UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
RODRIGO MÜLLER
A CAPACITAÇÃO DAS UNIDADES POLICIAIS DE OPERAÇÕES ESPECIAIS
Cuiabá 2010
RODRIGO MÜLLER
A CAPACITAÇÃO DAS UNIDADES POLICIAIS DE OPERAÇÕES ESPECIAIS
Monografia apresentada como indispensável para obtenção do título de Especialista em Gestão de Segurança Pública, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Próreitoria de Pesquisa e Pós-graduação, Faculdade de Direito. Políticas de Gestão de Segurança Pública.
Orientador: Dr. Ms. George Felipe de Lima Dantas
Cuiabá 2010
GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO FACULDADE DE DIREITO
TERMO DE APROVAÇÃO RODRIGO MÜLLER
A CAPACITAÇÃO DAS UNIDADES POLICIAIS DE OPERAÇÕES ESPECIAIS
Monografia aprovada como, indispensável, para obtenção do título de Especialista em Gestão de Segurança Pública, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, pela seguinte banca examinadora:
Membros:
__________________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Ms. George Felipe de Lima Dantas __________________________________________________
__________________________________________________ Cuiabá, 24 de fevereiro de 2011
DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos que compreendem que só o treinamento, sem disciplina e força de vontade não é suficiente para o sucesso. Muitos querem, poucos tentam, só os melhores conseguem. Operações Especiais!
AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Professor Doutor e Mestre George Felipe de Lima Dantas, que tal como Sócrates, mostrou-me que o diálogo em sintonia com a razão pode nos levar ao encontro de nossa alma. A minha querida irmã Prof.ª e Mestre em Educação Física Tatiana Müller Cornachioni, cujos conselhos e apoio foram imprescindíveis na elaboração deste trabalho. Agradeço aos Operadores das diversas Unidades de Operações Especiais, que puderam tornar esse trabalho possível, principalmente aos seguintes:
Los Angeles Police Department (LAPD) e LAPD SWAT: Assistant to the Director, Office of Special Operations Commander Scott Kroeber, Platoon Commander Lieutenant Ruben Lopez, Sergeant Lee McMillion e Officer Mário Rios e a todos os policiais do Pelotão “D”: “41David e 23David, We are not forgotten!
Ao Delegado André Luis da Costa Pacheco e ao Subtenente PM/MG Elias da Silva Ribeiro Júnior: “Amigo é um irmão que a gente escolhe.”
"Quando um homem é motivado pelo simples entusiasmo e pela convicção de que está arriscando a sua vida por uma causa nobre... ele traz consigo os elementos essenciais ao êxito."
Obersturmbannführer Waffen SS Otto Skorzeny
RESUMO O presente trabalho estuda a doutrina, seleção e treinamento das Unidades de Operações Especiais, apresentando seus conceitos, diferenciando Unidades de Operações Especiais Militares das Unidades de Operações Especiais Policiais e abordando o treinamento de seus Operadores. O objetivo deste trabalho é proporcionar o entendimento e o conhecimento da importância do treinamento nestas Unidades. A metodologia de coleta de dados envolveu a pesquisa bibliográfica, o trabalho etnográfico de diversas Unidades, a observação participativa nos treinamentos, a realização de entrevistas e a aplicação de questionários. Palavras-chave: Operações Especiais – treinamento – táticas – capacitação policial – segurança pública.
ABSTRACT This monograph examines the doctrine, selection process and training of Special Operations Units, with its concepts, differentiating Military Special Operations Units and Police Special Operations Units, addressing the training of its Operators. The objective is to provide understanding and knowledge of the importance of training in these units. The methodology of data collection involved a literature search, a ethnographic work of several Units, look-out participation in training, interviews and questionnaires. Keywords: Special Operations – Training – Tactics – Police training – public safety.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01:A procissão do cavalo de Tróia .................................................................18 Figura 02: Brasão do 1st Special Operations Command ...........................................19 Figura 03: Brasão do 10TH Special Operations Group ...............................................19 Figura 04: Suma .........................................................................................................25 Figura 05: Boer guerrilla commandos during the Second Boer War.........................28 Figura 06: Fallschirmjagger.......................................................................................32 Figura 07: British Commandos..................................................................................34 Figura 08: NCO Project Delta 5TH SFGA Vietnam 1964 ........................................36 Figura 09: Watts Riots ...............................................................................................40 Figura 10: Black September Terrorist........................................................................47 Figura 11: 22th SAS CRW Operator Iranian Siege Operation Nimrod 1980............59 Figura 12: Iranian Embassy Assault ..........................................................................61 Figura 13: Spetsnaz in Afghanistan ...........................................................................63 Figura 14: Mujahedeen Fighters ................................................................................65 Figura 15: Delta Force Operator ................................................................................70 Figura 16: Flight 175 an instant before it hits the WTC South Tower ......................74 Figura 17: Forças Especiais .......................................................................................76 Figura 18: Brasão da CORE PCERJ..........................................................................78 Figura 19: Brasão do BOPE da PMERJ.....................................................................79 Figura 20: Brasão do COT .........................................................................................81 Figura 21: Brasão do COE PM/PR ............................................................................82 Figura 22: Brasão T.I.G.R.E. .....................................................................................83 Figura 23: Brasão GOE PCESP.................................................................................84 Figura 24: Brasão do GATE PMESP.........................................................................86 Figura 25: Brasão do GATE BM/RS .........................................................................88 Figura 26: Brasão do GATE BM/RS .........................................................................89 Figura 27: Brasão do GOE PJC/MT ..........................................................................90 Figura 28: Ciclo completo das Operações Especiais ...............................................104 Figura 29: Passing knowledge .................................................................................118 Figura 30: Frente do Departamento Metropolitano da LAPD .................................123 Figura 31:Michael Mullins,armeiro da LAPD SWAT com espingarda Benelli M3...124 Figura 32: Placa de formatura – SWAT SCHOOL 2009.........................................126 Figura 33: Treinamento Helitransportado................................................................129 Figura 34: Debriefing após o treinamento ...............................................................130 Figura 35: Viatura de comando e controle de crise..................................................133 Figura 36: Academia de musculação – Base Tigre ..................................................134 Figura 37: Treinamento técnico de tiro – Base Choque – TEES Brasil...................135 Figura 38: Edifício da 5ª. CIA COE.........................................................................137 Figura 39: Roupa anti-fragmentação COE PM/PR ..................................................138 Figura 40: Robô anti-bomba COE PM/PR ..............................................................139
LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01: .................................................................................................................154 Gráfico 02: .................................................................................................................154 Gráfico 03: .................................................................................................................154 Gráfico 04: .................................................................................................................155 Gráfico 05: .................................................................................................................155 Gráfico 06: .................................................................................................................155 Gráfico 07: .................................................................................................................155 Gráfico 08: .................................................................................................................156 Gráfico 09: .................................................................................................................156 Gráfico 10: .................................................................................................................156
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................13 1. HISTÓRIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS ...................................................15 1.1. DO ANTIGO EGITO AOS 300 DE ESPARTA .............................................15 1.2. SUN TZU, NINJA JAPONESES E AS GUERRAS COLONIAIS ...............22 1.3. A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ..............................................................29 1.4. A GUERRA DA CORÉIA, VIETNÃ E OS BOINAS VERDES ...................35 1.5. A ORIGEM DA SWAT ....................................................................................39 1.6. A LUTA CONTRA O TERRORISMO ...........................................................43 1.7. A GUERRA DO AFEGANISTÃO E O TERRORISMO ISLÂMICO ........62 1.8. O BRASIL E AS OPERAÇÕES ESPECIAIS ................................................75 2. DEFININDO AS OPERAÇÕES ESPECIAIS ...................................................91 2.1. CONCEITOS BÁSICOS ..................................................................................91 2.2. A DOUTRINA DE OPERAÇÕES ESPECIAIS ............................................98 2.3. A FORMAÇÃO DE UMA UNIDADE DE OPERAÇÕES ESPECIAIS POLICIAL ................................................................................................................104 2.4. O PROCESSO DE SELEÇÃO EM UMA UNIDADE DE OPERAÇÕES ESPECIAIS...............................................................................................................106 2.5. O PROCESSO DE FORMAÇÃO BÁSICA DO OPERADOR DE OPERAÇÕES ESPECIAIS .....................................................................................108 2.6. O TREINAMENTO EM OPERAÇÕES ESPECIAIS ..................................110 2.6.1. Conceituando treinamento físico .....................................................................111 2.6.2. Conceituando treinamento técnico ..................................................................112 2.6.3. Conceituando treinamento tático.....................................................................113 2.7. O TREINAMENTO CONTINUADO DAS UNIDADES DE OPERAÇÕES ESPECIAIS...............................................................................................................115 2.8. O PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DAS UNIDADES DE OPERAÇÕES ESPECIAIS .....................................................................................117 3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................119 3.1. OS INSTRUMENTOS DE PESQUISA APLICADOS ..................................119 3.2. POPULAÇÃO E GRUPOS ..............................................................................121 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................122 4.1. RELATOS ETNOGRÁFICOS ........................................................................122 4.1.1. Los Angeles Police Department S.W.A.T. (Special Weapons and Tactics) – ”D” Platoon .......................................................................................................................122 4.1.2. Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial – T.I.G.R.E. – Polícia Civil do Paraná........................................................................................................................132 4.1.3. Batalhão de Operações Especiais – BOPE – 5ª. Companhia de Operações Especiais – COE – Polícia Militar do Paraná...........................................................137 4.2. ENTREVISTAS ................................................................................................142 4.2.1. Oficial Mario Rios ...........................................................................................142 4.2.2. Sargento Chester Lee McMillion .....................................................................143 4.2.3. Instrutor Tático Kevan Gillies .........................................................................144 4.2.4. Delegado de Polícia Federal Marcos Ferreira dos Santos.............................147
4.2.5. Operador Tático GIR Robson José Pereira Ribeiro........................................149 4.2.6. Agente de Polícia Civil Luis Gregório Martim Caldas ...................................151 4.3. QUESTIONÁRIOS ...........................................................................................153 4.4. DISCUTINDO OS RESULTADOS .................................................................157
CONCLUSÃO ..........................................................................................................160 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................163 ANEXOS ...................................................................................................................171
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INTRODUÇÃO O recrudescimento da criminalidade exige do poder constituído medidas adequadas e enérgicas para combater de forma ampla as causas e os efeitos que as ações delitivas impõem à sociedade. O empirismo das estratégias e ações policiais têm cedido lugar a atuações melhor planejadas e cientificamente embasadas em aspectos doutrinários. Quando as Unidades Policiais (UPs) convencionais são insuficientes para atuar em situações de crise de alto risco, entram em ação as chamadas Unidades de Operações Especiais (UOEsps). As UOEsps por sua natureza, são embasadas em uma mística própria, com doutrinas, táticas e técnicas peculiares que as transformam em entidades únicas nos contextos dos diversos organismos policiais aos quais estão vinculadas, muitas vezes adquirindo características próprias que as apartam do meio policial ordinário, criando uma espécie de policial com motivações diversas das de seus pares genéricos. A Doutrina de Operações Especiais foi idealizada com o objetivo de forjar Operadores mais capacitados no atendimento de ocorrências de alto risco, crises com reféns dentre outras situações de alta complexidade. Esse é o contexto em que se insere este trabalho, cujo tema é “A capacitação das Unidades Policiais de Operações Especiais”. O problema analisado nesta obra é qual a importância do treinamento na formação e manutenção das habilidades dos Operadores das Unidades de Operações Especiais. A hipótese levantada é a de que este treinamento constante dos Operadores das Unidades de Operações Especiais Policiais é o fator preponderante para o sucesso das missões nestas Unidades, com a observância e aplicação dos aspectos doutrinários na resolução dos eventos críticos, proporcionando maiores chances de êxito e segurança na preservação da vida, da integridade física e da dignidade de todas as pessoas envolvidas, inclusive dos infratores da lei, bem como a imagem das Corporações Policiais, o respeito e a credibilidade por parte da sociedade. Este trabalho tem por objetivo compreender como o treinamento pode atuar na melhora dos resultados nestas Unidades, conhecer o processo de seleção, formação e
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treinamento dos Operadores, estudando as políticas e doutrinas relacionadas as estruturas das forças especiais. A justificativa para esta pesquisa consiste na carência de trabalhos escritos na língua portuguesa sobre o assunto, a ausência da doutrina nacional para as UOEsps e a necessidade de estabelecer diretrizes para o treinamento dos Operadores. Com esta teorização, Unidades de Operações Especiais Policiais poderão criar programas de qualificação continuada, justificando a necessidade do treinamento constante cientificamente, diferente da realidade atual, baseada na mística ou na vontade pessoal dos comandantes. A metodologia empregada envolveu pesquisas bibliográficas, o processo etnográfico de observação e descrição de UOEsps através de uma amostra oportunística, a realização de entrevistas e a participação direta em atividades de treinamento. Espera-se que esta obra auxilie todos os Operadores das UOEsps na busca pela excelência em sua formação e manutenção de suas habilidades e conhecimentos, no fortalecimento de sua doutrina e na compreensão do importante papel na defesa da lei e da ordem, na proteção de vidas humanas.
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1. HISTÓRIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS 1.1 Do antigo Egito aos 300 de Esparta
A história das Operações Especiais (OEsp) é tão antiga quanto à própria história do homem e suas guerras. Em todas as épocas históricas podemos observar exemplos de unidades treinadas e capazes, cumprindo missões audaciosas, expondo-se a grande risco e completando objetivos que os exércitos convencionais não conseguiriam. A menção mais antiga sobre a participação de Unidades de Operações Especiais (UOEsp) em conflitos bélicos é verificada nos relatos sobre a “Batalha de Kadesh”, que teria ocorrido no reinado do Faraó Ramsés II, possivelmente entre os anos de 1312 e 1275 A.C. A Batalha de Kadesh (também grafada como Kadeš, Kadech ou Qadesh), nome da cidade Hitita, tendo como significado a expressão “Sagrado”, foi travada entre o Egito (governado pelo Faraó Ramsés II) e o Império Hitita (liderado pelo rei Muwatali), nas margens do rio Orontes, atual Síria. Usermaatra Setepenra Ramsés Meriamón, ou Ramsés II, como ficou conhecido contava à época com um exército de 20.000 homens dividido em quatro batalhões, nomeados em honra aos deuses Amon, Rá, Ptah e Seth. O exército Hittita possuía 37.000 homens e perto de 3.500 bigas de guerra. O rei Hitita Mouwattali, usando dois espiões disfarçados de desertores, conseguiu fazer Ramsés II crer que o exército inimigo encontrava-se em Alepo, ao norte, e em pequeno número. O Faraó acreditando no engodo, deixou que os supostos fugitivos se evadissem e adiantando-se de seu exército principal, em companhia de sua Guarda Pessoal e do Batalhão Amon, organizou um ataque surpresa. Contudo durante a preparação do ataque, soldados hititas capturados acabaram revelando que o exército inimigo estava na verdade a apenas 4 km do acampamento real. Enquanto o Batalhão Amon liderado por Ramsés preparava-se no acampamento próximo a fortaleza de Kadesh, 2.500 bigas hittitas atacaram pela retaguarda, pegando desprevenido o Batalhão Rá que se encontrava isolado ao sul do acampamento.
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Próximo a Kadesh, Ramsés II deu-se conta que caíra em uma armadilha. As forças hititas, dizimando o Batalhão Rá, avançaram sobre o acampamento do Faraó. Cercado, Ramsés II teve que lutar pela própria vida, abrindo seu caminho à força, através da massa de carros de combate inimigos, tentando buscar o apoio do Batalhão Ptah, que alertado, vinha em seu socorro. Em ambos os lados pode-se observar estratagemas, táticas e o emprego de UOEsp em uma situação de guerra clássica. Mesmo com a movimentação de grandes exércitos, o emprego dos espiões pelos hititas, a utilização de uma guarda pessoal de elite pelo Faraó e o ataque de surpresa bem demonstram algumas características das Operações Especiais. A coragem e o destemor da Guarda Pessoal de Ramsés permitiu que mesmo em menor número, forçassem uma brecha nas fileiras hititas e garantissem a retirada do Faraó. Os hititas, maravilhados com os tesouros encontrados no acampamento egípcio, desviaram a atenção de seu objetivo principal, revertendo o resultado da batalha, que poderia ter se tornado um dos maiores desastres militares da história do Egito. O historiador britânico Oliver R. Gurney (1952) em seu clássico The Hitites 1 atribui o fato dos hititas dispersarem-se durante a pilhagem do acampamento real como o principal motivo do sucesso de Ramsés II em romper o bloqueio durante o ataque. The Hittite army based on Kadesh succeeded in completely concealing its position from the Egyptian scouts and as the unsuspecting Egyptians advanced in marching order towards the city and started to pitch their camp, a strong detachment of Hittite chariotry passed round unnoticed behind the city, crossed the river Orontes and fell upon the center of the Egyptian column with shattering force. The Egyptian army would have been annihilated, had not a detached Egyptian regiment arrived most opportunely from another direction and caught the Hittites unawares as they were pillaging the camp. This lucky chance enabled the Egyptian king to save the remainder of his forces and to represent the battle as a great victory. Tradução do autor – Anexo 1.1 – página 171
Este golpe de sorte teria permitido ao Faraó bater em retirada, reagrupar suas forças e renovar seu ataque, forçando os Hititas a barricarem-se em Kadesh. Ramsés II decidiu então retornar ao Egito, divulgando o resultado da batalha como uma grande vitória, mesmo não tomando a cidade que fora sitiada. No Poema de Pantaur, escriba egípcio que relatou a batalha anos após sua conclusão, o Faraó Ramsés II é glorificado como se sozinho tivesse vencido os inimigos. A história encarregou-se de desmenti-lo. 1
GURNEY, Oliver R., The Hittites, Penguin Books, 1952. ISBN 0-14-020259-5
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A Tanakh2 judaica e o Velho Testamento cristão relatam também o emprego de UOEsp durante os conflitos ocorridos com o povo hebreu. O livro dos Juízes descreve como o guerreiro e juiz Gideão ( ) iludiu e venceu no ano de 1245 A.C. os seus inimigos midianitas. Gideão primeiro selecionou, entre os milhares de soldados hebreus, 300 combatentes de elite. Em seguida, preparou-se para a ação usando o elemento surpresa. Ele pretendia desorientar os inimigos midianitas, que eram em maior número, com três ações simultâneas: Acordá-los no meio da noite em sobressalto, sob luz ofuscante e com um barulho ensurdecedor. Para empreender tal ação, Gideão distribuiu aos seus homens trombetas, jarros e tochas. Escondendo as tochas acesas dentro dos vasos e levando as trombetas na outra mão, os 300 homens aproximaram-se ao cair da noite, aproveitando-se da escuridão e no mais profundo silêncio, do acampamento midianita. Diante do sinal combinado, quebraram os jarros e lançaram-se contra o inimigo, tocando as trombetas. Os midianitas, despertados em sobressalto pela algazarra e ofuscados pelo clarão, convenceram-se de que uma força ainda mais numerosa precipitava-se sobre eles. Empunharam imediatamente as armas e lançaram-se ao combate, massacrando uns aos outros na escuridão e na confusão geral. Gideão e seus comandados despedaçaram os sobreviventes. Mais uma vez, a presença do elemento surpresa, um dos princípios das OEsp pôde ser observado. A utilização de uma unidade pequena, coesa e bem treinada conduzindo uma missão de alto risco também está presente, caracterizando o emprego de Forças Especiais (FE), não convencionais na batalha. Outro exemplo famoso na história antiga do emprego de táticas e FEs está no mito do cavalo de Tróia. O saudoso ZAMBONE 3 (2002), ZAQUEU BARBOSA 4 (2002) e DÉCIO LEÃO5 (1993) citam em seus trabalhos monográficos o cavalo de Tróia (FIGURA 01) como uma “ação de comandos” nos moldes das Operações Especiais: 2
Tanakh ( ) é um acrônimo utilizado pelo judaísmo para denominar o conjunto de seus principais livros sagrados. Seu conteúdo é equivalente ao Antigo Testamento cristão, mas com uma divisão específica em seus livros. 3
ZAMBONE, Sérgio Augusto. Grupo Tático: Origem, atuação e necessidade do Grupo Tático. Academia Nacional de Polícia (ANP). Departamento de Polícia Federal (DPF). XII Curso Especial de Polícia.2002. 4 BARBOSA, Capitão PM/MT Zaqueu. Descentralização dos Grupos de Operações Especiais. Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais. Polícia Militar do Estado de Mato Grosso (PM/MT).2002.
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Desde o princípio dos tempos o homem tem realizado ações de comandos em guerras. A famosa lenda do “Cavalo de Tróia”, que teria ocorrido em 1.200 AC, poderia ser considerada uma ação de comandos: os gregos após sitiarem a cidade de Tróia por mais de dez anos, só conseguiram dominá-la após um pequeno grupo de soldados entrar na cidade dentro de um cavalo de madeira, presenteado pelos gregos aos troianos. O estratagema utilizado no Cavalo de Tróia foi planejado por Ulisses, narrado em um dos poemas épicos de HOMERO, a “Ilíada”: Falou Ulisses aos seus homens: - Príncipes, lembrai-vos de que a audácia vence a força. É tempo de subir para o nosso engenhoso e pérfido esconderijo. Já dentro da cidade de Tróia, com a ajuda hábil de Epeu, Ulisses abriu sem ruídos os flancos do animal e, pondo a cabeça para a frente, observou por todos os lados se os troianos vigiavam. Não vendo nada e ouvindo apenas o silêncio, tirou uma escada e desceu à terra. Os outros chefes, deslizando ao longo de um cabo, seguiram-no sem tardar. Quando o cavalo havia devolvido todos à noite sombria, uns aprestaram-se a começar o massacre e os outros, caindo sobre as sentinelas, que em lugar de vigiar, dormiam ao pé das muralhas descobertas, degolaram-nas e abriram as portas da ilustre cidade do infeliz Príamo.
O estratagema grego do cavalo de Tróia, caracteriza-se como uma ação de comandos, pela audácia em sua atuação, pela utilização de uma tropa pequena e bem treinada, em missão específica de objetivo de alto risco. Este símbolo viria a ser usado mais tarde como exemplo clássico de Operações Especiais e emprego de Forças Especiais, como podemos observar no emblema de inúmeras unidades militares.
FIGURA 01 - A procissão do cavalo de Tróia – TIEPOLO, Giovanni Domenico (1727-1804) 5
LEÃO, 1º Tenente PM Décio José Aguiar. A história dos Comandos. 1993.
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O 1º Comando de Operações Especiais (1st Special Operations Command) (FIGURA 02) e o 10º Grupo de Operações Especiais do Exército (10th Special Operations Group) (FIGURA 03), ambos dos Estados Unidos da América utilizam em seus brasões a figura do cavalo de Tróia, exaltando assim o referido mito.
FIGURA 02 – Brasão do 1st Special Operations Command
FIGURA 03 – Brasão do 10 TH Special Operations Group
O mundo helênico e suas incontáveis guerras também deram outra contribuição doutrinária às definições de OEsp, através do exemplo Espartano na Batalha das Termópilas, durante a II Guerra Médica, ocorrida no verão de 480 A.C. e retratada por
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Heródoto de Halicarnasso, considerado como o Pai da História, em sua obra “História”6: ...CCVI — Os Espartanos enviaram na frente Leônidas, com seus trezentos homens, a fim de encorajar com essa conduta o resto dos aliados e com receio de que eles abraçassem a causa dos Persas, vendo a lentidão dos primeiros em socorrer a Grécia. A festa das Cárnias impedia-os, então, de se porem em marcha com todas as suas forças, mas pretendiam partir logo após, deixando em Esparta apenas um pequeno número de soldados para guardar a cidade. Os outros aliados alimentavam o mesmo propósito, encontrando-se na mesma situação, pois chegara a época dos Jogos Olímpicos; e como não esperavam combater tão cedo nas Termópilas, tinham-se limitado a enviar um pequeno número de tropas de vanguarda. CCVII — Entretanto, as tropas gregas que já se encontravam nas Termópilas, tomadas de pânico ante a aproximação dos Persas, puseram-se a discutir se deviam ou não abandonar aquela posição. Os Peloponésios eram de parecer que deviam regressar ao Peloponeso para guardar o istmo; mas Leônidas, vendo que os focídios e os lócrios se mostravam indignados com isso, opinou que ali deviam permanecer, ficando resolvido enviarem-se correios a todas as cidades aliadas para solicitar auxílio contra as forças persas, pois os que ali se encontravam eram em número insuficiente para resistir a um choque com os invasores. CCVIII — Enquanto assim deliberavam, Xerxes enviou um dos seus cavaleiros para fazer um reconhecimento da situação das tropas gregas e sobre o número das mesmas. Ele tinha ouvido dizer, quando se encontrava na Tessália, que um pequeno corpo de tropas se havia concentrado naquela passagem, e que os lacedemônios, comandados por Leônidas, da raça de Hércules, formavam o grupo vanguardeiro. O cavaleiro, aproximando-se do local onde se achavam as forças gregas, examinou-as cuidadosamente; mas não pôde ver as tropas que se encontravam atrás da muralha ali erguida. Percebeu somente as que haviam acampado diante da muralha. Os lacedemônios guardavam esse posto. Nesse momento, uns ocupavam-se com exercícios gímnicos, enquanto que outros penteavam os cabelos, espetáculo que muito o surpreendeu. Depois de ter calculado o número deles e examinado atentamente o local, o cavaleiro persa regressou ao seu acampamento, sem ser perseguido, pois ninguém dera pela sua presença. CCIX — De regresso ao seu posto, o cavaleiro fez a Xerxes um relato minucioso de tudo o que havia visto e observado. Diante do exposto, o soberano não pôde admitir que os Gregos se dispusessem a enfrentar, daquela forma, o perigo e a morte, parecendo-lhe sobremodo ridícula tal maneira de agir. Mandou chamar Demarato, filho de Aríston, que se achava no acampamento, e quando este chegou interrogou-o sobre a conduta dos lacedemônios em tão perigosa situação. “Senhor — respondeu Demarato —, quando encetámos a marcha contra a Grécia eu vos falei sobre esse povo, dizendo-vos da atitude que ele assumiria ante o perigo de um ataque, e nenhuma atenção destes às minhas palavras. Embora incorra no risco de desagradar-vos, quero que saibais a verdade e peço-vos que me escuteis. Aqueles homens que ali se encontram estão dispostos a vedar-vos a passagem, e para isso se preparam, pois os Lacedemônios têm o costume de tratar dos cabelos quando em vésperas de arriscar a vida numa empreitada. Se conseguirdes subjugar esses homens e os que se encontram em Esparta, podeis estar certo, senhor, que nenhuma outra nação ousará mais erguer-se contra vós, já que os Espartanos, contra os quais agora marchais, são o povo mais valoroso da Grécia, e o seu reino e a sua cidade os mais 6
Heródoto de Halicarnasso, História (484 A.C. - 425 A.C.) Traduzido do grego por Pierre Henri Larcher (1726–1812). Versão para o português de J. Brito Broca. Agosto 2006. Editora Ebooks Brasil.
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florescentes e belos de todo o país”. Xerxes, não podendo dar fé a essas palavras, perguntou, ainda uma vez, de que maneira os gregos, sendo em número tão reduzido, poderiam fazer frente ao seu poderoso exército. “Senhor — volveu Demarato —, podeis considerar-me um impostor se não acontecer tal como vos digo”. CCX — O soberano, todavia, não se deu por convencido, e deixou passar quatro dias, esperando que os gregos se pusessem em fuga. Finalmente, no quinto dia, vendo que eles se mantinham firmes no seu posto e decididos a resistir-lhe, sentiu-se tomado de cólera e enviou contra eles um destacamento de medos e de císsios, com ordem de capturá-los e trazê-los à sua presença. Os medos lançaram-se impetuosamente sobre os gregos, mas foram repelidos com grandes baixas. Novas tropas vieram à carga, e os defensores gregos, embora fortemente castigados, não recuaram. Então todos compreenderam claramente, inclusive o próprio Xerxes, que os Persas possuíam muitos homens mas poucos soldados. O combate prolongou-se durante todo o dia. CCXI — Vendo-se rudemente repelidos em todos os assaltos, os medos retiraram-se, sendo substituídos por tropas persas, cujos componentes eram, pelo rei, denominados Imortais e comandados por Hidarnes. Essas tropas atiraram-se sobre o inimigo, seguras da vitória; mas não lograram maiores vantagens que os medos. Sendo suas lanças mais curtas que as dos gregos e desenrolando-se a luta num sítio estreito, não puderam fazer valer o seu maior número. Os lacedemônios combateram de maneira admirável, fazendo ver que eram hábeis e os inimigos muito ignorantes na arte militar. Todas as vezes que lhes voltavam as costas, eles, julgando que se tratava de um fuga, punham-se a persegui-los. Então os gregos, fazendo meia-volta, enfrentavam-nos de novo e desbaratavam-nos. Por fim, os persas, vendo que, não obstante seus reiterados ataques, não conseguiam assenhorear-se da passagem, resolveram retirar-se. ...CCXXIII — Xerxes fez libações ao nascer do sol, e, depois de haver esperado algum tempo, pôs-se em marcha na hora em que o mercado costuma estar cheio de gente, como lhe havia recomendado Efialtes. Descendo a montanha, os bárbaros e o soberano aproximaram-se do ponto visado. Leônidas e os gregos, marchando como para uma morte certa, avançaram muito mais do que haviam feito antes, até o ponto mais largo do desfiladeiro, já sem a proteção da muralha. Nos encontros anteriores não haviam deixado os pontos mais estreitos, combatendo sempre ali; mas neste dia, a luta travou-se num trecho mais amplo, ali perecendo grande número de bárbaros. Os oficiais destes últimos, colocando-se atrás das fileiras com o chicote na mão, impeliam-nos para a frente à força de chicotadas. Muitos caíram no mar, onde encontraram a morte, enquanto que inúmeros outros pereceram sob os pés de seus próprios companheiros. Os gregos lançavamse contra o inimigo com inteiro desprezo pela vida, mas vendendo-a a alto preço. A maioria deles já tinha as suas lanças partidas, servindo-se apenas das espadas contra os persas. CCXXIV — Leônidas foi morto nesse encontro, depois de haver praticado os mais prodigiosos feitos. Com ele pereceram outros espartanos de grande valor, cujos nomes não desconheço. Os persas perderam também muitos homens de primeira categoria, entre os quais Abrocomes e Hiperantes, ambos filhos de Dario, que os tivera de Fratagunes, filha de Artanes, que era irmão de Dario, filho de Histaspes e neto de Arsames. Como Artanes não possuía outros filhos, todos os seus bens passaram com Fratagunes para Dario. ...CCXXVI — Se bem que todos os lacedemônios e téspios se tivessem conduzido com grande bravura, dizem que Dieneces, de Esparta, a todos suplantou pelo seu valor e desprendimento na luta, citando-se dele uma frase memorável. Antes da batalha, tendo ouvido um traquínio dizer que o sol seria obscurecido pelas flechas dos bárbaros, tão grande era o número deles, respondeu-lhe sem perturbar-se: “Nosso hóspede da Traquínia nos anuncia toda sorte de vantagens. Se os medos cobrirem o sol, combateremos à
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sombra, sem ficarmos expostos ao seu ardor”. De Dieneces contam-se outras coisas semelhantes, que são como outros tantos monumentos por ele legados à posteridade. ...CCXXVIII — Foram todos enterrados num mesmo lugar, onde haviam tombado para sempre, e sobre o seu túmulo, bem como sobre o monumento dos que pereceram antes de haver Leônidas mandado embora os aliados, vêse esta inscrição: “Quatro mil peloponésios combateram aqui contra três milhões de homens”. Esta inscrição refere-se a todos, mas a seguinte referese particularmente aos espartanos: “Caminhante, vai dizer aos Lacedemônios que aqui repousamos por havermos obedecido às suas leis.
Podemos observar ali, a presença de UOEsps tanto pelo lado grego/espartano (com os 300 guerreiros de Leônidas), tanto pelo lado Persa através do emprego da tropa denominada “Imortais”, também retratada na mesma obra: ...LXXXIII — Toda a infantaria, como já disse, reconhecia-os por seus generais, exceto os dez mil, corpo de tropas escolhidas entre todos os Persas e comandado por Hidarnes, filho de Hidarnes. Chamavam-nos imortais, porque, se qualquer um dentre eles viesse a faltar por ter morrido ou por motivo de doença, escolhiam outro para ocupar o seu lugar, e o seu número nunca era nem mais nem menos de dez mil. As tropas persas superavam todas as outras, tanto pela sua magnificência como pela sua bravura. Seu armamento e traje eram como já descrevemos, sendo de notar o brilho que lhes dava o grande número de ornamentos de ouro com que se achavam decorados. Levavam eles consigo harmamaxes para as suas concubinas, e um grande número de criados soberbamente trajados. Animais de carga transportavam suas provisões, independentemente das que eram destinadas ao resto do exército.
Também as táticas usadas pelos espartanos, de aproveitar o terreno, combater de forma não convencional e sobrepujar um número muito maior de adversários também são típicas das OEsps. 1.2. Sun Tzu, Ninja japoneses e as guerras coloniais
A cultura oriental, à sua maneira, também contribuiu para a criação de uma doutrina de Operações Especiais. O General chinês Sun Zi (ou Sun Tzu) 7, em sua obra ‘A Arte da Guerra”, datada d século IV A.C., descreve as estratégias e táticas de guerra. Súdito na província de Wu, na antiga China, vivia na época turbulenta dos Estados Guerreiros chineses. Em sua obra, Sun Tzu expôs a necessidade da obediência, da disciplina, planejamento e motivação das tropas para a vitória em todas as batalhas. Em sua célebre passagem sobre as condições da vitória, Sun Tzu filosoficamente nos faz refletir sobre a necessidade do autoconhecimento ante o inevitável combate. 7
Su Tzu ( ), general chinês que viveu entre os anos 544 a 496 A.C., autor do clássico A Arte da Guerra ( ).
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Para se atingir uma meta, a necessidade de conhecer o ambiente da ação, os obstáculos a serem vencidos, conhecer os pontos fortes e fracos do inimigo, mas principalmente, conhecermos a nós mesmos. Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.
Sun Tzu garantiu seu espaço na posteridade ao observar os aspectos constitutivos da guerra, seus elementos formadores. Ateve-se aos pontos que são comuns a todas as batalhas e com isso foi além de todas elas. Seu ponto de partida é o importante papel que a guerra desempenha na vida social, sendo a causa da desgraça dos povos. Analisa sua influência na economia e observa o quanto ela é prejudicial ao povo; como general, sabia o quanto a manutenção das tropas custava ao Estado e como a passagem das tropas aumentava a inflação nas províncias. Assim, é do interesse de todos que o conflito, quando necessário, seja resolvido da forma mais rápida e precisa, diminuindo a extensão dos danos que invariavelmente provoca. Preconiza Sun Tzu que elementos devem ser levados em consideração pelo general em sua busca pelo êxito, salientando sempre a constante necessidade de avaliação da situação estabelecida e do planejamento prévio. O centro da estratégia é deslocado para o inimigo. Como alguns elementos do confronto são constantes, (terreno, clima, disciplina, comando e moral) devem ser examinados de acordo com as situações possíveis, cabendo ao general observar o cumprimento das diretrizes e esperar que o inimigo não realize alguns destes procedimentos para atacar. Só através de toda essa preparação uma nação poderia tornar-se apta a entrar em um conflito armado e obter chances de vitória. Talvez o capítulo mais emblemático do trabalho de Sun Tzu, que influenciou a Teoria de OEsp em todo o mundo, é aquele que trata do uso de espiões: Capítulo 13 - Sobre o uso de espiões
Uma operação militar significa um grande esforço para o povo, e a guerra pode durar muitos anos para obter uma vitória de um dia. Assim, pois, falar em conhecer a situação dos adversários para economizar nos gastos para investigar e estudar a oposição é extremadamente inumano, e não é típico de um bom chefe militar, de um conselheiro de governo, nem de um governante vitorioso. Portanto, o que possibilita um governo inteligente e um mando militar sábio vencer os demais e lograr triunfos extraordinários com essa informação essencial.
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...A informação prévia não se pode obter de fantasmas nem espíritos, nem se pode ter por analogia, nem descobrir mediante cálculos. Deve se obter de pessoas; pessoas que conheçam a situação do adversário. ...Sempre que queiras atacar a um exército, assediar uma cidade ou atacar a uma pessoa, deves de conhecer previamente a identidade dos generais que a defendem, de seus aliados, seus visitantes, seus sentinelas e de seus criados; assim, pois, faz que teus espiões averigúem tudo sobre eles. Sempre que vais atacar e combater, deves conhecer primeiro os talentos dos servidores do inimigo, e assim podes enfrentá-los segundo suas capacidades. ...Assim, só um governante brilhante ou um general sábio que possa utilizar os mais inteligentes para a espionagem, pode estar seguro da vitória. A espionagem é essencial para as operações militares, e os exércitos dependem dela para levar a cabo suas ações. Não será vantajoso para o exército atuar sem conhecer a situação do inimigo, e conhecer a situação do inimigo não é possível sem a espionagem.
Este clássico chinês influenciou mais tarde o surgimento no Japão de uma força especial com características de UOEsp, empregada pelos senhores feudais com propósitos de levantamento de informações, auxílio na consecução de objetivos militares de alto risco, assassinatos e proteção: Os Ninja (FIGURA 04). MÜLLER 8 (2006) relata que a maior parte dos historiadores acredita que os Ninja9 surgiram a partir do século VI, resultantes da sublevação de grupos políticos e religiosos. Um ponto importante a considerarmos é que a Arte da Guerra no Japão antigo se desenvolvia de uma forma complexa e sofisticada, com determinações específicas para cada tipo de guerreiro. Após o período Nara (711-794 D.C.), existiam somente poucos termos para descrever as habilidades e especialidades de um guerreiro. Mas foi por volta do século VII, que o Príncipe Shotoku usou o termo Shinobi para descrever uma pessoa que lhe atendia com habilidades especiais, obtendo-lhe informações sobre os inimigos e levando mensagens para suas tropas. No final do período Heian (1185 D.C.) chega ao ápice o poder feudal dos Samurai, que passaram a empregar elementos de certas famílias Ninja em seu favor, em ações de espionagem, sabotagem e assassinato. Logo, criou-se o conceito de que o Ninja ocupava–se de serviços de proteção e espionagem. A era de ouro do Ninjutsu surgiu durante o período Kamakura (1192–1333 D.C.) e posteriormente durante o Sengoku Jidai, o período das guerras civis (1467–1591 D.C.). 8
MÜLLER, Rodrigo. Ninjutsu a Arte da Guerra das sombras. Daemon Editora. 2006. ISBN: 85- 87013-38-6 9 Os nomes japoneses contidos neste trabalho foram mantidos em sua grafia original, no singular, uma vez que não existem termos equivalentes a Ninja, Samurai, ou qualquer outro termo japonês no plural, seguido de “s”. Assim, não é possivel a construção de frases como: “Os Ninjas eram guerreiros do Japão Feudal..” sendo correta a expressão “Os Ninja eram guerreiros do Japão Feudal”.
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FIGURA 04 – Suma – TOYOKUNI, Utagawa (1786-1865): 1853.
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A administração do Estado Japonês a partir de 1192 D.C. transferiu–se das mãos da antiga aristocracia da corte imperial para os Samurai sedentos de poder. No terceiro ano da era Kenkyu, Yoritomo Minamoto foi feito Se I Tai Shogun (comandante em chefe das forças militares), dando início a uma forma de governo militar denominado Bakufu ou Shogunato. Esse primeiro Shogunato tinha sua sede em Kamakura e assim recebeu o nome de Kamakura Bakufu. Na troca de poder entre os membros da corte imperial e a ascensão samurai os guerreiros Shinobi foram utilizados principalmente no intuito de espionar o cotidiano dos aristocratas e membros da família imperial. Eram conhecidos nesta época como O Niwa no Mono (pessoas do jardim), por fazerem relatórios aos seus Mestres nas sombras dos jardins imperiais. Este período do Sengoku Jidai foi o começo dos registros oficiais do uso do Ninjutsu com o fim de espionagem, levantamento de informações e assassinato. Durante a “era dourada”, existiram aproximadamente setenta escolas (Ryu) de Ninjutsu, nas áreas centrais das regiões de Koga e Iga. Já durante o período Tokugawa 10 as ações Ninja limitaram–se a serviços ao Shogun, executando as ordens por ele dadas. As outras famílias restantes que não serviram ao Shogun acabaram por integrar–se a comunidade, dedicando–se a agricultura e a pesca, além de outras atividades, transmitindo os seus ensinamentos somente dentro de seus vínculos familiares. Com o grande período de paz que adveio com a era Tokugawa, pouco se falou ou documentou sobre a atividade Ninja após o fechamento dos portos japoneses para as nações do ocidente. O Japão isolou–se do resto do mundo e mais isolados ainda ficaram os Ninja, que passaram a não ter mais tanta serventia na aplicação de suas técnicas guerreiras. Assim a sociedade passou a acreditar que eles haviam se extinguido. Na verdade, eles apenas retornaram às sombras. Durante a expansão colonial do século XIX, os exércitos europeus, acostumados a conflitos de grandes proporções, com movimentação de um grande número de tropas, tiveram que se adaptar a uma nova forma de conflito: as guerrilhas. Empreendidas por adversários que não possuíam a mesma estrutura dos grandes impérios, com grande volume de tropas, logística e recursos, as táticas de guerrilha se aproveitavam basicamente do conhecimento do terreno, com ações rápidas e localizadas, 10
O Shogunato Tokugawa também conhecido como Tokugawa Bakufu (( ) e Edo Bakufu ( ) foi um regime feudal japonês estabelecido por Tokugawa Ieyasu e governado pelos Shogun da família Tokugawa, entre 1603 e 1868.
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visando destruir a infra-estrutura inimiga, abater a moral através da destruição de víveres e outros recursos, o uso de emboscadas e a rápida fuga. O império britânico foi obrigado a enfrentar esta tática durante a II Guerra dos Bôers, que durou de 1899 a 1902, pelo domínio da África do Sul. A comunidade bôer, descendentes dos primeiros colonos holandeses, recusou-se a aceitar a dominação inglesa, desencadeando uma rebelião contra a coroa. Para o povo bôer, era uma questão de sobrevivência e por isso escolheram a guerra irregular. Suas forças não empreendiam batalhas clássicas, privilegiando as ações localizadas. Os britânicos levaram meses para admitir que estavam enfrentando um novo tipo de conflito. Para eles, a situação logo se tornou incontrolável, pois um inimigo intangível os ameaçava em toda parte e a busca dessa força adversária os exauria. A unidade de combate bôer era chamada de kommando (FIGURA 05) , uma unidade militar do distrito eleitoral no qual estavam inscritos todos os cidadãos homens do local em idade de alistarem-se. Esses homens para isso recebiam treinamento regular. Em campo, os kommandos fundiam-se à imensidão sul-africana. Eram rápidos, conheciam admiravelmente bem o terreno, eram excelentes atiradores, cavaleiros notáveis, resistentes e sóbrios, e fizeram as unidades britânicas, pesadas e de pouca mobilidade, passarem por dificuldades. Para garantir seu abastecimento os kommandos bôeres atacavam os comboios ingleses, mantinham as guarnições isoladas e sabotavam as vias férreas. Eles também não hesitavam usar uniformes do inimigo, que permitiam a eles escapar ou surpreender as patrulhas inglesas. A expressão kommando tornou-se então sinônimo aos ingleses de uma tropa motivada e audaz, que mesmo em menor número podia sobrepujar o inimigo e alcançar seus objetivos. Mais tarde, durante a II Guerra Mundial (1939-1945) esta expressão praticamente tornar-se-ia sinônimo de Operações Especiais. Observa-se que da História Antiga às vésperas da Segunda Guerra Mundial, as OEsp sempre estiveram presentes, mas seu caráter secreto, não doutrinário ou empírico freqüentemente as ocultou dos historiadores. Somente a partir da Segunda Guerra Mundial, elas assumiram um caráter institucional, técnico e doutrinário dentro das forças armadas mundiais.
