 0 escolhemos n0 como acima e teremos ` ´ ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d xm , xn < ε onde,
` ´ d xm , xn =
8√ q 3 1 > > < 3 · 4n−1 −
q > √ > : 3· 1 − 3 4m−1
1 , 4m−1
se n ≤ m;
1 , 4n−1
se n > m.
Fa¸camos uma simula¸c˜ ao. Por exemplo, seja ε = 0, 01, ent˜ ao √
√
n0 > 1 − log2 3·ε ⇒ n0 > 1 − log2 3·0,01 = 6, 85. Vamos tomar, ainda como exemplo, m = 10 e n = 7, ent˜ ao √ r ` ´ 1 3 1 d xm , xn = · − 10−1 ≃ 0, 00895 < ε 3 47−1 4 Seja ainda, m = 7 e n = 8, ent˜ ao √ r ` ´ 3 1 1 d xm , xn = · − 8−1 ≃ 0, 00781 < ε 3 47−1 4
474
` ´ Resta mostrar que (xn ) n˜ ao converge no espa¸co C0 0 , h·, ·i . Suponhamos, por absurdo, que exista um ponto p = (p1 , p2 , p3 , . . .) ∈ C0 0 tal que lim xn = p. Consideremos, ademais, a seq¨ uˆencia (δk ) de pontos de C0 0 onde, para todo k ∈ N, temos ( 1, se k = i; δk = (δk1 , δk2 , δk3 , . . .) onde δki = 0, se k 6= i. A seguir explicitamos os termos da seq¨ uˆencia (δk ). δ1 = (1, 0, 0, 0, 0, . . .) δ2 = (0, 1, 0, 0, 0, . . .) δ3 = (0, 0, 1, 0, 0, . . .) .. . δk = (0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0, . . .) .. ↑ k-´ esima posi¸ ca ˜o. . As seq¨ uˆencias δk (k = 1, 2, . . .) tˆem a seguinte propriedade - que nos interessa de perto: dada uma seq¨ uˆencia (zn ) ∈ C0 0 qualquer, o produto hδk , (zn )i nos d´ a uma “amostra” do termo de posi¸c˜ ao k da seq¨ uˆencia (zn ). Veja: δk = (0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0, . . .) (zn ) = (z1 , z2 , . . . , zk , zk+1 , . . .) Ent˜ ao, hδk , (zn )i =
∞ X
δkn zn
n=1
= δk1 z1 + δk2 z2 + . . . + δkk zk + δk(k+1) zk+1 + . . . = 0 · z1 + 0 · z2 + . . . + 1 · zk + 0 · zk+1 + . . . = zk Isto ´e, hδk , (zn )i = zk
(k = 1, 2, 3, . . .)
Sendo assim vamos pedir ` as seq¨ uˆencias δk (k = 1, 2, . . .) que nos mostrem os termos da seq¨ uˆencia p = lim xn . Do seguinte modo∗ pk = hδk , pi = hδk , lim xn i = limhδk , xn i n
n
= lim xnk n→∞
onde xnk ´e dado pela equa¸c˜ ao (9.18) (pg. 473) a qual repetimos aqui 8 1 < k−1 , se n ≥ k; 2 xnk = :0, se n < k. Vamos calcular alguns destes limites. Temos,
p1 = lim xn1 n→∞
∗O
produto interno possui a propriedade: hlim xn , lim yn i = limhxn , yn i n
475
n
n
onde, xn1 =
8 <
1 , 21−1
se n ≥ 1;
:0,
se n < 1.
` ´ xn1 = (1, 1, 1, . . .) → 1
⇒
⇒ p1 = lim xn1 = 1. n→∞
Tamb´em, p2 = lim xn2 n→∞
onde, xn2 =
8 <
1 , 22−1
:0,
se n ≥ 2; se n < 2.
⇒
`
´ 1 1 1 xn2 = (0, , , . . .) → 2 2 2
⇒ p2 = lim xn2 = n→∞
1 . 2
E de um modo geral, temos
xnk =
8 <
1 , 2k−1
:0,
se n ≥ k; se n < k.
⇒
`
´ xnk = (0, . . . , 0,
⇒ pk = lim xnk = n→∞
1 1 1 , , . . .) → k−1 2k−1 2k−1 2
1 . 2k−1
Portanto, ` ´ p = p1 , p2 , p3 , . . . ´ ` 1 1 1 = 1, , , . . . , k−1 , . . . 6∈ C0 0 2 4 2 ` ´ logo a seq¨ uˆencia de Cauchy (xn ) n˜ ao converge no espa¸co C0 0 , h·, ·i .
476
9.5
Completamento de Espa¸ cos M´ etricos
O espa¸co (Q, µ) n˜ ao ´e completo como j´ a vimos. A constru¸c˜ ao de (R, µ) ` a partir de (Q, µ) (ver [11], vol. 1 ou [10]) ´e o que denominamos de um “completamento” de (Q, µ). Veremos que todo espa¸co m´etrico pode ser “completado”. Ou, de modo mais preciso: a partir de qualquer espa¸co m´etrico podemos construir um espa¸co m´etrico completo. Defini¸ c˜ ao`66 (Completamento). Um completamento de um espa¸co m´etrico (M, d) ´ ˆ , D); ϕ , onde (M ˆ , D) ´e um espa¸co m´etrico completo, ϕ : M → M ˆ ´e um par (M ˆ , D) (isto ´e, ´e uma imers˜ ao isom´etrica (preserva distˆ ancia) e ϕ(M ) ´e denso em (M ˆ ). ϕ(M ) = M
y
q
xq
ˆ D) (M,
(M, d)
q ϕ(x)
ϕ ϕ(M)
q ϕ(y)
ˆ ϕ(M)=M
ˆ , D); ϕ) = Completamento de (M, d) / d(x, y) = D(ϕ(x), ϕ(y)) Figura 9.1: ( (M − De in´ıcio observamos que por ϕ ser uma imers˜ ao isom´etrica ent˜ ao ela transforma ˆ (ver prop. 117, pg. 453). seq¨ uˆencias de Cauchy de M em seq¨ uˆencias de Cauchy de M Exemplos: ˆ. Vamos, em um caso particular, justificar o porquˆe da exigˆencia ϕ(M ) = M ˆ 1ˆ 1. Consideremos o espa¸co m´etrico (M, µ) onde M = 0, 4 este espa¸co n˜ ao ´e completo. Vamos complet´ a-lo. Primeiramente observemos que (M, µ) ´e um subespa¸co do espa¸co m´etrico completo ([ 0, 1 ], µ). Observe que a imers˜ ao isom´etrica ϕ(x) = x nos fornece: ˆ 1˜ ˆ 1˜ ˆ 3˜ ˆ 1ˆ ⊂ 0, ⊂ 0, ⊂ 0, ⊂ [ 0, 1 ] ϕ(M ) = M = 0, 4 4 2 4 ˆ ˜ ˆ ˜ ˆ ˜ Todos os quatro espa¸cos, 0, 41 , 0, 21 , 0, 43 e [ 0, 1 ] s˜ ao completos (por serem subespa¸cos fechados de um espa¸co completo).
Perguntamos: qual deles elegemos como completamento de M ? Aqui, precisamente ˆ ˜ ˆ nos manda escolher: M ˆ = 0, 1 como o completamento de M . a condi¸c˜ ao ϕ(M ) = M 4 Esta condi¸c˜ ao, como vimos, estabelece a unicidade do completamento, num sentido que ser´ a precisado oportunamente. ˆ esta mesma condi¸c˜ Observe, ademais que no caso em ϕ(M ) ⊂ M ao nos diz que o completamento de M ´e o “menor” fechado que cont´em M . Ou seja, basta juntar a ◦ ¯ = X ∪ ∂X). M seus pontos aderentes ou de fronteira (j´ a vimos que: X
2. Consideremos os espa¸cos (Q, µ) e (R, µ). Tomando ϕ : Q → R dada por ϕ(x) = x temos que ϕ ´e uma imers˜ ao isom´etrica (preserva distˆ ancias) e ϕ(Q) = Q ´e denso no espa¸co m´etrico completo (R, µ). Logo (R, µ) ´e um completamento de (Q, µ).
3. Toda seq¨ uˆencia de Cauchy no espa¸co ( [ 0, 1 [, µ ) converge no espa¸co ( [ 0, 1 [, k ) que ´e completo. Sendo assim seriamos tentados a imaginar que o segundo destes espa¸cos ´e um completamento do primeiro. Acontece entretanto que pela defini¸c˜ ao de completamento, uma condi¸c˜ ao necess´ aria para tanto ´e que exista uma uma imers˜ ao isom´etrica: ϕ : ( [ 0, 1 [, µ ) −→ ( [ 0, 1 [, k ) (9.19)
477
Afirmamos que n˜ ao existe uma tal imers˜ ao. De fato, suponha pelo contr´ ario que exista uma ϕ imers˜ ao isom´etrica; sendo assim devemos ter, k( ϕ(x), ϕ(y) ) = |x − y|, ∀ x, y ∈ [ 0, 1 [ Tomemos nesta igualdade y = 0 e x = xn = 1 − n1 , assim: ” ˛ “ ` ˛ 1 1´ , ϕ(0) = ˛1 − − 0˛ k ϕ 1− n n
Tomemos o limite em ambos os membros, “ ` ” ˛ 1´ 1˛ lim k ϕ 1 − , ϕ(0) = lim ˛1 − ˛ n n
Tendo em conta a continuidade da aplica¸c˜ ao k (ver equa¸c˜ ao (7.7), pg. 333), obtemos “ ” ` 1´ k lim ϕ 1 − , ϕ(0) = 1 n ` ` ´´ Como (xn ) ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy no dom´ınio segue-se que sua imagem ϕ xn ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy no contra-dom´ınio. Como o contra-dom´ınio ´e um espa¸co completo segue que esta seq¨ uˆencia tem um limite a ∈ [ 0, 1 [, portanto: ` ´ k a, ϕ(0) = 1 Ora, este resultado contradiz o fato que 0 ≤ k(x, y) < 1, ∀ x, y ∈ [ 0, 1 [. Portanto, n˜ ao existe nenhuma imers˜ ao isom´etrica da forma (9.19).
• A constru¸c˜ ao (completamento) do exemplo 1. acima pode sempre ser feita no caso de dois espa¸cos quaisquer (M, d) e (N, d) onde o primeiro ´e incompleto e o segundo completo (logo, fechado), e M ⊂ N . Isto ´e, basta tomar ˆ =M ⊂N ϕ : M −→ M x 7−→ x
E quando o espa¸co incompleto (M, d) n˜ ao ´e subespa¸co de um espa¸co completo, ainda assim podemos complet´ a-lo? A resposta est´ a no conte´ udo da pr´ oxima proposi¸c˜ ao. Por oportuno, observe que na defini¸c˜ ao de completamento n˜ ao exigimos que M ⊂ ˆ. M Proposi¸ c˜ ao 124 (Existˆencia do completamento). Todo espa¸co m´etrico possui um completamento. Prova: Sejam (M, d) um espa¸ ` co m´etrico e p´um ponto fixado em M . Invoquemos em nosso aux´ılio o espa¸co BC(M, R); k · kΨ das fun¸c˜ oes cont´ınuas e limitadas f : M → R que ´e completo conforme vimos no exemplo 5 (pg. 466). Vamos definir uma aplica¸c˜ ao: σ : (M, d) −→ BC(M, R) a 7−→ fa onde, σ(a) = fa : M −→ R x 7−→ d(x, a)−d(x, p) Isto significa que a cada ponto a ∈ M associamos a fun¸c˜ ao fa ∈ BC(M, R) dada por fa (x) = d(x, a) − d(x, p).
478
p
q
p
BC(M, R)
(M, d)
a
q
q
σ
(M, d)
a
x
q
q
q σ(a)=fa
-
(R, µ)
fa
-
6 r fa (x)=d(x, a)−d(x, p)
Devemos mostrar que σ est´ a bem definida, isto ´e, que fa efetivamente ´e um elemento do conjunto BC(M, R). Ou ainda, que fa : (M, d) −→ (R, µ), dada por fa (x) = d(x, a) − d(x, p) de fato ´e cont´ınua e limitada. Com efeito fa ´e cont´ınua por ser a diferen¸ca entre duas fun¸c˜ oes cont´ınuas∗ e ´e limitada porque para todo x ∈ M ocorre‡ |fa (x)| = |d(x, a) − d(x, p)| ≤ d(a, p) Vamos mostrar que σ ´e uma imers˜ ao isom´etrica. Consideremos M a 7−→ σ(a) = fa ∈ BC(M, R) M b 7−→ σ(b) = fb ∈ BC(M, R) mostremos que De fato,
kσ(a) − σ(b)kΨ = kfa − fb kΨ = d(a, b).
˘ ¯ kfa − fb kΨ = sup |fa (x) − fb (x)| : x ∈ M
˘˛` ´ ` ´˛ ¯ = sup ˛ d(x, a) − d(x, p) − d(x, b) − d(x, p) ˛ : x ∈ M
mas,
˛ ˘˛ ¯ = sup ˛d(x, a) − d(x, b)˛ : x ∈ M
|d(x, a) − d(x, b)| ≤ d(a, b)
logo, d(a, b) ´e uma cota superior do conjunto { |d(x, a) − d(x, b)| : x ∈ M }. Portanto, sup{ |d(x, a) − d(x, b)| : x ∈ M } ≤ d(a, b). ∗ Ver
‡ Ver
exemplo (iv), pg. 329 proposi¸ca ˜o 26, pg. 118
479
pois sup ´e a menor das cotas superiores. Ent˜ ao, kfa − fb kΨ ≤ d(a, b)
(♮)
Por outro lado, para x = b, temos ˛` ´ ` ´˛ |fa (b) − fb (b)| = ˛ d(b, a) − d(b, p) − d(b, b) − d(b, p) ˛ = |d(b, a)|
= d(a, b).
Portanto, d(a, b) = |fa (b) − fb (b)| ≤ sup { |fa (x) − fb (x)| } x∈M
= kfa − fb kΨ
(♯)
logo, (♮) e (♯) garantem que kfa − fb kΨ = d(a, b). Portanto, ` ´ σ : (M, d) −→ BC(M, R); k · kΨ
´e uma imers˜ ao isom´etrica. ` ´ Por´em n˜ ao h´ a garantia de que σ(M ) seja denso em BC(M, R); k · kΨ raz˜ ao porque tomamos ˆ = σ(M ) ⊂ BC(M, R) M ˆ `Assim (M , D) resulta ´ completo por ser subespa¸co fechado do espa¸co m´etrico completo BC(M, , R); k · kΨ . ˆ ` Observe da inclus˜ ´ ao anterior que a m´etrica do espa¸co (M , D) ´e a m´etrica do espa¸co BC(M, R); k · kΨ restrita ao fecho de σ(M ). Isto ´e, D(fa , fb ) = kfa − fb kΨ . Fa¸camos, ˆ ϕ : M −→ M a 7−→ fa
Observe que as aplica¸c˜ oes ϕ e σ tˆem o mesmo dom´ınio, s˜ ao dadas pela mesma lei a 7→ fa , mas tˆem contradom´ımios diferentes: o de σ ´e BC(M, R) enquanto o de ϕ ´e σ(M ) ⊂ BC(M, R). Temos, σ(M ) = {σ(a) : a ∈ M } = {fa : a ∈ M }
ϕ(M ) = {ϕ(a) : a ∈ M } = {fa : a ∈ M } Logo, ˆ. ϕ(M ) = σ(M ) ⇒ ϕ(M ) = σ(M ) = M ` ´ ˆ , D); ϕ ´e um completamento de (M, d). Por conseguinte (M
Faremos agora algumas observa¸c˜ oes no sentido de esclarecer em que sentido deveˆ , D) ´e um completamento do espa¸co (M, d): mos entender que o espa¸co (M ´ ˆ , porquanto os elementos de M e M ˆ tˆem naturezas distin1a N˜ ao temos M ⊂ M ˆ s˜ tas. Os elementos de M podem ser quaisquer, enquanto os de M ao sempre fun¸c˜ oes f : M → R cont´ınuas e limitadas. ´ ˆ , D) ao isom´etrica entre (M, d) e (M 2a Devido existir uma imers˜ ` ´ M, d
ϕ
` ´ ˆ, D M
480
dados dois elementos quaisquer a, b ∈ M temos duas op¸c˜ oes para calcular a distˆ ancia entre os mesmos: ou diretamente atrav´es da m´etrica d ou indiretamente, transferindoos (metamorfoseando-os) atrav´es de ϕ, e calculando a distˆ ancia entre as respectivas imagens ϕ(a) e ϕ(b) na m´etrica D uma vez que ` ´ ` ´ d(a, b) = D ϕ(a), ϕ(b) = D fa , fb = kfa − fb kΨ ´ 3a Dada uma seq¨ uˆencia de Cauchy (xn ) em (M, d), como este espa¸co n˜ ao ´e completo, esta seq¨ uˆencia n˜ ao tem obriga¸c˜ ao de convergir. Pela proposi¸c˜ ao 117 (pg. 453) uma aplica¸c˜ ao uniformemente cont´ınua transforma seq¨ uˆencias de Cauchy em seq¨ uˆencias de Cauchy e sendo uma imers˜ ao isom´ ao uniformemente ` etrica ´ uma aplica¸c˜ cont´ınua (ver quadro ` a pg. 353) segue que ϕ(xn ) ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy no ˆ , D) e, por conseguinte, tem a obriga¸c˜ espa¸co m´etrico completo (M ao de convergir. Em resumo: embora uma seq¨ uˆencias de Cauchy (xn ) n˜ ao convirja necessariamente em ˆ , D). (M, d) (incompleto) sua seq¨ uˆencia imagem necessariamente converge em (M Vamos concretizar o que dissemos `acima atrav´ oes. ´ es de algumas simula¸c˜ • Consideremos o espa¸co m´etrico ] 0, 1 ], µ que n˜ a o ´ e completo. J´ a vimos que ` ´ uma completa¸c˜ ao deste espa¸co ´e [ 0, 1 ], µ . Agora obteremos uma outra constru¸c˜ ao (um outro completamento) seguindo os passos da demonstra¸c˜ ao da proposi¸c˜ ao 124. Ent˜ ao, definimos ` ´ ˆ ⊂ BC(M, R) ϕ : ] 0, 1 ], µ −→ M a
7−→
fa
onde, ϕ(a) = fa : ] 0, 1 ] −→ R 7−→
x
|x−a|−|x−p|
ˆ , D); ϕ), onde, M ˆ = ϕ( ] 0, 1 ] ) e, O completamento de ( ] 0, 1 ], µ) ´e o par ( (M D(fa , fb ) = kfa − fb kΨ = d(a, b), ∀ a, b ∈ ] 0, 1 ] Observe que, ϕ( ] 0, 1 ] ) =
˘
ϕ(a) : a ∈ ] 0, 1 ]
¯
= { fa : a ∈ ] 0, 1 ] }
Por exemplo, consideremos dois pontos a = 14 e b = 43 e calculemos a distˆ ancia entre eles tanto no espa¸co quanto no seu completamento. Temos M
1
b= 3 4
6 * r ` ´
ϕ 3 4
r f3 : ] 0, 1 ] −→ R 4
x
7−→
3 |−|x−p| |x− 4
1 ⊥ 2
1 a= 4
0
r H HH ` ´HH ϕ 1 H 4 j r H f1 : ] 0, 1 ] −→ R 4
x
481
7−→
1 |−|x−p| |x− 4
• Vamos mostrar que: d Temos,
‚ ‚ ‚ `1 3´ ˛1 ` ´ ‚ 1 3˛ ‚ f , − f = ˛ − ˛ = = d f1 , f3 = ‚ 1 3 ‚ ‚ 4 4 4 4 2 4 4 4 4 Ψ ˛ 1˛ f1 (x) = ˛x − ˛ − |x − p| 4 4 ˛ 3˛ f3 (x) = ˛x − ˛ − |x − p| 4 4
Logo,
˛ 3˛ 1˛ ˛ f1 (x) − f3 (x) = ˛x − ˛ − ˛x − ˛ 4 4 4 4 Observe que esta diferen¸ca independe do ponto p fixado no intervalo ] 0, 1 ]. Ent˜ ao, ‚ ‚ ff ‚ ˛ ˛ ` ´ ‚ ‚ ˛ ˛ d f1 , f3 = ‚ ‚f1 − f3 ‚ = sup f1 (x) − f3 (x) : x ∈ M 4
4
4
4
4
Ψ
Temos,
8 ˛ ˛
8
Graficamente temos,
4
ff ˛ ˛ 3 ˛˛ 1˛ ˛ ˛˛ = sup ˛˛x − ˛ − ˛x − ˛˛ : x ∈ ] 0, 1 ] 4 4
|x− 1 |=−x+ 1 4 4
|x− 1 |=x− 1 4 4
@ @⊣
⊣ 0
1 4
se x ≥ 34 ; se x ≤ 34 .
⊣
1 2
⊣
se x ≤ 14 .
⊣
1 4
⊣ 0
se x ≥ 14 ;
⊣ 1
3 4
|x− 3 |=−x+ 3 4 4
|x− 3 |=x− 3 4 4
-
@ @⊣
⊣
1 2
⊣ 1
3 4
Destes gr´ aficos obtemos, ˛ ˛ ˛ ` ˛ ´ ` ´ 0 < x ≤ 14 ⇒ ˛x − 14 ˛ − ˛x − 43 ˛ = − x + 14 − − x + 34 = − 21
Ent˜ ao,
1 4
≤x≤
3 4
⇒
3 4
≤x≤1
⇒
˛ ˛ ˛ ` ˛ ´ ` ´ ˛x − 1 ˛ − ˛x − 3 ˛ = x − 1 − − x + 3 = 2x − 1 4 4 4 4
˛ ˛ ˛ ` ˛ ´ ` ´ ˛x − 1 ˛ − ˛x − 3 ˛ = x − 1 − x − 3 = 4 4 4 4
1 2
˛˛ ˛˛ ˛ ˛ 1˛ ˛ 1˛ ˛ 3 ˛˛ 3 ˛˛ 1 ˛ ˛ sup ˛˛x − ˛ − ˛x − ˛˛ = sup ˛˛x − ˛ − ˛x − ˛˛ = 4 4 4 4 2 1 3 x∈ ]0, ] x∈ [ ,1] 4
4
482
-
-
Por outro lado, 3 1 3 1 1 1 ≤x≤ ⇔ ≤ 2x ≤ ⇔ − ≤ 2x − 1 ≤ 4 4 2 2 2 2 ⇔ |2x − 1| ≤
1 2
˛ ˛ ˆ 1˜ ⇒ ˛f1 (x) − f3 (x)˛ ∈ 0, 2 4 4
Portanto,
‚ ‚ ff ˛ ‚ ˛ ˛ ˛˛ ‚ ˛ ‚f1 − f3 ‚ = sup ˛˛˛x − 1 ˛ − ˛x − 3 ˛˛˛ : x ∈ ] 0, 1 ] = 1 ‚ 4 ‚ 4 4 2 4 Ψ
conforme haviamos previsto. • Consideremos em M` =] 0, 1 ] a´ seq¨ uˆencia (xn ) dada por xn = 1/n. Esta seq¨ uˆencia ´e de Cauchy no espa¸co ] 0, 1 ], µ mas n˜ ao converge neste espa¸co. Vamos mostrar ` ´ ` ´ ˆ , D . Temos (fixando p = 1) que a seq¨ uˆencia imagem ϕ(xn ) converge no espa¸co M ϕ( n1 ) = f 1 : ] 0, 1 ] −→ R n
x
7−→
1 |−|x−1| |x− n
logo ˛ 1˛ f 1 (x) = ˛x − ˛ − |x − 1| n n
Alternativamente f 1 (x) pode ser escrita como, n
8 1 > > < n − 1, f 1 (x) = > n > :2x − 1 − 1, n
se 0 < x ≤ se
1 n
1 n
;
≤ x ≤ 1.
A seguir plotamos os trˆes primeiros termos desta afico ´ uˆencia juntamente com o gr´ ` seq¨ da fun¸c˜ ao f candidata ao limite da seq¨ uˆencia f 1 . n
1
f1(x)
f1(x)
f1(x)
2
6
1
q
1 2
1
q
1 2
q
-
x
q
q
1 2
1
1 2
−1
−1
q
f (x)
3
6
6
-
−1
q
1 2
q 1 2
q q
6
q
q
x q1
◦ q
1
q
q
-
x q1
q 12 1 2
−1
-x
q1
q q
` ´ Observe que estas fun¸c˜ oes pertencem todas ao conjunto BC ] 0, 1 ], R . ` ´ ˆ , D) (por ser a A seq¨ uˆencia f 1 ´e de Cauchy no espa¸co m´etrico completo (M n
imagem de uma seq¨ uˆencia de Cauchy por uma imers˜ ao isom´etrica (ϕ)). Portanto ela converge neste espa¸co. Vamos mostrar que a seguinte convergˆencia se verifica,
483
f1
D(·, ·)=k · kΨ
f
n
` ´ onde f ∈ BC ] 0, 1 ], R ´e dada por f (x) = 2x c˜ ao´33 (pg. 201) ´e ` − 1. Pela ´ proposi¸ ` suficiente mostrar que a seq¨ uˆencia num´erica d(f 1 , f ) = Ψ(f 1 , f ) converge para n
0 no espa¸co (R, µ). De fato,
ff ˛ ˛ Ψ(f 1 , f ) = sup ˛f 1 (x) − f (x)˛ : 0 < x ≤ 1 n
onde
n
n
8 1 1 > > <−2x + n , se 0 < x ≤ n ; f 1 (x) − f (x) = > 1 n > :− , se n1 ≤ x ≤ 1. n A seguir vemos os gr´ aficos de h(x) = f 1 (x) − f (x) e |h(x)|. n
|h(x)|
h(x)
1
1 n
6
1
q
1 n
q q n1
1 −n
−1
6
q q
-x
q1
q n1 1 −n
q
−1
q
-x
q1
q q
Temos, 0
Portanto,
2 2 1 ⇔ 0 < 2x ≤ ⇔ − ≤ −2x < 0 n n n ˛ 1 1 1 1 1˛ ⇔ − ≤ −2x + < ⇒ ˛ − 2x + ˛ ≤ n n n n n ˛ ˆ 1˜ ˛ . ⇔ ˛f 1 (x) − f (x)˛ ∈ 0, n n
ff ˛ ˛ 1 Ψ(f 1 , f ) = sup ˛f 1 (x) − f (x)˛ : 0 < x ≤ 1 = → 0. n n n Na proposi¸c˜ ao seguinte teremos a oportunidade de ver que, na defini¸c˜ ao de compleˆ vai nos permitir fixar (amarrar) a unicidade tamento, a exigˆencia adicional ϕ(M ) = M do completamento. ` ´ ` ´ ˆ , D1 ); ϕ e (M ˜ , D2 ); ψ Proposi¸ c˜ ao 125 (Unicidade do completamento). Sejam (M dois completamentos do mesmo espa¸co m´etrico (M, d), ent˜ ao existe uma isometria ˆ →M ˜ tal que f ◦ ϕ = ψ. f: M ˆ , D1 ) e (M ˜ , D2 ) espa¸cos m´etricos completos, ϕ : M → M ˆ e Prova: Sejam (M ˜ ψ: M → M ˆ e ψ(M ) = M ˜ . Para construir a fun¸c˜ ao f deseimers˜ oes isom´etricas tais que ϕ(M ) = M ˆ ˆ existe jada observemos que dado y ∈ M e sendo ϕ(M ) = { ϕ(x) : x ∈ M } denso em M uma seq¨ uˆencia yn ∈ ϕ(M ) de modo que lim yn = y (proposi¸c˜ ao 65, pg. `279). ´ Como yn ∈ ϕ(M ) existe an ∈ M com yn = ϕ(an ) de modo que: lim yn = lim ϕ an = y.
484
´ ` ˆ , D1 ent˜ ao ´e de Cauchy neste espa¸co. Como ϕ ´´e Como ϕ(an ) converge em M ` imers˜ ao isom´etrica segue que an ´e de Cauchy em (M, d). Por conseguinte ψ(an ) ` ´ ˜ , D2 visto que ψ ´e tamb´em imers˜ ´e uma seq¨ uˆencia de Cauchy em M ao isom´etrica. ´ ` ˜ , D2 ´e completo existe lim ψ(an ) neste espa¸co. Vamos definir ent˜ ao f (y) = Como M lim ψ(an ) ˆ,D ) (M 1
(M, d)
p qqqqq
ϕ
q
-
y
q. .
ϕ(M )
.q q q q q q
տ y =ϕ(a ) n n
an
ψ
?
˜,D ) (M 2
q q ψ(an ) qq q q ցq f (y)≡lim ψ(an )
f
Devemos verificar se f est´ a bem definida. Isto ´e, que se (an ) e (bn ) s˜ ao duas seq¨ uˆencias em M com lim ϕ(an ) = lim ϕ(bn ) = y ent˜ ao lim ψ(an ) = lim ψ(bn ). Ent˜ ao∗ ` ´ ` ´ D2 lim ψ(an ), lim ψ(bn ) = lim D2 ψ(an ), ψ(bn )
= lim d(an , bn ) ` ´ = lim D1 ϕ(an ), ϕ(bn ) ` ´ = D1 lim ϕ(an ), lim ϕ(bn ) ` ´ = D1 y, y = 0.
Portanto lim ψ(an ) = lim ψ(bn ). ˆ , como ϕ(M ) Agora vamos mostrar que f ´e uma imers˜ ao isom´etrica. Dados x, y ∈ M ˆ ´e denso em M existem seq¨ uˆencias xn , yn ∈ ϕ(M ) tais que lim xn = x, lim yn = y. Por outro lado, existem seq¨ uˆencias (an ) e (bn ) em M tais que ϕ(an ) = xn ; ϕ(bn ) = yn de modo que lim ϕ(an ) = lim xn = x, lim ϕ(bn ) = lim yn = y.
∗ Proposi¸ ca ˜o
76, pg. 333
485
Ent˜ ao ` ´ ` ´ D2 f (x), f (y) = D2 lim ψ(an ), lim ψ(bn ) ` ´ = lim D2 ψ(an ), ψ(bn ) = lim d(an , bn ) ` ´ = lim D1 ϕ(an ), ϕ(bn ) ` ´ = D1 lim ϕ(an ), lim ϕ(bn ) ` ´ = D1 x, y .
˜ devemos construir um ponto y ∈ M ˆ Devemos mostrar que f ´e sobrejetiva. Dado z ∈ M ˜ tal que f (y) = z. Pois bem, como ψ(M ) = {ψ(x) : x ∈ M } ´e denso em (M , D2 ), isto ˜ ent˜ ˜ existe uma seq¨ ´e, ψ(M ) = M ao para este z ∈ M uˆencia (yn ) de pontos de ψ(M ) tal que lim yn = z. Como yn ∈ ψ(M ) existe` an ∈ ´M tal que yn = ψ(an ). Portanto ˆ . Sendo ψ e ϕ imers˜ lim ψ(an ) = z. a seq¨ uˆencia ϕ(an ) em M oes ` Consideremos ´ ` ´ isom´etricas e ψ(an ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy, ent˜ ao a seq¨ uˆencia ϕ(an ) ´e tamb´em de Cauchy. ` ´ Porquanto se ϕ(an ) n˜ ao fosse de Cauchy e como ϕ ´e imers˜ ao isom´etrica ent˜ ao (an ) t˜ ao pouco seria de Cauchy. Ora (a ) n˜ a o sendo de Cauchy e ψ sendo imers˜ a o n ` ´ isom´etrica ent˜ ao ψ(an ) n˜ ao seria de Cauchy. O que n˜ ao ´e verdade pois esta seq¨ uˆencia converge. ˆ tal que y = lim ϕ(an ). Da defini¸c˜ Logo existe y ∈ M ao de f segue que f (y) = lim ψ(an ) = z. Portanto f ´e uma imers˜ ao isom´etrica sobrejetiva, isto ´e, uma isometria. Resta mostrar que f ◦ ϕ = ψ. Dado a ∈ M existe y = ϕ(a), tomemos em M uma seq¨ uˆencia (an ) com lim an = a. Ent˜ ao ` ´ ` ´ f ◦ ϕ (a) = f ϕ(a) = f (y)
= lim ψ(an ) = ψ(lim an ) = ψ(a). ˆ →M ˜ nos permite identificar os dois completa− A existˆencia da isometria f : M mentos.
a
r
˜,D ) (M 2
ˆ,D ) (M 1
(M, d)
ϕ
rϕ(a)
f
f −1
Ψ
486
rf (ϕ(a))=Ψ(a)
9.6
Espa¸ cos topologicamente completos
Observe que os espa¸cos (R, µ) e ( ] − 1, 1 [ ; µ) s˜ ao homeomorfos (exemplo 2) pg. 361) n˜ ao obstante o primeiro ser completo e o segundo n˜ ao. Isto ´e poss´ıvel pelo fato de que “ser completo” ou “n˜ ao ser completo” n˜ ao ´e uma propriedade topol´ ogica, visto que n˜ ao ´e preservada por homeomorfismos. Consideremos dois espa¸cos (M, d) e (N, D) homeomorfos. Se h : (M, d) −→ (N, D) ´e um homeomorfismo ent˜ ao (ver pg. 148) ` ´ d′ (x, y) = D h(x), h(y)
(♭)
´e uma m´etrica em M equivalente∗ a d, tal que
h′ : (M, d′ ) −→ (N, D) ´e uma isometria (devido a (♭)). Logo (M, d′ ) resultar´ a completo se (N, D) o for (proposi¸c˜ ao 121, pg. 461). Como d′ ∼ d temos que i : (M, d) −→ (M, d′ )
´e um homeomorfismo sendo que (M, d) pode n˜ ao ser completo mas (M, d′ ) sim. Isto ´e, sendo (M, d) um espa¸co n˜ ao completo pode existir uma m´etrica d′ , equivalente a d, que o torne completo. Por exemplo, ` ´ ` ´ h : ] − 1, 1 [ , µ −→ R, µ
dada por h(x) =
x ´e um homeomorfismo. Fazendo 1 − |x| ` ´ d′ (x, y) = µ h(x), h(y)
= |h(x) − h(y)| ˛ ˛ ˛ x y ˛˛ ˛ − =˛ 1 − |x| 1 − |y| ˛
` ´ temos que ] − 1, 1 [ , d′ resulta um espa¸co m´etrico completo. Observe, uˆencia dada por an = 1 − n1 ´e de Cauchy ` a t´ıtulo de ´curiosidade, que a seq¨ no espa¸co ] − 1, 1 [ , µ ; sendo este um` espa¸co n˜ ao completo esta seq¨ uˆencia n˜ ao tem ´ obriga¸c˜ ao de convergir. J´ a no espa¸co ] − 1, 1 [ , d′ , que ´e completo, esta mesma seq¨ uˆencia n˜ ao ´e de Cauchy, n˜ ao tendo portanto obriga¸c˜ ao de convergir. Das afirma¸c˜ oes feitas vamos mostra que (an ) n˜ ao ´e de Cauchy na m´etrica d′ . Para tanto devemos exibir ε > 0 de modo que para todo ´ındice n0 existam m ≥ n0 e n ≥ n0 tais que d′ (am , an ) ≥ ε (pg. 447). De fato, consideremos ε = 1/2 e dado n0 ∈ N tomemos m = n0 + 1 e n = n0 , ent˜ ao |m − n| = |(n0 + 1) − n0 | = 1, ∗ No
apˆ endice (pg. 499) mostramos que d′ ∼ d.
