Paulo Meneses
ROTEIRO
COLE~O
[Jl] Fi/osofia
Paulo Meneses
PARA LER A FENOMENOLOGIA , DO ESPIRITO Rotelro Colec;io FIIDSOFIA 1.
Para ler a Fenomenologia do Espirito PauloMeneses
FILOSOFIA
COleQio dirigida pelo Centro de Estudos Superiores de Fi· losofia e Teologia da Companhia de Jesus 1I1$tituto Santo In4cio Av. Cristiano Guimaraes, 2127 (Planalto) 30000 Belo Horizonta, MG
Bevisio Marco' MarctonUO
Capa
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ISBN 85 ·15·00668·5 ©
APRESENTACAO
Eserevendo a rapeito da Fenomenologia do Eaplrito, diz Rkhard Kroner, um dos mais conhecidos ",tudiosol do ltUalismo alsmlona prirMira metade deste skulo: "ApeIQ1' dot NUB de/eitos, de resto reconhecidos pelo pr6prio Hegel, a FenomenoI.ogia permanece no . e"umto sua obra mais ,.nUll e, talvez, a obra mais genial de tada a hist6ria da /Hoso/ia" (Hegel heute, ap. "Hegd-Studim", 1:1961,14J). Para um conhecedor, mamo .uper/kUIl, da obra d, Hegel· esse. juuo parecerd di/kUmente contestavel. A genUllidade brUluJ na Fenomenologia pela vastidao e originalidade da ·conce1'9lo,pelll mae.tria incompardvel no uso do. procedimento. dUllltieo. da razio. pela prodigiosa riqueza do texto, pela /orfa poderosa deum milo. que forJa para a Filosofia uma nova linguagem de .urpreendente plasticldade. GenUllmente inovadora por um lado. a obra que ilJDlllUrtI, como p6rtko grtindioso, a lase de maturidade do pensamento de Hegel abril", por outro lado, na sua complexa constnlfio. tada a riquna da cullum do Bell tempo, nQo recolhida ao acaBO. rnasordenatla num vasto desenho hist6rieo-dUllltieo que ~~NrMmora·'. interioritando-o leO conceito. 0 eaminho, desde as masorigens. da cultura ocidentrll.
Rictl. complexa. original, a Fenomenologia apresenta-se como· obra de leitura reconhecidamente dilleil. £. pois. compreensfvel que se multipliquem. na bibliogra/ia sobre Hegel. os instrumento. de trabalho .cujo prop6sito I. como 0. do. antigo. coment4rios na lite-· rtltura /il0s6lica eldslica, conduzir pela mao 0 leitor e leva-Io, alravIs dessa manuductio, ao 8mago do texto. ao .eu sentido autintko, Qs mas Ionta hist6ricas.··. suas articulafOe. 16gicas, Q vislo de conjunto da sua e,trutura e do seu desenvolvimento.
EDICOES LOYOLA, Sio Paulo. Brasil, 1992
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No campo dos estudos hegelianos, esse genero de literatura flo-
resceu sobretudo no ultimo pas-guerra, a partir da grande obra de Jean Hyppolite, ainda hole indispensdvel para a compreensiio das raizes historicas e do desdobramento conceptual da Fenomenologia. Vieram depois os estudos sobre 0 vocabuldrio, como os de Joseph Gauvin e C. Boey, sobre a ideia e composifiio da Fenomenologia, como os de O. Poeggeler, sobre a sua relafiio com 0 Sistema, como os de L. B. Puntel e H. H. Ottmann, sobre a sua IOgica, como os de H. F. Fulda e ]. Heinrichs, sobre sua estrutura e movimento dlaletico, como os deP.-/•. LDb4t'!'fire, aos quais vem acrescentar-se o recente comentdrio analttico de C. A. Scheier.
obra de Hegel - se sentird amplamente recompensado seguindo 0 roteiro de Paulo Meneses. E mesmo os que ;d consumiram longaa vigilias perseguindo os meandros do texto fascinante e desafiador poc!eriio, quem sabe, experimentar a surpresa de, c?nsu!tando 0 noss? roteiro a volta de algum obscuro caminho, ver dumlnar-se 0 hon· zonte e emergir em nova claridade figuras hd muito conhecidas. do "saber que se manifesta". H. C. Lima Vaz
o roteiro de Paulo Meneses que aqui apresentamos niio e um simples resumo do lexto de Hegel tal como 0 util sum4rio que A. V. Miller acrescentou a sua tradufiio inglesa -da Fenomenologia. ;Sendo 'U1hll ptIl'dfraie vigor08ll IJ penetrante e, igualmetlte, uma indi'J:II9io do'nd" estrutUraiJ IJ uma explici~ das transi90e8 diatl.tical quediJo ,rito"jmento eunldade aD tnto de Hegel. Estd bem 10ngIJ do inteMlfo u PilUlo:· MlJneseB 0 pmender substituir-se a lei· .tUl'Q dimallo tlJXto;Ao contrdrio, 'Ull ambi9iio - modesta mas e~igBntlJ -- e IJXQtalMntlJoferecer ao eVlJntfial leitor de Hegel Uln 'l'Oteiro,no',entido mais literal: otrtlfQdo dos caminhos, que 0 via/lInteleva nasmilos,para potIer avanftlr com seguran9a pelo coltt~ nente fenomenolOglco. ' ESSIJ roteiro,eonvem dizl-lo, teve origem emnumerosos seminaMenesesdirigiu na UNICAP. &crito ern estilo limpido, el~nte e vigoroso, qw niio e indigno ',(fes$4' linguagem grave e ",aiestosa que Hegel criou para a Fenomenpjogia, ele .niiopoupa, por outro lado, aoleltor 0- "e'/o19O 110 ConCeito,".Se niio h6 "caminho real",. liso, direito e sem obsta· ~C)B para 4 Ciincia, multo menos o. hd para Q. C~ncUz ~g~li~a. ,~ ",cotnentador da Fenomenologia, essa P,,'"!"Q e dl/icd lor· nada da longa viagem que devera estender-se alnda pelas terras iniensas da' Ciencia da L6gica e da Epciclop6dia. Assim, se 0 pre(..,te lOt,ii'o"I" um ilfBt1'ltmlJiJto, ele e, .segundo' a difm~ classica, 'un; moveM'ltlOtUm, 'ousel'a, s6 pOderd8erutilmehte empregaiJopara "*"aVil1i~ nO ,caminhodaFenomenolO8ia se 'for impelido 'pelo ener· ~ movimtnto de compteen$&) do leitor que se debru9tl~~re 0 1e~to. ,, Mas esse lIJitor - ,e penso em particular nos estudante, dOl cursos de Filosofia que' 86 dispiiem a um primeiro encontro' com 'tl
rlos sobrfJ. a FenOmenolQgia que Paulo
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NOTA SOBRE A COMPOSICAO DESTE ROTEIRO
Eate roteiro fot elaborado com uma finalidacJe didltica. Ache0 Unico caminho parase entender um filcS80fo como Hegel 6 a leitura meditada de sua obra. Contudo. 0 primeiro c:ontato com a FeDOIDmlologia se revela cHf[cll; isso. somaclp aomito cia obscuridade impenetr'vel de Hegel. faz· muita gente desistir; 0 que 6 uma pena, pois vai flear repetindo id6ias correntes e falsas aobre UIIl8 filosofia que merece um estudo s6rio. Tivemos a experi8ncia. por alguns semin4rios que dirigimos. que um roteiro. apreseDtando as Iinhas meatras e as articula~ dial6ticas cia Penomenologia, ajucla aluperar esaas difieuldadel inieiais; depois. ao empreendeHe oma
mos que
ieitura pessoai, faz encontrar clarezas insuspeitadas no texto da Fenomenologia, que serve entio de comentario esclarecedor para um texto didatico acessivel.
Para ~ este roteiro, fez-se antes uma tradu~ co.:tada com a franceaa (Hyppolite), a italiana (De Negri) e a esp ola (W. Rocea); 0 texto foi em seguicla condenaado, destacando-se os pontol aalientel claexposi~o. Estamos consciente cia .imperfei~ deate trabalho, mas achamos que mesmo &Slim sen 11til para os que iniciam os eatudos hegelianos. Nio pretendemos aubstituir a leltura do texto par uma interpreta~, mas justameDte levar a om contato direto e peaoal com a Fenomenologia. do E.pl,ito, que 6 tamb6m um roteiro: 0' cia "viagem de descoberta" que Hegel fez para chegar 80 aeu Sistema. ' . . Tivemos de· fizer algumas o~s na tradu~·dos termos hegelianos. procurando encontrar para cada terma t6cnico um v0c4bulo correapondente. que nio fOSle utilizado para outras signifi~ que talvez eejam lli nGaimal no glosUrio comum. mas que na Fenomenologia t&n um .ipificado peculiar. Anim. aU/heben nio tem equi9
valente no superar espanhol, pois Hegel usa outros termos para ultrapassagem, e muito menos no suprimir de Hyppolite, ja que esta expressamente dito na 'Perce~io' que aufheben "conserva 0 que suprime". Seria distorcer a significa~io verter por um termo que 56 retem um dos lados do movimento. (Alias, etimologicamente, suprimir e antes 0 oposto de aufheben: um calca para baixo enquanto 0 outro levanta para cima ... ) Qualquer sinOnimo vulgar seria menos deformante: tirar, levar, nio implicam a elimina~io, m~,. ap.~es a C()n~rv,~io, do que e~tirado. , A40~amo.s assim, su~ ,,,"sflmir, Bilpra8&un~o. --..:calcados no fr6nCessrlr8uniler, Bursomptlon, propostos por Yvon Gauthier em 1967 e adotados por Labarri~re (1968, p. 309). Causa tambem dificuldade a dupla Entjremdung - Entiiusserung, sobretudo depois que 0 marxismo vulgar introduziu alie~ na lingtiagem cotidiana. Hyppolite, em geral melhor' inspirado,' aqui tl'()6ou ,_& sighifica~oes. Seguindo Gauvin, reservanios os, termOs 'arrlnar, dlientlfDO para Entfremden, Entfremdung. Quantoa EniDus~erung - ja que exterioriza~io corresponde melhor aA'usse,ung buscamos outros termos, enOs fixamos em extrusao~ extrusar, '~mprestados,da vulcanologia e da metalurgia. Caso a sonoriw.de J;l8oqrade ao leitor, pelo menos sabera que no alemio esta EntDu\B8,,-ungcada va que encontrar essa extrusQo. Nio achamos outro Je~o que; conotasse 0 esfor~ - como de urna eru~ que 0 entaussern tem em Hegel. Por exemplo: "Falta-lhe (a Bela Alma) a fo~ da extrusio, 8 fo~ para fazer-se ooi88 e suportar oser" (Phaen., Princeps, 608; Hoff., 462). "A fo1'98 do indivfduo est' em extrusar-se 0 seu Si, pondO:'se assim como substincia efetiva" (Prine., 438; Hoft, 3S3), "0 'ser-af; delte mundo, bem como a efetivida4e da consci8ncia-de-si, repousam nO movlmento em que e!!ta .se extrusa de sua perSO,I1ali~, pr.OOuzindo assim seu mundo". (~rinc., 435; Hoff., 350). Qutros termo!! que adotamos nio oler~ problema e, em geral, *~m nio s.o originais: essente 6 cia tl'ldu~o de De Negri;im4diatez, implementor, do da espanhola; rtmtBmorllfiio, efetivo, ,deslocmnento, e outros saO da, venio de H;yppolite, j", mcorporados pelaS "tradu~, de ,Hegel. Procuramos sobretudo estabilizar a correspond8ncia dos vocabulos;se AusfiJh'ling se, traduz por atualiza~io" d~ve-se encontrar outro termo para V8TWirklichung.No ~, efetiv"fDo,que pertence a flU)1f1ia de
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"superfluas arbitrariedades", mas as transcreve, como outros tradutores. Esperamos nio incorrer na mesma censura, pois as divis6es de nosso roteiro nio sio superfluas, mas um recurso didatico indispensavel. Para nio serem arbitrarias, tratamos que correspondessem as articula~s do movimento dialetico do texto. Cabe ao leitor julgar se 0 conseguimos.
NOTA A SEGUNDA EDIC;AO Como este Roteiro foi bem recebido pelos que estudarn filosofia, apresentamos nova edi~ao que contem pequenas rnodifica~oes; em geral corre~oes de pormenor. Agora os leitores deste Roteiro ja podem dispor da nossa tradu~ao da Fenomenologia ern dois volumes (Vozes, 1992). Por sua vez 0 texto denso e as vezes obscuro da Fenomenologia tern sua compreensao facilitada pelo esfor~o de clareza que este Roteiro representa, e que a nova tradu~ao da Fenomenologia nao vai tomar inutil, mas ao contrario, dar-Ihe plena utilidade e razao de ser.
ejetivb (Wltk,lich),' ejetividade (Wirklichkl1it). "Os capftulos da Fenomenologia quase nio, t!m divis6es inter-
nas,o que levouLasson a introduzir as sues. De Negri as considera
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PREFACIO / Vorrede / SunWio: 1. 0 pref4clo, embora DIo aendo diIcurIo filOl6fico, , uW para o Autor expor auaa conclU86e8 e l1~lu trente a ootras pos196es. Nouo Rac1onali1mo , 0 opoeto do Misttc1smo romAntico: apresentlHe como uma nova filoaofia em que 18 destacam as segufDtes 2. cancterfstlcas: importAncja dada ao SUje1to, como sendo 0 Verdadeiro; pape1 fundamental do Nep.tivo; lupr que 000pam 0 De~e a MediaoIo, 0 SJstema esua D1al4tica intema. 3. 0 eJementO (00 ,ter) em que 18 move a Pllosofta , 0 Puro Saber. Para alcano'-lo 'necesdria Ulna via de acesso, que' 8 Fenomenologia, au Ci~ncia da experi~ncia da Consci~ncia, que e ja a primeira parte da Filosofia. 4. O· m6todo da Pilosofia d a Dialdtica, que d automovtmento do Conceito. Embora encontre obatd.culos nos modiamos atuaia, a Filosofta dialdtica , a Pllosofia de hoJe e do futuro. 1 -
EXORDIO: PREFACIO NAo £ DISCURSO FILOSOFICO
Nos pref'cios os autores costumam expor suas conclus6es e eomparar seu trabalho com 0 dos outras. Fazer fUosofia nio ~ riada disso. De fato, OS resultados por si 56 nio representam grande coisa sem 0 caminho que levou at~ I'. A realidade efetiva consiste no caminho mais 0 termo. AI~m do que, opor sua posi~ l dos outros, como a verdade ao erro, ~ tao inganuo como pensar que 0 froto refuta a flor; quando sao ambos etapas necess'rias do mesDio· processo vital. Esse tipo de discurso, caracteristico dos pref'cios, fica 56 no apreciar. Ora, apreciar ~ f'cit, pois se limita a dar voltas ao redor da coisa. Nao seria serio toma-Io por conhecimento verdadeiro. Apreenderja e mais dificil - e 0 come~o da 'cultura' (Bildung). Vai . alem do imediato, lObe ate 0 universal, pensa a coisa em geral, captando a rica plenitude do concreto segundo ~. suas determinj·
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Mil produzir a coisa em conceitos e que constitui a tarefa "ria • d.flnltlva. por construir 0 sistema cientifico da verdade; e
d..
oom
'110 pI.lando a filosofja, de simples 'amor ao saber', a saber Ifeelw, Aqui coincidem duas necessidades: uma, intema, que 0 'Iber elm de ser Ciencia; outra, extema, que faz nosso tempo proplelo • eleva~lo da filosofia a Ciencia. Demonstrar esta afirma~io • I dnici maneira de justificar cientificamente as tentativas de eri,Ir I fIlolOfia em Ciencia; e, ao mesmo tempo que evidencia a nlel••ld.de deste objetivo, cumpri-lo plenamente. NOIIO
Racionallsmo ,
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oposto do Misticismo Romintico
A verdade esta na cientificidade que esta no conceito. Contra • tOle se levanta a pretensio romintica de captar a verdade na Intui910 (ou saber imediato) do absoluto, do ser, do belo. Nio VlmOi refutar, mas opor nossaid6ia l deles. Tal atitude·tem expliCI910 hlst6rica: 0 hornem mOdemo perdeu 0 Mundo sacral em que a £6 0 unia imediatamente a Deus, e foi parar nooutro extremo, 11'm da reflexio. Quer que a filosofia the restitua, pela intui~io, leU mundo perdido; ainda que seja sob a forma pobre do divino om .eral. Contudo, nem a Ciencia pode prestar-se l edific~io piedOli, nem 0 extase 6 superior l Ci8ncia, como pretende. Fora do conceito, s6 existe profundidade vazia, identica l superficialidade; reina 0 capricho e 0 sonho, em lugar da verdade. Uma nova filosofia para tempos novas
satisfeitas, a totalidade, 0 absoluto. Decepciona. Schelling re'6ne aglomerades de materiais, de diferen~as qualitativas que passa a identificar ums a uma com oabsoluto, monotonamente, como se mergulhasse tuoo num mar. Setudo se identifica com 0 Id8ntico, estamos na noite em que tOdes os gatos sio pardos. Schelling cai no formalismo, que e condenavel e desprezivel. 2 -
CARACTERrSTICAS DESTA FILOSOFIA
Importincia cIoSujeito como Verdacle
o ppnto essencial (que 56 sera justificado com a apresenta~o do sistema) 6: apresentar e exprimir 0 verdadeiro, nio como substQncia, mas precisamente tamb6m como sujeito. Quem diz substAncia diz ser, que 6 0 objeto imediato para um saber, tamb6m imediato, de um universal. Uma dupla imediatez, wrtanto. Ora, os predecessores nio foram al6m desse myel. Spinozaescandalizou porque foi de encontro l certeza instintiva:sua substAncia abolia a consciencia-de-si (a subjetividade verdadeira). Kant e Fichte ficam presos no universal: seu 'pensamento como pensamento' niio passa de uma substancialidade im6vel e indiferenciada. Ate mesmo Schelling, tentando unificar ser e pensamento atrav6s da intu~io imediata, reeai na simplicidade inerte e nio d4 conta da realidade verdadeira. II A substAncia viva 6 0 ser que e sujeito, i.e: 'ser que e real somente no movimento de se par a si mesmo'· ou seja 'que e media~o entre seu proprio tornar-se outro e si ~smo.'''' Pura e simples negatividade e 0 sujeito, enquanto cisio do simples em duas partes, duplica~ao oponente, fissio que dilacera a imediatez fazendo assim cada termo, desdobrando-se, tomar-se concreto reconstituindo 0 tOdo. Devir de si mesmo, circulo que tem 0 fim no com~, mas 56 e efetivo mediante sua atualiza~io e seu fim.
Estamos no limiar de uma nova epoea. Mudando, 0 mundo esta sempre; mas de repente mudan~ que se· p1'OCCSS8vam em saltes quantitativos irrompem em muta~s qualitativas. Surge nova figura do espirito, emergindo dos fragmentos do Mundo precedente. A nova totalidade que surge - como um recem.,nascido - niio e perfeita; mas e um conceito novo que recapitula e da sentido a todo 0 processo anterior. Porem 6 um conceito simples: as diferen~as nio estio ainda determinadas com· seguran~a, nem ordenadas em suas 56lidas re~s. Assim parecealgo esot6rica, 56 acessivel a poucos individuos, enquanto a Ciancia plenamente desenvolvida e acessivel a todos (exoterica). A consciancia que aborda a ciencia tem direito a exigir que seja inteligivel,e dessa forma passar do ja-cotihecido (pela consci8ncia pr6-fil0s6fica) l Ciancia. Niopertence, pois, l ess8ncia da Ciencia ser incompleta. Rejeitamos nesse ponto as posi~s opostas de Fichte e de Schelling. Fichte requeria um contetido determinado e riqueza de determinidades; ficavam, porem, como exig8ncias nio
A vida de Deus pode ser pensada como um jogo de amor consigo mesmo; contanto que nio se ignore a seriedade, a dor e o trabalho do negativo. Em-si, a vida divina e unidade serena e tranqiiila; nio esta engajada no ser-outro, nem na a1iena~iio, nem no movimento para ultrapassar a aliena~iio. Para-si, por6m, sua natureza e 0 movimento de sua forma, a atualiza~io de sua ess8ncia. o verdadeiro e 0 Todo; 0 resultado; a essencia tomada plenamenteefetiva; sujeito e desenvolvim_ento de si mesmo, 6 56 no fim o que 6 na verdade.
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Papel do Nqativo
Importiaeia do Devir e cia Me&9io Parece absurdo conceber 0 absoluto como resultado? Entendame-nos: 0 primeiro enunciado do absoluto' 6 sempre um universal, e somente i88O. Ora,. termos como divino, absoluto, etemo, contetn apenas intui~ imediata, nio exprimem 0 que esta contido neles. A primeira proposi~io, que se fa~a para exprimir algo, ja vai conter um ser-outro; 0 absoluto tornou-se outro, por uma mediafQo. Eis uma palavra que choca; mas porque se ignora a natureza da media~io, tanto quanto a do absoluto. Media~io 6 igualdade-consigo-mesmo, em movimento; reflexio sobre si,momentodo eu que 6 para-si, pura negatividade, simples 'devir'. A reflexio 6 um momento positivo do absoluto, ja que suprasstune oposi~ entre 0 verdadeiro e seu 'devir'. 0 embriio 6 em-si homem· mas Dio 0 6 para-si. Para-si, 0 homem s6 6 como razio cultiv~da e desenvolvida que se fez ou tomou aquilo que cS em-si. 0 .-esultaOO 6, ~ novo, simples e imediato, posta que liberdade consciente de si que repousa em si mesmo: que nio deixou de lado a oposi9lo, mas reconciliou-se com eta. Nesse ponto, Arist6teles cS precursor. 0 resultado, de que falamos acima, lembra 0 lim que este fU6sofo .conceituou ao diler que a natureza 6 opera~ conformo a um lim; que 0 fim era motor im6velvque era 0 come9Q. Sabemos que este fim, que cS com~, cS sujeito; 6 atualiza9i0 num resuttado - 0 qual 6 tio simples como oseu co~ por ser 0 sujeito que retomou sobre si mesmo, restabelecendo a igualdade e a imediatez originaria. . As proposi~oes, que tern a Deus como sujeito e Ibe conferem atributos, mostram apenas a necessidade de se representar 0 absoluto como sujeito. 0 termo 'deus' nio quer dizer nada, s6 0 predicado, que Ibe confiram, tera sentido; a gente se pergunta por que nile usam em seu lugar termos que representem conceitos, como faziam os antigos. £ porque se quer indicar - embora nie se perceba todo 0 alcance - que nio se trata do absoluto como se fosse urn simples universal, ess8ncia ou substincia; mas como sujeito. £ apenas uma antecipa~iio; pois 0 sujeito continua a ser tomado como um suporte ou ponto fixo, ao qual se suspendem predicados - vindos de fora e nio de um movimento interno do conteudo, como vamos fazer aO produzir 0 conceito do sujeito, cuja efetividade e automovimento.
a
fundamental. Refutar e indicar-the a deficiencia pelo fato de ser apenas universal, come~; refuta~io completa cS a que parte do principio e nio de proposi~s exteriores ao mesmo. Assim, refuta~io e desenvolvimento do primeiro principio, complemen~ioque the falta (em~ra seu, carater negative iluda sobre sua fun~io positiva e progresslva).. Inversamente, 0 desenvolvimento positivo se comporta negativamente em rela~o ao seu com~ - e refuta, a seu modo, 0 fundamento do sistema, por nio passar de um com~. o Cristianismo, ao definir 0 Absoluto como Espirito, exprime numa representa~io 0 mais alto Conceito:que a Substincia 6 essencialmente Sujeito, ou que 0 Verdadeiro 56 cS efetivamente real como Sistema. 0 ser espiritual 6, antes de tudo, substincia espiritual (em ~i, e para n68). !das ele deve ser isto tamb6m para si mesmo, 1.6, s!,ber do espinto .e saber de si ';Omo espirito e portanto objeto de Sl mesmo - obJeto suprassumIdo e refletido em si mesmo. Assimo espirito cS puro conceito, engendramento de si por simesmo. 0 espirito que se sabe desenvolvido como espirito 6 a Ciencia - sua efetividade e seu reino em si mesmo construido.
o 'Puro Saber' como elemento em que a FDOIOfia Ie move A base da Ciencia e seu elemento 6 0 'puro saber' de si-mesmo no. absoluto ser-outro. Mas este '6ter' 56 atinge a perfeita transparancla atravcSs de seu devir: 6 essencialidade transligurada imediatez de ser que cS reflexio sobre si mesmo. ' A Ciencia conclama accnscial\lcia-de-si a subir at6 este 'cSter' 0 da pura espiritualidade .para viver nela e com ela.
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POR QUE UMA FENOMENOLOGiA
Necessidade de uma via de acesso a esse 6ter
apresentar-se - como Sistema,ou como Ci'ncia (C! que vem a dar no mesmo); Um principio fil0s6fico, se 6 verdadeiro, ja 6· falso, enquanto 6 apenas principio
0 individuo tem 0 direito de pedir ama escada (ou, ao que lbe indiquem a escada) para subir at6 la; pois se Julga legitimo possuidor de suas certezas: sabe das coisas como opostas a si e se sabe oposto a objetos. Tem a impressio de que teria de andar com a ca~ para baixo, tio inversas sio as perspectivas da Ciencia e as da consciencia comum. A Ciencia deve pois mostrar a consciencia-de-si que 0 principia desta cansciencia - a da efetividade - lbe pertence. o que 6 em-si deve exteriorizar-se e tomar-se para-si; quer dizer, este em-si, ou Ciencia, deve par a consciencia-de-si como sendo ama 56 coisa com ela.
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o Sistema e sua Dia16tica interne o Saber 56 6 efetivo - e 56deve
Por6m
~nos, d~
A Fenomenologia como propecleutica A Fenomenologia do 'Espiritoe uma propedeutica a Filosofia, enquanto mostra como 0 saber, passando por virias figuras, eleva-se sofridamente do conhecimento sensivel a Ciencia. Tal procedimento e original, nao sendo nem uma introdu~ao convencional, nem discurso sobre os fundamentos da Ciencia; e, menos ainda, 0 entusiasmo que come~a de inicio com 0 saber absoluto, descartando todas as posi~oes diferentes. Linhas mestras de uma Fenomenologia
o espirito individual percorre etapas em sua forma~ (Bildung). A mais alta contem as anteriores, como momentos suprassumidos. Nesse .percurso vai assimilando - como materia-prima ou insumo asaqUisi~ culturais da hist6ria humana, que foram,em seu tempo, etapas necess4rlas ao desenvolvimento do Espfrito Universal. Nao se podem queimaretapas: sio tOOas necess8rias e ha que percorre-Jas, demorando-se em cada uma delas. 0 Espirito do mundo teve a paciencia de encamar-se em cada uma dessas formas na sua prodigiosa tarefaque foi a Hist6ria Universal. Mas por issa mesmo a tarefa e mais laeH: 0 ji-percorrido encontra-se disponivel; 'como ser pensado, cristalizado numa simples determina~io de pensamento. Assim, em lugar do 'ser-af' imediatamente dado, 0 que encontra e oem-si pens~do, depositadon~ interioridade da mem6ria, ao qual pela rememora~io deve dar a forma do
'f1uidificar' ate conseguir esses circulos que sio automovimentos, ou seja, os conceitos. o movimento espontlneo· e· necessario destes conceitos consti.tui a Ciencia. A melbor prepara~o para aceder ao Saber - ou propedeutica l Filosofia - 6 seguir este· caminho do Conceito ate abarcar a Ci8ncia ern sua totalidade. Tem a vantagem de ser um processo dotado de necessidade e nio um conjunto arbitrario de n~s introdut6rias. A Fenomenologia pode tamb6m considerar-se. como a primeira parte da Ciencia, que se caracteriza por estudar 0 Espirito no elemento do 'ser.ai' imediato; enquanto as partes subsequentes da Filosofia estudam 0 Espirito em seu retorno sobre si mesmo.
o 'Nepdvo' e a aeae.e das Fipras cia Fenomenolopa do Espirito
No entanto, eata vantagem tem por contrapartidauma dificuldade que os antigos nio tiveram: 0 ser imediato emigrou para representa~s e se tomou 0 'bem conhecido' que por isto mesmo nio se conhece. Ha uma por~io de colsas assim, entre as quais se tecem rela~Oes igualmente superficiais, atravancando 0 caminho do conhecimento da verdade. Conhecer exige analisar, i.e, dissolver a representa~o em determina~s s6lidas e fixas: portanto, separar e destroir. 56 a partir desse trabalbo do negativo 6 que 0 conceito se move. 0 Sujeito 6 dotado deate poder m'gico de tirar a vida da motte, 0 positivo do negativo; parte da imediatez abstrata, e na convivencia e assimila~io do negativo· toma-se a media~io que prodm um novo imediato,· a substAncia como Espfrito. De certo modo eram melhores as condi~spara filosofar na AntigUidade, onde se deu 0 processo de forma~io da consciencia natural; a partir do existir humane e de tudo que 0 rodeava, a consciancia acedia a uma universalidade aderente ao concreto. Portanto, seumundo era mais permeivel ao trabalho do conceito do que as representa~s cristalizadas, hoje encontradl~s; as quais temos de
A consciencia, 'ser-ai' (Dasein) imediato do espfrito, tern dois momentos: 0 do saber e 0 da objetividade - negativo em rela9io ao saber. . Quando 0 espfrito percorre as lases da 'consciencia', tal oposi9iO reaparece em cada uma delas como ouuas tantas figutas da consciancia. A Fenomenologia 6 a ciancia dessa caminhada; "ciancia da experi8ncia que faz a consci6ncia"; que tempor objeto a substAncia com 0 seu movimento. A consci8ncia se limita a conheeer 0 que esta em sua experi8ncia; ora, 0 que nela esta 6 apenas a substAncia espiritual e ainda asslm como'objeto' de seu proprio 51. 0 espirito se torna objeto, porque e este movimento de fazer-se um outro para si mesmo - um objeto de seu pr6prio Si - e depois suprassumir este ser-outro. Experiencia e, portanto,o movimento em que 0 imediato se aliena, e desse estado de aliena~iio retarna a si mesmo. 56 assim, reintegrado como propriedade da consciencia, 0 imediato acede a efetividade e a verdade. o negativo em geral e isto: a nao-igualdade, ou a diferen~a, que se manifesta na consciencia entre 0 Eu e a substt2ncia,que e seu objeto. 0 negativo pode ser encarado como umafalha de ambos; por&n 6na verdade a alma e 0 motor d06 dois. Houve· antigos que conceberam 0 'vazio' como motor, por6m nio chegaram a conceituat 0 negativo como um 'Si'. . o negativo .surge primeiro como 'desigualdade' entre 0 Eu e a substancia/objeto. Mas e tambem 'desigualdade' da substancia consigo mesma. Pois 0 que parece ocorrer fora, como atividade dirigida contra (a substAncia), e de fato sua propria opera¢io: e nisso a substincia Be revela ser, essencialmente, sujeito. Asslm, quando a substAncia 'perfaz completamente a· sua manifesta9io, entio o espfrito te~ leito seu 'ser-ai' coincidir com sua es&ancia; quer
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ser-para-si.
dizer, 0 espfrito toma-se, para-si, objeto tal como 6. Superadas estio a imediatez, a abstra~io, a separa~io entre saber e verdade. Agora, 0 ser 6 mediato: tem conteudo substancial e 6, ao mesmo tempo, propriedade do eu. Tem 0 carater do SI: 6 0 CONCEITO. Nesse ponto, termina a F.enomenologia do Espfrito. Nela 0 Espfrito se preparou 0 'elememo' do Saber; e agora, se desenvolvem os momentos do Espfrito, na simplicidade de quem se sabe ser seu proprio objeto. Ja nio h8 oposi~io entre ser e saber, como momentos extemos urn ao outro; toda diversidade 6 apenas de con· teudo, na simplicidade do saber. Seu movimento constitui um todo organico: 6 a L6gica, ou Filosofia Especulativa.
dos onde sua alteridade foi suprassumida. Igualmente as express6es do tipo "unidade do sujeito e do objeto, do finito e do infinito do ser e ~o pensamento" tern 0 inconveniente de designa-los for~ de sua umdade. Ora, em sua unidade, eles nio tem mais 0 sentido que tais locu~s implicam. 0 falso, como tal, nio 6 um momenta da Verdade. 4 -
QUESTOES METODOLOGICAS
o Problema cia Verclade em Filosofia
Achando que tal sistema da experiencia conduz a verdade, mas ainda nio 6 ela e sim seu negativo - 0 falso - , algu6m poderia querer ser logo apresentado a Verdade, sem perder tempo com 0 'falso', 0 negativo. Eis af 0 maior obstaculo para se penetrar na verdad~: essa id6ia do negativo como algo de falso; esse mal· -entendldo sobre a natureza do Verdadeiro e do Falso em Filosofia. Raciocina·se como se eles fossem essencias particulares destitufdas de movimento, postas urna ao lado da outra, como ~oedas cunhadas. Ora, 0 Falso existe tanto quanto 0 mal. (Nio 6 nenhum diabo, mal/sujeito.) Nio pode ser representado a nio ser como 0 negativo - 0 Outro - da substancia. Nesse caso, a substancia seria 0 positivo. Mas que positivo 6 esse, constitwdo essencialmente por uma nega~io (omnis determinatio negatio est), como algo distinto e determinado; e ainda por cima, sendo sujeito, vale dizer, ato simples de distinguirjnegar? Claro que se pode conhecer de maneira falsa, errar. Significa isso que 0 saber esta em nio-igualdade com a substancia. Mas em nio-igualdade esta semprel Ela 6 fundamental, constitutiva do ato de conhecimento, que 6 distinguir. Sobre essa nio-igualdade 6 que se estabelece a igualdade entre termos distintos, que vem a ser a 'Verdade. Esta nio pode assim eliminar toda desigualdade, como se e~pulsam esc6rias de metalpuro. Nem 6 a Verdade produto em que nio se ve a marca do instrumento que a fez. A desigualdade esta presente no verdadeiro como tal; esta nele como 0 negativo, como 0 Si. Mas nio 6 por isso que se vai poder dizer que "0 falso cons· titua urn momento ou uma parte da verdade", ou, na locu~io do senso comum, que "em tod~ falso h8 sempre algo de verdadeiro". ~ tomar os dois termos como agua e azeite que mesmo juntos nio se misturam. Os termos 'Verdadeiro' e 'Falso' nio podem ser utiliza-
. Essa maneira dogmatica de pensar imagina que a verdade filos6flca. ca~ numa proposi~io nftida, como urn resultado fixo. Como em HIst6na, porexemplo, 0 ano em que cesar nasceu. Verificou·se a data atrav6s de laboriosas e met6dicas pesquisas. Mas 6 apenas 0 ~sult~d~, ~xp~sso em tais proposi~, que vem se incorporar a Ciancla hist6nca, que conceme o. smgular, 0 contingente, 0 arbi· trario, como toda gente admite. Em matematica, a demonstra~o (por exemplo, de que 0 qua· drado da. hipot~nusa ~ i~al a soma dos quadrados dos catetos) per· tence mUlto mms a ClenCla; contudo, a demonstra~io some no resul· tado: 0 teorema acim~ 6 ja reconhecido como verdadeiro,sem precIs~r pensar como fOI provado; a prova nada acrescenta ao seu conteudo. Como se fosse urna oper~io exterior a coisa. Nio e assim no conhecimento filos6fico, em que 0 processo e 0 resultado constituem momentos de um devir e se entendem um pelo outrO e se contem urn ao outro. Corresponde a pobreza do conhecimento matematico a pobreza do seu objeto (al6m de morto, abstrato). Nao tem por onde suscitar inveja, mas s6desprezo, a filosofia. ,. ~ois a filosofia nio .considera a determina~io inessencial (a quantldade) mas a essene'al. Seu objeto nio e 0 abstrato 'e sim o real efetivo. Ora, 0 efetivo e 0 precesso em sua totalidade, que gera e per~rre os seu~ .momentos.. ,Algo eminentemente positivo, mas que n~o 6 urn POSlt1VO morto, Ja que em si inclui 0 negativo ~que ~ena ser chamado de falso, se fosse possivel abstrair dele). A m~mfesta~io e 0 movimento de nascer e de perecer, movimento que nao nasce nem perece, mas que e em-si, e constitui a efetividade e a vida da verdade." "0 Verdadeiro e assim delirio baquico em que todos os membros estio ebrios; e como esse delirio dissolve na unidade do todo qualquer membro que ameace separar-se, vem a ser 0 mesmo que 0 repouso translucido e simples." . Nio tem sentido usar em filosofia 0 'metodomatematico' (como fe~ Spinoza -:- ethiea g~ometrico more demonstrata), quando a pr6· pna matemat1c~ esta delXando de usa-Io. Ali poderia ter cabimento,
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Como pode
0
Falso ser caminbo para
0
Verdadeiro?
Kant antecipou 0 verdadeilOm6todo, intuitivamente, ao recorrer a triade (ou triplicidade) na exposi~io de sua filosofia. . . Schelling porem perverte esse metoda; pior ainda, faz dele um formalismo vazio; como todo formalismo, insuportivel e m0n6tono. Ora, 0 que leva a Ci8ncia a organizar-se 6 0 proprio movimento de seu conteudo, 6 a alma dessa plenitude. Como estamos longe dos formalism08 Vazi08 e d08 esquemas. aplicados de fora!· Num primeiro momento, 0 essente (seiende, ~tant) se torna um OUtro para sl-mesmo, um conteado imanente a sl-mesmo.; No momento seguinte,. 0 essente retoma em si mesmo este ser-outro, como um .momento seu, uma forma sua, uma determinidade. No primeiro, a nega~io operava no sentido de distinguir e de par um 'ser-ai'. No segundo, a nega~io fez surgir a determinidade que 0 caracteriza. E assim, a forma nio e aplicada, de fora, a um conte1ido, nem the e oposta: ele a assume no momenta em que toma seu lugar e posi~io no todo. 0 entendimento formal, classificador, reduz a determinidade desse conteudo a um predicado ..,... por exemplo, 0 magnetismo - semcaptar como ela e a vida ima1'lente desse ser, como nele se produz e representa de uma maneira peculiar. Nio penetra no conteudo im~ente, mas o~hando ~r c~, nem. va 0 ser de que fala. Nio assun 0 conhecImento clentiflco: .exprune a necessidade interior, a 'vida' desse objeto e, para tanto, fica absorto nele, profundamente. £ dai que retoma 0 conhecimento a si. mesmo, mas carregado de um rico coilte1ido para aeeder a uma verdade superior.. . Posto que a substincia 6 sujeito (CoOlO se disse acima), todo conteudo e tambem reflexio sobre si meimo. A subsistancia ou substAncia - ea igualdade do ser-ai consigo mesmo; pois desigualdade, no caso, seria dissolu~io. Porem essa igualdade. 6 pura abstra~o e, sendo. abstra~o, 6 pensamento. Dizendo 'qualidade', significo a determinidade simples, por meio da qual um ser"ai 6
distinto deoutro e e exatamenteeste ser-aI. Ele e para si mesmo - ou subsiste - por meio dessa simplicidade em rela~io a si mesmo. Mas assim ele e, essencialmente, pensamento. Sucede porem que sendo essa igualdade consigo mesmo abstra~io, 56 pode ser abstra~o de si mesmo; mas entio 6 desigualdade consigo, dissolu~io de si mesmo; ou· seja, 6 seu devir, enquanto movimento de se retirar em si mesmo e interioriza~io. Orabem. Sendo essa a natureza do essente, 0 saber nio pode manipula-lo como conteudo, nemrefletir em si fora dele. A filasofia kantiana 6 um qutro dogmatismo - que afirma categorias sem deduzir - como' .sio dogmaticas a filosofia da evid8ncia e a da certeza-de-si-mesm
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devido ao carater proprio do conhecimento matenuitico. Mas em filosofia 0 m6todo 56 pode ser a estrutura do Todo, apresentada ,no que tem de essencial. A Verdade6 0 movimento delaem si mesma. Nio 6 m6todo, para a Filosofia, 0 tipo de demonstra~o usado nas matemiticas: esse modo de expor principi06, buscar argumentos a favor, refutar os argumentos contra - , bem parecido com 0 que se usa na vida Corrente, manipulando um conteudo do exterior e de forma arbitrma. No entanto, ao fugir ao pedantismo pseudocientifico, nio vamos cair no antim6todo lOmAntico, avesso a toda ci8ncia. . A FUOIIOfia tem por m6toclo a dial6tica
o M~todo Dial~tic:o ~ 0 automovimento do Conceito ~ensamento cientifico 6 esfo~ concentradona produ~o de conceltos.. ~xemplificand?: determin~s simples como ser-em-si, ser-p.ara-sl, l~ald~d~-conslgo-mesmo. exigem redobrada aten~io para segulr seu ntmo lDtimamente, 0 automovimento que lhes compete como ~e fossem. ·almas'. Ha outros pensamentos que sio desvio~ contranos, .mas 19ualmente fora da Ciencia. Um 6 opensamento repre~ntatlv~, que adere a um conte6do contingente e 6 incapaz de saIr de Sl mesmo para elevar-se ao conceito. 0 outro 6 0 pensame~to 'raciocinant~' que, em vez de mergulhar no conte6do, Vaga por CIma dele, na. hberdade de um pedantismo arbitrano, que nio tem n~da a ver ~m 0 ritmo proprio e 0 conceito do conte6do que tern dlante de Sl. Esse pensamento sabe criticar mostrar 0 lado negativo, reduzir a nada: mas nio ve 0 que 0 cont~6do 6. Ao achar que 0 conte6do 6 vio, 0 que esta vendo 6 a vaidade (lesse tipo de conhec.im~nto que 6 0 seu. Al6m disso 6 proprio do pensame~to racloclD~te 0 discu~ em que a um sujeito im6vel sio su9€'sslvamenteatribuidos e retlrados predicados .diversos. Nio assim no pensamento concebente (diaI6tico); onde 0 conte6do 6 um conceito, um Si, que se move a si mesmo em seu devir retomando em si suas proprias determina~s. 0 objeto aqui nio 6 uma base o~ sujeito em· repouso, mas 0 movimento. 0 conte6do nio 6 predlcado, nem um universal, que, livre de um sujeito, paderia convir a muitos. Assim procede 0 pensamento representativo distribuindo p~icados e acidentes - e com certa razio quand~ sio apenas predicados e acident~s-, porem quebra seu impeto e reflui, quando o que tem forma de 'predicado na proposi~io 6 a propria substancia. Enti~, 6 como se 0 wjeito tivesse emigrado para 0 predicado e este se . avol~masse como uma massa total e independente, prendendo o propno pensamento - que nio pode mais andar para la e para ca. 0 conhecimento com~u pondo urn sujeito objetivo, fixe, ao qual pass~~ a atribuir predicados; e entio entrou em jogo um segundo sUJelto (0 cognoscente), que vai encontrar entre os predicados aquele primeiro sujeito (quando queria acabar com ele para completar 0 retorno sobre si mesmo). Podemos expressar isso formalmente. A proposi~io filos6fica implica um conflito dial6tico entre a forma discursiva da proposi~io - a dualidade de sujeito e predicado - e a proposi~o identica que .s~ toma esta .primeira proposi~o;· proposi~o identica em que o sUJelto e 0 predlcado fazem um s6. 0 conflito entre a forma de uma proposi~io e a unidade do conceito, que destr6i esta forma 6 analogo ao que existc entre 0 metro e 0 acento: 0 ritmo result~ do balanceio entre os dois e de sua unifica~ao. Da mesma forma,
na proposi~io fil0s6ficlil, a identidade do sujeito e do predicado nio deve aniquilar sua diferen~, mas acentua-Ia. Por exemplo: se digo •deus 6 ser', 0 predicado 6 a essencia, algo de substaneial em que o sujeito some, deixando sua posi~o de sujeito fixe que a proposi~io Ihe da. £ assim que 0 pensamento, em lugar de ter progredido, sofreu um retrocesso, foi relan~do na di~ao do sujeito perdido e mergulha dessa forma no conte6do - donde queria afastar-se, pairando de predicado em predicado, na liberdade do pensamento raciocinante. Dessa decep~o tomam origem as queixas comuns contra a incompreensibilidade das obras filos6ficas _. partidas de pessoas com background cultural para entende-Ias. £ natural, pais a proposi~io filos6fica tem extemamente a aparencia de uma frase comum, atribui predicado ao sujeito. Essa impressio 6 contudo destruida pelo conte6do da proposi~io; 0 leitor tem de refazer sua opiniio inicial, e entender a frase de outra maneira. Deve fazer outra leitura. £ precise encontrar para a filosofia uma linguagem apropriada, cujo rigor exclua esse tipo de rela~io ordinaria entre as partes da proposi~. Como faze-Io? Isso ja se obteni de certa forma pela 'freada' que suporta 0 pensamento ao chocar-se com uma proposi~o especulativa (diaIetica); nesse caso, 6 0 conte6do daproposi~io que produz este efeito, de modo negativo. Precisa por6m que a forma da exposi~io apresente isso de maneira positiva: a volta sobre si do conceito, 0 movimento diaIetico da propria proposi~io. £ 0 proprio movimento dial6tico da proposi~ao que aqui tem o lugar de demonstra~ao. Certas exposi~s filos6ficas costumam remeter l intui~io interior para poupar a esperada apresenta~o desse movimento diaIetico. A proposi~ao deve exprimir 0 Verda· deiro. o que e ele, senao Sujeito e, enquanto tal, movimento dia16tico, marcha que produz a si mesma durante 0 processo e retoma sobre si? Separar a demonstra~ao da diaIetica (como Kant), 6 deitar a perder 0 conceito da demonstra~ao filos6fica. Embora 0 movimento dial6tico tenha por elementos proposi~s, nele nao se coloca a dificuldade das demonstra~oes convencionais: onde cada fundamento requer ser fundado, assimao infinito. Pois 0 conceito dia16tico tem um conte6do que e perfeitamente sujeito e nao pode funcionar como predicado de um sujeito anterior que 0 fundasse. Com efeito, nada se pOe para al6m do conte6do concretamente apreendido, a nio ser 0 nome enquanto nome - pais e tudo que constitui esse puro sujeito vazio que se julga atingir para al6m dos conceitos. ~evia ate banir-se da linguagem filos6fica a palavra "deus" que 6 apenasa sigla do sujeito e naorepresenta nenhum conceito, como 0 uno, 0 singular, 0 sujeito, 0 ser. AIem do mais, quando se faz de verdades filos6ficas predicados desse sujeito,
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como carece seu conteUd'o de conceito imanente, se decai no discurso edificante. A apresentafi:io filos6fica deve ater-se rigorosamente a sua forma dia16tica e assim excluir tudo que Dio e concebido e tudo que nio e 0 conceito. .' Obstaculos que dificultam a ad~ do Mitodo l>iaUtico Cria obstaculos ao estudo da filosofia a presunfi:io de verdades prontas, que dispensam raciocinio. Nio basta ter mio e couro para fazer sapatos; por que 56 a filosofia seria naturalmente dada? Ora, de fato, tudo 0 que as ciencias tem de verdade 6 da filosofia que receberam; sem ela nio ha nem vida, nem verdade, nem espirito. Quanto aos irracionalismos do tipo Sturm und Drang, esses nlo passam de desordens da fantasia. a bom senso nio produz filosofia, mas 56 uma ret6rica de verdades triviais. Que atrevimento chamar a filosofia seria de ·sofi8oo ticaria'(sic). Falta sentido comum ao bom senso; e provo. Quando algu6m contradiz sua opiniio, responde que nio tem nada a dizer a quem nio sente em si a mesma verdade. Ora, assim fazendo, calca aos pis a raiz da humanidade, pois a natureza da humanidade e tender ao acordo ml1tuo: sua existencia estS somente na comunidade instituida das consciencias. a que 6 anti-humano, e apenas animal, 6 encerrar-se no sentimento e 56 poder comunicar-se atraves do sentimento. Ha dois tipos de presun~ que pretendem ocupar 0 lugar da pesquisa filo56fica. Uma 6 prosaica: lendo recens6es, titulos, prefacios de obras importantes, cre estar por dentro de tudo; a outra e solene, porque se atribui intui~s geniais, em contato direto com 0 sagrado, 0 infinito, muito acima dos laboriosos conceitos dos fil6sofos. Tudp ilusio. 56 pelo trabalho do conceito se conseguem pensamentos verdadeiros' e penetrafi:io cientffica; 56 o conceito pode produzir a universalidade do saber, verdade amadurecida e suscetivel de ser possuida por toda razio consciente de si.
ia
"De resto, vivemos hoje numa epoca em que a universalidade doespirito estS fortemente consolidada; e em que a singularidade, como convem, tomou-se mais insignificante. Uma' epoca em que a universalidade se aferra a toda a sua extensio e a toda riqueza adquirida; e a reivindica. Por isso mesmo, a participafi:io que toca ao individuo na obra total doespirito s6 pode ser minima. Deve pois 0 individuo esquecer-se - Como alias a natureza da Ciencia 0 exige - e fazer 0 que the e possivel. Porem nio se pode exigir muito dele, ja que tio pouco pode esperar de si e reclamar para si mesmo." .
Epfiogo: Futuro da Dialitica Minha posi~o filo56fica e esta: e no automovimento. do conceito que a Ciencia consiste. Em nossa epooa, isso contradiz muita ideia em moda. As modas mudam: se umas epocas admiram o Platio dos' mitos literarios, outras 0 valorizam pela maior obra de arte da dial6tica antiga, 0 Pat1'ninides. Minha tentativa de ligar a Ciencia ao conceito vai abrir caminho nos tempos por fo~ da verdade que cont6m. Vai vir um tempo em que a verdade sera reconhecida; resta ,esperar que a moda passe e que a hist6ria caminhe com seus passos lentos.
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INTRODUtA0 / Einleitunl / SumUio:
1. Como uma Crftica do Conhecimento nio tem cabimento, a Ci6ncia 86 pode nascer do Saber Fenomenal e do seu movtmento, 3. pols a consci6ncia , solicitada sam descanso a ultrapassar-se 4. e, mesmo antes de alCaDQal' a Ci6ncia, tam em si um criWrio de verdade (Masstab). . 5. A Mrie de Figuras que a consci6ncia assume obedece a uma dial'tica necessaria, - e portanto pode ser objeto de uma ci6ncia: a Fenomeno1ogla do Espfrito. 2.
1.
UMA CR(TICA DO CONHECIMENTO NAO TEM CABIMENTO
1. 1'. Ha quem julgue que a Filosofia, antes de indagar a verdade das coisas, deva primeiro examinar 0 conhecimento, por ser o instrumento OU 0 meio de que disp6e para atingir a verdade. Esta opiniio parece sensata, mas nio passa de um contra-senso. Com efeito, 0 instrumento altera a coisa sobre que se aplica, e 0 meio refrata a luz que oatravessa. Nem adiantaria encontrar urna maneira de eliminar 0 que e altera~io do instrumento ou distor~io do meio, pois 0 que resta~se seria por sua vez objeto de conhecimento e portanto de nova altera~io ou distor~io. A verdade e que se 0 Absoluto nio estivesse presente desde 0 com~ no conhecimento, nunca seria conhecido.
1.2. :£ preciso desconfiar do temor do erro e da desconfian~a em rel~io a Ciencia, porque este medo do erro 6, no fundo, medo da verdade; pior ainda: e ja 0 proprio erro. Alias, tais duvidas pressup6em demasiadas 'certezas': a representa~io do conhecimento como urn instrumento ou urn meio; a suposi~io de que 0 Absoluto esta de urn lado. 0 conhecimento de outro; a cren~ de que este 29
conhecimento, separado do Absoluto e, aindaassim, algo real; e que mesmo estando fora da verdade, e algo veridico ... 1. 3 . Como s6 0 Absoluto e verdadeilO, e s6 0 Verdadeiro e absoluto, nao hi lugar para um tipo de conhecimento que seja verdadeilO, embora nao atinja 0 absoluto; ou para um conhecimento em geral, incapaz de captar 0 absoluto, mas capaz de outra verdade. Essas opiniOes supOem tambem que a significa~o de termos como 'Absoluto', 'conhecimento' etc., e de dominio publico; e julgando-se na posse destes conceit08; furtam-se a tarefa fundamental da Filosofia, que e justamente produzi-Ios.
2.
A CIgNCIA SO PODE NASCER DO SABER FENOMENAL E DO SEU MOVIMENTO
2. 1. Quando a Ciencia entra em cena, estas falsas represent896es se dissipam. Contudo, a Ci8ncia, ao surgir, 6 ainda apenas urnaapatencia: urn 'saber fenomenal', urn 'conceito' de saber e nao o saber atualizado e· desenvolvido em sua verdade. Mas tem que ser assim: a Cicncias6 pode nascer do saber natural e ir se libertando aos poucos da apatencia, voltando-se contra ela. 0 que nao pode 6 estabelecer-se atrav6s da rejei9ao pura e simples do saber vulgar, ou entao apelando para um saber melhor, ou para 0 pressentimento deste saber no seio do conhecimento vulgar, prenunciando a Ciencia.
s6 tendo como verdade 0 que estabelece por si mesmo. Claro que seguir sua opiniao e preferivel a basear-se· em autoridades; pelo menos para a vaidade da pessoa. .. Mas isso nao muda 0 conteudo da opiniio nem Ihe confere for~samente um estatuto de verdade.
2.4. Nosso caminho percorre, em seus detalhes, a forma~ao da consciencia, seu desenvolvimento efetivo ate chegar it Ci~ncia. £ um ceticismo diferente, que atinge toda a amplitude do saber fenomenal, fazendo-o desesperar das representa~s, opiniOes, pensamentos tidos por naturais; nao importa se proprios ou alheios. 3.
A CONSCIgNCIA £ SOLICITADA SEM DESCANSO A ULTRAPASSAR-SE
3 . 1. A consciencia que empreende examinar a verdade dessas representa~s est' cheia delas e por isso mesmo 6 incapaz de fazer 0 que se Plop6e. Tem de percorrer todo urn processo em que se sucedem figuras articuladas, numa ordem necessUia que forma um sistema. 3.2. £ de notar que a apresenta~lo desta consciencia como nio-verdadeira nio e algo puramente negativo, como representa unilateralmente uma das figuras ou etapas dessa consciencia imperfeita: 0 ceticismo comum. Essa ve no resultado apenas 0 puro nada e dele nio sai; e' tudo que encontra joga ileste abismovazio. Quando a consci8ncia se d' conta de que 0 nada 6 sempre nega~io de algoma coisa, quee determinado e tem urn conteudo, efetua a transi9ao para uma nova forma; e atravesda nega9io vai realizando 0 processo comp~to das sucessivas figuras da conscicncia.
2.2. Apresentamos nesta obra 0 saber fenomenal; nio a "li.vre Cicncia se movendo em sua figura original", mas 0 caminho da consci8ncia natural que sofre 0 impulso em dire~ao do verdadeiro saber; 0 caminho da alma percorrendo a s6rie de suasforma96es como outras tantas esta~Oes que Ihe sao prescritas por sua propria natureza: assim a alma se purifica e se eleva ao espirito. Atrav6S da completa experiencia de si mesma, chega ao conhecimento do que ela 6 em si mesma.
3 .3 . 0 termo ouresultado do processo est' necessariamente fixado como a serie da progressao: e alcan98do quando 0 saber se encontra a si mesmo, ao encontrar 0 conceito que corresponde ao objeto e 0 objeto que corresponde ao conceito.
2.3 . A consciencia. naturalvai provar para si que 6 apenas 0 'conceito' do saber, .ou 0 saber nio-real. Uma dece~ para . quem se tinha como 0 real saber: realizar este conceito 6 perder sua verdade. Este 6 0 caminho da duvida e mesmo do desespero. Tal duvida porem nao 6 .uma tentativa de abalar urna suposta vetdade, que termina voltando a mesma verdade do come~o: a d6vida aqui e a penetra~ao consciente na nao-verdade do saber fenomenal, 0 quai toma como supr<,ma verdade urn conceito nao-realizado. Trata-se de urn ceticismo amadurecido, que difere da 'resolU910 ' de rejeitar afirma~s dos outros e seguir a propria conviC9io,
3.4. Esta progressio em busca do termo final nio pode parar em nenhuma etapa intermedi'ria. Ai est' a diferen9a entre a conscicncia e os seres naturais, que nio podem ir para a16m de si mesmos, anao ser pela morte. A consciencia 6 0 ate de ultrapassar 0 limitado; e quando este limitado the pertence, e 0 ate de ultrapassar-se a si meSma. Isso provoca uma angUstia incessante, uma violencia exercida contra si mesma, que estraga qualquer satisfa~io limitada. Tenta recuar diante da verdade, fixar-se na inercia sem pensamento: mas vemo pensamento perturbar esta paz, ou a sentimentalidade onde procurou um ilibi para a angUstia da razao.
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4.
A CONSC!£NCIA PR£-CIENTtFICA JA TEM EM SI UM CRIT£RIO DE VERDADE
4. 1. Como vamos eXPQr 0 desenvolvimento do saber fenomenal e examinar at6 que ponto a consci8ncia 6 real ou verdadeira, e de supor que se esteja de posse de uma 'unidade de medida' senio nada se poderia aferir. Porem, como a Ci8ncia esta apenas surgindo, nio pode ainda estar de posse da verdade (da ess8ncia, do em-si) e nio pode pronunciar-se sobre isto. Como escapar a este dilema? Analisando 0 que se passa na consci8ncia: quando ela opera, distingue dentro, de um lado, alguma coisa a que se refere, que e-para-a-consci8ncia: 0 saber; e de outro lado, um ser que e-em-si: a verdade. Ouer dizer, 0 que e referido ao saber e tamb6m distinguido dele e posto como algo que e-em-si. Procurando a verdade do saber, vamos encontrar 0 que ele e em-si mas, neste caso, ele e nosso objeto: portanto, para-nos. . 4.2. Assim, a consci8ncia da sua medida nela mesma; pois 6 ali que existe a dicotomia do que e-para-outiem (0 momento do saber) e do que e-em-si (0 momenta da verdade). Temos pois a medida que a consci8ncia estabelece para medir 0 seu saber: e aquilo que designa dentro dela como 0 em-si, ou 0 verdadeiro. Chamemos 0 saber, conceito; chamemos a essencia, ou 0 verdadeiro, obieto: 0 exame entio consiste em ver se 0 conceito corresponde ao objeto. (Se chamarmos porem 0 em-si do objeto de conceito, e 0 que e para-outro, de objcto; 0 exame vai consistir e~ ver se 0 objcto corrcsponde a seu conceito.) Tanto faz; 0 que unporta e saber que os dois momentos, conceito e objeto (ser-para-outro e ser-em-si), estio ambos no interior da consciencia, ou do saber que analisamos. 4.3 . Nio precisamos, pois, trazer nossas medidas, nem utilizar nossas id6ias pessoais durante a pesquisa: ao contrario, 6 afastando-as que podemos ver a coisa como 6 em-si e para-si-mesma. Mais ainda: nem. sequer precisamos efetuar a compara~io ou examc, pois a pr6pria consciencia se encarrega disso; porque sendo coDSci8ncm de urn objeto e tambem consci8ncia de si-mesma, 6 ao mesmo tempo consciencia do que 6 para ela verdadeiro e consci8ncia de seu saber desta verdade. Ja que ambos sio para ela, a consci&ncia 6 tambem sua compara~io: 6 para ela que seu saber corresponde __ ounio corresponde - ao seu objeto. Haportanto dois momentos: num, 0 objeto 6 em-si (momento da verdade); noutro, 6 para-a-consciencia (momento do saber). Nesta distin~io, a consci8ncia funda seu exame.
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4.4. Porem, quando a conSClenCla nio encontra correspond8ncia entre os dois momentos, nio basta mudar seu saber para p6-lo de acordo com 0 objeto. Porque, sendo saber de um obieto, nio pode mudar sem que mude tamb6m 0 objeto. Mudam, assim, os dois termos; mas como a consci8ncia era a rela~io entre eles, muda tamb6m ela, e muda sua 'unidade de medida': surge entio uma nova 'figura da consci8ncia', outra etapa na progressio do saber. 5.
A S£RIE DE FIGURAS DA CONSCI£NCIA OBEDECE A UMA DIAL£TICA NECESSARIA: ESTUDADA POR UMA C!£NCIA OUE £ A FENOMENOLOGIA DO ESPtRITO
5 . 1. A experi8ncia e precisamente este movimento dialetico que a consci8ncia efetua em si mesma, a um tempo no seu saber e no seu objeto, fazendo surgir diante dela urn novo objeto verdadeiro. Vejamos 0 lado cientifico deste processo: 0 movimento se toma necessario devido a ambigiiidade do verdadeiro nesta experi8ncia. A consci8ncia sabe alguma coisa: este objeto 6 a ess8ncia ou 0 em-si. Por6m a consci8ncia reflete sobre si mesma, e entio o saber se toma um objeto para ela. Temos agora dois objetos: o em-si, eo ser-para-ela deste em-si. 0 primeiro obieto muda entio: deixa de ser em-si e passa a ser algo que 6para-a-consci8ncia. Assim, 0 objeto da consci8ncia fica sendo 0 seu saber, ou seja, a experi8ncia que a consci8ncia faz do objeto. 5.2. A consciencia fenomenal nio se da conta do processo; parece-lhe ter passado de urn objeto para outro porque achou, de maneira contingente, outro ohjeto que a fez mudar. Entretanto, 0 fi16safo sabe que esta diaIetica. se desenrola por uma necessidade intema, e que, por isso, a serie das experiencias da consci8ncia pode ser estudada cientificamente. Ilustrando com 0 exemplo dado acima: o nada, em que vem dar urn conhecimento nio-verdadeiro, deveria ser; entendido como umnada do saber de que ele resulta; por6m o ceticismo (que e a figura da consci8ncia fenomenal correspondente aessa etapa) nio percebe isto. E acontece sempre assim: cada vez que um obieto (algo em-si) e reduzido a um simples saber (algo para-a-consci8ncia), surge uma nova figura da consciencia. Ela nio sabe como, nem de onde surgiu 0 novo conteudo, mas 0 fi16sofo conhece a diaIetica necessaria que preside esta serie de experiencias. 0 caminho para a Ciencia - e a Ciencia da experiencia da consci8ncia - 6 a Fenomenologia do Espirito.
a
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5 . 3 . 0 conjunto destas experiencias abarea 0 ambito total da verdade do Espirito, 0 sistema total da consciencia; porern sob um Angulo particular: os momentos da verdade nao se encontram ai abstratos e puros, mas sim tais como surgem para a consciencia. Sio, pois, momentos da consciencia. Somente no termo e que a consciencia se despoja da aparencia, ao atingir um ponto em que o fenOmeno e igual a essencia, onde a apresenta~ao da experiencia coincide com a Ciencia autentica do Espirito: no Saber Absoluto.
