José Luís Marques López Landeira
Licenciado em Língua Portuguesa pela Universidade de Coimbra (Portugal). Mestre em Filologia e Língua Portuguesa pela FFLCH-USP. Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da USP. Professor de ensino fundamental, médio e universitário.
Alice Vieira
Graduada em Português e Francês pela FFLCH-USP. Mestre em Literatura Portuguesa pela FFLCH-USP. Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da USP. Professora do programa de pós-graduação da Faculdade de Educação da USP.
Língua Portuguesa Ensino Médio
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Queridos alunos e queridas alunas Vocês têm o privilégio de estudar numa escola salesiana, que faz da felicidade de seus alunos e alunas a razão da própria existência. O seu Colégio faz parte da Rede Salesiana de Escolas. Por isso mesmo, usa livros didáticos exclusivos, cuja qualidade os coloca entre os melhores do Brasil. Eles foram produzidos por autores e técnicos altamente qualificados e seguem os princípios educativos sugeridos pela Unesco, bem como as normas e diretrizes adotadas pelo MEC para a educação exigida nos tempos atuais. Esses livros têm o objetivo de ajudar cada um de vocês a edificar uma base sólida para a própria vida, construindo, com a orientação de seus educadores, os saberes indispensáveis para enfrentar os grandes desafios do século XXI: • Aprender a aprender, construindo e elaborando os conhecimentos de que precisa agora e precisará no futuro. • Aprender a fazer, tornando-se capaz de aplicar nas situações concretas da vida os conhecimentos adquiridos. • Aprender a conviver, participando dos grupos de que faz parte, reconhecendo e aceitando as diferenças, convivendo pacificamente com os outros e exercendo a cidadania, como personagem atuante na História de seu País e do mundo. • Aprender a ser, tornando-se progressivamente uma pessoa humanamente mais completa e mais perfeita. • Aprender a crer, abrindo-se para as realidades que ultrapassam as dimensões materiais da vida. A construção desses saberes desenvolve progressivamente as competências e habilidades que ajudarão você a vencer as provas e concursos que tiver de enfrentar ao longo da vida. A começar pelo ENEM que, a partir de 2009, ganhou mais importância como forma de ingresso em muitas faculdades, particularmente nas federais, substituindo no todo, ou em parte, o vestibular tradicional. Aproveite bem a ajuda oferecida por esse material pioneiro, inovador. Faça de cada livro uma ferramenta valiosa para a construção do futuro de seus sonhos. E lembre-se: Nas olimpíadas da vida, a vitória depende de dedicação, esforço, entusiasmo e perseverança. Busque e você conseguirá a vitória. Pe. Nivaldo Luiz Pessinatti Ir. Ivanette Duncan de Miranda Diretores da RSE
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Landeira, José Luís Marques López. Língua Portuguesa: ensino médio, 1º ano. / José Luís Marques López Landeira, e Alice Vieira. 2ª ed. - 2ª reimpressão. Brasília: Cisbrasil - CIB, 2011. 408 p. (Coleção RSE) ISBN nº 978-85-7741-070-5 I. Vieira, Alice. II. Rede Salesiana de Escolas. 1. Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados à Editora Cisbrasil - CIB Endereço: SHCS CR – Quadra 506 – Bloco B – Lojas 65 / 66 – Asa Sul • Brasília – DF – CEP 70350-525 Telefone: (0XX61) 3214-2300 • Fax: (0XX61) 3242-2324 • E-mail:
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José Luís Marques López Landeira Alice Vieira Kátia Cristina Stocco Smole, Maria Ignez de Souza Vieira Diniz
Alice Vieira, Cláudia Cavalcanti Pereira, Sônia Rolfsen Diaz
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Capa e Projeto Gráfico:
Prof. Gleuso Damasceno Duarte Marcos Lourenço Hermínio José Casa Marcelo Martins Clarisse Bruno, Ester Tertuliano Rizzo Lápis Lazúli
Ilustrações: Anna Göbel, Círculo Cinco (Andréa Vilela, Júlia Bianchi, Mirela Spinelli, Sandra Bianchi, Sílvia Aroeira), José Luís Marques López Landeira, Light Planejamento Gráfico Ltda., Média Inteira Ilustração Ltda. (Andréa Vilela), Robson Araújo Revisão:
Alessandro Faleiro Marques, Dila Bragança de Mendonça, Níbia Cândida Ribeiro, Seculus Editoração
Diagramação:
Bruno Martins, Lápis Lazúli
Fotografias:
Capa: Keystone, RSE-BI Miolo: Keystone
Os autores agradecem a colaboração dos professores Douglas D’Ângelo (Instituto Santa Tereza - Lorena), Pétria Cartolano Chaim (Instituto Santa Tereza - Lorena), Silvia Maria dos Santos Moura (Instituto Santa Tereza - Lorena), Simoni Regina Severino Schmitz (Colégio Salesiano Itajaí) que contribuíram para a elaboração deste volume. Equipe Administrativa Endereço: SHCS CR – Quadra 506 – Bloco B Lojas 65 / 66 – Asa Sul Brasília – DF – CEP 70350-525 Tel.: (0XX61) 3214-2300 – Fax: (0XX61) 3242-4797 E-mail:
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Nos casos em que não foi possível contatar os detentores de direitos autorais sobre materiais utilizados como subsídio na produção deste livro, a Editora coloca-se à disposição para eventuais acertos, nos termos da Lei 9.610 de 19-2-1998 e demais dispositivos legais pertinentes. Os pedidos desta obra devem ser encaminhados ao endereço da Editora Cisbrasil - CIB. Impresso no Brasil Printed in Brazil
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Um olhar sobre a comunicação Capítulo 1 – Linguagem, o eu e o outro ...................................................................... 10 Refletindo sobre a comunicação ........................................................................................................... 10 Roteiro para a discussão ....................................................................................................................... 17 O senhor Xisto, as linguagens e a tecnologia........................................................................................ 18 Linguagem, texto e comunicação ......................................................................................................... 19 Pausa para reflexão ............................................................................................................................... 23 A linguagem publicitária ........................................................................................................................ 23 Pausa para reflexão ............................................................................................................................... 28 Trabalhando com projeto . ..................................................................................................................... 28 Estratégias de leitura: o texto narrativo.................................................................................................. 29 Para ler ................................................................................................................................................... 33 Recapitulando nosso aprendizado: a linguagem entre você e o outro ................................................ 38 Capítulo 2 – A Língua portuguesa construindo o texto ..................................... 40 A língua portuguesa é viva... ................................................................................................................ 40 A língua portuguesa no mundo ............................................................................................................. 42 A notícia em português... ....................................................................................................................... 43 Textualidade ........................................................................................................................................... 46 A coesão textual . ................................................................................................................................... 47 Pausa para reflexão ............................................................................................................................... 52 Como buscar informações em obras de referência . ............................................................................ 52 Como surgem palavras novas na língua portuguesa? ......................................................................... 54 Trabalhando com projeto . ..................................................................................................................... 57 Estratégias de leitura: o texto poético.................................................................................................... 59 Para ler ................................................................................................................................................... 63 Recapitulando nosso aprendizado: o português no mundo e a identidade do brasileiro ................... 63 Capítulo 3 – O outro naquilo que eu digo ................................................................. 66 O olhar atento do escritor... .................................................................................................................. 67 Um olhar provocador sobre a linguagem . ............................................................................................ 69 Quem conta um conto... ....................................................................................................................... 76 Texto e coerência ................................................................................................................................... 80 Intertextualidade . ................................................................................................................................... 81 Pausa para reflexão ............................................................................................................................... 85 Trabalhando com projeto........................................................................................................................ 86 Estratégias de leitura: a intertextualidade no processo de construção do sentido (parte 1)................ 87 Para ler ................................................................................................................................................... 89 Recapitulando nosso aprendizado: um pouco do outro naquilo que você diz .................................... 90 Na hora de estudar... ............................................................................................................................ 93 Caiu no vestibular .................................................................................................................................. 94
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A comunicação no tempo presente Capítulo 4 – Linguagem: luz do momento ................................................................ 100 O conceito de gênero textual . ............................................................................................................. 100 A crônica .............................................................................................................................................. 102 Trabalhando em equipe ....................................................................................................................... 111 Melhorando a coesão do texto: os conectivos temporais .................................................................. 116 Pausa para reflexão ............................................................................................................................. 117 Trabalhando com projeto...................................................................................................................... 118 Estratégias de leitura: ler para quê?..................................................................................................... 118 Para ler ................................................................................................................................................. 120 Recapitulando nosso aprendizado: o gênero crônica ........................................................................ 122 Capítulo 5 – Latim em pó: da origem da língua portuguesa aos nossos dias.... 123 Bater papo? Depende com quem... ................................................................................................... 124 A necessidade da linguagem .............................................................................................................. 125 Latim virando pó... ............................................................................................................................... 126 Paquerando em galego-português ..................................................................................................... 128 Uma estratégia de estudo: da leitura para o resumo . ........................................................................ 137 A gramática da língua portuguesa ...................................................................................................... 143 Pausa para reflexão ............................................................................................................................. 150 Para ler ................................................................................................................................................. 150 Trabalhando com projeto...................................................................................................................... 151 Estratégias de leitura: a intertextualidade no processo de construção do sentido (parte 2).............. 152 Recapitulando nosso aprendizado: em resumo – o português veio do latim .................................... 153 E a reforma ortográfica......................................................................................................................... 158 Capítulo 6 – A literatura cai na boca do mundo .................................................. 160 A necessidade da arte ......................................................................................................................... 161 A literatura: uma forma de arte e o começo do problema... .............................................................. 162 Construindo um conceito de literatura ................................................................................................ 165 Qual a utilidade da literatura? .............................................................................................................. 172 A literatura divulgada na sociedade: a resenha crítica ....................................................................... 175 A literatura revelando a identidade do ser humano e da sociedade .................................................. 180 Um estudo da linguagem: o adjetivo em Vidas secas ........................................................................ 190 O adjetivo e a caracterização............................................................................................................... 194 O grau dos adjetivos............................................................................................................................. 199 O Nordeste, o adjetivo e José Lins do Rego . ..................................................................................... 201 História crítica da arte e da literatura greco-latinas ............................................................................. 204 Agora é a sua vez ................................................................................................................................ 212 Pausa para reflexão ............................................................................................................................. 215 Para ler ................................................................................................................................................. 215 Recapitulando nosso aprendizado: a dimensão social da literatura .................................................. 216 Quadro-resumo do capítulo.................................................................................................................. 217 Respondendo a questões de múltipla escolha no vestibular – interpretação de textos .................... 218 Questões de exames de acesso ao ensino superior .......................................................................... 220
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A comunicação e a sociedade Capítulo 7 – Fazendo gênero com a literatura .................................................... 226 Os gêneros literários ............................................................................................................................ 226 O gênero narrativo ou épico ................................................................................................................ 227 O narrador e os discursos das personagens: o discurso indireto livre .............................................. 233 O gênero lírico . .................................................................................................................................... 240 O gênero dramático ............................................................................................................................. 249 Exercício de oralidade ......................................................................................................................... 252 A personagem, o espaço e o tempo na literatura: renovando a linguagem do teatro... . ................. 257 Um estudo da linguagem: o substantivo em O impossível carinho de Manuel Bandeira .................. 268 Pensando em arte... . .......................................................................................................................... 276 História crítica da arte e da literatura medievais ................................................................................. 280 Exercício resolvido ............................................................................................................................... 287 Agora é a sua vez ................................................................................................................................ 288 Pausa para reflexão ............................................................................................................................. 300 Para ler ................................................................................................................................................. 300 Recapitulando nosso aprendizado: a dimensão social e linguística da literatura . ............................ 301 Capítulo 8 – Falemos de amor... ................................................................................... 302 Ideologia e amor .................................................................................................................................. 303 Um aparte gramatical: os porquês e a norma-padrão ....................................................................... 308 Eros e Psiquê: a ideologia nas interpretações .................................................................................... 309 Você entrega carta de amor? .............................................................................................................. 314 O impasse entre o amor idealizado e a necessidade da forma física ................................................ 332 Fazendo as conexões . ........................................................................................................................ 334 Roteiro de análise de um poema ........................................................................................................ 343 História crítica da arte e da literatura do Renascimento ao Barroco .................................................. 346 Pausa para reflexão ............................................................................................................................. 360 Uma antologia de poemas de amor . .................................................................................................. 360 Recapitulando nosso aprendizado: o amor idealizado e a linguagem .............................................. 361 Para ler ................................................................................................................................................. 362 Capítulo 9 – A Língua Portuguesa de chuteiras ................................................... 363 A ideologia na crônica esportiva ......................................................................................................... 364 A língua portuguesa e o futebol . ......................................................................................................... 367 A crônica de memórias ........................................................................................................................ 370 O verbo na grande área . ..................................................................................................................... 372 Quem conta um conto... ..................................................................................................................... 377 O verbo no conto Corinthians (2) vs Palestra (1).................................................................................. 382 História crítica da arte e da literatura: arcadismo ou neoclassicismo ................................................ 389 Pausa para reflexão ............................................................................................................................. 399 Para ler ................................................................................................................................................. 399 Recapitulando nosso aprendizado: o futebol e a linguagem ............................................................. 400 Caiu no vestibular ................................................................................................................................ 401 Bibliografia ........................................................................................................................................... 407
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Todo o trabalho desta unidade centra-se no objetivo de transmitir um olhar diferenciado sobre a língua portuguesa, apresentando-a a partir de uma perspectiva dialógica e interativa.
Capítulo 1 LINGUAGEM, O EU E O OUTRO Conteúdos: Comunicação. Linguagem. Interação. Discurso direto e indireto. Adequação. Leitura. Texto. Repetição. Intencionalidade discursiva. Reflexões: A necessidade da linguagem. A linguagem, a tecnologia e a solidão. Cultura e comunicação. A publicidade e a sociedade atual. Gêneros textuais: Diálogo. Propaganda publicitária (parte 1). Projeto (parte 1). Capítulo 2 A LÍNGUA PORTUGUESA CONSTRUINDO O TEXTO Conteúdos: Lusofonia. Textualidade. Coesão textual. Consulta a obras de referência. Neologismo. Reflexões: A lusofonia construindo uma cultura. Como fazer pesquisa. A necessidade de palavras novas na língua. Gêneros textuais: Dicionário. Propaganda publicitária (parte 2). Projeto (parte 2). Capítulo 3 O OUTRO NAQUILO QUE EU DIGO Conteúdos: Metalinguagem. Polissemia. Conotação. Denotação. Acentuação gráfica. Narrativa. Coerência. Intertextualidade. Reflexões: O olhar diferenciado do escritor. Psicologia nos contos de fadas. Gêneros textuais: Narrativa. Fim da unidade 1 DE OLHO NO FUTURO: CARREIRA E VESTIBULAR Na hora de estudar... como melhorar o boletim? Questões dos últimos vestibulares.
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Se não fosse aquilo... Nem sabia. O fio da ideia cresceu, engrossou – e partiu-se. Difícil pensar. Vivia tão agarrado aos bichos... Nunca vira uma escola. (Graciliano Ramos)
REFLETINDO SOBRE A COMUNICAÇÃO O pequeno trecho transcrito acima (epígrafe) faz parte do livro Vidas Secas, que pode ser encontrado na biblioteca de sua escola. Uma das personagens do livro é Fabiano, que tem dificuldades em transformar suas ideias em palavras. Para essa personagem, pensar é algo difícil: as ideias começam, mas não progridem. Passe na biblioteca e conheça melhor o livro que fala das desventuras de Fabiano e sua família na seca nordestina. Como transformar as ideias em palavras na língua portuguesa? O que aconteceria se você resolvesse sair por aí, inventando palavras novas para expressar suas ideias? Por que não pode inventar palavras novas se tantas vezes acontece de ler, em um jornal, numa revista ou num livro da escola, uma palavra cujo sentido você não conhece?
Sexa – Pai... – Hummm? – Como é o feminino de sexo? – O quê? – O feminino de sexo. – Não tem. – Sexo não tem feminino? – Não. – Só tem sexo masculino? – É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino. – E como é o feminino de sexo? – Não tem feminino. Sexo é sempre masculino. – Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino. 10
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
LINGUAGEM, O EU E O OUTRO
Capítulo 1
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– O sexo pode ser masculino e feminino. A palavra “sexo” é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino. – Não devia ser “a sexa”? – Não. – Por que não? – Porque não! Desculpe. Porque não. “Sexo” é sempre masculino. – O sexo da mulher é masculino? – É. Não. O sexo da mulher é feminino. – E como é o feminino? – Sexo mesmo. Igual ao do homem. – O sexo da mulher é igual ao do homem? – É. Quer dizer... Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo feminino, certo? – Certo. – São duas coisas diferentes. – Então como é o feminino de sexo? – É igual ao masculino. – Mas não são diferentes? – Não. Ou, são. Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra. – Mas então não muda o sexo. É sempre masculino. – A palavra é masculina. – Não. “A palavra” é feminino. Se fosse masculina seria “o pal ...” Chega! Vai brincar, vai. O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta: – Temos que ficar de olho nesse guri... – Por quê? – Ele só pensa em gramática. VERÍSSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LUIS FERNANDO VERÍSSIMO (1936-) – Nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Filho do escritor Érico Veríssimo. Jornalista e cronista, escreve textos marcados pela reflexão e bom humor para revistas e jornais, assim como para a televisão. Além disso, publicou diversos livros. Se gostou do texto “Sexa”, com certeza, irá gostar de todo o livro Comédias para se ler na escola.
Interação: é troca, ação entre dois ou mais. Ouvimos a palavra “interação” quando falamos de Internet, por exemplo. A Internet é interativa, pois não apenas recebemos informações, mas podemos selecionar as que mais nos interessam e lê-las na ordem que quisermos. Podemos também conversar com outras pessoas e expressar nossas opiniões e pontos de vista.
O menino da narrativa de Luís Fernando Veríssimo cismou com a palavra “sexa”. É essa cisma que dá origem ao relato. 1. Agora, responda oralmente: • Alguma vez você já cismou com alguma palavra? Conte a sua experiência. • Em sua opinião, ocorreu interação entre o pai e o menino do relato? Vivemos em uma sociedade que valoriza, como em nenhuma outra época humana, a comunicação. Comunicar-se, no entanto, é sempre um desafio porque nunca depende de uma pessoa só. Os sujeitos de todo ato de comunicação
Linguagem, o eu e o outro
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são seres ativos, construtores sociais que, em diálogo contínuo, constroem-se e são construídos pelo texto, oral ou escrito.
Mensagem: o que as pessoas transmitem entre si na forma de linguagem.
Em Sexa, de Luís Fernando Veríssimo, um pai e um filho interagem por meio da linguagem, de modo que se modificam os comportamentos: o pai, por exemplo, começa a sentir a necessidade de ficar de olho no filho.
Linguagem: a representação do pensamento por meio de sinais codificados que possibilitam a comunicação, a interação e a identidade entre as pessoas. Código: conjunto de signos utilizados socialmente para a transmissão de mensagens.
Mas nem sempre nos comunicamos por meio de palavras orais ou escritas. Pense, por exemplo, uma aliança. Essa aliança não é um anel qualquer, mas representa algo distinto de si mesmo, ou seja, que essa pessoa que a usa está comprometida. Essa aliança é um signo.
Signo: todo objeto, forma ou fenômeno que representa algo distinto de si mesmo.
Todo signo representa algo (no caso da aliança, “compromisso”) que não é ele mesmo e que denominamos referente. Isso explica o fato de a palavra “sexo” servir tanto para o masculino como para o feminino. Isso porque as palavras são signos. A palavra portuguesa “menino” tem um referente que, geralmente, é o mesmo da palavra inglesa “boy” e da palavra espanhol “niño”. Toda linguagem é composta por um código, ou seja, um conjunto de signos. Imaginemos, agora, uma outra situação: uma senhora casada tirou a aliança enquanto lavava as mãos e esqueceu-a na pia do banheiro. Sua filhinha, encontrando a aliança, põe-na no dedo, para brincar. Será que isso significa que a menina casou? Usamos os signos em um contexto, ou seja, dentro de uma situação de comunicação que se constitui em espaço de troca, no qual os interlocutores se põem em relação um com o outro. Ninguém que olhasse para a menina brincando com a aliança da mãe iria pensar algo como “Puxa! Como essa menina casou cedo!”. Provavelmente, o contexto da enunciação (ou seja, a situação comunicativa que leva a pessoa que olha para a menina a mudar o seu comportamento por meio da linguagem) fizesse essa pessoa pensar algo como: “Onde essa menina pegou essa aliança!”. Não é apenas o signo que comunica, mas é a interação entre os signos, o contexto e os interlocutores que produz o sentido.
Podemos concluir que a linguagem necessita de um indivíduo que deseja comunicar-se. Esse indivíduo realiza o ato comunicativo por meio de signos, relacionando-os a uma série de fenômenos ligados à transmissão da mensagem dentro de um contexto histórico, geográfico, social e cultural.
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2. E o filho, o que aquela conversa pode ter mudado no pensamento e no comportamento dele? Por quê?
Esse contexto relaciona-se aos papéis que os interlocutores desempenham na sociedade. Relacionase também às intenções comunicativas desses interlocutores e ao conhecimento de mundo que possuem. A esse conjunto de informações denominamos contexto discursivo. O ser humano utiliza de diferentes linguagens, como a música, a dança, a escultura, a fotografia, a mímica, etc. Essas linguagens podem ser divididas em dois grupos: A linguagem verbal – utiliza-se da palavra falada (oral) ou escrita como signo. 12
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Capítulo 1
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A linguagem não verbal – utiliza-se de outros signos, como a imagem, o gesto, a cor, etc. Além disso, há linguagens mistas, que utilizam, ao mesmo tempo, as linguagens verbal e não verbal, como o cinema, as histórias em quadrinhos e a televisão, por exemplo.
O diálogo O diálogo entre duas pessoas é, provavelmente, uma das formas de comunicação mais antigas. O texto de Luís Fernando Veríssimo tenta representar por escrito a conversação entre um pai e um filho. A regra geral básica da conversação é fala um de cada vez. Nem todos falam ao mesmo tempo (em geral, um espera o outro concluir), e um só não fala o tempo todo (os falantes se alternam). Além disso, é necessário tomar o turno da palavra, o que exige uma disciplina da atividade conversacional. O esquema geral da conversação ficaria assim: falante A: pede a palavra, fala e para; falante B: toma a palavra, fala e para; falante A: retoma a palavra, fala e para. E assim por diante. Mas, na prática, esse esquema é constantemente violado. Por outro lado, temos momentos de pausas que funcionam como breves interrupções. 3. Leia, a seguir, um trecho do texto de Luís Fernando Veríssimo. Localize este trecho no corpo do texto, dê-lhe continuidade, alterando o final. Siga a mesma estrutura de diálogo que o texto apresenta.
– Não. Ou, são. Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra. – Mas então não muda o sexo. É sempre masculino. – A palavra é masculina.
No entanto, o texto de Veríssimo, assim como as alterações que você fez, não é realmente a transcrição de um diálogo falado, mas um diálogo escrito. 4. Qual é a função do travessão (–) dentro do texto escrito?
Linguagem, o eu e o outro
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Como o diálogo oral pode ser representado por escrito? Há, pelo menos, três formas de representar o discurso oral de outra pessoa no texto escrito: discurso direto, discurso indireto e discurso indireto livre. Neste momento, estudaremos o discurso direto e o indireto.
O uso do travessão O travessão é utilizado para • Indicar a mudança de turno nos diálogos. – Você vai à festa do Cadu? – Claro, você acha que eu vou perder essa? • Isolar a fala da personagem da fala do narrador. – Você vai à festa do Cadu? – Claro – disse Marcos surpreso – você acha que eu vou perder essa? • Para destacar ou isolar palavras ou expressões no interior de frases. Cadu era famoso pelas festas que oferecia – que festas! –, todos desejavam ser convidados. Discurso indireto: o narrador da história conta o que as personagens disseram. Nesse caso, não há travessões nem aspas. Veja como ficaria o início do texto de Luís Fernando Veríssimo no discurso indireto: Um filho pergunta ao pai qual seria o feminino de sexo. Raramente vamos encontrar um texto somente no discurso direto ou no indireto. O mais comum é encontrarmos trechos alternados, para facilitar a leitura e despertar maior interesse no leitor. A passagem do discurso direto para o indireto exige que se preste atenção aos verbos, bem como aos pronomes e advérbios. Veja: “Joana disse: – Hoje decidi! Eu nunca mais voltarei aqui.” Torna-se: “Joana disse que, naquele dia, tinha decidido que nunca mais voltaria lá.” 5. Passe a sua alteração ao texto de Luís Fernando Veríssimo do discurso direto para o indireto. Note que o narrador utiliza-se de verbos como perguntar, falar, explicar, etc. (que denominamos verbos de elocução) para fazer a transição entre a sua fala e a fala da personagem. Depois, com a orientação do professor, troque de material com outro colega. Examine o trabalho que ele fez e procure encontrar sugestões para deixar esse trabalho mais interessante, imaginando que será lido por alguém de sua idade, mas sem conhecimento do texto original.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Discurso direto: as falas do diálogo são reproduzidas do mesmo jeito que foram (ou teriam sido, se o texto for inventado) pronunciadas. Nesse caso, as falas das personagens do texto podem ser introduzidas por travessões (como faz Luís Fernando Veríssimo) ou ficar entre aspas.
A seguir, reúna-se com o colega cujo texto analisou. Elaborem, por escrito, um diálogo telefônico entre dois(duas) amigos(as) e colegas de classe. Um deles faltou, porque precisou fazer um exame médico e deseja ser informado(a) da matéria desenvolvida, bem como das tarefas de casa. Seu(sua) amigo(a) conta também algo curioso que tenha ocorrido durante as aulas ou no intervalo. 14
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Capítulo 1
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Terminada a redação, discutam, em classe, quais os aspectos mais importantes que devem constar em qualquer diálogo escrito e quais são próprios ao tipo de interlocutores solicitado.
A Internet Uma das linguagens que mais ganhou destaque nos últimos anos é a dos computadores. Carla, aluna do 1º ano do ensino médio, ao acessar sua caixa postal na Internet, recebeu o seguinte e-mail:
********************************************************* ** THIS IS A WARNING MESSAGE ONLY ** ** YOU DO NOT NEED TO RESEND YOUR MESSAGE ** ** ** ** ISTO E APENAS UM AVISO ** ** VOCE NAO PRECISA MANDAR SUA MENSAGEM DE NOVO ** ********************************************************* The original message was received at Mon, 28 Apr 2006 14:36:02 0300 (BRT) from [200.98.110.90] A mensagem original foi recebida em Seg, 28 Abr 2006 14:36:02 0300 (BRT) vinda de [200.98.110.90] —— The following addresses had transient non-fatal errors —— [Os seguintes enderecos de e-mail apresentaram defeitos temporarios]
—— Transcript of session follows —— [Transcricao da sessao] ... Deferred [Adiado]: Connection reset by mx10.bol.com.br. Warning: message still undelivered after 4 hours [Aviso: a mensagem ainda nao foi enviada depois de 4 horas] Will keep trying until message is 5 days old [Novas tentativas serao feitas por 5 dias] 6. Carla ficou confusa, sem saber o que fazer. Não entendeu nada da mensagem. Na verdade, nem sabia o que fazer após receber o e-mail. Ela decidiu escrever outro e-mail para o seu amigo, repetindo as mesmas ideias do e-mail anterior e apagar a mensagem esquisita recebida. Na sua opinião, ela agiu de forma apropriada? Por quê? Localize os trechos no e-mail que confirmam a sua resposta.
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Leia, a seguir, algumas opiniões sobre a Internet, extraídas da revista Veja e que fizeram parte dos textos-base para a redação do vestibular da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Ufrrj) do ano de 2001:
“Na Internet o executivo se informa. No jornal, é convidado a refletir.” “Segundo a consultoria Datamonitor (www.datamonitor.com), os contatos por e-mail sairão de 5% em 1999 e chegarão a 18% em 2003. No mesmo período, a comunicação por carta ou fax deverá cair à metade. O telefone ainda continuará sendo a principal forma de contato entre as pessoas.” Veja, São Paulo: Abril, n. 17, abr. 2000.
7. Qual a sua opinião: a Internet aproxima ou afasta as pessoas? Por quê?
Muitas pessoas se questionam sobre o papel da comunicação e da tecnologia na sociedade atual. Atribuem à comunicação informática o aumento da solidão das pessoas que se verifica nos últimos anos. Dizem que as pessoas passam horas na frente dos computadores e deixam de lado o contato pessoal com os seres humanos. Sobre este assunto, leia com atenção o texto a seguir.
“A solidão aumentou, por certo, na idade da comunicação, mas não se pode atribuir o fenômeno apenas a uma causa. A solidão aumentou também porque a família diminuiu até ao ínfimo. Nela se aprende a comunicação, muito menos que antes. Em muitos casos é inteiramente composta de pessoas isoladas. A solidão aumentou pelo fenômeno do urbanismo: a grande cidade não facilita a comunicação como o pequeno centro. Leva também à solidão o atual sistema econômico e político. Grande forma de
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Veja, São Paulo: Abril, n. 32, agos. 2000.
Capítulo 1
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comunicação eram as associações sindicais, políticas, profissionais. Hoje há muitos elementos de desagregação na sociedade, porque todo o sistema leva a considerar mais o indivíduo que a pessoa nos seus grupos naturais. A tudo isso, que já vai modelando internamente as pessoas e as predispõe a uma maior solidão, acrescenta-se, como elemento novo, a contribuição da comunicação informática.” VECCHI, Juan E. Educadores na era da informática. São Paulo: Salesiana, 2001.
JUAN EDMUNDO VECCHI (1931-2002) – Nasceu em 1931, na Argentina. Foi o oitavo sucessor de Dom Bosco à frente da Congregação Salesiana. Antes de sua eleição para Reitor-Mor, durante anos, foi conselheiro geral para a Pastoral da Juventude Salesiana. 8. Reúna-se em grupos de cinco alunos. Discutam, brevemente, a questão: A tecnologia, a comunicação e o aumento da solidão. Para que a discussão não se perca no meio dos comentários, cada grupo escolherá um colega para ser o orientador, com a função de conduzir o grupo dentro do roteiro proposto. Durante a discussão, todos tomarão nota das ideias importantes que surgirem sobre o assunto. Logo após, o professor irá abrir a discussão para o coletivo. Cada um poderá expressar livremente as suas opiniões. Utilizem-se dos apontamentos feitos anteriormente. É importante que o roteiro a seguir seja abordado.
Roteiro para a discussão I. O grupo concorda com as causas para a solidão apresentadas no texto? II. A comunicação informática aumenta a solidão? III. Qual a real importância, hoje em dia, de uma pessoa conhecer as linguagens tecnológicas como Windows, Power Point, Word ou saber usar a Internet? IV. Até que ponto o conhecimento de informática é essencial para a felicidade dos homens e mulheres de hoje em dia?
No final da atividade, as opiniões que a classe considerar mais importantes serão postas no quadro, com o título “relações entre comunicação, tecnologia e solidão – opiniões da classe”. 9. Elabore uma narrativa em que defenda uma posição a favor ou contra a Internet. Seja claro ao explicar os motivos de sua posição. Seja também original e criativo, mas não use expressões grosseiras. Após terminar, troque o texto com o seu colega para que ele possa verificar até que ponto você conseguiu: 1. Usar, com propriedade e de modo original, os discursos direto e indireto. 2. Apresentar pontos de vista interessantes sobre a Internet e a sociedade.
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
O Senhor Xisto, as Linguagens e a tecnologia
O senhor Xisto está falando ao celular com um velho e grande amigo, enquanto segura uma xícara de café num bar. É a primeira vez que frequenta esse lugar. Ouve-se uma música da Rita Lee. O senhor Xisto acabou de almoçar e terá que voltar logo para o trabalho. Olha o relógio e, em seguida, olha para um outdoor em frente. Pessoas sorridentes anunciam um final de semana em um hotel. Que bom se ele pudesse viajar neste final de semana! Rapidamente, encerra a conversa, desliga o celular, termina de beber o café. Chama o garçom e pede a conta. Lembra-se de que ainda não leu o jornal. Uma foto na primeira página, logo abaixo da manchete, havia-lhe chamado a atenção. Quando voltar para o escritório, tentará encontrar um tempinho. Encontrar tempo! Tanta coisa que ele queria fazer... O garçom traz a conta, o senhor Xisto paga, agora se ouve uma outra música, dos Titãs. Quem sabe ele não consegue ir ao cinema logo mais à noite? Estreou um filme novo, e ele queria tanto assistir a ele! Mas, antes, terá de escrever aquele longo relatório... LANDEIRA, José Luís. Especialmente para esta obra. Baseado em ECO, Umberto. Segno. Trad. de Maria de Fátima Marinho. Milão: Isedi; Lisboa: Presença, 1973.
O senhor Xisto não fala com o garçom ou com o seu amigo ao telefone, nem escreve o relatório utilizando-se da mesma linguagem. 10. Que tipos de problemas teria o Senhor Xisto se não soubesse adequar a língua portuguesa às diferentes necessidades sociais? Pense e responda oralmente. O senhor Xisto está rodeado de situações comunicativas: fala ao celular, ouve uma música, vê as horas, olha para um outdoor, conversa com o garçom, lê o jornal, vai ao cinema, escreve relatórios. 18
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Para realizar todas essas atividades, o senhor Xisto necessita de certas habilidades: ser alfabetizado, conhecer a língua da sociedade onde vive e saber como utilizá-la. Precisa também conhecer os números, bem como outros códigos que lhe permitam andar à vontade na cidade e satisfazer às suas necessidades, como, por exemplo, ir à academia, andar de ônibus, fazer compras no supermercado e assim por diante. Para o senhor Xisto integrar-se na sociedade brasileira, ele precisa saber adaptar a língua portuguesa aos diferentes usos no seu meio.
LINGUAGEM, TEXTO E COMUNICAÇÃO Quando você pergunta a um colega se ele está bem, você está sendo o locutor, ou enunciador de uma mensagem, e seu colega, respectivamente, o interlocutor ou coenunciador. Claro que, na hora em que o seu colega lhe responde, os papéis se invertem, e você passa a ser o interlocutor, e o seu colega, o locutor.
A comunicação somente ocorre quando, na emissão de uma mensagem, conseguimos interagir com uma pessoa, fazendo-nos compreender, modificando o seu comportamento e contribuindo na construção de sua identidade.
O papel do interlocutor não é o de simplesmente receber a mensagem. Pois, enquanto a recebe, interfere no locutor, chegando até mesmo a mudar essa mensagem radicalmente. Pense, por exemplo, numa criança contando uma mentira para a mãe. A mãe, que é a receptora da mensagem, começa a fazer uma expressão de quem não está acreditando muito. O que costuma fazer uma criança nessa situação? Continuará contando a mentira normalmente ou procurará alterá-la para que fique mais convincente? Para que uma mensagem realmente comunique, é importante também que o emissor e o receptor partilhem de aspectos de uma mesma cultura. Mas o que é cultura? Leia a tira em quadrinhos a seguir e acompanhe o raciocínio de Manolito.
Quino. Mafalda n. 9. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
QUINO (1932- ) – Joaquín (Quino) Salvador Lavado nasceu em Mendoza (Argentina). É considerado um dos mais importantes cartunistas de todo o mundo. Possui uma visão irônica e crítica sobre o mundo, que se revela em todas as suas personagens. As tiras em quadrinhos da Mafalda, em que encontramos a personagem Manolito, são seu trabalho mais conhecido.
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Cultura é uma dessas palavras que são tão usadas que acabam por significar coisas diferentes para cada pessoa. No nosso estudo, cultura não é apenas conhecimentos aceitos socialmente como importantes. Para nós, cultura é um conjunto de informações (regras, imagens, lendas, mitos e signos) a partir do qual construímos a nossa personalidade.
Cultura: é um conjunto de regras, imagens, linguagens, lendas, mitos e signos que constitui as identidades, permitindo que a mensagem ganhe significado em um contexto.
Por exemplo, é muito comum uma telenovela ou uma música tornarem comum uma determinada expressão de linguagem, de forma que quem a utiliza e quem a ouve acabam por pensar nessa telenovela ou nessa música. A todo momento, as telenovelas, as músicas e outros meios de comunicação estão lançando, na sociedade, novas expressões de linguagem que as pessoas incorporam na sua vida. Por isso, consideramos as telenovelas, as músicas e outras formas de expressão como parte do contexto discursivo no qual diferentes linguagens ganham sentido. Esse específico contexto discursivo cultural inclui tudo aquilo que penetra até o mais íntimo do ser humano, participando na construção de sua identidade.
Sopa de letras 12. Encontre, na sopa de letras a seguir, as definições pedidas. As palavras podem estar na vertical, na horizontal, na diagonal, de frente para trás e de trás para frente. S I G N A L I N G U Ç A
F A S S I M E S O T U T
M S A Ç F E G U S A D B
G E L M A G U E I P A S
U M E N S A G E M R E S
E U O A M U E S S E V I
A S R M I G F S S Ç I L
T I S R R N M O R A D I
F G L E C I G I S O G N
S O C I A L A N P Z N T
I R L P O Ç S T A H O E
G S A O Ç E I E T A S R
N E R S A N G R O S I A
O S I T R T R E M O A Ç
S O D I T A X M A S R Ã
S M A E U L N I X S T O
I P D F A W E S Q I M A
O U E Ç L G A S M X I T
A R E N I S S O R T C B
Ç A H I S T Ó R I C O E
I L F X M O N M T A G M
L I M H C X O I L H I E
R D I S U N M Q U D D N
A U G M L T O E C I Ó S
S C Z O T X E T N O C B
T A Q L U O N S S Z M A
R S O I R M E A T R O G
O B H S A Y B O I G N E
N G R A L A O R B G E M
A R T E N O T N O C N I
1. Representa o pensamento por meio de signos, permitindo a comunicação:
.
2. Todo objeto, forma ou fenômeno que representa algo distinto de si mesmo:
.
3. Ação de troca entre dois ou mais interlocutores no processo de comunicação:
.
4. Todo signo, ao ser recebido por alguém, também pressupõe um sujeito
que o emitiu.
5. Aquilo que os interlocutores transmitem entre si, constituída por signos:
.
6. Situação de comunicação em que os interlocutores se põem em relação um com o outro: 7. Toda mensagem é compreendida dentro de um contexto e de um contexto
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.
, de um contexto .
8. Conjunto de signos que nos permite interagir com uma determinada linguagem: 20
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
11. Releia o terceiro quadrinho: o que é cultura para Manolito?
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A leitura do texto
Texto: uma organização concreta da linguagem percebida ou pela audição (texto oral), pela visão (texto escrito) ou pelo tato (texto escrito em braile), que tem unidade de sentido e revela uma função social, além da intenção de modificar o pensamento ou o comportamento do interlocutor.
As mensagens se apresentam em textos na sociedade. As mensagens verbais, compostas de signos verbais, chegam até nós em textos verbais. Esses textos podem ser orais ou escritos. Um texto é parte das atividades de comunicação dos seres humanos. Essas atividades envolvem diversos procedimentos e estratégias que ocorrem na mente humana e são ativados em situações de interação social. Leia, com atenção, o texto seguinte:
Ah, como é bom as crianças terem um cachorro!
MAITENA. Mulheres alteradas 2. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
13. Os seis quadrinhos acima formam um único texto. Justifique essa afirmação.
Um texto surge sempre como parte de uma atividade comunicativa. Por isso, todos os sentidos de um texto são construídos na interação entre o texto e o autor, e o leitor, esses dois últimos são indivíduos ativos que, em um diálogo constante com o momento histórico e social em que vivem, constituem-se e são constituídos no texto. 14. Levando em conta o contexto social em que você vive, que imagem do jovem se forma no texto de Maitena? Concorda com ela? Por quê?
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A língua é uma realidade social, por isso mesmo, não podemos interpretar um texto de qualquer jeito. Toda interpretação de um texto deve ocorrer num contexto. As palavras, faladas ou escritas, ganham uma história própria, que nem sempre conseguimos controlar. É o caso do texto de Quino a seguir.
QUINO. Esto no es todo. Barcelona: Lumen, 2002.
15. Que relação encontra entre o texto de Quino e o que acabamos de explicar?
Por isso, é importante pensar bem no processo de interação entre os interlocutores e o texto. Observando atentamente a reprodução ao lado, procure identificar que relação o pintor procura manter com o público que observa o quadro.
DIEGO VELÁZQUEZ (1599-1660) – é um dos mais representativos pintores espanhóis de todos os tempos. Inteligente e altivo, era dotado de uma portentosa técnica, conseguindo produzir o efeito pretendido. Assim, pintou cerca de cem quadros, atingindo um conjunto de conquistas que são admiradas até hoje.
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Língua: tipo de código formado por palavras e determinadas leis que possibilitam a comunicação entre as pessoas.
Velázquez, Diego. As meninas (1656). Madri: Museo del Prado.
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Todo o quadro se dirige para quem está fora dele, para o apreciador de arte. É como se a obra de arte somente tivesse razão de ser por causa daquele que a observa. Ele é a própria razão da obra de arte existir. Como no quadro de Velázquez, em todo ato de comunicação, o receptor tem de ocupar o seu lugar, e o seu lugar não é apenas receber tudo que lhe transmitem: o leitor também tem de interagir com o texto que está lendo. Repare que o próprio pintor está ligeiramente afastado do quadro que pinta, como todos nós, quando somos autores, de vez em quando temos de parar, olhar o que estamos produzindo e pensar em quem o vai ler. Você gosta de ler? Muita gente, no Brasil e até no mundo, não sabe ler. Outros sabem ler, mas não leem nada. É como se não soubessem. Normalmente, é mais fácil gostar daquilo que sabemos fazer bem. Se uma pessoa não entende aquilo que lê, vai ser difícil ela gostar de ler. Assim, ao passo que entendermos melhor como funciona a leitura, vamos gostar mais e mais de ler. 16. Com a ajuda de seu professor, forme uma dupla, que irá elaborar uma ilustração explicativa do que estudamos até agora. Cada dupla poderá usar diversos recursos, como pintura, colagem e desenho. Não se trata de encontrar uma figura em uma revista e colá-la num papel, mas de usar criatividade para exemplificar a teoria estudada. Depois, a dupla elaborará um texto escrito em que explicará a relação de sua ilustração com os conteúdos que foram considerados em sala de aula até agora. Procurem ser muito claros no texto escrito, para que o seu leitor não fique com dúvidas na hora em que estiver lendo. Para isso, assim que o texto ficar pronto, mas antes de entregá-lo ao professor, troquem os trabalhos com a dupla ao lado, pedindo-lhe que dê sua opinião sobre a ideia desenvolvida e, principalmente, se a parte escrita do texto pode ser compreendida sem que os autores tenham que explicar oralmente o que quiseram dizer. Utilizem a língua portuguesa padrão para que o texto seja adequado ao contexto de estudo e ao nível de responsabilidade da sala de aula.
Pausa para reflexão
Em seu caderno, responda às questões a seguir.
I. Use a sua memória e indique o que você aprendeu do que foi estudado até aqui, neste capítulo. II. Quais conteúdos vistos, na sua opinião, deveriam ser trabalhados novamente em sala de aula? III. Qual(is) atividade(s) você considerou mais importante(s) para seu aprendizado? Por quê? IV. Em que aspectos poderia melhorar a sua participação nas atividades propostas? Por quê?
A LINGUAGEM PUBLICITÁRIA Agora você será um publicitário. Os publicitários são profissionais especializados em trabalhar com propaganda. Sua função na sociedade consiste em produzir os mais variados textos que exerçam uma ação psicológica sobre o público, influenciando-lhe a conduta.
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Você foi contratado para produzir um cartaz sobre a importância da comunicação entre as pessoas. Tem-se constatado que a solidão aumentou muito entre as pessoas nos últimos anos. No entanto, para o êxito de seu trabalho, você necessita de certas informações teóricas. Assim, antes de pormos a agência publicitária em funcionamento, vamos examinar um texto publicitário que se utiliza de um suporte diferente: é um cartão postal. Os postais fazem parte dos hábitos culturais das cidades grandes. São facilmente encontrados em bares, restaurantes e até em fast-foods.
Propaganda: “em sentido restrito, atividade que visa a influenciar o homem, com objetivo religioso, político ou cívico. Se tiver finalidade comercial, use publicidade.”
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Folha de S.Paulo: manual da redação. São Paulo: Publifolha, 2001.
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Capítulo 1
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17. Examine a parte frontal do cartão. Observe as cores e a modelo da fotografia. Há, nessa propaganda, diversos elementos que, em conjunto, reforçam a ideia central que se deseja associar ao produto. Identifique esses elementos.
18. Estabeleça uma relação entre o tipo de público a que a publicidade se destina e a personagem feminina que aparece na frente do cartão, assim como o predomínio da cor rosa vibrante.
19. No verso do cartão, lemos: “O maior display colorido tem a maior agenda: 500 posições. O único com várias capinhas para trocar*. Aplicações e jogos como no seu computador. Ultracolorido”. Observe que o termo “colorido” aparece repetido duas vezes, uma delas, inclusive, em negrito e com o prefixo “ultra”. Que importância ganha no texto a repetição do termo “colorido” e qual a relação com a frente do cartão?