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FIGURA 05 – Boer guerrilla commandos during the Second Boer War em (http://www.south-africa-tours-and-travel.com/boer-war.html)
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1.3. A Segunda Guerra Mundial
A primeira nação que atentou para a necessidade de Forças Especiais e sua utilização na guerra convencional no período pré-Segunda Guerra Mundial foi a Alemanha. A forma de guerra imaginada por Adolf Hitler previa que as ofensivas maiores deviam ser sempre precedidas de ataques à retaguarda do inimigo. Sua concepção de guerra fundava-se na desmoralização e desorganização do adversário. Por isso, desenvolveu serviços de propaganda eficazes e encorajou a formação de forças especiais, mesmo com a resistência do alto estado-maior alemão. Durante a invasão da Polônia as FEs do Terceiro Reich entraram em ação pela primeira vez, eram os Schutzstaffel-SS (tropas de proteção) de Reinhard Heydrich, instruídos na academia de oficiais em Berlim. Paralelamente às unidades Brandenburg, a SS decidiu desenvolver sua própria unidade especial. Foi uma idéia de Otto Skorzeny, oficial de origem austríaca, que soube fazer-se ouvir por Hitler. Em abril de 1942, Skorzeny assumiu o comando do batalhão Friedenthal, ligado ao Serviço Central de Segurança do Reich. Skorzeny e seu imediato Radl, reuniram para a unidade os melhores especialistas, em tempo recorde. Eles trouxeram alguns elementos do batalhão SS de Brandenburg, das Waffen SS e de outras unidades, que lhes tinham chamado a atenção em particular. Na libertação de Mussolini, em 12 de dezembro de 1943, no maciço italiano do Gran Sasso, Skorzeny realizou a missão com sua unidade especial, contando com o apoio dos pára-quedistas do 11º. Fliegerkorps (FIGURA 06). O resgate é narrado com detalhes por ANNUSSEK (2005) em sua obra Hitler´s raid to save Mussolini: The most infamous Commando operation of World War II 11: So on the day after Mussolini's arrest, Otto Skorzeny and five other commanders of Germany's most elite military units, were urgently summoned to "Wolfsschanze" (Wolf's Lair), Hitler's heavily guarded command post in the forests of East Prussia. Once there, the six officers, of which Skorzeny was of the lowest rank, met Adolf Hitler. Hitler did not tell them why they were summoned. Instead, after each of them presented himself, Hitler simply asked each of them two questions: Are you familiar with Italy? 11
Hitler·s Raid to Save Mussolini: The Most Infamous Commando Operation of World War II, Greg Annussek, Da Capo Press, 2005.
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What do you think of Italy? To the 1st question, only Skorzeny answered 'Yes', referring to his honeymoon in Italy nine years earlier. To the 2nd question, while the other five officers gave politically correct answers about Italy being an Ally and so on, Skorzeny decided to gamble and answered just: "I am an Austrian, Fuhrer". It was a short answer that said a lot. Skorzeny knew that Hitler, also originally Austrian, will understand that he was thinking of the traditional hostility between Austria and Italy, which increased after World War I. The gamble paid off. Hitler dismissed the other officers, and after they left, he told Skorzeny what really happened in Italy (German news media reported that Mussolini resigned for poor health), and told him that he entrusts him with a mission of the highest strategic importance, to rescue Mussolini before he will be delivered to The Allies. …For both convenience and secrecy, for the duration of the mission, Skorzeny was placed under the command of General Kurt Student, the commander of the German Paratroopers Corps, who was also sent to Italy that day with a large force of elite Paratroopers, for the same reason, but also to prepare to occupy Rome by force if necessary. Skorzeny was to pose as General Student's adjutant. After meeting with Student in "Wolfsschanze" that night, Skorzeny phoned his deputy, Karl Radl, and told him that they were given a mission that can not be discussed over the phone, and asked him to prepare, by dawn, a very long list of every kind of special equipment imaginable, from guns and explosives to black hair color and monk robes. Radl was also instructed to select forty of Friedenthal's best men, including all those who spoke Italian, and also bring with him ten secret agents from the Ausland-SD headquarters, and ordered that all will be dressed as paratroopers. They all flew to the German military headquarters outside Rome. In the seven weeks that followed, Skorzeny participated in the German intelligence gathering group effort to locate Mussolini and to plan a rescue operation. During those weeks, the suspicious Italians moved Mussolini to a different location three times, to prevent such a rescue attempt. Three times the Germans located where Mussolini was held, and three times he was moved before they raided the location. Mussolini was first transferred to the tiny island Ponza, off Naples. Then he was moved to the tiny island La Maddalena, near Sardinia, where one of Skorzeny's Italian speaking commandos reported that he saw Mussolini from a distance in an isolated villa. Skorzeny then flew in a bomber to take aerial photos of the location. The bomber was shot down by allied fighters, but Skorzeny and the bomber's crew were rescued by an Italian destroyer. Mussolini's new location was picked by Herbert Kappler, the police attache in the German embassy in Rome, who intercepted a seemingly unimportant Italian police radio transmission referring to security preparations around Gran Sasso, the highest mountain in the Italian Apennines. Kappler immediately guessed that Mussolini is held in the ski hotel at the top of Gran Sasso, that was only accessible by cable car from the valley below. Further intelligence hints convinced the Germans that Mussolini might be on Gran Sasso. The Germans had to really hurry now, since on September 3, 1943, The Allies invaded the Italian mainland, on September 8, Italy surrendered, and a day later The Allies landed further North, at Salerno, near Naples. Italy was not yet an enemy of Germany, but no longer its ally. Time was short. German preparations to rescue Mussolini from Gran Sasso were also minimal because of heavy allied air bombardments on the German bases near Rome. Skorzeny flew again in a bomber, this time over Gran Sasso, and took pictures of it with a plain handheld camera. When he returned, an attack plan was quickly designed by General Student, Harald Mors (one of Student's paratrooper battalion commanders), and Skorzeny. The plan was simple, but not easy:
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1) Twelve DFS 230 assault gliders, each carrying 9 troops and a pilot, will be released from tow aircraft over Gran Sasso at a rate of one glider every minute. Each glider pilot will then have to struggle against the strong and unpredictable wind conditions above the 9500ft summit in an attempt to land on the tiny patch of straight soil next to the ski hotel, that was surrounded by steep slopes from all directions. 2) Once on the ground, the troops will storm the ski hotel, where it was assumed that Mussolini was held, in an attempt to get to Mussolini before the surprised guards will have time to shoot him. Then, the Italian guards will have to be defeated and the mountain summit secured. 3) A secondary force will simultaneously arrive by trucks to the lower cable car station at the base of the mountain and will secure it. 4) Mussolini will then be flown off the Gran Sasso by a Stork light aircraft. The glider-borne assault force, a total of 108 troops, was comprised of 81 paratroopers in 9 gliders, and Skorzeny with 25 of his men, and one guest, in 3 gliders. Skorzeny's "guest" was General Fernando Soleti of the Italian military police, who was kidnapped by Skorzeny's men and forced to board Skorzeny's glider. The idea was that his presence in the raid could further confuse the surprised Italian guards. There was no time to arrange maps for the pilots, who arrived to Italy just before the raid, so they were instructed to just follow the lead aircraft, piloted by Student's intelligence officer. Despite serious difficulties before and after it, the raid, on September 12, 1943, was a complete success. A few Italians and Germans were injured, but nobody was killed. Skorzeny's glider was initially the 2nd in the row, but the lead tow aircraft, with the only pilot who knew how to navigate to Gran Sasso, had to abandon the lead, and Skorzeny's tow pilot suddenly found himself leading, but without a map. Skorzeny then used his knife to cut a small window in the glider's bottom, that was enough for him to successfully navigate to Gran Sasso, based on his memory of the flight path from his aerial photo flight a day earlier, and by passing navigation instructions to the glider pilot in front of him, who relayed them by cable to the tow aircraft's pilot. Once on the ground, after landing near the ski hotel, Skorzeny ran forward, pushing General Soleti in front of him, looking for a door, when he saw Mussolini looking at him from a 2nd floor window. This was helpful, since he now knew exactly where to go. Skorzeny shouted to Mussolini to get inside, to avoid being hit by possible shots, and then charged into the hotel. The surprised Italian guards were further confused by General Soleti who shouted at them to avoid shooting, and less than a minute later Skorzeny broke into Mussolini's room and disarmed his two guards, as two more of his men came in from the window after climbing the wall. Once Mussolini was secured in his room, Skorzeny saluted him and declared that he was sent by Adolf Hitler to release him. Within a few minutes, all the Italian guards in the ski hotel and the upper cable car station were disarmed without a single shot being fired. At the same time the Germans took over the lower cable car station after a short fire fight, and by the time of the last glider landing, the one that crashed, Mussolini was already out of the hotel, waiting for the Stork light aircraft that will fly him to safety. The Stork, a small two seater light aircraft, was flown by Captain Heinrich Gerlach, General Student's personal pilot. After Gerlach landed, the big Skorzeny insisted to also board the tiny two seater aircraft, and placed himself in the small cargo bay behind Mussolini's seat. Skorzeny later explained this action in saying that he was not willing to risk a situation in which after a successful rescue he will face Hitler only to report that Mussolini was rescued but then crashed on the slopes of the Gran Sasso. He preferred to die in such a crash too. Captain Gerlach, the pilot, had his own doubts about the chances of a successful takeoff, since in addition to having an incredibly short and rocky
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"runway" that ended in an abyss, that runway was also cut in the middle by a deep ditch that was not seen in the aerial photos that Skorzeny took a day earlier. With Mussolini and Skorzeny onboard, Gerlach told the paratroopers to hold the small aircraft in place while he increased the engine's power to the maximum, and then signalled them to let go, and the small aircraft ran forward. When he reached the ditch, Gerlach pulled the stick to raise the aircraft a few inches in the air before it descended back to the ground after the ditch, and gained a little more speed before it fell down to the abyss at the end of the runway. With nerves of steel, Gerlach let the small aircraft dive down just over the steep mountain slope, and then slowly pulled the stick to level in the valley below, keeping the aircraft at tree top level to evade possible enemy fighters. He didn't tell his two passengers that the engine was damaged in the bumpy takeoff and was not fully functional. They landed in a German controlled air base near Rome, where Mussolini and Skorzeny immediately transferred to a German bomber that flew them to Vienna, and from there Mussolini was flown to meet Hitler in "Wolfsschanze" that same day. There were well deserved honors for all the key players. Skorzeny was promoted to Major and was awarded the Knights Cross, and became famous. Kappler, the German police attache, was also both promoted and decorated. Captain Gerlach, the Stork Pilot, was awarded the Knights Cross for performing one of the most difficult takeoffs in the history of aviation. Others among the pilots, paratroopers, intelligence personnel, and Skorzeny's deputy, were either promoted or decorated. Tradução do autor – Anexo 1.2 – página 171
FIGURA 06 – Fallschirmjagger – SCHNEIDERS, Toni (1920-2006). 12/09/1943 – Gran Sasso - Itália
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Novamente as características de uma UOEsp podem ser observadas, pela forma escolhida por Skorzeny para integrar seu batalhão Friedenthal, através da seleção dos melhores e mais capazes, a partir do voluntariado. Toda a operação Eich (Operação Carvalho) também se caracteriza como uma clássica Operação Especial, estando presentes as características de ter sido um assalto planejado, executado por uma unidade pequena, com objetivo de alto risco, com um mínimo de baixas possíveis. O objetivo de resgate do refém (Mussolini) foi alcançado, nenhum tiro foi disparado, a UOEsp alcançou o teatro de operações com velocidade, mantendo sua superioridade relativa. Os aliados precisavam contrapor os avanços alemães do começo da guerra. Impulsionados pela blitzkrieg 12 , que se utilizava de três princípios doutrinários das Operações Especiais, o efeito surpresa, a rapidez nas manobras e a brutalidade nos ataques, os objetivos principais do exército alemão eram desmoralizar o inimigo e desorganizar suas força. O então primeiro ministro inglês, recém-empossado, Winston Churchill, veterano da Guerra dos Bôers, resolveu aplicar o conceito sul-africano de kommando às novas condições impostas pela Segunda Guerra Mundial. Sua solução era criar unidades pequenas, integradas por homens bem treinados, audaciosos, resolutos, equipados com as melhores armas que pudessem carregar, capazes principalmente de tomar a iniciativa. Pouco numerosos, foram chamados por Churchill de “commandos” (FIGURA 07) e o memorando redigido pelo primeiro ministro em 1940 acabou sendo o ato de nascimento dos commandos: a mística dessas unidades foi assim posta em marcha. Não satisfeito com as ações de comandos que demandavam ainda uma logística pesada, o oficial inglês David Stirling sugeriu a criação de uma unidade ainda menor. Em missões que fosse necessário o emprego de 200 commandos, Stirling sugeria o emprego de 40 soldados ainda mais audaciosos, resolutos e experimentados na utilização de métodos pouco ortodoxos, que pudessem operar com pouco suporte logístico e capazes de utilizar todos os meios de exfiltração. Enquanto a idéia das ações de commandos era apoiar taticamente as batalhas, Stirling sugeriu que esta nova unidade deveria executar incursões em grande 12
Estratégia alemã denominada “Guerra relâmpago”, proposta pelo general Erich Von Manstein, que consistia em utilizar forças móveis em ataques rápidos e de surpresa com o intuito de evitar que as forças inimigas tivessem tempo de organizar sua defesa.
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profundidade em território inimigo, dirigidas contra centros vitais, quartéis-generais, campos de pouso, centros de abastecimento, etc. Assim, surgiu o Special Air Service (SAS), cujo lema “Who dares wins” (Quem ousa, vence) transformou-se em sinônimo de superação, inovação e determinação do Operacional de OEsp.
FIGURA 07 – British Commandos – CHAPPELL, Michael “Mike” (15/09/1996)
Após a Grande Guerra, o SAS foi dissolvido e somente voltou a operar em 1950, sob a denominação de 22nd Special Air Service Regiment (22 SAS). Além dos confrontos originários da guerra fria entre o bloco comunista e o então chamado mundo livre, o SAS passou a combater um novo tipo de inimigo: Os chamados terroristas.
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O modelo de unidade militar de OEsp definido pelo SAS e sua doutrina tática e técnica influenciou no pós Segunda Guerra praticamente todas as Unidades de Operações Especiais do mundo ocidental. 1.4. A guerra da Coréia, Vietnã e os Boinas Verdes
Com o fim da Grande Guerra em 1945 o mundo passou por transformações e polarizações diante das duas grande potências, Estados Unidos da América (USA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (CCCP). Buscando expandir suas influências, estes países destituíram governos, influenciaram decisões, apoiaram ditadores, tudo visando a hegemonia política no mundo. A chamada guerra fria, um conflito não declarado entre USA e CCCP iniciou a corrida armamentista, principalmente diante da nova arma de destruição criada a partir de 1945, a bomba nuclear. Com o advento do armamento nuclear e a implementação do míssil balístico, o conceito de guerra modificou-se novamente. A guerra de convencional, com a movimentação de grandes tropas, tornou-se também tecnológica. Os investimentos pósguerra foram focados no desenvolvimento e produção de uma quantidade cada vez maior de mísseis balísticos e nucleares, que pudessem atravessar oceanos e atingir os alvos inimigos do outro lado do mundo. Os primeiros anos que se seguiram foram ruins para as chamadas Forças Especiais. As unidades acabaram sendo dissolvidas, uma vez que acreditava-se não terem mais serventia, diante do arsenal nuclear dos inimigos. Com o advento da Guerra da Coréia (1950-1953) e da Guerra do Vietnã (19591975), mais uma vez a necessidade de Unidades de Operações Especiais surgiu. A forma escolhida pelos norte-coreanos e os guerrilheiros do Vietcong, de guerra não convencional, forçou os americanos a novamente utilizar-se de operações de contraguerrilha, e isso só poderia ser feito por UOEsps bem treinadas e capacitadas. Em 1º. de maio de 1952 o exército americano constituí, em Fort Bragg, North Carolina, o 10th Special Forces Group. Acabavam de nascer os famosos Boinas Verdes (FIGURA 08).
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FIGURA 08 – NCO, Project Delta, 5TH SFGA; Vietnam, 1964 – VOLSTAD, Ron - 1985
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Rottman13 (1985) em seu trabalho US Army Special Forces 1952-1984, explana detalhadamente sobre o surgimento dos “Boinas Verdes” americanos e a forma como foram selecionados: On 20 June 1952 the 10th Special Forces Group (Airborne) was activated at Ft. Bragg under the command of Col. Bank 14 . It was activated without fanfare or publicity. The group was quartered in World War II barracks in a section of the post know as Smoke Bomb Hill – a name that became part of the SF vocabulary. Recruiting had begun in April, when a pamphlet was distributed outlining the requirements to be met in order to volunteer for the new organization. It was worded to appeal to the kind of men that Bank was looking for: skilled professionals, mature individuals willing to accept responsibilities beyond their rank, those experienced in travel overseas and skilled in a foreign language, and willing to take risks not expected of conventional units. The volunteers began to appear in May, and were just what Bank was looking for – Paratroopers and Rangers; former OSS personnel; former members of Merrill’s Marauders, 1st Special Service Force, Ranger battalions, and every other World War II special operations unit that had existed, including Lodge Act personnel (displaced persons from Communist-dominated countries who would receive US citizenship in exchange for a hitch in the Army). There were also some younger, less experienced soldiers, but all professionals regardless. Former OSS and other experienced officers were quickly formed into a training staff to develop the unit’s training programme. Training began at the individual level, and all troops were trained in their respective speciality: operations and intelligence, weapons, demolitions, communications, and medical. Speciality cross-training was also begun. Emphasis was placed on the many aspects of UW 15 to include security, sabotage, formation and operation of intelligence and escape and evasion systems (called ‘nets’ by the Army), and so on. Training progressed to team level and cross-training was continued, conducted within and by the teams. Team members had to show initiative, be able to instruct others, and posses leadership and organizational skills. Tradução do autor – Anexo 1.3 – página 175
Além da seleção criteriosa, preferencialmente entre militares já com experiência, o coronel Bank procurou líderes entre os soldados que já eram considerados acima da média geral. Uma característica que mais tarde viria a ser adotada como praxe em seleções de outras UOEsps. O conflito do Vietnã, iniciado oficialmente em 1959, foi o palco do maior emprego de Forças Especiais desde a II Guerra Mundial. Uma extensão da Guerra da
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Rottman, Gordon L., US Army Special Forces 1952-1984. Osprey Publishing. 2001. ISBN: 0- 85045-610-X 14 Coronel Aaron Bank (23/11/1902 – 1/04/2004), considerado “Pai dos Boinas Verdes”, oficial do Exército americano, fundador das Forças Especiais do Exército Americano (US Army Special Forces). 15 U.W.(Unconventional Warfare) – Guerra não convencional, estratégia que faz uso da sabotagem, confrontos atrás das linhas inimigas, guerrilhas, e apoio não convencional.
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Indochina 16 , o conflito do Vietnã envolveu mais do que simplesmente os Estados Unidos da América e o próprio Vietnã, mas também contou com a participação direta da Coréia do Sul, Austrália e Nova Zelândia e o apoio indireto da China, Coréia do Norte e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (C.C.C.P.). Os Estados Unidos da América entraram oficialmente no conflito com o emprego de suas tropas em 31 de janeiro de 1965. Somente em 08 de março de 1965 o primeiro contingente de Fuzileiros Navais americanos chegou à República do Vietnã. Até então, o apoio americano havia sido feito com equipamentos, conselheiros militares e treinamento. Treinamento este que sempre foi feito pelas UOEsps. ROTTMAN17 (2002) estabelece a cronologia do emprego das Forças Especiais no Vietnã: June 1957 14th SF Detachment begin training Vietnamese commandos.
…
November 1, 1957 Vietnamese 1 st Observation Group formed as a special
forces unit after initial training by USSF. 1960 May Detachments from 1 st and 7 th SFGA begin rotating to RVN and three
commando training centers are organized. … 1961 December 3 USSF begin training Montagnard self-defense forces.
Tradução do autor – Anexo 1.4 – página 176
De grande importância notar que as Forças Especiais americanas já vinham atuando como conselheiros militares no Vietnã desde 1957, no treinamento das forças da República do Vietnã, quase uma década antes da “entrada oficial dos Estados Unidos da América no conflito, através da assistência direta. Podemos observar ainda aqui o ciclo virtuoso das OEsps, composto das três etapas pelas quais toda Unidade de Operações Especiais deve percorrer: Treinar, Operar e dar treinamentos. Os “Boinas Verdes” criados por Aaaron Bank em 1952, após intenso treinamento, passaram a atuar na Europa, operando em ambiente de alto risco da Guerra 16
A Guerra da Indochina (1946-1954) foi um conflito entre a França e a região composta pelo Camboja, Vietnã e Laos, chamada de Indochina, até então colônia francesa. Seu resultado foi a independência destas colônias e a divisão do Vietnã em dois, sendo o norte denominado de República Democrática do Vietnã, (Vi ệt Nam Dân Ch ủ C ộng Hòa) de governo comunista e ao sul a República do Vietnã (Vi ệt Nam C ộng Hòa), de regime republicano parlamentarista, mas governada por uma junta militar e apoiada pelos Estados Unidos da América. 17
ROTTMAN, Gordon. Green Beret in Vietnam (1.957-73). Osprey Publishing. 2002. ISBN: 1- 185532-568-3
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Fria, sendo também empregados para o treinamento das forças amigas no sudeste asiático. O ciclo virtuoso estava completo. Os treinamentos orientados no ambiente de conflito do Vietnã eram testados pelos próprios Boinas Verdes, que operavam no mesmo ambiente e podiam avaliar as técnicas ensinadas e sua efetividade. Não tardou para que as técnicas de Operações Especiais Militares fossem incorporadas ou adaptadas pelas forças policiais. A escalada da violência e novos ambientes de confronto urbano obrigaram a polícia, que até então se utilizava de técnicas arcaicas de confronto, passasse a buscar na estratégia e na técnica militar a solução para o embate com criminosos profissionais ou que representassem uma ameaça extraordinária. 1.5. A origem da SWAT
A sociedade americana passava nos anos 60 do século XX por transformações sociais importantes. A luta contra o racismo, os protestos contra a Guerra do Vietnã, o surgimento de movimentos sociais e a luta pelos direitos humanos trouxeram ao até então trabalho policial, focado no simples combate direto ao crime, problemas de difícil solução. Conter manifestações com o simples e direto uso da força não se mostrou a forma mais acertada de fazê-lo. As transmissões pela televisão da repressão aos movimentos populares só fez crescer o ódio às instituições e o povo americano já não sabia mais a quem apoiar. Os conservadores continuavam acreditando na necessidade da intervenção no Vietnã, enquanto os ditos “liberais” eram taxados de comunistas, hippies ou de “amantes dos amarelos”. Nesse quadro caótico, uma simples ocorrência no bairro de Watts em Los Angeles, Califórnia, (FIGURA 09) acabou por se transformar na gênese de uma idéia que mudaria para sempre o conceito de trabalho policial de alto risco.
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FIGURA 09 – Watts Riots – New York World-Telegram photo. 1965
VIOLANO
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(2006) expõe com propriedade o cenário daqueles dias
conturbados: In August of 1965, Watts was a small black community that bordered on the south central area of the City of LA. It was not the stereotypical crowded high-rise housing project associated with big city ghettos or slums. Watts was a neighborhood composed of modest single-families homes, two story apartment buildings, housing projects and small businesses. Its notable landmark was the eclectic “Watts Towers” which were built by Italian Immigrant Simon Rodia in 1954. On the hot summer Wednesday of August 11, 1965, Watts erupted into the largest civil riot/insurrection in America to that time. The social circumstances that led to the rioting are far too complex to discuss here. It is accurate to say that the perceived social and economic circumstances in Watts were such that many of its residents were ready to riot. The arrest of a black drunk driver by the California Highway Patrol (CHP) provided the catalyst for that calamity. The Watts riot was unlike any seen before in America. When it ended six days later, 34 people were dead and hundreds more injured from riot related incidents. Another 3,356 people were jailed. The rioters did estimated $40 million (1965) dollars in property damage. Within a 46 square mile area (about the size of the City of San Francisco) of LA´s 456 square miles, entire blocks of buildings were looted and burned. At night, the red and orange
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VIOLANO, Rick A. The SWAT Pioneers. Rik´s Books. 2006.
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flames from the many fires lit up the skyline for miles around. In the day, a dark gray smoke hung over the affected area. The rioters rage seemed out of control. They looted and burned the very neighborhood businesses they depended upon. Markets, liquor stores, pawnshops and furniture stores were their primary targets. Entire blocks of business windows were shattered. Glass and litter covered the sidewalks and streets. They attacked non-blacks driving through the area. Police and civilian cars were hit with bottles and projectiles. The rioters overturned and set several of them on fire. The rioters pelted the responding firemen and policemen with rocks, bottles and debris. They damaged all of the 160 black and white police cars deployed into the area. Molotov cocktails were thrown at buildings and passing cars. Gunmen and snipers shot at firemen and policemen alike. The Los Angeles Police Department (LAPD) never encountered a calamity like this before. The Watts riot not only shook the fabric and foundations of LA but also the entire nation. It was unlike any riot seen before in the United States. Worse yet, no one knew how to handle it. It was more like an insurrection of revolt than the traditional riots of labor strikes the LAPD handled in the past. The intensity and chaos became so great that William H. Parker (the Chief of Police) had to call for the California National Guard and law enforcement mutual aid. A joint force of approximately 15,000 guardsmen and cops quelled the rioting. It was a frightening event of everyone who experienced it. …A long and trying seven days after it began; the Watts riot was quelled. It was an ordeal that no cop or firemen wanted to relive. The politicians, political activists and academics tried to determine and explain the reasons for it and what went wrong. One thing was painfully obvious; law enforcement was not properly armed or trained to combat the shooting and sniping that it faced during Watts riots. Things had to change if Los Angeles was to survive such events in the future. That need for change became the genesis of SWAT. Tradução do autor – Anexo 1.5 – página 177
A polícia da cidade de Los Angeles precisava tomar alguma providência e impedir que novos tumultos não fossem controlados. Em 3 de dezembro de 1965, o Chefe de Polícia em exercício, Deputy Chief H. W. Sullivan determinou que cada divisão do Departamento de Polícia enviasse um relatório apresentando sugestões para a melhoria dos procedimentos. O objetivo era aprender com os distúrbios ocorridos em Watts. Coube a um inspetor de polícia de nome John William Powers, conhecido como “Johnny Two Guns” efetuar o relatório em sua divisão. Entusiasmado com seu trabalho e de perfil acima da média, o inspetor John “Two Guns” efetuou diversas sugestões. Uma delas foi a criação de um time tático contra-atiradores (ASTT – Anti-Sniper Tactical Team). Quando o Chefe de Polícia William H. Parker retornou de suas férias, ele tomou conhecimento do relatório de Powers e ficou particularmente interessado no conceito apresentado de ASTT. Convocando-o ao seu escritório, o Chefe Parker determinou que o Inspetor Powers organizasse um treinamento e ficasse à frente do projeto ASTT.
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Powers decidiu buscar apoio na Divisão de Treinamento da Polícia de Los Angeles e lá conheceu o detetive John G. Nelson, Fuzileiro Naval e veterano da Guerra da Coréia. Nelson havia pertencido aos Force Recon (UOEsp dos Fuzileiros Navais Americanos) e estava acostumado à confrontos de pequenas unidades em ambientes de alto risco, característica das Operações Especiais militares. Convidado pelo Inspetor Powers, o detetive Nelson passou a trabalhar em sua casa aos finais de semana numa extensa proposta que sugeria a criação de uma unidade de policiais bem treinados que pudesse fazer frente às situações de suspeitos barricados e armados que a polícia não tinha como enfrentar até então, vide a ocorrência em Watts. No programa desenvolvido por Nelson, ele observava que “a maior parte do treinamento policial está focado em ensinar aos policiais como resolver as situações sozinho, ou com um parceiro. Muito pouco treinamento está direcionado a disciplina, cooperação e táticas necessárias para o tipo de confronto experimentados durante os distúrbios de Watts ou contra suspeitos armados barricados, especialmente no caso de reféns. Eu recomendo o desenvolvimento de unidades de 4 homens, similares aos time de fogo do USMC, que podem ser combinadas em esquadrões e pelotões.”
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Em 1966 John G. Nelson escreveu e John W. Powers aprovou um Comunicado do Departamento procurando por voluntários para os Special Weapons Marksmen (SWM). Eles deveriam possuir seu próprio armamento. Os primeiros treinamentos foram conduzidos fora do horário de trabalho, com Nelson coordenando o treinamento e Powers efetuando a aula introdutória. Em 1967 a coordenação do programa ASTT foi transferida da Divisão de Treinamento para a Divisão Metropolitana de Polícia. Lá, sob os auspícios do Tactical Operations Group (TOG) e de seu Diretor, o então Inspetor e mais tarde Chefe de Polícia Daryl Francis Gates, o programa continuou sendo aplicado. Foi Gates o grande responsável pela mudança de nome do Programa, e sua adoção como uma Unidade efetiva. Em 25 de setembro de 1967, o Inspetor Daryl F. Gates em reunião com o Chefe de Polícia Adjunto decidiu sobre o nome de sua nova unidade, baseada no antigo programa ASTT. Sua sugestão inicial era Special Weapons Attack Teams (SWAT), o
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NELSON, John G. Origin of SWAT, letter to Rick A. Violano – 17/05/1971. Descrita na obra The SWAT Pioneers. Rik´s Books. 2006
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que foi imediatamente negado pelo Chefe Adjunto, visto que a palavra Attack foi considerada politicamente incorreta. Gates retornou ao escritório do Chefe Adjunto momentos depois, sugerindo o anacronismo S.W.A.T. (Special Weapons and Tactics), que foi prontamente aceito. Segundo o dicionário Michaelis 20 , no idioma inglês, a palavra “swat” tem o significado de “golpe violento, esmagar, atingir com uma pancada.” Era justamente a idéia que o Inspetor Gates queria passar. A de uma unidade policial treinada para atingir violentamente o crime, como uma resposta urgente da instituição LAPD aos eventos ocorridos naqueles dias. Mas o programa SWAT não era unanimidade no Departamento de Polícia de Los Angeles. Muitos diretores eram contra a utilização de treinamento e disciplina aparentemente militares no trabalho policial. Para manter o programa, Gates nomeou como Coordenador da SWAT o então Tenente Frank L. Brittell. Sem qualquer formação militar anterior, o Tenente Brittell era partidário do treinamento intenso e do profissionalismo. Ele passou a avaliar constantemente o temperamento, disciplina e os aspectos físicos dos integrantes da unidade. Foi Brittell quem enfatizou o trabalho em equipe, instituiu avaliações físicas na Unidade e equipou o grupo, mesmo diante de dificuldades impostas por diretores contrários a doutrina SWAT. 1.6. A luta contra o terrorismo
A década de 1970 foi uma época de questionamentos dos valores tradicionais nos mais diversos países do mundo. Dividido em “dois blocos” basicamente, um de influência norte-americana e outro de influência comunista. Escândalos como o de Watergate em 1972, a derrota no Vietnã em parte reconhecida em 1975, o a construção do muro de Berlim na Alemanha, acentuaram a decadência da ordem política internacional. Na África, muitos países conquistaram sua independência através de guerras contra suas antigas colônias. Algumas guerras tribais acabaram também por estimular o tráfico de armas e a formação de grupos paramilitares.
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Dicionário Michaelis. Moderno Dicionário Inglês. Consultado em: 16/11/2010. Disponível on- line: http://michaelis.uol.com.br/moderno/ingles/index.php?lingua=ingles-portugues&palavra=swat
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Na Europa, grupos separatistas, como o IRA (Irish Republican Army) e a ETA (Euzkadi Ta Askatasuna), radicalizaram suas formas de luta. O IRA (Exército Republicano Irlandês) foi formado em 1919 por grupos da minoria católica que lutavam pela união da Irlanda do Norte à República da Irlanda. Na década de 1960 os católicos foram às ruas pacificamente, contra leis discriminatórias impostas pela maioria protestante. Aproveitando o clima de insatisfação, um grupo de militantes relançou o IRA, dessa vez com um verniz ideológico marxista. A fase pacífica do movimento terminou num domingo de janeiro de 1972, quando tropas britânicas dispararam suas armas contra os manifestantes, matando 13 pessoas. O incidente, que passou à história como "Domingo Sangrento", desencadeou uma escalada do terrorismo. Durante a década de 1970, mais de duas mil pessoas morreram e milhares ficaram feridas em atentados a bomba patrocinados pelo IRA e nos choques de rua entre manifestantes e as forças de segurança britânicas. DÉNECÉ 21 (2007) expõe a participação britânica no combate ao terrorismo irlandês: Foi, de fato, na Irlanda do Norte que as forças especiais britânicas tiveram o seu engajamento mais maciço, mas às vezes também o mais discutível. Métodos empregados pelo SOE, durante a Segunda Guerra Mundial, e pela doutrina de guerra contrainsurrecional desenvolvida nos anos 1960 for Frank Kitson para reprimir a rebelião no Quênia influenciaram o comportamento dos britânicos na luta contra o IRA. Nomeado comandante da 39ª. Brigada de Infantaria em Belfast, Kitson aplicou suas técnicas em Ulter entre 1970 e 1972. Desde sua chegada, ele ressentia-se de não ter uma unidade capaz de infiltrar-se clandestinamente no IRA, identificar os responsáveis e semear a discórdia em suas fileiras. Essa missão foi inicialmente confiada a um grupo do Parachute Regiment, conhecido por Military Reconnaissance Force (MRF). A MRF foi a primeira unidade especial a operar clandestinamente na Irlanda do Norte. Mas muito rapidamente ela se revelou insuficiente para sufocar o desenvolvimento do IRA, e Londres decidiu apelar para o SAS. Ainda que já tivessem estado na ilha, os SAS só entraram na luta contra o IRA em janeiro de 1976. Essas operações não foram realizadas sem provocar agitação na unidade, pois sua doutrina era diametralmente oposta à definida por David Stirling, criador da unidade, já que os integrantes do regimento iam agir à paisana, em ações não militares, no território das ilhas britânicas. No início, alguns oficiais acharam que assim o regimento se afastava de sua vocação inicial, mas finalmente a unidade engajou-se a fundo na missão. Em alguns anos, os SAS obtiveram considerável experiência, que lhes permitiu tornarem-se uma unidade contraterrorismo muito eficaz.
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DÉNECÉ, Eric. A história secreta das forças especiais. Larousse do Brasil. 2009 ISBN: 978- 85-7635-608-0
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A participação do SAS no combate ao terrorismo propiciou a esta unidade obter o know-how necessário para diversas situações que ainda viriam. A tomada na embaixada do Irã em Londres, em 1980 se mostraria como exemplo, até os dias de hoje, de uma Operação Contraterrorismo coberta de sucesso. McMANNERS22 (2003) também ressalta a participação do SAS Britânico no combate ao terror: During the 1950s and 1060s, the SAS also developed counter-insurgency skills. In addition, during the British government’s fight against the terrorists of the Irish Republican Army (IRA) in Northern Ireland, the SAS conducted anti-terrorist operations against the IRA. SAS counter-terrorist training and tactics were further refined in the 1970s, when hostage-rescue became part of the SAS mission. Tradução do autor – Anexo 1.6 – página 178
O ETA é uma organização que luta pela autonomia do País Basco em relação à Espanha. ETA, no idioma basco, são as iniciais de "Pátria Basca e Liberdade". Criado em 1959 para difundir a cultura e os valores tradicionais do povo basco, o ETA foi perseguido pela ditadura de Francisco Franco e entrou para a clandestinidade através de ações terroristas em 1966. O atentado mais ousado foi realizado em 1973, quando a organização explodiu no centro de Madri o carro em que viajava o primeiroministro Luís Carrero Blanco. Outros grupos terroristas sem vínculos com lutas democráticas ou de libertação nacional também surgiram no período, como o grupo Baader-Meinhoff, na Alemanha e as Brigadas Vermelhas na Itália. Eram basicamente organizações formadas por intelectuais e universitários que adotaram a violência em nome de uma genérica "guerra contra a burguesia". No Oriente Médio o fervor religioso estimulou o surgimento de grupos extremistas. Inicialmente, o fundamentalismo islâmico não tinha caráter terrorista. A Irmandade Muçulmana surgiu no Egito, em 1929, com preocupações sociais e religiosas. A partir dos anos de 1930, esta entidade foi perseguida pelo Rei Fuad e por seu sucessor, o Rei Faruk, favoráveis à dominação britânica. A Irmandade Muçulmana decidiu radicalizar suas ações no início de 1.950, com a ascensão do líder nacionalista Gamal Abdel Nasser, acusado de defender os interesses ocidentais.
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McMANNERS, Hugh. Ultimate Special Forces. Dorling Kindersley Limited. 2003 ISBN: 1- 4053-0224-0
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A crise no Oriente Médio fez surgir em 1964 a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que reunia diversos grupos políticos. Tinha como base a Al Fatah, facção liderada por Yasser Arafat. Os ânimos na região estavam acirrados desde a criação do Estado de Israel em 1948. Com o apoio político, econômico e militar dos Estados Unidos da América, Israel promoveu guerras com alguns vizinhos árabes para expandir seu território. Centenas de milhares de palestinos foram expulsos de suas terras. Organizações terroristas judaicas, como a Irgun, a Stern e a Haganah tiveram um papel importante na intimidação da população palestina, chegando a massacrar aldeias inteiras. O isolamento dos palestinos no Ocidente e a hostilidade dos países árabes acabaram fortalecendo a OLP e a opção de grupos radicais pelo terrorismo. Mas nem todos os atos terroristas reivindicados pelos palestinos foram de autoria da OLP. O mais violento atentado terrorista da década de 1970 aconteceu durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 05 de setembro de 1972, na Alemanha. Oito terroristas do Grupo “Setembro Negro” invadiram a Vila Olímpica de Munique, adentraram o pavilhão israelense e capturaram como reféns nove atletas, depois de assassinar outros dois (FIGURA 10). Os seqüestradores exigiam a libertação de cem palestinos presos em Israel e dos terroristas internacionais Andreas Baader e Ulrike Meinhoff, da Alemanha, e Kozo Okamoto, do Japão. As Forças de segurança alemãs, não treinadas para este tipo de ocorrência durante uma tentativa frustrada de resgate mataram os seqüestradores. Os atletas também acabaram sendo mortos, o que deixou a opinião pública estarrecida. O atentado de Munique demonstrou o evidente vínculo entre as organizações terroristas internacionais. Serviu também como justificativa ao governo alemão para a criação do Grupo GSG-9 (Grenzschutzgruppe-9), ou “Grupo 09 da Polícia de Fronteira”, unidade policial especializada no combate ao terrorismo.
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FIGURA 10 – Black September Terrorist – Associated Press - 1972
McMANNERS23 (2003) descreve sobre a criação do GSG-9: Grenzschutzgruppe-9 (GSG-9 or Border Guard Group 9) is Germany’s primary police counter-terrorist unit. Created in response to the massacre of 11 Israeli athletes at the Munich Olympics in West Germany in 1972, GSG-9 has since conducted some of the most successful hostage-rescue missions of any élite force. ... “Grenzschutzgruppe-9 (GSG-9) was created to meet this need. Ulrich Wegener, a counter-terrorist expert within the West German Federal Border Guard, had practical control over the new unit. Assisted by foreign counterterrorist organizations, he built the new force in less than a year from applicants chosen through a rigorous selection process. GSG-9 became operational with two combat-ready units on 17 April 1973. Tradução do autor – Anexo 1.7 – página 178
Em pouco tempo o grupo seria posto à prova, respondendo com excelência a resolução tática do seqüestro do vôo LH181 da Lufthansa. O intercâmbio entre os grupos terroristas internacionais foi percebido ainda mais quando em 1976 o Boeing da Air France que fazia o vôo Tel Aviv/Paris foi seqüestrado.
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McMANNERS, Hugh. Ultimate Special Forces. Dorling Kindersley Limited. 2003 ISBN: 1- 4053-0224-0
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O avião com 242 passageiros e 12 tripulantes foi levado para Entebe, em Uganda, país africano que vivia sob a ditadura de Idi Amin Dada. Os seqüestradores pertenciam à Frente Popular para a Libertação da Palestina, um dos grupos mais radicais da OLP. Mantendo como reféns somente os 93 passageiros judeus, os terroristas exigiam a libertação de 53 palestinos presos em Israel. O governo israelense ordenou uma operação de resgate, enviando a Uganda a UOEsp denominada Sayeret Matkal (Unidade de Reconhecimento Geral). Também conhecida como Unidade 767, A Matkal era a unidade mais secreta do exército israelense. Ela tinha como missão três funções essenciais: experimentar novos modos de ação e armamentos, preparar e conduzir operações especiais e inventar novas formas de combate adaptadas às ameaças apresentadas pelo terrorismo internacional. Comandada por um coronel, a Matkal possui orçamento próprio, dispondo de autonomia para adquirir quais materiais que entenda necessários ao seu trabalho, financiar a produção de novos equipamentos, obter suporte logísticos de outras forças do Estado de Israel e empreender operações por iniciativa própria. A operação de resgate de Entebe foi concebida, planejada, treinada e executada em cinco dias, sendo que o tempo de execução do assalto foi somente de 80 minutos, após 15 horas de vôo. As forças israelenses eram compostas por 200 homens, que além dos integrantes da Matkal, eram compostas por dois grupos de pára-quedistas e um contingente de choque da Brigada Golani. O balanço foi de 103 prisioneiros libertos, 01 Operacional morto e 04 feridos em ação e 02 mortos e 05 feridos entre os reféns. A equipe de assalto fez 07 terroristas mortos e 03 feitos prisioneiros, além de 20 soldados ugandenses que davam apoio aos terroristas também neutralizados. THOMAS
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(2002) apresenta as contribuições do Mossad, serviço de
inteligência de Israel na operação de resgate: El 27 de junio de 1976, un avión de Air France repleto de pasajeros judíos en ruta de París a Tel Aviv fue secuestrado tras hacer escala en el aeropuerto de Atenas, famoso por su falta de seguridad. Los secuestradores eran miembros de la facción extremista Wadi Haddad y exigieron dos cosas: la liberación de cuarenta palestinos prisioneros en Israel y de otros doce que se encontraban en prisiones europeas y la libertad de dos terroristas alemanes arrestados en Kenia cuando trataban de derribar un jet de El Al, con un cohete Sam-7, mientras despegaba del aeropuerto de Nairobi. 24
THOMAS, Gordon. Mossad. La historia secreta. Tradução de Gerardo Gambolini. Ediciones B Argentina, S.A. 2002. ISBN: 84-663-0301-4
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Después de hacer escala en Casablanca, y cuando se le negó permiso para aterrizar en Jartum, el avión voló a Entebbe, Uganda. Desde allí, los secuestradores anunciaron que el avión sería dinamitado con todos sus pasajeros a bordo si no se cumplían sus exigencias. El 30 de junio vencía el último plazo. En las sesiones secretas del Gabinete de Tel Aviv, la jactanciosa imagen pública de no rendirse ante el terrorismo comenzó a marchitarse. Los ministros se ponían a favor de liberar a los prisioneros palestinos. El primer ministro Rabin mostró un informe del Shin Bet para demostrar que había un precedente para liberar a criminales convictos. El jefe del Estado Mayor, Mordechai Gur, anunció que no podía recomendar una acción militar, debido a que la inteligencia con que contaban en Entebbe era insuficiente. Mientras continuaban sus angustiosas deliberaciones, llegaron noticias de Entebbe: los pasajeros judíos habían sido separados del resto y los demás, tras ser liberados, se encontraban camino de París. Ésa era la jugada de apertura que necesitaba el Mossad. Yitzhak Hofi, jefe del Mossad en la que sería su hora más gloriosa, argumentó poderosa y apasionadamente que debía montarse una operación de rescate. Sacó a relucir el plan que Rafi Eitan había usado para capturar a Eichmann. Existían similitudes: Rafi Eitan y sus hombres habían trabajado lejos de casa, en un ambiente hostil. Habían improvisado mientras hacían el trabajo, utilizando las argucias de un jugador de póquer. Podía volver a hacerse. Empapado en sudor, con la voz ronca de tanto argumentar y rogar, Hofi miró fijamente a los miembros del Gabinete. «Si dejamos que nuestra gente muera, se abrirán las compuertas. Ningún judío estará a salvo en parte alguna. Hitler obtendría una victoria desde la tumba.» «Muy bien —dijo Rabin—. Lo intentaremos.» …Un Boeing 707 israelí sin identificar, preparado para ser usado como hospital aéreo, aterrizó en el aeropuerto de Nairobi. Lo pilotaban hombres de las fuerzas de defensa que conocían el aeropuerto de Entebbe. Entretanto, seis katsas del Mossad habían rodeado el aeropuerto: cada agente llevaba una radio de alta frecuencia y un aparato electrónico para interferir el radar de la torre de control. Nunca había sido probado en combate. Cincuenta paracaidistas israelíes salieron del avión hospital al amparo de la oscuridad y se dirigieron a toda velocidad hacia el lago Victoria. Inflaron botes de goma y remaron hacia la costa de Uganda, listos para atacar el aeropuerto de Entebbe. En Tel Aviv, la operación de rescate había sido ensayada a la perfección; cuando llegó el momento, una escuadrilla de Hércules C-130 cruzó el mar Rojo, se dirigió hacia el sur, repostó combustible en Nairobi y luego, volando por encima de los árboles, se precipitó sobre el aeropuerto de Entebbe. La interferencia del radar funcionó perfectamente. Las autoridades del aeropuerto todavía se preguntaban qué había pasado cuando los tres Hércules y el avión sanitario aterrizaron. Los comandos corrieron hacia el edificio donde se encontraban los rehenes. Quedaban sólo los judíos; todos los de otras nacionalidades habían sido liberados por Amin, que disfrutaba su momento de esplendor en la escena mundial. Los paracaidistas de apoyo jamás fueron llamados. Remaron a través del lago de vuelta a Nairobi. Allí serían recogidos por otro transporte israelí y llevados a casa. En cinco minutos —dos menos de lo calculado— los rehenes fueron liberados y los terroristas, junto a dieciséis guardias ugandeses que custodiaban a los prisioneros, eliminados. La fuerza de ataque sufrió una baja: el teniente coronel Yonatan Netanyahu, hermano mayor del futuro primer ministro Benyamin Netanyahu. Solía decir que su política dura contra los terroristas se debía a la muerte de Yonatan. También murieron tres rehenes. Tradução do autor – Anexo 1.8 – página 179
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Também McMANNERS25 (2003) soberbamente expõe as circunstâncias em que o seqüestro do vôo da Air France a operação de resgate israelense se sucederam: At 12:30 pm on 27 June 1976, four terrorists armed with guns and grenades boarded Air France Flight 139 at Tel Aviv, Israel. The group consisted of two terrorists from the German Baader-Meinhof gang and two members of the Popular Front for the Liberation of Palestine (PFLP). They took control of the Boeing 707 airliner and ordered the pilot to fly to Entebbe airport in Uganda, Africa, where they landed. On 30 June, the hijackers demanded the release of 53 prisoners held in jails across the world. A deadline of 1 July was given, after which the hostages would be executed. The élite Israeli hostage-rescue unit, Sayeret Mat´Kal, received orders to prepare a plan to rescue the hostages being held in the airport terminal. On 1 July, the 100 non-Jewish passengers on the flight were released, leaving only the Jewish contingent and the crew. Despite initial concerns and reluctance, Israeli Prime Minis ter Yitzhak Rabin (1922-95) gave permission to attempt a rescue. The rescuers spent hours preparing the assault and practicing each phase in a specially constructed mock-up of the old terminal building at Entebbe where the hostages were being held. Under the command of Lieutenant-Colonel Jonathan Netanyahu, the unit planned to land on Entebbe’s runway, and then proceed to the old terminal building disguised as representatives of Idi Amin, travelling in a copy of Amin’s trademark black Mercedes. The success of the mission depended on the element of surprise. On 23 July, four C-130 Hercules transport planes set off from Israel for Uganda. At 11:00 pm the lead aircraft touched down at Entebbe. Immediately, two jeeps and the Mercedes were unloaded and began to move in convoy towards the old terminal building. The Israeli troops, disguised as Ugandans, opened fire on two guards outside the terminal, spreading confusion amongst the terrorists. The Israeli began to clear the terminal building. As they progressed, the troops had difficulty in determining the terrorists from the hostages, and some passengers were accidentally fired on. As the assault continued, the next two C-130s landed, unloading four armoured personnel carriers, which set about destroying eight Ugandan Air Force MiG fighters stationed at the base. Within only 15 minutes of the first C-130 landing, the airport had been secured and the hostages rescued. Israeli losses were limited to Jonathan Netanyahu, who was killed, while two hostages died. The Israelis had shown that terror could be tackled and defeated by the clinical application of controlled force. Tradução do autor – Anexo 1.9 – página 181
A ação do comando israelense foi emblemática, pelas características de OEsp presentes, como o efeito surpresa, a velocidade, a violência enérgica de ação e o emprego de uma Unidade coesa, bem treinada e motivada, atingindo objetivos de alto risco. Em setembro de 1977, o Baader-Meinhoff ganhou as manchetes dos jornais com o seqüestro do industrial Hanss-Martin Schleyer, como pressão pela libertação de presos políticos. Em sua violenta ação para seqüestrar o empresário, em uma rua da cidade de 25
McMANNERS, Hugh. Ultimate Special Forces. Dorling Kindersley Limited. 2003 ISBN: 1- 4053-0224-0
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Colônia, os terroristas assassinaram o motorista e três guarda-costas do empresário alemão. Mais uma vez, o grupo exigia a libertação dos fundadores da organização terrorista, Andreas Baader e Gudrun Ensslin, além de outros terroristas. Em 13 de outubro, um vôo da empresa alemã Lufthansa que saía de Palma de Mallorca, na Espanha com destino a Frankfurt, de número LH181 foi seqüestrado por 04 terroristas da Frente Popular para a Libertação da Palestina (PFLP). Os quatro seqüestradores, sendo dois homens e duas mulheres, eram liderados por um terrorista que se identificou como Capitão Mahmoud, mas seu nome real era Zohair Youssef Akache. Os terroristas exigiam a libertação de 11 terroristas da Facção do Exército Vermelho, novamente incluindo nomes como os de Andreas Baader, demonstrando assim o total intercâmbio entre diversos grupos terroristas mundiais, que ia além de suporte e intercâmbio, incluindo também demandas conjuntas. Por quatro dias a aeronave voou pelo Oriente Médio, não lhe sendo permitido pouso, mas muitas vezes pousando sem autorização para reabastecimento. Em um destes reabastecimentos, em Aden, no Yemen, os terroristas mataram o piloto ao descobrirem que ele havia enviado informações às autoridades, através de um bilhete no cesto de lixo do avião. O co-piloto assumiu o comando da aeronave e voou até Mogadíscio na Somália. A UOEsp GSG-9 alemã foi autorizada a agir e organizou a Operação Feuerzauber (Fogo Mágico), um assalto tático visando retomar a aeronave, neutralizar os terroristas e libertar os reféns. O assalto seria iniciado com uma ação diversionária, com comandos somalis usando fogo para chamar atenção do líder terrorista em frente à cabine do avião, enquanto negociações via rádio entretinham os outros terroristas. O grupo de assalto escalou as asas do avião e explodindo as saídas de emergência adentrou na aeronave. Todos os seqüestradores foram neutralizados e os reféns foram libertados, tendo a ação não durou mais do que 10 minutos. O batismo de fogo do GSG-9 foi coroado de sucesso. Em compensação, alguns dias depois, o corpo do empresário seqüestrado Hanss-Martin Schleyer foi encontrado no porta-malas de um carro, próximo da cidade francesa de Mulhouse, em 18 de outubro de 1977.
