´ ESPAC ¸ OS METRICOS (com aplica¸c˜ oes) Gentil, o taumaturgo
1a edi¸c˜ao
Boa Vista-RR Edi¸c˜ao do autor 2013
Pref´ acio Via de regra o que se faz em um pref´acio ´e discorrer sobre o conte´ udo da obra. Nos dispensamos deste of´ıcio em raz˜ ao de que o leitor, se assim o desejar, pode apreciar o conte´ udo deste livro a partir do (extenso) sum´ario, dado logo a seguir. Aproveito esta oportunidade para alguns esclarecimentos a respeito da obra em si. Iniciei a escrita deste livro h´ a doze anos atr´ as, com v´arias interrup¸c˜oes. ´ um livro escrito a “uma m˜ E aos”, sem nenhum apoio, inclusive institucional. Para um autor dos “grandes centros” n˜ ao ´e dif´ıcil encontrar motiva¸c˜ao para escrever uma obra uma vez que ele, de antem˜ ao, j´a tem a certeza de que ser´ a publicada. J´ a para um autor de “periferia”, como ´e o meu caso, a teimosia ´e imprescind´ıvel. Com efeito, fiz duas tentativas anteriores para publica¸c˜ao deste livro, a primeira na pr´ opria editora de minha universidade (ufrr); ap´ os um tempo consider´avel de espera o diretor me informou que a editora ainda estava tentando captar recursos externos. Numa segunda tentativa o submeti `a editora da unb. Aproximadamente um ano depois recebi uma carta com o parecer de um referee (´arbitro). O livro n˜ ao foi aceito para publica¸c˜ao. Trˆes foram as acusa¸c˜oes principais contra a minha obra: (i) Muito volumosa (espessa). O ´arbitro argumentou que eu poderia transmitir o mesmo conte´ udo na metade do volume; (ii) um numero excessivo de figuras; (iii) nas pr´ oprias palavras do referee: “Em diversos pontos do texto o autor mistura aspectos de seu pr´ oprio entendimento filos´ ofico e religioso com a mat´eria espec´ıfica deste t´ opico da matem´ atica.” Pois bem, vou me permitir alguns coment´arios a respeito das duas tentativas malogradas. Come¸cando pela primeira: posteriormente descobri que para mim ´e muito mais f´acil “captar recursos externos ”, para publicar um livro, do que para a editora de uma universidade. Com efeito, basta eu me dirigir ao caixa eletrˆ onico do meu Banco e passar meu cart˜ ao: pronto!, o recurso externo cai direto em minhas m˜ aos. De sorte que este j´a ´e o quarto livro que publico − tomando dinheiro emprestado no Banco, reitero (consigna¸ca ˜o em folha). Quanto aos argumentos do referee, observo que: escrever um livro fino n˜ ao seria dif´ıcil, agora se resultaria em um livro did´ atico a´ı ´e uma outra est´ oria. N˜ao ´e o que se observa em rela¸c˜ao aos que se encontram no mercado, inclusive livros com poucas ou nenhuma figura − via de regra, livros que desestimulam os estudantes. O que me parece ´e que uma grande parte de autores (e editoras) ainda n˜ ao se deu conta de que o p´ ublico para o qual eles escrevem n˜ ao existe mais − em decorrˆencia do lastim´ avel estado em que se encontra a educa¸c˜ ao brasileira, estamos falando de qualidade. Muitos alunos, como se sabe, adentram `as universidades com deficiˆencia at´e na matem´ atica do ensino fundamental. Como ensinar a estes alunos a 3
matem´ atica abstrata das disciplinas do final da gradua¸c˜ao? Aqui ´e onde situo a utilidade das figuras; de sorte que nesta nova vers˜ ao do livro decidir continuar cometendo os mesmos dois primeiros pecados assinalados pelo referee; quanto ao terceiro, achei que ele, em parte, tinha raz˜ ao, assim ´e que eliminei as referˆencias religiosas e mantive da filosofia apenas o necess´ario. Mudando de assunto, meu primeiro livro sobre matem´ atica ([6]) foi publicado no ano 2000 − tamb´em `as minhas expensas −, alguns anos depois esse livro chega ` as m˜ aos de um renomado matem´ atico brasileiro (Prof. Ubiratan D’Ambr´ osio) que tece − de livre e espontˆ anea vontade, isto ´e, sem que eu tenha solicitado − coment´arios elogiosos ao mesmo. Tomei a liberdade de reproduzir aqui o email do professor Ubiratan por duas raz˜ oes principais. Primeiro porque n˜ ao creio que eu tenha piorado, como autor, nestes doze anos decorridos; segundo, porque creio que muito do que ele fala a respeito daquele livro se aplica ao presente. Ei-lo: From: Ubiratan D, Ambr´ osio
To: Gentil Lopes da Silva Sent: Saturday, November 06, 2004 10:46 AM Subject: Obrigado pelo livro Caro Gentil Muito obrigado pelo livro que vocˆe mandou pelo Chateau. Est´a muito bom, interessante e cheio de provoca¸c˜oes. D´a oportunidade para os estudantes se iniciarem em pesquisas. Vocˆe fala que o livro destina-se a alunos de 2o e 3o graus. Eu diria que ´e tamb´em para a p´ os. Aritm´etica continua sendo grande fonte de problemas de pesquisa que podem ser trabalhados com relativamente pouco da complicada linguagem, nota¸c˜oes e resultados que caracterizam muitas ´areas da matem´ atica. S˜ ao formula¸c˜oes simples que podem ser trabalhados com pouca t´ecnica, exigindo imagina¸c˜ao e criatividade. Vou recomendar aos meus alunos. Mas tive um problema. Nos sites das livrarias, o livro n˜ ao existe. E nem est´ a no site da Thesaurus. Recomendar um livro implica dizer como adquirir. O que vocˆe diz? Siga em frente com suas id´eias. As suas reflex˜oes iniciais, a sua escolha de ep´ıgrafes, e a pr´ opria capa, s˜ ao uma grande contribui¸c˜ao para um novo pensar na urgente renova¸c˜ ao da educa¸c˜ ao em todos os n´ıveis. A sua trajet´oria desde seus estudos, lecionando em condi¸c˜oes prec´ arias, e com as dificuldades para publicar o livro ´e um exemplo, muit´ıssimo frequente, do processo (certamente intencional) de desencorajar o florescimento dos criativos, e abrir o espa¸co para os executores de id´eias de outros. ´ Uma curiosidade: vocˆe sabia que o Edouard Lucas, que vocˆe cita na p´ agina 393, ´e quem fez a revis˜ ao t´ecnica para a publica¸c˜ao p´ ostuma do livro “M´elanges de Calcul Int´egral”, de Joaquim Gomes de Souza, o Souzinha, em 1882? O livro havia sido recusado por in´ umeras editoras enquanto ele estava vivo. Muito obrigado. Um abra¸co, Ubiratan Gentil, O taumaturgo/Boa Vista-RR/30.10.2012 4
Sum´ario
´ 1 ESPAC ¸ OS METRICOS 1.1 Introdu¸c˜ ao . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Defini¸c˜ ao de espa¸cos m´etricos . . . . 1.2.1 Exemplos de espa¸cos m´etricos 1.2.2 M´etricas sobre o R2 . . . . . 1.2.3 Distˆ ancia entre fun¸c˜oes . . . 1.2.4 Espa¸cos de C´ odigos . . . . . 1.3 Distˆ ancia entre Ponto e Conjunto . . 1.4 Distˆ ancia entre conjuntos . . . . . . 1.5 Conjuntos limitados − Diˆametro . . 1.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . • Apˆendice: Demonstra¸c˜ oes . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
9 9 12 14 22 27 34 45 51 53 58 64
˜ DE ESPAC ´ 2 CONSTRUC ¸ AO ¸ OS METRICOS 2.1 M´etricas a Partir de M´etricas . . . . . . . . . . 2.2 Subespa¸cos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 Espa¸cos vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4 M´etricas Induzidas Por Fun¸c˜oes . . . . . . . . . 2.5 Produto de espa¸cos m´etricos . . . . . . . . . . . 2.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
79 79 81 82 93 95 101
3 BOLAS ABERTAS 3.1 Defini¸c˜ ao e Exemplos . . . . . . . . . 3.1.1 Bolas na reta . . . . . . . . . 3.1.2 Bolas na m´etrica “zero-um” . 3.1.3 Bolas no espa¸co quˆantico . . 3.1.4 Bolas no plano . . . . . . . . 3.1.5 Bolas no quadrado quˆantico . • Topologia quˆantica . . . . . . . . . 3.1.6 Bolas nos espa¸cos de c´odigos
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
105 105 106 107 108 111 113 115 118
5
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
3.2
3.1.7 Bolas nos espa¸cos de fun¸c˜oes . . . 3.1.8 Bolas em subespa¸cos . . . . . . . . 3.1.9 Bolas no espa¸co produto . . . . . . 3.1.10 Proposi¸c˜oes sobre Bolas . . . . . . 3.1.11 Ponto isolado − Espa¸cos discretos Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
118 121 124 125 129 134
ˆ ´ 4 SEQUENCIAS EM ESPAC ¸ OS METRICOS 4.1 Sequˆencias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.1.1 Subsequˆencias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 Convergˆencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 Sequˆencias num Espa¸co Produto . . . . . . . . . . . . . . . 4.4 Sequˆencias em Espa¸cos Vetoriais Normados . . . . . . . . . 4.4.1 Sequˆencias na reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.4.2 Sequˆencias em espa¸cos normados . . . . . . . . . . . 4.5 Quando eminentes matem´ aticos cometem erros elementares 4.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
137 . 137 . 140 . 141 . 157 . 159 . 159 . 161 . 167 . 178
´ 5 A TOPOLOGIA DOS ESPAC ¸ OS METRICOS 5.1 Ponto interior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.2 Conjuntos abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.3 Ponto fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.4 Conjuntos fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.5 Ponto aderente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.6 Densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.7 Ponto de acumula¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . • Apˆendice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Representa¸c˜ os bin´ arias . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.8 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . .
185 . 186 . 188 . 196 . 201 . 204 . 216 . 219 . 223 . 227 . 233
. . . . . . . .
237 . 251 . 271 . 288 . 294 . 310 . 325 . 328 . 337
˜ 6 FUNC ¸ OES CONT´ıNUAS 6.1 Isometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.2 Propriedades das aplica¸c˜oes cont´ınuas . . 6.3 Continuidade Uniforme . . . . . . . . . . 6.4 Homeomorfismos − Espa¸cos Homeomorfos 6.5 M´etricas Equivalentes . . . . . . . . . . . 6.5.1 Normas Equivalentes . . . . . . . . 6.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . • Apˆendice: Limites em espa¸cos m´etricos . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . .
´ 7 ESPAC ¸ OS METRICOS CONEXOS 349 7.1 Defini¸c˜ ao e Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 349 7.2 Conexos na reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 355 7.3 Conjuntos conexos por caminhos . . . . . . . . . . . . . . . . 364 6
• Topologia quˆantica . . . . Espa¸cos localmente conexos Componentes Conexas . . . Exerc´ıcios . . . . . . . . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
383 392 396 401
´ 8 ESPAC ¸ OS METRICOS COMPLETOS 8.1 Espa¸cos m´etricos completos . . . . . . . 8.2 Espa¸cos de Banach . . . . . . . . . . . . 8.3 Espa¸cos de Hilbert . . . . . . . . . . . . 8.4 Completamento de Espa¸cos M´etricos . . 8.5 Espa¸cos topologicamente completos . . . 8.6 Teorema do Ponto Fixo de Banach . . . 8.7 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
407 416 428 432 444 456 467 473
7.4 7.5 7.6
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
´ 9 ESPAC ¸ OS METRICOS COMPACTOS 475 9.1 Compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 477 9.1.1 Caracteriza¸c˜ ao de compacidade . . . . . . . . . . . . . 490 9.2 Produto Cartesiano de Conjuntos Compactos . . . . . . . . . 495 9.2.1 Compactos no Rn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 496 9.3 Distˆ ancia Entre Conjuntos Compactos . . . . . . . . . . . . . 497 9.4 N´ umero de Lebesgue Para Coberturas . . . . . . . . . . . . . 500 9.5 Espa¸cos Localmente Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . 504 9.6 Representa¸c˜ oes decimais e Curva de Peano . . . . . . . . . . . 507 9.6.1 O Mito das ambiguidades nas representa¸c˜oes decimais 507 9.6.2 A curva de Peano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 516 9.6.3 O quadrado hiperm´ agico . . . . . . . . . . . . . . . . . 528 9.7 A curva de Peano no cubo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 536 9.7.1 O cubo hiperm´ agico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 539 9.7.2 O universo esculpido em um palito de f´osforo . . . . . 544 9.8 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 549 • Apˆendice: Produtos cartesianos infinitos . . . . . . . . . . . . . . 551 10 CONSULTAS 10.1 Elementos de L´ ogica & Demonstra¸c˜oes . . . . . . . . . . . 10.1.1 Opera¸c˜ oes L´ ogicas sobre Proposi¸c˜oes . . . . . . . . 10.1.2 T´ecnicas (Engenharia) de Demonstra¸c˜ao . . . . . . 10.1.3 Fun¸c˜ oes Proposicionais/Quantificadores . . . . . . 10.2 Conjuntos, Fun¸c˜ oes e Fam´ılia de conjuntos . . . . . . . . . 10.3 T´ opicos em An´alise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10.3.1 Teoremas e Defini¸c˜oes da An´alise Real . . . . . . . 10.3.2 Supremo e ´Infimo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10.3.3 Espa¸cos vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10.3.4 Interregno: A Matem´atica como arte e engenharia • Um desafio a quem interessar possa . . . . . . . . . . . . . . 7
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
563 563 564 568 576 583 600 603 605 615 620 621
Resumo das M´ etricas Conjunto
M´ etrica (S´ımbolo)
R
Usual µ
Defini¸ca ˜o µ(x, y) = |x−y|
“zero-um” M
[ 0, 1 [
δ Quˆ antica k Usual (Euclidiana) D1
R2
Da Soma D2 Do M´ aximo D3 Euclidiana D1
Mm×n (R)
C[ a, b ]
B(X,R)
ZN
Z∞
M1 ×M2
P´ ag.
δ(x, y) =
n
14
1, se e s´ o se x6=y; 0, se e s´ o se x=y.
k(x, y) = min |x−y|, 1−|x−y| D1 (x, y) =
√
15
17 58
(x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2
D2 (x, y) = |x1 − y1 | + |x2 − y2 |
22
D3 (x, y) = max{ |x1 − y1 |, |x2 − y2 | }
23
D1 (A, B) =
√
(a11 −b11 )2 +···+ (amn −bmn )2
Da Soma D2
D2 (A, B) = |a11 −b11 | +···+ |amn −bmn |
Do M´ aximo D3
D3 (A, B) = max |a11 −b11 |, ... ,|amn −bmn |
Da Integral Γ
Γ(f, g) =
Rb a
|f (x)−g(x)| dx
25
25
25 27
Do M´ aximo Υ
Υ(f, g) = max{ |f (x)−g(x)| : x ∈ [ a, b ]}
28
Do Sup Ψ
Ψ(f, g) = sup{ |f (x)−g(x)| : x ∈ X }
32
Hamming σ
σ(x, y) = n´ umero de posi¸co ˜es em que x e y diferem entre si. P n−1 ·(x −y ) ρ(x, y) = | N n n | n=1 2
rˆ o ρ
37 40
tau τ
τ (x, y) = maior posi¸ca ˜o em que x e y diferem entre si.
ni ν
ν(x, y) =
D1
D1 (x, y) =
D2
D2 (x, y) = d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 )
95
D3
D3 (x, y) = max { d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 ) }
95
P∞
8
n=1
q
|xn −yn | n 2
d12 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 )
41
42 95
Cap´ıtulo
1
´ ESPAC ¸ OS METRICOS A abstra¸ca ˜o desobstrui o esp´ırito, o torna mais leve e dinˆ amico. (Gaston Bachelard)
1.1
Introdu¸ c˜ ao
Na teoria dos espa¸cos m´etricos busca-se a generaliza¸c˜ao de alguns dos conceitos estudados no C´ alculo e na An´alise Real, especialmente aqueles onde intervˆem a no¸c˜ ao de distˆ ancia (conceitos topol´ogicos). A defini¸c˜ ao de espa¸cos m´etricos ´e uma abstra¸c˜ao fundamentada, quase que totalmente, na experiˆencia com os n´ umeros reais. Mas esta defini¸c˜ao ´e suficientemente flex´ıvel para incluir uma grande variedade de objetos, como teremos oportunidade de constatar. A cita¸c˜ ao a seguir∗ ajudar´ a o leitor a enxergar com mais naturalidade a defini¸c˜ao (postulacional) de espa¸cos m´etricos, dada logo mais: Uma das contribui¸co ˜es definitivas do s´eculo dezenove foi o reconhecimento de que a matem´ atica n˜ ao ´e uma ciˆencia natural, mas uma cria¸ca ˜o intelectual do homem. Bertrand Russel escreveu no International Monthly em 1901: ‘O s´eculo dezenove, que se orgulha da inven¸ca ˜o do vapor e da evolu¸ca ˜o, poderia derivar um t´ıtulo mais leg´ıtimo a ` fama da descoberta da matem´ atica pura.’ Pelo fim do s´eculo era geralmente reconhecido mesmo por n˜ aomatem´ aticos que a matem´ atica ´e pensamento postulacional, em que de premissas arbitr´ arias s˜ ao tiradas conclus˜ oes v´ alidas. Que os postulados sejam ou n˜ ao verdadeiros num sentido cient´ıfico ´e indiferente. ∗
Extra´ıda do livro: Curso Moderno de Filosofia/Denis Huisman e Andr´e Vergez.
9
Medindo distˆ ancias Se num conjunto arbitr´ario temos como medir a distˆ ancia entre dois elementos quaisquer ent˜ ao o conjunto juntamente com essa distˆ ancia resulta no que em matem´ atica conhecemos como um espa¸ co m´ etrico. Dados dois pontos em um plano, como a seguir A
•
B
•
a matem´ atica admite n˜ ao apenas uma mas v´arias maneiras de se medir a distˆ ancia entre estes dois pontos. Apenas para contextualizar tentaremos convencer o leitor de que surgem de maneira natural diferentes modos de se medir a distˆ ancia entre estes pontos. De outro modo: em matem´ atica (e tamb´em na f´ısica) n˜ ao existe uma u ´nica maneira de se medir distˆ ancias. Em outras palavras, a r´egua vendida em nossas livrarias, ou as trenas vendidas em nosso com´ercio, n˜ ao s˜ ao os u ´nicos instrumentos de medida. Vejamos um exemplo trivial do nosso dia-a-dia: o t´ axi. Suponhamos que algu´em queira se deslocar (em um t´axi) do ponto A ao ponto B − separados por uma esquina − e que o ponto B esteja a uma distˆ ancia de quatro unidades para a direita e trˆes unidades abaixo do ponto A, assim: A
A
•
4
•
5
•B
3
•B
Pois bem, existem duas distˆ ancias entre os pontos A e B: a que ´e mais conveniente e justa para o taxista, 4 + 3 = 7; e a que seria mais conveniente para o passageiro (“em linha reta”): 5. A distˆ ancia do t´ axi ´e tamb´em conhecida em matem´ atica como m´etrica da soma. A outra distˆ ancia (“em linha reta”) ´e a distˆ ancia usual ou euclidiana. Se o leitor parar para refletir um pouco se dar´ a conta de que vez ou outra, mesmo numa simples caminhada, teremos que optar (por vezes at´e por uma quest˜ ao de conveniˆencia) por uma ou outra destas duas m´etricas − como por exemplo, ao “cortar caminho”. 10
Resumindo, entre os pontos A e B no plano a seguir
A
A
B
B
− Distˆancia usual (euclidiana)
− Distˆancia do t´axi
mostramos dois modos de medir a distˆ ancia entre os mesmos. Na verdade, podemos ter muitas alternativas para medir a distˆ ancia entre dois pontos em um conjunto qualquer. Um ponto importante a ser observado ´e que do ponto de vista da matem´ atica, isto ´e, da l´ ogica, todas as m´etricas (distˆ ancias) gozam do mesmo status. Ou ainda, n˜ ao existe uma distˆ ancia mais ou menos verdadeira que outra, existe sim uma mais conveniente que outra para um determinado prop´osito. Por oportuno, acontece − no que diz respeito `as m´etricas − o mesmo que ocorre no ˆ ambito das geometrias euclidiana e n˜ ao-euclidianas. A de Euclides n˜ ao ´e nem mais nem menos verdadeira que as outras; pode ou n˜ ao ser a mais conveniente a determinados prop´ositos; por exemplo, Einstein ao formular sua Teoria da Relatividade Geral teve que optar por uma das geometrias n˜ ao-euclidianas. (geometria riemanniana) O que acontece ´e que a m´etrica (r´egua) usual, vista a seguir
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10 INMETRO
0
´e a mais conveniente para, por exemplo: o pedreiro, o carpinteiro, o engenheiro civil, etc., porque esta ´e suficiente para resolver todos os seus problemas de medida. J´ a para o matem´ atico e o f´ısico, estes profissionais tˆem necessidade de “outras r´eguas”, as quais n˜ ao se encontram no com´ercio, pois s˜ ao, por assim dizer, abstratas. Um outro fato importante que o leitor deve ter em mente ´e que o matem´ atico (ou o f´ısico) para resolver um dado problema que se lhe apresenta pode, das duas uma: ou escolher uma dentre as v´arias distˆ ancias (r´eguas) j´a existentes ou, caso seja necess´ario, poder´ a at´e criar uma nova. Se ele decidir criar uma nova r´egua esta deve satisfazer alguns crit´erios, sob pena de n˜ ao ser validada pela comunidade matem´ atica. Aqui s´ o ´e necess´ario o leitor lembrar de que qualquer instrumento de aferi¸c˜ao candidato a receber o selo do Inmetro ter´ a que passar por uma bateria rigorosa de testes. 11
Como dissemos, o matem´ atico e o f´ısico lidam com outros tipos de r´egua al´em da usual. O mais importante: qualquer que seja a nova r´egua proposta esta deve, na comunidade dos matem´ aticos, passar por uma bateria rigorosa de testes. Ao todo deve ser testado um conjunto de cinco ´ıtens − cinco crit´erios l´ ogicos −, dados a seguir:
1.2
Defini¸ c˜ ao de espa¸cos m´ etricos
Defini¸ c˜ ao 1 (Espa¸co M´etrico). Seja M 6= ∅ um conjunto qualquer. Consi˜o d : M × M −→ R, que associa a cada par ordenado deremos uma aplica¸ca (x, y) ∈ M × M um n´ umero real d(x, y) satisfazendo as seguintes condi¸co ˜es (para quaisquer x, y e z em M ): (M1 )
d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y ;
(M2 )
d(x, y) = d(y, x) ;
(M3 )
d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y).
Nestas condi¸co ˜es dizemos que d ´e uma m´etrica sobre M e que d(x, y) ´e a distˆ ancia do elemento x ao elemento y. Podemos dizer tamb´em que uma aplica¸ca ˜o d : M × M −→ R satisfazendo as condi¸co ˜es anteriores adquire status de m´etrica. O par (M, d ) ´e o que entendemos por espa¸co m´etrico. Nota: Chamamos a aten¸c˜ao do leitor para o fato de que espa¸co m´etrico ´e ao um conjunto, tanto ´e que o mesmo conjunto munido uma “estrutura” e n˜ com m´etricas distintas d´ a origem a espa¸cos m´etricos distintos, isto ´e: d 6= d′ ⇒ (M, d ) 6= (M, d′ ) Doravante cada elemento de um espa¸co m´etrico ser´ a referido como ponto desse espa¸co, independentemente de sua natureza. A exigˆencia feita em (M1 ) ´e bastante intuitiva: uma distˆ ancia nunca ´e negativa; se a distˆ ancia entre dois pontos ´e nula ent˜ao, obrigatoriamente, estes pontos s˜ ao o mesmo (s˜ ao iguais), e; reciprocamente: a distˆ ancia de um ponto para si mesmo deve ser nula. A exigˆencia feita em (M2 ), tamb´em assaz intuitiva, foi tomada de empr´estimo do dito popular que todos conhecemos: “fulano!! vem c´a! E o fulano responde: vem c´ a tu, pois a distˆ ancia daqui pr´ a l´a, ´e a mesma de l´a pr´ a c´a”. Como se vˆe, qualquer um j´a possui intuitivamente os rudimentos para iniciar-se nos espa¸cos m´etricos. x A exigˆencia feita em (M3 ), a menos intuitiva, s ´e conhecida como desigualdade triangular e se d(x, y) d(x, z) inspira no fato de que na geometria elementar cada lado de um triˆ angulo tem sempre medida s s y z d(z, y) menor que a soma das medidas dos outros dois lados. 12
Alternativamente, pode ser u ´til vermos um espa¸co m´etrico como um sistema de processamento de informa¸c˜oes, onde temos: (M, d) software hardware
O conjunto de instru¸co ˜es (software) ´e passado atrav´es da m´etrica. Observe que se no par (M, d) mudarmos apenas a m´etrica (algoritmo, software) teremos um outro sistema de “processamento de informa¸c˜oes”; um outro espa¸co m´etrico que − na maioria das vezes − pouco ter´ a a ver com o primeiro. A cita¸c˜ ao a seguir ajudar´ a o leitor a enxergar com mais naturalidade a defini¸c˜ao de espa¸cos m´etricos, dada anteriormente: (rodap´ e p. 9) As defini¸co ˜es matem´ aticas parecem opor-se radicalmente ` as defini¸co ˜es emp´ıricas porque os seres matem´ aticos n˜ ao s˜ ao objetos que se descubram na natureza. As defini¸co ˜es emp´ıricas, no fundo, s˜ ao simples descri¸co ˜es de coisas j´ a existentes . . . . O naturalista que define o p´ assaro, n˜ ao o cria: descobre-o. Contrariamente, o c´ırculo n˜ ao designa um objeto existente, mas ´e a defini¸ca ˜o do c´ırculo que o cria. Tamb´em poder´ıamos dizer que “se a defini¸ca ˜o emp´ırica n˜ ao passa de uma c´ opia, a defini¸ca ˜o matem´ atica ´e um modelo”. A defini¸ca ˜o matem´ atica n˜ ao ´e descritiva ´e criadora. A rela¸ca ˜o entre o matem´ atico e os seres matem´ aticos ´e a mesma existente entre um deus e suas criaturas. A defini¸ca ˜o matem´ atica ´e uma regra ao ´e mesmo necess´ ario que alguma coisa de concreto lhe operat´ oria. N˜ corresponda (cf. o n´ umero negativo, os “imagin´ arios”), basta, como diz Le Roy, que o conceito por ela proposto “forne¸ca ao esp´ırito mat´eria de exerc´ıcio efetivo e operat´ orio. (Grifo nosso) ´ uma discuss˜ Um aparte: E ao pertinente `a filosofia da matem´ atica se os objetos matem´ aticos − a exemplo dos n´ umeros − de fato existem; ou ainda, se podem ser encontrados na Natureza. Gostaria de expor meu parecer a este respeito. No meu entendimento os objetos matem´ aticos s˜ ao abstra¸c˜ oes que n˜ ao encontram-se em parte alguma da Natureza e, para existirem, necessitam do homem. Se um meteorito se chocasse com a terra e os homens − a exemplo dos dinossauros, por suposto − deixassem de existir, os n´ umeros concomitantemente desapareceriam. E afirmo mais: se na suposta hecatombe mencionada acima sobrevivessem apenas alguns homens “primitivos” e alguns livros de matem´ atica, ainda assim os n´ umeros deixariam de existir . . . por falta de um “instrumento” (c´erebro, mente) apropriado que pudesse decodific´ a-los a partir dos livros. Uma analogia: se um bebˆe engatinhando numa sala encontra as pe¸cas de um xadrez para ele estas constituem-se em meros brinquedos − n˜ ao um jogo de xadrez (estrutura) propriamente. 13
1.2.1
Exemplos de espa¸cos m´ etricos
1) A reta usual (oficial) Considere o conjunto R dos n´ umeros reais. A seguinte fun¸c˜ao d : R × R −→ R, dada por d(x, y) = |x − y|, ´e uma m´etrica sobre R. Vamos provar isto: (M1 ) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y. Ent˜ao d(x, y) ≥ 0 ⇐⇒ d(x, y) = |x − y| ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ |x − y| = 0 ⇐⇒ x − y = 0 ⇐⇒ x = y. Observe que (M1 ) se desdobra em trˆes condi¸c˜oes a serem provadas. (M2 ) d(x, y) = d(y, x) ⇐⇒ |x − y| = |y − x|. (M3 ) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y) ⇐⇒ |x − y| ≤ |x − z| + |z − y|. Vamos precisar da desigualdade triangular do m´ odulo, isto ´e (p. |x + y| ≤ |x| + |y| Para tanto vamos nos valer do seguinte artif´ıcio x − y = (x − z) + (z − y) Sendo assim, temos |x − y| = (x − z) + (z − y) ≤ |x − z| + |z − y|
Por exemplo
5 3 3 d , −1 = − (−1) = . 2 2 2
d(5, 3) = |5 − 3| = 2 ; Geometricamente, temos
d
= 23 −(−1) =2,5 ⊣
3 , −1 2
⊢ s
q −1
q0
q1
s
d(5, 3)=|5−3|=2
⊢ s
q2
q3
14
⊣
q4
s
q5
R
602)
2) A m´ etrica “zero-um” Uma importante m´etrica − aplic´ avel a qualquer conjunto − ´e dada a seguir: Seja M um conjunto qualquer. Consideremos d : M × M −→ R definida por d(x, y) =
1, se e s´ o se x 6= y; 0, se e s´ o se x = y.
Vamos mostrar que d, assim definida, ´e uma m´etrica. De fato, esta aplica¸c˜ ao, da maneira como foi definida, claramente satisfaz (M1 ) e (M2 ). Vamos mostrar que (M3 ) tamb´em ´e satisfeita: Dados x e y em M temos duas alternativas, x = y ou x 6= y:
( i ) Se x = y ent˜ ao d(x, y) = 0. Substituindo este resultado em (M3 ) devemos provar que 0 ≤ d(x, z) + d(z, y)
Como, pela defini¸c˜ ao de d, d(x, z) ≥ 0 e d(z, y) ≥ 0, temos que esta desigualdade ´e trivialmente satisfeita.
( ii ) Se x 6= y ent˜ ao ou x 6= z ou z 6= y (caso contr´ario, isto ´e, se x = z e sendo assim temos d(x, y) = 1 e ou d(x, z) = 1 ou d(z, y) = 1. Em qualquer situa¸c˜ao a desigualdade z = y ent˜ ao x = y, contrariando a hip´ otese);
d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y) 1 ≤ d(x, z) + d(z, y) estar´ a satisfeita. Observe que esta prova n˜ ao depende da natureza dos elementos de M , o que implica que o par (M, d) ´e um espa¸co m´etrico independentemente de quem seja o conjunto M . • Por exemplo considere o conjunto das vogais A = { a, e, i, o, u }, ent˜ao o par (A, d) ´e um espa¸co m´etrico onde, por exemplo, temos as seguintes distˆ ancias d(a, e) = 1 ; d(o, u) = 1 ; d(u, u) = 0. uma vez que a 6= e, o 6= u e u = u.
Nota: Como neste livro trabalharemos com muitas m´etricas, vamos adotar s´ımbolos especiais para algumas e numerar (indexar) outras. Por exemplo a m´etrica “zero-um” ser´ a denotada por δ e a m´etrica usual sobre R por µ. Novamente enfatizamos que os espa¸cos m´etricos (R, µ) e (R, δ) s˜ ao distintos, inclusive por que para um mesmo par de pontos eles fornecem distˆ ancias diferentes, por exemplo: µ(5, 3) = |5 − 3| = 2 e δ(5, 3) = 1. 15
3) A M´ etrica Quˆ antica Quando o esp´ırito se apresenta ` a cultura cient´ıfica, nunca ´ e jovem. Ali´ as ´ e bem velho, porque tem a idade de seus preconceitos.
Aceder ` a ciˆ encia ´ e reju-
venescer espiritualmente, ´ e aceitar uma brusca muta¸ca ˜o que contradiz o passado. (Gaston Bachelard)
Introdu¸c˜ ao: A m´etrica que estaremos apresentando agora nos permitir´ a demonstrar, oportunamente, a plausibilidade matem´ atica de alguns fenˆomenos contraintuitivos observados no ˆambito da f´ısica quˆ antica.∗ O que ´ e f´ısica quˆ antica? A f´ısica quˆ antica (tamb´em conhecida como mecˆ anica quˆ antica e teoria quˆ antica) ´e principalmente o estudo do mundo microsc´opio. Nesse mundo muitas grandezas f´ısicas s˜ ao encontradas apenas em m´ ultiplos inteiros de uma quantidade elementar; quando uma grandeza apresenta essa propriedade, dizemos que ´e quantizada. A quantidade elementar associada `a grandeza ´e chamada quantum da grandeza (o plural ´e quanta). Uma grandeza quantizada que est´ a presente no nosso dia-a-dia ´e o dinheiro. O dinheiro no Brasil ´e quantizado, j´a que a moeda de menor valor ´e a de um centavo (R$ 0, 01), e os valores de todas as outras moedas e notas s˜ ao obrigatoriamente m´ ultiplos inteiros do centavo. Em outras palavras, o quantum de dinheiro em esp´ecie ´e R$ 0, 01, e todas as quantias maiores s˜ ao da forma n × (R$ 0, 01), onde n ´e um n´ umero inteiro. N˜ao ´e poss´ıvel, por exemplo, pagar com dinheiro vivo uma quantia de R$ 0, 755 = 75, 5 × (R$ 0, 01).
Em 1905 Einstein propˆos que a radia¸c˜ao eletromagn´etica (ou, simplesmente, a luz) era quantizada; a quantidade elementar de luz ´e hoje chamada de f´ oton. [. . . ] O conceito de quantum de luz, ou f´oton, ´e muito mais sutil e misterioso do que Einstein imaginava. Na verdade, at´e hoje n˜ ao ´e compreendido perfeitamente. Segundo Einstein, um quantum de luz de frequˆencia f tem uma energia dada por E = hf (energia do f´oton) onde h ´e a chamada constante de Planck, que tem o valor h = 6, 63 × 10−34 J · s (Halliday & Resnick/Vol. ∗
4)
Como por exemplo, o de que uma part´ıcula pode encontrar-se em muitos lugares ao mesmo tempo; ou ainda: “el´etrons que se movem de A para B sem nunca passar entre esses pontos”.
16
Consideremos o conjunto M = [ 0, 1 [ e a seguinte aplica¸c˜ao k : [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ −→ R definida por
k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y|
Deixamos como exerc´ıcio ao leitor provar que k ´e uma m´etrica em [ 0, 1 [. Como funciona a m´etrica quˆantica? Funciona de modo bem simples, n˜ ao ´e necess´ario nenhum manual de instru¸c˜ao, veja: dados dois pontos x e y, ambos no intervalo [ 0, 1 [, entre chaves obteremos dois valores, escolhemos o menor deles como sendo a distˆ ancia entre os pontos x e y. Por exemplo, k(0; 0, 4) = min |0 − 0, 4|, 1 − |0 − 0, 4| = min 0, 4; 0, 6 = 0, 4 k(0; 0, 6) = min |0 − 0, 6|, 1 − |0 − 0, 6| = min 0, 6; 0, 4 = 0, 4 k(0; 0, 8) = min |0 − 0, 8|, 1 − |0 − 0, 8| = min 0, 8; 0, 2 = 0, 2 Observe a localiza¸c˜ ao geom´etrica destes pontos:
0
t
0, 4
q1 2
t
0, 6
t
0, 8
1
Por oportuno, observe que, k (0; 0, 4) = k (0; 0, 6) > k (0; 0, 8).
(1.1)
´ isto mesmo que o leitor testemunha!: os dois primeiros pontos (0, 4 e 0, 6) E est˜ ao a uma mesma distˆ ancia da origem, e, como se n˜ ao bastasse, o terceiro ponto (0, 8) est´ a mais pr´ oximo da origem que os dois primeiros . . . pasm´em! Poder´ıamos, com inteira raz˜ ao, cham´ a-la de “m´etrica maluca” ou at´e, quem sabe, “m´etrica hipermaluca”. No entanto, vejamos o que o eminente fil´ osofo tem a nos dizer a este respeito: Tudo isso, que ` a primeira vista parece excesso de irraz˜ ao, na verdade ´ e o efeito da finura e da extens˜ ao do esp´ırito humano e o m´ etodo para encontrar verdades at´ e ent˜ ao desconhecidas. (Voltaire)
Oportunamente estaremos provando que, desta vez, o fil´ osofo est´ a coberto de raz˜ ao. As palavras do fil´ osofo me serviram, ami´ ude, de apoio psicol´ ogico quando − a princ´ıpio − me sentir tentado a desdenhar da “m´etrica maluca”! 17
Distˆ ancia de um ponto arbitr´ ario ` a origem Vamos necessitar da distˆ ancia de um ponto arbitr´ario x ∈ [ 0, 1 [ `a origem: k(x, 0) = min |x − 0|, 1 − |x − 0| = min |x|, 1 − |x|
Como 0 ≤ x < 1, temos |x| = x, logo, k(x, 0) = min x, 1 − x . Temos, x ≤ 1 − x ⇐⇒ x ≤
1 2
Sendo assim, podemos escrever:
k(x, 0) =
x,
se 0 ≤ x ≤ 12 ;
1 − x,
se
1 2
(1.2)
≤ x < 1.
Esta equa¸c˜ ao nos diz, simplesmente, que se x ´e um ponto na primeira metade do intervalo, ent˜ ao sua distˆ ancia para a origem ´e igual “a ele pr´ oprio”. Se x ´e um ponto na metade direita do intervalo, ent˜ao sua distˆ ancia para a origem ´e 1 − x. Veja: k(x, 0) = min x, 1 − x x 0
s
x
1−x
q 12
x 1
0
q 12
s
x
1−x 1
A seguir esbo¸camos o gr´ afico da fun¸c˜ao dada por (1.2): k(x, 0) 1
q
1 2
q
0
q12
1
x 0
q1 2
s
x
1
Este gr´ afico nos mostra como varia a distˆ ancia de um ponto arbitr´ario x, do intervalo [ 0, 1 [, a` origem. Na figura a seguir acrescentamos ao gr´ afico anterior (para efeito de compara¸c˜ ao) a distˆ ancia usual, d(x, 0) = |x − 0|, restrita ao intervalo [ 0, 1 [ : 18
k(x, 0) 1
q
1 2
q
q12
0
1
x
A partir do gr´ afico de k(x, 0) (ou da equa¸c˜ao (1.2)) constru´ımos a r´egua oficial do universo [ 0, 1 [, k , assim: 0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
1 INMETRO
0
- R´ egua quˆantica Nota: Observamos que a r´egua (“trena” ) acima ´e t˜ao leg´ıtima quanto a usual, vendida em nossas livrarias, tanto ´e que j´a a homologamos junto ao Inmetro. O que confere status cient´ıfico a esta r´egua ´e justamente o fato de ela satisfazer a todas as condi¸c˜ oes para uma m´etrica. (p. 12) Esta r´egua nos ser´ a bastante u ´til para destrinchar (e produzir) alguns paradoxos (patologias), inclusive na f´ısica quˆantica como j´a mencionamos. E mais: Pelo ao menos no ˆ ambito da topologia podemos assegurar aos c´epticos que milagres existem sim!, como estaremos provando a seu tempo. Por oportuno, adiantamos uma surpreendente igualdade: 0, 999 . . . = 0. Nota: Um espa¸co m´etrico ´e tamb´em um espa¸co topol´ ogico. (p. 280) Retomando: a r´egua quˆantica nos fornece diretamente a distˆ ancia de um ponto qualquer do intervalo [ 0, 1 [ para a origem 0, graficamente: 1 4
1 2
p
0
0,1
0,2
3 4
p
0,3
0,4
0,5
p
0,4
0,3
1
0,2
0,1
1 INMETRO
0
19
Vejamos como fica a patologia exibida anteriormente da r´egua anterior, veja: As 0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
com o uso
Cs
0,4
0,3
0,2
0,1
1 INMETRO
ր0
Bs
(p. 17)
Origem
Os pontos A e B encontram-se `a mesma distˆ ancia da origem . . . Pasm´em! Podemos escrever: k(A, 0) = 0, 4 = k(B, 0) E, o que ´e “pior”, o ponto C encontra-se mais pr´ oximo da origem que qualquer dos pontos A e B . . . pasm´em !! Podemos escrever: k(C, 0) = 0, 2 < 0, 4 = k(A, 0) = k(B, 0)
(1.3)
Advertˆencia: Aconselhamos ao estudante de topologia excessiva prudˆencia: Esta r´egua n˜ ao dever´ a cair nas m˜ aos de profissionais n˜ ao devidamente habilitados, ainda aqui vale recordar do mestre Jesus: (Mt 7 : 6) N˜ ao deiteis aos porcos as vossas p´erolas, para que n˜ ao suceda que eles lhes ponham os p´es em cima, e tornando-se contra v´ os, vos despedacem.
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
INMETRO
0
1
1 INMETRO
Qu^ antica
Usual
Na figura a seguir colocamos as duas r´eguas − usual e quˆantica − lado a lado para efeitos de compara¸c˜ao, veja:
Nota: Reescalonamos (dividimos por 10) a r´egua usual, para efeitos de compara¸c˜ ao. Observe que a r´egua quˆantica coincide com a r´egua usual s´ o at´e a metade, a partir da´ı as duas diferem radicalmente. 20
Tornando a r´ egua quˆ antica menos indigesta Dissemos que a r´egua quˆantica mede a distˆ ancia, para a origem, de qualquer ponto do intervalo [ 0, 1 [. O leitor poder´ a “digerir” melhor o funcionamento desta r´egua se imaginar que ela produz uma curvatura no espa¸co, digo, no intervalo [ 0, 1 [. Imagine este intervalo feito de arame flex´ıvel, curve-o segundo um c´ırculo, assim: 1 0
1 0 C
p1
s
s
B
2
1 4
p
p
3 4
p
1 4
p
3 4
p
1 2
s
A
Na figura da direita assinalamos os pontos A, B e C na rela¸c˜ao (1.3) (p. 20). Agora fica mais f´acil de entender por que d (C, 0) < d (A, 0) = d (B, 0). Nota: A rigor a m´etrica quˆantica n˜ ao curva o intervalo unit´ ario. Vejamos uma analogia: Ao redor de um im˜ a existe um campo magn´etico que “curva o espa¸co” em sua volta. A presen¸ca do campo altera a geometria − ou m´etrica − da regi˜ ao em volta do im˜ a. Por´em, o pr´ oprio im˜ a n˜ ao ´e curvado. De igual modo, a presen¸ca da m´etrica k no universo [ 0, 1 [ ´e respons´ avel pela “geometria” da estrutura [ 0, 1 [, k , que ´e curva. Podemos buscar uma outra analogia para o espa¸co quˆantico na teoria da relatividade geral de Einstein: segundo essa teoria o espa¸co ´e uma estrutura cujas propriedades dependem da presen¸ca da mat´eria.
Mat´eria e energia em movimento curvam o espa¸co-tempo. Essa deforma¸c˜ ao muitas vezes ´e comparada a que ocorre em uma rede esticada quando nela se deposita uma esfera maci¸ca e pesada. De modo an´ alogo, como veremos oportunamente, a origem “0” do intervalo [ 0, 1 [ ´e que faz o papel da massa e ´e respons´ avel pela curogico [ 0, 1 [, k . vatura do espa¸co topol´ ր0
“massa”
q1 2
1
21
M´ etricas sobre o R2
1.2.2
Vamos agora definir algumas m´etricas sobre o conjunto R × R = R2 dos pares ordenados de n´ umeros reais. 4) O plano usual (oficial) A fun¸c˜ ao, D1 : R2 × R2 −→ R, dada por D1 (x, y) =
p
(x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2
onde x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ), ´e uma m´etrica sobre R2 . D1 ´e conhecida como m´etrica euclidiana ou usual do R2 e naturalmente se inspira na f´ormula da distˆ ancia entre dois pontos da geometria anal´ıtica. No apˆendice provamos que D1 ´e de fato uma m´etrica sobre R2 . (p. 68) Exemplo: Calcular a distˆ ancia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5). Solu¸ c˜ ao: Temos x = (x1 , x2 ) = (1, 1) e y = (y1 , y2 ) = (4, 5). Ent˜ao p D1 (x, y) = (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 p D1 (1, 1), (4, 5) = (1 − 4)2 + (1 − 5)2 = 5. Geometricamente temos R
p
p
s(4, 5)
s
p p p
s
D1
⇒ ⊡
(1, 1)
0
p
p
p
p
R
D1
s
e a medida da hipotenusa. ´
5) A m´ etrica da soma (ou do t´ axi) A fun¸c˜ ao, D2 : R2 × R2 −→ R, dada por D2 (x, y) = |x1 − y1 | + |x2 − y2 | onde x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ) ´e uma m´etrica sobre R2 . D2 ´e conhecida como m´etrica da soma (ou do t´axi). No apˆendice provamos que D2 ´e de fato uma m´etrica sobre R2 .
(p. 69)
Exemplo: Calcular a distˆ ancia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5). 22
Solu¸ ca ˜o: Temos x = (x1 , x2 ) = (1, 1) e y = (y1 , y2 ) = (4, 5), ent˜ao D2 (x, y) = |x1 − y1 | + |x2 − y2 | D2 (1, 1), (4, 5) = |1 − 4| + |1 − 5| = 7.
Geometricamente temos R
p
p
s(4, 5)
s
p
⇒
p
p
s
s
⊡
(1, 1)
p
0
p
p
p
R
D2
D2
´ a soma das medidas e dos catetos.
6) A m´ etrica do m´ aximo A fun¸c˜ ao, D3 : R2 × R2 −→ R, dada por
D3 (x, y) = max |x1 − y1 |, |x2 − y2 |
onde x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ) ´e uma m´etrica sobre R2 . No apˆendice provamos que D3 ´e de fato uma m´etrica sobre R2 . (p. Exemplo: Calcular a distˆ ancia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5).
70)
Solu¸ ca ˜o: Temos x = (x1 , x2 ) = (1, 1) e y = (y1 , y2 ) = (4, 5), ent˜ao D3 (x, y) = max |x1 − y1 |, |x2 − y2 | D3 (1, 1), (4, 5) = max |1 − 4|, |1 − 5| = max{ 3, 4 } = 4.
Geometricamente temos R
p
p
s(4, 5)
s
p
p
p
⇒
s
⊡
(1, 1)
0
p
p
p
p
R
D3
23
s
D3
´ a medida do maior e dos catetos.
Como era de se esperar, os trˆes espa¸cos nos fornecem diferentes distˆ ancias para um mesmo par de pontos. Para efeitos de compara¸c˜ao, temos R
Rn ,
p
p p
⊡
p
s
(1, 1)
p
p
p
R
0
s(4, 5)
p
p p
⊡
(1, 1)
0
s(4, 5)
p p
s
p
p
p
p
p
p
s(4, 5)
R
p
R
p
s
⊡
(1, 1)
p
p
p
R
0
p
p
p
p
As trˆes distˆ ancias vistas para o R2 s˜ ao facilmente generalizadas para o do seguinte modo: D1 (x, y) =
p
(x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2
D2 (x, y) = |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | D3 (x, y) = max |x1 − y1 |, . . . , |xn − yn |
(1.4) (1.5) (1.6)
onde x = (x1 , x2 , . . . , xn ) e y = (y1 , y2 , . . . , yn ) ∈ Rn .
7) Distˆ ancia entre matrizes Seja Mm×n (R) o conjunto das matrizes reais de ordem m por n. Para calcular a distˆ ancia entre duas matrizes lan¸caremos m˜ ao de um artif´ıcio: Identificaremos uma matriz do conjunto Mm×n (R) com um ponto do conjunto Rm×n do seguinte modo
a11 . . . a1n a21 . . . a2n A= . . . . . . . . . . . . . . ↔ a = (a11 , . . . , a1n , a21 , . . . , a2n , . . . , am1 , . . . , amn ) am1 . . . amn
b11 . . . b1n b21 . . . b2n B= . . . . . . . . . . . . . ↔ b = (b11 , . . . , b1n , b21 , . . . , b2n , . . . , bm1 , . . . , bmn ) bm1 . . . bmn Feito isto definiremos a distˆ ancia entre as matrizes A e B como sendo a distˆ ancia entre os respectivos pontos a e b. 24
R
Sendo assim temos as seguintes distˆ ancias entre matrizes p D1 (A, B) = (a11 − b11 )2 + · · · + (amn − bmn )2 D2 (A, B) = |a11 − b11 | + · · · + |amn − bmn | D3 (A, B) = max |a11 − b11 |, . . . , |amn − bmn |
(1.7) (1.8) (1.9)
Exemplo: Calcule a distˆ ancia entre as matrizes 2 1 3 0 2 1 A= e B= 3 0 2 3 4 5 Solu¸ ca ˜o: Temos A=
2 1 3 3 0 2
↔ a = (2, 1, 3, 3, 0, 2)
B=
0 2 1 3 4 5
↔ b = (0, 2, 1, 3, 4, 5)
2 −1 2 0 −4 −3
↔ a − b = (2, −1, 2, 0, −4, −3)
Ainda, A−B=
Vamos calcular a distˆ ancia entre as matrizes A e B em cada um dos espa¸cos m´etricos M2×3 (R), D1 , M2×3 (R), D2 e M2×3 (R), D3 onde D1 , D2 e D3 s˜ ao dadas pelas equa¸c˜ oes (1.7), (1.8) e (1.9). Pois bem: √ p D1 A, B = 22 + (−1)2 + 22 + 02 + (−4)2 + (−3)2 = 34; D2 A, B = |2| + | − 1| + |2| + |0| + | − 4| + | − 3| = 12; D3 A, B = max |2|, | − 1|, |2|, |0|, | − 4|, | − 3| = 4.
A f´ormula a seguir
n = N (i − 1) + j
(1.10)
nos permite transferir os elementos de uma matriz de ordem M × N para um ponto de RM ×N . (para a prova desta f´ ormula veja [6]) A f´ormula nos diz em que coordenada n (do ponto) devemos guardar o elemento aij da matriz. Por exemplo, para a matriz a11 a12 a13 a21 a22 a23 de ordem 2 × 3, procedemos assim: 25
a11
⇒
n = 3(1 − 1) + 1 = 1
⇒
( a11 , ? , ? , ? , ? , ? )
a12
⇒
n = 3(1 − 1) + 2 = 2
⇒
( a11 , a12 , ? , ? , ? , ? )
a13
⇒
n = 3(1 − 1) + 3 = 3
⇒
( a11 , a12 , a13 , ? , ? , ? )
a21
⇒
n = 3(2 − 1) + 1 = 4
⇒
( a11 , a12 , a13 , a21 , ? , ? )
a22
⇒
n = 3(2 − 1) + 2 = 5
⇒
( a11 , a12 , a13 , a21 , a22 , ? )
a23
⇒
n = 3(2 − 1) + 3 = 6
⇒
( a11 , a12 , a13 , a21 , a22 , a23 )
Portanto:
a11 a21
a12 a22
a13 a23
( a11 , a12 , a13 , a21 , a22 , a23 )
A f´ormula a seguir (tamb´em uma contribui¸c˜ao minha): i = n−1 +1 N j = n − N n−1 N
´e a inversa da fun¸c˜ ao dada em (1.10) e nos diz, caso desejemos, como transferir de volta as coordenadas do ponto para a matriz. N ´e o n´ umero de colunas na matriz. ⌊ x ⌋ ´e chamado o maior inteiro que n˜ ao supera x (fun¸c˜ ao piso). Por exemplo, para a situa¸c˜ao anterior temos: i = 5−1 +1 =2 3 a5 ⇒ j = 5 − 3 5−1 = 2 3 Ou seja, a quinta coordenada do ponto (n = 5) corresponde a posi¸c˜ao (i, j) = (2, 2) da matriz, assim:
(a1 , a2 , a3 , a4 , a5 , a6 , )
− − − − − −
Em [6] mostramos aplica¸c˜oes destas f´ormulas na computa¸c˜ao. ∗
∗
∗
Para muitos pensar ´e uma tarefa fastidiosa. Para mim, nos meus dias felizes, uma festa e uma orgia. (Nietzsche, F. Vontade de poder, XIV, 24)
26
1.2.3
Distˆ ancia entre fun¸ c˜ oes
− Espa¸co das fun¸c˜ oes reais cont´ınuas definidas num intervalo fechado
8) O espa¸ co C[a, b], Γ Seja C[a, b] o conjunto das fun¸c˜oes reais cont´ınuas definidas no intervalo fechado [a, b]. Isto ´e n o C[a, b] = f : [a, b] −→ R / f cont´ınua A aplica¸c˜ ao
Γ : C[a, b] × C[a, b] −→ R definida por Γ(f, g) =
Z
a
b
f (x) − g(x) dx
´e uma m´etrica sobre C[a, b]. Isto est´ a demonstrado no apˆendice.
(p. 72)
Exemplos: (a) Calcule a distˆ ancia entre as fun¸c˜oes f, g : [ 0, 1 ] −→ R dadas por f (x) = 3x e g(x) = x. Solu¸ c˜ ao: Γ(f, g) = =
Z Z
a
b
1 0
f (x) − g(x) dx |3x − x| dx = 1
Interpreta¸c˜ ao geom´etrica: A distˆ ancia entre as fun¸co˜es f e g ´e dada pela ´ area da regi˜ ao entre seus gr´ aficos; no caso a ´area do triˆ angulo em destaque na figura a seguir y 3
q
2
q
1
q
(1, 3)
f (1, 1) g
0
q1
q2
x
(0, 0)
27
Para efeito de verifica¸c˜ao, podemos calcular a ´area deste triˆ angulo, subtraindo da ´ area do triˆ angulo sob o gr´ afico de f a ´area do triˆ angulo sob o gr´ afico de g, assim 1×3 1×1 − = 1 = Γ(f, g). 2 2 (b) Calcule a distˆ ancia entre as fun¸c˜oes f, g : [−1, 1] −→ R
dadas por f (x) = x3 e g(x) = x. Solu¸ c˜ ao:
Γ(f, g) =
Z
a
=
Z
b
1
f (x) − g(x) dx
3 x − x dx = 1 . 2 −1
Interpreta¸c˜ ao geom´etrica: A distˆ ancia entre as fun¸co˜es f e g ´e dada pela ´ area da regi˜ ao entre seus gr´ aficos: y 1⊥
q
(1,1) g f
−1
⊢
f
g
x
⊢ 1
q
⊥ −1
(−1,−1)
Vejamos uma outra distˆ ancia no conjunto C[a, b].
9) O espa¸ co C[a, b], Υ
Sabemos (da An´alise∗ ) que toda fun¸c˜ao cont´ınua definida em um intervalo fechado assume valores m´ aximo e m´ınimo nesse intervalo. Sendo assim a aplica¸c˜ao Υ : C[a, b] × C[a, b] −→ R dada por Υ(f, g) = max
n
o |f (x) − g(x)| : x ∈ [ a, b ]
(1.11)
estar´ a bem definida. No apˆendice mostramos que Υ ´e uma outra m´etrica sobre C[a, b]. (p. 74) ∗
Teorema de Weierstrass, [AR] 1 (p. 603)
28
Exemplos: (a) Calcule a distˆ ancia entre as fun¸c˜oes f, g : [ 0, 1 ] −→ R dadas por f (x) = 3x e g(x) = x. Solu¸ c˜ ao: Υ(f, g) = max
n
o |f (x) − g(x)| : x ∈ [ a, b ]
= max |3x − x| : x ∈ [ 0, 1 ] = max 2x : x ∈ [ 0, 1 ] = 2.
Porquanto
0 ≤ x ≤ 1 ⇒ 0 ≤ 2x ≤ 2 ⇒ 2x ∈ [ 0, 2 ] Observe que os espa¸cos (C, Γ) e (C, Υ) nos fornecem distˆ ancias diferentes para o mesmo par de pontos (f, g). Interpreta¸c˜ ao geom´etrica: A distˆ ancia Υ entre as fun¸c˜oes f e g ´e o comprimento da maior corda vertical que se pode tra¸car ligando o gr´ afico de f ao gr´ afico de g. y 3
q
2
q
f
1
q g
0
q1
q2
x
(1,3)
←Υ(f,g)=2 (1,1)
(0,0)
(b) Calcule a distˆ ancia entre as fun¸c˜oes f, g : [ −1, 1 ] −→ R dadas por f (x) = x3 e g(x) = x. Solu¸ c˜ ao: Υ(f, g) = max |f (x) − g(x)| : x ∈ [ a, b ] = max |x3 − x| : x ∈ [ −1, 1 ] 29
Esta u ´ltima igualdade nos diz que devemos encontrar o m´ aximo da fun¸c˜ ao dada por h(x) = |x3 −x| para x percorrendo o intervalo [ −1, 1 ]. Com o intuito de eliminar o m´ odulo, obtemos a seguinte decomposi¸ca ˜o 3 se x ∈ [ −1, 0 ]; 3 x − x, h(x) = x − x = −x3 + x, se x ∈ [ 0, 1 ].
Inicialmente vamos pesquisar no “ramo direito” da fun¸c˜ao; ent˜ao, h(x) = −x3 + x. Igualando a derivada desta fun¸c˜ao a zero, temos 1 h′ (x) = −3x2 + 1 = 0 =⇒ x = ± √ 3 ent˜ ao h
1 √ 3
=−
1 √ 3
3
+
1 √ 3
√ 2 3 . = 9
A outra alternativa nos conduz ao mesmo resultado, portanto n o 2√3 3 Υ(f, g) = max |x − x| : x ∈ [ −1, 1 ] = ≈ 0, 38 9
Interpreta¸c˜ ao geom´etrica: A distˆ ancia entre as fun¸co˜es f e g ´e o comprimento da maior corda vertical que se pode tra¸car ligando o gr´ afico de f ao gr´ afico de g.
y
1⊥ √
←−Υ(f, g)= 2 9 3 −1 ⊢
q3
0
√
3 f
g
⊥ −1
30
⊢1
x
Fun¸ co ˜es Limitadas Seja X um conjunto qualquer. Uma fun¸c˜ao f : X −→ R se diz limitada quando existe k ∈ R tal que |f (x)| ≤ k para todo x ∈ X.
Exemplos a) Um exemplo de fun¸c˜ ao limitada em toda a reta (X = R) ´e a fun¸c˜ ao seno, pois −1 ≤ sen x ≤ 1, para todo x real. y 1
q −π
q
−qπ2
0
qπ 2
qπ
q
q 2π
3π 2
R
−1 q
Uma fun¸c˜ ao pode n˜ ao ser limitada em um dom´ınio D, mas sim em ′ ´ o que veremos agora. um seu subconjunto D ⊂ D. E b) Das fun¸c˜ oes abaixo f : [ −1, 1 ] −→ R x 7−→ x
e
g : R −→ R x 7−→ x
apenas a primeira ´e limitada, uma vez que −1 ≤ x ≤ 1 ⇒ −1 ≤ f (x) ≤ 1 ⇒ |f (x)| ≤ 1. Por outro lado, n˜ ao existe k ∈ R de modo que |g(x)| = |x| ≤ k para todo x ∈ R. g(x)
f (x)
1
1
q
−1
1 −1
x
q
−1q
q1 −1
q
x
q
• f ´e limitada em seu dom´ınio, g n˜ ao. Sejam f e g fun¸c˜ oes limitadas, isto ´e, existem constantes k1 , k2 ∈ R tais que |f (x)| ≤ k1 e |g(x)| ≤ k2 , ent˜ao as fun¸c˜oes f ± g s˜ ao ainda limitadas, devido a que |f (x) ± g(x)| ≤ |f (x)| + |g(x)| ≤ k1 + k2 . 31
− Espa¸co das fun¸c˜oes reais limitadas
10) O espa¸ co B(X, R), Ψ
Indiquemos por B(X, R) o conjunto das fun¸c˜oes reais e limitadas de X em R. A aplica¸c˜ ao Ψ : B(X, R) × B(X, R) −→ R
dada por
Ψ(f, g) = sup est´ a bem definida.
|f (x) − g(x)| : x ∈ X
(devido ao axioma do supremo p. 612)
No apˆendice mostramos Ψ ´e uma m´etrica sobre B(X, R). Exemplo: Calcule a distˆ ancia entre as fun¸c˜oes
(p. 74)
f, g : [ 0, 1 [−→ R dadas por f (x) = 3x e g(x) = x. Solu¸ c˜ ao: Ψ(f, g) = sup |f (x) − g(x)| : x ∈ [ 0, 1 [ = sup |3x − x| : x ∈ [ 0, 1 [ = sup 2x : x ∈ [ 0, 1 [ = 2,
Porquanto
0 ≤ x < 1 ⇒ 0 ≤ 2x < 2 ⇒ |f (x) − g(x)| = 2x ∈ [ 0, 2 [. No gr´ afico fica assim y 3
q
2
q
1
q
0
f
(1,3)
← Ψ(f, g)=2 (1,1)
g
q1
q2
x
(0,0)
Observe que enquanto o par B(X, R), Ψ ´e um espa¸co m´etrico j´a n˜ ao acontece o mesmo com o par B(X, R), Υ . (ver p. 28) No caso do exemplo anterior as fun¸c˜oes f e g n˜ ao tˆem m´ aximo no conjunto X = [ 0, 1 [: Υ(f, g) = max |3x − 2x| : x ∈ [ 0, 1 [ = max 2x : x ∈ [ 0, 1 [ 32
porquanto, 0 ≤ x < 1 ⇒ 0 ≤ 2x < 2 ⇒ 2x ∈ [ 0, 2 [. Isto ´e, a aplica¸c˜ ao Υ : B(X, R) × B(X, R) −→ R n˜ ao estar´ a bem definida. Porque o par B(X, R), Γ n˜ ao ´ e um espa¸ co m´ etrico
Mostraremos agora que Γ (p. 27) n˜ ao ´e uma m´etrica sobre B(X, R). Consideremos X = [ 0, 1 ] e as fun¸c˜oes f, g ∈ B [ 0, 1 ], R , isto ´e,
f, g : [ 0, 1 ] −→ R; dadas por
f (x) = 1, ∀x ∈ [ 0, 1 ] e g(x) = Os gr´ aficos de f e g s˜ ao dados a seguir: f (x)
g(x)
1
1
se x 6=
1 2
1 , se x = 1 . 4 2
q
q
1 2 1 4
x
q1
0
1,
r
q q
q 12
0
q1
x
Observe que f e g diferem em um u ´nico ponto. Portanto pelo teorema [AR] 2 : (p. 603) Z 1 Z 1 g(x) dx f (x) dx = 0
0
logo, Z
1 0
f (x) dx −
Z
1 0
g(x) dx = 0 ⇐⇒
Z
0
1
f (x) − g(x) dx = 0
observe que no intervalo dado f (x) ≥ g(x), isto ´e, f (x) − g(x) ≥ 0. Portanto neste intervalo |f (x) − g(x)| = f (x) − g(x), logo Z b |f (x) − g(x)| dx Γ(f, g) = a
=
Z
0
1
f (x) − g(x) dx = 0.
Resumindo: tomamos dois pontos, f 6= g ∈ B(X, R) e mostramos que Γ(f, g) = 0. O que fere (M1 ). (p. 12) 33
1.2.4
Espa¸cos de C´ odigos
Agora daremos um importante exemplo de espa¸co m´etrico, largamente utilizado em Teoria da Informa¸ca ˜o (transmiss˜ ao de dados). C´ odigos que contˆem tanto caracteres alfab´eticos como num´ericos s˜ ao necess´arios quando microcomputadores se comunicam com dispositivos como fax ou um terminal de v´ıdeo, ou ainda para transformar os caracteres de um teclado em linguagem de computador. Esses c´odigos s˜ ao chamados c´ odigos alfanum´ericos. O c´ odigo alfanum´erico mais comumente usado em sistemas de microcomputador ´e o AMERICAN STANDARD Code for Information Interchange (C´ odigo Americano Padr˜ ao para Troca de Informa¸c˜oes) Uma listagem parcial do c´odigo ASCII ´e mostrada na tabela a seguir Caracter
ASCII
Caracter
ASCII
<
00111100
A
01000001
>
00111110
B
01000010
!
00100001
C
01000011
P
11100100
D
00100100
#
00100011
E
01000101
$
00100100
F
01000110
%
00100101
G
01000111
&
00100110
H
01001000
(
00101000
I
01001001
)
00101001
J
01001010
∗
00101010
K
01001011
[
01011011
L
01001100
]
01011101
M
01001101
+
00101011
N
01001110
−
00101101
O
01001111
/
00101111
P
01010000
0
00110000
Q
01010001
1
00110001
R
01010010
2
00110010
S
01010011
3
00110011
T
01010100
4
00110100
U
01010101
5
00110101
V
01010110
6
00110110
W
01010111
7
00110111
X
01011000
8
00111000
Y
01011001
9
00111001
Z
01011010
− TABELA
ASCII
34
A t´ıtulo de curiosidade a seguir vemos o diagrama de blocos de uma calculadora. Entrada 7
8
9
4
5
6
1
2
3
+
0
−
Saida
CPU
Codificador
ր
00110001 00101011 00110010
Teclado
Decodificador
ր
00110011
Display
Na figura estamos simulando a soma 1+ 2 = 3. Ao digitarmos no teclado 1+2 existe um circuito codificador que codifica estas informa¸c˜oes em bin´ ario de acordo com a TABELA ASCII vista anteriormente, ou seja, 1 ↔ 00110001;
+ ↔ 00101011;
2 ↔ 00110010
Estes c´ odigos bin´ arios s˜ ao entregues `a CPU que executa a soma pedida, o resultado ´e colocado na entrada de um circuito decodificador que decodifica o c´odigo bin´ ario em sua entrada, e na saida temos o resultado na base decimal. Defini¸ c˜ ao 2 (C´ odigo). Um c´ odigo bin´ ario ´e um conjunto de vetores bin´ arios odigo. O processo de con(de mesmo comprimento) chamados vetores de c´ vers˜ ao de uma mensagem em vetores de c´ odigo ´e chamado codifica¸ca ˜o, e o processo inverso ´e chamado decodifica¸ca ˜o. A transmiss˜ ao de dados codificados − via ondas eletromagn´eticas, pode ser − est´ a sujeita a v´arias fontes de erros, desde erros de digita¸c˜ao at´e interferˆencias eletromagn´eticas; os poss´ıveis erros s˜ ao chamados de ru´ıdos. A teoria dos c´ odigos corretores de erro ´e um campo de pesquisa muito ativo atualmente, com aplica¸c˜ oes em diversas ´areas tais como: matem´ atica, engenharia, computa¸c˜ ao e estat´ıstica.
Fonte de Informa¸ ca ˜o
Codifica¸ ca ˜o
Sinal
Canal
Ru´ıdo
35
Novo Sinal
Decodifica¸ ca ˜o
Destinat´ ario
C´ odigos bin´ arios e Espa¸cos m´ etricos O Nosso objetivo agora ser´ a contruir alguns espa¸cos m´etricos sobre os c´ odigos bin´ arios. Sequˆencias bin´ arias de qualquer tamanho podem ser obtidas tomando-se o produto cartesiano do conjunto: Z = { 0, 1 } Por exemplo: Z2 = { 0, 1 } × { 0, 1 } = { 00, 10, 01, 11 } Z3 = { 0, 1 } × { 0, 1 } × { 0, 1 } = { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 } Temos: Z2 = { 00, 10, 01, 11 } Z3 = { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 } Z4 = { 0000, 1000, 0100, 1100, 0010, 1010, 0110, 1110,
0001, 1001, 0101, 1101, 0011, 1011, 0111, 1111 }
O n´ umero de sequˆencias bin´ arias no conjunto Zn ´e 2n ; observe que os c´ odigos (sequˆencias) do teclado de um computador (Tabela ASCII) pertencem todos ao conjunto Z8 , neste conjunto podemos codificar at´e 28 = 256 caracteres. Nota: Por quest˜ oes did´ aticas estaremos preferencialmente dando ˆenfase aos c´ odigos bin´ arios de tamanho 4, entretanto o tamanho (comprimento) pode ser arbitr´ario. Vamos dispor os elementos de Z4 segundo uma tabela, assim: 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1
0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1
0 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 1 1 1 1
0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1
⇒
Z4 = 0000, 1000, 0100, 1100, 0010, 1010, 0110, 1110, 0001, 1001, 0101, 1101, 0011, 1011, 0111, 1111
36
11) Distˆ ancia de Hamming∗ Na teoria da informa¸ca ˜o a distˆ ancia de Hamming entre dois c´odigos de mesmo comprimento ´e o n´ umero de posi¸c˜oes nas quais eles diferem entre si. Mais precisamente: Tomemos dois pontos x, y ∈ Z4 e consideremos a seguinte aplica¸c˜ ao σ : Z4 × Z4 −→ R dada por σ(x, y) = n´ umero de posi¸co˜es em que x e y diferem entre si. σ assim definida ´e uma m´etrica sobre Z4 , ´e o que estaremos provando logo mais. Exemplos: Dados x = 1000, y = 0100 e z = 1111 em Z4 , calcule a distˆ ancia entre x e y, e entre x e z. Solu¸ ca ˜o: Temos, x: 1 0 0 0 y: 0 1 0 0
x: 1 0 0 0 z: 1 1 1 1
x e y diferem em duas posi¸c˜ oes, enquanto x e z diferem em trˆes posi¸c˜oes, portanto σ(1000, 0100) = 2 e σ(1000, 1111) = 3. Considerando xi como sendo a i−´esima entrada da sequˆencia x = x1 x2 x3 x4 de Z4 podemos, alternativamente, definir σ(x, y) como σ(x, y) =
4 X i=1
|xi − yi |
Forma esta mais apropriada para programa¸c˜ao (e demonstra¸c˜oes). Nota: Com um pouco de reflex˜ ao o leitor n˜ ao ter´ a dificuldade em concluir que o somat´ orio acima conta o n´ umero de posi¸co ˜es em que as sequˆencias x e y diferem entre si. Observe a equivalˆencia entre as opera¸c˜es: (xi − yi ) ≡ |xi − yi | onde a opera¸c˜ ao da esquerda verifica-se em Z
(p. 84)
e a da direita em R.
∗ Richard W. Hamming (1915−1998) obteve seu Ph.D. em Matem´ atica na Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, em 1942. De 1946 a 1976, trabalhou no Bell Labs, depois integrou-se ao corpo docente na US Naval Postgraduate School, em Monterey, Calif´ ornia. Em 1950, publicou seu trabalho fundamental em c´ odigos corretores de erros, dando uma constru¸c˜ ao expl´ıcita para os c´ odigos de otimiza¸c˜ ao que Claude Shannon tinha provado serem teoricamente poss´ıveis, em 1948.
37
Calculemos a distˆ ancia entre as sequˆencias x = 1000 e y = 0100: 4 X |xi − yi | σ 1000, 0100 = i=1
= |x1 − y1 | + |x2 − y2 | + |x3 − y3 | + |x4 − y4 | = |1 − 0| + |0 − 1| + |0 − 0| + |0 − 0| = 2.
Mostremos que (Z4 , σ) ´e um espa¸co m´etrico: Prova: (M1 ) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y.
Obviamente σ(x, y) ≥ 0. Se σ(x, y) = 0 ent˜ao, pela defini¸c˜ao de σ, x e y diferem em 0 posi¸c˜ oes, isto ´e x = y. Se x = y ent˜ao x e y coincidem em todas as posi¸c˜ oes, isto ´e σ(x, y) = 0. (M2 ) d(x, y) = d(y, x) :
Obviamente que o n´ umero de posi¸c˜oes em que x difere de y ´e igual ao n´ umero de posi¸c˜ oes em que y difere de x, ou seja, σ(x, y) = σ(y, x). (M3 ) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y) : Devemos mostrar que σ(x, y) ≤ σ(x, z) + σ(z, y). Isto ´e que 4 X i=1
|xi − yi | ≤
4 X i=1
|xi − zi | +
4 X i=1
|zi − yi |
(1.12)
Pois bem, usando a desigualdade triangular para n´ umeros reais, podemos escrever: |x1 − y1 | ≤ |x1 − z1 | + |z1 − y1 | .............................. |x4 − y4 | ≤ |x4 − z4 | + |z4 − y4 | Somando estas quatro desigualdades obtemos |x1 − y1 | + · · · + |x4 − y4 | ≤ |x1 − z1 | + · · · + |x4 − z4 | + |z1 − y1 | + · · · + |z4 − y4 |
que ´e exatamente a desigualdade (1.12).
A t´ıtulo de curiosidade, as sequˆencias em ZN s˜ ao os v´ertices de um hipercubo em dimens˜ao N , por exemplo, para Z3 = { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 } 001
011
101
111 000
100
010 110
38
Uma f´ ormula para gerar os c´ odigos em ZN ´ um prazer puro da alma espalhar pelo mundo o fruto de seus esE tudos e medita¸co ˜es, ainda sem outra remunera¸ca ˜o que a consciˆencia de fazer bem. (Jos´ e Bonif´ acio) J´ a n˜ ao conto mais o n´ umero de f´ormulas que deduzi (e/ou demonstrei) na matem´ atica, confesso que, pela f´ormula a seguir, tenho um carinho todo especial∗ .
xij =
1, se
0, se
i−1 j−1 2 i−1 j−1 2
´e ´ımpar; (1.13) ´e par.
Esta f´ormula nos permite gerar os c´odigos bin´ arios (ou os v´ertices do hipercubo), onde: xij ´e o j−´esimo bit do c´odigo i de ZN . Fixado N fazemos i = 1, 2, . . . , 2N e j = 1, 2, . . . , N Por exemplo, para N = 2, temos: i = 1, 2, 3, 4 e j = 1, 2. Ent˜ao 1−1 i = 1, j = 1 ⇒ = 0 ⇒ x11 = 0 21−1 1−1 = 0 ⇒ x12 = 0 i = 1, j = 2 ⇒ 2−1 2
........................................... 2−1 i = 2, j = 1 ⇒ = 1 ⇒ x11 = 1 21−1 2−1 i = 2, j = 2 ⇒ = 0 ⇒ x12 = 0 2−1 2
........................................... 3−1 i = 3, j = 1 ⇒ = 2 ⇒ x11 = 0 21−1 3−1 = 1 ⇒ x12 = 1 i = 3, j = 2 ⇒ 2−1 2
........................................... 4−1 = 3 ⇒ x11 = 1 i = 4, j = 1 ⇒ 21−1 4−1 i = 4, j = 2 ⇒ = 1 ⇒ x12 = 1 2−1 2
Sendo assim, temos:
Z2 = { |{z} 00 , |{z} 10 , |{z} 01 , |{z} 11 } i=1
i=2
i=3
i=4
Os dois espa¸cos m´etricos a seguir s˜ ao tamb´em contribui¸c˜oes minha. ∗
Precisamente pelos detalhes t´ecnicos envolvidos em sua dedu¸c˜ ao e demonstra¸c˜ ao.
39
12) O espa¸ co Z4 , ρ Tomemos dois pontos x, y ∈ Z4 e consideremos a seguinte aplica¸c˜ao ρ : Z4 × Z4 −→ R definida por
4 X 2i−1 · (xi − yi ) ρ(x, y) = i=1
ρ assim definida ´e uma m´etrica sobre Z4 .
(Apˆ endice, p. 76)
Exemplos: Dados x = 1000, y = 0100 e z = 1111 em Z4 , calcule a distˆ ancia entre x e y, e entre x e z. Solu¸ c˜ ao: temos, 4 X i−1 2 · (xi − yi ) ρ 1000, 0100 = i=1
Tamb´em
= 20 · (1 − 0) + 21 · (0 − 1) + 22 · (0 − 0) + 23 · (0 − 0) = 1.
ρ 1000, 1111 = 20 · (1 − 1) + 21 · (0 − 1) + 22 · (0 − 1) + 23 · (0 − 1) = 14.
Compare com as distˆ ancias obtidas no espa¸co (Z4 , σ). (p. 37) Uma outra alternativa para se calcular a distˆ ancia ρ(x, y) ´e converter as sequˆencias x e y da base bin´ aria para a base 10 e usar a m´etrica µ. Na tabela seguinte a u ´ltima coluna ´e o correspondente em decimal da sequˆencia bin´ aria. 20 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1
21 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1
22 0 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 1 1 1 1
23 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Por exemplo: ρ(1000, 0100) = |1−2| = 1. ρ(1000, 1111) = |1−15| = 14.
40
13) O espa¸ co ZN , τ
Tomemos dois pontos x, y ∈ ZN e consideremos a seguinte aplica¸c˜ao τ : ZN × ZN −→ R definida por τ (x, y) = max i : xi 6= yi ,
1 ≤ i ≤ N.
τ assim definida ´e uma m´etrica sobre ZN . No apˆendice mostramos que τ satisfaz a desigualdade triangular. (p. 77) Nota: max i : xi 6= yi = maior posi¸c˜ao em que x e y diferem entre si. Exemplos: Dados x = 1000, y = 0100 e z = 1111 em Z4 , calcule a distˆ ancia entre x e y e entre x e z. Solu¸ ca ˜o: Temos, x: 1 0 0 0 y: 0 1 0 0
x: 1 0 0 0 z: 1 1 1 1
Ent˜ ao: i : xi 6= yi = {1, 2} i : xi 6= zi = {2, 3, 4}
⇒ ⇒
max 1, 2 = 2 max 2, 3, 4 = 4
⇒
τ (x, y) = 2.
⇒
τ (x, z) = 4.
A tabela a seguir compara as distˆ ancias vistas nos trˆes espa¸cos m´etricos:
(x, y) (x, z)
σ
ρ
τ
2
1
2
3
14
4
x=1000 y=0100 z=1111
Nota: No caso de duas sequˆencias iguais estamos assumindo que max =0
Esta igualdade pode ser provada por “vacuidade”, no sentido de que ela jamais poder´ a ser contraditada∗ . Alternativamente, poderiamos ter definido ( max i : xi 6= yi , se x 6= y; τ (x, y) = 0, se x = y. ∗´
E semelhante ` a prova de que o conjuto vazio ´e subconjunto de qualquer conjunto.
41
14) O espa¸ co Z∞ , ν Consideremos agora o produto cartesiano infinito Z∞ = {0, 1} × {0, 1} × {0, 1} × · · · Os elementos deste conjunto s˜ ao sequˆencias infinitas x = x1 x2 x3 . . . de 0′ s e 1′ s, como por exemplo x =1010101010 . . . y =1110101110 . . . z =0011001100 . . . Sendo σ(x, y) =
N X
n=1
|xn − yn |
uma m´etrica sobre ZN , poderiamos ser tentados a definir uma m´etrica sobre Z∞ assim ∞ X |xn − yn | σ(x, y) = n=1
Acontece que neste caso temos uma soma infinita (s´erie) que pode n˜ ao resultar em um valor finito. Uma distˆ ancia ´e um n´ umero real. Por exemplo, seja x = 111111 . . . e y = 000000 . . ., ent˜ao x − y = (x1 − y1 ) (x2 − y2 ) (x3 − y3 ) . . . = (1 − 0) (1 − 0) (1 − 0) (1 − 0) . . . = 1 1 1 1 . . . portanto σ(x, y) =
∞ X
n=1
|xn − yn |
= |x1 − y1 | + |x2 − y2 | + |x3 − y3 | + · · · = 1 + 1 + 1 + 1 + ··· Esta s´erie n˜ ao converge. Para contornar esta situa¸c˜ao vamos introduzir um “fator de convergˆencia” na s´erie anterior. Para mostrar que a aplica¸c˜ao ν : Z∞ × Z∞ −→ R dada por
∞ X |xn − yn | ν(x, y) = 2n n=1
est´ a bem definida, devemos mostrar que esta s´erie ´e convergente. 42
Ent˜ ao, observe que para quaisquer x, y em Z∞ vale 0 ≤ |xn − yn | ≤ 1. Dividindo esta dupla desiguladade por 2n , temos 0≤
|xn − yn | 1 ≤ n n 2 2
P P 1 erie ∞ como a s´erie ∞ n=1 n=1 2n converge segue-se que a s´ converge. Sendo assim ν est´ a bem definida. A prop´osito observe que
|xn −yn | 2n
tamb´em
∞ ∞ X |xn − yn | X 1 ≤ ν(x, y) = n n = 1. 2 2 n=1 n=1
Resumindo: 0 ≤ ν(x, y) ≤ 1. Isto ´e, a distˆ ancia entre duas sequˆencias do espa¸co m´etrico Z∞ , ν nunca excede a unidade. Dos requisitos para uma m´etrica vamos mostrar que ν satisfaz a desigualdade triangular: A seguinte desigualdade |xn − yn | ≤ |xn − zn | + |zn − yn | ´e v´alida para xn , yn e zn reais (´e mais do que necessitamos). Dividindo a desigualdade anterior por 2n , temos |x − z | |z − y | |xn − yn | ≤ n n n + n n n n 2 2 2 por conseguinte ∞ ∞ ∞ X |xn − yn | X |xn − zn | X |zn − yn | ≤ + 2n 2n 2n n=1
n=1
n=1
isto ´e, ν(x, y) ≤ ν(x, z) + ν(z, y)
Exemplo: Calcule a distˆ ancia entre x = 111111 . . . e y = 010101 . . .. Solu¸ ca ˜o: x − y = (1 − 0) (1 − 1) (1 − 0) (1 − 1) . . . = 1 0 1 0 1 0 . . . . portanto ν(x, y) =
∞ X |xn − yn | 1 0 1 0 1 0 = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· n 2 2 2 2 2 2 2 n=1
=
1 1 1 1 + + + ··· = 2 2 8 32 1−
1 4
2 = . 3
A proposi¸c˜ ao seguinte assevera que se x e y s˜ ao duas sequˆencias de Z∞ coincidentes nas primeiras j posi¸co˜es, ent˜ao suas distˆ ancias n˜ ao excede 1j e 2 reciprocamente. 43
Proposi¸ c˜ ao 1. Sejam x e y ∈ Z∞ e suponha xn = yn para n = 1, 2, . . . , j. Ent˜ ao ν(x, y) ≤ 1j . Reciprocamente, se ν(x, y) < 1j ent˜ ao xn = yn para 2 2 n ≤ j. Prova: (⇒) Se xn = yn para n ≤ j, ent˜ao ν(x, y) =
∞ X |xn − yn | 2n n=1
j ∞ X X |xn − yn | |xn − yn | + = n 2 2n n=1 n=j+1 | {z } =0
≤
∞ X
1 1 1 1 1 n = j+1 + j+2 + j+3 + · · · = j 2 2 2 2 2 n=j+1
(⇐) (T´ecnica (T-1), ν(x, y) =
p. 570)
Suponha xk 6= yk para algum k ≤ j , ent˜ao
∞ k X |xn − yn | X |xn − yn | 1 1 ≥ ≥ k ≥ j n n 2 2 2 2 n=1 n=1
Coment´ arios: A primeira das desigualdades acima ´e sempre v´alida (´ obvio, pois somar infinitos termos positivos resulta sempre maior ou igual ao resultado da soma de uma quantidade finita destes mesmos termos ). A Pk |xn −yn | ´e no m´ınimo segunda desigualdade se justifica pois a soma n n=1 2 1 gual a k , pois para o ´ındice k temos xk 6= yk , isto ´e |xk − yk | = 1. A u ´ltima 2 desigualdade decorre de 1 1 j ≥ k ⇒ 2j ≥ 2k ⇒ j ≤ k 2 2 A importˆ ancia deste resultado ´e que podemos decidir de imediato quando ou n˜ ao duas sequˆencias em Z∞ est˜ ao pr´ oximas uma da outra. Intuitivamente este resultado diz que duas sequˆencias em Z∞ est˜ ao pr´ oximas se suas “primeiras” entradas coincidem. Para futuras referˆencias, mencionaremos uma generaliza¸c˜ao da desigualdade triangular, para n pontos: d(x1 , xn ) ≤ d(x1 , x2 ) + d(x2 , x3 ) + · · · + d(xn−1 , xn ) (M, d) • x1
• xn • x2
• x3
...
• xn−1
Esta desigualdade pode ser estabelecida por indu¸c˜ao sobre n. 44
(1.14)
A seguinte desigualdade tamb´em nos ser´ au ´til futuramente: Proposi¸ c˜ ao 2. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se x, y e z s˜ ao pontos quaisquer em M , ent˜ ao a seguinte desigualdade d(x, y) − d(x, z) ≤ d(y, z)
´e verdadeira.
Prova: Da desigualdade triangular temos d(x, y) − d(x, z) ≤ d(z, y)
(1.15)
Por outro lado a mesma desiguldade triangular pode ser expressa como d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z) ⇒ d(x, z) − d(x, y) ≤ d(y, z) Combinando (1.15) com esta u ´ltima desigualdade obtemos: d(x, y) − d(x, z) ≤ d(y, z).
1.3
Distˆ ancia entre Ponto e Conjunto
Lembramos − da geometria anal´ıtica − que a distˆ ancia de um ponto p = x0 , y0 a uma reta r : ax + by + c = 0 ´e dada por y
t
p
dpr
0
⊡
dpr
a x0 + b y 0 + c = √ a2 + b2
r
x
Este ´e um exemplo de distˆ ancia entre ponto e conjunto. Ainda aqui temos uma situa¸c˜ ao suscet´ıvel de generaliza¸c˜ao no contexto dos espa¸cos m´etricos. 45
A t´ıtulo de exemplo, consideremos no espa¸co m´etrico (R, µ), o ponto p = 1 e o conjunto X = [ 3, 5 ]. Veja: q −1
q0
t
q p=1
q2
X
[ 3q
q4
q] 5
R
Desejamos calcular a distˆ ancia de p a X. Inicialmente vamos calcular o seguinte conjunto d( p, x) : x ∈ X
das distˆ ancias de p aos elementos de X. Observe,
q −1
q0
t
q p=1
d( p, x)
q2
[
3q
tx
↔ q
q] 5
R
Ent˜ ao, Temos
d( p, x) : x ∈ X = d(1, x) : x ∈ [ 3, 5 ] = |x − 1| : 3 ≤ x ≤ 5
3 ≤ x ≤ 5 ⇒ 2 ≤ x − 1 ≤ 4 ⇒ |x − 1| ∈ [ 2, 4 ] Portanto
d( p, x) : x ∈ X = [ 2, 4 ]
Este ´e o conjunto de todas as distˆ ancias poss´ıveis de p aos elementos de X. Vamos tomar como distˆ ancia do ponto p = 1 ao conjunto X, que denotaremos por d(1, X), a menor das distˆ ancias encontradas, isto ´e: d(1, X) = min d(1, x) : x ∈ X = min [ 2, 4 ] = 2
No gr´ afico fica assim:
q −1
q0
t
q p=1
d(1, X)
q2
[t
3q
X
q4
q] 5
R
Colocamos a seguinte quest˜ao: e se tiv´essemos tomado o conjunto X aberto ` a esquerda? Isto ´e, X =] 3, 5 ]. Neste caso ter´ıamos obtido: d( p, x) : x ∈ X = ] 2, 4 ]
E este conjunto das distˆ ancias n˜ ao possui um menor elemento. Para os nossos prop´ositos isto n˜ ao constitui um problema. 46
Defini¸ c˜ ao 3. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Dados X ⊂ M (X 6= ∅) e p ∈ M , chama-se distˆ ancia de p ao conjunto X, e indica-se por d(p, X), o seguinte n´ umero real n˜ ao negativo: d(p, X) = inf d( p, x) : x ∈ X Observe d( p, X) assim definida existe pelo fato de que o conjunto d( p, x) : x ∈ X
´e limitado inferiormente por zero, pois 0 ≤ d( p, x), ∀ x ∈ X.(prop.
146, p. 612)
Em particular, para o questionamento anterior, temos: d 1, ] 3, 5 ] = inf d(x, 1) : x ∈ ] 3, 5 ] = inf |x − 1| : 3 < x ≤ 5 = inf ] 2, 4 ] = 2. q −1
q0
t
q p=1
d(1, X)
q2
3
]
X
q4
q] 5
Exemplos: 1) Seja M = R, p = 0 e seja 1 1 1 1 : n ∈ N = 1, , , , . . . ⊂ R. X= n 2 3 4 • No espa¸co (R, δ), temos
d(p, X) = inf { d(p, x) : x ∈ X } o n 1 = inf δ(0, x) : x ∈ { : n ∈ N } n 1 = inf δ(0, ) : n ∈ N n 1 1 = inf δ(0, 1), δ(0, ), δ(0, ), . . . 2 2 = inf { 1, 1, 1, . . .} = 1.
• No espa¸co (R, µ), temos
d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X n o 1 = inf µ(0, x) : x ∈ { : n ∈ N} n o n 1 = inf 0 − : n ∈ N n n1 o = inf : n ∈ N = 0. n Ver exemplo 2 (p. 610). 47
R
2) Uma Patologia Seja M = [ 0, 1 [, seja X = [ 21 , 1 [ ⊂ M e seja p = 0 ∈ M . Veja, 0
1
s
0
1
1 2
M
X
Temos
(ver subespa¸co, p. 81)
d(0, X) = 1/2,
no espa¸co
[ 0, 1 [, µ
d(0, X) = 0,
no espa¸co
[ 0, 1 [, k
De fato,
d(0, X) = inf d(0, x) : x ∈ X = inf µ(0, x) : x ∈ X }
1 1 ,1 = = inf |x − 0| : x ∈ 2 2
Por outro lado,
d(0, X) = inf d(0, x) : x ∈ X
1 = inf k(0, x) : x ∈ ,1 2
Temos
(ver equa¸ca ˜o (1.2), p. 18)
1 1 1 ≤x <1 ⇒ 0<1−x≤ ⇒ k(0, x) = 1 − x ∈ 0, 2 2 2
Portanto,
1 1 ,1 = inf 0, = 0. d(0, X) = inf k(0, x) : x ∈ 2 2
Olhando para a figura abaixo s
0
1
1 2
X
fica dif´ıcil de “engolir” que a distˆ ancia do ponto 0 ao conjunto X seja nula. Ainda bem que os fil´ osofos existem para `as vezes nos trazer algum conforto. (Voltaire, p. 17; Bachelard, p. 16)
48
3) Seja M = [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ o quadrado unit´ ario, X = 21 , 1 × 21 , 1 ; e p = (0, 0) ∈ M . Vamos mostrar que, √ [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, D1 d(0, X) = 2/2, no espa¸co d(0, X) = 1, no espa¸co [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, D2 1
1
←− X ¬ 1 2
¬
1 2
0
s
1
p=0
1
De fato, d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X = inf D1 (0, 0); (x, y) : (x, y) ∈ X np o 1 (x − 0)2 + (y − 0)2 : ≤ x, y < 1 = inf 2
para encontrar d(p, X) vamos encontrar o ´ınfimo da fun¸c˜ao, F (x, y) = Ent˜ao,
p
x2 + y 2 , para
1 1 ≤x<1 ⇒ ≤ x2 < 1 2 4
1 ≤ x, y < 1. 2
1 1 ≤y<1 ⇒ ≤ y 2 < 1, 2 4
e
portanto, 1 ≤ x2 + y 2 < 2 ⇒ 2 Conclus˜ao: se
portanto,
1 2
√
√ 2 p 2 ≤ x + y2 < 2 2
≤ x, y < 1 implica que
h p F (x, y) = x2 + y 2 ∈
√
2 √ h , 2 2
1 ≤ x, y < 1 2 h √2 √ h √2 , 2 = = inf 2 2
d(p, X) = inf
p
x2 + y 2 :
49
Por outro lado, d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X = inf D2 (0, 0); (x, y) : (x, y) ∈ X n o 1 = inf |x − 0| + |y − 0| : ≤ x, y < 1 2
para encontrar d(p, X) vamos encontrar o ´ınfimo da fun¸c˜ao, F (x, y) = |x| + |y| , para
1 ≤ x, y < 1. 2
Ent˜ ao, 1 ≤x<1 2
e
1 ≤y <1 ⇒ 1≤x+y <2 2
portanto, d(p, X) = inf [ 1, 2 [= 1. Proposi¸ c˜ ao 3. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se X ⊂ M (X 6= ∅) e p, q s˜ ao pontos fixados em M , tem-se d(p, X) − d(q, X) ≤ d(p, q)
Prova: Tomemos y ∈ X arbitr´ario. Temos d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X ≤ d(p, y), uma vez que d(p, y) ´e um elemento do conjunto d(p, x) : x ∈ X . Portanto d(p, X) ≤ d(p, y) ≤ d(p, q) + d(q, y)
logo, d(p, X) − d(p, q) ≤ d(q, y). Como esta desigualdade vale para y ∈ X arbitr´ario, segue que a constante (n´ umero real) d(p, X) − d(p, q) ´e uma cota inferior do conjunto d(q, x) : x ∈ X como
inf d(q, x) : x ∈ X = d(q, X)
´e a maior de tais cotas, segue que
d(p, X) − d(p, q) ≤ d(q, X) Esta desigualdade continua v´alida permutando-se p e q: d(q, X) − d(q, p) ≤ d(p, X) 50
Destas desigualdades decorrem, respectivamente, d(p, X) − d(q, X) ≤ d(p, q) −d(p, q) ≤ d(p, X) − d(q, X) donde −d(p, q) ≤ d(p, X) − d(q, X) ≤ d(p, q) isto ´e,
d(p, X) − d(q, X) ≤ d(p, q)
O pr´ oximo ´ıtem generaliza o anterior (Distˆancia entre ponto e conjunto).
1.4
Distˆ ancia entre conjuntos
A t´ıtulo de exemplo, consideremos no espa¸co m´etrico (R, µ) os conjuntos X = [ 1, 3 ] e Y = ] 5, 7 ]. Veja:
q −1
q0
[
q 1
X
q] 3
q2
q4
Y
q] 5
q6
q] 7
q8
R
Desejamos calcular a distˆ ancia de X a Y . Inicialmente vamos calcular o seguinte conjunto d( x, y) : x ∈ X e y ∈ Y
das distˆ ancias dos pontos de X aos pontos de Y . Observe,
q −1
q0
[
q 1
tx q ↔ q] 3
d(x, y)
q4
]
5q
ty
↔ q
q] 7
q8
R
Ent˜ ao,
d( x, y) : x ∈ X e y ∈ Y
Temos
= d( x, y) : x ∈ [ 1, 3 ] e y ∈ ] 5, 7 ] = |x − y| : 1 ≤ x ≤ 3 e 5 < y ≤ 7
1 ≤ x ≤ 3 e 5 < y ≤ 7 ⇒ |x − y| ∈ ] 2, 6 ] Portanto
d( x, y) : x ∈ X e y ∈ Y
= ] 2, 6 ]
Este ´e o conjunto de todas as distˆ ancias poss´ıveis entre os elementos de ambos os conjuntos. 51
Vamos tomar como distˆ ancia entre os conjuntos X e Y , que denotaremos por D(X, Y ), a “menor” das distˆ ancias encontradas, isto ´e: D(X, Y ) = inf d( x, y) : x ∈ X e y ∈ Y = inf ] 2, 6 ] = 2
No gr´ afico fica assim: D(X, Y )
q −1
q0
[
q 1
X
q] 3
q2
Y
q] 5
q4
q6
q] 7
q8
R
Defini¸ c˜ ao 4. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Dados dois subconjuntos X e Y do conjunto M , ambos n˜ ao vazios, chama-se distˆ ancia de X a Y , e indica-se por D(X, Y ), o n´ umero real obtido da seguinte forma: D(X, Y ) = inf d( x, y) : x ∈ X e y ∈ Y
Alternativamente podemos escrever
D(X, Y ) = inf d(x, y) : (x, y) ∈ X × Y
Exemplos: 1) No conjunto Z4 , sejam X, Y ⊂ Z4 dados por
X = 0001, 0100, 1100 Y = 0101, 0011
No espa¸co m´etrico Z4 , σ temos o seguinte diagrama de distˆ ancias Y
0011
1
3
4
0101
1
1
2
0001
0100
1100
X
portanto, D(X, Y ) = inf σ(x, y) : (x, y) ∈ X × Y = inf { 1, 2, 3, 4 } = 1. 52
isto ´e
D {0001, 0100, 1100}; {0101, 0011} = 1. 1 :n∈N . 2) Seja M = R; sejam X = { 0 } e Y = n s ⊢ 0
rrrrr r r r
...
1 4
r
1 3
r
r
1 2
1
R
• No espa¸co m´etrico ( R, δ), temos 1 D(X, Y ) = inf δ(x, y) : x ∈ { 0 } e y ∈ :n∈N n 1 1 = inf δ(0, 1), δ 0, , δ 0, ,... 2 3 = inf { 1, 1, 1, . . .} = 1.
Portanto, 1 : n ∈ N = 1. D { 0 }; n
• No espa¸co m´etrico ( R, µ), temos 1 D(X, Y ) = inf |x − y| : x ∈ { 0 } e y ∈ :n∈N n 1 = inf 0 − : n ∈ N n 1 = inf : n = 1, 2, . . . = 0. n Observe que X ∩ Y = ∅ e, no entanto, D(X, Y ) = 0.
1.5
Conjuntos limitados − Diˆ ametro
Defini¸ c˜ ao 5 (Conjunto limitado). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X um subconjunto de M . Se existir uma constante c > 0 tal que d(x, y) ≤ c para quaisquer x e y em X, dizemos que X ´e um conjunto limitado no espa¸co m´etrico (M, d). Exemplos: 1) R ´e limitado no espa¸co m´etrico (R, δ), pois δ(x, y) ≤ 1, ∀x, y ∈ R. 2) R n˜ ao ´e limitado no espa¸co m´etrico (R, µ), pois n˜ ao existe uma constante c > 0 de modo que, por exemplo, |x − 0| ≤ c, ∀ x ∈ R. 53
N 3) O conjunto Z das sequˆencias de comprimento N ´e limitado no espa¸co N m´etrico Z , σ , pois duas sequˆencias quaisquer, neste conjunto, diferem em, no m´ aximo, N posi¸c˜oes:
∀ x, y ∈ ZN .
σ(x, y) ≤ N,
A prop´osito as sequˆencias x = 0 0 0 . . . 0 e y = 1 1 1 . . . 1 diferem em N posi¸c˜ oes. 4) O conjunto ZN ´e limitado no espa¸co m´etrico ZN , ρ , pois (p. 77) ρ(x, y) ≤ 2N − 1, ∀ x, y ∈ ZN
5) O conjunto Z∞ das sequˆencias de comprimento infinito, ´e limitado no espa¸co m´etrico (Z∞ , ν), pois (p. 43) ν(x, y) ≤ 1, ∀ x, y ∈ Z∞ Se existir uma tal constante c > 0 de modo que d(x, y) ≤ c para quaisquer x e y em X ent˜ ao o conjunto d(x, y) : x, y ∈ X ´e limitado superiormente e o seu supremo chama-se diˆ ametro de X e ´e denotado por diam (X). Sendo assim: diam (X) = sup d(x, y) : x, y ∈ X Alternativamente podemos escrever diam (X) = sup d(x, y) : (x, y) ∈ X × X
Se o conjunto X n˜ ao ´e limitado colocamos diam(X) = ∞, por defini¸c˜ao.
Exemplos: 1) Seja M = R = X. No espa¸co m´etrico (R, δ) o diˆ ametro de R fica: diam(R) = sup δ(x, y) : x, y ∈ R = sup { 0, 1 } = 1.
2) Seja M = [ 0, 1 [, temos:
De fato, Ent˜ ao,
diam(M ) = 1,
no espa¸co
[ 0, 1 [, µ
diam(M ) = 1/2,
no espa¸co
[ 0, 1 [, k
diam (M ) = sup |x − y| : (x, y) ∈ [ 0, 1 [×[ 0, 1 [ 0 ≤ x, y < 1 ⇒ 0 ≤ |x − y| < 1
Portanto, diam (M ) = sup [ 0, 1 [ = 1. 54
Por outro lado, diam (M ) = sup k(x, y) : (x, y) ∈ [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [
Observe que,
|x − y|, k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y| = 1 − |x − y|,
Ent˜ao, se
Caso contr´ ario
1 1 ≤ |x − y| < 1 ⇒ 0 < 1 − |x − y| ≤ 2 2
|x − y| ≥ 1/2 ⇒
Portanto
se |x − y| ≥ 12 .
1 1 ⇒ k(x, y) = |x − y| ∈ 0, 2 2
|x − y| ≤
sendo assim
se |x − y| ≤ 12 ;
1 k(x, y) = 1 − |x − y| ∈ 0, 2
diam (M ) = sup
k(x, y) : (x, y) ∈ [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [
3) No espa¸co (Z∞ , ν) temos
=
1 2
0 ≤ ν(x, y) ≤ 1 ⇒ ν(x, y) ∈ [ 0, 1 ]. Portanto, diam (Z∞ ) = sup { ν(x, y) : (x, y) ∈ Z∞ × Z∞ } = sup [ 0, 1 ] = max [ 0, 1 ] = 1.
4) No espa¸co ZN , σ temos que
σ(x, y) ∈
Portanto
0, 1, 2, . . . , N
diam ZN = sup σ(x, y) : (x, y) ∈ ZN × ZN
= sup { 0, 1, 2, . . . , N } = max { 0, 1, 2, . . . , N } = N. Por exemplo, diam Z4 = 4, corresponde `a distˆ ancia entre os c´odigos 0 0 0 0 e 1 1 1 1. 5) No espa¸co ZN , ρ temos que ρ(x, y) ∈ 0, 1, 2, . . . , 2N − 1 55
Portanto, diam ZN = sup ρ(x, y) : (x, y) ∈ ZN × ZN = sup 0, 1, 2, . . . , 2N − 1 = 2N − 1. Por exemplo, diam Z4 = 24 − 1 = 15, corresponde `a distˆ ancia entre os c´ odigos 0 0 0 0 e 1 1 1 1. 6) Diˆ ametro do disco unit´ ario. Vamos calcular o diˆ ametro do seguinte conjunto R
x2
1
D
D=
x = (x1 , x2 ) ∈ R2 : x21 + x22 ≤ 1
no espa¸co m´etrico R2 , D1 .
x1 −1
1
R
−1
Seja p = (0, 0) e sejam x = (x1 , x2 ) ∈ D e y = (y1 , y2 ) ∈ D arbitr´arios. Temos D1 (x, y) ≤ D1 (x, p) + D1 (p, y) ≤ 2 porquanto p D1 (x, p) = D1 (x1 , x2 ), (0, 0) = (x1 − 0)2 + (x2 − 0)2 ≤ 1 p D1 (p, y) = D1 (0, 0), (y1 , y2 ) = (0 − y1 )2 + (0 − y2 )2 ≤ 1
Pois bem, 2 ´e uma cota superior do conjunto {D1 (x, y) : x, y ∈ D} = K. Para mostrar que 2 = sup K ´e suficiente, consoante o lema 10 (⇐) p. 606, para todo ε > 0 dado exibir x, y ∈ D tais que: 2 − ε < D1 (x, y). Consideremos duas possibilidades: 1a ) ε ≥ 2, isto ´e, 2 − ε ≤ 0. Neste caso quaisquer x e y em D nos serve uma vez que D1 (x, y) > 0. 2a ) 0 < ε < 2. Neste caso temos 2 − ε > 0, pela propriedade arquimediana 2−ε (p. 612) existe n = nε ∈ N de modo que n > ε . Vamos mostrar que, para este n, os pontos n n ,0 e y= − ,0 n+1 n+1
x=
satisfazem as duas seguintes exigˆencias: a) x, y ∈ D, porquanto ±
n 2 + 02 ≤ 1 ⇐⇒ n ≤ n + 1 n+1 56
b) 2 − ε < D1 (x, y), porquanto r 2 n n D1 (x, y) = − − + (0 − 0)2 = n+1 n+1
2n n+1
e
2−ε 2n > 2 − ε ⇐⇒ n > n+1 ε
Esta u ´ltima desigualdade ´e verdadeira porque assim escolhemos, a priori, o valor de n. Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que √ diam(D) = 2 2, na m´etrica D2 , diam(D) = 2,
na m´etrica D3 .
E mais: os pontos x, y cujas distˆ ancias proporcionam o diˆ ametro, em cada caso, s˜ ao extremidades das cordas nas figuras a seguir:
Ou seja: Na m´etrica euclidiana a equa¸c˜ao D1 (x, y) = diam(D) ´e satisfeita por quaisquer pontos x, y extremos das cordas que passam pelo centro do disco. Na m´etrica D2 a equa¸c˜ao D2 (x, y) = diam(D) ´e satisfeita apenas pelos pontos x, y extremos das cordas que passam pelo centro segundo os ˆangulos de 45◦ e 135◦ . Na m´etrica D3 a equa¸c˜ao D3 (x, y) = diam(D) ´e satisfeita apenas pelos pontos x, y extremos das cordas que passam pelo centro segundo os ˆ angulos de 0◦ e 90◦ . No caso da m´etrica D2 o diˆ ametro de D ´e como na figura a seguir: √
√ 2 , 22 2
−
√ 2 ,− 22 2
√
√
√
√
√
diam(D) = D2 ( 22 , 22 );(− 22 ,− 22 ) √ √ √ √ = 22 −(− 22 ) + 22 −(− 22 ) √ = 2 2.
∗
∗
∗ Dogmas s˜ ao pris˜ oes, um esp´ırito que queira realizar belas obras, que tamb´ em queira os meios necess´ arios, tem de ser c´ etico.
Estar livre de toda forma de
cren¸ca pertence ` a for¸ca, ao poder de ver sem algemas.
57
(Nietzsche)
1.6
Exerc´ıcios
1) Quais das fun¸c˜ oes dadas a seguir s˜ ao m´etricas sobre R? a ) d(x, y) = |x + y|
b ) d(x, y) = |x| + |y| c ) d(x, y) = |x| − |y|
d ) d(x, y) = (x − y)2 e ) d(x, y) = 2 |x − y|
2) Quais das fun¸c˜ oes dadas a seguir s˜ ao m´etricas sobre R2 ? a ) d(x, y) = |x1 − y1 | b ) d(x, y) = 2 |x1 − y1 | + |x2 − y2 |
c ) d(x, y) = |x1 + y1 | + |x2 + y2 | d ) d(x, y) = |x1 − y1 | − |x2 − y2 | e ) d(x, y) = min |x1 − y1 |, |x2 − y2 | Onde, x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ). 3) Resolva, no intervalo [ 0, 1 [, as seguintes rela¸c˜oes: a ) k(x, 0) < 14 b ) k(x, 0) = c ) k(x, 0) < d ) k(x, 41 ) < e ) k(x, 43 ) <
1 2 3 4 1 4 3 8
Fa¸ca um esbo¸co geom´etrico de cada uma das solu¸c˜oes. 4) No Bhagavad Gita∗ est´ a escrito: “Est´ a dentro e fora de todos os seres; ´e movente e tamb´em imovente; ´e t˜ ao sutil que ´e impercept´ıvel; est´ a perto e ao mesmo tempo distante.” (Bhagavad Gita-XIII-16) Utilize as m´etricas µ e k para justificar essa u ´ltima afirmativa. (p. 19) 5) Em que condi¸c˜ oes a trˆes m´etricas do R2 fornecem a mesma distˆ ancia? Isto ´e, resolva as equa¸co˜es: D1 (x, y) = D2 (x, y) = D3 (x, y) ∗
∗
∗
Na geometria a circunferˆencia ´e definida como o lugar geom´etrico dos pontos de um plano equidistantes de um ponto dado do mesmo plano. O ponto dado recebe o nome de centro da circunferˆencia, e a distˆ ancia comum de todos os pontos do lugar ao centro ´e denominado raio. ∗
Escritura do hindu´ısmo.
58
6) Encontre, e esboce, a circunferˆencia de centro na origem e raio 1 em cada uma das m´etricas do R2 . Isto ´e, fa¸ca um esbo¸co do conjunto de pontos: C (0, 0); 1 = (x, y) ∈ R2 : Di (x, y), (0, 0) = 1
para i = 1, 2, 3. Sugest˜ ao: No caso da m´etrica D3 poder´ a ser u ´til a seguinte equa¸c˜ao: max{a, b} =
a + b + |a − b| 2
v´alida para a e b reais, como ´e f´acil provar. A t´ıtulo de curiosidade observe que |x| + |y| + |x| − |y| = 2 ´e uma equa¸c˜ao cartesiana (euclidiana) para o quadrado de lado 2. Fa¸ca um esbo¸co geom´etrico dessa equa¸c˜ao. ao 7) Prove que cada uma das circunferˆencias obtidas no exerc´ıcio anterior n˜ ´e uma circunferˆencia em cada uma das outras duas m´etricas. 8) Encontre a circunferˆencia de centro em p = 1 1 1 1 e raio r = 3 em cada um dos espa¸cos m´etricos (Z4 , σ), (Z4 , ρ) e (Z4 , τ ). 9) Encontre a circunferˆencia de centro em p = 0 e raio r = [ 0, 1 [, k .
10) Encontre a circunferˆencia de centro em p = [ 0, 1 [, k .
1 4
e raio r =
3 4
no espa¸co
1 5
no espa¸co
11) (CESCEM - 71) Define-se a distˆ ancia entre duas matrizes A = ( aij ) e B = ( bij ) quadradas e de mesma ordem n pela f´ormula: d(A, B) = max |aij − bij |,
i, j = 1, 2, 3, . . . , n.
Assim a distˆ ancia entre as matrizes a) − 5
b) − 3
1 2 3 4
c)0
e
d)3
12) Os livros texto apresentam a seguinte f´ormula 1/2 n m X X (aij − bij )2 d(A, B) =
5 7 6 8
´e : e)5
i=1 j=1
para o c´ alculo da distˆ ancia entre as matrizes A = ( aij ) e B = ( bij ), retangulares de ordem m × n. Esta equa¸c˜ao ´e conhecida como distˆ ancia euclidiana. Calcule a distˆ ancia entre as matrizes 2 1 3 0 2 1 A= e B= 3 0 2 3 4 5 59
13) Mostre que a f´ormula dada no exerc´ıcio anterior conduz ao mesmo resultado que a f´ormula (1.7) (p. 25), obtida a partir do nosso artif´ıcio. 14) A equa¸c˜ ao (1.10) (p. 25) nos permite transferir uma matriz para um vetor, conforme exemplificado. A aplica¸c˜ao definida abaixo, f : N × { 1, 2, . . . , N } ( i, j )
N N (i−1)+j
onde N ´e um natural arbitrariamente fixado, ´e invers´ıvel. Mostre que sua inversa ´e dada por f −1 : N n
com i e j dados por
N × { 1, 2, . . . , N }
( i, j )
i = n−1 +1 N j = n − N n−1 N
15) Calcule a distˆ ancia entre as fun¸c˜oes
f, g : [ −1, 1 ] −→ R dadas por f (x) = |x| e g(x) = x2 , nos espa¸cos C[a, b], Γ e C[a, b], Υ . Em cada caso fa¸ca um esbo¸co geom´etrico das respectivas distˆ ancias. 16) Calcule a distˆ ancia entre as fun¸c˜oes f, g : [ 0, 2π ] −→ R dadas por f (x) = sin x e g(x) = cos x, nos espa¸cos C[a, b], Γ e C[a, b], Υ . Em cada caso fa¸ca um esbo¸co geom´etrico das respectivas distˆ ancias. 17) Consultando a Tabela ASCII (p. 34) calcule as seguintes distˆ ancias entre os caracteres do teclado de um computador: a ) σ(A, D), σ(>, +), σ(#, %). b ) ρ(A, D), c ) τ (A, D),
ρ(>, +), τ (>, +),
ρ(#, %). τ (#, %).
18) Encontre a maior distˆ ancia que cada uma das m´etricas σ, ρ e τ pode 4 assumir em Z . 19) Encontre a maior distˆ ancia que cada uma das m´etricas σ, ρ e τ pode N assumir em Z . 20) Prove que a equa¸c˜ ao (1.13)
(p. 39)
de fato gera os c´odigos em ZN .
60
21) Considere M = R, calcule: a ) d(p, Q), ∀ p ∈ R, no espa¸co (R, µ); b ) d(p, Q), ∀ p ∈ R, no espa¸co (R, δ).
22) Considere em R a m´etrica usual. Justifique as seguintes desigualdades: 0 ≤ d(p, Z) ≤
1 , ∀ p ∈ R. 2
23) Seja M = [ 0, 1 [, seja X = [ 23 , 1 [ ⊂ M e seja p = 0 ∈ M . 0
1
s
0
1
2 3
M
X
Prove que d(0, X) = 2/3,
no espa¸co
[ 0, 1 [, µ
d(0, X) = 0,
no espa¸co
[ 0, 1 [, k
24) O resultado d(0, X) = 0, no exerc´ıcio anterior, implica em que arbitrariamente pr´ oximo da origem podemos encontrar um ponto do conjunto X = [ 23 , 1 [. (ver lema 11, p. 609) Para todo ε > 0 arbitrariamente fixado encontre x ∈ X satisfazendo k(x, 0) < ε. 25) Seja M = R2 , X = { (x, y) ∈ R2 : 3x + 4y − 12 = 0 } e p = (5, 4). Calcule, pela defini¸c˜ ao, a distˆ ancia do ponto p ao conjunto X, nas trˆes m´etricas do R2 . Ademais, determine, em cada caso, o ponto q de X para o qual a distˆ ancia se verifica. Fa¸ca um esbo¸co geom´etrico. y
sp = (5, 4)
p
4 X
p
3
p
2
p
1
0
p1
p2
p3
61
p4
p5
p6
x
26) Considere M = R, calcule: a ) D(Q, R − Q), no espa¸co (R, µ); b ) D(Q, R − Q), no espa¸co (R, δ).
27) Seja M = [ 0, 1 [, considere X = [ 0,
1 3
] e Y = [ 32 , 1 [.
0
0
1
X
1 3
2 3
Y
M
1
Prove que D(X, Y ) = 1/3,
no espa¸co
[ 0, 1 [, µ
D(X, Y ) = 0,
no espa¸co
[ 0, 1 [, k
28) Com rela¸c˜ ao ao exerc´ıcio anterior, para todo ε > 0 arbitrariamente fixado encontre y ∈ Y satisfazendo d(y, X) < ε. (m´ etrica k) 29) Calcule o diˆ ametro do quadrado unit´ ario [ 0, 1 ] × [ 0, 1 ] para cada uma das m´etricas do R2 . Indique, em cada caso, dois pontos do quadrado cuja distˆ ancia (entre esses pontos) seja o diˆ ametro. 30) Considere D o disco unit´ ario do exemplo dado `a p´ agina 56, mostre que √ diam(D) = 2 2, na m´etrica D2 , diam(D) = 2,
na m´etrica D3 .
31) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Mostre que tamb´em s˜ ao m´etricas sobre M as fun¸c˜ oes definidas assim: a ) d1 (x, y) = min{ 1, d(x, y) }; b ) d2 (x, y) = c ) d3 (x, y) =
p
d(x, y);
d(x, y) . 1 + d(x, y)
32) Considere o espa¸co (R, µ). A partir deste obtemos o espa¸co (R, d3 ), onde |x − y| d(x, y) = d3 (x, y) = 1 + d(x, y) 1 + |x − y| Mostre que em rela¸c˜ ao a essa m´etrica o diˆ ametro de R ´e igual a 1. 33) Seja f : R −→ R uma fun¸c˜ao estritamente crescente; defina d : R×R −→ R por d(x, y) = |f (x) − f (y)|, prove que d ´e uma m´etrica sobre R. 62
34) Mostre que ´e uma m´etrica sobre ZN a fun¸c˜ao dada por
τ ′ (x, y) =
1 , se x 6= y; min i : xi 6= yi
0,
se x 6= y.
35) Seja M = { ai : i ∈ N } um conjunto enumer´avel tal que, i 6= j implica ai 6= aj . Prove que d : M × M −→ R dada por 1 1 + , se i 6= j; i+1 j+1 d(ai , aj ) = 0, se i = j.
´e uma m´etrica sobre M .
36) Seja M = { 0, 2, 4, 6, 8, . . . } o conjunto dos pares. Mostre que d(2, 4) ≤ d(2, 0) + d(0, 4) para a m´etrica do exerc´ıcio anterior. 37) Mostre que a f´ormula para gerar os c´odigos bin´ arios tamb´em pode ser escrita assim: (eq. (1.13), p. 39)
xij =
1, 0,
i−1 j−1 2
se
i−1 j−1 2
se
Estamos assumindo que m! m n! (m − n)! = n 0
´e ´ımpar; ´e par.
, se m ≥ n; , se m < n.
n! 38) A conhecida f´ormula da an´ alise combinat´ oria nr = r! (n−r)! nos fornece o n´ umero de combina¸c˜ oes dos n elementos de um conjunto, tomados r a r. Mas esta f´ormula n˜ ao nos fornece as tais combina¸c˜oes. Prove que a f´ormula (1.13) serve a esse prop´osito.
(p. 39)
Sugest˜ ao: Para n = 4, por exemplo, na tabela da p´ agina 36, convencione que onde ocorre 1 o elemento entra na combina¸c˜ao e que onde ocorre 0, n˜ ao entra. A prova dever´ a ser feita para n arbitr´ario. 63
Apˆ endice: Demonstra¸c˜ oes 1. Vamos provar que [ 0, 1 [, k ´e um espa¸co m´etrico.
(p. 17)
Teorema 1 (M´etrica Quˆ antica). A aplica¸ca ˜o, k : [ 0, 1 [ ×[ 0, 1 [−→ R
definida por
k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y|
´e uma m´etrica sobre M = [ 0, 1 [.
Prova: (M1 ) k(x, y) ≥ 0 e k(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y ; Temos 0≤x<1 0≤y<1
⇒
0≤x<1
−1 < −y ≤ 0
⇒ −1 < x−y < 1 ⇒ |x−y| < 1.
Sendo assim mostramos que k(x, y) ≥ 0. Agora suponhamos, k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y| = 0
J´ a vimos que |x−y| < 1, isto ´e, 1−|x−y| > 0. Ent˜ao se k(x, y) = 0 s´ o pode ser porque |x − y| = 0, isto ´e, x = y. Reciprocamente, se x = y, resulta, k(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y| = min |0|, 1 − |0| = 0.
(M2 ) k(x, y) = k(y, x) ; Temos
k(x, y) = min |x−y|, 1−|x−y| = min |y−x|, 1−|y−x| = k(y, x).
(M3 ) k(x, y) ≤ k(x, z) + k(z, y).
Devemos mostrar que k(x, y) ≤ k(x, z) + k(z, y). Isto ´e, min |x − y|, 1 − |x − y| ≤ min |x − z|, 1 − |x − z| + min |z − y|, 1 − |z − y|
(1.16)
Vamos separar o nosso problema em oito possibilidades, conforme tabela a seguir, 64
Temos: k(x, y)
k(x,z)
k(z,y)
|x−y|
|x−z|
|z−y|
(P1)
|x−y| ≤ 1−|x−y| ⇔ |x−y| ≤
1 2
1−|x−y|
|x−z|
|z−y|
(P2)
1−|x−y| ≤ |x−y| ⇔ |x−y| ≥
1 2
|x−y|
1−|x−z|
|z−y|
(P3)
1−|x−y|
1−|x−z|
|z−y|
(P4)
|x−z| ≤ 1−|x−z| ⇔ |x−z| ≤
1 2
|x−y|
|x−z|
1−|z−y|
(P5)
1−|x−z| ≤ |x−z| ⇔ |x−z| ≥
1 2
1−|x−y|
|x−z|
1−|z−y|
(P6)
|x−y|
1−|x−z|
1−|z−y|
(P7)
|z−y| ≤ 1−|z−y| ⇔ |z−y| ≤
1 2
1−|x−y|
1−|x−z|
1−|z−y|
(P8)
1−|z−y| ≤ |z−y| ⇔ |z−y| ≥
1 2
Ent˜ ao: (P1) Neste caso a desigualdade (1.16) reduz-se a |x − y| ≤ |x − z| + |z − y| a qual ´e trivialmente satisfeita por tratar-se da desigualdade triangular para n´ umeros reais. (P2) Neste caso a desigualdade (1.16) reduz-se a 1 − |x − y| ≤ |x − z| + |z − y| Vamos mostrar a desigualdade equivalente |x − y| + |x − z| + |z − y| ≥ 1 Observe que na possibilidade (P2) se verifica |x − y| ≥
(1.17) 1 2
(∗).
Inicialmente vamos mostrar que n˜ ao podemos ter |x − z| + |z − y| <
1 2
De fato, se isto fosse poss´ıvel teriamos (utilizando a desigualdade triangular) 1 |x − y| ≤ |x − z| + |z − y| < 2 contradizendo (∗). Sendo assim s´ o pode ser |x − z| + |z − y| ≥ juntamente com (∗), nos fornece a desigualdade (1.17). (P3) Neste caso a desigualdade (1.16) reduz-se a |x − y| ≤ 1 − |x − z| + |z − y| 65
1 2
o que,
Vamos mostrar a desigualdade equivalente |x − y| + |x − z| − |z − y| ≤ 1
(1.18)
Pois bem, pela desigualdade triangular podemos escrever |x − z| ≤ |x − y| + |y − z| ⇐⇒ |x − z| − |z − y| ≤ |x − y| somando |x − y| a ambos os membros desta u ´ltima desigualdade, obtemos |x−y|+|x−z|−|z−y| ≤ |x−y|+|x−y| ⇐⇒ |x−y|+|x−z|−|z−y| ≤ 2|x−y| ≤ 1. Na u ´ltima desigualdade usamos o fato de que na possibilidade (P3) se verifica |x − y| ≤ 12 . (P4) Neste caso a desigualdade (1.16) reduz-se a 1 − |x − y| ≤ 1 − |x − z| + |z − y| Esta desigualdade ´e equivalente `a seguinte |x − z| ≤ |x − y| + |y − z| a qual ´e sempre verdadeira por tratar-se da desigualdade triangular para n´ umeros reais. (P5) Neste caso a desigualdade (1.16) reduz-se a |x − y| ≤ |x − z| + 1 − |z − y| Vamos mostrar a desigualdade equivalente |x − y| + |z − y| − |x − z| ≤ 1
(1.19)
Pois bem, pela desigualdade triangular podemos escrever |z − y| ≤ |z − x| + |x − y| ⇐⇒ |z − y| − |x − z| ≤ |x − y| somando |x − y| a ambos os membros desta u ´ltima desigualdade, obtemos |x−y|+|z−y|−|x−z| ≤ |x−y|+|x−y| ⇐⇒ |x−y|+|z−y|−|x−z| ≤ 2|x−y| ≤ 1. Na u ´ltima desigualdade usamos o fato de que na possibilidade (P5) se verifica |x − y| ≤ 21 . (P6) Neste caso a desigualdade (1.16) reduz-se a 1 − |x − y| ≤ |x − z| + 1 − |z − y| 66
Esta desigualdade ´e equivalente `a seguinte |z − y| ≤ |z − x| + |x − y| a qual ´e sempre verdadeira por tratar-se da desigualdade triangular para n´ umeros reais. (P7) Neste caso a desigualdade (1.16) reduz-se a |x − y| ≤ 1 − |x − z| + 1 − |z − y| Vamos mostrar a desigualdade equivalente |x − y| + |x − z| + |z − y| ≤ 2
(1.20)
Na possibilidade (P7) se verifica: (i) |x − y| ≤
1 2
(ii) |x − z| ≥
1 2
1 (iii) |z − y| ≥ . 2
Se dividirmos o intervalo [ 0, 1 [ ao meio; por (ii) vemos que x e z n˜ ao podem figurar na mesma metade do intervalo∗ . Por (iii) acontece o mesmo com respeito a z e y. Devemos ter a seguinte configura¸c˜ao: ⊢
0
t
y
t
x
t
z
⊢
1 2
1
A partir de (1.20) podemos escrever f (x, y, z) = |x−y|+|x−z|+|z−y|. Vamos mostrar que o maior valor que esta fun¸c˜ao pode assumir n˜ ao excede 2. Tendo em conta a figura anterior temos que, |x − y| = x − y,
|x − z| = z − x,
|z − y| = z − y
N˜ao faz mal supor x ` a direita de y. Logo, f (x, y, z) = 2(z − y), ent˜ao, ( 0 ≤ y ≤ 12 1 ⇒ − ≤ −y ≤ 0 ⇒ 0 ≤ z−y < 1 ⇒ 0 ≤ 2(z−y) < 2. 1 2 ≤z<1 2
Daqui inferimos que f (x, y, z) = |x − y| + |x − z| + |z − y| = 2(z − y) < 2, donde concluimos que a desigualdade (1.20) ser´ a sempre verdadeira. (P8) Neste caso a desigualdade triangular k(x, y) ≤ k(x, z) + k(z, y) estar´ a satisfeita por vacuidade ; o que significa que ela jamais poder´ a ser contraditada. Com efeito, nunca encontraremos trˆes pontos x, y e z, no intervalo [ 0, 1 [, satisfazendo simultˆ aneamente: (i) |x − y| ≥
1 2
(ii) |x − z| ≥
1 2
(iii) |z − y| ≥
1 . 2
∗
Exceto nos casos triviais x = y = 0 e z = 1/2, ou z = 0 e x = y = 1/2.
67
2. Rn , D1 ´e um espa¸co m´etrico. Vamos mostrar que
p D1 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = (x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2 ,
´e uma m´etrica sobre Rn . (M1 ) : Claramente D1 (x, y) ≥ 0. Tamb´em D1 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = 0, ⇔ p (x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2 = 0, ⇔ (x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2 = 0, ⇔
(xi − yi )2 = 0 (1 ≤ i ≤ n),
⇔
xi = yi (1 ≤ i ≤ n), ⇔ (x1 , . . . , xn ) = (y1 , . . . , yn ). (M2 ) : p D1 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = (x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2 p = (y1 − x1 )2 + · · · + (yn − xn )2 = D1 (y1 , . . . , yn ); (x1 , . . . , xn )
(M3 ) : Para demonstrar a desigualdade triangular devemos, antes, estabelecer a desigualdade de Cauchy-Schwarz no Rn cujo enunciado ´e o seguinte: Se x1 , . . . , xn e y1 , . . . , yn s˜ ao n´ umeros reais arbitr´arios, ent˜ao !1/2 !1/2 n n n X X X x y ≤ (1.21) y2 · x2 i
i=1
i
i
i
i=1
i=1
De fato, consideremos a desigualdade
(r − s)2 = r 2 − 2rs + s2 ≥ 0 ⇔ 2rs ≤ r 2 + s2 , v´alida para quaisquer r, s ∈ R. Sendo assim, se fizermos q q p = x21 + · · · + x2n e q = y12 + · · · + yn2 s˜ ao verdadeiras as desigualdades 2·
x2 y 2 |xi | |yi | · ≤ 2i + i2 p q p q 68
(1 ≤ i ≤ n)
Somando em rela¸c˜ ao ao ´ındice i teremos 2 X |xi yi | ≤ 1 + 1 p·q
logo
X
q q 2 2 |xi yi | ≤ p · q = x1 + · · · + xn · y12 + · · · + yn2
que ´e a desigualdade de Cauchy-Schwarz. Agora estamos habilitados triangular. a demonstrar a desigualdade Sejam x = x1 , . . . , xn , y = y1 , . . . , yn e z = z1 , . . . , zn pontos do Rn . Ent˜ ao: n n h i 2 2 X 2 X xi − zi + zi − yi xi − y i = D1 x, y = i=1
i=1
=
n X i=1
≤ +
n X i=1
n X i=1
xi − zi xi − zi zi − yi
2
+2
2
+2
n X i=1
n hX i=1
xi − zi
xi − zi
zi − yi + 2 i1/2
·
n X i=1
n hX i=1
zi − yi
zi − yi
2
v v 2 u n u n uX 2 uX 2 =t xi − zi + t zi − yi i=1
i=1
2 = D1 (x, z) + D1 (z, y)
Por conseguinte: D1 (x, y) ≤ D1 (x, z) + D1 (z, y). 3. Rn , D2 ´e um espa¸co m´etrico. Vamos mostrar que D2 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | ´e uma m´etrica sobre Rn .
(M1 ) : Claramente D2 (x, y) ≥ 0. Tamb´em D2 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = 0, ⇔ |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | = 0, ⇔
|x1 − y1 | = 0, . . . , |xn − yn | = 0, ⇔ |xi − yi | = 0 (1 ≤ i ≤ n), ⇔ xi = yi (1 ≤ i ≤ n), ⇔ (x1 , . . . , xn ) = (y1 , . . . , yn ). 69
2
2 i1/2
(M2 ) : D2 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | = |y1 − x1 | + · · · + |yn − xn |
= D2 (y1 , . . . , yn ); (x1 , . . . , xn ) (M3 ) : Sejam x = x1 , . . . , xn , y = y1 , . . . , yn e z = z1 , . . . , zn pontos do Rn . Devemos mostrar que D2 x, y ≤ D2 x, z + D2 z, y Ou ainda
|x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | ≤ |x1 − z1 | + · · · + |xn − zn | + |z1 − y1 | + · · · + |zn − yn | Temos x1 − y1 = x1 − z1 + z1 − y1
.............................. xn − yn = xn − zn + zn − yn destas igualdades decorrem |x1 − y1 | ≤ |x1 − z1 | + |z1 − y1 |
..............................
|xn − yn | ≤ |xn − zn | + |zn − yn | Somando estas n desigualdades decorre o resultado desejado. Por conseguinte: D2 (x, y) ≤ D2 (x, z) + D2 (z, y). 4. Rn , D3 ´e um espa¸co m´etrico. Vamos mostrar que D3 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = max |x1 − y1 |, . . . , |xn − yn | ´e uma m´etrica sobre Rn .
(M1 ) : Claramente D3 (x, y) ≥ 0. Tamb´em D3 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = 0, ⇔ max |x1 − y1 |, . . . , |xn − yn | = 0, ⇔ |x1 − y1 | = 0, . . . , |xn − yn | = 0, ⇔
|xi − yi | = 0 (1 ≤ i ≤ n), ⇔ xi = yi (1 ≤ i ≤ n), ⇔ (x1 , . . . , xn ) = (y1 , . . . , yn ). 70
(M2 ) : D2 (x1 , . . . , xn ); (y1 , . . . , yn ) = max{|x1 − y1 |, . . . , |xn − yn | = max |y1 − x1 |, . . . , |yn − xn | = D3 (y1 , . . . , yn ); (x1 , . . . , xn ) (M3 ) : Sejam x = x1 , . . . , xn , y = y1 , . . . , yn e z = z1 , . . . , zn pontos do Rn . Devemos mostrar que
D3 x, y ≤ D3 x, z + D3 z, y
Ou ainda max |x1 − y1 |, . . . , |xn − yn | ≤ max |x1 − z1 |, . . . , |xn − zn | + max |z1 − y1 |, . . . , |zn − yn |
Observe que
max{ |x1 − y1 |, ..., |xn − yn | } = |xi − yi |, para algum 1 ≤ i ≤ n; max{ |x1 − z1 |, ..., |xn − zn | } = |xj − zj |, para algum 1 ≤ j ≤ n; max{ |z1 − y1 |, ..., |zn − yn | } = |zk − yk |, para algum 1 ≤ k ≤ n;
Sendo assim devemos mostrar que |xi − yi | ≤ |xj − zj | + |zk − yk | Temos por (1.23) ⇒
|xi − zi | ≤ |xj − zj |
por (1.24) ⇒
|zi − yi | ≤ |zk − yk |
Sendo assim, resulta |xi − yi | ≤ |xi − zi | + |zi − yi | ≤ |xj − zj | + |zk − yk | Por conseguinte: D3 (x, y) ≤ D3 (x, z) + D3 (z, y).
71
(1.22) (1.23) (1.24)
Rela¸c˜ oes entre as m´etricas do Rn As m´etricas D1 , D2 e D3 , guardam entre si as seguintes rela¸c˜oes: D3 (x, y) ≤ D1 (x, y) ≤ D2 (x, y) ≤ n D3 (x, y) De fato, D3 (x, y) = |xr − yr | para algum r (1 ≤ r ≤ n) Logo D3 (x, y) = |xr − yr | = h
p (xr − yr )2 ≤ D1 (x, y)
Por outro lado i2 D1 (x, y) = (x1 − y1 )2 + · · · + (xn − yn )2 ≤ |x1 − y1 |2 + · · · + |xn − yn |2
+ 2|x1 − y1 | · |x2 − y2 | + · · · + 2|xn−1 − yn−1 | · |xn − yn | 2 = |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | h i2 = D2 (x, y)
Portanto, D1 (x, y) ≤ D2 (x, y). Finalmente, supondo |xr − yr | = max |x1 − y1 |, . . . , |xn − yn | ent˜ ao
|x1 − y1 | ≤ |xr − yr |, . . . , |xn − yn | ≤ |xr − yr | portanto D2 (x, y) = |x1 − y1 | + · · · + |xn − yn | ≤ n |xr − yr | = n D3 (x, y). 5. C[a, b], Γ ´e um espa¸co m´etrico.
(M1 ) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y;
(M2 ) d(x, y) = d(y, x);
(M3 ) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y). (M1 ) : Temos Γ(f, g) ≥ 0. De fato, como |f (x) − g(x)| ≥ 0, para todo x ∈ [a, b], temos: Z b |f (x) − g(x)| dx ≥ 0 a
(Ver teorema [AR] 8, p. 604)
72
(M1 ) : Γ(f, g) = 0 ⇒ f = g. Suponha f 6= g, isto ´e, f (c) 6= g(c) para algum c ∈ [a, b]. Logo |f (x) − g(x)| > 0, ent˜ ao: Z b |f (x) − g(x)| dx > 0 ⇒ Γ(f, g) 6= 0 a
(Ver teorema [AR] 9, p. 604)
Nota: Observe (hip´otese do teorema [AR] 9) a necessidade de f e g serem cont´ınuas. (M1 ) : f = g ⇒ Γ(f, g) = 0. Ent˜ao, f = g ⇒ f (x) = g(x), ∀ x ∈ [a, b] logo, pelo teorema [AR] 2 (p. 603): Z Z Z f= g ⇒ I
I
I
f −g = 0
⇒ Γ(f, g) = 0. Nota: Observe (hip´otese do teorema [AR] 2) que n˜ ao necessitamos da continuidade de f e g, e nem de que sejam iguais em todos os pontos do intervalo. (M2 ) : Temos Γ(f, g) = Γ(g, f ). De fato, isto ´e uma decorrˆencia imediata da igualdade |f (x) − g(x)| = |g(x) − f (x)|. (M3 ) : Temos Γ(f, g) ≤ Γ(f, h) + Γ(h, g). De fato, isto ´e f´acil de provar tendo em conta que f (x) − g(x) = f (x) − h(x) + h(x) − g(x) logo, |f (x) − g(x)| = | f (x) − h(x) + h(x) − g(x) | ≤ |f (x) − h(x)| + |h(x) − g(x)|
uma vez que f (x), g(x) e h(x) s˜ ao n´ umeros reais. Sendo assim: Z b Z b Z b |f (x) − g(x)| dx ≤ |f (x) − h(x)| dx + |h(x) − g(x)| dx a
a
a
(Ver teorema [AR] 8, p. 604)
73
6. C[a, b], Υ ´e um espa¸co m´etrico.
(M1 ) : N˜ao apresenta dificuldade. (M2 ) : ´ıdem. (M3 ) : Devemos mostrar que max |f (x) − g(x)| ≤ max |f (x) − h(x)| + max |h(x) − g(x)|
x ∈ [ a, b ]
x ∈ [ a, b ]
Prova: Pelo teorema [AR] 1 ∃ x1 ∈ [ a, b ] : ∃ x2 ∈ [ a, b ] :
x ∈ [ a, b ]
(p. 603):
max |f (x) − g(x)| = |f (x1 ) − g(x1 )|
(1.25)
max |f (x) − h(x)| = |f (x2 ) − h(x2 )|
(1.26)
max |h(x) − g(x)| = |h(x3 ) − g(x3 )|
(1.27)
x ∈ [ a, b ] x ∈ [ a, b ]
∃ x3 ∈ [ a, b ] :
x ∈ [ a, b ]
sendo assim devemos mostrar que |f (x1 ) − g(x1 )| ≤ |f (x2 ) − h(x2 )| + |h(x3 ) − g(x3 )| De (1.26) temos |f (x1 ) − h(x1 )| ≤ |f (x2 ) − h(x2 )|
(1.28)
|h(x1 ) − g(x1 )| ≤ |h(x3 ) − g(x3 )|
(1.29)
De (1.27) temos
Por outro lado, temos |f (x1 ) − g(x1 )| = |f (x1 ) − h(x1 ) + h(x1 ) − g(x1 )|
≤ |f (x1 ) − h(x1 )| + |h(x1 ) − g(x1 )|
De (1.28) e (1.29) resulta: |f (x1 ) − g(x1 )| ≤ |f (x2 ) − h(x2 )| + |h(x3 ) − g(x3 )| 7. B(X, R), Ψ ´e um espa¸co m´etrico.
(M1 ) : N˜ao apresenta dificuldade. (M2 ) : ´ıdem. (M3 ) : Devemos mostrar que sup |f (x) − g(x)| ≤ sup |f (x) − h(x)| + sup |h(x) − g(x)|
x∈X
x∈X
x∈X
74
Prova: Como f , g e h s˜ ao limitadas, existem M , N e P constantes positivas tais que |f (x) − g(x)| ≤ M , ∀ x ∈ X. |f (x) − h(x)| ≤ N , ∀ x ∈ X. |h(x) − g(x)| ≤ P , ∀ x ∈ X. Antes vamos provar a seguinte proposi¸c˜ao: Se |f (x) − g(x)| ≤ M , ∀ x∈X ent˜ ao
sup |f (x) − g(x)| ≤ M.
(1.30)
x∈X
De fato, suponha, ao contr´ ario, que L = sup |f (x) − g(x)| > M . x∈X
Tomemos ε = L − M > 0, pela defini¸c˜ao de sup (ver Lema 10, p. existe x0 ∈ X de modo que L − ε < |f (x0 ) − g(x0 )| , isto ´e,
606)
L − (L − M ) < |f (x0 ) − g(x0 )| ⇒ M < |f (x0 ) − g(x0 )| o que contraria a hip´ otese. Pois bem, temos |f (x) − g(x)| = |f (x) − h(x) + h(x) − g(x)| < |f (x) − h(x)| + |h(x) − g(x)| Mas, |f (x) − h(x)| ≤ sup |f (x) − h(x)| : x ∈ X |h(x) − g(x)| ≤ sup |h(x) − g(x)| : x ∈ X
logo,
|f (x) − g(x)| < sup |f (x) − h(x)| + sup |h(x) − g(x)| x∈X x∈X | {z } | {z } constante
constante
Por (1.30), resulta
sup |f (x) − g(x)| ≤ sup |f (x) − h(x)| + sup |h(x) − g(x)|
x∈X
x∈X
x∈X
Nota: Esta prova ´e igualmente v´alida para o espa¸co C[ a, b ], Υ . 75
Espa¸cos de C´ odigos • (Z4 , ρ) ´e um espa¸co m´etrico
(p. 40)
:
(M1 ) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y : Obviamente ρ(x, y) ≥ 0. Se x = y ent˜ao xi = yi (i = 1, 2, 3, 4) e isto implica ρ(x, y) = 0. Se ρ(x, y) = 0 ent˜ ao 4 4 X X 2i−1 · (xi − yi ) = 0. 2i−1 · (xi − yi ) = 0 ⇒ i=1
i=1
isto ´e
1 · (x1 − y1 ) + 2 · (x2 − y2 ) + 4 · (x3 − y3 ) + 8 · (x4 − y4 ) = 0 Se fosse x1 6= y1 ter´ıamos 1 · (x1 − y1 ) = ±1. O que nos levaria a 2 · (x2 − y2 ) + 4 · (x3 − y3 ) + 8 · (x4 − y4 ) = ∓1 o que ´e, evidentemente, imposs´ıvel. Portanto nos resta 2 · (x2 − y2 ) + 4 · (x3 − y3 ) + 8 · (x4 − y4 ) = 0 Dividindo esta equa¸c˜ ao por 2, temos 1 · (x2 − y2 ) + 2 · (x3 − y3 ) + 4 · (x4 − y4 ) = 0 e o racioc´ınio se repete. Conclus˜ao x = y. (M2 ) d(x, y) = d(y, x) : 4 X 2i−1 · (xi − yi ) ρ(x, y) = i=1
4 X 2i−1 · (−1)(yi − xi ) = i=1
4 X 2i−1 · (yi − xi ) = ρ(y, x) = i=1
(M3 ) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y) Finalmente mostremos que ρ(x, y) ≤ ρ(x, z) + ρ(z, y). Ent˜ao 20 (x1 − y1 ) + · · · + 23 (x4 − y4 ) = 20 (x1 − z1 + z1 − y1 ) + 21 (x2 − z2 + z2 − y2 ) + 22 (x3 − z3 + z3 − y3 ) + 23 (x4 − z4 + z4 − y4 ). 76
Aplicando o m´ odulo nesta equa¸c˜ ao e usando a desigualdade triangular para n´ umeros reais, temos 0 2 (x − y ) + · · · + 23 (x − y ) = 20 (x − z + z − y ) + · · · 1 1 4 4 1 1 1 1 3 + 2 (x4 − z4 + z4 − y4 ) = 20 (x1 − z1 ) + · · · + 23 (x4 − z4 ) 0 3 + 2 (z1 − y1 ) + · · · + 2 (z4 − y4 ) 0 3 ≤ 2 (x1 − z1 ) + · · · + 2 (x4 − z4 ) + 20 (z1 − y1 ) + · · · + 23 (z4 − y4 ) . Conclus˜ao: ρ(x, y) ≤ ρ(x, z) + ρ(z, y). A m´etrica ρ pode facilmente ser generalizada para ZN : N X 2i−1 · (xi − yi ) . ρ(x, y) = i=1
Vamos mostrar que ρ(x, y), assim definida, satisfaz a desigualdade ρ(x, y) ≤ 2N − 1, ∀ x, y ∈ ZN .
De fato, o maior valor que ρ(x, y) assume ocorre quando xi − yi = 1 (i = 1, 2, . . . , N ) − que corresponde a distˆ ancia entre os pontos x = 1 1 1 . . . 1 N e y = 0 0 0 . . . 0 − Sendo assim temos 20 +21 +· · ·+2N −1 = 1·22−1−1 = 2N −1. • (p. 41) τ satisfaz a desigualdade triangular. Das condi¸c˜ oes envolvidas na defini¸c˜ao de m´etrica mostraremos (M3 ) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y). Prova: Primeiramente observe que τ pode ser escrita assim: τ (x, y) = max 1 · |x1 − y1 |, 2 · |x2 − y2 |, . . . , n · |xn − yn |
Pois bem, existem ´ındices i, j, k ∈ {1, 2, . . . , n} tais que τ (x, y) = max 1 · |x1 − y1 |, . . . , n · |xn − yn | = i · |xi − yi | τ (x, z) = max 1 · |x1 − z1 |, . . . , n · |xn − zn | = j · |xj − zj | τ (z, y) = max 1 · |z1 − y1 |, . . . , n · |zn − yn | = k · |zk − yk | 77
(1.31)
(1.32) (1.33) (1.34)
Sendo assim, devemos mostrar que i · |xi − yi | ≤ j · |xj − zj | + k · |zk − yk |
(1.35)
Temos i · |xi − zi | ≤ j · |xj − zj |,
por (1.33)
i · |zi − yi | ≤ k · |zk − yk |,
por (1.34)
Pela desigualdade triangular para n´ umeros reais, podemos escrever |xi − yi | ≤ |xi − zi | + |zi − yi | Portanto
( O que prova (1.35) )
i · |xi − yi | ≤ i · |xi − zi | + i · |zi − yi |
≤ j · |xj − zj | + k · |zk − yk |
M´ etodos dos Multiplicadores de Lagrange Um m´etodo∗ para obter o m´ aximo ou m´ınimo relativos de uma fun¸c˜ao F (x, y, z) sujeita ` a condi¸ca ˜o de v´ınculo φ(x, y, z) = 0 consiste na forma¸c˜ao da fun¸c˜ ao auxiliar G(x, y, z) ≡ F (x, y, z) + λ φ(x, y, z), sujeita `as condi¸c˜oes ∂G ∂G ∂G = = = 0 ∂x ∂y ∂z que s˜ ao as condi¸c˜ oes necess´arias para a existˆencia de m´ aximo e m´ınimo relativos. O parˆ ametro λ, que ´e independente de x, y e z, chama-se multiplicador de Lagrange. Exemplo: Minimizar a fun¸c˜ao F (x, y) = (x − 5)2 + (y − 4)2 sujeita `a restri¸c˜ ao φ(x, y) = 3x + 4y − 12 = 0. (exer. p. 61) Solu¸ c˜ ao: Formemos a fun¸c˜ao auxiliar G(x, y) = F (x, y) + λ φ(x, y) = (x − 5)2 + (y − 4)2 + λ (3x + 4y − 12) Ent˜ ao Gx (x, y) = 2(x − 5) + 3λ = 0 Gy (x, y) = 2(y − 4) + 4λ = 0 Eliminando o parˆ ametro λ destas equa¸c˜oes chegamos 4x − 3y − 8 = 0. Juntando esta equa¸c˜ ao com a restri¸c˜ao obtemos ( 3x + 4y = 12 4x − 3y = 8
Resolvendo esse sistema encontramos x = ∗
68 25 .
Devido ao matem´ atico francˆes Jos´e Luis Lagrange (1736-1813)
78
Cap´ıtulo
2
˜ DE ESPAC CONSTRUC ¸ AO ¸ OS ´ METRICOS O oposto de uma verdade ´ e mentira, mas o oposto de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda.
(Niels Bohr)
Introdu¸ c˜ ao O objetivo prec´ıpuo deste cap´ıtulo ´e fornecer algumas t´ecnicas para a constru¸c˜ ao de novos espa¸cos m´etricos.
2.1
M´ etricas a Partir de M´ etricas
Mudan¸ ca de Escala Dado um espa¸co m´etrico (M, d) a partir deste podemos obter um outro espa¸co (M, d′ ) tomando d′ = α d onde α ´e um n´ umero real positivo. ′ Para que d seja de fato uma m´etrica, as seguintes condi¸c˜oes devem ser satisfeitas: (M1 ) d′ (x, y) ≥ 0 e d′ (x, y) = 0 ⇐⇒ x = y ;
(M2 ) d′ (x, y) = d′ (y, x) ;
(M3 ) d′ (x, y) ≤ d′ (x, z) + d′ (z, y). De fato, todas estas condi¸c˜ oes decorrem trivialmente da hip´ otese de que d ´e uma m´etrica e α > 0. 79
Exemplo: Calcular a distˆ ancia entre os pontos x = 3 e y = 5 nos espa¸cos R, µ e R, d′ , onde d′ = 21 µ.
Solu¸ c˜ ao: Temos
1 |5 − 3| = 1. 2 Nota: Oportunamente estaremos mostrando em que sentido estas m´etricas s˜ ao topol´ ogicamente equivalentes em R. µ(5, 3) = |5 − 3| = 2
e
d′ (5, 3) =
Manipula¸ co ˜es alg´ ebricas Dado um espa¸co m´etrico (M, d) existem muitas outras maneiras de se construir, a partir deste, outros espa¸cos m´etricos. Para citar apenas trˆes: 1) 2) 3)
d1 (x, y) = min{ 1, d(x, y) } ; p d2 (x, y) = d(x, y) ; d3 (x, y) =
d(x, y) . 1 + d(x, y)
Mostremos a primeira destas assertivas: (M1 ) d1 (x, y) ≥ 0 e d1 (x, y) = 0 ⇐⇒ x = y.
De fato, d1 (x, y) = min{ 1, d(x, y) } ≥ 0 porquanto, por hip´ otese, d ´e m´etrica. d1 (x, y) = 0 = min{ 1, d(x, y) } ⇔ d(x, y) = 0 ⇔ x = y. (M2 ) d1 (x, y) = d1 (y, x). d1 (x, y) = min{ 1, d(x, y) } = min{ 1, d(y, x) } = d1 (y, x) (M3 ) d1 (x, y) ≤ d1 (x, z) + d1 (z, y). Devemos mostrar que min{ 1, d(x, y) } ≤ min{ 1, d(x, z) } + min{ 1, d(z, y) } Suponhamos o contr´ ario: min{ 1, d(x, y) } > min{ 1, d(x, z) } + min{ 1, d(z, y) } Em particular: 1 > min{ 1, d(x, z) } + min{ 1, d(z, y) }
d(x, y) > min{ 1, d(x, z) } + min{ 1, d(z, y) }
(⋆) (⋆⋆)
Da desigualdade (⋆) concluimos que min{ 1, d(x, z) } = d(x, z); min{ 1, d(z, y) } = d(z, y). Levando estes resultados na desigualdade (⋆⋆) obtemos d(x, y) > d(x, z) + d(z, y). O que contradiz o fato de d ser uma m´etrica. 80
Exemplos: a ) Fixemos o espa¸co (R2 , D2 ). Calcular a distˆ ancia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5) nos espa¸cos (R2 , d1 ), (R2 , d2 ) e (R2 , d3 ). Solu¸ ca ˜o: Temos D2 (1, 1), (4, 5) = |1 − 4| + |1 − 5| = 7.
Ent˜ao,
d1 (x, y) = min{ 1, D2 (x, y) } = min{ 1, 7 } = 1. p √ d2 (x, y) = D2 (x, y) = 7.
7 7 D2 (x, y) = = . 1 + D2 (x, y) 1+7 8 b ) Fixemos o espa¸co Z4 , σ (p. 37). Calcular a distˆ entre os pontos ancia 4 4 4 x = 1000 e y = 0100 nos espa¸cos Z , d1 , Z , d2 e Z , d3 . d3 (x, y) =
Solu¸ ca ˜o: Temos σ(1000, 0100) = 2, portanto:
d1 (x, y) = min{ 1, σ(x, y) } = min{ 1, 2 } = 1. p √ d2 (x, y) = σ(x, y) = 2. d3 (x, y) =
2.2
2 2 σ(x, y) = = . 1 + σ(x, y) 1+2 3
Subespa¸cos
Dado um espa¸co m´etrico (M, d) podemos, a partir deste, obter tantos espa¸cos quantos s˜ ao os subconjuntos (n˜ ao-vazios) de M . Se d : M ×M −→ R ′ ´e uma m´etrica em M e N ⊂ M ent˜ao d = d : N × N −→ R ´e m´etrica N×N em N . Em geral indica-se a m´etrica do subconjunto do mesmo modo que a m´etrica de M , isto ´e, faz-se d′ = d. Defini¸ c˜ ao 6 (Subespa¸co). Se (M, d) ´e um espa¸co m´etrico e N ⊂ M ent˜ ao o par (N, d) ´e chamado subespa¸co de (M, d). (M, d)
(N, d)
A m´etrica do subespa¸co ´e chamada m´etrica induzida pela de (M, d).
81
Exemplos: a ) (N, µ), (Z, µ) e (Q, µ) s˜ ao subespa¸cos de (R, µ). b ) Consideremos o seguinte subconjunto do R2 : R
S 1 = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1
S 1 ´e o c´ırculo ario. Sendo assim unit´ 1 S , D1 , S 1 , D2 e S 1 , D3 s˜ ao subespa¸cos dos espa¸cos R2 , D1 , R2 , D2 e R2 , D3 , respectivamente.
1
S1 −1
1
R
−1
c ) No espa¸co B(X, R), Ψ tomando X = [ a, b ] o espa¸co C[a, b], Υ torna-se um subespa¸co do primeiro. (p. 32, 28) 1 1 d ) O par 1, 2 , 3 , . . . , µ ´e um subespa¸co de (R, µ) e tamb´em de (Q, µ).
2.3
Espa¸ cos vetoriais
Importantes exemplos de espa¸cos m´etricos podem ser obtidos a partir dos espa¸cos vetoriais − objetos de estudos da ´algebra linear. Antes, a t´ıtulo de revis˜ ao, vejamos o que seja: Um espa¸co vetorial n˜ ao ´e um conjunto mas sim uma estrutura, e, para construirmos uma de tais estruturas, iremos necessitar de algumas ferramentas; mais precisamente de quatro ferramentas, quais sejam: 1a ) Um conjunto V ; 2a ) Um corpo∗ K; 3a ) Uma opera¸c˜ ao, sobre os elementos de V , a qual chamaremos de adi¸c˜ ao e denotaremos por + ; assim: + : V × V −→ V
(u, v) 7−→ u + v
4a ) Uma opera¸c˜ ao, entre um n´ umero de K e um elemento de V , a qual chamaremos de multiplica¸c˜ao por escalar e denotaremos por · ; assim: · : K × V −→ V
(λ, u) 7−→ λ · u
Este ´e apenas o primeiro passo para a constru¸c˜ao da nossa estrutura. Um segundo passo ´e que estas opera¸c˜oes satisfa¸cam alguns requisitos, a saber: ∗
O leitor n˜ ao perder´ a nada de essencial imaginando K = Reais ou K = Complexos.
82
− Exigˆ encias (axiomas) para a adi¸ c˜ ao: Para quaisquer u, v e w, elementos de V , devemos ter: A1) u + v = v + u
(Comutativa)
A2) (u + v) + w = u + (v + w) (Associativa) A3) Existe em V um elemento, denotado por 0, detentor da seguinte propriedade: u + 0 = 0 + u = u; ∀ u ∈ V. (Elemento neutro)
A4) Para todo elemento u de V existe um outro elemento de V , denotado por −u, detentor da seguinte propriedade: u + (−u) = −u + u = 0
(Elemento oposto)
− Exigˆ encias (axiomas) para a multiplica¸ c˜ ao:
Para quaisquer u e v em V e quaisquer λ e µ em K, devemos ter:
M1) λ · ( µ · u ) = (λ · µ) · u M2) ( λ + µ ) · u = λ · u + µ · u
(Associativa) (Distributiva)
M3) λ · ( u + v ) = λ · u + λ · v M4) 1 · u = u
(Distributiva) (elemento neutro)
A tripla (V, +, · ) ´e o que entendemos por um espa¸co vetorial − supondo o corpo K fixado. Ao construirmos uma estrutura de espa¸co vetorial sobre um conjunto V , seus elementos adquirem o status de vetores, independetemente de suas naturezas. Nota: Na verdade, para simplificar a nota¸c˜ao ´e que, por vezes, utilizaremos V tanto para o espa¸co vetorial (a tripla designada acima) quanto para o conjunto subjacente ` a estrutura. Por vezes tamb´em utilizaremos a nota¸c˜ao V = (V, +, · ), para enfatizar que V ´e a estrutura erigida sobre o conjunto V. − Exemplos de Espa¸ cos Vetoriais 1 ) O espa¸co vetorial Rn . Seja o conjunto das n-uplas de n´ umeros reais Rn = (x1 , x2 , . . . , xn ) : xi ∈ R
Tomemos dois elementos u = (x1 , x2 , . . . , xn ) e v = (y1 , y2 , . . . , yn ) neste conjunto e um escalar λ em R e vamos definir a adi¸c˜ao e a multiplica¸c˜ao por escalar, assim: u + v = (x1 , x2 , . . . , xn ) + (y1 , y2 , . . . , yn ) = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn ) λu = (λ x1 , λ x2 , . . . , λ xn ) 83
N˜ao ´e dif´ıcil mostrar que a estrutura resultante, Rn , +, · , ´e um espa¸co vetorial. 2 ) O espa¸co vetorial Kn . O exemplo anterior ainda pode ser generalizado. Seja K um corpo arbitr´ario. A nota¸c˜ao Kn ´e utilizada para denotar o conjunto de todas as n-uplas de elementos de K: Kn = (x1 , x2 , . . . , xn ) : xi ∈ K
Dados dois pontos u = (x1 , x2 , . . . , xn ) e v = (y1 , y2 , . . . , yn ) neste conjunto podemos tornar Kn um espa¸co vetorial sobre K com as seguintes defini¸c˜ oes: (x1 , x2 , . . . , xn ) = (y1 , y2 , . . . , yn ) ⇔ x1 = y1 , x2 = y2 , . . . , xn = yn Adi¸c˜ ao entre pontos e multiplica¸c˜ao por escalar, assim: u + v = (x1 , x2 , . . . , xn ) + (y1 , y2 , . . . , yn ) = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn ) λu = (λ x1 , λ x2 , . . . , λ xn )
Estas opera¸c˜ oes s˜ ao ditas “ponto a ponto” e conferem aos pontos do n “hiperespa¸co” K o status de vetores. Por exemplo, o vetor nulo em Kn ´e uma n-upla de zeros, 0 = (0, 0, . . . , 0) e o oposto do vetor u = (x1 , x2 , . . . , xn ) ´e o vetor −u = (−x1 , −x2 , . . . , −xn ).
A seguir damos um importante exemplo do que foi visto. 3 ) O espa¸co vetorial Zn .