20. Redija um pequeno texto em que manifesta a sua opinião sobre a eficiência dessa publicidade para atingir o público. Explique o seu ponto de vista.
Na sociedade em que vivemos, há quem diga que “a propaganda é a alma do negócio”. O texto de propaganda tem diversas características que estudaremos ao longo do ano. Uma delas é que apresenta, de forma repetida, as ideias principais, para dar um reforço no ponto que deseja destacar.
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Em todo ato de comunicação, o ser humano repete as mesmas ideias diversas vezes. Em certas situações, repete as mesmas palavras. Dentro de um texto, a repetição pode ser usada criativamente para deixá-lo mais expressivo. No entanto, repetir também pode empobrecer muito o texto, cansando desnecessariamente o leitor, que se vê obrigado a ler diversas vezes a mesma informação. Preste atenção ao texto ao lado.
Por Libero Malavoglia e Paulo Garfunkel (Bravo, set., 1998).
21. Apesar de ter uma cultura erudita, o rapaz à mesa perdeu a chave e não conseguiu causar boa impressão. Por quê?
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A repetição e a intencionalidade discursiva
22. Como explicar o sucesso do outro rapaz na interação com a moça?
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A comunicação entre os interlocutores não consegue alcançar êxito, e é isso que provoca o humor. A personagem que está indo embora não leva em conta um princípio fundamental da comunicação: a intencionalidade discursiva dos interlocutores. Toda interação por meio da linguagem tem sempre uma intenção de modificar o comportamento ou o pensamento de nosso interlocutor. A isso chamamos intencionalidade discursiva. Uma roda de amigos num barzinho pode não ser a ocasião de repetir conhecimento cultural erudito.
Intencionalidade discursiva: as intenções, explícitas ou subentendidas, presentes na linguagem dos interlocutores que participam numa determinada situação comunicativa.
Saber lidar com a intencionalidade discursiva permite que possamos usar a linguagem de acordo com as diferentes situações sociais em que nos vemos envolvidos. Por meio da intencionalidade discursiva, podemos impressionar, implorar, pedir, questionar, ofender e um longo etc. A intencionalidade discursiva nos obriga a levar em conta diversos componentes da situação comunicativa: • quem fala;
• para quem se fala;
• em que contexto se fala.
23. Que aspectos da intencionalidade discursiva poderiam ter sido levados em conta pelo rapaz que não conseguiu o êxito desejado na sua comunicação?
Assim, é a intencionalidade discursiva que fará da repetição uma estratégia de produção textual, permitindo maior interação com o interlocutor. O uso de estratégias de interação entre o interlocutor que produz o texto e aquele que o vai usar é ainda mais complexo ao pensarmos no texto escrito. Isso porque pode passar-se muito tempo entre as circunstâncias de escrita, o que chamamos de contexto de produção, e as circunstâncias de leitura, ou contexto de uso. Essa diferença temporal certamente interfere na produção de sentidos. Além disso, pode ocorrer que o texto venha a ser lido em um outro lugar, muito distante daquele em que foi escrito originalmente. É o que ocorre com a Bíblia e outros livros sagrados religiosos, por exemplo.
O que repetir num texto publicitário? Reforçar, de forma criativa e bem-humorada, uma ideia central que se deseja associar a um produto é uma estratégia comum na propaganda. 24. A seguir, encontra-se uma série de ideias comumente veiculadas pela publicidade. Escolha uma delas e encontre um texto publicitário, em jornais ou revistas, em que essa ideia seja usada para reforçar a venda do produto. • Modernidade: a mulher moderna conquistou, na sociedade, um novo lugar que lhe permite realizar sonhos antes impossíveis. • Decisão: quem raciocina por si mesmo tem poder de decisão. • Dedicação a si próprio: cada um, individualmente, merece cuidar de si próprio, valorizando-se e dedicando tempo a si mesmo. • Originalidade: ser original é deixar uma marca pessoal que significa conquistar um espaço no mundo.
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25. Apresente o texto publicitário escolhido a seus colegas. Discuta, em classe, como se verifica, nos diversos textos, a ideia de que “tudo que aparece em um texto publicitário ajuda a reforçar a ideia central que se deseja transmitir”. Depois registre, por escrito, as conclusões a que chegou e compare-as com a explicação a seguir.
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O segredo de usar a repetição ao fazer um texto de publicidade está em, antes, fazer uma lista das qualidades do produto que se deseja vender e encontrar a qualidade que melhor se associa ao consumidor que se deseja atingir. Essa qualidade associada ao produto deve ser insistente e criativamente repetida. Em um texto publicitário, cada signo tem valor comunicativo. Não apenas as palavras, mas as cores e as linhas também significam algo. Até mesmo o que não se diz é importante. Tudo ajuda a reforçar a ideia central que se deseja transmitir. O objetivo é interagir com o público receptor, influenciando a sua conduta. Essa interação deve ser a mais agradável possível, tendo em mente os contextos temporal, espacial e cultural onde a mensagem vai circular.
Pausa para reflexão
Em seu caderno, resolva as questões a seguir.
I. Indique o que você aprendeu sobre linguagem publicitária. II. Na sua opinião, que conteúdos sobre a linguagem publicitária não foram bem compreendidos e merecem uma nova explicação ou atividades de reforço? III. Em que aspectos poderia melhorar a sua participação nas atividades propostas? Por quê?
Trabalhando com projeto 26. Em grupos, vocês irão constituir-se como agência publicitária. Escolham para ela um nome bem criativo. Para compreender melhor o papel do publicitário na sociedade, assim como as diversas linguagens utilizadas por esse profissional, talvez a escola possa programar uma visita a uma agência de publicidade. O seu professor escolherá um dos diversos textos publicitários que a classe trouxe para estudar a repetição, e todos discutirão como esse texto influencia a vida das pessoas. A primeira encomenda que a agência publicitária de que você faz parte recebeu foi a elaboração de cartazes de propaganda que vendam a seguinte ideia:
A comunicação vence a solidão. Quando você quer dar uma festa, faz a lista dos convidados, calcula todos os custos envolvidos, pensa no espaço que será necessário, no que os seus pais vão dizer, a que horas terminará a festa e assim por diante, ou seja, elabora um projeto. A todo momento, lidamos com projetos: a agenda projeta o nosso dia, uma lista de compras projeta nossos gastos, e por aí vai...
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Nenhum médico toma uma decisão sobre como tratar o seu paciente antes de fazer um diagnóstico. Da mesma forma, ninguém pode realizar uma pesquisa sem antes preparar um projeto. Assim, a agência de vocês deve projetar antes o trabalho que pretende realizar. Nos cinemas, existe uma máquina chamada projetor. Quando você está sentado na plateia, a máquina que está atrás de você projeta o filme para a frente, isto é, para a tela. Isso é projetar: lançar para frente. Assim, vamos projetar os passos que serão dados para a elaboração deste trabalho. Primeiro, o grupo deve elaborar uma lista das qualidades associadas à ideia que vocês terão de divulgar. Incluam, na lista, as justificativas das escolhas dessas qualidades: por que essa e não outra? As justificativas devem ser claras, e a lista deve ser bem discutida, pois ela irá refletir a realidade da comunidade de que você faz parte. Para isso, as anotações feitas no começo da unidade e do capítulo poderão ser úteis. Depois, identifiquem quem será o consumidor idealizado para o produto que escolheram. Procurem saber o máximo sobre esse tipo de consumidor. Quando definirem quem é o público leitor de seu texto e a comunidade onde ele vive, estarão estudando o contexto onde o cartaz (mensagem) vai circular. Como o cartaz circulará na escola onde vocês estudam, o trabalho de coleta de informações pode ser feito a partir da experiência do próprio grupo no contexto escolar. A seguir, identifiquem qual das qualidades listadas melhor se associa a esse consumidor visado. A partir desse trabalho, começa o momento criador. Usem toda a criatividade e imaginação para elaborar um cartaz que associe a qualidade do produto ao consumidor visado. Empreguem signos verbais e não-verbais. Para isso, lembrem-se de que todos os signos presentes em seu cartaz, desde a cor de fundo do papel até o tipo e formato das letras, devem reforçar a ideia escolhida pela agência publicitária. Por isso, há necessidade da discussão antes de se realizarem os trabalhos. Será importante até que se façam alguns rascunhos, aos quais voltaremos no capítulo seguinte. Isso evitará desperdício de material na elaboração do cartaz.
ESTRATÉGIAS DE LEITURA: o texto narrativo Do que estudamos neste capítulo podemos concluir que a leitura é, antes de tudo, uma atividade de produção de sentido. Para esse fim, o leitor utiliza-se de diversas estratégias. Citemos algumas delas: • Seleção • Antecipação • Inferência • Verificação • Pressuposição Para exemplificarmos o papel atuante do leitor, selecionamos a narrativa “Os engraxates”, do livro Histórias para pensar a ética, de José Luís Landeira e Élder Santis.
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
De imediato, nós nos deparamos com o título, “Os engraxates”, e o fato de tratar-se de um gênero narrativo faz-nos levantar hipóteses do que se vai contar: uma história sobre engraxates? Uma história que tenha nos engraxates as personagens principais? Ou será o título uma armadilha e o termo “engraxates” faz referência não à profissão de “engraxar sapatos”, mas é um símbolo de alguma outra coisa? No decorrer da leitura, testaremos essas hipóteses, que serão confirmadas ou rejeitadas. Novas hipóteses surgirão ao passo que as rejeitadas forem reformuladas. Essas novas hipóteses serão testadas em um movimento que põe em evidência toda a nossa competência como leitor. Para esse fim, usaremos nossos conhecimentos de linguagem, o que sabemos sobre o mundo, outras narrativas que lemos, etc. Após a reflexão no título, entramos no texto, avançando na atividade de produzir sentidos.
Decididamente, não me sinto um bom exemplo. Ou seja, divorciei-me há pouco tempo, ainda me sinto meio culpado, meio sem saber o que fazer nas manhãs de sol de sábado em São Paulo. E se tratando do primeiro dia de sol depois de uma semana de frio, de muito frio, então? À tarde, telefono para os meus filhos. Não é dia de visita hoje. Outra coisa estranha. Dia de visita para ver meus filhos... Mas, coisas de divórcio. Uns amigos meus disseram que é assim mesmo, que eu acostumo rapidinho. E o que é rápido? Vou tomar meu café da manhã de sábado de sol depois de uma semana de frio, na padaria. Mesas na calçada, pessoas passando nos dois corredores estreitos que se formam entre as muitas mesas na calçada. Mania paulistana de “brunch”... Mas é sempre bom celebrar o sábado de manhã, de sol. Eu, de minha parte, hoje não. Hoje vou da velha média de café com leite e um pão na chapa. Com peso. O pão na chapa que eu já aqui trago os meus e nem por isso pretendo lembrá-los agora. Tenho um livro para ler e meu sábado promete começar bem. Não quero perturbar essa tranquilidade passageira. A leitura desses dois primeiro parágrafos nos desconcerta. Onde estão os engraxates? A leitura apresenta uma personagem (e não várias, que se deduziria do plural em “os engraxates”) que acreditamos ser a mais importante porque é apenas dela que se fala, embora não haja, aparentemente, nenhuma ligação com o título. Ela é também a narradora do texto, manipulando, assim, as informações de que dispõe o leitor para construir o seu sentido de leitura. Coletando vários indícios do texto, no entanto, descobrimos que se trata de uma pessoa que sente algo melancólico e sozinha. Ela divorciou-se há pouco tempo, confessa ainda não haver se acostumado com a nova rotina, toma café com leite e pão na chapa em vez do “brunch” da maioria das pessoas da padaria. Surgem-nos novas perguntas: por que ele é quem nos fala do que vai comer no café-da-manhã? Por que destacar que o dia é de sol e que é o final de uma semana de frio? A solidão é, então, um sentimento que se manifesta em relação às outras pessoas, não apenas à sua família. O que fará esse senhor? E onde entram os engraxates nessa história? Vejamos:
Ao lado, o garçom junta duas mesas e senta-se uma família. Bem, uma família tradicional, daquelas que eram o exemplo de família no passado e, de alguma forma, ainda aspiramos a que, quem sabe um dia, volte a ser... Ou aspiro eu hoje porque o sol
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Capítulo 1
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da manhã de sábado me deixa assim, meio saudoso. Saudades de quê? Não sei não! Do casamento? Não, decididamente estou melhor agora. Acho que estou. Talvez esteja. Estou, estou sim. À mesa senta-se uma mãe e seus três filhos: dois meninos e uma linda menina bem mais nova do que seus irmãos. Todos muito claros, o menino mais velho é ruivo e tem olhos levemente amendoados, lembrando longínquos nortes dos quais quase nada sei. O leitor me desculpe. O pai foi ao banheiro e os meninos começaram a pedir chocolate frio e pão na chapa. A menina, na cadeira para crianças, ameaçava chorar, e eu abominei todas as crianças chorosas do mundo que pudessem estragar meu matinal café. Agora aparecem novas personagens: uma família formada por um casal e seus três filhos. Eles tampouco pedem o brunch, embora a descrição que se faz dessa família não seja das mais simpáticas. A chegada dessa família, de certa forma, faz com que esse senhor, decididamente, a personagem principal, pense ainda mais em si mesmo. O tema do texto parece ser a solidão humana. Bem, mas os engraxates não apareceram. Será que essa família é de engraxates? Isso não parece, dado o ambiente sofisticado em que estão. Mas terão essas novas personagens da narrativa alguma relação com os engraxates? Vejamos:
Não reparei quando chegaram, nem sequer se já estavam ali. Conto na ordem do que vi e foi somente então que os vi. Dois meninos, sentados em cima de sua caixa de engraxate. Olhos muito fixos na mesa da respeitável família. Ainda pensei que estivessem olhando para o televisor ligado em uma estação qualquer de música, mas não, olhavam para a família. Meninos bonitos também, calçados, encasacados, coisa rara no mundo dos meninos que circulam por aqui. Usualmente vendem uma bala ou se oferecem como engraxates para em seguida completarem com a fala “para ajudar, moço”. Esses nada pediam, apenas incomodavam. Incomodavam a todos nós que ali estávamos tomando o nosso café-da-manhã, mas incomodavam principalmente àquela família que estava ali tão bem acomodada. Em família. É que eles estavam sentados bem em frente dessa família, o que fazia tudo ser muitíssimo desagradável para eles. A verdade seja dita, não pediram nada. Apenas os olhavam comer. O menino mais velho era o que me parecia mais visivelmente incomodado, embora nada falou. Molhava o seu pão na chapa no chocolate frio e comia, mas comia olhando para o outro lado, como não querendo vê-los. A mãe mexia-se muito, procurando atender às solicitações de sua filhinha. O pai, esse pouco fez. Pelo menos, assim me parecia. Apareceram os engraxates, finalmente! Mas por que ocupam o título se eles aparecem tão discretamente no texto? Eles terão de ganhar muita importância para superarem, em valor dentro da narrativa, a solidão que a personagem sente e o papel da família que está ali, tão incomodada com aqueles dois meninos ali, olhando para eles. Como eles vão ganhar relevo na narrativa? Será que vão fazer alguma coisa ruim, talvez roubar o pão na chapa de um daqueles meninos? Talvez voltar-se para o narrador?
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Eu, pensei naquele momento, era como um daqueles meninos engraxates ali. Eu não estava, é verdade, sentado em uma caixa de engraxate descaradamente olhando para a mesa. Mas estava ali, quieto, mais distante, na distância segura que minha situação social exigia. Isolado no meu incômodo de ter de me acostumar a ser um outro eu, o eu divorciado, o eu que não soube ser casado, este eu. O que pensavam aqueles meninos? Digo, os engraxates?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A estratégia foi o narrador-personagem principal comparar-se aos engraxates. Assim, ele os valoriza dentro do texto. Sentindo-se parecido a eles, não porque tenha uma caixa de engraxate, mas por estar ali, “isolado no meu incômodo de ter de me acostumar a ser um outro eu”, ele se sente tão deslocado como os engraxates. Sente-se um deles. Dessa forma, de algum modo, ao pensarmos no título, “Os engraxates”, estamos falando desses dois meninos ali presentes, mas também do narrador que nos conta a história. Mas e a família ali presente?
Em dado momento, o menino do meio, cabelo claro, algo arruivado, mas mais para o castanho, pele muito branca, o menino do meio, dizia, olhou de frente e profundamente os dois outros, ali sentados na caixa de madeira. Os engraxates conversavam qualquer coisa entre eles, mas sentiram a presença do olhar incomodativo sobre eles. Devolveram o olhar ao rapaz que não se moveu. Continuou comendo seu pão na chapa enquanto os olhava detidamente. Os três meninos deveriam ter mais ou menos a mesma idade. O que pensaram naquele momento em que os olhos deles se intercomunicavam? De onde estava, apenas vi o menino do meio pegar o seu pão na chapa e comê-lo com gosto sem, em nenhum momento, tirar os seus olhos dos meninos sentados ali, quase a seus pés. Vi, depois, os dois engraxates levantaram-se, muito dóceis, os olhos verdes e luminosos de um pareceram, por momentos, encontrarem com os meus. Levantaram-se e seguiram. O menino do meio olhou então para o irmão mais velho, o qual, por sua vez, devolveu-lhe o olhar e focou-se então na rua, naquela rua que, até então, não conseguira olhar. O pai, indiferente, lia o jornal. A mãe desdobrava-se de atenções à sua filhinha. Os dois meninos continuaram comendo e conversando, e os engraxates sumiram dali. O texto provoca-nos emoções, sentimentos. São visíveis o descaso e a insensibilidade da família. Qualquer um de nós que haja sentido ou presenciado uma cena de rejeição pode entender melhor que o olhar do menino do meio para os dois engraxates, enquanto pegava o seu pão e o comia com gosto, fala mais do que qualquer palavra. O texto valoriza um silêncio que comunica pelo olhar. É possível que nos lembremos de situações de nossa vida em que o olhar falou mais do que as palavras. Fazer uso de nossas experiências de vida durante a leitura de um texto, usualmente, ajuda-nos a compreendê-lo melhor. A ausência de palavras também deixa em evidência o tema da solidão, mas e o narrador? Se ele se sente como um dos engraxates, e eles foram expulsos de cena, ele também não deveria ter sido expulso? Continuemos a nossa leitura:
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Capítulo 1
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Eu senti também a necessidade de pagar a conta e sair dali. Senti-me também expulso pelo olhar dos que não me olharam. Mas, não o fiz. Também eu limitei-me a procurar um outro algo no que entreter a minha atenção. Então, voltei ao livro que estava lendo. Quando parei de lê-lo, a família respeitável não estava mais lá. A manhã de sol tampouco me pareceu tão bonita como quando saí de casa. Ele quase foi embora, mas não o fez. Talvez porque ele não fosse, de fato, tão parecido aos engraxates como pensara ser. Ao chegarmos ao final da leitura e levando em conta o título, podemos criticar a atitude da personagem-narradora, considerando-a covarde, ou compreendê-la e perdoá-la, afinal era uma outra a natureza da sua solidão. Há muitas solidões no mundo, como há muitos engraxates. Durante todo o processo, no entanto, agimos estrategicamente, dirigindo e regulando o nosso processo de leitura.
PARA LER Antípodas – O sol está se pondo, você viu? A parte de baixo dele já começou a desaparecer no horizonte. – Então a esta hora deve estar amanhecendo no Japão. – Onde? – No Japão. Do outro lado do mundo. – Ah, os antípodas. – Pois é, os antípodas. – An-tí-po-da é uma palavra horrível, não? – Melhor que artrópodes. – Hein? (silêncio) – Eu quero me matar. (silêncio) – Eu estou apaixonada. – Você quer se matar porque está apaixonada? – Acho que sim. – Mas você só tem dezesseis anos. – E o que que tem? Não sei quem foi que disse que a gente devia se matar na adolescência, quando as coisas ainda são bonitas. – As coisas não são bonitas? – Não. Odeio cada pedra desta cidade. Cada porta. Cada casa. Cada cara que passa por mim na rua. Odeio, odeio. – Mas não se mate.
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– Por favor. – Por favor o quê? – Não se mate. – Ah, esquece. O sol está indo embora. Só falta um terço dele. – Ninguém se mata por amor. – Agora só tem uma lasquinha dele, bem vermelha. – Olha, uma vez eu li um cara, um escritor chamado Cesare Pavese, que dizia assim: “Ninguém se suicida por amor. Suicida-se porque o amor, não importa qual seja, nos revela na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado desarmado, no nosso nada”. – E o que aconteceu com ele, esse tal Cesare? – Se matou. (silêncio) – Pronto. Foi-se. O que era mesmo que você estava dizendo? – Não importa. (silêncio) – Agora o ventinho. – Hein? – O ventinho, você nunca reparou? Logo depois que o sol se põe sopra sempre um ventinho da banda do rio. – Nunca notei. – Olha só: está vindo. Sinta. Veja as folhas daquela acácia ali, as bem de cima, como se movem. (silêncio) – Um dia até pensei em perguntar ao professor por que sempre vem esse ventinho. Depois eu não sabia se perguntava pro professor de Física ou de Geografia. Achei melhor não perguntar nada. Você sabe? – Bom, acho que tem que ser alguém que entenda de Meteorologia. – Não, não: você sabe por que vem esse ventinho? – Sei lá, acho que deve ser o ar que esfria e se desloca, produzindo o vento. Alguma coisa assim. – Ia ser irreparável... – O quê? – Dar uma bandeira dessas, cara. Imagina só, perguntar sobre ventinhos para um monstro daqueles. (silêncio) – Como foi que você disse? – Ah, é. Ele se desloca e aí produz o vento. – Legal. Que professor era aquele que você acha que entende disso? – Meteorologia? – Mas não tem aula disso. – Então não tenho ideia. (silêncio)
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(silêncio)
– A essa hora alguém deve estar indo dormir de porre no Japão. (silêncio) – Deve ser engraçado japonês bêbado, com aqueles olhinhos. Devem ficar menores ainda, e tão apertadinhos que nem dá pra ver que estão vermelhos. O que é que você acha que japonês bebe? – Acho que saquê. – Saquê não é chinês? – Então uísque, gim, vodca, cerveja, vinho, essas coisas que todo mundo bebe.
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(silêncio) – Coisa mais besta. – O quê? – Beber essas coisas. Porre de japonês devia ser diferente. – Porre é porre. Diferente como? – Ah, sei lá. Antípoda, por exemplo. Um porre antípoda. (silêncio) – Deve ter alguém acordando também. – Hã? – No Japão, deve ter alguém acordando lá. O que é que você acha que japonês faz quando acorda de manhã? – Não sei. Lava a cara, acho. Depois escova os dentes, toma café. – Café não. Toma chá. (silêncio) – E deve também ter alguém com insônia. Bem agora, na hora que os passarinhos começaram a cantar, deve ter um japonês com insônia olhando o dia nascer. Embaixo da minha janela tem um bem-te-vi que canta sempre lá pelas cinco da manhã. Será que no Japão tem bem-te-vi? – Deve ter. – Rouxinol eu sei que tem. Não tinha uma história de um imperador e um rouxinol? – Não me lembro bem, mas acho que aquele imperador era chinês. – Ah, mas tudo que tem na China deve ter no Japão. – É, pode ser. – Arara eu sei que não tem. Nem na China nem no Japão. (silêncio) – Quero pintar a minha janela daquela cor lá em cima. – Qual, a rosa? – Não, não. Aquela um pouco mais pra direita da última janela à esquerda no alto daquele prédio grandão aqui em direção ao meu dedo indicador. Está vendo? – Acho que sim. Mas não sei se é a mesma que eu estou pensando. – Aquela, entre o rosa e o azul escuro. – Roxo, você quer dizer. – Não, não é assim tão-tão. É mais uma entrecor, fica no meio do roxo e do azul-escuro. Mas muito mais pro lado do azul do que do roxo. Olha bem: você vê que até tem um pouco de rosa, mas tem uns dois ou três poucos mais de azul, entende? – Índigo? – Ah, eu gosto desse som: ín-di-go. Que nem ar-tró-po-de. An-tí-po-da. (silêncio) – Você gosta de palavras? Eu também, mas gosto mais de cores. Como é mesmo essa que você falou? – Acho que é assim tipo um azul-anil. – O que é anil? – Uma coisa que usavam antigamente para lavar roupa, acho que nem existe mais.
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– Mas existe? – O anil? Claro que existe. Existia, pelo menos. – Não, não. Que coisa também, às vezes você parece que não entende o que a gente diz. A tal cor, o índigo. – Ah, claro que existe. Aquela que você quer é que não existe. Só no céu. – Quer dizer que o que está no céu não existe? – Não, não é isso. O que eu quero dizer é que aquela cor lá você não vai encontrar numa lata para pintar uma parede. – Janela. – O quê? – É janela que eu quero pintar, não parede. E agora nem adianta mais, já mudou tudo. Cor de céu é coisa que muda depressa demais. Foi ficando tão escuro, você reparou? Quase tudo azul, depois preto. O preto vem vindo devagar do outro lado, de onde fica o Japão, toda noite. (silêncio) – Está anoitecendo. Vamos embora. – Não quero ir embora. Eu vou dormir aqui. – Não pode, é perigoso. – Perigoso por quê? – Você só tem dezesseis anos. – Perigosíssimo. – Pouco me importa. Eu vou ficar aqui até anoitecer completamente no Japão amanhã de manhã. Não é assim? Amanhece aqui, anoitece lá. Anoitece lá, amanhece aqui. (silêncio) – Vamos, então? O motorista está esperando. – Já disse que não. Vou dormir aqui. – Então vou chamar o motorista, vou ligar para o seu pai. – Pode ir. E quando você for, eu vou entrando no rio enquanto amanhece no Japão. – Pra quê? – Eu quero me matar enquanto amanhece no Japão. (silêncio) – É só você dar as costas e eu entro nágua. Duvida? (silêncio) – E todo mundo vai achar que a culpa é sua. (silêncio) – Ué, você não vai? Tá fazendo o que parado aí? (silêncio)
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
(silêncio)
– Não adianta nada meu pai pagar você só pra ficar me controlando. Porque se não for hoje, vai ser amanhã ou qualquer outro dia. Vou me matar bem na hora em que estiver amanhecendo no Japão. (silêncio) – Ninguém vai me impedir. (silêncio) – Estranho.
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(silêncio) – De repente eu tive a impressão que você não estava aqui. (silêncio) – Que você estava lá. (silêncio) – No Japão. No outro lado do mundo. (silêncio) – Eu vou dizer que você tentou me estuprar. (silêncio) – Todo mundo vai acreditar. (silêncio) – Deve estar bonito lá, amanhecendo. (silêncio) – Eu vou começar a gritar. (silêncio)
ABREU, Caio Fernando. Ovelhas negras: de 1962 a 1995. São Paulo: L&PM, 2002.
Caio Fernando Abreu (1948-1996) – Nasceu em Santiago (RS) e morreu em Porto Alegre. É considerado um dos maiores contistas brasileiros. Escreveu diversos livros, entre eles: Morangos mofados, Os dragões não conhecem o paraíso, Inventário do irremediável e O ovo apunhalado. Sobre o conto que acabamos de ler, afirma: “Este diálogo sem narrador foi publicado em dezembro de 1977, na Folha da Manhã, onde por algum tempo, graças à confiança de Walter Galvani, mantive uma página semanal para publicar ‘o que quisesse’, sempre com belas ilustrações de Magliani. Originalmente era um capítulo do romance Os girassóis do reino, que venho tentando escrever há uns vinte anos, mas acabou virando, creio, um conto com vida própria”.
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Recapitulando nosso aprendizado A linguagem entre você e o outro Leia o texto, a seguir, de uma importante escritora da literatura brasileira, Clarice Lispector.
“Se recebo um presente dado com carinho por pessoa de quem não gosto – como se chama o que sinto? Uma pessoa de quem não se gosta mais e que não gosta mais da gente – como se chama essa mágoa e esse rancor? Estar ocupada, e de repente parar por ter sido tomada por uma desocupação beata, milagrosa, sorridente e idiota – como se chama o que se sentiu? O único modo de chamar é perguntar: como se chama? Até hoje só consegui nomear com a própria pergunta. Qual é o nome? e este é o nome.” LISPECTOR, Clarice. Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
CLARICE LISPECTOR (1920-1977) – Nasceu na Ucrânia. O tema dominante de sua obra versa sobre a necessidade que o homem tem de amparar-se na linguagem para suportar o desamparo diante do Universo, recoberto pelo silêncio intraduzível. A tarefa da escritora é aprisionar esse silêncio e dar-lhe sentido. Escreveu romances: Perto do coração selvagem (1943); A paixão segundo GH (1964); Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres (1969); A hora da estrela (1977). Contos: Laços de família (1960). E crônicas: Felicidade clandestina (1971); A imitação da rosa (1973).
Orientados pelo seu professor, discutam a compreensão do texto de Clarice Lispector. Clarice compreende que a linguagem é algo inacabado, que se faz em cada momento da vida, em cada ato de comunicação. Não somos nós, individualmente, que decidimos a criação de uma palavra. A língua se desenvolve em sociedade. Mas, ao mesmo tempo, nós temos as nossas emoções e sensações em relação às diferentes linguagens que utilizamos para nos comunicarmos e dizermos ao mundo e a nós mesmos quem somos. Toda linguagem é composta por signos. Chamamos signo a qualquer coisa que representa algo diferente de si mesmo, servindo-lhe de substituto. Por exemplo, o presente que Clarice ganha, conforme o texto que escreve, é signo, representando o carinho de alguém... Ao interagir com esse signo, Clarice se sente incomodada, pois ela tem no contexto sociocultural em que vive um signo que representa o carinho de alguém de quem ela não gosta. Para ela, esse presente provoca um sentimento que não encontra representação em nenhuma palavra da língua portuguesa, por isso a narradora declara: “Até hoje só consegui nomear com a própria pergunta. Qual é o nome? e este é o nome”.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Como se chama
Mas o ser humano precisa se comunicar, ele não pode isolar-se em suas dúvidas. A própria Clarice Lispector transformou as suas dúvidas em um texto. Toda comunicação em língua verbal se dá por meio de textos. Nós sempre nos comunicamos com o outro, que pode ser uma outra pessoa ou um grupo de pessoas. Por isso, ao lermos ou elaborarmos um texto, nunca podemos esquecer que esse texto faz parte de uma realidade maior, 38
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social, histórica e linguística, da qual nós também somos uma parte. Ou seja, devemos levar em conta o contexto social, histórico e cultural ao produzirmos ou interpretarmos um texto. A língua não existe somente para uma pessoa e, por isso mesmo, não podemos sair por aí inventando palavras. Contudo, podemos pensar em nossas dúvidas com a linguagem e transformá-las em inquietantes textos literários, como o de Clarice Lispector. Os textos publicitários procuram interagir com o público receptor, influenciando a sua conduta, incentivando-o a tomar uma determinada ação ou atitude. Essa interação deve ser a mais agradável possível, tendo em mente os contextos temporal, espacial e cultural onde a publicidade vai circular. Por isso, o publicitário deve explorar ao máximo a linguagem e lembrar que o texto publicitário permite que tudo ajude a reforçar a ideia central que se deseja transmitir. E onde as mensagens em língua portuguesa podem circular? No mundo todo, como veremos no próximo capítulo.
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Venho brincar aqui no Português... a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. (Mia Couto – escritor moçambicano)
Você gosta de falar português? Há alguns anos, uma pesquisa revelou que muitos brasileiros preferiam ter nascido num país onde se falasse inglês a nascer no Brasil. Por que será que isso acontece? Participe, oralmente, dando a sua opinião para a classe.
Lusofonia: fenômeno de um conjunto de falantes se utilizarem da língua portuguesa, em todas as suas variedades, na sua comunicação diária.
Neste capítulo, vamos estudar a atualidade da língua portuguesa no mundo. Vamos pesquisar sobre a lusofonia. Lusofonia é o nome que se dá para o fato de um conjunto de falantes, espalhados pelo mundo, falarem a mesma língua: a portuguesa. Esses falantes de português, cuja maioria se espalha pelos países que têm o português como língua oficial ou dominante, têm algumas semelhanças e algumas diferenças em relação a nós, brasileiros, e é isso que queremos pesquisar.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A LÍNGUA PORTUGUESA CONSTRUINDO O TEXTO
A LÍNGUA PORTUGUESA É VIVA... Certamente você sabe que, no Brasil, falamos português porque a nossa identidade como nação inicia-se com o processo de colonização pelos portugueses. Ou seja, o nosso português do Brasil veio de Portugal. Mas, é possível que você já se tenha dado conta de que a comunicação entre nós, brasileiros, e eles, portugueses, não é tão simples assim. 40
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Capítulo 2
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Por exemplo, se em Portugal alguém disser a você: “Por favor, deite no lixo!”, não fique ofendido. Para eles, deitar no lixo é jogar alguma coisa fora. Leia agora esta pequena história extraída do livro Schifaizfavoire, de Mário Prata. Schifaizfavoire procura ser uma espécie de dicionário do português de Portugal, para brasileiro ler e rir. Interessante é que o som “schifaizfavoire” (que seria escrito “se faz favor”) corresponde ao nosso por favor, mas é usado em outras situações, diferentemente do uso que nós damos aqui no Brasil. Uma delas é para chamar um garçom. Assim, quando você estiver em Portugal, se chamar o garçom com “Ei, garçom, traz a conta”, todos vão saber que é um brasileiro que está ali... Veja só a confusão em que se envolve uma brasileira em Portugal.
O durex Uma amiga brasileira entrou numa loja e pediu: – O senhor tem durex? – Tenho sim senhora. Quantos quer? – Um só. Um rolo. – Um rolo, minha senhora? – Sim, um rolo. Que tamanhos o senhor tem? – Normal... Bem, os maiores eu acho que devem ter uns vinte centímetros... – Só? Não tem maior? Assim... uns três metros? – Três metros, minha senhora? Um durex de três metros? A propósito: durex em Portugal é, nada mais, nada menos, que camisa-de-vênus. PRATA, Mário. Schifaizfavoire: dicionário de português. Rio de Janeiro: Globo, 1997.
Você encontra maiores informações sobre as diferenças entre o português de Portugal e o do Brasil na Internet, nos sites ; ; e ou em sites de busca (digitando a palavra “lusofonia”).
MÁRIO PRATA (1946- ) – Nasceu em Uberaba (MG). Escreve crônicas, peças de teatro e contos para o público juvenil. Seu estilo leve é muito apreciado pelos leitores. Seus textos circulam com frequência na Internet e podem ser lidos em grandes jornais brasileiros.
Existe, desde 1996, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que tem como objetivo a aproximação político-diplomática entre os países membros. Essa comunidade engloba Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe. Aumentou a partir de agosto de 2002, com o ingresso de Timor Leste (ou Timor Loro Sae). Como vê, a língua portuguesa não é apenas uma realidade local; ela é falada em diversos países ao redor do mundo.
1. Reúna-se com seus colegas em grupos e discuta com eles as diferenças existentes entre a nossa língua portuguesa (falada e escrita) e a língua portuguesa de Portugal. Conversem a respeito e respondam por escrito, em seus cadernos: a língua portuguesa é uma só – aqui e lá? Por quê?
A língua portuguesa construindo o texto
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A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO Fernando Pessoa, que é considerado o mais importante poeta português do século XX, escreveu: “Minha pátria é a língua portuguesa”. Essa pátria sem fronteiras reúne, nos dias de hoje, mais de 180 milhões de falantes espalhados por cinco continentes. Isso, principalmente por causa da expansão marítima portuguesa, nos séculos XV e XVI, assunto que você, com certeza, estudou no ensino fundamental. Além disso, porém, houve um processo migratório que se deu ao longo do século XX em Portugal e que levou muitos portugueses a outros países da Europa e da América do Norte. Tais países foram o destino de portugueses que buscavam trabalho, já que o regime político português da época não promovia a industrialização do país, e as guerras entre Portugal e suas colônias na África causavam perdas enormes para a nação. Atualmente, também, muitos brasileiros deixam o País, procurando, em outros destinos, como Europa e América do Norte, melhores condições de trabalho. Assim, a língua portuguesa se expandiu também para comunidades distantes que, tradicionalmente, não falam português. O fluxo migratório de portugueses e brasileiros para tantos outros países deu sequência, na história recente, à expansão do idioma como já ocorrera em séculos passados, em decorrência da política de colonização. Hoje, o português é a quinta língua europeia mais falada no mundo. Mas, esse português transplantado para o Brasil, África, Ásia, ou mesmo para outros países da Europa e da América do Norte, tem sofrido variações. Como uma planta que é mudada de vaso e vai adaptando-se à nova realidade, a língua portuguesa tem ganhado variedades geográficas ou diatópicas (é a mesma coisa) que a deixam diferente daquela falada em Portugal. Para entendermos melhor isso, vamos estudar alguns textos em português, escritos em diferentes lugares do mundo.
Variedades linguísticas geográficas ou diatópicas: variações que uma língua apresenta de acordo com a região onde é utilizada.
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A minha pátria é a língua portuguesa. Fernando Pessoa.
Capítulo 2
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A NOTÍCIA EM PORTUGUÊS...
Notícia: puro registro de fatos, sem opinião. A exatidão é o elemento-chave da notícia, mas vários fatos descritos com exatidão podem ser justapostos de maneira tendenciosa. Suprimir ou inserir uma informação no texto pode alterar o significado da notícia.
No dia 19 de agosto de 2003, houve um atentado terrorista contra a sede das Nações Unidas, em Bagdá, no Iraque. Nesse atentado, morreu o diplomata brasileiro, Vieira de Mello, representante especial das Nações Unidas no Iraque. Por vários dias, os jornais (incluindo os e-jornais, aqueles que aparecem na Internet) comentaram o acontecido. Vamos examinar como a mesma notícia foi abordada em três diferentes jornais de língua portuguesa: um brasileiro, um português e um angolano. Nosso objetivo é encontrar as diferenças e semelhanças entre essas três formas de se expressar em português.
Folha de S.Paulo: manual da redação. São Paulo: Publifolha, 2001.
Leiamos, primeiro, uma notícia de um e-jornal brasileiro.
EUA investigam participação de guardas iraquianos em ataque à onu da Folha Online
Os Estados Unidos estão investigando a possibilidade de os responsáveis pelo ataque à sede da ONU (Organização das Nações Unidas) em Bagdá terem recebido a ajuda de guardas de segurança iraquianos que trabalhavam para a ONU, disse o site do jornal The New York Times. Segundo a reportagem, publicada ontem à noite, os guardas do complexo haviam sido agentes do serviço secreto iraquiano e davam informações sobre as atividades da ONU antes da guerra. “Acreditamos que a segurança da ONU estava seriamente comprometida”, declarou a fonte, segundo o New York Times. “Temos sérias preocupações sobre a colocação do veículo, um caminhão-bomba, e o momento do ataque”, disse a fonte, de acordo com o jornal. No atentado de terça-feira em Bagdá, morreu o representante especial da ONU no Iraque, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, e pelo menos outras 22 pessoas. Segundo o New York Times, a fonte declarou que investigadores estavam tentando identificar se algum dos guardas da ONU faltou no dia do ataque. A fonte declarou que a revelação de que ex-agentes de Saddam Hussein ainda trabalhavam no complexo intensificava a suspeita dos investigadores americanos de que o ataque teria sido realizado por forças leais ao ex-ditador iraquiano. Disponível em: .
2. Comente em classe a sua compreensão do texto. 3.
A intencionalidade discursiva da notícia está centrada em: a) transmitir as emoções do locutor sobre o cruel atentado; b) convencer o interlocutor da seriedade do atentado; c) destacar a seriedade do atentado e suas repercussões; d) valorizar o uso da língua portuguesa da variante brasileira para se escrever textos jornalísticos; e) explorar as potencialidades da língua portuguesa da variante brasileira, realçando a sonoridade das palavras.
4. Justifique a escolha.
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Leiamos agora o texto no e-jornal português.
De quem é a culpa? Os Estados Unidas e as Nações Unidas estão a investigar a hipótese de o atentado de terça-feira em Bagdad, que matou Sérgio Vieira de Mello e mais duas dezenas de pessoas, ter tido a colaboração activa de elementos iraquianos que trabalhavam na segurança do edifício em que estava instalada a representação da ONU. As suspeitas avolumaram-se quando, durante a investigação, dois desses funcionários se recusaram a colaborar alegando terem imunidade diplomática. De acordo com uma fonte americana citada pelo New York Times, a totalidade dos guardas que controlavam o Hotel Canal tinha sido ali colocada ainda durante o tempo de Saddam Hussein. A sua função oficial seria a segurança dos inspectores da ONU que procuravam armas químicas, mas os investigadores americanos consideram que, à semelhança dos intérpretes colocados ao serviço dos estrangeiros, que visitavam o país, também eles reportavam aos serviços secretos do antigo regime. É natural que, pelo menos alguns deles, se tenham mantido fiéis a Saddam e que estejam agora a colaborar em acções de sabotagem. Bernard Kurik, o antigo comandante da polícia de Nova Iorque que está a trabalhar em Bagdad, está convencido que os terroristas tiveram informações precisas a partir do interior do edifício. O camião com o suicida foi colocado junto ao gabinete de Sérgio Vieira de Mello, com uma quantidade de explosivos suficiente para fazer ruir o gabinete do representante do secretário-geral da ONU, que era no primeiro andar. Além disso, o atentado ocorreu numa altura que nesse gabinete decorria uma reunião de alto nível, daí terem morrido alguns altos funcionários, como o representante da UNICEF. Embora alerte para o facto de nesta altura correrem sempre várias teorias da conspiração, o gabinete do secretário-geral da ONU decidiu enviar para Bagdad o próprio chefe da segurança de Kofi Annan para colaborar nas investigações. O embaixador de Israel nas Nações Unidas disse, entretanto, haver indicações, que não especificou, de que o camião de fabrico russo utilizado no atentado ter tido origem na Síria. As investigações decorrem num clima de alguma tensão entre os EUA e a ONU. A segurança em todo o Iraque está a cargo dos americanos, mas as Nações Unidas terão dispensado esses préstimos, de forma a afastar a ideia de que haveria uma estreita colaboração com a força ocupante. Disponível em: .
5. Compare o e-jornal português com o brasileiro: que diferenças você encontra quanto ao uso do código da língua portuguesa? (Observe, entre outras coisas, o vocabulário e as construções verbais.)
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
João Morgado Fernandes
6. Apesar das diferenças, compreendeu o texto?
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Capítulo 2
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Finalmente, o texto angolano.
etiópia: “ua” condena atentado contra sede da onu no iraque Addis Abeba, 22-8 – A Comissão da União Africana (UA) condenou o ataque terrorista contra a sede das Nações Unidas em Bagdad, no Iraque, que qualificou de acto horrendo, informou quinta-feira a “Panapress”. Numa mensagem ao Secretário-geral da ONU, Kofi Annan, o presidente interino da Comissão, Amara Essy, condenou a tragédia que aconteceu “numa altura em que a comunidade internacional está a dar as mãos para ajudar o povo iraquiano a reconstruir o seu país”. “Este ataque não é apenas dirigido contra as Nações Unidas, mas também contra o bem-estar do povo daquele país em geral”, afirmou Essy. Disse esperar que a ONU tome as medidas necessárias para garantir que a ingente tarefa de reconstruir o Iraque seja feita com êxito. Em África, acrescentou Essy, “estamos particularmente chocados por este acto bárbaro, que ressalta a necessidade de mais esforços sustentados e coordenados contra o terrorismo”. O atentado contra o edifício da ONU, ocorrido Terça-feira, causou a morte de várias pessoas, dentre as quais o representante especial do Secretário-geral das Nações Unidas no Iraque, Sérgio Vieira de Mello. Disponível em: .
7. O texto se aproxima mais do português europeu ou do brasileiro?
8. Há diferenças na intencionalidade discursiva do texto africano em relação ao europeu e ao brasileiro? Explique.
9. Marta não gosta de ouvir portugueses falando. Afirma que não entende nada do que dizem. Quando soube que no ensino médio iria estudar Literatura Portuguesa e Africana, ficou chocada: “Agora que não vou entender nada mesmo”, pensou. Imagine-se conversando com ela sobre esse assunto. Que conselhos ou dicas você poderia dar-lhe?
10. Discutam em classe algum fato local que merece ser tema de uma notícia. Após escolhido o fato, redija a notícia em seu caderno, observando as características encontradas nas notícias dos diferentes jornais aqui apresentados, bem como na definição que se encontra no início deste tópico.
Após realizar a atividade de redação, responda às seguintes questões:
a) Você encontrou dificuldades na redação do texto? Quais?
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b) Você precisa de novas orientações ou considera que já consegue redigir uma notícia?
TEXTUALIDADE Poeminha sentimental 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14.
O meu amor, o meu amor, Maria É como um fio telegráfico da estrada Aonde vêm pousar as andorinhas... De vez em quando chega uma E canta (Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!) Canta e vai-se embora Outra, nem isso, Mal chega, vai-se embora. A última que passou Limitou-se a fazer cocô No meu pobre fio de vida! No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo: As andorinhas é que mudam.
