PARA UMA FENOMENOLOGIA DO SER SI-MESMO E DO SERCOM-O-OUTRO
Frei Marcos Aurélio Fernandes Ano 2004. A reflexão aqui intentada quer ser um contributo para o labor filosófico da cunhagem de uma fenomenologia do sersimesmo e do sercomooutro. !la toma impulso de uma leitura de "eidegger# embora não tenha por ob$eti%o fa&er uma interpreta'ão minuciosa e uma exposi'ão rigorosa de seus textos. ( que aqui se procura não é uma )exegese* dos seus textos# mas um pensar a partir do confronto com o seu pensar. "eidegger + mas não somente ele + é o autor de quem a presente reflexão recebe o est,mulo para fa&er tem-tica a estrutura existencial aqui chamada de sercomooutro. ( confronto com "eidegger ser%e apenas como ponto de partida para que a reflexão possa descolarse de seus textos e ousar dar passos na dire'ão de uma fenomenologia do amor# fenmeno onde a estrutura existencial do sercomooutro se mostra na sua configura'ão a mais srcin-ria# própria e ele%ada. Ademais# con%ém# desde o in,cio# anunciar que a presente reflexão quer ser apenas um contributo# dentro muitos outros poss,%eis# %ale di&er# necess-rios# para que uma fenomenologia do sercom possa ser desdobrada. /or conseguinte# como é e%idente# o que aqui se expe não tem a menor pretensão de esgotar o tema ou mesmo de coloc-lo em toda a transpar1ncia conceptual necess-ria. apenas um contributo# feito com a esperan'a de ser 3til a quem quer que queira pensar este tema# com sua %al1ncia filosófica e# qui'-# com suas conseq1ncias nos mais di%ersos 5mbitos da exist1ncia e do saber. A fenomenologia + aqui entendida como uma possibilidade do pensar + %1se confrontada com o tema da rela'ão com o outro# de di%ersos modos# em di%ersos autores. !m
"usserl#
esta
confronta'ão
apresentase
como
uma
fenomenologia
da
intersub$eti%idade# em "eidegger# como uma fenomenologia do sercom. surpreendente como "usserl# por exemplo# termi na as suas Meditações Cartesianas . !m seus esfor'os de edificar a fenomenologia transcendental como uma ontologia uni%ersal e concreta# "usserl
fa& confluir a egologia )solipsista* numa fenomenologia intersub$eti%a. A Mathesis Universalis só encontraria o seu pleno desdobramento ali onde se tocasse o chão da
intersub$eti%idade. 6a fenomenologia da intersub$eti%idade seria dado o a priori para todo outro saber. 7ale a pena citar# aqui# o texto denso de "usserl# embora apenas como um aceno para uma dire'ão da in%estiga'ão entre%ista não somente como uma no%a possibilidade para a fenomenologia transcendental husserliana# mas para o inteiro pensamento moderno# tal como ele se configurara no sonho da Mathesis Universalis de 8escartes e de 9eibni&: )( ;ser primeiro em si<# que ser%e de fundamento a tudo o que h- de ob$eti%o no mundo# é a intersub$eti%idade transcendental# a totalidade das mnadas que se unem nas di%ersas formas de comunidade e comunhão. Mas# no interior de qualquer esfera mon-dica# e# a t,tulo de possibilidade ideal# no interior da esfera mon-dica imagin-%el# reaparecem os problemas da realidade contingente# da morte# do destino# o problema da possibilidade de uma %ida ;autenticamente< humana e tendo um ;senso< na acep'ão mais forte desse termo e# entre esses problemas# os do ;sentido< da história e assim porediante# subindo %e&num maisterreno alto. /odemos di&er que são esses problemas éticos religiosos# mascada postos onde de%e ser colocada toda questão que possa ter um sentido poss,%el para nós. assim que se reali&a a idéia de uma filosofia uni%ersal de forma bem diferente daquela representada por 8escartes e pelo seu tempo# que foram sedu&idos pela idéia da ci1ncia moderna. !la não se reali&a sob a forma de um sistema uni%ersal de teoria deduti%a# como se tudo que existe esti%esse englobado na unidade de um c-lculo. ( sentido essencial e fundamental da ci1ncia transformouse radicalmente. =emos diante de nós um sistema de disciplinas fenomenológicas# do qual a base fundamental não é o axioma ego cogito# mas uma plena# inteira e uni%ersal tomada de consci1ncia de si mesmo... ( or-culo délfico γνωτε σεαυτον adquiriu um no%o sentido. A ci1ncia positi%a é uma ci1ncia do ser# que se perdeu no mundo. preciso de in,cio perder o mundo pela εποχη, para reencontr-lo# em seguida# numa tomada de consci1ncia uni%ersal de si mesmo. Noli foras ire# disse >anto Agostinho# in te ?
redi, in interiore homine habitat veritas *
@ue esta no%a concep'ão
.
da ontologia
uni%ersal# fundamentada
na
intersub$eti%idade transcendental# a modo de uma monadologia# condu&a a uma no%a tomada de consci1ncia de si mesma da humanidade no seu todo e de cada indi%,duo no todo desta humanidade e# qui'-# no todo do ser que esta tomada de consci1ncia# contudo# não se$a somente um no%o saber teorético mas um no%o modo de ser# ou se$a# de %i%er# de
?
!. "B>>!C9# CM/PV# p. ?D2?DE.
existir historialmente# fica e%idente pelas próprias pala%ras de "usserl# que agora são reportadas: )!m sua uni%ersal autorefer1ncia# a fenomenologia reconhece sua própria fun'ão em um poss,%el %i%er transcendental da humanidade. !la reconhece as normas absolutas que a partir deste %i%er podem ser sacadas pelo olhar mas reconhece também estrutura tendencialteleológica# na !la dire'ão de uma descobertasua destas normasorigin-ria# e sua efetua'ão pr-tica e consciente. se reconhece então# enquanto fun'ão da uni%ersal autoreflexão da humanidade transcendentalG# a ser%i'o de uma pr-xis uni%ersal da ra&ão# ou se$a# a ser%i'o da tend1ncia que se torna li%re pela descoberta# na dire'ão da idéia uni%ersal# radicada no infinito# de uma absoluta perfei'ão ou# o que d- na mesma# na dire'ão da idéia + radicada no infinito + de uma humanidade que# de fato e inteiramente# fosse e %i%esse na %erdade e na autenticidade*2.
!sta no%a imposta'ão fenomenológica mo%ese# contudo# ainda# no interior de uma metaf,sica da sub$eti%idade# que tem na fenomenologia da consci1ncia o seu fio condutor. "eidegger# por sua %e deixa para tr-s o idealismo da in%estiga'ão do su$eito transcendental# mesmo da intersub$eti%idade transcendental ou da esfera intermon-dica e sua comunidade primordial# com suas respecti%as possibilidades de comunhão# fa&endo e deixando a fenomenologia dar um no%o passo# a saber# um passo para dentro do )8asein*# isto é# para dentro da abertura da eHsist1ncia. 6este passo para dentro do )8asein* re%ela se um tema fundamental# que# contudo# aparece de uma maneira muito modesta e# por isto mesmo# facilmente negligenci-%el: o Mitsein# o sercom. Aparentemente# o quarto cap,tulo da primeira se'ão da primeira parte de >er e =empo# isto é# os par-grafos 22 a 24# é apenas um acréscimo I anal,tica do sernomundo . 8epois de ter analisado a mundanidade do mundo em que o ente que nós somos# o )8asein*# $- sempre e desde o in,ci o eHsiste# ele passa a interroga r acerca de quem é este ente# temati&ando# assim# o problema da ipseidade e da alteridade. Jontudo# tal problema aparece subordinado I estrutura chamada )Mitsein*# sercom. ( sersimesmo cotidiano se re%ela como apenas um modo do sercomosoutros# próprio da medianidade cotidiana# isto é# se re%ela como o neutroimpessoal# o )a gente*# )8as Man*. (ra se o modo de se cunhar a ipseidade imprópria do cotidiano est- intimamente relacionado com o modo de se 2
!. "B>>!C9# Phnomenologische Ps!chologie Ph"Ps!ch"G# "usserliana# Kand L# Martinus
6i$hoff# 8en "aag# ?NO2# p. 2NN.
concreti&ar o sercomosoutros# também impróprio# do cotidiano# podemos le%antar a hipótese de que o modo de se reali&ar a ipseidade mais srcin-ria# ou se$a# o ser simesmo mais próprio# também %ai estar intimamente relacionado com a rela'ão mais srcin-ria e própria com a alteridade no sercom. ( sercom poderia ser %islumbrado# assim# como a estrutura existencial por excel1ncia# que rege todo o nosso sersimesmo e todo o nosso ser comosoutros e# por conseguinte# todo o nosso sernomundo. Ademais# se "eidegger empreende a anal,tica da eHsist1ncia com %istas I questão do ser e não com %istas a uma antropologia# o sercom apareceria como um tra'o fundamental da própria configura'ão do ser nele mesmo e de sua rela'ão com o )8asein*. Assim# também# a ipseidade e a alteridade estariam radicadas na estrutura srcin-ria do próprio ser. 6este sentido# %aleria I pena sondar como isto aparece nos escritos da maturidade do nosso filósofo. 6a %erdade# isto que se est- le%antando# aqui# é apenas uma hipótese. 6ão deixa# porém# de ser uma hipótese promissora. A presente reflexão# no entanto# permanece aquém desta hipótese# embora $- se encaminhe na sua dire'ão. ( que ela pretende é algo de todo prelimin ar: imiscuirse no entremeio das possibilidades extremas do sercomooutro: a indiferen'a e o amor. >egundo este propósito# a reflexão se prope# agora# reali&ar uma medita'ão em torno do tema. /ara isto é necess-rio que nós# isto é# eu e o ou%inte ou eu e o leitor# sigamos os passos de uma in%estiga'ão sondadora do sentido dos fenmenos aqui tocados. 6ós eHsistimos. !ste fato# porém# em sua facticidade# é distinto de todos os outros fatos pertinentes aos entes que não somos nós mesmos# em sua factualidade. =odo fato é um feito. 6asce do perfa&er de um processo# natural ou histórico. ( )fato* da nossa eH sist1ncia# porém# não é nunca pura e simplesmente um feito# mas inserese# sempre de no%o num porfa&er# isto é# numa tarefa. ( nosso ser não nos é dado nunca como um feito# mas sempre como uma tarefa# como dom de uma conquista. !Hsistir é# primordialmente# ter que ser# ou se$a# estar submetido I con%oca'ão de ser o que somos# %ale di&er# Iquele apelo que atinge o 5mago de cada um de nós# apelo que conclama I coragem de ser# apelo para um %irasersimesmo no seu poderser mais próprio. !ste apelo nos di&: )s1 o que tu és*. 6a pala%ra do poeta grego /,ndaro# pronunciada na >egunda (de /,tia: #vem a ser o que tu $s%. Aqui# o )és* precisa ser entendido não como a factualidade pronta e acabada de uma
coisa# de uma subst5ncia# no sentido de di&er )eu sou isto# eu sou assim# pronto e acabou*. Aqui o #$s% requer ser compreendido como um #podes ser% . !ntão podese tradu&ir a
proposi'ão assim: )%em a ser o teu poderser*. >ó que o poderser# aqui# não pode ser escutado como a mera possibilidade lógica# possibilidade abstrata penhorada pela não contradi'ão# nem como a conting1ncia das coisas na sua factualidade e daquilo que a elas pode# ocasionalmente# ocorrer. ( poderser é o lance# no qual eu sou posto na eHsist1ncia e# assim# sempre de no%o# remetido de %olta para mim mesmo# sendo entregue I minha própria responsabilidade de ser. Jomo assinala Fogel# esta possibilidade é o destinarse da própria liberdade: )7em a ser o que podes ser %em a ser a possibilidade que és. Mas# eu não posso ser qualquer coisa# isto é# qualquer poderser ou possibilidade. 6ão# isto não est- sob o meu arb,trio# sob minha escolha# pois )eu* n&o sou antes ou fora da possibilidade# do poderser# que sou. Ao contr-ri o# )eu* $- sou sempre )dentro* ou )desde*# a partir dela. Lsso que se chama eu# todo e qualquer eu poss,%el# '( $ sempre obra da possibilidade# que a %ida ou a exist1ncia de cada qual é. Assim# %ir a ser o poderser que sou é o só que posso e que preciso ser# ou se$a# isto constituise na minha 3nica possibilidade real e# por isso# é necessidade + a necessidade radical... ;7em a ser o que tu és< di pois: libera para ti o teu pr)prio que# sendo tua 3nica real possibilidade# constituise na tua necessidade + no teu destino*.
( que aqui se chama destino nada tem a %er com fatalidade ou fatalismo. Ao contr-rio# tem a %er com liberdade. >ou li%re quando me liberto para o meu mais próprio ser: quando assumo como necessidade# como 3nica possibilidade# o meu poderser mais próprio. A isto nos acena uma estória $aponesa# onde emerge o poderser como a grande ambi'ão# que funda a eHsist1ncia humana: )6a pro%,ncia de >aga# no interior do Papão# contase Is crian'as a seguinte história antiga: 6aquele tempo# no interior da pro%,ncia de >aga# %i%ia um %elho casal. =eciam a mão sand-lias de palha para %ender. ( que ganha%am era pouco# da%a apenas para %i%er. ( casal tinha um filho menor. ( menino era obediente. A tudo di&ia sim# sim# sim# sem murmurar. =odos os dias a mãe di&ia ao marido: Q Ah# se ao menos nosso filho pudesse le%ar uma %ida melhor. Mas ele é um idiota. A tudo obedece# sem ob$e'ão. 6ão tem nenhuma iniciati%a. 7amos darlhe uma tarefa imposs,%el para %er se reage e di& não I nossa ordem. ( pai nada respondeu. A mãe chamou o filho e entregoulhe tr1s palhas e ordenou:
Q 7ai trocar essas palhas por tr1s pe'as de seda de Rioto. ( filho disse sim e saiu de casa. A caminho# I beira de um riacho# uma mulher la%a%a cebolas. 8isse a mulher: Q@ue tens na mãoS Q =r1s palhas# respondeu o menino. Q@uer me dar as palhas para amarrar as cebolas em feixesS Q que as palhas são preciosas# disse o menino. !las %alem tr1s pe'as de seda. 8epois de muito negociar# o menino trocou as palhas por tr1s cebolas e saiu cantarolando pela estrada afora. A caminho# I entrada de um albergue# uma mulher lhe perguntou: Q 6ão queres me dar essas cebolasS /reciso delas para dar gosto I salada de peixe. ( menino lhe respondeu: Q que as cebolas são preciosas. 7alem tr1s pe'as de seda. 8epois de muito negociar# o menino recebeu tr1s garrafas de molho de so$a em troca das cebolas. Bm pouco adiante# ao passar diante de uma rica moradia# correulhe ao encontro o senhor da casa e pediu ao menino que lhe %endesse o molho. 8i&ia: Q /reciso com urg1ncia do molho. Cecebi %isita inesperada e não tenho mais molho em casa. 8isse o menino: Q que o molho é muito precioso. 7end1lo não posso. >ó se me deres algo equi%alente. ( homem era fabricante de espadas. !m troca do molho# deulhe um espada. ( menino pendurou a espada ao cinto e continuou %iagem. 6a cercania de Rioto# porém# a estrada se encheu de ca%aleiros. !ra o séquito do pr,ncipe de Rioto que por ali passa%a# numa suntuosa carruagem. (s pedestres se posta%am I beira da estrada# dando passagem ao corte$o. 8e repente# o olhar do pr,ncipe caiu sobre o menino campon1s# o 3nico que tra&ia espada ao cinto. Mandou cham-lo e perguntou: Q Jomo carregas uma espada# tu que és apenas campon1sS ( menino respondeu: Q que a espada %ale tr1s palhas que são garantia de tr1s pe'as de seda de Rioto. 8isse o pr,ncipe: Q ( que significa istoS ! o menino contoulhe toda a história de sua %ia$emT ( pr,ncipe# admirado# disse ao menino campon1s:
Q 6ão é bom que uses a espada. Mas é bom receber a espada que %ale tr1s palhas do campon1s. ! pediulhe a espada. !m troca deulhe tr1s pe'as de seda de sua tecelagem real. ( menino retornou I casa paterna. !m casa# o pai nada disse. Apenas continuou a tecer as sand-lias de palha.*
(utro tra'o essencial de nossa eHsist1ncia é o fato de que# neste ter que ser# aquilo que est- em $ogo# aquilo que est- em causa# é o meu próprio ser# aquele que me foi dado como dom e tarefa# como 3nica possibilidade real# como necessidade radical. !u $- estou sempre relacionado com o meu próprio ser. ! esta rela'ão é# também ela# uma rela'ão de ser que se perfila num ter que ser. 8i&endo de outro modo: o ser que posso ser est-# desde sempre# entregue I minha responsabilidade. ( ser me é destinado# tocado# como tarefa de uma responsabili&a'ão. !Hsistir $- é# sempre# responder ao apelo do destino da liberdade e corresponder I solicita'ão da tarefa de ser o meu poderser mais próprio. /or isto# o meu ser est- sempre em $ogo# ou se$a# est- sempre no entremeio do desafio da conquista do dom precioso de ser plenamente o meu si mesmo e no risco de perd1lo. >empre de no%o# encontrome num cmpito# numa bifurca'ão# num cru&amento dos )caminhos do cora'ão*# onde urge a decisão do meu poderser. >omente no feli& 1xito desta decisão# a eHsist1ncia se transforma em canto de $3bilo. /or isto# eHsistir não é nada f-ci l# é empenho -rduo. 8isto nos recorda Agostinho# quando tra& I fala o modo de nós nos atermos ao simesmo como #tentatio% # isto é# como tentati%a que sempre de no%o se ensaia e# neste sentido# como experi1ncia que se pro%a e# ademais# como #molestia%# ou se$a# como peso# no sentido de enfado: )!cce unde %ita humana super terram tota tentatio est + !is# pois# que a %ida humana sobre a terra é toda ela uma experi1ncia tentante e tentadora*. )...(neri mihi sum ... sou um peso para mim mesmo*. )... Factus sum mihi terra difficultatis et sudoris nimii ... transformeime numa terra de dificuldades e de suor copioso*
@ue não é f-cil eHsistir + disto também nos recorda o =erceiro >oneto a (rfeu# escrito pelo poeta C. M. CilHe:
)Bm deus podeT 6o entanto# di&eme# como um homem h- de seguilo pela estreita liraS ( sentido lhe é bifurca'ão. 6o cru&amento de dois Jaminhos do cora'ão# nenhum templo se ergue para Apolo. Jantar# como tu ensinas# não é cobi'a nem conquista de algo que por fim se alcan'a. Jantar é existir. /ara um deus# muito f-cil. Mas nós# quando é que existimosS ! quando ele Fa& %oltar para nós a terra e as estrelasS Po%em# amar ainda não é nada# + !mbora a %o& te force a boca + aprende
A esquecer que encantaste. Lsso se apaga. 6a %erdade# cantar é um outro sopro. Bm sopro pelo nada. Bm %ibrar em deus. Bm %ento.
Jomo# porém# pode alguém passar do )enfado da %ida* I le%e&a do )%ibrar em deus*# no serembalado do sopro do nadaS @ue sentido tem o amor nesta passagem# $- que# segundo o poeta# )amar ainda não é nada* e é preciso )aprender a esquecer que en cantaste*S Jomo estruturase o sercomooutro nesta passagemS ( ser# com o qual eu# de imediato# me relaciono# como eHsistente# é# cada %e meu. Lsto quer di&er: meu relacionar com o meu próprio ser é dado# cada %e numa determinada situa'ão. ( eu não é nunca uma coisa# uma subst5ncia# algo simplesmente dado. 6ão é também o simesmo que permanece id1ntico consigo em toda a multiplicidade cambiante de suas %i%1ncias e comportamentos. 6ão é# da mesma forma# o centro de difusão de atos ps,quicos. 6ão é# ainda# simplesmente# o pólo relacional constitu,do a modo de um su$eito e colocado# assim# em face de outro pólo# constitu,do a modo de ob$eto. =odas estas representa'es# com efeito# pressupem o eu como sendo um ente do modo de ser daquilo que é simplesmente dado VorhandeneG. Jom outras pala%ras# estas representa'es# embora intentem algo de %erdadeiro# partem de uma compreensão do ser# que não condi& com a sua
constitui'ão ontológica# acima referida sob o nome de liberdade# entendendose liberdade# porém# não como caracter,stica ntica do homem# sim como car-ter ontológico do )8asein*. 6este sentido# liberdade não é algo que nós temos# mas um modo de ser que nos tem. /or isto# I constitui'ão do eu pertence# de modo essencial# que sou dado a mim mesmo sempre e somente na din5mica do ter que ser e do ser cada %e& meu. !u sou $- sempre a partir da minha possibilidade. !u sou sempre# sempre de no%o e cada %e& de maneira no%a# remetido I minha possibilidade. 9iberdade é este mo%imento em que sou# $- sempre e cada %e& de no%o# pro$etado# isto é# en%iado por minha possibilidade e reen%iado I minha possibilidade. /or isto# a cada momento# a minha eHsist1ncia inteira precisa ser repetida# isto é# retomada# recuperada. /or ser o desdeonde a minha eH sist1ncia se d-# a possibilidade é o meu passado srcin-rio# por ser aquele passado que $amais é pretérito e sempre de no%o %igora no meu presente. /or ser o paraonde a minha eHsist1ncia se dirige# a possibilidade é também o meu futuro e# precisamente# o meu futuro srcin-rio# por ser o por%ir constitu,do como tarefa de eu %ir a mim mesmo na plenitude de minha eHsist1ncia. !ste futuro é tão srcin-rio que ele $- sempre antecedeu o meu passado. /or outro lado# um tal futuro srcin-rio e passado srcin-rio me são dados somente no )hic et nunc* de um presente srcin-rio# a saber# do instante. Jomo um )sendo* radicalmente temporal# isto é# como um ente radicado na inst5ncia em que o futuro e o passado se confluem # eu me sou dado# sempre e somente# na minha situaç&o. ( tersimesmo não é nunca uma posse para o eu# mas é sempre um desafio# instaurado de maneira cada %e& no%a e atra%és das muitas transforma'es abruptas da eHsist1ncia. Ao ritmo e na cad1ncia do meu eHsistir# abrese# a cada %e uma totalidade de experi1ncias atuais# recordadas e esperadas# que constituem# então# a minha situa'ão# ou melhor# esta minha situa'ão# aquela em que# agora# eu sou dado a mim mesmo. >omente %i%endo# a cada %e numa determinad a situa'ão# com suas exig1ncias e desafios# é que eu tomo conhecimento de mim mesmo. !ste conhecimento + que nada tem a %er com o resultado de uma in%estiga'ão teorética e nem mesmo de uma introspec'ão artificial + cresce e concresce com o fluir das situa'es# que perfa por sua %e a minha história. 6este sentido# o mundo me é dado# primordialmente# como a totalidade significati%a de tudo aquilo que eu encontro e que me interpela# cada %e& em minha situa'ão f-ctica e no todo de minha história. !u sou# cada %e um mundo e o mundo que eu sou me é dado# cada
%e nesta minha situa'ão. neste mundo# encarnado nesta determinada situa'ão que eu me encontro# sempre disposto deste ou daquele modo# %ibrando com a eHsist1ncia nesta ou naquele ton5ncia: alegre ou triste# entusiasmado ou indiferente# tranqilo com o familiar ou apa%orado com o sinistro. !ste )encontrarme* é sempre fugidio# pois as situa'es fluem de modo inesperado# transfor mandose# sempre de no%o# no repente do instante. ( poderser simesmo# porém# só é conquistado# I medida que# neste fluir# eu %ou me resgatando da dispersão das situa'es que me sobre%1m e %ou ad%indo I unidade da eHsist1ncia radicada no 3nico necess-rio. 8isto nos fala# ali-s# uma estória narrada pelo pensador chin1s Jhuang=&u: )Jonf3cio contempla%a a catarata de 9u9iang. A cortina de -gua tem a altura de de& homens em pé# um em cima do outro. 8epois da queda# a corrente impetuosa de -guas espumantes se precipita ao longo de quarenta milhas# entre as rochas. 6em tartarugas# peixes ou crocodilos podiam nadar neste turbilhão. 7iu# porém# um homem nadando na torrente. Jrendo tratarse de um suicida cansado dos sofrimentos da %ida# mandou que seus disc,pulos o sal%assem da morte. A uns cem passos abaixo# porém# o homem saiu da -gua# sacudiu alegre os cabelos molhados e cantarola%a. 8isse Jonf3cio: /ensei que %oc1 fosse um esp,rito. 7e$o# porém# que é mortal. 8igame# por fa%or# em que consistem a técnica e o método de sua nata'ãoS Cespondeulhe o mortal: 6ão sei. Lnstaleime na terra# enrai&eime no h-bito do quotidiano no desempenho recolhido do habitat di-rio# alo$eime na flu1ncia da %ida aos poucos a flu1ncia da %ida tornou habit-culo minha nature&a a lei perfeitaa da corpo.seJaio nao-gua# des'o da e subo com ela# nacomo correspond1ncia suareg1ncia doa'ão.do 6ão h- técnica nem método. /erguntoulhe Jonf3cio: ( que significa instalarse no h-bito do quotidiano# alo$arse na flu1ncia da %ida# tomar corpo na reg1ncia da lei perfeitaS Cespondeulhe o homem: >ou campon1s. 6asci na terra. Moro nela. Lsso se chama pa o recolhimento do di-rio. 8a pa& flui a %ida. 8eixar fluir a %ida no recolhimento di-rio é o h-bito. Lsso se chama: ser. Jom o tempo# o ser toma corpo# cresce como fruto da %ida# prenhe de %igor. =udo é uno. Jada caminho é a resson5ncia da %ida. Lsso se chama: liberdade ou esp,rito. só isso# nada mais*.
( meu ser simesmo# portanto# minha ipseidade# precisa ser conquistada em meio ao fluir da história de minha %ida. !sta tarefa pode ser chamada de
individuaç&o. Jomo
entend1la melhorS >e$am dados# aqui# apenas alguns acenos. 6ós tendemos para a plenitude da %ida# para o ser simesmo em sentido pleno e próprio. >ó que este tender exige de nós o empenho de corresponder I con%oca'ão de ser# na qual fomos destinados I eHsist1ncia. 6o cotidiano é# muitas %e&es# f-cil abandonarm o nos ao defluxo da exist1ncia# deixandonos le%ar pela propulsão para o %a&io# para o nada negati%o. /ara que se reali&e# porém# o contramo%imento do ele%arse e recolherse no uno# é necess-rio empenho# ou se$a# o esfor'o de uma busca# que se assuma como uma doa'ão de si. >e os caminhos do perderse são f-ceis# os caminhos do ganharse são dif,ceis. !nquanto seres que eHsistem no din5mica da liberdade# ou se$a# no
cuidado que
precisa se decidir# sempre de no%o# na dire'ão da queda ou da ascensão# da dispersão ou do recolhimento# da perda ou do ganho de simesmo# nós tendemos# sempre# a algo que
que
ainda n&o somos " 6ós somos# por ess1ncia# a caminho+de+alguma+coisa# a saber# nós *
somos a caminho de nós mesmos como aquilo que ainda não somos. 6ós somos sempre in completos# imperfeitos. 8ito de modo positi%o# nós somos# sempre# em aberto# na din5mica de um perfa&erse# de um consumarse. "- em nós um dese$o# algo como que uma saudade# de sertodo# de serpleno# de sersimesmo# pura e simplesmente. =ratase de um impulso primordial da %ida# que reside no nosso 5mago. )a saudade de estar em casa em toda a parte*# ou se$a# a 5nsia de ser todo# de sernotodo. 6ós somos. !nquanto nós somos# esperamos sempre alguma coisa. !m 3ltima inst5ncia# porém# o que esperamos é ser nós mesmos# plena e propriamente. como se ressoasse# em cada fibra de nosso ser# o apelo de sertodo e de seruno# de serno todo e sercomtudo. 6esta saudade# 5nsia ou dese$o# que nos impele para o sernotodo# consiste o nosso próprio ser# o nosso eHsistir. 6ós $- sempre nos encaminhamos# de algum modo# para este )notodo*. >omos remetidos a ele# mas# sempre de no%o# retrocedemos. 6ós estamos sempre a caminho deste serpleno. Ali-s# nós somos este )a caminho*. 6ós somos# de fato# uma tra%essia# uma passagem# pois# somos um )entre*# um )nem uma coisa nem outra*# um oscilar para l- e para c-# na inquieta'ão do não. E
Jfr. M. "!L8!UU!C# Met# V?0.
( que é# contudo# esta inquieta'ão do nãoS a nossa finitude" !sta + a finitude + não é algo que nós temos# mas algo que nos tem. >e queremos ser o que somos# não podemos abandonar esta nossa finitude# nem iludirnos a respeito dela# negandoa# mas precisamos proteg1la. ( guardar# proteger e conser%ar a finitude constitui o caminho para nos tornarmos o que somos. =ratase do caminho de nossa finiti&a'ão. Finitude é# propriamente# somente numa finiti&a'ão. 6a finiti&a'ão acontece# porém# o tornarse uno do homem em sua eHsist1ncia# acontece a sua individuaç&o" !sta# porém# nada tem a %er com um fechamento ego,sta e indi%idualista no seu pequeno e fran&ino eu. A indi%idua'ão é# muito mais# um recolherse no uno# um recondu&ir a %ida da sua dispersão para o recolhimento do 3nico necess-rio. A isto nós chamamos de solid&o" !sta# contudo# mais uma %e nada tem a %er com um isolamento. Ao contr-rio# uma tal solidão é o modo srcin-rio de estar na proximidade do essencial de todas as coisas# o modo primordial de sercomotodo# de sernotodo. 6a indi%idua'ão# que se cumpre por meio da solidão# o homem se torna singular. !ntretanto# nesta singulari&a'ão ele não se particulari&a# muito mais# ele se uni%ersali&a# pois tornase uno com tudo# uno no uno. ! isto significa: estar em casa em toda a parte. !ntretanto# pode o homem ser simesmo # seruno no uno# sertodo no todo e com o todoS Jomo pode ele# ao mesmo tempo# estar a caminho da plenitude e ser na plenitudeS 6ão é ele# sempre um ainda+n&oS 6ós buscamos sempre o sertodo# a plenitude# contudo# sempre de no%o# estamos no aindanão sertodo# na nãoplenitude. ( todo# que buscamos# não é# entretanto# uma soma de partes. Jhegar I plenitude não é# pois# completarse# acrescentando ao que $- temos o que falta. 6ós chegamos ao sertodo finiti&andonos. Finiti&a'ão é um modo de findar# que não é nem um completar# nem um terminar# nem um acabar# nem amadurecer# determina'es estas pertencentes aos entes intramundanos. ( fim# a que nos encaminhamos# enquanto seres que buscam a plenitude do simesmo# nós chamaremos de morte. !ntretanto# est-nos proibido entender fim e morte como o findar do que termina# acaba# se completa ou amadurece. !nquanto destinados I plenitude do simesmo# quer di&er# I plenitude da %ida# nós somos destinados ao fim# I morte. /ara nós# que eHsistimos# ser significa serparaofim# serparaamorte 4. ( que# no entanto# isto quer di&erS 4
Jfr. M. "!L8!UU!C# -.# p. 2EW2OV P.# p.42?440 Met# p. 42?4E?.