Opera¸ co ˜es em Z = { 0, 1 } Inicialmente vamos construir uma estrutura de corpo sobre o conjunto Z = { 0, 1 }. Nesse conjunto vamos definir duas opera¸c˜oes; a uma delas chamaremos de adi¸c˜ ao e a outra chamaremos de multiplica¸c˜ao − dadas nas seguintes t´ abuas: A isto se acrescenta que todo s´ımbolo
+
0
1
1
´ e ambivalente e at´ e mesmo polivalente,
0
1
·
0
0
0
0
0
no sentido de que ele pode significar
1
1
0
1
0
1
uma pluralidade de realidades diversas e mesmo contradit´ orias. (L´ eon Bonaventure)
´ f´acil, n˜ E ao obstante trabalhoso, provar que o sistema alg´ebrico resultante Z = (Z, +, ·) ´e um corpo. O elemento neutro da adi¸c˜ao ´e 0. O sim´etrico (oposto) de cada elemento encontramos na pr´ opria tabela de adi¸c˜ao. Veja: 0+0 =0
⇒
−0 = 0
e
1+1=0
⇒
Isto ´e, o oposto aditivo de cada elemento ´e o pr´ oprio. 84
−1 = 1
Tendo em conta o exemplo anterior resulta que para cada n ≥ 1, os sistemas Zn s˜ ao espa¸cos vetorias com as opera¸c˜oes “ponto a ponto”. Portanto, no presente contexto uma sequˆencia bin´ aria (c´odigo) adquire status de vetor − Da´ı a defini¸c˜ ao 2. (p. 35)
Atente para o fato de que os escalares λ n˜ ao s˜ ao nem n´ umeros reais e nem n´ umeros complexos, mas sim n´ umeros do corpo Z = (Z, +, ·). Ademais, o leitor n˜ ao se escandalize com a opera¸c˜ao 1 + 1 = 0, posto que, se servir de consolo, mesmo na f´ısica − supostamente mais aderente `a realidade − nem sempre 1 + 1 = 2. Por exemplo, se adicionarmos duas velocidades iguais a 1, na f´ısica de Galileu teremos 1 + 1 = 2, j´a na de Einstein teremos 1 + 1 6= 2. (ver p. 104) N˜ ao h´ a mais, para os teoremas, verdade separada e, por assim dizer atˆ omica: sua verdade ´e apenas sua integra¸ca ˜o no sistema; e ´e por isso que teoremas incompat´ıveis entre si podem ser igualmente verdadeiros, contanto que os relacionemos com sistemas diferentes. (Blanch´ e)
Normas em espa¸cos vetoriais O matem´ atico, como o pintor ou o poeta, ´ e um desenhista. Se os seus desenhos s˜ ao mais duradouros que os deles, ´ e porque s˜ ao feitos com id´ eias. (G.H. Hardy)
Introdu¸ c˜ ao: O m´ odulo de um n´ umero real definido como ( x, se x ≥ 0; |x| = −x, se x < 0.
(p. 600)
(2.1)
pode ser interpretado geometricamente como a distˆ ancia de um n´ umero (ponto) ` a origem, por exemplo: |3| = 3,
| − 2| = 2
Geometricamente, temos: |−2| = 2
...
p −3
p −2
p −1
|3| = 3 p 0
p 1
p 2
p 3
...
R
De um modo geral |x − y| ´e a distˆ ancia entre dois pontos da reta. Como j´a vimos, um dos conceitos mais f´erteis de toda a matem´ atica ´e o de distˆ ancia entre dois pontos, desejamos estender esse conceito para os espa¸cos vetoriais; ou seja, desejamos calcular a distˆ ancia entre dois vetores. 85
A defini¸c˜ ao a seguir generaliza a fun¸c˜ao m´ odulo para o contexto dos espa¸cos vetoriais. Defini¸ c˜ ao 7 (Norma). Seja V um espa¸co vetorial de dimens˜ ao finita. Entende-se por norma sobre V uma aplica¸ca ˜o F que transforma cada vetor u ∈ V em um n´ umero real (indicado por kuk ), chamado norma de u F :V → R u 7→ kuk desde que as seguintes propriedades sejam satisfeitas para todos os vetores u e v e todos os escalares λ: (N1 )
kuk ≥ 0 e kuk = 0 ⇐⇒ u = 0 ;
(N2 )
kλ uk = |λ| kuk ;
(N3 )
ku + vk ≤ kuk + kvk.
Um espa¸co vetorial munido de uma norma ´e chamado de espa¸co vetorial normado. O postulado (N3 ) ´e conhecido como a desigualdade triangular da norma. Exemplos: 1 ) Uma norma no espa¸ co de c´ odigos. Vamos definir a seguinte aplica¸c˜ao F : Zn → R u 7→ kuk onde, kuk = Por exemplo, para u = 1011 ∈ kuk =
4 X
Z4 ,
n X
xi
(2.2)
i=1
xi = x1 + x2 + x3 + x4
i=1
temos: ⇒
k1011k = 1 + 0 + 1 + 1 = 3
O somat´ orio (2.2) conta o n´ umero de 1s presentes no vetor u. Uma observa¸c˜ ao importante ´e a de que as adi¸c˜oes que comparecem no desenvolvimento do somat´ orio n˜ ao ´e a adi¸c˜ao em Z mas sim a de R. Apenas a t´ıtulo de curiosidade, em Z ter´ıamos: (tab. p. 84) 1+0+1+1 =1 Deixaremos como exerc´ıcio a prova de que a aplica¸c˜ao definida em (2.2) de fato resulta em uma norma sobre Zn . 86
2 ) Uma segunda norma no espa¸ co de c´ odigos. Considere a seguinte aplica¸c˜ ao F : Zn → R u 7→ kuk onde,
kuk = max 1 x1 , 2 x2 , . . . , n xn
(2.3)
Por exemplo, para u = 1011, temos kuk = max 1 x1 , 2 x2 , 3 x3 , 4 x4 = max 1 · 1, 2 · 0, 3 · 1, 4 · 1 = 4
Vejamos um outro exemplo, seja u = 1010, ent˜ao kuk = max 1 · 1, 2 · 0, 3 · 1, 4 · 0 = 3
A equa¸c˜ ao (2.3) nos d´ a a maior posi¸c˜ao onde ocorre um bit 1 no vetor u.
Deixaremos como exerc´ıcio a prova de que a aplica¸c˜ao assim definida ´e uma norma em Zn . 3 ) A seguir listamos trˆes normas para o Rn : q kuke = x21 + x22 + · · · + x2n (2.4) kuks = |x1 | + |x2 | + · · · + |xn | kukm = max |x1 |, |x2 |, . . . , |xn |
(2.5)
(2.6)
onde u = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn . Deixamos como exerc´ıcio a prova de que de fato estas aplica¸c˜ oes satisfazem a defini¸c˜ao de norma. Na demonstra¸c˜ ao de (N3 ) para a primeira das normas acima sugerimos o uso da desigualdade Cauchy-Schwarz, que ser´ a provada logo mais. (p. 91) Qualquer espa¸co vetorial normado V pode se tornar um espa¸co m´etrico se considerarmos d : V × V −→ R, definida como: d(u, v) = ku − vk,
∀ u, v ∈ V.
Prova: Devemos mostrar que d assim definida satisfaz a todas as exigˆencias para uma m´etrica. Primeiramente devemos mostrar que (M1 )
d(u, v) = ku − vk ≥ 0 e d(u, v) = ku − vk = 0 ⇐⇒ u = v.
´ uma decorrˆencia imediata de (N1 ). E (M2 )
d(u, v) = ku − vk = k(−1)(v − u)k = | − 1| kv − uk = d(v, u). 87
(M3 ) Pela desigualdade triangular da norma podemos escrever ku − vk = ku − w + w − vk ≤ ku − wk + kw − vk Logo, ku − vk ≤ ku − wk + kw − vk ⇒ d(u, v) ≤ d(u, w) + d(w, v).
Observe que agora podemos d´ a uma interpreta¸ca˜o geom´etrica para a norma de um vetor, veja: d(u, 0) = ku − 0k = kuk
Isto ´e, podemos dizer que a norma de um vetor u ∈ V ´e igual `a sua distˆ ancia para o vetor nulo (“origem”). Tal qual ocorre com a fun¸c˜ao m´ odulo nos reais. Por exemplo, para u = (1, 2) e 0 = (0, 0), vetores em R2 , temos p √ d(u, 0) = ku − 0k = (1 − 0)2 + (2 − 0)2 = 5
Geometricamente, temos: R
s←− vetor
d(u, 0) = distˆ ancia 6= comprimento.
p
p
u=(1, 2)
0
s
p
տ vetor
p
R
Observa¸ca ˜o: Nos livros de ´algebra linear os autores definem o comprimento de um vetor u como sendo a sua norma, kuk. N˜ao nos sentimos `a vontade com esta defini¸c˜ ao uma vez que n˜ ao vemos sentido em se atribuir um “comprimento” a um vetor (a n˜ ao ser em casos especiais); um vetor − segundo entendemos − ´e um “ponto em um espa¸co” e um “ponto” n˜ ao tem comprimento. Qual seria o comprimento de uma matriz? e de uma fun¸ca˜o? Uma excessiva geometriza¸c˜ao da ´algebra linear condiciona (induz) o estudante a confundir os vetores da matem´ atica com os da f´ısica. Os vetores da matem´ atica n˜ ao possuem “nem m´ odulo”, “nem dire¸c˜ao” e “nem sentido”. Exemplos: A primeira norma exemplificada anteriormente no espa¸co de c´ odigos, origina a distˆ ancia de Hamming vista no cap´ıtulo anterior. (p. 37) A segunda norma exemplificada no espa¸co de c´odigos, origina a distˆ ancia dada na p´ agina 41. A trˆes normas exibidas para o espa¸co vetorial Rn originam as trˆes distˆ ancias dadas na p´ agina 24. 88
Defini¸ c˜ ao 8 (Produto Interno). Seja V um espa¸co vetorial de dimens˜ ao finita sobre R. Entende-se por produto interno sobre V uma aplica¸ca ˜o F que transforma cada par ordenado (u, v) ∈ V × V em um n´ umero real (indicado por h u, v i), isto ´e: F : V ×V →
R
(u, v) 7→ h u, v i
desde que as seguintes condi¸co ˜es sejam satisfeitas: ( a ) h u + v, w i = h u, w i + h v, w i,
∀ u, v, w ∈ V ;
( b ) h λu, v i = λ h u, vi,
∀ λ ∈ R e ∀ u, v ∈ V ;
( c ) h u, v i = h v, u i,
∀ u, v ∈ V ;
( d ) h u, u i > 0,
∀ u 6= 0.
As primeiras duas condi¸c˜ oes nos diz que um produto interno ´e linear com respeito ` a primeira vari´ avel. A terceira condi¸c˜ao nos diz que o produto interno ´e sim´etrico, a quarta condi¸c˜ao nos diz que o produto interno de um vetor n˜ ao nulo com ele mesmo ´e sempre positivo. Defini¸ c˜ ao 9 (Espa¸co Euclidiano). Um espa¸co euclidiano ´e um espa¸co vetorial sobre R munido de um produto interno. Nota: Ao acrescentarmos (definirmos) um produto interno sobre um espa¸co vetorial podemos dizer que estamos enriquecendo essa estrutura; por exemplo, em fun¸c˜ ao desse produto interno poderemos calcular a distˆ ancia e o ˆangulo entre dois vetores. (p. 103) Exemplo: Produto interno usual do Rn . Se u = (x1 , x2 , . . . , xn ) e v = (y1 , y2 , . . . , yn ) s˜ ao arbitr´arios em Rn , ent˜ao: (u, v) 7→ h u, v i = x1 y1 + x2 y2 + · · · + xn yn
´e um produto interno sobre o Rn .
(exerc´ıcio)
Propriedades do Produto Interno Seja V, h ·, · i um espa¸co vetorial munido de um produto interno. Valem as seguintes propriedades: P1 ) h 0, u i = h u, 0 i = 0, ∀u ∈ V.
Prova: Da teoria dos espa¸cos vetoriais sabemos que 0 u = 0, para todo u ∈ V . Logo, h 0, u i = h 0 u, u i = 0 h u, u i = 0. ↑ (b)
89
Como h u, 0 i = h 0, u i, ent˜ao h u, 0 i = 0. P2 ) h u, λ v i = λ h u, v i,
∀ λ ∈ R e ∀ u, v ∈ V .
Prova: Temos:
h u, λ v i = h λ v, u i = λ h v, u i = λ h u, v i ↑ ↑ ↑ (c)
(b)
(c)
P3 ) h u, v + w i = h u, v i + h u, w i,
∀ u, v, w ∈ V .
Prova: Temos: h u, v + w i = h v + w, u i = h v, u i + h w, u i = h u, v i + h u, w i ↑ ↑ ↑ (c)
(a)
(c)
P4 ) Dado um n´ umero inteiro m ≥ 1, temos. m DX
λi ui , v
i=1
E
=
m X i=1
λi h ui , v i
Prova: Basta usar indu¸c˜ao juntamente com os axiomas ( a ) e ( b ) da defini¸c˜ ao de produto interno. P5 ) Dado um n´ umero inteiro n ≥ 1, temos. D
u,
n X
αj vj
j=1
E
=
n X j=1
αj h u, vj i
Prova: Basta usar indu¸c˜ao juntamente com as propriedades P2 e P3 demonstradas anteriormente. P6 ) Dados dois n´ umeros inteiros m, n ≥ 1, temos. m DX i=1
λi ui ,
n X
αj vj
j=1
E
=
m X n X i=1 j=1
λi αj h ui , vj i
Produto interno e norma Vimos que a partir de uma norma obtemos uma distˆ ancia, agora veremos que a partir de um produto interno se pode obter uma norma. Com efeito, ´e suficiente tomar p kuk = h u, u i (2.7)
Vamos provar que o lado direito desta equa¸c˜ao de fato satisfaz os postulados para uma norma. 90
(N1 ) kuk ≥ 0 e kuk = 0 ⇐⇒ u = 0 . p Prova: De fato, da defini¸c˜ ao de produto interno decorre que h u, u i ≥ 0. Por outro lado (⇒)
kuk =
p
h u, u i = 0 ⇒ h u, u i = 0 ⇒ u = 0.
A u ´ltima implica¸c˜ ao se deve a que, pelo axioma ( d ) da defini¸c˜ao de produto interno, se u 6= 0 ⇒ h u, u i > 0, o que contradiz h u, u i = 0. (⇐)
(N2 )
u = 0 ⇒ h 0, 0 i = 0 ⇒ k 0k =
p
h 0, 0 i =
√
0 = 0.
kλ uk = |λ| kuk.
Prova: Temos kλ uk =
p
h λ u, λ u i =
p
λ2 h u, u i = |λ|
p
h u, u i = |λ| kuk
(N3 ) ku + vk ≤ kuk + kvk. Para demonstrar a desigualdade triangular da norma iremos necessitar antes demonstrar um lema: Lema 1 (Desigualdade de Cauchy-Schwarz). Em qualquer espa¸co vetorial euclidiano V vale a seguinte desigualdade |h u, v i| ≤ kuk kvk,
∀ u, v ∈ V.
(2.8)
Prova: Faremos uso da seguinte identidade: h u − λ v, u − λ v i = kuk2 − 2λ h u, v i + λ2 kvk2 v´alida para quaisquer u, v ∈ V e para todo λ ∈ R.
(2.9) (exerc´ıcio)
Se v = 0 a desigualdade (2.8) fica
|h u, 0 i| ≤ kuk k 0k ⇒ |0| ≤ kuk 0 ⇒ 0 ≤ 0 e a desigualdade proposta resulta verdadeira. Suponhamos agora v 6= 0. Como a identidade (2.9) vale para qualquer λ ∈ R, em particular vale para λ=
h u, v i kvk2 91
isto ´e, h u − λ v, u − λ v i = kuk2 − 2λ h u, v i + λ2 kvk2 = kuk2 − 2
h u, v i 2 h u, v i h u, v i + kvk2 kvk2 kvk2
= kuk2 − 2
h u, v i2 h u, v i2 + kvk2 kvk2
= kuk2 −
h u, v i2 kvk2
Devido a que h u − λ v, u − λ v i ≥ 0, resulta que kuk2 − Logo,
h u, v i2 ≥0 kvk2
h u, v i2 ≥ 0 ⇒ h u, v i2 ≤ kuk2 kvk2 kvk2 Extraindo a raiz quadrada de cada um dos membros desta u ´ltima desigualdade resulta: |h u, v i| ≤ kuk kvk kuk2 −
Agora vamos demonstrar a desigualdade triangular da norma: ku + vk2 = h u + v, u + v i = h u, u i + h u, v i + h v, u i + h v, v i = kuk2 + 2 h u, v i + kvk2 Da desigualdade de Cauchy-Schwarz obtemos 2 |h u, v i| ≤ 2 kuk kvk somando kuk2 + kvk2 a ambos os membros desta desigualdade obtemos kuk2 + 2 |h u, v i| + kvk2 ≤ kuk2 + 2 kuk kvk + kvk2
Portanto ku + vk2 ≤ ( kuk + kvk )2
Extraindo a raiz quadrada obtemos
ku + vk ≤ kuk + kvk Sendo assim, mostramos que todo espa¸co vetorial com produto interno ´e um espa¸co vetorial normado e, portanto, tamb´em um espa¸co m´etrico. Todo produto interno origina uma norma, mas nem toda norma prov´em de um produto interno. Deixaremos o contraexemplo para os exerc´ıcios. 92
2.4
M´ etricas Induzidas Por Fun¸c˜ oes
Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e N um conjunto qualquer. Se existir uma aplica¸c˜ ao f : N −→ M injetiva, ent˜ao o par (N, d′ ), onde d′ (x, y) = d f (x), f (y)
´e um espa¸co m´etrico. A distˆ ancia entre dois pontos quaisquer de N ´e definida como sendo a distˆ ancia entre suas imagens respectivas. d′ ´e dita a m´etrica induzida por f . (N, d′ )
r
y
r
r
(M, d)
f (y)
f R
x
←d′ (x, y) r
f (x)
Provemos que d′ ´e de fato uma m´etrica. Temos (M1 ) d′ (x, y) = d f (x), f (y) ≥ 0
porquanto d ´e m´etrica. Ademais d′ (x, y) = d f (x), f (y) = 0 ⇐⇒ f (x) = f (y) ⇐⇒ x = y.
Au ´ltima equivalˆencia se verifica em fun¸c˜ao de que f ´e injetora. (M2 ) d′ (x, y) = d f (x), f (y) = d f (y), f (x) = d′ (y, x). A desigualdade
(M3 ) d′ (x, y) ≤ d′ (x, z) + d′ (z, y). ´e verdadeira, porquanto
´e verdadeira.
d f (x), f (y) ≤ d f (x), f (z) + d f (z), f (y)
Exemplos: a ) A partir da m´etrica µ vamos definir uma outra m´etrica sobre R com o aux´ılio da fun¸c˜ ao injetiva f : R −→ R x 7−→ y = 2x Sendo assim obtemos o espa¸co(R, d′ ), onde d′ (x, y) = d f (x), f (y) = f (x) − f (y) = 2x − 2y 93
Por exemplo, a distˆ ancia entre −1 e 1, neste espa¸co, fica d′ (−1, 1) = 2−1 − 21 = 1, 5.
Geometricamente tudo se passa assim:
y=2x
(R, µ)
2
q
d′ (−1, 1) −→ 1
q
−1q
0
(R, d′ )
q1
b ) Vamos construir uma m´etrica sobre R com o aux´ılio do espa¸co R2 , k·k e da aplica¸c˜ ao injetora f : R −→ R2
x 7−→ 12 (x + 1, x − 1)
Pois bem, obtemos o espa¸co (R, d′ ), onde d′ (x, y) = d f (x), f (y)
= f (x) − f (y)
1
1
=
2 (x + 1, x − 1) − 2 (y + 1, y − 1)
1 = (x − y, x − y) 2 Por exemplo, a distˆ ancia entre −1 e 1, neste espa¸co, fica
1 d′ (−1, 1) = (−1 − 1, −1 − 1) = (−1, −1) 2 Tendo em conta o exemplo 3 ) (p. 87), o espa¸co (R, d′ ) desdobra-se em trˆes outros espa¸cos, sendo assim, temos: No espa¸co R, k · ke No espa¸co R, k · ks
p
√
=⇒
d′ (−1, 1) =
=⇒
=⇒
d′ (−1, 1) = | − 1| + | − 1| = 2 d′ (−1, 1) = max | − 1|, | − 1| = 1
No espa¸co R, k · km
94
(−1)2 + (−1)2 =
2
2.5
Produto de espa¸cos m´ etricos
Uma outra importante alternativa para se construir espa¸cos m´etricos ´e via produto cartesiano. Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. A partir destes dois espa¸cos vamos construir, por exemplo, trˆes outros espa¸cos, do seguinte modo: Tomemos dois pontos x = (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 = M
e
y = (y1 , y2 ) ∈ M1 × M2 = M
e vamos definir trˆes fun¸c˜ oes D1 , D2 , D3 : M × M −→ R dadas por D1 (x, y) =
q
d12 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 )
(2.10)
D2 (x, y) = d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 ) D3 (x, y) = max { d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 ) } Pode ser mostrado que (M, D1 ), (M, D2 ) e (M, D3 ) s˜ ao tamb´em espa¸cos m´etricos. (p. 100) Observe que x1 , y1 ∈ M1 e x2 , y2 ∈ M2 de modo que d1 (x1 , y1 ) ´e calculado no espa¸co (M1 , d1 ) enquanto d2 (x2 , y2 ) ´e calculado no espa¸co (M2 , d2 ), assim:
M1 ×M2
y
y2
x2
x
(M2 , d2 ) x1
y1
(M1 , d1 )
Observe ainda que n˜ ao h´ a necessidade de v´ınculo − afinidade − entre os elementos dos conjuntos M1 e M2 . Isto ´e, estes podem ser de natureza completamente arbitr´aria.
95
Com o objetivo de convencer o leitor do grau de arbitrariedade de que estamos falando, vamos dar um exemplo: Sejam (M1 , d1 ) = (S4 , σ) e (M2 , d2 ) = M2×3 (R), D1 . (p. 25) Primeiramente observe que os elementos do conjunto M = S4 × M2×3 (R) s˜ ao pares ordenados (x1 , x2 ) onde x1 ´e uma sequˆencia e x2 ´e uma matriz. Exemplo: Calcule no espa¸co (M, D1 ) a distˆ ancia entre os pontos x e y dados por 2 1 3 x = (x1 , x2 ) = 1110, 3 0 2 0 2 1 y = (y1 , y2 ) = 1010, 3 4 5 Solu¸ c˜ ao: Devemos calcular a seguinte distˆ ancia
D1 (x, y) =
q
d12 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 )
=
q
σ 2 (x1 , y1 ) + D12 (x2 , y2 )
Temos
Ent˜ ao,
x1 = 1110 , x2 =
2 1 3 3 0 2
y1 = 1010 , y2 =
0 2 1 3 4 5
σ(x1 , y1 ) = σ 1110, 1010 = 1
J´ a vimos que D1 (x2 , y2 ) =
D1
1110,
2 1 3 3 0 2
√
34. Portanto,
; 1010,
0 2 1 3 4 5
96
(p.25)
=
q
√ √ 12 + ( 34 )2 = 35.
A generaliza¸c˜ ao para um produto de n espa¸cos m´etricos n˜ ao apresenta dificuldade: Dados os espa¸cos (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . ., (Mn , dn ), o produto cartesiano M = M1 × M2 × · · · × Mn ´e o conjunto das n−uplas ordenadas x = (x1 , x2 , . . . , xn ), onde x1 ∈ M1 , x2 ∈ M2 ,. . . , xn ∈ Mn . As trˆes fun¸c˜oes dadas abaixo: D1 (x, y) =
q
d12 (x1 , y1 ) + · · · + dn2 (xn , yn )
D2 (x, y) = d1 (x1 , y1 ) + · · · + dn (xn , yn ) D3 (x, y) = max { d1 (x1 , y1 ), . . . , dn (xn , yn ) } s˜ ao m´etricas sobre M . Para x, y ∈ M arbitr´arios, valem as seguintes desigualdades: D3 (x, y) ≤ D1 (x, y) ≤ D2 (x, y) ≤ n · D3 (x, y) Observe que quando M1 = M2 = · · · = Mn = R e d1 = d2 = · · · = dn = µ, ent˜ao D1 , D2 e D3 coincidem respectivamente com as m´etricas D1 , D2 e D3 dadas na p´ agina 24. O quadrado quˆ antico Vejamos mais um exemplo de espa¸co produto. A partir do espa¸co m´etrico [ 0, 1 [, k podemos obter outros trˆes no quadrado [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ : 1
1
s
x = (x1 , x2 ) [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [
0
0
1
s
y = (y1 , y2 )
1
assim:
D1 (x, y) =
q
k2 (x1 , y1 ) + k2 (x2 , y2 )
D2 (x, y) = k(x1 , y1 ) + k(x2 , y2 ) D3 (x, y) = max k(x1 , y1 ); k(x2 , y2 ) 97
(2.11) (2.12) (2.13)
Um objeto em v´ arios lugares ao mesmo tempo Um livro que trata inclusive de f´ısica quˆantica∗ afirma que uma part´ıcula pode encontrar-se em muitos lugares ao mesmo tempo, veja: O que a teoria quˆ antica revelou ´e t˜ ao espantoso que mais parece fic¸ca ˜o cient´ıfica: as part´ıculas podem estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo. (Uma experiˆencia muito recente mostrou que uma part´ıcula pode estar em at´e 3 mil lugares!) O mesmo “objeto” pode aparentar ser uma part´ıcula, localizada em um lugar determinado, ou uma onda, espalhada pelo espa¸co e pelo tempo. (p. 55) Provaremos que um objeto − mais precisamente, um ponto geom´etrico − pode encontrar-se em um n´ umero arbitr´ario de lugares ao mesmo tempo. Podemos concluir: se isso ´e poss´ıvel para um ponto geom´etrico, que ´e sem dimens˜ao, com mais raz˜ ao ainda podemos esperar que seja poss´ıvel para uma part´ıcula quˆantica. Antes necessitaremos de uma defini¸c˜ao: Diremos que um objeto p (um ponto) encontra-se em uma regi˜ ao R contida em um universo† , se e s´ o se sua distˆ ancia para essa regi˜ ao for nula. De posse desta defini¸c˜ao mostraremos agora que um ponto geom´etrico pode encontrar-se em quatro lugares ao mesmo tempo. Com efeito, consideremos no quadrado da esquerda 1
1
2 3
R4
R3
R1
R2
[ 0, 1 [ 2 1 3
0
s
1
0
1 3
2 3
1
a origem juntamente com as quatro regi˜ oes em destaque na figura da direita. Afirmamos que a origem encontra-se em todas essas quatro regi˜ oes. E mais: a distˆ ancia da origem para essas regi˜ oes ´e nula em qualquer das m´etricas produto. Faremos a prova para a regi˜ ao R3 e deixaremos as outras por conta do leitor. ∗
Quem somo n´ os? − A descoberta das infinitas possibilidades de alterar a realidade di´ aria. William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente; tradu¸c˜ ao de Doralice Lima. Rio de Janeiro: Prest´ıgio Editorial, 2007. † Para os nossos prop´ ositos ser´ a suficiente considerar como universo o hipercubo [ 0, 1 [ n . Ou seja o cubo unit´ ario em qualquer dimens˜ ao: Intervalo, quadrado, cubo, etc.
98
Escolheremos a m´etrica D1 , ent˜ao: d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X = inf D1 (0, 0); (x, y) : (x, y) ∈ R3 o nq 2 k2 (x, 0) + k2 (y, 0) : ≤ x, y < 1 = inf 3
Temos,
(p. 97)
(eq. (1.2), p. 18)
k(x, 0) = min |x − 0|, 1 − |x − 0| = min x, 1 − x = 1 − x k(y, 0) = min |y − 0|, 1 − |y − 0| = min y, 1 − y = 1 − y
Portanto,
d (0, 0), R3 ) = inf
np
(x − 1)2 + (y − 1)2 :
o 2 ≤ x, y < 1 3
Para calcular essa distˆ ancia vamos encontrar o ´ınfimo da fun¸c˜ao, F (x, y) = Ent˜ao,
p
(x − 1)2 + (y − 1)2 , para
2 ≤ x, y < 1. 3
1 1 2 ≤x<1 ⇒ 0<1−x≤ ⇒ 0 < (1 − x)2 ≤ 3 3 9 An´alogamente, 0 < (1 − y)2 ≤ 19 . Portanto,
√ p 2 2 2 2 0 < (1 − x) + (1 − y) ≤ ⇒ 0 < (1 − x) + (1 − y) ≤ 9 3 2
Conclus˜ao: se
2 3
2
≤ x, y < 1, implica que
F (x, y) = Portanto,
p
d (0, 0), R3 ) = inf
(x
− 1)2
p
+ (y −
1)2
√ i 2 ∈ 0, 3 i
(x − 1)2 + (y − 1)2 :
√ i 2 = 0. = inf 0, 3 i
2 ≤ x, y < 1 3
No pr´ oximo cap´ıtulo estaremos justificando este resultado de uma outra perspectiva − mais pr´ oxima ` a realidade f´ısica. Ademais, oportunamente estaremos provando matem´ aticamente a plausibilidade de uma outra surpreendente (bizarra) afirmativa da f´ısica quˆantica: “El´etrons que se movem de A para B sem nunca passar entre esses pontos.” 99
Apˆ endice Vamos mostrar, por exemplo, que D1 satisfaz a desiguldade triangular: (eq. (2.10), p. 95)
D1 (x, y) ≤ D1 (x, z) + D1 (z, y) Prova: De fato, D12 (x1 , x2 ), (y1 , y2 ) = d12 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 )
como d1 e d2 s˜ ao m´etricas vale
d1 (x1 , y1 ) ≤ d1 (x1 , z1 ) + d1 (z1 , y1 ) e d2 (x2 , y2 ) ≤ d1 (x2 , z2 ) + d1 (z2 , y2 ) Sendo assim, podemos escrever D12 x, y = d12 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 ) 2 2 ≤ d1 (x1 , z1 ) + d1 (z1 , y1 ) + d2 (x2 , z2 ) + d2 (z2 , y2 ) ≤ d12 (x1 , z1 ) + 2 d1 (x1 , z1 ) · d1 (z1 , y1 ) + d12 (z1 , y1 )
+ d22 (x2 , z2 ) + 2 d2 (x2 , z2 ) · d2 (z2 , y2 ) + d22 (z2 , y2 ) Logo, D12 x, y ≤ D12 x, z + 2 d1 (x1 , z1 ) · d1 (z1 , y1 ) + d2 (x2 , z2 ) · d2 (z2 , y2 ) + D12 z, y (2.14) Neste momento faremos uso da seguinte desigualdade p p |a b + c d| ≤ a2 + c2 · b2 + d2
v´alida para a, b, c e d reais (como o leitor pode verificar facilmente). Ent˜ao q 2 2 d1 (x1 , z1 ) · d1 (z1 , y1 ) + d2 (x2 , z2 ) · d2 (z2 , y2 ) ≤ d1 (x1 , z1 ) + d2 (x2 , z2 ) q 2 2 · d1 (z1 , y1 ) + d2 (z2 , y2 ) = D1 x, z · D1 z, y Sendo assim a desigualdade (2.14) pode ser escrita como D12 x, y ≤ D12 x, z + 2 D1 x, z · D1 z, y + D12 z, y 2 = D1 x, z + D1 z, y
Desta desigualdade − extraindo-se a raiz quadrada − decorre o resultado desejado. 100
2.6
Exerc´ıcios
1) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Mostre que tamb´em s˜ ao m´etricas sobre M as fun¸c˜ oes definidas assim: p a ) d2 (x, y) = d(x, y); b ) d3 (x, y) =
d(x, y) . 1 + d(x, y)
a b+c ≤ . 1+a 1+b+c 2) Mostre que a fun¸ca ˜o dada pela equa¸ca˜o (2.2) ´e uma norma em Zn .(p.
86)
3) Mostre que a fun¸c˜ ao dada pela equa¸c˜ao (2.3) ´e uma norma em Zn .(p.
87)
4) Mostre que a fun¸c˜ ao dada pela equa¸c˜ao (2.5) ´e uma norma em Rn .(p.
87)
5) Mostre que a fun¸c˜ ao dada pela equa¸c˜ao (2.6) ´e uma norma em Rn .(p. 6) O espa¸co C[a, b], +, · .
87)
Sugest˜ ao: Se a, b, c ≥ 0 temos a ≤ b + c ⇐⇒
Seja C[a, b] o conjunto das fun¸c˜oes reais cont´ınuas definidas no intervalo fechado [ a, b ]. Isto ´e n o C[a, b] = f : [ a, b ] −→ R / f cont´ınua
Sobre este conjunto defina duas opera¸c˜oes assim: dados f, g ∈ C[a, b] e λ ∈ R ponha (f + g)(t) = f (t) + g(t), ∀ t ∈ [ a, b ] λf (t) = λf (t), ∀ t ∈ [ a, b ] Prove que C[a, b], +, · ´e um espa¸co vetorial.
7) Mostre que a aplica¸c˜ ao
k · k : C[a, b] −→ R definida por
kf k = max |f (x)| : x ∈ [a, b] ´e uma norma sobre o espa¸co C[a, b], +, · . 8) Calcule a norma do seguinte vetor:
f : [ −1, 1 ] −→ R
x 7−→ x2 + 1
Interprete o resultado geometricamente.
101
(2.15)
9) Mostre que a aplica¸ca˜o k · k : C[a, b] −→ R definida por kf k =
Z
b
a
|f (x)| dx
´e uma outra norma sobre o espa¸co C[a, b], +, · . 10) Calcule a norma do seguinte vetor:
f : [ −1, 1 ] −→ R
x 7−→ x2 + 1
Interprete o resultado geometricamente. 11) Prove a seguinte identidade
(eq. (2.9), p. 91)
h u − λ v, u − λ v i = kuk2 − 2λ h u, v i + λ2 kvk2 12) Mostre que a desigualdade de Cauchy-Schwarz demonstrada para o Rn (des. (1.21), p. 68) pode ser obtida como um caso especial da desigualdade em espa¸cos vetoriais euclidianos (des. (2.8), p. 91). 13) Mostre que se uma norma prov´em de um produto interno ent˜ao vale a identidade do paralelogramo: (eq. (2.7), p. 90) ku + vk2 + ku − vk2 = 2 kuk2 + kvk2
14) Prove que as normas dadas pelas equa¸c˜oes (2.5) e (2.6) n˜ ao provˆem de um produto interno. (p. 87) Sugest˜ ao: Tome, no caso especial do R2 , os vetores u = (1, 0) e v = (0, 1) e mostre que eles n˜ ao satisfazem a identidade do paralelogramo.
15) Prove que a norma dada pela equa¸c˜oes (2.15) n˜ ao provˆem de um produto interno. (p. 101) Sugest˜ ao: Tome os dois seguintes vetores f : [ a, b ] −→ R, dado por f (x) = 1 g : [ a, b ] −→ R, dado por g(x) =
x−a b−a
e mostre que eles n˜ ao satisfazem a identidade do paralelogramo. 16) Mostre que um produto interno pode ser obtido a partir de uma fun¸c˜ao norma: 1 ku + vk2 − ku − vk2 h u, v i = 4 102
ˆ 17) Angulo entre vetores Sabemos da trigonometria que −1 ≤ cos θ ≤ 1. Da desigualdade de Cauchy-Schwarz, |h u, v i| ≤ kuk kvk, decorre: h u, v i ≤ 1. kuk kvk
−kuk kvk ≤ h u, v i ≤ kuk kvk ⇒ −1 ≤
Definimos o ˆ angulo entre dois vetores u e v, como: cos θ =
h u, v i , kuk kvk
0 ≤ θ ≤ π.
Calcule o ˆ angulo entre os vetores u = o produto interno usual do R2 .
1 2,
√
3 2
e v=
−
√
3 2 ,
− 12
com
(p. 89)
18) Na figura a seguir a distˆ ancia da origem para as quatro regi˜ oes ´e nula. 1
1
2 3
[ 0, 1 [
R4
R3
R1
R2
2 1 3
0
s
1
0
1 3
2 3
Prove isto para as m´etricas Di , com i = 1, 2, 3.
1 (p. 97)
19) O resultado d (0, 0), R3 ) = 0 obtido na p. 99 implica em que arbitrariamente pr´ oximo da origem podemos encontrar um ponto da regi˜ ao R3 . Para todo ε > 0 arbitrariamente fixado encontre um ponto (x, y) ∈ R3 satisfazendo D1 (0, 0); (x, y) < ε. (ver lema 11, p. 609)
20) Resolva, no quadrado [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, a seguinte inequa¸c˜ao: 1 D1 (0, 0); (x, y) < 3 Fa¸ca um esbo¸co geom´etrico do conjunto solu¸c˜ao. 21) Resolva, no quadrado [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, a seguinte inequa¸c˜ao: 1 D2 (0, 0); (x, y) < 3 Fa¸ca um esbo¸co geom´etrico do conjunto solu¸c˜ao. 22) Resolva, no quadrado [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, a seguinte inequa¸c˜ao: 1 3 1 D3 (x, y); ( , ) < 4 4 3 103
Esta p´ agina ficaria em branco (ociosa), decidi aproveit´a-la para justificar a afirmativa que fiz na p. 85 de que na f´ısica de Einstein 1 + 1 6= 2. Suponhamos um observador O fixo em rela¸c˜ao ao solo, e um vag˜ao movendo-se com velocidade v em rela¸c˜ao ao solo. Dentro do vag˜ao h´ a uma bola que se move com velocidade u. u
•
∼
≀
v ·
q O
·
Sendo assim, Galileu nos diz que: V = v + u. Onde, V : velocidade da bola para o observador no solo. Einstein, respaldado em seu segundo postulado∗ , corrigiu a adi¸c˜ao de Galileu da seguinte forma: V =
v+u v·u 1+ 2 c
Onde c = 3 · 108 (m/s) ´e a velocidade da luz. Tomando u = v = 1 teremos que para Galileu 1 + 1 = 2, j´a para Einstein 1 + 1 6= 2. De fato, V =
1+1 6= 2 1·1 1+ (3 · 108 )2
(2.16)
Claro, os f´ısicos argumentariam que “para todos os fins pr´ aticos” 10−16 = 0 e a´ı as duas adi¸c˜ oes coincidem. Primeiro que arredondamento ´e sempre uma op¸c˜ ao, nunca uma obriga¸c˜ao. Segundo, n˜ ao trata-se de arredondamento, ´e uma quest˜ ao conceitual. Por exemplo, “para todos os fins pr´ aticos” π = 3, 14159265359, entretanto conceitualmente o n´ umero da esquerda ´e irracional e o da direita racional. A f´ısica de Newton-Galileu n˜ ao ´e um caso particular da de Einstein. Observe que s´ o existe uma maneira de obter 1 + 1 = 2 na f´ısica de Einstein, devemos fazer 10−16 = 0, o que implicaria 1 = 0 (multiplicando por 1016 ). Logo, estabelecemos (na f´ısica de Einstein): Se 1 + 1 = 2 ent˜ ao 1 = 0. Mas isto equivale a: Se 1 6= 0 ent˜ao 1 + 1 6= 2. An passant, gostaria de deixar aqui um questionamento aos f´ısicos. A matem´ atica nos diz que a adi¸c˜ao de vetores obedece a regra do paralelogramo, ~ |2 = | ~u |2 + | ~v |2 + 2 | ~u | · | ~v | · cos θ. Esta equa¸c˜ao para θ = 0o dada por | V torna-se | V~ | = | ~u | + | ~v |. Tomando u = v = 1 teremos | V~ | = | 1 | + | 1 | = 2, contrariando (2.16)! Ent˜ ao velocidade n˜ ao ´e um vetor na f´ısica de Einstein?
∗ A velocidade da luz no v´ acuo tem o mesmo valor c em qualquer referencial inercial, independentemente da velocidade da fonte de luz.
104
Cap´ıtulo
3
BOLAS ABERTAS H´ a uma qualidade de ˆ extase que n˜ ao ´ e prazer; s´ o vem esse ˆ extase quando existe em n´ os mesmos aquela ordem matem´ atica, que ´ e absoluta. (Krishnamurti)
Introdu¸ c˜ ao: Dada a importˆ ancia das bolas abertas para o estudo dos espa¸cos m´etricos, resolvemos abord´ a-las em um cap´ıtulo em separado. ´ de fundamental importˆ E ancia que o leitor compreenda bem este conceito, haja vista que muitas das defini¸c˜oes em cap´ıtulos subsequentes s˜ ao em fun¸c˜ao do mesmo. Que o estudante n˜ ao tenha a ilus˜ ao de ir muito longe na topologia sem uma perfeita compreens˜ ao das bolas abertas.
3.1
Defini¸ c˜ ao e Exemplos
Defini¸ c˜ ao 10 (Bola Aberta). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Considere um ponto fixado p ∈ M . Dado r > 0 um n´ umero real, a bola aberta de centro p e raio r, que indicaremos por B(p; r), ´e o seguinte subconjunto de M : B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r
Ou seja: a bola aberta de centro p e raio r > 0 ´e o conjunto formado pelos elementos de M que est˜ ao a uma distˆ ancia de p menor que r. Observe que para encontrar uma bola aberta deveremos sempre resolver ao a inequa¸c˜ d(x, p) < r, no conjunto universo U = M . Observe outrossim que quando x = p, teremos d(p, p) = 0 < r
⇒ 105
p ∈ B(p; r).
Conclus˜ao: uma bola aberta nunca ´e vazia − pois o pr´ oprio centro sempre pertence ` a mesma. Observa¸ca ˜o: A nosso crit´erio usaremos a nota¸c˜ao Bd (p; r) para explicitar a m´etrica a qual a bola se refere. Agora daremos v´arios exemplos de bolas em v´arios espa¸cos m´etricos.
3.1.1
Bolas na reta
1) Considere M = R a reta real. Consideremos p = 3 ∈ R e r = 21 . Ent˜ao: • No espa¸co (R, µ), temos B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r B 3;
1 1 = x ∈ R : µ(x, 3) < 2 2 1 = x ∈ R : |x − 3| < 2 1 1 = x ∈ R: − < x − 3 < 2 2 1 5 7 1 , = = x ∈ R: 3 − < x < 3 + 2 2 2 2
A visualiza¸c˜ ao geom´etrica ´e como a seguir Bµ (3; 21 ) ⊣ 0
⊣ 1
⊣ 2
] 5 2
s [
3
7 2
⊣ 4
R
De um modo geral, a bola aberta de centro p e raio r, no espa¸co m´etrico (R, µ), coincide com o intervalo aberto de mesmo centro e mesmo raio. Assim B(p; r) = x ∈ R : |x − p| < r = x ∈ R: − r < x − p < r = x ∈ R : p − r < x < p + r = p − r, p + r Bµ (p; r) = p − r, p + r
Geometricamente, temos
Bµ (p; r)
] p−r
sr
p
[
R
p+r
106
• No espa¸co (R, δ), temos B(p; r) =
x ∈ M : d(x, p) < r
1 1 = x ∈ R : δ(x, 3) < 2 2
B 3;
Nesta bola entram apenas os n´ umeros reais que satisfazem a inequa¸c˜ao δ(x, 3) <
1 2
pela defini¸c˜ ao de δ, temos
(p. 15)
δ(x, 3) =
1, 0,
se e s´ o se x 6= 3; se e s´ o se x = 3.
Portanto o u ´nico n´ umero real que satisfaz a exigˆencia δ(x, 3) < x = 3, pois δ(3, 3) = 0 < 12 . Logo B 3;
1 2
´e
1 1 = x ∈ R : δ(x, 3) < = 3 . 2 2
Este ´e um exemplo de que na bola s´ o consta o seu pr´ oprio centro. A geometria da situa¸c˜ ao ´e a seguinte Bδ (3; 21 ) ⊣ 0
3.1.2
⊣ 1
⊣s 3
⊣ 2
R
Bolas na m´ etrica “zero-um”
2) Vamos agora caracterizar a bola aberta no espa¸co m´etrico (M, δ), onde M ´e um conjunto arbitr´ario. Na defini¸c˜ ao de bola aberta temos que r > 0. Vamos separar a nossa an´ alise em dois casos: 1o ) Suponhamos 0 < r ≤ 1. Considere p ∈ M , arbitrariamente fixado. Ent˜ao: B(p; r) = x ∈ M : δ(x, p) < r ≤ 1
observe que se x 6= p ent˜ ao δ(x, p) = 1, logo a desigualdade δ(x 6= p, p) = 1 < r ≤ 1
n˜ ao ´e verdadeira. Isto ´e nenhum x 6= p pode fazer parte de uma bola com 0 < r ≤ 1. Por conseguinte Bδ (p; r) = p , para 0 < r ≤ 1. 107
2o ) Suponhamos r > 1. Considere p ∈ M , arbitrariamente fixado. Ent˜ao B(p; r) = x ∈ M : δ(x, p) < r Como 0 ≤ δ(x, p) ≤ 1, ou ainda δ(x, p) ∈ { 0, 1 }, a desigualdade 0 ≤ δ(x, p) ≤ 1 < r estar´ a sempre satisfeita para todo x ∈ M . Por conseguinte Bδ (p; r) = M,
para r > 1.
Resumindo: A bola aberta no espa¸co m´etrico (M, δ) est´ a perfeitamente caracterizada como
Bδ (p; r) =
p , se 0 < r ≤ 1;
M,
(3.1)
se r > 1.
Por exemplo, seja M = Z4 . Considere p = 0101, ent˜ao 0101 , se 0 < r ≤ 1; Bδ 0101; r = Z4 , se r > 1.
3.1.3
Bolas no espa¸co quˆ antico
3) Bolas no Espa¸ co
[ 0, 1 [, k
− Vamos inicialmente, a t´ıtulo de exemplo, esbo¸car a bola de centro 0 e raio r = 14 no espa¸co [ 0, 1 [, k . Ent˜ao:
1 1 = x ∈ [ 0, 1 [ : k(x, 0) < 4 4 1 = x ∈ [ 0, 1 [ : min{ |x − 0|, 1 − |x − 0| } < 4 Devemos resolver a inequa¸c˜ao 1 min{ x, 1 − x < , para 0 ≤ x < 1. 4 Com o aux´ılio do gr´ afico da fun¸c˜ao k(x, 0), na p. 18, chegamos ao seguinte resultado: 1 1 = x ∈ [ 0, 1 [ : min{ x, 1 − x } < Bk 0; 4 4 3 1 ,1 ∪ = 0, 4 4 Bk 0;
108
Geometricamente a bola pedida fica assim:
3 4
1 4
0
1
Isto significa, enfatizamos, que estes s˜ ao os pontos do intervalo [ 0, 1 [ cujas distˆ ancias para a origem s˜ ao menores que 14 = 0, 25. Podemos confirmar isto com o aux´ılio da r´egua quˆantica, observe:
3 4
1 4
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,4
0,3
[ 0, 1 [
0,2
0,1
1 INMETRO
0
1
− Vejamos ainda um outro exemplo. Esbo¸car a bola de centro ao: r = 38 no espa¸co [ 0, 1 [, k . Ent˜ Bk
1 3 1 3 ; = x ∈ [ 0, 1 [ : k x, < 4 8 4 8 n 1 = x ∈ [ 0, 1 [ : min x − , 1 − x − 4
Devemos resolver a inequa¸c˜ ao n 1 1 o 3 min x − , 1 − x − < , 4 4 8
1 4
e raio
1 3 o < 4 8
para 0 ≤ x < 1.
Inicialmente vamos tra¸car o gr´ afico das fun¸c˜oes dadas por 1 f (x) = x − 4
Ent˜ao |x|
1 g(x) = 1 − x − 4
e
f (x) = |x− 14 |
−1p
0
p
p
⇒
p1
x
−1p
109
0
1 4
p1
x
Para obter o gr´ afico da fun¸c˜ao g procedemos assim − |x− 41 |
g(x) = 1− |x− 41 |
⇒
−1p
p
p
1
0
x
p1
1 4
−1p
↑
0
x
p1
1 4
Na figura a seguir (esquerda) superpomos os gr´ aficos de f e g: h(x)
f (x) 1
−1 p
0
p
p
1
x
p1
1 4
−1p
0
1 4
3 4
p1
x
g(x)
Na figura da direita plotamos o gr´ afico da fun¸c˜ao h dada por h(x) = min f (x), g(x) , 0 ≤ x < 1.
Ou seja, percorrendo o intervalo [ 0, 1 [ − na figura da esquerda − tomamos a parte do gr´ afico que “est´ a por baixo”. Para resolver a inequa¸c˜ao h(x) <
3 8
consideremos os gr´ aficos a seguir h(x) = k(x, 41 )
h(x)
r=
1
p
1
p
3 8
ց
−1 p
r= 0
1 4
3 4
p1
x
3 8
−1 p
0
1 4
5 7 8 8
p1
Para obter as intersec¸c˜oes no gr´ afico `a direita resolvemos as equa¸c˜oes 1 3 f (x) = x − = 4 8
e 110
1 3 g(x) = 1 − x − = 4 8
x
Do u ´ltimo gr´ afico obtemos 1 3 n 3o ; = x ∈ [ 0, 1 [ : h(x) < 4 8 8
Bk
5 7 = 0, ,1 ∪ 8 8
Cujo esbo¸co geom´etrico ´e como a seguir t
p
1 4
0
1 2
5 8
7 8
1
Deixamos como exerc´ıcio ao leitor provar que
Bk (0; r) =
[ 0, r [ ∪ ] 1 − r, 1 [ ,
[ 0, 1 [ ,
se 0 < r ≤ 12 ;
(3.2)
se r > 12 .
Geometricamente, temos 0
r
1−r
1
0
Bk (0; r < 12 )
r
Bk (0; r = 21 )
1
0
1
Bk (0; r > 21 )
Nota: A figura do centro poderia ter sido incluida na figura da esquerda.
3.1.4
Bolas no plano
4) Bolas nos Espa¸ cos (R2 , Di ) − Vamos inicialmente, a t´ıtulo de exemplo, esbo¸car a bola de centro 0 e raio r = 1 no espa¸co (R2 , D1 ). Ent˜ao: B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r B (0, 0); 1 = (x, y) ∈ R2 : D1 (x, y); (0, 0) < 1 o n p = (x, y) ∈ R2 : (x − 0)2 + (y − 0)2 < 1
Sendo assim B (0, 0); 1 ´e o conjunto dos pontos do plano cujas coordenadas satisfazem a desigualdade p (x − 0)2 + (y − 0)2 < 1, 111
isto ´e, s˜ ao os pontos interiores `a circunferˆencia de equa¸c˜ao: x2 + y 2 = 1.
R B((a, b); r)
R b 1
q
B((0, 0); 1)
s r
−1
1
R
0
R
ap
−1
Para um ponto p = (a, b) ∈ R2 arbitr´ario, a bola B (a, b ; r) ´e o conjunto dos pontos interiores ` a circunferˆencia de equa¸c˜ao: (x − a)2 + (y − b)2 = r 2 .
− Agora vamos esbo¸car a bola de centro 0 e raio r = 1 no espa¸co (R2 , D2 ). Ent˜ ao: B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r B (0, 0); 1 = (x, y) ∈ R2 : D2 (x, y); (0, 0) < 1 = (x, y) ∈ R2 : |x − 0| + |y − 0| < 1 Sendo assim B (0, 0); 1 ´e o conjunto dos pontos do plano cujas coordenadas satisfazem a desigualdade |x − 0| + |y − 0| < 1 isto ´e, s˜ ao os pontos interiores `a circunferˆencia de equa¸c˜ao: |x| + |y| = 1. R
R b
q
1
s
B((0, 0); 1) −1
1
B((a, b); r)
r R
0
ap
R
−1
Para um ponto p = (a, b) ∈ R2 arbitr´ario, a bola B (a, b ; r) ´e o conjunto dos pontos interiores ` a circunferˆencia de equa¸c˜ao: |x − a| + |y − b| = r. 112
− A bola de centro 0 e raio r = 1 no espa¸co (R2 , D3 ) fica assim: B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r B (0, 0); 1 = (x, y) ∈ R2 : D3 (x, y); (0, 0) < 1 = (x, y) ∈ R2 : max {|x − 0|, |y − 0|} < 1 Sendo assim B (0, 0); 1 ´e o conjunto dos pontos do plano cujas coordenadas satisfazem a desigualdade max {|x − 0|, |y − 0|} < 1 s˜ ao os pontos interiores ` a circunferˆencia: max {|x|, |y|} = 1. R
R b
q
1
s
B((0, 0); 1) −1
1
B((a, b); r)
r
R
0
ap
R
−1
Para um ponto p = (a, b) ∈ R2 arbitr´ario, a bola B (a, b ; r) ´e o conjunto dos pontos interiores ` a circunferˆencia de equa¸c˜ao: max {|x − a|, |y − b|} = r.
3.1.5
Bolas no quadrado quˆ antico
5) A t´ıtulo de exemplo construiremos agora a bola BD (0, 0); 41 e deixare1 mos como exerc´ıcio ao leitor a constru¸c˜ao desta mesma bola nas duas outras m´etricas. Temos, (eq. (2.11), p. 97) n 1o 1 BD (0, 0); = (x, y) ∈ [ 0, 1 [ ×[ 0, 1 [ : D1 (x, y); (0, 0) < 1 4 4
Pertencem a esta bola todos os pontos do quadrado que satisfazem a desigualdade: q 1 D1 (x, y); (0, 0) = k2 (x, 0) + k2 (y, 0) < 4
Temos,
k(x, 0) = min |x − 0|, 1 − |x − 0| = min x, 1 − x k(y, 0) = min |y − 0|, 1 − |y − 0| = min y, 1 − y 113
Estas equa¸c˜ oes desdobram-se em cada um dos “quadrantes” da seguinte forma: (eq. (1.2), p. 18) 1 k(x, 0) = 1−x
k(y, 0) = 1−y
k(y, 0) = 1−y
k(x, 0) = x
k(x, 0) = 1−x
k(y, 0) = y
k(y, 0) = y
¬
k(x, 0) = x
1 2
¬1
0
1
2
Sendo assim, temos: k(x, 0) = x,
k(y, 0) = y
⇒
II )
k(x, 0) = 1 − x,
k(y, 0) = y
⇒
III )
k(x, 0) = 1 − x,
k(y, 0) = 1 − y
⇒
IV )
k(x, 0) = x,
k(y, 0) = 1 − y
⇒
I)
p
(x − 0)2 + (y − 0)2 <
1 4
p
(x − 1)2 + (y − 0)2 <
1 4
p
(x − 1)2 + (y − 1)2 <
1 4
p
(x − 0)2 + (y − 1)2 <
1 4
Tomando a interse¸c˜ ao de cada uma das respectivas circunferˆencias com o quadrado unit´ ario obtemos a bola aberta procurada, assim: (` a direita)
(0, 1)1
(1, 1)
3 4
¬
=⇒
1 2
(0, 0)
0
1 4
¬
1 4
1 2
3 4
1
(1, 0)
114
Topologia quˆ antica
Tudo deve ser baseado em uma id´ eia simples. Depois de a descobrirmos ela ser´ a t˜ ao irresist´ıvel, t˜ ao bela, que comentaremos entre n´ os, sim, n˜ ao poderia ser diferente.
(John Wheeler, f´ısico)
As ondas de De Broglie Em 1924 o f´ısico francˆes Louis De Broglie levantou a conjectura de que a mat´eria, em certas circunstˆancias, poderia ter caracter´ısticas ondulat´orias, o que foi confirmado experimentalmente em 1927 atrav´es dos experimentos de C. J. Davisson e L.H. Germer, dos Bell Telephone Laboratories. Observamos que a conjectura de De Broglie foi decisiva para o estabelecimento da f´ısica quˆantica e, por conseguinte, diretamente respons´ avel por todo o desenvolvimento tecnol´ ogico que ora desfrutamos. Por outro lado, a proposta de De Broglie teve tamb´em profundas repercuss˜oes filos´ oficas. Por exemplo, inspirado nas ondas de De Broglie associaremos a um ponto geom´etrico uma onda e da´ı derivaremos toda uma s´erie de consequˆencias interessantes. Apenas para espica¸car a curiosidade do leitor, afirmamos que na figura a seguir t
A
P 0
p
2 3
1 3
1
conseguimos mover o ponto P at´e a posi¸c˜ao A, do outro lado, sem passar pelo hiato central − e sem abandonar o conjunto, constituido pelos dois peda¸cos de reta. (p. 384)
Ondas geom´ etricas Dado um ponto p, no universo [ 0, 1 [ n , e um n´ umero r > 0, definiremos a onda associada ao ponto p (ou de centro em p) e raio r como: O = x ∈ [ 0, 1 [ n : d(x, p) < r
Leia-se: A onda de centro p e raio r > 0 ´e o conjunto de todos os pontos do espa¸co (hipercubo) tais que suas distˆ ancias para p ´e menor que r. 115
Ou seja, uma onda ´e uma bola aberta, estamos apenas − inspirados nas ondas de De Broglie − mudando a nomenclatura no presente contexto. Defini¸ c˜ ao 11. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico, R ⊂ M uma regi˜ ao (subconjunto) de M , e p um ponto de M. Dizemos que o ponto p encontra-se na regi˜ ao R se e s´ o se sua distˆ ancia para esta regi˜ ao for nula.
Na p´ agina 48 mostramos que ´e nula a distˆ ancia da origem para o conjunto X na figura a seguir: s
0
1
1 2
X
De outro modo: A origem encontra-se nesta regi˜ ao. Agora estamos em condi¸c˜ oes de ver este fenˆomeno de uma nova perspectiva. De fato, oportuao se, namente estaremos provando que “um ponto encontra-se em uma regi˜ (cor. 8, p. 211) e somente se, sua onda intercepta essa regi˜ ao”. Mais precisamente (em s´ımbolos): d(p, R) = 0 ⇐⇒ O(p; r) ∩ R = 6 ∅;
∀ r > 0.
Da equa¸c˜ ao (3.2) (p. 111) concluimos que toda “Onda” de centro na origem intercepta o conjunto X (ou regi˜ ao R) na figura anterior, veja: O
s
O
0
R
1 2
1
Esta ´e precisamente a raz˜ ao pela qual o ponto encontra-se na regi˜ ao. De igual modo, a raz˜ ao pela qual a origem encontra-se presente nas quatro regi˜ oes da figura a seguir (esquerda) (p. 98)
s
0
R4
R3
R1
R2
s
s
´e que toda Onda de centro nela (fig. do centro) intercepta as quatro regi˜ oes ao se, e (fig. ` a direita). Resumindo: Um ponto encontra-se em uma dada regi˜ somente se, toda onda “gerada por esse ponto” − ou associada a esse ponto − intercepta a regi˜ ao. 116
Uma m˜ ao “leva ` a outra” Os nossos resultados topol´ ogicos tornam plaus´ıvel matem´ aticamente a afirmativa quˆantica de que um objeto pode estar em v´arios lugares ao mesmo tempo. De fato, se isto pode se d´ a com um ponto geom´etrico, que ´e sem dimens˜ao, com mais raz˜ ao ainda podemos concordar que possa verificar-se com uma part´ıcula quˆantica (que ´e um “ente”). Digo, n˜ ao temos porque duvidar desta afirmativa quˆantica uma vez que a matem´ atica afirma o mesmo relativamente a um ponto geom´etrico − que, “pior ainda”, ´e indimensional. Por outro lado, alguns poderiam manter uma postura reservada em rela¸c˜ao aos nossos resultados, ou at´e mesmo rejeit´a-los, com a justificativa de que eles est˜ ao totalmente distantes da “realidade”. Veja bem, toda a fundamenta¸c˜ao l´ogica (matem´ atica) para os nossos resultados recai no fato de que ` a origem associamos uma onda e, por conta desta, a mesma encontra-se “presente” nos quatro “cantos do mundo”. Ora, sendo assim essa conclus˜ao n˜ ao est´ a “t˜ao distante” da realidade uma vez que a f´ısica quˆantica nos assegura o mesmo em rela¸c˜ao a um objeto quˆantico: “Uma experiˆencia muito recente mostrou que uma part´ıcula pode estar em at´e 3 mil lugares! O mesmo ‘objeto’ pode aparentar ser uma part´ıcula, localizada em um lugar determinado, ou uma onda. (p. 98) Se, por ventura, o leitor ainda sente dificuldade em compreender como uma Onda pode conectar objetos aparentemente distantes, vejamos uma analogia. Na figura a seguir imagine que vocˆe ´e o pontinho e que as regi˜ oes em destaque sejam trˆes televis˜oes, veja:
T.V.1
T.V.2
T.V.3
s
↑
Vocˆe
Pois bem, para que o leitor esteja conectado simultˆ aneamente aos trˆes televisores basta ter em m˜ aos um controle remoto. Observe que a sua “presen¸ca” se faz sentir em v´arios lugares ao mesmo tempo gra¸cas a uma onda − desta vez eletromagn´etica. 117
3.1.6
Bolas nos espa¸cos de c´ odigos
6) Consideremos o conjunto de s´ımbolos S4 = 0000, 1000, 0100, 1100, 0010, 1010, 0110, 1110, 0001, 1001, 0101, 1101, 0011, 1011, 0111, 1111 Seja p = 0101 e r = 2. No espa¸co Z4 , σ , temos B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r B 0101; 2 = x ∈ Z4 : σ(x, 0101) < 2 As sequˆencias de Z4 que pertencem `a bola procurada s˜ ao aquelas que satisfazem a desigualdade 4 X |xn − pn | < 2 σ(x, 0101) = n=1
= |x1 − 0| + |x2 − 1| + |x3 − 0| + |x4 − 1| < 2 Ou ainda, que satisfazem x1 + |x2 − 1| + x3 + |x4 − 1| < 2 Observe que n˜ ao podemos ter x2 = x4 = 0 ou x1 = x3 = 1. Sendo assim obtemos Bσ 0101; 2 = 0100, 0001, 0101, 1101, 0111
3.1.7
x1 x2 x3 x4
0 1 0 X1 0 1 X0 1 0 X1 0 1 X0 1 0 1
0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1
Bolas nos espa¸cos de fun¸ c˜ oes
7) • Bolas no espa¸co C[a, b], Γ . Consideremos a fun¸c˜ao g : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ 0 Isto ´e, g ´e a fun¸c˜ ao identicamente nula (g ≡ 0).
Tomemos r = 12 . Vamos fazer algumas elucubra¸c˜oes sobre a bola 1 1 = f ∈ C[ 0, 1 ] : Γ(f, g) < B g; 2 2 Z 1 1 = f ∈ C[ 0, 1 ] : |f (x) − g(x)| dx < 2 0 Z 1 1 |f (x) − 0| dx < = f ∈ C[ 0, 1 ] : 2 0 118
0 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 1 1 1 1
0 X 0 X 0 0 0 X 0 X 0 0 X 1 1 1 1 1 1 X 1 1 X
Tˆem livre acesso a esta bola todas as fun¸c˜oes cont´ınuas, com dom´ınio no intervalo [ 0, 1 ], que satisfazem a desigualdade Z 1 1 |f (x)| dx < . 2 0 Ou ainda: pertencem ` a bola em quest˜ao todas as fun¸c˜oes f , cont´ınuas e com dom´ınio no intervalo [ 0, 1 ], cuja a´rea sob o gr´ afico de |f | n˜ ao excede 0, 5.
Exemplos: a) Perguntamos: a fun¸c˜ ao
pertence ` a bola B Γ 0;
1 2
Solu¸ ca ˜o:
Temos:
Z
1
x2 dx =
0
x3 3
f : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ y = x2 ? f (x)
1
= 0
1 1 < 3 2 1
q
0
x
q1
Resposta: Sim. b) Perguntamos: a fun¸c˜ ao
pertence ` a bola B Γ 0;
1 2
f : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ y = sen x ?
Solu¸ ca ˜o: Temos:
Z
1 0
1
sen x dx = − cos x
f (x)
0
= 1 − cos 1
1
1 2
0
≈ 0, 46 <
q
Resposta: Sim. 119
q1 q π2
qπ
x
c) Perguntamos: a fun¸c˜ao f : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ y = cos x pertence ` a bola B Γ 0; Solu¸ c˜ ao:
1 2
? f (x)
Temos:
Z
1
1
1
q
cos x dx = sen x
0
0
= sen 1 ≈ 0, 84 >
1 2
π 2
q1 q
0
x
qπ
Resposta: N˜ao. • Bolas no espa¸co C[a, b], Υ Consideremos a fun¸c˜ao:
g : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ 0
Tomemos r = 12 . Vamos fazer algumas elucubra¸c˜oes sobre a bola B g;
1 1 = f ∈ C[ 0, 1 ] : Υ(f, g) < 2 2 1 = f ∈ C[ 0, 1 ] : max{ |f (x) − g(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] } < 2 1 = f ∈ C[ 0, 1 ] : max{ |f (x)| : x ∈ [ 0, 1 ] } < 2
Tˆem livre acesso a esta bola todas as fun¸c˜oes cont´ınuas, com dom´ınio no intervalo [ 0, 1 ], que satisfazem a desigualdade
Isto equivale a
1 max |f (x)| : x ∈ [ 0, 1 ] < 2
|f (x)| < 0, 5 ; ∀ x ∈ [ 0, 1 ] ⇒ −
1 1 < f (x) < ; ∀ x ∈ [ 0, 1 ]. 2 2 y 1 2
1 2
Isto ´e, pertencem ` a bola BΥ 0; todas as fun¸c˜ oes reais cont´ınuas, com dom´ınio [ 0, 1 ], cujos gr´ aficos situam-se na faixa retangular ao lado. 120
q
r 1 0 r − 12 q
x g= 0
De um modo geral ´e sempre poss´ıvel “visualizarmos” as bolas no espa¸co C[a, b], Υ . Sendo B(g; r) = f ∈ C[a, b] : Υ(f, g) < r = f ∈ C[a, b] : max {|f (x) − g(x)| : x ∈ [ a, b ] } < r Temos a seguinte equivalˆencia
max { |f (x) − g(x)| : x ∈ [ a, b ] } < r ⇐⇒ |f (x) − g(x)| < r, ∀x ∈ [ a, b ]. Isto ´e, pertencem ` a bola B(g; r) todas as fun¸c˜oes f ∈ C[a, b] tais que g(x) − r < f (x) < g(x) + r ; a ≤ x ≤ b. Lembramos que g ∈ C[a, b] ´e uma fun¸c˜ao a priori fixada. Pertencem `a bola B(g; r) as fun¸c˜ oes cont´ınuas f : [ a, b ] −→ R cujos gr´ aficos situam-se entre os gr´ aficos de g − r e g + r. Geometricamente esta bola fica assim: y
2r
g+r
g
f
g−r
0
3.1.8
a
b
x
Bolas em subespa¸cos
Dado um espa¸co m´etrico (M, d) e um subconjunto N ⊂ M , o nosso objetivo agora ser´ a estudar as bolas abertas no subespa¸co (N, d). Dado p ∈ N e r > 0 a bola de centro p e raio r no “espa¸co universo” (M, d) continuar´ a a ser indicada por B(p; r), ou por Bd (p; r) quando houver necessidade de explicitar a m´etrica. Enquanto a sub-bola, digo, a bola no subespa¸co (N, d) ser´ a indicada por B(p; r). Por defini¸c˜ ao temos B(p; r) = { x ∈ N : d(p, x) < r } Sendo B(p; r) = { x ∈ M : d(p, x) < r } 121
deixamos como exerc´ıcio ao aluno mostrar que a sub-bola de centro p e raio r ´e igual ` a bola no “espa¸co universo” interceptada com o conjunto N : B(p; r) = B(p; r) ∩ N Veremos agora que as bolas em um dado subespa¸co s˜ ao, ami´ ude, totalmente diferentes daquelas no “espa¸co universo”. Exemplos: (1) Consideremos o espa¸co m´etrico R, µ . Seja N = { 0 } ∪ [ 1, 2 [. Encontre − e esboce − no subespa¸co N, µ as seguintes bolas: 1 2
a) B 0;
b) B 0;
3 2
c) B 1;
1 2
(exerc´ıcio)
Solu¸ c˜ ao: a) Para encontrar B 0; 21 temos duas alternativas: encontrando diretamente da defini¸c˜ ao ou calculando a bola no espa¸co universo e fazendo a interse¸c˜ ao com N . Vamos optar pela segunda alternativa. Temos B 0; 21 = − 12 , 21 , ent˜ao 1 1 = B 0; ∩N 2 2 1 1 ∩ { 0 } ∪ [ 1, 2 [ = 0 . = − , 2 2
B 0;
s
[
−1 2
]
[
1
0
N
2
s [ 1
0
B(0; 21 )
2
s
B(0; 12 )={ 0 }
0
b) Temos B 0; B 0;
3 2
s
]
− 32 ,
3 2
3 3 = B 0; ∩N 2 2 3 3 ∩ = − , 2 2 0
−3 2
=
[
s s
0
, ent˜ao
3 { 0 } ∪ [ 1, 2 [ = 0 ∪ 1, . 2 [2
1
0
N
[3
B(0; 23 )
[3
B(0; 23 )={ 0 } ∪ 1, 32
2
[
1
2
122
(2) Considere o seguinte subconjunto de R2 N = S 1 = { (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1 } Fa¸ca um esbo¸co − nos subespa¸cos (S 1 , Di ) (i = 1, 2, 3.) − das bolas a) BD (1, 0); 12 b) BD (0, 1); 43 c) BD (1, 0); 34 1
2
3
Solu¸ c˜ ao: Nos subespa¸cos (S 1 , Di ) uma bola aberta consiste de um arco de c´ırculo, aberto nas extremidades, assim a) R 1 S1
ւ
r
0
−1
R
⇒ BD ((1, 0); 12 )
ւ
1
R
r
0
BD((1, 0); 21 ) 1
R
−1
b) R
S
r
1
−1
0
ւ
BD ((0, 1); 43 ) 2
1
R
⇒
r ւ
R
BD ((0, 1); 34 ) 2
R
0
−1
c) R 1 S1 −1
0
R
⇒
r
ւ
BD ((1, 0); 43 ) 3
BD ((1, 0); 34 ) 3
ւ R
0
−1
123
r
R
3.1.9
Bolas no espa¸co produto
J´ a esbo¸camos
a bola aberta no espa¸co R2 , D3 , onde D3 (x, y) = max |x1 − y1 |, |x2 − y2 |
(p. 113)
Alternativamente podemos escrever BD (a, b); r =] a − r, a + r [ × ] b − r, b + r [ 3 Isto ´e, BD (a, b); r ´e o produto cartesiano das bolas de centro a e raio r e 3 de centro b e raio r, ambas no espa¸co ( R, µ ). Em s´ımbolos: BD (a, b); r = Bµ (a; r) × Bµ (b; r) 3
Geometricamente temos
b+r
[
R
b −r
s
]
b
]
0
a−r
s
[
a
R
a+r
Este ´e um caso particular do seguinte resultado: Proposi¸ c˜ ao 4. Sejam (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . ., (Mn , dn ) espa¸cos m´etricos e consideremos sobre M = M1 × M2 × · · · × Mn a m´etrica D3 (x, y) = max d1 (x1 , y1 ), . . . , dn (xn , yn )
onde x = ( x1 , x2 , . . . , xn ) e y = ( y1 , y2 , . . . , yn ) s˜ ao ponto de M . Fixe um ponto p = (p1 , p2 , . . . , pn ) ∈ M . Nestas condi¸co ˜es a seguinte identidade ´e v´ alida BD (p; r) = Bd (p1 ; r) × Bd (p2 ; r) × · · · × Bdn(pn ; r) 3
1
2
Prova: Seja x = ( x1 , x2 , . . . , xn ) um ponto arbitr´ario de M . Ent˜ao: x ∈ BD (p; r) ⇐⇒ max d1 (x1 , p1 ), . . . , dn (xn , pn ) < r 3
⇐⇒ di ( xi , pi ) < r (i = 1, 2, . . . , n)
⇐⇒ xi ∈ Bd ( pi ; r) (i = 1, 2, . . . , n) i
⇐⇒ x ∈ Bd (p1 ; r) × Bd (p2 ; r) × · · · × Bdn(pn ; r) 1
2
124
Exemplo: Temos BD (0, 0); 3
1 1 1 = Bk 0; × Bk 0; 4 4 4 1 3 1 3 = 0, × 0, ,1 ,1 ∪ ∪ 4 4 4 4
Geometricamente esta bola fica assim: 1 3 4
=⇒
¬
1 2
Bola
1 4
1 4
¬
0
1 2
3 4
1
Seria bom o leitor rever o diagrama de bolas abertas `a p´ agina 111. Na esteira deste panorama o estudante, a t´ıtulo de treinamento, pode tentar esbo¸car a seguinte bola aberta:
3.1.10
1 3 1 BD ( , ); 3 4 4 3
Proposi¸c˜ oes sobre Bolas
Provaremos − e interpretaremos − algumas propriedades das bolas abertas B(p; r) de um espa¸co m´etrico (M, d); gen´erico. (P1 ) Dadas B(p; r) e B(p; s), se s ≤ r, ent˜ao B(p; s) ⊂ B(p; r). Isto ´e: Se duas bolas tˆem o mesmo centro, a de menor raio est´ a contida na outra. Embora isto pare¸ca trivial, em matem´ atica devemos sempre desconfiar do ´obvio. Por exemplo, daqui a pouco mostraremos ao leitor que existem bolas cujo raio ´e maior que o pr´ oprio diˆ ametro! Prova: Seja x ∈ B( p; s) ent˜ ao d(x, p) < s, logo d(x, p) < s ≤ r ⇒ d(x, p) < r ⇒ x ∈ B(p; r).
Portanto B(p; s) ⊂ B(p; r).
125
(P2 ) Dado q ∈ B(p; r), ent˜ao existe s > 0 tal que B(q; s) ⊂ B(p; r). Isto ´e: Escolhido um ponto qualquer de uma bola aberta, podemos tornar este ponto o centro de uma nova bola aberta contida na primeira. Prova: Como q ∈ B(p; r) temos que d(p, q) < r. A figura da esquerda nos B(p; r)
B(p; r) r
r
p
rs
r
q
d(p, q)
p
r rx ←
q
B(q; s)
sugere escolher s = r − d(p, q) > 0. Mostremos que para esta escolha de s efetivamente se verifica B(q; s) ⊂ B(p; r). Seja x ∈ B(q; s), ent˜ao d(x, q) < s = r − d(p, q) ⇒ d(x, q) + d(p, q) < r A desigualdade triangular nos autoriza escrever
(3.3)
(fig. da direita)
d(x, p) ≤ d(x, q) + d(p, q) nos valendo da desigualdade (3.3) decorre que d(x, p) < r, o que implica x ∈ B(p; r). Como x ∈ B(q; s) ´e arbitr´ario, segue que B(q; s) ⊂ B(p; r). (P3 ) Sejam B(p; r) e B(q; s) bolas que se interceptam. Para todo x ∈ B(p; r) ∩ B(q; s), existe t > 0 satisfazendo B(x; t) ⊂ B(p; r) ∩ B(q; s) Isto ´e: Escolhido qualquer ponto na intersec¸c˜ao de duas bolas abertas, podemos centrar neste ponto uma terceira bola contida nesta interse¸c˜ao. Prova: Seja x ∈ B(p; r)∩ B(q; s), ent˜ao x ∈ B(p; r) e x ∈ B(q; s). Devido a propriedade (P2 ) existem t1 > 0 e t2 > 0 tais que ` B(x; t1 ) ⊂ B(p; r) e B(x; t2 ) ⊂ B(q; s) Daqui segue que B(x; t1 ) ∩ B(x; t2 ) ⊂ B(p; r) ∩ B(q; s) Seja t = min {t1 , t2 }, ent˜ao pela propriedade (P1 ), temos as inclus˜oes B(x; t) ⊂ B(x; t1 )
e
B(x; t) ⊂ B(x; t2 )
portanto, B(x; t) ⊂ B(x; t1 ) ∩ B(x; t2 ) 126
(3.4)
de (3.4) conclu´ımos que B(x; t) ⊂ B(p; r) ∩ B(q; s)
que ´e o resultado desejado.
(P4 ) Sejam p 6= q pontos de um espa¸co (M, d). Ent˜ao podemos centrar em cada um destes pontos, bolas abertas disjuntas. Prova: Como p 6= q ⇒ d(p, q) > 0. Vamos tomar r = d(p, q) e mostrar que, por exemplo, as bolas B p; 2r e B q; 2r s˜ ao disjuntas. (M, d)
p
r
rq
⊢ ⊣ r = d(p, q)
Suponha, ao contr´ ario, que exista w ∈ B p; 2r ∩ B q; 2r . Ent˜ao d(w, p) < r2 e d(w, q) < 2r . Donde, invocando a desigualdade triangular, temos r r r = d(p, q) ≤ d(p, w) + d(w, q) < + = r. 2 2 Esta contradi¸c˜ ao mostra que a nossa suposi¸c˜ao (qual seja: a de que existe um elemento na interse¸c˜ ao das bolas) ´e falsa. (P5 ) Sejam as bolas B(p; r) e B(q; s), se r + s ≤ d(p, q), ent˜ao B(p; r) ∩ B(q; s) = ∅ Isto ´e: Se a soma dos raios ´e menor ou igual `a distˆ ancia entre os centros, ent˜ao estas bolas precisam ser disjuntas. Prova: Suponha, contrariamente, que exista w ∈ B(p; r) ∩ B(q; s). Ent˜ao d(w, p) < r e d(w, q) < s. Donde, invocando a desigualdade triangular: d(p, q) ≤ d(p, w) + d(w, q) < r + s ≤ d(p, q). Esta contradi¸c˜ ao mostra que a nossa suposi¸c˜ao (qual seja: a de que existe um elemento na interse¸c˜ ao das bolas) ´e falsa. (P6 ) O diˆ ametro de uma bola B(p; r) ´e menor ou igual a 2r. − Isto ´e, em qualquer espa¸co m´etrico a seguinte desigualdade sempre se verifica diam B(p; r) ≤ 2r.
Prova: Queremos mostrar que diam B(p; r) = sup d(x, y) : x, y ∈ B(p; r) ≤ 2r. 127
Sejam x e y pontos arbitr´arios de B(p; r), logo d(x, p) < r e d(y, p) < r, ent˜ ao d(x, y) ≤ d(x, p) + d(p, y) < r + r = 2r. portanto, 2r ´e uma cota superior do conjunto d(x, y) : x, y ∈ B(p; r) e, sendo sup d(x, y) : x, y ∈ B(p; r) a menor de tais cotas, disto segue o resultado desejado.
Como corol´ ario: toda bola aberta ´e um conjunto limitado. (p. 53) Proposi¸ c˜ ao 5. Num espa¸co vetorial real E, +, · , normado, com E 6= { 0 } sempre vale a seguinte igualdade diam B(p; r) = 2r. Prova: Qualquer que seja r > 0, temos trˆes possibilidades: diam B(p; r) > 2r ou diam B(p; r) = 2r ou diam B(p; r) < 2r
Pela propriedade (P6 ) descartamos a primeira possibilidade. Sendo diam B(p; r) = sup d(x, y) : x, y ∈ B(p; r)
para excluir a terceira das possibilidades acima, devemos mostrar que nen hum n´ u mero s < 2r pode ser cota superior do conjunto d(x, y) : x, y ∈ B(p; r) . Isto ´e, que 2r ´e efetivamente a menor de tais cotas. Ou ainda, que 2r = sup d(x, y) : x, y ∈ B(p; r) = diam B(p; r) .
Para tanto ´e suficiente encontrar (construir) dois vetores x, y ∈ B(p; r) tal que d(x, y) > s. Tomemos 0 6= u ∈ E, vamos construir − a partir de u − os vetores x e u y satisfazendo a desigualdade acima. Inicialmente obtemos os vetores kuk e −u ario. Como entre dois n´ umeros reais sempre kuk ambos de comprimento unit´ existe um terceiro, vamos escolher um n´ umero real ε satisfazendo s < ε < 2r e multiplicar os dois vetores anteriores por ε/2. Com isto asseguramos que −u ε u ε em comprimentos menores que os novos vetores kuk 2 e kuk 2 assim obtidos, tˆ o raio r da bola. Para obter os vetores x e y aplicamos, aos dois u ´ltimos vetores, a seguinte transla¸c˜ao: p+
u ε −u ε =x , p+ =y kuk 2 kuk 2
Vamos mostrar que, de fato, estes vetores cairam dentro da bola:
±u ε k ± uk ε ε
=
= < r. kx − pk = ky − pk =
kuk 2 kuk 2 2 128
Resta mostrar que d(x, y) > s. Com efeito,
u ε −u ε
= kuk ε = ε > s. d(x, y) = kx − yk = p + − p+ kuk 2 kuk 2 kuk
3.1.11
Ponto isolado − Espa¸cos discretos
Defini¸ c˜ ao 12 (Ponto Isolado). Seja um espa¸co m´etrico (M, d). Dado um ponto p ∈ M , se existir r > 0 de modo que { p } = B(p; r), ent˜ ao dizemos que p ´e um ponto isolado no espa¸co (M, d). Isto significa que n˜ ao existe ponto x ∈ M satisfazendo a desigualdade 0 < d(x, p) < r. Ou ainda: p ∈ M ´e isolado no espa¸co (M, d) se n˜ ao existe ponto de M a uma distˆ ancia de p menor que r. Observa¸ c˜ ao: Para mostrar que um ponto p ∈ M n˜ ao ´e isolado no espa¸co (M, d): ∀ r > 0 dado, devemos exibir um outro ponto x = xr ∈ M tal que xr ∈ B(p; r). Isto ´e, 0 < d(xr , p) < r. Exemplos: a ) No espa¸co (R, δ) todo n´ umero real ´e isolado. De fato, j´a vimos que se 0 < r ≤ 1 ⇒ Bδ (p; r) = { p }, ∀ p ∈ R. b ) No espa¸co (R, µ) nenhum n´ umero real ´e isolado. De fato, neste espa¸co a bola aberta de centro p e raio r coincide com o intervalo aberto Bµ (p; r) =] p − r, p + r [ = p + 2r , satisfaz 0 < d(xr , p) < r, Por exemplo, o ponto xr = p+p+r 2 pois xr 6= p e r r µ(xr , p) = (p + ) − p = < r. 2 2 s
Bµ(p; r)
] p−r
s
xr
p
[
R
p+r
c ) No espa¸co (Z, µ) todo ponto ´e isolado. De fato, dado p ∈ Z e r = 12 , por exemplo, temos Bµ p;
1 1 = x ∈ Z : |x − p| < 2 2 1 1 = { p }. = x ∈ Z: p − < x < p + 2 2 129
p− 12
s
s
]
p −1
p+ 21
s
[
p
Z
p+1
Observe que um n´ umero inteiro qualquer, ´e isolado no espa¸co (Z, µ) mas n˜ ao no espa¸co (R, µ). d ) O ponto p = 0101 ´e isolado em qualquer um dos espa¸cos Z4 ; σ, ρ, τ . De fato, isso se deve a que, Bσ 0101; 1 = x ∈ Z4 : σ(x, 0101) < 1 = { 0101 } Bρ 0101; 1 = x ∈ Z4 : ρ(x, 0101) < 1 = { 0101 } Bτ 0101; 1 = x ∈ Z4 : τ (x, 0101) < 1 = { 0101 } Observe que se x ∈ Z4 , ent˜ao,
σ(x, 0101) ∈ { 0, 1, 2, 3, 4 }
ρ(x, 0101) ∈ { 0, 1, 2, . . . , 9, 10 }
τ (x, 0101) ∈ { 0, 1, 2, 3, 4 } e ) Sendo X = n1 : n ∈ N ∪ { 0 }, todos os pontos de X, `a exce¸c˜ao do 0, s˜ ao isolados no espa¸co (X, µ). De fato, dado r > 0, podemos invocar a propriedade arquimediana para mostrar que 0 n˜ ao ´e isolado: Escolhemos n = nr ∈ N de modo que n1 < r, r portanto 1 1 1 , 0 = − 0 = < r. µ nr nr nr
Por outro lado, dado p = 1 . de p ´e x = n+1 s
0
Sendo,
1 n
··· s
1 n+1
µ(x, p) =
basta escolher r = rn <
∈ X o ponto de X que est´ a mais pr´ oximo
1 n(n+1)
s
s ···
1 n
1 n−1
s
1
1 1 1 − = n+1 n n(n + 1)
para isolar p.
1 e o ponto Resumindo: dado p = n1 ∈ X escolhemos r = rn < n(n+1) 1 mais pr´ oximo de p que ´e x = n+1 estar´ a fora da bola B(p; rn ), porquanto
r < µ(x, p) =
1 n(n + 1)
Vejamos um exemplo: Para isolar o ponto r<
1 1 = 3(3 + 1) 12 130
1 3
∈ X, ´e suficiente escolher
s
0
rrrrr r r r] r
...
1 4
1 3
[
r
r
1 2
1
f ) Ao contr´ ario dos espa¸cos ZN , nos quais todos os pontos s˜ ao isolados, no ∞ espa¸co (Z , ν) nenhum ponto ´e isolado. De fato, seja p = p1 p2 . . . ∈ Z∞ , para todo r > 0 dado, devemos
exibir x = x1 x2 . . . ∈ Z∞ de modo que 0 < ν(x, y) < r.
Dado r > 0 escolhemos n ∈ N tal que 21n < r. Ent˜ao, de acordo com a proposi¸c˜ ao 1 (p. 44) se escolhermos x coincidindo com p nas n primeiras posi¸c˜oes teremos ν(x, p) < r. Para garantir ν(x, y) > 0, isto ´e, x 6= p basta escolher um termo de x, ap´ os a posi¸c˜ ao n, diferente do termo de mesma posi¸c˜ao de p. Por exemplo, o ponto x = p1 . . . pn p¯(n+1) p(n+2) p(n+3) . . . onde, p¯(n+1) =
1, se p = 0; (n+1) 0, se p = 1. (n+1)
satisfaz as exigˆencias mencionadas. Observe que a sequˆencia x coincide com a sequˆencia p em todas as posi¸c˜oes, exceto na de n´ umero n + 1. Sendo assim, temos ν(x, p) =
∞ X 1 1 |xi − pi | = n+1 < n < r i 2 2 2 i=1
Resumindo: Dado p = ( pj ) ∈ Z∞ e r > 0, para mostrar que p n˜ ao ´e 1 isolado, escolhemos j ∈ N tal que j < r e tomamos 2
x = (xn ) ∈ Z∞ onde xj 6= pj e xn = pn , ∀ n ∈ N − {j}. ´ o Em espa¸cos vetoriais reais, normados, n˜ ao existem pontos isolados. E que nos garante a seguinte Proposi¸ c˜ ao 6. Num espa¸co vetorial real E, +, · , normado, com E 6= { 0 } n˜ ao existem pontos isolados. Prova: Dados, arbitrariamente, u ∈ E e r > 0 devemos exibir w = wr ∈ E de modo que 0 < d(u, wr ) < r. Escolhamos em E qualquer vetor v 6= u e consideremos o segmento de reta (p. 617) [ u, v ] =
(1 − t) u + t v : 0 ≤ t ≤ 1 131
Agora vamos determinar 0 < t ≤ 1 de tal modo que o vetor w = (1 − t)u + tv caia dentro da bola B(u, r). Isto ´e tal que d(u, w) = ku − wk < r. (E, k · k) B(u, r)
u t=0
ws
v t=1
t=?
Ent˜ ao, w − u = (1 − t) u + t v − u = (−u + v) t
logo kw − uk = k(−u + v) tk = t ku − vk < r portanto ´e suficiente escolher 0
r ku − vk
De modo mais preciso 0 < t < min
r ,1 ku − vk
Nota: Observe que, por exemplo, Zn , k · k (p. 86) ´e um espa¸co vetorial normado no qual todos os pontos s˜ ao isolados. Isto contradiz a proposi¸c˜ao anterior? Observe que a demonstra¸c˜ao anterior pode ser particularizada para uma infinidade de espa¸cos m´etricos. Por exemplo, para os seguintes: ( Rn , Di ) (i = 1, 2, 3.) (n = 1, 2, . . .) C[a, b], Γ ; C[a, b], Υ ; B(X, R), Ψ .
haja vista que a m´etrica de todos estes espa¸cos s˜ ao oriundas de uma norma. Defini¸ c˜ ao 13 (Espa¸co Discreto). Um espa¸co m´etrico ´e dito discreto quando todos os seus pontos s˜ ao isolados. 132
Como exemplos de espa¸cos discretos citamos: N
N
N
Z ,σ ; Z ,ρ ; Z ,τ
; R, δ
;
Z, µ
;
1 1 1, , . . . , , . . . , µ 2 n
Observe que qualquer conjunto M munido da m´etrica δ resulta em um espa¸co m´etrico discreto. Da´ı esta ser tamb´em conhecida como m´etrica discreta. Proposi¸ c˜ ao 7. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se M ´e finito ent˜ ao (M, d) ´e discreto. Prova: Seja M = a1 , a2 , . . . , an . Escolhendo r = min d(ai , aj ) : ai , aj ∈ M e i 6= j
nenhum aj ∈ M satisfaz d(ai , aj ) < r, a menos que j = i. Portanto B(ai , r) = { ai }. ∗
∗
www.profgentil.com
133
∗
3.2
Exerc´ıcios
1) Prove a seguinte identidade [ 0, r [ ∪ ] 1 − r, 1 [ , Bk (0; r) = [ 0, 1 [ ,
(p. 111)
se 0 < r ≤ 12 ; se r > 12 .
2) Encontre, pela defini¸c˜ao, e fa¸ca um esbo¸co geom´etrico da seguinte bola aberta Bk 83 ; 14 .
3) Encontre, pela defini¸c˜ao, e fa¸ca um esbo¸co geom´etrico das seguintes bolas abertas: b ) BD (0, 0); 14 a ) BD (0, 0); 14 3
2
4) Encontre e fa¸ca um esbo¸co geom´etrico da seguinte bola aberta 1 3 1 , ; BD 3 4 4 3 5) Encontre as seguintes bolas abertas: Bρ 0101; 2 e Bτ 0101; 2 . 6) Prove as seguintes igualdades: p , Bσ p; r = N Z , p , Bρ p; r = N Z , p , Bτ p; r = N Z ,
se 0 < r ≤ 1; se r > N. se 0 < r ≤ 1; se r > 2N − 1. se 0 < r ≤ 1; se r > N.
7) Considere o espa¸co m´etrico R, µ . Seja N = [ 1, 3 [. Encontre − e es boce − no subespa¸co N, µ as seguintes bolas: a) B 1; 1
b) B 2; 2
c) B 3; 1
8) No espa¸co Z, µ encontre a bola B(n; r), onde n ´e um inteiro arbitrariamente fixado e 0 < r ≤ 1.
Depois conclua que todos os pontos de um espa¸co podem ser isolados sem que a m´etrica seja a “zero-um”.
9) Dˆe exemplo de dois subconjuntos discretos X, Y ⊂ R tais X ∪ Y n˜ ao resulte discreto. 134
10) Seja N = { (x, y) ∈ R2 : x ≥ 1 }, fa¸ca um esbo¸co geom´etrico das seguintes (sub)bolas abertas: a ) BD (1, 1); 1 b ) BD (1, 1); 1 c ) BD (1, 1); 1 1
2
3
R2
11) Seja N = { (x, y) ∈ : y ≥ 1 }, fa¸ca um esbo¸co geom´etrico das seguintes (sub)bolas abertas: a ) BD (−1, 1); 1 b ) BD (−1, 1); 1 c ) BD (−1, 1); 1 1 2 3 2 12) Considere o seguinte subconjunto de R : N = (x, y) ∈ R2 : xy = 1 . Fa¸ca um esbo¸co − nos subespa¸cos (N, Di )(i = 1, 2) − das bolas abertas b ) BD (−1, −1); 12 a ) BD (1, 1); 12 2 1 13) Seja (M1 , d1 ) = Z4 , σ e (M2 , d2 ) = M2 (Z), δ . Considere M = M1 × M2 = Z4 × M2 (Z)
Calcule no espa¸co M, D3 a bola de centro p = ( p1 , p2 ) = e raio r = 1.
0101,
2 1 3 0
14) Com respeito a propriedade (P6 ), dˆe um exemplo de que a desigualdade ` diam B( p; r) < 2r efetivamente pode ocorrer. (p. 127)
15) Dˆe exemplo de uma (infinidade) de bolas com a seguinte propriedade: por mais que diminuamos o raio, ele permanece sempre maior que o diˆ ametro! 16) Considere o espa¸co C[ 0, 1 ], Γ juntamente com a fun¸c˜ao p : [ 0, 1 ] −→ R t 7−→ t2 Seguindo os passos da demonstra¸c˜ao da proposi¸c˜ao 5 mostre que diam B( p; r) = 2r. (p. 128)
17) O exemplo 6) pode ser resolvido seguindo-se os passos da prova da proposi¸c˜ ao 5, fa¸ca isto. (p. 56) 2 18) Considere o espa¸co R , k · ke , o ponto u = (1, 1) e o raio r = 0, 75. Encontre um ponto wr satisfazendo as condi¸c˜oes da prova da proposi¸c˜ao 6. Fa¸ca um esbo¸co geom´etrico da sua solu¸c˜ao. (p. 87, p. 131) 19) Considere o espa¸co R2 , k · ks , o ponto u = (1, 1) e o raio r = 0, 75. Encontre um ponto wr satisfazendo as condi¸c˜oes da prova da proposi¸c˜ao 6. Fa¸ca um esbo¸co geom´etrico da sua solu¸c˜ao. (p. 87, p. 131) 20) Considere o espa¸co R2 , k · km , o ponto u = (1, 1) e o raio r = 0, 75. Encontre um ponto wr satisfazendo as condi¸c˜oes da prova da proposi¸c˜ao 6. Fa¸ca um esbo¸co geom´etrico da sua solu¸c˜ao. (p. 87, p. 131) 135
21) Mostre que no espa¸co C[ −1, 1 ], Γ o ponto u ∈ C[ −1, 1 ] dado por u : [ −1, 1 ] −→ R x 7−→ x2
n˜ ao ´e isolado.
22) A distˆ ancia da origem para as quatro regi˜ oes na figura da p´ agina 116 ´e nula. Para cada bola aberta arbitrariamente fixada encontre um ponto em cada uma das regi˜ oes que perten¸ca `a bola. 23) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Prove que d(p, X) = 0 ⇐⇒ B(p; r) ∩ X 6= ∅ , ∀ r > 0. 24) Considere os espa¸cos C[ 0, 1 ], Γ e C[ 0, 1 ], Υ , prove que BΓ ( 0; r) 6⊂ BΥ 0;
1 , 2
∀ r > 0.
[ 0, 1 [, k , ´e como a
25) Prove que a bola de centro p e raio r no espa¸co seguir: ] p − r, p + r [, se Bk (p; r) = [ 0, p + r [ ∪ ] p − r + 1, 1 [, se [ 0, 1 [, se ] p − r, p + r [, Bk (p; r) = [ 0, p + r − 1 [ ∪ ] p − r, 1 [, [ 0, 1 [,
para 0 < p <
1 2
e
1 2
0 < r ≤ p; p < r ≤ 12 ; r > 12 .
se 0 < r < 1 − p; se 1 − p ≤ r ≤ 12 ; se r > 12 .
< p < 1, respectivamente.
O esbo¸co das bolas no intervalo [ 0, 1 [ fica assim:
0
p
s
¬
p
1 2
1 2
1
0< r ≤ p
0
p+r p−r+1 1
1
1 2
p+r−1 p−r p< r ≤
1 2
0
r> 21
0
136
1 2
¬
0
¬
s
1 2
¬
p
p+r
¬
0
s
¬
p−r
1 2
p−r
s
p
s
p
s
p
p+r 1
1
1
0< r < 1−p
1−p≤ r ≤ r> 21
1 2
Cap´ıtulo
4
ˆ SEQUENCIAS EM ESPAC ¸ OS ´ METRICOS O mundo ´ e construido como uma estrutura matem´ atica, e n˜ ao material. (Werner Heisenberg)
4.1
Sequˆ encias
Para definir sequˆencias n˜ ao precisamos estar inseridos no contexto de espa¸cos m´etricos. Com efeito, desde o ensino m´edio que passamos a lidar com sequˆencias como, por exemplo, as progress˜oes aritm´eticas e geom´etricas. Aqui a ˆenfase ser´ a dada a sequˆencias mais gerais que sequˆencias num´ericas propriamente. Para os nossos prop´ositos assumiremos como conjunto dos n´ umeros naturais: N = { 1, 2, 3, . . . }. Defini¸ c˜ ao 14 (Sequˆencia). Seja M um conjunto n˜ ao vazio, com elementos de natureza qualquer. Chamaremos de sequˆencia de termos em M , ou ˜o apenas sequˆencia em M a qualquer aplica¸ca x : N −→ M n 7−→ x(n) Para representar a sequˆencia x : N −→ M usaremos uma das nota¸c˜oes: (x1 , x2 , x3 , . . .)
ou
(xn )n ∈ N
ou
(xn ).
A imagem de n ∈ N pela fun¸c˜ ao x, isto ´e, x(n), ser´ a abreviada por xn ; ´e o n-´esimo termo da sequˆencia. 137
Exemplos: ´ a progress˜ao 1) Seja a sequˆencia x : N −→ R dada por xn = 2n − 1. E aritm´etica (1, 3, 5, 7, . . .). 2) Uma sequˆencia em R2 . Seja x : N −→ R2 n 7−→ 1 + (−1)n , 1 − (−1)n Ou ainda: xn = 1 + (−1)n , 1 − (−1)n . Alternativamente: (xn ) = (0, 2), (2, 0), (0, 2), (2, 0), . . . .
3) Uma sequˆencia de matrizes. Seja x : N −→ M2 (R), dada por 0 1 − n1 xn = 1 0 1− n A sequˆencia fica assim " # " 1 0 0 2 , 0 0 0
0 1 2
# " ,
2 3
0
0
2 3
#
, ...
!
4) Uma sequˆencia de fun¸c˜oes. Seja x : N −→ C[ 0, 1 ] n 7−→ xn
t . Os termos da sequˆencia (x1 , x2 , x3 , . . .) s˜ ao fun¸c˜oes n cont´ınuas definidas no intervalo [ 0, 1 ], onde
onde, xn (t) =
x1 (t) = t,
t x2 (t) = , 2
x3 (t) =
t , ... 3
A seguir plotamos os trˆes primeiros termos da sequˆencia (xn ) x1 (t)
x2 (t)
x3 (t)
1
1
1
q
q
q
1 2
0
q1
t
1 3
q1
0
138
t
0
q1
t
• Um outro exemplo de sequˆencia no conjunto C[ 0, 1 ] podemos obter encontrando a equa¸c˜ ao da reta no gr´ afico xn (t)
1
q
1 n
0
t
q1
Deste gr´ afico deduzimos a seguinte equa¸c˜ao para o termo geral de (xn ) 1 − nt , se 0 ≤ t ≤ 1 ; n xn (t) = 0, 1 se n ≤ t ≤ 1.
A seguir plotamos os trˆes primeiros termos da sequˆencia (xn ) x1 (t)
x2 (t)
1
1
q
0
x3 (t)
1
q
q1
t
0
q
1 2
q1
t
5) Uma sequˆencia em Z∞ . Considere a sequˆencia δn δn = (δn1 , δn2 , δn3 , . . .)
onde
δnk =
0
1, 0,
n∈N
1 3
, definida assim
se n = k; se n 6= k.
A seguir explicitamos os termos da sequˆencia (δn ): δ1 = (1, 0, 0, 0, 0, . . .) δ2 = (0, 1, 0, 0, 0, . . .) δ3 = (0, 0, 1, 0, 0, . . .) .. . δk = (0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0, . . .) .. k-´ esima posi¸ca ˜o . 139
q1
t
4.1.1
Subsequˆ encias
Defini¸ c˜ ao 15 (Subsequˆencia). Dada uma sequˆencia x : N −→ M e um subconjunto (infinito) N1 = {n1 < n2 < n3 < . . .} de N, a restri¸ca ˜o x : N1 −→ M N1
´e chamada subsequˆencia de (xn ).
´ importante observar, na defini¸c˜ao acima, que os ´ındices no Nota: E conjunto N1 devem cumprir dois requisitos: s˜ ao em n´ umero infinito e em ordem crescente. Para representar uma subsequˆencia usaremos uma das nota¸c˜oes a seguir (xn1 , xn2 , xn3 , . . .)
ou
(xn )n ∈ N1
Exemplo: Seja a sequˆencia em R dada por xn =
1−(−1)n , 2
ou
(xn ) k
isto ´e, (1, 0, 1, 0, . . .).
Vamos obter duas subsequˆencias de (xn ) escolhendo, por exemplo N1 = { 1, 3, 5, 7, . . .}
(´ımpares)
N2 = { 2, 4, 6, 8, . . .}
(pares)
ent˜ ao xn xn
n∈N1
n∈N2
= (1, 1, 1, 1, . . .) = (0, 0, 0, 0, . . .)
Como retirar um n´ umero arbitr´ ario de subsequˆ encias de uma dada sequˆ encia/Parti¸ c˜ ao dos naturais Vamos mostrar agora como retirar um n´ umero arbitr´ario de subsequˆencias de uma dada sequˆencia (xn ). Em um outro contexto, mais tarde, iremos necessitar do que veremos agora. Se quisermos retirar duas subsequˆencias de uma dada sequˆencia podemos nos valer dos seguintes conjuntos de ´ındices: N1 = { 1, 3, 5, 7, . . .} N2 = { 2, 4, 6, 8, . . .} Assim,
(x1 x3 x5 x7 . . .) (x1 x2 x3 x4 x5 . . .) 140
(x2 x4 x6 x8 . . .)
Se quisermos retirar trˆes subsequˆencias de uma dada sequˆencia podemos nos valer dos seguintes conjuntos de ´ındices: N1 = { 1, 4, 7, 10, . . .} N2 = { 2, 5, 8, 11, . . .} N3 = { 3, 6, 9, 12, . . .} Assim, (x1 x4 x7 x10 . . .) (x1 x2 x3 x4 x5 . . .)
(x2 x5 x8 x11 . . .) (x3 x6 x9 x12 . . .)
´ f´acil inferir a regra de constru¸c˜ao destes conjuntos. Observamos que E estes conjuntos s˜ ao disjuntos, dois a dois, e que a reuni˜ao dos mesmos resulta no conjunto dos naturais. Resumimos estas duas observa¸c˜oes dizendo que estes conjuntos (de ´ındices) formam uma parti¸ca ˜o dos naturais.
4.2
Convergˆ encia
Para falar de convergˆencia de sequˆencias necessitamos de uma m´etrica. Tˆem interesse especial as chamadas sequˆencias convergentes. Intuitivamente, uma sequˆencia (xn ) ´e convergente se, `a medida que o ´ındice n aumenta, o termo xn vai-se tornando arbitrariamente pr´ oximo de um certo n´ umero a, chamado o limite da sequˆencia. A proximidade entre xn e a ´e medida pela distˆ ancia d(xn , a) entre esses termos. Portanto, dizer que xn vai se tornando arbitrariamente pr´ oximo de a equivale dizer que d(xn , a) torna-se arbitrariamente pequeno. Vejamos a defini¸c˜ao precisa de Defini¸ c˜ ao 16 (Convergˆencia). Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico e (xn ) uma sequˆencia em M . Diremos que (xn ) converge para a ∈ M quando, para todo n´ umero ε > 0 dado arbitrariamente, existe n0 ∈ N tal que ∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , a) < ε.
(4.1)
Em palavras: uma sequˆencia (xn ) converge para um ponto a ∈ M se, e somente se, fixado ε > 0, existe uma posi¸c˜ao n0 a partir da qual a distˆ ancia de qualquer termo da sequˆencia para o ponto a n˜ ao excede ε. Uma sequˆencia que n˜ ao converge ´e dita divergente. A seguir escrevemos, em s´ımbolos, a defini¸c˜ ao de convergˆencia e sua nega¸ca ˜o: (p. 579) ∀ε > 0
∃ n0 ∈ N :
∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , a) < ε
(convergˆ encia)
∃ε > 0 :
∀ n0 ∈ N
∃ n ≥ n0 ∧
(divergˆ encia)
141
d(xn , a) ≥ ε
Para indicar que (xn ) converge para a, usaremos uma das nota¸c˜oes: lim xn = a
ou
n→∞
lim xn = a n
ou
lim xn = a
ou
xn −→ a.
d
Ou ainda, xn −→ a, quando quisermos enfatizar a m´etrica d em quest˜ao. ´ importante observar na defini¸c˜ao 16 que, uma vez dado o ε > 0, esse E n´ umero permanece fixo e n˜ ao muda at´e a determina¸c˜ao do ´ındice n0 correspondente. Via de regra o ´ındice n0 depende − ´e fun¸c˜ao − do ε > 0 dado, raz˜ ao pela qual algumas vezes escreveremos n0 = n0 (ε). Importante! Deve ficar bem claro (transparente) para o leitor o papel desempenhado pelo n´ umero ε e o ´ındice n0 , na defini¸c˜ao de convergˆencia. Com este intuito observemos o conte´ udo desta defini¸c˜ao de uma outra perspectiva: Suponhamos que o leitor queira provar, a um seu − fict´ıcio − advers´ ario, que lim xn = a. Pois bem, seu advers´ ario fornecer´ a a vocˆe leitor os valores de ε > 0. Para cada valor de ε − arbitrariamente fixado − vocˆe ter´ a que devolver ao seu advers´ ario um ´ındice n0 satisfazendo a condi¸c˜ao ∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , a) < ε Se o leitor conseguir executar esta fa¸canha, para cada valor de ε que lhe for fornecido, ent˜ ao ter´ a provado que a sequˆencia converge para o ponto a.
Caracteriza¸c˜ ao de convergˆ encia via bolas abertas Proposi¸ c˜ ao 8. Uma sequˆencia (xn ) em M converge para a ∈ M se, e somente se, para toda bola B(a; ε) arbitrariamente fixada existe um n0 : ∀ n ≥ n0 ⇒ xn ∈ B(a; ε)
(4.2)
´ imediato pois: d(xn , a) < ε ⇐⇒ xn ∈ B(a; ε). Prova: E
Em palavras: Se a ∈ M ´e limite de (xn ) ent˜ao existe um ´ındice n0 a partir do qual todos os termos da sequˆencia caem dentro da bola B(a; ε). Reciprocamente, se existe um ´ındice n0 a partir do qual todos os termos da sequˆencia caem dentro da bola B(a; ε) ent˜ao a ∈ M ´e limite de (xn ). Daqui concluimos que se lim xn = a, ent˜ao a bola (de raio ε) centrada em a cont´em infinitos termos da sequˆencia (xn ) : (xn0 , xn +1 , xn +2 , . . .). s s s s s s ss s ssssr ε a
0
xs5
s
x9
sx x6 s s4x3 x7 s s x8s s x2 ε s ssssr a
n0 (ε) = 9 142
sx
1
xs5
0
sx x6 s s4x3 x2 s x7 s x8s s s ssssr a
ε′
sx
n0 (ε′ ) = 11
1
Na figura anterior, ` a direita, reduzimos o raio da bola (ε′ < ε) o que tem como consequˆencia o aumento do ´ındice do primeiro termo a cair dentro da nova bola. Observa¸ co ˜es: (i) Uma sequˆencia (xn ) n˜ ao converge para a ∈ M quando existe uma bola centrada em a fora da qual ficam infinitos termos da sequˆencia (xn ). (ii) A convergˆencia − ou divergˆencia − de uma sequˆencia depende tanto do conjunto M quanto da m´etrica d, como teremos oportunidade de ver.
Caracteriza¸c˜ ao de convergˆ encia via reta real Podemos caracterizar a convergˆencia em um espa¸co m´etrico (M, d) qualquer via convergˆencia no espa¸co (R, µ). Este ´e o conte´ udo da pr´ oxima importante Proposi¸ c˜ ao 9. A sequˆencia (xn ) converge para o ponto a em (M, d) se, e ∗ somente se, a sequˆencia d(xn , a) converge para 0 no espa¸co (R, µ). Prova:
d
H: xn −→ a
µ
T: d(xn , a) −→ 0. De fato, para mostrar que d(xn , a) converge para 0 em (R, µ), devemos mostrar que ∀ ε > 0 dado existe n0 ∈ N tal que d(xn , a) − 0 < ε para todo n ≥ n0 . (4.3) (=⇒)
⇒
d
Por hip´ otese, xn −→ a; logo ∀ ε > 0 dado existe n0 tal que d(xn , a) < ε para todo n ≥ n0 . Fixado ε > 0, tomamos este mesmo n0 e garantimos d(xn , a) − 0 = d(xn , a) < ε, ∀n ≥ n 0
O que prova (4.3). (⇐=)
µ
H: d(xn , a) −→ 0
d
⇒
T: xn −→ a.
De fato, para mostrar que (xn ) converge para a em (M, d) devemos, ∀ ε > 0 dado, exibir um n0 tal que d(xn , a) < ε para todo n ≥ n0 . Por hip´ otese, a sequˆencia d(xn , a) converge para 0 no espa¸co (R, µ); isto ´e, ∀ ε > 0 dado, existe um n0 tal que d(xn , a) − 0 = d(xn , a) < ε, para todo n ≥ n0 . Logo, o mesmo n0 − oriundo da hip´ otese − serve para corroborar a tese. Teremos agora oportunidade de ilustrar o conte´ udo das duas proposi¸c˜oes anteriores. (prop.’s 8 e 9) ∗
Observe que d(xn , a) ´e uma sequˆencia de n´ umeros reais n˜ ao negativos.
143
Exemplos: 1) Em qualquer espa¸co m´etrico (M, d) uma sequˆencia (a, a, a, . . .) de termos constantes converge para este termo. De fato, dentro de qualquer bola B(a; ε) est˜ ao todos os termos da sequˆencia. 2) Seja M = R e xn = n1 ∈ R. A sequˆencia (xn ) = (1, 21 , 13 , . . .) n˜ ao ´e convergente no espa¸co (R, δ). No espa¸co (R, µ) esta sequˆencia converge para 0. Isto ´e µ δ / xn −→ c e xn −→ 0. Onde c pode ser qualquer n´ umero real. Inicialmente vamos mostrar a primeira destas afirmativas. Com efeito, basta observar que todos os termos da sequˆencia (xn ), `a exce¸c˜ao poss´ıvel de (p. 108). um deles, est˜ ao fora da bola Bδ c ; 1 = { c } µ Vamos mostrar agora que xn −→ 0. Inicialmente centramos uma bola Bµ , de raio ε, em 0, assim Bµ (0; ε) = 0 − ε, 0 + ε = − ε, +ε
Observe que
1 < ε. n Segundo a propriedade arquimediana, ∀ ε > 0 existe um n0 (ε) ∈ N tal que 1 estimo a Arquimedes − este n0 , resultando n < ε. Tomamos − de empr´ xn ∈ Bµ (0; ε) ⇐⇒ −ε <
0
∀ n ≥ n0 ⇒
1 1 ≤ < ε ⇒ xn ∈ Bµ (0; ε). n n0
Fa¸camos duas simula¸c˜oes para ilustrar esse resultado: - Por exemplo, tomando ε = 31 , temos 1 1 <ε= ⇐⇒ n0 > 3. n0 3 Ou seja, todos os termos da sequˆencia, a partir do quarto (inclusive), caem dentro da bola Bµ 0; 13 . Veja a ilustra¸c˜ao a seguir ⊢ 0 ] −ε=− 31
⊢ 0
qqqq q q···q xq 4 xq 3 qqqq q q···q xq 4 [q
ր
ε=
xq 2
1 3
xq 2
xq 1 1
xq 1
1
Agora vamos reduzir o valor do raio, por exemplo, ε = 1 3 20 <ε= ⇐⇒ n0 > , n0 20 3 144
(xn )
n0 =4
3 20 ,
temos
Ou seja, todos os termos da sequˆencia, a partir do s´etimo (inclusive), caem 3 . Veja a ilustra¸c˜ao a seguir dentro da bola Bµ 0; 20 ⊢ 0 ] −ε
⊢ 0
qqq q q ··· q q xq 4 xq 3
q
q
x2
qqqq q[ q q xq 4 xq 3
1
q
···ց
q
x2
3 ε= 20
(xn )
x1 x1
n0 =7
1
3) Esse exemplo (proposi¸c˜ ao) nos diz, de uma outra perspectiva, por que a ao ´e convergente no espa¸co (R, δ). sequˆencia (xn ) = (1, 12 , 13 , . . .) n˜ Proposi¸ c˜ ao: Seja (M, d) um espa¸co discreto. Toda sequˆencia (xn ) convergente em (M, d) deve ser constante a partir de um certo ´ındice. Prova: De fato, suponha que xn −→ a ∈ M . Ent˜ao para todo ε > 0 dado, existe um ´ındice nε de modo que para todo n ≥ nε temos xn ∈ B(a; ε). Como (M, d) ´e discreto, existe εa > 0 de modo que B(a; εa ) = { a }. Logo, para este εa existe um ´ındice nεa de modo que Se n ≥ nεa
⇒ xn ∈ B(a; εa ) = { a } ⇒ xn = a.
Observe que esta ´e uma condi¸c˜ao necess´aria (e tamb´em suficiente) para que uma sequˆencia seja convergente em um espa¸co discreto. 4) Uma Patologia Considere a sequˆencia dada por xn = 1 − n1 ∈ [ 0, 1 [ , cujos termos est˜ ao plotados na figura a seguir: r
r
x1
r
x2
x3
¬1
0
2
r r r r rrrrr
x4
...
1
O leitor diria que os termos desta sequˆencia aproximam-se de que n´ umero? Vamos mostrar que para os habitantes do universo [ 0, 1 [, k , os termos da sequˆencia (xn ) aproximam-se arbitrariamente de 0. De outro modo: Toda bola centrada em 0 cont´em todos os termos da sequˆencia, a partir de uma certa ordem. Desejamos provar que lim
n→∞
1−
1 = 0. n
Prova: De fato, dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 (ε) de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ xn ∈ Bk (0; ε). 145
Ent˜ ao
Temos
xn ∈ Bk (0; ε) ⇐⇒ k(xn , 0) < ε ⇐⇒ min |xn − 0|, 1 − |xn − 0| < ε ⇐⇒ min xn , 1 − xn < ε n 1 1 o ⇐⇒ min 1 − , 1 − 1 − <ε n n n 1 1o <ε ⇐⇒ min 1 − , n n n 1 1o 1 min 1 − , = , ∀ n ≥ 2. n n n
Portanto, ´e suficiente tomar
1 n
< ε, isto ´e, n >
1 ε
ou ainda: n0 (ε) > 1ε .
Fa¸camos duas simula¸c˜oes para ilustrar esse resultado: - Por exemplo, tomando ε = 41 , temos n0 (ε) >
1 1 4
= 4 ⇒ n0 = 5.
Logo, todos os termos da sequˆencia, a partir do quinto (inclusive), caem dentro da bola Bk 0; 14 . Veja a ilustra¸c˜ao a seguir r
r
x1
x2
¬1
0 Bk (0;
2
1 ) 4
r
x3
r r r r rrrrr
x4
...
1
3 4
1 4
Agora vamos reduzir o valor do raio, por exemplo, ε = 61 , temos n0 (ε) >
1 1 6
= 6 ⇒ n0 = 7.
Ou seja, todos os termos da sequˆencia, a partir do s´etimo (inclusive), caem dentro da bola Bk 0; 16 . Veja a ilustra¸c˜ao a seguir r
r
x1
x2
¬1
0 Bk (0; 16 )
2
1 6
r
x3
r r r r rrrrr
x4
...
5 6
146
1
5) Uma Patologia-2D As quatro sequˆencias dadas a seguir 1
xn =
1 1 , 1− n+1 n+1
zn =
1 , 1 n+1 n+1
rr
→
rr
→
rx3 rx2 rz
rz
rt
r
rr rt
1 1 ← tn = 1− n+1 , 1− n+1
3
2
r y2 ry3 rr
2
3
0
1 , ← yn = 1− n+1
1 n+1
1
pertencem todas ` as diagonais do quadrado unit´ ario [ 0, 1 [×[ 0, 1 [. O centro 1 1 do quadrado 2 , 2 ´e o primeiro termo de todas elas. Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que √ 2 , D1 ((0, 0); xn ) = D1 ((0, 0); yn ) = D1 ((0, 0); zn ) = D1 ((0, 0); tn ) = (n + 1) D2 ((0, 0); xn ) = D2 ((0, 0); yn ) = D2 ((0, 0); zn ) = D2 ((0, 0); tn ) =
2 , (n + 1)
D3 ((0, 0); xn ) = D3 ((0, 0); yn ) = D3 ((0, 0); zn ) = D3 ((0, 0); tn ) =
1 . (n + 1)
Pois bem, o leitor pode mostrar que qualquer uma destas sequˆencias converge para a origem do quadrado. (sugest˜ ao: prop. 9, p. 143) Isto ´e, mostre que: 1 1 lim = (0, 0), , 1− n→∞ n + 1 n+1 1 1 lim = (0, 0), , n→∞ n + 1 n + 1
1 1 = (0, 0) , n→∞ n+1 n+1 1 1 lim 1 − = (0, 0) , 1− n→∞ n+1 n+1 lim
1−
A bolas abertas cujos esbo¸cos encontram-se nas p. 125, p. 114 nos ajudam a compreender por que isto acontece. 6) Consideremos a sequˆencia (xn ) de pontos do R2 dada por 2 1 xn = 1 − , 2 − n n Vamos mostrar (e ilustrar) que xn −→ (1, 2) nos espa¸cos R2 , Di . Consideremos inicialmente a m´etrica euclidiana. Prova: De fato, dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 (ε) de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ xn ∈ BD (1, 2); ε . 1
147
Ent˜ ao xn ∈ BD
1
1 2 (1, 2); ε ⇐⇒ D1 1 − , 2 − ; (1, 2) < ε n n ⇐⇒
r
1−
2 2 1 2 −1 + 2− −2 < ε n n
√ 5 ⇐⇒ < ε. n
Logo, dado ε > 0 escolhemos um ´ındice n0 (ε) satisfazendo a desigualdade √ 5 n0 (ε) > ε e teremos √ 1 1 5 ∀ n ≥ n0 ⇒ ≤ < < ε ⇒ xn ∈ BD (1, 2); ε . 1 n n0 n0
Fa¸camos duas simula¸c˜oes para ilustrar esse resultado: - Por exemplo, tomando ε = 32 , temos √ √ 3 5 5 2 = = 3, 354 . . . ⇒ n0 = 4. > n0 3 2/3 2
Logo, todos os termos da sequˆ encia, a partir do quarto (inclusive), caem dentro da bola BD (1, 2); 23 . Veja a ilustra¸c˜ao a seguir (fig. esquerda) 1
y
y
r rrrr rx
2
q
1
q
r
(0, 0) x1
rx
rx
s(1, 2)
q
4
3
1
q
2
q1
q qq qq
2
q
x
(0, 0) x1
148
qx
qx qx 4
s
3
2
q1
x
Agora vamos reduzir o valor do raio, por exemplo, ε = 13 ; logo √ √ 1 5 n0 = 3 5 = 6, 708 . . . ⇒ n0 = 7. > 3 1/3
Logo, todos os termos da sequˆ encia, a partir do s´etimo (inclusive), caem 1 dentro da bola BD (1, 2); 3 . Veja a figura anterior. (fig. direita) 1 • Consideremos agora o espa¸co R2 , D2 . Prova: De fato, dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 (ε) de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ xn ∈ BD (1, 2); ε . 2
Ent˜ao
2 1 xn ∈ BD (1, 2); ε ⇐⇒ D2 1 − , 2 − ; (1, 2) < ε 2 n n 2 1 ⇐⇒ 1 − − 1 + 2 − − 2 < ε n n 3 ⇐⇒ < ε. n Logo, dado ε > 0 escolhemos um ´ındice n0 (ε) satisfazendo a desigualdade n0 (ε) > 3ε e teremos ∀ n ≥ n0 ⇒
1 1 3 ≤ < < ε ⇒ xn ∈ BD (1, 2); ε . 2 n n0 n0
Fa¸camos duas simula¸c˜ oes para ilustrar esse resultado: - Por exemplo, tomando ε = 23 , temos n0
2 9 3 = = 4, 5 ⇒ n0 = 5. > 3 2/3 2
Logo, todos os termos da sequˆ encia, a partir do quinto (inclusive), caem dentro da bola BD (1, 2); 23 . 2
Agora vamos reduzir o valor do raio, por exemplo, ε = 13 ; ent˜ao n0
3 1 = 9 ⇒ n0 = 10. > 3 1/3
Logo, todos os termos dasequˆencia, a partir do d´ecimo (inclusive), caem dentro da bola BD (1, 2); 13 . 2
149
A figura a seguir ilustra essas duas simula¸c˜oes y
y
r rr rr rx
2
q
rx
1
q
r
(0, 0) x1
rx
s(1, 2)
q
4
3
1
q
2
qx
qx qx 4
s
3
2
q
x
q1
q qq qq
2
(0, 0) x1
x
q1
• Consideremos agora o espa¸co R2 , D3 . Prova: De fato, dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 (ε) de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ xn ∈ BD (1, 2); ε . 3
Ent˜ ao
1 2 xn ∈ BD (1, 2); ε ⇐⇒ D3 1 − , 2 − ; (1, 2) < ε 3 n n n o 1 2 ⇐⇒ max 1 − − 1 , 2 − − 2 < ε n n 1 2 ⇐⇒ max , <ε n n 2 ⇐⇒ < ε. n Logo, dado ε > 0 escolhemos um ´ındice n0 (ε) satisfazendo a desigualdade n0 (ε) > 2ε e teremos ∀ n ≥ n0 ⇒
1 1 2 ≤ < < ε ⇒ xn ∈ BD (1, 2); ε . 3 n n0 n0
Fa¸camos duas simula¸c˜oes para ilustrar esse resultado: - Por exemplo, tomando ε = 32 , temos n0
2 2 = 3 ⇒ n0 = 4. > 3 2/3 150
Logo, todos os termos da sequˆ encia, a partir do quarto (inclusive), caem (fig. esquerda) dentro da bola BD (1, 2); 32 . Veja a ilustra¸c˜ao a seguir 3
y
y
rr rr rx
2
q
rx
1
q
rx
s (1, 2)
q
4
qx
3
1
q
2
r
qx qx 4
s
3
2
q
x
q1
(0, 0) x1
qq qq
2
q1
(0, 0) x1
x
Agora vamos reduzir o valor do raio, por exemplo, ε = 13 ; logo n0
2 1 = 6 ⇒ n0 = 7. > 3 1/3
Logo, todos os termos da sequˆ encia, a partir do s´etimo (inclusive), caem dentro da bola BD (1, 2); 13 . Veja a figura anterior. (fig. direita) 3
Na figura seguinte juntamos as trˆes bolas em um s´ o gr´ afico: y
y
rrr rr rx
2
q
1
q
r
(0, 0) x1
rx
rx
s (1, 2)
q
4
3
1
q
2
q1
qqq qq
2
q
x
(0, 0) x1
151
qx
qx qx 4
s
3
2
q1
x
7) Vamos mostrar que a sequˆencia de fun¸c˜oes (xn ), dada por
xn (t) =
(p. 139)
1 − nt , se 0 ≤ t ≤ 1 ; n 0,
se
≤ t ≤ 1.
C[ 0, 1 ], Γ , mas n˜ ao no espa¸co
converge para ao nula, no espa¸co a fun¸c˜ C[ 0, 1 ], Υ . Isto ´e Γ xn −→ 0
1 n
Υ / xn −→ 0
e
Vamos mostrar a convergˆencia de dois modos: Prova:
(prop. 8, p. 142)
Vamos centrar uma bola, de raio ε arbitr´ario, na fun¸c˜ao nula: f ∈ C[ 0, 1 ] : Γ(f, 0) < ε Z 1 o n |f (x) − 0| dx < ε = f ∈ C[ 0, 1 ] :
BΓ (0; ε) =
0
Queremos obter n0 ∈ N de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ Γ(xn , 0) < ε
ou ainda xn ∈ BΓ (0; ε)
Temos Γ(xn , 0) =
Z
1
0
|xn (t)| dt =
1 2n
Obs: Esta integral ´e dada pela ´area sob o gr´ afico de xn (t).
(p. 139)
Impondo, 1 1 <ε ⇒ n> 2n 2ε Portanto qualquer n0 maior que
1 2ε
serve aos nossos prop´ositos.
Prova:
(prop. 9, p. 143) µ
Mostremos que d(xn , 0) = Γ(xn , 0) −→ 0. De fato, Γ(xn , 0) =
1 µ −→ 0 2n
Geometricamente esta convergˆencia significa que as ´areas (distˆ ancias) entre os gr´ aficos das fun¸co˜es xn e da fun¸c˜ao nula v˜ao tendendo a zero, `a medida que n cresce. Veja: 152
x1 (t)
x2 (t)
1
x3 (t)
1
q
1
q
q1
0
t
q
q1
1 2
0
t
0
1 3
Vamos mostrar a divergˆencia Pela proposi¸c˜ao 9
q1
t
(p. 143)
Prova: Temos
se 0 ≤ t ≤
1 n,
Υ(xn , 0) = max |xn (t) − 0| : t ∈ [ 0, 1 ] = max |xn (t)| : t ∈ [ 0, 1 ]
ent˜ ao
0 ≤ nt ≤ 1 ⇒ −1 ≤ −nt ≤ 0 ⇒ 0 ≤ 1 − nt ≤ 1 ⇒ xn (t) ∈ [ 0, 1 ].
ao, por defini¸c˜ao, xn (t) = 0. Logo xn (t) = |xn (t)| ∈ e se n1 ≤ t ≤ 1 ent˜ [ 0, 1 ] para todo 0 ≤ t ≤ 1 e para todo n ∈ N. Logo, para todo n natural temos Υ(xn , 0) = max |xn (t)| : t ∈ [ 0, 1 ] = max [ 0, 1 ] = 1. Geometricamente Υ(xn , 0) representa o comprimento da maior corda ligando o gr´ afico de xn ao gr´ afico da fun¸c˜ao nula 0. No gr´ afico seguinte xn (t)
1
q
maior corda →
0
1 n
q1
t
Observamos que o comprimento da maior corda ´e 1, para todo n natural, isto ´e, Υ(xn , 0) = 1, ∀ n ∈ N. Pois bem, µ d(xn , 0) = Υ(xn , 0) = (1, 1, 1, . . .) −→ 1.
Portanto a sequˆ ao n˜ ao converge para a fun¸c˜ao nula, no espa¸co encia em quest˜ C[ 0, 1 ], Υ . 153
Proposi¸ c˜ ao 10. Se uma sequˆencia xn ´e convergente, ent˜ ao existe uma bola que cont´em todos os seus termos. Prova: De fato, se xn −→ a ∈ M , ent˜ao para todo ε1 dado, existe n0 ∈ N de modo que d(xn , a) < ε1 , ∀ n ≥ n0 . tomemos logo
ε2 > max d(xi , a) : i = 1, 2, . . . , n0 − 1 , d(xi , a) < ε2 , i = 1, 2, . . . , n0 − 1.
seja ε > max{ε1 , ε2 }. Logo d(xn , a) < ε1 < ε , ∀ n ≥ n0 ,
d(xi , a) < ε2 < ε , i = 1, 2, . . . , n0 − 1. Portanto todos os termos da sequˆencia cabem dentro da bola B(a; ε).
Cabe aqui perguntar se uma sequˆencia pode convergir para dois pontos distintos de um espa¸co m´etrico. Nos espa¸cos topol´ogicos − que s˜ ao generaliza¸c˜ oes dos espa¸cos m´etricos − isto de fato pode acontecer. Mas n˜ ao nos espa¸cos m´etricos especificamente. Isto ´e o que nos garante a pr´ oxima Proposi¸ c˜ ao 11 (Unicidade do limite). Seja (xn ) uma sequˆencia convergente no espa¸co m´etrico (M, d). Ent˜ ao ´e u ´nico o limite dessa sequˆencia. ∗ Prova:
Temos H1 : H : 2
lim xn = p n
⇒
lim xn = q
T:
p = q.
n
¯2 H1 ∧ T¯ =⇒ H
Suponha p 6= q. Pela propriedade (P4 ) (p. 127) podemos centrar em cada um destes pontos, bolas abertas disjuntas. Como lim xn = p ent˜ao existe n um ´ındice n0 a partir do qual todos os termos da sequˆencia caem dentro da bola de centro p; por conseguinte n˜ ao podemos ter lim xn = q. n
(prop. 8, p. 142).
∗
Faremos uso da t´ecnica (T − 4)
(p. 571).
154
Proposi¸ c˜ ao 12. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e (xn ) uma sequˆencia de pontos em M . Se lim xn = a, ent˜ ao toda subsequˆencia de (xn ) tamb´em converge para a. Prova: De fato, seja (xn )n ∈ N , onde N1 = { n1 < n2 < n3 < . . . }, uma 1 subsequˆencia de xn . Dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice k ∈ N de n∈N modo que d(xn , a) < ε, ∀ nj ∈ N1 : nj ≥ k (4.4) j
Como, por hip´ otese, (xn )n ∈ N converge para a, ent˜ao ∀ ε > 0 dado, existe um ´ındice n0 ∈ N de modo que d(xn , a) < ε, ∀ n ≥ n0
(4.5)
como N1 ⊂ N ´e infinito, segue que existe um ´ındice k ∈ N1 tal que k ≥ n0 . Ent˜ ao, para todo ´ındice nj ∈ N1 tal que nj ≥ k ≥ n0 temos, por (4.5), a satisfeita. que d(xn , a) < ε e, portanto, (4.4) estar´ j
Esta proposi¸c˜ ao ´e de utilidade tanto para mostrar que uma sequˆencia converge quanto para mostrar que uma sequˆencia diverge. Por exemplo as sequˆencias reais zn e wn dadas por zn =
1 1 e wn = 2 n 2 n
s˜ ao ambas convegentes para 0 no espa¸co (R, µ). De fato, temos que (zn ) = (xn )n ∈ N1 (wn ) = (xn )n ∈ N2 onde N1 = { 2, 4, 8, 16, 32, . . . }; N2 = { 1, 4, 9, 16, 25, . . . }. e (xn ) ´e a sequˆencia vista no exemplo 2.
(p. 144)
Por outro lado, para mostrar que uma dada sequˆencia diverge ´e suficiente exibir duas subsequˆencias convergindo para limites distintos (isto ´e consequˆencia das proposi¸c˜ oes 11 e 12). Por exemplo a sequˆencia (1, −1, 1, −1, 1, −1, . . .) diverge, em todo espa¸co m´etrico, visto que temos duas subsequˆencias x2n−1 = (1, 1, 1, . . .) −→ 1 ,
convergindo para limites distintos.
x2n = (−1, −1, −1, . . .) −→ −1.
155
Sequˆ encias limitadas Uma sequˆencia (x1 , x2 , x3 , . . .) pode ser vista como uma “lista” ordenada infinita. Usaremos a seguinte nota¸c˜ao { x1 , x2 , x3 , . . . } para o conjunto de seus termos. Aqui a ordem dos termos n˜ ao interessa e este conjunto pode ser finito, ao contr´ ario da lista, que ´e sempre infinita. Por exemplo, seja a sequˆencia (xn ) dada por xn = (−1)n−1 . Temos xn = (1, −1, 1, −1, 1, −1, . . .) xn = { −1, 1 }
Uma sequˆencia foi definida como uma aplica¸c˜ao x : N −→ M , por conseguinte o conjunto dos termos da sequˆencia ´e a imagem direta de N pela aplica¸c˜ ao, isto ´e, {xn } = x(N). Defini¸ c˜ ao 17 (Sequˆencia limitada). Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico e (xn ) uma sequˆencia de pontos em M . A sequˆencia (xn ) se diz limitada no espa¸co (M, d) quando o conjunto { xn } de seus termos ´e limitado. Ou ainda (Ver defini¸ca˜o `a p. 53): xn ´e limitada no espa¸co (M, d) se existir uma constante c > 0 tal que d(x, y) ≤ c para quaisquer x e y em { xn }. Exemplo: a sequˆencia (1, 2, 3, 4, . . .) ´e limitada no espa¸co (R, δ), mas n˜ ao no espa¸co (R, µ). Proposi¸ c˜ ao 13. Toda sequˆencia convergente ´e limitada. Prova: Se uma sequˆencia ´e convergente ent˜ao existe uma bola no espa¸co contendo todos os seus termos, logo, pela proriedade (P6 ) (p. 127) das bolas abertas, concluimos que a sequˆencia ´e limitada.
A rec´ıproca da proposi¸c˜ao anterior n˜ ao vale. Isto ´e, uma sequˆ encia limitada 1 1 pode ou n˜ ao convergir. Por exemplo, a sequˆencia 1, 2 , 3 , . . . ´e limitada nos espa¸cos (R, µ) e (R, δ), mas ´e convergente apenas no primeiro destes espa¸cos. ∗ ∗ ∗ Renunciar ` a meta de compreender a “coisa em si”, de conhecer a “verdade u ´ltima”, de decifrar a essˆencia mais profunda do mundo, pode ser um sofrimento psicol´ ogico para os entusiastas ingˆenuos, mas de fato foi uma das mais frut´ıferas viradas no pensamento moderno. [. . .] Atrav´es dos tempos, os matem´ aticos tˆem considerado seus objetos, tais como n´ umeros, pontos, etc., como coisas substanciais em si. Uma vez que estas entidades sempre tinham desafiado tentativas de uma descri¸ca ˜o adequada, manifestou-se corretamente nos matem´ aticos do s´eculo XIX a convic¸ca ˜o de que a quest˜ ao do significado destes objetos como coisas substanciais n˜ ao fazia sentido dentro da Matem´ atica, ou mesmo em geral. (Richard Courant/O que ´ e Matem´ atica?)
156
4.3
Sequˆ encias num Espa¸ co Produto
Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos e as sequˆencias xn = (x1 , x2 , x3 , . . .),
yn = (y1 , y2 , y3 , . . .)
em M1 e M2 , respectivamente. O “produto cartesiano” destas sequˆencias xn × yn = (x1 , x2 , x3 , . . .) × (y1 , y2 , y3 , . . .) = (x1 , y1 ), (x2 , y2 ), (x3 , y3 ), . . .
´e uma sequˆencia no produto cartesiano M1 × M2 = M . A convergˆencia (ou divergˆencia) da sequˆencia (xn , yn ) nos espa¸cos (M, Di ) (i = 1, 2, 3.) ´e objeto da pr´ oxima Proposi¸ c˜ ao 14. Uma sequˆ encia (xn , yn ) no produto M = M1 × M2 converge no espa¸co M, Di (i = 1, 2, 3.) para (a, b) ∈ M1 × M2 se, e somente se, xn −→ a em (M1 , d1 ) e yn −→ b em (M2 , d2 ). M
b
(a, b)
↑
..
.
...
y3
ր
(x3 , y3 )
y2
(x2 , y2 )
y1
(x1 , y1 )
(M2 , d2 ) x1
Prova: (=⇒)
D
(M1 , d1 )
x3 ··· → a
x2
i
H: (xn , yn ) −→ (a,b)
T:
d1 xn −→ a d2 y −→ b n
Faremos a prova para a m´etrica D3 (x, y) = max d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 )
Deixando como exerc´ıcio a prova nas outras duas m´etricas. 157
Com efeito, seja ε > 0 dado, ent˜ao existe um ´ındice n0 tal que n ≥ n0 ⇒ D3 (xn , yn ); (a, b) = max d1 (xn , a); d2 (yn , b) < ε
portanto, para todo n ≥ n0 , temos
d1 (xn , a) < ε e d2 (yn , b) < ε o que nos garante d
1 xn −→ a
(⇐=) H:
e
d1 xn −→ a
d
2 yn −→ b
D3
T: (xn , yn ) −→ (a,b)
d2 y −→ b n
Dado ε > 0, por hip´ otese, existem ´ındices n1 e n2 tais que n ≥ n1 ⇒ d1 (xn , a) < ε e n ≥ n2 ⇒ d2 (yn , b) < ε Considerando n0 = max{ n1 , n2 }, temos n ≥ n0 ⇒ d1 (xn , a) < ε e d2 (yn , b) < ε ⇒ max d1 (xn , a); d2 (yn , b) < ε ⇒ D3 (xn , yn ); (a, b) < ε. D
3 Portanto (xn , yn ) −→ (a, b).
Exemplos: (a) No espa¸co R2 , D1 a sequˆencia xn , yn =
1 n, 1
1 1 (1, 1), ,1 , , 1 , ... 2 3
, isto ´e
converge para o ponto (0, 1), pois µ
xn −→ 0
e
µ
yn −→ 1
Observa¸ c˜ ao: Na verdade temos (para i = 1, 2, 3.) Di xn , yn −→ (0, 1). (b) Nos espa¸cos R2 , Di a sequˆencia xn , yn =
1 n,
1 1 ,1 , , −1 , . . . (1, −1), 2 3 158
(−1)n , isto ´e
n˜ ao converge. R, µ .
Com efeito,
yn
= (−1, 1, −1, 1, . . .) n˜ ao converge em
(c) Seja o espa¸co m´etrico R2 , Di e a sequˆencia de pontos do plano: 2 1 , ent˜ao xn −→ (1, 2). xn , y n = 1 − , 2 − n n
Isto se deve a que
µ
µ
xn −→ 1 e yn −→ 2
Comparar com o exemplo 6, p. 147. (d) Ver exemplo 5, p. 147.
4.4 4.4.1
Sequˆ encias em Espa¸ cos Vetoriais Normados Sequˆ encias na reta
otonas No espa¸co R, µ s˜ ao importantes as chamadas sequˆencias mon´ que s˜ ao classificadas como:
ao as sequˆencias (xn ) tais que xn ≤ xn+1 , para todo ´ındice (a) Crescentes s˜ n. Em particular, quando xn < xn+1 , ∀n ∈ N, ent˜ao (xn ) se diz estritamente crescente. r
r
x1
r
x2
r r ··· r rrrrr
x3 x4
R
(b) Decrescentes s˜ ao as sequˆencias (xn ) tais que xn ≥ xn+1 , para todo ´ındice n. Em particular, quando xn > xn+1 , ∀n ∈ N, ent˜ao (xn ) se diz estritamente decrescente. rrrrr r···r xr 4 xr 3
r
r
x2
x1
R
Exemplos:
(i)
1 n
(ii)
1−
(iii) (iv)
n∈N
1 n
= 1, 21 , 13 , . . .
n∈N
= 0, 12 , 23 , . . .
2n+1−(−1)n 4 1−(−1)n 2
´e estritamente decrescente.
´e estritamente crescente.
= (1, 1, 2, 2, 3, 3, . . .)
´e crescente.
n∈N
= (1, 0, 1, 0, . . .)
n∈N
159
n˜ ao ´e mon´ otona.
Proposi¸ c˜ ao 15. Toda sequˆencia crescente cujo conjunto dos termos ´e limitado superiormente converge para o supremo desse conjunto. Prova: Suponhamos (xn ) uma sequˆencia em R satisfazendo: (i) x1 ≤ x2 ≤ x3 ≤ · · · (ii) xn limitado. Isto ´e, existe c > 0 de modo que d(xi , xj ) ≤ c ; ∀ xi , xj ∈ xn . Respaldados na propriedade do supremo∗ fa¸camos sup xn : n = 1, 2, 3, . . . = p
Afirmamos que lim xn = p. De fato, dado ε > 0, n˜ ao pode ocorrer xn ≤ p−ε n para todo ´ındice n pois isto implicaria numa cota superior − para o conjunto xn − menor do que p (isto ´e, p n˜ ao seria supremo). Logo, existe um ´ındice r de modo que p − ε < xr ≤ p. Como a sequˆencia ´e crescente, temos x1 ≤ x2 ≤ · · · ≤ xr ≤ xr+1 ≤ xr+2 ≤ · · ·
logo p − ε < xr ≤ xr+1 ≤ xr+2 ≤ · · · isto ´e, p − ε < xn < p + ε, ∀ n ≥ r. Por conseguinte n ≥ r ⇒ |xn − p| < ε o que garante nossa tese: lim xn = p. n
Nota: De modo an´ alogo prova-se que: “Toda sequˆencia decrescente cujo conjunto dos termos ´e limitado inferiormente converge para o ´ınfimo desse conjunto”. Proposi¸ c˜ ao 16. (Conserva¸ca ˜o do sinal) (a) Se (xn ) ´e uma sequˆencia em R com lim xn = p > 0, ent˜ ao existem um n ´ındice r e uma constante c > 0 de modo que xn > c para todo n ≥ r. Isto ´e, se o limite de uma sequˆencia ´e um n´ umero positivo ent˜ ao, a partir de uma certa ordem, todos os seus termos s˜ ao positivos. (b) Se lim xn = p < 0, ent˜ ao existem um ´ındice r e uma constante c < 0 de n modo que xn < c para todo n ≥ r. Prova: (a) Como lim xn = p, para todo ε > 0 existe um ´ındice n0 : n
n ≥ n0 ⇒ |xn − p| < ε ∗
Todo conjunto limitado superiormente tem supremo.
160
seja, por exemplo, ε =
p 2
> 0 e r = n0 , ent˜ao
n ≥ r ⇒ |xn − p| <
p p p ⇒ − < xn − p < 2 2 2 ⇒
Tome c =
p 3p < xn < . 2 2
p . 2
(b) A demonstra¸c˜ ao deste caso ´e an´ aloga, toma-se ε =
4.4.2
|p| . 2
Sequˆ encias em espa¸cos normados
Consideraremos agora um espa¸co vetorial E, +, · normado. Lembramos que a origem de E, denotadad por 0, ´e o elemento neutro da adi¸c˜ao (vetor nulo). Proposi¸ c˜ ao17. Seja xn uma sequˆencia de pontos em um espa¸co vetorial real E, +, · , normado, que converge para p ∈ E. Ent˜ ao existe uma bola de centro na origem contendo todos os termos da sequˆencia. Prova: Como lim xn = p, para todo ε > 0 dado, existe um ´ındice n0 de n modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , p) = kxn − pk < ε (4.6) Sendo kxn k = kxn − p + pk ≤ kxn − pk + kpk ent˜ao para todo n ≥ n0 tem-se kxn k ≤ kxn − pk + kpk < kpk + ε
(4.7)
onde somamos kpk na desigualdade (4.6). Seja λ > max kx1 k, kx2 k, . . . , kxn −1 k, kpk + ε 0
Logo, usando (4.7), podemos escrever
kxn − 0k = kxn k < λ,
∀ n ∈ N.
Nota: Observe a diferen¸ca entre esta proposi¸c˜ao e a proposi¸ca˜o 10 (p. 154). Aquela vale para espa¸cos m´etricos em geral e a bola est´ a centrada no limite da sequˆencia. Aqui a proposi¸c˜ ao vale apenas para espa¸cos vetoriais normados e a bola est´ a centrada no vetor nulo. 161
Vamos ilustrar a proposi¸c˜ao anterior para a sequˆencia (xn ) vista no exemplo 6 (p. 147). Temos 2 1 −→ p = (1, 2). , 2− n n Vamos fixar ε = 32 , no espa¸co R2 , k · kD . J´ a vimos que para ε = 1 resulta n0 = 4. Escolhamos
1−
2 λ > max kx1 kD , kx2 kD , kx3 kD , kpkD + 1 1 1 1 3 onde p kx1 kD = k(0, 0)kD = 02 + 02 = 0 1 1 r √
1 2 1 5 kx2 kD = ,1 = + 12 =
1 2 2 2 D 1
kx3 kD
1
r √
2 4 2 2 4 2 2 5
= , = + = 3 3 D 3 3 3 1
kpkD = k(1, 2)kD = 1
1
Portanto
p
12 + 22 =
√
5.
) √ √ √ 2 2 5 2 5 √ ⇒ λ > 5 + = 2, 902 . . . , , 5+ λ > max 0, 2 3 3 3 (
Na ilustra¸c˜ ao seguinte tomamos λ = 2, 91 y
q q (1, 2) qq xq 4
qx2 3
B(0, λ)
x
0
qx
x
1
162
2 3
Defini¸ c a ˜ o 18. Sejam x e y sequˆ e ncias em E, +, · . Chama-se soma n n de xn com yn a sequˆencia xn + y n = xn + y n = x1 + y 1 , x2 + y 2 , . . . Se λn ´e uma sequˆencia de elementos em R. Chama-se produto de λn com xn a sequˆencia λn xn = λn xn = λ1 x1 , λ2 x2 , λ3 x3 , . . . Proposi¸ c˜ ao 18. Sejam xn e yn sequˆencias em um espa¸ c o vetorial E, +, · normado. Se lim xn = p e lim yn = q, ent˜ ao lim xn + yn = p + q. n
n
n
Prova: Dado ε > 0, por hip´ otese, existem ´ındices r e s tais que: ∀ n ≥ r ⇒ kxn − pk < ε/2 ∀ n ≥ s ⇒ kyn − qk < ε/2
Seja t = max{ r, s }, ent˜ ao
∀ n ≥ t ⇒ xn + yn − p + q ≤ kxn − pk + kyn − qk < ε o que implica xn + yn −→ p + q.
Proposi¸ c˜ ao 19. Se (xn ) ´e uma sequˆencia convergente em um um espa¸co vetorial E, +, · normado, ent˜ ao lim − xn = − lim xn . n
n
Prova: Suponha lim xn = p, ent˜ao dado ε > 0 existe um ´ındice n0 : n
∀ n ≥ n0 ⇒ kxn − pk < ε
⇒ k(−1) xn − p k < ε ⇒ k − xn − (−p)k < ε
⇒ lim(−xn ) = −p. n
Corol´ ario 1. Se (xn ) e (yn ) s˜ ao sequˆencias convergentes em (R, µ) e se xn ≤ yn , a partir de uma determinada posi¸ca ˜o m, ent˜ ao lim xn ≤ lim yn . n
∗ Prova:
H : xn ≤ yn , ∀n ≥ m. T : lim xn ≤ lim yn n
∗
n
Faremos uso da t´ecnica (T − 1) (p. 570).
163
n
De fato, suponhamos que lim xn > lim yn e consideremos a sequˆencia n n xn − yn . Ent˜ ao lim xn − yn = lim xn − lim yn > 0 n
n
n
pela proposi¸c˜ ao 16 (p. 160) existe um ´ındice r de modo que xn − yn > 0 para todo ´ındice n ≥ r. Escolhamos um ´ındice k > max{ r, m }, ent˜ao xk > yk o que contradiz a hip´ otese. Proposi¸ ao 20. Seja (xn ) uma sequˆencia de pontos de um espa¸co vetorial c˜ E, +, · normado que converge para um ponto p ∈ E. Se (λn ) ´e uma sequˆencia do espa¸co (R, µ) tal que lim λn = λ, ent˜ ao lim λn xn = λ p. n
n
Prova: Dado ε > 0, como lim λn = λ decorre que n
(i) tomando c > kpk, existe um ´ındice r de modo que ε 2c
∀ n ≥ r ⇒ |λn − λ| < (ii) segundo a proposi¸ca˜o 17
(4.8)
existe k > 0, tal que |λn | < k, ∀ n.
(p. 161)
Por outro lado, como lim xn = p, existe um ´ındice m de modo que n
∀ n ≥ m ⇒ kxn − pk <
ε 2k
Temos
λn x n − λ p = λn x n − λn p + λn p − λ p
= λn xn − p + λn − λ p
≤ λn xn − p + λn − λ p
= λn · xn − p + λn − λ · p
De (4.8) e (4.9) decorre
λn − λ · p < ε · p , 2c
λn · xn − p < λn · ε , 2k
∀ n ≥ r. ∀ n ≥ m.
Ent˜ ao, para n ≥ max{ r, m } sucede
λn − λ · p + λn · xn − p < ε · p + λn · ε 2c 2k
Por outro lado
λn < k ⇒ λn · ε < k · ε = ε 2k 2k 2 164
(4.9)
como c > p , isto ´e
p < c ⇒
ε ε ε · p < ·c= 2c 2c 2
Por conseguinte
λn xn − λ p ≤ λn · xn − p + λn − λ · p
ε ε · p + λn · < 2c 2k ε ε < + = ε. 2 2
Desta desigualdade decorre a tese.
Lema 2. Seja (xn ) uma sequˆencia em um espa¸co vetorial E, +, · normado. Se (xn ) converge para p, ent˜ ao (kxn k) converge para kpk. Prova: Na proposi¸c˜ ao 3 q = xn obtemos
(p. 50)
tomando X = { 0 } ⊂ M = E, p = p e
kp − 0k − kxn − 0k ≤ kp − xn k ⇒ kxn k − kpk ≤ kxn − pk
Por outro lado, dado ε > 0, por hip´ otese existe um ´ındice n0 de modo que kxn − pk < ε, para todo n ≥ n0 . Portanto kxn k − kpk ≤ kxn − pk < ε
para todo n ≥ n0 . Antes de passarmos ` a pr´ oxima proposi¸c˜ao vejamos um exemplo. Consideremos a sequˆencia xn do exemplo 6 (p. 147): xn =
Temos • No espa¸co R2 , k · kD :
1 2 1 − ,2 − −→ p = (1, 2) n n
1
xn
D1
=
r
Por outro lado
p
D1
1−
√ 1 2 2 2 √ 1 + 2− = 5 1− −→ 5 n n n
= (1, 2)
D1
=
p
12 + 22 =
√
5.
Fica como exerc´ıcio a verifica¸c˜ ao nos espa¸cos R2 , k · kD 165
2
e R2 , k · kD . 3
Proposi¸ c˜ ao 21. Seja (λn ) uma sequˆencia de pontos no espa¸co (R, µ) tal que lim λn = λ 6= 0. Ent˜ ao a sequˆencia βn definida por n
0, βn = 1 λn
se λn = 0;
se λn 6= 0.
1 . λ Prova: Devemos mostrar que o quociente |λn − λ| 1 1 λ − λ = |λ | · |λ| n n
converge para
a partir de um certo ´ındice n0 , ´e menor que qualquer ε > 0 fixado. De fato, como lim λn = λ segue, pelo lema anterior, que lim |λn | = |λ|. n n Como, por hip´ otese λ 6= 0 ⇒ lim |λn | = |λ| > 0. n
Pela prop. 16 que
(p. 160)
existem um ´ındice r e uma constante c > 0 de modo |λn | > c, ∀ n ≥ r.
(4.10)
Por outro lado, como lim λn = λ, dado ε > 0 arbitr´ario, existe um ´ındice m n de modo que |λn − λ| < c |λ| ε, ∀ n ≥ m. (4.11) De (4.10) temos c cε <1 ⇒ < ε, |λn | |λn |
∀ n ≥ r.
c |λ| ε |λn − λ| < = c ε, |λ| |λ|
∀ n ≥ m.
(4.12)
De (4.11) temos
logo |λn − λ| cε < , |λn | · |λ| |λn |
∀ n ≥ m.
Considerando n0 ≥ max{ r, m } e usando (4.12) podemos escrever |λn − λ| < ε, |λn | · |λ|
166
∀ n ≥ n0 .
4.5
Quando eminentes matem´ aticos cometem erros elementares E aquilo que nesse momento se revelar´ a aos povos, surpreender´ a a todos n˜ ao por ser ex´ otico mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando ter´ a sido o obvio. ´
(O ´ındio/Caetano Veloso)
Introdu¸c˜ ao: Um dos resultados mais controversos de toda a matem´atica diz respeito ` a igualdade 0, 999 . . . = 1 (4.13) Na referˆencia∗ o autor faz uma an´ alise das representa¸c˜oes decimais onde lemos: “Comecemos com o caso mais simples, que ´e tamb´em o mais intrigante. Trata-se da express˜ ao decimal, ou seja, do n´ umero real α = 0, 999 . . . =
9 9 9 + + + ··· 10 100 1000
Afirmamos que α = 1”.
(grifo nosso)
Na referˆencia† lemos: “[· · · ] vocˆe deve ter concluido que 0, 999 . . . = 1. Esse sinal de igual ´e igual mesmo! N˜ao se trata de aproxima¸c˜ao: 0, 999 . . . e 1 s˜ ao duas formas diferentes de apresentar o mesmo n´ umero”. (grifo nosso) Nesta se¸c˜ ao estarei defendendo a tese de que estes matem´ aticos − e quantos pensem assim − est˜ ao ingenuamente equivocados.
Com o aux´ılio da m´etrica quˆantica provaremos a surpreendente igualdade 0, 999 . . . = 0
´ isto mesmo caro leitor! N˜ao, n˜ E ao trata-se de um erro de digita¸c˜ao. A descoberta desta igualdade me forneceu mais muni¸c˜ao − digo, me deu mais confian¸ca − para discordar dos matem´ aticos quanto `a interpreta¸c˜ao da igualdade (4.13). Para seguir em frente iremos necessitar relembrar o conceito de
S´ eries ∗
Lima, Elon Lages. et alii A Matem´ atica do Ensino M´edio Vol. 1. Rio de Janeiro: SBM, 1997. † Brolezzi, Antonio Carlos/Monteiro, Martha Salerno, Matem´ atica: N´ umeros para quˆe? Universidade de S˜ ao Paulo, Publica¸c˜ ao eletrˆ onica.
167
Este tema j´a comparece no ensino m´edio quando procuramos por exemplo pela “soma infinita” (progress˜ ao geom´ etrica) 1 1 1 + + + ··· 2 4 8 que ´e dada pela f´ormula da soma dos infinitos termos de uma progress˜ao a1 , v´alida sempre que −1 < q < 1. No caso da s´erie geom´etrica: S∞ = 1−q anterior, temos, 1 1 1 1 (4.14) + + + ··· = 2 1 = 1 2 4 8 1− 2 Formalizando a “teoria das s´eries”, temos: Seja (an ) uma sequˆencia de n´ umeros reais. A partir dela, formamos uma nova sequˆencia (sn ) cujos termos s˜ ao as somas: s 1 = a1 s 2 = a1 + a2 s 3 = a1 + a2 + a3 −− − − − − − − − − − − − − s n = a1 + a2 + a3 + · · · + an
Os ao chamados somas parciais da s´erie infinita P termos da sequˆencia (sn ) s˜ an . Se existir o limite, lim sn = lim (a1 + a2 + a3 + · · · + an ) n→∞
P
diremos que a s´erie an ´e convergente e, nesse caso, lim sn = ℓ ´e chamado de soma da s´erie. Em sendo este o caso, escrevemos, ℓ=
X
an =
∞ X
n=1
an = a1 + a2 + a3 + · · · + an + · · ·
ao convergir, diremos que a s´erie P∞Se a sequˆencia (sn ), de somas parciais, n˜ e divergente. n=1 an ´ P Resumindo: A soma de uma s´erie an ´e simplesmente o limite da sequˆencia (sn ) de somas parciais. A equa¸c˜ ao sn = 1 − 101n ´e a sequˆencia de somas parciais da s´erie 9 9 9 + + + · · · = 0, 999 . . . 10 100 1000 sn foi obtida da equa¸c˜ ao Sn =
a1 (q n − 1) , q−1
(4.15)
soma dos n termos de uma P.G.
Nota: Podemos, sempre que for conveniente, identificar uma s´erie com uma representa¸c˜ ao decimal, como acima. 168
Pois bem, a s´erie (4.15) converge para 1 na m´etrica usual, veja: 1 1 |sn − 1| = 1 − n − 1 = n → 0 10 10
E converge para 0 na m´etrica quˆantica, observe:
(eq. (1.2), p. 18)
k(sn , 0) = min{sn , 1 − sn } n 1 1 o = min 1 − n , 1 − 1 − n 10 10 o n 1 1 1 = min 1 − n , n = n → 0 10 10 10
Em resumo, provamos que:
0, 999 . . . = 1
(4.16)
0, 999 . . . = 0
(4.17)
[. . .] A isto se acrescenta que todo
Aceder ` a ciˆ encia ´ e rejuvenescer espiri-
s´ımbolo ´ e ambivalente e at´ e mesmo po-
tualmente, ´ e aceitar uma brusca muta¸ca ˜o
livalente, no sentido de que ele pode sig-
que contradiz o passado.
nificar uma pluralidade de realidades di-
(Gaston Bachelard)
versas e mesmo contradit´ orias. (L´ eon Bonaventure)
Uma exegese de nossos resultados Convic¸co ˜es s˜ ao pris˜ oes, um esp´ırito que queira realizar belas obras, que tamb´ em queira os meios necess´ arios, tem de ser c´ etico. Estar livre de toda forma de cren¸ca pertence ` a for¸ca, ao poder de ver sem algemas.
(Nietzsche)
Antes de mais nada observe que a igualdade 9 9 9 + + + ··· = 0 10 100 1000 n˜ ao significa que “a soma de infinitas parcelas positivas ´e zero”; significa t˜ao somente que a sequˆencia de somas parciais, ( sn ), converge para 0 na m´etrica quˆantica, ´e s´ o isto! 169
Por outro lado, observe que n˜ ao podemos concluir apressadamente − a partir das equa¸c˜ oes (4.16) e (4.17) −, que 1 = 0, porquanto estes resultados pertencem a universos distintos: 0, 999 . . . = 1, em [ 0, 1 ], µ (4.18) 0, 999 . . . = 0, em [ 0, 1 [, k (4.19)
N˜ ao h´ a mais, para os teoremas, verdade separada e, por assim dizer, atˆ omica: sua verdade ´e apenas sua integra¸ca ˜o no sistema; e ´e por isso que teoremas incompat´ıveis entre si podem igualmente ser verdadeiros, contanto que os relacionemos com sistemas diferentes. (Denis Huisman)
Um primeiro corol´ ario que se segue deste resultado ´e que 0, 999 . . . n˜ ao ´e um n´ umero haja vista que depende da topologia (m´etrica) adotada. Esta conclus˜ao contraria a afirmativa do prof. Elon feita anteriormente. Reiteramos: Um n´ umero ´e um conceito alg´ebrico, n˜ ao topol´ogico; digo, n˜ ao pode variar com a topologia (m´etrica/distˆancia) adotada. A conclus˜ao ´e ´ obvia: a “entidade” 0, 999 . . . s´ o pode ser vista como uma s´ erie∗ e nunca como um n´ umero. A igualdade (4.18) nos diz que a soma desta s´erie ´e 1 na m´etrica usual; similarmente, a igualdade (4.19) nos diz que a soma desta mesma s´erie ´e 0 na m´etrica quˆantica. Donde se conclui que o prof. comete o equ´ıvoco de confundir a s´erie com seu limite.
Se 1 6= 0, ent˜ ao 0, 999 . . . n˜ ao ´ e um n´ umero
Ficou provado que 0, 999 . . . n˜ ao ´e um n´ umero, entretanto tentaremos conseguir cavar uma contradi¸c˜ao caso insistamos neste equ´ıvoco (tomar a s´erie por um n´ umero). Inicialmente observe que em nosso universo [ 0, 1 [ n˜ ao est˜ ao definidas opera¸c˜oes aritm´eticas − adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao −, raz˜ ao por que n˜ ao podemos sair operando a esmo. Entretanto, observando que se 0 ≤ x < 1 e 0 ≤ y < 1 ent˜ao 0 ≤ x · y < 1 significa que a opera¸c˜ao de multiplica¸c˜ ao (usual): · : [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ −→ [ 0, 1 [ em nosso universo ´e uma opera¸c˜ao perfeitamente l´ıcita. Vamos agora estabelecer mais um limite que ser´ au ´til em nossos argumentos. Consideremos a seguinte sequˆencia de somas parciais 0, 1; 0, 11; 0, 111; . . . , βn , . . . a express˜ ao de βn ´e dada por, βn = 19 · 1 − 101n .