487
portanto isto implica em que ˛ ˛ ˛ ` ` 1´ 1 ´˛˛ |m − n| ≥ ε ⇒ ˛˛m 1 − −n 1− ≥ε m n ˛ ˛ ˛ ˛ 1− 1 1 ˛ 1 − ˛ ` m1´− ` n 1 ´ ˛˛ ≥ ε ⇒ ˛ ˛1 − 1 − m 1− 1− n ˛ ˛ ˛ ˛ ˛ 1− 1 1 − n1 ˛ m ˛ ˛ ˛− ˛ ˛˛ ≥ ε ⇒ ˛ 1 1 ˛ ˛ ˛ ˛ ˛1 − 1 − m 1− 1− n ˛
˛ ˛ ˛ ˛ an ˛ ˛ am ˛ ˛− ˛ ˛ ˛ ≥ ε ⇒ d′ (am , an ) ≥ ε. ⇒ ˛ ˛ 1 − ˛am ˛ 1 − ˛an ˛ ˛
Proposi¸ c˜ ao 126. Todo subconjunto aberto de um espa¸co m´etrico completo ´e homeomorfo a um espa¸co m´etrico completo. Prova: Seja A ⊂ M aberto no espa¸co m´etrico completo (M, d). A aplica¸c˜ ao, ϕ : M −→ R x 7−→ d(x, Ac ) ´e cont´ınua (pg. 329). Como Ac ´e fechado temos (proposi¸c˜ ao 63, pg. 278) ϕ(x) > 0 ⇔ x ∈ A. Portanto, podemos definir a fun¸c˜ ao f : A ⊂ M −→ R 1 x 7−→ ϕ(x) Observe que f ´e cont´ınua porque ϕ ´e cont´ınua. Vamos considerar as duas seguintes fun¸c˜ oes auxiliares g : A × R −→ R (x, t) 7−→ t
j : A × R −→ R 1 (x, t) 7−→ ϕ(x)
X
g ´e cont´ınua (proje¸c˜ ao) e mostremos que j tamb´em ´e cont´ınua. Para tanto vamos considerar no produto A × R a m´etrica (ver pg. 151) D2 (X, Y ) = d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 ) = d(x, y) + |b − c| onde, X = (x, c) ∈ A × R e Y = (y, b) ∈ A × R. R
R
t
r g(x, t)
g
c
b
q q
r(x, t)
j(x, t)
r(x, c)
j
r(y, b)
q xp
yp
A
f
r
R
A×R
?
f (x)
r
f (y)
488
R
-
r
Vamos mostrar que j ´e cont´ınua em um ponto arbitr´ ario Y = (y, b). Dado ε > 0 devemos exibir δ > 0 de maneira que D2 (X, Y ) < δ ⇒ |j(X) − j(Y )| < ε ou ainda,
˛ ˛ ˛ 1 1 ˛˛ ˛ d(x, y) + |b − c| < δ ⇒ ˛ <ε − ϕ(x) ϕ(y) ˛
(♮)
Consideremos a continuidade de f no ponto y. Ent˜ ao, dado ε > 0 existe δ ′ > 0 de modo que ˛ ˛ ˛ 1 1 ˛˛ <ε d(x, y) < δ ′ ⇒ |f (x) − f (y)| = ˛˛ − ϕ(x) ϕ(y) ˛ Logo,
˛ ˛ ˛ 1 1 ˛˛ <ε d(x, y) + |b − c| < δ ′ + |b − c| ⇒ ˛˛ − ϕ(x) ϕ(y) ˛
Portanto tomando δ = δ ′ + |b − c| teremos (♮) satisfeita. Logo j ´e cont´ınua. Com este resultado asseguramos que o conjunto ˘ ¯ F = (x, t) ∈ A × R : g(x, t) = j(x, t) ff 1 = (x, t) ∈ A × R : t = ϕ(x) ´e fechado (ver observa¸c˜ ao, pg. 348). Como F ⊂ A × R ⊂ M × R, decorre que F ´e um subespa¸co completo, por ser fechado em M × R, que ´e completo (proposi¸c˜ ao 120, pg. 460). Por outro lado o gr´ afico de f ´e dado por ˘` ´ ¯ G(f ) = x, f (x) : x ∈ A “ ff 1 ” = x, :x∈A ϕ(x) ff 1 = F. = (x, t) ∈ A × R : t = ϕ(x) Como o gr´ afico de uma aplica¸c˜ ao cont´ınua ´e homeomorfo ao seu dom´ınio (ver exemplo 6), pg. 370) segue que o espa¸co completo F = G(f ) ´e homeomorfo ao aberto A. O homeomorfismo em quest˜ ao ´e dado por (exemplo 6), pg. 370) h : (A, d) −→ (G(f ), D2 ) ` ´ x 7−→ x, f (x)
ent˜ ao (ver equa¸c˜ ao (♭) pg. 487)
` ´ d′ (x, y) = D2 h(x), h(y)
´e uma m´etrica em A equivalente a d, tal que ` ´ h′ : (A, d′ ) −→ G(f ), D2 ` ´ x 7−→ x, f (x)
489
(♯)
(‡)
´ ` ´e uma isometria; sendo que (A, d′ ) ´e completo porque G(f ), D2 o ´e. Na igualdade (♯) temos ` ´ “ 1 ” h(x) = x, f (x) = x, ϕ(x) ` ´ “ h(y) = y, f (y) = y,
ent˜ ao,
1 ” ϕ(y)
„“
1 ” “ 1 ” x, ; y, ϕ(x) ϕ(y) ˛ ˛ ˛ 1 1 ˛˛ = d(x, y) + ˛˛ − ϕ(x) ϕ(y) ˛
` ´ D2 h(x), h(y) = D2
ao mas ϕ(x) = d(x, Ac ), ent˜
˛ ˛ d′ (x, y) = d(x, y) + ˛˛
«
˛ ˛ 1 1 ˛ − c c d(x, A ) d(y, A ) ˛
(9.20)
Vamos concretizar a demonstra¸c˜ ao da proposi¸c˜ ao anterior com um exemplo espec´ıfico. Consideremos o subespa¸co (A, µ) do espa¸co m´etrico completo (R, µ), onde A =] − 1, 1 [. Temos, ϕ : R −→ R x 7−→ d(x, Ac )
onde
c
A =] −∞, 1 ] ∪ [ 1, +∞ [
tamb´em, f : ] − 1, 1 [ −→ R 1 x 7−→ ϕ(x) Vamos explicitar as aplica¸c˜ oes ϕ e f . Consideremos um ponto x arbitrariamente fixado em A. Ent˜ ao, ˘ ¯ d(x, Ac ) = inf d(x, y) : y ∈ Ac ˘ ¯ = inf |x − y| : y ≤ −1 ou y ≥ 1
Temos,
|x − y| =
(
Consideremos quatro possibilidades: (i) (ii) (iii)
0≤x<1
0≤x<1
−1 < x ≤ 0
(iv) −1 < x ≤ 0 Ent˜ ao,
e e e e
x − y, −x + y,
se se
x ≥ y; x < y.
y ≥ 1;
y ≤ −1;
y ≥ 1;
y ≤ −1.
(i) 0 ≤ x < 1 e y ≥ 1.
Como x < y ⇒ |x − y| = −x + y. Como y ≥ 1 ⇒ −x + y ≥ 1 − x, isto ´e |x − y| = −x + y ≥ 1 − x
490
portanto, inf
0≤x<1
(ii) 0 ≤ x < 1 e y ≤ −1. Como x > y ´e
⇒
˘
¯ |x − y| : y ≥ 1 = 1 − x
|x − y| = x − y. Como y ≤ −1
⇒ x − y ≥ 1 + x, isto
|x − y| = x − y ≥ 1 + x portanto, inf
0≤x<1
mas,
˘
¯ |x − y| : y ≤ −1 = 1 + x
1−x ≤ 1+x ⇔ x ≥ 0 por conseguinte, ˘
inf
0≤x<1
¯ |x − y| : y ≤ −1 ou y ≥ 1 = 1 − x.
Com racioc´ınio an´ alogo, nos casos (iii) e (iv) chegamos a ˘
inf
−1
¯ |x − y| : y ≤ −1 ou y ≥ 1 = 1 + x.
Geometricamente tudo se passa do seguinte modo: x−(−1)=d(x, Ac )
r
⊢
] −∞, −1 ]
ց
⊣
◦ −1
qx
⊢
q0
qx
ւ
d(x, Ac )=1−x
r
⊣
◦ 1
[ 1, +∞ [
Sendo assim temos, 8 > > > <
0, 1 + x, ϕ(x) = > 1 − x, > > : 0,
Logo,
f (x) =
8 1 > , > > < 1+x > > > :
Temos,
1 , 1−x
se se se se
x ≤ −1; −1 < x ≤ 0; 0 ≤ x < 1; x ≥ 1.
se
−1 < x ≤ 0;
se
0 ≤ x < 1.
˘` ´ ¯ x, f (x) : x ∈ A n“ ” o = x, f (x) : − 1 < x < 1
G(f ) =
=
“
x,
ff [ “ ff 1 ” 1 ” : −1
A seguir vemos a geometria da situa¸c˜ ao (gr´ afico ` a esquerda)
491
G(f )⊂ R
2
r←−
−→
r←− f
` ´
3 =4 f 4
` ´
◦ −1
◦ −1
◦ 1
q0
q0
⊢⊣
↑
1 2
=2
◦ 1
d′
O homeomorfismo em quest˜ ao ´e dado por ` ´ h : ] − 1, 1 [, µ −→ (G(f ), D2 ) ` ´ x 7−→ x, f (x)
Ent˜ ao,
8` < x, h(x) = (x, f (x)) = ` : x,
1 1+x 1 1−x
′
´
´
se
−1 < x ≤ 0;
se
0 ≤ x < 1.
O espa¸co ( ] − 1, 1 [, d ) resulta completo, onde ` ´ d′ (x, y) = D2 h(x), h(y) ˛ ˛ ˛ 1 1 ˛˛ − = d(x, y) + ˛˛ ϕ(x) ϕ(y) ˛ = |x − y| + |f (x) − f (y)|.
Por exemplo, tomemos em A =] − 1, 1 [ , x =
1 2
ex=
3 4
ent˜ ao (eq. (9.20), pg. 490)
′
d (x, y) = |x − y| + |f (x) − f (y)| ˛1 ` 3 ´˛ 3˛ ˛ `1´ ˛ = ˛ − ˛ + ˛f −f 2 4 2 4
=
1 9 + |2 − 4| = = 2, 25. 4 4
Por outro lado (ver aplica¸c˜ ao h′ , pg. 489) „ « « „ 1 1 `1´ 1 7−→ ,f , 2 ∈ G(f ) = 2 2 2 2 3 7−→ 4 Ent˜ ao D2
„
„
« « „ 3 `3´ 3 ,f , 4 ∈ G(f ) = 4 4 4
« ˛1 ˛ `1 1 1 ´ `3 3 ´ 3˛ ˛ 9 = ˛ − ˛ + ˛2 − 4˛ = + 2 = = 2, 25. , f( ) ; , f( ) 2 2 4 4 2 4 4 4
Ver gr´ afico anterior (` a direita).
492
Defini¸ c˜ ao 67. Definiremos um espa¸co m´etrico topologicamente completo como um espa¸co m´etrico (M, d) que ´e homeomorfo a um espa¸co m´etrico completo. Ou, de modo equivalente, tal que existe uma m´etrica d′ , equivalente a d, de maneira que (M, d′ ) seja completo.
Propriedade das celas encaixantes Diremos que uma seq¨ uˆencia de intervalos In , n ∈ N, ´e encaixante se a cadeia de inclus˜ oes: I1 ⊃ I2 ⊃ · · · ⊃ In ⊃ In+1 ⊃ · · ·
se verifica. Uma seq¨ uˆencia de intervalos encaixantes n˜ ao tem necessariamente um ponto em comum. Por exemplo as seq¨ uˆencias dadas por, ˜ 1ˆ In = [ n, +∞ [ X Jn = 0, n
s˜ ao encaixantes e, no entanto
∞ \
n=1
∞ \
In = ∅ X
n=1
Jn = ∅.
Uma propriedade importante do espa¸co (R, µ) ´e que toda seq¨ uˆencia encaixante de intervalos fechados tem um ponto comum (Propriedade das Celas Encaixantes). Esta propriedade ser´ a generalizada na pr´ oxima proposi¸c˜ ao (lema). Antes disto vejamos um exemplo espec´ Consideremos a seq¨ uˆencia (Fn ) de conjuntos com termo geral ˆ ıfico. ˜ dado por Fn = − n1 , n1 . Neste caso temos uma seq¨ uˆencia encaixante F1 ⊃ F2 ⊃ · · · ⊃ Fn ⊃ · · · de subconjuntos fechados em (R, µ). Calculemos o diˆ ametro de Fn (uma vez que este se far´ a presente na hip´ otese da pr´ oxima proposi¸c˜ ao): ˘ ¯ diam Fn = sup d(x, y) : x, y ∈ Fn n ˆ 1 1 ˜o = sup |x − y| : x, y ∈ − , n n Ent˜ ao,
− n1 ≤ x ≤
1 n
− n1 ≤ y ≤
1 n
=⇒
− n1 ≤ x ≤
1 n
− n1 ≤ −y ≤
1 n
+ : − n2 ≤ x − y ≤
Portanto,
−1
h
2 n
⇒
|x − y| ≤
⇒
ˆ |x − y| ∈ 0,
2 n
˜
ˆ 2˜ 2 diam Fn = sup 0, = n n −1 2
ˆ ⊢
⊢
2 n
−1 3
[ ⊢
··· y
0
···
diam F3 =2/3 diam F2 =1 diam F1 =2
493
]1
3
⊣
˜
1 2
i
⊣ ⊣
-R 1
Observe que, lim diam Fn = lim
E ainda,
T∞
n=1
n→∞
n→∞
2 =0 n
Fn = { 0 }.
Lema 6. Um espa¸co m´etrico (M, d) ´e completo se, e somente se, para toda seq¨ uˆencia encaixante F1 ⊃ F2 ⊃ · · · ⊃ Fn ⊃ Fn+1 ⊃ · · · de subconjuntos fechados n˜ ao-vazios Fn ⊂ M , com lim diam Fn = 0, existe um u ´nico ponto a ∈ M tal que n→∞
∞ \
n=1
Fn = { a }.
` ´ Prova: (=⇒) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico completo e Fn uma seq¨ uˆencia satisfazendo as hip´ oteses. Como os Fn s˜ ao n˜ ao vazios, para cada n ∈ N, escolhamos um ponto xn ∈ Fn . Deste modo obtemos uma seq¨ uˆencia (xn ) de pontos de M . Vamos mostrar que a seq¨ uˆencia assim constru´ıda ´e de Cauchy. Dado ε > 0 como lim diam Fn = 0 existe um ´ındice n0 de modo que, ∀ n ≥ n0 ⇒ |diam Fn − 0| < ε.
n→∞
Ent˜ ao,
˘ ¯ diam Fn0 = sup d(x, y) : x, y ∈ Fn0 < ε ⇒ ∀ x, y ∈ Fn
⇒ d(x, y) ≤ diam Fn < ε
0
(♮)
0
Como os conjuntos Fn s˜ ao encaixados para i < j ⇒ Fi ⊃ Fj . Logo, m ≥ n0
=⇒
n ≥ n0
como,
Fn0 ⊇ Fm Fn0 ⊇ Fn
xm ∈ Fm
=⇒ xm , xn ∈ Fn0 xn ∈ Fn logo se m, n ≥ n0 podemo garantir, por (♮), que d(xm , xn ) < ε. Portanto (xn ) ´e de Cauchy. Perceba que ´e a hip´ otese de que os diˆ ametros dos conjuntos Fn tornam-se arbitrariamente pequenos (isto ´e diam Fn → 0) que nos garante que escolhendo um ponto em cada conjunto, estes pontos tornam-se, a partir de uma certa ordem, arbitrariamente pr´ oximos uns dos outros (que ´e a condi¸c˜ ao para que (xn ) seja de Cauchy). (M, d)
Fn Fm
F 1
·· F 2
·
Fn
0
qx1
qx2
q
xn
qxm m, n ≥ n
0
Como (M, d) ´e completo temos que lim xn = a ∈ M . Considerando que a seq¨ uˆencia (Fn ) ´e encaixada e tendo em conta a prop. 66 (pg. 280), temos (prop. 36, pg. 212):
494
F1 cont´em (xn )n≥1
⇒
lim xn = a ∈ F1
F2 cont´em (xn )n≥2 .. . Fk cont´em (xn )n≥k
⇒
lim xn = a ∈ F2 .. . lim xn = a ∈ Fk
⇒
∞ \
onde k ´e um natural arbitr´ ario. Conclus˜ ao:
n=1
Fn = { a }.
´ precisamente neste ponto que necessitamos da hip´ E otese de que todos os Fn sejam fechados. Pois se um deles, digamos Fj , n˜ ao fosse fechado poderia ocorrer ∞ \ lim xn = a 6∈ Fj e portanto a 6∈ Fn . n=1
Vamos mostrar que este ´e o u ´nico ponto da intersec¸c˜ ao. Suponha, ao contr´ ario, ∞ \ Fn e b 6= a. Ent˜ ao d(a, b) > 0, tomando ε = d(a, b) > 0, vejamos o que que b ∈ n=1 T acontece: como a, b ∈ Fn temos que ∀ n; a, b ∈ Fn ⇒ ε = d(a, b) ≤ diam Fn ⇒ ∀ n, ε ≤ diam Fn
o que iria contrariar (♮). (⇐=) Rec´ıprocamente, consideremos que a intersec¸c˜ ao de toda seq¨ uˆencia encaixante de fechados n˜ ao vazios, cujos diˆ ametros tendem a zero, ´e um ponto de M . Provemos que (M, d) ´e completo. De fato, seja (xn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy em (M, d), a partir desta seq¨ uˆencia construimos uma seq¨ uˆencia (Xn ) de conjuntos colocando Xn = {xn , xn+1 , . . .} para todo n natural. Sendo assim X1 ⊃ X2 ⊃ · · · ⊃ Xn ⊃ ¯ ⊂ B ¯ temos que (X ¯ n ) ´e uma Xn+1 ⊃ · · · , tendo em conta que se A ⊂ B ⇒ A seq¨ uˆencia encaixante de fechados n˜ ao-vazios. Ademais temos que X1 ⊃ · · · ⊃ Xn ⊃ · · · ⇒ diam X1 ≥ · · · ≥ diam Xn ≥ · · · ≥ 0 ` ´ conseq¨ uentemente diam Xn ´e uma seq¨ uˆencia decrescente de n´ umeros reais, limitada inferiormente por zero e, portanto, converge para zero (Nota pg. 244). Tendo em conta ainda a proposi¸c˜ ao 64 (pg. 278) podemos escrever ¯ n. 0 = lim diam Xn = lim diam X n→∞
n→∞
T¯ ¯ Logo, por hip´ otese, existe a ∈ M de modo que X n = { a }. Em particular a ∈ X1 logo (propo. 65 pg. 279) existe uma seq¨ uˆencia (yn ) de pontos de X1 = {x1 , x2 , x3 , . . .} com lim yn = a. Ora sendo assim (yn ) ´e, na verdade, uma subseq¨ uˆencia de (xn ) e como (xn ) ´e de Cauchy segue (proposi¸c˜ ao 116 pg. 452) que a = lim xn . Exemplos: 1. No espa¸co (R, µ) considere Fn = [ n, +∞ [. Ent˜ ao F1 ⊃ F2 ⊃ · · · , e cada Fn ´e fechado (complementar aberto) e n˜ ao vazio,
- F1
⊢ x
0
ˆ
1
⊢ ˆ
2
⊢ ˆ
- F2 ···
3
495
- F3
⊢ x
c
n′
ˆ
-F
n′
-R
T todavia ∞ e ilimitado supen=1 Fn = ∅. Com efeito, tendo em vista que N ´ riormente, dado qualquer c ∈ R, existe n′ natural de modo que n′ > c, por conseguinte c 6∈ Fn′ . Assim nenhum n´ umero real pode pertencer a todos os Fn . Mas isto n˜ ao contraria o lema 6 uma vez que os Fn n˜ ao cumprem lim diam Fn = 0. n→∞ ˆ ` ´ ˆ ao F1 ⊃ F2 ⊃ · · · , e lim diam Fn = 2. No espa¸co [ 0, 1 [, µ considere Fn = 0, n1 . Ent˜ n→∞ ` ´ T∞ 0 e ainda n=1 Fn = { 0 }. Mas [ 0, 1 [, µ n˜ ao ´e completo (por exemplo a seq¨ uˆencia de termo geral xn = 1 − n1 ´e de Cauchy mas n˜ ao converge).
Esta` conclus˜ a´o n˜ ao contraria o lema 6 uma vez que os Fn n˜ ao s˜ ao fechados no espa¸co [ 0, 1 [ , µ .
9.7
Teorema do Ponto Fixo de Banach
O Teorema do Ponto Fixo de Contra¸ co ˜es em Espa¸ cos M´ etricos Completos Vimos (pg. 401) que toda fun¸c˜ ao cont´ınua f : [ a, b ] → [ a, b ] admite um ponto fixo, isto ´e, existe um ponto c ∈ [ a, b ] de modo que f (c) = c. Este resultado ´e um caso especial de um famoso resultado de Topologia, conhecido como o Teorema do Ponto Fixo de Brower cujo enunciado ´e o seguinte: Toda aplica¸c˜ ao cont´ınua cujo dom´ınio e o contradom´ınio s˜ ao iguais ` a bola unit´ aria fechada ˘ ¯ B[ 0; 1 ] = u ∈ Rn : kuk ≤ 1 = B ∴ f : B ⊂ Rn → B ⊂ Rn tem um ponto fixo, isto ´e, um ponto p ∈ B[ 0; 1 ] tal que f (p) = p. Al´em desse, existem outros teoremas sobre pontos fixos, como o teorema do ponto fixo de Banach que estudaremos agora.
Proposi¸ c˜ ao 127 (Teorema do Ponto Fixo de Banach). Se (M, d) ´e um espa¸co m´etrico completo, ent˜ ao toda contra¸c˜ ao f : M → M tem precisamente um u ´nico ponto fixo. Prova: Construiremos uma seq¨ uˆencia (xn ) e mostraremos que ela ´e de Cauchy e, assim, converge no espa¸co completo (M, d). Em seguida mostraremos que o limite de (xn ) ´e o u ´nico ponto fixo de f . Esta ´e a id´eia da prova. Inicialmente escolhemos qualquer ponto x0 ∈ M e definimos uma seq¨ uˆencia recursiva (xn ) por x1 = f (x0 ), x2 = f (x1 ), x3 = f (x2 ), . . . , xn+1 = f (xn ), . . .
(9.21)
Mostremos que (xn ) ´e de Cauchy. Da defini¸c˜ ao de contra¸c˜ ao (pg. 325) e de (9.21) podemos escrever ` ´ d(xm+1 , xm ) = d f (xm ), f (xm−1 ) ≤ α d(xm , xm−1 ) ` ´ = α d f (xm−1 ), f (xm−2 )
≤ α2 d(xm−1 , xm−2 ) ` ´ = α2 d f (xm−2 ), f (xm−3 ) ` ´ ≤ α3 d xm−2 , xm−3
........................ ≤ αm d(x1 , x0 )
496
pela desigualdade triangular generalizada (pg. 117) M • xm
• xn
... • xm+2
• xm+1
• xn−1
obtemos (para n > m) d(xm , xn ) ≤ d(xm , xm+1 ) + d(xm+1 , xm+2 ) + · · · + d(xn−1 , xn ) ` ´ ≤ αm + αm+1 + · · · + αn−1 d(x0 , x1 ) = αm ·
1 − αn−m d(x0 , x1 ) 1−α
onde usamos a f´ ormula da soma dos termos de uma progress˜ ao geom´etrica. Da desigualdade 0 < α < 1 decorre que∗ 1 − αn−m < 1. Por conseguinte, 1 1 − αn−m 1 1 − αn−m < ⇒ αm · d(x0 , x1 ) < αm · d(x0 , x1 ) 1−α 1−α 1−α 1−α isto ´e
αm d(x0 , x1 ) (n > m) (9.22) 1−α Temos que 0 < α < 1 e d(x0 , x1 ) s˜ ao constantes (n˜ ao dependem de m), sendo assim podemos tornar o lado direito t˜ ao pequeno quanto desejarmos, bastando para isto tomar m suficientemente grande. Isto prova que (xn ) ´e de Cauchy. Sendo (M, d) completo, (xn ) converge, digamos, xn → p. Mostraremos que o limite p ´e o ponto fixo da aplica¸c˜ ao f . Da defini¸c˜ ao de contra¸c˜ ao e da desigualdade triangular d(xm , xn ) <
M p•
•f (p)
@ @ @ @•x n
decorre que ` ´ ` ´ d p, f (p) ≤ d(p, xn ) + d xn , f (p) ` ´ = d(p, xn ) + d f (xn−1 ), f (p) ≤ d(p, xn ) + α d(xn−1 , p)
podemos tornar esta u ´ltima soma menor ε > 0 pr´e-fixado porquanto∗ ` que qualquer ´ xn → p. Sendo assim concluimos que d p, f (p) = 0, ou ainda, p = f (p); isto ´e, p ´e um ponto fixo de f . p ´e o u ´nico ponto fixo de f porque de f (p) = p e f (q) = q obtemos ` ´ d(p, q) = d f (p), f (q) ≤ α d(p, q) ∗ Se
0 < c < 1 e n ≥ m ent˜ ao 0 < cn ≤ cm < 1. 33, pg. 201.
∗ proposi¸ ca ˜o
497
portanto d(p, q) · (1 − α) ≤ 0 ⇒ d(p, q) ≤ 0
visto que α < 1. Por conseguinte, p = q e o teorema est´ a provado.
Corol´ ario 36 (Itera¸c˜ oes, limite superior para o erro). Sob as condi¸c˜ oes da proposi¸c˜ ao 127 a seq¨ uˆencia iterativa (9.21) com x0 ∈ M arbitr´ ario converge para o u ´nico ponto fixo p de f . O erro cometido ao se tomar o m−´esimo iterado xm como um valor aproximado para o ponto fixo p tem como limite superior d(xm , p) ≤
αm d(x0 , x1 ) 1−α
(9.23)
´ imediato da desigualdade (9.22) fazendo n → ∞. Prova: E Esta desigualdade pode ser usada para uma estimativa do n´ umero de itera¸c˜ oes necess´ ario, para se atingir uma precis˜ ao a priori fixada. Ami´ ude acontece de uma aplica¸c˜ ao n˜ ao ser uma contra¸c˜ ao no espa¸co inteiro (M, d), mas sim em um seu subespa¸co (N, d). Contudo, se (N, d) ´e fechado, ele ´e completo pela proposi¸c˜ ao 119 (pg. 459), sendo assim f tem um ponto fixo p em N , e com uma escolha apropriada de x0 teremos xn → p como anteriormente. Um t´ıpico e u ´til resultado deste gˆenero ´e como segue Corol´ ario 37. Seja f uma aplica¸c˜ ao de um espa¸co m´etrico completo (M, d) ˘sobre si mesmo. Suponha que f ´ e uma contra¸ ao sobre ¯ ` c˜ ´ uma bola fechada N = x ∈ M : d(x, x0 ) ≤ r , isto ´e, f satisfaz d f (x), f (y) ≤ α d(x, y) (α < 1) para todo x, y ∈ N . Ademais, assuma que ` ´ d x0 , f (x0 ) < (1 − α) r. (9.24) Ent˜ ao a seq¨ uˆencia iterativa (9.21) converge para um ponto p ∈ N . Este p ´e um ponto fixo de f e ´e o u ´nico ponto fixo de f em N . Prova: Tomando m = 0 na equa¸c˜ ao (9.22) temos d(x0 , xn ) <
1 d(x0 , x1 ) 1−α
(n > 0)
usando (9.24) chegamos a d(x0 , xn ) < r
(n > 0)
conseq¨ uentemente todos os termos da seq¨ uˆencia (xn ) moram na bola N . Tamb´em p ∈ N visto que xn → p e N ´e fechado. A asser¸c˜ ao do corol´ ario segue agora da prova do teorema de Banach.
498
Apˆ endice: ` ´ Vamos mostrar que d′ ∼ d onde d′ (x, y) = D h(x), h(y) (pg. 487) Vamos mostrar inicialmente que a identidade i : (M, d) → (M, d′ ) ´e cont´ınua. Dados a ∈ M e ε > 0 devemos mostrar que existe δ > 0 de modo que: ` ´ d(x, a) < δ ⇒ d′ i(x), i(a) < ε
isto ´e,
` ´ d(x, a) < δ ⇒ d′ x, a < ε
a
r
x
(M, d)
i
r
(9.25)
ri(a)
(M, d′ )
ri(x)
Pois bem, como h ´e homeomorfismo (portanto cont´ınua) para todo ε > 0 dado existe δ > 0 tal que ` ´ d(x, a) < δ ⇒ D h(x), h(a) < ε a
r
x
Portanto,
(M, d)
h
r
rh(a)
(N, D)
rh(x)
` ´ ` ´ d(x, a) < δ ⇒ d′ x, a = D h(x), h(a) < ε.
Este δ nos serve em (9.25). Agora vamos mostrar que a identidade i : (M, d′ ) → (M, d) ´e cont´ınua. Dados a ∈ M e ε > 0 devemos mostrar que existe δ > 0 de modo que: ` ´ d′ (x, a) < δ ⇒ d i(x), i(a) < ε
isto ´e,
` ´ d′ (x, a) < δ ⇒ d x, a < ε
ou ainda,
` ´ ` ´ d′ (x, a) = D h(x), h(a) < δ ⇒ d x, a < ε
a
r
x
(M, d′ )
r
i
ri(a)
ri(x)
Pois bem, como h ´e homeomorfismo (portanto h−1 ´e cont´ınua)
499
(9.26)
(M, d)
a
r
x
(M, d)
h
r
h−1
rh(a)
(N, D)
rh(x)
h−1 ´e cont´ınua no ponto h(a), logo dado ε > 0 existe δ0 > 0 de modo que (N, D)
@ I δ@ 0 rh(a) rh(x) Ou ainda,
(M, d)
h−1
rε a
h−1 (h(a))
` ´ ` ` ´ ` ´´ D h(x), h(a) < δ0 ⇒ d h−1 h(x) , h−1 h(a) < ε ` ´ d′ (x, a) = D h(x), h(a) < δ0 ⇒ d(x, a) < ε.
Portanto em (9.26) ´e suficiente tomar δ = δ0 .
500
10
Cap´ıtulo
´ ESPAC ¸ OS METRICOS COMPACTOS “O
verdadeiro interˆ esse de minha vida
reside, j´ a h´ a muito tempo, num esfˆ or¸ co para uma melhor descoberta de Deus no mundo.
Isso ´ e bem a ´rduo, mas
a´ı est´ a a u ´ nica voca¸ ca ˜o em que eu me reconhe¸ co. Nada poderia dela me arredar.”
(Teilhard de Chardin)
Mais um importante conceito que importaremos da An´ alise Real para o contexto dos Espa¸cos M´etricos ´e o de conjunto compacto. Iniciamos pela
10.1
Cobertura
Defini¸ c˜ ao 68 (Cobertura). Sejam (M, d ) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Uma cobertura de X ´e uma fam´ılia C = {Cλ }λ∈L de subconjuntos de M tal que X⊂
[
Cλ
λ∈L
Se cada Cλ for um conjunto aberto em M , diremos que C ´e uma cobertura aberta de X. Se existir L′ ⊂ L tal que [ Cλ X⊂ λ∈L′
′
diremos que C = {Cλ }λ∈L′ , ´e uma subcobertura de C para X. Quando L′ ´e um subconjunto pr´ oprio de L, diz-se que C ′ ´e uma subcobertura pr´ opria de C. Quando o conjunto L ´e finito, diz-se que C ´e uma subcobertura finita. Exemplos: ˆ ˜ 1. Consideremos o espa¸co ( R, µ). Seja X = 31 , 32 , a fam´ılia C = { C1 , C2 , C3 , C4 }, onde ˜ 2ˆ ˜1 5ˆ ˜2 3ˆ ˆ2 ˆ , , ,1 , C1 = 0, , C2 = , C3 = , C4 = 4 4 8 4 4 4
501
constitui uma cobertura de X. De fato, ˆ1 2˜ , ⊂ 3 3
[
Cλ
λ∈L={ 1, 2, 3, 4 } X
⊢ 0
1 3
⊣ 1
2 3
C1
C2 ⊢ 0
q1
q2
4
⊣ 1
q3
4
4
C3 C4
Da cobertura C podemos retirar duas subcoberturas: ˆ1 2˜ , ⊂ 3 3
[
ˆ1 2˜ , ⊂ 3 3
[
Cλ
λ∈L′ ={ 1, 4 }
e
Cλ
λ∈L′′ ={ 2, 3 }
Observe que C n˜ ao ´e uma cobertura aberta, enquanto C ′′ = {C2 , C3 } ´e uma subcobertura aberta. ˘ ¯ 2. Consideremos o espa¸co ( X, µ), onde X = n1 : n ∈ N ∪ { 0 }. No exemplo (5) (pg. 187) vimos que todos os pontos de X, ` a exce¸c˜ ao do 0, s˜ ao isolados. Isto significa que para cada ponto de X, ` a exce¸c˜ ao do 0, existe um rn > 0 de modo que Bµ( n1 , rn ) = { n1 }. Sendo assim X⊂
1 Bµ( , rn ) ∪ { 0 } n n∈N [
Observe que a cobertura C=
ff ˘ ¯ 1 ∪ {0} Bµ( , rn ) n n∈N
n˜ ao admite subcobertura pr´ opria. De fato, se omitirmos qualquer bola, o centro da mesma fica “descoberto”. E mais: C s´ o n˜ ao ´e uma cobertura aberta devido a que { 0 } n˜ ao ´e um conjunto aberto em ( X, µ). 3. Consideremos o espa¸co ( R, µ). Seja X = {x ∈ R : x ≥ 0}. Respaldados na proposi¸c˜ ao 22 (pg. 65) podemos assegurar que a fam´ılia C = {Cn }n∈N , onde Cn =] − 1, n [, ´e uma cobertura X. Observe a figura seguinte:
502
-
⊢ 0
-
⊢ 0
−1
1
-
⊢ 0
−1
2
X
C1
C2
.. .