(A)
CONSCI£NCIA / BeWUSltsein /
~ol
A CERTEZA SENSfVEL / Die tinnliche Gewissheit /
SumUio: A certeza 8ensivel - que • primeira vista pareoe captar 0 ser cia forma mais verdade1ra - quando tenta expressar-se, 1110 encontra nem no seu obJeto, nem no *Ujelto, netn na totalldade (que' a relaQio de ambos na sensaoio atual) essa verdade Imedlata que pretende. Sua verdade esta num universal, que , atinlldo pela percepQio, nas condlc;OEls da experiAncla sens1vel.
INTRODUCAO 1. Temos de come~ar pelo come~o. Se existe em materia de conhecimento algum dado imediato, e a certeza sensivel: saber imediato de um objeto tambem imediato. Examinemos tal como se apresenta, sem aItera-la com nossas conce~s. Veremos que esta certeza, que parece 0 conhecimento mais rico ...... em amplidio e conteudo - , vai se revelar a mais abstrata e a mais. pobre verdade. Com efeito, do seu objeto, s6 sabe mesmo que ele 6; e do sujeito, s6 consta que 6 um reste aqui', certo de um risso ai'; e do saber, que ha uma rela~ imediata entre os dois termos. 2. Aprofundando 0 exame, nota-se que bana '~rteZa sensivel mais que esta imediatez que ela sente. Pritneiro, porque uma determinada certeza sensivel,que rpOe em jogo' um reste aqui' e urn risso ai', e apenas um exemplo, um caso singular de um sujeito e de urn objeto de conhecimento sensiveis. Depois, porque existem nela muitas media~, nao percebidas pela consciencia nesta· etapa; a mais importante e que tanto 0 sujeito quanto 0 objeto sao de fato mediatizados: pois tenho a certeza por media~ao de urn outro,
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precisamente da coisa, da qual se esta na certeza por media~ao de outro, precisamente de mim. 3. Estas diferen-ras brotam do seio da experiencia sensivel: nao' e nossa analise filos6fiea que introduz. De fato, ela percorre t1'8s momentos: primeiro, retem 0 objeto; em seguida, 0 sujeito; e enfim, 0 saber como a verdade ou a 'essencia', por exclusio dos demais. 1.
Momento: 0 objeto (0 'issa-li')
e;
. . 1.1. 0 objeto ele e verdadeiro, e a 'essencia' (e 0 que e), md1ferente ao fato de ser conhecido ou nio: 0 conhecimento e 'aeidental' - se nio existe objeto, nio ha saber, porem a reeiproca nio e verdadeira. __ - Mas, 0 que e 'isso-ai'? Quando se trata de expressar pela linguagem, a certeza se perturba. Digamos que e noite. Vamos anotar tal verdade: 'agora e noite'. Quando e meio-dia, vamos ler 0 que anotamos:a verdade sumiu. 0 'agora que e noite' se revelou nada, nio-ser. 0 agora flcou, mas nOO como noite. Nio vamos cair no mesmo en~ano: mesmo de dia, 0 agora Dio e dia, ja que pode serdia au noite, por nic ser nenhum dos dois. ~ universal, urna abstra~io. Um universal e algo mediato, urn momento simples mediatizado pela nega~OO: vemos pois que 0 universal e 0 verdadeiro da certeza sensivel. Exprimimos 0 sensivel por meio de universais: isso e um universal; (= e uni ser) tambem e urn universal. A linguagem s6 exprime 0 universal, e mais verdadeira que a certeza sensivel e nela refutamos nossa eerteza imediata de um inefavel. 1 .~ . 0 mesmo oeorre com 0 ai. Ai e urna more. Me viro, e ja uma easa. 0 ai permanece ,no desapareeimento da more e da easa; pois, como 0 agora, e uma simplieidade mediatizada, urn universal: 0 espa~. 1.3. 0 que resta assim dacerteza sensivel e 0 ser. NOO 0 ser imediato que ela imaginava atingir, mas 0 ser mediato, universal, abstrato. Diante dele, 0 ai e 0 agora, que pareciam a esseneia da certeza sensivel, sio ·vazios e indiferentes. Um objeto ti~ abatrato. se revela .impr6prio para s~porte da certeza sensivel; mas nem por 1SS0 ela se desvanece: reflui do objeto para 0 outro polo da rela9iio, para 0 Eu, 0 Oeste aqui', que possui a eerteza sensivel.
arvore que eu vejo: agora vejo que e dia: eu retenho a verdade quando desaparecem os ais e os agoras singulares. 2.2. Porem, volta 0 mesmo problema de antes: eu vejo uma arvore, este-aqui afirma isso-ai; mas um outro ve uma casa, aqueIe-ali eonstata aquilo-ali. Ambas as verdades tem a mesma autentieidade, mas uma desaparece na outra. 2.3 . 0 que nio desaparece e 0 eu enquanto universal. Como sucedera antes, ao dizer urn agora, um ai, ou urn ser singular, diziam-se for~samente universais; tambem dizendo um eu singular, estou dizendo todos os eus. Na certeza sensivel posso visar um singular: 0 que nio posso e dize-lo - quem desafia aCiencia a de?uzir ou construir a priori um singular, deveria antes dizer a C01sa ou 0 Eu singular que deseja: mas dize-lo e impossive!. .. 3.° momento: A unidade eonereta da eerteza sensivel
2. 1. A for9a da verdade se encontra agora no Eu, na imediatez do meu ver ou ouvir. Tenho eerteza dos objetos porque sao objetos mew, porque eu possuo um saber sobre eles. Ai e urna
3 . 1. Como a experiencia sensivel constatou que tanto seu objeto quanta seu sujeito sio universais e portanto nOO podem subsistir neles 0 ai e agora que ela experimenta, procura outra saida para salvar a imediatez do seu saber. Reeorre entio a certeza sen. sivel como um todo: assim tomada em sua totalidade, exelui de si toda a oposi~io encontrada nos momentos precedentes, porsua imediatez a toda prova. Nio se trata mais de um ai que pode ser uma arvore ou qualquer outra eoisa; nem de um agora que tanto pode ser noite como dia; nem de outro Eu que pode estar sentindo outra coisa. Eu, este aqui, estou constatando: agora e dia, ou entao: a{ tem uma arvore. Nio comparo com outros meu objeto, nem quero saber se outros sujeitos v8em de outra maneira, ou se eu mesmo noutra oeasiic vejo diferente. Daqui nio saio: agora e dia. 3.2. Ja que a certeza sensivel nio quer sair de si mesma e fica nessa de 'agora que e dia', ou de 'um Eu para 0 qual e dia', vamos a seu eneontro pedir que nos indique este agora que afirma, para ver que imediatez e essa. Pois bem, quando nos mostra O' agora, 0 agora ja era; e outro agora. Mostrou-nos um agora passado, que foi, mas nilo e mais. Ora, tratava-se justamente de surpreender 0 ser, dado nessa experieneia inefavel; enos indieam um nio-ser. De fate, 0 indiear impliea toda \una dialetica, percorrendo estes momentos: 1.0) indico urn agora que afirmo verdadeiro, mas indico como urn passado, suprassumindo sua primeira verdade; 2.°) afirmo, como segunda verdade, que ele e passado, que foi suprassumido; 3.°) mas como 0 passado nio e, suprassumo sua segunda
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e
e
2.° momento: 0 sujeito (0 'este' aqui')
verdade, a de ser-passado, ou de ser-suprassumido: negando a nega~io, volto a primeira afirma~io, a de que '0 agora e. 3.3. Dessa forma, 0 agora e 0 ato de indicar sio constituidos de tal forma que nem urn nem 0 outro sio 0 simples imediato, inas sim urn movimento que tern diversos momentos. Neste movimento nio se volta ao ponto de partida tal como era antes: 0 que e refletido sobre si mesmo e algo simples, que permanece 0 que e, no ser-outro. Este agora e urn dia, que tern em si muitas horas: uma hora que contem muitos minutos. Este agora tern muitos agoras. 0 ato de indicar e urn movimento que exprime 0 que 0 agora e em verdade: uma pluralidade de agoras reunidos e unificados (0 tempo). Indicar e fazer a experiencia de que 0 agora e urn universal. 3.4. 0 mesmo sucede com 0 ai, quando e indicado: nio e urn ponto, mas tern acima e abaixo, diante e atras, esquerda e direita, e uma multiplicidade simples de muitos ais, que 0 ato de indicar descobre em seu movimento. 0 indicar nio e pois um imediato e seu at e urn universal.
Conclusio: A verdade da certeza sensivel est4 para al6m dela 4. 1. Esta dialetica 6 a hist6ria da certeza sens£vel e a certeza sens£vel se identifica com sua hist6ria. Porem ela esta sempre esquecendo 0 que experimentou e recome~ndo 0 mesmo caminho. de admirar que a existancia imediata, suprassumida pela propria consciencia quando reflete sobre sua certeza sens£vel, seja· erigida em tese fUos6fica pelo ceticismo. 4.2. Que filosofia 6 essa, que afirma como verdade algo que esta sendo negado no proprio ato da afirma~io? Com efeito, ao dizer que 's6 a coisa singular 6 verdadeira', esta dizendo um universal, pois toda coisa 6 singular. Entio esta afirmando como verdade urn universal, na mesma senten~ que atribui a verdade exclusivamente ao singular. 4.3 . Se porem prefere evitar a linguagem, que tern 0 dom divino .de me fazer dizer 0 contr8rio do que pretendia e se limita a indicar urn ai, como Vim06, nid pode deixar de indicar um con· junto de muitos Dis, ou seja, urn universal. Entio, em vez de saber &tgo imediat9, toma a coisa como ela 6 em verdade: percebe-a (Nehmen wahr wahmeluDen).
e
=
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~II
A PERCEPCAO / Die Wahmehmung / OU: A COISA E A ILUSAO Summo: Fruto da certeza sensivel, a PercePQio js parte do Univer~al, tanto do lado do objeto como do conhecer. 1.0 Toma 0 ObJeto como 0 Verdadeiro, mas vacila entre a unidade que ele pastula, e a multiplicidade de propriedades em que se manifesta. 2.° Atribui 1& ilusio do conhecimento eases paradoxos que encontra na percepeio da Coisa. 3.° Confrontando os dais, v6 que ambas as estruturas - do objeto e do sujeito - solrem da mesma contradi~, por serem para-si e para.Qutro, irremediavelmente. Procura escapar da contradi~ recorrendo &OS 'enquanto que' puramente verbais, onde val e vern como joguete de apstraoOes vazias. No entanto, 0 pr6prio jOlo dessas abstraoOes impele a consci6ncia a confronbi·las,· e assim suprassumi-Ias, todas juntas, passando ao Reino do Entendfinento, onde impera 0 Universal Incondicionado. INTROPUCAO A Certeza Sensivel nio alcan~ava 0 Verdadeiro, quando bus· cava no 'isso ai' 0 que residia no Universal. A Percep~io, fruto dessJ experiencia, ja tern 0 Universal como seu principio e ponto de partida - tanto do lado do objeto quanto do sujeito. Perceber, alias, 6 urn movimento; e seu objeto 6 a confluencia de todos os momentos do movimento num ponto s6: no fundo, sio 0 mesmo Universal.
1.
0 mOIDento do objeto 1.1.
Constituifao do Objeto
o Verdadeiro deve·se situar no Objeto - uno, simples, essen· cial - , ao qual 6 indiferente ser ou niD percebido: isso 6 que 6 inessencial. o Objeto 6 um Universal: algo ja mec:liildo, suprassumido a coisa com multiplas propriedades, onde se expande .a riqueza da experiencia sensfvel, agora constituida etn sua verdade, ia que a Perce~ tern a nega~o, a diferen~a ou a multiplicidade variegada em sua es&encia. A Propriedade, com que lida a Perce~o, 6 urn sensfvel suo prassumido em Universal. Suprassumir 6 ao mesmo tempo negar e conservar; uma nega~io determinada, onde 0 sensfvel 6 mantido 39
no que tange a suadeterminidade, embora negado como singular indicando 'aqui e agora'. A propriedade e uma propriedade sensivel, mas um sensivel universal. . Vendo mais de perto, a universalidade do Objeto tem duas faces: uma, e a multiplicidade das propriedades distintas e indiferentes entre si; a outra, e auniversalidade simples, distinta e independente dessas propriedades,. mas que the serve de meio: a coisidade. Nesse meio, as propriedades diversas se compenetram sem se tocar: e 0 'aqui e agora' sensivel suprassumido no Universal. Podemos chama-Io de tambem, ja que por meio dele as mUltiplas propriedades universais coexistem num aqui. Este sal que e branCo, e tambem salgado e tambem cubico etc. , No entanto, esse meio nao pode ser apenas um tamb6m, pois as propriedades, por serem determinadas, sio mutuamente exclusivas, distinguem-se e se relacionam entre si como opostas: ora, propriedades opostas nio podem coexistir no mesmo objeto. Este meio, portanto, tem de ser uma unidade exclusiva, um Uno. n a essa coisidade, afetada pela nega~io simples que exclui 0 Outro, que chamamos coisa. Esta plenamente constituido, assim, 0 objeto da perce~io - 0 seu 'Verdadeiro' - atraves desses tres mOo mentos: a) a universalidade indiferente e passiva: 0 tamb6m de multiplas propriedades; b) a nega~io simples: 0 Uno, que exclui as propriedades opostas; c) sintese dos dois momentos: a coisa, ponto focal da Singularidade, irradiando numa multi'plicidade (de propriedades) no ineio da subsist~ncia. Assim, a universalidade sensivel - unidade imediata do ser e do negativo - e propriedade quando e somente quando, a partir dela, 0 Uno e a Universalidade pura se desenvolvem e se distinguem entre si, permanecendo ao mesmo tempo enla~ados pela universalidade sensivel, constituindo assim a Coisa, objeto da Perce~o; e a consci8ncia se encontra ipso facto - determinada como percebente.
vejo na Coisa muitas propriedades que nio se afetam umas as outras, que nio se excluem. Tenho, pois, um meio comunitario universal, onde as multiplas propriedades, como Universalidades sensiveis, cada uma e para si; mas enquanto determinadas, cada uma exclui as outras. Contudo, procedendo assim, esvaziei 0 proprio objeto da perce~io: essa propriedade, posto que nio esta no Uno, nem em rela~io com 0 Outro, nio e mais propriedade e nem e determinada. Que vem a ser entio? Nada mais que 0 ser sensivel em geral. 0 que fiz, foi voltar a certeza imediata da primeira figura. Porem, como 0 ser sensivel e 0 seu designar (meinen, viser) remetem a Perce~o - como vimos - , a consci8ncia fica girando num circulo, que, em seus momentos particulares e em sua totalidade, se suprasume a si mesmo. 2.
0 momenta do suJeito
2. 1.
Quando
0
Novo surge da repetifQO
Claro que 0 percurso refeito nunca e 0 mesmo, pois a consci8ncia que 0 empreende ja vem enriquecida com a experi8nda anterior. No caso, ja constatou que, ao retomar a si mesma, ela parria (portanto, saia) do Verdadeiro. Descobriu tamb6m a estrutura da perce~io: que nio era umaapreensio purae--simples, mas uma apreensio sua, ja que a consciencia, ao captar um objeto, operou uma reflexio sobre si mesma, que alterou seu Verdadeiro.Trata entio de separar 0 que e apreensio simples do que e reflexio, para deixar em estado puro a perce~io primeira. Porem esta retifica~o e igua1mente obra (e experi8ncia) da consciencia.
2.2.
Paradoxos da PercePfQo
Sendo esta Coisa 0 Verdadeiro, 0 Igual a si mesmo - e a consciencia, mutavel e inessencial - , qualquer problema que venha a ocorrer na perce~io e atribuido a consciencia. Ora, 0 objeto que apreende como um P'P'O Uno tem nele a propriedade quee universal e vai alem do singular. Entia, a primeira apreensio nio era correta: 0 Uno nio pode ser a essencia. A Universalidade da propriedade faz agora tomar a essencia objetiva como uma Comunidade. Mas vacUo de novo: essas propriedades sio determinadas, mutuamente exclusivas; 0 real nio pode ser uma Comunidade. Volto a fazer do objeto um Uno exclusivo. Surge porem um problema:
Objeto como Uno. Entio. as mul0 sal. e branco para meus olhos, salgado para a minha lingua, cubico para meu tato etc. A diversidade e obra niinha. Reparando melhor, vejo que essas propriedades sio determ~ nadasi constituidas em oposi~io com as outras. As propriedades sao proprias da coisa, pois atraves delas e que se distingue das outras. Entio, a Coisa e um tambem: branca e tamb~m salgada e tamb~m cubica e tamb~m etc. n· 56 um tamb6m. Portanto, a unidade e que e obra da consciencia, que unifica em sua reflexio a multiplicidade das propriedades num foco virtual, num suposto Uno da coisa.
40
41
1.2.
Os paradoxos da Coisa
A apreensio mostrava
0
tiplas propriedades devem ser postas por conta do Sujeito:
3.
0 confronto dos dois momentos
3.1.
Homologia estrutural
Agora, confrontando os dois momentos, a consci~ncia ve que faz, ora na Coisa, ora em si mesma, tanto a experi~ncia do UNO sem multiplicidade, como a do TAMB£M dissolvido em 'materias' independentes. Constata assim que nao e somente ela, mas tambem a Coisa, que tem em si a diversidade e 0 retorno sobre si mesma; possuindo, pois, duas verdades opostas. Como nada resolve 0 atribuir a Coisa a igualdade e a si ,. desigualdade ou (vice-versa) - j4 que ambos t= ambos os lados - , tem de admitir que a coisa que ~ para-si, ref1etida em si, ~ tamb= para Outro; possui urn ser duplo e diverso: nio ~ para si 0 que e para Outro. .
3.2.
0 recurso aos 'ENQUANTO QUE'
Tenta agora a consci8ncia distribuir a contradi9io da ess8ncia objetiva entre dois objetos: ~ a presen~a das outras coisas que perturba a unidade da Coisa, a qual, de si, ~ em-si e para-si. 0 ser putro, nio lhe pertence, mas a outro objeto que a defronta. Mas, em cada Coisa, por sua vez, surge 0 mesmo problema: cada uma se determina em si mesma como algo diferente das outras, tem em si a diferen~a essencial que a distingue de todas. A consci8ncia recorre ao "enquanto que": vendo que a Coisa tem uma constitui~io complexa (mUltiplas caracteristicas), distingue essas determina¢es multiplas - como inessenciais - da determina~io essencial que constitui a Coisa enquanto tal; sua diferen~ absoluta. Ela constituiria a Coisa em si; separando-a das outras e mantendo-a em si mesma. Salvou-se por urn 'enquanto que': a Coisa s6 ~ para si, essente e Uno, fora da rela~o com 0 Outro. A rela~io - ouconexio - com a Outro equivale a cessar de ser-para-st
3.3.
A Jnoperancia dos 'ENQUANTO QUE'
Venda melbor, a consci8ncia verifica que 6 justamente pelo seu car4ter absoluto e de sua oposi~ao que a coisa se liga aoutras; porque 6 somente e essencialmente este relacionar-se. Ouer dizer que a Coisa desmorona preeisamente em virtude de sua propriedadade essencial. Formalizando essa exprl8ncia, temos: a Coisa se pOe como ser-para-si - portanto, como nega~io absoluta - referlndo-se apenas a si. Ora, a nega~io referlndo-se a si, equivale a
42
suprassumir a si mesmo, ou seja, a ter sua essencia em Outro. Postular um 'inessencial, mas necessario', como fazem os 'enquanto que', e puro jogo de palavras. 4.
A consciancia em trinsito para 4. 1 .
0
Reino do Entendimento
Exig2ncia de um novo Suprassumir
Caiu assim 0 ultimo 'enquanto que' de que se valia a Perporquanto 0 objeto - de urn 56 e do mesmo ponto de vista - e para si enquanto ~ para Outro, e vice-versa. Por ser refletido em si, ~ Uno; mas por estar em unidade com seu contr'rio, 56 ~ posto como suprassumido. Isto significa que a consci~ncia tem deoperar urna dupla suprassun~o. 0 ser sensivel j4 foi suprassumido para dar lugar ao Universal - objeto da Perce~: ,urn universal oriundo do sensivel, por ele condicionado, e por isso distendido entre seus extremos de Singularidade e Universalidade, do Uno e do Tamb~m. Agora, este objeto tem de ser suprassumido justamente nas pur~s determinidades que fazem sua ess&1cia - mas tamb~m seu condlcionamento aO ser sensivel, a coexistencia de elementos contradit6rios. ce~o,
4.2.
No meio do caminho tem uma pedra ...
Contudo, nesse caminho para a Reina do Entendimento surgem os obsticulos da 'sofisticaria' da PerceP9io, e de seu rebento, a 'si razio' au 'bom senso' - que nao passa de uma consciencia retardada na etapa da Percep~io; que se reeusa a prosseguir a dial6tica iJnplac4vei romo ao Universal Incondicionado e menospreza a Filosofia que a convida para tanto. A Perce~ao persiste em querer salvar, mediante as 'enquanto que' e os 'tamb~ns', as contradi¢es constitutivas de seu objeto; e Dio se d4 conta de que, emvez de eviti-Ias, est4 ~ sendo joguete. daquelas abstr~s (como Singularidade, Universalidade etc.), que sio determina¢es au pot~ncias do entendimento, que deveria dominar e nao ser arrastada em seu turbilhio, como sucede com a tal 'si razao" au 'bom sensa', que toma essas abstra¢es vazias como se fossem 56lido conteudo. 4. 3 .
. .. mas a caravana passa
o
entendimento, so contr4rio, determina e domina essas abse se serve delas como de meio para atravessar toda a mat6ria e conte6do. Sio elas, de fato, que constituem 0 ser sensivel ~s,
43
em objeto para a Perce~o e que tra~am seu percurso rumo ao Verdadeiro. Este percurso e acidentado: um "determinar sempre eambiante do Verdadeiro e um suprassumir desse determinar". Mas e 0 unico atraves do qual pode avan~ar; essas essencialidades, que jogam com a eonseieneia, impelem-na para a frente, ate a suprassun~io de todas elas. Enquanto esta em transito. a conseieneia s6 toma. em eada momenta singular. uma das determinidades como 0 Verdadeiro. No momento seguinte faz 0 mesmo com 0 seu oposto. Contudo. e a propria pressiio dessas determinidades que leva 0 entendimento a juntar, de uma vez, a todas elas (singularidade, universalidade; Uno e Tambem; essencial, inessencial mas necessario) e atraves desse confronto suprassumir a todas. 56 entiio cessam os sofismas, os expedientes dos 'enquanto que'. que nio conseguem salvar a verdade da coisa, mas deixam. sim, a eonseiatlcia na inverdade; e retardam sua marcha rumo ao Reino do Entendimento, onde impera 0 Universal Inoondieionado.
Se9io III FORCA E ENTENDIMENTO / Kraft und Verstand / FENOMENO E MUNDO SUPRA-SENStVEL Sumario: A conscianc1a agora ~ entendimento e tem por objeto 0 uni· ~ersal incondicionado. para alD daB abstraoOes onde a percePQio ficara presa. cap. 1: - A Fo. - Considera primeiro seu objeto como Foroaf sfntese dinAmica da unidade e multipUcidade; - examinando melhor. va que se trata de urn jogo de foroas. de polaridades opostas. - que aU4s constata nio passar de urn fenOmeno. atravtSs do quaI descortina 0 supra-sens1vel ou 0 Interior daB colsas. cap. 2: - 0 Interior - Este interior supra.sensfvel tS 0 reino calmo das leis - tAo calmo que chega a ser tautol6gico -. po~ perturbado pela pr6pria expij,caoio tautol6gica. que postula urn Mundo invertido. oposto ao mundo contemplado. Noentanto esses dois mundos sio urn s6 e 0 mesmo. . Cap. 3.° - 0 Inftntto - A identificaoio dos opostos impUca 0 conceito de Infinito, e este. por sua ves. revela, com 0 Interior dos objetos. a pr6pria consciancia-de-sJ,. E assim se atinp outro patamar do movimento dialtStico: a consciancta-de-si. INTRODUCAO Nesta etapa, a consci!neia ja deixou para tras a certeza sensivel e reuniu os pensamentos da perce~o no 'universal incondicionado' qye toma agora como seu objeto verdadeiro, formado
por uma reflexao sobre si mesma a partir da rela~ao com um outro; so que ainda nao reconhece a si mesma neste objeto refletido. Nos, fil6sofos, sabemos que este objeto e a reflexao da conseiencia sao uma coisa s6: mas ela niio sabe. Deixemos pois que ela examine a seu modo 0 seu novo objeto. Tal universal se apresenta como um objeto plenamente constituido. e a conscieneia se porta como consciencia coneebente: nele nega e abandona suas abstra~s unilaterais e pOe como a mesma es&encia 0 ser-para-si e 0 ser-para-outro, nao 56 na forma de que se revestem seus movimentos, mas no seu conteudo. Com efeito, qualquer objeto possivel tem de ser-para-si e de se relacionar eom-um-autro: ou seja, s6 pode ser urn universal incondicionado. Niio obstante. em se tratando de urn objeto para a conseieneia. conservam-se nele os dois momentos anteriores: a multiplicidade das 'materias' subsistentes e a unidade que anula sua independ!neia. Porem agora. no universal incondicionado, os dois momentos aparecem suprassumindo-se um ao ouoo, ou seja. na passagem de um paraouoo. Capitulo 1.° -
A FORCA E 0 rOGO DE FORCAS
"As diferen~as postas em sua independ!ncia passam imediatamente para a sua unidade. unidade que passa para seu desdobramento, que passa para a unidade". :£ a este movimento que ehamamos fo~a. 1 . 1. Um dos momentos .A expansio das diferen~as - e a exterioriza~io dafo~. 0 outro - a fo~ recalcada sobre si meama - e a fo~a propriamente dita: esta deve necessariamente se exteriorizar, mas na exterioriza~o a fo~a se conserva fo~ em si mesma, porquanto 6 apenas exterioriza~ do que e em si meama. Os dois. momentos 56 se distinguem para 0 pensamento: no objeto - 0 universal incondieionado - a fo~a e para-si 0 que e para-outro. A diferen~a a constitui, ja que todo 0 seu ser e ser-para-autro. Isto signifiea que a fo~a concebida como dois momentos distintos nio e a realidade da for~a, mas apenas 0 seu conceito. Para surpreendMa tal como e na sua verdade, a·consci6neia experimenta deixar a fo~a operar fora das determina~s do pensamento, e ve primeiro a for~a concentrada em si mesma como unidade; em seguida a encontra nas di£eren~as que t!m exist6neia propria. Se os dois momentos nio fossem independentes, nio existiriam; parem, se a fo~a nio fosse os dois momentos, nio seria for~a. Como resolver este impasse?
45
N6s, fil6sofos, temos como evidente que este movimento e 0 mesmo que na perce~ao aparecia como sujeito e objeto que, embora distintos, formavam uma unidade no ate do conhecimento: agora se encontra projetado nos dois momentos da for~, existindo numa unidade, manifestada como meio-tenno entre dois extremos, nos quais se decompOe, mas que nao existem senao por ela. Assim, 0 mesmo movimento, que na figura da perce~o se apresentava como autodetermina~o de conceitos contradit6rios, aqui no entendimento assume uma fonna objetiva e e 0 movimento da lor~a. Como resultado produzir-se-' 0 universal incondicionado como nao-objetivo, isto e, 0 Interior das coisas. 1. 2 .
0
jogo
das
for~as
Mas a consciCncia fenomenal ainda nao chegou I' e, ls voltas com 0 seu conceito de for~, encontra agora uma solu~ para a diversidade de momentos: a exist8n~ia de duas f~, uma solicitada, outra solicitante. A fo~a redobrada sobre si mesma e Uma; as diferen~as em que se desdobra sao subst8l1tivadas na Outra. A exterioriza9ao e concebida como uma fo~ que se 4lproxima e solicita; porem como a exterioriza~ao e necessaria, esta outra for~ nao pode ser concebida como vinda de fora; e outra manifesta~o da mesma fo~a do come~, que num momenta se nega como outra, para no seguinte se afirmar como mesma. AIem disso, a for~a solicitada e tambem for~a, tem os mesmos momentos da primeira, ora redobrada em si mesma, ora expandida em diferen~as. Portanto, a for~ nao saiu do seu conceito: apenas se conseguiu um "duplo", mas a problematica continua intacta. A independ8ncia dessas fo~as nlio faz sentido, pois estando unidas por um vinculo de necessidade, a solicitante solicita porque 6 solicitada. A diferen~ entre as duas passa a ser Uma troca de determina¢es reciproca(sua intera~o): s6 na passagem e intercimbio de suas detennina~s e que as fo~ parecem emergir em sua independ8ncia.
conceito; porque a fo~ 56 e mesmo efetiva em sua exteriori7;a~o, que coincide com sua suprassun~ao: quando se 'realiza' deixa de ser'real'. o que resta no fim e apenas 0 conceito universal de for~a, donde tinhamos partido; e que agora, mediatizado pela nega~ao que operam fo~ concretas ao se suprassumirem, aparece como a ess§ncia da for~a. Capitulo 2.° -
0 INTERIOR
Se consideramos 0 primeiro universal donde partiramos como imediato, objeto real para a consci8ncia, vem a set a for~a concentrada em si mesma e subsistente. Entao, 0 segundo universal, atingido no fim dessa dialetica, e 0 negativo da for~a objetiva para os sentidos, e a for~ na sua verdadeira ess8ncia, tal como s6 0 entendimento tem por objeto; e vem a ser 0 Interior das coisas como Interior, id8ntico ao conceito como conceito. 2. 1.
0 Mundo supra-sensivel
fato m~mo. no seu cantato, no meia-tenno comum que se manifestam: passando uma na outra e desaparecendo;ou seja, cessmn imediatamente de serf no momento em que siio efetivamente. Portanto, a ver~de da fo~ se reduz ao pensamento dessa f01V8, a seu
A intelig8ncia nao tem uma rela~ao imediata com este fundo das coisas, mas 56 atraves do jogo de fo~as. Assim, 0 meio-tenno que une 0 entendimento a este Interior e 0 ser das fo~s, que se manifesta no seu desaparecimento. Por isso 0 chamamos "fenOmeno", ja que 0 ser, que Dio passa de nao-ser, 6 pura apar8ncia de ser: 0 "tudo" dessa apar8ncia e 0 universal, que constitui 1flnterior, como uma reflexao desse jogo de fo~as sobre si, fonnando um objeto-em-si. o ser da percep~lio e 0 objeto sensivel em geral agora sao apenas fen6meno, que aponta para um Interior objetivado. A consci8ncia vai distinguir, dessa reflexao das coisas, sua reflexao sobre si mesma: 0 entendimento nao se da conta de que lida com um puro conceito. Agora, acima e alem do Mundo fenomenal, paira 0 Mundo supra-sensivel, que e 0 verdadeiro, 0 Interior, 0 absolutamente universal, porque purificado da oposi~ao com um singular: e 0 objeto do entendimento, um em-si que e manifes~ da razao (a primeira, e ainda imperfeita). Vejamos este silogismo que tem por extrem08 0 Interior das coisas e 0 Entendimento e par meio-tenno 0 fen6meno, j' que este silogismo resume 0 movimento que a consci8noia faz nesta etapa, em busca do Interior da realidade.
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4'1
1.3 .
Recapitulando
o
conceito de fo~ se torna efetivo no desdobramento das duas for~: siio 'essencias' em si, mas sua existencia 6 um movimento em rela~aoa outra; consiste em ser posta pela outra e desapareeer pelo
e
2 .2.
0 Interior: incognoscivel ou fenomeno?
o Interior 6 um atem da consciencia - que ainda nao se recoconhece nele - , 0 vazio do fen6meno que nega, porem representado positivamente como um universal simples..: Di~-se ~ntiio que ~ i.ncognoscfvel; e 6, de fate, nao porque a razao seJa mlope, ou hmlta~a, mas porque no vazio nada se conhece, ~u entao porqu~ es~e, Inte~lOr 6 precisamente determinado como um atem da consclencla. AItas, vem dar no mesmo: coloear um cego no meio des tesouros do supra-sensivel; ou um vidente nas puras trevas, ou na pura luz
A Lei como verdade do fenIJmeno
constante do fenOmeno sempre instavel. 0 Mundo supra-sensfvel 6 o tranqiiilo Reino das Leis, para al6m do Mundo percebido como mudanya, mas presente nele. As Leis determinadas. A Lei, contudo, nio esgota 0 fenOmeno, que se apresenta sempre como algo a mais; e a realidade efetiva da Lei parece diversa em cada. circunstincia ou caso concreto. Isto ocorre porque 0 fenOmeno nio foi ainda posto completamente como fenOmeno (ser-para-si suprassumido). Mas esta imperfeiyio reverte sobre a Lei, que se apresenta como uma lei determinada, umll multiplicidade de leis e n80 a Lei em geral. Ora, a verdade do entendimento tem de ser a unidade em-si universal: e assimtem de fazer coincidir as leis mt11tiplas numa 86 Lei universal, como a. lei da atrayio universal, que regula tanto a queda dos corpos quanto 0 movimento das esferas celestes. Contudo, quanto mais universal a Lei, mais superficial; em vez de unificar as determinayaes, 0 que consegue 6 aboli-las. Desta forma a 'atrayio universal' 6 apenas o conceito de lei mesma, objetivado: vem a dizer que as coisa. tam uma diferenya constante com as Olltras, ouseja, que a realidade 6 'legal' (conforme a uma lei). 0 que alias n80 deixa de ter importincia, enquanto corrige a representayio vulgar de que a realidade 6 contingente e suas determinayaes, caprichosas. A Lei Universal contrasta com as leis determinadas, como a essencia, ou puro conceito de lei se imp6e as determinayaes que sio da ordem do fen6meno (methor, do ser sens£vel). Mais ainda: ultrapassa a lei como tal: pois a lei acolhe a diferenya elhe da formulayio universal e os momentos que relaciona em sua f6rmula subsistem como tealidades separadas. Porem, na Lei Universal, as diferenyas presentes na lei sio absorvidas pela unidade simples do Interior, ou seja, pela necessidade interior da Lei. 2.4.
Lei e Forfa.
Chegado a este ponto, 0 Entendimento consid~ra 0 Interior apenas como um em-si universal, sem conteudo; e 0 Jogo de foryas como tendo, al6m do lado negativo (de nio:ser, em-si) um lado positivo: ser mediador, situado fora do entendimento. Atraves dessa mediayio, o/Interior vai ganhar agora um conteudo para 0 Ent~n dimento. Vejamos 0 processo: no jogo de foryas emerge como umco conteudo a troca imediata de determinayaes, 0 movimento de se inverter e transpor. Agora, a diferenya 6 UDta 86, e as foryas coincidem com ela: troea absoluta, ou diferenys como um universal, 6 a verdade do jogo de foryas, 6 a Lei da forys. Eis a Lei, diferenys que repousa no Interior, nio mais mudanya, mas imagem
Assim, a Lei tem dois aspectos: no pritneiro, expressa as diferenyas como momentos independentes: (m st); no segundo, como algo simples, refletido sobre si mesmo: 6 a 'necessidade' da lei, a que pode chamar-se 'forya' (forya em geral, uma abstrayio que inclui no mesmo conceito 0 que atrai e 0 que 6 atra£do). Exemplifiquemos,para tomar mais claro: - A forya da gravidade tem uma lei deste tipo: as grandezas, espa~ e tempo, percorridas no movimento se comportam como a raiz e oquadrado (e = 1/2 gt2 ). Diz-se: "Tem a lei de ser assim", ou, "a propriedade de se exteriorizar assim". Ora, esta propriedade 6 a unica e a essencial da forya: necessaria, pois. Por6m a neces-
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49
=
sidade 6 ai uma palavra vazia: deve porque deve; se e, tem. que ser, mas niose ve a necessidade de que seja. - Outro exemplo: 0 movimento que 'se divide' em espa~ e tempo, ou distincia e velocidade. Sio termos indiferentes entre si e 0 nexo entre eles nio e necessario: nada ha na essencia de um que postule 0 outro. Assim, 0 movimento nio os une, mas 'se divide' neles, extrinsecos um ao outro, ja que nenhuma rela~io consti~utiva ou necessaria osreUne. Portanto, 0 entendimento exprime na lei. somente sua necessidade; e nio a do real. No fundo, nio passa de wnatautologia, a 'explica~io' que descreve os diversos momentos constitutivos do cicIo da necessidade, para logo em seguida afirmar que a diferen~ e puramettte mental: um evento singular, digamos, o relimpago. e apreendido como um universal, 0 qual e enunciado como lei; depois, a 'explica~io' recothe e condensa a lei na fo~ que esua essencia. - A 'fo~' eletricidade 6 constituida de tal forma que ao se exteriorizar surgem as cargas positiva e negativa, que desaparecem UIna naoutra: vale dizer: a fo~ tern a mesma estrutura que a lei, o mesmo contel1do, a mesma constitui~io.
2.5.
Tautologia e inversiio
£ assim 0 movimento tautol6gico do entendimento: um esclarecimento, que 6 tio claro, que ao tentar dizer algo diverso do que foi dito, repete apenasa mesma coisa. Mas, examinando methor, , v6-se que traz ao calmo mundo das leis a mudan~ que the fazia falta; e mesmo a mudan~ absoluta. Pois se trata de um movimento que 6 0 contrario de si mesmo, ja que, ao par uma diferen~, a suprassume. Mas essa diferen~a, que ao ser posta como diferen~ 6 no ato mesmo - suprassumida, ja a encontramos antes: no jogo de for~as. 56 que agora, 0 que sucedia na margem de la - do objeto - , descobrimos na margem de ca, do entendimento; e 0 fluxo e refluxo do movimento, este leva-e-traz da diferen~, que, logo que 6 posta, e aOOlida, ocorre tamb6m no mundo supra-sendvel, neste Interior. 56 que se trata agora de uma mudan~ pura. porque 0 contel1do dos .momentos 6 identico; e embora se de no conceito do entendimento, este conceito 6 tido como 0 Interior das coisas; e tal mudan~a, apreendida como lei do Interior. A experiencia, de que as diferen~ nio sio diferen~, exprime-se como lei do Interior, • saber: que uoHomOnimo se repele fora de si mesmo. enquanto () Heter6nimo se atrai". Tal lei e a oposta da primeira. de que a dif~n~ fjcava sempre igual a si mesma, ja que afirma que 0 igual se toma desigual, e 0 desigual. igual.
50
Agora, 0 'calmo Reino das Leis' mudou em seu contrarlo. Antes, nio era 56 a lei que permanecia igual a si mesma: tamb6m as diferen~as, por serem constantes; agora, as leis e as diferen~as sio 0 seu contrario: 0 igual se rejeita fora de si, 0 desigual se pOe como igual a si. Mundo invertido. Este segundo mundo supra-sensivel ! um mundo invertido, e assim. se completa sua caracteriza~io como fenameno: 0 primeiro era apenas a eleva~io imediata do mundo da percep~io ao elemento do universal: c6pia estatica, que deixava para tras, no myel da perce~io, a mudan~a e a altera~io. Pois agora 0 entendimento recupera este principio da mudan~a, mas como um mundo invertido. Aqui os valores ganham sinal contrario: as polaridades se invertem, as qualidades mudam em suas opostas. (0 fluxo ma8Oetico que fora do imi vai do mais para 0 menos, dentro dele vai do menos para 0 mais.) Noutra esfera, 0 que num mundo e' honra, no outro, e i8OoOOnia; e a pena que destr6i e hu- . mitha 0 homem, no primeiro, 6 gra~a e perdio que 0 salvam e the restituem a honra, no' segundo. Desta forma 0 que no fen8meno 6 doce, no Interior 6 amargo; 0 p6lo positivo fenomenal 6 0 negativo supra-sensivel e vice-versa. Uma ma a~io extema pode ter uma boa inten~io interior; a pena que no fen8meno maltrata 0 homem, interiormente 0 beneficia. Os dois mundos sao um so. Seria contudo superficialidade considerar estes dois mundos como realidades hipostasiadas, ou como se um fosse fen6ineno do outro: seria dizer que 0 dace ao paladar 6 amargo na realidade da coisa; ou que 0 crime extemo e interiormente uma boa a~o ou inten~o. Esta representa~io desdobra 0 mundo da perce~io em dois mundos sensiveis, 56 que um deles 6 0 inverso do primeiro e apenas acessivel pela hnagina~io. Nio se trata disso: na verdade, a inversio se da no mesmo mundo que 6 percebido; 0 p610 que 6 positivo, visto de dentro da pitha, 6 0 mesmo que 6 negativo, visto de fora. 0 crime tem sua inversio na pena atual, enquanto reconci1ia~io com a lei; e a pena tamb6m tem sua inversio em si mesma: porque a lei. ao ser aplicada, 6 ipso facto aplacada, nela I!e' encontram e extinguem 0 movimento da individualidade contra a lei e 0 da lei contra a individualidade (crime e castigo).
e
Capitulo 3.° -
0 INFINITO
Superada avisio superficial que solidifica em dois mundos distintos a contradi~o ou oposi~io constitutiva do mundo supra-sensivel. agora se obtem 0 uconceito puro da direren~a enquanto inte-
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rior" e imanente: 0 Homonimo enquanto tal se expelindo para fora de si mesmo e os Heteronimos, porque HeterOnimos, se identifieando. 3 . 1. Mas isto equivale a conceber 0 Infinito. Com efeito, somente no Infinito uma realidade pode ser 0 contrario de si mesma, ou ter 0 outro imediatamente em si mesma: ser 0 Mesmo e 0 Outro numa unidade. Gra~as ao Infinito, a necessidade da Lei se realiza em si mesma e todos os momentos do fenomeno sao absorvidos no Interior. Senao, vejamos: 1) Por meio do Infinito, a for~a simples e Lei, como um Homonimo que e rejei~io de si mesmo, ou um Igual que e, em si mesmo, a diferen~a. 2) A Lei unifiea por meio do Infinito os momentos em que divide 0 movimento, ja que nele, espa~ e tempo, distineia e velocidade podem ser ao mesmo tempo independentes e necessariamente unidos. 3) Pelo Infinito, a Lei faz que os termos opostos passem um para 0 outro,e que ao se realizarem se suprassumam, porque eada termo e em si mesmo seu oposto e nega~io. Comonomear este Infinito? "Alina do Mundo, Ess8neia Simples da Vida, Sangue do Universo, eujo fluxo nenhuma diferen~a interrompe, pois e em si todas as diferenQas e a suprassun~io de todas: pulsa sem se mover e estremece no intimo sem inquietude,"
:5 .2. 0 Infinito e igual a si mesmo, ja que suas diferen~s sio tautol6gieas: portanto, 56 pode referir-se a si mesmo. Porem, este relaeionar-se a si mesmo e ja uma cisiio: a diferen~ consigo mesmo 6 imanente e constitutiva do Infinito. o mesmo ocorre com eada fragmento produzido por esta fissio: 6 sempre 0 contrario um do outro, enuneiado junto com ele; mas naol contrario de um outro, ja que a alteridade pura 0 constitui, 6 contrario de si mesmo, ou eontrario puro; e tamb6m nio 6 eontrario nenhum, pois sendo igual a si mesmo, 6 para-si que 6, e na sua essencia a diferen~a nio existe. Nio 6 problema nosso (nem fil0s6fico) indagar como a diferen~ vai poder sair da unidade, pois ja saiu: 0 que deveria ser igual a si mesmo, ja se encontra fragmentado; mais ainda: e ja um dos fragmentos dessa fissio, um momento abstrato que se pensa como algo anterior a fissio, embora de fato perten~a a seu resultado. Essa unidade ou simplieidade originma 6 uma abstra~o, pensada como contrapartida da diferenQa. Porem a efetividade e este movimento de eindir-se. S6 a partir daf e que se concebe 0 recolher-se sobre a propria identidade como um momento de retorno, ou posterior.
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3 .3 . Recapitula~iio. 0 Infinito (inquietude absoluta do puro automovimento, faz com que tudo que e determinado de algum modo seja 0 contrario dessa determina~io) e a alma da dia16tica que desde 0 come~o seguiamos. Porem, 56 se deixou ver no momento do Interior. 0 fenomeno e 0 jogo de for~s ja eram ele, embora 56 no movimento do "explicar" aparecesse em estado livre. Entio 0 Infinito enquanto tal e objeto da consci&1eia, e a consciencia e consci8ncia-de-si. Vejamos como: 1.0) 0 processo da explieaQio do entendimento se apresenta, de entrada, como a descri~io da conscieneia-de-si; suprassume as diferen98S formuladas na lei, pondo-as em sua unidade, na Fo~. 2.°) Assim fazendo, cria nova cisio, entre a lei e a for~a, e como nio a reconheee c,o~o_ dueren~a, a suprassume, atribuindo a for~a a mes~.a conSt1tul~ao da lei. 3.°) Embora 0 entendimento vise grandezas flSlcas, 0 mOVlmento e a necessidade que encontra sio do proprio entendimento: por isso se da por tio satisfeita a consci8ncia com sua explica~io tautol6gica, porque de fato esta apenas 'em col6quio' imediato consigo mesma, ainda quando parece estar lidando com objetos outros. Depois, foi aquela cisio de dois mundos invertidos. 0 Infinito ali surgia como objeto para 0 entendimento na segunda lei, ou diferen~a interior. Porem, 0 entendimento 0 perdia como Infinito ao tentar distribuir entre dois mundos hipostasiados a diferen~a absoluta (0 Homonimo que se repele, 0 Heteronimo que se atrai), tomando 0 movimento por evento, e as categorias acima por substincias. (Para n6s, fil6sofos, 0 objeto do entendimento e 0 puro conceito, ja que apreendemos a diferen~a como e em si, ou na sua verdade.) Porem, quando a consci8ncia atingiu pela primeira vez e de forma imediata este conceito, nio reconhece a si mesma em tudo que precede, e surge uma nova figura da consci8ncia, em que se julga algo totalmente distinto. Quando 0 conceito de Infinito e seu objeto, a diferen~a que esta na consci8ncia e suprassumida; e a consci8ncia e para si mesma 0 ato de distinguir 0 que nio e distinto: e consci8ncia-de-si. Eu me distingo de mim mesmo e, neste movimento e para mim imediatamente, que 0 distinto nao e distinto. Sou 0 Homonimo que me expulso de mim mesmo, sou 0 Heteronimo que nao difiro de mim mesmo. A consei8ncia de um outro ou de um objeto e necessariamente consci8ncia-de-si num outro. ,
.
,
A
CONCLUSAO Todo 0 processo desenvolvido ate aqui, onde a verdade parecia outra coisa que as figuras de consciencia examinadas, mostra apenas 53
que a consciencia das coisas s6 e possivel para a consciencia-de-si; mais ainda: que a consciencia-de-si e a verdade dessas figuras. Porem isso e verdade em si e para n6s, fil6s0fos. Nesta etapa a consciencia ainda nio chegou hi: s6 na Razio e que se da a ~ni dade da consciencia com a consciencia-de-si. Vemos pois que, no Interior do fenomeno, 0 entendimento s6 faz experiencia de si mesmo. Parecia no co~' elevar-se acima da percep~o e, atraves do fenomeno, olhar 0 fundo supra-sensivel do real; mas agora os dois extremos ou Interiores (0 que era visto e 0 que via) coincidem. Desaparecidos osextremos, desaparece 0 meio-te~o. Levantada a cortina do Interior, tudo 0 que la se descortlDa e 0 olhar que 0 contemplava. Se nio houver la dentro a consciSncia-de·si - alguem que veja - , nio ha mesmo nada para ver. Mas entio, por que tantas valtas? Porque nio era passivel chegar diretamente a este ponto, ja que ele e 0 resultado da dial6tica de todas as figuras que 0 precederam. 56 atraves desse movie mento, em que vio desaparecendo os modos de consciencia que sio a Certeza Sensivel, a Perce~o, o. Entendimento, e que se chega ao conhecimento do que a Consci§ncia sabe quando se sabe a si
mesma. :£ 0 que vamos analisar a seguir.
(B) ~IV
CONSCI£NCIA-DE-SI / Selbatbewusataein /
Primeira Parte INDEPEND~NCIA E DEPEND~NCIA DA CONSCI~NCIA·DE-SI
DOMINACAO E ESCRAVIDAO SumUio: Agora, 0 objeto coincide com a consciAncia que conhece sua verdade com sua certeza. - Cap. 1.· - Momentos cia conscti;ncia-de-si. A consciAncia-de-si d retomo, a partir do objeto trazido para 0 sujeito para nele desaparecer: portanto, e deseJo. E 0 objeto do desejo d 0 ser vivo, por ter estrutura hom610ga a da consciAncia: d renexo dela soble si, a seu modo. Tambdm a Vida, ern sua torrente infinita, ultrapassa e dissolve todas as determinaQ6e8 e diferenoaa. Nada pordm satisfaz a inquietude do desejo en,quan· to nio encontra outro Eu - urn objeto que de seu lado opere a mesma ope~ que 0 sujeito. Ali enfiril se encontra, ou seja: se reconhece, poia urn faz no outro 0 que faz em si masmo;. mais ainda: fazem urna ope~ comum, que constitui a ambos como consciAncia-de-si. - cap. 2.· - DIaletica do SeDhor e do Escravo. Pordm 0 primei· ro encontro de ambOs nAo e uma identificaQlo amorosa, mas uma luta de vida ou morte. cae:la consciAncia-de-si quer provar que d autAntica consci~, no desapego da vida corpOral. Uma abdica para conservar a vida: 0 escravo. A outra emerge como autAntico ser-para-si: 0 senhor. 0 Senhor goza dos bens; 0 escravo os produz. 0 8enhor d para-si; o escravo d para-outro. Contudo, no medo absoluto, ja surgia o movimento que ia elevar 0 escravo; pois, ao desmoronar tod~ 0 contelido da consciAncia natural, ele ja. comeQ81'a a ser para-s1; depois, no trabalho, dando sua forma ao objeto, tambdm Be forma e se encontra como consciAncia-de-si, pa1'Hi.
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55
INTRODUCAO
2.
Antes, a consci8ncia tinha um objeto distinto dela: 0 dado da certeza sensivel; a 'coisa' da percep~io; a 'for~a' do entendimento. Pareciam subsistir em si mesmos; porem, a experiancia da consciencia veio a revelar que na verdade eram para-Outro: sua verdade nio estava neles e sim, na consciencia. Agora, a consciencia examina sua pr6pria certeza: seu objeto coincide com sua verdade. Com efeito: sendo 0 objeto 'aquilo que e para outro', quando a consci8ncia e objeto para si mesma, nesse caso coincidem ser-para-outro e ser-em-si. 0 Eu e 0 conte11do da rela~o, como tambem 0 relacionamento; 0 que se op6e ao outro e o que 0 ultrapassa; s6 que entio e a si mesmo que se opOe e que ultrapassa.
Contudo, como consciencia-de-si, a consciencia e movimento de retorno, a· partir do ser percebido e sentido, sobre si mesma. Aeontece POl'em .que quando chega ai e toma a si por objeto, na tautoI08ia sem movimento do 'Eu sou E\l', ao suprassumir a diferen~a, se suprassume tambem como consciancia. Precisa do outro, da diferen~a, e mesmo da "extensio integral do mundo sensivel" para daf realizar 0 retorno sobre si e absorve-lo na sua identidade, que nega tOOa diferen~a, enquanto 'consciencia-de-si'. A verdade do mundo sensivel e ser fenOmeno: mundo marcarlo. com sinal negativo, 56 ganha sentido e consistencia quando a inteligencia 0 engloba na sua identidade consigo mesma. Ora, este movimento e precisamente 0 movimento do desejo: portanto, a consciencia-de-si e desejo, ja que vai em busea do outro para poder ser, e 0 destr6i como outro, dissolvendo-o em sua pr6pria identidade. o desejo e, pois, 0 movimento em que a consei8neia-de-si suprassume a oposi~io, ao produzir a identidade eonsigo mesma.
A Vida e 0 objeto do desejo da eonsci8ncia-de-si. (N6s, fil6sofos, sabemos que este objeto tem uma estrutura ho- . m6lO8a a da consci8ncia-de-si, ja que a Vida e um retorno ou reflexio do ser sobre si mesmo: objeto construido pelo entendimento, quando seu movimento resultou, de um lado, num em-si,ou Interior das coisas; e de outro, num para-si, a consciancia-de-si. Esta nio e nenhumem-si, mas um puro para-si: seu em-si e a unidade infinita das diferen~as, a qual 56 e unidade para a consci8nCia-de-si e nio para-si-mesma.) Quanto mais independente a consciancia, mais independente 0 objeto: portanto, sendo a consciancia-de-si unicamente para-si - e basicamente desejo - vai fazer a experiancia da independancia de seu objeto. E assim determina seu objeto, a Vida: sua essancia e 0 Infinito, como 0 "ser suprassumido de todas as diferen~as: puro movimento e repouso absoluto, essancia simples do tempo, identificando-se com a solidez compacta do espa~o". Neste fluido universal, que e a Vida, as diferen~as (seres vivos individuais) sio apreendidas como subsistentes; mas e a unidade dessa Vida ou fluido universal que Ihes da subsistancia, como se fossem membros de Urn organismo 11nico; a unidade universal existe como momento de nega~io dessas diferen~as singulares. A unidade da Vida, por ser infinita, se realiza na multiplicidado dos seres vivos, de tal forma que da singularidade de cada um deles se reconstitui a unidade do Todo. Com efeito, dizer que h8 seres independentes e dizer que sio para-si; ora, para-si significa reflexio ou retorno a unidade, a qual, por sua vez e cisio em figuras independentes, por ser Infinita. Quer dizer: 0 ser independente e para-si, portanto, determinado; e assim, nega~iio do outro, que tambem 0 nega. Negada a nega~iio da diversidade, efetua-se a volta a unidade, que existe no intima de cada ser finito, como momento da fluidez da substancia infinita. Ao diversificar-se dentro dela, 0 ser independente nega 0 ser-para-si que 0 define, porque e urn ato de cisio que 0 constitui. Em suma: a forma~io de figuras distintas e independentes e o processo da vida se interpenetram a ponto de serem a realidade .intima urn do outro: porque sio dois aspectos do mesmo movimento, onde 0 ate de articular e identicamente 0 ato de cindir e dissolver o articulado. A Vida e este circuito em sua totalidade: nio apenas urn dos momentos do cicIo (continuidade imediata, figura subsistindo discreta) nem 0 puro processo, ou cole~io de momentos; e todo 0 seu desenvolvimento, mas mantendo-se simples nele.
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CapiQJlo 1.° -
MOMENTOS DA CONSCIeNCIA-DE-SI
Com a consciencia-de-si, somos chegados ao Reino onde aVerdade e aut6ctone. 0 que nas figuras anteriores era 0 'objeto verdadeiro' da sensa~iio, percep~iio ou entendimento, agora nio passa de momentos da consciencia-de-si: abstra~s, que para ela sao 0 nada de evanescentes essencias e nio as realidades subsistentes que se 'afiguravam'.
t.
0 desejo
A Vida
3.
4.
0 outro eu
0 reconhecimento
A dialetica seguida ate aqui, partindo da unidade imediata, operou um retorno a uma nova unidade, ja que atraves dos momentos: forma~o de figuras e processo vital, obteve de novo uma unidade simples. Difere da primeira por ser reflexa, resultado que suprassume todos os momentos anteriores, e donde a Vida remete a outro diferente dela: precisamente a consciencia, porque 56 na consciencia a Vida e esta unidade reflexa ou para-si. Ouando a experiencia atinge este ponto, seu objeto ainda e abstrato: um puro Eu, como simples essencia. Tem de prosseguir seu movimento para ver 0 objeto se enriquecer de todas as determinayaes do processo da Vida. Vejamos como. A consciencia que adquire a certeza de si mesma atraves da suprassun~io deste outro, que se apresenta como indepel)dente, e desejo: a certeza da aniquila~o do outro vem a ser a verdadeda consciencia-de-si, como a1go objetivo. Porem, paraser suprassumido, 0 Olltro tem que existir como independente; tentando suprassumir 0 outro atraves de sua rela~o negativa com ele, a consciencia 0 reproduz como outro e se reproduz como desejo incans4vel. Como poderia encontrar seu repouso e satisfa~io? Com uma condi~io apenas: que 0 objeto, independente, tamb6m opere em si mesmo essanega~io; quer dizer: nio seja 56 um em-si, mas um para-si; consciencia-de-si e portanto desejo. Pois no fundo, 0 que a consciencia deseja e outra consciencia-de-si, outro desejo; e 56 quando 0 encontra se satisfaz. Era issa que postulava quando constituia seu objeto como negativo; 56 quando esse objeto se negasse a si mesmo, estaria justificadasua certeza 'como verdade: na reflexio redobrada, na duplica~io da consciencia-de-si. 0 ser que e apenas vivo, ao suprimir sua diferen~a, suprime-se como ser; ao contr4rio, 0 ser vivo consciente e constituido pela propria negatividade. Temos agora uma conscieneia-de-si para uma consciencia-de-si. 56 deste modo ela se realiza efetivamente,' como unidade do seu Si como seuser-Outro. Com efeito, 0 Eu da consciencia nio e propriamente objeto para ela: objeto e 0 Outro, mas que pelo fato deser consciencia e tanto Eu quanta objeto. Nos, filosofos, vemos despontar aqui 0 conceito do Espirito; mais tarde, a consciencia vai fazer a experiencia do que IS este Espirito: substinciaabsoluta que, na perfeita Iiberdade e independencia das diversas consciencias-de-si, constitui a unidade de todas: um Eu que e um Nos, um Nos que e um Eu.
Vimos que a consciencia-de-si 56 IS para-si e em-si quando assim IS reconhecida por outra consciencia-de-si. Ora, ser atraves do recOo nhecimento, ter sua unidade no desdobramento implica que os mOo mentos sejam tomados simultaneamente como distintos e independentes; que os opostos sejam ao mesmo tempo afirmados, ou que a consciencia-de-si seja 0 contr4rio das determinayaes que a caracterizam. Analisemos assim a unidade espiritual em seu desdobramento, 0 processo do reconhecimenio. - Para que a consciencia-de-si seja, h8 outra consciencia-de-si, que surge como vinda de fora. Ouer dizer: a consciencia-de-si se perdeu, j4 que se encontra como sendo outro; porem suprassume esta alteridade ao Ihe atribuir a essencia de si-mesma. Trata-se de uma dupla suprassun~io: da alteridade da essencia independente e de si mesma, j4 que este outro e ela mesma; sendo uma duplica~io de consciencias-de-si, h4 uma dupla reflexio oll duplo retorno a igualdade consigo mesma porque a consciencia, retornando a si do seu ser na Olltra, ao reabsorv.er 0 seu ser que estava nela, deixa-a livre para operar seu proprio retorno. - Representamos assim 0 reconhecimento como opera~io de uma das consciencias; porem nio e deste modo que as coisas se passam. De fato, essa opera~o 6 tanto de uma quanta de outra, meIhor, e uma opera~o comum. J4 nio estamos no movimento do Deseio, quando 0 objeto apenas ficava diante da consciencia; agQra o objeto e realmente independente, a' consciencia 56 pode fazer a1go nele, se ele 0 fizer tamb6m. "0 movimento 6 pois unicamente 0 duplo movimento de duas consciencias-de-si: cada uma v! a outra fazer a mesma coisa que ela faz; executa 0 que da outra exige; faz 0 que faz enquanto a outra 0 faz tambem." - Mas j4 encontramos isso antes: foi no 'jogo de for~as' na ~o 'Entendimento'. SO que 0 processo agora esta transposto para dentro da consciencia: cada termo vive em si mesmo 0 que 14 contempl4vamos fora e 6 para 0 outro 0 meiOotermo' atrav6s do qual se relaciona consigo mesmo: "Eles se reconhecem' como se reconhecendo reciprocamente". Vejamos agora a experienciaque a consciencia-de-si faz deste reconhecimento: 6 urn processo que surge primeiro como uma desigualdade de duas consciencias-de-si: urna que 56 reconhece; outra que 56 IS reconhecida.
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Capitulo 2,° 1.
DIAL£TICA DO SENHOR E DO ESCRAYO
A luta de vida ou morte
dos lutadores. A morte e a nega~ao natural da consciencia, enquanto a nega~ao diatetica, que caracteriza a consciencia, suprime 0 que conserva e retem 0 que suprime: suprassume, como dizemos, Nesta experiencia, a consciencia-de-si fica sabendo que a vida the e tao essencial quanta a pura consciencia-de-si. . Antes, para a consciencia-de-si imediata, 0 Eu simples era 0 obJeto absoluto; agora, por esta experiencia, 0 objeto se cinde: de um lado, a pura consciencia-de-si; de outro, a consciencia que nao e para-si, mas para a outra, totalmente imersa no elemento do ser, como um sei' vivo qualquer. Os dois momentos sao essenciais e como a reflexao sobre sua unidade ainda nao se produziu como seu resultado",constituem duas figuras opostas da consciencia: uma independente, que e para si; outra dependente que e para a outra: o Senhor e 0 Escravo.
o ponto de partida, como sempre, e 0 imediato: a conSClencia-de-si na sua simplicidade e igualdade consigo mesma, excluindo o outro, toma por objeto 0 seu Eu singular. Oualquer outro que apare~a ja vira marcado com sinal negativo, nao the e essencial como objeto. Ora, 0 outro que surge e uma consciencia-de-si, com igual independencia; e a rela~ao que estabelecem as duas consciencias ainda imersas no ser da vida - pois como vida esta aqui determinado 0 objeto essente - e imediata: enfrentam-se como simples individuos, que ainda naose apresentaram um ao outro como consciencia-de-si. Cada uma, certa de si mesma - mas nao certa da outra - , nao possui a verdade em sua certeza, porque seu ser-para-si ainda nao se apresentou como objeto independente, ou seja, seu objeto nao foi ainda a pura certe~a de si mesma. 0 conceito de reconhecimento exige para tanto que cada um opere em si, para 0 outro, esta pura abstra~ao do ser-para-si: uma vez, por sua propria opera~o, e de novo, pela opera~ao do outro. (£ a abstra~ao 'absoluta': movimento que consiste em extirpar de si mesmo todo ser imediato e ficar sendo apenas 0 puro negative da consciencia igual a si mesma.) Apresentar-se assim e comprovar seu desapego da vida, demonstrando que nao esta preso a nenhum 'ser-ai' determinado. Como opera~ao do outro, isto significa que cada um visa a morte do outro; como opera~ao pr6pria, e pOr em risco a pr6pria vida. As duas consciencias se pOem a prova e se comprovam por meio de uma luta de vida ou morte. Tem de travar essa luta para elevar sua certeza a verdade - para sf mesma e para a outra - , mas s6 assim a liberdade se conserva, pois nao e um ser essa coisa imediata que a torrente da vida arrasta e dissolve. Arriscando a vida, prova que e um puro ser-para-si, para quem todas as coisas se poem como um momento evanescente, ate mesmo a propria vida. Um individuo que nao arriscou a vida podera ser reconhecido como pessoa, pOl'em nao atingiu a verdade deste reconhecimento enquanto reconhecimento de uma consciencia-de-si independente. Ouando arrisca a vida, 0 individuo visa a morte do outro: a vida alheia nao vale mais que a propria. 0 Outro tem de ser posto em perigo de vida para suprassumir sua alteridade: assim deixa de serconsciencia perdida nas esc6rias dos muitos modos do ser e da vida e adquire a pureza do ser-para-si, como nega~ao absoluta. Contudo, ao suprimir a vida, se suprime a .pr6pria verdade que se queria pOr em relevo: porque se elimina tambem a consciencia
o Senhor alcantra seu reconhecimento duplamente atraves de outra conscieneia: quando 0 escravo elabora a coisa e 'quando fica dependente de seu ser biol6gico. Em ambos os momentos, 0 escravo se revela 'inesssencial', por nao poder assenhorear-se do ser, nem chegar a negatrao absoluta. Porem justamente af cometra 0 movi-
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H
2.