QUINTANA, Mário. Preparativos de viagem. Rio de Janeiro: Globo, 1987.
MÁRIO QUINTANA (1906-1994) – Nasceu em Alegrete (RS). É considerado o poeta das coisas simples, procurando um olhar bem-humorado e melancólico sobre a vida. Sua poesia revela um poeta insatisfeito, que valoriza a economia no uso das palavras. Escreveu Rua dos cataventos (1940), Canções (1946), Sapato florido (1948), O aprendiz de feiticeiro (1950), Apontamentos de história sobrenatural (1976).
11. Discuta em classe a sua compreensão do poema. O poema de Mário Quintana tem 14 versos (que aqui aparecem numerados), além do título, e que devem ser lidos da esquerda para a direita e de cima para baixo. Se lermos apenas um verso ou misturarmos a ordem entre eles, perdemos muito do valor do poema. No capítulo anterior, vimos que um texto é uma unidade de sentido, mas, para que faça sentido, não basta somar as partes que compõem um texto. É necessário que haja uma organização interna relacionando as ideias, as palavras e as partes do texto.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Observe o poema a seguir.
As ideias, frases e palavras, em um texto, mantêm relações entre si. Tais relações permitem que o texto seja uma unidade de sentido, ou seja, um todo significativo. Textualidade é a propriedade de um texto que lhe permite ser mais do que um monte de frases soltas, mas um todo com significado que possibilita ao leitor a construção de um sentido. 46
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Capítulo 2
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No 3º verso, o termo “aonde” refere-se ao fio telegráfico na estrada, de que se falara no verso anterior. No 4º verso, afirma-se “de vez em quando chega uma”. O termo “uma” refere-se a um elemento do conjunto de andorinhas de que se fala no 3º verso. No 5º verso, o termo “e” estabelece uma relação de adição à ideia anterior, a chegada de uma andorinha. A andorinha não apenas pousa no fio telegráfico mas, em adição a isso, ela canta. Também ao termo andorinha refere-se a palavra “outra” no 8º verso. 12. Identifique, no poema, as demais palavras que fazem referência ao termo “andorinha”.
13. Que imagem o leitor forma do locutor do texto?
Há diversos fatores que permitem que um texto forme a sua textualidade. Na sequência, vamos estudar um deles: a coesão textual. 14. Retornemos à notícia que escreveu: troque-a com um de seus colegas e identifique, no texto que recebeu, alguns elementos que formem a sua textualidade.
A COESÃO TEXTUAL As palavras e as frases, dentro de um texto, se amarram entre si, retomando ideias expressas anteriormente, em um movimento que nos leva constantemente para o que já foi dito. Contudo, esse “amarramento” permite também um olhar para a frente. Uma ideia pode ser esclarecida somente na frase seguinte. Observe com atenção esta tira em quadrinhos.
Folha de S.Paulo, 24-8-2003.
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15. Discuta em classe a sua compreensão do texto.
No 2º quadrinho, o amigo de Hagar pergunta “Você não tem que ir pra casa?”, retomando o quadrinho anterior, percebemos que essa afirmação funciona como:
a) conclusão de “Está ficando tarde!”
b) concessão de “Está ficando tarde!”
c) finalidade de “Está ficando tarde!”
d) oposição a “Está ficando tarde!”
Coesão textual: articulação gramatical entre palavras, orações, frases e parágrafos de um texto, que permite a textualidade.
No 3º quadrinho, Hagar afirma “Esse é o problema dos maridos de hoje”. O movimento criado pelo autor nos remete para a frente. Só vamos saber de que problema se trata no próximo quadrinho: “São uns frouxos! Têm medo das mulheres!”. Essas articulações gramaticais existentes no texto são chamadas de coesão textual.
Como escrever de forma coesa? Para escrever de forma coesa, é necessário um treinamento constante que nos permita usar os recursos que a língua portuguesa oferece para a coesão. Como ocorre a coesão em um texto? Observe o anúncio publicitário da página ao lado: Este anúncio publicitário gira ao redor do produto “Gatorade”, que é também a sua palavra-chave. É a retomada constante de “Gatorade” que dá estabilidade ao texto, facilitando que ele cumpra a sua função social como publicidade. Vejamos outras relações coesivas presentes no texto: Reidrata Nada devolve líquido ao seu corpo melhor do que Gatorade, pois tem a combinação ideal de sais minerais e carboidratos. 1. A expressão “devolve líquido ao seu corpo” retoma a ideia presente no tópico (reidrata), definindo o seu sentido. 2. O conector “pois” estabelece uma relação de causa entre a ideia anterior (“Nada devolve líquido ao seu corpo melhor do que Gatorade”) e a seguinte (“tem a combinação ideal de sais minerais e carboidratos”). 3. A expressão “sais minerais e carboidratos” projeta o texto para a frente. Somos informados quais sais minerais que são repostos, “sódio e potássio”, assim como a importância deles e dos carboidratos nos itens seguintes.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
16. O texto de Dik Browne é formado por uma série de quadrinhos dispostos em sequência, que devem ser lidos da esquerda para a direita e de cima para baixo.
Repõe Gatorade repõe o sódio e o potássio que ajudam a manter o seu corpo melhor hidratado e a prevenir cãibras. 1. A repetição de “repõe” reforça a ideia que se deseja desenvolver.
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Veja. São Paulo: Abril, no 24, edição especial, ago. 2001.
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2. O conector “que” mantém o elo coesivo entre “o sódio e o potássio” e “que ajudam a manter o seu corpo melhor hidratado e a prevenir cãibras”. 3. O conector “e” adiciona uma ideia às vantagens do sódio e do potássio.
17. Explique que relações os termos grifados estabelecem no texto.
Recursos de coesão 1. Palavras ou expressões sinônimas ou quase sinônimas As expressões “reidrata” e “devolve líquido ao seu corpo”, no anúncio publicitário que estamos estudando, são sinônimas. 2. Classes gramaticais Às vezes, algumas classes gramaticais, tais como pronomes, advérbios, numerais, etc., retomam termos já expressos, promovendo a coesão. Exemplos: a) Exercícios físicos fazem bem à saúde. Mas não devemos fazê-los (= exercícios físicos) em excesso. b) Gosto muito desta cidade. Aqui (= em esta cidade) tenho os meus melhores amigos. c) Fui a duas festas neste final de semana. A primeira (= festa) foi aborrecida, mas a segunda (= festa) foi um agito só! 3. Repetição de uma palavra Podemos repetir uma palavra quando não for possível substituí-la por outra ou quando quisermos alcançar determinados efeitos expressivos, como consideramos no capítulo anterior. As expressões “repõe” e “reabastece” são repetidas no corpo do texto, além, é claro, do nome do produto, “Gatorade”. 4. Conectores
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Reabastece Gatorade reabastece o seu corpo com carboidrato, importante fonte de energia para os músculos em movimento durante o exercício.
Palavras como aí, que, então, o qual, também, entretanto, contudo, mas, porém, pois, por isso. Os conectores podem transmitir diversas relações entre as partes do texto: oposição (mas, porém, etc.), causalidade (porque, pois, etc.), temporalidade (quando, aí, etc.), consequência (por isso, então, etc.), condição (se, etc.), finalidade (a fim de que, para, etc.) entre outras. 5. Elipse Trata-se da supressão de um termo porque é facilmente resgatável pelo leitor. 50
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Capítulo 2
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Ex.: João não foi trabalhar hoje, pois estava doente. Não há necessidade de dizer: João não foi trabalhar, pois João estava doente. A eliminação do segundo termo “João” facilita a compreensão da frase. 18. Identifique, no texto a seguir, todos os termos que retomam as palavras em negrito.
Clarice Lispector (Tchetchelnik, Ucrânia, 1926 – Rio, 1977). Recém-nascida, veio para o Brasil com os pais, que se estabeleceram no Recife. Em 1934 a família transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde Clarice fez o curso ginasial e os preparatórios. Adolescente, lê Graciliano, Herman Hesse, Julien Green. Em 1943, aluna da Faculdade de Direito, escreve o seu primeiro romance, Perto do coração selvagem, que é recusado pela editora José Olympio. Publica-o, no ano seguinte, pela editora A Noite e recebe o Prêmio Graça Aranha. Ainda em 1944 vai com o marido para Nápoles onde trabalha num hospital da Força Expedicionária Brasileira. Voltando para o Brasil, escreve O lustre, que sai em 1946. Depois de longas estadas na Suíça (Berna) e nos Estados Unidos, a escritora fixa-se no Rio onde viveu até a morte. A partir de A maçã no escuro (1961), a sua obra tem atraído o interesse da melhor crítica nacional que a situa, junto com Guimarães Rosa, no centro da nossa ficção de vanguarda. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.
ALFREDO BOSI (1936- ) – Nasceu em São Paulo (SP). É professor da Universidade de São Paulo e um dos principais críticos e historiadores da literatura brasileira.
Clarice Lispector:
Perto do Coração Selvagem: 19. Retorne à atividade número 10 em que se pedia para escrever uma notícia. Leia o texto de seu colega e comente o uso de conectivos: aponte os acertos e as mudanças que faria para deixá-lo mais atrativo ao leitor. Quando receber o seu texto de volta, leia os comentários que foram feitos e decida se são pertinentes. 20. Explique as relações coesivas das palavras em negrito. Ver
Nas férias toda tarde eu via a lesma no quintal. Era a mesma lesma. Eu via toda tarde a mesma lesma se despregar de sua concha, no quintal, e subir na pedra. E ela me parecia viciada. A lesma ficava pregada na pedra, nua de gosto. Ela possuíra a pedra? Ou seria possuída? Eu era pervertido naquele espetáculo. E se eu fosse um voyeur no quintal, sem binóculos? Podia ser. Mas eu nunca neguei para os meus pais que eu gostava de ver a lesma se entregar à pedra. (Pode ser que eu esteja empregando erradamente o verbo entregar, em vez de subir. Pode ser. Mas ao fim não dará na mesma?) Nunca escondi aquele meu delírio erótico. Nunca escondi de meus pais aquele gosto supremo de ver. Dava a impressão que havia uma troca voraz entre a lesma e a pedra. Confesso, aliás, que eu gostava muito, a esse tempo, de todos os seres que andavam a esfregar as barrigas no chão. Lagartixas fossem muito principais do que as lesmas nesse ponto. Eram esses pequenos seres que viviam ao gosto do chão que me davam fascínio. Eu não via nenhum espetáculo mais edificante do que pertencer ao chão. Para mim esses pequenos seres tinham o privilégio de ouvir as fontes da Terra. BARROS, Manoel. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003.
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21. Reúna-se com sua equipe da agência publicitária. Revejam o rascunho do projeto de vocês. Verifiquem se é possível deixar o texto mais coeso e centrado na ideia-chave. A seguir, e após a orientação do professor, elaborem o cartaz. Finalmente, afixem os cartazes na escola, dessa forma promovendo a comunicação entre os demais colegas.
Pausa para reflexão Em seu caderno, resolva estas questões. I. Indique o que você aprendeu do que foi estudado até aqui. II. Quais conteúdos vistos, na sua opinião, não foram bem compreendidos e merecem uma nova explicação ou atividade de reforço? III. Qual(is) atividade(s) você considerou mais importante(s) para seu aprendizado? Por quê? IV. Participou com interesse das leituras e atividades? Em que aspectos poderia melhorar a sua participação nas atividades?
COMO BUSCAR INFORMAÇÕES EM OBRAS DE REFERÊNCIA
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
MANOEL DE BARROS (1916- ) – A lírica de Manoel de Barros volta-se constantemente para as coisas pequenas, procurando ir além delas, transportando os leitores para uma dimensão em que a palavra vale mais do que o objeto que ela representa. Isso esse poeta faz com perfeição: inventa por meio das palavras e, nesse processo, identifica-se com as crianças e com os caminhantes que conseguem ver o mundo de outra maneira. O uso da palavra de uma forma surpreendente e mesmo a invenção de novas palavras são características do estilo desse poeta.
Se hoje podemos fazer pesquisas por meio da Internet, consultando sites, durante séculos, a busca de informação se fez somente nos livros. Essa forma de aprender ainda não foi superada. Na verdade, a pesquisa na Internet apenas deveria completar aquela feita nos livros. Para se obter sucesso numa pesquisa, há necessidade de algumas habilidades. No universo da linguagem, as primeiras fontes a serem consultadas são as obras de referência. Isto é: dicionários e enciclopédias. Como um dicionário define a si próprio? Vejamos o que diz o dicionário do Aurélio: 52
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Capítulo 2
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dicionário. [Do lat. med. dictionariu.] S. m. 1. Conjunto de vocábulos duma língua ou de termos próprios duma ciência ou arte, dispostos, em geral, alfabeticamente, e com o respectivo significado, ou a sua versão em outra língua. 2. Obra ou livro que os consigna: “Para todas as coisas: dicionário / Para que fiquem prontas: paciência” (Nando Reis, na canção Diariamente.) [Sin. (pop.), nesta acepç.: desmancha-dúvidas, pai-dos-burros, tira-teimas.] 3. Exemplar de uma dessas obras. 4. Dicionário vivo. [Cf. dicionario, do v. dicionariar.] Dicionário de dados. Inform. 1. Documento originado no projeto conceitual de um sistema de informações, e que define nomes, significados, domínios e outras características específicas dos itens que constituirão o banco de dados do sistema (21). Dicionário eletrônico. Inform. 1. Modalidade eletrônica de dicionário (2). Dicionário vivo. 1. V. enciclopédia (3). [Tb. se diz apenas dicionário.] (FERREIRA, A. B. de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.)
Ao consultar uma obra de referência, como um dicionário ou uma enciclopédia, tenha alguns cuidados para ser bem-sucedido em sua pesquisa e obter o máximo possível de informações. Por esse motivo, preste atenção às abreviações utilizadas pelo editor da obra, cujas explicações, geralmente, estão situadas nas primeiras páginas da publicação. Esse tempo gasto no início da pesquisa pode significar uma grande economia mais para a frente. Examinemos o caso apresentado. No verbete acima, entre colchetes, você encontra a informação sobre a época da origem da palavra: [Do lat. med. dictionariu] significa latim medieval, ou seja, a palavra “dicionário” se origina da palavra dictionariu, do latim falado na Idade Média. Logo a seguir, aparece a classe gramatical da palavra e seu gênero, isto é, S. m. significa substantivo masculino; observe agora os quatro diferentes sentidos da palavra dicionário além da inclusão de um dos usos por um escritor. Ainda no sentido ou acepção 2, aparecem os sinônimos entre colchetes e a indicação de que são sinônimos populares – Sin. (pop.). A palavra acepção aparece abreviada como acepç. O verbete sugere a você, leitor, por meio das abreviações Cf. (confira) e V. (veja), que realize consultas a outros verbetes da mesma família de palavras, pois mais informações podem ser acrescentadas. Inform. é uma abreviatura que indica a área de conhecimento em que se usa a palavra num sentido particularizado e, neste caso, trata-se da área de Informática. Todo dicionário tem, na sua parte inicial, explicações sobre como deve ser consultado. Lembre-se disso quando tiver dúvidas na consulta de um dicionário. Existem muitos títulos de dicionários destinados a diversas áreas do conhecimento. Há dicionários bilíngues, de antônimos e sinônimos, dicionários da história de língua, de regência verbal e nominal. Ir ao dicionário pode ser muito útil, não só para tirar dúvidas ou acabar com as teimas, mas sobretudo para iniciar uma pesquisa em qualquer área do conhecimento humano. E lembrando Nando Reis, na música Diariamente, cantada pela Marisa Monte: “e para que (as coisas) fiquem prontas: paciência”. Sim, pois nada melhor que ser paciente na hora de uma pesquisa. O aprender só acontece com paciência e perseverança. Valores pessoais exigem um contínuo exercício neste século de tanta velocidade e rapidez. 22. Procure, em dicionários, o sentido da palavra em negrito mais adequado ao contexto e a substitua nas frases seguintes: a) “A saudade é um buraco na alma que se abriu quando um pedaço nos foi arrancado. No buraco da saudade mora a memória daquilo que amamos, tivemos e perdemos. A saudade é a presença de uma ausência.” (ALVES, Rubem. Morte. Campinas: Papirus, 2000.)
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c) “A eficácia preventiva da educação está na sua qualidade. A complexidade da sociedade, a multiplicidade dos horizontes e das mensagens oferecidas, a separação dos diversos âmbitos em que a vida se realiza trouxeram riscos também para a educação. Um deles é a fragmentação dos conteúdos oferecidos e da modalidade com que são recebidos. Vivemos de pílulas, também mentais. O slogan é o modelo das mensagens.” CHÁVEZ V., Pe. Pascual. Estreia 2008: eduquemos com o coração de Dom Bosco. São Paulo: Salesiana, 2008.
d) “Respondo à tua carta. Pouco preciso dizer-te. Fazes bem em dar ao prelo os teus primeiros ensaios dramáticos. Fazes bem, porque essa publicação envolve uma promessa e acarreta sobre ti uma responsabilidade para com o público. E o público tem o direito de ser exigente contigo. És moço, e foste dotado pela Providência com um belo talento. Ora, o talento é uma arma divina que Deus concede aos homens para que estes empreguem no melhor serviço dos seus semelhantes. A ideia é uma força. Inoculá-la no seio das massas é inocular-lhe o sangue puro da regeneração moral. O homem que se civiliza, cristianiza-se. Quem se ilustra, edifica-se. Porque a luz que nos esclarece a razão é a que nos alumia a consciência. Quem aspira a ser grande não pode deixar de aspirar a ser bom. A virtude é a primeira grandeza deste mundo. O grande homem é o homem de bem. Repito, pois, nessa obra de cultivo literário há uma obra de edificação moral.” BOCAIUVA, Quintino. “Carta ao autor” In: ASSIS, Machado. Teatro. São Paulo: Nacional, 2004. v. 2.
COMO SURGEM PALAVRAS NOVAS NA LÍNGUA PORTUGUESA?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
b) “O mais belo estado de vida é a dependência livre e voluntária: e como seria ela possível sem amor?” (GOETHE, J. W. Máximas e reflexões. Lisboa: Guimarães Editores, 1997).
As palavras são novas As palavras são novas: nascem quando No ar as projectamos em cristais De macias ou duras ressonâncias Somos iguais aos deuses, inventando Na solidão do mundo estes sinais Como pontes que arcam as distâncias. Saramago, José. Os poemas possíveis. Lisboa: Caminho, 1985.
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JOSÉ SARAMAGO (1922- ) – É considerado por muitos como o principal escritor português contemporâneo. De origem humilde, exerceu diversas profissões até se tornar escritor. Ideologicamente, defende os pensamentos de esquerda, alinhados às camadas mais populares. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. Foi o primeiro prêmio Nobel para um escritor lusófono.
23. De acordo com o poema, em que sentido somos iguais aos deuses?
24. Substitua, sem significativa alteração do sentido, o verbo “arcar” no último verso.
25. Que palavras, no poema, retomam o termo “as palavras”? Em que versos?
Sempre que surge uma nova ideia ou fato, ou inventa-se um novo objeto, torna-se necessário um nome para aquilo, porque o ser humano não sabe viver sem dar nome ao que o cerca: precisamos nomear para ter a impressão de que tais coisas existem. Sim, é claro que, mesmo sem nome, essas coisas vão existir, mas, para nós, seres humanos, essas coisas apenas parecem existir se tiverem um nome. Por exemplo, antes da invenção do telefone, não existia essa palavra. A palavra foi inventada para nomear o novo objeto. Assim, aparecem as palavras novas na língua. No caso da telefonia atual, apareceram duas palavras diferentes para o mesmo objeto: celular no Brasil e telemóvel em Portugal. Um outro motivo que leva à criação de palavras novas é o desejo de ser criativo. Introduzir propositadamente na língua uma palavra inventada ou, como se referem os linguistas, um neologismo, deve levar em conta a quem o texto se destina, o que se espera fazer com esse texto, o que se espera do leitor ao ler o texto. Em outras palavras, o aparecimento de um neologismo exige que se leve em conta qual a função social do texto que está sendo escrito. Neologismos costumam aparecer em textos como poemas e contos, ou seja, em textos em que a criatividade artística seja valorizada. É o caso do poema que você pode ler na seção Para ler, neste capítulo. No entanto, algumas vezes podemos inventar palavras na oralidade com o objetivo de brincar com nossos amigos e provocar o riso.
Surgem palavras novas numa língua quando surgem novas ideias, fatos ou objetos na sociedade, ou quando determinadas palavras e expressões de outra língua são consideradas de maior prestígio social.
Em outras ocasiões, no entanto, é a força de um determinado campo do saber ou o poder de uma outra cultura, considerada superior, que introduz novas palavras na língua, mesmo que já tenhamos outros nomes para o mesmo objeto, fato ou ideia.
26. A importância que a Informática ganhou nos últimos tempos introduziu, no português, uma série de palavras novas, como deletar. Que palavra bem estabelecida da língua portuguesa ela chega muitas vezes a substituir?
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solferino – tom de escarlate vivo, puxado para o roxo. 2
Às vezes ocorre algo diferente, somos apresentados a palavras novas. São palavras novas para quem começa a estudar uma nova ciência, arte ou esporte. Se quisesse se aprofundar nos estudos de pintura, provavelmente entraria em contato com palavras que, para você, seriam novas. Elas já estão dicionarizadas ou pertencem ao léxico da língua portuguesa como fúcsia1 e solferino2, vocábulos que fazem parte do cotidiano de pintores, pois, além de verem ou usarem tons e matizes variados, há necessidade de se referirem a eles, dando-lhes um nome.
27. Tente responder oralmente às questões a seguir. Reflita sobre como as diferentes comunidades no Brasil nomeiam as coisas. Mudando de ambiente, descobrimos novas palavras: 1. Como os habitantes de sua cidade nomeiam o objeto luminoso colocado nos cruzamentos das ruas e avenidas, a fim de organizar o trânsito? Que outros nomes você conhece que são usados em outros lugares do Brasil? 2. Discutam em classe que palavras ou expressões são usadas apenas ou principalmente nas rodas de conversa dos jovens em sua região? O seu professor organizará uma lista de tais palavras e expressões. Copie essa lista e, juntos, tentem encontrar o sentido de tais vocábulos de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa. 3. Que relação existe entre a realidade que nos cerca, o ambiente cultural e as palavras? 28. Procure, no dicionário, os verbos para os substantivos e anote-os ao lado:
Aplausos –
Aplaudir
Temor –
Embrulho –
Edíficio –
Socorro –
Surpresa –
Palidez –
Atenção –
29. Carla, após ler o texto teórico que você também acabou de ler, anotou no caderno as seguintes conclusões:
Palavras novas surgem a partir da necessidade de novos nomes, por exemplo, quando surge uma nova ideia ou fato ou inventa-se um novo objeto. Se inventarem um aparelho para tornar as pessoas invisíveis, vão inventar uma palavra nova para nomeá-lo (que tal invisivelômetro? Acho que fica melhor invisivelador...).
Em outras ocasiões, o poder de uma outra cultura que as pessoas consideram superior introduz palavras novas, mesmo que já existam outros nomes para o objeto na língua. É por isso que existem muitas palavras em inglês na língua portuguesa.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
É provável que a pressão do inglês, língua considerada por muitos brasileiros como superior ao português, ajude a explicar o fato comentado no início do capítulo, de alguns brasileiros desejarem ter nascido em países de língua oficial inglesa.
fúcsia – tom de cor-derosa forte, vivo, levemente purpúreo.
1
Toda palavra que ouvimos pela primeira vez é porque foi inventada e é, realmente, uma palavra nova na língua.
Novas experiências de vida aumentam o nosso vocabulário, por isso é importante ler muito (preciso acabar de ler logo o livro que peguei na biblioteca!).
Deixando de lado as observações pessoais de Carla, identifique se as conclusões dela são apropriadas. Reescreva-as a seguir, corrigindo os erros e acrescentando as suas opiniões.
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Capítulo 2
30/6/2010 14:06:31
TRABALHANDO COM PROJETO A agência publicitária que os diferentes grupos constituíram no capítulo anterior volta a operar no final desta parte. Já é a segunda encomenda que vocês recebem. Neste momento, pede-se que organizem uma coleção de fotos com um dos temas sugeridos pelo professor. Elaborar um projeto fotográfico é prever as etapas do trabalho, definir aonde vocês querem chegar com ele. Isso permite que vocês evitem ficar perambulando com a máquina fotográfica na mão, sem saber o que procuram. É importante, durante os trabalhos, saber como agir, que decisões tomar, qual o próximo passo que teremos de dar na direção do objeto desejado. Para isso, organizamos alguns itens que poderão ajudá-los na elaboração do projeto. Título do projeto fotográfico: sejam criativos e inventem um título sugestivo. Se não houver inspiração no momento, deem um título provisório. No desenrolar da pesquisa, é provável que uma ideia melhor surja. Objetivo: conseguir identificar o objetivo do projeto fotográfico de vocês? Qual é? O objetivo é o ponto de chegada. Neste caso, não basta sair por aí fotografando rostos de pessoas. É necessário que o objetivo do projeto responda à pergunta: qual a contribuição que o meu projeto dá ao tema desenvolvido? Ou seja, em que o projeto que o seu grupo vai desenvolver contribui para os temas tratados nesta unidade? Justificativa: por que vocês estão fazendo o projeto? A justificativa é defender a importância do projeto de vocês. Devem apresentar argumentos que convençam as pessoas de que o trabalho é digno de interesse. Por que alguém gastaria o dinheiro próprio com a agência de vocês se o mercado está cheio de agências publicitárias? Metodologia: ou seja, o modo de obter os dados da pesquisa. Neste caso, é fácil. Vocês vão ler sobre o assunto, visitar lugares, fotografar e redigir. Mas, vocês vão fotografar com filme colorido ou preto e branco?
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Vão fazer fotos externas ou ambas? Vão fotografar durante o dia ou vão também fazer fotos noturnas? Aproximadamente, quantas fotos pretendem tirar? Vão utilizar recursos do computador? Também é o momento de ver quem vai fazer o que no trabalho. Não queremos que alguns acabem ficando sem ter o que fazer, apenas marcando presença.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Fontes: em que vocês irão basear-se para realizar o trabalho de pesquisa fotográfica? Investiguem na biblioteca, Internet, revistas, livros, jornais e conversem com pessoas sobre o assunto. Antes de saírem por aí na aventura da caçada fotográfica, investiguem para saber o que pretendem encontrar. Veremos, mais adiante, como escrever cientificamente as fontes consultadas em uma pesquisa. Por agora, apenas se preocupem em recorrer a fontes diferentes para realizar a sua pesquisa fotográfica. Quando todo esse trabalho estiver pronto, é hora de mostrá-lo para o professor. Lembre: o título ainda pode ser provisório. O seu professor fornecerá sugestões e analisará as possibilidades de execução do projeto. Como exemplo, imaginemos um projeto sobre a lusofonia.
Título: A lusofonia Objetivo: divulgar, para pais, professores e alunos da escola, a importância da lusofonia nas relações sociais, culturais e históricas do povo brasileiro Justificativa: a lusofonia é uma realidade pouco conhecida pela maioria dos brasileiros. A identidade brasileira, no entanto, somente pode ser explicada, levando em conta as relações dos brasileiros com os outros povos que, no mundo, também falam a língua portuguesa. Além disso, há importantes fatores econômicos que justificam uma aproximação entre o Brasil, a Europa, a África e a Ásia. Metodologia: em primeiro lugar, vamos pesquisar em livros, revistas e jornais, além de filmes e letras de música. Além disso, vamos entrevistar dez pessoas de ambos os sexos, com idades diferentes e de variadas formações socioculturais. O objetivo dessas entrevistas é o de averiguar o que as pessoas conhecem sobre os outros povos que também falam a língua portuguesa. Depois, a partir de nossas anotações e reflexões, vamos redigir um texto escrito e elaborar cartazes sobre o assunto. Os cartazes serão pintados à mão e servirão para ilustrar determinadas ideias que considerarmos centrais conforme a pesquisa for se desenvolvendo. Essas ideias aparecerão escritas no próprio cartaz. Fontes: História da Língua Portuguesa, de Paul Teyssier, da Editora Martins Fontes. Nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, das Edições João Sá da Costa. Revistas Veja, Isto é e República. Jornal A Folha de S.Paulo. Sites na Internet: . Entrevistas com dez pessoas: 5 homens e 5 mulheres entre 12 e 72 anos.
Depois das sugestões do professor, é hora de executar o projeto. Em outras palavras, mãos à massa!
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Capítulo 2
30/6/2010 14:06:33
Discutam em classe, junto com os colegas de outros grupos, em momentos marcados pelo seu professor, o andamento do projeto, procurando encontrar soluções para eventuais problemas que surgirem. Na data marcada, entreguem a coleção de fotos e a versão corrigida e final do projeto de vocês. Sucesso!
A primeira unidade do livro de Ensino Religioso também solicita a criatividade fotográfica. É possível que, com um pouco de esforço e criatividade, os professores possam organizar as duas atividades (Língua Portuguesa e Ensino Religioso) em uma única atividade integrada.
ESTRATÉGIAS DE LEITURA: o texto poético A língua portuguesa tem uma história e uma riqueza ímpares. Transcendendo fronteiras e projetando-se em todos os continentes, a nossa língua constrói intrincados pensamentos, profundas reflexões, complexos olhares sobre o mundo. Manifestação da língua, o poema é um texto que exige muito do leitor no que se refere a estratégias de leitura. Esse esforço, no entanto, deixa-nos em contato com o pensamento humano transformado em arte, desafiando-nos a repensarmo-nos como seres humanos. Sem perdermos de vista as estratégias de leitura que consideramos no último capítulo, podemos considerar mais algumas que nos ajudarão a construir sentidos mais elaborados do texto poético. A primeira aproximação a um poema é impressiva: procuramos gostar do que está ali escrito. Por vezes, nessa primeira aproximação, pouco entendemos do que ali está escrito. Essa leitura, contudo, deve dar-nos uma pequena luz, uma ideia, ainda que muito geral, sobre o poema. Ideia essa que desejamos desenvolver melhor em uma segunda leitura. Ainda bem que a maioria dos poemas são pequenos o suficiente para que não nos assustemos ao ter que lê-los uma segunda vez. Nessa segunda leitura, procuramos deter o nosso olhar em algo que nos tenha impressionado na primeira vez. Algo que nos causa certo estranhamento diante do texto. Muitas vezes, nosso olhar se detém em algum termo que se repete no corpo do poema. Com uma extensão usualmente menor do que a maioria dos outros textos, o poema serve-se muitas vezes da estratégia de repetir certos termos que, dessa forma, ganham relevância na expressão poética. Essa repetição constrói a sequenciação textual, ou seja, faz o texto progredir, mantendo o fio discursivo. Compreendendo a importância, no corpo do poema, desse termo que se repete, estamos em condições de elaborar um sentido de leitura mais profundo e, por isso mesmo, muito mais prazeroso. Para isso ativamos, por um lado, os nossos conhecimentos gerais sobre o mundo; por outro, os nossos conhecimentos específicos da língua portuguesa. Feito isso, construímos hipóteses de leitura que nos permitam elaborar um sentido no texto poético. Terminada essa primeira volta com o poema, podemos continuar analisando a relação entre um outro termo e o poema como um todo, em um círculo praticamente sem fim. Tomemos um exemplo no seguinte poema, de Fernando Pessoa:
Depus a máscara e vi-me ao espelho... Era a criança de há quantos anos... Não tinha mudado nada...
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30/6/2010 14:06:35
É essa a vantagem de saber tirar a máscara. É-se sempre a criança, O passado que fica, A criança. Depus a máscara, e tornei a pô-la. Assim é melhor. Assim sou a máscara. Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
E volto à normalidade como um términus de linha. PESSOA, Fernando. Poemas de Álvaro de Campos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
Gostou do poema? Essa é a primeira pergunta a considerar. É mais fácil entender o que gostamos. Embora, curiosamente, é também mais fácil gostar do que entendemos. Assim, impõe-se uma segunda pergunta: o que atrapalhou ou facilitou que eu gostasse desse poema? É a resposta a essa segunda pergunta que nos abre uma porta de trabalho para construirmos um sentido profundo na leitura desse texto poético. A resposta a essa pergunta é muito pessoal, não depende do que o colega ou o professor gostam ou não. Imaginemos que, em nossa primeira leitura, ficamos com a ideia de um eu que tem uma máscara e é uma criança. A linguagem parecenos fugir do seu uso cotidiano e não vemos muito sentido nisso, de ficar com ou sem a máscara. Podemos, simplesmente, dizer que o poema é ruim e pronto. Ou podemos fazer alguns questionamentos, procurar construir algumas hipóteses. O nosso desejo, nesse caso, é compreender o poema para, depois, gostar mais dele. Uma possibilidade é elaborarmos o seguinte questionamento: • Por que falar na máscara? • O que ela tem a ver com a criança? • Por que a linguagem parece diferente daquela que usualmente empregamos? Essas perguntas podem ser resolvidas de vários modos, mas uma segunda leitura do poema poderá ajudar-nos muito. Nessa segunda leitura, no entanto, não procuramos apenas uma impressão, vamos tentar compreender melhor o sentido da palavra “máscara” no texto: ela aparece quatro vezes: “Depus a máscara”: duas vezes; “tirar a máscara”: uma vez; “sou a máscara”: uma vez. O sentido do poema ou um dicionário poderá mostrar-nos que “depor a máscara” é o mesmo que “tirar a máscara”. Esse “eu” tira a máscara e o que vê? Depus a máscara e vi-me ao espelho... Era a criança de há quantos anos...
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Capítulo 2
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Ora, tirando a máscara, ele vê “a criança de há quantos anos...”. Obviamente, não se trata de uma máscara de carnaval, mas com ela mantém proximidades: assim como uma máscara de carnaval esconde uma identidade por trás dela, do mesmo modo há uma máscara que esconde a criança desse “eu”. Uma consulta à Internet ou a um livro de apoio nos informa, facilmente, de que Fernando Pessoa é português. Isso também nos ajuda a entender a expressão “a criança de há quantos anos...”. É um bom momento para pensarmos em nós mesmos: www.img.olhares.com
• Que máscara esconde a criança que somos em nosso íntimo? • Que criança é essa escondida por trás da máscara? A palavra criança é também muito importante no poema, repetindo-se três vezes. Para compreendermos um poema, é importante ativarmos os conhecimentos de que dispomos sobre o mundo. Esse conhecimento enciclopédico é acumulado pelas nossas vivências pessoais, leituras, estudos de que dispomos. Desse modo, aquilo que aprendemos na aula de Geografia, de Artes ou de Ensino Religioso, entre outras, pode ajudar-nos a compreender melhor um outro texto muito diferente, como é o caso deste poema de Fernando Pessoa. É um erro pensar que aquilo que aprendemos em uma disciplina, na escola, não possa ser usado em outro momento de nossa vida, por exemplo, em outra aula. As máscaras têm historicamente sido usadas como símbolos de dissimulação e engano. São comuns expressões como “uma hora vai cair a máscara” e “ela tirou a máscara e mostrou quem era”.
O nosso conhecimento enciclopédico leva-nos a reconhecer na máscara um símbolo da dissimulação e do engano.
Por outro lado, crianças são, desde há muito, símbolos de pureza e inocência. Jesus Cristo, conforme registrado nos evangelhos, disse: “Deixem as crianças, e não lhes proíbam de vir a mim, porque o Reino do Céu pertence a elas.”
IMAGELIBRARY/KEYSTONE
Evangelho de São Mateus, capítulo 19, versículo 14. Bíblia.
A criança é símbolo da pureza e da inocência.
Tendo tais conhecimentos, fica mais fácil construir um sentido na leitura do poema:
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30/6/2010 14:06:38
É essa a vantagem de saber tirar a máscara. É-se sempre a criança, O passado que fica, A criança. Depor a máscara é, aqui, tanto uma “vantagem” como uma habilidade, um conhecimento que é necessário “saber”. E, junto a essa criança, o que temos? Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Se você respondeu “o passado”, então pode pensar, conosco, que o passado é época de pureza e inocência, mas o presente, o momento em que se tira a máscara, em oposição, é uma época de dissimulação e engano. Conseguir tirar a máscara é retornar ao passado e resgatar nele a pureza da criança. Não é à toa que a palavra “criança” aparece duas vezes nessa estrofe. Mas, depois de tirar a máscara, o que faz esse indivíduo? Depus a máscara, e tornei a pô-la. www.venice.xplorer.net
Tirar a máscara e tornar a colocá-la parece não ter muito sentido. Por que ele faz isso? Em nossa cabeça, agora, as hipóteses são mais complexas e remetem-nos a aspectos do poema que não ficaram claros na primeira leitura:
Assim é melhor. Assim sou a máscara. E volto à normalidade como um terminus de linha. Pondo a máscara de volta, esse indivíduo funde-se com essa própria máscara, símbolo de dissimulação, podendo afirmar que ele é a máscara. Dessa forma, volta à normalidade. Aqui é possível que fiquemos inquietos e pensemos: “que normalidade é essa que é construída pela dissimulação e pelo engano e sufoca a criança dentro de nós?” Fazendo essa mesma pergunta para nós mesmos, podemos encontrar diferentes respostas que nos apresentam uma realidade diferente daquela que desejaríamos. Assim, o poema, embora se refira a um “eu” que se expressa no português lusitano, faz-nos pensar em nossa própria realidade.
O que esconde a máscara?
A criança de pureza e inocência é constantemente negada, seja em programas de televisão voltados para o público infantil os quais incentivam que imite um modo de vestir e agir adulto, seja pela hipocrisia e falsidade que tendem a crescer em um mundo que sufoca a possibilidade de viver dentro de um modelo de pureza e inocência, herdado da maneira infantil de ver o mundo. A solução dada pelo poema é “ser a máscara”. Nosso conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo poderá fornecer muitos outros exemplos em que as palavras de Fernando Pessoa ganhem significados especiais.
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Capítulo 2
30/6/2010 14:06:40
E qual o resultado final de “sermos a máscara”? Tornamo-nos semelhantes a “um terminus de linha”. Um fim, um término de linha. Mas de que linha se trata aqui? Linha de costura? Linha do trem? Linha do bonde? Linha de ônibus? De novo os nossos conhecimentos das coisas do mundo é ativado e escolhemos uma possibilidade. Se optamos por “linha do bonde”, chegaremos mais perto da época em que Fernando Pessoa compõe o poema, lá pelo começo do século passado. Talvez, mais próxima de nosso cotidiano esteja a “linha de ônibus”. Não faz grande diferença de sentido, para os nossos objetivos nesta leitura, optar por uma ou outra. Podemos, assim, imaginar o ônibus parado, no fim da linha, sem movimento e sem cumprir a sua verdadeira vocação: andar pela cidade, ajudando as pessoas a chegarem ao seu destino. De fato, isolados dentro de nossa máscara, esquecemos que a verdadeira normalidade deveria ser interagir com os outros, pormo-nos em movimento. E a criança fica lá, dentro de nós, mascarada. Fernando Pessoa, nesse poema, portanto, provoca-nos, como leitores, para questionarmos o que fazemos de nossas vidas. Faz-nos pensar no que efetivamente fazemos quando nos entregamos a viver mascarados e sufocamos os bons valores que aprendemos em nossa infância.
PARA LER Poema do jornal O fato ainda não acabou de acontecer E já a mão nervosa do repórter O transforma em notícia. O marido está matando a mulher. A mulher ensanguentada grita. Ladrões arrombam o cofre. A polícia dissolve o meeting. A pena escreve. Vem da sala de linotipos a doce música mecânica. ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro: Record, 1999.
Recapitulando nosso aprendizado O português no mundo e a identidade do brasileiro Em Santos, um pãozinho de padaria é chamado de “média”. Em São Paulo, uma média é um café com leite. Já em Portugal, uma xícara de café com leite é chamada de galão, que, no Brasil, refere-se unicamente a uma unidade de medida que comporta mais ou menos quatro litros e meio. Como você vê, a língua portuguesa apresenta importantes variações no espaço. Você já deve ter percebido que isso é muitas vezes explorado pelo cinema e pela televisão: novelas em que os atores imitam a maneira de falar nordestina ou gaúcha, por exemplo.
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30/6/2010 14:06:41
Ouça, agora, com atenção, a letra da música de um conhecido compositor popular.
Lusofonia
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Eu gostaria de exaltar em bom tupi As belezas do meu país Falar dos rios, cachoeiras e cascatas Do esplendor das verdes matas e remotas tradições Também cantar em guarani os meus amores Desejos e paixões Bem fazem os povos Das nações irmãs Que preservam os sons e a cultura de raiz A expressão do olhar Traduz o sentimento Mas é primordial Uma linguagem comum Importante fator Para o entendimento Que é semente do fruto Da razão e do amor É sonho ver um dia A música e a poesia Sobreporem-se às armas Na luta por um ideal E preconizar A lusofonia Na diplomacia universal. Martinho da Vila; Elton Medeiros. “Lusofobia”. In: Martinho da Vila (Intérp.). CD Lusofonia. Sony Music, 2000.
MARTINHO DA VILA – Sambista de Vila Isabel (apesar de ter nascido no interior do Estado do Rio de Janeiro), começou a carreira no III Festival de Música da TV Record, em 1967. Desde então, tem sido autor de inúmeros sucessos populares.
Participe da discussão oral da classe ao responder a essas questões: 30. Identifique a intencionalidade discursiva da letra da música de Martinho da Vila.
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Capítulo 2
30/6/2010 14:06:43
31. Como explicaria os versos:
É sonho ver um dia A música e a poesia Sobreporem-se às armas Na luta por um ideal
Lusofonia é o nome que se dá ao fato de um conjunto de falantes, em que se inclui você, falarem a mesma língua: a portuguesa. Assim, sua identidade pessoal envolve a questão da lusofonia. Como vimos, não é um fenômeno apenas entre as diversas regiões do Brasil. Envolve diversos países de todos os lugares do mundo. Então, sua relação com o mundo é feita por vários caminhos e, entre eles, está a língua portuguesa. 32. Cite oito países em que o português é língua oficial.
Nesses países, pessoas como eu e você procuram sonhar, pensar, amar, ouvir música e poesia em língua portuguesa. Mas, isso não significa que, em todos esses países, se fale português da mesma forma. Às vezes, é necessário certo esforço para entender o outro falante de português. Mas, quando “a alma não é pequena”, como fala o poeta Fernando Pessoa, no poema “Mar portuguez” (é, com “z” mesmo, para imitar a grafia antiga!), haverá sempre flexibilidade para se avançar em direção ao entendimento dos outros. Além disso, a língua portuguesa, como todas as demais, está em constante transformação, nos diversos lugares do mundo onde é falada. Sempre que surge uma nova ideia ou fato, ou inventa-se um novo objeto, criamse novos nomes. A transformação da língua portuguesa ocorre também pela pressão de interesses comerciais e políticos, além da pressão atual de outras línguas consideradas, por alguns, como mais importantes. Quanto mais você ler e viver com qualidade de vida, maior vai ser o seu domínio da linguagem. E, se durante uma leitura ou pesquisa, uma palavra desconhecida incomodar, vá ao dicionário e pesquise aquilo que ainda não conhece. Neste nosso resumo, somente falta falar sobre textualidade e coesão. Anote, no espaço a seguir, os pontos que considerou mais importantes sobre esses assuntos.
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30/6/2010 14:06:44
Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. (Manoel de Barros)
SALVADOR DALÍ (1904-1989) – Nasceu em Figueras, na Espanha. É um dos maiores nomes do Surrealismo. De modo simples, a proposta desse movimento é o pintor criar as suas obras ditadas pelo inconsciente por meio dos sonhos, procurando aquela fronteira que existe entre estar acordado e estar dormindo. O objetivo é fazer uma pintura não racional.
Alguma vez você desejou ser um escritor? Muitos que hoje são importantes poetas, escritores, jornalistas ou roteiristas de filmes começaram assim, cultivando um desejo quase escondido de escrever bem. Neste capítulo, vamos começar um dos mais agradáveis assuntos no que se refere à língua portuguesa: como ser um escritor? Como disse o poeta Manoel de Barros, na epígrafe deste capítulo, nós precisamos ser outros para escrevermos bem. É por isso que pediremos uma ajuda a quatro grandes escritores brasileiros: Otto Lara Rezende, Monteiro Lobato, Guimarães Rosa e Manuel Bandeira. Eles serão os outros que nós precisamos, de alguma maneira, ser também... Dalí, Salvador. El hombre invisible (1930). Madri: Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
O OUTRO NAQUILO QUE EU DIGO
Traga, para a próxima aula, os livros que marcaram a sua vida. O professor orientará uma apresentação dos diferentes percursos leitores dos alunos da classe. Assim, prepare-se de antemão, pensando nas respostas que daria às seguintes perguntas: • Qual foi o primeiro livro que você leu? • Que livro marcou mais a sua vida? • Quais suas preferências na hora de escolher um livro para ler? • Que qualidades espera de um bom escritor? Prepare-se também para fazer perguntas sobre o percurso leitor de seu professor. Ao final, vocês podem emprestar os livros uns aos outros.