-
⊢ 0
−1
n
Cn
Temos, C1 ⊂ C2 ⊂ · · · ⊂ Cn ⊂ Cn+1 ⊂ · · ·
4. Consideremos o espa¸co ( R, µ). Seja X =] 0, 1 [. Vamos mostrar que ] 0, 1 [ ⊂
∞ [ ˜1 1ˆ , 1− n n n=3
Observe,
-X 0
1
⊢ 0
1 3
⊢ 0
⊢ 0
1 n 1 m
C3
1
C4
1
-
⊢
4 5
1 5
-
⊢
3 4
1 4
-
⊢
2 3
C5
1
Vamos provar a inclus˜ ao anterior: dado 0 < x < 1 existe n ∈ N de modo que < x. Como x < 1 temos que 1 − x > 0, portanto existe um m ∈ N satisfazendo 1 < 1 − x, isto ´e, x < 1 − m . Vamos escolher p = min{ m, n }; sendo assim, temos
Portanto,
p≤n
⇒
1 p
≤
1 n
p≤m
⇒
1 p
≤
1 m
⇒
1−
≤1−
⇒
x< 1−
1 1
503
1 m
1 p
≤1−
1 p
10.2
Compacidade
Defini¸ c˜ ao 69 (Compacidade). Um espa¸co m´etrico (M, d ) ser´ a dito compacto quando toda cobertura aberta de M possuir uma subcobertura finita. Um subconjunto K ⊂ M ser´ a dito compacto quando o subespa¸co (K, d ) for compacto. Logo, K ⊂ M ´e compacto quando de toda cobertura [ ′ Aλ K⊂ λ∈L
por meio de abertos A′λ em (K, d ) se pode extrair uma subcobertura finita. Acontece que∗ , para cada λ ∈ L, A′λ = Aλ ∩ K, onde Aλ ´e aberto em (M, d ). Sendo assim, [ [ [ ′ Aλ Aλ ∩ K ⇔ K ⊂ Aλ ⇔ K ⊂ K⊂ λ∈L
λ∈L
λ∈L
Em resumo, o subconjunto K ⊂ M ´e compacto se, e somente se, de toda cobertura K ⊂ ∪Aλ , por abertos Aλ em (M, d ), se pode extrair uma subcobertura finita K ⊂ A λ ∪ · · · ∪ A λn . 1 Observe que, segundo a defini¸c˜ ao, para demonstrar que um conjunto M ´e compacto, devemos considerar uma cole¸c˜ ao arbitr´ aria de abertos cuja uni˜ ao contenha M e mostrar que M est´ a contido na uni˜ ao de alguma subcole¸c˜ ao finita de tal cole¸c˜ ao. Por outro lado, para mostrar que um conjunto M n˜ ao ´e compacto, ´e suficiente exibir uma cobertura aberta que n˜ ao possa ser substitu´ıda por uma subcole¸c˜ ao finita que ainda cubra M . Exemplos: 1. O subconjunto I = [ 0, 1 ] ´e compacto no espa¸co ( R, µ) mas n˜ ao no espa¸co ( R, δ). Mostremos inicialmente a segunda destas assertivas. J´ a vimos∗∗ que todo n´ umero real ´e isolado no espa¸co ( R, δ). Por exemplo dado p ∈ [ 0, 1 ] temos Bδ ( p; 1) = { p }. Portanto [ Bδ ( p; 1) [ 0, 1 ] ⊂ p∈I
˘
¯
n˜ ao admite subcobertura finita. A bem da verdade, e a cobertura aberta Bδ ( p; 1) p∈I se retirarmos uma u ´nica bola desta cole¸c˜ ao, a subfam´ılia restante n˜ ao ser´ a mais uma cobertura do intervalo [ 0, 1 ]. A primeira das assertivas anteriores sai como um caso especial da seguinte
∗ Ver
proposi¸ca ˜o 48 pg. 260 (1), pg. 186
∗∗ Exemplo
504
Proposi¸ ao 128 (Teorema de Heine-Borel). Se F ⊂ R ´e fechado e limitado e C = ˘ ¯ c˜ Cλ ´e uma cobertura aberta de F , ent˜ ao existe uma subcobertura finita de F .
Prova: Assumiremos que nenhum subconjunto finito de C cobre F e mostraremos que isto leva a uma contradi¸c˜ ao. De fato, visto que F ´e limitado, existe um n´ umero c > 0 tal que F ⊂ [ −c, c ]. Consideremos os dois intervalos [ −c, 0 ] e [ 0, c ]; ao menos um desses intervalos deve conter uma parte de F que n˜ ao pode ser coberta por um n´ umero finito de conjuntos de C (do contr´ ario se C ′ ⊂ C ´e finito e cobre a parte de F em [ −c, 0 ] e C ′′ ⊂ C ´e finito e cobre a parte de F em [ 0, c ], ent˜ ao C ′ ∪ C ′′ ´e finito e cobre F , contradizendo nossa hip´ otese). Seja I0 um dos intervalos [ −c, 0 ] ou [ 0, c ], aquele que tem a propriedade de conter a parte de F que n˜ ao pode ser coberta por um n´ umero finito de subconjuntos de C. Agora vamos dividir I0 em dois intervalos fechados e de igual comprimento; ao menos um desses intervalos deve conter uma parte de F que n˜ ao pode ser coberta por um n´ umero finito de conjuntos de C. Chamemos um tal intervalo de I1 . Agora, dividamos I1 em dois intervalos fechados e de igual comprimento e seja I2 um desses intervalos que tem a propriedade de conter a parte de F que n˜ ao pode ser coberta por um n´ umero finito de subconjuntos de C. Continuando este processo indefinidamente, obtemos uma seq¨ uˆencia de intervalos fechados I0 ⊃ I1 ⊃ I2 ⊃ · · · ⊃ In ⊃ · · · com a propriedade de que o comprimento de Ik ´e c/2k e a parte de F em Ik n˜ ao pode ser coberta por um n´ umero finito de subconjuntos de C; isto para cada k = 0, 1, 2, 3, . . .. Pelo teorema dos intervalos encaixados ([AR] 13, pg. 58) existe um u ´nico ponto µ comum a cada um dos intervalos fechados Ik . Mostremos que µ ´e um ponto de acumula¸c˜ ao de F . Seja ε > 0 arbitrariamente fixado. Escolhamos um natural n de modo que c/2n < ε. Ent˜ ao o comprimento de In , isto ´e c/2n , ´e menor que ε, e tendo em conta que µ ∈ In , segue que In ⊂ B(µ; ε) (isto ´e, In ⊂ ] µ − ε, µ + ε [ ). Mas In cont´em infinitos pontos de F (se F ∩ In fosse finito ent˜ ao certamente deveria ser coberto por um n´ umero finito de elementos de C, contrariando uma propriedade dos Ik ), por conseguinte existe um x ∈ F com x 6= µ e |x − µ| < ε. Portanto µ ´e um ponto de acumula¸c˜ ao de F . Sendo F fechado, resulta que µ ∈ F . Agora, visto que C ´e uma cobertura aberta de F , existe um Cλ ∈ C tal que 0 µ ∈ Cλ . Sendo Cλ um conjunto aberto existe um ǫ > 0 tal que B(µ; ǫ) ⊂ Cλ . 0 0 0 Como feito anteriormente, escolhamos um ´ındice m de modo que Im ⊂ B(µ; ǫ). Ent˜ ao Im ⊂ Cλ ; isto ´e, Im est´ a coberto por um n´ umero finito (no caso um u ´nico) de 0 conjuntos de C, e claramente a parte de F em Im est´ a coberto por um n´ umero finito de conjuntos de C. Isto contradiz uma das propriedades de constru¸c˜ ao da seq¨ uˆencia (Ik ) de intervalos fechados. Por conseguinte nossa hip´ otese de que nenhum subconjunto finito de C cobre F conduz a uma contradi¸c˜ ao, e isto estabelece a proposi¸c˜ ao. ˘ ¯ ˘ ¯ 2. O conjunto Y = n1 : n ∈ N = 1, 12 , 13 , . . . n˜ ao ´e compacto no espa¸co ( R, µ). Para se convencer disto, basta o leitor rever exemplo 2., pg. 502. ˘ ¯ ˘ ¯ 3. O conjunto X = n1 : n ∈ N ∪ { 0 } = 0, 1, 21 , 13 , . . . ´e compacto no espa¸co ( R, µ). De fato, seja C = {Cλ }λ∈L uma cobertura aberta de X. Sendo assim 0 pertence a um dos membros desta cole¸c˜ ao, digamos 0 ∈ Cλ . Existe um intervalo 0 aberto centrado em 0 satisfazendo 0 ∈ ] 0 − r, 0 + r [ ⊂ Cλ ] −r
s rrrr[rrrrrrrrrrr r r r r
0
r
... 1
4
r
1 3
r
1 2
0
r
-X
1
Qualquer que seja o intervalo aberto centrado em 0, dentro do mesmo teremos infinitos termos de X e, fora do mesmo, teremos sempre um n´ umero finito de termos de
505
X. Conseq¨ uentemente quase todos os pontos de X (` a exce¸c˜ ao poss´ıvel de um n´ umero finito) pertencem ao aberto Cλ . Por conseguinte X ´e coberto por um n´ umero finito 0 de abertos da cole¸c˜ ao C. 4. Todo conjunto finito ´e compacto. De fato, seja [ Aλ { x1 , x2 , . . . , x n } ⊂ λ∈L
onde os Aλ s˜ ao abertos. Pelas defini¸c˜ oes de inclus˜ ao e uni˜ ao de fam´ılias de subconjutos (pg. 51) existem λ1 , λ2 , . . . , λn ∈ L tais que x 1 ∈ A λ , x 2 ∈ A λ , . . . , x n ∈ A λn . 1
2
Por conseguinte, { x 1 , x 2 , . . . , x n } ⊂ A λ ∪ A λ ∪ · · · ∪ A λn . 1
2
5. Um espa¸co discreto e compacto ´e finito e, reciprocamente. Daremos duas provas: Prova: (⇒) Seja (M, d) um espa¸co discreto e compacto. Dado p ∈ M existe rp > 0 de modo que B(p; rp ) = { p }. Por ser (M, d) compacto, da cobertura aberta [ M⊂ B(p; rp ) p∈M
podemos extrair uma subcobertura finita, o que prova que M ´e finito. (⇐) Conseq¨ uˆencia do exemplo 4. acima, juntamente com a proposi¸c˜ ao 31 (pg. 193) Segunda prova: Prova: Utilizemos a t´ecnica (T − 4). Fa¸camos 8 > < H1 : (M, d) ´e discreto.
> : H2 : (M, d) ´e compacto.
⇒
T:
M ´e finito.
¯2 H1 ∧ T¯ =⇒ H
Suponhamos (M, d) discreto e n˜ ao finito. Dado p ∈ M existe rp > 0 de modo que B(p; rp ) = { p }. Por ser M infinito da cobertura aberta [ B(p; rp ) M⊂ p∈M
n˜ ao podemos extrair uma subcobertura finita, o que prova que (M, d) n˜ ao ´e compacto. A contrapositiva da proposi¸c˜ ao anterior fica assim: ¯ : Se M ´e infinito ent˜ T¯ −→ H ao (M, d) ou n˜ ao ´e discreto ou n˜ ao ´e compacto.
6. O intervalo [ 0, +∞[ n˜ ao ´e um subconjunto compacto ˘ ¯de ( R, µ). ´e uma cobertura aberta De fato, seja Cn =] − 1, n [, de modo que C = Cn n∈N ˘ ¯ do dito intervalo (ver exemplo 3., pg. 502). Se Cn1 , Cn2 , . . . , Cn ´e qualquer k subcole¸c˜ ao finita de C, fa¸camos m = max{ n1 , n2 , . . . , nk }. Sendo assim temos 8 > Cn ⊆ Cm > 1 > > > < Cn ⊆ Cm 2 .. > > . > > > :C ⊆ C n m
⇒
k [
j=1
Cn ⊆ Cm j
k
506
Mas, o natural m que pertence a [ 0, +∞ [ n˜ ao pertence a Cm =] − 1, m [ , ou ainda, m 6∈ ∪kj=1 Cn . j Conclus˜ ao: N˜ ao h´ a uni˜ ao finita de conjuntos de C que contenha [ 0, +∞ [ e, assim, este intervalo n˜ ao ´e compacto. 7. O intervalo ] 0, aoˆ´e um subconjunto compacto de ( R, µ). ˜ 1 [ n˜ ˘ ¯ De fato, seja n1 , 1− n1 , de modo que C = Cn ´e uma cobertura aberta do dito n≥3 ˘ ¯ intervalo (ver exemplo 4., pg. 503). Se Cn1 , Cn2 , . . . , Cn ´e qualquer subcole¸c˜ ao k finita de C, fa¸camos m = max{ n1 , n2 , . . . , nk }. Sendo assim temos 8 > Cn 1 ⊆ Cm > > > > > . > > > :C ⊆ C n m
⇒
k [
j=1
Cn ⊆ Cm j
k
˜ 1 ˆ 1 1 Mas, o n´ umero real m pertence a ] 0, 1 [ mas n˜ ao pertence a Cm = m , 1− m , k ou ainda, m 6∈ ∪j=1 Cn . j Conclus˜ ao: N˜ ao h´ a uni˜ ao finita de conjuntos de C que contenha ] 0, 1 [ e, assim, este intervalo n˜ ao ´e compacto. 8. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se K, L ⊂ M s˜ ao subconjuntos compactos, ent˜ ao K ∪ L ´e compacto. De fato, se K ∪ L ⊂ Aλ (cada Aλ ´e aberto) decorre que K ⊂ Aλ e L ⊂ Aλ , da´ı K ⊂ A λ ∪ · · · ∪ A λn
L ⊂ A λ′ ∪ · · · ∪ A λ′
e
1
m
1
Portanto, K ∪ L ⊂ A λ ∪ · · · ∪ A λn ∪ A λ′ ∪ · · · ∪ A λ′ . 1
1
m
Por indu¸c˜ ao, segue que a reuni˜ ao de um n´ umero finito de compactos ´e compacta. Agora, uma reuni˜ ao infinita de compactos pode n˜ ao ser compacta. De fato, todo conjunto ´e reuni˜ ao de seus pontos, os quais s˜ ao compactos (ver exemplo 4., pg. 506). Proposi¸ c˜ ao 129. Todo subconjunto fechado de um espa¸co m´etrico compacto ´e compacto. Reciprocamente, um subconjunto compacto de qualquer espa¸co m´etrico ´e fechado. Prova: (⇒) Suponha ̥ ⊂ M um subconjunto fechado do espa¸co compacto (M, d). Seja [ Aλ ̥⊂ λ∈L
onde cada Aλ ´e aberto. Sendo assim, podemos escrever M⊂
` [
λ∈L
´ Aλ ∪ ̥ c
c
Como ̥ ´e aberto e M ´e compacto, existem λ1 , . . . , λn ∈ L tais que M ⊂ A λ ∪ · · · ∪ A λn ∪ ̥ c 1
Como ̥ e ̥c n˜ ao tˆem pontos em comum, segue que ̥ ⊂ A λ ∪ · · · ∪ A λn 1
507
e ̥ resulta compacto. ∗ (⇐) Reciprocamente, suponha ̥ ⊂ M um subconjunto compacto de um espa¸co arbitr´ ario (M, d). Admitindo ̥ n˜ ao fechado em (M, d) deveremos mostrar que ̥ n˜ ao ´e compacto. Para isto ´e suficiente exibir uma cobertura aberta que n˜ ao possa ser substitu´ıda por uma subcole¸c˜ ao finita que ainda cubra ̥. Passemos ` a constru¸c˜ ao de tal cobertura: ¯ e como ̥ ⊂ ̥ ¯ resulta que existe x ∈ ̥ ¯ tal sendo ̥ n˜ ao fechado decorre que ̥ 6= ̥, ¯ − ̥. Para cada n ∈ N fa¸camos que x 6∈ ̥, isto ´e, existe x ∈ ̥
` ´ Vamos agora mostrar que An
ˆ 1˜ An = M − B x; n
n∈N
´e uma cobertura aberta de ̥, isto ´e, que ̥⊂
[
An
n∈N
˘ Nota: Para ver que os An = y ∈ M : d(y, x) > (iv) pg. 329 no qual x = a e corol´ ario 14, pg. 347.
1 n
¯
s˜ ao abertos, ver o exemplo
De fato, seja y ∈ ̥, como x 6∈ ̥ segue que x 6= y. Logo d(x, y) > 0. Portanto, nos valendo de Arquimedes, obtemos um ´ındice n0 ∈ N de modo que n1 < d(x, y). 0 ˜ ˆ ˜ ˆ Sendo d(x, y) > n1 resulta que y 6∈ B x; n1 , portanto y ∈ M − B x; n1 , isto ´e 0
0
y∈
[„
n∈N
ˆ 1˜ M − B x; n
̥
r
ry xr
¯ ̥
1
x
⇒ ̥⊂
[
An .
n∈N
(M, d)
(M, d) ¯ ̥
0
«
̥ B[x; 1]
(M, d)
¯ ̥
̥
r ry x I @ @
B[x; 1 ] n0
` ´ Agora mostremos que nenhuma subcole¸c˜ ao finita de An cobre ̥: De fato, n∈N ¯ temos que como x ∈ ̥, ∀ ε > 0 ⇒ B( x; ε) ∩ ̥ 6= ∅. ´ ˆ 1˜ 1 Isto ´e, toda bola aberta B x; ˜ B x; n cont´em algum ponto de ̥. Logo, ˆ o ponto ˜ ˆ n 1⊂ ao pertence ao conjunto An = M − B x; n1 . Ou de ̥ que pertence ` a bola B x; n n˜ seja, para todo n natural (n = 1, 2, 3, . . .), An n˜ ao cont´em algum ponto de ̥. Esta conclus˜ a o, por si s´ o , n˜ a o ´ e suficiente para garantir que nenhuma subcole¸c˜ ao finita de ` ´ cubra ̥ (por quˆe?). Pois bem, temos que An `
n∈N
A1 ⊂ A2 ⊂ A3 ⊂ · · ·
Sendo An ⊂ An+1 a reuni˜ ao de qualquer cole¸c˜ ao finita An1 ∪ An2 ∪ · · · ∪ An ∗ Faremos
uso da t´ ecnica (T − 1) (pg. 23).
508
k
´e igual ao conjunto com maior ´ındice da cole¸c˜ ao, tomando nj = max{n1 , . . . , nk }, ao finita. Mas, como j´ a vimos, temos que An cont´em todos os conjuntos da subcole¸c˜ j An (n = 1, 2, 3, . . .) n˜ ao cont´em algum ponto de ̥. Isto ´e, algum ponto de ̥ est´ a ao finita pode cobrir ̥. ausente de An , portanto nenhuma subcole¸c˜ j Exemplos ˘ ¯ 1. O conjunto ̥ = 0, 1, 21 , 31 , . . . ´e compacto. De fato, ̥ ´e um subconjuto fechado (ver Coment´ ario pg. 273) do compacto [0, 1]. Ver ainda exemplo 3., pg. 505.
2. Vimos (pg. 437) que o conjunto de Cantor ´e fechado no subespa¸co compacto ([ 0, 1 ], µ), portanto este conjunto ´e compacto.
3. A proposi¸c˜ ao anterior tamb´em nos diz porque o subconjunto ] 0, 1 [ n˜ ao ´e compacto no espa¸co (R, µ): porque n˜ ao ´e um subconjunto fechado. Corol´ ario` 38 ´(A Interse¸c˜ ao de Compactos ´e Compacta). Seja (M, d ) um espa¸co uma fam´ılia de subconjuntos compactos. Ent˜ ao, m´etrico e Kλ λ∈L
K=
\
Kλ
λ∈L
´e compacto. Prova: De fato, pela proposi¸c˜ ao 129, cada Kλ ´e fechado em (M, d ), logo, pelo Teorema 4, pg. 269, K ´e fechado em (M, d ) e, portanto em (Kλ , d ) (ver corol´ ario 7, pg. 275) novamente, pela proposi¸c˜ ao 129, K resulta compacto. Proposi¸ c˜ ao 130 (Todo Compacto ´e Limitado). Seja (M, d ) um espa¸co m´etrico. Se K ⊂ M ´e compacto ent˜ ao K ´e limitado. Prova: Seja K ⊂ M compacto. Para cada x ∈ K ponhamos Ax = B(x; 1). Ent˜ ao ´ ´e uma cobertuta aberta de K. Sendo K compacto existem x1 , x2 , . . . , xn ∈ K Ax x∈K tais que K ⊂ Ax1 ∪ Ax2 ∪ · · · ∪ Axn . Como cada Ax ´e limitado (ver (P6 ), pg. 181), i a reuni˜ ao finita A x ∪ A x ∪ · · · ∪ A xn `
1
2
tamb´em ´e limitada, resultando K limitado. Das duas u ´ltimas proposi¸c˜ oes concluimos:
Proposi¸ c˜ ao 131 (Todo Compacto ´e Fechado e Limitado). Seja (M, d ) um espa¸co m´etrico. Se K ⊂ M ´e compacto ent˜ ao K ´e fechado e limitado. A contrapositiva desta proposi¸c˜ ao ´e a
Proposi¸ c˜ ao 132. Seja (M, d ) um espa¸co m´etrico. Se K ⊂ M n˜ ao ´e fechado ou limitado ent˜ ao K n˜ ao ´e compacto. A reciproca da proposi¸c˜ ao 131 n˜ ao vale em geral. Vejamos dois contra-exemplos: a) Vejamos um exemplo de um subconjunto limitado e fechado, mas n˜ ao compacto: O subconjunto [ 0, 1 ] ⊂ R ´e limitado e fechado mas n˜ ao compacto no espa¸co (R, δ) (exemplo 1, pg. 504). ` ´ b) Consideremos o espa¸co espa¸co ℓ 2 , +, · ; e os seguintes elementos de ℓ 2 : δ1 = (1, 0, 0, 0, 0, . . .)
δ2 = (0, 1, 0, 0, 0, . . .) .. . δk = (0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0, . . .) .. ↑ k-´ esima posi¸ ca ˜o. .
509
Isto ´e, δn tem todas as coordenadas nulas, exceto a n-´esima que vale 1. Fa¸camos ̥ = { δ1 , δ2 , δ3 , . . .}. Temos δm = ( 0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0, . . .) δn = ( 0, 0, . . . , 0, 0, . . . , 0, 1, 0, . . .) ⇓ δm − δn = ( 0, 0, . . . , 0, 1, 0, . . . , 0, −1, 0, . . .) Sendo assim, d(δm , δn ) = kδm
v u∞ uX − δn k = t (δmi − δni )2 i=1
=
=
p
√
02 + · · · + 02 + 12 + 02 + · · · + 02 + (−1)2 + 02 + · · ·
2.
Sempre que m 6= n. Sendo assim, temos ˘ ¯ √ diam(̥) = sup d(x, y) : x, y ∈ ̥ = 2
e ̥ resulta limitado. Sendo (δn ) uma seq¨ uˆencia de Cauchy em ̥, dado ε > 0 arbitr´ ario, existe um ´ındice n0 tal que ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(δm , δn ) < ε
De
d(δm , δn ) =
(√
se m 6= n; se m = n.
2, 0,
(⋆)
decorre que toda seq¨ uˆencia de Cauchy em ̥ ´e constante a partir de algum ´ındice. Sendo assim, toda seq¨ uˆencia (δn ) de pontos de ̥ que converge em ℓ2 ´e constante a partir de algum ´ındice n0 , isto ´e δn = δn 0
0
+1
= δn
0
+2
= ···
e portanto lim δn = δn0 ∈ ̥. Logo ̥ ´e completo e, pela proposi¸c˜ ao 119 pg. 459, n
fechado. Todavia ̥ n˜ ao ´e compacto pois a cobertura aberta ̥⊂
∞ [
B(δk ; 1)
k=1
n˜ ao possui cobertura finita. Observe que ˘ ¯ B(δk ; 1) = δn ∈ ̥ : d(δn , δk ) < 1 = { δk },
devido a (⋆). ` ´ De outro modo: Observe que o subespa¸co m´etrico ̥, d ´e infinito e discreto, por conseguinte, n˜ ao pode ser compacto (ver a contrapositiva da proposi¸c˜ ao dada no exemplo 5., pg. 506).
510
Proposi¸ c˜ ao 133 (Imagem Cont´ınua de compactos). A imagem de um conjunto compacto por uma aplica¸c˜ ao cont´ınua ´e compacta. Prova: Seja K ⊂ M um conjunto compacto e f : M → N cont´ınua. Mostraremos que f (K) ⊂ N ´e compacto. Seja, [ Aλ f (K) ⊂ λ∈L
` ´ uma cobertura aberta de f (K). Como f ´e cont´ınua, Bλ = f −1 Aλ ´e aberto para todo λ ∈ L (proposi¸c˜ ao 86, pg. 345). Respaldados nas proposi¸c˜ oes 9 (pg. 47) e 15 (pg. 53) (´ıtem (iii)) podemos escrever ! [ −1 [ [ −1 f (Aλ ) Aλ ⇔ K ⊂ f Aλ ⇒ K⊂ f (K) ⊂ λ∈L
λ∈L
λ∈L
Portanto K ⊂ ∪Bλ . Como K ´e compacto, existem λ1 , . . . , λn tais que K ⊂ Bλ ∪ · · · ∪ Bλn . 1
` ´ Logo proposi¸c˜ oes 7 (pg. 44) e 15 (pg. 53) , ` ´ f (K) ⊂ f Bλ ∪ · · · ∪ Bλn 1 ` ´ ` ´ = f Bλ ∪ · · · ∪ f Bλn 1
⊂ A λ ∪ · · · ∪ A λn 1
sendo assim f (K) resulta compacto.
Corol´ ario 39. Se (M, d) e (N, d) s˜ ao espa¸cos m´etricos homeomorfos ent˜ ao (M, d) ´e compacto se, e somente se, (N, d) o for. Segue-se que a compacidade ´e um invariante topol´ ogico. ˘ ¯ Corol´ ario 40. O c´ırculo S1 = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1 ´e compacto. Prova: De fato, a fun¸c˜ ao
f : R → R2 dada por f (t) = (cos t, sin t) ` ´ ´e cont´ınua, [ 0, 2π ] ´e compacto e, ademais, f [ 0, 2π ] = S1 .
Corol´ ario 41. Todo caminho∗ f : [ 0, 1 ] −→ M em um espa¸co espa¸co m´etrico ´e compacto, por ser a imagem do compacto [ 0, 1 ]. Em particular, num espa¸co vetorial normado, todo segmento de reta† ˘ ¯ [ a, b ] = x = (1 − t)a + t b ∈ E : 0 ≤ t ≤ 1 .
´e um conjunto compacto por ser a imagem do compacto [ 0, 1 ] pela aplica¸c˜ ao cont´ınua dada por f (t) = (1 − t)a + t b. De fato, ` ´ ˘ ¯ f [ 0, 1 ] = f (t) : t ∈ [ 0, 1 ] ˘ ¯ = (1 − t)a + t b : t ∈ [ 0, 1 ] = [ a, b ]. ∗ Ver † Ver
defini¸ca ˜o a ` pg. 407. defini¸ca ˜o a ` pg. 78.
511
Corol´ ario 42. Se (M, d) ´e compacto, toda aplica¸c˜ ao cont´ınua f : M → N ´e fechada, isto ´e, ` ´ F ⊂ M fechado ⇒ f F ⊂ N fechado. Prova: De fato,
` ´ F ⊂ M fechado ⇒ F compacto ⇒ f F compacto ` ´ ⇒ f F fechado em (N, d′ ).
Corol´ ario 43. Se (M, d) ´e compacto, toda bije¸c˜ ao cont´ınua f : M → N ´e um homeomorfismo. Prova: Por hip´ otese f : (M, d) → (N, d′ ) ´e cont´ınua. Devemos mostrar que −1 ′ g = f : (N, d ) → (M, d) ´e cont´ınua. De ` ´fato, seja F ⊂ M fechado em (M, d). Como f : M → N ´e cont´ınua implica que f F ⊂ N ´e fechado em (N, d′ ), logo ` ´ ` ´ g −1 F = f F ⊂ N ´e fechado em (N, d′ ) Sendo assim o corol´ ario 18 (pg. 349) nos assegura que g ´e cont´ınua. Na pg. 360 vimos exemplos de bije¸c˜ oes cont´ınuas com inversas descont´ınuas. O corol´ ario anterior nos diz porque isto ´e poss´ıvel: aquelas aplica¸c˜ oes n˜ ao tˆem dom´ınio compacto.
Corol´ ario 44. Se (M, d) ´e compacto, ent˜ ao toda aplica¸c˜ ao cont´ınua f : M → N ´e limitada. ` ´ Prova: De fato, f M ⊂ N , sendo compacto, ´e limitado.
Fun¸c˜ oes Reais Cont´ınuas com Dom´ınio Compacto
Proposi¸ c˜ ao 134 (Weierstrass). Se (M, d) ´e compacto, ent˜ ao toda fun¸c˜ ao real cont´ınua f : M → R ´e limitada e atinge valores m´ aximo e m´ınimo em M . Isto ´e, existem α, β ∈ M tais que f (α) ≤ f (x) ≤ f (β), ∀ x ∈ M. Prova: Que f ´e limitada vˆe-se pelo corol´ ario 44 acima. Sendo M compacto, ent˜ ao f (M ) tamb´em o ´e, j´ a que f ´e cont´ınua. Logo, f (M ) ´e limitado e fechado em (R, µ). Sendo assim, existem (ver quadro ` a pg. 67) ν = inf f (M ) e µ = sup f (M ) Assim, dado ε > 0, existem y1 , y2 ∈ f (M ) tais que: ν ≤ y1 < ν + ε e µ − ε < y2 ≤ µ Sendo assim, ν ≤ y1 < ν + ε ⇒ ν − ε < ν ≤ y1 < ν + ε ⇒ y1 ∈ ]ν − ε, ν + ε[ e µ − ε < y2 ≤ µ ⇒ µ − ε < y2 ≤ µ < µ + ε ⇒ y2 ∈ ] µ − ε, µ + ε [ o que implica ] ν − ε, ν + ε [ ∩ f (M ) 6= ∅ e ] µ − ε, µ + ε [ ∩ f (M ) 6= ∅ e, portanto, ν, µ ∈ f (M ). Como por´em f (M ) = f (M ), pois f (M ) ´e fechado, ent˜ ao ν, µ ∈ f (M ) e, portanto, existem α, β ∈ M tais que f (α) = ν = inf f (M ) e f (β) = µ = sup f (M ).
512
Coment´ arios sobre o Teorema de Weierstrass ao de compacidade ´e essencial no teorema acima. Por exemplo, a fun¸c˜ ao 1 o ) A condi¸c˜ f : [ 0, 1 [ → R dada por f (x) = x + 1, ´e cont´ınua em todo o seu dom´ınio, mas n˜ ao tem m´ aximo, embora tenha supremo que ´e 2. Este valor n˜ ao ´e assumido pela fun¸c˜ ao, isto ´e, n˜ ao existe x ∈ [ 0, 1 [ de modo que f (x) = x + 1 = 2. y
6
sup f (x)
ց
r
2
q f (x) −→ l 1
q q1
0
-x
Um outro exemplo ´e dado pela fun¸c˜ ao cont´ınua f dada por f (x) = 1/x, em x > 0, cuja imagem ´e o semi-eixo ] 0, +∞ [. A fun¸c˜ ao n˜ ao tem m´ aximo nem m´ınimo. Se definida em um intervalo tipo [ a, +∞ [, onde a > 0, passa a ter m´ aximo igual a 1/a, mas continua sem m´ınimo. Esta fun¸c˜ ao continuar´ a sem m´ınimo mesmo se definida em um intervalo limitado tipo [ a, b [. Por´em, em intervalos fechados (compactos) tipo [ a, b ] esta fun¸c˜ ao ter´ a m´ aximo 1/a e ter´ a m´ınimo 1/b. Estas situa¸c˜ oes est˜ ao ilustradas nas figuras seguintes. f (x)
f (x)
6
3
f (x)
6
q
1 a
6
1 a
q
q
2
q
2
q
2
q
1
q
1
q
1
q
0
q1
q2
-x
q3
f : ] 0, +∞ [ → R
n˜ ao tem m´ aximo nem m´ınimo
0
[ a
q1
q2
f : [ a, +∞ [ → R
tem m´ aximo= 1/a n˜ ao tem m´ınimo
513
-x
q3
1 b
q 0
[ a
q1
q2
-x
q3
f : [ a, b ] → R
tem m´ aximo= 1/a tem m´ınimo= 1/b
Por outro lado, uma fun¸c˜ ao cont´ınua f : X → R pode ter m´ aximo e m´ınimo em X, ou f (X) pode ser compacto, sem que X seja compacto. Por exemplo, f (x) = sen x em X =] 0, 2π [, ´e tal que f (X) = [ −1, 1 ], que ´e compacto, +1 ´e o m´ aximo de f e −1 ´e o seu m´ınimo. y= sen x
6 1
π
π 2
3π 2
2π
-
x
−1
2 o ) Uma fun¸c˜ ao f : [ a, b ] → R, com dom´ınio compacto, se for descont´ınua n˜ ao precisa assumir um valor m´ aximo ou m´ınimo. Por exemplo, consideremos a fun¸c˜ ao (descont´ınua) f : [ 0, 1 ] → R definida do seguinte modo f (x)
6 1¬
f (x) =
(
x,
se x ´e irracional;
1/2,
se x ´e racional.
1 ¬ 2
0
¬
-
x
1
` direita temos um esbˆ A o¸co “grosseiro” do gr´ afico de f . As duas linhas pontilhadas est˜ ao contidas no gr´ afico de f e s˜ ao tais que, qualquer reta vertical - conduzida pelo dom´ınio de f (qualquer reta x = c com 0 ≤ x ≤ 1) - intercepta o gr´ afico em um u ´nico ponto (isto ´e, cont´em um ponto da linha pontilhada inclinada (se c ´e irracional) ou cont´em um ponto da linha pontilhada horizontal (se c ´e racional)). Pois bem, esta fun¸c˜ ao assume valores t˜ ao pr´ oximos de 1 e de 0 quanto quisermos, se escolhermos um valor irracional para x suficientemente pr´ oximo de 1 ou de 0. Entretanto, f (x) nunca pode ser igual a 0 ou 1, porquanto as equa¸c˜ oes f (x) = 0 e f (x) = 1, ∀ x ∈ [ 0, 1 ] n˜ ao tˆem solu¸c˜ ao.