∗ Ou uma representa¸c˜ ao decimal, j´ a que podemos identificar (fazer corresponder) uma s´erie com uma representa¸c˜ ao decimal.
170
Esta sequˆencia converge para 1/9, tanto na m´etrica usual quanto na quˆantica. Sendo assim, temos: 0, 111 . . . =
1 1 1 1 + + n + ··· = . 10 100 10 9
(4.20)
O pr´ oximo teorema rompe um paradigma de alguns s´eculos: umero ent˜ ao 1 = 0. Teorema 2 (Gentil/15.08.2008). Se 0, 999 . . . ´e um n´ Prova: De fato, consideremos a igualdade, 0, 999 . . . =
9 9 9 + + + · · · = 0, 10 100 10n
demonstrada anteriormente; sendo 0, 999 . . . por hip´ otese um n´ umero, esta igualdade nos diz que este n´ umero ´e igual a zero, vamos multiplic´ a-lo por 1/9, obtendo: 1 1 1 0, 111 . . . = + + n + · · · = 0. 10 100 10 Lembramos que esta igualdade (em fun¸c˜ao da hip´ otese) d´ a-se no universo [ 0, 1 [. Deste resultado e da equa¸c˜ao (4.20) concluimos que, 19 = 0, donde 1 = 0. Conclus˜ao: O teorema acima mostra que ´e grave (grav´ıssimo∗ ) identificar uma s´erie com seu limite.
Conclus˜ ao: Toda a celeuma que girou, at´e hoje, em torno da igualdade 0, 999 . . . = 1 se deve apenas ao equ´ıvoco de se confundir uma s´erie com seu limite. Mesmo porque − como j´a vimos − a s´erie em quest˜ao pode ter mais que um limite. Por conta desta confus˜ ao os terr´ aqueos, at´e hoje (melhor dizendo, at´e ontem), n˜ ao compreenderam o verdadeiro significado de 0, 999 . . . = 1. Acreditavam que, por ser 0, 999 . . . um n´ umero real, deveria situar-se em algum ponto da reta real. O s´ımbolo 0, 999 . . . n˜ ao pode ser localizado em parte † alguma da reta. Insistindo mais um pouco: na p. 61 da obra j´a citada − autor afirma:
(rodap´ e p. 167)
−o
(grifo nosso)
“A igualdade 1 = 0, 999 . . . costuma causar perplexidade aos menos experientes. A u ´nica maneira de dirimir o aparente paradoxo ´e esclarecer que o s´ımbolo 0, 999 . . . na realidade significa o n´ umero cujos valores aproximados s˜ ao 0, 9, 0, 99, 0, 999 etc. E, como vimos acima, esse n´ umero ´e 1.” Quando os pr´ oprios autores misturam os conceitos n˜ ao ´e de admirar que os menos experientes fiquem perplexos (desorientados, confusos). ∗
T˜ ao grave quanto dizer que 1 = 0. E com raz˜ ao pois ˆele encontra-se em um outro conjunto, das representa¸c˜ oes decimais ou das s´eries. †
171
Estribados no teorema 2 damos a seguinte vers˜ ao (par´ afrase) da assertiva anterior : “A igualdade 1 = 0, 999 . . . costuma causar perplexidade aos menos experientes. A u ´nica maneira de dirimir o aparente paradoxo ´e esclarecer que o s´ımbolo 0, 999 . . . na realidade significa uma s´erie cujas reduzidas s˜ ao 0, 9, 0, 99, 0, 999 etc., e cuja soma ´e 1.” A prop´osito, podemos mostrar que a aplica¸c˜ao (Exerc´ıcio) k : [ 0, 1/2 [ × [ 0, 1/2 [ −→ R dada por
k(x, y) = min |x − y|, 1/2 − |x − y| ´e uma m´etrica; portanto o par [ 0, 1/2 [, k ´e um espa¸co m´etrico. Neste espa¸co n˜ ao ´e dif´ıcil provar a seguinte igualdade: 0, 4999 . . . = 0 • Podemos ainda mostrar que, que a aplica¸c˜ao k : [ 0, 1/3 [ × [ 0, 1/3 [ −→ R dada por
k(x, y) = min |x − y|, 1/3 − |x − y| ´e uma m´etrica; portanto o par [ 0, 1/3 [, k ´e um espa¸co m´etrico. Neste espa¸co n˜ ao ´e dif´ıcil provar a seguinte igualdade: 0, 333 . . . = 0.
A igualdade 0, 999 . . . = 0 e a teoria da gravita¸c˜ ao de Einstein Os que gozam de uma acuidade visual razo´ avel n˜ ao ter˜ ao dificuldade de enxergar que o paradigma quebrado pelo teorema 2 de certa forma ´e similar ao paradigma quebrado pela teoria da gravita¸c˜ ao de Einstein relativamente a de Newton. De fato, na teoria de Newton, ` por exemplo, sempre se acreditou que a luz se propagava em linha reta (n˜ ao fazia curva) por conta de que esta teoria era fundamentada na geometria euclidiana; j´a a de Einstein em uma “geometria curva”: a massa introduz uma curvatura (distor¸c˜ao) no espa¸co circunjacente. De igual modo, sempre se acreditou que 0, 999 . . . = 1 por conta de que esta igualdade esteve sempre atrelada `a geometria, digo, m´etrica euclidiana (esta n˜ ao curva o espa¸co); quando introduzimos uma m´etrica que curva o espa¸co, como ´e o caso da m´etrica k, a´ı se revelou a verdadeira natureza de 0, 999 . . ., curva-se tal como um raio de luz em uma nova geometria! 172
Conclus˜ao: A miopia (catarata) que grassou durante todos estes s´eculos a respeito da igualdade 0, 999 . . . = 1 foi decorrˆencia de se ter acreditado que 0, 999 . . . era independente da “geometria” (m´etrica) considerada; a igualdade 0, 999 . . . = 0 desfaz este equ´ıvoco. A figura a seguir nos mostra, de uma outra perspectiva, como a convergˆencia da representa¸c˜ ao 0, 999 . . . depende da geometria do espa¸co, d(x, 0) 1
r
q
↑ 1 2
q r
↓
x 1 αn = 0,999...9 →
q
1 2
0
↑
A prop´osito, na internet encontrei a seguinte “prova” de que 0, 999 . . . = 1: “Tente escrever um n´ umero x tal que 0, 999 . . . < x < 1, ver´ a que ´e imposs´ıvel. Dado que n˜ ao existe um tal x em R ent˜ao 0, 999 . . . = 1.” • No meu entendimento esta ´e uma “prova” por demais ingˆenua. De fato, nunca poderemos exibir um tal x simplesmente porque 0, 999 . . . n˜ ao ´e um n´ umero, isto ´e, n˜ ao encontra-se na reta real. Para vermos a ingenuidade desta prova de um outro ˆangulo (uma analogia), consideremos que a sequˆencia (pn ) de pol´ıgonos na figura a seguir,
p3
p4
p5 . . .
. . . p11
... →
... →
converge para o c´ırculo σ, isto ´e, lim pn = σ. Observe a analogia: n→∞
0, 9 ; 0, 99 ; 0, 999 ; 0, 9999 ; . . . ; αn ; · · · → 1 onde, αn = 0, 999 . . . 9 = 1 −
1 10n .
Temos,
lim αn = 1
n→∞
Escrever este resultado da seguinte forma, α∞ = 0, 999 . . . = 1 ´ como se para o limite, ´e apenas, e t˜ ao somente, uma nota¸c˜ao. E lim pn = σ
n→∞
escrevessemos: p∞ = σ. 173
σ
´ t˜ E ao ingˆenuo pretender que um pol´ıgono de infinitos lados seja igual a um c´ırculo quanto pretender que uma decimal com infinitas casas, no caso 0, 999 . . ., seja um n´ umero (= 1). Deveras, s˜ ao objetos de naturezas distintas. Ent˜ ao, voltando ` a “prova” anterior, isto ´e, sobre a impossibilidade de se encontrar um n´ umero x tal que 0, 999 . . . < x < 1; ´e a mesma coisa que se pretender provar que um pol´ıgono de infinitos lados ´e um dado c´ırculo, pela impossibilidade de se encontrar um outro c´ırculo x entre ambos, assim: p∞ < x < σ atica Universit´ aria, uma No dia 20.10.2008, enviei `a Revista Matem´ vers˜ ao compacta (13 p.) e “politicamente correta” deste trabalho, sob o t´ıtulo “Se 1 6= 0 ent˜ ao 0, 999 . . . n˜ ao ´e um n´ umero”, para poss´ıvel publica¸c˜ao. Algum tempo depois recebi o seguinte email:
Gentil Lopes
Matem´ atica Universit´ aria 1 mensagem
Eduardo Colli 5 de dezembro de 2008 12:23 Para: [email protected] Prezado Gentil, mais uma vez agradecemos o interesse em publicar na Matem´atica Universit´ aria. Em raz˜ ao da firme convic¸c˜ao do Corpo Editorial de que 0, 999 . . . ´e igual a 1 no corpo dos reais, e de que 0 ´e igual 1 no quociente de R por Z mas n˜ ao no corpo dos reais, lamentamos comunicar-lhe que seu artigo “Se 1 < > 0 ent˜ao 0.999 . . . n˜ ao ´e um n´ umero” n˜ ao ser´ a publicado na revista. Quanto ao seu outro artigo, “Tra¸cados 3 − D. Um aux´ılio para o tra¸cado de figuras no LaTeX”, os editores o examinaram e julgaram que n˜ ao se enquadra no perfil da revista. Atenciosamente, Eduardo Colli Editor-chefe da Matem´atica Universit´ aria
174
Acredito que o corpo editorial n˜ ao teve perspic´acia suficiente para compreender meu artigo. Pr´a come¸car n˜ ao estou afirmando que 0, 999 . . . n˜ ao ´e igual a 1 “no corpo dos reais”, por sinal estabelecemos isto na equa¸c˜ao (4.16) (p. 169), o que estamos defendendo ´e que 0, 999 . . . pode ser tamb´em igual a 0, e daqui resulta uma nova perspectiva, uma nova ´otica, relativamente ` a interpreta¸c˜ ao de tais igualdades. Por exemplo, os matem´ aticos − falo aqui de matem´ aticos profissionais∗ − confundem uma representa¸c˜ao decimal (bin´ aria, etc.) de um n´ umero com o pr´ oprio n´ umero − ´e nisto que n˜ ao estamos de acordo. ´ como se, na inform´ E atica, os engenheiros confundissem a codifica¸c˜ao de um caracter com o pr´ oprio caracter, por exemplo, segundo a j´a citada tabela ASCII, temos (p. 34) A = 01000001 N˜ao obstante essa igualdade, uma coisa ´e o caracter e outra, bem distinta, ´e sua representa¸c˜ ao (codifica¸c˜ ao). De modo perfeitamente similar d´ ar-se com respeito ` as igualdades 0, 999 . . . = 1 0, 999 . . . = 0 No universo euclidiano (m´etrica usual) 0, 999 . . . ´e uma representa¸c˜ao (codifica¸c˜ ao) para o n´ umero 1; j´a no universo quˆantico 0, 999 . . . ´e uma codifica¸c˜ ao, desta vez, para 0 − mesmo porque 1 n˜ ao existe neste universo, digo em [ 0, 1 [. ∗ ∗ ∗ Ocorreu-me mais um argumento contra a “igualdade mesmo!” entre representa¸c˜ oes e n´ umeros reais. Pergunto: como definir igualdade entre representa¸c˜oes? ? b , b b ···b ··· a0 , a1 a2 · · · an · · · = n 0 1 2 Para definir esta igualdade vou me inspirar (copiar) a defini¸c˜ao de igualdade entre sequˆencias (na verdade uma representa¸c˜ao ´e uma sequˆencia), qual seja: a1 a2 · · · an · · · = b1 b2 · · · bn · · · ⇐⇒ ai = bi , ∀ i ∈ N De igual modo, entre duas representa¸c˜oes definimos: a0 , a1 a2 · · · an · · · = b0 , b1 b2 · · · bn · · · ⇐⇒ ai = bi , ∀ i ∈ N ∪ { 0 } (4.21) ∗
Como o Prof. Elon e o Corpo editorial da RMU.
175
Acho esta defini¸c˜ ao bastante razo´ avel e, se algum matem´ atico se op˜ oe ` mesma, gostaria que me argumentasse suas raz˜ a oes. Pois bem, vamos considerar as duas representa¸c˜oes seguintes: 1, 0 0 0 · · ·
0, 9 9 9 · · ·
Podemos escrever: 1, 0 0 0 · · · = 1 +
0 0 0 + 2 + 3 + ··· = 1 10 10 10
(4.22)
Tamb´em, 0, 9 9 9 · · · =
9 9 9 + 2 + 3 + ··· = 1 10 10 10
(4.23)
Ora, se, 1, 0 0 0 · · · = 1 (mesmo!)
(4.24)
0, 9 9 9 · · · = 1 (mesmo!)
(4.25)
e, e, usando o axioma de que duas quantidades iguais a uma terceira s˜ ao iguais entre si, obtemos, 1, 0 0 0 · · · = 0, 9 9 9 · · ·
(mesmo!)
Tendo em conta nossa defini¸c˜ao em (4.21) concluimos que, 1 = 0 e 0 = 9 (mesmo!) Conclus˜ ao: Os matem´ aticos diriam que fui insensato em estabelecer a defini¸c˜ao (4.21). Da minha perspectiva; digo, para tentar me livrar da pecha de insensato, vejo as coisas da seguinte forma: primeiro, mantenho a defini¸c˜ao (4.21), n˜ ao vejo nenhuma estult´ıcie na mesma. Depois interpreto as (segundas) igualdades em (4.22) e (4.23) como a convergˆencia de duas s´eries para um mesmo limite. Do exposto n˜ ao posso concluir (como o fazem os matem´ aticos) que as igualdades (4.24) e (4.25) s˜ ao absolutas! digo, que 0, 9 9 9 · · · e 1 representam o mesmo n´ umero! N˜ao, n˜ ao trata-se disto senhores matem´ aticos, por favor parem um pouco pr´ a raciocinar! Reitero: podemos adotar a defini¸c˜ao (4.21), entre representa¸c˜oes, sem nenhum sentimento de culpa, da´ı que 0, 9 9 9 · · · e 1, 0 0 0 · · · s˜ ao duas representa¸c˜ oes distintas, bem como as respectivas s´eries em (4.22) e (4.23); agora o que estas s´eries tˆem em comum ´e o mesmo limite: 1. Adendo: A cita¸c˜ ao a seguir encontrei, por acaso, no livro “O que ´e matem´ atica? ”, de Richard Courant/Herbet Robbins da Editora Ciˆencia Moderna Ltda. (p. 76) 176
Vamos dividir o intervalo unit´ ario em duas metades, a segunda metade novamente em duas partes iguais, a segunda metade destas em duas outras partes iguais, e assim por diante, at´e que os menores intervalos assim obtidos tenham um comprimento de 2−n , onde n ´e escolhido arbitrariamente grande [. . .]. Ent˜ ao, adicionando os comprimentos de todos os intervalos exceto o u ´ltimo, obtemos um comprimento total igual a (3)
sn =
1 1 1 1 1 + + + + ··· + n. 2 4 8 16 2
Observamos que sn difere de 1 por ( 12 )n , e que esta diferen¸ca torna-se arbitrariamente pequena, ou “tende a zero” `a medida que n aumenta indefinidamente. N˜ao faz qualquer sentido afirmar que a diferen¸ca ´e zero se n for infinito. O infinito entra somente no procedimento sem fim e n˜ ao como uma quantidade efetiva. Descrevemos o comportamento de sn dizendo que a soma sn aproxima-se do limite 1 ` a medida que n tende para o infinito, escrevendo 1 1 1 1 (4) 1 = + 2 + 3 + 4 + ..., 2 2 2 2 onde temos, ` a direita uma s´erie infinita. Esta “igualdade” n˜ ao significa que tenhamos efetivamente de adicionar infinitos termos; trata-se apenas de uma express˜ ao abreviada para o fato de que 1 ´e o limite da soma finita sn `a medida que n tende para o infinito (de forma alguma ´e infinito). Assim, a igualdade (4) com seu s´ımbolo incompleto “+ . . .” ´e meramente uma estenografia matem´ atica para a afirma¸c˜ao precisa 1 =limite ` a medida que n tende para o infinito da quantidade (5)
sn =
1 1 1 1 1 + + + + ··· + n 2 4 8 16 2
Eu deveria logo dizer que discordo completamente daqueles que afirmam que o campo da matem´ atica incorpora eternamente uma perfei¸ca ˜o est´ atica, e que as ideias matem´ aticas n˜ ao s˜ ao humanas, nem mut´ aveis. Ao contr´ ario, esses estudos de caso, essas hist´ orias intelectuais ilustram o fato de que a matem´ atica est´ a constantemente em evolu¸ca ˜o e mudan¸ca, oes de matem´ atica b´ asica e mais e que nossa perspectiva, mesmo nas quest˜ aprofundada, se desloca, ami´ ude, de maneira surpreendente e inesperada. Tudo o que ela necessita ´e de uma nova ideia! Vocˆe precisa apenas estar inspirado e depois trabalhar feito louco para desenvolver sua nova concep¸ca ˜o. De in´ıcio, as pessoas ir˜ ao combatˆe-lo, mas, se vocˆe estiver certo, ent˜ ao todos dir˜ ao, no fim de contas, que obviamente era o modo de encarar o problema, e que sua contribui¸ca ˜o foi pequena ou nula! De certa maneira, este ´e o maior dos cumprimentos. (Gregory Chaitin/Metamat!/p. 30-Grifo nosso)
177
4.6
Exerc´ıcios
1) Num espa¸co m´etrico (M, d) uma sequˆencia estacion´ aria (xn ) ´e aquela que se repete a partir de um certo ´ındice r, assim: (xn ) = (x1 , . . . , xr , a, a, a, . . .) Mostre que tais sequˆencias s˜ ao convergentes. 2) Seja (x1 , x2 , x3 , . . .) uma sequˆencia em (M, d). Se (x1 , x3 , x3 , . . .) −→ a e (x2 , x4 , x6 , . . .) −→ a, mostre que (x1 , x2 , x3 , . . .) −→ a.
3) Consideremos a sequˆencia (xn ) de pontos do R2 dada por 1 (−1)n xn = 1 + , n n
Mostre que esta sequˆencia ´e convergente − nas trˆes m´etricas do R2 . Para um raio ε = 13 encontre, para cada uma das bolas, o menor ´ındice n0 a partir do qual todos os termos da sequˆencia caem dentro da respectiva bola. 4) Consideremos a sequˆencia (xn ) de pontos do R2 dada por (−1)n xn = (−1)n , n discuta a convergˆencia de (xn ).
5) Mostre, utilizando a prop. 9 (p. 143), que a sequˆencia (xn ) = (1, 12 , 31 , . . .) n˜ ao ´e convergente no espa¸co (R, δ). 6) O C´ alculo, ou a An´alise, nos dizem que 1 1 = lim 1 − lim lim 1 − =1 − 0=1 n→∞ n→∞ n n→∞ n 1 Aqui (p. 145), provamos que lim 1 − = 0. Explique esse “paradoxo”. n→∞ n
7) Mostre que toda sequˆencia (xn) (0 ≤ xn < 1) que converge para o ponto p (0 ≤ p < 1) no espa¸co [ 0, 1 ], µ , converge para o mesmo ponto no espa¸co [ 0, 1 [, k . Mostre que existem sequˆencias que convergem em [ 0, 1 [ mas que n˜ ao convergem em [ 0, 1 ]. Sugest˜ ao: Mostre que a bola de centro p (0 ≤ p < 1) e raio r > 0 na m´etrica usual est´ a contida nesta mesma bola na m´etrica quˆantica . . . 8) Considere a sequˆencia de fun¸c˜oes em C[0, 1 ] dada por xn (t) = n1 , estude sua convergˆencia nos espa¸cos C[ 0, 1 ], Γ , C[ 0, 1 ], Υ . Interprete geometricamente seus argumentos.
178
9) Considere o conjunto B([ 0, 1 ], R) das fun¸c˜oes reais limitadas de dom´ınio [ 0, 1 ] e neste a sequˆencia (xn ) dada por xn (t) = tn . Em An´alise aprendemos que esta sequˆencia de fun¸c˜oes cont´ınuas converge simplesmente, ou pontualmente, para a fun¸c˜ ao descont´ınua x : [ 0, 1 ] −→ R dada por ( 0, se 0 ≤ t < 1; x(t) = 1, se t = 1. Mostre que esta convergˆencia n˜ ao se verifica no espa¸co B([ 0, 1 ], R), Ψ . xn (t)
x(t) Ψ /
1
s
1
q
q
x1 0
.x. 4 . q1
t
0
1
t
10) Prove a proposi¸c˜ ao 11 (p. 154) utilizando a t´ecnica (T − 3) (p. 571). Sugest˜ ao: Suponha, ao contr´ ario, que lim xn = p e lim xn = q com p 6= q. n
n
11) Para a sequˆencia (xn ) vista no exemplo 6 (p. 147), encontre uma bola de centro na origem contendo todos os seus termos. (prop. 17, p. 161) 2 2 − nos espa¸cos R , k · kD e R , k · kD . 2 3 12) Prove a proposi¸c˜ ao 14 (p. 157) nos espa¸cos M, D1 e M, D2 . 13) Mostre que a aplica¸c˜ ao k : [ 0, 1/2 [ × [ 0, 1/2 [ −→ R, dada por k(x, y) = min |x − y|, 1/2 − |x − y|
´e uma m´etrica sobre [ 0, 1/2 [. Ademais, prove que: 0, 4999 . . . = 0. √ 14) Considere a sequˆencia num´ erica dada por an = n a, onde a > 0 ´e um √ n´ umero real. Prove que lim n a = 1. n→∞ √ √ √ √ n A sequˆencia a seguir: 2 a , 4 a , 8 a , . . . , 2 a , . . ., ´e uma subsequˆencia √ da sequˆencia ( n a ), portanto converge para 1. Uma consequˆencia deste resultado ´e que se vocˆe coloca qualquer n´ umero real (positivo) em sua calculadora e vai apertando sucessivamente a tecla da √ a o n´ umero 1 no visor. raiz quadrada ( ) no final vocˆe sempre obter´
179
A Contenda A corrida que descreveremos a seguir deu-se ainda no tempo de Zen˜ ao (s´eculo V a.C.). Pois bem, a disputa acontecer´ a na arena [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ com quatro contendores: Aquiles (A), a tartaruga (T ), a lesma (L) e o bichopregui¸ca (P ). Os advers´ arios dever˜ ao posicionar-se inicialmente nos quatro pontos assinalados no quadrado abaixo: (1, 1)
1 3 4
q
1 2
q
1 4
q ↑
O=(0, 0)
r
r
C
r r
q1
q1
q3
4
2
4
1
O objetivo da disputa ser´ a atingir o v´ertice O (inferior esquerdo), sendo que os participantes s´ o poder˜ ao deslocar-se sobre as diagonais do quadrado. Aquiles, por ser o mais inteligente dos animais, at´e “racional” ˆele se considera, “manipula” (mancomunado com o ´arbitro) o sorteio das posi¸c˜oes iniciais de modo que ir´ a posicionar-se no centro do quadrado. De formas que, para os animais “irracionais”, a escolha torna-se agora irrelevante; portanto a configura¸c˜ao inicial da disputa fica assim: (1, 1)
1 3 4
q
1 2
q
1 4
q ↑
O=(0, 0)
rL
r
A
rT rP
q1
q1
q3
4
2
4
1
Os trˆes animais irracionais desenvolver˜ ao a mesma velocidade V e Aquiles, num acordo de cavalheiros, decide desenvolver uma velocidade que ´e apenas o dobro de V . Vamos resumir as condi¸c˜oes do pleito: 180
1o ) Os advers´ arios s´ o poder˜ ao deslocar-se sobre as diagonais do quadrado; o 2 ) Dever˜ ao chegar no v´ertice O (inferior esquerdo do quadrado); 3o ) Aquiles, que encontra-se posicionado no centro do quadrado, desenvolver´ a “apenas” o dobro da velocidade de seus advers´ arios. Pedimos ao leitor que reflita sobre as circunstˆancias (condi¸c˜oes) estabelecidas no pleito, e nos diga se “humanamente falando”, digo, racionalmente (logicamente) falando existe a menor chance de que algum dos “animais irracionais” ven¸ca Aquiles. O deslocamento de Aquiles se dar´ a da seguinte forma: num primeiro est´ agio (“passo”) de seu movimento percorrer´a a metade da distˆ ancia C O (Centro-Origem). No segundo est´ agio, percorre a metade do que resta, e assim sucessivamente. Pois bem, ´e dada a largada!!! O que, estarrecidos, embasbacados!, observamos?, veja: rr
1 3 4
q
1 2
q
1 4
q
O
r
r
r
L
r r
r
A
rT rP
q1
q1
q3
4
2
4
r
r
rr
(1, 1)
rr
1
−Precisava ser t˜ao irracional? Pasmem! a tartaruga est´ a seguindo no sentido do v´ertice (1, 1), a pregui¸ca no sentido do v´ertice (1, 0) e a lesma no sentido do v´ertice (0, 1). Que pena . . . os coitados devem ter ficado atordoados com o tiro de largada. S´ o pode ser isto! Bem, de qualquer forma precisamos preencher a s´ umula do resultado final: Aquiles em 1o lugar!?; quanto aos assim chamados irracionais temos duas alternativas, ou os desclassificamos de imediato, ou os classificamos de acordo com suas distˆ ancias finais para a meta, assim: Animal Aquiles Pregui. Lesma Tartar.
Classif.
Animal Aquiles Pregui. Lesma Tartar.
1o Desclas. Desclas. Desclas.
181
Classif.
D.O.
1o 2o 2o 3o
0 1 1
√
2
. . . 26 s´ eculos depois/A Justi¸ca tarda mas n˜ ao falha! Os animais (ditos) irracionais protestaram contra o resultado anterior alegando que disputaram a corrida pela m´etrica quˆantica∗ e que esta injusti¸ca seria prontamente reparada em s´eculos posteriores (profetizaram at´e o dia da repara¸c˜ ao: 14.03.2006). J´ a sab´ıamos que as abelhas tˆem conhecimento de matem´ atica universit´ aria (C´ alculo, no m´ınimo), uma vez que conseguem construir seus alv´eolos de modo a armazenarem a maior quantidade de mel, com o m´ınimo gasto de material. Agora que lesma, tartaruga e bicho-pregui¸ca entendam de topologia . . . ah! essa n˜ ao sab´ıamos, pagamos pr´ a ver!. Bem, j´a que as abelhas conhecem de C´ alculo I, n˜ ao nos custa nada averiguar se lesma conhece de topologia. Apelando para a m´etrica quˆantica, vejamos o que podemos fazer. Dados os crit´erios estabelecidos no pleito, podemos nos valer das seguintes sequˆencias, para descrever o deslocamento dos quatro contendores: 1
ln =
1 1 , 1− n+1 2n+1 2
an =
1 , 1 2n 2n
→
→
3 4
q
1 2
q
1 4
q
meta →
O
rr
r
r
L
r
r r
r
A
rT rP
q1
q1
q3
4
2
4
r
r
rr
rr
(1, 1)
← tn = 1−
1 1 , 1− n+1 2n+1 2
← pn = 1−
1 , 1 2n+1 2n+1
1
Ou ainda, fa¸camos a seguinte identifica¸c˜ao: A = { an : n ∈ N } = e T = { tn : n ∈ N } =
n
1−
o n 1 1 , : n ∈ N 2n 2n
o 1 , 1 − : n ∈ N , etc. 2n+1 2n+1 1
Considere as duas seguintes defini¸c˜oes:
Defini¸ c˜ ao 19 (Atingir a meta). Diremos que um contendor atinge a meta quando sua distˆ ancia (“final”) para a meta ´e nula. ∗
Que n˜ ao era do conhecimento dos matem´ aticos da ´epoca. An passant, apenas em 1906 foi que o matem´ atico Maurice Fr´echet, em sua tese de doutoramento, sugeriu uma defini¸c˜ ao geral e abstrata do conceito de distˆ ancia, sendo este o ponto de partida da teoria dos espa¸cos m´etricos.
182
Defini¸ c˜ ao 20 (Vencer). Numa porfia entre dois contendores A e B diremos que B vence A se B atinge a meta e se existe um instante de tempo a partir do qual B estar´ a sempre ` a frente de A. Pois bem, voltemos aos exerc´ıcios: 15) Mostre que, pela “r´egua quˆantica”, a tartaruga atinge a meta. Ou ainda, mostre que: d(O, T ) = inf d( O, x) : x ∈ T = inf D1 (O, tn ) : tn ∈ T = 0
16) Mostre que todos os animais atingem a meta − por qualquer uma das m´etricas Di (i = 1, 2, 3). (p. 97)
17) Se todos os animais atingem a meta, quem vence a corrida? O referencial comum para saber quem est´ a` a frente de quem, ´e o centro do quadrado; mostre que a tartaruga − e os outros animais − vence Aquiles; mais precisamente mostre que: D1 (tn , C) > D1 (an , C); ∀ n ∈ N. Isto ´e, a tartaruga sempre esteve `a frente de Aquiles∗ , por conseguinte ´e declarada vencedora!! Ufa! ap´ os tanto tempo, finalmente podemos fazer justi¸ca. A nova s´ umula fica assim: Animal Tartar. Pregui. Lesma Aquiles
Classif.
1o Desclas.
Nota: Decidimos desclassificar o Aquiles porque ele roubou por ocasi˜ ao do sorteio das posi¸c˜ oes iniciais. ∗
∗
∗ Uma teoria cient´ıfica n˜ ao ´ e mais do que
um modelo do universo, ou de uma parte restrita deste, e um conjunto de regras que relacionam quantidades do modelo com as observa¸co ˜es que praticamos. Existe apenas na nossa mente e n˜ ao tem nenhuma outra realidade, seja o que for que signifique. ∗
E n´ os nem desconfi´ avamos disto!
183
(Stephen Hawking)
Caso unidimensional Para observarmos o pleito (paradoxo) apenas entre Aquiles e a tartaruga, basta fazer a proje¸c˜ao (“no eixo x”) do caso bidimensional. Ao ser dado o tiro de largada Aquiles age como qualquer “racional” agiria, e segue em demanda de sua meta; a tartaruga (agora uma ex´ımia e respeitada topologista), para estupefa¸c˜ao da plat´eia segue em sentido contr´ ario! . . . o ´ arbitro da contenda queda-se embasbacado!!! A m´ etrica quˆ antica e a ´ etica Pois bem, qual a distˆ ancia que Aquiles acreditava est´ a usurpando de seu advers´ ario? Observe: •
≀
∼
0,1
0,2
0,3
0,4
1 2
0,5
1
4
0,4
0,3
0,2
0,1
1 INMETRO
0
q
······ · ···· q3
y y
q
0
1 4
Ele acredita (pela “l´ ogica humana”) est´ a usurpando da pobre tartaruga ancia em que ele se encontra `a uma distˆ ancia igual a 41 = 0, 25 (que ´e a distˆ frente do quelˆonio). Ora, perceba o caro leitor que ´e precisamente esta mesma distˆ ancia que ele est´ a, ` a revelia, concedendo `a tartaruga. Ademais, lembre-se de que a m´etrica quˆantica “transfere” a origem “0” para o outro v´ertice do intervalo. De uma outra perspectiva: Observe que na configura¸c˜ao inicial do pleito a distˆ ancia de Aquiles para a meta, em qualquer das m´etricas ´e 0, 5; enquanto que a distˆ ancia da tartaruga para a meta, na m´etrica quˆantica, ´e de apenas 0, 25. ∗ ∗ ∗ Naquela ´epoca [s´eculo XVIII], qualquer sistema geom´etrico que n˜ ao estivesse em absoluta concordˆ ancia com o de Euclides teria sido considerado um absurdo. Kant, o mais influente fil´ osofo do per´ıodo, formulou esta atitude na afirma¸ca ˜o de que os axiomas de Euclides s˜ ao inerentes a mente humana e, portanto, tˆem uma validade objetiva para o espa¸co ` “ real”. Esta cren¸ca nos axiomas da Geometria Euclidiana como verdades inalteradas, existindo no dom´ınio da pura intui¸ca ˜o, era um dos dogmas b´ asicos da filosofia de Kant. (Richard Courant/O que ´ e Matem´ atica? (p. 267))
184
Cap´ıtulo
5
A TOPOLOGIA DOS ESPAC ¸ OS ´ METRICOS A matem´ atica ´ e um campo demasiadamente ´ arduo e in´ ospito para agradar ` aqueles a quem n˜ ao oferece grandes recompensas. Recompensas que s˜ ao da mesma ´ındole que as do artista. . . . Acrescenta ainda que ´ e no ato de criar que o matem´ atico encontra sua culminˆ ancia e que “nenhuma quantidade de trabalho ou corre¸ca ˜o t´ ecnica pode substituir este momento de cria¸ca ˜o na vida de um matem´ atico, poeta ou m´ usico”.
(Norbert Wiener)
Introdu¸ c˜ ao Lembramos que um espa¸co m´etrico pode ser visto como um sistema de processamento de informa¸c˜ oes, onde temos: (M, d) software hardware
O conjunto de instru¸co ˜es (software) ´e passado atrav´es da m´etrica. Por exemplo, uma das instru¸c˜ oes (programa) que j´a vimos ´e como calcular uma bola aberta no sistema (M, d). Lembramos − dentro de nossa analogia − que um mesmo hardware ( M ) pode suportar softwares diversos. Uma instru¸c˜ ao que incorporaremos agora em nosso sistema ´e como decidir se um ponto ´e ou n˜ ao interior a um conjunto. 185
5.1
Ponto interior
Defini¸ c˜ ao 21 (Ponto Interior). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Considere X ⊂ M . Um ponto p ∈ X ´e chamado ponto interior de X se ∃ r > 0 : B(p; r) ⊂ X De outro modo: um ponto p ∈ X ´e ponto interior de X se for poss´ıvel “centrar” neste ponto uma bola aberta que esteja contida em X. Nota: Para provar que um ponto p ∈ X n˜ ao ´e ponto interior de X devemos mostrar que para todo r > 0, arbitrariamente fixado, B(p; r) 6⊂ X. Isto ´e: ∀ r > 0, devemos exibir x ∈ B(p; r) tal que x 6∈ X. Em geral este x, que devemos exibir, depende − ´e fun¸c˜ao − do raio r dado, da´ı em algumas situa¸c˜oes usarmos a nota¸c˜ao x = xr . Importante! Vamos chamar a aten¸c˜ao do leitor para um aspecto, embora trivial, importante: Na defini¸ca˜o de ponto interior interv´em, de forma expl´ıcita, a bola aberta B(p; r) = { x ∈ M : d(p, x) < r }. E esta, como se vˆe, depende tanto da m´etrica d quanto do conjunto M . Portanto o fato de um ponto p ser interior, ou n˜ ao, a um subconjunto X ⊂ M vai depender essencialmente da m´etrica d e do conjunto M , como n˜ ao poderia deixar de ser. Ou ainda: um mesmo hardware ( M ) pode nos responder de modo distinto a depender do software ( d ). Esta observa¸c˜ ao se estende a outros tipos de pontos que ser˜ ao vistos neste cap´ıtulo. Para ilustrar do que estamos falando vejamos um exemplo. Consideremos M = R e X = [ 0, 1 ]. Temos que 0 ´e ponto interior de X na m´etrica δ, o que n˜ ao acontece na m´etrica µ. De fato, Bδ (0; 1) = { 0 } ⊂ X
e
Bµ (0; r) =] − r, r [ 6⊂ X,
∀r > 0
Exemplos: 1) Seja M = {a, b, c, . . . , x, y, z} e seja X = {a, e, i, o, u}. No espa¸co (M, δ) todo ponto p ∈ X ´e ponto interior de X. Por exemplo, seja a ∈ X e r = 1, ent˜ ao Bδ (a; 1) = { a } ⊂ X Generalizando este exemplo, temos
2) Seja M um conjunto qualquer e X ⊂ M . No espa¸co (M, δ) todo ponto p ∈ X ´e ponto interior de X. De fato, j´a vimos que (p. 108) p , se 0 < r ≤ 1; Bδ (p; r) = M, se r > 1. 186
Isto significa que para “interiorizar” qualquer ponto p ∈ X, basta escolher r no intervalo 0 < r ≤ 1, pois Bδ (p; r) = { p } ⊂ X. 3) Sejam M = R e X = { 0 } ∪ [ 1, 2 [ ⊂ R. ¬
R
0
s
0
[ 1
[ 2
X
Temos que 0 e 1 s˜ ao pontos interiores de X no espa¸co (R, δ), mas n˜ ao no espa¸co (R, µ). O que faz essa diferen¸ca ´e o “tipo” da bola aberta em cada um destes espa¸cos. ◦
◦
− O conjunto dos pontos interiores de X ser´ a indicado por X ou por X d quando desejarmos destacar a m´etrica. Isto ´e, ◦ X d = p ∈ X : ∃ r > 0, com Bd (p; r) ⊂ X
4) Sejam M = R e X = [ a, b ]. Deixamos como exerc´ıcio mostrar que ◦
Xµ = ] a, b [
e
◦
Xδ = [ a, b ].
5) Sejam M = R e X = {1, 21 , 31 , . . .}, temos que ◦
Xµ = ∅
e
◦
Xδ = X.
De fato, dado qualquer p ∈ X temos Bµ (p; r) = ] p − r, p + r [ . Sendo assim ´e imposs´ıvel exibir r > 0 de modo que Bµ (p; r) = ] p − r, p + r [ ⊂ X uma vez que todo intervalo aberto cont´em n´ umeros irracionais. Por conseguinte nenhum ponto p ∈ X pode ser ponto interior a X no espa¸co (R, µ). ◦ Por outro lado, que Xδ = X decorre do exemplo 2. ´ f´acil ver que 0 ´e ponto 6) Seja M = [ 0, 1 [ e X = [ 0, 41 ] ∪ [ 34 , 1 [. E interior de X no espa¸co ([ 0, 1 [, k) e tamb´em no espa¸co ([ 0, 1 [, µ). ¬1
0
1
2
M X
0
3 4
1 4
◦
1
ao enfatize a dependˆencia do interior Observa¸ca ˜o: Embora a nota¸c˜ ao X d n˜ de X com respeito ao conjunto M , do qual X ´e subconjunto, isto est´ a impl´ıcito em ◦ X d = p ∈ X : ∃ r > 0, com Bd (p; r) ⊂ X precisamente porque, Bd (p; r) = { x ∈ M : d(p, x) < r }. 187
◦
Uma nota¸c˜ ao para enfatizar ambas as dependencias seria X (M, d) . Por exemplo, segundo esta nota¸c˜ao temos ◦
Q(R,µ) = ∅
◦
e
Q(Q,µ) = Q.
A segunda das igualdades acima decorre do fato de que, na defini¸c˜ao de ponto interior, tomando X = M , todo ponto p ∈ X ´e interior a X, uma vez que qualquer que seja r > 0 temos B(p; r) = { x ∈ M : d(x, p) < r } ⊂ X = M Em outras palavras: Todo x ∈ M ´e interior ao “conjunto universo” M . A seguir estaremos enriquecendo nosso sistema de processamento de informa¸c˜ oes com mais uma instru¸c˜ao.
5.2
Conjuntos abertos
Defini¸ c˜ ao 22 (Conjunto Aberto). Seja (M, d ) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Diremos que X ´e um conjunto aberto em (M, d) quando todo ponto de X for ponto interior de X. ◦
Observe que pela defini¸c˜ao de ponto interior temos X ⊂ X; quando a ◦ ◦ inclus˜ao contr´ aria se verificar, isto ´e, quando X ⊂ X , isto ´e, X = X , diremos que X ´e aberto no espa¸co (M, d). Um conjunto deixa de ser aberto quando pelo ao menos um de seus pontos n˜ ao ´e ponto interior. Observa¸c˜ ao: Quando quisermos mostrar que um subconjunto X ⊂ M ´e aberto devemos tomar um ponto x ∈ X arbitr´ario, e mostrar que este ponto ´e ponto interior de X. Isto ´e, devemos exibir r > 0 de modo que B(x; r) ⊂ X. Via de regra, este r que buscamos depende − ´e fun¸c˜ao − do ponto x. Da´ı em algumas situa¸c˜ oes usarmos a nota¸c˜ao r = rx . Exemplos: 1) O conjunto X =] a, +∞ [ ´e aberto no espa¸co (R, µ). De fato, fixado arbitrariamente x ∈ X, temos que x > a, isto ´e x−a > 0. satisfaz Mostremos que rx = x−a 3 Bµ (x; rx ) = ] x − rx , x + rx [ ⊂ ] a, +∞ [ rx a]
] x−rx
s
x
[ x+rx
X
2x+a De fato, seja y ∈ ] x−rx , x+rx [, ent˜ao y > x−rx = x− x−a > a; 3 = 3 portanto, com este raio temos Bµ( x; rx ) ⊂ ] a, +∞ [ ; o que prova que todo ponto x > a ´e ponto interior de X; por conseguinte X ´e aberto.
188
2) Seja M = R2 , o conjunto X = (x, y) ∈ R2 : x > 1 ´e aberto em R2 com qualquer uma das m´etricas Di (i = 1, 2, 3). Provaremos que X ´e aberto na m´etrica D1 e o leitor provar´ a para as duas outras m´etricas. De fato, dado (p, q) ∈ X arbitr´ario, devemos exibir uma bola de centro neste ponto e contida em X. Pois bem, pela defini¸c˜ao de X temos que p > 1; vamos tomar para o raio da bola procurada r = p − 1 > 0 e mostrar que B (p, q); r ⊂ X. R r
0
R
X
1
r(x, y) r(p, q)
r(p, q) R
0
X
R
1 r = p −1
Seja (x, y) ∈ B (p, q); r = p − 1 um ponto qualquer nesta bola e mostremos que (x, y) ∈ X, isto ´e, que x > 1. Ent˜ao (x, y) ∈ B (p, q); r ⇒ D1 (x, y), (p, q) < r p (x − p)2 + (y − q)2 < p − 1 ⇒ p ⇒ |x − p| ≤ (x − p)2 + (y − q)2 < p − 1 ⇒
x > 1.
Sendo assim mostramos que qualquer ponto (p, q) ∈ X ´e ponto interior de X, logo X ´e aberto. 3) Seja M um conjunto qualquer e X ⊂ M . No espa¸co (M, δ) todo ponto p ∈ X ´e ponto interior de X (ex. 2, p. 186). Logo, todo subconjunto X ⊂ M ´e aberto no espa¸co (M, δ). Mais geralmente: Um espa¸co (M, d) ´e discreto se, e somente se, todos os seus subconjuntos s˜ ao abertos. Prova: (=⇒) Se (M, d) ´e discreto e X ⊂ M , ent˜ao X ´e aberto.
Com efeito, dado x ∈ X, x ´e isolado em (M, d). Portanto, existe rx > 0 tal que B(x; rx ) = {x} ⊂ X. Logo, x ´e ponto interior de X, portanto X ´e aberto. 189
(⇐=) Se todo subconjuntos X ⊂ M ´e aberto, ent˜ao (M, d) ´e discreto. De fato, em particular { x } ´e aberto para todo x ∈ M . Portanto existe rx > 0 tal que B(x; rx ) ⊂ { x }. Logo, B(x; rx ) = { x }. Isto implica que todo ponto x de M ´e isolado, isto ´e, (M, d) ´e discreto. 4) O conjunto universo ´e um conjunto aberto: Vimos anteriormente que “todo ponto x ∈ M ´e interior ao conjunto universo M ”. Isto significa que o conjunto universo ´e aberto. 5) O conjunto vazio ´e um conjunto aberto: Para mostrar que um conjunto n˜ ao ´e aberto devemos exibir um ponto deste conjunto que n˜ ao ´e ponto interior. Como isto n˜ ao pode ser feito no caso do conjunto vazio, segue que o mesmo ´e aberto. 6) Uma bola aberta ´e um conjunto aberto: Vimos na propriedade (P2 ) das bolas abertas (p. 126) que “Escolhido um ponto qualquer de uma bola aberta, podemos tornar este ponto, o centro de uma nova bola, contida na primeira”. Isto ´e, todo ponto de uma bola aberta ´e um ponto interior desta bola, por conseguinte uma bola aberta ´e um conjunto aberto; em qualquer espa¸co (M, d). 7) O conjunto { a } ⊂ M ´e aberto no espa¸co (M, d) se, e s´ omente se, a ´e ponto isolado deste espa¸co. Prova: (=⇒) Se { a } ´e aberto ent˜ao existe r > 0 de modo que B(a; r) ⊂ { a }, isto ´e, B(a; r) = { a }. Logo a ´e isolado neste espa¸co.
(⇐=) Se a ´e isolado, ent˜ao existe r > 0 tal que B(a; r) = { a }, isto ´e B(a; r) ⊂ { a }, logo, a ´e ponto interior de { a }. Portanto { a } ´e aberto. 8) Q n˜ ao ´e aberto no espa¸co (R, µ). De fato, nenhum ponto p ∈ Q ´e ponto interior de Q, porquanto ] p − r, p + r [ 6⊂ Q; ∀ r > 0,
uma vez que em todo intervalo aberto encontramos n´ umeros irracionais. 9) Uma observa¸c˜ ao importante ´e a de que um conjunto pode n˜ ao ser aberto em um dado espa¸co m´etrico, mas pode ser em um seu subespa¸co. Este fenˆomeno se deve a que a bola aberta no subespa¸co ´e, via de regra, diferente da bola aberta no espa¸co. Por exemplo, consideremos o espa¸co (R, µ) e o seu subespa¸co (N, µ), onde N = [ 0, 2 ]. O conjunto X = [ 0, 1 [ n˜ ao ´e aberto no espa¸co (R, µ) mas sim no subespa¸co (N, µ). (exerc´ıcio) ¬ 0 0 0
R
[
2 1
] N
X
190
Proposi¸ c˜ ao 22. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M aberto. Seja p ∈ X. Nestas condi¸co ˜es, o conjunto X − { p } ´e aberto.
Prova: Devemos mostrar que dado x ∈ X − { p } arbitr´ario, existe r > 0 de modo que B(x; r) ⊂ X − { p }. Ent˜ ao, seja x ∈ X − { p }, logo x ∈ X e x 6= p. Como, por hip´ otese, X ´e aberto, existe r > 0 tal que B(x; r) ⊂ X. Temos duas possibilidades: (i) p 6∈ B(x; r)
(ii) p ∈ B(x; r)
(i) Ent˜ ao, B(x; r) ⊂ X
(5.1)
p 6∈ B(x; r)
(5.2)
Vamos mostrar que estas duas condi¸c˜oes, conjuntamente, implicam em que B(x; r) ⊂ X − { p }. De fato, seja y ∈ B(x; r) ent˜ ao, por (5.1), y ∈ X e, por (5.2), y 6= p, isto ´e, y 6∈ { p }, logo y ∈ X − { p }. Por conseguinte B(x; r) ⊂ X − { p }. (M, d) r x r
y
r
rp
(M, d)
X
r x r
r
X− {p}
(ii) Vejamos a segunda possibilidade: se p ∈ B(x; r) ⇒ d(x, p) < r e como x 6= p temos d(x, p) > 0, sendo assim podemos tomar 0 < r ′ = d(x, p) < r, logo B(x; r ′ ) ⊂ B(x; r) ⊂ X. Portanto, temos B(x; r ′ ) ⊂ X (M, d) r x r
p 6∈ B(x; r ′ )
(M, d)
X p
r
x
rr′
r
X− {p}
Estas duas condi¸c˜ oes, conjuntamente, implicam B(x; r ′ ) ⊂ X − { p }.
Portanto, x ´e ponto interior de X − { p }; logo X − { p } ´e aberto. 191
Por indu¸c˜ ao: Se X ´e aberto, ent˜ao X − { a1 , a2 , . . . , an } ´e aberto. Ou ainda: Se retirarmos uma quantidade finita de pontos de um conjunto aberto, ele n˜ ao perde esta propriedade. Observe que se acrescentarmos um u ´nico ponto a um conjunto aberto, esta propriedade se perde. Por exemplo X = ] 0, 1 [ ∪ { 1 } n˜ ao ´e aberto em (R, µ). Proposi¸ c˜ ao 23. Seja (M, d ) um espa¸co m´etrico. (i) M e ∅ s˜ ao abertos;
(ii) Se X1 , X2 , . . . , Xn s˜ ao abertos, ent˜ ao
X1 ∩ X2 ∩ · · · ∩ Xn ´e aberto; (iii) Se {Xλ }λ∈L ´e uma fam´ılia arbitr´ aria de abertos, ent˜ ao X=
[
Xλ ´e aberto.
λ∈L
Prova: (i) J´ a foi visto anteriormente. (p. 190) (ii) Seja X = X1 ∩ X2 ∩ · · · ∩ Xn . Se algum dos Xi for vazio, ou se dois quaisquer deles forem disjuntos, ent˜ao X ser´ a vazio e, portanto, pelo ´ıtem anterior, aberto. Caso contr´ ario X 6= ∅. Seja p ∈ X, mostremos que p ´e ponto interior de X. Temos p ∈ X1 , . . . , p ∈ Xn . Como X1 , X2 , . . . , Xn s˜ ao abertos existem n´ umeros positivos r1 , r2 , . . . , rn tais que B(p; r1 ) ⊂ X1 , B(p; r2 ) ⊂ X2 , . . . , B(p; rn ) ⊂ Xn . Tomando r = min {r1 , r2 , . . . , rn } temos pela propriedade (P1 )
(p. 125) :
B(p; r) ⊂ B(p; r1 ), B(p; r) ⊂ B(p; r2 ), . . . , B(p; r) ⊂ B(p; rn ) portanto, pela transitividade da inclus˜ao, temos B(p; r) ⊂ X1 , B(p; r) ⊂ X2 , . . . , B(p; r) ⊂ Xn isto ´e B(p; r) ⊂ X1 ∩ X2 ∩ · · · ∩ Xn = X. portanto p ´e ponto interior de X. Isto ´e, X ´e aberto. (iii) Seja p ∈ X = ∪λ∈L Xλ . Ent˜ao p ∈ Xλ′ para algum λ′ ∈ L. Como, por hip´ otese, este Xλ′ ´e aberto, existe r > 0 de modo que B(p; r) ⊂ Xλ′ . Logo [ B(p; r) ⊂ Xλ = X, λ∈L
portanto p ´e ponto interior de X. Isto ´e, X ´e aberto.
192
Observa¸ c˜ ao: A interse¸c˜ ao de uma fam´ılia infinita de conjuntos abertos pode n˜ ao ser um conjunto aberto. Contraexemplo: Seja a fam´ılia {Xn }n∈N , onde Xn =] − n1 , n1 [ . No espa¸co (R, µ), os Xn (n = 1, 2, . . .) s˜ ao bolas abertas e, portanto, conjuntos abertos. Mas \ Xn = { 0 }, n∈N
n˜ ao ´e aberto neste espa¸co. Corol´ ario . Um subconjunto X ⊂ M ´e aberto se, e somente se, ´e uma reuni˜ ao de bolas abertas. Prova: (=⇒) De fato, como X ´e aberto, ent˜ao para cada x ∈ X, existe uma bola Bx tal que x ∈ Bx ⊂ X. [ Tomando, na proposi¸c˜ao 138 (p. 599), X = A e Bx = Gx obtemos X = Bx . Isto mostra que todo aberto ´e uma reuni˜ao x∈X
de bolas abertas.
(⇐=) Se X = ∪ Bλ ´e uma reuni˜ao de bolas abertas , ent˜ao X ´e aberto, pelo ´ıtem (iii) do teorema. Uma aplica¸c˜ ao trivial deste corol´ ario ´e: No espa¸co (M, δ) todo X ⊂ M ´e aberto. De fato, se X = ∅ ´e imediato. Se X 6= ∅, ent˜ao X=
[
x∈X
{x} =
[
Bδ (x; 1)
x∈X
o que prova que X ´e aberto. Abertos em subespa¸ cos Proposi¸ c˜ ao 24. Seja (M, d) um espa¸co e (N, d) um subespa¸co de (M, d). Um subconjunto X ⊂ N ´e aberto (no subespa¸co) se, e somente se, existir um conjunto A, aberto em (M, d), tal que X = A ∩ N. Prova: (=⇒) Se X ⊂ N ´e aberto em (N, d) ent˜ao existe um conjunto A, aberto em (M, d), tal que X = A ∩ N.
Com efeito, como X ´e aberto em (N, d) ent˜ao, pelo corol´ ario anterior, X pode ser escrito como uma reuni˜ao de bolas abertas (em (N, d)), isto ´e de sub-bolas [ X= B(x; rx ) x∈X
193
J´ a vimos que B(x; rx ) = B(x; rx ) ∩ N , onde B(x; rx ) ´e a bola aberta em (M, d). Portanto podemos escrever∗ X=
[
x∈X
[ B(x; rx ) ∩ N = B(x; rx ) ∩ N. x∈X
como a reuni˜ao de [ uma fam´ılia qualquer de abertos ´e um conjunto aberto, podemos escrever B(x; rx ) = A. Portanto, X = A ∩ N . x∈X
(⇐=) Seja X ⊂ N . Suponha que exista A ⊂ M , aberto em (M, d), de modo que X = A ∩ N . Ent˜ ao X ´e aberto no subespa¸co (N, d). Com efeito, seja x ∈ X um ponto arbitr´ario de X. Devemos mostrar que ◦ otese, X = A ∩ N ent˜ao x ∈ A ∩ N , logo x ∈ A e x ∈ X (N, d) . Como, por hip´ como A ´e aberto em (M, d) existe rx > 0 de modo que B(x; rx ) ⊂ A. Logo B(x; rx ) ∩ N ⊂ A ∩ N ; mas B(x; rx ) ∩ N = B(x; rx ) ⇒ B(x; rx ) ⊂ X. Conclus˜ao: Dado x ∈ X arbitr´ario, existe rx > 0 de modo que B(x; rx ) ⊂ X, ◦ isto ´e, x ∈ X (N, d) . Disto conclu´ımos que X, for¸cosamente, ´e aberto no subespa¸co (N, d).
Proposi¸ c˜ ao 25. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se N ´e aberto em (M, d) ◦ ◦ e U ⊂ N ent˜ ao U (N, d) = U (M, d) . (M, d) N U
Prova: ◦ ⊂ De fato, dado p ∈ U (N, d) ent˜ao existe um conjunto V , aberto em (N, d), tal que p ∈ V ⊂ U . Ent˜ao, pela proposi¸c˜ao anterior, V = V1 ∩ N para algum aberto V1 em (M, d). Como N ´e aberto em (M, d) temos que ◦ V tamb´em ´e aberto em (M, d), portanto p ∈ U(M, d) . ◦ ⊃ Reciprocamente, dado q ∈ U (M, d) , existe W aberto em (M, d) com q ∈ W ⊂ U . Ent˜ ao W ∩ N ´e aberto em (N, d) e q ∈ W ∩ N ⊂ U , o que nos ◦ d´ a q ∈ U (N, d) . ∗ ∗ ∗ O que a matem´ atica pontua, n˜ ao raro a natureza corrobora. ∗
Ver proposi¸c˜ ao 136 p. 598.
194
(Gentil)
Proposi¸ c˜ ao 26 (Abertos em produtos cartesianos). Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. Consideremos X1 ⊂ M1 e X2 ⊂ M2 subconjuntos abertos. Ent˜ ao X1 ×X2 ´e aberto no espa¸co (M, Di ), onde i = 1, 2, 3 e M = M1 ×M2 . Prova: Faremos a prova apenas para a m´etrica D3 (x, y) = max d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 )
para as outras duas sai como consequˆencia da proposi¸c˜ao 68.
(p. 319)
(M, Di )
X1 × X2
X2 x2
x=(x1 , x2 )
(M2 , d2 ) x1
(M1 , d1 )
X1
Seja x = (x1 , x2 ) ∈ X1 × X2 , mostremos que x ´e ponto interior deste produto. De fato, x1 ∈ X1 e x2 ∈ X2 , portanto existem r1 , r2 > 0 de maneira que Bd (x1 ; r1 ) ⊂ X1 e Bd (x2 ; r2 ) ⊂ X2 . Escolhemos r = min{r1 , r2 }, logo 1 2 Bd (x1 ; r) ⊂ X1 e Bd (x2 ; r) ⊂ X2 e da´ı 1
2
Bd (x1 ; r) × Bd (x2 ; r) ⊂ X1 × X2 1
2
j´a vimos que
(p. 124)
BD (x1 , x2 ); r = Bd (x1 ; r) × Bd (x2 ; r) 3
portanto,
1
2
BD (x1 , x2 ); r ⊂ X1 × X2 3
o que mostra que X1 × X2 ´e aberto no espa¸co (M, D3 ).
A seguir estaremos enriquecendo nosso sistema de processamento de informa¸c˜oes com mais uma instru¸c˜ ao.
195
5.3
Ponto fronteira
Defini¸ c˜ ao 23 (Ponto fronteira). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Um ponto p ∈ M ´e dito ponto fronteira de X se para todo r > 0 tivermos na bola B(p; r) algum ponto de X e tamb´em algum ponto do complementar de X. Isto ´e: p ∈ M ´e ponto fronteira de X se B(p; r) ∩ X 6= ∅
e
B(p; r) ∩ X c 6= ∅ ,
∀ r > 0.
Ao conjunto de todos os pontos de fronteira de X, chamamos fronteira de X e o indicamos por ∂X ou por ∂Xd , quando quisermos enfatizar a m´etrica. Exemplos: 1) A fronteira do quadrado aberto X = (x, y) ∈ R2 : 0 < x, y < 1 = ] 0, 1 [ × ] 0, 1 [ em R2 , com qualquer uma das m´etricas Di (i = 1, 2, 3) ´e o quadrado , como o leitor pode provar rigorosamente. R
R
R
տ
տ
∂X
տ
∂X
∂X
R
R
R
2) Seja (M, d) um espa¸co discreto e X ⊂ M . Ent˜ao ∂X = ∅. De fato, dado x ∈ M existe rx > 0 tal que B(x; rx ) = { x }. Temos que x ∈ X ou (exclusivo) x ∈ X c , implicando B(x; rx ) ∩ X = ∅ ou B(x; rx ) ∩ X c = ∅. 3) Se X = (x, y) ∈ R2 : x > 1 , prove que ∂X = (x, y) ∈ R2 : x = 1 . R
0
R
X
1
r
R
0
196
X
R
1
տ ∂X
4) Considere M = [ 0, 1 [ , X =
1
2, 1
e o ponto p = 0. assim:
¬1
0
s
1
2
M
X
p=0
Afirmamos que 0 ´e ponto fronteira de X − considerando a m´etrica quˆantica em M . Por exemplo, observe como a bola de centro em p = 0 e raio r = 41 intercepta X e seu complementar. ¬1
0
Bk (0; 14 )
s
1
2
Xc
X
3 4
1 4
0
M
1
Observe (na defini¸c˜ ao de ponto fronteira) que para provar que um ponto p ∈ M est´ a na fronteira de X n˜ ao ´e suficiente exibir uma bola (centrada em p) que intercepta X e seu complementar, isto deve se verificar para toda bola centrada em p. No caso em quest˜ao, digo, para se convencer de que 0 ∈ ∂Xk veja o diagrama de bolas abertas, Bk (0; r). (p. 111)
5) O exemplo anterior pode ser estendido para “duas oes”, assim: dimens˜ Seja M = [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ o quadrado unit´ ario e X = 12 , 1 × 21 , 1 ⊂ M ; ent˜ao, 0 = (0, 0) ´e ponto fronteira de X se tomarmos em M qualquer uma das trˆes m´etricas quˆanticas. Na figura a seguir 1 X
Xc
0 0
1
t
0
`a esquerda vemos o complementar de X, na figura do centro vemos o conjunto X e seu ponto fronteira, 0; na figura da direita vemos que uma das bolas de centro na origem de fato intercepta X e seu complementar.
197
Proposi¸ c˜ ao 27. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Ent˜ ao ∂X ∩ X = ∅ ⇐⇒ X ´e aberto. Prova: (=⇒) Seja x ∈ X, tendo em conta a hip´ otese, temos que x 6∈ ∂X. Isto significa que existe r > 0 tal que B(x; r) ∩ X c = ∅, portanto B(x; r) ⊂ X; o que mostra que x ´e ponto interior de X, por conseguinte X ´e aberto. (⇐=) Dado x ∈ X existe r > 0 tal que B(x; r) ⊂ X, logo B(x; r) ∩ X c = ∅, isto ´e, x 6∈ ∂X; portanto ∂X ∩ X = ∅. Proposi¸ c˜ ao 28. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Ent˜ ao, X − ∂X ´e um conjunto aberto. Prova: Com efeito, seja x ∈ X − ∂X, logo x ∈ X e x 6∈ ∂X, ent˜ao existe r > 0 tal que B(x; r) ∩ X c = ∅; portanto B(x; r) ⊂ X. Vamos mostrar que B(x; r) ⊂ X − ∂X. Para tanto ´e suficiente mostrar que para todo y ∈ B(x; r) ⇒ y 6∈ ∂X. Ent˜ao, seja y ∈ B(x; r), como B(x; r) ´e um conjunto aberto existe r ′ > 0 tal que B(y; r ′ ) ⊂ B(x; r) ⇒ B(y; r ′ ) ∩ X c = ∅ ⇒ y 6∈ ∂X. Portanto x ´e ponto interior de X − ∂X, o que mostra que este conjunto ´e aberto. Observe, geometricamente, esta proposi¸c˜ao no caso do quadrado: X = (x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x, y ≤ 1 = [ 0, 1 ] × [ 0, 1 ]: R
R
X
R
∂X
−
=
R
R
R
Proposi¸ c˜ ao 29. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico, X ⊂ M e p ∈ M . Se p ∈ ∂X ⇒ d(p, X) = 0. Prova: Seja p ∈ ∂X, para provar que d(p, X) = inf d(p, x) : x ∈ X = 0, dado ε > 0 arbitr´ario devemos exibir x ∈ X de modo que d(p, x) < ε. (lema 11, p. 609)
De fato, pela defini¸c˜ ao de ponto fronteira, ∀ ε > 0 acontce B( p; ε) ∩ X 6= ∅, o que significa que ∀ ε > 0 existe x ∈ X tal que d(p, x) < ε. 198
Observe que a rec´ıproca da proposi¸c˜ao anterior n˜ ao vale. Observa¸ca ˜o: A partir das defini¸co˜es de ponto interior e ponto de fronteira observamos que: se x ∈ ∂X = ∂X c
◦
⇒
x 6∈ X
⇒
∂X ∩ X = ∅
◦
◦
e
x 6∈ X c
e
∂X ∩ X c = ∅.
◦
Sendo (M, d) um espa¸co m´etrico, temos B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) < r c B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) ≥ r
Nota: A partir deste momento usaremos, onde acharmos conveniente, a nota¸c˜ao int X para o interior do conjunto X; isto ´e, estaremos trocando a ◦ nota¸c˜ao X pela nota¸c˜ ao int X. Proposi¸ c˜ ao 30. Num espa¸co m´etrico (M, d) se ∂B(p; r) 6= ∅ ent˜ ao ∂B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) = r ◦
Prova: De fato, se na indentidade ∂X ∩ X = ∅ tomarmos X = B(p; r) concluiremos que nenhum ponto x ∈ M que satisfa¸ca d(x, p) < r pode estar na fronteira da bola. Portanto os pontos da fronteira (se existirem) satisfazem d(x, p) ≥ r. Vamos inicialmente mostrar c que todo ponto que satisfaz d(x, p) > r pertence ao conjunto int B(p; r) . Seja q satisfazendo d(p, q) > r, devemos mostrar que existe s > 0 satisfazendo c B(q; s) ⊂ B(p; r) (5.3) Tomemos s = d(p, q) − r > 0 e mostremos que a inclus˜ao (5.3) estar´ a satisfeita. Ent˜ ao, dado x ∈ B(q; s) ⇒ d(x, q) < s = d(p, q) − r
⇒ d(x, q) + r < d(p, q). c Devemos mostrar que x ∈ B(p; r) , isto ´e, que d(x, p) > r. (M, d)
s
s
q B(p; r)
p
s
sx
c
B(p; r)
r
199
Pela desigualdade do triˆ angulo, temos d(p, q) ≤ d(q, x) + d(x, p) logo d(x, q) + r < d(p, q) ≤ d(q, x) + d(x, p) ⇒ r < d(x, p). ◦
Por outro lado, se na identidade ∂X ∩ X c= ∅ tomarmos X = B(p; r) concluiremos que nenhum ponto x ∈ M que satisfa¸ca d(x, p) > r pode estar na fronteira da bola. Portanto, se a fronteira de uma bola aberta n˜ ao for vazia, teremos necessariamente ∂B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) = r
Por exemplo, vamos determinar a fronteira de uma bola aberta no espa¸co (Q, µ), ∂B(p; r) = x ∈ Q : |x − p| = r = x ∈ Q: x = p ± r Portanto,
∂B(p; r) =
{ p − r, p + r }, ∅,
se r ∈ Q; se r 6∈ Q.
Corol´ ario 2. Em um espa¸co vetorial E, +, · normado, com E 6= { 0 } a fronteira de uma bola aberta ´e sempre n˜ ao vazia. Prova: Dada uma bola aberta B(p; r) e, tendo em conta a proposi¸c˜ao anterior, ´e suficiente mostrar que existe um q ∈ E satisfazendo d(p, q) = kp − qk = r. De fato, isto ´e verdade precisamente por estarmos em um espa¸co vetorial. Por exemplo o vetor q =p+
v r kvk
onde v ∈ E ´e qualquer vetor n˜ ao nulo, satisfaz esta exigˆencia. R
R B(p; r)
p
∂B(p; r)
r
⇒
p
r 0
r r
R
0
200
R
5.4
Conjuntos fechados
Defini¸ c˜ ao 24 (Conjunto fechado). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Um subconjunto F ⊂ M se diz fechado no espa¸co (M, d) se, e somente se, seu complementar F c = M − F ´e aberto em (M, d). Esta defini¸c˜ ao nos diz que os conjuntos fechados de um espa¸co m´etrico s˜ ao os complementares dos conjuntos abertos deste espa¸co. Ao contr´ ario da linguagem ordin´aria onde fechado e aberto s˜ ao antˆonimos e excludentes, na topologia temos conjuntos que n˜ ao s˜ ao nem fechados e nem abertos e . . . o que ´e “pior” : existem conjuntos que s˜ ao ao mesmo tempo abertos e fechados. Exemplos 1) F = [ a, b ] ´e fechado no espa¸co (R, µ) uma vez que F c = [ a, b ]c = ] − ∞, a [ ∪ ] b, +∞[ ´e a uni˜ ao de dois abertos, portanto aberto. 2) O conjunto A =] a, b ] ⊂ R n˜ ao ´e aberto e nem fehado no espa¸co (R, µ), uma vez que Ac = ] a, b ]c = ] − ∞, a ] ∪ ] b, +∞[ n˜ ao ´e aberto, pois a ∈ Ac n˜ ao ´e ponto interior de Ac .
3) Seja M = R e X = Q. Aqui temos um outro exemplo de conjunto que n˜ ao ´e aberto, nem fechado em (R, µ). Isto decorre do fato de que em todo intervalo aberto temos n´ umeros racionais e irracionais. Observe que Q ´e ao mesmo tempo aberto e fechado no espa¸co (R, δ). Este ´e um caso especial do pr´ oximo exemplo. 4) Em um espa¸co (M, d) discreto, todo subconjunto F ⊂ M ´e aberto e fechado ao mesmo tempo. De fato, vimos no exemplo 3 (p. 189) que todo subconjunto de M ´e aberto. Por outro lado, dado F ⊂ M , temos que F c = M − F , continua sendo um subconjunto de M e, portanto, aberto; por conseguinte F ´e fechado. ao ´e fechado em 5) Vamos mostrar que o conjunto X = {1, 12 , 13 , . . .} n˜ (R, µ). Para isto mostremos que o seu complementar n˜ ao ´e aberto. Vamos mostrar que 0 ∈ X c n˜ ao ´e ponto interior de X c . Temos Bµ (0; r) = ] − r, r [. Dado r > 0 escolhemos nr ∈ N de tal modo que n1 < r. Logo n1 ∈ Bµ (0; r) r r e n1 6∈ X c . Isto ´e, nenhuma bola centrada em 0 pode estar contida em X c . r
6) Num espa¸co m´etrico (M, d) todo conjunto finito { a1 , a2 , . . . , an } ´e fechado. Em particular o conjunto unit´ ario { a } ⊂ M ´e fechado. c De fato, F = M − { a1 , a2 , . . . , an } ´e aberto, pela proposi¸c˜ao 22. (p. 191)
7) O conjunto X = { x ∈ R : 0 ≤ x ≤ 1 } = [ 0, 1 ] ´e fechado no espa¸co (R, µ). Enquanto o conjunto Y = { (x, 0) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1 } = [ 0, 1 ]×{ 0 } ´e fechado no espa¸co (R2 , D1 ). Esse ´e um caso especial do pr´ oximo resultado. 201
Proposi¸ c˜ ao 31 (Fechados em produtos cartesianos). Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. Consideremos F1 ⊂ M1 e F2 ⊂ M2 subconjuntos fechados. Ent˜ ao F1 × F2 ´e fechado no espa¸co (M, Di ), onde i = 1, 2, 3 e M = M1 × M2 . Prova: Vamos mostrar que (F1 × F2 )c ´e aberto. Para tanto ´e suficiente mostrar a seguinte identidade (prop. 26, p. 195) c c c (F1 × F2 ) = F1 × M2 ∪ M1 × F2 (M, Di )
F1 × F2 F2 x2
x=(x1 , x2 )
(M2 , d2 ) F1
x1
(M1 , d1 )
(⊂) Seja x = (x1 , x2 ) ∈ (F1 × F2 )c , logo (x1 , x2 ) 6∈ F1 × F2 ⇒ x1 6∈ F1 ou x2 6∈ F2 ⇒ x1 ∈ F1c ou x2 ∈ F2c ⇒ (x1 , x2 ) ∈ F1c × M2 ou (x1 , x2 ) ∈ M1 × F2c logo
(x1 , x2 ) ∈ F1c × M2 ∪ M1 × F2c (⊃) Seja x = (x1 , x2 ) ∈ F1c × M2 ∪ M1 × F2c , logo
(x1 , x2 ) ∈ F1c × M2 ou (x1 , x2 ) ∈ M1 × F2c
logo ent˜ ao
x1 ∈ F1c e x2 ∈ M2 ou x1 ∈ M1 e x2 ∈ F2c
x1 6∈ F1 ou x2 6∈ F2 ⇒ (x1 , x2 ) 6∈ F1 × F2 ⇒ (x1 , x2 ) ∈ (F1 × F2 )c
Pois bem, F1 e F2 sendo fechados, por hip´ otese, temos que F1c e F2c s˜ ao c c abertos. Pela proposi¸ca˜o 26 (p. 195) temos que F1 × M2 e M1 × F2 s˜ ao abertos, logo a uni˜ ao destes ´e aberto. Isto conclui a prova.
202
Proposi¸ c˜ ao 32. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. (i) M e ∅ s˜ ao fechados; (ii) Se F1 , F2 , . . . , Fn s˜ ao fechados, ent˜ ao
F1 ∪ F2 ∪ · · · ∪ Fn ´e fechado; (iii) Se {Fλ }λ∈L ´e uma fam´ılia arbitr´ aria de fechados ent˜ ao F =
\
Fλ ´e fechado.
λ∈L
Prova: (i) J´ a vimos que M e ∅ s˜ ao abertos, portanto M c = ∅ e ∅c = M s˜ ao fechados. (ii) Como cada Fi ´e fechado, ent˜ao cada Fic ´e aberto e, pela prop. 23 (p. 192), F1c ∩ F2c ∩ · · · ∩ Fnc ´e aberto; por conseguinte F1c ∩ F2c ∩ · · · ∩ Fnc
c
= F1 ∪ F2 ∪ · · · ∪ Fn .
´e fechado. S Fλc (iii) Como cada Fλ ´e fechado, ent˜ ao Fλc ´e aberto e, pela prop. 23, λ∈L ´e aberto, logo [ c \ Fλc = Fλ λ∈L
λ∈L
´e fechado.
Do ´ıtem (ii) acima, juntamente com o exemplo 6 (p. 201), conclu´ımos que se acrescentarmos uma quantidade finita de pontos a um conjunto fechado, esta propriedade n˜ ao ´e perdida. Obs: A uni˜ ao de uma fam´ılia infinita de conjuntos fechados pode ou n˜ ao ser um conjunto fechado. Contraexemplo: Seja a fam´ılia Xn , onde Xn = { n1 }. Em qualn∈N quer espa¸co m´etrico os Xn (n = 1, 2, . . .) s˜ ao conjuntos fechados, por serem unit´ arios. Mas [ 1 1 Xn = 1, , , . . . , 2 3 n∈N
n˜ ao ´e fechado no espa¸co (R, µ) embora o seja no espa¸co (R, δ). (Exemplos 5, p. 201 e 4, p. 201)
203
5.5
Ponto aderente
Defini¸ c˜ ao 25 (Ponto aderente). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Um ponto p ∈ M se diz ponto aderente ao conjunto X se B(p; r) ∩ X 6= ∅ ,
∀ r > 0.
Isto ´e, se toda bola centrada em p intersecta X. O conjunto dos pontos aderentes a X chama-se fecho (ou aderˆencia) de ¯ ou por X ¯ , quando quisermos enfatizar a m´etrica. X e ´e indicado por X d Na defini¸c˜ ao anterior o ponto p ∈ M pode ou n˜ ao pertencer a X. Caso ¯ portanto p ∈ X ent˜ ao trivialmente se verifica B(p; r) ∩ X 6= ∅, isto ´e, p ∈ X, ¯ X ⊂ X. Ou ainda: todo ponto de um conjunto ´e aderente a este conjunto. • Comparando as defini¸c˜oes de ponto aderente e de fronteira, B(p; r) ∩ X 6= ∅ e B(p; r) ∩ X c 6= ∅ , | {z }
∀r > 0
ponto fronteira
concluimos que todo ponto fronteira ´e tamb´em ponto aderente, a rec´ıproca n˜ ao vale. ¯ devemos exibir r > 0 tal que B(p; r) ∩ X = ∅. Para mostrar que p 6∈ X
Exemplos: 1) Sejam M = R e X = ] a, b ], ent˜ao a ∈ R ´e ponto aderente a X no espa¸co (R, µ), mas n˜ ao no espa¸co (R, δ). Isto ´e ¯µ a∈X
e
¯. a 6∈ X δ
¯ µ basta ver que a ∈ ∂Xµ . De fato, para provar que a ∈ X Por outro lado, por exemplo Bδ (a; 1) = { a }, logo Bδ (a; 1) ∩ X = ∅, o ¯ . que mostra que a 6∈ X δ
2) Seja M = R e X = Q. No espa¸co (R, µ) todo n´ umero real ´e aderente ao conjunto Q. Isto j´a n˜ ao acontece no espa¸co (R, δ). Isto ´e ¯µ = R Q
e
¯ 6= R. Q δ
De fato, dado x ∈ R, temos Bµ (x; r) = ] x − r, x + r [ como temos n´ umeros racionais em qualquer intervalo aberto, segue que Bµ (x; r) ∩ Q 6= ∅; sendo ¯ µ . Agora, por exemplo, B (x; 1) = { x }. Se x for irracional, assim, x ∈ Q δ ¯ . Portanto obviamente Bδ (x; 1) ∩ Q = ∅, o que mostra que x 6∈ Q δ ¯µ = R Q
¯ = Q. e Q δ 1 1 ¯ µ , mas 0 6∈ X ¯ . De fato 3) Seja M = R e X = 1, 2 , 3 , . . . . Ent˜ao 0 ∈ X δ Bδ (0; 1) = { 0 } ⇒ Bδ (0; 1) ∩ X = ∅.
¯ . o que mostra que 0 6∈ X δ
204
1 n
Por outro lado, Bµ (0; r) = ] − r, r [, dado r > 0 escolha n ∈ N tal que < r, ent˜ ao µ(0,
1 1 1 1 ) = − 0 = < r ⇒ ∈ Bµ (0; r) n n n n
¯µ. isto ´e, Bµ (0; r) ∩ X 6= ∅, isto mostra que 0 ∈ X
4) Se um espa¸co (M, d) ´e discreto ent˜ao os u ´nicos pontos de aderˆencia de um subconjunto X ⊂ M s˜ ao os seus pr´ oprios pontos. De fato, se (M, d) ´e discreto, existe r > 0 tal que B(a; r) = { a }; e se a 6∈ X temos B(a; r) = { a } ∩ X = ∅. Logo, a n˜ ao ´e aderente a X. 1 5) Considere M = [ 0, 1 [ , X = 2 , 1 e o ponto p = 0, assim: s
1 2
0
1
X
Afirmamos que 0 ´e ponto aderente a X − considerando a m´etrica quˆantica em M . Com efeito, j´a vimos que 0 ´e ponto fronteira. (p. 197) Proposi¸ c˜ ao 33. Em todo espa¸co m´etrico s˜ ao v´ alidas as duas seguintes identidades. ◦ ◦ ¯ c = Xc (ii) X (i) X c = cX Nota: Estamos convencionando as seguintes nota¸c˜oes: ◦ cX
= complementar do interior de X
◦
X c = interior do complementar de X Ent˜ ao: (i) O fecho do complementar ´e igual ao complementar do interior. (ii) O complemento do fecho ´e igual ao interior do complementar. Prova: (i) seja x ∈ X c
⇐⇒ ∀r > 0, B(x; r) ∩ X c 6= ∅ ⇐⇒ ∀r > 0, B(x; r) 6⊂ X ◦
◦
⇐⇒ x 6∈ X ⇐⇒ x ∈ c X . ¯ c (ii) seja x ∈ (X)
¯ ⇐⇒ ∃ r > 0 : B(x; r) ∩ X = ∅ ⇐⇒ x 6∈ X ◦
⇐⇒ ∃ r > 0 : B(x; r) ⊂ X c ⇐⇒ x ∈ X c . 205
Proposi¸ c˜ ao 34. O fecho de qualquer conjunto, ´e sempre um conjunto fechado. ◦
¯ c = Xc . Prova: Isto ´e imediato, a partir da identidade X
Proposi¸ c˜ ao 35. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. F ⊂ M ´e fechado se, e somente se, F¯ = F . Isto ´e: um conjunto ´e fechado se, e somente se, cont´em todos os seus pontos aderentes. Prova: (=⇒) Se F ´e fechado ent˜ao F¯ = F . ((T-3), p. 571) ¯ Com efeito, A inclus˜ao F ⊂ F ´e sempre v´alida, resta mostrar que F¯ ⊂ F . Suponha que n˜ ao. Ent˜ ao existe p ∈ F¯ tal que p 6∈ F ; logo p ∈ F c . Como, por hip´ otese, F ´e fechado, segue que F c ´e aberto. Portanto existe r > 0 tal que B(p; r) ⊂ F c , o que implica B(p; r) ∩ F = ∅. Ora, mas isto contradiz o fato de que p ∈ F¯ . (⇐=) Se F¯ = F ent˜ ao F ´e fechado. Isto ´e imediato, a partir da proposi¸c˜ao 34. 1 1 Coment´ ario: Vimos (ex. 5, p. 201) que o conjunto X = {1, 2 , 3 , . . .} n˜ ao ´e fechado no espa¸co (R, µ); o teorema anterior (mais o exemplo 3, (p. 204)) ¯ e 0 6∈ X. nos diz precisamente porque isto acontece: 0 ∈ X 1 1 ¯ Portanto X = { 0 } ∪ {1, 2 , 3 , . . .} ´e fechado neste espa¸co. A pr´ oxima proposi¸ca˜o relaciona o fecho de um conjunto no espa¸co com o fecho deste conjunto em um subespa¸co. Proposi¸ c˜ ao 36. Seja (N, d) um subespa¸co do espa¸co m´etrico (M, d). Dado um subconjunto X ⊂ N a seguinte identidade ´e v´ alida (M, d) (N, d)
¯ ¯ X =X ∩N (N, d) (M, d)
X
Prova: ¯ ⊂ Seja p ∈ X , isto implica em que (N, d) p∈N
e
∀ ε > 0, B(p; ε) ∩ X 6= ∅
¯ Para mostrar que p ∈ X (M, d)
´e suficiente mostrar que
∀ ǫ > 0, B(p, ǫ) ∩ X 6= ∅ 206
(5.4)
Pois bem, dado ǫ > 0, B(p; ǫ) ∩ N ´e uma bola no subespa¸co (N, d), isto ´e B(p; ǫ) ∩ N = B(p; ǫ) portanto, invocando (5.4), podemos escrever B(p; ǫ) ∩ N ∩ X 6= ∅ ⇒ B(p; ǫ) ∩ N ∩ X 6= ∅
como X ⊂ N ⇒ N ∩ X = X, portanto B(p; ǫ) ∩ X 6= ∅. ¯ ¯ ⊃ Seja q ∈ X ∩ N . Para mostrar que q ∈ X basta mostrar que (M, d) (N, d) ∀ ε > 0, B(q; ε) ∩ X 6= ∅
De fato, ∀ ε > 0, B(q; ε) = B(q; ε) ∩ N , onde B(q; ε) ´e uma bola em (M, d). ¯ Como, por hip´ otese, q ∈ X ent˜ao B(p; ε) ∩ X 6= ∅. Por outro lado (M, d) X ⊂ N ⇒ X = X ∩ N ⇒ B(q; ε) ∩ X ∩ N 6= ∅ ¯ ⇒ B(q; ε) ∩ N ∩ X 6= ∅ ⇒ B(q; ε) ∩ X 6= ∅ ⇒ q ∈ X . (N, d)
Segundo a proposi¸c˜ ao anterior para encontrarmos o fecho de um conjunto X ⊂ N no subespa¸co (N, d) basta encontrar o fecho no espa¸co (M, d) e intersectar com N. Por exemplo, sejam (M, d) = (R, µ) a reta usual, N = [ 0, 1 [ e X = 12 , 1 ¬ 0
¬1
1
0
¬ 0 ´ f´acil ver que X ¯ E = (R, µ)
1 2
1
2,
1
R N X
1 , sendo assim temos
¯ ¯ X =X ∩N (N,µ) (R,µ) =
1 1 , 1 ∩ [ 0, 1 [ = ,1 2 2
¯ ´e um conjunto fechado no subespa¸co (N, µ) Observe que 12 , 1 = X (N, µ) embora n˜ ao o seja no espa¸co (R, µ). Uma quest˜ao para o leitor refletir: O ponto p = 1 ´e aderente a X no espa¸co (R, µ) mas n˜ ao no subespa¸co (N, µ), embora tenhamos B(1, ε) ∩ X 6= ∅, ∀ε > 0. Como se explica isto?
O corol´ ario a seguir nos nos diz por que os dois fechos no exemplo acima resultaram diferentes Corol´ ario 3. Seja (N, d) um subespa¸co fechado do espa¸co (M, d), ent˜ ao para todo X ⊂ N , tem-se ¯ ¯ X =X (N, d) (M, d) 207
Prova: Temos as seguintes implica¸c˜oes ¯ ⊂N ¯ =N ⇒ X ¯ ∩ N = X. ¯ X⊂N ⇒ X Portanto† , da proposi¸c˜ ao 36 concluimos ¯ ¯ ¯ ¯ X =X ∩N ⇒ X =X (N, d) (M, d) (N, d) (M, d) Corol´ ario4. Os subconjuntos fechados do subespa¸co (N, d) s˜ ao as interse¸co ˜es F ∩ N , onde F ´e fechado em (M, d). Prova: Devemos mostrar que 1 o ) se F ´e fechado em (M, d) ent˜ao F ∩ N ´e fechado em (N, d). De fato, F ∩ N = F¯(M, d) ∩ N = F¯(N, d) logo F ∩ N ´e fechado em (N, d). 2 o ) se X ´e um subconjunto fechado em (N, d) ent˜ao X = F ∩ N para algum F fechado em (M, d). De fato, ¯ ¯ ¯ X=X ⇒ X=X =X ∩N (N, d) (N, d) (M, d) =F ∩N ¯ onde X = F ´e um fechado em (M, d). (M, d)
Proposi¸ c˜ ao 37. Em qualquer espa¸co m´etrico ´e v´ alida a seguinte identidade ¯ ∩ Xc ∂X = X Prova: De fato, x ∈ ∂X ⇐⇒ ∀r > 0, B(x; r) ∩ X 6= ∅ e B(x; r) ∩ X c 6= ∅ ¯ e x ∈ Xc ⇐⇒ x ∈ X ¯ ∩ X c. ⇐⇒ x ∈ X
†
¯ =X ¯ ¯ =N ¯ Nota: X e N (M, d) (M, d)
208
Proposi¸ c˜ ao 38. Em qualquer espa¸co m´etrico (M, d) a aderencia (fecho) de um subconjunto X ⊂ M ´e a reuni˜ ao do seu interior com sua fronteira. Prova: ◦
◦
X ∪ ∂X = X ∪
¯ ∩ Xc X
◦
¯ = X ∪X ¯ ∩ =X
◦
X ∪ Xc ◦ ◦ X ∪ cX ∩
¯ ∩ M = X. ¯ =X
Observe, geometricamente, esta proposi¸c˜ao no caso do quadrado: R
◦
R
X
R
∂X
∪
¯ X
=
R
R
R
◦
◦
¯ ´e disjunta; isto ´e, X ∩ ∂X = ∅, Observa¸c˜ ao: A reuni˜ao X ∪ ∂X = X pelas pr´ oprias defini¸c˜ oes de ponto interior e ponto fronteira. ¯ tamb´em ´e v´alida, s´ A identidade X ∪ ∂X = X o que aqui n˜ ao temos uma uni˜ ao disjunta. Por exemplo para X = ] a, b ] no espa¸co (R, µ), temos ¯ = [ a, b ] e ∂X = { a, b }. X Corol´ ario 5. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . A seguinte identidade se verifica ◦ ¯ −X ∂X = X ◦
◦
¯ ⇒ ∂X = X ¯ − X. Prova: ∂X ∪ X = X
Observa¸c˜ ao: N˜ao tente realizar o procedimento anterior sem antes certificarse de que a reuni˜ao envolvida ´e disjunta. Observe, geometricamente, esta proposi¸c˜ao no caso do quadrado: R
R
¯ X
∂X
◦
X
−
=
R
R
209
Corol´ ario 6. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e seja X ⊂ M . Ent˜ ao ∂X = ∅ ⇐⇒ X ´e aberto e fechado. Prova: (⇒) Temos ◦
¯ X ∪ ∂X = X
◦
¯ ⇒ X=X
◦
¯ = X ∪ ∂X ⇒ X ¯ =X X
¯ = X. ⇒ X=X
Portanto X ´e aberto e fechado. ◦
¯ levando este resultado na (⇐) Se X ´e aberto e fechado ent˜ao X = X = X, ◦ ¯ − X resulta ∂X = ∅. identidade ∂X = X Corol´ ario 7. Seja um espa¸co vetorial E, +, · normado com E 6= { 0 }. Ent˜ ao B(p; r) = x ∈ M : d(x, p) ≤ r Isto ´e, o fecho da bola aberta ´e a bola fechada.
◦
´ uma decorrˆencia imediata da identidade X ¯ = X ∪ ∂X juntaProva: E mente com a proposi¸c˜ ao 30 (p. 199) e seu corol´ ario 2 (p. 200). Esta afirmativa ´e falsa em um espa¸co n˜ ao normado. De fato, consideremos o espa¸co (R, δ). Neste espa¸co temos B(0; 1) = { 0 }. Como B ´e um conjunto fechado resulta que B(0; 1) = B(0; 1). Por outro lado, B[ 0; 1 ] = { x ∈ R : δ(x, 0) ≤ 1 } = R. Proposi¸ c˜ ao 39. Em qualquer espa¸co m´etrico (M, d) a fronteira de um subconjunto X ⊂ M ´e um conjunto fechado. Prova: De fato, para conjuntos A e B quaisquer vale A − B = A ∩ B c , ◦ ◦ ¯ −X =X ¯ ∩ cX logo ∂X = X . Vamos mostrar que (∂X)c ´e aberto, ent˜ao ◦ ¯ ∩ cX (∂X)c = X
c
◦
¯c ∪ X =X ◦
◦
= X c ∪ X.
logo (∂X)c ´e um conjunto aberto, por ser a uni˜ ao de dois abertos; por conseguinte ∂X ´e um conjunto fechado.
210
Proposi¸ c˜ ao 40. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se p ∈ M e X ⊂ M , ¯ ent˜ ao d(p, X) = 0 se, e somente se, p ∈ X. Prova: ¯ Com efeito, por hip´ ao p ∈ X. otese (=⇒) Se d(p, X) = 0 ent˜ d(p, X) = inf { d(p, x) : x ∈ X } = 0
(5.5)
Isto ´e, 0 ´e a maior das cotas inferiores do conjunto { d(p, x) : x ∈ X }. Ou seja, qualquer r > 0 n˜ ao pode ser cota inferior deste conjunto. Logo, ∀ r > 0 existe x ∈ X de modo que d(p, x) < r. Ou ainda: para todo r > 0, temos ¯ B(x; r) ∩ X 6= ∅; o que mostra que p ∈ X. ¯ ent˜ (⇐=) Se p ∈ X ao d(p, X) = 0
Devemos mostrar que a igualdade (5.5) se verifica. Isto ´e, que 0 ´e a maior das cotas inferiores do conjunto { d(p, x) : x ∈ X }.
De outro modo: nenhum r > 0 pode ser cota inferior deste conjunto. Para isto devemos exibir x ∈ X tal que d(p, x) < r. Ent˜ao, por hip´ otese, ¯ isto ´e, ∀ r > 0, temos B(p; r) ∩ X 6= ∅. Logo, ∀ r > 0 existe x ∈ X p ∈ X, de modo que d(p, x) < r. Isto conclui a prova. Corol´ ario 8. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico, R ⊂ M uma regi˜ ao de M , e p um ponto de M. Ent˜ ao, 6 ∅; d(p, R) = 0 ⇐⇒ O(p; r) ∩ R =
∀ r > 0.
Prova: ¯ logo, por defini¸c˜ao de ponto ( ⇒ ) De fato, pela proposi¸c˜ ao 40 p ∈ R, aderente, decorre a tese. ¯ portanto − ainda pela ( ⇐ ) Com efeito, da hip´ otese decorre que p ∈ R, proposi¸c˜ ao 40 − temos d(p, R) = 0. Sendo assim, uma quest˜ ao que resolvemos com a maior facilidade na topologia quˆ antica ´e: pode um objeto “est´ a em v´arios lugares ao mesmo tempo”? Respondemos que sim, e dizemos porquˆe. (def. 11, p. 116)
Proposi¸ c˜ ao 41. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Ent˜ ao para todo subcon¯ junto X ⊂ M se verifica a igualdade diam(X) = diam(X). Prova: Temos diam(X) = sup { d(x, y) : x, y ∈ X } ¯ = sup { d(x, y) : x, y ∈ X ¯} diam(X) Por defini¸c˜ ao de supremo temos d(x, y) ≤ diam(X), ∀ x, y ∈ X ¯ ¯ d(x, y) ≤ diam(X), ∀ x, y ∈ X 211
¯ s˜ e mais: diam(X) e diam(X) ao os menores n´ umeros satisfazendo estas desigualdades. Como ¯ ⇒ d(x, y) ≤ diam(X), ¯ X ⊂X
∀ x, y ∈ X
mas como diam(X) ´e o menor n´ umero satisfazendo esta desigualdade, segue ¯ que diam(X) ≤ diam(X). ¯ temos B(x; r )∩X 6= Por outro lado, dado r > 0, para quaisquer x, y ∈ X 2 r ′ ′ ∅ e B(y; 2 ) ∩ X 6= ∅, logo existem x , y ∈ X tais que d(x, x′ ) <
r 2
e
d(y, y ′ ) <
r 2
Da equa¸c˜ ao (1.14), temos
(p. 44)
d(x1 , x4 ) ≤ d(x1 , x2 ) + d(x2 , x3 ) + d(x3 , x4 ) ent˜ ao d(x, y) ≤ d(x, x′ ) + d(x′ , y ′ ) + d(y ′ , y) < r + diam(X) Isto mostra que r + diam(X) ´e uma cota superior do conjunto ¯} { d(x, y) : x, y ∈ X ¯ ≤ r + diam(X), isto ´e, portanto diam(X) ¯ − r ≤ diam(X). diam(X) ¯ ≤ Como esta desigualdade vale para todo r > 0, temos∗ que diam(X) ¯ diam(X). Portanto diam(X) = diam(X). Observa¸c˜ ao: Uma aplica¸c˜ao desta proposi¸c˜ao ´e que, ao inv´es de calcular ¯ E qual a vantagem disto? Quando diam(X), podemos calcular diam(X). ¯ X, d ´e compacto, sendo d : X × X −→ R (x, y) 7−→ d(x, y)
cont´ınua (ver (ii), p. 261), aplicamos o teorema de Weierstrass (p. 613). Trocamos sup { d(x, y) : x, y ∈ X } por max { d(x, y) : x, y ∈ X } e teremos `a nossa disposi¸c˜ ao as t´ecnicas de m´ aximos e m´ınimos de fun¸c˜oes reais. Observe que, ainda segundo o teorema de Weierstrass, nas condi¸c˜oes referidas, ¯ de modo que d(x′ , y ′ ) = diam(X) ¯ = diam(X). sempre existir˜ ao x′ , y ′ ∈ X ¯ Proposi¸ c˜ ao 42. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Se p ∈ X, ent˜ ao existe uma sequˆencia (xn ) de pontos de X tal que lim xn = p. ∗
Proposi¸c˜ ao 148, p. 613.
212
¯ ent˜ Prova: Como p ∈ X, ao para cada r > 0 temos B(p; r) ∩ X 6= ∅. Em particular para r = n1 , temos B p;
1 ∩ X 6= ∅ , n
(n = 1, 2, . . .)
Daqui retiramos uma sequˆencia (x1 , x2 , . . . , xn , . . .) de pontos de X tal que xn ∈ B( p; n1 ). Vamos mostrar que xn → p. (M, d)
(M, d)
r=1 X
r
r=
r x2 r r p
x1
Temos xn ∈ B(p;
1 n)
X
1 2
r
x1
x2 r
rrp
ր
⇒ d(xn , p) < n1 , ou ainda 0 ≤ d(xn , p) < n1 . Ent˜ao
0 ≤ d(xn , p) <
1 1 ⇒† lim 0 ≤ lim d(xn , p) ≤ lim n n
isto ´e, 0 ≤ lim d(xn , p) ≤ 0, ent˜ ao lim d(xn , p) = 0 ⇒‡ xn → p. Exemplos: 1) Vimos no exemplo 3 (p. 204) que sendo M = R e X = 1, 12 , 13 , . . . , ¯ µ , mas 0 6∈ X ¯ . Pela proposi¸c˜ao anterior existe uma sequˆencia ent˜ao 0 ∈ X δ de pontos de X que converge para 0. A sequˆencia dada por xn = n1 converge para 0 (com a m´etrica µ), qualquer subsequˆencia sua tamb´em converge para 0. Por outro lado, na m´etrica δ, n˜ ao existe sequˆencia de X convergindo para ¯ 0 o que implica em que 0 6∈ Xδ . 2) Consideremos M = R e X = Q. Dado qualquer n´ umero q irracional existe uma sequˆencia de racionais convergindo para q (na m´etrica usual). De fato, basta ter em conta o exemplo 2 (p. 204). Por exemplo, √ (1; 1, 4; 1, 41; 1, 414; 1, 4142; . . .) → 2
Tamb´em,
† ‡
corol´ ario 1, p. 163. proposi¸c˜ ao 9, p. 143.
1 1 1 4 · 1 − + − + ··· → π 3 5 7
213
3) J´ a vimos no exemplo 5 a seguir s
(p. 205)
que 0 ´e aderente ao conjunto X na figura
1 2
0
1
X
Logo, existe uma sequˆencia de pontos de X convergindo para 0. Exiba uma sequˆencia cumprindo estas condi¸c˜oes. A rec´ıproca da proposi¸c˜ao anterior tamb´em vale: Proposi¸ c˜ ao 43. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Se existe uma ¯ sequˆencia (xn ) de pontos de X tal que lim xn = p ent˜ ao p ∈ X. Prova: Com efeito, se lim xn = p e xn ∈ X ent˜ao toda bola aberta de ¯ centro p intersecta X, portanto p ∈ X. (prop. 8, p. 142) Vejamos dois exemplos desta situa¸c˜ao: 1o ) Consideremos o seguinte subconjunto do plano R2 X = (x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1, y = x/n, n ∈ N
O conjunto X ´e formado dos pontos do segmento que liga a origem (0, 0) aos pontos (1, 1/n), n ∈ N. Vamos mostrar que todo ponto do conjunto
´e ponto aderente a X.
1 A = (x, 0) ∈ R2 : ≤ x ≤ 1 2
1
1
q
q
ra 2 r
.. ↓ . q1
(0, 0)
ra1
(0, 0)
q
1 2
A
.. ↓ . q1
− Conjunto X
Fixado qualquer 21 ≤ x ≤ 1 a sequˆencia dada por an = x, nx de pontos de X ´e tal que an → (x, 0) ∈ A, logo todo ponto de A ´e aderente a X. 214
2o ) Consideremos o seguinte subconjunto do plano R2 (m´etrica euclidiana). X=
n
(x, y) ∈ R2 : x > 0 e y = cos
1o x
Vamos mostrar que todo ponto do conjunto A = (0, y) ∈ R2 : − 1 ≤ y ≤ 1 = { 0 } × [−1, 1 ].
´e ponto aderente a X. A seguir vemos o conjunto X (gr´ afico da fun¸c˜ao f (x) = cos(1/x)) f (x) X
1
q
x
0
−1
q
De fato, fixado y ∈ [−1, 1 ] resolvendo a equa¸c˜ao cos
1 = y = cos cos−1 (y) x
1 encia xn , cos( x1 ) obtemos a seguinte sequˆencia, xn = 2nπ+cos −1 (y) . A sequˆ n de pontos de X converge para o ponto (0, y) ∈ A e isto prova que todo ponto de A ´e aderente a X. A t´ıtulo de exemplo consideremos y = 1/2, ent˜ao 1 1 = → 0. −1 2nπ + cos (1/2) 2nπ + π3 os pontos da sequˆencia xn , cos( x1 ) situam-se sobre a reta y = 1/2 e conn vergem para o ponto 0, 21 ∈ A. xn =
f (x)
1¬
j qq q
X
q x
Aր −1¬
215
Observe que toda bola centrada no ponto 0, 12 intersecta o conjunto X. Toda bola centrada neste ponto cont´ em infinitos pontos de X. Por exemplo pontos da sequˆencia xn , cos( x1 ) . n
Proposi¸ c˜ ao 44. Seja F ⊂ M . F ´e fechado se, e somente se, para toda sequˆencia (xn ) de pontos de F com lim xn = a ∈ M tivermos a ∈ F . Prova:
(=⇒) Seja F fechado e (xn ) uma sequˆencia de pontos de F com lim xn = a ∈ M . Ent˜ ao, pela proposi¸c˜ao 43 (p. 214) a ∈ F¯ , como F ´e fechado temos que F = F¯ , portanto a ∈ F .
(⇐=) Suponhamos que toda sequˆencia convergente de pontos de F tem limite em F , e mostremos que F = F¯ . Como F ⊂ F¯ , basta mostrar que F¯ ⊂ F . Seja a ∈ F¯ . Pela proposi¸c˜ao 42 (p. 212) existe uma sequˆencia (xn ) de pontos de F tal que lim xn = p. Pela nossa hip´ otese, temos p ∈ F . Logo F¯ ⊂ F .
5.6
Densidade
Defini¸ c˜ ao 26 (Densidade). Dado um espa¸co m´etrico (M, d), um subcon¯ = M. junto X ⊂ M se diz denso em M se X Isto significa: fixados arbitrariamente um ponto p ∈ M e um raio r > 0, B(p; r) ∩ X 6= ∅. Ou seja, arbitrariamente pr´ oximo de p encontramos um ponto de X. Exemplos: 1) Seja M = R e X = Q. No exemplo 2
(p. 204)
vimos que
¯µ = R , Q ¯ = Q 6 R. δ portanto Q ´e denso em R no espa¸co (R, µ); mas n˜ ao no espa¸co (R, δ). 2) Seja M = C[a, b] e X = P onde P ´e o conjunto de polinˆ omios. P ´e denso no espa¸co (C[a, b], Υ). Isto ´e o que nos diz o Teorema da aproxima¸ca ˜o de Weierstrass: “Dada uma fun¸c˜ ao cont´ınua f : [a, b] → R, existe uma sequˆencia de polinˆ omios (pn ) tais que lim pn = f uniformemente em [a, b].” (ver [5] ) ¯ Logo, pela proposi¸c˜ ao 43 (p. 214), temos f ∈ P . Υ
Nota: O corol´ ario 3 (p. 207) nos permite inferir um resultado que ser´ a utilizado posteriormente, a saber: ¯ d ). X ´e denso no subespa¸co (X,
De fato, para que esta assertiva seja verdadeira ´e suficiente mostrar que ¯ ¯ =X ¯ =X ¯ X (M, d) (X, d) ¯ no corol´ Para tanto basta tomar N = X ario. 216
Proposi¸ c˜ ao 45. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se X ⊂ M ´e denso em M , ent˜ ao X ∩ A 6= ∅, para todo aberto A 6= ∅ desse espa¸co. Prova: Dado p ∈ A ⊂ M , ent˜ ao existe r > 0 de modo que B(p; r) ⊂ A. ¯ = M , p ´e aderente a X. Logo, B(p; r) ∩ X 6= ∅. Portanto existe Como X q ∈ X e q ∈ B(p; r) ⊂ A, logo A ∩ X 6= ∅. Importˆ ancia da densidade A densidade nos permite aproximar − com precis˜ao arbitr´aria − pontos de um conjunto M por pontos de um seu subconjunto (´e o que nos diz a proposi¸c˜ ao 42, p. 212). Perceba que isto n˜ ao ´e pouco. Por exemplo, por raz˜ oes t´ecnicas, um computador n˜ ao opera com n´ umeros reais, mas pelo ¯ fato de que Qµ = R isto significa que podemos representar um n´ umero real por um racional com a precis˜ao que desejarmos. Ainda mais: a mesma proposi¸c˜ ao nos assegura que existe uma sequˆencia de racionais convergindo para qualquer n´ umero real. Por exemplo, da conhecida identidade 1 1 1 π = 1 − + − + ··· 4 3 5 7 obtemos a seguinte sequˆencia de n´ umeros racionais convergindo para π an = 4 ·
n X (−1)i−1 i=1
2i − 1
A seguir exemplificamos como esta sequˆencia converge para π, n
an → π
1
4
2
2, 66667
.. .
.. .
800
3, 14034
.. .
.. .
1500
3, 14093
uma convergencia, como se vˆe, bastante lenta. Mas converge. Como mais um exemplo, a sequˆencia dada pela seguinte f´ormula de recorrˆencia " # c 1 (N − 1)an + N−1 an+1 = N an nos permite aproximar − com precis˜ao arbitr´aria − a raiz N −´esima de c > 0, apartir de um valor inicial a0 > 0 qualquer. √ Isto ´e, a partir de qualquer a0 > 0 dado, temos an → N c 217
A seguir apresentamos duas tabelas que exemplificam a f´ormula anterior. Em ambas adotamos a0 = 1. √
√ 3
n
an →
2
n
an →
0
1, 00000
0
1, 00000
1
1, 50000
1
2, 33333
2
1, 41667
2
1, 86168
3
1, 41422
3
1, 72200
4
1, 41421
4
1, 71006
5
1, 41421
5
1, 70998
5
Os valores fornecidos pelo computador s˜ ao √ 2 = 1, 41421356237 √ 3 5 = 1, 70997594668 Os circuitos aritm´eticos de computadores realizam apenas a opera¸c˜ao de soma (as outras opera¸c˜ oes aritm´eticas podem ser implementadas a partir de circuitos somadores). Como ent˜ao realizar c´alculos mais complicados, digamos...transcendentes? A densidade de P no espa¸co das fun¸c˜oes cont´ınuas nos garante que para toda fun¸c˜ ao cont´ınua existe um polinˆ omio que a aproxima com precis˜ao arbitr´aria. A t´ıtulo de exemplo, a sequˆencia de polinˆ omios dada a seguir ´e uma aproxima¸c˜ ao para a fun¸c˜ao seno p1 (x) = x p2 (x) = x −
x3 6
x5 x3 + 6 120 − − − − − − − − − − − − − − − − − − − − −− p3 (x) = x −
pn (x) = x −
x3 x2n−1 x5 + − . . . + (−1)n−1 6 120 (2n − 1)!
A tabela ao lado mostra o c´alculo do seno π rad): O terceiro polinˆ omio, p3 , da de 15o ( 12 sequˆencia j´a nos fornece o valor correto com seis casas decimais. Confira p √ π 2− 3 = = 0, 258819 . . . sen 12 2 218
π π π pn ( 12 ) → sen ( 12 ) x= 12
p1 (x)
0, 261799
p2 (x)
0, 258809
p3 (x)
0, 258819
Mais dois exemplos de densidade No apˆendice
(p. 223)
mostramos mais dois exemplos de densidade:
1o )
O conjunto das fun¸c˜ oes parcialmente lineares (ou fun¸co˜es poligonais) ´e denso no espa¸co C([0, 1]); Υ . Isto significa que qualquer fun¸c˜ao cont´ınua pode ser aproximada (arbitrariamente) por uma fun¸c˜ ao poligonal. 2o ) Seja D o conjunto das fra¸c˜ oes di´ adicas (fra¸c˜oes cujos denominadores s˜ ao potˆencias de 2) no intervalo [ 0, 1 [, ou seja 13 15 1 1 3 1 3 5 7 1 3 , , , , , , , , , ..., , , ... D= 2 4 4 8 8 8 8 16 16 16 16 D ´e denso em [ 0, 1 [. Isto significa que qualquer n´ umero do intervalo [ 0, 1 [ (irracionais, por exemplo) pode ser aproximado, com precis˜ao arbitr´aria, por uma fra¸c˜ao di´ adica.
5.7
Ponto de acumula¸ c˜ ao
Defini¸ c˜ ao 27 (Ponto de acumula¸c˜ao). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Um ponto p ∈ M se diz ponto de acumula¸ca ˜o de X se, e somente se, para todo r > 0, se verifica B( p; r) − { p } ∩ X 6= ∅ Isto ´e, se toda “bola furada” (sem o centro) centrada em p intersecta X. (M, d)
X
s
(M, d)
X
B(p; r)
p
s
B(p; r)−{ p }
O conjunto dos pontos de acumula¸c˜ao de X ´e chamado conjunto derivado de X e ´e indicado por X ′ ou por Xd′ quando desejarmos enfatizar a m´etrica. Observa¸ co ˜es: (i) Dizer que p ∈ M n˜ ao ´e ponto de acumula¸c˜ao de X, isto ´e, p 6∈ X ′ , significa dizer que existe r > 0 tal que B( p; r) − { p } ∩ X = ∅ (ii) Se ∀ r > 0 tivermos B(p; r) − { p } ∩ X 6= ∅, com mais raz˜ ao ainda teremos B(p; r) ∩ X 6= ∅, o que significa que todo ponto de acumula¸c˜ao de X ´e tamb´em ponto aderente de X (ver defini¸ca˜o 25, p. 204). Isto ´e, a inclus˜ao ¯ sempre se verifica. X′ ⊂ X 219
Exemplos: 1) Seja M = R e X = 1, 21 , 13 , . . . . Ent˜ao Xµ′ = { 0 }
e
(Justifique)
Xδ′ = ∅.
Neste espa¸co podemos visualizar os elementos do conjunto X “acumulando-se” em torno de 0. Observe |
0
rrrrrrrrrrrrrr r r r ···
1 1 5 4
r
1 3
r
r
1 2
1
A igualdade Xδ′ = ∅ ´e um caso especial do exemplo seguinte
2) Se (M, d) ´e um espa¸co discreto e X ⊂ M ent˜ao X ′ = ∅.
Prova: Com efeito, dado p ∈ M existe rp > 0 de modo que B(p; rp ) = { p }, logo B(p; rp ) − { p } = ∅, portanto B(p; rp ) − { p } ∩ X = ∅. Isto prova que nenhum ponto de M pode ser ponto de acumula¸c˜ao de X. Em particular considere o espa¸co (R, δ) e X = ] 0, 1 ]; 0 n˜ ao ´e ponto aderente a X, 1 ´e ponto aderente, mas n˜ ao ponto de acumula¸c˜ao de X no espa¸co (R, δ). (ex. 1, p. 204) 1 3) Considere M = [ 0, 1 [ , X = 2 , 1 e o ponto p = 0. assim: s
0
1
1 2
X
Afirmamos que 0 ´e ponto de acumula¸c˜ao de X − considerando a m´etrica quˆantica em M . Para se convencer disto basta volver ao diagrama de bolas abertas Bk (0; r), ` a p. 111. 4) M = [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ o quadrado unit´ ario e X = 21 , 1 × 12 , 1 ⊂ M .
Deixamos como tarefa a justificativa de que 0 = (0, 0) ´e ponto de acumula¸c˜ ao de X se tomarmos em M qualquer uma das trˆes m´etricas Di . 1 X
0 0
t
1
0
220
Proposi¸ c˜ ao 46. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . A seguinte identidade se verifica ¯ = X ∪ X′ X Prova: ¯ logo para todo r > 0 temos B(p; r) ∩ X 6= ∅. (⊂) Seja p ∈ X,
(⋆)
¯ ⊂ X ∪ X ′. Temos duas alternativas: p ∈ X ou p 6∈ X. Se p ∈ X ent˜ao X Se p 6∈ X ent˜ ao de (⋆) conclu´ımos que ∀ r > 0 B(p; r) − { p } ∩ X 6= ∅, isto ′ ¯ ⊂ X ∪ X ′. ´e, p ∈ X . Neste caso tamb´em temos X
¯ e X ′ ⊂ X, ¯ logo X ∪ X ′ ⊂ X. ¯ O que demonstra a (⊃) J´ a vimos que X ⊂ X identidade. Proposi¸ c˜ ao 47. Se p ´e um ponto de acumula¸ca ˜o de X ⊂ M , ent˜ ao toda bola aberta centrada em p cont´em infinitos pontos de X. Prova: Seja B(p; r) uma bola aberta que cont´em p e s´ omente um n´ umero finito de pontos de X diferentes de p (digamos a1 , a2 , . . . , an ). Precisamos mostrar que p n˜ ao ´e ponto de acumula¸c˜ao de X. Para isto ´e suficiente exibir (construir) uma bola de centro p que n˜ ao cont´em quaisquer outros pontos de X diferentes de p. Com este intuito, escolhamos ε > 0 menor do que r e menor do que a distˆ ancia de p a qualquer dos pontos: a1 , a2 , . . . , an . Ent˜ ao e mais:
ε < r ⇒ B(p; ε) ⊂ B(p; r) a1 6∈ B(p; ε)
ε < d(p, a1 ) ε < d(p, a2 ) ............
(5.6)
⇒
a2 6∈ B(p; ε) ............ an 6∈ B(p; ε)
ε < d(p, an )
Ent˜ao a bola aberta B(p; ε) que cont´em p n˜ ao cont´em a1 , a2 , . . . , an ; e por (5.6) B(p; ε) n˜ ao cont´em quaisquer outros pontos de X diferentes de p. Esta u ´ltima conclus˜ao contradiz o fato de que p ´e ponto de acumula¸c˜ao de X. Proposi¸ c˜ ao 48. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. F ⊂ M ´e fechado se, e somente se, F ′ ⊂ F. Prova:
(=⇒) Se F ´e fechado ent˜ ao F ′ ⊂ F . Com efeito, j´a vimos que
(prop. 35, p. 206)
F ⊂ M ´e fechado ⇐⇒ F¯ = F
(5.7)
Se F ´e fechado ent˜ ao, por (5.7), F¯ ⊂ F , mas como F ′ ⊂ F¯ ⇒ F ′ ⊂ F¯ ⊂ F. 221
(⇐=) Se F ′ ⊂ F ent˜ ao F ´e fechado.
Com efeito, a inclus˜ao F ⊂ F¯ ´e sempre v´alida e como, por hip´ otese, ′ ′ ¯ ¯ ⊂ F , temos que F ∪ F ⊂ F ∪ F ⇒ F = F ∪ F ⊂ F . Portanto F = F e, novamente por (5.7), temos que F ´e fechado. F′
∗
∗
∗
A tabela a seguir resume os diversos pontos vistos:
Ponto Isolado (p∈M ) Interior (p∈X ⊂M )
Conjunto
Defini¸ca ˜o ∃ r>0 : B( p; r)={ p }
◦ X ou int X
∃ r>0 : B( p; r) ⊂ X
Fronteira (p∈M )
∀ r>0 : B( p; r) ∩ X6= ∅ e B( p; r) ∩ X c 6= ∅
∂ X ou fr X
Aderente (p∈M )
∀ r>0 : B( p; r) ∩ X6= ∅
¯ X
Acumula¸ca ˜o (p∈M )
∀ r>0 :
B( p; r)−{ p } ∩ X6= ∅
222
(fecho)
X ′ (derivado)
Apˆ endice: Vejamos mais dois exemplos de densidade: O conjunto das fun¸c˜ oes parcialmente lineares (ou fun¸co˜es poligonais) ´e denso no espa¸co C([0, 1]); Υ . 1o )
Seja f ∈ C[ 0, 1 ] e ε > 0 dado. Mostremos que ∃ n0 ∈ N e pontos i ε·k ε · kn ε·k 0 i 0 , . . . , pi = , . . . , pn0 = 1, p0 = 0, , 5 n0 5 5
(onde k0 , . . . , ki , . . . , kn0 s˜ ao inteiros) tais que, se g ´e a poligonal ligando os pi , ent˜ao, Υ(f, g) = max |f (x) − g(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] < ε yk
4ε 5 3ε 5 2ε 5 ε 5
0 −ε 5 − 25ε
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r r r r r
r r r r
r r r r
1/n0 2/n0
r
r
r r r r r
r r r r r
r r r r r
r r r r r
r r r r r
r
f g
r
r r r
r
r
xi
1
r r
r
r
1 n0
r
ε 5
Prova: f sendo cont´ınua no intervalo I = [ 0, 1 ], ´e tamb´em uniformemente cont´ınua neste mesmo intervalo (teorema [AR] 10, p. 604) ent˜ao, por defini¸c˜ao de continuidade uniforme (ver p. 604), dado ε > 0 existe δ > 0 de modo que ε (5.8) ∀ x, y ∈ [ 0, 1 ], |x − y| < δ ⇒ |f (x) − f (y)| < 5 1 < δ, logo se (5.8) ´e verdade, com Para este δ > 0 existe n0 ∈ N tal que n0 mais raz˜ ao ainda ´e verdade que ∀ x, y ∈ [ 0, 1 ], |x − y| ≤
1 ε < δ ⇒ |f (x) − f (y)| < n0 5
Consideremos o seguinte subconjunto de I × R: o n ε·k i , yk = onde i = 0, 1, . . . , n0 ; k ∈ Z A = (xi , yk ) : xi = n0 5
Obs: A, na figura anterior, ´e a malha discreta. 223
(5.9)
Seja xi arbitrariamente fixado, temos que 5ε · f (xi ) ´e um n´ umero real e, como tal, situa-se entre dois inteiros consecutivos, isto ´e, existe k ∈ Z de modo que 5 k ≤ · f (xi ) < k + 1 ε multiplicando esta desigualdade por ε/5 temos ε·k ε·k ε ≤ f (xi ) < + 5 5 5 Fa¸camos yk = ε · k/5. Conclus˜ao: existe um ponto (xi , yk ) ∈ A tal que yk ≤ f (xi ) < yk + 5ε . Ou ainda: fixado arbitrariamente uma abscissa xi existe uma ordenada yk de modo que (ver gr´ afico anterior) ε ε 0 ≤ f (xi ) − yk < ⇒ |f (xi ) − yk | < 5 5 Observe que ε yk = g(xi ) ⇒ |f (xi ) − g(xi | < 5 Conclus˜ao: Fixada qualquer abscissa xi sempre podemos obter uma ordenada yk = g(xi ) de tal modo que a distˆ ancia (vertical) entre f (xi ) e g(xi ) ´e menor que ε/5. E mais: o ponto (xi , yk ) ∈ A satisfazendo a desigualdade anterior encontra-se abaixo do gr´ afico de f . Isto pode ser constatado no gr´ afico anterior.
Vamos agora interromper por um momento nossa demonstra¸c˜ao para exemplificar a conclus˜ao anterior para a fun¸c˜ao dada por f (x) = x2 + 14 , por exemplo. Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se x, y ∈ [ 0, 1 ] ent˜ao |x − y| < δ ⇒ |f (x) − f (y)| < ε ⇒ |x2 − y 2 | < ε ⇒ |x + y| · |x − y| < ε Por outro lado 0 ≤ x, y ≤ 1
Dado ε > 0, tomando δ = |x − y| < δ =
ε 2
⇒
0≤x+y ≤2
⇒
0 ≤ (x + y)|x − y| ≤ 2|x − y|
teremos
ε ⇒ 2|x − y| < ε 2 ⇒ |x + y||x − y| ≤ 2|x − y| < ε ⇒ |x2 − y 2 | < ε. 224
Por exemplo, para ε = 1 temos: n1 < δ = 2ε ⇒ n1 < 21 . Vamos 0 0 escolher n0 = 4 (seria igualmente v´alido n0 = 3). Ent˜ao i 1·k A = (xi , yk ) : xi = , yk = onde i = 0, 1, 2, 3, 4; k ∈ Z 4 5 A seguir fornecemos maiores detalhes: yk
xi
f (xi )
ε k yk = 5 k f (xi )−yk
5 f (xi ) ε
ε 5
0,00 0,2500 1,2500 1
0,2
0,0500
0,2
0,25 0,3125 1,5625 1
0,2
0,1125
0,2
0,50 0,5000 2,5000 2
0,4
0,1000
0,2
0,75 0,8125 4,0625 4
0,8
0,0125
0,2
1,00 1,2500 6,2500 6
1,2
0,0500
0,2
r r 1,0 r 0,8 r 0,6 r 0,4 r f 0,2 r g r 0 −0,2 r −0,4 r
r r r r r r r r 0,25 r r
r r r r r r r r r r
r r r r r r r r 0,75 r r
ε=1 ; n0 =4.
r r r r r r r r 1 r r
xi
Vejamos mais um exemplo. Consideremos desta vez ε = 0, 5; ent˜ao 1 ε 1 1 ⇒ <δ= < n0 2 n0 4 Vamos escolher n0 = 5. Ent˜ ao i 0, 5 · k A = (xi , yk ) : xi = , yk = onde i = 0, 1, 2, 3, 4, 5; k ∈ Z 5 5 A seguir fornecemos maiores detalhes yk
xi f (xi )
5 f (xi ) ε
k
yk = 5ε k f (xi )−yk
ε 5
0,0
0,25
2,5
2
0,2
0,05
0,1
0,2
0,29
2,9
2
0,2
0,09
0,1
0,4
0,41
4,1
4
0,4
0,01
0,1
0,6
0,61
6,1
6
0,6
0,01
0,1
0,8
0,89
8,9
8
0,8
0,09
0,1
1,0
1,25
12,5
12
1,2
0,05
0,1
r r r 1,0 r r 0,8 r r 0,6 r r 0,4 r rf 0,2 r rg r 0r −0,2 r
r r r r r r r r r r r r r r0,2 r r
r r r r r r r r r r r r r r r r
r r r r r r r r r r r r r r0,6 r r
r r r r r r r r r r r r r r r r
ε=0,5 ; n0 =5.
225
r r r r r r r r r r r r r r r1 r
xi
Pois bem, voltando ` a demonstra¸c˜ao, temos xi+1 − xi =
i 1 i+1 − = n0 n0 n0
⇒ |xi+1 − xi | ≤
1 n0
Portanto, de (5.9), temos f (xi+1 ) − f (xi ) < ε/5. Sendo assim temos g(x ) − g(x ) ≤ |f (x ) − g(x )| + f (x ) − f (x ) i+1 i i i i+1 i + g(xi+1 ) − f (xi+1 ) <
ε ε ε 3ε + + = 5 5 5 5
Para qualquer ponto z ∈ [ 0, 1 ] existe xi satisfazendo xi ≤ z < xi+1 . Como o gr´ afico de g entre xi e xi+1 ´e um segmento de reta, temos duas possibilidades: g ´e n˜ ao-decrescente ou g ´e n˜ ao-crescente entre xi e xi+1 . Consideremos g n˜ ao-decrescente neste intervalo (para g n˜ ao-crescente o racioc´ınio ´e o mesmo e seremos conduzidos ao mesmo resultado), ent˜ao xi ≤ z < xi+1 ⇒ g(xi ) ≤ g(z) ≤ g(xi+1 ) ⇒ 0 ≤ g(z) − g(xi ) ≤ g(xi+1 ) − g(xi ) 3ε ⇒ 0 ≤ |g(z) − g(xi )| ≤ g(xi+1 ) − g(xi ) < 5
Tamb´em
xi ≤ z < xi+1 ⇒ 0 ≤ z − xi < xi+1 − xi = ⇒ |f (z) − f (xi )| <
1 n0
ε 5
Logo, |f (z) − g(z)| ≤ |f (z) − f (xi )| + |f (xi ) − g(xi )| + |g(xi ) − g(z)| <
ε 5
ε 5
+
+
3ε 5
=ε
Como z ∈ [ 0, 1 ] ´e arbitr´ario, segue que max |f (x) − g(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] < ε ⇒ Υ(f, g) < ε. 226
Representa¸ c˜ os bin´ arias 2o ) O nosso objetivo agora ser´ a estabelecer um algoritmo que nos permita escrever um n´ umero x ∈ [ 0, 1 [ na base bin´ aria. Proposi¸ c˜ ao 49. Seja D o conjunto das fra¸co ˜es di´ adicas∗ no intervalo [ 0, 1 [ : 13 15 1 1 3 1 3 5 7 1 3 , , , , , , , , , ..., , , ... D= 2 4 4 8 8 8 8 16 16 16 16 D ´e denso em [ 0, 1 [ .
(munido da m´ etrica µ)
Prova: Seja x ∈ [ 0, 1 [; dado ε > 0 arbitr´ario devemos mostrar que no intervalo ] x − ε, x + ε [ existe um ponto m/q ∈ D. 1 1 A desigualdade n < vale para todo n natural. Pela propriedade 2 n arquimediana existe um natural n0 de modo que 1 1 1 < ε ⇒ n0 < < ε. n0 n0 2 n
Tomando q = 2 0 , considere os intervalos h 1h h1 2h h2 3h hq − 2 q − 1h hq − 1 h 0, , , , ..., , , , , ,1 q q q q q q q q m+1 Como [ 0, 1 [ ´e a uni˜ ao dos intervalos acima, um deles, digamos m q, q m+1 cont´em x, isto ´e, m ao q ≤ x < q . Ent˜ m+1 m m 1 m ≤x< ⇔ ≤x< + q q q q q Mas
1 q
< ε; logo m 1 m 1 <ε ⇒ + < +ε q q q q m 1 m + < +ε q q q m ⇒ x−ε< . q ⇒ x<
Portanto x−ε<
m ≤x
Ou seja, o intervalo aberto ] x − ε, x + ε [ cont´em o ponto a D. Por conseguinte D ´e denso em [ 0, 1 [. ∗
Fra¸c˜ oes com numeradores inteiros e denominadores potˆencias de 2.
227
(5.10) m q
que pertence
Esta proposi¸c˜ ao garante que qualquer n´ umero do intervalo [ 0, 1 [ pode ser aproximado, com precis˜ao arbitr´aria, por uma fra¸c˜ao di´ adica. O teorema seguinte nos mostra como obter a representa¸c˜ao bin´ aria de qualquer ponto do intervalo [ 0, 1 [ , com uma precis˜ao arbitr´aria. Teorema 3 (Gentil). Dado x ∈ [ 0, 1 [ e ε > 0 existem um natural n0 e digitos xi ∈ { 0, 1 } tais que x=
xn −1 xn0 x2 x1 0 + + · · · + + n n −1 21 22 2 0 2 0
com erro menor que ε. Prova: Escolhamos n0 ∈ N de modo que 2n10 < ε. Fa¸camos 2n0 = q. Tal como na proposi¸c˜ ao 49 existe um natural m de modo que m+1 m ≤x< q q
(5.11)
Desta equa¸c˜ ao obtemos m, assim: m+1 m ≤x< ⇒ m ≤ q · x < m + 1 ⇒ m = ⌊q · x⌋. q q De seguida obtemos o desenvolvimento bin´ ario do natural m, assim: m = x1 · 2n0 −1 + x2 · 2n0 −2 + · · · + xn
· 2n0 −(n0 −1) + xn · 2n0 −n0
0 −1
0
Ou seja, m = x1 · 2n0 −1 + x2 · 2n0 −2 + · · · + xn
0 −1
· 21 + xn0 · 20
(5.12)
Dividindo a equa¸c˜ ao anterior por 2n0 obtemos xn −1 xn0 x1 m x2 0 + + · · · + n0 = n n0 −1 + 1 2 2 2 2 2 0 2
(5.13)
Da equa¸c˜ ao (5.11) vemos que (5.13) ´e um valor aproximado (menor ou igual) de x, isto ´e xn −1 xn0 x2 m x1 0 ≃x n0 = n 1 + 2 + ··· + n0 −1 + 2 2 2 2 0 2 e, pelo lema, temos que |x − x ˜| < ε, ∗
onde x ˜= ∗
m n . 2 0
(5.14)
∗
Justificativa de (5.12): Os digitos bin´ arios no desenvolvimento de m devem ser todos nulos a partir da potˆencia 2n0 (inclusive). 228
De fato, se tal n˜ ao acontecesse ter´ıamos m ≥ 2n0 , o que ´e inconsistente com m ≤ q · x, isto ´e, m ≤ 2n0 · x; pois sendo x < 1 ⇒ 2n0 · x < 2n0 ⇒ m < 2n0 . ao corretos (e s˜ ao u ´nicos) Questionamento: Os digitos (x1 x2 . . . xn0 ) est˜ m para a fra¸c˜ ao x ˜ = n0 , mas esta ´e apenas uma aproxima¸c˜ao para x (isto ´e, 2 |x − x ˜| < ε). At´e que ponto podemos confiar que estes sejam os n0 primeiros digitos do desenvolvimento de x?. Supondo que o desenvolvimento de x seja x=
xn −1 xn +1 xn +2 xn0 x2 x1 0 0 0 n0 + 1 + 2 + ··· + n0 −1 + n0 +1 + n0 +2 + · · · 2 2 2 2 2 2
para nos assegurar que os digitos (x1 x2 . . . xn0 ) estejam corretos para x, devemos escolher∗ o menor natural n0 satisfazendo 2n01+1 < ε, isto ´e, 1 (n0 −1)+1
2
=
1 ≥ε n 2 0
De fato, suponhamos que apenas o digito xn esteja incorreto, sendo assim 0
|x − x ˜| =
xn +1 1 0 n0 + n0 +1 + · · · ≥ ε 2 2
Isto contradiz (5.14). Se qualquer outro digito xk com k < n0 estiver incorreto, chegaremos `a mesma contradi¸c˜ ao. Conclus˜ao: Escolhendo n0 o menor natural satisfazendo 2n01+1 < ε podemos assegurar que os digitos x1 , x2 , . . . , xn0 , no desenvolvimento bin´ ario de x ∈ [ 0, 1 [, est˜ ao todos corretos. Algoritmo Os argumentos anteriores nos facultam um algoritmo para o desenvolvimento bin´ ario de um x ∈ [ 0, 1 [. Vejamos como atrav´es de um
Exemplo: Obter o desenvolvimento bin´ ario de x = 1/3 com uma precis˜ ao ε = 0, 01. Solu¸ ca ˜o: Vimos que devemos escolher o menor n0 satisfazendo n01+1 < ε, 2 ent˜ao 1 1 n0 + 1 > log2ε ⇒ n0 = log2ε ∗ A propriedade arquimediana e o Princ´ıpio da boa ordena¸c˜ ao, conjuntamente, nos garantem que esta escolha sempre ´e poss´ıvel.
229
Sendo assim, n0 = Observe que
log
1 0,01 2
1 = 21. =6 ⇒ m= 2 · 3
6
21 1 m − x = 6 − = 0, 005208 . . . < ε. q 3 2
Agora desenvolvemos m = 21 na base bin´ aria:
21 = 1 · 24 + 0 · 23 + 1 · 22 + 0 · 21 + 1 · 20 Dividindo a equa¸c˜ ao anterior por q = 2n0 = 26 , temos 1 0 1 0 1 21 6 = 2 + 3 + 4 + 5 + 2 2 2 2 2 26 0 1 0 1 0 1 = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 2 2 2 2 2 2 Conclus˜ao: (010101)2 ´e o desenvolvimento bin´ ario de x = 1/3 com erro menor que um cent´esimo. Para que possamos “automatizar” todo o processo anterior podemos adaptar a f´ormula (1.13), assim: (p. 39)
xn =
1, se 0, se
m
n −n 2 0
m
n0 − n
2
´e ´ımpar; (n = 1, 2, . . . , n0 ) ´e par.
Exemplo: Considere o exemplo anterior em que n0 = 6 e m = 21. Ent˜ao: m 21 n=1 ⇒ = = 0 ⇒ x1 = 0 n0 − n 6−1 2
2
n=2 ⇒
m
n0 − n
2
=
21
6−2
2
=1
⇒ x2 = 1
.................................................. m 21 = = 21 ⇒ x6 = 1 n=6 ⇒ n0 − n 6−6 2
2
Alternativamente, podemos escrever a f´ormula anterior sob a seguinte nota¸c˜ ao: j xn = MOD
m n0 − n
2
k
,2 230
(n = 1, 2, . . . , n0 )
Leia-se: xn = resto da divis˜ao de
j
m n0 − n
2
k
por 2.
O programa a seguir
(Calculadora HP 50g)
≪ → x ε ≪ p FLOOR (LOG(1/ε)/LOG(2)) p EVAL p n0 p STO p FLOOR (2 ∧ n0 ∗ x ) p EVAL p m p STO 1 n0 FOR n p FLOOR (m/2 ∧ (n0 − n)) p EVAL 2 MOD NEXT n0 →ARRY ≫ ≫ tem como dados de entrada x e a precis˜ao ε, e sai com um vetor contendo o desenvolvimento bin´ ario de x − com precis˜ao ε. Por exemplo, para x = 13 e ε = 0, 01 o programa nos devolve [ 0 1 0 1 0 1 ]. Representa¸ co ˜es tern´ arias O que foi feito para a base 2 pode ser repetido para a base 3. Dado ε > 0 escolhemos o menor n0 de modo que 1
1
n0 +1
3
< ε ⇒ n0 + 1 > log3ε ⇒ n0 =
Obtido q = 3n0 , da equa¸c˜ ao
m q
≤x<
m+1 q
1
log3ε
obtemos m; assim:
m+1 m ≤x< ⇒ m ≤ q · x < m + 1 ⇒ m = ⌊q · x⌋ q q Em seguida obtemos o desenvolvimento tern´ ario de m ∈ N, ou seja m = x1 · 3n0 −1 + x2 · 3n0 −2 + · · · + xn
0 −1
· 31 + xn · 30 0
Dividindo a equa¸c˜ ao anterior por 3n0 , temos xn −1 xn0 m x1 x2 0 ≃x n0 = n n0 −1 + 1 + 2 + ··· + 3 3 3 3 0 3 Ilustraremos o desenvolvimento em base 3 atrav´es de um exemplo.
231
Exemplo: Obter o desenvolvimento tern´ ario de x = 2/7 com uma precis˜ao ε = 0, 01. Solu¸ c˜ ao: n0 = Observe que
log
1 0,01 3
2 =4 ⇒ m= 3 · = 23. 7 4
23 2 m − x = 4 − = 0, 001764 . . . < 0, 01. q 7 3 Agora desenvolvemos m = 23 na base 3, temos 23 = 2 · 32 + 1 · 31 + 2 · 30
Dividindo a equa¸c˜ ao anterior por q = 3n0 = 34 , temos 2 1 2 23 4 = 2 + 3 + 3 3 3 34 0 2 1 2 1 + 2 + 3 + 4 3 3 3 3 Conclus˜ao: (0212)3 ´e o desenvolvimento na base 3 de x = 2/7 com erro menor que um cent´esimo. =
Para que possamos “automatizar” todo o processo anterior fornecemos a seguinte f´ormula: j xn = MOD
m n0 − n
3
k
,3
Leia-se: xn = resto da divis˜ao de O programa a seguir
(n = 1, 2, . . . , n0 )
j
m n0 − n
3
k
por 3. (Calculadora HP 50g)
≪ → x ε ≪ p FLOOR (LOG(1/ε)/LOG(3)) p EVAL p p n0 p STO FLOOR (3 ∧ n0 ∗ x ) p EVAL p m p STO 1 n0 FOR n p FLOOR (m/3 ∧ (n0 − n)) p EVAL 3 MOD NEXT n0 →ARRY ≫ ≫
tem como dados de entrada x e a precis˜ao ε, e sai com um vetor contendo o desenvolvimento tern´ ario de x − com precis˜ao ε. Por exemplo, para x = √12 e ε = 0, 001 o programa nos devolve [ 2 0 1 0 0 2 ]. 232
5.8
Exerc´ıcios ◦
◦
1) Seja M = R e X = Q. Encontre: Qµ e Qδ . 2) Considere o espa¸co (R, µ) e o seu subespa¸co (N, µ), onde N = [ 0, 2 ]. O conjunto X = [ 0, 1 [ n˜ ao ´e aberto no espa¸co (R, µ), mostre que X ´e aberto no subespa¸co (N, µ). 3) O conjunto X = ] 0, 1 [ ´e aberto no espa¸co (R, µ). Mostre que o conjunto Y = ] 0, 1 [ × { 0 } n˜ ao ´e aberto no espa¸co (R2 , D1 ). 4) O conjunto X = ] − ∞, +∞ [ ´e aberto no espa¸co (R, µ). Mostre que o conjunto Y = ] − ∞, +∞ [ × { 0 } ´e fechado no espa¸co (R2 , D1 ). 5) Seja M = R2 , mostre que o conjunto X = (x, y) ∈ R2 : x > 1 ´e aberto em R2 munido das m´etricas D2 e D3 . 6) Seja M = R e X =] a, b ]. No espa¸co (R, µ) b ´e ponto fronteira de X, mas n˜ ao ponto interior. No espa¸co (R, δ) sucede exatamente o contr´ ario. A tabela seguinte resume nossas asser¸c˜oes: ◦
(R, µ) b ∈ ∂Xµ b 6∈ Xµ ◦
(R, δ) b 6∈ ∂Xδ b ∈ Xδ Deixamos ao leitor as justificativas. 7) Seja M = R e X = Q. Deixamos como exerc´ıcio ao leitor a confirma¸c˜ao da tabela: ◦
Q ∂Q (R, µ) ∅
R
Q
∅
(R, δ)
Aqui temos um exemplo de um conjunto que est´ a contido, propriamente, em sua fronteira: ∂ Q = R. 8) Consideremos o espa¸co m´etrico [ 0, 1 ], µ e seja X = Q ∩ [ 0, 1 ]. Encontre: ∂X. 9) Prove que em todo espa¸co m´etrico (M, d), o complementar de uma bola fechada ´e um conjunto aberto. [ . No espa¸co (R, µ), 10) Considere a fam´ılia {Xn }n∈N , onde Xn = ] − n1 , n1 T os Xn (n = 1, 2, . . .) s˜ ao conjuntos abertos. Prove que n∈N Xn = { 0 }.
11) Mais geralmente: num espa¸co m´etrico (M, d) qualquer, fixado p ∈ M , \ 1 B p, fazendo Bn = B p, n1 (n = 1, 2, . . .), prove que = { p }. n n∈N
233
− Ponto Exterior: Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Considere X ⊂ M . Um ponto p 6∈ X ´e chamado ponto exterior de X se existir r > 0, tal que B(p; r) ⊂ X c . Ou seja, um ponto ´e exterior a um conjunto quando ´e interior do complementar deste conjunto. 12) Considere M = [ 0, 1 [ , X = 21 , 1 e o ponto p = 0. assim: ¬1
0
s
1
2
M
X
p=0
a ) Mostre que 0 ´e um ponto exterior a X no espa¸co ([ 0, 1 [ , µ); b ) Mostre que 0 n˜ ao ´ e um ponto exterior a X no espa¸co ([ 0, 1 [ , k). 13) Seja M = [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ o quadrado unit´ ario e X = 21 , 1 × 12 , 1 ⊂ M ; mostre que 0 = (0, 0) ´e ponto aderente de X se tomarmos em M qualquer uma das trˆes m´etricas Di . Ademais, mostre que 0 = (0, 0) n˜ ao ´ e um ponto exterior a X. 1 X
0 0
t
1
0
14) Com respeito ao exerc´ıcio anterior a proposi¸c˜ao 42 (p. 212) garante que existe uma uma sequˆencia (xn ) de pontos de X tal que lim xn = 0. Encontre uma sequˆencia satisfazendo estas condi¸c˜oes. 15) Utilize a identidade que comparece ario 5 (p. 209) para provar no corol´ 1 1 que a fronteira de X = 1, 2 , 3 , . . . no espa¸co (R, µ) ´e ∂X = X ∪ { 0 }. 16) Seja M = R2 , encontre a fronteira de X = (x, y) ∈ R2 : x > 1 em 2 cada uma das m´etricas do R . Prove suas afirmativas. 17) Prove que toda bola fechada B[ p; r ] = x ∈ M : d(x, p) ≤ r num espa¸co m´etrico (M, d) ´e um conjunto fechado. 18) Dados X, Y ⊂ M mostre que: ◦
◦
◦
a ) X ∪ Y ⊂ (X ∪ Y)
◦
◦
◦
◦
◦
Dˆe um exemplo em que se tenha X ∪ Y 6= (X ∪ Y). 234
◦
b ) X ∩ Y = (X ∩ Y)
19) Sejam X e Y subconjuntos de M . Mostre que: ¯ ∪ Y¯ ; a) X ∪ Y = X
¯ ∩ Y¯ . b) X ∩ Y ⊂ X
¯ ∩ Y¯ . Dˆe um exemplo em que se tenha X ∩ Y 6= X
20) Num espa¸co m´etrico (M, d) considere X ⊂ M .
¯ ´e o menor fechado que cont´em X, isto ´e, se F ´e fechado a ) Mostre que X ¯ ⊂ F. e X ⊂ F , ent˜ ao X
¯ ´e a interse¸c˜ b ) Mostre que X ao de todos os fechados de M que cont´em F . 21) Mostre que o conjunto X = { (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn : x1 > 0, . . . , xn > 0 } ´e aberto em rela¸c˜ ao a qualquer das m´etricas do Rn . 22) Considere sobre M = R − { −1, 1 } a m´etrica induzida pela usual de R. Mostre que a bola fechada B[ 0; 1 ], em M , ´e um subconjunto aberto do espa¸co M . 23) Seja V um espa¸co vetorial sobre R. Um subespa¸co vetorial de V ´e um subconjunto U ⊂ V tal que: ( i ) 0 ∈ U; ( ii ) u, v ∈ U ⇒ u + v ∈ U ; ( iii ) u ∈ U e λ ∈ R ⇒ λ u ∈ U .
Se U ´e um subespa¸co vetorial do Rn tal que U 6= Rn mostre que U n˜ ao ´e aberto. Sugest˜ ao: Mostre que qualquer bola aberta de centro no vetor 0 ∈ U cont´em n vetores n˜ ao nulos do tipo (a1 , 0, . . . , 0), (0, a2 , 0, . . . , 0), . . . , (0, 0, . . . , an ) e portanto n˜ ao pode estar contida em U visto que U 6= Rn . 24) Mostre que s˜ ao fechados a ) Z em R; b ) F = { (x, y) ∈ R2 : xy = 1 } em R2 ;
c ) A = { (x, y) ∈ R2 : x, y ≥ 0 } em R2 . 25) Achar o conjunto derivado de a ) Z nos espa¸cos (R, µ) e (R, δ); b ) Q ∩ [ 0, 1 [ nos espa¸cos ([ 0, 1 [, µ) e ([ 0, 1 [, k); c ) (Q × Q) ∩ ([ 0, 1 [ × [ 0, 1 [) nos espa¸cos ([ 0, 1 [ 2 , D1 ) e ([ 0, 1 [ 2 , D1 ); d ) Z × Q em R2 .
26) Se um conjunto e seu complementar tˆem ambos interior vazio, mostre que a fronteira de cada um deles ´e o espa¸co inteiro. 235
Essa p´ agina ficaria em branco (“ociosa”) raz˜ ao porque decidir aproveit´ala para divulgar mais um resultado meu em matem´ atica.
Uma F´ ormula In´ edita Nos livros de C´ alculo I constam algumas f´ormulas para se encontrar a soma de potˆencias dos n primeiros n´ umeros naturais, por exemplo: 1 + 2 + 3 + ··· + n =
n(n + 1) 2
Ou ainda 12 + 22 + 32 + · · · + n2 =
n(2n + 1)(n + 1) 6
13 + 23 + 33 + · · · + n3 =
n2 (n + 1)2 4
Ou ainda
(5.15)
Durante muitos anos − por d´ecadas, talvez s´eculos − os matem´ aticos estiveram ` a procura de uma f´ormula u ´nica que incluisse como caso especial as anteriores. . . Ningu´em teve ˆexito. Coube a mim materializar essa aspira¸c˜ao. Em 1997 demonstrei o seguinte: Teorema 4 (Gentil/1997). Sendo m um natural arbitrariamente fixado, ´e v´ alida a seguinte identidade: m X n m m m m 1 + 2 + 3 + ··· + n = a j + 1 (m−j) j=0
Onde:
j X
a(m−j) =
k=0
Prova: Ver [6].
j m (−1) (1 − k + j) k k
Vejamos um exemplo de aplica¸c˜ao desta f´ormula (m = 3): 3 X n 1 + 2 + 3 + ··· + n = a j + 1 (3−j) 3
3
3
3
j=0
n n n n = a3 + a2 + a1 + a 1 2 3 4 0
Onde: a(3−j) =
j X k=0
(−1)k
j 3 (1 − k + j) ; k
( j = 0, 1, 2, 3. )
Substituindo e simplificando chegamos ao resultado (5.15). 236
Cap´ıtulo
6
˜ FUNC ¸ OES CONT´ıNUAS Eu penso que seria uma aproxima¸ca ˜o relativamente boa da verdade (que ´ e demasiadamente complexa para permitir qualquer coisa melhor que uma aproxima¸ca ˜o) dizer que as id´ eias matem´ aticas tˆ em sua origem em situa¸co ˜es emp´ıricas . . . Mas, uma vez concebidas, elas adquirem uma identidade e crescimento pr´ oprios governados quase que inteiramente por motiva¸co ˜es est´ eticas.
(John Von Newmann)
Introdu¸ c˜ ao Aqui generalizamos para o contexto dos espa¸cos m´etricos o (importante) conceito de fun¸c˜ ao cont´ınua, estudado no C´ alculo e na An´alise. Prevendo poss´ıveis “crises existˆenciais” pelas quais o leitor poder´ a vir a passar em mais este cap´ıtulo ´e que julgamos oportuno lembrar: “[. . .] e ´e por isto que resultados incompat´ıveis entre si podem ser igualmente verdadeiros, contanto que os relacionemos com m´etricas distintas.” (par´ afrase, p. 170)
Defini¸ c˜ ao 28 (Continuidade). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Diz-se que a aplica¸ca ˜o f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e cont´ınua no ponto a ∈ M quando, para todo ε > 0 dado arbitrariamente, pudermos exibir δ > 0 de modo que se d1(x, a) < δ ⇒ d2 f (x), f (a) < ε. (M, d1 )
(N, d2 )
xr r δ a
f
rf (x) rf (a)
ε ∃ δ>0
∀ ε>0
• Defini¸c˜ ao de continuidade em um ponto a ∈ M. 237
Diremos que f ´e cont´ınua em M quando for cont´ınua em todo ponto de M .
Caracteriza¸c˜ ao de continuidade via bolas abertas Uma defini¸c˜ ao equivalente de continuidade ´e dada na seguinte Proposi¸ c˜ ao 50. Uma fun¸ca ˜o f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e cont´ınua no ponto a ∈ M se, e somente se, dada arbitrariamente uma bola Bd f (a); ε existe 2 uma bola Bd (a; δ) de modo que 1
f Bd (a; δ) ⊂ Bd f (a); ε 1
2
(N, d2 )
(M, d1 ) xr r δ a
rf (x) rf (a)
f
∀ Bd (f (a); ε) 2
∃ Bd (a; δ) 1
f ( Bd (a; δ) ) = { f (x) : x ∈ Bd (a; δ) } 1
1
Resumindo: para mostrar que f : M −→ N ´e cont´ınua em a ∈ M primeiramente devemos centrar em f (a) uma bola de raio ε. Em seguida devemos procurar um raio δ > 0 de tal modo que aimagem, por f , de todo ponto x ∈ Bd (a; δ) caia dentro da bola Bd f (a); ε . 1
2
Descontinuidade
Quando uma fun¸c˜ ao f n˜ ao ´e cont´ınua no ponto a, dizemos que f ´e descont´ınua nesse ponto. Isto significa que existe uma bola Bd f (a); ε0 com a 2 seguinte propriedade: para toda bola centrada em a, isto ´e, Bd (a; δ), pode1 mos exibir um ponto xδ ∈ Bd (a; δ) tal que f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0 . 1
2
A seguir colocamos em s´ımbolos, tanto a continuidade quanto a descontinuidade em um ponto a ∈ M : (continuidade em a)
∀
ε>0
∃
ε0 >0
∃
∀ x ∈ Bd (a; δ) ⇒ f (x) ∈ Bd f (a); ε
δ>0 x
∀
1
2
∃ xδ ∈ Bd (a; δ) ∧ f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0
δ>0 xδ
1
2
(descontinuidade em a)
Nota: ∧ ´e o s´ımbolo da conjun¸ca ˜o “e” . Para entender como esse s´ımbolo aparece na nega¸c˜ ao de continuidade veja corol´ ario 49. (p. 579)
238
Importante! Deve ficar bem claro (transparente) para o leitor o papel desempenhado pelos n´ umeros ε e δ, na defini¸c˜ ao de continuidade. Com este intuito observemos o conte´ udo desta defini¸c˜ ao de uma outra perspectiva: Suponhamos que vocˆe queira provar, a um seu − fict´ıcio − advers´ ario, que f ´e cont´ınua em um ponto a ∈ M . Pois bem, seu advers´ ario fornecer´ a a vocˆe os valores de ε > 0. Para cada valor de ε vocˆe ter´ a que devolver ao seu advers´ ario um n´ umero δ > 0 satisfazendo a condi¸c˜ao ∀ x ∈ M com d1(x, a) < δ ⇒ d2 f (x), f (a) < ε.
Se o leitor conseguir esta fa¸canha, para cada valor de ε que lhe for fornecido, ent˜ ao ter´ a provado que f ´e cont´ınua no ponto a. O raio δ procurado, ami´ ude ´e fun¸c˜ao do ε fornecido, o que justificar´ a− por vezes − a nota¸c˜ ao δ = δ(ε) = δε . Generalizando Por oportuno, n˜ ao apenas na defini¸c˜ao de continuidade, mas em qualquer outra que aparecer “para todo” ( ∀ ) ´e seu advers´ ario quem fixa (arbitrariamente) um valor; j´a aonde aparece “existe” ( ∃ ) ´e vocˆe que devolve (exibe) a ele um valor (por exemplo, veja a defini¸ca˜o de convergˆencia de sequˆencias, p. 141). Como ilustra¸c˜ ao, vejamos a defini¸c˜ao de descontinuidade em um ponto:
∃
ε0 >0
∀
∃ xδ ∈ Bd (a; δ) ∧ f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0
δ>0 xδ
1
2
Neste caso se vocˆe leitor quer provar a seu advers´ ario que uma dada fun¸c˜ao ´e descont´ınua num ponto a ∈ M , ent˜ao vocˆe deve exibir a ele um ε0 > 0 de sorte que: para todo δ > 0 que seu advers´ ario fixar, vocˆe deve exibir um ponto xδ dentro da bola de centro a e raio δ e tal que a imagem deste ponto n˜ ao caia dentro da bola de centro f (a) e raio ε0 .
Aceder ` a ciˆ encia ´ e rejuvenescer espiritualmente, ´ e aceitar uma brusca muta¸ca ˜o que contradiz o passado.
(Bachelard)
A afirmativa, remanescente do C´ alculo, de que o gr´ afico de uma fun¸c˜ao cont´ınua em um ponto n˜ ao apresenta “salto” neste ponto, deixa de valer na Topologia. Aqui veremos um importante exemplo de uma fun¸c˜ao cujo gr´ afico apresenta um salto em um ponto e mesmo assim a fun¸c˜ao ´e cont´ınua 239
neste ponto. Por outro lado veremos um exemplo de uma fun¸c˜ao descont´ınua em todo ponto e cujo gr´ afico ´e “liso” em todo o dom´ınio da fun¸c˜ao. Exemplos e Contraexemplos: ( x, se x 6= 1; 1) Seja f : R −→ R dada por f (x) = 2, se x = 1. cujo gr´ afico est´ a dado a seguir f (x)
2
q
r
1
q x
q1
O o objetivo ser´ a estudar a continuidade de f no ponto x = 1, em diferentes espa¸cos m´etricos. Vamos confirmar dois ´ıtens da seguinte tabela f : (M, d1 ) −→ (N, d2 )
x=1
1.1)
(R, δ)
(R, δ)
C
1.2)
(R, µ)
(R, δ)
D
1.3)
(R, δ)
(R, µ)
C
1.4)
(R, µ)
(R, µ)
D
onde: C significa cont´ınua e D significa descont´ınua. 1.1) f : (R, δ) −→ (R, δ) Aqui existe a possibilidade de confus˜ ao entre a m´etrica δ e o n´ umero real δ > 0, raz˜ ao porque quando os dois ocorrerem em um mesmo contexto ˙ colocaremos um ponto sobre o delta m´etrica: δ. Para mostrar que f ´e cont´ınua no ponto x = 1 vamos centrar uma bola − de raio ε arbitr´ario − em f (1) = 2. Temos { f (1) }, se 0 < ε ≤ 1; Bδ˙ f (1); ε = R, se ε > 1.
Devemos exibir δ > 0 de tal modo que a imagem de todo ponto dentro da bola Bδ˙ (1; δ) caia dentro da bola Bδ˙ (2; ε). 240
´ suficiente escolher δ = 1 . Pois E 2 1 = f ({ 1 }) = { 2 } ⊂ Bδ˙ f (1); ε ; ∀ ε > 0. f Bδ˙ 1; 2
Isto mostra que f ´e cont´ınua no ponto x = 1, considerando (R, δ) como espa¸co de partida e de chegada de f . Vejamos a estenografia da continuidade: ∀
ε>0
∀ x ∈ Bd (a; δ) ⇒ f (x) ∈ Bd f (a); ε
∃
1
δ>0 x
δ=
1 2
B˙ (1; δ
1 2
2
)={1}
B˙ (f (1); ε>1) = R ou B˙ (f (1); ε≤1) = { 2 }
f (1) = 2
δ
δ
Agora vejamos a geometria da situa¸c˜ao: f (x) B˙ (f (1); ε>1) = R δ
ց 2
q
f (x) B˙ (f (1); ε ≤ 1) = { 2 } δ ց 2 r
r
1
r
1
q
q
r
1տ B˙ (1; δ
x 1 2
)={ 1 }
r
1տ B˙ (1; δ
x 1 2
)={ 1 }
1.2) f : (R, µ) −→ (R, δ)
Para mostrar que f ´e descont´ınua no ponto x = 1 vamos centrar uma bola em f (1) = 2, de raio, por exemplo, ε0 = 21 . Vamos mostrar que, qualquer que seja δ > 0, na bola Bµ(1; δ) = ] 1 − δ, 1 + δ [ encontraremos um 1 ponto xδ de modo que f (xδ ) 6∈ Bδ˙ f (1); 2 = {f (1)} = { 2 }. Tomando, por exemplo, xδ = f (xδ ) = xδ = 1 − 2δ . Observe que,
(1−δ)+1 2
= 1 − 2δ , como δ 6= 0 ⇒ xδ 6= 1 ⇒
1 δ = {2} ⇐⇒ 1 − = 2 ⇐⇒ δ = −2. 2 2 Isto mostra a impossibilidade de que f (xδ ) ∈ Bδ˙ f (1); 21 , qualquer que seja δ > 0. Portanto f ´e descont´ınua no ponto x = 1, considerando (R, µ) como espa¸co de partida e (R, δ) como espa¸co de chegada de f . f (xδ ) ∈ Bδ˙ f (1);
241
Vejamos a estenografia da descontinuidade:
∃
ε0 >0
ε0 =
∀
∃ xδ ∈ Bd (a; δ) ∧ f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0 1
δ>0 xδ
1 2
2
Bµ(1; δ) = ] 1 − δ, 1 + δ [
B˙ (f (1); δ
xδ
xδ =1− δ2
1 2
)={ f (1) }={ 2 }
Agora vejamos a geometria da situa¸c˜ao:
f (x) B˙ (f (1); 21 ) = { 2 } δ ց 2 r 1 f (xδ )q
r
] r q1 [ տ 1+δ
1−δ
x
xδ
A verifica¸c˜ ao dos demais ´ıtens da tabela ficar´ a como exerc´ıcio. 2) A fun¸c˜ ao f : (R, µ) −→ (R, δ) dada por f (x) = x (identidade) ´e descont´ınua em cada ponto do seu dom´ınio. Vamos mostrar que f ´e descont´ınua no ponto x = 1 (em qualquer outro ponto o racioc´ınio ´e o mesmo). Para mostrar que f ´e descont´ınua no ponto x = 1 vamos centrar uma bola em f (1) = 1, de raio, por exemplo, ε0 = 12 : Bδ˙ f (1);
1 = { f (1) } = { 1 }. 2
Vamos mostrar que, qualquer que seja δ > 0, na bola Bµ (1; δ) =] 1−δ, 1+δ [ encontraremos um ponto xδ de modo que f (xδ ) 6∈ Bδ˙ f (1); 21 . Vamos tomar xδ =
(1−δ)+1 2
= 1 − δ2 . Como δ 6= 0 ⇒ xδ 6= 1, logo
1 = { f (1) } = { 1 }. 2 Isto mostra a impossibilidade de que f (xδ ) ∈ Bδ˙ f (1); 12 , qualquer que seja δ > 0, portanto f ´e descont´ınua no ponto x = 1. Veja a estenografia: f (xδ ) = xδ 6= 1 6∈ Bδ˙ f (1);
242
∃
ε0 >0
ε0 =
∀
∃ xδ ∈ Bd (a; δ) ∧ f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0
δ>0 xδ
1
1 2
2
Bµ(1; δ) = ] 1 − δ, 1 + δ [
B˙ (f (1); δ
xδ
xδ =1− 2δ
1 2
)={ f (1) }={ 1 }
Veja a geometria: f (x) B ˙ (f (1); δ
1 2
)={ 1 } ց
1r r ր f (xδ )
] rq1 [ տ 1+δ
1−δ
x
xδ
3) A fun¸c˜ ao f : [0, 1[, k −→ [0, 1[, µ dada por f (x) = x (identidade) ´e descont´ınua na origem. Para mostrar que f ´e descont´ınua no ponto x = 0 vamos centrar uma bola em f (0) = 0, de raio, por exemplo, ε0 = 14 : Bµ f (0);
1 1 = 0, 4 4
Vamos mostrar que, qualquer que seja δ > 0, na bola Bk (0; δ) encon traremos um ponto xδ de modo que f (xδ ) 6∈ Bµ f (0); 14 . O esbo¸co da bola Bk (0; r),
podemos tomar xδ =
(1−δ)+1 2
(p. 111),
nos sugere o ponto xδ . Por exemplo,
= 1 − 2δ . Observe que,
f (xδ ) = xδ = 1 −
δ 1 3 ≥ ⇐⇒ δ ≤ . 2 4 2
Se δ > 32 , temos Bk (0; δ) = [ 0, 1 [, podemos tomar, por exemplo, xδ = 12 . Veja a estenografia:
∃
ε0 >0
ε0 =
1 4
∀
∃ xδ ∈ Bd (a; δ) ∧ f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0
δ>0 xδ
1
2
xδ
xδ =1− 2δ
Bk(0; δ) = ] 0, δ [ ∪ ] 1 − δ, 1 [
243
Bµ ( f (0);
1 4
) = [ 0,
1 4
[
Veja a geometria (para δ < 12 ): 1 f (xδ )
¬ [
1 2
Bµ f (0);
1 4
0
δ
¬1 2
1−δ
s
1
xδ
4) Seja f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) =
( 1,
se x ∈ Q;
0,
caso contr´ ario.
cujo gr´ afico n˜ ao pode ser plotado. Vamos provar que f ´e descont´ınua em todo ponto do seu dom´ınio. Para mostrar que f ´e descont´ınua no ponto a vamos centrar uma bola em f (a), de raio, por exemplo, ε0 = 1: Bµ f (a); 1 = ] f (a) − 1, f (a) + 1 [ Vamos mostrar que, qualquer que seja δ > 0, encontraremos na bola Bµ (a; δ) = ] a − δ, a + δ [ um ponto xδ de modo que f (xδ ) 6∈ Bµ f (a); 1 . Consideremos duas possibilidades: (i) a ´e racional.