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Diante de todos estes acontecimentos na Europa, os Estados Unidos da América resolveram se antecipar a uma possibilidade de ocorrências envolvendo ações contraterror. O Coronel Charles Alvin Beckwith26 era um veterano condecorado que já havia servido na Coréia e no Vietnã. Nos anos 60, entre idas e vindas ao Vietnã, o então Capitão Beckwith foi nomeado adido militar junto o SAS britânico. Operando em conjunto com esta unidade de elite, ele participou de todo o processo seletivo, treinamento e operações, inclusive durante a campanha inglesa na Malásia. Ao retornar aos Estados Unidos, Beckwith preparou um extenso relatório, onde apresentava as vulnerabilidades do exército americano em não possuir uma unidade com as características vistas no SAS inglês. Foi completamente ignorado. Até aquele momento, o governo americano acreditava que os Boinas Verdes eram suficientes como UOEsp do exército. Foi necessário que o período conturbado do “outono alemão”, com os seqüestros e ataques terroristas na Europa mostrassem às autoridades americanas a necessidade de uma tropa contraterror. O relatório de Beckwith foi desengavetado e a ele foi confiada à missão de fazer surgir a nova unidade de OEsp dos Estados Unidos da América. HANEY 27 (2002) em seu soberbo trabalho “Inside Delta Force” expõe o surgimento da Unidade: For years, famed Special Forces officer Colonel Charlie Beckwith had been the lone voice crying in the wilderness about the terrorist threat facing the nation, and what it would take to effectively confront that threat. He had seen the need within the U.S. military for a compact, highly skilled, and versatile unit able to undertake and execute difficult and unusual "special" missions. Modeled along the lines of the British commando organization, the Special Air Service (SAS), such an element would be the surgical instrument that could be employed at a moment's notice to execute those tasks outside the realm of normal military capability. It was Charlie's tenacity that finally won the day and set the wheels in motion that would ultimately bring such a unit into existence. But creating that organization and bringing it to life within the hidebound hierarchy of the Army was a task not dissimilar to electing a pope.
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Charles Alvin Beckwith (22/01/1929-13/06/1994) Coronel do exército americano veterano da guerra da Coréia e do Vietnã. Condecorado com a Estrela de Prata, Legião de Mérito, Estrela de Bronze, Coração Púrpura e Cruz de Serviço. Além de comandar diversas unidades de Operações Especiais no Vietnã, com responsável pelo treinamento dos Boinas Verdes em Fort. Bragg após aquele conflito e foi o grande idealizador e fundador da Força Delta, Unidade contraterror do exército americano. 27
HANEY, Eric Lamar. Inside Delta Force: The Story of America's Elite Counterterrorist Unit. Delacorte Press. 2002. ISBN 978-0385336031
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As a rule, armies hate change--and no one hates change more than the ones who have benefited most by the status quo: the general officers. Now and then, innovative thinkers do happen to wear stars on their collars, and Colonel Beckwith's loud and persist calls for a national counterterrorism force had found the ears of two such men: Generals Bob Kingston and Edwin "Shy" Meyer. Kingston was stationed at Fort Bragg, North Carolina, and he readily saw the possibilities of the type of force Beckwith was proposing. But he knew that presenting the idea through Army bureaucracy was like walking in a minefield--it could be killed a thousand different ways. To make headway would require someone with horsepower and a mastery of the military political system, and Shy Meyer was that man. General Meyer was serving as the Deputy Chief of Staff of the Army, and rumor had it that he would soon become the Chief. Beckwith and Kingston floated their idea of a counterterrorism for Meyer and immediately realized they were preaching to the choir. Meyer, too, had entertained ideas along that same line, and now the three men enthusiastically shared their thoughts on the subject. The need was evident, but creating a force from whole cloth was going to be extremely difficult. First they had to determine what types of missions their fictional unit would be tasked with, because the mission dictates a unit's size. With that they were able to build a Table of Organization and Equipment (TO&E), which outlines unit configuration, rank structure, and arms and equipment. The completed TO&E allowed them to forecast a budget for both start-up and annual costs. Once their "straw man" was complete, from his position in the Pentagon, Meyer started digging, looking for the places to extract the money and the men for the outfit. It may come as a surprise, but the Army does not just have men hanging around and unemployed. Every unit has a manpower quota, and every soldier is assigned to a unit, even if he doesn't work there. But sometimes there are units that are alive on paper but not actually in existence at the time, with the men allocated to those paper units being used elsewhere. Meyer found enough of those slots to man their dream organization, and he uncovered a source of untapped money to breathe life into it. Next they spent months "what-iffing" their paper unit. They had to be able to anticipate every objection to their creation in advance and have a sound, well-thought-out response to every question. Allies were sought. Powerful and influential generals who could block the formation of the unit were sounded out as to their feelings on the idea. Nothing was ever presented to anyone as a proposal; it was much too early for that. For the time being they just wanted to know who were the friends and who were foes. But when the more powerful generals realized that a new unit wouldn't intrude on their turf or siphon money from their budgets, they gave their nods of acceptance, if not approval. With that, the trio of Kingston, Meyer, and Beckwith were ready to present their plan. The formal proposal for a national counterterrorism force was presented at the Fort Benning Infantry Conference in the summer of 1977. With all the details and political machinations completed in advance, the proposal was duly approved, and it was recommended to the Chief of Staff of the Army that such an organization be formed immediately. By that time General Meyer was the Chief. 1st Special Forces Operational Detachment--Delta was given official life on 21 November 1977 by order of Headquarters, Department of the Army. When Beckwith was chosen to command the new outfit, he immediately set to work. He handpicked a few staff members, found an old derelict building in an outof-the-way spot on Fort Bragg, North Carolina, and started the struggle to midwife his baby. Tradução do autor – Anexo 1.10 – página 182
O batismo de fogo da Força Delta acabaria por ser uma operação mal-sucedida de resgate dos reféns americanos tomados na embaixada em Teerã, Irã, em 1979.
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Com a revolução que derrubou o Xá Mohammed Reza Pahievi e levou ao poder um governo fundamentalista muçulmano, o Irã foi tomado por uma febre antiamericana. Os Estados Unidos eram odiados por terem apoiado o regime anterior. Como protesto pela concessão de asilo ao Xá pelo governo norte-americano, militantes islamitas ocuparam a embaixada dos Estados Unidos e o edifício do Ministério das Relações Exteriores em Teerã em 4 de novembro de 1.979. Em cinco dias, o presidente Jimmy Carter autorizou a criação de uma força-tarefa conjunta para estudar a possibilidade de resgatar os 66 reféns norte-americanos tomados pelos iranianos. A operação envolvia um complicado plano de uso de helicópteros, que deveriam ser reabastecidos em pleno ar, devido a baixa autonomia e as enormes distâncias. O presidente “Jimmy“ Carter autorizou a missão de resgate em 14 de abril de 1980 e a Força Delta partiu para Frankfurt, na Alemanha em 20 de abril. Integraram-se à missão na Alemanha uma equipe de treze homens cuja função seria a de resgatar os reféns presos no edifício do Ministério das Relações Exteriores. O grupo todo voou para Wadi Kena, no Egito, chegando na manhã de 21 de abril. Apesar da intenção de controlar a missão a partir do Egito, onde havia instalações de comunicação via satélite, a missão em si seria lançada de Masirah, uma ilha ao largo da costa de Orna. Em 24 de abril, a equipe completa com 132 homens embarcou em três aviões Hércules C-130 em Masirah, com destino a um ponto no deserto do Irã de codinome “Desert One”. Os aviões cumpriram o cronograma e a equipe que faria o controle das estradas conseguiu descer em segurança. Um ônibus com civis que passava pelo local foi interceptado e seus ocupantes foram detidos. Os oito helicópteros que fariam a extração dos reféns e a condução do grupo até o cativeiro decolaram do porta-aviões americano USS Nimitz, mas os imprevistos começaram a acontecer. O helicóptero de nº 6 apresentou falhas mecânicas e foi abandonado. Uma grande tempestade de areia atingiu os helicópteros restantes, obrigando-os a pousar e decolar novamente. O helicóptero de nº 5, também com pane mecânica foi obrigado a retornar ao Nimitz. O primeiro helicóptero a chegar ao ponto de encontro Desert One chegou com 50 minutos de atraso. Os helicópteros restantes chegaram depois de meia hora, e o helicóptero de nº 2 também foi abandonado com problemas elétricos. Com somente
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cinco aparelhos, seria impossível concluir a missão. A operação foi cancelada e a equipe retornaria ao porta-aviões. Durante a decolagem, o helicóptero de nº 3 perdeu a sustentação, bateu em um dos aviões Hércules carregado de combustível e ambos explodiram, matando seus oito tripulantes. Diante de tal situação, todos os helicópteros restantes foram abandonados e a equipe foi extraída pelos aviões Hércules C-130 restantes. Em 20 de janeiro de 1981, após 444 dias de cativeiro, os reféns foram libertados depois de intensas negociações com o apoio da Argélia e um acordo de devolução dos bens do Irã que haviam sido bloqueados nos Estados Unidos. Se a “Operação Eagle Claw” foi considerada um retumbante fracasso, sendo estudada até hoje como uma OEsp com falhas de planejamento e execução, o mesmo não se pode dizer sobre a “Operação Nimrod”, desenvolvida pelo SAS em 5 de maio de 1980, com o objetivo de resgatar os reféns tomados na embaixada do Irã, em Londres. Um exemplo de OEsp bem sucedida, este estudo de caso apresenta todos os requerimentos que a tornam até hoje o melhor exemplo de Operação Especial Contraterrorista. Em 30 de abril de 1980 um grupo de terroristas armados invadiu o edifício de nº 16 da Princess Gate, em Londres, onde estava estabelecida a embaixada do Irã. Os aterrorizados ocupantes do prédio de cinco andares foram rapidamente dominados. Os terroristas fizeram dezesseis funcionários iranianos (dos quais seis mulheres), oito visitantes, dois funcionários da BBC28, Chris Cramer (repórter) e Sim Harris (operador de som), que buscavam vistos de trabalho para o Irã, o motorista da embaixada Ron Morris e o agente de polícia Trevor Lock, do Grupo de Proteção Diplomática da Scotland Yard, que havia acabado de assumir o seu posto. A primeira pessoa que os terroristas encontraram pela frente foi Lock, que estava no lobby. Ele ficava entre as portas principais e um par de portas de segurança. Um dos terroristas agarrou-o, mas Lock conseguiu chutar a porta e fechar. Outro terrorista disparou contra o painel de vidro da porta e com isto ganharam acesso ao prédio. Um terceiro terrorista disparou uma rajada de metralhadora no teto. Poucas pessoas conseguiram escapar do prédio, dois saindo pela janela do fundo e outro saltando uma janela no andar térreo. O Dr. Ali Afrouz, encarregado de negócios da embaixada, pulou
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BBC (British Broadcasting Corporation), emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido, fundada em 1.922.
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uma das janelas do térreo, mas acabou se ferindo e foi arrastado pelos seqüestradores para dentro da embaixada novamente. Neste ínterim, Tevor Lock havia conseguido enviar uma mensagem à Scotland Yard. Isso fez com que várias unidades especializadas fossem imediatamente acionadas: os atiradores de elite da D11 da Polícia Metropolitana, conhecidos como "boinas azuis"; o C13, esquadrão antiterrorista; o Grupo de Patrulha Especial; e os membros da C7, a seção de apoio técnico da Scotland Yard. Estes últimos encarregaram-se do sofisticado equipamento de monitoramento que iria registrar tudo o que ocorresse no interior da embaixada. No meio da tarde, chegaram ao local alguns integrantes do SAS, em trajes civis, para um primeiro reconhecimento do futuro palco de operações, alertados por um veterano do SAS que trabalhava na polícia londrina. A Equipe Vermelha do CRW 29 do SAS, composta naquele momento pelo Esquadrão B foi acionada às 11h48min, 18 minutos depois da embaixada ter sido tomada. Exatamente naquele dia, este time estava treinando táticas de C.Q.B. 30 (combate em ambiente confinado), em sua base em Hereford. A equipe se deslocou até a Escola de Idiomas do Exército, em Beaconsfield, e lá aguardou por novas instruções. O cerco efetuado pela polícia londrina contava com um T.O.C. 31 , com uma equipe de gerenciamento de crises e negociação, um tradutor do idioma Farsi e um psiquiatra. As 14h35min do dia 30 de abril, a polícia recebeu pelo telefone as primeiras exigências dos terroristas. Eles se autodenominavam “Frente Revolucionária Democrática de Libertação do Arabistão”, uma província de etnia árabe localizada a oeste do Irã, com o nome oficial de Khuzistão. O líder e porta-voz dos terroristas, Awn Ali Mohammad, apelidado de “Salim”, fazia as seguintes exigências: a restauração dos direitos humanos para o povo do Arabistão, a liberdade, reconhecimento internacional e a autonomia da região, e a libertação de 91 prisioneiros políticos vítimas do regime do 29
Counter Revolutionary Warfare Squadron (CRW) ou Esquadrão de Guerra contra- revolucionária, unidade contraterror do Special Air Service (SAS) britânico, também conhecida como Unidade de Projetos Especiais do SAS, dividida em times Azul e Vermelho, foi criada em maio de 1972, com o objetivo de estabelecer uma doutrina de combate ao terrorismo em ações táticas especiais. 30 C.Q.B. (Close Quarter Battle), técnica de confronto em espaços confinados, propicia ao Operador vantagem tática no adentramento de estruturas e pequenos ambientes onde o confronto armado é iminente. 31 T.O.C. (Tactical Operations Center), ou Centro de Operações Táticas, local onde se centralizam todas as informações sobre a crise e onde se tomam as decisões e se realizam os planejamentos de ação.
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aiatolá Khomeini. Se as exigências não fossem atendidas até a tarde do dia 1º de maio, uma quinta-feira, a embaixada seria destruída por meio de explosivos juntamente com os reféns. O Khuzistão é uma região rica em petróleo, com uma longa história de revoltas contra a dominação do Irã, que anexou esta região em 1926. Os terroristas estavam a serviço do Iraque, que pretendia com isso causar problemas no instável governo islâmico do Irã, já que o Sadam Hussein tinha os seus próprios planos para o controle da região petrolífera do Golfo Pérsico. A equipe Vermelha foi deslocada para o Quartel de Regents Park, perto da embaixada, nas primeiras horas de 1º de maio. Lá foi construído um modelo em escala da embaixada iraniana, para que os homens se familiarizassem com cada detalhe do edifício. O SAS começou a trabalhar em um I.A.P. 32 para um possível Assalto de Emergência. O negociador Max Vernon foi instruído a gerenciar a crise e conduzir as negociações da forma mais lenta possível, visando obter-se o máximo de informações e inteligência possível, buscando uma estratégia de ação mais efetiva. O governo iraniano mostrou-se contra as exigências, afirmando ainda que os reféns considerariam uma grande honra morrer como mártires da revolução islâmica se preciso. O líder dos terroristas ao saber da posição do Irã, afirmou que estes lamentariam sua atitude. Isso aumentou ainda mais o estado de alerta geral. Às 11h20min, Salim, o líder dos terroristas libertou o primeiro refém, Chris Cramer, repórter da BBC. Este serviu de importante fonte para a coleta de dados e informes do layout interno da embaixada e a posição dos terroristas e reféns. Diante da recusa do Irã em libertar os 91 prisioneiros, os seqüestradores passaram a negociar sua saída da Inglaterra. Contudo, o governo britânico manteve-se intransigente quanto a esse ponto, negando-se a lhes conceder salvos-condutos. Ainda naquele dia Salim libertou uma mulher grávida. No dia seguinte as equipes do SAS ocuparam de forma silenciosa os prédios ao redor da embaixada.
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I.A.P. (Immediate Action Plan), ou Plano de Ação Imediata, O IAP é um plano básico de assalto, baseado em informações gerais recolhidas pela inteligência sobre o local do evento, perpetradores e posicionamento geral dentro da estrutura. É utilizado em situações de Assalto de Emergência, quando por algum motivo os perpetradores passam a neutralizar os reféns antes que o Plano Tático de Assalto completo e detalhado possa ser montado.
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As 12h50min um terrorista apareceu para pegar um pacote de comida na porta da frente. Os terroristas perceberam que só teriam comida se pedissem ou liberassem algum refém e a água e a eletricidade haviam sido cortadas. Os terroristas exigiam a intermediação de diplomatas de origem árabe, para que estes conseguissem sua extração segura do país. Alguns dias se passaram sem sucesso, e em 05 de maio de 1.980 as negociações não evoluíam. As exigências dos terroristas não eram atendidas e estes estavam cada vez mais frustrados. A recusa governamental em fazer concessões reduzira drasticamente a capacidade de barganha das autoridades policiais. As 11h40min o policial Trevor Lock, apareceu em uma janela para dizer que os terroristas começariam a atirar nos reféns se não tivessem notícias imediatas dos três embaixadores árabes que eles aguardavam para uma possível mediação e saída da embaixada. Tentando ganhar tempo, a polícia convenceu os terroristas a esperarem o noticiário do meio-dia da BBC. O informativo radiofônico, porém, causou pouca impressão aos terroristas. E os terroristas ameaçam que em pouco tempo iriam começar a matar reféns. As 13h31min ouviram-se três tiros no interior da embaixada. Os terroristas executaram o assessor de imprensa iraniano, em represália ao avanço lento das negociações. Às 18h20min, enquanto os terroristas estavam reafirmando as suas exigências com a polícia, ouviram-se mais três tiros, e às 18h50min, o cadáver do assessor de imprensa iraniano foi empurrado pela porta e abandonado na calçada. Os terroristas permitiram que o corpo fosse resgatado e após rápida autópsia, concluiu-se que a morte já havia ocorrido há algumas horas. A primeira-ministra Margaret Thatcher diante da situação autorizou o plano tático de invasão pelo SAS. A opção do uso da força havia sido tomada e a função dos negociadores seria a de desviar a atenção dos terroristas, oferecendo aos terroristas um falso salvo-conduto e um avião para retirá-los do país. A força de assalto do SAS foi dividida em quatro times. Dois grupos de quatro Operacionais entrariam por trás do prédio, através da descida de rapel. Um destes grupos desceria até o térreo do edifício, enquanto o outro grupo entraria pela sacada do primeiro andar, através de uma entrada explosiva. Um terceiro time de quatro homens entraria pela lateral do prédio, através da sacada do prédio vizinho.
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FIGURA 11 – 22th SAS CRW Operator – Iranian Siege – Operation Nimrod -- 1980
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O quarto time faria uma entrada explosiva através da parede que fazia limite entre a embaixada iraniana e a embaixada da Etiópia. Uma vez na embaixada, os quatro times tentariam libertar os reféns sem baixas. Catorze homens foram destacados para recepção dos reféns. Dois Operacionais fariam a cobertura da frente do prédio e outros dois cobririam os fundos. Tudo foi preparado para que o impacto da entrada, assim que percebida, fosse o maior possível. Todo o time tático estava vestido de preto, com máscaras contra gases (FIGURA 11). Foram utilizadas cargas explosivas, granadas de som e luz (flashbangs) e bombas de gás lacrimogêneo CS. Esta combinação de explosões, barulho, fumaça, velocidade de ação e a aparência dos Operacionais funcionou perfeitamente. Os negociadores da policia mantinham Salim ocupado ao telefone, resolvendo detalhes do translado de ônibus até o aeroporto. O líder terrorista alegou ouvir barulhos estranhos, mas os negociadores insistiram que não havia nenhum movimento policial ao redor da embaixada. As 19h23min uma carga explosiva foi detonada na clarabóia da embaixada em direção a escadaria, sinalizando o início da invasão. O time tático do SAS penetrou no edifício a partir de quatro P.O.E. 33. O assalto foi iniciado pela parte de trás do edifício. Descendo do telhado pela técnica de rapel, os dois primeiros Operacionais do SAS alcançaram o terraço nos fundos do prédio, mas não puderam realizar o M.O.E. 34 escolhido, a entrada explosiva, pois um dos Operacionais na descida ficou preso e impossibilitou a entrada do grupo pela via explosiva. A corda que prendia o operador do SAS foi cortada e este, depois de cair na sacada, juntou-se ao restante de sua equipe. Outros dois membros do SAS atingiram o balcão do primeiro andar foram forçados a realizar um arrombamento mecânico, com 33
P.O.E. (Point of Entry), ou ponto de entrada. Local definido pelo Time Tático como o ponto de adentramento na fortaleza assaltada. Durante o planejamento tático, o time de assalto define o seu P.O.E. e também o A.P.O.E. (Alternative Point of Entry), ou ponto alternativo de entrada, caso algo aconteça de forma errada e impeça a entrada do time tático pelo ponto inicialmente escolhido. 34 M.O.E. (Method of Entry), ou método de entrada. Forma escolhida pelo Time Tático para adentrar na fortaleza assaltada, podendo variar da forma silenciosa à dinâmica, com o uso de formas de arrombamento como a mecânica (uso de ferramentas), térmica (uso de maçaricos), balística (munições especiais frangíveis) ou explosiva (uso de cargas explosivas). Além do M.O.E. o Time Tático define o seu A.M.O.E. (Alternative Method of Entry), ou método alternativo de entrada, propondo uma forma alternativa de entrada no ambiente caso o primeiro método escolhido não possa ser utilizado por qualquer motivo.
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ferramentas de arrombamento, como previsto no A.M.O.E. 35 definido durante o planejamento tático. McMANNERS36 (2003) em sua descrição da Operação Nimrod, assim expõe o momento do assalto tático: At 7:23 pm, eight SAS men rappelled down from the roof to the first-floor balcony at the rear of the building. Frame charges were quickly fitted to the first-floor front windows and blown. The team threw in stun grenades and CS gas canisters, and then went inside. The SAS soldiers on the balcony at the rear were unable to detonate their frame charge because one man had become entangled in his rope. They were forced to use sledgehammers to gain entry. Stun grenades were thrown into the building, and then the SAS team went in, hunting for the terrorists before they could kill the hostages. The terrorist leader, Oan, was killed on the first-floor landing at the SAS soldiers made their way to the second-floor telex room where the hostages were being held. The three terrorists guarding them killed one of their captives and wounded two others, before all the gunmen were shot by the SAS. Two terrorists died immediately and another was wounded. Meanwhile, a terrorist was killed in the hallway near the front door, and another had been killed in an office at the back of the building. The one remaining terrorist was quickly captured. During the assault one hostage was killed and two were wounded, but the rest were unharmed. Operation Nimrod was regarded as a success and became a textbook assault that has been studied ever since by special forces´ teams across the world. Tradução do autor – Anexo 1.11 – página 184
FIGURA 12 – Iranian Embassy Assault 35
A.M.O.E. (Alternative Method of Entry), ou método alternativo de entrada, forma alternativa de entrada no ambiente, caso o primeiro método escolhido não possa ser utilizado por qualquer motivo. 36 McMANNERS, Hugh. Ultimate Special Forces. Dorling Kindersley Limited. 2003 ISBN: 1- 4053-0224-0
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Simultaneamente ao assalto pela parte de trás do edifício, outro time assaltava a frente do prédio, através de uma janela do primeiro andar, acionando uma forte carga explosiva que cobriu tudo com fumaça e poeira (FIGURA 12). Granadas de som e luz foram lançadas para dentro do ambiente, visando garantir ainda mais a superioridade relativa obtida pela ação choque da entrada explosiva. Operadores do SAS que realizavam o perímetro da embaixada lançavam gás lacrimogêneo dentro do prédio. Outro time também realizava uma entrada explosiva pela parede, através da embaixada da Etiópia, buscando com velocidade chegar até o segundo andar, na sala do telex, onde segundo as informações, concentravam-se uma parte dos reféns. Alguns dos terroristas tentaram se esconder entre os reféns, mas foram identificados e neutralizados. Os reféns foram extraídos para o quintal da embaixada, algemados e deitados para identificação. No meio deles, o SAS descobriu o terrorista Fowzi Badavi Najad, único preso com vida e condenado posteriormente à prisão perpétua. O assalto tático durou apenas 17 minutos, tendo o saldo de 05 terroristas mortos, 01 refém morto e 02 reféns feridos em um total de 19 reféns libertados com vida. 1.7. A guerra do Afeganistão e o terrorismo islâmico
Um pouco antes de tudo isso, em setembro de 1979, sob pretexto de cooperação militar, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (C.C.C.P) envia mais de mil homens ao Afeganistão. Eles preparariam o terreno para uma invasão soviética de grandes proporções, que se iniciou em dezembro do mesmo ano. Integrando esta força de ataque inicial, membros da UOEsp soviética Spetnaz 37 (FIGURA 13), utilizando uniformes do exército afegão invadiram as principais instalações públicas, o aeroporto de Kabul e o palácio do governo, assassinando o presidente Hafizullah Amin, em 27 de dezembro de 1979. Mas as principais características de uma UOEsp foram negligenciadas pelos soviéticos durante todo o conflito. Os Spetsnaz foram utilizados como uma unidade de infantaria leve, desperdiçando as principais vantagens como a liberdade e independência nas operações, a velocidade nos ataques e o efeito surpresa. Acabaram dependendo do 37
Spetsnaz, Unidade Soviética de Operações Especiais, ( C – C ), ou Voisca Spetsialnovo Naznatchênia, literalmente Unidade para Fins Especiais, criada acredita-se em 1945, logo ao término da II Guerra Mundial. Seu objetivo inicial era garantir uma invasão à Europa, durante o período da Guerra Fria, caso fosse necessário uma guerra em grande escala contra as forças da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
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emprego maciço de blindados e apoio aéreo, enquanto os Mujahadeen 38 empregavam técnicas de guerrilha, utilizando o terreno composto por montanhas, cavernas e ambientes inóspitos.
FIGURA 13 – Spetsnaz in Afghanistan – VOLSTAD, Ron - 1986
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Mujahadeen ou Mujahedin, (), no idioma pashtun, literalmente pessoas que fazem a Jihad ( , ou guerra santa. Os guerreiros Mujahadeen combateram os soviéticos na Guerra do Afeganistão (1979-1989) e agora combatem as forças norte-americanas e de coalizão desde a invasão em 2001.
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O pouco conhecimento ocidental sobre esta unidade soviética até então é expressado por LEEBAERT39 (2006): By this time, spetsnaz were becoming known in the West as the ‘Soviet SAS”, even though their existence was kept as secret as possible for a fighting organization of this size. Spetsnaz had no distinct uniforms, badges, or hats – let alone any PR – but instead a well-prepared offensive role, with weapons caches (including radio transmitters and suitably shabby clothes obtained from railway workers, forest rangers, and other locals) scattered around Western Europe should worse come to worst. Spetsnaz operations would have been able to attain a strategic level of impact inconceivable to the SAS and Green Berets – with a twist of twenty-first-century terror. Tradução do autor – Anexo 1.12 – página 185
A entrada soviética no Afeganistão trouxe o conseqüente apoio norte-americano aos guerrilheiros Mujahadeen (FIGURA 14), tanto em equipamentos, treinamentos e financiamento. A CIA 40 , através da Operação Ciclone, forneceu perto de 65 mil toneladas de armas e munições aos então rebeldes que lutavam contra os soviéticos, além da aplicação dispendiosa de 30 milhões de dólares por ano a partir de 1980, chegando a 630 milhões de dólares por ano em 1987. Apoiando o governo do Paquistão, a “Agência” recrutou inúmeros fundamentalistas árabes de diversos países, para que, incorporados aos Mujahedeen, lutassem visando à expulsão dos soviéticos do Afeganistão. RASHID 41 (2001), em seu trabalho sobre os militantes islâmicos que deram origem ao Talibã, assim denunciou: In 1982, Pakistan’s intelligence agency, the ISI, begins its program to recruit Arab fundamentalists fighters from across the Arab world to fight against the Soviets in Afghanistan. Tradução do autor – Anexo 1.13 – página 185
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LEEBAERT, Derek. To Dare and to Conquer: Special Operations and the Destiny of Nations, from Achilles to Al Qaeda. Back Bay Books. 2006. ISBN: 0-316-14384-7 40 CIA (Central Intelligence Agency) ou Agência Central de Inteligência, órgão de inteligência estatal norte-americano, fundada em 1947, sucessora da OSS (Office of Strategic Services) que atuou durante a II Guerra Mundial. Suas atribuições são executar o monitoramento de inteligência estrangeira, executar atividades de contra-inteligência, pesquisa e desenvolvimento de tecnologia para propósitos de inteligência, análise de dados de inteligência, assessorando o Presidente ou as forças armadas norte-americanas. Também atua em ações anti-terrorismo, combate ao crime organizado e tráfico de drogas internacional, analisando e monitorando ainda agressões ao meio-ambiente, ou outros tópicos que afetem a segurança nacional. 41 RASHID, Ahmed. Taliban: Militant Islam, Oil and Fundamentalism in Central Asia. Yale Nota Bene Books. 2001. ISBN: 978-0300089028
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FIGURA 14 – Mujahedeen Fighters – VOLSTAD, Ron - 1986
Este programa desenvolvido pela CIA contou com o apoio dos serviços de inteligência de países como a Inglaterra através do MI6, Egito, Arábia Saudita, China e Israel, que também contribuíram como intermediários na distribuição de fundos, armamentos, treinamento militar e apoio direto. Durante o governo do Presidente Ronald Reagan, os Estados Unidos da América transformaram esse apoio em política externa. A chamada Doutrina Reagan preconizava que os EUA deveriam fornecer assistência militar a movimentos anti-comunistas, onde quer que estes estivessem. 42 Assim, pode-se observar a intromissão norte-americana em países como Nicarágua, Panamá, El Salvador, Angola, além do Afeganistão. 42
Reagan Doctrine: The "Reagan Doctrine" was used to characterize the Reagan administration's (1981-1988) policy of supporting anti-Communist insurgents wherever they might be. Consultado em 01/12/2010. Disponível on line: US Department of State. Office of the Historian (http://history.state.gov/milestones/1981-1989/ReaganDoctrine)
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Uma vez estabelecida como Doutrina, as atividades de OEsp Militares do período foram intensificadas com a efetiva aplicação do Ciclo completo de Operações Especiais: Treinar, Operar e dar treinamento. Os mesmos “rebeldes” que neste período, quando apoiados pelos norteamericanos, eram intitulados “Guerreiros da Liberdade”, mais tarde, quando comandados por Osama Bin Laden e responsáveis por inúmeros ataques aos próprios Estados Unidos, tiveram suas ações intituladas como “terroristas”. O jornalista australiano John Pilger, em sua reportagem investigativa para o jornal The Guardian43, assim expressou: Eight years earlier, CIA director William Casey had given his backing to a plan put forward by Pakistan's intelligence agency, the ISI, to recruit people from around the world to join the Afghan jihad. More than 100,000 Islamic militants were trained in Pakistan between 1986 and 1992, in camps overseen by the CIA and MI6, with the SAS training future al-Qaida and Taliban fighters in bomb-making and other black arts. Their leaders were trained at a CIA camp in Virginia. This was called Operation Cyclone and continued long after the Soviets had withdrawn in 1989. Tradução do autor – Anexo 1.14 – página 185
Aproximadamente 35 mil muçulmanos radicais de 43 países lutaram como guerreiros Mujahedeen. Mais de 10 mil outros estudaram em centenas de escolas denominadas “madrassas” (escolas islâmicas) fundadas pela CIA no Paquistão. Sua base principal ficava na cidade paquistanesa de Peshawar. Um dos grandes recrutadores de guerreiros para a causa afegã foi Osama Bin Laden44, filho de um dos homens mais ricos da Arábia Saudita. A função de Bin Laden era auxiliar a CIA e a ISI Paquistanesa na convocação de guerreiros islâmicos que engrossassem as fileiras Mujahedeen. Em 1987, Bin Laden determinou que seu irmão Mohammed Jamal Khalifa viajasse às Filipinas a fim de recrutar cerca de 1.000 guerreiros para a causa. O resultado deste recrutamento foi a criação, por Abdurajak Janjalani, anos depois, do grupo terrorista Abu Sayyaf, em 1991.
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PILGER, John. The Guardian. What good friends left behind. Saturday 20 September 2003. Disponível on line: http://www.guardian.co.uk/world/2003/sep/20/afghanistan.weekend7. Consultado em 01/12/2010 44 Osama Bin Laden ( ), ou Usamah Bin Muhammad bin´Awaed bin Ladin, líder e fundador da organização fundamentalista islâmica terrorista internacional Al Qaeda ( ) , de origem saudita, é considerado hoje o homem mais procurado do mundo, por suas participações e organização de diversos atentados terroristas, dentre eles o World Trade Center em 11/09/2001.
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Este grupo tornou-se um dos mais violentos e radicais do mundo, aproveitando todo o treinamento obtido através da CIA e da ISI para atacar cristãos, fazendeiros, comerciantes e o governo das Filipinas. Ironicamente, os esforços americanos de luta contra o comunismo acabaram por treinar homens que se voltaram contra os Estados Unidos da América e seu “mundo livre”. Com o término da guerra contra os soviéticos, os Mujahedeen retornaram a Peshawar no Paquistão a ponto de dominá-la totalmente. Os campos de treinamentos continuavam funcionando, criando guerreiros do Islã para outros conflitos. Surgia o movimento Talibã45, que acabaria por tomar Cabul anos mais tarde e instituir, em 1996, um governo teocrático depondo o Presidente Burhanuddin Rabbani, ele mesmo um ex– Mujahedeen. A doutrina Reagan também teve reflexos na América latina. No Panamá, com o apoio da CIA, o general Manoel Antonio Noriega toma a poder após coordenar um golpe de estado contra o governo do presidente Arnulfo Arias. Noriega passa a envolver-se com o Cartel de Medellín 46 , transformando o Panamá em uma narcocracia 47. Esse envolvimento gerou conflitos com os interesses norte-americanos, que passaram a opor-se ao governo Noriega. Apoiado pela CIA, um grupo passa a efetuar transmissões via rádio ao povo panamenho, exortando a luta contra a ditadura Noriega. Um americano de nome Kurt Muse é responsável pelas transmissões, interrompendo um discurso do general Noriega durante um comício, substituindo-o por uma gravação de dois minutos sobre liberdade e democracia no Panamá. Noriega determina que se encontrem os conspiradores. Obtendo apoio de especialistas da Alemanha Oriental e de Cuba, os transmissores são localizados Kurt Muse é preso e acusado de espionagem. Enviado para a Prisão Modelo na cidade do Panamá, é mantido encarcerado por quase nove meses, até que seu resgate fosse autorizado pelo Presidente George Bush. 45
Taliban ( ), cuja tradução literal é “estudantes”, é um movimento fundamentalista islâmico nacionalista, difundido no Paquistão e Afeganistão a partir de 1994. Governou o Afeganistão como regime estatal de 1996 a 2001, intitulando-se Emirado Islâmico do Afeganistão, impondo a lei islâmica Shariah ( ). 46 Organização criminosa com sede na cidade de Medellín, na Colômbia, que dominou o tráfico de drogas nas décadas de 1970 e 1980. Teve como maior representante o traficante internacional Pablo Escobar. 47 Narcocracia: Forma de governo patrocinada por narcotraficantes ou que se apóia no tráfico internacional de drogas.
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Segundo HUNTER48 (2006), em seu artigo sobre a Operação de Resgate de Kurt Muse, o governo americano determinou o emprego da UOEsp Força Delta (FIGURA 15). A operação foi chamada de Acid Gambit e depois de treinamentos intensos, um plano tático foi feito incluindo o uso de helicópteros e explosivos: Initial planning for the operation had begun at Fort Bragg, North Carolina. Delta Force finalized mission-specific preparation for the rescue at a remote training facility located on the grounds of Eglin Air Force Base, Florida. To enhance the ability of the assault team to penetrate the heavily guarded prison, a full-scale, three-story mock up was built. Its specific features were updated by reports from those military personnel who were permitted to visit Muse in his cell. In this way, it was possible to rehearse the mission in total secrecy and in great detail. It was here that intensive live-fire mission rehearsals were conducted. The plan, designated Operation Acid Gambit, was simple, at least in theory. Aviation support would be provided by MH-6 "Little Birds" from the 160 th Special Operations Aviation Group. This agile, unarmed helicopter, a relative of the OH-6 observation helicopter used in Vietnam, was specially outfitted with outboard "benches" designed to ferry up to three commandos on each side. Painted black to facilitate nighttime operations, the small aircraft could conduct rapid insertions and extractions of special operations forces into areas its larger brother, the MH-60 Black Hawk, could not. This same assault package combined with MH-60s’s from the 160 th , would also be tasked with the apprehension of Manual Noriega himself, in an operation code named ‘Nifty Package. Via this method, the assault team would land on the roof of the prison, make an explosive entry through an unattended entryway, and fight their way down to Muse’s cell on the second floor. En route, they would neutralize any opposition, knowing that highest on their list was the guard assigned to kill Muse. They would then retreat with Muse back to the roof, reboard the helicopter, and make their escape. A Delta sniper team would also be in place near the prison to neutralize any guards positioned outside the facility. Finally, aerial fire support would be provided by two AH-6 "Little Bird" attack helicopters and two AC-130H "Spectre" gunships. These were to attack predesginated targets (pre-planned Close Air Support) as well as remain available for any calls for assistance. The Rescue
Upon hearing the sounds of gunfire (not from the snipers, but from an attack on a PDF bus across the bay in Fort Amador) Muse awoke with a start. As the heavy caliber, staccato shooting continued, he realized that something out of the ordinary was occurring and quickly grabbed his clothes. As the remainder of an estimated sixty rounds barked through the humid night air, he made his way to the floor of his bathroom, and peered around the corner to see anyone who might be coming to his cell. As quickly as it had started, however, it was over. Everything within the prison went silent. Muse then heard the familiar sound of combat boots running up the steps. He realized then that these footsteps might be those of the men who were going to kill him. The men did not open his cell, however, but instead ran towards the officers quarters across from his cell. Muse listened as the PDF guards frantically explained to their captain that something was going on outside. The officers immediately raced downstairs with the soldiers and began to defend the prison.
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HUNTER, THOMAS B. Operation Acid Gambit: The Rescue of Kurt Muse. Journal of Counterterrorism & Security International. 2006
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Almost immediately, the four Little Birds, each with four commandos aboard, touched down on the roof of the prison. The assault element raced off the outboard pylons and towards the cupola. The door from the roof to the interior of the prison was quickly opened with a massive blast of explosive charges, and the team quickly made its way down to the second floor. At least two and possibly three guards were killed in the few seconds it took for the team to race down two flights of stairs to Muse’s cell. The four MH-6’s, their cargo delivered, flew north where they maintained a holding pattern and awaited the team’s call for extraction. Inside the prison, Muse listened to the sounds of battle as explosions and small arms barked out. Smoke began to fill the air, and then he noticed something. Thin, white beams from the small flashlights mounted beneath the assault teams’ weapons beamed through the darkness, reflected by the smoke. An American voice barked through the haze, directing Muse to take cover. Muse ducked and moments later a small explosion blasted the door open. A heavily armed Delta operator, clad from head to toe in black protective assault gear, rushed in and assisted Muse in putting on a Kevlar helmet and flak vest. This done, he ushered Muse out of his cell and the two moved quickly upwards towards the roof. Passing a desk, Muse noticed that the man assigned to kill him was dead. Muse also noticed, to his amazement, that one guard had actually not been killed, but instead had been bound and left on the floor, cowering in the fetal position. This guard had proven wiser than many of his compatriots - he had not resisted the rescuers, and thus was not killed outright. Once on the roof, More commandos emerged and they all took their positions on their helos, and promptly lifted off. One element of the team would be stranded here for a time until a Black Hawk could come and retrieve them. Muse was placed in a protective location, between two Delta operators. Immediately, however, one of the two pilots on board Muse’s MH-6 noticed through his night vision goggles that power lines were directly in front of them. He immediately pulled up and over the lines, however the demands on the heavily laden aircraft caused it to quickly lose altitude and, for a moment, it appeared that the Little Bird would crash headlong into the street some sixty feet below. In a remarkable feat of flying skill, the pilots managed to avoid catastrophe and kept their aircraft aloft. Yet, so damaged was the MH-6, that the pilot could maintain only a few feet of altitude. Thus, he ended up "driving" the helicopter down a narrow street, trying to put distance between themselves and the prison. Landing briefly at a courtyard between two apartment buildings, the pilot then attempted to take off once again. This effort paid off for a short time, however just moments later they were again struck by bursts of gunfire. The Little Bird careened off a wall and crashed onto the street a short distance away and collapsed onto its right side as its occupants bailed out the few feet to the ground. As Muse and his bodyguard exited the helicopter, however, one of the still-turning rotor blades struck the commando in the head, knocking him to the ground. Amazingly, the Delta operator, his face covered with blood, regained consciousness and immediately checked to ensure Muse had not been injured. He then led Muse into the ground floor of an adjacent apartment building to seek a more secure location out of any potential line of fire. Taking up a defensive perimeter near an abandoned jeep, the Delta team, with several of its members seriously injured by gunfire and the crash landing, positioned Muse in the safest possible location, and prepared to return fire against the enemy. Muse, trained in the use of small arms from his days in the Army, asked for a weapon to assist in returning fire, and was given a pistol by one of the operators. This team held this position in the street for approximately fifteen minutes until when, utilizing an infrared strobe light, the team managed to signal aircraft flying overhead. With their position fixed, then transmitted to a nearby US Army patrol, it was armored personnel carriers soon appeared to extract the team.