Conjuntos Totalmente Limitados Defini¸ c˜ ao 70 (Conjunto Totalmente Limitado). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Diremos que um subconjunto K ⊂ M ´e totalmente limitado se, para todo ε > 0 dado, existir um n´ umero finito de pontos x1 , x2 , . . . , xn ∈ K de maneira que K ⊂ B(x1 ; ε) ∪ B(x2 ; ε) ∪ · · · ∪ B(xn ; ε). Observa¸c˜ ao: Todo conjunto totalmente limitado ´e limitado; n˜ ao valendo a rec´ıproca. Exemplos
514
1. O subconjunto K = [ 0, 1 ] ´e totalmente limitado no espa¸co (R, µ), mas n˜ ao no espa¸co (R, δ). Inicialmente mostremos a segunda destas assertivas. De fato, temos ˘ ¯ Bδ ( x; 1) = x , ∀ x ∈ [ 0, 1 ]. De modo que ´e imposs´ıvel selecionar n pontos em [ 0, 1 ] de modo que [ 0, 1 ] ⊂
n [
Bδ ( xi ; 1).
i=1
Observe que [ 0, 1 ] ´e um subconjunto limitado em (R, δ). Deste modo, ser totalmente limitado ´e uma condi¸c˜ ao mais forte do que ser limitado. Mostremos agora que [ 0, 1 ] ´e totalmente limitado no espa¸co (R, µ). De fato, dado ε > 0 escolhamos (pelo corol. 3, (a), pg. 65+Pr´ınc´ıpio da boa ordena¸c˜ ao) o menor natural n de modo que n · ε > 1 e fa¸camos x1 = 0, x2 = ε, x3 = 2ε, . . . , xn = (n − 1)ε ≤ 1. Temos, ] x1 − ε, x1 + ε [ = ] − ε, ε [ ] x2 − ε, x2 + ε [ = ] 0, 2ε [
] x3 − ε, x3 + ε [ = ] ε, 3ε [
....................................... ] xn − ε, xn + ε [ = ] n · ε − 2ε, n · ε [ Sendo assim, [ 0, 1 ] ⊂ Bµ ( x1 ; ε) ∪ Bµ ( x2 ; ε) ∪ · · · ∪ Bµ ( xn ; ε), o que prova nossa assertiva. 2. Todo conjunto limitado em (R, µ) ´e totalmente limitado. Prova: Para provar esta afirma¸c˜ ao ´e suficiente mostrar que todo intervalo [ a, b ] em (R, µ) ´e totalmente limitado. (Isto porque todo conjunto limitado em (R, µ) est´ a contido em algum intervalo do tipo [ a, b ]). De fato, dado ε > 0 escolhamos o menor natural n de modo que n · ε > b − a e fa¸camos x1 = a x2 = a + ε x3 = a + 2ε .. . xk = a + (k − 1)ε .. . xn = a + (n − 1)ε onde o n escolhido ´e tal que a + (n − 1)ε ≤ b < a + nε. Ent˜ ao, [ a, b ] ⊂ Bµ ( x1 ; ε) ∪ Bµ ( x2 ; ε) ∪ · · · ∪ Bµ ( xn ; ε) 3. Um outro exemplo de conjunto limitado, mas n˜ ao totalmente limitado, ´e o subconjunto ̥ = { δ1 , δ2 , δ3 , . . .} de ℓ2 visto na pg. 509.
515
10.2.1
Caracteriza¸c˜ ao de Compacidade
Em geral, n˜ ao ´e f´ acil provar que um conjunto ´e compacto, utilizando apenas a defini¸c˜ ao (ver por exemplo a proposi¸c˜ ao 128, pg. 505). A proposi¸c˜ ao seguinte nos fornece outras defini¸c˜ oes alternativas de compacidade. Proposi¸ c˜ ao 135. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. As seguintes afirma¸c˜ oes s˜ ao equivalentes: a) (M, d ) ´e compacto; b) Todo subconjunto infinito de M possui um ponto de acumula¸c˜ ao; c) Toda seq¨ uˆencia em M possui uma subseq¨ uˆencia convergente; d) (M, d ) ´e completo e totalmente limitado. Prova: Devemos mostrar que a) ⇒ b) ⇒ c) ⇒ d) ⇒ a). Ent˜ ao a) ⇒ b) Faremos uso da t´ecnica (T − 4) (pg. 24). Fa¸camos, 8 > H : > > < 1 > > > : H : 2
(M, d ) ´e compacto. ⇒
T:
X possui um ponto de acumula¸c˜ ao.
X ⊂ M ´e infinito. ¯2 H1 ∧ T¯ =⇒ H
Suponhamos (M, d ) compacto e X ⊂ M um subconjunto sem ponto de acu¯ = X ∪ X ′ = X, isto ´e, X ´e fechado em (M, d ), mula¸c˜ ao. Sendo X ′ = ∅ resulta que X donde, utilizando H1 , X ´e compacto. Afirmamos, ademais, que o subespa¸co (X, d ) ´e discreto. De fato, se isto n˜ ao fosse verdade existiria um ponto p ∈ X n˜ ao isolado. Logo (ver observa¸c˜ ao pg. 186) para todo r > 0 dado, existe um outro ponto x ∈ X tal que x ∈ B(p; r), isto ´e, 0 < d(x, p) < r. Portanto, ` ´ ` ´ B(p; r) − { p } ∩ X 6= ∅ ⇒ B(p; r) − { p } ∩ X 6= ∅
e p resultaria ponto de acumula¸c˜ ao de X, contrariando nossa hip´ otese. Pois bem, (X, d ) compacto e discreto implica (exemplo 5., pg. 506) que X ´e finito. b) ⇒ c) Seja (xn ) uma seq¨ uˆencia em M . Se {xn : n ∈ N} ´e finito ent˜ ao existe algum valor a que se repete infinitas vezes: a = xn = xn = · · · = xn = · · · . Portanto 2 1 k a subseq¨ uˆencia (xn ) converge para a. Se, por´em, o conjunto { x1 , x2 , . . . , xn , . . .} ´e k infinito ent˜ ao possui um ponto de acumula¸c˜ ao a. Tendo em conta a observa¸c˜ ao (ii), pg. 285 e a proposi¸c˜ ao 65, pg. 279, concluimos que existe uma seq¨ uˆencia de pontos de X = { x1 , x2 , . . . , xn , . . .} (isto ´e, uma subseq¨ uˆencia de (xn )) convergindo para a. c) ⇒ d) Supondo c) como hip´ otese, temos que toda seq¨ uˆencia de Cauchy em M possui uma subseq¨ uˆencia convergente, logo (proposi¸c˜ ao 116, pg. 452) ´e convergente. Sendo assim (M, d ) resulta completo. Ainda resta mostrar que (M, d ) ´e totalmente limitado: vamos mostrar que, para todo ε > 0 arbitrariamente fixado, podemos incluir M numa reuni˜ ao de um n´ umero finito de bolas de raio ε. De fato, dado ε > 0, escolhamos um ponto x1 ∈ M . Se acontece M ⊂ B(x1 ; ε), paramos aqui. Caso contr´ ario, existe x2 ∈ M de modo que d(x2 , x1 ) ≥ ε. Se acontece M ⊂ B(x1 ; ε) ∪ B(x2 ; ε), terminou. Caso contr´ ario, existe x3 ∈ M de modo que d(x3 , x2 ) ≥ ε e d(x3 , x1 ) ≥ ε. Prosseguindo desta forma, ou chegamos a um n tal que M ⊂ B(x1 ; ε) ∪ B(x2 ; ε) ∪ · · · ∪ B(xn ; ε) ou ent˜ ao obtemos uma seq¨ uˆencia (xn ) satisfazendo d(xm , xn ) ≥ ε para m 6= n quaisquer. Sendo assim, (xn ) n˜ ao possui nenhuma subseq¨ uˆencia de Cauchy, ou ainda: nenhuma subseq¨ uˆencia convergente. O que contraria a hip´ otese, logo a segunda das alternativas
516
propostas n˜ ao ocorre, por conseguinte (M, d ) ´e totalmente limitado. d) ⇒ a) Seja (M, d ) completo e totalmente limitado. Suponhamos, por absurdo, que (M, d ) n˜ ao ´e compacto. Sendo assim existe uma cobertura aberta A = {Aλ }λ∈L de M que n˜ ao admite subcobertura finita. Como (M, d ) ´e totalmente limitado, existe um n´ umero finito de pontos x1 , x2 , . . . , xn em M tais que M⊂
– n » [ ` ` 1´ 1´ B xi ; ⇒ M= . M ∩ B xi ; 2 2 i=1 i=1 n [
Assim, M pode ser decomposto num n´ umero finito de subconjuntos com diˆ ametro menor ou igual a 1. `
1 M ∩B xi ; 2
´
`
1 ⊂ B xi ; 2
´
„ ` ´« ` ´ ⇒ diam M ∩B xi ; 1 ≤ diam B xi ; 1 ≤1. 2 2
Como (M, d ) n˜ ao ´e compacto pelo ao menos um desses conjuntos, digamos ` 1´ , M1 = M ∩ B xk ; 2
`
´ k ∈ {1, 2, . . . , n}
n˜ ao est´ a contido em reuni˜ ao finita alguma de elementos de A (ver exemplo 8., pg. 507). Como M1 ´e totalmente limitado, M1 pode ser decomposto num n´ umero finito de subconjuntos cada qual com diˆ ametro menor ou igual a 21 . Pelo menos um desses conjuntos, digamos, M2 , n˜ ao est´ a contido em reuni˜ ao finita alguma de elementos de A. Prosseguindo dessa forma obtemos M1 ⊃ M2 ⊃ M3 ⊃ · · · Com Mn 6= ∅ para todo n, e diam Mn ≤
1 . n
Seja Mn o fecho de Mn em (M, d ), ent˜ ao
M 1 ⊃ M2 ⊃ M3 ⊃ · · · ´e uma cadeia de subconjuntos fechados do espa¸co completo (M, d ), com Mn 6= ∅ para todo n e lim diam Mn = 0. Logo, o lema 6, pg. 494, nos assegura que existe p ∈ M n
de modo que
∞ \
n=1
Mn = {p}.
Como p ∈ M , existe Aλ′ em A tal que p ∈ Aλ′ . Afirmamos: Se lim diam Mn = 0 ent˜ ao ∃ n0 ∈ N tal que Mn ⊂ Aλ′ 0
n
ao existe n0 ∈ N de modo que De fato, suponha que lim diam Mn = 0 e que n˜ n
Mn ⊂ Aλ′ . Logo, para todo n existe xn ∈ Mn de modo que xn 6∈ Aλ′ . Como 0 p ∈ Aλ′ , ent˜ ao para todo n natural xn 6= p. Logo ∀ n ∈ N existe xn ∈ Mn tal que d(xn , p) > 0
(⋆)
Por outro lado, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que ˛ ˛ ˛diam Mn − 0˛ = diam Mn < ε, ∀ n ≥ n0 . Logo,
˘ ¯ diam Mn = sup d(x, y) : x, y ∈ Mn < ε,
517
∀ n ≥ n0 .
Ent˜ ao, ∀ n ≥ n0 ⇒ d(x, y) < ε;
x, y ∈ Mn .
∀ n ≥ n0 ⇒ d(x, y) = 0;
x, y ∈ Mn .
Respaldados na proposi¸c˜ ao 23, pg. 65; podemos escrever
Mas esta conclus˜ ao contradiz (⋆). Pois bem, existe um ´ındice n0 tal que Mn0 ⊂ Aλ′
⇒ Mn0 ⊂ Aλ′
Mas isto ´e uma contradi¸c˜ ao uma vez que, como dissemos acima, os Mn n˜ ao est˜ ao contidos em nenhuma reuni˜ ao finita de elementos da cobertura A = {Aλ }λ∈L . Defini¸ c˜ ao 71 (Espa¸cos Seq¨ uencialmente Compactos). Um espa¸co (M, d) ´e seq¨ uencialmente compacto se, e somente se, toda seq¨ uˆencia em M possui uma subseq¨ uˆencia convergente. A proposi¸c˜ ao 135 (pg. 516) nos assevera ent˜ ao que todo espa¸co m´etrico compacto ´e seq¨ uencialmente compacto e, rec´ıprocamente, todo espa¸co seq¨ uencialmente compacto ´e compacto. Todo espa¸co m´etrico compacto possui um subconjunto enumer´ avel e denso. Sen˜ ao vejamos: c˜ ao 136. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico ao existe uma seq¨ uˆencia `Proposi¸ ´ ˘ compacto. ¯ Ent˜ yn de pontos de M tal que o conjunto Y = y1 , y2 , . . . ´e denso em (M, d).
Prova: Como (M, d) ´e compacto, ´e totalmente limitado, logo (ver defini¸c˜ ao 70, pg. 514) para ε = 1, existem m1 pontos de M , digamos x11 , x12 , x13 . . . , x1m tais que,
1
` ´ ` ´ ` ´ B x11 ; 1 ∪ B x12 ; 1 ∪ · · · ∪ B x1m ; 1 ⊃ M 1
Para ε =
1 2
existem, existem m2 pontos de M , digamos x21 , x22 , x23 . . . , x2m
2
tais que,
` ` ` 1´ 1´ 1´ B x21 ; ∪ B x22 ; ∪ · · · ∪ B x2m ; ⊃M 2 2 2 2 E assim sucessivamente, para ε = n1 existem, existem mn pontos de M , digamos xn1 , xn2 , xn3 . . . , xnmn
tais que,
` ` ` 1´ 1´ 1´ B xn1 ; ∪ B xn2 ; ∪ · · · ∪ B xnmn ; ⊃M n n n Vamos organizar as informa¸c˜ oes anteriores. Temos a seguinte seq¨ uˆencia dupla: x11 x12 x13 ... x1m 1 x21 x22 x23 ... x2m 2 ...................................... xn1 xn2 xn3 ... xnmn ......................................
Observe que esta seq¨ uˆencia dupla, ao contr´ ario do que parece, n˜ ao possui o mesmo n´ umero de colunas, mas ´e sempre limitada em colunas; digo: todas as linhas tˆem um
518
n´ umero finito de elementos. Em correspondencia a esta seq¨ uˆencia dupla obtemos: ` ´ ` ´ ` ´ B x11 ; 1 ∪ B x12 ; 1 ∪ · · · ∪ B x1m ; 1 ⊃ M 1
` ´ ` ´ ` ´ B x21 ; 12 ∪ B x22 ; 21 ∪ · · · ∪ B x2m ; 12 ⊃ M 2 . . `. . . . . . . .´. . . . . `. . . . . . . .´. . . . . . . . . . `. . . . . . . . . .´. . . . . . B xn1 ; n1 ∪ B xn2 ; n1 ∪ · · · ∪ B xnmn ; n1 ⊃ M ................................................. ` ´ Pois bem, a seq¨ uˆencia yn procurada ´e obtida ao “linearizarmos” a seq¨ uˆencia dupla anterior, da seguinte forma: ´ ` x11 , . . . , x1m ; x21 , . . . , x2m ; · · · ; xn1 , . . . , xnmn ; · · · 1
2
De fato, vamos provar que sendo ¯ ˘ Y = x11 , . . . , x1m ; x21 , . . . , x2m ; · · · ; xn1 , . . . , xnmn ; · · · 1
2
temos Y¯ = M . Dados p ∈ M e ε > 0 devemos mostrar que existe xij ∈ Y tal que xij ∈ B( p; ε). Ent˜ ao, dado ε > 0 tomamos, de empr´estimo a Arquimedes, um natural n de modo que n1 < ε. Como ` ` ` 1´ 1´ 1´ ∪ B xn2 ; ∪ · · · ∪ B xnmn ; ⊃M B xn1 ; n n n
p pertence a uma destas bolas, digamos
` 1´ , para algum k ∈ {1, 2, . . . , mn } p ∈ B xnk ; n
portanto d(p, xnk ) <
10.3
1 n
< ε, isto ´e, xnk ∈ B( p; ε).
Produto Cartesiano de Conjuntos Compactos
Proposi¸ c˜ ao 137 (Produto de Compactos). Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. Consideremos sobre M1 × M2 uma qualquer das m´etricas equivalentes D1 , D2 ou D3 (pg. 151; pg. 379 ). Ent˜ ao M1 × M2 ´e compacto se, e somente se, M1 e M2 o forem. Prova: (⇒) Se M1 × M2 ´e compacto ent˜ ao M1 e M2 tamb´em o ser˜ ao pois s˜ ao imagens do compacto M1 × M2 pelas fun¸c˜ oes cont´ınuas (proje¸c˜ oes): p1 : M1 × M2 −→ M1
e
(x1 , x2 ) 7−→ x1
p2 : M1 × M2 −→ M2 (x1 , x2 ) 7−→ x2
Assim, ` ´ ˘ ` ´ ¯ p1 M1 × M2 = p1 (x1 , x2 ) : (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 ˘ ¯ = x1 : (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 = M1 ` ´ An´ alogamente p2 M1 × M2 = M2 . (⇐) Para provar a rec´ıproca mostraremos que se M1 e M2 s˜ ao compactos ent˜ ao toda seq¨ uˆencia em M = M1 × M2 possui uma subseq¨ uˆencia convergente. De fato, seja (zn ) uma seq¨ uˆencia em M . Ent˜ ao, zn = (xn , yn ), sendo (xn ) uma seq¨ uˆencia em M1 e (yn ) uma seq¨ uˆencia em M2 . Como M1 ´e compacto, (xn ) possui uma subseq¨ uˆencia convergente, isto ´e, existem N1 ⊂ N infinito (pg. 198) e a ∈ M1 tais que lim xn = a. n∈N1
519
Como M2 ´e compacto, a seq¨ uˆencia (yn )n∈N possui uma subseq¨ uˆencia convergente, 1 isto ´e, existem N2 ⊂ N1 infinito e b ∈ M2 tais que lim yn = b. Observe que (xn )n∈N n∈N2
2
´e uma subseq¨ uˆencia da subseq¨ uˆencia (xn )n∈N , portanto pela proposi¸c˜ ao 36 (pg. 212) 1 temos lim xn = a. Sendo assim, temos n∈N2
8 lim xn = a > > > n∈N2 < > > lim yn = b > : n∈N
propo. 38
` ´ lim xn , yn = (a, b).
=⇒
n∈N2
(pg. 214)
2
` ´ Ent˜ ao zn
n∈N
´e a subseq¨ uˆencia procurada.
2
Corol´ ario 45. Sejam (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . ., (Mn , dn ) espa¸cos m´etricos. Ent˜ ao, o produto M = M1 × M2 × · · · × Mn ´e compacto se, e somente se, cada Mi o for. Prova: Basta aplicar n − 1 vezes a proposi¸c˜ ao 137.
10.3.1
Compactos no Rn
Ami´ ude, n˜ ao ´e f´ acil provar que um conjunto ´e`compacto. ´ Esta dificuldade deixa de existir no caso de subconjuntos compactos do Rn , Di (i = 1, 2, 3.) (pg. 98) . Na seq¨ uˆencia provamos uma`importante ao que caracteriza completamente os ´ proposi¸c˜ subconjuntos compactos do Rn , Di . Vimos (prop. 131, pg. 509) que todo subconjunto compacto de um espa¸co m´etrico ´e fechado e limitado. Mas, devido ao exemplo 1. (pg. 504), num espa¸co m´etrico um conjunto ` n ´ pode ser fechado e limitado sem ser compacto. No caso por´em dos espa¸cos R , Di compacto ´e o mesmo que fechado e limitado. Sen˜ ao vejamos, ` n ´ Proposi¸ c˜ ao 138. Sejam os espa¸cos m´etricos R , Di (i = 1, 2, 3.). Um subconjunto K ⊂ Rn ´e compacto se, e somente se, K ´e fechado e limitado. Prova: (⇒) Vale para qualquer espa¸co m´etrico. (⇐) Um subconjunto K ⊂ Rn diz-se limitado quando existe um n´ umero real c > 0 de modo que kxk ≤ c para todo x ∈ K. Isto ´e o mesmo que dizer que K est´ a contido na bola de centro na origem e raio c. Consideremos sobre Rn a norma ˘ ¯ x = (x1 , x2 , . . . , xn ) 7−→ kxk = max |x1 |, |x2 |, . . . , |xn | Pois bem, sendo K limitado, para todo x ∈ K existe c > 0 de modo que ˘ ¯ kxk ≤ c ⇔ max |x1 |, |x2 |, . . . , |xn | ≤ c 8 |x1 | ≤ c > > > > <|x2 | ≤ c ⇔ > ... > > > : |xn | ≤ c
8 x1 ∈ [ −c, c ] > > > > ... > > > : xn ∈ [ −c, c ]
⇔ x = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ [ −c, c ] × · · · × [ −c, c ]
⇒ K ⊂ [ −c, c ] × · · · × [ −c, c ].
520
Como cada [`−c, c ] ´e´ compacto em R, segue que o produto [ −c, c ] ×`· · · × [ −c, ´ c] ´e compacto em Rn , Di . Sendo assim K ´e um subconjunto fechado em Rn , Di que est´ a contido num compacto deste espa¸co. Donde, tendo em conta a proposi¸c˜ ao 129 (pg. 507), K resulta compacto. Nota: Devido as desigualdades (pg. 379), D3 (x, y) ≤ D1 (x, y) ≤ D2 (x, y) ≤ n · D3 (x, y)
v´ alidas para as respectivas normas do Rn , se um subconjunto X ⊂ Rn ´e limitado em rela¸c˜ ao a uma dessas normas o ´e tamb´em em rela¸c˜ ao ` as outras duas.
O espa¸ co [ 0, 1 [, k ´ e compacto
` ´ Proposi¸ c˜ ao 139 (Gentil/29.06.05). O espa¸co m´etrico [ 0, 1 [, k ´e compacto.
Prova: De fato, sendo o mesmo completo (prop. 122, pg. 462) ´e suficiente mostrar que ´e totalmente limitado. Sendo [ 0, 1 [ totalmente limitado no espa¸co (R, µ), segue que, dado ε > 0 arbitr´ ario podemos, selecionar n pontos: x1 , x2 , x3 , . . . , xn em [ 0, 1 [ de sorte que [`0, 1 [⊂ ´ Bµ ( x1 ; ε) ∪ Bµ ( x2 ; ε) ∪ · · · ∪ Bµ ( xn ; ε). Pelo lema 5 (pg. 461) temos que Bµ xi ; ε ⊂ Bk (xi ; ε), (i = 1, 2, . . . , n). Portanto [ 0, 1[ ⊂
n [
i=1
n ` ´ ` ´ [ Bk xi ; ε Bµ xi ; ε ⊂ i=1
` ´ Sendo [ 0, 1 [, k completo e totalmente limitado, resulta tamb´em compacto.
Ap´ os esta prova concebemos uma outra mais direta. De fato, sendo (xn ) uma seq¨ uˆencia arbitr´ aria em [ 0, 1 [ podemos mostrar que esta possui uma subseq¨ uˆencia convergente. Com efeito, (xn ) ´e tamb´em uma seq¨ uˆencia no espa¸co compacto ([ 0, 1 ], µ) e, portanto, possui uma subseq¨ uˆencia (xn ) convergente. Sendo assim, (xn ) tamb´em k k ` ´ converge no espa¸co [0, 1[, k . ` ´ − Podemos dar ainda uma terceira prova da compacidade do espa¸co [0, 1[, k . De fato, o exemplo 6), pg. 311 nos mostra que este espa¸co ´e a imagem cont´ınua de um compacto logo, pela proposi¸c˜ ao 133 (pg. 511) ´e compacto. ` ´ Corol´ ario . Os quadrados [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, Di s˜ ao compactos.
10.4
Distˆ ancia Entre Conjuntos Compactos
No exemplo 2) (pg. 123) tivemos a oportunidade de calcular a distˆ ancia entre os subconjuntos X = [ 0, 1 ] e Y =] 3, 4 ] no espa¸co ( R, µ). Encontramos “ ” D [ 0, 1 ]; ] 3, 4 ] = 2. Vamos agora calcular a distˆ ancia entre o ponto p = 1 ∈ X e o subconjunto Y : ˘ ¯ d(p, Y ) = inf d( p, y) : y ∈ Y ˘ ¯ d(1, Y ) = inf d( 1, y) : y ∈ Y ˘ ¯ = inf |1 − y| : 3 < y ≤ 4
Ent˜ ao, 3 < y ≤ 4 ⇔ 2 < y − 1 ≤ 3 ⇔ 2 < |y − 1| ≤ 3 ⇔ |y − 1| ∈ ] 2, 4 ] ⇔ d(1, Y ) = 2.
521
Resultando,
“ ” ` ´ D [ 0, 1 ]; ] 3, 4 ] = d 1; ] 3, 4 ]
Isto ´e, encontramos um ponto no conjunto X que proporciona a distˆ ancia entre X e Y . Isto aconteceu em virtude de que X ´e compacto. Este fenˆ omeno pode ser generalizado para todos os espa¸cos m´etricos. Este ´e o conte´ udo da pr´ oxima proposi¸c˜ ao. Proposi¸ c˜ ao 140. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e K ⊂ M um subconjunto compacto. Se X ⊂ M , ent˜ ao existe p ∈ K de modo que D(K, X) = d(p, X). (M, d)
K
p q
X ν
Prova: Antes devemos lembrar: ˘
d(k, x) : k ∈ K e x ∈ X ˘ ¯ d(p, X) = inf d( p, x) : x ∈ X
D(K, X) = inf
¯
Inicialmente observe que se p ∈ K ent˜ ao ˘
¯ ˘ ¯ d( p, x) : x ∈ X ⊂ d(k, x) : k ∈ K e x ∈ X
˘
¯ ˘ ¯ d(k, x) : k ∈ K e x ∈ X ≤ inf d( p, x) : x ∈ X
portanto (prop. 20, pg. 64) inf
isto ´e, d(p, X) ≥ D(K, X). Pois bem, seja ν = ao de inf, ν ´e a maior das cotas ˘ D(K, X) ≥ 0. Pela defini¸ ¯ c˜ inferiores do conjunto d(k, x) : k ∈ K e x ∈ X ; portanto para todo n natural, ν + n1 n˜ ao pode ser cota inferior deste conjunto. Isto ´e o mesmo que afirmar (lema 2, pg. 62) a existˆencia de kn ∈ K e xn ∈ X tais que ` ´ 1 ν ≤ d kn , x n < ν + n
Consideremos a seq¨ uˆencia (x1 , x2 , . . . , xn , . . .) e seja A = { xn : n ∈ N } o conjunto dos seus termos. Existem duas alternativas: (i) A ´e finito. Neste caso existe p ∈ K tal que xn = p a partir de uma certa posi¸c˜ ao n. Afirmamos que D(K, X) = d(p, X). De fato, suponha, ao contr´ ario, que d(p, X) > D(K, X), sendo assim existe δ > 0 de modo que d(p, X) = ν + δ, e 1 escolhamos um n´ umero natural m satisfazendo xm = p e m < δ2 . Sendo assim, temos ν + δ = d(p, X) = d(xm , X) ≤ d(xm , ym ) < ν + o que ´e absurdo.
522
1 δ <ν+ m 2
(ii) A ´e infinito. Da compacidade de K resulta que existe uma subseq¨ uˆencia (xn ) de (xn ) tal k que lim xn = p ∈ K. Afirmamos que D(K, X) = d(p, X). De fato, suponha, k ao contr´ ario, que d(p, X) > D(K, X), sendo assim existe δ > 0 de modo ` que´ d(p, X) = ν + δ. Da convergˆencia xn −→ p decorre que a bola B p; δ2 k ` ´ cont´em infinitos termos da seq¨ uˆencia (xn ). Escolhamos xm ∈ B p; δ2 de modo δ 1 que m < 2 . Sendo assim, d(p, xm ) + d(xm , ym ) <
1 δ δ δ +ν+ < +ν+ 2 m 2 2
= ν + δ = d(p, X) ≤ d(p, ym ). Esta contradi¸c˜ ao com a desigualdade triangular encerra a demonstra¸c˜ ao. (M, d)
K
q`` ``` q @ p q ym
xm
X
d(p, ym ) ≤ d(p, xm )+d(xm , ym )
Corol´ ario 46. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e K ⊂ M um subconjunto compacto. Se X ⊂ M ´e um subconjunto fechado tal que X ∩ K = ∅, ent˜ ao D(K, X) > 0. Prova: Faremos uso da t´ecnica (T − 4) (pg. 24). Fa¸camos 8 > < H1 : > : H : 2
K compacto ∧ X fechado. K ∩ X = ∅.
⇒
T:
D(K, X) > 0
¯2 H1 ∧ T¯ =⇒ H
Suponhamos K compacto, X fechado e D(K, X) = 0. Ent˜ ao, pela proposi¸c˜ ao 140, existe um ponto p ∈ K satisfazendo d(p, X) = 0. Pela proposi¸c˜ ao 63 (pg. 278) somos ¯ Como p ∈ K e X ¯ = X, resulta p ∈ K ∩ X, o que contradiz informados de que p ∈ X. H2 . Mostraremos agora que a distˆ ancia entre dois subconjuntos compactos de um dado espa¸co m´etrico, pode ser expressa pela distˆ ancia entre dois pontos: um de cada desses subconjuntos. Corol´ ario 47. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e K, ̥ ⊂ M subconjuntos compactos. Ent˜ ao existem p ∈ K e q ∈ ̥ tais que D(K, ̥) = d(p, q). Prova: Como K ´e compacto a proposi¸c˜ ao 140 nos diz que existe um ponto p ∈ K satisfazendo D(K, ̥) = d(p, ̥). Como ̥ `´e compacto a `mesma ´proposi¸c˜ ao nos diz ´ que existe um ponto q ∈ ̥ satisfazendo D ̥, { p } = d q, { p } . Tendo em conta que ` ´ ˘ ¯ D ̥, { p } = inf d(x, y) : x ∈ ̥ e y ∈ { p } ˘ ¯ = inf d(x, p) : x ∈ ̥ ` ´ = d ̥, p
523
e ` ´ ˘ ¯ d { p }, q = inf d(x, q) : x ∈ { p } ˘ ¯ = inf d( p, q) = d(p, q)
decorre que D(K, ̥) = d(p, q).
10.5
N´ umero de Lebesgue Para Coberturas
Proposi¸ c˜ ao 141. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico compacto. Se A = {Aλ }λ∈L ´e um recobrimento aberto de M , ent˜ ao existem um n´ umero real δ > 0 e um aberto Aν ∈ A tais que para todo x ∈ M vale a inclus˜ ao B(x; δ) ⊂ Aν . Coment´ ario: O n´ umero δ > 0 serve para todos os pontos x ∈ M . O que pode mudar de ponto para ponto de M ´e o elemento Aν da fam´ılia A = {Aλ }λ∈L . Ou ainda: o raio da bola B(x; δ) ´e o mesmo para todo x ∈ M . Agora dependendo do x ∈ M , B(x; δ) vai estar contido num ou noutro Aν ∈ A. A seguir destacamos, em s´ımbolos, a tese e sua nega¸c˜ ao: ∃ δ>0 ∀ x ∈ M ∃ Aν ∈ A ⇒ B(x; δ) ⊂ Aν ∀ δ>0 ∃ x ∈ M ∀ Aν ∈ A ⇒ B(x; δ) 6⊂ Aν
Prova: Supondo falsa a tese, para todo δ > 0 existe x ∈ M de modo que B(x; δ) 6⊂ Aλ , para todo ´ındice λ ∈ L. Sendo assim, existe uma seq¨ uˆencia (x1 , x2 , . . .) de pontos de M de modo que B(x1 ; 1) 6⊂ Aλ , ∀ λ ∈ L; ` B x2 ;
` B x3 ;
1 2 1 3
´ ´
.. .
6⊂ Aλ ,
∀ λ ∈ L;
6⊂ Aλ ,
∀ λ ∈ L;
Quanto ao conjunto {xn : n ≥ 1} dos termos da seq¨ uˆencia (xn ) podem ocorrer duas possibilidades: (i) X = { x1 , x2 , . . .} ´e finito. Neste caso existe p ∈ X tal que xn = p a partir de uma certa posi¸c˜ ao n. Como p ∈ M ⊂ ∪Aλ , ent˜ ao p ∈ Aν para algum ´ındice ν ∈ L, e como Aν ´e aberto existe r > 0 de modo que p ∈ B(p; r) ⊂ Aν Escolhendo um ´ındice m tal que xm = p e
1 m
< r, teremos:
` 1´ ⊂ B(p; r) ⊂ Aν B xm ; m ` ´ 1 Mas isto contradiz o fato de que B xm ; m 6⊂ Aλ para todo Aλ na cobertura A.
(ii) X = { x1 , x2 , . . .} ´e infinito. Da compacidade de M resulta que existe uma subseq¨ uˆencia (xn ) de (xn ) k tal que lim xn = p ∈ M . Como p ∈ M ⊂ ∪Aλ , ent˜ ao p ∈ Aν para algum ´ındice k ν ∈ L, e como Aν ´e aberto existe r > 0 de modo que p ∈ B(p; r) ⊂ Aν
524
(⋆)
Como lim xn = p existem (prop. 32, pg. 200) infinitos pontos de X = k ` ´ { x1 , x2 , . . .} na bola B p; 2r , ent˜ ao podemos escolher um ´ındice m de modo que ` r´ r 1 < e xm ∈ B p; 2 m 2 Afirmamos, ` 1´ B xm ; ⊂ B(p; r) m ´ ` 1 1 , ent˜ ao , isto ´e, d(y, xm ) < m De fato, seja y ∈ B xm ; m d(y, p) ≤ d(y, xm ) + d(xm , p) 1 r < +
o que garante y ∈ B(p; r). Utilizando (⋆) obtemos ` 1´ B xm ; ⊂ B(p; r) ⊂ Aν . m ´ ` Mas isto contradiz o fato de que B xn ; n1 6⊂ Aλ para todo Aλ na cobertura A.
Corol´ ario 48. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico compacto e A = {Aλ }λ∈L um recobrimento aberto de M . Ent˜ ao existe um n´ umero real δ > 0 tal que, para todo subconjunto X de M , com diam X < δ, existe um aberto Aν ∈ A de modo que X ⊂ Aν . (M, d)
X
Aν
∃ δ> 0 : ∀ X⊂M (diam X<δ) ⇒ ∃ Aν ∈ A : X⊂Aν .
Prova: Pela proposi¸c˜ ao 141 existe δ > 0 de modo que para todo x ∈ M se pode obter um aberto Aν em A com B( x; δ) ⊂ Aν (⋆). Sejam X ⊂ M com diam X < δ e p ∈ X. Ent˜ ao, de ˘ ¯ diam(X) = sup d(x, y) : x, y ∈ X < δ decorre,
d(x, y) < δ, Como p ∈ X, tomando y = p, obtemos
∀ x, y ∈ X.
∀ x ∈ X, d(x, p) < δ ⇒ X ⊂ B( p; δ) Tendo em conta (⋆), resulta X ⊂ B( p; δ) ⊂ Aν . Devido ao corol´ ario anterior faz sentido a seguinte defini¸c˜ ao:
Defini¸ c˜ ao 72 (N´ umero de Lebesgue de uma Cobertura). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico compacto e A = {Aλ }λ∈L uma cobertura aberta de M . Diz-se que um n´ umero umero de Lebesgue para a cobertura A quando todo subconjunto X ⊂ M δ > 0 ´e um n´ com diˆ ametro menor do que δ est´ a contido em algum Aν da cobertura. Obviamente, se δ ´e um n´ umero de Lebesgue de uma cobertura e 0 < δ ′ < δ, ′ ent˜ ao δ tamb´em ´e um n´ umero de Lebesgue da mesma cobertura.
525
Compacidade e Continuidade Uniforme Proposi¸ c˜ ao 142. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Se (M, d1 ) ´e compacto ent˜ ao toda aplica¸c˜ ao cont´ınua f : M −→ N ´e uniformemente cont´ınua. Isto ´e∗ , para todo ε > 0 dado arbitrariamente, existe δ(ε) > 0 tal que ` ´ ∀ x, y ∈ M, d1(x, y) < δ(ε) ⇒ d2 f (x), f (y) < ε.