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Capítulo 3
30/6/2010 14:06:46
O OLHAR ATENTO DO ESCRITOR... Mas o que faz de alguém que escreve um escritor? Veja o interessante ponto de vista de Otto Lara Rezende sobre o assunto. Leia atentamente a crônica a seguir.
Vista cansada
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Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa ideia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou. Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio. Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer. Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima ideia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos. Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia a dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença. REZENDE, Otto Lara. Folha de S.Paulo. São Paulo: 23-2-1992.
OTTO LARA REZENDE (1922-1992) – Estreou como jornalista no colégio, escrevendo no jornal escolar feito pelos alunos. “Eu estava convencido de que tinha vindo ao mundo para escrever, para lutar com as palavras”, afirmou. Aos 18 anos, começou a trabalhar como jornalista em O Diário, de Belo Horizonte, ao mesmo tempo em que era professor, funcionário público e estudante de Direito. Seu primeiro livro de contos, Lado humano, é lançado em 1952. Em 3 de julho de 1979, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Seu estilo é irreverente, com agradável senso de humor, percepção cômica da realidade e visão debochada do poder. Ainda que, em dados momentos, consiga ser extremamente sensível, como na crônica que acabamos de ler.
Você encontrará na biblioteca de sua escola diversos livros de crônicas. Escolha um e leve-o para casa. Boa leitura!
ERNEST HEMINGWAY (1889-1961) – Nasceu nos Estados Unidos. Fez diversas coberturas de guerra, escrevendo para vários jornais da América do Norte. Utilizou essas experiências, para escrever sua obra. Um de seus temas mais comuns é o da honestidade e da coragem sendo abaladas pelas atitudes brutais da sociedade moderna.
O outro naquilo que eu digo
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A crônica que você leu tem como tema o olhar. Vamos esforçar-nos em compreender melhor a que olhar o texto se refere. 1. Responda oralmente: • Que relação existe entre a maneira como se olham as coisas e a capacidade de escrever? • Que passagens do texto apoiam a sua resposta?
• Como podemos relacionar o texto de Otto Lara Rezende ao quadro de Salvador Dali, no início do capítulo? O escritor precisa ter um olhar atento a respeito do que acontece na sociedade. Lembramos que existe uma relação íntima entre a linguagem e a sociedade que a utiliza. É esse olhar diferenciado do ser humano diante da sociedade que, quando se transforma em texto escrito, permite que esse ser humano construa a sua identidade como escritor. 2. Marta, após a leitura da crônica de Otto Lara Rezende, conversou sobre o assunto com Fábio e chegou às seguintes conclusões:
• Um escritor é alguém que transforma em palavras o seu olhar original e criativo sobre aquilo que se vê todos os dias (por exemplo, se nós pudéssemos subir na mesa do professor e olhar a sala de aula desde o alto, veríamos a mesma sala de aula, mas de um outro ângulo. Acho que tem um filme que fala sobre isso...). • Se eu desenvolver uma forma criativa e original de olhar o mundo, eu poderei ser uma boa escritora (que legal! Ops, acho que “legal” não foi uma forma criativa e original de eu dizer a minha forma de ver o mundo! Isso todo mundo diz para tudo). • Para eu desenvolver uma forma diferente de olhar, eu preciso desenvolver o hábito de ver as coisas como se fosse uma rotina. • O maior perigo que um escritor pode correr é o de banalizar o seu olhar (banalizar é deixar banal... essa palavra me lembra banana... será que isso é um jeito original de olhar para a palavra “banalizar”?). • A indiferença diante do outro se instala em nossos corações quando nós nos acostumamos a ver o mundo sempre da mesma maneira (puxa, que bonito! Acho que estou virando escritora!). Nesse caso, a vista fica cansada de ver tudo sempre igual (por isso o título, “Vista cansada”). Ela enviou as suas conclusões em um e-mail para Fábio, para que ele a ajudasse a melhorar os seus apontamentos, de acordo com o texto lido. Qual a sua opinião sobre as conclusões de Marta a respeito da crônica?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
• O que elas significam dentro da crônica?
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Capítulo 3
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Junto com a resposta ao e-mail de Marta, Fábio escreveu alguns comentários:
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Marta, eu falei com meu pai, e ele disse que essa crônica lhe fez lembrar o filme Sociedade dos poetas mortos. Ele disse que é um filme muito “dez” sobre um professor que ensina os seus alunos a olhar o mundo de um jeito diferente. Ele gostou muito. Acho que vou pegar na videolocadora para assistir. Você quer ver? Agora, eu não entendi muito o que o texto quer dizer com “Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver”. Como eu posso ver o que eu vejo todo dia sem ver? O que vc acha? 3. O que você entende de “Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver”?
UM OLHAR PROVOCADOR SOBRE A LINGUAGEM Olhar a linguagem? Como isso é possível? Os signos linguísticos representam realidades, mas não se confundem com a própria realidade. Por exemplo, as palavras que dão nome aos animais, sejam tigres, leões ou serpentes, são inofensivas. O texto a seguir, de Monteiro Lobato, permitirá que reflitamos sobre o que significa olhar a linguagem. Certamente, você já teve contato com a obra de Lobato. Uma de suas personagens mais conhecidas é a boneca Emília. Irrequieta, ela procura explicar a relação entre as palavras e as coisas que elas representam a um anjinho que aparecera no Sítio do Pica-pau-amarelo, onde ela vive. O texto de Lobato é extremamente provocativo e nos faz refletir, qualquer que seja a nossa idade. As polêmicas são comuns na vida desse autor. Uma das mais famosas diz respeito às regras de acentuação de sua época: ele, simplesmente, não as aceitava! Assim, editou sua obra seguindo regras muito especiais de ortografia.
“– [...] Ha por aqui uns animais que são malvadissimos, umas verdadeiras pestes, como a tal cobra, que tem veneno nos dentes e o tal tigre que é estupido e crudelissimo. Todos os homens têm tamanho odio às cobras e aos tigres que não podem ver um só sem o destruir imediatamente. Mas se num verso um poeta compara uma mulher a uma cobra, dizendo, por exemplo, que ela tem movimentos de serpente (serpente é o mesmo que cobra), a ‘elogiada’ rebola-se de gosto. E se um homem compara outro a um tigre, este outro sorri. Existiu na França um célebre Clemenceau que foi apelidado o Tigre. O outro naquilo que eu digo
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Pensa que ele puxou faca? Nada disso. Babava-se todo, quando o tratavam de tigre. Mas fosse alguem tratá-lo de cão ou vaca!... Ah, vinha tiro na certa...” O anjinho ouvia, ouvia e ficava a cismar. Realmente, era-lhe impossivel entender as coisas da terra. – “Todo o mal vem da lingua, afirmava a boneca. E para piorar a situação existem mil linguas diferentes, cada povo achando que a sua é a certa, a boa, a bonita. De modo que a mesma coisa se chama aqui dum jeito, lá na Inglaterra de outro, lá na Alemanha de outro, lá na França de outro. Uma trapalhada infernal, anjinho.” Quem ficava atrapalhado era o anjinho. Emilia tinha um modo desnorteante de pensar. Assim, por exemplo, as suas celebres “asneirinhas”. Muitas vezes não eram asneiras – eram modos diferentes de encarar as coisas, como quando explicou ao anjinho o caso das frutas do pomar. – “Frutas são bolas que as árvores penduram nos ramos, para regalo dos passarinhos e das gentes. Dentro ha caldos ou massas de todos os gostos. As maçãs usam massas. As laranjas usam caldo. E as pimentas usam um ardor que queima a lingua da gente.” – “Então têm fogo dentro? Fogo é que queima.” Emilia ria-se. – “Ah, anjinho! Você vai custar a compreender os segredos da lingua humana. Este ‘queima’ é outro caso. Queimar é uma arte que só o fogo faz, mas quando uma coisa arde na lingua nós dizemos que queima.” – “Mas queima mesmo?” – “Não queima, mas nós dizemos assim. Um acido que pingamos na pele nós tambem dizemos que queima. Uma loja que está em liquidação nós dizemos que está ‘queimando’ as suas mercadorias. No brinquedo do esconde-esconde, quando o que está de olhos vendados chega perto do escondido, nós dizemos que está ‘queimando’.” – “Então... então... então – dizia o anjinho, a trapalhada deve ser medonha.” Emilia ria-se, ria-se. – “Eu já estive no País da Gramática, onde todos os habitantes são palavras. E um dia hei de contar por miudo como a Gramática lida com elas e consegue dar ordem ao pensamento.” – “Dar ordem não é mandar uma pessoa fazer uma coisa?” – “É e não é. Às vezes é, outras vezes não é. Dar ordem pode ser mandar fazer uma coisa e também pode ser botar cada coisa no seu lugar.” – “E como a gente sabe quando é dum jeito ou de outro?” – “Pelo sentido.” – “E o que é sentido?” Emilia desanimou. Nada ha mais dificil do que ensinar anjinhos. –“Escute cá, Flor. Quem entende bem disto de linguas e gramaticas é o Quindim. Tome umas aulas com ele.” – “Que é aula?” Emilia saiu correndo, senão ficava louca... LOBATO, Monteiro. Memórias da Emília. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1945.
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Capítulo 3
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MONTEIRO LOBATO (1882-1948) – Nasceu em Taubaté (SP). É considerado o criador da literatura infanto-juvenil brasileira. Dedicou-se a inúmeras atividades: foi promotor público, fazendeiro, jornalista. Já era colaborador do jornal O Estado de S.Paulo, quando publicou seu primeiro livro: Urupês. Fundou a Editora Monteiro Lobato & Cia., que imprimia grandes novidades no mercado editorial e, em 1920, Lobato se voltou para a literatura infanto-juvenil. Publicou A menina do nariz arrebitado. Sua obra infantil contraria a seriedade adulta e introduz o humor, substitui a visão do adulto moralista pela ótica irreverente da criança.
4. Emília mostra os possíveis mal-entendidos que podem ocorrer entre os falantes ao empregarem palavras com sentidos diferentes. Se o andar da mulher pode ser comparado ao movimento da serpente por ser sinuoso, qual será a qualidade característica do tigre que tanto agradava a Clemenceau?
George Clemenceau: foi ministro do interior da França em 1912, quando uma onda de crimes aterrorizou o país. Em 2006, lançou-se o filme Brigadas do tigre (Les brigades du tigre), do diretor Jérôme Cornuau.
5. Arder e queimar sempre significam o mesmo, ou seja, são sinônimos perfeitos? Como isso explica a confusão do anjinho? Falamos de metalinguagem quando o locutor se utiliza da linguagem para destacar o código, ou seja, em termos simples, a linguagem trata de si mesma. É o caso dos dicionários que se utilizam de palavras para explicar o significado das próprias palavras. 6. Explique como o excerto de Memórias da Emília, que acabamos de ler, faz uso de metalinguagem.
Como vimos no texto de Lobato, os riscos que as palavras serpente ou tigre oferecem são diferentes daqueles que os animais nos dão. Para desenvolvermos um olhar criativo sobre a linguagem que nos permita escrever bem, temos de procurar relações entre o olhar diferenciado que mantemos sobre a realidade ao nosso redor e um outro olhar, também diferenciado, em relação à língua que representa essa realidade.
Por vezes, encontramos o cinema fazendo filmes sobre si mesmo. É o caso, por exemplo, da comédia de Woody Allen, Dirigindo no escuro, que narra as desventuras de um diretor neurótico de cinema, que tem cegueira psicológica durante as filmagens, ou de Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore, em que um dono de uma rede de cinemas retorna à sua terra natal 20 anos após sua partida.
Isso não significa que a palavra não nos faça correr riscos. Ao contrário, a palavra tem poder. Com elas podemos alegrar os outros, ensiná-los, estabelecer pontes que nos permitam comunicar pensamentos e emoções. Com as palavras, também podemos ofender e magoar e, até mesmo, manipular os pensamentos. Além disso, usamos palavras iguais para realidades diferentes. Ocorre polissemia quando uma mesma palavra tem diferentes sentidos, ou seja, a palavra cola é polissêmica porque significa uma coisa quando você diz “preciso comprar cola para fazer o trabalho de Artes” e outra bem diferente quando você diz “fulano só passou no concurso porque fez cola”. O outro naquilo que eu digo
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Veja. São Paulo: Abril, 6-8-2003.
7. Levando em conta o anúncio, a palavra “enxutão” apresenta, ao mesmo tempo, dois sentidos diferentes. Quais são?
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Polissemia: “poli” significa inúmeros e “sema” significa sinal, signo, significado. Portanto, durante séculos de vida, a mesma palavra foi recebendo diferentes usos e significados.
A palavra “enxutão” aparece no texto hipersemantizada. Falamos de hipersemantização quando uma palavra acumula, em um único texto, dois ou mais significados diferentes. O objetivo, nesse caso, não é confundir o leitor, mas ampliar as possibilidades de construção de sentidos do texto. Essa é uma estratégia muito comum na elaboração de alguns textos, como propagandas e poemas, por exemplo. O contexto permite ao leitor reconhecer alguns dos sentidos do termo no texto e aprofundar o seu nível de leitura. 72
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Capítulo 3
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8. Reescreva o slogan “Seu pai ainda mais enxutão...”, substituindo a palavra “enxutão” por outros, de modo a manter o sentido básico da expressão. Será, provavelmente, necessário usar mais de um termo nessa substituição.
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Alguns estudiosos da linguagem defendem que, quando usamos as palavras no seu sentido literal, isto é, nomeando as coisas, referindo-se à realidade em si, ocorre a linguagem denotativa. A palavra pimenta, na fala da Emília, no texto de Monteiro Lobato, está no sentido literal. É a fruta. O mesmo ocorre na frase o gato está dormindo perto do fogão, a palavra gato também está sendo usada denotativamente. Mas as palavras, no seu uso cotidiano, podem ganhar outros significados além do literal, conseguindo insinuar outros sentidos. É o que chamamos de linguagem conotativa. “Pimenta” e “gato” ganham sentidos conotativos em frases como “fulano é um pimenta” ou quando Carla confessa para as amigas que ela acha o Marquinhos um gato. É o contexto social que possibilita fazer-se compreender usando uma linguagem mais denotativa ou conotativa no texto que produz. Também é o contexto sociocultural, além do próprio texto que estamos lendo ou produzindo, que nos informa se as palavras são sinônimos perfeitos. Por isso, para compreendermos uma palavra, devemos prestar atenção ao contexto sociocultural e textual em que ela aparece. Devemos “vê-la” de forma provocadora e hábil. Leia com atenção o trecho a seguir, de Memórias da Emília: “– E como a gente sabe que é dum jeito ou de outro? – Pelo sentido. – E o que é o sentido?” 9. Escreva um pequeno poema que responda à pergunta do anjinho. Tome cuidado para empregar algumas palavras em sentido conotativo. Sublinhe-as.
Mas... e a acentuação gráfica? Lobato não aceitava as regras de acentuação de sua época e, por isso, inventou regras pessoais de ortografia. Alguns considerariam isso muito prático, mas não podemos, na maioria dos contextos sociais em que participamos, escrever do jeito que simplesmente queremos. O outro naquilo que eu digo
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10. Reúna-se com os colegas em duplas e respondam às questões a seguir, formuladas a partir do texto que lemos de Lobato. Consultem o quadro explicativo sobre acentuação gráfica e trema.
“Ha por aqui uns animais que são malvadissimos, umas verdadeiras pestes, como a tal cobra que tem veneno nos dentes e o tal tigre que é estupido e crudelissimo. [...] Existiu na França um celebre Clemenceau.”
Que regras de acentuação Lobato desconsiderou?
a) Monossílabos tônicos são acentuados quando terminam em a, e ou o.
b) São acentuadas as paroxítonas terminadas em r, x, n e l.
c) Todas as proparoxítonas são acentuadas.
d) As oxítonas terminadas em a, e ou o são acentuadas, seguidas ou não de s.
e) O s hiatos tônicos em i e u são acentuados quando a segunda vogal do hiato constituir uma sílaba e não for precedida de ditongo.
b. No trecho a seguir, uma palavra deveria ter sido acentuada de acordo com as regras ortográficas. Identifiquem-na e escrevam a regra que Lobato desconsiderou.
“Mas fosse alguem tratá-lo de cão ou vaca!... Ah, vinha tiro na certa...”
c. “Realmente, era-lhe impossivel entender as coisas da terra.
– ‘Todo o mal vem da lingua, afirmava a boneca. E para peorar a situação existem mil linguas diferentes’. [...]”
Nesse trecho, há duas palavras paroxítonas que deveriam ter sido acentuadas. Identifiquem-nas e escrevam a regra que Lobato desconsiderou.
Acentuação gráfica Proparoxítonas: todas as palavras proparoxítonas são acentuadas. Usa-se o acento agudo quando o timbre da vogal for aberto e circunflexo quando fechado (próximo, sólidas, bêbado, trânsito, etc.). Paroxítonas: são acentuadas nos seguintes casos • Quando terminadas em -r, -x, -n, -l (Para facilitar a lembrança, pense na palavra rouxinol). Como: caráter, hífen, tórax e nível.
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a. Observe:
! Atenção ao fazer o plural de algumas dessas palavras, pois em termos fonéticos temos uma outra situação de tonicidade. • • •
Quando terminadas em ditongos, seguidos ou não de -s. como níveis, inócuo e glória. Quando terminadas em -i, -is, ou -us. Como táxi, lápis e Vênus. Exceto quando precedidos de ditongo. Quando terminadas em -um ou -uns. Como álbum e álbuns.
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• •
Quando terminadas em -ã, -ão e -ãs. Como órfã, bênção e ímãs. Quando terminadas em -ps. Como bíceps e fórceps.
Oxítonas: são acentuadas: • Quando terminadas em -a, e, ou o, seguidos ou não de -s (rapé, ipê, cipó, pivô, sofá, etc.).
! Preste atenção nas formas verbais seguidas de pronome pessoal enclítico, tais como retê-lo, amá-lo, impô-lo.
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•
Quando terminadas em -em ou -ens (também, porém e parabéns, etc.)
Monossílabos tônicos são acentuados: • Quando apresentem as vogais a, e, ou o. Como lá, dê e pó. • Quando for uma forma verbal na 3ª pessoa do plural. Isso ocorre para diferenciar da 3ª pessoa do singular. Ele tem / eles têm; ele vem / eles vêm Hiatos tônicos em i(s) e u(s) são acentuados: • Quando a segunda vogal do hiato constituir uma sílaba ou vier acompanhada de -s, como ra-í-zes, ru-í-na, ju-da-ís-mo. Mas não se acentuam se na mesma sílaba forem seguidos de outra letra diferente de s: ra-iz, Ra-ul, ru-im. Há, porém, a exceção no caso de a sílaba seguinte iniciar com nh. Como mo-i-nho, ba-i-nha. (Nesse caso, não são acentuados!) Ditongo tônico éu é acentuado quando tiver som aberto. Vejamos: chapéus – ateu Veja bem: Duas palavras recebem acento gráfico apenas para se diferenciarem de outras que se escrevem da mesma forma e que são átonas. Exemplos: pôde (pret. perf. ind.) – pode (presente ind.) pôr (verbo) – por (preposição) Consulte esta tabela sempre que precisar confirmar a acentuação de um texto.
11. Durante a leitura da tabela, você se deparou com os termos “ditongo” e “hiato”. Consultando uma gramática, definam os seguintes termos: Ditongo:
Hiato:
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Tritongo:
Vogal: do ponto de vista articulatório, as vogais são sons formados pela vibração das cordas vocais, abertas ou entreabertas à passagem do ar e modificadas segundo a articulação desse ar nas atividades bucais acima da laringe. As vogais são sempre, em português, centro de sílaba. Semivogal: os fonemas /i/ e /u/, quando junto a uma vogal, formam uma semivogal, são semivogais. • Em pai e vário, o /i/ é semivogal; mas em raiz e viu o /i/ é vogal. Em viu e quase, o /u/ é semivogal; mas em muro e rua, o /u/ é vogal.
QUEM CONTA UM CONTO... Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Observe o texto a seguir.
HENFIL. Graúna ataca outra vez. São Paulo: Geração Editorial, 2002. .
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12. Complete o quadro a seguir. Quais as personagens envolvidas?
Quantos episódios? Em que lugar ocorre?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Quanto tempo leva para ocorrer a história?
As narrativas tradicionais são compostas de episódios que se sucedem uns aos outros. Os diversos episódios da narrativa se organizam de uma determinada maneira a que nós chamamos enredo. As mudanças, em um enredo, levam sempre um certo tempo para acontecer. Toda narrativa tem personagens, que vivem em um mundo possível: um mundo criado por alguém que narra a história. Esse alguém é o narrador. Esse mundo possível pode ser bem parecido com o nosso mundo real ou não. Ser um mundo apenas possível na imaginação de quem narra e de quem lê. Um mundo habitado por animais falantes, bruxas malvadas e fadas azuis, por exemplo. Ou um mundo habitado por pessoas como nós. 13. Com certeza, você conhece a famosa história infantil de Chapeuzinho Vermelho. Narre-a em cinco episódios. Enredo Era uma vez uma menina que ganhou um chapeuzinho vermelho de sua mãe. 1º episódio
Ela ia cantando alegremente, quando encontrou um lobo em seu caminho. 2º episódio
Assim, Chapeuzinho Vermelho escolheu seguir o caminho mais longo. 3º episódio
Quando Chapeuzinho finalmente chegou à casa de sua avó, o lobo estava deitado na cama, vestindo as roupas da avó da menina. 4º episódio
Nisso, um caçador que ia passando pela floresta, ouviu os roncos do lobo. 5º episódio
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A narrativa que vamos ler em seguida é de Guimarães Rosa. Leia o texto com muita atenção, procurando compreender o olhar diferenciado do autor sobre a realidade e sobre a linguagem.
Nova velha estória Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita verde inventada no cabelo. Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita-Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas. Daí, que, indo, no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo. Então, ela, mesma, era quem se dizia: “– Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou.” A aldeia e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são. E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vindo-lhe correndo, em pós. Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto por elas passa. Vinha sobejadamente. Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela, toque, toque, bateu: – “Quem é?” – “Sou eu...” – e Fita-Verde descansou a voz. – “Sou sua linda netinha, com cesto e pote, com a fita verde no cabelo, que a mamãe me mandou.” Vai, a avó, difícil, disse: – “Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus te abençoe.” Fita-Verde assim fez, e entrou e olhou. A avó estava na cama, rebuçada e só. Devia, para falar agagado e fraco e rouco, assim, de ter apanhado um ruim defluxo. Dizendo: – “Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo.” Mas agora Fita-Verde se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita verde no cabelo atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou: – “Vovozinha, que braços tão magros os seus, e que mãos tão trementes!” – “É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta ...” – a avó murmurou. – “Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados!” – “É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta ...” – a avó suspirou. – “Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, neste rosto encovado, pálido?” – “É porque já não te estou vendo, nunca mais, minha netinha ...” – a avó ainda gemeu. Fita-Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez. Gritou: – “Vovozinha, eu tenho medo do lobo!” Mas a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo...
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Fita verde no cabelo
GUIMARÃES ROSA, João. Ave, palavra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
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Capítulo 3
30/6/2010 14:07:00
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GUIMARÃES ROSA (1908-1967) – Escritor do século XX, nasceu em Cordisburgo (MG). Estreia em 1946, com os contos de Sagarana. A maior parte de sua obra aparece situada na paisagem mineira, mas a sua obra dá uma outra dimensão para o mundo regional. As suas personagens não são simples “caipiras mineiros”, ao contrário, em suas personagens encontramos a essência humana. Na obra de Guimarães Rosa, não se questiona o local, os problemas do campo mineiro, mas se questiona o próprio homem, a própria complexidade de existir. É provável que você já tenha percebido isso no conto que acabamos de ler. Faleceu no ano em que fora indicado para o prêmio Nobel de Literatura pelos editores alemães, franceses e italianos.
14. Como é possível uma fita verde “inventada no cabelo”? Lembre-se de que o verde é a cor que representa tanto a imaturidade como a esperança.
15.Complete o quadro esquemático. Quais as personagens envolvidas? Qual o assunto do enredo? Em que lugar ocorre? Quanto tempo passa do início ao fim da narrativa? Narração em primeira ou terceira pessoa? (prove)
Note que o conto não nos fornece muitos detalhes sobre a aldeia. É uma aldeia qualquer, igual aos milhares de outras que existem, inclusive a nossa aldeia global. Já sobre a menina de fita verde temos mais informações, embora ainda assim sejam poucas. É o narrador quem fornece as informações que permitem ao leitor compreender o texto e construir nele sentidos de leitura. Basicamente, o narrador pode introduzir-se no enredo em primeira pessoa, sendo também personagem da narrativa ou afastar-se, construindo um discurso em terceira pessoa. O narrador em primeira pessoa pode ser mais pessoal, pois participa dos acontecimentos. Afinal ele está falando dele: ou de algo que aconteceu diretamente com ele ou de algo que aconteceu com alguém próximo a ele. Já o narrador em terceira pessoa consegue ser mais objetivo, pois não é personagem na história que conta nem está tão envolvido com as ações das personagens. Pode chegar a saber de todos os fatos que ocorrem e até dos pensamentos mais íntimos das personagens.
O outro naquilo que eu digo
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TEXTO E COERÊNCIA 16. Numere as ações narradas em Fita verde no cabelo, que aparecem a seguir, na ordem cronológica e coerente dos acontecimentos. (
) A menina escolhe o caminho mais longo para visitar a sua avó, desconsiderando os avisos de sua mãe.
(
) A menina observa os lenhadores na floresta.
(
) A menina toma consciência de seu medo do lobo.
(
) A avó convida a menina a chegar perto dela enquanto é tempo. As partes da narrativa organizam-se de forma que haja uma conclusão lógica. O texto inicia afirmando que, naquela aldeia, todos tinham “juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto”. Essa afirmação é coerente com o fato de Fita-Verde desconsiderar conselhos de sua mãe que, em nossa cultura, tem o papel social de aconselhar os seus filhos. Diante da avó muito doente, a menina toma consciência de seu medo do lobo, animal que pode representar o perigo. A escolha de outro animal poderia gerar problemas. Por exemplo, se, em vez do lobo, Guimarães Rosa tivesse escolhido um gatinho.
Coerência textual: é o resultado da organização das ideias e significados presentes em um texto.
Embora construa um mundo de imaginação, o texto apresenta coerência com a nossa cultura e visão de mundo. Definimos a coesão como a conexão gramatical. Podemos, agora, definir a coerência como a conexão de significados de um texto, ou seja, a sua conexão semântica. Observe, com atenção, a tira abaixo da personagem Mafalda:
QUINO. Mafalda, São Paulo: Martins Fontes, 2002.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
( 1 ) A menina sai de casa para visitar a sua avó com uma fita verde inventada no cabelo.
17. Você diria que o enunciado da mãe de Mafalda foi coerente com a situação comunicativa? Por quê?
18. Que fato da situação comunicativa a mãe de Mafalda deixou escapar?
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Capítulo 3
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Normalmente, quando produzimos um texto, acreditamos que somos claros o suficiente para transmitir o sentido que desejamos. O interlocutor se esforça para compreender a mensagem e, inicialmente, acredita que o texto tem coerência. No entanto, são comuns falhas na comunicação, como vemos na tira em quadrinhos da Mafalda. A textualidade, de que falamos no capítulo anterior e que é construída pela coesão e coerência do texto, está diretamente relacionada ao contexto, de que já falamos no capítulo 1. Um texto pode ser adequado em um determinado contexto e inadequado em outro. 19. A fala da mãe de Mafalda seria coerente se o seu objetivo fosse que Mafalda calasse e comesse a sopa? Por quê?
20. Em que outros contextos a fala da mãe da Mafalda seria coerente?
INTERTEXTUALIDADE Há uma relação entre Fita verde no cabelo e Chapeuzinho Vermelho. Guimarães Rosa, ao escrever a sua narrativa, foi buscar elementos no famoso conto infantil. É como se os dois textos dialogassem entre si. Esse fenômeno de incorporar fragmentos de discursos de outros no nosso é comum. Por essa razão, podemos afirmar que um texto é, geralmente, polifônico (de poli = vários e fono = voz, som), ou seja, formado de várias vozes, pois nele ressoam outros discursos além da voz do autor. Trata-se de um fenômeno como uma rede, em que vários fios das vozes se entrecruzam.
Intertextualidade: é um recurso de escrita quando um autor usa situações, falas ou mesmo frases e versos de outros autores, muitas vezes, até sem citar a fonte.
Tais vozes fazem o texto dialogar com outros textos, em um fenômeno que denominamos intertextualidade, ou seja, a interação de um texto com outro(s) texto(s). Chapeuzinho Vermelho estabelece uma relação intertextual com Fita verde no cabelo. Isso ajuda a entender por que no subtítulo se fala de “nova velha estória”. Já a crônica de Otto Lara Rezende estabeleceu uma relação intertextual com os textos do escritor Ernest Hemingway. Todo bom escritor dialoga com as outras leituras na hora de escrever. Não se esqueça disso: para você escrever bem, você precisa ser um bom leitor, que faz uso de seu repertório de leituras na hora de escrever. Guimarães Rosa, em sua narrativa, não se limitou a contar a mesma história com outras palavras. Ele fez alguns questionamentos bem profundos e criativos em seu texto. Ele lançou no seu texto um jeito todo pessoal de olhar. Trocou um chapeuzinho vermelho por uma fita verde para mostrar uma outra história de crianças que passam pelo processo de amadurecimento. Crescer emocionalmente requer equilíbrio entre as doses de esperança e as perdas e frustrações. Algumas são decorrentes das escolhas que vão sendo feitas pela vida, como quando escolhemos um caminho, uma profissão ou a escola onde queremos estudar. Enquanto outras são inevitáveis, como a morte. O outro naquilo que eu digo
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Examine:
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
faltou fonte
Bravo! São Paulo: Abril, no 7, abr. 1998.
Compare a propaganda com a foto ao lado. 21. Que conhecimentos intertextuais deve ter o leitor para aprofundar a leitura da propaganda?
22. Que uso criativo o anunciante fez da intertextualidade com a foto?
23. O produto anunciado é um desinfetante. A quem poderia interessar um anúncio publicitário desse produto? Mas para que o anúncio tenha pleno êxito, que conhecimentos esse interlocutor deve ter?
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Capítulo 3
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
24. A propaganda de Pinho Bril é um texto polifônico, pois estabelece uma relação intertextual com a foto de Einstein. Isso, no entanto, gera riscos para o anunciante, pois nem todos conhecem a foto de Einstein. Se você fosse publicitário, em que tipo de revista ou jornal recomendaria que circulasse esse texto publicitário? Por quê?
Agora, vamos ampliar ainda mais a nossa compreensão da intertextualidade de Fita verde no cabelo. Para isso, organize-se em grupos que não ultrapassem quatro alunos. Vamos ler um trecho de um texto científico. A seguir, responda às questões propostas. O texto que vamos ler é um estudo do conto infantil Chapeuzinho Vermelho feito por um importante psicanalista, Bruno Bettelheim:
“É como se Chapeuzinho tentasse entender a natureza contraditória do homem vivenciando todos os aspectos da personalidade dele: as tendências egoístas, associais, violentas e potencialmente destrutivas do id (o lobo); as propensões altruístas, sociais, reflexivas e protetoras do ego (o caçador). Chapeuzinho Vermelho é amada universalmente porque, embora virtuosa, sofre a tentação; e porque sua sorte nos diz que confiar nas boas intenções de todos, que nos parecem tão bons, na realidade deixa-nos sujeitos a armadilhas. Se não houvesse algo em nós que aprecia o lobo mau, ele não teria poder sobre nós. Por conseguinte, é importante entender sua natureza, mas, ainda mais importante, é aprender o que a torna atraente para nós. Por mais atraente que seja a ingenuidade, é perigoso permanecer ingênuo toda a vida. [...] Em Chapeuzinho Vermelho, tanto no título como no nome da menina, enfatiza-se a cor vermelha, que ela usa declaradamente. O vermelho é a cor que significa as emoções violentas, incluindo as sexuais. O capuz de veludo vermelho que a avó dá para Chapeuzinho pode então ser encarado como o símbolo de uma transferência prematura da atração sexual, que, além disso, é acentuada pelo fato de a avó estar velha e doente, demais até, para abrir a porta. O nome “Chapeuzinho Vermelho” indica a importância capital desta característica da heroína na estória. Ele sugere que não só o chapeuzinho vermelho é pequeno, mas também a menina. Ela é demasiado pequena, não para usar chapéu, mas para lidar com o que ele simboliza e com o uso que dele atrai.” BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
BRUNO BETTELHEIM (1903-1990) – Psicanalista e pesquisador. Dedicou-se ao trabalho em favor de crianças autistas e, posteriormente, das crianças em geral.
Resolvam as questões a seguir.
25. Como já dissemos, o texto de Bettelheim faz parte do discurso científico da psicanálise. Que palavras ou expressões lidas no trecho confirmam isso?
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27. A afirmação do estudioso sobre a cor vermelha do chapéu de Chapeuzinho se harmoniza com o hábito de dar rosas vermelhas ou com os corações vermelhos que aparecem nos cartões enviados por namorados. Seguindo a mesma linha de raciocínio de Bettelheim, tente encontrar uma explicação coerente para a fita verde no conto de Guimarães Rosa.
E agora que o trabalho está feito, voltemos à nossa reflexão teórica: O texto de Guimarães Rosa possibilita diversas interpretações. Isso ocorre principalmente porque se trata de um texto literário de ficção, sem o compromisso de informar as pessoas de uma realidade específica. 28. Identifique as várias diferenças entre o conto tradicional de Chapeuzinho Vermelho e o conto de Guimarães Rosa, de acordo com os itens sugeridos.
Narrativa de Guimarães Rosa
Objeto usado na cabeça
Uma fita verde
O lobo
Perguntas da menina
Conto tradicional
Uma personagem
A menina queixa-se do estado doentio da avó
O episódio final
A caminhada para o amadurecimento exige bastante de qualquer um de nós. No conto de fadas, a desobediência de Chapeuzinho tem como consequência o perigo de ser atacada pelo lobo. No entanto, ela e a avó se salvam com a ajuda dos caçadores. De certa forma, ela aprende a obediência.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
26. Concordam com o ponto de vista de Bettelheim sobre a ingenuidade em Chapeuzinho Vermelho, conforme ele afirma no segundo parágrafo? Por quê?
As respostas da avó de Fita-Verde demonstram a consciência de estar morrendo. Nesse conto, a menina não desobedeceu a ninguém. Ela não tem o seu juízo completo porque ainda é uma criança, mas, nesse dia, aprendeu a lição do tempo. O tempo, às vezes, nos traz a perda das pessoas queridas. O lobo pode ser visto como uma imagem do tempo que nos devora e faz com que percamos pessoas queridas, como a menina perdeu a avó. Guimarães Rosa também trabalha a linguagem na sua narrativa. Ele inventa palavras. Procure encontrar, no capítulo dois, a parte que aborda o surgimento de palavras novas na língua. Releia o texto. 84
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Capítulo 3
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29. O termo “velhavam” é uma palavra inventada por Guimarães Rosa. Qual o seu sentido no texto?
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30. Qual a diferença entre elaborar o texto com o termo “velhavam” ou com uma expressão que já existia em português?
31. Identifique, no texto de Guimarães, outra palavra ou expressão inventadas pelo autor. Identifique seu sentido e o valor expressivo da novidade.
Pausa para reflexão Em seu caderno, responda às questões a seguir. I. O que você aprendeu do que foi estudado neste capítulo? Responda apenas de memória, evitando consultar o material. II. Quais conteúdos vistos, na sua opinião, não foram bem compreendidos e merecem uma nova explicação ou atividade de reforço? III. Em qual(is) atividade(s) houve mais envolvimento de sua parte? Por quê? IV. Qual(is) atividade(s) você considerou mais importante(s) para seu aprendizado? Por quê? V. Participou das leituras e atividades com interesse? Em que aspectos poderia melhorar a sua participação?
Levando em conta tudo sobre o que refletimos até agora, reúna-se em dupla com um colega e escrevam também uma história que expresse relações intertextuais com o conto de Guimarães Rosa, com o clássico Chapeuzinho Vermelho e com os trechos lidos de Bettelheim. Após terminar, consultem o quadro de acentuação gráfica para certificar-se de que acentuaram corretamente todos os vocábulos. Levem em conta que estão escrevendo para que os outros leiam; assim, produzam um texto que permita construir pontes com os seus leitores. Sejam criativos e mantenham um olhar que faça diferença neste mundo em que todos parecem enxergar as coisas do mesmo modo.
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Na verdade, existe um grande conjunto de textos que estabelecem relações intertextuais com Chapeuzinho Vermelho e que podem servir de ajuda à proposta polifônica deste trabalho. As duplas poderão, em fontes diversificadas, como na Internet e na biblioteca da escola, pesquisar mais sobre o assunto.
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TRABALHANDO COM PROJETO A agência publicitária que os diferentes grupos constituíram recebe mais uma encomenda: solicita-se que projetem uma exposição fotográfica na escola que responda a dois objetivos: • Apresentar um conceito de fotografia como expressão da arte estudantil. Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
• Conscientizar o público das diferentes manifestações da realidade social. O projeto fotográfico elaborado na atividade anterior poderá servir de base para organizar este trabalho. Recapitulem os principais itens que constituem um projeto e que foram apresentados nos capítulos anteriores. Adaptem-nos a esta nova empreitada. Sempre que possível, visitem galerias, museus e exposições para que o projeto de vocês ganhe em realidade. Sigam o roteiro a seguir. Título do projeto da exposição: a criatividade deve ser bem aproveitada, mas deve estar a serviço dos objetivos do trabalho. De nada adianta um título cômico ou pomposo que pouca relação tem com a essência do trabalho. Objetivo: neste caso, o objetivo do projeto foi dado à agência. Ele deve orientar todos os trabalhos. Justificativa: como sabemos, a justificativa é a parte do projeto em que defendemos a importância do projeto que estamos desenvolvendo. Os argumentos devem ser consistentes e podem estabelecer relações intertextuais com nomes importantes na área em que vocês se encontram neste projeto. Recursos: este item substitui o “metodologia” e trata do que vocês vão precisar, efetivamente, para desenvolver a exposição: recursos materiais, principalmente, mas também podemos incluir outros itens e, muito importante, como obter tais recursos. Um projeto dessa natureza, que seja impraticável por exigir recursos de que não se dispõe, perde força logo de partida. Fontes: em que fontes o grupo se baseou para elaborar o seu projeto? Que consultas fizeram? Pela natureza do projeto, depoimentos ou testemunhos orais podem aparecer. Como se indica um depoimento em um projeto? Autor do depoimento. Assunto. Local do depoimento. Cargo, instituição, data em que a informação foi proferida. Nota indicando o tipo de depoimento: entrevista, conferência, anotação de aula, etc. Veja um exemplo: Irmão José de Sousa. “Espaços disponíveis no Colégio Santa Domingas”. São Paulo, Colégio Santa Domingas. Diretor do Colégio Santa Domingas. Entrevista concedida aos autores deste projeto.
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Capítulo 3
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STRATÉGIAS DE LEITURA: A intertextualidade no E processo de construção do sentido (parte 1)
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Como vimos neste capítulo, a intertextualidade é um tema muito importante quando o assunto é a construção do sentido em um texto. A intertextualidade pode constituir-se de modo explícito ou implícito. Nesta seção, no capítulo 3, trataremos somente das relações de intertextualidade explícita, ou seja, quando há a citação da fonte do intertexto, como acontece nas citações e referências, por exemplo. Observe isso no trecho a seguir.
Relatos variados dão conta de que Fidel costumava trabalhar, durante os 47 anos em que esteve à frente de Cuba, de segunda a domingo, até as madrugadas. Assim, pouco tempo possuía para usufruir de eventuais vantagens concedidas pelo cargo. Apesar disso, a revista norte-americana Forbes vem incluindo o líder em uma lista de reis, rainhas e ditadores mais ricos do mundo, que prepara anualmente. Em abril de 2006, Fidel Castro aparecia como o oitavo da relação, com um patrimônio pessoal avaliado em US$ 900 milhões. GARAVELLO, Murilo. Orador carismático, governante centralizador. Especial Cuba. Disponível em: < http://noticias.uol. com.br/ultnot/especial/2008/cuba/perfilfidel.jhtm>. Acessado em: 21-2-2008.
O texto de Garavello estabelece uma evidente intertextualidade explícita com a revista Forbes. A seleção de uma determinada informação atribuída a uma fonte que não o próprio autor ajuda, algumas vezes, a reforçar um ponto de vista, a diminuir, posições, contrárias em questões polêmicas, como é o caso aqui. Uma das perguntas mais famosas que circula na Internet é “por que o frango atravessou a rua?”. As diferentes respostas apelam ao conhecimento enciclopédico do leitor e à sua habilidade de construir relações intertextuais no processo de leitura do texto. As diferentes marcas de intertextualidade explícita, no entanto, não facilitam a vida do leitor que não tenha bom conhecimento de mundo. Vejamos alguns exemplos:
PLATÃO: Porque buscava alcançar o bem. Muitos sabem que Platão era um filósofo, e como a frase tem um “ar” filosófico, pode parecer que está tudo certo. Mas, para aqueles que conhecem um pouco melhor o pensamento de Platão, há possibilidades de interpretação do texto mais profundas. O “bem” para Platão é o ápice da existência, o ideal supremo que todos deveriam alcançar. Até as galinhas, de acordo com a visão bem-humorada deste texto. Levanta-se, então, uma suspeita no leitor: as galinhas recebem, no texto, o tratamento dado aos seres humanos. Outro exemplo confirmará ou não essa hipótese:
MOISÉS: Porque uma voz do céu bradou ao frango: “Vós atravessareis a rua”, e o frango cruzou a rua, e houve grande regozijo. Compreender essa resposta exige algum conhecimento da tradição judaico-cristã. Segundo a Bíblia (ou a Torá), Deus manda que Moisés
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cruze o Mar Vermelho para libertar os israelitas da escravidão no Egito. A escolha de termos como “bradar” e do pronome de tratamento “vós”, que caracterizam certo estilo religioso, reforçam essa ideia. O frango aqui não é um ser humano qualquer, mas representa o próprio Moisés, numa verdadeira ousadia galinácea do autor.
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Tais ousadias são comuns nos dias de hoje, em especial em textos que circulam sem autoria na Internet. Muitas vezes, elas são criativas e enriquecem o texto. Outras, tornam-se ofensivas e preconceituosas. Um exemplo de preconceito é reconhecível no trecho a seguir.
FEMINISTAS: Para humilhar a franga, num gesto exibicionista, tipicamente machista, tentando, além disso, convencê-la de que, enquanto franga, jamais terá habilidade suficiente para cruzar a rua. Na fala do que é denominado como “feministas”, podemos identificar alguns preconceitos comumente associados a esse grupo social: a incapacidade de encontrar o equilíbrio entre os gêneros sexuais e de ver qualquer atitude do masculino como sendo ameaçadora ao feminino. Além disso, não deixa de ser interessante notar que não se assume uma autoria determinada (do tipo fulano disse), o que torna difícil identificar um texto específico que estabeleça a relação intertextual com o que se escreve. No texto resposta, ecoam outros comentários que ouvimos e que traduzem um modo de ver o mundo modelado apenas pelo senso comum e associado a um tipo específico de pessoa. Diferente é a situação da seguinte resposta:
MARTIN LUTHER KING: Eu tenho um sonho: que meus frangos vão um dia viver em uma nação onde eles poderão cruzar a rua sem questionamentos ou dúvidas. Eu tenho um sonho hoje! Martin Luther King foi um pastor e ativista político que se tornou famoso pela sua luta nos EUA pelos direitos civis. Em 1963, profere o discurso “Eu tenho um sonho”, no qual encontramos o seguinte trecho: Eu tenho um sonho: que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje! É fácil encontrar as semelhanças entre as duas falas, a do fictício King preocupa-se com os seus frangos e no direito deles de atravessarem a rua; já o verdadeiro Martin Luther King pensava em suas crianças não sofrendo de preconceitos raciais. Há muitas formas de fazer humor, quando nos aproximamos de um texto, buscamos algo: informarmo-nos, estudarmos, divertir-nos, etc. O texto “Por que o frango atravessou a rua?” busca o humor, a diversão do leitor, por deslocar textos de seu contexto ou por alimentar-se do senso comum. Em qualquer um dos casos, espera-se que o leitor (re)conheça o outro texto. Isso exige um constante ampliar de horizontes, pensando a leitura como uma atividade em rede, que nos enreda nos diversos conhecimentos que vamos adquirindo no correr da vida.
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Capítulo 3
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Para ler Cara de um, focinho de outro!