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The Delta Force, 160 th Special Operations Aviation Group and AFSOC Spectre Gunship team had successfully rescued Kurt Muse from certain death at the hands of his Panamanian captors. In so doing they became the first American counterterrorist team ever to rescue an American hostage from enemy hands. Tradução do autor – Anexo 1.15 – página 185
FIGURA 15 – Delta Force Operator – VOLSTAD, Ron – 1991
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O resgate coberto de sucesso, mesmo diante de alguns contratempos, demonstrou mais uma vez a competência da UOEsp Força Delta em situações de resgate de reféns. Essa expertise já havia contribuído para o treinamento e a formação do Time de Resgate de Reféns do FBI, o HRT 49. O reflexo de outro conflito, a luta de oito anos entre o Irã e o Iraque 50, iniciada em 1980 gerou uma crise ainda pior. Saddam Hussein sentiu-se traído pelos aliados norte-americanos durante a revelação do caso Irã-contras, quando o Presidente Ronald Reagan autorizou a venda secreta de armas ao Irã, então inimigos dos Iraquianos apoiados pelos Estados Unidos, visando utilizar os recursos dessa venda para investir nos guerrilheiros anti-sandinistas na Nicarágua. Pressionando o governo do vizinho Kuwait, alegando que o Iraque havia impedido que os iranianos os invadissem, Saddam exigiu o perdão de uma dívida de dez bilhões de dólares contraída durante a guerra, o pagamento de uma compensação de dois bilhões e quatrocentos milhões de dólares sob a alegação de que o Kuwait havia extraído petróleo de campos Iraquianos na região fronteiriça da Rumalia e o término da política Kuwaitiana de superextração do petróleo, que estaria prejudicando a economia iraquiana. Diante das infrutíferas negociações, Saddam Hussein determina a invasão do Kuwait, em agosto de 1990. Uma coligação de forças comandadas pelos norte-americanos, em conjunto com países ocidentais como a Grã-Bretanha, a França e a Itália, e países árabes como o Egito, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes promoveu um cerco ao Iraque. Em 17 de janeiro de 1991 foi desencadeada a Operação Tempestade do Deserto. As forças da coalizão usaram maciços bombardeios contra as posições do inimigo no Kuwait e no Iraque. Somente após o completo domínio aéreo, a ofensiva terrestre começou, com um exército de meio milhão de soldados. Em poucas semanas, toda a infraestrutura do Iraque já estava comprometida, com a total ausência de rede de comunicação, a destruição dos depósitos de armamentos e dos prédios públicos. Em 28 de fevereiro de 1991 o Presidente George Bush declarou o cessar fogo, o que foi aceito 49
HRT (Hostage Rescue Team), unidade de Operações Especiais no formato SWAT do FBI (Federal Bureau of Investigation), fundada em 1982 pelo Agente Especial Danny Coulson, 50 A guerra entre o Irã e o Iraque foi um conflito militar que durou de 1980 a 1988. Por disputas territoriais na região do canal de Shatt Al Arab, o Iraque governado por Saddam Hussein e apoiado pelos Estados Unidos da América invadiu a região ocidental do Irã. A guerra durou oito anos e terminou com um cessar fogo e finalmente um armistício em 15 de agosto de 1988, com o auxílio da ONU.
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pelos Iraquianos em abril do mesmo ano. A independência do Kuwait foi restaurada, mas os embargos ao Iraque declarados pela ONU se tornaram ainda mais severos. Durante todo o conflito no Golfo as Unidades de Operações Especiais desempenharam missões de reconhecimento, busca e destruição. McMANNERS 51 (2003) relata que os Operadores da Força Delta foram enviados para a Arábia Saudita como parte da Joint Special Operations Task Force (JSOTF) em fevereiro de 1991. Sua principal missão era localizar alvos no Iraque, particularmente lançadores de mísseis Scud e providenciar a orientação destes alvos para as forças de ataque aéreo. Os Deltas eram inseridos durante a noite, através de helicópteros MH-60 Blackhawks e MH-47E Chinook, em áreas isoladas do deserto. Moviam-se somente durante a noite, visando não serem descobertos. Ao localizar as baterias de mísseis, as coordenadas eram transmitidas e o ataque aéreo era lançado. Muitas vezes, os Operadores utilizavam instrumentos de designação de alvo à laser, para que mísseis teleguiados pudessem acertar seus alvos. Durante este período as Operações Especiais de natureza militar concentraramse basicamente na eliminação de alvos estratégicos e na busca e neutralização de objetivos de alto risco. Os fundamentalistas muçulmanos discordaram das atitudes agressivas dos países ocidentais diante dos problemas do oriente médio. Para o fundamentalismo islâmico, esta política opressiva visa submeter o Islã aos interesses dos países cristãos e de Israel. Para eles, diante da impossibilidade dos Estados Árabes seculares (Egito, Síria, Iraque, Líbia) fazerem frente ao imperialismo norte-americano e o sionismo de Israel, os fundamentalistas assumiriam o papel de defensores das terras do Profeta Maomé, aderindo à estratégia do Terror como meio de luta. A antiga retórica nacionalista de defesa da economia destes países pelo domínio do petróleo e a sua independência política foi substituída pela pregação religiosa e o apego à Jihad. No início da invasão Iraquiana no Kuwait, Osama Bin Laden retornou do Afeganistão a Arábia Saudita e ofereceu os serviços de seus Mujahedeen ao Rei Fahd, como uma forma de proteção contra o avanço iraquiano. O rei recusou a oferta e optou pelo apoio norte-americano e a instalação das tropas da coalizão em território saudita. 51
McMANNERS, Hugh. Ultimate Special Forces. Dorling Kindersley Limited. 2003 ISBN: 1- 4053-0224-0
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Bin Laden considerou a decisão um ultraje. Ele acreditava que a presença dos infiéis ocidentais nas terras sagradas de Meca e Medina profanariam aquele solo sagrado. Ao criticar publicamente a decisão do rei saudita, Bin Laden foi exilado e teve sua cidadania revogada. A organização Frente Nacional Islâmica do Sudão convidou Osama Bin Laden a desenvolver suas operações naquele país. Lá ele travou contato com outros grupos radicais islâmicos e gradualmente foi influenciado a ampliar seus inimigos, considerando combater contra xiitas, judeus e ocidentais de uma forma geral. Em um período de consolidação financeira, Bin Laden gerenciou vários negócios de importação e exportação, fazendas e empresas de construção. Foi então que a organização fundada por Osama Bin Laden em 1988 ganhou mais força. A Al Qaeda 52 montou campos de treinamento no Sudão para preparar os novos guerreiros do Islã. Em 1995, a organização Jihad Islâmica do Egito, comandada pelo também fundador da Al Qaeda Sheikh Ayman Al-Zawahiri, atenta contra a vida do Presidente do Egito, Muhammad Hosni Sayyid Mubarak. A ação contou com o apoio da Al Qaeda, mas a tentativa de assassinato fracassa e o governo do Sudão, diante das pressões dos países árabes decide expulsar Osama Bin Laden do país, apropriando-se de seu patrimônio, dilapidando suas empresas e fazendas. A fuga de Bin Laden do Sudão foi uma operação bem planejada e executada, tendo o mesmo fugido para Jalalabad no Afeganistão com 200 de seus seguidores, no final de 1996. Protegido no Afeganistão, Bin Laden passou a dedicar-se em tempo integral à causa islâmica, tornando-se amigo e confidente do Mulá Mohammed Omar, líder supremo do governo Talibã. Ali, Bin Laden passa a planejar e coordenar ataques de grande repercussão às embaixadas norte-americanas na Tanzânia e no Quênia, além do atentado ao navio de guerra USS Cole, no porto de Aden, no Iêmen, em 2000. O maior atentado planejado e coordenado pela Al Qaeda e Osama Bin Laden foi o ataque às torres gêmeas do World Trade Center (FIGURA 16), na cidade de Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001.
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Al Qaeda ( ), organização fundamentalista islâmica terrorista internacional fundada por Osama Bin Laden provavelmente no ano de 1988, como uma dissidência da MAK ( ) ou Maktab Al-Khadamat, Bureau de Serviços Afegãos, criada para arrecadar fundos para a guerra contra os soviéticos no Afeganistão.
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FIGURA 16 – Flight 175 an instant before it hits the WTC South Tower. Associated Press. 2001
O grupo de terroristas tomou o controle de três aviões de passageiros e os lançou contra as torres e o pentágono, sede do poder militar norte-americano. Esta ação deu início a Guerra ao Terror implementada pelo governo do Presidente George W. Bush que culminou com a invasão militar do Afeganistão e do Iraque, e a queda do Presidente Saddam Hussein. Depois deste atentado, as Operações Especiais e de Contraterror nunca mais foram as mesmas.
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1.8. O Brasil e as Operações Especiais
A história das Operações Especiais no Brasil, está vinculada desde o princípio, às técnicas de UOEsp Militares. PINHEIRO53 (2005) relata o resgate, em 1953, dos destroços de um acidente aéreo ocorrido em plena Amazônia, quando a diretoria de rotas aéreas do Ministério da Aeronáutica verificou a necessidade de uma unidade de prontidão que pudesse empreender missões de busca e salvamento, diante da inexistência, à época, de um organismo que o fizesse. Diante de tal ocorrência, uma equipe foi integrada emergencialmente por oficiais e sargentos pára-quedistas do Exército e da Força Aérea, para desempenhar a tarefa. O primeiro Curso de Operações Especiais em terras brasileiras foi iniciado em 2 de dezembro de 1957, em uma iniciativa do então Major pára-quedista Gilberto de Azevedo e Silva, e foi o embrião do futuro Curso de Operações na Selva, Ações de Comandos e Forças Especiais. O apoio norte-americano veio em 1961, quando um grupo de oficiais e sargentos possuidores do Curso de Operações Especiais brasileiro efetuou intercâmbio realizando visitas às UOEsps do Exército dos Estados Unidos da América, notadamente nos Fortes Benning na Geórgia (sede dos Rangers) e Bragg na Carolina do Norte (sede dos Boinas Verdes). Este contato foi importante para a definição da doutrina de Operações Especiais no Exército Brasileiro, e em 1966 o Curso de Operações Especiais, conduzido em 24 semanas, desmembrou-se em Curso de Comandos, com 09 semanas, a partir do Ranger Course norte-americano e no Curso de Forças Especiais, este com 21 semanas de duração. Em 1968 foi criado o Destacamento de Forças Especiais (FIGURA 17), já com doutrina própria, em uma evolução que mesclava conhecimentos dos cursos de guerra na selva e pára-quedista militar do Exército brasileiro e dos cursos de Ranger e Special Forces do Exército dos Estados Unidos da América.
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PINHEIRO, General de Brigada Álvaro de Souza. As Operações Especiais no Exército Brasileiro. Revista Tecnologia & Defesa. Suplemento Especial nº13, ano 22. Tecnodefesa Editorial Ltda. 2005.
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Figura 17 – Forças Especiais - Revista Tecnologia & Defesa. Suplemento Especial nº13, ano 22.
As Forças Especiais do Exército brasileiro foram empregadas durante o regime militar, de 1964 a 1985, em operações de combate a guerrilheiros e grupos considerados subversivos, em ações de espionagem, repressão, busca e destruição, dentre outras.
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Diante das novas mudanças mundiais e dos conflitos envolvendo o terrorismo, em 27 de junho de 2002, através do Decreto nº 4.289, foi criada a Brigada de Operações Especiais (BdaOpEsp), à época com sede no Rio de Janeiro. Em 2003, por questões estratégias, a Brigada teve sua sede alterada para a cidade de Goiânia (GO). A Brigada de Operações Especiais foi empregada a partir de 2004, na MINUSTAH54, com o objetivo de pacificar os bairros mais violentos de Porto Príncipe, capital do Haiti. As UOEsps Policiais no Brasil também sofreram influências militares. Mas a primeira Força Policial com características de UOEsp, segundo MAGALHÃES 55 teria sido o GOE do antigo Estado da Guanabara, no ano de 1969. O Grupo de Operações Especiais (GOE) foi criado na Secretaria de Segurança Pública do antigo Estado da Guanabara pela Portaria “E” n°. 947, de 4 de julho de 1969, por inspiração do inspetor de polícia e primeiro encarregado do grupo, José Paulo Boneschi. Foi constituído por policiais especializados na doutrina da época, com a missão de apoiar as demais unidades policiais civis de todo o Estado. Deveriam possuir espírito de equipe em alto grau, treinamento em operações do tipo “ações de comandos”, dominarem as técnicas de desativação e desmontagem de artefatos explosivos, bem como completo conhecimento do armamento existente em território nacional, além da formação em alpinismo militar, operações helitransportadas e artes marciais. O desempenho bem sucedido desse primeiro grupo integrado por apenas doze homens fez com que o governo decidisse ampliá-lo e pelo decreto de agosto de 1971 criou o Serviço de Recursos Especiais (SERESP) no Ponto Zero (Benfica) e prefixo de rádio Falcão. A sede dessa unidade era conhecida como Base Falcão e as viaturas operavam como Falcão IV até Falcão X. Integrada por trinta e oito policiais, alguns com o Curso de Comandos, pára-quedismo, entre outros, estava subordinada à Superintendência de Polícia de Segurança da SSP e posteriormente ao Departamento Geral de Investigações Especiais (DGIE) da Polícia Civil. O SERESP tinha, além da Unidade de Operações Especiais propriamente dita, um grupo especializado em 54
MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), iniciada em 01 de junho de 2004, tendo o seu comando militar (Force Commander) coordenado por um General brasileiro. 55 MAGALHÃES, Paulo. A polícia na história do Brasil: Homenagem aos 200 anos da Polícia Civil – 1808/2008. Associação de Defesa ao Direito do Cidadão à Verdade.2008. ISBN: 978-85- 61572-00-6
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desativação de artefatos explosivos, uma unidade de recursos cine-fotográficos e uma unidade de recursos eletrônicos, sendo que todos os integrantes, não obstante estarem disponibilizados nas diversas unidades, eram formados em Operações Especiais. Recebeu ainda outras denominações, depois da fusão do Estado da Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro: Divisão de Operações Especiais (DOE), Serviço de Apoio Operacional (SAO), Coordenadoria de Apoio Operacional (CAO), Coordenadoria de Inteligência e Apoio Policial (CINAP) e, finalmente, Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), cuja resolução normativa foi desenvolvida pelo Delegado de Polícia Márcio Franco de Mendonça, contando na sua atual estrutura organizacional com um Esquadrão Antibomba, o Serviço de Recursos Especiais, o Serviço de Apoio Operacional, o Serviço Aéreo Policial (helitransportado), o Serviço de Planejamento Operacional e uma Unidade de Cães. A Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) (FIGURA 18) é uma unidade especial da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro destinada à intervenção policial em ocorrências que exijam excepcional adestramento, pela complexidade do trabalho e riscos que envolvem. Seus integrantes são policiais civis voluntários, selecionados e especializados, com o objetivo de apoiar as atividades operacionais da Polícia Civil do Rio de Janeiro, tendo como valores o destemor, a prudência, honestidade, o companheirismo e a fidelidade com a sua instituição e a sociedade.
FIGURA 18 – Brasão da CORE em (http://www.core.pcerj.rj.gov.br)
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Já a unidade de Operações Especiais da Policia Militar do Rio de Janeiro, iniciou-se com a formação de um Núcleo da Companhia de Operações Especiais (NuCOE), implantada através da iniciativa do então Capitão PM Paulo César Amêndola de Souza, considerado mais tarde como o Caveira 01 56, ao então Comandante-Geral da PMERJ, Coronel Mário José Sotero de Menezes em 19 de janeiro de 1978, pelo Boletim da Polícia Militar n° 014 de mesma data. Este Núcleo inicialmente funcionava nas instalações do CFAP-31 e era composto por policiais militares voluntários e teve como primeiros integrantes, além do Capitão Amêndola, o Capitão PM Paulo César e o Aspirante PM Camargo. Ambos, na época, serviam no 19º. BPM de Copacabana. Para completar o quadro da COE, foram convocados policiais militares lotados no então SERESP, já treinados em Operações Especiais. Nesta época, a Unidade era subordinada operacionalmente ao Chefe do Estado-Maior da PMERJ.
FIGURA 19 – Brasão do Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro em (www.policiamilitar.rj.gov.br/bope) 56
Caveira, designação dada ao graduado em um COEsp (Curso de Operações Especiais), normalmente de características militares e alguns baseados na doutrina de Comandos, variando entre 08 a 16 semanas.
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Em 1982, uma resolução publicada no boletim da PM n° 33, de 07 de abril, assinada pelo então Comandante Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, General Nilton Cerqueira, transferia o Núcleo da Companhia de Operações Especiais para as instalações do Batalhão de Polícia de Choque, integrando-o ao referido batalhão e designando a Unidade como Companhia de Operações Especiais – COE. Em 01 de março de 1991, através do Decreto n° 16.374 foi criado o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) (FIGURA 19), que somente teve sede própria em 2000, localizada no Morro do Pereirão, bairro de Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro. Outros organismos policiais brasileiros também tiveram a iniciativa de criar suas UOEsps. No Departamento de Polícia Federal (DPF) não foi diferente. Segundo BETINI e TOMAZI57 (2009), a idéia de fundar um grupo de Operações Especiais no DPF surgiu em 1983, quando uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, responsável por apurar atos de terrorismo no país e preocupada com a evolução destas ações, recomendou ao Ministério da Justiça a especialização de um grupo de policiais federais no combate a crimes dessa natureza. Já no ano seguinte, o DPF iniciou estudos neste sentido, incumbindo o Delegado de Polícia Federal Raimundo Cardoso da Costa Mariz da implantação deste grupo. Foi somente em 1987 que o projeto de formação do grupo foi apresentado, sendo constituído e denominado como Comando de Operações Táticas (COT). Em março de 1990 o COT passou a fazer parte do organograma oficial do Departamento de Polícia Federal, com sua sede construída no Setor Policial Sul, em Brasília, DF. As atribuições do COT foram definidas no artigo 19 da Instrução Normativa nº 013/2005, que dentre outras medidas, propõe ao COT a coordenação, planejamento e execução de ações táticas especiais no âmbito das operações conduzidas pela Polícia Federal, realizar intercâmbios com outras instituições policiais estrangeiras e colaborar com a Academia Nacional de Polícia (ANP/DGP) no ensino de disciplinas de sua atribuição. Observa-se portanto, nesta instrução normativa, o cuidado em apontar o ciclo completo das Operações Especiais na missão atribuida ao grupo: TREINAR, OPERAR e DAR TREINAMENTO.
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BETINI, Eduardo Maia e TOMAZI, Fabiano. COT: Charlie, Oscar, Tango: Por dentro do grupo de operações especiais da Polícia Federal. São Paulo. Editora Ícone. 2009. ISBN: 978-274- 1064-9
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O COT (FIGURA 20) atua em todo o território brasileiro, nas mais diversas áreas das Operações Especiais. Da retomada de embarcações e aeronaves, no gerenciamento de crises e negociação, combates em áreas restritas, retomada de edificações, retomada de trens, metrôs e ônibus, crises com reféns, controle de distúrbios civis, operações em áreas rurais e urbanas, segurança de dignitários, ações contraterror e combate em áreas de alto risco.
FIGURA 20 – Brasão do COT – (foto do autor)
Alguns estados brasileiros sentiram a necessidade do emprego de UOEsps depois do fracasso em operações policiais mal sucedidas. DOMINGUES58 (2010, comunicação pessoal/entrevista) relata o surgimento do COE (Comandos e Operações Especiais) da Polícia Militar do Estado do Paraná, após uma ocorrência desastrosa no ano de 1987, durante um assalto a banco na cidade de Goioerê. Dois assaltantes mantiveram por seis dias diversos reféns dentro de um banco e diante da impossibilidade tática e técnica e ausência de meios para detê-los, acabaram fugindo. Coube ao então Major PM Valter Wiltemburg Pontes solicitar ao Comandante do Policiamento da Capital (CPC) Coronel PM Wilson Odirley Valla, a autorização para a criação de um grupo nos moldes das equipes SWAT norte-americanas. 58
DOMINGUES dos Santos, 1º Sargento PM Amarildo José, Caveira 08, COE PM/PR
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A Unidade iniciou com 35 policiais voluntários, que foram designados para o 4º Pelotão da Companhia de Polícia de Choque, e foram selecionados através de um treinamento intenso, buscando retirar do grupo os que não mostravam o comprometimento devido. Após a primeira fase de seleção, o COE (FIGURA 21) foi oficialmente ativado em 04 de julho de 1988, ainda vinculado a 1ª. Companhia de Polícia de Choque. Atualmente, transformado em Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE PM/PR), possui como subunidades o Canil, Comandos e Operações Especiais (COE) e Rondas Ostensivas de Natureza Especial (RONE).
FIGURA 21 – Brasão do COE PM/PR Em (http://www.policiamilitar.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=775)
Da mesma forma, a Polícia Civil do Estado do Paraná sentiu a necessidade da criação de uma Unidade de Operações Especiais, diante de inúmeras ocorrências de seqüestro no ano de 1989. SUSAKI
59
(2010, comunicação pessoal/entrevista) e FARAH
60
(2010,
comunicação pessoal/entrevista) relatam que diante das dificuldades no atendimento de ocorrências de seqüestros pela Polícia Civil do Paraná, coube ao delegado Adalto Abreu 59
SUSAKI, Milton Yukio, Investigador de Polícia Civil do Paraná, Operador Tático 11 do T.I.G.R.E. (Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial) 60 FARAH, Riad. Operador Tático 01. Delegado Chefe do T.I.G.R.E. (Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial)
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de Oliveira a iniciativa de sugerir a criação de uma UOEsp no âmbito da Polícia Civil do Paraná, com o foco em Operações Especiais e Resgate de Reféns. Assim, através do Decreto nº 7397, de 30 de outubro de 1990, surge o Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (T.I.G.R.E.), com o objetivo principal de resgatar reféns seqüestrados, quando impossível a solução de um impasse pela negociação, além de outras atividades de investigação especial em situações de roubo, cárcere privado, violação de domicílio, extorsão mediante seqüestro e rapto. O T.I.G.R.E. (FIGURA 22) é composto de duas unidades distintas, sendo o Grupo de Apoio Técnico, que realiza as investigações necessárias, mantendo equipamentos e arquivos em condição de dar suporte à unidade, quando da existência de um delito e o Grupo de Resgate, composto de quatro equipes táticas de assalto e infiltração, com o objetivo de resgatar a vítima, quando necessário.
FIGURA 22 – Brasão T.I.G.R.E. PC/PR
Mantendo armamento moderno e eficiente, além de treinamento constante, as equipes do Grupo de Resgate estão aptas a realizar suas ações mantendo os fundamentos de rapidez, ação choque e surpresa.
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Outros grupos também surgiram na década de 1990, diante da escalada da violência e como resposta das instituições através da aplicação de técnicas modernas de policiamento. Em meados de 1991, o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (DECAP) da Polícia Civil do Estado de São Paulo, diante de inúmeras ocorrências envolvendo presos de alta periculosidade que se encontravam detidos nos Distritos Policiais da capital e pelos constantes ataques a que estas instalações públicas sofriam por criminosos que tentavam resgatar os custodiados, bem como ocorrências de rebeliões nas carceragens desses Distritos Policiais, resolveu criar o Grupo de Operações Especiais (G.O.E.) (FIGURA 23).
FIGURA 23 – Brasão GOE PCESP Em (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:GOE_(Color).JPG)
No contexto histórico e social da época, os indicadores de violência apontavam uma elevação de crimes contra a vida e contra o patrimônio (roubos a bancos, latrocínios, extorsões mediante seqüestro) e o delegado de polícia diretor do DECAP à época entendeu a necessidade de ter um grupo de policiais civis preparados para intervir nesses momentos de crise, apoiando as unidades de polícia judiciária, autoridades policiais e seus agentes.
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Hoje o G.O.E. da Polícia Civil de São Paulo é uma unidade de recursos especiais com a atribuição básica de prestar auxílio às autoridades policiais e seus agentes no desempenho das missões de polícia judiciária afetas à Polícia Civil. Esse auxílio normalmente se dá quando essas autoridades e agentes tenham que desenvolver atividades que, por sua complexidade, não possam ou não tenham recursos materiais adequados para realizar. O G.O.E. ainda cumpre as seguintes atribuições: Cumprimentos de Mandados de Prisão ou de Busca e Apreensão, escolta ou remoção de presos de alta periculosidade custodiados nas carceragens da Polícia Civil, guarda de instalações públicas ou privadas de interesse da polícia civil, gerenciamento de crises, incursões em áreas de risco em apoio a outras unidades da polícia civil, dentre outras. A Polícia Militar do Estado de São Paulo tem através do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE), uma UOEsp especializada e de pronto emprego, para ocorrências de alta complexidade. TOLEDO61 (2001) em seu trabalho monográfico descreve com fidelidade o surgimento do GATE (FIGURA 24): ... desenvolvia-se, a plena força, o projeto do Rádio Patrulhamento Padrão (RPP), embrião da Polícia Comunitária, preconizado pela Diretriz no. PM001/1/87, que inovaria o conceito de policiamento ostensivo, pois previa a fixação do homem no seu setor de serviço e a dotação de equipamentos modernos aos policiais militares do policiamento de área, com o afã de obter o melhor rendimento nas missões de policiamento preventivo ostensivo e o aumento do índice de segurança da população; entretanto, para as situações em que fosse necessária a utilização de pessoal e equipamento diferenciado à resolução de ocorrências de alto grau de complexidade, foi previsto o emprego de uma tropa com treinamento específico e altamente especializado, denominada GATE. Em 26 de janeiro de 1988, paralelamente à implantação desse Projeto na cidade de São Paulo, por intermédio da Nota de Instrução nº PM3-002/88, foi criado experimentalmente o Grupo de Ações Táticas Especiais, subordinado ao Comando do 3º BPChq, cabendo a incumbência de sua estruturação ao falecido Cap PM Clóvis José Mentoni, designado pelo então Comandante-Geral da Corporação, Cel PM Wilson Correia Leite. O Cap PM Mentoni, acompanhado de outros oficiais por ele destacados, iniciou os trabalhos de seleção do efetivo, da programação da habilitação, da especificação do armamento, do equipamento e das viaturas para o novo contingente de policiais. O GATE foi oficialmente criado no dia 4 de agosto de 1988, data estabelecida como o início de suas atividades operacionais; mas foi em meados de março de 1989, após o término dos trabalhos iniciais de estruturação e organização, que o Grupo apresentou-se definitivamente à 61
TOLEDO Júnior, Theseo Darcy Bueno. Medidas preliminares no atendimento de ocorrências com bombas e artefatos explosivos: uma proposta para inclusão da unidade didática nos cursos de formação da PMESP. São Paulo, 2001. Monografia (Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais I)
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população paulista, já sob o comando do 1º Ten PM Wanderley Mascarenhas de Souza. ...Ainda em 1989, com o aumento do índice dos incidentes com explosivos e bombas, nasceu o Esquadrão de Bombas e suas equipes antibomba.
FIGURA 24 – Brasão do GATE – PMESP
Atualmente o GATE está subordinado ao 4º Batalhão de Choque, que é composto das seguintes modalidades de policiamento: GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais), responsável pelo atendimento de ocorrências de crises com reféns, ações antibomba e contrabomba e revistas em estabelecimentos prisionais; COE (Comando e Operações Especiais), responsável por buscas e salvamento em matas; e CANIL, responsável pelo policiamento com a aplicação de cães, em eventos públicos, e buscas de pessoas perdidas ou soterradas e drogas. A Brigada Militar do Rio Grande do Sul também possui uma UOEsp codinominada GATE (Grupo de Ações e Táticas Especiais). CARVALHO JÚNIOR 62 (2001), um dos fundadores daquela Unidade, assim expressou-se sobre o surgimento do GATE: 1988, aqui começa uma caminhada de heróis anônimos que amparados apenas no idealismo e convicção da proteção do GRANDE ARQUITETO DO 62
CARVALHO JÚNIOR, Heitor Sá de. Major da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, um dos fundadores do Grupo de Ações e Táticas Especiais).
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UNIVERSO, resolveram criar uma Unidade de Forças Especiais na Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Sul. Tal unidade hoje conhecida como GRUPO DE AÇÕES E TÁTICAS ESPECIAIS (GATE). Lembro que era um dia de semana estávamos na 1a cia do 9º BPM (os então 2o Tenente Augusto Mamede Freitas de Lima & Heitor Sá de Carvalho Jr.) e conversávamos sobre algumas ocorrências que eram atendidas de forma empírica e sem preparo técnico profissional direcionado para situações “especiais”, que necessitasse de equipes treinadas e equipadas para tal, exemplo: ocorrências com reféns, homizio de marginais fortemente armados, ações repressivas ao tráfico de drogas, motins em presídios com reféns, busca, localização e desativação de artefatos explosivos. Notamos que em uma dezena de ocorrências o despreparo teria ocasionado resultados desastrosos, que bastava às vezes um equipamento ou armamento mais sofisticado para resolver a situação (ex.: coletes, visores noturnos, fuzil de sniper, etc). Nesta mesma tarde comecei a rascunhar uma proposta ao comando onde considerava os pontos já referidos e pedia a permissão para iniciar um projeto de criação e formação de uma equipe de forças especiais para a Brigada Militar, tal projeto dividia-se em três fases, a primeira, uma pesquisa no país para verificar as polícias e qual teria um grupo semelhante ao proposto e que pudesse formar oficiais, técnicos em ações táticas especiais. A segunda fase seria após a formação, os Oficiais, teriam de selecionar voluntários, submetendo-os aos mesmos testes e treinamentos “dolorosos” das unidades de forças especiais de todo o mundo, a terceira e última, seria a apresentação e manutenção de uma unidade especial muito bem treinada e pronta para reação imediata em qualquer lugar seja na Terra, Mar ou Ar, no território do Estado do Rio Grande do Sul. A proposta foi aceita, iniciava o projeto “NOAR” (NÚCLEO de OPERAÇÕES de ALTO RISCO). Com a pesquisa descobrimos que a PM que se encontrava mais avançada em tais assuntos era a do RIO DE JANEIRO “não por muito tempo” e tinha o NuCOE (NÚCLEO de COMPANHIA de OPERAÇÕES ESPECIAS) com equipamento e armamento especializados para as suas missões. Foi onde fomos participar de um “agradável” curso de comandos e operações especiais de quatro meses, digo agradável porque quem já passou sabe das maravilhosas situações em que nossos instrutores nos colocam, o nosso curso iniciou com trinta Oficiais e Sargentos de todo o Brasil, somente sete Oficias e um Sargento, concluíram. Após nosso retorno iniciamos imediatamente o primeiro CURSO de COMANDOS e OPERAÇÕES ESPECIAS (CCOE) no 9o BPM onde passamos nossos conhecimentos sobre planejamento de operações especiais, constituição de equipes especiais, táticas em situação com reféns, explosivos, contra-sabotagem, mergulho de combate, pára-quedismo, montanhismo, negociação, controle emocional, etc, após três meses e meio nascia o CT9 COMANDO TÁTICO NOVE, nove em homenagem ao 9o BPM. De um universo de setenta voluntários, quatorze homens resistiram e demonstraram controle emocional, excelente condicionamento físico e pleno domínio das técnicas, armamento e equipamento disponível, tais homens eram o CT9 (o embrião do GATE), em 1989 iniciamos o segundo curso com trinta voluntários e apenas um concluiu o curso. ...Através de um decreto-lei do Exmo Sr. Governador do Estado Dr. PEDRO SIMON, nasceria o GATE.
Hoje o GATE (FIGURA 25) é subordinado ao 1º Batalhão de Operações Especiais (BOE) e tem como especialidades o assalto tático, atendimento de ocorrências com explosivos, uso de snipers, técnicas não letais e aplicação de cachorros em assaltos
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táticos. Sediado em Porto Alegre, a UOEsp tem como área de responsabilidade todo o Estado do Rio Grande do Sul.
FIGURA 25 – Brasão do GATE BM/RS
O GATE foi criado oficialmente em 1990. O ingresso na Unidade se dá através do Curso de Especialização em Ações Táticas, com duração de 4 meses. No Estado de Mato Grosso, o surgimento das UOEsps também se deu no final da década de 1980, mais precisamente no ano de 1988. A Polícia Militar do Estado de Mato Grosso criou em 20 de fevereiro de 1988, o Comando e Operações Especiais (COE) como um pelotão, à época comandado pelo então Capitão PM Altair Balieiro. Em 1996, através da Portaria nº 024/PM-3 o Comandante Geral ativou a Companhia de Polícia de Choque, modificando-a logo em seguida para a denominação de Companhia Independente de Operações Especiais – CIOE. Esta Companhia Independente ganhou o status de Batalhão em 09 de outubro de 2003, denominado Batalhão de Operações Especiais (FIGURA 26), onde o antigo CIOE passou a ser denominado como 1ª. Companhia de Operações Especiais – COE.
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Os primeiros “cursados” matogrossenses foram o 2º Tenente Cruz e o Cabo Arnaldo, formados no COESP do Bope da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, no ano de 1982. No ano de 2009, o Bope PM/MT realizou o seu primeiro Curso de Operações Especiais – COESP, formando 14 Operadores com o título de “caveira de fogo”.
FIGURA 26 - Brasão do BOPE PM/MT
A Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso também fundou sua UOEsp no ano de 1988, através de Portaria assinada pelo então secretário de Segurança Pública Hilário Mozer Neto, durante a gestão do Diretor Geral de Polícia Civil, Delegado Márcio Pieroni. VELOSO 63 (2010, comunicação pessoal/entrevista) relata que o então recém formado Grupo de Operações Especiais, era comandado por um Investigador de Polícia de nome João Luis Santana, por quase um ano, até que um delegado fosse nomeado como titular da Unidade. A Unidade respondia diretamente à Diretoria de Polícia Civil, tendo sua sede física inicialmente nas dependências da Secretaria de Justiça e Segurança Pública. Sua 63
VELOSO e Silva, Marcos Aurélio. Delegado de Polícia. Atual Diretor Metropolitano da Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso. Ex-Gerente de Operações Especiais, responsável pelo GOE.
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principal missão na época era realizar o enfrentamento de bandos e quadrilhas que agiam no estado em ocorrências de alto risco como roubo a bancos, extorsões, dentre outros. A Unidade foi renomeada como D.O.E. (Divisão de Operações Especiais) no ano de 1996, após uma operação bem sucedida de desocupação do garimpo ilegal na reserva indígena do Sarará, na cidade de Pontes e Lacerda, que durou aproximadamente 30 dias. Em 1997, o então Delegado do D.O.E. Marcos Aurélio Veloso e Silva e o investigador Nezito Pereira Nogueira graduaram-se no Curso de Operações Táticas Especiais realizado pelo Grupo T.I.G.R.E. da Polícia Civil do Paraná, formando a base inicial da doutrina da Unidade. Em 2004 a instituição assumiu o modelo de gerências, criando então a Gerência de Operações Especiais, onde foi integrado o Grupo de Operações Especiais (G.O.E.) (FIGURA 27). Uma reformulação no ano de 2008 criou novas bases doutrinárias para a Unidade, estabelecendo novos valores, estipulando sua missão principal, novos equipamentos, técnicas e táticas.
FIGURA 27 - Brasão do GOE PJC/MT
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2. DEFININDO AS OPERAÇÕES ESPECIAIS 2.1. Conceitos básicos
DÉNECÉ 64 (2007) atribui a dificuldade em conceituar sinteticamente as Operações Especiais as diferenças doutrinárias entre os países que as empregam. Atribui ainda seis critérios significativos, sob o ponto de vista histórico, para a definição do termo: a busca de um efetivo decisivo, que se pode qualificar de “efeito ruptura”, o caráter altamente perigoso das missões, o volume reduzido do efetivo engajado, seu modo de ação não convencional, o domínio da violência, a confidencialidade em relação às unidades e a seu pessoal. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em sua instrução normativa AAP-665, tem como definição de Operações Especiais que: special operations / opérations spéciales Military activities conducted by specially designated, organized, trained and equipped forces using operational techniques and modes of employment not standard to conventional forces. These activities are conducted across the full range of military operations independently or in coordination with operations of conventional forces to achieve political, military, psychological and economic objectives. Politico-military considerations may require clandestine, covert or discreet techniques and the acceptance of a degree of physical and political risk not associated with conventional operations. 13 Dec 1999 Operações Especiais Atividades militares conduzidas por forças especialmente designadas, organizadas, treinadas e equipadas, que utilizam técnicas operacionais e modos de ação não habituais para as forças convencionais. Essas atividades são desenvolvidas em toda a gama de operações das forças convencionais, em coordenação com elas, para atingir objetivos políticos, militares, psicológicos ou econômicos. Questões político-militares podem demandar o recurso a técnicas clandestinas ou discretas, aceitando um nível de risco físico e político incompatível com as operações convencionais. 13 de dezembro de 1999 Tradução do autor
McRaven66 (1995) define Operações Especiais como: 64
DÉNECÉ, Eric. A história secreta das forças especiais. Larousse do Brasil. 2009 ISBN: 978- 85-7635-608-0 65 NATO AAP-6 (North Atlantic Treaty Organization), Glossary of Abbreviations, página 2-S-9. Disponível on line em (http://www.nato.int/docu/stanag/aap006/aap-6-2010.pdf). 66 MCRAVEN, William H, Capitão-de-Fragata, Marinha dos Estados Unidos da América. Comandante do Time Seal 3. Special Operations - Case Studies in Special Operations Warfare: Theory and Practice. 1996. Presidio Press. ISBN: 978-0891416005
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Uma operação especial é conduzida por forças especialmente adestradas, equipadas e apoiadas visando um alvo específico, cuja destruição, eliminação ou resgate (no caso de reféns) constitui-se em imposição política ou militar.
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos
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entende as Operações
Especiais da seguinte forma: Operações conduzidas em ambientes hostis, negados ou politicamente sensíveis, visando alcançar objetivos militares, diplomáticos, informacionais e/ou econômicos, empregando capacidades militares que não as convencionais. Tais operações freqüentemente demandam ações encobertas, clandestinas e de baixa visibilidade. As operações especiais são aplicáveis através da vasta gama de operações militares. Podem ser conduzidas independentemente ou em conjunção com operações de forças convencionais ou de outras agências do governo, e podem incluir operações através, com ou por forças nativas ou mercenárias. As operações especiais diferem das operações convencionais no grau de risco físico e político, técnicas operacionais, modo de emprego, independência de apoio amigo e dependência de inteligência operacional detalhada e conhecimentos de populações locais.
O Estado Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos da América68 (Joint Chiefs of Staff – JCS), em Doctrine for Joint Special Operations69 (Joint Pub 305) assim define doutrinariamente Operações Especiais: Operações conduzidas por forças militares e paramilitares especialmente organizadas, adestradas e equipadas, visando a consecução de objetivos militares, políticos, econômicos ou psicológicos por meios militares nãoconvencionais em áreas hostis, interditadas ou politicamente sensíveis. Tais operações são conduzidas em tempo de paz, conflitos e guerras, independentemente ou em coordenação com operações realizadas por forças convencionais, não adestradas em Operações Especiais. As considerações político-militares freqüentemente modelam as Operações Especiais,exigindo técnicas clandestinas, sigilosas e a supervisão no nível nacional. As Operações Especiais diferem das convencionais nos níveis de risco físico e político, técnicas operacionais, modalidades de emprego, independência do apoio de forças amigas, e dependência de inteligência operacional detalhada e de meios locais.
A definição, portanto, de Operações Especiais vem se modificando com o tempo, levando em consideração a evolução dos conflitos mundiais.
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DEPARTMENT OF DEFENSE. Dictionary of Military and Associated Terms. 12 April 2001(As mended Through 22 March 2007). Disponível em: http://www.dtic.mil/doctrine/dod_dictionary/data/s/49.html. Consultado em 04/12/2010. 68
Joint Chief of Staff (JCS), grupo formado por representantes das Forças Armadas Norte-americanas, com a missão de aconselhar o Presidente em assuntos militares. 69
Joint Pub 3-05, Doutrina para Operações Especiais Combinadas. Disponível em: http://www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB63/doc3.pdf. Consultado em 04/12/2010.
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Concluímos, portanto, que Operações Especiais, devem ser entendidas como operações conduzidas por forças militares ou policiais, especialmente organizadas, adestradas e equipadas, visando à consecução de objetivos por meios não-convencionais. Diferem das operações convencionais nos níveis de risco, por suas técnicas operacionais, modalidades de emprego, independência do apoio de outras forças, dependendo de inteligência própria quanto à ação a ser desenvolvida, aceitando um alto nível de risco físico e político, incompatível com as operações convencionais. Necessário ainda diferenciar bem as Operações Especiais de Natureza Militar das Operações Especiais de Natureza Policial. O seu mau entendimento gera situações legalmente inadequadas, uma vez que a manutenção da ordem interna passa pelo respeito ao ordenamento jurídico vigente. Por suas características, as Operações Especiais de Natureza Militar são adequadas ao emprego por Unidades de Operações Especiais Militares, quando no confronto à ameaças externas, em conflitos que atentem contra a segurança de um país. ZAMBONE70 (2002) trata desta questão da seguinte forma: Grande parte das tropas de emprego especial existentes no Brasil foi inspirada nos Commandos. Portanto, seus alicerces trazem embutidas condutas apropriadas para a aplicação em situações de guerra e isso foi de tal forma assimilado pelas polícias, as militares em particular que, até hoje, se percebem algumas dificuldades em se adaptar, primeiro a uma situação que é de fato a atividade de manutenção da ordem pública interna, e isso é bem diferente das situações que envolvem conflito externo; segundo, que o transgressor da lei não pode ser visto como um inimigo, nos moldes que a guerra convencional se faz entender; terceiro, só terá futuro o grupo de tropa especial que agir dentro do ordenamento jurídico, tendo como objetivo a preservação da vida, da integridade física e da dignidade de todas as pessoas.
Por sua vez, ZAQUEU BARBOSA
71
(2002) também tem o seguinte
entendimento: A grande maioria dos Grupos de Operações Especiais existentes nas Instituições Policiais do Brasil, foram inspirados nos Comandos. Portanto, existe uma idéia errada com relação a ação desses grupos, pois há uma grande diferença entre Comandos Militares e Operações Especiais Policiais. Os Comandos são militares que buscam a destruição do inimigo, suas atividades são predominantemente de guerra, tem como suas ações o terrorismo, a espionagem e a sabotagem e o combatente deve estar em condições de sobreviver com as condições mínimas e por conta própria tanto em ambiente urbano quanto rural. 70
ZAMBONE, Sérgio Augusto. Grupo Tático: Origem, atuação e necessidade do Grupo Tático. Academia Nacional de Polícia (ANP). Departamento de Polícia Federal (DPF). XII Curso Especial de Polícia.2002. 71 BARBOSA, Capitão PM/MT Zaqueu. Descentralização dos Grupos de Operações Especiais. Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais. Polícia Militar do Estado de Mato Grosso (PM/MT).2002.
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As Forças de Operações Especiais são policiais que cumprem suas missões calcadas em cumprir a lei e preservar vidas, não possui inimigo, e sim pessoas desajustadas que vivem à margem da lei vigente, e precisam ser dominadas e encaminhadas para os organismo competentes para serem ressocializadas.Tem como suas atividades as rebeliões em estabelecimentos penais, resgate de reféns, combate ao crime organizado e outras.