Daremos duas provas desta proposi¸c˜ ao: 1a ) Prova: Como f : M −→ N ´e uma aplica¸c˜ ao cont´ınua, dado ε > 0, para cada x ∈ M existe em correspondencia um δ(x, ε) > 0 tal que ` ´ 1 ∀ y ∈ M com d1 (x, y) < δ(x, ε) ⇒ d2 f (x), f (y) < ε 2
(10.1)
A fam´ılia de bolas abertas
` 1 ´ B x; δ(x, ε) : x ∈ M 2
ff
´e uma cobertura aberta de M ; logo, existe uma subcobertura finita, digamos ff ´ ` ´ ` ´ ` 1 1 1 B x1 ; δ(x1 , ε) , B x2 ; δ(x2 , ε) , . . . , B xn ; δ(xn , ε) 2 2 2 ˘1 ¯ Fa¸camos, δ(ε) = min 2 δ(x1 , ε), 12 δ(x2 , ε), . . . , 21 δ(xn , ε) e sejam
x, y ∈ M com d1 (x, y) < δ(ε). ` ´ Para algum ´ındice k ∈ { 1, 2, . . . , n}, x ∈ B xk ; 21 δ(xk , ε) . Sendo assim, d1 (x, xk ) < 1 δ(xk , ε). Com o aux´ılio desta desigualdade obtemos duas outras: 2 ` ´ (i) por (10.1): d2 f (x), f (xk ) < 21 ε.
(ii)
d1 (xk , y) ≤ d1 (xk , x) + d1 (x, y) 1 < δ(xk , ε) + δ(ε), 2 como δ(ε) ≤ fornece
1 δ(xk , 2
ε) obtemos d1 (xk , y) < δ(xk , ε). Por conseguinte (10.1) nos
` ´ ` ´ ` ´ d2 f (x), f (y) ≤ d2 f (x), f (xk ) + d2 f (xk ), f (y)) 1 1 < ε+ ε = ε 2 2 Isto prova que f ´e uniformemente cont´ınua sobre M .
2a ) Prova: Como f : M −→ N` ´e uma aplica¸ ao cont´ınua, dado ε > 0, para cada ´ c˜ x ∈ M existe uma bola aberta B x; δ(x, ε) de modo que ` ´ ` 1 ´ ∀ y ∈ B x; δ(x, ε) ⇒ f (y) ∈ B f (x); ε 3
A fam´ılia de bolas abertas
∗ Ver
defini¸ca ˜o, pg. 354
n ` o ´ A = B x; δ(x, ε) : x ∈ M
526
(10.2)
´e uma cobertura aberta de M ; logo − pela compacidade de M − existe uma subcobertura finita, digamos n ` ´ ` ´ ` ´o B = B x1 ; δ(x1 , ε) , B x2 ; δ(x2 , ε) , . . . , B xn ; δ(xn , ε) e, pelo corol´ ario 48 (pg. 525), a cobertura B possui um n´ umero de Lebesgue δ > 0. Sejam agora x, y ∈ M com d1 (x, y) < δ (ver coment´ ario ap´ os propo. 141, pg. 524). Como ` ´ ˘ ¯ diam {x, y} = sup d1 (x, y) : x, y ∈ { x, y } = d1 (x, y) < δ ` ´ implica que { x, y } est´ a contido em um membro B xk ; δ(xk , ε) da cobertura B. Por conseguinte, por (10.2), temos ( Como
` ´ y ∈ B xk ; δ(xk , ε) ` ´ x ∈ B xk ; δ(xk , ε)
⇒
(
` ´ f (y) ∈ B f (xk ); 13 ε ` ´ f (x) ∈ B f (xk ); 31 ε
« „ ` ´ ` 1 1 1 ´ diam B f (xk ); ε ≤ 2 · ε ⇒ d2 f (x), f (y) ≤ 2 · ε < ε 3 3 3
Isto prova que f ´e uniformemente cont´ınua sobre M .
10.6
Espa¸ cos Localmente Compactos
Defini¸ c˜ ao 73 (Espa¸cos localmente compactos). Um espa¸co m´etrico (M, d) ´e localmente compacto se, e somente se, cada ponto de M possui uma vizinhan¸ca compacta. De outro modo: Dizemos que um espa¸co m´etrico (M, d) ´e localmente compacto quando, para todo x ∈ M , existe um compacto K, com x ∈ int K. Um subconjunto N ⊂ M ´e localmente compacto quando o subespa¸co (N, d) o for. Exemplos:
1. O espa¸co (R, µ) ´e localmente compacto. De fato, dado p ∈ R tomamos K = [ p − 1, p + 1 ] e temos p ∈ int K =] p − 1, p + 1 [. Sendo K um subconjunto fechado e limitado de (R, µ), K ´e compacto; portanto K ´e uma vizinhan¸ca compacta de p em (R, µ) e (R, µ) resulta localmente compacto. Vemos assim, que um espa¸co localmente compacto n˜ ao ´e necess´ ariamente compacto. Por outro lado, como um espa¸co m´etrico ´e sempre uma vizinhan¸ca de cada um de seus pontos, a rec´ıproca ´e verdadeira. 2. Todo espa¸co (M, d) discreto ´e localmente compacto. De fato, cada ponto ´e uma vizinhan¸ca compacta de si mesmo. Veja os exemplos 4. (pg. 506) e (4) (pg. 268). ` ´ 3. Os espa¸cos Rn , Di (i = 1, 2, 3.) s˜ ao localmente compactos. De fato, dado p ∈ Rn , tomamos K = B[ p; 1 ] e `temos p´ ∈ int K = B(p; 1). Sendo K um subconjunto fechado e limitado R´n , D ` de ` i , K ´e´ compacto; portanto K ´e uma n vizinhan¸ca compacta de p em R , Di e Rn , Di resulta localmente compacto.
527
Proposi¸ c˜ ao 143. Seja (M, d) localmente compacto. Se F ⊂ M ´e fechado ent˜ ao F ´e localmente compacto. Prova: Dado um ponto p ∈ F , como (M, d) ´e localmente compacto, existe um compacto K em (M, d) com p ∈ int K. p ∈ int K ⇒ ∃ r > 0 : B(p; r) ⊂ K
⇒ ∃ r > 0 : B(p; r) ∩ F ⊂ K ∩ F
⇒ ∃ r > 0 : B(p; r) ⊂ K ∩ F ` ´ ` ´ ⇒ p ∈ int K ∩ F no subespa¸co (F, d) .
Vamos mostrar agora que K ∩ F ´e compacto. De fato, ` ´ K sendo compacto, ´e fechado em (M, d). Portanto K ∩ F ´e fechado em (M, d) por ser a intersec¸c˜ ao de dois fechados. Isto ´e, K ∩ F = (K ∩ F )(M, d) Pelo corol´ ario 6 (pg. 275) podemos escrever K ∩ F = (K ∩ F )(M, d) = (K ∩ F )(K, d) . Logo, K ∩ F ´e um subconjunto fechado no subespa¸co compacto (K, d), portanto, compacto (prop. 129, pg. 507). Em resumo: K ∩ F ´e uma vizinhan¸ca compacta de p em F , sendo assim F resulta localmente compacto. Proposi¸ c˜ ao 144. Seja f : (M, d1 ) → (N, d2 ) aberta, cont´ınua e sobrejetiva. Se (M, d1 ) ´e localmente compacto ent˜ ao (N, d2 ) tamb´em o ´e. Prova: De fato, seja q ∈ N , como f ´e sobrejetiva, existe p ∈ M de modo que f (q) = p. Como (M, d1 ) ´e localmente compacto, existe uma vizinhan¸ca compacta K`p de p ´em M . Ent˜ ao p ∈ int Kp e Kp ´e compacto. Como f ´e aberta, resulta que f int K ´ e uma vizinhan¸ ca de p = `f (q).´ Por outro lado, a continuidade de f garante p ` ´ que f Kp ´e compacto. Ou seja: f Kp ´e vizinhan¸ca compacta de p, resultando que (N, d2 ) ´e localmente compacto. (N, d2 )
(M, d1 )
p
q
f
-
Kp
q q=f (p)
f (Kp )
Proposi¸ c˜ ao 145. Sejam (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . ., (Mn , dn ) espa¸co m´etricos e M = M1 × M2 × · · · × Mn . Ent˜ ao M ´e localmente compacto se, e somente se, cada Mi ´e localmente compacto. Prova: (⇒) Seja M localmente compacto. Como as proje¸c˜ oes pi : M → Mi s˜ ao cont´ınuas, abertas (pg. 351) e sobrejetivas, a proposi¸c˜ ao 144 nos assegura que os fatores Mi s˜ ao localmente compactos. (⇐) Reciprocamente, suponhamos que cada Mi ´e localmente compacto. Ent˜ ao dado x = (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) ∈ M , cada xi possui uma vizinhan¸ca compacta Ki em Mi . Ent˜ ao pelo corol´ ario 45 (pg. 520), a vizinhan¸ca K = K1 × · · · × Kn de x ´e compacta. Portanto, M resulta localmente compacto.
528
10.7
Representa¸ c˜ oes Decimais e Curva de Peano (O Mito das Ambig¨ uidades nas Representa¸ c˜ oes Decimais)
Na presente se¸c˜ ao pretendemos por fim ` as intermin´ aveis pendengas sobre as representa¸c˜ oes decimais de reais do intervalo [ 0, 1 ] − bem como preparar terreno para um assunto posterior: Curva de Peano. Mostraremos, oportunamente, que as supostas ambig¨ uidades de algumas destas representa¸c˜ oes, tipo: 0, 5 = 1/2 = 0, 4999 . . . s˜ ao um mito. O conceito do ´eter revelou-se um fantasma criado pela imagina¸c˜ ao dos f´ısicos do s´eculo XIX. Neste trabalho mostramos, igualmente, que representa¸c˜ oes tipo 0, 5 = ao dos 1/2 = 0, 4999 . . . n˜ ao tˆem “existˆencia real”; s˜ ao fantasmas criados pela imagina¸c˜ matem´ aticos. Mostraremos que o esclarecimento desta quest˜ ao − aqui a deixamos assaz cristalina − vai simplificar, ami´ ude, muitas constru¸c˜ oes matem´ aticas; a exemplo da constru¸c˜ ao da curva de Peano. Aqui mostramos uma constru¸c˜ ao desta curva mais simples que as constantes na literatura. Representa¸ c˜ oes decimais Existem duas alternativas para se definir as representa¸c˜ oes decimais: via convergˆencia de s´eries e via bije¸c˜ ao entre conjuntos. Para exemplificar a primeira alternativa (ver [5]/pg. 231): “Antes de definir ϕ, lembremos que os n´ umeros reais admitem n˜ ao somente uma express˜ ao decimal como tamb´em, fixado qualquer n´ umero b > 1, todo n´ umero real possui uma express˜ ao na base b. Em particular, se 0 ≤ x ≤ 1, a express˜ ao x = 0, x1 x2 . . . xn . . . de x na base b significa que x=
x1 x x + 22 + · · · + nn + · · · ” b b b
Ainda mais ` a frente, nesta mesma p´ agina, o autor escreve: “Para ver que ϕ ´e injetiva, basta lembrar que, assim como a representa¸ c˜ ao decimal de um n´ umero x ∈ [ 0, 1 ] ´e u ´nica, exceto por ambig¨ uidades do tipo 0, 47999 . . . = 0, 48000 . . .”. Vejamos mais um exemplo, segundo este autor 0, 011000 . . . e 0, 010111 . . . s˜ ao duas representa¸c˜ oes, na base 2, de 38 , porquanto 0 1 1 0 0 0 3 1 0 1 1 1 0 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + · · · = = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + · · · (10.3) 8 21 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 Defini¸c˜ ao via bije¸c˜ ao Construiremos agora uma representa¸c˜ ao alternativa para os n´ umeros reais. Vamos nos restringir aos reais do intervalo [ 0, 1 ] uma vez que qualquer n´ umero real situa-se entre dois inteiros consecutivos, isto ´e, dado x ∈ R sucede que x ∈ [ m, m + 1 ] para algum inteiro m. Em suma, todo real pode ser transladado para o intervalo [ 0, 1 ]. Tamb´em vamos nos restringir ao caso da base 2 − base bin´ aria − uma vez que o que faremos aqui com respeito a esta base pode ser repetido para uma outra base qualquer. Para a constru¸c˜ ao de uma representa¸c˜ ao bin´ aria − para os n´ umeros reais − iremos necessitar do seguinte produto cartesiano: { 0, 1 }N = { 0, 1 } × { 0, 1 } × { 0, 1 } × · · · Este ´e o conjunto das seq¨ uˆencias infinitas de 0′ s e 1′ s. Por exemplo, dois elementos deste conjunto s˜ ao: 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 . . . e 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 . . .. Gostariamos de definir uma bije¸c˜ ao entre os conjuntos { 0, 1 }N e [ 0, 1 ], assim: ˘ ¯N f : 0, 1 −→ [ 0, 1 ] P∞ xn (xn ) 7−→ n=1 2n
529
Esta c˜ ao est´ a bem definida uma vez que a s´erie em quest˜ ao ´e majorada Paplica¸ 1 pela s´erie ∞ cuja soma ´ e 1 . Infelizmente f n˜ a o ´ e injetiva porquanto, n n=1 2 ` ´ ` ´ f x1 . . . xj 000 . . . = f x1 . . . xj−1 (xj − 1)111 . . . (10.4)
Como ´e f´ acil verificar. Rec´ıprocamente, supondo f (x) = f (y) e x 6= y vamos mostrar que x = x1 x2 x3 . . . e y = y1 y2 y3 . . . s´ o podem ser da forma das representa¸c˜ oes que aparecem em (10.4). Prova: De fato, seja j o primeiro ´ındice onde x difere de y; suponhamos, ademais, que xj = 1. Sendo assim podemos escrever x = x1 x2 . . . xj−1 1 xj+1 xj+2 . . . y = x1 x2 . . . xj−1 0 yj+1 yj+2 . . . Devemos mostrar que f (x) = f (y) =⇒ A igualdade
P∞
xn n=1 2n
=
P∞
yn n=1 2n
(
xj+1 = xj+2 = · · · = 0; yj+1 = yj+2 = · · · = 1.
pode ser escrita assim
xj−1 xj−1 xj+1 yj+1 x x 1 x 0 x1 + 22 + · · · + j−1 + j + j+1 + · · · = 11 + 22 + · · · + j−1 + j + j+1 + · · · 21 2 2 2 2 2 2 2 2 2 Logo,
xj+1 yj+1 1 + ··· j + j+1 + · · · = 2 2 2j+1
Ou ainda,
como
∞ ∞ X X xn yn 1 n = j + 2 2n 2 n=j+1 n=j+1
∞ X 1 yn o poder´ a ser satisfeita n ≤ j , isto implica em que esta igualdade s´ 2 2 n=j+1
em uma u ´nica situa¸c˜ ao; qual seja, aquela em que xn = 0, para n ≥ j + 1 e yn = 1, para n ≥ j + 1. Tendo em vista os argumentos anteriores, resulta injetiva a seguinte aplica¸c˜ ao λ : B −→ [ 0, 1 ] P (xn ) 7−→ ∞ n=1
xn n 2
˘ ¯N onde B ´e o subconjunto de 0, 1 cujos elementos n˜ ao tˆem todos os termos iguais a 1, a partir de alguma posi¸c˜ ao∗ .
Por exemplo: 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 . . . ∈ B e 1 0 1 0 1 0 0 1 1 1 1 1 . . . 6∈ B. Mostraremos agora que λ ´e sobre [ 0, 1 [. Seja dado, arbitrariamente, um ponto x ∈ [ 0, 1 [ e mostremos que este ´e imagem, por λ, de alguma seq¨ uˆencia bin´ aria de B. De fato, dividamos o intervalo [ 0, 1 [ ao meio, assim [ 0, 1 [=
1 h [ ˆ 1ˆ ˆ 1 ˆ j j + 1h = 0, , ,1 ∪ 2 2 2 2 j=0
sendo assim, x pertence a um, e s´ o um, desses subintervalos, digamos x ∈ I1 = ˆ x1 x1 +1 ˆ , : 2 2 ∗ Com
au ´nica exce¸ca ˜o feita para a seq¨ uˆ encia (1 1 1 1. . . ) a qual incluimos neste conjunto.
530
0
¬x
1 2
I1
1
Ap´ os o “corte” se x resulta no subintervalo da esquerda x1 = 0, se, no da direita x1 = 1. No caso da figura temos x1 = 1. A seguir dividamos este subintervalo em 1 h h h [ x1 j x j + 1h x x +1 dois outros, assim 21 , 12 = + 2 , 1 + 2 . Selecionemos x2 tal que 2 2 2 2 h j=0 h x1 x2 x2 +1 x1 x ∈ I2 = 2 + 2 , 2 + 2 . 2
2
x
x
(parentˆesis:) Observe que o extremo esquerdo deste intervalo, no caso, 21 + 22 2 P xn nada mais ´e que a segunda soma parcial da s´erie c˜ ao de λ). Por n (da defini¸ x1 x3 2 x2 exemplo, o extremo esquerdo de I3 seria 2 + 2 + 3 , a terceira soma parcial da 2 2 referida s´erie. 0 1 2
¬x
2 4
¬x
1 3 4
I1
I2 1
No caso da figura x2 = 0. Dividindo o intervalo [ 0, 1 [ em quatro partes os dois primeiros digitos (x1 x2 . . .) da seq¨ uˆencia que pretendemos associar a x, s˜ ao as “coordenadas” do ponto x de acordo com o diagrama a seguir: 00
0
s1 0
01 1 2
1 4
x x 1 2
11
1
3 4
x
0 0 1 1
0 1 0 1
Resumindo: x1 nos diz em qual metade do intervalo encontra-se x; x1 x2 nos diz em qual quarta parte do intervalo encontra-se x. Dividindo o intervalo [ 0, 1 [ em oito partes os trˆes primeiros digitos (x1 x2 x3 . . .) da seq¨ uˆencia que pretendemos associar a x, s˜ ao as “coordenadas” do ponto x de acordo com o diagrama a seguir: x x x 1 2 3
0
000
001
010
011
100 x
1 8
1 4
3 8
1 2
s
101 5 8
110 3 4
111 7 8
1
0 0 0 0 1 1 1 1
0 0 1 1 0 0 1 1
0 1 0 1 0 1 0 1
Este processo de divis˜ oes sucessivas ´e continuado indefinidamente. Consideremos ¯In o intervalo fechado com os mesmos extremos de In . Observe que ( ¯In ) ´e uma seq¨ uˆencia de intervarlos que cumpre as hip´ oteses do teorema dos intervalos encaix¯ antes (ver pg. 58), por conseguinte ∩∞ ´nico ponto. Como n=1 In consiste em um u ¯ x ∈ ∩∞ a seq¨ uˆencia formada pelas extremidades esquerdas dos In n=1 In , resulta queP xn ∞ converge para x, isto ´e, uˆencia bin´ aria n=1 2n = x. Sendo assim tomamos a seq¨ (x1 x2 x3 . . .) para corresponder a x. Resulta assim que λ ´e uma bije¸c˜ ao e, desta forma, podemos identificar os elementos de ambos os conjuntos: [ 0, 1 ] e B. λ : B −→ [ 0, 1 ] P (xn ) 7−→ ∞ n=1
• Defini¸c˜ ao de representa¸c˜ ao bin´ aria
xn n 2
λ sendo uma bije¸c˜ ao possui inversa λ−1 : [ 0, 1 ] → B. A imagem de um x ∈ [ 0, 1 ] −1 ao bin´ aria de x. Isto ´e, diremos, por por λ ´e o que chamamos de representa¸c˜ defini¸c˜ ao, que uma representa¸c˜ ao bin´ aria ´e um elemento de B. Sendo assim, por
531
exemplo, (101010 . . .) ´e uma representa¸c˜ ao bin´ aria, enquanto (0101111 . . .) n˜ ao. Dizemos que os n´ umeros do intervalo [ 0, 1 ] s˜ ao codificados pelos elementos de B. Mais uma alternativa para se definir representa¸ c˜ ao O que aconteceria se, na constru¸c˜ ao anterior, optarmos por abrir todos os subintervalos ` a esquerda?, por exemplo assim: 001
000 0
1 8
011
010 1 4
3 8
101
100 1 2
5 8
111
110 3 4
7 8
1
x1 x2 x3
Observe que com esta escolha estamos optando pelas representa¸c˜ oes: ˜ ˜ ⇒ 18 = (0 0 0 1 1 1 . . .)2 x = 18 ⇒ x ∈ 0, 81 ˜ ˜ x = 41 ⇒ x ∈ 81 , 14 ⇒ 14 = (0 0 1 1 1 1 . . .)2 ˜ ˜ x = 43 ⇒ x ∈ 85 , 34 ⇒ 34 = (1 0 1 1 1 1 . . .)2 ˜ ˜ x = 87 ⇒ x ∈ 43 , 78 ⇒ 78 = (1 1 0 1 1 1 . . .)2
Procedendo como na constru¸c˜ ao anterior podemos mostrar que a aplica¸c˜ ao, ˜: B ˜ −→ ] 0, 1 ] λ P (xn ) 7−→ ∞ n=1
xn n 2
˜: B ˜ −→ [ 0, 1 ] λ P (xn ) 7−→ ∞ n=1
xn n 2
˘ ¯ ˜ ´e o subconjunto de 0, 1 N cujos elementos n˜ resulta injetiva. Onde, B ao tˆem todos os termos iguais a 0, a partir de alguma posi¸c˜ ao. Se incluirmos a seq¨ uˆencia (0 0 0 0 . . .) ˜ podemos fechar o intervalo unit´ em B ario ` a esquerda. Pelo teorema dos intervalos ˜ ´e tamb´em sobrejetiva, portanto, encaixantes, resulta que λ
oes ´e uma bije¸c˜ ao. Deste modo, temos duas alternativas para definir representa¸c˜ bin´ arias. Por exemplo, 3 = (0 1 1 0 0 0 . . .) 8
ou
3 = (0 1 0 1 1 1 . . .) 8
˜ respectivamente. dependendo se optarmos pela bije¸c˜ ao λ ou λ,
Duplicidade × Ambig¨ uidade
H´ a que se fazer distin¸c˜ ao entre duplicidade e ambig¨ uidade nas representa¸c˜ oes bin´ arias (ou decimais). Duplicidade significa, precisamente, que temos duas op¸c˜ oes para definir representa¸c˜ oes; ambig¨ uidade significa que n˜ ao optamos, ficamos com as duas representa¸c˜ oes simultˆ aneamente. − Entendemos uma representa¸c˜ ao (bin´ aria no caso) como uma codifica¸c˜ ao dos elementos de um conjunto (no caso [ 0, 1 ]) pelos elementos de um outro conjunto (no ˜ esta codifica¸c˜ caso B ou B), ao se d´ a justamente via bije¸c˜ ao. Importante! O leitor, com um pouco de reflex˜ ao, h´ a de concluir que a existˆencia da representa¸c˜ ao (bije¸c˜ ao) s´ o ser´ a poss´ıvel se a op¸c˜ ao for feita (geometricamente significa que devemos optar por um dos diagramas: abertos ` a esquerda ou ` a direita) − caso contr´ ario n˜ ao haver´ a bije¸c˜ ao e, em decorrˆencia, n˜ ao poder´ a haver representa¸c˜ ao (codifica¸c˜ ao). Ora, uma vez feita a op¸c˜ ao, as ambig¨ uidades deixam de existir (tornam-se meros fantasmas, a assombrar criancinhas desavisadas). Adendo: Vou insistir, de uma outra perspectiva, na diferen¸ca entre ambig¨uidade e duplicidade, desta vez me valendo de uma analogia com a inform´ atica. Vejo a quest˜ ao
532
da representa¸c˜ ao (decimal, bin´ aria, . . . ) dos reais algo similar ao que acontece com a codifica¸c˜ ao dos caracteres do teclado de um computador, que s˜ ao codificados pela tabela ASCII, por exemplo (ver pg. 108): A ↔ 01000001
B ↔ 01000010 < ↔ 00111100 ! ↔ 00100001
O fato de existirem v´ arias possibilidades para a codifica¸c˜ ao dos caracteres de um computador n˜ ao inviabiliza∗ a inform´ atica; isto significa, t˜ ao somente, que devemos optar por uma dentre estas v´ arias possibilidades. De outro modo: Ambig¨ uidade seria, por exemplo, se a letra A tivesse duas codifica¸c˜ oes. No caso da inform´ atica existe n˜ ao duplicidade mas multiplicidade, uma vez que podemos codificar um caracter de in´ umeros modos. Mas o que acontece ´e que na inform´ atica n˜ ao se ouve falar de ambig¨ uidade na representa¸c˜ ao de um caracter, simplesmente porque todos os fabricantes optaram por uma u ´nica codifica¸c˜ ao; caso contr´ ario a inform´ atica se tornaria invi´ avel: algu´em digitaria a letra A em um email e o destinat´ ario receberia a letra B, por exemplo, uma verdadeira torre de babel. Aproveitando este exemplo, observe que a elimina¸c˜ ao da ambig¨ uidade (multiplicidade) traz vantagens, simplifica¸c˜ oes; ´e precisamente isto que estou defendendo que deva ocorrer na matem´ atica no que diz respeito ` as representa¸c˜ oes que nada mais s˜ ao que codifica¸c˜ oes para os n´ umeros reais. Conclus˜ ao: Quando dizemos o “mito das ambig¨ uidades” ou “fantasmas das ambig¨ uidades” entendemos que as ambig¨ uidades (fantasmas) de fato existem apenas se adotamos a defini¸c˜ ao de representa¸c˜ oes via convergˆencia de s´eries, caso contr´ ario n˜ ao. Com efeito, pela alternativa das bije¸c˜ oes surge uma duplicidade (n˜ ao ambig¨ uidade), ˜ a representa¸c˜ uma vez que optemos por uma das bije¸c˜ ao, λ ou λ, ao torna-se u ´nica. Por oportuno, na referˆencia [10]/pg. 60 o autor define a representa¸c˜ ao dos inteiros via bije¸c˜ ao. Na pg. 62 lemos: “A justificativa da validade da representa¸ c˜ ao acima se apoia no Teorema 7 que nos garante ser uma bije¸c˜ ao a fun¸c˜ ao + Z+ b −→ Z
xn . . . x0 −→ c0 + · · · + cn · bn onde Z+ e o conjunto dos elementos da forma xn . . . x0 , com xn = 6 0 se n > 1 e onde b ´ para cada i, tem-se que ci ´e o inteiro correspondente ao s´ımbolo xi .” De igual modo deve suceder na representa¸c˜ ao do reais; digo, se escolhermos definir via bije¸c˜ ao ent˜ ao somos for¸cados a optar entre duas bije¸c˜ oes poss´ıveis; caso n˜ ao optemos, insistimos, n˜ ao haver´ a bije¸c˜ ao e, por conseguinte, n˜ ao haver´ a representa¸c˜ ao; a n˜ ao ser via s´eries como faz o autor j´ a referido ( [5] ) mas a´ı surge o inconveniente das ambig¨ uidades (fantasmas). . . ´e uma quest˜ ao de pura l´ ogica (inteligˆencia!).
∗ E nem complica, como acontece na matem´ atica com algumas constru¸co ˜es que dependem de representa¸co ˜es (codifica¸co ˜es), a exemplo da Curva de Peano. Neste particular, os engenheiros de hardware foram mais inteligentes que os matem´ aticos. Isto ´ e, fixaram uma das - poss´ıveis - codifica¸co ˜es e pronto!
533
Nossa perspectiva e a literatura No que se segue vamos considerar, a exemplo das representa¸c˜ oes bin´ arias, as seguintes representa¸c˜ oes (bije¸c˜ oes) decimais: λ : D −→ [ 0, 1 ] P (xn ) 7−→ ∞ n=1
xn n 10
˜: D ˜ −→ [ 0, 1 ] λ P (xn ) 7−→ ∞ n=1
xn n 10
˘ ¯N onde D ´e o subconjunto de 0, 1, 2, . . . , 9 cujos elementos n˜ ao tˆem todos os termos iguais a 9, a partir de alguma posi¸c˜ ao∗ . Observe que, neste caso, .4999 . . . n˜ ao ´e a representa¸c˜ ao decimal de 12 . Tamb´em,
˘ ¯ ˜ ´e o subconjunto de 0, 1, 2, . . . , 9 N cujos elementos n˜ onde D ao tˆem todos os termos iguais a 0, a partir de alguma posi¸c˜ ao† . Observe que, neste caso, .4999 . . . ´e a representa¸c˜ ao decimal de 21 . • No livro “Meu Professor de Matem´ atica” (4a Edi¸c˜ ao) o Prof. Elon Lages Lima, trata das representa¸c˜ oes decimais. Vejamos, ` a luz de nossas considera¸c˜ oes, a an´ alise de alguns pontos considerados pelo autor, (pg. 162): 7. D´ uvidas sobre d´ızimas . . . Duas das mais interessantes entre essas perguntas foram feitas por Sun Hsien Ming, de S˜ ao Paulo, SP. Elas s˜ ao: 1a ) Existe alguma fra¸c˜ ao ordin´ aria tal que, dividindo-se o numerador pelo denominador, obtenha-se a d´ızima peri´ odica 0, 999 . . .? Nossa exegese desta quest˜ ao estar´ a respaldada em nosso teo. 3 (pg. 233). Existe um equ´ıvoco tanto na pergunta quanto na resposta, precisamente devido ao mito de se crˆe que 0, 999 . . . seja um n´ umero. Com efeito, o Prof., argumenta: “Se a e b forem n´ umeros naturais com a/b = 0, 999 . . .” − J´ a vimos que 0, 999 . . . ´e uma s´erie e n˜ ao um n´ umero, por conseguinte n˜ ao faz sentido a divis˜ ao de dois n´ umeros resultar em uma s´erie; s˜ ao objetos (entes) de naturezas distintas. 2a ) O fato de a mesma fra¸c˜ ao ordin´ aria poder ter duas representa¸c˜ oes decimais distintas (como 2/5 = 0, 4000 . . . = 0, 3999 . . .) n˜ ao apresenta inconveniente nem origina paradoxos? Uma boa pergunta. No nosso entendimento achamos que o Prof. Elon usa de tergiversa¸c˜ ao ao tentar respondˆe-la, como o leitor pode verificar lendo sua resposta no citado livro. No final da argumenta¸c˜ ao lemos: “Nenhuma dessas escolhas ´e muito natural.” N˜ ao sei o que o prof. entende por “muito natural”, porquanto do ponto de vista da l´ ogica as duas s˜ ao igualmente naturais, basta que optemos por uma das bije¸c˜ oes: ˜ λ ou λ. Em seguida: “Por isso me parece mais razo´ avel que nos resignemos com a falta de biunivocidade. H´ a coisas piores no mundo.” Este n˜ ao me parece um conselho muito s´ abio, embora em um ponto o Prof. tenha ∗ Com
† Com
au ´nica exce¸ca ˜o feita para a seq¨ uˆ encia (9 9 9 9. . . ) a qual foi inclu´ıda neste conjunto. au ´nica exce¸ca ˜o feita para a seq¨ uˆ encia (0 0 0 0. . . ) a qual foi inclu´ıda neste conjunto.
534
raz˜ ao, de fato h´ a coisas piores no mundo: as bombas sobre hiroshima e nagasaki, ou a prolifera¸c˜ ao, em nosso pa´ıs, de surrupiadores dos cofres p´ ublico, por exemplo. − Eu diria que n´ os n˜ ao devemos nos “resignar” com a falta de biunivocidade mas, sim, nos “rejubilar” pelo excesso; pelo contr´ ario, existe excesso: existem duas ˜ ). aplica¸c˜ oes bi´ univocas ( λ e λ De nossa perspectiva respondemos a Sun Hsien Ming: a dupla igualdadade 2/5 = 0, 4000 . . . = 0, 3999 . . . ´e v´ alida apenas do ponto de vista de convergˆencia de s´eries, do ponto de vista das representa¸c˜ oes decimais ela ´e falsa∗ , n˜ ao tem sustenta¸c˜ ao l´ ogica. O correto ´e, 2/5 = 0, 4000 . . . , se escolhermos λ, ou, 2/5 = 0, 3999 . . . ,
˜ se escolhermos λ.
Em um outro contexto, mas que, n˜ ao obstante contribui para nossa discuss˜ ao, lemos o seguinte argumento: “Se o n´ umero x = 0, 4999 . . . n˜ ao for igual a 0, 5, 0, 5 − x ser´ a um n´ umero positivo infinitamente pequeno, e logo 1/(0, 5 − x) ser´ a um n´ umero positivo maior que todos os naturais, e R n˜ ao seria arquimediano”. Este “argumento” est´ a eivado de improp´erios l´ ogicos. Primeiro, a diferen¸ca 0, 5 − 0, 4999 . . . se d´ a entre duas s´eries e n˜ ao entre n´ umeros. Segundo, n˜ ao pode existir umero positivo infinitamente pequeno”, porquanto n´ umero ´e uma constante e “um n´ “infinitamente pequeno”, (ou t˜ ao pequeno quanto se queira) deve referir-se a algo vari´ avel. Logo, a afirmativa, “1/(0, 5 − x) ser´ a um n´ umero positivo maior que todos os naturais”, torna-se sem sentido.
Infinito atual × Infinito potencial
A nossa exegese (sobre as representa¸c˜ oes) poderia ainda levar em conta a controversa quest˜ ao dos infinitos potencial e atual, n˜ ao nos estenderemos mais, apenas a este respeito citaremos a referˆencia† , na qual lemos (pg. 18):
“O pr´ıncipe dos matem´ aticos, Carl Friedrich Gauss (1777 − 1855), expressando um sentimento compartilhado pela comunidade matem´ atica de sua ´epoca, escreveu, por exemplo: “Eu contesto o uso de um objeto infinito como um todo completo; em matem´ atica, essa opera¸c˜ ao ´e proibida; o infinito ´e s´ o um modo de dizer” . Isto tem a ver com (ver pg. 235): lim αn = 1
⇔
α∞ = 0, 999 . . . = 1
lim pn = σ
⇔
p∞ = σ
n→∞ n→∞
Os infinitos, α∞ e p∞ , “s˜ ao apenas modos de dizer”. Ou ainda: 0, 999 . . . 9 | {z }
⇒
infinito potencial
0, 999 . . . | {z }
infinito atual
A passagem do infinito potencial para o infinito atual “´e apenas um modo de dizer. . . ”
∗ Ver
Importante! na p´ agina 532. American - Edi¸ca ˜o Especial - As diferentes faces do infinito.
† Scientific
535
10.7.1
A curva de Peano e o quadrado hiper-m´ agico
A elimina¸c˜ ao dos fantasmas das ambig¨ uidades nas representa¸c˜ oes bin´ arias nos facultou, de imediato, trˆes vantagens: 1a ) Simplifica¸c˜ ao numa das constru¸c˜ oes da curva de Peano. De fato, na constru¸c˜ ao desta curva constante em [5] o autor se utiliza − para contornar as supostas ambig¨ uidades − de duas bases de representa¸c˜ oes: a bin´ aria e a tern´ aria, al´em do conjunto de Cantor. Em nossa constru¸c˜ ao dispensamos a base trˆes e o conjunto de Cantor. 2a ) A constru¸c˜ ao de uma nova patologia: o quadrado hiper-m´ agico, uma esp´ecie de “inversa” da curva de Peano. 3a ) A constru¸c˜ ao de uma curva de Peano in´edita, desta vez no quadrado [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [.