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Ele era um cara legal! Um cara que metia a cara. Assim meio cara-de-pau, meio caradura. O tipo de cara Que não fica com cara de tacho Quando está cara a cara com o perigo. Era um cara que acertava de cara, Mas, de vez em quando, quebrava a cara. Dizem que era a cara do pai Tipo cara de um, focinho do outro. O pai do cara era um pouco careta. Mas o cara gostava do coroa Sabia que o coroa era um cara Que não ficava mudando de cara Nem com cara amarrada Nem com cara de quem comeu e não gostou. E o coroa gostava do cara, Da cara e da coragem do cara. Mas nunca teve cara De lhe dizer tudo isso na cara. Mas quem vê cara Não vê coração E os dois nunca ficaram cara a cara. O tempo então foi passando E o cara foi ficando coroa. E cada vez mais com a cara do coroa. Um dia, ele ligou pro coroa E falou, logo de cara: – Tô o maior coroa e o meu filho é a sua cara! E o vovô viu a uva. Aí, os dois foram jogar dama na praça E jogar conversa fora E tirar na cara ou coroa.... Se o carinha Era a cara do cara Ou a cara do coroa! Eles nunca descobriram Mas, a resposta... Estava na CARA! LINS, Guto. Cara de um focinho do outro. São Paulo: FTD, 1995.
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Recapitulando nosso aprendizado Um pouco do outro naquilo que você diz
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Este capítulo buscou compreender o olhar que leva alguém a escrever: o olhar sobre a linguagem e o olhar sobre o outro. Agora, vamos ter oportunidade de recapitular o que estudamos, aplicando-o na leitura de um poema narrativo.
Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. Manuel Bandeira. “Libertinagem”. In: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1990.
Keystone
MANUEL BANDEIRA (1886-1968) – Nasceu no Recife (PE). Integrou o movimento modernista de 1922, e sua obra abriu caminhos para experiências inovadoras. Fez uso sistemático do verso livre. Harmonizou a herança do lirismo português com a liberdade de criação própria de outro povo, o brasileiro, procurando sempre a simplicidade que o requinte permite.
Morro da Babilônia – Rio de Janeiro.
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Lagoa Rodrigo de Freitas – Rio de Janeiro.
Capítulo 3
30/6/2010 14:07:23
32. Dê a sua opinião, em classe, sobre o poema lido.
O poema que você acabou de ler, de Manuel Bandeira, é um poema narrativo, cujo narrador, em terceira pessoa, conta a desventurada vida de “João Gostoso”, que é o único personagem do enredo.
33. Identifique os dois espaços onde ocorrem as ações.
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O olhar de Manuel Bandeira sobre a vida é rápido e inquietante: do ponto de vista social, seu olhar é de denúncia das injustiças da realidade social brasileira e, linguisticamente, Manuel Bandeira mistura polifonicamente o poema com o jornal. O uso literal da palavra “gostoso” caracteriza alimentos de sabor agradável. No entanto, no texto, “gostoso” é um adjetivo polissêmico, que é usado em sentido conotativo. Funciona como uma espécie de apelido, quase um sobrenome de João, o que atribui à personagem características eróticas, pois “gostoso”, no seu uso conotativo, é uma palavra associada ao discurso erótico. No capítulo anterior, pudemos estudar como se escreve uma notícia de jornal. O poema mantém uma relação intertextual com as notícias jornalísticas policiais, como a que vamos ler em seguida:
Tentativa de suicídio A pronta ação de uma equipe do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar evitou que Maria Iursulina da Silva (32) cometesse suicídio no último domingo pela manhã. Maria Iursulina, que já tentou outras vezes contra sua vida, estava desta feita na ponte dos arcos pronta para se jogar no rio Iguaçu, quando uma equipe da PM a impediu de se atirar. Os bombeiros já se encontravam dentro do rio com uma embarcação para resgatá-la caso ela se jogasse. Agora Maria Iursulina será encaminhada para um tratamento psiquiátrico. O Comércio. São Paulo: 20-4-2000. Adaptação.
Reúna-se em dupla com o colega que foi seu parceiro na escrita da narrativa intertextual da Chapeuzinho Vermelho. Juntos resolvam as questões a seguir. 34. Encontrem as semelhanças e diferenças entre os dois textos: o poema de Manuel Bandeira e a reportagem policial do jornal O Comércio.
Poema tirado de uma notícia de jornal
Tentativa de suicídio
Enredo Caracterização das personagens Desfecho da narrativa Uso da linguagem Coerência
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35. Encontrem, no texto que a dupla escreveu, trechos que exemplifiquem o que se pede, justificando as escolhas feitas: a)
Coesão
b) Coerência
c)
Polissemia
d) Intertextualidade
36. A principal característica de uma notícia é a exatidão das informações, sem opiniões pessoais. Escrevam um pequeno texto, identificando de que forma o olhar de Manuel Bandeira sobre a realidade se diferencia daquele presente nas notícias que aparecem nos jornais, como “tentativa de suicídio”, por exemplo.
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Capítulo 3
30/6/2010 14:07:25
De olho no futuro Na hora de estudar... Em agosto de 2003, a revista Veja lançou uma edição especial voltada para os adolescentes. Um dos temas abordados era o das notas do boletim. Leia o artigo da revista.
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Boletim turbinado Qual o segredo para que um estudante melhore seu rendimento escolar? O drama da nota vermelha numa matéria ou o fiasco generalizado, daqueles de fazer o aluno esconder o boletim dos pais, podem ter várias explicações. A mais comum – faltou estudar mais – é relativamente simples de reverter. Basta um pouco mais de seriedade e dedicação para que os resultados apareçam. A questão é mais complexa quando o aluno passa horas debruçado sobre os livros e, mesmo assim, não consegue melhorar suas notas. Uma dica sugerida pelos que já deram a volta por cima é reavaliar o método de estudo. Henrique Copelli Zambon, de 16 anos, viu aumentar suas médias depois que se engajou na construção de um carro movido a energia solar. Com o trabalho escolar, ele passou a adotar nas outras disciplinas a mesma estratégia usada em Física. Hoje, Zambon concentra-se ao máximo na hora de estudar. Não leva mais dúvidas para casa e evita decorar a matéria. Foi-se o tempo em que os jovens encaravam os estudos com desinteresse, como se fossem apenas mais uma imposição dos pais. Levantamento com 2098 adolescentes de sete capitais indicou que, para 95% dos
entrevistados, estudar é a coisa mais importante da vida deles. A pesquisa mostrou ainda que a maioria é crítica em relação à qualidade de ensino, o que demonstra a determinação da nova geração de estudantes. Mesmo assim. há várias armadilhas no caminho da formação escolar – como as notas baixas. Elas costumam surgir com maior frequência na puberdade, quando o jovem passa por modificações significativas, como a transformação do corpo, o aumento do interesse pelo sexo oposto e a construção da identidade. O adolescente não entende por que tem de estudar tanto se existem coisas mais interessantes à sua volta. A participação dos pais pode ser decisiva nesse momento crucial do jovem. Cabe a eles manter um ambiente em casa que valorize o conhecimento e permita ao estudante estabelecer ligação entre os conteúdos aprendidos na escola e o mundo real. Tudo isso ajuda a despertar a curiosidade e o prazer de aprender. O bom desempenho dos alunos depende mais de motivação que de sua capacidade intelectual ou da qualidade da escola. Ou seja, basta um empurrão. Veja. São Paulo: Abril, ago. 2003.
37. Em sua opinião, o artigo reflete bem a realidade dos jovens estudantes? Por quê? 38. De seu ponto de vista, o que mais influencia os jovens no desejo de melhorar as notas: os pais, os amigos ou o vestibular? Por quê? 39. Retorne ao início da unidade 1: Um olhar sobre a comunicação. Ali você encontra um quadro esquemático dos principais conteúdos, reflexões e gêneros textuais considerados nesta unidade. Após analisar os diversos itens, responda em seu caderno: a) Que conteúdos estudados, na sua opinião, mereceriam uma nova explicação ou atividade de reforço? Por quê? b) Que reflexão(ões) considerou mais importante(s)? Por quê? c) Que gênero(s) textual(is) estudado(s) considera mais importante(s)? Por quê? d) Participou do desenvolvimento dos capítulos com interesse? Em que aspectos poderia melhorar a sua participação para a próxima unidade?
Um olhar sobre a comunicação
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Caiu no vestibular Vamos conferir os conhecimentos aprendidos nas lições anteriores, resolvendo questões que “caíram” nos principais vestibulares do País.
A crise
“– Perdão, cavalheiro, este osso é meu: eu o vi primeiro.” (Revista Fon-Fon. 6-6-1914)
Na charge de Raul, composta por título, desenho e legenda, há vários contrastes. O contraste que melhor reforça o título da charge é:
a) b) c) d)
um senhor de fraque e chapéu olha um mendigo; um homem e um cão disputam o mesmo alimento; um mendigo com fome faz uma frase polida e formal; o cão faminto olha para o mendigo e não para o osso.
2. (Fuvest)
História estranha Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de idade. Está com quarenta, quarenta e poucos. De repente dá com ele mesmo chutando uma bola perto de um banco onde está a sua babá fazendo tricô. Não tem a menor dúvida de que é ele mesmo. Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá. Tem uma vaga lembrança daquela cena. Um dia ele estava jogando bola no parque quando de repente aproximou-se um homem e... O homem aproxima-se dele mesmo. Ajoelha-se, põe as mãos nos seus ombros e olha nos seus olhos. Seus olhos se enchem de lágrimas. 94
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Sente uma coisa no peito. Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo. Como eu era inocente. Como os meus olhos eram limpos. O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente. Depois sai caminhando, chorando, sem olhar para trás. O garoto fica olhando para a sua figura que se afasta. Também se reconheceu. E fica pensando, aborrecido: quando eu tiver quarenta, quarenta e poucos anos, como eu vou ser sentimental! Verissimo, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola.
Unidade 1
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
1. (UERJ)
A estranheza dessa história deve-se, basicamente, ao fato de que nela a) há superposição de espaços sem que haja superposição de tempos. b) a memória afetiva faz um quarentão se lembrar de uma cena da infância. c) a narrativa é conduzida por vários narradores. d) o tempo é representado como irreversível.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
e) tempos distintos convergem e tornam-se simultâneos.
(PUC-MG)
Para responder às questões 3 e 4, leia a publicidade a seguir, que foi veiculada em um jornal de grande circulação.
o mundo tem um pouco. De médico e de louco, tod dico. Ele não tem nada de mé s um programa de TV, ma de a rav pe es cê vo e qu Tudo o no ar. o suficiente para colocar ninguém tinha sido louco BAND É BRASIL MARCOS MION h30 de segunda a sexta, às 20
3. Assinale a alternativa INCORRETA. a) Pode-se afirmar que, no texto, a oposição de sentido entre as figuras sociais do médico e do louco não é a oposição entre aquele que cura e o doente. b) O referente ao qual faz menção o vocábulo louco nas duas vezes em que este aparece no texto não é o mesmo. c) Considerando-se o que se diz nas duas primeiras linhas do texto, pode-se pressupor que, para o enunciador, Marcos Mion, porque não tem nada de médico, só pode ser louco. d) A conjunção mas, que aparece na 3ª linha, pode ser substituída pela conjunção e, sem que haja comprometimento de sentido. 4. Assinale a alternativa em que o vocábulo ou expressão que aparece entre parênteses NÃO possa substituir o termo extraído do texto. a) 1ª linha: todo mundo (qualquer pessoa).
b) 2ª linha: ele (o programa).
c) 3ª linha: ninguém (nenhum canal de TV).
d) 4ª linha: louco (corajoso).
Um olhar sobre a comunicação
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5. (UFMG)
Leia o texto e o verbete que se seguem:
TEXTO:
Tão comodamente que estava lendo, como quem viaja num raio de lua, num tapete mágico, num trenó, num sonho. Nem lia; deslizava. Quando de súbito a terrível palavra apareceu, apareceu e ficou, plantada ali diante de mim, focandome: ABSCÔNDITO. Que momento passei!... O momento de imobilidade e apreensivo de quando o
fotógrafo se posta atrás da máquina, envolvidos os dois no mesmo pano reto, como um duplo monstro misterioso e corcunda... O terrível silêncio do condenado ante o pelotão de fuzilamento, quando os soldados dormem na pontaria e o capitão vai gritar: Fogo! QUINTANA, M. Antologia poética. São Paulo: Ediouro, 1995, p. 39.
VERBETE: abscôndito [...] Do latim absconditus, a, um, escondido, invisível, secreto, part. pas. do verbo abscondere, esconder, ocultar, perder de vista. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro Salles; FRANCO, Francisco M. de Melo. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 29. (Fragmento)
REDIJA um texto, justificando o título “Trágico acidente de leitura”, utilizando, para isso, informações do verbete.
6. (Fuvest)
O autoclismo da retrete RIO DE JANEIRO – Em 1973, fui trabalhar numa revista brasileira editada em Lisboa. Logo no primeiro dia, tive uma amostra das deliciosas diferenças que nos separavam, a nós e aos portugueses, em matéria de língua. Houve um problema no 96
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banheiro da redação e eu disse à secretária: “Isabel, por favor, chame o bombeiro para consertar a descarga da privada.” Isabel franziu a testa e só entendeu as quatro primeiras palavras. Pelo visto, eu estava lhe pedindo que chamasse a Banda do Unidade 1
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Trágico acidente de leitura
Corpo de Bombeiros para dar um concerto particular de marchas e dobrados na redação. Por sorte, um colega brasileiro, em Lisboa havia algum tempo e já escolado nos meandros da língua, traduziu o
recado: “Isabel, chame o canalizador para reparar o autoclismo da retrete.” E só então o belo rosto de Isabel se iluminou. Ruy Castro. Folha de S.Paulo.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
a) Em São Paulo, entende-se por “encanador” o que, no Rio de Janeiro, se entende por “bombeiro” e, em Lisboa, por “canalizador”. Isso permitiria afirmar que, em algum desses lugares, ocorre um uso equivocado da língua portuguesa? Justifique sua resposta.
b) Uma reforma que uniformize a ortografia da língua portuguesa em todos os países que a utilizam evitaria o problema de comunicação ocorrido entre o jornalista e a secretária. Você concorda com essa afirmação? Justifique.
7. (Fuvest)
Para Pirandello, o cômico nasce de uma “percepção do contrário”, como no famoso exemplo de uma velha já decrépita que se cobre de maquiagem, veste-se como uma moça e pinta os cabelos. Ao se perceber que aquela senhora velha é o oposto do que uma respeitável velha senhora deveria ser, produzse o riso, que nasce da ruptura das expectativas, mas sobretudo do sentimento de superioridade. A “percepção do contrário” pode, porém, transformar-se num “sentimento do contrário” – quando aquele que
Adaptado de Elias Thomé Saliba. Raízes do riso.
a) Considerando o que o texto conceitua, explique brevemente qual a diferença essencial entre a “percepção do contrário” e o “sentimento do contrário”.
b) “Ao se perceber que aquela senhora velha é o oposto do que uma respeitável velha senhora deveria ser, produz-se o riso [...].” Sem prejuízo para o sentido do trecho acima, reescreva-o, substituindo “se perceber” e “produz-se” por formas verbais cujo sujeito seja nós e “é o oposto” por não corresponde. Faça as adaptações necessárias.
Um olhar sobre a comunicação
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ri procura entender as razões pelas quais a velha se mascara, na ilusão de reconquistar a juventude perdida. Nesse passo, a velha da anedota não mais está distante do sujeito que percebe, porque este pensa que também poderia estar no lugar da velha – e seu riso se mistura com a compreensão piedosa e se transforma num sorriso. Para passar da atitude cômica para a atitude humorística, é preciso renunciar ao distanciamento e ao sentimento de superioridade.
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Todo o trabalho desta unidade centra-se no objetivo de transmitir um olhar diferenciado sobre a língua portuguesa que nos permita intervir na vida, ajudando-nos a fazer do lugar onde vivemos, um momento melhor.
Capítulo 4 LINGUAGEM: LUZ DO MOMENTO Conteúdos: Gênero textual. Teoria da crônica. Conectivos temporais. Hipérbole. Personificação. Ironia. Reflexões: Desenvolvendo um olhar reflexivo sobre a sociedade. Ser coerente por meio da linguagem. Gêneros textuais: Crônica. Capítulo 5 LATIM EM PÓ: DA ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA AOS NOSSOS DIAS Conteúdos: A necessidade histórica da linguagem. O galegoportuguês. A lírica medieval. Estratégias de leitura e resumo. Gramática e variedades linguísticas. Reflexões: Paquera e relações sociais. Preconceito linguístico. A necessidade histórica da linguagem. Gêneros textuais: Seções de aconselhamento sentimental. Cantigas de amigo. Resumo. Capítulo 6 A literatura cai na boca do mundo Conteúdos: Literatura: fenômeno social e linguístico. A utilidade da literatura. O regionalismo brasileiro em Vidas secas. O adjetivo. Valor expressivo do adjetivo na produção textual. Referenciação. Reflexões: Literatura e problemas sociais. A necessidade da arte. Gêneros textuais: Resenha crítica. Fim da unidade 2 EM TEMPO COM O FUTURO Como resolver questões de múltipla escolha sobre interpretação de textos no vestibular? Questões de exames de acesso ao ensino superior.
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“Fui educado pela Imaginação Viajei pela mão dela sempre, Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso, E todos os dias têm essa janela por diante, E todas as horas parecem minhas dessa maneira”
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(Fernando Pessoa)
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Escrevia no espaço. Hoje grafo no tempo, Na pele, na palma, da pétala, Luz do momento. (Paulo Leminski)
O CONCEITO DE GÊNERO TEXTUAL Acompanhe, com atenção, um clássico da música popular brasileira, de autoria de Dorival Caymmi.
Vatapá Quem quiser vatapá, ô Que procure fazer Primeiro o fubá, depois o dendê Procure uma negra baiana, ô Que saiba mexer Que saiba mexer, que saiba mexer Procure uma negra baiana, ô Que saiba mexer Que saiba mexer, que saiba mexer Bota castanha de caju, um bocadinho mais Pimenta malagueta, um bocadinho mais Bota castanha de caju, um bocadinho mais Pimenta malagueta, um bocadinho mais Amendoim, camarão, rala um coco Na hora de machucar Sal com gengibre e cebola, ô iaiá Na hora de temperar Não pára de mexer, ô
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
LINGUAGEM: LUZ DO MOMENTO
Capítulo 4
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Que é pra não embolar Panela no fogo, não deixa queimar Com qualquer dez mil réis e uma nega, ô Se faz um vatapá, se faz um vatapá E que bom vatapá Com qualquer dez mil réis e uma nega, ô Se faz um vatapá, se faz um vatapá E que bom vatapá Bota castanha de caju, um bocadinho mais Pimenta malagueta, um bocadinho mais Bota castanha de caju, um bocadinho mais Pimenta malagueta, um bocadinho mais Amendoim, camarão, rala um coco Na hora de machucar Sal com gengibre e cebola, ô iaiá Na hora de temperar CAYMMI, Dorival (1943). In: Ney Matogrosso (Intérp.). Batuque. Rio de Janeiro: Universal Music, 2001.
Compare a letra de música com o texto a seguir, procurando semelhanças e diferenças entre os textos.
Receita de vatapá (Receita gentilmente cedida por Dona Dedé.)
Ingredientes 1 kg de farinha de trigo 1 kg de camarão seco com casca 1 vidro de óleo de dendê pequeno 1 vidro de leite de coco médio 2 pimentinhas-de-cheiro 2 cebolas 2 tomates sem sementes 1 pimentão (cortado miudinho) cheiro-verde a gosto Modo de preparo Descasque os camarões e deixe-os de molho por 15 minutos. Lave bem as cascas do camarão e, após, coloque-as para ferver. Escorra essa água e reserve. Em uma panela, ponha os temperos: óleo, alho, cebola, tomate, pimentão e a pimentinha. Refogue tudo isso e, depois, acrescente os camarões e a metade do óleo de dendê, deixando ferver um pouco essa mistura. Em seguida, bata no liquidificador o caldo do camarão e vá juntando, aos poucos, a farinha de trigo. Nessa mistura, adicione o restante do óleo de dendê, leve ao fogo e mexa até engrossar. Quando formar um “mingau”, coloque o refogado do camarão. Continue mexendo mais até ferver novamente. No fim, acrescente o cheiro-verde. Como pode reparar, embora o tema seja o mesmo, o preparo do vatapá, os dois textos são muito diferentes entre si.
Linguagem: luz do momento
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1. Identifique diferenças entre os dois textos e complete a tabela. Letra de música X Receita culinária – Principais diferenças
Letra de música
Receita culinária
Estilo Forma como são construídos Função na sociedade
Instrucional (dá ordens), claro, procurando não deixar dúvidas. Uso do imperativo.
Em estrofes com repetições e rima com refrão.
Todas as atividades humanas estão relacionadas com o uso de linguagens em textos de acordo com as diferentes atividades humanas. Isso permite que os textos possam ser classificados em grupos ou gêneros de acordo com a sua função na sociedade. No dia a dia, somos confrontados com variadíssimos gêneros textuais: enigmas, piadas, poemas, explicações, conversas telefônicas, artigos de jornal, ordens, catálogos, receitas culinárias, etc. Gêneros: tipos de textos agrupados a partir do uso da língua de acordo com as atividades humanas. São classificados de acordo com o conteúdo, o estilo e a forma como os textos são construídos.
A variedade de gêneros textuais na sociedade é infinita, pois o ser humano não para de realizar novas conquistas, necessitando sempre de novos gêneros. Por exemplo, antes da invenção do computador, não havia os variados gêneros textuais ligados à computação, que incluem desde os manuais para aprender novas linguagens até aqueles próprios da Internet. Além disso, quando a necessidade de um determinado gênero textual acaba, esse desaparece do uso cotidiano.
A CRÔNICA
A crônica é um gênero textual que se desenvolveu no Brasil, a partir de meados do século XIX. A seguir, você vai ler uma divertida crônica de Walcyr Carrasco.
Neste capítulo, vamos estudar um gênero textual ligado ao tempo presente em que vivemos: a crônica.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A receita do vatapá como pretexto para se falar de uma forma “baiana” de ver a vida.
Conteúdo
Amores grisalhos Quando cheguei em casa, minha mãe colocou o tricô de lado, ajeitou os óculos e disse, com voz trêmula: – Preciso falar com você. “Lá vem problema”, refleti, com a lógica dos filhos. Quando alguém com 65 anos vem visitar o rebento e pede conversa séria, já se imagina algum achaque da velhice. Porém, quem quase teve um enfarte fui eu, ao ouvir a verdade dos fatos. 102
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Capítulo 4
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– Estou namorando. – O quê, mamãe? – Por que esse espanto, sou viúva, não tenho o direito? Suspirei, surpreso com as voltas que o mundo dá. Tivemos a mesma conversa, com os papéis trocados, quando eu tinha uns 12 anos. Na época, ela se revoltou com a minha escolha: – Justo aquela? Uma menina sem sal e sem açúcar! Agora cabia a mim opinar. Quis saber quem era. – Um senhor do prédio vizinho. Foi ferroviário, como seu pai. Ele me trata bem: todo dia me traz um agrado. Ontem me deu três mamões papaia. “Pelo menos, esperto ele é”, pensei intimamente. “Ela sempre foi prática. Nunca gostou de flores.” Resolvi. – Você gosta dele, mãe? – Adoro. – Então vá em frente. Muitas amigas minhas de 30 têm menos sorte. Ela retomou o tricô com um sorriso no rosto enrugado. Mais tarde, encontrei com uma amiga. Narrei o episódio. Ela espantou-se. – Você não ficou preocupado? – Se fosse um surfista de 25, talvez eu estivesse, e muito. Mas ele tem 63. Nos dias que se seguiram, surpreendi-me com o choque das pessoas. – Mas como, namorando com 65 anos? Não faz mal? – gritou uma conhecida. Um amigo cortara relações com a mãe viúva quando ela se casou de novo. – Não piso mais na casa dela. Não suporto aquele homem. – Quem tem de suportar é ela, não você – retruquei. Outro me confessou que, quando a mãe quis casar-se, há dez anos, foi tal o escândalo provocado por ele e pelos irmãos que a pobre senhora desistiu. Atualmente, ela não se aguenta de solidão, porque os filhos jamais podem visitá-la. O rapaz gemeu: – A gente devia ter permitido. Teria sido melhor. Também ouvi falar de vários casais que se apaixonaram depois dos 70. Minha geração viveu a revolução sexual. Talvez a dos meus pais esteja, agora, entrando nas trincheiras. É algo que ocorre apenas nas grandes cidades, como São Paulo, onde ninguém tem tempo para ninguém, e os velhos acabam sozinhos. Não é à toa que gente de cabelo branco anda em busca de novas emoções. O grande problema são os filhos. Gente séria que, na adolescência, andou queimando sutiã e ouvindo rock and roll agora reclama quando os pais entram num grupo da terceira idade e renascem. E o caso de uma advogada, ex-hippie: – Mãe, quando eu era mocinha, você me proibia de entrar em carro de namorado. Agora, tingiu o cabelo, está usando minissaia e se inscreveu num curso de dança de salão! Linguagem: luz do momento
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CARRASCO, Walcyr. O golpe do aniversariante e outras crônicas. São Paulo: Ática, 2000.
WALCYR CARRASCO – Jornalista e autor de peças de teatro e livros infanto-juvenis. Escreve também minisséries para a televisão e telenovelas. 2. Discuta, em classe, a sua compreensão do texto. O texto retrata uma situação do cotidiano. A situação comunicativa é clara: uma mãe idosa anuncia a seu filho que ela está namorando. Os pais envelhecem e, se estão novamente sozinhos, separados ou viúvos, muitas vezes, desejam voltar a se casar. Mesmo quando os pais são mais novos, nunca é muito fácil para o filho ver seu pai ou sua mãe casando com outra pessoa, por melhor que ela seja. Com o passar dos anos, contudo, a sensação de mal-estar pode ficar pior, como o olhar crítico de Walcyr Carrasco consegue captar na crônica que lemos.
Gostou da crônica de Walcyr? Na biblioteca de sua escola ou nas livrarias de sua cidade, certamente, encontrará diversos livros de crônicas para ler e passar bons momentos.
3. Com base na crônica que lemos, preencha o quadro a seguir.
Quais as personagens envolvidas?
Qual o acontecimento narrado?
Em que lugar ocorre ?
Quanto tempo passa?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
– Quero curtir enquanto é tempo. Aprendi rumba! Saiu, balançando as cadeiras. Revolta pelas repressões do passado ou inveja porque a vida dos pais está ficando muito mais interessante do que a própria? Por que não, afinal? O melhor de tudo é que as histórias de amor provectas tendem a ser mais duradouras. Nessa fase, ninguém tem disposição para ficar namorando e separando, e um tende a relevar as manias do outro. Quem criou filhos como eu e meus amigos deve ter mesmo uma paciência inesgotável. Por falar nisso, e minha mãe? A história que contei tem cinco anos. Tirou a roupa escura, pintou as unhas e continua apaixonada. Sempre, muito feliz.
Que reflexão sobre o comportamento humano nos apresenta o narrador?
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Capítulo 4
30/6/2010 14:07:57
A crônica é um gênero particular de texto narrativo. A origem da palavra “crônica” é grega, de chronos, que significa tempo. Uma das características definidoras da crônica é o seu caráter atual: fatos atuais são apresentados ao leitor, acompanhados de uma reflexão mais abrangente do escritor sobre o comportamento humano. A origem da crônica brasileira nos leva ao século XIX, a um gênero anterior chamado folhetim. O folhetim originou-se da tentativa de envolver, em um único texto, a criação literária e a atividade jornalística. Por volta de 1854, um importante escritor brasileiro, José de Alencar, preocupava-se em seguir as regras de um tipo de folhetim caracterizado por obrigar o escritor a ser sensível aos acontecimentos de sua época, transitando entre a comédia e a seriedade, com graça e delicadeza. Por volta de 1859, Machado de Assis, outro importante escritor, ocupava-se em escrever tais folhetins. Para Machado, o folhetim resultaria da mistura “do útil e do fútil”. É Machado de Assis quem fornece o modelo de crônica, que muitos escritores brasileiros no século XX vão escrever. O folhetim foi misturando, cada vez mais, características próprias do texto jornalístico, como o conteúdo noticioso, amplo, crítico e informativo, com a imaginação, reflexão, graça e bom gosto presentes nos textos literários. Assim, o folhetim evoluiu para crônica, conservando, no entanto, a linguagem cotidiana e o tom informal, chamando o leitor para a reflexão crítica e para a poesia. Além disso, é bom lembrar que a crônica é um gênero textual tipicamente brasileiro.
Crônica: um gênero textual caracterizado por representar um olhar diferenciado do autor, em que se revelam reflexões críticas e até poéticas sobre aspectos do comportamento humano. Trata de variados assuntos, sem considerar o tempo, o espaço ou as personagens, embora, de um modo geral, traga para a realidade presente da emoção um acontecimento que, a princípio, parecia menor e quase sem importância. Por isso, recria a realidade, fazendo o leitor refletir.
Como você notou, Walcir Carrasco critica um comportamento social característico do momento em que vive. Toda crônica procura surpreender determinados momentos da vida presente que merecem ficar na história... 4. Procure responder oralmente: • Que imagem você formou do narrador quanto à idade que ele tem e à forma como ele vê a vida? • Que elementos do texto contribuíram para formar essa imagem? Essa preocupação em olhar criticamente a realidade não é uma característica apenas dos textos verbais. 5. Observe a ilustração: que ideias sobre a vida contemporânea ela lhe transmite? EDWARD HOPPER (1882-1967) – O pintor estadunidense retratou, de forma excepcional, a solidão e o anonimato presente nas grandes cidades.
Hopper, Edward. Hotel Room (1931). Madri: Museo Thyssen-Bornemisza.
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30/6/2010 14:08:00
Neste quadro dos anos 30 do século passado, Edward Hopper, um grande nome da pintura norte-americana, retrata a solidão e o anonimato: uma mulher, de quem não sabemos nada, aparece diante do leitor do quadro, sentada numa cama, lendo um papel amarelado (um folheto? uma carta?). Ela está em um quarto simples de hotel, sem muita bagagem e ainda por se arrumar.
A identidade da retratada parece ter grande importância. O único contato com o outro que a personagem tem é por meio do papel amarelado que ela lê atentamente. Hopper capta um flagrante da vida humana, que ilustra bem como a vida no século XX (e também neste século XXI) não oferece estabilidade às pessoas: tudo se apresenta aos nossos olhos como passageiro, rápido, anônimo, solitário. Essa instabilidade é facilmente identificada no nosso cotidiano. Por exemplo, muitos jovens “ficam” com outros de que não sabem nem o nome, apenas por uns momentos, para satisfazer desejos pessoais ou por vaidade ou modismo. Podemos considerar esse quadro como uma crônica em forma de pintura, cujo autor nos conta um pouco da solidão humana da personagem, a qual, de certo modo, acaba por representar um pouco de cada um de nós, da sociedade que se desenvolveu nas cidades grandes, voltada apenas para a fugacidade da vida e alimentando uma profunda solidão humana. Leia com atenção esta crônica:
Declaração de amor Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo. Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope. Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança da língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida. Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega. Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
6. Elabore duas perguntas que gostaria de fazer, se pudesse, ao pintor desse quadro.
LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
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Capítulo 4
30/6/2010 14:08:01
CLARICE LISPECTOR (1920-1977) – Portadora de um estilo todo pessoal, Clarice construiu comparações pouco comuns, entregando-se ao fluir de sua consciência. Ler Clarice é semelhante a passear nos pensamentos de uma pessoa muito sensível e reflexiva. Em seus textos, valoriza-se o espírito humano, caminhante nos campos da memória e da autoanálise, procurando uma salvação que ocorre por meio da linguagem – neste caso, a língua portuguesa que ela tanto amava.
7. Relacione a sua compreensão da crônica com o estudo que temos feito até agora da língua portuguesa. 8. Que semelhanças e diferenças você encontra entre a crônica de Walcyr Carrasco e a de Clarice Lispector?
As crônicas podem ser divididas de vários modos. Uma possibilidade é dividi-las em narrativas, líricas e lírico-narrativas.
Personificação ou prosopopeia: consiste em atribuir linguagem, sentimentos e ações próprios de seres humanos a seres inanimados ou irracionais, como quando utilizamos a frase “um passarinho me contou”.
Numa crônica narrativa, sempre há personagens, reais ou inventados, uma sequência de acontecimentos que acontecem em um determinado tempo e lugar, e que são contados pelo narrador. A crônica lírica, escrita sempre em primeira pessoa, não procura narrar um fato, mas descrever uma impressão íntima. Repare que a crônica de Clarice Lispector, embora tenha como tema a língua portuguesa, centra-se na relação emocional do cronista, com o discurso do texto feito em primeira pessoa (eu). Esse voltar-se para dentro de si é a principal característica da crônica lírica e a distingue da narrativa. Em comum, o fato de apresentarem uma reflexão atual sobre um determinado assunto. É também esse voltar-se para dentro de si mesmo que leva a cronista, em “declaração de amor” a pensar a língua portuguesa como um ser vivo. Ao afirmar “Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisto de uma frase”, a cronista personifica a língua portuguesa, atribuindo-lhe características (que são) próprias dos seres humanos como reagir diante de um pensamento ou “assustar-se”.
9. Qual a importância, dentro da crônica de Clarice Lispector, do uso da prosopopeia?
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30/6/2010 14:08:01
No entanto, o que dizer de uma crônica lírico-narrativa?
Rio de Janeiro, por volta de 1950.
Pequena viagem Há, pelo menos, dois tipos de viajantes: os que desejam viajar e os que desejam chegar. Os segundos procuram o meio de transporte mais rápido, reclinam-se, fecham os olhos e esperam pela chegada ao ponto de destino. São criaturas tranquilas, embora velozes; não se querem desgastar na observação do caminho. Tendo passado por ele uma vez, nem admitem que se tenha produzido alguma alteração, nem imaginam que se venha a produzir. Quando outra pessoa mais sensível lhes fala de qualquer mudança, de qualquer novidade, ficam admiradíssimos. Não reparam que as árvores mudam de cor segundo a época, não descobrem esta ou aquela construção recente, e seguem felizes, pois para eles o mundo é absolutamente estável e a paisagem também. E, de certo modo, eles próprios. Há, porém, os infelizes imaginativos, que notam a ausência de qualquer marco da estrada, de certos anúncios, que descobrem conselhos novos da sinalização, reparam na extensão de uma pista, na erosão de um morro, na magreza do pobre bezerrinho que se vai encostando, como um filho triste, ao flanco de sua mãe igualmente desamparada. Hoje descobri que a minha cidade está ficando completamente mudada. Há muito tempo que eu não saía de casa: e eis que me aparecem vias, “trevos”, largos espaços vazios de casas, homens e máquinas em plena atividade... Tudo isto deve ser para as festas do Quarto Centenário. Se chegarmos até lá (as obras e eu), vai ser uma grande alegria, pois esta chamada “cidade maravilhosa” passou por grandes vexames, toda esburacada, suja, poeirenta. Chegaram até a parodiar-lhe o hino, paródia que não transcrevo (embora na época fosse perfeitamente adequada) para não tripudiar sobre uma cidade que nasceu bela e honrada, tem os títulos de leal e heroica, e, por patrono, São Sebastião, um dos santos mais simpáticos e sofredores entre os grandes da corte celeste. Assim fui até os limites da cidade: tudo era verde, azul, dourado, com os laranjais subindo pelos morros; um caboclinho a pular no alto do seu cavalo desconfiado; um preto de uns duzentos e cinquenta 108
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Os gêneros textuais estão sempre mudando, muitas vezes, mesclando-se, em outras, adaptando-se aos novos desafios que o ser humano aceita enfrentar. É o que verificamos na crônica a seguir de Cecília Meireles.
Capítulo 4
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anos de idade a fumar à porta do seu casebre, com amável tranquilidade, e a olhar para os automobilistas com expressão provavelmente semelhante à dos tamoios, ao verem chegar as naus francesas... Este Brasil deslumbrante ora se parece com a Índia, ora com a Holanda de vastos campos, e quando aparece uma velha casa por entre árvores lustrosas, é como se passássemos por certos lugares de Portugal. Às vezes aparecem rebanhos esqueléticos, cavalos soltos, tangedores de bandeirinha vermelha, e, em dado momento, parece que o tempo andou para trás, e voltamos ao século XVIII. Mocinhas muito escurinhas, com vestidos vermelhos e amarelos vão sorrindo para este mundo, felizes só por existirem, e sem conhecerem essas atrapalhações do mundo político e moral que periodicamente nos amarguram, produzem úlceras e outros distúrbios sentimentais. E agora cheguei a esta cidade encantadora, com chaminés, fábricas, de nuvens brancas e róseas: uma cidade que vai sempre mudando, que agora já conta com alguns arranha-céus (bem-comportados na altura e cores), e onde os operários possuem suas pequenas casas tão lindas, brancas, cor-de-rosa e azuis, com sua varandinha, seu jardim, suas cadeiras de ferro, seus degraus, seus portões... É verdade que “até nas flores se nota a diferença da sorte”, e, entre os moradores de uma cidade qualquer, as diferenças de gosto, pois tendo todas essas casas as mesmas proporções, e aproximadamente as mesmas disposições, umas estão com os seus jardins virentes, as suas cortinas limpas, os seus vasos de plantas bem cuidadas, enquanto outras, de tanto abandono causam tristeza ao passante. Enfim, é como se eu hoje tivesse tirado férias, e saísse pelo mundo apenas para fruí-lo. Mas os senhores estão vendo que as férias já viraram artigo, isto é, trabalho. Dada a beleza do passeio, alegra-me comunicá-lo aos sedentários, aos que viajam muito depressa, aos que não olham para as galantarias deste Brasil. Venham todos alegrar seus olhos nestes verdes e azuis, nesta luz dourada, nestas águas cristalinas do caminho, e na cidade que agora começa docemente a escurecer. MEIRELES, Cecília. Crônicas de viagem, 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
CECÍLIA MEIRELES (1901-1964) – Nasceu no Rio de Janeiro, foi criada por uma avó materna, natural dos Açores (Portugal). Exerceu o magistério como professora primária e universitária. Viajou muito por diversos países, sobretudo México, Índia e Portugal. Seu estilo é intimista, dando a impressão ao leitor de alguém muito sensível, confidenciando segredos, sonhos, pensamentos e meditações. Ao mesmo tempo, em seus textos, encontramos uma grande preocupação com os problemas e as injustiças sociais de seu tempo. A crônica de Cecília Meireles é sensível como a maior parte da sua obra. Inicia-se com uma reflexão sobre dois tipos de viajantes: “os que desejam viajar e os que desejam chegar”. Identifique claramente o que distingue um do outro e responda: 10. Com qual deles você mais se identifica? Por quê?
11. Com qual deles podemos identificar a cronista? Por quê?
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Rio de Janeiro, por volta de 1950.
A seguir, faz uma crítica: “Esta chamada ‘cidade maravilhosa’ passou por grandes vexames, toda esburacada, suja, poeirenta”, o que nos mostra que o estilo delicado de Cecília Meireles não é superficial nem escapista, fugindo da realidade. E assim vai, entremeando a narrativa do passeio com suas impressões pessoais extremamente íntimas sobre a cidade e os seus limites onde “tudo era verde, azul, dourado, com os laranjais subindo pelos morros; um caboclinho a pular no alto do seu cavalo desconfiado; um preto de uns duzentos e cinquenta anos de idade a fumar à porta do seu casebre”.
Hipérbole: consiste em expressar uma ideia com exagero, como quando se diz “eu já lhe falei mais de um milhão de vezes...”.
Repare que, neste momento, a cronista exagera na idade do homem que vê fumando, afirmando que ele tem “duzentos e cinquenta anos”. 12. Qual a função dessa hipérbole dentro do texto?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A cronista nos descreve um passeio a partir da área urbana do Rio de Janeiro “até os limites da cidade”. Esse passeio constitui um eixo narrativo da crônica. Nele percebemos a saída da cronista de sua casa, de onde já há muito tempo não saía e o seu espanto diante das mudanças que estavam ocorrendo ao seu redor. A cronista procura a causa: “Tudo isto deve ser para as festas do Quarto Centenário” da cidade. Não podemos esquecer que a crônica de Cecília Meireles foi originalmente escrita em 1951.
13. A partir do que estudamos até aqui, o que seria uma “crônica lírico-narrativa”?
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Capítulo 4
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A distinção entre crônica lírico-narrativa e as outras crônicas não é fundamental neste nosso estudo do gênero crônica. No entanto, é importante que você note que sempre é possível modificar e ampliar os gêneros existentes. 14. Nos dois primeiros parágrafos, alguns termos foram postos em negrito. Recorra ao capítulo anterior (na parte em que estudamos coesão) para identificar as relações que tais palavras estabelecem dentro do texto.
os:
quando:
pois:
porém:
que:
TAREFA Procure, em livros, jornais e revistas, diversas crônicas. Traga-as para a próxima aula.
Trabalhando em equipe Forme grupos com os colegas. Vocês vão examinar um conjunto de crônicas correspondente ao número de elementos. Assim, se o seu grupo tiver quatro indivíduos trabalhando nele, vocês vão examinar quatro crônicas, se tiver três elementos, vocês examinam três e assim por diante. Identifiquem claramente que crônicas vocês estão analisando, depois encontrem passagens nos textos estudados, que comprovem as seguintes características de uma crônica: • Toda crônica tem caráter atual. • Em uma crônica, os fatos revelam um olhar crítico do autor sobre o comportamento humano.
Uma crônica portuguesa, com certeza... A seguir, vamos enfrentar uma crônica narrativa lusitana. O fato de ser escrita em português europeu, como vimos, não irá impedir que nós possamos compreender o seu sentido, embora exija, de nossa parte, uma maior atenção.
Linguagem: luz do momento
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Amoreiras Shopping Center (Lisboa).
Aos domingos a seguir ao almoço visto o fato de treino roxo e verde e os sapatos de ténis azuis, a Fernanda veste o fato de treino roxo e verde e os sapatos de salto alto do casamento, subo o fecho éclair até ao pescoço e ponho o fio de ouro com a medalha por fora, a Fernanda sobe o fecho éclair até ao pescoço e põe os dois fios de ouro com a medalha e o colar da madrinha por fora, tiramos o Roberto Carlos do berço, metemos-lhe o laço de cetim branco na cabeça, saímos de Alverca, apanhamos os meus sogros em Santa Iria de Azoia e passamos o domingo no Centro Comercial.
Pausa para pensar na leitura do texto 15. Encontre cinco palavras ou expressões que identificam o texto como sendo escrito dentro dos padrões lusitanos.
A Fernanda senta-se atrás no Seat Ibiza, com o menino e a Dona Cinda, o senhor Borges ocupa o lugar ao meu lado, de Record no sovaco, fato completo, gravata de flores prateadas e chapéu tirolês, ajuda-me no estacionamento das Amoreiras a tirar o carrinho da mala e todos os automóveis do parque são Seat Ibiza, todos têm mantas alentejanas nos bancos, todos apresentam um autocolante no vidro que diz Não Me Siga Que Eu Ando Perdido, todos possuem uma rodela Vida Curta na guarda-lamas direito e uma rodela Vida Longa no guarda-lamas esquerdo, de todos os espelhos retrovisores se pendura o mesmo boneco de peluche, todos exibem junto à matrícula com o círculo de estrelinhas da Europa a mesma rapariga de Stetson e cabelo comprido, todos trouxeram o Record, os sogros e o filho, todos devem habitar em Alverca e todos circulam a tarde inteira no Centro de forma idêntica à nossa: adiante a Fernanda e a Dona Cinda, de raposas acrílicas, a coxear por causa de uma unha encravada, empurrando o Roberto Carlos que esperneia, desfeito num berreiro, com a chupeta pendurada da nuca por uma corrente, e o Senhor Borges e eu vinte metros atrás, preocupados com a carreira do Olivais e Moscavide que perdeu em Alhandra apesar de ter comprado um avançado caboverdiano ao Arrentela e que em vez de jogar à bola leva as noites a mariscar tremoços na cervejaria, de brinco na orelha, no meio dos amigos pretos, com o tampo da mesa coberto de canecas vazias.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Os meus domingos
Pausa para pensar na leitura do texto 16. Por que esse trecho repete tantas vezes o termo “todos”?
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Capítulo 4
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17. Uma passagem difícil de entender no texto está logo no começo do segundo parágrafo: “O senhor Borges ocupa o lugar ao meu lado, de Record no sovaco”. Talvez, por causa da palavra “sovaco”, pensássemos em Record como a marca de um desodorante português. Mas, se pudéssemos ir a uma banca em Portugal, logo veríamos o jornal Record exposto bem à vista e entenderíamos melhor o texto. Neste caso, como poderíamos relacionar as dificuldades que nós brasileiros temos em entender o texto do Lobo Antunes com o contexto em que a obra foi produzida? Explique.
Como a Fernanda e a Dona Cinda param em todas as montras de móveis e boutiques a bisbilhotarem quinanes e kispos, acontece enganar-me e trocá-las por outra sogra acrílica, outra mulher roxa e verde e outra criança de laço, e sucede-me passar horas num banco, sem dar pela diferença, com uma Fátima e uma Dona Deta, a planear as prestações de um micro-ondas e de um frigorífico novo, seguir para Alverca, jantar o frango da Casa de Pasto e a garrafa de Sagres do costume, e só na terça-feira, quando vou a sair para a Junta, a minha esposa informa, envergonhada, que mora em Loures ou na Bobadela, o Roberto Carlos se chama Bruno Miguel, e deu pelo engano, há cinco minutos, porque a minha Última Ceia é de estanho e a dela de bronze. Claro que corrigimos o erro no domingo seguinte, em que volto para casa com uma Celeste e um Marco Paulo no Seat, a que juntei (será o meu Seat Ibiza?) um novo autocolante que deseja Espero Não Te Conhecer Por Acidente.