BETINI e TOMAZI72 (2009), diferenciam da seguinte forma estas Operações: Apesar do rigoroso treinamento e das técnicas serem parecidas, os objetivos dos grupos de operações especiais militares e policiais são bem distintos. Operações especiais de natureza militar Os grupos de natureza militar são treinados para atuar em situações de paz, conflito e, principalmente, de guerra. Os objetivos giram em torno da destruição do inimigo, obtida através de infiltração, sabotagens, espionagem, técnicas de guerrilha, destruição de alvos sensíveis, destruição de linhas de comunicação e suprimentos. Atuam também no resgate de prisioneiros e na captura de pessoal ou material. Seus alvos podem ser militares, políticos e econômicos. São empregados como parte da estratégia indireta de combate, dentro do conceito moderno de economia de forças, defendido por autores consagrados como Liddell Hart e Delbrück, servindo como alternativa a defensores da estratégia direta, como Clausewitz. Operações especiais de natureza policial Os grupos especiais de natureza policial possuem objetivos bem distintos dos militares: salvar vidas e fazer cumprir a lei. Sua principal vocação não é matar o inimigo ou causar destruição. Suas missões e, por conseguinte, seu propósito são desarticular organizações criminosas, pôr fim em conflitos, capturar criminosos, resgatar reféns, retomar pontos e instalações (móveis e imóveis), fazer segurança de pessoas e lugares, sobreviver em ambientes hostis. Matar somente em legítima defesa, própria ou de outrem, ou quando a lei assim permite, através das excludentes de ilicitude. Esses grupos são regidos pelas leis vigentes no país e precisam atuar de acordo com esse ordenamento jurídico, respeitando tudo o que foi estabelecido. Por tudo isso, a seleção dos integrantes dos grupos policiais de operações especiais é tão rigorosa.
Dessas definições, entendemos que Operações Especiais de Natureza Militar (OEsp/NM) são aquelas conduzidas por forças militares, especialmente organizadas, adestradas e equipadas, visando à consecução de objetivos por meios militares nãoconvencionais. Diferem das operações convencionais nos níveis de risco, por suas técnicas operacionais, modalidades de emprego, independência do apoio de outras forças, dependendo de inteligência própria quanto à ação a ser desenvolvida, aceitando um alto nível de risco físico e político, incompatível com as operações convencionais, quando no confronto às ameaças externas ou internas, em conflitos que atentem contra a segurança nacional.
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BETINI, Eduardo Maia e TOMAZI, Fabiano. COT: Charlie, Oscar, Tango: Por dentro do grupo de operações especiais da Polícia Federal. São Paulo. Editora Ícone. 2009. ISBN: 978-274- 1064-9
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Conceituamos, portanto, Operações Especiais de Natureza Policial (OEsp/NP) como aquelas conduzidas por forças policiais paramilitares, especialmente organizadas, adestradas e equipadas, visando à consecução de objetivos por meios operacionais nãoconvencionais. Diferem das operações policiais convencionais nos níveis de risco, por suas técnicas e táticas, modalidades de emprego, independência do apoio de outras forças policiais, dependendo de inteligência própria quanto à ação a ser desenvolvida, aceitando um alto nível de risco físico e político, incompatível com as operações convencionais, com o fim específico de manter a lei e salvar vidas, realizando suas ações em acordo com o ordenamento jurídico vigente. Definidas as Operações Especiais, faz-se necessário também apresentar outros termos derivados desta conceituação. A primeira clara distinção, é entre as Unidades de Operações Especiais (UOEsp) militares e policiais. Para isso, a doutrina internacional, notadamente a norte-americana faz clara distinção entre essas Unidades, visando delimitar com precisão suas áreas de atuação. Para os norte-americanos, as Unidades de Operações Especiais Militares são denominadas Forças Especiais ou Forças de Operações Especiais. Já as Unidades de Operações Especiais Policiais, são denominadas genericamente de SWAT (Special Weapons and Tactics – Armas e Táticas Especiais), além de outras denominações como SRT (Special Reaction Team – Equipe de Reação Especial), HRT (Hostage Rescue Team – Equipe de Resgate de Reféns), ERT (Emergency Response Team – Equipe de Resposta Emergencial), dentre outras. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos 73 define Grupo de Forças Especiais e Forças de Operações Especiais da seguinte forma: special forces group (DOD) A combat arms organization capable of planning, conducting, and supporting special operations activities in all operational environments in peace, conflict, and war. It consists of a group headquarters and headquarters company, a support company, and special forces battalions. The group can operate as a single unit, but normally the battalions plan and conduct operations from widely separated locations. The group provides general operational direction and synchronizes the activities of subordinate battalions. Although principally structured for unconventional warfare, special forces group units are capable of task-organizing to meet specific requirements. Also called SFG. special operations forces 73
DEPARTMENT OF DEFENSE. Dictionary of Military and Associated Terms. Disponível em: http://www.dtic.mil/doctrine/dod_dictionary/data/s/447.html http://www.dtic.mil/doctrine/dod_dictionary/data/s/470.html. Consultados em 06/12/2010.
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(DOD) Those Active and Reserve Component forces of the Military Services designated by the Secretary of Defense and specifically organized, trained, and equipped to conduct and support special operations. Also called SOF. Tradução do autor – Anexo 1.16 – página 189
McMANNERS74 (2003) define Forças Especiais de uma forma bem sintética: At the most basic level, special forces are military units trained for unconventional operations. No mais básico nível, forces especiais são unidades militares treinadas para operações não convencionais. Tradução do autor
O Estado Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos da América (Joint Chiefs of Staff – JCS), em Doctrine for Joint Special Operations75 (Joint Pub 305) assim define doutrinariamente Forças Especiais: special forces. US Army forces organized, trained, and equipped to conduct special operations with an emphasis on unconventional warfare capabilities. Also called SF.” “Forças Especiais. Forças do Exército dos Estados Unidos organizadas, treinadas e equipadas para conduzir operações especiais com ênfase nas capacidades de guerra não convencional. Também chamadas FE. Tradução do autor
Já as Unidades de Operações Especiais Policiais, classificadas como SWAT ou Tactical Teams, assim são definidas: HAYNES76 (1999) em sua obra SWAT CYCLOPEDIA, define: Special Weapons and Tactics (SWAT): A team of professional, highly motivated law enforcement officers who have been specially selected, trained and equipped to conduct tactical response operations in order to resolve hostage incidents, barricaded gunmen, counter-sniper situations, dignitary protection, high-risk warrant service and any other special threat situations. The Los Angeles Police Department first introduced this concept into law enforcement. Armas Especiais e Táticas (SWAT): Um time de profissionais de oficiais da lei altamente motivados que foram especialmente selecionados, treinados e equipados para conduzir operações de resposta tática com o objetivo de resolver incidentes com reféns, homens armados barricados, situações de contra-atiradores, proteção de dignitários,serviço de prisão de alto risco e qualquer outra situação de ameaça especial. O Departamento de Polícia de Los Angeles foi o primeiro a introduzir este conceito nas forças da lei. Tradução do autor 74
McMANNERS, Hugh. Ultimate Special Forces. Dorling Kindersley Limited. 2003 ISBN: 1- 4053-0224-0 75 Joint Pub 3-05, Doutrina para Operações Especiais Combinadas. Disponível em: http://www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB63/doc3.pdf. Consultado em 04/12/2010. 76 HAYNES, Captain Richard A.SWAT Commander Charleston Police Department, West Virginia. SWAT CYCLOPEDIA: A handy desk reference of terms, techniques, and strategies associated with the police special weapons and tactics function. 1999. Charles C. Thomas Publisher. ISBN:0-398-06978-6
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A California Commission on Peace Officer Standards and Training (POST) 77, órgão criado pelo Poder Legislativo do Estado da Califórnia, nos Estados Unidos da América, responsável por definir requisitos mínimos de treinamento e seleção para as forças da lei daquele estado, assim define o termo SWAT: Special Weapons and Tactics (SWAT) team is any designated group of law enforcement officers who are selected, trained, and equipped to work as a coordinated team to resolve critical incidents that are so hazardous, complex, or unusual that they may exceed the capabilities of first responders or investigative units. O time de Armas Especiais e Táticas (SWAT) é qualquer grupo de oficiais da lei designado que foram selecionados, treinados e equipados para trabalhar como um time coordenado para resolver incidentes críticos que são tão perigosos, complexos e unusuais que eles podem exceder as capacidades dos primeiros oficiais em cena ou das unidades de investigação Tradução do autor
Não existe no Brasil, até o momento, uma clara definição doutrinária entre as Unidades de Operações Especiais de Natureza Militar e as Unidades de Operações Especiais de Natureza Policial. Claramente o fato da existência de duas instituições policiais em nosso país, uma de natureza militar (Polícia Militares Estaduais) e uma de natureza judiciária civil (Polícias Civis Estaduais), impede momentaneamente a definição de doutrinas conjuntas tanto quanto ao policiamento ordinário, quanto ao policiamento especial. As instituições policiais militares acabam por amparar-se em técnicas e táticas vinculadas às instituições militares brasileiras (comumente chamada de “doutrina de comandos”), não interpretando, muitas vezes, os objetivos das Operações Especiais de Natureza Policial (OEsp/NP). Por sua vez, muitas instituições policiais judiciárias civis criam grupos chamados “especiais” sem qualquer doutrina definida ou propósito, somente implementando indumentária de características paramilitares e armamento diferenciado. Conceituamos, Unidades de Operações Especiais Militares como grupamentos militares organizados, não-policiais, treinados e equipados com táticas, técnicas e armamentos diferenciados das forças militares convencionais, visando à consecução de objetivos militares por meios não-convencionais, aceitando um alto nível de risco físico e político, também incompatível com as operações convencionais, quando no confronto às ameaças externas ou internas, em conflitos que atentem contra a segurança nacional. 77
California POST. Swat Operational Guidelines and Standardized Training Recommendations. POST2005TPS-0369.1. 2006.
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Entendemos, portanto, Unidades de Operações Especiais Policiais como grupos policiais organizados, vinculados a uma instituição policial legalmente constituída, treinados e equipados com táticas, técnicas e armamentos diferenciados das forças policiais convencionais, visando à consecução de objetivos por meios operacionais nãoconvencionais, por suas técnicas e táticas, modalidades de emprego, independência do apoio de outras forças policiais, dependendo de inteligência própria quanto à ação a ser desenvolvida, aceitando um alto nível de risco físico e político, incompatível com as operações convencionais, com o fim específico de manter a lei e salvar vidas, realizando suas ações em acordo com o ordenamento jurídico vigente. Destas definições, deriva o termo Operador, ou Operacionais, que são definidos como os integrantes de UOEsps Militares ou Policiais, que desenvolvem trabalhos operacionais em situações de alto risco, definidas como Operações Especiais e que diante de suas capacidades técnicas, possuem melhores condições de sucesso que os integrantes de forças convencionais. 2.2. A Doutrina de Operações Especiais
Segundo o dicionário Michaelis78, doutrina é o “conjunto de princípios em que se baseia um sistema religioso, político ou filosófico.” A Escola Superior de Guerra 79 define doutrina militar como o “conjunto de valores, princípios, conceitos, normas, métodos e processos que têm por finalidade estabelecer as bases para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas”. A doutrina tem como finalidade precípua orientar, sistematizar e coordenar todas as atividades das Operações Especiais, estabelecendo as bases para a organização, o preparo e o emprego destas Unidades especializadas. Para compreender os fundamentos doutrinários de uma UOEsp, é necessário primeiro analisar os seis princípios das OEsp estabelecidos por McRaven 80 (1995). A teoria das Operações Especiais estabelecida por ele apresenta seis princípios que podem ser controlados e, ao mesmo tempo, influenciam na obtenção pela UOEsp da superioridade relativa. 78
Dicionário Michaelis. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Consultado em: 06/12/2010. Disponível on-line: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues- portugues&palavra=doutrina 79 Manual Básico da Escola Superior de Guerra. Vol. 1. Rio de Janeiro: 2006 80 MCRAVEN, William H, Capitão-de-Fragata, Marinha dos Estados Unidos da América. Comandante do Time Seal 3. Special Operations - Case Studies in Special Operations Warfare: Theory and Practice. 1996. Presidio Press. ISBN: 978-0891416005
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A superioridade relativa é um conceito essencial à teoria das Operações Especiais, é uma condição que se apresenta quando uma força atacante, geralmente menor, obtém uma vantagem decisiva sobre um inimigo maior ou bem-fortificado. A importância do conceito de superioridade relativa reside na sua capacidade de mostrar quais os vetores positivos que influenciam o êxito de uma missão e como as fricções da guerra afetam a consecução do objetivo. Para atingir a superioridade relativa, o combatente de Operações Especiais deve levar em consideração os princípios nas três primeiras fases de uma operação: planejamento, preparação e execução. Os princípios estão interconectados e se apóiam mutuamente. A chave das missões de Operações Especiais reside na conquista da superioridade relativa o mais cedo possível no engajamento. Quanto mais se prolongar o engajamento, maior será a probabilidade de que o desfecho seja afetado pela vontade do inimigo, pelo azar e pela incerteza, fatores que constituem as fricções da guerra. Os seis princípios das Operações Especiais apresentados por McRaven são: simplicidade, segurança, repetição, surpresa, rapidez e propósito. Ele exemplifica expressando que se o plano da missão não for simples, será difícil manter em sigilo a intenção da operação e ainda mais difícil ensaiar a sua execução. E se for difícil manter o sigilo e ensaiar a missão, será quase impossível executá-la com surpresa, rapidez e determinação. Na fase de planejamento, a adequada segurança e contínua repetição têm um impacto direto na capacidade da força atacante de obter a surpresa e conseguir a rapidez na fase de execução. A contínua repetição das ações a realizar, manifestada no adestramento e nos ensaios conduzidos antes da missão, constitui o vínculo entre o princípio de simplicidade, na fase de planejamento, e os princípios de surpresa e rapidez, na fase de execução. O último dos seis princípios diz respeito ao propósito da missão. Incutir um senso de propósito, especificamente a compreensão dos objetivos da missão e um compromisso pessoal para com a consecução dos mesmos é vital para atingir a superioridade relativa. Embora o princípio de propósito seja mais aparente na fase de execução, todas as fases devem-se concentrar no propósito da missão. O seu entendimento irá reduzir os objetivos irrelevantes, destacar a inteligência necessária e modelar os requisitos de segurança das operações. Assegurará, ainda, em combate, que
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os esforços do comandante e de cada combatente estejam voltados para o que é realmente importante - a conclusão da missão. A simplicidade é o princípio mais crítico e, às vezes, o mais difícil de observar. Existem três elementos da simplicidade que são fundamentais para o êxito: a limitação do número de objetivos, boa inteligência e criatividade. Limitar o número de objetivos a apenas aqueles que forem essenciais orienta o adestramento, diminui o efetivo necessário, encurta o tempo da ação no objetivo e diminui o número de "partes móveis". O segundo elemento necessário à elaboração de um plano simples é a inteligência adequada, a qual simplifica o plano, mediante a redução dos fatores desconhecidos e o número de variáveis que devem ser consideradas. O terceiro elemento que contribui para a simplicidade é a criatividade, a qual simplifica o plano ao ajudar a evitar ou a eliminar obstáculos que, do contrário, poderiam comprometer a surpresa e/ou complicar a rápida execução da missão. A criatividade, normalmente, se manifesta nas novas tecnologias, mas também se encontra na aplicação de táticas não-convencionais. Embora os três elementos da simplicidade exerçam maior impacto durante a fase de execução, eles devem ser identificados no início de modo a ajudar na elaboração do plano e torná-lo o mais simples possível. À segurança deve-se atribuir um elevado nível de prioridade, impedindo que o inimigo obtenha uma vantagem através do conhecimento prévio de um ataque iminente. No entanto, a natureza das OEsps exige ataques a posições fortificadas. Portanto, o inimigo estará sempre preparado para enfrentar um ataque. Dessa forma, mais do que a operação iminente, o que deve ser mantido em sigilo é o momento e o meio que ocorrerá a infiltração. Na fase de preparação, a repetição, da mesma forma que a rotina, é indispensável na eliminação das barreiras ao êxito. Ela aperfeiçoa as habilidades individuais dos Operacionais e da própria Unidade, ao mesmo tempo em que os ensaios exaustivos revelam as vulnerabilidades no plano. Ambos são essenciais ao êxito da missão. A Doctrine for Joint Special Operations 81 (Doutrina das Operações Especiais Combinadas) estabelece que a surpresa é a capacidade de "atacar o inimigo em um 81
Joint Pub 3-05, Doutrina para Operações Especiais Combinadas. Disponível em: http://www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB63/doc3.pdf. Consultado em 04/12/2010.
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momento ou local, ou de uma maneira, que o apanhe despreparado." Contudo, na maior parte das vezes, o inimigo estará totalmente preparado para neutralizar uma ação ofensiva. De uma forma geral, as UOEsps não podem escolher atacar o inimigo no momento ou no local onde este esteja despreparado. Tais forças devem atacar, apesar da preparação do inimigo. A surpresa significa, literalmente, apanhá-lo desprevenido. Já o conceito de rapidez, numa missão de Operações Especiais é simples. Alcançar o objetivo o mais rápido possível. Qualquer retardo ampliará a sua área de vulnerabilidade e diminuirá a sua possibilidade de atingir a superioridade relativa. A maior parte das Operações Especiais envolve contato direto e na maioria dos casos, imediato com o inimigo, em que minutos e segundos determinarão a diferença entre o êxito e o fracasso. O propósito implica em entender e atingir o principal objetivo da missão, independentemente dos obstáculos ou das oportunidades que se apresentem. Este princípio tem dois aspectos. Em primeiro lugar, o propósito deve estar claramente definido pelo enunciado da missão. O segundo aspecto do princípio de propósito é o compromisso pessoal. O propósito da missão deve ser plenamente entendido antes da sua realização, sendo imprescindível que os executantes sejam inspirados por um sentido de dedicação pessoal que não tenha limites. Esta dedicação e comprometimento acima do que se espera de um militar ou policial “convencional”, é despertada no integrante de uma UOEsp através dos fundamentos doutrinários da Unidade. Estes fundamentos variam entre as Unidades, possuindo similaridades nas UOEsps Militares e Policiais, e de uma forma geral devem compor no mínimo os seguintes: Voluntariado, fidelidade, responsabilidade coletiva, dever de silêncio e compromisso de matar. MASCARENHAS82 (1995) expõe en passant estes fundamentos: Responsabilidade coletiva: todos os integrantes do grupo são responsáveis solidariamente pelos atos praticados durante uma ação tática. Fidelidade: relacionado à observância da doutrina de operações policiais especiais. Voluntariado: o policial deverá fazer parte da equipe por vontade própria, sem qualquer tipo de coação por parte de seus superiores. 82
MASCARENHAS DE SOUZA, Wanderley. Negociação e atuação de grupos especiais de polícia na solução de eventos críticos. São Paulo: 1995.
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Dever do silêncio: o integrante não deverá divulgar externamente as ações do grupo, uma vez que são de caráter reservado.
Já BETINI e TOMAZI 83 (2009), diferenciam ligeiramente estes fundamentos, apresentando-os da seguinte forma: Existem fundamentos éticos que são comuns à grande maioria dos Grupos de Operações Especiais: 1 – A responsabilidade coletiva; 2 – A fidelidade aos princípios doutrinários; 3 – O voluntariado; 4 – O dever do silêncio; 5 – O compromisso.
Entendemos como mínimos os seguintes fundamentos doutrinários:
Voluntariado: Qualquer Operacional pertencente a uma UOEsp deve ser voluntário para integrar a unidade. Este preceito do voluntariado estipula que o Operacional integrará a Unidade enquanto entender possuir condições e concordar com sua doutrina e procedimentos. Uma vez que o Operador não mais possuir condições físicas, psicológicas ou técnicas para manter-se nos padrões definidos pela Unidade, deve solicitar seu desligamento. Da mesma forma, nenhum Operador deve ser forçado pelo comando da Unidade ou pela instituição à manter-se a ela vinculado quando não existir mais interesse e comprometimento de sua parte.
Responsabilidade: Todo Operador deve possuir uma extrema responsabilidade individual para com sua Unidade, seja com relação aos equipamentos que lhe são confiados, a missão que lhe é dada, o ensinamento que lhe é ministrado, ou qualquer outro assunto a ela pertinente. Da mesma forma, toda a Unidade deve ter a responsabilidade conjunta com relação a sua existência, sua doutrina, seus treinamentos, equipamentos e objetivos. A responsabilidade do grupo exige que as responsabilidades individuais se complementem, de forma a suprir todo e qualquer erro individual.
Fidelidade: Todo Operador deve ser fiel a sua Unidade e a doutrina por ela escolhida. A fidelidade o obriga a defender sua Unidade, tudo fazendo para mantê-la e resguardá-la. Se tiver que decidir entre seus desejos ou os da Unidade, deverá optar pelo bem da Unidade. Toda a operação da Unidade deve basear-se na doutrina por ela definida e os Operadores a ela devem ser fiéis.
Dever de silêncio: Os Operadores devem manter o devido silêncio quanto ao que ocorre na Unidade, bem como às missões a ela determinadas e executadas. As 83
BETINI, Eduardo Maia e TOMAZI, Fabiano. COT: Charlie, Oscar, Tango: Por dentro do grupo de operações especiais da Polícia Federal. São Paulo. Editora Ícone. 2009. ISBN: 978-274- 1064-9
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informações recebidas na Unidade não devem ser discutidas ou partilhadas por outras pessoas que não pertencem a Unidade. Da mesma forma, qualquer problema existente na Unidade dentro dela deve ser discutido. Não se partilha segredos, problemas ou vivências com qualquer um que não pertença à Unidade.
Compromisso de matar: Todo Operador assume que seu papel é sobreviver a conflitos de alto risco. Assumindo o compromisso de matar, o Operador entende que sua Unidade enfrentará legalmente situações de risco que envolvem muitas vezes, vidas humanas. A necessidade de tirá-las deve observar a estrita legalidade do ocorrido. Sem hipocrisias, sem a cultura da morte pela morte, o Operador deve ter a clara noção da responsabilidade em agir dentro dos princípios legais, somente quando necessário. Outros fundamentos podem ser associados aos já elencados, fortalecendo princípios que a Unidade entende como importantes, tais como a hierarquia, a disciplina, liderança, dentre outros. Um princípio doutrinário importante, inerente a toda UOEsp é o que conceituamos como “Ciclo Completo das Operações Especiais”. O ciclo completo das Operações Especiais (FIGURA 28) são características e etapas pelas quais todas as Unidades de Operações Especiais devem passar. Quando efetivamente implantado, mostra a maturidade do grupo, conseguindo atingir todos os estágios de sua evolução. A primeira etapa deste ciclo é TREINAR. O grupo em sua formação deve treinar, buscando a formação inicial dos Operacionais. Preferencialmente, deve buscar o auxílio de outra UOEsp para a formação básica de seus integrantes. Historicamente observamos essa tradição, tendo como exemplos a Força Delta dos Estados Unidos da América, que foi formada pelos SAS (Special Air Service) britânico, a SWAT de Los Angeles pelos Fuzileiros Navais (Marines), entre outros. Após a formação básica dos Operacionais, a UOEsp deve manter o treinamento com o objetivo de definir sua doutrina própria. Neste momento, a Unidade envia seus integrantes para diversas outras UOEsps, visando reunir táticas e técnicas de diversas correntes doutrinárias, obtendo conhecimento, comparando realidades e definindo suas necessidades tendo em vista suas características regionais. Concomitante a esta etapa, a UOEsp deve estar já OPERANDO, ou seja, pondo em prática todos os ensinamentos obtidos na fase inicial de treinamento. É operando que os integrantes da Unidade poderão efetivamente observar se as técnicas aprendidas funcionam dentro de suas realidades. O conhecimento é testado a todo instante, a fim de
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fortalecer o que foi compreendido e que deve ser incessantemente checado, visando reforçar a doutrina há pouco estabelecida. Com sua doutrina própria estabelecida, reforçada pelos treinamentos constantes, já tendo obtido experiência de forma individual pelos integrantes e coletiva pelas Operações realizadas, a Unidade passa a DAR TREINAMENTO. Este último estágio do Ciclo completo das Operações Especiais garante que as experiências obtidas nas outras duas fases poderão ser aproveitadas por outras UOEsps, em um processo de renovação constante, onde aprimoram-se tanto os que recebem quanto os que ministram o treinamento.
FIGURA 28 – Ciclo completo das Operações Especiais
2.3. A Formação de uma Unidade de Operações Especiais Policial
Ao decidir por criar uma UOEsp Policial, a instituição deve definir primeiro quais atribuições esta nova unidade especializada terá. Grupos criados sem doutrina ou sem atribuição específica não se constituem verdadeiras Unidades de Operações Especiais Policiais e o fato de terem somente armamento e uniforme diferenciados, não os torna em nada, especiais.
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Definindo os objetivos da Unidade e justificando legalmente sua constituição, o próximo passo é definir a missão do Grupo. Como Unidade Policial, é preciso que seus integrantes compreendam que sua missão maior deverá ser a de preservar vidas no cumprimento da lei, em situações e operações policiais de alto risco. Qualquer outra doutrina que afaste o Operador do cumprimento estrito da lei, encarando o perpetrador de um evento criminoso como mero inimigo que deve ser aniquilado, afasta o conceito de legalidade da aplicação da Unidade e o aproxima da doutrina de guerra externa, característica de operações especiais militares, em confrontos com inimigos externos. Definem-se as atribuições da nova Unidade, estabelecendo primeiro as atribuições materiais (ratione materiae), as atribuições territoriais (ratione loci) e as atribuições pessoais (ratione personae). Como atribuição material (ratione materiae) entendemos serem aquelas relacionadas à natureza da infração combatida ou das investigações necessárias para sua elucidação. Algumas UOEsps possuem como atribuição material o combate aos crimes de extorsão mediante seqüestro, cárcere privado ou rapto. Outras foram criadas com o fim específico de reprimir assaltos à bancos. A atribuição material especifica a atuação da UOEsp e limita suas atribuições, impedindo que gestores inadvertidamente lancem mão destas para a execução de missões as quais não são sua atribuição, como usar uma Unidade Especial para patrulhamento viário. A atribuição territorial (ratione loci) da Unidade define o teatro de operações. Sua atuação legal está vinculada ao território em que lhe é permitida sua utilização. UOEsps de abrangência nacional necessitarão de orçamento e efetivo compatível, sob pena de não atender devidamente as necessidades de sua instituição. O mesmo se observa em Unidades da Federação com grande área territorial, onde um Grupo sem estrutura adequada acabará sendo sempre subutilizado. A atribuição de caráter pessoal ( ratione personae) está vinculada a alguma atribuição específica feita ao grupo vinculada a alguma especialidade desenvolvida. Algumas unidades, por exemplo, pelo conhecimento na utilização e desativação de artefatos explosivos possuem esta atribuição de caráter especial que as vincula. Definidos os objetivos, missão e atribuições, o próximo passo é encontrar o mais difícil de tudo: O homem tático, o Operador.
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2.4. O processo de seleção em uma Unidade de Operações Especiais
A seleção de um Operador não passa somente por extensos testes físicos, como erroneamente podem crer alguns. Nem sempre selecionar o mais forte fisicamente e o mais obediente psicologicamente é a melhor escolha para integrar umas UOEsp. O Operador precisa ter também qualidades como criatividade, autonomia, poder de decisão, iniciativa, dentre outras habilidades e características que já o fazem ser diferente de outros, ditos convencionais. O seu ingresso na Unidade deverá ser feito mediante o voluntariado. Da mesma forma, o desligamento voluntário também deverá ser aceito, quando o Operador entender não estar mais apto a permanecer no Grupo. CASCIO e MCSWEENEY84 atribuem à correta seleção de pessoal para integrar uma Unidade SWAT como um dos mais importantes aspectos na criação de uma UOEsp. Eles estipulam cinco passos neste processo de seleção: o anúncio de recrutamento ou de abertura da Unidade, a investigação dos candidatos, aplicação de testes psicológicos, entrevistas pessoais e o treinamento. Ao anunciar para a instituição a criação da Unidade, ou que uma Unidade já criada está em processo de recrutamento, respeita-se o fundamento ético do voluntariado. Isso garante, segundo os autores, que todo integrante ou candidato darão seus corações, mentes e corpos no processo de treinamento. Na fase de investigação dos possíveis candidatos, as fichas funcionais são avaliadas, com o objetivo de excluir todos aqueles que possuam qualquer mácula em suas vidas profissionais ou pessoais. Uma Unidade de Operações Especiais não pode ter Operadores envolvidos com atividades criminosas, que respondam a processos crime ou pendências judiciais, ou tenham qualquer tipo de condenação. Da mesma forma, indivíduos de pouco convívio social profissional também não podem integrar uma UOEsp, uma vez que o conceito principal desta é justamente o trabalho em equipe. A aplicação de testes psicológicos levará a busca por Operadores que tenham o perfil psicológico necessário, com qualidades como flexibilidade, capacidade de improvisação, adaptabilidade e equilíbrio emocional. Os testes psicológicos são 84
CASCIO, Pat e MCSWEENEY, John. SWAT BATTLE TACTICS: How to organize, train and equip a SWAT Team for Law Enforcement or Self-defense.1996. Paladin Press. ISBN: 978-0- 87364-900-1
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completados com o processo de entrevista dos candidatos, por uma comissão de membros mais antigos do grupo, ou os encarregados principais do processo de criação da Unidade. Esta comissão avaliará a ficha funcional do candidato, o entrevistará sobre suas aspirações quanto ao Grupo, suas motivações ao voluntariar-se à Unidade e sua disponibilidade em cumprir missões de alto risco, muitas vezes com o prejuízo de sua vida familiar e pessoal. O candidato será questionado sobre seus hábitos, possíveis vícios, situação financeira, bem como questões de sua vida pessoal. O último passo, o do treinamento básico do Operador, envolve o curso de formação tática básico (na doutrina norte-americana chamado de SWAT SCHOOL), ou Curso de Operações Especiais. Somente após a conclusão satisfatória deste curso o candidato poderá integrar a Unidade. McMANNERS 85 (2003) elucida o processo de seleção das Forças Especiais enfatizando a necessidade de testar o candidato psicologicamente. Além da seleção via teste psicológico, o curso básico de formação do Operador deve também separar os candidatos mais independentes, determinados e focados no sucesso e cumprimento de suas missões. Assim expõe McManners: Although special force´s selection courses are very demanding physically, their true purpose is psychological testing. Physical fitness is important only in so far as it enables candidates to take part in the process. By the end of a selection course, most candidates will be suffering from injuries, and will have to get through by looking after themselves and protecting their injury as best they can. Selectors are looking for an individual likely to carry on with a mission regardless of any obstacle or disaster, and even if he is the only person left out of a team. This kind of toughness is rare, and emerges only under great pressure. The most unlikely people prove up to the task, whereas those that seem the most impressive at the start sometimes fail to find the inner resources needed to finish the course. Embora os cursos de seleção das forças especiais sejam muito exigentes fisicamente, seu verdadeiro propósito é o teste psicológico. A aptidão física é importante na medida em que permite aos candidatos tomar pare do processo. Até ao final de um curso de seleção, a maioria dos candidatos estará sofrendo de lesões, e terá que cuidar de si e proteger os seus ferimentos da melhor forma possível. Os seletores estão procurando uma pessoa com probabilidade de continuar com uma missão independente de qualquer obstáculo ou catástrofe, ou mesmo se ele for a única pessoa da equipe. Este tipo de resistência é rara, e só surge sob grande pressão. As pessoas mais improváveis provam estar à altura da tarefa, enquanto que aqueles que parecem os mais impressionantes no início, por vezes não conseguem encontrar os recursos interiores necessários para terminar o curso. Tradução do autor 85
McMANNERS, Hugh. Ultimate Special Forces. Dorling Kindersley Limited. 2003 ISBN: 1- 4053-0224-0
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ZAQUEU BARBOSA86 (2002) divide o processo de seleção do Operador em três fases distintas: O perfil profissiográfico, testes físicos e conceito do comandante. Defende a aplicação de um exame de perfil profissiográfico, com o objetivo de retratar as qualidades que devem possuir policiais integrantes de um Grupo de Operações Especiais. Quanto ao teste físico, ressalta que este tem o condão de avaliar o desempenho e o condicionamento físico do candidato, verificando se este está enquadrado no padrão de desempenho compatível com a operacionalidade funcional desejada em um integrante de Grupo de Operações Especiais. O teste físico deverá ainda medir a capacidade do sistema cardiopulmonar e neuromuscular do candidato. O conceito do comandante será a avaliação feita pelo Oficial encarregado da unidade original a que pertença o candidato, fundamentada na conduta profissional deste, na avaliação de quesitos como equilíbrio emocional, sociabilidade, tolerância a frustração, entre outros. Entendemos que uma vez selecionados os melhores candidatos, estes ainda deverão ser filtrados através do curso de formação tática básica de Operador, com duração suficiente para abranger as principais doutrinas técnicas da Unidade. 2.5. O processo de formação básica do Operador de Operações Especiais
Selecionados os candidatos, inicia-se o processo de transformação do convencional em especial. Chamado por alguns de “forja”, em alusão às qualidades necessárias para trabalhar o metal, o curso de formação tática básica de Operador abrange uma quantidade imensa de informações, as quais os alunos serão submetidos em um espaço limitado de tempo. Além da intensidade com que as informações são transmitidas, um dos componentes fundamentais do curso é o processo ritual. Ritos e cerimônias permeiam todo grupamento social, das sociedades primitivas às tecnológicas. Eles revelam os valores mais profundos do comportamento humano. O ritual de iniciação é uma forma sintética de rito de passagem, sendo também um rito de formação.
86
BARBOSA, Capitão PM/MT Zaqueu. Descentralização dos Grupos de Operações Especiais. Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais. Polícia Militar do Estado de Mato Grosso (PM/MT).2002.
109
Este ritual de formação vai diferenciar os participantes (o círculo dos neófitos) dos não-iniciados. Muitas vezes, estes rituais contam com marcas, inscrições nos corpos dos participantes, sinais visíveis da formação e transformação em uma nova identidade. VAN GENNEP 87 (1978) reforça que a iniciação é uma passagem, ao mesmo tempo simbólica e material, de um domínio social para outro. A entrada para um mundo novo e a saída de outro, antigo. BETINI e TOMAZI 88 (2009), descrevem o Curso de Operações Táticas realizado pelo Comando de Operações Táticas do Departamento de Polícia Federal: Ele é dividido em dois grandes módulos, que se alternam, com objetivos bem distintos. O primeiro, o módulo “rusticidade”, objetiva forjar o guerreiro, transformar a matéria bruta em aço, que resistirá a todas as provações enfrentadas em seu dia-a-dia. O segundo, o módulo “técnico”, privilegia os conhecimentos, as técnicas e as táticas, trazendo os principais requisitos para o desempenho das atividades de natureza especial. Os objetivos são muito claros: prover o aluno com conhecimentos, habilidades e atitudes compatíveis com um integrante de Operações Especiais. São dezesseis semanas em um curso no qual não há racionamento de munição e meios. O curso, obrigatório para o ingresso no COT, funciona como uma espécie de ritual de passagem, onde os futuros integrantes têm suas identidades retiradas, ganham um uniforme padronizado, têm a cabeça raspada, transformando-se em apenas um número. Esse processo é importante para que todos deixem seu individualismo e suas vaidades de lado, passando a formar um grupo homogêneo. Os alunos que vencerem as etapas desse “ritual”, o curso, serão reintegrados e terão seu status recuperado, passando a fazer parte desse novo grupo: o COT.
Da mesma forma, FERREIRA DOS SANTOS 89 (2010, comunicação pessoal) descreve o processo de seleção dos Operadores do COT em fases, iniciando-se com o envio de curriculum dos candidatos, a aplicação de testes físicos, entrevistas, e a execução do Curso de Operações Táticas, com a duração de aproximadamente 18 semanas. Os cursos de Operações Especiais baseados na doutrina de comandos do Exército Brasileiro, popularmente conhecidos como “cursos caveiras”, utilizam-se intensamente de rituais para inclusive marcar o desligamento dos alunos.
87
VAN GENNEP, Arnold.Os ritos de passagem. Editora Vozes. 1978. BETINI, Eduardo Maia e TOMAZI, Fabiano. COT: Charlie, Oscar, Tango: Por dentro do grupo de operações especiais da Polícia Federal. São Paulo. Editora Ícone. 2009. ISBN: 978-274- 1064-9 89 FERREIRA DOS SANTOS, Marcos. Delegado de Polícia Federal. Coordenador do Comando de Operações Táticas do Departamento de Polícia Federal (COT/DPF). 88
110
Extremamente exigidos, física e psicologicamente, os alunos destes cursos passam por privações, são expostos à situações de stress e muitas vezes de contato físico, com fim de selecionar naturalmente os mais determinados. O ritual de desligamento é comum a todos os cursos de Operações Especiais. O aluno admite seu desligamento, e em algumas variações, faz ou não seu próprio enterro simbólico, em um cemitério montado no campo de instrução. Alguns enterram seu gorro numerado, outros montam uma lápide com um tijolo ou pedra, também numerada. De qualquer forma, ter tocado o “sino” representando sua desistência do curso faz do aluno compreender o processo de desligamento, algo que o símbolo da caveira trespassado por uma adaga referencia como “a vitória sobre a morte”. Para compreendermos melhor o treinamento de Operações Especiais, ainda é necessário conceituar as suas especialidades. 2.6. O treinamento em Operações Especiais
Para entendermos como se processa o treinamento em Operações Especiais, é necessário primeiro conceituar o treinamento em si. A definição da palavra em si, apresentada por FERREIRA 90 (1985) em seu dicionário indica que treinamento é o processo que torna o indivíduo apto para determinada atividade ou tarefa. Para MARTIN 91 (1977), treinamento é um processo que favorece alterações positivas de um estado (físico, motor, cognitivo e afetivo). A partir desta concepção, BOMPA 92 (2002) caracteriza que a função principal do treinamento é aumentar a capacidade de trabalho do treinando, a efetividade de suas habilidades e suas qualidades psicológicas a fim de melhorar seu desempenho. WEINECK93 (1999) enfatiza que o termo treinamento é utilizado na linguagem coloquial em diferentes contextos com o significado de “exercício”, cuja finalidade é o aperfeiçoamento em uma determinada área. Em Operações Especiais, o treinamento é dividido em 3 aspectos básicos: O treinamento físico, o treinamento técnico e o treinamento tático. 90
FERREIRA, A.B.H. Minidicionário Aurélio. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira. 1985 MARTIN, Andréa Fontoura. Polígrafo de teoria do treinamento físico. 1977 92 BOMPA, Tudor O. Treinamento Total para jovens campeões: programas comprovados de condicionamento para atletas de 6 a 12 anos. Editora Manole. 2002 93 WEINECK, Jürgen. Treinamento Ideal, instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico, incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil. Editora Manole. 9° Edição. São Paulo – SP. 1999 91
111
2.6.1. Conceituando treinamento físico
O treinamento físico é a base para o treinamento de atletas, esportistas e profissionais do esporte. Através do treinamento físico que se condiciona o corpo para a prática esportiva, para atividades de impacto ou esportes de alta performance, aumentando a força e a massa muscular, diminuindo o percentual de gordura, aumentando a flexibilidade, melhorando as capacidades aeróbica e anaeróbica, enfim, melhorando o condicionamento físico geral. BARBANTI94 descreve que historicamente o treinamento físico é uma atividade muito antiga, mas seu corpo de conhecimento é relativamente recente. No começo do século XX, os treinadores e alguns estudiosos começaram a reunir e sistematizar suas experiências com o intuito de facilitar o processo e aumentar o rendimento esportivo. Assim, de uma forma quase espontânea, se estruturou as bases do que mais tarde se chamaria de Teoria de Treinamento ou Metodologia do Treinamento. SILVEIRA, CURTINAZ e POOL
95
(2007) em seu Manual básico de
treinamento físico para a Polícia Civil do Rio Grande do Sul defende que o aspecto fundamental que se deve buscar no treinamento físico de integrantes da polícia é o de padronizar e organizar meios com os procedimentos existentes, através de um planejamento, uma coordenação, condução e execução de atividades físicas necessárias para o desenvolvimento técnico e cumprimento das atribuições de uma organização policial. Ressaltam que para o estrito cumprimento do dever legal enquanto instituição policial, é necessário que o seu agente esteja preparado fisicamente, pois além de desenvolver atribuições administrativas, executa ações como atirar, perseguir, lutar, saltar, dentre outras, que exigem um bom condicionamento físico e psicológico, e se não forem realizadas tecnicamente e profissionalmente resultam em perdas financeiras para toda a sociedade. Além de correr risco de sua própria vida, o agente despreparado coloca a vida de terceiros em perigo, gerando indenizações e gastos públicos. Assim, entendemos que os objetivos do treinamento físico dos Operadores de Unidades de Operações Especiais são basicamente os seguintes:
94
BARBANTI, Valdir José. A relevância do conhecimento científico na prática do treinamento físico. Revista Paulista de Educação Física. USP. 2004. 95 SILVEIRA, Julio Junior Soares, CURTINAZ, Márcia Beatriz Silveira, POOL, Doralice Orrigo da Cunha. MANUAL BÁSICO DE TREINAMENTO FÍSICO PARA POLÍCIA CIVIL/RS. 1ª. Edição. Polícia Civil do Rio Grande do Sul. 2007
112
a) Desenvolver, manter ou recuperar a aptidão física do Operador, necessárias para o bom desempenho das missões de Operações Especiais; b) Contribuir para a saúde do Operador, garantindo o treinamento físico como fonte de diminuição do stress físico e psicológico; c) Auxiliar no adestramento da Unidade, utilizando o treinamento físico como um instrumento de padronização de movimentos técnicos, deslocamento de grupo e trabalho em equipe. 2.6.2. Conceituando treinamento técnico
O treinamento técnico, segundo DANTAS
96
(2003) é o conjunto de
procedimentos e conhecimentos capazes de propiciar a execução de uma atividade específica, de complexidade variável, com o mínimo de desgaste e o máximo de sucesso. Já TUBINO e MOREIRA 97 (2003), relatam que a preparação técnica é o treinamento dos fundamentos técnicos individuais acrescidos de seqüências ensaiadas, com o sentido de enfrentar a competição com recursos técnicos suficientes para o alcance do êxito nos objetivos formulados. MATVEEV98 (1996) estipula que o treinamento técnico deve seguir basicamente três propósitos: Ampliar e assimilar a teoria da modalidade treinada, ampliar a destreza e os hábitos motores favoráveis ao aperfeiçoamento da modalidade treinada, aperfeiçoar os gestos específicos da modalidade treinada. As técnicas utilizadas em Operações Especiais são as empregadas na utilização de equipamentos, habilidades e procedimentos que também são executados por profissionais convencionais. O que as diferencia basicamente é a performance obtida, eis que os Operadores devem sempre ser os mais qualificados e de melhor desempenho na aplicação das técnicas. Como exemplo, temos a técnica de tiro, que basicamente é a mesma, na utilização de uma arma de fogo. O mesmo processo técnico de efetuar um disparo com uma pistola é feito pelo convencional e pelo Operador, mas o desempenho não pode ser o mesmo. O Operador, pelas características de sua missão, deve possuir um desempenho acima da média do que se espera do convencional. O Operador pelas 96
DANTAS, Estélio H.M. PREPARAÇÃO FÍSICA. Rio de Janeiro. 2003. Editora Shape. TUBINO, Manoel José Gomes; MOREIRA,Sérgio Bastos. METODOLOGIA CIENTÍFICA DO TREINAMENTO DESPORTIVO. 13ª. Edição. 2003. Rio de Janeiro. Editora Shape. 98 MATVEEV, Lev Pavilovch. PREPARAÇÃO DESPORTIVA. 1996. São Paulo. Editora Phorte. 97
113
características de sua missão, possui muito menos chances de errar um alvo, sem colocar-se em risco imediato, ou a um terceiro. Assim, entendemos que os objetivos do treinamento técnico dos Operadores de Unidades de Operações Especiais são basicamente os seguintes: a) Desenvolver, manter ou otimizar a coordenação motora do Operador, auxiliando-o na compreensão dos movimentos necessários para o bom desempenho das técnicas empregadas nas Operações Especiais; b) Aperfeiçoar ao nível máximo as habilidades individuais dos Operadores em cada modalidade técnica de Operações Especiais, bem como as habilidades coletivas, visando a maestria da Unidade em suas funções; c) Auxiliar no adestramento da Unidade, utilizando o treinamento técnico como um instrumento de padronização da doutrina da Unidade. 2.6.3. Conceituando treinamento tático
A definição de tática, segundo HOUAISS 99 (2009) em seu dicionário é a de método ou habilidade para sair-se bem em empreendimentos, disputas, situações de vida, sendo ainda relativo a arranjo, organização, alinhamento, manobra hábil. Já o dicionário Michaelis100, define tática como a arte de empregar as tropas em campo de batalha com ordem, rapidez e recíproca proteção, segundo as condições de suas armas e do terreno, ou como a habilidade ou meios empregados para sair-se bem de qualquer negócio ou empresa. Para as Operações Especiais, táticas são as habilidades e procedimentos extraordinários aos convencionais, aplicados aos equipamentos, estratégias e planejamentos, diferentes dos aplicados em ações e por profissionais convencionais. Assim, a tática empregada por uma UOEsp para a tomada de uma edificação difere diretamente daquela empregada por uma Unidade convencional, tanto em sua aplicabilidade, como em seus equipamentos, planejamento e procedimentos utilizados. O treinamento tático, segundo DANTAS
101
(2003) é o conjunto de
procedimentos que irá assegurar ao indivíduo ou a uma equipe a utilização dos 99
Houaiss, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 2009. Editora Objetiva Dicionário Michaelis. Moderno Dicionário Portugês. Consultado em: 23/12/2010. Disponível on-line: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues- portugues&palavra=t%E1tica 101 DANTAS, Estélio H.M. PREPARAÇÃO FÍSICA. Rio de Janeiro. 2003. Editora Shape. 100
114
princípios técnicos mais adequados a cada situação do objetivo alvo ou de um adversário. As opções táticas estão sempre vinculadas as possibilidades técnicas, uma vez que estas dependem das habilidades desenvolvidas pelos Operadores e pela Unidade. Escolher a tática de inserção helitransportada no terraço de uma estrutura tomada como fortaleza por perpetradores de um evento criminoso sem que o Grupo tenha o conhecimento técnico de como fazê-lo, não transformará este M.O.E. (método de entrada) em algo possível, pela ausência de domínio da técnica de como fazê-lo. Da mesma forma, o domínio da técnica vertical de rapel é completado com a habilidade tática de inserção em um ambiente vertical (edifício) através de uma janela, adicionando assim ao Grupo de Assalto uma possibilidade de invasão não-convencional, típica das Operações Especiais. Dessa forma, é importante separar o conceito de tática do de estratégia, para as Operações Especiais. O dicionário Michaelis102 define estratégia como a arte de conceber operações de guerra em planos de conjunto. Também tem a conotação de ardil, artimanha, estratagema, ou a arte de dirigir coisas complexas. A palavra vem originalmente do grego stratègós 103, e está vinculada a arte de liderar um exército, a partir do planejamento. Estratégia e tática estão intimamente relacionadas, mas a estratégia diz respeito aonde e como combater o inimigo, e a tática o modo de fazê-lo. O treinador russo MATVEEV
104
(1996) estabeleceu diversas propostas
metodológicas para o treinamento tático, dos quais se destacam as seguintes: Aquisição de conhecimentos sobre os recursos táticos disponíveis individualmente e em relação à equipe e em que condições poderão ser utilizados, o estudo das possibilidades do adversário e sua provável condição, a criação de situações complicadoras durante o treinamento com a introdução de obstáculos, o treinamento relacionado ao plano tático criado, em condições de stress.