6os '( somos o nosso aindanão# o nosso fim# a nossa morte. A morte é# cada %e a minha morte# quer di&er# ela me pertence# I medida que eu sou. A minha morte pertence I
minha %ida# e isto# não como algo acidental e secund-rio# mas# ao contr-rio# de modo essencial e primordial. !u sou um ser finito# mortal. A morte não é algo que se encontra de fora da minha %ida# mas é algo que pertence I sua mais ,ntima profundidade. A morte me incumbe. !la é# para mim# uma tarefa. >ou incumbido da tarefa da morte não somente no morrer# mas em todo o %i%er. A tarefa da morte é a tarefa do sertodo da eHsist1ncia# é a tarefa da plenitude da %ida. 8este modo# a morte constitui a minha totalidade# desde o princ,pio. 8i&er que a morte é uma tarefa que me incumbe# n&o quer di&er que o finar# como um acontecimento que %em# de fora# ao meu encontro# no meu mundo# constitui para mim um desafio# ao qual eu de%o responder. /ropriamente falando# a morte não pode nunca %ir de fora da %ida# nem pode %ir ao encontro de nós em nosso mundo# pois a morte não é algo de intramundano# uma ocorr1ncia# como o finar# o falecer. A rigor# eu $amais encontrarei a morte como uma ocorr1ncia %inda de fora da %ida. A morte pertence ao mais ,ntimo da %ida. A morte chamais pode ser encontrada# ela $amais pode ocorrer a,# dentro do mundo# uma %e& que eu sou a minha morte e a minha morte sou eu. /or isto mesmo# não existe uma morte em geral. A minha morte# o meu morrer + o que não significa o meu finar# o meu falecer + me incumbe do meu ser mais pr)prio # destiname I responsabilidade por este poderser. >er mortal significa# pois# ser finito na din5mica da liberdade# ou se$a# ser finito na din5mica do ter que ser simesmo# do ter o próprio ser entregue I própria responsabilidade. A cada instante da %ida# eu sou incumbido do meu poderser mais próprio# do meu poderser eu mesmo. !sta possibilidade é uma incumb1ncia que atinge# a cada instante# o meu )eu sou*. !u $- sou eu mesmo# a cada instante# mas como tarefa# como incumb1ncia. ( meu ser si mesmo# o meu sertodo me é antecipado# a cada instante# como tarefa# como incumb1ncia. !ntretanto# o )eu posso ser eu mesmo*# que# a cada instante eu sou# apresentaseme# na linguagem de minha facticidade e decad1ncia# como )eu posso morrer# a cada instante*. 6esta possibilidade do podermorrer eu $- me encontro# desde sempre. !sta possibilidade# enquanto minha# sou eu mesmo. Ali-s# eu sou este )eu posso* em sentido pri%ilegiado. ( podermorrer mostrase# com efeito# uma possibilidade iminente. !stamos sempre prestes I sua reali&a'ão. Jada instante pode ser um seu limiar. !sta possibilidade# portanto# de%e ser
esperada como o inesperado. !la precisa ser assumida. 6ela# est- em $ogo o meu serno mundo. !la é a possibilidade etrema de não mais sernomundo# a saber# de não mais estar presente a si mesmo# $unto dos entes# atra%és da ocupa'ão cotidiana e da con%i%1ncia no mundo p3blico do )a gente*. 6esta possibilidade# nós dependemos plenamente de nós mesmos. P- não podemos delegar nossa eHsist1ncia# nossa %ida# ao mundo das coisas de que nos ocupamos ou aos outros com quem con%i%emos. 6a possibilidademorte# tornase imposs,%el remeter a outro ou ao mundo# em que %i%o# a responsabilidade pelo meu próprio %i%er. !sta possibilidade é# pois# também# irremiss0vel" !m 3ltima inst5ncia# nós não somos capa&es de superar esta possibilidade# de ultrapass-la e de pla de lado. !la est- sempre diante de nós# enquanto %i%emos. !la é# por conseguinte# para nós# a possibilidade da impossibilidade absoluta. uma possibilidade insuper(vel" /or isto# na imin1ncia do poderser da morte# nós estamos diante de nós mesmos de forma pri%ilegi ada. Jom outras pala%ras# no podermorrer# a intencionalidade do %i%er %em I lu& de modo pri%ilegiado# como a possibilidade# ao mesmo tempo# iminente e extrema# mais própria# irremiss,%el e insuper-%el. 6ós sabemos desta possibilidade não numa reflexão# nem num saber teórico# mas na ang3stia. !ntretanto# aqui não se de%e confundir a ang3stia com a morte com o medo de deixar de %i%er. A ang3stia# enquanto ang3stia com a morte# é abertura do fato de que# no meu estar lan'ado na eHsist1ncia# eu estou suspenso no nada. 8este saber da morte# que se abre na ang3stia# nós $- sempre# de algum modo# fugimos. /or isto é que transformamos este saber na banalidade cotidiana da afirma'ão de que )todo o mundo morre*. 6o )todo o mundo*# com efeito# eu não sou a minha própria morte# eu me perco na indiferen'a da morte dos )outros*# que é# no fundo o )ninguém*. ( saber# por conseguinte# do )a gente morre*# do )todo o mundo morre*# é um modo de não assumir a minha morte como minha. Jontra esta tend1ncia# porém# a minha morte precisa ser assumida# como minha. >ua possibilidade# extrema# irremiss,%el# insuper-%el# precisa ser# por mim# suportada. na espera que eu posso assumir e suportar esta possibilidade. !sta espera# no entanto# só é
genu,na# I medida que# espera ndo# eu me antecipo nesta possilibidade# me dir i'o a ela# enquanto possibilidade# porém# não enquanto realidade. 6este sentido# o suic,dio é o não suportar a possibilidade da morte como possibilidade# significa dirigirse I morte# no modo do não deixarser a sua possibilidade# como possibilidade. ( dirigirse I morte como
possibilidade da impossibilidade da eHsist1ncia# é o contr-rio da fuga. $ustamente deixando ser a possibilidade da morte# como possibilidade da impossibilidade# que eu me aproximo dela. Assumindo esta possibilidade como tal# eu $- não estou entregue ao meu mundo# mas estou entregue I responsabilidade de ser eu mesmo# de %i%er na plenitude da %ida. !sta possibilidade me remete a mim mesmo# ou melhor# I tarefa de ser eu mesmo. ( dirigirse I possibilidade da impossibilidade# na morte# é o retomar a si mesmo da impessoalidade do sernomundo cotidiano e o assumirse na plena incumb1ncia do ser si mesmoW. W
/ara uma elucida'ão mais concreta do que acabamos de di&er# apresentamos uma reflexão do
"ermógenes "arada# que pode muito bem nos a$udar a entender como a morte assumida no $agora da %ida é uma atitude fundamental para o poderser si mesmo: )A %ida do homem é a tarefa e o empenho# a a%entura e a %entura da busca do sentido do ser... @uem caminha a %ia existencial da questão# isto é# da busca do sentido do ser# mais cedo ou mais tarde# é colocado na morte. A morte na %ida existencial não é o fim da picada# não é o ponto de chegada de um percurso# não é uma passagem para uma outra %ida. /ois todas essas defini'es são posicionamentos acerca de um aspecto parcial da exist1ncia. !las não atingem o sentido do ser dos entes na sua totalidade. ! ocorrem ou como %i%1ncias ou como idéias durante a própria %ida existencial. A morte existencial é antes a radicalidade na coloca'ão da questão do sentido do ser e toca o ser dos entes na sua totalidade. 6a morte todo e qualquer sentido determinado do ser entra em liquida'ão. =udo o que somos e não somos# tudo que sabemos e não sabemos# tudo que fa&emos e não fa&emos# ontem# ho$e# amanhã# toda a exist1ncia e o seu uni%erso no tempo e no espa'o est- como que em suspensão# sem porqu1# sem para qu1# na nitide& do nada. Mas de tal sorte no nada que a própria compreensão usual do nada como nega'ão ou aus1ncia dos entes estsuspensa. A morte é# pois# uma experi1ncia da %ida# consumada na própria exist1ncia# na qual a exist1ncia %em a si na sua radical e total possibilidade# %em a si na aguda percep'ão da responsabilidade pelo sentido do ser dos entes na sua totalidade# recolhida# alerta# toda precisão# toda ou%ido ao %ir e ao retrairse do sentido do ser. !squecerse de si# doarse total e radicalmente I responsabilidade pelo sentido do ser# ser apenas a pura audi1ncia e a pura colhida do crescente sentido do ser# eis a perfeita alegria# o humor. a precisão# a afina'ão# o recolhimento# a nitide& dessa colhida# é o sil1ncio de alerta dessa audi1ncia do sentido do ser que determina a tnica# a resson5ncia# a %italidade# o ;humor< dos entes na sua totalidade# isto é# do mundo. na medida da limpide& da audi1ncia pelo sentido do ser que os entes# cada um em e por si e na sua totalidade %1m I sua identidade# aparecendo com a clare&a de cada diferen'a# sem
( dirigirse I morte é# ao mesmo tempo# o escolherse a si mesmo# a saber# o escolher a si mesmo como a minha possibilidade mais própria. !scolher a si mesmo significa# na %erdade# escolher a tarefa do simesmo pleno como 3nica possibilidade do %i%er. >ignifica renunciar a toda outra possibili dade. 6isto# eu me torno plenamente respons-%e l pelo meu eHsistir. Bma tal escolha constitui# pois# a decisão suprema da %ida# a pura e simples decis&o de ser# de ser simesmo.
( homem pode# pois# compreenderse a partir da extrema possibilidade da morte# ou se$a# ele pode agir a partir do serpost o diante desta possibili dade. 8este modo# ele se des tranca# ou se$a# abrese# para o seu serli%re# que aparece na resolu'ão de ser# de eHsistir propriamente. Jom efeito# é no serli%repara esta possibilidade da morte# um ser li%re que se dirige para ela como para a sua mais própria possibilidade# que o homem se apropria do seu ser próprio# do seu ser simesmo. 8este modo# a exist1ncia diferenciase# em sua propriedade# da impropriedade do cotidiano lan'arse $unto das coisas# que se esquece de si
mesmo. ( serli%repara a própria morte não é# pois# uma atitude simplesmente dada# em um su$eito $- constitu,do e acabado# para com uma ocorr1ncia# que ainda não est- a,# mas que um dia pode ocorrer. ( serli%repara a morte é uma atitude eHsistencial para com a possibilidade mais própria da eHsist1ncia# um intencional comportarse com ela. ( car-ter fundamental da eHsist1ncia reside na decisão# ou se$a# no abrirse ou destrancarse que se abre para o poderser mais próprio. Aqui# a questão da ipseidade# isto é# do ser simesmo# atinge o seu -pice# sob um certo aspecto. Jontudo# numa %isão mais ampla# ela ainda não se desdobrou inteiramente. que a ipseidade só se abre# desabrocha# plenamente# na din5mica do sercomooutro# ou se$a# na rela'ão essencial com a alteridade. ! o amor é o fenmeno por excel1ncia desta din5mica. A isto nos acena CilHe# nas suas Cartas a um 'ovem poeta : )6ós sabemos poucas coisas# mas que de%emos nos ater ao dif,cil é uma certe&a que não nos abandonar-. bom ser sós# porque a solidão é dif,cil que alguma coisa se$a dif,cil de%e ser uma ra&ão a mais para atu-la. =ambém amar é bom: porque o amor é dif,cil. @uerer bem# de ser humano para ser humano: isto é# tal%e a mais deformar os contornos# sem confundir n,%eis e dimenses*. "."ACA8A# 1 arte de humori2ar a vida# Ce%ista Urande >inal# n. # ano # ?NW20E.
dif,cil tarefa que nos tenha sido imposta# a extrema# a 3ltima pro%a e testemunho# o trabalho# pelo que todo outro trabalho é só prepara'ão. /or isto os $o%ens# porque são principiantes em tudo# não sabem ainda amar: de%em aprender. Jom todo o ser# com todas as for'as# recolhidas em seu cora'ão solit-rio# angustiado# que bate as asas rumo ao alto# de%em aprender a amar. Mas o tempo do aprender é sempre um tempo longo# de clausura# e# assim# amar é# por longo espa'o de tempo e até o 5mago da %ida# solidão# mais intensa e aprofundada solidão para aquele que ama. Amar# antes de tudo# não quer di&er abrirse# doarse# unirse com um outro + que seria# de fato# de uma união de um elemento indistinto# imaturo# não ainda li%reS + . Amar é uma excelente ocasião para o singular de amadurecer# de tornarse algo em si mesmo# de tornarse mundo# um mundo para si# por gra'a de um outro é uma grande e imodesta inst5ncia que nos lhe é posta# algo que o elege# e o chama a uma ampla expansão. >ó neste sentido# qual mandamento de trabalhar em si )de for$ar e martelar dia e noite*G# é que $o%ens criaturas poderia usar o amor# que lhes é dado. !xpandirse e oferecer toda sorte de comunhão não é para estes que# ainda por longo tempo# de%em longamente poupar e acumularG é a coroa'ão# é tal%e& aquilo para o que# tal%e %idas de homens de ho$e não bastam ainda*.
>e a eHsist1ncia nos é dada como uma tarefa# um porfa&er# que é dif,cil# também o amor# qual possibilidade extrema da %ida# nos é dado como uma tarefa. reali&ando esta tarefa que eu me torno um simesmo# um mundo# por gra'a de um outro. /or outro lado# na reciprocidade inerente a esta din5mica do amor é que o outro se torna um simesmo# um mundo# por gra'a de mim. 6o amor# eu me liberto para o meu simesmo por gra'a do outro e o outro se liberta para o seu simesmo por gra'a de mim. 6esta din5mica# eu me torno um mundo por merc1 do outro e o outro se torna um mundo por merc1 de mim. =ornarse um mundo# não tem nada de indi%idualismo pelo contr-rio# tornarse um mundo para si por merc1 de um outro significa ser uno em si e uno com tudo por mor do outro. Aqui# a indi%idua'ão# com sua solidão essencial# não se ope# antes se compe# com o amor# acompanhado por sua comunhão essencial. ! tudo isto é uma reali&a'ão daquela possibilidade da eHsist1ncia chamada sercom# especificamente# sercomooutro. Jontudo# antes de considerar a reali&a'ão do sercom na sua possibilidadenecessidade extrema# que é o amor# é necess-rio que enfoquemos a própria estrutura existencial denominada sercom ooutro. !Hsistir significa# basicamente# sernomundo. 6o mundo# em que %i%o# encontram se os outros. !ste encontrarse# porém# não tem o sentido de ocorrer a,# a modo de fato bruto de coisas ou mesmo a modo de um estar I disposi'ão para o uso de instrumentos. !stes outros não são coisas# não são um isso nem são# também# meros meios para um fim# instrumentos de um mane$o ou manipula'ão# pe'as de uma engrenagem ou maquina'ão.
!stes outros se encontram no mundo em que %i%o e isto significa: eles me %em ao encontro ou de encontro a mim. !u topo com eles# esbarro neles# no seu ser distinto de mim. ! a concep'ão do limite de mim mesmo me dada pela eHsist1ncia simult5nea do outro. ( outro é aquele que também eHsiste# que também é# ao modo do sernomundo. !le não ocorre no mundo# ele compartilha comigo o mundo. ( mundo# em que ele e eu %i%emos# é o mundo compartilhado da con%i%1ncia. 8-se# entre ele e eu# um ser+com. >ernomundo é ser comooutro# sercomosoutros. ( mundo circunstante# circundante# não é somente meu# é também dos outros. o mundo do n)s# antes de ser o meu mundo e o mundo do outro. ( eu emerge do nós e é somente sobre o fundo desta nósidade que se lhe torna poss,%el# fundamentalmente# quer di&er# a priori# a rela'ão com o )isso*# com o )ele* e o )ela* e# de modo mais genu,no# com o )tu*# o )%ós*. 6este sentido# a experi1ncia do )nós* tornase particularmente significati%a na experi1ncia do )nós dois*. ( )nós plural*# que não é a soma dos )eus* indi%iduais* tornase tanto mais significati%o quanto mais genuinamente o ser humano fa& a experi1ncia do )nós dual*# da nosidade que estrutura a rela'ão eutu# como diria Kuber# ou melhor# tu tu# como disse "eidegger. !stas rela'es não são nticas# emp,ricas# factuais# ocasionais. !las são ontologicamente constituti%as da eHsist1ncia# essenciais# necess-rias# a priori. 6ão dependem do fato de ocorrer a, mais de um su$eito ou indi%,duo. Mesmo quando os outros me faltam# quando eles não comparecem no meu mundo circunstante# eu sou um sercom osoutros. que sua aus1ncia é outro modo de presen'a. /or outro lado# é somente por eu sercomosoutros# que eles podem me fa&er falta. Ademais# o sentirse só# enquanto pri%a'ão da presen'a dos outros não depende da sua ocorr1ncia factual $unto de mim. poss,%el estar numa multidão e sentirse só. A presen'a ou não dos outros $unto de mim ou minha $unto dos outros não depende da sua ocorr1ncia factual no meu mundo circundante. >ercomosoutros não é a somatória da ocorr1ncia dos su$eitos numericamente diferentes# não é algo que resulta do n3mero# mas é um estrutura ontológica# a priori# fundamental# da eHsist1ncia. Fundamentalmente# nunca é dado um eu isolado# sem mundo# sem outro ou outros. ( meu )eu* me é dado como o simesmo de uma tarefa# como o simesmo que só pode %ir a ser o que é I medida em que assume o seu sernomundo e o seu sercomooutro. ( ser
com é cosrcin-rio com o sernomundo e ambos constituem# a priori# a estrutura'ão da eHsist1ncia. gra'as a esta rela'ão fundamental do sercom que o ser dos outros podem se abrir# ou se$a# se des%elar e se re%elar# $untamente com o meu ser. a partir do mundo da %ida que se abrem# de modo igualmente srcin-rio# a minha presen'a e a presen'a dos outros. Jontudo# %ale lembrar# tal presen'a nada tem a %er com a ocorr1ncia factual e sim com a solicita'ão ou o apelo de ser na din5mica da li%re responsabili&a'ão. ( mundo da %ida# contudo# se cunha de modo predominante no modo de ser da cotidianidade# com suas formas medianas de rela'ão. 6o cotidiano# com efeito# o estar+a0+ 'unto dos outros apresentase como coparticipa'ão do mundo dos empenhos e procuras#
das ocupa'es e preocupa'es. (s outros estão a, comigo# no mundo de que cuidamos# de que nos ocupamos. 6este cuidar# nós lidamos com as coisas. P- a simples presen'a das coisas remete I presen'a dos outros# nem que se$a uma presen'aausente. Bm barco deixado na praia fala de um barqueiro que se foi. ( quadro na parede me fala como o presente de uma amiga ausente. Aquela %elha paineira fala dos amigos de inf5ncia e das brincadeiras da meninice. A mesa %a&ia fala dos comensais. ( li%ro fala do autor# do editor# do %endedor. Aquela casa depredada fala de seus propriet-rios. A cidade bem ou mal cuidada fala de seus cidadãos e de seus administradores. 8outra parte# os outros aparecem em seu sernomundo como aqueles que t1m a %er com isto ou aquilo# que se empenham nisto ou naquilo# que fa&em isto ou aquilo. ( serunscomosoutros cotidiano é um ter a %er uns com os outros a partir do lidar com o mesmo mundo. Jomo sernomesmomundo a eHsist1ncia $- me destinou aos outros e $- destinou os outros a mim. !ste serdestinado umparaooutro é uma estrutura'ão fundamental do nosso ser e se d- sempre e necessariamente# mesmo quando o sercomooutro se reali&a na forma pri%ati%a e deficiente da in+diferença. Ali-s# esta# a indiferen'a# precisa ser pensada# aqui# não de modo pe$orati%o# morali&ante# mas como possibilidade fundamental da eHsist1ncia na sua constitui'ão cotidiana e mediana. /or exemplo# quando eu passo ao largo de um desconhecido que me %em ao encontro na rua. !ste passar ao largo e esqui%arse do outro é $- um sercomooutro. 6este sentido# um ti$olo que cai e que passa ao lado da $anela não fala do mesmo fenmeno do meu passar ao largo do outro. !ntre o ti$olo e a $anela não se d- a estrutura do serumcomooutro# caracter,stico do sernomundo. ( muito comum e cotidiano# sobretudo nas cidades grandes# passar ao largo do outro é um fenmeno pri%ati%o
e deficiente do ser destinado um ao outro# que perfa& o nosso sercom. da, que nascem as possibilidades do nãoquererternadaa%ercomooutro# do sercontraooutro# do ser semooutro# bem como do serafa%oroutro# do serpelooutro# do serparaooutro. =ratamse de modifica'es fundamentalmente poss,%eis do serumcomooutro. ( serumcomooutro# por conseguinte# nada tem a %er com o ocorrer con$unto de duas coisas factuais. 8uas pedras podem estar ali# uma ao lado da outra. Mas a elas não é dado o ser uma com a outra no modo do sercoparticipantesdomesmomundo enquanto sernomundo. !las não são# propriamente falando# no mundo. !las ocorrem factualmente dentro do mundo. 6ós dir,amos que elas não possuem um relacionamento que brota da interioridade. Mas# que significa este di&erS (u'amos o que di& Jarneiro 9eão: )... Lnterioridade não di& simples interior nem mero estar dentro em oposi'ão a estar fora# se$a de si ou de outro. As pedras possuem interior e estão ao lado de outras coisas# 'unto com animais# plant as e homens no mundo. ! no entanto não são interioridade. que com a pedra os sintagmas# )em*# )ao lado de*# )$unto a*# )com*# mera rela'ão entreexige# coisas#como enquanto interioridade# incluindoexprimem relacionamento com atransiti%a totalidade# condi'ão de sua possibilidade# o 6ada do Mistério. 3nterioridade $ a abertura para a totalidade de todas as diferenças sem perda de unidade" que esta abertura se abre na irrup'ão do hori&onte de diferencia'ão próprio da identidade. Por isso s) o homem $ interioridade"
>er homem é deixarse abrir pelo diferir da identidade em espa'os de encontro com o 6ada do Mistério. 6esta abertura lhe ad%ém a liberdade da %erdade a liberdade de deixar encontraremse as diferen'as de todos os modos de ser. o que se d- em toda atitude !ssencial que recondu& o homem até a 9inguagem de sua humanidade. Assim na profundidade do %i%er# na presen'a da morte# na transcend1ncia do !ros# na con%i%1ncia pessoal# na experi1ncia da fé# na cria'ão art,stica# no pensamento radical irrompelhe o 6ada do Mistério de tal sorte que nesta irrup'ão e por ela todos os modos de ser chegam a desabrochar na interioridade daquilo que são e tal como são. na irrup'ão desta interioridade que os seres são en%iados I %iagem da identidade de suas diferen'as.*
/or gra'a# pois# da interioridade# ou se$a# da abertura do sercomooutro# dois seres humanos nunca podem estar um ao lado do outro como duas pedras. /odem fa&er como se fossem duas pedras# mas não podem nunca estar um ao lado do outro como duas pedras. Assim# mesmo quando num nibus ou metr um passageiro sentase ao meu lado# sem que nós nada digamos um ao outro e de tal modo que# qui'-# nunca mais nos %enhamos a nos encontrar na %ida# esta rela'ão $- é um serumcomooutro# embora# de certa forma# in diferente. que a indiferen'a $- é um modo de se comportar com a diferen'a do outro.
!ste comportarse com a diferen'a do outro# porém# pode se abrir em outras nuan'as. /or exemplo# quando dois ribeirinhos se cru&am# cada qual em seu barco# na tra%essia de um rio e se sa3dam ou quando dois montanheses se topam com o olhar# subindo uma mesma montanha# mas de lados diferentes. 9- no alto eles se topam e# admirados e silenciosos# contemplam a paisagem que se descortina a seus olhos. !les são um com o outro. ( olhar silencioso# na mesma dire'ão# constitui# ali# um estar um com o outro mais srcin-rio do que se# tal%e eles se olhassem um para o outro e come'assem a tagarelar sobre si mesmos. (utro exemplo: no meio de uma con%ersa animada# dois olhares se cru&am. 8ois seres humanos se tocam# pelo olhar. Jada um é atingido# no 5mago de sua interioridade# pelo raio que se irradia do mistério do olhar do outro. !les são um com o outro. ( ser+um+com+o+outro pressupe o ser+voltado+para+o+mesmo. !ste# o mesmo# no entanto# não é o igual. !u e um outro# numa sala de aula# olhamos# no mesmo momento# desde perspecti%as diferentes# para o mesmo peda'o de gi& e aquele gi apesar de ser o mesmo# não nos aparece como igual. !le se mostra numa aspecti%idade e nuan'a diferente. ( serumcomooutro é# estruturalmente# um comportarse para com o mesmo# mas este comportamento e aquilo com ele se comporta pode assumir diferen'as. Ali-s# é $ustamente na capacidade de acolher e recolher diferen'as de maneira a deixar ser o uno da uni%ersalidade não genérica é que se decide da liberdade dos relacionamentos. Jom efeito# quando o comportamento se iguala e se padroni&a# eliminando e ni%elando toda diferen'a# a con%i%1ncia se perde no seu poderser mais próprio. que o con%i%er supe o %oltarse de muitos# de diferentes modos# desde diferentes perspecti%as# cumprindo diferentes fun'es# a um mesmo. !ste ser%oltadoparaomesmo nós denominamos# muitas %e&es# de pertin4ncia ou sentido de pertença. 8isto nos fala uma estória ind,gena: 5st)ria dos 0ndios 6amaiur(7
8e como os 6amaiur( tornaram+se 6amaiur(, isto $, grandes guerreiros" Um dos 'ovens da tribo, 6aluan(, era um p$ssimo lutador" 9&o mal lutador que, quando toda a tribo foi convidada a visitar uma outra vi2inha para uma festa de lutas, foi proibido pelo cacique de acompanhar toda a sua gente" -o2inho, envergonhado, 6aluan( vai ent&o buscar o pertencimento : sua gente" ;s esp0ritos
da floresta, tocados por sua dor e busca, oferecem+lhe a'uda para tornar+se um lutador digno de sua gente" 1 condiç&o $, por$m, de que ele abandone e se desprenda de todos os sinais de que $ um 6amaiur(" Passa v(rios dias nu, sem armas, deitado numa rede entre (rvores, esquecendo+se de seu pr)prio nome" 8epois de uma semana, os esp0ritos o liberam, devolvem suas roupas e o enviam para a festa" -ua chegada surpreende a todos e ele $ chamado a lutar"
O
Jfr. M-rcia >- Ja%alcante >chubacH# ; começo de deus, ed. %o&es# p. ?EO.
srcin-rio da filosofia como um sercomotodo. ( pensador da Floresta 6egra asse%era que: )( ad$eti%o grego phil)sophos significa algo absolutamente diferente que os ad$eti%os filosófico# philosophique. Bm an$r phil)sophos é aquele# h)s philei t) soph)n philein# que ama a soph)n significa aqui# no sentido de "er-clito: homologein# falar assim como o <)gos fala# quer di&er# corresponder ao <)gos. !ste corresponder est- em acordo com o soph)n. Acordo é harmonia. ( elemento espec,fico de philein do amor# pensado por "er-clito# é a harmonia que se re%ela na
rec,proca integra'ão de dois seres# nos la'os que os unem srcinariamente numa disponibilidade de um para com o outro. ( an$r phil)sophos ama o soph)n. ( que esta pala%ra di& para "er-clito é dif,cil de tradu&ir. /odemos# porém# elucid-lo a partir da própria explica'ão de "er-clito. 8e acordo com isto# t) soph)n significa: >$n Panta )Bm éG =udo*. =udo quer di&er aqui: P(nta t( )nta# a totalidade# o todo do ente. >$n# o Bm# designa: o que é um# o 3nico# o que tudo une. Bnido é# entretanto# todo o ente no ser. ( soph)n significa: todo o ente é no ser. 8ito mais precisamente: o ser $ o ente. 6esta locu'ão# o )é* tra& uma carga transiti%a e designa algo assim como )recolhe*. ( ser recolhe o ente pelo fato de que é o ente. ( ser é o recolhimento + <)gos"*
Assim# ser filósofo era# nos primórdios do primeiro in,cio da filosofia# ser em harmonia com o todo# fa&endo e deixando tudo recolherse no %igor do ser. @uem obedecia a este recolhimento era s-bio e a ele era dado %i%er no )mundo comum*# enquanto aqueles que seguiam somente suas opinies eram entregues aos caprichos de suas %ises parciais e fragment-rias# tendo# deste modo# cada qual o seu )mundo particular*: )=ornase necess-rio seguir o comum a con$unturaG# mas enquanto o recolhimento do %igor de ser 9ógosG %i%e no comum na con$unturaG# a massa %i%e como se ti%esse um entendimento próprio e particular*.
/articipar do comum é# pois# abrirse para a totalidade e recolherse na identidade das diferen'as. !sta participa'ão do comum# na eHsist1ncia dos gregos# fundamental para o destinarse da história ocidental# d-se na dimensão srcin-ria da p)lis" Mas# o que isto quer di&erS )( ponto de con%erg1ncia e cru&amento de todos os caminhos# a p)lis" =radu&se p)lis por !stado e Jidade!stado. !ssa tradu'ão não atinge o sentido pleno da pala%ra. P)lis quer di&er a localidade# a dimensão 8aG# em que# como tal# a exist1ncia 8aseinG expande seu acontecer histórico. A p)lis é o lugar histórico# o espa'o no qual# a partir do qual e para o qual acontece a história. A essa dimensão histórica pertencem os deuses# os templos# os sacerdotes# as festas# os $ogos# os
poetas# os pensadores# os go%ernantes# o conselho dos anciãos# a assembléia do po%o# o exército dos guerreiros# os na%ios. =udo isso pertence I p)lis# não é )pol,tico* por assumir uma rela'ão com um homem de !stado# com um general# ou com os negócios do go%erno. Ao contr-rio tudo aquilo é )pol,tico*# isto é# est- na dimensão do acontecer histórico enquanto por exemplo os poetas são somente poetas mas então realmente poetas. @uando os pensadores são somente pensadores mas então realmente pensadores. @uando os sacerdotes são somente mas então realmente sacerdotes# sendo os go%ernantes somente# mas então realmente go%ernantes. -&o# porém# significa aqui: como os que instauram %igor e se tornam# assim# eminentes no ser "istórico como criadores e instauradores. !minentes na dimensão da "istória são# ao mesmo tempo# apolis# sem cidade e lugar# solit-rios# estranhos# aporéticos sem sa,daG no meio do ente em sua totalidade# sem constitui'ão e limites# sem estru tura e dispositi%os FugG# de %e& que# como criadores# são eles que de%em então fundar e instaurar tudo isso*.