A domina9io
.0
Senhor e a consciencia que e para-si; poremsua rela~ao conslgo se estabelece atraves de outra conscieneia, a qual se define como sintetizada (sic) com 0 ser independente, ao nfvel das coisas, objeto do desejo. 0 Senhor e um feixe de rela~s; s6 aeima ja mencionamos quatro: 1) imediata consigo mesmo, enquanto em-si-para-si; 2) mediata consigo mesmo, atraves do escravo; 3 e 4) imediatas: com a coisa, objeto do desejo; e com seu eseravo. Ha outras duas, rela~s mediatas, querequerem nossa aten~ao: 5) com 0 escravo, atraves da realidade independente, essa cadeia que 0 acorrenta, desde que nao conseguiu abstrair da vida no combate, enquanto 0 Senhor, desprezando a vida na luta, dominou a materia e atraves dela, 0 escravo. 0 combatefoi um silogismo em que 0 Serihor, dominando 0 meio-termo que dominava 0 eseravo, subsumiu este individuo; 6) com as coisas, por media~ao do escravo. Este, que nao ~eixa de ser consciencia-de-si, se comporta negativamente quanta a cOlsa que suprassume, porem nao a aniquila, antes a transforma pelo trabalho. Por conseguinte, a rela~ao imediata do Senhor com a coisa (0 desejo) se transmuda, por meio do escravo, em gozo: 0 escravo lida com a independencia do ser pelo trabalho; ao Senhor resta apenas gozar, 0 que e pura destrui~io da coisa e provoca a sa~isfa~ao que 0 desejo nao conseguira, dada a independeneia da COlSa.
mento da consc1enc1a escrava em direcio do reconhecimento: ja esta presenteo momento em que se suprassume como ser-para-si, fazendo assim. em si mesma 0 que 0 Senhor efetua nela. Outro momenta presente e 0 da opera~io comum das duas consci~ncias: o que 0 escravo faz e obra do Senhor, que e 0 'para-si' ou a pot~ncia negativa que, no escravo, reduz as coisas ao nada. S6 fica faltando um momento para 0 reco,nhecimento pleno da consci~ncia -de-si do escravo: que 0 Senhor fa~ sobre si 0 que faz no eseravo e vice-versa. Entio 0 processo se completara, pois, enquanto esta em estado nascente, 0 reconhecimento ainda e unilateral e desigual. Como 0 Senhor chega A certeza de si atraves de uma consci~ncia dependente, nio adquire a verdade de si mesmo, porque "seu objeto nio corresponde a seu conceito", 0 qual requer urna consei~ncia independente. Sua verdade e a consciincia escrava. Esta se apresenta como se fosse exterior; mas a domina~io mostra que sua ess~ncia e inversa do que pretende ser, tambem a eser~vidio vai implementar-se como 0 contr8rio de sua apresenta~io imediata: operando um retorno de consei~ncia repelida sobre si mesma, vai revelar sua aut~ntica independ8ncia. 3.
A escravidio -
0
medo
Tendo visto a consci~ncia escrava atraves da conduta do Senhor, examinemos agora 0 que e em-si e para-si. De inlcio, toma 0 Senhor por sua verdade; porem, ao fazer a experi8ncia da pura negatividade e do ser-para-si, ja tem a verdade em si mesma. Poi quando experimentou a angustia, nio de uma coisa qualquer ou de urn mavimento determinado, mas uma angtistia sobre a integralidade de sua ess8ncia, ao sentir 0 medo da morte, 0 Senhor absoluto. Entio dissolveu-se intimamente, tremeu em suas profundezas e tudo 0 que era fixo nela vacilou. Ora, essa fluidifica~io absoluta de toda a substAncia e a negatividade do para-si, da consci~ncia-de-si. Alem do mais, esta dissolu~io nio fica numa generalidade: e realizada efetivamente quando, pelo trabalho, vai eliminando um por urn todos os momentos singulares de sua adesio ao ser natural. 4.
A escravidio -
a forma~ (Bndung)
Contudo, 0 escravo ainda nio realizou para-si toda a verdade vivida no medo absoluto, na dissolu~io de todas as determina~s, que este implica. Diz-se '0 temor do Senhor 6 0 com~ da sabedoria'; come~ apenas, pois 6 pelamedia~io do trabalho que a consci8ncia-de-si vem a ser para-si no escravo. 0 desejo era um momento em que 0 Senhor se reservava a neg~io pura do objeto, e portanto o. sentimento, sem mesela, de si mesmo; mas, por the faltar
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o lado objetivo (a independ8ncia do objeto), a satisfa~io do Senhor estava sempre em estado de desaparecimento. 0 trabalho ao contr8rio,. e urn desejo refreado - 0 trabalho forma; a rela~ negativa ao.obJeto torna-se assim a forma do proprio objeto, e permanente, polS, ~ara quel? trabalha, 0 objet~ e independente. A opera~io format1va e, ass1m, 0 puro ser-para-s1 da consci8ncia, que, exteriorizado, passa ao objeto independente, onde a consci8ncia vai apreend8-lo como intui~io de si-mesma. A formtlfao, alem desse aspecto positivo (constituir 0 ser da ~nsci8nci~ ~mo substAncia), tem um significado negativo em rela~o ao pnme1ro momento, 0 medo. Ao suprassumir a forma do ~bjeto que trabalha, ~ consci8ncia esta destruindo a realidade objet~va estranha que a tinha apavorado, e desta maneira se torna, para Sl mesma, algo que e para-si. No Senhor, a consci8ncia escrava tinha 0 seu ser-para-si como um Outro; no Medo, seu para-si ja estava presente nela; porem e na FormtlfOo que 0 para-si se torna seu proprio ser para ela: e consei8ncia de ser em-si e para-si. Portanto, e no Trabalho, precisamente onde parecia exterior a si, que .se .descobre.a si mesma e atinge sua verdade de ser-para-si. Foram mdispensave1s, para chegar ate la, os dois momentos: sem a diseiplina do medo e obedi8ncia e sem a atividade formadora, nem se abrange toda a realidade do ser, nem se atinge a consci8ncia-de-si. Se nio experimentar 0 "medo primordial absoluto", sua opera~io formadora nio pode the trazer a consei8ncia de si mesma como ess8ncia, porque nio ficou com toda a substAncia contaminada pela negatividade. :£ precisoque todo 0 conteudo da consci8ncia natural tenha desmoronado para que a consci8ncia nio fique presa a um em-si dete~ina~o. e a liberdade rompa todos os grilhees. Sem isso, a consc1~nc1a nio pode alcan~ar a forma~io universal· fica restrita a uma habilidade particular, incapaz de dominar a e~s~ncia objetiva em sua totalidade.
Segunda Parte
LIBERDADE DA CONSCI£NCIA-DE-SI ESTOICISMO - CETICISMO - CONSCI£NCIA INPELIZ S1iDWio: Ternos agora a consciAncia que penu e que ~ Uberdade -
ja que seu objeto ~ ConceUo e nio Represen~. Apresenta·se' em t~ Flguras: estolC1smo, cetlcismo e consclAncia Infel1z. cap. I." - ES'l'OICISMO - ~ a primetra forma h1st6rica dessa consc1Ancla.
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_ 0 prlncfpto do estoiclsmo 15: tomar a racionalidade como en tl5rio do Bem e da Verdade. - a Critica ao estoicismo mostra suas limita¢es: 15 abstrato, formalista e nio leva a termo a negaQio de um outro, estranbo k consci6ncia. Cap..2,0 - CETICISMO - leva a termo a negac;io que 0 estoicismo encetara. ._ Opel'~ do ceticismo. ~ a primeira experi6ncia que a consci6ncia faz da dialt5tica como movimentoseu. Opera eliminando falsas independ6ncias, valores e sofismas; dissolvendo a todos no fluxo da negatividade da consci6ncia. _ Critica. Mas· 15 tambl5m prematuro, por nio ser resuItado de todo um processo; 15 pura inquietude da consci6ncia, mescla e oscUac;io entre 0 peSlo empfrico e 0 universal. Nie se encontrando, a consci6ncia naufraga na propria inC011$iSt&lcia. Cap. 3.0 - A Consci6ncia Infeliz (sunuirio adiante).
unidade indivisa comigo: em mim mesmo me movo em meus conceitos. Todavia, nesta etapa, a consciencia ainda se comporta como aquele homonimo que vimos antes: tambem se repele de si mesma, e se toma para si um elemento em-si; jli que se trata da consciencia pensante em geral, num estado imediato, que nio desenvolveu ainda toda a riqueza de seu ser multiforme. 1. 1. Na hist6ria do Espirito, esta manifesta~io da liberdade da consci8ncia-de-si e conhecida como estoicismo. Seu principio e: a consci8ncia e uma essencia pensante; uma coisa e boa e verdadeira para a consciencia quando a consciencia se conduz em rela~io a ela como essencia pensante.
No pensamento, 0 Eu (para-si) se objetiva, e 0 objeto se faz consciencia. Mas trata-se de um pensamento que e conceito e nio representa~io. Conceito e um em-si distinto, que, para a consciencia, se identifica imediatamente com ela; representa~s (figuras, entes) sio, na sua forma, um outro para a consci8ncia. 0 conceito tamb6m tem um contetido determinado, mas conceitualmente concebide: quer dizer, a consciencia permanece imediatamente cOnscia de sua unidade com ela. Na representa~ao, a consciencia precisa expressamente recordar que se trata de uma representa~io sua, quando 0 conceito e imediatamente para mim, um conceito meu. No pensamento, sou livre, nio estou num outro, meu objeto esm em
1.2 . Criticas ao estoicismo: 1.°) Abstrafao: embora nio ponha sua essencia num outro, nem na pura abstra~ do Eu, mas no Eu que tem 0 outro em si como diferen~a pensada, ainda assUn, a consciencia est6ica pOe sua ess8ncia em abstra~s. Sua Uberdade e indiferen~a quanto ao ser natural, quer dizer, abendonou-o a si mesmo e voltou para dentro de si vezia, pois 0 que deixou fora era justamente a plenitude da vida. Portanto sua liberdade de pensamento se reduz a pensamento de liberdade; nio e a liberdade vivida. 2.°) Formalismo: 0 individuo deveria ter-se mostrado vivo atraves da a~io; e atraves do pensamento dev:eria ter abarcado 0 mundo num sistema; porque e 56 expandindo-se que a a~io encontra um contetido para 0 Bem, e 0 pensamento, para a Verdade. Porem um conceito, separado como abstra~o da mtiltipla variedade, 56 tem em si 0 contetido que Ihe e dado. 0 est6ico, quando definia que 0 Bem e a Verdade "consistiam na racionalidade do pensamento", dava por contetido para 0 pensamento um pensamento sem contetido. 3.°) Neg~ao inacabada. Tendo retornado prematuramente a si mesmo, antes de realizar a nega~o absoluta do ser-outro, a consci8ncia est6ica nio pode ser mais que liberdade abstrata, jli que 0 outro continua nela na sua determina~ao propria, embora apenas como pensamento. Este ponto e importante para se entender 0 processo dialetico e, em especial, a passagem da consciencia est6ica para a cetica. 0 estoicismo nio levou a cabo a nega~io das determina~s de seu objeto, nio chegou a dissolve-las na simplicidade do para-si. Recolhendo-se antes do tempo a si mesmo, trouxe-as consigo como determina~ pensadas - mas determina~s, em todo 0 caso - que 'caem fora' da infinidade do pensamento, como entidades permanentes, insoltiveis no fluxo limpido da consciencia que se pensa a si mesma.
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INTRODUC}.O o Senhor, consciencia-de-si independente, se identifica com a pura abstra~io do Eu; e quando se cultiva e apreende a diversidade do real, nio Ihe atribui a independencia objetiva que tem. Assim, nio chega a realizar no seu Eu a plenitude da consciencia-de-si, a qual se distingue em sua· simplicidade e permanece igual. a si mesma na distin~o. o Escravo, consciencia reprimida para 0 interior de si, pelo trabalho se tom~ objeto para si mesmo, como forma da coisa plasmada, e intui no Senhor 0 para-si como consciencia. Porem ainda apreende os dois momentos (forma e para-si) como fora um do outro. N6s, fi16sofos, vemos que ambos sio identicos e que 0 ser-para-si que recebe a forma pelo trabalho nio e substancia diversa da consciencia. Surge aqui para n6s uma nova figura da consciencia, a consciencia que pensa. Capitulo 1.° -
0 ESTOICISMO
Capitulo 2.° -
0 CETICISMO
o ceticismo, ao contrario, leva a termo a liberdade do pensamento: 6 a sua experi~ncia efetiva. As determina~s, que na consci~nciaest6ica eram um outro (embora pensado), se encontram na consci~ncia cetica esvaziadas, porque 0 ser-outro se revela ai completamente 'inessencial' e dependente. Toma-se 0 pensamento aniquilamento do ser no mundo, na mUltipla variedade de suas determina~oes, ja que a negatividade da consciencia livre no seio da configura~io multiforme da vida nio 6 abstrata, mas real. Para n6s, fil6sofos, 6 claro que (no plano superior - 0 do pensamento - em que agora, se move a experi~ncia da consci~ncia) o estoicismo corresponde a rela~ Senhor e Escravo, no momento do simples conceito da consci~ncia independente: e 0 ceticismo, no momento do desejo e do trabalho, realiza~io dessa consci8ncia enquanto atitude negativa para com 0 outro. Porem a' consci8ncia cetica consegue reII1atar 0 que 0 desejo e 0 trabalho nio puder8II1, porque investe sobre as coisas como consci~cia livre e realizada em si mesma: como pensamento em ato, que por sua infinidade nio 'abstrai' das diferen~, por6m se toma todas elas, enquanto cada ser distinto se toma uma diferen~a da consci~ncia-de-si. 2. 1.
Opera~o
do ceticismo
Sua opera~o revela 0 movimento dial6tico que sio a certeza sensivel, a percep~io e, 0 entendimento; demonstra a inanidade dos valores de outras figuras da consci~ncia, nio 56 da 6tica que apresentava. as normas como mandamentos de um senhor ao seu escravo, como'tambem das leis naturais 'e conceitos cientfficos, quando essas 'abstra~s sio tomadas como determina~s em-si ou conteudos dlidos. A dial6tica ate aqui se afigurava algo que se abatia sobre a consci~ncia; com 0 ceticismo se torna urn momenta da consci~ncia-de-si: nio 6 uma ocorrencia, 0 ~esaparecimento da verdade e do real que deixam a conscrencia sem se saber como; agora 6 a pr6pria consciencia, que na certeza de sua verdade. faz desaparecer esse Outro que se fazia passar por real. 2.2.
Modo desta
oper~o
o ceticismo
opera isto' eliminando nie s6 a objetividade como tal. mas tambem a rela~o da canscieneia para com ela. que Ihe dava estatuto e valor de objetividade: deixa desaparecer a percep~io, com seus recursos soffsticos de consolidaro que vacHa. Atrav6s desta neg~o consciente de si, aconsciencia procura a certeza de-sua pr6pria liberdade, e a experimenta, elevando esta certeza a 66
verdade. Desaparece entio 0 determinado, ou seja, a diferen~a venha de onde vier - que se impae como algo de s6lido e imutavel, porque, na verdade, nada ha de permanente. Deve desaparecer necessariamente diante do pensamento, pois 0 que 0 faz distinto 6 precisamente nio possuir 0 seu ser em si mesmo, mas em outro. 2. 3 . Criticas ao ceticismo A consci~ncia cetica: 1.0) l! tamb6m prematura, nio nasce como um resultado que tivesse seu 'devil' atras dele; e uma experiencia da liberdade, mas adquirida e mantida por si mesma, ataraxia do pensamento que se pensa, e ao II1esmo tempoabsoluta inquietude dial6tica e certeza imutavel de si mesma. 2.°) Por isso, 6 mix6rdia desordenada: vertigem de confusOes que se gera a si meSII1a, mescla de representa~ sensfveis e de pensamentos, desigualdade e igualdade das mesmas diferen~as. E 6 tudo isso para si mesma, porque, entret6m e p,..oouz para si mesma tada essa confusio. Fica oscHando: ora se confessa consci8ncia empirica e por ela se guia, como contingente, singular, animal; ora se pro clama consci~ncia universal, igual a si mesma, negatividade de tada a singularidade e diferen~a. 3.°) E ~bra na sua inconsist~ncia: sellS atos nio correspondem a suas palavras, possui uma consci~cia dupla e contradit6ria, mant6m separados os p610s de sua contradi~io; 'pronuncia' 0 nada do ver e do ouvir, venda e ouvindo; nega os valores 6ticos, mas se guia por valores. Quando se quer examinar urn dos lados de seus 'pronunciamentos', salta para 0 oposto, tal esses adolescentes teimosos que, para contradizer seu interlocutor, tomam posi~io con· traria a que antes defendiam. A inconsis~ncia do ceticismo em rela~o a, si mesmo tem de desaparecer, ja' que 6 uma s6 consciencia que tem as duas modalidades. Do naufragio do ceticismo surge uma nova figura, que reune em si 0 que 0 ceticismo tinha separado: a consciencia infeliz. Capitulo 3.° -
A CONSCI£NCIA INFELIZ
SUllWio: A consci&ncia fnfeUz re11ne em si mesma separado.
1.
0
que
0
eeticismo tinha
~ uma consci6ncia" clndicla ou duplicada; retoma no plano do pensamento a dualidade de senhor e escravo, vivicla na mesma conaci&ncia. - ~ infeUz porque cindida e nio se dli conta cia ReconcUia· oiO que 8e opera dentro dela, POis jl1 ~ Espfrito embon
nio salba.
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2. A consclencla mutivele a consclhcla Imutivel. A consciAncia-de-si identifica-se com seu p610 inferior, mutavel; porem ao empreender a ascensio para 0 Imutavel,· jli 0 possui de algum modo; e 0 Imutavel, entrando na consci~ncia singular, assume sua condic;ao. 2.2. 0 relacionamento entre estas duas consciAncias passa por tr~s momentos: - a consci~ncia mutlivel e rejeitada pela Imutlivel por ser singular; - a exist6ncia singular e assumida pela Imutlivel, e passa a 'figurli-Ia'; - enfim, no Espfrito, lui 0 jllbllo da Reconcillac;io: a consci~ncia se encontra com 0 Imutlivel. 3. A eonsclhela em busca do Imutivel flgurado. Como 0 Imutlivel assumiu uma figura singular, a conscl~ncia passa a buscli-Io assim e nao mats sem figura. seu movimento apresenta t* formas de relacionamento ou atitudes: 3.1. 0 fervor devoto. A alma busea atingir pelo sentimento o Imutlivel figurado; mas como tal jli desapareceu, nos longes do tempo e do espac;o: s6 encontra 0 t11mulo vazio. Ao perder tambem este, 'cai em si'. 3.2. Volta a &9io. Assim, a alma devota pelo desejo, trabalbo e gozo dos bens da terra, agradecida, Be refere ao Benhor que doa tanto os bens quanto a capacidade de oper.los. Contudo, firmadas no Alem, a alma e as colsas s6 se relacionam superficialmente. Apenas na 'ac;io de grac;as', que parece negar a independaDcia, e que a consciAneia se eneontra em-si e para-si. 3.3. Pela mo~ a Razio. Bente-se entia rejeitada ao ponto de partida, mais longe do Imutlivel que nunca: ai identifiea 0 lnimigo, sua s1ngu1aridade, que passa a destruir nos seus Ultimos refUglos; e para tanto, Be 'mol'Mea': - Renunciall. vontade pr6pria, ll. posse dos bens, eao seu gozo. Preclsa de um meto termo que 8ubsuma sua vontade singular ll. universal, e encontra 0 Mlnlstro Med1ador, que pronuncia a rem1ssao e a reconciliaOiO. Porem a consci~cia continua infeliz, porque cindida, enquanto atribuir a um Alem a uniio daslngularidade e da universalidade que ela pr6pria como razio
operou ...
t.
Apresen~o
geral
dualidade, que a consciencia infeliz, cindida em nao pode atingir).
contradi~ao
intima,
1. 2. £ este 0 drama da consciencia infeliz: ter sempre, na unidade de sua essencia, a outra; ser expulsa imediatamente de cada urna, quando pensa ter chegado ao repouso da unidade. Seu verdadeiro retorno a si mesma, ou Reconcilia~o consigo, apresentara 0 conceito do Espirito tomando-se ser vivo e entrando na existencia. Ainda nao chegou a esta unidade.
1. 3 . Considera as duas consciencias como opostas e estranbas uma a outra; uma, e simples e essencial; a outra, multipla e inessencial. Identifica-se com esta ultima; porem, como tem consciencia do Imutavel, e 0 considera sua essencia, deve proceder a 1ibera~ao da mutabilidade e assim da-se conta de que os dois termos nao sao indiferentes, mas correlatos; contradit6rios, mas igualmente essenciais para ela. E esta consciencia fica sendo urn movimento contradit6rio, onde um contrario, em vez de chegar ao repouso no outro, 0 esta sempre reproduzindo como seu contrario. Jato e uma luta muito sofrida, onde s6 se vence sucumbindo; aqui atingir um termo equivale a perde-Io. Ser consciencia do contrario como sua essencia, e ser consciencia do proprio nada. Oaf, .a consciencia empreende a subida para 0 Imutavel: a consciencia e este movimento ascensional, portanto, consciencia de seu contrario. E 0 Imutavel que entra nessa consciencia 6, por sua vez, tocado pelo singular e s6 com ele se apresenta. 2.
A consclencia
mu~vel
e a consciencia
imu~vel
2. 1. Assim, a consciencia faz a experiencia do nascimento da existencia singular do seio do Imutavel e a experiencia do Imutavel no seio da existencia singular; com isto, se produz a unidade para a consciencia duplicada; porem 0 momento ainda dominante nela e o da diversidade dos termos que se uneltl.
1. 1. Esta nova figura da consciencia-de-si e para si mesma uma consciencia duplicada. Tem em si por urn lado, a consciencia liberta, igual a si mesma; e por outro, a consciencia da confusao e da 1nversio absolutas. Retoma num plano mais alto a dualidade Senhor e Escravo; s6 que os pap6is nao sao distribufdos por dois personagens, mas vividospor uma s6 conscicncia. (Nela estli presente 0 desdobramento da consciencia-de-si em si mesma, que e essencial ao conceito de Espirito: falta apenas a unidade desta
2.2. De tres maneiras a consciencia mutavel se une ao Imutavel: - de entrada, a consciencia singular se apresenta como oposta a Essencia Imutavel, rejeitada e condenada por ser uma existencia singular; - depois, 0 Imutlivel assume a existencia singular e esta se toma figura do Imutlivel; - enfim, a existencia singular se reencontra consigo mesma, como este individuo concreto, no Imutavel; e se toma Espfrito, no
68
69
jubilo da Reconeiliacio eonseiente de sua existencia singular com 0 Universal. 2.3. Na experieneia que faz a conseieneia (infeliz), surge 0 Imutlivel como sendo 0 da conseiencia e, portanto, afetado de eontradicio: e representado com a forma que a eonseieneia julga ter: eindido e para-si. Imagina um evento contingente a assuncio pelo I mutavel de uma existeneia singular, oposta a ele por natureza e que urn dia 'seeneontrou' nele. Ora, pelo fato de ter revestido forma sensivel, 0 momenta do 'A16m' permanece e at6 se reforea. Pareee que ficou mais perto, poretn na forma de um singular sensivel e opaco, com a rigidez das eoisas da natureza. Assim, a esperanea de tomar-se urn 56 com ele tern de fiear 56 na esperanea, sem realizaeio nem presenea, devido ao obstaeulo da contingencia absoluta e desesperadora que revestiu essa figura que 6 0 fundamento de nossa esperanea. Pellt natureza que assumiu - de ser singular existente - ocorre que desaparece no decurso do tempo e se situa nutn espaCO distante, definitivamente longe.
3.
A consciencia em busca do imut'vel fiprado
No comeco, a conseicneia cindida tendia a absorver a sua singularidade na esseneia Imutavel; depois, em vez do Imutavel nio-figurado, quer relacionar-se exclusivamente com 0 Imutavel figurado. A cisio agora atinge 0 proprio eonceito: e 0 movirnento da conscieneia vai ser urn esforco para unificar, na singularidade concreta, a exigencia de universalidade do Imutlivel; ou seja, para dar urn conteudo de unidade plena a seu relacionamento, inicialmente exterior, com 0 absoluto figurado. Este movimento e triforme, por abranger as tres relacOes que a consciencia mutavel estabelece com seu 'A16m' figurado: 1.0) como pura consciencia; 2.°) como cssencia singular, que enfrenta a reaHdade efetiva no desejo e no trabalho; 3.°) como consciencia de seu ser-para-si. Examinemos cada uma dessas modalidadcs.
3. 1.
0 fervor devoto
A. primeira vista, as rela~s nesta modalidade parecem invertidas: a conseicncia mutavel6 a 'pura'; e a Imutavel e 0 em-si fi8Oraelo. Porem, 0 Imutavel nio esta presente como e em-si, mas como e na conscicneia e para ela: trata-se de uma presenca imperfeita, ainda afetada de oposiCio. Mesmo nio sendo a autentica presenca - que deve antes provir de inieiativa do Imutavel que da cons70
eiencia - e um momento superior ao do puro pensamento; seja este 0 estoieismo que abstrai da existeneia singular em geral, seja o ceticismo, onde a singularidade vive sua contradieio inconseiente sob forma de movimento sem repouso. Para al6m desses momentos, a conseiencia infeliz aproxima e ajunta 0 puro pensamento e a singularidade; 56 que nie se elevou ainda ao pensamento pelo qual a singularidade da consciencia se reconcilia com 0 puro pensamento mesmo. Move-se na regiio em que ambos se tocam; melbor, 6 ela este contato, esta uniio da singularidade com 0 puro pensamento, porque para ela e que existem, para ela tambem 0 Imutavel e urns essencia singular. (Mas tern alga que nio e para ela: em-si, e para n6s fi16sofos, o seu objeto, este Imutavel que toma a figura de uma existencia singular, e ela mesmaj mas isso nio e para ela ... ) - Sentimento e desencontro Na modalidade que aqui assume a relacie, a conseiencia nie se conduz como pensante, mas vai em. direcio do pensamento como fervor devoto. "Badalar informe dos sinos, emanacio de c'lidos vapores, frases musicais que nio se expressam em conceitos". Mesmo quando encontrar seu objeto, sera como algo. estranho, porque nio elaborado em coneeitos. A alma devota e no seu intimo, puro sentimento: sente-se como cisio, movimento de nostalgia sem fim; tern certeza de ser conhecida por seu objeto, pois tambem e urn singular: porem sua essencia esta num Alem inating{vel - foge ao gesto que o quer abracar - melbor, ja fugiu. Onde 0 busea Dio se pode atingir. Procurado como singular, como objeto sensivel, ja desapareceu. Sob cssa forma, 0 que a consciencia vai encontrar eo· Sepulcro; este sim, e uma realidade sens{vel, mas que nie pode ser conservado; e a luta por ele tern de terminar em derrota.
3 .2.
A alma devota se volta para a afDo
A alma 'cai em si', e ve nisto 0 retorno ~ sua essencia cotno coisa singular. (N6s, fil6sofos, vemos que na verdade a pura alma devota a si mesma se encontrou e em si mesma se saciou; mas 0 objeto deste puro sentir, em que 56 a si propria se sentiu, surge agora como sentimento de si numa realidade independente). 1.
0 desejo e
0
trabalho
Esta volta (ou retorno) a si mesma se opera pelo desejo e pelo trabalho: a eonsciencia adquire a certeza interior de si mesma, suprassumindo e gozando as coisas extemas, ou seja, a Essencia sob 71
a forma de coisas independentes. Assim sucede porque a consci8ncia infeliz s6 sabe se encontrar como desejosa e laboriosa; nio se deu conta de que, para assim se achar, deve-se apoiar sobre a certeza interior de si mesma; nem que seu sentimento da ess8ncia e, no fundo, sentimento de si mesma. Mas como nio alcan~u a certeza desta verdade, seu intimo e a certeza cindida de si mesma. A seguran~a que the proporcionam 0 trabalho e 0 gozo e cindida tambem: segura mesmo, s6 esta de sua cisio interior. 2.
0 Mundo sagrado
A
opera~o
vem do alto
Tambem na consci8ncia ha um lado que 6 dom do Imutavel: sio as potencias e capacidades de que foi dotada (por ele) para que as utilize em suas opera~8. Assim, cada um dos extremos forma um anel que se fecha e se firma sobre 0 Imutavel: ambos se relacionam atraves de um elemento superficial que deles emerge. Porem, se· a ess8ncia Imutavel nio destacasse de si este fragmen10 para a consci8ncia 0 aniquilar; se nio estivesse no intima da consci8ncia, dando-Ihe 0 Poder de operar e de agir, nada sucederia. Por isso, em lugar de retomar confirmada em si mesma, de sua propria opera~io, a consciencia s6 reflete a opera~io da pot8ncia absoluta euniversal donde procede qualquer movimento, de qualquer lado que seja. 4.
A~io
de
A consciencia-de-si chega
3 .3 .
1.
Por outro lado, a realidade externa contra que. se volta nito e uma nulidade, servindo apenas para ser. suprassumlda e devorada: e tambem uma realidade partida em dois Peda~s: uma parte e uma nulidade. Mas a outra e um Mundo sagrado, porque 0 Imutavel, sendo Universal e conservando a singularidade que assumiu, tornou-se a significa~io de toda a realidade. Se a consci8ncia fosse independente e a realidade uma nulidade para ela, chegaria, no gozo e no trabalho, ao sentimento de sua independ8ncia; porem, como a realidade 6 figura do Imutavel, 56 pode goza-la e consumi-la porque o Imutavel abandona sua figura e a cede para que a goze. 3.
prazer. Sua a~io de gra~s e ainda sua propria opera~io, que contrabalan~a, em pC de igualdade, a gra~a recebida; e a excede, porque retribui um elemento superficial com a renUncia a propria ess8ncia. Assim, como desejante, operante, saciada e agradecida, e mais consci8ncia-de-si que nunca, ja que na propria remincia de si mostra-se oposta ao Imutavel, como exist8ncia singular, que e para-si.
gra~as
A consciencia 'da gra~as' ao Imutavel pela dupla doa~io que the faz: dos dons sensiveis que the deixa; de sua opera~io que dele procede. Sente-se 'obrigada' por is1o; e, se perde a satisfa~o de sua independ8ncia, ganha 0 sentimento de sua unidade com 0 Imutavel. Porem, ao abdicar a aparente satisfa¢io de sua independencia, a consciencia se realizou, de fato, como desejo, trabalho e 72
A
a raZQO
pela mortificafQO
afirma~o
A consci8ncia-de-si, que no come~ era sentimento interior, passou extemamente a a~io e ao prazer, onde fez a experi8nciade sua realidade e efielicia e donde regressa de posse da verdade de seu ser-em-si e para-si. Mas justamente ai identifica 0 inimigo (de sua unifica~o com 0 Imutavel): a sua propria singularidade. Para 0 fervor devoto, 0 singular abstrato era sentido como simples melodial na atitude seguinte, a consci8ncia podia esqueee-Io, quando absorta no trabalho e no prazer; mas, ao chegar a a~io de gra~as, que "parecia abater a particularidade da consci8ncia",estava, de fato, retomando a si mesma, como autentica efetividade. 2.
A
nega~iio
Compara entio sua pr6pria realidade com a Essencia Universal: frente a ela, nio e nada. Sua opera~io nada realiza; seu prazer se transforma em infelicidade; perdem todo seu valor universal e ficam restritos a singularidade onde a consciencia vai busca-Ios para os destruir. Vai desaloja-Ios em sua condi~io carnal: as fun~s naturais ja nio se exercem espontaneamente como coisas de nada e desimportantes para 0 Espirito. Agora se tomam 0 que ha de mais importante, 0 objeto do mais serio cuidado, por alojarem de forma conspicua, 0 inimigo. Porem, 0 inimigo renasce da propria derrota; neste corpo-a-corpo a alma se suja, mas ele se reanima. A consciencia que tem esss ideia fixa nunca se liberta. E ei-Iavoltada para 0 que ha de mais vil e singular, como uma personalidade encurvada sobre si mesma, sofrendo com a mesquirihezde sua a~io: ti~ infeliz quanta pobre. 3.
A
media~iio
Porem, no mais profundo de sua angUstia, surge a consciencia 0 Imutavel; a tentativa de anular a singularidade passa pela media~io do Imutavel, numa rela~io que e negativa en-
de sua uniio com
73
quanto mediata, mas produzpara a consciatlcia uma uniio positiva. Relaitio mediata e sempre urn silogismo em que dois extremos se conectam atraves de um meio-termo. Representando cada um dos extremos para 0 outro, 0 meio-termo entre a consciencia singular e 0 Imutavel universal e 0 Ministro de ambos. Tem de ser uma consciencia, tambem, dada a natureza da opera~o visada: a destruiitao que a consciencia empreende de sua pr6pria singularidade. 4.
assegura que esta reconciliada; mas suas palavras caem numa consciencia ainda cindida, que continua achando que sua altao e uma miseria; que seu gozo e uma dor, que s6 pode ser suprassumida num Mais-Alem. Ora este objeto, em que sua operaitao e seu ser, singulares, sio o ser e a Operait80 em-si, e apenas a representaitio da Razao: ou da certeza que a consciencia tem de ser, na sua singularidade, a totalidade do real.
A mortificaitio
Neste meio-termo, a consciencia se libera da aitio e do gozo enquanto seus: transfere para 0 meio-termo sua vontade, decisio, culpabilidade. Em contato com 0 Imutavel, 0 Mediador aconselha o que e justo: portanto: a) seguindo a norma alheia, a aitio nio e mais particular, da pessoa, nio provem de sua vQntade e decisio; b) resta 0 fruto. de seu trabalho; abdica tambem, renunciando a propriedade dos bens; c) e, para completar, renuncia ate ao prazer de desfruta-Ios, no jejum e na mortifica~o. 5.
A
consuma~io
Com estes tres momentos de rem1ncia e mais 0 momento positivo de fazer 0 que nio compreende, se priva de sua liberdade exterior e interior; a consciencia renuncia a seuEu, reduzindo-o a urna coisa objetiva. Foi a unica maneira que encontrou para escapar a fraude que contaminava ate sua aitio de gta~as, a qual, ao atribuir tudo a urn dom do Alto, ainda conservava a particularidade exterrta na posse e a interna na vontade propria. . 6.
A uniio
Tendo enfim consumado 0 sacrificio, sua opera~o nio e mais sua e estasuperada a condiitio infeliz que dela ~ltava. Porem a remissio que 0 sacriffcio opera na cOnSciencia e opera~ do Imutavel e nio unilateral (da consciencia). Igualmente.. abandonar a vontade pr6pria singular e identifica-Ia com a Vontade Universal do I~ut8vel, comunicada atraves do conselho do Ministro mediador. Nio obstante, a consciencia infeliz nio se da conta de que sua vontade se tornou a Vontade Universal ou em-si; de que sua renlincia a posse e ao prazer the trouxe 0 Universal: ela apenas retem 0 aspecto negative de sua operaitio. A unidade que atinge nio se torna conceito de sua opera~io, nem objeto de sua consciencia, a nio ser de forma mediata, - atraves do Ministro Mediador. Este lhe 74
75
(e, AA) ~v
RAllO / Vemunft / CERTEZA E VERDADE DA RAZAO
INTROOUCAO GERAL A SECAO V SumUio: 1. A consci6ncia agora reOOrna sobres! ~ , certa de ser tocia a verdade; mucia de atitude frente k realidade OOcia, porque descobre que tudo the pertence e assim 0 OUtro nio a am~.
Adota pois 0 idealismo, que em estado nascente temo defeiOO de ser imediaOO e abstraOO, por esquecer do processo de que resultou. 2. Em particular, as formulBQOes de Kant e de Fichte sic insatisfat6rias e terminam caindo no empirismo que quer1am evltar: um idealismo vazio nio realiza 0 que proclama. A rea~io plena de sua proposta passa por outro e mais longo caminho.
1. 1. 1.
CARACTERIZACAO OESTA ETAPA OA EXPERI£NCIA OA CONSCI£NCIA Reeapitula9io e transi9io
Agora, a 'experi8ncia da consci8ncia' chega ao momento em que a consci8ncia retoma sobre si mesm8, tendo identificado 8 consci8ncia singular com a ess8ncia absoluta, ou seja, sua certeza com a Verdade. Parece excessivo dizer isso da conscimcia infeliz, mas e preciso notar que: 1.°) :£ para n6s, fil6s0fos, que esta identifica~ao e evidente. A consci8ncia infeliz ainda representa 0 'em-si' como um alem de si mesma. No entanto, negande-se a si mesma - arrancando seu momento de 'para-si' e fazendo dele um Ser - esta de fato
77
suprassumindo sua singularidade na negatividade constitutiva da consciencia; ora, 0 singular suprassumido e 0 universal. 2.°) Ao nivel da experiencia da conscibcia, essa unidade e representada pelo Mediador, meio-termo daquele silogismo que anuncia a remlncia da consciencia singular, e a reconcilia~o do Imutavel com ela: e a sua verdade por ser a unidade dos dois extremos (que por isso ia nio sio tais) e, como e a consciencia que faz esse amlncio a si mesma, ela e a certeza de ser tOOa a verdade. 1 .2.
Nova adtude e novo Mundo
A consciencia que antes mantinha frente ao obieta uma atitude negativa e temerosa (por ver no ser-outro umaameaya, contra a qual procurava manter sua liberdade, as custas do Mundo e de sua propria singularidade, que se manifestavam como negayio de sua essencia), agora toma uma atitude positiva, urna vez que sabe que toda a realidade e ela mesma; seu pensamento IS que IS a realidade efetiva. Adota, assim, 0 Idealismo; e com a nova visio, IS como se enxergasse 0 mundo pela primeira vez. Antes nio compreendia mas deseiava e trabalhava - 0 mundo; au entio dele se retirava, recolhendo-se a si mesma, abolindo a realidade do Mundo e de si mesma como consciencia desta realidade (ou desta inanidade). Foi preciso perder 0 Sepulcro de sua Verdade, para abolir a aboliyio de sua realidade efetiva; 56 entio p&te assumir sua propria singolaridade como realidade verdadeira, e 0 mundo como seu novo mundo efetivamente real. Agora tem tanto interesse na perman!ncia deste mundo, como antes tinha em sua desapariyio; por ser uma presenya e subsistencia sua, por estar certa de fazernele uma experiencia de si mesma. 1.3.
0 principio do IdeaUsmo
o Idealismo formula seu conceito da Razio como 'certeza da consciencia de ser toda a realidade'. Ao surgir como razio, essa consci!ncia abriga esta certezade forma imediata, como tambem 6 imediata a f6rmula do Idea1ismo.: "Eu sou. Eu". 0 Eu, como obieto exclusivo, implicaa consciencia do ni~ser de qualquer outro objeto, de uma maneira bern mais radieal quenas figuras anteriores. Com efeito, a consci!ncia-de-si se constitui atravlSs de urn movimento· de retorno que reduzia 0 outro a urn obieto vazio; a consciencia livre (est6ica) .se retirava dos outros que, embora postos de lado, mantinham urna existencia paralela. Agora porem a consciencia nio IS apenas tada a realidade para si, mas tambem em si; porque se torna esta realidade, ou antes, se demonstra como tal. 78
Pois 0 Idealismo e 0 resultado que todo 0 movimento dialetico, percorrido ate aqui, produze demonstra: No decurso das etapas da 'certeza sensivel', da 'percepyio' e do 'entendimento', 0 ser-outro foi esvaziado como ser-em-si. Em seguida, nas etapas da consciencia-de-si, a demonstrayio se completou: 0 ser-outro deixou de set real tambem para-a-consciencia: foi 0 resultado da· diaIetica do Senhor e do Escravo, do pensamento est6ico da liberdade, da libertayio cetica e da consciencia infeliz. Foram duas fases e duas faces: na primeira, a verdade ou a essencia era posta no ser, ou em-si; na segunda, ela se determinava somente para a consciencia. Eis que agora se reduzem a uma verdade unica, onde 0 que e em-si e apenas e enquanto a e para-a-consciencia; e vice-versa. 1 .4.
Limi~· ~te
Idealismo em estado nueente Aconteee porem que a consciencia, quando surge como Razio, nio se lembra que tem todo esse caminho por detras; e somente certeza dessa verdade: assevera que IS toda a realidade, sem peIUlar conceitualmente esta asseryio. Ora, 0 caminho era exatamente sua iustifica~o conceitual: para quem nio 0 percorreu, tal asseryio IS inconcebivel, em sua forma pura, pois numa forma concreta ele por si mesmo chega la. o idealismo que comeya com tal asseryio sem mostrar seu caminho, nem conceber 0 que assevera, deixa subsistir ao lado desta certeza imediata outras tambem imediatas. "Eu sou Eu": todo mundo sabe disso, mas tem igualmente a certeza de que ha um outro para mim, e mesmo que s6 me afirmo como um Eu, quando me recolho deste outro, refletindo sobre mim mesmo. Para que 0 Idealismo seia nio apenas uma certeza mas a Verdade, IS preciso que a Razao emerja como reflexio a partir desta certeza oposta, nio como uma verdade ao lade de outras verdades, mas como a {mica Verdade. A manifestayio imediata IS sempre urna abstrayio: 56 0 momento presente, isolado do processo donde resultou. A essencia, 0 ser-em-si, IS a Conceito absoluto, isto IS: 0 movimento do seu ser-que-veia-a-ser (Gewordensein). A cada momento deste processo correspande a relayio da conscien.cia a seu obieto ou ser-outro: 0 E~pi rito do mundo, conforme a etapa em que se encontra, determina-se a slmesmo e a seu objeto. 2.
EXPOSICAO CRrTICA DO IDEALISMO DE KANT E FICHTE
2. 1.
A Cateloria e as catelorias A Razio e a 'certeza de ser.toda a realidade'; mas aqui se trata de uma realidade universal, ou seja, pura abstrayio de reali79
dade. 0 significado da Categoria e que 0 Ser e a Consciencia sio a mesma essencia. Porem antes se tomava a Categoria como a essencialidade do essente em geral (ou do essente. diante da consciencia); agora passa a significar a essencialidade (ou unidade) do essente enquanto efetividade pensante. 56 urn 'mau idealismo unilateral' colocaria de novo esta unidade como consciencia e frente a ela, urn em-si. 2.2.
Os impasses do Idealismo vazio
Com efeito, esta unidade simples da Categoria tern for~osamente em si a diferen~a, ji que pertence a essencia da Categoria ser imediatamente igual a si-mesma no ser-outro, ou na absoluta diferen~a: s6 que esta diferen~a, sendo perfeitamente transparehte 'fez de conta' que nem 6 difere~a. Esta, por sua vez, se manifesta como uma multiplicidade de categorias. 0 Idealismo assevera duas coisas inconcebiveis: que a unidade simples da conscieneia seja imedlatamente a essencia do real (sem passar pela 'negatividade que, 56, pOssui em si a determina~io e a diferen~a); e que haja na Categoria diferen~as e esp6cies, em numero determinado. Hi contradi~io intrfnseca nessas posi¢es kantianas: porque se 6 no puroEu que a diferen~a se origina, entio a imediatez, 0 asseverar, 0 encontrar devemceder lugar ao conceber. Apresentar uma multiplicidade de categorias (construld~ a partir dos jUlzos) como se fosse urn :achado', e ultraje a Ciencia: como nunca 0 entendimento poderia delllonstrar uma necessidade, se nio a pede mostrar em si mesmo, que e a necessidade pura? Se por6m se assevera que tanto a essencialidade das coisas quanta a sua diferen~a pertencem a Rezio, entio nio hi coisas propriamente ditas, ji que tudo Dio passa de categorias multiplas, que por sua vez sio especies da pura Categoria, seu genero e sua eSs8ncia que nio se contradistingue delas. Porem a multiplieidade contradiz a pura unidade da Categoria, que tern de tomar-se unidade negativa, para excluir de si as diferen~as: ei-Ia pois constituida em· singularidade, nova categoria que por ser exclusiva do Outre, implica que este6 para ela. ·0 Outro seriam as outras primeiras categorias (a essencia pura e a diferen~a pura). Comonum jogo de espelhos, a Categoria pura remete as esp6cies, que passam a categoria negativa (singularidade), que por seu tumo reconduz aquelas: uma Unidade que remete ao Outre e dali e recambiada; e urn Outre que quando e, ji sumiu; e quando some, e reproduzido.
80
2.3.
Idealismo, empirismo ou cedciamo? Desta forma, a 'pura consciencia' e posta de duas maneiras: 1.°) como vai-e-vem incessante, que percorre todos os momentos onde 0 ser-Outro flutila e some ao ser alcan~ado; 2.°) como calma unidade, certa de sua propria verdade. 5ujeito e objeto permutam altemadamente suas determina¢es reciprocas e opostas: quando a consciencia e busea inquieta, 0 objeto e. pura e calma essencia; e quando ela e Categoria simples, seu objeto e movimento de diferen~as. No entanto, a conseiencia e a totalidade do circuital sua esseneia exige que saia de si como categoria simples, passe a singularidade e ao objeto, suprassuma 0 objeto como distinto ao se 'apropriar' dele; e se proclame certeza de ser todo 0 real, ou de ser ela mesma e seu objeto. Esta primeira enuncia~io e abstrata e vezia; tal idealismo vern paradoxalmente a descambar num empirismo absoluto, porque para encher esse vezio vai precisar de um 'choque estranho', que nio 6 outra coisa que a m61tipla variedade da sensa~io e da representa~io. E temos um idealismo tio ambiguo econtradit6rio quanto o· cetieismo; apenas exprime pbsitivamente 0 que este exprimia negativamente, mas e igu81mente incapazde rejuntar seus pensamentos antinOmicos: no case, a PUra conscieneia como totalidade do real, e 0 'choque estranho' da realidade sensivel, como outra realidade de pleno direito. A 'Rezio pura' deste idealismo, para ehegar a esse ser-Outre que the 6 essencial, tem derecorrer a um saber nio-verdadeilO, ou seja, a certeza senslvel, a percep~o' e eo el1tendimento, apreendendo 0 conteudo de ambas, 0 que para ela nio tem validez alguma. Assume assim uma contradi~o imediata; afirmando como ess8neia uma dualidade contradit6ria: a 'unidade cia apercep~io'e a'coisa': chamem-na 'choque estranho', essencia empiriea, sensibilidade, 'coisa-em-si': vem a dar no mesmoconceito, sempre estranho aquela unidade da apercep~io. Conclusio Por que esse idealismo cai em tal contradi~io? Porque 0 que toma por sua verdade nie passa de urn conceito abstrato daR4zio. E assim, 0 real quando se Ihe.manifesta, surge· comoalgo qlle· nio e a realidade da Rezio, quando a Rezio devia ser toda.. arealidade. E a Rezio fica sendo essa busea sem repouso, que no ate de proeurar deelara impossivel afinal toda a satisfa~io do encontro. Ora, a Rezio 'efetivamente real' Dio e tio inconseqUente assjm. No inieio, apenas certeza de ser toda a realidade, ~te conceito sabe que enquanto e apenas certeza, e enquanto e apenas Eu, nao e a realidade em verdade; e e impelida a elevar esta eerteza a Verdade e a eneher 0 seu vezio.
2.4.
&1
Primein Pme
A RAZAO QUE OBSERVA SumUio: A RazAo reeumtna
0
conteUdo anterior cia consci6ncla sob
nova luz: quer descobrir-se na realidade multiforme; sua sede
de conhecimento t§ desejode melbor se conhecer. Agora a RazAo observa e expertmenta e nIo apenas coleta dados casua1s. cap. I:: 1. O~ cia Natureza. Querendo abranger a totaUdade das coisaa, a RazAo observa, c1assWca, promu!p leis e experimenta, para ter· a lei em sua pureza. . 2. Mas 0 estudo do orgAnico tem um· lugar de destaQue nesta busca que a RazAo faz de .. mesma no elemento do au: dotado de uma unidade 1nterna que rep suas reJao6es com 0 melo, 0 ser vivo tem uma f1nal1dade 1manente, que .s' sua ess6ncla; t§ de forma, cottee1to e retlezlo oode a consc1tnc1a. se espelha. 3. Contudo, a RazIo.que-ob8erva nio 00DIeIU8 encontrar DaB suas detenntne.c;c)ta um sJstema rac10nal de fliUrU, pols. 0 ser vivo J1iO t§ 0 universal concreto como 0 ser esp1r1tual. Como a RazAo nIo 18 encontrou de forma satisfat6r1a no eaitudo cia natureza. paua a observara ~ humana, esperando at encontrar-ee. . .
eerta
SENTIDO E ALCANCE DA OBSERVA~AO EM GERAL A consci6ncia observa, vale dizer; a Razio quer se encontrar como objeto no elemento do ser,como realidade e presen~ sen· sivel. No entanto, 0 conte6do explfcito destaconsciencia 6 experimentar a es&encia das coisas como coisas. Embera Razio, ela nio tem a Razio por objeto; por isso a chamamos 'instinto de Razio'. Com efeito, a Razio que surge dessa experi6ncia,surge imperfeita, como unidade imediata do eu e do objeto, por nio ter ainda passado pelo movimento dial6tico, que separa os dois Inomentos dQ Eu e do Ser, pera reuni-los numa unidade superior. Mas, embora pensando que atinge a essancia das coisas sens£veis em sua observa~, seu conhecimento racional contradiz essa impressio, porque transforma as coisas em conceitos, isto 6, num ser que 6 um eu; um ser que 6 ser pensado. um pensamento que 6 ser. (Isto vemos n6s, fU6s0fos~ a consciencia observadora ainda nio se ve, somente no final de seu processo e como resultado dele, 6 que assim vai encontrar·se). Passamos a examinar a opera~o da Razio que observa, em seus tres lDOmentos(observa~io da Natureza; do Espirito; da rela· ~io entre ambos como ser sensivel) que formam um 56 movimento onde a Razio se procura a si mesma como efetividade essente.
INTRODU~AO:
(APRESENTACAO GERAL DA RAZAO-QUE.OBSERVA)
Capitulo 1.0 -
Assim, a consciencia que se tomou Razio revisita 0 conte6do da certeza sens£vel e da perce~io. Por6m, voltou multo mudada: j' nIobusca a certeza do ser do Outro, mas a certeza de si· mesma no Outro. Agora observa e experimenta e nio apeD8s recolhe 1mPressOes contingentes. A certeza sens£vel e perce~ estio suprassumidas nesta consci6ncia que revela 0 conceito das 'coisas' que apareciam naquelas etapas anteriores: a saber, a pr6pria consctencia. O· interesse universal pelo Mundo 6 estimulado pela .certeza de encontrar ar sua propria p~e a .Razio precede como um conquistador plantando em todos os pmcaros e abismos os marcos de sua soberania. NAo limita, pois, seu interesse ao puro eu, mas procura eoriquece-Io pela intui~io de si mesma no ser multiforme: como realidade efetiv8, figura e presen~ em toda· a diversidade do real. Contudo, esse pl'Ojeto ambicioso nio chega a termo: a Razio nio se vera surgir ainda plenamente das profundezas do real, porque primeiro precisa realizar-se completamente em si meama, para depois fazer a experiencia de sua propria perfei~.
t.
1. 1. DescrifQo. Ficam na mem6ria, atrav6s da repeti~o, trarecorrentes que servem para identificar 0 objeto, distingui-Io dos demais e compara-Io com os semelhantes. Tipos, esp6des, g6neros ordenam os objetos indo e vindo do geral ao singular: trabalho inesgotavel e, no fundo, via: porque nio pode distinguir 0 necess6rio do contingente. Por tras de tudo isso, 56 est' mesmo a universalidade do eu abstrato; 6 a mem6ria que exprime de forma universal 0 que existe apenas sob forma singular.
82
83
OBSERVACAO DA NATUREZA
As Ciencias cia Natureza
o trabatho da Razio se manifesta na constru~ das ci6ncias da natureza, mesmo quando seus cultores adotam uma visio empirista ou fenomenista, pois tod~ 0 discurso cientffico tem necessariamente de expressar-se em universais. EStas ci6ncias partem da descri~, dar l classifica~ e em seguida l formula~o de leis e l experimenta~io que revela a lei na sua pureza. ~
1.2. Classi/icafiio. Procura-se entio escapar a dispersio sensivel, distinguindo, entre os caracteres, 0 essencial do acidental. 0 problema e saber se 0 que parece essencial para a consci8ncia e tambem assim para as coisas. 0 'instinto da Razio' recorre entio aos signos caracteristicos que participam dos dois mundos: 'unhas e dentes' distinguem as espeeies classificat6rias dos animais, mas tambem dividem e separam as bestas umas das outras ... Com as plantas se toma mais dificil, ja que elas apenas atingem os confins da individualidade e ai· se busca, de qualquer modo, distingui-Ias em esp&:ies. Com os inorginkos, entio, 0 problema e maior: os elementos isolados e os mesmos, em combina~io quimica ou ~io com outros, t8m classifica~o diversa. A dificuldade principal est' na fixidez que a classifiea~io exige, tanto no conhecimento quanta na realidade. 0 'signo caractenstico' 6 uma determinidade universal; portanto, unidade de momentos opostos. Ora prevalece a determinidade, ora. e 0 universal que se sobrepOe As determinidades e as mistura em transi9C)es indiscerniveis, em formas indecisas, onde nem mesmo a diferen~a entre a planta e 0 animal se v8 claramente. 1.3. As leis. Desta forma, a observa~io, que apenas enquadra a dispersio sensivel em universais, encontra em seu objeto a confusio de seu principio: 0 determinado deve perder-se em seu contrario. Isto e inevitavel, porquanto a fixidez e ilus6ria, as determinidades nio passam de momentos evanescentes. de um movimento que se dobra sobre si mesmo. A ci8ncia entio recorre a leis, que em vez de enunciar determinidades fixas, formulam rela9C)es entre os diversos momentos. Embora 0 'instinto da Razio'·· busque na lei uma efetividade essente, termina constatando que eia consiste numa absP'a~io da mente; e assim, 0 sensivel e abandonado no puro conceito de lei. Com efeito, a consci8ncia que observa pensa que a verdade da lei esta na experi8ncia, como 0 ser sensivel e para a consci8ncia. Mas se a lei Dio tivessesua verdade no conceito, seria contingente; e nem seria lei, por nio ter neeessidade. Isso nio obsta a que a lei se verifique na experi8ncia; muito pelo contrario: 0 que tem de ser t ·de fato, tem presen~a e efetividade. Nio 6 um puro dever-ser como alguns sistemas afirmam (sem no entanto conseguir iludiro 'instinto da Razlo'). Ha contudo um fosso entre a realidade empirica, factual e a necessidade conceitual da lei. Nio se pode passar de umapara outra por analogia, a qual s6 daria uma probabilidade e nio uma verdade cientifica. Da queda de algumas pedras nio se chega a lei universal da gravidade: e preciso que a consci8ncia nio apenas 84
atinja na experi8ncia 0 ser ou fen6meno da lei, mas que tambem, como Razio, forme em si 0 conceito (necessario e universal) da lei. 1.4. A experimentafOo. £uma pesquisa que se destina a descobrir as puras condi9C)es da lei: parece mergulhar a lei cada vez mais no ser sensivel, mas de fato a eleva a sua forma conceitual, eliminando toda a adetancia ao ser determinado. Por exemplo, a eletricidade positiva foi descoberta como 'do vittro' e a negativa como a 'da resina'. Atraves da experimenta~io, deixaram de pertencer a uma esp&:ie particular de coisas ou corpos. 0 predicado se libertou do sujeito. A fisica atual (1807) chama de 'rnaterias livres' essas entidades (eletricidade, calor, IOns) que concebe como universals, ou segundo 0 modo do conc~C'ito, por estarem presentes no ser sensivel e, ao mesmo tempo, desliaadas dele, movendo-se de forma independente. Nessas 'materias livres', a lei vem a tomar-se uma nova esp6cie de objeto, um objeto a imagem e semelhan~a do conceito. Este movimento de objetiva~io da lei se consuma no ser orginico, como passamos aver. 2.
AI CiSncias biol6gicas
2. 1. Um ser que re/lete. A lei rege os seres inorgAnicos determinando uns em rela~io aos outros; estes seres, no procesS() em que se determinam reciprocamente, se alteram e perdem sua propria determina~io. Ao contrario, num organismo: embora esteja aberto em di~io aos outros, tudo esta subordinado a sua unidade intema, que (, conserva id8ntico a si mesmo em suas intera9C)es com 0 meio. Com efeito, 0 ser vivo mantem estreitas rela9C)es com· 0 melo ambiente, nio otem apenas frente a si, mas, de certa fOrQ18, tamb6m representado dentro de si mesmo. A adapta~ que faz de seu ser ao meio e como uma fe/lexiio orginica. Nio se trata de uma conforma~io automatica, como se 0 ar determinasse as asas das aves e o frio, 0 palo dos animais: aadapta~io e feita com uma margem de liberdade, que possibilita a variedade imensa dos organismos vivendo num mesmo nicho ecol6gico. A causalidade eficiente nie oferece um esquema explicativo adequado quando se trata de seres vivos e assim a Razio observadora apela para a explica~o teleol6gica. 2.2. 0 problema da /inalitlade. Por6m, sendo ainda apenas 'instirito de razio', concebe a finalidade como algo extnnseQo, que se acrescenta a natureza do ser vivo; quando na verdade, esta finalidade imanente e a propria ess8ncia do organismo. 0 ser vivo 6 otganizado de tal modo que ele e 0 seu proprio fim: conserva-se a
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si mesmo na sua rela~o com tudo 0 mais, porque nele coincidem numa unidade e convergem num 56 ponto, os momentos que costumam encontrar-se um fora do outro: causa e efeito, ativo e passivo etc. Nao 6 apenas uma coisa que emerge como resultado de UJl1a necessidade: pois quando a coisa emerge de si mesma, 0 resultado est' no com~ como· projeto que desencadeia todo 0 processo. o ser vivo Dio produz outra coisa senio a si mesmo: elese conserva, quer dizer, 0 que vem a ser produzido 6 0 mesmo que produz e que, portanto, estava presente desde 0 com~. Por6m, a Razao observadora observa 0 ser vivo tal como surge da pefCeP9lo sensivel e pastula uma necessidade (teleol6gica) nos moldes do entendimento. Distingue assim um exterior e um interior; dentro, no intimo do ser vivo, estio as fun~s vitais que se exteriorizam nos sistemas pU aparelhos atrav6s doe quais se exercem e onde se podem observar. Se em vez de recorter a estes esquemas da cons.ei6ncia (perce~ e entendimento), a Rulo procurasse conceber 0 ser .vivo nos moldes da consciencia-de-si, veria uma natureza que 6 um conceito: nease ser vivo que retorna sobre si mesmo, 0 fim vem a recair no seu principio: 6 reflexio. E, como a consclenciade-si distingue-se de si meslWl sem se diferenciar, assim tamb6m o ser vivo. Portanto a consciencia, eneontrando-a, encontra-se ape.DaB a si JIlesma no ser vivo. ~ 0 que faz, sem se dar conta, 0 instinto da Razio. Merece mesmo 0 nome de instinto; como 0 insqnto dOl animals que ao alimentarem-se produzem apenas a si' meamos, tamb6m 0 instinto da RazIo, ao observar, 56 encontra a simesmo em sua busca. Mas enquan,to 0 animal se contenta e se satisfaz, 0 instinto da Razio, Dio se reconhecendo como consciencia de si. objetiviza e difereneia e vai prosseguindo sua busca.. : .
2.3.
0 exterior expressa
0
interior?
mento do ser, diferentes e observ'veis; mas que relaciona a realidade observada com seu conceito: os dois termos tern exatamente 0 mesmo conteudo. Ao legislar sobre 0 orginico, a Razio, em lugar de leis propriamente ditas, 0 que apresenta 6 0 'conceito da lei'; isto 6, a si mesma.
2.4.
A passagem do Universal ao Singular
- Genero, Esp6cie, Individuo Entre 0 interior concebido como unidade (0 g&lero, 0 conceito simples e universal Cia Vida) e 0 individuo singular (a figura,. que cal sob a observ~ medeia 0 universal determinado (as esp6cies, que sao como nUmeros). , A difra~ da Unidade do genero em universalidades formais· (ou diferen~s sem _neia) que sio as esp6cies, faz com. que a univetsalidade verdadeira (a do ganero, a Vida) se ponha do lado da individualidade, como sua _neia. interior. Efetua-se como \lID curto-eireuito, em que 0 Universal - a Vida - se preeipita imediatamente na singularidade do ser individual. -
0 silogismo da
figura~io
orginica
Para a Razio que observa a passagem da Vida universal a do ser vivo singular se faz atrav6s de um silogismode quatro termos. (Nio admira, pois, que a Razao nele se perea. e Dio oOnsiga reabsorver a contingeneia da Natureza no conceito). Osdois extremos deste silogismo sao: a Vida Universal, como genero; e 0 Individuo Universal, a Terra. Os meios-termos sio tamb6m dois: de urn lade, as esp6cles que se desenvolvem a partir do genero, (sistemas de conceitos e diferen~ indiferentea); de outro lado, 0 organismo singular, em que 0 Individuo universal faz valer sua propria ordem de diferen~, indepen4entea do· genero e em conflito com a sistematiza~ de diferen~ que dele procedem. Seu impaeto 6 tao violento que 56 de dentro dele a Vida consegue atuar. A resultante dessas duas series causais (ou vari4veis independentea) apresenta uma serie de lacunas e fracassos. figura~io
Recorre por isso 8quela distin~!interior/exterior', que j4 eneontr8DlOS ao estudar 0 entendimento. Distingue, por urn lado, a coisa (que, como j' sabemos, nio passa de conceito objetivado); e par outro lado (}4. que e instinto de Razio), bUIa instintivamente o conceito e 0 enC(,)ntra sob a forma de urn duplo da coisa: a sua finalidade interna. Distingue, do lado de fora, 0 que e fim e permanente no elemento doser: ps aparelhos ou sistemas (nervoso, muscular e genital); e do lado de dentro, a realidade intima do ser vivo, SUas fun~ vitais (sensibilidade, irritabilidade, reprodu~). Formula suas rela~s atrav6s de uma 'lei': "0 exterior expressa 0 interior". Estranha lei, que nio p6e em correla~io (como as leis que regem 0 Mundo inorginico) doistermos determinados no ele-
Como conseqiieneia do que dissemos, vemos que a Razao .56 se pode manifestar na realidade observ'vel como Vida em geral.