102
Dicionário Michaelis. Moderno Dicionário Portugês. Consultado em: 23/12/2010. Disponível on-line: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues- portugues&palavra=estrat%E9gia 103 Stratègós – ( Στρατηγική ) de stratos (exército) e ago(liderança ou comando), tendo como significado “A arte do General”. 104 MATVEEV, Lev Pavilovch. PREPARAÇÃO DESPORTIVA. 1996. São Paulo. Editora Phorte.
115
No treinamento tático, busca-se desenvolver os sistemas mais complexos, tanto ofensiva quanto defensivamente, por intermédio das estratégias. Essa relevância é atribuída à definição de uma doutrina prévia da Unidade, determinando suas ações e procedimentos, que balizarão o direcionamento do treinamento e a forma de executá-lo. Dessa forma, entendemos que os objetivos do treinamento tático dos Operadores de uma Unidade de Operações Especiais são basicamente os seguintes: a) Desenvolver, manter ou otimizar o conjunto de táticas disponíveis aos Operadores, auxiliando-os na compreensão das técnicas disponíveis bem como novo emprego tático das mesmas, fundamentais para o bom desempenho nas Operações Especiais; b) Aperfeiçoar ao nível máximo as habilidades táticas individuais dos Operadores em cada técnica de Operações Especiais empregadas pela Unidade, visando a maestria em suas funções; c) Auxiliar no adestramento da Unidade, utilizando o treinamento tático como um instrumento de padronização de sua doutrina. d) Desenvolver novas formas de emprego de táticas especiais para a obtenção do sucesso nas ações empregadas pela Unidade. 2.7. O treinamento continuado das Unidades de Operações Especiais
A Doutrina internacional preconiza que o treinamento das Unidades de Operações Especiais deve ser constante e ininterrupto. Como o treinamento, segundo MARRAS
105
(2001) é um processo de
assimilação cultural a curto prazo, que objetiva repassar ou reciclar conhecimento, habilidades ou atitudes relacionadas diretamente à execução de tarefas ou à sua otimização no trabalho, faz-se necessário realizá-lo com constância, uma vez que as habilidades necessárias aos Operadores das UOEsp devem estar sempre em seu mais alto nível. A continuidade do treinamento e sua constância está vinculada à doutrina norteamericana SWAT, conforme se observa em trabalhos como os de DAVIDSON 106 (1979): 105
MARRAS, Jean Pierre Administração de Recursos Humanos: Do Operacional ao Estratégico. 2001.4. Edição. São Paulo: Futura. 106 DAVIDSON, Phillip L. SWAT – SPECIAL WEAPONS AND TACTICS. 1979. Charles Thomas Publishing. Illinois. USA. ISBN: 0-398-03890-2
116
Training is the backbone of all Swat operations. The team will only be as good as it trains. Many teams are formed, initially trained, then allowed to lie fallow, and then learn from costly mistakes on actual missions. Training must be a continuing thing. Tradução do autor – Anexo 1.17 – página 189
Em seu artigo SWAT Training goals (Metas de treinamento SWAT), POLAN 107 (2008) reforça que o treinamento das Unidades SWAT deve ser contínuo e permanente. Os instrutores e estudantes devem estar dispostos a aprender novas informações sem qualquer medo de mudanças. Os melhores oficiais e os melhores times são os mais treinados. Times SWAT devem ter o melhor treinamento possível. O objetivo do treinamento constante é também aprimorar a memória muscular dos Operadores. A memória muscular está relacionada com a memória procedimental, ou seja, é a memória dos atos motores, do saber fazer alguma coisa. É a memória para hábitos ou habilidades e está ligada a aquisições de vivências que fornecem ao indivíduo a capacidade de evocar as experiências passadas, resgatando as informações do comportamento motor para realizar da melhor maneira possível, por uma necessidade imposta ao indivíduo, realizar um evento no tempo presente. Ela está relacionada ao condicionamento clássico, a repetição de movimentos, sendo ativada por determinados estímulos, fazendo o indivíduo agir mecanicamente. Dessa forma, o treinamento constante das técnicas e táticas especiais, faz o Operador responder quase que mecânica e instintivamente os procedimentos e movimentos que podem salvar a sua vida ou a de outrem, durante uma situação de crise. Incorporar nos treinamentos técnicos e táticos exercícios que priorizem o desenvolvimento desta memória procedural facilita o aprendizado do Operador e garante que seu tempo de reação será o mínimo possível e sempre dentro das doutrinas técnicas estabelecidas pela Unidade.
107
POLAN, James. SWAT TRAINING GOALS – Planning and Practice. SWAT Magazine. Volume 27. Número 3. Março de 2008. Group One Enterprises. Flórida. USA. ISSN: 1062-2365
117
2.8. O planejamento do treinamento das Unidades de Operações Especiais
MINICUCCI 108 (1995) reforça que o treinamento pode ser considerado um esforço planejado, organizado e especialmente projetado para auxiliar os indivíduos a desenvolverem suas capacidades. Mais do que simplesmente determinado pelo Comando da Unidade, o treinamento quer de formação básica, quer continuado, deve ser minuciosamente planejado. Para isso, a figura de um Coordenador de Treinamento e de bons instrutores (FIGURA 29) é extremamente importante. POLAN 109 (2008) expõe com propriedade essa necessidade: Every team should have a training coordinator (TC) who provides the calendar plan of action for the upcoming year. This blueprint for success will provide guidance for the entire year for scheduling of officers, ranges and other resources to facilitate training. This coordinator carries a great deal of responsibility; therefore, the TC must be awarded the authority to carry out the assignment. This position should not be awarded due to member´s rank or position but their ability, skill and knowledge to complete the task. The TC, working with swat supervision, must evaluate the current program on several issues: Administration Instructor qualifications Current training and future needs Lesson plans that are recent, realistic and relevant The mindset of “if it´s not broken, why fix it?” does not belong in law enforcement training. Choosing the right instructors is far more important than the quality of the lesson plans. Instructors do not have to be experts in the topic, but they must have the knowledge to deliver the information in a positive learning, environment. SWAT trainers must believe in what they are teaching and practice what they demonstrate . Tradução do autor – Anexo 1.18 – página 189
Um bom calendário de treinamento levará em conta as necessidades da Unidade, o perfil de seus Operadores e o tipo de missão empregada pelo Grupo. Deve ser também organizado de forma a poder contar com o treinamento cruzado, onde a interdisciplinariedade como processo de integração recíproco entre as várias disciplinas técnicas e táticas poderão romper as estruturas de cada uma delas para alcançar uma visão unitária e comum do saber, trabalhando em parceria. 108
MINICUCCI, Agostinho. Psicologia Aplicada à Administração. 1995. 5ª edição. São Paulo: Atlas. 109 POLAN, James. SWAT TRAINING GOALS – Planning and Practice. SWAT Magazine. Volume 27. Número 3. Março de 2008. Group One Enterprises. Flórida. USA. ISSN: 1062-2365
118
O espírito de corpo de uma UOEsp deve estar presente principalmente, na forma e na qualidade de seu treinamento.
FIGURA 29 – Passing Knowledge – KRAMER, Dick – 1993
119
3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Os instrumentos de pesquisa aplicados
Este trabalho fundamenta-se inicialmente em uma pesquisa bibliográfica, feita tanto na área histórica como conceitual, descrevendo a evolução das Operações Especiais, das UOEsps militares e policiais, já que uma análise simplesmente histórica mostrar-se ia inadequada, diante dos poucos trabalhos científicos existentes em nosso país conceituando e definindo o tema. Ademais, utilizamos principalmente de estudos etnográficos da observação direta de Unidades de Operações Especiais Policiais, verificando suas estruturas, a formação de seus Operadores, o treinamento e o dia-a-dia, estabelecendo uma base comum de compreensão, como expõe CLIFFORD 110 (1998), um lugar intermediário entre duas culturas (a do pesquisador e dos pesquisados). A etnografia, conforme FERREIRA111 (1985) é o “estudo e descrição dos povos, sua língua, raça, religião e manifestações materiais de sua atividade; descrição da cultura material dum determinado povo”. Ou seja, é a descrição de determinados aspectos da cultura sem que se faça juízo de valor. O pesquisador etnógrafo lida com uma modalidade de pesquisa que se vê “diante de diferentes formas de interpretações da vida, formas de compreensão do senso comum, de significado variado atribuído pelos participantes às suas experiências e vivências e tenta mostrar esses significados múltiplos ao leitor”, ANDRÉ112 (2005). Inicialmente, este trabalho era de domínio dos antropólogos, mas atualmente “existem algumas provas que os sociólogos e os antropólogos se estão a aproximar no modo como conduzem investigação e na orientação teórica que subjaz ao seu trabalho” BOGDAN e BIKLEN113 (1994). Enquanto a etnografia possui amplo interesse na descrição da cultura de um grupo social, a preocupação dos estudiosos de educação é com o processo educativo porque passa esse grupo. Neste sentido, cabe ressaltar o entendimento de ANDRÉ 110
CLIFFORD, James. A experiência etnográfica – Antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ,1998. 319 p. 111 FERREIRA, A.B.H. Minidicionário Aurélio. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira. 1985 112 ANDRÉ, Marli Eliza D. A. de. Etnografia da prática escolar. 2ª ed. Campinas, SP.Papirus, 2005. 113 BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.
120
(2005), de que é preciso fazer uma diferenciação de enfoques nestas duas áreas, pois os educadores não cumprem determinados requisitos da etnografia, como, por exemplo, permanecer uma longa temporada em campo para poder estabelecer o contato, o pertencer ao grupo e os dados serem revelados para a descrição e análises. O que se tem feito, segundo ANDRÉ (2005) “(...) é uma adaptação da etnografia à educação(...)” este fato leva à compreensão de que na educação se faz estudos do tipo etnográfico. Os estudos etnográficos realizados apresentam as características de contarem com técnicas de observação participante, entrevistas intensivas, análises de documentos existentes, todas características próprias de pesquisas qualitativas. Este autor deu ainda grande ênfase ao processo de obtenção dos dados, a preocupação no significado atribuído pelos sujeitos às suas ações desenvolvidas, e a descrição das experiências obtidas através da observação participante. A observação participante, conforme Veiga (apud FAZENDA
114
, 2002),
apresenta-se com (...) pesquisadores e pesquisados como sujeitos ativos da produção do conhecimento “. O pesquisador tem sempre um certo grau de interação com a situação investigada, atingindo-a e sendo por ela atingido”. As entrevistas também realizadas mostraram-se como situações em que a elaboração da pergunta desencadeadora não apresentou-se como uma tarefa fácil. Levaram-se em conta os objetivos da pesquisa e a forma de abordagem dos pesquisados. Esta forma de abordagem permitiu que se aprofundassem algumas questões relacionadas à formação básica dos Operadores e seu posterior treinamento, esclarecendo alguns problemas observados, notadamente relacionadas à mística e aos rituais próprios destes Operadores. A análise dos questionários efetuados foram importantes para contextualizar, aprofundar e completar as informações coletadas, sendo, também, um instrumento essencial na triangulação dos dados. Toda pesquisa do tipo etnográfica exige um trabalho de campo. O que pressupõe uma proximidade com as pessoas, situações e locais. No caso desta pesquisa nos encarregamos de descrever tudo o que pudemos observar nas UOEsps pesquisadas: localidade, o espaço físico, equipamentos utilizados, a formação dos Operadores, seu treinamento e outros aspectos que fizessem parte do cenário. 114
FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Metodologia da Pesquisa Educacional. 8.edição. São Paulo. Cortez. 2002.
121
A demora nestas observações prende-se ao fato de que as situações são pesquisadas em sua manifestação natural. É preciso haver o tempo necessário para que o pesquisador fosse aceito pelos participantes pesquisados. Para GEERTZ115 (1989), a interpretação da cultura implica no envolvimento e proximidade com o pesquisado. È preciso fazer parte da sociedade pesquisada para que sejam desvelados seus hábitos e costumes, seus modos de vidas e suas próprias interpretações. Utilizamos também um plano de trabalho aberto, flexível que permitisse rever as técnicas de coletas de dados, os instrumentos e os referenciais teóricos. Uma abordagem que se centrasse principalmente na descoberta de novos conceitos e relações, além de novas formas de compreensão da realidade observada. 3.2. População e grupos
Este trabalho teve como população os Operadores de Unidades de Operações Especiais Policiais, já que segundo BOGDAN e BIKLEN 116 (1994) estes são o foco principal do estudo, pois os “sujeitos são os atores sociais, ou o grupo natural, ou a microcultura: pessoas que interagem, que se identificam umas com as outras e que partilham expectativas em relação ao comportamento umas das outras – partilham uma identidade de grupo.” A escolha do grupo entrevistado seguiu uma amostragem oportunística, com integrantes das UOEsps relatadas nas etnografias realizadas. Esta abordagem foi escolhida porque permitiu uma melhor interação com o pesquisador, uma vez que a confiança estabelecida durante o processo etnográfico garantiu a intimidade suficiente para a realização de entrevistas gravadas, em uma população naturalmente resistente a esta metodologia de pesquisa. Além de entrevistados, essa amostra oportunística (convenience sampling) também respondeu a um questionário, dado ao seu caráter exploratório, que em uma pesquisa qualitativa desta natureza, realizado em um pequeno grupo, completa os dados obtidos através da observação participativa e das entrevistas realizadas.
115
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994. 116
122
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. Relatos Etnográficos
Basicamente três UOEsps atenderam a solicitação de nos receber e dividir, sem reservas, o dia-a-dia de seus Operadores, atendendo nossos pedidos de observar e participar de todas as atividades, inclusive dos treinamentos aplicados. Além da SWAT de Los Angeles, as duas UOEsps do Estado do Paraná, o Grupo T.I.G.R.E. da Polícia Civil e o BOPE/COE da Polícia Militar aceitaram a missão sem objeções, e nossa presença, mais do que simplesmente suportada, ganhou características de convívio franco e igualitário. 4.1.1. Los Angeles Police Department S.W.A.T. (Special Weapons And Tactics) - “D” Platoon Introdução
Em setembro de 2010, nos deslocamos para a cidade de Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos da América, com o objetivo de conhecer, observar e analisar a doutrina, procedimentos e o dia-a-dia da UOEsp denominada como “Pelotão D”, ou Unidade S.W.A.T. (Special Weapons and Tactics) do Departamento Metropolitano da Polícia de Los Angeles. Primeira SWAT norte-americana e criadora deste conceito, esta UOEsp além de pioneira, estabeleceu doutrina mundial e é tida como referência para diversas Unidades de Operações Especiais em todo o mundo. Este estudo etnográfico tem como foco a descrição e análise do conjunto de cultura e costumes de Operações Especiais classificados pela própria comunidade OEsp como tradicionais. Observamos, entrevistamos e participamos dos treinamentos realizados pelos Operadores SWAT daquela Unidade, transcrevendo como são os procedimentos de seleção, formação básica e treinamento continuado. O Departamento de Polícia Metropolitano
Iniciamos nosso contato com o Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD) através do responsável Comandante Scott Kroeber, Diretor Assistente do Escritório de Operações Especiais.
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Prontamente atendidos, fomos encaminhados ao Platoon Commander Tenente Ruben Lopez, responsável pelo famoso “Pelotão D” (designação administrativa da S.W.A.T. de Los Angeles) a primeira e mais famosa UOEsp Policial dos Estados Unidos da América, e diante das checagens de segurança e demonstração de quais eram nossos objetivos com esta pesquisa, fomos conduzidos ao Tenente Bunch, que nos recebeu de forma amigável e entusiasmada.
FIGURA 30 – Frente do Departamento Metropolitano da LAPD – (foto do autor)
O pelotão D (LAPD SWAT) fica localizado nas dependências do Departamento Metropolitano da Polícia de Los Angeles (FIGURA 30). Localizado em Downtown, o centro histórico da cidade, possui em sua fachada um mural feito de ladrilhos e mosaicos, representando as diversas atividades da LAPD. Fomos recebidos na entrada do edifício pelo sargento responsável pelos despachos da delegacia. Ali há o atendimento ao público, recebendo as ocorrências relativas àquela circunscrição. Após uma nova checagem de segurança e a autorização do Tenente Bunch, somos encaminhados ao andar onde localizam-se todas as estruturas da SWAT.
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Composta de várias salas, a LAPD SWAT possui um auditório / sala de reuniões (para o briefing das operações), sala de supervisores, banheiros, academia de ginástica, armeria, sala de equipamentos, além das dependências dos outros pelotões, distribuídos pelos andares do edifício, dentre outras estruturas administrativas. Equipamentos utilizados
Nosso primeiro contato foi com o Oficial Michael Mullins, um dos armeiros responsáveis pela logística da Unidade. Ele apresentou-nos os equipamentos utilizados, dando ênfase a duas características daquela Unidade: Todos os equipamentos utilizados, de armamentos à equipamentos de proteção ou apoio, devem ser os melhores existentes no mercado. A segunda característica é de que a Unidade é um campo de estudos para a indústria, no desenvolvimento de novas tecnologias. A Unidade recebe todo ano inúmeros materiais e equipamentos para testes. Também possui policiais responsáveis que auxiliam no desenvolvimento de novas tecnologias, nascidas das experiências dos próprios Operadores.
FIGURA 31 – Michael Mullins, armeiro da LAPD SWAT com espingarda Benelli M3 - (foto do autor)
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Com relação aos armamentos utilizados, Mullins nos informou que cada Operador SWAT possui em sua carga uma pistola modelo 1911A1, calibre .45 ACP, da marca Kimber, com lanterna dedicada, como sua arma curta de defesa. Além disso, ficam sob a responsabilidade do Operador uma espingarda calibre 12 gauge marca Benelli, modelos M3 ou M4 (FIGURA 31), uma submetralhadora Heckler und Koch modelo MP5 em calibre 9mm e uma carabina Heckler und Koch modelo HK416, em calibre .223 Rem, estas também com lanterna dedicada instaladas. Portanto, cada Operador está preparado para adequar seu armamento de acordo com a “plataforma tática” necessária, diante da ocorrência atendida. Todo esse armamento de posse e carga de cada Operador, normalmente fica “guardado” no porta malas da viatura designada para este mesmo Operador, com a qual se desloca 24 horas por dia, estando ou não de serviço. Pode ser portanto, acionado em qualquer hora do dia ou da noite, e deve responder de imediato este chamado. Mullins enfatizou que a escolha do armamento utilizado foi enormemente influenciada pelos eventos críticos acontecidos em 1997, qual seja, o “assalto ao Banco de North Hollywood”, onde dois suspeitos fortemente armados, com fuzis de assalto G3 e AK47, além de proteção balística, foram enfrentados por Operadores SWAT que há época utilizavam somente submetralhadoras MP5 em calibre 9mm. Foi necessário contar com fuzis de assalto e carabinas emprestadas de lojas de armas e munições, durante o incidente crítico, para que conseguissem neutralizar as ameaças, que mesmo atingidas por disparos de armas de pequeno calibre, não cessavam seus ataques, ferindo muitos policiais no tiroteio. Após o incidente, a Guarda Nacional da Califórnia forneceu 100 fuzis modelos M16 (já antigos e superados), até que a Polícia de Los Angeles adquirisse armamento mais moderno. Encerrando o tour pela área de logística e equipamentos, nos foi designado pelo comando um cicerone, Operador “novato” de nome Mário Rios. Mário Rios, oficial da Polícia de Los Angeles, 15 anos de serviço e há somente 1 ano e seis meses na Unidade SWAT. 38 anos de idade é um dos Operadores mais jovens, outra característica do Pelotão D, onde observa-se Operadores SWAT com a média entre 42 a 55 anos. Ele nos apresentou as outras áreas da Unidade, dando ênfase a sala dos supervisores, onde nos foi apresentado o líder de seu “squad”, Sargento Chester Lee McMillion.
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O sargento McMillion é um líder de “squad”, unidade com 10 homens composta por dois “element” (times com 5 homens cada). A LAPD SWAT é composta de 6 squads, formando portanto um pelotão atualmente com 60 Operadores. Convocado a participar da próxima instrução conjunta que seria realizada entre a SWAT e a Divisão de Suporte Aéreo da LAPD, fomos dispensados, aguardando então o chamado para a instrução. A formação básica do Operador SWAT
A formação básica do Operador da LAPD SWAT é chamada de SWAT SCHOOL (escola SWAT) e tem a duração de 12 semanas. Com ênfase nos aspectos físicos, técnicos e táticos, o processo de seleção dá-se inicialmente com os requisitos básicos para a matrícula no curso. É necessário ter pelo menos 5 anos de serviço na Polícia de Los Angeles e pelo menos 1 ano de serviço na Divisão Metropolitana para poder candidatar-se ao curso. Não existe divisão entre os sexos, e tanto Operadores homens como mulheres devem atingir as mesmas performances e requisitos necessários. Até hoje, somente uma mulher conseguiu concluir a SWAT SCHOOL e tornar-se Operadora da SWAT de Los Angeles. Dos candidatos a SWAT SCHOOL, somente os primeiros 40 classificados nos testes físicos são matriculados no curso, com a duração de 3 meses, ou 12 semanas. A primeira semana, chamada de “Hell week”, exige intensamente dos alunos, nos quesitos física, mental e emocional. Dos alunos matriculados, somente os 12 primeiros serão classificados para um possível aproveitamento na SWAT.
FIGURA 32 – Placa de formatura – SWAT SCHOOL 2009 - (foto do autor)
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A turma SWAT SCHOOL 2009 (FIGURA 32), da qual o oficial Mário Rios que nos acompanhava fez parte, teve somente 08 alunos concluindo o curso. Todos foram aproveitados no Pelotão D. O dia-a-dia do Operador SWAT
O turno de trabalho dos Operadores da LAPD SWAT tem a duração de 09 horas. O regime de trabalho é de segunda à sexta-feira, mas qualquer chamada fora do horário de expediente deve ser atendida. Policiais que por algum motivo não atendam a chamada, são cobrados por seu “Element Leader” ou pelo Líder de Esquadrão. A ausência repetida no não atendimento às chamadas é passível de punição pela exclusão da Unidade. Por serem integrantes do Pelotão D, os policiais recebem um acréscimo de 5% no percentual de suas remunerações, à título de periculosidade. As duas primeiras horas de todo turno de serviço são dedicadas à preparação física dos Operadores. Para tanto, o policial pode fazer uso da estrutura física da própria Unidade, que contém uma academia de musculação completa, ou de qualquer outra estrutura física da própria policia de Los Angeles, como a Academia de Polícia, que conta com piscina, área de atividades físicas, pista de atletismo, ginásio, dentre outras. Após as atividades físicas regulamentares e diárias, cada Element e Squad possuem suas próprias ordens de serviço e cronograma. O resto da manhã é reservado para atividades administrativas ou treinamentos técnicos. Quando em operação, o treinamento é suspenso ou adiado. A parte da tarde é reservada ao treinamento tático, com ênfase em combate em ambientes confinados, resgate de reféns, uso de armas menos que letais, operações helitransportadas, entre outras atividades de caráter especializado. Os times treinam de forma conjunta pelo menos uma vez na semana e toda a SWAT (os 6 Squads, com os 60 Operadores) fazem um treinamento conjunto mensal. O calendário de treinamento é decidido em conjunto entre os 6 Squad leaders, com sugestões dos Element Leaders e dos próprios Operadores. Os times especializados (Snipers, Arrombadores, EMT) fazem durante o mês diversos treinamentos táticos específicos às suas atividades. A justificativa do treinamento constante foi dada pelo Sargento Chester Lee McMillion, que usou a expressão “A SWAT de Los Angeles é uma full time SWAT, ou seja, uma UOEsp Policial de tempo integral, e deve portanto estar em condições de
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atuar em situações de crise com eficiência, a qualquer tempo. Seus profissionais devem estar altamente capacitados e atualizados com as mais modernas e eficientes técnicas. E isso só se consegue treinando”. Durante toda a sua existência, a SWAT de Los Angeles perdeu somente um Operador, vítima de um Perpetrador de Evento Criminoso (PEC) em uma situação de crise denominada “suspeito barricado”. O Operador de nome Randall D. Simmons, ou “Randy Simmons”, tinha 51 anos e estava há mais de 20 anos na Unidade. Ele é honrado e lembrado por todos, que chegam a usar em seus coletes, o seu número de código “41D”, bordado em um patch, como lembrança e honra ao Operador falecido. A cada 3 meses, todo o Pelotão D faz um teste de avaliação física, que consiste em corrida de 3 milhas e ½, no tempo máximo de 25 minutos, 40 apoios no solo (flexão de braço), 60 abdominais em 01 minuto e 05 barras fixas. O Operador que não atingir os requisitos mínimos durante a avaliação, tem direito a realizar novamente o teste. Durante este período, o Operador não participa mais das atividades de risco e é direcionado para o trabalho administrativo da Unidade. Caso este Operador não atinja novamente os requisitos mínimos, ele será colocado à disposição do Departamento de Polícia e direcionado para o trabalho em outra Unidade. Participando do treinamento
Durante toda a nossa estada na Unidade, fomos acompanhados pelo Operador Mário Rios, que em uma tarde nublada de gélido vento cortante de setembro, nos conduziu até a Air Support Division (Divisão de Suporte Aéreo), órgão da Polícia de Los Angeles responsável pelo apoio aéreo de toda a polícia. A Divisão de Suporte Aéreo conta com 16 aeronaves de asas rotativas (helicópteros), entre Bells e Aerospatile. Faz desde o trabalho de acompanhamento de tráfego, vigilância, observação de locais de maior incidência de crimes na cidade (hot spots), até o apoio direto no transporte de Operadores SWAT até cenas de crimes ou inserção em tomada de estruturas ou edificações. O treinamento do dia seria focado em técnicas de transporte de Operadores, divididos em “Elements” de dois e quatro integrantes (FIGURA 33). Todos os pilotos da divisão são policiais, formados como pilotos ou tripulantes, em escolas estatais ou privadas. Alguns são veteranos das forças armadas e outros, curiosamente, são policiais que devido aos últimos conflitos globais, foram emprestados
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pela Polícia de Los Angeles para as forças armadas norte-americanas, a fim de combater nos teatros de guerra do Afeganistão e Iraque. Recebidos pelos pilotos e co-pilotos responsáveis pelo treinamento conjunto, um briefing (reunião inicial) foi feito, onde o treinamento foi apresentado. O responsável pelo treinamento apresentou os objetivos a serem alcançados durante aquele dia, apresentou os exercícios que seriam executados, com pequena explanação teórica sobre a técnica que seria utilizada, o plano de segurança do treinamento, incluindo providências de extração e primeiros socorros se algo desse errado durante o treinamento, e dividiu as equipes. A princípio, duas aeronaves seriam utilizadas, e a técnica de transporte seria feita com os Operadores em pé, do lado de fora da aeronave, sobre os esquis. Inicialmente os Operadores se equiparam somente com capacetes e o uniforme padrão SWAT. Reunidos ao redor das aeronaves, foram relembrados dos comandos principais e forma de comunicação não verbal com os pilotos e co-pilotos. Após essa rápida teorização, foram divididos em duplas, e os exercícios com a aeronave desligada foram executados. Técnicas de aproximação, sinalização, subida nos esquis, ancoragem, sinalização e subida. Na seqüência, descida, desancoragem, sinalização e desembarque.
FIGURA 33 – Treinamento Helitransportado - (foto do autor)
Após meia hora de exercícios em seco, em que os “Elements” foram divididos em duplas e quartetos, os Operadores se equiparam com coletes balísticos e táticos e voltaram para os exercícios reais.
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As aeronaves tinham um ponto de partida e um ponto de chegada no pátio do heliporto. Cada Element com 04 Operadores ficou em um dos cantos do heliporto. O helicóptero apanhava a primeira equipe Alpha no ponto 1, através da técnica de embarque/ancoragem e os levava até o ponto 2, onde desembarcavam após os procedimentos, e a equipe Bravo embarcava e era levada até o ponto 1, onde outra equipe já se encontrava a postos. O exercício transcorreu por 1 hora e meia, transportando as equipes em uma extensão de aproximadamente 500 metros. Um rápido intervalo foi feito, para hidratação e outros cuidados. No retorno, o coordenador da instrução informou que o exercício final seria feito, e as equipes se equiparam novamente, desta vez com todo o equipamento e armamento padrão. Neste exercício, os Element de quatro integrantes seriam transportados da Divisão de Apoio Aéreo para o heliponto da prefeitura de Los Angeles, que dista há mais de 2 km do ponto de instrução. Um vôo de quase 10 minutos entre ida e volta, procedimentos de embarque e desembarque. A missão final daquela instrução era realizar uma infiltração helitransportada no topo do d o prédio da prefeitura. Concluído com êxito o treinamento de assalto tático helitransportado, antes da finalização da instrução, um “debriefing” (reunião final) foi realizado, destacando e relatando todo o ocorrido durante a instrução (FIGURA 34).
FIGURA 34 – Debriefing após o treinamento - (foto do autor)
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Reunidos em uma sala, toda a equipe que participou da instrução, os instrutores (pilotos e co-pilotos), alunos, tripulantes que sinalizaram os pousos e decolagens, foi iniciado o debriefing pelo coordenador da instrução, que relatou todos t odos os procedimentos realizados, relembrou o objetivo daquela instrução, considerando-o como concluído com êxito. Passou a pequenas considerações técnicas relativas as condições de vento e meteorológicas do dia e na seqüência a performance dos Operadores, informando pequenas modificações nas formações de embarque e outras sugestões. A palavra foi passada a cada integrante da equipe de instrução e depois, aos próprios Operadores que puderam sugerir novos exercícios e avaliar suas próprias performances. O treinamento foi dado como encerrado e os Operadores foram dispensados, tomando cada um o seu destino. As considerações considerações finais
Analisando a UOESp Policial SWAT de Los Angeles pudemos observar as principais características que a colocam, por diversos doutrinadores, como a primeira e melhor equipe SWAT dos Estados Unidos da América. O senso de comprometimento de seus Operadores é algo realmente e claramente observado. O compromisso de cada um, com seus deveres, com sua Unidade, refletem no padrão apresentado. O fato dos Operadores terem a média etária considerada em nosso país como alta (mais de 40 anos, alguns com 50), denota a busca por profissionais maduros e equilibrados, sem descuidar da forma física, uma vez que todos são obrigados a manter-se em excelente performance, visto os testes físicos constantes. A presença da doutrina, através da diária aplicação dos procedimentos, técnicas e táticas demonstra a maturidade do grupo, que consegue concluir concluir todo o ciclo completo de Operações Especiais, mantendo o treinamento constante, Operações quase que diárias, e a capacitação de outras Unidades, desde SWATs de outras cidades norteamericanas até instituições militares e policiais de outros países. A formação do Operador, tanto básica (constituída de um curso com 12 semanas) quanto continuada, também demonstra os níveis de excelência que a Unidade se preocupa em manter. Os treinamentos observados demonstraram objetividade, planejamento, preocupação preocupação com a segurança externa e interna e efetividade. Constatamos finalmente, que a UOEsp se preocupa em reforçar os seus valores, expressados pelo lema Unconpromissed duty, honor and valor. Dever, honra e bravura intransigíveis!
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4.1.2. Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial – T.I.G.R.E. – Polícia Civil do Paraná A Unidade
Fomos recebidos por todos os integrantes do Grupo TIGRE durante o mês de novembro de 2010 com a cordialidade de sempre, fruto do profícuo relacionamento desenvolvido por anos com a tão bem conhecida Unidade de Operações Especiais e Resgate de Reféns da Polícia Civil do Estado do Paraná. A Unidade foi formada em 30 de outubro de 1990, através do Decreto nº 7397, com o objetivo principal de resgatar reféns seqüestrados, quando impossível a solução de um impasse pela negociação, além de outras atividades de investigação especial em situações de roubo, cárcere privado, violação de d e domicílio, extorsão mediante seqüestro e rapto. A UOEsp é composta de duas unidades distintas, sendo o Grupo de Apoio Técnico, que realiza as investigações necessárias, mantendo equipamentos e arquivos em condição de dar suporte à unidade, quando da existência de um delito e o Grupo de Resgate, composto de quatro equipes táticas de assalto e infiltração, com o objetivo de resgatar a vítima, quando necessário. Equipamentos utilizados
O TIGRE como Unidade de Elite da Polícia Civil do Paraná, mesmo diante de todas as dificuldades dos organismos policiais brasileiros, no que tange ao acesso a recursos financeiros, possui equipamentos e armamento de padrão internacional. Tanto o armamento quanto os equipamentos estão distribuídos uniformemente nas equipes Alfa, Bravo, Charlie e Delta, cada uma possuindo uma classe de armamento para cada Operador, de acordo com os padrões internacionais. Uma característica interessante é a presença de viaturas descaracterizadas, além das devidamente caracterizadas e normalmente utilizadas para transporte da tropa (viatura blindada de transporte e ônibus modificado como unidade de controle de crise) (FIGURA 35).
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FIGURA 35 – Viatura de comando e controle de crise - (foto do autor)
A formação básica do Operador do TIGRE
A formação básica do Operador do TIGRE se dá através do Curso de Operações Táticas, com duração de 6 semanas. O curso tem como ênfase a parte técnica e tática, além de um treinamento físico e psicológico focado no stress do aluno, visando selecionar aqueles que possuem condições de agir em situações de risco, sem colocar o grupo em risco. O curso não acontece com a freqüência que deveria, pelas dificuldades inclusive orçamentárias na sua execução, e portanto alguns integrantes do Grupo não alçam a categoria de “Operadores” enquanto não participarem e forem aprovados no referido curso. Assim, denominados como “Estagiários”, esses policiais desenvolvem missões não diretamente relacionadas a Ação de Resgate em si. Participam como motoristas das viaturas, executam a formação do perímetro no local da crise e realizam as investigações necessárias para os levantamentos de inteligência para a obtenção do planejamento e criação do plano tático de assalto.
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Os estagiários recebem treinamento básico ao voluntariar-se ao TIGRE, em separado dos Operadores. Muitos, encontravam-se vinculados ao grupo já há quase dois anos, aguardando a realização de um novo curso, que teve sua última edição em 2008. Após o treinamento básico, os estagiários permanecem recebendo instruções, sempre em separado do grupo principal, em calendário estipulado pelo Coordenador de Instrução do Grupo. Ocasionalmente, todo o Grupo faz instruções conjuntas, envolvendo todas as equipes e todos os estagiários. O dia-a-dia do Operador do TIGRE
O turno de trabalho dos Operadores do TIGRE é o regime de plantão. A presença de quatro equipes faz com que todo dia, na Unidade, exista uma Equipe de plantão, em condições de realizar atendimentos 24 horas por dia, uma equipe em instrução, uma equipe de folga e uma equipe em viagens. Ocasionalmente, quando a situação exige, as folgas podem ser suspensas e mais Operadores podem ser chamados para o atendimento de ocorrências de emergência. As primeiras horas do dia são destinadas ao treinamento físico, que o Operador pode desenvolver na própria Unidade, onde existe uma pequena academia de musculação, ou em academias particulares (FIGURA 36).
FIGURA 36 – Academia de musculação – Base Tigre - (foto do autor)
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Praticamente todos os Operadores desenvolvem algum tipo de luta de contato marcial, com ênfase no Muay Thai, MMA e Jiu Jutsu, visando tanto o condicionamento físico quanto o desenvolvimento de defesa pessoal e o refino das habilidades psicomotoras. A cada 04 meses todo o Grupo passa por um Teste de Aptidão Física (TAF), composto de corrida de 3 mil metros, flexões de braço, abdominais e barras fixas. Os que não forem aprovados, de acordo com uma tabela própria de idade, podem realizar o teste novamente depois de 10 dias. Os que forem reprovados, são retirados da Equipe principal e passam a Operar junto com os Estagiários. Participando do treinamento
Convidados a participar de um dos treinamentos técnicos e táticos, acompanhamos as Equipes Alfa e Delta até a sede de uma empresa particular de treinamento na área metropolitana de Curitiba. A empresa (TEES Brazil) cede ao grupo Tigre suas instalações para o desenvolvimento de treinamentos da Unidade, e esta colaboração se mostra necessária, uma vez que a sede do TIGRE não possui stand de tiro e a Academia de Polícia Civil do Paraná possui somente stand de tiro fechado (do tipo indoor), o que restringiria em muito o treinamento tático.
FIGURA 37 – Treinamento técnico de tiro – Base Choque – TEES Brasil - (foto do autor)
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Conduzida pelo Coordenador de Instrução do TIGRE, Investigador Sérgio Reginatto, que realizou um pequeno briefing com o objetivo de apresentar a instrução do dia, o treinamento teve como foco técnicas de algemamento, técnicas de retenção de armamento, técnicas de tiro e táticas de C.Q.B. (Close Quarter Battle – Combate em ambientes confinados) e arrombamento mecânico (FIGURA 37). As considerações finais
Analisando o Grupo TIGRE da Polícia Civil do Paraná, pudemos observar características comuns a outras Unidades internacionais de Operações Especiais. A presença de uma forte doutrina própria, através da imposição de um curso de formação, sem o qual o integrante não alça a categoria de Operador, se de um lado dificulta o ingresso na Unidade, por outro mantém os altos padrões exigidos e cria uma “mística” necessária como rito de passagem. A Unidade também demonstrou maturidade, ao constatarmos que esta consegue executar todo o ciclo completo de Operações Especiais. Além do treinamento constante de seus Operadores, as atividades da Unidade tanto investigativas quanto operativas são realizadas quase que diariamente, e ainda os integrantes efetuam a capacitação de outras Unidades Policiais, bem como disciplinas do curso de formação de investigador, escrivão e delegado da Escola Superior de Polícia. A formação do Operador, tanto básica (constituída de um curso com 6 semanas) quanto continuada, também demonstra os níveis de excelência que a Unidade se preocupa em manter. Os treinamentos observados demonstraram objetividade, planejamento, preocupação com a segurança externa e interna e efetividade. O Grupo constituiu um Operador encarregado como Coordenador de Instrução, com o fim de organizar os treinamentos, manter a doutrina e disciplinar a prática, o que se entende como uma grande alternativa para a manutenção dos treinamentos e da capacitação constantes.
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4.1.3. Batalhão de Operações Especiais – BOPE – 5ª. Companhia de Operações Especiais – COE – Polícia Militar do Paraná
A Unidade
Durante o mês de novembro de 2010, entre os dias 24 e 26, tivemos a oportunidade de realizar observações diretas, conhecer, e analisar a doutrina, procedimentos e o dia-a-dia da UOEsp denominada Companhia de Operações Especiais – COE da Polícia Militar do Paraná, subordinada ao recém criado BOPE – Batalhão de Operações Especiais. Criado em 27 de outubro de 2010, através do Decreto nº 8.627, assinado pelo Governador Orlando Pessuti, o novo Batalhão de Operações Especiais (BOPE PM/PR) é composto por 6 companhias das mais diversas missões especializadas, sendo duas companhias de rondas ostensivas de natureza especial – RONE (1ª. e 2ª CIAs), duas companhias de controle de distúrbios civis (3ª. e 4ª. CIAs), uma companhia de Operações Especiais – COE (5ª. CIA) e uma companhia de Polícia Cinotécnica – Canil (6ª. CIA) (FIGURA 38).
FIGURA 38 – Edifício da 5ª. CIA COE - (foto do autor)
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A 5ª. Companhia de Operações Especiais – COE é formada por uma equipe de Ações Táticas, uma Equipe de Atiradores de Precisão e uma Equipe Anti-Bomba / Contra-bombas. A missão da 5ª. CIA é atuar em situações de resgates, seqüestros com reféns, controle de rebeliões em estabelecimentos prisionais, antiterrorismo e contraterrorismo, desativação de artefatos explosivos e similares, escoltas especiais, defesa de pontos sensíveis e retomada de locais ou áreas ocupadas. Equipamentos utilizados
O COE como Unidade de Elite da Polícia Militar do Paraná, possui equipamentos modernos de categoria internacional, notadamente em sua Equipe AntiBomba/ Contra-bombas, que é considerada uma das melhores do país. Na área de Operações com Explosivos, o COE PM/PR possui roupa antifragmentação e robôs anti-bombas, equipamentos estes de alto custo e de difícil obtenção, como pode-se observar em outras unidades do gênero no país (FIGURA 39).
FIGURA 39 – Roupa anti-fragmentação COE PM/PR - (foto do autor)
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FIGURA 40 – Robô anti-bomba COE PM/PR - (foto do autor)
A Unidade Anti-bomba COE PM/PR mantém uma constante troca de informações com outras equipes Anti-bomba do país, bem como com a comunidade acadêmica e científica da área de mecânica e mecatrônica, auxiliando no desenvolvimento de novas tecnologias através da construção de versões nacionais de robôs anti-bombas e canhões d´água para disrupção de artefatos explosivos (FIGURA 40). A formação básica do Operador do COE
A formação básica do Operador do COE se dá através de duas formas distintas: a) Candidatos à Equipe Tática e a Equipe de Atiradores de Precisão devem ingressar através da conclusão do COEsp (Curso de Operações Especiais), com a duração aproximada de 12 semanas; b) Candidatos á Equipe Anti-bomba devem ingressar através da conclusão do Curso Técnico de Explosivista, com a duração aproximada de 04 semanas. No Curso de Operações Especiais, os candidatos após a seleção rigorosa, composta de testes físicos, psicotécnicos e de avaliação funcional, são submetidos a um rigoroso curso de formação/capacitação com ênfase na doutrina de comandos/ “caveira”, onde os alunos são testados física e psicologicamente. A chamada “semana zero” do
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módulo inicial de “técnicas em áreas hostis” é rigorosa, com o limite físico dos alunos bastante exigido, buscando selecionar os mais determinados. As outras semanas são dedicadas às disciplinas técnicas e táticas, que vão de armamento e tiro a mergulho e pára-quedismo. O Curso Técnico de Explosivista tem caráter mais técnico e com a duração de 04 semanas aproximadamente e prepara o aluno a integrar a equipe antibombas do COE. As disciplinas são desde a teoria sobre explosivos e sua aplicação, a atividades de montagem e desmontagem dos equipamentos, aplicação prática de explosivos, varreduras de ambientes e disrupção de artefatos explosivos improvisados. Após o treinamento de formação básica com a conclusão dos respectivos cursos, os policiais agora Operadores são integrados à Unidade, cada um em sua respectiva Equipe, passando a receber suas instruções e treinamento continuado de forma independente, inclusive com calendário próprio. Ocasionalmente, todo o COE faz instruções conjuntas, envolvendo todas as equipes. O dia-a-dia do Operador do COE
O turno de trabalho dos Operadores do COE é o mesmo de outras Unidades da Polícia Militar do Paraná, baseada em uma escala de serviço de 24 horas de trabalho por 48 horas de descanso. Assim, mesmo com um efetivo reduzido de aproximadamente 40 Operadores, sempre uma equipe tática completa encontra-se de plantão. Da mesma forma, o treinamento físico é executado todo dia, através da aplicação da doutrina de Educação Física Militar. Um calendário de treinamento, instituído no início de cada ano pelo comando da Unidade e de forma distinta pelas Equipes Tática, de Atiradores e Antibomba é seguido pelos times de Operadores de acordo com cada plantão. Ocasionalmente, quando uma situação de emergência exigir, as instruções podem ser suspensas ou adiadas.