Neste caso Bµ f (a); 1 = ] f (a) − 1, f (a) + 1 [ = ] 0, 2 [.
Como em todo intervalo aberto ] a − δ, a + δ [ existem n´ umeros racionais e irracionais em abundˆancia vamos escolher um xδ irracional, sendo assim f (xδ ) = 0 6∈ Bµ f (a); 1 = ] 0, 2 [ Veja a estenografia:
∃
ε0 >0
ε0 = 1
∀
∃ xδ ∈ Bd (a; δ) ∧ f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0
δ>0 xδ
1
2
0
xδ irracional Bµ(a; δ) = ] a−δ, a+δ [
244
Bµ ( f (a); 1 ) = ] 0, 2 [
(ii) a ´e irracional. Neste caso Bµ f (a); 1 = ] f (a) − 1, f (a) + 1 [ = ] − 1, 1 [. Como em todo intervalo aberto ] a − δ, a + δ [ existem n´ umeros racionais e irracionais em abundˆancia vamos escolher um xδ racional, sendo assim f (xδ ) = 1 6∈ Bµ f (a); 1 = ] − 1, 1 [ Veja a estenografia:
∃
ε0 >0
ε0 = 1
∀
∃ xδ ∈ Bd (a; δ) ∧ f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0
δ>0 xδ
1
2
1
xδ racional
Bµ ( f (a); 1 ) = ] −1, 1 [
Bµ(a; δ) = ] a−δ, a+δ [
5) A fun¸c˜ ao f : ([ 0, 1 ], µ) −→ ([ 0, 1 [, k) dada por 1 1 6 (1 − 2x), se 0 ≤ x ≤ 2 ; f (x) = 1 (7 − 2x), se 1 < x ≤ 1. 6 2
(6.1)
cujo gr´ afico est´ a plotado a seguir
f (x)
p
1◦
p
p
5 6
p
p
3 6
p
1 6
0
1 2
p
p1
x
´e cont´ınua em todos os pontos do seu dom´ınio. Vamos provar a continuidade de f no ponto “mais delicado” que ´e x = 12 . Pois bem, para todo ε > 0 arbitrariamente fixado, escolhemos δ = δε do seguinte modo: 14 , se ε ≥ 61 ; δ(ε) = 3ε, se ε < 1 . 6 245
Em fun¸c˜ ao do formato das bolas abertas na m´etrica k vamos separar nossa an´ alise em dois casos: 1o ) Podemos separar ε ≥ 61 em dois subcasos, assim: 16 ≤ ε ≤ 12 ⇒ Bk (0; ε) = [ 0, ε [ ∪ ] 1 − ε, 1 [ 1 ⇒ ε≥ (6.2) 6 ε > 1 ⇒ B (0; ε) = [ 0, 1 [ 2
k
Em qualquer situa¸c˜ ao, δ = 41 , sendo assim: Bµ
1 2;
δ = 12 − δ,
1 2
+δ
=
1
− 14 ,
2
1 2
+
1 4
=
1
3 4, 4
=
1 4
¬
1 2
3 4
Agora devemos mostrar que se x ∈ Bµ 21 ; δ ent˜ao f (x) ∈ Bk (0; ε). Tomemos um x nesta bola e consideremos duas possibilidades: (i) 1 4
1 4
< x ≤ 12 . Neste caso, temos:
< x ≤
1 2
⇔ − 21 > −2x ≥ −1 ⇔
1 2
> 1 − 2x ≥ 0
⇔ 0 ≤ 1 − 2x < 1 6
⇔ 0 ≤
1 2
(1 − 2x) <
⇒ 0 ≤ f (x) <
1 12
<
1 12 1 6
≤ ε
⇒ 0 ≤ f (x) < ε Portanto, a imagem de x cai na primeira parte da bola em (6.2). (ii) 1 2
1 2
< x < 34 . Neste caso, temos:
< x <
3 4
⇔ −1 > −2x > − 32 ⇔ 6 > 7 − 2x >
Observe que
1 6
1−ε ≤
⇔
11 2
< 7 − 2x < 6
⇔
11 12
<
⇒
11 12
< f (x) < 1
1 6 (7
1 2
5 6
< f (x) < 1 ⇒ 1 − ε < f (x) < 1
<
11 12
≤ 1−ε ≤
5 6.
− 2x) < 1
≤ ε ≤
⇒
1 2
11 2
Sendo assim, temos
Portanto, a imagem de x cai na segunda parte da bola em (6.2). 246
2o ) Agora consideremos 0 < ε <
1 6.
Sendo assim, temos:
Bk (0; ε) = [ 0, ε [ ∪ ] 1 − ε, 1 [
(6.3)
Neste caso tomamos δ = 3ε, obtendo: Bµ
1 2;
δ = 12 − δ,
1 2
+δ
=
1 2
− 3ε,
Agora devemos mostrar que se x ∈ Bµ
1 2
+ 3ε
1 2;
δ ent˜ao f (x) ∈ Bk (0; ε).
=
1 2
− 3ε
¬
1 2
1 2
+ 3ε
Tomemos um x nesta bola e consideremos duas possibilidades: (I) 12 − 3ε < x ≤ 21 . Neste caso, temos: 1 2
− 3ε < x ≤
1 2
⇔ −1 + 6ε > −2x ≥ −1 ⇔ −1 ≤ −2x < −1 + 6ε ⇔ 0 ≤ 1 − 2x < 6ε ⇔ 0 ≤
1 6 (1
− 2x) < ε
⇔ 0 ≤ f (x) < ε Portanto, a imagem de x cai na primeira parte da bola em (6.3). (II) 1 2
1 2
< x <
< x <
1 2
1 2
+ 3ε. Neste caso, temos:
+ 3ε ⇔ −1 > −2x > −1 − 6ε ⇔ −1 − 6ε < −2x < −1 ⇔ 6 − 6ε < 7 − 2x < 6 ⇔ 1−ε <
1 6 (7
− 2x) < 1
⇔ 1 − ε < f (x) < 1 Portanto, a imagem de x cai na segunda parte da bola em (6.3). Com isto concluimos a prova de que f ´e cont´ınua no ponto x = 12 . ∗
∗
∗
N˜ ao h´ a mais, para os teoremas, verdade separada e, por assim dizer, atˆ omica: sua verdade ´e apenas sua integra¸ca ˜o no sistema; e ´e por isso que teoremas incompat´ıveis entre si podem igualmente ser verdadeiros, contanto que os relacionemos com sistemas diferentes. (Denis Huisman) 247
Vejamos como fica a estenografia da continuidade:
∀
ε>0
∀ x ∈ Bd (a; δ) ⇒ f (x) ∈ Bd f (a); ε
∃
δ>0 x
1 4, δ(ε) = 3ε,
1
se ε ≥
2
1 6;
Bk (0; ε) =
se ε < 16 .
1 3 ] 4 , 4 [, 1 Bµ ( 2 ; δ) = ] 1 − 3ε, 1 2 2
[0, ε[ ∪ ]1 − ε, 1[, se 0 < ε ≤ se ε > 12 .
[0, 1[,
1 6;
se ε ≥ + 3ε[,
1 2;
se ε < 61 .
Para finalizar, fa¸camos uma simula¸c˜ao gr´ afica para ε = 62 . Nesse caso a estenografia fica:
∀
ε= 26
∀ x ∈ Bd (a; δ) ⇒ f (x) ∈ Bd f (a); ε
∃
δ>0 x
δ=
1 4
1
2
Bµ ( 12 ; δ) = ] 14 , 43 [
f (x)=
1 6
1 6
Bk (0; ε) =[0, 26 [ ∪ ] 46 , 1[
(1 − 2x),
se
1 4
< x ≤ 12 ;
(7 − 2x),
se
1 2
< x < 34 .
E a geometria fica: f (x) 1◦
p
1
4 6
p
p
5 6
p
p
3 6 2 6
p
1 6 0
0
1 4
]
1 2
p
248
[3 4
p1
x
6) Seja a fun¸c˜ ao f : Z∞ −→ [ 0, 1 ] dada por:
(p. 42)
∞ X xn f (xn ) = 2n n=1
Exemplos: (i) Calcule, por f , a imagem da sequˆencia (xn ) = (011000 . . .). Solu¸ ca ˜o: ∞ X xn 0 1 1 0 0 1 1 3 f (xn ) = + = n = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + ··· = 2 4 8 8 2 2 2 2 2 n=1
(ii) Calcule, por f , a imagem da sequˆencia (xn ) = (10101010 . . .). Solu¸ ca ˜o: ∞ X xn 1 0 1 0 1 0 f (xn ) = = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· 2n 2 2 2 2 2 2 n=1
=
1 1 1 1 2 1 + 3 + 5 + ··· = 2 2 2 1−
1 22
2 = . 3
Na p. 229 mostramos um algoritmo para converter um n´ umero decimal do intervalo [ 0, 1 ] para a base 2. A fun¸c˜ao f : Z∞ −→ [ 0, 1 ] faz o procedimento contr´ ario. Vamos provar que f : Z∞ , ν −→ [ 0, 1 ], µ ´e cont´ınua.
Prova: Com efeito, seja a = (a1 a2 a3 . . .) ∈ Z∞ , dado ε > 0 escolhemos n0 ∈ N tal que n10 < ε. Tomemos δ = n10 e consideremos a bola 2
2
n 1 o Bν (a; δ) = x ∈ Z∞ : ν(x, a) < n0 2 Vamos mostrar que se, x ∈ Bν (a; δ) ⇒ f (x) ∈ Bµ f (a); ε = f (a) − ε, f (a) + ε ∩ [ 0, 1 ] (Z∞ , ν)
1
δ=
1 n 2 0
ra
f f (x)
r r
]
δ
]
xr
f (a) + ε f (a) f (a) − ε 0
249
Ent˜ ao, seja x ∈ Bν (a; δ), logo ν(x, a) < 2n10 , pela proposi¸c˜ao 1 (p. 44) xn = an ; n = 1, 2, . . . , n0 , portanto: ([AR] 4, p. 603 e [AR] 5, p. 603) ∞ ∞ ∞ ∞ X x X an X xn − an X |xn − an | n |f (x) − f (a)| = − = ≤ 2n 2n 2n 2n n=1
=
n=1
n=1
n=1
n0 ∞ X X |xn − an | |xn − an | + 2n 2n n=1 n=n0 +1 | {z } =0
=
∞ X
n=n0
|xn − an | 1 1 1 ≤ n0 +1 + n0 +2 + · · · = n0 < ε. n 2 2 2 2 +1
7) Considere a aplica¸c˜ ao f :
Z∞
−→
Z∞
dada por
f (x1 x2 x3 x4 . . .) = x2 x3 x4 x5 . . . Mostremos que f ´e cont´ınua. Com efeito, Seja a = a1 a2 a3 . . . ∈ Z∞ , dado ε > 0 escolhemos n0 ∈ N tal que 2n10 < ε. Tomemos δ = 2n01+1 . Se x = x1 x2 x3 x4 . . . satisfaz ν(x, a) < δ, ent˜ao pela proposi¸c˜ao 1 (p. 44) xi = ai para i ≤ n + 1. Sendo assim as i−´ esimas entradas de f (x) e f (a) concordam para i ≤ n. Isto ´e, ν f (x), f (a) ≤ 2n10 < ε.
Proposi¸ c˜ ao 51. Seja f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) se (M, d1 ) ´e um espa¸co discreto ent˜ ao f ´e cont´ınua.
Prova: De fato, dado a ∈ M e ε > 0 arbitr´ario, como (M, d1 ) ´e discreto ent˜ ao a ´e isolado, logo existe δa > 0 de modo que Bd (a; δa ) = { a }, portanto: 1 f Bd (a; δa ) = f { a } = f (a) ⊂ Bd f (a); ε ; ∀ ε > 0. 1
2
(M, d1 )
q
q qq qq
q
q q
(N, d2 )
qq q q qq q q
ra
δa
q
f
ε
∃ δa >0
∀
ε>0
∃
∀ ε>0
∀ x ∈ Bd (a; δ) ⇒ f (x) ∈ Bd f (a); ε 1
δ>0 x
δa
q rf (a) q
2
Bd (a; δa )={a} 1
250
f (a)
Bd (f (a); ε) 2
6.1
Isometria
A palavra isometria literalmente significa “medidas iguais” j´ a que ´e derivada das ra´ızes gregas isos (“igual”) e metron (“medida”).
Defini¸ c˜ ao 29 (Imers˜ ao isom´etrica). Uma fun¸ca ˜of : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e ao isom´etrica quando preserva ancias, isto ´e, quando chamada uma imers˜ distˆ para quaisquer x, y ∈ M tivermos d2 f (x), f (y) = d1(x, y). (N, d2 )
(M, d1 ) y d1(x, y) →
f (x)
f
← d2 (f (x), f (y)) f (y)
x
Toda imers˜ao isom´etrica ´e cont´ınua. De fato, dado a ∈ M e ε > 0 arbitr´ario, ´e suficiente tomar δ = ε, pois d1 (x, a) < δ = ε =⇒ d2 f (x), f (a) = d1(x, a) < ε. Exemplos: 1)
s
s
s
)
Uma rota¸c˜ ao em torno da origem preserva a distˆ ancia dos vetores − para a origem − e tamb´em o ˆ angulo entre os vetores.
s
)
s
0
s
2) s )
Uma reflex˜ ao numa reta pela origem preserva a distˆ ancia dos vetores − para a origem − e tamb´em o ˆ angulo entre os vetores.
)
0
251
s
s
3) Consideremos a rota¸c˜ao de um ponto em torno da origem R
s(x, y) 0
sf (x, y)
R
fθ
(x, y) θ R
R
0
Onde f (x, y) = (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ). Utilizando a distˆ ancia (norma) euclidiana, temos: p k f (x, y) k = (x cos θ − y sen θ)2 + (x sen θ + y cos θ)2 p = x2 (cos2 θ + sen 2 θ) + y 2 ( sen 2 θ + cos2 θ) p = x2 + y 2 = k (x, y) k
4) Consideremos a aplica¸c˜ao
R x
f : (R, µ) −→ (R2 , Di ) x 7−→ (x, x)
r
R f
−→
x
r f (x) x
0
R
q
Considerando sobre R2 a m´etrica D3 resulta que f ´e imers˜ao isom´etrica: D3 f (x), f (y) = D3 (x, x); (y, y) = max{ |x − y|, |x − y| } = |x − y| = µ(x, y). Geometricamente tudo se passa assim: (R, µ) y |x−y| → x
r r
R f
−→
y x
0q
|x−y| |x−y| x
252
y
R
Considerando sobre R2 a m´etrica D1 resulta que f n˜ ao ´e imers˜ao isom´etrica. Vejamos um contraexemplo (x = 1, y = 2): D1 f (1), f (2) = D1 (1, 1); (2, 2) p = (1 − 2)2 + (1 − 2)2 √ = 2 6= 1 = µ(1, 2). Veja geometricamente:
2
r
1
r
0
q
R (R, µ) 2
f
−→
D1
1
→
rf (1)
1
rf (2)
R
2
Considerando sobre R2 a m´etrica D2 resulta que f n˜ ao ´e imers˜ao isom´etrica. Vejamos um contraexemplo (x = 1, y = 2): D2 f (1), f (2) = D2 (1, 1); (2, 2) = |1 − 2| + |1 − 2|
= 2 6= 1 = µ(1, 2). Geometricamente tudo se passa assim:
2
1
0
r r
R
rf (2)
(R, µ) 2
f
−→
1
q
f (1)
r
1
1
տ
1 2
D2
R
Uma imers˜ao isom´etrica f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e sempre uma aplica¸c˜ao injetiva. De fato, f (x) = f (y) ⇒ d2 f (x), f (y) = 0 = d1 (x, y) ⇒ x = y. 253
Defini¸ c˜ ao 30 (Isometria). Uma fun¸ca ˜o f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e chamada isometria se ela for uma imers˜ ao isom´etrica sobrejetiva. Se f e g s˜ ao isometrias ent˜ao a composta, g◦f , tamb´em ´e uma isometria, conforme mostra o diagrama a seguir. (N, d2 )
(M, d1 ) y
(P, d3 ) gf (y)
f
f (y)
x
g gf (x)
f (x) g◦f
d2 (f (x), f (y)) = d1(x, y) e d3 (gf (x), gf (y)) = d2 (f (x), f (y)) ⇒ d3 (g◦f (x), g◦f (y)) = d1 (x, y)
Ademais, o diagrama a seguir mostra que a inversa de uma isometria ainda ´e uma isometria. (N, d2 )
(M, d1 ) y
f
f −1 f (y)
f (y)
x
(M, d1 ) f −1
f (x) f −1 ◦ f = IM d2 (f (x), f (y)) = d1(x, y)
f −1 f (x)
? d1 (f −1 f (x), f −1 f (y)) = d2 (f (x), f (y))
Exemplos: 1) Transla¸c˜ ao Num espa¸co vetorial E, +, · normado fixamos um vetor a ∈ E. A aplica¸c˜ ao Ta : E −→ E dada por Ta (x) = x + a, executa uma “transla¸c˜ao” no vetor x. Ta ´e uma isometria. De fato, (i) Ta ´e uma imers˜ao isom´etrica. d Ta (x), Ta (y) = kTa (x) − Ta (y)k
= k(x + a) − (y + a)k = kx − yk = d(x, y).
(ii) Ta ´e sobrejetiva. Dado y ∈ E devemos exibir x ∈ E de modo que Ta (x) = y. Ent˜ ao basta resolver a equa¸c˜ao x + a = y. Logo, x = y − a ´e tal que Ta (x) = Ta (y − a) = (y − a) + a = y. 254
2) Rota¸c˜ ao. fθ (x, y) = (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ). Vimos anteriormente (p. 252) que a rota¸c˜ ao de um ponto em torno da origem ´e uma imers˜ao isom´etrica. Para mostrar que fθ ´e sobrejetiva dado (x′ , y ′ ) ∈ R2 , encontremos um par ordenado (x, y) ∈ R2 tal que fθ(x, y) = (x′ , y ′ ). Isto ´e, resolvamos o seguinte sistema linear ( x cos θ − y sen θ = x′ x sen θ + y cos θ = y ′
Na forma matricial "
x′ y′
#
=
"
cos θ − sen θ
sen θ
cos θ
#"
x y
#
De outro modo: x′ =
x cos θ + y sen θ
′
y = −x sen θ + y cos θ Ou ainda: (x′ , y ′ ) = x cos(−θ) − y sen (−θ), x sen (−θ) + y cos(−θ)
Conclua que dado (x′ , y ′ ) ∈ R2 para obter sua pr´e-imagem basta rotacion´ alo de θ graus no sentido negativo (hor´ ario). 3) Isometrias em ZN , σ
Veremos agora uma fam´ılia de isometrias no espa¸co de s´ımbolos. Se π ´e uma bije¸c˜ ao do conjunto {1, 2, . . . , n} nele pr´ oprio, tamb´em chamada de permuta¸c˜ ao, a aplica¸c˜ ao permuta¸c˜ao de coordenadas Γπ :
ZN
ZN
(x1 , x2 , ...,xn )
(xπ(1) , xπ(2) , ...,xπ(n) )
´e uma isometria no espa¸co ZN , σ . O n´ umero de bije¸c˜oes (permuta¸c˜oes) do conjunto {1, 2, . . . , n} nele pr´ oprio ´e n!. Listamos a seguir todas as permuta¸c˜oes do conjunto {1, 2, 3}:
1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 , , , , , . 1 3 2 2 1 3 2 3 1 3 1 2 3 2 1 1 2 3 = π. Fixemos, a t´ıtulo de exemplo, uma destas permuta¸c˜oes: 2 3 1 Sendo assim, temos 1 2 3 1 2 3
255
π(1) = 2, π(2) = 3, π(3) = 1. Ent˜ ao, Γπ :
Z3
Z3
(x1 , x2 , x3 )
(xπ(1) , xπ(2) , xπ(3) )
A aplica¸c˜ ao Γπ executa a seguinte permuta¸c˜ao nos termos de uma sequˆencia 3 de Z : x1 , x2 , x3 Γπ x2 , x3 , x1 (>) Por exemplo, Γπ 101 = 011;
Γπ 010 = 100.
Veja como ´e f´acilmostrar que Γπ ´e uma isometria: Dados x = x1 , x2 , x3 ∈ Z3 e y = y1 , y2 , y3 ∈ Z3 mostremos que σ Γπ (x), Γπ (y) = σ(x, y). Pois bem, x2 , x3 , x1 x1 , x2 , x3 Γπ y1 , y2 , y3
Temos σ(x, y) =
Γπ
y2 , y3 , y1
3 X xn − yn = x − y + x − y + x − y 1 1 2 2 3 3 n=1
Por outro lado,
3 X x − yπ(n) = xπ(1) − yπ(1) + xπ(2) − yπ(2) + xπ(3) − yπ(3) σ Γπ (x), Γπ (y) = π(n) n=1
= x2 − y2 + x3 − y3 + x1 − y1
Portanto, σ Γπ (x), Γπ (y) = σ(x, y).
A sobrejetividade de Γπ decorre do fato de que as permuta¸c˜oes s˜ ao 3 bije¸c˜ oes (isto ´e, tˆem inversa). Seja, por exemplo, y = 110 ∈ Z , calcule sua pr´e-imagem por Γπ . Isto ´e, encontre x ∈ Z3 tal que Γπ (x) = y. 1 2 3 −1 Solu¸ c˜ ao: Basta calcular Γπ−1 ( y ), onde π = . Temos, 3 1 2 Γπ−1 ( y1 , y2 , y3 ) = yπ−1 (1) , yπ−1 (2) , yπ−1 (3) = ( y3 , y1 , y2 ) Ent˜ ao, Γπ−1 ( 110 ) = 011. Observe que Γπ ( 011 ) = 110 (ver equa¸c˜ao ( > )). 256
Defini¸ c˜ ao 31 (Contra¸c˜ ao). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma aplica¸ca ˜o f : M −→ N ´e chamada uma contra¸ca ˜o quando existe uma constante α, com 0 ≤ α < 1, tal que d2 f (x), f (y) ≤ α d1 (x, y) para quaisquer x, y ∈ M. Assim, numa contra¸c˜ ao, a distˆ ancia entre as imagens de dois pontos quaisquer ´e menor que a distˆ ancia entre os respectivos pontos. Exemplo: Considere o espa¸co normado R2 , k · k e seja f : R2 −→ R2 , ao f ´e uma contra¸c˜ao, pois dada por f (p) = 21 p. Ent˜
1 1
d2 f (p), f (q) = kf (p) − f (q)k = p − q 2 2 1 1 = kp − qk = d1 (p, q) < d1 (p, q). 2 2 Por exemplo, seja p = (3, 3) e q = (4, 1), ent˜ao 1 3 3 1 1 f (3, 3) = (3, 3) = , e f (4, 1) = (4, 1) = 2, . 2 2 2 2 2 Veja a geometria: R 4
q
3
q
2
q
1
q
p
f (p) q f (q)
(0, 0)
q1
q2
q3
Exemplo: Na figura a seguir (esquerda)
257
q4
R
rotacionamos um quadrado ( 2 ) com θ = 30o em torno do seu centro, aplicando uma contra¸c˜ ao com parˆ ametro α = 0, 7321; fizemos 9 itera¸c˜oes (composi¸c˜ oes). Na figura da direita apenas mudamos os parˆ ametros para θ = 10o e α = 0, 8632 com 18 itera¸c˜oes. O “fator de contra¸ca ˜o” α em fun¸c˜ao do ˆangulo θ desejado ´e dado por: α = ( sen θ + cos θ)−1 Toda contra¸c˜ ao f ´e cont´ınua. De fato, dado ε > 0, ´e suficiente tomar δε = ε/α, pois d1 (x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) ≤ α d1 (x, y) < α · δ = ε.
Aplica¸c˜ oes lipschitziana
Defini¸ c˜ ao 32 (Fun¸c˜ oes de Lipschitz). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma aplica¸ca ˜o f : M −→ N ´e uma fun¸ca ˜o de Lipschitz∗ (ou lipschitziana) quando existe uma constante c > 0 (chamada constante de Lipschitz) satisfazendo d2 f (x), f (y) ≤ c d1 (x, y) para quaisquer x, y ∈ M. Toda fun¸c˜ ao de Lipschitz ´e cont´ınua. De fato, dado ε > 0 ´e suficiente tomar δ = d1 (x, y) < δ = Exemplos:
ε c
e teremos
ε =⇒ d2 f (x), f (y) ≤ c d1 (x, y) < ε. c
1) Dado um espa¸co vetorial E, +, · , normado, cada escalar λ 6= 0 determina uma homotetia hλ : (E, k.k) −→ (E, k.k) definida por hλ(x) = λ x, ∀ x ∈ E. Escolhamos c > 0 tal que c ≥ |λ|. Para quaisquer x, y ∈ E, temos: d2 (hλ(x), hλ(y)) = d2 (λ x, λ y) = kλ x − λ yk
= |λ| · kx − yk ≤ c kx − yk = c d1 (x, y)
e portanto hλ ´e lipschitziana e, por conseguinte, cont´ınua. 2) Para as fun¸c˜ oes f : (R, µ) −→ (R, µ) a condi¸c˜ao de Lipschtiz significa |f (x) − f (y)| ≤ c |x − y| =⇒ |f (x) − f (y)|/|x − y| ≤ c ou seja, a inclina¸c˜ ao de qualquer secante ao gr´ afico de f ´e, em valor absoluto, ≤ c. ∗ Rudolph Lipschitz (1832 − 1903) foi professor em Bonn. Deu contribui¸c˜ oes ` a´ algebra, a teoria dos n´ ` umeros, ` a geometria diferencial e ` a an´ alise.
258
Se uma fun¸c˜ ao f : (I, µ) −→ (R, µ), definida em um intervalo I, tem derivada limitada para todo x ∈ I − isto ´e existe c > 0 tal que |f ′ (x)| ≤ c, ∀ x ∈ I − ent˜ ao pelo teorema do valor m´edio ([AR] 12, p. 604), dados x, y ∈ I quaisquer, existe um ponto t entre x e y, tal que f (x) − f (y) = f ′ (t)(x − y), portanto, |f (x) − f (y)| = |f ′ (t)| ≤ c =⇒ |f (x) − f (y)| ≤ c |x − y|. |x − y| Resumindo: toda fun¸c˜ ao com derivada limitada em um intervalo ´e lipschitziana. Por exemplo, das fun¸co˜es abaixo, apenas g ´e lipschitziana. f : R −→ R x 7−→
e
g : [ −1, 1 ] −→ R
x 7−→ x2
x2
De fato, se f fosse de Lipschitz existiria c > 0 de modo que |x2 − y 2 | ≤ c |x − y| =⇒ |x + y| ≤ c,
∀ x 6= y ∈ R
Isto, em particular, implicaria em R ser limitado. Esta inverdade prova nossa assertiva. Por outro lado, sendo |x| ≤ 1 e |y| ≤ 1 para todo x, y ∈ [−1, 1 ], temos |x + y| ≤ |x| + |y| ≤ 2, logo |x2 − y 2 | = |x − y| · |x + y| ≤ 2|x − y| ⇒ |f (x) − f (y)| ≤ 2|x − y|. Isto mostra que f ´e de Lipschitz. Observe que g′ (x) = 2x e como −1 ≤ x ≤ 1 temos −2 ≤ 2x ≤ 2 =⇒ |2x| = |g ′ (x)| ≤ 2. isto ´e, g possui derivada limitada no intervalo [−1, 1 ]. Veja: g ′ (x) 2
g(x)
q
1
1
q −1q
q
0
q1
x
−1q
0 −1
q
−2q
259
q1
x
3) Dados M1 , M2 , . . . , Mn , para cada i (i = 1, 2, . . . , n) fixado a fun¸c˜ao pi : M1 × . . . × Mn −→ Mi (x1 ,... , xi , ..., xn ) 7−→ xi chama-se proje¸c˜ ao i-´esima. A figura a seguir ilustra esta situa¸c˜ao para o caso de dois espa¸cos m´etricos:
M2
ր
p2 (x) = x2
s
M1 ×M2
sx = (x1 , x2 )
p2
ր
s
p1 M1
p1 (x) = x1
As proje¸c˜ oes s˜ ao exemplos de fun¸c˜oes de Lipschitz. De fato, sejam x = (x1 , . . . , xn ) e y = (y1 , . . . , yn ) pontos arbitr´arios de M = M1 × M2 × · · · × Mn , ent˜ao (p. 97) di (pi (x), pi (y)) = di (xi , yi ) ≤ Dk(x, y) (k = 1, 2, 3.) Portanto as fun¸c˜ oes pi s˜ ao lipschitzianas com constante de Lipschitz c = 1. As aplica¸c˜ oes lipschitzianas nas quais c = 1 s˜ ao tamb´em conhecidas como contra¸c˜ oes fracas. Vejamos mais alguns exemplos de contra¸c˜oes fracas: (i) Num espa¸co vetorial E, +, · normado a adi¸c˜ao de vetores s : E ×E −→ E definida por s(x, y) = x + y ´e uma contra¸c˜ao fraca (portanto ´e uma aplica¸c˜ ao cont´ınua). Vamos usar em E × E a m´etrica D2 (x1 , x2 ); (y1 , y2 ) = d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 )
(p. 95)
= kx1 − y1 k + kx2 − y2 k.
Com efeito, para quaisquer (x1 , x2 ), (y1 , y2 ) ∈ M × M , temos d2 s(x1 , x2 ); s(y1 , y2 ) = d2 x1 + x2 ; y1 + y2
= k(x1 + x2 ) − (y1 + y2 )k = k(x1 − y1 ) + (x2 − y2 )k ≤ kx1 − y1 k + kx2 − y2 k = D2 (x1 , x2 ); (y1 , y2 ) 260
(ii) A pr´ opria m´etrica d : M × M −→ R
(x, y) 7−→ d(x, y)
´e uma contra¸c˜ ao fraca. De fato, Vamos usar em M × M a m´etrica D2 (x1 , x2 ); (y1 , y2 ) = d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 ) = d(x1 , y1 ) + d(x2 , y2 ).
Com efeito, para quaisquer (x1 , x2 ), (y1 , y2 ) ∈ M × M , temos d(x , x ) − d(y , y ) = d(x , x ) − d(x , y ) + d(x , y ) − d(y , y ) 1 2 1 2 1 2 2 1 2 1 1 2 ≤ d(x2 , x1 ) − d(x2 , y1 ) + d(y1 , x2 ) − d(y1 , y2 ) ≤ d(x1 , y1 ) + d(x2 , y2 ) = D2 (x1 , x2 ); (y1 , y2 ) . Na u ´ltima desigualdade fizemos uso da proposi¸c˜ao 2. (iii) A norma
(p. 45)
k · k : E −→ R x 7−→ kxk ´e uma contra¸c˜ ao fraca. Com efeito, para quaisquer x, y ∈ E temos kxk − kyk = d(x, 0) − d(y, 0) ≤ d(x, y)
(iv) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Fixemos A ⊂ M . A fun¸c˜ao f : M −→ (R, µ)
x 7−→ d(x, A)
´e uma contra¸c˜ ao fraca. Com efeito, para quaisquer x, y ∈ M , temos: d(x, A) − d(y, A) ≤ d(x, y)
(prop. 3, p. 50)
Em particular, tomando A = { a }, temos que a aplica¸c˜ao da : M −→ R x 7−→ d(x, a)
´e cont´ınua. (v) A aplica¸c˜ ao f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = |x| ´e uma contra¸c˜ao fraca. Com efeito, isto ´e uma consequˆencia imediata da desigualdade |x| − |y| ≤ |x − y| , ∀ x, y ∈ R. 261
Aplica¸c˜ oes localmente lipschitziana Uma aplica¸c˜ ao f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) se diz localmente lipschitziana se, para cada ponto a ∈ M , existe uma bola Bd (a; r) ⊂ M de modo que a 1 restri¸c˜ ao de f a essa bola ´e lipschtziana. Uma aplica¸c˜ ao localmente lipschitziana ´e cont´ınua. De fato, dado a ∈ M existe uma bola Bd (a; r) de mameira que f restrita a essa bola ´e lipschtziana, 1 logo existe c > 0 tal que d2 f (x), f (y) ≤ c d1 (x, y), ∀ x, y ∈ Bd (a; r). 1
Assim, dada uma bola Bd f (a); ε , com ε arbitrariamente fixado, escolhe2 mos δ > 0 de maneira que δ < r e δ < εc . Sendo assim temos: (
Agora vamos ver alguns exmplos de aplica¸c˜oes localmente lipschitzianas:
i) Seja f : (R, µ) −→ (R, µ) definida por f (x) = xn , onde n ´e um natural arbitrariamente fixado. Seja a ∈ R, consideremos a bola Bµ (a; r) = ] a − r, a + r [. Tendo em conta que toda bola aberta ´e um conjunto limitado, existe k ∈ R tal que |x| ≤ k para todo x ∈ Bµ (a; r) = ] a − r, a + r [
(6.4)
Devido ao teorema do valor m´edio, se x, y ∈ Bµ(a; r), x 6= y existe t ∈ R, situado entre x e y de modo que f (x) − f (y) = f ′ (t)(x − y) = n · tn−1 (x − y) Ent˜ ao, |f (x) − f (y)| = n · |t|n−1 · |x − y|,
∀ x, y ∈ ] a − r, a + r [
por (6.4), temos |t| ≤ k ⇒ |t|n−1 ≤ kn−1 ⇒ n · |t|n−1 · |x − y| ≤ n · kn−1 · |x − y| por conseguinte |f (x) − f (y)| ≤ n · kn−1 · |x − y|,
∀ x, y ∈ ] a − r, a + r [
isto ´e, f ´e localmente lipschtziana com constante de Lipschitz c = nkn−1 . Observe que a fun¸c˜ ao f : R −→ R dada por f (x) = x2 n˜ ao ´e lipschitziana, mas sim localmente lipschitziana. 262
1 , ∀ x ∈ R∗ . x Tomemos inicialmente a ∈ R∗ = ] − ∞, 0 [ ∪ ] 0, +∞ [ e a > 0. Como o conjunto ] 0, +∞ [ ´e aberto podemos centrar neste ponto uma bola aberta Bµ (a; r) = ] a − r, a + r [ ⊂ ] 0, +∞ [. Fa¸camos a − r = s > 0, ent˜ao ii) Seja f : (R∗ , µ) −→ (R, µ) definida por f (x) =
∀ x, y ∈ ] a − r, a + r [ = ] s, s + 2r [ ⇒ ⇒ |x| · |y| > s2 ⇒
x>s>0 e y>s>0
1 1 |x − y| |x − y| < 2 ⇒ < . |x| · |y| s |x| · |y| s2
f (x)
|f (x)−f (y)|
→
]
0
a−r
s
r
x
r
a
r
y
[
x
a+r
|x−y|
Pois bem, ∀ x, y ∈ ] a − r, a + r [, temos 1 1 |x − y| 1 |f (x) − f (y)| = − = < 2 |x − y|. x y |x| · |y| s
Isto prova que f restrita a Bµ (a; r) ´e lipschitziana. Para a < 0 o tratamento ´e an´ alogo. iii) Num espa¸co vetorial E, +, · normado, a multiplica¸c˜ao por escalares m : R × E −→ E (α, u) 7−→ α u
´e localmente lipschitziana. Provaremos nossa afirmativa usando sobre R × E a m´etrica D3 (x, y) = max d1 (x1 , y1 ), d2 (x2 , y2 ) 263
Nota: Aqui d1 ´e m´etrica usual de R: d1 (x1 , y1 ) = |x1 − y1 | ,
∀ x1 , y1 ∈ R.
d2 ´e m´etrica de E: d2 (x2 , y2 ) = kx2 − y2 k , Portanto,
∀ x2 , y2 ∈ E.
D3 (x, y) = max |x1 − y1 |, kx2 − y2 k
onde x = (x1 , x2 ) ∈ R × E e y = (y1 , y2 ) ∈ R × E. Prova: Seja a = (α, u) um ponto arbitr´ario de R × E, centremos neste ponto uma bola BD (a, r). 3
Primeiramente vamos mostrar que existe uma bola de centro na origem 0 = (0, 0) ∈ R × E e raio conveniente s, de maneira que BD (a; r) ⊂ 3 BD (0; s). 3
Tomando s = D3 (0, a) + r, vamos mostrar que BD (a; r) ⊂ BD (0; s). 3
#
E
qa
3
R×E
r
BD (a; r) "! 3 D3 (0, a)
BD (0; s) 3
r
0=(0, 0)
R
Com efeito, seja x = (β, v) ∈ BD (a; r) um ponto arbitr´ario nesta bola; 3 logo D3 (x, a) < r, ou ainda D3 (β, v); (α, u) = max |β − α|, ku − vk < r (6.5)
Devemos mostrar que x ∈ BD (0; s) onde 3
s = D3 (0, a) + r = D3 (0, 0); (α, u) + r = max |0 − α|, k0 − uk + r = max |α|, kuk + r.
Para tanto basta mostrar que D3 (x, 0) < s. Sendo D3 (x, 0) = D3 (β, v); (0, 0) = max |β − 0|, kv − 0k = max |β|, kvk . 264
Devemos mostrar que max |β|, kvk < s = max |α|, kuk + r
(6.6)
De (6.5) temos
|β − α| < r
ku − vk < r
e
(6.7)
Por outro lado kvk = kv − u + uk ≤ ku − vk + kuk |β| = |β − α + α| ≤ |α − β| + |α| com aux´ılio de (6.7) escrevemos kvk ≤ ku − vk + kuk < kuk + r |β| ≤ |α − β| + |α| < |α| + r portanto, ( kvk < kuk + r
|β| < |α| + r
=⇒ max |β|, kvk < max |α|, kuk + r
E isto prova (6.6). Por conseguinte BD (a; r) ⊂ BD (0; s). 3
3
Pois bem, dados dois pontos quaisquer (α, u) e (β, v) na bola BD (a; r), 3 como estes pontos est˜ ao na bola BD (0; s), valem as desigualdades 3
isto ´e
D3 (α, u); (0, 0) < s
e
D3 (β, v); (0, 0) < s
max |α|, kuk < s
e
max |β|, kvk < s
(6.8)
Agora calculemos a distˆ ancia entre as imagens, por m, destes pontos: d2 m(α, u); m(β, v) = d2 (αu, βv) = kαu − βvk = kαu − βu + βu − βvk
= k(α − β)u + β(u − v)k ≤ |α − β| · kuk + |β| · ku − vk
(6.9)
Sendo assim kαu − βvk ≤ |α − β| · kuk + |β| · ku − vk ≤ 2 max |α − β| · kuk, |β| · ku − vk 265
(6.10)
De (6.8) temos, kuk < s =⇒ |α − β| · kuk < s|α − β| |β| < s =⇒ |β| · ku − vk < sku − vk Destas desigualdades inferimos que max |α − β| · kuk, |β| · ku − vk < max s |α − β|, s ku − vk Ou ainda,
2 max |α − β| · kuk, |β| · ku − vk < 2s max |α − β|, ku − vk = 2s D3 (α, u); (β, v) (6.11)
Portanto de (6.9), (6.10) e (6.11) concluimos que d2 m(α, u); m(β, v) < 2s D3 (α, u); (β, v)
Isto prova que m ´e localmente lipschitziana.
Interregno cultural: Uma das contribui¸co ˜es definitivas do s´eculo dezenove foi o reconhecimento de que a matem´ atica n˜ ao ´e uma ciˆencia natural, mas uma cria¸ca ˜o intelectual do homem. Bertrand Russel escreveu no International Monthly em 1901 : O s´ eculo dezenove, que se orgulha da inven¸c˜ ao do vapor e da evolu¸c˜ ao, poderia derivar um t´ıtulo mais leg´ıtimo ` a fama da descoberta da matem´ atica pura.
[. . .] pelo fim do s´eculo era geralmente reconhecido mesmo por n˜ aomatem´ aticos que a matem´ atica ´e pensamento postulacional, em que de premissas arbitr´ arias s˜ ao tiradas conclus˜ oes v´ alidas. Que os postulados sejam ou n˜ ao verdadeiros num sentido cient´ıfico ´e indiferente; na verdade, as pr´ oprias palavras em que os postulados s˜ ao expressos s˜ ao termos n˜ ao-definidos. Isso levou Bertrand Russel a ` sua descri¸ca ˜o da matem´ atica, em 1901, como o assunto em que ningu´em sabe do que est´ a falando, nem se o que est´ a dizendo ´e verdade. Dois anos depois, no in´ıcio de seus Principles of Mathematics, Russel formulou uma defini¸ca ˜o precisa da matem´ atica: A matem´ atica pura ´ e a classe de todas as proposi¸c˜ oes da forma “p implica q”, onde p e q s˜ ao proposi¸c˜ oes contendo uma ou mais vari´ aveis, as mesmas nas duas proposi¸c˜ oes e nem p e nem q cont´ em constantes exceto constantes l´ ogicas. (Fonte: Boyer, p.440)
266
Caracteriza¸c˜ ao de continuidade via convergˆ encia de sequˆ encias Proposi¸ c˜ ao 52. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Se f : M −→ N ´e cont´ınua no ponto a ∈ M e (xn ) ´e uma sequˆencia de pontos de M convergindo para a ent˜ ao f (xn ) −→ f (a). (N, d2 )
(M, d1 )
·
·· r ր x n
r
f (x2 )
f
··
x2
r
a
r
r
f (xn )
r ···
f (x3 )
ց
·
r
r·
x3
··
xr1
f (x1 )
r
f (a)
Em resumo: H:
H1 : f ≀ a
H : lim x = a n 2
=⇒ T : lim f (xn ) = f (a)
Nota: A nota¸c˜ ao f ≀ a significa: f ´e cont´ınua no ponto a. Prova: Para mostrar que a sequˆencia f (xn ) converge para o ponto f (a), vamos centrar neste ponto uma bola Bd f (a); ε de raio ε arbitr´ario. Deve2 mos exibir um ´ındice n0 ∈ N a partir do qual todos os termos da sequˆencia f (xn ) caem dentro da bola Bd f (a); ε . Isto ´e devemos exibir um ´ındice 2 n0 ∈ N tal que se n ≥ n0 ⇒ d2 f (xn ), f (a) < ε (6.12)
Como f ´e cont´ınua em a ∈ M , para o ε dado existe δε > 0 de modo que se x ∈ Bd (a; δε ) ⇒ f (x) ∈ Bd f (a); ε 1
isto ´e
2
se d1 (x, a) < δε ⇒ d2 f (x), f (a) < ε.
(6.13)
Por outro lado, como xn −→ a, para todo δ > 0 existe nδ ∈ N tal que se n ≥ nδ ⇒ d1 (xn , a) < δ Daqui e de (6.13) concluimos que se n ≥ n0 = nδ ⇒ d1 (xn , a) < δ = δε ⇒ d2 f (xn ), f (a) < ε.
Isto prova (6.12)
De forma sugestiva, a proposi¸c˜ao anterior poderia ainda exprimir-se dizendo que a continuidade de f no ponto a equivale `a possibilidade de permutar os s´ımbolos “lim” e “f ”: lim f (xn ) = f (lim xn ) 267
(6.14)
Proposi¸ c˜ ao 53. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Se f : M −→ N n˜ ao ´e cont´ınua no ponto a ∈ M ent˜ ao existe uma sequˆencia xn −→ a tal que f (xn ) −→ 6 f (a). Em resumo: H : f6 ≀ a =⇒ T :
T1 : ∃ (xn ) : lim xn = a T : f (x ) −→ 6 f (a) n 2
Prova: Com efeito, n˜ ao sendo f cont´ınua em a (p. 238), existe ε0 > 0 tal que, qualquer que seja δ > 0 haver´ a pelo ao menos um ponto xδ ∈ M verificando ambas as condi¸c˜ oes: xδ ∈ Bd (a; δ)
e
f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0
d1 (xδ , a) < δ
e
f (xδ ) 6∈ Bd f (a); ε0
1
2
isto ´e
Fa¸camos δ =
2
1 ; ent˜ ao para todo n ∈ N existir´a xn ∈ M tal que n d1 (xn , a) <
1 n
e
f (xn ) 6∈ Bd f (a); ε0 2
portanto f (xn ) −→ 6 f (a); por´em 0 ≤ d1 (xn , a) <
1 1 ⇒ lim 0 ≤ lim d1 (xn , a) ≤ lim n n ⇒ lim d1 (xn , a) = 0 ⇒ xn −→ a.
¯ da proposi¸c˜ao anterior ´e: Observe que a contrapositiva T¯ −→ H Proposi¸ c˜ ao 54. Se para toda sequˆencia (xn ) com xn −→ a tivermos f (xn ) −→ f (a) ent˜ ao f ´e cont´ınua em a. A rec´ıproca da proposi¸c˜ao 53 tamb´em vale, Proposi¸ c˜ ao 55. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Se existe uma sequˆencia xn −→ a tal que f (xn ) −→ 6 f (a) ent˜ ao f : M −→ N n˜ ao ´e cont´ınua no ponto a ∈ M . Em resumo: H:
H1 : ∃ (xn ) : lim xn = a H : f (x ) −→ 6 f (a) n 2 268
=⇒ T : f6 ≀ a
Prova: Com efeito, se xn −→ a, ent˜ao ∀ δ > 0, ∃ n0 ∈ N tal que n ≥ n0 ⇒ xn ∈ Bd (a; δ)
(6.15)
1
Por outro lado, como f (xn ) −→ 6 f (a), ent˜ao
existe ε0 > 0 tal que ∀ n ∈ N, ∃ n′ ≥ n de modo que f (xn′ ) 6∈ Bd f (a); ε0 (p. 141)
2
Em particular, para n = n0 existe n′ ≥ n = n0 tal que f (xn′ ) 6∈ Bd f (a); ε0 2 mas por (6.15) temos que xn′ ∈ Bd (a; δ). 1
Conclus˜ao: ∃ ε0 tal que ∀ δ > 0 conseguimos um ponto xn′ ∈ Bd (a; δ) 1 com f (xn′ ) 6∈ Bd f (a); ε0 . Isto mostra que f n˜ ao ´e cont´ınua em a. 2 Esta proposi¸c˜ ao pode ser de grande utilidade para mostrar que uma fun¸c˜ao f : M −→ N n˜ ao ´e cont´ınua em um ponto a: Basta exibir uma sequˆencia (xn ) com xn −→ a ∈ M tal que f (xn ) −→ 6 f (a). Vejamos alguns exemplos do que estamos falando:
Exemplos: 1) Consideremos a fun¸c˜ ao sinal de x
f (x) = sign(x) =
(de (R, µ) em (R, µ))
1, se x > 0; 0, se x = 0; −1,
se x < 0.
Esta fun¸c˜ ao ´e descont´ınua em x = 0. Com efeito, a sequˆencia (xn ) 1 dada por x = n n converge para 0, por outro lado como f (xn ) = 1, resulta f (xn ) = (1, 1, 1, . . .) → 1 6= 0 = f (0). sign(x)
sign(x)
1
0
s
x
−1
1
rr
0
... x
rr
−1
269
2
f (x1 ) ւ r
r
x1
x
2) A fun¸c˜ ao f : [ 0, 1 [, k −→ [ 0, 1 [, µ dada por f (x) = x (identidade) ´e descont´ınua na origem. (ex. 3, p. 243) 1 De fato, tomando a sequˆencia xn = 1 − n de pontos no dom´ınio, temos que xn −→ 0 no espa¸ ao converge co [ 0, 1 [, k ; enquanto que f (xn ) = xn n˜ no espa¸co [ 0, 1 [, µ . r
r .. rrr .r 1
f (x3 )= 23
r r
¬
f (x2 )= 12
x1
r
¬r1
x2
0
r r rrrrrr
x3 ··· 2 3
2
1
3) Considere a fun¸c˜ ao
[ 0, 1 [, k
(de (R2 , D1 ) em (R, µ))
f : R2 −→ R n 2, (x, y) 7−→ z=
se y > 0; 1, se y ≤ 0.
Esta fun¸c˜ ao ´e descont´ınua no ponto a = (0, 0). De fato, a sequˆencia 1 (0, n ) converge para (0, 0), por outro lado, temos f (0, n1 ) = 2, isto ´e, 1 f (0, ) = (2, 2, 2, . . .) → 2 6= 1 = f (0, 0) n z
s
2
f (a)=1
s
s
s s
semi-plano z=2
y
տ a
sx
sx
3
2
sx
1
x
A fun¸c˜ ao anterior ´e descont´ınua em todo ponto da forma (x, 0) (eixo x). 270
6.2
Propriedades das aplica¸c˜ oes cont´ınuas
Proposi¸ c˜ ao 56. A composi¸ca ˜o de aplica¸co ˜es preserva a continuidade. Mais precisamente: se f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e cont´ınua no ponto a e g : (N, d2 ) −→ (P, d3 ) ´e cont´ınua no ponto f (a), ent˜ ao g ◦ f : (M, d1 ) −→ (P, d3 ) ´e cont´ınua no ponto a. Prova: Dado ε > 0, a continuidade de g no ponto f (a) nos assegura δ′ > 0 de modo que se y ∈ N e d2 y, f (a) < δ′ ⇒ d3 g(y), g(f (a)) < ε
Por outro lado, para este δ′ a continuidade de f no ponto a nos assegura δ > 0 de modo que se x ∈ M e d1(x, a) < δ ⇒ d2 f (x), f (a) < δ′ ⇒ d3 g(f (x)), g(f (a)) < ε (M, d1 )
xr δ
ra
f
r
rf (a)
y=f (x) δ′
(P, d3 )
(N, d2 )
g ε
rgf (x) r gf (a)
g◦f
Corol´ ario 9. A restri¸ca ˜o de uma fun¸ca ˜o cont´ınua f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) a um subespa¸co (X, d1 ) de (M, d1 ) ´e tamb´em cont´ınua. Prova: Com efeito, sendo i : X ⊂ M −→ M a inclus˜ao (i.e., i(x) = x): (f X)(x) = f (x), ∀ x ∈ X = f i(x) , ∀ x ∈ X = f ◦ i (x), ∀ x ∈ X. Portanto f X = f ◦ i, ∀ x ∈ X. Como f e i s˜ ao cont´ınuas ent˜ao f X ´e tamb´em cont´ınua.
Sejam (M, dM ) e (N1 , d1 ), (N2 , d2 ), . . . , (Nn , dn ) espa¸cos m´etricos e sejam as aplica¸c˜ oes f1 : M −→ N1 , f2 : M −→ N2 , . . . , fn : M −→ Nn . A partir destas n aplica¸c˜ oes construimos uma aplica¸c˜ao f de M no produto cartesiano N1 × N2 × · · · × Nn dada por f : M −→
N1 × N2 × · · · × Nn
x 7−→ f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) 271
Proposi¸ c˜ ao 57. A aplica¸ca ˜o f : M −→ N1 × N2 × · · · × Nn definida por f (x) = f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) , ∀ x ∈ M,
´e cont´ınua se, e somente se, suas coordenadas
f1 : M −→ N1 , . . . , fn : M −→ Nn s˜ ao cont´ınuas. Prova: (=⇒) Vamos nos valer das fun¸c˜oes proje¸c˜oes p1 ◦ f (x) = p1 f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) = f1 (x) ⇒ p1 ◦f = f1
(p. 260)
···························································· pn ◦ f (x) = pn f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) = fn (x) ⇒ pn ◦f = fn .
Como f e cada proje¸c˜ ao pi s˜ ao cont´ınuas, segue que cada fun¸c˜ao coordenada fi tamb´em ´e cont´ınua. (⇐=) Para provar a rec´ıproca usaremos em N1 × N2 × · · · × Nn a m´etrica D3 (p. 95). Sendo a um ponto arbitr´ario de M , dado ε > 0 existe para cada ´ındice i = 1, 2, . . . , n um n´ umero δi > 0 de modo que dM (x, a) < δi ⇒ di fi (x), fi (a) < ε. Pondo δ = min δ1 , δ2 , . . . , δn , temos d1 f1 (x), f1 (a) < ε dM (x, a) < δ ⇒ ·················· · · dn fn (x), fn (a) < ε Sendo assim, temos
dM (x, a) < δ ⇒ max d1 f1 (x), f1 (a) , . . . , dn fn (x), fn (a) < ε ⇒ D3 f (x), f (a) < ε. (N1 , d1 )
(M, dM )
rx ra
f1
rf1 (x) rf (a)
(N1 ×···×Nn , D3 )
1
δ1
ε
(M, dM )
rx ra
································· (M, dM )
rx ra δn
δ
(Nn , dn )
fn
rfn (x) rfn (a)
f
rf (x) rf (a) ε
ε
272
Corol´ ario 10. Se as n fun¸co ˜es f1 : M1 −→ N1
,
x1 7−→ f1 (x1 )
f2 : M2 −→ N2
, . . . , fn : Mn −→ Nn
x2 7−→ f2 (x2 )
xn 7−→ fn (xn )
s˜ ao cont´ınuas, ent˜ ao a fun¸ca ˜o f : M1 × . . . × Mn −→ N1 × . . . × Nn
x = (x1 , . . . , xn ) 7−→ f1 (x1 ), . . . , fn (xn )
tamb´em ´e cont´ınua.
Prova: Considerando as proje¸c˜oes i−´esimas (i = 1, 2, . . . , n.) pi : M1 × . . . × Mn −→ Mi (x1 ,... , xi , ..., xn ) 7−→ xi podemos escrever f (x) = f1 (x1 ), f2 (x2 ), . . . , fn (xn )
= f1 ( p1 (x1 , . . . , xn ) ), . . . , fn ( pn (x1 , . . . , xn ) ) {z } {z } | | = x1
= xn
= f1 ◦ p1 (x1 , . . . , xn ), . . . , fn ◦ pn (x1 , . . . , xn )
Portanto f = f1 ◦ p1 , f2 ◦ p2 , . . . , fn ◦ pn . Isto ´e, as fun¸c˜oes fi ◦ pi s˜ ao as coordenadas de f . Sendo estas coordenadas fun¸c˜oes cont´ınuas − por serem expressas como composi¸c˜ ao de fun¸c˜oes cont´ınuas − segue que f tamb´em ´e cont´ınua.
Opera¸c˜ oes com Fun¸c˜ oes cont´ınuas oes (I) Soma. Dadas duas fun¸c˜ f : A −→ B
g : A −→ B
e
x 7−→ f (x)
x 7−→ g(x)
gostariamos de obter uma terceira fun¸c˜ao que seria a soma de f com g f + g : A −→ B
x 7−→ f (x) + g(x)
Ent˜ ao ´e evidente que no conjunto B dever´ a ser poss´ıvel somarmos dois elementos quaisquer. Sendo assim exigiremos que B esteja inserido em uma estrutura de espa¸co vetorial. Isto ´e, consideraremos um espa¸co vetorial E, +, · constru´ıdo sobre B = E. E mais: para falarmos de continuidade consideraremos E, +, · um espa¸co vetorial normado. 273
Proposi¸ c˜ ao 58. Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico; E, +, · um espa¸co vetorial normado e f : M −→ E, g : M −→ E fun¸co ˜es. Se f e g s˜ ao cont´ınuas ent˜ ao f + g : M −→ E ´e tamb´em cont´ınua. Prova: Com efeito, consideremos as duas seguintes “fun¸c˜oes auxiliares” h : M −→ E × E
e
x 7−→ f (x), g(x)
s : E × E −→ E
(x, y) 7−→ x + y
Vamos compor estas duas fun¸c˜oes s M h E×E E x 7−→ f (x), g(x) 7−→ f (x) + g(x)
Isto ´e
s◦h : M −→ E
x 7−→ f (x) + g(x)
Observe (s◦h)(x) = s h(x) = s (f (x), g(x)) = f (x) + g(x).
Conclus˜ao: s ◦ h = f + g ´e cont´ınua por ser expressa como composi¸c˜ao de fun¸c˜ oes cont´ınuas. Observa¸ca ˜o: h ´e cont´ınua devido a proposi¸c˜ao 57 (p. de s foi demonstrada no ´ıtem (i) (p. 260).
272).
A continuidade
(II) Multiplica¸c˜ ao. Dadas duas fun¸c˜oes f : A −→ B
e
x 7−→ f (x)
g : A −→ B
x 7−→ g(x)
gostar´ıamos de obter uma terceira fun¸c˜ao que seria o produto de f com g f · g : A −→ B
x 7−→ f (x) · g(x)
Ent˜ ao ´e evidente que no conjunto B dever´ a ser poss´ıvel multiplicarmos dois elementos quaisquer. No presente contexto n˜ ao podemos tomar o conjunto B de um espa¸co vetorial arbitr´ario, uma vez que nesta estrutura n˜ ao contamos com produto de vetores. Nos contentaremos em tomar B = R. Proposi¸ c˜ ao 59. Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico; o espa¸co vetorial normado (R, | · |) e f : M −→ R, g : M −→ R fun¸co ˜es. Se f e g s˜ ao cont´ınuas ent˜ ao f · g : M −→ R ´e tamb´em cont´ınua. 274
Prova: Com efeito, consideremos as duas seguintes “fun¸c˜oes auxiliares” h : M −→ R × R
e
x − 7 → f (x), g(x)
m : R × R −→ R
(x, y) 7−→ x · y
Vamos compor estas duas fun¸c˜oes h
m R x 7−→ f (x), g(x) 7−→ f (x) · g(x)
M
Isto ´e
R×R
m◦h : M −→ R
x 7−→ f (x) · g(x)
Observe (m◦h)(x) = m h(x) = m (f (x), g(x)) = f (x) · g(x).
Conclus˜ ao: m ◦ h = f · g ´e cont´ınua por ser expressa como composi¸c˜ao de fun¸c˜oes cont´ınuas. Observa¸c˜ ao: A continuidade de m foi demonstrada no ´ıtem iii) (p. 263). Como um exemplo trivial de aplica¸c˜ao desta proposi¸c˜ao conclu´ımos que a fun¸c˜ao, de (R, µ) em (R, µ), dada por f (x) = x · x = x2 ´e cont´ınua, devido a que a aplica¸c˜ ao identidade f (x) = x ´e cont´ınua. (III) Quociente. Dadas duas fun¸c˜ oes f : A −→ R
g : A −→ R
e
x 7−→ f (x)
x 7−→ g(x)
Se g(x) 6= 0, ∀ x ∈ A, definimos a fun¸c˜ao quociente de f e g por f : A −→ R g x 7−→ f (x)/g(x)
Proposi¸ c˜ ao 60. Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico; o espa¸co vetorial normado (R, | · |) e f : M −→ R, g : M −→ R fun¸co ˜es.
Se f e g ( g(x) 6= 0, ∀ x ∈ M ) s˜ ao cont´ınuas ent˜ ao f /g : M −→ R ´e tamb´em cont´ınua. Prova: Com efeito, consideremos as trˆes seguintes “fun¸c˜oes auxiliares” h : M −→ R × R∗
;
x − 7 → f (x), g(x)
j : R × R∗ −→ R × R ; m : R × R −→ R (x, y) 7−→ x · y (x, t) 7−→ x, 1t 275
Vamos compor estas trˆes fun¸c˜oes m R×R R 1 1 x 7−→ f (x), g(x) 7−→ f (x), g(x) 7−→ f (x) · g(x)
M
Isto ´e
h
j
R × R∗
m◦j ◦h : M −→ R x 7−→
f (x) g(x)
Observe (m◦j ◦h)(x) = m◦j h(x) = m◦j (f (x), g(x)) 1 1 = m j((f (x), g(x))) = m f (x), = f (x) · g(x) g(x) Conclus˜ ao: m ◦ j ◦ h =
fun¸c˜ oes cont´ınuas.
f ´e cont´ınua por ser expressa como composi¸c˜ao de g
Observa¸c˜ ao: A continuidade de j se deve ao corol´ ario 10 1 tinuidade de t 7−→ foi demonstrada no ´ıtem ii) (p. 263). t
(p. 273).
A con
Caracteriza¸c˜ ao da continuidade das transforma¸c˜ oes lineares Lembramos da ´ algebra linear: Defini¸ c˜ ao 33. Sejam U e V espa¸cos vetoriais sobre R. Uma fun¸ca ˜o F : U → V ´e dita uma transforma¸ca ˜o linear de U em V se, e somente se, (i)
F ( u1 + u2 ) = F ( u1 ) + F ( u2 ),
∀ u1 , u2 ∈ U
∀ λ ∈ R e ∀ u ∈ U. Proposi¸ c˜ ao 61. Sejam E, +, ·, k · k1 e F, +, ·, k · k2 espa¸cos vetoriais normados sobre R. Se T : E −→ F ´e uma transforma¸ca ˜o linear , ent˜ ao as seguintes afirma¸co ˜es s˜ ao equivalentes ( ii )
F ( λ u ) = λ F ( u ),
(i) T ´e cont´ınua; (ii) T ´e cont´ınua no ponto 0 ∈ E; (iii) Existe k > 0 tal que kT (v)k2 ≤ kkvk1 , para todo v ∈ E; (iv) T ´e lipschitziana. Prova: Devemos provar as seguintes implica¸c˜oes (i) ⇒ (ii) ⇒ (iii) ⇒ (iv) ⇒ (i). 276
Com efeito, a implica¸c˜ ao (i) ⇒ (ii) vale por defini¸c˜ao. Provaremos que (ii) ⇒ (iii): Sendo T cont´ınua em 0 para ε = 1, por exemplo, existe δ > 0 de maneira que d1 (u, 0) = ku − 0k1 < δ ⇒ d2 T (u), T (0) = kT (u) − T (0)k2 < ε = 1.
isto ´e
se kuk1 < δ ⇒ kT (u)k2 < 1
(6.16)
1 < δ. Assim, dado qualquer vetor Vamos escolher k > 0 de modo que k 1 v v 6= 0 de E, o vetor ´e tal que k kvk1
1 v
= 1 v = 1 kvk1 = 1 < δ
k kvk
k kvk1 1 k kvk1 k 1 1 portanto, por (6.16), temos
<1
T 1 v
k kvk1 2
Da linearidade de T decorre
1
1
kkvk T (v) = kkvk kT (v)k2 < 1 1 1 2
Donde:
kT (v)k2 < kkvk1
Esta desigualdade vale para todo v 6= 0 de E. Se v = 0 vale a igualdade kT (0)k2 = kk0k1 , posto que kT (0)k2 = k0k2 = 0
e
k0k1 = 0.
Portanto a tese: kT (v)k2 ≤ kkvk1 vale sem restri¸c˜oes. (iii) ⇒ (iv). Dados u, v ∈ E, temos kT (u) − T (v)k2 = kT (u − v)k2 ≤ kku − vk1 Portanto T ´e de Lipschitz. (iv) ⇒ (i). Toda aplica¸c˜ ao lipschitziana ´e cont´ınua
277
(p. 258).
Corol´ ario 11. Seja (Rn , k · k1 ) onde k · k1 ´e qualquer uma das normas usuais sobre Rn e seja E, +, ·, k · k2 um espa¸co vetorial normado qualquer, ent˜ ao toda aplica¸ca ˜o linear T : Rn −→ E ´e cont´ınua. Prova: Consideremos sobre Rn a base canˆ onica {e1 , e2 , . . . , en }:
e1 = (1, 0, 0, . . . , 0) , e2 = (0, 1, 0, . . . , 0) , . . . , en = (0, 0, 0, . . . , 1). Podemos escrever qualquer vetor u ∈ Rn da seguinte forma
u = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn ⇒ u = x1 e1 + · · · + xn en .
Ent˜ ao
kT (u)k2 = T (x1 e1 + · · · + xn en ) 2
= x1 T (e1 ) + · · · + xn T (en ) 2
≤ x1 T (e1 )k2 + · · · + kxn T (en ) 2
≤ |x1 | · kT (e1 )k2 + · · · + |xn | · kT (en )k2 .
Vamos fazer a substitui¸c˜ao max kT (e1 )k2 , . . . , kT (en )k2 = k Portanto
kT (u)k2 ≤ k |x1 | + · · · + |xn | = kkuk1
onde kuk1 = k(x1 , . . . , xn )k1 = |x1 | + · · · + |xn |.
Sendo assim a proposi¸ca˜o anterior nos assegura a continuidade de T .
Nota: Veremos oportunamente em que sentido as normas usuais sobre Rn s˜ ao equivalentes. Um exame superficial da matem´ atica pode dar uma impress˜ ao de que ela ´e o resultado de esfor¸cos individuais separados de muitos cientistas espalhados por continentes e ´epocas diversas. No entanto, a l´ ogica interna de seu desenvolvimento nos lembra muito mais o trabalho de um u ´nico intelecto, desenvolvendo o seu pensamento sistem´ atico e consistentemente, usando a variedade das individualidades humanas somente como um meio. Assemelha-se a uma orquestra executando uma sinfonia composta por algu´em. Um tema passa de um instrumento a outro, e quando chegou a hora de um dos participantes abandonar o tema, ele ´e substitu´ıdo por outro, que o executa com precis˜ ao irrepreens´ıvel . . . (I.R. Shafarevich)
278
Caracteriza¸c˜ ao de Continuidade Via Conjuntos Abertos A pr´ oxima proposi¸c˜ ao caracteriza a continuidade em fun¸c˜ao de abertos. Proposi¸ c˜ ao 62. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma fun¸ca ˜o f : M −→ N ´e cont´ınua se, e somente se, para todo aberto Y ⊂ N tivermos f −1 (Y ) aberto em M . Prova: (=⇒) Suponha, por hip´ otese, f cont´ınua e Y ⊂ N aberto. Devemos mostrar que f −1 (Y ) ´e aberto em M . De fato, considere a ∈ f −1 (Y ), logo f (a) ∈ Y . Sendo Y aberto, existe ε > 0 tal que Bd f (a); ε ⊂ Y . Como f ´e cont´ınua, 2 para este ε podemos obter δ > 0 de modo que f Bd (a; δ) ⊂ Bd f (a); ε , 1 2 sendo assim (proposi¸ca˜o 134, p. 595), f Bd (a; δ) ⊂ Y ⇒ Bd (a; δ) ⊂ f −1 (Y ). 1
1
Isto prova que f −1 (Y ) ´e aberto. (M, d1 )
δ
ra
(N, d2 )
f −1 (Y ) ε
f
Y
r
f (a)
(⇐=) Reciprocamente, suponha que a imagem inversa, por f , de todo aberto em N seja um aberto em M . Devemos mostrar que f ´e cont´ınua em M . De fato, se para todo aberto Y ⊂ N tivermos f −1 (Y ) aberto em M , ent˜ao dado a ∈ M e ε > 0, tomemos Y = Bd f (a); ε . Ent˜ao f −1 (Y ) ´e aberto. Como 2 a ∈ f −1 (Y ) existe δ > 0 de modo que Bd (a; δ) ⊂ f −1 (Y ). Portanto 1
Bd (a; δ) ⊂ f −1 (Y ) ⇒ f Bd (a; δ) ⊂ Y = Bd f (a); ε . 1
1
2
Como a ∈ M foi tomado arbitrariamente, temos f cont´ınua em M . (M, d1 )
δ
ra
(N, d2 )
f −1 (Y ) f
ε
r
Y
f (a)
279
Interregno: Espa¸cos topol´ ogicos A proposi¸c˜ ao 62 afirma que para se decidir se uma fun¸c˜ao f : M −→ N ´ bem verdade ´e cont´ınua ou n˜ ao basta conhecermos os abertos de M e N . E que − no contexto dos espa¸cos m´etricos − necessitamos de uma m´etrica para decidir se um conjunto ´e aberto ou n˜ ao. O estudo das fun¸c˜oes cont´ınuas ´e de grande interesse n˜ ao apenas na An´alise mas na matem´ atica em geral, da´ı surgiu a necessidade de se estudar (criar) novos espa¸cos nos quais se abstrai (dispensa) a no¸c˜ ao de m´etrica e onde se postula quem s˜ ao os abertos do espa¸co. Essa generaliza¸c˜ao pretendida deve incluir os espa¸cos m´etricos como um caso especial o que nos leva a tomar em considera¸c˜ao as propriedades dos conjuntos abertos destes espa¸cos, fixadas na proposi¸c˜ao 23 (p. 192). Os axiomas (postulados) que comp˜ oem a defini¸c˜ao de topologia que daremos a seguir foram pela primeira vez assim apresentados por Alexandroff e Hopf em 1935 e consagrados, a partir de 1940, pelos trabalhos do grupo Bourbaki. Defini¸ c˜ ao 34 (Espa¸co Topol´ogico). Seja E 6= ∅ um conjunto qualquer. Uma cole¸ca ˜o T de subconjuntos de E ´e chamada topologia sobre E se: (T1 )
∅ e E ∈ T;
(T2 )
Se X1 , X2 , . . . , Xn ∈ T , ent˜ ao X1 ∩ X2 ∩ · · · ∩ Xn ∈ T ;
(T3 )
Se {Xλ }λ∈L ´e uma fam´ılia qualquer de conjuntos de T , ent˜ ao X=
[
λ∈L
Xλ ∈ T .
ogico. Nestas condi¸co ˜es dizemos que o par (E, T ) ´e um espa¸co topol´ Exemplos: 1) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. A cole¸c˜ao T dos conjuntos abertos desse espa¸co satisfaz os axiomas da defini¸c˜ao de espa¸co topol´ogico conforme provamos na proposi¸c˜ ao 23 (p. 192). Essa topologia, T , ´e conhecida como topologia induzida pela m´etrica d sobre M . avel se existe uma m´etrica d Um espa¸co topol´ ogico (E, T ) se diz metriz´ sobre E tal que a cole¸c˜ ao dos abertos de (E, d) coincide com T . Duas m´etricas d1 e d2 sobre um conjunto M s˜ ao consideradas equivalentes se, e somente se, elas determinam a mesma topologia (cole¸c˜ao de abertos) em M . 2) Dado E 6= ∅, a cole¸c˜ao T = P(E) − de todos os subconjuntos de E − ´e obviamente uma topologia sobre E. Essa topologia ´e chamada topologia discreta sobre E. Observe que (E, T ) ´e metriz´ avel pois a cole¸c˜ao dos abertos de (E, δ) coincide com P(E). (corol. , p. 193) 280
3) Dado E 6= ∅, a cole¸c˜ ao T ={ ∅, E } ´e uma topologia sobre E. Esta ´e conhecida como topologia trivial ou ca´ otica sobre E. Estaremos retornando aos espa¸cos topol´ogicos nos exerc´ıcios. Retomando, vamos exemplificar a utiliza¸c˜ao da proposi¸c˜ao 62. Exemplos: 1) Vimos no exemplo 2 (p. 242) que a fun¸c˜ao f : (R, µ) −→ (R, δ) dada por f (x) = x ´e descont´ınua em cada ponto do seu dom´ınio. Mostremos isto com o aux´ılio da proposi¸c˜ ao 62. Consideremos c ∈ R, temos que { c } ´e aberto em (R, δ) enquanto (def. 77, p. 593) f −1 (Y ) = x ∈ A : f (x) ∈ Y = x ∈ R : f (x) ∈ { c } = { c } n˜ ao ´e aberto em (R, µ).
(R,δ)
ց rc
{c} aberto
rc
տ
(R,µ)
f −1 ({c})={c} n˜ ao aberto
2) Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Seja f : M −→ N qualquer fun¸c˜ao. Se (M, d1 ) ´e discreto ent˜ ao f ´e cont´ınua. De fato, sendo (M, d1 ) discreto todos os seus subconjuntos s˜ ao abertos. −1 Isto ´e, f (Y ) ´e aberto em (M, d1 ) para qualquer Y ⊂ N . Isto mostra que f ´e cont´ınua. ( 1, se x ∈ Q; 3) Seja f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = 0, caso contr´ ario. Vamos mostrar que f n˜ ao ´e cont´ınua. Seja, por exemplo, o aberto Y = 12 , 32 , ent˜ao
n 1 3 o =Q f −1 (Y ) = x ∈ R : f (x) ∈ , 2 2
(p. 244)
Isto ´e, a pr´e-imagem do aberto Y resultou em Q, que n˜ ao ´e aberto. Por conseguinte f n˜ ao ´e cont´ınua.
281
4) Seja M = [ 1, 2 ] ∪ { 3 }. Considere f : (M, µ) −→ (R, µ) dada por R
f (x) =
(
1, se x ∈ [ 1, 2 ];
2
q
1
q
∴
2, se x = 3.
r
[ 1
0
] 2
s
3
M
Vamos mostrar que f ´e cont´ınua em M . Inicialmente observe que f (x) ∈ { 1, 2 },
∀ x ∈ M.
Seja Y ⊂ R um aberto. Temos quatro possibilidades a considerar: i) 1 6∈ Y e 2 6∈ Y ⇒ f −1 (Y ) = x ∈ M : f (x) ∈ Y = ∅; ii)
1 ∈ Y
e 2 6∈ Y
⇒
f −1 (Y ) = [ 1, 2 ];
iii)
1 6∈ Y
e 2 ∈ Y
⇒
f −1 (Y ) = { 3 };
iv)
1 ∈ Y
e 2∈ Y
⇒
f −1 (Y ) = M .
Temos que ∅ e M s˜ ao abertos, por outro lado 1 . 2 Deste modo a pr´e-imagem de todo aberto Y ⊂ R ´e um aberto em M , logo f ´e cont´ınua. (prop. 22, p. 191) [ 1, 2 ] = M − { 3 } , { 3 } = B 3;
Alguns corol´ arios da proposi¸c˜ ao 62 Corol´ ario 12. Seja f : (M, d) −→ (R, µ) uma fun¸ca ˜o real cont´ınua. O conjunto A = { x ∈ M : f (x) > 0 } ´e aberto. Prova: Temos que f −1 ] 0, +∞ [ = x ∈ M : f (x) ∈ ] 0, +∞ [ = A.
Como a pr´e-imagem de um conjunto aberto por uma fun¸c˜ao cont´ınua ´e um conjunto aberto, segueque A ´e aberto. Observe que Ac = x ∈ M : f (x) ≤ 0 ´e fechado. 282
Corol´ ario 13. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos e f, g : M −→ N fun¸co ˜es cont´ınuas. O conjunto A = x ∈ M : f (x) 6= g(x)
´e aberto em M.
Prova: Sendo f : M −→ N x 7−→ f (x)
g : M −→ N x 7−→ g(x)
e
fun¸c˜oes cont´ınuas, segue que a fun¸c˜ao
(prop. 57, p. 272)
h: M N ×N x 7−→ (f (x), g(x)) ´e cont´ınua. Vamos construir a seguinte fun¸c˜ao auxiliar M
h
N ×N
d2
R x 7−→ f (x), g(x) 7−→ d2 f (x), g(x)
Portanto a fun¸c˜ ao auxiliar φ, dada por
φ = d2 ◦h : M −→ R
x 7−→ d2 f (x), g(x)
´e cont´ınua, pois d2 ´e cont´ınua. (´ıtem (ii), p. Portanto, pelo corol´ ario 12 (p. 282) o conjunto A = x ∈ M : φ(x) > 0 = x ∈ M : φ(x) = d2 f (x), g(x) > 0 = x ∈ M : f (x) 6= g(x)
´e aberto.
Observa¸ c˜ ao: Observe que o conjunto F = Ac = M − A = x ∈ M : f (x) = g(x)
´e fechado. Em particular, tomando g(x) = 0, o conjunto R = x ∈ M : f (x) = 0 das ra´ızes de uma fun¸c˜ ao, ´e fechado.
Como mais uma aplica¸c˜ ao de (6.17) temos o seguinte 283
261)
(6.17)
Corol´ ario 14. Sejam f, g : M −→ N fun¸co ˜es cont´ınuas. Se f (x) = g(x) para todo ponto x pertencente a um subconjunto X ⊂ M ent˜ ao f (y) = g(y) ¯ para todo y ∈ X. Isto ´e, se duas fun¸c˜ oes cont´ınuas coincidem em um subconjunto, ent˜ao coincidem tamb´em no fecho deste mesmo subconjunto. Prova: De fato, o conjunto dos pontos x ∈ M para os quais f (x) = g(x) ´e ¯ fechado e cont´em X, logo cont´em o fecho de X. Como consequˆencia deste corol´ ario concluimos que se f, g : M −→ N s˜ ao cont´ınuas e coincidem num subconjunto denso X ⊂ M ent˜ao f = g. Por exemplo, se f, g : I −→ R s˜ ao cont´ınuas em um intervalo I e f (x) = g(x) para todo x ∈ I racional ent˜ao f (x) = g(x) para todo x ∈ R.
Como preliminar ` a demonstra¸c˜ao do pr´ oximo corol´ ario faremos as seguintes considera¸c˜ oes: Dados M1 e M2 conjuntos quaisquer, consideremos A1 ⊂ M1 e A2 ⊂ M2 . Sejam as proje¸c˜ oes p1 : M1 × M2 −→ M1
e
(x1 , x2 ) 7−→ x1
p2 : M1 × M2 −→ M2 (x1 , x2 ) 7−→ x2
Temos p−1 A1 = x ∈ M1 × M2 : p1 (x) ∈ A1 1 = (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 : p1 (x1 , x2 ) ∈ A1 = (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 : x1 ∈ A1
An´alogamente
p−1 A2 = (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 : x2 ∈ A2 2
Queremos provar a seguinte identidade A1 × A2 = p−1 A1 ∩ p−1 A2 1 2
De fato, temos
(x1 , x2 ) ∈ A1 × A2 ⇐⇒ x1 ∈ A1 e x2 ∈ A2 ⇐⇒ (x1 , x2 ) ∈ p−1 A1 e (x1 , x2 ) ∈ p−1 A2 1 2 ⇐⇒ (x1 , x2 ) ∈ p−1 A1 ∩ p−1 A2 . 1 2
O que foi feito aqui para dois conjuntos se estende sem dificuldades para n conjuntos. Corol´ ario 15. Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. Ent˜ ao o produto A1 × A2 , onde cada Ai ⊂ Mi ´e um conjunto aberto (i = 1, 2.) ´e aberto no espa¸co produto M1 × M2 (em qualquer das m´etricas Dk (k = 1, 2, 3.)) 284
−1 A Prova: p−1 A e p s˜ ao conjuntos abertos devido a que as 1 2 1 2 proje¸c˜oes s˜ ao cont´ınuas; por conseguinte A1 × A2 = p−1 A1 ∩ p−1 A2 1 2
´e aberto por ser a intersec¸c˜ ao de dois conjuntos abertos. Por indu¸c˜ ao o resultado anterior se estende a um n´ umero finito qualquer de conjuntos. Para demonstrar o pr´ oximo corol´ ario lembramos a seguinte identidade (p. 594) c f −1 Ac = f −1 (A) Corol´ ario 16. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma fun¸ca ˜o f : M −→ N ´e cont´ınua se, e somente se, para todo Fechado F ⊂ N tivermos f −1 (F ) fechado em M .
Prova: (=⇒) Suponha, por hip´ otese, f cont´ınua e F ⊂ N fechado. Devemos mostrar que f −1 (F ) ´e fechado em M . De fato, sendo F fechado, F c ´e aberto, logo pela proposi¸c˜ao 62 (p. 279) c −1 f (F c ) ´e aberto. Portanto f −1 (F c ) ´e fechado. Por conseguinte c c f −1 (F c ) = (f −1 (F ))c = f −1 (F )
´e fechado. (⇐=) Reciprocamente, suponha que a imagem inversa, por f , de todo fechado em N seja um fechado em M . Devemos mostrar que f ´e cont´ınua em M . De fato, considere A ⊂ N um aberto qualquer, ent˜ao Ac ´e fechado. Logo f −1 (Ac ) ´e fechado, portanto c c f −1 (Ac ) = (f −1 (A))c = f −1 (A)
´e aberto, logo f ´e cont´ınua.
Corol´ ario 17. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Se A e B s˜ ao subconjuntos fechados de M tais que M = A ∪ B e se f : M −→ N ´e tal que g = f A e h = f B s˜ ao cont´ınuas, ent˜ ao f tamb´em ´e cont´ınua. Prova: Seja P ⊂ N . Inicialmente mostremos a seguinte identidade f −1 (P ) = g −1 (P ) ∪ h−1 (P ) (N, d2 )
(M, d1 ) A
B f g −1 (P )
h−1 (P )
h g
285
P
A t´ıtulo de recorda¸c˜ ao temos −1 f (P ) = x ∈ M : f (x) ∈ P g−1 (P ) = x ∈ A : g(x) ∈ P h−1 (P ) = x ∈ B : h(x) ∈ P ⊂ Dado x ∈ f −1 (P ) ⇒ x ∈ M = A ∪ B e f (x) ∈ P . Logo x ∈ A e f (x) ∈ P ou x ∈ B e f (x) ∈ P . Se x ∈ A ent˜ao g(x) = f (x) ∈ P ou se x ∈ B ent˜ ao h(x) = f (x) ∈ P , em qualquer dos casos x ∈ g −1 (P ) ∪ h−1 (P ). ⊃ Seja x ∈ g−1 (P ) ∪ h−1 (P ), portanto x ∈ g−1 (P ) ou x ∈ h−1 (P ) ⇒ x ∈ A e g(x) ∈ P ou x ∈ B e h(x) ∈ P . Se x ∈ A e g(x) ∈ P ent˜ao x ∈ M e f (x) = g(x) ∈ P ou se x ∈ B e h(x) ∈ P ent˜ao x ∈ M e f (x) = h(x) ∈ P em qualquer dos casos x ∈ f −1 (P ). Pois bem, se P ´e um subconjunto fechado de N ent˜ao pelo corol´ ario 16, g−1 (P ) ´e fechado em (A, d1 ), e portanto (corol. 3, p. 207) fechado em (M, d1 ). Analogamente, h−1 (P ) ´e fechado em (M, d1 ). Logo f −1 (P ) = g −1 (P ) ∪ h−1 (P ) ´e fechado em (M, d1 ). Logo, ainda nos valendo do corol´ ario 16, concluimos que f ´e cont´ınua.
Fun¸c˜ ao Aberta Dada uma aplica¸c˜ ao cont´ınua f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) e um subconjunto aberto A ⊂ M , sua imagem direta f A = { f (x) : x ∈ A } ⊂ N n˜ ao precisa ser um conjunto aberto em (N, d2 ). Por exemplo, considere f : (M, d) −→ (R, µ) onde (M, d) ´e discreto; ent˜ ao todo subconjunto A ⊂ M ´e aberto e f ´e cont´ınua (prop. 51, p. 250). Em particular f { a } = f (x) : x ∈ { a } = f (a) n˜ ao ´e um conjunto aberto em (R, µ).
Defini¸ c˜ ao 35 (fun¸c˜ ao aberta). Uma aplica¸ca ˜o f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) chama-se aberta quando para cada A ⊂ M aberto, sua imagem f A ´e um subconjunto aberto de (N, d2 ). Isto ´e, quando f transforma abertos em abertos. Vimos que uma aplica¸c˜ao cont´ınua n˜ ao precisa ser aberta. Tamb´em uma aplica¸c˜ ao aberta n˜ ao precisa ser cont´ınua. Por exemplo, considere f : (R, µ) −→ (R, δ) dada por f (x) = x, f ´e aberta∗ mas n˜ ao ´e cont´ınua† . O nosso objetivo agora ser´ a mostrar que as fun¸c˜oes proje¸c˜ao: pi : M1 × . . . × Mn −→ Mi (x1 ,... , xi , ..., xn ) 7−→ xi s˜ ao abertas (i = 1, 2, . . . , n). ∗ †
Exemplo 3), p. 189. Exemplo 2), p. 242.
286
Prova: Das trˆes m´etricas usuais para o produto cartesiano trabalharemos com a D3 , j´a que, como ser´ a demonstrado oportunamente (prop. 68, p. 319), os abertos de M = M1 × · · · × Mn relativos a essas m´etricas s˜ ao os mesmos. Consideremos q = (q1 , . . . , qi , . . . , qn ) ∈ M = M1 × · · · × Mi × · · · × Mn . Vamos mostrar inicialmente que (i = 1, . . . , n) pi BD (q; r) = Bdi (qi ; r) 3
onde
(prop. 4, p. 124)
BD (q; r) = Bd1(q1 ; r) × · · · × Bdi (qi ; r) × · · · × Bdn (qn ; r) 3
e Bdi (qi ; r) =
xi ∈ Mi : di (xi , qi ) < r
Pois bem, pi BD (q; r) = pi (x) : x ∈ BD (q; r) 3 3 = pi (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) : (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) ∈ BD (q; r) 3 = xi : D3 (x1 , . . . , xi , . . . , xn ), (q1 , . . . , qi , . . . , qn ) < r = xi : di (xi , qi ) < r, (i = 1, . . . , n) = Bdi(qi ; r) (i = 1, . . . , n).
Sejam A ⊂ M aberto e qi ∈ pi (A) = { pi (x) : x ∈ A } = pi (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) : (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) ∈ A
= { xi : (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) ∈ A } pi A ´e o conjunto das i−´esimas coordenadas dos pontos (x1 , . . . , xn ) ∈ A. Pois bem, como qi ∈ pi A , existe q = (q1 , . . . , qi , . . . , qn ) ∈ A tal que pi (q) = qi . Como A ´e aberto, existe r > 0 tal que BD (q; r) ⊂ A. 3 Pela proposi¸c˜ ao 132 (a) (p. 592), temos BD (q; r) ⊂ A ⇒ pi BD (q; r) ⊂ pi (A) 3
3
⇒ Bdi (qi ; r) ⊂ pi (A)
e assim qi resulta ponto interior de pi (A), por conseguinte, pi (A) ´e aberto em (Mi , di ). Portanto pi (i = 1, . . . , n) ´e uma fun¸c˜ao aberta. (Mi , di )
(M, D3 ) A
pi (A)
rq
pi
287
s
qi = pi (q)
6.3
Continuidade Uniforme
Vamos lembrar o que significa dizer que uma fun¸c˜ao f : (M, d1 ) −→ (M, d2 ) seja cont´ınua em todo o seu dom´ınio. f ´e cont´ınua em um ponto arbitr´ario y ∈ M quando: qualquer que seja ε > 0 dado, pudermos obter δ > 0 tal que x ∈ M , d1 (x, y) < δ ⇒ d2 (f (x), f (y)) < ε. Isto pode traduzir-se pela f´ormula: x ∈ Bd (y; δ) ⇒ f (x) ∈ Bd f (y); ε ∀ ∀ ∃ ∀ ε>0
y∈M δ>0
x∈M
1
2
Ou, de outro modo: ∀
ε>0
∀
∃
y∈M δ>0
d1 (x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) < ε
∀
x∈M
Quando se tenta provar que uma dada fun¸c˜ao ´e cont´ınua em um ponto a podem ocorrer quatro situa¸c˜oes quanto a dependencia do δ procurado com respeito ao ponto a no qual se analisa a continuidade e ao ε fornecido, veja: δ = constante,
δ = δ(ε),
δ = δ(a),
δ = δ(ε, a).
Ou seja: o δ pode ser constante; isto ´e, n˜ ao depender nem do ponto a e nem do ε fornecido. No segundo caso, o δ procurado depende apenas do ε fornecido e n˜ ao do particular ponto no qual se analisa a continuidade. No terceiro caso ocorre a situa¸c˜ao contr´ aria, o δ depende apenas do ponto a e n˜ ao do ε fornecido. No quarto caso o δ encontrado depende de ambos. As fun¸c˜ oes cont´ınuas para as quais o δ encontrado n˜ ao depende do particular ponto a onde se analisa a continuidade, gozam de certas propriedades n˜ ao partilhadas por fun¸c˜oes cont´ınuas em geral; da´ı a necessidade de isolar´ o que faremos agora atrav´es da seguinte mos estas fun¸c˜ oes para estudos. E Defini¸ c˜ ao 36 (Continuidade uniforme). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Diz-se que uma aplica¸ca ˜o f : M −→ N ´e uniformemente cont´ınua quando, para todo ε > 0 dado arbitrariamente, pudermos exibir δ(ε) > 0 : ∀ x, y ∈ M, d1 (x, y) < δ(ε) ⇒ d2 f (x), f (y) < ε A seguir escrevemos a defini¸c˜ao de continuidade uniforme juntamente com sua nega¸c˜ ao:
∀
∃
∀
x∈M
∃
∀
∃
∃
ε>0 δ>0 y∈M ε>0 δ>0 y∈M
∀
x∈M
d1 (x, y) < δ ⇒ d2 (f (x), f (y)) < ε d1 (x, y) < δ ∧ d2 (f (x), f (y)) ≥ ε
Comparando as duas continuidades temos: 288
continuidade
∀
ε>0
∀
∃
y∈M δ>0
∀
x∈M
δ = δ(ε, y)
d1 (x, y) < δ ⇒ d2 (f (x), f (y)) < ε
continuidade uniforme
∀
ε>0
∃
δ>0
∀
∀
y∈M x∈M
δ = δ(ε)
d1 (x, y) < δ ⇒ d2 (f (x), f (y)) < ε
Observe que a segunda f´ormula “s´ o” difere da primeira pela troca da posi¸c˜ao de dois quantificadores. Proposi¸ c˜ ao 63. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Toda aplica¸ca ˜o lipschitziana ´e uniformemente cont´ınua. Prova: De fato, sendo:
(p. 258)
d2 (f (x), f (y)) ≤ c d1 (x, y) para quaisquer x, y ∈ M
ent˜ao dado ε > 0, tomamos δ(ε) = εc . Logo se ε ⇒ c d1 (x, y) < ε ⇒ d2 (f (x), f (y)) ≤ c d1 (x, y) < ε. d1 (x, y) < δ = c Em particular, s˜ ao uniformemente cont´ınuas (p.’s 258-261): As homotetias, as fun¸c˜ oes reais com derivadas limitadas em um intervalo, as proje¸c˜oes, as contra¸c˜ oes. Proposi¸ c˜ ao 64. Se f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) e g : (N, d2 ) −→ (P, d3 ) s˜ ao aplica¸co ˜es uniformemente cont´ınuas ent˜ ao g ◦ f : (M, d1 ) −→ (P, d3 ) ´e tamb´em uniformemente cont´ınua. Prova: Dado ε > 0, sendo g uniformemente cont´ınua existe δ′ > 0 : ∀ z, t ∈ N ; d2 (z, t) < δ′ ⇒ d3 g(z), g(t) < ε (6.18)
Como f ´e tamb´em uniformemente cont´ınua, para este δ′ existe δ > 0 tal que ∀ x, y ∈ M ; d1 (x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) < δ′ (6.19) De (6.18) e (6.19) concluimos que
∀ x, y ∈ M ; d1 (x, y) < δ ⇒ d3 g(f (x)), g(f (y)) < ε
isto ´e
d3 g(f (x)), g(f (y)) = d3 (g ◦ f )(x), (g ◦ f )(y) < ε (M, d1 )
y x
d1 (x, y) < δ
(N, d2 )
f
(P, d3 )
gf (x)
f (x)
g
d2 (f (x), f (y)) < δ′ f (y) g◦f
289
d3 (gf (x), gf (y)) < ε gf (y)
Proposi¸ c˜ ao 65. A aplica¸ca ˜o f : M −→ N1 × N2 × · · · × Nn definida por f (x) = f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) , ∀ x ∈ M , ´e uniformemente cont´ınua se, e somente se, suas coordenadas f1 : M −→ N1 , . . . , fn : M −→ Nn s˜ ao uniformemente cont´ınuas. Prova: (=⇒) Vamos nos valer das fun¸c˜oes proje¸c˜oes p1 ◦ f (x) = p1 f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) = f1 (x) ⇒ p1 ◦f = f1
······························································· pn ◦ f (x) = pn f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) = fn (x) ⇒ pn ◦f = fn .
Como f e cada proje¸c˜ ao pi s˜ ao uniformemente cont´ınuas, segue que cada fun¸c˜ ao coordenada fi tamb´em ´e uniformemente cont´ınua. (⇐=) Para provar a rec´ıproca usaremos em N1 × N2 × · · · × Nn a m´etrica D3 (x, y) = max d1 (x1 , y1 ), d2 (x2 , y2 ), . . . , dn (xn , yn )
Suponha que cada fi ´e uniformemente cont´ınua. Dado ε > 0 existe para cada ´ındice i = 1, 2, . . . , n um n´ umero δi > 0 de modo que ∀ x, y ∈ M ; dM (x, a) < δi ⇒ di fi (x), fi (a) < ε. Pondo δ = min{ δ1 , δ2 , . . . , δn }, temos
d1 f1 (x), f1 (a) < ε ∀ x, y ∈ M ; dM (x, a) < δ ⇒ ····················· dn fn (x), fn (a) < ε
Sendo assim, temos
∀ x, y ∈ M ; dM (x, a) < δ ⇒ max d1 f1 (x), f1 (a) , . . . , dn fn (x), fn (a) < ε ⇒ D3 f (x), f (a) < ε.
Proposi¸ c˜ ao 66. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e E, +, · um espa¸co vetorial normado. Se f, g : M −→ E s˜ ao aplica¸co ˜es uniformemente cont´ınuas ent˜ ao f + g : −→ E ´e tamb´em uniformemente cont´ınua. Prova: Exerc´ıcio.
Nota: O produto de fun¸c˜oes uniformemente cont´ınuas pode n˜ ao ser uniformemente cont´ınuo. Por exemplo, a aplica¸c˜ao f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = x ´e uniformemente cont´ınua, mas g : (R, µ) −→ (R, µ) dada por g(x) = f (x) · f (x) = x2 n˜ ao o ´e, conforme ser´ a visto. Toda fun¸c˜ ao uniformemente cont´ınua ´e cont´ınua (prove isto!); mas a rec´ıproca ´e falsa como veremos agora: 290
Exemplos: 1) A fun¸c˜ ao f : (R, µ) −→ (R, µ) definida por f (x) = x2 ´e cont´ınua (produto de fun¸c˜ oes cont´ınuas). Mostraremos que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua. Para mostrar que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua devemos exibir um ε > 0 tal que, para todo δ > 0 possamos encontrar dois pontos x e y : |x − y| < δ
e
|f (x) − f (y)| ≥ ε
Tomemos qualquer ε ≤ 2. Dado δ > 0, pela propriedade arquimediana existe n ∈ N tal que n1 < δ. Utilizando este n fa¸camos x = n e y = n + n1 . Ent˜ao |x − y| = n1 < δ e, no entanto 1 2 1 |f (x) − f (y)| = n2 − n + =2+ 2 >ε n n Veja a estenografia: ∃
∀
∃
∃
ε>0 δ>0 y∈M
ε0 ≤ 2
x∈M
d1 (x, y) < δ ∧ d2 (f (x), f (y)) ≥ ε
xδ = n 1 yδ = n+ n
|f (xδ ) − f (yδ )| ≥ ε0 |xδ − yδ | < δ
Veja a geometria: f (x)
|f (x)−f (y)| = 2+ 12 >ε n
ց
n
0
1 n+ n
x
x|x−y| = n1 <δ Nota: f ´e localmente lipschitziana (p. 262), isto implica que em cada ponto a ∈ R existe uma bola ] a − r, a + r [ tal que a restri¸c˜ao de f a essa bola ´e uniformemente cont´ınua. Consideremos ainda f (x) = x2 desta vez sobre o dom´ınio [ 0, b ], onde b ´e qualquer n´ umero positivo. Dado ε > 0 escolhamos δ = ε/2b. Ent˜ ao se x, y ∈ [ 0, b ] e |x − y| < δ, temos f (x) − f (y) = |x2 − y 2 | = |x + y| · |x − y| ≤ 2b |x − y| < 2b δ = ε.
291
Sendo assim f (x) = x2 ´e uniformmente cont´ınua sobre [ 0, b ]. Este ´e um caso especial da proposi¸c˜ao 119, pg. 503. O exemplo acima mostra a dependˆencia da continuidade uniforme com respeito ao dom´ınio da fun¸c˜ao. 2) A fun¸c˜ ao f : (R∗ , µ) −→ (R, µ) definida por f (x) = sen ( x1 ) ´e cont´ınua e limitada, mas n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua. Para mostrar que f ´e cont´ınua consideremos as fun¸c˜ oes g e h g : R −→ R
h : R∗ −→ R
e
x 7−→ sen x
x 7−→ 1/x
compondo estas duas fun¸c˜oes, temos g
h R∗ −→ R −→ R
x 7−→
1 x
7−→ sen ( x1 )
Isto ´e f = g◦h : R∗ −→ R
x 7−→ sen ( x1 )
´e cont´ınua. Para mostrar que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua devemos exibir um ε > 0 tal que, para todo δ > 0 possamos encontrar dois pontos x e y tais que |x − y| < δ e |f (x) − f (y)| ≥ ε
Tomemos qualquer ε ≤ 2. Dado δ > 0, pela propriedade arquimediana existe n ∈ N tal que 1 1 <δ ⇒ <δ ⇒ n 2n
⇒
1 <δ + 2n
1 2
3 2
1 + 2n ·
Utilizando o n de Arquimedes fa¸camos x=
3π 2
1 + 2nπ
e
y=
π 2
1 2
+ 2n
< δ.
1 + 2nπ
Ent˜ ao 1 |x − y| = 3π − 2 + 2nπ
e, no entanto
π 2
1 = + 2nπ
3 2
1 + 2n ·
1 2
+ 2n
<δ
π 3π + 2nπ − sen + 2nπ = | − 1 − 1| = 2 ≥ ε. |f (x) − f (y)| = sen 2 2 292
Veja a estenografia: ∃
∀
∃
ε>0 δ>0 y∈M
ε0 ≤ 2
∃
x∈M
xδ = yδ =
1 π +2nπ 2
d1 (x, y) < δ ∧ d2 (f (x), f (y)) ≥ ε |xδ − yδ | < δ
1 3π +2nπ 2
|f (xδ ) − f (yδ )| ≥ ε0
• Agora daremos um exemplo de fun¸c˜ao uniformemente cont´ınua mas n˜ ao lipschitziana. Trata-se da fun¸c˜ao √ f : [0, +∞[, µ −→ [0, +∞[, µ definida por f (x) = x.
Para mostrar que f ´e uniformemente cont´ınua, para todo ε > 0 dado devemos exibir δ(ε) > 0 tal que √ √ |x − y| < δ(ε) ⇒ x − y < ε Antes vamos tabelecer uma desigualdade auxiliar: para a, b ≥ 0, temos
a + b ≥ a − b e a + b ≥ −(a − b) ⇒ |a + b| ≥ |a − b|. √ √ √ √ portanto x − y ≤ x + y , ∀ x, y ≥ 0, logo √ √ √ √ x − √y · x − √y ≤ x − √y · x + √y √ √ 2 ⇒ x − y ≤ |x − y| √ √ p ⇒ x − y ≤ |x − y|
Ent˜ao, tomando δ(ε) = ε2 , temos
√ p √ √ |x − y| < δ = ε2 ⇒ ε = ε2 > |x − y| ≥ x − y √ √ ⇒ x − y < ε.
Agora vamos mostrar que f n˜ ao ´e de Lipschitz. Para tanto (p. 258) devemos provar que para qualquer c > 0, existem x, y ∈ [ 0, +∞ [, x 6= y, tal que √ x − √y > c |x − y| sendo
√ x − √y |x − y|
√ x − √y 1 = √ √ √ √ √ = √ x+ y x− y · x+ y
basta tomar, por exemplo, x =
1 16c2
1 √ √ =q x+ y
e y=
1 ; 4c2
1 1 16c2
+
293
q
1 4c2
posto que
=
4c >c 3
6.4
Homeomorfismos − Espa¸ cos Homeomorfos
Na ´ algebra, se existe uma bije¸c˜ao entre dois grupos (G, ∗) e (J, △) que preserva as opera¸c˜ oes, ent˜ao estes grupos s˜ ao ditos isomorfos e s˜ ao indistingu´ıveis sob o ponto de vista alg´ebrico. De modo an´ alogo, em topologia se existe uma bije¸c˜ao entre dois espa¸cos (M, d1 ) e (N, d2 ) que preserva os abertos (isto ´e, abertos s˜ ao tranformados em abertos), ent˜ ao estes espa¸cos s˜ ao ditos homeomorfos (ou topologicamente equivalentes) e s˜ ao indistingu´ıveis sob o ponto de vista da topologia. Vamos tornar estas considera¸c˜oes mais precisas: Inicialmente chamamos a aten¸c˜ ao do leitor para o fato de que em topologia podemos ter uma bije¸c˜ao cont´ınua, por exemplo a identidade: (prop. 51, p. 250) i : (R, δ) −→ (R, µ) x 7−→ x cuja inversa (a qual tamb´em ´e a identidade)
(ex. 2, p. 242)
i−1 : (R, µ) −→ (R, δ) x 7−→ x seja descont´ınua. Veja tamb´em o exemplo 3.
(p. 243)
Vejamos um exemplo cl´assico de bije¸c˜ao cont´ınua cuja inversa ´e descont´ınua. Consideremos os subespa¸cos ([ 0, 2π [, µ) de (R, µ) e (S 1 , D1 ) de (R2 , D1 ), onde S 1 = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1 ´e o c´ırculo unit´ ario. Consideremos a aplica¸ca˜o f : [ 0, 2π [ −→ S 1 t
7−→
(cos t, sin t)
f ´e cont´ınua, pois suas cordenadas s˜ ao cont´ınuas. Da trigonometria sabe-se que f ´e bijetiva. De forma sugestiva podemos dizer que f consiste em enrolar (em sentido anti-hor´ ario) o segmento [ 0, 2π [ sobre o c´ırculo unit´ ario. P. ex. f (0) = (cos 0, sin 0) = (1, 0) f (t) = (cos t, sin t) ⇒ f ( π ) = (cos π , sin π ) = (0, 1) 2 2 2 (0, 1)
f S1
[ 0
2π
294
(1, 0)
Vamos mostrar que f −1 ´e descont´ınua no ponto (1, 0) ∈ S 1 . Para isto faremos uso da proposi¸c˜ ao 55 (p. 268). Considere a sequˆencia (sn ) dada por 1 1 , sen 2π − sn = cos 2π − n n Observe que (sn ) ´e uma sequˆencia de pontos de S 1 , pois cos2 2π −
1 1 + sen 2 2π − = 1 n n
E ainda: sn → (cos 2π, sen 2π) = (1, 0). Por outro lado f −1 (sn ) = 2π −
1 6→ 0 = f −1 (1, 0) n
Veja a geometria:
f −1 S1
rr rr
(1, 0)
r ↑s
↑s 1
f −1 (s2 )
r
0տ f −1 (1, 0)
ր
rցr rrr [
2π
f −1 (s1 )
2
Defini¸ c˜ ao 37 (Homeomorfismo). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Dizemos que uma aplica¸ca ˜o f : M −→ N ´e um homeomorfismo do espa¸co (M, d1 ) no espa¸co (N, d2 ) se, e somente se, (a) f ´e bijetora; (b) f e sua inversa f −1 s˜ ao ambas cont´ınuas. De imediato concluimos, respaldados na proposi¸c˜ao 62 (p. 279), que se f ´e um homeomorfismo ent˜ ao todo aberto A ⊂ N ´e transformado por f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) em um aberto de M . Reciprocamente, todo aberto A ⊂ M ´e transformado por f −1 : (N, d2 ) −→ (M, d1 ) em um aberto de N . Dizemos ent˜ao que o homeomorfismo preserva (n˜ ao destr´oi) os conjuntos abertos destes espa¸cos. 295
Defini¸ c˜ ao 38 (Espa¸cos Homeomorfos). Dois espa¸cos m´etricos (M, d1 ) e ogicamente equivalentes se existe um (N, d2 ) dizem-se homeomorfos ou topol´ homeomorfismo f : M −→ N . Exemplos: 1) A inversa de toda isometria ´e uma isometria, portanto toda isometria ´e um homeomorfismo; mas a rec´ıproca ´e falsa, ´e o caso do exemplo a seguir: 2) Os espa¸cos (R, µ) e ] − 1, 1 [, µ s˜ ao homeomorfos, pois f : R −→ ] − 1, 1 [ x 7−→
f −1 : ] − 1, 1 [ −→ R
e
x 1+|x|
x 7−→
s˜ ao cont´ınuas (a cargo do leitor). Observe,
x 1−|x|
f −1 (x)
f (x) 1 x
0
−1
0
1
x
−1
´e f´acil ver que f n˜ ao ´e isometria. 3) Provamos anteriormente que a aplica¸c˜ao entre o intervalo [ 0, 2π [ e o c´ırculo unit´ ario S 1 dada por f : [ 0, 2π [ −→ S 1 t
7−→
(cos t, sin t)
n˜ ao ´e um homeomorfismo. Agora vamos provar “o contr´ ario”, que ´e sim um homeomorfismo. Mais precisamente, a aplica¸c˜ao dada por f : ([ 0, 2π [, k) −→ (S 1 , D1 )
7−→ (cos t, sin t) ´e um homeomorfismo. Onde: k(x, y) = min |x − y|, 2π − |x − y| , ´e uma m´etrica em [ 0, 2π [, como o leitor pode conferir seguindo os passos da prova dada para a m´etrica quˆantica. (p. 64) t
296
Inicialmente observe que a sequˆencia contraexemplo dada anteriormente: 1 1 sn = cos 2π − , sen 2π − n n
no presente caso n˜ ao se aplica (digo, n˜ ao serve como contraexemplo), posto que: sn → (cos 2π, sen 2π) = (1, 0) e f −1 (sn ) = 2π − n1 → 0 = f −1 (1, 0). f −1 S1
r rr
r ↑s
↑s 1
f −1 (s2 )
r
(1, 0)
0տ f −1 (1, 0)
ր
rցr rrr [
2π
f −1 (s1 )
2
Vamos provar que f −1 ´e cont´ınua no ponto (1, 0) − a prova de que ´e cont´ınua nos demais pontos do c´ırculo ´e deixada ao leitor. Inicialmente exibimos a seguinte express˜ ao para f −1 : cos−1 x, se x ≥ 0, y ≥ 0; f −1 (x, y) = sen −1 y + 2π, se x ≥ 0, y < 0.
Onde: cos−1 x = arc cos x e sen −1 x = arc sen x. Exibimos a express˜ ao para f −1 (o leitor est´ a convidado a confirm´a-la) restrita apenas ao primeiro e quarto quadrantes − o suficiente para os nossos prop´ositos. Faremos uso da proposi¸c˜ ao 54 (p. 268). Seja ent˜ao (xn , yn ) uma sequˆencia de pontos do c´ırculo tal que (xn , yn ) → (1, 0). Pela proposi¸c˜ao 14 (p. 157): D1
(xn , yn ) → (1, 0) ⇐⇒
π 2
−1
µ xn → 1 µ y → 0 n
=⇒
arc sen x
1
µ xn → 1− µ y → 0− n
π arc cos x
x
− π2
−1
297
0
1
x
Ent˜ ao lim f k
−1
(xn , yn ) =
−1 lim cos (xn ),
se xn ≥ 0, yn ≥ 0;
k
lim sen −1 (yn ) + 2π, k
Temos µ
xn → 1−
(6.20)
se xn ≥ 0, yn < 0.
lim cos−1 (xn ) = cos−1 ( lim xn ) = cos−1 (1− ) = 0
⇒
µ
µ
Na primeira igualdade acima estamos levando em conta que a fun¸c˜ao arccos ´e cont´ınua em todos os pontos do seu dom´ınio, o que significa que podemos fazer uso da identidade (6.14) (p. 267). An´alogamente, µ
yn → 0−
⇒
lim sen −1 (yn ) + 2π = sen −1 (lim yn ) + 2π → 2π µ
µ
Mais precisamente: lim sen −1 (yn ) + 2π → 2π − . µ
Agora Faremos uso dos seguintes lemas:
(ver an´ alogos, p. 425)
Lema 3. Considere (xn ) tal que 0 ≤ xn < 2π. Se (xn ) converge para 2π no espa¸co [ 0, 2π ], µ , ent˜ ao (xn ) converge para 0 no espa¸co [ 0, 2π [, k .
Lema 4. Toda sequˆencia (xn ) (0 ≤ xn < 2π) que converge para o ponto p (0 ≤ p < 2π) no espa¸co [ 0, 2π ], µ , converge para o mesmo ponto no espa¸co [ 0, 2π [, k . Sendo assim a equa¸c˜ao (6.20), fica: 0, se xn ≥ 0, yn ≥ 0; lim f −1 (xn , yn ) = k 0, se xn ≥ 0, yn < 0.
Conclus˜ao: lim f −1 (xn , yn ) = 0 = f −1 (1, 0). cont´ınua no ponto (1, 0) ∈ S 1 .
O que prova que f −1 ´e
Propriedades topol´ ogicas
Uma propriedade P , de conjuntos, ´e chamada topol´ogica ou invariante topol´ ogico se, sempre que um espa¸co m´etrico (M, d) goza de P , ent˜ao todo espa¸co homeomorfo a (M, d) tamb´em goza de P . A Topologia ´e um ramo da geometria que lida apenas com as propriedades topol´ ogicas de figuras (conjuntos de pontos). Se P ´e uma propriedade topol´ogica e sendo toda isometria um homeomorfismo, ent˜ ao P ´e preservada por isometrias; logo, toda propriedade topol´ ogica ´e tamb´em uma propriedade m´etrica − que s˜ ao aquelas preservadas por isometrias − mas a rec´ıproca n˜ ao se verifica, como veremos. 298
Como vimos no exemplo anterior a reta real R ´e homeomorfa ao intervalo aberto X = ] − 1, 1 [. Ent˜ ao, “diˆ ametro” n˜ ao ´e um invariante topol´ogico, pois X e R tˆem diˆ ametros diferentes. Tamb´em a propriedade de ser limitado n˜ ao ´e uma propriedade topol´ ogica, pois X ´e limitado enquanto R n˜ ao o ´e. Temos um outro exemplo desta situa¸c˜ao ao considerarmos os conjuntos N = { 1, 2, . . . , n, . . . }
e
ambos com a m´etrica µ. A aplica¸c˜ao,
1 1 M = 1, , . . . , , . . . 2 n
f : N −→ M n 7−→ n1 ´e um homeomorfismo, pois ´e uma bije¸c˜ao e ambos os espa¸cos (N, µ) e (M, µ) s˜ ao discretos; isto ´e f e f −1 s˜ ao cont´ınuas; mas enquanto M ´e limitado, N n˜ ao o ´e. Mostraremos agora que ser discreto ´e uma propriedade topol´ogica (portanto, m´etrica). Seja f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) um homeomorfismo. Se (N, d2 ) ´e discreto ent˜ao (M, d1 ) tamb´em o ´e. Com efeito, fixado arbitrariamente um ponto a ∈ M ; sendo (N, d2 ) discreto ent˜ ao f (a) ´e isolado, o que implica na existˆencia de um ε = εf (a) > 0 tal que a bola Bd (f (a); ε) = { f (a) } se reduz ao seu centro. Sendo f cont´ınua, 2 existe δ = δ(ε, a) > 0 tal que se x ∈ Bd (a; δ) ⇒ f (x) ∈ Bd (f (a); ε) = { f (a) }, 1
2
e como f ´e injetiva conclui-se que na bola Bd (a; δ) s´ o existe o seu pr´ oprio 1 centro, isto ´e, Bd (a; δ) = { a }. Com isto mostramos que a ∈ M ´e isolado; 1 como a foi tomado arbitrariamente segue que (M, d1 ) ´e discreto. • A estrutura topol´ ogica de um espa¸co m´etrico ´e determinada pela cole¸c˜ao dos abertos desse espa¸co. Isto se deve `a proposi¸c˜ao 23, p. 192. 4) Homeomorfismo entre bolas: Duas bolas quaisquer em um espa¸co vetorial normado s˜ ao homeomorfas. Dadas duas bolas B(a; r) e B(b; s) em um espa¸co vetorial (E, +, ·), normado, vamos mostrar que existe um homeomorfismo entre elas. A aplica¸c˜ ao, ϕ : E −→ E
x 7−→ b + rs (x − a)
isto ´e, ϕ(x) = b + rs (x − a), ´e cont´ınua por ser a composta das fun¸c˜oes cont´ınuas: transla¸c˜ ao, homotetia e transla¸c˜ao. 299
hs
T
Tb
r E −a E E E s x 7−→ x − a 7−→ r (x − a) 7−→ b + sr (x − a)
isto ´e ϕ = Tb ◦ h s ◦ T−a r
´ injetiva, pois E s s ϕ(x) = ϕ(y) ⇒ b + (x − a) = b + (y − a) ⇒ x = y r r ´e sobrejetiva, pois dado y ∈ E, existe x ∈ E de modo que ϕ(x) = y: r s ϕ(x) = b + (x − a) = y ⇒ x = a + (y − b) r s Observe que para este x, temos s r ϕ(x) = b + a + (y − b) − a = y r s A inversa de ϕ ´e dada por r ϕ−1 (x) = a + (x − b) s que tamb´em ´e cont´ınua, por ser composta por fun¸c˜oes cont´ınuas. Com isto provamos que ϕ : E −→ E ´e um homeomorfismo. Para mostrar que a restri¸c˜ao (corol. 9, p. 271) : B(a; r) −→ B(b; s) ϕ′ = ϕ B(a; r)
´e um homeomorfismo ´e suficiente mostrar que ´e sobrejetiva; isto ´e, que dado y ∈ B(b; s) existe x ∈ B(a; r) de modo que ϕ′ (x) = y. Para tanto basta mostrar que x = a + rs (y − b) ∈ B(a; r), isto ´e que kx − ak < r. Com efeito,
r r
kx − ak = a + (y − b) − a = ky − bk s s como r r y ∈ B(b; s) ⇒ ky − bk < s ⇒ ky − bk < · s ⇒ kx − ak < r. s s O diˆ ametro de um conjunto ´e um invariante m´etrico − se mant´em inalterado por isometrias. Com a demonstra¸c˜ao anterior mais uma vez constatamos que o diˆ ametro de um conjunto n˜ ao ´e um invariante topol´ogico. A transforma¸c˜ ao∗ , ϕ : B(a; r) −→ B(b; s) ∗
Voltamos a usar a nota¸c˜ ao ϕ.
300
transforma a primeira bola na segunda. De fato, ela pode ser desdobrada:
B(a; r) x
hs
T−a
r
B(0; r)
7−→
x−a
B(0; s) s r (x
7−→
Tb
B(b; s) b + rs (x − a)
− a) 7−→
Onde: i) A transforma¸c˜ ao T−a translada a bola B(a; r) para a origem;
ii) a transforma¸c˜ ao hs “expande” (caso rs > 1) ou “contrai” (caso r a bola B(0; r) de modo que esta fique com o raio s;
r s
< 1)
iii) a transforma¸c˜ ao Tb superp˜ oe (via transla¸c˜ao) a bola B(0; s) `a bola B(b; s). Exemplos: 1o ) No espa¸co R, | · | o homeomosfismo entre as bolas, B(a; r) = Bµ (0; 1) = ] − 1, 1 [
e
B(b; s) = Bµ (4; 2) = ] 2, 6 [
´e dado por, s ϕ(x) = b + (x − a) r 2 = 4 + (x − 0) = 2x + 4 1 1 2
+ 4 = 5. No gr´ afico fica assim, R
2
]
6
5
q
4
q
3
q
1
] −1
←− ϕ = 2x+4
]
por exemplo, ϕ( 12 ) = 2 ·
q [
0
1
301
R
2o ) No espa¸co R2 , k · k o homeomosfismo entre as bolas, 1 2
B(a; r) = B (1, 1);
´e dado por,
e
B(b; s) = B (3, 2);
3 2
(6.21)
s ϕ(x) = b + (x − a) r 3 2 1 2
= (3, 2) + Ou ainda,
x − (1, 1)
ϕ (x, y) = (3, 2) + 3 (x, y) − (1, 1) = (3x, 3y − 1)
A aplica¸c˜ ao ϕ transforma continuamente a primeira bola dada em (6.21) na segunda, assim: Na norma euclidiana, temos R
R
ϕ −→
2
q
1
q
q
0
q1
q2
R
3
q
2
q
1
q
0
r
q1
q2
q3
q4
R
q4
R
Na norma da soma, temos R
R
ϕ −→
2
q
1
q
q
0
q1
q2
R
3
q
2
q
1
q
0
302
r
q1
q2
q3
Na norma do m´ aximo, temos R
R
ϕ −→
2
q
1
q
q
0
q1
q2
R
3
q
2
q
1
q
r
q1
0
q2
q3
q4
R
Observe que a aplica¸c˜ ao ϕ−1 transforma continuamente a segunda bola dada em (6.21) na primeira. Em um espa¸co m´etrico arbitr´ario, duas bolas abertas podem n˜ ao ser homeomorfas. Por exemplo, tomemos n 1 o 1 M = 1, , . . . , , . . . ∪ { 0 } 2 n com a m´etrica µ induzida da reta. Por exemplo, as bolas i 1 1 1h ∩ M = { 1 } e Bµ (0; s) = ] 0 − s, 0 + s [ ∩ M Bµ (1; ) = 1 − , 1 + 2 2 2
n˜ ao s˜ ao homeomorfas qualquer que seja s > 0, pois n˜ ao pode existir uma bije¸c˜ao entre um conjunto unit´ ario e um conjunto infinito. s ⇀ q [qqqqqqqqqqq q q q q ... 1 0↑ 5 Bµ (0; s) = ] −s, s [ ∩ M ]
q
1 4
q
q
1 3
1 2
q
1տ
M
Bµ (1; 12 ) = { 1 }
Nota: Observe, an passant, que a fun¸c˜ao m´ odulo | · | : R −→ R ´e uma norma sobre o espa¸co vetorial ( R, |·| ) enquanto que a mesma fun¸c˜ao restrita a M n˜ ao ´e uma norma sobre o par (M, | · |). De fato, M n˜ ao ´e um espa¸co vetorial e norma s´ o est´ a definida em espa¸cos vetoriais. Estamos tentando dizer que nem sempre o m´ odulo ´e uma norma, isto ´e, s˜ ao conceitos distintos. (M, | · |) ´e um espa¸co m´etrico (ou um subespa¸co de (R, µ), como queira), mas n˜ ao normado, isto ´e sua m´etrica n˜ ao prov´em de uma norma. Um outro exemplo de bolas abertas n˜ ao homeomorfas, temos nas bolas dadas por Bδ (0; 1) = { 0 } e Bδ (0; 2) = R no espa¸co (R, δ). 303
5) Num espa¸co vetorial E, +, · normado, qualquer bola aberta ´e homeomorfa ao espa¸co inteiro. Este caso generaliza o exemplo 2 (p. 296). Tendo em conta que duas bolas quaisquer s˜ ao homeomorfas, ´e suficiente exibir um homeomorfismo f : E −→ B(0; 1), onde aqui o homeomorfismo e seu inverso s˜ ao dados por f (x) =
x 1 + kxk
f −1 (x) =
e
x 1 − kxk
5.1) Do exemplo anterior decorre que todo intervalo aberto limitado ] a, b [ ´e homeomorfo ao espa¸co (R, µ) uma vez que neste espa¸co o intervalo ] a, b [ ´e a bola aberta de centro no seu ponto m´edio e raio r = (b − a)/2 > 0. Com efeito, Bµ
a+b a + b a + b ;r = − r, +r 2 2 2 a + b b − a a + b b − a − , + = ] a, b [. = 2 2 2 2
5.2) Na verdade todo intervalo aberto da reta ´e homeomorfo a R. De fato, se o intervalo for do tipo ] a, +∞ [, podemos considerar o seguinte homeomorfismo, f : R −→ ] a, +∞ [
f −1 : ] a, +∞ [ −→ R
e
x 7−→ y = a + ex
x 7−→ y = ln(x − a)
A seguir plotamos os gr´ aficos de f e f −1 . ] a, +∞ [
f (x) = a+ex
R f −1 (x) = ln(x−a)
]
a
0
R
0
304
]a
] a, +∞ [
Se o intervalo for do tipo ] − ∞, b [, podemos considerar o seguinte o homeomorfismo f : R −→ ] − ∞, b [
f −1 : ] − ∞, b [ −→ R
e
x 7−→ y = b − e−x
x 7−→ y = − ln(b − x)
A seguir plotamos os gr´ aficos de f e f −1 .
R
]
b
f (x) = b−e−x
] −∞, b [
R 0
0
b
[
f −1 (x) = − ln(b−x)
] −∞, b [
6) Proje¸ca ˜o estereogr´ afica. Sejam S 1 = { (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1 } e p = (0, 1). Consideremos os seguintes subespa¸cos, S 1 − { p }, D1 e (R × { 0 }, D1 ) de
R2 , D1
Vamos agora construir um homeomorfismo entre estes subespa¸cos. A proje¸c˜ ao estereogr´afica: π : S 1 − { p } −→ R × { 0 } ´e a aplica¸c˜ao que associa a cada ponto q = (xc , yc ) ∈ S 1 − { p } o ponto π(q) ∈ R × { 0 }, obtido pela interse¸c˜ ao da semi-reta que liga p a q, com o eixo dos x.
p S
1
sq
s
↑
π(q)
305
R×{ 0 } (r)
Para determinar analiticamente o ponto π(q) = (?, 0) devemos encontrar a equa¸c˜ ao da reta (r) que passa por p = (0, 1) e q = (xc , yc ): yr − 1 =
1 − yc y −1 · xr − 0 ⇒ y r = 1 + c · xr 0 − xc xc
Fazendo yr = 0 encontramos, xr =
xc 1 − yc
⇒ π(q) =
Portanto a aplica¸c˜ ao π ´e dada por,
x c ,0 1 − yc
π : S 1 − { p } −→ R × { 0 } x (x, y) 7−→ 1−y ,0
Desejamos mostrar que π ´e um homeomorfismo. Mostremos inicialmente que π ´e uma bije¸c˜ ao. Dado (a, 0) ∈ R × { 0 }, consideremos a reta (s) que passa por (a, 0) e p = (0, 1).
S
1
?
s
s
bp R×{ 0 }
(a,0)
(s)
A equa¸c˜ ao desta reta ´e y = 1 − x/a. Vamos verificar se existe algum ponto da reta (s) em S 1 − { p }. Resolvendo o sistema x2 + y 2 = 1 y = 1 −
x a
encontramos duas solu¸co˜es; uma ´e o ponto (0, 1) que n˜ ao pertence a S 1 −{ p } 2 2a a − 1 e a outra ´e o ponto v = 2 , 2 que ´e o u ´nico ponto de S 1 − { p } a +1 a +1 tal que π(v) = (a, 0). Isto mostra que π ´e sobrejetiva e injetiva. Pelo que vimos acima, a fun¸c˜ao inversa de π ´e dada por π −1 : R × { 0 } −→ S 1 − { p } (x, 0)
7−→
2 2x , x −1 x2 +1 x2 +1
Vejamos porque π e π −1 s˜ ao cont´ınuas. As fun¸c˜oes, 306
R2 −→ R (x, y) 7−→ y
R2 −→ R , (x, y) 7−→ 1
R2 −→ R , (x, y) 7−→ x
s˜ ao cont´ınuas. A primeira e a u ´ltima por tratar-se de proje¸c˜oes e a segunda porque ´e constante. Logo tamb´em ´e cont´ınua a fun¸c˜ao, R2 −→ R (x, y) 7−→ 1−y diferen¸ca de fun¸c˜ oes cont´ınuas. Portanto as fun¸c˜oes, R2 − {(0, 1)} −→ R (x, y) 7−→ x s˜ ao cont´ınuas
(corol. p. 271).
R2 − {(0, 1)} −→ R (x, y) 7−→ 1−y
e
Portanto a fun¸c˜ao quociente, R2 − {(0, 1)} −→ R x (x, y) 7−→ 1−y
tamb´em ´e cont´ınua
(prop. 60, p. 275).
R2 −→ {0} (x, y)7−→ 0
As fun¸c˜oes R2 − {(0, 1)} −→ {0} (x, y) 7−→ 0
e
s˜ ao cont´ınuas. Tomando M = R2 − { (0, 1) } na proposi¸c˜ao 57 que a fun¸c˜ ao
(p. 272)
temos
f : R2 − {(0, 1)} −→ R × {0} x (x, y) 7−→ 1−y ,0 ´e cont´ınua. Sendo π = f 1 concluimos a continuidade de π. Para S −{p}
mostrar a continuidade de π −1 voltemos `a proposi¸c˜ao 57 com, M = R × { 0 } e consideremos as fun¸c˜ oes f1 : R × {0} −→ R (x, 0) 7−→ x22x+1
f2 : R × {0} −→ R 2 (x, 0) 7−→ xx2−1 +1
e
f1 e f2 s˜ ao cont´ınuas devido a proposi¸c˜ao 60
(p. 275).
Portanto
f : R × {0} −→ R × R (x, 0) 7−→ x22x+1 , xx22−1 +1 ´e cont´ınua. Isto prova que π −1 : R × { 0 } −→ S 1 − { p } ´e cont´ınua. 307
Notas: (i) Dada uma aplica¸c˜ ao f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ), sendo (P, d2 ) um subespa¸co tal que f (x) ∈ P para todo x ∈ M , ent˜ao a aplica¸c˜ao fP : (M, d1 ) −→ (P, d2 ) ´e cont´ınua se, e somente se, f ´e cont´ınua. (ii) S 1 − { p } ´e tamb´em homeomorfo a R uma vez que R × {0} −→ R (x, 0) 7−→ x ´e um homeomorfismo, como o leitor pode comprovar. afico de uma aplica¸c˜ao cont´ınua ´e homeomorfo ao dom´ınio. 7) O gr´ Seja f : M −→ N uma fun¸c˜ao cont´ınua. O gr´ afico de f ´e o subconjunto G(f ) ⊂ M × N do produto cartesiano M × N , definido por G(f ) = x, f (x) : x ∈ M Vamos construir um homeomorfismo entre G(f ) e M : As fun¸c˜oes f1 : M −→ M x 7−→ x
f2 : M −→ N x 7−→ f (x)
e
s˜ ao cont´ınuas. Portanto a fun¸c˜ao, F : M −→ M × N x
7−→
e
f1 (x), f2 (x)
F : M −→ M × N x 7−→ x, f (x)
´e cont´ınua. Logo, tendo em conta a nota (i) dada anteriormente, temos que a fun¸c˜ ao, FG(f ) : M −→ G(f ) x
7−→
x, f (x)
´e cont´ınua. Sua inversa, −1
FG(f ) : G(f ) −→ M x, f (x) 7−→ x
´e cont´ınua, por ser a restri¸c˜ao ao gr´ afico de f da primeira proje¸c˜ao, isto ´e, −1 FG(f ) = p1 G(f )
308
q
(x, f (x)) FG(f )
q
G(f )
F −1
x
G(f )
M
Vejamos dois casos particulares desse homeomorfismo: a) Considerando o c´ırculo unit´ ario S 1 = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1 , o seguinte subconjunto de S 1 S+1 = (x, y) ∈ S 1 : y > 0
tamb´em conhecido como hemisf´erio norte, ´e homeomorfo `a bola aberta Bµ (0, 1) = ] − 1, +1 [ , uma vez que este hemisf´erio ´e o gr´ afico da fun¸c˜ao, R
f : R −→ R x
7−→
√
S+1
a
1−x2
a
−1
R
1
que ´e cont´ınua porquanto pode ser expressa como composta de fun¸c˜oes cont´ınuas. b) A reta R ´e homeomorfa ` a par´ abola P = x, f (x) ∈ R2 : f (x) = x2 uma vez que esta par´ abola ´e o gr´ afico da fun¸c˜ao R
f : R −→ R x 7−→ x2
p (x, f (x)) p
x
309
R
6.5
M´ etricas Equivalentes
Neste ´ıtem vamos considerar duas m´etricas d1 e d2 sobre um mesmo conjunto M , o que dar´ a origem a dois espa¸cos m´etricos distintos: (M, d1 ) e (M, d2 ). Iremos ver em que sentido estes dois espa¸cos podem ser considerados equivalentes. J´ a vimos no exemplo 2 (p. 242) que a aplica¸c˜ao identidade, i : (R, µ) −→ (R, δ) x 7−→ x ´e descont´ınua. Tamb´em vimos no exemplo 3 (p. 243) que a aplica¸c˜ao identidade, i : [ 0, 1 [, k −→ [ 0, 1 [, µ x 7−→ x ´e descont´ınua. Isto d´ a sentido `a seguinte: Defini¸ c˜ ao 39. Dadas duas m´etricas d1 e d2 sobre um mesmo conjunto M , diremos que d1 ´e mais fina do que d2 e escrevemos d1 ≻ d2 quando a aplica¸ca ˜o identidade i12 : (M, d1 ) −→ (M, d2 ) x 7−→ x
for cont´ınua. Exemplos:
1) Sendo que iµδ : (R, µ) −→ (R, δ) n˜ ao ´e cont´ınua temos que µ 6≻ δ. Por outro lado, sendo iδµ : (R, δ) −→ (R, µ) cont´ınua segue que δ ≻ µ. 2) Tendo em conta que ikµ : [ 0, 1 [, k −→ [ 0, 1 [, µ n˜ ao ´e cont´ınua re- sulta que k 6≻ µ. Por outro lado, sendo iµk : [ 0, 1 [, µ −→ [ 0, 1 [, k cont´ınua segue que µ ≻ k. A imagem direta de qualquer subconjunto A ⊂ M pela aplica¸c˜ao identidade i : M −→ M ´e o pr´ oprio A: i(A) = { i(x) : x ∈ A } = { x : x ∈ A } = A. Em particular i B(a; r) = B(a; r). Tendo em conta a proposi¸c˜ao 50 (p. 238) deduzimos que se d1 ≻ d2 (isto ´e, se a identidade i12 ´e cont´ ınua) ent˜ao para todo a ∈ M e para toda bola Bd i12 (a); r = Bd a; r existe uma bola Bd (a; s) de modo que 2 2 1 i12 Bd (a; s) ⊂ Bd i12 (a); r ⇒ Bd (a; s) ⊂ Bd a; r 1
2
1
310
2
Ou ainda: Se d1 ≻ d2 ent˜ ao dada qualquer bola Bd (a; r) centrada em um 2 ponto a arbitr´ario, existe uma bola Bd (a; s) de modo que: Bd (a; s) ⊂ 1 1 Bd (a; r). No gr´ afico fica assim: 2
(M, d2 )
(M, d1 ) ∃ Bd (a; s) 1
s
∀ Bd (a; r) 2
sa
i12
s ∀ r>0
s
r
a
∃ s>0 i12 (Bd (a; s)) = Bd (a; s) ⊂ Bd (a; r) 1
1
2
Reciprocamente, se para toda bola Bd a; r existe uma bola Bd (a; s) 2 1 de modo que Bd (a; s) ⊂ Bd a; r 1
isto ´e
2
i12 Bd (a; s) ⊂ Bd i12 (a); r 1
2
ent˜ao (ainda pela proposi¸c˜ ao 50) i12 ´e cont´ınua, logo d1 ≻ d2 . Em resumo: d1 ≻ d2 ⇔ ∀ Bd a; r , ∃ Bd (a; s) : Bd (a; s) ⊂ Bd a; r 2
1
1
2
Quando ocorrer d1 ≻ d2 e d2 ≻ d1 diremos que d1 e d2 s˜ ao equivalentes (ou topologicamente equivalentes) e escrevemos d1 ∼ d2 . De outro modo: d1 e d2 s˜ ao equivalentes quando a aplica¸c˜ao identidade, i12 : (M, d1 ) −→ (M, d2 ) for um homeomorfismo. (i) J´ a vimos que iδµ : (R, δ) −→ (R, µ) n˜ ao ´e um homeomorfismo porque −1 ao ´e cont´ınua. Portanto µ e δ n˜ ao s˜ ao m´etricas sua inversa iδµ = iµδ n˜ equivalentes em R. (ii) J´ a vimos que iµk : [ 0, 1 [, µ −→ [ 0, 1 [, k n˜ ao ´e um homeomorfismo = i n˜ a o ´ e cont´ ınua. Portanto k e µ n˜ ao s˜ ao porque sua inversa i−1 kµ µk m´etricas equivalentes em [ 0, 1 [. ´ f´acil mostrar que “d ∼ d ” ´e uma rela¸ca E ˜o de equivalˆencia em qualquer 1 2 cole¸c˜ao de m´etricas em um conjunto M . 311
Exemplos: 1) Consideremos as m´etricas δ e µ sobre R. δ ≻ µ, pois dados a ∈ R e r > 0, escolhemos s = 1 obtendo Bδ (a; 1) = { a } ⊂ Bµ (a; r) =] a − r, a + r [. s
]
[
a
a−r
↑
R
a+r
Bδ (a; 1)
Para mostrar que µ 6≻ δ escolhemos Bδ (a; 1) = { a } e vemos que Bµ (a; s) = ] a − s, a + s [ 6⊂ Bδ (a; 1), ∀s > 0. 2) No conjunto Z4 as m´etricas σ e ρ s˜ ao equivalentes. De fato, ´e suficiente o leitor considerar o exerc´ıcio 6, p. 134. Os dois exemplos anteriores s˜ ao casos especiais do seguinte 3) Se o espa¸co (M, d1 ) ´e discreto (neste caso dizemos que a m´etrica d1 ´e discreta) ent˜ ao d1 ≻ d2 qualquer que seja a m´etrica d2 sobre M .
De fato, sendo (M, d1 ) discreto ent˜ao dado a ∈ M existe s = s(a) > 0 de modo que Bd (a; s) = { a } e, obviamente, { a } ⊂ Bd (a; r) qualquer que 1 2 seja a m´etrica d2 e qualquer que seja o raio r > 0. 4) No conjunto N as m´etricas δ e µ s˜ ao equivalentes. De fato, basta mostrar que µ ≻ δ, ent˜ao Bµ (n; 1) = Bµ (n; 1) ∩ N
= ] n − 1, n + 1 [ ∩ N
= { n } ⊂ Bδ (n; r),
∀ r > 0.
5) No conjunto R2 as m´etricas D1 , D2 e D3 s˜ ao duas a duas equivalentes. Isto se deve ao fato de que dada uma bola B(a; r) em qualquer uma destas m´etricas, podemos “inscrever” nesta uma bola em qualquer uma das outras duas m´etricas. Por exemplo, conforme as figuras abaixo:
r
r
r
312
r
6) Seja C[ 0, 1 ] o conjunto de todas as fun¸c˜oes cont´ınuas reais definidas no intervalo I = [ 0, 1 ]. Considere as m´etricas Υ e Γ em C[ 0, 1 ] dadas por Υ(f, g) = max{ |f (x) − g(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] } Z 1 |f (x) − g(x)| dx Γ(f, g) = 0
Vamos mostrar que Υ ≻ Γ e que Γ 6≻ Υ.
Seja BΓ (p; r) uma bola aberta com centro p ∈ C[ 0, 1 ] e raio r > 0 dado. Vamos tomar s = r e mostrar que, BΥ (p; s) ⊂ BΓ (p; r) De fato, seja f ∈ BΥ (p; s), logo Υ(f, p) = max{ |f (x) − p(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] } < s sendo, |f (x) − p(x)| ≤ max{ |f (x) − p(x)| } < s x∈I
temos, Z 1 0
(6.22)
|f (x) − p(x)| dx ≤ max{ |f (x) − p(x)| } < s ⇒ Γ(f, p) < s = r x∈I
⇒ f ∈ BΓ (p; r).
Sendo assim, Υ ≻ Γ.
Lembrete: Dada f : [ a, b ] −→ R, integr´ avel, se m ≤ f (x) ≤ M para todo Rb x ∈ [ a, b ] ent˜ ao m(b − a) ≤ a f (x) dx ≤ M (b − a). Na desigualdade (6.22), temos M = max{ |f (x) − p(x)| }. x∈I
Agora vamos mostrar que Γ 6≻ Υ. Para isto devemos exibir uma bola BΥ (p; r) centrada em um ponto p ∈ C[ 0, 1 ] de modo que BΓ (p; s) 6⊂ BΥ (p; r), ∀ s > 0. Vamos escolher a fun¸c˜ ao constante, p : [ 0, 1 ] −→ R x 7−→ 2 e o raio r = 1 e mostrar que BΓ (p; s) 6⊂ BΥ (p; 1), ∀ s > 0. Para tanto ´e suficiente mostrar que qualquer que seja s > 0 podemos exibir uma fun¸c˜ ao fs ∈ BΓ (p; s) de modo que fs 6∈ BΥ (p; 1). 313
A bola aberta BΥ (p; 1) constitui-se de todas as fun¸c˜oes g situadas entre as fun¸c˜ oes p − 1 e p + 1, isto ´e: (p. 121) p(x) − 1 < g(x) < p(x) + 1 ⇒ 1 < g(x) < 3,
4¬
p+1
3¬ 2¬ 1¬
∀ x ∈ [ 0, 1 ]
x
g
p
p−1 ¬ 1
0
Bola aberta: BΥ (p; 1)
Dado s > 0 para escolher fs ∈ BΓ (p; s) consideremos duas possibilidades:
a) 0 < s < 3 b) s ≥ 3. Se 0 < s < 3 consideremos fs a fun¸c˜ao que consiste no segmento de reta entre os pontos (0, 0) e ( 13 s, 2) e no segmento de reta entre os pontos ( 31 s, 2) e (1, 2). Isto ´e, fs est´ a definida assim: 6x , s fs (x) = 2,
se 0 ≤ x < se
s ; 3
s ≤ x ≤ 1. 3
Se s ≥ 3 tomamos fs como sendo a fun¸c˜ao constante dada por fs (x) = 1, ∀x ∈ I. (gr´ afico ` a direita abaixo)
(gr´ afico ` a esquerda abaixo).
4¬
4¬
3¬
3¬
x fs
2¬
2¬
1¬ 0
1¬ 1 3
s
¬ 1
0
xp x fs ¬ 1
Agora vamos mostrar que estas fun¸c˜oes preenchem os dois requisitos mencionados anteriormente. 314
Para 0 < s < 3, temos Z 1 |fs (x) − g(x)| dx Γ(fs , p) = 0
= =
Z
Z
s 3
6x − 2 dx + s
0 s 3
−
0
Observe que, 0≤x<
Z
1
s 3
|2 − 2| dx
s 6x + 2 dx = < s ⇒ fs ∈ BΓ (p, s). s 3
s 6x ⇒ 0 ≤ 6x < 2s ⇒ 0 ≤ <2 3 s ⇒ −2 ≤
6x 6x 6x −2 < 0 ⇒ − 2 = − −2 . s s s
Calculando a distancia Υ entre fs e p, temos
Υ(fs , p) = max{ |fs (x) − p(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] } = 2 ⇒ fs 6∈ BΥ (p; 1). Observe que, para 0≤x<
Para
6x 6x s ⇒ −2 ≤ −2 <0 ⇒ 0 <2− ≤2 3 s s 6x ⇒ 0< − 2 ≤ 2 ⇒ |fs (x) − p(x)| ∈ ] 0, 2 ] s s ≤ x ≤ 1 ⇒ |fs (x) − p(x)| = |2 − 2| = 0. 3
Da´ı (6.23). Quando s ≥ 3 temos fs (x) = 1, portanto Γ(fs , p) =
Z
1
Z
1
|fs (x) − g(x)| dx
0
=
0
|1 − 2| dx = 1 < 3 ≤ s ⇒ fs ∈ BΓ (p; s).
Ainda, Υ(fs , p) = max{ |fs (x) − p(x)| : x ∈ [ 0, 1 ] } = max{ |1 − 2| : x ∈ [ 0, 1 ] } = 1 ⇒ fs 6∈ BΥ (p; 1). 315
(6.23)
Observe que podemos concluir “a olho nu” que a fun¸c˜ao fs n˜ ao pertence ` bola BΥ (p; 1); veja que seu gr´ a afico n˜ ao se encontra dentro das faixas horizontais p − 1 e p + 1, na figura da p. 314.
Em particular concluimos que as m´etricas Υ e Γ n˜ ao s˜ ao equivalentes em C[ 0, 1 ]. 7) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Com aux´ılio da m´etrica d vamos definir uma outra m´etrica, ν digamos, dada por ν(x, y) = min{ 1, d(x, y) }. Vamos mostrar que: (i) para todo ε ∈ R tal que 0 < ε ≤ 1, temos Bd (a; ε) = Bν (a; ε); (ii) d e ν s˜ ao equivalentes.
Ent˜ ao: (i) Vamos mostrar inicialmente que Bd (a; ε) ⊂ Bν (a; ε). Seja x ∈ Bd (a; ε), isto ´e, d(x, a) < ε, devemos mostrar que x ∈ Bν (a; ε), isto ´e, que ν(x, a) = min{ 1, d(x, a) } < ε.
Resumindo (devemos mostrar que): Se
0<ε≤1
e
d(x, a) < ε
ent˜ ao
min{ 1, d(x, a) } < ε.
Pois bem, juntando as hip´ oteses podemos escrever d(x, a) < ε ≤ 1 ⇒ min{ 1, d(x, a) } = d(x, a) < ε. Agora vamos mostrar que Bν (a; ε) ⊂ Bd (a; ε). Seja x ∈ Bν (a; ε), isto ´e, ν(x, a) = min{ 1, d(x, a) } < ε, devemos mostrar que x ∈ Bd (a; ε), isto ´e, que d(x, a) < ε. Resumindo (devemos mostrar que): Se
0<ε≤1
e
min{ 1, d(x, a) } < ε
ent˜ ao
d(x, a) < ε.
Pois bem, juntando as hip´ oteses podemos escrever min{ 1, d(x, a) } < ε ≤ 1, portanto min{ 1, d(x, a) } = d(x, a) < ε. Observe que n˜ ao pode ser min{ 1, d(x, a) } = 1 sen˜ ao teriamos 1 < ε ≤ 1. (ii) Para mostrar que d e ν s˜ ao equivalentes devemos mostrar que dada Bd (a; ε) existe δ > 0 tal que Bν (a; δ) ⊂ Bd (a; ε) e vice-versa. Ent˜ao, pelo ´ıtem anterior se 0 < ε ≤ 1 basta tomar δ = ε e teremos Bν (a; ε) = Bd (a; ε). Portanto resta considerar ε > 1.
316
Seja ε > 1, queremos mostrar que existe δ > 0 tal que Bν (a; δ) ⊂ Bd (a; ε). Seja x ∈ Bν (a; δ), isto ´e, ν(x, a) = min{ 1, d(x, a) } < δ; queremos mostrar (com uma escolha apropriada de δ) que x ∈ Bd (a; ε), isto ´e, que d(x, a) < ε. Isto ´e Se
ε>1
min{ 1, d(x, a) } < δ
e
ent˜ ao
d(x, a) < ε.
Pois bem, observe que tomando δ = 1 teremos Se
ε>1
min{ 1, d(x, a) } < 1 ⇒ d(x, a) < 1
e
⇒ d(x, a) < 1 < ε
⇒ x ∈ Bd (a; ε).
Por outro lado, dado ε > 1 vamos mostrar que existe δ > 0 de modo que Bd (a; δ) ⊂ Bν (a; ε). Ent˜ ao, seja x ∈ Bd (a; δ), devemos mostrar que x ∈ Bν (a; ε). Isto ´e Se
ε>1
e
d(x, a) < δ
ent˜ ao
min{ 1, d(x, a) } < ε.
Tomando δ = 1 teremos Se
ε>1
e
d(x, a) < 1 ⇒ min{ 1, d(x, a) } = d(x, a) < 1 ⇒ min{ 1, d(x, a) } < ε
⇒ x ∈ Bν (a; ε).
8) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Com aux´ılio da m´etrica d vamos definir uma outra m´etrica, ν digamos, dada por ν(x, y) =
d(x, y) 1 + d(x, y)
Vamos mostrar que d e ν s˜ ao equivalentes. Inicialmente mostremos que dados a ∈ M e ε > 0 existe δ > 0 de modo que Bd (a; δ) ⊂ Bν (a; ε). Tomando δ = ε, dado x ∈ Bd (a; δ = ε) vamos mostrar que x ∈ Bν (a; ε), isto ´e que d(x, a) <ε d(x, a) < ε ⇒ ν(x, a) = 1 + d(x, a) Isto ´e imediato pois d(x, a) < ε
⇒
d(x, a) < ε + ε · d(x, a)
⇒
d(x, a) < ε. 1 + d(x, a)
ε e mostrar que Por outro lado, dado ε > 0, podemos tomar δε = 1+ε Bν (a; δε ) ⊂ Bd (a; ε). Isto ´e, seja x ∈ Bν (a; δε ) queremos mostrar que
d(x, a) ε < 1 + d(x, a) 1+ε 317
⇒
d(x, a) < ε
Isto ´e verdade porquanto d(x, y) ε < ⇔ d(x, a) + ε d(x, a) < ε + ε d(x, a) 1 + d(x, y) 1+ε ⇔ d(x, a) < ε. Os dois u ´ltimos exemplos mostram que toda m´etrica ´e equivalente a duas (pelo ao menos) m´etricas limitadas, uma vez que ν(x, y) ≤ 1. Proposi¸ c˜ ao 67. Sejam d1 e d2 m´etricas num conjunto M . Se existir uma constante α > 0 tal que d2 (x, y) ≤ α d1 (x, y) para todo x, y ∈ M ent˜ ao d1 ≻ d2 . Prova: Vamos mostrar que a aplica¸c˜ao identidade i12 : (M, d1 ) −→ (M, d2 ) ´e cont´ınua. De fato, dados a ∈ M e ε > 0 ´e suficiente tomar δ = quando d1 (x, a) < δ temos d2 i12 (x), i12 (a) = d2 (x, a) ε ≤ α d1 (x, a) < α δ = α = ε α Isto mostra que i12 ´e cont´ınua e, por conseguinte, d1 ≻ d2 .
ε α
e ent˜ao
Corol´ ario 18. Se existirem constantes α > 0 e β > 0 tais que α d1 (x, y) ≤ d2 (x, y) ≤ β d1(x, y) para quaisquer x, y ∈ M , ent˜ ao d1 ∼ d2 . Prova: Pela proposi¸c˜ ao anterior, se d2 (x, y) ≤ β d1 (x, y) decorre que d1 ≻ d2 . Por outro lado, se α d1 (x, y) ≤ d2 (x, y) decorre d1 (x, y) ≤ α1 d2 (x, y) e, novamente pela proposi¸c˜ao anterior, temos d2 ≻ d1 . Portanto d1 ∼ d2 .
Nota: A rec´ıproca deste corol´ ario n˜ ao vale. Isto ´e, se duas m´etricas s˜ ao equivalentes n˜ ao implica que existam constantes α e β satisfazendo as desigualdades presentes no corol´ ario. Para mostrar isto considere M = R e d(x, y) = |x − y|. Seja ν(x, y) = |x−y| a vimos que ν ∼ d, no entanto n˜ ao existe uma constante β > 0 de 1+|x−y| , j´ modo que d(x, y) ≤ β ν(x, y) , ∀ x, y ∈ R. Pois, caso contr´ ario, ter´ıamos |x − y| ≤ β
|x − y| ⇒ 1 + |x − y| ≤ β 1 + |x − y|
(x 6= y)
e isto implicaria em d ser uma m´etrica limitada, o que n˜ ao ´e verdade, como j´a vimos. 318
Exemplos: As trˆes m´etricas usuais do Rn s˜ ao equivalentes (p. 72). Dados os espa¸cos (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . ., (Mn , dn ), o produto cartesiano M = M1 × M2 × · · · × Mn ´e o conjunto das n−uplas ordenadas x = (x1 , x2 , . . . , xn ), onde x1 ∈ M1 , x2 ∈ M2 ,. . . , xn ∈ Mn . Para as trˆes m´etricas abaixo (p. 97) q D1 (x, y) = d12 (x1 , y1 ) + · · · + dn2 (xn , yn ) D2 (x, y) = d1 (x1 , y1 ) + · · · + dn (xn , yn )
D3 (x, y) = max { d1 (x1 , y1 ), . . . , dn (xn , yn ) } valem as seguintes desigualdades: D3 (x, y) ≤ D1 (x, y) ≤ D2 (x, y) ≤ n · D3 (x, y)
(6.24)
as quais provamos de modo inteiramente an´ alogo ao do caso anterior. Portanto, estas m´etricas s˜ ao equivalentes. Proposi¸ c˜ ao 68. Sejam d e d′ m´etricas equivalentes sobre M . Se A ´e a cole¸ca ˜o dos conjuntos abertos de (M, d) e A′ ´e a cole¸ca ˜o dos conjuntos ′ ′ abertos de (M, d ), ent˜ ao A = A . Prova: Seja um aberto A ∈ A e considere a ∈ A um ponto arbitrariamente fixado. Ent˜ ao, por A ser aberto, existe ε > 0 tal que Bd (a; ε) ⊂ A. Da equivalˆencia d ∼ d′ decorre que existe λ > 0 de maneira que Bd′ (a; λ) ⊂ Bd (a; ε). Sendo assim Bd′ (a; λ) ⊂ A o que mostra que A ∈ A′ . Portanto A ⊂ A′ . De maneira an´ aloga se mostra que A′ ⊂ A, o que conclui a demonstra¸c˜ao. Nota: O significado da proposi¸c˜ ao anterior ´e que m´etricas equivalentes determinam a mesma estrutura topol´ogica. Segundo esta proposi¸c˜ ao, para mostrar que duas m´etricas n˜ ao s˜ ao equivalentes basta exibir um conjunto aberto em uma delas e n˜ ao na outra. Vejamos um exemplo do que estamos falando: As m´etricas dos espa¸cos (R, δ) e (R, µ) n˜ ao s˜ ao equivalentes. Com efeito, o conjunto ] 0, 1 ] ´e um aberto no primeiro destes espa¸cos, mas n˜ ao no segundo. Julgamos oportuno tamb´em ressaltar que esta proposi¸c˜ao n˜ ao diz que os ′ espa¸cos (M, d) e (M, d ) tˆem a mesma cole¸c˜ao de bolas abertas; mas t˜ao somente de conjuntos abertos. Por exemplo, a figura ` a esquerda ´e 2 uma bola aberta no espa¸ co R , D1 mas n˜ ao no espa¸co R2 , D2 (neste espa¸co ´e t˜ao somente um conjunto aberto). Com a figura da direita sucede o contr´ ario. 319
r
r
Teorema 5. Sejam (M, d1 ), (N, d2 ), (M, d′1 ) e (N, d′2 ) espa¸cos m´etricos. Sendo d1 ∼ d′1 e d2 ∼ d′2 a aplica¸ca ˜o f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´e cont´ınua se, e somente se, f : (M, d′1 ) −→ (N, d′2 ) ´e cont´ınua.
Prova: (=⇒) Consideremos f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) cont´ınua e mostremos que f : (M, d′1 ) −→ (N, d′2 ) ´e cont´ınua. Para tanto ´e suficiente mostrar mos que: dados a ∈ M e ε > 0 existe δ > 0 de modo que f Bd′ (a; δ) ⊂ 1 Bd′ f (a); ε . Pois bem, 2
1 Como d2 ∼ d′ ent˜
ao a identidade iN : (N, d2 ) −→ (N, d′2 ) ´e cont´ınua. 2 Em particular ´e cont´ınua no ponto f (a), o que significa que para a bola Bd′ f (a); ε existe δ′ > 0 de modo que 2 (6.25) iN Bd (f (a); δ′ ) = Bd (f (a); δ′ ) ⊂ Bd′ (f (a); ε) 2
2
2
2 Como f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) ´
e cont´ınua (por hip´ otese), isto implica em que para a bola Bd f (a); δ′ existe uma bola Bd a; δ′′ de modo que 1 2 ′′ f Bd (a; δ ) ⊂ Bd (f (a); δ′ ) (6.26) 1
2
d′
3 Como d1 ∼ 1 ent˜
ao a identidade iM: (M, d′1 ) −→ (M, d1 ) ´e cont´ ınua, o que significa que para a bola Bd a; δ′′ existe uma bola Bd′ a; δ tal que 1 1 ′′ iM Bd′ (a, δ) = Bd′ (a; δ) ⊂ Bd (a; δ ) 1
1
1
Aplicando f no lado direito desta igualdade e invocando (6.26), temos f Bd′ (a; δ) ⊂ f Bd (a; δ′′ ) ⇒ f Bd′ (a; δ) ⊂ Bd (f (a); δ′ ) 2 1 1 1 mas por (6.25) podemos escrever f Bd′ (a; δ) ⊂ Bd′ f (a); ε . 1
2
(M, d1 )
(N, d2 )
Bd (a; δ′′ ) 1
Bd (f (a); δ′ ) 2
ra
f 2
δ′′
∃ δ′′ >0 iM (M, d′1 ) Bd′ (a; δ) 1
δ
∃ δ′ >0 iN
3
1
(N, d′2 ) Bd′ (f (a); ε) 2
ra
rf (a)
δ′
f ε ∃ δ=?
rf (a) ∀ ε)>0
(⇐=) An´alogo. 320
Notas: i) No teorema anterior, obviamente podemos ter os casos particulares: d1 = d′1 ou d2 = d′2 . ii) Ao longo deste livro j´a tivemos oportunidade de aplicar este teorema por diversas vezes.
Homeomorfismos Uniformes √ A fun¸c˜ ao f : R+ −→ R+ dada por f (x) = x ´e bijetora, uniformemente cont´ınua (p. 293) mas sua inversa, dada por x 7−→ x2 , n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua (p. 291). Faz sentido a seguinte Defini¸ c˜ ao 40 (Homeomorfismo Uniforme). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma aplica¸ca ˜o f : M −→ N ´e chamada homeomorfismo uniforme se f ´e bijetora, ´e uniformemente cont´ınua e sua inversa f −1 tamb´em ´e uniformemente cont´ınua. Exemplo: Toda isometria f : M −→ N ´e um homeomorfismo uniforme porque ´e bijetora, lipschitziana (logo uniformemente cont´ınua, p. 289) e sua inversa ´e tamb´em uma isometria. Em particular as transla¸c˜oes em um espa¸co vetorial normado (p. 254) e as rota¸c˜oes no espa¸co euclidiano (p. 255) s˜ ao homeomorfismos uniformes.
M´ etricas Uniformemente Equivalentes Defini¸ c˜ ao 41. Sejam d1 e d2 m´etricas sobre o mesmo conjunto M . Dizemos que d1 e d2 s˜ ao uniformemente equivalentes se a identidade i12 : (M, d1 ) −→ (M, d2 ) ´e um homeomorfismo uniforme. Nota¸ca ˜o: d1 ≃ d2 para indicar que d1 e d2 s˜ ao uniformemente equivalentes. Exemplos e Contraexemplos: 1) Sejam d1 e d2 m´etricas sobre M . Se existirem constantes α > 0 e β > 0 tais que α d1(x, y) ≤ d2(x, y) ≤ β d1(x, y), ∀x, y ∈ M ent˜ao as m´etricas d1 e d2 ser˜ ao uniformemente equivalentes. De fato as desigualdades
1 d (x, y) e d2(x, y) ≤ β d1(x, y), α 2 provam respectivamente que as identidades d1(x, y) ≤
i12 : (M, d1 ) −→ (M, d2 ) s˜ ao lipschitzianas
(p. 258),
e
i21 : (M, d2 ) −→ (M, d1 )
logo, uniformemente cont´ınuas 321
∀x, y ∈ M
(prop. 63, p. 289).
Em particular as trˆes m´etricas do espa¸co M1 × M2 × · · · × Mn = M s˜ ao uniformemente equivalentes visto que vale (6.24) (p. 319). 2) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. A m´etrica dada por ν(x, y) = min{ 1, d(x, y) } ´e uniformemente equivalente a d. Para provar esta afirma¸c˜ao basta mostrar que a aplica¸c˜ ao identidade idν : (M, d) −→ (M, ν) ´e um homeomosfismo uniforme. Pois bem, como ν(x, y) = min{ 1, d(x, y) } ≤ d(x, y) ⇒ ν idν (x), idν (y) ≤ d(x, y)
segue que a identidade idν : (M, d) −→ (M, ν) ´e lipschitziana e, portanto, uniformemente cont´ınua. Agora vamos mostrar que a identidade = iνd : (M, ν) −→ (M, d) i−1 dν ´e uniformemente cont´ınua. Para isto dado ε > 0 devemos exibir δ = δ(ε) > 0 de modo que ν(x, y) < δ ⇒ d iνd (x), iνd (y) < ε Vamos mostrar que δ dado por δ(ε) = min{ 1, ε } serve. Pois, bem de ν(x, y) < 1 (⋆) ν(x, y) < δ = min{ 1, ε } ⇒ ν(x, y) < ε (⋆⋆)
da defini¸c˜ ao ν(x, y) = min{ 1, d(x, y) } e de (⋆) concluimos que devemos ter ν(x, y) = d(x, y) e de (⋆⋆) devemos ter d(x, y) < ε ⇒ d(x, y) = d iνd (x), iνd (y) < ε
Portanto de fato a escolha δ(ε) = min{ 1, ε } nos conduz ao resultado desejado. Isto ´e, nos permitiu mostrar que a identidade iνd ´e uniformemente cont´ınua. 3) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. A m´etrica dada por ν(x, y) =
d(x, y) 1 + d(x, y)
´e uniformemente equivalente a d. Para provar esta afirma¸c˜ao basta mostrar que a aplica¸c˜ ao identidade idν : (M, d) −→ (M, ν) ´e um homeomosfismo uniforme. Ent˜ ao d(x, y) ≤ d(x, y) ⇒ ν idν (x), idν (y) ≤ d(x, y) ν(x, y) = 1 + d(x, y) Isto mostra que idν ´e lipschitziana e, portanto, uniformemente cont´ınua. 322
Agora vamos mostrar que a identidade = iνd : (M, ν) −→ (M, d) i−1 dν ´e uniformemente cont´ınua. Para isto dado ε > 0 devemos exibir δ = δ(ε) > 0 de modo que ν(x, y) < δ ⇒ d iνd (x), iνd (y) < ε Vamos mostrar que δ dado por δ(ε) = ν(x, y) < δ =
ε 1+ε
serve. Pois bem,
d(x, y) ε ε ⇒ ν(x, y) = < 1+ε 1 + d(x, y) 1+ε
Temos que ε d(x, y) < ⇔ d(x, y) + ε d(x, y) < ε + ε d(x, y) 1 + d(x, y) 1+ε ⇔ d(x, y) < ε portanto ν(x, y) < δ ⇒ d iνd (x), iνd (y) < ε.