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8'1
3.
Conclusio
-
Recapitultlfao
Nas suas multiplas diversific~s, esta Vida nio consegUe apresentar uma organiza~io racional, ou seja, um sisteina de figuras fundado sobre 8i mesmo. Para tanto, seria preciso que 0 meio-termo daquele silogismo - a especie - tivesse em si a universalidade interior do genero; e 0 indivlduo singular possuisse a individualidade universal da Terra. Entio, 0 meio-termo seria, no movimento de sua realidade efetiva, a expressio natural da universalidade, 0 desenvolvimento sistematizando-se a si mesmo. Isso 6 0 que ocorre na consciencia, comoeste livro mostra: entre 0 Espirito universal e a singularidede espiritual, existe 0 meio-termo que 6 0 movimento das figuras da consciencia, quer dizer, a vida do Espfrito se ordenando at6 tomaMe Tudo. A hist6ria do Mundo 6 seu 'ser-ai' objetivo. Porem a natureza orginica nio tem hist6ria: de seu universal, a Vida, precipita-se imediatamente na singularidade do ',ser.a1', como vimos, e ali produz 0 'devir' como movimenlo contingente. Neste, a universalidade da Vida e daTerra 56 estio presentes como um ponto determinado; nao estio presentes como totalidade por lhes laltar 0 momenta da negatividade e do para-si constitutivo da consci6ncia.
-
Esfor~o
inconcluso
Na observa~io do orginico, a razio s6 pode intuir-se como Vida universal em geral, cujo desenvolvimento em sistelllas e s6ries nio sao acess1veis a p~rtir 40 desdobramento iJitemo do genero em especies; ela 56 alcan~ as determina~s que a Vida estabelece atrav6s das injun~simpostas pelo meio, a Terra. Esta descida abrupta da universalidade da vida orginica a realidade efetiva singular exclui tOOa media~io aut6ntlca.
-
Sucedt2neos sem valor
Por i$so a Razio fica reduzidaa supor a inten~o ou 0 capricho da Natureza, que passa a descrever sob a forma de embriio de leis, vislumbres de necessidades, engenhosas classifica~ e rel~s aparentes. Na 'verdade, quando se refere 80S seres do Mundo fisico, nio val muito al6m de asseverar 'uma grande influencia'. E quando tenta relacionar os organismos individuais com a unidade imanente da Vida orginica, 0 discurso 6 ainda mais pobre: notas argutas, correla~ interessantes, homenagens prestadas ao conceito.Tudo esfo~ vio ou sestos infantis.
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Capitulo 2.° - A OBSERVACAO DA CONSCl£NCIA-DE-SI EM SUA PUREZA E EM SUA RELACAO COM A EFETIVIDADE EXTERNA: LEIS LOGICAS E PSICOLOGICAS Sum8rio: 1 Leis L6glcas. A Razio comec;a por observar as leis do pen· . samento. pormn ao tomar como coisas 0 proprio movimen' to do esjnrtto, nio chega a entender seu objeto. 2 LeIs PslCoI6Pcas. Procura entia observar e catalogar as ou· tras attvidades do espfrito: tenta encont~ uma •correIaciO entre 0 espirito e seu Mundo. 0 Que produz t§ uma ci6ncia psicol6gica falba pela base, pois nio estabelece as leis Que pretende. o
INTRODUCAO A Razio observadora encontrou no mund~ inorganico 0 C?nceito sob a forma de ·leis; mas faltava-Ihe a slmplicidade refletlda sobre si mesma. Observando 0 Mundo organico, encontrou 0 Conceilo como Vida, que 6 simplicidade refletida sobre sl. mesma. Restava apenas encontrar 0 Conceito que tivesse 0 inovtmento do genero: 'que de sua propria universalidade se desdobra em m~entos e diferen~s, permanecendo para-si e i~entico nas suas~ reabza~s singulares. Este Conceito como Concello, a observa~o descobre agora quando se volta para a consciencia-de-si. 1.
OBSERVACAO DO PENSAMENTO PARA DESCOBRIR AS LEIS LOGICAS
A observa~io passa a se observar da mes~a forma q~e observa a Natureza: procura as 'Leis' que regem 0 pens~ento. Nao as to~a como leis da realidade, mas apenas do propno ,pensa~ento: nao thes atribui a verdade total e sim urna verdade formal. NlSso a Razio Observadora se engana, pois essas leis sio, no fundo, 0 proprio movimento puro do Concelto, que nio somente tem um ~~ tetido mas que 6 todo 0 conteudo. 56 nio 6 mesmo a extenon· dade ~nsivel; por6m 6 urn conteudo que 6 essencialmente a propria forma, ja que a forma e 0 Universal, separando-se em seus momentos
puros.
Essa forma (ou conteudo) parece um 'achado', um 'dado' para a Razio observadora, a qual imerge tudo que ~oca no ele~ento do ser: urn ser calmo, estruturado em rela~s faas, determmadas
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e ml1ltiplas. Ora, na verdade, essas 'leis' 16gicas nio passam de momentos evanescentes na unidade do pensamento; nem sio mesmo leis, senio 0 proprio saber ou movimento pensante. Porem, "a observa~io nio 6 0 saber, nem oconhece; ao contlirio, inverte a natureza do saber dando-Ihe a figura de ser, isto 6, coneebe sua negatividade somente como leis do ser". . Um desenvolvimento mais preciso desse ponto fica para a Filosofia Especulativa, a 'L6gica'. 2.
OBSERVACAO DO PSIQUISMO HUMANO EM RELACAO COM 0 SEU MUNDO
Depois de indagar as leis da atividade pensante, a Observ~o passa n.aturalmente a outras opera~s da consciencia: julga estar descobn~do .um novo objeto, ~is ignora que a unidade negativa da consclenCla - seu ser-para-S1- 6, a realidade, tanto das leis do pensamento, quanto da consci6ncia operante. Proeura caP!&r toda a multiplicidade das leis' que regem, de urn lado, 0 espinto; e de outro, os hibitos. costumes, maneiras de pensar, como outros tantos dados objetivos 80S quais 0 sujeito se adapta, --- quand~ nio trata de adapt'-los a si mesmo. No primeiro caso, nega sua singularidade em beneficio da universalidade; no OU~, •faz preva1ecer sua individualidade sobre 0 Mundo que encontra e ISSO de duas maneiras opostas: pelo crime que subverte essa realidade de forma apenas singular; au pelo herofs1nO que a transmud. universalmente e para todos, produzindo um outro Mundo ' uma nova otdem juridica e social em lugar da antiga. Causa espanto a multiplicidade de faculdades, inclina~ e paix6es que a psicologia descritiva encontra no espirito, tanto mais que eSSIl$ coisas Dio se manifestam como inertes ou mortas e sim como processos inquietos e inst'veis. Como pode, na unidade da consciincia-de-si, coexistir uma multidio de coisas contingentes e heteroclitas? 1.0 enumerar as diversas faculdades, a observa~ examina 0 lado da universalidade:aunidade reside entio na individualidade concreta. Descrever a diversidade dos individuos, classificando-os por seus diversos dotes. 6 tarefa menos interesiante que fazer a taxinomia dos insetos. Por outro lado, tomar a individualidade consciente como urn fen6meno singular no elemento do set, 6 esqueeer que a essencia dessa individualidade 6 a univenalidade do espirito. 90
A 'lei' cia individualiclade Porem, a Razio observadora busca algo mais: apreender, captar a individualidade sob a forma de universalidade, descobrindo a 'lei' que a rege. Tal lei seria a correla~· entre 0 individuo e seu mundo, quer dizer, suas circunstincias e situa~io. Parece que esses elementos se prestam formula~io de uma lei, por conterem algo de determinado, universal, presente e dado a observ~: e assim, junto com a individualidade, podem constituir os dois momentos da 'lei'. Ora, essa 'lei' deveria formular 0 genero de influeneia que as Circunstincias exercem sobre 0 individuo: mas nio consegue. Exige do individuo comportamentos absurdos face a sua situ~o: que se deixe tranqiiilamente compor, como um universal, com os universais das circunstincias: que aja como oposto a elas, subvertendo-as; que lhes seja de tod~ indiferente, nio atuando sobre as eircunstineias, nem deixando que atuem sobre Ii. De fato, 56 depende de individualidade 0 que vai influir sobre eIa e como; dizer que por tais influencias se tomou esta individualidade determinada 6 dizer que j' 0 era. Claro, nio fossem as circunstincias, si~, ertado do mundo, 0 individuo nio seria 0 que £oi. Contudo, para poder se partieularizar neste individuo determinado, 0 estado do Mundo deveria tamb6m se particularizar em-si e para-si, da forma em que se manifesta na. individualidade. Teriamos entio uma dupla galeria de quadros, sendo uma reflexo da outra: uma, representando 0 complexo das circunstAncias externas; outra, sua c6pia no seio da es&encia consciente. A super{{eie da esfera; e 0 centro que em si mesmo a representa. Essa superficie, 0 Mundo do individuo, tem um sentido duplo: 6 um Mundo (em-si e para-si) e 6 0 mundodo individuo: seja porque 0 individuo 0 acolheu em si tal e qual,1imitando-se a conhed-lo; ou entia porque 0 presente dado foi subvertido e transformado pelo individuo. De qualquer forma, 0 Mundo do individuo 56 pode ser coneebido a partir do proprio indlviduo e a 'influencia' nio significa mais coisa alguma, i' que 0 individuo tanto pode de~ que o curso da reatidade 0 inflUeneie., quanto pode desvU-lo. Assim desaparece um dOl momentos da lei - 0 que deveria constituir 0 lado universal - porque a individualidade 6 seu mundo, e 0 eirculo da propria oper~: a unidade do ser enquanto dado e enquanto construido. Os· dois. lados nio caemum ao lado do outro, como representa a 'lei' psicol6gica; e i' nio resta necessidade, nem lei.
a
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Capitulo 3.° - OBSERVACAO DA RELACAO DA CONSCI£NCIA-DE-SI COM A SUA EFETIVIDADE IMEDIATA: FISIOGNOMIA E FRENOLOGIA Sum'rio:
e uma falsa
ci&1cia, que nio consegue estabeleentre 0 corpo tornado como llnguagem exterior do espirito. 2. A Frenologla leva mais adiante as aberraQ6es da Razio que observa a consci&1cia-de-si; mas ao afirmar que '0 espfrito e urn ossa' revela 0 equfvoco bUico da Razio Observadora e possibilita sua 'coilversio'. 1.
A Flsiognomia
eer uma
correl~ e 0 interior
INTRODUCAO Verificando que nio ha lei que exprima a rela~o entre a consciencia-de-si .e 0 Mundo - dada a indiferen~ mutua dos dais lados - a observa~ refIui para a indiVidualidade enquanto totalldade ooncreta, conscicncia-de-si e corpo. 1.
A FISIOGNOMIA
Parte da id6ia que 0 corpo tem de ser uma expressio produzida pelo indivfduo, um signo no qual da a conhecer 0 que 6, pando em obra sua natureza originma. Encontra-se. aqui aquela n~ corrente; de que '0 exterior expressa 0 interior'. 0 interior atua: sua atividadeo manifesta, mas pode-se dizer que 0 expressa dema~iad~ e demasjado pouco. De urn lado, a atividade 6 0 proprio mtenor; de outro, enquanto obra consumada, 6 luna rea1idade livre edistinta do mterior. Devido a tal ambigiiidade, o. 6rglo em que 0 interior. esta unicamente como opera~io em ato, nio garante a expressio do interior, porque pode representa-Io ou nio. E se a figura exterior, exclufda a atividade, devesse significar 0 interior, recebendo-o passivamente, entio recairfamos na arbitrariedade do signa lingatstico, pois assim os sons podem significar qualquer. coisa por conven~lo; nio haveria lugar para nenhuma lei, ja que a conjun~io de momentos 6arbitrma. A Fisiognomia, peto menos, tenta correlacionar 0 exterior e 0 interior de urn mesmo individuo, que sio momentos unidos num eonceito,e assim Ie entende que procure uma 'lei' que os ponha om .rela~iio. Ha outras lalsas ciancias piores, como a astrologia e a quiromancia, oode 0 exterior se refere· a outro exterior au a algo estranho: a constela~o e 0 dia do nascimento; as linhas da mio e adura~iio da vida e seu destino. 92
Pode-se considerar, de outro ponto de vista, 0 6rgao como meie-termo entre 0 ato de operar e a obra realizada. As liobas da mio 0 timbre e 0 volume da VOZ, a deterlllina~iio individual da I~agem, a escritura manuscrita, sao um exterior em rela~io a personalidade, mas se comportam como urn interior em rela~io a exterioridademultiforme da a~io e do destino. Quer dizer: 0 individuo se exprime primeiro atraves de seu corpo e depois atraves de sua a~o no Mundo extemo. A expressio primeira e como uma linguagem do iildividuo consigo mesmo a respeito de sua opera~io; urn ser refIexo que se exterioriza e pode ser captado pelos outros. ~ distinto da oper~io e pode ser algo diferente, como se ~ pela fisionomia se 0 homem e serio no que faz ou diz. Porem essa expressiio, que caino elemento do ser, e absolutamente contingente P4!'a-a conscicncia-d~i: e urn signa; portanto, arbitrario. Um interior pode ter outra manifes~iio, como outro interior pode ter a mesma. A individualidade impregna sua figura, nela se move e fala; mas abandona esse ser refIexo em si mesmo e pOe a essencia na sua obra. Ora, a Fisiognomia pretende· conhecer 0 -verdadeiro interior, que se manifestaria melbor nos tra~s fision6micos, manuscritos etc., que na a~io concreta, ia que revelariam a eapacidade, a incltna~io; uma natufeta ·suposta'. Com isso enuncia 'leis' tio contingentes e subietivas como as do di81ogo do feirantecom a lavade.ra: .. ~ s6 eu annar a feira que vemchuva". "Eu tamb6m: basta pOr a roupa pra seear, e a chuva cai';. Quem diz a um homem de brio: "Procedes como gente henesta, mas esta na cara que nio passas de um canalha", anisca-se a levar Ulll soco na cara, que e alias, a uniea replica a altura ... o .verdadeiro ser do homem e seu agir; nele a individualidade e real e suprassume as duas 'suposi¢es' opostas em que se baseia a Fisiognomia: 1) 0 ser corporal calmo, ia que na ilfQo a individualidade se apresenta como essencia negativa, que 56 ~ enquanto suprassume 0 ser. 2) E suprassume tamb6m a inefabilidade do individuo - infinitamente determinado e determinavel --: na a~io consumada se· aniquila este 'mau infinito'. A a~o ~, e e isto: umcrime, um ato heroicoetc~; nio 6 signo. E 0 homem individual e 0 que ela 6: na simplicidade de seu ser, este homem e; para os outros homens, urna essencia ~niversal n~ elemento do ser e deixa de ser apenas urna essencla 'suposta. Cluerer explicar essa realidade por inten¢es oU inc1ina¢es, e voltar a conjeturas aciosas.
93
2.
A FRENOLOGIA
A Razi<>-
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.
rela~. A rela~o postulada se reduz, portanto, a uma harmonia privada de conceito (livre e preestabelecida), entre as determina~ respectivas dOl dois lados; e um desses lados tem de ser uma realidade efetiva privada e espfrito; somente uma coisa". Para escapar a essas constata~, a Frenologia reeorre a 'disposi¢es', ou a um .suposto ser originario do homem que 0 crinio expressa. Este homem, se nio ~ ~ assassino, tiOOa a 'disposi~o: de s6-10. £ como a lavadeit'a que diz: "Nio choveu quando estendl • roupe, mas hem que am~u chuva". Ma desculpa, que vem refuter 0 que queria estabelecer. Porem, a opiniio que diz 0 condo que pretende, e termina afirmando que, pelos 08S0S do crAnio algo ~ indicaclo mas tamb6m nio ~, vem revelar um pen8IIDC11to de £undo: de que 0 ser como tal nao faz a verdade do espfrito. 0 que ~, sem a atividade espiritual, para a consciertcia e uma coisa e nio a sua essencia; ~ tao pouco sua essancia, que antes, e 0 seu contrario. A consciencia 56 e efetiva para si mesma pelanega~io e aboli~io de um tal ser. Abjura~o total da Razio, fazer passar umosso como 0 'ser-af' efetivo da consci8ncia: ora, fu justamente isso quem considera 0 crAnio 0 exterior do espfrito. Nio adianta corrigir: 'desse exterior apenal se infere 0 interior', 'nio ~ ele proprio, mas ape~as u!Da expressio'. Porque, na sua rela~o mutua, do lado do intenor cal a determina~io da efetividade que se pensa e ~ pensada; mas do lado exterior, cai a determina~o da efetividade essente. Ao atingir .esse ponto, parece a Ruio que-observa ter chegada ao cumulo, a partir do qual deve abandonar a si mesma~ e efetuar uma reversio. Mas justamente porque essa etapa C aplor de todas, tanto mais necessaria e imperativa se faz sua 'conversio'.
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CONCLUSA.O Recapitulemos a dialetica ·da Razao que-observa. Na observaleis, onde 0 ser sensivel desaparece frente as puras abstra~s que constituem os momentos da lei. Essa. formula um processQ que como unidade nio wste no Ambito do mundo inorgAnico. No ser vivo, ao contdrio. a unidade exiate,no elemento da singu1ariza~ absoluta; 0 processo orgAnico 6 livre em, si mesmo, mas nio 0 e para-si: 0 fim existe como uma outra es&encia, como uma sabedoria consciente de si que estivesse fora do processo. "A Razio que-observa volta-se agora para essa sabed.?ria, ~a~a 0 espfrito - conceito existindo como universalidade, flm eXIstmdo como (im - e sua propria essencia e agora objeto para si mesma". Primeiro, considera 0 novo objeto em sua pure~; ~as por tomar seu objeto como um 'ser', as leis do pensamento sao VIstas ao
~ao do inorganico atingiu
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modo de rela~ permanentes, quando na verdade 0 conteudo de tais leis sao apenas momentos que. se perdem na unidade da consci~ncia·de·si. Passa a tomar entao por objeto a consci~ncia«-si, entendida como urn 'ser' singular e contingente e trata de. estabelecer correla~ entre a realidade efetiva consciente e uma efetividade inconsciente. A Fisiognomia observa 0 corpo como uma linguagem que expressa 0 interior do espirito, sem encontrar a necessidade requerida para a formula~ao de leis, porque todo sistema de signos e .arbitrario. Assim procura a observa~o urn ser' fixo e 56lido, e enunciaque a exterioridade, como coisa morta, constitui a efetividade extema e imediata do espirito. Com isso, restabelece 0 que ja, estava suprassumido desde, os primeiros passos 'da observa~io da natureza inorginica: que 0 conceito deva estar presente como urna CQisa. Com efeito, a enuncia~o: '0 Espirito e', 56 pode significar que 0 espirito e uma coisa; pois se 0 ser, au 0 ser-coisa sao feitos predicados do espirito, queira ou nio, 0 que se est' dizendo e que o espirito 6 uma coisa - 0 que se faz expressamente ao enunciar que '0 esplrito e um osso'. . RecuandouQl pouco mais, vemos ai urn resultado que completa a, dia16,t.ka da consci&lcia-de-si. A consci~ncia infeliz alienaya sua indepeJ,ldencia a ponto de converter seu ser-para-si numa coisa; regredia."sim da consciencia-de-si·l consciencia, cujo objeto e preci8amenteum ser, umacoisa. Por6m como a coisa e a consci&1cia-de-si, temos a unidade do, eue do' ser, ou seja, a categoria. Chegada .. essa altura, a consci!ncia tem a Razao, 0 que e bern diferente de saber 0 que e a Raziio. A categoria, unidade imediata do'Ser e do Seu, deve percorrer ambas as formas: a Razao que-observa 6aquela para a qual a categoria seapresenta sob a forma de Ser: seu resultado exprime como proposi~ao aquilo que e certeza inconsciente, 0 que esta incluido no proprio conceito de Razlo. Tal proposi~io 'a Si e uma coisa' e urn juizo infiriito que suprassume a si mesmo. Com isso, acrescenta-se l categoriaa determina~io de que essa oposi~io se suprassume: 0 juizo infinito e a passagem da imediatez l media~o au negatividade.. A categoria, que percorreu .a forma do seT naobserva~o, agora vai ser posta n. forma do ser-para-si: a consciencia Dio buSQ8 mais se encontrar imediatamente, massim, produzir-se asi mesma por meio de sua propria atividade. , Oresultado, a que chegou a Razio-que-observa, contem urna li~io que importa destacar. De fato, era "urna ignominia 0 pensamentonu, privado de conceito, que tomava urn osso pela efetividade, da consciencia. 0 conceito dessa representa~io, vema ser: 'a Razio e para si mesma, toda a coisidade, mesmo a coisidade pura e somente objetiva'. Porem, a Razio e isso no conceito, au seja: a
conceito, e 56 ele, e sua verdade.Quando 0 conteudo de um con· ceito, puro como esse, se degrada em representa~s tolas; quando o juizo que suprassume a si mesmo nao e tomado com a consci~ncia de sua infinitude, seniio como proposi~io permanente em que tanto sujeito quanta predicado valem de per sit entio a Si e fixado como Si ea coisa como coisa; onde, na verdade, urn devia ser a outro". A Razio, essencialmente Conceito, e imediatamente cindida em si mesma e em seu contrario; oposi~ao que e, por isso mesmo, imediatamente suprassumida. Apreende-Ia irracionalmente e apresent4-la como eIa mesma e seu contrario, fixada no momento singular de suadesinteg~o. E quanta mais puros forem as momentos da opos~o, tanto mais abrupta e a manifesta~io do conteudo, 0 qual, au e somente para a consciencia, au entio e enunciado ingenuamente por ela. Na ignorAncia dessa consci~ncia a respeito do que realmente diz, existe urn misto de sublimidade e de baixeza ...
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Squnda Parte (A RAZAO QUE OPERA) A EFETIVACAO DA CONSCI£NCIA-DE-SI RACIONAL POR OBRA DE SI MESMA CapItulo 1.0
-
TEORIA GERAL DA RAZAO QUE-OPERA
S1JDWio: A Razio que antes observava coisas, passa a conslderar sua propria aUv1dade esp1rltual: em prlmelro lugar, como Razio individual; em I8I\lida, como Rado universal; enflm, - quando a Ess6Dc1a esp1rltual chep ao mesmo tempo .' lUIB da conscl6ncla e a subBtanclalldade, - como esp1rlto. : A consciAncia-de-sl individual se vA reconhecida por outrano selo de urn povo livre: tS, 0 Mundo IWco, onde 0 indivfduo vtve lmerso no 'ethos' e costumes de urn povo Uvre; se lmplementa e 6 feliz. Na Moralldade, esU loDge dessa tranqtWa harmonia: ansela conqulstar a fellcldade CO~oduzlda por sua aQIo, posto que nio a encontra, (mala ou ) no selo da sua Comunida· de. Com efelto, a inquietude moral pode :lei' tomada como' se 0 caImo Reino da Eticlclade tivesse sldo perdido; ou entia, como se alnda nio tivesse sido atingido. 0 movlmento em sua direQio 88 ·D18Dlfesta nas tr6s flguras morals que examlnamos no capitulo j
I8IUlnte.
1.
ARTICULA~AO DA DIAL:£TICA DA RAZAO QUE-OPERA
No termo da Razao observadora, vimos a consciencia-de-si encontrar a coisa como a si mesma; e encontrar a si como coisa. JIi
nio era a certeza imediata de ser toda a realidade: 0 imediato fora suprassumido, a objetividade tomara-se wria tenue supedfcie, que abrigava a consciencia-de-si. 0 objeto entia e outra consc~ncia -de-si, sob forma de coisidade (ou seja, independente), mas a cons· ciencia-de-si sabe que Dio lhe 6 ·estranho; e' sabe que ele a reconhece. Ouer dizer que esta certeza de ter sua unidade no desdobramento de duas consci8ncias-de-si e n. independencia. de duas consciencias-de-si ja e esplrito? Sem duvida. Mas falta elevar esta certeza l verdade. 0 que a consciencia-de-si 6 em-si, precisa devir para ela. £ esse 0 movimento dialetico da Razio que-opera: urna efetivDfQo que passa pelas seguintes etapas ou momentos univerilais: assim .como 0 movimento da Razlo que-observa repetia no elemento da Categoria 0 movimento que aconsci&ncia executava no elemento do ser (Certeza sensivel, Perce~lo, Entendimento), assim tambem a Razlo que-opera vai por sua vez recapitular 0 duplo movimento .da Consci&ncia-de-si, passando da dependencia l liberdade da consci&ncia-de-si. Deste modo: 1.0) Como individuo, vai buscar e produzir sua propria efetividade num Outro. 2.°) Depois, consciente-de-si como Razio Universal, nela unifica toda a consci8ncia-de-si. 3.°) No fmal, 6 espfrito, essencia espirltual simples, transparente l consciencia e, aomesmo tempo, substAncia, lqual retornam .,... como a seufundamento - tOdas as figuras anteriores, que nla passam de momentos de seu devil'; que s6 no espfrlto t8m 'ser-af', efetividade e verdade. 2.
0 REINO DA ETICIDADE
Temos, pois, a consciencia-de-si reconhecida, que encontra sua certeza e verdad.e em outta consciencia-do-si livre. Nesta fase da Razlo quo-opera, 0 Espirito ainda est' como iIlterior, porem nele ia se vislwitbra oRemo daEticidade. Tratemos assim' de explicit4-1o como se • substincia ja tivesse chegado l maturidade. Para n6s, fil6sofos, 0 Conceito ja surgiue podemos com~ar pelo ponto de cl1egada. o Reino da Eticldade 6 a unidade absoluta doe individuos na sua realidade efetiva in~pCndente:umacomci~ncia-de-si, em si uniyersal:tio. certa deser efetiva em outraconsci&ncia, quanto esta 6 independente em rel'~o aela, como outra coisa. Mas nessa independencia, est4 consciente de sua unidade com 0 ootro: de forma que s6 6consci8ncia-de-si na unidade comessa ess&ncia objetiva. Essa substincia 6tica universal 6, imediatamente, conscibcia-de-si efetivamente real: 6 0 'ethos', slo os costumes de um povo. E a consci&ncla singular s6 existe como Uno, quando na sua pro98
pria singularidade 6 consciente da Consciencia Universal como de seu proprio ser; quando sua opera~lo e existir sio 0 'Ethos' Uni~ versal. .~ na vida de um povo que isso se realiza plenamente: ai, a Razio esta presente como a substAncia fluida universal, uma 'coisidade' simples e imut4vel que se irradia numa multidio de essencias pedeitamente independentes,como a luz celeste se refrata em inumeraveis estrelas. Sabem que sao essencias singulares e independentes pelo fato de sacrificarem sua singularidade e de terem sua alma e ess8ncia nessa substAncia universal, que 6 a opera~o dessas essencias como singulares, a obra porelas produzida. Ate as opera~ puramente singulares do individuo, referentes l satisfa~lo das necessidades de seu ser natural, para se realizarem, precisam do meio universal que 0 sust6m: 0 poder de todo 0 povo. o trabalho do individuo produz para todos, e suas necessidades sio satisfeitas pelotrabalho de todos. 0 trabalho singular j4 6 universal sem 0 ~ber; h4porem outro trabalho - este sim, explicitamente universal - que 0 individuo efetua consciente disso: 0 Todo· se tomaentio, como totalidade, sua obra; sacrificar-se por ele 6 recuperar-se de volta, a partir dessa totalidade. Dar-se 6 receber-se; aqui tudo 6 reciproco: a independencia ganha seu sentido positivo na neg~ de si mesma. . Esta substincia universal 6 a unidade do ser-para-outro (00 fazer-se coisa) com 0 ser-para-si: fala a linguagem universal nas leis e costumes de seu povo e os individuos singulares encontram sua expressio e se reconhecem nela. 56 no Espfrito Universalcada um tem a certeza de si mesmo e a certeza dos outros como de si mesmo. Realiza-se, pois, num povo livre a verdade da Razio, como presen~ do Espfrito vivo em que 0 individuo encontra sua essencia e cumpre seu destino. '"Por isso os sabios da antigUidade nos lega. ram a maxima: "Sabedoria e Virtude 6 viver de acordo com os Costumes de·, seu Povo". 3.
A ESSnNCIA DA MORALIDADE
No entanto, a Razio tem, necessariamente, de sair dessa con· feliz, porque a vida de um povo livre 6 a ordem etica real somente em-si (ou como um ser); por isso a substincia etica se encontra afetada de uma limita~o absoluta, como uma totalidade concreta de leis e costumes determinada e singular. Essa limita~io s6 6 abolida no momento superior, na consciencia de sua pr6pria ess&lcia, porque 6 s6 no conhecimento, e nio no ser imediato, que a substincia 6tica tem sua verdade absoluta. di~
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Alem do mais, a consci8ncia singular nip passava de uma
enquanto a substancia etica se esvazia e os individuos t8m de compreender, por si mesmos, sua universalidade e destino.
em seus momentos abstratos; 0 individuo ainda nao se dera conte de que e pura singularidade para-si. Uma vez que se conscientiza disso, tudo esta ~rdido: sua unidade imediata com 0 Espirito; seu ser nele; sua conflan~a. 0 momento dessa singularidade da consci8ncia-de--si esta no Espirito Universal como grandeza evanescente, que apenas surge, logo se dissolve nele, deixando somente na consci8ncia urn sentimento de confian~. Cada momento da ess8ncia deve, por seu turno, apresentar-se como ess8ncia: por iSso, quando vem a cena 0 momento da singularidade, 0 individuo enfrenta as leis e cos~es como se fossem teorias abstratas e irreais, enquanto o eu partlculare, para si mesmo, a verdade· viva. Pode--se, por outra, dizer que a consciancia-de--si ainda nao atin.giu essa felicidade da substAficia etica, do espirito de um. povo. Nesteenfoque, ao retornar da observa~io de si mesma, ainda se acha como es&ancia interior e abstrata; sem se atualizar como substAficia etica, persiste numa forma imediata ou singular. consci&1cia ou Razio plitica que percorre 0 Mundo rec6m-descoberto pela obser",~o, querendo nele produzir duplo· de si mesmacomo Ber e, desse modo, adquirir a consci8ncia da unidade de si mesma com a ess8ncia objetiva. A Razao pratiea ja tem em si a certeza dessa unidade; mas para fazer da oerteza verdade precisa tornarefetiva por meio de si meama, a harmonia do Si com a 'coisidade'. A Fe~ici~ade e uma unidade que tem de ser produzida por sua a~; o mdlviduo e impelido a procura-Ia no Mundo por seu Espirito. Para nOs, a verdade dessa consci8ncia-de-si racional e a substAfieia etica; para ela, porem, apenas come~a sua experiencia etica no Mundo. Comparemos as duas formula~s, que ambas dio conta dessa dial6tica: a prjmeira, diz que a Razao ainda nao atingiu 0 Reino da Eticidade; a Begunda, que ja 0 abandonou. Vejamos, ponto por ponto, as duas
b) Quanto as 'liguras da consd8ncia': 1..: essas figuras sendo 0 'devir' da substancia etica, a precedem; 2.&: ao contrario, asucedem, revelando a consci8ncia-de-si qual e seu destino.
confian~ compacta, ja que 0 Espirito nao se resolvera para ela
:e
um
c) Quanto aos 'impulsos naturais': 1..: perdem a imediatez e a rudeza, adquirindo oonteudo mais elevado no movimento em que a consci8ncia atinge sua verdade; 2.&: 0 que se perde e apenas a falsa representa~io da consci8ncia que colocava 0 proprio destino nesses impulsos. d) Quanto ao 'lim': 1..: a substAficia etica imediata e 0 lim desses impulsos; 2.& 0 lim e a consci8ncia dessa substAficia; e uma oonsci8ncia cujo conieudo e 0 saber dessa substAficia como sua propria ess8ncia. Tal movimento seria 0 devir da moralidade, que e uma forma~ao mais elevada que a substancia etica. 4.
TRANSICAO
a) Quanto· 80S momentoB: 1.~:, nao tendo ainda alcan~o a substAficia 6tica, para ela apontim os momentos da consci6ncia singular. A substAficia suprassume· em . IIUS unidade os momentos - antes tidos por v41idos em aeu isolamento - na sua forma de impulsos naturais, cuja satisf89io d8 lugar a novo impulso. 2.&: Como ja atingiu - mas ja perdeu - a felicidade de estar em sua substAficia, entia os impulsosnaturais se acham unidos a consci6ncia de seu fim, tido como verdadeiro destino e ess8ncia;
Na exposi~ao que segue, optamos pela 2.. formula~ao, quando nada porque parece mais consentinea a mentalidade de nosso tempo. Fazemos contudo a ressalva de que essas figuras, apresentadas como o 'devir' da moralidade (uma forma~ao superior ao 'Mundo etico' enquanto tal) sao, de fato, apenas um lado desse 'devir': 0 que concerne ao ser-para-si; e nao 0 outro lado, em que a moralidade jorra da substAficia mesrna. Portanto, esses momentos nao podem ser erigidos em fim, contrapondo-se a ordem etica perdida: com efeito, valendo aqui por seu conteudo espontAfieo, 0 'fim' a que apontam 6 a substAficia etica. A consci8ncia-de--si tem por objetivo neste movimento: dar-se efetividade como espirito singular e desfrutar dessa efetiva~ao. Tem por determina~ao: ser, para si, ess8ncia para-si-essente. Mas e~tao, 6 a negatividade do outro. No entanto, julga em sua consci8ncia defrontar-se com algo positivo, que tambmn ~, scm duvida; mas que tem para ela a significa~ de em-si-nao-essente. Portanto, apresenta-se a consci8ncia cindida, nessa eletividade encontrada e no lim (que alcan~a suprassumindo-a e convertendo em efetividade em lugar daquela). Trata-se de um movimento que se articula em t~s momentos ou Figuras: na 1", seu fim e intuir-se como este indivtduo singular
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posi~s.
em um outro e intuir a outra consci8ncia-de-si como se fosse ele mesmo; na 2", como resultado dessa experi6ncia, sobe de nivel: agora e lim em si mesmo,enquanto consciincia-de-si universal, passuindo a Lei imediatamente em si mesma. Porem,. ao cumprir esta 'Lei do CorafQo', experimenta que a essencia singular nio se mantem aqui, pois 0 Bem 56 se realiza atraves do sacrificio; na 3", a consci!ncia-de-si e 'Virtude'. 0 resultado da experi6ncia virtuosa, e que seu fim ja esta atingido, porquanto a Felicidade se encontra imediatamente na opera~o e 0 Bem e a oper~o mesma. Capitulo 2.° -
AS TRAs FIGURAS MORAIS
Sum6rio: 1.a
-
Prazer
&;
Neceuldadeo
0 1nd1vfduo Be desencanta
Saber da Verdade e 0 Arnor do Bem, e passa k bU8C& frene§ttca do Prazer: por*n, no fundo, 86 encontra a Neceuldade, e termina ident1ficandc>se com e1a, como 0 seu Universal. . 2.a - A. I,.ei do Cora9io e De1frlo cia PrenJaoIo. Quer qora imprimir a Lei que en.controu no fntimo de seu Coraolo, ao mundo real; mas, ao descer ao mundo, Be torna tAo perverso quanto ele, e entra em desvarlo. Para sa1r dessa, quer sacr1ficar sua pr6com
0
pria indiv1dualldade, pr1nc1pio de. todo 0 mal, k Lei Universal. 3.a _ A. Vlrtude e 0 Corso do Mundo. A Vlrtude empreende rea11zar tal sacrWc1o; todavia, e§ derrotada pelo Curso do Mundo, termina constatando que.' a Ind1v1dual1dade que dai vida e efettv1dade ao Universal. .
Primeira Figura: 0 PRAZER E A NECESSIDADE
como se fosse um fruto maduro ao alcance da mio. Ci6ncia, principios, leis, tudo se desvanece como nevoe sem vida.
2.
No entanto, essa busca do prazer difere do desejo, tal qual 0 analisamos antes. 1.0) Porque nio tende a eliminar a ess!ncia objetiva em seu todo, mas apenas sua forma de alteridade e independ8ncia; 0 que, para a coJisci!ncia-de-si nio passe de uma aparencia inessencial: sabe que seu Outro the equivale, e sua mesma ess!ncia e sua propria 'mesmice'. 2.°) Porque 0 desejo e seu objeto subsistem no elemento do ser (vivo), independentes e separados. 0 gozo do desejo, quando frui seu objeto, 0 suprassume. Aqui, porem, 0 elemento que da a ambos sua realidade particular e a categoria: um ser essencialmente representado; no casa, a consciencia da independencia. A consci6ncia-de-si nio toma esse separa~o como real, ja que reconhece no Outro sua 'propria mesmice'. No gozo do prazer chega l consci8ncia de sua auto-realiza~o numa consci6ncia independente, ou l intui~io da unidade de duas consci8ncias independentes. Porem, ao atingir seu fim, experimenta sua verdade: descobre que realizar 0 fim e suprassumi-Io. E assim, uma cODSciencia que em seu conceito e uma 'ess!ncia singular para-si-essente' nio se toma objeto para si mesma enquanto singular, mas justamente enquanto unidade de si mesma e de outra consci6ncia-de-si; portanto, como singular suprassumido ou como universal. 3.
1.
INTRODUCAO
0 PRAZER
A NECESSIDADE
Aconsciencia-de-si, certa de ser tOOa a realidade (a 'Razio'), tem em si mesma seu objetivo, embora, de inicio, como um objeto para si mesma e nio como um 'ser', pois esse ainda the parece uma realidade cstranha l sua. Seu primeiro lim e tomar-se c6nscia de si como ess!ncia singular noutra consci6ncia-de-si; ou fazer desse Outro ela mesma (como alias sabe que ele ja e, em-si). Quando se elevou do mundo 6tico e do ca1mo reino do pensamento ao seu 'ser-para-si', deixou para tr8s as ei6ncias da observ~ e as leis da etica: agora the parece sombra evanescente qual· quer conhecimento de realidade que Rio coincida com a eonsciancia-de-si. Nio the interessa a universalidade do saber e do agir: para ela a unica realidade valida e a consci6ncia singular. Como 0 Dr. Fausto, de Goethe, Ie lan~ na vida em busca da plena realiza~o do indivlduo que, em vez de construir sua felicidade, desfruta-a
o Praz~r satisfeito tem uma conota~o positiva, enquanto se tomou c6nscio de si mesmo, ao objetivar-se. Mas tamb6m, uma conota~o negativa, enquanto se 'suprassumiu' a si mesDlO. Ora, para quem 56 tioha expectativas de auto-realiza~io, tal experi6ncia traz um sentimento de contradi~io e aniquilamento, como se a 'ess!ncia negativa' 0 devorasse. Examinando essa 'essencia negativa', vemos que nio passa do 'conceito' do que a individualidade 6 em-si. Com efeito, individualidade &qui equivale a unidade imediata do ser-para-si e do ser-em-si; portanto, uma categoria abstrata. Representa, no entanto, um progresso comparado ao ser imediato e simples da observa~io, por abranger 0 seT-para.,i e a mediafiio. Atualizar-se, para essa individualidade, consiste em projetar 0 circulo das abstr~s que a constituem, do meio acanhado da subjetividade para 0 elemento mais amplo da objetividade. No lozo do prazer, 0 que a consciencia-
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-de-si objetiva como sua essencia ~ a expansio de abstra~ vazias: a pura unidade, a puradiferen~a e sua inter-re1a~o. Ou seja: 0 objeto que a individualidade experimenta como sua essencia nio tem conte6do algum. 'Necessidade','Destino', sio 0 nome desse vazio; nio se the podem determinar as leis, 0 conte6do, 0 resultado, ja que setrata do puro conceitoabsoluto intuido como ser; a rela~o simples e vazia (mas continua e inflexivel) cuja obra ~ apenas 0 nada da individualidade. Claro que a Necessidade tem de ser uma 'conexio s6lida', por ser um jogo de categorias inseparaveis que s6 tern. sentido em oposi~io com seus contrarios. Entia, a individualidade puramente singular, que no Prazer espe"rava fugir da toorie morta e lan~-se na vida, s6 conseguiu experimentar-se a si mesma como necessidade vazia e estranha. Nio faz experiencia da vida, mas da morte. 4.
CONTRADICAO NA CONSCI£NCIA-DE-SI
Nesta figura se da a passagem de um abstrato num outro: 0 carater abstrato e a ausencia de media~io levam a contradi~io para o fntimo da consciencia-de-si. Com efeito, ao passar do Um a UniY"llalidade, do puro ser-para-si'desvinculado dos outros ao seu contrario, 0 serem-si igualmente abstrato, 0 individuo leva' uma queda, onde a rigidez' de sua singularidade se pulveriza contra 0 chio duroda realidade efetiva. Ora, 0 individuo, como consciencia, 6 unidade de si mesmo com 0 seu contrario; assim essa queda 6 para-ele, ja que para ele sio seu fim e sua efetiva~io, como tamb6m a contradi~io entre a essencia para-ele e a ess6ncia-em-si. Ouer dizer, experimenta 0 duplo sentido da expressio "levar a sua vida": de fato, quando 'se leva' a vida, 0 que resta 6 a morte. A aus6ncia de media~ao 6 patente. Por uma inversao, passa imediatamente do ser vivo a necessidade morta. Num mediador, os dois termos se unificariam, como serla a .oonsciencia conhecendo nodestino, seu fim e seu agir; e 0 destino, neles. No prazer, a consciencia nio consegue unir a unidade coma universalidade, par-que 0 sentimento nie ~ capaz disso: s6 0 Pensamento, que 6 um puro Si e um Universal, pode realizar aunidade dos dois momentos.
em-si, ~ a Necessidade abstrata, representada como potencia puramente negativa, contra a qual a individualidade se despeda~a. o 6ltimo lampejo dessa consciencia consiste em perder-se na Necessidade, identificando-se com uma ess6ncia absolutamente estranha. Contudo, em-si, a consciencia sobreviveu a sua perda, porquanto 8 Necessidade e-a Universalidade sio sua propria essencia. A nova Figura que passamos a examinar ~ esta consciencia, que reflete sobre si mesma, sabendo-se como Necessidade. Segunda Figura: A LEI DO CORA9AO E 0 DELtRlO DA PRESUN9AO Esta consciencia sabe que tem em si mesma 0 Universal e a Lei (diz-se 'Lei do Cora~o' por ser dada imediatamente no ser-para-si da. consciencia). Figura mais rica que a anterior, devido a dettlfmina~io de um para-si, val~do como necessario ou universal. Seu objetivQ 6 trazer a efetividade a Lei que possui em si. Vejamos se a efetiva~o corresponde a esse conceito; e se a consciencia-de-si fara nela a experibcia .da Lei como sua esseneia. 1.
A LEI DO CORACAO E A LEI DO MUNDO REAL
Como a conscieneia nio reconhece, nas conseqtieneias de seus atos, suas proprias ope~, em vez de desenvolver nesta experienei~ sua verdade, toma-se um enigma para si mesma. 0 mesmo conte6do, ora intuido como ess6ncia da consei!neia, ora como objeto
Frente ao cora~io, a efetividade. Dentro do cora~o, a Lei. No inieio, s6 para-si, ainda nio efetivada; algo outro que seu conceito. A efetividade 6 constituida por uma Lei que oprime 0 individuo (i.6: uma ordem do Mundo violenta, quecontradiz a lei do cora~io) e tamb6m por uma humanidade oprimida por essa ordem, nio seguindo a lei do cora~io, mas submetida a uma necessidade estranha. Aqui reponta a oposi~io da Figura precedente: a eisia entre a Individualidade e sua Verdade; a opressio da Necessidade contra a Individualid~de. Para n6s, fil6sofos, a oposi~io anterior devia reaparecer nesta figura pois que dela precede. Porem, ignorante de sua origem,. ela julga tratar-se de um 'aehado'. o individuo tendea suprassumir a Necessidade que contradiz a Lei do Cora~io, e 0 sofrimento que provoca. Ao contrario. da frivols, Figura precedente, absorta na busca do prazer singular, agora o objetivo 6 s6rio e sublime: 0 Bem da Humanidade, onde coloca sua pt6pria felieidade e realiza~io. Julga inseparaveis seu prazer e a Lei, 0 bem singular e 0 Bem Universal; e s6 pode ser assim, na ilnediatez onde a Lei ~ a do Cora~io e 0 Individual 6 0 Necessario. Note-se a auseneia de media¢o, que seria a disciplina, conformando 0 individuo a Lei e produzindo a unidade de ambos: aqui 0 individuo 'indisciplinado' pretende realizar a perfei~io humana e 0 Bem da humanidade.
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5.
CONCLUSAO (Resultado da 1.8 Figura)
_ A Lei, ~~a· divina ou hurnapa, que se oponha l Lei do Cor~o, nao traz feltcldade l humanidade que se sente reprimida, quando obedece; e culpada, quando transgride. Nao e valida; deve perder sua forlta coercitiva e efetividade. 2.
INTRODUCAO DO CORACAO NA REALIDADE EFETIVA
Quando 0 individuo age segundo a Lei do Cora~io, esta se toma ordem universal; e 0 prazer, uma efetividade conforme l lei. Por6m, ao efetivar-se, a Lei deixa de ser do 'Cora~o': toma a forma de ser, 6 a poteneia universal a que este cora~o 6 indiferente. Quando se faz efetiva, a ordem deixa de ser sua; escapa-Ihe, torna-se hostiI. O. i?dividuo queria conheeer a Universalidade apenas como ser-para-sl IInediato e se desconhece nessa Universalidade em estado livre; contudo esta the pertence como sua opera~o. .Eis a contra(li~io: a opera~o 6 do cora~o singular, oposta l realidade universal; e no entanto, operar 6 necessariamente efetivar-se como realidade universal; 6 pOr sua esseneia como realidade efetiva livre. Ocorre que, ao tentar estabelecer como Lei universalmente vilida 0 conteddo singular de seu cor.~o, e bel-prazer, entra em conflito com os outros individuos que nie reconhecem essa- Lei como deles, e· passaa oonsiderar abomina1veis nio apenas a Lei rigida, mas tamb6m os cora¢es dos outros homens. . Ao postular uma universalidade imediata, uma necessidade do cor~o, essa conscieneia desconhece a verdadeira natureza da efetiva~io e da efieaeia: a efetiva~ como essente 6 em sua verdade 0 Univers~ em si onde ~bra 0 singular; a conscieneia em lugar de ter alt 0 seu ser, tem apenas a aliena~io de si mesma. A· consciSneia tWO se reconhece nela por tomar como necessidade morta 0 que 6 necessidade vivificada pela IndividualidadeUniversal: a Ordem Divina e Humana, vivificada pela conscieneia de todos} Lei efetiva dos cora~s. Nio obstante, ao querer realizar a lei do Cora~iio, 6 isso que a conseieneia experimenta, ja que atualizar-se56 signifiea para 0 individuo tomar-se objeto para si mesmo como universal. 3.
A REVOLTA DA INDIVIDUALIDADE OU 0 DELIRIO DA PRESUNCAO
Faz a experiencia de uma contradiltie intrinseca, porque 56 se reconhece na Lei deste cora~ie singular; mas ao mesmo tempo, ve que pela efetiva~o dessa Lei, a Ordem universa1mente valida Be tomou sua ess6ncta e efetividade. Issoa leva a um desvario, a uma perversiio intima. Ja seria uma 'loucura' tomar 0 irreal pelo real, e vice-versa. Por6m se trata de algo pior: a consciencia est4 des-
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vairada em si mesma e para si mesma, ja que, a partir dessa experieneia sua realidade efetiva se the tomou estranha, e enquanto real ~st4 consciente de sua irrealidade. Poderia haver desvario mai~ profundo? Um cora~o, que 56 pulsa pelo bem da humanidade, possesso furi080 de louca presun~o? . Para nie implodir, a conscieneia representa como. fora de Sl sua perversiio constitutiva e a e~ge num O~tro. Den~cla a C?rdem Universal como perversie da lei do Cora~o,. da Felicldade; .lDventada par d6spotas corruptos, ou padtes fanatlcos, para humilhar e corromper a humanidade iludida. . Mas entio a indiVidualidade 6 a fonte da perversio e nio apenas uma individualidade estranha e contingente, e sim a da propria consciSneia, ou seja, 0 'Cor~o', a singularidade na sua pretensio. de ser imediatamente universal. A opera~o vemapenas patentear a contradi~. 4.
CONCLUSAO (Resultado desta 2.. Figura)
Resulta assim dessa experiencia, nio somente que 0 cora~io 6 pervertido e pervertedor, mas tamb6m que a Ordem Universal 6 -pervertida e ambfgua. Com efeito: 1.0) de um lado, se apresenta como Lei de tOdos os cora¢es; protegida contra a de um individuo isolado, por nio ser necessidade morta,. e sim universali?ade espiritual: a ordem pdblica se mant6m pela vida mesma dos IDdividuos' conscientes que embora se queixem, sabem que sem ela perderiam tuOO. 2.0 ) ' Pore'm, de outro lado, essa 'Ordem' e 0 dominio da perversio: cada consci8ncia (cora~io) propOe sua lei, que e eontestada por todas as demais, e no conflito geral as leis se dissolvem. Ora, 6 isso que toma apateneia de 'ordem pdblica'; a suposta marcha regular e constante do 'curso do mundo' tern por conteddo 0 jogo, vazio de essencia, das singularidades que vern l tona para logo se dissolverem. Desse ponto de vista, 0 conteudo do 'Universal' 6 a individualidade irrequieta, para quem 0 efetivamen~e real nio te~ realidade efetiva, e vice-versa. Nio obstante, 6 ah, no ser-para-si do individuo, que est4 0 lado de realidade dessa ordem. . o enfoque considerado acima como 1.°, va nO universal ess&1eia calma'e est4vel - somente urn Interior, que pode nio ser nada, mas tamb6m nie chega a sernenhurna reali~~de efetiva scm suprassumir a Individualidade que usurpou sua efetiVldade real. Corresponde a uma nova Figura da consciSneia - a Virtude que possui a certeza de si mesma na Lei, na Verdade, no ~m -em-si Reside sua essSncia no Univ~rsal, ao qual deve sacriflear a indlvidualidade pervertida, a singularidade da consciencia.
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A tarefa da Virtude e dar ao Universal sua aut8ntica efetividade, suprassumindo a Individualidade, princfpio da perversio. Sendo assim 0 'avesso do avesso', a Virtude 6 uma volta II Ess8ncia que fora desnaturada no Corso do Mundo. A'Virtude vive e antecipa na F6uma efetividadeainda nio dada; morya-se por elevar tal F6 II presen~a visfvel, sem gozar os frutos de suas penas e do sacriffcio proprio. Definindo-se 'opera~io de luta contra 0 Corso do Mundo', ofim e ess8ncia da Virtude consistem em conquista-Io; mas 0 Bern, ao ser produzido ou trazido 1 existencia, extingue a opera~io da Virtude e a conseiencla da Individualidade.
Eis uma luta onde os combatentes tam por armas. sUas essencias, reveladas no confronto mutuo: para a Virtude 0 Universal e da ordem da Fe, do Em-si, ainda abstrato; presente na consciencia como urn lim, e no Curso do Mundo como um interior. Para 0 Curso do Mundo esse 'Bem' que a Virtude concebe, privado de sua efetividade, 56 pode surgir na luta como urn .ser-para-outro; um Bem abstrato, urn ser de rel~o,que precisa estabelecer sua verdade sobre. a repressio de seu contr'rio. 'Dons', 'Capacidades', 'Fo~', sio os DOmes dados a tal Bem ou Universal que necessita do princfpio daIndividualidade para ter efetividade. A consciencia virtuosa sabe utiliz4-lo bem; porem 0 Curso do Mundo 0 desperdi~, pois 0 Indiyfduo ali usa e abusa de seus talentos, como se fossem materia ou instrumento inerte, ate para sUa propria destrui~o. Como eapera a Virtude veneer 0 Curso do Mundo, se· as armas siD as mesmas do advers4rio (for~ e capacidades)? A Virtude !em urn recurso de reserva: a Fe de que, no fundo, seu proprio objetivo e a ess8ncia do Curso do Mundo se ldentificam e que essa unidade deve ao fim e ao cabo, reduzir 0 inimigo· e absorv&-Io.· Mas entio, para que as andan~ do Cavalelro da Virtude? Nem ele se toma a serio: sabe que est4 blefando. A arma, lan~ada contra o inimigo, nio pode atingi-Io sem ferir qlle1l1 a ati,rou.. AliU, a Virtude nem quer atingir 0 Bem no adversarlo, pols luta para sua preserv~io. Ouer destruir apenas 'dons e quaUdades indiferentes', sem ver que 0 Universal e justamente isso. A propria luta efetiva o Universal, ao fazer com que seja tambem para-outto 0 que era somente para-si. Com efeito, na separa~io dos dois tennos, 0 Uni. versal se tamava uma abstra~io; agora, na luta e por ela, entram os termos em contato e em ambos, 0 Bem (ou universal) se efetiva. A Virtude e aquele lutador, cujaunica preocup~io no .combate e manter intacta sua 'eapada; como se 0 objetivo da luta fosse preservar suas armas e as do adversario, por serem tOOas partes nobres do Bern. pelo qual se enoou em combate. o Curso do Mundo, ao contrBrio, goza de total ,Uberdade na lute: para ele, nadae' tabu, tudo pode arriscar, porq\iaIlto a individualidade e um princ£pio negativo, para 0 qualnadae subsistente, nem em-si. Tudo 6 para-ele; inclusive 0 Cavaleiro da Virtude, como urn momento que pode ser co.rvado.ou jogado fora. Em via aposta a Virtude numa eventual emboscada ondeo Bem iria collier 0 Curso do Mundo: esse, de tiD 16cido e alerta, nio pode ser surpreendido pela retaguarda, ja que tu40 e. para-ele, Irente a ele. Nessa luta, pois, 0 Bem (ou Em-si) e..para seu adversano - 0 Curso do Mundo - e de tal forma que, abstraindo dessa
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Terceii'a- Figura: A VIRTUDE E 0 CURSO DO MUNDO Situemos a nova Figura· em rela~io lls anteriores. Todas equacionam 0 problema das rela¢es entre 0 indivfduo e 0 universal, mas de maneira diversa. No 'Prazer e Necessidade', a consciencia-de-si era a individualidade pura enfrentando a Necessidade vazia. Na 'Lei do Cora~ao', cada elemento da antitese possuia ambos os momentos, Lei e Individualidade, presentes nocora~o em sua unidade imediata, mas opostos no mundo. Agora, na 'Virtude e 0 Curso do Mundo' cada um dos p610s e unidade e oposi~ entre os dois termos, que se movem em rela~io urn do outro, embora em sentido oposto. 1.
VIRTUDE E CURSO DO MUNDO: Contrastes e Confrontos
Na consciencia virtuosa, a Lei e 0 essencial, a Individualidade, o que deve ser suprassurnido (tanto na consciencia quanto· no Curso do Mundo). A disciplina $ubmete a cori8e~ncia-de-si ao Universal, ao Verdadeiro, ao Bem-em-si, desprendendo-o de toda a singularidade. No Curso do Mundo sucede 0 contr'rio: af a individualidade se faz Ess8ncia e submete 0" Bern e 0 Verdadeiro. No Curso do Mundo, a Individualidade busca seu proprio prazer, e assim, sua propria decad8ncia, com 0 que satisfaz 0 Universal. Mas por outro lado, ao querer a Individualidade tomar-se Lei, perturba a ordem estabelecida. A Lei universal se mant6m contra essa presun~io pes80al, emergindo nio como necessidade morta (ver 1.& Figura), mas como necessidade da propria consciencia. Contudo, ao existir enquanto efetividade completamente contradit6ria em estado consciente, ela e a Loucura; e como efetividade objetiva, e 0 ser-pervertido-em-geral. Portanto, 0 Universal, embora sondo a alma do movimento de ambos os momentos, s6 vem a tomar-se efetivo como perversio universal. 2.
A LUTA ENTRE A VIRTUDE E 0 CURSO DO MUNDO
Terceira Parte
rela~o, 0
puro Em-si, nio passa de um instrumento passivo ('dons e capacidades') sem efetividade: uma conseiencia que ficou adonnecida Deus sabe onde.
3.
DE5FECHO DA LUTA
Summo:
A Virtude tem de ser veneida pelo Curso do Mundo, necessariamente, devido a" sua pretensio de tomar 0 Bem efetivo a custa do saerifieio da individualidade; quando, de fato, 0 lado da efetividade .' 0 mesmo da individualidade. Tadavia, ao veneer a Virtude, 0 Curso do Mundo nio esta triunf!Uldo sobrealgo efetivo, mas sobre abstra~, fic¢es declamat6nas e pomposas, frases ocas que 'edificam', porem nada constroe.m. Que diferen~ entre essa Virtude quixotesca e a Virtude anap (arete,virtus, virtu) que tinha uma significa~o precisa e ~gura, um conte6do s61ido, na subst8ncia de um povo; propunha IJ1llBem efetivo, au seja, existente. Nio era revolta contra 0 Mundo real, como se fosseuma perversio universal. A virtude quixotesea 6 .toda representa~ e palavras, sem· conteudo, discurso moralista vazio, que para a eultura contemporAnea 56 provoca ~io. ' 4.
CONCLUSAO (Resultado desta 3.- Figura) Como resultado dessa
(A RAZAO QUE UNIFICA) A INDIVIDUALIDADE QUE 5E 5ABE REAL EM-51 E PARA-5I
oposi~,
a conscieneia se livra da repreem-si. Na luta, fez a experiencia de era tio mau como aparentava, ja que sua efetividade era a mesma do Universal. Ja nio tem sentido produzir 0 Bem mediante 0 sacrificio da Individualidade. porque. a Individualidade 6 precisamente a efetiva~o do que' em-ai. No Curso do Mundo, 0 Bem nio se encontra pervertido, e sim 'convertido' em efetividade: 0 movimento da Individualidade , a 'realidade' do Universal. A consciencia agora v8 que existe entre eles uma uniio lnseparavel, eque 56 por abstr~ 'se podem ~os dais tennos. Quando alndividualidade no Curso do Mundo pensa que esta agindo por puro ego£smo (ou para-si), esta scm 0 saber, levando a efetividade 0 que era apenes em08i. A opera~o e 0 empreendimento da Individualidade sio, pois, um fim em si mesmo; a u~o de suascapacidades, 0 jogo de suas .exterioriz~ sio 0 que thes confere a vida. 0 Em-si nio , um Universal inexistente e abstrato· e sim a presen~ e a efetivi. dade do processo da Individualidade. sen~ irreal de um Bem que 0 Curso do Mundo nio
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Agora a consci6neia chega, na sua experiAncta, ao concetto que neSs tinhamos dela: 'ser, ,na certez& de si mesma, toda a realida· de'. COmpenetraQi,o da Razao que-observa e da Razao que-opera, agora e a Categona consctente de si mesma. Cap. 1.° - 0 REINO ANIMAL DO ESPtRITO, A IMPOSTURA E A 'COISA MESMA'. 1. 0 eonceIto da indtvldualtdade real em-ai e para-ai. Sua natu-
rell&origtDjriae os momentos de seu qtr
no vacuo.
Efeti~ na obra.Ao efetivar-se como obI'&, surgem no entanto oposiQ6es por todoa os lados. Acentua-se aconttngAncia da ~, - que por .au.. vez Ii desmenticla pela necesaiclade do agir, em seu proprio concetto. . 3. A 'OOISA MESMA'. A consct6ncia procede entlo a companet~ do concelto e cia obn nesta untdade do ser e do agtr que c§ a 'COisa meama' (ou a Obra verdadetra, 'pragma,'), consct6ncia dasua substAncia. -'- Mas ao surgir - atnda imediata e abstrata -, a integraQi,o de seus momentos estA antes pensada que efetivada. _ Na pratica, h& Ulna alternAncia de momentQa, dando lugar a impostura que impera no 'Reino dos antmats inteleotuais'.' _ Esgotada e suprassumtda essa expert6ncia neptiY&,· chega-se enfim a autAntlca 'COisa Mesma', que nio e predicado, mas sujeito: EssAncta de todas as ess6ncias, ou Ess6ncla esptrltual.
2.
Cap. 2.- - A RAZAO DITANDO AS LEIS. Essa substAncia e a substAncia c§tica; e
0 para-st (ou consci6ncia) dela, IS a consct&1cia c§tica; a qual em sua forma ime· diata c§ a 'si razio', dttando imediatamente leis etlcas, que na verdade nio passam de leis contlngentes.
Cap. 3: -
A RAZAO EXAMINANDO AS LEIS.
Desiste, pois, de fuer leis, °e se contenta.com examtn.las. Tenta corrlgtr a conttng6nctados mandamentos apelando para a tautologia cia Bazio. Debalde: a coer6ncia dos enuneisdos e indiferenw • 'verdade d08 conteWios.Para 1airdes8a cislo entre querer e poder, ac:s IneIPI10 avo1~ a.o Univeraal, a SubstAncia IStica: a ~ laO Espfrito.
'INTRODUCAO At' aqui, 0 coneeito da consci&1cia-de-sicomo Razio· - que na eerteza de si mesma , tOOa a realidade .- era 0 coneeito que 068, fil6sofos, tinhamos dela. Somente agora este coneeito , atingido 111
na 'experiancia que a consciancia faz de si mesma'. Se desdeque chegamos a Razio, seu movimento se efetuava no elemento da Categoria, no entanto, na Razio observadora, a categoria estava determinada pelo lado do Ser; e na Razlo oPerante, pelo lado do Si. A partir de agora e que se dli a compenetra~io dos dois momentos, e a consciancia-de-si tem a pura categoria por objeto; melhor, e a Categoria tomada consciente de si mesma. A Individualidade unifica entio 0 Universal e 0 Particular; ja nio visa produzir-se como lim, em oposi~io a efetividade, porque o Agir e agora sua propria efetividade e verdade; e 0 fim e a expressio da individualidade. As figuras anteriores ficaram para tras, no olvido. 0 Agir, livre de toda oposi~io e condicionamento, lembra um circulo que abre e fecha no vacuo sem obstaculos. A unifica~ao e tal que a materia e 0 lim do agir nele mesmo residem; o elemento em que se move e a luz que 0 manifesta sem alterar. Vejamos primeiro 0 'Conceito' dessa Individualidade; depois, suaefetiva~o, quando passa a objetivar-se numa Obra. Capitulo t,o - 0 REINO ANIMAL DO ESPfRITO, A IMPOSTURA E A 'COISA MESMA'. 1.