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As considerações finais
Analisando o COE PM/PR também pudemos observar características comuns a outras Unidades internacionais de Operações Especiais. Constatamos a presença de uma forte doutrina própria, baseada atualmente no conceito de comandos/caveira. O ingresso na Unidade, em qualquer Equipe, dá-se por curso específico, inclusive com doutrina estabelecida e vinculada à missão desenvolvida. A alta especialização destes cursos de formação auxilia no processo de seleção natural dos Operadores, desde a inscrição, uma vez que a simples análise curricular é suficiente para a clara definição da natureza das missões empreendidas. A Unidade demonstra sua maturidade pela presença do ciclo completo de Operações Especiais, inclusive com o treinamento sendo aplicado de forma especializada a outras UOEsps nacionais, disseminando assim a doutrina COE PM/PR por todo o país. O calendário de treinamento é estipulado anualmente, e as Equipes se encarregam de cumpri-lo, mantendo assim o treinamento dos Operadores uma atividade constante. O COE PM/PR possui ainda um grupo de pesquisa e doutrina, responsável na organização dos treinamentos, em manter a doutrina e disciplinar sua prática e na criação de novos equipamentos e táticas.
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4.2. Entrevistas
A coleta de dados através de entrevistas mostrou-se uma grande ferramenta e auxiliou na observação da etnografia das Unidades estudadas. Como proclama HOOD 117 (1977), “talvez o método mais utilizado para levantamento de dados em investigação educacional qualitativa, as entrevistas podem produzir uma riqueza de dados valiosos.” Perhaps the most commonly used method of data elicitation in qualitative educational research, interviews may yield a wealth of valuable data.
A modalidade da entrevista utilizada foi a semi-estruturada, em que o autor apresentou tópicos, ao invés de questões fechadas, permitindo respostas subjetivas, sem perder os elementos quantitativos. Seguindo um roteiro pré-estabelecido de questionamentos, o autor pode também ter mais liberdade na exploração de assuntos que surgiram do desenrolar das próprias entrevistas. 4.2.1. Oficial Mario Rios
RIOS, Mario. Treinamento dos Operadores da SWAT de Los Angeles. Los Angeles, Califórnia. Estados Unidos da América. 22/09/2010. Entrevista realizada como instrumento de coleta de dados para monografia sobre capacitação de Unidades de Operações Especiais. Entrevista concedida a Rodrigo Müller.
Entrevistador: “Please, say your full name, rank, and present yourself.” Entrevistado: “My name is Mario Rios, I´m a “P3”, Police Officer 3, Los Angeles Police Department, have fifteen years on the job, and two years in LAPD SWAT.” Entrevistador: “Is there a doctrine in your SWAT Unit?” Entrevistado: “Hum, We have a SWAT Manual with the total procedures and the way of we operate in the SWAT. So we follow the SWAT Manual.” Entrevistador: “Is there a basic course for the new cops that are incorporated into their SWAT Unit?”
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HOOD, Michael. Case Study. In: HEIGHAM, Juanita & CROKER, Robert A. Qualitative research in Applied Linguistics: a pratical introduction. Great Britain: Palgrave macmilian, 2009.
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Entrevistado: “Ah… yes we do, we have a three month school, what is call SWAT SCHOOL, basically is a three month trial, so we are in SWAT SCHOOL for three month but at any time, if you´re not been cut in that, you can get select, but if you are cut, you will go back to Metro and not made a SWAT, if you pass three months in the SWAT SCHOOL, then we’re put you in the SWAT TEAM.” Entrevistador: Ok, what´s the frequency of training in your SWAT Unit? Entrevistado: “Ah… We’re a full time SWAT, so we training everyday, which is very important for us to do, because we’re need to be efficient in ours skills, we have to training everyday… hã… so it´s up to in a whatever be happens we have already for it… So we lucky enough to training everyday, which… which is very very important for us. Entrevistador: Is there some encouragement for your commander for training? Entrevistado: “Yes, we’re support very much… hã… by ours captains, or commanders or chiefs, for us to training everyday and for us to… hã… just focus on training and focus on learning or skill on we have to do… we haven’t incident… so we’re very support to training every day, is very important to us to training every day.” Tradução do autor – Anexo 1.19 – página 190 4.2.2. Sargento Chester Lee McMillion
MCMILLION, Chester Lee. Treinamento dos Operadores da SWAT de Los Angeles. Los Angeles, Califórnia. Estados Unidos da América. 20/09/2010. Entrevista realizada como instrumento de coleta de dados para monografia sobre capacitação de Unidades de Operações Especiais. Entrevista concedida a Rodrigo Müller.
Entrevistador: “Please, sergeant, say your full name, rank, and present yourself.” Entrevistado: “Lee McMillion, Los Angeles Police Department Special Weapons and Tactics. Entrevistador: “How many years in SWAT, Sir?” Entrevistado: “I´m since 1996.” Entrevistador: “Who decide de training calendar in LAPD SWAT?” Entrevistado: “The platoon has a sixty officers, with six sergeants, two staffs sergeants, two lieutenants, with one of this sergeants make a administrative role, and so this six sergeants are a each Squad Leaders, so are divided in six ten men squads, each squad is
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divided in a two platoons with five elements, each element has a element leader, and this twelve element leaders are a tactical experts with decide the tactics in the field, to resolve the problems, as well, they would decide the training calendar, and are responsibles for the hit the training regular way.” Entrevistador: “What´s the frequency of the training?” Entrevistado: “We training using a progressive cycle. In the first Monday of the first week we training a platoon movement, in the first Tuesday we training with weapons, a qualify in pistol, submachine gun, M4 or benelli shotgun. In the first Wednesday we practice multiple shooting, in vehicles, a very stress course, the first Thursday is a force on force or opposite force training using simunitions in a hostage rescue simulation, the first Friday is a breaching training, with explosive entry. The second week, in Monday is usually open for the cadre decide, the second Tuesday is a aerial platform shooting for the snipers shooting from the helicopters, the second Wednesday we training climbing techniques, using rappel, tactical ladders, climbing in elevators shafts, the second Thursday is for sniper training, a traditional sniper training with a precision rifle, the next Friday is a open day too, the next three days of the week three is for waterborne operations, with ship assaults, training in the LA Harbor, the Thursday is for self defense training, is a kung fu fighter´s day, grappling techniques, the Friday is for explosive breaching or training with the bomb squad. The last week is for weapons training, training with other units or specialized training like NBC, nuclear, biological or chemical threats, counterterrorism, training using protective outfits, we training too with a negotiators team, the electronics skills using a pinhole cameras, whatever electronics junk. We reserve some days for training with other federal agencies, local agencies, other swat teams, and our training calendar is full.” Tradução do autor – Anexo 1.20 – página 191 4.2.3. Instrutor Tático Kevan Gillies
GILLIES, Kevan. Treinamento dos Operadores de Operações Especiais no Brasil. Curitiba. PR, 27/11/2010. Entrevista realizada como instrumento de coleta de dados para monografia sobre capacitação de Unidades de Operações Especiais. Entrevista concedida a Rodrigo Müller.
Entrevistador: “Apresente-se”.
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Entrevistado: “Meu nome é Kevan Gillies, eu sou natural da Inglaterra, resido aqui já no país há mais de trinta anos e eu sou instrutor tático e diretor de treinamento para a empresa TEES BRAZIL, Tactical Explosive Entry School. A empresa já está estabelecida aqui no país já a doze anos, ah..., e nós já treinamos unidade policiais militares, civis, federais, guardas municipais, agentes de segurança, do norte ao sul do país, inclusive recebendo grupos de países amigos estrangeiros pra vir treinar com a gente, como US Navy SEALS 118, Rangers 119 , ah, policiais da Argentina, Paraguai e outros países da América latina. Entrevistador: “O que mudou no cenário das Operações Especiais Policiais nos últimos doze anos?” Entrevistado: “Nestes últimos doze anos posso dizer que nós presenciamos uma grande transformação em termos de doutrina, seriedade e técnicas, táticas adotadas, ah...a busca destas Unidades pela excelência de uma forma ou outra mesmo com o apoio de cima, em termos de equipamentos e treinamento não, ah, mas nos temos visto uma melhora bastante grande, ah...inicialmente no começo da TEES aqui no Brasil, os grupos que apareciam tinham alguma informação, e, de técnicas do FBI, israelense, e não sabiam muito bem como aplicá-las no nosso dia-a-dia, ah..talvez até chegasse a faltar uma certa identidade para alguns destes grupos, ah...saber exatamente para o que eles estavam lá, qual era o fim, a finalidade destas unidades, para ai poder começar a definir o que que eles precisariam saber em termos de técnicas e táticas, que equipamento eles iriam precisar e como é que eles aplicariam isso no seu dia-a-dia, ah..então no início nos vimos muita roupa preta, boina lambida, ah, muita fome por conhecimento, ah...algumas identidades meio confusas, vezes se fizeram Operações Especiais Policiais ou Militares, ah...etc, e hoje em dia nós podemos ver que o pessoal já tem funções já definidas para suas unidades, pros seus grupos, ah...já tem metas que eles tem que cumprir, que fica muito mais fácil estabelecer qualquer programa quando você tem um método e objetivo para calçar e em conseqüência começa a adaptar o treinamento para a realidade em qual eles operam. Ah...hoje em dia sem dúvida nenhuma a coisa está muito mais profissional, ah, temos doutrinas adotadas e muitas unidades ainda não tem doutrina no papel especificamente, mas estão em busca. E nós sempre vemos aqui, 118
US Navy Seals, Força Especial da Marinha dos Estados Unidos da América, encarregada de missões de Operações Especiais, notadamente em ações contra-terror e retomada de embarcações ou infiltrações através de meio aquático. 119 Rangers. Força de Operações Especiais do Exército dos Estados Unidos da América, composta de batalhões com a missão de realizar ações militares de ataque surpresa, ou ações de comandos.
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nesse sentido é sempre uma meta e um objetivo. Tendo uma meta e um objetivo aí o pessoal acaba descobrindo quais são as stepping stones, ou as pedras que eles possam pisar para poder chegar até lá.” Entrevistador: “Como se processa o treinamento de uma Unidade de Operações Especiais Policial?” Entrevistado: “Primeiramente, estabelecer objetivos e metas para o treinamento. Onde que nós devemos chegar, o que nós precisamos saber fazer e daí dissecar esses objetivos e metas para saber como vamos fazer esses degraus para poder alcançar esse objetivo. Então um perfeito exemplo seria de um grupo de resgate de reféns, as habilidades que eles devem deter; arrombamento: mecânico, explosivo, calibre 12, técnicas de C.Q.B. 120 para os cenários no qual eles operam, arrombamento interno de ambientes, obviamente as habilidades individuais de cada membro que envolve parte do processamento de suas habilidades individuais com o manuseio de armas, seja as armas adotadas pela unidade, sejam armas curtas, armas longas, calibre 12, armamento usado para perímetro, ah...treinamento adequado para todos dentro da unidade em uso de granadas de luz e som, ah..comando e controle e processamento de suspeitos e vítimas, técnicas de algemamento tem que entrar dentro deste bloco também, então basicamente nós dividiríamos em blocos e daí abordaríamos minuciosamente as habilidades dentro de cada um deles, e obviamente as coisas tem que ser incorporadas para que eles possam fazer cenários realistas das operações que eles já realizaram usando como estudos de caso analisando o que dá certo, o que dá errado, o novo problema que apareceu no cenário, e nós precisamos resolver para que na próxima vez mesmo que não tenha dado problema mais sério, mas para evitar que tenha ou cause um problema mais sério para frente. Ah....o processo ideal de treinamento obviamente é um processo continuado, um grupo de Operações Especiais não pode esperar treinar uma vez a cada seis meses, ou uma vez a cada mês, não existe o ideal, porque isso vai depender muito das funções que o grupo vai, ocupa, mas nos devemos buscar que pelo menos se este grupo está trabalhando intensivamente cumprindo mandados, etc, que eles busquem treinar pelo menos a cada dez dias seria o mínimo necessário e mesmo assim nós estaremos abordando blocos, ah...de certos tópicos, o ideal mesmo seria pelo menos semanalmente o grupo poder ir para um stand de tiro, ir para uma casa de tiro, e outro fator muito 120
C.Q.B. (Close Quarter Battle), técnica de confronto em espaços confinados, propicia ao Operador vantagem tática no adentramento de estruturas e pequenos ambientes onde o confronto armado é iminente.
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importante a qualidade da instrução repassada para eles, nem tudo tem que ser tiro real, nem tudo tem que envolver explosivos reais, nós temos que pensar que a repetição das técnicas é que vai gravar na mente do Operador como ele deve trabalhar e não é mostrar e daí sair fazendo tiro real, nós precisamos realmente dominar o procedimento todo para daí poder começar a incorporar procedimentos de tiro real, mas muitas repetições, mudanças de cenários, posicionamento, para que a Equipe possa gerar confiança de operar nestes ambientes com calma, com tranqüilidade, solucionar os problemas ao aparecerem e poder terminar a missão com qualidade, que é ter vidas preservadas, de todas as formas.” 4.2.4. Delegado de Polícia Federal Marcos Ferreira dos Santos
FERREIRA DOS SANTOS, Marcos. Treinamento dos Operadores do COT. Brasília. DF. 14/12/2010. Entrevista realizada como instrumento de coleta de dados para monografia sobre capacitação de Unidades de Operações Especiais. Entrevista concedida a Rodrigo Müller.
Entrevistador: “Apresente-se.” Entrevistado: ‘Meu nome é Marcos Ferreira dos Santos, eu sou delegado de Polícia Federal, coordenador do COT, Comando de Operações Táticas da Polícia Federal.” Entrevistador: “Como se dá o sistema de seleção de Operadores para a Unidade?” Entrevistado: “O sistema de seleção para novos integrantes do COT consiste em várias fases, a primeira delas os candidatos já policiais federais há mais de um ano encaminham seus currículos para cá, para a coordenação, e enfim esses currículos são processados e são identificados aqueles que entendemos que tem um perfil mais adequado a pertencerem aos quadros do grupo. Feito isso, os convocados se deslocam de suas bases até o COT, para realizarem a semana de testes físicos e entrevista. Realizados os testes físicos e entrevistas então os selecionados são matriculados no curso de Operações Táticas que tem a duração aproximada de dezoito semanas. Após estas dezoito semanas aqueles que concluírem o curso, eles estarão aptos a integrarem os quadros do COT, então o seu processo de remoção, ele é movido nesse sentido.” Entrevistador: “Como se dá a capacitação continuada dos Operadores do COT?” Entrevistado: “Aqui no COT nós procuramos dividir de certa forma o treinamento da capacitação continuada. Entendemos que o treinamento diário é composto de uma série
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de atribuições de rotina aqui dentro do grupo e os processos de capacitação seriam os cursos que normalmente realizamos em nosso país e no exterior. Então na verdade nós buscamos fazer com que o policial integrante do COT ele esteja condicionado e em situação de pronto emprego para qualquer missão que tenhamos que cumprir. Normalmente nos realizamos um quadro de treinamento mensal e esse quadro ele é seguido, normalmente ele é seguido à risca.” Entrevistador: “E quem determina este quadro?” Entrevistado: “Esse quadro ele é determinado por uma seção específica de treinamento que aqui no COT é chamado de Serviço de Estratégia Tática, é esse serviço que elabora todos os treinamentos, todos os recrutamentos de novos integrantes e que também promove a necessidade, identifica as necessidades de novas capacitações, seja no nosso país seja no exterior. Então é montado por esta seção um quadro de treinamento mensal e esse quadro buscamos realizá-lo e cumpri-lo da melhor forma possível. Algumas vezes a gente tem que alterar um pouco o quadro em razão de algumas missões que estamos por realizar, então se eu já tenho uma missão agendada e essa missão, exige do grupo uma especialidade para o cumprimento da missão, então uma semana do cumprimento desta missão nós treinaremos mais esse tipo de técnica que a gente vá utilizar durante a missão. Na verdade o quadro não é tão rígido como ele é montado. Ele é montado e a gente procura segui-lo, mas sempre que necessário alteramos o quadro buscando sempre o cumprimento melhor da missão que está para ser realizado. Entrevistador: “Fale-nos um pouco sobre o ciclo das Operações Especiais, treinar, operar e dar treinamento.” Entrevistado: “Aqui no COT a rotina dos integrantes do grupo não difere em nada do que ocorre na maioria dos grupos especiais ao redor do mundo. Na verdade nós procuramos manter o equilíbrio de três momentos que entendemos que um grupo especial deve vivenciar na sua rotina: dar treinamento, treinar e operar. Então o equilíbrio destes três momentos, entendemos que é a melhor forma de reduzir o stress inerente a um grupo especial. Dar treinamento é claro que toda vez que você ensina alguém você também aprende e além de aprender você mantém o conhecimento vivo. Você procura sempre se atualizar, você procura sempre melhorar aquilo que você já faz. Treinamento, é claro, o treinamento aqui é diário, seja físico, seja tático, o treinamento ele é fundamental primeiro para que se mantenha o adestramento do grupo, em condições de operar e uma forma de suprir as necessidades que são vivenciadas durante as operações. Então o treinamento ele é fundamental, não podemos abdicar de treinar e
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portanto o treinamento é diário. E um terceiro momento seria operar, operar é onde você vai aplicar aquilo que você treinou. É verificar exatamente se os treinamentos que você está fazendo são adequados, são eficazes e tudo isso é feito e aplicado na realidade e após é claro, avaliado nas reuniões de avaliação que temos após as missões. Então a rotina do grupo se baseia nisso. Nestes três momentos e que nós procuramos equilibrálos da melhor forma possível. Os treinamentos são como eu já havia dito, seguem um quadro mensal, esse quadro é elaborado por aquela seção de treinamentos e procuramos seguí-lo sempre que possível. Ele é alterado sempre que for necessário considerando-se a missão que está por realizar.” 4.2.5. Operador Tático GIR Robson José Pereira Ribeiro
RIBEIRO, Robson José Pereira. Treinamento dos Operadores do GIR4/SAP/SP. São Paulo. SP, 20/10/2010. Entrevista realizada como instrumento de coleta de dados para monografia sobre capacitação de Unidades de Operações Especiais. Entrevista concedida a Rodrigo Müller.
Entrevistador: “Apresente-se”. Entrevistado: “Meu nome é Robson José Pereira Ribeiro, faço parte do Grupo de Intervenção Rápida, GIR, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo. Meu grupo atende ocorrências em presídios, resgate de reféns e retomada de ambientes rebelados, é..., somente São Paulo e grande São Paulo, atualmente em 28 unidades prisionais, cerca de 55 mil presos, na responsabilidade do nosso grupo.” Entrevistador: “Como se dá a seleção do Operacional no seu grupo?” Entrevistado: “Primeiramente é,...voluntariado, ele tem que fazer parte já do sistema penitenciário no mínimo três anos, ele tem que superar, passar pelo estágio probatório, e ele na condição de voluntário ele vai até a nossa Unidade, ele vai preencher um formulário, conhecer as instalações, na seqüência ser entrevistado pelo meu comando, se aprovado for é solicitado ao coordenador dos estabelecimentos prisionais o encaminhamento deste Operacional, digo futuro Operacional pra Unidade para que ele seja treinado.” Entrevistador: “Como se dá a formação básica do Operacional do GIR?” Entrevistado: “O Operacional, assim que ele é aceito no grupo, ele vai passar por uma fase de avaliação durante seis meses. Seria como se fosse um estágio probatório dentro
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da nossa própria Unidade, e ali ele vai sendo treinado gradativamente, é...ponto a ponto, e, a..., os escudos, e ele ia ser treinado, em último estágio, seria o armamento, até porque a gente não sabe quem é esse Operacional, a gente vai conhecendo ele durante seis meses, se ele mostra comprometimento com a equipe, ele permanece, senão ele é desligado automaticamente, ele retorna para a unidade de origem.” Entrevistador: “Ele é avaliado durante estes seis meses de que forma?” Entrevistado: “Ele passa pelo treinamento com os instrutores na parte de CDC 121, seria a utilização de escudos. E ai, assim, os instrutores vão dando o seu aval, ele fica, ele é bom, ele está comprometido, ele não quer nada. Posteriormente ele vai ser treinado em imobilizações táticas, defesa pessoal, ele vai fazer avaliações físicas, no prazo de seis meses.” Entrevistador: “Existe um treinamento constante dos Operacionais já formados, daqueles que já participam do GIR?” Entrevistado: “Sim, tem um programa de treinamento, todo, quando estamos na base, é o treinamento é constante, semanal, é diário. O Operacional ele passa por um treinamento físico na parte da manhã, na parte da tarde geralmente nós vamos até uma sala de aula ou ai cada, é uma rotatividade, parte da equipe treina imobilizações táticas, parte da equipe dependendo da dificuldade do Operacional, a gente separa e leva ele para fazer um treinamento com armas, parte vai fazer um treinamento de C.D.C. com escudos.” Entrevistador: “Quem determina o seu calendário de treinamento?” Entrevistado: “Ah,...a chefia, o comando Alfa.” Entrevistador: “Existe um corpo de instrutores próprio ou simplesmente o comando determina o que deve ser treinado?” Entrevistado: “O comando, através da avaliação, o que ele percebe nas operações, ele vai anotando as dificuldades de Operacional para Operacional, diante disso ele solicita a atenção de um instrutor responsável pela área, no caso de armamento, vamos passar esse Operacional a um treinamento um pouco mais intensivo na parte de armamento.” Entrevistador: “Existe algum incentivo por parte de seu comando pro treinamento da sua Unidade?” Entrevistado: “Sim, ele incentiva bastante.” 121
C.D.C. (Controle de Distúrbios Civis), técnica de contenção de revoltosos através de ações de choque empregando equipamento como escudos, cassetetes e outros armamentos menos que letais.
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4.2.6. Agente de Polícia Civil Luis Gregório Martim Caldas
CALDAS, Luis Gregório Martim. Surgimento, formação e treinamento dos Operadores do NO/DEIC da Polícia Civil de Santa Catarina. Curitiba. PR.
27/11/2010. Entrevista realizada como instrumento de coleta de dados para monografia sobre capacitação de Unidades de Operações Especiais. Entrevista concedida a Rodrigo Müller.
Entrevistador: “Apresente-se.” Entrevistado: “Meu nome é Luis Gregório Martim Caldas, sou agente da Polícia Civil de Santa Catarina desde 2006, trabalho atualmente no Núcleo de Operações da DEIC, formado há mais ou menos seis meses.” Entrevistador: “Como se dá o processo de seleção dos Operadores do NO da DEIC?” Entrevistado: “O processo de seleção é através do curso do CAT 122 , oferecido pela própria Polícia Civil de Santa Catarina, juntamente com a Acadepol, que seria o que, o Curso de Ações Táticas. Entrevistador: “Como está sendo o início do grupo?” Entrevistado: “O grupo foi iniciado a partir da vontade de Operacionais que se identificavam com a parte operacional mesmo da atividade policial, e na polícia judiciária entra o cumprimento de mandado de alto risco. A gente identificou algumas pessoas nas delegacias que tem esse perfil e mais ou menos no final de 2006 e 2007 foi formado o COP123 através do delegado Alfredo e a partir disso o pessoal começou a trabalhar uniformizado, realizando cumprimento de mandados, em apoio a outras delegacias, não tínhamos nenhum curso, não tínhamos uma estrutura, foram doados alguns equipamentos táticos-operacionais de delegacias do interior do estado, alguns forneceram capacetes, outros forneceram escudo, foi reunido o armamento e assim iniciou né. Eram quase trinta policiais e o treinamento vinha das atividades, trabalhando em conjunto era o aprendizado ali. A maioria destes Operadores eram da Academia de 2006, então recém formados, e na época o delegado Alfredo foi um dos instrutores e o 122
C.A.T. (Curso de Ações Táticas), normalmente de duração entre 2 a 4 semanas. COP (Central de Operações Policiais), grupo de apoio operacional da Polícia Civil do Estado de Santa Catarina. Criado em 2007, teve por atribuição apoiar operacionalmente as delegacias de polícia, quando solicitado. Integrado por agentes de polícia civil com treinamento em táticas policiais, artes marciais, direção tática e defensiva, operações noturnas, controle de distúrbio civil, entre outras especialidades. 123
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coordenador da disciplina de operações da acadepol, então a base estaria neste pessoal de 2006. Juntamente com outros professores que também posso até citar alguns, o Ipoque, o Beto, até o atual coordenador hoje, o Edson Volpato, que todos eram professores da mesma disciplina e assim iniciou o COP. Pessoas entravam no COP a partir de contato particular mesmo com o coordenador, o delegado, ia-se entrando e houve um giro muito grande, alguns que iniciaram no grupo não se identificaram com o trabalho e foram saindo. No final de 2009 o COP estava mais ou menos com quinze pessoas, entre doze a quinze, e nesse tempo o ex-diretor da Acadepol, o delegado André que hoje é o atual secretário de segurança junto com o Fernando Barosa que é líder da equipe, o coordenador da equipe de intervenção, montaram o CAT. O CAT para formar os policiais novos do COP. Durante o curso foram abertas trinta vagas e destas trinta vagas formaram dez policiais, o pessoal antigo que trabalhava já no COP teve sua participação garantida. Com a junção dos recém formados do CAT com os já antigos do COP, foi migrado da antiga base para a DEIC. A DEIC em Santa Catarina é a Diretoria Estadual de Investigação Criminal e onde o atual diretor é o Delegado Cláudio Monteiro que apoiou a idéia, ele também era um dos professores da disciplina conjuntamente na época de 2006, e deu esse suporte para gente. A DEIC foi elaborada a portaria pelos próprios agentes do Núcleo de Operações e não poderiam mais usar o nome COP, devido ao nome ser central, e coisas internas da DEIC, por ser uma diretoria. Então foi montado o grupo, cujo nome atual é Núcleo de Operações.
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4.3. Questionários
O questionário elaborado procurava saber dos Operadores das Unidades Policiais de Operações Especiais assuntos relacionados ao funcionamento do Grupo, notadamente nos seus aspectos doutrinários e formadores. Na primeira parte do questionário buscamos identificar a existência de doutrina na UP ao qual o pesquisado faz parte. As duas primeiras perguntas, sobre a existência de doutrina definida e se esta doutrina vem sendo aplicada são de grande importância para a verificação das condições de ingresso de novos Operadores nesta Unidade. A fase seguinte tinha a intenção de identificar a existência de uma formação básica aos novos Operadores, através de curso específico. As perguntas sobre a existência de formação básica de Operadores para o ingresso na Unidade e caso exista, qual a duração deste curso básico teve a intenção de demonstrar se a aplicação de uma doutrina focada no treinamento dos novos Operadores é efetivamente aplicada. A última fase do questionário procurava identificar alguma forma de treinamento continuado existente, sua freqüência e duração. As perguntas sobre a existência de um treinamento constante dos Operadores já formados, a freqüência deste treinamento e a sua divisão entre a freqüência de execução dos treinamentos físico, técnico e tático tinha o objetivo de demonstrar se os Operadores tinham, através do conhecimento, a clara distinção entre as diversas modalidades de treinamento disponíveis à uma Unidade de Operações Especiais. Por último, o questionamento sobre o incentivo do comando da UOEsp no treinamento de seus próprios Operadores tinha o objetivo de demonstrar se mesmo tendo doutrina, o comando a respeitava. A amostra oportunística de Operadores que responderam os questionários, ficou assim estabelecida: a) Equipe Bravo do GIR4 / SAP – SP (Grupo de Intervenção Rápida 4 – Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo; b) Equipes Alfa e Bravo do T.I.G.R.E. – Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial da Polícia Civil do Paraná; c) Equipe de plantão da 5ª. companhia de Operações Especiais do BOPE da Polícia Militar do Paraná;
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d) Integrantes do Time de Resposta Tática do NO – DEIC – Núcleo de Operações da Diretoria Estadual de Investigações Criminais da Polícia Civil de Santa Catarina; e) Coordenador do COT – Comando de Operações Táticas do Departamento de Polícia Federal. Passamos à apresentação global dos resultados r esultados obtidos: Existe doutrina definida em sua Unidade Unidade Policial de Operações Especiais?
0% 0%
SIM SIM NÃO 100%
NÃO SEI
Gráfico 01 A doutrina de sua Unidade Policial de Operações Especiais vem sendo aplicada?
3% 10%
0%
SIM SIM NÃO NÃO SEI 87%
NÃO EXISTE
Gráfico 02 Existe uma formação básica dos Operacionais quando do ingresso de sua Unidade de Operações Especiais?
0%
SIM
100%
Gráfico 03
NÃO
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Qual a duração do curso básico de formação de Operações Especiais para o ingresso em sua Unidade Policial?
3%
0%
1-2 semanas
27%
3-4 semanas 6-8 semanas
47%
10-14 semanas
23 %
sem resposta
Gráfico 04 Existe Existe treinamen to constante constante dos Operacionais já formados em sua Unida de Policial de Operações Especiais? Especiais?
20% SIM SIM
3%
NÃO 77% ÀS VEZES
Gráfico 05 Qual a freqüência do treinamento em sua Unidade de Operações Especiais?
7%
3% 3%
3% 44%
DIÁRIO SEMANAL QUINZENAL MENSAL BIMESTRAL
40%
NENHUM
Gráfico 06 Qual a freqüência do treinamento físico dos Operacionais em sua Unidade Policial de Operações Especiais?
0% 27%
0%
DIÁRIO 73%
SEMANAL QUINZENAL MENSAL
Gráfico 07
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Qual a freqüência do treinamento tático dos Operacionais em sua Unidade Policial de Operações Operações Especiais?
10%
13% DIÁRIO
23%
SEMANAL 44%
10%
QUINZENAL MENSAL NÃO RESPONDEU
Gráfico 08 Qual a freqüência do treinamento técnico dos Operacionais em sua Unidade Policial de Operações Especiais?
7%
17%
DIÁRIO
33%
SEMANAL QUINZENAL 40%
3%
MENSAL NÃO RESPONDEU
Gráfico 09 Existe algum incentivo ao treinamento por parte do comando de sua Unidade Policial de Operações Especiais?
3%
SIM
97%
Gráfico 10
NÃO
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4.4. DISCUTINDO OS RESULTADOS Os relatos etnográficos apresentados mostraram que mesmo a diferença cultural existente entre a os norte-americanos e os brasileiros, determinados aspectos estão presentes nas três Unidades de Operações Especiais Policiais visitadas. A extrema preocupação profissional é claramente observada em todas as Unidades e o compromisso dos Operadores com a constante melhoria de suas habilidades através do treinamento é inquestionável. Nas três Unidades observamos a presença de uma doutrina norteadora das atividades de cada grupo, seja através dos procedimentos do Manual da SWAT da Polícia de Los Angeles, da cultura “caveira” própria do COE da Polícia Militar do Paraná, fruto das influências norte-americanas, britânicas e israelenses, ou da doutrina SAS verificada no TIGRE da Polícia Civil do Paraná. Cada uma destas UOEsps mesmo com posicionamentos diferentes quanto a forma como conduzem suas atividades, bem como a missão a qual se dedicam, tem em comum muitos pontos. Todas possuem como forma de ingresso na Unidade um curso básico de formação de Operadores, selecionados após um processo específico, que engloba testes físicos, psicotécnicos e verificação de fichas funcionais. A SWAT de Los Angeles aplica em sua SWAT SCHOOL a formação intensa em 12 semanas, em um constante processo de eliminação. Os que vão sendo eliminados no transcorrer do processo imediatamente retornam à Divisão Metropolitana, onde retomam suas funções policiais e cargos que exerciam antes do curso. Por sua vez, o COE do Paraná em seu COESP de 12 semanas, também exige intensamente dos alunos matriculados, selecionando os mais determinados através de processos de provas e meritocracia. Os eliminados também retornam às suas Unidades de origem, retomando suas atividades anteriores. O Grupo TIGRE, apesar de não poder contar com um curso de formação anual, e mesmo diante de dificuldades, formatou seu treinamento básico em 6 semanas, aumentando a intensidade do treinamento técnico e tático para compensar o tempo reduzido do curso de formação básico. As três Unidades também se preocupam com o treinamento diário dos Operadores, cada uma estabelecendo estabelecendo o seu ritmo de acordo com seu efetivo e recursos à disposição. Dessa forma, pudemos observar que a SWAT de Los Angeles, por poder
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contar com mais recursos financeiros e uma cultura própria voltada ao treinamento constante como forma de aprimoramento, efetivamente consegue aplicar o ciclo completo das Operações Especiais. Seus Operadores contam com a doutrina de treinamento diário, estabelecida por eles próprios e representados por seus líderes de equipe, que estabelecem as bases deste treinamento e se encarregam de cobrar de seus pares a atenção a este cronograma. As entrevistas auxiliaram a compreensão dos relatos etnográficos na identificação de pontos comuns entre as Unidades estudadas e os Operadores de outras Unidades entrevistados. Nestas entrevistas pudemos perceber a existência da cultura própria de Operações Especiais, difundida em bases comuns, em Unidades grandes com estrutura completa e orçamento condizente e em pequenas Unidades recém criadas, que lutam ainda para poder comprar equipamentos que lhes atendam suas necessidades especiais. Comparando as entrevistas do Sargento Chester Lee McMillion da SWAT de Los Angeles e o Instrutor Tático Kevan Gillies, da empresa TEES Brazil, observamos a necessidade do planejamento dos treinamentos, sejam eles de formação ou de manutenção. Em especial, Kevan Gillies reforça a necessidade de se estabelecer objetivos e metas de trabalho. Sem a definição dos objetivos do grupo é impossível estabelecer as prioridades de treinamento. A presença do fundamento do voluntariado também pôde ser claramente observada em todas as Unidades pesquisadas e nos Operadores entrevistados. Este fundamento é essencial para que se permaneça na Unidade somente os verdadeiramente interessados em manter a doutrina do grupo viva e o constante aperfeiçoar das habilidades. Quanto aos questionários aplicados, durante sua tabulação identificamos um fator preponderante que é o reconhecimento de 100% do grupo analisado da existência de uma doutrina em sua UOEsp. Contudo, uma parcela pequena (3%) ainda não consegue identificar a aplicação desta doutrina em seu dia-a-dia, denotando desconhecimento de seu papel na Unidade ou falta de acesso as informações doutrinárias. A apresentação de um curso de formação com formato abaixo de 12 semanas pode representar a alocação de recursos insuficientes para a formação do homem-tático,
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uma vez os cursos de formação possuem um alto custo, e uma forma de cortar estes gastos é realizá-los em tempo reduzido. Da mesma forma, cursos de curta duração não conseguem reforçar devidamente os aspectos doutrinários nos Operadores, o que se reflete em algumas respostas anteriores. Em relação aos aspectos do treinamento continuado, os dados revelam uma eventualidade nesta aplicação. Dá-se grande ênfase aos aspectos físicos do treinamento diário (73%), enquanto os treinamentos técnico (17%) e tático (13%) são desequilibradamente apontados como realizados diariamente. Tal informação permite a inferência de falta de planejamento e possivelmente do tempo destinado para os treinamentos técnicos e táticos. O apoio do comando das UOEsps ao treinamento também se refletiu em sua quase totalidade (97%), o que é positivo, diante da primordialidade da prática. A organização e o planejamento do treinamento continuado quando de iniciativa do comando da Unidade tende a unificar o treinamento físico, técnico e tático, padronizando o grupo e disseminando sua doutrina. Este aspecto é observado em somente metade dos Operadores que responderam o questionário, o que nos leva a crer na inexistência de uma doutrina, currículo ou padronização nacional do treinamento de Operações Especiais, muito embora se possa detectar há tempos esta necessidade.
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CONCLUSÃO Na etapa final deste estudo, quando sistematizamos os dados, observamos que a teoria se reveste de um importante papel no sentido de nos fornecer o suporte necessário às nossas interpretações e abstrações, construídas com base nos resultados obtidos. Definimos neste trabalho Operações Especiais como operações conduzidas por forças militares ou policiais, especialmente organizadas, adestradas e equipadas, visando à consecução de objetivos por meios não-convencionais. Diferem das operações convencionais nos níveis de risco, por suas técnicas operacionais, modalidades de emprego, independência do apoio de outras forças, dependendo de inteligência própria quanto à ação a ser desenvolvida, aceitando um alto nível de risco físico e político, incompatível com as operações convencionais. Conceituamos Operações Especiais de Natureza Militar (OEsp/NM) como aquelas conduzidas por forças militares, especialmente organizadas, adestradas e equipadas, visando à consecução de objetivos por meios militares não-convencionais. Diferem das operações convencionais nos níveis de risco, por suas técnicas operacionais, modalidades de emprego, independência do apoio de outras forças, dependendo de inteligência própria quanto à ação a ser desenvolvida, aceitando um alto nível de risco físico e político, incompatível com as operações convencionais, quando no confronto às ameaças externas ou internas, em conflitos que atentem contra a segurança nacional. Da mesma forma, apresentamos as Operações Especiais de Natureza Policial (OEsp/NP) como aquelas conduzidas por forças policiais paramilitares, especialmente organizadas, adestradas e equipadas, visando à consecução de objetivos por meios operacionais nãoconvencionais. Diferem das operações policiais convencionais nos níveis de risco, por suas técnicas e táticas, modalidades de emprego, independência do apoio de outras forças policiais, dependendo de inteligência própria quanto à ação a ser desenvolvida, aceitando um alto nível de risco físico e político, incompatível com as operações convencionais, com o fim específico de manter a lei e salvar vidas, realizando suas ações em acordo com o ordenamento jurídico vigente. Quanto as UOEsps Militares, definimos como grupamentos militares organizados, não-policiais, treinados e equipados com táticas, técnicas e armamentos diferenciados das forças militares convencionais, visando à consecução de objetivos militares por meios não-convencionais, aceitando um alto nível de risco físico e político,
161
também incompatível com as operações convencionais, quando no confronto às ameaças externas ou internas, em conflitos que atentem contra a segurança nacional. Já as UOEsps Policiais conceituamos como grupos policiais organizados, vinculados a uma instituição policial legalmente constituída, treinados e equipados com táticas, técnicas e armamentos diferenciados das forças policiais convencionais, visando à consecução de objetivos por meios operacionais não-convencionais, por suas técnicas e táticas, modalidades de emprego, independência do apoio de outras forças policiais, dependendo de inteligência própria quanto à ação a ser desenvolvida, aceitando um alto nível de risco físico e político, incompatível com as operações convencionais, com o fim específico de manter a lei e salvar vidas, realizando suas ações em acordo com o ordenamento jurídico vigente. Apresentamos como imprescindíveis os fundamentos doutrinários inerentes à toda espécie de UOEsps: o voluntariado, a responsabilidade, fidelidade, dever de silêncio e compromisso de matar, condições sine qua non para a existência destas Unidades. É a doutrina que permite estabelecer a forma como a UOEsp atuará, estabelece seus objetivos e metas, sua missão, valores e responsabilidades, suas atribuições materiais (ratione materiae), territoriais (ratione loci) e pessoais (ratione personae). A aplicação do ciclo completo das Operações Especiais, treinar, operar e dar treinamento quando devidamente aplicado, reforça a doutrina da UOEsp e auxilia os Operadores na fixação das técnicas pelo treinamento constante, aprimorando suas memórias musculares. Dessa forma, observamos que o treinamento constante das técnicas e táticas especiais, aprimorando a memória muscular do Operador, o auxilia diretamente na resposta mais rápida e instintiva através dos procedimentos e movimentos definidos como operacionais. Como BOMPA 124 (2002) teoriza que a função principal do treinamento é aumentar a capacidade de trabalho do treinando, a efetividade de suas habilidades e suas qualidades psicológicas a fim de melhorar seu desempenho, o treinamento contínuo doutrinariamente orientado oportuniza ao Operador o caminho para atingir a excelência de suas habilidades.
124
BOMPA, Tudor O. Treinamento Total para jovens campeões: programas comprovados de condicionamento para atletas de 6 a 12 anos. Editora Manole. 2002
162
Um bom treinamento depende do correto planejamento, levando em conta as necessidades da Unidade, o perfil de seus Operadores e o tipo de missão empregada pelo Grupo. Deve ser organizado de forma a poder contar com o treinamento cruzado, onde a interdisciplinariedade como processo de integração recíproco entre as várias disciplinas técnicas e táticas poderão romper as estruturas de cada uma delas para alcançar uma visão unitária e comum do saber, trabalhando em parceria. O treinamento do Operador surtirá melhor efeito quando direcionado por uma doutrina estabelecida. Que o faça entender a necessidade deste treinamento e o compromisso por ele assumido em manter suas habilidades no mais alto nível, pois elas serão exigidas em situações de crise extrema, onde vidas humanas estarão em risco.
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ANEXOS Anexo 1 – Traduções do autor
1.1. O exército hitita que estava baseado em Kadesh conseguiu esconder totalmente sua posição dos batedores egípcios, e quando estes avançavam de forma inocente para a cidade, e começaram a armar seu acampamento, um forte destacamento de bigas hititas passou desapercebido por trás da cidade, atravessando o rio Orontes e atingindo o centro da coluna egípcia, quebrando-lhe o vigor. O exército egípcio teria sido aniquilado se não fosse um destacado regimento egípcio que oportunamente chegou por outra direção e pegou de surpresa os hititas que saqueavam o acampamento. Esse golpe de sorte permitiu ao rei egípcio salvar o restante de suas forças e apresentar a batalha como se fosse uma grande vitória. Tradução do autor 1.2. Então, um dia após a prisão de Mussolini, Otto Skorzeny e cinco outros comandantes da elite das unidades militares da Alemanha foram convocados com urgência a comparecer na "Wolfsschanze" (Toca do Lobo), posto de comando de Hitler fortemente guardado nas florestas do leste da Prússia. Uma vez lá, os seis militares, dos quais Skorzeny era o menos graduado, reuniram-se com Adolf Hitler. Hitler não disse por que eles tinham sido convocados. Em vez disso, após apresentarem-se, Hitler simplesmente perguntou a cada um deles duas questões: - Você está familiarizado com a Itália? - O que você acha da Itália? Para a primeira questão, apenas Skorzeny respondeu “Sim”, referindo-se a sua lua de mel na Itália, nove anos antes. Para a segunda questão, enquanto os outros cinco oficiais deram respostas politicamente corretas sobre a Itália ser um aliado e assim por diante, Skorzeny decidiu apostar e respondeu apenas: "Eu sou um austríaco, Fuhrer". Foi uma resposta curta que disse muito. Skorzeny sabia que Hitler, também de origem austríaca, entenderia que ele estava pensando na tradicional hostilidade entre a Áustria e a Itália, que aumentou após a Primeira Guerra Mundial. A aposta deu certo. Hitler negou provimento aos demais diretores, e depois que eles os deixaram, disse à Skorzeny o que realmente aconteceu na Itália (imprensa alemã havia informado que Mussolini renunciara por problemas de saúde), e disse-lhe que lhe
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confiava uma missão da maior importância estratégica, para resgatar Mussolini, antes que ele fosse entregue aos aliados. ... Por conveniência e sigilo para a conclusão da missão, Skorzeny foi colocado sob o comando do General Kurt Student, comandante do Corpo de pára-quedistas alemães, que também foi mandada para a Itália naquele dia com uma grande força de elite, pela mesma razão, mas também para se preparar para ocupar Roma pela força se necessário. Skorzeny foi incorporado como ajudante-de-ordens do general Student. Após o encontro com o General Student em "Wolfsschanze" naquela noite, Skorzeny telefonou para seu ajudante, Karl Radl, e lhe disse que eles receberam uma missão que não podia ser discutida pelo telefone e pediu-lhe para que se preparasse, na madrugada, uma longa lista de todo tipo de equipamentos especiais imagináveis, de armas e explosivos à tintura preta para cabelo e batinas de padres. Radl também foi instruído a selecionar os quarenta melhores homens da Friedenthal, incluindo todos aqueles que falavam italiano, e também trazer com ele dez agentes secretos do quartel general da Ausland-SD (a agência de inteligência do Reich), ordenando que todos estivessem vestidos como pára-quedistas. pára-quedistas. Voaram todos até a sede militar mil itar alemã fora de Roma. Nas sete semanas que se seguiram, Skorzeny participou do esforço do grupo alemão de espionagem para encontrar Mussolini e planejar uma operação de resgate. Durante essas semanas, os italianos transferiram Mussolini de cativeiro por três vezes, para evitar uma tentativa de resgate. Três vezes os alemães localizaram o cativeiro de Mussolini e novamente ele foi transferido antes que fosse possível invadir o local. Mussolini foi transferido para a pequena ilha de Ponza, ao largo de Nápoles. Em seguida, foi transferido para a pequena ilha de La Maddalena, perto da Sardenha, onde um dos comandos de Skorzeny que falava italiano relatou tê-lo visto a distância em uma vila isolada. Skorzeny, em seguida, voou em um bombardeiro para tirar fotos aéreas do local. O bombardeiro foi abatido por caças aliados, mas Skorzeny e a tripulação foram resgatados por um destróier italiano. O novo cativeiro de Mussolini foi identificado por Herbert Kappler, adido policial na embaixada alemã em Roma, que interceptou uma transmissão de rádio aparentemente sem importância da polícia italiana se referindo às preparações de segurança em torno de Gran Sasso, a montanha mais alta nos montes Apeninos. Kappler imediatamente supôs que Mussolini estaria no hotel de esqui na parte superior do Gran Sasso, só acessível por teleférico a partir de um vale.