ε De fato a escolha δ(ε) = 1+ε nos conduz ao resultado desejado. Isto ´e, nos permitiu mostrar que a identidade iνd ´e uniformemente cont´ınua. Os dois exemplos anteriores mostram que toda m´etrica possui pelo ao menos duas m´etricas limitadas que lhe s˜ ao uniformemente equivalentes.
4) Vejamos agora um exemplo de m´etricas equivalentes mas n˜ ao uniforme˙ mente equivalentes. Consideremos os espa¸cos (M, µ) e (M, δ), onde 1 1 M = 1, , , . . . 2 3
e
˙ δ(x, y) =
(
1 se e s´ o se, x 6= y; 0 se e s´ o se, x = y.
˙ s˜ e µ(x, y) = |x − y|. Os espa¸cos (M, µ) e (M, δ) ao ambos discretos, logo ˙ as m´etricas µ e δ s˜ ao equivalentes (ex. 3, p. 312). No entanto a aplica¸c˜ao ˙ n˜ identidade i : (M, µ) −→ (M, δ) ao ´e uniformemente cont´ınua. Para mostrar que i n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua devemos exibir um ε > 0 tal que para todo δ > 0 possamos encontrar dois pontos x, y ∈ M : µ(x, y) < δ e δ˙ i(x), i(y) ≥ ε
Pois bem, tome qualquer ε ≤ 1. Para todo δ > 0 existe n ∈ N tal que 1 1 1 ao n(n+1) < δ. Vamos tomar x = n+1 e y = n , ent˜ |x − y| =
1 <δ n(n + 1)
e
δ˙ i(x), i(y) = δ˙ 323
1 1 , = 1 ≥ ε. n+1 n
• A continuidade uniforme n˜ ao ´e uma propriedade topol´ogica. (p. 298) Isto ´e, uma fun¸c˜ ao uniformemente cont´ınua f : M −→ N pode perder esta propriedade caso troquemos a m´etrica de M e/ou a de N por outra equivalente. Vejamos um caso destes. Consideremos M , µ, δ˙ como no exemplo anterior e verifiquemos o seguinte diagrama ˙ −→ (R, µ) ⇒ f : (M, δ) l∼ f : (M, µ) −→ (R, µ) ⇒
f´ e uniformemente cont´ınua.
f n˜ ao ´ e uniformemente cont´ınua.
˙ −→ (R, µ) ´e onde f ´e dada por f n1 = n. Vamos mostrar que f : (M, δ) uniformemente cont´ınua. Para todo ε > 0 dado devemos exibir δ > 0 de modo que se ˙ δ(x, y) < δ ⇒ µ f (x), f (y) < ε Tomando δ = 1, temos que
˙ ˙ se δ(x, y) < 1 ⇒ δ(x, y) = 0 ⇒ x = y ⇒ f (x) = f (y)
⇒ µ f (x), f (y) = 0 < ε.
Agora vamos mostrar que f : (M, µ) −→ (R, µ) n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua. Para mostrar que f n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua devemos exibir um ε > 0 tal que para todo δ > 0 possamos encontrar dois pontos x, y ∈ M tais que µ(x, y) < δ e µ f (x), f (y) ≥ ε Pois bem, tome qualquer ε ≤ 1. Para todo δ > 0 existe n ∈ N tal que 1 1 1 ao n(n+1) < δ. Vamos tomar x = n+1 e y = n , ent˜ |x − y| =
1 <δ n(n + 1)
e
µ f (x), f (y) = |(n + 1) − n| = 1 ≥ ε.
Neste exemplo a continuidade uniforme foi perdida ao trocarmos uma m´etrica por outra equivalente − mas n˜ ao uniformemente equivalente − Perguntamos: E se trocarmos uma m´etrica por outra que lhe seja uniformemente equivalente n˜ ao teriamos a continuidade uniforme preservada? Isto de fato acontece: Proposi¸ c˜ ao 69. Seja f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) uma fun¸ca ˜o uniformemente cont´ınua. A aplica¸ca ˜o f n˜ ao perde esta propriedade quando se substitui a m´etrica de M e/ou a de N por outra que lhe(s) seja(m) uniformemente equivalente(s). Prova: Vamos conduzir a prova para o caso particular de substituirmos d1 por d′1 ≃ d1 . As demais possibilidades s˜ ao tratadas de modo an´ alogo. Temos
324
hip´ otese
Tese
f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) l≃ f : (M, d′1 ) −→ (N, d2 )
(f ´ e uniformemente cont´ınua.)
(f ´ e uniformemente cont´ınua.)
Dado ε > 0 existe, por hip´ otese, ρ > 0 de modo que d1(x, y) < ρ ⇒ d2 f (x), f (y) < ε
(6.27)
Como a identidade
i : (M, d′1 ) −→ (M, d1 )
´e uniformemente cont´ınua, devido a que d′1 ≃ d1 , ent˜ao para o ρ > 0 acima existe δ = δ(ρ) > 0 de modo que d′1(x, y) < δ ⇒ d1 i(x), i(y) = d1(x, y) < ρ portanto, invocando (6.27), temos
d′1(x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) < ε
o que garante a continuidade uniforme de
f : (M, d′1 ) −→ (N, d2 )
6.5.1
Normas Equivalentes
Vamos Considerar duas normas distintas sobre um mesmo espa¸co vetorial E, +, · . Para diferenci´ a-las usaremos a nota¸c˜ao k k1 para uma delas e k k2 para a outra. Sendo assim d1 e d2 dadas por d1 (x, y) = kx − yk1 e d2 (x, y) = kx − yk2 ser˜ ao as m´etricas induzidas sobre E por essas normas. Defini¸ c˜ ao 42 (Normas Equivalentes). Duas normas sobre o mesmo espa¸co vetorial E, +, · dizem-se equivalentes se, e somente se, as m´etricas induzidas por essas normas sobre E s˜ ao equivalentes. Se k k1 e k k2 s˜ ao as normas consideradas e d1 e d2 as respectivas m´etricas induzidas por essas normas, ao a equivalˆencia definida acimasignifica que ent˜ dada uma bola Bd p; r , com p ∈ E, existe uma bola Bd p; s tal que 1 2 Bd p; s ⊂ Bd p; r 1
2
e, reciprocamente. J´ a vimos que a existˆencia de n´ umeros reais α > 0 e β > 0 tais que α d1(x, y) ≤ d2(x, y) ≤ β d1(x, y)
´e uma condi¸c˜ ao suficiente para que as m´etricas d1 e d2 sejam equivalentes, mas esta condi¸c˜ ao n˜ ao ´e necess´aria. (ver nota pg. 318) 325
Veremos agora que esta condi¸c˜ao que ´e apenas suficiente para a equivalˆencia de m´etricas em geral, ´e tamb´em necess´aria quando tais m´etricas provˆem de normas. Proposi¸ c˜ ao 70. Duas normas k k1 e k k2 num espa¸co vetorial E, +, · s˜ ao equivalentes se, e somente se, existem constantes α > 0 e β > 0 tais que α kxk1 ≤ kxk2 ≤ β kxk1 para qualquer x ∈ E. Prova: (⇐=) Dados x, y ∈ E, por hip´ otese, temos α kx − yk1 ≤ kx − yk2 ≤ β kx − yk1 Ou seja, α d1(x, y) ≤ d2(x, y) ≤ β d1(x, y). Sendo assim o corol´ ario 18 (p. 318) nos assegura que d1 ∼ d2 o que, por sua vez implica − por defini¸c˜ao − que as normas s˜ ao equivalentes. (=⇒) Por otese as normas dadas ao equivalentes. Portanto, dada a bola hip´ s˜ Bd 0; 1 existe uma bola Bd 0; r de modo que 1
2
Bd 0; r ⊂ Bd 0; 1 2
1
Escolhendo um n´ umero real α de modo que 0 < α < r, o vetor todo 0 6= x ∈ E, pertence `a bola Bd 0; r pois
αx kxk2 ,
para
2
αx
αkxk2
kxk − 0 = kxk = α < r 2 2 2
portanto esse vetor tamb´em pertence `a bola Bd 0; 1 , o que implica 1
Ou seja,
αx
αkxk1
kxk − 0 = kxk < 1 2 2 1
αkxk1 < kxk2 Por outro lado, dada a bola Bd 0; 1 existe uma bola Bd 0; s tal que 2
1
Bd 0; s ⊂ Bd 1
2
0; 1
Escolhamos um n´ umero real β que satisfa¸ca as desigualdades 0 < β1 < s. x pertence `a bola Bd 0; s pois Logo, para todo 0 6= x ∈ E, o vetor βkxk 1
x
= kxk1 = 1 < s − 0
βkxk
βkxk1 β 1 1 326
1
portanto esse vetor tamb´em pertence `a bola Bd 0; 1 o que implica 2
x
kxk2
βkxk − 0 = βkxk < 1 1 1 2
ou seja
kxk2 < βkxk1
Sendo assim temos α kxk1 < kxk2 < β kxk1 para todo vetor x 6= 0. Lembramos que k0k1 = 0 = k0k2 isto implica em que α k0k1 = k0k2 = β k0k1 o que implica na tese: existem n´ umeros α > 0 e β > 0 tais que α kxk1 ≤ kxk2 ≤ β kxk1
para qualquer x ∈ E.
Interregno cultural: A revolu¸ca ˜o do espa¸co curvo teve uma influˆencia profunda em todas as ´ areas da matem´ atica. Desde o tempo de Euclides at´e a ´epoca em que os trabalhos de Gauss e de Riemann foram descobertos postumamente, a matem´ atica era principalmente pragm´ atica. A estrutura de Euclides era interpretada como descrevendo o espa¸co f´ısico. A matem´ atica era, num certo sentido, um tipo de f´ısica. Quest˜ oes sobre a consistˆencia das teorias matem´ aticas pareciam discut´ıveis − a demonstra¸ca ˜o encontravase no mundo f´ısico. Mas, por volta de 1900, os matem´ aticos tinham a opini˜ ao de que os axiomas eram afirma¸co ˜es arbitr´ arias, sendo apenas a base de um sistema cujas consequˆencias deveriam ser investigadas num tipo de jogo mental. Subitamente, os espa¸cos matem´ aticos eram considerados como estruturas l´ ogicas abstratas. A natureza do espa¸co f´ısico tornou-se uma quest˜ ao separada, uma quest˜ ao de f´ısica, n˜ ao de matem´ atica. Para os matem´ aticos, surgiu agora um novo tipo de quest˜ ao: a de mostrar a consistˆencia l´ ogica de suas estruturas. A id´eia de demonstra¸ca ˜o, que tinha ficado em posi¸ca ˜o secund´ aria durante os s´eculos recentes de avan¸cos em t´ecnicas de c´ alculos, tornou-se novamente dominante. (Leonard Mlodinow/A janela de Euclides)
327
6.6
Exerc´ıcios
1) Verifique os ´ıtens 1.3) e 1.4) da tabela da p. 240, utilizando a defini¸c˜ao de continuidade ou uma de suas caracteriza¸c˜oes equivalentes. 2) Mostre que a fun¸c˜ ao afim f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = ax + b ´e cont´ınua. Mais que isto, ´e uniformemente cont´ınua. 3) Mostre, pela defini¸c˜ ao (ou alguma de suas caracteriza¸c˜oes), que a fun¸c˜ao f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = x2 ´e cont´ınua. 4) Mostre, pela defini¸c˜ ao (ou alguma de suas caracteriza¸c˜oes), que a fun¸c˜ao f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = x3 ´e cont´ınua. 5) Seja f : (R, µ) −→ (R, µ) cont´ınua em a e f (a) > 0. Prove que existe uma bola B(a; δ) tal que f (x) > 0, para todo x ∈ B(a; δ). 6) Dˆe exemplo de uma fun¸c˜ao definida em (R, µ) e que seja cont´ınua em todos os pontos, exceto em −1, 0, 1. 7) Dˆe exemplo de uma fun¸c˜ao definida em (R, µ) e que seja cont´ınua em todos os pontos exceto nos inteiros. 8) Determine o conjunto dos pontos em que a fun¸c˜ao dada ´e cont´ınua. ( ( x, se x ∈ Q; x2 − 1, se x ∈ Q; a ) f (x) = b ) f (x) = −x, se x 6∈ Q. −x2 + 1, se x 6∈ Q. 9) Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos e seja f : M −→ N . Se a ∈ M e para todo ε ∈ R tal que 0 < ε < 1 existe δ > 0 de modo que se d1(x, a) < δ ⇒ d2 f (x), f (a) < ε mostre que f ´e cont´ınua em a.
10) Mostre, pela defini¸ca˜o (ou alguma de suas caracteriza¸c˜oes), que a fun¸c˜ao f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = |x| ´e cont´ınua. 11) A fun¸c˜ ao f : (R − { 0 }, µ) −→ (R, µ) definida por R
6
1
x = f (x) = |x|
(
1, se x > 0; −1, se x < 0.
- R−{ 0 }
∴ −1
´e cont´ınua em todo ponto do seu dom´ınio. Prove isto! 328
12) Mostre que f , do exerc´ıcio anterior, n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua. 13) Mostre, pela defini¸c˜ ao (ou alguma de suas caracteriza¸c˜oes), que a fun¸c˜ao 1 f : (R∗+ , µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = ´e cont´ınua. x 14) A fun¸c˜ ao f : [0, 1], µ −→ [0, 1[, k dada por, 1
0,
0 ≤ x < 1;
¬
f (x) =
( x,
1 2
x = 1.
¬1
0
2
s
1
´e cont´ınua em todo ponto do seu dom´ınio. Por exemplo, mostre que f ´e cont´ınua em x = 0 e x = 1. N ∪ { 0 } e a fun¸c˜ao f : (M, µ) −→ (R, µ) 15) Considere M = n1 : n ∈ definida por f (0) = 0 e f n1 = n. Estude a continuidade de f . 16) Seja f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por ( x + 1, se x ∈ N; f (x) = x, se x 6∈ N.
Mostre que f ´e cont´ınua nos pontos de R − N mas n˜ ao ´e cont´ınua em N. 17) Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos e f, g : M −→ N fun¸c˜oes cont´ınuas. Se f (a) 6= g(a), para algum a ∈ M , mostre que existe uma bola B(a; ε) tal que f (x) 6= g(y), para quaisquer x, y ∈ B(a; ε). 18) Sejam f, g : (R, µ) −→ (R, µ) fun¸c˜oes cont´ınuas tais que f (x) = g(x) para todo x ∈ Q. Prove que f = g. Sugest˜ ao: Use o exerc´ıcio anterior.
19) Considere f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por ( x, se x ∈ Q; f (x) = 0, se x 6∈ Q. mostre que f s´ o ´e cont´ınua no ponto 0. Sugest˜ ao: Use a proposi¸c˜ ao 52
(p. 267)
e 55
329
(p. 268).
20) Seja ν : Z4 , σ −→ Z4 , ρ Onde x = x1 x2 x3 x4 7−→ y = y1 y2 y3 y4 ´e tal que yi = Por exemplo,
( 1,
se xi = 0;
0,
se xi = 1.
ν 1010 = 0101 ; ν 1100 = 0011.
Estude a continuidade de ν.
21) Mostre que a transforma¸c˜ao f : (R, µ) −→ ( ] − 1, 1 [, µ) dada por x ´e um homeomorfismo. f (x) = 1 + |x|
22) A aplica¸c˜ ao f : (R, µ) −→ (R2 , D1 ) dada por f (x) = (x, 0) leva a reta no plano euclidiano. Mostre que f ´e uma imers˜ao isom´etrica. Mostre que se no espa¸co R2 , D1 trocarmos D1 por D2 ou por D3 , f continua uma imers˜ao isom´etrica. 23) A aplica¸c˜ ao f : R2 , D1 −→ R3 , D1 dada por f (x1 , x2 ) = (x1 , x2 , 0) leva o plano euclidiano no espa¸co euclidiano. Mostre que f ´e uma imers˜ao isom´etrica. Mostre que se no espa¸co 2 R , D1 trocarmos D1 por D2 ou D3 , f n˜ ao ser´ a mais uma imers˜ao isom´etrica. Interprete geometricamente suas conclus˜oes. 24) Perguntamos se existe (ou n˜ ao) uma imers˜ao isom´etrica: ϕ : ( [ 0, 1 [, µ ) −→ ( [ 0, 1 [, k ) Se existe, exiba-a; se n˜ ao, prove! 25) A rota¸c˜ ao de um ˆ angulo θ em torno de um ponto ´e uma transforma¸c˜ao ancia; em sendo assim, a rota¸c˜ao depende da m´etrica que preserva a distˆ considerada. Por exemplo, a rota¸c˜ao do ponto (1, 0) de 90o em torno da origem nas trˆes m´etricas do R2 , fica assim:
(0,1)
s s
(0,1)
s
(1,0)
(0,1)
(1,0)
s s
(1,0)
Mostre que a transforma¸c˜ao rota¸c˜ao em qualquer uma destas m´etricas n˜ ao ´e uma isometria em qualquer uma das outras duas m´etricas.
330
26) Uma isometria em ZN , σ e ZN , τ . Considere a aplica¸c˜ ao complementa¸ca ˜o, assim definida T :
SN
SN
(x1 , x2 , ...,xn )
onde xi =
(
(x1 , x2 , ...,xn )
1, se xi = 0; 0, se xi = 1.
Exemplos, 1101
Observe que
0111
T
T
0010 1000
σ 1 1 0 1, 0 1 1 1 = 2 ; σ 0 0 1 0, 1 0 0 0 = 2.
Por outro lado,
τ 1 1 0 1, 0 1 1 1 = 3 ; τ 0 0 1 0, 1 0 0 0 = 3.
Isto ´e, ambas as distˆ ancias foram preservadas. Mostre que T ´e uma isometria. Perguntamos se T ´e isometria no espa¸co ZN , ρ . ( 1, se x ∈ Q; 27) Seja f : (R, µ) −→ (R, µ) dada por f (x) = 0, caso contr´ ario. Mostre − utilizando as proposi¸c˜ oes 42 (p. scont´ınua em todo ponto do seu dom´ınio.
212)
e 55
(p. 268)
− que f ´e de-
28) Mostre que a fun¸c˜ ao f : R2 → R dada por x·y , se (x, y) 6= (0, 0); 2 x + y2 f (x, y) = 1 , se (x, y) = (0, 0). 2 n˜ ao ´e cont´ınua no ponto (0, 0).
Sugest˜ ao: Considere a sequˆencia (xn , yn ) =
1 2 n, n
.
29) Mostre que a fun¸c˜ ao f : (R∗+ , µ) −→ (R, µ) definida por f (x) = 1/x n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua.
331
30) Mostre que a bije¸ca˜o f : [ 0, 1 [ ∪ { 2 } −→ [ 0, 1 ] dada por f (x) =
(
x, se x ∈ [ 0, 1 [ ; 1,
se x = 2.
´e cont´ınua e sua inversa descont´ınua. 31) Seja f uma fun¸c˜ ao definida em R e suponha que existe M > 0 tal que |f (x) − f (p)| ≤ M |x − p| para todo x. Prove que f ´e cont´ınua em p. 32) Estabele¸ca um homeomorfismo entre os quadrados a seguir f =?
R
R
1
1 |x| + |y|=1
−1
1
max{ |x|, |y| }=1
R
−1
−1
1
R
−1
Nota: Considere a m´etrica usual do R2 . Sugest˜ ao: Aplique uma rota¸c˜ao seguida de uma homotetia.
h√2
R45o
33) Com respeito ao exerc´ıcio anterior mostre que se (x, y) ∈ 3 ent˜ao f (x, y) ∈ 2, de acordo com a figura. 34) Estabele¸ca um homeomorfismo entre o quadrado e o triˆ angulo da figura: f =?
R
R
1
1 |x| + |y|=1
−1
1
R
−1
−1
1
−1
332
R
35) Estabele¸ca um homeomorfismo entre o quadrado e o c´ırculo da figura: f =?
R
R
1
1 |x| + |y|=1
−1
1
R
−1
1
−1
R
−1
Sugest˜ ao: Inicialmente obtenha uma rela¸c˜ao entre as coordenadas dos pontos no c´ırculo (xc , yc ) e as cordenadas dos pontos no quadrado (xq , yq ): R yc xc
1
−1
=
yq xq
R
1
−1
Depois considere os sistemas: x2 + y 2 = 1 c c xc = y c
xq yq
e
|xq | + |yq | = 1 xc = y c
xq yq
Resolva o sistema da esquerda para xc , yc para encontrar f : 3 −→ dada por
x y f (x, y) = p , p x2 + y 2 x2 + y 2
36) No exerc´ıcio anterior resolva o sistema da direita para xq , yq para encontrar f −1 : −→ 3 e, ap´ os, confirme os seguintes diagramas:
333
f −1
f
f −1 ◦ f = I3 e f −1
f
f ◦ f −1 = I◦ Resumindo: concluimos que podemos transformar (homeomorfamente) qualquer uma das figura seguintes
nas outras trˆes. De modo sugestivo podemos considerar qualquer uma destas figuras como constru´ıda com um fio delgado, flex´ıvel e el´astico. O fato de serem homeomorfas significa que podemos transform´a-las entre si sem causar a ruptura do fio. 37) Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos e seja f : M −→ N . Mostre que f ´e cont´ınua se, e somente se, f (A¯ ) ⊂ f (A), para todo A ⊂ M . 38) Seja f : ] 0, +∞ [ −→ R, assim definida: f (x) =
(
0,
se x ´e irracional;
1 n,
se x =
m n,
com mdc(m, n) = 1.
Prove que f ´e cont´ınua em todo irracional e descont´ınua em todo racional. 334
39) Prove que a fun¸c˜ ao f : ([ 0, 1 ], µ) −→ ([ 0, 1 [, k) dada por 2 1 3 + 3 x, se 0 ≤ x < 1; f (x) = 0, se x = 1.
(6.28)
cujo gr´ afico est´ a plotado a seguir
f (x) 1◦
p
2 3
p
1 3
0
1 2
ps1
p
x
´e cont´ınua. 40) Prove que a fun¸c˜ ao f : ([ 0, 1 ], µ) −→ ([ 0, 1 [, k) dada por 1 1 − 3 x, se 0 < x ≤ 1; f (x) = 0, se x = 0. cujo gr´ afico est´ a plotado a seguir
f (x) 1◦
p
2 3
p
1 3
0
s
1 2
p
p1
´e cont´ınua.
335
x
(6.29)
41) Suponha que f : R −→ R seja cont´ınua e peri´ odica (isto ´e, para algum a ∈ R, f (x) = f (x + a), x ∈ R). Mostre que f ´e uniformemente cont´ınua. 42) Suponha f definida e cont´ınua em R e que f (x) = 0 para todo x racional. Prove que f (x) = 0 para todo x real. 43) Mostre que a m´etrica usual em R, µ(x, y) = |x−y|, ao ´e uniformemente n˜ equivalente ` a m´etrica d sobre R dada por d(x, y) = 1, |x3 − y 3 | . 44) Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos e seja f : M −→ N um homeomorfismo. Se x ∈ M e f (x) = y, mostre que M − { x } e N − { y } s˜ ao homeomorfos.
45) Considere E = { a, b, c, d }. Determine qual(is) das cole¸c˜oes a seguir s˜ ao topologias sobre E: (p. 280) a ) T 1 = { { a }, { a, b }, ∅, E } b ) T 2 = { { a }, { a, b }, { c, d }, { a, c, d }, ∅, E } c ) T 3 = { { a }, { b }, { d }, { a, b }, ∅, E } 46) Sejam E um conjunto infinito, mostre que o par (E, T ), onde T = { X ⊂ E : X = ∅ ou E − X ´e finito } ´e um espa¸co topol´ ogico. Defini¸ c˜ ao 43. Sejam E e F espa¸cos topol´ ogicos. Uma fun¸ca ˜o f : E −→ F ser´ a dita cont´ınua quando para todo aberto A ⊂ F tivermos f −1 (A) aberto em E. 47) Sejam E = { a, b, c, d } e a aplica¸c˜ao f : (E, T 2 ) −→ (E, T 1 ), dada por f (x) = x, onde T 1 e T 2 s˜ ao como no exerc´ıcio 45. Mostre que f ´e cont´ınua, por´em sua inversa n˜ ao. 48) Seja (E, T ) o espa¸co topol´ogico definido no exerc´ıcio 46, verifique se a fun¸c˜ ao f : E −→ R dada por f (x) = x ´e cont´ınua ou n˜ ao. 49) Considere o espa¸co topol´ogico (N, T ), onde T ´e a topologia definida no exerc´ıcio 46, verifique se a fun¸c˜ao f : N −→ N dada por f (n) = n2 ´e cont´ınua ou n˜ ao. Defini¸ c˜ ao 44. Seja (E, T ) um espa¸co topol´ ogico. Dizemos que uma sequˆencia (xn ) de pontos de E converge para p ∈ E se, para todo aberto G que cont´em p, existe um ´ındice natural r tal que: xn ∈ G, ∀ ≥ r. O ponto p chama-se limite da sequˆencia . 50) Ao contr´ ario do que ocorre nos espa¸cos m´etricos, num espa¸co topol´ogico uma sequˆencia pode convergir para mais de um ponto. Para um exemplo, considere o espa¸co (E, T ), onde E = { a, b, c, d } e T = { { a }, { c, d }, { a, c, d }, ∅, E } e a sequˆencia (a, a, a, . . .). Mostre que neste espa¸co essa sequˆencia converge para dois limites. 336
Apˆ endice: Limites em espa¸cos m´ etricos O conceito de limites de fun¸c˜ oes, estudado no C´ alculo e na An´alise Real, ´e suscept´ıvel de generaliza¸c˜ ao para espa¸cos m´etricos arbitr´arios, assim: Defini¸ c˜ ao 45. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e a ∈ M um ponto de acumula¸ca ˜o de X. Dada uma fun¸ca ˜o f : X −→ N , diremos que f tem limite b, em a, se, para todo ε > 0 dado, existir um δ > 0 tal que, para todo x ∈ X, a senten¸ca seguinte ´e verdadeira 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), b < ε Tal n´ umero b ser´ a indicado por lim f (x) = b. x→a
(M, d1 ) X
r
x
δ ra
(N, d2 )
f
rb rf (x)
ε
A seguir colocamos, em s´ımbolos, a defini¸c˜ao de limite juntamente com sua nega¸c˜ ao: (b ´ e limite de f em a)
∀
ε>0
∃
ε0 >0
∃
∀ ; 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), b < ε
δ>0 x∈X
∀
∃ ; 0 < d1 (xδ , a) < δ ∧ d2 f (xδ ), b ≥ ε0
δ>0 xδ ∈X
( b n˜ ao ´ e limite de f em a)
Observa¸ co ˜es: 1a ) S´ o tem sentido indagarmos pelo limite de uma fun¸c˜ao f : X −→ N em um ponto a ∈ M , quando este ponto ´e de acumula¸c˜ao do dom´ınio X de f . O que significa que se X tiver pontos isolados, ent˜ao n˜ ao podemos perguntar pelo limite em tais pontos. Se desej´ assemos considerar a mesma defini¸c˜ao no caso em que a 6∈ X ′ (isto ´e, para pontos isolados do dom´ınio da fun¸c˜ao) ent˜ ao todo n´ umero real b seria limite de f (x) em a. 337
Para provar esta u ´ltima afirmativa faremos uma exegese da defini¸c˜ao de limite, dada em s´ımbolos. De fato, se a 6∈ X ′ (isto ´e, se a ´e ponto isolado do dom´ınio de f ) ent˜ ao existe δ′ > 0 tal que X − { a } ∩ Bd (a; δ) = ∅. Isto ´e, 1 0 < d1 (x, a) < δ′ , x ∈ X n˜ ao se verifica para nenhum ponto x do dom´ınio. Isto quer dizer que, para o tal δ′ , a senten¸ca ∀
x∈X
; 0 < d1 (x, a) < δ′
´e falsa. Esta senten¸ca pode ser reescrita assim: ∃
δ>0
∀
x∈X
; 0 < d1 (x, a) < δ
Pois bem, sendo esta senten¸ca falsa, torna-se verdadeira a senten¸ca: ∃ ∀ ; 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), b < ε δ>0 x∈X
independentemente do valor l´ogico da senten¸ca q(x) : d2 f (x), b < ε. Isto ´e, independentemente do valor de b e de ε > 0. Portanto, sendo a senten¸ca: ∀ ∃ ∀ ; 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), b < ε
ε>0
δ>0 x∈X
p
q
p −→ q
V V F F
V F V F
V F V V
verdadeira temos, por defini¸c˜ao, lim f (x) = b. x→a
Portanto esta ´e a justificativa para exigirmos que a seja um ponto de acumula¸c˜ ao de X. Observe (prop. 47, p. 221) que sendo a um um ponto de acumula¸c˜ ao de X, ent˜ao todo intervalo aberto centrado em a cont´em infinitos pontos do dom´ınio. ao pertencer ao 2a ) Sendo a um ponto de acumula¸c˜ao de X, a pode ou n˜ dom´ınio X da fun¸c˜ ao. Nos casos mais importantes de limite, tem-se a 6∈ X.
3a ) Considerando um ponto a do dom´ınio o valor b = lim f (x) (quando x→a
existe) pode ser independente do valor que f assume em a, isto ´e, de f (a). Quando estivermos interessados no limite de f em a, basta olharmos para os valores que f assume numa “pequena” bola aberta centrada em a; o conceito de limite ´e um conceito local. 4a ) Suponhamos f definida em a. Oportunamente mostraremos que f cont´ınua em a ⇐⇒
lim f (x) = f (a).
x→a
Proposi¸ c˜ ao 71 (Unicidade do limite). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e a ∈ X ′ . Dada f : X −→ N , se lim f (x) = b e x→a
lim f (x) = c, ent˜ ao b = c.
x→a
338
Prova: Se lim f (x) = b e lim f (x) = c ent˜ao x→a x→a dado ε > 0 existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que ε 0 < d1 (x, a) < δ1 =⇒ d2 f (x), b < 2 ε 0 < d1 (x, a) < δ2 =⇒ d2 f (x), c < 2
Seja δ = min{ δ1 , δ2 }. Ent˜ ao, se x′ ∈ X − { a } temos d2 f (x′ ), b < 0 < d1 (x′ , a) < δ =⇒ d f (x′ ), c < 2
ε 2 ε 2
Logo,
ε ε d2 (b, c) ≤ d2 b, f (x′ ) + d2 f (x′ ), c < + = ε 2 2 Como ε > 0 ´e arbitr´ario, concluimos que d2 (b, c) = 0 e assim b = c.
Exemplos: 1) Considere a aplica¸c˜ ao f : [ 0, 1[ −→ [ 0, 1[ identidade f (x) = x. Mostre que para: a) f : [ 0, 1[, µ −→ ([ 0, 1[, k) temos que lim x = 0; x→0
b) f : [ 0, 1[, k −→ ([ 0, 1[, µ) temos que lim x 6= 0.
Solu¸ ca ˜o:
x→0
a) Devemos mostrar que ´e verdadeira a senten¸ca
∀
ε>0
∀
ε>0
∃
∀ ; 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), b < ε
δ>0 x∈X
∃
∀ ; 0 < |x − 0| < δ
δ>0 x∈[ 0, 1 [
=⇒ k f (x), 0 < ε
Tomando δ = min{ 21 , ε }, resulta que 0
Isto prova que lim x = 0. x→0
339
b) Devemos mostrar que ´e verdadeira a senten¸ca
∃
ε0 >0
∃
ε0 >0
∀
∃ ; 0 < d1 (xδ , a) < δ ∧ d2 f (xδ ), b ≥ ε0
δ>0 xδ ∈X
∀
∃ ; 0 < k(xδ , 0) < δ ∧ f (xδ ) − 0 ≥ ε0
δ>0 xδ ∈[ 0, 1 [
Para mostrar que lim x 6= 0 tomemos ε0 = 41 e mostremos que ∀ δ > 0, x→0 ∃ x ∈ [ 0, 1 [ com ; 0 < k(x , 0) < δ e f (x ) ≥ 1 . δ
δ
4
δ
Sem perda de generalidade consideremos δ < 12 e escolhamos xδ = (1−δ)+1 = 2 1 − δ/2. Observe que k(xδ , 0) = min{ xδ , 1 − xδ } = 1 − xδ = 2δ < δ e, f (xδ ) = xδ = 1 −
1 3 δ ≥ ⇐⇒ δ ≤ . 2 4 2
Sendo assim mostramos que lim x 6= 0. Veja a geometria (para δ < 21 ): x→0
1 f (xδ )
¬ [
1 2
0
δ
¬1 2
1−δ
s
1
xδ
Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que lim x n˜ ao existe. x→0
340
2) Consideremos o espa¸co m´etrico ([ 0, 1[, k) e X = [ 21 , 1 [. Considere a aplica¸c˜ao, f : X −→ [ 0, 1[, µ dada por f (x) = x. Mostre que lim x 6= 0. x→0
Solu¸ ca ˜o: Inicialmente vejamos graficamente o que est´ a acontecendo: 1
f (x) s↑
¬ 1 2
1 2
0
→ s x
1
Por curiosidade observe que se no espa¸co ([ 0, 1[, k) trocarmos de m´etrica, isto ´e, se substituirmos k por µ, resulta que 0 n˜ ao ´e um ponto de acumula¸c˜ao de X, o que significa que n˜ ao faz sentido indagarmos pelo limite lim f (x). x→0
Entretanto, em fun¸c˜ ao do exemplo 3 (p. 220), estamos autorizados a perquirir o referido limite. Pois bem, devemos mostrar que ´e verdadeira a senten¸ca,
∃
ε0 >0
∃
ε0 >0
∀
∃ ; 0 < d1 (xδ , a) < δ ∧ d2 f (xδ ), b ≥ ε0
δ>0 xδ ∈X
∀
∃ ; 0 < k(xδ , 0) < δ ∧ f (xδ ) − 0 ≥ ε0
δ>0 xδ ∈[ 1/2, 1 [
A prova ´e similar a do exemplo anterior; aqui s´ o observamos (graficamente) a raz˜ ao do porque lim x 6= 0: ´e que, enquanto x aproxima-se de 0, x→0
sua imagem afasta-se de 0.
Neste mesmo exemplo, deixamos como exerc´ıcio ao leitor fechar o intervalo unit´ ario no contradom´ınio e mostrar que lim x = 1. x→0
Proposi¸ c˜ ao 72. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e a ∈ X. Seja uma fun¸ca ˜o f : X −→ N . Se a ∈ X ′ , f ser´ a cont´ınua em a, se e somente se, lim f (x) = f (a). x→a
Prova: Se f ´e cont´ınua no ponto a, ent˜ao dado ε > 0 existir´a δ > 0 de modo que d2 f (x), f (a) < ε para todo x ∈ X com d1 (x, a) < δ. Em particular, se x ∈ X e 0 < d1 (x, a) < δ teremos d2 f (x), f (a) < ε. Logo lim f (x) = f (a).
x→a
341
Reciprocamente, se lim f (x) = f (a), dado ε > 0 existir´a δ > 0 de modo x→a que d2 f (x), f (a) < ε para todo x ∈ X − {a} com d1 (x, a) < δ. Como por´em, d2 f (a), f(a) = 0 < ε, temos que x ∈ X com d1 (x, a) < δ implica em d2 f (x), f (a) < ε. Logo f ´e cont´ınua no ponto a.
Proposi¸ c˜ ao 73. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e a ∈ ′ X . Dada uma fun¸ca ˜o f : X −→ N teremos lim f (x) = p, se e somente se, x→a
para toda sequˆencia (xn ) em X − { a } com lim xn = a tivermos lim f (xn ) = n n p.
Coment´ ario: O teorema afirma a equivalˆencia entre duas senten¸cas abertas P e Q, que s˜ ao: P : lim f (x) = p x→a
Q : ∀ (xn ) ; lim xn = a =⇒ lim f (xn ) = p n
n
Prova: (P =⇒ Q) Aplicaremos a t´ecnica (T-5):
(p. 573)
Suponhamos lim f (x) = p. Ent˜ao, para todo ε > 0 dado, existe um x→a δ > 0 tal que, para todo x ∈ X, 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), p < ε.
Se (xn ) ´e uma sequˆencia em X − { a } com lim xn = a, para este δ > 0 n existe um ´ındice n0 tal que n ≥ n0 =⇒ 0 < d1 (xn , a) < δ Logo, para todo n ≥ n0 acontece d2 f (xn ), p < ε, e assim lim f (xn ) = p. n
(Q =⇒ P ) Provaremos a contrapositiva desta proposi¸c˜ao, isto ´e: P =⇒ Q. Antes vejamos como ficam estas nega¸c˜oes: P : lim f (x) 6= p x→a
Q : ∃ (xn ) ; lim xn = a ∧ lim f (xn ) 6= p n
n
Para entender a nega¸c˜ ao de Q o aluno dever´ a consultar o corol. 49 (p. 579). Pois bem, vamos supor que lim f (x) 6= p. Neste caso existe um ε0 > x→a
0 tal que para todo δ > 0 se pode obter um ponto xδ ∈ X − { a } com d1 (xδ , a) < δ e d2 f (xδ ), p ≥ ε. Em particular, tomando δ > 0 da forma δ = 1/n, para cada n ∈ N, podemos obter xn ∈ X − { a } com d1 (xn , a) < 1/n e d2 f (xn ), p ≥ ε. Logo a sequˆencia (xn ) assim obtida cumpre lim xn = n
a mas n˜ ao cumpre lim f (xn ) = p. n
Destacamos o seguinte importante 342
Corol´ ario 19. Se existe uma sequˆencia xn ∈ X − { a } com lim xn = a e n
lim f (xn ) 6= p, ent˜ ao lim f (x) 6= p. n
x→a
Prova: De fato, ´e suficiente considerar a contrapositiva de (P =⇒ Q) (neste caso vale a rec´ıproca de P =⇒ Q) Exemplos: 1) Considere as fun¸c˜ oes f e g dadas assim f (x) = g(x) = x2 . Mostre que: a) f : [ 0, 1], µ −→ ([ 0, 1[, k) temos que lim x2 = 0; x→0
b) g : [ 0, 1[, k −→ ([ 0, 1], µ) temos que lim x2 6= 0.
Solu¸ ca ˜o:
x→0
a) Considere uma sequˆencia (xn ) em X − {0} = [ 0, 1 ]− { 0 } = ] 0, 1 ] de µ µ modo que xn −→ 0, sendo assim x2n −→ 0, donde concluimos que∗ x2n −→ 0, k isto ´e, lim f (xn ) = 0 e, pela proposi¸c˜ao 73, concluimos que n
lim f (x) = lim x2 = 0.
x→ µ 0
x→ µ 0
1 b) Considere a sequˆencia (xn ) em ] 0, 1 [ dada por xn = 1 − n+1 , sendo 2 µ k 1 −→ 1. Sendo assim xn −→ 0. Por outro lado, f (xn ) = 1 − n+1 lim f (xn ) 6= 0, pelo corol´ ario 19, concluimos que n
lim f (x) = lim x2 6= 0.
x→0 k
x→0 k
Deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que o limite lim x2 n˜ ao existe. x→0 k
2) Mostraremos agora que n˜ ao existe o limite da fun¸c˜ao f dada por f (x) = sen x1 no ponto 0. De fato, basta observar que a sequˆencia xn =
π 2
1 + nπ
converge para zero e, no entanto, f (xn ) = sen n˜ ao tem limite.
π + nπ = (−1)n . 2
3) Considere M = n1 : n ∈ N ∪ {0} e a fun¸c˜ao f : M −→ N ∪ {0} definida por f (0) = 0 e f n1 = n, fa¸ca um estudo de lim f (x). x→a
(Obs: considere a m´etrica µ no dom´ınio e no contradom´ınio de f ). ∗
Ver corol´ ario 31, p. 425.
343
Solu¸ c˜ ao: O conjunto M − { 0 } ´e discreto. Como o u ´nico ponto de acumula¸c˜ ao do dom´ınio de f ´e a = 0 significa que este ´e o u ´nico ponto em que faz sentido a pesquisa de lim f (x). Por outro lado, como f n˜ ao ´e x→a
cont´ınua no ponto 0, significa isto que lim f (x) 6= f (0) = 0. x→0
Observe que o fato de a fun¸c˜ao n˜ ao ser cont´ınua em 0 (por quˆe?), nos permite concluir que o limite n˜ ao ´e f (0), o que n˜ ao significa que n˜ ao possa ser um outro n´ umero; isto ´e, at´e o presente momento n˜ ao podemos concluir que o limite em quest˜ ao n˜ ao existe. Observe que f M − {0} = { 1, 2, 3, . . .} = N, o que significa que se lim f (x) existir, dever´ a ser um n´ umero natural n′ . x→0
f (x)
x→0
n′ n′ − 12
r(
1 n δ
n
r
δ
q
1 − n′ = |nδ − n′ | ≥ ε0 f nδ
, nδ )
r( 1′ , n′ )
q
Portanto, n˜ ao existe lim f (x). x→0
(0,0)
r rrrr r[ r . . . r
−→
δ
n′ + 12
q
[
de limite, dada anteriormente em s´ımbolos. Pois bem, consideremos ε0 = 1/2, para todo δ > 0 na bola B(0; δ) existem infinitos pontos (0 ´e ponto de acumula¸c˜ ao), tomemos um natural nδ de modo que n1 < δ e nδ 6= n′ , ent˜ao 0 < | n1 − 0 | < δ e
nδ
[
Vamos agora provar que qualquer que seja o natural n′ = b, arbitrariamente fixado, n˜ ao temos lim f (x) = b. Faremos isto seguindo a nega¸c˜ao
x
1 n′
B(0; δ)
4) Seja a fun¸c˜ ao f : Z∞ , ν −→ [ 0, 1 ], µ dada por ∞ X xn f (xn ) = 2n n=1
Calcule
lim
x → 101010...
f (x).
Solu¸ c˜ ao: Primeiramente observe que Z∞ , ν n˜ ao tem pontos isolados, ou ainda: todos os seus pontos s˜ ao de acumula¸c˜ao, o que significa que podemos perguntar por lim f (x) em todo a ∈ Z∞ . x→a Como f ´e cont´ınua segue que (p. 249) lim
x → 101010...
2 f (x) = f (101010 . . .) = . 3 344
Extens˜ ao de aplica¸ co ˜es cont´ınuas Consideremos uma aplica¸c˜ ao f : X ⊂ Y −→ N . A aplica¸c˜ao F : Y −→ N chama-se uma extens˜ a o de f quando F (x) = f (x) para todo x ∈ X, isto ´e, quando F X = f . Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e f : X −→ N cont´ınua. Diremos que f se estende continuamente a M quando f possui uma extens˜ ao F : M −→ N cont´ınua. Para os nossos prop´ositos, no que diz respeito a extens˜ ao de aplica¸c˜oes cont´ınuas, nos restringiremos a uma aplica¸c˜ao f : X −→ N definida em um subconjunto denso X ⊂ M . Neste caso mostraremos que uma tal extens˜ao ´e poss´ıvel se existe, para cada ponto a ∈ M o limite lim f (x). Dentro deste contexto h´ a de se notar que nem x→a toda aplica¸c˜ ao cont´ınua f : X −→ N pode ser estendida continuamente ao espa¸co inteiro. Por exemplo a aplica¸c˜ao (cont´ınua) f : ] 0, 1 [ −→ R 1 x 7−→ x(x−1) n˜ ao possui extens˜ ao cont´ınua a nenhum conjunto M contendo o intervalo fechado [ 0, 1 ], isto se deve a que n˜ ao existem os limites lim f (x) e lim f (x). x→0
x→1
Proposi¸ c˜ ao 74. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, X ⊂ M e ¯ − X existe lim f (x), ent˜ f : X −→ N cont´ınua. Se para todo a ∈ X ao a x→a ¯ fun¸ca ˜o F : X −→ N dada por se y ∈ X; f (y), F (y) = ¯ − X. lim f (x), se y ∈ X x→y
´e cont´ınua.
Prova: Como f ´e cont´ınua em todo ponto a ∈ X, decorre que, seja qual ¯ temos F (a) = lim f (x). Da defini¸c˜ao de limite resulta que dado for a ∈ X, x→a ε > 0, existe δ > 0 de modo que, para todo x ∈ X ε 0 < d1 (x, a) < δ =⇒ d2 f (x), F (a) < . 2
(6.30)
¯ e Afirmamos que se y ∈ X
d1 (y, a) < δ =⇒ d2 F (y), F (a) < ε
(F ´e cont´ınua em a.)
¯ segue que existe uma sequˆencia (xn ) com xn ∈ X De fato, como y ∈ X de modo que lim xn = y. n
345
Como xn → y, tomando um raio 0 < δ1 ≤ δ−d1 (a, y), a partir de uma certa ordem n0 todos os termos da sequˆencia (xn ) caem dentro da bola B(y; δ1 ) ⊂ B(a; δ). Escolhamos dentro desta bola um termo xm diferente de y e de a. Sendo assim temos 0 < d1 (xm , y) < δ1 e 0 < d1 (xm , a) < δ. Logo
r r ar
y
δ1
xm
δ
ε ε d2 F (y), F (a) ≤ d2 F (y), f (xm ) + d2 f (xm ), F (a) < + = ε. 2 2
Como afirmamos. ¯ ¯ Nota: (6.30) vale seja qual for a ∈ X, em particular vale para y ∈ X, da´ı ε 0 < d1 (xm , y) < δ1 < δ =⇒ d2 f (xm ), F (y) < . 2
Proposi¸ c˜ ao 75. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, com (N, d2 ) completo. Se X ⊂ M e f : X −→ N ´e uniformemente cont´ınua ent˜ ao existe ¯ − X. (ou mais geralmente, para todo a ∈ X ′ ). lim f (x) para todo a ∈ X x→a
Prova: Para demonstrar esta proposi¸c˜ao provaremos que para toda sequˆencia (xn ) em X com lim xn = a, existe lim f xn (prop. 73, p. 342). n
n
Seja ent˜ ao (xn ) uma sequˆencia em X com lim xn = a. Ent˜ao (xn ) ´e de n Cauchy (def. 53, p. 407). Dado ε > 0, a continuidade uniforme de f assegura um δ > 0 tal que (p. 288) ∀ x, y ∈ X, d1(x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) < ε.
Sendo (xn ) de Cauchy, para este δ > 0 existe um ´ındice n0 tal que d1(xn , xm ) < δ sempre que m, n ≥ n0 . Assim, para m, n ≥ n0 teremos d2 f (xn ), f (xm ) < ε, sendo assim f (xn ) resulta uma sequˆencia de Cauchy em (N, d2 ). Como (N, d2 ) ´e completo, existe lim f xn e, por conseguinte, existe lim f (x). n
x→a
Proposi¸ c˜ ao 76. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos, com (N, d2 ) completo. Se X ⊂ M ´e denso toda aplica¸ca ˜o f : X −→ N uniformemente cont´ınua, possui uma u ´nica extens˜ ao cont´ınua F : M −→ N dada por f (y), se y ∈ X; F (y) = lim f (x), se y ∈ M − X. x→y
F ´e tamb´em uniformemente cont´ınua.
¯ −X =M −X Prova: Da proposi¸c˜ ao 75 sabemos que para todo y ∈ X existe lim f (x). Assim, F est´ a bem definida e a proposi¸c˜ao 74 nos assegura x→y
a continuidade de F . Resta agora mostrar que F ´e uniformemente cont´ınua. 346
Dado ε > 0, a continuidade uniforme de f nos assegura um δ = δ(ε) > 0 tal que ε ∀ x, y ∈ X, d1(x, y) < δ ⇒ d2 f (x), f (y) < . 2 Afirmamos que este mesmo δ atende ao ε para a continuidade uniforme de F . De fato, Sejam u, v ∈ M com d1(u, v) < δ. Da densidade de X em (M, d1 ) obtemos sequˆencias (xn ) e (yn ) em X com lim xn = u e lim yn = v. n n Ent˜ao, pela continuidade da fun¸c˜ ao distˆ ancia resulta d1 (u, v) = d1 lim xn , lim yn = lim d1 xn , yn < δ n
n
n
e portanto existe um ´ındice n0 de modo que d1 xn , yn < δ para todo n ≥ n0 , o que fornece ε d2 f (xn ), f (yn ) < , ∀ n ≥ n0 . 2 Logo, d2 F (u), F (v) = d2 lim f (xn ), lim f (yn ) (6.31) = lim d2 f (xn ), f (yn ) n
ε ≤ < ε. 2
Isto prova que F ´e uniformemente cont´ınua. Para provar que a extens˜ao F ´e u ´nica basta recorrer ao corol´ ario 14 (p. 284). Nota: A igualdade em (6.31) se justifica assim: como xn ∈ X e tendo em conta a defini¸c˜ ao de F resulta que F (xn ) = f (xn ). Como F ´e cont´ınua, obt´em-se lim F (xn ) = lim f (xn ) ⇒ F lim xn = lim f (xn ) n n n n ⇒ F u = lim f (xn ). n
An´alogamente se mostra que F v = lim f (yn ). n
Corol´ ario 20. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos completos e um homeomorfismo uniforme f : X −→ Y entre subespa¸cos densos X ⊂ M e Y ⊂ N , f se estende, de modo u ´nico, a um homeomorfismo uniforme F : M −→ N . Prova: De fato, seja g : Y −→ X o inverso de f . Pela proposi¸c˜ao 76 existem aplica¸c˜ oes uniformemente cont´ınuas F : M −→ N e G : N −→ M extens˜oes de f e g respectivamente. As aplica¸ c˜oes cont´ınuas G ◦ F : M −→ M e F ◦ G : N −→ N s˜ ao tais que G ◦ F (x) = x para todo x ∈ X e F ◦ G (y) = y para todo y ∈ Y . Como X ⊂ M e Y ⊂ N s˜ ao ambos densos, segue que G ◦ F = idM e F ◦ G = idN . Logo, G = F −1 e, portanto, F ´e um homeomorfismo uniforme de M sobre N . 347
Adendo:
Logo,
F X = f ⇒ F (x) = f (x), ∀ x ∈ X; G Y = g ⇒ G(y) = g(y), ∀ y ∈ Y. G ◦ F (x) = G F (x) = G f (x) = g f (x) = x, ∀ x ∈ X; F ◦ G (Y ) = F G(y) = F g(y) = f g(y) = y, ∀ y ∈ Y.
¯ = M ; duas aplica¸c˜oes que coincidem em Portanto, G ◦ F = idX , como X um subconjunto denso s˜ ao iguais (ver corol. 14, p. 284), isto ´e, G ◦ F = idM . O mesmo racioc´ınio se aplica ao caso F ◦ G = idN . ∗
∗
www.profgentil.com
348
∗
Cap´ıtulo
7
´ ESPAC ¸ OS METRICOS CONEXOS ´ uma experiˆ E encia como nenhuma outra que eu possa descrever, a melhor coisa que pode acontecer a um cientista, compreender que alguma coisa que ocorreu em sua mente corresponde exatamente a alguma ´ surpreendente, todas as vezes que coisa que aconteceu na natureza. E ocorre. Ficamos espantados com o fato de que um construto de nossa pr´ opria mente possa realmente materializar-se no mundo real que existe l´ a fora. Um grande choque, e uma alegria muito grande.
7.1
(Leo Kadanoff, f´ısico)
Defini¸ c˜ ao e Exemplos
Introdu¸ c˜ ao: A conexidade de um conjunto ´e mais um conceito da an´ alise real transplantado para a teoria dos espa¸cos m´etricos. Como frisou acertadamente o eminente Von Newmann, na ep´ıgrafe do cap´ıtulo anterior, as id´eias matem´ aticas tˆem sua origem em situa¸c˜oes emp´ıricas, ou “euclidianas”, por assim dizer; mas, como o filho pr´ odigo da par´ abola, abandonam a casa paterna e assumem uma identidade e crescimento pr´ oprios motivados quase que inteiramente por “orgias est´eticas”. Este ´e o caso do conceito de conexidade que surgiu da observa¸c˜ao de conjuntos formados de um “´ unico peda¸co”; aqui, na topologia, veremos conjuntos constituidos de muitos − milhares de peda¸cos − “t˜ ao distantes entre si quanto se queira” e, mesmo assim, conexos − e, o que ´e “pior”, conexo por caminhos! Ademais, no presente cap´ıtulo estaremos dando respaldo matem´ atico a mais uma afirmativa abstrusa da f´ısica quˆantica, qual seja: a de que “el´etrons se movem de A para B sem nunca passar entre esses pontos.” Defini¸ c˜ ao 46 (Espa¸co desconexo). Um espa¸co m´etrico (M, d) se diz desao vazios, de conexo quando existem dois conjuntos abertos A e B, ambos n˜ maneira que A∩B =∅ e A∪B =M (7.1) ao de M . Diz-se ent˜ ao que o par A e B constitui uma desconex˜ 349
Um espa¸co conexo ´e um espa¸co que n˜ ao ´e desconexo. Portanto, dizer que M ´e conexo significa dizer que n˜ ao existe nenhuma desconex˜ ao de M . c As condi¸c˜ oes dadas em (7.1) nos dizem que A = B , o que significa que A tamb´em ´e fechado em M e ainda B = Ac o qual tamb´em ´e fechado em M . Em resumo, numa desconex˜ ao os conjuntos A e B s˜ ao simultˆ aneamente abertos e fechados em M . Um subconjunto X ⊂ M se diz conexo quando o subespa¸co (X, d), onde d ´e a m´etrica induzida sobre X pela m´etrica de M , ´e conexo. Exemplos: 1) Em todo espa¸co m´etrico (M, d) um conjunto unit´ ario { a } ´e conexo. Com efeito, ´e imposs´ıvel exibir dois abertos A 6= ∅ e B 6= ∅ tais que A ∩ B = ∅ e A ∪ B = { a }.
2) O espa¸co (R, δ) ´e desconexo, enquanto o espa¸co (R, µ) ´e conexo. Prova: Consideremos qualquer a ∈ R. Os conjuntos A = { a } e B = R − { a } s˜ ao abertos no espa¸co (R, δ). Sendo assim A e B constituem uma desconex˜ ao de R. Para mostrar que o espa¸co (R, µ) ´e conexo procederemos por contradi¸c˜ao, supondo que existem A e B abertos de modo que A 6= ∅, B 6= ∅; A ∩ B = ∅;
A ∪ B = R.
Tomemos a ∈ A e b ∈ B e suponhamos a < b. Consideremos o conjunto X = x ∈ A: x < b
de todos os elementos de A situados `a esquerda de b. Pois bem, temos que a ∈ X e que b ´e uma cota superior de X. Portanto sendo X um conjunto n˜ ao-vazio e limitado superiormente possui supremo, digamos c = sup X. Como o supremo de um conjunto ´e a menor de suas cotas superiores resulta que c ≤ b (♯). Pela defini¸c˜ao de supremo, para todo ε > 0 existe x ∈ X (por conseguinte x ∈ A) tal que c − ε < x ≤ c ∴ c − ε < x < c + ε ∴ x ∈ ] c − ε, c + ε [. De outro modo,
x∈A ցs
]
∀ ε > 0 ⇒ Bµ (c; ε) ∩ A 6= ∅
c−ε
¬c
[
R
c+ε
¯ Sendo A fechado temos que c ∈ A. portanto c ´e ponto aderente de A (c ∈ A). Portanto c 6= b, e, considerando (♯), concluimos que c < b. Sendo A aberto c ´e ponto interior de A, logo existe ǫ > 0 de modo que ] c − ǫ, c + ǫ [ ⊂ A. Invocando a propriedade arquimediana podemos encontrar dois naturais n′ e n′′ satisfazendo n1′ < ǫ e n1′′ < b − c. 350
Vamos escolher n0 = max n′ , n′′ }, portanto n0 ≥ n′ e n0 ≥ n′′ do que resulta 1 1 1 1 ≤ ′ X ≤ ′′ n0 n n0 n portanto, 1 1 ⇒ c + n1 < c + ǫ (♭) n0 ≤ n′ < ǫ 0
1 n0
≤
1 n′′
de (♭) concluimos que c + cluimos que c +
1 n0
⇒ c+
1 n0
(♮)
∈ ] c − ǫ, c + ǫ [ ⊂ A e, considerando (♮), con-
∈ X. Isto contradiz o fato de que c = sup X.
s˜ ao ambos
3) Os espa¸cos (N, µ) e (M, µ), onde M = 1, 12 , . . . , desconexos. Estes s˜ ao casos especiais da seguinte
1 n,
...
Proposi¸ c˜ ao 77. Todo espa¸co (M, d) discreto (no qual M tem mais que um elemento) ´e desconexo. Prova: De fato, em um espa¸co m´etrico (M, d) discreto, todo subconjunto de M ´e aberto. Sendo assim { a } e M − { a }, onde a ∈ M ´e arbitr´ario, constitue uma desconex˜ ao do espa¸co M . 4) Q com a m´etrica µ induzida de R ´e desconexo. De fato, para exibir uma desconex˜ ao de Q tome α um irracional qualquer e considere os seguintes subconjuntos de Q A = {x ∈ Q : x < α}
e
B = {x ∈ Q : x > α}
Vamos mostrar que A e B s˜ ao abertos no subespa¸co (Q, µ). Para tanto considere os seguintes subconjuntos de R C = {x ∈ R : x < α} = ] − ∞, α [
e
D = {x ∈ R : x > α} = ] α, +∞ [
C e D s˜ ao abertos em (R, µ). Como A = Q ∩ C e B = Q ∩ D segue que A e B s˜ ao abertos (prop. 24, p. 193) no espa¸co (Q, µ). Al´em do mais temos, A ∩ B = (Q ∩ C) ∩ (Q ∩ D) = Q ∩ (C ∩ D) =Q∩∅=∅ tamb´em, A ∪ B = (Q ∩ C) ∪ (Q ∩ D) = Q ∩ (C ∪ D) = Q ∩ (R − { α }) = Q Portanto A e B constituem uma desconex˜ ao de Q. 351
5) Consideremos o subconjunto X = { (x, y) ∈ R2 : x y = 1 } do R2 . O subespa¸co (X, D1 ), onde D1 ´e a m´etrica usual do R2 , ´e desconexo. De fato, para exibir uma desconex˜ ao de X considere os seguintes subconjuntos A = { (x, y) ∈ X : x > 0 }
e
B = { (x, y) ∈ X : x < 0 }
Vamos mostrar que A e B s˜ ao abertos no subespa¸co (X, D1 ). Para tanto considere os seguintes subconjuntos de R2 C = { (x, y) ∈ R2 : x, y > 0 }
e
D = { (x, y) ∈ R2 : x, y < 0 }
C e D s˜ ao abertos em (R2 , D1 ).
R
R
C
0
R
A
X
0
R
B
D
Como A = X ∩C e B = X ∩D segue que A e B s˜ ao abertos no subespa¸co (X, D1 ). Al´em do mais temos, A ∩ B = (X ∩ C) ∩ (X ∩ D) = X ∩ (C ∩ D) =X ∩∅=∅ tamb´em A ∪ B = (X ∩ C) ∪ (X ∩ D) = X ∩ (C ∪ D) = X. Portanto A e B constituem uma desconex˜ ao de X.
352
Proposi¸ c˜ ao 78. A imagem de um conjunto conexo por uma aplica¸ca ˜o cont´ınua, f : M −→ N , ´e um conjunto conexo. Prova: Vamos provar inicialmente para o caso particular em que f ´e sobrejetora, isto ´e f (M ) = N , e M ´e conexo. Procederemos por contradi¸c˜ao. Suponhamos que existam abertos A, B ⊂ N formando uma desconex˜ ao de N , isto ´e, tais que A, B 6= ∅ , A ∩ B = ∅ , A ∪ B = N. Sendo assim obtemos f −1 (A ∩ B) = f −1 (∅)
⇒ f −1 (A) ∩ f −1 (B) = ∅
f −1 (A ∪ B) = f −1 (N ) ⇒ f −1 (A) ∪ f −1 (B) = M Destas igualdades concluimos que f −1 (A) e f −1 (B) formariam uma desconex˜ao (prop. 62, p. 279) de M , contrariando a hip´ otese de que o mesmo ´e conexo. Nota: De N = f (M ) ⇒ f −1 (N ) = f −1 (f (M )) = M esta u ´ltima igualdade s´ o vale se f ´e sobrejetora. O caso geral reduz-se a este uma vez que sendo f : M −→ N cont´ınua e dado X ⊂ M conexo, ent˜ ao f : X −→ f (X) ´e uma sobreje¸c˜ao cont´ınua o que implica na conexidade de f (X) pelo que acabamos de provar. Corol´ ario 21. Se M ´e conexo e N ´e homeomorfo a M , ent˜ ao N tamb´em ´e conexo. Portanto a conexidade ´e uma propriedade topol´ ogica. Dizemos: ´e um invariante topol´ ogico. Corol´ ario 22. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico conexo. Se d′ ∼ d ent˜ ao o ′ espa¸co (M, d ) tamb´em ´e conexo. Prova: Se d ∼ d′ ent˜ ao a aplica¸c˜ao identidade i : (M, d) −→ (M, d′ ) ´e um homeomorfismo. Portanto o corol´ ario anterior nos assegura que se (M, d) ´e conexo decorre que (M, d′ ) tamb´em ´e conexo. Proposi¸ c˜ ao 79. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se (X, d) ´e conexo ent˜ ao ¯ d) tamb´em o ´e. Em outras palavras: o fecho de um conjunto conexo ´e (X, conexo. ¯ = M (isto ´e, Prova: Vejamos inicialmente o caso particular em que X ¯ =M X ´e denso em M ). Procederemos por contradi¸c˜ao. Suponha que X n˜ ao ´e conexo, ent˜ ao existem A, B abertos n˜ ao vazios tais que A∩B = ∅ , A∪B = M 353
(7.2)
Temos que A ∩ X e B ∩ X s˜ ao abertos no subespa¸co (X, d) (prop. 24, p. 193) al´em do que s˜ ao n˜ ao-vazios (prop. 45, p. 217). Pretendemos mostrar que estes conjuntos formam uma desconex˜ ao de X ∗ . Isto ´e, que ( (A ∩ X) ∪ (B ∩ X) = (A ∪ B) ∩ X = X (A ∩ X) ∩ (B ∩ X)
= (A ∩ B) ∩ X = ∅
Invocando (7.2), temos (A ∪ B) ∩ X = M ∩ X = X; tamb´em (A ∩ B) ∩ X = ∅ ∩ X = ∅. Portanto temos uma nega¸c˜ao de nossa hip´ otese. ¯ ´e conexo. No caso geral, considerando X conexo queremos provar que X ¯ d) Este caso reduz-se ao anterior uma vez que X ´e denso no subespa¸co (X, conforme nota da p. 216. ¯ e X ´e conexo, ent˜ Corol´ ario 23. Se X ⊂ Y ⊂ X ao Y ´e conexo. Prova: De fato, o fecho de X no subespa¸co (Y, d) ´e† ¯ ¯ X =X ∩Y (Y, d) (M, d) ¯ ¯ como, por hip´ otese, Y ⊂ X segue que X ∩ Y = Y , portanto (M, d) (M, d) ¯ X = Y logo X ´ e denso no subespa¸ c o (Y, d) e portanto, sendo X conexo, (Y, d) ¯ X = Y ´e conexo. (Y, d)
Um conexo com “dois peda¸cos” Agora faremos uma aplica¸c˜ao deste corol´ ario para chegarmos a uma “surpreendente” conclus˜ao: a de que existem conjuntos conexos “formados de mais de um peda¸co”. Para construirmos um tal conjunto consideremos o espa¸co (R2 , D1 ). Seja X = (x, y) ∈ R2 : y = cos(1/x), x > 0
A fun¸c˜ ao f dada por f (x) = cos(1/x) ´e cont´ınua, pelo exemplo 7 (p. 308), concluimos que X ´e homeomorfo ao dom´ınio ] 0, +∞ [ de f . Portanto X ´e conexo. Seja ainda o seguinte subconjunto do R2 Y = (0, y) ∈ R2 : − 1 ≤ y ≤ 1 = { 0 } × [ −1, 1 ].
Todo ponto y ∈ Y ´e aderente a X Ent˜ ao y∈Y
(ex. 2o , p. 215),
Y ´e fechado
(prop. 31, p. 202).
¯ ⇒ Y ⊂X ¯ ⇒ Y¯ = Y ⊂ X. ¯ ⇒ y∈X
Ent˜ ao para todo ¯ ⇒ X ∪Z ⊂X ∪X ¯ =X ¯ Z⊂Y ⇒ Z⊂X ¯ ⇒ X ⊂ X ∪ Z ⊂ X. ¯ ⇒X ∪Z ⊂X ∗ †
Se o subespa¸co (X, d) n˜ ao ´e conexo ent˜ ao X ⊂ M n˜ ao ´e conexo, por def. (p. 350). proposi¸c˜ ao 36 (p. 206)
354
Portanto, pelo corol´ ario anterior, X ∪ Z ´e conexo. No caso particular em que Z = Y temos que o conjunto na figura a seguir ´e conexo. X
1¬
0¬
−1 y
Observe que, n˜ ao obstante Y ∩ X = ∅, toda bola centrada em qualquer ponto de Y intersecta X, o que n˜ ao se configura no gr´ afico por limita¸c˜oes t´ecnicas. (p. 215)
7.2
Conexos na reta
Iremos agora caracterizar os conjuntos conexos da reta. Mostraremos que na reta usual de fato um conjunto ´e conexo se, e somente se, ´e constituido de um s´ o “peda¸co”− veremos, oportunamente, que para outras m´etricas isto deixa de ser verdade. Proposi¸ c˜ ao 80. Um subconjunto da reta ´e conexo se, e somente se, ´e um intervalo. Lembramos que os intervalos em R s˜ ao da seguinte forma: ] a, b [, ] a, b ], [ a, b [, [ a, b ];
intervalos limitados;
] −∞, a [, ] −∞, a ], ] a, +∞ [, [ a, +∞ [, ] −∞, +∞ [; intervalos ilimitados. Um intervalo X pode caracterizar-se pela seguinte propriedade: a, b ∈ X, a < x < b ⇒ x ∈ X. Prova: ⇐= Todo intervalo aberto ´e conexo por ser homeomorfo a R.
(p. 304)
Daqui e da proposi¸c˜ ao 79 (p. 353) concluimos que todo intervalo fechado ou semi-fechado ´e conexo. =⇒ Suponha X ⊂ R conexo e mostremos que X ´e um intervalo. Suponha a, b ∈ X e que a < c < b.
355
Provaremos que c ∈ X. Com efeito, suponha contrariamente que c 6∈ X, fa¸camos A = X ∩ ] − ∞, c [ e B = X ∩ ] c, +∞ [ s
s
a
c
-
[
] −∞, c [
]
s
R
b
] c, +∞ [
A e B s˜ ao abertos (no subespa¸co (X, µ)) s˜ ao n˜ ao vazios porque a ∈ A e b ∈ B. Mostremos que A e B formam uma desconex˜ ao de X. Ent˜ao A ∩ B = ( X ∩ ] − ∞, c [ ) ∩ ( X ∩ ] c, +∞ [ ) = X ∩ ( ] − ∞, c [ ∩ ] c, +∞ [ ) = X ∩ ∅ = ∅. Tamb´em A ∪ B = ( X ∩ ] − ∞, c [ ) ∪ ( X ∩ ] c, +∞ [ ) = X ∩ ( ] − ∞, c [ ∪ ] c, +∞ [ ) = X ∩ (R − {c})
= X.
Observe que neste momento usamos a hip´ otese de que c 6∈ X, pois se fosse c ∈ X ter´ıamos X ∩ R − {c} = X − {c} = 6 X.
Conclus˜ ao: Se assumirmos que c 6∈ X ent˜ao resulta X desconexo, contrariando a hip´ otese. Portanto X ´e um intervalo. Corol´ ario 24. Se (M, d) ´e um espa¸co m´etrico conexo e f : M −→ R ´e uma fun¸ca ˜o cont´ınua, ent˜ ao f (M ) ´e um intervalo. Prova: De fato, tendo em conta a proposi¸c˜ao 78 subconjunto conexo da reta e, portanto, um intervalo.
(p. 353),
f (M ) ´e um
Nota: No caso em que f ´e constante f (M ) ser´ a um intervalo degenerado do tipo [ a, a ]. A teoria dos n´ umeros irracionais n˜ ao foi colocada em solo firme at´e as obras de Georg Cantor e seu contemporˆ aneo Richard Dedekind no final do s´eculo 19. Ainda assim, da Idade M´edia at´e aquela ´epoca, a maioria dos matem´ aticos e cientistas ignorou o fato de que os n´ umeros irracionais pareciam n˜ ao existir e, felizmente, usaram-nos de qualquer maneira − embora de forma desajeitada. Aparentemente, a recompensa por se obter a resposta correta suplantou o desagrado de se trabalhar com n´ umeros que n˜ ao existiam. (Leonard Mlodinow/A janela de Euclides, p. 78) 356
Aplica¸ co ˜es do Corol´ ario 24: 1. Teorema do Valor Intermedi´ ario Corol´ ario 25. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico conexo e f : M −→ R uma fun¸ca ˜o cont´ınua. Se y1 , y2 ∈ f (M ) e y1 < y < y2 , ent˜ ao existe x ∈ M tal que f (x) = y. Prova: Como f ´e cont´ınua, segue que f (M ) ⊂ R ´e conexo. Da´ı f (M ) ´e um intervalo e portanto y ∈ f (M ) = { f (x) : x ∈ M }. Portanto existe x ∈ M de modo que f (x) = y. Em outras palavras: Se o dom´ınio de uma fun¸c˜ao cont´ınua ´e conexo, ent˜ao f toma todos os valores entre dois valores quaisquer de sua imagem. A seguir ilustramos esta situa¸c˜ao para o caso especial em que M ´e um intervalo da reta. R f (x)
⊤
6
y2 y
f (M ) y y y y ⊥? 1
0
⊢
xp1
xp xp2 M
R
-⊣
• Teorema do Valor Intermedi´ario. ∗
∗
∗
Interregno: Uma palavrinha ao leitor Talvez o leitor n˜ ao fa¸ca id´eia do qu˜ao dif´ıcil ´e a diagrama¸c˜ao (formata¸c˜ao) de um livro, ainda mais de um livro cheio de figuras, como ´e o caso do presente e, por outro lado, em acr´escimo, muitas vezes ainda tenho que decidir quando − por raz˜ oes did´ aticas − devo for¸car uma figura a ficar na mesma p´ agina da explana¸c˜ ao correspondente, como aconteceu na p´ agina seguinte. Algumas vezes, para n˜ ao deixar um espa¸co razo´ avel de uma p´ agina em branco, decidi inserir algumas informa¸c˜oes matem´ aticas u ´teis ao estudante, como aconteceu na p´ agina precedente. Ademais, devo informar que o presente livro est´ a sendo escrito a “uma m˜ aos” − inclusive sem nenhum apoio institucional − e que n˜ ao sou diagramador profissional, tenho me esfor¸cado bastante para fazer o melhor. ˜o f : M −→ M Defini¸ c˜ ao 47 (Ponto fixo). Um ponto fixo de uma aplica¸ca ´e um ponto p ∈ M tal que f (p) = p. 357
2. Teorema do Ponto fixo de Brower Caso Particular: Dada uma fun¸c˜ao cont´ınua f : [ a, b ] −→ [ a, b ], existe c ∈ [ a, b ] de maneira que f (c) = c. Prova: Com efeito, se f (a) = a ou f (b) = b nada a fazer. Suponhamos f (a) 6= a e f (b) 6= b. Sendo assim podemos escrever a < f (a) < b
e
a < f (b) < b.
Consideremos a fun¸c˜ ao auxiliar g : [ a, b ] −→ R dada por g(x) = x − f (x). Obviamente g ´e cont´ınua (diferen¸ca de duas fun¸c˜oes cont´ınuas) e ademais g(a) = a − f (a) < 0
g(b) = b − f (b) > 0.
e
R
y ⊤ g(b)
6
g([ a, b ])
g
a[
0
c
]b
s
x
⊥? g(a) y
Sendo g(a) < 0 < g(b) segue − do teorema do valor intermedi´ario − que existe c ∈ [ a, b ] de modo que: g(c) = 0 ⇒ c − f (c) = 0 ⇒ f (c) = c. Geometricamente o significado do teorema do ponto fixo ´e que a reta y = x intercepta o gr´ afico de y = f (x) em pelo ao menos um ponto: (c, f (c)). f (x) b
y=x
]
f (x) f
f (c) y
f (c) y
] a
)45o 0
qc
x
0
358
a
[
qc
]b
x
Exemplos: 1) A fun¸c˜ ao dada por f (x) = x2 tem dois pontos fixos: x = 0 e x = 1. De fato, f (x) = x2 = x ⇒ x · (x − 1) = 0 ⇒ x = 0, x = 1. f (x)
0
x
x=1
2) A fun¸c˜ ao cosseno tem como ponto fixo x ¯ = 0, 739085133215 . . ., com precis˜ ao suficiente para n˜ ao ser denunciado por qualquer calculadora cient´ıfica. y = cos x
y=x
1
x ¯
π 2
π
3π 2
2π
x
−1
π = 1, 5707963268 . . . 2 π = 0, 628318530718 . . . 5
e
π = 0, 785398163398 . . . 4
π π < x ¯ < 5 4 Sugerimos ao leitor confirmar em uma calculadora cient´ıfica que
cos(0, 739085133215) = 0, 739085133215 Observa¸ca ˜o: Sua calculadora deve estar no modo rad (radiano). 359
3) A fun¸c˜ ao cossecante (csc) tamb´em tem o seu ponto fixo: x = 1, 11415714087 . . . Uma vez que csc(1, 11415714087 . . .) =
1 sen (1, 11415714087 . . .)
= 1, 11415714087 . . . Nota: No pr´ oximo cap´ıtulo aprenderemos como encontrar o ponto fixo de uma aplica¸c˜ ao. Consideremos a seguinte aplica¸c˜ao
(p. 616)
f : [ 0, 1 ] −→ Rn t 7−→ (1−t) a+t b Isto ´e, f (t) = (1 − t) a + t b. Ent˜ao f (t) = (1 − t) a + t b = (1 − t) (a1 , . . . , an ) + t (b1 , . . . , bn ) = (1 − t) a1 + t b1 , . . . , (1 − t) an + t bn As fun¸c˜ oes dadas a seguir fi : [ 0, 1 ] −→ R t 7−→ (1−t) ai +t bi
(i = 1, 2, . . . , n)
Isto ´e, fi (t) = −(ai − bi ) t + ai s˜ ao fun¸c˜oes cont´ınuas, disto segue que f ´e cont´ınua (prop. 57, p. 272). Por outro lado f [ 0, 1 ] = f (t) : t ∈ [ 0, 1 ] = (1 − t) a + t b : t ∈ [ 0, 1 ] = [ a, b ].
De modo que o segmento [ a, b ] ´e imagem do conexo [ 0, 1 ] pela aplica¸c˜ao cont´ınua f . Portanto todo segmento de reta no Rn ´e conexo. Observe que a reuni˜ao de conjuntos conexos n˜ ao ´e necessariamente conexa. Por exemplo os conjuntos X = ] − ∞, 0 [ e Y = ] 0, ∞ [ s˜ ao conexos no espa¸co (R, µ), mas X ∪ Y = ] − ∞, 0 [ ∪ ] 0, ∞ [ n˜ ao ´e conexo neste espa¸co. ´ o que nos assegura a seguinte Isto acontece porque X e Y s˜ ao disjuntos. E 360
uma fam´ılia arbitr´ aria de conjuntos coneProposi¸ c˜ ao 81. Seja Xλ λ∈L xos num espa¸co m´etrico (M, d). [ Se todos os Xλ contˆem um ponto comum a ∈ M , ent˜ ao a reuni˜ ao X = Xλ tamb´em ´e conexa. λ∈L
Prova: Para mostrar que o subespa¸co (X, d) ´e conexo procederemos por contradi¸c˜ ao. Suponhamos que existam A e B abertos de modo que A, B 6= ∅, A ∩ B = ∅
e
A ∪ B = X.
Pois bem, o ponto a comum a todos os Xλ pertence a A ou a B. Suponhamos a ∈ A. Como B 6= ∅ e A ∩ B = ∅, existe b 6= a em X com b ∈ B. Este ponto b por sua vez dever´ a estar, para algum µ ∈ L, no conjunto Xµ . Os conjuntos A ∩ Xµ e B ∩ Xµ s˜ ao abertos no subespa¸co (X, d) e s˜ ao ambos n˜ ao-vazios uma vez que a ∈ A ∩ Xµ e b ∈ B ∩ Xµ . Por outro lado temos
tamb´em
A ∩ Xµ ∩ B ∩ Xµ = A ∩ B ∩ Xµ = ∅ A ∩ Xµ ∪ B ∩ Xµ = A ∪ B ∩ Xµ
= X ∩ Xµ = Xµ .
Portanto A ∩ Xµ e B ∩ Xµ formam uma desconex˜ ao de Xµ , contrariando a s˜ ao conexos. hip´ otese de que todos os conjuntos da fam´ılia Xλ λ∈L
Corol´ ario 26. Um espa¸co m´etrico (M, d) ´e conexo se, e somente se, dois quaisquer de seus pontos estiverem contidos em algum conexo Xab ⊂ M .
Prova: (=⇒) Dados a, b ∈ M e sendo M conexo por hip´ otese, fazemos M = Xab e a proposi¸c˜ ao est´ a provada. [ (⇐=) Neste caso fixando a ∈ M podemos escrever M = Xab . Como b∈M
a ∈ Xab para todo b ∈ M , a proposi¸c˜ao 81 nos assegura que M ´e conexo.
Exemplos: (i) Com o aux´ılio do corol´ ario anterior podemos mostrar que o espa¸co n (R , D1 ) ´e conexo. Com efeito, dados dois pontos quaisquer a, b ∈ Rn o segmento de reta [ a, b ] ´e um conjunto conexo que cont´em a e b.
(ii) Com aux´ılio da proposi¸ca˜o 81 vamos construir mais um conjunto conexo “formado de dois peda¸cos”: Consideremos o seguinte subconjunto do plano R2 X = (x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1, y = x/n, n ∈ N 361
Este conjunto ´e formado dos pontos do segmento de reta que liga a origem (0, 0) aos pontos (1, 1/n), n ∈ N. De outro modo: [ 1 X= Xn , onde Xn = (0, 0); (1, ) n n∈N
Todo segmento Xn ´e conexo; ademais (0, 0) ∈ Xn , ∀n ∈ N; portanto pela proposi¸c˜ ao 81, X ´e conexo. Por outro lado considere o seguinte subconjunto: 1 1 Y = (x, 0) ∈ R2 : ≤ x ≤ 1 = , 1 × {0} 2 2 Todo ponto y ∈ Y ´e aderente a X (p. 214) Y ´e fechado (prop. 31, p. 202). Ent˜ao ¯ ⇒ Y ⊂X ¯ ⇒ Y¯ = Y ⊂ X. ¯ ⇒ y∈X
y∈Y Ent˜ ao para todo
¯ ⇒ X ∪Z ⊂X ∪X ¯ =X ¯ Z⊂Y ⇒ Z⊂X ¯ ⇒ X ⊂ X ∪ Z ⊂ X. ¯ ⇒X ∪Z ⊂X Portanto, pelo corol´ ario 23 (p. 354) X ∪ Z ´e conexo. No caso particular em que Z = Y temos que o conjunto a seguir ´e conexo. R 1
X1
q
X2 X3
0
1 2
.. . p1
p
.. .
R
0
Veremos agora que a conexidade ´e preservada pelo produto cartesiano ∗
∗
∗
Como a teoria quˆ antica, em que as leis da f´ısicas assumem novas formas bizarras, mas somente em dom´ınios muito menores do que os encontrados na vida di´ aria, o espa¸co curvo pode existir, mas sendo t˜ ao pr´ oximo do euclidiano que, na escala da vida terrestre normal, n˜ ao detectamos a diferen¸ca. E no entanto, como a teoria quˆ antica, as implica¸coes da curvatura para as teorias da f´ısica podem ser enormes. (Leonard Mlodinow/A janela de Euclides, p. 111)
362
Proposi¸ c˜ ao 82. Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. Ent˜ ao M1 × M2 ´e conexo, se e somente se, M1 e M2 s˜ ao conexos. Prova: (=⇒) Suponhamos M1 × M2 conexo. Consideremos as proje¸c˜oes p1 : M1 × M2 −→ M1
e
(x1 , x2 ) 7−→ x1
p2 : M1 × M2 −→ M2 (x1 , x2 ) 7−→ x2
Temos p1 M1 × M2 = p1 (x1 , x2 ) : (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 = x1 : (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 = M1 An´alogamente p2 M1 × M2 = M2 . Como as proje¸c˜oes s˜ ao cont´ınuas temos pela proposi¸c˜ ao 78 (p. 353) que M1 e M2 s˜ ao conexos. (⇐=) Reciprocamente, suponhamos M1 e M2 conexos e mostremos que M1 × M2 ´e conexo. A demonstra¸c˜ao consistir´a no seguinte: dados dois pontos quaisquer a = (a1 , a2 ) e b = (b1 , b2 ) em M1 × M2 mostraremos que existe um conexo Xab ⊂ M1 × M2 que os contˆem e da´ı , pelo corol´ ario 26 (p. 361), M1 × M2 resultar´ a conexo. Pois bem, inicialmente observemos que os conjuntos M1 ×{ b2 } e { a1 }×M2 s˜ ao conexos por serem homeomorfos a M1 e M2 , respectivamente. Por exemplo, a seguir temos dois homeomorfismos f : M1 −→ M1 × { b2 }
e
x 7−→ (x, b2 )
g : M2 −→ { a1 } × M2
x 7−→ (a1 , x) Por outro lado temos que o ponto (a1 , b2 ) ∈ M1 × { b2} ∩ { a1 } × M2 implicando em que Xab = M1 × { b2 } ∪ { a1 } × M2 ´e um conexo que cont´em a e b. (prop. 81, p. 361) M2
{ a1 }×M2
↓
b2
s
s
a2
s
s(a1 , a2 )
M1 ×M2
(a1 , b2 )
s
a1
s
(b1 , b2 )
← M1 ×{ b2 }
s
M1
b1
363
Corol´ ario 27. Sejam (M1 , d1 ), . . ., (Mn , dn ) espa¸cos m´etricos. Ent˜ ao M1 × . . . × Mn ´e conexo se, e somente se, cada Mi (i = 1, 2, . . . , n) ´e conexo. Em particular Rn = R × · · · × R ´e conexo.
7.3
Conjuntos conexos por caminhos
Considere o quadrado ao lado. Fixando arbitrariamente dois pontos no mesmo, podemos un´ı-los por um tra¸co cont´ınuo. De outro modo, sentando a ponta de um l´apis em um dos pontos podemos atingir o outro sem levantar a ponta.
r
O nome t´ecnico (matem´ atico) do tra¸co descrito pelo l´apis ´e caminho e um objeto com tal propriedade, no caso o quadrado, ´e chamado de conjunto conexo por caminhos. Outra maneira de exprimir a conexidade de um espa¸co ´e dizer que se pode passar de um qualquer de seus pontos para outro por um movimento cont´ınuo, sem sair do espa¸co. Isto nos leva ` a no¸ca ˜o de espa¸co conexo por caminhos. (Elon Lages/[5]) Observe que podemos at´e mutilar o quadrado de alguns modos, p. ex.
e mesmo assim ainda conseguimos ligar dois pontos quaisquer “sem levantar a ponta do l´ apis” − Ou seja, o quadrado n˜ ao perde a propriedade de conexidade por caminhos. Entretanto, isto nem sempre ocorre, veja: Na mutila¸c˜ ao ao lado retiramos a “ter¸ca” parte central do quadrado original. Agora acreditamos que o leitor n˜ ao poder´ a ligar os pontos de lados opostos por um tra¸co cont´ınuo; isto ´e, sem levantar a ponta do l´apis (sem sair da regi˜ ao remanescente). 364
s s
Esta foi a apresenta¸c˜ ao intuitiva do conceito de conexidade. Vejamos o que seja, precisamente, um caminho. Defini¸ c˜ ao 48 (Caminho em espa¸cos m´etricos). Um caminho num espa¸co m´etrico (M, d) ´e uma aplica¸ca ˜o cont´ınua f : [ 0, 1 ] −→ M . Os pontos f (0) e f (1) s˜ ao chamados ponto inicial e ponto final, respectivamente, do caminho. Traduzindo essa defini¸c˜ ao em um gr´ afico, temos o seguinte: (M, d) q
1
f p
0
O caminho ´e a transforma¸c˜ ao (ou ainda, uma fun¸c˜ao; ou um algoritmo) f que vai do intervalo no conjunto M − De um modo equivalente: f transforma um ponto do intervalo em um ponto do conjunto M . Na figura temos uma curva (cont´ınua) ligando os pontos p e q no conjunto M . Dizemos que esta curva ´e a imagem do intervalo pelo caminho f . Por simplifica¸c˜ao (abuso de linguagem), por vezes estaremos considerando a pr´ opria curva como o caminho. O ponto p ´e chamado de ponto inicial do caminho, e o ponto q ´e chamado de ponto final; no sentido de que p ´e imagem, por f , do ponto 0 e q ´e imagem, por f , do ponto 1 do intervalo. Indicamos isto, assim: f (0) = p e f (1) = q Para considera¸c˜ oes posteriores ser´ a u ´til termos em mente o seguinte: enquanto o “l´ apis” percorre o intervalo [ 0, 1 ] sua imagem, o caminho, vai sendo tra¸cado no conjunto M , assim: (M, d) f (1) = q
1
f ↑
f (0) = p
0
Refor¸cando: A id´eia dessa figura ´e a seguinte: no inicio o l´apis∗ aponta para a origem do intervalo, sua imagem ´e o ponto p, inicio do caminho; `a medida que o l´ apis percorre o intervalo − no sentido do outro extremo − o caminho (curva) vai sendo descrito; quando o l´apis atinge o extremo superior do intervalo o caminho termina de ser tra¸cado, isto ´e, estamos no ponto λ(1) = q. ∗
Representado na figura pela setinha:
365
Um exemplo de caminho em qualquer espa¸co m´etrico (M, d) ´e o caminho constante f : [ 0, 1 ] −→ M t 7−→ c onde c ∈ M ´e arbitrariamente fixado.
Justaposi¸c˜ ao de caminhos
Dados dois caminhos f, g : [ 0, 1 ] −→ M tal que f (1) = g(0), definamos a aplica¸c˜ ao f ∨ g : [ 0, 1 ] −→ M pondo f (2t), se 0 ≤ t ≤ 12 ; (7.3) f ∨ g (t) = g(2t − 1), se 12 ≤ t ≤ 1.
Como f (2t) coincide com g(2t − 1) no ponto t = 21 , ent˜ao f ∨ g est´ a bem definida. Ademais f ∨ g ´e cont´ınua. (corol. 17, p. 285) Portanto f ∨g : [ 0, 1 ] −→ M ´e um caminho (chamado caminho justaposto). Exemplo: Sejam os caminhos f : [ 0, 1 ] −→ R2 t 7−→ (2t, 2t+1)
g : [ 0, 1 ] −→ R2 t 7−→ (2t+2, 6t2 −5t+3)
e
Na figura seguinte temos um esbo¸co dos caminhos f e g:
R
rg(1)
4
q
R
r
g(0) 3
q
1
f g
3
q
f (1)
2
2
1 f (0)
1
q
q
0
q
0
q
q
1
q2
R
366
0
q
1
q2
q3
q4
R
Sendo f (t) = (2t, 2t + 1)
e
g(t) = (2t + 2, 6t2 − 5t + 3)
Como f (1) = (2 · 1, 2 · 1 + 1) = (2, 3)
g(0) = (2 · 0 + 2, 6 · 02 − 5 · 0 + 3) = (2, 3)
podemos justapor estes caminhos. Encontremos o caminho justaposto f ∨ g: f (2t) = 2(2t), 2(2t) + 1 = (4t, 4t + 1)
ainda, g(2t − 1) = 2(2t − 1) + 2, 6(2t − 1)2 − 5(2t − 1) + 3 = (4t, 24t2 − 34t + 14)
Resumindo, temos (f ∨ g)(t) =
(4t, 4t + 1) ,
se 0 ≤ t ≤ 12 ;
(4t, 24t2 − 34t + 14) , se
1 2
≤ t ≤ 1.
A seguir mostramos um esbo¸co deste caminho
R
s(f ∨g)(1)
4
q (f ∨g)( 1 2)
3
q
1
f ∨g
2
q
0 1
q (f ∨g)(0)
0
q
1
q
2
q
3
q
4
• O caminho justaposto: f ∨ g.
367
R
Defini¸ c˜ ao 49 (Espa¸cos conexos por caminhos). Um espa¸co m´etrico (M, d) se diz conexo por caminhos quando dois pontos quaisquer de M podem ser ligados por um caminho contido em M . (M, d) 1
y = f (1)
f 0
x = f (0)
Dizemos que um subconjunto X ⊂ M ´e conexo por por caminhos quando o subespa¸co (X, d) for conexo por caminhos. Exemplos: 1) O espa¸co (R, µ) ´e conexo por caminhos pois fixados x, y ∈ R o caminho f : [ 0, 1 ] −→ R t 7−→ (1−t) x + t y
∴
f (t) = (1−t) x + t y
´e tal que f (0) = x e f (1) = y. Veja: s
x
s
y
R
Generalizando o exemplo anterior 2) O espa¸co (Rn , Di ), para i = 1, 2, 3 ´e conexo por caminhos, pois fixados x, y ∈ Rn o caminho f : [ 0, 1 ] −→ Rn t 7−→ (1−t) x + t y ´e tal que f (0) = x e f (1) = y. Defini¸ c˜ ao 50 (Conjuntos convexos). Seja E, +, · um espa¸co vetorial. Um subconjunto X ⊂ E chama-se convexo quando sempre que a, b ∈ X ⇒ [ a, b ] ⊂ X, ou seja, o segmento de reta que liga dois pontos quaisquer de X est´ a contido em X. (p. 617) 368
Por exemplo, dos conjuntos abaixo X
Y a
b
Z b
a
a
b
apenas o conjunto X ´e convexo. Todo subconjunto X ⊂ E convexo ´e conexo por caminhos porque, dados quaisquer a, b ∈ X o caminho retil´ıneo f : [ 0, 1 ] −→ E t 7−→ (1−t) a + t b ´e tal que f (0) = a e f (1) = b. Exemplos de conjuntos convexos: 1) Um subespa¸co vetorial, X ⊂ E, ´e fechado para as opera¸c˜oes do espa¸co (adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ ao por escalar), da´ı ´e f´acil concluir que todo subespa¸co vetorial ´e um conjunto convexo. 2) Toda bola aberta B(a; r) num espa¸co vetorial E, +, · normado.
Prova: Fixados x, y ∈ B(a; r), devemos provar que [ x, y ] ⊂ B(a; r). Seja ent˜ao z ∈ [ x, y ] um vetor qualquer do segmento. Logo, existe 0 ≤ t′ ≤ 1 de modo que z = (1 − t′ ) x + t′ y. Por outro lado temos, kx − ak < r |1 − t′ | kx − ak < |1 − t′ | r ⇒ ky − ak < r |t′ | ky − ak < |t′ | r
Nota: Ao multiplicarmos as desigualdades da esquerda, e mantendo as desigualdades estritas ` a direita, estamos supondo t′ 6= 0 e t′ 6= 1 (caso contr´ ario a prova ´e imediata). Temos: kz − ak = k(1 − t′ ) x + t′ y − ak = k(1 − t′ )(x − a) + t′ (y − a)k
≤ |1 − t′ | kx − ak + |t′ | ky − ak
< |1 − t′ | r + |t′ | r = (1 − t′ ) r + t′ r = r. portanto, z ∈ B(a; r) logo [ x, y ] ⊂ B(a; r). n 3) Se X ⊂ R ´e um conjunto convexo, ent˜ao a aderˆencia de X ´e convexa. ¯ sejam a, b ∈ X pontos de aderˆencia, logo existem sequˆencias De fato, (prop. 42, p. 212) ak e bk de pontos de X tais que ak → a
e
369
bk → b
como X ´e convexo temos ak , bk ⊂ X. Para 0 ≤ t ≤ 1 fixado arbitrariamente, temos (prop’s. 18, 20; p’s. 163, 164) (1 − t) ak + t bk → (1 − t) a + t b Portanto pela prop. 43
(p. 214),
¯ isto ´e [a, b] ⊂ X. ¯ temos (1 − t) a + t b ∈ X,
Vejamos um de uma fam´ exemplo ılia de conjuntos conexos por caminhos: n n+1 A esfera S = x ∈ R : kxk = 1 ´e conexa por caminhos. De fato, dados x, y ∈ S n consideremos duas possibilidades: a 1 ) x 6= −y. Deixamos como exerc´ıcio ao leitor provar a proposi¸c˜ao: Se x 6= −y ent˜ao (1 − t) x + t y 6= 0 Pois bem, considerando f : [ 0, 1 ] −→ S n dada por f (t) =
(1 − t) x + t y k(1 − t) x + t yk
fica definido um caminho tal que f (0) = x e f (1) = y. 2a ) x = −y. Neste caso tomamos um ponto z ∈ S n − { x, y } do que obviamente resulta z 6= x e z 6= y, isto ´e, z 6= −x e z 6= −y. Devido ao caso anterior existe um caminho de x a z e um outro de z a y. Justapondo estes caminhos ligamos x a y. Vamos concretizar o que foi visto atrav´es de alguns exemplos: 1. Sejam n = 1, x = (1, 0), y = (0, 1). Ent˜ao f (t) = =
(1 − t)x + ty k(1 − t)x + tyk (1 − t, t) (1 − t)(1, 0) + t(0, 1) = k(1 − t)(1, 0) + t(0, 1)k k(1 − t, t)k
1.1. Consideremos k(a, b)k = max{ |a|, |b| }. Ent˜ao f (t) = =
(1 − t, t) max |1 − t|, |t| (1 − t, t) max 1 − t, t
mas 1 − t ≥ t ⇔ t ≤ 21 . Logo (1−t, t) , 1−t f (t) = (1−t, t) , t
370
se 0 ≤ t ≤ 12 ; se
1 2
≤ t ≤ 1.
Isto ´e, 1, t , 1−t f (t) = 1−t , 1, t
se 0 ≤ t ≤ 12 ; se
1 2
≤ t ≤ 1.
Geometricamente, temos
R S1 1 1 2
(0, 1)
f
y
(1, 0)
R
0
1.2. Agora consideremos a norma euclidiana k(a, b)k = f (t) =
(1 − t, t) k(1 − t, t)k
=p
(1 − t, t)
(1 − t)2 + t2
Logo f (t) =
1−t t √ ,√ 2 2 2t − 2t + 1 2t − 2t + 1
Geometricamente, temos R (0, 1)
S1
1 1 2
y
f (1, 0)
0
371
R
√ a2 + b2 . Ent˜ao
1.3. Agora consideremos k(a, b)k = |a| + |b|. Ent˜ao f (t) =
(1 − t, t) k(1 − t, t)k
=
(1 − t, t) |1 − t| + |t|
=
(1 − t, t) = (1 − t, t). 1−t+t
Geometricamente, temos R (0, 1)
S1
1 1 2
f
y
(1, 0)
R
0
2. Seja (E, +, ·) um espa¸co vetorial normado, com dim E > 1. Para todo a ∈ E, E − { a } ´e conexo por caminhos. De fato, sejam x, y ∈ E − { a }. Se [ x, y ] ⊂ E − { a } este segmento de reta ´e um caminho em E − { a } ligando x a y. Por outro lado, se a ∈ [ x, y ], como dim E > 1, existe um ponto z n˜ ao alinhado com x e y. Ent˜ao o caminho justaposto [ x, z ] ∨ [ z, y ] liga x com y em E − { a }. E−{ a } a ◦ x
E−{ a }
x
y
a ◦
y z
Todo conjunto conexo por caminhos ´e conexo. Este ´e o conte´ udo da pr´ oxima Proposi¸ c˜ ao 83. Se o espa¸co m´etrico (M, d) ´e conexo por caminhos, ent˜ ao (M, d) ´e tamb´em conexo. 372
Prova: Seja (M, d) conexo por caminhos. Dados a, b ∈ M existe um caminho f : [ 0, 1 ] −→ M tal que f (0) = a e f (1) = b. Como f ´e cont´ınua e [ 0, 1 ] ´e conexo, temos que f [ 0, 1 ] = f (t) : t ∈ [ 0, 1 ] ´e um conjunto conexo (prop. 78, p. 353) que cont´em a e b. Logo, pelo corol´ ario 26 (p. 361) M ´e conexo. (M, d) f (1) = b
1
f 0
f (0) = a
A proposi¸c˜ ao rec´ıproca da anterior n˜ ao ´e verdadeira. Vejamos um contraexemplo:
Um espa¸co conexo, mas n˜ ao conexo por caminhos Considere o espa¸co m´etrico (R2 , D1 ) e o subespa¸co (X, D1 ), no qual X=
1 (x, cos( )) ∈ R2 : x > 0 ∪ { (0, 0) } x
´ f´acil mostrar (basta adaptar o exemplo da p. 354) que X ´e conexo. E Mostraremos que X n˜ ao ´e conexo por caminhos. Para tanto mostraremos que todo caminho λ : [ 0, 1 ] −→ X com λ(0) = (0, 0) ´e constante. Sendo assim n˜ ao se pode obter um caminho ligando (0, 0) a qualquer outro ponto de X, o que garante n˜ ao ser X conexo por caminhos. Com efeito, considerando um caminho λ : [ 0, 1 ] −→ X podemos escrever λ(t) = λ1 (t), λ2 (t) , ∀ t ∈ [ 0, 1 ].
Onde λ1 e λ2 s˜ ao cont´ınuas com λ(0) = λ1 (0), λ2 (0) = (0, 0) ⇒ λ1 (0) = 0; λ2 (0) = 0. R
r
1
tr
λ
0
λ(0)=(0, 0)
r
X
տ(λ r
տλ
1 (t), λ2 (t)) R
1 (t)
Para nossa prova devemos considerar a primeira proje¸ca ˜o, assim: 373
p1 :
X
R
( λ1 (t), λ2 (t) )
Consideremos, A=
λ1 (t)
t ∈ [ 0, 1 ] : λ1 (t) = 0 r
1
λ1 0
R
λ1 (0) = 0
Desejamos provar que A = [ 0, 1 ]. Inicialmente observe que A ´e fechado∗ e n˜ ao-vazio, pois 0 ∈ A. Vamos mostrar que A ´e tamb´em aberto no subespa¸co ([ 0, 1 ], µ). Tomemos um ponto arbitr´ario t0 ∈ A e mostremos que t0 ´e ponto interior de A, isto ´e que que existe r > 0 tal que B(t0 ; r) ⊂ A. A continuidade de λ : [ 0, 1 ] −→ X em t0 nos d´ a uma bola aberta B(t0 ; δ) de modo que ∀ t ∈ B(t0 ; δ) ⇒ D1 λ(t), λ(t0 ) < 1
como
t0 ∈ A ⇒ λ1 (t0 ) = 0
⇒ λ(t0 ) = (0, 0)
⇒ ∀ t ∈ B(t0 ; δ) ⇒ D1 λ(t), (0, 0) < 1
(7.4)
Nota: N˜ao pode ser λ(t0 ) = (0, c) com c 6= 0 porquanto este ponto n˜ ao pertence a X. Fa¸camos uma mudan¸ca de nota¸c˜ao: B(t0 ; δ) = B(t0 ; δ) ∩ [ 0, 1 ] = ] t0 − δ, t0 + δ [ ∩ [ 0, 1 ] = J De modo que J (sub-bola) ´e um intervalo. Logo λ1 (J) = { λ1 (t) : t ∈ J } ´e um intervalo† contendo 0, uma vez que t0 ∈ J
e
t0 ∈ A ⇒ λ1 (t0 ) = 0.
Afirmamos que λ1 (J) = { 0 }, isto ´e, que λ1 (J) ´e um intervalo degenerado. De fato, se o contr´ ario ´e que fosse verdade existiria, pela propriedade ar1 ∈ λ1 (J), ent˜ao existiria t ∈ J de modo que quimediana, n ∈ N tal que 2πn ∗ †
Ver observa¸c˜ ao ` a p. 283. Proposi¸c˜ oes 80, 78; p’s. 355, 353.
374
λ1 (t) =
1 2πn ,
o que acarretaria λ(t) =
1 1 , cos(2πn) = ,1 2πn 2πn
contrariando (7.4) . Portanto,
∀ t ∈ J ⇒ λ1 (t) = 0 ⇒ J ⊂ A. Isto prova que A ´e aberto no subespa¸co ([ 0, 1 ], µ). A sendo aberto e fechado decorre∗ que A = [ 0, 1 ]. Sendo assim λ(t) = 0 para todo t ∈ [ 0, 1 ]; isto ´e, n˜ ao pode haver nenhum caminho ligando 0 a qualquer outro ponto de X; logo, X ´e conexo mas n˜ ao conexo por caminhos. Proposi¸ c˜ ao 84. A imagem de um conjunto conexo por caminhos atrav´es de uma aplica¸ca ˜o cont´ınua ´e conexa por caminhos. Prova: Sejam M conexo por caminhos e f : M −→ N cont´ınua. Dados p, q ∈ f (M ) = { f (x) : x ∈ M }, existem a, b ∈ M tais que f (a) = p
e
f (b) = q.
Como M ´e conexo por caminhos existe um caminho g : [ 0, 1 ] −→ M tal que g(0) = a e g(1) = b. Ent˜ ao a aplica¸c˜ao f ◦ g : [ 0, 1 ] −→ f (M ) ´e cont´ınua e, (f ◦ g)(0) = f g(0) = f (a) = p, (f ◦ g)(1) = f g(1) = f (b) = q. M
r
b = g(1)
1 0
g
rg(0) = a
r
q
f
rp
N f (M )
f ◦g
Logo, f ◦ g ´e um caminho em f (M ) ligando p a q. Portanto f (M ) ´e conexo por caminhos. Corol´ ario 28. Se M e N s˜ ao homeomorfos ent˜ ao M ´e conexo por caminhos se, e somente se, N o for. ∗ Se fosse A 6= [ 0, 1 ], teriamos Ac 6= ∅, seria tamb´em aberto e fechado, logo A e Ac constituiriam uma desconex˜ ao do conexo [ 0, 1 ] o que ´e absurdo.
375
Proposi¸ c˜ ao 85. Se M e N s˜ ao conexos por caminhos ent˜ ao M × N ´e tamb´em conexo por caminhos. Prova: Sejam x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ) dois pontos arbitr´arios em M × N . Como M e N s˜ ao conexos por caminhos, existe um caminho f : [ 0, 1 ] −→ M com f (0) = x1 e f (1) = y1 e um outro caminho g : [ 0, 1 ] −→ N com g(0) = x2 e g(1) = y2 . Com estes dois caminhos podemos construir a seguinte aplica¸c˜ ao h : [ 0, 1 ] −→ M × N t 7−→ (f (t), g(t)) Com o aux´ılio da proposi¸c˜ao 57
(p. 272)
concluimos que h ´e cont´ınua e,
h(0) = f (0), g(0) = (x1 , x2 ) = x; h(1) = f (1), g(1) = (y1 , y2 ) = y.
Portanto h ´e um caminho ligando x a y e, por conseguinte, M × N ´e conexo por caminhos.
N
1 0
M ×N
y
y2
1
g
h x2
0
x
x1
y1
M
f
0
1
376
uma fam´ılia arbitr´ aria de conjuntos conexos Proposi¸ c˜ ao 86. Seja Xλ λ∈L por caminhos, num espa¸co m´etrico (M, [d). Se todos os Xλ contˆem um ponto comum a ∈ M , ent˜ ao a reuni˜ ao X = Xλ tamb´em ´e conexa por caminhos. λ∈L
Prova: Com efeito, dados x, y ∈ X, existem µ, ν ∈ L tais que x ∈ Xµ e y ∈ Xν . Existem, por hip´ otese, dois caminhos f : [ 0, 1 ] −→ Xµ e g : [ 0, 1 ] −→ Xν tais que f (0) = x, f (1) = a, g(0) = a e g(1) = y, j´a que o ponto a pertence a todos os Xλ . Justapondo os caminhos f e g obtemos um caminho ligando x a y. X 1
f
Xµ
f (0) = x
Xν
0
g
1 0
g(1) = y f (1) = g(0) = a
f ∨g 0
1
Um conjunto com partes disjuntas e conexo por caminhos Na p. 354 exibimos um conjunto, com partes disjuntas, e conexo, mas n˜ ao conexo por caminhos (p. 373). Vamos agora construir uma fam´ılia de conjuntos com partes disjuntas e, mesmo assim, conexos por caminhos. Creio que o exemplo que estaremos exibindo aqui seja o primeiro na literatura matem´ atica − pelo ao menos nos trˆes livros sobre espa¸cos m´etricos constantes em nossas referˆencias n˜ ao consta nenhum exemplo do gˆenero. Para facilitar a exposi¸c˜ ao, torn´ a-la mais did´ atica, exibiremos nosso objeto em um caso particular, o caso geral n˜ ao apresentar´ a dificuldades. Enunciaremos nosso resultado (“monstrinho”) na forma de um Teorema 6 (Gentil/11.09.2008). Afirmamos que o conjunto a seguir
0
1 3
2 3
1
´e conexo por caminhos − quando se considera a m´etrica quˆ antica no intervalo unit´ ario. 377
Traduzindo em termos intuitivos, o que estamos afirmando ´e que dados dois pontos quaisquer neste conjunto, como, por exemplo os pontos p e q vistos a seguir s
1 3
p
0
2 3
s
q
1
podemos uni-los por um tra¸co cont´ınuo, sem abandonar o conjunto. De outro modo: sentando a ponta de um l´apis no primeiro ponto, p, podemos atingir o segundo ponto, q, sem levantar a ponta do l´apis e sem sair do conjunto. Prova: Para n˜ ao complicar desnecessariamente a prova do nosso teorema observamos que, se os dois pontos dados no conjunto encontram-se de um mesmo lado, ent˜ ao eles podem ser ligados “trivialmente”. (p. 368) De formas que o problema maior ´e quando os pontos dados situam-se em lados opostos − ´e esse o caso que estaremos considerando. Observamos ainda mais o seguinte, dados dois pontos p e q, como na figura anterior, ligaremos inicialmente (e trivialmente) o ponto p `a origem, assim: s
1 3
p
0
2 3
s
q
1
e, ap´ os, ligaremos a origem a algum ponto “do outro lado”. De formas que todo o nosso desafio se resume em ligar a origem a um ponto qualquer do outro lado, veja: s
?
0
2 3
s
q
1
Buscaremos um caminho inspirados na figura seguinte λ(1)
1
s
λ ↑
0 0
2 3
1
λ(0)
Ou seja, λ(0) ser´ a o in´ıcio do caminho e λ(1) o seu t´ermino. Ou ainda, quando a ponta do l´ apis estiver na origem do intervalo, sua imagem estar´ a na 378
origem do conjunto. Quando a ponta do l´apis estiver no topo do intervalo, sua imagem estar´ a no ponto 2/3 do conjunto. Nestas condi¸c˜ oes o gr´ afico a seguir ser´ a de grande aux´ılio:
λ(t) 1 2 3
0
rs
t
λ
0
t p →
1
Desse gr´ afico deduzimos a seguinte express˜ ao para o caminho λ:
λ(t) =
0,
t = 0;
1 − 1 t, 0 < t ≤ 1. 3
(7.5)
Onde t ´e um parˆ ametro que indica a posi¸c˜ao da ponta do l´apis no intervalo [ 0, 1 [ e λ(t) ´e a imagem da ponta no conjunto dado. Fa¸camos algumas simula¸c˜ oes no sentido de entender graficamente o que se passa. Utilizando a equa¸c˜ ao (7.5), calculamos: t=0
⇒ λ(0) = 0
t=
1 4
⇒ λ( 41 ) = 1 −
1 3
·
1 4
=
11 12
= 0, 917
t=
1 2
⇒ λ( 21 ) = 1 −
1 3
·
1 2
=
5 6
= 0, 833
t=
3 4
⇒ λ( 43 ) = 1 −
1 3
·
3 4
=
3 4
= 0, 750
t=1
⇒ λ(1) = 1 −
1 3
·1=
2 3
= 0, 667
Geometricamente, fica assim: 379
1
↑
1 4
λ( 12 )
p
λ(1) 1 2
s
λ
2 3
0
p
p
3 4
0
λ( 34 )
λ(0)
1 λ( 14 )
Do exposto podemos concluir que quando o l´apis aponta para a origem do intervalo sua imagem encontra-se na origem do conjunto − in´ıcio do caminho. Se dermos qualquer deslocamento ao l´apis − mesmo que um “infinit´esimo” − sua imagem comparece “instantˆaneamente” “do outro lado” do conjunto, e ` a medida que deslocamos o l´apis o caminho vai sendo descrito:
1 2
l´apis
↑
p
1
λ(0)
λ(1)
s
λ
0
2 3
← 1
0
O que dissemos pode ainda ser visto no seguinte gr´ afico, observe: λ(t) 1 2 3
0
rs 0
t
→
1
Para que o nosso extraordin´ ario feito esteja devidamente (matem´ aticamente) consolidado, resta um por´em. A defini¸c˜ao 48 (p. 365) exige que o caminho λ seja cont´ınuo. Em termos intuitivos, o tra¸cado (imagem) do l´apis deve ser cont´ınuo, isto ´e, n˜ ao deve apresentar nenhum “salto”. Aqui apenas mencionamos que o ponto “mais delicado” ocorre quando movemos o l´apis da origem e sua imagem “salta” instˆ antaneamente para o outro extremo do intervalo. Podemos questionar se esse “salto” se d´ a de forma cont´ınua. A resposta ´e pela afirmativa, o que, a estas alturas ´e f´acil provar. 380
Mostramos anteriormente (p. 116) que a raz˜ ao pela qual a origem pode estar em muitos lugares simultˆ aneamente ´e o formato da onda centrada nela. Essa continua sendo, precisamente, a raz˜ ao pela qual o “salto” referido anteriormente se d´ a de modo cont´ınuo (suave). Acontece que os nossos olhos nos dizem que a origem na figura a seguir s
2 3
0
s
q
1
encontra-se isolada da regi˜ ao ` a direita. Ora, mas isso ´e apenas uma ilus˜ ao de ´otica; digo, de l´ ogica, uma vez que na m´etrica quˆantica podemos dizer que, na verdade, a origem ´e aderente `a regi˜ ao, em raz˜ ao de que podemos sempre exibir um ponto da regi˜ ao arbitrariamente pr´ oximo da origem. Melhor dizendo, a distˆ ancia da origem para a regi˜ ao `a direita ´e nula, em fun¸c˜ao de que toda onda centrada nela, intercepta a regi˜ ao, observe uma delas: O
s
) 2 3
0
s
(
O
q
1
Na figura a seguir
1 2
l´apis
↑
p
1
λ
O
s
)
(
0
2 3
λ(0)
λ(1)
R
O 1
0
toda Onda de centro na origem intercepta a regi˜ ao R `a direita, por essa raz˜ ao a distˆ ancia da origem para essa regi˜ ao ´e nula, o que significa que arbitrariamente pr´ oximo da origem encontramos um ponto da regi˜ ao; sendo assim, ao movermos a ponta do l´ apis, um infinit´esimo que seja, sua imagem aparece “do outro lado” sem qualquer descontinuidade, isto ´e, de modo cont´ınuo. Lembramos que a equa¸c˜ ao dada em (7.5) (p. 379) nos fornece, na regi˜ ao R, o ponto que ´e imagem da ponta do l´apis em qualquer posi¸c˜ao do intervalo.
381
A maior dificuldade em rela¸c˜ao ao teorema 6 (p. 377) n˜ ao residiu tanto em sua demonstra¸c˜ ao mas sim em sua descoberta. Tanto isso ´e verdade que at´e hoje n˜ ao encontramos na literatura um exemplo similar. A seguinte afirma¸c˜ ao de um matem´ atico profissional Outra maneira de exprimir a conexidade de um espa¸co ´e dizer que se pode passar de um qualquer de seus pontos para outro por um movimento cont´ınuo, sem sair do espa¸co. Isto nos leva ` a no¸ca ˜o de espa¸co conexo por caminhos, conceito mais particular e provido de mais significado intuitivo do que o conceito geral de espa¸co conexo. (Elon Lages) ´e o que me faz dar cr´edito ao que afirmo. O que devemos destacar na afirma¸c˜ ao acima − relativamente aos conjuntos conexos por caminhos − ´e a frase: “conceito mais particular e provido de mais significado intuitivo do que o conceito geral de espa¸co conexo”. A partir do nosso contraexemplo, isso deixa de ser verdade. Observando o conjunto a seguir
0
1 3
2 3
1
ningu´em diria que ele ´e conexo por caminhos e, ´e ´obvio, ningu´em iria tentar demonstrar o contr´ ario daquilo que “tem certeza” (que acredita). ´ precisamente neste contexto que afirmo que a vis˜ao (f´ısica, corp´ E orea) pode nos cegar. Antes de demonstrar o teorema em quest˜ao, trabalhei exaustivamente durante dois dias tentando provar o contr´ ario − isto ´e, que o conjunto acima n˜ ao ´e conexo por caminhos −, lembro que certa feita at´e consegui provar isto; para, posteriormente, detectar uma falha na minha “prova”. Em dado momento, num ato de desespero, tive que cerrar os “olhos” e tentar demonstrar o contr´ ario do que eu acreditava − digo, do que meus olhos me davam a certeza: “Cuidado com a vis˜ ao! . . . ela pode nos cegar! ” Por oportuno, um outro exemplo em que acredito que a vis˜ao esteja cegando os cientistas ´e no que se refere `a compreens˜ao dos fenˆomenos “n˜ aolocais” na f´ısica quˆantica. Daqui a pouco estaremos voltando a esse tema. ∗
∗
∗
Schwarz viu algo na teoria das cordas que outros poucos viram, uma beleza matem´ atica essencial que ele sentiu que n˜ ao podia ter sido acidental. A teoria era dif´ıcil de ser desenvolvida, mas isso n˜ ao o desanimou. Ele estava tentando resolver um problema que confundiu Einstein e todo mundo depois de Einstein − reconciliar a teoria quˆ antica com a relatividade. A solu¸ca ˜o n˜ ao poderia ser f´ acil. (A janela de Euclides, p. 218) 382
Um conjunto conexo por caminhos em 2 − D
Por raz˜ oes an´ alogas ` as da constru¸c˜ao anterior∗ , podemos afirmar que o conjunto ` a esquerda, na figura a seguir
r
r
sr
´e conexo por caminhos. De outro modo: podemos ligar dois pontos quaisquer desse conjunto por um tra¸co cont´ınuo totalmente contido no conjunto. Isso ´e poss´ıvel devido ao formato da onda de centro na origem.
Topologia quˆ antica Deve estar ficando f´ acil ver por que f´ısica e mistiscismo se cruzam. Coisas separadas mas sempre se tocando (n˜ ao-localidade); el´etrons que se movem de A para B sem nunca passar entre esses pontos. (Referˆ encia no rodap´ e p. 98)
Nosso objetivo agora ser´ a referendar matem´ aticamente a afirmativa da f´ısica quˆantica − j´a comprovada em laborat´ orio − de que “el´etrons se movem de A para B sem nunca passar entre esses pontos.” Mais precisamente, provaremos que isto ´e poss´ıvel para um ponto geom´etrico e raciocinamos: se isto ´e poss´ıvel para um ponto, que ´e indimensional, n˜ ao temos por que duvidar de que seja poss´ıvel para uma entidade f´ısica. Para trazer a citada assertiva quˆantica para o dom´ınio da matem´ atica precisamos de duas defini¸c˜ oes: • (Transitar) Diremos que um objeto pode transitar entre duas (ou mais) regi˜ oes se existe um caminho ligando este objeto a qualquer ponto destas regi˜ oes. • (Transitar sem passar por pontos interm´ edios) Diremos que um objeto transita (ou pode transitar) entre duas regi˜ oes disjuntas − sem passar por pontos interm´edios − quando existe um caminho ligando este ponto a qualquer outro ponto destas regi˜ oes e, caminho este, totalmente contido nestas regi˜ oes. ∗
Ou via produto cartesiano, prop. 85, p. 376.
383
Se todos estamos de acordo com estas defini¸c˜oes ent˜ao decorre, como um corol´ ario de nosso teorema, que: Um ponto quˆ antico pode transitar entre duas regi˜ oes sem passar pelos pontos interm´edios.∗ Como um exemplo, moveremos o ponto quˆantico p, na figura a seguir t
B
A p=
0
p
2 3
1 3
1 6
5 6
1
de A para B, sem passar pelo hiato central. A estrat´egia consistir´a no seguinte: Inicialmente ligaremos o ponto p `a origem e, em seguida, ligaremos a origem ao ponto q, como na figura: B
A
t
p=
0
pt
2 3
1 3
1 6
q=
5 6
1
Pois bem, dos gr´ aficos a seguir f (t)
g(t)
1
1 5 6
1 6
t
0
0
rs
t
g
f
0
t p →
1
0
t p →
1
deduzimos as seguintes express˜ oes para os caminhos: f (t) =
1 (1 − t) 6
∗ Estamos antico um ponto do universo considerando como um ponto quˆ [ 0, 1[ n , k , onde k ´e a m´etrica quˆ antica na dimens˜ ao n correspondente.
384
e
0,
g(t) =
t = 0;
1 − 1 t, 0 < t ≤ 1. 6
Justapondo estes caminhos, isto ´e, aplicando a equa¸c˜ao (7.3) caminhos deduzidos anteriormente, obtemos:
λ(t) =
1 6
(p. 366)
aos
se 0 ≤ t ≤ 21 ;
(1 − 2t),
0, g(2t − 1) = 1 − 1 (2t − 1), 6
2t − 1 = 0; 0 < 2t − 1 ≤ 1.
, se
1 2
≤ t ≤ 1.
onde fizemos λ = f ∨ g. Simplificando, obtemos:
λ(t) =
1 6
1 6
(1 − 2t), se 0 ≤ t ≤ 12 ; (7 − 2t), se
1 2
(7.6)
< t ≤ 1.
O gr´ afico de λ fica assim:
λ(t)
p
p
p
p
p
1 5 6
1 6
0
p
1 2
p1
t
Esse gr´ afico nos mostra que quando a ponta do l´apis est´ a na origem do intervalo unit´ ario (t = 0) sua imagem aponta para o ponto p = 16 . Ao movermos o l´ apis, o caminho vai sendo tra¸cado no sentido da origem (do conjunto), quando a ponta do l´ apis atinge a metade do intervalo, sua imagem encontra-se precisamente na origem do conjunto, veja isso graficamente 385
1
↑
l´apis
s
λ
p
1 2
t
0
p=
2 3
1 3
1 6
t
q=
5 6
1
0 λ( 12 )
λ(0)
λ(1)
Ao movermos o l´ apis a partir da metade, por um infinit´esimo que seja, sua imagem (o caminho) j´a aparece do “outro lado” do conjunto; quando a ponta do l´ apis alcan¸ca o topo do intervalo, alcan¸camos o fim do caminho, ponto q. A continuidade de λ no ponto “mais delicado” (t = 12 ) j´a foi provada no exemplo 5 (p. 245) − nos demais pontos deixamos por conta do estudante.
Nosso prod´ıgio apreciado de uma outra perspectiva
Vejamos uma outra perspectiva, perfeitamente v´alida, segundo a qual podemos compreender como na figura a seguir t
B
A p=
0
p
1 6
2 3
1 3
5 6
1
conseguimos mover o ponto p de A para B, sem passar pelo hiato central. J´ a vimos (ex. 3, p. 296) que o intervalo quˆantico ´e homeomorfo ao c´ırculo e, ademais, que a imagem de um conjunto conexo por uma aplica¸ca˜o cont´ınua ´e um conjunto conexo. (prop. 78, p. 353) O que significa que, topologicamente falando, s˜ ao equivalentes a conexidade no intervalo e no c´ırculo, veja:
f
t
B
A 0
p=
1 3
1 3
2 3
5 6
t
0 1 (1, 0)
p
1 6
A
1 2 3
pB
O homeomorfismo ´e dado por: f (t) = (cos 2π t, sen 2π t). Esta transforma¸c˜ ao “enrola” (sentido anti-hor´ ario) o intervalo no c´ırculo unit´ ario. 386
Interregno cultural: Nosso teorema e fenˆ omenos n˜ ao-locais Por exemplo: nenhum sinal pode ser transmitido mais depressa que a velocidade da luz. Mas, al´em dessas conex˜ oes locais, outro tipo de conex˜ oes, n˜ ao-locais, veio recentemente ` a luz; conex˜ oes que s˜ ao instantˆ aneas e que n˜ ao podem ser preditas, nos dias que correm, de uma forma precisa, matem´ atica. (Capra, Fritjof. O Tao da f´ısica/p. 230) Eu creio que nosso teorema pode contribuir para predizer “de uma forma precisa, matem´ atica” fenˆomenos n˜ ao-locais no dom´ınio da f´ısica quˆantica. Com efeito, estribados em nosso teorema conjecturamos que se no mundo subatˆomico da f´ısica quˆantica um objeto pode estar em v´arios lugares simultˆ aneamente e, ademais, pode transitar em v´arias regi˜ oes − disjuntas − sem passar por pontos interm´edios, s´ o pode ser em raz˜ ao de que o microcosmo tal como o macrocosmo (da teoria da gravita¸c˜ao de Einstein) ´e curvo! Ou ainda: a geometria do submundo quˆantico n˜ ao ´e euclidiana (plana) mas sim curva, tal como a geometria de Einstein. Pergunto: n˜ ao ´e precisamente isto que a teoria f´ısica das supercordas conjectura ao afirmar a respeito das “microdimens˜oes enroladas”? ´ poss´ıvel que aqui resida o quid que falta para a unifica¸c˜ao da teoria E quˆantica com a gravita¸c˜ ao: o universo subatˆomico ´e curvo, ou ainda: deve existir uma u ´nica geometria (m´etrica) que unifica ambos os dom´ınios! Penso que esta conjectura encontra respaldo em nosso teorema! − Conjecturamos tamb´em da plausibilidade da m´etrica quˆantica se aplicar ao microcosmo das part´ıculas quˆanticas.
Nosso universo e o segundo postulado de Einstein Einstein, em 1905, publica numa revista cient´ıfica alem˜ a o trabalho intitulado “Sobre a eletrodinˆ amica dos corpos em movimento”, este trabalho se desenvolveu alicer¸cado sobre dois postulados (afirma¸c˜oes aceitas como v´alidas, sem necessidade de demonstra¸c˜oes). O primeiro destes postulados foi chamado por Einstein de Princ´ıpio da relatividade: Postulado 1: As leis da f´ısica s˜ ao as mesmas para todos os referenciais ∗ inercias . N˜ao existe um referencial absoluto. Postulado 2: A velocidade da luz no v´acuo tem o mesmo valor c em qualquer referencial inercial, independentemente da velocidade da fonte de luz. Este segundo postulado foi o mais dif´ıcil de ser aceito, mesmo por f´ısicos famosos, pois contraria nossa experiˆencia di´ aria (o “bom senso”). ∗
Referenciais inerciais s˜ ao aqueles em que as leis de Newton s˜ ao v´ alidas.
387
Ainda decorre deste segundo postulado que nenhum sinal (informa¸c˜ao) pode ser transmitido com velocidade superior `a da luz. Em f´ısica, uma “conex˜ao local” ´e qualquer “conex˜ao” entre dois pontos que obedece o segundo postulado de Einstein − isto ´e, que d´ ar-se com velocidade n˜ ao superior a da luz. ` Entretanto, recentemente foram observados − no dom´ınio quˆantico − fenˆomenos f´ısicos que, aparentemente, se d˜ ao a uma velocidade instantˆanea; ou seja, ` a primeira vista, estes fenˆomenos (chamados “n˜ ao-locais”) parecem violar o segundo postulado de Einstein. Creio que com o aux´ılio do nosso teorema 6 (p. 377) podemos lan¸car uma luz nesta quest˜ ao − ainda hoje controvertida, isto ´e, ainda n˜ ao satisfatoriamente compreendida. Vamos considerar, para efeitos de argumenta¸c˜ao, os dois universos seguintes: e E = [ 0, 1 [, µ U = [ 0, 1 [, k Da experiˆencia obtida com o teorema 6 creio que o que nos impede de compreender satisfatoriamente a “n˜ ao-localidade” ´e que somos v´ıtimas de uma “mente euclidiana”, digo, ami´ ude, estamos tentando ver (explicar) os fenˆomenos presos a um modelo “linear” de tempo e espa¸co. Inicialmente vamos argumentar no sentido de mostrar que esta vis˜ao euclidiana, arraigada no psicol´ ogico (mente) dos cientistas, pode f´acilmente induzi-los ao erro; digo, podem − inadvertidamente − concluir que nos fenˆomenos n˜ ao-locais a informa¸c˜ao viaja com velocidade instantˆanea − ver cita¸c˜ ao em ep´ıgrafe. (Capra, p. 387) De fato, retomemos nosso sistema analisado anteriormente (o qual repetimos aqui para comodidade do leitor): 1
r
λ
0
0
2 3
1
Aqui, no instante t = 0 a imagem da ponta do l´apis encontra-se na origem, 0, do sistema. Um “infinit´esimo” de tempo depois esta mesma imagem encontra-se no outro extremo do intervalo, assim: 1
↑
r
λ
0
0
← 2 3
1
Esse fenˆomeno∗ pode ser analisado de duas perspectivas: ∗
A informa¸c˜ ao (imagem da ponta do l´ apis) viaja da origem do conjunto ao extremo
388
1a ) No universo euclidiano E. Inicialmente observe que o nosso espa¸co [ 0, 1 [ ´e normalizado (tem comprimento unit´ ario), o que significa que o comprimento “1”, pode significar um cent´ımetro, um metro, um kilˆometro, um ano-luz, etc., n˜ ao importa. Pois bem, no universo euclidiano† sendo a distˆ ancia entre a origem e o outro extremo do conjunto n˜ ao nula, a conclus˜ao, naturalmente, ´e a de que a informa¸c˜ ao viajou instantˆ aneamente, contrariando assim o segundo postulado de Einstein. 2a ) No universo quˆantico U . Neste universo a interpreta¸c˜ ao do fenˆomeno muda radicalmente. Com efeito, pr´ a come¸car n˜ ao existe nenhuma distˆ ancia entre a origem e o extremo direito do conjunto (universo) − de fato a distˆ ancia ´e nula. Sendo assim, neste universo, a informa¸c˜ao n˜ ao precisa viajar com velocidade instantˆ anea, uma vez que n˜ ao deve cobrir nenhuma distˆ ancia. Vimos, ademais, que a raz˜ ao para que a referida distˆ ancia seja nula ´e que toda Onda de centro na origem intercepta o extremo direito do intervalo, veja: 1
↑
r )
λ
0
0
|
{z O
← ( }
1
Conclus˜ ao: Para salvar-mos o segundo postulado de Einstein devemos concluir que o universo no qual se d˜ ao os fenˆomenos n˜ ao-locais − na f´ısica quˆantica − n˜ ao ´e o euclidiano; digo, a m´etrica subjacente a esses fenˆomenos n˜ ao ´e a usual. Por conseguinte, conjecturamos que “toda aquela distˆ ancia”, entre as partes do sistema, que os cientistas vˆeem nos fenˆomenos de a¸c˜ao `a distˆ ancia, n˜ ao existe, ´e nula! Dos argumentos anteriores podemos concluir que esta distˆ ancia ´e nula porque existem ondas ligando as partes do sistema; ou seja, a distˆ ancia existe para a vista f´ısica mas, na verdade, inexiste por conta de que as partes do sistema est˜ ao conectadas por ondas. “Cuidado com a vis˜ ao! . . . ela pode nos cegar! ”
O universo U como modelo para o nosso Universo J´ a provamos que no universo quˆantico podemos justificar matem´ aticamente alguns fenˆomenos da f´ısica quˆantica. Animados por estes resultados ´e que ousamos propor nosso universo ( [ 0, 1 [, k ) como um modelo (isomorfismo) para o nosso Universo (digo, nosso Universo de verdade!). direito do intervalo [ 32 , 1 [. † Que ´e a distˆ ancia que, ami´ ude, se tem em mente; ou ainda, ´e o que os nossos olhos vˆem “em toda parte”.
389
Argumentarei com um universo unidimensional, apenas por raz˜ oes did´ aticas, isto ´e, para facilitar minha exposi¸c˜ao e, concomitantemente, facilitar o entendimento do leitor − haja vista que meus argumentos podem f´acilmente ser transferidos para qualquer dimens˜ao (hipercubo), digo, para o universo: U = ( [ 0, 1 [ n , k ). Retomando, inicialmente observo que nosso universo comporta at´e o modelo te´ orico do Big Bang, assim: 0
1
↑
↑
-Origem -Singularidade -Big Bang
-Expans˜ao
U
-Fronteira
Vejam algumas das propriedades do nosso universo: − Limitado; − Conexo por caminhos;
− Compacto† ; − “Curvo” (por conta de sua m´etrica, onda, topologia); − Fronteira aberta; − Em Expans˜ao.
Nota: Com expans˜ ao, quero dizer que nosso universo (intervalo) pode ser expandido (ou “dilatado”) `a vontade e ainda assim manter´ a suas propriedades topol´ ogicas. Nosso universo est´ a “normalizado”. − Como j´a vimos, em nosso universo podemos at´e justificar fenˆomenos n˜ ao-locais (“instantˆ aneos”), da f´ısica quˆantica, por conta da onda de centro na origem, lembramos: 1
↑
r )
λ
0
0
|
{z O
← ( }
1
Para fazer uma ponte, ou ainda, estabelecer um caminho entre nosso modelo te´ orico e nosso Universo ´e que terei que levantar uma conjectura, qual seja: “No Big Bang (origem do nosso Universo) foi gerada uma Onda e esta onda conecta a origem com sua fronteira”. Logo, por conta desta onda (“campo”) ´e que podemos explicar fenˆomenos n˜ ao-locais da f´ısica; igualmente como se d´ a em nosso modelo te´orico. †
A ser provado no cap´ıtulo 9.
390
Observemos esta onda em nosso modelo bidimensional:
O s
s
sr
Admitindo essa Onda como um modelo para a “onda primordial” (digo, a onda gerada no Big Bang) podemos dizer que a mesma ´e conexa por caminhos, ou ainda: conecta (por caminhos) todo o Universo. Insisto: Esta Onda (primordial) ´e quem transmite informa¸c˜oes “instantˆaneas” ` as diversas partes do nosso Universo que, volto a lembrar, ´e conexo! (por caminhos, justamente por conta desta Onda). Observe que nosso modelo nos permite fazer algumas previs˜ oes interessantes (surpreendentes) tais como: suponhamos que em nosso Universo surjam alguns “buracos negros” (t´ uneis, hiatos, etc.) tais como, 1
1
⇒
[ 0, 1 [ × [ 0, 1 [
0
0
1
1
N˜ao h´ a o menor problema pois todas as partes remanescentes continuam interagindo entre si (continuam intercomunicantes); digo: a informa¸c˜ao pode transitar livremente entre os “peda¸cos” de nosso Universo; ou ainda: um objeto (ponto) pode transitar livremente entre as partes. Isto se deve a que nosso Universo mutilado continua conexo por caminhos e, esta conexidade se deve ` a Onda, veja: Observe que 1 conseguimos colocar nosso Universo − isto ´e, uma r´eplica dele − em uma casca de noz: [ 0, 1 [. Como 0 s diria Stephen Hawking.
Para ver o Mundo em um Gr˜ ao de Areia, E um C´ eu em uma Flor Selvagem, Pegue o Infinito na Palma de sua m˜ ao, E a Eternidade em uma hora. (William Blake/Poeta) 1
391
7.4
Espa¸ cos localmente conexos
Defini¸ c˜ ao 51 (Espa¸co localmente conexo). Um espa¸co m´etrico (M, d) se diz localmente conexo, quando para todo p ∈ M e todo aberto U contendo p existir um aberto conexo V , tal que p ∈ V ⊂ U . Exemplos: 1) O espa¸co (R, µ) ´e localmente conexo. Com efeito, sejam p ∈ R e um aberto U tal que p ∈ U . Sendo assim, p ´e ponto interior de U , o que significa que existe r > 0 tal que B(p; r) = ] p − r, p + r[ ⊂ U Como todo intervalo aberto ´e conexo, podemos tomar V = ] p − r, p + r[, e concluir pela conexidade local de R.
]
[
R
p+r
p−r
s
p
Uց
V
2) Considere o seguinte subconjunto do plano N=
(x, y) ∈ R2 : x = 0 ou y = 0 ou y =
1 com n ∈ N n
x=0 y=1
y= 12
↓
y=0
Este ´e um exemplo de um conjunto conexo (por caminhos) mas n˜ao localmente conexo. Provaremos a segunda assertiva e deixaremos a primeira como exerc´ıcio. Com efeito, inicalmente fixemos um ponto p ∈ M e um aberto contendo p, assim: p = (1, 0) ∈ U = B (1, 0); 1) 392
Lembramos que B (1, 0); 1) − a bola no subespa¸co (N, Di ) − ´e a interse¸c˜ao da bola B (1, 0); 1) no espa¸co (R2 , Di ) com o subconjunto N . Considerando a m´etrica usual, temos: x=0 y=1
y= 12
r
↓
y=0
(1, 0)
Ou ainda: U = B (1, 0); 1
y= 12
r
↓
y=0
(1, 0)
Seja V ⊂ U um aberto arbitr´ario contendo p = (1, 0). Provaremos que nenhum de tais abertos pode ser conexo. Pois bem, sendo V aberto existe r > 0 tal que B (1, 0); r) ⊂ V Pela proposi¸c˜ ao 24 (p. V = A ∩ U , digamos: U = B (1, 0); 1
193)
existe um aberto A em (R2 , D1 ) de modo que
y= 12
↓
r
(1, 0)
393
y=0 A
Logo V
r
↓
(1, 0)
Como diz´ıamos existe r > 0 tal que B (1, 0); r) ⊂ V
V
⇒ r
↓
(1, 0)
B((1, 0); r) B((1, 0); r)
n
r
↓
(1, 0)
Pela propriedade arquimediana existe um natural n0 tal que sendo assim temos que
(1,
1 n0 )
∈ B((1, 0); r)
B((1, 0); r)
n
rւ
r
↓
1 n0
(1,
1 n0
< r,
)
(1, 0)
Vamos considerar os seguintes subconjuntos A = V ∩ (x, y) ∈ N : y >
V
↓
r
(1, 0)
1 n0 + 1
↑A ↓B
y=
e
1 n0 + 1
1 B = V ∩ (x, y) ∈ N : y < n0
↓
rւ
r
(1, 0)
(1,
1 n0
)
o
B((1, 0); r)
Observe que A e B s˜ ao n˜ ao-vazios porquanto, 1,
1 ∈A n0
e
(1, 0) ∈ B
A e B s˜ ao abertos disjuntos em V e, ademais, V = A ∪ B; logo o par A, B constitui uma desconex˜ ao de V , isto ´e V ´e desconexo e resulta que N n˜ ao ´e localmente conexo. 394
Justificativa: Queremos justificar, com detalhes, a afirmativa feita anteriormente de que A e B s˜ ao abertos em V . Primeiramente observamos que cada linha y = n1 ∈ N ´e um conjunto aberto no subespa¸co (N, D1 ). Com efeito, fixemos uma de tais linhas; cada um de seus ponto ´e ponto interior, 1 uma vez que podemos escolher r = n1 − n+1 e obter B(p; r) = B(p; r) ∩ N ⊂
(x, y) ∈ N : y =
1 n
A figura a seguir ilustra a afirma¸c˜ao para o caso particular n = 2 (linha y = 12 ). x=0 y=1
sւ
B(p; 16 )
y= 12
p
y= 31
↓
y=0
Sendo assim, os conjuntos
(x, y) ∈ N : y >
1 n0 + 1
e
1 n0
(x, y) ∈ N : y <
reuni˜oes de tais retas (abertos) s˜ ao abertos em N .
(prop. 23, p. 192)
Logo, tendo em conta “a volta” (⇐=) da prop. 24 abertos no subespa¸co (V, D1 ).
(p. 193)
A e B s˜ ao
Proposi¸ c˜ ao 87. Todo subespa¸co aberto de um espa¸co localmente conexo ´e localmente conexo. Prova: Seja (M, d) um espa¸co localmente conexo e A ⊂ M um aberto. Fixado um ponto p ∈ A e um aberto (em (A, d)) U contendo p, como (prop. 25, p. 194)
(M, d) A ◦
s
◦
U (A, d) = U (M, d)
p
395
U
Logo, U ´e tamb´em um aberto em (M, d). Sendo M localmente conexo existe um aberto conexo V (em (M, d)) contendo p tal que V ⊂ U ; logo V ⊂ A e como ◦ ◦ p ∈ V (M, d) = V(A, d) temos que o conexo V ´e tamb´em um aberto assim, A ´e localmente conexo.
(em (A, d))
contendo p. Sendo
(M, d) A
s
p
7.5
U V
Componentes Conexas
Defini¸ c˜ ao 52 (Parti¸c˜ ao de um conjunto). Chama-se parti¸ca ˜o de um conjunto n˜ ao vazio A todo conjunto P cujos elementos s˜ ao subconjuntos n˜ ao vazios de A, disjuntos dois a dois e cuja reuni˜ ao ´e A. Em outros termos, parti¸ca ˜o de um conjunto n˜ ao vazio A ´e todo conjunto P cujos elementos s˜ ao subconjuntos de A que satisfazem as trˆes seguintes condi¸co ˜es: (i) ∀X ∈ P X 6= ∅ (ii) ∀ X, Y ∈ P e X 6= Y X ∩ Y = ∅ (iii)
[
X=A
X∈P
Cada elemento do conjunto P chama-se uma cela da parti¸c˜ao. Todo elemento do conjunto A pertence a uma e somente uma cela da parti¸c˜ao P. Nosso objetivo agora ser´ a mostrar a existˆencia de importante parti¸c˜ao em todo espa¸co m´etrico (M, d): ou este ´e conexo ou ´e formado de partes conexas, disjuntas entre si. (M, d)
396
Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e fixemos p ∈ M . Seja Ap = Ai a cole¸c˜ao dos subconjuntos conexos de M que contˆem p. Ap n˜ ao ´e vazia pois { p } ∈ Ap (ex. 1, p. 350). S Consideremos ainda Cp = i Ai e provemos que
(a) Cp ´e conexo;
(b) Se B ´e um conjunto conexo de M contendo p, ent˜ao B ⊂ Cp ; (c) Cp ´e um conjunto conexo maximal de M (isto ´e, Cp ´e o maior subconjunto conexo de M que cont´em p); (d) Cp ´e um conjunto fechado. De fato, (a) Como cada Ai ∈ S P cont´em p ent˜ao p ∈ 81 (p. 361) Cp = i Ai ´e conexo.
T
i
Ai , e assim, pela proposi¸c˜ao
(b) Se B ´e um subconjunto conexo de M contendo p, ent˜ao B ∈ Ap e, S assim, B ⊂ Cp = {Ai : Ai ∈ Ap }.
(c) Seja Cp ⊂ D, sendo D conexo. Como
[ { p } ∈ Ap = Ai ⇒ p ∈ Cp = Ai ⇒ p ∈ D i
logo, por (b), D ⊂ Cp ; isto ´e, Cp = D. (d) De fato, o fecho C¯p de Cp ´e conexo (proposi¸c˜ao 79, p. 353). Se Cp n˜ ao fosse fechado, a inclus˜ao Cp ⊂ C¯p seria pr´ opria, contradizendo (c) ¯ acima. Portanto Cp = Cp . Para cada p ∈ M , Cp ´e chamada componente conexa de p. Os fatos b´ asicos referentes ` as componentes conexas de um espa¸co (M, d) acham-se englobados na seguinte Proposi¸ c˜ ao 88. As componentes conexas de um espa¸co m´etrico (M, d) formam uma parti¸ca ˜o de M . Ademais, todo subconjunto conexo de M est´ a contido em alguma componente. Prova: (i) ∀ Cp Cp 6= ∅, pois p ∈ Cp . (ii) ∀ Cp , ∀ Cq ; p 6= q Cp ∩ Cq = ∅
Mostremos que componentes distintas s˜ ao disjuntas, ou, de modo equivalente, se Cp ∩ Cq 6= ∅, ent˜ ao Cp = Cq .
De fato, se existisse x ∈ Cp ∩ Cq , ent˜ao a reuni˜ao Cp ∪ Cq tamb´em seria conexa e, pelo ´ıtem (c) provado anteriormente, Cp = Cp ∪ Cq , ou seja, 397
Cq ⊂ Cp . Analogamente se chegaria a que Cp ⊂ Cq e, por conseguinte, valeria a igualdade Cp = Cq . S ´ (iii) Obviamente M= Cp : p ∈ M .
Finalmente, se X ´e um subconjunto conexo n˜ ao-vazio de M , ent˜ao X cont´em um ponto p0 ∈ M e, assim, X ⊂ Cp0 , pelo ´ıtem (b) provado anteriormente. E, se X = ∅, ent˜ao X est´ a contido em toda componente.
Exemplos: a) Seja o espa¸co (M, µ) onde M = [ 0, 1 ] ∪ [ 2, 3 ]. Consideremos, por exemplo, o ponto p = 0. Ent˜ao, A0 = Ai ´e a cole¸c˜ ao dos subconjuntos conexos de M que contˆem 0. Como todo subconjunto conexo na reta ´e um intervalo, pertencem a A0 : { 0 }, Ai = [ 0, i [,
0
0
Ai = [ 0, i ],
Ent˜ ao C0 =
[
0
Ai = [ 0, i [ ∪ [ 0, i ] = [ 0, 1 ].
Observe que C0 = Cp , 0 ≤ p ≤ 1. De modo semelhante concluimos que C2 = [ 2, 3 ]. b) Se um espa¸co ´e conexo ent˜ao obviamente s´ o h´ a uma componente conexa, que ´e o pr´ oprio espa¸co. Em particular no espa¸co (R, µ), Cp = R, onde p ∈ R pode ser arbitrariamente fixado. c) As componentes conexas do espa¸co (R, δ) s˜ ao subconjuntos unit´ arios de R (ex. 2, p. 350). De fato, se X ⊂ R ´e um subconjunto n˜ ao vazio e n˜ ao unit´ ario, tomandose p ∈ X os conjuntos A = X − {p} = 6 ∅
e
B = {p}
s˜ ao abertos e, al´em do mais, A ∩ B = ∅ e A ∪ B = X. Portanto X ´e desconexo. Por outro lado, todo subconjunto { p } ⊂ R ´e conexo. d) As componentes conexas do espa¸co (Q, µ) dos n´ umeros racionais s˜ ao subconjuntos unit´ arios de Q. De fato, se X ⊂ Q ´e um subconjunto n˜ ao vazio e n˜ ao unit´ ario, tomandose p, q ∈ X de modo que p < q, seja α um n´ umero racional entre p e q: p < α < q (lembre-se que Q ´e denso no espa¸co (R, µ)). Com raciocinio an´ alogo ao do exemplo 4 (p. 351) podemos mostrar que A = ] − ∞, α [ ∩ X
e 398
B = ] α, +∞ [ ∩ X
formam uma desconex˜ ao de X. Como, por outro lado, todo subconjunto unit´ ario de um espa¸co (M, d) ´e conexo, resulta que a cole¸c˜ao dos subconjuntos unit´ arios de Q ´e a cole¸c˜ ao das componentes deste espa¸co. e) Generalizando o exemplo anterior mostraremos que as componentes conexas de todo espa¸co (M, d) com M enumer´avel reduzem-se a um u ´nico ponto. Em outras palavras: se (M, d) ´e um espa¸co conexo com mais de um ponto ent˜ao M n˜ ao pode ser enumer´avel: H : M ´e conexo; 1 ⇒ T : M n˜ ao ´e enumer´avel. H : M tem mais 2 de um ponto. Prova: Com efeito, fixemos a ∈ M e consideremos a fun¸c˜ao
da : M −→ R x 7−→ d(x, a)
J´ a vimos
(p. 261)
xr
a
r b
R
(M, d)
r
da
rd(x, a)
⊢0
que da ´e cont´ınua. Sendo M conexo ent˜ao da (M ) = d(x, a) : x ∈ M = J
´e um intervalo. Como existe em M um ponto b 6= a, J cont´em os n´ umeros 0 = d(a, a) e d(a, b) > 0. Portanto J = da (M ) n˜ ao ´e um intervalo degenerado, isto ´e, ´e n˜ ao enumer´avel. Por conseguinte, M tamb´em n˜ ao ´e enumer´avel. Vejamos esta proposi¸c˜ ao sob outros ˆangulos: ¯ H1 ∧ T¯ −→ H 2 Isto ´e, se M ´e conexo e enumer´avel ent˜ao M n˜ ao tem mais de um ponto. Logo, os u ´nicos conjuntos conexos enumer´aveis s˜ ao os unit´ arios. ¯ H2 ∧ T¯ −→ H 1 Se M tem mais de um ponto e ´e enumer´avel ent˜ao M n˜ ao ´e conexo. Daqui conclui-se que as componentes conexas de todo conjunto enumer´ avel s˜ ao conjuntos unit´ arios. De fato, se uma componente conexa tiver dois elementos, digamos { a, b }, como cada conjunto unit´ ario ´e conexo ent˜ao { a, b } ∩ { a } = 6 ∅ 399
a intersec¸c˜ ao de duas componentes conexas n˜ ao seria vazia. ao os Em particular as componentes conexas de M = 0, 1, 12 , 13 , . . . s˜ conjuntos conexos 1 C0 = { 0 }, Cn = (n = 1, 2, 3, . . .) n
Conjunto de Cantor
O conjunto de Cantor ´e construido assim: dividimos o intervalo [ 0, 1 ] em trˆes partes iguais e removemos o intervalo aberto do meio, ( 13 , 13 ). Agora ficamos com dois intervalos fechados, I11 e I12 ; em cada um destes intervalos repetimos a mesma opera¸c˜ao, removendo os intervalos (abertos) do meio. Isto nos deixa com quatro intervalos fechados, I21 , I22 , I23 e I24 (veja figuras a seguir). Deste modo prosseguimos indefinidamente. O conjunto C de Cantor ´e o conjunto dos pontos n˜ ao removidos. 0
1
0
0
0
1 2 27 27
1 9
2 9
1 9
2 9
7 8 27 27
1 3
2 3
1 3
2 3
1 3
2 3
1
19 20 27 27
7 9
8 9
7 9
8 9
1 25 26 27 27
1
Para referˆencia futura destacamos que o conjunto de Cantor ´e um subconjunto fechado do espa¸co ([ 0, 1 ], µ). De fato, como cada intervalo aberto retirado de [ 0, 1 ] ´e um conjunto aberto em (R, µ), e tamb´em em ([ 0, 1 ], µ) (prop. 24, p. 193) para construir o conjunto de Cantor foi retirado de [ 0, 1 ] uma reuni˜ao de conjuntos abertos, que ´e por sua vez um conjunto aberto (prop. 23, p. 192) tanto em (R, µ), como tamb´ em em ([ 0, 1 ], µ). Logo, o conjunto de Cantor ´e complementar de um aberto, portanto fechado. ∗
∗
∗
A matem´ atica ´e um meio de caracterizar ou expressar uma estrutura. E o universo parece ter sido construido, em algum n´ıvel fundamental, a partir da estrutura matem´ atica. [. . .] Qual foi a evidˆencia que convenceu os antigos gregos de que o mundo ´e compreens´ıvel? Em parte foi a beleza da matem´ atica, especialmente a geometria e a teoria dos n´ umeros e, em parte, a obra pitag´ orica sobre a f´ısica dos instrumentos de corda e os tons musicais e, na astronomia, as regularidades dos movimentos dos planetas, dos c´eus estrelados e dos eclipses. (Gregory Chaitin/Metamat!) 400
7.6
Exerc´ıcios
1) No espa¸co ([ 0, 1 [, µ) mostre que I = [ 0, 1 [ −{ 21 } ´e desconexo.
2) No espa¸co ([ 0, 1 [, k) mostre que I = [ 0, 1 [−{ 12 } ´e conexo.
3) Mostre que X = [ 0, 1 ] ∪ [ 2, 3 ] ´e desconexo, com a m´etrica usual de R. 4) No espa¸co (R2 , D1 ), mostre que S 2 − { (0, 1) } ´e conexo.
Sugest˜ ao: Proje¸c˜ ao estereogr´afica.
5) Mostre que X ´e conexo se, e somente se, ∀ A ⊂ X com ∅ 6= A 6= X tivermos ∂A 6= ∅.
6) Se u e v s˜ ao pontos distintos de S 1 , mostre que S 1 − { u, v } ´e desconexo. 7) Mostre que o gr´ afico de uma fun¸c˜ao cont´ınua f : [ a, b ] −→ R ´e um subconjunto conexo do R2 . 8) Se um espa¸co m´etrico (M, d) possuir um subconjunto conexo e denso, mostre que M ´e conexo. 9) Sejam X e Y subconjuntos conexos de um espa¸co m´etrico (M, d) tais ¯ ∩ Y 6= ∅. Prove que X ∪ Y ´e conexo. que X 10) Sejam X e Y subconjuntos n˜ ao vazios de um espa¸co m´etrico (M, d) ¯ ∩ Y ) ∪ (X ∩ Y¯ ) = ∅. Prove que X ∪ Y ´e desconexo. tais que (X 11) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico tal que para quaisquer subconjuntos n˜ ao ¯ ∩ Y ) ∪ (X ∩ Y¯ ) 6= ∅. Prove que M ´e vazios X, Y ⊂ M , vale a rela¸c˜ ao (X conexo. 12) Na figura a seguir desloque “quanticamente” o el´etron da ´orbita A at´e a ´orbita B. A
0
1 3
B
ւ el´etron
2 3
Em resumo, encontrar um caminho ligando os pontos espa¸co quˆantico ([ 0, 31 ] ∪ [ 23 , 1 [, k).
1
1 3
e
2 3
− no sub-
Leio em uma publica¸c˜ ao eletrˆ onica∗ a respeito da hierarquia entrela¸cada:
De acordo com Doug Hofstadter, F´ısico e pesquisador de inteligˆencia artificial, em uma hierarquia entrela¸cada o n´ıvel superior (causa) gera e influi sobre o n´ıvel inferior (efeito) por meio de uma “descontinuidade” (um processo semelhante ao salto quˆ antico, que n˜ ao pode ser explicado em termos de mecanismos l´ ogicos). ∗
F´ısica E Consciˆencia No Pensamento De Mokiti Okada.
401
Aqui apenas observamos que em nosso universo, ([ 0, 1 [, k), o “salto quˆantico” entre duas ´ orbitas se d´ a de modo cont´ınuo (n˜ ao h´ a descontinuidade) e, ademais, pode ser explicado em termos de mecanismos l´ogicos. 13) Na figura a seguir conduza o el´etron da ´orbita A diretamente `a ´orbita C − sem passar pela ´ orbita B. A
B
C
1 4
¬1
3 4
s
0
2
s
1
1 4
Isto ´e, encontre um caminho ligando os pontos ponto 21 .
e
3 4,
sem incluir o
14) Na figura a seguir (esquerda) desloque “quanticamente” o el´etron at´e a posi¸c˜ ao A. 1
s← el´etron
s ← el´etron
2 3
rւ
A
s
rւ
A
s
2 3
0
1
Na figura da direita acrescentamos os detahes necess´arios. Em resumo, o aluno dever´ a encontrar um caminho − no subespa¸co quˆantico − ligando os pontos ( 13 , 23 ) e ( 32 , 13 ). 15) Prove que o conjunto N=
(ex. 2, p. 392)
(x, y) ∈ R2 : x = 0 ou y = 0 ou y =
´e conexo por caminhos.
1 com n ∈ N n
16) Considere os seguintes subconjuntos do plano R2 : Y = e
(x, y) ∈ R2 : y = 0 ou ou x =
X = Y ∪ { (0, 1) } 402
1 com n ∈ N n
(0, 1)
r
¬
y=0
0
← x= 12
x=1
Prove que X ´e conexo, mas n˜ ao conexo por caminhos. 17) Prove que todo espa¸co discreto ´e localmente conexo. 18) Prove que Q n˜ ao ´e localmente conexo. 19) Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos e seja f : M −→ N . Prove que se f ´e cont´ınua e aberta (p. 286) e M ´e localmente conexo, ent˜ao f (M ) ´e tamb´em localmente conexo. 20) Este exerc´ıcio tem como objetivo refor¸car a interpreta¸c˜ao de “fenˆomenos n˜ ao-locais” no universo quˆantico. Pois bem, retomemos o sistema (unidimensional) analisado anteriormente (o qual repetimos aqui para comodidade do leitor): (p. 378) 1
r
λ
0
0
2 3
1
Aqui, no instante t = 0 a imagem da ponta do l´apis encontra-se na origem, 0, do sistema X = { 0 } ∪ [ 23 , 1 [. Um “infinit´esimo” de tempo depois esta mesma imagem encontra-se no outro extremo do intervalo, assim: 1
↑
r
λ
0
0
← 2 3
1
Conclus˜ao: Em nosso universo o fenˆomeno da n˜ ao-localidade† se deve a que a onda de centro em 0 tem uma contra-parte no outro extremo do sistema, veja: † Digo, a imagem da ponta do l´ apis mover-se “instˆ aneamente” de uma extremidade ` a outra do sistema.
403
1
↑
r )
λ
0
0
{z
|
Bk (0; r< 21 )
← ( }
1
Ent˜ ao, esta onda que encontra-se de um extremo ao outro (de nosso universo) ´e que carrega (transfere) a informa¸c˜ao. Insistimos, ´e por causa desta onda que a informa¸c˜ao ´e transmitida de modo cont´ınuo, digo a continuidade de λ se deve `a esta bola, veja: (p. 111):
2 3
δ
0
1−ε 2 3
sε
)
sε
)
λ
)
)
λ δ
1
1−ε
(
(
1
0
Na figura da esquerda a ponta do l´apis aponta para a origem do intervalo ( t = 0 ), sua imagem aponta para o 0 do conjunto (isto ´e, λ(0) = 0). Na figura da direita movemos a ponta do l´apis de um “infinit´esimo” , a continuidade de λ exige que a imagem da ponta (seta em vermelho) caia dentro da bola Bk (0; ε); ora, como a aplica¸c˜ao λ ´e injetiva a imagem n˜ ao pode cair na “parte inferior” da bola, ent˜ao ter´ a que cair na “parte superior”, isto ´e, no outro extremo de X. Prove que para 0 < t < δ ⇒ 1 − ε < λ(t) < 1 e, ademais, prove, utilizando a proposi¸c˜ao 50 cont´ınua.
(p. 238),
que λ
(eq. 7.5, p. 379)
´e
Apˆ endice Ap´os minhas conjecturas, sobre a estrutura topol´ogica do nosso Universo − derivadas da m´etrica quˆantica − me deparei com algumas informa¸c˜oes na literatura que vˆem d´ a apoio a nossas afirmativas. Por exemplo: 1a ) No dia 18.09.2009 − aproximadamente um ano depois de minha conjectura (`a p´ag. 390) − encontro uma confirma¸c˜ao da mesma no livro “A MATRIZ DIVINA”, de Gregg Braden, onde lemos: 404
Em segundo lugar, aparentemente esse campo surgiu juntamente com a cria¸ca ˜o do universo − com o Big Bang, ou seja l´ a o que tenhamos ´ a natureza dessa conex˜ escolhido chamar de o “princ´ıpio”. [. . .] E ao sempre presente que possibilita a n˜ ao-localidade das coisas que existem dentro da Matriz. (Braden, p. 72) 2a ) No dia 21 de fevereiro de 1870, William Kingdon Clifford apresentou um artigo para a Cambridge Philosophical Society (Sociedade Fil´ofica de Cambridge), intitulado “Sobre a Teoria Espacial da Mat´eria”. No seu artigo, Clifford proclamou ousadamente∗ : Na verdade, eu mantenho que: (1) as pequenas por¸co ˜es do espa¸co s˜ ao de uma natureza an´ aloga aos pequenos montes numa superf´ıcie que ´e, na m´edia, plana, (2) a propriedade de ser curvo ou distorcido ´e transmitida continuamente de uma por¸ca ˜o de espa¸co para outra como uma onda; (3) esta varia¸ca ˜o da curvatura do espa¸co ´e realmente o que acontece naquele fenˆ omeno que chamamos de movimento da mat´eria. . .
oria curva de el´ etrons ´ e observada pela primeira vez 3a ) Trajet´ Quando part´ıculas carregadas, como os el´etrons, viajam por um campo magn´etico, a trajet´oria fica curvada por esse campo, e acaba se tornando um c´ırculo. Quanto maior a for¸ca do campo magn´etico, menor o c´ırculo. Em 1930, o f´ısico Lev Landau fez uma previs˜ ao matem´ atica sobre o raio m´ınimo para estes c´ırculos, que agora leva o seu nome: “n´ıveis de Landau”. N˜ao ´e poss´ıvel fazer uma “fotografia” dos el´etrons, e at´e agora ningu´em tinha uma confirma¸c˜ ao em laborat´ orio destes n´ıveis, mas isto mudou com o trabalho do f´ısico Koichi Hashimoto, da Universidade Tohoku do Jap˜ao, e Rudolf Roemer da Universidade de Warwick, Inglaterra. Eles prenderam os el´etrons na superf´ıcie de um material semicondutor, e usaram t´ecnicas de espectroscopia de escaneamento de tunelamento para encontrar os locais poss´ıveis onde os el´etrons estavam. Para cada pixel da imagem, eles tˆem meia hora de captura de dados, que foram obtidos permitindo que um el´etron tentasse passar. Se a posi¸c˜ao representasse um estado poss´ıvel para o el´etron, uma part´ıcula acabava por viajar para ela no processo conhecido como tunelamento, e era representada por um pixel claro. Caso contr´ ario, o pixel era escuro. Com isto, uma imagem da ´ orbita poss´ıvel do el´etron foi obtida, e a figura criada se parece muito com os resultados previstos pelas simula¸c˜oes te´oricas, confirmando a previs˜ ao de 1930. (Fonte: Publica¸ca ˜o eletrˆ onica, LiveScience)
∗ Extra´ıda da referˆencia: Mlodinow, Leonard. A Janela de Euclides/ p. 157. Tradu¸c˜ ao de En´ezio de Almeida. S˜ ao Paulo: Gera¸c˜ ao Editorial, 2008.