6este sentido# "eidegger comenta a atitude de "er-clito de preferir $ogar dados com as crian'as no p-tio de Artemis a fa&er pol,tica com os seus concidadãos# os efésios# apelando para a compreensão grega do cuidar da p)lis, do polit$uesthai: )/oder,amos nos %er aqui tentados a interpretar modernamente a ;situa'ão< e di&er que o pensador estaria se declarando um homem ;apol,tico<# que só se mo%imenta no c,rculo ego,sta de sua ;exist1ncia pri%ada<. Mas essa moderni&a'ão e esse tipo de ;alusão< ao presente + ine%it-%eis para os historiógrafos + são bastante perniciosos# porque $- de in,cio renunciam a permitir que o passado %igente %igore historicamente no modo próprio de ser# ou se$a# renunciam a pensar historicamente ...G. 6o caso de "er-clito# não é certo que renunciar ao polit$uesthai também implique renunciar I p)lis" !# se# no modo grego de pensar# a forma mais ele%ada de cuidar da p)lis fosse cuidar da presen'a dos deusesS 6a %erdade é isso. /ois + sempre pensando de modo grego + a p)lis é o pólo e a sede em torno dos quais giram tanto o aparecimento essencial dos entes# como também o nãoessencial de todo ente. Ainda segundo o modo grego de pensar# é cuidando da proximidade essencial dos deuses que o pensador se mostra um homem ;pol,tico<# em sentido próprio. Lsso também significa que# para os gregos# polist$uesthai e polist$uesthai não são# de imediato e nem sempre# a mesma coisa. 6a pala%ra dirigida aos efésios# "er-clito simplesmente não preenche a expectati%a de que o pensador de%a abandonar o cuidado comedido para entregarse a uma preocupa'ão desmedida com a p)lis# numa colabora'ão imediata com eles. Jf. Fragmento ?2?.G 8e maneira mediata# o cuidado referese ao mais necess-rio da necessidade própria a um cuidado pensante# a saber# de# em pensando# cuidar da inscri'ão do extraordin-rio em todo o ordin-rio.*
( cuidado pela p)lis# da parte do pensador# d-se# pois# atra%és do próprio pensar# %ale di&er# atra%és do filosofar. @uando filosofamos# contudo# somos condu&idos para fora de toda e qualquer instala'ão nos dom,nios correntes da con%i%1ncia cotidiana# com seus
discursos e comportamentos indiferentes e indiferenciados. Bltrapassamos o ordin-rio# ou se$a# aquilo que est- )na ordem do dia*# )em %oga*. Filosofar é transcender o tri%ial e o ordin-rio. dirigirse ao extraordin-rio# procurando in%estig-lo em todo o ordin-rio. Filosofia é uma in%estiga'ão extraordin-ria do extraordin-rio. 6este sentido# ela não é necess-ria a partir dos critérios de utilidade imediata da sobre%i%1ncia em sociedade# mas é# em contrapartida# necess-ria a partir do fundo misterioso da liberdade humana em sua dimensão srcin-ria de serunscomosoutros. 8i&,amos que serunscomosoutros é participar do mesmo# do comum e tentamos esclarecer o que seria isto. Ademais# ao participar corresponde# também# um partilhar. Pdi&,amos# da mesma forma# que o mundo da con%i%1ncia é# fundamentalmente# um mundo compartilhado. ( mundo é# em sua estrutura# co+mundo Mit?eltG: o comum em que todos participam e de que todos partilham. 6ós compartilhamos o mundo da %ida. Jompartilhar# no entanto# não é# necessariamente# repartir. Bm peda'o de pão é compartilhado# quer di&er# é repartido. Bma caneta é compartilhada# mas não é repartida. 7-rios podem usar um instrumento# sem desmont-lo ou quebr-lo. "- coisas que pomos em comum# consumindo as uns com os outros. "- coisas que colocamos em comum# conser%andoas uns para os outros. 6ossa m3tua participa'ão no uso de uma casa# por exemplo# d-se tanto mais# quanto mais ela for conser%ada. mantendo a coisa no seu ser# pronta para um uso adequado e bom# que se cuida para que todos dela participem. ( deixarser estas coisas não significa abandon-las# mas cuid-las. 8e fato# o senso de participa'ão e de partilha de uma comunidade ou sociedade refletese no modo como as coisas são cuidadas# como se fa& a gestão destas coisas a modo de )coisa* comunit-ria# social ou p3blica# ou se$a# como a coisa de todos e não a coisa de ninguém. >endo no mundo# nós compartilhamos $-# desde sempre# do que h- de mais elementar e que# por isto mesmo# passanos desapercebido. =ratase da re%ela'ão do ser em sua totalidade. /ara que nos comportemos com o ente# deixandoos ser# é necess-rio que eles $- tenham se irrompido na abertura da re%ela'ão do ser. /or isto# o cuidado pela %erdade# ou se$a# pelo %ir I lu& dos entes na claridade do ser# é um momento fundamental do con%i%er humano. !ste cuidado se concreti&a# por exemplo# cada %e& de modo diferente# no mito# na filosofia# na ci1ncia# na arte# na fé# na pol,tica# e assim por diante. 6a comum e
respons-%el perten'a I %erdade é que se pode edificar uma con%i%1ncia plena de sentido para todos. 6o cuidado pela re%ela'ão do ser incluise o cuidado pelo des%elamento dos entes. (s entes# porém# são des%elados de modos %ariados. Assim# os entes que apenas subsistem de modo factual# como coisas# e os entes que estão I mão# como instrumentos# são descobertos" P- os entes que compartil ham do mundo no modo da eHsist1ncia são abertos.
!u compartilho com os outros e os outros compartilham comigo da re%ela'ão do ser na manifesta'ão do mundo# ou se$a# no des%elamento dos entes. !ste compartilhar $- é sempre um compreender o ser dos entes com que nos comportamos nas formas positi%as# negati%as ou pri%ati%as de cuidado. ( sercomooutro $- é sempre# do mesmo modo# um compreender o meu ser e sua ipseidade# $untamente com o ser do outro e sua alteridade. >erumcomooutro é# fundamentalmente# um compreenderse um ao outro. ( n,%el de familiaridade e compreensão# porém# é %ari-%el. A compreensão rec,proca é uma conquista. !la pode ir da indiferen'a ou estranhamento# acompanhados de descaso ou re$ei'ão# ao pleno interesse positi%o pelo outro e I intimidade radicada pelo m3tuo querer bem# acompanhados de solicitude e dilig1ncia# respeitosas e acolhedoras. Jompreender o outro só é poss,%el num empenho de solicitude pelo outro. 6este sentido# a incompreensão rec,proca é apenas um modo pri%ati%o ou negati%o de compreensão# que se d- na defici1ncia da solicitude. >ó aqui é que se pode encontrar a matri& do que se$a )conhecer* o outro. 6ão se trata# pois# de explorar# de modo ob$eti%ante# a sua )%ida intraps,quica*. ( outro# eu não posso conhec1lo de maneira artifici osa# como se de%esse )penetrar* em sua )esfera ,ntima* e )inspeccion- la*. =anto eu como ele $- somos sempre abertos para um relacionamento com a totalidade# com o mesmo# um com o outro. >e esta abertura existencial# ontológica# porém# resulta num fechamento existenci-rio# ntico# com outras pala%ras# se a m3tua compreensão se tra%a numa incompreensão rec,proca# isto é poss,%el somente como uma modifica'ão gerada pela própria responsabili&a'ão pelo serumcomooutro. 6este sentido# o pleno conhecimento do outro só se d- no amor pleno pelo outro. Jon%ém# pois# entender bem o que se chama de )rela'ão* com o outro. Aqui# rela'ão não significa algo de formal%a&io# matem-tico# mas algo de eHsistencial. Bma tal rela'ão não pode nunca# por isto# ser ob$eti%ada. >ua ess1ncia fundamental é aproximarse
dooutro# deixarseinteressarpor ele# serinterpeladopelooutro e interpel-lo# um ser solicitado e solicitar# um responder e corresponder. Jom outras pala%ras# é ser um tu para o outro e deixar que o outro se$a um tu para mim. A solicitude ou preocupa'ão com o outro @ArsorgeG é# pois# um tra'o fundamental da eHsist1ncia# que# por sua %e se estrutura como cura ou cuidado
-orgeG. 6ela est-
fundado o ocuparse com a alimenta'ão# o %estu-rio# a habita'ão# a educa'ão# a sa3de. 6ela est- fundada# também# a assist1ncia social# que tenta suprir as defici1ncias da solicitude de uma para com o outro na sociedade. Ademais# todos os modos poss,%eis do con%i%er# positi%os# negati%os ou deficientes são %aria'es da solicitude ou preocupa'ão com o outro e a sua en%ergadura %ai desde a indiferen'a do não sentirse tocado pela presen'a do outro até o pleno interesso pelo outro# o amor extremo# que é capa& de dar a %ida pelo outro. @uanto aos modos positi%os# tal solicitude ou preocupa'ão pelo outro pode se dar entre duas possibilidades extremas. =ratamse do modo funcional e do modo pessoal de con%i%er. 6o modo funcional# um pode substituir o outro em seus empenhos. Lsto pode facilitar o sernomundo. /or exemplo# sem a )di%isão social do trabalho* toda organi&a'ão dos empenhos humanos ficaria comprometida em sua efici1ncia ou efic-cia# não só em %ista do bem particular ou pri%ado# mas também em %ista do bem comum ou p3blico. 6este modo funcional# a solicitude de um outro assume por mim a ocupa'ão que se agra%aria sobre mim e eu assumo pelo outro a ocupa'ão que se agra%aria sobre aquele outro. /or exemplo# se eu preciso de um sapato# mas não sei fa&er um# encomendoo a um sapateiro ou então %ou I lo$a# comprar um $- fabricado. !ste modo de relacionarse é muito %anta$oso e 3til# sem d3%ida. Jontudo quando este modo se torna o 3nico e o %anta$oso e o 3til são os critérios predominantes ou até mesmo exclusi%os da con%i%1ncia# então a solicitude pode se atra%ancar. que# neste modo# o outro pode sempre tornarse dependente e dominado# cada %e& mais# dos esquemas do funcionalismo. Joncretamente# podese afirmar que foi o que aconteceu na história do ocidente: o encontro com o outro tornouse cada %e& mais dominado por uma progressi%a funcionali&a'ão. /ara isto nos chama a aten'ão Jarneiro 9eão: )A rela'ão funcional supe uma estrutura social definida por uma hierarquia de fun'es e status# independente das pessoas# determinada apenas pelo grau de decisão# pela posse do poder e pela efici1ncia do funcionamento de cada escalão. >tatus indica a posi'ão que o indi%,duo ocupa no grupo. o nicho social. ( status eclui interioridade" 3ndepende do relacionamento das pessoas" Um caso t0pico
...G 8e%ido ao mecanismo da funcionalidade# uma sociedade dominada por rela'es funcionais tende a substituir a autoridade pelo poder. Ueralmente se entende por poder a for'a material I disposi'ão de um su$eito. 6o entanto poder nem sempre possui nature&a material e nem toda for'a material é poder. 1 ess4ncia do poder $ o desta estrutura funcional $ a instituiç&o, por eemplo, uma sociedade anBnima
#eu posso% da sub'etividade" 9rata+se de uma determinaç&o metaf0sica que redu2 toda realidade : ob'etividade e toda interioridade, : sub'etividade" No mbito do poder n&o pode haver mist$rio" Jomo o status# exclui interioridade e se constitui
independente do relacionamento de encontro entre as pessoas. 6uma sociedade annima h- entre os escales uma rela'ão de poder. !m ra&ão da hierarquia das fun'es um determinado status )pode mais* do que outro. ; poder do gerente se liga : funç&o do cargo independente da pessoa que o ocupa" /ara uma institui'ão o ideal seria uma empresa# cu$os cargos fossem puras fun'es. sempre o mistério da pessoa que atrapalha a efici1ncia da funcionalidade*.
Aos poucos# a con%i%1ncia# que se da%a no 5mbito das comunidades# a partir do relacionamento de cunho pessoal entre os seres humanos# foi cedendo lugar a uma con%i%1ncia# que se da%a no 5mbito das sociedades# a partir do relacionamento de cunho predominantemente funcional. Uradualmente# a exist1ncia foi sendo referida# de maneira predominante# ao 5mbito societ-rio. A %ida dos indi%,duos e das comunidades foram sendo# cada %e& mais# determinada pela sociedade. Jom isto# os relacionamentos foram se tornando progressi%amente funcionais# pragm-ticos# técnicos. !sta media'ão da sociedade# ho$e# passou a ser global# de tal modo que $- nem aparece mais como media'ão e sim como o elemento absoluto no qual se pode desen%ol%er a %ida humana. >urge o império global# total# da sociedade funcional# tecnológica. Jaso queiramos intuir # propriamente# a tend1ncia deste mo%imento# de%emos pr o nosso olhar naquele fenmeno onde o curso desta história aparece em toda a sua e%id1ncia: na t$cnica" ( caracter,stico da técnica# enquanto tra'o essencial da exist1ncia moderna# é um produ&ir que consiste num explorar. 6em todo produ&ir é um explorar# como se pode %er do modo de gera'ão da nature& a e no modo de cria'ão da arte. ( produ&ir da técnica é um produ&ir que se d- no modo da explora'ão. (rientado para este produ&ir $- est-# desde o in,cio da modernidade# o conhecimento que se promo%e nas ci1ncias. ( conhecer é# aqui# o modo primordial de poder. !m %ista deste saber que é poder# o real se transformou em um sistema de for'as# pass,%el de c-lculo e de controle. /ela técnica modern a a energia oculta da nature&a é desocultada# o que a, aparece é transformado pela for'a de trabalho do
homem# o que é transformado é refor'ado e aperfei'oado# o que é refor'ado é arma&enado a modo de recursos dispon,%eis# o que é arma&enado é distribu,do e reprocessado. !m tudo isto opera um calcular que %isa controlar as energias da nature&a para delas se dispor. Lsto exige que se assegure o controle das energias e o controle do controle. 6o afã deste mo%imento# a nature&a se transforma num imenso reser%atório de energia a ser explorado. ( chão se transforma em subsolo# donde se pode explorar os minérios# o petróleo# o car%ão. A terra se transforma em solo agr,cola# ou se$a# em ob$eto de uma agricultura que não se detém no cuidar e tratar# mas de uma agricultura que pro%oca e desafia o chão# no poder de uma ind3stria alimentar# altamente tecnici&ada. (s rios se transformam em reser%as h,dricas. /or toda a parte# erguemse barragens. (s rios estão nas barragens# não as barragens nos rios. ( mar é o grande reser%atório para a pesca# o sal# o petróleo. As plantas e os animais são modificados geneticamente# como produtos que precisam se aprimorar sempre mais# em %ista de uma excel1ncia que possa ser garantida atra%és de um rigoroso controle de qualidade. As matas e florestas são# cada %e& mais# %istas sob o prisma da explora'ão# mesmo quando se declara a necessidade de sua conser%a'ão. ( céu# e tudo o que h- nele# também se transforma. !xplorase a energia solar. 7iagens são feitas I lua como um primeiro passo no dom,nio do espa'o sideral. =elescópios potent,ssimos são en%iados ao espa'o sideral para obser%ar os mais recnditos lugares do uni%erso# com suas gal-xias# nebulosas# buracos negros. =ambém este obser%ar não se dem %ista de um mero contemplar# mas de um dominar. /or out ro lado# na dire' ão do microcosmos# in%estigase as células e os genes# o -tomo e suas part,culas. ! o homemS 8e su$eito# também ele se transforma em ob$eto. =ambém o homem se transforma em matéria prima e seu trabalho em energia para a produ'ão exploradora. !st- em curso a busca da produ'ão artificial de material humano. P- se pode produ&ir seres humanos em laboratórios. "o$e esta produ'ão artificial ainda depende das condi'es naturais# mas a tend1ncia é libertarse sempre mais destas condi'es naturais# para afirmar sempre mais as condi'es artificiais. As pesquisas das ci1ncias e as in%en'es que da, deri%am estão plenamente a ser%i'o desta interpela'ão produti%a da técnica. X lu& da técnica como modo fundamental de os entes %irem I lu em sua %erdade# na época moderna# a nature&a e o homem passam a ser %isados em refer1ncia I m-quina e como m-quina. =odo o real é redu&ido a mecanismos. =oda a %ida precisa ser mecani&ada.
A m-quina a$uda o homem a reali&ar o seu estar a ser%i'o da %ontade de poder# pois ela lhe d- a possibilidade de con%erter e re%erter a nature&a para o seu uso. A m-quina passa a ser a medida de todas as coisas. !la condu& e rege todas as nossas ocupa'es. =oda a nossa %ida passa a ser agenciada sob a ótica da %ontade de apoderamento e de controle# ou se$a# da domina'ão e da apropria'ão. (ra# a m-quina é um instrumento que atua por si próprio + um autmato# um )autom-tico*. ( imperar da m-quina é# portanto# o imporse sempre mais crescente do instrumental e do automatismo. =udo passa a ser instrumental. 6ada mais é um fim em si mesmo# nem mesmo o homem. =udo é um meio para um fim. =udo é um meio da e para a %ontade de poder. 6ada mais pode ser in3til e gratuito. =udo e todos de%em# de algum modo# funcionar num sistema. =udo e todos de%em# de algum modo# serem operadores e operati%os. ! tudo isto# em %ista de uma excel1ncia da produ'ão técnica. Punto com este funcionalismo e operati%ismo %igora também o utilitarismo: tudo só é I medida que %ale# isto é# I medida que fa& e deixa atuar a %ontade de poder tudo só é I medida que tem alguma utilidade dentro do sistema. ( homem passa a ter no peito um cora'ãom-quina# com todas as suas maquina'es. !ste cora'ão é uma bomba que pulsa no afã da %ontade de domina'ão# de apropria'ão e de controle. A %ida passa a ser %i%ida na 5nsia# na cobi'a# na sofreguidão pelo ser 3til. !la se torna uma corrida pela excel1ncia# pela funcionalidade# pela operati%idade. !la se torna pressa e sanha. 6esta sanha se mostra a gana do triunfo# da supera'ão infinita e ilimitada# pois não termina nunca de terminar. A %ontade de poder cobi'a sempre mais e mais e nunca est- satisfeita. 8e repente# tudo é um 3nico empreendimento# uma 3nica empresa da %ontade de poder. !m toda operati%idade passa a imperar o autoasseguramento da %ontade poder. A %ontade de poder sabe que o %i%er é muito perigoso# por isto busca se autoassegurar em todas as suas empresas e empreendimentos# em todas as suas funcionali&a'es# em todas as suas opera'es. Cesultados mais recentes desta 5nsia de autoasseguramento da %ontade de domina'ão# de apropria'ão e de controle de tudo são a automa'ão e a informati&a'ão# ou se$a# o predom,nio da cibernética. A automa'ão fala da tend1ncia da m-quina de se tornar um sistema funcional autnomo# de se tornar um ser em si e por si. =ratase de alme$ar que a m-quina se$a um sistema que se autoregule# que se autogere# que se autosustente. >e# de um lado# ho$e# tendese a pensar a ess1ncia do organismo biológico como uma m-quina# por outro lado#
também# tendese a pensar o funcionamento da m-quina como um organismo autom-tico. >e# de um lado# tendese a pensar o pensar humano como resultado da instrumenta'ão fisiológica# como um produto do cérebro e do sistema ner%oso# por outro lado# tendese a pensar as possibilidades de autogestão das m-quinas como uma espécie de intelig1ncia artificial. 8este modo# a era dos robs deixa de ser algo de fic'ão cient,fica e passa a ser uma possibilidade %i-%el# nos pro$etos da %ontade de poder que atua na técnica. 6a tecnici&a'ão# que culmina na informati&a'ão# a %ontade de poder# que %igora na história do ocidente# tornase planet-ria . A informati&a'ão torna tudo e todos elos de uma mesma rede# de uma mesma )net*. Aqui# a informati&a'ão não designa meramente os feitos e os efeitos da inform-tica e de sua expansão. 6ão é a informati&a'ão que nasce da inform-tica# mas é a inform-tica que nasce da informati&a'ão# pensada num n,%el estrutural e não num n,%el factual. 6a história do (cidente todo o real passou a ser pensado como forma. "o$e# toda forma de%e se transformar numa unidade de informa'ão + num bit. 6este modo de pensar# os contr-rios não compem nunca a mais bela harmonia# como di&ia "er-clito. =udo só pode ser# exclusi%amente# ou sim ou não# ou cheio ou %a&io# ou escuro ou claro# ou %erdadeiro ou falso# ou 0 ou ?. A combina'ão das formas nos sistemas bin-rios dão os bYtes. 6o poder dos chips de micro ou de macrobYtes est- atuando a destina'ão de um pensamento transformado em lógica a ser%i'o de uma matemati&a'ão de todo o real. 6a din5mica de um poder que busca sua consuma'ão e satura'ão# são compostas todas as posi'es e oposi'es. 6ela se d- a s,ntese de todas as teses e ant,teses. "egel e Marx triunfam no computador. Lnformati&ar é# pois# um supermodo de organi&a'ão. Jom a informati&a'ão# instaurase uma ordem planet-ria de domina'ão. /or ela# d-se a transforma'ão do real numa forma controlada de poder. =oda a %ida social dos seres humanos# em todo o planeta# passa a depender do controle da informa'ão operado pela inform-tica. >ob a ótica da informati&a'ão# os cérebros humanos são m-quinas de criar informa'es# as coisas materiais são energias para a a'ão e transforma'ão técnicas. A inform-tica celebra a s,ntese do pólo sub$eti%o dos cérebros humanos com o pólo ob$eti%o das coisas materiais. !la é a lógica encarnada num sistema microeletrnico. Aqui# o lógos da lógica se fe não carne# mas sil,cio.
Jomo se pode %er# de tudo isto resulta que os relacionamentos humanos# no seruns comosoutros de uma sociedade tecnológica global amea'a radicalmente o outro modo positi%o fundamental de con%i%1ncia# que é o modo da rela'ão pessoal. A impessoalidade acaba %igorando por toda a parte. Lsto se mostra como o dom,nio do p3blico# ou se$a# num sentido essencial# não factual# da publicidade. A nósidade se dissol%e na publicidade da sociedade tecnológica global# que tudo funcionali&a. 6o meio desta sociedade# cada um de nós di continuamente# em alto e bom tom: )eu sou*.@uem é este que di aqui# )eu sou*S Cesposta: é o )a gente*. !ste é# por sua %e o )todo o mundo* V. Mas o )todo o mundo* é# no fundo# o )ninguém*. Jomo entender istoS 6o cotidiano# o nosso serumcomooutro se d- a partir do mundo das ocupa'es. Jada um é aquilo que fa aquilo de que se ocupa: professor# aluno# bilheteiro# padeiro# engenheiro# médico# arquiteto. Jada um é# pois# algo que também os outros podem ser. (utros podem fa&er a mesma coisa que eu fa'o e# assim# podem me substituir no meu afa&er. (s outros podem ser %istos como concorrentes. >urgem# então# as compara'es: o outro é melhor# pior ou igual a mim ou# eu sou melhor# pior ou igual ao outro. Jada um se preocupa com as diferen'as em rela'ão aos outros# nem que se$a para elimin-las. Kuscase igualarse aos outros# quando se est- aquém deles. Kuscase# também# super-los e mant1 los aquém e por debaixo de si mesmo. !sta preocupa'ão com a dist5ncia entre si e o outro# chamamos de distanciamento" 6esta preocupa'ão de distanciamento# eu passo a ser condicionado por aqueles a quem quero alcan'ar ou superar. !u passo a %i%er# nesta ambi'ão# a partir dos outros e de seu mundo. Aos poucos# )os outros* dominam inteiramente os comportamentos do %i%er. >ó que este )os outros* não é constitu,do por este ou aquele outro determinado# mas pelos )outros* que são )todo o mundo*. 6este )todo o mundo* todas as diferen'as desaparecem. ( )todo o mundo* é o mundo em que as diferen'as são ni%eladas# o mundo da indiferen'a. Jada um se torna pertencente a estes )os outros*# que é# fundamentalmente o )todo o mundo*. Jada um se torna um )a gente*. 6o cotidiano# passase a %i%er na impessoali dade do )a gente*: a gente pensa# a gente sente# a gente age assim e assim. !ste modo de pensar# sentir# agir# poré m# é o modo mediano. Aquilo que con%ém# aquilo que se admite# é o mediano. 6ada de sair da média e daquilo que os outros di&em ser importante. =oda exce'ão tem %ida bre%e e passa a ser# de modo V
Jfr. M. "!L8!UU!C# P.# p. E2WE4W.
t-cito# desencora$ada. ( que é srcin-rio e que custou esfor'os# suor e sangue# de um %ida é# da noite para o dia# tornado acess,%el e f-cil a todo o mundo. 8-se# sempre de no%o# o nivelamento de todas as diferen'as.
8istanciamento, medianidade e nivelamento
constituem# pois# uma 3nica estrutura do sercomosoutros do cotidiano na sociedade do funcionalismo globali&ado# total# planet-rio. 6o entanto# nesta situa'ão t,pica da nossa epocalidade se concreti&a algo que estradicado na eHsist1ncia em sua forma de decad1ncia. =al forma é uma configura'ão deficiente do cuidado e pode ser aclarada naquilo que podemos denominar de defluxo# queda# ru,na. !nquanto determinada# em sua totalidade# pelo cuidado# a eHsist1ncia est- sempre propensa a decair da din5mica da liberdade# no sentido de uma plena correspond1ncia I con%oca'ão de ser a inst5ncia li%re da irrup'ão da plena luminosidade do ser como tal 8a seinG. A eHsist1ncia $- sempre# de alguma maneira# se prendeu aos entes# esquecida do ser. Jom isto ela nega a si mesma a possibilidade de ser li%re# pois liberdade não é# propriamente# o mero desprendimento# nem algum tipo de %incula'ão ao ente# mas sim o prenderse I luminosidade do ser como tal. do prenderse ao ente# no esquecimento do ser# que surge a estrutura daquilo que# aqui# chamaremos de ru,na. ( que se segue procura elucidar melhor esta estrutura. 7i%er é# sempre e cada %e %i%er emalgo# %i%erdealgo# %i%erparaalgo# %i%ercom algo# %i%er contraalgo# %i%er poralgo# %i%er a+partir+dealgo ... !ste )algo*# entretanto# não é uma coisa# ma s o mundo" 7i%er significa# pois# de di%ersos modos e em muitas maneiras# estar relacionado com o mundo# comportar+se com ele. =odo %i%er é ser+no+ mundo. /or outro lado# quando# aqui# falamos de mundo# estamos falando sempre de mundo+da+vida" ( %i%er# que se nos mostra# de in,cio# como um infinito intran siti%o# %isto
mais concretamente# doasenos como um finito transiti%o. ! o n)ema desta n)esis que é o %i%er# nós chamamos de mundo. Aqui# mundo não é o mesmo que uni%erso ou nature&a. =ratase# melhor# daquele algo que é vivido# daquilo a que o %i%er se atém# em que o %i%er se detém. Jom outras pala%ras# mundo é a totalidade de sentido daquilo que constitui o teor do %i%er# o seu conte3do. a partir do mundo da %ida que nós nos comportamos com o serdescoberto das coisas intramundanas# com o seraberto dos outros e# ainda# com o seraberto de nós
mesmos. Jom outras pala%ras# é a partir do imenso fundo do mundo da %ida que emerge o mundo circunstante# o mundo compartilhado da con%i%1ncia e o mundo próprio. 6a estrutura intencional do ser$untoa# o meu sernomundo $- é# sempre# descobridor. 6a estrutura intencional do sercom e do sersimesmo# o meu sernomundo $- é# sempre# abridor. 8escobrir e abrir são# pois# modos diferentes de des%elamento da manifestati%idade do ente# de acordo com as diferen'as de modo de ser que# cada %e est- em $ogo. !u me abro a mim mesmo# sendo descobridor dos entes intramundanos. !u me abro a mim mesmo# sendo acolhedor do comparecimento do outro como igualmente descobridor das coisas e abridor de mim e de si. !u me abro a mim mesmo# compreendendome no meu ser# que é# cada %e num ter que ser# num ter que tornarme mim mesmo# no sentido mais pleno e próprio. !u sou# cada %e como aquele ente que tra& consigo o 5mbito das possibilidades do poderapreender# ou melhor# do poderdes%elar. Jom outras pala%ras# eu sou# cada %e como aquele ente que tra& consigo o 5mbito de uma poss,%el manifestati%idade do ente# no qual as coisas aparecem# os outros aparecem# eu apare'o. A abertura deste 5mbito não pode $amais ser descoberta: só pode ser aberta. !u tenho que ser esta abertura que sou. !u tenho que ser o que sou. Lsto# porém# só acontece numa decisão. !Hsistir significa# no fundo# irromper plenamente no seio do ser# a partir desta decisão. Mas# por que eu tenho que decidir ser eu mesmoS >er- que# de in,cio e freqentemente# eu não o souS /or que tenho que tornarme o que souS >er- que# de in,cio e na maior parte das %e&es# eu não alcancei o meu simesmo mais plenoS /or que tenho de ganhar a minha %idaS >er- que# desde hmuito e muitas %e&es# eu $- a perdiS >e é assim# como sou presente eu a mim mesmoS Jertamente# não ser- no modo do mero ocorrer# nem do estar I mão# mas no modo do eH sistir# ou se$a# do $ogo onde se decide se me ganho ou se me perco. =entemos meditar acerca disto. Jomecemos com o esclarecimento de um dado fenomenal elementar. !u me encontro a mim mesmo no meu mundo pr)prio# ou se$a# na totalidade de sentido de tudo aquilo que %i%o# de tudo aquilo que me alcan'a e me afeta na experi1ncia do %i%er# dito de modo concreto# nas %icissitudes das minhas situa'es# da minha história. !ncontrome no seio da %ida# no meio do mundo# no turbilhão da história. >empre só posso me encontrar em tend1ncias# referimentos# em comportamentos# em relacionamentos e comportamentos que brotam dali. porque %i%er é estar em referimento com o mundo# que as minhas %i%1ncias
podem ser como são# isto é# intencionais. !ntretanto# como caracteri&ar melhor o sentido de referimento do %i%er# o modo b-sico de nos comportarmos com o mundoS ( %i%er# em seu sentido de referimento fundamental é cuidado# %ale di&er# cuidado de# cuidadopor alguma coisa ou alguém D. !ste cuidado é# por sua %e fundamentalmente# ocupaç&o e pre+ocupaç&o# ou se$a# solicitude ou consideraç&o" ( )alguma coisa*# num
sentido amplo# que também inclui o )alguém*# nunca é um ob$eto em si e para si# ao contr-rio# é sempre o que# de modo significati%o# nos %em ao encontro como solicita'ão de um cuidado# quer di&er# de uma ocupa'ão ou de uma preocupa'ão. Mesmo ali onde o meu %i%er é indiferente diante de tudo# onde %i%o na neglig1ncia# onde tudo se me apresenta como insignificante# tudo o que me %em ao encontro aparece I lu& deste modo deficiente de sernomundo# de se autoresponsabili&ar pelo cuidado das ocupa'es ou preocupa'es. ( cuidado é o modo fundamental de experimentar aquilo que# cada %e %em ao nosso encontro. 5ncontro di& o modo fundamental do darsenos daquilo a que nos referimos. 5peri4ncia di& o modo fundamental do nosso próprio referimento# ou se$a# do nosso
esbarrar# trombar com aquilo que encontramos. Jada experi1ncia é# em si# um encontro# a saber# um encontro que se d- na din5mica interna de um cuidado de# de um cuidado por. =udo aquilo com que podemos nos relacionar e comportar tem este car-ter: est- a, e é encontrado no caminho do cuidado# é experimentado como significativo a partir de um determinado cuidado. -ignificncia indica este modo fundamental como algo# segundo o seu teor próprio# é encontrado na %ida# como ele se detém e se retém no meio do mundo da %ida. ( %i%er# enquanto cuidado# %i%e em um mundo e se ocupa# de di%ersos modos# dos muitos e %ariados referimentos# ou se$a# das muitas possibilita'es e reali&a'es# das muitas situa'es e temporali&a'es# %ale di&er# dos encontros e das experi1ncias mesmas. no cuidado que o %i%er experimenta# cada %e o seu mundo. /or conseguinte# isto significa: é no cuidado que eu# primordialmente# me encontro a mim mesmo# fa'o experi1ncia de mim mesmo# do meu próprio mundo# de minhas próprias situa'es historiais# de minhas possibilita'es e reali&a'es# de minhas temporali&a'es.