0 CONCEITO
PQis sabe que sua natureza 6 principio, 'meta e resultado da a~o e assim pode passar imediatamente a agir. Esta resolvido 0 problema: se 6 preciso agir e que fazer, pois a .natureza senda 0 fim, 6 tamb6mo principio da a~io; esta presente nas circunstincias e no interesse que algo the desperta. Os meios estio tambem determinados pela natureza originaria: o talento 6 nada mais que essa natureza concebida como meio interior da a~o. 0 interesse esta do lado do conte11do da coisa; a uniio de, ambos, talento mais interesse, 6 0 meio efetivo; e enquanto compenetra~o do ser e da ~o, constitui a individualidade mesmao Estio todos os elementos presentes: as circunstAncias dadas (que sio a propria natureza originma do individuo); 0 interesse, que pOe essas circunstAncias como 0 que 6 seu, ou como fim; a conjun~io e suprassun~io dessa oposi~o, no meio. A obra. . Ao pOr essa unidade do Ser e do Agir comO exterior, a individualidade se toma efetiva como obra. E com a obra vem a tona a diferen~. da natureza originaria: abandonada e deixada livre no elemento do ser, como uma efetividade, a negatividade constitui uma qualidade da obra. Por6m, como a obra expressa a individualidade, as diferenlfas entre as obras possiveis nao passam de dife~~as de grau - portanto inessenciais -; nio tam cabimento aqui diferen~ como a de Bem e Mal, que· seriam essenciais. 0 individuo na Obra se traduz da noite da possibilidade para 0 dia da· presenlfa. Nio tem de que lamentar-se nem gloriar-se: 56 pode alegrar.-se, na certeza de sua verdade e na seguran~ de alcan~r sempre 0 seu fim.
Consideramos a Individualidade previamente a sua expressao e implementac;io numa Obra; portanto, ainda realidade abstrata, pensamento de Categoria. a) Apresenta-se como uma natureza determinada e origindria. Note-se que esta determinada como conscilncia, que e pura relalfio consigo mesma, e nio uma limita~iio propriamente dita, J?Or ser um elemento transparente, univetsal, no qual a individualidade permanece livre e igual a si mesma: e onde imerge todas as coisas que assimila (atraves do conhecimento) mantendo-as e mantendo-se em sua unidade. Essa natureza e 0 6nieo conteudo e fim ete.,. qualquer a~o posSlvel. . b) Os Momentos da a¢o (lim, meio, obra)sio apeitas diferen9as formais, conce1?idos aqui como tendo conteudo idantico: Fim, 6 a propria individualidade qu~ deve passar da forma nio-manifesta a forma de manifesta. Age-se para fazer com que seja para..-cQnsciancia 0 que 6· apenas em-si. Agir e 0 devir do espfnto como consci6ncia. 0 individuo nio pode saber o· ~e ele e· antes de traduzir-se em realidade mediante a a~. Parece haver um circulo vicioso: para agir, deve existir um fim; 0 qual 16 se conhece. como resultado da alfio. A individualidade nio fica presa em tal circulo,
£ assim no conceito, que forma de si mesma, essa individuaIidade certa de ser a absoluta compenetra~iio da Individualidade e do Ser. Mas quando pOe maos Ii obra, as coisas mudam. Eis af a Obra ja efetuada, posta no Ser. Agora a consciencia vai recolher-se dela, - que e UID3 particu1arida4e como outra qualquer - para a sua universalidade de co118ci&n~ia. a) Na ·obra efetuada, esta presente a/aeterminidade da natureza originaria, oposta a outras naturezas, que com ela interferem e mutuamente se anulam. A obra e algo ef&nero, que se extingue pelo jogo contrario de outras foryas, e deste modo representa a realidade individual, mais como se esvaziando do que chegando a plenitude. A obra e: quer dizer, e, para outras individualidades, como efetividade estranha, em lugar da qual elas devem par a sua propria, para atraves de seu agir alcan~r a consciSncia de sua unidade com
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2.
A EFETIVACAO
..a. efetividade.
Seu interesse pela ob,a 6 diferente do que a obra tem em si. b) Surge entio um leque de oposi~, quando no Conceito havia um feixe de identidades. A com~r pela oposi~o entre Ser e Agir. 0 puro agir 6 forma igual a si mesma, distinta portanto da determinidade da natureza originma que passa para a obra. Al6m dis8O, Ser 6 .distinto de Devir, e 0 Agir, como passagem ab8Oluta, 6 puro devir. Ora, se 0 Agir, como unidade negativa, retinha prisioneiros todos os momentos, agora 0 Ser da obra 80lta para a liberdade a tOOos: efetividade e conceito se separam como fim e esseneialidade originiria; 0 meio se desvineula do fim, como contingente em rela~o ao mesmo; 0 proprio agir se tornacontingente em rela~oa efetividade; e a 'sorte' passa a deCidir (pro ou contra) sobre os fins e os meios. e) Nessa oposi~io que ressalta na obra, entre querer e efetuar, fins e meios, interioridade e efetividade, 0 que transparece 6 a con'inglncia. da ~io. Contudo, a necessidade da ~o esta tamb6m presente, ja que a experi8neia da contingeneia 6, por sua vez, contingente. .Com efeito, a obra, conthtgente em rel~io ao querer e ao agir, contradiz 0 conceito da a~. A obra, como efetividade oposta a consci&1eia-de-si, se desvanece no momento em que aparece. que permanece 010 6 0 sumi~, mas 0 sumi~ do sumi90; quer dizer, desfeito esse momento que era apenas para a consci8neia, mas que nio tinha nenhuma verdade em-si, 0 que fica 6 a unidade da conscieneia com 0 Agir. A Obra verdadeira 6 a unidade do agir com oser, do querer com 0 efetuar. A conseieneiaretorna a si a partir da obra e toda essa oposi~io se desvanece, em virtude da certeza que esta na base do seu agir.
a) Este pas80 integra os dois anteriores: a A~ em seu Conceito, e a Efetiv~io na Obra. Aqui a consei8neia faz experi8neia de seu conceito num puro Agir, que sendo agir em geral, 6 agir deste individuo particular: 6 a 'Coisa Mesma', que se afirma e experim~nta absoll,ltQ)ente como 0 que permanece, independente da coisa que6a .CQntinsaneia da ~ individual, de suas circunstAneias, meios e efetiv~io. A 'Coisa Mesma' unifica os virios momentos (fim, passagem, efetiva~io), coltlQ unifica a individualidade e a efetividade: tOOos sio nela suprassumidos como vilidos ou universais, sio a propria essencialidade espiritual. Nela, a certeza de si mesma 6, para a consciencia, uma essencia objetiva; porque a 'Coisa Mesma', como compene~io objetivada da Individualidade e da
propria objetividade, faz a conscieneia atingir 0 verdadeiro con=to de si; ou seja, a conscicncia de sua substincia. Contudo, .aqui lidamos com uma consciencia que aeaba de surgir e que, por isso mesmo, 6 imediata e abstrata. A 'Coisa Mesma' nio 6 ainda sujeito; mas predicado; 6 genero, que esti ·em seus momentos como esp6cies, igualmente livre em rela~o aeles. Sendo. assim, meios, fins, agir, efetiva~ sio todos momentos singulares que 0 individuo pode deixar de 1ado, ou pode suprassumir, pela 'Coisa Mesma'. b) Isso di ensejo a hipocrisia tipiea da conseieneia que se di7 'honesta'. Sua honradez consiste em fazer da 'Coisa Mesma' seu Ideal. Busca-a em tOOa a parte; nio encontrando num dos momentos, salta para outro, e leaba sempre por aehar 'SU8 satisfa~ e a 'Coisa Mesma'. Se 010 alcan~ seu objetivo, consola-se porque se esfo~u. Se nada fez, tranqiiiliza-se, porque nio foi poss{vel; e a Coisa, para se efetuar, devia ter sido poss{vel. Um evento em que nio tomou parte, the di contentamento, porque seu interesse pelo fato vale para elacomo uma partieipa~o. Veja-se a impostura: toma a ina~o por a~o, passividade por atividade. Se hi algum agir totalmente mau, 6 este agir que nio 6' agir nenhum. o que salva a conseieneia honesta 6 nio ser tio honesta quanta pretende. Por mais que queira, nio conseeue fazer como se os diversos momentos da a~o fossem indiferentes uns aos outros, pols hem sabe que sio correlativos. 0 puro agir 56 pode ser 0 agir de um htdividuo determinado: uma 'coisa'. Inversamente, a a~io do individuo 56 existe como a~io em geral. Quando pensa ocupar-se da 'Coisa Mesma' ~, de fato, lidando com sua propria opera9io. Mas quando se concentra na propria opera~io, na verdade 0 que faz 6 ocupar-se com a coisa e como 'sua'. Pensando que s6 trata . de seu agir e de sua coisa, esti se dedicando, a 'Coisa' em geral (efetividade permanente em-si e para-si). Sucede que nessa etapa, a totalidade 56 6 obtida - e de forma abstrata - quando a conscicncia reflete sobre si mesma: entio unifica os momentos, compenetra Universalidade e Individualidade, ehegando a 'Coisa Mesma'. Por6m quando age, esses momentos emergem apenas para sumir: se efetuam na determinidade de suprassumidos; 56 se esgotam e apresentam como um todo mediante a alternAneia separadora que os expOe ou ret6mpara si. Como nessa alternineia a consci8neia tem um momenta reflexivo (ou para-si) e outro somente exterior (ou para-os-outros) surge entio um jogo de individualidades que enganam, sio enganadas e se enganam a si mesmas: 6 a Impostura. Um individuo age. Parece querer transformar algo em coisa; sua obra 6 para os outros, como efetividade. Os outros pensam que
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o
3.
A 'COISA MESMA'
o agente se interessava pela efetua~io da coisa: se a mostram ja efetuadaou se oferecem ajuda para i88O, ele ja esta pensando apenas em sua propria atividade. Os ootros se sentem ludibriados, mas de fato, sua Ansia em colaborar era para mostrar sua propria atividade; queriam tambem enganat. Inversamente. quando 0 indivfduo parece desligar-se da coisa, e concentrar-se somente em sua propria atividade, esta produzindo acoisa como urn universal e se imiscuindo na Obra dos outros, tomando seu interesse por ela como uma participa~io na Coisa Mesma. Ao ser exposta A luz do dia, a obra de cada um toma-se de dominio publico, sem deixar de ser de seu autor: e a 'Coisa Mesma'. c) Assim, ao fazer experiencia de que ambos os lados sio nmmentos iguabnente essenciais, a consciancia experimenta a 'Coisa Mesma': que nem e uma coisa em oposi~io ao agir; nem urn agir em oposi~io l subsist8ncia; nem um genero livre em rela~ a seus momentos/es~ies; mas sim, "urna ess8ncia c~jD ser6 0 agir de urn in4ivfduo e de todos os individuos; cuja opera~o e imediatamente para ,os outros; e umtt Coisa e urna Coisa somente como oper~o de todose de cada um; urna Ess8ncia que e a Ess8ncia de todas 8. eas8ncias,ou a Ess8ncia Espiritual". Comisso, a Coisa Mesma deixa a fun~o de predicado; universal abstrato e $em vida: 6 agora Sujeito, no qual a individualidade est4 como esla individUalidade, e como todas as individualidades: 6 0 Universal que s6 e urn ser enquanto Agir de todos e de' cada um; e efetividade porque esla consci8ncia 0 sabe como sua efetividade singUlar e tambem a de todos. "Era a Coisa Mesma qu., se determinava acima como categoria: 0 Ser que e Eu, 0 Eu que 6 Ser: embora fosse ali pensamento, e portanto distinto da consci8neia-de-si efetiva". A Essencia espiritual e urn ser simples, a consciencia pura e esla conciencia-de-si. A natureza origin4ria do individuo nio e mais 0 elemento e 0 fim da atividade: 6 um momenta SlJprassumido, pois 0 indivfduo e um Si universal. Inversamente, a' Coisa Mesma formal tem sua implen1enta~ da Individualidade que age e se diferencia em si mesma, porquanto as diferen~ dela COQ$tituem 0 conteudo daquele universal. Cessa a oposi~io entre corteza e verdade. universale singular, fim e efetividade. Seu objeto vale como verdadeiro, porque re6ne em sua unidade a col1Sci8ncia-deesi e 0 ser; vale como Absoluto, pois a consci8ncia-de-si nio pode e Dio quer ir al6m desse objeto. Nio pode: ele e todo ser e poder. Nio quer: esse objeto e 0 Si e a vontade do Si.
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Capitulo 2.° -
A RAZAO DITANDO AS LEIS
Esta Coisa e a substincia etica, e a consciSncia dela (0 sere .para-si dessa ess8ncia) e a consciencia etica. A forma imediata dessa consci8ncia e a 'si razio', que julga saber imediatamente .0 que e born e verdadeiro. Assemelha-se l certeza senslvel, que pretendia exprimir de forma imediata oessenle (seiende). Para a 'si raZao' a substAncia 6tica se divide em leis ou massas, imedi!ltamente evidentes, que nio precisam ser justificadas. Examinemos algumas. 1.0)
Cada um deve dizer a verdade.
A senten~ supOe a verdade conhecida. E se nlo for? Corrige-se 0 principio ,para valer universalmente.\ ajuntando 'conforme sabe e acredita'. Mas, assim fazendo, se introduz a conting8ncia completa, e 0 principio se desvanece. 2.°) Tomemos enmO outro: Ama o,pr6ximo como a Ii mesmo. Deve tratar-se de urn amor inteligente. pois urn amor obtuso faz mais mal que bem. Mas, como saber 0 que 6 hom para cada urn e para todos? 0 Bem Comurn e da al~a do Esta~o, cuja a~io tem outra fo~a e alcance, frente a qual a benefic8ncia privada 6 irris6ria. Em ambos os casos, tais principios se reveloam A analise como desprovidos de necessidade, e de efetividade. Nlo slo leis, mas aim mandamentos. Assiln a Razio renuncia ao conteudo e apela para a forma, quepelo ~enos e universal. Recorre ao 'padrio de medida' que a consci8ncia 'fomece, para ver se um conteudo e ouDio capaz de ser erigido em'lei. Temos: Capitulo 3.° -
A RAZAO EXAMINANDO AS LEIS
Encontrando nos mandamentos uma conting8ncia'total (do saber, da efetividade e da opera~lo) a pura consciSncia sep(Se em oposi~o aos mesmos, como verdade necessaria e universal: e se prop(Se a COmparar 0 conteUdo deles com 0 seu proprio, para lhes julsar a coerSncia esanear a conting8ncia, A luz da tautologia da Razio. J4 Dio quer dar Leis, apenas examin4-las. Ocone por6m que a tautologia da Razio e indiferente ao conteudo: nela cabemsucessivamente ulna coisa e seu contrario, ambos coerentes consigo mesmos. Por exemplo: a propriedade privada nlo e contradit6ria, em si: nem tampouco a ausencia de propriedade (ou a coletiviza~o). Contradizem, sim, uma a outra, e a seus pressupostos respectivos. Porem a Razio nio tern condi~s de dirimir entre elas. "Seria bem' estranho que a tautologia (00 0 prbtcipio de contradi~o, reconhecido 117
pela Razlio te6rica oomo um crit6rio pUl'8D1ente formal, ou seja, de todo indiferente l verdade e l nlio-verdade) tivesse de ser algo mais para a razio pratica". Aqui chegados, parece que nem Leis determinadas, nem 0 Saber dessas Leis satisfazem. sao processos que, tomados isoladamente, nlio passam de momentos prec4rios da consci6ncia 6tica, ou da substlncia 6tica que,' atrav6s deles, se .presenta como conscibcia. Slio formas de Honestidade, preocupada em dar um conte6dobom e justo lsuaa~ e em usar a Razio para encontrar umcriUrio de validez para os mandamentos. Sem esta honestidade, a Lei 6 apenas conte11do contingente, os man~entos sao desp6ticos e arbitr4rios e o exame' das leis nlio seria melo de funda-Ias, mas de dissolve-Ias. Contudo, esses momentos slio a substincia em negativo; quer dizer, a conaeiencia cont6m a substAncia sob forma imediata, como um querer e um saber de -Urn. indivfduo particular; como um 'dever-ser' sem efetividade, cuja universalidade 6 56 formal: suprassumindo estes momentos,a conscibcia volta ao Universal onde as oposi~s desaparecem. Mas entlo estamos na substAncia 6tica, onde as leis subsistentes e etemas nio se apresentam como um mandamento a cumprir, mas comoalgo que exi8te e que I v6lido. A consciencia se identifica com a substlncia 6tica (0 que nlio se compara com 0 esfo~ da f6,·esperan90S8 de vir a atingi-Ia um dial. As diferentes Leis - diviQa humana; da familia 0lI da Cidade - sio transparentes e harmoniosas;e tamb6m 6 banhoniosa e clara a rela~ que a- consciencia DllI.nUmoomelas. Pois elas sao: nlio tem ~ntido indagar sua origem, nem querer legitima-las a nossos olbos. ~ justo, porque assim"6; Nao se trata de fazer Leis, nem de examina-las: seria descaraeterlzar esta rela~o e tetminar servindo-se do saber tautol6gico para erigir em Lei 0 seu e,ontr4rio. Quando se com~ a examinar, ja se tomou uma via 'a-6tica' (nii0-6tica)... ~ quando 0 Direito 6 para mim em-si e para-si, que estou no interior da substincia 6tica e esta substincia 6tica 6 assim a ess'ncia da consciencia*si. Mas ~ta Conscilncia-de-si 6, por sua vez, a efetividade dessa substlncia: seu 'ser-af', seu 5i e sua vontade".
(BB)
Se9io VI
o
Primeira Parte
o
ESP[RITO VERDADEIRO: A ETICIDADE / Sitdi<:hkeit / INTRODUCAO GERAL A SECAO VI E EM PARTICULAR
A ETICIDADE
5U11Wio:
o Espfrlto - 0 "espfrito, - verdade da certesa da Ruio - ~ um mundo real, objetivo. As figuru anterlores sAo abstl'896es do espfrito, que se anausa em seua momentos singulares; enquanto as que vamos considerar nesta Se9io sAo figuru de um mundo. Nesta 1.- Parte ezaminamos 0 ESpfrito Verdadeiro, ou seja, a Ett· c1dade, que abranp 0 Mundo tSt1co, com sua dualidade de Leis (humana e divina) aW seu ocaso no Estado de Diretto.
c
118
ESPfRITO / Der Geist /
1.
DEVIR DO ESP[RITO, MOVIMENTO QUE SUPRASSUME AS ETAPAS DA RAZAO
o Esp£rito 6 a verdade da certeza que tem a Razlio: ,a de ser toda a realidade. 0 movimento (anteriormente visto) da Razio era, de fato, 0 devir do Esp£rito: a Razio Observadora encontrando pelo lado do' 8er a unidade da pura categoria; a Razlo Operante,' realizando-a pelo lado do Si; e epfim, a Rulio unificante reunindo ambos os aspectos,embora ficasse 'no myel de Conselincia espiritual. Agora, porer;n, a substincia consciente de si mesma 6 um Esp£rito que 6 um mundo: mundo efetivo objetivo, 'mas que perdeu toda a significa~o de algo estranho, como 0 Si perdeu todo 0 significado de um 'para-si' separado deate mundo. Como subst8ncia, 0 E.,£rito. 6 princ£pio e fundamento de todo agir e Obm universal. Como set-para-si, 6 "essancia bondosa que 119
se sacrifica, na qual cada um leva adiante sua propria obra que
despeda~ 0 ser universal e leva a sua parte". "Ora, e precisamente
'porque e ser dissolvido no Si que mas efetividade".
2.
0
Espirito nio
e ess@ncia
morta,
RETROSPECTIYA: 0 ESprRITO E AS FIGURAS DA CONSCI£NCIA FENOMENAL
Essas figuras sio abstra~s do Espirito: surgem porque 0 Espirito se analisa e demora em seus momentos singulares. 56 no Espfrito existem, pois 0 Espirito 6 a Existincia; e a essincia do Espfrito 6 0 moviment,o e a dissolu~io de seus momentos, que dele procedem e a ele retotnam. Assim, 0 Espirito 6 consciincia (certeza sensivel, perce~o e entendimento) quando, na an41ise de 8i mesmo, ret6m apenas seu momenta de em-si ou ser. £ conscilncia-de-si quando se fin exclu8ivamente no momento contr8rlo, quando 0 objeto 6 seu ser-para-si. £ consciencia imediata do ser-em-lli e para-si na Ciltegoria, quando tem a Razao, embora ainda nio se identifique com ela. Enfim, 6 Esptrito em sua verdade, quando se intui como a Razio que 6, que ' nele se efetiva e que e seu Mundo. 3.
a substincia dividindo-seem essencia universal e efetividade singular. 0 Singular e elevado a universal na ~ etica e faz descer o universal em sua Obra. onde torna efetiva a unidade de seu Si com a sua Substincia. Nwpa nova cisio, asubstAncia se reparte em 'massas':, Lei humana e Lei divina. E dai decorre outra dualidade na consci@ncia: ao saber a Lei a que adere, ignora a outra; a contradi~o entre as Leis acarreta cpntradi~io no saber: 0 que e etico em-si e 0 que c ctico para 0 individuo em situa~. E como resultado desse movimento, a substAncia etica se transforma em consciencia~e-si efetiva; e a eticidade 6 suprassumida na universalidade do Direito. Capitulo 1.0 -'- 0 MUNDO STICO: A LEI HUMANA E A DIVINA;.O HOMEM E A MULHER SuaWio:
o Mun.do Jr:tieo estlt polarizado em Lei human&,/Leidivina, repl'e8entadU respectivamente pe1a Comunidade e pela Familia; 0 Bomem e a MuU1er. seu .movimento tS a pa888IeJD de' uma Lei II. outra. 0 Mundo guco tS 0 conte\1do verdadeiro da8 figuras vazias da Moralidade: Prazer e Necessidade, Lei do COra~. Virtude; e tamb8m da 'COisa Mesma'. ReaUza a lusU~ porque tem dinamism08
PROSPECTIVA: FIGURAS DE UM ESprRITO QUE £ UM MUNDO
Estas "figuras se diferenciam das anteriores por serem espfritos reais, efetividades autenticas: em vez de puras liguras de CODsciencia, eio figuras deum mundo", cujo movimento descrevemos nesta ~oVI.
Partindo do Mundo ~tico, rea1iza~io imediata nos costumes de umpovo, 0 Espirito passa ao saber abstrato de sua- es&encia e l' universalidade formal do 'Estado de Direito'.Dai, fica cindido em dois mundos: 0 'Reino da Cultura', no elemento objetivo ou na dura efetividade, e 0 'Mundo da Fe',. no elemento do pensamentoou reino da dnc.ia. 0 Espirito proeura uni-Ios no Conceito e retornar a si: primeiro na 'intel~' e 'Iluminismo' que revolucionam e confundeDl· e$SC8 ~undos; e depois na 'Moralidade' onde se apreende como seu. Mundo 6 fundamento e 6 0 'Espiri~ certo de si mesmo'.
que restabelecem
0
equiUbrio entre
0
universal e sIn-
gular. ,Mundo de calma unidade, SU88 leis se interpenetram; e a Comuriidade e a Famflia, 0 Homem e a Mulher nele se comple-
mentam e unificam.
1.
ESTRUTURA DO MUNDO £TICO
A certeza 6dca imediata enfrenta a multiplicidade de seu objeto, da mesma forma que 0 fazia a certeza imediata sensivel: .gerando uma perce~ onde a dispersa multiplicidade se polariza na oposi~ de singularidade/universalidade. Aqui, a Lei da singularidade e a Lei da universalidade correspondem 18 massas em que Ie cinde a substincia 6tica; porem agora nos movemos no Espirito que esta tod~ em cada um dos seus momentos.
o Espirito ep1 sua verdade simples 6 consci&lcia; e como essa possui a propriedade de cindir-se em momentos distintos, temoS, de entrada" a dualidade substAncia/consciencia. A 'fissio' prossegue:
A Lei humma o .Espirito na' Lei humana 6 Comunidade, esBencia 6tica consciente: como substAncia efetiva 6 urn povo; eomo consci@ncia efetiva, cidadio de um povo. A Comunidade 6 0 Espirito que 6 para-si, enquanto se mant6m refletindo-se nos individuos; e que 6 em-si, ou subBtincia, enquanto os mant6m em si mesmo. A verdade desse £Spirito esta em tod~ 0 povo; 6 um espirit.Qque tem existencia e validez. Pade chamar-se de Lei Humana. Na forma de universali-
120
121
4.
0 ESprRITO VERDADEIRO:· A ETICIDADE
1. 1.
dade e a Lei conhecida; na forma de singularidade, e 0 individuo em geral, a certeza efetiva de si mesmo. No Govemo, e certeza como individualidade simples. Sua verdade e 0 que vigora manifestamente e se expOe l luz do dia (Ordem publica). 1. 2.
A Lei cliviDa
A polencia etica do Estado - movimento do Agir coDsciente de si - tem seu Outro, seu oposto, na e~s8ncia imediata ~a etici4ade: no para-si. individual ou ess8ncia interior. 0 momento de consci8ncia-de-si da Lei Divina e uma comunidade natural - .. Familia -que exprime a eticidade na imediatez do ser; em confronto com 0 Espfrito universal. £ conceito nio-consciente e ainda interior que COntrasta com a efetividade consciente de si e 0 trabalho em proldo universal. A eticidade da famflia nio reside no comportamento natural de seus membros, ou seja, em seu relacionamento· de sensibilidade e IIDor. Nem tampouco na aquisi~ de poder eriqueza, que por am lade satisfazem necessidades naturals; e pot outro, apontam para a sociedadetotal. A famfiia se orienta para 0 singular; ora, como 0 etico diz respeito ao universal, deve tratar-se de um singular total, ou de um singular como. universal. Nio pode a ~ etica ter um contel1do contingente, como seria um 'servi~' ou 'ajuda'; nem pode seruma 'educa~o', que visa produdr 0 individuo, para um fim que esta alem da famflia, como cidadio. Entia? Uma ~o que tem por objeto e conteudo este singular pertencentel famflia, enquanto universal, quer wer, subtrafdo l efetividade sensfvel (ou singular) nio "conceme ao vivo mas ao morto, 0 qual, saindo da longa s6rie de sua exislencia dispersa se recolhe numa Unica figur&9Io acabada e se eleva da inquietude da vida contingente a quietude da universalidade sitnples". (Tel qu'en lui mime en/in l'~ter niN Ie change). 0 sitl:gular - s6 efetivo e substancial enquanto cidadio - pertence a fanillia apenas como sombra irreal evanescente.
1 .:5 .
A jusdfiC89io do sinplar
singular
Assim, a universalidade que 0 alcan~ pela. morte e a volta l natureza nas suas formas elementares; ora, somente 0 tI,ir. produz o universal racional que nio pertence a natureza apenas. Portanto, 6 dever da famfiia acrescentar sua propria oper~, para darao membro defunto a quietude e a universalidade da essencia conscientede si mesma, que nio pertence l natureza. A morte e 0 resultado do movimento do singular como essente (seiende) que, como tal, nio retoma sobre si. Embora.possa ser a suprema tarefa do irtdivfduo em prol da comunidade etica, Dio tem
122
conexio necessaria com ela. A consangtiinidade vem pois complementar 0 movimento natural abstrato, acrescentando 0 movimento da conSci8ncia; arrancando da destrui~ os consangiifneos, ou meIhor, assumindo 0 ato da destrui~io, ja que e necessario. Dessa maneira 0 ser-morto vem a ser algo que retornou a si, um para-si. A famfiia pondo sua opera~io em lugar da a~io das fo~ destruidoras, une 0 parente ao seio da terra, e .0 faz membro de uma comunidade. Os deveres fdnebres constituem a Lei divina completa: porque qualquer outra a~io etica, a respeito do singular, pertence l Lei humana.
2.
0 MOVIMENTO DAS DUAS LEIS
As duas leis sio ~s8ncias que CObt8m 0 momento da consciencia; por isso a diferen~a se desdobra dentro delas, como seu movimento vital. Examinando-lhes as diferen~, percebe-se 0 niodo· de atividade dessas ess8ncias universais do mundo etico; sua articulafOo, e a passagem de uma a outra.
0 movimento cia Lei hU11U1118 A Lei de cima, ou diuma - a Comunidade - tem no Govemo sua vitalidade efetiva: af e individuo, pois a substincia 6tica total .se concentra nesse Si simples, e a fo~ que faz a ess6ncia 6tica articular-se num organismo, com membros dotados de vida propria. Nele 0 Espfrito tem sua Realidade e seu Ser-at; a famflia 6 0 elemento dessa realidade. Porem, como fo~ do todo, 0 Espirito redne de novo as· partes no Uno e lhes da a consci8ncia de que sua vida esta na depend&ncia do Todo. Os multiplos sistemas em que a Comunidade se articula (independ8ncia pessoal, propriedade, direito' pessoal e real) podem ter autonomia em seu mvel estrutural especifico e para fins proximos, como a aquisi~ edesfrute das riquezas. Porem, 0 Espirito vela para a autonomia relativa nio se transformar em isolamento: para isso, de tempos em tempos, recorre l guerra, desorganizando a ordem estabelecida e as autOllOmias, fazendo desprender-se de tudo, no sentimento de que 0 Senhor 6 a Morte. Com isso impede 0 naufragio do 'ser-af' etico no 'ser-af' natural; a ess8ncia negativa se revela como a pot8ncia propriamente dita da Comunidade; a qual encontra a verdade e a fo~ na Lei Divina e no Reino ct6nico. 2. 1.
123
2.2.
0 movimento cia Lei divina
A Lei divina, que impera na Familia, tem tamb6m diferen~ intemas, em especial as tres rela~s que a caracterizam: 1) marido e mulher; 2) pais e filhos; 3) irmio e irmi. A rela~o marido e muther - conhecimento imediato de uma consciencia noutra e seu mutuo reconhecimento - 6 natural e nio, 6tica; embora represente 0 Espirito efetivo. Representar 6 ser imagem: 6 ter sua efetividade noutro. Aqui, 0 outro 6 0 fitho, onde a rela~o se realiza e desaparece. A rela~o pais e filhos esta afetada pela 'com~o' (Rilhrung) da parte dos pais, por terem sua realidade noutro ser, donde nio podem retoma-la; da parte do fitho, por alcan~ar 0 seu ser-para-si atrav6s de outro que com isso 'fenece'. Portanto, tal rela~o esta numa passagem, distendida pela assimetria, de seus pOlos. _ Na rela~io irmlio/irmli, 0 sangue encontra 0 equiUbrio e a calma., Rela~io sem mescla, de individualidades livres em sua rel~o mutua, porquanto nlio se deram, nem receheram uma da outra, 8eUaer·para-si. 0 feminino tem, como irmi, 0 supremo pressentimento da ess6ncia 6tica, embora nio a consci6ncia, ja que essa lei interior reside no plano do sentimento. A rela~o dil fitha com os pais 6 afetada pela 'com~' natural de ser atrav6s de leU desapa,recimento. 0 relacionamento da muther, como mie e esposa, tem a singularidade do outro como algo indiferente, contingente: nio se trata deste marido e deates filhos, mas de um marido au fithos, em geraI. Portanto, ai a mulher carece do momento do reconhecimento num outro como este Si. Porem no irmio, a irml alcan~ 0, reconhecimento puro, sem mescla de rela~io natural: 0 Si singular &qui reconhece e 6 reconhecido, num equilibria de sangue imune ao desejo. Por isso, a perda do irmio 6 irreparavel e 0 deverpara com ele, 0 dever supremo. " 2.3.
Altero.Jncia dOl dois movimentos
A rela~io irmio/irmli 6, ao mesmo tempo, limite e ponto de passagem da familia para outra esfera: pelo irmio, passa'l consci6ncia da universaUdade, emigrando da eticidade imediata, elemen. tar, da Lei divine para 0 campo da Lei humana. Compete lirmi,l mulher, ser guardia da Lei divina. SabrepOe-se ,uma diferen~ 6tica 1 diferen~ natural dos sexos. No homem, porem, permanece a unidade da substAncia 6tiea; sendo destinado l comunidade,· a familia nele alcan~ sua ess8ncia 6dc&, consciente de si. Por outro lado, a comunidade tern DB familia-o elemento formal de sua efetividade, e na Lei divina sua fo~, e convalid~. ~ Lei humana procede d~ divina; a Lei do ceu aherto
124
vern da Lei ctOnica; 0 consciente brota do inconsciente, a media~io deriva da imediatez; e do mesmo modo retomam ao lugar donde provem. Ao inverso, a potencia ctOnica tem sua vigenciasobre a terra; 6 por meio da consciencia que se toma 'ser-af' e atividade. 3.
CONCLUSAO: 0 MUNDO STICO £ PLENITUDE E EQUILIBRIO
3 . 1. As figuras da moralidade tem seus fins realizados no mundo 6tico: 0 que a Razio via antes apenas como objeto, agora se toma consci6ncia-de-si; 0 que para a Observa~io era somente um 'achado', passa a ser visto como opera~io e obra de quem encontra (os costumes). 0 prazer se realiza no seio da familia e a Mcessidade 6 8 consci6ncia do cidadio. A Lei do cora¢o consegue sera lei de todos oscora~s, como ordem universal reconhecida; a Virtude goze &qui dOl frutos de seu sacrificio, pois consegue produzir aquilo a que tende. A Coisa Mesma ganha nas pot6ncias 6ticas um conte6do verdadeiro, que toma 0 lugar dos mandamentos vazios e fomece um criterio para examinar nio mais as leis, mas a conduta.
3.2. Essa totalidade e plenitude esta num equilibrio dinAmico: a desigualdade que nela surge 6 sempre reconduzida l igualdade pela justifa. Nio se trata de uma justi~a extema; na Lei humana, a justifa 6 0 governo do povo, onde a vontade do individuo 6 reduzida a vontade universal. E quando a universalidade se toma prepotente contra 0 singular, 0 espirito de quem sofreu a afronta, assume a vingan!;a; pais e sua Erinie, sua potencia subterranea que vern restabelecer a equih1>rio. Porem, que afronta a reino da eticidade pode cometer contra 0 indivfduo? Fazer que 'algo the aeont~', au seja, fazer dele uma coisa qualquer. Ora, nlio 6 a Comunidade, mas sim a natureza que assim procede. Contra ela, pois, a vingan~ se dirige e a repar~io da injuria consiste em transformar o indivfduo em obra sua, aquilo que the sucedeu; de forma que 0 estado final (0 de finado) seja algo querido, e portanto, gozoso. ' 3.3.
Recapitulando
o Mundo 6tico - em sua subsist§ncia - 6 um mundo sem mancha de nenhuma cisio. Igualmente, seu movimento 6 um calmo devir, onde suas potencias passam uma pela outra; se mantem e produzem mutuamente. A uniio do homem com a muther constitui 0 meio ativo dessa Totalidade, e 0 elemento que, ,cindido em ,Lei humana e Lei divina, 125
e tambem sua uniio imediata. No homem, a Lei humana desce ao perigo e a prova da morte; na mulher, a Lei subterrinea sobe a luz do diae a exist~ncia consciente. Capitulo 2.0 - A ACAO £TICA o SABER HUMANO E 0 SABER DIVINO, A CULPA E 0 DESTINO SunWio: -
Introdueio: A tranqUilidade do Mundo ~tico ~ romplc1a pela ~ que provoca sua dissoluoio e pessapm para outra flgura.
- Seu solo ~ a eticldade: seu dlnamlsmo, a conscl6nc1a-de-s1, (l()mo dever, carater, dec1sAo unilateral por uma das Leis, 88m confiltos. -Cislo entre 0 81 e a efetivldade, a aoio ~ essencie.Jmente culpa: - comete dellto vlolando ·a outraLel.. Reconhecendo-se culpacia, adm1te outra Lei como efetiva: perde seu carater, e decllM: a outra potencla sofre 19ua1 decllnlo, e tudo some no abiS.mo do Destino... - No 'fundo deste conflito entre Lei humana e dlvlna, est' a Com~ repr1Jn1ndo, - e com lsso suscltando - a slngularldade.. Ao recorrer II. guerra para llquidar a oposloAo, ela ~ que se dissolve. A corruQlo estava em 18rm8 na 1Jnedlatez que era a fnger&ncla cia natureza no coraoAo cia ordem ~tica. Agara nAo sAo s6 os penates que fundem ante a 'poUs': ~ a c1dade antip que cede lugar a nova ordem onde quem lmpera c§ 0 .fndlvlduo siDIUlar. INTRODUCAO
1.2.
0 PROPRIO MOVIMENTO DO MUNDO £TICO £ TRANQOILO
Por que esse unilateralismo? Porque, embora COmo cons·
ci8ncia, ache que a efetividade tem
es~ncia,
como substancia, 6
unidade de si e de seu oposto. Entio, para a consci~ncia 6tica, que 6 consci~cia da substAncia,o. objeto, como algo oposto a consci~cia-de-si, percle tOOa a significa~ de ter uma e~ncia para si. Mais ainda: nio se afasta desse unilateralismo por mais que a rea· lidade objetiva se alie com a verdade contra ela: a consci~ncia 6tica segue achando que a ~io apenas vai dar cumprimento a lei 6tica, que como es~ncia. e potencia absoluta nio pode sofrer perversio de seu conteudo. A passagem do pensamento a efetividade pela a~o, 6 vista como um movimento, cujos momentos nio tem nenhum conteudo especffico que os distinga. 2.
2 .•.
No Mundo 6tico, a Individualidade esti ainda por surgir: ali vale apenas, por um lado, como vontade universal; e por outro, como sangue da familia. £ que nao prOOuziu ainda nenhuma a~io, que, sendo 0 Si efetivo, perturba a quieta organiza~o e movimento do Mundo 6tico, aquela harmonia das duas es~ncias que se confirmam e complementam. A~o 6 passagem de opostos um para 0 outro: mais anu~~o que confirma~o dos extremos; rege-a 0 movimento da etema necessidade, destino terrfvel que devora ambas as leis no abismo de sua simplicidade, junto com ambas as consci!ncias-de-si em que temseu 'ser-ai'. Para n6s, esse movimento vem a dar nos Imperios e no Individualismo que the corresponde. 1.
e dever, isto e, simples e pura orienta~io para a essencialidade etica. Nio h' lugar para conflitos de deveres: (e de fato camico esse 'absoluto' que se esfuma ao chocar contra outro 'absoluto'!) nem tambem conflito entre paixio e dever (que se reduz ao con· flito anterior, porque a paixio veste a pele do dever). A consci~ncia-de-si etica est' decidida a priori: 6 decidida, tem 'cariter'. 0 que a ela se opOe nio tem valor, nem direito: para a Lei divina, 0 que se the opOe 6 viol~ncia e arbitrio; para a Lei humana, 6teimosia e desobedi~cia.
A ACAO ROMPE ESSA TRANQOILIDADE POR SER CISAO, CULPA E DELITO Ap.....ema~
A es~ncia 6tica esti dividida em duas leis: a consci6ncia se decidiu por uma delas, porem a ~ncia insiste em seu direito de ser dupla, e esse direito' nio 6 algo extemo a consci!ncia-de-si: nela reside, e sua oposi~o 6 0 ato mesmo da consci6ncia-de-si. Quando ela passa a a~io, quando 6 mesmo um Si, rompe a imediatez e cria a cisio. Nio 6 mais a certeZl simples da verdade imediata Como no Reino 6tico. POe a separa~o em simesma: entreseu Si' principia ativo e uma efetividade oposta, e, para ela, negativa. que equivale a tomar-se culpa. A consci6ncia-de-si 6 seu agir, e portanto, sua culpa: J' que 0 a~r 6 essencialmente cisio. 56 6 inocenteo ser da pedra; a crian~a,
0
nao.
1. 1. 0 movimento do Mundo 6tico tem por solo a eticidade; e por dinamismo, a consci~cia-de-si, que, como consci8ncia ltica,
. No seu conteudo, a a~io 6tica 6 delito, porque quando a a~io tem a culpa de assumir apenas um dos lados, comete 0 delito de violar 0 outro lado da es.cia. Porein, na verdade, 0 culpado nio 6 esse ser singular, 0 qual, de um lado, 6 sombra apenas; e de outro,
126
12'1
6 0 Si universal. 0 conteudo da ~io sio as leis e costiUnes do poyo,. ou da categoria social a que 0 indivfduo pertence.- "Assim, o mdlvfduo age baseado na firme confian~ no Todo 'sem mecio nem 6
A tng6dia pep
2.2.
n_a eua aUIise
o hero!, ao se~il;' uma sO das Leis, transgride a outta, que como potencla ofendida clama por vingan~. Em geral, sO um dos lados 6 conhecido: ~dipo nio sabe que 0 pai era 0 ultrajante quematou, nem a mie, a ralnha que desposou. A outra potencia espreita nas trevas, e surge ante 0 fato consumado para lavrar 0 flagrante. 0 a~nte nio pode neg~ra cu~pa e 0 delito: sua ~io trouxe a possiblhdade l luz do dla, 0 mconsciente ao consciente; faz experimentar 0 outro lado da ess8ncia como seu, mas agora, como potencia violada que ganhou como inimiga. ,Pode acontecer tambem que conhe~, como Antfgona, a Lei e a potencia que enfrenta: neste caso, a ·consciencia 6tica 6 mais completa 'e a culpa, mais pura. Agir exprime cabalmente a unidade da efetividade com a substAncia: enuncia que a efetividade nio 6 para a consci6ncia algo contingente. Assim, a QOnsci8ncia 6tica deve reconhecer seu oposto: como efetividade sua: deve reconhecer sua culpa: "Porque sofremos, reconhecemos ter agido mal" (Antt,ona. de 56focles, v. 926). 2. 3 .
Um reconhecimento fatidico ...
Porem, com esse reconhecimento, 0 agente renuncia a seu car'ter, deixa de par na sua lei a sua substincia e cai na inefetividade da 'pura disposi~io' (Gesinnung), a qual fica na convi~o de que s6 o Direito tem valor. . '. Ora, como a individualidade 6tica forma uma unidade com seu uDlversal, nio pode sobreviver a seu decHnio. Resta a certeza de que a pot6ncia oposta, a que representa a outra Lei sofre um dano ~al ~o seu. Ambas as potencias - e as ipdivid~alidades que as anllfiam - sofrem 0 mesmo declfnio: nenhuma 6 mais ess8ncia que a, outra. ,Assim, a vit6ria de urna delas e sempre provis6ria,pois 0 movimento avan~ ate 0 equilfbrio, quando se efetiva 0 Direito abs~luto, que a ambas absorve como Destino onipotente e justo.
Lei divina versus Lei humana. Ilustrando com a tragedia Antigona: os dois irmios lutam pelo poder, com igual direito; embora a lei considere delito arrebatar 0 poder de quem 0 det6m. Quando ambos sucumbem na luta, a comunidade nio ~ra com i88O; e 0 novo govemante priva de honras, aquele que se insurgiu. Mas entio a Lei humana entra, em cheque com a diviJ)a e a Lei ' da obscuridade sucumbe ante a Lei da luz e da fo~: sua essancia 6 conswnida. Entio, 0 defunto desonrado ,mobiliza contra 0 ofensor fo~ de eficacia igua1: as outras comunidades que vem viitgar-se de seus altares profanados pelos animais que devoraram 0 cadaver insepulto. A trag6dia da uma representa~io contingente e individual ao choque necessario das duas Leis. Por detrAs disso, est' 0 conflito da individualidade com a Lei da Comunidade, a qual existe, se move e se mant6m, 'consUmindo as fammas, dissolvendo-as em sua continuidade e fluidez. Mas, ao oprimir a mulher, a comunidade est' criando um inimigo interior, que Ihe 6 igualmente essencial, como 'a eterna ironia da comunidade'. A Comunidade sO pode subsistir reprimindo - e com i88O, incentivando - 0 espfrito da singularidade; al6m da mulher, 0 ardor imaturo e a fo~ dos jovens, que ela tantoaprecia.
3 .2 . Para dissolver de uma vez as resist8ncias de singularidade, a Comunidade recorre l guerra. Pomn, 6 justamente af que s~bra; com efeito, na guerra, 0 que decide e a fo~a e a fortuna; e nio a essencia etica. 56 que agora, nio ~bram apenas os penates no espfrito do povo; mas sim, s~bram os espfritos vivos dos povos e se passa a uma comunidade universal privada de espfrito, cuja vitalidade e o indivfduo singular, como singular. Outra figuraocupa 0 lugar da figura etica do espfrito. 3.3 .
Epilogo
Esse conflito qu~ a ~io provoca no mundo 6titoo 6, a consci6ncia-de-si e ordem etica contra a natureza inconsciente e seu espfrito particular; mas, quanto ao conteUdo, ~
o declfnio da, substincia 6tica estava implfcito na sua imediatez: ser imediato quer dizer, no caso, que a natureza intervem na a~ da eticidade. 0 princfpio da ,corru~io residia na bela tranqililidade que ostentava. AliAs, imediatez, significa. ao mesmo tempo; a quietude inconsciente da natureza e a inquiet. quietude consciente-de-si do espfrito. Por causa de sua 'naturalidade', uma comunidade 6tica 6 limitada por suas determina~s naturais e ,;encontra sua suprassun~ em outra. Perdida sua determina~o, esta por6m perdida a vida de seu espirito, e a simplicidade compacta de sua substancia se dispersa numa serie de pontos.
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129
3.
DISSOLUCAO DA ESS£NCIA :£TICA 3. 1.
quanto
a forma,
Capitulo 3.° -
0 ESTADO DE DlREITO
SumUio:
o Mundo «Stico Ie desagregou numa multidlo de atomos: as pM8oas. .0 processo que percorre 0 Eatado de Diretto «S homdloeo ao daa fipras anteriores: '1ndepend6ncila est6ica do puro pens&mento' e 'confusio e diuolU9lo univerial cia consciAncia CC§tica'. Eaa plw1illdade dispersiva em que Ie desintegrou 0 Mundo «Stico converge, de certo modo, no 'Senhor do Mundo', - sucedADeoe aveuo do Eapfrito. 0 ep1lolodo processo traz nova homolOlia: com a 'consciAncia lnfeliz', a qual, pando sua realidade efetiva na perda cia pr6pria esdncia, tomMe 8It1'anha a Ii meema: Ie aliena. 1.
novo tipode Comunidado que agora surse 6' um Universal fraamentado em atomos da absoluta muldplicidade dos indivfduos; um espfrito morta, uma igualdade onde todos valem 0 mesmo, como p611OaS. Potencias e figuras do .Mundo 6dco ~braram ante a fotya do Destino. Agora, quem vale como eu6ncia em-si e para-si, 6 0 Eu: ser reconhecido· 6 '. sua substancialidade. Emergindo da subsdncia 6tica, a persoitalidade 6 a independ8ncia efetiva da consci&ncia. HOMOLOGIA COM A CONSCI£NCIA ESTOICA
A eonscieDcia est6ica surgia da 'Domin~ e Escravidio', ser-af imediato ~. consci&ncia-de-si. A personalidade surse do espfrito imeditlto, que 6 a vontade universal dominante de todos e igualmente sua obedi&ncia servile S6 que agora 6 wn Mundo efetivo 0 que no estoicismo·nio paasava de abstr~; 6 independancia realmente lida, .,de consciencia, 0 que 18 ~ra apenas pensamento inefetivo dessa independencia; 0 princfpio do Es~do de Direito acha-so no estoicismo reduzido a uma forma abstrata.
va-
3.
4.
CARACTERIZACAO DA NOVA FIGURA
o
2.
Ha uma diferen~, POl'em: 0 ceticismo dava a efetividade - que chamava 'aparencia' - um valor negativo.. 0 Direito formallhe atribui um valor positivo, determinando-o como Meu, no sentido da Categoria. Na verdade, em ambos os casos, 0 mesmo universal abstrato se pretende erigir em real efetivo: 0 conteudo mesmo, nada tem a ver com essa forma vazia. Liga-se a uma potencia distinta: no ceticismo, 0 acaso: aqui, 0 arbitrio. A consciencia do Direito faz experiencia de sua completa inessencialidade: basta vet que chamar algu6m de 'pessoa' 6 depreciativo ...
0 SENHOR DO MUNDO, SUCEDANEO E AVESSO DO ESPfRITO
o
conte6do, que se dispersa desgovernado n,.. ,pura multiplici~ dade dos atomos peasoais, ao mesmo tempo se concentra num ponto Unico, que lhes 6 estraDho: 0 Senhor do Mundo. Ele, que,· por um lado; 6 pura sinplaridade, por outro, 6 c;arregado de todo sentido e conte6do da essencia;· potencia universal, que se iabe pessoa absolute, 80litUia e que enfrenta a todas. Porem, de fato, somente no Todo esta a valida universal: 0 singular, separado dela e solitario, eatece do efetividade e de fotya. Aasim, 0 Senhor do Mundo, c6nscio do concentrar em si todas as pot8ncias efetivas, do passa ~ um caos· de potencias ~nfreadas e destrutivII que ~ voltam contra ole mesmo 0 contra seua sUdit08; Tem que _ _im, porque uma potencia que nio 6 a unidade do Espfiito·.(onde as peasoas reconhecern sua propria consciencia-de-si) esta em rela~ puramente negativa consigo mesma e com os outros. Mant6m a f~ de estabelecer a continuidade entre 8s pessoas: mas, iJendo eatranho a 'elas - essencia hostil que lhes seqUestra juatamente a essencia - , 0 modo que tern de fazer a continUidade 6 consutnar a destrui~. Mas entia, esse suposte onipptbcia 6 mera devas~: esta 'fora do si', 6 um dejeto da consciencia-de-si.
HOMOLOGIA COM A CONSCI£NCIA C£TICA 5.
HOMOLOGIA COM A CONSCI£NCIA INFELIZ
o estoicismo descambava no ceticismo, um negativo desvairado, vagando deuma conting&lcia (do ser e do ~to) para oun: dissolvendo-as na absoluta independenciae·proeJuzindo-as de novo, por nIo passar de contradi~ entre depend8ncia e .independencia da consclencia. Ora,. a fndependencia pe8ioal do. Direito a mesma confusio univenal: 0 Uno simples e vazto que at vale como essencia absoluta e a IJessOa, forma que deixa· 0 conte6do em total e dcsordenada liberdade. Falta 0 Espfrito, que fazia tudo convergir na sua unidade. 0 formalismo do Direito, como 0 ceticismo, nlo tem conte6do proprio. Assim, ao encontrar. a aubstAncia multiforme da posse, imprime-lhe a universalidade abstrata da 'propriedllde'.
A coWK:i6ncia, retomando a si a partir dessa efetividade, Ie encontra com sua inessencialidade. Algo eemelhante ocorria na. figura da consci8ncia injeliz, onde 0 estoicismo, passando pela ceticismo, vinha achar a sua verdade. Porem, 0 que ali oramocio de ver unilateral da COQJCi&lcia, aqui ocupa 0 lug... de verdade efetiva. ci' que a validez universal da consci&ncia-de-si reside numa realidade. que se the tornou eatranha: quer dizer, a efotividado 6 imediatamente o seu aveaso: a perda de ess6ncia. 0 que no Mund06tico era uno, ao efetuar seu deaenvolvimento val tomar-se estranho a si mesmo, 'alienar-se'.
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131
e
Sepnda Parte
o
ESPfRITO ALIENADO DE SI MESMO: A CULTURA / Bildung /
Capitulo 1.° Sl MESMO
0 MUNDO DO ESPfRITO ALIENADO DE
SumUio Esta figura se distingue das anteriores (Mundo lCtico e Est&do de Direito), pelo lugar que nela ocupa a al1~. 11' uma primeira alien~io, que t§ 0 Reino da efetividade; e uma alienagiodentro da alienagio, que t§ 0 Reino de pensamentos da pura consciAncia, tamlM§m bipartido, em ~ e Pura Inte18C9io. § I." - A Cultura e seu Relno da EteUvfdade. 1) A COnsclMcia.cfe-si, pot 'extrusAo' de sua personalidade, produz seu m1:mdo; Jnas 0 toma por algo estranho, de. que se deve apoderar. 2) A sub. tAncia IS formada de momentos opostos que. mutuamente se dio e :recElbem a vida. Contonne 08 niveis ou instAncias, tfm deterltlinacOes diversas. 3) A consclMcia nobre por sua 'extrusio' se cultiva, e Por ela, se torna efetivo 0 poder do· Estado. 4) S6 a mecUa9f,o alienadora da Linguagem expressa em sua pu~ e dli objetividade euniversalidade ao Si; realia 0 que sigriifica. 5) A XJnguagem eleva ao Si 0 POder do Estado, (08 fonna da Lisonja). Prerlte k Riqueza, a Linguagem val da lisonja ign6bU a revolta total. 8) 0 Dlscurso Dilacerado diz a verdade do Mundo da CUltura, que. a consciMcia simples nio sabe refutar. EpilolO: 'Vaidade das vaidades, tudo t§ vaidade'. § 2.° ~ A FE e a Para Intel~ (Reino da Pura ConsciAncia). 1) A pura consclMcia IS fuga da efetividade, essencialmente alienadaem 8i mesma, e tern dois momentos que se separam como dupla consciMcia: - a ~, que faz .de seus pensament08 repre2I8ntacoes; - a Pura Intel8C9io, que quer reduzir tudo a conceitos; cada uma dew t§ detenninada em relacio a seu outro. 2) Compara-ae, ponto por ponto, como cada uma detennina seu emo4d e para-sl, e como se situa frente a efetividade. A pura intelecoAo tennina apelando Para que todas as consciMcias sejam racionais.
INTRODUCAO t.
CQmpara~o com as duas figuras anteriores
No Mundo£tico, a consciencia simples, em unidade imedi,ta com sua8ubstincia, nio dava lugar-A aliena~io. .Esta ocorre quan~o asubstancia significa um 'ser ai' excludente do Si, com 0 qual ele s6 entra em unidade alienando-se e assim produzindo sua substAncia. No Estado de Direito, surgia a ciBio entre 0 SI dapessoa e 0 mundo, (que se determinava como exterior e negativo). 56 que a efetividade, ao mesmo telllPO presente e estranha, e ainda essencia
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elementar e contingente, 'violencia extema de elementos desencadeados, pura devasta~io'. E 0 Si, concebido como valida imediatamente em-si e para-si, (sem aliena~io mas sem substancia) nio passa de joguete dos elementos tumultuosos. Agora, no Mundo da Cultura, 0 'ser-ai' da efetividade; a essencia da substancia vem do 'desessenciamento', da 'extrusio', da 'aliena~io' do Si; formando um mundo espiritual - compenetra~io do ser e da individualidade - posto que e obra sua; mas onde nio sereconhece: parece-Ihe algo estranho. 2.
Articu1a~o
intema deste capitulo
Deste modo, a substAncia ~ Espirito, e e Unidade (consciente de si mesma) do Si e da Essencia. Ora, cada um destes termos se situa como aliena~io um do outro: Espfrito e a consciencia de uma efetividade, que e objetiva; Unidade do Si e da Essencia contrasta com esta consciencia, como consciencia pura frente a consciencia efetiva. De um lado, pela 'extrusDo', a consciencia-de-si efetiva passa ao Mundo efetivo e vice-versa. Por outro lado, sio suprassumidas efetividade, pessoa e objetividade em puros universais: sua 'aliena~iio' e a consciencia pura (essencia). ~ por isto que este Espirito nao forma uma Mundo t1nico, mas um mundo cindido em dois mundos opostos. Ao contrario do mundo etico, que era sua propria presen~ae cuja unidade prevalecia sobre a dualidade das potencias, aqui tudo tem um espirito estranho: 0 Todo (e cada momento singular) repousa numa realidade alienada de si mesma, que se rompe num reino caracterizado pela efetividade da consciencia de si e de seu objeto; e noutro reino, 0 da pura consci8ncia, al~m -do primeiro, e onde reside a Fe. 0 Mundo ~tico, quando retomava a si, dava no Si singular, a 'pessoa' do direito; mas 0 Mundo da cultura encontra em seu retorno 0 Si universal, a consciencia que captou 0 cOnceito. ~ a 'pura intelec~io' em que a 'Cultura' se consuma na '~poca das Luzes': reduzindo tudo a conceitos, transmudando todo ser-em-si em ser-para-si, perturbando ate a ordem caseira que arrumava 0 Mundo da· Fe, leva-se a cabo a aliena~io. Porem, quando a realidade efetiva perde toda a substancialidade, naufragam juntas Cultura e Fe. Surge entio a Liberdade absoluta, em que 0 Espirito, antes alienado, retoma todo a si; e emigra da terra da Cultura para a da consciencia moral. o Mundo do Espirito alienado de si mesmo tem dois reinos: 1.0) 0 da Cultura, ou da aliena~ao do Espirito; 2.°) 0 da Fe, ou da pura consciencia. f: 0 oposto ao 1.°, e portanto, a aliena~ao; mas e
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uma aliena~io l seguilda potencia, como fuga do reino da presen~, como consciencia dilacerada entre dois reinos distintos que abarca . a ambos.
o Si 56 6 efetivo para si mesmo quando suprassumido. Assim: 1.°) nio constitui, para-si, a unidade da consci8ncia-de-si e do objeto, j4 que este the parece seu negativo; 2.°). mediante 0 Si, como sua
alma, a substincia e formada em seus momentos, de tal forma que um oposto d' vida a outro, e dele a recebe; mas tem a sua determinidade como um valor insuper4vel, uma firme efetividade frente ao outro. A forma maisuniversal que· toma esta dife~ 6 a oposi~o absoluta do Bem e do Mal. Como se repelem mutuamente, nio podem convir no mesmo. Mas como estes seres fixos tem uma alma - que 6 a passagem pelo seu oposto - , 0 'ser-af' 6 a inversio de toda a determinidade na· oposta; e 56 a alien~o ,6 a essencia e 0 sustento do Todo. (Este capitulo analisa justamente 0 'movimento efetivante' que e a anim~o dos momentos. Como seu resultado - quando a alien~ se aliena a si mesma - 0 Todo se retama no conceito: 6 a Ilustra~io). Sio estes os momentos em que se divide 0 reino da Cultura, vistos em seus v4rios mveis ou instincias: 1.0) na estrutura imediata da substincia: 'MQ8SQS de um mundo'. A natureza oferece aqui uma homologia estrita com 0 Espirito: OAr 6 es&encia permanente, universal e transh1cida; a Agua, essencia sempre sacrificada; 0 Fogo, sua unidade animadora, que dissolve em si seu oposto e desdobra nele sua simplicidade; a Terra, fulcro de toda essa· articula~o, sujeito das es&encias e de seu processo, ponto de origem e de retorno de tudo. Assim tamb6m a Ess8ncia interior do Espirito se desdobra, como um mundo, em 'massas': a primeira e a essencia espiritual, em si universal e igual a si mesrna. A segunda, a essencia que e para-si; desigual de si mesma, sacrifica-se e entrega-se. A terceira, que sendo consci8ncia-de-si e sujeito, tem a fo~a do fogo. 0 Espirito, ser-em-si e para-si do Todo, desdobra-se: na substincia como permanente e na substAncia como 0 que se sacrifica; e as retoma, de novo, na unidade. £ chama devoradora e figura permanente. 2.°) No interior da pura consci8ncia: essl.ncias em-si essentes (pensamentos). A primeira essencia, igual a si mesma, imediata e imut4vel: 6 0 Bem: A seu lado, 0 movimento da consci8ncia-de-si 6algo incidental. A outra, _ncia espiritual passiva, que se abandona e debta os individuos nela tomarem consciencia de sua individualidade, 6 0 Mal. A dis.olu9io da es&encia nestes momentos 6 permanente (auto-sustentada); a primeira, 6 a base, ponto de partida II' resultaC:lo dos individuos que do ai puramente universais; a segunda, es&encia para outro, 6 exatamerite por isso, incessante retomo do individuo a si como singular, permanente 'devir' para si. 3.°) Para a consci8ncia efetiva: ess8ncias objetiva8. Estes pensamentos, alienados de si, sio mementos objetivos para a consci8ncia efetiva. A primeira eHancia, 6 0 Poder do Estado. A segunda, 6 a Riqueza.
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§ 1.0 -
1-
A cultura e seu reino da efetividade Genese do mundo da cultura
A consci8ncia-de-si, por 'extrusio' de sua personalidade, produz seu mundo: mas comporta-se frente a ele como se fesse algo estranbo, de que ela agora tivesse que se apoderar. Mas a ren11ncia de seu. ser-para-si 6 identica l produ~o da efetividade e 0 apoderar-se dela. Ouer dlzer: a consci&ncia-de-si 56 6 algo, 56 tem realidade, l medida que se aliena e assim se pOe como universal. Nio estamos mais no Estado de Direito, onde a pessoa era reconhecida pelo simples fato deser; aqui 56 vale enquanto, alienando-se, se tomou conforme aouniversal. £ uma universalidade 'devinda' (gewordene), portanto efetiva. Oindividuo vale pela Cultura, aliena~io de seu ser natural: no mundo da Cultura 56 alcan~ efetividade quem 'sai' de Ii meamo, e portanto chega ao universal. 0 fim e 0 conteudo de sua vontade 56 podem ser um universal; Dio 0 individual, particular, especifico, tudo 0 que denota a natureza e nio a cultura. (Notar que em frances es~ce 6 um pejorativo para designar mediocridade desprez{veI. 0 alemio d4 a seus equivalentes um matiz honesto, como para ocultar esta inevit4vel CODota~). Cultivar-se, para 0 individuo,6 fazer de um em-Ii algo reconbecido e um 'ser-ai'. 0 movimento da individualidade· que se cuItiva 6 seu 'devir' como essencia objetiva universal, isto 6, 'devir' do mundo efetivo; que se apresenta como algo estranho e alienado, na forma de uma efetividade fixa. Porem, certa, ao mesmo tempo, de que este mundo 6 sua substancia, quer dele se apoderar pela CuItura. Ora, 0 que se apresentaao individuo como· seu poder que lubjuga e suprassume a substincia, 6 identicamente a efetiva~o de l!ubstincia. A fo~a do individuo est4 em par-se como a substAncia objetiva que 6, atraves da 'extrusio' de si. Sua Cultura e efetivid8de·.sio pois, a efetiva~ da substincia.