405
Os fenˆ omenos s˜ ao organizados pelo nosso aparelho perceptivo e cognitivo, sendo assim em parte dependentes do sujeito.
(Immanuel Kant)
(Irina Antonenko)
(Jimena Navarrete)
Diziamos na p´ agina 11: “n˜ ao existe uma distˆ ancia mais ou menos verdadeira que outra, existe sim uma mais conveniente que outra para um determinado prop´ osito”. Pois bem, observe as imagens a seguir:
` “distˆ A ancia” (aproxima¸c˜ao) de um microsc´opio observe como se veria o cabelo da Jimena Navarrete! a l´ıngua da Irina Antonenko! . . . horr´ıveis!
L´ ıngua humana
C´ ılios
Conclus˜ ao: Pelo ao menos para os fins da reprodu¸c˜ao humana, a “velha distˆ ancia euclidiana” − com a qual a natureza nos dotou − ´e perfeita! 406
Cap´ıtulo
8
´ ESPAC ¸ OS METRICOS COMPLETOS Sim, eu sou um matem´ atico, por´ em estou realmente interessado em tudo: o que ´ e vida, o que ´ e inteligˆ encia, o que ´ e consciˆ encia, mas tamb´ em o que o universo cont´ em de aleatoriedade, e se o espa¸co e o tempo s˜ ao cont´ınuos ou discretos.
(Gregory Chaitin)
Introdu¸ c˜ ao Em An´alise Real aprendemos que R ´e um corpo ordenado completo. Muitos resultados importantes, como por exemplo teoremas de existˆencia dependem da completeza de R. Como uma modesta amostra podemos provar que em R existe solu¸c˜ ao para a equa¸c˜ao x2 = 2. Desejamos estender para espa¸cos m´etricos em geral o importante conceito de completeza. Na An´alise aprendemos que R ´e completo porque nele ao-vazio e vale a propriedade (ou axioma) do supremo: “Se A ⊂ R ´e n˜ majorado, ent˜ ao A tem supremo”. Acontece que para se definir supremo neao cessitamos de uma ordem (p. 611), como num espa¸co m´etrico arbitr´ario n˜ contamos com uma ordena¸c˜ ao entre seus elementos segue que n˜ ao podemos usar o axioma do supremo para definir espa¸co m´etrico completo, tal como ocorre no corpo ordenado R. A n˜ ao ser que exista uma outra caracteriza¸c˜ao de completeza suscet´ıvel de generaliza¸c˜ ao para os espa¸cos m´etricos. Felizmente existe uma tal caracteriza¸c˜ao, via sequˆencias de Cauchy, portanto: Defini¸ c˜ ao 53 (Sequˆencias de Cauchy). Seja (xn ) uma sequˆencia num espa¸co m´etrico (M, d). Diremos que (xn ) ´e uma sequˆencia de Cauchy se dado ε > 0 existir um ´ındice n0 tal que ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(xm , xn ) < ε. 407
A seguir escrevemos em s´ımbolos a defini¸c˜ao anterior e sua nega¸c˜ao: ∀
∃
n0 ∈ N
ε>0
∃
ε>0
:
∀
n0 ∈ N
:
∀
( m, n ≥ n0 ) ⇒ d(xm , xn ) < ε
∃
( m, n ≥ n0 ) ∧ d(xm , xn ) ≥ ε
m, n ∈ N m, n ∈ N
De imediato inferimos que se (N, d) ´e um subespa¸co de (M, d), uma sequˆencia (xn ) de pontos de N ´e de Cauchy em (N, d) se, e somente se, ´e de Cauchy em (M, d). Proposi¸ c˜ ao 89. Se (xn ) ´e uma sequˆencia convergente num espa¸co m´etrico (M, d) ent˜ ao (xn ) ´e de Cauchy. Prova: Consideremos (xn ) uma sequˆencia convergente em um espa¸co m´etrico (M, d). Seja lim xn = a. Ent˜ao dado ε > 0 existe n0 tal que d(xn , a) < 2ε para todo n ≥ n0 . Logo, para m, n ≥ n0 temos d(xm , xn ) ≤ d(xm , a) + d(a, xn ) <
ε ε + =ε 2 2
ent˜ ao, m, n ≥ n0 =⇒ d(xm , xn ) < ε. Sendo assim, obtivemos uma condi¸c˜ao sobre os termos da sequˆencia na qual n˜ ao interv´em o limite a. Intuitivamente essa condi¸c˜ao nos mostra que se uma sequˆencia (xn ) ´e convergente ent˜ao, para ´ındices suficientemente grandes, seus termos aproximam-se arbitrariamente um dos outros. ´ o caso, por exemplo, da sequˆencia dada por xn = 1 , no espa¸co (R, µ). E n
⊢ 0
rrrrr r···r xr 4 xr 3
r
x2
r
x1 1
Aqui se faz oportuna a quest˜ao de saber se toda sequˆencia de Cauchy converge. A resposta ´e pela negativa. H´a casos em que uma sequˆencia de Cauchy em (M, d) n˜ ao converge por “culpa” do conjunto M e outras vezes por “culpa” da m´etrica d. Vamos exemplificar estas duas possibilidades: (a) Consideremos a sequˆencia dada por xn = n1 e os espa¸cos (R, µ) e ( ] 0, 1 ], µ). Esta sequˆencia converge para 0 no primeiro destes espa¸cos, portanto ´e de Cauchy − tanto no espa¸co quanto no subespa¸co. Se (xn ) convergisse no espa¸co ( ] 0, 1 ], µ), ent˜ao iria convergir para um ponto 0 < p ≤ 1; sendo ] 0, 1 ] ⊂ R teriamos a unicidade do limite contraditada. Logo (xn ) n˜ ao converge em ( ] 0, 1 ], µ). (b) Consideremos a sequˆencia dada por xn = 1− n1 e os espa¸cos ( [ 0, 1 [, k) e ( [ 0, 1 [, µ). Esta sequˆencia converge para 0 no primeiro destes espa¸cos, 408
portanto ´e de Cauchy. A prova de que ´e de Cauchy no segundo destes espa¸cos, ´e an´ aloga ` a prova feita em (a). Se (xn ) convergisse no espa¸co ( [ 0, 1 [, µ), ent˜ ao iria convergir para um ponto 0 ≤ p < 1; sendo [ 0, 1 [ ⊂ R teriamos a unicidade do limite contraditada. Logo (xn ) n˜ ao converge em ( [ 0, 1 [, µ). Proposi¸ c˜ ao 90. Sendo M um conjunto arbitr´ ario, qualquer sequˆencia de Cauchy converge no espa¸co (M, δ). Prova: De fato, se (xn ) ´e uma sequˆencia de Cauchy no espa¸co (M, δ), ent˜ao para ε = 1 existe um ´ındice n0 de maneira que: ∀ m, n ≥ n0 ⇒ δ(xm , xn ) < 1 Logo, ∀ m, n ≥ n0 ⇒ xm = xn ou seja, toda sequˆencia de Cauchy no espa¸co (M, δ) ´e constante a partir de uma certa ordem, portanto converge para o termo que se repete. Nota: N˜ao ´e verdade que sendo (M, d) discreto qualquer sequˆencia de Cauchy seja convergente. Por exemplo, tome M = { n1 : n ∈ N } com a m´etrica usual. Vimos (prop. 17, p. 161) que se uma sequˆencia, em um espa¸co vetorial normado, ´e convergente ent˜ ao existe uma bola de centro no vetor nulo que cont´em todos os termos da sequˆencia. Veremos agora que as sequˆencias de Cauchy tamb´em gozam desta propriedade. Proposi¸ ao 91. Seja (xn ) uma sequˆencia de Cauchy em um espa¸co vetorial c˜ E, +, · normado. Ent˜ ao existe uma bola de centro no vetor nulo que cont´em todos os termos da sequˆencia. Prova: Inicialmente observemos que B(0; r) = { x ∈ E : d(x, 0) < r } = { x ∈ E : kx − 0k < r } = { x ∈ E : kxk < r } Sendo assim devemos encontrar um raio r de tal modo que todos os termos da sequˆencia satisfa¸cam: kxn k < r. Por hip´ otese (xn ) ´e de Cauchy, logo tomando ε = 1 existe um ´ındice n0 tal que m, n ≥ n0 ⇒ d(xn , xm ) = kxn − xm k < 1. Sendo kxn − xm k < 1, ∀ m, n ≥ n0 ; fixemos m = n0 , ent˜ao kxn − xn0 k < 1, ∀ n ≥ n0 . 409
(8.1)
Mas, kxn k = kxn − xn0 + xn0 k ≤ kxn − xn0 k + kxn0 k
(8.2)
De (8.1) temos, ∀ n ≥ n0 , kxn − xn0 k < 1 ⇒ kxn − xn0 k + kxn0 k < 1 + kxn0 k este resultado em (8.2) resulta: kxn k < 1 + kxn0 k, ∀ n ≥ n0 .
Esta desigualdade est´ a a nos dizer que todos os termos da sequˆencia (xn ), com ´ındices iguais ou superiores a n0 , est˜ ao dentro da bola de centro no vetor nulo e raio r ′ = 1 + kxn k. Para que possamos incluir os termos 0 restantes: x1 , x2 , . . . , xn −1 , escolhamos qualquer 0
r > max kx1 k, kx2 k, . . . , kxn
0 −1
Sendo assim temos,
k, 1 + kxn0 k
kx1 k < r, kx2 k < r, . . . , kxn
0 −1
(8.3)
k
e kxn k < 1 + kxn0 k < r, ∀ n ≥ n0 . Portanto temos, kxn k < r, ∀ n ∈ N. Sendo assim o raio escolhido em (8.3) consegue incluir todos os termos da sequˆencia (xn ) em uma bola de centro no vetor nulo. Observe que a diferen¸ca desta proposi¸c˜ao para aquela em que a sequˆencia converge (prop. 17, p. 161) ´e que na presente demonstra¸c˜ao n˜ ao interv´em o limite da sequˆencia; ou ainda; n˜ ao exigimos que a sequˆencia seja convergente, T˜ ao somente que seja de Cauchy. Seria instrutivo concretizarmos a demonstra¸c˜ao anterior com um exemplo espec´ıfico. Consideremos o espa¸co vetorial normado R2 , k · k onde k(x, y)k = max{ |x|, |y| }
e a sequˆencia (xn ) dada por xn = 1 − n1 , 2 − n2 . Esta sequˆencia ´e convergente, portanto ´e de Cauchy. Seguindo os passos da demonstra¸c˜ao anterior vamos encontrar um raio r que inclua todos os termos da sequˆencia em uma bola centrada no vetor nulo. Para ε = 1 a partir de que ´ındice n0 teremos d(xn , xm ) = kxn − xm k < 1? Sendo,
2 1 xn = 1 − , 2 − n n
e 410
1 2 xm = 1 − , 2 − m m
temos,
portanto,
Temos,
1 1 2 2 xn − xm = 1 − , 2 − − 1− , 2− n n m m 1 1 2 2 = − + ,− + n m n m n 1 kxn − xm k = max − + n n 1 = max − + n 1 1 = 2 − + . n m
1 , m 1 , m
o 2 − + 2 n m 1 1 o 2 − + n m
1 1 1 1 1 1 + − ≤ + − = m n m n m n Agora se m, n ≥ n0 , teremos 1 1 1 1 1 2 1 ≤ , ≤ ⇒ + ≤ . m n0 n n0 m n n0 Vamos impor a restri¸c˜ ao
4 n0
< 1. Sendo assim, temos
1 1 4 kxn − xm k = 2 − + ≤ < 1. n m n0
Portanto para quaisquer m, n ≥ n0 = 5 garantimos kxn − xm k < 1. A desigualdade kxn k < 1 + kxn0 k, ∀ n ≥ n0 isto ´e, kxn k < 1 + kx5 k, ∀ n ≥ 5, nos garante que todos os termos da sequˆencia, a partir do quinto, est˜ ao in′ cluidos em uma bola de centro no vetor nulo e raio r = 1+kx5 k. Calculemos a norma do vetor x5 : 2 4 8 1 = , x5 = 1 − , 2 − 5 5 5 5 ⇒ kx5 k = max 411
4 8 8 , = . 5 5 5
Portanto,
8 kxn k < 1 + , ∀ n ≥ 5. 5
Agora tomemos qualquer
Ent˜ ao,
r > max kx1 k, kx2 k, . . . , kx4 k, 1 + kx5 k x1 = (0, 0)
1 ⇒ kx2 k = 1
x2 =
1 2,
x3 =
2 4 3, 3
x4 =
3 6 4, 4
portanto, r > max
n
0, 1,
Geometricamente temos,
⇒ kx1 k = 0
⇒ kx3 k =
4 3
⇒ kx4 k =
6 4
8 o 13 4 6 = , , 1+ = 2, 6 3 4 5 5 R
2
q q
p pq (1, 2) qq q qx x34
x2
r
(0,0) x1
q1
R
B((0,0); r) →
Nota: A rec´ıproca desta u ´ltima proposi¸c˜ao n˜ ao vale: se todos os termos de uma sequˆencia est˜ ao incluidos em uma bola com centro na origem, n˜ ao implica que a sequˆencia seja de Cauchy. De fato, todos os termos da sequˆencia (1, −1, 1, −1, . . .) de pontos de R est˜ ao contidos na bola Bµ (0; 2) = ] − 2, 2 [, mas esta sequˆencia n˜ ao ´e de Cauchy, uma vez que se tomarmos ε = 1, para qualquer ´ındice n0 , sempre existir˜ ao ´ındices m, n ≥ n0 tais que d(xm , xn ) = |xm − xn | = 2 > ε. 412
Vimos (prop. 13, p. 156) que toda sequˆencia convergente ´e limitada. Na proposi¸c˜ ao seguinte mostraremos que as sequˆencias de Cauchy tamb´em gozam desta propriedade. Proposi¸ c˜ ao 92. Toda sequˆencia de Cauchy ´e limitada. Prova: Seja (xn ) uma sequˆencia de Cauchy num espa¸co m´etrico (M, d). Ent˜ao para ε = 1, existe um ´ındice n0 tal que ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(xn , xm ) < 1 fixemos m = n0 , ent˜ ao ∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , xn0 ) < 1 ⇒ xn ∈ B(xn0 ; 1). Fazendo X = { x1 , x2 , . . . , xn
0 −1
}, temos
{ x1 , x2 , . . . , xn , . . . } = X ∪ { xn0 , xn
0 +1
, xn
0 +2
, ...}
⊂ X ∪ B(xn0 ; 1) Como X ´e limitado por ser finito, resulta que X ∪ B(xn0 ; 1) ´e limitado. Portanto o conjunto dos termos da sequˆencia ´e limitado. Proposi¸ c˜ ao 93. Seja (xn ) uma sequˆencia de Cauchy em um espa¸co m´etrico (M, d). Se existe uma subsequˆencia de (xn ) que converge para p ∈ M , ent˜ ao lim xn = p. Prova: Seja (xn1 , xn2 , . . .) uma subsequˆencia conforme o enunciado. Ent˜ao para todo ε > 0, existe um ´ındice nk tal que: ∀ ni ≥ nk =⇒ d(xn , p) < i
ε 2
(8.4)
Por outro lado, sendo (xn ) uma sequˆencia de Cauchy, existe um ´ındice n0 tal que: ε (8.5) ∀ m, n ≥ n0 =⇒ d(xm , xn ) < 2 Consideremos um ponto xn da subsequˆencia. A desigualdade j
d(xn , p) ≤ d(xn , xn ) + d(xn , p) j
j
´e sempre v´alida. Gostar´ıamos que fosse d(xn , p) ≤ d(xn , xn ) + d(xn , p) < ε j
j
para isto ´e suficiente que tenhamos d(xn , p) < j
ε 2
e 413
d(xn , xn ) < j
ε 2
(8.6)
Por (8.4) devemos escolher nj ≥ nk e por (8.5) devemos escolher n ≥ n0 e nj ≥ n0 . A fim de unificar os ´ındices fa¸camos ν = max{ n0 , nk }. Logo, para nj ≥ ν e n ≥ ν teremos as desigualdades em (8.6) satisfeitas. Sendo assim, n˜ ao sem algum esfor¸co, conseguimos um ´ındice ν de modo que ∀ n ≥ ν ⇒ d(xn , p) < ε. Isto ´e suficiente para garantir a convergˆecia de (xn ).
Corol´ ario . Se uma sequˆencia (xn ) em um espa¸co m´etrico (M, d) cont´em duas subsequˆencias que convergem para pontos diferentes desse espa¸co, ent˜ ao a sequˆencia n˜ ao ´e de Cauchy. A imagem de uma sequˆencia de Cauchy por uma aplica¸c˜ao cont´ınua pode n˜ ao resultar em uma sequˆencia de Cauchy. Vejamos dois contraexemplos: (i) A fun¸c˜ ao, 1 f : ] 0, 1 ] → R, dada por f (x) = x transforma a sequˆencia de Cauchy ( n1 ) na sequˆencia f (1/n) = (1, 2, 3, . . .) que n˜ ao ´e de Cauchy. (ii) A fun¸c˜ ao, 1 g : ] 0, 1 ] → R, dada por g(x) = cos x 1 leva a sequˆencia de Cauchy ( 2nπ ) na sequˆencia g(1/2nπ) = (1, 1, 1, . . .) que ´e de Cauchy. 1 ) na sequˆencia Esta mesma fun¸c˜ ao transforma a sequˆencia de Cauchy ( nπ g(1/nπ) = (−1, 1, −1, . . .) que n˜ ao ´e de Cauchy. Uma aplica¸c˜ ao uniformemente cont´ınua transforma, necess´ariamente, sequˆencias de Cauchy em sequˆencias de Cauchy.
Proposi¸ c˜ ao 94. A imagem de uma sequˆencia de Cauchy por uma aplica¸ca ˜o uniformemente cont´ınua ´e tamb´em uma sequˆencia de Cauchy. Prova: Suponhamos f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) uniformemente cont´ınua e seja (xn ) uma sequˆencias de Cauchy em M . Dado ε > 0, existe ent˜ao δ > 0 tal que: (def. 36, p. 288) d1 (x, y) < δ =⇒ d2 f (x), f (y) < ε. Por outro lado, para o δ em quest˜ao, existe um ´ındice n0 de modo que m, n ≥ n0 =⇒ d1 (xm , xn ) < δ. Por conseguinte m, n ≥ n0 =⇒ d2 f (xm ), f (xn ) < ε. Isto mostra que a sequˆencia f (xn ) ´e de Cauchy. 414
Corol´ ario 29. Se d e d′ s˜ ao m´etricas uniformemente equivalentes sobre M , ent˜ ao as sequˆencias de Cauchy de (M, d) e (M, d′ ) s˜ ao as mesmas. Em particular os espa¸cos produtos (M, D1 ), (M, D2 ) e (M, D3 ) tˆem as mesmas sequˆencias de Cauchy. Prova: Seja (xn ) uma sequˆencia de Cauchy de (M, d). Como i : (M, d) → (M, d′ ) (onde ao identidade de M ) ´e uniformemente cont´ınua† , i indica a aplica¸c˜ logo i (xn ) = (xn ) ´e uma sequˆencia de Cauchy de (M, d′ ). Analogamente se prova que toda sequˆencia de Cauchy de (M, d′ ) tamb´em ´e sequˆencia de Cauchy de (M, d). Nota: A rec´ıproca desta proposi¸c˜ ao: “Se uma aplica¸ca ˜o transforma sequˆencias de Cauchy em sequˆencias de Cauchy, ent˜ ao esta aplica¸ca ˜o ´e uniformemente cont´ınua” n˜ ao ´e verdadeira. Para mostrar isto consideremos a fun¸c˜ao f : R → R, dada por f (x) = x2 . Esta fun¸c˜ ao n˜ ao ´e uniformemente cont´ınua, como j´a vimos. Mas transforma sequˆencias de Cauchy em sequˆencias de Cauchy. De fato, se (xn ) ´e uma sequˆencia de Cauchy em (R, µ), ent˜ao existe r > 0 tal que |xn | < r, ∀ n ∈ N (prop. 91, p. 409). Mas a restri¸c˜ao de f `a bola ] − r, r [ ´e uniformemente cont´ınua (nota p. 291). Donde f (xn ) ´e sequˆencia de Cauchy.
Proposi¸ c˜ ao 95. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Uma sequˆencia (xn , yn ) de pontos de M × N ´e de Cauchy se, e somente se, as sequˆencias (xn ) em M e (yn ) em N s˜ ao de Cauchy.
Prova: O enunciado refere-se a qualquer das m´etricas usuais (p. 95) em M × N , indistintas no que tange `a convergˆencia. Usaremos a m´etrica do m´ aximo. (=⇒) Seja (xn , yn ) de Cauchy em M × N , ent˜ao dado ε > 0 existe um ´ındice n0 de modo que: m, n ≥ n0 ⇒ D3 (xm , ym ), (xn , yn ) = max d1 (xm , xn ), d2 (ym , yn ) < ε Segue que:
d1 (xm , xn ) < ε
e
d2 (ym , yn ) < ε
para quaisquer m, n ≥ n0 ; e portanto (xn ) e (yn ) s˜ ao sequˆencias de Cauchy.
(⇐=) Sendo (xn ) e (yn ) sequˆencias de Cauchy, dado ε > 0 existem por hip´ otese ´ındices m0 e n0 tais que: ∀ m, n ≥ m0 ⇒ d1 (xm , xn ) < ε
e
∀ m, n ≥ n0 ⇒ d2 (ym , yn ) < ε.
Considerando p0 = max{ m0 , n0 } temos ent˜ao que: ∀ m, n ≥ p0 ⇒ d1 (xm , xn ) < ε e d2 (ym , yn ) < ε ⇒ max d1 (xm , xn ), d2 (ym , yn ) < ε ⇒ D3 (xm , ym ), (xn , yn ) < ε Isto prova que a sequˆencia (xn , yn ) ´e de Cauchy em M × N . †
defini¸c˜ oes 40 (p. 321) e 41 (p. 321).
415
A generaliza¸c˜ ao deste resultado para um produto M = M1 × · · · × Mn ´e imediata. • A (outra) caracteriza¸c˜ao de completeza, em R, a qual nos referimos na Introdu¸c˜ ao, ´e que a propriedade do supremo implica em que toda sequˆencia de Cauchy de R converge (como ser´ a visto logo mais), a rec´ıproca∗ ´e vista na constru¸ca ˜o dos reais pelo m´etodo de Cantor, como o leitor poder´ a apreciar na referˆencia [9].
8.1
Espa¸ cos m´ etricos completos
Defini¸ c˜ ao 54 (Espa¸cos m´etricos completos). Um espa¸co m´etrico (M, d) ´e chamado completo se toda sequˆencia de Cauchy desse espa¸co converge para um ponto de M . Vejamos exemplos de espa¸cos m´etricos completos e n˜ ao completos: Exemplos: 1) O espa¸co (Q, δ) ´e completo enquanto o espa¸co (Q, µ) n˜ ao o ´e. De fato, a “completeza” do espa¸co (Q, δ) ´e uma decorrˆencia imediata da proposi¸c˜ ao 90 (p. 409). Para mostrar que o espa¸co (Q, µ) n˜ ao ´e completo podemos nos valer do exemplo 2 (p. 204) juntamente com a proposi¸c˜ao 42 (p. 212). Assim: Tomamos a ∈ R − Q ent˜ ao existe uma sequˆencia (xn ) de racionais convergindo para a irracional. Sendo (xn ) convergente em (R, µ) ent˜ ao ´e de Cauchy, inclusive em (Q, µ). Pela unicidade do limite (xn ) n˜ ao pode convergir para um racional. Portanto (Q, µ) n˜ ao ´e completo, j´a que conseguimos uma sequˆencia de Cauchy em (Q, µ) que n˜ ao converge para um ponto de Q. Nota: De modo an´ alogo podemos mostrar que o espa¸co m´etrico (M, δ), onde M ´e qualquer conjunto n˜ ao vazio, ´e completo. 2) Veremos agora que o espa¸co (R, µ) ´e completo. Prova: Consideremos (xn ) uma sequˆencia de Cauchy em (R, µ). Devido `a proposi¸c˜ ao 91 (p. 409) existe k > 0 tal que |xn | < k para todo n natural. De outro modo −k < xn < k, ∀ n ∈ N. (8.7) Por conta disto o conjunto { x1 , x2 , . . . } dos termos da sequˆencia ´e limitado, logo possui supremo e inf´ımo. A partir da sequˆencia (xn ) definamos uma outra sequˆencia (yn ) do seguinte modo: ∗ Isto ´e, a convergˆencia de toda sequˆencia de Cauchy implica na propriedade do supremo.
416
y1 = inf{ x1 , x2 , x3 , . . . } y2 = inf{ x2 , x3 , x4 , . . . } y3 = inf{ x3 , x4 , x5 , . . . } ······························ yn = inf{ xn , xn+1 , xn+2 , . . . } ······························ Todos estes n´ umeros est˜ ao bem definidos. Observe, por exemplo que { x2 , x3 , x4 , . . . } ⊂ { x1 , x2 , x3 , . . . }, ent˜ao∗ inf{ x1 , x2 , x3 , . . . } ≤ inf{ x2 , x3 , . . . } ⇒ y1 ≤ y2 . O que esta nova sequˆencia tem de essencial ´e o fato de ser mon´ otona e limitada, isto ´e y1 ≤ y2 ≤ · · · ≤ yn ≤ · · · < k Observe que, por defini¸c˜ ao, yn ≤ xn , ∀ n ∈ N mas, por (8.7), podemos escrever yn ≤ xn < k ⇒ yn < k, ∀ n ∈ N.
Conclus˜ ao† : (yn ) converge para p = sup { yn : n = 1, 2, . . .} que ´e um ponto de R. Mostremos que lim xn = p. Dado ε > 0 existe um ´ındice r tal que: n ≥ r ⇒ |yn − p| <
ε 3
por outro lado (xn ) sendo de Cauchy, existe um ´ındice s de modo que: m, n ≥ s ⇒ |xm − xn | <
ε 3
Agora vamos escolher um ´ındice t ≥ max{ r, s }. Tendo em conta que yt = inf{ xt , xt+1 , xt+2 , . . . } yt ´e a maior cota inferior do conjunto { xt , xt+1 , xt+2 , . . .} o que implica em ao ´e cota inferior deste conjunto. Por conseguinte existe um que yt + 3ε n˜ ´ındice j ≥ t de modo que y t ≤ xj < y t + ∗ †
ε ε ε ⇔ 0 ≤ xj − y t < ⇒ |xj − yt | < 3 3 3
Lembramos: Se A ⊂ B ⇒ inf B ≤ inf A (prop. 145, p. 611). Ver proposi¸c˜ ao 15, p. 160.
417
Do artif´ıcio, xn − p = (xn − xj ) + (xj − yt ) + (yt − p) segue que |xn − p| = |(xn − xj ) + (xj − yt ) + (yt − p)| ≤ |xn − xj | + |xj − yt | + |yt − p| ε ε ε < + + = ε, ∀ n ≥ t. 3 3 3 isto prova que lim xn = p. 3) O conjunto P[ 0, 1 ] das fun¸c˜oes polinomiais p : [ 0, 1 ] → R ´e um espa¸co vetorial. Podemos considerar em P[ 0, 1 ] a norma kpk = max{ |p(t)| : 0 ≤ t ≤ 1 } do que resulta a m´etrica d sobre P[ 0, 1 ] dada por d(p, q) = max{ |p(t) − q(t)| : 0 ≤ t ≤ 1 } O espa¸co m´etrico P[ 0, 1 ], d n˜ ao ´e completo. De fato, demonstra-se (no C´ alculo ou na An´alise Real) que a sequˆencia (pn ) de polinˆ omios dada por pn (t) = 1 + t +
t2 tn + ··· + 2! n!
converge uniformemente em ([ 0, 1 ], µ) para a fun¸c˜ao cont´ınua f : [ 0, 1 ] → R, dada por f (t) = et que n˜ ao ´e um polinˆ omio. Como toda sequˆencia convergente ´e de Cauchy segue-se que (pn ) ´e uma sequˆencia de Cauchy em P[ 0, 1 ], d que n˜ ao converge para um ponto deste espa¸co. 4) O espa¸co de fun¸c˜ oes C[ a, b ], Υ ´e completo enquanto o espa¸co C[ a, b ], Γ n˜ ao ´e completo.
Prova: (i) Temos de provar que, sendo (fn ) uma sequˆencia de Cauchy em C[ a, b ], Υ , existe uma fun¸c˜ ao f ∈ C[ a, b ] para a qual a sequˆencia (fn ) converge. Isto ´e, tal que kfn − f kΥ → 0∗ . Por hip´ otese, para qualquer ε > 0 existe um ´ındice n0 de modo que para todo m, n ≥ n0 temos ε Υ(fm , fn ) = max |fm (x) − fn (x)| : x ∈ [ a, b ] < 2
Consequentemente para qualquer x ∈ [ a, b ] fixado, |fm (x) − fn (x)| < ∗
ε 2
Prop. 9, p. 143.
418
(m, n ≥ n0 ).
(8.8)
Isto mostra que f1 (x), f2 (x), . . . , fm (x), . . . ´e uma sequˆencia de Cauchy de n´ umeros reais∗ . Visto que (R, µ) ´e completo, esta sequˆencia convergir´ a para um n´ umero real (em geral dependente de x) que podemos designar por f (x), ficando assim bem definida uma fun¸c˜ao f : [ a, b ] → R
dada por
f (x) = lim fm (x), ∀ x ∈ [ a, b ]. m→∞
Vamos agora ver que f ´e cont´ınua em [ a, b ] (isto ´e, que f ∈ C[ a, b ]) e que se tem de fato kfn − f kΥ → 0, o que concluir´a a demonstra¸c˜ao. Na desigualdade (8.8) vamos conservar n fixo (embora arbitr´ario, desde que maior ou igual a n0 ) e x fixo (arbitr´ario em [ a, b ]) e tomar o limite quando m → +∞: lim |fm (x) − fn (x)| ≤ lim
m→∞
Logo
m→∞
ε 2
(n ≥ n0 )
ε ε ⇒ |f (x) − fn (x)| ≤ . fm (x) − fn (x) ≤ m→∞ 2 2 Deste modo mostramos que f (x) − fn (x) < ε, ∀ n ≥ n0 . lim
Segue, da defini¸c˜ ao de convergˆencia uniforme de uma sequˆencia de fun¸c˜oes (p. 604), que a sequˆ encia funcional (fn ) converge uniformente para a fun¸c˜ao f . Isto ´e, a convergˆencia fn → f ´e uniforme. Portanto pelo [AR] 11 (p. 604) concluimos que f ´e cont´ınua, isto ´e, f ∈ C[a, b].
Finalmente, da desigualdade: |f (x) − fn (x)| < ε, v´alida para qualquer x ∈ [ a, b ] e qualquer n ≥ n0 , deduz-se que se verificar´a tamb´em, para n ≥ n0 , ([AR] 1, p. 603) max
x ∈ [ a, b ]
|f (x) − fn (x)| = kfn − f kΥ < ε,
o que prova que kfn − f kΥ → 0 se n → +∞, terminando esta parte da demonstra¸c˜ ao. (ii) Para mostrar que o espa¸co m´etrico C[ 0, 1 ], Γ n˜ ao ´e completo devemos exibir uma sequˆencia de Cauchy e provar que esta sequˆencia n˜ ao converge neste espa¸co. Consideremos a sequˆencia de fun¸c˜oes (fn ) cujo termo geral ´e dado por 0, 0 ≤ x ≤ 12 ; 1 fn (x) = 2n(x − 12 ), 21 ≤ x ≤ 12 + 2n ; 1 1 1, 2 + 2n ≤ x ≤ 1.
∗ Nota: (fn ) ´e uma sequˆencia de fun¸c˜ oes enquanto, para x ∈ [ a, b ] fixado, (fn (x)) ´e uma sequˆencia de n´ umeros reais.
419
Na figura seguinte plotamos os trˆes primeiros termos desta sequˆencia: f1 (x)
f2 (x)
f3 (x)
1
1
1
q
q
q
1 2
0
q1
1 2
x
1 2
0
q1
3 4
1 2
x
0
1 2
2 3
q1
x
Vamos mostrar que a sequˆencia (fn ) ´e de Cauchy. Para isto dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 de modo que ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(fm , fn ) =
Z
1
0
|fm (x) − fn (x)| dx < ε
Do gr´ afico seguinte (`a direita) 1 2m
fn (x) 1 2n
1
1 2n
1
q
fm
q
fn
0
1 2
an
q1
x
0
1 2
am an
q1
x
concluimos que a distˆ ancia em quest˜ao ´e dada pela ´area do triˆ angulo compreendido entre os gr´ aficos de fn e fm e vale B·h = A= 2
1 2n
−
1 2m
2
·1
=
1 1 1 · − 4 n m
onde estamos considerando m > n. Temos que an = 21 + Pois bem, queremos encontrar n0 de maneira que m, n ≥ n0 ⇒
1 1 1 <ε · − 4 n m 420
1 2n .
temos, m ≥ n0 , n ≥ n0 ⇒
por outro lado,
1 1 1 1 ≤ ≤ , m n0 n n0
⇒
1 2 1 + ≤ m n n0
⇒
1 1 2 1 1 ≤ · · + 4 m n 4 n0
1 1 1 1 1 1 1 < · ≤ · − + <ε 4 n m 4 m n 2n0
Au ´tima das desigualdades acima foi imposta. 1 ao vejamos: Portanto dado ε > 0 escolhemos n0 > . Sen˜ 2ε 1 1 1 1 ⇒ < ε, <ε m> , n> 2ε 2ε 2m 2n
por outro lado,
⇒
1 1 + < 2ε 2m 2n
⇒
1 1 1 <ε · + 4 m n
1 1 1 1 1 1 < · <ε · − + 4 m n 4 m n
Com isto concluimos a prova de que a sequˆencia (fn ) de fato ´e de Cauchy. S´ o nos resta mostrar que (fn ) n˜ ao converge em C[ 0, 1 ], Γ . Suponha, por um momento, que f seja uma fun¸c˜ao em C[ 0, 1 ] tal que lim fn = f . Suponhamos ainda f (c) 6= 0 para algum 0 ≤ c ≤ 21 . Ent˜ao fn (c) − f (c) = f (c) > 0, para algum c ∈ [ 0, 1 ] 2 Logo ([AR] 9, p. 604) Z 1 |fn − f | d(fn , f ) = 0
≥
Z
=
Z
1 2
0 1 2
0
421
|fn − f | |f | > 0
Para todo n. Passando ao limite, temos Z 1 Z 2 lim d(fn , f ) ≥ lim |f | = n→∞
n→∞
0
1 2
|f | > 0
0
contrariando a hip´ otese de que lim fn = f .
(prop. 9, p. 143)
Logo n˜ ao temos f (c) 6= 0 para algum 0 ≤ c ≤ 1/2. Ou ainda, f (x) = 0 para todo 0 ≤ x ≤ 1/2. Esta ´e a primeira conclus˜ao que tiramos a respeito de f = lim fn . Agora suponhamos que para 21 < c ≤ 1 tiv´essemos f (c) 6= 1. Ent˜ao |fn (c) − f (c)| = |1 − f (c)| > 0
(8.9)
desde que n satisfa¸ca, 1 1 1 + < c ≤ 1, isto ´e n > 2 2n 2c − 1
Resumindo: Supondo que aconte¸ca f (c) 6= 1 para algum 1/2 < c ≤ 1, 1 consideramos apenas as fn a partir de n > 2c−1 , obtendo fn (c) = 1 e da´ı a 1 validade de (8.9) a partir de n > 2c−1 . Ent˜ao, Z 1 |fn − f | d(fn , f ) = 0
≥ Para todo n >
Z
1 1 2
|fn − f | =
Z
1
|1 − f | > 0
1 2
1 2c−1 .
Passando ao limite, temos Z Z 1 |1 − f | = lim d(fn , f ) ≥ lim
n→∞
n→∞
1 2
1 1 2
|1 − f | > 0
contrariando a hip´ otese de que lim fn = f . Logo n˜ ao temos f (c) 6= 1 para 1 1 algum 2 < c ≤ 1. Ou ainda, f (x) = 1 para todo 2 < x ≤ 1. ´ a segunda conclus˜ao que tiramos a respeito de f = lim fn . Resumindo, E temos f : [ 0, 1 ] → R, dada por f (x) 1
f (x) =
0, 1,
se 0 ≤ x ≤ se
1 2
q
1 2;
< x ≤ 1. 0
q1 2
q1
x
o que ´e imposs´ıvel para uma fun¸c˜ao cont´ ınua no espa¸co ([ 0, 1 ], µ). Isto prova que n˜ ao existe lim fn em C[ a, b ], Γ . 422
Vimos que o espa¸co (Q, µ) n˜ ao ´e completo. A pr´ oxima proposi¸c˜ao nos mostra que isto acontece precisamente pelo fato de Q n˜ ao ser um subconjunto fechado em (R, µ). (ex. 3, p. 201) Proposi¸ c˜ ao 96. Um subespa¸co fechado de um espa¸co m´etrico completo ´e completo. Rec´ıprocamente, um subespa¸co completo de qualquer espa¸co m´etrico ´e fechado. Prova: (=⇒) Seja (xn ) uma sequˆencia de Cauchy em (N, d) (N ⊂ M ). Como (M, d) ´e completo, (xn ) converge em (M, d), isto ´e, existe a ∈ M tal que lim xn = a. Assim, temos que a ∈ N (pois N ´e fechado em (M, d) − (prop. 43, p. 214). Portanto (xn ) ´e convergente em (N, d) e (N, d) resulta completo. (⇐=) Para mostrar que (N, d) ´e fechado em (M, d) ´e suficiente tomar uma sequˆencia de pontos em N convergindo para um ponto a ∈ M e mostrar ´ o que faremos: Seja (xn ) uma sequˆencia de que a ∈ N (prop. 44, p. 216). E pontos em N com lim xn = a ∈ M . Ent˜ao pela proposi¸c˜ao 89 (p. 408) (xn ) ´e de Cauchy. Sendo (N, d) completo, (xn ) converge em (N, d). Isto ´e, existe b ∈ N tal que lim xn = b. Pela unicidade do limite de uma sequˆencia temos b = a. Portanto a ∈ N . Assim, por exemplo, todo subespa¸co ([ a, b ], µ) ´e completo, por ser um subespa¸co fechado de (R, µ) que ´e completo. O produto cartesiano de espa¸cos m´etricos completos ´e completo. A pr´ oxima proposi¸c˜ ao sustenta mais que isto. Proposi¸ c˜ ao 97. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Ent˜ ao o espa¸co (M × N, D) ´e completo se, e somente se, (M, d1 ) e (N, d2 ) s˜ ao completos. Prova: O enunciado refere-se a qualquer das m´etricas usuais (p. 95) em (M × N, D) uma vez que, conforme j´a vimos (corol. 29, p. 415), determinam neste espa¸co as mesmas sequˆencias de Cauchy. (=⇒) Seja (xn ) uma sequˆencia de Cauchy em (M, d1 ), ent˜ao para cada y ∈ N , a sequˆencia (x1 , y); (x2 , y); . . . ´e de Cauchy no espa¸co (M ×N, D3 ). De fato, dado ε > 0, existe um ´ındice n0 tal que: m, n ≥ n0 ⇒ D3 (xm , y); (xn , y) = max d1 (xm , xn ), d2 (y, y) = d1 (xm , xn ) < ε
Portanto, (xn , y) converge para um ponto (p, q) ∈ M × N e da´ı (xn ) converge para p ∈ M (prop. 14, p. 157), logo (M, d1 ) resulta completo. De maneira an´ aloga se prova que (N, d2 ) ´e completo. (⇐=) Seja (xn , yn ) uma sequˆencia de Cauchy no espa¸co (M × N, D3 ), ent˜ao (xn ) e (yn ) s˜ ao sequˆencias de Cauchy em (M, d1 ) e (N, d2 ), respectivamente (prop. 95, p. 415), e sendo completos estes espa¸cos, existem p ∈ M e 423
q ∈ N de maneira que lim xn = p e lim yn = q. Portanto, novamente pela proposi¸c˜ ao 14 acima citada lim(xn , yn ) = ( p, q ) Isto prova que (xn , yn ) ´e de Cauchy.
Corol´ ario30. Sejam (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . . , (Mn , dn ) espa¸cos m´etricos completos. Ent˜ ao (M1 × M2 × · · · × Mn , D) ´e completo se, e somente se, (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . . , (Mn , dn ) s˜ ao completos.
Prova: Basta aplicar n − 1 vezes a proposi¸c˜ao 97. Exemplo: J´ a vimos que o espa¸co (R, µ) ´e completo. Resulta da´ı que o espa¸co (Rn , Di ) ´e completo. Vamos mostrar agora que “ser completo” ou “n˜ ao ser completo” n˜ ao ´e uma propriedade topol´ ogica (p. 298) mas sim m´etrica. Vimos (ex. 2, p. 296) que os espa¸cos (R, µ) e ] − 1, 1 [, µ s˜ ao homeomorfos, por´em (R, µ) ´e completo e ] − 1, 1 [, µ n˜ ao ´e. Logo “ser completo” ou “n˜ ao ser completo” n˜ ao ´e uma propriedade topol´ogica, visto que n˜ ao ´e preservada por homeomorfismos. A proposi¸c˜ ao a seguir mostra que esta ´e uma propriedade “m´etrica”, isto ´e, propriedade que ´e preservada por isometrias. (p. 254) Proposi¸ c˜ ao 98. Se f : (M, d1 ) → (N, d2 ) ´e uma isometria ent˜ ao (M, d1 ) ´e completo se, e somente se, (N, d2 ) o for. Prova: Sejam (M, d1 ) completo e f : (M, d1 ) → (N, d2 ) uma isometria. Dada uma sequˆencia de Cauchy (yn ) em (N, d2 ), a sequˆencia dada por xn = f −1 (yn ) ´e tamb´em de Cauchy, pois d1 (xn , xm ) = d2 f (xn ), f (xm ) = d2 (yn , ym )
Sendo (M, d1 ) completo, (xn ) converge. Seja a = lim xn . Ent˜ao sendo f cont´ınua, da proposi¸c˜ ao 52 (p. 267), podemos escrever a = lim xn ⇒ f (a) = f (lim xn ) ⇒ f (a) = lim f (xn ) = lim yn
Portanto (yn ) ´e convergente e (N, d2 ) resulta completo. A outra parte da demonstra¸c˜ ao ´e an´ aloga. ´ Nota: Um espa¸co pode ser ao ser completo. E o caso, por exem conexo e n˜ plo, do espa¸co ] 0, 1 ], µ . Como j´a vimos (prop. 80, p. 355) no espa¸co (R, µ) todos os intervalos s˜ ao conexos. Como por´em a sequˆencia (1, 1/2, 1/3, . . .) de pontos em ] 0, 1 ] ´e de Cauchy mas n˜ ao converge neste espa¸co, ent˜ao de fato ] 0, 1 ], µ n˜ ao ´e completo. 424
Tamb´em pode ocorrer de um espa¸co ser completo sem ser conexo: basta considerar o espa¸co (M, δ), onde M ´e qualquer conjunto com pelo menos dois elementos. Em nota (p. 416) dissemos que (M, δ) ´e completo. J´ a na proposi¸c˜ ao 77 (p. 351) vimos que (M, δ) ´e desconexo. O espa¸ co [ 0, 1 [, k ´ e completo
Para provar a pr´ oxima proposi¸c˜ao lan¸caremos m˜ ao do fato de que o intervalo fechado [ 0, 1 ] ´e completo. Antes necessitaremos dos seguintes lemas: Lema 5. Considere (xn ) tal que 0 ≤ xn < 1. Se (xn ) converge para 1 no ao (xn ) converge para 0 no espa¸co [ 0, 1 [, k . espa¸co [ 0, 1 ], µ , ent˜ Prova: Dado ε > 0, existe um ´ındice n0 de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ xn ∈ Bµ 1; ε . Temos que Bµ 1; ε = ] 1 − ε, 1 ]. Sendo assim (mostre) Bµ 1; ε − { 1 } = ] 1 − ε, 1 [ ⊂ Bk (0; ε)
k portanto, xn −→ 0. Nota: Nesta prova n˜ ao faz mal impor a restri¸c˜ao ε ≤ 1. Lema 6. Considere 0 ≤ p < 1 e r > 0, ent˜ ao Bµ p; r ⊂ Bk (p; r). Prova: Seja x ∈ Bµ p; r ent˜ ao |x − p| < r. Temos duas possibilidades: k(x, p) = min |x − p|, 1 − |x − p| = |x − p| < r k(x, p) = min |x − p|, 1 − |x − p| = 1 − |x − p| ≤ |x − p| < r
Em qualquer dos casos x ∈ Bk (p; r).
Corol´ ario 31. Toda sequˆencia (xn) (0 ≤ xn < 1) que converge para o ponto p (0 ≤ p < 1) no espa¸co [ 0, 1 ], µ , converge para o mesmo ponto no espa¸co [ 0, 1 [, k .
Em particular, toda sequˆencia, (xn ) (0 ≤ xn < 1), de Cauchy no espa¸co [ 0, 1 ] tamb´em o ´e em [ 0, 1 [ ; mas a rec´ıproca ´e falsa, como veremos.
425
Proposi¸ c˜ ao 99 (Gentil/01.07.05). O espa¸co m´etrico [ 0, 1 [, k ´e completo. Prova: Seja (xn ) uma sequˆencia de Cauchy em [ 0, 1 [, k . Isto implica: ∀
∃
n0 ∈ N
ε>0
: ∀ ( m, n ≥ n0 )
⇒ k(xm , xn ) = min{ |xm − xn |, 1−|xm − xn | } < ε
(8.10)
Temos duas alternativas: (xn ) ´e de Cauchy em [ 0, 1 ], µ . Neste caso, como este espa¸co ´e completo, (xn ) converge: 1a )
µ µ k k Se xn −→ 1, ent˜ ao xn −→ 0. Se xn −→ p 6= 1, ent˜ao xn −→ p. a 2 ) (xn ) n˜ ao ´e de Cauchy em [ 0, 1 ], µ . k Neste caso afirmamos que a sequˆencia converge para 0, isto ´e: xn −→ 0. De fato, se (xn ) n˜ ao ´e de Cauchy em [ 0, 1 ], µ , ent˜ao: (p. 408)
∃
ε0 >0
:
∀
k∈N
∃
m, n ∈ N
(8.11)
( m, n ≥ k ) ∧ |xm − xn | ≥ ε0
Podemos acompanhar a prova pelo seguinte fluxograma: ∃ ε0 > 0 (fixo) Tome k : 1/k < ε0
(8.11)
Tome
(8.10)
ε<
1 k
∃ n0 ∈ N, n0 = n0 (ε) Tome
( xm , xm , ... ) 1
( xn , xn , ... ) 1
Tome um novo k > max{ mi , ni }
∃ mi , n i ≥ k
2
( 1−|xm −xn |< ε ) i
(8.11)
k ≥ max{ n0 , k }
2
i
Na primeira itera¸c˜ ao ( i = 1 ) por (8.11) existe ε0 > 0 (este est´ a fixo) em seguida, pela propriedade arquimediana, escolhemos um ´ındice k tal que 1 ı entramos na segunda caixa do fluxograma, tomando ε < k1 . k < ε0 . A´ Tome agora k ≥ max{ n0 , k }; sendo assim, por (8.11), podemos escolher dois ´ındices, digamos: m1 , n1 ≥ k de modo que |xm1 − xn1 | ≥ ε0 . A desigualdade (8.10) ´e satisfeita por todos os ´ındices superiores a n0 , como este ´e o caso dos ´ındices m1 e n1 , temos que k(xm , xn ) = min |xm − xn |, 1 − |xm − xn | 1
1
1
1
< ε < ε0 ≤ |xm1 − xn1 | 426
1
1
Esta desigualdade imp˜ oe que seja k(xm1 , xn1 ) = 1 − |xm1 − xn1 | < ε.
Observe que, 1− |xm1 − xn1 | < |xm1 − xn1 |, ou ainda, |xm1 − xn1 | > 1/2; sendo assim os dois termos patrocinados por (8.11) resultam, for¸cosamente, em lados opostos do intervalo (ou metades opostas). Aqui termina a primeira itera¸c˜ao. Iniciemos a segunda (i = 2); agora escolhemos um novo ´ındice k satisfazendo k > max{ m1 , n1 } e retornamos a (8.10). Por raz˜ oes an´ alogas ao do caso precedente concluimos que: k(xm2 , xn2 ) = 1 − |xm2 − xn2 | < ε Geometricamente tudo se passa assim: xm
xn
2
0
2
xm
t
p1 t
xn
t
1
p1
4
2
1
p3 4
t
1
Nota: N˜ao faz mal escolhermos os ´ındices mj associados aos termos da esquerda e os ´ındices nj associados aos termos da direita. Fazemos duas observa¸c˜ oes quanto ao fluxograma: ( i ) k ≥ max{ n0 , k } garante que os ´ındices mi , ni ≥ k, patrocinados por (8.11), tamb´em satisfazem (8.10) o que vai garantir que 1 − |xm − xn | < ε. i
i
( ii ) k > max{ mi , ni } ≥ k garante que a cada nova itera¸c˜ao o novo k ´e maior que o k da itera¸c˜ ao anterior, o que garante sempre ε < k1 < ε0 e, ademais, for¸ca (atrav´es de ∃ mi , ni ≥ k) que os ´ındices mi , ni sejam sempre crescentes (ver defini¸c˜ ao de subsequˆencia). Pois bem, por indu¸c˜ ao, obtemos duas subsequˆencias (xm ), no primeiro j quarto do intervalo e (xn ), no u ´ltimo quarto do intervalo, tais que j
k(xm , xn ) = 1 − |xm − xn | < ε j
j
j
j
(8.12)
Como ε ´e arbitrariamente pequeno (tendo em conta que k ´e sempre crescente a cada itera¸c˜ ao) a desigualdade (8.12) imp˜ oe que a distˆ ancia ( µ ): |xm − xn | aproxime-se arbitrariamente de 1; e isto for¸ca os termos de ambas j j as subsequˆencias a aproximarem-se, arbitrariamente, das extremidades do intervalo [ 0, 1 [. Lembrando da bola Bk (0; r): Bk (0; r< 21 )
0
r
1−r
1
concluimos que ambas as subsequˆencias (xm ) e (xn ) convergem para 0. j j k Portanto, com o aux´ılio da prop. 93 (p. 413), temos xn −→ 0 e [ 0, 1 [, k resulta completo. 427
Observe que esta prova caracteriza (nos diz quem s˜ ao e porque) todas as sequˆencias (xn ) do intervalo [ 0, 1 [ que convergem neste, mas n˜ ao convergem no intervalo [ 0, 1 ]: s˜ ao as sequˆencias que possuem uma subsequˆencia na primeira metade do intervalo e outra na segunda metade. E mais: estas subsequˆencias aproximam-se indefinidamente das extremidades do intervalo, ou seja, uma converge para 0 e a outra para 1, no intervalo [ 0, 1 ], da´ı a raz˜ ao da sequˆencia (xn ) n˜ ao convergir em [ 0, 1 ]. Podemos observar um caso destes escolhendo a sequˆencia (xn ) dada por, (1 , se n ´e par; xn = n 1 se n ´e ´ımpar. 1 − n,
cujos primeiros termos est˜ ao plotados a seguir: x1
x6 x4
s ... s
0
s
x2
s
x3
s
x5 x7
s s. . .
1
Os termos de ´ındices pares convergem para 0 e os de ´ındices ´ımpares tamb´em (na m´etrica k), portanto a sequˆencia converge para 0 e resulta de Cauchy. O mesmo j´a n˜ ao acontece com respeito `a m´etrica µ. Corol´ ario 32. Os trˆes quadrados ( [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ , Di ) s˜ ao completos.
8.2
Espa¸ cos de Banach
Defini¸ c˜ ao 55 (Espa¸cos de Banach). Um espa¸co vetorial normado e completo em rela¸ca ˜o ` a m´etrica induzida por esta norma ´e chamado espa¸co de Banach. Exemplos: 1) Exemplos de espa¸cos de Banach s˜ ao (Rn , k · k), (Rn , k · k′ ) e (Rn , k · k′′ ), onde, para x = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn se tem !1/2 n X p 2 = |x1 |2 + · · · + |xn |2 |xi | kxk = i=1
kxk′ =
n X i=1
|xi | = |x1 | + · · · + |xn |
kxk′′ = max |xi | = max{|x1 |, . . . , |xn |} 1≤i≤n
Ver corol´ ario 30
(p. 424).
428
2) O espa¸ co C[ a, b ], k · k , onde
kf k = max{ |f (x)| : x ∈ [ a, b ] }
´e de Banach. A completeza deste espa¸co foi mostrada no exemplo 4 3) O espa¸ co C[ a, b ], k · k , onde kf k =
Z
(p. 418).
1
0
|f (x)| dx
n˜ ao ´e de Banach. A incompleteza deste espa¸co foi mostrada no exemplo 4 (p. 418). ` p´ 4) O espa¸ co B(X, R), k · k . A agina 32 consideramos o conjunto B(X, R) das fun¸c˜ oes limitadas de de X em R. Neste conjunto consideramos a m´etrica Ψ(f, g) = sup |f (x) − g(x)| : x ∈ X
a qual ´e proveniente da norma
kf kΨ = sup |f (x)| : x ∈ X
Mostraremos agora que o espa¸co vetorial aqui descrito ´e um espa¸co de Banach. Prova: Temos de provar que, sendo (fn ) de Cauchy em B(X, R), k · kΨ , existe uma fun¸c˜ ao f ∈ B(X, R) para a qual (fn ) converge, isto ´e, tal que kfn − f kΨ → 0. Por hip´ otese, para qualquer ε > 0 existe um ´ındice n0 de modo que para todo m, n ≥ n0 temos ε Ψ(fm , fn ) = sup |fm (x) − fn (x)| : x ∈ X < 2
Consequentemente para qualquer x ∈ X fixado, fm (x) − fn (x) < ε (m, n ≥ n0 ) (8.13) 2 Isto mostra que f1 (x), f2 (x), . . . , fm (x), . . . ´e uma sequˆencia de Cauchy de n´ umeros reais. Visto que (R, µ) ´e completo, esta sequˆencia convergir´ a para um n´ umero real (em geral dependente de x) que podemos designar por f (x), ficando assim bem definida uma fun¸c˜ao f: X →R
dada por
f (x) = lim fm (x), ∀ x ∈ X. m→∞
Vamos agora ver que f ´e limitada em X (isto ´e, que f ∈ B(X, R)) e que se tem de fato kfn − f kΨ → 0, o que concluir´a a demonstra¸c˜ao. 429
Na desigualdade (8.13) vamos conservar n fixo (embora arbitr´ario, desde que maior do que n0 ) e x fixo (arbitr´ario em X) e tomar o limite quando m → +∞: ε lim |f (x) − fn (x)| ≤ lim (n ≥ n0 ) m→∞ m m→∞ 2 Logo, ε ε ⇒ |f (x) − fn (x)| ≤ . lim fm (x) − fn (x) ≤ m→∞ 2 2 Deste modo mostramos que |f (x) − fn (x)| ≤ Em particular, sendo assim,
ε < ε, 2
∀ n ≥ n0
f (x) − fn0 (x) < ε,
e
∀x ∈ X
(8.14)
∀x ∈ X
|f (x)| = |f (x) − fn0 (x) + fn0 (x)| ≤ |f (x) − fn (x)| + |fn (x)| 0
0
< ε + |fn0 (x)| para todo x ∈ X. Como fn0 (x) ∈ B(X, R), existe k tal que |fn0 (x)| ≤ k,
∀ x ∈ X.
Logo, |f (x)| < ε + k,
∀ x ∈ X.
Isto mostra que f ´e limitada, ou seja f ∈ B(X, R). A desigualdade (8.14) nos diz que 2ε ´e uma cota superior do conjunto |f (x) − fn (x)| : x ∈ X para n ≥ n0 . Como o sup ´e a menor de tais cotas superiores segue que
logo,
ε sup |f (x) − fn (x)| : x ∈ X ≤ 2
ε kfn − f kΨ = sup |f (x) − fn (x)| : x ∈ X ≤ < ε 2 o que prova que kfn − f kΨ → 0 se n → +∞; terminando a demonstra¸c˜ao. Para o nosso pr´ oximo exemplo de espa¸co de Banach chamamos a aten¸c˜ao do leitor para o fato de que estaremos considerando (simultaneamente) dois espa¸cos m´etricos: 430
i) ( X, d ), onde X 6= ∅ ´e um conjunto qualquer e d ´e uma m´etrica sobre X; ii) B(X, R); k · kΨ , onde B(X, R) ´e o conjunto das fun¸c˜oes f : X → R limitadas e k · kΨ ´e a m´etrica (norma) dada por kf − gkΨ = sup |f (x) − g(x)| : x ∈ X = Ψ(f, g)
Pois bem, dada uma fun¸c˜ ao f ∈ B(X, R) esta pode ou n˜ ao ser cont´ınua. Indicaremos por BC(X, R) o conjunto das fun¸c˜oes limitadas e cont´ınuas f : X → R. Deixamos a cargo do leitor provar que BC(X, R) ´e um subespa¸co vetorial de B(X, R). 5) No presente exemplo mostraremos que BC(X, R); k·kΨ ´e um subespa¸co fechado de B(X, R); k · kΨ e portanto um espa¸co m´etrico completo em virtude da proposi¸ ao 96 (p. 423). Em outras palavras, mostraremos que c˜ BC(X, R); k · kΨ ´e tamb´em um espa¸co de Banach. Prova: Para provar que BC(X, R); k · kΨ ´e um subespa¸co fechado de B(X, R); k · kΨ − consoante a proposi¸c˜ao 44 (p. 216) − basta mostrar que se (fn ) ´e uma sequˆencia em BC(X, R) tal que lim fn = f ∈ B(X, R), ent˜ao f ∈ BC(X, R). Para mostrar que f : ( X, d ) → R ´e cont´ınua, temos de provar que, fixado arbitrariamente um ponto a ∈ X e dado um n´ umero ε > 0 existe δ > 0 tal que, para x∈X
e
d(x, a) < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < ε.
Consideremos ent˜ ao uma sequˆencia (fn ) de fun¸c˜oes cont´ınuas e limitadas fn : X → R,
lim fn = f ∈ B(X, R)
com
Sendo assim dado ε > 0 existe um ´ındice n0 de modo que ∀ n ≥ n0 ⇒ d(fn , f ) = kfn − f kΨ ε = sup |fn (x) − f (x)| : x ∈ X < 3
assim, escolhido um inteiro k ≥ n0 , ter-se-´ a |fk (x) − f (x)| <
ε , 3
∀ x ∈ X.
Como fk : ( X, d ) → R ´e, por hip´ otese, uma fun¸c˜ao cont´ınua existir´a δ > 0 tal que |fk (x) − fk (a)| <
ε ; 3
∀ x ∈ X com d(x, a) < δ. 431
Logo, se x ∈ X e d(x, a) < δ teremos |f (x) − f (a)| = |f (x) − fk (x) + fk (x) − fk (a) + fk (a) − f (a)| ≤ |f (x) − fk (x)| + |fk (x) − fk (a)| + |fk (a) − f (a)| ε ε ε + + = ε. 3 3 3
<
No exemplo 4 (p. 418) dissemos que o espa¸ co de fun¸c˜oes cont´ınuas C[ a, b ], Υ ´e completo; isto ´e que C[ a, b ], k · kΥ ´e um espa¸co de Banach. Esta conclus˜ ao sai como um caso particular do exemplo 5 acima desde que tomemos ( X, d ) = [ a, b ], µ . o que prova a continuidade de f , ou seja f ∈ BC(X, R).
8.3
Espa¸ cos de Hilbert
Defini¸ c˜ ao 56 (Espa¸cos de Hilbert). Um espa¸co de Hilbert ´e um espa¸co vetorial com produto interno que ´e completo em rela¸ca ˜o a ` m´etrica induzida por este produto interno. Os espa¸cos de Hilbert s˜ ao de grande utilidade na formaliza¸c˜ao matem´ atica da Mecˆanica Quˆ antica. Exemplos/contraexemplos: 1) Vimos no exemplo 1 (p. 428) que os espa¸cos (Rn , k · k), (Rn , k · k′ ) e (Rn , k · k′′ ), onde, para x = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn temos kxk = kxk′ =
n X i=1
n X i=1
|xi |2
1/2
=
p
|x1 |2 + · · · + |xn |2
|xi | = |x1 | + · · · + |xn |
kxk′′ = max |xi | = max{|x1 |, . . . , |xn |} 1≤ i ≤n
s˜ ao todos espa¸cos de Banach. Destes apenas o primeiro ´e tamb´em um espa¸co de Hilbert. Isto se deve a que apenas a primeira destas normas ´e oriunda de um produto interno (prove isto!). 2) Vejamos mais um exemplo de um espa¸co que ´e de Banach mas n˜ ao de Hilbert. Mostramos no exemplo 4 (p. 418) que o espa¸co C[ a, b ], k · k , onde kf k = max{ |f (x)| : x ∈ [ a, b ] } 432
´e de Banach. Por outro lado, esta norma n˜ ao ´e proveniente de um produto interno. 3) O espa¸co ℓ 2 , +, · . Este espa¸co j´a foi estudado (p. 615). Veremos agora que o mesmo ´e um espa¸co de Hilbert. Vamos definir a aplica¸c˜ ao h· , ·i : ℓ 2 × ℓ 2 −→ P R (x, y) 7−→ ∞ n=1 xn yn que ´e um produto interno em ℓ 2 , +, · . (Exerc´ıcio/sugest˜ao: ver [AR] 4, p. 603). O espa¸co vetorial ℓ 2 , +, · ´e chamado: “O espa¸co das sequˆencias de quadrado som´ avel ”. A norma em ℓ 2 , +, · se define da maneira usual por v u∞ p uX kxk = hx, xi = t x2n n=1
e a m´etrica induzida por esta norma ´e
v u∞ uX (xn − yn )2 . d(x, y) = kx − yk = t n=1
Proposi¸ c˜ ao 100. O espa¸co ℓ 2 , +, · , das sequˆencias de quadrado som´ avel ´e um espa¸co de Hilbert. Prova: Seja (xn ) uma sequˆencia de Cauchy em ℓ 2 . Digamos∗ x1 = (x11 , x12 , x13 , . . . , x1k , . . .) x2 = (x21 , x22 , x23 , . . . , x2k , . . .) x3 = (x31 , x32 , x33 , . . . , x3k , . . .) ................................. xn = (xn1 , xn2 , xn3 , . . . , xnk , . . .) .................................... xm = (xm1 , xm2 , xm3 , . . . , xmk , . . .) .................................... Sendo (xn ) de Cauchy, dado ε > 0 existe um ´ındice n0 tal que ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(xm , xn ) < ε ∗ Observe que uma sequˆencia (xn ) de pontos no espa¸co ℓ 2 , ´e uma “sequˆencia de sequˆencias”. Isto ´e, cada termo da sequˆencia (xn ) ´e, por sua vez, uma sequˆencia.
433
isto ´e, ∀ m, n ≥ n0 ⇒ kxm − xn k < ε Mas, xm − xn = (xm1 , xm2 , xm3 , . . . , xmk , . . .) − (xn1 , xn2 , xn3 , . . . , xnk , . . .) = (xm1 − xn1 , xm2 − xn2 , . . . , xmk − xnk , . . .) Logo, para todo m, n ≥ n0 v u∞ uX (xmk − xnk )2 < ε kxm − xn k = t
(8.15)
k=1
Com mais raz˜ ao ainda, para cada componente da sequˆencia (xm − xn ) vale q (xmk − xnk )2 < ε (k = 1, 2, . . .) ou seja,
|xmk − xnk | < ε
(k = 1, 2, . . .)
Assim, para cada k fixado, a sequˆencia (xmk )m∈N ´e uma sequˆencia de Cauchy em (R, µ). Esta sequˆencia converge visto que (R, µ) ´e completo. Para cada k ∈ N fa¸camos, ak = lim xmk m→∞
Usando estes limites colocamos, (a1 , a2 , a3 , . . .) = a Para um melhor entendimento observe a figura seguinte
(xmk )m∈N x1 = (x11 , x12 , x13 , . . . , x1k , . . .) x2 = (x21 , x22 , x23 , . . . , x2k , . . .) x3 = (x31 , x32 , x33 , . . . , x3k , . . .) .. .. .. .. .. . . . . . ?↓ ↓ ↓ ↓ ↓ a = (a1 , a2 , a3 , . . . , ak , . . .) Vamos agora ver que a ∈ ℓ 2 e que se tem de fato lim xn = a, o que termina a demonstra¸c˜ ao. 434
De (8.15) temos para todo m, n ≥ n0 j X k=1
(xmk − xnk )2 < ε2
(j = 1, 2, . . .)
Nesta desigualdade podemos fazer m → ∞ conservando n fixo (embora arbitr´ario, desde que maior ou igual a n0 ), ent˜ao, j X
lim
m→∞
Logo,‡
k=1
j X k=1
Portanto,
(xmk − xnk )2 ≤ lim ε2 m→∞
lim xmk − xnk
m→∞
j X
(ak − xnk )2 ≤ ε2
∞ X
(ak − xnk )2 ≤ ε2
k=1
2
≤ ε2
(∀ n ≥ n0 )
Agora podemos fazer j → ∞, obtendo
k=1
(∀ n ≥ n0 )
(8.16)
Sendo xn = (xn1 , xn2 , . . . , xnk , . . .) o n-´esimo termo da sequˆencia de Cauchy em ℓ 2 e a = (a1 , a2 , . . . , ak , . . .) a sequˆencia constru´ıda anteriormente; desta u ´ltima desigualdade concluimos que a − xn ∈ ℓ 2 − para todo n ≥ n0 bem entendido. Portanto, para todo n ≥ n0 , temos (a − xn ) + xn = a ∈ ℓ 2 visto estarmos em um espa¸co vetorial. Finalmente de (8.16) obtemos, para todo n ≥ n0 v u∞ uX t (ak − xnk )2 ≤ ε < 2ε k=1
isto ´e, d(xn , a) < 2ε para todo n ≥ n0 , ou seja, lim xn = a. Com isto completamos a prova da completeza de ℓ 2 . Para vermos que nem todo espa¸co vetorial com produto interno ´e um espa¸co de Hilbert, vamos considerar o espa¸co C[ 0, 1 ], h·, ·i , onde hf, gi =
‡
Z
0
1
f ·g
Proposi¸c˜ ao 18, (p. 163); Proposi¸c˜ ao 20, (p. 164).
435
ent˜ ao, kf k = Neste espa¸co temos,
p
s
hf, f i ⇒ kf k =
d(f, g) = kf − gk =
s
Z
Z
0
1
f ·f
1 0
(f − g)2
O espa¸co C[ 0, 1 ], d n˜ ao ´e um espa¸co de Hilbert. Prova: Para provar esta assertiva consideremos a sequˆencia (fn ) de fun¸c˜oes cujo termo geral ´e dado por (p. 419) 0, 0 ≤ x ≤ 21 ; 1 fn (x) = 2n(x − 12 ), 12 ≤ x ≤ 12 + 2n ; 1 1 1, 2 + 2n ≤ x ≤ 1.
Inicialmente mostremos que (fn ) ´e de Cauchy no espa¸co C[ 0, 1 ], d . Ent˜ao s Z 1 d(fm , fn ) = (fm − fn )2 0
Temos
(gr´ afico p. 420)
Z
1 0
·=
onde, an =
Z
1 2
0
· +
Z
am 1 2
1 1 + 2 2n
Mas, Z
1 2
0
·+
e
·=
Z
Z
an am
am =
· +
Z
1
·
an
1 1 + 2 2m
1 an
·=0
Pois, nestes intervalos, fm = fn ⇒ (fm − fn )2 = 0. Logo, Z am Z 1 Z an ·= · + · 0
1 2
am
Para 1/2 ≤ x ≤ am , temos 1 1 − 2n x − 2 2 1 = 2(m − n) x − 2
fm (x) − fn (x) = 2m x −
436
e para am ≤ x ≤ an , temos fm (x) − fn (x) = 1 − 2n x − Ent˜ao, Z
am 1 2
2
(fm − fn ) =
Z
1 + 1 2 2m 1 2
4(m − n)2 x −
1 . 2 1 2 (m − n)2 = 2 6m3
tamb´em, Z Donde,
an am
2
(fm − fn ) = Z
1
0
Sendo assim, temos
·=
Z
1 + 1 2 2n 1 + 1 2 2m
Temos,
1 − 2n x −
1 2 (m − n)3 = 2 6m3 · n
(m − n)2 (m − n)3 (m − n)2 = + 6m3 6m3 · n 6m2 · n r
(m − n)2 6m2 · n
(n ≤ m)
1 m−n √ d(fm , fn ) = √ · 6 m· n
(n ≤ m)
d(fm , fn ) = ou ainda,
1 m−n 1 m √ · √ <√ · √ <ε 6 m· n 6 m· n onde a u ´ltima das desigualdades ´e uma imposi¸c˜ao de nossa parte. Ent˜ao √
n>
ε·
1 √
6
⇒ n>
1 . 6ε2
Portanto, dado ε > 0 escolhemos n0 > 1/(6ε2 ). Agora consideremos o caso em que n > m. Sendo d(fm , fn ) = d(fn , fm ) podemos escrever m−n 1 √6 · m·√n , se n ≤ m; d(fm , fn ) = √1 · n−m √ , se n > m. 6 n· m Em resumo dado ε > 0 escolhemos n0 >
1 6ε2
e teremos
∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(fm , fn ) < ε Isto ´e, a sequˆencia (fn ) ´e de Cauchy no espa¸co C[ a, b ], h·, ·i . 437
Vamos simular uma situa¸c˜ao. Por exemplo, seja ε = 0, 01, ent˜ao n0 >
1 1 ⇒ n0 > = 1.666, 667 2 6ε 6 · 0, 012
Vamos tomar, ainda como exemplo, m = 1667 e n = 1700, ent˜ao 1 n−m 1700 − 1667 1 √ √ =√ · d(fm , fn ) = √ · ≃ 1, 9 · 10−4 < ε. 6 n· m 6 1700 · 1667 Seja ainda, m = 1668 e n = 1667, ent˜ao m−n 1 1668 − 1667 1 √ =√ · √ ≃ 6, 0 · 10−6 < ε. d(fm , fn ) = √ · m · n 6 6 1668 · 1667 S´ o nos resta mostrar que (fn ) n˜ ao converge em C[ 0, 1 ], h·, ·i . Suponha, ao contr´ ario, que f seja uma fun¸c˜ao em C[ 0, 1 ] tal que lim fn = f . Suponhamos ainda f (c) 6= 0 para algum 0 ≤ c ≤ 21 . Ent˜ao, |fn (c) − f (c)| = |f (c)| > 0 ⇒ Logo, d(fn , f ) = ≥ =
2 1 f (c) > 0 para algum c ∈ 0, . 2 s Z
s Z
s Z
1 0 1 2
0 1 2
(fn − f )2 (fn − f )2 f2 > 0
0
Para todo n. Passando ao limite, temos s s Z 1 Z 2 2 lim d(fn , f ) ≥ lim f = n→∞
n→∞
0
1 2
f2 > 0
0
contrariando a hip´ otese de que lim fn = f . Logo n˜ ao temos f (c) 6= 0 para algum 0 ≤ c ≤ 1/2. Ou ainda, f (x) = 0 para todo 0 ≤ x ≤ 1/2. Esta ´e a primeira conclus˜ao que tiramos a respeito de f = lim fn . Agora suponhamos f (c) 6= 1 para algum 12 < c ≤ 1, ent˜ao |fn (c) − f (c)| = |1 − f (c)| > 0 ⇒ 438
2 1 − f (c) > 0
(8.17)
desde que n satisfa¸ca 1 1 1 + < c ≤ 1, isto ´e n > . 2 2n 2c − 1 Resumindo: Supondo que aconte¸ca f (c) 6= 1 para algum 1/2 < c ≤ 1, 1 , obtendo fn (c) = 1 e da´ı a consideramos apenas as fn a partir de n > 2c−1 1 validade de (8.17) a apartir de n > 2c−1 . Ent˜ao, d(fn , f ) =
≥ Para todo n >
1 2c−1 .
s
Z
1
(fn − f )2
0
sZ
1
(fn − f )2 =
1 2
sZ
1 1 2
(1 − f )2 > 0
Passando ao limite, temos
lim d(fn , f ) ≥ lim
n→∞
n→∞
sZ
1 1 2
(1 − f )2 =
sZ
1 1 2
(1 − f )2 > 0
contrariando a hip´ otese de que lim fn = f . Logo n˜ ao temos f (c) 6= 1 para ´ a algum 12 < c ≤ 1. Ou ainda, f (x) = 1 para todo 12 < x ≤ 1. E segunda conclus˜ao que tiramos a respeito de f = lim fn . Resumindo, temos f : [ 0, 1 ] → R, dada por f (x) 1
f (x) =
0,
1,
se 0 ≤ x ≤ se
1 2
q
1 2;
< x ≤ 1. 0
q1 2
q1
x
o que ´e imposs´ıvel para uma fun¸c˜ao cont´ınua no espa¸co ([ 0, 1 ], µ). Isto prova que n˜ ao existe lim fn em C[ a, b ], h·, ·i . Por conseguinte este espa¸co n˜ ao ´e de Hilbert.
Vejamos mais um exemplo de espa¸co vetorial com produto interno e que n˜ ao ´e de Hilbert. Exemplo − Considere o conjunto C0 0 das sequˆencias reais que s´ o possuem uma quantidade finita de termos n˜ ao nulos. Consideremos o espa¸co C0 0 , h·, ·i onde (p. 615)
∞ X xn y n (xn ), (yn ) = n=1
439
Neste espa¸co temos k(xn )k =
q
v u∞ uX xn xn (xn ), (xn ) ⇒ k(xn )k = t n=1
A distˆ ancia entre duas sequˆencias fica assim v u∞ uX d (xn ), (yn ) = k(xn ) − (yn )k = t (xn − yn )2 . n=1
Consideremos em C0 0 a sequˆencia (xn ), de termos x1 = (x11 , x12 , x13 , . . . , x1k , . . .) x2 = (x21 , x22 , x23 , . . . , x2k , . . .)
x3 = (x31 , x32 , x33 , . . . , x3k , . . .) ................................. xn = (xn1 , xn2 , xn3 , . . . , xnk , . . .) ................................. onde os termos xn de (xn ) s˜ ao sequˆencias xn = xnk k∈N com termos dados por 1 k−1 , se k ≤ n; (8.18) xnk = 2 0, se k > n. A seguir explicitamos os termos de (xn ): x1 = (1, 0, 0, 0, 0, . . .) x2 = 1, 12 , 0, 0, 0, . . .
x3 = 1, 12 , 41 , 0, 0, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . 1 1 , 2n−1 , 0, 0, . . . xn = 1, 12 , 14 , . . . , 2n−2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 1 1 xm = 1, 12 , 14 , . . . , 2n−2 , 2n−1 , 21n , . . . , 2m−2 , 2m−1 , 0, . . . ............................................................ Em nossas argumenta¸c˜oes iremos considerar n < m. Pois bem, mostremos que esta sequˆencia ´e de Cauchy. Isto ´e, dado ε > 0 devemos exibir um ´ındice n0 tal que ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d xm , xn = kxm − xn k < ε 440
Temos, xm − xn = Logo,
1 1 1 1 0, 0, . . . , 0, n , n+1 , . . . , m−2 , m−1 , 0, 0, . . . 2 2 2 2
v v um−1 2 um−1 uX 1 uX 1 d xm , xn = t =t i 2 4i i=n
i=n
No radicando em quest˜ ao temos a soma dos (m − 1 − n) + 1 termos da ao q = 14 . Ent˜ao progress˜ ao geom´etrica de primeiro termo a1 = 41n e raz˜ 1 m−n 1 · − 1 4n 4 1 1 1 = · − Sm−n = 1 3 4n−1 4m−1 4 −1 Portanto, d xm , xn Fa¸camos,
√
3 · = 3
r
1 4n−1
−
1 4m−1
√ r 1 1 1 3 1 · − m−1 < ε ⇒ n−1 − m−1 < 3 ε2 n−1 3 4 4 4 4 Mas,
1 1 1 − < n−1 < 3 ε2 4n−1 4m−1 4 onde a u ´ltima desigualdade ´e uma imposi¸c˜ao de nossa parte. Logo, 4n−1 >
1 ⇒ 3 ε2
2n−1
2
>
1 3 ε2
√1 1 ⇒ 2n−1 > √ ⇒ n − 1 > log2 3 ε . 3ε
Portanto dado ε > 0 exibimos √
n0 > 1 − log2 3·ε e teremos nossas aspira¸c˜ oes satisfeitas. Em resumo, dado ε > 0 escolhemos n0 como acima e teremos ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d xm , xn < ε
onde,
d xm , xn =
√ q 3 1 3 · 4n−1 −
q √ 3· 1 − 3 4m−1 441
1 , 4m−1
se n ≤ m;
1 , 4n−1
se n > m.
Fa¸camos uma simula¸c˜ao. Por exemplo, seja ε = 0, 01, ent˜ao √
√
n0 > 1 − log2 3·ε ⇒ n0 > 1 − log2 3·0,01 = 6, 85. Vamos tomar, ainda como exemplo, m = 10 e n = 7, ent˜ao d xm , xn
√
3 · = 3
r
1 1 − ≃ 0, 00895 < ε 47−1 410−1
Seja ainda, m = 7 e n = 8, ent˜ao d xm , xn
√ r 3 1 1 = · − ≃ 0, 00781 < ε 3 47−1 48−1
Resta mostrar que (xn ) n˜ ao converge no espa¸co C0 0 , h·, ·i . Suponhamos, por absurdo, que exista um ponto p = (p1 , p2 , p3 , . . .) ∈ C0 0 tal que lim xn = p. Consideremos, ademais, a sequˆencia (δk ) de pontos de C0 0 onde, para todo k ∈ N, temos δk = (δk1 , δk2 , δk3 , . . .) onde δki =
(
1, se k = i; 0, se k 6= i.
A seguir explicitamos os termos da sequˆencia (δk ). δ1 = (1, 0, 0, 0, 0, . . .) δ2 = (0, 1, 0, 0, 0, . . .) δ3 = (0, 0, 1, 0, 0, . . .) .. . δk = (0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0, . . .) .. . As sequˆencias δk (k = 1, 2, . . .) tˆem a seguinte propriedade − que nos interessa de perto: dada uma sequˆencia (zn ) ∈ C0 0 qualquer, o produto hδk , (zn )i nos d´ a uma “amostra” do termo de posi¸c˜ao k da sequˆencia (zn ). Veja: δk = (0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0, . . .) (zn ) = (z1 , z2 , . . . , zk , zk+1 , . . .) 442
Ent˜ao, hδk , (zn )i =
∞ X
δkn zn
n=1
= δk1 z1 + δk2 z2 + . . . + δkk zk + δk(k+1) zk+1 + . . . = 0 · z1 + 0 · z2 + . . . + 1 · zk + 0 · zk+1 + . . . = zk Isto ´e, hδk , (zn )i = zk
(k = 1, 2, 3, . . .)
Sendo assim vamos pedir ` as sequˆencias δk (k = 1, 2, . . .) que nos mostrem os termos da sequˆencia p = lim xn . Do seguinte modo∗ pk = hδk , pi = hδk , lim xn i = limhδk , xn i n
n
= lim xnk n→∞
onde xnk ´e dado pela equa¸c˜ ao (8.18) (p. 440) a qual repetimos aqui 1 k−1 , se n ≥ k; xnk = 2 0, se n < k. Vamos calcular alguns destes limites. Temos, p1 = lim xn1 n→∞
onde, xn1 =
1 21−1 ,
0,
se n ≥ 1; se n < 1.
xn1 = (1, 1, 1, . . .) → 1
⇒
⇒ p1 = lim xn1 = 1. n→∞
Tamb´em, p2 = lim xn2 n→∞
onde, xn2 =
∗
1 , 22−1
0,
se n ≥ 2; se n < 2.
⇒
1 1 1 xn2 = (0, , , . . .) → 2 2 2
1 ⇒ p2 = lim xn2 = . n→∞ 2
O produto interno possui a propriedade: hlim xn , lim yn i = limhxn , yn i. n
443
n
n
E de um modo geral, temos
xnk =
1 , 2k−1
0,
se n ≥ k; se n < k.
xnk = (0, . . . , 0,
⇒
⇒ pk = lim xnk = n→∞
1 2k−1
,
1 2k−1
, . . .) →
1 2k−1
1 . 2k−1
Portanto, p = p1 , p2 , p3 , . . . = 1,
1 1 1 , , . . . , k−1 , . . . 6∈ C0 0 2 4 2
logo a sequˆencia de Cauchy (xn ) n˜ ao converge no espa¸co C0 0 , h·, ·i .
8.4
Completamento de Espa¸ cos M´ etricos
O espa¸co (Q, µ) n˜ ao ´e completo como j´a vimos. A constru¸c˜ao de (R, µ) ` partir de (Q, µ) (ver [10], vol. 1 ou [9]) ´e o que denominamos de um a “completamento” de (Q, µ). Veremos que todo espa¸co m´etrico pode ser “completado”. Ou, de modo mais preciso: a partir de qualquer espa¸co m´etrico podemos construir um espa¸co m´etrico completo. Defini¸ c˜ ao 57 (Completamento). Um completamento de um espa¸co m´etrico ˆ , D); ϕ , onde (M ˆ , D) ´e um espa¸co m´etrico completo, (M, d) ´e um par (M ˆ ´e uma imers˜ ϕ: M → M ao isom´etrica (preserva distˆ ancia) e ϕ(M ) ´e denso ˆ ). ˆ em (M , D) (isto ´e, ϕ(M ) = M
ˆ , D) (M
(M, d) yq
xq
q ϕ(x)
ϕ ϕ(M )
q ϕ(y)
ˆ ϕ(M )=M
ˆ , D); ϕ) = Completamento de (M, d) / d(x, y) = D(ϕ(x), ϕ(y)) • ( (M De in´ıcio observamos que por ϕ ser uma imers˜ao isom´etrica ent˜ao ela ˆ. transforma sequˆencias de Cauchy de M em sequˆencias de Cauchy de M (prop. 94, p. 414)
444
Exemplos: ˆ. Vamos, em um caso particular, justificar o porquˆe da exigˆencia ϕ(M ) = M 1 ao 1) Consideremos o espa¸co m´etrico (M, µ) onde M = 0, 4 este espa¸co n˜ ´e completo. Vamos complet´ a-lo. Primeiramente observemos que (M, µ) ´e um subespa¸co do espa¸co m´etrico completo ([ 0, 1 ], µ). Observe que a imers˜ao isom´etrica ϕ(x) = x nos fornece: 1 1 1 3 ϕ(M ) = M = 0, ⊂ 0, ⊂ 0, ⊂ 0, ⊂ [ 0, 1 ] 4 4 2 4 ao completos (por Todos os quatro espa¸cos, 0, 14 , 0, 12 , 0, 34 e [ 0, 1 ] s˜ serem subespa¸cos fechados de um espa¸co completo).
Perguntamos: qual deles elegemos como completamento de M ? Aqui, ˆ nos manda escolher: M ˆ = 0, 1 como precisamente a condi¸c˜ ao ϕ(M ) = M 4 o completamento de M . Esta condi¸c˜ao, como vimos, estabelece a unicidade a precisado oportunamente. do completamento, num sentido que ser´ ˆ esta mesma condi¸c˜ao nos Observe, ademais que no caso em ϕ(M ) ⊂ M diz que o completamento de M ´e o “menor” fechado que cont´em M . Ou seja, basta juntar a ◦ ¯ = X ∪ ∂X). M seus pontos aderentes ou de fronteira (j´a vimos que: X
2) Consideremos os espa¸cos (Q, µ) e (R, µ). Tomando ϕ : Q → R dada por ϕ(x) = x temos que ϕ ´e uma imers˜ao isom´etrica (preserva distˆ ancias) e ϕ(Q) = Q ´e denso no espa¸co m´etrico completo (R, µ). Logo (R, µ) ´e um completamento de (Q, µ). 3) Toda sequˆencia de Cauchy no espa¸co ( [ 0, 1 [, µ ) converge no espa¸co ( [ 0, 1 [, k ) que ´e completo. Sendo assim seriamos tentados a imaginar que o segundo destes espa¸cos ´e um completamento do primeiro. Acontece entretanto que pela defini¸c˜ ao de completamento, uma condi¸c˜ao necess´aria para tanto ´e que exista uma uma imers˜ao isom´etrica: ϕ : ( [ 0, 1 [, µ ) −→ ( [ 0, 1 [, k )
(8.19)
Afirmamos que n˜ ao existe uma tal imers˜ao. De fato, suponha pelo contr´ ario que exista uma ϕ imers˜ao isom´etrica; sendo assim devemos ter, k( ϕ(x), ϕ(y) ) = |x − y|, ∀ x, y ∈ [ 0, 1 [ Tomemos nesta igualdade y = 0 e x = xn = 1 − n1 , assim: k ϕ 1−
1 1 , ϕ(0) = 1 − − 0 n n
Tomemos o limite em ambos os membros, lim k ϕ 1 −
1 1 , ϕ(0) = lim 1 − n n 445
Tendo em conta a continuidade da aplica¸c˜ao k
(eq. (6.14), p. 267),
obtemos
1 , ϕ(0) = 1 k lim ϕ 1 − n
Como (xn ) ´e uma sequˆencia de Cauchy no dom´ınio segue-se que sua imagem ϕ xn ´e uma sequˆencia de Cauchy no contra-dom´ınio. Como o contradom´ınio ´e um espa¸co completo segue que esta sequˆencia tem um limite a ∈ [ 0, 1 [, portanto: k a, ϕ(0) = 1
Ora, este resultado contradiz o fato que 0 ≤ k(x, y) < 1, ∀ x, y ∈ [ 0, 1 [. Portanto, n˜ ao existe nenhuma imers˜ao isom´etrica da forma (8.19). • A constru¸c˜ ao (completamento) do exemplo 1 acima pode sempre ser feita no caso de dois espa¸cos quaisquer (M, d) e (N, d) onde o primeiro ´e incompleto e o segundo completo (logo, fechado), e M ⊂ N . Isto ´e, basta tomar ˆ =M ⊂N ϕ : M −→ M x 7−→ x
E quando o espa¸co incompleto (M, d) n˜ ao ´e subespa¸co de um espa¸co completo, ainda assim podemos complet´ a-lo? A resposta est´ a no conte´ udo da pr´ oxima proposi¸c˜ ao. Por oportuno, observe que na defini¸c˜ao de completamento n˜ao exigimos ˆ. que M ⊂ M Proposi¸ c˜ ao 101 (Existˆencia do completamento). Todo espa¸co m´etrico possui um completamento. Prova: Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico e p um ponto fixado em M . In voquemos em nosso aux´ılio o espa¸co BC(M, R); k·kΨ das fun¸c˜oes cont´ınuas e limitadas f : M → R que ´e completo conforme vimos no exemplo 5 (p. 431). Vamos definir uma aplica¸c˜ao: σ : (M, d) −→ BC(M, R) a 7−→ fa onde, σ(a) = fa : M −→ R x 7−→ d(x, a)−d(x, p) Isto significa que a cada ponto a ∈ M associamos a fun¸c˜ao fa ∈ BC(M, R) dada por fa (x) = d(x, a) − d(x, p). 446
BC(M, R)
(M, d)
pr
a
r
(M, d)
pr
a
x
r
r
r σ(a) = fa
σ -
(R, µ)
r fa (x)=d(x, a) − d(x, p)
fa
Devemos mostrar que σ est´ a bem definida, isto ´e, que fa efetivamente ´e um elemento do conjunto BC(M, R). Ou ainda, que fa : (M, d) −→ (R, µ), dada por fa (x) = d(x, a) − d(x, p) de fato ´e cont´ınua e limitada. Com efeito fa ´e cont´ınua por ser a diferen¸ca entre duas fun¸c˜ oes cont´ınuas∗ e ´e limitada porque para todo x ∈ M ocorre‡ |fa (x)| = |d(x, a) − d(x, p)| ≤ d(a, p) Vamos mostrar que σ ´e uma imers˜ao isom´etrica. Consideremos M a 7−→ σ(a) = fa ∈ BC(M, R) M b 7−→ σ(b) = fb ∈ BC(M, R) mostremos que kσ(a) − σ(b)kΨ = kfa − fb kΨ = d(a, b). De fato, kfa − fb kΨ = sup |fa (x) − fb (x)| : x ∈ M
= sup d(x, a) − d(x, p) − d(x, b) − d(x, p) : x ∈ M
∗ ‡
= sup d(x, a) − d(x, b) : x ∈ M
Exemplo (iv), p. 261. Prop. 2, p. 45.
447
mas, |d(x, a) − d(x, b)| ≤ d(a, b)
logo, d(a, b) ´e uma cota superior do conjunto { |d(x, a) − d(x, b)| : x ∈ M }. Portanto, sup{ |d(x, a) − d(x, b)| : x ∈ M } ≤ d(a, b). pois sup ´e a menor das cotas superiores. Ent˜ao, kfa − fb kΨ ≤ d(a, b)
(8.20)
Por outro lado, para x = b, temos |fa (b) − fb (b)| = d(b, a) − d(b, p) − d(b, b) − d(b, p) = |d(b, a)| = d(a, b).
Portanto, d(a, b) = |fa (b) − fb (b)| ≤ sup { |fa (x) − fb (x)| } x∈M
= kfa − fb kΨ logo, (8.20) e esta u ´ltima igualdade garantem que kfa − fb kΨ = d(a, b). Portanto, σ : (M, d) −→ BC(M, R); k · kΨ
´e uma imers˜ao isom´etrica. Por´em n˜ ao h´ a garantia de que σ(M ) seja denso em BC(M, R); k · kΨ raz˜ ao porque tomamos ˆ = σ(M ) ⊂ BC(M, R) M
ˆ , D) resulta completo por ser subespa¸co fechado do espa¸co m´etrico Assim (M completo BC(M, , R); k · kΨ . ˆ , D) ´e a m´etrica Observe da inclus˜ao anterior que a m´etrica do espa¸co (M do espa¸co BC(M, R); k · kΨ restrita ao fecho de σ(M ). Isto ´e, D(fa , fb ) = kfa − fb kΨ . Fa¸camos, ˆ ϕ : M −→ M a 7−→ fa Observe que as aplica¸co˜es ϕ e σ tˆem o mesmo dom´ınio, s˜ ao dadas pela mesma lei a 7→ fa , mas tˆem contradom´ımios diferentes: o de σ ´e BC(M, R) enquanto o de ϕ ´e σ(M ) ⊂ BC(M, R). Temos, σ(M ) = { σ(a) : a ∈ M } = { fa : a ∈ M } ϕ(M ) = { ϕ(a) : a ∈ M } = { fa : a ∈ M }
448
Logo, ˆ. ϕ(M ) = σ(M ) ⇒ ϕ(M ) = σ(M ) = M ˆ , D); ϕ ´e um completamento de (M, d). Por conseguinte (M
Faremos agora algumas observa¸c˜oes no sentido de esclarecer em que senˆ , D) ´e um completamento do espa¸co tido devemos entender que o espa¸co (M (M, d): ˆ , porquanto os elementos de M e M ˆ tˆem na1a N˜ao temos M ⊂ M turezas distintas. Os elementos de M podem ser quaisquer, enquanto os de ˆ s˜ M ao sempre fun¸c˜ oes f : M → R cont´ınuas e limitadas. a ˆ , D) 2 Devido existir uma imers˜ao isom´etrica entre (M, d) e (M ϕ
M, d
ˆ, D M
dados dois elementos quaisquer a, b ∈ M temos duas op¸c˜oes para calcular a distˆ ancia entre os mesmos: ou diretamente atrav´es da m´etrica d ou indiretamente, transferindo-os (metamorfoseando-os) atrav´es de ϕ, e calculando a distˆ ancia entre as respectivas imagens ϕ(a) e ϕ(b) na m´etrica D uma vez que d(a, b) = D ϕ(a), ϕ(b) = D fa , fb = kfa − fb kΨ 3a Dada uma sequˆencia de Cauchy (xn ) em (M, d), como este espa¸co n˜ ao ´e completo, esta sequˆencia n˜ ao tem obriga¸c˜ao de convergir. Pela proposi¸c˜ao 94 (p. 414) uma aplica¸c˜ ao uniformemente cont´ınua transforma sequˆencias de Cauchy em sequˆencias de Cauchy e sendo uma imers˜ ao isom´etrica uma aplica¸c˜ao uniformemente cont´ınua segue que ϕ(xn ) ´e uma sequˆencia de ˆ , D) e, por conseguinte, tem a Cauchy no espa¸co m´etrico completo (M obriga¸c˜ ao de convergir. Em resumo: embora uma sequˆencias de Cauchy (xn ) n˜ ao convirja necessariamente em (M, d) (incompleto) sua sequˆencia ˆ , D). imagem necessariamente converge em (M Vamos concretizar o que dissemos acima atrav´ es de algumas simula¸c˜oes. • Consideremos o espa¸co m´etrico ] 0, 1 ], µ que n˜ ao ´e completo. J´ a vimos que uma completa¸c˜ ao deste espa¸co ´e [ 0, 1 ], µ . Agora obteremos uma outra constru¸c˜ ao (um outro completamento) seguindo os passos da demonstra¸c˜ ao da proposi¸c˜ ao 101. Ent˜ao, definimos ˆ ⊂ BC(M, R) ϕ : ] 0, 1 ], µ −→ M a
7−→ fa
onde, ϕ(a) = fa : ] 0, 1 ] −→ R x 7−→ |x−a|−|x−p| ˆ , D); ϕ), onde, M ˆ = ϕ( ] 0, 1 ] ) O completamento de ( ] 0, 1 ], µ) ´e o par ( (M 449
e, Observe que,
D(fa , fb ) = kfa − fb kΨ = d(a, b), ∀ a, b ∈ ] 0, 1 ]
ϕ( ] 0, 1 ] ) =
ϕ(a) : a ∈ ] 0, 1 ]
= { fa : a ∈ ] 0, 1 ] }
Por exemplo, consideremos dois pontos a = 14 e b = 43 e calculemos a distˆ ancia entre eles tanto no espa¸co quanto no seu completamento. Temos M 1
b=
a=
3 4
ϕ
3 4
ϕ
1 4
r
1 2
⊥
1 4
r
0
r f3 : ] 0, 1 ] −→ R 4
7−→
x
|x− 43 |−|x−p|
r f : ] 0, 1 ] −→ R 1 4
7−→
x
|x− 41 |−|x−p|
• Vamos mostrar que:
1 3 1 3 1
d , − = = d f1 , f3 = f1 − f3 = 4 4 4 4 2 4 4 4 4 Ψ
Temos,
1 f1 (x) = x − − |x − p| 4 4 3 f3 (x) = x − − |x − p| 4 4
Logo,
1 3 f1(x) − f3(x) = x − − x − 4 4 4 4 Observe que esta diferen¸ca independe do ponto p fixado no intervalo ] 0, 1 ]. Ent˜ ao,
n o
d f1 , f3 = f1 − f3 = sup f1 (x) − f3(x) : x ∈ M 4
4
4
4
Ψ
4
4
1 = sup x − − x − 4 450
3 : x ∈ ] 0, 1 ] 4
Temos, x − 1 , 4 x − 1 = −x + 1 , 4 4
x − 3 , 4 x − 3 = −x + 3 , 4 4
Graficamente temos,
1 | = −x+ 1 |x− 4 4
1 |x− 1 4 | = x− 4
@ @⊣
⊣ 0
se x ≤ 14 . se x ≥ 34 ;
se x ≤ 34 .
-
⊣
⊣
1 2
1 4
⊣ 0
se x ≥ 14 ;
⊣
1 4
⊣ 1
3 4
3 | = x− 3 |x− 4 4
3 |x− 3 4 | = −x+ 4
-
@ @⊣
⊣
1 2
⊣ 1
3 4
Destes gr´ aficos obtemos, 1 0 < x ≤ 4 ⇒ x − 41 − x − 43 = − x + 41 − − x + 43 = − 21 1 4
≤x≤
3 4
⇒
3 4
≤x≤1
⇒
Ent˜ao,
x − 1 − x − 3 = x − 1 − − x + 3 = 2x − 1 4 4 4 4
x − 1 − x − 3 = x − 1 − x − 3 = 4 4 4 4
1 sup x − − x − 4 x ∈ ]0, 1 ] 4
3 = sup x− 4 3 x ∈ [ ,1] 4
1 − x− 4
1 2
3 1 = 4 2
Por outro lado, 3 1 3 1 1 1 ≤x≤ ⇔ ≤ 2x ≤ ⇔ − ≤ 2x − 1 ≤ 4 4 2 2 2 2 1 ⇔ |2x − 1| ≤ 2 1 ⇒ f1(x) − f3 (x) ∈ 0, 2 4 4 Portanto,
1 1 3
f1 − f3 = sup x − − x − : x ∈ ] 0, 1 ] = 4 4 2 4 4 Ψ
conforme haviamos previsto.
451
• Consideremos em M = ] 0, 1 ] a sequˆencia (x n ) dada por xn = 1/n. Esta sequˆencia ´e de Cauchy no espa¸co ] 0, 1 ], µ mas n˜ ao converge neste espa¸co. Vamos mostrar que a sequˆencia imagem ϕ(xn ) converge no espa¸co ˆ , D . Temos (fixando p = 1) M ϕ( n1 ) = f 1 : ] 0, 1 ] −→ R n x 7−→ |x− n1 |−|x−1|
logo 1 f 1 (x) = x − − |x − 1| n n
Alternativamente f 1 (x) pode ser escrita como, n
1 se 0 < x ≤ n1 ; n − 1, f 1 (x) = n 2x − 1 − 1, se 1 ≤ x ≤ 1. n n
A seguir plotamos os trˆes primeiros termos desta sequˆencia juntamente com o gr´ afico da fun¸c˜ ao f candidata ao limite da sequˆencia f 1 . n
f1(x)
f1(x)
f1(x)
f (x)
1
q
1
q
1
1 2
q
1 2
q
1 2
2
1
q
q
x 1
q
1 2 1 2
−1
q
3
q
x q1
q 1 2
q
−1
x
q1
q
−1
−1
q
q21 1 2
q
q
x q1
q
q
Observe que estas fun¸c˜oes pertencem todas ao conjunto BC ] 0, 1 ], R . ˆ , D) (por A sequˆencia f 1 ´e de Cauchy no espa¸co m´etrico completo (M n ser a imagem de uma sequˆencia de Cauchy por uma imers˜ao isom´etrica (ϕ)). Portanto ela converge neste espa¸co. Vamos mostrar que a seguinte convergˆencia se verifica, f1
D(·, ·)=k · kΨ
n
f
onde f ∈ BC ] 0, 1 ], R ´e dada por f (x) = 2x − 1. Pela prop. 9 (p. 143) ´e su ficiente mostrar que a sequˆencia num´erica d(f 1 , f ) = Ψ(f 1 , f ) converge n
para 0 no espa¸co (R, µ). De fato,
452
n
n o Ψ(f 1 , f ) = sup f 1 (x) − f (x) : 0 < x ≤ 1 n
onde
n
1 1 −2x + , se 0 < x ≤ n ; n f 1 (x) − f (x) = n 1 − , se n1 ≤ x ≤ 1. n A seguir vemos os gr´ aficos de h(x) = f 1 (x) − f (x) e |h(x)|. n
h(x) 1
q
1
1 n
q
1 n
q
qn1
q1
|h(x)|
q
x
qn1
1 −n q
1 −n q
−1
−1
q
q1
x
q
Temos, 0
Portanto,
2 2 1 ⇔ 0 < 2x ≤ ⇔ − ≤ −2x < 0 n n n 1 1 1 1 1 ⇔ − ≤ −2x + < ⇒ − 2x + ≤ n n n n n 1 ⇔ f 1 (x) − f (x) ∈ 0, . n n
n o 1 Ψ(f 1 , f ) = sup f 1 (x) − f (x) : 0 < x ≤ 1 = → 0. n n n
Na proposi¸c˜ ao seguinte teremos a oportunidade de ver que, na defini¸c˜ao ˆ vai nos permitir fixar de completamento, a exigˆencia adicional ϕ(M ) = M (amarrar) a unicidade do completamento. Proposi¸ c˜ ao 102 (Unicidade do completamento). Consideremos dois com ˆ , D ); ϕ e (M ˜ , D ); ψ do mesmo espa¸co m´etrico (M, d), pletamentos (M 1 2 ˆ →M ˜ tal que f ◦ ϕ = ψ. ent˜ ao existe uma isometria f : M ˆ , D ) e (M ˜ , D ) espa¸cos m´etricos completos, ϕ : M → Prova: Sejam (M 1 2 ˆ e ψ(M ) = M ˜. ˆ ˜ M e ψ : M → M imers˜oes isom´etricas tais que ϕ(M ) = M ˆ e sendo Para construir a fun¸c˜ ao f desejada observe que dado y ∈ M 453
ˆ existe uma sequˆencia yn ∈ ϕ(M ) ϕ(M ) = { ϕ(x) : x ∈ M } denso em M de modo que lim yn = y (prop. 42, p. 212). Como yn ∈ ϕ(M ) existe an ∈ M com yn = ϕ(an ) de modo que: lim yn = lim ϕ an = y. ˆ , D ent˜ao ´e de Cauchy neste espa¸co. Como ϕ(an ) converge em M 1 Como ϕ ´e imers˜ao isom´etrica segue que an ´e de Cauchy em (M, d). Por ˜ , D visto que ψ conseguinte ψ(an ) ´e uma sequˆencia de Cauchy em M 2 ˜ , D ´e completo existe lim ψ(an ) ´e tamb´em imers˜ao isom´etrica. Como M 2 neste espa¸co. Vamos definir ent˜ao f (y) = lim ψ(an ) ˆ,D ) (M 1
(M, d)
p qqqqq
ϕ(M ) yq տ yn =ϕ(an ) q
ϕ
an
..
.q q q q q q
ψ ˜,D ) (M 2
q q ψ(an ) qq q q ցq f (y) ≡ lim ψ(an )
f
Devemos verificar se f est´ a bem definida. Isto ´e, que se (an ) e (bn ) s˜ ao duas sequˆencias em M com lim ϕ(an ) = lim ϕ(bn ) = y ent˜ao lim ψ(an ) = lim ψ(bn ). Ent˜ ao∗ D2 lim ψ(an ), lim ψ(bn ) = lim D2 ψ(an ), ψ(bn ) = lim d(an , bn )
= lim D1 ϕ(an ), ϕ(bn )
= D1 lim ϕ(an ), lim ϕ(bn ) = D1 y, y
= 0.
Portanto lim ψ(an ) = lim ψ(bn ). ˆ, Agora vamos mostrar que f ´e uma imers˜ao isom´etrica. Dados x, y ∈ M ˆ existem sequˆencias xn , yn ∈ ϕ(M ) tais que como ϕ(M ) ´e denso em M lim xn = x, lim yn = y. Por outro lado, existem sequˆencias (an ) e (bn ) em M tais que ϕ(an ) = xn ; ϕ(bn ) = yn ∗
Proposi¸c˜ ao 52, p. 267.
454
de modo que lim ϕ(an ) = lim xn = x, lim ϕ(bn ) = lim yn = y.
Ent˜ao D2 f (x), f (y) = D2 lim ψ(an ), lim ψ(bn ) = lim D2 ψ(an ), ψ(bn ) = lim d(an , bn )
= lim D1 ϕ(an ), ϕ(bn )
= D1 lim ϕ(an ), lim ϕ(bn ) = D1 x, y .
˜ devemos construir um Devemos mostrar que f ´e sobrejetiva. Dado z ∈ M ˆ tal que f (y) = z. Pois bem, como ψ(M ) = {ψ(x) : x ∈ M } ponto y ∈ M ˜ , D ), isto ´e, ψ(M ) = M ˜ ent˜ao para este z ∈ M ˜ existe uma ´e denso em (M 2 sequˆencia (yn ) de pontos de ψ(M ) tal que lim yn = z. Como yn ∈ ψ(M ) existe an ∈ M tal que yn = ψ(an ). Portanto lim ψ(an ) = z. Consideremos a ˆ . Sendo ψ e ϕ imers˜oes isom´etricas e ψ(an ) uma sequˆencia ϕ(an ) em M sequˆencia de Cauchy, ent˜ ao a sequˆencia ϕ(an ) ´e tamb´em de Cauchy.
Porquanto se ϕ(an ) n˜ ao fosse de Cauchy e como ϕ ´e imers˜ao isom´etrica ent˜ao (an ) t˜ ao pouco seria de Cauchy. Ora (an ) n˜ ao sendo de Cauchy e ψ sendo imers˜ao isom´etrica ent˜ ao ψ(an ) n˜ ao seria de Cauchy. O que n˜ ao ´e verdade pois esta sequˆencia converge. ˆ tal que y = lim ϕ(an ). Da defini¸c˜ao de f segue que Logo existe y ∈ M f (y) = lim ψ(an ) = z.
Portanto f ´e uma imers˜ao isom´etrica sobrejetiva, isto ´e, uma isometria. Resta mostrar que f ◦ ϕ = ψ. Dado a ∈ M existe y = ϕ(a), tomemos em M uma sequˆencia (an ) com lim an = a. Ent˜ao f ◦ ϕ (a) = f ϕ(a) = f (y)
= lim ψ(an ) = ψ(lim an ) = ψ(a). 455
ˆ →M ˜ nos permite identificar os dois − A existˆencia da isometria f : M completamentos.
a
r
˜,D ) (M 2
ˆ,D ) (M 1
(M, d)
rϕ(a)
ϕ
f
f −1
rf (ϕ(a))=Ψ(a)
Ψ
8.5
Espa¸ cos topologicamente completos
Observe que os espa¸cos (R, µ) e ( ] − 1, 1 [ ; µ) s˜ ao homeomorfos (ex. 2 p. 296) n˜ ao obstante o primeiro ser completo e o segundo n˜ ao. Isto ´e poss´ıvel pelo fato de que “ser completo” ou “n˜ ao ser completo” n˜ ao ´e uma propriedade topol´ ogica, visto que n˜ ao ´e preservada por homeomorfismos. Consideremos dois espa¸cos (M, d) e (N, D) homeomorfos. Se h : (M, d) −→ (N, D) ´e um homeomorfismo ent˜ao
(p. 93)
d′ (x, y) = D h(x), h(y)
(8.21)
´e uma m´etrica em M equivalente∗ a d, tal que
h′ : (M, d′ ) −→ (N, D) ´e uma isometria (devido a (8.21)). Logo (M, d′ ) resultar´a completo se (N, D) o for (prop. 98, p. 424). Como d′ ∼ d temos que i : (M, d) −→ (M, d′ )
´e um homeomorfismo sendo que (M, d) pode n˜ ao ser completo mas (M, d′ ) sim. Isto ´e, sendo (M, d) um espa¸co n˜ ao completo pode existir uma m´etrica d′ , equivalente a d, que o torne completo. Por exemplo, h : ] − 1, 1 [ , µ −→ R, µ dada por h(x) =
∗
x ´e um homeomorfismo. Fazendo 1 − |x| d′ (x, y) = µ h(x), h(y) = |h(x) − h(y)| x y = − 1 − |x| 1 − |y|
No apˆendice (p. 471) mostramos que d′ ∼ d.
456
temos que ] − 1, 1 [ , d′ resulta um espa¸co m´etrico completo. Observe, a t´ıtulo de curiosidade, que a sequˆencia dada por an = 1 − n1 ´e de Cauchy no espa¸co ] − 1, 1 [ , µ ; sendo este um espa¸co n˜ ao completo esta sequˆencia n˜ ao tem obriga¸c˜ ao de convergir. J´ a no espa¸co ] − 1, 1 [ , d′ , que ´e completo, esta mesma sequˆencia n˜ ao ´e de Cauchy, n˜ ao tendo portanto obriga¸c˜ ao de convergir. Das afirma¸c˜ oes feitas vamos mostra que (an ) n˜ ao ´e de Cauchy na m´etrica d′ . Para tanto devemos exibir ε > 0 de modo que para todo ´ındice n0 existam m ≥ n0 e n ≥ n0 tais que d′ (am , an ) ≥ ε (p. 408). De fato, consideremos ε = 1/2 e dado n0 ∈ N tomemos m = n0 + 1 e n = n0 , ent˜ao |m − n| = |(n0 + 1) − n0 | = 1, portanto isto implica em que 1 1 −n 1− ≥ε |m − n| ≥ ε ⇒ m 1 − m n 1− 1 1 − n1 m ⇒ − ≥ε 1 1 − 1 − m 1 − 1 − n1 1− 1 1 − n1 m ≥ ε ⇒ 1 − 1 − 1 − m 1 − 1 − n1 a a m − n ≥ ε ⇒ d′ (am , an ) ≥ ε. ⇒ 1 − am 1 − an
Proposi¸ c˜ ao 103. Todo subconjunto aberto de um espa¸co m´etrico completo ´e homeomorfo a um espa¸co m´etrico completo. Prova: Seja A ⊂ M aberto no espa¸co m´etrico completo (M, d). A aplica¸c˜ ao,
ϕ : M −→ R x 7−→ d(x, Ac )
´e cont´ınua (p. 261). Como Ac ´e fechado temos podemos definir a fun¸c˜ ao
(prop. 40, p. 211)
ϕ(x) > 0 ⇔ x ∈ A. Portanto,
f : A ⊂ M −→ R 1 x 7−→ ϕ(x) Observe que f ´e cont´ınua porque ϕ ´e cont´ınua. Vamos considerar as duas seguintes fun¸c˜oes auxiliares g : A × R −→ R (x, t) 7−→ t
e
j : A × R −→ R 1 (x, t) 7−→ ϕ(x) 457
g ´e cont´ınua (proje¸c˜ ao) e mostremos que j tamb´em ´e cont´ınua. Para tanto vamos considerar no produto A × R a m´etrica (p. 95) D2 (X, Y ) = d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 ) = d(x, y) + |b − c| onde, X = (x, c) ∈ A × R e Y = (y, b) ∈ A × R. R
R
s g(x, t)
g
t
q
c
q
b
q
R
A×R
s(x, t)
j(x, t)
s(x, c)
j
-
s
s(y, b)
xp
yp
A
f
s
?
f (x)
s
R
f (y)
Vamos mostrar que j ´e cont´ınua em um ponto arbitr´ario Y = (y, b). Dado ε > 0 devemos exibir δ > 0 de maneira que D2 (X, Y ) < δ ⇒ |j(X) − j(Y )| < ε ou ainda,
1 1 <ε (8.22) − d(x, y) + |b − c| < δ ⇒ ϕ(x) ϕ(y) Consideremos a continuidade de f no ponto y. Ent˜ao, dado ε > 0 existe δ′ > 0 de modo que 1 1 ′ d(x, y) < δ ⇒ |f (x) − f (y)| = <ε − ϕ(x) ϕ(y) Logo,
1 1 d(x, y) + |b − c| < δ + |b − c| ⇒ <ε − ϕ(x) ϕ(y) Portanto tomando δ = δ′ +|b−c| teremos (8.22) satisfeita. Logo j ´e cont´ınua. Com este resultado asseguramos que o conjunto ′
(x, t) ∈ A × R : g(x, t) = j(x, t) n 1 o = (x, t) ∈ A × R : t = ϕ(x)
F =
458
´e fechado (ver observa¸ca˜o, p. 283). Como F ⊂ A × R ⊂ M × R, decorre que F ´e um subespa¸co completo, por ser fechado em M × R, que ´e completo (prop. 97, p. 423). Por outro lado o gr´ afico de f ´e dado por G(f ) = x, f (x) : x ∈ A o n 1 :x∈A = x, ϕ(x) n 1 o = F. = (x, t) ∈ A × R : t = ϕ(x) Como o gr´ afico de uma aplica¸c˜ ao cont´ınua ´e homeomorfo ao seu dom´ınio segue que o espa¸co completo F = G(f ) ´e homeomorfo ao aberto A. O homeomorfismo em quest˜ ao ´e dado por
(ex. 7, p. 308)
h : (A, d) −→ (G(f ), D2 ) x 7−→ (x, f (x)) ent˜ao
(eq. (8.21), p. 456)
d′ (x, y) = D2 h(x), h(y)
(8.23)
´e uma m´etrica em A equivalente a d, tal que
h′ : (A, d′ ) −→ G(f ), D2 x
7−→
(x, f (x))
´e uma isometria; sendo que (A, d′ ) ´e completo porque G(f ), D2 o ´e. Na igualdade (8.23) temos 1 h(x) = x, f (x) = x, ϕ(x) 1 h(y) = y, f (y) = y, ϕ(y) ent˜ao,
D2 h(x), h(y) = D2 x,
mas ϕ(x) = d(x, Ac ), ent˜ ao
1 1 ; y, ϕ(x) ϕ(y) 1 1 − = d(x, y) + ϕ(x) ϕ(y)
1 1 − d (x, y) = d(x, y) + c c d(x, A ) d(y, A ) ′
459
(8.24)
Vamos concretizar a demonstra¸c˜ao da proposi¸c˜ao anterior com um exemplo espec´ıfico. Consideremos o subespa¸co (A, µ) do espa¸co m´etrico completo (R, µ), onde A = ] − 1, 1 [. Temos, ϕ : R −→ R x 7−→ d(x, Ac )
Ac = ] −∞, 1 ] ∪ [ 1, +∞ [
onde
tamb´em, f : ] − 1, 1 [ −→ R 1 x 7−→ ϕ(x) Vamos explicitar as aplica¸c˜oes ϕ e f . Consideremos um ponto x arbitrariamente fixado em A. Ent˜ao, d(x, Ac ) = inf d(x, y) : y ∈ Ac = inf |x − y| : y ≤ −1 ou y ≥ 1
Temos,
|x − y| =
x − y,
se
x ≥ y;
−x + y,
se
x < y.
Consideremos quatro possibilidades: (i) (ii) (iii) (iv)
0≤x<1
e
−1 < x ≤ 0
e
0≤x<1 −1 < x ≤ 0
y ≥ 1;
y ≤ −1; y ≥ 1;
e e
y ≤ −1.
Ent˜ ao, (i) 0 ≤ x < 1 e y ≥ 1.
Como x < y ⇒ |x − y| = −x + y. Como y ≥ 1 ⇒ −x + y ≥ 1 − x, isto ´e |x − y| = −x + y ≥ 1 − x
portanto, inf
0 ≤ x<1
(ii) 0 ≤ x < 1 e y ≤ −1.
|x − y| : y ≥ 1
=1−x
Como x > y ⇒ |x − y| = x − y. Como y ≤ −1 ⇒ x − y ≥ 1 + x, isto ´e |x − y| = x − y ≥ 1 + x 460
portanto, inf
0 ≤ x<1
mas,
|x − y| : y ≤ −1
=1+x
1−x≤1+x ⇔ x≥0 por conseguinte, inf
|x − y| : y ≤ −1 ou y ≥ 1
0 ≤ x<1
= 1 − x.
Com racioc´ınio an´ alogo, nos casos (iii) e (iv) chegamos a |x − y| : y ≤ −1 ou y ≥ 1 = 1 + x. inf −1 < x ≤ 0
Geometricamente tudo se passa do seguinte modo: x−(−1) = d(x, Ac )
] −∞, −1 ]
r
ւ
ց
◦ −1
qx
q0
qx
d(x, Ac ) = 1−x
r
◦ 1
[ 1, +∞ [
Sendo assim temos, 0, 1 + x, ϕ(x) = 1 − x, 0,
Logo,
f (x) =
1 , 1+x
Temos,
1 , 1−x
se se se se
x ≤ −1; −1 < x ≤ 0; 0 ≤ x < 1; x ≥ 1.
se
−1 < x ≤ 0;
se
0 ≤ x < 1.
x, f (x) : x ∈ A = x, f (x) : − 1 < x < 1
G(f ) =
=
n
x,
o[n o 1 1 : −1
A seguir vemos a geometria da situa¸c˜ao (gr´ afico `a esquerda) 461
r←− f
G(f )⊂ R2 −→
r←−f
−1
q0
q0
−1
1
1 2
3 4
=4
=2
1
↑
d′
O homeomorfismo em quest˜ao ´e dado por h : ] − 1, 1 [, µ −→ (G(f ), D2 ) x 7−→ (x, f (x)) Ent˜ ao,
h(x) = (x, f (x)) =
x,
x,
1 1+x 1 1−x
se
−1 < x ≤ 0;
se
0 ≤ x < 1.
O espa¸co ( ] − 1, 1 [, d′ ) resulta completo, onde d′ (x, y) = D2 h(x), h(y) 1 1 = d(x, y) + − ϕ(x) ϕ(y) = |x − y| + |f (x) − f (y)|.
Por exemplo, tomemos em A = ] − 1, 1 [ , x =
1 2
ex=
3 4
d′ (x, y) = |x − y| + |f (x) − f (y)| 1 3 1 3 = − + f −f 2 4 2 4 9 1 = + |2 − 4| = = 2, 25. 4 4 462
ent˜ao (eq. (8.24), p. 459)
Por outro lado
(aplica¸ca ˜o h′ , p. 459)
1 7−→ 2
1 1 ,f 2 2
3 7−→ 4
3 3 ,f 4 4
=
1 , 2 ∈ G(f ) 2
=
3 , 4 ∈ G(f ) 4
Ent˜ao D2
1 1 3 3 , f( ) ; , f( ) 2 2 4 4
1 1 3 9 = − + 2 − 4 = + 2 = = 2, 25. 2 4 4 4
Ver gr´ afico anterior (` a direita).
Defini¸ c˜ ao 58. Definiremos um espa¸co m´etrico topologicamente completo como um espa¸co m´etrico (M, d) que ´e homeomorfo a um espa¸co m´etrico completo. Ou, de modo equivalente, tal que existe uma m´etrica d′ , equivalente a d, de maneira que (M, d′ ) seja completo.
Propriedade das celas encaixantes Diremos que uma sequˆencia de intervalos In , n ∈ N, ´e encaixante se a cadeia de inclus˜oes: I1 ⊃ I2 ⊃ · · · ⊃ In ⊃ In+1 ⊃ · · · se verifica. Uma sequˆencia de intervalos encaixantes n˜ ao tem necessariamente um ponto em comum. Por exemplo as sequˆencias dadas por, In = [ n, +∞ [
e
s˜ ao encaixantes e, no entanto ∞ \
n=1
In = ∅
e
1 Jn = 0, n ∞ \
n=1
Jn = ∅.
Uma propriedade importante do espa¸co (R, µ) ´e que toda sequˆencia encaixante de intervalos fechados tem um ponto comum (Propriedade das Celas a generalizada na pr´ oxima proposi¸c˜ao Encaixantes). Esta propriedade ser´ (lema). Antes disto vejamos um exemplo espec´ıfico. Consideremos a sequˆencia (Fn ) de conjuntos com termo geral dado por Fn = − n1 , n1 . Neste caso temos uma sequˆencia encaixante F1 ⊃ F2 ⊃ · · · ⊃ Fn ⊃ · · · 463
de subconjuntos fechados em (R, µ). Calculemos o diˆ ametro de Fn (uma vez que este se far´a presente na hip´ otese da pr´ oxima proposi¸c˜ao): diam Fn = sup d(x, y) : x, y ∈ Fn n 1 1 o = sup |x − y| : x, y ∈ − , n n
Ent˜ ao,
− n1 ≤ x ≤
1 n
− n1
1 n
≤y≤
− n1 ≤ x ≤
=⇒
1 n
− n1 ≤ −y ≤ +:
1 n
− n2 ≤ x − y ≤
2 n
2 n
⇒
|x − y| ≤
⇒
|x − y| ∈ 0,
Portanto,
2 n
2 2 diam Fn = sup 0, = n n h
− 21
−1
[ −1 3
··· y
0
···
diam F3 =2/3
]1
3
i
1 2
1
R
diam F2 =1 diam F1 =2
Observe que, lim diam Fn = lim
n→∞
E ainda,
T∞
n=1 Fn
n→∞
2 =0 n
= { 0 }.
Lema 7. Um espa¸co m´etrico (M, d) ´e completo se, e somente se, para toda sequˆencia encaixante F1 ⊃ F2 ⊃ · · · ⊃ Fn ⊃ Fn+1 ⊃ · · · de subconjuntos fechados n˜ ao-vazios Fn ⊂ M , com lim diam Fn = 0, existe um u ´nico ponto n→∞ a ∈ M tal que ∞ \ Fn = { a }. n=1
Prova: (=⇒) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico completo e Fn uma sequˆencia satisfazendo as hip´ oteses. Como os Fn s˜ ao n˜ ao vazios, para cada n ∈ N, escolhamos um ponto xn ∈ Fn . Deste modo obtemos uma sequˆencia (xn ) de 464
pontos de M . Vamos mostrar que a sequˆencia assim constru´ıda ´e de Cauchy. Dado ε > 0 como lim diam Fn = 0 existe um ´ındice n0 de modo que n→∞
∀ n ≥ n0 ⇒ |diam Fn − 0| < ε Ent˜ao, diam Fn0 = sup d(x, y) : x, y ∈ Fn0 < ε
⇒ ∀ x, y ∈ Fn0 ⇒ d(x, y) ≤ diam Fn0 < ε
(8.25)
Como os conjuntos Fn s˜ ao encaixados para i < j ⇒ Fi ⊃ Fj . Logo, m ≥ n0
Fn0 ⊇ Fm
=⇒
Fn ⊇ Fn
n ≥ n0
como,
xm ∈ F m
0
xm , xn ∈ Fn0
=⇒
xn ∈ F n
logo se m, n ≥ n0 podemo garantir, por (8.25), que d(xm , xn ) < ε. Portanto (xn ) ´e de Cauchy. Perceba que ´e a hip´ otese de que os diˆ ametros dos conjuntos Fn tornamse arbitrariamente pequenos (isto ´e diam Fn → 0) que nos garante que escolhendo um ponto em cada conjunto, estes pontos tornam-se, a partir de uma certa ordem, arbitrariamente pr´ oximos uns dos outros (que ´e a condi¸c˜ao para que (xn ) seja de Cauchy). (M, d)
··
·
Fn
F2 F1
Fm Fn 0
r
rxm
xn
r x2
rx1
m, n ≥ n0
Como (M, d) ´e completo temos que lim xn = a ∈ M . Considerando que a sequˆencia (Fn ) ´e encaixada e tendo em conta a prop. 43 (p. 214), temos: 465
(prop. 12, p. 155)
F1 cont´em (xn )n≥1
⇒
lim xn = a ∈ F1
F2 cont´em (xn )n≥2 .. .
⇒
lim xn = a ∈ F2 .. .
Fk cont´em (xn )n≥k
⇒
lim xn = a ∈ Fk
onde k ´e um natural arbitr´ario. Conclus˜ao:
∞ \
n=1
Fn = { a }.
´ precisamente neste ponto que necessitamos da hip´ E otese de que todos os Fn sejam fechados. Pois se um deles, digamos Fj , n˜ ao fosse fechado poderia ∞ \ Fn . ocorrer lim xn = a 6∈ Fj e portanto a 6∈ n=1
Vamos mostrar que este ´e o u ´nico ponto da intersec¸c˜ao. Suponha, ao ∞ \ Fn e b 6= a. Ent˜ao d(a, b) > 0, tomando ε = d(a, b) > contr´ ario, que b ∈ n=1 T 0, vejamos o que acontece: como a, b ∈ Fn temos que ∀ n; a, b ∈ Fn ⇒ ε = d(a, b) ≤ diam Fn ⇒ ∀ n, ε ≤ diam Fn
o que iria contrariar (8.25)
(p. 465).
(⇐=) Reciprocamente, consideremos que a intersec¸c˜ao de toda sequˆencia encaixante de fechados n˜ ao vazios, cujos diˆ ametros tendem a zero, ´e um ponto de M . Provemos que (M, d) ´e completo. De fato, seja (xn ) uma sequˆencia de Cauchy em (M, d), a partir desta sequˆencia construimos uma sequˆencia (Xn ) de conjuntos colocando Xn = { xn , xn+1 , . . . } para todo n natural. Sendo assim X1 ⊃ X2 ⊃ · · · ⊃ Xn ⊃ Xn+1 ⊃ · · · , tendo em conta ¯ temos que (X ¯ n ) ´e uma sequˆencia encaixante de que se A ⊂ B ⇒ A¯ ⊂ B fechados n˜ ao-vazios. Ademais temos que X1 ⊃ · · · ⊃ Xn ⊃ · · · ⇒ diam X1 ≥ · · · ≥ diam Xn ≥ · · · ≥ 0 consequentemente diam Xn ´e uma sequˆencia decrescente de n´ umeros reais, limitada inferiormente por zero e, portanto, converge para zero (Nota p. 160). Tendo em conta ainda a proposi¸c˜ao 41 (p. 211) podemos escrever ¯ n. 0 = lim diam Xn = lim diam X n→∞
n→∞
T¯ Logo, por hip´ otese, existe a ∈ M de modo que X n = { a }. Em partic¯ logo (prop. 42, p. 212) existe uma sequˆencia (yn ) de pontos de ular a ∈ X 1 X1 = { x1 , x2 , x3 , . . . } com lim yn = a. Ora sendo assim (yn ) ´e, na verdade, uma subsequˆencia de (xn ) e como (xn ) ´e de Cauchy segue (prop. 93, p. 413) que a = lim xn .
466
Exemplos: 1) No espa¸co (R, µ) considere Fn = [ n, +∞ [. Ent˜ao F1 ⊃ F2 ⊃ · · · , e cada Fn ´e fechado (complementar aberto) e n˜ ao vazio,
F1
x 0
1
2
F2
···
3
F3
Fn′
x
c
n′
R
T todavia ∞ e ilimitado superin=1 Fn = ∅. Com efeito, tendo em vista que N ´ ′ ′ ormente, dado qualquer c ∈ R, existe n de modo que n > c, por conseguinte c 6∈ Fn′ . Assim nenhum n´ umero real pode pertencer a todos os Fn . Mas isto n˜ ao contraria o lema 7 uma vez que os Fn n˜ ao cumprem lim diam Fn = 0. n→∞ 1 2) No espa¸co [ 0, 1 [, µ considere Fn = 0, n . Ent˜ao F1 ⊃ F2 ⊃ · · · , e T lim diam Fn = 0 e ainda ∞ F = { 0 }. Mas [ 0, 1 [, µ n˜ ao ´e completo n=1 n n→∞
ao (por exemplo a sequˆencia de termo geral xn = 1 − n1 ´e de Cauchy mas n˜ converge). Esta conclus˜ao n˜ ao contraria o lema 7 uma vez que os Fn n˜ ao s˜ ao fecha dos no espa¸co [ 0, 1 [ , µ .
8.6
Teorema do Ponto Fixo de Banach
O Teorema do Ponto Fixo de Contra¸ co ˜es em Espa¸ cos M´ etricos Completos Vimos (p. 358) que toda fun¸c˜ ao cont´ınua f : [ a, b ] → [ a, b ] admite um ponto fixo, isto ´e, existe um ponto c ∈ [ a, b ] de modo que f (c) = c. Este resultado ´e um caso especial de um famoso resultado de Topologia, conhecido como o Teorema do Ponto Fixo de Brower cujo enunciado ´e o seguinte: Toda aplica¸c˜ ao cont´ınua cujo dom´ınio e o contradom´ınio s˜ ao iguais `a bola unit´ aria fechada B[ 0; 1 ] =
u ∈ Rn : kuk ≤ 1
=B ∴
f : B ⊂ Rn → B ⊂ Rn
tem um ponto fixo, isto ´e, um ponto p ∈ B[ 0; 1 ] tal que f (p) = p. Al´em desse, existem outros teoremas sobre pontos fixos, como o teorema do ponto fixo de Banach que estudaremos agora. Proposi¸ c˜ ao 104 (Teorema do Ponto Fixo de Banach). Se (M, d) ´e um espa¸co m´etrico completo, ent˜ ao toda contra¸ca ˜o f : M → M tem precisamente um u ´nico ponto fixo. 467
Prova: Construiremos uma sequˆencia (xn ) e mostraremos que ela ´e de Cauchy e, assim, converge no espa¸co completo (M, d). Em seguida mostraremos que o limite de (xn ) ´e o u ´nico ponto fixo de f . Esta ´e a id´eia da prova. Inicialmente escolhemos qualquer ponto x0 ∈ M e definimos uma sequˆencia recursiva (xn ) por x1 = f (x0 ), x2 = f (x1 ), x3 = f (x2 ), . . . , xn+1 = f (xn ), . . . Mostremos que (xn ) ´e de Cauchy. Da defini¸c˜ao de contra¸c˜ao (8.26) podemos escrever d(xm+1 , xm ) = d f (xm ), f (xm−1 )
(8.26)
(p. 257)
e de
≤ α d(xm , xm−1 )
= α d f (xm−1 ), f (xm−2 )
≤ α2 d(xm−1 , xm−2 )
= α2 d f (xm−2 ), f (xm−3 ) ≤ α3 d xm−2 , xm−3
........................ ≤ αm d(x1 , x0 ) pela desigualdade triangular generalizada
(p. 44) M
• xm
• xn • xm+1
... • xm+2
• xn−1
obtemos (para n > m) d(xm , xn ) ≤ d(xm , xm+1 ) + d(xm+1 , xm+2 ) + · · · + d(xn−1 , xn ) ≤ αm + αm+1 + · · · + αn−1 d(x0 , x1 ) = αm ·
1 − αn−m d(x0 , x1 ) 1−α
onde usamos a f´ormula da soma dos termos de uma progress˜ao geom´etrica. Da desigualdade 0 < α < 1 decorre que∗ 1 − αn−m < 1. Por conseguinte, 1 − αn−m 1 1 − αn−m 1 < ⇒ αm · d(x0 , x1 ) < αm · d(x0 , x1 ) 1−α 1−α 1−α 1−α ∗
Se 0 < c < 1 e n ≥ m ent˜ ao 0 < cn ≤ cm < 1.
468
isto ´e d(xm , xn ) <
αm d(x0 , x1 ) 1−α
(n > m)
(8.27)
Temos que 0 < α < 1 e d(x0 , x1 ) s˜ ao constantes (n˜ ao dependem de m), sendo assim podemos tornar o lado direito t˜ao pequeno quanto desejarmos, bastando para isto tomar m suficientemente grande. Isto prova que (xn ) ´e de Cauchy. Sendo (M, d) completo, (xn ) converge, digamos, xn → p. Mostraremos que o limite p ´e o ponto fixo da aplica¸c˜ao f . Da defini¸c˜ ao de contra¸c˜ ao e da desigualdade triangular M
p•
• f (p)
• xn
decorre que d p, f (p) ≤ d(p, xn ) + d xn , f (p)
= d(p, xn ) + d f (xn−1 ), f (p)
≤ d(p, xn ) + α d(xn−1 , p)
podemos tornar esta u ´ltima soma menor que qualquer ε > 0 prefixado porquanto∗ xn → p. Sendo assim concluimos que d p, f (p) = 0, ou ainda, p = f (p); isto ´e, p ´e um ponto fixo de f . p ´e o u ´nico ponto fixo de f porque de f (p) = p e f (q) = q obtemos
portanto
d(p, q) = d f (p), f (q) ≤ α d(p, q) d(p, q) · (1 − α) ≤ 0 ⇒ d(p, q) ≤ 0
visto que α < 1. Por conseguinte, p = q e o teorema est´ a provado.
Corol´ ario 33 (Itera¸c˜ oes, limite superior para o erro). Sob as condi¸co ˜es da proposi¸ca ˜o 104 a sequˆencia iterativa (8.26) com x0 ∈ M arbitr´ ario converge para o u ´nico ponto fixo p de f . O erro cometido ao se tomar o m−´esimo iterado xm como um valor aproximado para o ponto fixo p tem como limite superior αm d(x0 , x1 ) (8.28) d(xm , p) ≤ 1−α ∗
Proposi¸c˜ ao 9, p. 143.
469
´ imediato da desigualdade (8.27) fazendo n → ∞. Prova: E Esta desigualdade pode ser usada para uma estimativa do n´ umero de itera¸c˜ oes necess´ario, para se atingir uma precis˜ao a priori fixada. Ami´ ude acontece de uma aplica¸c˜ao n˜ ao ser uma contra¸c˜ao no espa¸co inteiro (M, d), mas sim em um seu subespa¸co (N, d). Contudo, se (N, d) ´e fechado, ele ´e completo pela proposi¸c˜ao 96 (p. 423), sendo assim f tem um ponto fixo p em N , e com uma escolha apropriada de x0 teremos xn → p como anteriormente. Um t´ıpico e u ´til resultado deste gˆenero ´e como segue Corol´ ario 34. Seja f uma aplica¸ca ˜o de um espa¸co m´etrico completo (M, d) sobre si mesmo. Suponha que f ´e uma contra¸ca ˜o sobre uma bola fechada N = x ∈ M : d(x, x0 ) ≤ r , isto ´e, f satisfaz d f (x), f (y) ≤ α d(x, y) (α < 1) para todo x, y ∈ N . Ademais, assuma que d x0 , f (x0 ) < (1 − α) r. (8.29)
Ent˜ ao a sequˆencia iterativa (8.26) converge para um ponto p ∈ N . Este p ´e um ponto fixo de f e ´e o u ´nico ponto fixo de f em N . Prova: Tomando m = 0 na equa¸c˜ao (8.27) temos d(x0 , xn ) <
1 d(x0 , x1 ) 1−α
(n > 0)
usando (8.29) chegamos a d(x0 , xn ) < r
(n > 0)
consequentemente todos os termos da sequˆencia (xn ) moram na bola N . Tamb´em p ∈ N visto que xn → p e N ´e fechado. A asser¸c˜ao do corol´ ario segue agora da prova do teorema de Banach. ∗
∗
∗
N˜ ao creio que devo gastar anos estudando o trabalho dos outros, decifrando um campo complicado para poder contribuir com um pequeno aporte meu. Prefiro dar largas passadas numa dire¸ca ˜o totalmente nova, em que a imagina¸ca ˜o ´e, pelo menos, inicialmente, muito mais importante do que a t´ecnica, porque suas t´ecnicas correspondentes tˆem ainda de ser desenvolvidas. [. . .] Lembre-se que a matem´ atica ´e uma livre cria¸ca ˜o da mente humana e, como disse Cantor − o inventor da moderna teoria da infinitude, descrita por Wallace −, a essˆencia da matem´ atica reside na liberdade, na liberdade de criar. A hist´ oria, por´em, julga essas cria¸co ˜es por sua beleza duradoura e pela extens˜ ao com que elas iluminam outras ideias matem´ aticas ou o universo f´ısico, em suma, por sua “fertilidade”. (Gregory Chaitin/Matem´ atico e cientista da computa¸ca ˜o)
470
Apˆ endice: Vamos mostrar que d′ ∼ d onde d′ (x, y) = D h(x), h(y) . (p. 456) ′ Mostraremos inicialmente que a identidade i : (M, d) → (M, d ) ´e cont´ınua. Dados a ∈ M e ε > 0 devemos mostrar que existe δ > 0 de modo que: d(x, a) < δ ⇒ d′ i(x), i(a) < ε
isto ´e,
d(x, a) < δ ⇒ d′ x, a < ε
a
r
(M, d)
i
xr
(8.30)
ri(a)
(M, d′ )
ri(x)
Pois bem, como h ´e homeomorfismo (portanto cont´ınua) para todo ε > 0 dado existe δ > 0 tal que d(x, a) < δ ⇒ D h(x), h(a) < ε a
r
xr
(M, d)
(N, D)
h
rh(a)
rh(x)
Portanto, d(x, a) < δ ⇒ d′ x, a = D h(x), h(a) < ε.
Este δ nos serve em (8.30). Agora vamos mostrar que a identidade i : (M, d′ ) → (M, d) ´e cont´ınua. Dados a ∈ M e ε > 0 devemos mostrar que existe δ > 0 de modo que:
isto ´e, ou ainda,
d′ (x, a) < δ ⇒ d i(x), i(a) < ε d′ (x, a) < δ ⇒ d x, a < ε d′ (x, a) = D h(x), h(a) < δ ⇒ d x, a < ε 471
(8.31)
a
r
(M, d′ )
ri(a)
i
xr
(M, d)
ri(x)
Pois bem, como h ´e homeomorfismo (portanto h−1 ´e cont´ınua)
a
r
(M, d)
(N, D)
rh(a)
h
xr
rh(x)
h−1
h−1 ´e cont´ınua no ponto h(a), logo dado ε > 0 existe δ0 > 0 de modo que (N, D)
(M, d)
rh(a)
Ou ainda,
rεa
h−1
rh(x)
δ0
h−1 (h(a))
D h(x), h(a) < δ0 ⇒ d h−1 h(x) , h−1 h(a) < ε d′ (x, a) = D h(x), h(a) < δ0 ⇒ d(x, a) < ε.
Portanto em (8.31) ´e suficiente tomar δ = δ0 . ∗
∗
www.profgentil.com
472
∗
8.7
Exerc´ıcios
1) Verifique se as sequˆencias (xn ) definidas abaixo s˜ ao sequˆencias de Cauchy: a ) xn = b ) xn =
1 n2 em (Q, µ); 1 n + 1 em (Q, µ);
1 em (] 0, 1 ], µ); n2 1 xn = n2 em ([ 0, 1 [, k); xn = n12 em (] 0, 1 ], δ); 1 xn = n + 1 em (] 0, 1 ], δ);
c ) xn = d) e) f)
g ) xn =
( n−1
h ) xn =
( n−1
n
1 n
n
1 n
se n ´e ´ımpar; se n ´e par. se n ´e ´ımpar; se n ´e par.
em ([ 0, 1 [, µ);
em ([ 0, 1 [, k).
2) Sejam (xn ) e (yn ) sequˆencias num espa¸co (M, d) tais que lim d(xn , yn ) = 0
n→∞
Mostre que xn ´e de Cauchy se, e somente se, yn o for. 3) Seja (xn ) uma sequˆencia de Cauchy num espa¸co (M, δ). Mostre que (xn ) ´e estacion´ aria. 4) Dˆe um exemplo de duas sequˆencias de Cauchy (xn ) e (yn ) com lim d(xn , yn ) = 1
n→∞
tais que uma delas seja de Cauchy e a outra n˜ ao. 5) Seja V um espa¸co vetorial normado sobre R. Se (xn ) e (yn ) s˜ ao sequˆencias de Cauchy em V e se λ ∈ R, prove que as sequˆencias (xn + yn ) e (λ xn ) tamb´em s˜ ao sequˆencias de Cauchy em V. 6) Se (xn ) e (yn ) s˜ ao sequˆencias de Cauchy em R mostre que (xn yn ) ´e tamb´em uma sequˆencia de Cauchy em R. 7) Se (M, d) ´e um espa¸co m´etrico tal que M ´e finito, mostre que (M, d) ´e completo. 8) Mostre que o espa¸co (M, d) ´e completo, onde: 1 1 o n 1 1 e d(x, y) = − M = 1, , , . . . 2 3 x y 9) Mostre que o espa¸co (M, d) n˜ ao ´e completo, onde: o n 1 1 e d(x, y) = |x − y| M = 1, , , . . . 2 3 473
10) Considere o espa¸co vetorial C[0, 2], +, · , onde:
(p. 101)
C[0, 2] = { f : [ 0, 2 ] −→ R / f cont´ınua } R2 com o produto inerno h f, g i = 0 f · g. Mostre que este n˜ ao ´e um espa¸co de Hilbert. Sugest˜ ao: Considere a sequˆencia fn : [ 0, 2 ] −→ R dada por 1 se x ≤ 1; fn = −nx + n + 1 se 1 < x < 1 + n1 ; 0 se x ≥ 1 + n1 .
11) Se X e Y s˜ ao subespa¸cos completos de (M, d) mostre que X ∪ Y ´e completo.
12) Considere o seguinte subespa¸co de (R2 , D1 ) o n 1 1 e y = 0 ou y = onde m, n ∈ N N = (x, y) ∈ R2 : x = 0 ou x = n m Perguntamos se N ´e um subespa¸co completo ou n˜ ao.
13) Mostre que f : (R, µ) −→ (R, µ) definida por f (x) = 2 + x/3 ´e uma contra¸c˜ ao e, ademais, encontre as sequˆencias definidas por f n (0) e f n (1), ache os respectivos limites. 14) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e (xn ) e (yn ) sequˆencias de Cauchy em M , mostre que d(xn , yn ) converge. 15) Mostre que o conjunto M de todos os inteiros com a m´etrica d definida por d(m, n) = |m − n| ´e um espa¸co m´etrico completo. 16) Mostre que o conjunto M de todos os inteiros positivos com a m´etrica d definida por d(m, n) = |m−1 − n−1 | n˜ ao ´e um espa¸co m´etrico completo. 17) Mostre que o subespa¸co N ⊂ C[ 0, 1 ] consistindo das fun¸c˜oes f ∈ C[ 0, 1 ] tais que f (0) = f (1) ´e completo. 18) Mostre que que a sequˆencia (fn ) dada por n, 0 ≤ x ≤ n12 ; fn (x) = √1 , 1 ≤ x ≤ 1. x
n2
´e uma outra sequˆencia de Cauchy em C[ 0, 1 ], Γ .
(p. 419)
19) Mostre que a sequˆencia do exerc´ıcio anterior n˜ ao converge. 20) Se (M, d) ´e completo, mostre que (M, d˜), onde d˜ = d/(1 + d), ´e completo. 474
Cap´ıtulo
9
´ ESPAC ¸ OS METRICOS COMPACTOS At´e ent˜ ao a ciˆencia se caracterizara por duas abordagens. “Aqueles que trataram de ciˆencia foram ou homens de experimento ou homens de dogma. Os homens de experimento s˜ ao como a formiga; apenas colhem e usam; os raciocinadores assemelham-se a aranhas, que fazem teias com sua pr´ opria substˆ ancia. Mas a abelha adota o meio-termo; colhe seu material das flores do jardim e do campo, mas o transforma e digere por um poder que lhe ´e pr´ oprio.” ( Paul Strathern/“O sonho de Mendeleiev”) Mais um importante conceito que importaremos da an´ alise real para o contexto dos espa¸cos m´etricos ´e o de conjunto compacto. Iniciamos pela Defini¸ c˜ ao 59 (Cobertura). Sejam (M, d ) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Uma cobertura de X ´e uma fam´ılia C = {Cλ }λ∈L de subconjuntos de M tal que [ X⊂ Cλ λ∈L
Se cada Cλ for um conjunto aberto em M , diremos que C ´e uma cobertura aberta de X. Se existir L′ ⊂ L tal que [ X⊂ Cλ λ∈L′
diremos que C ′ = {Cλ }λ∈L′ , ´e uma subcobertura de C para X. Quando L′ ´e um subconjunto pr´ oprio de L, diz-se que C ′ ´e uma subcobertura pr´ opria de C. Quando o conjunto L ´e finito, diz-se que C ´e uma subcobertura finita.
475
Exemplos: 1) Sejam o espa¸co ( R, µ) e X =
1
2 3, 3
, a fam´ılia C = { C1 , C2 , C3 , C4 }:
2 1 5 2 3 2 , , ,1 , C1 = 0, , C2 = , C3 = , C4 = 4 4 8 4 4 4 constitue uma cobertura de X. De fato, 1 2 , ⊂ 3 3
[
Cλ
λ ∈ L = { 1, 2, 3, 4 }
Veja a geometria
X 1 3
0
2 3
C1 0
q1
q2
4
4
C2
1
q3
1
4
C3
C4
Da cobertura C podemos retirar duas subcoberturas: [ 1 2 , ⊂ Cλ 3 3 ′ λ ∈ L = { 1, 4 }
e
1 2 , ⊂ 3 3
[
λ ∈ L′′
Cλ
= { 2, 3 }
Observe que C n˜ ao ´e uma cobertura aberta, enquanto C ′′ = {C2 , C3 } ´e uma subcobertura aberta. 2) Consideremos o espa¸co ( X, µ), onde X = n1 : n ∈ N ∪ { 0 }. No exemplo e (p. 130) vimos que todos os pontos de X, `a exce¸c˜ao do 0, s˜ ao isolados. Isto significa que para cada ponto de X, `a exce¸c˜ao do 0, existe um rn > 0 de modo que Bµ ( n1 ; rn ) = { n1 }. Sendo assim [ 1 X⊂ Bµ ; rn ∪ { 0 } n n∈N
Observe que a cobertura 1 C = Bµ ; rn ∪ {0} n n∈N
n˜ ao admite subcobertura pr´ opria. De fato, se omitirmos qualquer bola, o centro da mesma fica “descoberto”. E mais: C s´ o n˜ ao ´e uma cobertura aberta devido a que { 0 } n˜ ao ´e um conjunto aberto em ( X, µ). 476
9.1
Compacidade
Defini¸ c˜ ao 60 (Compacidade). Um espa¸co m´etrico (M, d ) ser´ a dito compacto quando toda cobertura aberta de M possuir uma subcobertura finita. Um subconjunto K ⊂ M ser´ a dito compacto quando o subespa¸co (K, d ) for compacto. Logo, K ⊂ M ´e compacto quando de toda cobertura [ K⊂ A′λ λ∈L
por meio de abertos A′λ em (K, d ) se pode extrair uma subcobertura finita. Acontece que∗ , para cada λ ∈ L, A′λ = Aλ ∩ K, onde Aλ ´e aberto em (M, d ). Sendo assim, [ [ [ K⊂ ⇔ K⊂ A′λ Aλ ∩ K ⇔ K⊂ Aλ λ∈L
λ∈L
λ∈L
Em resumo, o subconjunto K ⊂ M ´e compacto se, e somente se, de toda cobertura K ⊂ ∪Aλ , por abertos Aλ em (M, d ), se pode extrair uma subcobertura finita K ⊂ Aλ ∪ · · · ∪ Aλn . 1 Observe que, segundo a defini¸c˜ ao, para demonstrar que um conjunto M ´e compacto, devemos considerar uma cole¸c˜ao arbitr´aria de abertos cuja uni˜ ao contenha M e mostrar que M est´ a contido na uni˜ ao de alguma subcole¸c˜ao finita de tal cole¸c˜ ao. Por outro lado, para mostrar que um conjunto M n˜ ao ´e compacto, ´e suficiente exibir uma cobertura aberta que n˜ ao possa ser substitu´ıda por uma subcole¸c˜ ao finita que ainda cubra M . Exemplos: 1) O subconjunto I = [ 0, 1 ] ´e compacto no espa¸co (R, µ) mas n˜ ao no espa¸co (R, δ). Mostremos inicialmente a segunda destas assertivas. J´ a vimos que todo n´ umero real ´e isolado no espa¸co (R, δ). Por exemplo dado p ∈ [ 0, 1 ] temos Bδ (p; 1) = { p }. Portanto [ [ 0, 1 ] ⊂ Bδ ( p; 1) p∈I
e a cobertura aberta
Bδ (p; 1)
p∈I
n˜ ao admite subcobertura finita.
A bem da verdade, se retirarmos uma u ´nica bola desta cole¸ca˜o, a subfam´ılia restante n˜ ao ser´ a mais uma cobertura do intervalo [ 0, 1 ]. A primeira das assertivas anteriores sai como um caso especial da seguinte: ∗
Ver proposi¸c˜ ao 24, p. 193.
477
Proposi¸ ao 105 (Teorema de Heine-Borel). Se F ⊂ R ´e fechado e limitado c˜ ao existe uma subcobertura e C = Cλ ´e uma cobertura aberta de F , ent˜ finita de F . Prova: Assumiremos que nenhum subconjunto finito de C cobre F e mostraremos que isto leva a uma contradi¸c˜ao. De fato, visto que F ´e limitado, existe um n´ umero c > 0 tal que F ⊂ [ −c, c ]. Consideremos os dois intervalos [ −c, 0 ] e [ 0, c ]; ao menos um desses intervalos deve conter uma parte de F que n˜ ao pode ser coberta por um n´ umero finito de conjuntos de C (do contr´ ario se C ′ ⊂ C ´e finito e cobre a parte de F em [ −c, 0 ] e C ′′ ⊂ C ´e finito e cobre a parte de F em [ 0, c ], ent˜ao C ′ ∪ C ′′ ´e finito e cobre F , contradizendo nossa hip´ otese). Seja I0 um dos intervalos [ −c, 0 ] ou [ 0, c ], aquele que tem a propriedade de conter a parte de F que n˜ ao pode ser coberta por um n´ umero finito de subconjuntos de C. Agora vamos dividir I0 em dois intervalos fechados e de igual comprimento; ao menos um desses intervalos deve conter uma parte de F que n˜ ao pode ser coberta por um n´ umero finito de conjuntos de C. Chamemos um tal intervalo de I1 . Agora, dividamos I1 em dois intervalos fechados e de igual comprimento e seja I2 um desses intervalos que tem a propriedade de conter a parte de F que n˜ ao pode ser coberta por um n´ umero finito de subconjuntos de C. Continuando este processo indefinidamente, obtemos uma sequˆencia de intervalos fechados I0 ⊃ I1 ⊃ I2 ⊃ · · · ⊃ In ⊃ · · · com a propriedade de que o comprimento de Ik ´e c/2k e a parte de F em Ik n˜ ao pode ser coberta por um n´ umero finito de subconjuntos de C; isto para cada k = 0, 1, 2, 3, . . .. Pelo teorema dos intervalos encaixados ([AR] 13, p. 604) existe um u ´nico ponto µ comum a cada um dos intervalos fechados Ik . Mostremos que µ ´e um ponto de acumula¸c˜ao de F . Seja ε > 0 arbitrariamente fixado. Escolhamos um natural n de modo que c/2n < ε. Ent˜ao o comprimento de In , isto ´e c/2n , ´e menor que ε, e tendo em conta que µ ∈ In , segue que In ⊂ B(µ; ε) (isto ´e, In ⊂ ] µ − ε, µ + ε [ ). Mas In cont´em infinitos pontos de F (se F ∩ In fosse finito ent˜ao certamente deveria ser coberto por um n´ umero finito de elementos de C, contrariando uma propriedade dos Ik ), por conseguinte existe um x ∈ F com x 6= µ e |x − µ| < ε. Portanto µ ´e um ponto de acumula¸c˜ ao de F . Sendo F fechado, resulta que µ ∈ F . Agora, visto que C ´e uma cobertura aberta de F , existe um Cλ ∈ C 0 tal que µ ∈ Cλ . Sendo Cλ um conjunto aberto existe um ǫ > 0 tal que 0 0 B(µ; ǫ) ⊂ Cλ . Como feito anteriormente, escolhamos um ´ındice m de modo 0 a coberto por um n´ umero que Im ⊂ B(µ; ǫ). Ent˜ ao Im ⊂ Cλ ; isto ´e, Im est´ 0 finito (no caso um u ´nico) de conjuntos de C, e claramente a parte de F em Im est´ a coberto por um n´ umero finito de conjuntos de C. Isto contradiz uma das propriedades de constru¸c˜ao da sequˆencia (Ik ) de intervalos fechados. Por conseguinte nossa hip´ otese de que nenhum subconjunto finito de C cobre F conduz a uma contradi¸c˜ao, e isto estabelece a proposi¸c˜ao.
478
2) O conjunto Y = n1 : n ∈ N = 1, 12 , 31 , . . . n˜ ao ´e compacto no espa¸co (R, µ). Para se convencer disto, basta o leitor rever exemplo 2. (p. 476) 1 3) O conjunto X = n : n ∈ N ∪ { 0 } = 0, 1, 21 , 13 , . . . ´e compacto no espa¸co ( R, µ). De fato, seja C = {Cλ }λ∈L uma cobertura aberta de X. Sendo assim 0 pertence a um dos membros desta cole¸c˜ao, digamos 0 ∈ Cλ . 0 Existe um intervalo aberto centrado em 0 satisfazendo 0 ∈ ] 0 − r, 0 + r [ ⊂ Cλ ] s rrrr[rrrrrrrrrrr r r r 1r
−r
0
r
...
4
r
0
r
r
1 2
1 3
1
X
Qualquer que seja o intervalo aberto centrado em 0, dentro do mesmo teremos infinitos termos de X e, fora do mesmo, teremos sempre um n´ umero finito de termos de X. Consequentemente quase todos os pontos de X (`a exce¸c˜ ao poss´ıvel de um n´ umero finito) pertencem ao aberto Cλ . Por 0 conseguinte X ´e coberto por um n´ umero finito de abertos da cole¸c˜ao C. 4) Todo conjunto finito ´e compacto. De fato, seja [ { x1 , x2 , . . . , xn } ⊂ Aλ λ∈L
onde os Aλ s˜ ao abertos. Pelas defini¸c˜oes de inclus˜ao e uni˜ ao de fam´ılias de subconjuntos (p. 597) existem λ1 , λ2 , . . . , λn ∈ L tais que x1 ∈ Aλ , x2 ∈ Aλ , . . . , xn ∈ Aλn . 1
2
Por conseguinte, { x1 , x2 , . . . , xn } ⊂ Aλ ∪ Aλ ∪ · · · ∪ Aλn . 1
2
5) Um espa¸co discreto e compacto ´e finito e, reciprocamente. Prova: (⇒) Seja (M, d) um espa¸co discreto e compacto. Dado p ∈ M existe rp > 0 de modo que B(p; rp ) = { p }. Por ser (M, d) compacto, da cobertura aberta [ M⊂ B(p; rp ) p∈M
podemos extrair uma subcobertura finita, o que prova que M ´e finito. (⇐) Sai do exemplo 4 acima, juntamente com a proposi¸c˜ao 7
(p. 133).
A contrapositiva da proposi¸c˜ ao anterior fica assim: ¯ : Se M ´e infinito ent˜ao (M, d) ou n˜ T¯ −→ H ao ´e discreto ou n˜ ao ´e compacto.
479
6) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se K, L ⊂ M s˜ ao subconjuntos compactos, ent˜ ao K ∪ L ´e compacto. S De fato, se K ∪ L ⊂ Aλ (cada Aλ ´e aberto) decorre que K ⊂ Aλ e L ⊂ Aλ , da´ı K ⊂ Aλ ∪ · · · ∪ Aλn
e
1
L ⊂ Aλ′ ∪ · · · ∪ Aλ′
m
1
Portanto, K ∪ L ⊂ Aλ ∪ · · · ∪ Aλn ∪ Aλ′ ∪ · · · ∪ Aλ′ . 1
1
m
Por indu¸c˜ ao, segue que a reuni˜ao de um n´ umero finito de compactos ´e compacta. Agora, uma reuni˜ao infinita de compactos pode n˜ ao ser compacta. De fato, todo conjunto ´e reuni˜ao de seus pontos, os quais s˜ ao compactos. (ex. 4, p. 479) Proposi¸ c˜ ao 106. Todo subconjunto fechado de um espa¸co m´etrico compacto ´e compacto. Reciprocamente, um subconjunto compacto de qualquer espa¸co m´etrico ´e fechado. Prova: (⇒) Suponha ̥ ⊂ M um subconjunto fechado do espa¸co compacto (M, d). Seja [ ̥⊂ Aλ λ∈L
onde cada Aλ ´e aberto. Sendo assim, podemos escrever [ M⊂ Aλ ∪ ̥c λ∈L
Como ̥c ´e aberto e M ´e compacto, existem λ1 , . . . , λn ∈ L tais que M ⊂ Aλ ∪ · · · ∪ Aλn ∪ ̥c 1
Como ̥ e ̥c n˜ ao tˆem pontos em comum, segue que ̥ ⊂ Aλ ∪ · · · ∪ Aλn 1
e ̥ resulta compacto. ∗ (⇐) Reciprocamente, suponha ̥ ⊂ M um subconjunto compacto de um espa¸co arbitr´ario (M, d). Admitindo ̥ n˜ ao fechado em (M, d) deveremos mostrar que ̥ n˜ ao ´e compacto. Para isto ´e suficiente exibir uma cobertura aberta que n˜ ao possa ser substitu´ıda por uma subcole¸c˜ao finita que ainda cubra ̥. Passemos ¯ e a constru¸c˜ ` ao de tal cobertura: sendo ̥ n˜ ao fechado decorre que ̥ 6= ̥, ∗
Faremos uso da t´ecnica (T-1) (p. 570).