Pausa para pensar na leitura do texto 18. É natural alguém entrar no Shopping Center com uma Fernanda e sair dali com uma Fátima sem perceber a diferença? Que crítica o texto apresenta?
Esta semana a minha mulher chama-se Milá, o meu filho Jorge Fernando e ando a pagar um apartamento em Rio de Mouro. Como esta sempre cozinha melhor do que as outras não faço tenções de voltar às Amoreiras. Se ela gostar de telenovelas só tornamos a sair daqui a muitos anos, quando o miúdo usar um fato de treino roxo e verde, eu encontrar no armário do quarto um casaco de raposas acrílicas e um chapéu tirolês, e escutar lá em baixo, a seguir ao almoço, a buzina do Seat Ibiza da minha nora. Como nessa altura devo andar a dieta de sal por causa da tensão qualquer peixe grelhado me serve. ANTUNES, António Lobo. Livro de crónicas. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1998.
LOBO ANTUNES (1942- ) – Nasceu em Lisboa, é médico psiquiatra. Até o momento da escrita deste texto, vive em Lisboa e é autor de 16 romances. É considerado uma das maiores figuras da atual literatura europeia. “Escrever é o único sentido da minha vida”, diz Lobo Antunes em uma de suas entrevistas. Autor de Memória de elefante (1979), Fado alexandrino (1983), Tratado das paixões da alma (1990), Não entres tão depressa nessa noite escura (2000). Os temas de seus romances versam sobre questões sociais e políticas da realidade portuguesa, sem se esquecer do lado humano de quem as vive.
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20. Que aspectos do texto permitem identificá-lo como
Ocorre ironia quando aquele que fala afirma algo que, de forma clara e evidente, se nota não ser possível, provável ou real. Quando, por exemplo, uma pessoa que está almoçando conosco põe pouca comida no prato e alguém diz “Que fome, heim!”. Nessa situação, é fácil notar a ironia. Pelo contexto, constatamos não ser verdade a afirmação que se acabou de fazer. Se o objetivo é que o receptor não descubra a verdade. Se disfarçamos o que dizemos para que o outro não descubra o equívoco, então não temos mais ironia e sim mentira. Como se vê, a ironia é uma construção do enunciado, ao levar em conta o destinatário, a mensagem e o contexto. A ironia pode ser satírica e até grosseira ou crítica de uma determinada situação social, como é o caso da crônica de Lobo Antunes.
a) uma crônica
b) uma narrativa
21. Podemos afirmar que o texto é irônico pois: a) Apresenta como realidade uma situação que o leitor claramente percebe que não é real. b) É maldoso, ao afirmar calúnias e difamações sobre as mulheres. c) Pretende enganar o leitor, tentando conhecê-lo de todas as formas de uma realidade impossível. d) Procura insinuar que os pais não se preocupam com seus filhos. 22. Justifique a sua escolha.
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19. Com a ajuda de seu professor, transcreva o último parágrafo, substituindo os termos em negrito por palavras ou expressões de uso mais comum na região em que vive.
Capítulo 4
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Para escrever a sua crônica, Lobo Antunes utilizou-se de diversos recursos da linguagem. Entre eles, a repetição e a ironia. Da mesma forma, Cecília Meireles se utilizou, entre outros elementos, da hipérbole. Observe as reproduções a seguir. 1
2
1. Hopper, Edward. Gas (1940). Nova Iorque: The Museum of Modern Art.
3
2. Hopper, Edward. Office at Night (1940). Mineápoles: Walker Art Center. 3. Hopper, Edward. Nighthawks (1942). Chicago: The Art Institute of Chicago.
Forme dupla com um colega. A seguir, escolham uma das reproduções e procurem nela algo que chame a atenção de vocês, que inquiete e, ao mesmo tempo, reflita a sociedade atual. A partir do que consideraram inquietante na pintura de Hopper, vocês vão escrever uma crônica. Sejam criativos, mas se lembrem de que, se desejarem usar ironia, o alvo do olhar irônico deve ser a sociedade e não um indivíduo específico como um colega ou professor. Procurem seguir a narrativa em primeira pessoa (eu), assim como fizeram Lobo Antunes e Walcyr Carrasco. Embora, realmente, não seja obrigatório que uma crônica seja em primeira pessoa. Terminado o trabalho, uma dupla troca a sua crônica com outra, procurando sugestões para melhorar o texto. Consultem também outras fontes, como livros de crônicas da biblioteca, para notar as possibilidades que podem usar. O centro do trabalho, no entanto, reside na capacidade de escrever crônicas, utilizando-se de variados recursos linguísticos, como Lobo Antunes usou a repetição e a ironia.
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MELHORANDO A COESÃO DO TEXTO: OS CONECTIVOS TEMPORAIS Todo texto une os diferentes enunciados que o compõem por meio de certos termos denominados conectivos. Estes estabelecem também relações de significado, tais como causa, finalidade, consequência, tempo, condição, etc. Tais conectivos abrangem as classes gramaticais das conjunções, principalmente, mas também das locuções conjuntivas, prepositivas e adverbiais que têm por função interconectar enunciados.
a) SIMULTANEIDADE: ocorre quando os eventos se realizam ao mesmo tempo. Exemplo 1: Ela tocava piano quando eu cheguei a casa. evento 1 evento 2
Observe que o evento 1 (Ela tocava piano) ocorre ao mesmo tempo do evento 2 (eu cheguei a casa).
Exemplo 2: Ela toca piano todas as vezes que eu chego a casa. evento 1 evento 2
Observe que o evento 1 (Ela toca piano) ocorre ao mesmo tempo do evento 2 (eu chego a casa).
23. Embora ambos os conectivos expressem simultaneidade, eles não são sinônimos. Explique que diferenças de sentido encontramos entre os dois.
Exemplo 3: Ela toca piano enquanto eu leio. evento 2 evento 1 24. Da mesma forma que nos exemplos anteriores, “enquanto” mantém uma relação de simultaneidade entre os eventos. Mas, que relação de significado específica mantém entre os eventos?
Outros conectivos temporais que expressam simultaneidade, ainda que com relações de significado diferentes são: ao mesmo tempo que, cada vez que, desde que, sempre que, tantas vezes quantas, etc.
b) ANTERIORIDADE: ocorre quando um evento se realiza antes de outro e essa diferença temporal é pertinente para o sentido do texto.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A função dos conectivos é unir e relacionar os enunciados de um texto, constituindo sentido e possibilitando o encadeamento por conexão. Para compreendermos como isso ocorre, estudaremos os conectivos temporais. Esses organizam-se em torno de algumas relações entre os enunciados que o autor do texto deseja ligar:
Exemplo: Brincaríamos muito antes que as aulas começassem. evento 1 evento 2
Observe que o evento 2 (as aulas começassem) somente inicia quando o evento 1 termina (brincaríamos muito). c) POSTERIORIDADE: ocorre quando um evento se realiza depois de outro. São conectivos de posterioridade: assim que, mal, apenas, depois que. Distinguem-se pelo fato de que indicam afastamentos temporais diferentes entre os eventos relacionados. 116
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Capítulo 4
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25. Observe as falas de dois irmãos que moram juntos, João e André:
João: Assim que cheguei à casa, o carteiro passou. André: Depois que cheguei à casa, o carteiro passou.
Quem chegou primeiro? Por quê?
d) TERMINATIVIDADE: marca o término de um evento.
Poderemos ler muito até que as aulas recomecem. evento 1 evento 2
26. Identifique os conectivos temporais do texto seguinte e determine que relações de sentido eles constroem dentro do texto.
Ela volta Fiquei triste mal ela partiu. Fico triste sempre que ela me abandona. Eu sei que ela volta. Que é assim mesmo. Mas nunca me acostumo. E sofro muito até que ela retorna. Ela entra por aquela porta ali, ó... E me olha, com aquele olhão grandão assim ó... e diz: “É, tem jeito não... minha raiva dura pouco”. Sei que ela volta, mas sou assim mesmo. Fico triste cada vez que ela me deixa. Depois não. Depois é só alegria. Era pior antes que eu percebesse que ela volta sempre. Eu ficava que não parava de beber. Era eu e a pinga. Agora não. Pego uma cervejinha e fico aqui olhando a porta e apenas ela se abre, eu volto a ser feliz. Landeira, José Luís. (Especialmente para este livro.)
Pausa para reflexão Em seu caderno, responda às questões a seguir. I. Indique o que aprendeu do que foi estudado neste capítulo. Evite consultar o material. Faça uso de sua memória. II. Que conteúdos estudados, na sua opinião, não foram bem compreendidos e merecem uma nova explicação ou atividade de reforço? III. Participou das atividades com interesse? Em que aspectos poderia melhorar a sua participação?
27. Reúna-se com o seu colega com o qual escreveu a crônica. O professor cuidará que as duplas troquem entre si as crônicas que escreveram. Leiam a crônica que os seus colegas fizeram e comentem o uso dos conectivos temporais: apontem as mudanças que permitiriam que o texto ficasse mais atrativo. Quando receberem o seu texto de volta, leiam os comentários que foram feitos e, com a orientação de seu professor, decidam quais são pertinentes. Reescrevam a crônica. Linguagem: luz do momento
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TRABALHANDO COM PROJETO Reúna-se ao seu grupo da agência publicitária para elaborar um projeto solicitado pela RSE. Trata-se de organizar grupos de estudo no primeiro ano do ensino médio. Os grupos devem funcionar em horários alternativos ao da escola e permitirem que os alunos possam acompanhar e aprofundar os conhecimentos desenvolvidos em sala de aula. Inicialmente, a agência publicitária deverá discutir questões que julgue pertinentes para elaborar um projeto dessa natureza. Algumas delas são dadas a seguir: Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
• Quantos elementos deve ter cada grupo de estudo? Por quê? • Com que periodicidade devem se reunir? Por quê? • Onde ocorrerão as reuniões? • Quem organizará os encontros? • Como se organizarão os encontros? Ou seja, que assuntos serão abordados e como eles serão conduzidos? • Quantos grupos de estudo serão formados? Outras:
Recapitulem a estrutura que alicerça a construção desse gênero textual, o projeto, e que analisamos nos capítulos precedentes. Façam as adaptações que julgarem necessárias, mas não descaracterizem o gênero textual. Sejam realistas nas propostas apresentadas, fundamentando-as tanto na prática e na realidade de sua comunidade como na teoria escrita, que poderá ser consultada na biblioteca da escola.
ESTRATÉGIAS DE LEITURA: Ler para quê? Quem lê, lê por algum motivo. Os diferentes motivos que levam as pessoas a procurar os mais variados gêneros textuais fazem com que nossas leituras também sejam diferentes. Não é a mesma coisa ler um projeto de pesquisa que uma história em quadrinhos. De acordo com o nosso propósito de leitura, vamos desenvolver estratégias diferentes de abordagem do texto. O gênero textual é um elemento muito importante a considerar nesse sentido, pois nossas expectativas se adaptam a essas estruturas textuais. Assim, se eu digo “leia esta receita culinária”, de imediato surgirão determinadas expectativas de leitura na mente do meu interlocutor. Ele se sentiria
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Capítulo 4
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muito surpreso (e, até, frustrado) se, ao ler uma receita culinária, encontra-se ali elementos próprios de um conto de fadas: Era uma vez dois Tomates que resolveram virar molho de pizza. Então um disse para o outro: “Precisamos de temperos! Vamos chamar o Orégano e a Pimenta Malagueta?”. Nisso, um Dente de Alho que passava por ali gritou: “Eu também quero entrar nessa pizza!” ao que os Tomates disseram: “Claro que sim, senhor Dente de Alho, e também a Salsinha!”. “Salsinha? Oba! Gosto muito dela!”, disse, todo contente, o Dente de Alho, “Mas temos de tomar cuidado com a bruxa má do bosque”, acrescentou. Os gêneros textuais funcionam, dessa forma, como esquemas de interpretação de um texto. Diante de uma receita culinária, esperamos que ela trate dos procedimentos de elaboração de um prato, seguindo uma estrutura organizada, formal e dividida em duas partes: ingredientes e modo de preparo. Já do projeto de pesquisa, esperamos que ele aborde um problema, explicando-nos o objetivo dessa pesquisa a ser feita, como se pretende abordar o fato tratado, que fontes se pretendem estudar e por que é importante depreender tempo e outros recursos nessa pesquisa. Por outro lado, pareceria estranho se o conteúdo da história da Cinderela não se ajustasse ao gênero conto de fadas, mas surgisse “presa” à estrutura projeto de pesquisa: Título do projeto: Cinderela: análise de caso Objetivo: possibilitar que Cinderela supere os obstáculos que a impedem de ser feliz, passando de órfã rejeitada pela madrasta malvada a princesa. Justificativa: Cinderela é uma jovem que apresenta as qualidades necessárias para que crianças, jovens e adultos se identifiquem e desejem que ela vença as condições desumanas de existência que incluem dormir nas cinzas de uma lareira. Metodologia: utilização de poderes mágicos por parte de uma fada madrinha reconhecida pela sua bondade e competência, embora sujeita a comportamentos moralistas que obrigam Cinderela a estar em casa antes da meia-noite. Fontes: um narrador que tudo sabe apresenta os principais episódios da narrativa. Nossas expectativas sobre o que um projeto e um conto de fadas devem conter são diferentes, e a leitura é um processo contínuo de expectativas e previsões que vão sendo verificadas. Claro que isso exige do leitor conhecer a função do gênero textual que se propõe a ler. Ou seja, antes de ler qualquer texto, é bom fazer a pergunta: “para que vou ler esse texto?” Ler para obter uma informação, para seguir instruções, para aprender, para resumir, para construir nossa cultura, para distrairmo-nos, para... a lista é longa e se relaciona com os diferentes gêneros textuais que existem na sociedade. A leitura da lista telefônica é uma leitura para obter uma informação. Essa espécie de leitura se caracteriza pela busca de um dado, com o simultâneo desprezo pelos outros. Não me interessa saber todos os nomes que compõem a lista até chegar àquele que desejo. Eu simplesmente ignoro os nomes da lista que não me convêm. O mesmo ocorre quando consulto um jornal para saber em que cinema está passando aquele filme a que desejo assistir ou quando procuro um verbete no dicionário.
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A leitura de um poema é uma leitura que nos permite construir nossa própria cultura, em um nível de profundidade muito diferente daquele que se exige de nós quando lemos para obter uma informação. Como vimos, a necessidade de interagirmos com o texto é muito maior e precisamos fazer um uso mais produtivo de nossos conhecimentos de mundo e de linguagem.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Ler para aprender é a grande necessidade da escola. Quando estudamos, podemos fazer uma simples leitura geral do texto a fim de situá-lo no conjunto da matéria explicada. Lamentavelmente, muitos alunos param aí, achando que, com essa leitura superficial, já estudaram. Alguns até leem e releem superficialmente o texto tantas vezes, que chegam a decorar alguns trechos do que leram. Em todos os casos faltou uma leitura mais profunda, que leve o leitor a se perguntar sobre o que lê, a fazer pequenas sínteses ou resumos durante a leitura, a relacionar o que está lendo sobre o que já sabe sobre o assunto, a rever os novos termos, a sublinhar a anotar o que considera importante. Antes de tudo, no entanto, ler para aprender exige que se determine o que se deseja aprender especificamente. Por exemplo: “ao final da leitura deste capítulo, eu desejo identificar o gênero textual crônica quando estiver diante dele e relacioná-lo com outros gêneros textuais”. Fazendo assim, certamente você melhorará seu nível de leitura e sentirá maior prazer nessa importante época de sua vida de formação educativa.
PARA LER Brincadeira Começou como uma brincadeira. Telefonou para um conhecido e disse: – Eu sei de tudo. Depois de um silêncio, o outro disse: – Como é que você soube? – Não interessa. Sei de tudo. – Me faz um favor. Não espalha. – Vou pensar. – Por amor de Deus. – Está bem. Mas olhe lá, hein? Descobriu que tinha poder sobre as pessoas. – Sei de tudo. – Co-omo? – Sei de tudo. – Tudo o quê? – Você sabe. – Mas é impossível. Como é que você descobriu? A reação das pessoas variava. Algumas perguntavam em seguida: – Alguém mais sabe? Outras se tornavam agressivas: – Está bem, você sabe. E daí? – Daí, nada. Só queria que você soubesse que eu sei. 120
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Capítulo 4
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– Se você contar para alguém, eu... – Depende de você. – De mim, como? – Se você andar na linha, eu não conto. – Certo. Uma vez, parecia ter encontrado um inocente. – Eu sei de tudo. – Tudo o quê? – Você sabe. – Não sei. O que é que você sabe? – Não se faça de inocente. – Mas eu realmente não sei. – Vem com essa. – Você não sabe de nada. – Ah, quer dizer que existe alguma coisa para saber, mas eu é que não sei o que é? – Não existe nada. – Olha que eu vou espalhar... – Pode espalhar que é mentira. – Como é que você sabe o que eu vou espalhar? – Qualquer coisa que você espalhar será mentira. – Está bem. Vou espalhar. Mas dali a pouco veio um telefonema. – Escute. Estive pensando melhor. Não espalha nada sobre aquilo. – Aquilo o quê? – Você sabe. Passou a ser temido e respeitado. Volta e meia alguém se aproximava dele e sussurrava: – Você contou para alguém? – Ainda não. – Puxa. Obrigado. Com o tempo, ganhou uma reputação. Era de confiança. Um dia, foi procurado por um amigo com uma oferta de emprego. O salário era enorme. – Por que eu? – quis saber. – A posição é de muita responsabilidade – disse o amigo. – Recomendei você. – Por quê? – Pela sua discrição. Subiu na vida. Dele se dizia que sabia tudo sobre todos, mas nunca abria a boca para falar de ninguém. Além de bem informado, um gentleman. Até que recebeu um telefonema. Uma voz misteriosa que disse: – Sei de tudo. – Co-como? – Sei de tudo. – Tudo o quê? – Você sabe. Resolveu desaparecer. Mudou-se de cidade. Os amigos estranharam o seu desaparecimento repentino. Investigaram. O que ele estaria tramando? Finalmente foi descoberto numa praia remota. Os vizinhos contam que uma noite vieram muitos carros e cercaram a casa. Várias pessoas entraram na casa. Ouviram-se gritos. Os vizinhos contam que a voz que mais se ouvia era a dele, gritando: – Era brincadeira! Era brincadeira! Foi descoberto de manhã, assassinado. O crime nunca foi desvendado. Mas as pessoas que o conheciam não têm dúvidas sobre o motivo. Sabia demais. VERÍSSIMO, Luís Fernando. Seleção de crôncias do livro: comédias da vida privada. Porto Alegre: L&PM, 1996.
Linguagem: luz do momento
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Recapitulando nosso aprendizado O gênero crônica
29. Defina crônica.
30. Reúna-se com o seu colega com o qual formou dupla para escrever a crônica. Extraiam trechos dessa crônica que comprovem: a) o seu caráter narrativo ou lírico; b) o seu caráter atual; c) a importância do olhar crítico dos autores sobre o comportamento humano.
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
28. Defina gênero.
Capítulo 4
30/6/2010 14:08:24
LATIM EM PÓ: DA ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA AOS NOSSOS DIAS Minhas palavras são a metade de um diálogo obscuro continuando através de séculos impossíveis. (Cecília Meireles)
Com certeza, já ouviu alguém dizer “parece minha mãe falando”. Esse comentário tão comum nos faz pensar: “Será que todas as mães falam do mesmo jeito?”. Às vezes, parece que sim... que “mãe é tudo igual, só muda de endereço”. Bem, a verdade é que as mães aconselham os seus filhos “desde que o mundo é mundo” e, para isso, elas usam diferentes formas de expressão: a linguagem verbal, o olhar, os gestos... Histórias de vida parecidas aproximam as maneiras de falar das pessoas, por isso é natural que as mães falem de forma parecida e também os professores, os pais, as avós, os advogados, os músicos. Essas diferenças se relacionam não apenas com o papel da pessoa na sociedade, mas também com o momento histórico que essa pessoa vive. “Da hora” ou “mas que esse bagulho tem a ver? ”, poderá dizer um jovem. Simples: o ser humano sempre precisou de linguagens para se comunicar e, se as histórias de vida aproximam os diferentes falantes, também é verdade que as linguagens têm uma história, a sua história. “Da hora” e “bagulho” são típicos do falar dos jovens em determinado espaço e momento histórico. Se você perguntar para seus pais e avós, verá que eles, quando jovens, empregavam uma linguagem que hoje não é mais usada pelos jovens (cheia de expressões tais como “brotinho”, “pão”, “mina”, “cocota”). Ao utilizarmos as diferentes linguagens presentes na sociedade, fazemos parte de um fio de memórias que começa muito antes de nós e prepara o que será dito à frente. Memórias que relacionam o presente com o passado e preparam o futuro. Como nos diz a poetisa Cecília Meireles, as nossas palavras continuam “através de séculos impossíveis”.
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As linguagens têm uma história.
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BATER PAPO? DEPENDE COM QUEM... O que é falar bem português? Pense nisso enquanto lê o texto a seguir.
Papos
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
– Me disseram... – Disseram-me. – Hein? – O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”. – Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”? – O quê? – Digo-te que você... – O “te” e o “você” não combinam. – Lhe digo? – Também não. O que você ia me dizer? – Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz? – Partir-te a cara. – Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me. – É para o seu bem. – Dispenso suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu... – O quê? – O mato. – Que mato? – Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem? – Eu só estava querendo... – Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo é elitismo! – Se você prefere falar errado... – Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me? – No caso... não sei. – Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não? – Esquece. – Como “esquece”? Você prefere falar errado? E o certo é “esquece” ou “esqueça”? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos. – Depende. – Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-melo-ias se o soubesses, mas não sabes-o.
Capítulo 5
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– Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser. – Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia. – Por quê? – Porque com todo esse papo, esqueci-lo. VERÍSSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
1. Na sua opinião, o conhecimento das normas da gramática por parte de uma das personagens atrapalhou ou facilitou a comunicação? Por quê?
Raras são as pessoas que fazem uso completamente adequado da normapadrão. Discuta oralmente com seus colegas sobre as diferenças existentes entre a nossa língua portuguesa, conforme aparece explicada nas gramáticas, e aquela falada pelas pessoas no seu dia a dia. 2. Mantendo um ambiente de respeito às opiniões de seus colegas, exponha livremente o seu ponto de vista para as questões a seguir. • Existe um falar certo e um falar errado? Ou o importante é que as pessoas se entendam? • Por que o falar considerado certo é tão diferente daquele falado no dia a dia?
A NECESSIDADE DA LINGUAGEM Todos nós, para nos sentirmos humanos, precisamos de contatos com outros. Precisamos também compreender o mundo e a nós mesmos. Isso somente pode ocorrer entre nós por meio de linguagens. Desde a origem da humanidade, o ser humano tem utilizado diversas linguagens para compreender o seu tempo, o seu espaço, a si mesmo e aos outros.
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Caça do tatu. Toca do Boqueirão da Pedra Furada. São Raimundo Nonato (PI).
3. Reúna-se com colegas em grupos de até quatro membros. Prestem atenção à fotografia, buscando encontrar o maior número possível de informações: a) Traduzam a mensagem para a linguagem verbal. b) A mensagem da ilustração é coerente com a visão de mundo em que foi escrita? Por quê? c) Que valores são importantes para o autor do desenho? Terminada a discussão no grupo e com a mediação de seu professor, socializem as ideias para que a classe possa opinar sobre o ponto de vista do grupo. Toda linguagem utiliza os mais variados códigos de signos, mas de todos os códigos, sem dúvida, o mais importante é a língua. No nosso caso, o centro de interesses é a língua portuguesa.
Latim virando pó...
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Examine com atenção a figura a seguir.
O Império Romano no tempo do imperador Adriano. Repare a localização da Península Ibérica, onde surgiu a língua portuguesa.
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Capítulo 5
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O português, que utilizamos no nosso dia a dia, originou-se principalmente do latim. A língua latina era a língua falada no Império Romano. Há vários filmes que têm como cenário o Império Romano. Se puder, assista a um deles, por exemplo, O gladiador. Eles dão uma pequena ideia de como era a vida na Roma antiga. Também a coleção de histórias em quadrinhos do Astérix fornece uma ideia bem-humorada de como foi difícil para os romanos conquistar a Europa. Em todo o Império Romano do Ocidente, falava-se o latim. Com a queda do Império, sua língua foi sendo, cada vez mais, modificada pelas pessoas que a falavam. O latim pulverizou-se nos diversos lugares onde era falado, transformando-se em outras línguas, como o português, o espanhol, o francês, o italiano, o romeno, o catalão, o rético, o sardo.
Principais línguas neolatinas na Europa e onde elas são faladas.
Os primeiros textos escritos em português surgem no século XI. Hoje, acharíamos bem difícil entender o que esses portugueses de antigamente falavam. Nessa época, o português se confunde com o galego, língua hoje falada na província (atualmente, espanhola) da Galiza. Por isso, alguns estudiosos sustentam que, entre o latim e o português, houve o galego-português, uma língua que representa a forma como o latim se desenvolveu no noroeste da Península Ibérica, região que você pode verificar no mapa.
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Línguas neolatinas: aquelas que se originaram do latim. As mais conhecidas são o português, o espanhol, o francês, o italiano e o romeno.
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PAQUERANDO EM GALEGO-PORTUGUÊS
Cantigas de amigo: são textos poéticos escritos por trovadores que expressam a voz feminina de moças casadoiras que sentem saudades de seus “amigos” (seus namorados). A natureza ou outras amigas aparecem como interlocutores da mocinha que faz confidências de suas dúvidas ou se queixa da vigilância severa das mães.
Todos nós gostamos de ter a letra daquela música que nos dá prazer ouvir. As cantigas medievais são como essas letras de música. Paquerar (naquele tempo ainda não era tão comum “ficar com alguém”) é algo muito antigo, que continua sendo comum até hoje. Assim, para compreendermos melhor a proposta das cantigas de amigo em galego-português, temos de falar um pouco de paquera. O tema paquera é muito frequente hoje em dia em filmes, jornais, revistas, na Internet... mas também na rua e na escola. Nem sempre a abordagem ao tema é positiva. Muitas vezes, ela nem é muito confiável, pois querem que acreditemos em sonhos impossíveis. Outras vezes, o tema paquera presta-se ao humor e à crítica social. Por exemplo, na Internet, no site <02neurônio>, encontramos uma seção de perguntas sentimentais dos internautas. Essas seções de aconselhamento sentimental você encontra facilmente em revistas para adolescentes e até em jornais. Normalmente dizem que são as meninas que gostam disso, mas há muitos rapazes que também escrevem para essas seções.
Pagar pau ou não? Oi Charlatinha!!!! Bom, o meu problema é mais complicado do que parece! Tenho 13 anos, tô no 9º ano e tem um garoto que eu pago pau faz tempo... mas nunca tinha falado com ele, ele sempre pareceu muita areia pro meu caminhãozinho...até que um belo dia.....tcharam! Ele deu em cima de mim e acabou perguntando se eu ficaria com ele! Pra num dar uma de fácil eu disse que talvez...ele parece que se contentou com isso!!! Falei com ele só mais uma vez depois disso, e foi pela net! Ele jogou umas cantadas (super bem recebidas por mim!!!) e só! Não pediu meu telefone, não falou de sair nem nada!! E agora??? Já começam as aulas e eu não sei o que eu faço!! Ele não entra mais na Internet, eu não tenho o tel dele (e mesmo se tivesse não ligaria!) nem ele tem o meu!! Como eu ajo com ele na escola???? Vou ficar meio sem graça...
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Falar de como o latim evoluiu até virar português é uma caminhada. Uma parada obrigatória é o galego-português ou o português como ele era falado bem no seu início. Entre essas primeiras composições em galego-português estão as chamadas cantigas de amigo. Esses poemas funcionavam como letras de música que falavam dos problemas de amor das mocinhas que viviam na zona rural, principalmente no que se referia à paquera e ao namoro, nos séculos XII, XIII e XIV.
Disponível em: .
TAREFA Pesquise, na Internet, em jornais ou revistas, seções de consulta sentimental. Traga para a próxima aula pelo menos dois desses textos.
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Capítulo 5
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4. Reúna-se em grupos e discutam os seguintes tópicos: • Compare a paquera na época de seus pais ou avós com os dias de hoje e leve em conta os problemas existentes nos dias atuais e os que existiam em décadas passadas. • Identifiquem as semelhanças entre os diferentes textos que o grupo reuniu. Escrevam as características comuns encontradas nesses tipos de texto. • Prestem atenção na forma como o texto é apresentado dentro da revista, do jornal ou do site na Internet. Por exemplo: o nome que recebe, o tratamento gráfico e as ilustrações. • Comparem a linguagem utilizada no texto apresentado com a do dia a dia: é mais elaborada? É formal? Respeitam-se as normas gramaticais? • Que pessoas escrevem para essas seções? Agora comparem suas respostas com o seguinte texto medieval, que a classe vai ouvir. 5. Que semelhanças e diferenças de atitude vocês encontram entre a moça de hoje em dia e a do século XIII no que diz respeito à liberdade para paquerar?
Poys nossas madres vam a San Simon de Val de Prados candeas queymar, nos, as meninhas, punhemos d´andar con nossas madres, e elas enton queymen candeas por nós e por ssy e nós, meninhas, baylaremos hy. Nossos amigos todos la hiran por nos veer, e andaremos nós bayland´ant´eles, fremosas en cós, e nossas madres, poys que alá van, queymen candeas por nós e por ssy e nós, meninhas, baylaremos hy. Nossos amigos hiran por cousir como baylamos, e poden veer baylar moças de [muy] bon parecer, e nossas madres, poys lá queren hir, queymen candeas por nós e por ssy e nós, meninhas, baylaremos hy.
Pero Viviaes, nº 336. Cancioneiro da Vaticana. O poema encontra-se musicado por Amália Rodrigues, no CD Amália Rodrigues – Ses plus belles chansons. EMI France, 1994.
Glossário Madres – mães • San Simon – Trata-se da igreja de São Simão • Candeas queymar – queimar velas, fazer promessas • Punhemos d´andar – procuremos ir, queremos ir • Enton – então • Ssy – si • hy - aí ou lá • hiran – irão • bayland´ant´eles – dançando na frente deles • por cousir – admirar • fremosas em cós – mostrando parte do corpo, sem o manto • alá - lá • bom parecer – elegantes, belas.
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Uma das características do texto de consulta sentimental é que ele tem uma resposta, dada por alguém que assume a condição de conselheiro sentimental. O texto da mocinha de 13 anos, que lemos no início deste tópico, também aparece na Internet com a resposta que segue:
A Charlatinha responde Querida, quando as aulas começarem, tente não ficar muuuito tímida. Puxe assunto com o garoto, se tiver uma festa, pergunte se ele vai... Vá com calma. Pelo jeito, se tiver que rolar, vai rolar... E não fica com medo de dar bandeira. Disponível em: .
Nada sabemos sobre essa Charlatinha, mas com a experiência que você tem, com certeza, já percebeu que ela não é uma adolescente, embora procure se passar por uma. Com que objetivo? As escolhas de palavras e construções que empregamos acabam por nos “denunciar” socialmente, informando a que grupo pertencemos, ou se somos tímidos, confiantes, inseguros, etc. Mesmo assumindo o papel de conselheira, Charlatinha procura usar uma linguagem adaptada à sua leitora, que permita maior proximidade entre ambas. Essa tentativa se realiza por meio de certas construções. Algumas delas são a repetição da vogal “u” na palavra “muuuito”; o uso de expressões comuns entre os adolescentes, tais como “vai rolar” e “dar bandeira” e, também, o uso do imperativo “fica” na segunda pessoa, concordando com o pronome “tu”, quando o texto está redigido na forma de tratamento “você”, como se percebe pelo uso dos outros imperativos: “tente”, “puxe” e “pergunte”.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Pense só no que essa moça deseja: Ir com a mãe para a igreja de São Simão, provavelmente em uma romaria, e depois se livrar dela para poder ficar mais à vontade na paquera. Se essa mocinha pudesse escrever para uma dessas colunas de consulta sentimental que encontramos em revistas e na Internet, como ela apresentaria o seu problema? Seja criativo e redija a carta dessa mocinha, explicando claramente o problema pelo qual ela está passando. Siga de perto a síntese de características desse tipo de texto que elaborou com o seu grupo.
6. Construa uma explicação possível para o nome Charlatinha. Para elaborar a sua resposta, procure no dicionário o significado de “charlar” e seus derivados.
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Capítulo 5
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Leia, agora, com atenção, a cantiga de amigo abaixo, escrita pelo rei Dom Dinis.
Ai flores, ai flores do verde pinho se sabedes novas do meu amigo, ai deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado, ai deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquele que mentiu do que pôs comigo, ai deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado, aquele que mentiu do que me há jurado ai deus, e u é? Vós me preguntades polo voss’ amigo? E eu ben vos digo que é sã’ e vivo: ai, Deus, e u é? Vós me preguntades polo voss’ amado? E eu ben vos digo que é viv’ e são ai, Deus, e u é? E eu ben vos digo que é sã’ e vivo e seerá vosc’ ant’ o prazo saido: ai, Deus, e u é? E eu ben vos digo que é viv’ e são e s[e]erá vosc’ ant’ o prazo passado: ai, Deus, e u é? (Dom Dinis)
Glossário Ai, Deus, e u é? – Ai, Deus, onde está ele? • do que pôs comigo – a respeito do que me prometeu • há jurado – jurou • novas - novidades • preguntades – perguntais • sabedes – sabeis • seerá vosc’ ant’ o prazo saido – estará com você antes do prazo que ele prometeu acabar
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DOM DINIS – Foi o sexto rei de Portugal. Reinou de 1279 a 1325. Casado com Isabel de Aragão, que foi canonizada e é a santa padroeira de todas as santas casas do mundo. Foi durante o reinado de Dom Dinis que se determinou que os documentos oficiais do reino não fossem mais escritos em latim e sim em português.
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8. Retorne à cantiga de amigo Poys nossas madres vam a San Simon. Você já modernizou o cenário da cantiga de amigo, fazendo com que a mocinha escrevesse para uma seção de consulta sentimental. Agora, redija a resposta dada pela coluna. Lembre-se de que você assumirá a condição de conselheiro sentimental, procurando uma aproximação com essa mocinha por meio da linguagem.
Forme duplas ou trios com os colegas e, juntos, observem, na carta seguinte, o problema do adolescente exposto para a Charlatinha.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
7. Encontre semelhanças entre essa cantiga e a coluna sentimental da Charlatinha. Observe que há duas vozes na Cantiga do verde pinho: uma é a menina e a outra é a das flores do pinheiro, que lhe fornecem uma resposta. Anote aqui duas das semelhanças.
As cantigas eram transmitidas oralmente e, para facilitar a memorização, apresentavam certos recursos como os paralelismos, que são repetições sistemáticas de palavras, versos ou certas construções linguísticas. Note, na cantiga “Ai flores, ai flores do verde pinho”, a repetição do refrão (Ai, Deus, e u é?), bem como de versos inteiros ou partes de versos.
Cantadas prontas
Eu estou escrevendo para fazer um protesto: é sobre esse negócio de sempre as mulheres que ficam esperando a iniciativa dos homens na hora do chaveco. Eu sei que isso é parte dos homens, mas e os caras que não sabem chavecar? Eu por exemplo, sou um típico exemplar dessa espécime. Sou homem, mas na hora da aproximação sempre penso o pior e não consigo me soltar. Não sei se devo falar o que vier na cabeça, ou se devo usar as cantadas prontas.
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Capítulo 5
30/6/2010 14:08:44
9. Juntos, encontrem as construções da linguagem que identificam a aproximação ao modo de falar dos jovens na resposta dada por “Charla”, que transcrevemos a seguir.
Charla diz...
Querido, nada de cantadas prontas. É muito cafona. E por que você não se aproxima de garotas não tímidas? Das que gostam de agarrar?! Eu sei que vencer a timidez é difícil, mas vá pelo menos relaxando que algo vai rolar. Algum assunto surgirá na sua mente. Mesmo que seja uma coisa boba e você fique sem graça. E lembre-se: isso acontece com todo mundo! Disponível em: .
Nas seções de consulta sentimental é comum que pessoas mais velhas recorram a construções de linguagem típicas dos adolescentes, para facilitar a aproximação com o público-alvo. Isso também ocorria na Idade Média, com as cantigas de amigo. O compositor da cantiga não era quem dizia ser. Tratava-se, normalmente, de um homem bem mais velho que escrevia personificando, como eu-lírico, uma mocinha simples do campo, desejosa de arrumar um amigo (na verdade, um namorado) ou querendo saber notícias de seu namorado que estava longe, provavelmente, lutando nas Cruzadas ou nas guerras contra os mouros. Naquele tempo, a visão da sociedade sobre a mulher não era favorável a que ela escrevesse. Nessa época, a grande maioria das mulheres que falava português era analfabeta. Muitos acreditam que os escritores das cantigas de amigo, nos seus passeios e cavalgadas, ouviam essas músicas, sendo cantadas pelas mulheres simples e analfabetas do campo e escreviam o que tinham ouvido. Escrever era um poder masculino associado, principalmente, aos nobres e ao clero. O povo comum era analfabeto. O conhecimento intelectual não era disponibilizado para todos na Idade Média. Na verdade, nem hoje ele está disponível para todos, embora tenhamos feito consideráveis avanços. 10. Procure responder oralmente: • Como o poder da escrita é visto hoje pela sociedade? • Existem perigos em não valorizar o poder da palavra? Se você quiser ter uma ideia aproximada do que representava a escrita e o conhecimento intelectual na Idade Média, leia o livro O nome da Rosa, de Umberto Eco (de quem já falamos neste livro) ou, então, assista ao filme com o mesmo nome. Você vai gostar. O enredo é policial, mas ambientado na Idade Média. Latim em pó: da origem da língua portuguesa aos nossos dias
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De fazer romaria, decidiu-se o meu coraçon Ir a Santiago um dia para fazer oraçon e para ver lá o meu amigo. E, se fizer bom tempo e minha madre não for Vou andar mui leda, por parecer melhor e para ver lá o meu amigo. Vou tentar ir o mais cedo que eu puder queymar mhas candeas con grande coita que tiver, e para ver lá o meu amigo. Adaptado de: Airas, Corp´ancho, n.o 265, Cancioneira da Vaticana.
A romaria a Santiago de Compostela era um dos atos religiosos mais importantes da Idade Média.
Glossário leda – alegre • queymar mhas candeas – fazer minhas promessas • coita – sofrimento amoroso
Trovador: o poeta, autor dos cantares medievais. Ele tinha vida palaciana. Já os menestréis e segréis eram artistas que levavam as canções pelos reinos. Eles ajudaram na divulgação das formas poéticas da Idade Média.
As cantigas medievais não se resumem apenas às cantigas de amigo. Além dessas, havia: As cantigas de amor: composições líricas de origem provençal (região Sul do que hoje é a França). O eu-lírico é masculino e pertence à nobreza. O ideal de amor presente nessas cantigas consiste no amante vivendo um intenso sofrimento amoroso (chamado de coita) porque não é correspondido. Ainda assim, ele é fiel e submisso a esse amor. Nessas cantigas, não encontramos os paralelismos, característicos das cantigas de amigo, mas o desenvolvimento da coita amorosa do poeta por causa de uma mulher idealizada e perfeita. As cantigas satíricas: visam a criticar as pessoas ou as instituições sociais. Dividem-se, na Literatura Medieval, em dois gêneros: Cantigas de escárnio: não citam o nome da pessoa criticada. Cantigas de mal-dizer: identificam claramente a pessoa criticada. Chegaram até os nossos dias por meio de cancioneiros (coletâneas ou reuniões de cantigas de diferentes autores. Os três cancioneiros considerados mais importantes são: • o Cancioneiro da Ajuda (reunião de cantigas – compilação – feita provavelmente no século XIII); • o Cancioneiro da Biblioteca Nacional ou Cancioneiro ColocciBrancutti (compilação feita no século XIV): • o Cancioneiro da Vaticana (compilação feita no século XV) e que pertence à Biblioteca do Vaticano.
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11. Junte-se ao colega com quem trabalhou em dupla no último exercício. Encontrem as construções utilizadas para identificar o texto a seguir como sendo escrito por uma adolescente que vive em uma sociedade rural e muito religiosa. Leve em conta também o fato de que o texto foi escrito há mais de seiscentos anos. Essa mocinha vive na Idade Média, momento da história em que a religião católica era o centro das atividades sociais, culturais e econômicas. Era durante as romarias que os jovens encontravam oportunidade para paquerar.
Capítulo 5
30/6/2010 14:08:46
12. Leiam, a seguir, a paráfrase de uma das cantigas de amigo e identifiquem a cantiga que a originou.
Paráfrase de uma cantiga de amigo
Paráfrase: a interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto em que é mantido o sentido e não a forma inicial. Uma maneira diferente de se dizer algo que já foi dito.
Ai amores, ai amores destas minhas lembranças, Se sabeis para onde fugiram minhas esperanças Ai, dizei-me onde estão. Ai amores, ai amores, por mim vividos, Quando encontrardes amores bem mais sentidos, Ai, dizei-me onde estão. Se sabeis para onde fugiram minhas esperanças que me lembram dos amores de minha infância, Ai, dizei-me onde estão. Quando encontrardes amores bem mais sentidos, Aqueles que, até no céu, serão os mais queridos. Ai, dizei-me onde estão. LANDEIRA, José Luís. (Especialmente para este livro.)
13. A seguir, a dupla vai escrever a sua cantiga de amigo. Para isso, recomendamos que parafraseiem uma das cantigas medievais aqui apresentadas. Afinal, os problemas entre as mães e as filhas não são novos, como estamos vendo. Assim, conversem antes para escolher um assunto específico, moderno sobre o qual falar.
Esses poemas poderão compor um varal de poesias para ser lido pelos colegas da escola e pelos pais, assim como por outros convidados.
Sigam de perto a estrutura de uma das cantigas de amigo já estudadas ou a que apresentamos logo a seguir e que alguns estudiosos consideram como a primeira cantiga de amigo que foi escrita.
Ai eu coitada! Como vivo em grande cuidado por meu amigo que está tão demorado! Muito me tarda o meu amigo na Guarda! Ai eu coitada! Como vivo em grande desejo por meu amigo que tarda e non vejo! Muito me tarda o meu amigo na Guarda! (Dom Sancho I, nasceu em 1185 e faleceu em 1211.)
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Para terminarmos esta seção, propomos a leitura de um texto extraído do site 02neurônio sobre como apresentar o pretendente para a família, evitando problemas. Serão o namoro e a paquera motivos para o humor dentro do texto?
Como apresentar o pretê pra família por Raq Affonso
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Existe momento mais constrangedor do que aquele que você tem que apresentar o seu pretê (paquera, namorado ou marido) pra família? Você tenta esconder que está namorando, finge que não é nada sério, mas em algum momento a sua mãe vai começar a perguntar insistentemente: “Quando nós vamos conhecer o fulano? Traz ele aqui!” E o pior: esse nós inclui ela, o seu pai, os seus irmãos, a sua prima, aquela amiga da família e a moça que faz congelados na sua casa. Ah, esqueci de incluir o gato. O detalhe é que sua mãe vai querer preparar um almoço pra recepcionar o moço. E vai obrigar todos os seus irmãos a ficarem, mesmo contra a vontade. Então, na hora em que todos estiverem sentados, com o prato cheio de estrogonofe, ela vai virar e perguntar: “E aí, fulano, você trabalha com o quê?”. Momento esse, que todos ficarão muito sem graça (incluindo o seu pretê, que não trabalha com nada) e você vai querer se teletransportar para um ambiente bem distante. De preferência pra África. Se você mora sozinha, a apresentação de pretês pode ser algo ainda mais complicado. Porque você só vai na casa dos seus pais de vez em quando, o que torna a possibilidade de você ir acompanhada por ele uma coisa muito difícil. E mais formal, tipo temos um compromisso sério e agora quero que você conheça os meus pais. Então, a possibilidade da sua mãe preparar aquele almoço e incluir sua vó na lista de convidados aumenta. Pois todos da família vão querer conhecer o novo namorado da menina que nunca apresenta os namorados. Argh!!!!!! Para tornar as apresentações de pretendentes à família uma coisa mais cool (e com menos chances do dito cujo fugir), seguem algumas dicas. Mas se der, faça as apresentações apenas no dia do casamento. Ou do divórcio. – Combine de ir ao shopping com a sua mãe. E marque do seu pretê passar lá, uma coisa bem casual. Daí, quando você avistar o fulano, fale assim: “Ih, mãe, olha quem tá ali, o meu namorado”. As apresentações serão rápidas e você tem a desculpa de que comprou ingressos pro cinema e não pode se atrasar. – Tire uma foto do pretendente. Leve pra sua mãe ver e faça uma descrição da personalidade do figura. Se algum dia ela quiser, deixe-a falar um pouquinho com ele no telefone. Seria o mesmo tipo de apresentação feita no caso dele morar no exterior. Você não precisa contar que vocês moram no mesmo bairro. – Se você mora com os pais, peça pra ele te pegar um dia antes de vocês sairem. Mas peça pra ele buzinar quando chegar. Sua mãe vai falar pra ele subir, mas você vai usar o argumento de que está atrasada. Leve-a até a janela e ele vai dar um adeuzinho. Isso já vale como apresentação, pelo menos visual.