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Jfr. M. "!L8!UU!C# -.# ?N?200.
Fa'o a experi1ncia de mim mesmo# antes de tudo# no cuidado# %ale di&er# no fluxo incessante do %i%er# no transmutar das situa'es# nos en%ios das possibilita'es# no 1xito ou malogro das reali&a'es. 8a, que uma inquietude parece dominar# inteiramente# a experi1ncia que fa&emos de nós mesmos# ou se$a# da nossa %ida. ( cuidar est- sempre num a re+miss&o# ou se $a# num remeter+se+a# que pode ser determinado ou indeterminado# seguro ou inconstante. ( %i%er encontra# cada %e uma dire'ão# para a qual se remete o cuidado. Acolhendo# cada %e uma tal remissão# o %i%er nela se empenha e nela cresce. ( %i%er se consuma nas cunhagens das remisses# nas quais o cuidado se empenha. /or isto# o mundo da %ida é# sempre e cada %e o mundo do cuidado# o mundo das remisses. ( que nós# anteriormente# chamamos de mundo circunstante# mundo compartilhado# e mundo próprio são# no fundo# 5mbitos diferenciados de remisses do cuidado. !u me encontro a mim mesmo# antes de tudo# no meu mundo próprio# o qual se d-# sempre# $unto com um mundo circunstante e um mundo compartilhado. !stes )mundos* não são# no entanto# tr1s esferas ob$eti%as# que se dão uma ao lado da outra# uma fora da outra. >ão tr1s 5mbitos ou dimenses de remissão do meu cuidado. ( mundo próprio# no qual eu# cuidando# me encontro# não é uma esfera ego,stic a# mas a dimensão ou 5mbito do cuidado pelo meu poderser mais próprio# ou se$a# é a dimensão na qual eu encontro as dire'es para as quais eu me remeto# na busca da indi%idua'ão# a qual não é nunca id1ntica com um ego,smo ou indi%idualismo# e sim com a tarefa de uma uni%ersali&a'ão que se dconcomitante com uma singulari&a'ão. ( fa&er ressaltar o mundo próprio nada tem a %er com o negar o mundo circunstante e o mundo compartilhado da con%i%1ncia. Ao contr-rio# eu só posso fa&er ressaltar o mundo próprio na sua dimensão peculiar se# ao mesmo tempo# me aproprio das minhas refer1ncias fundamentais para com o mundo circunstante e o mundo compartilhado da con%i%1ncia. ( %i%er no mundo próprio# isto é# o cuidar dele# nada tem a %er com a autoreflexão sub$eti%ista de um )eu* isolado. Jom efeito# como temos acentuado# eu me encontro somente em um mundo# no qual eu %i%o# ao qual eu me entrego# no qual o meu cuidado d- certo ou malogra com outras pala%ras# num mundo de sentido que toma sua espec,fica signific5ncia a partir do meu empenho de autoreali&a'ão. A experi1ncia do mundo próprio# no qual eu fa'o a experi1ncia do meu simesmo# nada tem a %er# pois# com uma reflexão psicológica ou com uma percep'ão interna de %i%1ncias
an,micas# processos e atos ps,quicos. ( mundo próprio é o mundo# no qual eu# como ser nomundo# encontrome# no qual eu# de certo modo# $untamente me dou e me recebo# no qual as )coisas da %ida* me acontecem# no qual eu ati%amente atuo. !u coexperimento a mim mesmo no cuidado# %ale di&er# nos meus empenhos# pelo meu mundo próprio. ( sentido mais srcin-rio da intencionalidade se expressa no sentido de referimento fundamental do %i%er# que é o cuidadoD. (s di%ersos modos da intencionalidade são# no fundo# di%ersos modos de o %i%er se referir ao seu mundo# de a %ida se dirigir# de remissão do cuidado# modos estes dados a si mesma pela própria %ida e# nela mesma# por ela experimentados. =entemos# pois# esclarecer melhor este sentido de referimento da %ida com o seu mundo# tal como se d- no concreto do %i%er f-ctico. Apontemos alguns dados fenomenais que nos a$udam a compreender isto que estamos di&endo. 8o cuidar pela signific5ncia do mundo# do tomar rumo no %i%er# do dirigirse desta ou daquela maneira no fluxo da %ida# nasce aquilo que chamamos de inclinaç&oEF" !sta d- ao %i%er um peso peculiar# uma dire'ão predominante# um impulso para isto ou para aquilo. ( peso que fa& pender o %i%er para esta ou aquela dire'ão não lhe %em de fora# mas est- a,# srcinariamente# nele mesmo# com ele mesmo. =odos nós fa&emos a experi1ncia das nossas inclina'es mais profundas# do pendermos# sempre de no%o# para aquilo que amamos# do sermos inclinados para isto ou aquilo. 6este ser+inclinado+para est- um dos caracteres mais fortes do nosso %i%er. !le empurra a %ida em seu mundo# seguraa e temporali&a uma fixa'ão do direcionamento do %i%er. ( %i%er se encontra a si mesmo# propriamente# ali onde ele mantém firme o seu serinclinadopara# %ale di&er# ali onde ele toma por si mesmo a dire'ão que h- de dar a si próprio# ou se$a# a dire'ão do lidar com o seu mundo. 6o seu ser inclinadopara# o %i%er )se tem* e se experimenta# cunhando# assim# a figura de seu mundo. 6o serinclinadopara# a %ida é# essencialmente# experimentada como mundo# ou se$a# na sua facticidade# ela é %ida# cada %e na figura de seu mundo# a saber# de seu mundo circunstante# de seu mundo próprio# de seu mundo compartilhado. Ao meu %i%er# corresponde o meu mundo. Ao teu %i%er# o teu mundo. Ao nosso %i%er# o nosso mundo. 6esta inclina'ão do referimento# no serinclinado como modo de reali&a'ão do cuidado# o mundo# no qual a %ida %i%e# tem o seu peso. A este peso elementar# facticamente# N
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%ão sendo acrescentados outros pesos# atra%és das di%ersas temporali&a'es da %ida# ou se$a# nas di%ersas transforma'es do mundo. 6o meio deste mo%imento# a %ida %ai sendo puxada e carregada. 6este sercarregado a %ida se abandona a uma certa pressão de seu mundo. Jedendo I pressão de seu mundo# a %ida se dispersa# se distrai. 6a multiplicidade de suas disperses e distra'es# a %ida se configura como um ser lan'ado no $ogo de seu mundo. A %ida )em si*# que é# cada %e a minha %ida# a tua %ida# a nossa %ida# se caracteri&a por aquilo que nós poder,amos denominar de #auto+sufici4ncia%EE. ( que queremos di&er com istoS Antes de tudo# con%ém notar que esta categoria + autosufici1ncia + di& algo de fundamental# estrutural# a priori# acerca da %ida. Mesmo que no seio do %i%er eu experimente muitas situa'es de car1ncia# pen3ria# depend1ncia# isto não é poss,%el a não ser no hori&onte do que# aqui# est- sendo chamado de autosufici1ncia da %ida. Ao di&er que a %ida é autosuficiente# nós estamos falando da estrutura intencional do viver como tal # do ser serdirigido# sempre e cada %e para um mundo. Autosufici1ncia caracteri&a# assim# o modo do sertranscendente do %i%er como tal. A %ida não precisa sair de si# desatarraxarse# para alcan'ar a sua plenitude. ( %i%er fala sempre e somente em sua própria )l,ngua*. /e se tarefas e exig1ncias# que só podem permanecer em seu próprio 5mbito. A partir deste 5mbito total do %i%er é que a %ida procura ultrapassar seus limites# suas imperfei'es e cumprir as perspecti%as que# neste mo%imento# se abrem. 6ão h- como ultrapassar os limites do %i%er a não ser a partir do mo%iment o para a plenitude que se encontra radicado no próprio %i%er. Pustamente na sua tend1ncia fundamental para a plenitude# isto é# no confronto# que se d- sempre de no%o# com a própria insufici1ncia e car1ncia# é que se afirma a autosufici1ncia da %ida# o fato de ela ser algo )em si e por si* e que só pode superar a si mesma a partir de si mesma. Jom isto# a plenifica'ão do %i%er não é nunca definiti%a. Jada meta alcan'ada abre no%as perspecti%as de reali&a'ão. Jada moti%a'ão correspondida pe no%as moti%a'es para se corresponder. =odos os )porqu1s* e )para qu1s* da %ida# porém# são postos no interior da própria %ida. A %ida permanece# ela mesma# sem um porqu1 e um paraqu1. A %ida se interpela a si mesma e responde a esta interpela'ão# que %em de si mesma# sempre# porém# na mesma linguagem do %i%er. =odas
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as formas de plenifica'ão da %ida# como arte# ci1ncia# religião# surgem a partir da própria %ida e de suas tend1ncias mais profundas. Lnclina'ão# serinclinadopara# sercarregado# dispersão# autosufici1ncia# compem um todo fenomenal# que só pode ser compreendido a partir do cuidado. >ó com o %ir I tona deste todo fenomenal é que se torna claro o mo%imento que podemos chamar de )fluxo*# )processo*# )corrente*# )acontecimento* da %ida. 5ncontramo+nos a n)s mesmos neste movimento. 6ão raro# sentimonos arrastados numa roda %i%a. >omos le%ados de roldão na
corrente&a do %i%er. no turbilhão deste mo%imento que podemos nos ganhar ou nos perder. nas %oragens da nossa história que# a cada %e se decide quem somos ou não somos# como conquist amos ou deixamos de conquistar a nossa própria identi dade# o nosso simesmo mais próprio. Bma outra estrutura do cuidado# igualmente origin-rio em rela'ão Iquele da inclina'ão# é o da distncia" ( modo de o %i%er se referir ao seu mundo é caracteri&ado pelo cuidado. A %ida tem o seu mundo no modo do cuidado. !la se atém# cada %e a uma totalidade de sentido# de signific5ncia# que ela tem diante de si# que el a tem em mira . ( referimento intencional# que é# antes de tudo um ter em mira# um %isar# no modo do ter diante de si é# no cuidado# deslocado. 6o serarrebatado por aquilo com que se ocupa ou se preocupa é que# $ustamente# se anula o )diante de*. Lmpulsionados pelo nosso interesse# nós $- não conseguimos tomar dist5ncia daquilo que nos ocupa ou nos preocupa. ( %i%er# %i%endo no serinclinadopara e na dispersão# $- não mantém a dist5ncia daquilo que o encontra e que ele experimenta. !le passa a enganarse nos seus al%os. 8es%iase daquilo que alme$a%a. /assa por cima das dist5ncias. Atropelase no seu próprio tropel. !nganase nas suas medidas. !nganase no pulso certo da reg1ncia dos acontecimentos. ( %i%er pe para si mesmo metas intramundanas: status# resultados# sucessos# posi'es mais altas numa carreira# supera'es de limites# %antagens# c-lculos# empreendimentos# barulhos# shoZs... !stes são modos nos quais a %ida# no afã do cuidado# deixase le%ar para longe de si mesma# ou se$a# modos em que o %i%er# cuidando de si# distanciase de si mesmo. 6estes modos# a %ida expande suas medidas e facilita sua dispersão. /ara isto# ela precisa# sempre de no%o# de no%o alimento. /or isto# ela multiplica para si as possibilidades e os meios de satisfa'ão. =emporali&ase nas infinidades. =ornase hiperbólica. Jresce de modo inflacion-rio e intempesti%o. ( %i%er acaba perdendo# nas muitas coisas# o 3nico necess-rio.
=odos estes dados fenomenais# a saber# a dist5ncia# a anula'ão da dist5ncia# o enganarse na mirada# o enganarse na medida# o distanciarse na inclina'ão e o hiperbólico# constituem uma 3nica estrutura# que surge também ela# baseada no modo de ser referencial do %i%er com o seu mundo# que nós chamamos de cuidado. Bma terceira estrutura# que surge do cuidado# é a do
bloqueio" Aquilo em que eu#
cuidando# %i%o# com outras pala%ras# aquilo# com que eu# cuidando# me comporto# é algo que pode estar explicitamente )diante* de mim. !ste )diante*# porém# h- de ser entendido de modo fenomenológico# e não de modo espacialocorrencial. !ste )diante* surge da estrutura fundamental do meu comportamento# que é sempre intencional. !u me comporto# cuidando# sempre com alguma coisa eu %i%o de alguma coisa. 6este sentido# em cada comportamento# que tem sempre o car-ter do cuidado# eu tenho# explicitamente# diante de mim# alguma coisa em mira. 6este )diante de mim*# o )mim*# o eu mesmo# facticamente# o meu mundo pr)prio, vem : fala, tamb$m ele, na eperi4ncia . !ste )diante de* pode ser# no
cuidado# ressaltado e# explicitamente# apropriado. Lsto se d-# porém# ali onde se mantém a dist5ncia como dist5ncia. X medida# porém# que o cuidado %i%e# facticamente# no ser inclinadopara e nele se fixa# a apropria'ão do )diante de*# da dist5ncia# não pode ser le%ada a cabo. ( cuidado se embara'a# então# na preocupa'ão com as compara'es# com o primeiro# o mais próximo# o mais alto... !le se perde. ( %i%er preocupado se inclina para o seu mundo e não sabe buscarse de outro modo que se compreendendo a partir das coisas# dos afa&eres# dos empreendimentos que ele mesmo promo%e. 6o correr atr-s disto ou daquilo# no percorrer muitos caminhos de buscas e empreendimentos# no decorrer das di%ersas situa'es# a %ida mesma aparece como uma ocorr1ncia. !la se torna um )algo* intramundano# um )algo* que est- a,# diante de mim. 6o deixarse arrastar pelas signific5ncias intramundanas# na hiperbólica forma'ão de no%as possibilidades e meios# a %ida sai de seu curso. Assim# no cuidado# a %ida se tranca a si mesma. 6este auto trancamento# o %i%er se busca sempre de no%o a si mesmo e se encontra somente nos seus mascaramentos. 6ele# o %i%er se preocupa sempre mais# de modo apreensi%o# com o seu mundo. 6uma tal preocupa'ão apreensi%a# ansiosa# o %i%er f-ctico se forma sempre no%as possibilidades de signific5ncia# nas quais ele se procura e# assim# pode se assegurar de seu )significado*. !ntretanto# a multiplicidade das possibilidades mesma é sempre uma potencia'ão das possibilidades do sempredeno%oseenganar. >urge# assim# uma
infinidade de poss,%eis enganos# erros# desencontros. A %ida mesma se mascara# sempre de no%o# no sentimento da infinidade# ou se$a# da infinitude de possibilidades. Jom esta infinidade# a %ida cega a si mesma# ela arranca de si os seus próprios olhos. 6o auto trancamento# a %ida se omite# ela fica para tr-s# se perde. ( trancamento tem# pois# o car-ter el0ptico. 8este modo# A %ida f-ctica aplaina para si a sua pista# buscando sempre tender
para o mais f(cil. ( %i%er f-ctico procura# cada %e& e sempre de no%o# a facilitaç&o. A inclina'ão segue o impulso# sem inter%en'ão. !la busca aquilo que lhe corresponde# sem mais. Jom a comodidade# o %i%er busca# ao mesmo tempo# a seguran'a. 7ida é cuidado# a saber# cuidado que# na maior parte das %e&es# se d- no facilitar# na fuga. 6a busca do mais f-cil# o %i%er %olteia# %agueia e# deste modo# se dispersa e se perde. A %ida busca assegurarse de si# des%iando o olhar de si mesma. A seguran'a# enquanto despreocupa'ão# não é outra coisa que um modo do cuidado# da preocupa'ão consigo mesmo. A seguran'a# por sua %e molda para si um mundo e o potenciali&a na suas possibilidades de conser%a'ão e de resist1ncia. 6esta potencia'ão# o %i%er se torna hiperbólico e# ao mesmo tempo# el,ptico. !le %olteia# e%itando o simples# fugindo de toda decisão srcin-ria# des%iandose do seu poder ser mais próprio. Jada uma destas estruturas# indicadas com as categorias )inclina'ão*# )anula'ão da dist5ncia* e )bloqueio*# exprime em si mesma algo de mo%imento. !m cada uma delas aparece aquilo que nós podemos denominar de #relu24ncia% e #prevenç&o%EG. ( %i%er tem a tend1ncia de decair no mundo em que é e est- e de se interpretar a partir da lu& que dele emana# ou se$a# a partir de sua relu&1ncia. ( %i%er segue sua inclina'ão# d- a si mesmo um peso que o fa& pender nesta ou naquela dire'ão. Aquilo que o %i%er %i%e tem o car-ter de algo que estimula# pede# exige ou inibe a sua inclina'ão. 8este modo# a inclina'ão se %olta de no%o para a %ida mesma# para o seu cuidado. Assim# o %i%er se mostra como algo que se mo%imenta de si para si mesmo. !le relu reflete# a si mesmo no seu mundo. A %ida é# atra%és de si mesma# consigo mesma e em si mesma# relu&ente. a partir do seu mundo relu&ente que ela assume suas rei%indica'es e suas medidas# seus
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Jfr. M. "!L8!UU!C# 31r# ??V?E0.
propósitos e suas execu'es. Atra%és de seus propósitos# a %ida se pre%ine dos perigos e constrói ao redor de si uma fortale&a. !la busca seguran'a e prote'ão. 6a anula'ão da dist5ncia elementar e srcin-ria# o %i%er cria distanciamentos intra mundanos nos seus propósitos e pro$etos# nas suas inten'es e metas e# nisto tudo# ele se reflete# relu&. 8este modo# o seu cuidado se %olta para resultados# posi'es# %antagens# conquistas. !le se empenha por pre%enirse de tudo aquilo que pode impedir o alcance de seu al%o. ( cuidado# também no car-ter referencial do bloqueio# ou se$a# do fechamento ou trancamento# é relu&ente. Jom efeito# no empenharse em seu mundo# o %i%er foge de si mesmo. !ntretanto# $ustamente no modo da fuga e do afugentarse é que o %i%er chega a si mesmo e se encontra. Jom outras pala%ras# $ust amente na fuga de si é que o %i%er se %olta para si. !ste %oltarse para si# por sua %e estabelece suas pre%en'es. Lsto significa: é $ustamente a partir da fuga de si que o %i%er arruma para si os modos nos quais ele lida com seu mundo e consigo mesmo. a partir da, que o %i%er se preocupa em pre%enir e resol%er toda urg1ncia# em não perder nenhuma ocasião de ganho# em não cair nunca em embara'o# em pro%idenciar# sempre de no%o# sa,da de situa'es que o colocam em perplexidade. A totalidade destas estruturas# que é uma totalidade din5mica# perfa& o sentido do mo%imento predominante do %i%er f-ctico# aquele no qual nós nos encontramos# de in,cio e na maior parte das %e&es. =a l motilidade nós denominamos de quedaE*. =ratase de um mo%imento que configura a si mesmo# ou melhor# que configura o %a&io# no qual ele se mo%imenta. !ste %a&io é# pois# a condi'ão de possibilidade da sua motilidade. /odemos chamar esta motilidade de ru0naEH" 6uma indica'ão formal# apresentamos a ru,na como sendo a motilidade do %i%er f-ctico# a qual atua e fa& acontecer o %i%er f-ctico nele mesmo# como ele mesmo# para ele mesmo# a partir dele mesmo e# nisto tudo# contra ele mesmo. A ru,na constitui# pois# o car-ter de motilidade da relu&1ncia e da pre%en'ão# que são a expressão da estrutura intencional do cuidado cotidiano e mediano ?W. A intencionalidade é# com efeito# a estrutura formal fundamental das estruturas categoriais# ou melhor# eH sistenciais# do %i%er f-ctico# ou se$a# ela é a estrutura srcin-ria da facticidade do %i%er f-ctico. ?E ?4
Jfr. M. "!L8!UU!C# -.# ?OO?D0. Jfr. M. "!L8!UU!C# 31r# ?E??WW.
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Jfr. M. "!L8!UU!C# 31r# ?E??EE.
( cuidado tem em %ista# na sua atua'ão# a si mesmo. Jomo se d-# porém# este
si+
mesmoS ( cuidado cuida de si mesmo e este si mesmo é determinado a partir de seu mundo. Jom outras pala%ras# o cuidado assume a si mesmo no seu próprio cuidar# só que
este )simesmo* não é um simesmo srcin-rio# mas# sim# um simesmo a modo de ocorr1ncia# ou se$a# tratase de um )eu* que# no fundo# é um )ele*. 6a %erdade# de in,cio e na maior parte das %e&es# o cuidado detémse em si mesmo no seu próprio cuidar. 8e alguma maneira# ele se segura# se aprisiona. Assumese a si mesmo# sobrecarregandose. ( cuidado se torna# portanto# preocupa'ão# apreensão. 6a preocupa'ão# ou se$a# no cuidado apreensi%o# o cuidado lan'a# por assim di&er# toda a sua motilidade na dire'ão de si mesmo. Jom outras pala%ras# a sua própria motili dade passa a ser mo%ida por ele mesmo. Assim# o cuidado se potenciali&a. Bma tal potencia'ão do cuidado fa& parte# porém# de sua própria ru,na. que# nesta potencia'ão# reside uma ambigidade perigosa. 8e um lado# o %i%er entra numa aparente ascensão e num intempesti%o crescimento. =emse a impressão de galgar posi'es ele%adas. ( %i%er parece atingir a sua m-xima efic-cia e efici1ncia# tornase altamente atual e atuante# empreendedor e enga$ado. =odo o seu agir re%estese de um ar sério e gra%e. Jontudo# cada %e& mais o %i%er se aprisiona em seu mundo# isto é# em seus interesses# empreendimentos# preocupa'es. Jom isto# aos poucos# ele $- não mais se reconhece em si mesmo e diante de si mesmo. Jriase um mascaramento# por meio do qual a sua %erdad eira identidade não pode %ir I tona. ( prenderse ao mundo próprio é compreendido# na preocupa'ão e apreensão do cuidado# como tarefa %erdadeiramente agarrada e assumida# como aquilo que# dia e noite# não deixa descansar o %i%er como luta# risco e sacrif,cio do %i%er. !ntretanto# nesta motilidade# o %i%er deixase le%ar# carregar# entregase I sua própria ru,na# pois distanciase cada %e& mais de si mesmo e de seu poderser mais próprio e srcin-rio. =udo isto que estamos descre%endo# porém# não resulta em algo que ocorre a modo de um fato# que se pode constatar de modo )ob$eti%o* numa moldura )espa'otemporal*# também ela# ob$eti%a. =ampouco pode ser apreendido como ocorr1ncias ps,quicas# sub$eti%as# internas# imanentes# em uma consci1ncia indi%idual que subsiste em si# a modo de uma c-psula# de uma esfera sem mundo. ( que aqui descre%emos não são algo )no* tempo# entendido de modo ob$eti%o ou sub$eti%o. >ão# ao contr-rio# modos de temporali&a'ão do %i%er# do eHsistir. =ratamse de e%entos# de fenmenos Iairol)gicos.
!stes fenmenos descre%em# com efeito# um determinado ritmo# uma determinada cad1ncia# da motilidade do %i%er# da,# uma de+cad4ncia" 8este modo# eles designam uma certa rela'ão com o tempo# com o tempo pr)prio do viver # o qual não é nem ob$eti%o nem sub$eti%o# mas anterior a esta mesma classifica'ão. =ratase do tempo f-ctico do %i%er. @uando o %i%er se mo%e no extremo de sua preocupa'ão e apreensão# nele aparece algo como uma afli'ão# um tormento# como se# nele# algo esti%esse continuamente roendo e brocando. !stes fenmenos t1m o sentido de ser um anJncio de como est- indo a %ida deste %i%er. >ão modos de o próprio %i%er f-ctico# a partir de si mesmo# querer rei%indicarse. 6o modo do tormento e da afli'ão# anunciase algo que est- de%orando a %ida. ( tormento# a afli'ão# o dilaceramento do cuidado apreensi%o# da preocupa'ão# são modos em que a %ida se anuncia# ainda se anuncia. Jada um pode# nesta situa'ão# compreender ou não este an3ncio e# compreendendoo# le%-lo a sério ou não. 8e acordo com o modo como alguém se comporta com este seu si mesmo atormentado e aflito# deslanchase uma determinada hist)ria. ( tempo do %i%er não é# com efeito# uma moldura# mas o como da motilidade do viver # que é# em %irtude da liberdade# sempre historial. ( %i%er f-ctico tem o seu tempo# ou melhor# é tido pelo seu tempo. !ste ser tido pelo seu tempo# ou se$a# o precisar de tempo e o ter que dar tempo ao tempo# perfa& a condi'ão da possibilidade do ser historial do %i%er. 6a ru,na# porém# o %i%er n&o tem tempo" que a sua motilidade retiroulhe o tempo. Cetirandolhe o tempo# por sua
%e ela anula a sua historicidade. ( não ter tempo é# pois# uma expressão da ru,na do %i%er e da anula'ão de sua historicidade. 6a preocupa'ão# com sua apreensão e ansiedade# o %i%er se aprisiona em si mesmo. !le se torna frenético e disparatado. Para onde condu& este mo%imento de queda do %i%er# esta motilidade# que nós
denominamos de ru0naS @ual o paraonde de sua tend4nciaS @u al o intentum de sua intentioS Cesposta: o paraonde da queda# da ru,na# não é algo que lhe é estranho# mas é
algo que tem o car-ter do %i%er f-ctico mesmo. =ratase do nada do vive r f(ctico" !ste )nada* de%e ser entendido# porém# no sentido eHsistencial. 6ão se trata de um nada determinado formalmente a partir da mera nega'ão do )alguma coisa*# ou se$a# o nada como o mero nãoalgo. 8o mesmo modo# não de%e ser entendido como a pri%a'ão do ser# no sentido de um nãoocorrer# nãosubsistir# não ser simplesmente dado. =ambém não como
o nãoestarImão ou o nãoserdispon,%elparaouso de um instrumento. !ste nada tem um sentido eHsistencial e só a partir da facticidade do %i%er é que pode ser entendido. /oderseia pensar que este nada# que constitui o paraonde da queda# fosse algo em que a queda# como tal# se amortece sse e se acabasse. Mas não se trata disto. /elo contr-rio# $ 'ustamente este nada que fa2 acontecer a queda, que condiciona a sua temporali2aç&o.