2 -
Estrutura do mundo da cultura: um reino essencialmente . dividido
o Poder do Estado exprime, para os indivfduos, a sua essencla: e a 'Coisa Mesma' absoluta, onde a singularidade e consciente de sua universalidade. Nesta obra, ou resultado simples, desaparece 0 fato de que tira sua origem dos indivfduos; permanece como base de sua a~ao e substancia de suas vidas. Mas, entao, na inalteravel igualdade consigo mesma, e ser, portanto, somente para outro e deste modo, identico a seu oposto, a Riqueza. A Riqueza, inversamente, embora seja 0 'passivo' e 0 'nulo', e resultado do agir e do trabalho de todos e se dissolve no gozo de todos. £ certo que no gozo a individualidade 'devem' para si, como singular; porem, examinando este momento pelo lade de fora, se ve que em seu gozo, da a gozar a todos; como no trabalho, trabalha para todos. 0 egoismo e ilus6rio; nao pode tomar efetivo 0 que supOe: fazeralgo que nie redunde em vantagem para todos. 4.°) Para a consciencia julgadora: rel~Oesde 19ualdade ou de .Desigualdade. Soberania e Riqueza estio presentes para 0 individuo como objetos, quer dizer, coisas frente ~s quais 0 Indivfduo se sabe livre e cre poder escolher uma delas ou nenhuma. Sua propria essencia, livre e pura, tem como parametros 0 Bem e 0 Mal. A rela~ao desta essencia pura com a essencia efetiva eo· juizo. Vimos acima um primeiro juizo, que determinava 0 Poder como Bern e a Riqueza como Mal; nao era um jufzo espiritual, porque um lado foi determinado como em-si e 0 outro para-si; ora, urna essencia espiritual e a compenetra~ao dos dois momentos,· e a consciencia que com eles. se relaciona e tambem .em.ai e para-si. Portanto, e preeiso que entrem em rela~o de forma dupla, pondo para fora sua natureza: a de serem determina~s alienadas de si mesmas. Assim, bom para a consciencia e 0 objeto em que se encontra a simesma; mau, onde encontra 0 seu contrario. Os criterios do bem e do mal sao, pois, Igualdade e Desigualdade. Mais ainda: 0 que e born ou mau para ela, ebom ou mau em si; a consciencia-de-si e 0 espirito efetivo das essencias objetivas; 0 jUlzo demonstra . seu poder sobre elas, /az delas 0 que sao, em-si. Num novo juizo, ressalta 0 ser efetivo que estas essen~as adquirirem: seuproprio espirito. Agora a consciencia encontra no Pocler a~nas seu em-si; mas nao seu para-si, ja que seu agir singular e negado ereprimido pela obediencia. Entio, 0 Poder e 0 Mal, por ser desigual para a individualidade. Ao contrario, a Riqusza e 0 Bern, tende ao gozo universal, quer comunicar-se a todos, doadora de mil mios. . Mas a consciencia, deste modo, se relacionou novamente de forma incompleta com seu objeto: s6 usou como pamo de medida 0 ser-para-si. Deve levar em conta 0 outro lado para completar 0 juizo espiritual: 0 em-si. Agora, 0 Poder do Estado exprime a essen-
cia: Lei estavel e Govemo que coordena os moviment08 singulares do Agir universal; fundamento do ser e do agir do indivfduo. £, pois, 0 Bem. 0 Mal entao e a Riqueza, onde 0 indivfduo s6 experimenta ogozo efemero de sua singularidade, em desigualdade com sua essencia. Este momento se distingue do primeiro juizo, que embora se movesse no em-si, era imediato; enquanto este vem depois da media~o do espirito que 0 converteu em algo distinto. 5.0 ) Enfim, na 'figura~io do juizo', Duas consciencias: a Nobre e a Vii. Ha sempre portanto, uma igualdade (Bem) e urna desigualdade (Mal). Aplicando agora a consciencia, que julga, 0 criterio que ela inesma estabeleceu; boa e a consciencia da igualdadt" e 8 da desigualdade. De fato, no mundo da Cultura existem estas duas consciencias, a consciencia Nobre, para quem tanto 0 Poder quanto a Riqueza sio iguais; e a consciencia Vil, que manterit- rela~s de desigualdade com ambas as essencias. A consciencia Nobre considera 0 Poder a efetiva~ao de sua essencia; pOe-se a servi~ dele com obediencia interior. Ve na Riqueza seu outro lado essencial, 0 que lhe da consciencia-de-si; e reconhece por benfeitor quem lhe da- acesso a ela, no gozo da Rio queza. A consciencia vil acha que a Soberania e opressio tiranica de seu ser-para-si; se obedece, e com 6dio. Gosta da Riqueza, mas a despreza, e acha que com 0 gozo desaparece qualquer referencia ao doador. A consciencia efetiva possui nela os dois principios: a diferen~ recai s6 em sua essencia, ou seja: na rela~io de si mesma com 0 real. Devido a sua separa«;ao, tambem 0 juizo espiritual, como um todo, esta cindido em duas consciencias, cada uma submetida ~ determina~o unilateral. Ainda nao se tomaram aquilo que sao: sao predicados, nao sujeitos; n80 sao, nelas mesmaS, consciencias-de-si. Ora bem: como os dois lados da alien~ao ('pensamentos' de Bem e Mal; 'ser-ai' efetivo do Poder e da Riqueza) se elevaram da mutua indiferen~a ~ rela~ao de ambos, no juizo; assim tambem vai efetuar-se Olltra eleva~ao, para unir os juizos num silogismo, por urn movimento media~or, onde surgem anecessidade e 0 meio-termo.
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137
rna.
3 -
A aliena~io constituinte do poder do Estado
o jUlzo da consciencia nobre refere-se ao Estado, quando este ainda nao e em Si; apenas a substancia universal, fim e conteudo desta consciencia: renuncia a seus fins particulares. heroismo do servi~, virtude que sacrific~ 0 singular ao universal eleva 0 universal ao'ser-ai'. Porem, pelo mesmo movimento, a consciencia 'senda-ai' se cultiva para a essencialidade, mediante sua 'extrusao'; e pela cultura
cia ou conte6do. Aqui por6m vale como Linguagem: recebe por contetido a sua forma; realiza 0 que significa. A Linguagem 6 0 'aero-ai' do puro Si, do singular como tal, do Eu como Eu; e nio h8 outro;qualquer outra exterio~ (Aruserung), que nIo a linguagem, 6, figura donde 0 Eu pode retirar-se, retom&r sobre si, deixan~ do-a vazia (por exemplo, a a~, ou a expressio fision6mica). 86 a Linguagem exprime em sua pureza, e d4 objetividade e tambem universalidade ao Eu. 0 Eu proferido 6 escutado; como. por cont'gio, entra em contato com aqueles para os quais eDste e 6 consei&1eia-de-si universal. Mas nisto expira seu 'ser-ai': retoma entia
a si mesmo como um 'agora' consciente de si, que 6 um nio-estar-lll logo . que esteve, e estar na medida em que desaparece. Desaparecimento que 6, pois, sua permanenela: 6 seu proprio saber de si como quem passou a outro Si, que foi escutado e que 6 universal. . A unidade, que 6 0 Espirito, surge como um meio-termo entre os extremos que sao consci8ncias-de-si que sabemeste puro Si como efeti'Vidade e sabem que isso 56 se d' atrav6s da media~ao alienadora. Oeste modo, os extremos sao purificados como categoria autoconseiente e se tomam momentos do Espirito, que entra no 'ser-ai' como eapiritualidade. Embora seja meio-termo entre os extremos dos quais recebe 'ser-ai' - 6 tamb6m 0 Todo espiritual que irrompe entre os extremos, e que 56 atrav6s deste contato produz cada um deles para 0 Todo. Por estarem ()s dois momentos j' decompostos e suprassumidos em si, sua unidade brota como movimento, que ao rejunta-los, permuta suas determina~s respectivas, reunindo-as em cada extremo. Tal media~ao introduz na efetividade de cada extremo 0 seu conceito, quer dizer, eleva 0 que cada urn 6 em-si a seu espirito. Assim, Poder do Estado e conscieneia nOOre - que sio os extremos de que falamos - sao desdobrados e purificados em dols momentos da linguagem: no Universal abstrato, (Bem em-si eVontade em geral), e no puro Si, que no servi~ ao Poder renuneia a 1odo. No conceito, sao 0 tnesmo: 0 puro Si 6 precisamente 0 Univenal abstrato, 6 sua unidade posta como meio-tenDo. Por6m 0 Si 56 6 efetivo no extremo da consci8ncia e 0 em-si 56 6 efetivo no . extremo do Poder do Estado. Falta ainda: que 0 Poder do Estado passe a consci8neia-de-si efetivamente (e. nla .apenas como hooraria) e que se)a obedecido como uma vootade que toma decisOes (e nao como Bern univeraal). o movimento mediador, cujo ser-a{ simples 6 a linguagem, toma efetivo' e eleva ao Si 0 Poder do Estado. Mas, como nlo 6 ainda diMogo entre dois Si, esta Linguagem nla enuneia 0 Espirito de modo completo. . A conseieneia nobre profen a Linguagem que configura como Todos. animados os dois lados cia rela~. 0 servi~ vira LisDnja, sua verbaliza~o reflexiva que eleva 0 Poder (que antes era s6 em-si) a seu ser~para-si (ou • singularidade de uma consci&ncia-de-si): o Monarca ilimitado. llimitado, porque'a linguagemdepurou seu ser-ai. em universalidade do espirito, em limPida igualdade consigo mesmO. Monarca, porque a Linguagem levou ao cWnulo a singularidade, a sua pureza de 'ser-ai', dando-lhe um nome proprio (Luis XIV). Este singular se sabe·singular como Poder Univlraal, porque 08 Nobres, sempre dispostos a servir, em volta do trono, dizem a seu ocuparlte 0 que ele ~.
13&
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obt6m
0 respeito de si mesma e dos outros, enquanto 0 Poder do Estado, de' inicio apenas universal pensado, torna-se potencia efedva. Contudo, 56 6 tal pot!ncia na obedi~neia efetiva da consci~ eia-de-si, que 0 julga sua es~neia e por ele se sacrifica livremente. Este movimento ainda 6 incompleto: a aliena~o ainda nao produziu 0 Poder do Estado como ulna consci~neia-de-si, que se sabe Poder do Estado: I)iotem vontade propria,' porque ainda naa ocorreu a 'extrusio' do puro Si da conscieneia que vivificasse 0 Poder. 861he sacrificou seu 'ser-ai' e nio seu ser-em-si; gra~ a este 6 reconhecida e honrada. A hoora 6 represen~o esseneial na opiniio geral, '(inico reconhecimento do Orgulh08O vassalo que atua para 0 Poder do Estado. Como 0 Poder do Estado esta ainda sem vontade, nio 6 Govemo capaz .de decidir, nem, portanto, poder efetivo do Estado. E como 0 vassalo nao se lhe saerificou ainda como vontade, seus conselhos sio a ret6rica do Bern Univenal, mas de fato substituem por palavras a ~o em prol .do Bem, ou entio raeionalizam . interesses partieulares de sua elasse. Com efeito, 0 sacrifieio do 'ser-ai', a sua completa 'extrusio', 6 a Morte. Como se con~nua vivo; 0 interesse particular sobrevive, tomando suspeitos eases Consolhos para 0 Bern Univeraal. 0 ser-para-si so conduz, pois, de forma d~igual para com o Estado; isto 6, eai sob a determin~ da conscleneia vii, sernpre di_posta • revolta. Como 0 ser-para-si vai encontrar um saerifieio~ perfeito quanta a morte, mas onde consiga permanec:er, nessa 'extrusla' de si mesino? ComO pqdeti ser a unidade id8ntica de si mesino e de BeU oposto?Como Behar uma aliena~loem que 0 Si, como tal, estenda-se para fora e so aliene, enquanto 0 Poder do Estado se eleve a um Si proprio? A resposta 6: na Linguagem e 56 nela. '
4 -
A media~o alienadora da linguagem
A Linguagem, como Lei e Mandamento no Mundo 6tico; como
Conselho 'no da efetividade, era apenas a forma que assumia a
~
5 -
Inversao e
suprassun~ao
dos momentos
Ponto de convergencia e de fusio da multiplicidade dos Si, este Poder personalizado deriva sua efetividade do sacrificio que a . consciencia nobre faz do proprio pensar e agir. Mas e urna independen~ia alienada de si mesma: a consciencia nobre recupera a universalidJde efetiva em troca da'extrusio' da universalidade do pensamento; e, transferido a consciencia nobre, e que 0 poder se toma verdadeiramente ativo. 0 Poder do Estado' refletido em si, O'J tornado espirito, significa que ficou sendo momenta da consciencia-de· -si; quer dizer, s6 e como suprassumido. Mas desta maneira e Riqueza, essencia cujo espirito e ser sacrificado'e distribuido. Nao que deixe de existir como efetividade frente a Riqueza, porem n~la se .converte segundo seu conceito, que eeste movimento de passar, atraves do servi~o e da homenagem, em seu contrario, pela 'extrusao' do Poder. Atraves do sacrificio da consciencia nobre, a universalidade do Poder efetua uma 'extrusao' na completa singularidade e contingencia, que se abandona a qualquer vontade mais poderosa; e assim 0 que resta de sua decantada independencia e urn nome vazio. Portanto, a verdade da consciencia nobre - que se determinava por uma rela9io de igualdade com 0 Poder - 6 conservar seu ser-para-si no' servi~: e, na renuncia de sua personalidade, suprassumit e dilacerar a substAncia· universal. Entio e um espirito de suprema desigualdade, e com isso desapareee sua distin~io com a cons. ciencia viI. E esta ultima tamb6m desapareee, por ter conseguido seu fim: colocar 0 Poder universal debaixo de si. A Riqueza 6, para a consciencia, 0 universal subjugado: como este acaba de surgir, ainda mantem uma rela~ao imediata· de igualdade com a consciencia. A consciencia nobre recebe no beneficio seu ser-para-si tornado inessencial, reconheeendo a Riqueza e agradecendo ao Benfeitor. No entanto, a Riqueza s6 tern de essencia a forma: 6 um ser-para-si unilateral, .retorno inessencial do individuo a si mesmo, no lOw. Precisa ser vivificada, tomar-se em-si e para-si, receber seu proprio espirito. Mas entio, a consciencia nobre vai encontrar diante delao seu 5i alienado: comefeito, ~u Objeto e seu para-si: porem, por ser. objeto, 6 uma efetividade alheia, com ser-pars-si proprio e vontade propria. Ve, pois, seu 5i em poder de urna vontade estranha,de quem depende dar-lho ou nio. Sua personalidade, seu Eu estio na dependencia do arbitrio de outrem, de urna circunstincia casual qualquer. A gratidio. se .acompanha de urn sentimento de profunda abj~io e revolta. Vendo seu Eu assim fora de si e dilacorado, tudo 0 que tem continuidade e universalidade tambem se
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rasga: Lei, Direito, Bem. Em lugar da igualdade, s6 resta a mais completa desigualdade, a inessencialidade do essencial, 0 ser-fora-de.si do ser-para-si. Embora tal consciencia recupere esuprassuma a riqueza da objetividade do ser-para-si, nio e este 0 seu coneeito; alem de nao se itpplementar, fica insatisfeita consigo mesma. Quando se ~upera pela reflexio como algo objetivo,ai e que sente a contradl~ao que a dilaeera. No entanto, esta consciencia, como 5i, consegue elevar-se acima da contradi~ao: e absoluta elasticidade, que suprassume 0 ser suprassumido .do Si, rejeita a rejei~ao e rebelando-se contra este receber-se a si mesma, e para-si neste mesmo receber ... 6 -
0 discurso dilaeerado
Aqui nio existe distin~o entre consciencia nobre e ~nscie!1 cia vii: a consci8ncia do dilaceramento 6 urna s6. Cabe, Slm, diStin~o entre consciencia benfeitora e .beneficiada. A ~queza benfeitora d8 aos outros seu ser-para-Sl: sabe-se potencla que domina 0 5i independente e arbitr8ria; e sabe que 0 beneficio que outorga 6 ~ ser do outro. Comparte com seu cliente a abj~ao, s6 que a arrogincia toma 0 lu~ar da revolta. Julga te~ga~o um Eu estranho por urn jantar, subJugado 0 que tem de malS intimo e de~ conhece a profunda revolta que tudo dilaeera, acom~ pela Oplniio do benfeitor. Nada ve neste abismo que tem .diante, a nao ~r ban~idades; sua opiniao e que e inessencial e fica na superf{cle abandonada pelo espirito. Como a consciencia tinha uma linguagem frente ao Poder, m tamb6m a sua frente a Riqueza: uma linguagem de revolta. A LIQguagem dava a Riqueza consciencia de sua es~encia!idade, .e ~ela se apoderava: mas c;ra entio urna linguagem Ign6~I1, expnmtndo como essencia 0 que sabia nio passar de uma essencla abandonad~, que nio era em-si. Alias 6 proprio do discurso da Lisonja ser. umlateral, ter por objeto 0 em-si, exclusivamente: escapa-lhe 0 51 e a unidade deste cOm 0 em-si, onde se opera sua a9ioreciproca. Ao contrario 0 discurso dilaeerado e completo: e 0 verdadeiro espirito existente 'neste mundo total da cultura. Aconsciencia-de-si revoltada, que rejeita a rejei~, e ab$Oluta .igualdade C?nsigo no ab$Oluto dilaeeramento: 0 Euse tem por obJeto comOSI-mesInO e a lin~gem como outro, ao mesmo tempo e de modo imediato. da inversao universal e da aliena~io da efetividade e do pensamento. Nio encontra verdade nas essencias efetivas - Poder e Riqueza; nem nos seus 'pensamentos': Bem e Mal: nem nas consciencias, Nobre eVil: porquanto, todos estes momentos se invertem no. contrario de si mesmos. Assim, 0 Poder, quando recebe um 51 do
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~rincfP!o da individualid~de, ~ apenas um nome vazio; quando efetivo, na~ passa de es&encla impotente que se sacrifica: mas quando se ~cha no abandono, como urna coisa,. entia ~ retorno da essancia a SI mesma, e verdadeiro ser-para-si e exist&ncia do Espirito. Tambem no ~uts d~ movimento, a ~nsci&ncia nobre se mostra abjeta: por ser mats culta e livre - tem mais nobreza e a consclan~la q~ a. ~nscla~cla nobre.. 0 ser-para-si ~ a perda de si mesmo; a alie~ de Sl, sua propna preserv~o. Os momentQS exercem uma justi~ universal recfproca: cada qual se aliena de si mesmo se encarna (einbildet) em seu contririo, e deste modo 0 inverte. ' verdadeiro espfrito 6 a unidade doe extremos absolutamente separados; e tambem seu meia-termo. 0 discurso do dilaceramento universal ~ seu 'ser-af' que reside na dissolu9io de todos aqueles momentos que se apresentavam CODlo ess&1cias, membros vivos do Discurso verdadeiro e irretorqufvel, que tudo subjuga: ~ 0 Unico que conta neste Mundo efetivo. A ~iancia simples e honrada 6 &em cultura,. e assiln, fixista e inconllStente; niO pode enfrentar a· conscietlcia dilacerada. Poil tolna 01 ~ntos por essanci~ fixas; dispena 01 pensamentos, que a consciancla da inversio Ibsoluta redne em conceitos. discurso dilaceradq inverte tuclp; ~ fraude univenal contra si e conn todos, mas no descaramento de proclllriar esta fraude, est' sua maior verdade. Lembra 0 mdsico quemlsturava Uiaa e tons. A consci&ncia honrada prefere 0 uml8OllO do· Rem e do Verdadeiro; mas Dada tem a c:Iizer que j' nlo estejl dito pelo espfrito cia cultura~ 0 espirito inverte toda a monotonia, porque a igualdade c:onsigomesmo 6 s6a~: nl efetividade 6 inverslo de Ii mea~. Se a. oonsci8nciaretaquer iclentificar 0 Rem e Q Nobre, como o que fica 19ua1 a 8i mesmo naaua exterioriZ89lb" (AU8ImUJg) e Be ali· Be encontra ~o e milturado. com 0 Mal, 6 "po..que assim pede a aabedoria da natureza"; est4 apenas reaumindo de· modo banal 0 q~ 0 Espfrito afirma. Se tenta estabeleeer a p~ do excelente. CltandQ urn exemplo ou anedota oode ele Be mOltra,· est4 reduzindo 0 excelente a urn caso sinplar,. ~ do agir invertido~ m~; 6 0 pior que Be poua dizer do Exeelente ... Quando a COIlSCiellcit simples exorta ao individuo a que saia deate mundo,daaduas, uma: ou Be "dirise ao individuo singular, e entlO, aI6m de iml*Sfyel (pois Di6genes em seu to1lel eit4 condici~· pelo ambiente que 0 cerca), 6 imoraI, porque 0" Mal est4 ~. 0 ind~vi~uo de si mesmo ea.quanto singular. Ou entio se dirise ao mdivfduo umvenal, 0 que 6 abaurdo: pretende que a Razio abandone 08 progressos da" Cultura para voltar ao estado selvagem nas ~ da consci&ncia allimal, a que cbamam 'Natureza: ou rInocencia'. . . .
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Todo.
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cuidat:
Epflogo: "Vaidade das vaidades, tudo ~ vaidade"
:£ ao Espfrito mesmo da Cultura que a exigencia deve ser feita, para que, voltando desta confusio a si mesmo como espfrito, aceda a uma consciencia mais alta. Alias, nem. precisa: pOis quando 0 espi· rito volta seu riso itanico sobre a confusio em que se debate, ja se esmo ouvindo os ecos da agonia desta confusio. A tomada de conscicncia de sua vaidade da-se por uma reflexio feita de dois modos:primeito, 0 espfrito, que caiu em si, dirige seu olhar para o Mundo da efetividade, como a seu fim e conteudo imediato. Segundo, seu olhar se dirige em parte, sobre si mesmo,em parte sobre o Mundo do qual se afasta em di~o ao ceu, tendo por objeto 0 al6m. A reflexio na pura univenalidade do pensamento sed examinada DO par4grafo seguinte. Vejamos agora a outra. No que conceme ao retorno ao Si, a vaidade de todas as. coisas ~ sua propria vaidade. Sabe expressar com espirito brilhante, em sua contradi~o, tanto as essencias fixas da efetividade, quanto as d!'termina~ fixas que pOe em jufzo. Sabe tudo como alienado de si mesmo: 0 para-si separado do em-si; 0 fim, da verdade; e sabe expressar cada momento em oposi~io ao outro. Mas s6 conhece a substAncia pelo lado do conflito: julga porque 6 incapaz de captar. Sua vaidade precisa da vaidade de todas as coisas para dar-se a consciancia de si mesma. Poder e Riqueza sao os fins supremos de seu esfol'\lO. Pela renuncia e sacriffcio se cultiva para 0 univenal; entra em sua posse, e por ela alcan~ a validade. Mas note-se que apoderar-B!! do Poder e da Riqueza ~ estar por cima destas potencias, que se tomam, assim, vas. Isto se expressa na linguagem brilhante do esp£rito, que ~ a verdade de todo o Mundo da Cultura; af 0 Si como puro Si encontra validez espiritual verdadeiramente universal. Este Si, que ~ a natureza dilacerada de todas u rela¢es, 6 consciancia dilacerada, que ao saber 0 seu dilaceramento, se eleva acima dele. E, como todo conte11do se torna negatiyo e vio, 0 objeto positivo fica apenas 0 Eu para si mesmo: a conscicncia dilacerada ~ em si a pura igualdade consigo mesma que retomou a ai. § 2.° -
1 -
A Ie e a pura intekc¢o Origem e estrutura
Quando 0 Mundo da cultura - que 6 0 rser-af' cia ali~ se aliena como um Todo, sobe mais alem. ate ao Mundo inefetivo da pura consciencia ou pensamento. Podeser q~ tome estes pensamentos por eletividades autenticas, fazendo deles, representafOes.
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Isso ocorre porque 0 processo percorre ainda uma fase de imediatez, onde a
desloca-se do pensamento para a representatrio, torna-se um mundo supra-sensivel, que ~ essencialmente um outro em relatrio a consci8ncia-de-si. Enquanto a pura intel~io ~ a passagem do pensar a pura consci8ncia, onde a objetividade vem a significar um conteudo puramente negativo, que suprassumido retorna ao Si, que 6 0 dnico objeto de si-mesmo; ou seja: para ela 0 objeto s6 tem verdade enquanto tem a forma do Si.
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2 -
Ess8ncia e efetividade
Analisemos agora, comparando ponto por ponto, a F6 e 0 seu Outro: a Pura Intel~io. T8m muito de comum, por serem ambas retorno ao elemento da pura consci8ncia, a partir do mundo da cultura. Assim: 1.0 ) cada momento, fora de tOOa a relatrio, 6 em-si e para-si; 2.0 ) refere-se ao mundo efetivo (oposto a consci8ncia pura); 3.0) refere-se ao outro, no interior da pura consciencia (a Fe e objeto para a pura intelec~ao).
A fe o em-si e para-si da consciencia crente
~ 0 seu objeto absoluto: sendo a F~ apenas 0 mUndo efetivo elevadoa universalidade da consci8ncia. conserva as suas mesmas articula~s. Porem seus espiritos (as tres pessoas)nio se alienam por efetuar seu retorno e ,permanecerem em si mesmos. 0 primeiro, que no mundo da Cultura era o Bem ou 0 POOer do Estado. ess8ncia absoluta, ~ 0 Espirito em-si e para-si, enquanto substancia eterna simples. Porem, na
ceitos, por sua extrusio numa realidade sensfvel, que ainda lbe acrescenta 0 afastamento no tempo e no esp~. 0 conceito permanece no interior da consci&1cia creote como 0 espfrito que tudo efetua e que 6 tuoo; mas Dio vem l tona; ao contrUio, na pura intele<:9io, 0 6nico efetivo 6 0 conceito.
A pura inte~ o em.,i e para-si da pura
intel~ 6 a consciencia-de-si da es&encia, ou: a e&sencia tomada como Si absoluto. Quer suprassumir qualquer independ&1cia que seja ou~, reduzir tudo a concelto. Nio 6 56 a certeza da Razio que sabe ser toda a realidade, mas sabe que 6 esta certeza. o conceito j' surgiu: resta agora realiz4-10, reduzindo tudo a conceito, e reunindo num 56 conceito todas as consci&1clas-de-si, que assim entram na posse da pura intel~. IISO 6 resultado da cultura, onde se dilufram as diferen~ do Espfrito objetivo, as determina~ do jufzo que 0 exprimiam, e as diferen~ de naturezas origbWias. Agora a individualidade nio tem conte11do particular, nem fins pr6priOl: 56 conta pelo seu valor universal, parser :culta. Como tadas IS diferen~as foram abolidas, 0 outro para 0 Eu, 6 s6 o pr6prio Eu; quer dizer: 0 Si se sabeseu objeto como puro Si, a igualdade absoluta dos dois lados e 0 elemento da pura intel~iio. A pura intel~lo 6 0 espfrlto que clama a todas as consci&1cias: "Sede para v6s mesmas 0 que sois em v6s mesmas: Sede racionals".
INTRODU(:AO A Ilus~ teni deeisiva importincia na supe~ do discurso brilbante e vazio do Mundo da cultura: consolidando numa imagem universal, 'enclclop6dica', as vers6es mais pertinenteB e penctrantes da. 6poca, dissolveu numa intel~ universal a tagarelice infind'vel dOl julgamentos particulares. Po. sua guerra particular 6 contra a F6, ~ 'supersti~o' como' prefere chamar.
I L
A luta da DUItn9io contra • supend9io 1. 1.
Base· comum e din8mica geral do con/lito
SumUio Embora desempenhe urn papel importante no mundo cia cuItura, a IlustraQlose define e situa por seu contlito com a N. § 1.· - A luta cia nus~ contra a lIUpentI~. Expansio cia Pura IntelecoAo, a IlustraQlo d (como aN), uma forma cia para OODICifIlcia. COmbate a N Dum conmto cbeio de mal-entenc:U· doll, tendo. em pral razIo nO que &firma; • nIo tendo r:o~ nep.. COmo a CODICiAncia crente tem fo~ de eer as ~cIa Ilustraclo, ....: J' que do patrim6mo' cia ~, - 0 mundo·da N deavanece. § 2.· - A Verdacie da D~. Vencedora, a Dustraolo vem a dlv1dir-R em doIa part;idoa: RacionaUsmo e MateriaUBmo, Conforme identWque ;. eal6ncia com 0 puro peDlI!.lJ'8Dto ou com a matlria pura: Descartes aincla nAo apareceu para enunclar que penumento e lei' do 0 mesmo.COntudo, 0 Utwtartsmo d a clot1trina que oontdm a verdade cia Iluatrac;io.
F6 e pura intel~ slo a mesma pura consci6ncia, que assume duas formas diametralmente op06tas. Para a F6, a essencia 6 pen8lilmento, e nio conceito; po1'taQto, 0 absoluto opOlto 1 consci&1cia-de-si. Para a Ilustra~ - exPanBio da pura intelet9lo - a essenCia 6 0 Si. Desta opOll~o surge seu conflito fundamental; por6m o elemento comum a ambas _. a pura conscl&ncla - possibilita urn relacionamento fntimo e contagiante. . Na base do conflito est' que a Ilus~io considera. a F6 uma supersti~io, antfpoda da Razio e da Verdade. Atribul sua origem 1 inven~lo de padres impostores, aproveitados por d6spotas corruptos para abusarem das massas ignaras. A estrat6gia para debelar a supersti~io 6 0 esclarecimento das massas; nio adianta dirigir-se 808 padres e tiranos, pois a inten~io impura nio ouve a voz da Razio. A Razio penetra na conscibcia comum de dois modos: 1.0) por simples contato, como por osmose. J' que todaa consci&ncia· -de-sl 6 racional, a pura intel~o tern uma penetra9io,irresistfvel atrav6s do elemento comum da pura consci6~cia; e quando a F6 se d4 conta, j' est' toda mineda pelos princfplos racionallstas. 2.°) 0 outro modo 6 a pol6mica deelarada, a refu~o implac4vel dOl 'elTOl'. £ um embtlte cheio de equfvOC08 e contradi~; porque,para combater a F6, pure consciencia como ela e cujos conceitos se identificam com os seus, a IlUltr~ laz dela um Outro absoluto. Para lato tern de assumir um comportamento negativo, ou melbor, ser 0 negativo de Ii mesma; e a F6 Rio deixa de tet razio quando a aCUBa de ignorincia e m4 f6. . Com efeito, a pura intel~ carece de conte11do, enquanto a F6 6 cheia deles. Combatendo 0 conte11do da F6, a Ilus~ est4 se contradizendo, negando 0 que tamb6m afirma. Por6m este mavimento de combater a si mesma ~ identicamente 0 processo de sua 'efetiva~io' como Razio. Seu resultado, ser' uma intel~ que Be
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Capftulo 2.° -
A ILUSTRACAO
tomou conteudopara si mesma; que reconhece seu conteudo no que aparecia diante dela como objeto, quer dizer: que se toma con-ceito que se reconhece a si mesmo. No conflito que vamos analisar, a Fe s6 encontra na I1ustra~o sua face negativa e inten~ao· impura; e a I1ustra~io, como intel~io vazia, ve no seu conteudo, que encontra na Fe, 0 seu Outro. Nio superou ainda a fase da aliena~o. Apura consciencia --- como e a Fe - secaracteriza por apreender 0 objeto de tal modo que se tome a essencia da consciencia. A inteligencia 0 penetr~, nele se mantem, perto e presente; e 0 produz - consciente de si· mesma como seu movimento mediador como 0 agir e 0 produzir de seu objeto. Quando a I1ustra~ao critica a Fe por tomar como 0 absoluto um. ser de sua propria consciencia, nio ensina nada de novo a Fe que pela confian~, pela obediencia e pelo culto se encontra em seuobjeto como esta consciencia e como certeza de si mesma. 0 absoluto da Fe nie esta num mais-al6m de essencia abstrata, mas e 0 espfrito da comunidade,que implica como momentoessencial 0 agir da comunidade;e Dio 6 0 espfrito da comunidade a nio ser produzido pela consciencia. Querer fazer desta essencia algo estranho a consciencia e fabricado por impostores - quando e 0 que hat de mais proprio da consciencia - 6nio saber 0 que diz. Como pode haver impostura onde a conseiencia tem de modo imediato sua verdade e certeza de si tnesma? Onde, aoproduzir seu objeto, nele se encontra?
As negClfOes da llustrafao Nega 0 Absoluto da Fe. Para a F6, a essencia absoluta 6 representada. Por isso, a I1ustra~io a toma como 0 negativo da consei8ncia-de-si,como uma coisa ordinaria (essente) da certeza sensivel: pedra, pau, pio. Rebaixa 0 que para a Fe 6 vida efema e Espirito Santo ao nivel· das coisas sensiveis que para a Fe nao valern nada, pois ela s6 adora a essencia do puro pensamento. Nega os Fundamentos da Fe. A Ilustra~ critica a F6 por se fundar em c6dices e copistas contingentes; e no acase de sua conserva~o. Mas aF6, enquanto rel~o com 0 objeto absoluto, nie se mediatiza por coisas quetais. Quando pOe 0 problema do fundamettto nos termos da Ilustr~io, 6 porque jafoi contagiada por ela. Nega 0 momenta do agir da Fl. A eol1SCi8ncia crente acha que deve desapegar-se do prazer e da posse, renunciando a eles. A Ilustra~o julga isto uma insensatez. Mas entio, que prop6e? Que se fique s6 no desapeSO interior enquanto na .pratica se vive nos prazeres do sup6rfluo? A Ilust~. para a Fe, Dio passe de impostura e impureza de consciencia. 1.2.
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1 .3 .
As a/irmafOes da llustrafao
o conteudo, as 'verdades' da Ilustra~o ja transparecem nas crfticas que faz a Fe. A/irma a transcend8ncia da Ess8ncia Absoluta. Critica a Fe por atribuir ao Absoluto determinidades, que para a I1ust~a~io equivalem a finitude e a representa~s humanas. A essenCla absoluta nio se podem atribuir determina~ nem predicados. ValorizClfao do singular. Em contraste com esta essencia vazia, a I1ustra~ao afirma a singularidade em geral (da consciencia e do ser) comoalgo absoluto em-si e para-si. Trata-se de um retorno a certeza sensivel, depois de tod~ 0 p6riplo pelas figuras que percorremos. Nie6 mais a consciencia natural e imediata, mas a que 6 'devinda' tal para si mesma. (Em toda a consciencia existe a certeza deste ser outro: sabe que ela 6, que ha outras coisas al6m dela e que seu ser natttral e em-si e para-si, como tudo 0 mais). o conceitode Utilidade. Como a efetividade sensivel se relaciona com um vazio de determina~s e conteudo (a Essencia absoluta) a forma de sua rela~o com ele pode ser modelada arbitrari~ mente: de modo positivo, e entio e a realidade sensivel ou 0 em-Sl; ou de modo negativo, quando e apenas para-outro. ,De fato, .ambas as considera~s sao necessarias, porque tudo e em-Sl e para-Sl, quer dizer 6 lltil. Num momento, abandona-se 80S outros para que 0 desf~tem, mas logo se retoma e quer utilizar 0 outro p~ra .si. 0 homem saiu bom das mios de Deus, 0 mundo 6 seu Jardim de dellcias e tem, ainda, 0.privil6gio da consciencia; a qual collie seus excessos para que possa melhor gozar. (0 padrao demedida e o-que-Dio-tem-medida ... ) Seu proprio interesse 0 leva a set util a comuDidade pois ajudando. aos outros ajuda a si mesmo. Se todes as coisaS ~io uteis uma as outras, a religiao entio 6 a utilidade suprema. Claro que a F6 acha siniplesmente abominavel reduzir 0 relacionamento do ser humano com Deus a essa banal utilidade. Al6m do mais afirmar do ser supremo que e 0 ser supremo, 6 um saber vazio; ';0 fundo, equivale a fazer do finito 0 unico e supremo valor. 1.4.
A llustrafQo tem razQo contra a Ie?
Tem razao no que afirma, mas nio no que nega. Quando afirma, vem tomar presente 0 outro lado doconceito que a Fe na sua parcialidade esta ~esco~sideran~o. Quando ne~a, 6 a si mesma que desconhece nas aflrma~s e cal na mesma untlateralidade que ela. Toma seu conteudo como alga 'estranho', um outro que desconhece; porta-se co~o con~ciencia alie~ada. Mas quando afirma, precede como pura tntele~ao: por ocasiio de um
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momenta particular, va 0 Todo, donde evoca 0 pensamento oposto ao afirmado, que forma uma unidade com ele no conceito. 11 por isso que a Ilustra~o exerce urna 'violencia' irresistfvel sobre a F6, pois 0 conceito 6 0 direito comum da consciancia-de-si; e como a consciencia crente. nio ~ outra coisa, nio pode continuar ignorando este lado do conceito que estava perdido nalgumaparte de si mesma. Diante disso, podemos julgar sobre 0 m6rito da questio, que op6e as partes em conflito. o Problema da Esslncia Ab80luta e do Agir Humano. Est4 certa a Ilustra~o quando afirma que a· es&encia absoluta e a essencia da propria consci6ncia produzida como um 5i; que 0 momento do conceito e urn agir da propria consciencia. No fundo a Fe, nas suas representa~, vem a dizer 0 mesmo. Mas quando a Ilustra~io parte para a nega~o, opondo 0 agir (e 0 agir singular), ao ser, ao em-si, entia ela se percle, desvalori*Ddo as represen~ da F6 como fi~ sem conte6do, invencionices. .. Quando afirma que a Ess&1cia Absoluta ~ inacessivel u determina~ e.Dio cabe em atributos, diz algo que a F6 tamb6m proclama: que &ell Deus habitauma luz inacesafvel, e que &ellS caminhos sao inescrut4veis. ' Ao .criticar as represen~ autropom6rficas da Fe, moatra que a CODSCieDcia crente est4 cindida, num Ala - 'seu Absoluto, e num aqua - as coisas sensiveis que ora venera como ser supremo . ora ·rebaixa como banais e sem valor. Mas a IlU8~ tamb6m incorre em igual engano, ao "tomar a efetividade como uma essencia abandonada pelo espirito; faz da determinidade utna finitude inabal'vel, quando nio passa de um momento evanescente no movimento espiritual da essencia". . o Problema do Fundamerito do Saber. A F6, no intimo, nio pode negar \lID saber contingente: ela mesma se proclama uma consciancia inessencial frente ao Espirito que tem tada a verdade e d' testemunho. Mas esquece disso no momento de seu saber espiritual da e&sencia.' A Ilustr~ por6m 6 unilateral, quando nega que haja ai outro saber senio 0 contingente, pois "86 penn na ~ que se estabelece atrav6s de um terceiro estranho; e nionamedi89iO em que 0 imediato 6 para si mesmo.este ·terceiro, por meio do qual se mediatiza. com 0 outro, quer dizer, consigo mesmo". o Problema do Agir. Quando a Ilustra~ afirma 0 valor e a legitimidade do prazer e da posse, no fundo coincide com a consciencia crente, cuja ren\1ncia 6 antes simb6lica que verdadeira: h8 certa ingenuidade em pensar que com um ato singular se inverte urna tendencia universal. Mas a Ilustr~, ao negar' a validez de
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Be tomar efetiva e extema a inten~o interior, cai no extremo opasto, igualmente falso e demasiado f'cil.
1.5.
A Ie perde a batalha
No balan~ fmal, a Ilustra~o sai ganhando; consegue des.pertar a consciancia crente, fixando sua aten~o sobre aspectos que nio pode desconhecer, porque e consciencia-de-si, unidade a que pertencem ambos os lados do conceito, onde se unem no mesmo 5i inseparbel. Some a Fe, portanto, nesse profundo trabalho de tecelagem que 0 espfrito realiza dentro de si mesmo. Esvaziada de seu conte6do, toma-se outra Ilustra~; dela 56 restou um puro anelo, uma inquietude: e umii Ilustra~o insatisfeita. Contudo, a Ilustra~o propriamente di~ nio 6 tio satisfeita quanto aparenta: a falta que lhe faz 0 Mundo .espiritual perdido se percebe no vazio que· e essa E&sencia absoluta que tem por objeto; no movimento de &ell agir, que sempre quer ir mais a16m; e naquele atil, agora seu objeto: rico de conte6do, mas carente de 5i. § 2.
A verdade da
Il~
2 . 1. As duas IlustrClfOes Como um partido que se divide depois da vit6ria, a Ilustra~o vai si dividir em dois partidos, um dos quais toma as bandeiras do adversmo vencido, mostrando com issa que passui em si 0 principio que combatia ao suprassumir a unilateralidade com que este antes se apresentava. Por sua vez, a Fe foi absorvida na obscura tecelagem inconsciente do espirito, movimento de puros CQnceitos onde as diferen~ Dio se diferenciam. Entra em si para alem da consciaDcia; e ali - como 0 outro, ou 0 negativo da consci&ncia - , 6 0 ser, a pura mat6ria. Por6m, enquanto se p6e como es&encia ou objeto frente 8quele movimento, 6 puro pensamento. Notar que nos movemos na esfera da alien~o, onde a consciencia nio reconhece, como ess&1cia igual de ambos os lados, sua propria substincia. Nem sequer suspeita que a pura mat6ria sem determina~o sensivel 6 uma pura abstr89io: portanto, exatament.e o mesmo que 0 puro pensamento.. , Uma Ilustra~o chama 0 absoluto carente de predicados 'Essencia Absoluta'. A outra Ilustra~io 0 chama 'Materia'. A denomina~ de Natureza era mais rica, por incluir a rica diversidade da Vida; e a denomina~io de Deus tamb6m, por inc1uir· um 51. As duas Ilustra~s se hostilizam; mas no fundo, sio 0 mesmo movimento do espirito, somente que tomado em etapas diversas. Se
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fossem mais adiante veriam que ia dar no mesmo ponto, 0 queuma julgava loucura, e a outra, abomina~io. Mas neohuma das duas Ilustra~s chegou ate a 'metafisica' cartesiana para saber que 0 ser-em-si e 0 pensamento sio 0 mesmo; que 0 'puro ser' e uma abstra~io pura, enquanto 0 puro pensamento e que e 0 ser. Pensamento e coisidade e coisidade e pensamento.
2.2.
A utilidade
Como a essencia tem a cisia dentro dela, tem em si me~a a mas as diferen~s e a igualdade consigo mesma so retinem numa essencia s6: como se a essencia estivesse em rota~o em redor de si mesma. Ora, s6 ha movimento quando se desdobra em mementos distintos. Estes momentos sic: 0 ser-em-si; 0 ser-para-outro; e 0 ser-para-si. Sua realidade efetiva tem 0 nome de utilidade. Com efeito, 0 em-si subsistente (a 'coisa') e ao mesmo tempo somente momenta puro: e portanto absolutamente para-outro. Porem, s6 e para outro na medida em que e para-si. E 06 momentos opostos retomam a unidade inseparavel do ser-para-si. Contudo, 0 util nia e a pura intel~o, mas sua representa~o e objeto, onde se contempla em seus momentos pures, embora nio chegados ainda a unidade do ser e do seu proprio conceito. Mas quando as oposi~s amadurecem na copa do conceito, est' em tempo de virem a terra; e de recolher, a Ilustra~, osfrutos do seu agir. diferen~;
2.3 .
Recapitultlfoo
em certezas· singularizadas de si mesmo, sem que estivesse presente o ginero delas. 0 segundo contem 0 genero: reino do em-si ou da verdade, oposto aquela certeza. Agora, 0 terceiro, 0 mundo do util, e a verdade que e certeza de si mesma. Porem, 0 util e objeto enquanto nele penetra 0 olliar da consciencia-de-si, que vendo a fundo, descobre a verdadeira essencia do objeto: a de ser penetravel, ou de ser-para-outro. Mas entio, e um verdadeiro saber: onde a consciencia-de-si tem de modoimediato a certeza de si mesma;' onde estio juntas a verdade e a presen~a (ou efetividade). Ambos os mundos estio reconciliados: 0 ceu veio estabelecer-se· na terra. Capitulo 3.° -
A LIBERDADE
ABSOLUTA E 0 TERROR
SuaWio: A Liberdade absoluta tS a nova figura da conscl'ncia, que identifica 0 Mundo com sua vontade que tS uniV8fS&l. Como Dada admite de positivo frente a si mesma, cai numa .f11ria de destrui· c10 e d& lugar ao Terror, onde a morte tSa 1inica obra da liberdade universal. Porem, ao enfrentar a morte, 0 espirito retorna rejuvenescido a ai mesmo. Mais que de simples retorno, trata-se de uma inversio ab80luta; - onde 0 puro negativo $8 transmuda no pure positivo e donde, comoresultado, surge uma nova . F,igura: a Consci6ncia Moral.
1.
A LIBERDADE ABSOLUTA
A esfera do 'espirito alienado de si mesmo' - a Cultura consta de varias zonas, caracterizadas por seu objeto especffico. o mundo da cultura, cujo objeto era a vaidade daconsciencia-de-si; seu contetido e aquela confusio, apreendida num conceito singular (ainda nao .universal). A pura intelecfiio, tem por objeto este conceito retomado sobre si: a pura consciencia como puro Si, ou negatividade. A Fe tem seu objeto no puro pensamento ou positividade. Mas aquele SI e 0 momento que a consuma e consome. Nas duos IlustrtlfOes, surgem dentro da pura intel~o os dois momentos: essencia puramentepensada, ou negativa; e materia, ou BSsente positivo. . Para rematar, falta apenas aquelaefetividade da consciencia-de-si que tioha a vi consciencia: 0 mundo, a partir do qual 0 pensamento se elevava a si mesmo. ~ a utilidade que 0 proporciona, dando conteudo positivo a pura intel~o, e satisfazendo a consciencia efetiva. Por isso, e a verdade do mundo real e do mundo ideal de antes. 0 primeiro era 0 espfrito em sua existencia dispersa,
Liberdade Absoluta e a nova figura da consciencia: corresponde a ulD,a verdadeira revolu~io, que ocorre quando a Utilidade deixa de ser apenas objeto, fim, predicado, e passa a se identificar com o proprio sujeito, com 0 Si da consciencia. Com efeito, 0 ser-para-si a que retomam 0 ser-em-si e 0 ser-para-outro do util, oio e um Si diverse do Eu; e 0 puro conceito, 0 contemplar-se do Si no Si, 0 absoluto contemplar-se duplicado. o Espirito esta presente como Liberdade Absoluta: quer dizer, a consciencia-de-si se sabe como essencia de todas as massas espirituais do mundo real (estamentos) e do mundo supra-sensivel (diferen~ do pUro pensamento). Para ela, 0 mundo e apenas sua vontade, que e vontade universal. Sua universalidade nio vem duma 'representafoo poHtica': e uma universalidade real, de todos os indivfduos como tais: 0 que emerge como 0 Agir do Todo, e 0 agir consciente de cada um. A substancia indivisa da Liberdade Absoluta se eleva ao trono do mundo sem que poder algum Ihe possa resistir. Diante dela ficam
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abolidos todos os estamentos ou massas espirituais em que 0 Todo se articulava. A consci8ncia suprassumiu as barreiras dentro des quais cada um dos membros queria e agia: agora, seu fim e 0 fim universal; sua linguagem, a Lei universal; sua obra, a obra universal. Como a consci8ncia ja pio inicia seu movimento a partir do objeto como algo estranho (do qual retomasse a si mesma), toda a oposi~io que resta e entre a consci8ncia universal e a singular. Mais ainda: a consci8ncia singular tem apenas apar8ncia de oposi~o: de fato, 6 consci8ncia e vontade universal. Esta, con~tran do-se em si e vontade singular, frente a qual se colocam a Lei e a Obra universais. Sendo por6m a consci8ncia singular consciente de si como universal, sabe que seu objeto 6 lei por ela dada e obra por ela realizada. Ao passar a atividade e ao criar
culpa da vontade que se the op5e: culpa-a assim por sua intenfiio, e ser suspeito substitui 0 ser culpado. E reege pela destrui~o pura deste Si, ao qual nada se pode tirar senio 0 proprio ser ... 3.
RETORNO
No entanto, essa universalidade que nio foi capaz de articular-se em realidades orginicas - em virtude de sua propria abstra~ se quebra em dois extremos igualmente rigidos: uma universalidade inflexfvel e fria, e urna dureza egoista do atomo consciente-de-si. A rela~io entre estes termos nio 6 suscetivel de nenhuma medi~o; 56 pode ser a neg~ pura e simples do singular, sua elimin~o como 'essente': a morte. Portanto, a Unica obra da Liberdade Universal e a morte; e a DlOrte mais prosaica e sem sentido. E a{ esta a 'sabedoria' do Govemo, sua maneira de entender e de cumprir a vontade universal. Tal Govemo tambem nio passa de urn ponto individual em que a vontade univel'$al se fin: excluindo os demais individuos de sua opera~o, constitui-se assim urna vontade determinada, oposta a vontade universal; uma faclYao, e, por isso, tem de cairo Se a a~io universal caracteriza a alYao do Govemo como um crime contra ela, 0 Govemo nada tem de exterior para delimitar a
Por6m aqui, nesta sua obra caracterlstiC8, a Liberdade absoluta se toma objeto para si mesma, como esta consci8ncia abstrata: o terror da morte e a intui~o dessa ess8ncia negativa da Liberdade. Bern diferente era 0 conceito que tinha antes da vontade universal como ess8ncia positiva ,da personalidade. A Liberdade Absoluta, como pura igualdade consigo mesma da vontade universal, tem nela a nega~o; por sua vez, a negatividade tem 0 elemento da subsistencia ou substincia em que seus momentos se desenvolvem. A partir dela, se tomam a articular as 'massas' dos corpos sociais, os quais - depois de terem sentido 0 pavor do Senhor 'absoluto, a morte - Be prestam de novo a nega~ ea diferen~: e, embora numa obra parcelada e limitada, recuperam sua efetividade substancial. Teriamos entio um simples retomo, onde 0 espfrito, rejuvenescido pelo temor do Senhor, regressa ao mundo 6tico e ao da cultura par.- com~r tudo de novo? Talvez, se 0 resultado foue apenas a compenetra~io da consci8ncia-de-si e da substincia. Mas de fato, na Liberdade absoluta nio se tratava de uma consciencia-de-si imersa no ser-a{ multiforme, relacionando-se com um Mundo extemo valido. Naverdade, 0 que ali estava em rela~io era - de urna parte, urn mundo simplesmente na forma de consciencia como vontade universal - e de outra, uma consci8ncia-de-si retirada de todo 0 'ser~' para conclensar-se no Si simples. A 'cultura' (Bildun" fotJlla9lo) que a consci8ncia-de-si alcan~ em sua inte~ com esta ess8ncia e a suprema cultura, a mais alta forma~o;precisamente por ver sua efetividade desaparecer no nada .vazio. Nas figuras anteriores, a consci6ncia nio chegava a intui~ de sua negatividade, porque sempre pnhava algo em troea de sua ren6ncia: alienando-se, 0 Si era cumWado de riquezas e honras; dilacerando-se, a consci6ncia produzia a linguagem do Espfrito: tinha 0 ceo da Fe, 0 util da Il~ ... A contrapartida da Liberdade absoluta 6 56 a morte, sem sentido nem conte6do. E esta neg~io nio surge como algo estranho: 6 a vontade universal na sua Ultima abstra~o, quando ja nada tem de positivo para dar em troea do sacriffcio ...
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2.
0 TERROR
4.
INTRODUCAO
SUPRASSUNCAO FINAL
Mas desta maneira, a vontade universal forma unidade sem media~io com a consciencia-de-si: e 0 puro positivo por ser 0 pure negativo. A negatividade do Si sem plenitude se transmuda, no conceito interior, em absoluta positividade. A conscieneia e agora imediatez suprassumida, puro saber e pura vontade; nio e mais governo revolucionario, nem anarquia; nem fac~io ou atomo de individualidade: e um pure saber que sabe 0 saber como sua esseneia. o singular, a efetividade, 0 ser, para essa conseiencia ~io algo nio-sabido; nio sio. Aqui enfim, a Liberdade absoluta resolve a oposi~io de vontade universal e vontade singular; e 0 Espirito alienado de si mesmo, chegando a seu cumulo, redu;E a oposi~io entre a pura voli~io e 0 pure volente nesta forma transhicida em que reencontra a si mesmo. E o Espirito se reconforta como pensamento que e e permanece, sabendo como a esseneia verdadeira e completa, este ser encerrado dentro da consciencia-de-si. £ a figura da Consciencia Moral.
Esta S~o 'Espirito' pode analisar-se como um movimento que visa unificar 0 Si com sua substancia; 0 saber com sua verdade; a certeza de si com 0 objeto. o 'Mundo etico' encontrava sua verdade apenas no Si defunto; a pessoa do 'Estado de Direito', por abstrata, tioha sua substancia fora dela; porem a aliena~io do 'Mundo da Cultura' 'suprassumia esta abstra~io e produzia como resultado, na 'Liberdade Absoluta', a substincia que se toma patrimOnio do Si, 0 qual enfim domina a oposi~o constitutiva da consciencia, ao identificar-se com 0 seu Outro. A coincidencia entre saber e substAncia implica, ao mesmo tempo, a MediDfQo absoluta e a Imediatez pura. 0 movimento do Si, que suprassume 0 'ser-ai' imediato, tomando-se universal, e intui~o de si mesmo como imediatez e efetividade. Ora, a imediatez clarificada pela negatividade absoluta e 0 ser emgeral, e todo 0 ser. A efetividade s6 e como saber; quer dizer, a vontade impregnada de saber absorveu tOOa a objetividade do mundo. 0 saber da sua liberdade e, para esta consciencia, substancia, fim e conteudo exclusivo.
Terceira Parte
o
ESP(RITO CERTO DE 51 MESMO: A MORALIDADE
Capitulo 1.0 -
1. 1.
A CONSCI£NCIA MORAL E SUA COSMOVISAO
Caracteriza9io Rer" da consciSncia moral
Sum'rio A Se910 'Esplrito' tern na Moralidade 0 ponto alto de seu movimento. 1. A OONSCI1::NCIA MORAL E SUA COSMOVISAO., Caracterl~. Tem na base om paradoxo fundamental: sua maneira de constituir seu Outro. Dal decorrem os t~ postulados (de Kant), essa "ninhada de contradiQ6es", Critfca. Incapaz de chegar ao Conceito, perde-se em represen~, e oscUa entre constantes deslocamentos, (como sucedia na Wahrnehmung). A salda e abandon4-la, trocando-a pela certeza moral da "Boa Conscil!ncia" (Gewtssen). 2, A BOA-CX>NSCI1::NCIA. l!l 0 esplrlto moral concreto em que o dever e a efetivtdade sio dados na certeza imediata de si mesmos.DistingueID-se na Gewtssen 0 momento da lJIliversa· salidade e 0 da particularidade; examinam-se no elemento do ser e no da linguagem; em ClImax eanticllmax. 3. 0 MAL E 0 PERDAO. (Reconcili~io). Quando se passa a aoiO, o. mal e a hipocrlsia sio inevitaveis. A consci6ncia operante e Julgada e condenada pela conscil!ncia universal, 4ue lhe nep a absolvicio ao ouvi-la em confissio, e 56 a custo lhe concede &final 0 perdio. Mas entia Ja se chega, pela reconcUiacio total, ao limiar do Esplrlto absoluto, ao Deus que . se revela.
A consciencia moral cumpre ,0 dever, mas ve a Natureza indiferente quanto a proporcionar-Ihe a Felicidade. Ora, nao pode
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A consciencia-de-si moral repousa sobre um paradoxo funda-
men~al: de tao identificada com seu objeto, nem se da conta de que
e uma consciencia e de que seu objeto e objeto. Porern, essa consciencia-de-si inclui em seu conceito a rela~ao com 0 ser outro e e consciencia. Por estar tao encerrada em si mesma, toma-se por absolutamente livre frente a seu outro e 0 torna como absolutamente indiferente para com ela: a independencia do objeto e a do sujeito sao correlativas. o Outro surge aqui como uma Natureza, com seus fins pr6prios, indiferentes a ordem moral; enquanto para a consciencia moral O' dever e essencial e a Natureza, inessencial de todo. Sobre base tao contradit6ria se constr6i uma 'cosmovisao moral' cheia de contradi~s que se desdobra numa serie de postulados. 1.° Postulado
renunciara harmonia efetiva da moralidade e da Natureza, pois pertence ao conceito do seu fim· que esta unidade se realize; e 8Ssint, a postula como exig~ncia e pressuposlo da Razio. Nao se trata ~e simples desejOi
2. Poslulado 0
A natureza agora nio e extemaao Si: e a sensibilidade, sio os impulsos naturais que parecem opostos ao dever. Postula-se a supe~ deste. conflito, a harmonia final da natureza sensfvel com . a consciancia moral, na unidade da mesma consci8ncia., Mas af surge um paradoxo: esta moralidade, transformada em tarefa, enquanlo age, nioest4 efetivada: e quando se efetiva, deixa de
existir ... o 1.0 postulado era
fim 11ltimo do Mundo; 0 2.0 , 0 da consciencia-de-si. Um, a harmonia, na forma do em-si; outro aharmonia, na forma do para-si. Cada um destes fins e 0 Outro do Outro. meio-termo unindo estes extrem08 a a¢o moral efetiva, em . que surge a pluralidade de deveres; e por isso serecorre a novo postulado. 0
o
e
3.0 Postulado
o dever sendo uno e simples, como objeto do querer puroj e a a~io vendo-se frente a deveres m11ltiplos e determinados que nada tern de sagrado para a consclencia; POltula-se uma Conaciencia Sagrada que os santifique, em que 0 universal e 0 particular for.mern uma unidade e fundamentema validade destes deveres. Mas entio 0 dever moral cai fora da conscibcia; em outra Essencia. Tomos uma consciencia moral imperfeita, que espera da .Consci8ncia Sagrada que the conceda a Felicidade, segundo seus merecimentos.
Partindo da hip6tese de que existe umaconsci~ncia moralefetiva, represenm seu conteudo como objeto essente; nio e ainda 0 conceilO, que domina 0 objelo enquanto tal. Hate 'objelo' 6 a fim Ulti· mo do mundo, harmonia da moralidade e da efetividade; porem a unidade, representada como negativo da consci8ncia-de-si, cai fora dela; num AI6m, pensado como sere Mas assim 56 resta l consciencia-de-si a nio-harmonia com a efetividade; e a proposi~o agora 6: 'nio existe consci8ncia moral perfeita'. £ 0 que implica 0 2.0 postulado. Porem, como eata consciencia moral 6 um Si - cujo conceilo 6 a unidade da consciencia-de-si com a efetividade - a unidade au moralidade perfeita e representada como um A16m dela, que no entanto 6 efetlvo. Oesta forma, a tese 'h4 consci~ncia moral' restabelecida. mas unida a antftese: 'Nao hat CQnsci~ncia moral', quer dizer, que tem, tem; Dias 56 na representa~o; Ou seja: nio ~m <;'lisa nenhuma, mas Ie faz passar por tal, por uma outra cons-
e
Clenc18 •••
-
Osella entre distor¢es ou 'deslocamentos' eonstantes,.
A base da cosmovisio moral 6 contradit6ria. Criando seu proprio objelO, a consciencia moral nio 0 recebe como um dado, nem nele se aliena como emalgo estranho: nio pode ir al6m de seu objelO; nem este, al6m dela. E contudo, pOe eate objeto fora de si, como um mais Alem. £ eata contradi9io fundamental que a cosmovisio moral desdobra numa 'ninhada' (sic) de contradi¢es: movimento bizarro, que mal fixa um momento j4 0 suprassume, passando a outro, que logo abandona pelo anterior. E como 6 consciente dos deslizes que opera, essa consciencia moral nio e seria.
Os deslocamentos
Com este 3.0 postulado, a visio moral se completa, m08trando que.$ passa de representtlfiJo. P6e a unidade dos dais lados puro dever e efetividade - como momentos, ou seja, como suprassumidos. POe-se como nio-moral e depois suprassume sua efetividade numa e&sencia absoluta, representada, para nio contradizer a moralidade. £ que eata consciencia· nio desenvolve seu proprio c8nceito, 0 qual somertte mant6m unid08 os momentos, capta 0 sere -Outro enquanto tal e seu contr4rlo absaiuto como si mesmO.
1.0 ) Partindo da exist~ncia de uma consciencia moral; ou do 1. postulado. A harmonia da moralidade e da natureza deve ser efetiva; ora, a~o moral consiste justamente em fazer surgir - como resultado au fim da a~ - uma efetividade que nio havia antes. Al6m disso, ~ 6 consciencia efetivando-se como singular: 6 efetividade que se chama gozo, feliC::idade. Entia: a consciencia moral nlo tama a serio seu postulado de harmonia, que est4 prejulgado, pois a pr6pria a~o j4 0 esU realizando. Tal harmonia, que seria efetividade, posta como um mais al6m, teria que ser alga inefetivo. Tem mais: ao agir, nio se leva a serio a inadequa~ entre fim e efetividade; agir 6 que parece serio. No entanlO, a a~ 6 apenas singular e contingente. 0 Fim universal tudo abarca. E porque se deve realizar 0 bem-maior universal, nada se faz de born.
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0
1 .2.
-
Critica cia consci6ncia moral
Perde-se no representlJ¢o e
nao ehega ao, Conceito
Mas logo se deslocam ambas as posicOOs: a a~io moral nio e contingente e limitada, porquanto sua essencia e fim Unico e 0 dever puro, 0 cumprimento do fim total absoluto. No entanto, ao efetivar-se, 0 que encontra e justamente 0 contrario: uma natureza com suas leis peculiares. Para que 0 dever puro seja efetivo, exige-se que a efetividade da natureza seja conforme 8 Lei moral. Contudo, supor que a Natureza ja tem por Lei a moralidade, nio e levar a moral a serio: a moral toma-se superflua, nio h8 lugar para ela: a natureza ja tem toda a harmonia que a a~io moral deveria produzir.
sabe que s6 0 puro dever e valido e que s6 e dever 0 que sabe como dever. Firmar a cssencialidade atraves de outra es&ancia, nio tem sentido. Nem se pode deixar 8 EssSncia 5agrada a convalida~o do dever pure, ficando a consciencia imperfeita, como tal, uma rela~io positiva com a natureza e a sensibilidade: porque esta Essencia, totalmente separada da efetividade,nio mantem sequer uma rel~ao negativa com a natureza sensivel; e estariamos de novo fora da moralidade.