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– Obrigue o seu pretendente e a sua mãe a entrarem num chat. Eles podem conversar entre si, e depois até trocarem e-mails. Não, isso já seria íntimo demais e sua mãe poderia mandar correntes de piadas pra ele, o que seria uma coisa horrível, até pior do que o almoço. Disponível em: .
14. Faça, com suas palavras, um resumo oral do texto. O professor anotará no quadro as ideias principais que forem surgindo na classe. Para facilitar, fornecemos um esquema da organização sequencial do texto. Esquema 1 – Introdução: apresentação da situação-problema. 2 – Opções de almoço. 3 – Ida ao shopping. 4 – Apresentação por fotos. 5 – Conversa da janela. 6 – Conversa no “chat”.
UMA ESTRATÉGIA DE ESTUDO: DA LEITURA PARA O RESUMO Às vésperas de um exame, muitos ficam parados diante de um texto por horas. Leem, leem, leem e parece que nada entra na cabeça... Os textos escolares e os universitários têm certas características que tornam a sua leitura diferente de outras. Para facilitar a leitura desses gêneros textuais, podemos desenvolver determinadas estratégias de leitura que permitirão compreender o texto científico e obter as informações nele contidas. 1º – Determine o objetivo da leitura: antes de começar a ler, pense no motivo que o levou a isso. Lembre: ler um artigo de esportes para saber como o seu time se saiu no último jogo é muito diferente de ler o mesmo artigo para observar as características de uma personagem e atentar para os adjetivos utilizados pelo autor. Ao identificar o objetivo que o faz ler o texto, você poderá selecionar melhor e mais rapidamente as informações que lhe interessam. 2º – Estabeleça um contato geral: faça uma primeira leitura sem qualquer interrupção. Neste caso, a sua finalidade é a de estabelecer um primeiro contato com o texto. Não anote nada, nem faça pausas, a fim de que não perca a ideia geral. Essa leitura panorâmica permite perceber as partes do texto. 3º – Resolva os problemas de vocabulário: sublinhe as palavras desconhecidas e recorra ao dicionário para compreender o seu aparecimento naquele texto. Normalmente poderá usar um dicionário geral da língua portuguesa, utilizando-se dos métodos estudados no capítulo anterior. Se os termos forem técnicos, provavelmente, você terá de recorrer a um dicionário especializado.
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5º – Obtenha as frases-resumo: construa, escrevendo de sua maneira, uma frase objetiva que traduza a ideia sublinhada. Se as frases-resumo forem muito longas, será mais difícil de efetuar o seu trabalho. Evite incluir exemplos em suas frases-resumo. A seguir, vamos exemplificar este processo em um texto de Paul Teyssier, professor da Universidade de Sorbonne, em Paris. Foi traduzido por Celso Cunha, uma das maiores autoridades no estudo da língua portuguesa. O objetivo é avançarmos na compreensão de como surgiu a língua portuguesa. Esse é o nosso objetivo de leitura: compreender como o latim foi evoluindo, na Península Ibérica, com o passar do tempo, até fazer surgir o português.
1 − A romanização da Península Ibérica Os romanos desembarcam na Península no ano 218 a.C. A sua chegada constitui um dos episódios da Segunda Guerra Púnica. Dão cabo dos cartagineses no ano de 209 e empreendem, então, a conquista do país. Todos os povos da Península, com exceção dos bascos, adotam o latim como língua e, mais tarde, todos abraçarão o cristianismo.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
4º – Obtenha as ideias-chave: divida o texto em partes. Assinale as ideias básicas de cada uma dessas partes. Elas podem coincidir com o parágrafo ou podem ser formadas por um grupo de parágrafos. Sublinhe o essencial, seguindo um critério de acordo com o seu objetivo de leitura. Não adianta sublinhar tudo ou apenas palavras soltas. Uma sugestão: sublinhe os verbos das ideias que considerar como chaves; em seguida, encontre os sujeitos desses verbos, os objetos e outros complementos indispensáveis à compreensão. O texto bem sublinhado funciona como um esqueleto, uma estrutura da mensagem que se pretende assimilar.
Mapa 1 – A Espanha romana no tempo de Augusto.
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Capítulo 5
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A Península é inicialmente dividida em duas províncias (ver mapa 1), a Hispania Citerior (a região nordeste) e a Hispania Ulterior (a região sudoeste). No ano 27 a.C., Augusto divide a Hispania Ulterior em duas províncias: a Lusitânia, ao norte do Guadiana, e a Bética, ao sul. Posteriormente, entre 7 a.C. e 2 a.C., a parte da Lusitânia situada ao norte do Douro, chamada Gallaecia, é anexada à província tarraconense (a antiga Hispania Citerior). Cada província subdivide-se num determinado número de circunscrições judiciárias chamadas conventus. Um exame rápido do mapa 1 mostra que o atual território da Galícia espanhola e de Portugal corresponde, aproximadamente, a quatro desses conventus – os de Lucus Augustus (Lugo), de Bracara (Braga), de Scalabis (Santarém) e de Pax Augusta (Beja). A área linguística do que virá a ser o galego e o português delineia-se, pois, desde a época romana, no mapa administrativo do Ocidente peninsular. Nesse território, assim definido, a romanização fez-se de maneira mais rápida e completa no Sul do que no Norte. Os gallaeci, em particular, que habitavam a zona mais setentrional, se comparados aos outros povos, conservaram por mais tempo elementos da sua própria cultura. TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Após estabelecido o objetivo de leitura do texto e feita a leitura de contato geral, é a vez de procurarmos no texto palavras que apresentem dificuldades de compreensão. De nossa leitura, fizemos uma lista das palavras que apresentaram algum grau de dificuldade para nós. Para encontrar as respostas, tivemos que recorrer a diferentes fontes em obras de referência (dicionários e enciclopédias). A lista de palavras é esta:
• Guerras Púnicas
O texto faz referência à Segunda Guerra Púnica (218-208 a.C.). Esse foi um dos principais momentos da longa rivalidade entre Roma e Cartago, e que durou quase um século. Os cartaginenses, que os romanos chamavam “púnicos”, exploravam o comércio marítimo desde o atual Líbano até Portugal. Essa guerra teve como desfecho a destruição total de Cartago.
• Cartagineses
Habitantes de Cartago, cidade no norte da África, fundada pelos fenícios no século VII a.C. Teve colônias na Sicília e na Gália, e estas foram a causa das Guerras Púnicas. A cidade foi destruída pelos romanos, e as palavras Delenda Cartago (destruam Cartago) do senador romano Catão se cumpriram.
• Bascos
Habitantes da região que agrupa territórios ao norte da França e da Espanha, e têm como idioma o basco. Não se sabe ainda a origem dessa língua.
• Província
Os romanos, ao construir o seu império, anexavam países e cidades conquistadas e, para governar essas regiões, enviavam um procônsul. Todas as regiões conquistadas eram chamadas de províncias. Até o Egito passou a ser uma província de Roma.
• Romanização
Processo usado pelos conquistadores romanos que levaram suas leis, sua administração, seu idioma e sua cultura para todas as regiões conquistadas. Os povos conquistados adotaram, nesse processo, as características da civilização romana.
• Setentrional
É o que está localizado ao Norte, relativo ao polo Norte.
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O próximo passo é encontrar as ideias-chave de cada uma das partes em que dividimos o texto. Como o texto com que estamos trabalhando é muito pequeno, nós fizemos coincidir cada parte com um parágrafo, mas isso não é obrigatório. Temos, assim, três partes a que correspondem três ideias-chave:
Os romanos desembarcam na Península no ano 218 a.C. A sua chegada constitui um dos episódios da Segunda Guerra Púnica. Dão cabo dos cartagineses no ano de 209 e empreendem, então, a conquista do país. Todos os povos da Península, com exceção dos bascos, adotam o latim como língua e, mais tarde, todos abraçarão o cristianismo. Frases-resumo da 1ª ideia-chave: os romanos chegam à Península Ibérica em 218 a.C. Os povos da Península adotam o latim como língua, exceto os bascos.
2ª ideia-chave A Península é inicialmente dividida em duas províncias (ver mapa 1), a Hispania Citerior (a região nordeste) e a Hispania Ulterior (a região sudoeste). No ano 27 a.C., Augusto divide a Hispania Ulterior em duas províncias: a Lusitânia, ao norte do Guadiana, e a Bética, ao sul. Posteriormente, entre 7 a.C. e 2 a.C., a parte da Lusitânia situada ao norte do Douro, chamada Gallaecia, é anexada à província tarraconense (a antiga Hispania Citerior). Cada província subdivide-se num determinado número de circunscrições judiciárias chamadas conventus. Um exame rápido do mapa 1 mostra que o atual território da Galícia espanhola e de Portugal corresponde, aproximadamente, a quatro desses conventus – os de Lucus Augustus (Lugo), de Bracara (Braga), de Scalabis (Santarém) e de Pax Augusta (Beja). A área linguística do que virá a ser o galego e o português delineia-se, pois, desde a época romana, no mapa administrativo do Ocidente peninsular: Frases-resumo da 2ª ideia-chave: a Península é dividida inicialmente em duas províncias: Hispania Citerior e Hispania Ulterior, essa última depois dividida em Bética e Lusitânia. Cada província subdivide-se em conventus (circunscrições judiciárias). Lucus Augustus, Bracara, Scalabis e Pax Augusta são os conventus a que corresponde aproximadamente o atual território galego e português.
3ª ideia-chave
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
1ª ideia-chave
Nesse território, assim definido, a romanização fez-se de maneira mais rápida e completa no Sul do que no Norte. Os gallaeci, em particular, que habitavam a zona mais setentrional, se comparados aos outros povos, conservaram por mais tempo elementos da sua própria cultura. Frases-resumo da 3ª ideia-chave: a romanização foi mais bem-sucedida no Sul do que no Norte. Os gallaeci conservaram por mais tempo elementos da sua própria cultura.
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Capítulo 5
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O resultado final? Bem, o nosso resumo ficaria assim: Os romanos chegam à Península Ibérica em 218 a.C. Os povos da Península adotam o latim como língua, exceto os bascos. A Península é dividida inicialmente em duas províncias: Hispania Citerior e Hispania Ulterior, essa última depois dividida em Bética e Lusitânia. Cada província subdivide-se em conventus (circunscrições judiciárias). Os conventus de Lucus Augustus, Bracara, Scalabis e Pax Augusta correspondem aproximadamente ao atual território galego e português. A romanização foi mais bem sucedida no Sul do que no Norte. Os gallaeci conservaram por mais tempo elementos da sua própria cultura. 15. Seguindo as estratégias apresentadas, resuma o texto a seguir.
a aqui não pela leitura. Mas leitur do ssa pa ter tes an a sem ito mais que isso. Ninguém chega à escrit , palavras, frases. Ler é mu ras let tar jun de e ad cid pa perfície e inferir da significa somente a ca texto. Ultrapassar sua su o ido tec á est mo co nde maioria de É compreender a forma despercebido a uma gra ssa pa s ze ve s ita mu e , qu o. Ler bem leitura seu sentido maior texto lhe dará esse sentid o m co tor lei do ta rei mais est lementam-se. Lendo leitores. Só uma relação m. Leitura e escrita comp be er rev esc to an qu de s necessários a exige tanta habilida procedimentos linguístico os er nd ree ap s mo de po textos bem estruturados, is dizer. ito vaga do que o autor qu uma boa redação. mu o çã no a um pre sem os livro a informação Numa primeira leitura, tem ender de um texto ou de um pre de de z pa ca la ue aq é a estratégia é buscar Uma leitura bem feita para localizá-la. Uma bo s ura seg tas pis ter o cis ras-chave do essencial. Para isso, é pre Elas constituirão as palav o. raf rág pa da ca de s cação nte um intercâmbio de signifi as palavras mais importa am cri e m iza an org se s as outra texto, em torno das quais . os tid o alicerce do texto. para produzirem sen expansão que constitui de o ntr ce um m ma for de realizar As palavras-chave do leitor é detectá-las, a fim efa tar A a. cis pre ma for s de Tudo deve ajustar-se a ela ente nta da totalidade do texto. co r da de z palavras-chave normalm as uma leitura capa l, tua tex ra etu uit arq ncia na etidas, modificadas, Por adquirir tal importâ is variadas formas: rep ma s da to tex o o tod a compreender aparecem ao longo de o da leitura, levando-nos nh mi ca o tam en vim pa as . El nos levam retomadas por sinônimos tura reconstrutiva porque lei a um ra pa ta pis a m ce so, forne melhor o texto. Além dis . ão aç à essência da inform pione, 1999. do e argumentando. São
.). Roteiro de redação: len
(Coord VIANA, Antonio Carlos
Paulo: Sci
16. Qual o valor das palavras-chave para uma boa leitura? (Para responder, utilize-se de seu resumo.)
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17. Resuma, agora, o texto a seguir.
Dicionário conta a história da novela da Globo
Disposta a reconstituir a memória da empresa, a cúpula da Rede Globo decidiu montar uma equipe que recolhesse depoimentos dos profissionais que mantiveram algum contato com a organização. Assim, há seis anos, começou a coleta de depoimentos que resultou em um material monumental. “Assim, ao mesmo tempo que esse trabalho continuava, descobriu-se a possibilidade de se montar produtos editados, que utilizassem os dados dessas entrevistas”, comenta Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação. Nascia, portanto, o Dicionário da TV Globo (940 páginas, R$ 59,00), livro fartamente ilustrado que a Jorge Zahar Editor editou recentemente. A série de lançamentos começa hoje, às 19 horas, na Fnac do Barra Shopping, do Rio. No evento, ocorrerá um talk show comandado por Pedro Bial. Em São Paulo, o lançamento será na quartafeira, na Saraiva do Morumbi Shopping, a partir das 19 horas. E o talk show será encabeçado pelo jornalista Chico Pinheiro, que vai conversar com a atriz Regina Duarte, o autor Sílvío de Abreu, o diretor Jayme Monjardim e o jornalista e diretor da TV PUC, Gabriel Priolli. O dicionário conta com mais de 1.500 verbetes e trata unicamente de programas de dramaturgia e entretenimento – telenovela, em especial. Afinal, é o gênero brasileiro por excelência, que se transformou em produto de exportação e adquiriu uma importância na história da sociedade. “As novelas sempre tiveram a realidade como referência, mesmo quando eram ambientadas em outras épocas”, comenta Erlanger. Ele cita, por exemplo, a intervenção da censura, que foi mais atuante do que pode parecer. O Bem
Amado, escrita por Dias Gomes em 1973 e que foi a primeira novela produzida em cores no País, teve censuradas as palavras “coronel”, usada para se referir ao prefeito Odorico Paraguaçu, e “capitão”, como era chamado Zeca Diabo. “A produção teve de apagar o áudio das cenas já gravadas”, conta Erlanger, lembrando ainda que palavras como “ódio” e “vingança” também foram vetadas. Até mesmo um dos maiores sucessos da emissora, Escrava Isaura, escrita por Gilberto Braga em 1976, sofreu imposições: em um determinado momento, os censores proibiram o uso da palavra “escravo”, apesar de a história ser ambientada no século 19. As mudanças não arranharam o êxito do folhetim que, até 2001, tinha sido vendida para cerca de 80 países. As novelas contribuíram também na criação do hábito do brasileiro, lançando desde frases de efeito que se tornaram populares até instituindo modas. Em 1978, quando Dancin´Days esteve no ar, por exemplo, tornou-se comum o uso de meias Lurex, água de colônia e sandálias de salto fino. O dicionário aponta também as inovações no formato, como a apresentada por Araponga em 1990: os autores estruturaram em conjunto o roteiro; depois, cada um escrevia um capítulo individualmente. Em seguida, reuniam-se para discutir o rumo geral a ser dado à história. “O dicionário serve tanto para os interessados em uma pesquisa aprofundada sobre a televisão como para as pessoas que vinculam fatos de suas vidas com as novelas”, comenta Erlanger. “Neste caso, uma simples consulta permite voltar ao passado.” O próximo passo será o lançamento, para o próximo ano, do segundo volume, que vai tratar de jornalismo e esporte.
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BRASIL, Ubiratan. O Estado de S.Paulo, 21-7- 2003.
18. Que palavras do texto de Ubiratan Brasil você consegue identificar como palavras-chave?
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Capítulo 5
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19. Que relação podemos encontrar entre o texto de Ubiratan Brasil e os assuntos desenvolvidos neste capítulo?
A GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Leia com atenção o texto a seguir.
Leta: E aeeeee? Tudo buenas? Em Porto Alegre, tempo bom, sem nuvens. Nos nossos estúdios da Rua XV, o agito prometia... e cumpriu. Previsão para as próximas horas: calor e insônia. A noitada começou... A gente se picou cedo da casa do Nica. Barzinhos e mais barzinhos... Gostei do tal Yellow Submarine, bar com nome de música dos Beatles, na Garibaldi. Me senti em casa em Porto Alegre como havia tempos não rolava. Algumas gatinhas no local. Tava meio vazio, mas diz que às vezes lota. Talvez eu esteja velho demais para essas coisas, mas quero ser guri pra sempre. Dá para se ver os shows (que rolam no térreo, em um estúdio) pelas tevês do segundo andar. O som é surpreendentemente bom. No caso dos Catatos, a voz do Melo ficou meio alta demais na primeira música e, em seguida, tudo voltou ao normal. De lucro, registro a volta de Nica ao nosso convívio na Província de São Pedro: férias são sempre férias. Bira Landeira, José Luís. (Especialmente para este livro.)
20. A partir de como o texto está construído, reflita sobre a identidade social dos participantes no processo de comunicação – o locutor e o interlocutor. Responda oralmente: • Quem são eles? • São íntimos? • É possível identificar o lugar geográfico de onde o locutor escreve? • E o do interlocutor? • Por que sentem necessidade de se comunicar? Justifique as suas respostas.
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A língua também fica diferente quando é falada por um homem ou uma mulher (variedades de gênero), um adulto ou um adolescente (variedades etárias), uma pessoa da classe rica ou da classe média ou da classe pobre (variedades socioeconômicas) ou por um morador da cidade ou do campo (variedades urbanas ou rurais). Isso significa que você fala uma determinada variedade geográfica, de gênero, etária, socioeconômica, urbana. Sua identidade é comum a vários membros desses grupos. • Você consegue identificar as diferentes variedades a que pertence a sua fala? • E as falas das pessoas ao seu redor, na sua comunidade?
Gírias: importantes variações linguísticas, quase sempre de origem social. Há gírias de estudantes, de fãs de rap, de hip-hop, de capoeira, de judô, dos internautas, etc. Jargão: gírias ligadas a uma profissão. Há o jargão dos jornalistas, dos economistas, etc.
As palavras usadas, a pronúncia delas, certas expressões acabam identificando as diferentes variedades linguísticas, isto é: são sinais ou marcas linguísticas que oferecem informações sobre a identidade e sobre a vida dos usuários da língua. • Que diferentes marcas linguísticas você encontra nas variedades da língua portuguesa falada em sua comunidade? A língua também varia no tempo. Ao lermos um jornal do século XIX, notaríamos muitas diferenças no vocabulário e na construção das frases. Veja como era a língua portuguesa no século XIX, na Província de São Paulo.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A língua portuguesa não é um elemento único, mas um conjunto de linguagens aparentadas entre si e com algumas diferenças reunidas como unidade por questões históricas, sociais, culturais e políticas. Chamamos de variedades linguísticas a essas diferentes linguagens que pertencem à língua portuguesa e variam entre si. Já estudamos as diferenças entre o português europeu e o brasileiro. No entanto, você também já deve ter percebido que existem diferenças entre o português falado no Norte-Nordeste do Brasil e o falado no Centro-Sul e, mais ainda, existem diferenças entre o português falado no Rio de Janeiro e o falado em Santa Catarina, por exemplo. Essas diferenças regionais estão incluídas nas variedades geográficas ou diatópicas.
21. Que diferenças você consegue encontrar entre o anúncio de jornal do século XIX e os que circulam atualmente?
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Capítulo 5
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22. O que caracteriza esse texto como pertencendo ao século XIX?
Se recuarmos mais um pouco, para a época de Tiradentes, ou para quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, notaremos que cada época tem a sua variedade linguística histórica. Para lermos as cantigas de amigo, como fizemos há pouco, foi necessário recorrer ao auxílio de um vocabulário e, ainda assim, a leitura não foi muito fácil. No entanto, esses textos foram escritos em português. Podemos concluir que toda língua, além de variar no espaço e na sociedade, varia no tempo. A língua portuguesa que falamos hoje no Brasil é diferente daquela que era falada no início da colonização e será diferente daquela falada daqui a 400 anos. Assim como tudo ao nosso redor, a língua também muda. Por isso, não podemos dizer que a língua portuguesa seja uma realidade única. Pedro tem outras dúvidas sobre o uso da língua portuguesa e, numa das aulas, pergunta: “Mas, desse jeito, profe, por que as pessoas dizem que o homem que não frequentou escola fala o português errado?” O professor explicou-lhe que, entre as diferentes variedades de português existentes em uma época, foram eleitas umas poucas para elaborar uma normapadrão, aquilo que aparece muitas vezes nos livros também como norma culta ou padrão. Espera-se que a norma-padrão seja usada em ocasiões formais. O problema surge quando o falante não sabe adequar a sua variedade linguística à situação. Além disso, dadas as diferenças econômicas e sociais em nosso País, certas variedades linguísticas são vistas, de um modo geral, de forma preconceituosa. Além disso, há uma tendência de uma determinada classe social menosprezar os desvios da norma-padrão comuns na classe social que considera estar logo abaixo de si. Dessa forma, dizer “pobrema” é considerado um erro mais grave do que dizer “ele se adequa”, sendo que os dois casos representam um desvio da norma-padrão, mas somente o primeiro está associado a classes sociais menos favorecidas.
Norma-padrão: o modelo de língua portuguesa com maior prestígio social. É utilizado em situações formais de comunicação e constitui uma das maiores preocupações da escola.
O que dizer de pessoas inteligentes, bons profissionais que vivem apresentando problemas em relação aos usos indicados pela gramática normativa? Como é que se explica isso? Muitas pessoas cultas não empregam necessariamente a norma-padrão no seu dia a dia, o que gera alguns problemas de adequação. É comum encontrarmos pessoas consideradas cultas que têm apenas uma variante da língua portuguesa, o que as impede de usar em casa, entre amigos, uma variedade e, em ocasiões profissionais e mais formais, outra mais adequada à situação. Isso pode gerar-lhes problemas na vida profissional.
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Leia, com atenção, o texto a seguir.
Prezados pais,
Mostrem interesse pelos trabalhos realizados por seu filho/a na escola e em casa. Informem-se, regularmente, com os professores, sobre os progressos alcançados por seu filho/a no aprendizado escolar. Um dos objetivos da Escola é que seu filho/a aprenda a língua alemã; entretanto isso não significa que os senhores, em família, tenham que desistir de falar a língua materna, pois ela faz parte de sua riqueza cultural. É importante dominar a língua alemã nacional e sua língua materna. ERZIEHUNGSDEPARTEMENT DES KANTONS ST. GALLEN Amt für Volksschule Davidstrasse 31 9001 St. Gallen Abril 2003 Disponível em: .
23. No texto que lemos, observe a identidade social dos autores e encontre as marcas linguísticas que justifiquem a presença da formalidade ou intimidade entre o emissor e receptor. Justifique as escolhas feita pelo emissor.
Ao se elaborar a norma-padrão de uma língua, os estudiosos escrevem livros que descrevem as regras de funcionamento dela, os famosos livros de gramática. São eles que determinam os usos considerados dentro dos padrões prestigiados da norma-padrão. Além disso, os dicionários estabelecem os significados apropriados para as palavras dessa norma, assim como a ortografia correta, ou seja, a maneira que passa a ser considerada a correta. Os autores de livros didáticos preparam manuais para que os escolares possam aprender a norma-padrão. Ou seja, investe-se mais na norma-padrão do que nas outras variedades do português. Chamamos de língua de cultura aquela usada em transmissões de rádio e televisão, impressa em livros, jornais e revistas e ensinada na escola, ou seja, uma língua que recebe um investimento tão grande que qualquer um pode estudar Física, Química, Biologia, História nessa língua. 146
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Os senhores moram no Cantão de St. Gallen e seu filho/a frequenta, aqui, o Jardim de Infância ou a Escola Pública (1ª - 9ª classe). A presente brochura deverá ajudá-los a conhecer melhor a escola.
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Se esse investimento erudito fosse aplicado a qualquer uma das variedades faladas no Brasil, ela também se mostraria tão capaz quanto a atual norma-padrão. Até o caipira, com um bom investimento de criação de gramáticas, dicionários, livros didáticos e outras estratégias culturais, poderia tornar-se a língua de cultura do Brasil. Quer dizer que seria possível estudar Física com “pa morde” e “meió de bão”? Sim, isso mesmo: se o falar caipira recebesse investimento cultural, ele poderia tornar-se uma língua de cultura. Cabe lembrar, no entanto, que desenvolver a norma-padrão depende da escolarização do indivíduo. Na escola, a norma-padrão é valorizada e apresentada aos alunos como exemplo a seguir. No entanto, valorizar a norma-padrão não significa necessariamente desvalorizar as outras variedades, como a caipira, por exemplo. O conhecimento das outras variedades linguísticas permite compreender melhor a formação cultural da identidade lusófona. Se possível, assista ao filme Marvada carne, em que a cultura caipira é abordada de forma divertida, inteligente e bem-humorada. Hoje se usa a variedade caipira da língua portuguesa principalmente para a produção de textos que visam ao lúdico. Leia com atenção o poema seguinte, escrito numa estilização da variedade caipira.
Moda caipira A moda de namorar eu ensino p’ra vancê: vancê ponha bem sentido, p’ra mor de vancê aprender. Si ‘tiver perto de gente, p’ra ninguém não perceber, vancê não olhe p’ra mim, que eu não óio p’ra vancê. Quando nós ‘tiver suzinho, me abrace e abraço vancê: damo’abraços e buquinhas, querendo pode morder.
Silveira, Valdomiro. Os caboclos: contos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1915. Latim em pó: da origem da língua portuguesa aos nossos dias
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Então é bobagem estudar gramática? A norma-padrão da língua portuguesa é aquela que nos permite ingressar no universo cultural da sociedade brasileira. Embora fosse possível escrever um tratado de Química, usando formas como “despois nós bota o coranti num tubo de ensaio té ficá vermeio”, a verdade é que a variedade que faz uso desses termos não faz parte da norma-padrão; portanto o estudo, por melhor que fosse, sofreria descrédito na sociedade. Além disso, a sociedade procura usar a norma-padrão em seus meios de comunicação. O problema é que, muitas vezes, a norma-padrão ganha tanta importância que as demais variedades são consideradas erradas, o que também não está certo. Os motivos que levaram a elaborar a norma-padrão não têm nada a ver com uma variedade ser melhor do que a outra. Todas as variedades de português servem para a comunicação e interação dos seres humanos. Mas, por questões políticas e econômicas, escolheu-se o triângulo formado pelas pessoas de classes sociais alta e média, das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte que receberam escolaridade completa e têm acesso aos bens culturais (teatros, livros, revistas, exposições, etc.) como o modelo do que é correto, isto é, a norma-padrão a ser seguida. As outras variedades perderam muito prestígio na sociedade. Se, por um lado, é bom que haja uma norma-padrão que nos permita desenvolver uma cultura brasileira nos modernos meios de comunicação, por outro lado, pode surgir um problema muito sério: o preconceito linguístico. 148
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
24. Observe bem a forma como está escrito o texto. Utilize-o como modelo para reescrever a carta que a escola suíça enviou via net para os pais lusófonos que matricularam ali os seus filhos e que você estudou há pouco.
Capítulo 5
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Isso ocorre quando se consideram as outras variedades fora da norma-padrão como “engraçadas” ou até mesmo “erradas” e “grosseiras”. Isso representa um problema a mais para pessoas que não frequentaram boas escolas e, por esse motivo, se torna mais difícil para elas se desenvolverem na sociedade. Agora, leia a discussão que aconteceu com esses jovens durante uma aula de português:
“É verdade! Para mim quem fala ‘pobrema’ tem mais é que ser pobre mesmo! E ainda por cima a gente tem que tirar sarro mesmo, quem mandou ser burro?”, comenta Mariette, uma menina que senta ao lado de Carla. “É bem a cara dela mesmo”, pensa Fábio, e olha para a Sofia que responde indignada: “Mariette, você não tá entendendo nada! Se o carinha não pôde frequentar uma boa escola que o ajudasse a compreender a norma-padrão, se na casa dele todo mundo fala ‘pobrema’, ele não pode ser chamado de ‘burro’. Até porque ele se comunica super bem, ele só não conhece a língua de cultura, o português padrão. Mas se ele conhecesse, aposto que ele aprendia as coisas mais rápido que você! Todo mundo aqui fala de um jeito quando está com os amigos e de outro quando vai fazer redação na escola... Só você que não percebe!”. O professor chama a atenção de Sofia, dizendo que ela deveria ser mais polida e simpática ao se dirigir a uma colega. Mariette responde: “Mas eu não tenho culpa do cara não ter ido para a escola, ele não sabe falar certo, então é burro mesmo”. “Mas ele não está falando errado, ele está falando diferente, diferente da norma-padrão, só isso”, Fábio toma a palavra, rapidamente. Almir protesta: “A Mariette não tá errada não. Falar errado e diferente é a mesma coisa”. LanDeira, José Luís. (Especialmente para este livro.)
25. Que raciocínio você acredita estar certo: o de Mariette ou o de Sofia? Por quê?
26. Você acredita que todas as pessoas deveriam ter acesso ao português-padrão ou deveríamos deixar as pessoas falarem do jeito que quisessem? O governo deve envolver-se nesses assuntos? Justifique a sua escolha.
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Pausa para reflexão Em seu caderno, responda às questões a seguir. I. O que você aprendeu do que foi estudado até aqui? Esforce-se por responder, recorrendo apenas à memória, evite consultar o livro. II. Que conteúdos vistos, na sua opinião, não foram bem compreendidos e merecem uma nova explicação ou atividade de reforço? III. Que atividade(s) gostou mais de fazer? Por quê? IV. Participou das atividades com interesse? Em que aspectos poderá melhorar nas próximas aulas?
PARA LER A primeira passeata de um filho O frangote despertou mais cedo que o relógio. Mas lavou o rosto. Engoliu o café queimando a língua. Enfiou no bolso uma nota de dez paus, a carteirinha de estudante, e não deu a menor bola para a mochila dos livros e apostilas. Não estava com cara de quem ia assistir às aulas de química, português e geografia. O pai ficou na marcação. Esses filhos de hoje... – ele pensou, lembrando-se do tempo em que também era filho e cabulava a escola para ver o filmes do Cinemundi e os jogos de futebol da várzea do Glicério. – Que folga é essa? – perguntou sorrindo. O garoto, da turma de Humanas, deu resposta exata: – Vou à passeata. – Homessa! (Mesmo os pais modernos têm interjeições antigas.) Que besteira, menino. É assim que tudo começa. De repente dá uma confusão da praça, um corre-corre, você cai, me quebra a perna, vem um cavalo da polícia, te pisa, te amassa, tua vó vai brigar comigo. Que eu fui culpado. Você não sabe o estrago que faz um cassetete. Já vi esse filme. É melhor ficar em casa bem quietinho, lendo um livro, jogando um game, a passeata vai passar pela tv. Ou então se não tiver nada que fazer, coce o saco. Pelo menos não tem perigo. Mas o pai (sujeito vivido) não falou nada. Apenas ficou com o coração aflito. Essas coisas bobas de pai. O que tem de 150
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Agora, na volta para casa, Carla e Fábio mal conversam. Fábio divide os seus pensamentos entre o que aprendeu hoje e o rostinho bonito de Sofia quando ficou brava com a Mariette. Carla pensa na lição de casa: fazer o resumo do conto da Marina Colasanti no final do capítulo. Ela nem leu o conto, mas já achou difícil. Ela realmente não entendeu direito as explicações do professor de Português, mas depois ela escreve um e-mail para a sua amiga Bia ou para o Fábio e pede ajuda.
Capítulo 5
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acontecer sempre acontece. Como a primeira vez que saltou do bonde andando e se esborrachou na calçada. Como a primeira vez que tragou um cigarrinho, bituca de Aspásia, e ficou com gosto de cabo de guardachuva uma semana na garganta. Como o primeiro gole de cachaça, num domingo, num piquenique no Pico do Jaraguá, e soltou o mico, vomitou até as tripas. Mas aquela era a primeira passeata do menino. – Mania que o senhor tem de me chamar de menino! A primeira passeata não é uma coisa à-toa. Daqui a cem anos, quando ele crescer, for um velhinho de bengala e próstata safada, se lembrará desse dia antigo jamais esquecido. Contará aos filhos e aos netos. Roncará papo, como fazem todos os velhinhos depois dos 30. Mas agora ele não passa de um garoto franzino, camiseta de algodão, nem se agasalha a porcaria do filho, uns tênis fedidos, e metido a querer traçar o seu próprio destino. É muita presunção! Até outro dia, a única vez que desfilou com o povo foi atrás da bateria da torcida do Corinthians. – Cuidado, filho. A rua tem perigos. Mas o pai nada falou. Apenas seu coração batia. Não se pode aparar as asas de um menino (eterno menino). Deixá-lo ir, embandeirado, unir sua voz desafinada de roqueiro fracassado às vozes da cidade enfeitiçada, a qual sorri embevecida, ao ver que ainda existe a mocidade. No alto da passeata, o sol fulgia. DIAFÉRIA, Lourenço. Imitador de gato. São Paulo: Ática, 2001.
LOURENÇO Carlos DIAFÉRIA (1932- ) – Nasceu em São Paulo, no bairro do Brás. Jornalista, publica crônica em jornais desde 1964. Um de seus temas preferidos é a vida na cidade grande. Em crônicas nas quais procura misturar elementos narrativos e líricos, revela detalhes da vida dos cidadãos anônimos que transformam a metrópole.
TRABALHANDO COM PROJETO Reúna-se com colegas em duplas ou trios. Vocês vão escrever um projeto de pesquisa com a finalidade de aprofundar um dos temas a seguir. • A influência linguístico-cultural da África no Brasil; • A língua portuguesa na cultura e literatura africanas. Observe que se trata de temas muito amplos para alguém cujo objetivo é “aprofundar”. Isso exige que o grupo elabore um recorte do tema. Como se faz um recorte de tema? Imaginemos que o tema fosse “A história da língua portuguesa no Brasil”, um recorte de tema possível seria: a língua portuguesa no Rio de Janeiro na época da Vinda da Família Real. Observe que, a partir do tema, de caráter geral, propusemos dois parâmetros que delimitaram o nosso trabalho. Primeiro, um parâmetro ligado ao espaço: • Onde se localiza o objeto de nosso estudo? Neste caso, passamos de Brasil para o Rio de Janeiro, ou seja, do geral para o particular. Depois, um outro parâmetro associado ao tempo: • Quando se localiza o objeto de nosso estudo?
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Neste caso, passamos da História de mais de 500 anos do Brasil para um período específico, a Vinda da Família Real. O projeto de pesquisa segue os elementos desenvolvidos nos outros projetos, tais como: título, objetivo, justificativa, metodologia e fontes ou bibliografia.
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ESTRATÉGIAS DE LEITURA: A intertextualidade no processo de construção do sentido (parte 2) Já abordamos a importância da intertextualidade explícita no desenvolvimento de estratégias de leitura de textos escritos. Neste momento, nos concentraremos na intertextualidade implícita e veremos como ela surge em um texto não verbal. A intertextualidade implícita ocorre sem que o autor cite a fonte. Cabe ao leitor recuperar, no processo de leitura, para poder reconstruir o sentido do texto. Observe a seguinte reprodução.
MANET, E. Olympia (1863). Paris: Musée d’Orsay.
Uma mulher nua, deitada, encara o observador. Atrás a sua aia está para entregar-lhe um buquê de flores. Olympia, o nome do quadro, é também o nome da prostituta que Manet retrata de forma realista. Seios pequenos, corpo mignon, um ar triste e cansado no seu rosto ainda novo, a mão cobrindo o sexo dão ao quadro um realismo que chocou a época em que foi apresentado ao público. Manet, contudo, havia se inspirado no pintor espanhol Francisco Goya, autor de Maja desnuda. GOYA, F. Maja desnuda (1797-1800). Madri: Museo del Prado.
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A semelhança é evidente, ainda que existam diferenças fundamentais. A Maja de Goya é bem mais provocadora do que a Olympia de Manet, seu corpo é mais idealizado, e ela, embora também encare o observador, fá-lo com um despudor que não era próprio da época. Essa idealização provavelmente também explique a nudez total no quadro de Goya. Manet é considerado o “Pai da arte moderna”. Diversas obras suas se inspiram em Goya. Isso resultou em que a arte do próprio Goya passasse a ser vista de um outro modo. Pela influência que Manet teve nos séculos XIX e XX, muitos pintores passaram a estudar a obra de Goya e a construir relações intertextuais com ela, de tal modo que Goya é considerado por muitos como um antecessor do modernismo na Arte. Goya, por sua vez, também já se havia inspirado em outra obra, de um antecessor seu, o italiano Ticiano Vecellio. São nítidas as semelhanças entre as três. A divisão do fundo em que se encontra a Vênus nos aproxima do cenário onde descansa a Olympia. Em todas elas, o observador é interpelado. Também em Ticiano, a mão cobre o sexo, como em Manet. Nesse sentido, Goya foi mais ousado. Ousadia essa que se vê na abordagem do próprio tema: Vênus é uma deusa; a Maja é uma cortesã, assim como Olympia.
TICIANO. Vênus de Urbino. (1538). Florença: Galleria degli Uffizi.
Não são apenas as obras mais antigas que influenciam a nossa leitura das obras mais recentes. Existe também um efeito retroativo, por meio do qual as obras mais atuais ajudam, pela intertextualidade que manifestam, a reconstruirmos nossas interpretações das obras anteriores a que fazem referência e, até, nosso entendimento do autor que as produziu.
Recapitulando nosso aprendizado Em resumo – o português veio do latim Leia agora esta narrativa de Marina Colasanti, uma autora dos dias de hoje, sobre castelos, reinos distantes e, é claro, comunicação.
Na planície, os castelos Era um reino pequeno como um vale. E como um vale, rodeado de montanhas. Altas. Altíssimas. Nesse reino, distantes uns dos outros, mas não tanto que não se pudessem ver, erguiam-se castelos. Altos. Altíssimos. Quase torres. Cada castelo no topo de um morro, cada morro tão corroído por tempo e vento que não tinha mais encostas, só escarpas. E tão improvável subir ou descer pelas trilhas estreitas e interrompidas, à beira de precipícios, que os moradores daqueles castelos ali nasciam e ali morriam, sem aventurar-se fora dos seus muros. Latim em pó: da origem da língua portuguesa aos nossos dias
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E assim a vida passava em grande tranquilidade para aqueles castelães, nunca vistos no descampado em torneios, cavalgadas ou desfiles nupciais. Isolados, como parecia; a verdade, entretanto, é que nada acontecia num castelo que em outro não se soubesse. Uma longa rede de conversas estendia-se por cima do vale ligando torreões, muros e cúpulas, entrando pelas seteiras, metendo-se pelas janelas. Conversas bem visíveis, que cada castelo tecia a seu modo e a seu modo interpretava. Do castelo mais alegre, aquele em que alguns galhos por cima dos muros anunciavam a primavera com suas flores e o verão com seus frutos, partiam mensagens coloridas. Eram bandeiras e bandeirolas que, a qualquer hora do dia, de repente, se agitavam, se alternavam, aparecendo e desaparecendo no alto da mais alta torre. O esvoaçar das cores era a voz daquele castelo. Que o castelo mais a Leste recolhia. Não que alguém ali soubesse, de fato, falar a língua das bandeiras. Havia apenas uma velha que dizia entendê-la e que servia de intérprete. Mas, sendo ela própria incapaz de alinhavar qualquer mínimo recado embandeirado, a resposta e as mensagens enviadas a outros castelos partiam dali na linguagem dos espelhos. Chapas de prata polida sequestravam qualquer raio de sol que estivesse ao alcance, e o lançavam adiante com tal intensidade, que seu piscar era visto a grande distância. 154
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Mercadores passavam às vezes na planície, com suas caravanas de búfalos carregados de fardos e baús. Paravam, acampavam ao pé de um ou outro castelo. Grandes cestos presos por longuíssimas cordas eram então baixados lá de cima, trazendo as delicadas rendas, os preciosos bordados feitos pelas damas. E logo içados levando em troca brocados, perfumes e tantas meadas de linha. De fora, não se via ninguém nos castelos, tão estreitas e distantes as poucas janelas. Porém à noite, prestando atenção, podia-se ouvir leve música percorrendo a planície, sem que fosse possível dizer se canto ou sopro, se vinda de algum castelo ou de todos.
Capítulo 5
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Responder com espelhos nenhum outro sabia. Porém todos entendiam – ou acreditavam entender – aquele faiscar luminoso como um astro, que enchia o céu de novidades. Havia quem respondesse com fumaça. Quem preferisse trombetas. Um que erguia pipas coloridas. Outro que libertava no ar pombas brancas. E o mais exuberante, que soltava fogos de artifício. Nenhum usava a mesma linguagem do outro. Mas todos pareciam se entender a contento, ainda que de formas diferentes. No imenso telão de escritas que era o céu, cada um colhia o que mais lhe convinha, o que mais lhe dava prazer, cada um lia o que queria ler. Os significados cruzavam-se no alto variados e mutantes como pássaros. Sem que por isso a verdade resultasse menos verdadeira. Um dia, porém, um viajante vindo na esteira de alguma caravana parou no contraforte mais baixo de uma das altíssimas montanhas. E olhou para o vale. Viu um reflexo ofuscante piscar no alto de um castelo. Viu lufadas de fumaça responder-lhe ao longe. Ouviu um som de trombetas partindo de um torreão. O rufar das asas de tantas pombas lhe fez eco acima de uma muralha. E em breve o céu manchou-se de pipas coloridas. Que estranha visão para o viajante! Conhecia muitos reinos, conhecia muitas línguas. Algumas das que percebia agora lhe eram familiares, embora não as soubesse interpretar. Outras, nem percebeu que eram línguas. Porém nunca, em suas longas andanças, havia estado em um reino pequeno como aquele, em que cada um falasse de um modo diferente. Pareceu-lhe uma grande confusão. Desceu até o vale e, como costumavam fazer as caravanas, acampou ao pé do primeiro castelo. Mas quando o cesto baixou, em vez de enchê-lo de mercadorias, subiu dentro dele fazendo-se içar até o alto. Durante semanas permaneceu além dos altos muros. Até que uma manhã o cesto baixou, depositando-o na planície. Mal havia pisado no chão, já caminhava em direção ao segundo castelo. Ao pé do qual acampou esperando o cesto baixar para, como havia feito da outra vez, subir dentro dele até o alto. Assim, um depois do outro, o viajante visitou todos os castelos. Demorou-se bastante em cada um. Em cada um reuniu-se com os sábios, os jovens, os anciãos e ensinou a eles uma nova linguagem. A mesma, em todos os castelos. Quando saiu do último cesto estava mais orgulhoso que cansado. Sim – pensou – o entendimento estava garantido. E pôs-se em marcha rumo às altíssimas montanhas, onde o esperava a viagem interrompida. Marchava o viajante, enquanto os castelos tentavam retomar a antiga conversa com a nova linguagem. Finda a necessidade de intérpretes, a velha que sabia ler bandeiras logo perdeu seu posto. Agora, bastava obedecer com exatidão às regras e eliminar as variantes, para ser entendido de ponta a ponta do vale. Quanto à mensagem alheia, era só limitar-se a compreender o que o outro dizia. Nada mais. Sem acrescentar, sem tirar, sem arredondar nada. Ainda que o que se compreendesse não fosse o que se queria compreender. Ainda que a mensagem não respondesse a qualquer necessidade. Acima da harmonia colocava-se a clareza. A invenção, que nas antigas linguagens era tudo, estava banida. Pareceu a todos muito simples, essa nova linguagem. Muito prática. E até prazerosa. Por algum tempo. Pois bastou uma mensagem agradar aos habitantes do segundo castelo e aborrecer os do terceiro, para que começassem os atritos. Os do quarto castelo foram convocados a mediar. Tomaram partido, favorecendo um dos litigantes e ofendendo o outro. Os do quinto ofereceram-se em defesa. Dividiam-se as opiniões nos outros castelos. O ar fez-se tenso. As mensagens, que sempre haviam cruzado o céu harmoniosamente, pareciam chocar-se. Claras e ríspidas partiam dos torreões como projéteis, ferindo na chegada, e provocando novos disparos línguísticos. O telão celeste estava transformado em campo de batalha. Marchava ainda o viajante, de costas para o vale. Havia chegado ao primeiro contraforte e seguia em frente. Se tivesse parado para olhar, teria visto com surpresa que, de repente, nada mais acontecia lá embaixo. Nenhum som, nenhum sinal ligava os torreões. Os castelos estavam mudos. Como saber o que se passava por trás dos muros espessos? Talvez as damas estivessem paradas por instantes com suas agulhas suspensas no ar. Talvez os cavaleiros tivessem retido as mãos que já se estendiam para as espadas. Talvez os sábios e os anciãos tivessem reunido os jovens belicosos para falar-lhes de entendimento e paz. Mas o viajante não parou. Nem teria tido paciência de esperar durante um dia inteiro, durante a longa noite que se seguiu, até o alvorecer para, só então, ver subir lá longe, costurando a manhã, um delicado fio de fumaça.