=ratase de um %a&io que torna a queda fat,dica. A queda# portanto# é formada pelo seu paraonde# que se temporali&a na preocupa'ão. ( car-ter de temporali&a'ão da queda nós denominamos de aniquilaç&o# quer di&er# de anulaç&o" ( %i%er f-ctico anulase# aniquila se# não deixando de subsistir como uma ocorr1ncia# como um ser simplesmente dado# nem )não ser%indo para mais nada*# mas no n&o+acontecer do seu si+mesmo mais pr)prio . !m sua estrutura intencional# o %i%er f-ctico pode estar dirigido para este nada. Ali aparece toda a sua indig1ncia. 6esta situa'ão# ainda se %i%e# mas o %i%er '( n&o %ibra na plenitude de suas possibilidades mais próprias e srcin-rias. ( %i%er $- interpreta a si mesmo como uma mera ocorr1ncia# com um mero ser simplesmente dado. ( simesmo tornase opaco# sem brilho# sem for'a e sem %igor. Anulase e# assim# interpretase como uma coisa entre outras coisas# como uma factualidade entre outras factualidades. ( simesmo acaba se pro$etando como um ob$eto# nomeandose um )eu*# mas# ao mesmo tempo# se compreendendo como um )ele*# um )isso*. Assim# o simesmo não percebe que# o que ele chama de )mundo real*# )efeti%o*# )ob$eti%o*# )imediato*# e no qual ele se inclui como um )ob$eto*# uma )coisa* # um )eu*# não é nenhum dado fenomenal primordial# nenhum critério absoluto# mas é# sim# uma temporali&a'ão na %ida f-ctica decadente. Jom outras pala%ras# não percebe que aquela imediate&a é mediata# sendo a media'ão que a pe# não um ato de representa'ão ou de )pensamento*# mas o mo%imento ruinant e da %ida f-ctica. # com efeito# o deixarse le%ar pelo ,mpeto do mo%imento que nos empurra para dentro do mundo# no modo do cuidado# e que nos fa& decair para as coisas# que nos fa& aparecer o mundo das coisas como o que nos é mais próximo# como o imediato. Lsto quer di&er que# aquilo que# no modo desta imediate&a mediata# é experiment-%el e re%el-%el não é# necessariamente# apreendido a partir dele mesmo na sua mais genu,na presen'a. !ste mundo e sua imediate&a# incluindo a, a apreensão de si como um )eu*# a modo de factualidade# é# pois# altamente
question(vel"
Mais imediato e próximo do que o mundo das coisas do cuidado e sua imediate&a é o pr)prio viver f(ctico, a vida em si e por si, a eI+sist4ncia"
Jomo acen-%amos inicialmente# o ser nunca nos é dado como um fato bruto. nos concedido sempre como uma tarefa de nossa própria responsabilidade. ( eHsistir é caracteri&ado como um terqueser. Assumindo este terqueser# nós nos tornamos# de fato# a inst5ncia 8aG onde se irrompe# li%remente# a luminosidade do ser como tal
-einG.
neste processo que# outrossim# nós nos tornamos uma ipseidade# um simesmo. !ste si mesmo# portanto# precisa ser# sempre de no%o# conquistado# pois# de in,cio e na maior parte das %e&es# ele $- foi perdido. /erda do simesmo e esquecimento do ser são concomitantes. Ambos pertencem I ru,na da eHsist1ncia como autonega'ão da própria liberdade. 6esta nãoliberdade# a eHsist1ncia se mostra como o enfado da %ida# isto é# manifestase a si mesma como peso. !ntregandonos I propensão para a ru,na da eHsist1ncia# a perda do simesmo e o esquecimento do ser# nós $- sempre preparamos para nós mesmos o bloqueamento das nossas possibilidades mais próprias. 8a,# o sentimento de peso que a %ida tra& consigo. !u me torno um peso para mim mesmo. >omente assumindo a tarefa de ser si mesmo na minha possibilidade mais própria é que a eHsist1ncia se torna a inst5ncia li%re e le%e da luminosidade a clareiraG do ser. 7e$amos isto mais de perto. A autodatidade da %ida f-ctica# o ser simesmo# para simesmo# do simesmo# nada tem a %er com a imediate&a mediata da factualidade. 6ós a denominamos facticidadeE=" !sta é o sentido de ser de nosso %i%er# de nosso modo de autoapresenta'ão# de nossa presen'a mais própria# de nossa eHsist1ncia. )>er*# aqui# nada tem a %er com ocorrer a,# subsistir# ser simplesmente dado. )>er* significa# ao contr-rio# cada ve2# ter que ser" # pois# neste modo de ser que o simesmo# srcinariamente# est- #a0%# $amais no modo de um ob $eto. Jom outras pala%ras# o simesmo é e est- a, no modo do seu mais próprio ser. ( si mesmo é cada ve2 meu . Lsto não significa indi%idualismo e solipsismo. @uer di&er# somente# que )propriedade* é o modo de ser do simesmo# ou se$a# é o sentido de um caminho de despertar. ) @(ctico* é# por conseguinte# aquilo que# num tal car-ter de ser# a partir de si )é*. )7ida f-ctica*# )%i%er f-ctico* + expresses que $- usamos nesta reflexão + ?O
Jfr. M. "!L8!UU!C# ;>@# V ?422 2NEE.
expressam este modo de ser# que é o modo como nós somos e estamos# enquanto nós mesmos# $unto de nós mesmos. Jompreendemos# no concreto# a facticidade quando nos despertamos para nós mesmos# quando abrimos o acesso do caminho que le%a# da auto
aliena'ão# em que# tendencialmente %i%emos# para o ser simesmo no sentido mais pleno# para a autoposse de nossa própria ess1ncia. ( ser da %ida f-ctica $ no modo do seu ser+ poss0vel mais próprio. ( poderser mais próprio do simesmo# ou se$a# o ser simesmo na
plena posse da própria ess1ncia# nós denominamos de eI+sist4ncia. !Hsistir é# pois# como $- dissemos# um dom# uma tarefa e uma conquista# de que nós# de in,cio e na maior parte das %e&es# nos esquecemos# de que nos alienamos é uma possibilidade que nós# tendencialmente# deixamos passar# isto é# não abra'amos com todas as nossas for'as. =udo isto quer di&er que sou eu mesmo somente a caminho de mim mesmo# ou se$a# do meu simesmo mais próprio e srcin-rio# a caminho da plena posse de minha ess1ncia humana. !ste )ser e estar a caminho de si mesmo* exprime# pois# o ser+poss0vel + o poder+ ser + da eHsist1ncia# que é a plena posse de nossa ess1ncia. !Hsist1ncia# enquanto uma determinada possibilidade historial# para a qual# cada %e somos con%ocados# não é e est-
a, nunca como um ob$eto# mas somente como ser# como %i%er# a saber# como %i%er pleno. /or isto mesmo# não se pode nunca falar sobre a eHsist1ncia# mas somente a partir dela# ou se$a# %i%endo nela# como no poderser da plenitude da %ida. ( fluxo da %ida f-ctica é# de in,cio e na maior parte das %e&es# um defluxo. /or isto# sói acontecer de sermos um peso para nós mesmos. =oda a nossa agita'ão denuncia# no fundo# uma acomoda'ão# pois não queremos tomar a decisão de sermos plenamente o que somos na plena posse da nossa ess1ncia# ou se$a# a decisão de eHsistirmos. mais f-cil ser o outro de si mesmo# ser o estranho a si mesmo# o alienado# do que ser simesmo no seu poderser mais próprio. mais con%eniente a esta nossa tend1ncia# desli&armos na dispersão# de coisa em coisa# de empreendimento em empreendimento# na dire'ão do nada do esquecimento do sentido de ser da eHsist1ncia. 6este contexto todo# eHsistir# ser si mesmo# %ibrar na plenitude do %i%er é# de fato# uma grande tarefa# que exige de nós um contramo%imento# a saber# um mo%imento de retorno# da dispersão para o recolhimento no uno# no 3nico necess-rio.
Ceali&ar o contramo%imento da queda no m3ltiplo dispersi%o I ascensão e recolhimento no uno exige# de quem nele se empenha# uma capacidade de tolerar e sustentar as tend1ncias contr-rias. >ignifica suportar as contrariedades# dificuldades e tenta'es. Ali-s# num tal empenho# a cada no%a situa'ão# o %i%er passa a ser experimentado como uma cont,nua tentaç&oEK" !%idenciase o perigo do %i%er# bem como o fato de# sempre de no%o# a cada no%a situa'ão# sermos postos num )cmpito*# onde se decide se nos ganhamos ou nos perdemos. !merge# no car-ter da cura# a inseguran'a# o conflito entre contrapossibilidades. A tessitura do %i%er se mostra como um tecido dilacerado# rompido. >ua estrutura# como uma fraturada. 6este contexto# aspirar e buscar a plenitude do %i%er# a plena posse da própria ess1ncia# na poderser mais próprio# como o eHsistir srcin-rio# significa uma grande coragem de ser. ( %i%er pode# então# passar a ser uma busca# isto é# uma questão
. =ratase de uma
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busca da %ida mais plena# busca diuturna# que precisa ser reali&ada com todo o empenho# de )corpo e alma*# e experimentada na sua facticidade# de dia e noite# na %ig,lia e no sono# bem como nas di%ersas transi'es das situa'es do %i%er. 6este empenho# a ru,na e a enfermidade da %ida não são deixadas para tr-s# mas são# $ustamente agora# reconhecidas e assumidas. ( %i%er se reconhece na sua indig1ncia. !stamos sempre em busca de nos refa&er nas satisfa'es da nossa indig1ncia. As satisfa'es nos dão pra&er. Mas# mesmo as satisfa'es mais elementares das nossas necessidades f,sicas# $- cont1m# em si# algo daquela periculosidade do %i%er f-ctico. 8a, que# para nós# o comer e o beber# bem como outras satisfa'es corporais# como a sexual# por exemplo# nada tem de animal# é $- plenamente humano e# deste modo# é $- sempre a inst5ncia de um ganharse ou perderse# de um ele%arse ou decairse# de um dispersarse ou recolherse. que# no tr5nsito da indig1ncia I saciedade se insere# sempre de no%o# algo da ?V
A pala%ra )tenta'ão*# aqui# não possui um sentido religioso# nem ético# mas eHsistencial# isto é# enquanto um como da concre'ão da motilidade da %ida na ru,na. 6ão obstante# este car-ter estrutural do %i%er f-ctico só pde ser e%idenciado com maior clare&a na experi1ncia f-ctica da %ida cristã# como se pode notar# por exemplo# no 6o%o =estamento# sobretudo em /aulo# em Agostinho# na ascese e m,stica medie%al# na religiosidade dos reformadores protestantes# como 9utero e Jal%ino# e nos escritos de pensadores religiosos modernos como /ascal e RierHegaard. Jfr. M. "!L8!UU!C# Phr<# OV?2W 31r# ?W4?WW ;>@# WO# ???. ?D As exposi'es seguintes são hauridas# sobretudo# da interpreta'ão heideggeriana do li%ro das Jonfisses# de Agostinho de "ipona. A experi1ncia fundamental do %i%er# aqui# aparece em expresses como )quaestio mihi factus sum * cap. ?OG# ) oneri mihi sum* cap. 2?G e: ) nunquid non tentatio est vita humanaL%
cap. EEG. Jfr. M. "!L8!UU!C# Phr<# ?WV24O.
própria liberdade do %i%er e de suas decises. A busca da %ida mais plena pode ser compreendida como busca de mais pra&er e satisfa'ão. !m nós $- atua uma tend1ncia para isto. ! seguimos# facilmente# esta tend1ncia. ( amor do pra&er e o temor da dor e do sofrimento nos possuem. 8este modo# estamos# sempre de no%o# bifurcados em nosso cuidado. A cada no%a situa'ão# emergem o dese$o e o temor. 6a prosperidade# isto é# nas situa'es fa%or-%eis# temo as coisas ad%ersas. 6a ad%ersidade dese$o as coisas fa%or-%eis. 7i%emos# sempre de no%o# neste hori2onte de epectativa . ( porvir nos pressiona# pois não sabemos o que nos reser%a: felicidades ou infort3nios. Assim# o %i%er# desde a sua materialidade %i%ida mais elementar# desde a satisfa'ão corpórea mais sens,%el # $- é determinado pelo cuidado e resulta# muitas %e&es# impregnado de apreensão. =oda o nosso %i%er percepti%o sens,%el precisa ser compreendido como estando inserido neste contexto. ( perceber sens,%el não é somente apreensão de algo como algo# uma apreensão neutra que apenas registra o que se d- a conhecer. ( perceber sens,%el é# $- sempre# determinado pelo cuidado. 6ele atua as for'as do dese$o e do temor# a din5mica do cuidado e da preocupa'ão. >egundo esta din5mica# no perceber sens,%el se d-# de modo intr,nseco# algo como a busca apreensi%a do autoasseguramento da satisfa'ão. A nossa experi1ncia sens,%el do mundo no %er# ou%ir# cheirar# degustar e contatar $- se d-# sempre# naquela din5mica. /ode ser que# sempre de no%o# a experi1ncia do perceber sens,%el se$a a experi1ncia de um ser arrastado no defluxo do %i%er f-ctico# pela cobi'a e pelo temor# o que resulta em ru,na do simesmo. Jada experi1ncia sens,%el é# com efeito# uma inst5ncia onde se $oga o $ogo da nossa liberdade# do nosso ganharse ou perderse. /or isto é que a busca da %ida plena exige uma espécie de )ética da percep'ão*# ou se$a# um modo de tornar a experi1ncia da percep'ão sens,%el um caminho para o simesmo mais pleno. ( car-ter tentador da experi1ncia da %ida se confirma# ainda# na curiosidade. !m toda experi1ncia# enquanto cuidado# reside uma tend1ncia fundamental ao pra&er# um apetite# um ambicionaralgumacoisa. ( apetite se dirige a um divertimento# como a um modo de passar o tempo no deleite de alguma coisa# lidando com algo que se torna acess,%el emocionalmente. ( deleitarse segue o como de referimento da sensibilidade# que permanece $unto daquilo que d- pra&er# no go&o e frui'ão. /or isto# o pra&er persegue o belo# o harmonioso# o sua%e# o saboroso# o brando. A curiosidade# porém# constitui um
outro modo de se relacionar com as coisas# que segue a mesma tend1ncia# mas %ai mais além e se torna# por isto mesmo# mais perigosa. o dese$o de tudo conhecer# experimentando tudo# por meio da sensibilidade. /or ser um dese$o de conhecer e experimentar sensi%elmente e por o modo de conhecer sens,%el poder ser denominado )%er*# em %irtude do primado# $- acenado# do %er sobre os outros sentidos# nós chamamos de cobiça dos olhos este modo de se relacionar com as coisas em geral ?N. ( modo de acesso Is coisas# que a sensibilidade oferece a nós é# agora# situado dentro desta aspira'ão a tudo experimentar. !ste querer experimentar tudo é# no fundo# um modo de querer %er e conhecer tudo sem nenhum comprometimento. A curiosidade quer só %er# não quer# de modo algum# se comprometer com aquilo que experim enta. !la é caracteri&ada pelo fato de# sempre de no%o# tirar o corpo fora# fugir de qualquer comprometimento. >e o deleitarse busca somente o que d- pra&er# a curiosidade busca mesmo aquilo que é o contr-rio do belo# do harmnico# do sua%e# etc. Bm corpo estendido na rua# não é# certamente algo de belo# no entanto# ao saber que ali $a& estendido um cad-%er# todos acorrem para olhar. 8ito de modo fenomenológico: o intentum da curiosidade é diferente daquele do deleitarse# sendo outra# também a intentio" ( mero querer %er# a pura curiosidade# é tanto mais o que ela é quanto mais ela é acentuada emocionalmente. A experi1ncia da satisfa'ão da curiosidade busca %i%1ncias )emocionantes*: a %i%1ncia do horripilante# por exemplo. "a$a a %er# o sucesso da ind3stria cultural do cinema. Bma tal curiosidade %a&ia# porém# se insere também e até mesmo em dimenses mais ele%adas da %ida# como na arte# na religião# na ci1ncia# etc. =udo se torna uma questão de experimentar e de tomar conhecimento# mas sem comprometimento com a busca do %i%er pleno. =udo se torna acess,%el a um olhar que tudo %1# que tudo explora# que se imiscui mesmo nos santu-rios da intimidade humana# como se um grande olho tudo explorasse# sem se comprometer com nada. 7endo o mundo por meio deste grande olho# que# no fundo# não é meu# nem de ninguém# mas de )todo o mundo*# eu me torno cego. A exist1ncia se torna opaca# perde toda a sua delicada e# ao mesmo tempo# %igorosa bele&a# e tudo cai no %a&io da banalidade. ?N
A cobi'a + concupiscentia + tem# pois# uma import5ncia fundamental no defluxo da %ida f-ctica. 6a linguagem do 6o%o =estamento ? Po 2# ?W?VG este defluxo se apresenta na tr,plice forma da tenta'ão# que se estrutura como concupisc1ncia da carne επιθυµια της σαρκος / epithYm,a t1s sarHósG , concupisc1ncia dos olhos επιθυµια των οφθαλµωνepithYm,a / tn oftalmnG, e orgulho da %ida (αλαζονεια του βιου[ ala&onéia to\ b,ouG.
Bm outro modo# ainda# de tenta'ão do %i%er se d- no que podemos denominar de soberba. =ratase de uma estrutura do comportamento# que surge do querer ser temido e amado pelos outros. ( cuidado# aqui# se instaura no sentido da busca de uma posi'ão em rela'ão ao mundo compartilhado da con%i%1ncia. um querer# isto é# um aspirara# um ambicionar# no qual a %ida é posta em opera'ão# no sentido de ser temido e amado pelos outros. ( mundo próprio# ou se$a# o mundo do próprio atuar e efetuar# se pro$eta no mundo compartilhado da con%i%1ncia# ou se$a# no %i%er em sociedade. /rocurase ter reconhecido o próprio %alor no mundo da con%i%1ncia. !sta busca# no entanto# se reali&a# no querer ser temido# como um prse por cima dos outros e# assim# como um imporse aos outros. Lsto $acontece no querer ser amado# como um tomarse por algo de %aloroso# que merece ser amado. Ambos os modos podem ser expressão de um ,ntima %eem1ncia da exist1ncia# ou se$a# pode surgir de uma superabund5ncia. !ntretanto# podem + como# no %i%er f-ctico# acontece com freq1ncia + ser expressão de uma car1ncia e podem estar moti%ados na fraque&a co%arde e na inseguran'a# na necessidade de encostarse e apoiarse em outro# com o qual se cria um %,nculo de depend1ncia# ou então# num oculto e t-cito e%itar e dispensar o confronto da con%i%1ncia. Jrescem# pois# nesta experi1ncia# as possibilidades do auto mascaramento e da fuga de si e do outro. Bma fala $actanciosa# re%ela# no fundo# esta atitude em face da própria %ida como tal e da con%i%1ncia. Bma estrutura inten cional g1mea desta# que acabamos de e%idenciar# é a do amor ao lou%or humano. (s lou%ores são como que )fornalhas*# onde# quotidianamente# somos postos I pro%a. @uando nos empenhamos em alguma obra# nos condicionamos# muitas %e&es# ao lou%or e ao %itupério. 6osso gosto por aquele empenho costuma aumentar# quando somos lou%ados por ele e diminuir# quando somos por ele %ituperados. A busca do lou%or %i%e mendigando os %otos e os pareceres alheios. Mesmo quando alguém luta contra ela# a %itória pode ser uma outra ocasião de queda: a da %anglória pro%inda da auto sufici1ncia. =ambém esta forma de tenta'ão fa& concentrar o %i%er na busca de um poder %aleralgumacoisa no mundo da con%i%1ncia. ( %i%er próprio toma a si mesmo como algo que é importante em sumo grau e que é cheio de méritos nas suas próprias a'es. ( %i%er se pe a si mesmo# no entanto# na depend1ncia do que )os outros %ão pensar de mim* e# prefere ser lou%ado na mentira do que ser %ituperado na %erdade. ( tomarseasimesmo como algo de importante acaba mergulhando o %i%er numa glória aparente# que# a qualquer
momento# pode se re%elar apenas uma glória %ã# uma %anglória. A depend1ncia dos outros e de sua estima por mim tornam o meu %i%er oscilante# inseguro# inconstante. !u $- não estou mais seguro e firme $unto de mim mesmo# mas eu me rendo Is presses e tend1ncias do mundo da )opinião p3blica*. Bm terceiro modo de tenta'ão da soberba# aparentado com o anterior# é o ego,smo. 8esta forma de tenta'ão# também surge uma %aidade# que# como toda a %aidade# fa& precipitar o %i%er no %a&io e no nada negati%o da eHsist1ncia. Agora# tratase não mais de agradar a outros# mas de agradar a si mesmo. =ratase# agora# de querer %aler alguma coisa diante de si mesmo# de terse por importante aos próprios olhos# de atribuirse a si algum bem. ( pra&er é# aqui# compra&erse. ( deleite dirigese# na sua estrutura intencional# ao mundo próprio. !ste# enquanto 5mbito do próprio agir e atuar# do próprio poder fa&er e efeti%ar alguma coisa# das próprias capacidades e possibili dades# se fecha em si mesmo na sua autosufici1ncia. >urgem# pois# di%ersas possibilidades de compra&erse em si mesmo# em detrimento e até contra os outros: o gloriarse do próprio mal como se fosse um bem# o gloriarse do que foi recebido como se fosse srcinado de si mesmo# o não querer que o bem que se manifesta em si se manifeste também no outro# o alegrarse com o mal do outro e o entristecerse com o seu bem... Atra%és desta mo%imenta'ão do %i%er# no entanto# a própria %ida se es%a&ia. !ste modo funesto de cuidar de si e de preocuparse consigo mesmo pese no limiar de uma queda abissal e de um perderse a si mesmo insuper-%el. Abissal seria aquela queda# onde o %i%er $- não encontraria# de modo algum# um amparo# por retirar# por si e para si mesmo# toda possibilidade de a$uda# mergulhando no nada negati%o da eHsist1ncia. 8este modo# aquilo que chamamos# usualmente# indi%idualismo e ego,smo# isto é# aquele cuidar de si# aquele preocuparse consigo mesmo# que quer ganhar# a todo o custo# a si mesmo# que quer# de qualquer modo# se autoafirmar# re%elase# no fundo# como a possibilidade de um perderse insuper-%el# que fecha toda a possibilidade de sal%arse. =odas estas formas de tenta'ão delineiam# pois# uma dire'ão do %i%er que mergulha no nada negati%o da eHsist1ncia. !las mostram que o %i%er humano tra& consigo# de di%ersas formas# um certo enfadoGF. >ob o peso deste enfado# o %i%er tende a abismarse no 20
Jom a pala%ra )enfado* estamos nos referindo ao que os latinos chama%am de molestia. /or sua %e molestia %em de moles# que significa algo de peso# carga# dificuldade esmagadora# fadiga. ( enfado é o sentimento da %ida como de um peso# que molesta# por não se conseguir lan'ar fora. 6o enfado# eu fa'o a experi1ncia de ser um peso para mim mesmo o #oneri mihi
nada negati%o da eHsist1ncia. 6o mo%imento deste abismarse# o simesmo# sempre de no%o# $- se perdeu. !ste enfado não é algo de ob$eti%o# nem de sub$eti%o. !le é o
como de
uma experi1ncia: a do %i%er f-ctico. 6esta experi1ncia# o simesmo é absor%ido pelo mundo. Jom outras pala%ras# a %ida $- não %i%e# ela é %i%ida pelo seu mundo. !ste )ser %i%ido* é uma perda de si mesmo# é %igorar no esquecimento da tarefa de ter que ser si mesmo# na plenitude do %i%er. ( )eu sou* é# aqui# apenas uma apar1ncia# sem nenhuma consist1ncia. /aradoxalmente# é $ustamente nesta não consist1ncia# que o %i%er se torna mais pesado# enquanto# no poderser mais próprio# o %i%er se torna le%e 2?. Aprofundamos um aspecto da estrutura decadente do %i%er: o da tentaç&o. !le e%oca# imediatamente# outro aspecto# que aqui# também# e%idenciouse: o da aniquilaç&o. !sta é o termo daquela. !ntre estes dois# quais come'o e fim# estão outros dois: a tranqAili2aç&o e a alienaç&oGG. ( %i%er é tentador# enquanto d- a si mesmo a possibilidade da queda.
/aradoxalmente# ele %i%e a queda como se fosse uma intensifica'ão e potencia'ão do si mesmo# entregandose Is suas tend1ncias para o %a&io e o nada negati%o e acomodandose e tranqili&andose nesta sua mo%imenta'ão. 6esta tranqAili2aç&o# $- não sente a necessidade de modificarse. 6a ob%iedade tranqila de um tal ser# o %i%er se empurra para a alienaç&o# isto é# ao estranhamento do simesmo# sua perda e esquecimento no )eu sou* %a&io# opaco e inconsistente. !sta aliena'ão se mostra também e# qui'- sobretudo# na con %i%1ncia cotidiana. =entemos# pois# descre%er este dado fenomenal. Bma %e& que o nosso ser é# essencialmente# sernomundo e que o nosso serno mundo é# fundamentalmente# sercom# o mundo# em que %i%emos é# primordialmente# o mundo aberto do todo o mundo# o mundo pJblico" Jomo $- asse%eramos# ninguém é um su$eito isolado com seu mundo# que# só posteriormente# sai de si para tra%ar rela'es com outros su$eitos e seus mundos. Cada um '( $, sempre, no mundo do n)s . 6o cotidiano# este mundo do nós é o mundo p3blico# que é o mundo de )todo o mundo*# o mundo do )a gente*# o mundo de )os outros*. 6este mundo# cada um pode ser# sem $amais chegar a ser si sum*
de AgostinhoG. 6este sentido# lembramos que "eidegger entendia a
22
Jfr. M. "!L8!UU!C# 31r# ?40 P.# EDDEDN.
mesmo. que# o mundo p3blico $- ditounos o que de%emos pensar# sentir# amar ou odiar# igualmente# como de%emos querer e agir 2E. !le $- determinou como de%emos nos compreender e interpretar# do mesmo modo# o que e como de%emos falar. P- decidiu por nós que escolhas de%emos fa&er# que decises de%emos tomar# como de%emos %alorar os %alores e $ulgar os procedimentos e comportamentos. Assim# o mundo p3blico retira de nós a tarefa de ser nós mesmos a partir de nós mesmos. Lsto eqi%ale a di&er que o mundo p3blico retira de nós toda a responsabilidade do ter que ser. !le toma para si a responsabilidade de cada um. Mas# como pode o mundo p3blico# assumir uma responsabilidade# se ele é )todo o mundo*# ou se$a# se# no fundo# ele é o )ninguém*S 8e fato# o )a gente* é o )todo o mundo*# que é o )ninguém*. 8este modo# o mundo p3blico retira de cada um o peso de suas responsabilidades# facilitalhe tudo. Jomo# em cada um# $2E
Aqui seria interessante obser%ar a problem-tica do peso dos meios de comunica'ão de massa
na nossa %ida contempor5nea. A propósito# e a t,tulo de aceno# transcre%o# aqui# o fragmento de um texto do Jarneiro 9eão# intitula do )ci%ili&a'ão escrita e cultura de massa*: )ho$e se inicia uma transforma'ão radical nas rela'es de comunica'ão. =ermina a era mec5nica# montada sobre o li%ro# e come'a a era eletrnica# montada na tele%isão. /or qu1S + /orque a comunica'ão conhece ;pontos cr,ticos<# cu$a supera'ão in%erte o processo. a lei da re%ersibilidade dos ;meios superaquecidos<. @uando a difusão da informa'ão tende a igualarse I %elocidade da lu a dist5ncia é abolida de chofre. P- não h- necessidade de centro emissor. ( centro est- por toda a parte. ( mundo tornouse uma aldeia global. "o$e marchamos de uma ci%ili&a'ão mec5nica para uma ci%ili&a'ão integrada. Ceadquirimos o contato direto# a possibilidade de %i%enciar a totalidade de modo integral e instant5neo. a ;implosão<# que come'a tanto no plano indi%idual como no plano coleti%o. A experi1ncia dessa implosão impe uma ascese de desmontagem de nossos h-bitos milenares de %i%er e relacionarse. /ois ela rei%indica o homem em sua totalidade# en%ol%endoo de maneira global# e não mais linear. A modalidade de apreensão total do mundo repercute sobre todo o comportamento f,sico e mental do homem. 6o%o di-logo tem in,cio entre homem e tecnologia. Bma no%a história come'a. A eletrnica $- não é a pro$e'ão de um órgão ou fun'ão. a pro$e'ão de toda a %i%1ncia. /ara Mc9uhan não é preciso ir longe a fim de buscarmos as srcens da sociedade de consumo. Jonsumimos para nos %ingar. Jompensamos a sensa'ão# de que nada somos em nosso trabalho# por uma afirma'ão exterior# que no fundo não nos satisfa&. por isso que a sociedade de consumo est- condenada a perder sua %elocidade para dar lugar I aldeia global onde se reintegram todos os fragmentos pro%ocados pela explosão do alfabeto*. !. J. 9!](# 1prendendo a pensar# 7ol. L# 7o&es# /etrópolis# 2000# p. ?O0?O?.
h- a tend1ncia a pender para o mais f-cil# tornase mais cmodo deixarse le%ar pelo mundo p3blico# que dispensa da tarefa de ser e de ser simesmo. 6o %i%er f-ctico# cada um $- se entregou ao )ninguém*# fa&endose um )a gente* no )todo o mundo* e# assim# renunciou a ser si mesmo. Assim# nós $- sempre# de algum modo# decaimos no mundo# caindo fora da nossa possibilidade mais própria e plena de ser nós mesmos. !ste cair fora %em# na %erdade# de uma propensão ,nsita no 5mago de nós mesmos# a partir do mistério de nossa liberdade. 7i%endo# nós estamos sempre numa impend1ncia# ou se$a# na imin1ncia de uma queda. =ra&emos conosco# sempre de no%o# uma inclina'ão# um impulso# a nos distanciar da possibilidade de sermos nós mesmos num sentido mais pleno# quer di&er# de nos apropriarmos do nosso ser mais próprio. Fugimos# continuamente# de nós mesmos# para o mundo por nós des%elado. =entemos# no entanto# entender um pouco melhor esta fuga de si mesmoGH"
A fuga de si constitui o modo mais comum de cada ser humano encontrarse consigo mesmo. A fuga se constitui como um temor diante daquilo que nos amea'a. Mas# em que sentido# o ser simesmo é amea'adorS !m que sentido nós temos medo de ser nós mesmosS >eguindo o fio condutor da intencionalidade# podemos afirmar que aquilo de que a fuga foge é aquilo que o temor teme. Aqui# não se trata de um temor do mundo# nem de um temor de uma coisa que se d- dentro do mundo. =ratase de um
temor# que não é
propriamente um temor# mas uma angJstia. 6a %erdade# porém# não é a ang3stia que se funda no temor# como um modo deri%ado dele# mas é o temor que se funda na estrutura da ang3stia# sendo dela um modo deri%ado. 6a sua estrutura intencional# todo temer é temer alguma coisa. ( intentum da intentio# que é o temer# aquilo diante do que o temor teme é algo que se encontra no mundo. algo de pre$udicial# de noci%o# de des%anta$oso. ( temor surpreende o pre$udicial como algo que ainda não est- a,# mas que est- se aproximando. 6este aproximarse# aquilo diante do que o temor teme se apresenta como algo de amea'ador. !ste algo de amea'ador que se aproxima# no entanto# é um acontecimento que pode ou não pode realmente acontecer. @uando aquilo que amea'a apresentase# de impro%iso e concretamente# no mundo de quem teme# surge o 24
Jfr. M. "!L8!UU!C# P.# p. EN?40O -.# p. ?40?42 ?D4?N?.