480
¯ resulta que existe x ∈ ̥ ¯ tal que x 6∈ ̥, isto ´e, existe x ∈ ̥ ¯ − ̥. como ̥ ⊂ ̥ Para cada n ∈ N fa¸camos 1 An = M − B x; n Vamos agora mostrar que An ´e uma cobertura aberta de ̥, isto ´e, que n∈N [ ̥⊂ An n∈N
Nota: Para ver que os An = y ∈ M : d(y, x) > n1 s˜ ao abertos, ver o exemplo (iv) (p. 261) no qual x = a e corol´ ario 12 (p. 282). De fato, seja y ∈ ̥, como x 6∈ ̥ segue que x 6= y. Logo d(x, y) > 0. Portanto, nos valendo de Arquimedes, obtemos um ´ındice n0 ∈ N de modo que n1 < d(x, y). Sendo d(x, y) > n1 resulta que y 6∈ B x; n1 , portanto 0 0 0 y ∈ M − B x; n1 , isto ´e 0 [ [ 1 ⇒ ̥⊂ y∈ An . M − B x; n n∈N
n∈N
¯ ̥ ̥
s
x
¯ ̥ 1
̥ B[ x; 1 ]
(M, d)
(M, d)
(M, d)
s s
y x
s s
¯ ̥ 1
y x
̥
B[ x; n1 ] 0
Agora mostremos que nenhuma subcole¸c˜ao finita de An ¯ temos que De fato, como x ∈ ̥,
n∈N
cobre ̥:
∀ ε > 0 ⇒ B(x; ε) ∩ ̥ 6= ∅. Isto ´e, toda bola aberta B x; n1 ⊂ B x; n1 cont´em algum ponto de ̥. Logo, o ponto de ̥ que pertence ` a bola B x; n1 n˜ ao pertence ao conjunto 1 An = M − B x; n . Ou seja, para todo n natural (n = 1, 2, 3, . . .), An n˜ ao cont´em algum ponto de ̥. Esta conclus˜ao, por o, n˜ ao ´e suficiente si s´ para garantir que nenhuma subcole¸c˜ao finita de An cubra ̥ (por quˆe?). n∈N Pois bem, temos que A1 ⊂ A2 ⊂ A3 ⊂ · · · Sendo An ⊂ An+1 a reuni˜ao de qualquer cole¸c˜ao finita An1 ∪ An2 ∪ · · · ∪ An
k
´e igual ao conjunto com maior ´ındice da cole¸c˜ao. 481
Tomando nj = max{ n1 , . . . , nk }, temos que An cont´em todos os conj juntos da subcole¸c˜ ao finita. Mas, como j´a vimos, An (n = 1, 2, 3, . . .) n˜ ao cont´em algum ponto de ̥. Isto ´e, algum ponto de ̥ est´ a ausente de An , j portanto nenhuma subcole¸c˜ao finita pode cobrir ̥. Exemplos: 1) O conjunto ̥ = 0, 1, 21 , 13 , . . . ´e compacto. De fato, ̥ ´e um subconjuto fechado do compacto [ 0, 1 ] (ver Coment´ario, p. 206). Ver ainda exemplo 3, p. 479. 2) Vimos (p. 400) que o conjunto de Cantor ´e fechado no subespa¸co compacto ([ 0, 1 ], µ), portanto este conjunto ´e compacto. 3) A proposi¸c˜ ao anterior tamb´em nos diz porque o subconjunto ] 0, 1 [ n˜ ao ´e compacto no espa¸co (R, µ): porque n˜ ao ´e um subconjunto fechado. Corol´ ario 35 (A Interse¸ c˜ao de Compactos ´e Compacta). Seja (M, d ) um uma fam´ılia de subconjuntos compactos. Ent˜ ao, espa¸co m´etrico e Kλ λ∈L
K=
\
Kλ
λ∈L
´e compacto. Prova: De fato, pela proposi¸c˜ao 106, cada Kλ ´e fechado em (M, d ), logo, pelo teorema 32 (p. 203), K ´e fechado em (M, d ) e, portanto em (Kλ , d ) (corol. 4, (p. 208)) novamente, pela proposi¸c˜ao 106, K resulta compacto. Proposi¸ c˜ ao 107 (Todo Compacto ´e Limitado). Seja (M, d ) um espa¸co m´etrico. Se K ⊂ M ´e compacto ent˜ ao K ´e limitado. Prova: Seja K ⊂ M compacto. Para cada x ∈ K ponhamos Ax = B(x; 1). Ent˜ ao Ax ´e uma cobertuta aberta de K. Sendo K compacto existem x∈K x1 , x2 , . . . , xn ∈ K tais que K ⊂ Ax1 ∪ Ax2 ∪ · · · ∪ Axn . Como cada Ax ´e i limitado, a reuni˜ao finita ( (P6 ), p. 127) Ax1 ∪ Ax2 ∪ · · · ∪ Axn tamb´em ´e limitada, resultando K limitado. Das duas u ´ltimas proposi¸c˜oes concluimos:
Proposi¸ c˜ ao 108 (Todo Compacto ´e Fechado e Limitado). Seja (M, d ) um espa¸co m´etrico. Se K ⊂ M ´e compacto ent˜ ao K ´e fechado e limitado. A contrapositiva desta proposi¸c˜ao ´e a Proposi¸ c˜ ao 109. Seja (M, d ) um espa¸co m´etrico. Se K ⊂ M n˜ ao ´e fechado ou limitado ent˜ ao K n˜ ao ´e compacto. 482
A rec´ıproca da proposi¸c˜ ao 108 n˜ ao vale em geral. Vejamos dois contraexemplos: a) Vejamos um exemplo de um subconjunto limitado e fechado, mas n˜ ao compacto: O subconjunto [ 0, 1 ] ⊂ R ´e limitado e fechado mas n˜ ao compacto no espa¸co (R, δ). (ex. 1, p. 477) b) Considere o espa¸co ℓ 2 , +, · e os seguintes elementos de ℓ 2 : δ1 = (1, 0, 0, 0, 0, . . .)
δ2 = (0, 1, 0, 0, 0, . . .) .. . δk = (0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0, . . .) .. k-´ esima posi¸ca ˜o. . Isto ´e, δn tem todas as coordenadas nulas, exceto a n-´esima que vale 1. Fa¸camos ̥ = { δ1 , δ2 , δ3 , . . .}. Temos δm = ( 0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0, . . .) δn = ( 0, 0, . . . , 0, 0, . . . , 0, 1, 0, . . .) ⇓
δm − δn = ( 0, 0, . . . , 0, 1, 0, . . . , 0, −1, 0, . . .) Sendo assim, v u∞ uX d(δm , δn ) = kδm − δn k = t (δmi − δni )2 i=1
=
=
p √
02 + · · · + 02 + 12 + 02 + · · · + 02 + (−1)2 + · · ·
2.
Sempre que m 6= n. Sendo assim, temos
√ diam(̥) = sup d(x, y) : x, y ∈ ̥ = 2
e ̥ resulta limitado.
Sendo (δn ) uma sequˆencia de Cauchy em ̥, dado ε > 0 arbitr´ario, existe um ´ındice n0 tal que ∀ m, n ≥ n0 ⇒ d(δm , δn ) < ε 483
De d(δm , δn ) =
(√
2,
se m 6= n;
0,
se m = n.
(9.1)
decorre que toda sequˆencia de Cauchy em ̥ ´e constante a partir de algum ´ındice. Sendo assim, toda sequˆencia (δn ) de pontos de ̥ que converge em ℓ2 ´e constante a partir de algum ´ındice n0 , isto ´e δn0 = δn
0 +1
= δn
0 +2
= ···
e portanto lim δn = δn0 ∈ ̥. Logo ̥ ´e completo e, pela prop. 96 n fechado. Todavia ̥ n˜ ao ´e compacto pois a cobertura aberta ∞ [ ̥⊂ B(δk ; 1)
(p. 423),
k=1
n˜ ao possui cobertura finita. Observe que B(δk ; 1) = δn ∈ ̥ : d(δn , δk ) < 1 = { δk }, devido a (9.1).
De outro modo: Observe que o subespa¸co m´etrico (̥, d) ´e infinito e discreto, por conseguinte, n˜ ao pode ser compacto (ver a contrapositiva da proposi¸c˜ ao dada no exemplo 5, p. 479). Proposi¸ c˜ ao 110 (Imagem Cont´ınua de compactos). A imagem de um conjunto compacto por uma aplica¸ca ˜o cont´ınua ´e compacta. Prova: Seja K ⊂ M um conjunto compacto e f : M → N cont´ınua. Mostraremos que f (K) ⊂ N ´e compacto. Seja, [ f (K) ⊂ Aλ λ∈L
uma cobertura aberta de f (K). Como f ´e cont´ınua, Bλ = f −1 Aλ ´e aberto para todo λ ∈ L (prop. 62, p. 279). Respaldados nas proposi¸c˜oes 134 (p. 595) e 140 (p. 599) (´ıtem (iii)) podemos escrever [ [ [ f (K) ⊂ Aλ ⇔ K ⊂ f −1 Aλ ⇒ K⊂ f −1 (Aλ ) λ∈L
λ∈L
λ∈L
Portanto K ⊂ ∪Bλ . Como K ´e compacto, existem λ1 , . . . , λn tais que K ⊂ Bλ ∪ · · · ∪ Bλ n . 1
Logo
(prop.’s 132, p. 592 e 140, p. 599)
f (K) ⊂ f Bλ ∪ · · · ∪ Bλn 1 = f Bλ ∪ · · · ∪ f Bλ n 1
⊂ Aλ ∪ · · · ∪ Aλn 1
sendo assim f (K) resulta compacto. 484
Corol´ ario 36. Se (M, d) e (N, d) s˜ ao espa¸cos m´etricos homeomorfos ent˜ ao (M, d) ´e compacto se, e somente se, (N, d) o for. Segue-se que a compacidade ´e um invariante topol´ogico. Corol´ ario 37. O c´ırculo S 1 = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1 ´e compacto. Prova: De fato, a fun¸c˜ ao
f : R → R2 dada por f (t) = (cos t, sin t) ´e cont´ınua, [ 0, 2π ] ´e compacto e, ademais, f [ 0, 2π ] = S 1 .
Corol´ ario38. Todo caminho f : [ 0, 1 ] −→ M em um espa¸co espa¸co m´etrico ´e compacto, por ser a imagem do compacto [ 0, 1 ]. Em particular, num espa¸co vetorial normado, todo segmento de reta [ a, b ] = x = (1 − t) a + t b ∈ E : 0 ≤ t ≤ 1
´e um conjunto compacto por ser a imagem do compacto [ 0, 1 ] pela aplica¸ca ˜o cont´ınua dada por f (t) = (1 − t) a + t b. De fato, f [ 0, 1 ] = f (t) : t ∈ [ 0, 1 ] = (1 − t) a + t b : t ∈ [ 0, 1 ] = [ a, b ]. Corol´ ario 39. Se (M, d) ´e compacto, toda aplica¸ca ˜o cont´ınua f : M → N ´e fechada, isto ´e, F ⊂ M fechado ⇒ f F ⊂ N fechado. Prova: De fato,
F ⊂ M fechado ⇒ F compacto ⇒ f F
⇒ f F
compacto fechado em (N, d′ ).
Corol´ ario 40. Se (M, d) ´e compacto, toda bije¸ca ˜o cont´ınua f : M → N ´e um homeomorfismo. Prova: Por hip´ otese f : (M, d) → (N, d′ ) ´e cont´ınua. Devemos mostrar −1 que g = f : (N, d′ ) → (M, d) ´e cont´ınua. De fato, seja F ⊂ M fechado em (M, d). Como f : M → N ´e cont´ınua implica que f F ⊂ N ´e fechado em (N, d′ ), logo g −1 F = f F ⊂ N ´e fechado em (N, d′ )
Sendo assim o corol´ ario 16
(p. 285)
nos assegura que g ´e cont´ınua.
Na p. 294 vimos exemplos de bije¸c˜oes cont´ınuas com inversas descont´ınuas. O corol´ ario anterior nos diz porque isto ´e poss´ıvel: aquelas aplica¸c˜oes n˜ ao tˆem dom´ınio compacto. Corol´ ario41. Se (M, d) ´e compacto, ent˜ ao toda aplica¸ca ˜o cont´ınua f : M → N ´e limitada. Prova: De fato, f M ⊂ N , sendo compacto, ´e limitado. 485
Fun¸c˜ oes Reais Cont´ınuas com Dom´ınio Compacto Proposi¸ c˜ ao 111 (Weierstrass). Se (M, d) ´e compacto, ent˜ ao toda fun¸ca ˜o real cont´ınua f : M → R ´e limitada e atinge valores m´ aximo e m´ınimo em M . Isto ´e, existem α, β ∈ M tais que f (α) ≤ f (x) ≤ f (β),
∀ x ∈ M.
Prova: Que f ´e limitada vˆe-se pelo corol´ ario 41 acima. Sendo M compacto, ent˜ ao f (M ) tamb´em o ´e, j´a que f ´e cont´ınua. Logo, f (M ) ´e limitado e fechado em (R, µ). Sendo assim, existem (ver quadro ` a p. 614) ν = inf f (M )
e
µ = sup f (M )
Assim, dado ε > 0, existem y1 , y2 ∈ f (M ) tais que: ν ≤ y1 < ν + ε
e
µ − ε < y2 ≤ µ
Sendo assim, ν ≤ y1 < ν + ε ⇒ ν − ε < ν ≤ y1 < ν + ε ⇒ y1 ∈ ] ν − ε, ν + ε [ e µ − ε < y2 ≤ µ ⇒ µ − ε < y2 ≤ µ < µ + ε ⇒ y2 ∈ ] µ − ε, µ + ε [ o que implica ] ν − ε, ν + ε [ ∩ f (M ) 6= ∅ e ] µ − ε, µ + ε [ ∩ f (M ) 6= ∅ Portanto, ν, µ ∈ f (M ). Como por´em f (M ) = f (M ), pois f (M ) ´e fechado, ent˜ ao ν, µ ∈ f (M ) e, portanto, existem α, β ∈ M tais que f (α) = ν = inf f (M )
e
f (β) = µ = sup f (M ).
∗
∗
∗
Se uma prova ´e “elegante” , se for o resultado de duzentos anos de enjoado polimento, ela ser´ a t˜ ao inescrut´ avel como uma direta revela¸ca ˜o divina, e ser´ a imposs´ıvel adivinhar como algu´em poderia tˆe-la descoberto ou inventado. Ela n˜ ao lhe fornecer´ a nenhum insight, nada, provavelmente nada em absoluto. (Gregory Chaitin/Metamat!)
486
Coment´ arios sobre o Teorema de Weierstrass 1 o ) A condi¸c˜ ao de compacidade ´e essencial no teorema acima. Por exemplo, a fun¸c˜ao f : [ 0, 1 [ → R dada por f (x) = x + 1, ´e cont´ınua em todo o seu dom´ınio, mas n˜ ao tem m´ aximo, embora tenha supremo que ´e 2. Este valor n˜ ao ´e assumido pela fun¸c˜ ao, isto ´e, n˜ ao existe x ∈ [ 0, 1 [ de modo que f (x) = x + 1 = 2. sup f (x)
ց
y
r
2
f (x) −→ l 1
q1
0
x
Um outro exemplo ´e dado pela fun¸c˜ao cont´ınua f dada por f (x) = 1/x, em x > 0, cuja imagem ´e o semi-eixo ] 0, +∞ [. A fun¸c˜ao n˜ ao tem m´ aximo nem m´ınimo. Se definida em um intervalo tipo [ a, +∞ [, onde a > 0, passa a ter m´ aximo igual a 1/a, mas continua sem m´ınimo. Esta fun¸c˜ao continuar´ a sem m´ınimo mesmo se definida em um intervalo limitado tipo [ a, b [. Por´em, em intervalos fechados (compactos) tipo [ a, b ] esta fun¸c˜ao ter´ a m´ aximo 1/a e ter´ a m´ınimo 1/b. Estas situa¸c˜ oes est˜ ao ilustradas nas figuras seguintes. f (x)
f (x)
3
q
1 a
2
1
1
q
1
q
q1
q2
f : ] 0, +∞ [ → R
q3
n˜ ao tem m´aximo nem m´ınimo
x
0
q
2
q
q
0
1 a
q
2
q
f (x)
q
[ a
q1
q2
f : [ a, +∞ [ → R
q3
tem m´aximo= 1/a n˜ ao tem m´ınimo
x
1 b
q 0
[ a
q1
q2
q3
x
f : [ a, b ] → R
tem m´aximo= 1/a tem m´ınimo= 1/b
Por outro lado, uma fun¸c˜ ao cont´ınua f : X → R pode ter m´ aximo e m´ınimo em X, ou f (X) pode ser compacto, sem que X seja compacto. Por exemplo, f (x) = sen x em X =] 0, 2π [, ´e tal que f (X) = [ −1, 1 ], que ´e compacto, +1 ´e o m´ aximo de f e −1 ´e o seu m´ınimo. 487
y= sen x
1
π 2
3π 2
π
x
2π
−1
2 o ) Uma fun¸c˜ ao f : [ a, b ] → R, com dom´ınio compacto, se for descont´ınua n˜ ao precisa assumir um valor m´ aximo ou m´ınimo. Por exemplo, consideremos a fun¸c˜ ao (descont´ınua) f : [ 0, 1 ] → R definida assim f (x)
f (x) =
(
1¬
x,
se x ´e irracional;
1 2,
se x ´e racional.
1 2
¬
0
¬
1
x
` direita temos um esbo¸co “grosseiro” do gr´ A afico de f . As duas linhas pontilhadas est˜ ao contidas no gr´ afico de f e s˜ ao tais que, qualquer reta vertical − conduzida pelo dom´ınio de f (qualquer reta x = c com 0 ≤ x ≤ 1) − intercepta o gr´ afico em um u ´nico ponto (isto ´e, cont´em um ponto da linha pontilhada inclinada (se c ´e irracional) ou cont´em um ponto da linha pontilhada horizontal (se c ´e racional)). Pois bem, esta fun¸c˜ ao assume valores t˜ao pr´ oximos de 1 e de 0 quanto quisermos, se escolhermos um valor irracional para x suficientemente pr´ oximo de 1 ou de 0. Entretanto, f (x) nunca pode ser igual a 0 ou 1, porquanto as equa¸c˜ oes f (x) = 0 e f (x) = 1, ∀ x ∈ [ 0, 1 ], n˜ ao tˆem solu¸c˜ao.
Conjuntos Totalmente Limitados Defini¸ c˜ ao 61 (Conjunto Totalmente Limitado). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Diremos que um subconjunto K ⊂ M ´e totalmente limitado se, para todo ε > 0 dado, existir um n´ umero finito de pontos x1 , x2 , . . . , xn ∈ K de maneira que K ⊂ B(x1 ; ε) ∪ B(x2 ; ε) ∪ · · · ∪ B(xn ; ε). 488
Observa¸ca ˜o: Todo conjunto totalmente limitado ´e limitado; n˜ ao valendo a rec´ıproca. Exemplos: 1) O subconjunto K = [ 0, 1 ] ´e totalmente limitado no espa¸co (R, µ), mas n˜ ao no espa¸co (R, δ). Inicialmente mostremos a segunda destas assertivas. De fato, temos Bδ (x; 1) = x , ∀ x ∈ [ 0, 1 ].
De modo que ´e imposs´ıvel selecionar n pontos em [ 0, 1 ] de modo que [ 0, 1 ] ⊂
n [
Bδ (xi ; 1).
i=1
Observe que [ 0, 1 ] ´e um subconjunto limitado em (R, δ). Deste modo, ser totalmente limitado ´e uma condi¸c˜ao mais forte do que ser limitado. Mostremos agora que [ 0, 1 ] ´e totalmente limitado no espa¸co (R, µ). De fato, dado ε > 0, escolhamos o menor natural n de modo que n ·ε > 1 e fa¸camos: x1 = 0, x2 = ε, x3 = 2 ε, . . . , xn = (n − 1) ε ≤ 1. Temos, ] x1 − ε, x1 + ε [ = ] − ε, ε [ ] x2 − ε, x2 + ε [ = ] 0, 2ε [ ] x3 − ε, x3 + ε [ = ] ε, 3ε [
....................................... ] xn − ε, xn + ε [ = ] n · ε − 2ε, n · ε [ Sendo assim, [ 0, 1 ] ⊂ Bµ (x1 ; ε) ∪ Bµ (x2 ; ε) ∪ · · · ∪ Bµ (xn ; ε), o que prova nossa assertiva. 2) Todo conjunto limitado em (R, µ) ´e totalmente limitado. Prova: Para provar esta afirma¸c˜ ao ´e suficiente mostrar que todo intervalo [ a, b ] em (R, µ) ´e totalmente limitado. (Isto porque todo conjunto limitado em (R, µ) est´ a contido em algum intervalo do tipo [ a, b ]). De fato, dado ε > 0 escolhamos o menor natural n de modo que n · ε > b − a e fa¸camos x1 = a x2 = a + ε x3 = a + 2 ε .. . xk = a + (k − 1) ε .. . xn = a + (n − 1) ε 489
onde o n escolhido ´e tal que a + (n − 1) ε ≤ b < a + n ε. Ent˜ao, [ a, b ] ⊂ Bµ (x1 ; ε) ∪ Bµ (x2 ; ε) ∪ · · · ∪ Bµ (xn ; ε) 3) Um outro exemplo de conjunto limitado, mas n˜ ao totalmente limitado, ´e o subconjunto ̥ = { δ1 , δ2 , δ3 , . . . } de ℓ2 visto na p. 483.
9.1.1
Caracteriza¸c˜ ao de compacidade
Em geral, n˜ ao ´e f´acil provar que um conjunto ´e compacto, utilizando apenas a defini¸c˜ ao (ver por exemplo a proposi¸c˜ao 105, p. 478). A proposi¸c˜ao seguinte nos fornece outras defini¸c˜oes alternativas de compacidade. Proposi¸ c˜ ao 112. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. As seguintes afirma¸co ˜es s˜ ao equivalentes: a) (M, d ) ´e compacto; b) Todo subconjunto infinito de M possui um ponto de acumula¸ca ˜o; c) Toda sequˆencia em M possui uma subsequˆencia convergente; d) (M, d ) ´e completo e totalmente limitado. Prova: Devemos mostrar que a) ⇒ b) ⇒ c) ⇒ d) ⇒ a). Ent˜ao a) ⇒ b) Faremos uso da t´ecnica (T − 4) (p. H : (M, d ) ´e compacto. 1 ⇒ H2 : X ⊂ M ´e infinito.
571).
Fa¸camos,
T:
X possui um ponto de acumula¸c˜ao.
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Suponhamos (M, d ) compacto e X ⊂ M um subconjunto sem ponto de ¯ = X ∪X ′ = X, isto ´e, X ´e fechado acumula¸c˜ ao. Sendo X ′ = ∅ resulta que X em (M, d ), donde, utilizando H1 , X ´e compacto. Afirmamos, ademais, que o subespa¸co (X, d ) ´e discreto. De fato, se isto n˜ ao fosse verdade existiria um ponto p ∈ X n˜ ao isolado. Logo (ver observa¸c˜ao p. 129) para todo r > 0 dado, existe um outro ponto x ∈ X tal que x ∈ B(p; r), isto ´e, 0 < d(x, p) < r. Portanto, B(p; r) − { p } ∩ X 6= ∅ ⇒ B(p; r) − { p } ∩ X 6= ∅ e p resultaria ponto de acumula¸c˜ao de X, contrariando nossa hip´ otese. 490
Pois bem, (X, d ) compacto e discreto implica (ex. 5, p. 479) que X ´e finito. b) ⇒ c) Seja (xn ) uma sequˆencia em M . Se { xn : n ∈ N } ´e finito ent˜ao existe algum valor a que se repete infinitas vezes: a = xn = xn = · · · = xn = · · · 1
2
k
Portanto a subsequˆencia (xn ) converge para a. Se, por´em, o conjunto k { x1 , x2 , . . . , xn , . . . } ´e infinito ent˜ao possui um ponto de acumula¸c˜ao a. Tendo em conta a observa¸c˜ ao (ii) (p. 219) e a proposi¸c˜ao 42 (p. 212), concluimos que existe uma sequˆencia de pontos de X = { x1 , x2 , . . . , xn , . . .} (isto ´e, uma subsequˆencia de (xn )) convergindo para a. c) ⇒ d) Supondo c) como hip´ otese, temos que toda sequˆencia de Cauchy em M possui uma subsequˆencia convergente, logo (prop. 93, p. 413) ´e convergente. Sendo assim (M, d ) resulta completo. Ainda resta mostrar que (M, d ) ´e totalmente limitado: vamos mostrar que, para todo ε > 0 arbitrariamente fixado, podemos incluir M numa reuni˜ao de um n´ umero finito de bolas de raio ε. De fato, dado ε > 0, escolhamos um ponto x1 ∈ M . Se acontece M ⊂ B(x1 ; ε), paramos aqui. Caso contr´ ario, existe x2 ∈ M de modo que d(x2 , x1 ) ≥ ε. Se acontece M ⊂ B(x1 ; ε) ∪ B(x2 ; ε), terminou. Caso contr´ ario, existe x3 ∈ M de modo que d(x3 , x2 ) ≥ ε e d(x3 , x1 ) ≥ ε. Prosseguindo desta forma, ou chegamos a um n tal que M ⊂ B(x1 ; ε) ∪ B(x2 ; ε) ∪ · · · ∪ B(xn ; ε) ou ent˜ao obtemos uma sequˆencia (xn ) satisfazendo d(xm , xn ) ≥ ε para m 6= n quaisquer. Sendo assim, (xn ) n˜ ao possui nenhuma subsequˆencia de Cauchy, ou ainda: nenhuma subsequˆencia convergente. O que contraria a hip´ otese, logo a segunda das alternativas propostas n˜ ao ocorre, por conseguinte (M, d ) ´e totalmente limitado. d) ⇒ a) Seja (M, d ) completo e totalmente limitado. Suponhamos, por absurdo, que (M, d ) n˜ ao ´e compacto. Sendo assim existe uma cobertura aberta A = {Aλ }λ∈L de M que n˜ ao admite subcobertura finita. Como (M, d ) ´e totalmente limitado, existe um n´ umero finito de pontos x1 , x2 , . . . , xn em M tais que n n [ [ 1 1 ⇒ M= M ∩ B xi ; . B xi ; M⊂ 2 2 i=1
i=1
Assim, M pode ser decomposto num n´ umero finito de subconjuntos com diˆ ametro menor ou igual a 1. M ∩ B xi ;
1 2
⊂ B xi ;
1 2
⇒
diam M ∩ B xi ;
1 2
≤ diam B xi ;
1 2
≤ 1.
Como (M, d ) n˜ ao ´e compacto pelo ao menos um desses conjuntos, digamos M1 = M ∩ B xk ;
1 , 2
491
k ∈ { 1, 2, . . . , n }
n˜ ao est´ a contido em reuni˜ao finita alguma de elementos de A (ex. 6, p. 480). Como M1 ´e totalmente limitado, M1 pode ser decomposto num n´ umero finito de subconjuntos cada qual com diˆ ametro menor ou igual a 12 . Pelo menos um desses conjuntos, digamos, M2 , n˜ ao est´ a contido em reuni˜ao finita alguma de elementos de A. Prosseguindo dessa forma obtemos M1 ⊃ M2 ⊃ M3 ⊃ · · ·
Com Mn 6= ∅ para todo n, e diam Mn ≤ n1 . Seja Mn o fecho de Mn em (M, d ), ent˜ ao M 1 ⊃ M2 ⊃ M3 ⊃ · · ·
´e uma cadeia de subconjuntos fechados do espa¸co completo (M, d ), com Mn 6= ∅ para todo n e lim diam Mn = 0. Logo, o lema 7 (p. 464) nos assegura n que existe p ∈ M de modo que ∞ \ Mn = {p}. n=1
Como p ∈ M , existe Aλ′ em A tal que p ∈ Aλ′ . Afirmamos:
Se lim diam Mn = 0 ent˜ao ∃ n0 ∈ N tal que Mn ⊂ Aλ′ n
0
De fato, suponha que lim diam Mn = 0 e que n˜ ao existe n0 ∈ N de modo n
que Mn0 ⊂ Aλ′ . Logo, para todo n existe xn ∈ Mn de modo que xn 6∈ Aλ′ . Como p ∈ Aλ′ , ent˜ ao para todo n natural xn 6= p. Logo ∀ n ∈ N existe xn ∈ Mn tal que d(xn , p) > 0
(9.2)
Por outro lado, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que diam Mn − 0 = diam Mn < ε, ∀ n ≥ n . 0 Logo,
Ent˜ ao,
diam Mn = sup d(x, y) : x, y ∈ Mn < ε, ∀ n ≥ n0 . ∀ n ≥ n0 ⇒ d(x, y) < ε; x, y ∈ Mn .
Respaldados na proposi¸c˜ao 148
(p. 613),
podemos escrever
∀ n ≥ n0 ⇒ d(x, y) = 0;
x, y ∈ Mn .
Mas esta conclus˜ao contradiz (9.2). Pois bem, existe um ´ındice n0 tal que Mn0 ⊂ Aλ′ ⇒ Mn0 ⊂ Aλ′ Mas isto ´e uma contradi¸c˜ao uma vez que, como dissemos acima, os Mn n˜ ao est˜ ao contidos em nenhuma reuni˜ao finita de elementos da cobertura A = {Aλ }λ∈L . 492
Defini¸ c˜ ao 62 (Espa¸cos Sequencialmente Compactos). Um espa¸co (M, d) ´e sequencialmente compacto se, e somente se, toda sequˆencia em M possui uma subsequˆencia convergente. A proposi¸c˜ ao 112 (p. 490) nos assevera ent˜ao que todo espa¸co m´etrico compacto ´e sequencialmente compacto e, rec´ıprocamente, todo espa¸co sequencialmente compacto ´e compacto. Todo espa¸co m´etrico compacto possui um subconjunto enumer´avel e denso. Sen˜ ao vejamos: Proposi¸ c˜ ao 113. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico compacto. Ent˜ ao existe uma sequˆencia (yn ) de pontos de M tal que o conjunto Y = { y1 , y2 , . . . } ´e denso em (M, d). Prova: Como (M, d) ´e compacto, ´e totalmente limitado, logo para ε = 1, existem m1 pontos de M , digamos
(def. 61, p. 488)
x11 , x12 , x13 , . . . , x1m
1
tais que,
B x11 ; 1 ∪ B x12 ; 1 ∪ · · · ∪ B x1m ; 1 ⊃ M 1
Para ε =
1 2
existem m2 pontos de M , digamos
x21 , x22 , x23 , . . . , x2m
2
tais que, B x21 ;
1 1 1 ∪ B x22 ; ∪ · · · ∪ B x2m ; ⊃M 2 2 2 2
E assim sucessivamente, para ε = n1 existem, existem mn pontos de M , digamos xn1 , xn2 , xn3 , . . . , xnmn tais que, 1 1 1 ∪ B xn2 ; ∪ · · · ∪ B xnmn ; ⊃M n n n Vamos organizar as informa¸c˜ oes anteriores. Temos a seguinte sequˆencia dupla: x11 x12 x13 ... x1m 1 x21 x22 x23 ... x2m B xn1 ;
2
................................. xn1 xn2 xn3 ... xnmn ................................. 493
Observe que esta sequˆencia dupla, ao contr´ ario do que parece, n˜ ao possui o mesmo n´ umero de colunas, mas ´e sempre limitada em colunas; digo: todas as linhas tˆem um n´ umero finito de elementos. Em correspondencia a esta sequˆencia dupla obtemos: B x11 ; 1 ∪ B x12 ; 1 ∪ · · · ∪ B x1m ; 1 ⊃ M 1
B x21 ; 12 ∪ B x22 ; 21 ∪ · · · ∪ B x2m ; 21 ⊃ M 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . B xn1 ; n1 ∪ B xn2 ; n1 ∪ · · · ∪ B xnmn ; n1 ⊃ M ...............................................
Pois bem, a sequˆencia (yn ) procurada ´e obtida ao “linearizarmos” a sequˆencia dupla anterior, da seguinte forma: x11 , . . . , x1m ; x21 , . . . , x2m ; · · · ; xn1 , . . . , xnmn ; · · · 1
2
De fato, vamos provar que sendo Y = x11 , . . . , x1m ; x21 , . . . , x2m ; · · · ; xn1 , . . . , xnmn ; · · · 1
2
temos Y¯ = M . Dados p ∈ M e ε > 0 devemos mostrar que existe xij ∈ Y tal que xij ∈ B( p; ε). Ent˜ao, dado ε > 0 tomamos, de empr´estimo a Arquimedes, um natural n de modo que n1 < ε. Como B xn1 ;
1 1 1 ∪ B xn2 ; ∪ · · · ∪ B xnmn ; ⊃M n n n
p pertence a uma destas bolas, digamos p ∈ B xnk ; portanto d(p, xnk ) <
1 n
1 , para algum k ∈ { 1, 2, . . . , mn } n
< ε, isto ´e, xnk ∈ B(p; ε). ∗
∗
∗
As teorias matem´ aticas, as boas, consistem na defini¸ca ˜o de uns poucos novos conceitos-chave e depois o fogo de artif´ıcio come¸ca: elas revelam novos panoramas, abrem a porta a mundos inteiramente novos. [. . .] O fascinante ´e que, simples como s˜ ao os n´ umeros inteiros e os primos, ainda assim ´e f´ acil propor quest˜ oes diretas e claras a seu respeito que ningu´ em sabe como responder, e podemos dizer que nem mesmo daqui a dois mil anos, nem sequer os melhores matem´ aticos do mundo, saber˜ ao! (Gregory Chaitin/Metamat!)
494
9.2
Produto Cartesiano de Conjuntos Compactos
Proposi¸ c˜ ao 114 (Produto de Compactos). Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espa¸cos m´etricos. Consideremos sobre M1 × M2 uma qualquer das m´etricas equivalentes D1 , D2 ou D3 . Ent˜ ao M1 × M2 ´e compacto se, e somente se, M1 e M2 o forem. Prova: (⇒) Se M1 × M2 ´e compacto ent˜ao M1 e M2 tamb´em o ser˜ ao pois s˜ ao imagens do compacto M1 × M2 pelas fun¸c˜oes cont´ınuas (proje¸c˜oes): p1 : M1 × M2 −→ M1
e
(x1 , x2 ) 7−→ x1
p2 : M1 × M2 −→ M2 (x1 , x2 ) 7−→ x2
Assim, p1 M1 × M2 = p1 (x1 , x2 ) : (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 = x1 : (x1 , x2 ) ∈ M1 × M2 = M1 An´alogamente p2 M1 × M2 = M2 . (⇐) Para provar a rec´ıproca mostraremos que se M1 e M2 s˜ ao compactos ent˜ao toda sequˆencia em M = M1 × M2 possui uma subsequˆencia convergente. De fato, seja (zn ) uma sequˆencia em M . Ent˜ao, zn = (xn , yn ), sendo (xn ) uma sequˆencia em M1 e (yn ) uma sequˆencia em M2 . Como M1 ´e compacto, (xn ) possui uma subsequˆencia convergente, isto ´e, existem N1 ⊂ N infinito (p. 140) e a ∈ M1 tais que lim xn = a. Como M2 ´e compacto, n∈N1
a sequˆencia (yn )n∈N possui uma subsequˆencia convergente, isto ´e, existem 1 N2 ⊂ N1 infinito e b ∈ M2 tais que lim yn = b. Observe que (xn )n∈N ´e uma n∈N2
2
subsequˆencia da subsequˆencia (xn )n∈N , portanto pela proposi¸c˜ao 12 1 temos lim xn = a. Sendo assim, temos
(p. 155)
n∈N2
lim x = a n ∈ N2 n lim yn = b n ∈ N2
Ent˜ ao zn
n ∈ N2
prop. 14
lim xn , yn = (a, b).
=⇒
n∈N2
(p. 157)
´e a subsequˆencia procurada.
Corol´ ario 42. Sejam (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . ., (Mn , dn ) espa¸cos m´etricos. Ent˜ ao, o produto M = M1 × M2 × · · · × Mn ´e compacto se, e somente se, cada Mi o for. Prova: Basta aplicar n − 1 vezes a proposi¸c˜ao 114. 495
9.2.1
Compactos no Rn
Via de regra, n˜ ao ´e f´acil provar − pela defini¸c˜ao, ou uma de suas formas equivalentes − que um conjunto ´e compacto. Estadificuldade deixa de existir no caso de subconjuntos compactos do Rn , Di . Na sequˆencia provamos uma importante proposi¸ c˜ao que caracteriza completamente os subconjuntos compactos do Rn , Di . Vimos (prop. 108, p. 482) que todo subconjunto compacto de um espa¸co m´etrico ´e fechado e limitado. Mas, devido ao exemplo 1 (p. 477), num espa¸co m´etrico um conjunto pode ser fechado e limitado sem ser compacto. No caso n por´em dos espa¸cos R , Di compacto ´e o mesmo que fechado e limitado. Sen˜ ao vejamos Proposi¸ c˜ ao 115. Sejam os espa¸cos m´etricos Rn , Di . Um subconjunto K ⊂ Rn ´e compacto se, e somente se, K ´e fechado e limitado. Prova: (⇒) Vale para qualquer espa¸co m´etrico. (⇐) Um subconjunto K ⊂ Rn diz-se limitado quando existe um n´ umero real c > 0 de modo que kxk ≤ c para todo x ∈ K. Isto ´e o mesmo que dizer que K est´ a contido na bola de centro na origem e raio c. Consideremos sobre Rn a norma x = (x1 , x2 , . . . , xn ) 7−→ kxk = max |x1 |, |x2 |, . . . , |xn | Pois bem, sendo K limitado, para todo x ∈ K existe c > 0 de modo que kxk ≤ c ⇔ max |x1 |, |x2 |, . . . , |xn | ≤ c |x1 | ≤ c |x | ≤ c 2 ⇔ .. . |xn | ≤ c
x1 ∈ [ −c, c ] x ∈ [ −c, c ] 2 ⇔ .. . xn ∈ [ −c, c ]
⇔ x = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ [ −c, c ] × · · · × [ −c, c ] ⇒ K ⊂ [ −c, c ] × · · · × [ −c, c ].
Como cada [ −c, c ] ´e compacto em R, segue que o produto [ −c, c ] × n · · · × [ −c, c ] ´e compacto em R , Di . Sendo assim K ´e um subconjunto a contido num compacto deste espa¸co. Donde, fechado em Rn , Di que est´ tendo em conta a proposi¸c˜ao 106 (p. 480), K resulta compacto.
496
Nota: Devido as desigualdades
(p. 319)
D3 (x, y) ≤ D1 (x, y) ≤ D2 (x, y) ≤ n · D3 (x, y) v´alidas para as respectivas normas do Rn , se um subconjunto X ⊂ Rn ´e limitado em rela¸c˜ ao a uma dessas normas o ´e tamb´em em rela¸c˜ao `as outras duas. Proposi¸ c˜ ao 116. O espa¸co m´etrico [ 0, 1 [, k ´e compacto. Prova: De fato, sendo o mesmo completo (prop. 99, p. 426) ´e suficiente mostrar que ´e totalmente limitado. Sendo [ 0, 1 [ totalmente limitado no espa¸co (R, µ), segue que, dado ε > 0 arbitr´ario podemos, selecionar n pontos: x1 , x2 , x3 , . . . , xn em [ 0, 1 [ de sorte que [ 0, 1 [ ⊂ Bµ (x1 ; ε) ∪ Bµ (x2 ; ε) ∪ · · · ∪ Bµ (xn ; ε) Pelo lema 6 (p. 425) temos que Bµ xi ; ε ⊂ Bk (xi ; ε), (i = 1, 2, . . . , n). Portanto n n [ [ Bk xi ; ε Bµ xi ; ε ⊂ [ 0, 1[ ⊂ i=1
i=1
Sendo [ 0, 1 [, k completo e totalmente limitado, resulta tamb´em compacto.
Ap´os esta prova concebemos uma outra mais direta. De fato, sendo (xn ) uma sequˆencia arbitr´aria em [ 0, 1 [ podemos mostrar que esta possui uma subsequˆencia convergente. Com efeito, (xn ) ´e tamb´em uma sequˆencia no espa¸co compacto ([ 0, 1 ], µ) e, portanto, possui uma subsequˆencia (xn ) k convergente. Sendo assim, (xn ) tamb´em converge no espa¸co [0, 1[, k . k Corol´ ario . Os quadrados [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [, Di s˜ ao compactos.
9.3
Distˆ ancia Entre Conjuntos Compactos
Na p. 51 tivemos a oportunidade de calcular a distˆ ancia entre os subconjuntos X = [ 1, 3 ] e Y = ] 5, 7 ] no espa¸co ( R, µ). Encontramos D [ 1, 3 ]; ] 5, 7 ] = 2.
Vamos calcular a distˆ ancia entre o ponto p = 3 ∈ X e o subconjunto Y : d(p, Y ) = inf d(p, y) : y ∈ Y d(3, Y ) = inf d(3, y) : y ∈ Y = inf |3 − y| : 5 < y ≤ 7 497
Ent˜ ao, 5 < y ≤ 7 ⇔ 2 < y − 3 ≤ 4 ⇔ 2 < |y − 3| ≤ 4 ⇔ |y − 3| ∈ ] 2, 4 ] ⇔ d(1, Y ) = 2. Resultando,
D [ 1, 3 ]; ] 5, 7 ] = d 1; ] 3, 4 ]
Isto ´e, encontramos um ponto no conjunto X que proporciona a distˆ ancia entre X e Y . Isto aconteceu em virtude de que X ´e compacto. Este fenˆomeno pode ser generalizado para todos os espa¸cos m´etricos. Este ´e o conte´ udo da pr´ oxima proposi¸c˜ ao. Proposi¸ c˜ ao 117. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e K ⊂ M um subconjunto compacto. Se X ⊂ M , ent˜ ao existe p ∈ K de modo que D(K, X) = d(p, X). (M, d) K
s
p
X ν
Prova: Antes devemos lembrar: D(K, X) = inf d(k, x) : k ∈ K e x ∈ X d(p, X) = inf d( p, x) : x ∈ X Inicialmente observe que se p ∈ K ent˜ao d(p, x) : x ∈ X ⊂ d(k, x) : k ∈ K e x ∈ X
portanto
(prop. 145, p. 611)
inf d(k, x) : k ∈ K e x ∈ X
≤ inf d( p, x) : x ∈ X
isto ´e, d(p, X) ≥ D(K, X). Pois bem, seja ν = D(K, X) ≥ 0. Pela defini¸c˜ao de inf, ν ´e a maior das cotas inferiores do conjunto d(k, x) : k ∈ K e x ∈ X ; portanto para ao pode ser cota inferior deste conjunto. Isto ´e o todo n natural, ν + n1 n˜ mesmo que afirmar (lema 11, p. 609) a existˆencia de kn ∈ K e xn ∈ X tais que 1 ν ≤ d kn , xn < ν + n 498
Consideremos a sequˆencia (x1 , x2 , . . . , xn , . . .) e seja A = { xn : n ∈ N } o conjunto dos seus termos. Existem duas alternativas: (i) A ´e finito. Neste caso existe p ∈ K tal que xn = p a partir de uma certa posi¸c˜ao ario, que n. Afirmamos que D(K, X) = d(p, X). De fato, suponha, ao contr´ d(p, X) > D(K, X), sendo assim existe δ > 0 de modo que d(p, X) = ν + δ, 1 < 2δ . Sendo e escolhamos um n´ umero natural m satisfazendo xm = p e m assim, temos ν + δ = d(p, X) = d(xm , X) ≤ d(xm , ym ) < ν +
δ 1 <ν+ m 2
o que ´e absurdo. (ii) A ´e infinito. Da compacidade de K resulta que existe uma subsequˆencia (xn ) de k (xn ) tal que lim xn = p ∈ K. Afirmamos que D(K, X) = d(p, X). De k fato, suponha, ao contr´ ario, que d(p, X) > D(K, X), sendo assim existe δ > 0 de modo que d(p, X) = ν + δ. Da convergˆencia xn −→ p decorre k que a bola B p; 2δ cont´em infinitos termos da sequˆencia (xn ). Escolhamos 1 xm ∈ B p; 2δ de modo que m < 2δ . Sendo assim, d(p, xm ) + d(xm , ym ) <
1 δ δ δ +ν+ < +ν+ 2 m 2 2
= ν + δ = d(p, X) ≤ d(p, ym ). Esta contradi¸c˜ ao com a desigualdade triangular encerra a demonstra¸c˜ao. (M, d) K
xrm
r
rym
p
X
d(p, ym ) ≤ d(p, xm ) + d(xm , ym )
Corol´ ario 43. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e K ⊂ M um subconjunto compacto. Se X ⊂ M ´e um subconjunto fechado tal que X ∩ K = ∅, ent˜ ao D(K, X) > 0. Prova: Faremos uso da t´ecnica (T − 4) H1 : H : 2
K compacto ∧ X fechado. K ∩ X = ∅.
499
(p. 571).
⇒
Fa¸camos
T:
D(K, X) > 0
¯2 H1 ∧ T¯ =⇒ H Suponhamos K compacto, X fechado e D(K, X) = 0. Ent˜ao, pela proposi¸c˜ ao 117, existe um ponto p ∈ K satisfazendo d(p, X) = 0. Pela ¯ Como p ∈ K e proposi¸c˜ ao 40 (p. 211) somos informados de que p ∈ X. ¯ X = X, resulta p ∈ K ∩ X, o que contradiz H2 . Mostraremos agora que a distˆ ancia entre dois subconjuntos compactos de um dado espa¸co m´etrico, pode ser expressa pela distˆ ancia entre dois pontos: um de cada desses subconjuntos.
Corol´ ario 44. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico e K, ̥ ⊂ M subconjuntos compactos. Ent˜ ao existem p ∈ K e q ∈ ̥ tais que D(K, ̥) = d(p, q). Prova: Como K ´e compacto a proposi¸c˜ao 117 nos diz que existe um ponto p ∈ K satisfazendo D(K, ̥) = d(p, ̥). Como ̥ ´e compacto a mesma proposi¸c˜ ao nos diz que existe um ponto q ∈ ̥ satisfazendo D ̥, { p } = d q, { p } . Tendo em conta que D ̥, { p } = inf d(x, y) : x ∈ ̥ e y ∈ { p } = inf d(x, p) : x ∈ ̥ = d ̥, p e
d { p }, q = inf d(x, q) : x ∈ { p } = inf d( p, q) = d(p, q)
decorre que D(K, ̥) = d(p, q).
9.4
N´ umero de Lebesgue Para Coberturas
Proposi¸ c˜ ao 118. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico compacto. Se A = {Aλ }λ∈L ´e um recobrimento aberto de M , ent˜ ao existem um n´ umero real δ > 0 e um aberto Aν ∈ A tais que para todo x ∈ M vale a inclus˜ ao B(x; δ) ⊂ Aν . Coment´ ario: O n´ umero δ > 0 serve para todos os pontos x ∈ M . O que pode mudar de ponto para ponto de M ´e o elemento Aν da fam´ılia A = {Aλ }λ∈L . Ou ainda: o raio da bola B(x; δ) ´e o mesmo para todo x ∈ M . Agora dependendo do x ∈ M , B(x; δ) vai estar contido num ou noutro Aν ∈ A. A seguir destacamos, em s´ımbolos, a tese e sua nega¸c˜ao: ∃
δ>0
∀
δ>0
:
∀
x∈M
∃
x∈M
∃
( Aν ∈ A ) ⇒ B(x; δ) ⊂ Aν
∀
( Aν ∈ A ) ∧ B(x; δ) 6⊂ Aν
ν ∈L
:
ν ∈L
500
Prova: Supondo falsa a tese, para todo δ > 0 existe x ∈ M de modo que B(x; δ) 6⊂ Aλ , para todo ´ındice λ ∈ L. Sendo assim, existe uma sequˆencia (x1 , x2 , . . .) de pontos de M de modo que B(x1 ; 1) 6⊂ Aλ , B x2 ;
1 2
B x3 ;
1 3
.. .
∀ λ ∈ L;
6⊂ Aλ ,
∀ λ ∈ L;
6⊂ Aλ ,
∀ λ ∈ L;
Quanto ao conjunto { xn : n ≥ 1 } dos termos da sequˆencia (xn ) podem ocorrer duas possibilidades: (i) X = { x1 , x2 , . . . } ´e finito. Neste caso existe p ∈ X tal que xn = p a partir de uma certa posi¸c˜ao n. Como p ∈ M ⊂ ∪Aλ , ent˜ ao p ∈ Aν para algum ´ındice ν ∈ L, e como Aν ´e aberto existe r > 0 de modo que p ∈ B(p; r) ⊂ Aν Escolhendo um ´ındice m tal que xm = p e
1 m
< r, teremos:
1 ⊂ B(p; r) ⊂ Aν m 1 Isto contradiz o fato de que B xm ; m 6⊂ Aλ para todo Aλ na cobertura A. B xm ;
(ii) X = { x1 , x2 , . . . } ´e infinito. Da compacidade de M resulta que existe uma subsequˆencia (xn ) de k (xn ) tal que lim xn = p ∈ M . Como p ∈ M ⊂ ∪Aλ , ent˜ao p ∈ Aν para k algum ´ındice ν ∈ L, e como Aν ´e aberto existe r > 0 de modo que p ∈ B(p; r) ⊂ Aν
(9.3)
Como lim xn = p existem (prop. 8, p. 142) infinitos pontos de X = { x1 , x2 , . . . } k ao podemos escolher um ´ındice m de modo que na bola B p; 2r , ent˜ xm ∈ B p;
Afirmamos,
r 2
e
r 1 < m 2
1 B xm ; ⊂ B(p; r) m 1 1 , isto ´e, d(y, xm ) < m , ent˜ao De fato, seja y ∈ B xm ; m d(y, p) ≤ d(y, xm ) + d(xm , p) <
r 1 +
o que garante y ∈ B(p; r). Utilizando (9.3) obtemos 1 ⊂ B(p; r) ⊂ Aν . m Isto contradiz o fato de que B xn ; n1 6⊂ Aλ para todo Aλ na cobertura A. B xm ;
Corol´ ario 45. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico compacto e A = {Aλ }λ∈L um recobrimento aberto de M . Ent˜ ao existe um n´ umero real δ > 0 tal que, para todo subconjunto X de M , com diam X < δ, existe um aberto Aν ∈ A de modo que X ⊂ Aν . (M, d) Aν X ∃ δ> 0 : ∀ X⊂M (diam X<δ) ⇒ ∃ Aν ∈ A : X⊂Aν .
Prova: Pela proposi¸c˜ ao 118 existe δ > 0 de modo que para todo x ∈ M se pode obter um aberto Aν em A com B( x; δ) ⊂ Aν (⋆). Sejam X ⊂ M com diam X < δ e p ∈ X. Ent˜ao, de
decorre,
diam(X) = sup d(x, y) : x, y ∈ X < δ d(x, y) < δ,
∀ x, y ∈ X.
Como p ∈ X, tomando y = p, obtemos ∀ x ∈ X, d(x, p) < δ ⇒ X ⊂ B( p; δ) Tendo em conta (⋆), resulta X ⊂ B( p; δ) ⊂ Aν . Devido ao corol´ ario anterior faz sentido a seguinte:
Defini¸ c˜ ao 63 (N´ umero de Lebesgue de uma Cobertura). Seja (M, d) um espa¸co m´etrico compacto e A = {Aλ }λ∈L uma cobertura aberta de M . Diz-se que um n´ umero δ > 0 ´e um n´ umero de Lebesgue para a cobertura A quando todo subconjunto X ⊂ M com diˆ ametro menor do que δ est´ a contido em algum Aν da cobertura. Obviamente que se δ ´e um n´ umero de Lebesgue de uma cobertura e 0 < δ′ < δ, ent˜ ao δ′ tamb´em ´e um n´ umero de Lebesgue da mesma cobertura. 502
Compacidade e Continuidade Uniforme Proposi¸ c˜ ao 119. Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espa¸cos m´etricos. Se (M, d1 ) ´e compacto ent˜ ao toda aplica¸ca ˜o cont´ınua f : M −→ N ´e uniformemente cont´ınua. Isto ´e, para todo ε > 0 dado arbitrariamente, existe δ(ε) > 0 tal que ∀ x, y ∈ M, d1 (x, y) < δ(ε) ⇒ d2 f (x), f (y) < ε.
(p. 288)
Daremos duas provas desta proposi¸c˜ao: 1a ) Prova: Como f : M −→ N ´e uma aplica¸c˜ao cont´ınua, dado ε > 0, para cada x ∈ M existe em correspondencia um δ(x, ε) > 0 tal que 1 ∀ y ∈ M com d1 (x, y) < δ(x, ε) ⇒ d2 f (x), f (y) < ε 2
(9.4)
A fam´ılia de bolas abertas o n 1 B x; δ(x, ε) : x ∈ M 2
´e uma cobertura aberta de M ; logo, existe uma subcobertura finita, digamos n o 1 1 1 B x1 ; δ(x1 , ε) , B x2 ; δ(x2 , ε) , . . . , B xn ; δ(xn , ε) 2 2 2 1 Fa¸camos, δ(ε) = min 2 δ(x1 , ε), 12 δ(x2 , ε), . . . , 21 δ(xn , ε) e sejam x, y ∈ M com d1 (x, y) < δ(ε).
Para algum ´ındice k ∈ { 1, 2, . . . , n }, x ∈ B xk ; 12 δ(xk , ε) . Sendo assim, d1 (x, xk ) < 12 δ(xk , ε). Com o aux´ılio desta desigualdade obtemos duas outras: (i) por (9.4): d2 f (x), f (xk ) < 21 ε. (ii)
d1 (xk , y) ≤ d1 (xk , x) + d1 (x, y) < como δ(ε) ≤ nos fornece
1 2
1 δ(xk , ε) + δ(ε), 2
δ(xk , ε) obtemos d1 (xk , y) < δ(xk , ε). Por conseguinte (9.4)
d2 f (x), f (y) ≤ d2 f (x), f (xk ) + d2 f (xk ), f (y)) <
1 1 ε+ ε=ε 2 2
Isto prova que f ´e uniformemente cont´ınua sobre M . 503
2a ) Prova: Como f : M −→ N ´e uma aplica¸c˜ao cont´ınua, dado ε > 0, para cada x ∈ M existe uma bola aberta B x; δ(x, ε) de modo que 1 ∀ y ∈ B x; δ(x, ε) ⇒ f (y) ∈ B f (x); ε 3
(9.5)
A fam´ılia de bolas abertas
n o A = B x; δ(x, ε) : x ∈ M
´e uma cobertura aberta de M ; logo − pela compacidade de M − existe uma subcobertura finita, digamos n o B = B x1 ; δ(x1 , ε) , B x2 ; δ(x2 , ε) , . . . , B xn ; δ(xn , ε) e, pelo corol. 45 (p.
502),
a cobertura B possui um n´ umero de Lebesgue δ > 0.
Sejam agora x, y ∈ M com d1 (x, y) < δ. Como
(coment´ ario ap´ os prop. 118, p.
500)
diam {x, y} = sup d1 (x, y) : x, y ∈ { x, y } = d1 (x, y) < δ implica que { x, y } est´ a contido em um membro B xk ; δ(xk , ε) da cobertura B. Por conseguinte, por (9.5), temos ( Como
y ∈ B xk ; δ(xk , ε) x ∈ B xk ; δ(xk , ε)
⇒
(
f (y) ∈ B f (xk ); f (x) ∈ B f (xk );
1 3 1 3
ε ε
1 1 1 diam B f (xk ); ε ≤ 2 · ε ⇒ d2 f (x), f (y) ≤ 2 · ε < ε 3 3 3
Isto prova que f ´e uniformemente cont´ınua sobre M .
9.5
Espa¸ cos Localmente Compactos
Defini¸ c˜ ao 64 (Espa¸cos localmente compactos). Um espa¸co m´etrico (M, d) ´e localmente compacto se, e somente se, cada ponto de M possui uma vizinhan¸ca compacta. De outro modo: Dizemos que um espa¸co m´etrico (M, d) ´e localmente compacto quando, para todo x ∈ M , existe um compacto K, com x ∈ int K. Um subconjunto N ⊂ M ´e localmente compacto quando o subespa¸co (N, d) o for. 504
Exemplos: 1) O espa¸co (R, µ) ´e localmente compacto. De fato, dado p ∈ R tomamos K = [ p − 1, p + 1 ] e temos p ∈ int K = ] p − 1, p + 1 [. Sendo K um subconjunto fechado e limitado de (R, µ), K ´e compacto; portanto K ´e uma vizinhan¸ca compacta de p em (R, µ) e (R, µ) resulta localmente compacto. Vemos assim, que um espa¸co localmente compacto n˜ ao ´e necess´ariamente compacto. Por outro lado, como um espa¸co m´etrico ´e sempre uma vizinhan¸ca de cada um de seus pontos, a rec´ıproca ´e verdadeira. 2) Todo espa¸co (M, d) discreto ´e localmente compacto. De fato, cada ponto ´e uma vizinhan¸ca compacta de si mesmo. Veja os exemplos 4 (p. 479) e 4 (p. 201). ao localmente compactos. 3) Os espa¸cos Rn , Di (i = 1, 2, 3.) s˜ n De fato, dado p ∈ R , tomamos K = B[ p; 1 ] e temos p ∈ int K = B(p; 1). Sendo K um subconjunto fechado e limitado de Rn , Di , K ´e n compacto; portanto K ´e uma vizinhan¸ca compacta de p em R , Di e n R , Di resulta localmente compacto. Proposi¸ c˜ ao 120. Seja (M, d) localmente compacto. Se F ⊂ M ´e fechado ent˜ ao F ´e localmente compacto. Prova: Dado um ponto p ∈ F , como (M, d) ´e localmente compacto, existe um compacto K em (M, d) com p ∈ int K. p ∈ int K ⇒ ∃ r > 0 : B(p; r) ⊂ K
⇒ ∃ r > 0 : B(p; r) ∩ F ⊂ K ∩ F
⇒ ∃ r > 0 : B(p; r) ⊂ K ∩ F
⇒ p ∈ int (K ∩ F )
(no subespa¸co (F, d)).
Vamos mostrar agora que K∩F ´e compacto. De fato, K sendo compacto, ´e fechado em (M, d). Portanto K ∩ F ´e fechado em (M, d) por ser a intersec¸c˜ ao de dois fechados. Isto ´e, K ∩ F = (K ∩ F )(M, d) Pelo corol´ ario 3
(p. 207)
podemos escrever
K ∩ F = (K ∩ F )(M, d) = (K ∩ F )(K, d) Logo, K ∩ F ´e um subconjunto fechado no subespa¸co compacto (K, d), portanto, compacto (prop. 106, p. 480). Em resumo: K ∩ F ´e uma vizinhan¸ca compacta de p em F , sendo assim F resulta localmente compacto.
505
Proposi¸ c˜ ao 121. Seja f : (M, d1 ) → (N, d2 ) aberta, cont´ınua e sobrejetiva. Se (M, d1 ) ´e localmente compacto ent˜ ao (N, d2 ) tamb´em o ´e. Prova: De fato, seja q ∈ N , como f ´e sobrejetiva, existe p ∈ M de modo que f (q) = p. Como (M, d1 ) ´e localmente compacto, existe uma vizinhan¸ca compacta Kp de p em M . Ent˜ ao p ∈ int Kp e Kp ´e compacto. Como f ´e aberta, resulta que f int Kp ´e uma vizinhan¸ ca de p = f (q). Por outro lado, a continuidade de f garante que f Kp ´e compacto. Ou seja: f Kp ´e vizinhan¸ca compacta de p, resultando que (N, d2 ) ´e localmente compacto. (M, d2 )
(M, d1 )
r
f
p
Kp
r q = f (p)
f (Kp )
Proposi¸ c˜ ao 122. Sejam (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), . . ., (Mn , dn ) espa¸co m´etricos e M = M1 × M2 × · · · × Mn . Ent˜ ao M ´e localmente compacto se, e somente se, cada Mi ´e localmente compacto. Prova: (⇒) Seja M localmente compacto. Como as proje¸c˜oes pi : M → Mi s˜ ao cont´ınuas, abertas (p. 286) e sobrejetivas, a proposi¸c˜ao 121 nos assegura que os fatores Mi s˜ ao localmente compactos. (⇐) Reciprocamente, suponhamos que cada Mi ´e localmente compacto. Ent˜ ao dado x = (x1 , . . . , xi , . . . , xn ) ∈ M , cada xi possui uma vizinhan¸ca compacta Ki em Mi . Ent˜ao pelo corol´ ario 42 (p. 495), a vizinhan¸ca K = K1 × · · · × Kn de x ´e compacta. Portanto, M resulta localmente compacto. No decorrer dos anos percebi muitas vezes, na qualidade de f´ısico de poltrona, lugares em que os c´ alculos f´ısicos divergem at´e o infinito em distˆ ancias extremamente pequenas. Os f´ısicos s˜ ao partid´ arios de que n˜ ao se fa¸ca a pergunta errada, aquela que proporcione uma resposta infinita. Mas eu sou um matem´ atico, e a cada vez eu me perguntava se a Natureza n˜ ao estava realmente tentando nos dizer algo, isto ´e, que n´ umeros reais e continuidade constituem uma impostura, e que distˆ ancias infinitesimalmente pequenas n˜ ao existem! [. . .] Portanto, como vocˆe vˆe, h´ a muitas raz˜ oes para suspeitar de que n´ os poder´ıamos estar vivendo em um universo digital, de que Deus prefere ser capaz de copiar coisas de modo exato quando ´e obrigado, mais do que obter o inevit´ avel aumento de ru´ıdo que acompanha o copiar anal´ ogico! (Gregory Chaitin/Metamat!)
506
9.6 9.6.1
Representa¸ c˜ oes decimais e Curva de Peano O Mito das ambiguidades nas representa¸c˜ oes decimais
Na presente se¸c˜ ao pretendemos por fim `as intermin´aveis pendengas sobre as representa¸c˜ oes decimais de reais do intervalo [ 0, 1 ] − bem como preparar terreno para um assunto posterior: Curva de Peano. Mostraremos, oportunamente, que as supostas ambiguidades de algumas destas representa¸c˜oes, tipo: 0, 5 = 1/2 = 0, 4999 . . . s˜ ao um mito. O conceito do ´eter revelou-se um fantasma criado pela imagina¸c˜ao dos f´ısicos do s´eculo XIX. Neste trabalho mostramos, igualmente, que representa¸c˜oes tipo 0, 5 = 1/2 = 0, 4999 . . . n˜ ao tˆem “existˆencia real”; s˜ ao fantasao dos matem´ aticos. mas criados pela imagina¸c˜ Mostraremos que o esclarecimento desta quest˜ao − aqui a deixamos assaz cristalina − vai simplificar, ami´ ude, muitas constru¸c˜oes matem´ aticas; a exemplo da constru¸c˜ ao da curva de Peano. Aqui mostraremos uma constru¸c˜ao desta curva mais simples que as constantes na literatura. Representa¸ co ˜es decimais Existem duas alternativas para se definir as representa¸c˜oes decimais: via ao entre conjuntos. convergˆencia de s´eries e via bije¸c˜ Para exemplificar a primeira alternativa: (ver [5]/p. 231) “Antes de definir ϕ, lembremos que os n´ umeros reais admitem n˜ ao somente uma express˜ ao decimal como tamb´em, fixado qualquer n´ umero b > 1, todo n´ umero real possui uma express˜ ao na base b. Em particular, se 0 ≤ x ≤ 1, a express˜ ao x = 0, x1 x2 . . . xn . . . de x na base b significa que x=
x x x1 + 22 + · · · + nn + · · · ” b b b
Ainda mais ` a frente, nesta mesma p´ agina, o autor escreve: “Para ver que ϕ ´e injetiva, basta lembrar que, assim como a representa¸ c˜ ao decimal de um n´ umero x ∈ [ 0, 1 ] ´e u ´nica, exceto por ambiguidades do tipo 0, 47999 . . . = 0, 48000 . . .”. Vejamos mais um exemplo, segundo este autor 0, 011000 . . . e 0, 010111 . . . s˜ ao duas representa¸c˜ oes, na base 2, de 83 , porquanto 1 1 0 0 0 3 0 1 0 1 1 1 0 = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 +· · · (9.6) 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 +· · · = 8 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 Defini¸c˜ao via bije¸c˜ ao Construiremos agora uma representa¸c˜ao alternativa para os n´ umeros reais. Vamos nos restringir aos reais do intervalo [ 0, 1 ] uma vez que qualquer n´ umero real situa-se entre dois inteiros consecutivos, isto ´e, dado x ∈ R sucede que x ∈ [ m, m + 1 ] para algum inteiro m. Em suma, todo real pode ser transladado para o intervalo [ 0, 1 ]. 507
Tamb´em vamos nos restringir ao caso da base 2 − base bin´ aria − uma vez que o que faremos aqui com respeito a esta base pode ser repetido para uma outra base qualquer. Para a constru¸ca ˜o de uma representa¸c˜ao bin´ aria − para os n´ umeros reais − iremos necessitar do seguinte produto cartesiano: { 0, 1 }N = { 0, 1 } × { 0, 1 } × { 0, 1 } × · · · Este ´e o conjunto das sequˆencias infinitas de 0′ s e 1′ s. Por exemplo, dois elementos deste conjunto s˜ ao: 110011001100...
e
010101010101...
Gostariamos de definir uma bije¸c˜ao entre os conjuntos { 0, 1 }N e [ 0, 1 ], assim: N −→ [ 0, 1 ] f : 0, 1 P∞ x n (xn ) 7−→ n=1 2n
Esta aplica¸c˜ aoP est´ a bem definida uma vez que a s´erie em quest˜ao ´e ma∞ 1 e 1 . Infelizmente f n˜ ao ´e injetiva jorada pela s´erie n=1 2n cuja soma ´ porquanto, f x1 . . . xj 000 . . . = f x1 . . . xj−1 (xj − 1)111 . . . (9.7)
Como ´e f´acil verificar. Rec´ıprocamente, supondo f (x) = f (y) e x 6= y vamos mostrar que x = x1 x2 x3 . . . e y = y1 y2 y3 . . . s´ o podem ser da forma das representa¸c˜ oes que aparecem em (9.7).
Prova: De fato, seja j o primeiro ´ındice onde x difere de y; suponhamos, ademais, que xj = 1. Sendo assim podemos escrever x = x1 x2 . . . xj−1 1 xj+1 xj+2 . . . y = x1 x2 . . . xj−1 0 yj+1 yj+2 . . . Devemos mostrar que f (x) = f (y) =⇒ A igualdade
P∞
xn n=1 2n
=
P∞
(
xj+1 = xj+2 = · · · = 0; yj+1 = yj+2 = · · · = 1.
yn n=1 2n
pode ser escrita assim
xj−1 1 xj+1 xj−1 0 yj+1 x1 x2 x1 x2 1 + 2 + · · · + j−1 + j + j+1 + · · · = 1 + 2 + · · ·+ j−1 + j + j+1 + · · · 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 Logo,
xj+1 yj+1 1 + ··· j + j+1 + · · · = 2 2 2j+1 508
Ou ainda,
∞ ∞ X X yn 1 xn = + n j 2 2n 2 n=j+1 n=j+1
∞ X 1 yn o poder´ a ser satisn ≤ j , isto implica em que esta igualdade s´ 2 2 n=j+1 feita em uma u ´nica situa¸c˜ ao; qual seja, aquela em que xn = 0, para n ≥ j +1 e yn = 1, para n ≥ j + 1.
como
Tendo em vista os argumentos anteriores, resulta injetiva a seguinte aplica¸c˜ao λ : B −→ [ 0, 1 ] P (xn ) 7−→ ∞ n=1
xn 2n
N onde B ´e o subconjunto de 0, 1 cujos elementos n˜ ao tˆem todos os termos ∗ iguais a 1, a partir de alguma posi¸c˜ao . Por exemplo: 0101010101... ∈ B
e
1 0 1 0 1 0 0 1 1 1 1 1 . . . 6∈ B
Mostraremos agora que λ ´e sobre [ 0, 1 [. Seja dado, arbitrariamente, um ponto x ∈ [ 0, 1 [ e mostremos que este ´e imagem, por λ, de alguma sequˆencia bin´ aria de B. De fato, dividamos o intervalo [ 0, 1 [ ao meio, assim [ 0, 1 [=
1 h [ 1 1 j j + 1h = 0, , ,1 ∪ 2 2 2 2
j=0
sendo assim, x pertence a um, e s´ o um, desses subintervalos, digamos x ∈ x1 x1 +1 I1 = 2 , 2 : 0
0
p1 2
1 2
1
s
x
1
I1
Ap´os o “corte” se x resulta no subintervalo da esquerda x1 = 0, se, no da direita x1 = 1. No caso da figura temos x1 = 1. A seguir dividamos este 1 h h [ h x1 j x j + 1h x1 x1 +1 = + 2, 1 + 2 . subintervalo em dois outros, assim 2 , 2 2 2 2 2 j=0 h h x1 x2 x1 x2 +1 Selecionemos x2 tal que x ∈ I2 = 2 + 2 , 2 + 2 . 2
∗
2
Com a u ´nica exce¸c˜ ao feita para a sequˆencia 1 1 1 1 . . . a qual incluimos neste conjunto.
509
(parentˆesis:) Observe que o extremo esquerdo deste P intervalo, no caso, x xn + 22 nada mais ´e que a segunda soma parcial da s´erie c˜ao 2n (da defini¸ 2 x1 x2 x3 de λ). Por exemplo, o extremo esquerdo de I3 seria 2 + 2 + 3 , a terceira 2 2 soma parcial da referida s´erie. x1 2
x1 = 0
x1 = 1
s
x2 = 0
x2 = 1
1
x2 = 0
x2 = 1
x
3 4
s
1 2
1 4
0
I1
x
1 2
0
I2
1
No caso da figura x2 = 0. Dividindo o intervalo [ 0, 1 [ em quatro partes os dois primeiros digitos (x1 x2 . . .) da sequˆencia que pretendemos associar a x, s˜ ao as “coordenadas” do ponto x de acordo com o diagrama a seguir: x1 x2 00 0
01 1 4
10
11
1 2
3 4
1
0 0 1 1
0 1 0 1
Resumindo: x1 nos diz em qual metade do intervalo encontra-se x; x1 x2 nos diz em qual quarta parte do intervalo encontra-se x. Este processo de divis˜oes sucessivas ´e continuado indefinidamente. Consideremos ¯In o intervalo fechado com os mesmos extremos de In . Observe que ( ¯In ) ´e uma sequˆencia de intervarlos que cumpre as hip´ oteses do teorema ∞ ¯ dos intervalos encaixantes (p. 604), por conseguinte ∩n=1 In consiste em um ¯ u ´nico ponto. Como x ∈ ∩∞ encia formada pelas n=1 In , resulta que a sequˆ P xn extremidades esquerdas dos In converge para x, isto ´e, ∞ n=1 2n = x. Sendo assim tomamos a sequˆencia bin´ aria (x1 x2 x3 . . .) para corresponder a x. Resulta assim que λ ´e uma bije¸c˜ao e, desta forma, podemos identificar os elementos de ambos os conjuntos: [ 0, 1 ] e B. λ : B −→ [ 0, 1 ] P (xn ) 7−→ ∞ n=1 510
xn 2n
Defini¸c˜ ao de representa¸c˜ ao bin´ aria λ sendo uma bije¸c˜ ao possui inversa λ−1 : [ 0, 1 ] → B. A imagem de um −1 aria de x. Isto x ∈ [ 0, 1 ] por λ ´e o que chamamos de representa¸c˜ao bin´ ´e, diremos, por defini¸c˜ ao, que uma representa¸c˜ao bin´ aria ´e um elemento de B. Sendo assim, por exemplo, 1 0 1 0 1 0 . . . ´e uma representa¸c˜ao bin´ aria, enquanto 0 1 0 1 1 1 1 . . . n˜ ao. Dizemos que os n´ umeros do intervalo [ 0, 1 ] s˜ ao codificados pelos elementos de B. Mais uma alternativa para se definir representa¸ c˜ ao O que aconteceria se, na constru¸c˜ao anterior, optarmos por abrir todos os subintervalos ` a esquerda?, por exemplo assim: 000 0
001 1 8
010 1 4
011 3 8
100 1 2
101 5 8
110 3 4
111 7 8
1
x1 x2 x3
Observe que com esta escolha estamos optando pelas codifica¸c˜oes: ⇒ 18 = 0 0 0 1 1 1 . . . x = 18 ⇒ x ∈ 0, 81 ⇒ 41 = 0 0 1 1 1 1 . . . x = 41 ⇒ x ∈ 18 , 14 x = 43 ⇒ x ∈ 58 , 34 ⇒ 43 = 1 0 1 1 1 1 . . . ⇒ 87 = 1 1 0 1 1 1 . . . x = 87 ⇒ x ∈ 34 , 78
Procedendo como na constru¸c˜ ao anterior podemos mostrar que a aplica¸c˜ao, ˜: B ˜ −→ ] 0, 1 ] λ P (xn ) 7−→ ∞ n=1
xn 2n
˜ ´e o subconjunto de 0, 1 N cujos elementos n˜ resulta injetiva. Onde, B ao tˆem todos os termos iguais a 0, a partir de alguma posi¸c˜ao. Se incluirmos ˜ podemos fechar o intervalo unit´ a sequˆencia 0 0 0 0 . . . em B ario `a esquerda. ˜ ´e tamb´em sobrejetiva, Pelo teorema dos intervalos encaixantes, resulta que λ portanto, ˜: B ˜ −→ [ 0, 1 ] λ P xn (xn ) 7−→ ∞ n=1 2n
´e uma bije¸c˜ ao. Deste modo, temos duas alternativas para definir representa¸c˜oes (codifica¸c˜ oes) bin´ arias. Por exemplo, 3 = 011000... 8
ou
3 = 010111... 8
˜ respectivamente. dependendo se optarmos pela bije¸c˜ao λ ou λ, 511
Duplicidade × Ambiguidade
H´a que se fazer distin¸c˜ao entre duplicidade e ambiguidade nas representa¸c˜ oes bin´ arias (ou decimais). Duplicidade significa, precisamente, que temos duas op¸c˜ oes para definir representa¸c˜oes; ambiguidade significa que n˜ ao optamos, ficamos com as duas representa¸c˜oes simultˆ aneamente. − Entendemos uma representa¸c˜ao (bin´ aria no caso) como uma codifica¸c˜ ao dos elementos de um conjunto (no caso [ 0, 1 ]) pelos elementos de ˜ esta codifica¸c˜ao se d´ um outro conjunto (no caso B ou B), a justamente via bije¸c˜ ao. Importante! O leitor, com um pouco de reflex˜ao, h´ a de concluir que a existˆencia da representa¸c˜ao (bije¸c˜ao) s´ o ser´ a poss´ıvel se a op¸c˜ao for feita (geometricamente significa que devemos optar por um dos diagramas: abertos ` a esquerda ou ` a direita) − caso contr´ ario n˜ ao haver´ a bije¸c˜ao e, em decorrˆencia, n˜ ao poder´ a haver representa¸c˜ao. Ora, uma vez feita a op¸c˜ao, as ambiguidades deixam de existir − tornam-se meros fantasmas a assombrar criancinhas desavisadas. Adendo: Vou insistir, de uma outra perspectiva, na diferen¸ca entre ambiguidade e duplicidade, desta vez me valendo de uma analogia com a inform´ atica. Vejo a quest˜ ao da representa¸c˜ao (decimal, bin´ aria, . . . ) dos reais algo similar ao que acontece com a codifica¸ca ˜o dos caracteres do teclado de um computador, que s˜ ao codificados pela tabela ASCII, por exemplo (p. 34):
As
3s .. .
α
α−1
s0 1 0 0 0 0 0 1
s0 0 1 1 1 1 0 0 s0 0 1 1 0 0 1 1
.. .
{ 0, 1 }8
Teclado
O fato de existirem v´arias possibilidades para a codifica¸c˜ao dos caracteres de um computador n˜ ao inviabiliza∗ a inform´ atica; isto significa, t˜ao somente, que devemos optar por uma dentre estas v´arias possibilidades. Enfatizo: A diferen¸ca entre ambas ´e que na ambiguidade − no que os matem´ aticos crˆem − um n´ umero ´e codificado de dois modos distintos e na duplicidade, apenas de um modo − embora tenhamos duas alternativas `a nossa escolha. ∗
E nem complica, como acontece na matem´ atica com algumas constru¸c˜ oes que dependem de representa¸c˜ oes (codifica¸c˜ oes), a exemplo da Curva de Peano. Neste particular, os engenheiros de hardware foram mais inteligentes que os matem´ aticos. Isto ´e, fixaram uma das − poss´ıveis − codifica¸c˜ oes e pronto!
512
De outro modo: Ambiguidade seria, por exemplo, se a letra A tivesse duas codifica¸c˜ oes. No caso da inform´ atica existe n˜ ao duplicidade mas multiplicidade, uma vez que podemos codificar um caracter de in´ umeros modos. Mas o que acontece ´e que na inform´ atica n˜ ao se ouve falar de ambiguidade na representa¸c˜ ao de um caracter, simplesmente porque todos os fabricantes optaram por uma u ´nica codifica¸c˜ ao; caso contr´ ario a inform´ atica se tornaria invi´avel: algu´em digitaria a letra A em um email e o destinat´ario receberia a letra B, por exemplo, uma verdadeira torre de babel. Aproveitando este exemplo, observe que a elimina¸c˜ao da ambiguidade (multiplicidade) traz vantagens, simplifica¸c˜oes; ´e precisamente isto que estou defendendo que deva ocorrer na matem´ atica no que diz respeito `as representa¸co ˜es que nada mais s˜ ao que codifica¸co ˜es para os n´ umeros reais. Conclus˜ ao: Quando dizemos o “mito das ambiguidades” ou “fantasmas das ambiguidades” entendemos que as ambiguidades (fantasmas) de fato existem apenas se adotamos a defini¸c˜ao de representa¸c˜oes via convergˆencia de s´eries, caso contr´ ario n˜ ao. Com efeito, pela alternativa das bije¸c˜oes surge uma duplicidade (n˜ ao ˜ a repreambiguidade), uma vez que optemos por uma das bije¸c˜ao, λ ou λ, senta¸c˜ao torna-se u ´nica. Por oportuno, na referˆencia [9]/p. 60 o autor define a representa¸c˜ao dos inteiros via bije¸c˜ ao. Na p. 62 lemos: “A justificativa da validade da representa¸ c˜ ao acima se apoia no Teorema 7 que nos garante ser uma bije¸c˜ao a fun¸c˜ao + Z+ b −→ Z xn . . . x0 7−→ c0 + · · · + cn · bn
onde Z+ e o conjunto dos elementos da forma xn . . . x0 , com xn 6= 0 se n > 1 b ´ e onde para cada i, tem-se que ci ´e o inteiro correspondente ao s´ımbolo xi .” De igual modo deve suceder na representa¸c˜ao dos reais; digo, se escolhermos definir via bije¸c˜ ao ent˜ ao somos for¸cados a optar entre duas bije¸c˜oes poss´ıveis; caso n˜ ao optemos, insistimos, n˜ ao haver´ a bije¸c˜ao e, por conseguinte, n˜ ao haver´ a representa¸c˜ ao; a n˜ ao ser via s´eries como faz o autor j´a referido ( [5] ) mas a´ı surge o inconveniente das ambiguidades (fantasmas). . . ´e uma quest˜ ao de pura l´ ogica (inteligˆencia!). Nossa perspectiva e a literatura No que se segue vamos considerar, a exemplo das representa¸c˜oes bin´ arias, as seguintes representa¸c˜ oes (bije¸c˜ oes) decimais: λ : D −→ [ 0, 1 ] P (xn ) 7−→ ∞ n=1 513
xn 10n
N onde D ´e o subconjunto de 0, 1, 2, . . . , 9 cujos elementos n˜ ao tˆem todos os termos iguais a 9, a partir de alguma posi¸c˜ao∗ . Observe que, neste caso, .4999 . . . n˜ ao ´e a representa¸c˜ao decimal de 21 . Tamb´em, ˜: D ˜ −→ [ 0, 1 ] λ P (xn ) 7−→ ∞ n=1
xn n 10
˜ ´e o subconjunto de 0, 1, 2, . . . , 9 N cujos elementos n˜ onde D ao tˆem todos † os termos iguais a 0, a partir de alguma posi¸c˜ao . Observe que, neste caso, .4999 . . . ´e a representa¸c˜ ao decimal de 12 . • No livro “Meu Professor de Matem´atica” (4a Edi¸c˜ao) o Prof. Elon Lages Lima, trata das representa¸c˜oes decimais. Vejamos, `a luz de nossas considera¸c˜ oes, a an´ alise de alguns pontos considerados pelo autor (p. 162): 7. D´ uvidas sobre d´ızimas . . . Duas das mais interessantes entre essas perguntas foram feitas por Sun Hsien Ming, de S˜ ao Paulo, SP. Elas s˜ ao: 1a ) Existe alguma fra¸ca˜o ordin´aria tal que, dividindo-se o numerador pelo denominador, obtenha-se a d´ızima peri´ odica 0, 999 . . .? No nosso entendimento existe um equ´ıvoco tanto na pergunta quanto na resposta, precisamente devido ao mito de se crˆe que 0, 999 . . . seja um n´ umero. Com efeito, o Prof., argumenta: “Se a e b forem n´ umeros naturais com a/b = 0, 999 . . .” − J´ a vimos (p. 167) que 0, 999 . . . ´e uma s´erie e n˜ ao um n´ umero, por conseguinte n˜ ao faz sentido a divis˜ao de dois n´ umeros resultar em uma s´erie; s˜ ao objetos (entes) de naturezas distintas. 2a ) O fato de a mesma fra¸c˜ao ordin´aria poder ter duas representa¸c˜oes decimais distintas (como 2/5 = 0, 4000 . . . = 0, 3999 . . .) n˜ ao apresenta inconveniente nem origina paradoxos? Uma boa pergunta. No nosso entendimento achamos que o Prof. Elon usa de tergiversa¸c˜ ao ao tentar respondˆe-la, como o leitor pode verificar lendo sua resposta no citado livro. No final da argumenta¸c˜ao lemos: “Nenhuma dessas escolhas ´e muito natural.” N˜ao sei o que o prof. entende por “muito natural”, porquanto do ponto de vista da l´ ogica as duas s˜ ao igualmente naturais, basta que optemos por ˜ uma das bije¸c˜ oes: λ ou λ. ∗
Com a u ´nica exce¸c˜ ao feita para a sequˆencia (9 9 9 9. . . ) a qual foi inclu´ıda neste conjunto. † Com a u ´nica exce¸c˜ ao feita para a sequˆencia (0 0 0 0. . . ) a qual foi inclu´ıda neste conjunto.
514
Em seguida: “Por isso me parece mais razo´ avel que nos resignemos com a falta de biunivocidade. H´ a coisas piores no mundo.” Este n˜ ao me parece um conselho muito s´ abio, embora em um ponto o Prof. tenha raz˜ ao, de fato h´ a coisas piores no mundo: as bombas sobre hiroshima e nagasaki, ou a prolifera¸c˜ao, em nosso pa´ıs, de surrupiadores dos cofres p´ ublico, por exemplo. − Eu diria que n´ os n˜ ao devemos nos “resignar” com a falta de biunivoario, existe excesso: cidade mas, sim, nos “rejubilar” pelo excesso; pelo contr´ ˜ ). oes bi´ univocas ( λ e λ existem duas aplica¸c˜ De nossa perspectiva respondemos a Sun Hsien Ming: a dupla igualdadade 2/5 = 0, 4000 . . . = 0, 3999 . . . ´e v´alida apenas do ponto de vista de convergˆencia de s´eries, do ponto de vista das representa¸c˜oes decimais ela ´e falsa∗ , n˜ ao tem sustenta¸c˜ ao l´ ogica. O correto ´e, 2/5 = 0, 4000 . . . , se escolhermos λ, ou,
˜ 2/5 = 0, 3999 . . . , se escolhermos λ.
Infinito atual × Infinito potencial A nossa exegese (sobre as representa¸c˜oes) poderia ainda levar em conta a controversa quest˜ ao dos infinitos potencial e atual, n˜ ao nos esten† deremos mais, apenas a este respeito citaremos a referˆencia , na qual lemos: “O pr´ıncipe dos matem´ aticos, Carl Friedrich Gauss (1777 − 1855), expressando um sentimento compartilhado pela comunidade matem´ atica de sua ´epoca, escreveu, por exemplo: “Eu contesto o uso de um objeto infinito como um todo completo; em matem´ atica, essa opera¸ca ˜o ´e proibida; o infinito ´e s´ o um modo de dizer” . Isto tem a ver com: (p. 173) lim αn = 1
⇔
α∞ = 0, 999 . . . = 1
lim pn = σ
⇔
p∞ = σ
n→∞ n→∞
ao apenas modos de dizer”. Ou ainda: Os infinitos, α∞ e p∞ , “s˜ 0, 999 . . . 9 | {z }
⇒
infinito potencial
0, 999 . . . | {z }
infinito atual
A passagem do infinito potencial para o infinito atual “´e apenas um modo de dizer. . . ” (p. 177) ∗ †
agina 512. Ver Importante! na p´ Scientific American - Edi¸c˜ ao Especial - As diferentes faces do infinito/p. 18.
515
9.6.2
A curva de Peano
A elimina¸c˜ ao dos fantasmas das ambiguidades nas representa¸c˜oes bin´ arias nos facultou, de imediato, trˆes vantagens: 1a ) Simplifica¸c˜ ao numa das constru¸c˜oes da curva de Peano. De fato, na constru¸c˜ ao desta curva constante em [5] o autor se utiliza − para contornar as supostas ambiguidades − de duas bases de representa¸c˜oes: a bin´ aria e a tern´ aria, al´em do conjunto de Cantor. Em nossa constru¸c˜ao dispensamos a base trˆes e o conjunto de Cantor. ao de uma nova patologia: o quadrado hiperm´ agico, uma 2a ) A constru¸c˜ esp´ecie de “inversa” da curva de Peano. 3a ) A constru¸c˜ ao de uma curva de Peano in´edita, desta vez no quadrado [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [. O s´eculo XIX se iniciou com a descoberta de que curvas e fun¸c˜oes n˜ ao precisam ser do tipo bem comportado, o que at´e ent˜ao se supunha. Peano∗ em 1890 mostrou at´e que ponto a matem´ atica podia insultar o senso comum quando, tratando do aprofundamento dos conceitos de continuidade e dimens˜ ao, publica a sua famosa curva, proposta como cobrindo totalmente uma superf´ıcie plana quadrangular. A curva de Peano hoje possui aplica¸c˜oes em compress˜ao de imagens digitais, aqui sugerimos uma aplica¸c˜ao desta curva − em conex˜ao com uma outra patologia por n´ os construida − na teoria das supercordas, no que concerne a transferˆencia de objetos entre dimens˜oes arbitr´arias. Defini¸ c˜ ao 65 (Curva de Peano). Chama-se curva de Peano num espa¸co m´etrico (M, d) a uma aplica¸ca ˜o cont´ınua χ : I → M tal que χ I = M . Por exemplo, de momento iremos construir a seguinte curva de Peano:
χ : [ 0, 1 ] −→ [ 0, 1 ] × [ 0, 1 ] 1
0
1
r
χ
0
∗
r
(1,1)
1
Giuseppe Peano (1858 − 1932), natural de Cuneo, It´ alia, foi professor da Academia Militar de Turin, com grandes contribui¸c˜ oes ` a Matem´ atica. Seu nome ´e lembrado hoje em conex˜ ao com os axiomas de Peano dos quais dependem tantas constru¸c˜ oes rigorosas da ´ algebra e da an´ alise.
516
Uma constru¸c˜ ao simplificada da curva de Peano Inicialmente vamos definir a seguinte aplica¸c˜ao B 1 xr
Ψ : [ 0, 1 ] −→ B
x 7−→ (xn )
Ψ
r(xn )
0
Onde associamos a cada x ∈ [ 0, 1 ] sua representa¸c˜ao na base bin´ aria. Ψ ´e uma bije¸c˜ ao. De fato, ´e injetiva porquanto se x 6= y, como a representa¸c˜ao bin´ aria ´e u ´nica∗ , resulta que (xn ) 6= (yn ), isto ´e, Ψ(x) 6= Ψ(y). ´ EPsobrejetiva, porquanto dado (xn ) ∈ B esta ´e imagem, por Ψ, de xn ∈ [ 0, 1 ]. Portanto Ψ admite inversa: Ψ−1 . x= 2n Para mostrar que a aplica¸c˜ ao Ψ:
[ 0, 1 ], µ −→ B, ν x
7−→ (xn )
´e cont´ınua, vamos mostrar inicialmente que sua inversa: Ψ−1 :
B, ν −→ [ 0, 1 ], µ (xn ) 7−→ x
´e cont´ınua. Mas isto j´a foi feito, tendo em conta o exemplo (ii) (p. 249) e o corol´ ario 9 (p. 271). Agora com o aux´ılio do corol´ ario 40 (p. 485) concluimos que Ψ ´e cont´ınua. Ou melhor: Ψ ´e um homeomorfismo. No que segue necessitaremos dos seguintes conceitos
Multiplexa¸c˜ ao e Demultiplexa¸c˜ ao Multiplexa¸ca ˜o ´e o nome de uma opera¸c˜ao muito comum a n´ıvel de hardware em computa¸c˜ ao e telefonia. Vejamos em que consiste: uma mensagem em computa¸c˜ ao ´e codificada em uma sequˆencia de digitos bin´ arios. Quando duas ou mais mensagens necessitam trafegar em um u ´nico canal − uma u ´nica via − utiliza-se do recurso ilustrado na figura a seguir: ∗ Uma vez feita a escolha da representa¸c˜ ao esta passa a ser u ´nica, como j´ a argumentamos. Por sinal vamos optar pela representa¸c˜ ao λ, ver p. 511.
517
... 0 1 0 0 0 0 0 1
... 0 1 0 0 0 0 0 1
ց
Z
... 0 0 1 1 0 0 1 0 1 0 0 0 1 0 0 1 TX
ր
... 0 1 0 1 1 0 1 0
∼
A
RX
r
ր ց
... 0 1 0 1 1 0 1 0
Na figura estamos transmitindo as letras A e Z (tabela ASCII). Na transmiss˜ ao (TX) as duas sequˆencias bin´ arias s˜ ao entrela¸cadas (multiplexadas); isto ´e, a sequˆencia a ser transmitida, no u ´nico canal, ´e formada pelo primeiro bit de A, seguido pelo primeiro bit de Z, seguidos pelo segundo bit de A, seguido pelo segundo bit de Z, e assim sucessivamente. Na recep¸c˜ao (RX) d´ ar-se-´ a o procedimento inverso (demultiplexa¸c˜ao). Com esse “truque” milhares de pessoas, em localidades distantes, podem se comunicar utilizando-se de um u ´nico canal − suas mensagens (voz, imagem, m´ usica, email, etc.) s˜ ao codificadas em sequˆencias bin´ arias. • Agora vamos definir uma aplica¸c˜ao (η), assim: B
η: B (xn )
N
:
N
{0, 1} × {0, 1} η1 (xn ), η2 (xn )
η
(xn ) q
{0, 1}N
q (η
1 ,η2 )
N
{0, 1}
Onde ηi : B −→ {0, 1}N (i = 1, 2) s˜ ao dadas por η1 (xn ) = η1 (x1 x2 x3 . . .) = x1 x3 x5 . . .
η2 (xn ) = η2 (x1 x2 x3 . . .) = x2 x4 x6 . . .
Isto ´e, η1 toma de xn sua subsequˆencia de ´ındices ´ımpares e η2 toma de xn sua subsequˆencia de ´ındices pares: η1
x1 x2 x3 x4 x5 . . .
η2
x1 x3 x5 x7 . . .
x2 x4 x6 x8 . . .
Ou seja, a aplica¸c˜ ao η demultiplexa a sequˆencia xn . 518
A aplica¸c˜ ao η ´e injetiva porquanto η(xn ) = η(yn ) ⇒ η1 (xn ), η2 (xn ) = η1 (yn ), η2 (yn ) ⇒ x1 x3 x5 . . . , x2 x4 x6 . . . = y 1 y 3 y 5 . . . , y 2 y 4 y 6 . . . ⇒ x1 x3 x5 . . . = y 1 y 3 y 5 . . . e x2 x4 x6 . . . = y 2 y 4 y 6 . . .
⇒ (xn ) = (yn ). A aplica¸c˜ ao η n˜ ao ´e sobrejetiva. De fato, por exemplo o ponto N
N
(0 1 1 1 1 . . . , 0 1 1 1 1 . . .) ∈ {0, 1} × {0, 1} n˜ ao ´e imagem de nenhum ponto do dom´ınio (por quˆe?).
Vamos agora envidar esfor¸cos para mostrar que η ´e cont´ınua. Antes mostraremos que ´e cont´ınua a seguinte restri¸c˜ao de η: α : B′ −→ B′ × B′
(9.8)
onde B′ ⊂ B, ´e tal que:
(xn ) ∈ B′ ⇐⇒ suas subsequˆencias de ´ındices ´ımpares e pares pertencem a B. No apˆendice (p. 560) mostramos que B′ ´e compacto e denso. A aplica¸c˜ ao α ´e uma bije¸c˜ ao. De fato, ´e injetiva porquanto α(xn ) = α(yn ) ⇒ α1 (xn ), α2 (xn ) = α1 (yn ), α2 (yn ) ⇒ x1 x3 x5 . . . , x2 x4 x6 . . . = y 1 y 3 y 5 . . . , y 2 y 4 y 6 . . . ⇒ x1 x3 x5 . . . = y 1 y 3 y 5 . . . e x2 x4 x6 . . . = y 2 y 4 y 6 . . .
⇒ (xn ) = (yn ). ´ sobrejetiva porquanto dado (x x x . . . , y y y . . .) ∈ B′ × B′ este ponto E 1 2 3 1 2 3 ´e imagem, por α, da sequˆencia x1 y1 x2 y2 x3 y3 . . ., como ´e f´acil verificar. A inversa da aplica¸c˜ ao α ´e: α−1 : B′ × B′ (x1 x2 x3 . . . , y1 y2 y3 . . .)
B′ x1 y 1 x2 y 2 x3 y 3 . . .
De outro modo, x = x1 x2 x3 x4 . . . α−1
x1 y 1 x2 y 2 x3 y 3 . . .
y = y1 y2 y3 y4 . . . −1
A aplica¸c˜ ao α
faz uma multiplexagem das sequˆencias xn e yn . 519
• Para mostrar que a aplica¸c˜ao α : B′ (xn )
B′ × B′ α1 (xn ), α2 (xn )
´e cont´ınua vamos mostrar que sua inversa, α−1 , ´e cont´ınua: Utilizaremos no produto B′ × B′ a m´etrica D3 (x, y) = max { d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 ) } Pois bem, dados a ∈ B′ × B′ e ε > 0 devemos exibir δ > 0 de modo que, se x ∈ BD a; δ =⇒ α−1 (x) ∈ Bν α−1 (a); ε 3
Ou, de modo equivalente
Observe que
D3 (x, a) < δ =⇒ ν α−1 (x), α−1 (a) < ε
a = (a1 a2 a3 . . . , b1 b2 b3 . . .)
⇒
x = (x1 x2 x3 . . . , y1 y2 y3 . . .)
⇒
α−1 (a) = a1 b1 a2 b2 a3 b3 . . . α−1 (x) = x1 y1 x2 y2 x3 y3 . . .
Temos (
∞ ∞ X |xn − an | X |yn − bn | D3 (x, a) < δ ⇐⇒ max , , 2n 2n n=1
n=1
)
<δ
Tamb´em −1
ν α
−1
(x), α
Observe que
e, de igual modo
∞ ∞ X |xn − an | X |yn − bn | + <ε (a) < ε ⇐⇒ 22n−1 22n n=1 n=1 ∞ ∞ X |xn − an | X |xn − an | < <δ 2n 22n−1 n=1 n=1 ∞ ∞ X |yn − bn | X |yn − bn | < <δ n 2n 2 2 n=1 n=1
Somando estas desigualdades vemos que ´e suficiente tomar 2 δ = ε, isto ´e, δ = 2ε . Pois bem, com o aux´ılio do corol´ ario 40 (p. 485) concluimos que α ´e cont´ınua. Sendo α : B′ −→ B′ × B′ cont´ınua, ou melhor ainda, um homeomorfismo uniforme entre subespa¸cos densos B′ ⊂ {0, 1}N e B′ ×B′ ⊂ {0, 1}N ×{0, 1}N , α se estende, de modo u ´nico, a um homeomorfismo uniforme: 520
(corol. 20, p. 347) N
N
N
F : {0, 1} −→ {0, 1} × {0, 1} Portanto a restri¸c˜ ao de F : N
N
η : B −→ {0, 1} × {0, 1} ´e cont´ınua. • Agora vamos definir a aplica¸c˜ ao ξ: N
N
ξ : {0, 1} × {0, 1} (xn ), (yn )
onde,
(x, y) =
∞ X x
n n
n=1
,
∞ X y n n
2 n=1
ξ
{0, 1}N
(yn )
2
I×I (x, y)
1
r (xn )
0
{0, 1}N
r (x, y)
(1,1)
1
A aplica¸c˜ ao ξ n˜ ao ´e uma bije¸c˜ ao. De fato, ξ n˜ ao ´e injetiva (por quˆe?). P x n P yn ξ ´e sobrejetiva porquanto dado (x, y) = ∈ I×I este ponto , 2n 2n N N ´e imagem, por ξ, do ponto (xn ), (yn ) ∈ {0, 1} × {0, 1} .
Para mostrar que a aplica¸c˜ ao ξ ´e cont´ınua, utilizaremos a m´etrica do N m´ aximo em ambos os produtos cartesianos. Com efeito, dados a ∈ {0, 1} × N {0, 1} e ε > 0, devemos exibir δ > 0 de modo que se D3 (x, a) < δ ⇒ D3 ξ(x), ξ(a) < ε
Observe que,
a = (a1 a2 a3 . . . , b1 b2 b3 . . .)
⇒
x = (x1 x2 x3 . . . , y1 y2 y3 . . .)
⇒
Ent˜ao,
P bn P ) ξ(a) = ( a2nn , 2n P x n P yn ξ(x) = , 2n 2n
X xn X an − D3 ξ(x), ξ(a) < ε ⇐⇒ max , 2n 2n 521
X y X b n n − <ε 2n 2n
Resumindo temos que determinar δ > 0 de modo que nP max
|xn − an | P |yn − bn | , n n 2 2
o
n P < δ ⇒ max
xn n 2
−
P
an n 2
P y , n n 2
−
P
bn n 2
Observando que X x X a X x − a X |x − a | n n n n n n − <δ = ≤ 2n 2n 2n 2n X y X b X y − b X |y − b | n n n n n n − <δ ≤ n n = n n 2 2 2 2
o <ε
vˆe-se que ´e suficiente tomar δ = ε.
Compondo as aplica¸c˜oes anteriores, temos a seguinte curva de Peano: B
1
z
s
s
Ψ
{ 0, 1 }N
η
ξ
1
s
η2
0
η1
{ 0, 1 }N
s(x, y)
0
1
• Curva de Peano simplificada A composi¸c˜ ao destas v´arias transforma¸c˜oes ´e a transforma¸c˜ao procurada. Resumindo, temos 1
z 0
1
r
χ
r
0
(1,1)
1
onde χ : I −→ I × I ´e tal que
z 7−→ (x, y)
χ = ξ ◦ η ◦ Ψ ⇒ χ(z) = ξ ◦ η ◦ Ψ (z) = ξ ◦ η Ψ(z) = ξ η(Ψ(z))
Para efeito dos exemplos a seguir continuaremos com a codifica¸c˜ao λ (p.
522
511).
Exemplos: 1) Calcule a imagem, por χ, de z = 0, 8. Solu¸ ca ˜o (acompanhe pela figura, p. 522): Desenvolvendo 0, 8 na base 2, temos 0, 8 = 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . . ent˜ao Ψ(0, 8) = 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .. Aplicamos η `a sequˆencia anterior:
η1
1 0 1 0 1 0 1 01 . . .
11001100110011... η2
101010101...
Temos η1 , η2 ∈ {0, 1}N × {0, 1}N . Agora aplicamos ξ ao ponto η1 , η2 : ξ (η1 , η2 ) = (x, y), onde x=y=
Portanto χ(0, 8) =
2 2 3, 3
1 0 1 0 2 1 + 2 + 3 + 4 + ··· = 3 2 2 2 2
.
2) Calcule a imagem, por χ, de z = 0, 3. Solu¸ ca ˜o: Desenvolvendo 0, 3 na base 2, temos 0, 3 = 0 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . . Ent˜ao Ψ(0, 3) = 0 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .. Aplicamos η `a sequˆencia anterior:
η1
001010101...
01001100110011... η2
101010101...
Agora aplicamos ξ ao ponto η1 , η2 : ξ (η1 , η2 ) = (x, y), onde x=
0 1 0 1 0 1 0 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· = 6 21 2 2 2 2 2
y=
1 0 1 0 1 0 2 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· = 3 21 2 2 2 2 2
523
Portanto χ(0, 3) =
1 0,8
0
. A geometria da situa¸c˜ao fica 6
χ
:
r
1 2 3¬
r
1 2¬
0,3
1 2 6, 3
1¬ 3
χ
:
r ¬
0
3) Calcule a imagem, por χ, de z =
r
(1,1)
1 1 6 3
¬
2 3
1
-
5 12 .
Solu¸ c˜ ao: Desenvolvendo 5/12 na base 2, obtemos 5 = 01101010101010... 12 Ent˜ ao Ψ(5/12) = 0 1 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .. Aplicamos η ` a sequˆencia anterior: η1
011111111...
01101010101010... η2
100000000...
Agora aplicamos ξ ao ponto η1 , η2 : ξ (η1 , η2 ) = (x, y), onde x=
1 1 1 1 1 1 0 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· = 2 2 2 2 2 2 2
1 0 0 0 0 0 1 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· = 2 2 2 2 2 2 2 5 = 12 , 12 . Portanto χ 12 y=
Pontos duplos e triplos no quadrado
J´ a vimos que na transforma¸c˜ao a seguir 1
1 z
0
s
χ
0
524
1
os pontos do intervalo cobrem toda a superf´ıcie do quadrado (sobrejetora). Como a aplica¸c˜ ao n˜ ao ´e injetiva, concluimos que existem posi¸c˜oes no quadrado que recebem mais de um ponto do intervalo. Nosso objetivo agora ser´ a descobrir esses pontos. Exemplo: Quais pontos do intervalo chegam no ponto 41 , 12 ?
Solu¸ ca ˜o: Tendo em conta a figura na p. 522: da figura a seguir
s
{ 0, 1 }N
(a, b)
1 4
s
1 2
( 14 , 21 )
{ 0, 1 }N
concluimos que a e b s˜ ao sequˆencias que devem convergir para 1/4 e 1/2, respectivamente. Tendo em conta que 1 2
= 10000...
1 4
= 01000...
1 2
= 01111...
1 4
= 00111...
Interregno: Estas igualdades devem ser entendidas no sentido de convergˆencia e n˜ ao de codifica¸c˜ ao (representa¸c˜oes). Se bem que as duas primeiras s˜ ao tamb´em codifica¸c˜ oes − por pertencerem a B. Essa distin¸c˜ ao, sou eu quem est´ a criando, os matem´ aticos n˜ ao fazem tal diferen¸ca − confudem tudo∗ −, da´ı uma das raz˜ oes, segundo creio, pelas quais eles nunca atinaram, n˜ ao apenas com essa constru¸c˜ao que ora desenvolvo, como tamb´em com a “inversa” (“volta”) da curva de Peano, que estaremos construindo logo mais. Pois bem, sendo assim, temos as seguintes possibilidades para o par (a, b): 1 4
1 2
↓
↓
(0 1 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 . . .) (0 1 0 0 0 . . . , 0 1 1 1 1 . . .) (0 0 1 1 1 . . . , 1 0 0 0 0 . . .) (0 0 1 1 1 . . . , 0 1 1 1 1 . . .) Multiplexando cada um destes pares de sequˆencias, obtemos: ∗
Ainda por conta dos fantasmas das ambiguidades.
525
010000 ... 01100000...
100000 ... 010000 ...
00110101...
011111 ... 001111 ...
01001010...
100000 ... 001111 ...
00011111...
011111 ...
6∈ B
Au ´ltima sequˆencia n˜ ao pertence ao conjunto das codifica¸c˜oes − pode ser ignorada. Convertendo as outras trˆes para decimal, obtemos: 10 7 3 , 00110101... = , 01001010... = 8 48 24 Portanto estes s˜ ao os trˆes pontos do intervalo que ser˜ ao guardados na 1 1 posi¸c˜ ao 4 , 2 do quadrado. Isto ´e, 3 10 7 1 1 χ =χ =χ = , 8 48 24 4 2 Ou ainda, uniformizando os denominadores 10 14 18 1 1 =χ =χ = , χ 48 48 48 4 2 Imaginando o intervalo como sendo uma das arestas do quadrado, temos 01100000... =
s( 1 , 1 )
)=χ( 14 )=χ( 18 )=( 14 , 12 ) χ( 10 48 48 48
4
2
sss λ
Observe que um outro modo de interpretar χ ´e que ela transfere os pontos da aresta do quadrado, para o pr´ oprio quadrado, de modo que toda a superf´ıcie do quadrado ´e coberta e, como se n˜ ao bastasse, podemos ter at´e trˆes pontos da aresta transferidos para uma mesma posi¸c˜ao do quadrado. Exemplo: 526
Encontrar os pontos do intervalo que s˜ ao levados no ponto 12 , 34 . Solu¸ ca ˜o: Da experiˆencia adquirida no exemplo anterior, podemos escrever: VV : (1 0 0 0 0 . . . , 1 1 0 0 0 . . .) −→ 1 1 0 1 0 0 0 0 0 . . . VF : (1 0 0 0 0 . . . , 1 0 1 1 1 . . .) −→ 1 1 0 0 0 1 0 1 0 . . . 1 3 , → 2 4 FV : (0 1 1 1 1 . . . , 1 1 0 0 0 . . .) −→ 0 1 1 1 1 0 1 0 1 . . . FF : (0 1 1 1 1 . . . , 1 0 1 1 1 . . .) −→ 0 1 1 0 1 1 1 1 1 . . . 6∈ B
Onde: V significa a verdadeira codifica¸c˜ao (da fra¸c˜ao) em bin´ ario e F a falsa (apenas no sentido de convergˆencia). As sequˆencias ap´ os cada seta foram obtidas pela multiplexa¸c˜ao das sequˆencias em cada par ordenado. Sendo assim temos:
39 48
(1 0 0 0 0..., 1 1 0 0 0...)
Ψ
η
concluimos que λ
=
1 3 2, 4
{ 0, 1 }N
ξ
. Da alternativa seguinte { 0, 1 }N
( 21 , 34 )
1 1 0 0 0 1 0 1 0...
ր 0
39 48 B
1 37 48
( 21 , 34 )
1 1 0 1 0 0 0 0 0...
ր 0
{ 0, 1 }N
B
1
(1 0 0 0 0..., 1 0 1 1 1...)
Ψ
η
concluimos que λ
37 48
=
1 3 2, 4
{ 0, 1 }N
. Da alternativa seguinte { 0, 1 }N
B
1
ξ
( 21 , 34 )
0 1 1 1 1 0 1 0 1... 23 48
0
(0 1 1 1 1..., 1 1 0 0 0...)
Ψ
concluimos que λ
η 23 48
=
1 3 2, 4
{ 0, 1 }N
. 527
ξ
A multiplexa¸c˜ ao na u ´ltima alternativa ( FF ) n˜ ao resulta em B, portanto n˜ ao ´e considerada. Resumindo, temos 1, 3) (2 4
λ( 23 )=λ( 37 )=λ( 39 )=( 12 , 43 ) 48 48 48
s
χ
s
ss
Seja (x, y) um ponto do quadrado. Com um pouco de reflex˜ao o leitor chegar´ a` as seguintes conclus˜oes: a adicas ent˜ao, neste ponto 1 ) Se ambas as coordenadas, x e y, forem fra¸c˜oes di´ s˜ ao colocados trˆes pontos da aresta do quadrado. De outro modo: a curva passa trˆes vezes por pontos com ambas as coordenadas fra¸co˜es di´ adicas; 2a ) Se ambas as coordenadas, x e y, n˜ ao forem fra¸c˜oes di´ adicas ent˜ao, neste ponto ´e colocado apenas um ponto da aresta do quadrado. De outro modo: a curva passa uma u ´nica vez em pontos com ambas as coordenadas n˜ ao di´ adicas; adica ent˜ao, 3a ) Se apenas uma das coordenadas, x ou y, ´e uma fra¸c˜ao di´ neste ponto ´e colocado dois pontos da aresta do quadrado. De outro modo: a curva passa duas vezes em pontos com apenas uma coordenada fra¸c˜ao di´ adica; Uma quarta propriedade, menos evidente, ´e a que segue avel e denso no 4a ) O conjunto dos pontos duplos e triplos ´e infinito enumer´ quadrado. Infinito enumer´avel significa que podemos “cont´ a-los ”, assim como contamos os Naturais: N : 1,
2,
3,
4,
5, . . .
Denso significa que: fixado qualquer ponto no quadrado; arbitrariamente pr´ oximo − ou t˜ ao pr´ oximo quanto se queira − deste ponto fixado existir´ a um ponto duplo ou triplo.
9.6.3
O quadrado hiperm´ agico
A seguir construiremos um objeto matem´ atico (t˜ao patol´ ogico quanto a curva de Peano) o qual, em conjunto com a curva de Peano, nos permitir´a “transitar entre dimens˜oes arbitr´arias”. Defini¸ c˜ ao 66 (Quadrado hiperm´ agico). Chama-se quadrado hiperm´ agico num espa¸co m´etrico M, d , com M um quadrado (unit´ ario), a uma aplica¸ca ˜o cont´ınua ϕ : M → I injetiva e n˜ ao sobrejetora. I ´e um intervalo unit´ ario. 528
O que h´ a de paradoxal no quadrado hiperm´ agico ´e que conseguimos transferir todos os pontos do quadrado para sua aresta inferior (ou qualquer outra), sem sobrepor um ponto a outro e ainda sobram infinitos buracos (lacunas) na aresta! − como estaremos mostrando.
O quadrado hiper-m´ agico resume-se na composi¸c˜ao das aplica¸c˜oes mostradas na figura a seguir: B B
(1,1)
1
y
q
0
x
r
g
r
h
1
1 f
rz
0
B
• Quadrado hiperm´ agico Onde a aplica¸c˜ ao h : I × I −→ B × B (x, y) 7−→ (xn ), (yn )
´e um homeomorfismo. A aplica¸c˜ ao g:
B×B
B
(xn ), (yn )
7−→
x1 y1 x2 y2 x3 y3 ...
´e cont´ınua por ser a extens˜ ao cont´ınua de α : B′ × B′ −→ B′ ((9.8), p. 519). A aplica¸c˜ ao g executa uma multiplexagem das sequˆencias (xn ) e (yn ). Vamos mostrar que g ´e injetiva mostrando que g(x) = g(y) ⇒ x = y. De fato, sejam as sequˆencias: (xn ) = g(x) = g(y) = (yn ). (xn ) e (yn ) s˜ ao imagens, por g, dos pares de sequˆencias x = (u1 u2 u3 . . . , v1 v2 v3 . . .) y = (z1 z2 z3 . . . , t1 t2 t3 . . .)
g
7−→
u1 v1 u2 v2 u3 v3 . . . = x1 x2 x3 . . .
7−→
z1 t1 z2 t2 z3 t3 . . . = y1 y2 y3 . . .
g
Como (xn ) = (yn ) segue que u1 = z1 , v1 = t 1 ,
u2 = z2 , v2 = t 2 ,
u3 = z3 , . . . v3 = t3 , . . .
⇒ ⇒
(un ) = (zn ) (vn ) = (tn )
portanto x = y. Esta aplica¸c˜ ao n˜ ao ´e sobrejetora, por exemplo o ponto ( 0 1 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) ∈ B n˜ ao ´e imagem, por g, de nenhum ponto de B × B. 529
De fato, suponha, ao contr´ ario, que isto aconte¸ ca; isto ´e que exista um ponto (xn ), (yn ) ∈ B×B tal que g (xn ), (yn ) = 0 1 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . ., sendo assim resulta x1 y 1 x2 y 2 x3 y 3 . . . = 0 1 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . . ent˜ ao, x1 = 0,
x2 = 1,
x3 = 1,
x4 = 1, . . .
y1 = 1,
y2 = 0,
y3 = 0,
y4 = 0, . . .
Logo,
⇒
⇒
(xn ) = (0 1 1 1 1 . . .) (yn ) = (1 0 0 0 0 . . .)
(xn ), (yn ) = (0 1 1 1 1 . . .), (1 0 0 0 0 . . .) ∈ B × B,
o que contradiz a constru¸c˜ao (defini¸c˜ao) de B. Definimos a aplica¸ca˜o f como f = Ψ−1 ´e um homeomorfismo. Resumindo, temos 1
0
r
(p. 517),
(1,1)
resultando assim que f
1
ϕ
rz
0
1
onde ϕ : I × I −→ I ´e tal que
(x, y) 7−→ z
ϕ = f ◦ g ◦ h ⇒ ϕ(x, y) = f ◦ g ◦ h (x, y) = (f ◦ g) h(x, y) = f g h(x, y)
Vejamos agora, atrav´es de exemplos, como essa transforma¸c˜ao atua. Exemplos: 1) Como um primeiro exemplo, vamos transferir o centro do quadrado para o intervalo. O centro do quadrado ´e dado pelo par ordenado 12 , 12 .
Solu¸ c˜ ao: A transforma¸c˜ ao h obt´em a representa¸c˜ao bin´ aria de um ponto do quadrado (codifica-o), ou seja 1 1 = (1 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . .) h , 2 2 530
A transforma¸c˜ ao g faz uma multiplexa¸ca ˜o (entrela¸camento) destas duas sequˆencias, veja: 100000 ... g
11000000...
100000 ... A transforma¸c˜ ao f converte esta u ´ltima sequˆencia em um n´ umero do intervalo (decodifica), assim: 1 1 0 0 0 3 f (1 1 0 0 0 0 0 0 . . .) = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + · · · = 4 2 2 2 2 2 3 1 1 Finalmente, γ 2 , 2 = 4 . Vamos resumir o que aconteceu: B
B
s
1 y
0
s1
(
x
1 2, 2
1000...
h
) 1
1000...
g
s 11000...
1
f
4
0
B
2) Como mais um exemplo, vamos transferir o ponto
s3
1 1 3, 3
para o intervalo.
Solu¸ ca ˜o: Aplicando a transforma¸c˜ao h a este ponto obtemos 1 1 h , = (0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . . , 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) 3 3 Aplicando g a este ponto obtemos: 010101010... g
001100110011...
010101010... Entregando esta u ´ltima sequˆencia a f , obtemos 0 0 1 1 0 0 1 1 + ··· 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 2 2 2 2 2 2 2 28 1 1 1 1 1 1 = + 7 + 11 + · · · + + 8 + 12 + · · · 23 2 2 24 2 2
f (0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 . . .) =
=
2 1 1 + = 15 15 5 531
Portanto γ
1 1 3, 3
= 15 . Geometricamente, temos B B
s
1 0101...
y
h
s
s 00110011...
g
1
f
s1
( 31 , 13 )
0
5
1
x
0101...
0
B
Como encontrar buracos na aresta do quadrado Mostraremos agora como encontrar pontos no intervalo que n˜ ao s˜ ao imagens, por ϕ, de pontos do quadrado − ´e o que chamo de buracos no intervalo (ou posi¸c˜ oes ociosas). Inicialmente consideremos, por exemplo, a sequˆencia ν dada assim 001010101010... Essa sequˆencia pertence a B. A multiplexagem a seguir 0111111... 001010101010... ∈ B
0000000...
mostra que a sequˆencia ν n˜ ao ´e imagem, por g, de nenhum ponto do espa¸co B × B, observe B
sν
00101010...
B 1 h
0
1
01111... 6∈ B
g
1 f f (ν) =
00000...
B
0
1 6
Logo, nenhum ponto de B × B chega na sequˆencia ν. Isso implica em dizer que a imagem, por f , de ν, n˜ ao ser´ a ocupada por nenhum ponto do quadrado. Digo, f (ν), n˜ ao ser´ a imagem, por ϕ, de nenhum ponto do quadrado. Para encontrar o buraco no intervalo, calculamos:
532
f (0 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .) =
=
0 0 1 0 1 0 1 0 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + ··· 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 3 + 5 + 7 + ··· = 6 2 2 2
O diagrama a seguir sugere como construir uma quantidade infinita de buracos no intervalo: 0 1 1 1 1 1 1 . . .
001010101010... ∈ B
0 0 0 0 0 0 0 . . . 0 0 1 1 1 1 1 . . .
000010101010... ∈ B
0 0 0 0 0 0 0 . . . 0 0 0 1 1 1 1 . . .
000000101010... ∈ B
0 0 0 0 0 0 0 . . .
Os pontos ` a direita n˜ ao s˜ ao imagens, por g, de pontos de B × B, por conseguinte suas imagens, por f , s˜ ao vazios (buracos) em [ 0, 1 ]. Vamos mostrar como, de modo geral, podemos encontrar um buraco no intervalo. Pois bem, tome no quadrado um ponto (x, y) no qual apenas uma das coordenadas ´e fra¸c˜ ao di´ adica. Sendo assim, temos as seguintes possibilidades (combina¸c˜ oes): V : B×B F : { 0, 1 }N × B, se x ´e di´ adica; (x, y) : F : B × { 0, 1 }N , se y ´e di´ adica.
onde: A Verdadeira codifica¸c˜ ao do ponto (x, y) est´ a no espa¸co B × B, e a N falsa codifica¸c˜ ao em { 0, 1 } × B, caso x seja a frac¸c˜ao di´ adica e no espa¸co B × { 0, 1 }N se y for a frac¸c˜ ao di´ adica.
Pois bem, a codifica¸c˜ ao verdadeira vai para um ponto da aresta (ou do intervalo) e a falsa “vai” para um buraco. Esclarecendo melhor: Dado (x, y) no quadrado, no qual x ou (exclusivo) y ´e fra¸c˜ ao di´ adica temos, para este ponto, uma codifica¸c˜ao l´egitima (xn , yn ) 533
e uma esp´ uria (x′n , yn′ ). Temos que (x′n ) ou (yn′ ) (dependendo de quem seja fra¸c˜ ao di´ adica se x ou se y) tem todos os termos iguais a 1 a partir de alguma posi¸c˜ ao, enquanto que a outra sequˆencia, n˜ ao sendo oriunda de uma fra¸c˜ao di´ adica, tem um 0 e tamb´em um 1 em posi¸c˜oes arbitrariamente grandes. Logo ao se multiplexar (x′n , yn′ ) resulta um ponto em B e a este um buraco na aresta. Se no par (x, y) tivermos duas cordenadas di´ adicas, teremos as seguintes possibilidades:
(x, y) :
V V : B×B V F : B × { 0, 1 }N
gera ponto gera buraco
F V : { 0, 1 }N × B F F : { 0, 1 }N × { 0, 1 }N
gera buraco ⇒ 6∈ B
Seja (x, y) um ponto do quadrado. Com um pouco de reflex˜ao o leitor chegar´ a` as seguintes conclus˜oes: adicas ent˜ao este ponto 1a ) Se ambas as coordenadas, x e y, forem fra¸c˜oes di´ vai para um ponto da aresta e “gera” dois buracos; ao forem fra¸c˜oes di´ adicas ent˜ao este 2a ) Se ambas as coordenadas, x e y, n˜ ponto vai para um ponto do intervalo e n˜ ao “gera”nenhum buraco; 3a ) Se apenas uma das coordenadas, x ou y, ´e uma fra¸c˜ao di´ adica ent˜ao este ponto vai para um ponto do intervalo e “gera” um buraco. Uma quarta propriedade, menos evidente, ´e a que segue 4a ) O conjunto dos buracos ´e infinito enumer´ avel e denso no intervalo. 1 1 Exemplo: Vamos considerar o ponto 4 , 2 , do quadrado. Como visto anteriormente, temos 1 4
1 2
↓
↓
V V : (0 1 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 . . .) V F : (0 1 0 0 0 . . . , 0 1 1 1 1 . . .) F V : (0 0 1 1 1 . . . , 1 0 0 0 0 . . .) F F : (0 0 1 1 1 . . . , 0 1 1 1 1 . . .)
Multiplexando cada um destes pares de sequˆencias, obtemos: 534
V :
010000 ...
V :
100000 ...
V :
010000 ...
F :
011111 ...
F :
001111 ...
V :
100000 ...
F :
001111 ...
F :
011111 ...
01100000...
gera ponto
00110101...
gera buraco
01001010...
gera buraco
00011111...
6∈ B
Volvendo ao exemplo dado na p´ agina 525: 3 01100000... = , 8
00110101... =
Ent˜ao ϕ
10 , 48
01001010... =
7 24
1 1 3 , = 4 2 8
Os outros dois s˜ ao buracos. Imaginando o intervalo como sendo uma das arestas do quadrado, temos (veja fig., p. 526)
ϕ
1 1 , 4 2
= 83 = 18 48 10 48
ponto s( 1 , 1 )
buraco
4
2
ϕ
14 48
s
buraco
Observe que um outro modo de interpretar ϕ ´e que ela transfere todos os pontos do quadrado para uma de suas arestas, sem sobrepor um ponto a outro e, “o que ´e pior”, ainda sobram lugares vazios na aresta . . . Pasm´em! Vamos agora provar que o conjunto destes buracos ´e denso na aresta do quadrado (ou ainda, no intervalo [ 0, 1 ]). Consideremos B′′ ⊂ B o complementar de B′ em B. Isto ´e, x1 x2 x3 x4 . . . ∈ B′′ ⇐⇒ x1 x3 x5 . . . 6∈ B ou x2 x4 x6 . . . 6∈ B 535
Provemos que B′′ ´e denso em B. De fato, seja ε > 0 e a ∈ B dados. Devemos mostrar que existe p ∈ B′′ de modo que ν(p, a) < ε. Pois bem, escolhamos j tal que 1j < ε e tomemos pn = an para n = 1, 2, . . . , j; e para n ≥ j + 1 2 tomemos os termos com ´ındices ´ımpares iguais a 1 e os termos com ´ındices pares iguais a 0. Sendo assim p ∈ B′′ e ν(p, a) ≤ 1j < ε. Como ´e f´acil inferir 2 a cada ponto de B′′ corresponde um “lugar ocioso” na aresta.
9.7
A curva de Peano no cubo
De modo inteiramente an´ alogo, podemos construir uma curva de Peano χ entre o intervalo unit´ ario e o cubo unit´ ario [ 0, 1 ]3 , assim:
η3 B
1 p
s
Ψ
s
η
1
{ 0, 1 }N
s
ξ η2
η1
0
0
1
{ 0, 1 }N
{ 0, 1 }N
1
• Curva de Peano no Cubo Nesta figura η faz uma demultiplexagem de uma sequˆencia xn ∈ B. Isto ´e, η toma uma sequˆencia xn e a separa em trˆes subsequˆencias η (xn ) = η1 (xn ), η2 (xn ), η3 (xn ) Ent˜ ao podemos tomar:
η1 ( x1 x2 x3 . . . ) = x1 x4 x7 x10 . . . η2 ( x1 x2 x3 . . . ) = x2 x5 x8 x11 . . . η3 ( x1 x2 x3 . . . ) = x3 x6 x9 x12 . . . Veja, x1 x4 x7 x10 . . . x1 x2 x3 x4 x5 . . .
x2 x5 x8 x11 . . . x3 x6 x9 x12 . . .
536
Exemplos: 1) Calcule a imagem, por χ, de p = 0, 5. Solu¸ ca ˜o: Desenvolvendo 0, 5 na base 2, temos 1 0 0 0 0 . . . = 12 . Ent˜ ao Ψ(0, 5) = 1 0 0 0 0 0 0 . . .. Agora aplicamos η `a sequˆencia anterior: η1 (1 0 0 0 0 0 0 0 0 . . .) = 1 0 0 0 0 0 0 . . . η2 (1 0 0 0 0 0 0 0 0 . . .) = 0 0 0 0 0 0 0 . . . η3 (1 0 0 0 0 0 0 0 0 . . .) = 0 0 0 0 0 0 0 . . . Agora aplicamos ξ ao ponto η1 , η2 , η3 , ent˜ao ξ (η1 , η2 , η3 ) = (x, y, z), obtendo λ 12 = 12 , 0, 0 . 2) Calcule a imagem, por χ, de p = 2/3.
Solu¸ ca ˜o: Desenvolvendo 2/3 na base 2, obtemos
2 3
= 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . ..
Ent˜ ao Ψ(2/3) = 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 . . .. Aplicamos η `a sequˆencia anterior: η1 (1 0 1 0 1 0 1 0 1 . . .) = 1 0 1 0 1 0 1 . . . η2 (1 0 1 0 1 0 1 0 1 . . .) = 0 1 0 1 0 1 0 . . . η3 (1 0 1 0 1 0 1 0 1 . . .) = 1 0 1 0 1 0 1 . . . Agora aplicamos ξ ao ponto η1 , η2 , η3 , ent˜ao, ξ (η1 , η2 , η3 ) = (x, y, z), obtendo χ 23 = 23 , 31 , 23 . Graficamente, temos 1 1 1 2
s s
z
χ y
1 x
0 1
3) Encontre todos os pontos do intervalo que s˜ ao transferidos, por χ, para o centro do cubo. Isto ´e, resolva, para p, a equa¸c˜ao χ(p) = 12 , 12 , 12 . Solu¸ ca ˜o: Temos as seguintes alternativas:
537
1 1 1 2, 2, 2
→
VVV : (1 0 0 0..., 1 0 0 0..., 1 0 0 0...)→ 1 1 1 0 0 0 0 0 0... =
49 56
VVF : (1 0 0 0..., 1 0 0 0..., 0 1 1 1... )→ 1 1 0 0 0 1 0 0 1... =
43 56
VFV : (1 0 0 0..., 0 1 1 1..., 1 0 0 0... )→ 1 0 1 0 1 0 0 1 0... =
37 56
VFF : (1 0 0 0..., 0 1 1 1..., 0 1 1 1... )→ 1 0 0 0 1 1 0 1 1... =
31 56
FVV : (0 1 1 1..., 1 0 0 0..., 1 0 0 0... )→ 0 1 1 1 0 0 1 0 0... =
25 56
FVF : (0 1 1 1..., 1 0 0 0..., 0 1 1 1... )→ 0 1 0 1 0 1 1 0 1... =
19 56
FFV : (0 1 1 1..., 0 1 1 1..., 1 0 0 0... )→ 0 0 1 1 1 0 1 1 0... =
13 56
FFF : (0 1 1 1..., 0 1 1 1..., 0 1 1 1... )→ 0 0 0 1 1 1 1 1 1... =
7 56
Nota: As sequˆencias ap´ os a seta foram obtidas via multiplexa¸ca˜o das trˆes sequˆencias ` a esquerda. Os digitos na cor vermelha, em cada sequˆencia, representam o per´ıodo; isto ´e, s˜ ao os trˆes digitos que se repetem em seguida. Para ilustrar a finalidade do diagrama acima consideremos, por exemplo, a segunda das combina¸c˜oes (VVF), assim:
η3 1 43 56
s
B
Ψ
↑
s
s
1
{ 0, 1 }N
η
ξ η2
1 1 0 0 0 1 0 0 1... η1
0
0
1
{ 0, 1 }N
{ 0, 1 }N
1
(1 0 0 0..., 1 0 0 0..., 0 1 1 1... )
Deste diagrama concluimos que, χ
43 56
=
1 1 1 2, 2, 2
.
Das combina¸c˜ oes anteriores apenas uma (FFF) n˜ ao pertence a B, portanto n˜ ao ´e oriunda da codifica¸c˜ao de nenhum ponto do intervalo [ 0, 1 [, sendo assim temos:
χ
43 37 31 25 19 13 1 1 1 49 =χ =χ =χ =χ =χ =χ = , , 56 56 56 56 56 56 56 2 2 2
Podemos imaginar o intervalo unit´ ario como sendo uma das arestas do cubo unit´ ario. Na figura seguinte plotamos os sete pontos da aresta que s˜ ao transferidos para o centro do cubo 538
χ
z x y
Observe que em duas dimens˜oes (quadrado) trˆes pontos da aresta s˜ ao transferidos para o centro do quadrado. Em trˆes dimens˜oes (cubo) sete pontos da arestas s˜ ao transferidos para o centro do cubo. Seja (x, y, z) um ponto do cubo. Com um pouco de reflex˜ao o leitor chegar´ a` as seguintes conclus˜oes: adicas ent˜ao, neste ponto 1a ) Se as trˆes coordenadas, x, y e z, forem fra¸c˜oes di´ s˜ ao colocados sete pontos da aresta do cubo (digo, do intervalo unit´ ario). adicas ent˜ao, neste ponto 2a ) Se apenas duas coordenadas forem fra¸c˜oes di´ s˜ ao colocados quatro pontos da aresta do cubo. 3a ) Se apenas uma coordenada for fra¸c˜ao di´ adica ent˜ao, neste ponto s˜ ao colocados dois pontos da aresta do cubo. adica ent˜ao, neste ponto ´e colocado 4a ) Se nenhuma das coordenadas ´e di´ um u ´nico ponto da aresta do quadrado. 5a ) O conjunto dos pontos m´ ultiplos ´e infinito enumer´avel e denso no cubo.
9.7.1
O cubo hiperm´ agico
A exemplo do que foi feito para o quadrado tamb´em podemos transferir todos os pontos do cubo para uma de suas arestas. Sendo que esta transforma¸c˜ ao cumpre as mesmas condi¸c˜oes que a do quadrado: ´e cont´ınua, injetiva e n˜ ao sobrejetiva. B
1 η3 h 0
1
B
s
g η2 B
η1 1
s
B
• Cubo hiperm´ agico 539
1
f 0
sp
Chamaremos de γ a composta de todas estas transforma¸c˜oes. Exemplos: 1) Calcule γ 0, 0, 12 . Solu¸ c˜ ao: Temos h 0, 0,
1 2
= 1 0 0 0 0 0 0 0 . . .. Logo,
1 = (0 0 0 0 0 0 . . . , 0 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . .) 2
Agora aplicamos g ao ponto anterior.
Observa¸ c˜ ao: Dadas trˆes sequˆencias xn , yn e zn , g faz uma multiplexagem das mesmas, isto ´e x1 x2 x3 x4 . . . y1 y2 y3 y4 . . .
x1 y1 z1 x2 y2 z2 x3 y3 z3 x4 y4 z4 . . .
z1 z2 z3 z4 . . . Portanto 000000 ... 000000 ...
001000000 ...
100000 ... Isto ´e, g(0 0 0 0 0 0 . . . , 0 0 0 0 0 0 . . . 1 0 0 0 0 0 . . .) = 0 0 1 0 0 0 0 0 0 . . . Ou ainda, g(0 0 0 0 0 0 . . . , 0 0 0 0 0 0 . . . 1 0 0 0 0 0 . . .) = 0 0 1 0 0 0 0 . . . Agora, aplicamos f ` a sequˆencia anterior, obtendo f (0 0 1 0 0 0 0 0 0 . . .) =
0 0 1 0 0 0 1 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ··· = 8 2 2 2 2 2 2
Portanto, γ 0, 0, 12 = 81 . 2) Calcule γ 12 , 12 , 21 .
Solu¸ c˜ ao: Temos 21 = 1 0 0 0 0 0 0 0 . . .. Logo 1 1 1 h , , = (1 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . .) 2 2 2
Agora aplicamos g ao ponto anterior, obtendo
g (1 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . . , 1 0 0 0 0 0 . . .) = 1 1 1 0 0 0 0 0 0 . . . 540
- Agora aplicamos, ` a sequˆencia anterior, f . Ent˜ao, 7 1 1 1 0 0 1 1 1 f 111000000... = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + ··· = + + = . 2 4 8 8 2 2 2 2 2 Portanto, γ 21 , 12 , 21 = 87 . Graficamente, temos 1
s7
1 z
8
γ y
0
s1
1
x
8
0 1
Deste exemplo e do exemplo 3 (p. 537) concluimos que o centro do cubo vai para o ponto 7/8 e gera seis buracos na aresta do cubo (ou no intervalo unit´ ario). Observe que paradoxal: A exemplo do que ocorreu no quadrado aqui tamb´em conseguimos, por γ, transferir o cubo para uma de suas arestas, com a “agravante” de que agora “mais” buracos ser˜ ao gerados na aresta. Por exemplo um ponto (x, y) ∈ [ 0, 1 [2 com ambas as coordenadas di´ adicas gera dois buracos na aresta do quadrado; por outro lado um ponto (x, y, z) ∈ [ 0, 1 [3 com duas coordenadas di´ adicas gera quatro buracos na aresta do cubo e com trˆes coordenadas di´ adicas gera seis buracos. Resumindo: estamos transferindo para a aresta um “volume” maior de pontos enquanto o n´ umero de lugares vazios na aresta aumenta. Naturalmente que, o que foi feito para o quadrado e o cubo, se estende sem dificuldade ao “hipercubo”. Buracos na aresta do cubo: O centro do cubo vai, por γ, para o ponto 7/8 ∈ [ 0, 1 ] e “gera” (“reserva”) seis buracos no intervalo. Para esclarecer esta assertiva observe o diagrama:
1 1 1 2, 2, 2
→
VVV : (1 0 0 0..., 1 0 0 0..., 1 0 0 0...)→ 1 1 1 0 0 0 0 0 0... =
49 56
VVF : (1 0 0 0..., 1 0 0 0..., 0 1 1 1... )→ 1 1 0 0 0 1 0 0 1... =
43 56
VFV : (1 0 0 0..., 0 1 1 1..., 1 0 0 0... )→ 1 0 1 0 1 0 0 1 0... =
37 56
VFF : (1 0 0 0..., 0 1 1 1..., 0 1 1 1... )→ 1 0 0 0 1 1 0 1 1... =
31 56
FVV : (0 1 1 1..., 1 0 0 0..., 1 0 0 0... )→ 0 1 1 1 0 0 1 0 0... =
25 56
FVF : (0 1 1 1..., 1 0 0 0..., 0 1 1 1... )→ 0 1 0 1 0 1 1 0 1... =
19 56
FFV : (0 1 1 1..., 0 1 1 1..., 1 0 0 0... )→ 0 0 1 1 1 0 1 1 0... =
13 56
FFF : (0 1 1 1..., 0 1 1 1..., 0 1 1 1... )→ 0 0 0 1 1 1 1 1 1... =
7 56
541
Por exemplo, a pseudo codifica¸ c˜ ao V V F “gera” um buraco no espa¸co B3 e este, por sua vez, gera um buraco em B: 1 1 0 0 0 1 0 0 1 . . ., que, por sua vez, gera um outro buraco em [ 0, 1 [: 43/56. B
1
B
1 43 56
η3
g
h 0
f
η2
1
0
B η1 B
1
(1 0 0 0 ..., 1 0 0 0 ..., 0 1 1 1 ...)
Nos seis pontos seguintes: 43/56 = 0, 7679; 37/56 = 0, 6607; 31/56 = 0, 5536; 25/56 = 0, 4464; 19/56 = 0, 3393; 13/56 = 0, 2321. localizam-se os buracos na aresta do cubo (ou no intervalo unit´ ario),veja:
γ
z
χ
x y
Na figura da esquerda plotamos a imagem do centro do cubo, bem como os buracos “reservados” na aresta − pelo centro. Na figura da direita repetimos, para efeitos de compara¸c˜ao, a figura da p´ agina 539.
Poss´ıveis aplica¸c˜ oes Estive a imaginar poss´ıveis aplica¸c˜oes pr´ aticas para estas aplica¸c˜oes: 1a ) Na F´ısica: a Teoria das Supercordas ´e consistente em 10 dimens˜oes. O problema ´e saber como um Universo a dez dimens˜oes pode ser reduzido a trˆes dimens˜oes (espaciais). Nossa sugest˜ao (conjectura) ´e que as dimens˜oes extras foram multiplexadas. 542
-Inserindo dimens˜ oes arbitr´ arias dentro de dimens˜ oes arbitr´ arias As aplica¸c˜ oes χ e ϕ, conjuntamente, nos permitem inserir dimens˜oes arbitr´arias “dentro” de dimens˜oes arbitr´arias. Por exemplo para inserir um cubo a dez dimens˜oes em um cubo a trˆes dimens˜oes proceda assim: ϕ
χ
[ 0, 1 [10 −→ [ 0, 1 [ −→ [ 0, 1 [3 Para inserir um cubo a trˆes dimens˜oes em um cubo a 10 dimens˜ oes proceda assim: χ ϕ [ 0, 1 [10 ←− [ 0, 1 [ ←− [ 0, 1 [3 atica: Se tivermos um “volume” de informa¸c˜oes (dados) a 2a ) Na inform´ transmitir, podemos compactar estes dados em uma dimens˜ao, em seguida transmitir e, no receptor, recuper´ a-los, assim [ 0, 1 [3 −→ [ 0, 1 [−→ [ 0, 1 [3 . Uma Curva de Peano in´ edita (A curva de Peano e o quadrado hiperm´ agico na m´ etrica quˆ antica)
A constru¸c˜ ao da curva de Peano nos permite inferir que a compacidade do espa¸co ([ 0, 1 [, k) nos faculta a constru¸c˜ao da seguinte curva: χk : [ 0, 1 [ −→ [ 0, 1 [ × [ 0, 1 [ 1
0
r
1
r
χk
0
(1,1)
1
Observamos que, por ser a m´etrica µ mais fina que a m´etrica k, isto implica em que Ψ−1 : B, ν −→ [ 0, 1 [, k (xn ) 7−→ x
permanece cont´ınua. A mesma observa¸c˜ao vale para a nova ξ. Nota: Neste caso continuamos usando a mesma nota¸c˜ao para as fun¸c˜oes “intermedi´arias”. A constru¸c˜ ao desta curva segue os mesmos passos da anterior. Bem, a mudan¸ca radical de uma curva para a outra fica por conta dos aspectos topol´ ogicos, como n˜ ao poderia deixar de ser. Observamos que a defini¸c˜ ao de curva de Peano dada na literatura deve ser alterada ligeiramente para incluir a possibilidade do intervalo [ 0, 1 [. A defini¸c˜ao corrente − excluindo o intervalo [ 0, 1 [ −, a mim s´ o prova que os matem´ aticos jamais cogitaram da possibilidade de uma tal curva ser construida a partir do intervalo [ 0, 1 [. 543
O universo ´ e um computador quˆ antico Do que o universo ´e feito? Mat´eria? Mat´eria escura? Energia? Vibra¸c˜ oes? De acordo com um f´ısico chamado Vlatko Vedral, nosso universo ´e feito de informa¸c˜ ao. Segundo o f´ısico, se quebrarmos o universo em peda¸cos cada vez menores o que sobraria no final s˜ ao bits. Numa escala min´ uscula, o universo seria controlado pelas malucas leis da f´ısica quˆantica. (Fonte: New Scientist) O eminente fil´ osofo Leibniz est´ a de acordo com o f´ısico, veja: [. . .] Sim, de fato ele [Leibniz] percebeu no bit 0 e no bit 1 o poder combinat´ orio para criar o universo inteiro, que ´e exatamente o que acontece nos modernos computadores digitais eletrˆ onicos e no restante de nossa tecnologia de informa¸ca ˜o digital: CDS, DVDS, cˆ ameras digitais, PCS. . . Tudo isso ´e 0’s e 1’s, e esta ´e a nossa imagem do mundo! Vocˆe combina apenas 0’s e 1’s e vocˆe consegue tudo. [. . .] A despeito da cr´ıtica de Laplace, a vis˜ ao de Leibniz, pela qual o mundo ´e criado a partir dos 0’s e 1’s, recusa-se a sair de cena. De fato, ela come¸cou a inspirar alguns f´ısicos contemporˆ aneos, que provavelmente nunca ouviram falar de Leibniz. (Gregory Chaitin/Metamat!/p.’s 99-101)
9.7.2
O universo esculpido em um palito de f´ osforo
Para ver o Mundo em um Gr˜ ao de Areia,
Blake viu o mundo em um gr˜ ao de
E um C´ eu em uma Flor Selvagem,
areia; Hawking viu o universo em uma
Pegue o Infinito na Palma de sua m˜ ao,
casca de noz, eu vejo Tudo em um palito
E a Eternidade em uma hora.
de f´ osforo − e ainda por cima carcomido
(William Blake/Poeta)
pelas tra¸cas.
(Gentil)
Em meu livro O Tao da Matem´ atica, publicado em 2011, a partir de uma experiˆencia m´ıstico-matem´ atica − e de forma independente − defendo a mesma tese que Leibniz e Vedral. Blake viu o Mundo em um gr˜ ao de areia, Hawking viu o Universo em uma casca de noz, eu vejo o Todo em um palito de f´osforo. . . e como se n˜ ao bastasse todo pinicado. Com uma diferen¸ca significativa: enquanto as vis˜oes do poeta e do cientista resultaram de intui¸c˜oes, a nossa resultar´a de uma esmerada constru¸c˜ao matem´ atica. A prop´osito, eu estava precisando da imagem de um palito de f´osforo para ilustrar uma figura e fui busc´a-la na internet. Fiquei surpreso com a quantidade de informa¸c˜oes dispon´ıveis para “palito de f´osforo ”. Muitas delas relacionadas a obras de arte produzidas com palitos. 544
Em uma delas lemos: Impressionantes esculturas feitas com
O matem´ atico, como o pintor ou o
palitos de f´ osforos, pelo escocˆ es David
poeta, ´ e um desenhista. Se os seus de-
Mach, por´ em estas esculturas est˜ ao em
senhos s˜ ao mais duradouros que os deles,
perigo constante, qualquer descuido e
´ e porque s˜ ao feitos com id´ eias.
uma fa´ısca elas podem se transformar em
(G.H. Hardy)
cinzas. Para fazer a escultura de Elvis Presley, ele utilizou 50 mil f´ osforos, gastando 500 horas de trabalho.
Estarei construindo agora uma portentosa estrutura de engenharia-matem´ atica (uma obra de arte) tamb´em com “palitos de f´ osforo”. Na verdade, necessitarei de um u ´nico palito! . . . e muita imagina¸c˜ao. A obra que estarei executando, nesse u ´nico palito, tenho certeza que jamais foi imaginada (construida) por homem algum − incluindo-se aqui os de todos os s´eculos passados. Pois bem: ´ nico palito de f´osforo” “Estarei esculpindo todo o Universo em um u ´ isso mesmo que o leitor ouviu! De outro modo: guardarei (armazenarei) E todo o Universo dentro de um u ´nico palito de f´osforo, inclusive, ´e claro, a escultura do escocˆes David Mach com 50 mil palitos. Como se n˜ ao bastasse, ainda prometo mais um pouco: n˜ ao utilizarei todo o palito! Com efeito, Segundo Leibniz, Vedral e Gentil, todo o Universo pode ser identificado com o conjunto { 0, 1 }N , ent˜ao inserindo este Universo∗ em um palito de f´osforo, teremos feito uma imers˜ao de Todo o nosso Universo manifesto em um palito de f´osforo. Por oportuno! lembrei-me de que podemos convocar mais um f´ısico de peso para juntar-se ao nosso time − e, se necess´ario, mais o matem´ atico Chaitin (p. 506): Tudo deve ser baseado em uma id´ eia simples. Depois de a descobrirmos ela ser´ a t˜ ao irresist´ıvel, t˜ ao bela, que comentaremos entre n´ os, sim, n˜ ao poderia ser diferente.
(John Wheeler, f´ısico)
[. . .] cada todo − cada part´ıcula, cada campo de for¸ca, at´e mesmo o pr´ oprio continuo espa¸co-temporal − deriva inteiramente suas fun¸co ˜es, seu significado, sua pr´ opria existˆencia −, mesmo que, em determinados contextos, isto ocorra de forma indireta −, das [. . .] respostas a quest˜ oes “sim” ou “n˜ ao”, das escolhas bin´ arias, dos bits. (John Weeler) ∗´
E um conjunto de infinitas combina¸c˜ oes, possibilidades.
545
De fato, trata-se de operar a passagem do mundo sens´ıvel ao mundo intelig´ıvel, e esse movimento ´e um doloroso e dif´ıcil movimento de alforria. Exige etapas pelas quais a alma se esfor¸ca progressivamente por se elevar em dire¸ca ˜o ` as Id´eias. (Simone Manon/ Plat˜ ao, p. 108) ¯ todas as Antes, reuniremos em um conjunto, que denotaremos por B, sequˆencias do universo { 0, 1 }N cujos elementos tˆem todos os termos iguais a 1 a partir de alguma posi¸c˜ao† . Por exemplo ¯ 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 . . . 6∈ B
¯ 101010011111... ∈ B Observe que pelas defini¸c˜oes de B
(p. 509)
¯ podemos escrever: eB
¯ { 0, 1 }N = B ∪ B Pois bem, nosso desiderato se cumpre atrav´es da seguinte transforma¸c˜ao: { 0, 1 }N B
¯ B
t
1
t
1
t
χ
t
ϕ
t
0
0
• O Universo em um palito de f´osforo Ent˜ ao, dado arbitrariamente um ponto (xn ) em { 0, 1 }N , para transfer´ılo para o palito de f´osforo − intervalo `a direita − procedemos assim: se o referido ponto encontra-se no conjunto das codifica¸c˜oes (isto ´e, em B) transferimo-lo para o primeiro intervalo,∗ caso contr´ ario − isto ´e, se (xn ) ¯ − transferimo-lo para a aresta inferior do quadrado,† o que mora em B significa que esse ponto ter´ a como imagem um ponto na aresta, (x, 0), onde x ´e uma fra¸c˜ ao di´ adica. Como j´a vimos, o ponto (x, 0) ´e transferido, por ´ precisamente este buraco que ϕ, para o intervalo e gera um buraco. E ¯ escolhemos para imagem do ponto (xn ), fixado em { 0, 1 }N , no caso em B. †
Exce¸c˜ ao feita ` a sequˆencia 1 1 1 1 . . . j´ a incluida em B, p. 509. Em seguida aplicamos χ e, ap´ os, aplicamos ϕ − com certeza ele chega l´ a! P xi 2 † Isto pode ser feito pela aplica¸c˜ ao (xn ) → ( ∞ i=1 i , 0) ∈ [ 0, 1 [ .
∗
2
546
Ora, como um intervalo ´e sem dimens˜ao − e um palito de f´osforo possui dimens˜ao − concluimos que podemos colocar o intervalo dentro do palito, da´ı que nossa constru¸c˜ ao pode ser vista, assim:
{ 0, 1 }N
G
Resumindo: pela transforma¸c˜ ao, chamamemo-la de G, inserimos todo o universo em um palito de f´osforo e, “o que ´e pior”, n˜ ao o ocupamos inteiramente, digo sobram posi¸c˜ oes vazias (buracos) − de fato, infinitas − no intervalo unit´ ario.
O Universo como um grande Vazio Estive elucubrando: como pode ser que consigamos inserir um hipercubo em uma de suas arestas∗ e ainda sobra espa¸co? O espanto se d´ a pelo fato de estarmos condicionados a imaginar um ponto como tendo dimens˜ao (“uma bolinha”), se atentarmos para o fato de que, na realidade, um ponto ´e indimensional, concluiremos que um intervalo, um quadrado, um cubo, etc., n˜ ao tˆem dimens˜ao, melhor dizendo, n˜ ao ocupam nenhum espa¸co, isto ´e, s˜ ao Vazios!! Contradit´ orio? A nova ciˆencia explica: a base da existˆencia ´e, ao mesmo tempo, plena de possibilidades, sim, mas as possibilidades n˜ ao s˜ ao “coisas”, e por isso tamb´em podem ser chamadas de nada. (Amit Goswami)
Ora, ent˜ ao ao inserir todo o Universo { 0, 1 }N em algo vazio (e ainda sobrando espa¸co) s´ o podemos concluir que o pr´ oprio Universo { 0, 1 }N ´e vazio! ´ importante entender que houve apenas uma pessoa, Gautama Buda, E que usou o nada, o vazio, para a experiˆencia suprema. [. . .] Ele chamou o supremo de nada, de vazio, suniata, zero. (Osho) O poeta inicia sua prece Ponteando em cordas e lamentos Escrevendo seus novos mandamentos Na fronteira de um mundo alucinado Cavalgando em martelo agalopado E viajando com loucos pensamentos (Can¸ca ˜o Agalopada/Z´ e Ramalho) ∗
Sem sobrepor um ponto a outro.
547
Para concluir a respeito de nossa constru¸c˜ao, observe que interessante: os matem´ aticos estabeleceram uma bije¸c˜ao entre os dois conjuntos a seguir B ↔ [ 0, 1 ] ¯ foram Essa bije¸c˜ ao s´ o foi poss´ıvel por que os elementos do conjunto B N excluidos do universo { 0, 1 } . Sendo assim, podemos ver essa bije¸c˜ao como ¯ ↔ [ 0, 1 ] { 0, 1 }N − B Em nossa constru¸c˜ ao fizemos a seguinte imers˜ao G { 0, 1 }N −→ [ 0, 1 ] uma aplica¸c˜ ao injetiva e n˜ ao sobrejetiva. ∗
∗
∗
Adendo: A volta da curva de Peano eu a construi no ano de 2006; sendo assim, uma quest˜ao pertinente ´e a seguinte: dada a importˆ ancia da curva de Peano ´e de se presumir que a sua volta seja de algum interˆesse (relevˆancia) para a matem´ atica e qui¸c´a em outras ´areas como por exem† plo a computa¸c˜ ao ; pergunto: por que transcorreram nada menos que 126 (= 2006 − 1890) anos entre as duas concep¸c˜oes? Segundo entendo, esta demora se deu em fun¸c˜ao de uma quest˜ ao b´ asica, n˜ ao devidademente compreendida (assimilada) pelos matem´ aticos: novamente a quest˜ ao das supostas ambiguidades. Reitero: o fato dos matem´ aticos terem acreditado durante s´eculos − inclusive, at´e hoje acreditam − na existˆencia de tais espectros ´e, precisamente, o que os impediu de atinar com a referida constru¸c˜ao.
H´a muitos anos atr´ as, estudando a tal constru¸c˜ao, comecei a desconfiar de que ela poderia ser consideravelmente simplificada se n˜ ao houvessem as ambiguidades nas representa¸c˜oes, foi a partir da´ı que comecei a focar neste tema. E de fato, ao exorcizar estes fantasmas, consegui a constru¸c˜ao aqui desenvolvida. Na ´epoca em que estudei a constru¸c˜ao que consta no livro do Prof. Elon comecei a suspeitar de que ela pudesse estar errada, j´a que leva em conta as supostas ambiguidades e, para mim, as ambiguidades constituem-se num erro de l´ ogica, uma vez que, como j´a frisei, uma representa¸c˜ao ´e uma codifica¸ca ˜o e, como tal, exige-se unicidade. Uma bije¸c˜ ao entre conjuntos identifica elementos, j´a um isomorfismo, entre estruturas, identifica um pouco mais: n´ umeros, digamos. † Encontrei na internet um artigo t´ecnico aplicando a curva de Peano na computa¸c˜ ao, justamente em compacta¸c˜ ao de dados.
548
9.8
Exerc´ıcios
1) No espa¸co (R, µ) considere o subconjunto X = { x ∈ R : x ≥ 0 }. Mostre que a fam´ılia C = {Cn }n∈N , onde Cn = ] − 1, n [, ´e uma cobertura X. 2) No espa¸co (R, µ) considere o subconjunto X = ] 0, 1 [, prove que ] 0, 1 [ ⊂
∞ [ 1 1 , 1− n n n=3
3) Considere o espa¸co m´etrico (R, µ). As seguintes afirma¸c˜oes s˜ ao verdadeiras, justifique-as: a) Q n˜ ao ´e compacto; 1 2 3 b) 1, 2 , 3 , 4 , . . . ´e compacto; c) B = { 2 } ∪ [ 3, 4 ] ´e compacto; d) Z n˜ ao ´e compacto; e) [ 1, 2 ] ∩ Q n˜ ao ´e compacto. f ) R n˜ ao ´e compacto. 4) Considere num espa¸co m´etrico (M, d) uma sequˆencia (xn ) que converge para a ∈ M . Prove que A = { a } ∪ { x1 , x2 , x3 , . . . } ´e compacto. 5) Considere (V, +, ·) um espa¸co vetorial normado. Se A ⊂ V ´e um subconjunto compacto e p ∈ V mostre que Ap = { x + p : x ∈ A } ´e compacto. 6) Prove que: Um espa¸co discreto e compacto ´e finito e, reciprocamente. S´ o que utilizando a t´ecnica (T − 4). 7) O intervalo ] 0, 1 [ n˜ ao ´e um subconjunto compacto de (R, µ). , onde Cn = n1 , 1 − n1 , Prove que da cobertura aberta C = Cn n≥3 n˜ ao podemos extrair uma subcobertura finita. 8) O intervalo [ 0, +∞ [ n˜ ao ´e um subconjunto compacto de (R, µ). Prove que da cobertura aberta C = Cn , onde Cn = ] − 1, n [, n˜ ao n∈N podemos extrair uma subcobertura finita. 9) Exiba uma cobertura aberta de A = { (x, y) ∈ R2 : y > x } admite subcobertura finita.
que n˜ ao
10) Sejam A e B subconjuntos de um espa¸co m´etrico tais que A ´e compacto e B ´e fechado. Prove que A ∩ B ´e compacto. 11) Sejam A e B subconjuntos compactos do espa¸co (M, d), prove que A ∩ B e A ∩ B tamb´em s˜ ao compactos. 549
12) Se (M, d) ´e compacto e d′ ∼ d, mostre que d′ ´e limitada. 13) Utilizando a proposi¸c˜ao 110 espa¸co [0, 1[, k ´e compacto.
(p. 484)
e o exemplo 14
(p. 329)
prove que o
14) Mostre que se A e B s˜ ao subconjuntos n˜ ao-vazios de um espa¸co (M, d), compacto, e sendo d(A, B) = 0 ent˜ao existe p ∈ ∂A ∩ ∂B.
15) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico compacto. Se d′ ´e uma m´etrica sobre M tal que d′ (x, y) ≤ k d(x, y), ∀ x, y ∈ M , onde k > 0 ´e uma constante dada, prove que (M, d′ ) tamb´em ´e compacto. 16) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se A ⊂ M ´e compacto, mostre que todo subconjunto infinito B ⊂ A tem um ponto de acumula¸c˜ao em A. Sugest˜ ao: Suponha B ⊂ A infinito, de modo que B ′ ∩ A = ∅. Da´ı, ∀ x ∈ A, existe B(x; rx ) tal que B(x; rx ) ∩ B = ∅ ou B(x; rx ) ∩ B = { x }. Em seguida, use o fato de que B(x; rx ) x∈A ´e uma cobertura aberta de A que ´e compacto. 17) Seja (M, d) um espa¸co m´etrico. Se K ⊂ M (K 6= ∅) ´e compacto, mostre que existe uma fun¸c˜ ao cont´ınua f : M −→ R tal que K = { x ∈ M : f (x) = 0 }.
Sugest˜ ao: Considere a fun¸c˜ao dada por x −→ d(x, K). 18) Seja A um subconjunto compacto de um um espa¸co m´etrico (M, d). Prove que A¯ tamb´em ´e compacto. Sugest˜ ao: Para toda sequˆencia (xn ) em A¯ existe uma sequˆencia (yn ) em A de modo que d(xn , yn ) < nλ , para qualquer λ > 0 fixado “a priori”. Se ¯ (yni ) converge para um ponto de A, mostre que (xni ) converge em A. 19) Considere a seguinte curva de Peano B
1 zs
Ψ
s
{ 0, 1 }N
η η2
0
ξ
1
s η1
{ 0, 1 }N
s(x, y)
0
1
• Curva de Peano quˆantica Localize no quadrado a imagem dos pontos z = 0, 5 e z = 0, 6. Nota: Observe que neste caso temos uma u ´nica alternativa para codificar os pontos do intervalo [ 0, 1 [; aqui, com mais raz˜ ao ainda, n˜ ao existe “ambiguidade”. 20) Considerando o “Universo em um palito de f´ osforo” (p. 546), localize (insira, guarde), no palito, o caracter # (sustenido) do teclado. 550
Apˆ endice: Produtos cartesianos infinitos Considere uma fam´ılia enumer´avel de espa¸cos m´etricos: (M1 , d1 ), (M2 , d2 ), (M3 , d3 ), . . . , (Mi , di ), . . . o produto cartesiano M = M1 × M2 × M3 × · · · =
∞ Y
Mi ´e o conjunto de
i=1
todas as sequˆencias x = (x1 , x2 , . . . , xi , . . .) onde xi ∈ Mi para cada i ∈ N. Os pontos xi s˜ ao chamados as coordenadas do ponto x = (xi )i∈N . Para cada ´ındice i, a i−´esima proje¸c˜ ao pi : M
Mi
x = (xi ) 7−→ xi
associa a cada ponto x = (xi ) do produto cartesiano M sua i−´esima coordenada. A figura a seguir ilustra esta situa¸c˜ao para o caso de dois espa¸cos m´etricos: M1 ×M2
M2
ր
p2 (x)=x2
s
p2
s x = (x1 , x2 )
ր
s
p1 M1
p1 (x)=x1
Desejamos definir uma m´etrica no produto cartesiano M , chamada m´etrica produto, da qual exigiremos a seguinte propriedade: uma aplica¸c˜ao f : M −→
∞ Y
Ni
i=1
ser´ a cont´ınua se, e somente se, cada uma de suas coordenadas pi ◦f : M → Ni for cont´ınua. Inicialmente assumiremos as seguintes hip´ oteses sobre os espa¸cos m´etricos (Mi , P di ): Existe, para cada ´ındice i, uma constante ci > 0 de modo que a s´erie ∞ e convergente e, ademais, di (xi , yiQ ) ≤ ci , ∀ xi , yi ∈ Mi . Sendo i=1 ci ´ assim, definiremos a m´etrica produto em M = ∞ i=1 Mi , pondo, para quaisquer dois pontos x = (xi ), y = (yi ) em M : d(x, y) =
∞ X i=1
551
di (xi , yi )
Com o aux´ılio das hip´ oteses feitas sobre os espa¸cos (Mi , di ), o leitor pode mostrar que d, como definida acima, de fato satisfaz os axiomas que definem uma m´etrica. O par (M, d) ´e chamado o espa¸co m´etrico produto dos espa¸cos (Mi , di ). • Vamos abrir um parˆenteses aqui para particularizar o que foi feito acima para o espa¸co que nos interessa mais de perto: Consideremos o conjunto M = { 0, 1 } munido da m´etrica d0 (x, y) = |x − y|. Observe que d0 (x, y) = |x − y| ≤ 1. Para cada i ∈ N definiremos: di (xi , yi ) = 1i |xi −yi |. Sendo assim, para cada i ∈ N, di (xi , yi ) ≤ 1i . Deste 2 2 modo obtemos os seguintes espa¸cos m´etricos: |x1 −y1 | 2 |x2 −y2 |
(M1 , d1 ),
onde
M1 = {0, 1}
e
d1 (x1 , y1 ) =
(M2 , d2 ), .........
onde ......