O s´eculo XIX se iniciou com a descoberta de que curvas e fun¸c˜ oes n˜ ao precisam ser do tipo bem comportado, o que at´e ent˜ ao se supunha. Peano∗ em 1890 mostrou at´e que ponto a matem´ atica podia insultar o senso comum quando, tratando do aprofundamento dos conceitos de continuidade e dimens˜ ao, publica a sua famosa curva, proposta como cobrindo totalmente uma superf´ıcie plana quadrangular. A curva de Peano hoje possui aplica¸c˜ oes em compress˜ ao de imagens digitais, aqui sugerimos uma aplica¸c˜ ao desta curva − em conex˜ ao com uma outra patologia por n´ os construida − na teoria das supercordas, no que concerne a transferˆencia de objetos entre dimens˜ oes arbitr´ arias. Defini¸ c˜ ao 74 (Curva de Peano). Chama-se curva `de ´Peano num espa¸co m´etrico (M, d) a uma aplica¸c˜ ao cont´ınua χ : I → M tal que χ I = M . Por exemplo, de momento iremos construir a seguinte curva de Peano: χ : [ 0, 1 ] −→ [ 0, 1 ] × [ 0, 1 ] 1
0
1
r
χ
0
r
(1,1)
1
Antes de prosseguir vamos mostrar ao leitor − de uma outra perspectiva − o que a curva de Peano tem de paradoxal. Qual das duas tarefas a seguir o leitor acharia mais f´ acil de realizar? 1a ) Na figura abaixo temos 10 bolinhas ` a esquerda e ` a direita um quadrado com 10 × 10 posi¸c˜ oes (escaninhos). • • • • • • • • • • Desafio: Transferir as 10 bolinhas para o quadrado 10 × 10. Esta seria uma tarefa extremamente f´ acil, se n˜ ao fosse por uma condic˜ ao adicional: ∗ Giuseppe Peano (1858−1932), natural de Cuneo, It´ alia, foi professor da Academia Militar de Turin, com grandes contribui¸co ˜es a ` Matem´ atica. Seu nome ´ e lembrado hoje em conex˜ ao com os axiomas de Peano dos quais dependem tantas constru¸co ˜es rigorosas da a ´lgebra e da an´ alise.
536
no quadrado n˜ ao devem sobrar posi¸c˜ oes (escaninhos) vazias! 2a ) Na figura a seguir as bolinhas (do desafio anterior) foram substituidas por uma quantidade infinita de pontos; da mesma forma o quadrado agora disp˜ oe de infinitas posi¸c˜ oes pontuais.
Desafio: Transferir as infinitas bolinhas (podemos dizer, pontos do intervalo [ 0, 1 ]) para o quadrado [ 0, 1 ] × [ 0, 1 ] ` a direita. Esta seria uma tarefa extremamente f´ acil, se n˜ ao fosse por uma condic˜ ao adicional: no quadrado n˜ ao devem sobrar posi¸c˜ oes vazias! O milagre de Peano foi, precisamente, realizar esta segunda tarefa. ´ Nota: Obviamente que a primeira tarefa ´e irrealiz´ avel (imposs´ıvel), assim enunciamos apenas para efeito de contraste. Fa¸camos uma r´ apida simula¸c˜ ao: Na figura seguinte transferimos alguns pontos do intervalo para o quadrado, assim:
1 0,8 0,5 5/12 0,3 0
r r rr r
1
r
χ
r
r
r r
r
r(1, 1)
1
A id´eia desta figura ´e mostrar que, ao transferirmos (atrav´es de χ) um ponto (“bolinha”) do intervalo a sua posi¸c˜ ao fica vazia (resta um “buraco”) e este ponto aparece no quadrado. A figura seguinte mostra a correspondˆencia entre os pontos do intervalo e do quadrado, na figura anterior:
1 0,8 0,5 5/12 0,3 0
r r rr r
1
r
χ(0,3) χ
r
r
χ(0)
r
r
χ(0,8)
rχ(1)
5 ) χ( 12
r
χ(0,5)
1
Enfatizando, novamente, o “milagre” de Peano: χ (curva de Peano) consegue transferir os pontos do intervalo para o quadrado de formas que todo o quadrado fica preenchido; n˜ ao sobra uma u ´nica posi¸c˜ ao vazia, e, “o que ´e pior”: em infinitas posi¸c˜ oes do quadrado s˜ ao guardados at´e trˆes pontos do intervalo! (como ser´ a visto oportunamente). • Aproveitando o ensejo vamos adiantar, informalmente, a patologia por n´ os construida: O “inverso” da curva de Peano
537
No ano de 2006 realizamos o feito da constru¸c˜ ao da “inversa” da curva de Peano. A qual pode ser apreciada assim: Qual das duas tarefas a seguir o leitor acharia mais f´ acil de realizar? 3a ) Na figura a seguir temos 10 × 10 bolinhas ` a esquerda e ` a direita um escaninho com 10 posi¸c˜ oes. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •••••••••• • Desafio: Transferir as 100 bolinhas ` a esquerda para o escaninho ` a direita. Esta seria uma tarefa extremamente f´ acil, se n˜ ao fosse por uma condi¸c˜ ao adicional: n˜ ao devemos, em nenhuma posi¸c˜ ao do escaninho, guardar mais que uma bolinha! E, o que ´e pior, devem sobrar gavetas vazias! 4a ) Na figura a seguir as bolinhas (do desafio anterior) foram substituidas por uma quantidade infinita de pontos; da mesma forma, agora o escaninho disp˜ oe de infinitas posi¸c˜ oes pontuais.
Desafio: Transferir as infinitas bolinhas (podemos dizer, pontos do quadrado [ 0, 1 ] × [ 0, 1 ]) para o escaninho [ 0, 1 ] ` a direita. Esta seria uma tarefa extremamente f´ acil, se n˜ ao fosse por uma condic˜ ao adicional: n˜ ao devemos, em nenhuma posi¸c˜ ao do escaninho, guardar mais que um ponto do quadrado! E, o que ´e pior, devem sobrar lugares (posi¸c˜ oes) vazios no intervalo! O nosso feito foi, precisamente, realizar esta segunda tarefa. Fa¸camos uma r´ apida simula¸c˜ ao: Na figura seguinte transferimos alguns pontos do quadrado para o intervalo, assim:
1
r
r
r r r
r (1, 1)
1
ϕ
r
0
1
r rr 3 r4 rr 12 r 15 r
A id´eia desta figura ´e mostrar que, ao transferirmos (atrav´es de ϕ) um ponto (“bolinha”) do quadrado a sua posi¸c˜ ao fica vazia (resta um “buraco”) e este ponto aparece no intervalo. Ademais, assinalamos no intervalo dois pontos (bolinhas azuis) que n˜ ao ser˜ ao ocupados por nenhum dos pontos do quadrado, s˜ ao buracos, digo, posi¸c˜ oes ociosas. Nunca ´e demais repetir: todos os pontos do quadrado s˜ ao transferidos para o intervalo, dois pontos nunca ser˜ ao guardados em uma mesma posi¸c˜ ao do intervalo (ϕ ´e injetiva) e ainda sobram infinitas posi¸c˜ oes ociosas (buracos) no intervalo (ϕ n˜ ao ´e sobrejetiva).
538
Uma constru¸c˜ ao simplificada da curva de Peano Inicialmente vamos definir a seguinte aplica¸c˜ ao B 1
Ψ : [ 0, 1 ] −→ B
x
x 7−→ (xn )
r
Ψ
r(xn )
0
Onde associamos a cada x ∈ [ 0, 1 ] sua representa¸c˜ ao na base bin´ aria. Ψ ´e uma bije¸c˜ ao. De fato, ´e injetiva porquanto se x 6= y, como a representa¸c˜ ao bin´ aria ´e u ´nica∗ , resulta que (xn ) 6= (yn ), isto ´e, Ψ(x) 6= Ψ(y). P xn ´ sobrejetiva, porquanto dado (xn ) ∈ B esta ´e imagem, por Ψ, de x = E n ∈ 2 −1 [ 0, 1 ]. Portanto Ψ admite inversa: Ψ . Para mostrar que a aplica¸c˜ ao ` ´ ` ´ [ 0, 1 ], µ −→ B, ν
Ψ:
x 7−→ (xn )
´e cont´ınua, vamos mostrar inicialmente que sua inversa: Ψ−1 :
` ´ ` ´ B, ν −→ [ 0, 1 ], µ (xn ) 7−→ x
´e cont´ınua. Mas isto j´ a foi feito, tendo em conta o exemplo (ii) (pg. 317) e o corol´ ario 11 (pg. 338). Agora com o aux´ılio do corol´ ario 43 (pg. 512) concluimos que Ψ ´e cont´ınua. Ou melhor: Ψ ´e um homeomorfismo. • Agora vamos definir uma aplica¸c˜ ao (η), assim: B
η: B (xn )
N
:
N
{0, 1} × {0, 1} ` ´ η1 (xn ), η2 (xn )
(xn )
η
q
{0, 1}
N
q (η1 ,η2 ) {0, 1}
N
Onde ηi : B −→ {0, 1}N (i = 1, 2.) s˜ ao dadas por ` ´ η1 (xn ) = η1 (x1 x2 x3 . . .) = (x1 x3 x5 . . .)
` ´ η2 (xn ) = η2 (x1 x2 x3 . . .) = (x2 x4 x6 . . .)
∗ Uma vez feita a escolha da representa¸ ca ˜o esta passa a ser u ´ nica, como j´ a argumentamos. Por sinal vamos optar pela representa¸ca ˜o λ, ver pg. 531.
539
` ´ ` ´ Isto ´e, η1 toma de xn sua subseq¨ uˆencia de ´ındices ´ımpares e η2 toma de xn sua subseq¨ uˆencia de ´ındices pares: η1
(x1 x3 x5 x7 . . .)
(x1 x2 x3 x4 x5 . . .) η2
(x2 x4 x6 x8 . . .) ` ´ uˆencia xn . Dizemos que a aplica¸c˜ ao η demultiplexa a seq¨ A aplica¸c˜ ao η ´e injetiva porquanto ` ´ ` ´ η(xn ) = η(yn ) ⇒ η1 (xn ), η2 (xn ) = η1 (yn ), η2 (yn ) ` ´ ` ´ ⇒ (x1 x3 x5 . . .), (x2 x4 x6 . . .) = (y1 y3 y5 . . .), (y2 y4 y6 . . .) ⇒ (x1 x3 x5 . . .) = (y1 y3 y5 . . .); (x2 x4 x6 . . .) = (y2 y4 y6 . . .) ⇒ (xn ) = (yn ). A aplica¸c˜ ao η n˜ ao ´e sobrejetiva. De fato, por exemplo o ponto N
N
(0 1 1 1 1 . . . , 0 1 1 1 1 . . .) ∈ {0, 1} × {0, 1}
n˜ ao ´e imagem de nenhum ponto do dom´ınio (por quˆe?). Vamos agora envidar esfor¸cos para mostrar que η ´e cont´ınua. Antes mostraremos que ´e cont´ınua a seguinte restri¸c˜ ao de η: α : B′ −→ B′ × B′
(10.5)
′
onde B ⊂ B, ´e tal que:
(xn ) ∈ B′ ⇐⇒ suas subseq¨ uˆencias de ´ındices ´ımpares e pares pertencem a B.
No apˆendice (pg. 569) mostramos que B′ ´e compacto e denso. A aplica¸c˜ ao α ´e uma bije¸c˜ ao. De fato, ´e injetiva porquanto ` ´ ` ´ α(xn ) = α(yn ) ⇒ α1 (xn ), α2 (xn ) = α1 (yn ), α2 (yn ) ` ´ ` ´ ⇒ (x1 x3 x5 . . .), (x2 x4 x6 . . .) = (y1 y3 y5 . . .), (y2 y4 y6 . . .) ⇒ (x1 x3 x5 . . .) = (y1 y3 y5 . . .); (x2 x4 x6 . . .) = (y2 y4 y6 . . .)
⇒ (xn ) = (yn ). ` ´ ´ sobrejetiva porquanto dado (x1 x2 x3 . . .), (y1 y2 y3 . . .) ∈ B′ × B′ este ponto ´e imE agem, por α, da seq¨ uˆencia (x1 y1 x2 y2 x3 y3 . . .), como ´e f´ acil verificar. A inversa da aplica¸c˜ ao α ´e: α−1 :
De outro modo,
B′ × B′ ` ´ (x1 x2 x3 . . .), (y1 y2 y3 . . .)
B′ (x1 y1 x2 y2 x3 y3 . . .)
x = (x1 x2 x3 x4 . . .) α−1
(x1 y1 x2 y2 x3 y3 . . .)
y = (y1 y2 y3 y4 . . .) −1
Dizemos que a aplica¸c˜ ao α
` ´ ` ´ faz uma multiplexagem das seq¨ uˆencias xn e yn .
540
• Para mostrar que a aplica¸c˜ ao α : B′ (xn )
B′ × B′ ` ´ α1 (xn ), α2 (xn )
´e cont´ınua vamos mostrar que sua inversa ´e cont´ınua: α−1 : `
B′ × B′ ´ (x1 x2 x3 . . .), (y1 y2 y3 . . .)
B′ (x1 y1 x2 y2 x3 y3 . . .)
Utilizaremos no produto B′ × B′ a m´etrica D3 (x, y) = max {d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 )}. Pois bem, dados a ∈ B′ × B′ e ε > 0 devemos exibir δ > 0 de modo que, se ` ´ ` ´ x ∈ BD a; δ =⇒ α−1 (x) ∈ Bν α−1 (a); ε 3
Ou, de modo equivalente
Observe que
Temos
` ´ D3 (x, a) < δ =⇒ ν α−1 (x), α−1 (a) < ε
` ´ a = (a1 a2 a3 . . .), (b1 b2 b3 . . .) ` ´ x = (x1 x2 x3 . . .), (y1 y2 y3 . . .) D3 (x, a) < δ ⇐⇒ max
Tamb´em
(
⇒ ⇒
α−1 (a) = (a1 b1 a2 b2 a3 b3 . . .) α−1 (x) = (x1 y1 x2 y2 x3 y3 . . .)
∞ ∞ X |xn − an | X |yn − bn | , , n 2 2n n=1 n=1
)
<δ
∞ ∞ X ` ´ |xn − an | X |yn − bn | ν α−1 (x), α−1 (a) < ε ⇐⇒ + <ε 2n−1 22n 2 n=1 n=1
Observe que
e, de igual modo
∞ ∞ X X |xn − an | |xn − an | <δ < 2n−1 2n 2 n=1 n=1 ∞ ∞ X X |yn − bn | |yn − bn | < <δ 2n 2n 2 n=1 n=1
Somando estas desigualdades vemos que ´e suficiente tomar 2 δ = ε, isto ´e, δ = 2ε . Pois bem, com o aux´ılio do corol´ ario 43 (pg. 512) concluimos que α ´e cont´ınua. Sendo α : B′ −→ B′ × B′ cont´ınua, ou melhor ainda, um homeomorfismo uniforme entre subespa¸cos densos B′ ⊂ {0, 1}N e B′ × B′ ⊂ {0, 1}N × {0, 1}N , α se estende, de modo u ´nico, a um homeomorfismo uniforme (corol. 22, pg. 394): F : {0, 1}N −→ {0, 1}N × {0, 1}N Portanto a restri¸c˜ ao de F : N
N
η : B −→ {0, 1} × {0, 1} ´e cont´ınua.
541
• Agora vamos definir a aplica¸c˜ ao ξ: N
N
ξ : {0, 1} × {0, 1} ` ´ (xn ), (yn )
onde,
(x, y) =
{0, 1}
(yn )
I×I (x, y)
∞ ∞ “X x n X yn ” n , 2 n=1 2n n=1
6 1
ξ
N
q
(xn )
q
(1,1) (x,y)
{0, 1}
0
N
1
A aplica¸c˜ ao ξ n˜ ao ´e uma bije¸c˜ ao. De fato, ξ n˜ ao ´e injetiva (por quˆe?). ` P xn P y n ´ ∈ I × I este ponto ´e ξ ´e sobrejetiva porquanto dado (x, y) = n , n 2 2 ` ´ N N imagem, por ξ, do ponto (xn ), (yn ) ∈ {0, 1} × {0, 1} . Para mostrar que a aplica¸c˜ ao ξ ´e cont´ınua, utilizaremos a m´etrica do m´ aximo N N em ambos os produtos cartesianos. Com efeito, dados a ∈ {0, 1} × {0, 1} e ε > 0, devemos exibir δ > 0 de modo que se ` ´ D3 (x, a) < δ ⇒ D3 ξ(x), ξ(a) < ε Observe que,
Ent˜ ao,
` ´ a = (a1 a2 a3 . . .), (b1 b2 b3 . . .) ` ´ x = (x1 x2 x3 . . .), (y1 y2 y3 . . .)
⇒
ξ(a) =
⇒
ξ(x) =
˛ X ` ´ xn X an ˛˛ ˛ D3 ξ(x), ξ(a) < ε ⇐⇒ max ˛ − ˛, 2n 2n
Resumindo temos que determinar δ > 0 de modo que nP o n˛ P P ˛ |xn −an | P |yn −bn | xn max , < δ ⇒ max ˛ n n n − 2 2 2
`P
`P
an n , 2 xn n , 2
P
P
bn ´ n 2 yn ´ n 2
˛X y X b ˛˛ff ˛ n n ˛ <ε ˛ n − 2 2n
an n 2
˛ ˛P P ˛ ˛ yn ˛, ˛ n − 2
Observando que ˛X x X a ˛˛ ˛˛ X x − a ˛˛ X |x − a | ˛ n n n n n n <δ ˛=˛ ˛≤ ˛ n − 2 2n 2n 2n ˛X X b ˛˛ ˛˛ X y − b ˛˛ X |y − b | yn ˛ n n n n n <δ ˛ ˛=˛ ˛≤ n − 2 2n 2n 2n
vˆe-se que ´e suficiente tomar δ = ε.
542
bn n 2
˛o ˛ ˛ <ε
Compondo as aplica¸c˜ oes anteriores, temos a seguinte curva de Peano: B
1⊤ z
q :
Ψ :
q
{0, 1}N
η
q
η2
0⊥
1
ξ :
η1
q(x, y)
0
{0, 1}N
1
Figura 10.1: Curva de Peano Simplificada Resumindo, temos 1
0
1
r
χ
r
0
(1,1)
1
onde χ : I −→ I × I ´e tal que
z 7−→ (x, y) ` ´ ` ´` ´ χ = ξ ◦ η ◦ Ψ ⇒ χ(z) = ξ ◦ η ◦ Ψ (z) = ξ ◦ η Ψ(z) ` ´ = ξ η(Ψ(z))
Nota: Para efeito dos exemplos a seguir continuaremos com a codifica¸c˜ ao λ (ver pg. 531). − Para obter uma representa¸c˜ ao bin´ aria ver Algoritmo, pg. 295.
Exemplos:
(1) Calcule a imagem, por χ, de z = 0, 8. Solu¸ c˜ ao (acompanhe pela figura 10.1, pg. 543): Desenvolvendo 0, 8 na base 2, temos 0, 8 = (1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .)2 ent˜ ao Ψ(0, 8) = (1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .). Aplicamos η ` a seq¨ uˆencia anterior:
η1
(1 0 1 0 1 0 1 01 . . .)
(1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .) η2
(1 0 1 0 1 0 1 0 1 . . .)
` ´ ` ´ ` ´ Temos η1 , η2 ∈ {0, 1}N ×{0, 1}N . Agora aplicamos ξ ao ponto η1 , η2 : ξ (η1 , η2 ) = (x, y), onde 1 0 1 0 2 x = y = 1 + 2 + 3 + 4 +··· = 3 2 2 2 2 ´ ` Portanto χ(0, 8) = 32 , 32 .
543
(2) Calcule a imagem, por χ, de z = 0, 3. Solu¸ c˜ ao: Desenvolvendo 0, 3 na base 2, temos 0, 3 = (0 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .)2 Ent˜ ao Ψ(0, 3) = (0 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .). Aplicamos η ` a seq¨ uˆencia anterior:
η1
(0 0 1 0 1 0 1 0 1 . . .)
(0 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .) η2
(1 0 1 0 1 0 1 0 1 . . .)
` ´ ` ´ Agora aplicamos ξ ao ponto η1 , η2 : ξ (η1 , η2 ) = (x, y), onde x=
0 0 1 0 1 0 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· = 6 21 2 2 2 2 2
0 1 0 1 0 2 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· = 3 21 2 2 2 2 2 `1 2´ ao fica Portanto χ(0, 3) = 6 , 3 . A geometria da situa¸c˜ y=
6
1 0,8
q q
1⊣ 2
0,3 0
χ
:
1 2 3¬ 1¬ 3
χ
:
q
0 1 6
(3) Calcule a imagem, por χ, de z =
(1,1)
q ¬
1 3
¬
2 3
1
-
5 . 12
Solu¸ c˜ ao: Desenvolvendo 5/12 na base 2, obtemos 5 = ( 0 1 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .)2 12 Ent˜ ao Ψ(5/12) = ( 0 1 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .). Aplicamos η ` a seq¨ uˆencia anterior:
η1
( 0 1 1 1 1 1 1 1 1 . . .)
( 0 1 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) η2
( 1 0 0 0 0 0 0 0 0 . . .)
` ´ ` ´ Agora aplicamos ξ ao ponto η1 , η2 : ξ (η1 , η2 ) = (x, y), onde x=
0 1 1 1 1 1 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· = 2 21 2 2 2 2 2
0 0 0 0 0 1 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· = 2 21 2 2 2 2 2 ` 5 ´ `1 1´ Portanto χ 12 = 2 , 2 . y=
544
Os pontos de auto-interse¸ c˜ ao na curva de Peano Agora mostraremos como encontrar os pontos de auto-interse¸c˜ ao na curva de Peano: •
Iniciamos com uma dupla convergˆencia tal como 1 1 0 0 0 3 1 0 1 1 1 0 0 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 +··· = = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· 8 21 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 ` ´ Na figura seguinte escolhemos para ponto duplo x, 38 , isto ´e, fixamos a ordenada (altura) enquanto a abscissa pode variar. {0, 1}
N
r
(xn , 011000...)
r (x, 8 )
r
3
(xn , 010111...) {0, 1}
x
N
Os dois ponto no diagrama ` a esquerda s˜ ao imagens de pontos distintos em B, assim: B
(x1 0 x2 1 x3 1 x4 0 x5 0 x6 0 ··· ) (x1 0 x2 1 x3 0 x4 1 x5 1 x6 1 ··· )
{0, 1}
r
N
q
(xn , 011000...)
q
r
(xn , 010111...) {0, 1}
N
Devemos escolher a seq¨ uˆencia (xn ) de tal modo que (x1 0 x2 1 x3 0 x4 1 x5 1 x6 1 · · · ) ∈ B. Por exemplo, a a seq¨ uˆencia nula (0 0 0 0 . . .) satisfaz este requisito. Deste modo os dois pontos seguintes (0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 . . .) =
5 32
(0 0 0 1 0 0 0 1 0 1 0 . . .) =
13 192
s˜ ao tais que Ψ Vejamos mais um exemplo:
“5” “ 13 ” “ 3 ” =Ψ = 0, . 32 192 8
Exemplo: Encontrar os pontos do intervalo que s˜ ao levados no ponto
545
`1
2
,
3 4
´
.
Solu¸ c˜ ao: Usaremos de um artif´ıcio: considere as seguintes alternativas: ≬
8 > VV : (1 0 0 0 0 . . . , 1 1 0 0 0 . . .) −→ (1 1 0 1 0 0 0 0 0 . . .) > > > > > > > < VF : (1 0 0 0 0 . . . , 1 0 1 1 1 . . .) −→ (1 1 0 0 0 1 0 1 0 . . .) ≬
1 3 , 2 4
”
→
≬
“
≬
> > > FV : (0 1 1 1 1 . . . , 1 1 0 0 0 . . .) −→ (0 1 1 1 1 0 1 0 1 . . .) > > > > > : FF : (0 1 1 1 1 . . . , 1 0 1 1 1 . . .) −→ (0 1 1 0 1 1 1 1 1 . . .) 6∈ B
Onde: V significa a verdadeira codifica¸c˜ ao (da fra¸c˜ ao) em bin´ ario e F a falsa. ˜ tornaNota: Uma vez que optamos pela codifica¸c˜ ao λ, esta ´e a Verdadeira; a outra, λ, se a Falsa. ≬
significa multiplexa¸c˜ ao; ou seja, as seq¨ uˆencias da esquerda foram • O s´ımbolo: multiplexadas, resultando na seq¨ uˆencia da direita. Sendo assim temos:
39 48
{ 0, 1 }N
B
1
, 3) (1 2 4
(1 1 0 1 0 0 0 0 0...)
ր
(1 0 0 0 0..., 1 1 0 0 0...)
0
Ψ
η
concluimos que χ
` 39 ´ 48
`1 2
,
3 4
ξ
´ . Da alternativa seguinte { 0, 1 }N
B
1
37 48
=
{ 0, 1 }N
(1 , 3) 2 4
(1 1 0 0 0 1 0 1 0...)
ր
(1 0 0 0 0..., 1 0 1 1 1...)
0
Ψ
η
concluimos que χ
` 37 ´ 48
=
`1 2
,
3 4
ξ
´ . Da alternativa seguinte { 0, 1 }N
B
1
{ 0, 1 }N
, 3) (1 2 4
(0 1 1 1 1 0 1 0 1...) 23 48
(0 1 1 1 1..., 1 1 0 0 0...)
0
Ψ
η
Deste diagrama concluimos que χ
{ 0, 1 }N
` 23 ´ 48
=
`1 2
,
3 4
´ .
ξ
A multiplexa¸c˜ ao na u ´ltima alternativa ( FF ) n˜ ao resulta em B, portanto n˜ ao ´e considerada. Resumindo, temos
546
(1, 3) 2 4 39 )=χ( 23 )=χ( 37 )=( 1 , 3 ) χ( 48 48 48 2 4
r
χ
Seja (x, y) um ponto do quadrado. Com um pouco de reflex˜ ao o leitor chegar´ a` as seguintes conclus˜ oes: oes di´ adicas ent˜ ao, neste ponto s˜ ao 1a ) Se ambas as coordenadas, x e y, forem fra¸c˜ colocados trˆes pontos da aresta do quadrado. De outro modo: a curva passa trˆes vezes por pontos com ambas as coordenadas fra¸c˜ oes di´ adicas; ao forem fra¸c˜ oes di´ adicas ent˜ ao, neste ponto ´e 2a ) Se ambas as coordenadas, x e y, n˜ colocado apenas um ponto da aresta do quadrado. De outro modo: a curva passa uma u ´nica vez em pontos com ambas as coordenadas n˜ ao di´ adicas; 3a ) Se apenas uma das coordenadas, x ou y, ´e uma fra¸c˜ ao di´ adica ent˜ ao, neste ponto ´e colocado dois pontos da aresta do quadrado. De outro modo: a curva passa duas vezes em pontos com apenas uma coordenada fra¸c˜ ao di´ adica; ao da curva ´e infinito enumer´ avel e denso 4a ) O conjunto dos pontos de auto-interse¸c˜ no quadrado.
10.8
O quadrado hiper-m´ agico
A seguir construiremos um objeto matem´ atico (t˜ ao patol´ ogico quanto a curva de Peano) o qual, em conjunto com a curva de Peano, nos permitir´ a transitar entre dimens˜ oes arbitr´ arias. Defini¸ c˜ a agico). Chama-se quadrado hiper-m´ agico num espa¸co ` o 75 ´(Quadrado hiper-m´ m´etrico M, d , com M um quadrado (unit´ ario), a uma aplica¸c˜ ao cont´ınua ϕ : M → I injetiva e n˜ ao sobrejetora. I ´e um intervalo unit´ ario. O que h´ a de paradoxal no quadrado hiper-m´ agico ´e que conseguimos transferir todos os pontos do quadrado para sua aresta inferior (ou qualquer outra), sem sobrepor um ponto a outro e ainda sobram infinitos buracos (lacunas) na aresta! O quadrado hiper-m´ agico resume-se na composi¸c˜ ao das aplica¸c˜ oes mostradas na figura a seguir: B
6
B
(1,1)
1
y
q
0
x
h
q
q
g
1
B
Figura 10.2: Quadrado hiper-m´ agico Onde a aplica¸c˜ ao h : I × I −→ B × B ` ´ (x, y) 7−→ (xn ), (yn )
547
1
f
0
qz
´e um homeomorfismo. A aplica¸c˜ ao g: `
B×B
B
(xn ), (yn )
´
7−→
(x1 y1 x2 y2 x3 y3 ...)
´e cont´ınua por ser a extens˜ ao cont´ınua de α : B′ × B′ −→ B′ (ver (10.5), pg. 540). uˆencias (xn ) e (yn ). Dizemos que a aplica¸c˜ ao g executa uma multiplexagem das seq¨ Vamos mostrar que g ´e injetiva mostrando que g(x) = g(y) ⇒ x = y. De fato, sejam as seq¨ uˆencias: (xn ) = g(x) = g(y) = (yn ). (xn ) e (yn ) s˜ ao imagens, por g, dos pares de seq¨ uˆencias g
x = (u1 u2 u3 . . . , v1 v2 v3 . . .)
7−→
(u1 v1 u2 v2 u3 v3 . . .) = (x1 x2 x3 . . .)
7−→
(z1 t1 z2 t2 z3 t3 . . .) = (y1 y2 y3 . . .)
g
y = (z1 z2 z3 . . . , t1 t2 t3 . . .) Como (xn ) = (yn ) segue que u1 = z1 ,
u2 = z2 ,
u3 = z3 , . . .
v1 = t1 ,
v2 = t2 ,
v3 = t3 , . . .
⇒
⇒
(un ) = (zn ) (vn ) = (tn )
portanto x = y. Esta aplica¸c˜ ao n˜ ao ´e sobrejetora, por exemplo o ponto ( 0 1 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) ∈ B n˜ ao ´e imagem, por g, de nenhum ponto de ario, que ` B × B. De´ fato, suponha, ao`contr´ ´ isto aconte¸ca; isto ´e que exista um ponto (xn ), (yn ) ∈ B × B tal que g (xn ), (yn ) = ( 0 1 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .), sendo assim resulta (x1 y1 x2 y2 x3 y3 . . .) = ( 0 1 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) ent˜ ao, x1 = 0,
x2 = 1,
x3 = 1,
x4 = 1, . . .
y1 = 1,
y2 = 0,
y3 = 0,
y4 = 0, . . .
⇒
⇒
(xn ) = (0 1 1 1 1 . . .) (yn ) = (1 0 0 0 0 . . .)
Logo,
` ´ ` ´ (xn ), (yn ) = (0 1 1 1 1 . . .), (1 0 0 0 0 . . .) ∈ B × B, o que contradiz a constru¸c˜ ao (defini¸c˜ ao) de B.
Definimos a aplica¸c˜ ao f como f = Ψ−1 (ver pg. 539), resultando assim que f ´e um homeomorfismo. Resumindo, temos 1
0
r
(1,1)
1
ϕ
0
1
onde ϕ : I × I −→ I ´e tal que
(x, y) 7−→ z ` ´ ϕ = f ◦ g ◦ h ⇒ ϕ(x, y) = f ◦ g ◦ h (x, y) ` ´ = (f ◦ g) h(x, y) ` ` ´´ = f g h(x, y)
548
rz
Exemplos: ` ´ (1) O centro do quadrado ´e levado em qual ponto de I ? Isto ´e, calcule ϕ 12 , 12 .
Solu¸ c˜ ao (acompanhe pela figura 10.2, pg. 547): Temos (1 0 0 0 0 0 . . .)2 = 21 . Ent˜ ao “1 1” h , = (1 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . .) 2 2 Aplicando g a este ponto obtemos: (1 0 0 0 0 0 . . .) g
(1 1 0 0 0 0 0 0 . . .)
(1 0 0 0 0 0 . . .) logo,
` ´ g (1 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . .) = (1 1 0 0 0 0 0 0 . . .) ∈ B.
Neste ponto dizemos que houve uma multiplexa¸c˜ ao das seq¨ uˆencias (1 0 0 0 0 0 . . .) e (1 0 0 0 0 0 . . .). Agora entregamos a seq¨ uˆencia (1 1 0 0 0 0 0 0 . . .) a f , isto ´e f (1 1 0 0 0 0 0 0 . . .) =
3 1 1 0 0 0 + 2 + 3 + 4 + 5 + ··· = 4 21 2 2 2 2
` ´ Finalmente, ϕ 12 , 12 = 34 . Geometricamente, temos B
6
h
(1,1)
1
y
q
0
x
B
-
q
(1000...)
( 12 , 12 )
-
1
Observe que χ ´ ` (2) Calcule ϕ 31 , 13 .
q
(11000...)
g
1
R f
(1000...)
B
`
5 12
´
=
`1 2
,
1 2
´
(exemplo (3), pg. 544)
Solu¸ c˜ ao: Temos (0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .)2 = 31 . Ent˜ ao “1 1” = (0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . . , 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) h , 3 3 Aplicando g a este ponto obtemos: (0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) g
(0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .)
(0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) Logo, ` ´ g (0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . . , 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) = (0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .)
549
0
q
3 4
Entregando esta u ´ltima seq¨ uˆencia a f , temos 0 0 1 1 0 0 1 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + ··· 21 2 2 2 2 2 2 2 „ « „ « 1 1 1 1 1 1 = + 3 + 7 + 11 + · · · 4 + 8 + 12 + · · · 2 2 2 2 2 2
f (0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .) =
=
1 1 2 + = 15 15 5
` ´ Portanto ϕ 13 , 31 = 51 . Geometricamente, temos
6
y
0
h
(1,1)
1
q( x
:
B
(0101...)
1, 1 3 3
) 1
-
B
q
(00110011...)
q
g
1
R f
(0101...)
0
B
q
1 5
Como encontrar buracos na aresta do quadrado Mostraremos agora como encontrar pontos na aresta [ 0, 1 ] × {0} que n˜ ao s˜ ao imagens, por ϕ, de pontos do quadrado. Inicialmente observe que sendo f um homeomorfismo as propriedades topol´ ogicas de B s˜ ao transferidas para [ 0, 1 ]. Para construir um buraco no intervalo basta construir um em B, como por exemplo, B (0 1 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) = 5 ∈ [ 0, 1 ] (ver exemplo (3), pg. 544). O diagrama a seguir sugere como construir 12 uma quantidade infinita de buracos: ∈
8 < (0 1 1 1 1 1 1 . . .) :
(0 0 0 0 0 0 0 . . .)
:
(0 0 0 0 0 0 0 . . .)
:
(0 0 0 0 0 0 0 . . .)
(0 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) ∈ B
8 < (0 0 1 1 1 1 1 . . .)
(0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) ∈ B
8 < (0 0 0 1 1 1 1 . . .)