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Os alemães tinham pressa, pois em 03 de setembro de 1943, os aliados invadiram a Itália e em 08 de setembro o governo italiano se rendeu, tendo um dia depois os Aliados desembarcado mais ao norte, em Salerno, perto de Nápoles. A Itália ainda não era um inimigo da Alemanha, mas não era mais sua aliada. O tempo era curto. As preparações alemãs para resgatar Mussolini no Gran Sasso, também foram mínimas por causa de pesado bombardeio aéreo aliado sobre as bases alemãs, perto de Roma. Skorzeny voou novamente em um avião bombardeiro, desta vez sobre o Gran Sasso, e tirou fotos com uma simples câmera de mão. Quando voltou, um plano de ataque foi rapidamente concebido pelo general Student, Harald Mors (um dos comandantes de batalhão pára-quedista de Student), e Skorzeny. O plano era simples, mas não era fácil: 1) Doze planadores de assalto DFS 230, cada um transportando nove soldados e um piloto, seriam rebocados e lançados por aviões sobre Gran Sasso, a uma taxa de um a cada minuto. Cada piloto de planador lutaria contra as fortes condições de vento imprevisíveis, em uma altitude de 9500 pés acima do cume, tendo que pousar em um pequeno pedaço de solo ao lado do hotel de esqui, que era cercada por encostas íngremes em todas as direções. 2) Uma vez no terreno, as tropas invadiriam o hotel, onde acreditava-se que Mussolini estava detido, na tentativa de chegar até ele antes que os guardas surpreendidos tivessem tempo de executá-lo. Em seguida, os guardas italianos seriam derrotados e o cume da montanha estaria garantido. 3) Uma força secundária, chegaria simultaneamente em caminhões na estação inferior do teleférico na base da montanha e a tomaria. 4) Mussolini, então, seria extraído do Gran Sasso, por uma aeronave leve Stork. A força de assalto aerotransportada, em um total de 108 soldados, era composta de 81 pára-quedistas divididos em 9 de planadores, Skorzeny com 25 de seus homens, e um convidado, divididos em 3 planadores. O "convidado" de Skorzeny foi o general Fernando Soleti da polícia militar italiana, raptado por homens de Skorzeny e forçado a acompanhá-lo. A idéia era que a sua presença no ataque poderia confundir ainda mais os surpresos guardas italianos. Não houve tempo para conseguir mapas aos pilotos, que chegaram à Itália pouco antes da invasão, sendo instruídos a seguir apenas o avião líder, pilotado pelo oficial de inteligência de Student.
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Apesar das sérias dificuldades antes e depois do ataque, em 12 de setembro de 1943, este foi um sucesso completo. Poucos italianos e alemães ficaram feridos, e ninguém foi morto. O planador de Skorzeny foi, inicialmente, o segundo na linha, mas o avião líder com o único piloto que sabia navegar no Gran Sasso, teve que abandonar a liderança e o piloto de Skorzeny subitamente tornou-se o líder, mas sem um mapa. Skorzeny, em seguida, usou sua faca para cortar uma pequena janela na parte inferior do planador, suficiente para ele para navegar visualmente com êxito, baseado em sua memória da trajetória do vôo de reconhecimento feito anteriormente, e passando instruções de navegação para o piloto do planador em sua frente, que as repassava por cabo ao piloto do avião reboque. Uma vez no chão, após o desembarque, perto do hotel de esqui, Skorzeny correu, empurrando o general Soleti em sua frente, à procura de uma porta, quando viu Mussolini olhando para ele de uma janela do segundo andar. Isso foi útil, pois agora ele sabia exatamente para onde ir. Skorzeny gritou a Mussolini para entrar, evitando que este fosse atingido por disparos e, em seguida, investiu contra o hotel. Os surpresos guardas italianos ficaram ainda mais confusos com o general Soleti, que gritou para que não disparassem, e menos de um minuto depois, Skorzeny invadiu a sala de Mussolini e desarmou os dois guardas, enquanto mais dois de seus homens entraram pela janela, após escalar a parede. Uma vez que Mussolini estava salvo em seu quarto, Skorzeny saudou-o e declarou que havia sido enviado por Adolf Hitler para libertá-lo. Dentro de alguns minutos, todos os guardas italianos no hotel e da estação de esqui foram desarmados, sem que um único tiro fosse disparado. Ao mesmo tempo, os alemães tomaram a estação inferior do teleférico após uma batalha curta, e no momento do pouso do último planador, Mussolini já estava fora do hotel, à espera do avião que o levaria em segurança. Um modelo Stork, leve avião ligeiro de dois lugares, foi pilotado pelo capitão Heinrich Gerlach, piloto pessoal do general Student. Após Gerlach desembarcar, o grande Skorzeny insistiu para também ir a bordo da aeronave, colocando-se no pequeno compartimento de carga atrás do banco de Mussolini. Skorzeny explicou mais tarde esta ação, dizendo que não estava disposto a arriscar uma situação em que, após um salvamento bem sucedido, tivesse que enfrentar Hitler para informar que Mussolini após resgatado, tivesse caído na encosta do Gran Sasso. Ele preferia morrer junto, caso ocorre algum acidente. O Capitão Gerlach tinha suas próprias dúvidas sobre as chances de uma decolagem bem sucedida, uma vez que além da incrivelmente curta e rochosa pista de
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pouso, que terminava em um abismo, também era cortada por um fosso profundo que não havia sido visto nas fotos aéreas que Skorzeny havia tirado. Com Mussolini e Skorzeny a bordo, o piloto Gerlach determinou que os páraquedistas segurassem o pequeno avião no lugar enquanto ele aumentava a potência do motor ao máximo, e sinalizando para que o liberassem, a pequena aeronave saltou em frente. Quando chegou à vala, Gerlach puxou o manche para levantar a aeronave a poucos centímetros no ar, descendo de volta à terra após a vala, ganhando um pouco mais de velocidade antes que caísse no abismo, no final da pista. Com nervos de aço, Gerlach mergulhou o avião na encosta íngreme da montanha e então lentamente puxou o manche, mantendo a aeronave acima das árvores do vale, fugindo de possíveis combatentes inimigos. Ele não contou aos seus dois passageiros que o motor havia sido danificado e não estava totalmente funcional. Eles desembarcaram em uma base aérea controlada pelos alemães perto de Roma, onde Mussolini e Skorzeny imediatamente foram transferidos para um bombardeiro alemão e voaram até Viena, e de lá Mussolini foi levado para encontrar Hitler no "Wolfsschanze" no mesmo dia. As merecidas homenagens foram feitas a todos os implicados. Skorzeny foi promovido a Major e recebeu a Cruz de Cavaleiro, e se tornou famoso. Kappler, o adido policial alemão, também foi promovido e condecorado. O Capitão Gerlach, foi condecorado com a Cruz de Cavaleiro pela realização de uma das decolagens mais difíceis na história da aviação. Os outros participantes da operação, entre pilotos, páraquedistas, e o pessoal da inteligência, além do ajudante de Skorzeny foram promovidos e condecorados. Tradução do autor 1.3. Em 20 de junho de 1952 o 10º Grupo de Forças Especiais (Aerotransportadas) foi ativado em Forte Bragg, sob o comando do coronel Bank. Foi ativada sem alarde ou publicidade. O grupo foi estabelecido em um Quartel da II Guerra Mundial em uma seção conhecida como Smoke Bom Hill (colina da bomba de fumaça) – um nome que se tornou parte do vocabulário das Forças Especiais. O recrutamento começou em abril, quando foi distribuído um panfleto que definia os requisitos a que deveriam obedecer os que se oferecessem para a nova organização. Foi redigido para atingir o tipo de homem que Bank estava procurando: profissionais qualificados, pessoas maduras dispostas a aceitar responsabilidades além
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de sua posição, experientes em viagens no exterior e qualificados em línguas estrangeiras, dispostos a assumir riscos não esperados nas unidades convencionais. Os voluntários começaram a aparecer em maio, e eram exatamente o que Bank procurava pára-quedistas e Rangers, veteranos da OSS; ex-membros dos Merrill's Marauders, 1ª. Força de Serviço Especial, batalhões Ranger, e todos os outros de unidades de Operações Especiais da Segunda Guerra Mundial que tinham existido, incluindo componentes do Lodge Act (pessoas deslocadas de países dominado pelos comunistas, que receberam a cidadania norte-americana em troca de engajamento no Exército). Haviam também alguns jovens, os soldados menos experientes, mas todos profissionais. Ex-OSS e outros funcionários experientes foram rapidamente convocados a formar uma equipe de treinamento para desenvolver o programa de formação da unidade. O treinamento começou no nível individual, e todos os soldados foram treinados em suas respectivas especialidades: operações e inteligência, armas, demolições, comunicação e médicos. Especialidades de treinamento cruzado também foram iniciadas. A ênfase foi dada em muitos aspectos da guerra não convencional que incluía colocada sobre os muitos aspectos da UW que inclua segurança, sabotagem, a formação e operações de inteligência, e sistemas de fuga e evasão (chamados de "redes" pelo Exército), e assim por diante. O treinamento progrediu ao nível de equipes e o treinamento cruzado continuou, conduzido pelo e para os times. Os membros do time deveriam mostrar iniciativa, ao instruir os outros times, e possuir habilidades de liderança e organização. Tradução do autor 1.4. junho de 1957 – 14º Destacamento de Forças Especiais começa a treinar os comandos vietnamitas. ... 01 de novembro de 1957 – O 1º Grupo de observação vietnamita é formado como uma unidade de forças especiais após o treinamento inicial pelas Forças Especiais norte-americanas. 1960 Maio – Os destacamentos do 1º e 7º Grupo de Forças Especiais Aerotransportadas iniciam o rodízio na República do Vietnã e três centros de treinamento de comandos são organizados.
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... 1961 03 de dezembro - As Forças Especiais dos Estados Unidos iniciam o treinamento das forças de defesa Montagnard. Tradução do autor 1.5. Em agosto de 1965, Watts era uma pequena comunidade negra na fronteira da área central sul da cidade de Los Angeles. Não era um projeto habitacional estereotipado aglomerado de arranha-céus associados aos guetos ou favelas das grandes cidades. Watts era um bairro composto por modestas casas de família, dois edifícios de apartamentos, conjuntos habitacionais e pequenas empresas. Seu marco notável era a eclética "Torre Watts", construída pelo imigrante italiano Simon Rodia em 1954. No verão quente de uma quarta-feira de 11 de agosto de 1965, Watts irrompeu na maior revolta civil/insurreição na América daquele tempo. As circunstâncias sociais que levaram à revolta são demasiadas complexas para se discutir aqui. É preciso dizer que as circunstâncias sociais e econômicas percebidas em Watts eram tais que muitos de seus habitantes estavam prontos para um motim. A prisão de um motorista negro bêbado pela California Highway Patrol (CHP) foi o catalisador para a calamidade. O motim de Watts nunca havia sido visto antes na América. Quando terminou seis dias depois, 34 pessoas haviam sido mortas e centenas de feridos dos incidentes relacionados ao motim. Outras 3.356 pessoas foram presas. Os manifestantes causaram um prejuízo estimado em 40 milhões de dólares (1965) em danos materiais. Dentro de uma área de 46 quilômetros quadrados (aproximadamente do tamanho da cidade de San Francisco) de Los Angeles, blocos inteiros de edifícios foram saqueados e queimados. À noite, as chamas laranjas e vermelhas do fogo iluminavam o céu por quilômetros de distância. Durante o dia, uma fumaça cinza escura pairava sobre a área afetada. Os manifestantes pareciam fora de controle. Eles saquearam e queimaram as empresas do próprio bairro em que muitos deles dependiam. Mercados, lojas de bebidas alcoólicas, casas de penhores e lojas de móveis foram seus principais alvos. As janelas de blocos inteiros de escritórios e lojas foram destruídos. Vidro e lixo cobria as calçadas e ruas. Eles atacaram os não-negros que encontravam-se na área. A polícia e os carros civis foram atingidos com garrafas e projéteis. Os manifestantes tombaram e queimaram vários destes veículos. Eles lançavam nos bombeiros e policiais que atendiam as
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ocorrências pedras, garrafas e entulhos. Eles danificaram todos os 160 carros da polícia que chegaram até a área. Coquetéis Molotov foram jogados em prédios e carros que passavam. Homens armados e franco-atiradores dispararam contra bombeiros e policiais também. A polícia de Los Angeles (LAPD) nunca encontrou uma calamidade como essa antes.O motim de Watts não só abalou a estrutura e fundações de Los Angeles, mas também toda a nação. Era diferente de qualquer motim visto antes nos Estados Unidos. Pior ainda, ninguém sabia como lidar com isso. Foi mais como uma insurreição e revolta que as tradicionais manifestações de greves tratadas pela LAPD no passado. A intensidade e o caos se tornaram tão grandes que William H. Parker (o Chefe de Polícia) teve que ligar para a Guarda Nacional da Califórnia e solicitar ajuda. Uma força conjunta de cerca de 15 mil guardas e policiais reprimiram os distúrbios. Foi um evento assustador de todos os que a vivenciaram. ...Longos sete dias após o seu início, a rebelião de Watts foi sufocada. Foi uma provação que nenhum policial ou bombeiro gostaria de reviver. Os políticos, ativistas políticos e acadêmicos tentaram determinar e explicar as razões para isso e o que deu errado. Uma coisa era dolorosamente óbvia, os oficiais da lei não estavam devidamente armados e treinados para combater os disparos de atiradores que enfrentaram nos tumultos de Watts. As coisas teriam que mudar se Los Angeles quisesse sobreviver a esses eventos no futuro. Essa necessidade de mudança se tornou a gênese da SWAT. Tradução do autor 1.6. Durante os anos 1950 e 1960, o SAS também desenvolveu habilidades de contra-insurgência. Além disso, durante a luta do governo britânico contra os terroristas do Exército Republicano Irlandês (IRA) na Irlanda do Norte, o SAS realizou operações anti-terroristas contra o IRA. O treinamento antiterrorista e as táticas do SAS foram aperfeiçoados em 1970, quando as situações de resgate de reféns passaram a fazer parte da missão do SAS. Tradução do autor 1.7. Grenzschutzgruppe-9 (GSG-9 ou Grupo de Guarda de Fronteiras 9), a Unidade
principal
de
polícia antiterrorista
da
Alemanha.
Criado
em
resposta ao massacre de 11 atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique, na
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Alemanha Ocidental em 1972, o GSG-9 desde então realizou algumas das mais bem sucedidas missões de resgate de reféns de qualquer força de elite. ... Grenzschutzgruppe-9 (GSG-9) foi criado para atender a essa necessidade. Ulrich Wegener, especialista em contra-terrorismo da Guarda de Fronteiras da Alemanha Ocidental tinha praticamente todo o controle sobre a nova unidade. Assistido por organizações estrangeiras contra o terrorismo, ele construiu a nova força em menos de um ano com candidatos escolhidos através de um rigoroso processo de seleção. O GSG-9 entrou em funcionamento com duas unidades prontas para o combate em 17 de Abril de 1973. Tradução do autor 1.8. Em 27 de junho de 1976, um avião da Air France cheio de passageiros judeus na rota de Paris a Tel Aviv foi seqüestrado após uma parada no aeroporto de Atenas, famosa pela sua falta de segurança. Os seqüestradores eram membros da facção extremista Wadi Haddad e exigiram duas coisas: a libertação de quarenta prisioneiros palestinos em Israel, e doze outros que estavam nas prisões européias e a libertação de dois terroristas alemães presos no Quênia, enquanto tentavam derrubar um jato da El Al, que decolava do aeroporto de Nairobi, com foguetes do tipo Sam-7. Após uma escala em Casablanca, e quando a eles foi negada a permissão para pousar em Cartum, a aeronave voou para Entebbe, em Uganda. De lá, os seqüestradores anunciaram que o plano seria explodir com todos os passageiros a bordo se suas demandas não fossem atendidas. Em 30 de Junho, o último prazo se expirou. Em sessões secretas no Gabinete de Tel Aviv, a imagem apregoada ao público de não se render ao terrorismo começava a murchar. Os ministros votaram em favor da libertação de prisioneiros palestinos. O primeiro-ministro Rabin apresentou um relatório do Shin Bet provando que já havia precedentes para a liberação de criminosos condenados. O chefe de gabinete, Mordechai Gur, anunciou que não poderia recomendar uma ação militar, porque a inteligência que tinha em Entebbe era insuficiente. Como eles continuaram suas deliberações, notícias perturbantes chegaram de Entebbe: passageiros judeus foram separados do resto e outros, depois de libertados, estavam a caminho de Paris. Esse foi o movimento de abertura de que precisava o Mossad. Yitzhak Hofi, chefe da Mossad, neste que seria seu melhor momento, poderosa e apaixonadamente
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argumentava que tinha montado uma operação de resgate. Citou o plano que Rafi Eitan havia usado para capturar Eichmann. Entre esses planos, haviam semelhanças: Rafi Eitan e seus homens haviam trabalhado fora de casa em um ambiente hostil. Eles tinham improvisado ao fazer o trabalho, usando os truques de um jogador de poker. Poderia ser feito novamente. Encharcado em suor, sua voz rouca de argumentar e suplicar, Hofi olhou para os membros do gabinete. "Se deixarmos o nosso povo morrer, abriremos as comportas. Nenhum judeu estará seguro em qualquer lugar. Hitler teria uma vitória em sua sepultura." "Muito bem", disse Rabin. Nós vamos tentar." ... Um Boeing 707 israelense não identificado, pronto para ser usado como hospital aéreo, pousou no aeroporto de Nairobi. Pilotado por homens das forças de defesa que conheciam o aeroporto de Entebbe. Enquanto isso, seis katsas do Mossad haviam cercado o aeroporto, cada agente tinha um rádio de alta freqüência e um dispositivo eletrônico para interferir com a torre do radar. Este nunca havia ainda sido testado em combate. Cinqüenta pára-quedistas israelenses deixaram o avião-hospital sob o manto da escuridão e se dirigiram a toda velocidade em direção ao Lago Vitória. Lá inflaram barcos de borracha e remaram em direção ao litoral do Uganda, prontos para atacar o aeroporto de Entebbe. Em Tel Aviv, a operação de resgate tinha sido ensaiada com perfeição, quando chegou a hora, uma frota de Hércules C-130 cruzou o Mar Vermelho, em direção ao sul, reabastecendo em Nairobi e em seguida, sobrevoando as árvores, aterrissou no aeroporto de Entebbe. A interferência do radar funcionou perfeitamente. As autoridades do aeroporto ainda estavam se perguntando o que teria acontecido quando os três Hércules e o avião hospital aterrissaram. Os comandos correram para o prédio onde estavam os reféns. Restavam somente os judeus, todas as outras nacionalidades haviam sido libertados por Amin, que viveu seu momento de glória no cenário mundial. Os pára-quedistas de apoio jamais foram chamados a dar suporte. Eles remaram pelo lago de volta a Nairobi. Ali seriam pegos por outro transporte e levados de volta para casa. Em cinco minutos, dois a menos do que o estimado, os reféns foram libertados e os terroristas, junto com dezesseis guardas de Uganda que vigiavam os prisioneiros, eliminados. A força atacante sofreu uma baixa: o tenente-coronel Yonatan Netanyahu, irmão do futuro primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Ele costumava dizer que sua
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política dura contra os terroristas foi devido à morte de Yonatan. Também pereceram três reféns. Tradução do autor 1.9. As 00:30 horas de 27 de junho de 1976, quatro terroristas armados com metralhadoras e granadas embarcaram no vôo 139 da Air France em Tel Aviv, Israel. O grupo era composto por dois terroristas do grupo alemão Baader-Meinhof e dois membros da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP). Eles assumiram o controle do avião Boeing 707 e ordenaram ao piloto que voasse para o aeroporto de Entebbe, em Uganda, na África, onde desembarcariam. Em 30 de Junho, os seqüestradores exigiram a libertação de 53 prisioneiros detidos nas prisões em todo o mundo. Um prazo até 01 de julho foi dado e após os reféns seriam executados. A unidade de resgate dos reféns israelenses de elite, Sayeret Mat'kal, recebeu ordens para preparar um plano para resgatar os reféns que se encontravam no terminal do aeroporto. Em 01 de julho, os 100 passageiros não-judeus do vôo foram soltos, deixando apenas os judeus e a tripulação. Apesar das preocupações e relutância inicial, o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin (1922-1995) deu permissão para tentar o resgate. Os Operadores gastaram horas preparando o assalto e praticando cada fase em uma especialmente construída réplica do antigo terminal de Entebbe onde os reféns estavam sendo mantidos. Sob o comando do tenente coronel Jonathan Netanyahu, a unidade planejava pousar na pista de Entebbe, e seguir para o prédio do antigo terminal disfarçados como representantes de Idi Amin, viajando em uma cópia de seu Mercedes preto. O sucesso da missão dependia do elemento surpresa. Em 23 de julho, quatro C-130 Hercules de transporte saíram de Israel em destino a Uganda. As 11:00 horas a aeronave pousou em Entebbe. Imediatamente, dois jipes e a Mercedes foram descarregados e começaram a mover-se em comboio rumo ao edifício do antigo terminal. As tropas israelenses, disfarçados de ugandenses, abriram fogo contra dois guardas Fora do terminal, espalhou-se a confusão entre os terroristas. Os israelenses começaram a limpar o edifício do terminal. Na medida em que progrediam, as tropas tinham dificuldade em determinar quem era terrorista e quem era refém, e alguns passageiros foram acidentalmente alvejados. Como o assalto continuava, os próximos dois C-130 que pousaram descarregaram quatro veículos blindados de transporte pessoal, que destruíram cerca de oito caças MIG da Força Aérea de Uganda
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estacionados na base. Em apenas 15 minutos do pouso do primeiro C-130 o aeroporto já havia sido dominado e o resgate dos reféns realizado. As perdas foram limitadas aos israelenses Jonathan Netanyahu, e os dois reféns acidentalmente mortos. Os israelenses mostraram que poderiam combater o terror com a aplicação cirúrgica de força controlada. Tradução do autor
1.10. Durante anos, o famoso oficial das Forças Especiais Coronel Charlie Beckwith, foi a única voz a clamar no deserto sobre a ameaça terrorista que a nação enfrentaria, e que seria necessário para lutar eficazmente contra esta ameaça. Ele tinha visto a necessidade dos militares dos EUA possuir uma unidade compacta, altamente qualificada e versátil capaz de empreender e executar difíceis e incomuns missões. Modelado de acordo com as linhas de organização do comando britânico, o Special Air Service (SAS), tais elementos seriam o instrumento cirúrgico que poderia ser empregado a qualquer momento para executar essas tarefas fora do âmbito da capacidade militar normal. Foi a tenacidade de Charlie, que finalmente ganhou o dia e colocou as rodas em movimento, o que acabaria por trazer essa unidade para a existência. Mas a criação dessa organização e adequá-la a hierarquia inflexível do Exército foi uma tarefa não muito diferente que a eleição de um papa. Como regra, os exércitos odeiam mudanças - e ninguém odeia mudar mais do que os que mais se beneficiaram do status quo: os oficiais generais. Agora e sempre, pensadores inovadores também podem usar estrelas em seus colarinhos e o coronel Beckwith alto e persistentemente clamava por uma força de contraterrorismo nacional e isto chegou aos ouvidos de dois homens: os Generais Bob Kingston e Edwin "Shy" Meyer. Kingston estava servindo em Forte Bragg, Carolina do Norte, e ele prontamente viu as possibilidades para o tipo de força que Beckwith estava propondo. Mas ele sabia que apresentar a idéia através da burocracia do Exército era como caminhar em um campo minado - ele poderia ser morto de mil maneiras diferentes. Para que a idéia fosse a frente, era necessário um homem com cavalos de força e domínio do sistema militar e político e Shy Meyer era o homem.
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O general Meyer atuava como Vice-Chefe de Estado Maior do Exército, e havia rumores de que ele iria em breve se tornar o chefe. Beckwith e Kingston apresentaram sua idéia de luta contra o terrorismo e Meyer imediatamente percebeu que eles estavam pregando para um coro. Meyer também teve de acrescentar idéias ao longo dessa mesma linha, e agora os três homens dividiram seus pensamentos sobre o assunto. A necessidade era evidente, mas a criação de uma força completa seria extremamente difícil. Primeiro eles teriam que determinar que tipos de missões essa unidade fictícia seria encarregada, porque a missão determina o tamanho de uma unidade. Com isso eles foram capazes de construir uma Tabela de Organização e Equipamentos (O&E), que apresentava a configuração da unidade, estrutura de comando, armas e equipamentos. Com a O&E concluída, foi possível prever um orçamento para os custos iniciais e anuais. Uma vez que o rascunho da unidade estava completo, através de sua posição no Pentágono, Meyer começou a procurar de onde extrair o dinheiro e os homens para a empreitada. Pode parecer uma surpresa, mas o Exército não tem homens à disposição todo o tempo. Cada unidade tem um contingente de pessoal, e cada soldado é designado a uma unidade, mesmo que ele não trabalhe lá. Mas às vezes existem unidades que estão vivas no papel, mas na verdade não existem pois os homens vinculados a essas unidades de papel estão sendo utilizados noutro lugar. Meyer encontrou uma destas saídas para recrutar homens para sua tão sonhada organização, e descobriu uma fonte de recursos ainda inexplorada para dar vida a unidade. Em seguida, eles passaram meses estudando a unidade no papel. Eles tinham que ser capazes de antecipar todas as objeções à sua criação com antecedência e ter uma bem pensada resposta para cada pergunta que pudesse ser feita. Aliados foram procurados. Poderosos e influentes generais que pudessem bloquear ou impedir o surgimento da unidade foram sondados sobre os seus sentimentos quanto a idéia. Nada oficialmente foi apresentado a alguém como uma proposta, pois era muito cedo para isso. Por enquanto, eles só queriam saber quem eram os amigos e que eram inimigos. Mas quando os generais mais poderosos perceberam que uma nova unidade poderia se intrometer em seus assuntou ou ser um sifão para os seus recursos, acabaram dando acenos de aceitação antes de uma não aprovação. Com isso, o trio de Kingston, Meyer, Beckwith estava pronto para apresentar seu plano. A proposta formal de uma força nacional de contraterrorismo foi apresentada na Conferência de Infantaria em Forte Benning, no verão de 1977.
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Com todos os detalhes e as maquinações políticas previamente preenchidas, a proposta foi devidamente aprovada e foi recomendado ao Chefe do Estado Maior do Exército que essa organização fosse formada imediatamente. Nesta época, o próprio General Meyer era o chefe. O 1º Destacamento Operacional de Forças Especiais - Delta foi oficialmente criado em 21 de novembro de 1977 por ordem do Quartel-General, Ministério do Exército. Quando Beckwith foi escolhido para comandar a nova equipe, ele imediatamente começou a trabalhar. Ele escolheu pessoalmente alguns membros do pessoal, encontrou um velho edifício abandonado no quartel de Forte Bragg, Carolina do Norte e começou a luta pelo parto do seu bebê. Tradução do autor 1.11. As 19:23 horas, oito homens do SAS através de rapel desceram do telhado para a varanda do primeiro andar na parte de trás do edifício. Cargas de moldura 125 foram rapidamente montadas nas janelas da frente do edifício no primeiro andar e explodidas. O time lançou granadas de gás CS e granadas de luz e som e depois entrou. Os soldados do SAS nas varandas de trás foram incapazes de detonar suas cargas de moldura porque um Operador havia ficado preso em sua corda. Eles foram forçados a usar marretas para entrar. Granadas de efeito moral foram lançadas para dentro do prédio e em seguida a equipe do SAS entrou, caçando os terroristas antes que eles pudessem matar os reféns. O líder terrorista Oan, foi morto no corredor do primeiro andar pelos soldados do SAS que seguiam para a sala do telex, situada no segundo andar e onde os reféns estavam sendo mantidos. Os três terroristas mataram um dos reféns e feriram outros dois, antes que pudessem ser mortos pelo SAS. Dois terroristas foram mortos imediatamente
e
outro
ficou
ferido.
Enquanto
isso, um terrorista
foi morto no corredor perto da porta da frente e outro foi morto no escritório, na parte de trás do edifício. O terrorista restante foi capturado rapidamente. Durante o assalto um dos reféns foi morto e dois ficaram feridos, tendo os demais saído ilesos. A Operação Nimrod foi considerada um sucesso e tornou-se um estudo de caso que vem sendo estudado pelas equipes de forças especiais de todo o mundo. Tradução do autor 125
Cargas de moldura: artefatos explosivos com o objetivo de realizar um arrombamento tático.
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1.12. Nesta época, a Spetsnaz era conhecida no Ocidente como o SAS soviético, mesmo que sua existência fosse mantida como segredo, da forma que fosse possível para uma organização de combate deste tamanho. A Spetsnaz não tinham uniformes diferenciados, emblemas ou chapéus, mas sim um bem preparado sistema ofensivo, com esconderijos de armas (incluindo transmissores de rádio e roupas devidamente surradas obtidas de trabalhadores ferroviários, guardas florestais e outros) espalhados por todo Europa Ocidental. As Operações Spetsnaz deveriam ser capazes de atingir um nível estratégico de impacto inconcebível para o SAS e os Boinas Verdes, com um toque de terror do século 21. Tradução do autor 1.13. Em 1982, a agência de inteligência do Paquistão, a ISI, começou o seu programa para recrutar soldados árabes fundamentalistas de todo o mundo árabe para lutar contra os soviéticos no Afeganistão. Tradução do autor 1.14. Oito anos antes, o diretor da CIA, William Casey tinha dado seu apoio a um plano apresentado pela agência de inteligência do Paquistão, a ISI, para recrutar pessoas de todo o mundo a aderir à jihad afegã. Mais de 100.000 militantes islâmicos treinados no Paquistão entre 1986 e 1992, nos campos supervisionados pela CIA e o MI6, com o treinamento do SAS, seriam os futuros integrantes da Al-Qaeda e do Taleban, fabricando bombas e outras artes negras. Seus líderes foram treinados nos campos da CIA, na Virgínia. Chamada de Operação Ciclone, esta atividade continuou por muito tempo mesmo depois que os soviéticos se retiraram em 1989. Tradução do autor 1.15. O planejamento inicial para a operação começou em Forte Bragg, Carolina do Norte. A Força Delta finalizou a preparação para missões específicas do resgate em um centro de treinamento remoto localizado em no terreno da Base da Froça Aérea de Eglin, na Flórida. Para aumentar a capacidade da equipe de ataque para penetrar na prisão fortemente guardada, uma maquete em escala completa, com três andares foi construída. Suas características específicas foram atualizadas pelos relatos dos militares que foram autorizados a visitar Muse em sua cela. Desta forma, foi possível ensaiar a
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missão em total sigilo e em grande detalhe. Foi ali que os ensaios intensivos para a missão foram realizados. O plano, designado Operação Acid Gambit, era simples, pelo menos em teoria. Seria fornecido o apoio aéreo por MH-6 "Little Birds" do 160º Grupo Aéreo de Operações Especiais. Este helicóptero, ágil e desarmado, um parente do helicóptero de observação OH-6 usado no Vietnã, foi especialmente equipado com bancadas externas projetadas para transportar até três comandos de cada lado. Pintado de preto para facilitar as operações noturnas, o pequeno helicóptero poderia conduzir inserções rápidas e extrações de forças de operações especiais em áreas de seu irmão maior, o MH-60 Black Hawk, não poderia. Este mesmo pacote de assalto combinado com MH60s pertencentes ao 160º SOAR, também foram encarregados da prisão de Manoel Noriega, em uma operação denominada "Nifty Package". Através deste método, a equipe de assalto iria pousar no telhado da prisão, fariam uma entrada explosiva através de uma porta de entrada automática e lutariam até a cela de Muse localizada no segundo andar. No caminho, eles neutralizariam qualquer oposição, sabendo que o mais alto alvo da sua lista era o guarda designado para matar Muse. Eles, então, voltariam com Muse para o telhado, embarcariam no helicóptero, e bateriam em fuga. Uma equipe de atiradores sniper Delta também estaria no local perto da prisão para neutralizar todos os guardas posicionados fora das instalações. Finalmente, o apoio de fogo aéreo seria fornecida por dois AH-6 "Little Bird" e dois helicópteros de ataque AC-130H "Spectre". Eles atacariam os alvos pré-designados (no pré-planejamento de suporte aéreo próximo), bem como permaneceriam disponíveis para todas as chamadas de assistência. O resgate Ao ouvir os sons de tiros (não dos atiradores de elite, mas de um ataque a um ônibus na baía de Forte Amador) Muse acordou com um sobressalto. Como o pesado tiroteio continuou, ele percebeu que algo fora do comum estava acontecendo e rapidamente pegou sua roupa. Cerca de sessenta disparos ressoaram no ar úmido da noite e Muse rastejou pelo chão do banheiro e olhou para ver se alguém estava chegando até a sua cela. Tão rapidamente como tinha começado, no entanto, acabou. Tudo dentro da prisão ficou em silêncio. Muse em seguida, ouviu o som familiar de botas de combate subindo os degraus. Ele percebeu então que estes passos poderiam ser dos homens que iriam matálo. Os homens não abriram a sua cela, no entanto, mas correram na direção da sala dos
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oficiais. Muse escutou os guardas das Forças de Defesa do Panamá explicando freneticamente ao seu capitão que algo estava acontecendo lá fora. Os oficiais e os soldados correram rapidamente para defender a prisão. Quase imediatamente, os quatro Little Birds, cada um com quatro comandos a bordo, pousou no telhado da prisão. Os elementos de assalto correram para as torres laterais e para a cúpula. A porta do telhado para o interior da prisão foi rapidamente aberta com uma explosão maciça de cargas explosivas, e rapidamente a equipe seguiu até o segundo andar. Pelo menos dois e possivelmente três guardas foram mortos nos poucos segundos que levaram para a equipe descer os dois lances de escadas para a cela de Muse. Os quatro MH-6, com sua carga entregue, foram para o norte, onde se mantiveram aguardando o chamado da equipe para a extração. Dentro da prisão, Muse ouvia os sons da batalha como explosões e armas de pequeno calibre disparando lá fora. A fumaça começou a encher o ar, e então ele percebeu algo. Uma luz fina e branca das lanternas pequenas montadas nas armas da equipe de assalto irradiou através da escuridão, refletidas pela fumaça. Uma voz em inglês gritou através da neblina na direção de Muse para que ele se abrigasse. Muse abaixou-se e momentos depois uma pequena explosão arrombou a porta da cela. Um operador Delta fortemente armado, vestido dos pés à cabeça em um traje negro de proteção entrou e ajudou Muse a colocar um capacete e colete à prova de bala de Kevlar. Feito isso ele conduziu Muse para fora de sua cela e os dois se moveram rapidamente para cima, em direção ao telhado. Passando de uma mesa, Muse notou que o homem designado para matá-lo estava morto. Muse também notou, para sua surpresa, que um guarda não tinha realmente morrido, mas tinha sido amarrado e deixado no chão, encolhida em posição fetal. Este guarda tinha provado ser mais sábio do que muitos de seus compatriotas - ele não tinha resistido a equipe de resgate, e assim não foi morto imediatamente. Uma vez no telhado, mais comandos apareceram e seguiram para os helicópteros que rapidamente decolaram. Um elemento da equipe aguardaria ali por um tempo até que um Black Hawk pudesse vir e recupera-lo. Muse foi colocado em um local de proteção, entre dois operadores Delta. Imediatamente, porém, um dos dois pilotos do MH em que se encontrava Muse notou através de seu óculos de visão noturna que as linhas de energia estavam diretamente na frente deles. Ele imediatamente puxou a aeronave para cima e sobre as linhas, porém as exigências da aeronave pesadamente carregada causou a perda rapida de altitude e, por um momento, parecia que o “Little
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Bird” acabaria de cabeça na rua. Em um feito notável de pilotagem, os pilotos conseguiram evitar uma catástrofe e manteveram suas aeronaves no ar. No entanto, tão danificado ficou o MH-6, que o piloto so conseguia manter-se a poucos metros de altitude. Assim, ele acabou "dirigindo" o helicóptero por uma rua estreita, tentando manter distância entre a aeronave e a prisão. Aterrisando brevemente em um pátio entre dois edifícios de apartamentos, o piloto então tentou decolar novamente. Este esforço foi compensado por um curto período de tempo, no entanto apenas alguns momentos depois, eles foram novamente atingidos por rajadas de tiros. Desviando de uma parede, o helicóptero acabou caindo em uma rua a curta distância e virou para o lado direito, com os ocupantes saltando a poucos metros do chão. Quando Muse e seu guarda-costas sairam do helicóptero, entretanto, uma das pás do rotor ainda atingiu o comando na cabeça, derrubando-o no chão. Surpreendentemente, o operador Delta com o rosto coberto de sangue, recobrou a consciência e imediatamente verificou se Muse não tinha sido ferido. Ele então levou Muse para o piso térreo de um prédio adjacente, procurando um local mais seguro para fora de qualquer potencial linha de fogo. Retomando um perímetro defensivo perto de um jipe abandonado, a equipe Delta com vários dos seus membros gravemente feridos por tiros e o pouso forçado, posicionou Muse no local mais seguro possível e se preparou para retornar fogo contra o inimigo. Muse, treinado no uso de armas de pequeno porte, fruto de seus dias no exército, pediu uma arma para ajudar a combater e lhe foi dada uma pistola por um dos operadores. Esta equipe manteve a posição na rua por aproximadamente quinze minutos até que, utilizando uma luz estroboscópica infravermelha, conseguiu sinalizar para um avião que sobrevoava a área. Com sua posição fixa e em seguida transmitida para uma patrulha do Exército dos EUA, transportadores blindados de pessoal logo chegaram para extrair a equipe. A Força Delta, o 160º Grupo de Aviação de Operações Especiais e o AFSOC Specter Gunship tiveram êxito. Kurt Muse foi resgatado da morte certa nas mãos de seus captores do Panamá. Dessa forma, ele tornou-se o primeiro americano resgatado por uma Unidade de Contraterrorismo das mãos do inimigo. Tradução do autor
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1.16. Grupo de forças especiais (DOD) Uma organização armada de combate capaz de planejar, conduzir e apoiar atividades de operações especiais em todos os ambientes operacionais em paz, conflito e guerra. Ela é constituída de um quartel general, uma companhia do quartel general, uma companhia de suporte e batalhões de forças especiais. O grupo pode operar como uma unidade única, mas normalmente os batalhões planejam e conduzem operações em diversos locais separados. O grupo providencia a direção das operações em geral e sincroniza as atividades dos batalhões subordinados. Apesar de ser essencialmente estruturado para
a guerra
não
convencional, unidades
das
forças especiais são capazes de organizar tarefas e atender às necessidades específicas. São chamadas também de FOE. (forças de Operações Especiais. Tradução do autor 1.17. O treinamento é a espinha dorsal de todas as operações SWAT. O time somente será bom se treinar. Muitos times são formados, inicialmente treinados e ai então autorizados a diminuir o ritmo, e então pagarão caro com os erros cometidos nas missões reais. O treinamento deve ser uma coisa contínua. Tradução do autor 1.18. Toda equipe deve ter um coordenador de treinamento (CT), que providencie o planejamento do calendário do plano de ação para o ano vindouro. Este caminho para o sucesso dará orientações para o ano inteiro da agenda dos oficiais, estandes
de
tiro
e
outros
recursos
para
facilitar
o
treinamento.
Este coordenador carrega uma grande responsabilidade e, portanto, lhe deve ser atribuído o poder de realizar a tarefa. Esta posição não deve ser atribuída devido à posição do integrante, mas sim devido
a
sua
capacidade,
O CT, trabalhando
em
habilidade conjunto
e conhecimento para completar a tarefa. com
o
supervisor
SWAT, deve avaliar o programa em curso sob os seguintes aspectos: Administração Qualificação dos Instrutores Formação atual e necessidades futuras Planejamento de aulas que devem ser recentes, realistas e relevantes
da
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A mentalidade de "se ele não está quebrado, por que consertá-lo?" não pode existir nas organizações policiais. Escolher direito os instrutores é muito mais importante do que a qualidade do planejamento das aulas. Os instrutores não precisam ser necessariamente especialistas no assunto, mas eles devem ter o conhecimento necessário para fornecer as informações de uma forma de aprendizagem positiva, envolvente. Instrutores SWAT devem acreditar no que estão ensinando e devem praticar o que precisam demonstrar. Tradução do autor 1.19. Entrevistador: "Por favor, diga seu nome completo, posto e apresente-se." Entrevistado: "Meu nome é Mario Rios, eu sou um"P3", Oficial de Polícia classe 3, Polícia de Los Angeles, estou há quinze anos no cargo e dois anos na LAPD SWAT". Entrevistador: "Existe uma doutrina na sua Unidade da SWAT?” Entrevistado: "Hum, temos um manual com todos os procedimentos da SWAT e a forma de operarmos na SWAT. Então, seguimos esse manual da SWAT." Entrevistador: "Existe um curso básico para os policiais novos que são incorporados em sua unidade SWAT?" Entrevistado: "Ah ... sim o que fazemos, temos uma escola de três meses, que é chamada SWAT SCHOOL, é basicamente um teste de três meses, por isso estamos na escola SWAT por três meses, mas a qualquer momento, se você não tiver sido cortado, você pode conseguir ser selecionado, mas se você for cortado, você vai voltar para a Divisão Metropolitana e não fará parte da SWAT, mas se você passar três meses na escola SWAT, então estamos colocá-lo na equipe da SWAT." Entrevistador: Ok, qual é a frequência do treinamento na sua unidade SWAT?” Entrevistado: "Ah ... Nós somos uma SWAT em tempo integral, de modo que todos os dias são de treinamento, o que é muito importante para nós, porque temos a necessidade de sermos eficientes em nossas competências, temos que treinar diariamente... hã ... pois seja o que for que venha a acontecer, temos que estar prontos para isso... Então, temos que ter o foco no treinamento e o foco em aprendermos as habilidades que precisamos ter, e quando não temos incidentes, então é muito importante termos o apoio para treinar todo dia, é muito importante para nós treinarmos todos os dias.” Tradução do autor
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1.20. Entrevistador: "Por favor, sargento, diga o seu nome completo, posto e apresente-se". Entrevistado: "Lee McMillion, Departamento de Polícia de Los Angeles, Armas e Táticas Especiais.” Entrevistador: "Quantos anos na SWAT, senhor?" Entrevistado: "Eu estou desde 1996." Entrevistador: "Quem decide o calendário de treinamento na SWAT de Los Angeles?” Entrevistado: "O pelotão tem sessenta oficiais, com seis sargentos, dois sargentos de pessoal, dois tenentes, com um dos sargentos fazendo uma função administrativa e, por isso os seis sargentos são cada um, líderes de esquadrão, assim os homens são divididos em seis esquadrões de dez, e cada esquadrão é dividido em duas equipes com cinco elementos, sendo que cada equipe tem um líder de equipe, e estes são portanto, doze líderes e peritos em táticas, com poder de decidir a tática em campo, para resolver os problemas, e são eles também que decidem a formação do calendário e são responsáveis pelo sucesso do treinamento de forma regular." Entrevistador: "Qual é a freqüência do treinamento?" Entrevistado: "Nós treinamos usando um ciclo progressivo. Na primeira segunda-feira da primeira semana treinamos a movimentação do pelotão, na primeira terça-feira é o treinamento com armas, com qualificação em pistola, submetralhadora, M4 e espingarda Benelli. Na primeira quarta-feira é a prática de tiros múltiplos, em veículos, um curso com muito stress, a primeira quinta-feira é um treinamento de força contra força ou treinamento de força oposta, usando simunitions em uma simulação de resgate de reféns, a primeira sexta-feira é um treinamento de arrombamento, com entradas explosivas. A segunda semana, na segunda-feira é normalmente aberta para o quadro decidir, a segunda terça-feira é para tiro em plataforma aérea, para os atiradores atirarem de helicópteros, a segunda quarta-feira é para o treinamento de técnicas de escalada, usando rapel, escadas táticas, escalando poços de elevadores, a segunda quinta-feira é para o treinamento de sniper de forma tradicional, com um rifle de precisão, a próxima sexta-feira é um dia de portas abertas também, nos próximos três dias da terceira semana é para operações por via aquática, com assaltos a navios, treinamento no porto de Los Angeles, na quinta-feira é para o treinamento de defesa pessoal, é dia dos lutadores de kung fu, e técnicas de luta, na sexta-feira é para arrombamento explosivo ou treinamento com o esquadrão anti-bombas. A última
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semana é para o treinamento com armas, treinamento com outras unidades ou de formação especializada como NBC, ameaças nucleares, biológicas ou químicas, contraterrorismo, treinamento utilizando equipamentos de proteção, treinamento com a equipe de negociadores, treinar as habilidades com eletrônicos usando micro-câmeras e todo tipo de lixo eletrônico. Reservamo-nos alguns dias para treinar com outras agências federais, agências locais e outras equipes SWAT, e então o nosso calendário de treinamento está completo." Tradução do autor