M2 = {0, 1} ............
e ...
d2 (x2 , y2 ) = 2 2 .....................
(Mi , di ), .........
onde ......
Mi = {0, 1} ............
e ...
di (xi , yi ) = i i i 2 .....................
|x −y |
Como estas m´etricas satisfazem as hip´ oteses assumidas para os espa¸cos (Mi , di ) significa que no produto: M=
∞ Y i=1
Mi = M1 × M2 × M3 × · · · = {0, 1} × {0, 1} × {0, 1} × · · · = {0, 1}∞
a m´etrica produto fica: d(x, y) =
∞ X
di (xi , yi ) =
i=1
∞ X |xi − yi | i 2 i=1
Coincidindo, portanto, com a m´etrica “usual” deste espa¸co. • As proje¸c˜ oes pi : (M, d) → (Mi , di ) s˜ ao contra¸c˜oes fracas (p. 260, caso finito) e, deste modo, s˜ ao aplica¸c˜oes cont´ınuas. Sendo assim, se tomarmos um aberto Ai ⊂ Mi , sua imagem invresa p−1 A resulta um subconjunto i i aberto no espa¸co produto (M, d) (prop. 62, p. 279). Temos:
(p. 593)
p−1 Ai = i
n
x∈M =
Y
Mi : pi (x) = xi ∈ Ai
o
= M1 × · · · × Mi−1 × Ai × Mi+1 × Mi+2 × · · ·
o conjunto acima ´e chamado a “fatia aberta de largura Ai ”. Vamos simular uma situa¸c˜ao destas: Suponhamos M1 = M2 = [ 0, 1 ] e consideremos os abertos i2 h i1 2h ∈ M1 ; A2 = , 1 ∈ M2 . A1 = , 3 3 3 552
Ent˜ao, p1−1 A1 = x ∈ M1 × M2 : p1 (x) = x1 ∈ A1 n 1 2 o = x = (x1 , x2 ) ∈ [ 0, 1 ] × [ 0, 1 ] : p1 (x) = x1 ∈ , 3 3 1 2 × [ 0, 1 ]. = , 3 3 De modo similar obtemos p−1 afico estas A2 = [ 0, 1 ] × 23 , 1 . No gr´ 2 fatias abertas ficam assim: 1 p−1 2 (A2 ) M1 ×M2
0
p−1 1 (A1 )
1
Tomando A1 ⊂ M1 , A2 ⊂ M2 , . . . , An ⊂ Mn abertos nos respectivos fatores, o conjunto A = p−1 A1 ∩ p−1 A2 ∩ · · · ∩ p−1 An n 1 2 Y = A1 × A2 × · · · × An × Mi i>n
´e aberto no espa¸co produto (M, d) por ser a interse¸c˜ao de um n´ umero finito de abertos. Os conjuntosQ A do tipo acima s˜ ao chamados abertos b´ asicos do produto cartesiano M = Mi . Vejamos agora uma importante propriedade dos abertos b´ asicos: ∞ Y Mi pode ser escrito Proposi¸ c˜ ao 123. Todo subconjunto aberto A ⊂ como uma reuni˜ ao de abertos b´ asicos.
i=1
Prova: Sendo A aberto, por hip´ otese, para todo x = (x P1 , x2 , . . . , xi , . . .) ∈ A existe r > 0 de modo que B(x; r) ⊂ A. Como a s´erie ci ´e convergente X r ent˜ao, pelo crit´erio de Cauchy, existe uma ordem n0 tal que ci < . 2 i>n0
Para cada i = 1, 2, . . . n0 , fa¸camos Ai = B(xi ; r/2n0 ) a bola de centro xi e raio r/2n0 . Vamos mostrar agora que o aberto b´ asico Y Mi Ax = A1 × A2 × · · · × An0 × i>n0
= B(x1 ; r/2n0 ) × B(x2 ; r/2n0 ) × · · · × B(xn0 ; r/2n0 ) × est´ a contido em B(x; r) e portanto em A. 553
Y
i>n0
Mi
De fato, seja r r , . . . , dn0 (xn0 , xn0 ) < 2n0 2n0 X X r r di (xi , yi ) + ⇒ d(x, y) = di (xi , yi ) < + = r, 2 2
y = (yi ) ∈ Ax ⇒ d1 (x1 , y1 ) <
i>n0
i≤n0
porquanto,
X
i>n0
di (xi , yi ) ≤
X
i>n0
r ci < . 2
Sendo assim, para cada x ∈ A, temos um aberto b´ asico Ax tal que x ∈ Ax ⊂ [ A. Logo (prop. 138, p. 599), temos que A = Ax . x∈A
Corol´ ario 46. As proje¸co ˜es pi : M → Mi s˜ ao aplica¸co ˜es abertas do produto Q M = Mi . Q Prova: Seja A = A1 × A2 × · · · × An × i>n Mi um aberto b´ asico, ent˜ao Ai , se i ≤ n; pi (A) = M , se i > n. i
Portanto pi (A) ´e aberto em (Mi , di ). Dado um aberto qualquer A ⊂ M , temos A = ∪Ax , reuni˜ao de abertos b´ asicos. Logo, [ [ pi (Ax ) Ax = pi (A) = pi x
x
´e uma reuni˜ao de abertos, por conseguinte, resulta um aberto em (Mi , di ).
Na prova da pr´ oxima proposi¸c˜ao faremos uso da seguinte identidade entre imagens inversas: Consideremos as seguintes aplica¸ c˜oes: f : A → B e g : B → C. Se Z ⊂ C, ent˜ao (g ◦ f )−1 (Z) = f −1 g−1 (Z) . A
rx
C
B
f
r f (x)
g −1 (Z)
ր
g
r
g(f (x)) Z
f −1 (g −1 (Z)) g◦f
Provemos esta identidade, assim: x ∈ f −1 g−1 (Z) ⇔ f (x) ∈ g −1 (Z) ⇔ g f (x) ∈ Z ⇔ g ◦ f (x) ∈ Z ⇔ x ∈ (g ◦ f )−1 (Z). 554
Q Proposi¸ c˜ ao 124. Uma aplica¸ca ˜o f : N → ∞ e cont´ınua se, e soi=1 Mi ´ mente se, cada uma de suas coordenadas fi = pi ◦ f : N → Mi ´e cont´ınua. Prova: (⇒) Se f ´e cont´ınua, ent˜ ao para todo ´ındice i, fi = pi ◦ f ´e cont´ınua por ser composta de aplica¸c˜ oes cont´ınuas. (⇐) Suponhamos agora cada fi cont´ınua. Seja A = A1 × A2 × · · · × An × Q asico, ent˜ ao A = p−1 A1 ∩ p−1 A2 ∩ · · · ∩ p−1 An , i>n Mi um aberto b´ n 1 2 sendo assim −1 −1 f −1 A = f −1 p−1 A ∩ p A A ∩ · · · ∩ p n 1 2 n 1 2 −1 −1 −1 −1 = f −1 p−1 (A ) ∩ f p (A ) ∩ · · · ∩ f p (A ) n 1 2 n 1 2 −1 −1 −1 = p1 ◦ f (A1 ) ∩ p2 ◦ f (A2 ) ∩ · · · ∩ pn ◦ f (An ) = f1−1 (A1 ) ∩ f2−1 (A2 ) ∩ · · · ∩ fn−1 (An )
Pela prop. 62 (p. 279) cada fi−1 (Ai ) ´e um aberto, portanto f −1 A ´e aberto em N , por serQintersec¸c˜ ao de abertos. Pela prop. 123, dado um aberto A arbitr´ario em Mi , este pode ser escrito ao de abertos b´ asicos: como reuni˜ −1 −1 −1 −1 A sendo uma A = ∪Ax . Portanto f A =f ∪ Ax = ∪x f (Ax ); f reuni˜ao de abertos ´e aberto; logo, pela mesma prop. 62 concluimos que f ´e cont´ınua. Demonstraremos um importante corol´ ario da proposi¸c˜ao anterior, mas antes necessitaremos de um lema. Consideremos o subconjunto N = 0, 1, 12 , . . . , n1 , . . . ⊂ R e o subespa¸co (N, µ). Dada uma sequˆencia (xn ) em um espa¸co m´etrico (M, d), e um ponto a ∈ M , definiremos uma aplica¸c˜ao f : N → M , assim: f n1 = xn e f (0) = a. (N, µ) 1s 1 2 1 3 1 n
0
s s
(M, d)
s x1 s x2 s x3
f
.. . s .. .
.. . .. .
s xn =f ( 1 ) n
s a=f (0)
s
Lema 8. f : N → M ´e cont´ınua se, e somente se, lim xn = a. n
Prova: (⇒) Suponhamos f cont´ınua e mostremos que lim xn = a. De n
fato, f sendo cont´ınua em 0 implica que para toda bola centrada em f (0): 555
B f (0); ε = B a; ε , existe um δ > 0 de modo que: x ∈ B(0; δ) ⇒ f (x) ∈ B a; ε 1 − 0 < δ ⇒ f 1 = xn ∈ B a; ε n n 1 ⇒ xn ∈ B a; ε . n> δ
Isto significa que se escolhermos um ´ındice n0 > 1/δ, todos os termos da sequˆencia com ´ındices superiores a este caem dentro da bola de centro a e raio ε, isto garante que lim xn = a. n
(⇐) Suponhamos que lim xn = a e mostremos que f ´e cont´ınua. Com efeito, n ´e suficiente mostrar que f ´e cont´ınua em 0 uma vez que todos os outros pontos de N s˜ ao isolados. Para mostar que f ´e cont´ınua em 0 centremos em f (0) uma bola de raio ε arbitr´ario: B f (0); ε = B a; ε . Como lim xn = a n existe um ´ındice n0 de modo que: ∀n ≥ n0 ⇒ xn ∈ B a; ε . Pondo δ =
1 n0 ,
resulta
1 1 < δ ⇒ n > = n0 ⇒ xn ∈ B a; ε . n δ
Isto prova que f ´e cont´ınua em 0.
Corol´ ario 47. Uma sequˆencia (xn ) no produto M =
∞ Y
Mi converge para
i=1
o limite a = (a1 , a2 , . . . , ai , . . .) ∈ M se, e somente se, para cada i ∈ N, a sequˆencia (x1i , x2i , . . . , xni , . . .) = (xni )n∈N , converge em Mi para o limite ai . Ou ainda, lim xn = a ⇐⇒
n→∞
lim xni = ai , ∀ i ∈ N.
n→∞
Prova: (⇒) Se lim xn = a, ent˜ao lim xni = ai , ∀ i ∈ N. n
n
Inicialmente observe que uma sequˆencia (xn ) em M se escreve assim: x1 = x11 x12 x13 . . . x1i . . . x2 = x21 x22 x23 . . . x2i . . . x3 = x31 x32 x33 . . . x3i . . . ........................... xn = xn1 xn2 xn3 . . . xni . . . ........................... 556
Considerando, como no lema 8, N = a seguinte aplica¸c˜ ao:
f : N −→ M =
Y
Mi , dada por
f
1 n
0, 1, 12 , . . . , n1 , . . .
f (0)
vamos definir
= xn = (xn1 xn2 xn3 . . . xni . . .) = a = (a1 a2 a3 . . . ai . . .)
Observe que as fun¸co ˜es coordenadas fi = pi ◦ f : N → Mi de f s˜ ao dadas por 1 1 = pi f = pi (xn ) = xni n n n fi (0) = pi ◦ f (0) = pi f (0) = pi (a) = ai .
fi
1
= pi ◦ f
Pois bem, pelo lema 8 se lim xn = a ent˜ao f ´e cont´ınua e, pela prop. 124, n cada fi ´e cont´ınua, sendo assim, novamente pelo lema 8 temos que lim xni = n ai . (⇐) Se lim xni = ai , ent˜ ao lim xn = a. n
n
De fato, se lim xni = ai , ent˜ ao pelo lema 8 cada fi = pi ◦ f : N → Mi n Q ´e cont´ınua logo, pela prop. 124 tem-se que f : N −→ M = Mi resulta cont´ınua, portanto − novamente pelo lema 8 − lim xn = a. n
O diagrama seguinte pode ser u ´til para eventuais esclarecimentos: (xni )n∈N f (1) −→
l x1 = x11 x12 x13 . . . x1i . . .
f ( 12 ) −→
x2 = x21 x22 x23 . . . x2i . . .
f ( 13 ) −→
x3 = x31 x32 x33 . . . x3i . . .
1 f( n ) −→
························· 1 xn = xn1 xn2 xn3 . . . xni←− . . . fi ( n ) ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ a = ( a1 a2 a3 . . . ai . . .)
Proposi¸ c˜ ao 125. (Teorema de Cantor-Tychonov) ∞ Y O espa¸co (M, d) = Mi , d ´e compacto se, e somente se, cada espa¸co i=1
fator (Mi , di ) (i = 1, 2, 3, . . .) ´e compacto.
Prova: (⇒) Se (M, d) ´e compacto, ent˜ao (Mi , di ) ´e compacto. 557
De fato, seja xni
n∈N
uma sequˆencia arbitr´aria em Mi , assim:
i = 1 : x11 x21 x31 . . . xn1 . . . ∈ M1 i = 2 : x12 x22 x32 . . . xn2 . . . ∈ M2 i = 3 : x13 x23 x33 . . . xn3 . . . ∈ M3
................................. Mostremos que xni n ∈ N possui uma subsequˆencia convergente. Com efeito, tomando a transposta da matriz anterior, obtemos: (xn1 ) ∈ M1
···
(xni ) ∈ Mi
l l x1 = x11 x12 x13 . . . x1i . . .
x2 = x21 x22 x23 . . . x2i . . . x3 = x31 x32 x33 . . . x3i . . . ························· xn = xn1 xn2 xn3 . . . xni . . . ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ a = ( a1 a2 a3 . . . ai . . .) Obtemos uma sequˆencia (xn )n∈N em M e, como este ´e compacto, esta sequˆencia possui uma subsequˆencia (xn )n∈N1 convergindo para um ponto a = (a1 , . . . , ai , . . .) ∈ M . Pelo corol´ ario 47 (p. 556), temos que (xni )n∈N1 converge em Mi para o limite ai . (⇐) Se (Mi , di ) ´e compacto, ent˜ao (M, d) ´e compacto. Pela proposi¸c˜ ao 112 (p. 490) ´e suficiente provar que dada uma sequˆencia arbitr´aria (xn ) em M , esta possui uma subsequˆencia convergente para um ponto a ∈ M . Inicialmente obseve que (xn ) pode ser escrita na seguinte disposi¸c˜ ao matricial: (xn1 ) ∈ M1
···
(xni ) ∈ Mi
l l x1 = x11 x12 x13 . . . x1i . . .
x2 = x21 x22 x23 . . . x2i . . . x3 = x31 x32 x33 . . . x3i . . . ························· xn = xn1 xn2 xn3 . . . xni . . . ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ a = ( a1 a2 a3 . . . ai . . .) 558
A estrat´egia da prova ser´ a a seguinte: obteremos um subconjunto infinito N∗ ⊂ N tal que existe lim∗ xni = ai ∈ Mi (i = 1, 2, 3, . . .). Ent˜ao fazemos n∈N
a = (a1 , a2 , . . . , ai , . . .) ∈ M e teremos, pelo corol´ ario 47, lim∗ xn = a ∈ M . n∈N
De fato, sendo M1 compacto, a sequˆencia (x11 , x21 , x31 , . . . , xn1 , . . .) em M1 possui uma subsequˆencia convergente. Logo, existem N1 ⊂ N infinito e a1 ∈ M1 tais que lim xn1 = a1 . n∈N1
Observe que no diagrama anterior n˜ ao temos a sequˆencia (xn1 )n∈N convergindo para a1 , mas sim uma sua subsequˆencia: (xn1 )n∈N . 1 Pois bem, sendo M2 compacto, a sequˆencia (xn2 )n∈N em M2 possui uma 1 subsequˆencia convergente. Logo, existem N2 ⊂ N1 infinito e a2 ∈ M2 tais que lim xn2 = a2 . Prosseguindo deste modo, obtemos uma sequˆencia de n∈N2
conjuntos infinitos: N ⊃ N1 ⊃ N2 ⊃ N3 ⊃ · · · ⊃ Ni ⊃ · · ·
(9.9)
e um ponto a = (a1 , a2 , . . . , ai , . . .) ∈ M , com lim xni = ai (i = 1, 2, 3, . . .). n∈Ni
Observe que quando definimos subsequˆencia (p. 140) exigimos uma “ordena¸c˜ao” no conjunto de ´ındices, como por exemplo: N1 = {n1 < n2 < n3 < . . .} Vamos construir o conjunto N∗ assim: Tomamos emprestado de N1 o seu primeiro ´ındice n1 : N∗ = { n1 . . .}. Como N2 ´e infinito existe um ´ındice n2 ∈ N2 tal que n2 > n1 ; tomemos emprestado de N2 este ´ındice: N∗ = { n1 < n2 . . .}. Como N3 ´e infinito existe um ´ındice n3 ∈ N3 tal que n3 > n2 ; tomemos emprestado de N3 este ´ındice: N∗ = { n1 < n2 < n3 . . .}. E assim prosseguimos tomando emprestado ni ∈ Ni tal que: N∗ = n1 < n2 < n3 < · · · < ni−1 < ni < · · ·
Tendo em conta a cadeia de inclus˜oes (9.9), obtemos n1 < n2 < n3 < · · · < ni−1 < ni < · · · ⊂ N1 n2 < n3 < n4 < · · · < ni−1 < ni < · · · ⊂ N2 n3 < n4 < n5 < · · · < ni−1 < ni < · · · ⊂ N3
............................................. Sendo assim, para cada ´ındice i, a sequˆencia xni n ∈ N∗ ´e, a partir do seu i-´esimo elemento, uma subsequˆencia da subsequˆencia xni n ∈ N e, portanto, i converge para o mesmo limite ai ∈ Mi , isto ´e, lim∗ xni = ai , e isto completa n∈N
a prova.
Corol´ ario 48. O espa¸co { 0, 1 }N , ν ´e compacto. 559
Apˆ endice B: B′ , ν ´ e compacto e denso Consideremos o subconjunto (xn ) ∈
B′
B′
(p. 519)
⊂ B, onde
⇐⇒ suas subsequˆencias de ´ındices ´ımpares e pares pertencem a B. Lema 9 (Gentil/03.05.05). O subespa¸co B′ , ν ´e compacto. Prova: Vamos mostrar inicialmente que B′ , ν ´e fechado. Mostraremos ¯ ′ ⊂ B′ . De fato, Considere p ∈ B ¯ ′ e tal que p 6∈ B′ . Ent˜ao existe um que B ´ındice k de modo que p tem, em sua subsequˆencia de ´ındices ´ımpares (ou pares − vamos supor ´ımpares), todos os termos iguais a 1 a partir de 2k − 1, assim p = p1 p2 p3 . . . pn . . .
p1 p3 p5 . . . p2k−1 1 1 1 . . . 6∈ B p2 p4 p6 . . . p2n . . .
¯ ′ existe uma sequˆencia (x ) de pontos de B′ de modo que Como p ∈ B n lim xn = p. Observe que os termos de (xn ) s˜ ao da forma: x1 = x11 x12 x13 . . . x1i . . . x2 = x21 x22 x23 . . . x2i , . . . x3 = x31 x32 x33 . . . x3i . . . ........................... xn = xn1 xn2 xn3 . . . xni . . . ........................... Como xn ∈ B′ existem ´ındices i, arbitrariamente grandes, onde vamos encontrar um 0 na posi¸c˜ ao 2i − 1 de xn , assim xn1 . . . xn(2i−3) 0 xn(2i+1) . . . xn = xn1 xn2 . . . xn(2i−2) 0 xn(2i) . . . xn2 xn4 . . . xn(2i−2) . . . Escolhamos um ´ındice i de modo que 2i−1 > 2k−1. Tomando ε > 2i−1, 1 teremos 21ε < 22i−1 . Como lim xn = p, significa que existe um ´ındice n0 , a 1 . Isto significa que xn deve partir do qual se verifica ν(xn , p) < 21ε < 22i−1 coincidir com p at´e a posi¸c˜ao 2i − 1 (no m´ınimo) o que ´e absurdo. Sendo assim, B′ resulta fechado. Por outro lado o conjunto {0, 1}N = {0, 1} × {0, 1} × {0, 1} × · · · ´e compacto. Sendo assim, B′ , ν resulta compacto, por ser um subconjunto fechado de um compacto. 560
Podemos mostrar tamb´em que B′ ´e denso em B. De fato, seja ε > 0 e a ∈ B dados. Devemos mostrar que existe p ∈ B′ de modo que ν(p, a) < ε. Pois bem, escolhamos j tal que 1j < ε e tomemos pn = an para n = 1, 2, . . . , j; 2
fa¸camos pn = 0 para n ≥ j + 1. Sendo assim p ∈ B′ e ν(p, a) ≤ ∗
∗
1 j 2
< ε.
∗
quis
Se quisermos procurar “Deus” na
aproximar-se dos problemas do esp´ırito
f´ısica, o v´ acuo ´ e o melhor lugar onde fazˆ e-
pela via de uma diversa experimenta¸ca ˜o
lo. Enquanto estado b´ asico subjacente
de car´ ater abstrato, especulativo, resul-
de tudo que existe, o v´ acuo tem todas as
tante das conclus˜ oes de processos l´ ogicos
caracter´ısticas do Deus imanente ou da
Que
o
meu
pensamento
da mais moderna f´ısico-matem´ atica. (Pietro Ubaldi/Ascens˜ oes Humanas)
ր
divindade de que falam os m´ısticos. (Danah Zohar/f´ısica e fil´ osofa)
1 0 0 0 1 0 1 1 0 0 0 0 = {}
(Universo)
0 0 1 1 0 1 0 1 1 1 1 1
+
Assim como um dia a explos˜ ao aconteceu e milh˜ oes de coisas nasceram a partir do nada, da mesma maneira, quando a implos˜ ao acontece, formas e nomes desaparecem, e novamente o nada nasce da´ı. O c´ırculo est´ a completo. (Osho/Buda, p. 112)
.. .
.. .
0 1
0 0
0 0
s˜ ao simultˆ aneas, e por isso se anulam reci-
0
1
0
procamente. O Nada ´ e, assim, a totalidade
1 0
1 0
0 1
simultˆ anea das possibilidades contradit´ orias.
1 0
0 1
1 1
1
1
1
No Nada as possibilidades contradit´ orias
(Marcelo Malheiros/fil´ osofo)
561
Plotando Pontos no Espa¸co Esta p´ agina ficaria em branco (ociosa) decidi aproveit´a-la para compar´ um algoritmo para plotagem de pontos no tilhar mais um trabalho meu. E espa¸co − o qual ser´ a de utilidade aos usu´arios do processador de texto LATEX, no qual este livro foi escrito. Por exemplo, as figuras no espa¸co que comparecem neste livro − como as deste cap´ıtulo (“cubos”) − foram tra¸cadas com o aux´ılio do presente algoritmo.
Dedu¸c˜ ao do meu algoritmo Me coloquei o seguinte problema: Como plotar um ponto (x, y, z), do espa¸co tridimensional, em uma superf´ıcie bidimensional (a tela do computador ou uma folha de papel, por exemplo)? Para resolver meu desafio devo construir a seguinte transforma¸c˜ao T : R3 → R2 z z
t (X, Y ) ≡ (x, y, z)
y
y
` θ
t (X, Y ) ≡ (x, y, z)
x
` θ
տ
x
Observe que o ponto a ser plotado ´e “o mesmo” nas duas figuras. Digo, para plotar o ponto de coordenadas (x, y, z) “no espa¸co” basta plotar o ponto de coordenadas (X, Y ) no plano. Pois bem, s´ o nos resta agora relacionar as “coordenadas virtuais” X e Y com as coordenadas reais x, y e z. Isto pode ser feito a partir da figura da direita, da qual destacamos o seguinte triˆ angulo (ver seta): ⊡ z−Y
θ a
y−X
sen θ =
y−X x
cos θ =
z−Y x
⇒ X = y − x · sen θ
x
⇒ Y = z − x · cos θ
Ent˜ ao, o “menor algoritmo do mundo” para o tra¸cado de superf´ıcies, ´e:
(x, y, z) ≡ (X, Y ) = ( y − x · sen θ, z − x · cos θ ) Nota: θ ´e um ˆ angulo, fixado, entre o eixo x e o eixo z (negativo). 562
Cap´ıtulo
10
CONSULTAS N˜ ao sem algum denodo, e at´ e deleite, tenho tentado cultivar em meu esp´ırito uma pequena nesga de iconoclastia. Fui programado para detectar fissura nas estruturas. (Gentil)
Introdu¸c˜ ao: O objetivo deste cap´ıtulo ´e estabelecer alguns resultados (prerequisitos) para fins de consultas e referˆencias.
10.1
Elementos de L´ ogica & Demonstra¸c˜ oes
Nesta sec¸c˜ ao recordaremos, de modo resumido, alguns conceitos da L´ ogica Matem´atica. De in´ıcio tecemos algumas considera¸c˜oes sobre alguns s´ımbolos, objetivando transferi-los da L´ ogica para o contexto da Matem´atica. Posteriormente estabeleceremos algumas t´ecnicas de demonstra¸c˜oes matem´ aticas. Proposi¸ c˜ ao: Chamamos conceito primitivo aquele conceito que aceitamos sem defini¸c˜ao. ´ o que acontece, por exemplo, com o conceito de proposi¸ca E ˜o. Portanto, n˜ ao o definiremos. N˜ao obstante, nada impede que conhe¸camos suas qualidades, tendo em conta que proposi¸c˜ ao ´e uma senten¸ca declarativa, afirmativa e que deve exprimir um pensamento de sentido completo; via de regra sendo escrita na linguagem usual ou na forma simb´ olica. Por exemplo, s˜ ao proposi¸c˜oes: π = 1. 2 √ 2) π < 2 2.
1) sen
563
3) Todo quadrado ´e um retˆ angulo. 4) Todo retˆ angulo ´e um quadrado. Dizemos que o valor l´ ogico de uma proposi¸c˜ao ´e a verdade (V ) se a proposi¸c˜ ao ´e verdadeira; ´e a falsidade (F ) se a proposi¸c˜ao ´e falsa. Por exemplo, para as proposi¸c˜oes anteriores,temos 1) V
10.1.1
2) F
3) V
4) F
Opera¸c˜ oes L´ ogicas sobre Proposi¸c˜ oes
Faremos um resumo das opera¸c˜oes do c´ alculo proposicional tamb´em chamadas opera¸co ˜es l´ ogicas. Os principais operadores (conectivos) l´ogicos s˜ ao os seguintes: ∨ ∧ ¯ −→ ←→
Disjun¸c˜ao (“ou”) Conjun¸c˜ao (“e”) Nega¸c˜ao Condicional (“se...ent˜ao”) Bicondicional (“se e somente se”)
cujas tabelas-verdade s˜ ao dadas a seguir (estas tabelas definem os respectivos operadores): p
q
p∨q
p
q
p∧q
p
p¯
V V F F
V F V F
V V V F
V V F F
V F V F
V F F F
V F
F V
p
q
p −→ q
p
q
p ←→ q
p
p¯
q
p¯ ∨q
V V F F
V F V F
V F V V
V V F F
V F V F
V F F V
V V F F
F F V V
V F V F
V F V V
Acrescentamos a tabela-verdade da proposi¸c˜ao p¯ ∨ q a qual nos ser´ a de grande utilidade. Vamos agora enunciar uma rela¸c˜ao entre proposi¸c˜oes, que se distingue dos operadores, porque n˜ ao cria nova proposi¸c˜ao. Defini¸ c˜ ao 67 (Implica¸c˜ao L´ ogica). Diz-se que uma proposi¸ca ˜o p implica logicamente ou apenas implica uma proposi¸ca ˜o q, se e somente se, na tabela de p e q, n˜ ao ocorre V F em nenhuma linha, com V na coluna de p e F na coluna de q. 564
Exemplo: Da tabela a seguir inferimos que a proposi¸c˜ao q n˜ ao implica na proposi¸c˜ ao p ∧ q, ao passo que a proposi¸c˜ao p ∧ q implica na proposi¸c˜ao q. p
q
p∧q
q
V V F
V F V
V F F
V F V
F
F
F
F
Indica-se que a proposi¸c˜ ao p implica a proposi¸c˜ao q com a nota¸c˜ao: p =⇒ q. Nota: Os s´ımbolos −→ e =⇒ n˜ ao devem ser confundidos, pois p −→ q ´e uma proposi¸c˜ ao enquanto p =⇒ q n˜ ao ´e proposi¸c˜ao. Isto ´e an´ alogo ao que acontece com o sinal + e o sinal < na Aritm´etica: 2 + 5 ´e um n´ umero e 2 < 5 n˜ ao ´e um n´ umero. A escolha do conectivo (palavra) “se p ent˜ao q” para a proposi¸c˜ao p −→ q, a nosso ver, foi infeliz. De fato, isto induz a que se conclua que a proposi¸c˜ ao q se deduz ou ´e uma consequˆ encia da proposi¸c˜ao p. Isto n˜ ao se d´ a, por exemplo: √ 5 ´e um n´ umero ´ımpar −→ 2 ´e irracional (Se 5 ´ e um n´ umero ´ımpar ent˜ ao
√
2´ e irracional)
´ ´e uma ao verdadeira (ver tabela-verdade do condicional). Obviamente √ proposi¸c˜ ao ´e consequˆencia de 5 ser um n´ umero ´ımpar. que 2 ser irracional n˜ Ao contr´ ario do que acontece na L´ ogica, em Matem´atica n˜ ao comparece o operador l´ ogico −→, mas apenas =⇒ com os seguintes significados para p =⇒ q: 1) Se p, ent˜ ao q; 2) Se p for verdadeira, ent˜ ao q ´e verdadeira; 3) p implica q; 4) q ´e implicada por p; 5) q segue de p; 6) p ´e uma condi¸c˜ ao suficiente para q; 7) q ´e uma condi¸c˜ ao necess´aria para p; ´ imposs´ıvel termos p verdadeira e q falsa simultˆ 8) E aneamente, dentre outros significados poss´ıveis. Neste momento temos uma importante observa¸c˜ao a fazer: Dos ´ıtens 1) e 3) vemos que a matem´ atica funde (confunde) os s´ımbolos −→ e =⇒. 565
Como sempre, nestes casos, o “galho quebra” do lado do mais fraco: o aluno que ter´ a que distinguir no contexto matem´ atico se o s´ımbolo =⇒ est´ a se referindo a ele pr´ oprio ou ao condicional −→.
Chama-se tautologia toda proposi¸c˜ao composta cuja u ´ltima coluna da sua tabela verdade encerra somente a letra V (verdade).
Proposi¸ c˜ ao 126. A proposi¸ca ˜o p implica a proposi¸ca ˜o q (isto ´e, p =⇒ q) se, e somente se, a condicional p −→ q ´e tautol´ ogica. Prova: (i) Se p implica q, ent˜ao, n˜ ao ocorre p q p −→ q que os valores l´ ogicos simultˆ aneos destas duas V V V proposi¸c˜ oes sejam respectivamente V e F , e por V F F conseguinte na u ´ltima coluna da tabela-verdade F V V da condicional p −→ q consta somente a letra V , F F V logo, esta condicional ´e tautol´ ogica. (ii) Reciprocamente, se a condicional p −→ q ´e tautol´ ogica, ent˜ao n˜ ao ocorre que os valores l´ ogicos simultˆ aneos das proposi¸co˜es p e q sejam respectivamente V e F , e por conseguinte p implica q. Uma diferen¸ca b´ asica entre proposi¸c˜ao e teorema ´e que enquanto ´e l´ıcito se cogitar do valor l´ ogico de uma proposi¸c˜ao (isto ´e, uma proposi¸c˜ao pode ser verdadeira ou falsa) o mesmo n˜ ao acontece com um teorema, que sempre ´e verdadeiro. N˜ao se demonstra teoremas, mas sim proposi¸c˜oes. Uma vez demonstrada a veracidade de uma proposi¸c˜ao: p −→ q, esta adquire status de teorema: p =⇒ q. Em matem´ atica, para demonstrar-se a valip q p −→ q dade de uma proposi¸ca˜o p −→ q assumimos a → V V V hip´ otese p como sendo verdadeira. Sendo assim V F F podemos nos restringir `as duas primeiras linhas F V V da tabela verdade do condicional −→. F F V Uma vez assumido p verdadeira se conseguirmos demonstrar a veracidade de q ent˜ao podemos riscar a segunda linha da tabela verdade do condicional. Ap´os isto a proposi¸c˜ao p −→ q resulta tautol´ ogica e, por conseguinte, p =⇒ q Isto ´e, a proposi¸c˜ ao p −→ q tornou-se o teorema p =⇒ q. Defini¸ c˜ ao 68 (Equivalˆencia L´ ogica). Diz-se que uma proposi¸ca ˜o p ´e logicamente equivalente ou apenas equivalente a uma proposi¸ca ˜o q, se as tabelas-verdade destas duas proposi¸co ˜es s˜ ao iguais. 566
Indica-se que a proposi¸c˜ ao p ´e equivalente a proposi¸c˜ao q com a nota¸c˜ao: p ⇐⇒ q Os s´ımbolos ←→ e ⇐⇒ n˜ ao devem ser confundidos, pois p ←→ q ´e uma proposi¸c˜ ao enquanto p ⇐⇒ q n˜ ao ´e proposi¸c˜ao. Os argumentos arrolados anteriormente a respeito dos s´ımbolos −→ e =⇒ podem ser adaptados para os s´ımbolos ←→ e ⇐⇒. A seguir listamos v´arias maneiras de se formular p ⇐⇒ q em palavras∗ : 1) Se p, ent˜ ao q e rec´ıprocamente; 2) Se q, ent˜ ao p e rec´ıprocamente; 3) q ´e verdadeira se, somente se, p for verdadeira; 4) p implica q e rec´ıprocamente; 5) p ´e uma condi¸c˜ ao necess´aria e suficiente para q; 6) q ´e uma condi¸c˜ ao necess´aria e suficiente para p; 7) p e q s˜ ao proposi¸c˜ oes equivalentes. Dos ´ıtens 1) e 4) acima, vemos que a matem´ atica (con) funde os s´ımbolos ←→ e ⇐⇒. Proposi¸ c˜ ao 127. A proposi¸ca ˜o p ´e equivalente ` a proposi¸ca ˜o q (isto ´e, p ⇐⇒ q) se, e somente se, a bicondicional p ←→ q ´e tautol´ ogica. Prova: (i) Se p ´e equivalente a q, ent˜ao, tˆem tabelas-verdade iguais, e por conseguinte o valor l´ ogico da bicondicional p ←→ q ´e sempre V , isto ´e, esta bicondicional ´e tautol´ ogica (ver tabela-verdade da bicondicional, p. 564). (ii) Rec´ıprocamente, se a bicondicional p ←→ q ´e tautol´ ogica, ent˜ao, a u ´ltima coluna da sua tabela-verdade encerra somente a letra V , e por conseguinte os valores l´ ogicos respectivos das proposi¸c˜oes p e q s˜ ao ambos V ou ambos F , isto ´e, estas duas proposi¸c˜oes s˜ ao equivalentes. Portanto, a toda equivalˆencia l´ogica corresponde uma bicondicional tautol´ogica e vice-versa. ∗
∗
∗
Tomemos ent˜ ao um espa¸co sem mat´eria, “vazio”. A f´ısica quˆ antica mostra que, mesmo neste caso, flutua¸co ˜es de energia existem. O nada tem uma energia associada. Sendo assim, part´ıculas podem surgir dessas flutua¸co ˜es, mat´eria brotando do nada. (Marcelo Gleiser/F´ısico) ∗
Isto na Matem´ atica, n˜ ao na L´ ogica.
567
Equivalencias Not´ aveis A seguir listamos algumas equivalencias entre proposi¸c˜oes, as quais podem ser demonstradas com o aux´ılio das respectivas tabelas-verdade. 1) p¯ ⇐⇒ p
(Dupla Nega¸c˜ao)
2) Leis Idempotentes a) p ∨ p ⇐⇒ p
b) p ∧ p ⇐⇒ p 3) Leis Comutativas a) p ∨ q ⇐⇒ q ∨ p
b) p ∧ p ⇐⇒ q ∧ p 4) Leis Associativas a) p ∨ (q ∨ r) ⇐⇒ (p ∨ q) ∨ r
b) p ∧ (q ∧ r) ⇐⇒ (p ∧ q) ∧ r
5) Leis de De Morgan∗ a) ( p ∨ q ) ⇐⇒ p¯ ∧ q¯ b) ( p ∧ q ) ⇐⇒ p¯ ∨ q¯ 6) Leis Distributivas a) p ∧ ( q ∨ r ) ⇐⇒ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)
b) p ∨ ( q ∧ r ) ⇐⇒ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)
10.1.2
T´ ecnicas (Engenharia) de Demonstra¸c˜ ao
Os problemas em matem´ atica dividem-se em duas classes: Determina¸ c˜ ao: calcule, encontre, ache, determine,. . . Demonstra¸ c˜ ao: mostre, prove, demonstre,. . . Costumo mesmo dizer que a matem´ atica come¸ca com os problemas do segundo tipo. De fato, a resolu¸c˜ao da maioria dos problemas do primeiro tipo s˜ ao algoritmicas (mecˆ anicas); enquanto os problemas do segundo tipo exigem muito de criatividade (engenhosidade). Um outro crit´erio que utilizo para distinguir n˜ ao-matem´ atica (algoritmo) ∗ Augustus De Morgan (1806 − 1873) lecionou no University College, Londres. Foi matem´ atico e l´ ogico, e contribuiu para preparar o caminho da L´ ogica matem´ atica moderna.
568
de matem´ atica, ´e que a n˜ ao-matem´ atica ´e suscept´ıvel de programa¸c˜ao − a exemplo dos poderosos softwares alg´ebricos − enquanto que a matem´ atica em si (demostra¸c˜ oes) n˜ ao. Ademais, estou propenso a acreditar que podemos ver a maioria dos “objetos” como consistindo de mat´eria e esp´ırito. Para contextualizar minha tese vejamos alguns exemplos: 1o ) Um computador consiste de hardware e software, o hardware ´e a parte material e o software ´e o esp´ırito do computador. ologos enxergam 2o ) Uma c´elula ´e composta de mat´eria (´e o que os bi´ ao microsc´opio) e esp´ırito (software que comanda suas atividades) que os bi´ ologos n˜ ao enxergam ao microsc´opio. o 3 ) Os n´ umeros inteiros, s˜ ao compostos de mat´eria: Z = { . . . , −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . . } e esp´ırito, que s˜ ao seus axiomas de manipula¸c˜ao da mat´eria (s´ımbolos) tais como: comutatividade, associatividade, elemento neutro, elemento oposto, Princ´ıpio da Boa Ordem, etc. De igual modo, a matem´ atica possui uma parte material (s´ımbolos) e uma parte espiritual (conceitos, id´eias), o que se estar a manipular∗ por a´ı ´e apenas o corpo (cad´ aver) da matem´ atica, seu esp´ırito fica de fora. − Para se lidar com o esp´ırito da matem´ atica (viva) torna-se indispens´ avel o conhecimento de algumas t´ecnicas de demonstra¸c˜ao. 1. Proposi¸c˜ oes Aparentadas p −→ q
:
Direta
q −→ p
:
Rec´ıproca
p¯ −→ q¯
:
Contr´ aria
q¯ −→ p¯
:
Contrapositiva (contra-rec´ıproca)
2. Equivalˆencia Entre Proposi¸c˜ oes Aparentadas 2.1 A proposi¸c˜ ao direta equivale `a contra-rec´ıproca. p −→ q ⇐⇒ q¯ −→ p¯ ∗
Por a´ı a que me refiro ´e a matem´ atica praticada at´e o ensino m´edio e em algumas cadeiras da universidade, ´e uma matem´ atica mecˆ anica, morta. O fato de vocˆe manusear o controle remoto de sua televis˜ ao n˜ ao significa que vocˆe compreende como ele funciona. De igual modo, muitos manipulam a matem´ atica sem compreender como ela funciona, ´e uma matem´ atica sem vida, sem esp´ırito!
569
Para provar isto faremos uso da seguinte identidade: p −→ q = p¯ ∨ q Esta identidade pode ser obtida das respectivas tabelas-verdade. Prova: (i) p −→ q = p¯ ∨ q
(ii) q¯ −→ p¯ = q¯ ∨ p¯
= p¯ ∨ q
Isto significa que as proposi¸c˜oes p −→ q e q¯ −→ p¯ assumem sempre os mesmos valores l´ogicos; isto ´e, ou s˜ ao ambas verdadeiras (V ) ou s˜ ao ambas falsas (F ). Sendo assim acabamos de estabelecer nossa primeira t´ecnica de demonstra¸c˜ao indireta: (T-1) O teorema direto equivale ao contra-rec´ıproco† ¯ H =⇒ T ⇐⇒ T¯ =⇒ H Enunciemos nossa segunda t´ecnica de demonstra¸c˜ao indireta: (T-2) Anexa¸c˜ ao ` a hip´ otese da nega¸c˜ao da tese H =⇒ T ⇐⇒
H ∧ T¯ =⇒ T
Prova: Provemos a seguinte equivalˆencia: p −→ q ⇐⇒ p ∧ q¯ −→ q
De fato,
(i) p −→ q = p¯ ∨ q. (ii) p ∧ q¯ −→ q = (p ∧ q¯) ∨ q = ( p¯ ∨ q¯ ) ∨ q
= p¯ ∨ q ∨ q = p¯ ∨ q. †
¯ Nega¸c˜ H: Hip´ otese, T : Tese, H: ao da hip´ otese, T¯ : Nega¸c˜ ao da tese.
570
(T-3) Redu¸ c˜ ao ao absurdo H =⇒ T ⇐⇒
H ∧ T¯ =⇒ f
Onde: f ´e uma proposi¸c˜ao de valor l´ogico falso (´e qualquer contradi¸c˜ ao). Prova: Provemos a seguinte equivalˆencia: p −→ q ⇐⇒ De fato,
p ∧ q¯ −→ f
(i) p −→ q = p¯ ∨ q. (ii) p ∧ q¯ −→ f = (p ∧ q¯) ∨ f = (p ∧ q¯) = p¯ ∨ q¯
= p¯ ∨ q. Nota: Na tabela-verdade da proposi¸c˜ao p ∨ q vemos que quando o valor l´ ogico de q ´e F , prevalece o valor l´ogico de p. Estamos dizendo que p ∨ f = p. Resumindo: Para utilizar esta t´ecnica em uma demonstra¸c˜ao, devemos anexar ` a Hip´otese a nega¸c˜ao da Tese e devemos exibir, ao final, alguma contradi¸c˜ao (algum absurdo). Uma Equivalencia Not´ avel Uma das equivalˆencias mais utilizadas em demonstra¸c˜oes matem´ aticas ´e a que segue (T-4) Teorema com hip´ otese composta (∧) Se a hip´ otese de um teorema ´e formada pela conjun¸c˜ao de duas outras, ´e v´alida a seguinte equivalˆencia H1 ∧ H2 =⇒ T ⇐⇒
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Isto ´e, junta-se a uma das hip´ oteses a nega¸c˜ao da tese e demonstra-se a nega¸c˜ ao da outra hip´ otese. Prova: Provemos a seguinte equivalˆencia p ∧ q −→ r ⇐⇒ p ∧ r¯ −→ q¯ 571
De fato, p ∧ q −→ r = (p ∧ q) ∨ r = (¯ p ∨ q¯) ∨ r = p¯ ∨ q¯ ∨ r. Por outro lado, p ∧ r¯ −→ q¯ = (p ∧ r¯) ∨ q¯ = (¯ p ∨ r¯) ∨ q¯ = p¯ ∨ r ∨ q¯. Vejamos alguns exemplos de aplica¸c˜ao desta equivalˆencia: umeros: Se a divide b e a n˜ ao divide c ent˜ao b n˜ ao divide c. 1o ) Teoria dos n´ H1 : a|b ⇒ T : b 6 | c. H : a6|c 2 ¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Prova: Para algum n1 e algum n2 inteiros, resulta H : 1 T¯ :
Observe que
b = n1 a =⇒ c = n2 b
c c = = n2 b a · n1
c ¯ = n1 · n2 ≡ H 2 a
2o ) Em An´alise: Se a ≤ b e b ≤ a ent˜ao a = b. H1 : H : 2
a≤b b≤a
⇒
T:
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2 572
a = b.
Prova: Suponha a ≤ b e a 6= b, ent˜ao a < b.
3o ) Em An´alise: Se n ∈ N, x ∈ R, e n < x < n + 1, ent˜ao x 6∈ N. H1 : x > n ⇒ T : x 6∈ N. H : x
Prova: Se x > n e x ∈ N ent˜ao x ≥ n + 1. 4o ) Em Teologia (Unicidade de Deus) Suponhamos que existam dois Deuses D e D ′ : H1 : D ´e Deus ⇒ T : D = D′ H : D ′ ´e Deus 2
Prova: H1 ∧ T¯ : Suponhamos que D ´e Deus e que D 6= D ′ . Ent˜ao existe algum atributo em D n˜ ao partilhado por D ′ , por conseguinte ′ D n˜ ao ´e Deus, o que contraria H2 . Sugest˜ ao: Quando vocˆe estudante encontrar-se frente a um teorema tipo H1 ∧ H2 =⇒ T
e, ap´ os bater o desespero (ou antes mesmo), tente demonstrar o equivalente ¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2 (T-5) O seguinte teorema n˜ ao ´e raro em matem´ atica: H1 ⇐⇒ H2 =⇒ T ´ um teorema, tipo “se e somente se”, isto ´e E H1 =⇒ H2 =⇒ T H1 ⇐= H2 =⇒ T Ent˜ ao
(i) H1 =⇒ H2 =⇒ T Observemos que a tese do teorema acima ´e um outro teorema. 573
Isto significa que assumindo H1 devemos demonstrar H2 =⇒ T . Isto ´e, devemos mostrar que H2 acarreta T . Ainda, H1 ∧ H2 =⇒ T Esta conclus˜ao pode ser provada assim: H1 −→ H2 −→ T = H¯1 ∨ H2 −→ T = H¯1 ∨ H¯2 ∨ T = (H1 ∧ H2 ) ∨ T
= H1 ∧ H2 −→ T. Portanto subsiste a seguinte equivalˆencia H1 =⇒ H2 =⇒ T ⇐⇒ H1 ∧ H2 =⇒ T
(ii) H2 =⇒ T =⇒ H1
Consideremos a contrapositiva: H¯1 =⇒ H2 =⇒ T . Ent˜ao, ¯ ∨T H¯1 −→ H2 −→ T = H¯1 −→ H 2 = H¯1 −→ H2 ∧ T¯
Portanto subsiste a seguinte equivalˆencia (H2 =⇒ T ) =⇒ H1 ⇐⇒ H¯1 =⇒ H2 ∧ T¯
(T-6) Teorema com hip´ otese composta (∨) Se a hip´ otese de um teorema ´e formada pela disjun¸c˜ao de duas outras, ´e v´alida a seguinte equivalˆencia H1 ∨ H2 =⇒ T ⇐⇒ H1 =⇒ T ∧ H2 =⇒ T Prova: Provemos a seguinte equivalˆencia p ∨ q −→ r ⇐⇒ p −→ r ∧ q −→ r
De fato,
p ∨ q −→ r = (p ∨ q) ∨ r = (¯ p ∧ q¯) ∨ r = p¯ ∨ r ∧ q¯ ∨ r = p −→ r ∧ q −→ r 574
(T-7) Teorema com tese composta (∨) Se a tese de um teorema ´e formada pela disjun¸c˜ao de duas outras, ´e v´alida a seguinte equivalˆencia H =⇒ T1 ∨ T2
⇐⇒
H ∧ T¯1 =⇒ T2
Prova: Provemos a seguinte equivalˆencia
p −→ ( q ∨ r ) ⇐⇒ ( p ∧ q¯ ) −→ r De fato, p −→ ( q ∨ r ) = p¯ ∨ ( q ∨ r ) = ( p¯ ∨ q ) ∨ r = ( p ∧ q¯ ) ∨ r = ( p ∧ q¯ ) −→ r Vejamos um exemplo de aplica¸c˜ ao desta t´ecnica em espa¸cos vetorias. Proposi¸ c˜ ao: Uma igualdade λ u = 0, com λ ∈ R e u ∈ V , s´ o ´e poss´ıvel se λ = 0 ou u = 0. Prova: Inicialmente vamos reescrever a proposi¸c˜ao da seguinte forma: T : λ=0 1 H: λu = 0 ⇒ ou T2 : u = 0
Temos,
H ∧ T¯1 : λ u = 0 e λ 6= 0.
Sendo assim existe o n´ umero real λ−1 , multiplicando λ u = 0 por λ−1 , obtemos λ−1 ( λ u ) = λ−1 0 ⇒ ( λ−1 · λ )u = 0 ⇒ 1 u = 0 ⇒ u = 0
575
Resumo das T´ ecnicas de Demonstra¸ co ~es ¯ H ⇒ T ⇐⇒ T¯ ⇒ H
(T-2)
H ⇒ T ⇐⇒
(T-3) (T-4) (T-5)
(T-6) (T-7) (T-8)
H ∧ T¯ ⇒ T H ∧ T¯ ⇒ f ¯ H1 ∧ T¯ ⇒ H 2
H ⇒ T ⇐⇒ H1 ∧ H2 ⇒ T ⇐⇒ H1 =⇒ H2 ⇒ T H1 ⇐⇒ H2 ⇒ T H ⇐= H ⇒ T 1 2 H1 ∨ H2 ⇒ T ⇐⇒
H ⇒ T1 ∨ T2
⇐⇒
H ⇒ T ⇐⇒
(f =absurdo)
⇐⇒ H1 ∧ H2 ⇒ T
⇐⇒ H¯1 ⇒ H2 ∧ T¯
H1 ⇒ T ∧ H2 ⇒ T
Gentil
(T-1)
H ∧ T¯1 ⇒ T2
¯ H ∧ T¯ ⇒ H
Dois outros recursos u ´teis para a formula¸c˜ao de defini¸c˜oes em matem´ atica s˜ ao dados a seguir.
10.1.3
Fun¸c˜ oes Proposicionais/Quantificadores
Consideremos as proposi¸c˜oes: p : x + 6 < 10, V ( p ) =? q : 2 + 6 < 10, V ( q ) = 1 A proposi¸c˜ ao q, como se vˆe, ´e verdadeira, ao passo que nada podemos afirmar sobre o valor l´ ogico de p : V (p) =?; que somente ser´ a conhecido quando x for substituido por um n´ umero bem determinado. Neste caso, dizemos que a proposi¸c˜ ao p ´e uma fun¸ca ˜o proposicional ( f.p. ) ou ainda, uma senten¸ca aberta. Na fun¸c˜ao proposicional p(x) : x + 6 < 10 o s´ımbolo x ´e chamado de vari´ avel. Chamamos conjunto universo da vari´ avel ao conjunto das possibilidades que podem substituir a vari´ avel na senten¸ca. Denotaremos este conjunto por U. Cada elemento de U chama-se valor da vari´ avel. Algumas vezes o conjunto universo U ´e imposto pelo contexto e outras vezes pode ser escolhido livremente pelo agente de estudo em quest˜ao. 576
Exemplos: 1o ) Consideremos a fun¸c˜ ao proposicional p dada por p(x) : x + 6 < 10 Podemos escolher para o conjunto dos valores da vari´ avel, por exemplo, um dos seguintes conjuntos: N, Z, Q, R ou { 0, 2, 4, 6, . . . } ao proposicional p dada por 2o ) Consideremos a fun¸c˜ p(x) : 1 ≤
x2 − 1 <3 x+1
Neste caso ainda temos uma certa liberdade na escolha do conjunto universo U, sendo que em qualquer escolha n˜ ao deve constar o n´ umero x = −1. Por exemplo, duas escolhas poss´ıveis s˜ ao U = N e U = Z − { −1 }. Conjunto-verdade (da senten¸ca aberta) ´e o conjunto dos valores da vari´ avel para os quais a senten¸ca torna-se verdadeira. Denotaremos este conjunto por V: V = x ∈ U : V p(x) = V Quantificador universal
Usaremos o s´ımbolo “ ∀ ” , chamado quantificador universal, para exprimir o fato de que “para todo x em um dado conjunto, a proposi¸c˜ao p(x) ´e verdadeira”. Uma proposi¸c˜ ao do tipo “Para todo x; p(x)” ´e simbolicamente escrita como: ∀ x ; p(x). Quantificador existencial No caso de proposi¸c˜ oes que envolvem express˜ oes do tipo “Existe”, “H´a pelo menos um”, “para ao menos um” e “Algum”, usaremos o s´ımbolo “ ∃ ”, chamado quantificador existencial, para exprimir o fato de que para pelo ao menos um elemento de um dado conjunto a proposi¸c˜ao p(x) ´e verdadeira. Uma proposi¸c˜ ao do tipo “Existe x tal que p(x)” pode ser escrita simbolicamente como: ∃ x ; p(x). Valores l´ ogicos de senten¸ cas quantificadas A senten¸ca ∀ x ; p(x) ´e verdadeira se, e somente se, o conjunto-verdade de p(x) e o conjunto universo forem iguais, isto ´e, V = U (ou se, substituindo de x por cada um dos elementos u do conjunto universo, p(u) ´e verdadeira) e, falsa quando V 6= U. Na tabela a seguir damos alguns exemplos do que acabamos de definir: 577
∀ x ; p(x) ∀ x ; x2 −4=0
x2 −4=0
U
V
{ −2, 2 }
{ −2, 2 }
V
V (∀ x ; p(x))
{ −2, 0, 2 } { −2, 2 }
F
∀x; x≤0
Z
Z−
F
∀x; x≤0 √ ∀ x ; x2 =x √ ∀ x ; x2 =|x|
Z−
Z−
V
R
R+
F
R
R
V
∀x;
R−{ −1 }
R−{ −1 }
V
N
N
V
∀x;
∀x;
x2 −1 =x−1 x+1
x2 −1 =x−1 x+1
A senten¸ca ∃ x ; p(x) ´e verdadeira se, e somente se, o conjunto-verdade de p(x) ´e n˜ ao-vazio, ou seja, V 6= ∅ e, falsa quando V = ∅. Na tabela a seguir damos alguns exemplos do que acabamos de definir: ∃ x ; p(x)
U
x2 −4=0
V
V (∃ x ; p(x))
{ −2, 3 }
{ −2 }
V
∃ x ; x2 +1=0
R
∅
F
∃x;
C
{ −i, i }
V
C
∅
F
∃ x ; (−1)·x6=−x R √ ∃ x ; x2 6= x R
∅
F
R− ∗
V
∃ x ; |x|=x
{ −1, −2 }
∅
F
∃ x ; |x|=−x
{ −1, 2 }
∃x;
x2 +1=0
∃x; x<0
{ −1 }
V
Nega¸ c˜ ao de senten¸ cas quantificadas J´ a tivemos oportunidade de assinalar a diferen¸ca entre a atividade matem´ atica (engenhosidade) e a atividade algoritmica (mecˆ anica); pois bem, para fazer-se matem´ atica (isto ´e demonstra¸c˜oes) o que h´ a de mais importante s˜ ao as defini¸ co ˜es e, juntamente com estas, suas nega¸c˜oes; da´ı a importˆ ancia da nega¸ca ˜o de senten¸cas quantificadas. Proposi¸ c˜ ao 128 (Nega¸c˜ao de ∀ x ; p(x)). A seguinte equivalˆencia ´e v´ alida: ∀ x ; p(x) ⇐⇒ ∃ x ; p(x)
(10.1)
Prova: Mostraremos que as proposi¸c˜oes ∀ x ; p(x) e ∃ x ; p(x) s˜ ao equivalentes mostrando que elas concordam em seus valores l´ogicos, isto ´e, V ∀ x ; p(x) = V ∃ x ; p(x) 578
De fato, suponha que ∀ x ; p(x) ´e verdadeira. Ent˜ao, ∀ x ; p(x) ´e falsa e, deste modo, existe u ∈ U de modo que p(u) ´e falsa. Ent˜ao, para este elemento p(u) ´e verdadeira. Sendo assim, ∃ x ; p(x) ´e verdadeira. Suponha agora que ∀ x ; p(x) ´e falsa. Ent˜ao, ∀ x; p(x) ´e verdadeira e, deste modo, para todo u ∈ U, tem-se p(u) ´e verdadeira. Ent˜ao, para todo u ∈ U, tem-se p(u) ´e falsa. Sendo assim, ∃ x ; p(x) ´e falsa. Um importante corol´ ario ´e o que vem dado a seguir: Corol´ ario 49. A seguinte equivalˆencia ´e v´ alida: ∀ x ; p(x) −→ q(x) ⇐⇒ ∃ x ; p(x) ∧ q(x) Prova: De fato, ∀ x ; p −→ q = ∃ x ; p −→ q = ∃ x ; p ∨ q = ∃ x ; p ∧ q. Deixamos como exerc´ıcio a prova da Proposi¸ c˜ ao 129 (Nega¸c˜ ao de ∃ x ; p(x)). A seguinte equivalˆencia ´e v´ alida: ∃ x ; p(x) ⇐⇒ ∀ x ; p(x)
(10.2)
Valores l´ ogicos de senten¸ cas quantificadas de duas vari´ aveis Seja p(x, y) uma senten¸ca aberta (ou fun¸c˜ao proposicional) com duas vari´ aveis. Inicialmente observamos que, n˜ ao necess´ariamente, as vari´ aveis envolvidas tˆem o mesmo conjunto universo. Na “pr´ atica” ´e frequente que estes conjuntos sejam distintos. Assim ´e que os denotaremos por: Ux e Uy . 579
Por exemplo, para a senten¸ca p(x, y) :
x2 − 1 y 2 − 1 + <0 x+1 y−1
os respectivos conjuntos universos s˜ ao necess´ariamente distintos, podendo ser, por exemplo: Ux = R − { −1 } e Uy = R − { 1 }. Obs: Quando em um dado contexto citarmos apenas um conjunto universo, significa que este ´e o mesmo para as duas vari´ aveis, isto ´e, Ux = Uy . a) A senten¸ca ∀ x ∀ y ; p(x, y). A senten¸ca ∀ x ∀ y ; p(x, y) ´e verdadeira se, e somente se, para toda substitui¸c˜ao de x por elementos a de Ux e y por elementos b de Uy , p(a, b) ´e verdadeira. Exemplo: A senten¸ca ∀ x ∀ y ; x · y = y · x, ´e verdadeira com os conjuntos universo Ux = N e Uy = Z; mas n˜ ao com os conjuntos universo Ux = M2 (N)= conjunto das matrizes quadradas de ordem 2, com elementos naturais e Uy = M2 (Z)= conjunto das matrizes quadradas de ordem 2, com elementos inteiros. Por exemplo, para x=
1 0 0 2
, y=
0 −1 1 0
,
temos x · y 6= y · x. Exemplo: A senten¸ca ∀ x ∀ y ; x2 < y, com os conjuntos universo Ux = { −1, 0, 1 } e Uy = { 1, 2 } ´e falsa, porquanto substituindo x por −1 e y por 1, a senten¸ca (−1)2 < 1 resulta falsa. b) A senten¸ca ∃ x ∃ y ; p(x, y). A senten¸ca
∃ x ∃ y ; p(x, y) ´e verdadeira se, e somente se, p(a, b) ´e verdadeira. para alguma substitui¸c˜ ao de x por um elemento a de Ux e y por um elemento b de Uy . Exemplo: A senten¸ca ∃ x ∃ y ; x · y = y · x, 580
´e verdadeira com os conjuntos universo Ux = M2 (N) e Uy = M2 (Z). Por exemplo 0 −1 1 0 , , y= x= 1 0 0 1
s˜ ao tais que x · y = y · x. Exemplo: A senten¸ca ∃ x ∃ y ; x2 < y, com o conjunto universo { −1, 0, 1 } ´e verdadeira, porquanto substituindo x por 0 e y por 1, a senten¸ca 02 < 1 resulta verdadeira.
Exemplo: A senten¸ca x √ ∃ x ∃ y ; = 2, y com o conjunto universo Z ´e falsa. c) A senten¸ca ∀ x ∃ y ; p(x, y). A senten¸ca ∀ x ∃ y ; p(x, y) ´e verdadeira se, e somente se, para toda substitui¸c˜ao de x por elementos a de Ux , a senten¸ca (de uma u ´nica vari´ avel) ∃ y ; p(a, y) ´e verdadeira. Exemplo: A senten¸ca ∀x ∃y; x+ y = 0 ´e verdadeira com o conjunto universo { −1, 0, 1 }, porquanto ∃ y;
∃ y; ∃ y;
−1 + y = 0
0+y =0 1+y =0
(V ; y = 1) (V ; y = 0) ( V ; y = −1 )
Exemplo: A senten¸ca ∀x ∃y; y < x ´e falsa com o conjunto universo { 0, 1, 2 }. Note que: ∃ y; ∃ y;
∃ y;
y<2 y<1
( V ; y = 0, ou 1 ) (V ; y = 0)
y<0
(F; V = ∅)
d) A senten¸ca ∃ y ∀ x ; p(x, y). A senten¸ca ∃ y ∀ x ; p(x, y) ´e verdadeira se, e somente se, a senten¸ca (de uma u ´nica vari´ avel) ∀ x ; p(x, b) ´e verdadeira para alguma substitui¸c˜ao de y por um elemento b do conjunto universo Uy . 581
Exemplo: A senten¸ca ∃ y ∀ x ; |x| + |y| = 1 ´e verdadeira com os conjuntos universo Uy = { −1, 0, 1 } e Ux = { −i, i, −1, 1 }, porquanto a senten¸ca ∀ x ; |x| + |0| = 1 ´e verdadeira. Exemplo: A senten¸ca ∃y ∀x; y > x ´e falsa com o conjunto universo { −1, 0, 1 }, porquanto cada uma das senten¸cas ∀ x; −1 > x ∀ x; 0>x ∀ x;
1>x
´e falsa. Exemplo: A senten¸ca ∃y ∀x; y ≥ x ´e verdadeira com o conjunto universo { −1, 0, 1 }. Note que: ∀ x;
−1 ≥ x
∀ x;
1≥x
∀ x;
0≥x
( F ; x = 0, ou 1) (F; x = 1) (V ; y = 1)
Nega¸ c˜ ao de senten¸ cas quantificadas de duas vari´ aveis Observe que, por defini¸c˜ao, ∀ x ∃ y ; p(x, y) = ∀ x ; ∃ y ; p(x, y)
∀ x ∃ y ; p(x, y) = ∀ x ; ∃ y ; p(x, y)
Por conseguinte,
= ∃ x ; ∃ y ; p(x, y) = ∃ x ∀ y ; p(x, y)
Isto ´e, ∀ x ∃ y ; p(x, y) = ∃ x ∀ y ; p(x, y) Similarmente, ∃ x ∀ y ; p(x, y) = ∃ x ; ∀ y ; p(x, y) 582
Por conseguinte, ∃ x ∀ y ; p(x, y) = ∃ x ; ∀ y ; p(x, y) = ∀ x ; ∀ y ; p(x, y) = ∀ x ∃ y ; p(x, y)
Isto ´e, ∃ x ∀ y ; p(x, y) = ∀ x ∃ y ; p(x, y)
10.2
Conjuntos, Fun¸ c˜ oes e Fam´ılia de conjuntos
O objetivo desta se¸c˜ ao ser´ a um breve resumo de fun¸c˜oes e fam´ılia de conjuntos para futuras referˆencias. Conjunto, Elementos O conceito de conjunto comparece em todos os ramos da Matem´atica. Intuitivamente, um conjuto ´e qualquer cole¸c˜ao bem definida de objetos. Os conjuntos s˜ ao designados por letras latinas mai´ usculas: A, B, C, . . . , X, Y, Z. Os objetos que constituem um conjunto chamam-se elementos do conjunto e ser˜ ao designados por letras latinas min´ usculas: a, b, c, . . . , x, y, z. A afirma¸c˜ ao “p ´e elemento de A” ou, de modo equivalente, “p pertence a A”, escreve-se p∈A
A nega¸c˜ ao de p ∈ A escreve-se p 6∈ A. S˜ ao duas as principais maneiras de se especificar - descrever - um dado conjunto. A primeira consiste em enumerar (evidentemente quando isto ´e poss´ıvel) seus elementos entre chaves e separados por v´ırgula. Por exemplo, A = { 1, 2, 3, 4, 5 } A segunda consiste em dar (sem ambiguidade) uma propriedade − proposi¸c˜ao − caracterizando todos os seus elementos. Por exemplo, B = { x : x ´e uma vogal } (lˆe-se: “B ´e o conjunto dos elementos x tais que x ´e uma vogal.”) Como mais um exemplo, C = { x : x ´e um n´ umero natural par } 583
Subconjuntos Um conjunto A ´e dito subconjunto de B, escrevendo-se A ⊂ B ou B ⊃ A se, e somente se, todo elemento de A ´e tamb´em elemento de B. Em S´ımbolos, A ⊂ B ⇐⇒ ∀ x ∈ A ⇒ x ∈ B. Nota: A 6⊂ B quando existe um elemento em A que n˜ ao pertence a B. Por exemplo, consideremos os conjuntos A = { 1, 3, 5, 7, . . . }, B = { 2, 3, 5, 7, . . . }
C = { 4n − 1 : n ∈ N } = { 3, 7, 11, . . . }
Temos C ⊂ A, porquanto todo elemento de C ´e um n´ umero ´ımpar; por outro lado B 6⊂ A, porquanto 2 ∈ B e 2 6∈ A. Observe que, segundo a defini¸c˜ao de subconjunto, o conjunto dos n´ umeros reais n˜ ao ´e subconjunto do conjunto dos n´ umeros complexos. Isto ´e, R 6⊂ C. Isto porque os elementos de C s˜ ao pares ordenados de n´ umeros reais. De outro modo: os elementos destes conjuntos s˜ ao de naturezas distintas. Por exemplo, (1, 3), (−1, 2), (3, 0) ∈ C; √ 2, 3, π ∈ R. Reiteramos: N˜ao h´ a um u ´nico n´ umero real que tamb´em seja um n´ umero complexo. Igualdade de Conjuntos Defini¸ c˜ ao 69. Dois conjuntos A e B s˜ ao iguais se, e somente se, A ⊂ B e B ⊂ A. Das defini¸c˜ oes dadas at´e aqui decorre o seguinte Teorema 7. Se A, B e C s˜ ao conjuntos quaisquer, ent˜ ao (i) (ii) (iii)
A ⊂ A; se A ⊂ B se A ⊂ B
e e
B ⊂ A =⇒ A = B; B ⊂ C =⇒ A ⊂ C.
584
Importante! Uma observa¸c˜ ao importante − e oportuna −: quando devemos mostrar que dois conjuntos A e B s˜ ao iguais, esta prova deve ser feita em duas etapas: primeiro provamos que A ⊂ B e, para isto, devemos tomar um elemento arbitr´ario em A e mostrar que este elemento tamb´em est´ a em B; segundo, provamos que B ⊂ A, desta vez tomamos um elemento arbitr´ario de B e mostramos que este elemento tamb´em est´ a em A.
Conjunto Vazio e Conjunto Universo Para que possamos criar uma “´algebra” de conjuntos − o que faremos logo mais − ´e conveniente introduzir o conceito de conjunto vazio, como sendo o conjunto desprovido de qualquer elemento. Este conjunto ´e denotado pelo s´ımbolo ∅. Em toda aplica¸c˜ ao da Teoria dos Conjuntos, todos os elementos e subconjuntos em considera¸c˜ ao est˜ ao em um conjunto fixo. Este conjunto fixo chama-se conjunto universo, e design´a-lo-emos pela letra U . Amiude, a solu¸c˜ ao de um problema depende do conjunto universo fixado. Por exemplo, para conjunto solu¸c˜ ao da equa¸c˜ao 3x = 2, temos: Se Se Se Se
U U U U
=N =Z =Q =R
⇒ ⇒ ⇒ ⇒
S S S S
=∅ =∅ = { 2/3 } = { 2/3 }
Para conjunto solu¸c˜ ao da equa¸c˜ ao 2x3 − x2 + 2x − 1 = 0, temos: Se Se Se Se Se
U U U U U
=N =Z =Q =R =C
⇒ ⇒ ⇒ ⇒ ⇒
S S S S S
=∅ =∅ = { 1/2 } = { 1/2 } = { −i, i, 1/2 }
Opera¸ co ˜es com conjuntos Introduziremos agora alguns m´etodos de constru¸c˜ao de novos conjuntos, a partir de conjuntos dados.
Defini¸ c˜ ao 70 (Uni˜ao). Sejam A e B subconjuntos de um dado conjunto U . A uni˜ ao de A com B ´e o subconjunto de U , indicado por A ∪ B, assim determinado: A ∪ B = x ∈ U : x ∈ A ou x ∈ B 585
A opera¸c˜ ao de uni˜ ao goza das seguintes propriedades: N N N N N
A ∪ (B ∪ C) = (A ∪ B) ∪ C A∪B = B∪A A∪∅ = A A∪U = U A∪A = A
(associativa) (comutativa) (elemento neutro) (Identidade) (Idempotˆencia)
Defini¸ c˜ ao 71 (Intersec¸c˜ao). Sejam A e B subconjuntos de um dado conjunto U . A intersec¸ c˜ ao de A com B ´e o subconjunto de U , indicado por A ∩ B, assim determinado: A∩B =
x∈U: x∈A e x∈B
A opera¸c˜ ao de intersec¸c˜ao goza das seguintes propriedades: N N N N N
A ∩ (B ∩ C) = (A ∩ B) ∩ C A∩B = B∩A A∩∅=∅ A∩U =A A∩A =A
(associativa) (comutativa) (absor¸c˜ao) (Identidade) (Idempotˆencia)
As opera¸c˜ oes de uni˜ ao e intersec¸c˜ao est˜ ao relacionadas atrav´es das propriedades distributivas: N N
A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C) A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C)
Defini¸ c˜ ao 72 (Complementa¸c˜ao). Para cada subconjunto A ⊂ U , indicaA se por ∁U e chama-se complementar de A em rela¸ca ˜o a U , o seguinte subconjunto de U : A ∁U = { x ∈ U : x 6∈ A } Nota: Quando, em um determinado contexto, o conjunto U estiver fixA ado, a nota¸c˜ ao ∁U ser´ a simplificada para Ac . Defini¸ c˜ ao 73 (Diferen¸ca). Sejam A e B subconjuntos de um dado conjunto U . A diferen¸ ca entre A e B ´e o subconjunto de U , indicado por A − B, assim determinado: A − B = { x ∈ U : x ∈ A e x 6∈ B } 586
´ f´acil comprovar a seguinte identidade E A − B = A ∩ Bc A seguir relacionamos algumas propriedades envolvendo as opera¸c˜oes de complementa¸c˜ ao e diferen¸ca (para subconjuntos de um dado conjunto U ): N ∅c = U e c N Ac = A
Uc = ∅
N A ∩ Ac = ∅ e A ∪ Ac = U c c N A ∪ B = Ac ∩ B c ; A ∩ B = Ac ∪ B c
N A ∩ (B − C) = (A ∩ B) − (A ∩ C) A
N Se A ⊂ B, ent˜ ao ∁B = Ac ∩ B. Proposi¸ c˜ ao 130. Os conjuntos A ∩ B e A − B s˜ ao disjuntos e A = (A ∩ B) ∪ (A − B) Prova: Suponhamos que exista x ∈ A ∩ B e x ∈ A − B. A primeira asser¸c˜ao nos diz que x ∈ A e x ∈ B, o que contradiz a segunda. Logo, os conjuntos s˜ ao disjuntos. (⊂) Inicialmente mostremos que (ver Importante, p. 585) A ⊂ (A ∩ B) ∪ (A − B) De fato, Seja x ∈ A, ent˜ ao ou x ∈ B ou x 6∈ B. No primeiro caso, x ∈ A e x ∈ B sendo assim x ∈ A ∩ B. No segundo caso, x ∈ A e x 6∈ B sendo assim x ∈ A − B. Em qualquer dos casos temos nossa tese comprovada. (⊂) Resta mostrar que (A ∩ B) ∪ (A − B) ⊂ A De fato, seja y ∈ (A ∩ B) ∪ (A − B), ent˜ao ou y ∈ A ∩ B ou y ∈ A − B. Em qualquer dos casos temos nossa tese comprovada. Proposi¸ c˜ ao 131. Se A, B e C s˜ ao conjuntos quaisquer, ent˜ ao A − (B ∩ C) = (A − B) ∪ (A − C)
A − (B ∪ C) = (A − B) ∩ (A − C)
Prova: Provaremos a primeira identidade, deixando a segunda como exerc´ıcio. (⊂) Inicialmente mostremos que A − (B ∩ C) ⊂ (A − B) ∪ (A − C) 587
De fato, seja x ∈ A − (B ∩ C), ent˜ao x ∈ A e x 6∈ B ∩ C; logo x ∈ A e x 6∈ B ou x 6∈ C, por conseguinte x ∈ A − B ou x ∈ A − C. Em qualquer dos casos temos nossa tese comprovada. (⊂) Resta mostrar que (A − B) ∪ (A − C) ⊂ A − (B ∩ C) De fato, seja y ∈ (A − B) ∪ (A − C), ent˜ao ou y ∈ A − B ou y ∈ A − C. Sendo assim y ∈ A e y 6∈ B ou y ∈ A e y 6∈ C; logo y ∈ A e y 6∈ B ∩ C, do que decorre nossa tese. Produto Cartesiano de Conjuntos Daremos agora mais um m´etodo de constru¸c˜ao de conjuntos, a partir de conjuntos dados: O produto cartesiano∗ . Defini¸ c˜ ao 74 (Produto Cartesiano). Sejam A e B dois conjuntos n˜ ao vazios. O produto (cartesiano) de A e B, denotado por A × B, ´e o conjunto de todos os pares ordenados (a, b), com a ∈ A e b ∈ B, isto ´e: A × B = { (a, b) : a ∈ A e b ∈ B } Nota: Esta defini¸c˜ ao ´e um tanto informal, j´a que n˜ ao definimos a priori o que vem a ser um “par ordenado”. A propriedade fundamental destes entes ´e a que segue: (a, b) = (c, d) ⇐⇒ a = c e b = d. O produto de um conjunto A por si pr´ oprio, isto ´e, A × A, representa-se por A2 . Por exemplo, R × R = R2 = (a, b) : a ∈ R e b ∈ R R
b
(0, 0)
r(a, b) a
R
O produto de trˆes conjuntos A, B e C − n˜ ao vazios − se define como A×B×C = A×B ×C = (a, b, c) : a ∈ A, b ∈ B e c ∈ C
∗ Ren´e Descartes (1596 − 1650), criador da geometria anal´ıtica, foi um nobre francˆes, soldado, matem´ atico, e um dos maiores fil´ osofos de todos os tempos.
588
O produto de n conjuntos A1 , A2 , . . . , An ´e definido, por indu¸c˜ao, como segue: A1 × A2 × · · · × An = A1 × A2 × · · · × An−1 × An = (x1 , x2 , . . . , xn ) : x1 ∈ A1 , . . . , xn ∈ An
Sejam E1 , E2 , . . . , En conjuntos quaisquer. Para cada ´ındice i (1 ≤ i ≤ n) sejam Ai e Bi subconjuntos quaisquer de Ei . Colocamos, por defini¸c˜ao: A1 × A2 × · · · × An = ∅ ⇐⇒ ∃ i ∈ { 1, 2, . . . , n } : Ai = ∅. Se Ai 6= ∅ (i = 1, 2, . . . , n), deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que (i) A1 × · · · × An ⊂ B1 × . . . × Bn ⇐⇒ A1 ⊂ B1 , . . . , An ⊂ Bn . (ii)
A1 × · · · × An ∩ B1 × . . . × Bn = (A1 ∩ B1 ) × · · · × (An ∩ Bn ).
Fun¸ co ˜es/Aplica¸ co ˜es/Transforma¸ co ˜es
O conceito de fun¸c˜ ao ´e de fundamental importˆ ancia uma vez que comparece − impl´ıcita ou expl´ıcitamente − em todos os ramos da ciˆencia. Pr´aticamente todas as equa¸c˜ oes alg´ebricas que comparecem na F´ısica, Biologia, Qu´ımica, Economia, Eletricidade, etc.; podem ser estudadas dentro do contexto de fun¸c˜ oes. Por exemplo: 1. Na F´ısica (i) P V = N R T (ii) S = S0 + v0 t + 12 t2 (iii) m =
m0
r
1−
(iv) E = m c2
v c
2
2. Na Eletricidade ℓ πr 2 1 (ii) f0 = √ 2π LC
(i) R = ρ
3. Em Comunica¸c˜ ao t < 0; 0, −t/RC f (t) = A 1 − e , 0 < t < τ; −(t−τ )/RC −τ /RC A 1−e e , t > τ. 589
O conceito de fun¸ca˜o − como o entendemos hoje − veio evoluindo ao longo do tempo, sendo formalizado durante o s´eculo XIX. Na ´epoca de Euler† , fun¸c˜ ao significava, em geral, aquelas que podiam ser expressas por uma equa¸c˜ ao entre x e y, tais como: y = x3 − 2x2 + 5. Por exemplo a equa¸c˜ao dada por (sinal de x) R 1
1, sign(x)= 0, −1,
se x > 0; se x = 0; se x < 0.
s
R
−1
bem como aquela dada no ´ıtem 3. (Comunica¸c˜ao) n˜ ao representavam fun¸c˜oes. Como vemos, a exigˆencia de que uma fun¸c˜ao seja dada por uma equa¸c˜ao ´e bastante restritiva. Com a necessidade crescente − e premente − de resolver-se problemas de outras ´ areas − F´ısica por exemplo − ´e que surgiu a necessidade de se ampliar o conceito de fun¸c˜ao de modo a incluir uma classe bem maior de tais entes.
Defini¸ c˜ ao 75 (Transforma¸c˜ao). Dados dois conjuntos A e B, ambos n˜ ao vazios, uma transforma¸ c~ ao de A em B ´e uma lei pela qual a cada elemento de A associa-se um u ´nico elemento de B. Se f indica essa lei e x representa um elemento gen´erico de A, ent˜ ao o (´ unico) elemento de B associado a x ´e representado por f (x) (lemos “f de x”) e se denomina imagem de x por f .
A x t
B f t f (x)
†
Leonard Euler (1707 − 1783), natural de Basil´eia, Su´ı¸ca, estudou com Jo˜ ao Bernoulli. Residiu muitos anos em S˜ ao Petersburgo (hoje Leningrado), mas sua estada ali foi interrompida por um per´ıodo de 25 anos em Berlim. N˜ ao obstante ter sido pai de treze filhos e apesar de ter ficado cego, escreveu cerca de oitocentos “papers” e livros, tendo dado contribui¸c˜ oes fundamentais a todos os ramos da matem´ atica.
590
O conjunto A ´e chamado de dom´ınio e o conjunto B de contradom´ınio da transforma¸c˜ ao f . Alternativamente, podemos representar uma transforma¸ca˜o f de A em B, assim: f : A −→ B x 7−→ f (x) Nota: Os termos fun¸ c~ ao e aplica¸ c~ ao s˜ ao sinˆ onimos da palavra transforma¸ca ˜o, embora alguns autores prefiram reservar a palavra “fun¸c˜ao” para se referir a aplica¸c˜ oes de valores reais ou complexos.
Imagem de um Conjunto Via Transforma¸c˜ ao Sejam f : A → B uma transforma¸c˜ao e X ⊂ A. Vamos reunir em um mesmo subconjunto de B todos os elementos que s˜ ao imagem, por f , dos elementos de X. Formalizando, temos Defini¸ c˜ ao 76 (Imagem de Conjunto). Consideremos uma transforma¸ca ˜o f : A → B. Dado um subconjunto X ⊂ A, chama-se imagem de X por f , e indica-se por f (X), o seguinte subconjunto de B: f (X) = f (x) : x ∈ X B
A
X
sx
s
f
s
f (X)
f (x)
x′
s
f (x′ )
Se X = A, ent˜ ao f (A) recebe o nome de imagem de f e a nota¸c˜ao ser´ a Im f . Portanto, Im f = { f (x) : x ∈ A } (10.3) Exemplos: 1) Consideremos a fun¸c˜ ao f : R −→ R dada por f (x) = x2 . Seja X = { −2, −1, 0, 1, 2 }. Ent˜ao f (X) = { f (x) : x ∈ X } = { f (−2), f (−1), f (0), f (1), f (2) } = { 4, 1, 0, 1, 4 } = { 0, 1, 4 }
591
2) Consideremos a fun¸c˜ao f : R −→ R dada por f (x) = sign(x) Sendo assim temos, por exemplo
(p. 590).
X = {0}
⇒
f (X) = { f (x) : x ∈ { 0 } } = { 0 }
Y = [ −2, −1 ]
⇒
f (Y ) = { f (x) : x ∈ [ −2, −1 ] } = { −1 }
Z = [ −1, 1 ]
⇒
f (Z) = { f (x) : x ∈ [ −1, 1 ] } = { −1, 0, 1 }
W = [ 1, 2 ]
⇒
f (W ) = { f (x) : x ∈ [ 1, 2 ] } = { 1 }
Qualidades de Uma Transforma¸ c˜ ao Uma transforma¸c˜ ao F : U → V se diz injetora se, para quaisquer x, y ∈ U , x 6= y =⇒ f (x) 6= f (y).
ou, de modo equivalente∗
f (x) = f (y) =⇒ x = y. Uma transforma¸c˜ ao F : U → V se diz sobrejetora se Im(f ) = B; isto ´e ∀ y ∈ B, ∃ x ∈ A : f (x) = y.
Uma aplica¸c˜ ao f : A −→ B ao mesmo tempo injetora e sobrejetora chama-se bijetora. Propriedades das Imagens Diretas Proposi¸ c˜ ao 132. Seja f : A −→ B, e sejam X, Y ⊂ A. Temos: (a) Se X ⊂ Y , ent˜ ao f (X) ⊂ f (Y ). (b) f (X ∪ Y ) = f (X) ∪ f (Y ).
(c) f (X ∩ Y ) ⊂ f (X) ∩ f (Y ).
(d) f (∅) = ∅.
(e) f (X − Y ) ⊂ f (X).
Prova: (ver Importante, p. 585) (a)
(b)
Seja
Seja
f (x) ∈ f (X)
⇒
⇒
f (x) ∈ f (X ∪ Y )
x∈X
f (x) ∈ f (Y ) ⇒
⇒
⇒
x∈Y
f (X) ⊂ f (Y ).
x∈ X ∪Y
x ∈ X ou x ∈ Y
⇒
f (x) ∈ f (X) ou f (x) ∈ f (Y )
⇒
f (X ∪ Y ) ⊂ f (X) ∪ f (Y ).
⇒
∗
⇒
Ver (T − 1), p. 570.
592
f (x) ∈ f (X) ∪ f (Y ).
An´alogamente se mostra a inclus˜ao contr´ aria. (c)
Seja
f (x) ∈ f (X ∩ Y )
⇒
x∈X ∩Y
⇒
f (x) ∈ f (X) e f (x) ∈ f (Y )
⇒
f (X ∩ Y ) ⊂ f (X) ∩ f (Y ).
⇒
⇒
(d) f (∅) = (e) decorre de (a).
x∈X ex∈Y
f (x) ∈ f (X) ∩ f (Y ).
f (x) : x ∈ ∅
= ∅.
Para mostrar que a inclus˜ao contr´ aria em (c) n˜ ao vale, consideremos a fun¸c˜ao do exemplo 1) (p. 591). Observe que X = [ 1, 2 ] e Y = [ −2, −1 ] ⇒ X ∩ Y = ∅
⇒ f (X ∩ Y ) = ∅.
por outro lado, f (X) ∩ f (Y ) = [ 1, 4 ] ∩ [ 1, 4 ] = [ 1, 4 ] ⇒ f (X) ∩ f (Y ) 6⊂ f (X ∩ Y ). Esta inclus˜ao n˜ ao se verifica precisamente por ser f uma fun¸c˜ao n˜ ao injetora: Se f ´e injetora, ent˜ ao f (X ∩ Y ) = f (X) ∩ f (Y ). De fato, seja z ∈ f (X) ∩ f (Y ), logo, existem x ∈ X e y ∈ Y tais que z = f (x) = f (y). Pela injetividade de f concluimos que x = y ∈ X ∩ Y . Donde z ∈ f (X ∩ Y ). Como a inclus˜ao contr´ aria vale para f qualquer, fica provada a igualdade.
Imagem Inversa de Conjunto Via Aplica¸c˜ ao Sejam f : A −→ B uma aplica¸c˜ao e Y ⊂ B. Vamos reunir em um mesmo conjunto todos os elementos de A cujas imagens, por f , pertencem a Y . Formalizando, temos Defini¸ c˜ ao 77 (Imagem Inversa). Consideremos uma aplica¸ca ˜o f : A −→ B. Dado um subconjunto Y ⊂ B, chama-se imagem inversa de Y por f , e indica-se por f −1 (Y ), o seguinte subconjunto de A: f −1 (Y ) = x ∈ A : f (x) ∈ Y A
f −1 (Y
)
sx
B
s
f
f (x)
593
Y
Observa¸ c˜ ao: N˜ao confundir a nota¸c˜ao f −1 (Y ) com a da fun¸c˜ao inversa. Dada uma fun¸c˜ ao f qualquer, a fun¸c˜ao inversa nem sempre existe, mas f −1 (Y ) sempre existe, podendo ser f −1 (Y ) = ∅. Todavia, se f −1 existe, ent˜ ao f −1 (Y ) ´e a imagem direta de Y pela f −1 . Exemplos: Consideremos a fun¸c˜ao f : R −→ R dada por f (x) = x2 . a) Seja Y = 0, 1, 4 . Ent˜ao f −1 (Y ) = x ∈ A : f (x) ∈ Y = x ∈ R : f (x) ∈ { 0, 1, 4 } = x ∈ R : x2 ∈ { 0, 1, 4 } = { −2, −1, 0, 1, 2 }
Portanto,
f −1 { 0, 1, 4 } = { −2, −1, 0, 1, 2 }. ( 1, se x ∈ Q; b) Seja f : R −→ R dada por f (x) = 0, caso contr´ ario.
Seja Y ⊂ R, com um pouco de racioc´ınio, o leitor h´ a de concordar que ∅, se 1 6∈ Y e 0 6∈ Y ; Q, se 1 ∈ Y e 0 6∈ Y ; f −1 (Y ) = R − Q, se 1 6∈ Y e 0 ∈ Y ; R, se 1 ∈ Y e 0 ∈ Y.
Por exemplo,
f −1 ] − 1, 1[ = R − Q f −1 ] − 1, 1] = R 1 3 f −1 , =Q 2 2
Propriedades das Imagens Inversas
Proposi¸ c˜ ao 133. Seja f : A −→ B, e sejam X, Y ⊂ B. Temos: (a) Se X ⊂ Y , ent˜ ao f −1 (X) ⊂ f −1 (Y ). (b) f −1 (X ∪ Y ) = f −1 (X) ∪ f −1 (Y ).
(c) f −1 (X ∩ Y ) = f −1 (X) ∩ f −1 (Y ). c (d) f −1 (X c ) = f −1 (X) . (e) f (X − Y ) = f −1 (X) − f −1 (Y ).
Deixamos a prova desta proposi¸c˜ao como exerc´ıcio.
594
Proposi¸ c˜ ao 134. f (X) ⊂ Y
⇐⇒ X ⊂ f −1 (Y ).
Prova: (⇒) De fato, Dado x ∈ X ⇒ f (x) ∈ f (X) ⇒ f (x) ∈ Y ⇒ x ∈ f −1 (Y ). (⇐) Seja f (x) ∈ f (X) ⇒ x ∈ X ⇒ x ∈ f −1 (Y ) ⇒ f (x) ∈ Y. Vamos agora relacionar as imagens direta e inversa. Proposi¸ c˜ ao 135. Seja f : A −→ B. Ent˜ ao (a) X ⊂ A =⇒ X ⊂ f −1 f (X) (b) X ⊂ A =⇒ X = f −1 f (X) (c) Y ⊂ B =⇒ f f −1 (Y ) ⊂ Y (d) Y ⊂ B =⇒ f f −1 (Y ) = Y
(se f for injetora )
(se f for sobrejetora )
Prova: (a) De fato, se x ∈ X, ent˜ ao f (x) ∈ f (X) e da´ı, tendo em conta a defini¸c˜ao de imagem inversa, x ∈ f −1 f (X) . (b) Seja x ∈ f −1 f (X) , ent˜ ao f (x) ∈ f (X), portanto pela defini¸c˜ao de ′ f (X) existe x ∈ X tal que f (x′ ) = f (x), da´ı, considerando a injetividade de f , x = x′ e portanto x ∈ X. (c) Seja y ∈ f f −1 (Y ) logo, pela defini¸c˜ao de imagem direta, existe x ∈ f −1 (Y ) tal que f (x) = y. Pela defini¸c˜ao de imagem inversa x ∈ f −1 (Y ) implica f (x) = y ∈ Y . (d) Seja y ∈ Y , como f ´e sobrejetora, existe x ∈ A tal que f (x) = y ∈ Y . Pela defini¸c˜ ao de imagem inversa, x ∈ f −1 (Y ) e pela defini¸c˜ao de imagem −1 direta, f (x) = y ∈ f f (Y ) .
Fam´ılias Indexadas
Seja A um conjunto e P(A) o conjunto de seus subconjuntos. Consideremos uma fun¸c˜ ao f : I −→ P(A) i 7−→ f (i) Esta fun¸c˜ ao ´e chamada fam´ılia indexada de subconjuntos de A. O dom´ınio I ´e chamado conjunto de ´ındices. 595
Observe que f (i) ´e um elemento de P(A), ou seja, ´e um subconjunto de A; raz˜ ao porque trocaremos de nota¸c˜ao: f (i) = Ai . Nestas fun¸c˜ oes o aspecto que mais nos interessar´a ´e o conjunto ima gem. Para a pr´ opria fun¸c˜ao adotaremos uma nota¸c˜ao especial: Ai i∈I ou, simplesmente, Ai quando o conjunto de ´ındices estiver fixado em um determinado contexto. Exemplos:
1) Consideremos A = [ 0, 1 ] e I = N. Para cada n ∈ N definamos
Sendo assim An Por exemplo,
1 An = 0, n
n∈N
´e uma fam´ılia de subconjuntos do intervalo [ 0, 1 ].
0
1
0
1 2
0
1 3
A1
A2
A3
2) Consideremos A = R2 e I = R. Para cada λ ∈ R definamos Aλ = (x, y) ∈ R2 : y = 2x + λ Sendo assim Aλ λ∈R ´e uma fam´ılia de subconjuntos do R2 , onde cada conjunto Aλ ´e uma reta. Por exemplo, R
3
A√
A0 3
q A−1
−3q
−2q
−1q
2
q
1
q q1
0
p−1 √ λ= 3
λ=0
p−2
λ=−1
596
q2
q3
R
Opera¸ co ˜es Generalizadas As opera¸c˜ oes de uni˜ ao e intersec¸c˜ao de conjuntos, originalmente definidas para dois conjuntos, agora podem ser generalizadas. ao dos memSeja Ai i∈I uma fam´ılia de subconjuntos de A. Para a uni˜ bros desta fam´ılia usaremos uma das seguintes nota¸c˜oes: [ [ [ Ai ; Ai ; Ai : i ∈ I . i∈I
S´ o usaremos a segunda das nota¸c˜oes acima, quando o conjunto de ´ındices estiver fixado em um determinado contexto. Pois bem, por defini¸c˜ ao, temos: [ Ai = x : x ∈ Ai , para algum i ∈ I i∈I
Por exemplo, consideremos a fam´ılia Aλ λ∈R do exemplo 3 dado anteriormente. Temos [ Aλ = (x, y) : (x, y) ∈ Aλ , para algum λ ∈ R = R2 . λ∈R
Porquanto dado qualquer (a, b) ∈ R2 este ponto pertence ao Aλ para λ = b − 2a. Quando o conjunto de ´ındices for I = { 1, 2, . . . , n } ou I = N ent˜ao escrevemos ∞ n [ [ Ai Ai ; i=1
i=1
para indicar a uni˜ ao das fam´ılias A1 , A2 , . . . , An e A1 , A2 , . . . , An , . . . respectivamente. Por exemplo, ∞ [
i=1
0,
1 = [ 0, 1 ]. i
De modo an´ alogo, para a intersec¸c˜ao dos membros da fam´ılia Ai usaremos uma das nota¸c˜ oes abaixo: \ \ \ Ai ; Ai ; Ai : i ∈ I .
i∈I
i∈I
S´ o usaremos a segunda das nota¸c˜oes acima, quando o conjunto de ´ındices estiver fixado em um determinado contexto. Pois bem, por defini¸c˜ ao, temos: \ Ai = x : x ∈ Ai , para todo i ∈ I i∈I
597
Quando o conjunto de ´ındices for I = { 1, 2, . . . , n } ou I = N ent˜ao escrevemos ∞ n \ \ Ai Ai ; i=1
i=1
para a intersec¸c˜ ao das fam´ılias A1 , A2 , . . . , An respectivamente. Por exemplo, ∞ \
0,
i=1
e A1 , A2 , . . . , An , . . . ,
1 = { 0 }. i
Fica como exerc´ıcio a comprova¸c˜ao desta intersec¸c˜ao. As leis distributivas tamb´em s˜ ao v´alidas para opera¸c˜oes generalizadas: Proposi¸ c˜ ao 136. Consideremos uma fam´ılia Ai i∈I de subconjuntos de um dado conjunto A e B ⊂ A. Ent˜ ao \ \ B ∪ Ai (i) B ∪ Ai = i∈I
i∈I
(ii) B ∩
[
i∈I
[ B ∩ Ai Ai = i∈I
Prova: Mostraremos a primeira destas identidades. T T ∈ B ou x ∈ i ∈ I Ai . Se x ∈ B (⊂) De fato, seja x ∈ B ∪ i ∈ I Ai ent˜ao x T ent˜ ao xT ∈ B ∪ Ai para todo i ∈ I, e da´ı x ∈ i ∈ I B ∪ Ai . Por outro lado se x ∈ i ∈ I Ai ent˜ ao x ∈TAi para todo i ∈ I, logo x ∈ B ∪ Ai para todo i ∈ I, no que implica x ∈ i ∈ I B ∪ Ai . T (⊃) De fato, seja y ∈ i ∈ I B ∪ Ai , ent˜ao y ∈ B ∪ Ai para todo i ∈ I. Logo y ∈TB ou x ∈ Ai para todo i ∈ I; em qualquer dos casos temos x∈B∪ i ∈ I Ai . As leis de De Morgan tamb´em s˜ ao v´alidas para opera¸c˜oes generalizadas: Proposi¸ c˜ ao 137. Consideremos uma fam´ılia Ai i∈I de subconjuntos de um dado conjunto A. Ent˜ ao (i)
[
Ai
\
Ai
i∈I
(ii)
i∈I
c
=
c
=
\
Aci
[
Aci
i∈I
598
i∈I
Prova: Mostraremos a primeira destas identidades. c S S ent˜ao x 6∈ i ∈ I Ai o que significa que (⊂) De fato, seja x ∈ i ∈ I Ai x 6∈ TAi para todo i ∈ I. Logo x ∈ Aci para todo i ∈ I, resultando que x ∈ i ∈ I Aci T (⊃) De fato, seja y ∈ i ∈ I Aci ent˜ aoS y ∈ Aci para todo i ∈ I. No que c S implica que y 6∈ Ai para todo i ∈ I, logo y 6∈ i ∈ I Ai , no que resulta y ∈ i ∈ I Ai . A seguinte proposi¸c˜ ao ser´ a de alguma utilidade Proposi¸ c˜ ao 138. Seja A um conjunto qualquer e, para [ cada x ∈ A, seja Gx um subconjunto de A tal que x ∈ Gx . Ent˜ ao A = Gx . x∈A
Prova:
(⊂) Seja p ∈ A. Ent˜ ao p ∈ Gp , portanto, p ∈ (⊃) Seja q ∈
[
x∈A
[
Gx .
x∈A
Gx . Ent˜ ao, existe x0 ∈ A de modo que q ∈ Gx0 ⊂ A; disto
concluimos pela validade da inclus˜ao desejada.
Proposi¸ c˜ ao 139. Seja Ai uma fam´ılia indexada e i0 ∈ I um ´ındice i∈I fixado. Ent˜ ao, \ [ Ai ⊂ Ai0 ⊂ Ai . i∈I
i∈I
Prova: T Seja xT∈ i ∈ I Ai ; ent˜ ao, x ∈ Ai para todo i ∈ I. Em particular x ∈ Ai0 . Logo, i ∈ I Ai ⊂ Ai0 . S S Seja agora y ∈ Ai0 . Como i0 ∈ I, resulta y ∈ i ∈ I Ai . Da´ı Ai0 ⊂ i ∈ I Ai . Imagens Diretas e Inversas de Conjuntos Indexados Proposi¸ c˜ ao 140. Consideremos uma fun¸ca ˜o f : A −→ B, uma fam´ılia de subconjuntos de A e uma fam´ılia Bj de subconjuntos de B. Ai i∈I j∈J Ent˜ ao, (i) f ∪ Ai = ∪ f Ai (ii) f ∩ Ai ⊂ ∩ f Ai (iii) f −1 ∪ Bj = ∪ f −1 Bj (iv) f −1 ∩ Bj ⊂ ∩ f −1 Bj
Prova: Provemos as assertivas (i) e (iii). Ent˜ao, (i) (⊂) Seja f (x) ∈ f ∪i∈I Ai ; pela defini¸c˜ao de imagem direta x ∈ ∪i∈I Ai . 599
(p. 591),
novamente pela Sendo assim x ∈ Ai′ para algum i′ ∈ I, acarretando; defini¸c˜ ao de imagem direta, que f (x) ∈ f Ai′ no que resulta f (x) ∈ ∪i∈I f Ai .
(⊃) An´alogo. (iii) (⊂) Seja x ∈ f −1 ∪ Bj ; pela defini¸c˜ao de imagem inversa (p. 593), f (x) ∈ ∪j∈J Bj . Sendo assim f (x) ∈ Bj′ para algum j ′ ∈ J, acarretando; novamente pela defini¸c˜ ao de imagem inversa, que x ∈ f −1 Bj′ , da´ı resulta x ∈ ∪j∈J f −1 Bj .
(⊃) An´alogo.
10.3
T´ opicos em An´ alise
M´ odulo (Valor Absoluto) Se x ∈ R e x 6= 0, ent˜ao um dos n´ umeros, x ou −x, ´e estritamente positivo. Defini¸ c˜ ao 78. Se x ∈ R, chamaremos m´ odulo de x (ou ainda: valor absoluto de x) e designaremos por |x| o maior dos n´ umeros x e −x; assim, por defini¸ca ˜o: |x| = max{ −x, x }. ´ f´acil ver que esta igualdade ´e equivalente a E x, se x ≥ 0; |x| = −x, se x < 0.
Equa¸c˜ ao esta que tamb´em ´e usada como defini¸c˜ao do m´ odulo de x. Decorre trivialmente que |0| = 0. Intuitivamente ´e f´acil constatar que, na interpreta¸c˜ao geom´etrica dos reais, o m´ odulo do n´ umero x exprime (na unidade considerada) a distˆ ancia do ponto x, ` a origem do referencial, isto ´e, ao ponto O, correspondente ao n´ umero 0, assim:
r
−x
|x|=x
|−x|=−(−x)
q0
r
x
A seguir listamos algumas propriedades do m´ odulo. 600
R
Proposi¸ c˜ ao 141. Temos: (a) |x| = 0, se e somente se, x = 0. (b) | − x| = |x| para todo x ∈ R. (c) |x · y| = |x| · |y| para todo x, y ∈ R. x |x| (d) Se y 6= 0, = . y |y|
(e) Se c ≥ 0, ent˜ ao |x| ≤ c, se e somente se, −c ≤ x ≤ c. (f ) −|x| ≤ x ≤ |x| para todo x ∈ R. Prova: (a) Decorre trivialmente da defini¸c˜ao de m´ odulo. (b) |x| = max{ −x, x } = max
− (−x), −x
= | − x|
(c) Se x > 0 e y > 0, ent˜ ao x · y > 0, de modo que |x · y| = x · y = |x| · |y|. Se x > 0 e y < 0, ent˜ ao x · y < 0, de modo que |x · y| = −(x · y) = x · (−y) = |x| · |y|. Os demais casos s˜ ao tratados de modo an´ alogo. (d) Sendo y 6= 0 vale
x=y·
x y
e portanto, pelo ´ıtem anterior: x |x| = |y| · | |; y desta desigualdade (e tendo em conta que |y| = 6 0, por ser y 6= 0) decorre que: x |x| = y |y| .
(e) Temos
|x| ≤ c ⇒
x≤c e −x≤c
( x≤c ⇒ x ≥ −c
pois |x| = max{ −x, x }
⇒ −c ≤ x ≤ c.
Rec´ıprocamente, se esta u ´ltima desigualdade se verifica, ent˜ao x ≤ c e −x ≤ c, donde |x| ≤ c. (f ) Basta por c = |x| e utilizar o ´ıtem anterior. 601
As pr´ oximas desigualdades s˜ ao utilizadas com bastante frequˆencia: Proposi¸ c˜ ao 142 (Desigualdade triangular). Se x e y s˜ ao n´ umeros reais quaisquer, ent˜ ao |x| − |y| ≤ |x ± y| ≤ |x| + |y|. Prova: Utilizando os ´ıtens (f ) e (e) da proposi¸c˜ao 141, obtemos −|x| ≤ x ≤ |x| −|y| ≤ y ≤ |y|
+ :
− |x|+|y| ≤ x+y ≤ |x|+|y|
(e) =⇒ |x+y| ≤ |x|+|y|.
Esta u ´ltima desigualdade ´e conhecida como desigualdade triangular. Por outro lado, |x| = (x − y) + y ≤ |x − y| + |y| =⇒ |x| − |y| ≤ |x − y| |y| = (y − x) + x ≤ |y − x| + |x| =⇒ |y| − |x| ≤ |y − x|
Sendo assim, temos |x − y| ≥ |x| − |y|
|y − x| ≥ − |x| − |y|
=⇒ |x − y| ≥ |x| − |y| .
Esta ´e a primeira desigualdade com o sinal menos. Para obter a desigualdade com o sinal mais, substituimos (nesta u ´ltima desigualdade) y por −y.
Da defini¸c˜ ao de intervalo aberto e da proposi¸c˜ao 141, ´ıtem (e), decorrem as seguintes equivalˆencias: x ∈ ] a − r, a + r [ ⇐⇒ a − r < x < a + r ⇐⇒ −r < x − a < r ⇐⇒ |x − a| < r. Em resumo: x ∈ ] a − r, a + r [ ⇐⇒ |x − a| < r Esta equivalˆencia ´e interpretada da seguinte forma: x pertence ao intervalo aberto de “centro a e raio r” se, e somente se, a distˆ ancia de x a a n˜ ao excede r. Geometricamente tudo se passa como na figura a seguir:
] a−r
s
x
|x−a|
qa 602
[ a+r
R
10.3.1
Teoremas e Defini¸c˜ oes da An´ alise Real
A seguir enunciamos alguns resultados da An´alise Real (AR) para futuras referˆencias. A prova destes resultados ´e pertinente `a An´alise. Um resultado frequentemente invocado ´e o teorema de Weierstrass∗ dado a seguir: Teorema[AR] 1 (Weierstrass). Toda fun¸ca ˜o cont´ınua f : [ a, b ] −→ R ´e limitada e assume valores m´ aximo e m´ınimo. (isto ´e, existem x1 e x2 ∈ [ a, b ] tais que f (x1 ) ≤ f (x) ≤ f (x2 ) para todo x ∈ [ a, b ].) Teorema[AR] 2. Sejam f e g duas fun¸co ˜es cujos dom´ınios contenham o intervlo I e suponha-se que f (x) = g(x) em cada ponto x ∈ I, com exce¸ca ˜o dos pontos de um conjunto finito. Ent˜ ao f ´e integr´ avel em I se, e s´ omente se, g o fˆ or e, nesta hip´ otese, Z Z f= g I
I
Teorema[AR] 3. Suponha-seP que, para todo n ∈ N, se tem 0 ≤ an ≤ bn . P Se bn ´e convergente, ent˜ ao an ´e tamb´em convergente. P P Teorema[AR] P 4. Se as P s´eries an e bn convergem e k ´e um n´ umero qualquer, ent˜ ao kan e (an + bn ) convergem e X
kan = k
X
an e
X
(an + bn ) =
X
an +
X
bn .
P Teorema[AR] 5. Sendo convergente a s´erie |an |, ´e tamb´em convergente P a s´erie an e tem-se ainda ∞ ∞ X X |an |. an ≤ n=1
n=1
Teorema[AR] 6. Se lim xn = a ent˜ ao lim |xn | = |a|. Esta assertiva pode ser reformulada como segue: Se (xn ) ´e uma sequˆencia convergente ent˜ ao lim |xn | = | lim xn |. Teorema[AR] 7 (Passagem ao limite numa desigualdade). Sejam (xn ) e (yn ) sequˆencias convergentes. Se a condi¸ca ˜o xn ≤ yn ´e verificada por infinitos valores de n ent˜ ao lim xn ≤ lim yn . ∗
Karl Weierstrass (1815 − 1897) foi durante muitos anos professor em Berlim, e exerceu profunda influˆencia no desenvolvimento da An´ alise. Sempre insistindo em demonstra¸c˜ oes rigorosas, elaborou, mas n˜ ao publicou, uma introdu¸c˜ ao ao sistema de n´ umeros reais. Deu tamb´em importantes contribui¸c˜ oes ` a An´ alise Real e Complexa, ` as equa¸c˜ oes diferenciais e ao c´ alculo das varia¸c˜ oes.
603
Teorema[AR] 8. Se f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, b], ent˜ ao Rb a g(x).
Rb a
f (x) ≤
Teorema[AR] 9. Se f ≥ 0 ´e uma fun¸ca ˜o cont´ınua num intervalo [ a, b ], Rb com f (c) > 0 em algum ponto c ∈ [ a, b ], ent˜ ao a f > 0.
Defini¸ c˜ ao 79 (Continuidade Uniforme). Uma fun¸ca ˜o f : X → R diz-se uniformemente cont´ınua no conjunto X quando, para todo ε > 0 dado arbitrariamente, pode-se exibir δ > 0 de modo que x, y ∈ X, |x − y| < δ ⇒ |f (x) − f (y)| < ε.
Teorema[AR] 10. Seja X ⊂ R limitado e fechado. Toda fun¸ca ˜o cont´ınua f : X → R ´e uniformemente cont´ınua. Defini¸ c˜ ao 80 (Convergˆencia Simples ou Pontual). Diz-se que a sequˆencia de fun¸co ˜es fn : X → R converge simplesmente (ou pontualmente) para a fun¸ca ˜o f : X → R quando, para cada x ∈ X arbitrariamente fixado, a sequˆ e ncia de n´ umeros reais fn (x) converge para o n´ umero f (x). Ou seja, para todo x ∈ X fixado, tem-se lim fn (x) = f (x). n→∞
Defini¸ c˜ ao 81 (Convergˆencia Uniforme). Diz-se que uma sequˆencia de fun¸co ˜es (fn ) converge uniformemente para uma fun¸ca ˜o f num dom´ınio D se, dado qualquer ε > 0, existe um ´ındice n0 tal que, para todo x ∈ D, n ≥ n0 ⇒ |fn (x) − f (x)| < ε. Teorema[AR] 11. Se (fn ) ´e uma sequˆencia de fun¸co ˜es cont´ınuas num mesmo dom´ınio D, que converge uniformemente para uma fun¸ca ˜o f , ent˜ ao f ´e cont´ınua em D. Teorema[AR] 12 (Teorema do Valor M´edio, de Lagrange). Se f : [ a, b ] → R ´e cont´ınua e, se f ´e diferenci´ avel em cada ponto do intervalo ] a, b [, ent˜ ao existe um ponto c ∈ ] a, b [, tal que f ′ (c) =
f (b) − f (a) . b−a
Teorema[AR] 13 (Teorema dos intervalos encaixados). Seja [ a1 , b1 ] ⊃ [ a2 , b2 ] ⊃ · · · ⊃ [ an , bn ] ⊃ · · · uma sequˆencia de intervalos fechados, n˜ ao-vazios e encaixados. Suponha, ademais, que a sucess˜ ao (bn − an ) dos comprimentos de tais intervalos tende a 0. Ent˜ ao, existe um u ´nico ponto comum a todos estes intervalos. 604
10.3.2
Supremo e ´Infimo
Os conceitos de supremo e ´ınfimo s˜ ao da m´ axima importˆ ancia tanto na an´ alise real quanto na teoria dos espa¸cos m´etricos. O leitor n˜ ao tenha a ilus˜ ao de ir muito longe na matem´ atica sem uma perfeita compreens˜ao destes conceitos. Antes definiremos Defini¸ c˜ ao 82 (Cota Superior/Cota Inferior). Seja K um subconjunto qualquer de R. (i) Diz-se que um elemento µ ∈ R ´e cota superior de K se µ ≥ k para todo k ∈ K. (ii) Diz-se que um elemento ν ∈ R ´e cota inferior de K se ν ≤ k para todo k ∈ K. Uma primeira observa¸c˜ ao importante ´e que a cota superior de um conjunto (se existir) pode ou n˜ ao pertencer ao conjunto. Por exemplo, o n´ umero real 1 ´e cota superior dos conjuntos K = [ 0, 1 ] e J =] 0, 1 [ mas pertence a K e n˜ ao a J. Observa¸c˜ ao an´ aloga vale para o ´ınfimo. Note-se que nem sempre um subconjunto K ⊂ R tem uma cota superior ou uma cota inferior. Por exemplo Z ⊂ R ´e um de tais conjuntos. Todavia, se um conjunto tem uma cota superior, ent˜ao admite uma infinidade delas. De fato, se µ ´e uma cota superior de K, o mesmo se d´ a com µ + n, para todo n ∈ N. Quando um conjunto admite cota superior, dizemos que ele ´e cotado superiormente, e quando admite cota inferior, dizemos que ´e cotado inferiormente. Um conjunto dotado de cota superior e de cota inferior diz-se simplesmente cotado. Um conjunto que n˜ ao admite cota superior, ou inferior, diz-se n˜ ao-cotado. Por exemplo, Conjunto
Status
a)
Z
N˜ao cotado
b)
N
Cotado inferiormente
c) d)
] − ∞, 1 ] ] − 1, 1 ]
Cotado superiormente Cotado
Defini¸ c˜ ao 83 (Supremo). Seja K um subconjunto qualquer de R. Se K ´e cotado superiormente, uma cota superior de K se diz supremo de K se ´e menor do que qualquer outra cota superior de K. 605
Em outras palavras: Um n´ umero µ ∈ R se diz supremo de um subconjunto K de R se satisfaz as duas condi¸c˜oes: (i) x ≤ µ para todo x ∈ K; (ii) se λ ´e um n´ umero tal que x ≤ λ para todo x ∈ K, ent˜ao µ ≤ λ.
De fato, pela condi¸ca˜o (i), µ ´e uma cota superior de K, e pela (ii), µ ´e menor que qualquer outra cota superior de K. O supremo µ de um subconjunto K de R, se existir, ´e u ´nico. De fato, se µ1 e µ2 s˜ ao supremos de K, ent˜ao ambos verificam as condi¸c˜oes (i) e (ii) acima, logo µ1 ≤ µ2 e µ2 ≤ µ1 , donde µ1 = µ2 . Nota¸ca ˜o: Se µ for o supremo de K, escrevemos: µ = sup K. A seguinte caracteriza¸c˜ao do supremo ´e u ´til em muitas situa¸c˜oes:
Lema 10. Seja K ⊂ R. µ = sup K se, e somente se, µ for uma cota superior de K e, dado ε > 0, existe k ∈ K tal que µ − ε < k. Prova: (⇒) Se µ =sup K e ε > 0 ent˜ ao existe k ∈ K de modo que µ − ε < k. Vamos provar isto utilizando a t´ecnica (T − 4) (p. 571). Fa¸camos H1 : ε > 0 ⇒ T : ∃ k ∈ K : µ − ε < k. H : µ =sup K 2 ¯2 H1 ∧ T¯ =⇒ H
Suponha que n˜ ao exista k ∈ K satisfazendo µ − ε < k. Isto ´e, suponha que µ − ε ≥ k para todo k ∈ K. Ora, se k ≤ µ − ε para todo k ∈ K, significa que µ − ε ´e uma cota superior de K. Uma vez que ε > 0 temos que µ − ε < µ, logo n˜ ao temos µ =sup K (porquanto µ n˜ ao ´e a menor das cotas superiores de K). (⇐) Se µ ´e uma cota superior de K e para todo ε > 0 dado existe k ∈ K satisfazendo µ − ε < k ent˜ ao µ =sup K. Ainda mais uma vez utilizemos a t´ecnica (T − 4). Fa¸camos H1 : µ ´e cota superior de K.
H : ∀ ε > 0 ∃ k ∈ K : µ − ε < k. 2
⇒
T:
µ =sup K.
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Suponhamos µ cota superior de K e µ 6=sup K. Logo, µ n˜ ao ´e a menor das cotas superiores de K. Portanto existe ε > 0 tal que µ−ε ´e cota superior de K; o que traz como consequˆencia que existe ε > 0 de modo que µ − ε ≥ k para todo k ∈ K. Isto ´e exatamente o que busc´avamos: a nega¸c˜ao de H2 . 606
Vejamos algumas aplica¸c˜ oes do lema anterior: Exemplos: 1) Encontre o supremo de K = x ∈ R : 0 < x < 1 =] 0, 1 [. Vamos mostrar que a cota superior µ = 1 ´e o supremo de K. Para tanto ´e suficiente − consoante o lema anterior (⇐) − para todo ε > 0 exibir x ∈ K de modo que 1 − ε < x. Para isto consideremos duas possibilidades:
a) ε ≥ 1. Se ε ≥ 1 temos 1− ε ≤ 0. Neste caso, tomando por exemplo x = 1/2, resulta 1 1−ε ≤0
b) 0 < ε < 1. Neste caso temos 0<ε<1
⇐⇒ ⇐⇒ ⇐⇒
0 > −ε > −1 −1 < −ε < 0 0 < 1 − ε < 1.
] 0
r
[
↑
1
1−ε
Vamos tomar, por exemplo, o ponto m´edio entre 1 − ε e 1, isto ´e x=
1−ε+1 2
=1−
]
ε 2
0
r
↑
1−ε
r
↑
x
e mostremos que este ponto satisfaz as duas condi¸c˜oes desejadas: 1 a ) x ∈ K. Pois 0<1−
ε < 1 ⇐⇒ 0 < ε < 2. 2
e, por hip´ otese, ε < 1. a 2 ) 1 − ε < x. Pois 1−ε <1−
ε ε ⇐⇒ ε > . 2 2
Resumindo: dado ε > 0 tomamos ( 1 , se ε ≥ 1; xε = 2 ε 1 − 2 , se 0 < ε < 1. e teremos xε ∈ K e 1 − ε < xε , o que prova que sup ] 0, 1 [= 1.
2) Mostre que sup K = 1, onde K=
n1 2 3 o n , , , ··· , , ··· . 2 3 4 n+1 607
[ 1
n Temos que n+1 < 1 para todo n natural. Sendo assim 1 ´e uma cota superior de K. Consoante o lema anterior, dado ε > 0 devemos exibir um x ∈ K de modo que 1−ε < x. Ou ainda: para todo ε > 0 devemos encontrar n ∈ N de modo que n 1−ε< . n+1 Esta desigualdade ´e satisfeita para todo n natural se 1 − ε < 0 (ε > 1). Sendo assim consideremos 1 − ε ≥ 0 (ε ≤ 1). Ent˜ao,
1−ε<
n ⇐⇒ (1 − ε)(n + 1) < n n+1 1−ε ⇐⇒ n > . ε
Assim, dado ε > 0, escolhemos um natural nε > 1−ε<
1−ε ε
e teremos
nε . nε + 1
o que prova ser sup K = 1. Proposi¸ c˜ ao 143. Se µ for uma cota superior de K e µ ∈ K ent˜ ao µ = sup K. Prova: Por defini¸ca˜o de sup K (e tendo em conta que µ ´e uma cota superior de K) podemos escrever x ≤ sup K ≤ µ, ∀ x ∈ K. Como, por hip´ otese, µ ∈ K temos em particular que µ ≤ sup K ≤ µ, donde µ = sup K. A proposi¸c˜ ao que acabamos de provar nos permite obter alguns supremos a “olho nu”. Por exemplo, sup ] 0, 1 ] = 1. Porquanto 1 ´e cota superior de ] 0, 1 ] e pertence a este conjunto. Como mais um exemplo, consideremos n1 1 o 1 K= , , ··· , n, ··· 2 4 2
Ent˜ ao, sup K = 1/2. Isto se deve a que 1 ´ e cota superior de K e pertence a K. 2
1 2n
≤
1 2
para todo n natural. Isto ´e,
Defini¸ c˜ ao 84 (´Infimo). Seja K um subconjunto qualquer de R. Se K ´e cotado inferiormente, uma cota inferior de K se diz ´ınfimo de K se ´e maior do que qualquer outra cota inferior de K. Em outras palavras: Um n´ umero ν ∈ R se diz ´ınfimo de um subconjunto K de R se satisfaz as duas condi¸c˜oes: 608
(i) x ≥ ν para todo x ∈ K; (ii) se λ ´e um n´ umero tal que x ≥ λ para todo x ∈ K, ent˜ao ν ≥ λ.
De fato, pela condi¸c˜ ao (i), ν ´e uma cota inferior de K, e pela (ii), ν ´e maior que qualquer outra cota inferior de K. O ´ınfimo ν de um subconjunto K de R, se existir, ´e u ´nico. De fato, se ν1 e ν2 s˜ ao ´ınfimos de K, ent˜ ao ambos verificam as condi¸c˜oes (i) e (ii) acima, logo ν1 ≥ ν2 e ν2 ≥ ν1 , donde ν1 = ν2 . Nota¸ca ˜o: Se ν for o ´ınfimo de K, escrevemos: ν = inf K. A seguinte caracteriza¸c˜ ao do ´ınfimo ´e u ´til em muitas situa¸c˜oes:
Lema 11. Seja K ⊂ R. ν = inf K se, e somente se, ν for uma cota inferior de K e, dado ε > 0, existe k ∈ K tal que k < ν + ε. Prova:
(⇒) Se ν = inf K e ε > 0 ent˜ ao existe k ∈ K de modo que k < ν + ε. Vamos provar isto utilizando a t´ecnica (T − 4) (p. 571). Fa¸camos H1 : ε > 0 ⇒ T : ∃ k ∈ K : k < ν + ε. H : ν = inf K 2 ¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Suponha que n˜ ao exista k ∈ K satisfazendo k < ν + ε. Isto ´e, suponha que k ≥ ν + ε para todo k ∈ K. Ora, se k ≥ ν + ε para todo k ∈ K, significa que ν + ε ´e uma cota inferior de K. Uma vez que ε > 0 temos que ν + ε > ν, logo n˜ ao temos ν = inf K (porquanto ν n˜ ao ´e a maior das cotas inferiores de K). (⇐) Se ν ´e uma cota inferior de K e para todo ε > 0 dado existe k ∈ K satisfazendo k < ν + ε ent˜ ao ν = inf K. Ainda mais uma vez utilizemos a t´ecnica (T − 4). Fa¸camos H1 : ν ´e cota inferior de K.
H : ∀ ε > 0 ∃ k ∈ K : k < ν + ε. 2
⇒
T:
ν = inf K.
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Suponhamos ν cota inferior de K e ν 6= inf K. Logo, ν n˜ ao ´e a maior das cotas inferiores de K. Portanto existe ε > 0 tal que ν + ε ´e cota inferior de K; o que traz como consequˆencia que existe ε > 0 de modo que k ≥ ν + ε para todo k ∈ K. Isto ´e exatamente o que busc´avamos: a nega¸c˜ao de H2 . 609
Vejamos algumas aplica¸c˜oes do lema anterior: Exemplos 1) Encontre o ´ınfimo de K = x ∈ R : 0 < x < 1 = ] 0, 1 [. Vamos mostrar que a cota inferior ν = 0 ´e o ´ınfimo de K. Para tanto ´e suficiente − consoante o lema anterior (⇐) − para todo ε > 0 exibir x ∈ K de modo que x < 0 + ε. Para isto consideremos duas possibilidades: a) ε ≥ 1. Se ε ≥ 1 qualquer x ∈ K serve aos nossos prop´ositos, porquanto x ∈ K ⇒ 0 < x < 1 ≤ ε. b) 0 < ε < 1. Neste caso ´e suficiente tomar xε = 2ε , porquanto 1 ε < 2 2 ⇒ 0 < xε < 1 e xε < ε.
0<ε<1 ⇒ 0< 2) Encontre inf K, onde K=
n
1,
o 1 1 1 , , ··· , , ··· 2 3 n
Sendo n1 > 0, para todo n natural, temos que 0 ´e uma cota inferior de K. Para mostrar que 0 = inf K ´e suficiente exibir um x ∈ K de modo que x < 0 + ε qualquer que seja o ε > 0. Pois bem, dado ε > 0 escolhamos um natural n0 satisfazendo∗ n0 · ε > 1, isto ´e, n1 < ε. Logo x = n1 serve. 0
0
3) Encontre inf K, onde
K=
1 1 1 1, , , · · · , 2 , · · · 4 8 n
Sendo n12 > 0, para todo n natural, temos que 0 ´e uma cota inferior de K. Para mostrar que 0 = inf K ´e suficiente exibir um x ∈ K de modo que x < 0 + ε qualquer que seja o ε > 0. Pois bem, dado ε > 0 escolhamos um ao natural n0 satisfazendo n0 · ε > 1, isto ´e, n1 < ε. Observe que este n0 n˜ encerra a quest˜ ao pois x =
1 n0
0
pode n˜ ao pertencer a K. Mas com certeza
n20 serve aos nossos prop´ositos uma vez que 1 1 ≤ < ε. 2 n0 n0
∗
Este natural sempre existe, conforme veremos logo mais.
610
Proposi¸ c˜ ao 144. Se ν for uma cota inferior de K e ν ∈ K ent˜ ao ν = inf K. Prova: Por defini¸c˜ ao de inf K (e tendo em conta que ν ´e uma cota inferior de K) podemos escrever ν ≤ inf K ≤ x, ∀ x ∈ K. Como, por hip´ otese, ν ∈ K temos em particular que ν ≤ inf K ≤ ν, donde ν = inf K. A proposi¸c˜ ao que acabamos de provar nos permite obter alguns ´ınfimos a “olho nu”. Por exemplo, inf [ 0, 1 [ = 0. Porquanto 0 ´e cota inferior de [ 0, 1 [ e pertence a este conjunto. Proposi¸ c˜ ao 145. Se A ⊂ B ⊂ R ent˜ ao, inf B ≤ inf A ≤ sup A ≤ sup B. (supondo-se que estes quatro n´ umeros existam.) Prova: Vamos separar a prova em algumas etapas. 1 a ) inf B ≤ inf A. Suponha o contr´ ario, isto ´e, que inf A < inf B. Como inf A ´e a maior das cotas inferiores de A esta desigualdade implica que inf B n˜ ao ´e uma cota inferior de A logo, por defini¸c˜ ao de cota inferior, existe x ∈ A de modo que x < inf B. Como, por hip´ otese, A ⊂ B temos que x ∈ B e x < inf B. Isto nos diz que inf B n˜ ao ´e uma cota inferior de B. Piada! 2 a ) inf A ≤ sup A. Pela defini¸c˜ ao de sup e inf, para todo x ∈ A temos
inf A ≤ x ≤ sup A =⇒ inf A ≤ sup A. 3 a ) sup A ≤ sup B.
Suponha, ao contr´ ario, que sup B < sup A. Como sup A ´e a menor das cotas superiores de A esta desigualdade implica que sup B n˜ ao ´e cota superior de A; logo existe x ∈ A de modo que x > sup B. Como, por hip´ otese, A ⊂ B temos que x ∈ B e x > sup B. Isto nos diz que sup B n˜ ao ´e uma cota superior de B. Piada!
A Propriedade de Completeza Estudaremos agora a propriedade mais importante do sistema de n´ umeros reais. Ali`as ´e justamente esta propriedade que diferencia este sistema do sistema de n´ umeros racionais. Esta propriedade se constitui no alicerce sobre o qual se constr´oi todo o edif´ıcio da an´ alise real. 611
Axioma do Supremo: “Qualquer subconjunto de R n˜ ao vazio e cotado superiormente tem um supremo”. De posse deste axioma pode-se provar (exerc´ıcio) a seguinte Proposi¸ c˜ ao 146. Qualquer subconjunto de R n˜ ao vazio e cotado inferiormente tem um ´ınfimo. Uma das propriedades mais triviais e, n˜ ao obstante, das mais u ´teis de toda a matem´ atica ´e considerada a seguir A Propriedade Arquimediana Uma importante consequˆencia do Axioma do Supremo ´e que o subconjunto N dos n´ umeros naturais n˜ ao ´e cotado superiormente em R. Isto significa, em particular, que dado um real x, existe um n´ umero natural n que ´e maior do que x. Provemos isto: Proposi¸ c˜ ao 147 (Propriedade Arquimediana). Para todo x ∈ R existe um natural n = nx tal que nx > x. Prova: Suponha que a tese n˜ ao se verifica, isto ´e, para todo n natural ocorre n ≤ x. Sendo assim N ´e cotado superiormente. Pelo axioma do supremo existe µ = sup N. Como µ − 1 < µ segue que µ − 1 n˜ ao pode ser cota superior de N. Sendo assim existe um natural n0 satisfazendo n0 > µ−1, ent˜ ao µ < n0 + 1. Como n0 + 1 ´e natural isto contradiz o fato de ser µ o supremo de N. Corol´ ario 50. Se x, y ∈ R, com x > 0, ent˜ ao (a) Existe n ∈ N de modo que n · x > y; (b) Existe n ∈ N de modo que 0 <
1 < x; n
(c) Existe n ∈ N de modo que n − 1 ≤ x < n. Prova: (a) Pela proposi¸c˜ ao 147 existe um n ∈ N de modo que n > y/x, da´ı n·x > y. (b) Ainda pela mesma proposi¸c˜ao existe um n ∈ N de modo que 0 < 1 da´ı 0 < < x. n
1 x
< n,
(c) A propriedade arquimediana nos assegura que existem n´ umeros naturais n tais que x < n. Seja n0 o menor desses n´ umeros naturais∗ . Ent˜ao n0 − 1 ≤ x < n0 . ∗ Estamos invocando o Princ´ıpio da Boa Ordena¸c˜ ao: “Todo subconjunto n˜ ao-vazio de n´ umeros naturais possui um menor elemento”.
612
O ´ıtem (c) acima, nos diz que todo real positivo situa-se entre dois naturais consecutivos. Como mais uma aplica¸c˜ ao da propriedade arquimediana vamos provar a Proposi¸ c˜ ao 148. Sejam a, b, ε ∈ R. Se ∀ ε > 0, a − ε ≤ b ent˜ ao a ≤ b.
Prova: A prova ser´ a feita segundo a t´ecnica (T − 1) (p. 570). Assumindo a nega¸c˜ ao da tese, vamos mostrar que existe um ε > 0 de modo que a−ε > b. De fato, supondo a > b temos que a − b > 0. Pela propriedade arquimediana existe n0 natural de modo que n1 < a − b. Tomemos ε = n1 . Ent˜ao 0
ε=
0
1 < a − b ⇒ a − ε > b. n0
o que contradiz a hip´ otese.
Conjuntos Densos Vamos definir agora um importante conceito topol´ogico: Defini¸ c˜ ao 85 (Densidade). Um subconjunto X ⊂ R chama-se denso em R quando todo intervalo aberto ] a, b [ cont´em algum ponto de X. Mostraremos agora que entre dois reais distintos quaisquer existe um racional e um irracional (a bem da verdade, infinitos racionais e infinitos irracionais!), isto ´e, mostraremos que o conjunto Q dos n´ umeros racionais e o conjunto Qc dos n´ umeros irracionais s˜ ao ambos densos em R. Proposi¸ c˜ ao 149. Sejam a e b n´ umeros reais, com a < b. (a) Ent˜ ao existe um racional r satisfazendo a < r < b; (b) Se µ ´e um irracional, ent˜ ao existe um racional s tal que o irracional µ · s satisfaz a < µ · s < b.
Prova: Sem perda de generalidade vamos supor a > 0 (caso seja a < 0 trabalhamos com −a > 0). (a) Como b − a > 0, existe − pelo corol´ ario 50 (b) − um natural m satisfazendo 0 < 1/m < b − a (⋆). Pelo corol´ ario 50 (c) aplicado a m · a, existe um natural n satisfazendo n n−1 ≤a< . n−1≤m·a
n−1 m
⇒
−a ≤
1−n m
⇒
n n ≥b ⇒ b≤ m m o que contraria a escolha de m feita em (⋆). 613
b−a≤
1−n 1 n + = . m m m
(b) Supondo 0 < a < b e µ > 0, decorre a/µ < b/µ. Logo, por (a), existe um racional s de modo que a/µ < s < b/µ. Donde, a < µ · s < b. ´ E f´acil mostrar que µ · s ´e irracional, assumindo que µ seja irracional e s seja racional. De fato, utilizando a t´ecnica (T − 4) (p. 571). Fa¸camos H1 :
s ´e racional
H : 2
⇒
µ ´e irracional
µ · s ´e irracional.
T:
¯ H1 ∧ T¯ =⇒ H 2
Suponha que µ · s seja racional; digamos, µ · s = r. Sendo assim µ = rs resulta racional, por ser o quociente de dois racionais. Para finalizar vamos rever, em uma outra forma por vezes u ´til, os conceitos de sup e inf: Defini¸ c˜ ao ( sup e inf ) Dada f : M → R, define-se: µ = sup f (x)
ν = inf f (x) x∈M
x∈M
atrav´es das propriedades: (i) f (x) ≤ µ
(ii)
∀ f (x′ )
f (x) ≥ ν
∀ f (x′ ) > ν
<µ ∃ x0 ∈ M t.q.
f (x0 ) > f (x′ )
f (x0 ) < f (x′ ) ∗
∗
∗
No meu entendimento uma das conclus˜oes mais importantes − para a humanidade −, a que um cientista j´a chegou ´e a que segue: Vocˆe, suas alegrias e tristezas, suas mem´ orias e ambi¸co ˜es, sua no¸ca ˜o de identidade e seu livre-arb´ıtrio nada mais s˜ ao do que a intera¸ca ˜o de um vasto conjunto de c´elulas nervosas. (Francis Crick/Fonte: Veja: 4 de Julho, 2012)
Por oportuno, em meu livro O Tao da Matem´ atica dendo algo parecido. 614
(p. 61),
estou defen-
10.3.3
Espa¸cos vetoriais
Aqui apenas aditaremos alguns complementos ao texto.
(p. 82)
Vejamos mais um importante exemplo de espa¸co vetorial. O espa¸co ℓ2 , +, ·
Consideremos o conjunto ℓ2 das sequˆencias de n´ umeros reais (xn ) Pagora ∞ 2 tais que a s´erie n=1 xn seja convergente, isto ´e ℓ2 =
n
(xn )n∈N ; xn ∈ R :
∞ X
n=1
x2n < ∞
o
Por exemplo, sendo 1 1 1 1 √ √ √ √ xn = , , ,... = 1, n 2 3 4 yn =
1
1 1 1 = 1, , , , . . . n 2 4 4
1 1 1 1 , , , . . . = 1, n2 4 9 16 P ∞ 1 2 Temos que (xn ) 6∈ P ℓ2 porquanto n=1 n diverge, enquanto yn , zn ∈ ℓ 1 devido a que a s´erie ∞ em pertencem a ℓ2 n=1 np para p > 1 converge. Tamb´ todas as sequˆencias da forma zn =
xn = (x1 , x2 , . . . , xk , 0, 0, 0, . . .); isto ´e, com termos nulos a partir de um certo ´ındice k. Sobre o conjunto ℓ2 construimos um espaco vetorial assim: dados (xn ), (yn ) ∈ 2 ℓ e λ ∈ R definimos (xn ) + (yn ) = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . .) λ · (xn ) = (λ x1 , λ x2 , . . .) No apˆendice isto ´e que
(p. 619)
mostramos que estas opera¸c˜oes est˜ ao bem definidas,
(xn ) + (yn ) ∈ ℓ2 e λ · (xn ) ∈ ℓ2 . podemos mostrar ainda que ℓ2 , +, · ´e um espa¸co vetorial. Para referˆencias futuras, destacaremos aqui o seguinte subconjunto de ℓ2 : C0 0 =conjunto das sequˆencias reais que s´ o possuem uma quantidade finita de termos n˜ ao nulos. 615
Temos que x = (x1 , x2 , x3 , . . . , xn , . . .) ∈ C0 0 se e, somente se, existe um ´ındice k = kx natural, de modo que xm = 0 para todo m > k. Ou ainda: uma sequˆencia pertence a C0 0 se, e somente se, todos os seus termos s˜ ao nulos a partir de uma certa ordem. Observe que C00 , +, · ´e um espa¸co vetorial. Dizemos, um subespa¸co vetorial de ℓ2 , +, · .
Segmento de reta em espa¸cos vetoriais Segmento de reta no espa¸ co Rn , +, ·
Consideremos a = (a1 , . . . , an ) e b = (b1 , . . . , bn ) dois pontos no Rn . Definimos segmento de reta de extremos a e b como sendo o conjunto [ a, b ] = x = (1 − t)a + t b ∈ Rn : t ∈ [ 0, 1 ] Observe que
t=0 t=1
⇒
⇒
x = (1 − 0)a + 0 b = a
x = (1 − 1)a + 1 b = b
Exemplos: (i) n = 2. Sejam a = (0, 0) e b = (1, 1). Temos [ a, b ] = x = (1 − t)a + t b ∈ Rn : t ∈ [ 0, 1 ]
(0, 0); (1, 1) = x = (1 − t)(0, 0) + t (1, 1) ∈ R2 : t ∈ [ 0, 1 ] = x = (t, t) ∈ R2 : t ∈ [ 0, 1 ] y 1
b
"
q
(1, 1)
տ
[ a, b ]
a
q1
(0, 0)
616
x
(ii) n = 3. Sejam a = (0, 1, 1) e b = (1, 0, 1). Temos [ a, b ] = x = (1 − t)a + t b ∈ Rn : t ∈ [ 0, 1 ]
(0, 1, 1); (1, 0, 1) = x = (1 − t)(0, 1, 1) + t (1, 0, 1) ∈ R2 : t ∈ [ 0, 1 ] = x = (t, 1 − t, 1) ∈ R2 : t ∈ [ 0, 1 ] z
1
#
b
"
q
(1, 0, 1)
a
(0, 1, 1)
q1
x
1− y
Segmento de reta em Espa¸ cos Quaisquer n A defini¸c˜ ao anterior para segmento de reta no espa¸ co R , +, · se estende sem dificuldade para um espa¸co vetorial E, +, · arbitr´ario: Dados a, b ∈ E o segmento de reta de extremos a e b, que se indica por [ a, b ] ´e o seguinte subconjunto de E: [ a, b ] = x = (1 − t)a + t b ∈ E : 0 ≤ t ≤ 1 . Exemplos:
(i) Seja M2 (R), +, · o espa¸co vetorial no qual M2 ´e o conjunto da matrizes quadradas de ordem 2 com elementos reais. Fa¸ca um esbo¸co do segmento de reta de extremos 2 1 0 −2 a= e b= . 3 0 3 4 Ent˜ao [ a, b ] =
x = (1 − t)
2 1 3 0
+t
Atribuindo alguns valores a t, obtemos 617
0 −2 3 4
∈ M2 : t ∈ [ 0, 1 ]
t= 12
t=0 s
↑
t=1 s
s
2 1 3 0
↑ 1 − 12 3 2
↑
0 −2 3 4
(ii) Seja C[ a, b ] o conjunto das fun¸c˜oes reais cont´ınuas definidas no intervalo fechado [ a, b ]. Consideremos o espa¸co vetorial constru´ıdo sobre este conjunto. Fa¸camos um esbo¸co do segmento de reta de extremos a : [ a, b ] −→ R e b : [ a, b ] −→ R x 7−→ 2x+4 x 7−→ 4x2 +6 Ent˜ ao [ a, b ] = x = (1 − t)a + t b ∈ C : t ∈ [ 0, 1 ] .
Atribuindo alguns valores a t, obtemos t=0 s
↑ a : [ a, b ] −→ R x 7−→ 2x+4
t= 21
s
t=1 s
↑ ↑ x : [ a, b ] −→ R b : [ a, b ] −→ R x x 7−→ 2x2 +x+5 7−→ 4x2 +6
Observe que, para t = 12 , obtemos:
Logo,
x = (1 − t)a + t b 1 1 1 1 = 1− a + b = a + b. 2 2 2 2 1 1 1 1 a(x) + b(x) = (2x + 4) + (4x2 + 6) 2 2 2 2 = x + 2 + 2x2 + 3 = 2x2 + x + 5.
Portanto, x1 : [ a, b ] −→ R 2 x 7−→ 2x2 +x+5
618
Apˆ endice: Prova de que a soma e o produto em ℓ2 , +, · est˜ ao bem definidas. 2 De fato, dado (xn ) ∈ ℓ temos ∞ X
n=1
λ · xn
2
=
∞ X
n=1
= λ2 · P∞
(p. 615)
λ2 · x2n ∞ X
x2n ,
n=1
como, por hip´ otese, n=1 x2n ´e um n´ umero real (isto ´e, converge) segue que 2 P∞ tamb´em ´e convergente. Isto ´e, n=1 λ · xn se (xn ) ∈ ℓ2 ⇒ λ · (xn ) ∈ ℓ2 .
ver: [AR] 4, p. 603. Vamos agora mostrar que a soma est´ a bem definida. Sejam (xn ) e (yn ) 2 elementos de ℓ . Ent˜ ao ∞ ∞ X 2 X x2n + 2xn yn + yn2 xn + y n = n=1
=
n=1 ∞ X
x2n +
∞ X
yn2 + 2
xn y n .
n=1
n=1
n=1
∞ X
P P 2 2 e ∞ (xn ) e (yn ) Como, por hip´ otese, ∞ n=1 xn < ∞ n=1 yn < ∞ por serem P P ∞ 2 elementos de ℓ , resta mostrar que n=1 xn yn < ∞ para termos ∞ n=1 xn + 2 yn < ∞. A desigualdade de Cauchy-Schwarz no Rk (p. 68) que ´e v v u k u k k uX u X X 2 xn y n ≤ t xn · t yn2 n=1
n=1
n=1
juntamente com a desigualdade triangular∗ nos fornece v v k u k u k k X X uX u X t 2 xn · t yn2 xn y n ≤ xn y n ≤ n=1
n=1
n=1
n=1
Fazendo k −→ ∞ nesta desigualdade, obtemos v v ∞ u∞ ∞ u X X uX u 2 t xn y n ≤ xn · t yn2 < ∞. n=1
n=1
n=1
Daqui concluimos que se (xn ) e (yn ) s˜ ao elementos de ℓ2 ent˜ao ´e um n´ umero real. Ou ainda: (xn ) + (yn ) ´e um elemento de ℓ2 . ∗
Desigualdade generalizada: |x1 y1 + · · · + xk yk | ≤ |x1 y1 | + · · · + |xk yk |.
619
P∞
n=1 xn yn
10.3.4
Interregno: A Matem´ atica como arte e engenharia
Tenho enfatizado (junto a meus alunos) menos o aspecto utilit´ ario da matem´ atica, mas, sobretudo, sua vertente como arte e engenharia − tal como de fato ela ´e em sua essˆencia. Assim como se desenvolve a sensibilidade para a m´ usica (ou outro tipo qualquer de arte) de igual modo desenvolve-se a sensibilidade para a matem´ atica; digo, o enlˆevo experimentado pelo artista tamb´em faz parte da experiˆencia matem´ atica. A verdadeira matem´ atica conjuga arte com engenharia. Me formei em engenharia (eletrˆ onica) no ano de 1986 e fui trabalhar em minha cidade natal (Boa Vista-RR) no setor de Telecomunica¸c˜oes (Sistema Telebr´ as), era detentor de um cargo de chefia e minha ocupa¸c˜ao ordin´ aria se resumia em carimbar p´ apeis e “monitorar” os “indicadores de desempenho operacional”, onde utilizava tabelas e gr´ aficos. Embora fosse relativamente bem remunerado n˜ ao estava (nem um pouco) satisfeito pois sentia que minhas atividades n˜ ao se enquadravam na concep¸c˜ao que se tem do que seja engenharia. Por outro lado, desde os tempos de estudante alimentei o sonho de deixar minha contribui¸c˜ao `a ciˆencia; entretanto, n˜ ao desejava deixar uma contribui¸c˜ ao efˆemera mas, se poss´ıvel, uma que “transcendesse os s´eculos”. Juntando a este requisito minha insatisfa¸c˜ao com a “engenharia” que eu praticava decidi me demitir para d´ a aulas de matem´ atica na u.f.r.r., que estava sendo criada na ocasi˜ ao∗ . Observe que aquele que opta por fazer pesquisas antes de mais nada d´ a † (literalmente) um salto no escuro porquanto, a priori, n˜ ao existe nenhuma garantia de que se ter´ a algum ˆexito. Pois bem, atuando no magist´erio, e n˜ ao descuidando do meu objetivo principal, comecei a ensaiar algumas cria¸c˜oes na matem´ atica; em retrospecto creio que fui bem sucedido. Por exemplo, em 2000 publiquei um livro onde constam alguns dos meus feitos − al´em dos que constam no presente trabalho. O interessante disso tudo ´e que somente muitos anos depois atinei com um fato deveras paradoxal: eu havia abandonado a “engenharia” e, sem d´ a-me conta, encontrava-me praticando a verdadeira engenharia! Com efeito, considero os prod´ıgios exibidos anteriormente − como o cubo hiperm´ agico e a topologia quˆ antica − como verdadeiras obras de engenhariamatem´ atica. ∗
Quando estudava para prestar concurso na universidade me ocorreu que naquele preciso momento (1989) milhares de indiv´ıduos, por este Brasil afora, estavam estudando para melhorar suas condi¸c˜ oes salariais e eu, aqui, estudando para piorar a minha. Com efeito, de saida perderia a metade do sal´ ario, afora outras vantagens − foi o que aconteceu. † Pelo ao menos numa conjuntura semelhante a que eu me encontrava, inclusive em termos de preparo acadˆemico, apenas um curso de gradua¸c˜ ao em engenharia, digo, numa outra ´ area.
620
Um desafio a quem interessar possa . . . da matem´ atica que ´ e eterna, porque suas
melhores
manifesta¸co ˜es
podem,
como as melhores manifesta¸co ˜es da literatura, continuar causando uma intensa satisfa¸ca ˜o emocional a milhares de pessoas, milhares de anos depois. (G.H. Hardy)
Esta p´ agina ficaria em branco (ociosa), decidi preenchˆe-la deixando aqui aos meus leitores um dos problemas que mais me deu satisfa¸ca˜o em tˆe-lo resolvido. . . “uma intensa satisfa¸ca ˜o emocional ”. Uma outra raz˜ ao ´e que eu n˜ ao gostaria de morrer (“fazer a passagem”) sem antes conhecer uma outra solu¸c˜ao diferente da minha. Apenas curiosidade se haveria uma outra − qui¸ca´ mais simples que a minha. Minhas congratula¸c˜ oes e agradecimentos `aquele que obtiver ˆexito e me enviar a resolu¸c˜ ao.
Desafio (Gentil, o taumaturgo/18.07.1999) Sejam j e n inteiros positivos arbitrariamente fixados. Mostre que n n−1 n ⇐⇒ e tˆem paridades distintas. j−1 ∈ Z 2j−1 2j−1 2 Nota: Dizemos que dois n´ umeros tˆem a mesma paridade se ambos s˜ ao pares ou ambos s˜ ao ´ımpares. Exemplos: n
j
n
j−1
2
n−1 j−1 2
n
j−1
2
1
1
1
0
1
2
1
2
1
2
2
3
0, 5
0
0
3
2
1, 5
1
3
Nota:
m n
=
m! n!(m−n)!
0
, se m ≥ n; , se m < n.
Nota: O Desafio anterior surgiu quando fomos tentar demonstrar (indu¸c˜ao sobre n) que as sequˆencias abaixo s˜ ao iguais. m ´e um natural fixado. n−1
( m−1 ) an = (−1) 2
e
bn = (−1)
n−1 m−1 2
Nota: Este desafio foi resolvido pelo aluno Juan Carlos Moraga Gonz´ alez da UFRR (em Junho de 2014). Ademais, agrade¸co ao Juan por ter me apontado algumas corre¸c˜ oes a serem feitas neste livro. 621
Definir ou compreender o mundo como rela¸c˜ao ´e tamb´em reconhecer-lhe uma grande plasticidade, ou seja, uma variabilidade que ´e fun¸c˜ao de representa¸c˜ oes elas mesmas variadas. O mundo n˜ ao ´e portanto esta realidade r´ıgida e v´alida para todos que o vulgo crˆe, afirma Paul Foulqui´e. Ele varia com os indiv´ıduos, com os povos e com as ´epocas [. . .] Heidegger qualifica a riqueza de tal mundo pelo termo de mundo ambiente: O ambiente no qual vivemos ´e realmente estruturado por n´ os, e n˜ ao depende sen˜ ao de n´ os. O mundo assume ent˜ao o sentido de uma abertura t˜ ao impressionante quanto variada; pode revestir um n´ umero infinito de combina¸co ˜es de que somos os u ´nicos senhores. (Hist´ oria do Existencialismo, p.110/Denis Huisman)
A Consciˆ encia cria a realidade Ainda uma outra interpreta¸c˜ao prop˜oe que o ato de observa¸c˜ao cria a realidade f´ısica. Em sua forma forte, essa interpreta¸c˜ao assevera que a consciˆencia ´e o estado b´ asico fundamental, mais prim´ario que a mat´eria ou energia. Essa posi¸c˜ ao concede um papel especial `a observa¸c˜ao, quando a transforma no agente ativo que provoca o colapso das possibilidades quˆanticas em realidades. Muitos f´ısicos suspeitam dessa interpreta¸c˜ao porque ela lembra id´eias origin´ arias das filosofias orientais e das propostas m´ısticas. Mas um not´ avel subconjunto de f´ısicos proeminentes, incluindo os laureados Nobel em F´ısica Eugene Wigner, Brian Josephson, John Wheeler e Jonh von Neumann, abra¸cou conceitos que s˜ ao, pelo menos, um pouco simp´aticos a este ponto de vista. O f´ısico Amit Goswami, da Universidade de Oregon, ´e um dos que o promovem com muito vigor. (Mentes Interligadas, p.221/Dean Radin) Com isto explica-se (ou unifica-se) a diversidade de Deuses construidos pelo homem ao longo das eras. Deus-Parens Brahman Vazio C´ eu Luz Branca
Deus
Tao (Mente)
Jeov´ a Al´ a Pai Kami
(Tenrikyo) (Hindu´ısmo) (Budismo) (Confucionismo) (Tao´ısmo) (Juda´ısmo) (Islamismo) (Cristianismo) (Xinto´ısmo)
Deus + Homem = Deus Todos os Deuses, sem exce¸c˜ao, s˜ ao constru¸c˜oes da mente humana. (Exuma¸ca ˜o e Julgamento de Deus/Gentil/ver p. 133)
622
Referˆencias Bibliogr´aficas
[1] White, A.J. An´ alise real: uma introdu¸ca ˜o. Tradu¸c˜ao de Elza F. Gomide. ¨ S. Paulo - SP: EDGAR BLUCHER, 1993. [2] Figueiredo, Djairo Guedes de, An´ alise I. 2a ed. Rio de Janeiro: LTC Livros T´ecnicos e Cient´ıficos,1996 . [3] Kuelkamp, Nilo. Introdu¸ca ˜o a ` Topologia Geral. Florian´ opolis: Ed. da UFSC, 1988. [4] Domingues, Higino Hugueros. Espa¸cos M´etricos e Introdu¸ca ˜o a ` Topologia. S˜ ao Paulo: Atual, 1982. [5] Lima, Elon Lages. Espa¸cos M´etricos. Rio de Janeiro:IMPA - CNPq,1993. [6] Silva, Gentil Lopes. Novas Seq¨ uˆencias Aritm´eticas e Geom´etricas. Bras´ılia - DF: THESAURUS EDITORA, 2000. [7] Silva, Gentil Lopes. O Mito das Ambig¨ uidades nas Representa¸co ˜es Decimais, CBPF-NF-001/06. [8] Silva, Gentil Lopes. Uma sugest˜ ao para o tratamento das dimens˜ oes na Teoria das Supercordas, CBPF-NF-002/06. ´ [9] Hefez, Abramo. Curso de Algebra, Volume 1. Rio de Janeiro: IMPA CNPq, 1993. [10] Guidorizzi, Hamilton Luiz, C´ alculo, Volumes 1−4. Rio de Janeiro: LTC - Livros T´ecnicos e Cient´ıficos, 2001.
623
´Indice Remissivo
´Infimo, 608 ˆ Angulo entre vetores, 103 A contenda, 180 Algoritmo bin´ ario, 229 Aquiles e a tartaruga, 184 Atˆ omica, verdade, 170 Axioma do Supremo, 612 Blanch´e, 85 Bola aberta, 105 como Ondas, 115 em subespa¸cos, 121 no espa¸co produto, 124 proposi¸c˜ oes, 125
totalmente limitado, 488 aberto, 188 num subespa¸co, 193 fechado, 201 Continuidade, 237 Continuidade uniforme, 288 Contra¸c˜ao, 257 Convergˆencia, 141 Cota Superior, 605 Inferior, 605 Cubo hiperm´ agico, 539 Curva de Peano in´edita, 543 Curva de Peano no cubo, 536
Danah Zohar e Pietro Ubaldi, 561 Defini¸c˜ao ´Infimo, 608 C´ odigo ASCII, 34 Bola aberta, 105 Caminho em espa¸cos m´etricos, 365 C´ odigo, 35 Chaitin Caminhos, 365 As boas teorias, 494 Cobertura, 475 Bits na Natureza, 506 Compacidade, 477 Distˆ ancias pequenas, 506 Completamento, 444 Ningu´em sabe como resolver, 494 Conjunto aberto, 188 Prova elegante, 486 Conjunto fechado, 201 Cobertura, 475 Conjunto limitado, 53 Compacidade, 477 Conjunto totalmente limitado, 488 Completamento, 444 Conjuntos convexos, 368 Conexo por caminhos, 364 Continuidade, 237 Conjunto, 628 Continuidade uniforme, 288 convexo, 368 Contra¸c˜ao, 257 de Cantor, 400 Convergˆencia de sequˆencias, 141 limitado, 53 Curva de Peano, 516 624
Defini¸c˜ oes matem´ aticas, 13 Densidade, 216 Descontinuidade, 238 Distˆ ancia entre conjuntos, 52 Distˆ ancia entre ponto e conjunto, 47 Espa¸cos Homeomorfos, 296 Espa¸co desconexo, 350 Espa¸co discreto, 133 Espa¸co euclidiano, 89 Espa¸co m´etrico, 12 Espa¸co m´etrico completo, 416 Espa¸co topol´ ogico, 280 Espa¸cos de Banach, 428 Espa¸cos de Hilbert, 432 Espa¸cos topologicamente completos, 463 Espa¸cos vetoriais, 82 Fun¸c˜ oes de Lipschitz, 258 Homeomorfismo, 295 Imagem Direta, 591 Imagem Inversa, 593 Imers˜ ao isom´etrica, 251 Isometria, 254 M´etrica mais fina, 310 M´etricas equivalentes, 311 Norma, 86 Normas equivalentes, 325 Ponto aderente, 204 Ponto de acumula¸c˜ ao, 219 Ponto fronteira, 196 Ponto interior, 186 Produto Interno, 89 quadrado hiperm´ agico, 529 Sequˆencias de Cauchy, 407 Sequˆencia, 137 Sequˆencias limitadas, 156 Subespa¸co, 81 Supremo, 606 Densidade, 216, 613 Descontinuidade, 238 Desigualdade, 628 de Cauchy-Schwarz, 68, 91 triangular, 12, 602
Diˆametro, 54 Distˆancia, 628 de Hamming, 37 entre dois conjuntos, 52 entre dois pontos, 12 entre ponto e conjunto, 47 Gentil, rˆ o, 40 Gentil, tau, 41 Dogma kantiniano, 184 Einstein 1 + 1 6= 2, 104 A massa curva o espa¸co, 21 Acuidade visual, 172 Email: RMU, 174 Eminentes matem´ aticos, 167 Equivalˆencia L´ ogica, 566 Equivalencias Not´aveis, 568 Erro de eminentes matem´ aticos, 167 Espa¸co, 628 euclidiano, 89 conexo por caminho, 368 de Banach, 428 de Hilbert, 432 desconexo, 349 discreto, 132 localmente conexo, 392 m´etrico, 12 m´etrico completo, 416 topol´ogico, 280 Espa¸cos vetoriais, 82 Fam´ılias Indexadas, 595 Fenˆ omenos n˜ ao-locais, 387 Fr´echet, 182 Francis Crick, 614 Fun¸c˜ao, 628 aberta, 286 de Lipschitz, 258 limitada, 31 Fun¸c˜oes Proposicionais, 576 G.H. Hardy, 85 Gaston Bachelard A abstra¸c˜ao, 9
625
Brusca muta¸c˜ ao, 16 Gentil Algoritmo bin´ ario, 230 Algoritmos, pontos, 562 Capa Deus Quˆ antico, 628 Capa EJD, 133 Capa HP, 222 ao, 628 Capa HP 2a Edi¸c˜ Capa NSAG, 472 Capa O TAO, 348 F´ormula bin´ aria, 230 F´ormula c´ odigos, 39, 63 F´ormula in´edita, 236 F´ormula tern´ aria, 232 Fluxograma, 426 Iconoclasta, 563 O Universo em um palito, 544 Teorema, 228 Teorema patol´ ogico, 377 Gregory Chaitin, 177 Hawking, 183 Heisenberg, 137 Homeomorfismo, 295 I.R. Shafarevich, 278 Imagem Direta, 591 Imagem Inversa, 593 Imers˜ ao isom´etrica, 251 Implica¸c˜ ao L´ ogica, 564 Importˆ ancia da densidade, 217 Isometria, 254 Jimena e Irina, 406 John Von Newmann, 237 John Wheeler bits, 545 Id´eias simples, 115 Krishnamurti, 105 L´eon Bonaventure, 84 Lagrange, 78 Leibniz e os bits, 544 Leo Kadanoff, 349
Limites em espa¸cos m´etricos, 337 Louis De Broglie, 115 M´etrica quˆantica, 16 M´etrica zero-um, 15 M´etrica quˆantica, prova, 64 Marcelo Malheiros, 561 Mat´eria brotando do Nada, 567 Matem´atica e engenharia, 620 Multiplexa¸c˜ao, 517 N´ umero de Lebesgue, 502 Nega¸c˜ao de senten¸cas quantificadas, 578 Niels Bohr, 79 Nietzsche Dogmas s˜ ao pris˜oes, 57 Norbert Wiener, 185 O mito das ambiguidades, 507 Ondas geom´etricas, 115 Opera¸c˜oes Generalizadas, 597 Opera¸c˜oes L´ ogicas, 564 Osho Buda, vazio, 547 Implos˜ ao acontece, 561 Parti¸c˜ao dos naturais, 140 Patologias, 48, 145, 147, 197, 220, 377 Pietro Ubaldi e Danah Zohar, 561 Ponto, 628 aderente, 204 de acumula¸c˜ao, 219 fixo, 357 fronteira, 196 interior, 186 Isolado, 129 Proje¸c˜ao i-´esima, 260 Proje¸c˜ao estereogr´afica, 305 Proposi¸c˜ao, 563 Propriedade Arquimediana, 612 Propriedades topol´ogicas, 298 Prova m´etrica quˆantica, 64 626
Quadrado quˆantico, 97 Quadrado hiperm´ agico, 528 Quantificadores, 576 R´egua quˆantica, 19 Representa¸c˜ oes bin´ arias, 229 tern´ arias, 231 Resumo das t´ecnicas, 576 Richard Courant, 156 Rota¸c˜ao, 255 Sequˆencia, 137 Sequˆencias em espa¸cos vetoriais normados, 159 limitadas, 156 num espa¸co produto, 157 Sequˆencias de Cauchy, 407 Stephen Hawking, 183 Subespa¸cos, 81 Subsequˆencia, 140 Supremo, 605 T´ecnicas de demonstra¸c˜ ao, 568 Tabela resumo pontos, 222 Teorema, 628 2 Rompe paradigma, 171 de Heine-Borel, 478 do Ponto Fixo de Banach, 467 Topologia quˆantica, 98, 115, 383 Uma m˜ ao leva ` a outra, 117 Unicidade do limite, 154 Universo esculpido em um palito, 544, 546 Voltaire, 17 William Blake O Mundo em um Gr˜ ao, 391, 544
627
www.profgentil.com [email protected]
628