(0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 . . .) ∈ B
Os pontos ` a direita n˜ ao s˜ ao imagens, por g, de pontos de B × B, por conseguinte suas imagens, por f , s˜ ao vazios (buracos) em [ 0, 1 ]. De modo geral, para “gerar”um buraco na aresta tome no quadrado um ponto (x, y) no qual apenas uma das cordenadas ´e fra¸c˜ ao di´ adica. Sendo assim temos as seguintes possibilidades: (x, y) :
(
V : B×B
F : B × {0, 1}N ou {0, 1}N × B
550
A verdadeira (V) codifica¸c˜ ao do par (x, y) est´ a no conjunto B × B e a falsa (F) em B × {0, 1}N se y for a fra¸c˜ ao di´ adica ou em {0, 1}N × B se x for a fra¸c˜ ao di´ adica. Pois bem, a codifica¸c˜ ao verdadeira vai para um ponto da aresta (ou do intervalo) e a falsa “vai” para um buraco. Esclarecendo melhor: Dado (x, y) ∈ I2 no qual x ou (exclusivo) y ´e fra¸c˜ ao di´ adica temos, para este ponto, uma codifica¸c˜ ao l´egitima (xn , yn ) e uma esp´ uria (x′n , yn′ ). ao di´ adica se x ou se y) tem Temos que (x′n ) ou (yn′ ) (dependendo de quem seja fra¸c˜ todos os termos iguais a 1 a partir de alguma posi¸c˜ ao, enquanto que a outra seq¨ uˆencia, n˜ ao sendo oriunda de uma fra¸c˜ ao di´ adica, tem um 0 e tamb´em um 1 em posi¸c˜ oes arbitrariamente grandes. Logo ao se multiplexar (x′n , yn′ ) resulta um ponto em B e a este um buraco na aresta. Se no par (x, y) tivermos duas cordenadas di´ adicas, teremos as seguintes possibilidades: 8 > V V : B × B → gera ponto > > > > < V F : B × {0, 1}N → gera buraco (x, y) : > > F V : {0, 1}N × B → gera buraco > > > : F F : {0, 1}N × {0, 1}N ⇒ 6∈ B. Seja (x, y) um ponto do quadrado. Com um pouco de reflex˜ ao o leitor chegar´ a` as seguintes conclus˜ oes:
1a ) Se ambas as coordenadas, x e y, forem fra¸c˜ oes di´ adicas ent˜ ao este ponto vai para um ponto da aresta e “gera” dois buracos; 2a ) Se ambas as coordenadas, x e y, n˜ ao forem fra¸c˜ oes di´ adicas ent˜ ao este ponto vai para um ponto do intervalo e n˜ ao “gera”nenhum buraco; ao di´ adica ent˜ ao este ponto vai 3a ) Se apenas uma das coordenadas, x ou y, ´e uma fra¸c˜ para um ponto do intervlo e “gera” um buraco; 4a ) o conjunto dos buracos ´e infinito enumer´ avel, porquanto o conjunto dos pontos (x, y) ∈ I2 com coordenadas di´ adicas ´e enumer´ avel. ` Exemplo: Tendo em conta o exemplo dado ` a pg. 545 o ponto 12 , 34 ) vai, por ϕ, para 23 37 39 o ponto 48 e gera os buracos 48 e 48 , assim: (1, 3) 2 4
r
ϕ
Vamos agora provar que o conjunto destes buracos ´e denso na aresta do quadrado (ou ainda, no intervalo [ 0, 1 ]). Consideremos B′′ ⊂ B o complementar de B′ em B. Isto ´e, (x1 x2 x3 x4 . . . ) ∈ B′′ se, e somente se, (x1 x3 x5 . . . ) 6∈ B ou (x2 x4 x6 . . . ) 6∈ B. Provemos que B′′ ´e denso em B. De fato, seja ε > 0 e a ∈ B dados. Devemos mostrar que existe p ∈ B′′ de modo que ν(p, a) < ε. Pois bem, escolhamos j tal que 1j < ε e tomemos pn = an para 2 n = 1, 2, . . . , j; e para n ≥ j + 1 tomemos os termos com ´ındices ´ımpares iguais a 1 e os termos com ´ındices pares iguais a 0. Sendo assim p ∈ B′′ e ν(p, a) ≤ 1j < ε. Como 2 ´e f´ acil inferir a cada ponto de B′′ corresponde um “lugar ocioso” na aresta.
551
10.9
A curva de Peano no cubo
De modo inteiramente an´ alogo, podemos construir uma curva de Peano χ entre o intervalo unit´ ario e o cubo unit´ ario [ 0, 1 ]3 , assim:
1 {0, 1}N 1⊤ xq
B
Ψ :
q
η3
η :
q
@ @ @ q@ @
@ @ @
@ @
(x,y,z)
0 η2 {0, 1}N
η1
0⊥
ξ :
{0, 1}N
@ @ @ @ @ 1
1
Figura 10.3: Curva de Peano no Cubo ` ´ Nesta figura η`faz´uma demultiplexagem de uma seq¨ uˆencia xn ∈ B. Isto ´e, η toma uma seq¨ uˆencia xn e a separa em trˆes subseq¨ uˆencias ` ´ ` ´ η (xn ) = η1 (xn ), η2 (xn ), η3 (xn ) Ent˜ ao podemos tomar:
η1 (x1 x2 x3 . . .) = (x1 x4 x7 x10 . . .) η2 (x1 x2 x3 . . .) = (x2 x5 x8 x11 . . .) η3 (x1 x2 x3 . . .) = (x3 x6 x9 x12 . . .) (x1 x4 x7 x10 . . .) (x1 x2 x3 x4 x5 . . .)
(x2 x5 x8 x11 . . .) (x3 x6 x9 x12 . . .)
552
Exemplos: (1) Calcule a imagem, por χ, de x = 0, 5. Solu¸ c˜ ao: Desenvolvendo 0, 5 na base 2, temos (10000 . . .)2 = 21 . Ent˜ ao Ψ(0, 5) = (1000000 . . .). Agora aplicamos η ` a seq¨ uˆencia anterior, assim η1 (1000000 . . .) = (1000000 . . .) η2 (1000000 . . .) = (0000000 . . .) η3 (1000000 . . .) = (0000000 . . .) ` ´ ` ´ `1´ Agora `1 ´aplicamos ξ ao ponto η1 , η2 , η3 : ξ (η1 , η2 , η3 ) = (x, y, z), obtendo χ 2 = , 0, 0 . 2 (2) Calcule a imagem, por χ, de x = 2/3.
ao Solu¸ c˜ ao: Desenvolvendo 2/3 na base 2, obtemos 32 = (1010101010 . . .)2 . Ent˜ Ψ(2/3) = (1010101010 . . .). Aplicamos η ` a seq¨ uˆencia anterior: η1 (1010101010 . . .) = (1010101 . . .) η2 (1010101010 . . .) = (0101010 . . .) η3 (1010101010 . . .) = (1010101 . . .) ` ´ ` ´ ` ´ Agora ξ ao ponto η1 , η2 , η3 : ξ (η1 , η2 , η3 ) = (x, y, z), obtendo χ 23 = ` 2 1 2aplicamos ´ , , . Graficamente, temos 3 3 3 z
χ
1 2→ 3 1 2
q q
1
χ
0
0
6 @ @ @ @ q @ @ @ @ 1 @ y R @ 1 2
@ @ (2,1,2) q3 3 3 @@ (1,1,1) -x
1
(3) Encontre todos os pontos do intervalo a´o transferidos, por χ, para o centro ` que s˜ do cubo. Isto ´e, resolva a equa¸c˜ ao χ(x) = 21 , 21 , 12 .
Solu¸ c˜ ao: Temos as seguintes alternativas:
≬
8 > VVV: (1 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 . . .) −→ (1 1 1 > > > > > > VVF : (1 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 . . . , 0 1 1 1 . . .) −→ (1 1 0 > > > > > > VFV : (1 0 0 0 . . . , 0 1 1 1 . . . , 1 0 0 0 . . .) −→ (1 0 1 > > > >
“1 1 1” → , , > 2 2 2 FVV : (0 1 1 1 . . . , 1 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 . . .) −→ (0 1 1 > > > > > > FVF : (0 1 1 1 . . . , 1 0 0 0 . . . , 0 1 1 1 . . .) −→ (0 1 0 > > > > > > FFV : (0 1 1 1 . . . , 0 1 1 1 . . . , 1 0 0 0 . . .) −→ (0 0 1 > > > > : FFF : (0 1 1 1 . . . , 0 1 1 1 . . . , 0 1 1 1 . . .) −→ (0 0 0
0 0 0 0 0 0 . . .) 0 0 1 0 0 1 . . .) 0 1 0 0 1 0 . . .) 0 1 1 0 1 1 . . .) 1 0 0 1 0 0 . . .) 1 0 1 1 0 1 . . .) 1 1 0 1 1 0 . . .) 1 1 1 1 1 1 . . .)
Nota: Os digitos na cor azul, em cada seq¨ uˆencia, representam o per´ıodo; isto ´e, s˜ ao os trˆes digitos que se repetem em seguida.
553
Para ilustrar a finalidade do diagrama acima consideremos, por exemplo, a segunda das combina¸c˜ oes (VVF), assim: 1 {0, 1}N
1
43 56
B ⊤
q
0⊥
Ψ
:
q
ξ
:
η
3
η
:
q
(1 0 0 0..., 1 0 0 0..., 0 1 1 1...) η
(1 1 0 0 0 1 0 0 1...)
2
{0, 1}N
η
1
{0, 1}N
0
@ @ @ q@ @ 1 1 1 (
2
,
2
,
2
)
@ @ @ @ @ 1
@ @ @ @ @ 1
` 43 ´ ` ´ Deste diagrama concluimos que, χ 56 = 12 , 21 , 12 . Das combina¸c˜ oes anteriores apenas uma (FFF) n˜ ao pertence a B, portanto n˜ ao ´e oriunda da codifica¸c˜ ao de nenhum ponto do intervalo [ 0, 1 ], sendo assim temos: “ 43 ” “ 37 ” “ 31 ” “ 25 ” “ 19 ” “ 13 ” “ 1 1 1 ” “ 49 ” =χ =χ =χ =χ =χ =χ = , , χ 56 56 56 56 56 56 56 2 2 2 Seja (x, y, z) um ponto do cubo. Com um pouco de reflex˜ ao o leitor chegar´ a` as seguintes conclus˜ oes:
1a ) Se as trˆes coordenadas, x, y e z, forem fra¸c˜ oes di´ adicas ent˜ ao, neste ponto s˜ ao colocados sete pontos da aresta do cubo (digo, do intervalo unit´ ario). De outro modo: a curva passa sete vezes por pontos com as trˆes coordenadas di´ adicas; 2a ) Se apenas duas coordenadas forem fra¸c˜ oes di´ adicas ent˜ ao, neste ponto s˜ ao colocados quatro pontos da aresta do cubo. De outro modo: a curva passa quatro vezes por pontos com duas coordenadas di´ adicas; ao di´ adica ent˜ ao, neste ponto s˜ ao colocados dois 3a ) Se apenas uma coordenada for fra¸c˜ pontos da aresta do cubo. De outro modo: a curva passa duas vezes por pontos com uma coordenada di´ adicas; 4a ) Se nenhuma das coordenadas ´e di´ adica ent˜ ao, neste ponto ´e colocado um u ´nico ponto da aresta do quadrado. De outro modo: a curva passa uma u ´nica vez em pontos com nenhuma coordenada di´ adica; ao da curva ´e infinito enumer´ avel e denso 5a ) O conjunto dos pontos de auto-interse¸c˜ no quadrado.
554
10.10
O cubo hiper-m´ agico
A exemplo do que foi feito para o quadrado tamb´em podemos transferir todos os pontos do cubo para uma de suas arestas. Sendo que esta transforma¸c˜ ao cumpre as mesmas condi¸c˜ oes que a do quadrado: ´e cont´ınua, injetiva e n˜ ao sobrejetiva. 1 B
h
η
3
1
B ⊤
w
q
q
f
0⊥
g
Solu¸ c˜ ao: Temos
1 2
η
1
@ @ @ @ @
(x,y,z)
0 η
2
B
B
Exemplos: ` ´ (1) Calcule ϕ 0, 0, 21 .
q
@ @ @ q@ @
1
@ @ @ @ @ 1
= (1 0 0 0 0 0 0 0 . . .)2 . Logo,
“ 1” h 0, 0, = (0 0 0 0 0 0 . . . , 0 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . .) 2
- Agora aplicamos, ao ponto anterior, g. ` ´ ` ´ ` ´ Observa¸ c˜ ao: Dadas trˆes seq¨ uˆencias xn , yn e zn , g faz uma multiplexagem das mesmas, segundo a parti¸c˜ ao ` ´ N1 = {1, 4, 7, 10, . . .}; xn ` ´ N2 = {2, 5, 8, 11, . . .}; yn ` ´ N3 = {3, 6, 9, 12, . . .}; zn ` ´ Ou seja, g (xn ), (yn ), (zn ) = (x1 y1 z1 x2 y2 z2 x3 y3 z3 x4 y4 z4 . . .). Portanto, ` ´ g (0 0 0 0 0 0 . . . , 0 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . .) = (0 0 1 0 0 0 0 0 0 . . .) - Agora aplicamos, ` a seq¨ uˆencia anterior, f . Ent˜ ao,
` ´ 1 0 0 1 0 0 f (0 0 1 0 0 0 0 0 0 . . .) = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + · · · = . 8 2 2 2 2 2 ` ´ Portanto, ϕ 0, 0, 21 = 81 . ` ´ (2) Calcule ϕ 21 , 12 , 12 . Solu¸ c˜ ao: Temos
1 2
= (1 0 0 0 0 0 0 0 . . .)2 . Logo
“1 1 1” h , , = (1 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . .) 2 2 2
- Agora aplicamos, ao ponto anterior, g. Portanto ` ´ g (1 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . .) = (1 1 1 0 0 0 0 0 0 . . .)
- Agora aplicamos, ` a seq¨ uˆencia anterior, f . Ent˜ ao,
` ´ 7 1 1 1 0 0 1 1 1 f (1 1 1 0 0 0 0 0 0 . . .) = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + · · · = + + = . 2 4 8 8 2 2 2 2 2 `1 1 1´ 7 Portanto, ϕ 2 , 2 , 2 = 8 . Graficamente, temos
555
z
ϕ
-
6
q 78
1
1
r
r
0
1
z ϕ
(1,1,1)
q 81
0
@ R y
Deste exemplo e do exemplo (3) (pg. 553) concluimos que o centro do cubo vai para o ponto 7/8 e gera seis buracos na aresta do cubo (ou no intervalo unit´ ario). Observe que paradoxal: A exemplo do que ocorreu no quadrado hiper-m´ agico aqui tamb´em conseguimos, por ϕ, transferir o cubo para uma de suas arestas, com a “agravante” de que agora “mais” buracos ser˜ ao gerados na aresta. Por exemplo um ponto (x, y) ∈ I2 com ambas as coordenadas di´ adicas gera dois buracos na aresta do quadrado; por outro lado um ponto (x, y, z) ∈ I3 com duas coordenadas di´ adicas gera quatro buracos na aresta do cubo e com trˆes coordenadas di´ adicas gera seis buracos. Resumindo: estamos transferindo para a aresta um “volume” maior de pontos enquanto o n´ umero de lugares vazios na aresta aumenta. Naturalmente que, o que foi feito para o quadrado e o cubo, se estende sem dificuldade ao “hipercubo”.
Cubo Hiper-M´ agico
4
s7
s
5
1
s
s
s
esp´ırito humano e o m´ etodo para en-
s3
s9
contrar verdades at´ e ent˜ ao desconhecidas.”
s2
ϕ
8
6
7
1
4
Voltaire (17 a Carta)
s6 ϕ : [ 0, 1 ]3 −→ [ 0, 1 ]
s s s s s s s9s s
5
“Tudo isso, que a` primeira vista parece excesso de irraz˜ ao, na verdade ´ e o efeito da finura e da extens˜ ao do
2
“O
que a matem´ atica pontua,
n˜ ao raro a natureza corrobora.”
3
Gentil (1 o Bilhete)
Gentil/2005
8
Nota: Os seis buracos constantes na aresta foram abertos pelo centro do cubo.
556
Buracos:
≬
- O centro do cubo vai, por ϕ, para o ponto 7/8 ∈ [ 0, 1 ] e “gera” (“reserva”) seis buracos no intervalo (ver exemplo (2), pg. 555). Para esclarecer esta assertiva observe o diagrama seguinte, 8 > VVV: (1 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 . . .) −→ (1 1 1 0 0 0 . . .) = 49 > 56 > > > 43 > > 0 0 1 . . .) = VVF : (1 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 . . . , 0 1 1 1 . . .) −→ (1 1 0 > 56 > > > 37 > > 0 1 0 . . .) = VFV : (1 0 0 0 . . . , 0 1 1 1 . . . , 1 0 0 0 . . .) −→ (1 0 1 > 56 > > > 2 2 2 1 0 0 . . .) = FVV : (0 1 1 1 . . . , 1 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 . . .) −→ (0 1 1 > > 56 > > > > FVF : (0 1 1 1 . . . , 1 0 0 0 . . . , 0 1 1 1 . . .) −→ (0 1 0 1 0 1 . . .) = 19 > > 56 > > > 13 > FFV : (0 1 1 1 . . . , 0 1 1 1 . . . , 1 0 0 0 . . .) −→ (0 0 1 1 1 0 . . .) = > 56 > > > : 7 FFF : (0 1 1 1 . . . , 0 1 1 1 . . . , 0 1 1 1 . . .) −→ (0 0 0 1 1 1 . . .) = 56 1
h ×
B
B
1
g
(1000..., 1000..., 0111...) ×
f
B
43 56
0
B
0
@ @ @ q@ @ 1 1 1 (
2
,
2
,
2
)
@ @ @ @ @ 1
@ @ @ @ @ 1
Observe que a pseudo-codifica¸c˜ ao VVF, do centro, “gera” um buraco: (1 0 0 0. . . , 1 0 0 0. . . , 0 1 1 1. . . ), no espa¸co B3 e este, por sua vez, gera um buraco em B: (1 1 0 0 0 1 0 0 1. . . ), que, por sua vez, gera um outro buraco em [ 0, 1 ]: 43/56. Desta forma acontece com todas as pseudo-codifica¸c˜ oes (exceto a u ´ltima: FFF). Nos seis pontos seguintes 43/56 = 0, 7679; 37/56 = 0, 6607; 31/56 = 0, 5536; 25/56 = 0, 4464; 19/56 = 0, 3393; 13/56 = 0, 2321. localizam-se os buracos na aresta do cubo (ou no intervalo unit´ ario), ver fig. pg. 556. -Inserindo dimens˜ oes arbitr´ arias dentro de dimens˜ oes arbitr´ arias As aplica¸c˜ oes χ e ϕ, conjuntamente, nos permitem inserir dimens˜ oes arbitr´ arias “dentro” de dimens˜ oes arbitr´ arias. Por exemplo para inserir um cubo a dez dimens˜ oes em um cubo a trˆes dimens˜ oes proceda assim: ϕ
χ
[ 0, 1 ]10 −→ [ 0, 1 ] −→ [ 0, 1 ]3
Para inserir um cubo a trˆes dimens˜ oes em um cubo a 10 dimens˜ oes proceda assim: χ
ϕ
[ 0, 1 ]10 ←− [ 0, 1 ] ←− [ 0, 1 ]3
557
Poss´ıveis aplica¸c˜ oes na Teoria das Supercordas Estivemos a imaginar poss´ıveis aplica¸c˜ oes pr´ aticas para estas aplica¸c˜ oes. Tivemos duas id´eias as quais deixamos aqui, a t´ıtulo de sugest˜ ao, a quem interessar possa: 1a ) Na inform´ atica: Se tivermos um “volume” de informa¸c˜ oes (dados) a transmitir, podemos compactar estes dados em uma dimens˜ ao, em seguida transmitir e, no receptor, recuper´ a-los, assim [0, 1]3 −→ [0, 1] −→ [0, 1]3 . a 2 ) Na F´ısica: a Teoria das Supercordas ´e consistente em 10 dimens˜ oes. O problema ´e saber como um Universo a dez dimens˜ oes pode ser reduzido a trˆes dimens˜ oes (espaciais). Nossa sugest˜ ao (conjectura) ´e que as dimens˜ oes extras foram multiplexadas. Com estas t´ecnicas (multiplexa¸c˜ ao/demultiplexa¸c˜ ao) n˜ ao apenas fazemos uma transposi¸c˜ ao de dimens˜ oes (isto ´e, de um espa¸co em outro), como podemos transferir uma corda (ou uma p-brana) de uma dimens˜ ao ` a outra. Vejamos um exemplo do que estamos falando. Suponhamos que um ramo (peda¸co) de uma corda (uma-brana) seja dado pelo gr´ afico da fun¸c˜ ao f : [ 0, 1 ] −→ [ 0, 1 ] dada por f (x) =`x2 . Vamos transferir ´ os cinco pontos seguintes desta curva, para a terceira dimens˜ ao para [ 0, 1 ]3 , assim: 8 > ( > <0 0 0 0 0 . . . , x = 0 ` ´ 000000... 0, 0 : 00000000... ⇒ ⇒ 00000..., y = 0 > 000000... > :0 0 0 0 0 . . . , z = 0 8 > ( > <0 0 0 0 0 . . . , x = 0 `1 1 ´ 010000... ⇒ 001000010... ⇒ , : 0 0 1 0 0 . . . , y = 41 4 16 > 000100... > :1 0 0 0 0 . . . , z = 1 2 8 3 > ( > <1 1 0 0 0 . . . , x = 4 `1 1´ 100000... : , 10010000... ⇒ ⇒ 00000..., y = 0 2 4 > 010000... > :0 0 0 0 0 . . . , z = 0 8 1 > ( > <1 0 0 0 0 . . . , x = 2 `3 9 ´ 110000... ⇒ 111000010... ⇒ , : 1 0 1 0 0 . . . , y = 58 4 16 > 100100... > :1 0 0 0 0 . . . , z = 1 2 8 > ( > <1 1 1 1 1 . . . , x = 1 ` ´ 111111... 1, 1 : 11111111... ⇒ ⇒ 11111..., y = 1 > 111111... > :1 1 1 1 1 . . . , z = 1 Graficamente, temos
z
6
p
9/16
1/16
p p
1/4
0
r p
1 4
r
p
1 2
r p
3 4
ϕ
1
-
0
r r r r r
1
χ
¬
1
1
1 2
0 r
r
r r1 1
y
558
x
r
Nota: Na referˆencia [12] desenvolvemos uma nova constru¸c˜ ao para os n´ umeros: Naturais, Inteiros, Racionais, Reais; via seq¨ uˆencias bin´ arias − cremos que esta abordagem poder´ a revelar-se de utilidade na Teoria das Supercordas. Holografia No livro “O UNIVERSO NUMA CASCA DE NOZ” (Stephen Hawking/pg. 198): “A holografia codifica as informa¸c˜ oes de uma regi˜ ao do espa¸co em uma superf´ıcie com uma dimens˜ ao a menos. . . Em um modelo de mundo brana, a holografia seria uma correspondˆencia de um para um entre estados em nosso mundo quadridimensional e estados em dimens˜ oes superiores. Mais ` a frente: Entretanto, sob um ponto de vista positivista, n˜ ao se pode perguntar: qual ´e a realidade, brana ou bolha? Ambas s˜ ao modelos matem´ aticos que descrevem as observa¸c˜ oes. Cada um ´e livre para usar o modelo mais conveniente.” N˜ ao podemos deixar de vislumbrar uma interse¸c˜ ao entre estas declara¸c˜ oes e nossas constru¸c˜ oes.
Uma quebra de paradigma Creio que um dos dogmas dos quais os f´ısicos devem se libertar∗ ´e o de acreditar que vivemos em um espa¸co tridimensional (“comprimento, largura e altura”)† , Z
Y
X
De fato, podemos at´e admitir que o homem, no que diz respeito a seu corpo f´ısico, habita um espa¸co de trˆes dimens˜ oes; a contece que a realidade do homem n˜ ao se resume apenas a seu corpo f´ısico; existe tamb´em a dimens˜ ao intelectual (l´ ogica) e, esta dimens˜ ao, n˜ ao est´ a limitada ao espa¸co; digo, n˜ ao est´ a restrita a dimens˜ oes. Se o objetivo do cientista ´e buscar a verdade, por que o f´ısico escolhe enclausurar-se dentro ´ verdade que a f´ısica j´ de um “cubo”? E a ensaia aventurar-se em “outras dimens˜ oes”, como ´e o caso da teoria da relatividade geral de Einstein, mas ainda s˜ ao passos t´ımidos. Reporto-me ` a teoria f´ısica das supercordas onde, at´e hoje, os f´ısicos tentam conciliar 10 dimens˜ oes l´ ogicas (abstratas), com as 3 dimens˜ oes de seus cubos (imagin´ arios). Acredito que as u ´nicas restri¸c˜ oes que devemos nos submeter s˜ ao as da consistˆencia l´ ogica (da raz˜ ao). Por oportuno, at´e hoje cientistas e fil´ osofos debatem sobre a quest˜ ao do que vem a ser o “espa¸co”; ora, por que raz˜ ao o f´ısico ensaia suas experiˆencias dentro de uma gaiola imagin´ aria? Digo, se o espa¸co (como tamb´em o tempo) ´e um conceito ainda n˜ ao devidamente compreendido, por que assumir que ele tem trˆes, quatro ou dez dimens˜ oes? O matem´ atico, ao contr´ ario do f´ısico, n˜ ao vive restrito a nenhum n´ umero de dimens˜ oes; quem ousaria afirmar que o f´ısico vive numa realidade mais “real” que a do matem´ atico? Citaremos assertivas de dois cientistas que d˜ ao sustenta¸c˜ ao a nossos argumentos, veja: ∗ Assim
como os matem´ aticos j´ a o fizeram h´ a s´ eculos. por que raz˜ ao os trˆ es eixos que determinam as trˆ es “dimens˜ oes f´ısicas” devem estar “espa¸cados” precisamente por um a ˆngulo de 90o ? E as dimens˜ oes fractais? † Perguntamos,
559
−
“Para entendermos o in´ıcio, precisaremos de algumas inova¸ co ˜es nos nossos conceitos de
espa¸ co e tempo; uma nova teoria das for¸ cas da natureza que combine a gravidade com o mundo quˆ antico. Provavelmente a id´ eia de que o espa¸ co tem trˆ es dimens˜ oes e o tempo apenas passa no tique taque do rel´ ogio ser´ a transcendida. Precisaremos visualizar o mundo em dez dimens˜ oes no lugar das trˆ es de que temos consciˆ encia.” (grifo
nosso)
Martin Rees/Do livro: “Algumas raz˜ oes para ser um cientista” (pg. 77 − 78)/CBPF −
N˜ ao h´ a, por´ em, como discernir o que ´ e real no universo sem uma teoria. Assumo por isso o
ponto de vista, j´ a qualificado de simpl´ orio ou ingˆ enuo, de que uma teoria da f´ısica ´ e nada mais nada menos que um modelo matem´ atico que usamos para expressar o resultado de observa¸ co ˜es. Uma teoria ´ e boa se for um modelo elegante, se descrever uma ampla classe de observa¸ co ˜es, e se previr o resultado de novas observa¸ co ˜es. N˜ ao faz sentido ir al´ em disso, perguntando se ela corresponde a ` realidade, porque, independentemente de uma teoria, n˜ ao sabemos o que ´ e a realidade. (grifo nosso) (Stephen Hawking/Buracos Negros, Universos-Bebˆ es/Rocco)
Penso que os conceitos de espa¸ co e tempo deveriam se originar de um modelo matem´ atico e n˜ ao da “realidade em si” que, como pontua Hawking, n˜ ao nos ´e acess´ıvel. Ademais, o idealismo transcendental daquele que ´e considerado o mais importante filos´ ofo moderno, o alem˜ ao Immanuel Kant (s´ec. XVIII), corrobora o ponto de vista de Hawking: aceita a existˆencia de coisas-em-si (“noumeno”), mas considera que a ciˆencia s´ o tem acesso ` as coisas-para-n´ os, os “fenˆ omenos”. Tais fenˆ omenos, por´em, seriam organizados pelo nosso aparelho perceptivo e cognitivo, sendo assim em parte dependentes do sujeito. Penso mais, assim como podemos ter mais que um modelo matem´ atico descrevendo um aspecto da “realidade”; digo, assim como uma realidade pode ser vista de ˆ angulos distintos, n˜ ao ´e verdade que devemos ter um u ´nico modelo para tempo e espa¸co. Uma Curva de Peano in´ edita (A curva de Peano e o quadrado hiper-m´ agico na m´ etrica divina) A constru¸c˜ ao da curva de Peano nos permite inferir que a compacidade do espa¸co ([ 0, 1 [, k) nos permite construir a seguinte curva: χk : [ 0, 1 [−→ [ 0, 1 [×[ 0, 1 [ 1
0
r
1
r
χk
0
(1,1)
1
Observamos que, por ser a m´etrica µ mais fina que a m´etrica k, isto implica em que Ψ−1 :
`
´ ` ´ B, ν −→ [ 0, 1 [, k (xn ) 7−→ x
permanece cont´ınua. A mesma observa¸c˜ ao vale para a nova ξ. Nota: Neste caso continuamos usando a mesma nota¸c˜ ao para as fun¸c˜ oes “intermedi´ arias”. A constru¸c˜ ao desta curva segue os mesmos passos da anterior. Bem, a mudan¸ca radical de uma curva para a outra fica por conta dos aspectos topol´ ogicos, como n˜ ao poderia deixar de ser. Vejamos alguns exemplos: 1o ) Lembramos que para uma fun¸c˜ ao cont´ınua f vale: lim f (xn ) = f (lim xn ). Por exemplo, considere a seq¨ uˆencia de pontos xn = (1 − 1/n) do intervalo unit´ ario.
560
Temos k:
lim xn = 0 =⇒ lim χk (xn ) = χk (0) = (0, 0), (origem do quadrado).
µ:
lim xn = 1 =⇒ lim χ(xn ) = χ(1) = (1, 1).
n
n
o
2 ) As quatro seq¨ uˆencias dadas a seguir: 1
`
ss
´
1 , 1− 1 xn = n+1 → n+1
ss
´
`
1 , 1 → zn = n+1 n+1
sx3 sx2 sz sz3 2
st
s
ss st
`
1 , 1− 1 ← tn = 1− n+1 n+1
3
2
sy2 sy3 ss
`
1 , 1 ← yn = 1− n+1 n+1
0
´
´
1
convergem todas, por ϕk , para a origem do intervalo: ` ´ ` ´ ` ´ ` ´ lim ϕk xn = lim ϕk yn = lim ϕk zn = lim ϕk tn = 0 (origem do intervalo). n
n
n
n
o
3 ) Para a seq¨ uˆencia (xn ) dada por, (1 , n xn = 1−
se n ´e par; 1 , n
se n ´e ´ımpar.
cujos primeiros termos est˜ ao plotados a seguir: x1
x6
s ... s
0
x4
x2
s
s
x3
s
x5
x7
s s. . .
1
Temos χk (xn ) → (0, 0), enquanto χ(xn ) diverge.
Toda seq¨ uˆencia (xn , yn ), com 0 ≤ xn , yn < 1 que converge em [ 0, 1 ]2 tamb´em converge em [ 0, 1 [2 , mas a rec´ıproca n˜ ao vale. Se (xn , yn ) → (p, q) em [ 0, 1 ]2 ; no quadrado [ 0, 1 [2 vai convergir para: (xn , yn ) → (p, q) se p 6= 1, q 6= 1, (xn , yn ) → (0, q) se p = 1, q 6= 1, (xn , yn ) → (p, 0) se p 6= 1, q = 1, (xn , yn ) → (0, 0) se p = 1, q = 1. Estes argumentos fundamentam-se na proposi¸c˜ ao 38 (pg. 214) e no corolario 34 (pg. 461). Existem seq¨ uˆencias que convergem no quadrado [ 0, 1 [2 e n˜ ao convergem no quadrado [ 0, 1 ]2 , por exemplo a seq¨ uˆencia (xn , 0) onde xn ´e dada como no exemplo 3o ), dado anteriormente. Evidentemente que podemos construir uma curva de Peano (com a m´etrica do rel´ ogio) no cubo [ 0, 1 [n , bem como um cubo [ 0, 1 [n hiper-m´ agico.
561
Apˆ endice: Produtos cartesianos infinitos Considere uma fam´ılia enumer´ avel de espa¸cos m´etricos: (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), (M3 , d3 ), . . . , (Mi , di ), . . . o produto cartesiano M = M1 × M2 × M3 × · · · =
∞ Y
Mi ´e o conjunto de todas as
i=1
seq¨ uˆencias x = (x1 , x2 , . . . , xi , . . .) onde xi ∈ Mi para cada i ∈ N. Os pontos xi s˜ ao chamados as coordenadas do ponto x = (xi )i∈N . Para cada ´ındice i, a i−´esima proje¸c˜ ao pi : M
Mi
x = (xi ) 7−→ xi associa a cada ponto x = (xi ) do produto cartesiano M sua i−´esima coordenada. A figura a seguir ilustra esta situa¸c˜ ao para o caso de dois espa¸cos m´etricos: M2
ր
p2 (x)=x2
M1 ×M2
s
sx=(x1 , x2 )
p2
ր
p1 (x)=x1
s
p1 M1
Desejamos definir uma m´etrica no produto cartesiano M , chamada m´etrica pro∞ Y duto, da qual exigiremos a seguinte propriedade: uma aplica¸c˜ ao f : M −→ Ni ser´ a i=1
cont´ınua se, e somente se, cada uma de suas coordenadas pi ◦ f : M → Ni for cont´ınua. Inicialmente assumiremos as seguintes hip´ oteses sobre os espa¸cos m´ etricos (Mi , di ): P Existe, para cada ´ındice i, uma constante ci > 0 de modo que a s´erie ∞ e converi=1 ci ´ gente e, ademais, Q di (xi , yi ) ≤ ci , ∀ xi , yi ∈ Mi . Sendo assim, definiremos a m´etrica produto em M = ∞ i=1 Mi , pondo, para quaisquer dois pontos x = (xi ), y = (yi ) em M: ∞ X di (xi , yi ) d(x, y) = i=1
Com o aux´ılio das hip´ oteses feitas sobre os espa¸cos (Mi , di ), o leitor pode mostrar que d, como definida acima, de fato satisfaz os axiomas que definem uma m´etrica. O par (M, d) ´e chamado o espa¸co m´etrico produto dos espa¸cos (Mi , di ).
• Vamos abrir um parˆenteses aqui para particularizar o que foi feito acima para o espa¸co que nos interessa mais de perto: Consideremos o conjunto M = {0, 1} munido da m´etrica d0 (x, y) = |x − y|. Observe que d0 (x, y) = |x − y| ≤ 1. Para cada i ∈ N definiremos: di (xi , yi ) = 1i |xi − yi | 2 (ver mudan¸ca de escala, pg. 143). Sendo assim, para cada i ∈ N, di (xi , yi ) ≤ 1i . 2
562
Deste modo obtemos os seguintes espa¸cos m´etricos: |x1 −y1 | 2
(M1 , d1 ),
onde
M1 = {0, 1}
e
d1 (x1 , y1 ) =
(M2 , d2 ), .........
onde ......