susto# ou se$a# o medo pavor. >e aquilo que amedronta é algo de não familiar# surge# então#
o horror" >e aquilo que amedronta apresentase# de impro%iso# assustando# e# ao mesmo tempo# é algo de absolutamente estranho e nãofamiliar# surge# então# o terror" ( temer é# igualmente# um temer que e u m temer por . /elo que teme o temorS Cesposta: antes de tudo# pelo cuidadoso empenharse no mundo# por parte de quem teme. ( amea'ador pe em perigo aquilo $unto de que eu me empenho e# por conseguinte# o meu próprio empenhar# o meu cuidado. 8esta forma# pe em perigo# o meu sernomundo enquanto cuidado. /or isto# perturba# causa confusão# desorienta. /or outro lado# o temer pode ser também um temer pelo outro# pelo seu sernomundo. 6ós tememos que aconte'a isto ou aquilo a quem amamos. =ememos por ele. ( temer pelo outro é um modo genu,no de sercomooutro. 6o temerpor eu temo que o meu sercomooutro se$a atingido por aquilo que o amea'a# o que é# sempre# algo que lhe %em ao encontro no seu mundo# que é# também# o meu mundo. P- na estrutura intencional da ang3stia se d- o fenmeno de que aquilo diante de que a ang3stia se angustia não é algo de determinado# isto é# um isto ou aquilo que %em ao encontro no mundo. algo que se aproxima# mas não pode nunca se apresentar como isto ou aquilo. Aquilo diante de que e pelo que a ang3stia se angustia não é nada de determinado# não é algo que pode ser identificado dentro do hori&onte do mundo. ( fato de )algo* se aproximar de modo amea'ador e# no entanto# não ser nada disto ou daquilo# )dum aperto na garganta*# )fa& o cora'ão estreitarse*. @uem é assaltado por esta disposi'ão de 5nimo# sentese estranho# como se não esti%esse )em casa* consigo mesmo# com os outros# com o mundo. @uando# porém# a ang3stia passa# di&se: )não foi nada*. =udo %olta I familiaridade de sempre. )6ão foi nada*: aquilo diante do que a ang3stia angustia é surpreendido pelo angustiar como )um nada*. 6ão é# de fato# nada de mundano# nada de determinado# nenhum isto ou aquilo. ( que é este )nada*# enquanto nada de mundanoS Cesposta: é o mundo mesmo# na sua mundidade. !ste mundo# enquanto amea'ador# énos tão próximo# que nos tira o flego. mais próximo do que tudo o que nele podemos encontrar. !le sou eu e eu sou ele. /or sua %e o que é amea'ado na ang3stia não é o meu empenho ou cuidado $unto a alguma coisa# mas o meu próprio sernomundo enquanto tal# por conseguinte# meu próprio mundo na sua mundidade. Aquilo# diante de que a ang3stia se angustia é o ) em que * do sernomundo. Aquilo que angustia a ang3st ia e pelo que se
angustia na ang3stia é# do mesmo modo# o
ser+no+mundo mesmo" ( )diante de que*# o
)que* e o )pelo que* coincidem# são o mesmo# o sernomundo# o nosso eHsistir. 6a ang3stia se des%ela a facticidade do sernomundo. A ang3stia é um encontrarse# em toda a parte# fora de casa. Angustiome pelo fato de ser# pura e simplesmente. 6a ang3stia# abrome a mim mesmo na nude& do meu sernomundo. A minha eHsist1ncia# ou se$a# o meu %i%er na sua facticidade# mostrase sem fundamento# quer di&er# mostrase num abismo. 6ada de mundano# nenhum isto ou aquilo# pode ser o fundamento da minha eHsist1ncia. A minha eHsist1ncia não tem um porqu1 ou um paraqu1 determinados. !u sou. >er# isto é# )não não ser*# não se funda sobre mim mesmo. A ang3stia é a experi1ncia do puro e simples# mas# ao mesmo tempo# abissal# fato de ser da minha eHsist1ncia. A facticidade deste fato abissal# ou se$a# deste fato puro e simples de ser da eHsist1ncia# angustiame. Jom outras pala%ras# a ang3stia é ang3stia diante do ser mesmo e# por sua %e ang3stia de ser e pelo ser. que o ser# o ser simesmo# est- sempre em $ogo# na eHsist1ncia. A ang3stia me recondu pois# do nada negati%o da eHsist1ncia# em cu$a dire'ão eu# em minha queda# me deixo arrastar# para o nada positi%o da eHsist1ncia# ou se$a# para a re%ela'ão da facticidade da minha eH sist1ncia e do seu car-ter de estar sempre em $ogo# por conseguinte# ainda# do fato de eu estar entregue I minha responsabil idade# da incumb1nci a segundo a qual# eu tenho que ser eu mesmo. 6a ang3stia e por ela# o nada positi%o da eHsist1ncia se manifesta e# isto# do modo como é poss,%el manifestarse# isto é# não como ente# não como ob$eto
2W
. 8e fato# na
ang3stia# o ente em sua totalidade se torna caduco. =al caducidade do ente na sua totalidade d-se como um escapar# uma fuga. ( nada nos %isita# pois# com a fuga do ente. X %isita do nada# d-se um retroceder do nosso ser. !ntretanto# tal retroceder nada tem a %er com uma fuga# mas com uma quietude fascina da. ( nada nos remete I insignific5ncia# I caducidade do ente. ( nada nadifica# isto é# assedianos remetendonos ao ente em sua totalidade em fuga. =al nadifica'ão do nada# portanto# nada tem a %er com uma destrui'ão# aniquila'ão ou nega'ão. /or isto di&emos que# o nada a que a ang3stia nos remete é um nada positi%o# a saber# sua nadifica'ão nos pe numa plenitude# não num %a&io. ( nada# com efeito# re%ela a totalidade do ente em sua plena estranhe&a# des%ela o mais admir-%el no ente# o fato de ele 2W
Jfr. M. "!L8!UU!C# M# ?0E?22 5Met# ?W.
ser# de ele não não ser. >omente na clara noite do nada da ang3stia surge a srcin-ria abertura do ente enquanto tal: o fato de que é ente + e não nada. ( nada nos condu& ao des%elamento do ser ente do ente. !le nos pe# srcinariamente# diante do ente# inclusi%e )diante* de nós mesmos: como pela primeira %e&. =udo se manifesta como se esti%esse em estado de nascimento. 6ossa eHsist1ncia re%elase como que suspensa no mistério do nada. !Hsistindo assim# nós $- sempre ultrapassamos o ente em sua totalidade. ( estar suspenso do nosso ser dentro do nada da ang3stia é o ultrapassar o ente em sua totalidade: a transcend1 ncia. >ó a partir desta transcend1ncia é que nós nos pomos# propriamente# em rela'ão com o ente e conosco mesmos.
)>em a srcin-ria re%ela'ão do nada não h- sersimesmo# nem liberdade* 2O.
A ang3stia mostrase# portanto# como oportunidade para eu %ir a mim mesmo. !la mostrase como o tempo oportuno # o Iair)s# de uma guinada# de uma con%ersão# na dire'ão do simesmo mais pleno# ou se$a# do poderser todo# em sentido próprio# ou ainda# se quisermos# da apropria'ão# em plenitude# da própria ess1ncia. =rat ase da possibilidade de uma outra temporali2aç&o da eHsist1ncia# in%ersa I aquela da decad1ncia ou ru,na. 6esta no%a temporali&a'ão# que experimenta# por sua %e o tempo de modo radicalmente outro# a intencionalidade do viver se efetua e se consuma numa outra maneira# a saber# não mais tendendo para o %a&io que condu& ao nada negati%o# mas I plenitude do simesmo e I experi1ncia do seu nada positi%o. o que $- analisamos ao falarmos# no in,cio desta in%estiga'ão# da indi%idua'ão# da finitude# do serparaamorte e do )destrancarse* da eH sist1ncia para o podersertodo# ou se$a# a decisão. Cetomemos# agora# aqueles acenos# le%ando a in%estiga'ão mais adiante. 6a decisão eu escolho a possibilidade de escolher# que me foi tirada na eHsist1ncia imprópria# perdida na temporalidade da decad1ncia. A decisão é# pois# a recupera'ão do poder escolher ser si mesmo. !scolhendo esta escolha# possibilito para mim mesmo o meu próprio poderser. 6o entanto# eu posso escolher esta escolha# posso sair da perdi'ão do 2O
M. "!L8!UU!C# M# ??W.
%i%er disperso# porque# de algum modo# foime dada a possibilidade de encontrarme. !sta# porém# me é dada não como uma ocorr1ncia# e sim como uma convocaç&o GK. 8e algum modo# eu $- fui# sempre# atingido pela con%oca'ão de ser. 8o fundo de minha eHsist1ncia $- ecoou# de alguma maneira# um clamor# a saber# um clamor que me aclama para o meu poder ser mais próprio e que conclama o meu ser e estar em d,%ida para com a minha tarefa de ser. @uando um tal clamor rompe a minha surde eu me encontro a mim mesmo. !ntão# eu dou ou%idos a mim mesmo. !u deixo de dar ou%idos ao )todo o mundo* e# assim# dou ou%idos ao clamor que me aclama a ser eu mesmo na minha possibil idade mais própria de ser. !ste clamor# que não é nenhum ru,do# mas é sil1ncio# proclama para mim a minha possibilidade mais própria de ser. nesta silenciosidade de mim mesmo# que sou atingido pela con%oca'ão de ser. @uando sou atingido pelo clamor silencioso que me con%oca a escolher o meu poder ser mais própri o# descubrome em culpa. Lsto só é poss,%el# porque eu sou somente no modo de ser do ter que ser# do estar entregue I responsabilidade de ser. 6esta culpa primordial# que sou eu mesmo# abrome na consci1ncia de estar aquém da minha tarefa de ser# desocultome no nada negati%o da minha eHsist1ncia. Apare'ome na nude& da minha eHsist1ncia insuficiente. Feli porém# é esta culpa# que me abre a possibilidade de escolher e assumir a tarefa pura e simples de ser. Assumindo uma tal culpa# eu deixo que o simesmo a$a dentro de mim como a possibilidade que precisa ser escolhida. Assumindo esta culpa# eu me torno respons-%el por minha própria eHsist1ncia# eu me decido por eH sistir correspondendo I minha tarefa de ser. A partir de então# uma tal resolu'ão pode guiar minha inteira %ida# com todas as suas outras escolhas f-cticas. A decisão não é# pois# algo que eu possa ter# mas sim# algo que pode me ter# em minha inteira eHsist1ncia. /or sua %e a decisão é o que ela é somente como
instante# a
saber# como instante do agir efeti%o. uma temporali&a'ão pri%ilegiada da eHsist1ncia. Bsualmente# nós entendemos o instante como um momento# a saber# como um inter%alo simplesmente dado de tempo# caracteri&ado pela sua fugacidade e pela sua bre%idade. Jontudo# h- que se entender# aqui# instante como uma temporali&a'ão rara e pri%ilegiada. Jom efeito# raramente eHsistimo s no instante# mas quando nele eHsistimos# tornamonos nós mesmos# alcan'amos a nossa possibilidade de ser mais própria. 2V
Jfr. M. "!L8!UU!C# /U^# 44044? -.# 2OVE0?.
( instante não é o momento bre%e e fuga& que# quando acabamos de nomear $passou# ou se$a# $- não é simplesmente dado. ( instante é aquela rela'ão eHsistencial plena para com a nossa temporalidade mais própria 2D. quando nós# de fato# tornamonos historiais em nossa eHsist1ncia 2N. 6o entanto# quando# para nós# não se d- o instante# nós
%i%emos numa outra temporalidade# naquela cotidiana. !# de in,cio e na maior parte das %e&es# nós %i%emos alheios ao instante. ( instante d- a si mesmo e# sempre de no%o retira se# subtraise# deixando %oltar a temporalidade do cotidiano. !sta# por sua %e não é uma pura dura'ão simplesmente dada# nem um nada do tempo# mas um possibilidade positi%a do tempo da eHsist1ncia# aquela na qual nós %i%emos# de in,cio e na maior parte das %e&es. !u sou eu mesmo# quando# na atra'ão# tra'ão e subtra'ão do instante# singulari&ome# por meio da decisão silenciosa# que# acontecendo na imin1ncia da ang3stia# re%ela o nada de mim mesmo e do mundo e# por conseguinte# fa&me ultrapassar o todo do ente. !ste instante é algo como uma morte. /aradoxalmente# nele se d- a plenitude da %ida. /ara o ser humano# eHsistir significa# pois# poder %irasi na sua possibilidade mais própria e# deixandose %irasi# suportar a possibilidade enquanto possibilidade. !ste deixar %irasi# é a temporali&a'ão do porvir" !ste é a condi'ão da possibilidade do serparaamorte. ( por%ir não significa um futuro abstrato# ou se$a# um agora que# aindanão tendo se tornado )real*# algum dia o ser-. /or%ir é o
advento do poderser mais próprio# ou se$a# aquela
temporali&a'ão em que nós chegamos a ser nós mesmos. A nós $- sempre nos foi dada a possibilidade deste por%ir# deste %irasi# deste ad%ento# contudo# dada como tarefa e con%oca'ão de ser. A decisão que se dirige ao poder ser mais próprio e# assim# antecipao# des%ela o meu %i%er na sua culpa primordial. A tarefa de %irasi exige que eu assuma a minha culpa# isto é# o fato de meu %i%er $amais conseguir# a partir de si mesmo# superar a sua car1ncia de ser. >omente assumindo a indig1ncia desta falta essencial é que eu posso caminhar para a plenitude da %ida. A culpa essencial da eHsist1ncia só pode ser expiada# se assumida. 6o rande -ert&o Veredas de Oo&o uimar&es osa nós ou%imos uma fala que ilumina o
sentido da culpa essencial do %i%er e de sua# também essencial# epiaç&o. Alguém di& ao personagemmor# Ciobaldo# esta pala%ra: )7ais comer o pão com o suor de sua testaT*. ! 2D
Jfr. M. "!L8!UU!C# -.# E0?EV2 P.# 44?442.
2N
Jfr. M. "!L8!UU!C# -.# EVDEDV.
ele pensa consigo: )Muito obrigadoT 6unca ou%i nada mais di%ino. Foi feito# abriuse o beco para a liberdade se fa&er... 6o dentro do ferro de grandes prises# a alegria de um pobre caminhosinho*. Jomentando algumas passagens desta obra prima de Uuimarães# Uil%an Fogel tece considera'es# que podem nos a$udar a esclarecer o que acabamos de di&er# sobre a culpa essencial do %i%er:
)Julpa d,%ida# débitoG fala da irre%og-%el situa'ão humana de imperfei'ão# quer di&er# fala do fato de ser o homem o 3nico ente que é sempre um porfa&er# sempre a necessidade de ser uma tarefa de autoreali&a'ão# pelo fato de $amais ser dado ou aparecer pronto# feito# acabado. ( homem é sempre a necessidade de lan'arse numa ocupa'ão# num quefa&er# para completar o oco# que é a sua %ida para )encher* o )buraco*# que é sua exist1ncia. 6este sentido# a %ida humana é essencial ou constituti%a imperfei'ão# incompletude + )defici1ncia*# )car1ncia*# )pouco*# pobre2a" 8a, ser o homem# sempre# um destino# uma estória e# por isso# histórico. !le é sempre sua própria destina'ão# sempre a destina'ão do seu )lugar*# atra%és de seus afa&eres# de suas fainas# de suas ocupa'es e lidas. Julpa é# irre%oga%elmente# seu lugar e# por isso# a 7ida é necess-ria e constituti%amente ati%idade# a'ão. /or precisar esta a'ão# estaa ati%idade# re%elase ela também irre%oga%elmente )pouca*# ser )pobre*. mesmo a'ão# a ati%idade do pouco# do pobre# do porfa&er. 7ida é# então# emsi e porsi culpada + a saber# em d,%ida# em débito com ela própria# frente a ela mesma. ! a, est- a dor: a dor do esfor'o# a dor do porfa&er# que é imposta pela situa'ão do pouco# do pobre. 7ida é precisar fa&er %ida 7ida é irre%og-%el# incontorn-%el esfor'o + )pena*# )trabalho*. 6este sentido# o homem precisa )expiar*# quer di&er# cumprir ou reali2ar# o pouco# o pobre# a culpa# que ele é ...G. !xpiar quer di&er: remir ou redimir# pagando# cumprindo )pena*. Cedimir# )redimere*# di&: resgatar# rea%er# adquirir de no%o ou readquirir. ( que é que# %i%endo# sendo# existindo# ou se$a# cumprindo# é readquiridoS A cada passo eu re adquiro repitoTG# isto é# reconquisto minha inoc1ncia na culpa# readquiro esta minha situa'ão lugar ou determina'ão ontológicaG. ! isto# que é na a'ão e como a'ão# é cumprir# que é completar o incompleto# perfa&er o porfa&er# sub$ugado ao poder# submetido I lei da transcend1ncia. A cada passo eu repito e readquiro toda a todo o modo exist1ncia# isto é#Fa&endo# de ser adaser# 7ida# que#precisa a cada ser# passo# se d- sempre e integralmente. ou %indo o que cumprindo toda todo a !xist1ncia desde e como a'ão necess-ria e in3til + assim# )onde*# )quando* quer que eu morra# morrerei )cheio*# )pleno*# )perfeito*. /erfeito# e assim cheio e pleno# do poderser que posso e que# então# preciso ser. A, sou todo. >ou todo na pobre&a# no pouco do passo necessariamente dado# reali&ado*E0.
>ó posso ser eu# plenamente# totalmente# no %igor da plena inoc1ncia# reassumindo minha finitude# minha mortalidade# minha culpa# minha pobre&a. =udo isto + finitude# mortalidade# culpa# pobre&a + di& o mesmo: o passado sempre presente, 'amais pret$rito, E0
M.>.J. >J"BKAJR org.G# 5nsaios de filosofia# 7o&es# /etrópolis# ?NNN# p. OOOV ND.
da minha eI+sist4ncia. =ratase do ter sido essencial# que# por isto mesmo# sempre $# quer
di&er# do ter sido que sempre fui e que preciso# sempre de no%o# ser# para vir a ser todo# na plena inoc1ncia do %i%er cumprido )a pó*# na pobre&a de um )caminhosinho*. >er o que sempre fui e# assim# %ir a ser o que sou# só é poss,%el na plenitude e eternidade de cada bre%e e transitório instante do %i%er# retomando# em cada ) agora*# ou se$a# em cada passo# o todo do caminho# e deixandose a%iar na %ia dos en%ios do mistério da eHsist1ncia# mergulhando na noite luminosa do nada de simesmo. ( sentido da eH sist1ncia humana mostrase na din5mica de temporali&a'ão desta temporalidade srcin(ria # em que o por%ir nada tem a %er com um agora que ainda não é# nem o passado com um agora que $- não é# nem o presente com um agora fuga mas onde o por%ir é o ad%ento da plenitude dos tempos# o %ir a ser simesmo na seu poderser mais próprio# que assume o ter sido da própria finitude e culpa# ou se$a o passado sempre presente# e isto# no agora do
instante pleno de uma decisão# sempre de no%o atuada e atuali&ada. 6esta densidade da temporalidade srcin-ria mostrase a eHsist1ncia em sua totalidade como uma estrutura'ão da liberdade. =oda a eHsist1ncia mostrasenos como uma estrutura# que é# ao mesmo tempo# una e m3ltipla# simples e rica de possibilidades. !sta estrutura %em I tona como e atra%és do cuidado# d o ter+que+ser# que precisa ser assumido# cada %e como o meu" !nquanto ente deste modo de ser# o homem não é uma mera coisa# nem um mero meio para um fim# ele é um fim em si mesmo# um em vista de si mesmo# ou se$a# um ser em vista de seu poder+ser mais pr)prio . !sta possibilidade# que ele
precisa ser# para %ir plenamente a ser simesmo# exige que ele assuma o seu ser$unto ao ente intramundano# o seu sercom os outros e o seu seremummundo# na decisão do ser paraamorte# ou se$a# dirigindose para o sertodo# antecipandoo no instante# atra%és da retomada de seu seremdébito )expia'ão da culpa*G. Assim fa&endo# o homem ultrapassa# de certa forma a si mesmo# e se pe numa rela'ão própria com o nada positi%o de sua eH sist1ncia. (ra# tudo isto mostra que a estrutura da eHsist1ncia # própria ou imprópria# só se d- como um n) de relações # ou melhor# como uma din5mica de cont,nua estrutura'ão da liberdade# a partir da qual# sempre de no%o# irradiamse relacionamentos e comportamentos
para com tudo aquilo somos e não somos. Jom efeito# liberdade é o mo%imento de pro$etar para si as próprias possibilidades de ser# de cumprir os relacionamentos de modo próprio ou impróprio# de escolher ser simesmo ou de escolher perderse no nada negati%o da eH
sist1ncia. # pois# a partir da liberdade que nós nos %inculamos e nos obrigamos a tudo o que somos e que não somos. 6ós $amais somos# pois# um algo# que subsiste em si e por si# e que# ainda por cima se pe em rela'ão. 6ós somos sempre um estruturarse de rela'es. Lsto nós o somos# no entanto# no modo do ter que ser# ou se$a# do ter que conquistar a própria ipseidade# assumindo a responsabilidade de %ir a ser si mesmo. !sta din5mica de estrutura'ão das rela'es com o que somos e com o que não somos# a qual é determinada# essencialmente# pela liberdade# é o sentido pleno da intencionalidade" 6a %erdade# o dirigir+se+a da %i%1ncia ao %i%ido# %isto na profundidade da anal,tica da eHsist1ncia# abresenos como uma estrutura'ão muito mais rica# a estrutura'ão da eHsist1ncia. Até agora# em nossa in%estiga'ão# e%idenciounos o 4n+stase do %i%er# o seu serem# o seu perderse e ganharse# na din5mica do ter que ser# do ter que conquistar sua própria ipseidade" !ste 4n+stase# no entanto# se d- como um cont,nuo 4I+stase# pois o nosso %i%er só se cumpre# se reali&a# no exerc,cio de estar sempre em transe# ou se$a# emtransi'ão# emtra%essia# empassagem para. A mo%imenta'ão da liberdade# neste 1Hstase cont,nuo# nós chamamos de tempo" 6esta passagem cont,nua# em que experimentamos a temporalidade e a historialidade da nossa eHsist1ncia# nós $- sempre nos ultrapassamos# assim como $- ultrapassamos também o ser dos entes que somos e dos entes que não somos. ( sentido 3ltimo da intencionalidade é esta ultrapassagem# esta trans+cend4ncia*E" somente a partir desta trancend1ncia que nós somos a nossa ipseidade# própria ou imprópria# e que nós somos as nossas rela'es com os entes# no ser$untoa# com os outros# no sercom# com o mundo como tal# no serem E2. A transcend1ncia# que somos# nos pe em cont,nua rela'ão com o ente como tal e no todo# tanto com o ente que somos# como com o que não somos# sendo que# nesta rela'ão#
nós '( sempre compreendemos algo como o ser do ente. !ste compreender é um desvelar# o qual se d-# quer como um descobrir o ente que não somos# quer como um abrir o ente que E?
Jfr. M. "!L8!UU!C# 5Phil# E2EE4E M# ?EV?VW -.# EW0EOO. A transcend1ncia# aqui# indica algo como a )trans%ida*# para usar uma expressão roseana: )todos# do sertão# sabem querer atalhos. @ueremos o m-gico. ( pacto. As supremas supera'es# a trans%ida* em Jarta a /aulo 8antas# de E? de $ulho de ?NWVG. =rans%ida# no entanto# parece significar não uma ultrapassagem que extrapola a %ida na não%ida# numa meta%ida# mas sim o transbordamento da %ida para além de suas margens# a superflu1ncia e a superabund5ncia da %ida: supera'ão suprema# onde a %ida não deixa de ser %ida# mas é mais%ida. )>ertão grande# sertão cheio*. Jfr. J. C. KCA68](# Mem)ria -ert&o# Bni%ersidade de Bberaba [ Jone >ul# E2
>ão /aulo# ?NND# p. 2VD.
somos. !ntretanto# o des%elar do ente no seu ser# só é poss,%el porque nós# sempre# em todo o nosso comportamento para com o ente# $- des%elamos algo como o ser" ( nosso comportar intencional só se d- porque# fundamentalmente# $- compreendemos algo como o ente no ser e algo como o ser do ente. 8ito de outro modo# em todo o nosso comportamento
para com o ente# que somos ou não somos# nós $- sempre ultrapassamos o ente e $- nos dirigimos ao ser. %i%endo nesta ultrapassagem que nós chegamos a ser o que somos# quer di&er# que nós nos tornamos nós mesmos. !ntretanto# como nos mostrou o aceno I experi1ncia da ang3stia# $ustamente quando somos lan'ados para além de todo o ente# é que o mundo# acontecendo propriamente como mundo# se mostra um )nonada* EE. 8ito de outra maneira# $ustamente quando somos lan'ados para além de todo o ente# é que a eHsist1ncia se mostra sem fundamento# ou se$a# um abismo. Jomo entender istoS >e o sentido 3ltimo da intencionalidade é a transcend1ncia e se# quando esta transcend1ncia se reali&a em toda a sua pu$an'a# o que se d- é o nada do mundo e o abismo da eHsist1ncia# ser- que tudo não se perde no absurdo e no sem sentidoS ( sentido 3ltimo da intencionalidade e transcend1ncia não era o serS Jomo pois# chegamos ao nadaS !Hsistir significa ser lan'ado para fora de si e do ente# no nada. 6o pro$etar configurante do mundo# o homem é posto no meio do ente# entretanto# ao mesmo tempo# ele é lan'ado para além do ente# quer di&er# para além# inclusi%e# de si mesmo. 6o nada. !sta ultrapassagem do ente como um todo# que fa& aparecer o mundo como o nada em que mergulha as ra,&es o nosso %i%er f-ctico# é a liberdade. >er li%re significa# pois# suportar o sernonada. A liberdade é o serparaofundamento da eHsist1ncia# que se re%ela# no nada# um abismo. EE
A pala%ra roseana )nonada* pode significar )não é nada*# mas pode ser# também# uma %ersão do latim# nonnulla# que quer di&er )algumas coisas*. claro que a pala%ra soa# a nossos ou%idos# nonada. Mas# o que teria a %er este nonada com o nonada# isto é# com o )algumas coisas*S que# nonada# o ente se mostra como parco# pouco# pobre. Jontudo# tal pobre&a esconde em si mesma uma rique&a essencial. ( )algumas coisas*# na sua pobre&a# re%ela o fasc,nio de um mundo superabundante. o que pegou o Uil%an Fogel# e que transparece do texto roseano# por ele citado: )8e herdado# fiquei com aquelas miserinhas + miséria quase inocente + que não podia fa&er questão: l- larguei a outros o pote# a bacia# as esteiras# panela# chocolateira# uma ca'arola bicuda e um alguidar somente peguei minha rede# uma imagem de santo de pau# um canecode asa pintado de flores# uma fi%ela grande com ornados# um cobertor de baeta e minha muda de roupa. /user am para mim tudo em trouxa# como coube na metade dum saco* . Jfr. M.>.J. >J"BKAJR orgG# 5nsaios de @ilosofia# DDDN.
( que é este )nada*S ( nãoente. ( nãoente# no entanto# aqui# é o >er. !m outras pala%ras: o >er é# %isto a partir do ente# o nãoente# o nada. ( >er só se nos presenteia# retraindose em seu mistério# como o nada. Cetraindose para dentro de seu mistério# o >er se des%ela como mistério# porém. Lsto quer di&er# ele se re%ela. /resenteandose como o mistério do nada# o >er deixa e fa& ser o aparecimento do ente# como ente e no seu todo. /resenteandose como o mistério do nada# o >er deixa e fa& ser o aparecimento da eH sist1ncia como o abismo da liberdade. A eHsist1ncia apresentase a si mesma como o fundamento semfundamento. !ntretanto# este serfundamento no modo do sersem fundamento# não expressa o absurdo de eHsistir. >ó poder,amos interpretar assim o abismo se ainda esti%éssemos num relacionamento não bastante li%re para com o fundamento# ou se$a# se ainda quiséssemos que o fundamento ti%esse sua ra&ão de ser nas ra&es de nossa sub$eti%idade. >e# contudo# somos li%res para o fundamento da eHsist1ncia# ou se$a# se deixamos ser a noite luminosa do mistério do >er# que se nos presenteia como nada# então# pode ser que o abismo# o semfundamento do fundamento da nossa eHsist1ncia# brilhe# para nós# como o mistério da gratuidade# do qual nos ad%ém o dom# a d-di%a# de ser. !ste dom é# com efeito# sem fundamento# pois é sem porqu1 nem para qu1# como a Cosa cantada por Angelus >ilesius:
)A rosa é sem porqu1# floresce por florescer# não %1 a si mesma# nem pergunta se alguém a %1*E4.
7ibrando na experi1ncia do nada da gratuidade e da gratuidade do nada é que o homem pode eHsistir srcinariamente. ( homem li%re# deixa ser o nada do >er# o abismo de sua gratuidade. !ste deixarser é um expropriarse de tudo# no qual a eHsist1ncia se dcomo extro%ersão# como eHstase. 6esta explica'ão da eHsist1ncia# eu# ou se$a# o mundo# que sou eu mesmo# me torno a pura abertura do nada. 6a temporali&a'ão desta possibilidade mais própria do meu ser# o mundo se mundifica numa pura presen'a# que repercute em si mesma o retraimento do >er. Aqui podemos le%antar uma suspeita fundamental: E4
A. >L9!>LB># 3l Pellegrino Cherubico L# 2DNG# /aoline# =orino# ?NN2# p. ?WO _20D20N`.
)@ue tal# se as coisas ao redor de mim como isto ou aquilo# inclusi%e eu mesmo# como coisa em si# surgem somente# quando eu estou enrolado em mim mesmo e a partir dessa implica'ão implico com isto ou aquilo# me apegando a mim e a outras coisas como algos# prolongamento e repeti'ão de mim mesmo# enrolado também como algoS ( que acontece# se eu me desfa'o e me exteriori&o# %oltandome a estender como a abertura do nada# isto é# se eu saio de todas as coisas e de mim mesmo# me expropriando do que é meu# do meu eu# totalmenteS =odas as coisas em si mesmas como algo não se libertariam da prisão da coisifica'ãoalgo# em se estendendo como momentos da flu1ncia da imensidão do aberto do nada# que sou eu mesmoS*EW.