2.°) Partindo da hip6tese do 2.° postulado, harmonia ~a moralidade com a sensibilidade. o fim, ou dever puro, independe dos impulsos ou inclinacOOs: eis a sensibilidade suprassumida. Mas quando se passa a a~io, a natureza sensivel e necessariamente 0 meio-termo entre a consciSncia pura e a efetividade:6rgio ou instrumento. Entia, as inclinacOOs sensiveis nio devem ser reprimidas; apenas harmonizadas com a Razio. E sao conformes a ela: porque a consciSncia, que se efetiva, assume a figura de um impulso, ou e representada como mola ou motor de arranque pondo em marcha os dinamismos da natureza sensivel. Vi represent~o: logo se constata que a sensibilidade tem suas leis pr6prias e conteudo .especifico. Seria antes a consci8ncia que teria de conformar-se com ela; coisa que a Lei moral proibe. FaIhando a tentativade uma harmonia interna, desloca-se esta para urn ,alem da consciSncia, para uns longes nebulosos jamaisatingidos. A perfei~io moralnio existe: e urn ideal, um infinito em que se encontram as paralelas da moralidade e da sensibilidade. Esta posi~io sofre novo deslocamento: se a moralidade e pura tendSncia, entio, na perfei~io consumada se extinguem .. -moralidade e a consciencia mesma. Ora tender para zero e decrescer e nio progredir. Alias, a pr6pria no~io de progresso conflita com a de dever puro, que e ou nio e: nio admite graus. A n~io de moralidade. imperfeita destr6i pela base 0 postulado da harmonia entre moralidade e felicidade: como pode reivindicar direito a perfeita bem.-$venturan~, se e imperfeita? Quem e digno da felicidade? l! umasorte, urna gra~a, uma 'a~io entre amigos'? Estat\1os aqui fora ' da mQr..l, na' contingSncia pura.
Conclusio A cosmovisio moral, por nio conseguir juntar os distlntos aspectos na unidade do conceito, 56 produz um "sincretismode contradicOOs" (sic). Lembra a perceP9io sensivel, deslocando-se entre seus multiplos 'tamb6ns' (da coisa com mUltiplas propriedades). Finalmente, ao con£ronta.los todos juntos, a consciencia va que nio adianta deslocar-se de urn para outro: 0 que precisa e abandonar a cosmovisio moral, refluir sobre si mesma e refugiar-se na certeza da boa-consciSncia (Gewissen). Com efeito, a antinomia surgia por se representar a consciSncia moral como nio moral; por admitir urn saber e querer contingentes como validos e esperar a felicidade como wna gra~a. Nio podendo assumir esta representa~io contradit6ria, a consciSncia moral a transferia para outra Essencia. Mas deslocar para fora de si o que deve ser pensado como necessario, 6 tambem contradit6rio. Na verdade, 0 ser da efetividade e 0 proprio Si da consci8ncia, a qual, retomando a si mesma, sabe como si mesma aque1e essencia na qual 0 efetivo e, ao mesmo tempo, puro saber e puro dever; e sabe sua singularidade imediata como puro saber e..,ir, como efetividade e harmonia verdadeiras. Capitulo 2.° 2.1.
A BOA-CONSC!£NCIA (Gewissen)
Apresenta9io: Um Si maisperfeito que os anteriores
3.°) Deslocamentos a partir da hip6tese do Legislador Sagrado (3.° postulado). Hip6tese decorrente .da anterior: se a .consci6ncia moral e imperfeita, pastula-se outra consciSncia, que seja perfeita, para salvar a moralidade. Dela se recebem os mUltiplos deveres, como 'manda, mentos'.Posi~io insustentavel. A consciencia 1080 se desloca dela:
_ 0 Si da 'Boa-Consciencia' - espirito imediatamente certo de si mesmo como da verdade absoluta e do ser - e 0 3.° 5i que encontramos, resultado do 3.° Mundo do espirito. 0 1.°, era a Verdade do Mundo l!tico: 0 5i da pessoa, cujo 'ser-ai' era reconhecido; sem substincia, repousava no universal que nem era seu conteudo nem era por ele impleDientado. 0 2.° Si era a verdade do Mundo da Cultura: 0 Si da Liberdade absoluta, onde 0 universal era objeto e conteUdo do Si; mas nio era nele implementado: nio chegava
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161
a $Cr nenhum mundo. Temos agora 0 3.0 , como verdade da consci8ncia moral: 0 Sida Boa-Consci8ncia, que tem na sua certeza urn conteudo para 0 dever, 0 direilo e a vontade universal, antes vazios. Caracteriza~ aeral cia
2.2.
'BoeoCoJucj&leia'
. £ 0 esp{rilo .moral concreto: para ele, as oposi~s entre. as quais a consciencla moral oscilava nio passam de momentos suprassumidos:o em-sie 0 Si: 0 dever como fim e a efetividade como natureza sens{vel. A ess6ncia moral e a~ formam nele unidade imediata e concreta. Scja um casa dado: aabe 0 que deve fazer, imediatamente: 0 ~ 6 s6 como a Boa-consci8ncia sabe. 0 &gir, sem mudar 0 conte11do do saber, apenas muda 0 registro da efetividade: converte urn objeto essente numa efetividade operada, produzida pela consciencia. Nio considera na a~ a .multiplicidade nem 0 conflito de deveres, nem oscila entre uma moralidade autanoma ou heteranoma (vinda da Ess6ncia Sagrada). Todas as perplexidades da consci6neia moral se desvaneceram junto com a falsa antinomia entre dever e efetividade, que no fundo significava que s6 atua moralmente quem nada faz, ja. que agir 6 sempre fazer algo determinado, distinto do puro dever. .. para a Boa-Consci4ncia, dever e efetividade do dados na certeza imediata de si mesma; tem por conteUdo 0 Si, considerado como saber ou con~ propria: e 0 conteUdo da ess8ncia antes vazia. E como a efetividade nio 6 natureza com Leis estranhas a moralidade, dissolve-se a contradi~ da cosmovisio moral: a diferen~, que Ihe servia de base, deamorona na pura negatividade deate 8i que 6 tanto puro saberquanto saber desta ess8ncia singular. o .dever nio e mais 0 universal oposto ao Si, nem este 6 para a Lei; a Lei e que e para 0 51. _
inten~o inoperante, pois 0 que e sabido como dever, por isso meamo $C implementa e $C lorna efetivo; e e 0 universal de todas JS conscienciJS de si. Reponta aqui a n~o de 'Coisa Mesma', que surgiu primeiro na Individualidade em-si e para-si, como predicado apenas. No Mundo etico, ja chegava a 'Coisa Mesma' a substancialidade. Na Cultura, alcan~a $CU 'ser-ai' exterior; na MoralidDde, a ess6ncia do pensamento que sabe a si mesmo. Mas s6 agora na Boa-Consci8ncia (Gewissen) e Sujeilo que sabe estes momentos todos em si mesmo: substAncia, 'ser-ai', essencia do pensamento, e que sabe e domina todos os seus momentos por $Cr sua ess6ncia negativa.
2.4.
0 momeato de pardculariclacle
Como se trata de uma conscilncia, a Lei e 0 Dever que ela objeto sio tamh6m ser-em-si, e nio apenas, ser-para-si, ou SC:Ja: sao. ser, .eportanto ser-para-outro: uma substAncia que e eDHi, distinta do 51, abandonada pelo Si. 0 puro dever 6 urn momenta essencial: consiste emagir em rel~ 808 outros como universalichlde; e assim e 0 elemento comum das consciencias-de-si, 0 momenta de tomar-se recx>nhecido pelos outros. Este momento caracteriza a· Boa-Consciencia, mas cstava ausente da 'conscienciamoral', que por falta de reconhecimento nioera operantenem efetivadora; e sim, abstrata e inefetiva. Na Boa-Cons. cianci.., 0 aBir traduz apenas seu conteddo singular para 0 elemento objetivo, onde e universal e reconhecido. Nio ha mais lugar para a
No agir se manifesta necessariamente urna pluralidade de desingulares. Como a Boa-Consciencia as percebe? Como atua frente a elas? Sua atitude caracteristica 6 agir como ,a que &abe: e -como essetoaber se pretende unive~, teria que abranger as infinitas circunstAncias poss{veu. Mas 1010 se dA conta de que, em contraste com a absoluta simplicidade da consciencia pura, essa efetividade de infinitas vari~ 6 um outro absoluto, um negativo da consci8ncia. Contudo, 0 conhecimento e' ava1ia~ delas este presente na' consci8ncia como um momento -(algo que 6 somente para outlO); e essa consci8ncia toma seu saber incompleto, porque 6 0 seu, como suficiente e ~pleto. 0 mesmo ocorre quanta ao dever, que e a essencia deate' saber: a multiplicidade dos casos implica multiplicidade de deveres. A Boa-Consciencia tem que optar entre eles, e para ller fiel ao 'dever pulo', que e 0 unicoabsoluto, refugia-se em sua pura convi~ do dever, ou seja, em si mesma. Porem essa certeza imediata como conteudo e detennina~io, e a consci4ncia natural: isto 6, os impulsos e as inclina~s: a sensibilidade. Nisto 6 que de, buscar um conteudo moral na certeza imediata de si meama. Com efeito, toda a esfera moral, 0 que em figuras anteriores aparecia como Bem, Mal; Lei, Direito, e sempre um universal, ou lleja, "um objeto que mediatizando a consciencia CODSigo mesma, Ie interponha entre e1aesua verdade, e a separe de si mesma, em lugar de constituir a sua imediatez". A Boa-Consci&tcia. faz do puro dever urn predicado - cujo sujeito e 0 indivfduo - dando-the um conteudo arbitr8rio. Qualquer coisa pOOeiler tida como dever:basta que 0 indivfduo tenha a convi~o ~ que deve serfeita. Por exemplo: acumular riquezas. Os outros podem achar isto avareza; para quem 0 Jaz, 6 apenas deverdo chefe da familia, e condi~ para ajudar os pobres.
162
163
2.3.
0 momento da univenaliclacle
te~ ~r
te~s
A violencia, para quem a pratica, pode ser justificada como autodefesa preventiva; a covardia, como prudencia para conservar a vida; guianda-se por sua consciencia do dever, os outros devem reconhecer isto; e the atriOOir valor moral. o problema e mais geral: qualquer a~io concreta levara semprt" a macula da determinidade. Mesmo quando se opta pelo bem triais universal contra 0 particular, este universal tem tambem conte11do determinado (enquanto oposto ao singular). Alias, ate quanta a forma - por apresentar-se como vflido em-si e para-si, independentemente do saber e da convi~io, estaria fora da moralidade. Alem disso, aquela oposi~io entre dever para com 0 universal, e dever como com 0 particular, e inconsistente: 0 que se faz pelo singular e que beneficia 0 universal; e 0 singular Dio conseguiria cuidar de si tio exclusivamente que nio redundasse em bem para os demais. Acresee que esse tipo de calculo na pondera~o de deveres e alheio a Boa-Consciencia, que decide referindo-se a pura certeza de si .mesma. Mas com isso, 0 conte6do, a forma e 0 saber do dever sio somente 0 que ela pratica: e 0 puro dever e suprassumido como wn momenta esvaziado. A Boa-Consciencia esta plenamente livre na SUI 'autarquia'; seu dever e seu saber sio id<icos: simples 'mesmiee' e pura igualdade consigo mesma.
2.5.
A Boa-Consci6ncia no elemento do ser
"Este puro saber e imediatamente ser-para-outro, porque como pura igualdade-consiga-mesmo - 6 a imediatez 014 0 ser. Porem este ser, e ao mesmo tempo 0 puro universal, a 'mesmiee' de tad08. Por outra: 0 agir e reconhecido, e portanto efetivo: este set e 0 elemento por meio do qual a Boa-Consciencia se acha, de modo imediato, em rela~io de igualdade com todas as oonsciencias-de-si; e 0 significado desta rela~o nio e a Lei carente de Si, mas o Si da Boa-Consciencia." Quando age, a Boa-Consciencia produz 0 justo, cujo conteudo e 0 Si da consciencia. Mas no meio universal do ser, a diferen~ e posta como subsistente; e as outras consci8ncias nio se reconhecent nela. Pois a consciencia universal e tio livre quanta a que aeabade operar: 0 sentido da a~io lhe parece ineerto; mas Binda, parece mau. E de fato, a que operOu nio est4 mais If, ja se .deslocou desta a~o que colocou frente 80S outros· e reassumiu sua liberdade frente aquela determina~o. Os outros a 'deslocam' tambem, para preservar seu proprio Si e dissolvem em suas interpreta¢es 0 sentido que aquela ~ teria. Porem a a~io nio e 56 essa determina~io do ser, abandonado pelo Si: uma efetividade vulgar. 0 saber e a convicfiio e que a 164
fazem valer como dever e ser apta ao reconhecimento. Por meio deles, 0 Si entra no 'ser-ai'; e 0 espirito eerto de si mesmo existe, como tal, para os outros. Quer dizer: nio e a a~io imediata, (0 determinado, 0 em-si) aquilo que e efetivo e reconhecido; mas 0 Si que se sabe como tal. Na consciencia-de-si universal, somente a consciencia-de-si pode ser reconhecida e adquirir efetividade.
2.6.
A Boa-Consci6ncia no elemento de Li.qem
Assim, malsuma vez a linguagem se manifesta como 0 'ser-ai' do espirito: consciencia-de-si que e para-os-outros e que e universal como esta consci&lcia-de-si; 0 Si que se toma objetivo e mantendo sua identidade, se funde com os outros. Percebenda-se e sendo percebido, 0 'ser~ai' se toma Si. Comparando com as figuras anteriores, 0 conteudo desta linguagem nio e 0 Si dilacerado e pervertido da Cultura, mas 0 que retornou a sua eerteza, a verdade e ao reconhecimento. A Linguagem do Mundo etico era a Lei, quando nio a lamenta~io tragica sobre 0 destino. A consciettcia moral era muda: seu Si, de ti~ ensimesmado, nio se exteriorizava. Agora a Linguagem surge como deve: media~io entre conscieneias-de-si independentes e reconhecidas; um Si, eujo ser e ser reconhecido, imediatamente universal, multiplo e simples em sua multiplieidade. A Linguagem exprime 0 Si que se sabe como esseneia: e seu 6nico conteudo. A aliio nio vale para a conscieneia universal pelo seu 'ser-ai', mas pela convic~iio que exprime deser 0 dever. Efetivar significa traduzir a a~io da forma da eerteza imediata a forma da assevera~iio, que assegura apenas que a conscieneia est! convicta de Que sabe e faz 0 dever. Aqui nio ha lugar para a duvida; nem mesmo indaga~io se ha dever, se e cumprido etc. A Boa-Consciencia e a suprassun~o da diferen~a entre a consciencia universal e o Si singular; para ela, 0 saber imediato eerto de si mesmo e Lei e Dever. Ao proclamar-se querer e saber puros e universais, reconhece que os outros 0 sio tambem. Quando diz agir de acordo com a conscieneia, diz a verdade; mas e essencial que 0 diga, pois este Si deve ser, ao mesmo tempo, um Si universal. Ora, istonio se encontra no conteudo da a~io, sempre determinado: a universali· dade radica na forma, ou seja, na Linguagem, onde se exprime coino a Verdade: onde i'econhece todos 08 Si e e por eles reconhecido. 2. 7.
Climax e Anticlimax da Boa-Consci8ncie
Nestas alturas, a Boa-Conscieneia se encontra divinizada, aeima de toda Lei: sua eerteza intima e a voz de, Deus, sua a~io tem criatividade divina. Seu saber e 8 contempla~80 da sua propria di165
vindade, que 6 tamb6m stu "ser-ai" objetivo, enquanto enuncia seu saber e querer como um universal, num discurso onde 0 Si 6 reconhecido e expresso· como a ess&1cia. No entanto, a Boa-Conscietlcia tem de reconhecer que ao chegar l perfei~, suprassumiu a diferen~a entre a consci!ncia abstrata e il consciancia-de-si, estabelecendo uma rela~io imediata entre 0 Si e 0 etn-si. Rela~o mediata significa que 08 termos, um para 0 outro, nio sio uma 56 e a mesma coisa, mas que sio um Outro; 56 sio Um para um terceiro termo. Rel~o imediata significa, de fato, apenas unidade. Move-se aqui a Boa-Consciancia na 6rbita da Religiio, presen~ divina imediata e discurso da Comunidade que diz 0 seu Espfrito. Volta assim a conscietlcia-de-si l intui~ do 'Eu = Eu' e com isso se volatilizain em abstra¢es 08 momentos distintos, q~ fazem. que ela se;a consciancia. Tanta pureza 6 uma pobreza extrema: desmoronamento ou naufragio da consciancia na absoluta consciancia-de-si. Se 0 objeto 6 apenas 0 proprio saber; se 0 que se' va 6 56 a transparbcia absoluta, entia, a propria certeza de si, que definia esta conscietlcia, tamb6m desvanece. 0 para-si carece de em-si ede 'ser-aU';. 0 .Si nio pode chegar l efetividade por "lhe faltar for~ para extrusar-se,fo~ para se fazer coisa e suportar 0 ser". Falta-lhe coragem de manchar sua pureza interior na ~ e no 'ser-ai'; por isso jaz na impot&icia obstinada de renunciar a seu proprio Si, abstrato at6 0 Cl1mulo; de dar-se substancialidade; de transformar 0 pensamento em ser; de confiar-se l diferen~ absoluta. £ a .'bela alma infeliz' que se encontra apenas como perdida ...
(0 universal, 0 dever) apenas como um momento suprassumido. Ao contrario, a consciancia universal tem 0 dever por essencia e a singularidade por momento suprassumido. Para ela, a consciancia operante 6 0 mal, como desigualdade entre seu ser interior e 0 universal; e quando enuncia seu agir como dever, entio 6 hipocrisia. A consciancia universal trata de desmascara-Ia. Mas como pode? A tio falada homenagem que a hipocrisia presta l virtude, por tomar sua aparencia, Rio produz esta igualdado: usar a virtude como mascara 6 servir-se dela, desrespeit6-la. Se ama consciancia assume sua maldade, j' Dio ha hipocrisia a desmascarar. Se ptoelama que esta cumprindo seu dever, entia est6 Be reconhocendo como mal;porque promulga como sua lei a vontade arbitraria e singular, quando a Boa-Consciancia efetiva tem no universal 0 elemento de seu 'ser-af', e exprime na Linguagem seu agir como um dever reconhecido. A consciancia universal nio consegue desmascarar a hip6crita pelo fato de denuncia-Ia como ma, e ~mete-Ia l sua lei (universal). Ora, 6 isso tamb6m 0 que faz a consciencia ma: estribar-se na lei que 6' dela. A consciancia universal nio pode alegar que sua lei tem .reconhecimento universal, pois &qui est' quem, nio a reconhecendo, a reduz a particular ...
3.2.
A a~io
e julgada e condenada
Quando a Boa-Consciencia passa a a~o, produz-se necessariamente a oposi~io de sua singularidade contra os outros singulares, e contra 0 universal: 6 0 mal que entra em cena. Recapitulemos: o movimento da Boa-Consciencia partiu do momento objetivo da conscienei4 universal; passou pelo momento do saber de si, ou de unl Si particular; chegou l linguagem. que comere a universalidade do recoq1lecimento 80S Si particulares. Mas 0 movimento prossegue, e i4 Be desloca p81'a a desigualdade de cada consciencia, que recai sabre simesma desde a sua universalidade. Mas ao isolar-se do universal, 0 dever fica 56 nas palavras, e 0 contel1do da a~ se reduz ao proprio Si tomado como esta individualidade determinada. Na ~o, os dois momentos constitutivos da conscietlcia-de-si, o Si e b em-si, surgem cotno desiguais em valor. A consciencia operante toma 0 Si, a certeza de si mesma, como es&encia; e 0 em-ai
Encontramo-nos frente a um julgamento, e plll'adoxalmente 6 ele que nos vai abrir um caminho para sair deste impasse.. Com efeito: a consciencia do universal, ficando fora da esfera do agir, nio foi colhidapela oposi~io entre a singularidade e a universalidade que surge necessariamente na a~io. £ uma consciancia ineletiva, que apenas julga. Mant6m assim sua pureza, mas tamhem cai na hipocrisia, quando quer que se tome por a~ efetiva, jufzos e declar~ de inten~io. Na consciancia ma, 0 dever estava 56 nas palavras, e a a~io era egoista; mas aqui, nada se faz. Entio, em ambas as consciencias, 0 discurso 6 uma coisa, a efetividade 6 outra. Como julgar 6 ato positivo,' examinemos seu contel1do, que 6 por um lado, contradit6rio, e pOr outro, igual ao da primeira consciancia. A consciencia operante produz uma a~o concreta, que tein inevitavelmente um aspeeto universal - que foi tomado por dever e um aspeeto particular, 0 interesse do indivfduo. A consciencia~jufza pronuncia-se sabre 0 interior, e 56 va m6veis egoistas na a~io alheia. Se a a~io traz gl6ria efama, diz que foi feita por vaidade e ambi~io. Claro que a ~o consumada traz ao individuo satis-
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Capitulo 3.° -
3. I.
0 MAL EO SEU PERDAO
Pela ~,
0
mal entre DO munclo...
fa~o, ptazer: e eventualmente, renome. Oaf fica ficil dizer que seu m6vel seja 56' a busca do prazer e da g16ria. "Ningumn ~heroi para sua camareira", nio que nio seja he~i, mas porque a camareira nio passa disto, e sua rela~io para com o heroi ~ atraves das necessidades fisiol6gicas daquele individuo. A consciancia-juiza ~ uma camareira da moralidade: ~ vil, porque divide a a~iio, produzindo a desigualdade: ~ hip6crita, pois nio toma este julgamento como ele ~: uma forma de maldade, mas· 0 proclama justo, e quer que seu discurso inoperante seja considerado como uma efetividade eminente. Equipara-se assim a consciancia que ela esta julgando. A consciancia operante se da conta disso, e va que a cop,sci8ncia-juiza tem estrutura igual a sua. (Hypocrite lecteur, man
semblable, mon frere . .. ) 3.3.
A confUsio e a recuaa cia
absolvi~
Contemplando e proclamando esta igualdade, a consci8ncia operante se confessa, e espera que a juiza que a ouve em confissio repita 0 mesmodiscurso: ja que a ~agem ~ 0 'ser-af' do espirito, que contribua, de sua parte, para este 'ser-ai'. Mas a confissio do mal: "g isto 0 que sou", nio suscita 0 eco esperado. A consciencia-juiza tem 0 cora~o duro: fecha-se na auto-suficiencia e no mutismo, rejeitando a continuidade com a que· Be tinha confessado. Esta, por sua vez, contempla 0 puro saber que bioquer acolh!-la, justamente quando, pela confissio, renunciando ao ser-para-si separado, suprassumira sua particularidade e sepusera como universal. A consci!ncia-jufza entra em contradi~io ao nio aceitar a rejei~o ~o mal) efetuada no disourso, como uma rejei~io verdadeira: eta que 56 tem 'ser-af no discurso que ~ 0 seu julgamento. Sua dureza 6 que produz a desigualdade, e cria obstaculo ao retorno do outro, a partir de'seu agir, ao ser espiritual do discurso. Por6m, porque ~ incapaz de extrusio, o.espfrito certo de si mesmo como bela alma, nio pode intuir sua igualdade com a outra conscieneia, nem chegar a unidade de ambas, nem a efetividade. Fica numa imediatez que ~ 0 puro ser ou 0 nada vazio: tomando consciencia de sua imediatez nio-conciliada, entra em desvario, onde perde a dura obstina~io de leU ser-para~si, Il18$ 56 produz a unidade do ser abandonado pelo espfrito. 3.4.
mento na confissio, atraido pelo 'ser-ai' que intuiu no Outro, este deve fazer um movimento semelhante: reconhecer-se na outra consciencia. renunciando a dureza de cora~iio em que se obstinava. Isto e 0 perdio. A palavra de reconcilia~io e 0 espfrito 'sendo-ai' que contempla 0 puro saber de si mesmo como essencia universal em seu contrario. Este reconhecimento reciproco e 0 Espirito absoluto, 0 qual reside nesta culminincia onde 0 puro saber de si e oposi~io e intercAmbio consigo mesmo. :£ a confluencia dos dois saberes ou consci8ncias que vinhamos analisando: 0 dever que se sabe' e toma seu saber universal por es&encia: 0 saber de si, que toma a singularidade do Si por essencia, ambos clariflcados ate a pureza extrema. A diversidade destes espiritos e absoluta, porque se situam no elemento do puro con~ito; . e estio c6nscios de sua oposi~io. Embora determinados, tem comp Ambito a totalidade do ser que preenchem: um, como seu saber: outro, como sua singularidade: sio 0 puro .movimento. deste saber posta como consciencia. o movimento desta oposi~o por6m prossegue, at~ efetivar-se como consciencia-de-si, onde 0 Eu Eu e oposi~io e igualdade: cada um se suprassumindo na contradi~io de· sua universalidade puta e resistindo a igualdade com 0 outro, e dele se separando. Por meio da extrusio, este saber cindidoretoma a efetividade do Eu, 0 saber universal se funde com seu contrario absoluto este saber-dentro-de-si, que quando atinge sua pureza e tamMm universal perfeito. . o 'Sim' da reconcilia~io em que os dois Eus abdicam no seu oposto: e em que cada um, na completa extrusio de st, tem sua certeza em seu contrario: e 0 Deus manifestando-se no meio deles, que se sabem como puro saber. tamb~m
=
A absolvi~ e a . . .nciU89io final
Felizmente, "as feridas do espfrito curam sem deixar cicatrizes". fato tetmina. par ser absorvido pelo espfrito no que tem de singular: a dureza do julgamento ~ tambmt um momento que vai ser suprassumido. Como 0 mal se extrusou, pando-se como um mo-
o
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(CC) ~VJl
A RELIGIAO / Die Reli,ioD /
Summo INTRODUC.\O a 8eQIo VII. A RelilPio e consci6ncia da ~ absQluta. Antes, era a conscJ.6ncU que Be tinha dessa ess6ncia; &lora e a consci6ncia que ela tem de 81 mesma. Embora seja etapa dialetica superior as anteriores, ainda Be move no elemento da represen~, em direQIo ao conceito. A consci6ncia passa nela pelos est8gios da religiio natural, relllPio da arte, relilPio revelada, antes de chepr ao saber absoluto au conce1tual. . La Parte. ReIJclio Natural. Aqui 0 espfrito e obj$to para 81 meso mo, primeiro, na forma de luminosidade; depots, na figura de plantas e animais; enfim, nas obras do artesio, pren1lncio da fase seguinte. 2.a Parte. ReIJclio da Arte. Essa forma de Religiio. que correspon· de no espfrito efetivo ao mundo etico, 0 espfrito e objeto para 81-mesmo na forma de consci6ncia; passa pew etapu da arte abstrata, da arte viva, enfim, da arte espiritual, em que Be diBtin· guam a epopeia, a traglkUa e a com8dia. 3.a Parte. ReUcIio Revelada. 8ucedendo as anteriores, nessa for· ma de RelllPio a ess6ncia divina Be torna efetivamente 8i, pela EncarnaoAo. A revelaoio Be d& na Comunidade, consci6ncia-de-si universal, e tem t~ momentos: 1,0) A ess6ncia, ou 0 espfrito den· tro de 81. 2:) 0 espfrito em sua extrusio e/ou representaQAo; aqui, 0 outro do espfrito e 0 mundo, onde 0 Mal luta contra 0 Bern ate a reconolUaQIo redentora, quando da morte ressurge a vida espiritual da Comunidade. 3:) Retorno a consciAncia-de-81, qUando essa Comunidade produz em si 0 que ve1o-a-ser em si. o que vivenciaest8 ala cia representaQAo; mas esse contelldo verdadeiro e sabido lOb forma ainda nAo-concettual.
INTRODUCAO Religiao e sempre consciancia da Ess&tcia Absoluta. Mas isto pode-se entender de dois modos: ou consci&cia que se tem desta Essencia; ou consciencia que a Essencia Ab801uta tem de si (genitivo, objetivo ou subjetivo). 171
1.
RETROSPECTIVA
No 1.0 sentido, encontramos muitas vezes a Religiio em figuras anteriores. Aparecia no entendimento, sob a forma daquele supra-sensfvel ou Interior; carente de si, e universal apenas, mas nio ainda 0 espfrito que se sabe como espirito. Na consciencia-de-si, surgia sob forma de Essencia Imutavel, situada num 'Mais-AIem' inatingivel pela consciencia infeliz. Da dor desta consciencia, bratava 0 'ser-ai' imediato da Razio, figura que nio dava lugar a nenhuma forma de Religiio, por ser toda ela presen~a imediata. 0 Mundo etico se caracterizava pela Religiio do Mundo subterrineo, que sofria a dualidade irredutivel entre a Eumenide do espirito defunto e a universalidade fria e carente de Si do destine. Cindida entre uma sombra evanescente e uma noite impenetravel, a consciencia-de-si nio podia chegar a clareza· do saber de si mesma. -No Mundo da fe, a Religiio se voltava para 0 ceu, onde 0 5i clevia unir-se com a sua universalidade. Mas se tratava de um Mundo de representOfQo, maneira de pensar sem conceber. Daf vinha a sucumbir no livre pensamento da Ilustra~, que por sua vez admitia um 'Mais-Alem' incognoscivel, e indiferente a consciencia- que residia satisfeita no 'mais-aquem' mundano. A Moralidade tamMm conhecia uma Religiio, que embora atribuindo a Essencia Absoluta, contttido positivo, possuia, no fundo, a atitude negativista da Ilustra~o, e oscilava num movimento contradit6rio, sem nunca unir numconceit<> a Essencialidade e a Efetividade. Seu destine, onde esse movimento contradit6rio naufraga e encontra a sua verdade, e 0 Si coDsciente de si mesmo, tal como se encontra na Religiie (2.0 sentido) que passamos a analisar.
tingue, restabelecendo uma dualidade, 0 'seNii', 8 efetividade pr6pria do espirito, que cai assim fora da Religiio. Esta e apenas uma parte do existir humano. A outra parte e 0 Mundo proprlamente dito, onde se vive. N6s fil6sofos, sabemos que estes dois mundos sio um 56, e que a realiza~io cabal 56 se da quando os dois coincidem: quando o espirito, consciente de si, se tomar efetivo e objeto da consciencia. Na religiio nio se ultrapassa 0 mvel da representa~o: apr6pria efetividade e representada. Mais ainda: por ser uma figura determinada, nio corresponde ao que devia representar: 0 espfrito consciente de si mesmo. S6 ele pode se manifestar tal como e,porque s6 ele satis.faz a uma exigencia paradoxal: ser um objeto da consciencia e ao mesmo tempo, uma efetividade livre e independente
3. 3. 1.
A RELIGIAO E 0 ESP[RITO A ReUgiio, alem do espfrito efedvo
Agora 0 espfrito que se sabe a si D;lesmo e .imediatamente sua pura consciencia-de-si. Na s~io anterior,atraves das figuras de espfritoverdadeiro; espfrito alienado de si mesmo; espfrito certo de at mesmo; tratava-se sempre do espfrito em sua consciencia, que defrontando-se com seu mundonele Dio se reconhecia. Aqui, ao contrario, 0 espfrito submete a si tanto 0 seu Mundo objetivo em geral, quanto sua representa~io e conceitos determinados: ea consciencia-que-esta-junto-de-si. No entanto, a significa~io de ser espfrito universal (que cont6m toda a essencia e efetividade) nesta consciencia esta representada como objeto; estamos pois na figura da Religiio. Com efeito: seu objeto e representado na forma transltioida de consciencia-de-si, cuja efetividade e pensada. Dela se dis-
Distinguimos Religiio e espfrito em seu mundo, em seu 'ser-ai', que apresenta sua totalidade em momentos dissociados, ou figuras em sucessio temporal: consciencia, consciencia-de-si, razio e espfrito. (Espirito imediato, que ainda nio chegou a set consciencia do espfrito). A Religiio, ao contrario, e a totalidade simples, 0 5i absoluto destes momentos, que nela nao podem ser representados temporalmente. Dentro destes momentos, hi diferencia~Oeli singularizadas; por exemplo: a consciencia sensfvel abrange certeza sensfvel e percep~io. Estas figuras sio a singularidade, a qual a universalidade do espirito desce atraves do meio-termo que e a determina¢o dos momentos sucedendo-se no tempo, cada um recapitulando os anteriores. Por se! a Religiio a implementa~io (Vollendung) do espfrito so qual estao sempre retomando os momentos (Consciencia, Consciencia-de-si, Razio e Espfrito)· para constituf-Iosua totalidade, ela se efetiva num devir cujo movimento corresponde a esses momentos ~nsciencia-Religiio natural; Consciencia-de-si-Religiio da Arte; Razio e Espfrito-Religiio revelada); porem a determinidade tinica da Religiio penetra a todos eles e thes confere um carater comum. A partir de agora, se opera uma sfntese superior, em que os momentos que antes se apresentavam soltos se retinem num feixe. Ja nie e s6 0 conhecimento que os une numa serie: 0 espfrito certo de sl mesmo e a riqueza total do espirito efetivo, e mantem aglutinados todos esses momentos em sua totalidade, onde cada um deles recebe em si igual determinidade do todo. A serie percorrida era marcada por etapas como se fossem nos, a partir dos quais 0 mo-
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173
2.
CARACTERIZACAO DA FIGURA PRE5ENTE
vimento retomava. Agora, como se a linha se rompesse nestes n6s, os segmentos se dobram uns sobre os outros, formando um feixe. E assim, cada ponto (ou figura elementar) de cada segmento(ou momento universal) vem a coincidir com 0 seu hom610go. (Ver Labarriere, 1968, pp. 15488.). Mas estas diferen~, nio sejam tomadas como partes: sio apenas momentos do devir, embora relevantes. Em si e para n6s, fileSsofos, todas as formas estio contidas no espirito, e em cada momento seUi porem no que toea a efetividade,oimpo~te ~ conhecer a determinidade que 6 para 0 espirito em sua conscl&ncla, e na qual exprime 0 seu Si ou conhece sua _ncia. 3.2.
A ReUgiio, aqu6m do espfrito abeoluto
A distin~io entre espirito efetivo e espirito que sabe como espirito 6 suprassumida no espirito que se sabe segundo a sua verdad~, porque ai coincidem consci&ncia e consci&ncia-de-si. Mas na Rehgiio, que _6 apenas imediata, ainda nie se efetuou 0 retorno e a reabso~ dessa diferen~ no espirito. Toma como ess&neia a consci&ncia-de-si que 6 para si toda a verdade e efetividade; mas procede como consci&ncia, que faz desta consci&ncia-de-si seu objeto, quer dlzer, toma 0 espirito naforma da imediatez e 0 representa na figura de ser. E assim, 0 esplrito, como ess&ncia, nio 6 igual a sua ,conscibcia. Com efeito: 0 espirito s6 6 efetivo como espirito absoluto onde a verdade e a certeza de si sic a mesma coisa. A figure que 0 espirito toma como objeto de sua consciencia, a de pura consciincia'«~si,evita sua degrada~ e~ mera objetividadei porem, encerrado em sua pura consci&ncia-de-si, 0 espirito nio existe na religiio como criador da natureza em geral. No entanto, procede num movimento que 6 0 devir, de sua efetividade, ~ que produz. suas figuras com~ espiritos:estes, em conjunto, constituem a totalldade de sua manlfes~o. Sio eles: 1.°) Religiio imediata, natural: 'conceito' me&mo da ReJigiio, onde 0 espirito 6 objeto na figura da natureza. 2.°) Roligiio da Arte. em que 0 espirito 6 objeto como Si (ou naturalidade suprassumida) atrav6s da produ~ da consei&ncia, que assim contempta no objeto seu Asir, ~u Si. ~.O) Religiio rev~da,que apresenta 0 esp{rito como 6 em.." e para..,,: suprassume, polS, 0 caliter unilateral das anteriores. MeSmo esta, religiio revelada ainda fica no mvel da representa~o. Resta que 0 espirito passe ao conceitopara reabsorver ~m si a forma da objetividade e encerrar em si mesmoo seu contr8rio; para ser, para si mesmo, 0 que n6s, fil6s0fos, tlnhamos captado desde o inicio. Quando a figura 6 0 conceito, entio 6 0 proprio espirito. 174
Primeira Parte: A RELIGIAO NATURAL
o espirito que se sabe espirito -- e portanto, consci&ncia-de-si - aparece na Religiio como um objeto da consci&neia. Conforme a figura em que 0 espirito sabe a si mesmo, temos umareligiio diversa, ou uma forma diversa da religiio. Passemos a analisar a s6rie dessas formas; 0 conceito da Religiio ja foi produzido acima. Encontrando-se 0 espirito cindido entre sua consci&ncia e sua consci&ncia-de-si, entra num movimento que tende a suprassumir esta diferen~, dando a figura - objeto de sua conscibcia - a forma de consciericia-de-ai. Nio basta que estas figuras tenham a forma do Si, nem que 0 Deus seja representado como consci&ncia-de-si; 6 preciso que sejam postas como opera9io da consci&ncia-de-si, porquanto o representado s6 deixa de ser algo estranho a seu proprio saber, -quando 0 Si 0 produziu; e por isso, ao contemplar a determina~io C011)O sua, nela se contempla. Al6m disso, a determinidade superior deve suprassumir a determinidade inferior; ou entio, se esta continuar presente, deve retirar-lhe a essencialidade. Cada religiio representa uma unidade peculiar da consci&ncia e da consci&ncia-de-si, e se caraeteriza pela determinidade da consci&ncia que desta Ve2: a consci&ncia-de-si assumiu como sua essencia. Nisto reside a verdade de uma reUglio: que naquela figura determinada, 0 Espirito se constitua e tome consci&ncia de si mesmo. 1.
A lumiDosidade
o
Espirito, representado como fonte secreta e originaria de
todas as suas manifesta¢es, 6 a noite donde surge como aurora luminosa, enchendotudo com efusOes de sua luz, que sio cria¢es suas no elemento sem resistencia de seu ser-Outro (as Trevas). Constituem as diversas formas da natureza, que por sua vez retornam 1 origem como torrentes de fogo. (Historicamente, 6 a religiio dos persas, fundada por Zoroastro: Hegel, Hist. da FilO8Ofitz). Este objeto universal 6, para 0 Eu, a compenetr~o de todo o movimento e de toda a realidade efetiva; mas se apresenta numa figura que conv6m a consci8ncia imediata ou l certeza Benslvel. No registro da consci8ncia-de-si, corresponde l figura d08enhor: 0 Si imediato se sente esmagado pela majestade de seu objeto. No entanto, a rel~o entre 0 Uno de mil nomes e seus atributos nio 6 satisfat6ria, porque nem esse chega a ser sujeito, nem suas diferen~ se afirmam como independentes. n preciso dar consistencia a taisfiguras evanescentesi ora, s6 0 esp£rito que se sabe na forma 175
de Si e eapaz disso. Surge, pois, uma nova forma de religiao, como se a luminosidade saerifieasse sua substancia para dar subsistencia a uma infinidade de formas separadas.
A forma do objeto, em que 0 espirito agora contempla sua figura, e. 0 ser-para-si suprassumido, produzido pelo Si, ou melhor, Q Si produzido, se autoconsumindo e se fazendo coisa. 0 artesio e superior a esses espiritos animais que se destroem mutuamente: sua opera~io e positiva e tranqiiila. A partir de agora, 0 espirito ultrapassou 0 em-$i imediato e 0 para-si abstrato: 0 em-si, que estava na forma banal do 'ser-ai', foi suprassumido. 0 para-si nio e 56 0 que suprassume: e tambem 0 que e exteriorizado na forma de objeto, e produz sua representa~o. A atividade do artesia, porem, nio e perfeita por estar condicionada a algo ja dado. Tem carater inspptivo. como a das abelhas, porque 0 espirito ainda nio captou todo .0 pensamento de si mesmo. Primoiro, 0 artesio da a sua obra a forma abstrata do entendimento, produzindo cristais de pirimides e obeliscos que evitem a incomensurabilidade das curvas. Tanto rigor formal contem a inteligibilidade da forma, mas nio a significa~lo espiritual. Esta sera alga estranho a obra: quer abrigada no monumento, como Si defunto (mUmia); quer projetada pela incidencia de um raio de luz. 0 esfor-
~ ulterior do artesio sera busear a convergencia entre a obra, 0 em-si material que e trabalhado, e a conscieneia-de-si que trabalha. Dando alma a essa materia e da,ndo corpo a essa alma, 0 espirito chegara, quando a coineidencia for perfeita, a saber-se na obra tal como e em-si e para-si. Por enquanto, 0 que 0 artesio elabora com mais alma e ainda a· morada eireundante, usando para isto as formas vegetais - ja despojadas do carater sagrado que tinham no panteismo anterior como elemento decorativo estilizado. Sio as colunas, onde as formas vivas nio tem mais a fragilidade da natureza, mas em seu jogo de retas e de curvas se aproximam das formas universais .do pensamento. Nesta morada esta contida uma figura singular, em que a obra se toma mais semelhante ainda a consciencia-de-si que a produziu. No inieio adota uma forma animal, nio per si mesma, mas como hieroglifo (simbolo) de urn pensamento. Mais tarde, 0 artesio mesela na mesma imagem a forma animal cam a humana. Porem ainda falta a obra exprimir sua significa~io interior pela linguagem, que e 0 'ser-Bi' onde oSi existe como tal. Aestatua de Menon emitia Urn som quando iluminada pela luz da manhl: era uma tentativa em dire~o da linguagem. Mas ressonAncia· ·nlo e linguagem: revela um Si exterior, nio umSi interior. Outra tentativa de representar esse interior se encontra, por exemplo, na Kaaba de Meea: urn habitaeulo inessencial que renuncia a multipla variedade das formas vivas para abrigar um interior tenebroso. o que 0 artesio visa nessas duas representa~s e traduzir os dois momentos do espirito: Interioridade e 'ser-Bi', ou seja,os doi$ momentos do Si, 0 interior e 0 exterior, numa rela~o de oposi~ia. Resta unifiear estas duas representa~s, ja que a forma humana da estatua ainda nio deriva do interior, por nio ser linguagem; e 0 interior ainda e mudo, indifereneiado em si mesmo eseparado de suas manifesta~s exteriores. Ao meselar na mesma obra a figura animal com a humana, 0 artesio pretende unifiear os dois momentos; porem 0 resultado obtido e a luta do inconseiente com 0 cons" eiente, 0 conflito da obscuridade do pensamento com a elareza de expressia. Na literatura, produz esses textos sapienciais, profundos, mas enigmaticos. No entanto, neste ponto cessa 0 trabalho instintivo e inconsciente do artesia, pois aqui se elevou ate a eisio de sua consci8ncia, onde 0 espirito se encontra com 0 espirito. Agora, 0 espirito e figura e objeto da conscieDeia, as meselas se purifieam, os monstros se dissolvem numa configur~o espiritual. 0 Exterior se adentra; o Interior se exterioriza. 0 'ser-Bi' e transparente e 0 espirito e artista.
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2.
As plantas e os animais
Agora 0 espirito, que se elevou da imediatez ate 0 Si em geral, determina a sua imediatez como uma multiplieidade de figuras de seres vivos. No· registro da consciencia, corresponde a perce~io (Wahrnehmung) que tambem opera a dispersio da unidade numa pluralidade inumeravel. Mas logo a coexistencia pacifica, da ioocente religiio das flores, da lugar a hostilidade e a luta mortal da religiio dos animais (no registro da consciencia-de-si, corresponderia a luta de vida e morte, da dialetica do Senhor e do Escravo). Esta religiio, com seus sacrificios expiat6rios sangrentos, corresponde, no espirito efetivo, a guerra generalizada entre povos hostis; eada qual vendo sua ess8ncia numa esp6cie animal (totemica); e na verdade, se assemelham a tais esp6cies anim8is, ~o consciencias-de-si sem universalidade. Porem, neste 6dio se esgota a determinidade do puro ser-para-si negativo. Ora, 0 movimento do espirito prossegue, e assim entra numa nova figura; nela 0 espirito e artesio.
3.
0 artesio
Segunda Parte: A RELIGIAO DA ARTE Introdu980 -
Caracte~
gent
A suprema realiza~ da arte se encontra no teatro grego, elh que o heroi, escolhido pelo espirito para recept'culo de sua dor, e 0 individuo senhor do destino que faz do pathos sua materiae conteudo, numa obra de arte que e 0 espirito universal individualizado e representado.
A figura em que 0 espirito e objeto para a consciencia tem agora a forma de consciencia, que 0 espirito produz frente a si mesmo. 0 espirito efetivo que corresponde a esta religiio da arte e 0 espirito etico, substincia universal em que estio imersos os individuos singulares e a reconhecem como essencia e obra comum de todos. Picou para tras a essencia luminosa, onde 0 para-si da consciencia 56 estava contido negativamente; supelOu-se a luta generalizada de povos hostis e 0 sistema de castas, organiza~io inautentica por carecer de liberdade; aqui surge um pavo livre, composto de individuos que reconhecem nos costumes (que sio sua substincia) a vontade propria e 0 livre agir de cada um. Como pode 0 mundo etico, onde 0 povo vive em unidade imediata com a sUa substAncia, ter espa~ para a Religiio, que implica eleva~io por sobre a efetividade, retorno de sua verdade objetiva ao puro saber de si mesmo? De fato, a Religiio da Arte 56 surge em sua perfei~o no momento em que 0 povo etico se desprende de sua subsistencia. Convcm lembrar que a efetividade ctica tem dois epmponentes: em parte, 6 a 56lida confian~a nos costumes imperturbados; em parte, c' uma articula~o de massas e de estados sociais diversos; de uma "pluralidade de direitos e de deveres. £ a partir deles que 0 singular, que esttva satisfeito com a limita~ do 'ser-ai', retorna l certeza de si mesmo. Ao tomar consciencia de si mesmo e de sua liberdade, 0 mundo etico encontra sua verdade e capta a sua essenaa; mas entia ~bra no extremo daconsciencia-de-si da singularidade livre. Lamenta a perda de seu mundo justamente ao produzir sua ess&ncia por cima da efetividade; e tendo dissolvido em si todas as ess&ncias fixas, chega l alegria sem limites e ao mais livregozo de si mesmo. £ numa 6poca assim que surge a arte absoluta. Antes dela, 0 que,havia era a atividade instintiva do artesio, tao aderente ao'seu 'ser-af' que nio conseguia elevar-se l atividade espiritual. Mais tarde, para al6m da arte"vira a religiio revelada,·· onde 0 conceito (Verba) e sua figurahumanada sio uma 56 ea mesma coisa; e 0 sahem. Quando a substAncia ctica retorna de seu 'ser-af' l pura consciencia-de-si, a atividade em que 0 espirito se produz como objeto e conceito ou forma pura: a substincia se transforma em sujeito; a figura se liberta tanto da natureza quanta do 'ser-ai' do espirito.
Em sua primeira forma, a diferen~ entre a consciencia ativa e a obra plastica e a maior possivel: esta euma 'coisa'. Na arquitetura, as edifica~s tem 0 momento da universalidade; na escultura, 0 de singularidade. A estatua representa um SI individual: as formas vegetais e geometricas do arquiteto t&n um toque de ineomensurabilidade, que e atributo da vida. 0 escultor pOe no templo a figura de um deus, puramente humana; caso represente algum animal, e como signa ou simbolo, nio por ele mesmo. As figuras divinas, no entanto, encerram como obscuras reminisc8ncias figura~s dos elementos da natureza. Estas ess&ncias naturais estio suprassumidas, rejeitadas para a margem da realidade efetiva, que se tornou clara a si mesma. Aludem ao reino dos titis, nascidos da uDiio entre a Luminosidade e as Trevas (ceu,Terra, Oceano, Sol, Fogo ct6nico); mas 0 que representam agora sio os translucidos espiritos morais de povos conscientes de si mesmos. A imagem serena dos deuses reune, na quietude de sua individualidade, a inquietude da infinita singulariza~io, tanto da natureza mutavel a que originariamente aponta, como da multiplicidade dos individuos e massas (estados) que comp<5em urn povo. Contrasta com a tranqiillidade divina a inquietude da consciencia-de-si, cujo ponto germinativo c ser atividade pura. o artista, como individualidade determinada, nio se pas ainda em sua obra: sente que ainda nio produziu a unldade do Agit e do Ser-coisa. Por isso, a obra que cria nio e propriamente viva. 0 momenta do' ser consciente-de-si mesmo esta do lado de quem contempla a obra, e daquele que a produziu. Mas h8 um descompasso entre eles: assim, quando a multidio glorifiea na obra de arte
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Capitulo 1.° -
A obn de arte abstrata
A obra artfstica e iDicialmente imediata, abstrata, singular: ainda nio completou seu movimento em di~o lconsciencia-de-si, e esta ainda nio suprassumiu a difere. que tinha estabelecido em rela~io 80 espirito, a ponto de produzir uma obra de ·arte q~ tenha vida em si.
1. 1.
As imagens
Mas, 0 movimentoda Religiio prossegue: e cada lado termina por abandonar sua determina~io divergente, e ambos conver·
gem numa unidade que e 0 conceito de sua essencia: 0 Culto. Nele, desce a essencia divina do Mais-Alem inefetivo (puramente objetivo) a efetividade da consciencia-de-si. Por ele, a alma sobe a seu puro elemento divino; purificando seu exterior, segue por um caminho de penas e recompensas numa forma~o (Bildung) que a expurga de sua particularidade ate chegar as moradas da Comunidade Beatifica. Inicialmente, 0 Culto e apenas atualiza~io representada, inefetiva; mas nio e possivel ficar 56 nisso, porque a~ inefetiva e uma contradi~io. Logo a consciencia se eleva nele a16 a conscienciade-si: seu objeto retoma ao Si. A. essencla desce de sua universelidade, atraves da media~io do culto, ate It Singularidade, onde se articula com a realidade efetiva. A natureza possui uma significa~io ambigua para a conseiencia: por um lado, Ihe pertence como posse e propriedade sua; como nio-essencia a ser suprassumida. Mas, por outro lado, se mostra como a essencia em si essente, ante a qual a consciencia deve sacrificar sua inessencialidade como antes sacrificava a si 0 lade inessen· cial da natureza. II A a~io e movimento espiritual porque e. bila· teral: suprassume a abstra~o da essencia - 0 modo de determina· ~o do objeto pelo fervor e a toma efetiva; suprassume a efeti· vidade -.- 0 modo como 0 agente determina 0 objeto e a si mesmo - e a eleva a universalidade". Come~a a a~io do culto quando 0 dono deixa ir em fuma~, sem proveito aparente seu, uma coisa que possui: renUncia a propriedade e ao gozo; retoma do agir sobre 0 Si. e uma a~io no universal, na Essencia, nio em si mesmo. Porem, deoutro lado,a essencia essente e negada: 0 animal sacrificado simboliza 0 deus: os frutos que se comem sio Baco e Ceres, vivos. Entio 0 agir, que e 0 lade consciente-de-si, retoma a essencia em proveito seu, e a desfruta; e assim alcan~ a consciencia de sua unidade com a essencia. Na verdade, quando a essencia divina se tomOllanimal ou fruto, ia. se sacrificou; 0 que a a~io cultual faz e que isto seja tambem para a consciencia-de-si. 0 fervor, que contem 0 significado des culto, nio e produzido objetivamente; porem inspira um trabalho objetivo, ao produzir templos, omamentos, que redundam na utili· dade dOl homens, que se servem desses edificios, e eventualmente de seus tesouros; eque adomam suas casas nas festas religiosas. A beleza das cerimanias e a g16ria de um povo e dos seus artistas: o deus os recompense por ocasiio do proprio ato feito em sua hoora.
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o espirito que e sua essencia, 0 artista nio encontra na alegria 0 sofrimento de seu esfo~ criador. Quando os cnticos querem jul· ga-lo do alto de seu saber, 0 artista tem consciencia de que sua a~io criadora e maior que a critica. E quando os· adoradores se inc1inam ante a imagem, como seu Senhor. ele bem sabe que como artista e 0 Senhor de sua obra.
1.2.
0 Hino
Mas 0 deus exige. um modo de expressao em que nio caia da profundeza da noite criadora para a exterioridade da coisa inconsciente. A Linguagem e esta expressio superior: um 'ser-ai' imediatamente consciente-de-si, uma presen~a fluida, que se propaga como contagio universal, atingindo a multiplicidade dos Si. A Religiio entoa 0 Hino, onde a linguagem e 0 elemento da figura~io do deus: tem alma, e assim abrange aquela atividade que antes contrastava com 0 deus representado como ·coisa'. Agora, a consci8ncia fica junto de si ao objetivar-se como ess8ncia: e puro pensar, ou fervor devoto. ao mesmo tempo singular, por ser desta consci8ncia-de-si; e universal, porqueao ser escutado, forma uma corrente universal no ate fervoroso de todos os devotos.
e
1.3 .
0 oraculo
o oraculO e outra linguagem do deus, mas que nio tem a universalidade do Hino: provem de uma consci8ncia-de-si separada da Comunidade. Ja presente nas formas anteriores da Religiio, une materia e espfrito: emana~s da terra, vfsceras dos animais, com a mensagem do deus. Alem de singular, 0 oracul9 e contingente: as verdades universais e necessarias pertencem ao pensamento que se sabe. Uma fonte estranha a esse pensamento 56 informa sobre dados . ocasionais e irrelevantes: serve apenas para guiar 0 indivfduo nas vicissitudes da vida, na sua opera~io contingente. Entre a estatua e 0 Hino - que e linguagem universal e ni~ prbcede de uma consci8ncia estranha - existe 0 contraste entre a coisidade im6vel e 0 'ser.ai' evanescente. Se a estatua, por sua objetividade em excesso, nio tem Si proprio; 0 Hino fica tio encerrado no Si que tem uma figura~io prec'ria, e se desfaz no proprio momento em que surge. 1.4.
0 culto
Capitulo 2.° -
A obra de ute viva
A Religiao da Arte e pr6priado mundoetico: nela se expressa um pClVO livre e consciente-de-si. Difere da Religiao da lurninosidade carente de Si, potencia dominadora em que os individuos se dissolvern, em vez de se tomarem conscientes de si. Contudo, havia nela uma profundidade, 'na simplicidade absoluta da essencia, que a Religiio da Arte sO podera conseguir quando se tomar averdade que se sabe em sua profundeza. A figura que passamos a analisar representa um duplo movimento que tend~ a recuperar, dentro da Religi80 da Arte, a qualidade auroral da etapa anterior. 2. 1.
Os mist4rios
, Por6m 0 crepUscu\o que aqui se alcan~' n8o' 6 uma aurora mas ,um oc~: &l Essencia ja percorreu todo 0 movimento de ~ua efetiva~io. A naturalidade 6 suprassumida e se oferece l Vida 'do S1; e,· ao .ser comida e bebida, a substAncia acede a uma existencJ.a mais alta e toea os confins do 'ser-ai' espiritual. 0 espirito da terra passou pormetamorfoses e 6 agora 0 principio feminino da nutri~io e 0 principio masculino consciente-de-si. . Este gozo revela 0 'misterio' da esseilcia: mist6rio nio quer dizer ocultamento ou ignorincia, mas conhecimento,. em que 0 Si Be sabe Um sO com a esa!ncia: esta se apresenta como um 'ser-ai' que Be ve, cheira e toea; 6 objeto de desejo e de gozo,e fez uma 116· COisa com 0 SL Contudo, 0 que aqui se desvela 6 0 .espirito hnediato, oespirito da natureza. Ainda niose sacrlficou o Espfrltoconsciente-de-si:o mi..~o do piG e do vinho 6 Ceres e Baco, e nioainda 0 COrpo e 0 Sangue.
Comparando as dUH representa95es, delirio mistico e bela cor· poreidade, vemos que no primeiro, 0 Si esta fora de si;mas na segunda, quem est' fora de si 6 a Essencia espirituai. A bela corporeidade devia incorporar aqueles balbucios selvagens do delirio baquico, que por sua vez devia absorver-Ihe a ciareza. Ora, existe de fato um elemento perfeito, capez de tomar a exterioridade interior e a interioridade exterior: 6 a Linguagem. J' n80 se trata do oraculo, contingente, nem do hino feito a um deus singular; nem do balbuciar fren6tico das bacantes. Trata-se de urna linauagem que tem urn conteudo claro e universal. O. artista elabora uma figura, urna forma, que 6 urn 'ser-ai' penetrado pela alma consciente-de-si e em convivio com todos: portanto, olaro. Nesta festa em honra do homem, desaparece a unilateralidade da estatua, que sO cont6m 0 espirito nacional. 0 belo ginasta representa a forma humana na sua beleza universal. Capitulo 3.· -
3. 1.
A obra de ute espiritual
A epoplia
. Por6m este· entusiasmo ainda vai acalmar-se, como 0 entusiasmodo ~rtis~ que ~ objetivavanuma est'tua; 56 que desta vez n80 produz; \lma 'coisa . ~animil~, mas uma obra Viva. . 2 .0 cultodas .F~Btas. em,ciue 0 homem toms olugar da es~tua, como figura elabOrada do movimento perfeitamente livre (a esUtua era a quietu4e). TOdo individuo:se apresenta, mesmo como portador de tocha: mas acittla de todOs, urn se destaca~' como 0 movimento tornado figura, obra de arte viva e animada, beleza unida l fo~. Sio-the atribufdoscomo ptemio os omatos do deus, e a hOnra de ser, em meio a seU povo, a mais excelsa representa~o corp6rea da essencia, em vez do deus de pedra.
Agora 08 espfritos dos povos se reunem. e unificam num Panteio cujo elemento e' morada6 a Linguagem. Falamos da epopeia, a primeira universalidade a. que chega 0 esplrito no mundo 6tico.· Todos se encontram sob 0 mando (mais que sob a autoridade) de um sO: no entanto, essa oonverg8ncia num' Unico centro, embora ainda na forma de uma rela~o contingente e amistosa, significa a unidade essencial dos dois mundos. . o Aedo 6 0 produtor e 0 suporte deste mundo: seu pathos nio 4· uma forma da natureza, mas a Mnem6sine, 0 rememorar da ess8ncia que antes era imediata. Nio canta seu pr6prio Si, mas sua Musa, seu canto universal. Num silogismo, em que 0 universal sio os deuses, 0 meio termo sio os her6is particulares, sua singularidade (do Aedo) nao passa de conseqtiencia. o que na epopeia se atualiza ante a consciencia e a rela~io entre 0 divino e 0 humano. 0 agir perturba a tranqtiilidade da substincia e desperta a essencia: como se abrisse uma fenda na terra pacifica, por onde 0 sangue derramado evocasse os elpirltos defunt08; faz a siinplicidade da essencia cindir-se no mundo multiplo dasfo~ naturais e das for~as eticas. A representa~io divide de uma maneira inconseqUente estes dois lados: 0 do Si, ou dOl povos efetivos, sob 0 comando de seus chefes; 0 do universal, ou das potencias substanciais. Os deuses, representados como individualidades humanas, fazem exatamente 0 que os homens fariam, sendo assim, supetfluos. Os hornens, por
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2.2.
As Festas
sua vez, siio urn esfo~ inutil, js q!Je as potencias divinas tudo dirigem. E contudo, apesar de nada serem, submetem estas potencias universais: as ofendem e lhes diio motiva~io para agirem. Todavia, essas divindades impotentes que se nutrem dos dons dos homens, e 56 gra~as a eles tem 0 que fazer, sio a essencia universal da materia e de quanta sucedena natureza; e tambem sio a materia etica e o pathos do agir. Porque sio 0 universal, que para agir precisa da individualidade, embora sua unidade superior dissoh'a em sua fluidez todo 0 individual. Alem dessa rela~o contradit6riacom os homens, osdeuses ainda vivem em conflitos entre s1. Representam-se como determinados; mas nesta detetmina~o esquecem sua natureza divina. A luta de um deus contra outro ~ que por defini~ 6 fo~a divina invencivel - nio passa de fanfarronice inconseqiiente. Frente aos mortais, os deuses sio 0 universal a que nio se pode resistir; porem sobre os deuses paira a Necessidade, diante da qual se comportam como carentes de Si e angustiados. Esta Necessidade 6, na realidade, a unldade do conceito, a que se acha submetida a substancialidade contradit6ria dos momentos singulares; nela 0 jogo de suas a~ adquire seriedade e valor. Todo esse Mundo de representa~s da epopeiadesaba sobre o heroi que sente sua vida des~da no auge da' fo~ e da beleza. A singulariCtade firme e efetiva se acha excluida ou marginalizada: num extremo est' 0 destino abstrato, que se impOe de fora a sua vida. No outro extremo, esta 0 Aedo singular que nie participa dos acontecimentos. 0 movimentovai prosseguir ate aproximar os dais lados: a necessidade do destino deve-se implementar com este conte6do; e a linguagem do Aedo tem de tomar-se participante. Na trag6dia, 0 conte6do nio fica a deriva como na epopeia, mas recebe a certeza e a s6lida determina~io do negativo. 3 .2 .
A tragedia
A trag6dia- e a linguagem superior que re6ne 0 mundo da essencia e 0 mundo do agir sob a 6gide do conceito, 0 ,qual comanda a divido. e 0 movimento das figuras. 0 conte6do e racional: a forma j& nio e narrativa: 0 proprio heroi fala, e os espectadores-ouvintes se mostram no coro homens consdentes-de-si, que sahem o que querem e os direitos que lhes competem. Nio expressam s6 0 exterior dos eventos: mas seu interior. Dizem 0 pathos a que pertencem, expurgam os person8Jens de suas circunstancias contingentes para expO-las coll1O ind.ividualidades universais. sao homens efetivos que personificam estes herois e os apresentam em sua pro184
pria linguagem. A presen~ obrigat6ria da mascara indica porem que a Arte nio contem ainda 0 Si na .sua completa autenticidade. 1)
0 coro
o coro dos anciios representa 0 povo: fica-Ihe bem a fraqueza dessa idade, pois significa 0 material passivo e positivo que 0 Governo defranta. Sem ter a fo~a do negativo, e incapaz de reunir a riqueza multicor da vida diviila, e a deixa dispersar em seus momentos, exaltando cada um deles nos hinos lit6rgicos como um deus independente. Mas quando assiste a seriedade do conceito passar por cima dessas figuras e despeda~-las, interpreta isto como a for~a do destino estranho, e as falas do coro tratam de aplacar e de consolar. Vi compaixio; temor e lamento inoperantes, capitula~o ante a Necessidade, por ser incapaz de entend8-la CQlIlO e de fato: a~o necessaria do carater e opera~ie da propria esscncia absoluta. 2)
Os her6is
Ante essa consciencia espeetadora, 0 espirito entra em cena no desdobramento simples do conceito, nas suas duas potencias extremas. Um par de herois representa esta dualidade: cada um deles pOe seu carater e consciencia numa s6 destas potencias e.a pOe em a~o. Direito humano e direito divino: direito do Mundo ct6nico e do mun40 de cima; familia e Estado: homem e mulher. 0 proprio Mundo dos deuses se cinde de acordo ~om esta polariza~o, que se aproxima muito mais da individualidade verdadeira que a J?luralidade antes representada: que constituia, de fato, urna dissolu~io do sujeito em seus momentos dispersos.