M2 = {0, 1} ............
e ...
d2 (x2 , y2 ) = 2 2 2 2 .....................
(Mi , di ), .........
onde ......
Mi = {0, 1} ............
e ...
di (xi , yi ) = i i i 2 .....................
|x −y |
|x −y |
Como estas m´etricas satisfazem as hip´ oteses assumidas para os espa¸cos (Mi , di ) significa que no produto: M=
∞ Y
i=1
Mi = M1 × M2 × M3 × · · · = {0, 1} × {0, 1} × {0, 1} × · · · = {0, 1}∞
a m´etrica produto fica: d(x, y) =
∞ X
di (xi , yi ) =
i=1
∞ X |xi − yi | 2i i=1
Coincidindo, portanto, com a m´etrica “usual” deste espa¸co. •
As proje¸c˜ oes pi : (M, d) → (Mi , di ) s˜ ao contra¸c˜ oes fracas (ver pg. 328, caso finito) e, deste modo, s˜ ao aplica¸c˜ oes` cont´ ınuas. Sendo assim, se tomarmos um aberto Ai ⊂ ´ Ai resulta um subconjunto aberto no espa¸co produto Mi , sua imagem invresa p−1 i (M, d) (ver prop. 86, pg. 345). Temos (ver pg. 45): o Y ` ´ n Ai = x ∈ M = Mi : pi (x) = xi ∈ Ai p−1 i = M1 × · · · × Mi−1 × Ai × Mi+1 × Mi+2 × · · ·
o conjunto acima ´e chamado a “fatia aberta de largura Ai ”. Vamos simular uma situa¸c˜ ao destas: Suponhamos M1 = M2 = [ 0, 1 ] e consideremos os abertos i1 2h i2 h A1 = ∈ M1 ; A2 = , , 1 ∈ M2 . 3 3 3 Ent˜ ao,
¯ ` ´ ˘ A1 = x ∈ M1 × M2 : p1 (x) = x1 ∈ A1 p−1 1 n ˜ 1 2 ˆo = x = (x1 , x2 ) ∈ [ 0, 1 ] × [ 0, 1 ] : p1 (x) = x1 ∈ , 3 3 ˜1 2ˆ × [ 0, 1 ]. = , 3 3 ` ´ ˜ ˆ De modo similar obtemos p−1 A2 = [ 0, 1 ]× 23 , 1 . No gr´ afico estas fatias abertas 2 ficam assim: 1 p−1 (A2 ) 2
M1 ×M2
0
p−1 (A1 ) 1
1
563
Tomando A1 ⊂ M1 , A2 ⊂ M2 , . . . , An ⊂ Mn abertos nos respectivos fatores, o conjunto ` ´ ` ´ ` ´ A = p−1 A1 ∩ p−1 A2 ∩ · · · ∩ p−1 An n 2 1 Y Mi = A1 × A2 × · · · × An × i>n
´e aberto no espa¸co produto (M, d) por ser a interse¸c˜ ao de um n´ umero finito de abertos. Os conjuntos A do tipo acima s˜ a o chamados abertos b´ a sicos do produto cartesiano Q M = Mi . Vejamos agora uma importante propriedade dos abertos b´ asicos: ∞ Y
Proposi¸ c˜ ao 146. Todo subconjunto aberto A ⊂
Mi pode ser escrito como uma
i=1
reuni˜ ao de abertos b´ asicos.
Prova: Sendo A aberto, por hip´ otese, para todo P x = (x1 , x2 , . . . , xi , . . .) ∈ A existe r > 0 de modo que B(x; r) ⊂ A. Como a s´erie ent˜ ao, pelo crit´erio X ci ´e convergente r de Cauchy, existe uma ordem n0 tal que ci < . Para cada i = 1, 2, . . . n0 , 2 i>n 0
fa¸camos Ai = B(xi ; r/2n0 ) a bola de centro xi e raio r/2n0 . Vamos mostrar agora que o aberto b´ asico Y Mi Ax = A1 × A2 × · · · × An0 × i>n0
= B(x1 ; r/2n0 ) × B(x2 ; r/2n0 ) × · · · × B(xn ; r/2n0 ) × 0
Y
Mi
i>n0
est´ a contido em B(x; r) e portanto em A. De fato, seja r r , . . . , dn0 (xn0 , xn0 ) < 2n0 2n0 X X r r ⇒ d(x, y) = di (xi , yi ) + di (xi , yi ) < + = r, 2 2 i>n i≤n
y = (yi ) ∈ Ax ⇒ d1 (x1 , y1 ) <
0
0
porquanto,
X
i>n0
di (xi , yi ) ≤
X
ci <
i>n0
r . 2
Sendo assim, para cada x ∈ A, temos asico Ax tal que x ∈ Ax ⊂ A. Logo [um aberto b´ Ax . (prop. 13, pg. 52), temos que A = x∈A
Corol´ ario 49. As proje¸c˜ oes pi : M → Mi s˜ ao aplica¸c˜ oes abertas do produto M = Q Mi . Q Prova: Seja A = A1 × A2 × · · · × An × i>n Mi um aberto b´ asico, ent˜ ao ( Ai , se i ≤ n; pi (A) = Mi , se i > n. Portanto pi (A) ´e aberto em (Mi , di ). Dado um aberto qualquer A ⊂ M , temos A = ∪Ax , reuni˜ ao de abertos b´ asicos. Logo, `[ ´ [ pi (Ax ) Ax = pi (A) = pi x
x
´e uma reuni˜ ao de abertos, por conseguinte, resulta um aberto em (Mi , di ).
564
Na prova da pr´ oxima proposi¸c˜ ao faremos uso da seguinte identidade entre imagens inversas: Consideremos as `seguintes oes: f : A → B e g : B → C. Se ´ aplica¸c˜ Z ⊂ C, ent˜ ao (g ◦ f )−1 (Z) = f −1 g −1 (Z) . C
B
A
rx
r f (x)
f
g
r
g(f (x))
g −1 (Z)
ր
Z
f −1 (g −1 (Z)) g◦f
Provemos esta identidade, assim: ` ´ ` ´ x ∈ f −1 g −1 (Z) ⇔ f (x) ∈ g −1 (Z) ⇔ g f (x) ∈ Z ` ´ ⇔ g ◦ f (x) ∈ Z ⇔ x ∈ (g ◦ f )−1 (Z). Q Proposi¸ c˜ ao 147. Uma aplica¸c˜ ao f : N → ∞ e cont´ınua se, e somente se, cada i=1 Mi ´ uma de suas coordenadas fi = pi ◦ f : N → Mi ´e cont´ınua. Prova: (⇒) Se f ´e cont´ınua, ent˜ ao para todo ´ındice i, fi = pi ◦ f ´e cont´ınua por ser composta de aplica¸c˜ oes cont´ınuas. Q (⇐) Suponhamos agora cada f`i cont´ ınua.` Seja A = A1 × `A2 ×´ · · · × An × i>n Mi ´ ´ um aberto b´ asico, ent˜ ao A = p−1 A1 ∩ p−1 A2 ∩ · · · ∩ p−1 An , sendo assim n 1 2 “ ” ` ´ ` ´ ` ´ ` ´ f −1 A = f −1 p−1 An A2 ∩ · · · ∩ p−1 A1 ∩ p−1 n 2 1 ` ´ ` ´ ` ´ = f −1 p−1 (A1 ) ∩ f −1 p−1 (A2 ) ∩ · · · ∩ f −1 p−1 (An ) n 1 2 ` ´−1 ` ´−1 ` ´−1 = p1 ◦ f (A1 ) ∩ p2 ◦ f (A2 ) ∩ · · · ∩ pn ◦ f (An ) = f1−1 (A1 ) ∩ f2−1 (A2 ) ∩ · · · ∩ fn−1 (An )
` ´ Pela prop. 86 (pg. 345) cada fi−1 (Ai ) ´e um aberto, portanto f −1 A ´e aberto em N ao de abertos. Pela prop. 146, dado um aberto A arbitr´ ario em Q, por ser intersec¸c˜ M`i , ´este pode ser escrito como reuni˜ a o de abertos b´ a sicos: A = ∪A . Portanto x ´ ` ´ ` ao de abertos ´e aberto; f −1 A = f −1 ∪ Ax = ∪x f −1 (Ax ); f −1 A sendo uma reuni˜ logo, pela mesma prop. 86 concluimos que f ´e cont´ınua.
Demonstraremos um importante corol´ ario da proposi¸c˜ ao anterior, mas antes necessitaremos de um lema. ¯ ˘ Consideremos o subconjunto N = 0, 1, 21 , . . . , n1 , . . . ⊂ R e o subespa¸co (N, µ). Dada uma seq¨ uˆencia (xn ) em um espa¸co `m´e´trico (M, d), e um ponto a ∈ M , definiremos uma aplica¸c˜ ao f : N → M , assim: f n1 = xn e f (0) = a.
s
(N, µ) 1
1 2 1 3 1 n
0
s s
(M, d)
s x1 s x2 s x3
f
sxn =f ( n1 )
.. . s .. .
.. . .. .
sa=f (0)
s 565
Lema 7. f : N → M ´e cont´ınua se, e somente se, lim xn = a. n
Prova: (⇒) Suponhamos f cont´ınua e mostremos que lim xn = a. De fato, f sendo n ` ´ ` ´ cont´ınua em 0 implica que para toda bola centrada em f (0): B f (0); ε = B a; ε , existe um δ > 0 de modo que: ` ´ x ∈ B(0; δ) ⇒ f (x) ∈ B a; ε ˛1 ˛ ` ´ ` ´ ˛ − 0˛ < δ ⇒ f 1 = xn ∈ B a; ε n n ` ´ 1 ⇒ xn ∈ B a; ε . n> δ
Isto significa que se escolhermos um ´ındice n0 > 1/δ, todos os termos da seq¨ uˆencia com ´ındices superiores a este caem dentro da bola de centro a e raio ε, isto garante que lim xn = a. n
(⇐) Suponhamos que lim xn = a e mostremos que f ´e cont´ınua. Com efeito, ´e sufin
ciente mostrar que f ´e cont´ınua em 0 uma vez que todos os outros pontos de N s˜ ao isolados. Para ` mostar ´ que `f ´e cont´ ´ ınua em 0 centremos em f (0) uma bola de raio ε arbitr´ ario: B f (0); ε = B a; ε . Como lim xn = a existe um ´ındice n0 de modo que: n
Pondo δ =
1 n0
, resulta
` ´ ∀n ≥ n0 ⇒ xn ∈ B a; ε .
` ´ 1 1 < δ ⇒ n > = n0 ⇒ xn ∈ B a; ε . n δ
Isto prova que f ´e cont´ınua em 0.
Corol´ ario 50. Uma seq¨ uˆencia (xn ) no produto M =
∞ Y
Mi converge para o limi-
i=1
te a = (a1 , a2 , . . . , ai , . . .) ∈ M se, e somente se, para cada i ∈ N, a seq¨ uˆencia (x1i , x2i , . . . , xni , . . .) = (xni )n∈N , converge em Mi para o limite ai . Ou ainda, lim xn = a ⇐⇒
n→∞
lim xni = ai , ∀ i ∈ N.
n→∞
Prova: (⇒) Se lim xn = a, ent˜ ao lim xni = ai , ∀ i ∈ N. n
n
Inicialmente observe que uma seq¨ uˆencia (xn ) em M se escreve assim: x1 = x11 x12 x13 . . . x1i . . . x2 = x21 x22 x23 . . . x2i . . . x3 = x31 x32 x33 . . . x3i . . . ........................... xn = xn1 xn2 xn3 . . . xni . . . ........................... ˘ ¯ Considerando, como no lema 7, N = 0, 1, 21 , . . . , n1 , . . . vamos definir a seguinte aplica¸c˜ ao: 8 ` ´
566
Observe que as fun¸c˜ oes coordenadas fi = pi ◦ f : N → Mi de f s˜ ao dadas por “1” ` “ ` 1 ´” ´“ 1 ” fi = pi ◦ f = pi f = pi (xn ) = xni n n n ` ´ ` ´ fi (0) = pi ◦ f (0) = pi f (0) = pi (a) = ai .
Pois bem, pelo lema 7 se lim xn = a ent˜ ao f ´e cont´ınua e, pela prop. 147, cada fi ´e n
cont´ınua, sendo assim, novamente pelo lema 7 temos que lim xni = ai . n
(⇐) Se lim xni = ai , ent˜ ao lim xn = a. n
n
De fato, se lim xni = ai , ent˜ ao pelo lema 7 cada fi = pi ◦ f : N → Mi ´e cont´ınua n Q logo, pela prop. 147 tem-se que f : N −→ M = Mi resulta cont´ınua, portanto − novamente pelo lema 7 − lim xn = a. n
O diagrama seguinte pode ser u ´til para eventuais esclarecimentos: (xni )n∈N
f (1) −→ ) −→ f( 1 2 f( 1 ) −→ 3
1 ) −→ f( n
l
x1 = x11 x12 x13 . . . x1i . . . x2 = x21 x22 x23 . . . x2i . . . x3 = x31 x32 x33 . . . x3i . . . ........................... xn = xn1 xn2 xn3 . . . xni←− ... ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ a = ( a1 a2 a3 . . . ai . . .)
1) fi ( n
Proposi¸ c˜ ao 148. (Teorema de Cantor-Tychonov) ! ∞ Y Mi , d ´e compacto se, e somente se, cada espa¸co fator O espa¸co (M, d) = i=1
(Mi , di ) (i = 1, 2, 3, . . .) ´e compacto.
Prova: (⇒) Se (M, d) ´e compacto, ent˜ ao (Mi , di ) ´e compacto. ` ´ uˆencia arbitr´ aria em Mi , assim: De fato, seja xni n ∈ N uma seq¨ i = 1 : x11 x21 x31 . . . xn1 . . . ∈ M1
i = 2 : x12 x22 x32 . . . xn2 . . . ∈ M2 i = 3 : x13 x23 x33 . . . xn3 . . . ∈ M3
................................. ` ´ uˆencia convergente. Com efeito, tomando Mostremos que xni n ∈ N possui uma subseq¨ a transposta da matriz anterior, obtemos: (xn1 ) ∈ M1
...
(xni ) ∈ Mi
l
l
x1 = x11 x12 x13 . . . x1i . . . x2 = x21 x22 x23 . . . x2i . . . x3 = x31 x32 x33 . . . x3i . . . ........................... xn = xn1 xn2 xn3 . . . xni . . . ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ a = ( a1 a2 a3 . . . ai . . .)
567
Obtemos uma seq¨ uˆencia (xn )n∈N em M e, como este ´e compacto, esta seq¨ uˆencia possui uma subseq¨ uˆencia (xn )n∈N1 convergindo para um ponto a = (a1 , . . . , ai , . . .) ∈ M . Pelo corol´ ario 50, temos que (xni )n∈N1 converge em Mi para o limite ai . (⇐) Se (Mi , di ) ´e compacto, ent˜ ao (M, d) ´e compacto.
Pela proposi¸c˜ ao 135 (pg. 516) ´e suficiente provar que dada uma seq¨ uˆencia arbitr´ aria (xn ) em M , esta possui uma subseq¨ uˆencia convergente para um ponto a ∈ M . Inicialmente obseve que (xn ) pode ser escrita na seguinte disposi¸c˜ ao matricial: (xn1 ) ∈ M1 . . . (xni ) ∈ Mi l
l
x1 = x11 x12 x13 . . . x1i . . . x2 = x21 x22 x23 . . . x2i . . . x3 = x31 x32 x33 . . . x3i . . . ........................... xn = xn1 xn2 xn3 . . . xni . . . ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ a = ( a1 a2 a3 . . . ai . . .) A estrat´egia da prova ser´ a a seguinte: obteremos um subconjunto infinito N∗ ⊂ N ao fazemos a = (a1 , a2 , . . . , ai , . . .) ∈ tal que existe lim∗ xni = ai ∈ Mi (i = 1, 2, 3, . . .). Ent˜ n∈N
M e teremos, pelo corol´ ario 50, lim∗ xn = a ∈ M . n∈N
De fato, sendo M1 compacto, a seq¨ uˆencia (x11 , x21 , x31 , . . . , xn1 , . . .) em M1 possui uma subseq¨ uˆencia convergente. Logo, existem N1 ⊂ N infinito e a1 ∈ M1 tais que lim xn1 = a1 .
n∈N1
Observe que no diagrama anterior n˜ ao temos a seq¨ uˆencia (xn1 )n∈N convergindo para a1 , mas sim uma sua subseq¨ uˆencia: (xn1 )n∈N . 1 Pois bem, sendo M2 compacto, a seq¨ uˆencia (xn2 )n∈N em M2 possui uma sub1 seq¨ uˆencia convergente. Logo, existem N2 ⊂ N1 infinito e a2 ∈ M2 tais que lim xn2 = n∈N2
a2 . Prosseguindo deste modo, obtemos uma seq¨ uˆencia de conjuntos infinitos: N ⊃ N1 ⊃ N2 ⊃ N3 ⊃ · · · ⊃ Ni ⊃ · · ·
(10.6)
e um ponto a = (a1 , a2 , . . . , ai , . . .) ∈ M , com lim xni = ai (i = 1, 2, 3, . . .). n∈Ni
Observe que quando definimos subseq¨ uˆencia (ver pg. 198) exigimos uma “ordena¸c˜ ao” no conjunto de ´ındices, como por exemplo: N1 = {n1 < n2 < n3 < . . .}. Vamos construir o conjunto N∗ assim: Tomamos emprestado de N1 o seu primeiro ´ındice n1 : N∗ = { n1 . . .}. Como N2 ´e infinito existe um ´ındice n2 ∈ N2 tal que n2 > n1 ; tomemos emprestado de N2 este ´ındice: N∗ = { n1 < n2 . . .}. Como N3 ´e infinito existe um ´ındice n3 ∈ N3 tal que n3 > n2 ; tomemos emprestado de N3 este ´ındice: N∗ = { n1 < n2 < n3 . . .}. E assim prosseguimos tomando emprestado ni ∈ Ni tal que: ˘ ¯ N∗ = n1 < n2 < n3 < · · · < ni−1 < ni < · · · Tendo em conta a cadeia de inclus˜ oes (10.6), obtemos ˘ ¯ n1 < n2 < n3 < · · · < ni−1 < ni < · · · ⊂ N1 ˘ ¯ n2 < n3 < n4 < · · · < ni−1 < ni < · · · ⊂ N2 ˘ ¯ n3 < n4 < n5 < · · · < ni−1 < ni < · · · ⊂ N3 .............................................
568
` ´ Sendo assim, para cada ´ındice i, a seq¨ uˆencia xni n ∈ N∗ ´e, a partir do seu i-´esimo ` ´ elemento, uma subseq¨ uˆencia da subseq¨ uˆencia xni n ∈ N e, portanto, converge para o i mesmo limite ai ∈ Mi , isto ´e, lim∗ xni = ai , e isto completa a prova. n∈N
` ´ Corol´ ario 51. O espa¸co { 0, 1 }∞ , ν ´e compacto. ` ´ Apˆ endice B: B′ , ν ´e compacto e denso (pg. 540) Consideremos o subconjunto B′ ⊂ B, onde
(xn ) ∈ B′ ⇐⇒ suas subseq¨ uˆencias de ´ındices ´ımpares e pares pertencem a B. ` ´ Lema 8 (Gentil/03.05.05). O subespa¸co B′ , ν ´e compacto. ` ´ Prova: Vamos mostrar inicialmente que B′ , ν ´e fechado. Mostraremos que ¯ ′ ⊂ B′ . De fato, Considere p ∈ B ¯ ′ e tal que p 6∈ B′ . Ent˜ B ao existe um ´ındice k de modo que p tem, em sua subseq¨ uˆencia de ´ındices ´ımpares (ou pares- vamos supor ´ımpares), todos os termos iguais a 1 a partir de 2k − 1, assim ( p1 , p3 , p5 , . . . , p2k−1 , 1, 1, 1, . . .) 6∈ B
p = ( p1 , p2 , p3 , . . . , pn , . . .) ( p2 , p4 , p6 , . . . , p2n , . . .) ¯ ′ existe uma seq¨ Como p ∈ B uˆencia (xn ) de pontos de B′ de modo que lim xn = p. Observe que os termos de (xn ) s˜ ao da forma: x1 = (x11 , x12 , x13 , . . . , x1i , . . .) x2 = (x21 , x22 , x23 , . . . , x2i , . . .) x3 = (x31 , x32 , x33 , . . . , x3i , . . .) ................................. xn = (xn1 , xn2 , xn3 , . . . , xni , . . .) .................................... Como xn ∈ B′ existem ´ındices i, arbitrariamente grandes, onde vamos encontrar um 0 na posi¸c˜ ao 2i − 1 de xn , assim ( xn1 , . . . , xn(2i−3) , 0, xn(2i+1) , . . .) ` ´ xn = xn1 , xn2 , . . . , xn(2i−2) , 0, xn(2i) , . . .
( xn2 , xn4 , . . . , xn(2i−2) , . . .)
Escolhamos um ´ındice i de modo que 2i − 1 > 2k − 1. Tomando ε > 2i − 1, teremos 1 < 22i−1 . Como lim xn = p, significa que existe um ´ındice n0 , a partir do qual se 1 . Isto significa que xn deve coincidir com p at´e a posi¸c˜ ao verifica ν(xn , p) < 21ε < 22i−1 2i − 1 (no m´ınimo) o que ´e absurdo. Sendo assim, B′ resulta fechado. Por outro lado o conjunto {0, 1}N = {0, 1} × {0, 1} × {0, 1} × · · · ` ´ ´e compacto. Sendo assim, B′ , ν resulta compacto, por ser um subconjunto fechado de um compacto. 1 2ε
Podemos mostrar tamb´em que B′ ´e denso em B. De fato, seja ε > 0 e a ∈ B dados. Devemos mostrar que existe p ∈ B′ de modo que ν(p, a) < ε. Pois bem, escolhamos j tal que 1j < ε e tomemos pn = an para n = 1, 2, . . . , j; fa¸camos pn = 0 para n ≥ j +1. 2 Sendo assim p ∈ B′ e ν(p, a) ≤ 1j < ε. 2
569
570
Referˆencias Bibliogr´aficas
[1] White, A.J. An´ alise real: uma introdu¸c˜ ao. Tradu¸c˜ ao de Elza F. Gomide. S. Paulo ¨ - SP: EDGAR BLUCHER, 1993. [2] Figueiredo, Djairo Guedes de, An´ alise I. 2a ed. Rio de Janeiro: LTC - Livros T´ecnicos e Cient´ıficos,1996 . [3] Kuelkamp, Nilo. Introdu¸c˜ ao ` a Topologia Geral. Florian´ opolis: Ed. da UFSC, 1988. [4] Domingues, Higino Hugueros. Espa¸cos M´etricos e Introdu¸c˜ ao ` a Topologia. S˜ ao Paulo: Atual, 1982. [5] Lima, Elon Lages. Espa¸cos M´etricos. Rio de Janeiro:IMPA - CNPq,1993. [6] Silva, Gentil Lopes. Novas Seq¨ uˆencias Aritm´eticas e Geom´etricas. Bras´ılia - DF: THESAURUS EDITORA, 2000. [7] Silva, Gentil Lopes. O Mito das Ambig¨ uidades nas Representa¸c˜ oes Decimais, CBPF-NF-001/06. [8] Silva, Gentil Lopes. Uma sugest˜ ao para o tratamento das dimens˜ oes na Teoria das Supercordas, CBPF-NF-002/06. [9] Eisberg, Robert/Resnick, Robert. F´ısica quˆ antica. 11a ´ [10] Hefez, Abramo. Curso de Algebra, Volume 1. Rio de Janeiro: IMPA - CNPq, 1993. [11] Guidorizzi, Hamilton Luiz, C´ alculo, Volumes 1 − 4. Rio de Janeiro: LTC - Livros T´ecnicos e Cient´ıficos, 2001. [12] Silva, Gentil Lopes. Os N´ umeros azuis (www.dmat.ufrr.br/∼ gentil) [13] Silva, Gentil Lopes.Topologia quˆ antica (Einstein×Tagore)(www.dmat.ufrr.br/∼ gentil) [14] Pessoa Junior, Osvaldo (Org.)- Fundamentos da F´ısica (Simp´ osio David Bohm). S˜ ao Paulo: Editora Livraria da F´ısica, 2001. [15] Carmo, Manfredo Perdig˜ ao do, et alii, Trigonometria/N´ umeros complexos. Rio de Janeiro − IMPA/VITAE, 1992.
571
GENTIL LOPES DA SILVA Gentil Lopes da Silva (1960 − ?) nasceu em Boa Vista-RR em 24.05.1960. (Neo-) ayahuasqueiro e pai de quatro filhos: Agnus, Aline, Ananda e Aar˜ ao. At´e 1979/1 (ano de conclus˜ ao do 2o Grau/atual ensino m´edio) o autor, n˜ ao sendo exce¸c˜ ao ` a regra, possuia avers˜ ao pela Matem´ atica; tendo sido reprovado em dois anos asico − aqui aquelas famosas express˜ oes alg´ebricas: “de dentro escolares (6a s´erie e b´ para fora: primeiro parentesis, depois colchetes e, por u ´ltimo, chaves” que tortura!...). Em 1979, ap´ os ter deixado incompleto um curso por correspondˆencia em eletrˆ onica (Instituto Universal Brasileiro), partiu, com “toda” esta bagagem, para Bel´em-Pa com o intuito de cursar Enga El´etrica. Ap´ os um semestre (79/2) de estudos ininterruptos (o autor morava em uma rep´ ublica de estudantes e sobrevivia com uma bolsa da SEC do seu estado...“sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior...”) o autor foi reprovado no vestibular de jan./80, sendo que nas provas de F´ısica e Matem´ atica (60 quest˜ oes cada uma) fez 7 e 8 quest˜ oes, respectivamente (com “chute e tudo”). Acontece que o autor sempre acreditou no velho ad´ agio popular que diz: ´ “Agua molhe, pedra dura, tanto bate ate que fura” Uma li¸c˜ ao ficou do malogro no vestibular: Precisava rever toda a ´ algebra elementar ´ (aproximadamente a matem´ atica de 5a a 8a s´eries). Cruzou com um livro “Algebra elementar” (de Barnett Rich) − Cole¸c˜ ao Schaum − estudou este livro com afinco por trˆes meses ininterruptos, ap´ os o que, n˜ ao mais sentiu dificuldades quanto ` a Matem´ atica e F´ısica secund´ arias. Em fun¸c˜ ao disto, sempre que solicitado, sugere a seus alunos que adquiram um forte fundamento de: fra¸c˜ oes, potˆencia¸c˜ ao, radicia¸c˜ ao, polinˆ omios,. . . e por a´ı vai. Nota: Hoje, chego ` a conclus˜ ao de que a parte “algoritmica” (mecˆ anica) − ou ainda: c´ alculos, contas − embora essencial (pr´e-requisito) n˜ ao chega a ser matem´ atica. Matem´ atica ´e l´ ogica, ´e criatividade. Estou tentando contribuir no sentido de se entender (justificar) por que embora um indiv´ıduo n˜ ao seja um “ex´ımio calculista” mesmo assim pode ter ˆexito na matem´ atica (l´ ogica). ⊙
⊙
⊙
O autor ´e graduado em Engenharia El´etrica/Eletrˆ onica pela Universidade Federal do Par´ a e Mestre em Matem´ atica pela Universidade Federal de Santa Catarina. Ensinou nas seguintes institui¸c˜ oes: ( i ) Universidade Federal de Roraima; ( ii ) Centro de Educa¸c˜ ao Tecnol´ ogica do Paran´ a (CEFET-Pr); (iii) Universidade Federal de Santa Catarina; (iv) Faculdades Integradas do Planalto Central (FIPLAC- Bras´ılia-D.F.); (v) Universidade Federal de Roraima (Novamente/atual). Tamb´em trabalhou como engenheiro de telecomunica¸c˜ oes do Sistema Telebr´ as. www.dmat.ufrr.br/∼gentil [email protected]
572
´Indice Remissivo
Algoritmo bin´ ario, 295 Axioma do Supremo, 65 Bola aberta, 159 em subespa¸cos, 172 no espa¸co produto, 176 proposi¸c˜ oes, 178 C´ odigo ASCII, 108 Caminho em espa¸cos m´etricos, 407 Cobertura, 501 Compacidade, 504 Completamento, 477 Conjunto, 575 convexo, 410 de Cantor, 436 limitado, 124 totalmente limitado, 514 aberto, 254 num subespa¸co, 260 fechado, 268 Continuidade, 303 Continuidade uniforme, 354 Contra¸c˜ ao, 325 Convergˆencia, 199 Cota Superior, 58 Inferior, 58 Cubo hiper-m´ agico, 555 Densidade, 66, 282 Descontinuidade, 304 Desigualdade, 575 de Cauchy-Schwarz, 76, 132 triangular, 55, 87 Diˆ ametro, 125 Distˆ ancia, 575 de Hamming, 110 entre dois conjuntos, 122 entre dois pontos, 86 entre ponto e conjunto, 118
Equivalˆencia L´ ogica, 20 Equivalencias Not´ aveis, 21 Espa¸co, 575 conexo por caminho, 409 de Banach, 464 de Hilbert, 466 desconexo, 395 discreto, 193 m´etrico, 86 m´etrico completo, 454 Fam´ılias Indexadas, 49 Fenˆ omenos n˜ ao-locais, 439 Fun¸c˜ ao, 575 aberta, 351 de Lipschitz, 326 de Urysohn, 343 limitada, 104 Fun¸c˜ oes Proposicionais, 29 Homeomorfismo, 360 Imagem Direta, 43 Imagem Inversa, 45 Imers˜ ao isom´etrica, 319 Implica¸c˜ ao L´ ogica, 18 Importˆ ancia da densidade, 283 Infimo, 62 Isometria, 322 Limites em espa¸cos m´etricos, 386 M´etrica Divina/quˆ antica, 89 M´etrica zero-um, 88 N´ umero de Lebesgue, 525 Nega¸c˜ ao de senten¸cas quantificadas, 30 Norma, 72 Opera¸c˜ oes Generalizadas, 50 Opera¸c˜ oes L´ ogicas, 18
573
Parti¸c˜ ao dos naturais, 198 Ponto, 575 aderente, 270 de acumula¸c˜ ao, 285 fixo, 401 fronteira, 261 interior, 251 Isolado, 186 Produto interno, 75 Proje¸c˜ ao i-´esima, 328 Proposi¸c˜ ao, 17 Propriedade Arquimediana, 65 Propriedades topol´ ogicas, 362 Quadrado hiper-m´ agico, 547 Quantificadores, 29 Representa¸c˜ oes bin´ arias, 295 tern´ arias, 296 Rota¸c˜ ao, 322 Seq¨ uˆencia, 195 Seq¨ uˆencias em espa¸cos vetoriais normados, 243 limitadas, 213 num espa¸co produto, 214 Seq¨ uˆencias de Cauchy, 447 Subespa¸cos, 145 Subseq¨ uˆencia, 198 Supercordas, 438 Supremo, 59 Teorema, 575 de Heine-Borel, 505 do Ponto Fixo de Banach, 496 Topologia quˆ antica, 298, 438 Unicidade do limite, 211
574
Matem´ atica & Arte “. . . da
matem´ atica que
“. . . que n−1
´ e eterna, porque suas melhores manifesta¸ co ˜es podem, como
as
melhores
anm = (−1)
(2m−1 )
do esp´ırito pela via de uma diversa
mani-
experimenta¸ ca ˜o de car´ ater abs-
festa¸ co ˜es da literatura, con-
trato, especulativo, resultante das
tinuar causando uma intensa satisfa¸ ca ˜o emocional a mil-
o meu pensamento
quis aproximar-se dos problemas
anm = (−1)
—
n−1 m−1 2
hares de pessoas, milhares de
conclus˜ oes de processos l´ ogicos da mais moderna f´ısico-matem´ atica.” (Pietro Ubaldi)
anos depois.” (G.H. Hardy)
A matem´ atica quando alcan¸ca um determinado n´ıvel confunde-se com a Arte. Da mesma forma que um apreciador das artes experimenta um certo enlevo ao contemplar um quadro − ou ouvi uma can¸c˜ ao − de igual modo um matem´ atico compartilha deste mesmo sentimento ao contemplar um belo teorema matem´ atico. Penso que uma raz˜ ao apenas ´e suficiente para justificar o aprendizado da matem´ atica, em um n´ıvel mais avan¸cado: sua beleza intr´ınseca. Um belo teorema matem´ atico situa-se no mesmo n´ıvel de uma bela obra de arte. Assim como n˜ ao tem sentido chegar-se em frente a uma obra de arte e perguntar para o que ela serve, t˜ ao pouco faz sentido indagar para o que serve a matem´ atica − neste n´ıvel bem entendido. Um outro s´ımile: n˜ ao se pergunta a um compositor para o que serve a sua m´ usica. Aos utilitaristas, diremos que a matem´ atica serve para o arroubo (ˆextase) espiritualintelectual de quantos a cultivam seriamente. Frente a esta utilidade as demais empalidecem, caem para um segundo ou terceiro plano. Da mesma forma que um m´ usico necessita de anos e anos de treinamento para o atico desenvolvimento (aperfei¸coamento) de sua sensibilidade, com o aspirante a matem´ n˜ ao ´e diferente. Por oportuno, ouso afirmar: o que se est´ a a praticar “por a´ı ” n˜ ao chega a ser matem´ atica, apenas calculeira; o esp´ırito da matem´ atica fica de fora; trabalha-se apenas em cima de seu cad´ aver. Com estes argumentos pretendemos responder ` a freq¨ uente pergunta: para o que ´ isto, como se n˜ serve a matem´ atica? E ao bastasse as in´ umeras aplica¸c˜ oes no plano da mat´eria (basta olhar ` a sua volta), agora estamos patenteando as aplica¸c˜ oes no plano do Esp´ırito. Acreditamos que neste est´ agio (universit´ ario) de aprendizado o aluno deva desenvolver a sensibilidade para contemplar a beleza-arte da matem´ atica. Colocar poss´ıveis aplica¸c˜ oes como condi¸c˜ ao para o aprendizado seria como prostituir a matem´ atica/arte. Numa obra did´ atica lemos: “A preferˆencia de Plat˜ ao pelos aspectos mais te´ oricos e conceituais o fazia estabelecer uma clara diferencia¸c˜ ao entre a ciˆencia dos n´ umeros, que chamava aritm´etica, e a arte de calcular, que chamava log´ıstica, a qual desprezava por ser ‘infantil e vulgar’. ” “A abstra¸ca˜o desobstrui o esp´ırito, o torna mais leve e dinˆ amico.” (Gaston Bachelard)
“Quando o esp´ırito se apresenta a` cultura cient´ıfica, nunca ´ e jovem. Ali´ as ´ e bem velho, porque tem a idade de seus preconceitos. Aceder a ` ciˆ encia ´ e rejuvenescer espiritualmente, ´ e aceitar uma brusca muta¸ca ˜o que contradiz o passado.” (Gaston Bachelard)
575