( homem li%re é# pois# aquele homem que quer# sabe e tem o nada. @uerer# saber e ter o nada# enquanto modos do ser nada# nada tem a %er com uma aniquila'ão# com um niilismo desesperado. Ao contr-rio# enquanto liberta'ão de toda coisifica'ão dos entes e do eu# é um deixarse condu&ir I plena liberdade. Aqui# tratase da niilidade da pobre&a# não do niilismo do desespero. 6a niilidade da pobre&a# o deixar ser tornase pura recep'ão:
)6a niilidade dessa pura recep'ão# na qual a própria possibilidade de receber é dada# tanto a própria recepti%idade como a sua possibilidade são recebidas... A niilidade acima descrita chamamos de finitude... ( decisi%o é perceber com precisão o mati& todo próprio desta niilidade. que um nada assim nadificado é fraque2a# isto é# não um mundo insens,%el no modo de uma imensidão %a&ia# ocorrente ali estendida como espa'o sideral ou matéria dissol%ida# mas sim um ;nada< como que finura da t1nue %ibra'ão do tremor da sensibilidade# como sentimento da %ida... Ceina aqui a plenitude. Mas essa plenitude não é ser# no sentido de atua'ão# presen'a# de %igor cheio# mas a absoluta contin1ncia da fidelidade da gratuidade a si mesma# na ,ntima e l,mpida obedi1ncia I sensibilidade e delicade&a do pudor da liberdade... Aqui# doarse e receber di&em o mesmo: o sabor da liberdade do louvor e da gratid&o*EO.
( deixarser o nada como nada é# pois# o %ibrar na plena correspond1ncia ao >er. 6este deixarser é que acontece a serenidade. 8esta serenidade# sabe alguma coisa# o pensar de Martin "eidegger# com quem fi&emos# até aqui# o caminho de nossa reflexão. A serenidade# de que nos fala o pensador de MessHirch# deixa chegar a nós o apelo do EW
". "ACA8A# 3mporta n&o ser# in M.J.>. >J"BKAJR# 5nsaios de @ilosofia#7o&es# /etrópolis# ?NNN# p. EW4N. EO
". "ACA8A# importa n&o ser # in M.J.>. >J"BKAJR# 5nsaios de @ilosofia# 4W4V.
>imples# que buscamos em todo este longo e penoso caminho de reflexão. =ratase do apelo do Jaminho do Jampo:
)6o ar do Jaminho do Jampo# %ari-%el com as esta'es# nasce e se cria uma $o%ialidade s-bia# cu$o semblante muitas %e&es parece carregado. !ste saber $o%ial é a ;serenidade<. @uem não a possui# não poder- adquirila e quem a possui# é do Jaminho do Jampo que a tem... A $o%ialidade s-bia é uma abertura para o eterno. >ua porta gira nos gon&os que um h-bil ferreiro for$ou# um dia# com os enigmas da exist1ncia*EV.
/ensar é prse na ausculta do apelo do >imples# ou se$a# na obedi1ncia grata e cordial do apelo do Jaminho do Jampo. !ste apelo ressoa na nossa eHsist1ncia como as baladas noturnas do sino de uma igre$a# como as do sino da igre$a de >ão Martinho# que "eidegger aprendeu a auscultar# na )t1nue %ibra'ão do tremor da sensibilidade# do sentimento da %ida*:
)7agarosas# quase hesitantes# ecoam na noite as badaladas das on&e horas. ( %elho sino# cu$as cordas queima%am muitas %e&es mãos de crian'a# treme sob os golpes do martelo das horas. >ua figura sombria e alegre ninguém esquece. Jom o 3ltimo golpe# o sil1ncio silencia ainda mais# alcan'ando até aqueles que# antes do tempo# foram sacrificados por duas guerras mundiais. ( >imples se fa& ainda mais >imples. ( >empre o Mesmo pro%oca estranhe&a e liberta. ( apelo do Jaminho do Jampo é agora totalmente claro: a alma que falaS o mundoS 8eusS =udo fala da ren3ncia que condu& I identidade. A ren3ncia não tira. A ren3ncia d-. 8- a for'a inesgot-%el da simplicidade. ( apelo nos fa& morar de no%o uma (rigem distante# onde a terra natal nos é restitu,da*ED.
Assim# a eHsist1ncia se apresenta não somente como um encanto# mas como um canto# ou se$a# nas pala%ras de CilHe# como um )sopro pelo nada*# )um %ibrar em 8eus*# um )%ento*. X lu porém# destas pala%ras# em que outra lu& pode aparecer o sercomo outro# no modo do amorS 6a %erdade# de tudo quanto $- dissemos podemos intuir que o sercom est- $srcinariamente I base de todo o processo do tornarse simesm o. 1 fortiori# o mesmo ser EV
M. "!L8!UU!C# @eld?eg FG + Martin >eidegger 2um QF" eburtstag von seiner >eimatstadt MessIirch# 7ittorio Rlostermann# FranHfurt a.M.# ?NON# p. ?4. ED
M. "!L8!UU!C# @# ?4?W.
com exigir- que o tornarse simesmo só se d1 I medida que a eHsist1ncia concres'a na din5mica própria do sercomooutro. Assim como na eHsist1ncia imprópria o meu si mesmo se perde na impessoalidade do predom,nio dos )outros*# que# no fundo# é o )todo o mundo*# %ale di&er# o )ninguém*# na eHsist1ncia própria o meu simesmo se encontrar- na pessoalidade do relacionamento li%re e libertador com o outro. Assim# nós tocamos o segundo modo positi%o e extremo# outrora apenas acenado# de sercomooutro. 7ale a pena citar esta outra possibilidade# tal como %em exposta por "eidegger em >er e =empo: )!m contrapartida# subsiste ainda a possibilidade de uma preocupa'ão que não tanto substitui o outro# mas que se lhe antepõe em sua possibilidade existenci-ria de ser# não tanto para lhe retirar o )cuidado* e sim para de%ol%1lo como tal. !ssa preocupa'ão que# em sua ess1ncia# di& respeito I cura propriamente dita# ou se$a# I exist1ncia do outro e não a uma coisa de que se ocupa# a$uda o outro a tornarse# em sua cura# transparente a si mesmo e livre para ela*.
6a sercomooutro mais próprio eu me torno um simesmo por gra'a de um outro e o outro se torna um simesmo por gra'a de mim. ( relacionamento é de tal modo que eu# na minha solicitude pelo outro# não procuro ocupar o lugar do outro para dispens-lo de sua tarefa de ser# mas sim procuro prme diante do outro a fim de restituirlhe a sua responsabilidade e# deste modo# reen%i-lo ao apelo de ser simesmo# que o atinge também a ele. ( melhor cuidado com o outro é aquele onde eu o a$udo a cuidarse de si mesmo. !sta solicitude com o outro o recorda de sua condi'ão eHsistencial fundamental# ou se$a# a condi'ão de um ente cu$o modo de ser é determinado pelo ter que ser# pela facticidade da liberdade. A$udar o outro é# por conseguinte# aqui# recordar o outro da sua tarefa de ser si mesmo# de alcan'ar# assim# a transpar1ncia da eHsist1ncia. Lsto quer di&er# a$udar o outro recordandolhe de ser um a0 8aG# onde a luminosidade do ser -einG pode se irromper# li%re# le%e e solta. Assim# o relacionamento é libertador: torna o outro
livre# aberto# solto
para sua possibilidade mais própria: para )%ibrar em 8eus*# no )sopro pelo nada*. !ste outro tipo de relacionamento# diametralmente oposto Iquele funcional# $abordado# nós costumamos chamar de refer1ncia pessoal. 8isto nos fala Jarneiro 9eão: )A refer1ncia pessoal nasce do relacionamento das pessoas. >upe interioridade. carism-tica. 7i%e da autoridade do próprio encontro. ( papel exercido no relacionamento pelas pessoas possui car-ter din5mico e por isso transcende as diferen'as dos status. !sta din5mica indispe muitas %e&es o papel com o status. o
caso de um gerente de empresa numa gre%e. "- conflito entre seu status de gerente e seu papel de pessoa no relacionamento com os oper-rios ...G. 6o relacionamento pessoal# o empenho não é uma tarefa# é o deixar ser o Mistério do Kem. A integra'ão de penhor e Kem constitui o sentido do empenho na din5mica da a'ão. A integra'ão consuma a atitude# le%ando ao sumo o desen%ol%imento de sua plenitude. !ste consumar se d- no desempenho dos papéis gerados pela interioridade do encontro entre pessoas. 6o $ogo do relacionamento pessoal as rela'es funcionais de status se transformam. 8esaparece o poder de um sobre o outro. ( )eu posso* da sub$eti%idade se torna o pudor de uma serenidade cordial para com todos os modos de ser# o %igor de uma ren3ncia a todo poder# a fa%or de uma liberdade acolhedora de todas as diferen'as. Jada participante é participante por receber do Mistério da interioridade um papel insubstitu,%el e indispens-%el para imprimir no relacionamento. 6o %a&io do poder se instala a autoridade do encontro. >urge então o paradoxo da identidade: o status do ser%ente é da mesma autoridade do gerente. Mas )mesmo* não di& igual. 8i& id1ntico no mistério das diferen'as de ambos. /or isso a autoridade nunca é unilateral nem seus papéis se fixam ao status. # ao contr-rio# no en%io gratuito do mistério que a autoridade distribui papéis# criando os seus participantes. >endo assim carism-tica# a autoridade sopra onde lhe apra %inculandose ora a um ora a outro participante. @uando algo# que é sempre da responsabilidade de ambos# fa& com que um participante não assuma seu papel# entra em $ogo a autoridade. !m oposi'ão ao poder# o exerc,cio da autoridade não consiste em afirmar a posi'ão ou preser%ar o status masnana distribui'ão de papéis pelo ad%ento do Mistério da liberdade de ser diferente identidade*.
/odemos pensar# assim# como seria uma sociedade recriada e re%igorada pelo esp,rito deste modo de sercomooutro# aqui denominado )pessoal*. >eria uma sociedade caracteri&ada por aquilo que o ocidente# em particular# os gregos# encontraram como um achado irrenunci-%el da história: o esp,rito li%re da liberdade# aquilo que# de uma maneira $- muito desgastada# nós chamamos de )democracia*. necess-rio# no entanto# captar a id$ia de democracia# em %e& de analisar suas factuais concreti&a'es de até agora# sempre
mais ou menos imperf eitas. A sua id$ia é a ess1ncia de uma eHsist1ncia comunit-ria e social %erdadeiramente humana. Bma sociedade humana só pode surgir de uma humanidade humana" Formas inumanas e desumanas de eHsistir só podem gerar formas inumanas e desumanas de %i%er em comunidade e em sociedade. A isto nos acena Combach: )A democracia não é a forma consumada de todo desen%ol%imento pol,tico porque ela corresponde a um código pol,tico normati%o ou até mesmo I casual representa'ão pol,tica hegemnicadiretri& do mundo ocidenta l# mas porque ela condu& I estrutura fundamental do !Hsistir humano como tal. !sta estrutura fundamental h- que ser encontrada e iluminada. >omente quando se cumpriu isto é
que se pode di&er algo sobre se a democracia pode entrar em cena para além e por cima de toda casualidade atual e se ela mesma# em suas subsistentes formas pol,ticas# por assim di&er# enquanto ;democracia realmente existente<# corresponde a esta sua própria norma. /oderia ser que aquilo que nós compreendemos em geral sob o nome de sociedade li%re e aquilo que nós exigimos de uma constitui'ão democr-tica# ainda est- distante de alcan'ar a sua própria ess1ncia# a saber# aquela estrutura do humano mundo da %ida# que é ;humano< não só no aspecto pol,tico# mas também em todo outro aspecto. "umana é a sociedade não porque é democr-tica# mas democr-tica é a sociedade porque ela é humana*.
Jomo# porém# chegar a este )homem humano*S @ual o contributo do amor para que este processo aconte'aS Aqui# porém# le%antasenos uma pergunta crucial: o que é o amorS /odese falar de amor# simplesmenteS 6ão são muitos os amores# muitas as formas de amarS 8e que amor estamos falandoS 8e eros# de philia# de ag(peS 8a libido# da dilectio# da charitasS 6ossa reflexão não tem a pretensão de aprofundarse nas di%ersas formas %ariantes do amor# as quais só podem ser captadas como modifica'es essenciais# fundament ais do amor. 6ossa in%estiga'ão interroga o amor como tal# o seu eidos# o seu seruno# anterior a todas as %ariantes e modifica'es. ( ponto de partida de nossa in%estiga'ão é o de que o amor como tal é uno. !sta era# por exemplo# a con%ic'ão dos autores medie%ais. Assim# "ugo de >ão 7,tor# di&ia: )=odo o dia nos entretemos discutindo acerca do amor. nossa inten'ão cuidar para que este não se acenda no nosso cora'ão como um fogo# e de uma pequena centelha se transmude em chama# sem que nos demos conta disto: o amor pode arruinar ou então purificar toda a nossa %ida# porque dele depende todo o nosso bem e todo o nosso mal. A fonte do amor se encontra no ,ntimo de nós mesmos e é 3nica esta alimenta dois mananciais: o primeiro é o amor mundano e se chama cobi'a# o segundo o amor di%ino e é a caridade. 6o centro est- o cora'ão humano# do qual $orra a fonte do amor: o amor lan'ado pelo instinto para fora se chama cobi'a o amor dirigido pelo dese$o para dentro se chama caridade. "-# portanto# dois mananciais# que deri%am da fonte do amor# a cobi'a e a caridade: a cobi'a é a srcem de todos os males# a caridade é a srcem de todos os bens. =odo o nosso bem e todo o nosso mal dependem do amor*.
=estemunho semelhante nos presta Uuilherme de >aint=hierrY: )Arte das artes é a arte do amor# e o seu ensinamento estão reser%ados I nature&a mesma e a 8eus# autor da nature&a ...G. ( amor# em subst5ncia# é uma energia da alma que# como por efeito de um peso natural# a condu& para o lugar ou o fim que
lhe são próprios. /ara toda criatura# com efeito + se$a espiritual ou corpórea +# não só h- um determinado lugar para onde é naturalmente inclinada# mas esta possui também uma espécie de peso natural que a condu& até ali. 8e fato# como obser%a $ustamente um filósofo# não é que um peso de%a sempre arrastar necessariamente para baixo. /or exemplo# o fogo sobe# a -gua desce# e assim por diante# para as outras coisas ...G*.
! recordando os antigos# que se esfor'aram na aprendi&agem da arte de amar# este autor cristão afirma%a: )8e fato# segundo a $usta ordem da nature&a# o amor de%eria condu&ir o esp,rito deles + por efeito de seu peso natural + para o alto# para 8eus# que o criou...*.
( amor tem# portanto# um determinado )peso* na eHsist1ncia humana. !ste )peso* não é a inclina'ão para baixo# para a sua queda ou ru,na no nada negati%o. # ao contr-rio# a sua ele%a'ão para a dimensão da liberdade e da luminosidade da %erdade# do bem# do ser. ( seu sentido é# portanto# não o simples encanto# mas o canto: o %ibrar em 8eus# pelo sopro do nada. /ara não ficarmos somente nos testemunhos cristãosmedie%ais# %oltemos nossa aten'ão aos gregos. /latão# no 8i-logo Fedro 2WO a + 2WO eG# fa& >ócrates nos ensinar# atra%és de um mito# que a alma é como uma biga. (s dois ca%alos# que a puxam são os impulsos antitéticos# dos quais um é de ,ndole boa e o outro# de ,ndole rude. Jada um dos amantes# como um bom auriga# precisa aprender a reger ambas as for'as# submetendo o )ca%alo rude* ao )ca%alo de boa ,ndole*. @uando isto acontece# %ale di&er# quando pre%alecem as )partes* melhores do 5nimo# aquelas que guiam a uma )exist1ncia ordenada e I filosofia*# os amantes como que recuperam as suas asas perdidas e se ele%am# com aquele carro# para o )hiperur5nio*# isto é# para o elemento puro do belo# do bem# da %erdade e do ser. !ntão# os amantes )transcorrem uma %ida luminosa e feli reali&ando a %iagem em companhia rec,proca*# recuperando as asas )por gra'a do amor*. @uando isto não# acontece# porém# os amantes perdem as asas e )se precipitam na escuridão e passam a caminhar nas profunde&as subterr5neas*. !stes textos# aqui reportados só a t,tulo de testemunho# pro%ocamnos a pensar acerca da ambigidade do amor# que é 3nico. =al ambigidade é um ,ndice de que o amor est- inserido na din5mica do terqueser da eHsist1ncia# ou se$a# de que o amor se insere na
din5mica do estarem$ogo da %ida# no qual cada ser humano pode# a cada %e ganharse ou perderse para a sua liberdade. Jontudo# até agora# nós somente afirmamos a unicidade do amor e aludimos I sua ambigidade# sem definirmos# propriamente# a ess1ncia do amor. Aqui# porém# cabe perguntar: podese definir o amorS Jertamente# não caso se entenda por definir o querer explicar o amor a partir de algo outro# que se$a mais abrangente do que ele mesmo. Jertamente# sim caso se entenda por definir o deixar fa&er aparecer o fenmeno do amor a partir dele mesmo e como ele mesmo# tentando compreend1lo nos seus tra'os essenciais. Jom outras pala%ras# tratase não de uma explica'ão do amor a partir de conceitos genéricos# e sim de uma sua compreensão a partir de uma )indica'ão formal*# ou se$a# de um con$unto de acenos para dent ro de sua ess1ncia# de seu eidos# de sua )forma*# no sentido antigo e bom desta pala%ra# isto é# no sentido de %igor essencial da coisa ela mesma. ( amor é algo de srcin-rio. Jomo tudo de srcin-rio# só pode ser entendido a partir de si mesmo. du%idoso# por exemplo# entender o amor como uma )energia da alma*. 6ão que o neguemos. que pode muito bem ser que o conceito )energia* se$a ainda um conceito muito prec-rio para entender o amor. /or outro lado# pode ser que aquilo por nós denominado# ao longo da tradi'ão ocidental # de )alma* anima, psich$G# precisaria de uma )destrui'ão fenomenológica*# na qual não podemos entrar# aqui# nos limites desta in%estiga'ão. >uspendamos então + e suspender não é simplesmente negar + toda esta compreensão e# no %a&io desta suspensão# tentemos um olhar essencial para dentro do fenmeno. Aqui# tratase de %er# não de pro%ar. 6ão se poderia pro%ar a um cego o que é o %ermelho. @uem não tem o olhar para a ess1ncia do amor e para a dimensão na qual ela se mostra# nunca poder- compreend1lo. 8isto nos parece falar# com %eem1ncia poética# apenas para acenar e não para definir# a amada de um poema do J5ntico dos J5nticos de >alomão: )Ura%ame# como um selo em teu cora'ão# como um selo em teu bra'o pois o amor é forte# é como a morteT Jruel como o abismo é a paixão
suas chamas são chamas de fogo uma fa,sca de LahZehT As -guas da torrente $amais poderão apagar o amor# nem os rios afog-lo. @uisesse alguém dar tudo o que tem para comprar o amor... >eria tratado com despre&o*.
/ode parecer que o amor se$a algo de muito familiar aos humanos. 6o entanto# se# como di&ia >ófocles# o humano é o que de mais estranho h- entre todas as coisas estranhas# sim# estranho $ustamente a nós# que estamos tão familiari&ados com nossa ess1ncia# uma %e& que a somos# o amor é algo de muito estranho e isto $ustamente por se aninhar no 5mago de nosso próprio ser. =anto isto é %erdade# que nós# na maior parte das %e&es# só experimentamos o amor de uma maneira deslocada. 6o entanto# mesmo o deslocado# isto é# aquilo que não se encontra no seu lugar# no seu elemento próprio# continua sendo ainda o que é# senão não poderia ser o deslocado. 8e in,cio e na maior parte das %e&es# o amor com o qual os humanos se familiari&am é o amor errante# perdido# alienad o de sua própria ess1ncia. /or isto# a aprendi&agem de amar come'a sempre com uma espécie de erro. Jarece de se aprender a recondu&ir o amor ao seu destino: recondu&ir o amor ao amor srcin-rio# fontal. /or isto mesmo# o amor apresentase ao humano não como um dado e sim como uma tarefa# uma solicita'ão# um apelo# sim + por que não di&erS + como um imperati%o: )ama*# isto é# )aprende a amar*# )assume este poderser e te transforme nele# ao longo da aprendi&agem da experi1ncia do caminho*. ( amor é um modo todo próprio de afina'ão
-timmungG da eHsist1ncia. =al
afina'ão surge como uma ton5ncia afeti%a# pro%eniente do toque de uma afei'ão. ( apelo do outro nos atinge# nos toca e este serafetado pelo apelo do outro nos dispe na eH sist1ncia desta ou daquela maneira# ou se$a# nos fa& %ibrar no meio da %ida deste ou daquele modo. !nquanto afina'ão ou disposi'ão da eHsist1ncia# o amor é um modo de eu me achar na eHsist1ncia e um modo de abertura do meu sernomundo. 6este sentido# o amor não est- dentro nem fora de nós# ele é um modo como nós mesmos somos a abertura do serno mundo. # dito de outro modo# um modo de percussão e repercussão# de son5ncia e
resson5ncia do mistério do %i%er# que# no amor %ibra de um modo diferente de como brilha# por exemplo# no ódio# na indiferen'a# etc. ( amor# por conseguinte# surge como uma afei'ão# mas como uma afei'ão que é confiada ao cuidado# I solicitude de quem a recebeu. !sta afei'ão# portanto# carece de ser transformada em um quererbem. ( bemquerer# porém# não é uma %ontade ast1nica ou %oluntariosa# é# pelo contr-rio# uma decisão forte# apaixonada# culti%ada no empenho de um querer# que sempre de no%o é assumido e que# ao mesmo tempo# é guiado por uma ausculta precisa e delicada# sempre atenta I correspond1ncia ao apelo do outro. /or isto# este bem querer se concreti&a numa compreensão bem afinada# rigorosamente impostada na correspond1ncia I solicita'ão que o outro# nele mesmo# é para mim. !sta afei'ão# contudo# que se desabrocha num bemquerer# que# por sua %e alcan'a a sua transpar1ncia numa compreensão srcin-ria do ser do amado é# ela mesma o dom de um encontro. Cesta# pois# in%estigar o que isto significa: o encontro. 8e um modo muito amplo# tudo quanto h- no mundo nos é dado# primordialmente# a modo de um encontro. ( encontro é# um fundamentalmente# um evento" !ste e%ento# contudo# não é um fato entre outros fatos# mas um acontecer fundamental: o acontecer da %ida mesma# do sernomundo. 6este acontecer# que est- sempre acontecendo# de no%o e de maneira no%a# eu# cada %e resso deste ou daquela maneira. Jada no%a irrup'ão do acontecer da %ida constitui o meu eu e me d- a mim mesmo deste ou daquele modo. gra'as a este constante acontecer da %ida# que fa& desabrochar# sempre de no%o e de maneira no%a# o meu sernomundo# que tudo quanto h- no mundo pode me tocar# me afetar# me afei'oar. /or sua %e tudo quanto me toca se me mostra numa determinada signific5ncia e se me doa com uma determinada tonalidade afeti%a. 6em a coisa# que me toca est- pura e simplesmente fora de mim e nem a tonalidade afeti%a# que me perpassa e que empresta I coisa esta ou aquela )esfumatura*# est- pura e simplesmente dentro de mim. o meu próprio relacionamento com a coisa que %ibra nesta ou aquela disposi'ão# que abarca# de resto# toda a abertura de meu sernomundo. As coisas me %1m ao encontro# dentro do mundo# e isto quer di&er# elas se significam a si mesmas# isto é# elas se mostram como isto ou aquilo. As coisas %1m ao nosso encontro# elas nos tocam# mostramse# significamse. ! cada encontro com as coisas é um estremecimento do nosso sernomundo# é um %ibrar no seio da %ida# mesmo quando
o nosso %i%er mergulha no tédio# na indiferen'a do sempre o mesmo. =ambém o tédio# a mesmice da routine# é um modo de ser tocado pelas coisas# é um modo de se %ibrar no acontecer da %ida. >omente ali onde o mundo se desm undani&a e onde a %ida se des %itali&a é que as coisas $- não podem nos tocar# $- não podem se mostrar e se significar a si mesmas. As coisas %1m ao nosso encontro# elas nos tocam# e isto é sempre um acontecimento re%elador# manifestati%o. 6este sentido# uma coisa nunca pode %ir ao encontro de outra coisa uma coisa nunca pode tocar outra coisa. que as coisas só podem %ir ao encontro e tocar aquele ente cu$o modo de ser con%ém com todas as coisas# por ser a abertura em que elas podem se manifestar. As coisas# porém# que nos tocam são# cada %e de uma constitui'ão ontológica diferenciada. As coisas meramente subsistentes não nos tocam de igual maneira do que as coisas %i%entes. que# %ia de regra# a presen'a em carne e osso das coisas meramente subsistentes# que estão a, como meras coisas ou que estão )I mão* como coisas de uso cotidiano# nos solicitam e apelam de maneira menos forte do que aquelas )coisas*# que# na %erdade# $- não se nos mostram como coisas# mas $-# de alguma maneira# interagem conosco a modo de seres %i%entes: plantas e animais. 8e maneira bastante diferenciada# nós podemos ser tocados# atingidos# pelos outros# que nos %1m ao encontro e nos solicitam como copresentes# coeHsistentes# isto é# como nossos iguais e parceiros na condi'ão ontológica e# por conseguinte# como companheiros em nosso serno mundo. !mbora algo de )tu* $- se esbo'asse nos outros modos de encontro com as coisas# só agora é que eu posso chamar de tu# propriamente falando# Iquele ente que me toca# que me afeta# melhor# me afei'oa. 6ão somente este outro é para mim um tu# mas eu também sou para ele um tu. Lnstaurase# assim# a rela'ão tutu# apreendida# por cada um# como uma rela'ão eutu. =ratase do encontro# propriamente dito e estritamente entendido. ( amor é um e%ento da eHsist1ncia# um acontecer da %ida# que# a seu modo# institui# instaura# inaugura um relacionamento tutu. ( amor constitui o amante e o amado# no acontecer do encontro. =odo o encontro é e%entual# não no sentido de ocasional e fortuito# mas no sentido de só se dar num acontecer# que irrompe no repente# como uma facticidade. !sta facticidade é dom e é desafio. 8a facticidade do encontro como dom# fala nos Kuber: )( =u me encontra a partir da gra'a + pela procura não se pode encontr-lo*.
!sta gra'a# no entanto# é tarefa e desafio. Jom a irrup'ão do encontro# cada ser humano é posto I pro%a# no sentido de ser lan'ado na possibilidade do ganharse ou perder se# do subsistir ou do sucumbir. (. KollnoZ ressaltou este car-ter )e%ersi%o e abalador* do encontro# porque nele )um ser radicalmente outro me defronta e me coloca uma exig1ncia absoluta ...G. 6ão é o %ulto especial do outro que me preocupa# mas o car-ter incondicional e absoluto da sua rei%indica'ão ...G. =odo encontro é um destino e onde atinge o homem# logo o atinge também na sua totalidade. Bm encontro multif-rio# o mais %ariegado poss,%el# seria uma contradi'ão em si mesmo pois um encontro exclui sempre o outro é tanto mais aut1ntico# quanto mais direto e exclusi%amente atinge o homem*.
Assim# cada encontro é# cada %e 3nico e exclusi%o. 6esta exclusi%idade# unicidade e totalidade do encontro# assinala Kuber: )6ada mais é presente do que este um. Medida e compara'ão se es%airam. (s encontros não se ordenam para o mundo# mas cada encontro é um sinal da ordem da totalidademundo. (s encontros não estão ligados entre si# mas cada encontro te assegura tua liga'ão com o mundo*.
(ra# é $ustamente este car-ter de absoluto do encontro que# ao mesmo tempo# fascina e assombra. 8a, o sentido )abalador e e%ersi%o*# sublinhado por KollnoZ: )!ncontro sempre designa o fenmeno que assim podemos descre%er: o homem esbarra em algo# que o defronta de maneira impre%ista# digamos qual uma fatalidade# como algo radicalmente di%erso daquilo que ele esperara segundo suas concep'es anteriores# obrigandoo a se orientar de no%o. !ncontro é# portanto# nesse sentido# um acontecimento nitidamente destacado e ...G um acontecimento acentuadamente inst-%el# que lan'a o homem fora da linha de desen%ol%imento seguida até o momento e o coage a assumir no%o in,cio ...G. o puro ;que<# isto é# a pura presen'a# a pura facticidade desse encontro# que lan'a o homem de %olta a ele mesmo e o coage a se decidir# a partir dele mesmo# no%amente. Pustamente essa pura facticidade do encontro# pri%ada de todos os dados de conte3dos explicati%os e detalhes constitui o seu car-ter existencial. /ortanto# o próprio homem é colocado I pro%a no encontro. 8iante da for'a do outro que me defronta# se decide o que em cmim é aut1ntico. 6esse abalo de%ome confirmar. !u posso subsistir ou fracassar. Assim# o encontro é uma pro%a da minha própria autenticidade. >im# com maior nitide&: no encontro não se confirma uma subst5ncia $- existente no homem. /ois é $ustamente nele que o homem %em a ser propriamente e pela primeira %e& ele
mesmo. !ste 3ltimo n3cleo do homem# o qual expressamos com o termo elemesmo ou exist1ncia# por princ,pio $amais se reali&a na solidão de um !u# mas sempre e unicamente no encontro. /or outro lado# porém# o encontro é algo poderoso# algo que por assim di&er assalta o homem# algo que absolutamente nada tem de amig-%el e con%idati%o. !le é sombrio e amea'ador. Jompreendemos assim porque o homem# no in,cio# se assusta diante dele# dele procura esqui%arse e dese$a permanecer na indiferen'a do seu estado anterior. /ara que o encontro de fato aconte'a# é necess-rio que se$a aceito pela própria pessoa atingida# se$a assumido por ela na liberdade. Jomo tal# o encontro exige o seu enga$amento pleno*.