3)
0 saber e
0
nio-saber
o heroi s6 pode agir segundo 0 seu carater, determinado por uma s6 das pot8ncias, e desta forma desconhecer a outra. Uma pot8ncia se revela: outra se oculta. 0 que e revelado nos oraculos, leva a perdi~o quem se gula por eles. A ambigiiidade dos oraculos, para ser. expurgada, tinha. que ser conferida com os saberes da patencia oposta; 0 que nio sucede, porque 0 saber dos herois. e sempl'C unilateral, s6 capta uma das potencias da substancia, com excludo da outra. . 4)
Os deuses
o mundo dos deuses do coro tem tr& figuras: Zeus, que representa a substanciae nie se individualiza em potencia da familia 185
e potencia do Estado, mas as abrange em sua efetividade wica. 0 saber e nao-saber sao representados por duas individualidades ou figuras distintas: Apolo, deus que sabe, que se revela; e as Erinies, que se mantem ocultas. Ambos gozam de honra igual. .Zeus e a necessidade de sua rela~ao mutua: pois a substincia, onde 0 saber e para-si, tem a sua verdade na essencia interior que destr6i toda a diferen~a e tern sua confirrna~ao no olvido (Lethes).
°
S)
°
0 desenlace da tragedia
o heroi segue um or4culo ambfguo, quando tinha tudo para suspeitar de sua ambigUidade; com efeito, 0 frenesi da pitonisa, 0 grotesco da bruxa, as 4rvores e os p4ssaros que falam sio signos admonit6rios do engano, e nio modos de manifesta~io da verdade. A potencia oposta foi assim lesada. Na consci8ncia do heroi nio h8 culpa: nio pode renegar 0 seu agir; mas h4 crime. S6 0 olvido pode .apag4-10, no mundo superior pela absolvi~o, e no inferior pela expia~io. Olvido 6 0 ser-desaparecido da realidade· efetiva, das pot&1cias da substincia e do pensamento abstrato do Bem e do Mal. Aes~ncia 6 0 destino, honra e inefetividade iguais de Apolo e das Erinies, e retOl1la de sua anima~oespiritual a simplicidade de Zeus.· Comisto se provocaum despovoamento do c6u. A elimina~o dessas represen~s carentes de essencia - que os fil6s0fos cia amtigUidade reclamavam - j4 com~a com a propria tragedia.. Nela, 0 conceito afirma seu predomfnio sobre as ltpresenta¢es, e a Unica potencia suprema que a consci8ncia-de-si adtnite . na tragedia 6 Zeus, que impera sobre 0 lar e 0 Estado, sobre 0 saber do particular e do universal. Os momentos que continuam dispersando-se do conceito na representa~io sao os que o. COlO ~ colhe: nao constituem 0 pathos nem 0 car4ter dos herols, senao que descem ao 'plano das paixOes. Na simplicidade do inconsciente se fundem - ou melhor, s~ bram .- as figuras divinas e as potencias da substancia. Nonivel da consciencia-de-si, unificam-se na unidade de Zeus a essenciasubstancial ea n~ssidade abstrata, pais ,ZeuS ~ 0 Si, a unidade e&piritual a que tudo retoma. POr6m, -a .conSciencia~e-si efetiva 6 distinta ainda da subStincia e do destiflo: 0 heroi que aparece ante 0 espectador usa uma m4scara, quer dizer, se decompOe num personagem e num Si efetivo. A consci8ncia-de-si do .heroi precisa sair dessa mucara, apresentar-se e saber-se como destino dos deuses e das potencias dasubstincia; entlo nio estar4 mais separada do COlO daconsei&1cia universal. 186
3.3.
A comedia
Na comedia, a consciencia-de-si se representa, antes de tudo, como 0 destino dos deuses, que esvaziados da realidade efetiva, nao sao urn Si, mas apenas momentos universais. A ironia faz cair a m4scara que apresentava; revelando sua nudez e mostrando ser a mesma coisa que 0 Si verdadeilO: 0 do ator e 0 do espectador. Esta dissolu~o universal da es~ncia e ainda mais seria no seu contet1do que em sua forma: e se toma mais radical a medida que se aprofunda. Com efeito: a substincia divina significava essencia· lidade natural e essencialidade 6tica. A consciencia-de-si efetiva progressivamente Ie apoderou dess8S significa~. PrimeilO, usou a natureza para adomo e morada: e queimandoem holocausto, afirmava-se como 0 destino da natureza. No misterio do pio e do vinho, apropriava-se dos dois como sua essSncia interior; agora, na comedia, toma consciencia da ironia desse significado. Quanto a essencialidade 6tica,· encontra-se agora 8Ssumida - de uma parte pelo povo (demos), como sociedade politica ou como fBDlfiias - e de outra parte, pelo pensamento racional.- do universal. o demos se sabe como Senhor e Govemante, canscio de seUs direi~ tos: mas sente 0 contraste entre sua id6ia e sua vida: sua necessidade e sua contingcncia: universalidade e wlgaridade. E entio,quando os interesses particulares se apoderam da comunidade e a governam, o desrespeito com que a singularidade imediata trata a· ordem universal 6 a mais cruel ironia. o pensamento racional leva a cabo a dissocia~entre a essencia divina e sua figura contingente (dos deUses do coro). Em lugar de mwmas eticas e deveres mUltiplos que 0 colo proclamava, agora tudo e reduzido as id6ias simples do Belo e do Bom (killlJs k'agath6s); formas a preencher porum C<)ntet1doqualquer, como seja, hedonismo leviano da juventude, ou a pusUanimidade mesquinha da velhice. l! urn espet4culo realmente camico, o que oferecem esses pensamentos da Beleza e do Bem esvaziados da firmeza
°
daco~a.
Agora, 0 destino que antes residia na quietude vazia ou no olvido vem untr-se l consciencia-de-si. A Religiao da Arte chega a sen termo.quando a consci8ncia singular, na certeza de si mesma, se apresenta como' potencia absoluta. Abandona a forma da coisa representada, a ela estranha: seja como figura pl4stica de um deus, ou bela corporeidade: seja como narrativas epicas e personagens tr4gicos: seja, enfim, como unidade inconsciente nos cultos e mist6rios. o Si do atelr coincide comO 0 do seu personagem eo· espectador vc a si mesmo n8S cenas a qUe assiste. Opera-se 0 retorno de todo
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o universal a certeza de si mesmo; e como foi abolido tudoo que e estranho, a consciencia sente um hem-estar como nunca teraigual fora dessa comedia. A RELIGIAO REVELADA (Offenbare)
3.- Parte -
Capitulo 1.8
-
Recapitula9io Transitiva
£ 0 avesso (e 0 complemento) da consci~ncia c6miqa, completamente feliz e tada dentro de si mesma; enquanto a consci~ncia infeliz e a perfeita extrusao e perda da certeza do saber de si; perda da substincia e do Si que se expressa nasduras palavras: Deus morreu. o Estado de Direito assistiu ao Mundo £tico e sua religiosidade ~brarem na consci~ncia cOmica. A consci~ncia infelize a consciencia desse naufragio total. Tudo sao dest~s: personalidade imediata e personalidade pensada; confian~a nas leis etemas, nos deuses enos oraculos; estatuas e hinos sem vida. As obras de arte possuem uma beleza morta, como a de um fruto cortado da arvore que uma donzela nos oferece. Paira em tudo um ar de saudade, na rememora~ao do espirito que antes existiu. A reconstitui~ao lingiiistica ou hist6rica tenta dar uma sobrevida a estas belezas mortas. Mas 0 Panteao que as re6ne e contempla e 0 espirito consciente . de si como espirito.
1 . 1. 0 crepusculo dos deuses A Religiio da Arte foi travessia do espirito da forma de substincia A de sujeito, apresentando uma figura que tinha 0 agir da consci&1cia-de-si. A es&ancia· divil\a se humanava ja na estatua; mas s6 na forma exterior, pois a atividade se situava fora dela. No culto, se prooessava a uniao do interior com 0 exterior; no teatro grego, esta unidade passava tada para 0 ladodo Si. Uma proposi~io simples expressa esteresultado: "0 5i 6 a Es&ancia absoluta". Ouer dizer: a es&encia naufraga na consciencia singular certa de si. A essaDcia vira predicado; ela que antes era a substAncia, e 0 5i, seu acidente. Sem d6vida, essa proposi~o pertence ao espirito efetivo;e Dio ao religioso. Contudo, a figura espiritual que a expressa cont6m ao mesmo tenipo 0 movimento que produz sua inversa: rebaixa 0 Si a predicado e eleva a substAncia a sujeito. Mas nio se trata de um retrocesso a Religiao Natural: quando a consci~ncia-de-si produz, por sua extrusao e sacrificio, a substAncia como sujeito,este sujeito cohtinua sendo. 0 seu proprio Si. Tomando juntas as duas proposi~s em que os dois lados estao presentes igualmente, mas comvalores invertidos - seu resultado 6: a unifica~io e a compenetra~io das duas naturezas,onde ambos sao igualmente essenciais e sio apena! momentos. Religiio da Arte e Mundo £tico so~bram juntos no Mundo do Direito; 0 Si, que fora absorvido na universalidade plena do espirito do pavo, ganha leveza e se eleva sobre este conte6do. Sua singularidade simples destilada 6 a pessoa, universalidade abstrata do Direito,uma esp6cie de Panteio, nio de imagens, mas de puros pensamentos. l~ que 0 5i esta vuio, 0 conte6do fica livre: resta ao Si apenas 0 pensamentode si mesmo;o reconhecimento jurfdico da pes80a 6 uma abst1'a~o nao..implementada. Ela hem sahe, que tal como '6oaf', nio passa de consciencia inefetiva. £ a independencia est6ica que vimos atravessaro· movimento da consciencia c6tica para encontrarsua verdadena consciencia infeliz. Esta descobre que a validez da pessoa de Direito era de fato a perda completa; melbor, esta consciencia 6 a propria perda, tomada oonsciente-de-si.
Estao dadas todas as condi¢es para 0 nascimento deste espirito. A bern dizer, a totalidade destas condi¢es 6 0 seu devir, seu nascimento e seu conceito. Hi-las dispostas em tome do ber90 da natividade: primeiro 6 0 circulo das jormas produzidas pela arte: todas as variantes de extrusOes da substAncia: comocoisa (estatua); como linguagem (hino); como agir (culto); como corpo humano (cerim6nias); como espirito representado e certeza de si (teatro grego). A seguir, esta 0 circulo das jiguras: a pessoa do Estado de Direito; as for~as devastadoras por ela liberadas; a· pessoa pensada est6ica; a inquietude cetica; enfim, a consci8ncia infeliz que contagia a todas essas figuras com sua ardente expectativa em tome do momenta em que 0 espirito vai se tomar consci8ncia-de-si; a dor dessa consci8ncia infeliz sao ja as dores do parto ... As duas proposi~6es inversas exprimem os dois lados do conceito: nele tanto a extrusao da substAncia produz a consci~ncia-de-si, quanta a extrusao desta 61tima produz a coisidade ou 0 Si universal: sua converg8ncia faz a verdadeira unifica~ao. Estas extrusOes mostram que em-si, a substAncia e consci~ncia·de-si, e que esta e substincia ou es&encia universal; e sendo substAncia consciente-de-si, 0 5i espirito. Quer dizer: 0 espirito abandona a figura da substincia e entra no 'ser-ai' conic consci~ncia-de-si; ou, em termos tomados da gera~io natural, 0 espirito tern uma mie ejetiva, mas um pai em-si-essente, porque a efetividade (ou a consci8ncia-de-si) e 0 em-si (ou a subst&ncia) sao dois momentos: pela extrusio reciproca - em que cada um deles se toma 0 outro - 0 espirito passa ao 'ser-at' como unidade.
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1.2.
Pre-condifOes germinativas da revelafiio
e
1 .3 .
Falsos eneontros de deus no mundo
Importa nlio confundir religilio revelada com certos misticismos ou fantasias religiosas, que imaginam deus manifestando-se na natureza, na hist6ria, ou mesmo nas religiOes primitivas, as quais da um sentido que nlio tinha para quem as praticava. Nestes casos, a consci8ncia-de-si capta sua propria extruslio, mas nio a da substAncia; 0 'ser-ai' 56 e ess8ncia espiritual do ponto de vista da consci!ncia, e nio em-si; porquanto 0 espirito verdadeiro como tal ainda nlio veio a ser para ela. £ preciso que 0 espirito absoluto se tenha dado em-si a figura da consci8ncia-de-si; que 'seja-ai' como uma consci8ncia-de-si, isto e, como um homem efetivo para a certeza imediata, que veja, toque, e ou~a esta divindade. Nio se trata, pois, de imagina~io como no caso anterior. Alem disso, 0 ser do espirito nio e um Si pensado ou representado - como na religilio natural - 'ou produzido como na Religiio da Arte - ; agora Deus 'devem' imediatamente como Si, como um homem singular efetivo, ao alcance da intui~o sensfvel. Capitulo 2.° -
2. 1.
Conceito de
Encarna~ao
ReliJiio Absolute
da ess8ncia divina
eo mais profundo. Que a es&ancia suprema possa ser vista, ouvida, tocad~ como ser humane efetivo: nisto reside a perfei~ao de seu concelto.
2.2. 0 saber da eomunidade, eonstitutivo da Religiiio Absoluta Mas nlio se trata apenas de uma consci8ncia imediata: e uma consci8ncia religiosa; portanto um saber da ess8ncia em sua presen~a imediata. Esta religilio sabe que 0 ser e es&ancia (como 0 estabelece 0 saber conceitual) por iS80, a religiio revelada e um saber especulativo, jli que Deus e revelado tal como e: como espirito, como puro pensamento. Ele 'esta-ai' como e em-si. Todas as expectativas do mundo precedente convergem para esta revela~o: e 0 anelo da consci8ncia de sl - de se contemplar na e~s8ncia absoluta - se realiza, dando lugar a um jl1bilo que e espfnto. No entanto, este espfrito Be revela na Religiio sob uma forma imediata, a de um Si singular oposto 80 universal, a forma de um Outro sensivel. Nlio tem ainda a forma do conceito, ou do SI que em sua imediata efetividade e, ao mesmo tempo, pensamento e universal suprassumido. A universalidade. no caso da Religilio, nio e a do conceito como conceito, mas sim a que dela mais se aproxima no plano da imediatez: a Comunidade, que e universalidade da efetividade, totalidade dos Si, e que opera elevando 0 'ser-ai' a representa~lio. Esta Comunidade toma este homem singular enquanto desempenha 0 movimento do ser sensfvel, e transforma seu ser em ter sido. A consciencia, para 0 qual ele e presen~a, 0 viu, 0 ouviu; e porque 0 viu e ouviu, ela se torna consci8ncia espiritual. Assim como (no Natal) nascia para ela como ser sensivel, agora (na PUcoa) nasce no espirito. Com efeito, quando ve e ouve, e conscibcia imediata, sabe este singular objetivo como espirito, mas nio sabe a si mesma. Quando 0 sensivel desaparece, 0 espirito continua sendo o Si imediato da efetividade, mas como consciencia-de-si universal da Comunidade. Ja nlio e 0 singular (Cristo) mas ele juntamente com a conscicncia da Comunidade, que constituem a totalidade do espfrito.
Eis 0 contel1do simples da Religilio Absoluta, em que esta eS$6ncia tem consci8ncia de ser espfrito: por iS80 e religiiJo; a eS$6ncia e~abida tal como e, e sendo sabida como espirito, e sabida como easbcia que e essencialmente consci8ncia-de-si. Para a consci8ncia, 56 um objeto estranho e secreto. Ora, quando se revela a si mesma na pura certeza de si, nada pode ser estranho, porque 0 objeto e o Si, unidade inseparavel consigo mesmo e universal imediato. Quando se conhecem os atributos divinos, se conhecem predicados, mas Dio 0 sujeito, embora este seja 0 suporte daqueles momentos .universais. Porem, ao ser conhecido 0 Si, 0 proprio sujeito e revelado. Ora, ser revelado segundo 0 seu conceito, e a verdadeira f~ra do espfrito, poiso Si e 0 interior refletido em si mesmo. 0 espfrito e s.abido como C9nsci8ncia-de-si, e e imediatamente revelado a esta consci8ncia, pois e a propria; por isto se diz que a natureza divina e 0 mesmo que e a humana: e e esta unidade 0 que se contempla. Aqui a consci8ncia - au o modo como a ess8ncia e para eIa, sua figura - e igual a consci8ncia-de-si, e esta e um objeto essente, mas que tem a imediata significa~io de puro pensamento, de ess8ncia absoluta. 0 fnfUno e 0 Supremo, 0 que na superffcie se revela
No entanto, passado e distanciamento sio modos imperfeitos de ou de universaliza~80; sao como um mergulho superficial no elemento do pensamento. £ a represen~, coDj~O sintetica da imediatez sensivel coma universalidade ou pensamento. Porem, e esta a forma como 0 espfrito se torna consciente de si mesmo nesta Comunidade, ja que D80 chegou ainda ao conceito como con-
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2.3 .
Limit~s
e perealfOs do saber da Comunidade
med~
ceito. Assim, a essSncia espiritual esta cindida num aqu6m e num aMm: 0 conteudo 6 verdadeiro, mas seus momentos sao representados como independentes e em rela~io extema uns com os outros. Falta ainda ascender a uma mais alta cultura (Bildung) para elevar ao conceito a intui~ao da essSncia absoluta, e igualar sua consciSncia com a sua consciSncia-de-si. Por6m, a verdade do espirito na Comunidade nao consiste apenas em ser sua substancia, ou em elevara interioridade a representa~ao objetiva: consiste em refletir-se dentro de si, em ser sujeito: A vida da Comunidade 6 este movimento que nela 0 espiritQ efetua. Hli por6m 0 risco de empobrecer esta vida do espfrito, por urna equivocada volta as origens, a comunidade primitiva, ou a literalidade dos discursos de seu fundador. Isto 6 confundir. 0 retomo ao conceito originario com 0 retrocesso a origem temporal. 0 importante 6 a representa~o da Comunidade e sua opera980 sobre esta representa9io; e nao a reconstitui~ao hist6rica dos eventos au de urn wlto singular. Capitulo 3.° -
Os tres momentos do espfrito que se revels
o conteudo deste espfrito se revela a Comunidade em tres mementos: 1.0 ) pura substAncia ou pensamento puro; 2.0 ) representa~io, meio-termo ou liga~ao sintetica por onde passa ao 3.° momento: a 'consciSncia-de-si como tal. Estes trSs momentos constituem 0 espirito, de tal forma que a reflexio do espfrito dentro de si e expandir-se nestes circulos concSntricos e passar de urn para 0 outro. , Na consciSncia infeliz, este conteudo era objeto de desejo ina· tingivel, pois nao 0 considerava como substAncia sua. Na consciSncia crente (mundo da Fe) era tornado como urn conteudo essencialmenteobjetivo da representa~ao, mas separado da certeza da consciSncill-de-si; esta certeza assumia as formas de vaidade do saber, e de pura inteleC9io. Agora, a consciSncia da Comunidade tern este conte11do por sua substdncia e por certeza. de seu proprio espirito.
Outro); 3.0 ) 0 ser-para-si deste Outro: (seu saber-de-si nele). A essencia, pronunciando seu Verba, se extrusa e esvazia. 0 'ser-ai' do Verba 6 somente 0 movimento de ouvir-se a si mesmo. As .diferen~ se dissolvem logo que se estabelecem: 0 verdadeiro e efetivo 6 s6 este movimento que gira em si mesmo (perichorese). de notar que 0 saber da Comunidade nio opera com estes conceitos, mas com representa95es: rela95es naturais de patemidade e de filia~io. A essSncia se manifesta a esta Comunidade como algo estranho, em que a Comunidade nio reconhece a natureza da pura consciSncia-de-si. A forma representativa tem de ser uhrapassada; deve-se deixar de tomar estes momentos transit6rios como sujeitos inabalaveis. 0 conceito pressiona nesta dife980; mas esta pressio atua como urn instinto: e assim, por falta de lucidez, se termina por rejeitar com a forma 0 proprio conteudo, rebaixando-o a uma representa~o hist6rica ou heran9a da tradi9ao. Ora, isso 6 reter apenas a exterioridade da FeS; desconhecendo seu interior, que e justamente 0 conceito que se sabe como conceito.
:e
3.2.
A representafQo (0 esplrito
na sua extrusao)
1) Deus e 0 Mundo
Primeirose representa 0 espfrito como essencia simples, igual a si mesma. Mas 0 espfrito tern de ser. efetivo: pura essencia e abstra~io, e 0 negativo de si mesmo: e diferen~a absoluta de si mesmo, seu puro devir-Outro. Portanto, nio e s6 em-si, como essencia: e tamb6m parMi; e 0 Si, 0 Conceito. Mas neste Outro, retoma imediatamentesobre si mesma, porque diferen~ tio pura e unidade retomada dentro de $i. Temos pois tr& momentos: 1.0 ) essencia; 2.0 ) 0 ser-para-si desta essSncia (seu saber-de-si, seu Verbo, seu
Vejamos 0 espirito na sua extrusio, para entender como da simplicidade da essSncia provem a pluralidade das pessoas e ados seres criados. Esta pura essSncJa 6 abstra~io e portanto, negatividade; negar sua unidade simples equivale a devir-Outro. Potem, como diferen~a no puro pensamento e 0 mesmo que diferen~ nenhuma, a rela~io da essSncia etema com seu ser-outro (ou para-si) tem de ser um reconhecimento de amor, onde os dois nio se op6em segundo a essSncia. Mas como 0 elemento do puro pensamento IS abstrato, passa para 0 seu Outro, 0 elemento da representa~io. Ali os momentos conceptuais ganham 'ser-ai' substancial e se tomam sujeitos, cada urn refletindo-se em si mesmo e. se opondo ao outro. assim que aparece urn Mundo, como 0 Outro criado pelo espfrito absoluto. Criar e termo de representa~, para ,traduzir 0 movimento absoluto do conceito que sabe 0 Simples, enunciado absolutamente, como 0 negativo, 0 Outro, 0 oposto ,de si mesmo. Este ser-para-outro, careDte de Si, e um mundo, onde os momentos contidos na universalidade do puro pensamento se dissolvem na particularidade; onde 0 espfrito e dissociado e jogado na totalidade do ser, com a sua ordem (Kosmos) externa.
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3. L
A essencia (0 esp/rito dentro de si mesmo)
:e
2)
0 mal entra no Mundo
Contudo, 0 Si esta tambem presente no mundo, na forma do Si singular, consciente de ser distinto do mundo, seu Outro. De inicio, inocente, porque ainda nio se tomou para si mesmo um outro - como ja fez a essencia divina ao extrusar-se - , vem depois a adentrar-se em si mesmo, no seu proprio saber. Transmuda em saber seu 'ser-af' imediato; um saber ainda condicionado, porque deriva da imediatez. Nio e puro, porque tern nele 0 seu outro: 0 pensamento, a si mesmo oposto, do Bem e do Mal. A representa~io faz disso um evento, uma ocorrencia: "Aconteceu que 0 homem proyou do fruto do Bem e do Mal, sendo por isso expulso do paraiso", quer dizer, do jardim dos animais ... Este adentrar em si mesmo se determina de inicio como Mal; e porque a oposi~io entre Bem e Mal ainda nio foi dissolvida, a consciencia e essencialmente 0 Mal. Contudo, a consciencia boa esta tambem presente e defronta a outra em rela~io reciproca. Para pensar 0 movimento de adentrar-se ou de 'tomar-se mau', se projeta o momento em que a essencia se tomou· Outro e desigual a si mesma, para antes do tempo. Entio Lucifer, ao adentrar-se sofreu sua queda: mas logo outro Filho foi gerado em lugar do 'primogenita da luz'. Claro que 'Filho' e 'Queda' pertencem ao registro da representa~io, e rebaixam para 0 seu nivel os momentos do conceito. A representa~io divide 0 ser-Outro da essencia etema numa multidio de figuras (angelicas). Atraves deste recurso, se tem, de um lade, 0 Filho que sabe a si mesmo como essencia; e de outro, a extrusio do ser-para-si que vive no louvor da ess8ncia, mas onde tambem pode surgir 0 adentrar-se em si, que e 0 Mal. £ irrelcwante contar os momentos: tres, quatro ou cinco? A dualidade e que e fundamental. 0 diferente e s6 mesmo, um: 0 pensamento da diferen~a, que abarca 0 multiplo no Un~, 0 qual, como principio do numero, e indeterminado em rela~io ao numero como tal. A numera~io, como as diferen~as de tamanho e de quantidade, careceni de conceito e nada dizem.
tra~o e a inefetividade. ·0 Mal por sua vez e uma ocorrencia estranha a essencia divina; contudo, por uma extrapola~ao tio extrema quanta esteril, a representa~io projeta 0 Mal no intimo desta ess8ncia como a c61era divina. A essenciadivina se aliena em duas modalidades; em que os dois momentos do espirito, 0 Si e 0 Pensamento, tem valor relativo desigual. Na primeira, a Essencia divina e 0 essencial, e 0 Si (ser-ai natural) 0 que deve ser suprassumido: (Cristo). Na segunda, e 0 inverso: 0 ser-para-si e 0 essencial; inessencial e 0 Divino: (0 hOo mem). Seu meio-termo, por enquanto, e a simples coexistencia dos dois momentos.
4)
A
reden~io
e a
reconcilia~io
3) A luta do bem e do mal e 0 Mal estio representados numa oposi~io irredutivel de ess8ncias independentes;e ohomem, carente'de ess8ncia, eterreno sinteticodo soo 'ser-ai' e de sua luta. Noentanto, 0 honiem e 0 Si,' a efetividade. Sendo assim, 0 Mal e apenas 0 adentrar em si do 'ser-af' natural do espirito; e 0 Bern, uma consciencia-de-si 'ai-essente'. ' Projetado pela representa~io na essencia divina, 0 Bem corresponde a humilha~io voluntaria· desta essencia, querenuncia a ab.
Estas essencias (ou modalidades acirna) tem 'ser-at' separado e independente: sua confrontacio enquanto tais, nio tem saida. Mas sio tambem pensamentos e atraves de sua confronta~ como conceitos determinados e que a luta terminal como tais, sio pura rela~io de oposi~io. Como termos independentes, devem mover-se ao encontro um do outro; por isso este movimento e representado como ate de liberdade, muito embora a necessidade de sua extrusio resida em seu conceito. A iniciativa parte do termo que e determinado como Em-si: este e que se extrusa, vai a morte e se reconcilia com a Ess8ncia absoluta. Oeste modo, a aliena~io da essencia abstrata num 'ser-ai' natu· ral e revogada por um segundo 'devir-Outro', ja que pela morte a presen~a sensivel e suprassumida e se toma universal: (res)surge como espirito. Esta presen~a imediata suprassumida e identica a consciencia universal ou Comunidade; que vai atem da representa~o, por ser um .retorno do espirito ao interior de si mesmo. Quando a representa~io diz: "A essencia divina assume a natureza humana" expressa que em-si nio sio separadas uma da outra; mas tambem, se nio expressa, implica que ao extrusar-se de seu Principio e ao adentrar-se em si, esta essencia comete uma queda e se toma m4. Mas entio, 0 Mal nio e algo estranho, ja que 0 momento de adentrar em si e essencial ao espirito; alias, a essencia absoluta seria um flatus vocis se nio tivesse seu Outro. A represen~io chega a captar que estes dois momentos conceptuais (a Essencia absoluta e 0 Si) nio sao separados; e 0 enuncia como a extrusio da ess8ncia divina que se fez came. Contudo, tal representa~io s6 se toma verdadeiramente espiritual quando pelo sacriffcio retorna esta figura particular a universalidade da essencia; porque, s6 refletida em si mesma e que a essencia e espfrito.
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o 'Bem
A representa~ao quer expressar a reconcilia~ao da Essencia divina com 0 seu Outro; ou mais precisamente com 0 Mal. No fundo, 0 conceito de reconcilia~ao sUpOe que em-si, 0 Mal seia a mesma coisa que 0 Bern; ou, que a natureza divina seia a totalidade da natureza; e assim, separada dela~ a natureza 6 0 nada. Isso se presta a mal-entendidos. Se 0 Mal 6 0 Bem, entao 0 Mal nao 6 0 Mal, nem 0 Bem 6 0 Bem: estao ambos suprassumidos. 0 Mal, 6 0 ser-dentro de si; 0 Bem simples, carente de 5i. 56 as duas proposi~Qes juntas exprimem a verdade, e devem ser mantidas com igual vigor: sao 0 mesmo, e sao distintos. £ sempre assim quando se trata de conceito: nao podem ser tomados como coisas s6lidas 0 mesmo e 0 nao-mesmo, porque averdade ests no seu movimento, no qual o mesmo, por ser abstra~ao, 6 diferen~a absoluta, e esta, por ser diferente de si mesma, 6 igualdade consigo mesma (identidade da identidade e da nao-identidade). Aplicando isto a 'mesmice' da essencia divina (e da natureza emgeral, mas especialmente da humana), aquela 6 natureza enquanto nao 6 essencia; e esta 6 divina segundo sua essencia. No espirito, ambas se pOem suprassumidas. Dizer que urna e a outra, 6 usar 0 e da c6pula, que nao expressa este por que se ds no moviment9 do espirito. Na verdade, estes momentos tanto sao quanto tWO sao; 0 que 6 mesmo, 6 0 movimento que 6 0 espirito. Na reconcilia~ao, a consciencia suprassume estas diferen~as numa unidade espiritual; e deixa de ser puramente representativa, porque seu movimento completa 0 retomo sobre si mesma. 3.3.
0 retorno
aconsciencia-de-si (a Comunidade do Espfrito)
Esta pois 0 espirito em seu 3.° elemento, na sua Comunidade, a consciencia-de-si universal, cuio movimento consiste em produzir para-si 0 que is veio-a-ser em-si: 0 homem divino, a consciencia-de-si universal. Ouer dizer:esta consciencia que representa 0 lado do Mal (potque nela 0 'Ser-ai' natural vale como essencia) deve elevat-se at60 espirito. 0 primeiro passo 6 convencer-se de que 0 'set-ai' natural 6 0 Mal; pois, mau, ja 6: 0 que esta faltando e estesaber, puro agir da consciencia dentro de si mesma. Ora, como a Essencia, por um lado, jlisereconciliou (em-si e consigo), as representa¢es recebem agora urn sinaloposto ao que antes tinham: adentrar-se em si jli nio 6 0 Mal, mas 0 saber do Mal, primeiro momenta da reconcilia~iio: abandono de sua natureza imediata determinada como 0 Mal; morte ao pecado. Com efeito: 0 movimento do conceito que sabe a naturalidade suprassumida como universal e assim reconciliada consigo mesma, 6 apreen-
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dido pela conSClenCla representativa como um evento, em que a essencia divina se reconciliou com seu 'ser-ai' pela ocorrencia de sua encama~ao e morte. A morte do homem divino iii nao representa para ela somente 0 nao-ser de alga singular, negatividade abstrata que termina na universalidade natural, mas sim a ressurrei~ espiritual, ou seia, a eleva~ao de sua consciencia-de-si individual ao universal, a Comunidade. A morte se transmuda na universalidade do espirito, que na sua Comunidade vive, e onde cada dia, morre e ressuscita. Antes, a representa~ao encontrava num 'ser-ai' particular, a natureza do espirito; agora, 6 a consciencia particular que morre na sua universalidade (em seu saber, que 6 a essencia se reconciliando consigo mesma). o elemento da representa~ao que havia antes, aqui se acha suprassumido; entrou no Si, no seu conceito, e 0 que era apenas essente, se tornou sujeito. Deste modo, a essencia etema, e 0 seu espirito, jli nio esmo situados no Mais-Al6m da consciencia representativa ou do SI: a morte do Mediador opera a suprassun~ao de sua objetividade, fazendo com que este Si particular se tome conscieocia-de-si universal. Por outro lado, 0 Universal se toma efetivamente consciencia-de-si, porque na morte do mediador nio acaba somente urn individuo particular, mas tambem a abstra~io da essencia divina: 6 a morte da essencia divina que nio foi posta como Si. Dai 0 sentimento dorido da consciencia infeliz: "0 proprio Deus morreu". Com isto, retoma-se ao mais intima saber de si, as profundezas notumas do Eu =Eu, onde a consciencia nada sabe al6m dela. Este saber 6 'espiritualiza~ao' que faz da substincia, sujeito; onde morre sua abstra~io e se toma consciencia-de-si simples e universal. Assim 0 espirito 6 0 que se sabe: 0 objeto de sua representa~io 6 0 conteudo verdadeiro e absoluto. Expressa 0 pr6prio espirito efetivo, e nao apenas 0 conteudo da consciencia e seu objeto. Ao chegar aqui, seu movimento atrav6s da efetividade 6 perfeito: e 0 sujeito de seu movimento; 6 0 mover-se; 6 tambem a substincia (ou 0 meio) que atravessa. Esta Comunidade por6m s6 nao ests consumada porque seu conteudo .ainda reveste a forma da representa~ao. A consciencia-de-si espiritual - a Comunidade - nao 6 ainda obieto para si mesma, e porisso a espiritualiza~io efetiva, que 6 0 retomo a partir desta representa~ao, assume para ela 0 carster de cisio. Conclusio Assim, no termo de seu processo, esta consciencia se adenttou em si, e extrusou seu ser natural conquistando a pura interioridade do saber, a negatividade. Porem, ainda representa como um Outro, 197
como um em-si, a extnJsio da substAncia, porque nio encontra, nem CQncebe nela, a sua opera~ao como tal. Em-si, ja se produziu a unidade da EssSncia e do Si. A consciSncia tem uma representa~ao desta sua reconci1ia~ao, mas como algo distante, a ser realizada nos longes do futuro; assim como a reconci1ia~ao que 0 outro Si (Cristo) cumprla, era coisa de um passado longinquo. Enquanto 0 homem divino singular tinha um Pai em-si essente, mas urna mae efetiva; a Comunidade, homem divino universal, tem por pai seu pr6prio agir e saber; mas tem por mae 0 amor etemo que se limita a sendr, porem que nilo contempla como objeto imediato efetivo. A reconci1ia~o esta no cora~ao; no entanto, a consciSncia esta cindida e a efetividade quebrada. A reconci1ia~ fica nurn mais a16m: 0 presente 6 0 Mundo imediato que ainda tem de esperar por sua transfigura~io. Como em-si, 0 Mundo ja esta reconciliado com a essencia, esta nio 0 considera algo alienado dela; mas sim, seu igual no Amor. No entanto, 0 espirito desta Comunidade continua em sua conscibcia imediata separado de sua consciSncia religiosa: proclama que estas consci8ncias em si nio estio separadas; s6 que este em-si ainda nio se tomou ser-para-si absoluto.
(DO) ~
VIII
o SABER ABSOLUTO / Das absolute Wissen / SumArlo
Enfim, todas 88 determtnaol5es e figuras sAo recapituladas ese tornam transparentes ao espirito,como momentos de seu davir. Raconelliacia definitiva, em que do recuperadas 88 recon~s e unifie~s anteriorea: 88 Figuras se transmudam em Conceitos e 88 Represen~6es em CiAnda; - que era 0 conte11do subJacente u diversas formas da experIAncia. 0 espfrito que se extrusa no es~ IS Natureza; no tempo, IS Hist6ria. A Re-memoraQio faz com que cada espfrito receba do predecessor 0 reino deste mundo; e IS o eaminho para 0 Espfrito Absoluto: - 0 espfrito que Be abe C(), mo espfrito.
Na Religiao, 0 espirito ainda estava preso a forma da Repree da Objetividade. 0 objeto da consciencia vai ser ultrapassado, nao apenas pelo seu retomo ao Si,mas por se revel~ evanascente, e mais: uma extrusao da consci8ncia-de-si. Essa extrusio nao tern s6 conota~ao negativa, mas tamb6m positiva: suprassume tanto 0 Si quanto 0 objeto, mas nela a consciencia se pOe como objeto, e pOe 0 objeto como Si; e como essa extrusao e objetividade siopor sua vez suprassumidas, no retomo a si mesma se encontra rio Outro como tal. 0 movimento da consciencia, para ser espiritual, tem de abranger a totalidade de seus momentos e deterrni~s, captando cada urn deles como 0 Si. senta~ao
1.
RECAPlTULACAO DOS MOMENTOS E DETERMINACOES
o objeto 6 inicialmente ser imediato (coisa) que a certeza senslvel apreende. Mas tamb6m e a determinidade, ser-para-outro e ser-para-si da percePfiio; 0 universal ou a essSncia, do entendimento. o
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objeto, como urn Todo, 6 movimento silogistico que vai e volta
19.9
dQ universal ao singular atraves da determina~io que e singularidade suprassumida. Em cada um desses momentos. a consciencia deve saber-se no objeto, ever configura¢es da consciencia nas formas que 0 objeto assume: e 0 movimento da consciencia fenomenal visto ate agora. Foi tentando captar 0 objeto, que a Raziio observadora se encontrou numa coisa indiferente, chegando ao cUmulo naquele juizo infinito: "0 ser do Eu e uma coisa". Referia-se a imediatezsensivel; mas se em lugar dela pensasse numa 'alma' ou num 'Interior', seria tambem urna coisa, embora invisivel. Tal juizo infinito e a propria carencia de espirito; contudo, no seu conceito, e 0 mais rico de espirito. Dizendo que a coisa e 0 Eu, suprassume-se a coisa, e tudo s6 adquire signific~io em rela~io ao Eu: e o que ocorre na pura intele~o da Ilustrafiio. As coisas sio meras utilidades, isto e: pure ser-para-outro. A consciencia, que percorrendo 0 mundo 'do espirito alienado terminou produzindo por sua extrusio a coisa como um Si, e proclamou a imediatez sensivel como 0 Unico v81ido e ser-para-si, va que esse momento. apenas enunclado, desvanece e passa em seu contr4rio: ser-para-outro. Palta fazer 0 mesmocom rel~ a este Interior, desprender o 5i do 'ser-ai'. £ a tarefa da consci8ncia-de~s; moral. que capta seu saber como .essencialidade absoluta; au seja: a coisa, 0 objeto. e apenas sua vontade e seu saber. A objetividade em que 0 agir se move, e 0 proprio saber do Si: eis a coisa totalmente recuperada pelo conhecimento." 2.
A DUPLA RECONCILfACAO DOS MOMENTOS DISPERSOS .
Estes momentos comp
200
£ verdade que essa unifica~io js ocorreu, em-si, na religiio, por ocasiiodo retomo da. represen~~io a consci~~cia-de-si. Mas essa forma nio era a autentica, polS 0 lado rehgloso era 0 do em-si. A verdadeira unifica~io tem de ser feita pelo outro lade, o. da reflexio dentro de si, pois e esse lado 0 que possui a si e ao seu contrario, nio s6 em-si mas para-si, e pode fazer a autentica unifica~io: na unidade simples do conceito. De certo modo, essa unidade ja foi apresentada: naquela figura da consciencia, a bela alma; que era puro saber de si na unidade transparente pura da consciencia-de-si; e que sabia esse saber como espirito. Contudo, esse puro saber carecia de realiza~io (Realisierung), pelo que se desvanecia como nevoa vazia, a nio ser que se pusesse em movimento em di~io a' sua 'realiza~io'. Era 0 que fazia de dois modos, implementando-se ao conseguir a ~nidade com sua extrusio; sua verdade, portanto, uma vez no espinto operante; outra, na reUgiio. Na religiio,o conceito ganh~.. c~nteudo na forma de representa~, do ser·Outro para a consclenCla. No espirito operante, a forma e 0 proprio· Si: 0 conceito que abandonou sua essencia etema, e que agora 'esta-ai' e age;. um 'ser-ai' que e tambem adentrar-se em si, ou ser mau. (Dasein/Bosesein). Este e 0 movimento: 0 puro saber da essencia se extl'U$a, por ser 0 cindir-se ou a negatividade do conceito. Elte cindir-se, enquanto devir para si, e 0 Mal; enquanto em si, permanece 0 Bem. Agora 0 que era apenas em si, vem tambem a ser para a consciencia, como seu proprio agir e seu proprio saber. Os dois momentos que se defrontam abdicam de sua determinidade, cada um em favor do outlO; abdica~io que e renuncia a unilateralidade do concelto; au, por outra, renUncla qUe· e 0 proprio conceito. A oposi~io e.bi-polar; desigualdade do singular que ein si se adentra, frente· ao universal; e desigualdade do universal abstrato f.rente ao Si. Par isso ha duas mortes: numa se morre para o Si se extrusa e se confessa; na outra. se morre para 0 universal abst;ato e inerte.para urn Si carente de vida. 0 esp£rito s6 e espirita porque eleva seu 'set-ai' ao pensamento - oposi~io absoluta _ e dai (e por aOretoma a si mesmo. Assim surge. como consciencia-de-si que e unidade simples do saber. Deste modo, 0 que na Religiio era conteUdo - representado naforma de Outro - agorae 0 agir mesmo do SI. Chega-se enfim a unifica~o de todos os momentos singulares, 'cada um dos quais representava 0 espirito todo. Eo conteudo. que naqueles momentos se' mostrara numa figura da consciencia, agora vem a adotar a fOrma definitiva do conce!to como conceito.
e
201
3.
A CI£NCIA
Essa ultima figura do espirito, - que d4 a forma do Si ao seu conteudo, e assim realiza seu conceito, emhora nele permanecendo - 6 0 saber conceitual, ou absoluto. A verdade 6 igual a certeza, e tem a figura desta, pois 0 espirito se sabe na forma de saber de si mesmo.. A Ciencia 6 0 espirito manifestando-se a consciancia no elemento do conceito (ou essencia), isto 6: produzido pela consciSncia nesse elemento. £ saber que 6 puro ser-para-si da consciencia-de-si; que 6 este Eu aqui, e nenhum outro, mas que 6, eo mesmo tempo, 0 Eu suprassumido, ou universal.
(DefinifOes 'cientfficas' ou Conceitos fundamentais da Ciencia). o Eu tem um conterJdo que. ele distingue de si, Por ser a pura Mgatividade, ouo cindir-se, 6 conscilncia. 0 conteudo 6 0 Eu na sua .diferenra mesma, por ser D19vimento de suprassumir a si meamo, quer dizer:· 6 esta pura ·negatividade que 6 0 Eu. 0 conte6do 6,pois, este movlnumto do espfrito que percorre a si mesmo por ser afigura do concelto em sua objetividade. o 'ser-al' desse conceito, a Ciencia, 56 se manifesta no tempo e na efetividade quando 0 espfrito chega a esta consciencia sobre Ii mesmo; .quando suplantando'sua figur~ imperfeita, cria para a consciencia a ligura de sua esslncia; e assim iguala consciencia e consciencia-de-si. Enquanto ainda' estava diferenciado em seus momentos, como conceber em geral nio tinha a1can~a substAncia; (oa substancia do saber, estava; mas nela nlo Ie conhecia). Por ,ub't~ se entende: 0 em-Bi ainda nio-desenvolvido; 0 funda_nto e conceito .em sua simplicidade ainda im6vel; a interioridade au 0 Si do· espfrito que ainda Dio '~af', j' que esse espa~ 6 oeupado pelo objeto da conscilncia representativliI. Nesta fase, 0 conhecer da consqancia espiritual tem um objeto pobre, onde 0 em-ais6 6 e. referencia eo Si ou conceito; comparadas comele, • substAncia e a ..consci6ncia da substincia sao mais' rieas. Na verdade, a substAncia est' 6 se escondendo nessa manifes~: 0 que Ie· .manifesta mesmo 6 a certe%a propria da consciencla-de-sii a custa da substAncia, como se dela extraisse toda a estrutura de suas euencialidJdes; DQID mo~nto que s6 termina quando engendra a partir de Ii mesma essea mOiDentos e os restaura para a consciancia. ~osaber conceitual, 08. momentos se apresentam antes do Todo, cujo devir constituem; na representa~o daconsciencia, 0 Todo vern antes. 0 espfrito se manifesta necessarlamente no tempo, enquanto nio tiver eaptado 0 conceito puro que elimina 0 tempo. 0 tempo 6 puro Si exterior, conceito apenas intuido. 0 tempo se manifesta
202
como 0 destine e a necessidade que tem 0 espfrito, ainda nio pienamente desenvolvido, de aumentar a participa~o da consciancia-de-si na consci&1cia; de par em movimento a imediatez do em-si, .de realizar e revelar 0 que 6 apenas interior, e reivindica-Io para a certeza de si mesmo. Bem se diz que "nada 6 sabido que nao esteja na experiSncia", pois justamente a experiencia consiste em que 0 conteudo - que 6 oespirito - seja em-si substincia, e portanto, objeto da consciSncia. 0 espirito 6 0 movimento do conhecer, em que 0 em-si se transforma em para-si; e a substincia, em sujeito; 0 objeto da consciancia, em objeto da consciancia-de-si, ou seja, em objeto suprassumido, ou conceito. Movimento que 6 cfrculo fechando-se sobre si mesmo, cujo principio coincide com seu fim. 0 Todo - que 6 espirito - 6 esse movimento de diferenciar-se que para a consci!ncia-de-si se distingue em: conceito puro intuido, 0 tempo; e seu conteudo, 0 em-si. A substincia tem uma necessidade interior de apresentar-se como 6 em-si: como espfrito~. Sua exposi~ao completa e objetiva coincide com sua reflexio ou com seu tomar-se sujeito. Eo· espirito nao pode atingir sua pedei~ como espfrito consciente desi antes de se ter completado em si, como espfrito do Mundo. Por isso a religiio proclama no tempo, antes .da ciencia, 0 que 6 o espfrito; mas 56 a ciencia 6 0 verdadeiro saber do espfrito sobre si mesmo. 4.
NATUREZA E HISTORIA
o movimento que faz brotar a fo~a de seu saber de si 6 0 trabalho que 0 espirito implementa na Historia efetiva. A Comu.nidade religiosa, enquanto substAncia do espirito absoluto, tem uma consciencia tanto mais tosca quanto mais profunda sua religiosidade, . e mais esfo~ exige 0 lidar com 0 conteudo tio estranho ~ sua consciencia. 56 quando desiste disso, e retoma a si mesma, .. e que descobre 0 mundo presente como sua propriedade. Deu asaim 0 primeiro passo para unir 0 Mundo do pensamento com 0 Si efetivo; e a razao observadora encontra e concebe 0 'ser-ai' como pensamento, e 0 pensamento como 'ser-ai'. Isso .porem e 0 mesmo que restabelecer, sob forma mais pura, a luminosidade; porque a extensiio e, methor que a luz, simplicidade igual ao puro pensamento. Nela renasce a substAncia do raiar do sol. 0 espirito reage a essa abstr~ carente de Si, e contra ela afirma a individulidade. Porem, 56 depois que na Cultura extrusou sua individualidade num 'ser-af', e que atravessou 0 utilitarismo e a Liberdade j
203
absoluta onde captou 0 'ser-ai' como sua vontade, e que chega a expressar a essencia como Eu Eu. Movimento refletindo-se em si 1l1esmo, igualdade que por ser negatividade e diferen~ absoluta e tambem objetiva: deve pois expressar-se como tempo. Deste modo, a essencia, enunciada antes como unidade do pensamento e extensio, agora e unidade do pensamento e tempo; mas o tempo nio se sustem; desmorona - pura diferen~a irrequieta na quietude objetiva, pura igualdade consigo mesma da extensiio. Eis-nos em plena substincia. Porem a substAntia para ser 0 absoluto teria de ser pensada como unidade absoluta. Mas entio seria sem conteudo,porque 0 conteudo, por ser diferenciado, tem de' ser assumido pela, reflexio, que nio e da esfera da substincia, mas do sujeito. Nio seria dar-lhe conteudo jop-Ia no abismo vazio do absoluto, e despejar-lhe em cima 0 mUltiplo conteudo dos sentidos; como se 0 saber chegasse u coisas sem saber nem como nem de onde ... De fato, 0 espfrito nio se apresentou para n6s como um recolher-se da consci6ncia-de-si em sua propria interioridade; nem como um naufragio da substAncia. Mas sim, como 0 movimento do Si que seextrusa em substAncia, e partindo dela adentra em si; convertendo-a em objetoe conteudo, e suprassumindo· uta diferen~ de objetividade. e contel1do. 0 Eu - que nio e· apenas 0 Si, mas a igualdade doSt consigomesmo - nada tern a temer da forma de substincia e de objeto, na qual abdica da forma de consciencia.de-si; iustamente, a for~ do espirito esta em manter-se igual a si em sua extrusio, e - ja que e em-si e para-si - em par como momentos tanto 0 em-si quanto 0 para-si.
=
se
5.
OS CONCEITOS E AS FIGURAS
No saber,terminou pois 0 espfrito seu movimento em figuras afetadaspela diferen~ da consciencia; conquistou opuro elemento de seu 'ser-ai': 0 conceito. 0 conteudo e 0 Si que se extrusa, na unidade imediata do saber de si mesmo e solre de uma inquietude que 0 leva a suprassumir-se: e a negatividade. Na forma do Si, 0 conteudoe conceito. Uma vez que atingiu 0 conceito, 0 espfrito esta no seu elemento: ali expande seu 'ser-a{',e movimento, cujos momentos ia nio ~ apresentam como figuras da consciencia -a qual alias jli retomou ao Si - mas como conceitos determinados. Na Fenomenologia do Espfrito cada momento·era diferen~ entre saber e verdade. como tambcm movimento de suprassumiressa diferen~a. Na Ciencia,nio cabenem essa diferen~a, nem a suprassun~io: cada momento, por ter a forma do conceito, unifica a forma 204
objetiva da verdade com a do Si que sa~~ . .Ja ni? e urn ~r entre a consciencia (representativa) e a consc1enc1a-de-s1; mas SlID, urn puro conceito e seu movimento. . Cada conceito da Ciencia corresponde,. em geral,a uma. f1~ra a da consciencia fenomenal: nenhuma e malS pobre .nem ma1~ que a outra, em seu conteudo. Conhecer os conce1tos .da Cle~C18 sob forma de figuras da consciencia ever como 0 con~lt.? s~ c1nde em seus momentos que se apresentam segundo sua. opoS1~ao mtet?a. Assim, 0 espirito que se sabe a si ~es~o, 19ualda~e ~ns1go mesmo e na sua diferen~a certeza do 1med1ato, conSC1enCla sensivel, ~ue foi nosso ponto de partida. No e?tanto, desprender-se da forma de seu Si e suprema liberdade e mliJnma seguran~a de seu saber de si. A extrusao ainda nio se completou, porqu~ ~ saber, atem d~ si deve conhecer seu limite. Ora, conhecer seu hm1te, e fazer sa~rt. fi~io ou extrusao em que apresenta seu devir em dire~io a~ es~ir1to como evento livre e contingente: seu ser-ai no tempo: H1st6rta; e _ no espa~o: Natureza. A Natureza nio e outra coisa senio a etema extrusao do espirito; e seu devir, 0 movimento que reinstaura 0 sujeito. A Hist6ria e 0 espirito que se extrusa no tempo, e onde se reencontra porque se perdeu. Lento desfile de i~agens, c~da u~a contendo a seu modo a riqueza total do espirtto: pot lSSO nao ha pressa, para que 0 espirito possa compe~etrar-se ~e toda a riqueza de sua substincia. Adentrando-se em Sl, Q espirtto e?trega a figura que teve seu 'ser-ai' l reme~ora~io; S~bra na n01te da consciencia-de-si; mas 0 'ser-ai' antertor, supra~s~m1do no saber, reo nasce como nova figura 0 novo mundo do esptn~o. E tudo c?me~a de novo: 0 espirito vai crescendo como se nada tlvesse aprendldo da experiencia precedente. A
6.
nc:
A RE-MEMORACAO
Porem a Re-memora~io (Er-Innerung) qu~ 6 olnte~ior e a forma superior da substincia, os conserva; pot lSSO, 0 espirtto re~ m~a sua marcha sempre de um nivel mais alto. Cada espirtto recebe 0 reino deste mundo das mios de seu predecessor.. A meta final e a revela~o do que ha de mais profundo: 0 conce1to ab!Oluto, 0 que se efetua suprassumindo esta profundeza. na extensao; onde 0 Eu, adentrado em si, se extrusa em substinc1a. Ma! essa revela~io e tamb6m sua encama~io. no tempo, onde a extrusao, ao extrusar-se a si mesma, produz 0 Sl. 205
o saber absoluto e, pois, a meta: 0 espirito que se sabe como espirito. Sua via de acesso e a Re-Memora~iio dos espiritos como slo neles mesmos, ecomp organizam seus reinos. Sua recupera~lo, na forma do agir livre, e na forma da contingencia, e a Hist6ria. Porem, vista do lado de sua organiza~io conceitual,e a Ciencia do saber fenomenal. Os dois lados reunidos, a Hist6ria concebida, formam a Re·memora~io e 0 Calvario do Espirito Absoluto; a efeti· vidade, a verdade e a certeza de seu Trono.
GLOSSARIO
AUFHEBEN - suprassumir AUFHEBUNG - suprassunc;io AUFGEHOBEN - suprassumido AU8FttHRUNG - atua1i~io BESTIMMUNG - c:tetermInac;io BE8TIMMTHEIT - determtnidade DASEIN (das) - 0 'ser-ai' DIESE (das) - 0 'issa-ai' ENTFREMDEN - alienar ENTFREMDUNG - alienac;io ENTAUSSERN - extrusBr ENTAUSSERUNG - extrusio AUSSERUNG - exterlortzac;io ERlNNERN - rememorar ERINNERUNG - rememoraQio ERFttLLEN - lmplementar ERFttLLUNG - implementac;io GEWISSEN - Boa Conscl~ncia GEWORDEN - devindo HERRSCHAFT und - dominac;ao e KNECHTSCHAFT - escravldio MEINEN - designar, indicar REAL - real REALITAT - realidade SEIENDE (das) - 0 essente SELBST (das) - 0 81 SELBSTHEIT - mesmice INSICHGEHEN - adentrar·se em sl INSICHSEIN - ser-adentrado-em·sl UNWAHRHEIT - inverdade UNMJTTELBARKEIT - imediatez VERSTELLUNG - deslocamento VERSCHWINDEN - evanescer VERSCHWUNDEN - evanescente WIRKLICH - efetivo . WIRKLICHKEIT - efetividade VERWIRKLICHUNG - efetivac;io WERDEN - dem
206
207
PIMOMINOLOGIA DO UPIlIITO CWf_ _ ' ...,•• -.s.;e.
BIBLIOGRAFIA SUMARIA SOBRE A FENOMENOLOGIA DO ESPfRITO
Obs.: Em portugu&l, nada existe, a nio ser a traducio dos primeiros capitulos da Fenomenologia por HENRIQUE LIMA VAZ (PreVolume facio, Introdu~io, certeza 8ensivel e PercePQio). HEGEL, COle~io OS PENSADORES. Abril Cultural, 1974. EDICOES - Princeps: System der Wissenchatt von Ge. W1hl. Fr. HEGEL. Erster Theil - die Ph8nomenologie des Geistes. Bamberg un WUrzburg, bey Anton Goehardt, 1807. - A mais conhecida: G.WP. HEGEL SamtUche Werke - Band V: Phanomenologie des Gelstes. (Georg Lason, Johannes Hoffmeis· ter) Feliz Meiner, Hamburg, (6a) 1952. - A mais recente edicio critica: G.W. F. HEGEL - Gesammelte Werke Band 9: Phinomenologie des Geistas (Wolfgang Bonsl· epen und Reinhard Heede), Feliz Meiner, Hamburg, 1980. (provavelmente e esta a edi~io critica definitiva). - Outras ediQ6es utiUzadas: Suhrkamp, 1970 W.W P. HEGEL Werke in 20. Banden (Moldenhauer·Michel) - 3: Phinomenolope des Gelstes, Ulstein Buch (G. GObler) 1973 (3a). TRADUCOES - Francesa - La Phenomenolope de l'Esprit (Jean Hyppolite) 2 vola. Aubier·Montaigne, ParIs, 1941. - Espanhola - La FenomenoloPa del Espirltn (W. Roces) Fon· do de Cultura Econ6mica, Mexico, 1966. - Italiana ~ Fenomenologfa dello Spirito (Enrico De Negri) 2 vola. La Nuova ItaUa, Floren~, 1973. - Inglesa - Phenomenology of Spirit (A.V. Miller) Oxford Uni· versity Press, 1977.
fENOMENOLOGIA DE
DO ESP[BlIQ
HEGEL
COMENTARIOS Hyppolite, Jean - Genese et structnre de 1& Phenomenolope de l'Esprit de Hegel. Aubier·Montaigne, Paris, 1946. Fulda, Fr., und Heinrich, Dieter - Materlalen zu Hepls Phinomenolope des Gelstes, Surhkamp, 1973.
209
Labarriere, Pierre-Jean - Structures et mouvement dIaIectique dans la Phenom~nolope de l'Esprit de Hegel. Aubier-Montaigne, Paris, 1968. - Introduction a nne lecture de la Ph~nom~nolope de l'Esprit, de Aubier-Montaigne, Paris, 1979. Paolinelli, M. - Traduzione e Commento analitlco di capitoli seeltl della Fenomenologia dello Spirito - Vita e Pensiero, Milano, 1977. {2 vols'>. SCheier, Claus-Arthur - Analytlscher Kommentar zu Herels Phinomenolope des Gelstes: die Arcbltektonlk des erschelnender Wlssens, Verlag Karl Alber. Freiburg, Moochen. Valls-Plana, Ram6n - Del yo al nosotros, Lectura de la Fenomenologia del EspIrItu de HeeeI, Barcelona, editorial Estela, 1971. Jorge R. Seibold, S.J. Pueblo y saber en 1& Fenomenololia del Espiritu de Hepl, Buenos Aires, Ediciones Unlversidad· del 8alvador y Diego de Torres, 1983.
SUMARIO
APRESENTACAO
9
NOTA SOBRE A COMPOSICAO OESTE ROTEIRO PREFACIO / Vorrede /
13
INTROOUCAO / Einleitung /
29
(A) -
.
35
A certeza sensivel
.
35
Perc~o
.
39
.
44
CONSCI'£NCIA / Bewusstsein /
~io
I-
Se~io
II -
S~io
III -
A
For~a
A for~ e 0 jogo de for~as
.
45
Capitulo 2.° -
0 interior
.
47
Capitulo 3.° -
0 infinito
.
51
CONSCI£NCIA-OE·SI / Selbstbewusstsein /
55
1.- Parte I
e entendimento
Capitulo 1.0 -
(B) S~io IV -
Independancia e dependancia da consciancia-de-si-
domina~io e escravidio
55
Capitulo 1.° -
Momentos da consciancia-de-si
56
Capitulo 2.° -
Oia16tica do senhor e do escravo
60
2.- Parte -
210
5
.
Liberdade da consciancia-de·si
63
Capitulo 1.0 -
Estoicismo
64
Capitulo 2.° -
Ceticismo
66
Capitul0 3.OA conSClenCla
10f el'1Z ••••••••••••••••
67
(C, AA) ~iio V .,-- RAZAO / Vemunft /
77
2." Parte - 0 espirito alienado de si mesmo: a cultura ....
(lntrodu~iio
a Se~iio
V)
77
1." Parte -
A raziio que observa
82
Capitulo 1.° mesmo
83
A cultura e seu reino da efetividade
Capitulo 1.0 -
Observa~iio
da natureza
Capitulo 2.° - Observa~iio da consci8ncia-de-si em sua pureza e em sua rela~iio com a efetividade extema; leis 16gicas e psicol6gicas Capitulo 3.° - Observa~iio da rela~io da consci8ncia-de-si com sua efetividade imediata: fisiognomia e frenologia
2." Parte A
efetiva~iio
A f6 e a pura 89 92
(A razio que opera)
97
da consciencia-de-si racional por obra de si mesma
97
Capitulo 1.° -
Caracteriza~io
Capitulo 2.° -
As tres figuras marais
-
0 prazer e a necessidade
-
A lei do
-
A virtude e
cora~iio 0
e
0
geral
deHrio da
102 presun~iio
105
curso do Mundo
108
sabe real em-si e para-si
111
Capitulo 1.° - 0 reino animal do espirito, a impostura e a coisa mesma
112
Capitulo 2.° -
A raziioditando as leis
117
Capitulo 3.° -
A razio examinando as leis. . . . . . . . . . .
117
(Introdu~io
1." Parte -
0 ESP(RITO / Der Geist /
119
a ~io VI)
119
0 espirito verdadeiro; a eticidade
119
Capitulo 1.° - 0 Mundo 6tico. A lei humanJl e a divina. o homem e a mulher
121
Capitulo 2.° - A a~iio 6tica. 0 saber humane e vino. A culpa e 0 destine
126
Capitulo 3.° -
0 estado de direito
132 134
intele~io
143
Ilustra~iio
A
Capitulo 3.° -
A liberdade absoluta e
146
terror. . . . . . . .
153
0 espirito certo de si mesmo: a moralidade ....
156
Capitulo 1.0 - A consci8ncia moral e sua cosmovisiio. o deslocamento
157
Capitulo 2.° -
A .'Boa-Consci8ncia' / Gewissen /
161
Capitulo 3.° -
0 mal e
166
0
0
seu perdio
102
(CC) Se~iio VII (Introdu~iio
0
A RELIGIAO / Die Religion /
a S~iio VII)
171 171
1." Parte - A religiio natural
3." Parte - (A raziio que unifica) - A individualidade que se
(BB) S~io VI -
mundo do espirito alienado de si
Capitulo 2.° -
3." Parte -
97
0
132
175
Capitulo 1.0 -
A essencia luminosa
175
Capitulo 2.° -
As plantas e os animais
176
Capitulo 3.° -
0 artesio
176
2." Parte - A religiio da arte
178
Capitulo 1.0 -
A obra de arte abstrata
179
Capitulo 2.° -
A obra de arte viva
182
Capitulo 3.° -
A obra de arte espiritual
183
\
3." Parte - A religiiio revelada / offenbare / Capitulo 1.° -
Recapitula~io
Capitulo 2.° -
Conceito da religiiio absoluta
transitiva . . . . . . . . . . . . . .
Capitulo 3.° - Os tresmomentos do espirito que se revela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
188 188
190 192
di· 130
(DO) ~o VIII Wissen /
0 SABER ABSOLUTO / Das absolute .....................
199
GLOSSARIO
207
GRAFICO
208
BIBLIOGRAFIA
209
SUMARIO
,
211
-
_1822,347
SAO I'IU.O SP -.AO
A cole~ao FILOSOFIA se prop6e reunir textos de fJ16sofos contemporaneos, tradu~6es de textos classicos, tradu~6es de textos de fil6sofos estrangeiros contemporaneos e instrumentos de trabaJho, tendo como finalidade p6r a servi~o do estudioso de Filosofia urn acervo bibliografico escolhido dentro de criterios rigorosos de sele~ao, que levem em conta 0 interesse do texto para 0 leitor estudioso de Filosofia e sua apresenta~ao segundo os padr6es cientificos reconhecidos da produ~ao filos6fica.
PR6xIMOS LANf;AMENTOS -------...... Manfredo A. de Oliveira - Etica e Socialidade Maria Jose Rago Campos -Arte e Verdade Jordino Marques - Descartes e sua concep~iio dehomem
ISBN 85-15-00668-5
6d. 1077