( encontro# porém# é abalador não somente por sua facticidade# acompanhado do car-ter absoluto# 3nico# exclusi%o e incondicional de seu apelo. !le o é também por gra'a de o outro# $unto do qual eu me defronto# ser um tu. Mas# quando é que# de fato# o outro se torna um tu para mimS Cesponde Uuardini: )( outro se torna um ;tu< para mim somente quando cessa a simples rela'ão su$eito ob$eto. ( primeiro passo rumo ao ;tu< é aquele que ;retira as mãos< e deixa li%re o espa'o em que possa se fa&er %aler o car-ter da pessoa de ser%ir de fim a si mesma. Lsto constitui o primeiro manifestarse operati%o da ;$usti'a< e a base de todo ;amor<. ( amor pessoal tem in,cio decisi%amente não com um mo%imento que se dirige ao outro# mas que se retrai diante dele. 6o mesmo momento mudo também a minha atitude própria. 6a medida em que eu dou liberdade ao ser# %isto antes como ob$eto# de assumir a atitude de ;eu< que se apresenta# mo%endose a partir de seu próprio centro# e lhe consinto de se tornar o meu ;tu<# eu me transponho de uma atitude de su$eito que utili&a ou luta Iquela de um ;eu<. !ste processo significa um risco. 8iante do ob$eto o homem é participante somente de modo ob$eti%o# ;coisal<. ( seu car-ter de pessoa é quiescente. 6ão se mostra o seu rosto interior. =em as suas mãos li%res para todo mo%imento I sua disposi'ão. participante e interessado só com aquilo que possui ou pode fa&er# não com o seu ;eu<. Mas# mal %ai ao encontro como ;eu< ao ;tu<# interiormente desabrocha algo. 6ão assim como quando uma pessoa human a# que até um certo momento tenha podido ocultar a sua %erdadeira ess1ncia# de impro%iso se torna transparente aos olhos de um agudo obser%ador mesmo como quandocai cessam m-scaras e a m,mica# e aparece# de repente# anem ;expressão< mas quando aquelaastela# que consiste na ;ob$eti%idade coisal< do comportamento com que se age. (lhando para o outro como um ;eu<# eu me abro e me mostro. =oda%ia# a rela'ão fica incompleta# se não fa& partir# para si# o mesmo mo%imento também a partir de l-# enquanto o outro consente a mim de tornar o seu ;tu<. Jontudo# realmente a mim# não a qualquer um que tenha %isto em mim e assim como eu sou# não como gostaria que eu fosse. >e isto não acontece# todo o con$unto fica incompleto e atormentado. Até surge um sentimento de estar I merc1 do outro porque no aut1ntico tornarse um ;tu< est- a disponibilidade que# de qualquer modo# de%e ser correspondida# se não se quer ir contra a honra. Mas# se o mo%imento se cumpre de %olta# então também da outra parte cai a tela da ob$eti%idade coisal. 6o olhar para o outro# o rosto se abre e nasce aquela rela'ão# em que os olhos se olham nos olhos. >ó então é presente a atitude plena de quem é pessoa... Agora somente se %inculam também os destinos# no sentido pessoal*.
Jada tu é# portanto# 3nico e exclusi%o. Jada tu é# igualmente# absoluto# por ser uma srcem e um fim em si mesmo# na sua liberdade. "- amor ali onde um tal relacionamento se instaura. Jada tu é uma srcem em si mesma: um come'o que pode come'ar a partir de si mesmo. !m sua liberdade# cada tu pode se autodeterminar# pode se decidir a ser realmente um tu para o seu tu e pode se decidir a renunciar a toda a posse do outro como ob$eto# deixandoo ser realmente um tu para si. !m sua liberdade# cada tu é um ser ;por mor de si mesmo<. !le não tem pre'o# nem mesmo tem %alor# tem dignidade. ! esta dignidade não é algo que se negocia# nem algo que se possa dar ou tirar# é algo que se reconhece# em si e no outro. nesta dignidade# acolhida e reconhecida# que brilha a bele&a do outro# enquanto um ser autnomo. ( interesse da rela'ão do amor# no encontro# %ai diretamente ao 5mago do outro. ( tu não é $amais uma coisasubst5ncia com determinados atributospropriedades. ( tu é o mistério no qual o outro se d- e se retrai# ao mesmo tempo# como radicaloutro. 6ão se ama alguém por causa de suas qualidades ou propriedades# mas pelo seu puro e simples ser# pela facticidade do seu sertu. Amar significa renunciar I posse do outro como de um ob$eto. Amar significa# portanto # como di&ia Agostin ho: volo ut sis # quero que se$as. !ste mesmo princ,pio parece sernos indicado por >imone eil# quando nos di&: ) uma co%ardia buscar $unto Is pessoas que amamos ou dese$ar darlhesG um outro reconforto que não se$a aquele que nos é dado pelas obras de arte# que nos a$udam pelo simples fato de eistirem. Amar# ser amado# isso só fa& tornar mutuamente essa exist1ncia mais concreta# mais constantemente presente ao esp,rito. Mas ela de%e estar presente como a fonte dos pensamentos# não como seu ob$eto. >e ocorre existir para ele. dese$ar ser compreendido# não é para si# mas pelo outro# a fim de =udo o que é %il ou med,ocre em nós re%oltase contra a pure&a e tem necessidade# para sal%ar sua %ida# de macular essa pure&a. Macular é modificar# é tocar. ( belo é o que não se pode querer mudar. =er poder sobre é macular. /ossuir é macular. Amar puramente é consentir na dist5ncia# é adorar a dist5ncia entre nós e o que amamos. A imagina'ão est- sempre ligada a um dese$o# isto é# a um %alor. >ó o dese$o sem ob$eto é %a&io de imagina'ão. "- presen'a real de 8eus em tudo o que a imagina'ão não encobre. ( belo captura o dese$o em nós e o %a&io de ob$eto# dandolhe um ob$eto presente e impedindo que se lance para o futuro.
!sse é o pre'o do amor casto. =odo dese$o situase no futuro# no ilusório. Ao passo que# se apenas dese$amos que um ser exista# ele existe: sendo assim# o que mais dese$arS ( ser amado então é real e est- nu# não encoberto por um futuro imagin-rio. ( a%aro $amais olha seu tesou ro sem imagin-lo n %e&es maior. preciso estar morto para %er as coisas nuas*.
8este modo# todo amor só conquista o seu poderser# quando se mantém na morte# ou se$a# no ponto crucial da ren3ncia. Jontudo# aqui é preciso lembrar as pala%ras s-bias# isto é# portadoras de um aceno para o extraordin-rio# de "eidegger: )A ren3ncia não tira. A ren3ncia d-. 8- a for'a inesgot-%el do >imples*.
a ren3ncia I posse do outro# o retrairse em si para deixarser a sua diferen'a# no retraimento de sua própria identidade# ou se$a# o deixarsertu ao tu que me solicita o amor# que possibilita a mim a rique&a do encontro. /ara o dese$o de posse# o outro é sempre o ob$eto da própria car1ncia e pri%a'ão. A cobi'a# que se estrutura sempre como experi1ncia de pri%a'ão# tem horror ao %a&io. /or isto# redu& o outro a ob$eto# de sua posse real ou imagin-ria. 8esta car1ncia nos recorda o mito de 8iotima# contado por >ócrates# no Kanquete# de /latão: )/or ocasião do nascimento de Afrodite# os deuses deram um grande banquete comemorati%o# a que compareceu também /oros _o deus da abund5ncia `# filho de Métis _ a deusa da prud1ncia `. !nquanto se banquetea%am# aproximouse /enia _ a car1ncia ` para mendigar as sobras da festa# e sentouse I porta. !mbriagado pelo néctar + pois o %inho ainda não existia + /oros se encaminhou para os $ardins de ^eus e l- adormeceu# dominado pela embriague&. Foi então que /enia# em sua miséria# dese$ou =er um filho de /oros. 8eitouse a seu lado e concebeu !ros. /or esse moti%o é que !ros tornouse mais tarde companheiro e ser%idor de Afrodite# pois foi concebido no dia em que esta nasceu. Além disso# !ros# de%ido I sua nature&a# ama o que é belo e# como sabemos# Afrodite é bela. ! por ser filho de /oros e /enia# !ros tem o seguinte fado: é pobre# e muito longe est- de ser delicado e belo# como todos %ulgarmente pensam. !ros# na realidade# é rude# é su$o# anda descal'o# não tem lar# dorme no chão duro# $unto aos umbrais das portas# ou nas ruas# sem leito nem conforto. >egue nisso a nature&a de sua mãe que %i%e na miséria. /or influ1ncia da nature&a que recebeu do pai# !ros dirige a aten'ão para tudo que é belo e gracioso é bra%o# auda constante e grande ca'ador est- sempre a deliberar
e a urdir maquina'es# a dese$ar e a adquirir conhecimentos# filosofa durante toda sua %ida é grande feiticeiro# mago e sofista. 6ão %i%e# propriamente# nem como imortal nem como mortal. 6o mesmo dia# ora floresce e %i%e# ora morre e renasce# se tem sorte# gra'as aos dons recebidos pela heran'a paterna. Capidamente passam por suas mãos os pro%eitos que lhe tra&em a sua esperte&a. Assim# nunca se encontra em completo estado de miséria# nem# tampouco# na opul1ncia. (scila# igualmente# sabedoria e a tolice moti%o: nenhum dos deuses# como é entre claro#a exerce a filosofia# oude%ido dese$a ao serseguinte s-bio# pois que como deus $- o é quem é s-bio não filosofa não filosofa nem dese$a ser s-bio# também# quem é tolo + e a, reside o maior defeito da tolice: em considerarse alguma coisa de perfeito# conquanto# na realidade# não se$a nem $usta# nem inteligente. ! quem não se considera incompleto e insuficiente# não dese$a aquilo cu$a falta não pode notar.
>egundo esta fala# portant o# o ser do amor é caracteri&ad o pela finitude: o nem isto nem aquilo# o estar a meio caminho# entre a pri%a'ão e a plenitude. ( amor é# pois# da mesma nature&a da filosofia. Jomo# porém# )sal%ar* o amor de sua car1ncia intr,nsecaS Cesposta: atra%és da ren3ncia I posse do tu amado. A ren3ncia deixaser o outro na sua alteridade# e# somente nesta medida# interessase inteiramente por ele. Cenunciar é absterse da posse do outro e do dom,nio sobre ele. Abs terse é terse no retraimento que deixaser a alteridade do outro# é manterse e conterse no %igor do retraimento# que deixaser o outro como tu e não como ob$eto. Absterse é deixar se tornar a passagem da gratuidade# que constitui a $o%ialidade do encontro. 6a absten'ão a eHsist1ncia se tem a si mesma como passagem para a cordialidade da gratuidade# como acolhida da $o%ialidade do encontro. Absterse é %oar sem asas# é %ibrar na din5mica da liberdade# daquela liberdade que tudo liberta# recondu&indo ao srcin-rio e ao mais próprio de si. /aradoxalmente# é perdendo o outro# pela absten'ão da ren3ncia# que se o ganha. Cenunciar é# neste sentido# também# de%ol%er o outro a si mesmo# restituilo ao seu poder sersimesmo na sua plenitude# é remet1lo e reen%i-lo a si mesmo# isto é# ao seu si mesmo mais pleno. >ó de%ol%endo o outro a si mesmo# I sua liberdade# é que eu o conquisto para o meu amor. /or isto# con%ém lembrar# aqui# também# o mito de !ros e /siqué:
/siqué# filho de certo rei# era de tão grande bele&a que não ha%ia quem ousasse pedila em casamento. 7i%ia so&inha em seus ricos aposentos# lamentando a solidão de sua bele&a. (s pais resol%eram le%-la I colina do deus ^éfiro. 6o desterro tal%e& encontrasse sua p-tria. ( gentil ^éfiro carregoua até um campo cheio de flores# onde /siqué adormeceu. Ao acordar esta%a num lindo bosque# perto de uma fonte de -gua l,mpida. 7iu próximo um pal-cio magn,fico de nobres aposentos# enriquecidos de esculturas# quadros de arte e tesouros raros. Bma %o& lhe di&ia: )>oberana senhora# tudo que %edes é %osso*. /siqué foi acolhida no pal-cio: seus ou%idos ou%iam as mais belas melodias das coisas que toca%a# seus olhos %iam a mais bela harmonia. ! na escuridão da noite# seu ser se delicia%a no con%,%io amoroso de !ros. 6os caminhos# no sil1ncio das estrelas# nos %ales e montanhas# ela ou%ia os ecos distantes da %o& de seu Amor e encontra%a suas marcas por toda parte. Mas $amais se %iramT !ntão d3%ida e medo assaltaram /siqué. !ssas formas fantasmais se interpuseram entre ela e !ros. /siqué queria %er e ter certe&aT /siqué# atormentada pela d3%ida# armouse de uma l5mpada. @uando !ros esta%a em seu primeiro sono# ela se le%antou da cama# fe& lu& e %iu o mais encantador e belo dos deuses. !nquanto ela se debru'a%a para contempl-lo mais de perto# a l5mpada caiu no rosto do deus e o desfigurou. !ros desapareceu. /siqué ficou completamente prosternada. @uando recobrou sua compostura e olhou em redor# o pal-cio e os $ardins ha%iam desaparecido# não mais %ia a harmonia# não mais ou%ia a melodia das coisas. Achouse num campo aberto# na antiga terra de seus pais. >audosa# /siqué + a %eneradora do Amor + passou a %ida a procurar o !ncontro com aquele# cu$a morada est- na terra oculta aos olhos do saber. ( que est- assim na terra oculto só pode ser do céu. ( céu e a terra %i%em# no con%,%io amoroso# porque !ros não abandonou /siqué. Bm dia %eio busc-la e a le%ou para P3piter# que em presen'a dos deuses lhe deu um copo de ambrosia e disse: ;Kebe# /siqué# e s1 imortal que !ros nunca escape ao nó a que ele est- agora ligado# e que estas n3pcias $o%iais se$am perpétuas*.
@uanto mais o amor se liberta# na ren3ncia# para a experi1ncia $o%ial da gratuidade# tanto mais rico e superfluente ele se torna. 6a sua pobre&a essencial# o amor conquista sua rique&a# também essencial. também "eidegger quem nos fa& pensar este ,ntimo relacionamento de pobre&a e rique&a essenciais:
)Cique&a $amais é só posse menos ainda conseq1ncia da posse# pois ela é sempre o seu fundamento. Cique&a é a superflu1ncia daquilo que garante a posse do próprio ser# em abrindo o caminho para sua apropria'ão e permanecendo inesgot-%el na oferta da matura'ão para o próprio.
>uperflu1ncia# porém# não é a superfluidade que est- sempre diante do saturado como o que lhe resta. ( aut1ntico supérfluo é o superfluir que a si mesmo superflui e assim se supera. 6uma tal supera'ão o superfluente aflui a si mesmo de %olta e experimenta que não se satisfa& a si mesmo# porque sempre $- se tem superado. Mas esse $amaissesatisfa&erasimesmo por ser sempre superabundante é a srcem# o salto srcinal. A rique&a é essencialmente fonte# em cu$a cercania# somente e então# o próprio se torna propriedade. A fonte é o desdobramento do uno por e para a inesgot5ncia da sua unidade. ( uno assim é o simples. >ó pode ser rico# quem sabe usar li%remente a rique&a e sabe antes %1la como tal na sua ess1ncia. Lsso o pode somente quem pode ser pobre# no sentido da pobre&a# que não é nenhuma pri%a'ão. /ois# a pri%a'ão sempre se enreda num não=er# que gostaria de tudo ter com imediate com igual imediate& com que ela não o tem# isto é# sem a propriedade para ter. !sta pri%a'ão não brota do %igor da pobre&a. A pri%a'ão que quer ter não passa da indig1ncia# que continuamente se apega I rique&a# sem poder saber da sua %erdadeira ess1ncia# sem querer assumir as condi'es da sua apropria'ão. A pobre&a essencial é o %igor# a coragem do simples# que só é na srcinariedade. !ssa pobre&a admira a ess1ncia da rique&a e sabe dali a sua lei. ( querer ser rico de%e ir atra%és da superfluente supera'ão de si. !ssa %ia# porém# é e quer ser aprendi&agem*.
Fa&endose ren3ncia# o amor libertase do nada negati%o da pri%a'ão para ser o nada positi%o da pobre&a essencial. 6o nada positi%o desta pobre&a# o amor conhece a superflu1ncia da rique&a essencial. =ratase da rique&a inesgot-%el daquilo que é fontal. A fonte é pura doa'ão. !la se retrai em si mesma na absten'ão da ren3ncia da posse daquilo que ela fa& emergir como o seu manancial e# nesta abnega'ão# ela deixa ser positi%amente o ser do manancial como o outro dela mesma. Assim# o amor# quando passa da atitude puramente estética solipsista )do agrad-%el para mim* para a atitude ética altru,sta do )deixarser o outro no seu mistério*# deixa de se dirigir ao tu como a um ob$eto e o deixa surgir %erdadeiramente como um tu na sua alteridade. ( tu deixa de ser amado por causa disto ou daquilo# mas é amado por causa do próprio amor# amado por simplesmente ser# por ser simplesmente esta facticidade# que ele é# por ser simplesmente este tu. 6esta atitude# eu amo o outro não por suas qualidades e nem deixo de am-lo por seus defeitos# pois qualidades e defeitos não di&em respeito a um tu# mas a um isto# ou se$a# a um ele ou ela# em suma# a um ob$eto. 6este relacionamente tutu# onde eu me torno plenamente um tu para o outro e o outro se torna plenamente um tu para mim# os centros de mim e do outro se transferem continuamente. ( outro passa a ser o centro de mim mesmo e eu passo a ser o centro do
outro. !u e o tu %amos girando nesta polaridade do encontro. 6a reciprocidade energética do amor dilatase o 5mbito do meu ser atra%és do ser do outro e dilatase o 5mbito do ser do outro atra%és do meu ser. !u acabo me tornando a dimensão de profundidade a partir da qual %i%e o outro e o outro acaba se transformando na dimensão de profundidade em que eu %i%o. Jomo di&ia a >imone eil# eu passo a estar presente na %ida do outro )na fonte de seus pensamentos*# não como ob$eto de seus pensamentos e dese$os# e o mesmo se diga do outro em rela'ão a mim. !sta identifica'ão com o outro# porém# não é a confusão de uma fascina'ão sufocante que assalta# toma conta dos parceiros e fa& desaparecer as diferen'as é a copresen'a das identidades nas diferen'as# de uma maneira n,tida# li%re e transparente. 6este relacionamento# quanto mais eu me abro ao outro também mais eu me torno eu mesmo atra%és do poderser do outro e tanto mais o outro se torna si mesmo atra%és do meu poderser. ( encontro fa& cada um nascer para a sua possibilidade mais própria# atra%és da possibilidade mais própria do outro. A liberta'ão do outro para a sua liberdade mais srcin-ria significa o meu crescimento na din5mica da minha liberdade. ! %ice%ersa: a minha liberta'ão para a minha possibilidade mais srcin-ria significa o crescimento do outro na din5mica da sua liberdade. !ste relacionamento di&: s1 o que tu és# afim de que eu se$a o que sou e eu serei o que sou# afim de que tu se$as o que tu és. !ste relacionamento de liberdade# porém# não de%e ser interpretado como a mero respeito pela indi%idualidade do outro# é antes o mais radical interesse e enga$amento# orientado para o tu# com o qual eu me %inculo em minha liberdade# por gra'a do encontro. 6este total e incondicional interesse m3tuo de um amor# que se conquista atra%és da din5mica da liberdade# o tu# como $- dissemos# não é %isto atra%és da tela da )ob$eti%idade coisal*# mas ele aparece como o mistério# que se presenteia somente na mesma medida em que se subtrai. ! quanto mais eu me aproximo deste tu# tanto mais ele se me foge# me escapa# sim# se )perde* para dentro da abertura do infinito# na sua transcend1ncia. !ste tu se pro$eta e me atrai para dentro da profundidade# originariedade e amplidão da cordialidade do ser# da $o%ialidade gratuita e da gratuidade $o%ial# que est- na fonte da %ida. 6este mo%imento de transcend1ncia# o tu se retrai para dentro de uma outra presen'a# sim# de uma presen'a que# por princ,pio# $amais pode se mostrar como um ob$eto a, diante de mim# de uma que sempre se retrai e se in%olui# deixandoser a presen'a de cada coisa na sua diferen'a. Amar é# neste sentido# fundament almente# seguir o outro na transcend1ncia
de seu mistério# o qual# por sua %e mostrase como a passagem# a fuga# o tr5nsito para dentro da transcend1ncia de um outro mistério# de uma outra presen'a# que nós captamos de in,cio somente como um nada# como uma aus1ncia# ou se$a# como o abismo de toda a presen'a. /or isto# o amor# que assim se reali&a na sua possibilidade mais própria# srcin-ria e extrema# é 1xtase# serenidade e gratidão e# por ser tudo isto# alegria. ( amor é 1xtase por le%ar I sua suprema possibilidade a eHsist1ncia# a qual é# por princ,pio# eHst-tica. xtase significa o ser e estar fora de si. ( amor é 1xtase porque# nele# o eu $- não est- mais centrado em si mesmo# mas na transcend1ncia do mistério do 6ada# qual fundo abissal a que me condu& o mistério do outro. 6esta experi1ncia o eu e o tu do encontro $- não se defrontam mais como su$eitos# mas como presen'as cu$os des%elamentos des%elam# ao mesmo tempo# o %elamento do radicaloutro# da outra pre sen'a# abissal. 7i%er o amor como 1xtase significa colher os seus frutos# sem arrancar as ra,&es de sua possibilidade. /or isto# o 1xtase não se d- como a euforia da apropria'ão e sim como a serenidade da expropria'ão# isto é# da pobre&a. A serenidade é# como nos di& a pala%ra alemã elassenheit# o %igor da disposi'ão fundamental +heitG# que deixaser lassenG a diferen'a e a dist5ncia daqueles que# no encontro# se unem e reunem e+G. 6a din5mica deste deixarse é que se possibilita todo o encontro. >erenidade não é a quietude da acomoda'ão# é# sim# a quietude da plena presen'a de si na espera do inesperado do encontro e do encontro do inesperado. 8a serenidade desta espera nos recorda um fragmento de "er-clito: )>e não se espera não se encontra o inesperado# sendo sem caminho de encontro nem %ias de acesso*.
A serenidade é o nada querer# nada poder# nada saber# que# no abandono de si# deixa ser o %igor da irrup'ão sempre de no%o surpreendente e repentina do mistério que se retrai# mas que# $ustamente como o que se retrai# deixaser todo e qualquer e%ento de encontro. >erenidade significa estar na %i&inhan'a# na proximidade# da fonte de todo e qualquer amor# ou se$a# estar na familiaridade com o mistério# que sub$a& na fonte de todo e qualquer encontro. A serenidade é# assim# a correspond1ncia cordial de uma pura e simples positi%idade ao )não* do nada que# como fundo abissal de toda a presen'a# est- na rai& de todo o encontro. 8este nada nos fala >chelling:
)>im# tratase de um nada# mas de um nada como a liberdade integral é um nada como a %ontade que nada quer# que não cobi'a coisa alguma# para quem todas as coisas são iguais e que por isso não é mo%ida por nenhuma. Bma tal %ontade é nada e tudo. nada I medida que nem cobi'a a sua própria reali&a'ão e nem pretende nenhuma realidade. tudo porque somente dela# enquanto liberdade eterna# toda for'a pro%ém porque possui todas as coisas sob si# tudo predomina# mas não é por nada dominada*.
( inesperado consiste nisto: que todo o encontro só pode ser por gra'a da retra'ão do mistério do nada que# como presen'a ausente# deixa e fa& ser a facticidade de toda presen'a# que se me torna um tu# no sentido pleno da pala%ra. /or isto# esta retra'ão fala da pobre&a essencial daquele nada# que fa& ser a rique&a da efusão# do transbordamento# da superabund5ncia e da superflu1ncia de todos os encontros. /or ser a fonte da rique&a de todos os encontros# o Mistério do 6ada não carece de reter nada para si# mas só pode ser a inesgot-%el doa'ão de toda a d-di%a. /or tudo possuir em si# ele não carece de ambicion ar coisa alguma# mas somente ama o amar# isto é# o doarse# sempre de no%o# fa&endo e deixando ser a possibilidade de todo o encontro e# ao mesmo tempo# retraindose no recato de sua humildade. ( caminho do seguimento e da ausculta desta serenidade# foi tra&ida I fala por um poema &enbudista: )( Urande Jaminho é simples# apenas não tem prefer1ncia# abrese por si# naturalmente. (nde# porém# h- prefer1ncia# do tamanho do p1lo# o mais fino# surge a cobi'a de dois e cobre os olhos do Jéu e da =erra# e o espelho cordial do esp,rito nada reflete do seu nada. 6ão busque o ser. 6ão fixe moradia no nada. A semente do uno# na serenidade# apaga por si a cobi'a de dois*.
( 1xtase da serenidade mostrase# em seguida# como gratidão. >ó pode ser grato quem# sendo pobre daquela pobre&a essencial# que est- na base da serenidade# sabe acolher
cada facticidade de cada encontro e de cada tu como gra'a# isto é# como gratuidade do Mistério e como mistério da Uratuidade. @uem# sem nenhuma prefer1ncia# tudo e todos acolhe# como gra'a do encontro# %i%e na constante disposi'ão da gratidão. !le consegue %er# para além de toda a dor# miséria e crue&a da iniquidade humana# na presen'aausente do Mistério do 6ada# um rosto de cordial benignidade. esta benignidade# qual pura e li%re gratuidade# que ser%e todas as coisas# que sustenta todas as dores e presenteia todas as alegrias. !la é pura $o%ialidade de ser. a nasci%idade $o%ial que# estando na fonte de toda a %ida# consegue assumir toda a negati%idade# como pro%oca'ão para mais amar# para se doar# se compadecer. !m tudo ela ser%e# doandose e# em tudo ela agradece# como se# em cada no%o encontro ela recebesse de quem ela ser%e a gra'a do próprio poderser%ir. /or tudo isto# o amor# que é o 1xtase da serenidade absolutamente grata# é pura alegria# pura $o%ialidade. ( =odo# para quem# pelo amor# se mantém na proximidade do Mistério do 6ada + e só para quem se mantém na proximidade do Mistério do 6ada é que o =odo pode se mostrar como tal + é concre'ão do sentido do ser# que se doa como alegria. ( =odo é o desabrochar do >er# qual alegria. Pustamente isto é a alegria: o %ibrar t1nue do desabrochar do =odo como en%io do Mistério do 6ada na sua gratuidade serena. 8isto nos fala Combach: ); sentido fundamental do ser $ alegria . A, est- inclu,do# naturalmente# a triste&a# que noticia a des%entura# mas a anuncia no andamento de um caminho ele%ado. A triste&a que também se retrai é alegre triste&a# a alegria que também se retrai é triste alegria. ! somente estas é que são permitidas. A ética do ser + e também a ética humana é somente uma parte da do ser + ou a ética do mundo# que %ale para todas as coisas + o que# toda%ia a ética humana ain da nega e nisto resi de o fato de que toda a ética de até agora# enquanto ética que não conhece a retra'ão# é inética e i moral e# por isto# também# não deixa o homem ser efeti%amente moral a ética do ser# portanto# não exige mais nada mais do que retra'ão. !sta# porém# é dif,cil de se entender# pois# muitas %e&es# no acontecer do todo# só se retrai aquele que# com decisão# a%an'a. >e a%an'ar ou retrairse# isto decide somente a intui'ão ou o sentimentoG no processo da estrutura'ão*.
Jada acontecimento só adquire o seu sentido pleno quando %isto deste o )ponto de %ista* do =odo. Jada acontecimento da %ida só se re%este de sua signific5ncia mais srcin-ria quando mostrase I lu& da benignidade do Mistério que tudo abarca e tudo perpassa# nas mais diferentes dimenses de profundidade do real# com os espa'osde$ogo que nelas e com elas se estruturam. Assim# o =odo pode ser intu,do como
)um acontecer polifnico de cont,nuas aproxima'es e supera'es# que seguem o rumo de um aco rde inacess0vel e $- o deixa# no ent anto# pressentir em cada disson5ncia# como som fundamental. Bm coro# em certa medida. ! quem quiser ter algum modelo de compreensão para isto# ponhase na ausculta do coro final da /aixão segundo Mateus# de Kach# em especial# nos 3ltimos compassos. + =al%e isto %em do fato de a m3sica ser a expressão mais %-lida# por ser a que nunca sucumbe. A ontologia propriamente dita. ( ser não fala# ele soa. !le soa também em nossas %eias. ! cada um pode ou%ilo# se quiser. 8isto souberam $- sempre os m3sicos e os poetas. ! se a arte nos di& algo# então# isto que ela di& é o eloqente e t-cito soar da alegria# que é o 3ltimo sentido de todo acontecer*.
8e que a alegria %igora como o sentido do ser de todo acontecer + e# portanto# de toda facticidade# de todo encontro + nos fala também um personagem de um conto de Uuimarães Cosa# o 8ito de Miguilim. 6a hora da morte# o irmão conta ao irmão&inho um segredo: )! o 8ito também não conseguia mais falar direito# os dentes dele teima%am em ficar encostados# a boca mal abria# mas mesmo assim ele force$ou e disse tudo: ;Miguilim# Miguilim# %ou ensinar o que agorinha eu sei# demais: é que a gente pode ficar sempre alegre# alegre# mesmo com toda coisa ruim que acontece acontecendo. A gente de%e de poder ficar então mais alegre# mais alegre# por dentroT..< ! o 8ito quis rir para Miguilim. Mas Miguilim chora%a aos gritos# sufoca%a# os outros %ieram# puxaram Miguilim de l-*.
Mas# quem era esta crian'a que# assim tão pequenina e $- tão s-bia# conseguia roubar um tal segredo da %ida e confi-lo a quem ele mais ama%aS @uando Miguilim# depois da morte de 8ito# quis ter de alguém )algum sinal do 8ito morto ainda no 8ito vivo# ou do 8ito vivo mesmo no 8ito morto* foi Cosa que# enquanto os outros di&iam )bobagens que o cora'ão não consabe*# mostrouse )capa& de compreender no meio do sentir# mas um sentimento sabido e um compreendido adi%inhado*: )>ó a Cosa foi quem uma %e& disse que o 8ito era uma alminha que %ia o Jéu por detr-s do morro# e que por isso esta%a marcado para não ficar muito tempo mais aqui. ! disse que o 8ito fala%a com cada pessoa como se ela fosse uma# diferente mas que gosta%a de todas# como se todas fossem iguais. ! disse que o 8ito nunca tinha mudado# enquanto em %ida# e por isso# se a gente ti%esse um retratinho dele# podia se %er como os tra'os do retrato agora muda%am. Mas ela $- tinha perguntado#
ninguém tinha um retratinho do 8ito. ! disse que o 8ito parecia uma pessoinha %elha# muito %elha em no%a*.
8a alegria de ser# de $o%ialidade perfeita é feito o puro amor. /or isto# concluamos toda a nossa in%estiga'ão e reflexão com um hino I $o%ialidade do puro amor: )A $o%ialidade é paciente# a $o%ialidade é benigna ela não é in%e$osa# a $o%ialidade não é $actanciosa# não se ensoberbece não é descort1s# não é interesseira# não se irrita# não guarda rancor não se alegra com a in$usti'a# mas compra&se na %erdade tudo desculpa# tudo cr1# tudo espera# tudo tolera. A $o%ialidade não sucumbe $amais as profeciasS terão o seu fim# as l,nguasS cessarão# a ci1nciaS terminar-... Agora permanecem estas tr1s coisas: fé# esperan'a e $o%ialidade porém# a mais excelente delas é a $o%ialidade*