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O viajante olhava para o cimo da altíssima montanha. Assim, não soube que em breve bandeiras se agitaram sobre o torreão. Não demorou para que um luzir de espelhos se acendesse em resposta. Pipas empinaram-se no céu cortando com suas linhas o voo das pombas. E ao fundo, bem ao fundo, luzes e cores explodiram, giraram, jorraram, choveram, numa festa de fogos de artifício.
MARINA COLASANTI (1938- ) – Nasceu na Etiópia (África), mas tinha 11 anos quando chegou ao Brasil. Sempre gostou de ler e de escrever. Foi por meio de muita leitura que ganhou intimidade com as palavras e se tornou a escritora premiada que é hoje.
Gostou da narrativa de Marina Colasanti? No livro Longe como o meu querer, você encontrará diversos contos que se inspiram em um mundo mágico de príncipes, princesas e reinos distantes e que nos fazem ver a Idade Média sob o olhar do encantamento. Procure também, na biblioteca de sua escola, outros livros de Marina Colasanti. 27. Encontre, no texto de Marina Colasanti, passagens que comprovem as afirmações seguintes: a) Para que possamos nos sentir humanos, temos a necessidade de estabelecer contato com os outros.
b) A linguagem permite que nos compreendamos a nós mesmos.
c) A linguagem é o meio de comunicação que nos permite representar o mundo por meio de signos.
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COLASANTI, Marina. Longe como o meu querer. São Paulo: Ática, 1999.
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28. Carla gostou demais do conto. À noite, quando vai digitar os seus e-mails, escreve para Bia, sua amiga que estuda em outra escola, sobre o que fez hoje na aula de Português. Ela deseja resumir o conto para a sua amiga. Você poderia ajudá-la? Utilizando-se das estratégias de elaboração de resumo que aprendemos neste capítulo, escreva as frases-resumo do conto lido.
Logo em seguida, Carla escreve para o Fábio, comentando a sua opinião sobre as aulas de Língua Portuguesa. Fá: Eu acho que a Idade Média era muito baseada na magia e na religião: procissões a São Simão, procissões a Santiago, tentativas de adivinhar o futuro nas flores do pinheiro... O que você acha? Isso além de tanta invasão e guerra! Outra coisa que eu não gosto: por que a cantiga de amigo tinha de ser escrita somente por homens? Está super errado. Por que as mulheres não escreviam também? Além disso, meu, eles escreviam tudo errado. Pode falar o que quiser, mas tá errado. Dá mó trabalhão tentar entender o que eles escreviam. Por que eles não escreviam certo? Eu achei a aula de hoje super difícil. E a Sofia e a Mariette heim? Meu, que barraco! Bem, mas e da aula, o que foi que você entendeu? Eu gostei mesmo foi do conto da Marina Colasanti, e você? Às vezes, o importante num bate-papo é que falando nós dizemos ao outro que existimos e que gostamos dele. Você não acha? Por isso eu escrevo para você, porque você é meu melhor amigo. Eu só não entendi legal o final... o que você acha que dá
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para entender deles voltarem às bandeirinhas, pipas, fogos de artifício e etc.? Beijo, Ca PS: Você já sabe se vai na festa da Ju, no sábado?
E A REFORMA ORTOGRÁFICA? Com o objetivo de unificar a grafia e acentuação gráfica da língua portuguesa, foi assinado, em 1990, em Lisboa, um Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Participaram desse encontro representantes de Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé, Príncipe e Timor-Leste. Há muita discussão sobre os resultados práticos dessa unificação que, para alguns, é mais consequência de manobras políticas do que linguísticas. No Brasil, escolheu-se o ano de 2009 como o da implantação da reforma. As principais mudanças propostas são: 1. O alfabeto passa a ter 26 letras, incluindo as letras K, W, e Y, empregadas nos seguintes casos especiais: • em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus derivados: Franklin, frankliniano; Kant, kantiano, Darwin, darwiniano; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano; Taylor, taylorista; • em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados: Kwañza, Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano; • em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso internacional: TWA, KLM, K – potássio (de kalium) W – oeste (West); Kg – quilograma, Km – quilômetro, KW – kilowatt. 2. O trema não será mais empregado. Assim palavras como lingüiça, freqüente, tranqüilo passam a ser escritas linguiça, frequente, tranquilo. Ele permanece, no entanto, em nomes próprios e seus derivados. 3. Fim do acento diferencial de palavras homógrafas. Exemplos: pára (verbo) de para (preposição); péla (verbo) de pela (combinação da preposição com o artigo); pólo (substantivo) de polo (combinação antiga e popular de por e lo); pélo (verbo) de pelo (combinação da preposição com o artigo) e de pêlo (substantivo); pêra (substantivo) de péra (substantivo arcaico – pedra) de pera (preposição arcaica). Assim sendo, as palavras pára, péla, pólo, pélo, pêlo serão grafadas sem o acento gráfico.
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29. Escreva o e-mail de resposta que o Fábio vai mandar para a Carla. Nele, responda a todas as questões que a Carla apresenta. Para isso, faça uma revisão do capítulo.
Obs.: o acento permanece em pôde (3ª pessoa sing. pret. perf. ind.) para diferenciar de “pode” (3ª pessoa sing. pres. ind.) e em “pôr” (verbo) para diferenciar de “por” (preposição).
4. Eliminação de acentos agudos: • em ditongos “ei” e “oi”em palavras paroxítonas. Exemplos: idéia e jibóia passam a ser grafadas ideia e jiboia; • em palavras paroxítonas, com “i” e “u” tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: feiúra e baiúca passam a ser grafadas feiura e baiuca. 158
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5. Eliminação de acentos circunflexos: • do penúltimo “o” fechado em hiatos, nas palavras paroxítonas. Exemplos: vôo, enjôo, perdôo, passam a ser grafadas voo, enjoo, perdoo; • nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler, ver e seus derivados. Exemplos: crêem, dêem, lêem, vêem, passam a ser grafados creem, deem, leem, veem; • nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i”. Exemplos: averigúe (averiguar) apazigúe (apaziguar) e argúem (arguir) passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem. 6. Mudanças no uso do hífen:
a) Emprega-se o hífen: • nas formações com os prefixos hiper-, inter-, e super-, quando combinados com elementos iniciados por “r”. Exemplos: super-revista, hiper-requintado, inter-resistente, etc; • em palavras compostas, quando o segundo elemento começa por “h”. Exemplos: pan-helênico, mal-humorado, etc.; • em substantivos compostos em que o prefixo termina com a mesma vogal com que se inicia o segundo elemento. Exemplos: micro-ondas, anti-ibérico, etc.; • em palavras compostas que não contêm elemento de ligação e constituem unidade lexical, mantendo o acento próprio. Exemplos: ano-luz, azulescuro, couve-flor, conta-gotas, guarda-chuva, arco-íris, médico-cirurgião, segunda-feira, etc.; • em palavras formadas pelos prefixos “ex”, “vice”. Exemplos: ex-amigo, vice-diretor, etc.; • em palavras formadas com os prefixos “pré”, “pró” e “pós”, quando a segunda palavra tem significado próprio. Exemplos: pré-primário, próafricano, pós-desarmamento, etc.; • em palavras formadas pelos prefixos “circum” e “pan”, quando a segunda palavra começa por “vogal”, “m”, “n”. Exemplos: circum-escolar, circum-murado, circum-navegação, pan-africano, pan-mágico, pan-negritude, etc.
b) Não se emprega o hífen: • em palavras cujo primeiro elemento termina em “vogal” e o segundo começa por “s” ou “r”, devendo a consoante duplicar-se. Exemplos: microssistema, contrarregra, antirreligioso, etc.; • em palavras cujo prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente. Exemplos: coeducação, extraescolar, antiaéreo, agroindustrial, etc.; • em palavras compostas nas quais, pelo uso, perdeu-se a noção de composição. Exemplos: mandachuva, paraquedas, parabrisa, etc.; • nas formações com o prefixo “co” e “re”, estes aglutinam-se com o segundo elemento, mesmo quando inciado por “o” ou “e”. Exemplos: cooperar, coordenar, reestruturar, reescrever, etc.
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Keystone
A LITERATURA CAI NA BOCA DO MUNDO Transgredir os meus próprios limites me fascinou de repente. E foi quando pensei em escrever sobre a realidade, já que essa me ultrapassa. Qualquer que seja o que quer dizer “realidade”. (Clarice Lispector)
Uma grande parcela de pessoas, no correr da história da humanidade, tem desejado ultrapassar os seus limites. Ultrapassar os próprios limites, como escreve Clarice Lispector, em A hora da estrela, abre-se a inúmeras possibilidades. Algumas boas, outras ruins, conforme as escolhas que fizermos. No desejo de ultrapassar os seus próprios limites, o ser humano tem construído a sua própria identidade e a arte da Literatura. 160
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Capítulo 6
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A NECESSIDADE DA ARTE Ouça, com atenção, a letra de música a seguir.
Comida Bebida é água. Comida é pasto. Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte. A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão, balé. A gente não quer só comida, a gente quer a vida como a vida quer. A gente não quer só comer, a gente quer comer e quer fazer amor. A gente não quer só comer, a gente quer prazer pra aliviar a dor. A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade. A gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade.
Arnaldo Antunes; Marcelo Fromer; Sergio Britto. “Comida”. In: Titãs (Intérp.). Titãs acústico. Wea Music, 1997.
1. Discuta em classe: • O que significam, para você, as palavras “A gente não quer só comida,/ a gente quer comida, diversão e arte”? • Você sente necessidade de arte? • De acordo com a música, o que representa a vida sem arte? Concorda com essa ideia? Por quê? • A que formas de arte faz referência a música? • Que outras formas de arte você conhece? O ser humano tem a necessidade de arte. Essa necessidade pode nos impulsionar numa busca para conhecer novas formas de expressão artística, procurando ultrapassar os nossos próprios limites.
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Picasso, Pablo. Les demoiselles d’Avignon (1907). Nova Iorque: Museu de Arte Moderna.
da Vinci, Leonardo. Mona Lisa (c. 1503-1506). Paris: Museu do Louvre.
O ser humano, há muito, se interroga por que algumas obras são consideradas arte e outras não. Por muito tempo, procurou-se por algo dentro da obra que a tornaria um objeto de arte, diferente dos demais objetos parecidos, mas que não são considerados como obras de arte. Por que umas pessoas consideravam um quadro bonito e outro feio? Por que determinadas obras de arte chegam a valer tanto? Por que um poema é considerado importante e deve ser estudado na escola, mesmo depois de muitos anos (pense nas cantigas de amigo, por exemplo), e outro não consegue o mesmo valor na sociedade e, rapidamente, é esquecido? Preocupações desse tipo existem em todas as formas de arte: pintura, escultura, arquitetura, fotografia e, é claro, literatura. Observe as reproduções que abrem esta seção. Trata-se de dois quadros considerados grandes obras de arte. Compare-os e procure pontos comuns que permitam responder à seguinte questão: 2. O que encontra de comum entre essas obras que faça com que os especialistas as considerem obras de arte?
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A LITERATURA: UMA FORMA DE ARTE E O COMEÇO DO PROBLEMA...
Capítulo 6
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A literatura é uma forma de arte que se utiliza da palavra como matéria-prima, assim como a pintura se utiliza das imagens pintadas e o balé, a que fazem referência os Titãs em sua música, faz uso do corpo em coreografias. Assim, embora todo texto escrito seja um texto da linguagem, nem sempre será considerado literário. Mas essa definição não resolve o nosso problema, pois leva-nos a outra pergunta: o que faz com que um texto seja considerado uma obra de arte? Essa é uma discussão antiga. Existem diferentes maneiras de pensar esse assunto. De um lado, há estudiosos da literatura que a definem como uma expressão específica da linguagem verbal. Seguindo esse raciocínio, a literatura teria a sua própria linguagem, a linguagem literária. Mas, como identificar essa linguagem literária? No que ela é diferente da linguagem do nosso dia a dia? Isso também preocupou os estudiosos de literatura. Por exemplo, Roman Jakobson, um importante estudioso da linguagem e da literatura, escreveu em 1921: “Assim, o objeto da ciência da Literatura não é a Literatura, mas a literariedade, isto é, o que faz de uma determinada obra uma obra literária”. Por esse pensamento, a arte da literatura seria identificada pela literariedade. Como se fosse algo que estivesse misturado com a linguagem verbal do uso comum, tornando-a literária. Alguns chegaram a simplificar tanto o raciocínio que defendiam que, quanto mais literariedade tivesse um texto, mais literário ele seria. 3. Acompanhemos o desenvolvimento de Jakobson na solução do problema “O que é Literatura?”.
Problema 1: O que é literatura?
Consideramos literatura como a forma de arte que se utiliza da
, bem como todos os textos que essa forma de
produz.
Problema 2:
Segundo o que Jakobson escreveu em 1921, o que faz de um
O que faz com que um texto seja considerado arte?
texto uma obra literária é a
Problema 3: O que é literariedade?
.
De uma forma simplificada, podemos afirmar que literariedade seria aquilo,
do texto, que faz com que ele seja .
considerado
Esse jogo de perguntas e respostas nos conduz a outra questão: como identificar a literariedade num texto? Nem sempre os estudiosos chegavam a uma conclusão sobre o assunto, embora defendessem que ela estava na linguagem. A convicção de que é possível e necessário encontrar a literariedade na linguagem do texto literário espalhou-se nos estudos da literatura.
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Recentemente, porém, realizaram-se outros estudos que divergem sobre o assunto. O texto a seguir foi escrito por um outro estudioso da literatura, Terry Eagleton, bem mais recentemente que Jakobson, em 1983.
“Qualquer coisa pode ser literatura, e qualquer coisa que é considerada literatura, inalterável e inquestionavelmente – Sheakespeare, por exemplo –, pode deixar de sê-lo. [...] A Literatura, no sentido de uma coleção de obras de valor real e inalterável, distinguida por certas propriedades comuns, não existe.”
4. Como vê, a opinião de Eagleton é oposta à de Jakobson. Complete o quadro comparativo a seguir, relacionando as diferenças entre as posições de Eagleton e Jakobson. Eagleton
Definição de Literatura
Qualquer texto que certos setores da sociedade decidam que é literatura.
A Literatura é um fenômeno principalmente linguístico.
Enfoque do estudo literário
A literatura através do tempo
Jakobson
Uma obra literária pode deixar de sê-lo. Nada garante que uma obra continue sendo considerada literária para sempre.
Observe, no texto de Quino a seguir, a atitude da senhora diante da música ao seu redor.
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EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Quino. Esto no es todo. Lumen: Barcelona, 2001.
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Capítulo 6
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5. De que forma a crítica presente no texto de Quino confirma o pensamento de Eagleton sobre arte e literatura?
6. Por outro lado, o canto do inseto é representado como de melhor qualidade que o do pássaro. a) Como Quino representa essa diferença entre os dois cantos?
b) Relacione a representação do canto do inseto ao pensamento de Jakobson.
7. Na sua opinião, o que faz de um texto uma obra de arte, ou seja, literatura?
CONSTRUINDO UM CONCEITO DE LITERATURA Entre as opiniões de Jakobson e de Eagleton, como se fossem dois extremos, podemos identificar outros conceitos intermediários que surgiram a partir de diferentes estudos feitos sobre a literatura. De certa forma, cada um de nós pode e deve construir um conceito daquilo que é literatura, embora, mesmo se concordarmos com o radicalismo de Eagleton, isso não significa que possamos chamar a qualquer texto de literatura. Eagleton defende que são certos setores da sociedade (não qualquer pessoa individualmente) que define o que é um texto literário ou não. Leia, a seguir, o poema As pessoas sensíveis, da escritora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen.
As pessoas sensíveis não são capazes De matar galinhas Porém são capazes De comer galinhas O dinheiro cheira a pobre e cheira À roupa do seu corpo Aquela roupa Que depois da chuva secou sobre o corpo Porque não tinham outra
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O dinheiro cheira a pobre e cheira À roupa Que depois do suor não foi lavada Porque não tinham outra “Ganharás o pão com o suor do teu rosto” Assim nos foi imposto E não: “Com o suor dos outros ganharás o pão”. Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Ó vendilhões do templo Ó construtores Das grandes estátuas balofas e pesadas Ó cheios de devoção e de proveito Perdoai-lhes Senhor Porque eles sabem o que fazem. Andresen, Sofia de Melo Breyner. In: NEJAR, Carlos. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999.
SOFIA DE MELO BREYNER ANDRESEN (1919-2004) – A escritora portuguesa declarou no Jornal das Letras (JL 468, de 25-6-1991): “Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podem ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis. Isso foi uma descoberta”. E em outra ocasião (JL 709, de 17-12-1997): “A poesia é das raras atividades humanas que, no tempo atual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza”.
Discuta com os colegas e o professor a sua compreensão do texto. A seguir, responda: 8. Você gostou do poema? Por quê?
9. Compare o poema com a música Comida: as “pessoas” a que se refere o poema são a “gente” a que se refere a música? Explique.
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Capítulo 6
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10. Identifique, no poema, uma referência intertextual e a fonte com a qual se estabelece o diálogo.
11. Você consideraria esse poema como um texto literário? Por quê?
12. Discuta, oralmente, as declarações de Sophia transcritas na biografia: que visão de poesia está presente nelas? Muitos acreditam que “gosto e cor não se discutem”. Defendem que não somos iguais e, como Terry Eagleton, afirmam que qualquer coisa pode ser considerada como literatura desde que a chamemos assim. No entanto, o estudo da literatura prova que discutir gostos pode ser vantajoso para todos. É verdade que não somos iguais, e uma boa parte do que somos, ou seja, da constituição de nossa identidade, deve-se à nossa história pessoal. Uma parte importante de nossa personalidade resultou de um aprendizado que a vida nos proporcionou com tudo aquilo que experimentamos, lemos, ouvimos, sentimos e partilhamos. Grande parte daquilo de que gostamos é resultado de termos aprendido a gostar. Isso acontece porque o ser humano consegue aprender a gostar das coisas. Uma pessoa consegue até aprender a gostar do que não gostava antes. Desenvolvemos gostos que procuram satisfazer a nossas necessidades pessoais. Uma das necessidades humanas é a de arte. Como afirmam os Titãs, as pessoas sentem uma necessidade interna de arte que aprenderam a satisfazer. Isso as leva a cantar, ouvir músicas, escrever cartas de amor, assistir a um filme na televisão ou ler um livro. 13. Responda oralmente: • Como satisfaz às suas necessidades pessoais de arte? • É possível aprender a apreciar outras formas de arte? Como? Como já tivemos oportunidade de examinar nos capítulos anteriores, todos os textos têm sempre uma finalidade e pertencem a determinados gêneros, de acordo com as diferentes necessidade sociais. Há textos para todas as necessidades humanas. Uma das necessidades humanas é a arte, e são os textos literários aqueles que procuram satisfazer a essa necessidade. A literatura cai na boca do mundo
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Por que é difícil uma única definição de literatura? Há muitas diferenças que explicam o fracasso de tentarmos uma única definição do que é um texto literário. Essas diferenças incluem os diferentes conhecimentos de mundo que influenciam a formação dos gostos das pessoas, as variações sociais que ocorrem de acordo com o tempo e o espaço. Assim, as sociedades elaboraram diferentes formas de satisfazer a necessidade de arte literária. Por isso existem diferentes definições de literatura, o que explica, em parte, o fato de os escritores produzirem os mais variados textos e chamarem a todos eles de textos literários. Em última análise, é a sociedade na qual tais textos vão circular que os torna legítimas obras de arte ou não. Pela leitura dessas obras literárias e pelo valor dado a elas é que tais textos são legitimados e aceitos como literários. Algumas obras, curiosamente, em um primeiro momento, são consideradas “excelentes exemplos” de literatura, mas não sobrevivem ao teste do tempo. O texto literário deseja alcançar a eternidade. Umberto Eco, um dos mais importantes estudiosos da linguagem, define a literatura como:
[...] O complexo de textos que a humanidade produziu e produz não para fins práticos (como manter registros, anotar leis e fórmulas científicas, fazer atas de sessões ou providenciar horários ferroviários), mas antes [...] por amor de si mesma – e que se leem por deleite, elevação espiritual, ampliação dos próprios conhecimentos, talvez por puro passatempo, sem que ninguém nos obrigue a fazê-lo (com exceção das obrigações escolares). ECO, Umberto. Sobre a literatura. Rio de Janeiro: Record, 2003.
14. Seguindo o raciocínio de Umberto Eco, por que poderíamos considerar o poema As pessoas sensíveis como literário?
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Sônia gostou muito do poema As pessoas sensíveis, porque a fez pensar na vida. Ray, contudo, achou-o muito chato, embora reconheça que deve haver pessoas que talvez gostem. Ele prefere ler romances policiais, tentando descobrir quem é o assassino. O último livro que ele leu foi Convite para um homicídio, de Agatha Christie. Ele adorou a leitura. Nesse livro, Ray acompanhou uma série de homicídios em uma pequena aldeia inglesa. Esses homicídios começam com um assassinato antecipadamente anunciado no jornal da localidade. Discutindo quem gosta de ler literatura, deram-se conta de que, até agora, viram, na escola, uma grande variedade de textos literários muito diferentes entre si. Pense também nos poemas, nas crônicas e nos contos que temos apresentado até o presente momento.
Capítulo 6
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15. Examine a reprodução a seguir, do pintor francês Auguste Renoir. Podemos afirmar que o conceito de literatura de Umberto Eco se verifica na reprodução de Renoir a seguir? Por quê?
AUGUSTE RENOIR (1841-1919) – Nasceu em Limoges, na França. Estudou pintura desde criança. Sempre evoluindo no seu estilo como pintor, nunca abandonou a sua paixão pelo trabalho artístico com a cor.
Renoir, Auguste. Camille Monet lendo (1872). Williamstown: Sterling and Francine Clark Art Institute.
16. Seguindo esse mesmo raciocínio, textos como as letras de música, as frases de parachoque de caminhão e as palavras cruzadas seriam gêneros considerados literários? Por quê?
Alguns poderiam perguntar se todos os textos recreativos como as letras de canções que tocam no rádio são literatura. A questão, contudo, não é tão simples assim... Alguns elementos da sociedade considerariam tais canções como legitimamente literárias, outros não. O que faz com que um texto seja literário, e não apenas um texto comum, não é só a opinião do leitor baseada no prazer de leitura que sentiu. Existe, além disso, a opinião de certas instituições importantes na sociedade. A escola é uma dessas instituições que ajuda a decidir se um texto é literário ou não. Faz parte de seu papel na sociedade incentivar os alunos a que leiam determinados livros, além de valorizar o estudo de Literatura. A maioria das escolas possui bibliotecas, com muitas obras que são consideradas literatura pelos diversos professores. A universidade é outra dessas instituições. Por exemplo, quando sai a lista de livros de Literatura do vestibular, principalmente de uma universidade considerada importante, a sociedade aceita tais livros como literários. Muitos, principalmente jovens, correm para as livrarias para comprar esses livros. A literatura cai na boca do mundo
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A mídia também dedica espaço à literatura. É comum o jornal manter seções dedicadas à literatura, normalmente dentro de um caderno de cultura. Às vezes, até em primeira página, como este exemplo retirado da primeira página do jornal O Estado de S. Paulo, por ocasião da morte do poeta brasileiro Haroldo de Campos:
O poeta, professor, ensaísta e tradutor Haroldo de Campos morreu no começo da madrugada de ontem, aos 73 anos, de falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado no Hospital Oswaldo Cruz. O velório se realizou na Beneficência Portuguesa. Existiram na verdade
muitos Haroldo de Campos. Todos agradaram e desagradaram, todos foram provocadores e talvez autoritários, todos buscaram se firmar e terminaram cheios de seguidores, mas também de detratores. O Estado de S.Paulo, 17-8-2003.
17. De que recursos a notícia de jornal se utiliza para valorizar a função de poeta exercida por Haroldo de Campos?
Também o Poder Público, por meio de prêmios, bolsas de estudo e financiamentos ajuda a desenvolver o gosto literário.
Jogo teatral: as instituições da sociedade que legitimam a literatura
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) organiza e patrocina, desde 1959, um dos mais importantes prêmios literários brasileiros, o prêmio Jabuti. No nosso folclore, o jabuti se caracteriza por ser paciente e persistente. Tais características levaram a escolher esse animal para simbolizar a atividade de nossos escritores, editores, livreiros e gráficos. Mais informações em . Quem são os vencedores, nas respectivas categorias, do prêmio Jabuti deste ano?
Encenação: dois atores (alunos) vão para a frente da sala; um líder (terceiro aluno) os congela em posições de ação. Anteriormente, os três escolheram uma das instituições sociais que legitimam a literatura e os tipos de personagens que a caracterizam. Os dois atores permanecem congelados por cinco segundos e, a seguir, representam a cena combinada até sua conclusão. O restante da classe terá de identificar qual a instituição que está sendo representada. Tempo máximo de representação: três minutos. Palavra que obrigatoriamente deve aparecer na encenação: literatura.
Assim, a literatura envolve o conjunto de textos escritos e orais considerados socialmente como artísticos. A sociedade torna convencionais certos tipos de textos literários, considerando alguns deles como exemplos de criatividade, arte e bom uso da língua. A partir de tais exemplos, esses segmentos da sociedade encontram, em tais textos literários, a literariedade de que fala Jakobson. Dessa forma, notamos que a literatura envolve dois planos: um sociocultural e outro, intimamente relacionado com esse, linguístico. Além disso, a literatura traz consigo um modo de ver a sociedade (ou parte dela) a qual, por sua vez, torna os seus textos legítimas obras de arte.
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Morre o poeta Haroldo de Campos
Capítulo 6
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Releia o poema As pessoas sensíveis de Sophia de Mello Breyner Andresen. 18. Que visão de sociedade o texto apresenta?
19. Você o consideraria um texto crítico? Por quê?
20. No poema a seguir, de Augusto de Campos, irmão de Haroldo de Campos e também poeta, encontre a visão de sociedade presente. Relacione essa visão de mundo àquela presente no poema As pessoas sensíveis.
Campos, Augusto de. “Luxo”. In: Moriconi, Italo. Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva.
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Para a próxima aula Procure, em jornais, revistas e panfletos, referências à literatura. Traga, para a próxima aula, pelo menos dois desses textos.
QUAL A UTILIDADE DA LITERATURA? Essa é uma pergunta muito importante, em especial numa sociedade que apenas considera importante aquilo que tem uma utilidade, de preferência, imediata. Pensemos em algumas respostas: Em primeiro lugar, a literatura é uma das formas de satisfazer a nossa necessidade pessoal de arte. Além disso, ela pode funcionar como espelho crítico da identidade de uma sociedade. A literatura é também um exercício da linguagem e, no decorrer dos séculos, tem auxiliado a ampliar e a organizar a língua, permitindo que o leitor enriqueça o seu vocabulário, a sua visão de mundo e de comunidade. Observe, com atenção, a tira em quadrinhos a seguir.
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21. Reúna-se com colegas, em duplas ou trios, examinem os textos que trouxeram. Que conceito de literatura aparece nesses textos? O que vocês pensam desse modo de ver a literatura?
Folha de S.Paulo, 12-9-2003.
22. De acordo com a tira em quadrinhos, o que é necessário para que o escritor produza uma obra literária?
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Capítulo 6
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23. Que vantagens há nesse processo para o leitor e para a língua?
Além disso, a literatura é um exercício mental de interpretação. A obra literária nos propõe um jogo, cujas regras se relacionam com a intenção do texto, ou seja, os limites de interpretação de que temos tratado. Toda obra literária permite várias interpretações, mas não qualquer interpretação. Entrar nesse jogo é desafiador e desenvolve o nosso raciocínio. 24. O que representam, no poema As pessoas sensíveis, as pessoas que não matam galinhas, mas, mesmo assim, as comem? Qual o processo de que se utilizou para chegar a essa conclusão?
A literatura também nos convida a um diálogo histórico com as gerações passadas. Muitas obras literárias que chegaram aos nossos dias foram lidas e interpretadas de maneiras diferentes no passado. Esse diálogo desenvolve a nossa identidade cultural. Mesmo que você não tenha lido as respectivas obras literárias, é possível que já tenha ouvido falar nos Três mosqueteiros, na Escrava Isaura, em Moby Dick ou na Cinderela. Tratase, todos eles, de diferentes personagens da literatura que já fazem parte de nossa cultura. Na literatura, encontramos o sentido de comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o que somos e nos desafia a expressar o mundo por nós mesmos. Ela se apresenta como a possibilidade de o outro se incorporar em mim, sem que eu deva renunciar à minha própria identidade. A literatura permite-nos ser outros, rompendo os limites do tempo e do espaço de nossa própria realidade e, ainda assim, continuarmos sendo quem somos. Melhor ainda, enriquecendo essa experiência única que é a construção de nossa identidade. Dessa forma, a literatura torna o mundo em que vivemos, ao mesmo tempo, mais desafiador e complexo e mais compreensível. Desafiador porque o exercício literário, ainda que difícil, alarga os nossos horizontes, mostrando-nos outros que, antes de nós, sentiram e pensaram de forma diferente da nossa, mas sempre possibilitando o diálogo e a aproximação. Compreensível porque transforma em palavras a experiência humana do outro.
Quino. Esto no es todo. Lumen: Barcelona, 2001.
Nesse jogo entre desafiar e compreender, a literatura (e a arte em geral) interroga o nosso imaginário. Observe, agora, na figura ao lado de Quino, o efeito que o quadro produziu no observador. A literatura cai na boca do mundo
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A literatura – bem como as outras expressões artísticas – é também um exercício de criatividade. Como expressão artística, a literatura desenvolve a nossa imaginação, sensibilidade e fantasia.
Quando o leitor se aproxima de um texto literário, inicia-se um jogo: surgem expectativas e perguntas que o texto vai respondendo. Quando o leitor não obtém as respostas, muitas vezes, fica surpreso e até decepcionado. Em certas ocasiões, essa decepção é sinal de que o texto realmente não estava bem escrito. Em outras situações, o leitor talvez precise aumentar a sua cultura literária. Mas o leitor sempre se vê obrigado a lidar com suas frustrações e com a realidade de que, na vida, nem sempre as coisas são como queremos. Esse exercício nos ensina a viver. 25. Complete o quadro a seguir sobre a utilidade das literaturas em língua portuguesa, com as expressões do quadro a seguir. Cuidado, observe que sobrarão três delas.
Utilidade da literatura 1. Satisfaz a necessidade humana de
.
2. Apresenta uma visão crítica da
das diferentes sociedades onde se
constrói cultura em português. 3. No decorrer dos séculos, tem auxiliado a ampliar o poder da 4. É um exercício mental de
.
textual, permitindo que desenvolvamos a em português.
nossa capacidade de
5. Permite que compreendamos melhor o nosso
, permi-
tindo que nos sintamos parte de uma cultura de muitos séculos feita em língua portuguesa. 6. A literatura desenvolve a nossa imaginação e 7. A literatura nos ensina a lidar com a sas
.
: a literatura nos ensina a lidar com nos-
.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Outra importante utilidade é que a obra literária nos educa. Claro que a leitura de um texto literário permite que ampliemos o nosso vocabulário, além de poder transmitir ideias morais. Mas, principalmente, ler um texto literário nos mostra que as coisas acontecem, muitas vezes, além da vontade do leitor.
interpretação – rancor – classe dominante – raciocinar – passado histórico – vida – emoções pessoais – língua portuguesa – arte – identidade – cultura – criatividade
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A LITERATURA DIVULGADA NA SOCIEDADE: A RESENHA CRÍTICA Leia, com atenção, o texto a seguir. Trata-se de um poema escrito por um dos mais valorizados poetas da língua portuguesa.
Quem diz que Amor é falso ou enganoso, Ligeiro, ingrato, vão, desconhecido, Sem falta lhe terá bem merecido Que lhe seja cruel ou rigoroso. Amor é brando, é doce e é piedoso. Quem o contrário diz não seja crido; Seja por cego e apaixonado tido, E aos homens, e inda aos deuses, odioso. Se males faz Amor, em mi se veem; Em mi mostrando todo o seu rigor, Ao mundo quis mostrar quanto podia. Mas todas as suas iras são de amor; Todos estes seus males são um bem, Que eu por outro bem não trocaria. Luís Vaz de Camões. Silva, Alberto da Costa e (Org.). Poemas de amor de Luís Vaz de Camões. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
LUÍS DE CAMÕES (1524[?]-1580[?]) – Pouco sabemos efetivamente sobre a vida daquele que é considerado o maior escritor da língua portuguesa. Até mesmo sobre as datas de nascimento e morte pairam dúvidas. O que é certo é tratar-se de um homem culto e de mente aberta, que soube tirar pleno proveito das influências literárias de sua época. 26. Discuta em classe a sua compreensão do poema. 27. Que dificuldades encontra o leitor do século XXI ao ler esse poema de Camões? Como tais dificuldades podem ser superadas?
28. Escreva um e-mail, recomendando que alguém conhecido seu leia o poema de Camões. Seja convincente em seus argumentos.
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Poderíamos dizer que a resenha é uma espécie particular de resumo. Na resenha, o autor se posiciona criticamente sobre uma determinada obra que ele apresenta para o leitor. Partindo desse resumo, o autor da resenha faz interagir as suas opiniões de forma sólida, coerente e com fundamentos na cultura que possui e no próprio texto que está resenhando. Não há necessidade, portanto, de que as diferentes partes que compõem a resenha venham separadas entre si. O objetivo é que a opinião contida na resenha interfira no leitor, convencendo-o de sua opinião ou, pelo menos, fazendo-o pensar a respeito dela. Podemos elaborar resenhas críticas de textos escritos, literários ou não, mas também de programas de televisão, de filmes, músicas, peças de teatro entre outros. Para compreendermos a estrutura de uma resenha e apenas por uma questão didática, podemos pensar no seguinte esquema:
Uma resenha crítica apresenta: • referências sobre a obra (autor, título, local e data de edição), número de páginas, formato; • resumo da obra; • conhecimentos culturais sobre o assunto tratado e sobre o autor da obra; • opinião crítica sobre a obra. Tais partes devem e precisam aparecer em uma resenha seguindo uma ordem específica. Espera-se que o autor encontre a melhor maneira para que possa atingir o seu objetivo de influenciar a opinião do leitor.
No capítulo anterior, aprendemos a fazer resumos. Retorne a essa explicação para lembrar algum ponto que tenha esquecido.
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Há várias formas de fazer circular, na sociedade, a opinião sobre uma obra literária. Uma delas, utilizada por jornais e revistas, é um gênero textual específico, a resenha crítica. Para tornar legítima uma obra literária, não basta dizer “leiam porque é bonita” ou “leiam porque gostei”. Deve-se convencer aquele que se deseja que leia o texto de que esse texto merece ser lido.
Analisemos uma resenha publicada em um jornal. Durante a leitura, procure notar como ao resumo da obra o autor da resenha acrescenta a fonte da obra que está resenhando, os seus conhecimentos culturais sobre o assunto, bem como a sua opinião pessoal sobre o livro.
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Capítulo 6
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O dia de um escrutinador Italo Calvino Tradução: Roberta Barni Companhia das Letras 96 p., R$ 22,00 Escrito ao longo de dez anos (1953-1963), O dia de um escrutinador foi concebido como parte de uma trilogia que Italo Calvino denomina “Meados de século”. Seria composta ainda de A especulação imobiliária e A nuvem de smog. Construídos como romances curtos, ou contos longos, como o autor prefere chamá-los, são pouco conhecidos no Brasil, ao contrário da trilogia Os nossos antepassados (composta de O visconde partido ao meio, O barão nas árvores e O cavaleiro inexistente).
A diferença entre as duas trilogias reside na leveza que distancia uma da outra. O dia de um escrutinador é um romance, se fosse possível dizê-lo, “naturalmente pesado”, a partir da escolha de seus temas: comunismo, dor física e existencial, miséria humana, deficientes físicos e mentais, alta e baixa política. De forma rigorosa, esses e outros temas são tratados por vários ângulos, segundo as premissas do método dialético. Amerigo Ormea, o protagonista, é historiador e comunista em crise. Calvino começou a escrever o livro quando ainda comunista e o concluiu já fora do Partido. O dia de um escrutinador traz um pouco dessa transição. Pessoa Neto, Anselmo. Jornal de Resenhas. In: Folha de S. Paulo, 13-12-2003.
Observe o quadro esquemático a seguir. Análise da resenha de Anselmo Pessoa Neto Referências sobre a obra:
O dia de um escrutinador. Italo Calvino. Tradução: Roberta Barni. Companhia das Letras. (Tel: 0/xx/11/3707-3500). 96 páginas, R$ 22,00.
Partes do texto que se referem ao resumo da obra:
“Seus temas: comunismo, dor física e existencial, miséria humana, deficientes físicos e mentais, alta e baixa política.” “Amerigo Ormea, o protagonista, é historiador e comunista em crise.”
A literatura cai na boca do mundo
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Protagonista: refere-se à personagem principal da obra (neste caso, aquela que Anselmo Pessoa Neto está resenhando: O dia de um escrutinador).
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Partes do texto que se referem aos conhecimentos do autor sobre o assunto que está resenhando e sobre o autor da obra resenhada:
“Escrito ao longo de dez anos (1953-1963), O dia de um escrutinador foi concebido como parte de uma trilogia que Italo Calvino denomina ‘Meados de Século’. Seria composta ainda de A especulação imobiliária e A nuvem de smog. Construídos como romances curtos, ou contos longos, como o autor prefere chamá-los, são pouco conhecidos no Brasil, ao contrário da trilogia Os nossos antepassados (composta de O visconde partido ao meio, O barão nas árvores e O cavaleiro inexistente).” “Calvino começou a escrever o livro quando ainda comunista e o concluiu já fora do Partido.”
Opinião crítica do autor sobre a obra:
“A diferença entre as duas trilogias reside na leveza que distancia uma da outra. O dia de um escrutinador é um romance, se fosse possível dizê-lo, ‘naturalmente pesado’, a partir da escolha de seus temas.” E “De forma rigorosa, esses e outros temas são tratados por vários ângulos, segundo as premissas do método dialético”. E “O dia de um escrutinador traz um pouco dessa transição”.
29. Talvez você tenha notado que a conclusão da resenha de Anselmo Pessoa Neto poderia ser diferente. Em classe, comentem a eficiência da conclusão da resenha. Poderia ser melhorada? Apontem possibilidades para torná-la mais adequada à proposta do texto. Anote, no espaço a seguir, as conclusões da turma.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Análise da resenha de Anselmo Pessoa Neto
30. Identifique, na próxima resenha sobre um filme a ser transmitido na televisão, as diferentes partes que compõem essa resenha. 178
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Capítulo 6
30/6/2010 14:09:55
A língua do cinema não pertence a nenhum país Inácio Araujo Crítico da Folha de S.Paulo A língua do cinema é o cinemês, costuma dizer Walter Lima Jr.. Maneira de romper as fronteiras nacionais, com a ideia do filme nacional como um particularismo. Ora, isso não é confundir com a internacionalização ligeira, com esses filmes que parecem vir de lugar nenhum, ou de um território que se poderia chamar tecnolândia. Walter Lima é o cinema de Menino de engenho, de Inocência, Ele, o boto e, mais recentemente, A ostra e o vento. Não há como duvidar de sua brasilidade. Seu argumento não é geográfico, embora a geografia tenha uma parte considerável nisso. Mas de ver no cinema essa arte com a qual as pessoas de qualquer parte do planeta podem se entender, pois ninguém precisa falar russo para saber aonde queria Eisenstein chegar, ou japonês para entender Griffith etc. Assim, ainda que A ostra e o vento se passe em uma ilha que poderia estar, a rigor, em qualquer lugar do mundo, a natureza ali representada tem
a luz do Brasil. Assim também, os ciúmes que sente o pai de sua filha, ainda que patológicos, não seriam significativos de uma maneira patriarcal de conceber família e relações familiares? A vantagem de certos cineastas é que não precisam provar que são brasileiros. Eles são. E também não precisam de um “assunto universal” para pertencer ao mundo. O cinemês lhes basta. É nessa categoria, também, que se encontra Antonio Calmon, talento que infelizmente o cinema perdeu para a TV, de quem passa, no Canal Brasil, O bom marido (amanhã, 23h) e Terror e êxtase (seg., à 0h45), e que talvez hoje possam ser revistos como belos documentos do fim dos anos 1970, em parte porque neles o cinema triunfa sobre os ideários da época. A OSTRA E O VENTO Quando: hoje, às 23h, no Canal Brasil Folha de S.Paulo, 13-9-2003.
Título da resenha: sublinhe em amarelo Referências sobre a obra:
sublinhe em azul
Partes do texto que se referem ao resumo da obra:
sublinhe em vermelho
Partes do texto que se referem ao conhecimento do autor sobre o assunto que está resenhando:
sublinhe em verde
Opinião do autor sobre a obra:
sublinhe em preto
A literatura cai na boca do mundo
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30/6/2010 14:09:57
31. Discutam, em classe, alguns aspectos da resenha de Inácio Araújo: a) A quantidade de informação que resume a obra é suficiente? Por quê? b) Que aspectos positivos e negativos você identifica na resenha desse autor? c) Poderia ser dado outro final para o texto? Seria conveniente? Por quê?
32. Escolha, a seguir, um filme ou um programa de televisão de que tenha gostado. Elabore uma resenha crítica dele. Após o texto pronto e de acordo com as orientações do professor, troque-o com um colega seu. Peça a ele que identifique as partes que compõem uma resenha crítica. Faça o mesmo com o texto dele.
Ao elaborar uma resenha crítica, evite usar as expressões “acho que”, “penso que” e semelhantes. Substitua por “o texto afirma”, “o texto sugere que”, “o autor demonstra”, “encontrase na obra”, “pode-se concluir”, etc. Embora se valorize a opinião pessoal, essa deve aparecer como algo que surge da obra resenhada, não dos gostos e opiniões pessoais do resenhista.
33. Preencha, então, o quadro a seguir, usando como base a resenha de seu amigo.
Título da resenha: sublinhe em amarelo Referências sobre a obra:
sublinhe em azul
Partes do texto que se referem ao resumo da obra:
sublinhe em vermelho
Partes do texto que se referem ao conhecimento do autor sobre o assunto que está resenhando:
sublinhe em verde
Opinião do autor sobre a obra:
sublinhe em preto
A seguir, acrescente o seu nome ao texto, identificando que o seu trabalho consistiu na identificação das partes da resenha, e entregue ao seu professor. Se considerar apropriado, antes de entregar o texto, discuta com o seu colega possíveis mudanças para deixar o artigo melhor.
A LITERATURA REVELANDO A IDENTIDADE DO SER HUMANO E DA SOCIEDADE
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
d) O leitor consegue identificar, nessa resenha, opiniões do autor e respeitá-las? Justifique.
Os processos que levam uma sociedade a tornar legítimo um texto literário não são sempre iguais. Mas, ao considerar um texto como literário, essa sociedade revela um pouco de sua identidade. Leia com atenção o texto a seguir. Procure captar, no sentido geral do texto, o que ele revela sobre a sociedade que o considera como literário.
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Capítulo 6
30/6/2010 14:09:58
Mudança Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala. Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão. – Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai. Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo. A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos. – Anda, excomungado. O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde. Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés. Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a ideia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. Sinhá Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na
“A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas.”
Cena do filme Vidas secas.
A literatura cai na boca do mundo
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30/6/2010 14:10:00
“Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira, chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra.”
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados ao estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a sinhá Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis. E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silêncio grande. Ausente do companheiro, a cachorra Baleia tomou a frente do grupo. Arqueada, as costelas à mostra, corria ofegando, a língua fora da boca. E de quando em quando se detinha, esperando as pessoas, que se retardavam. Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, à beira de uma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida. Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto. Agora, enquanto parava, dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares, estranhava não ver sobre o baú de folha a gaiola pequena onde a ave se equilibrava mal. Fabiano também às vezes sentia falta dela, mas logo a recordação chegava. Tinha andado a procurar raízes, à toa: o resto da farinha acabara, não se ouvia um berro de rês perdida na caatinga. Sinhá Vitória, queimando o assento no chão, as mãos cruzadas segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas, tudo numa confusão. Despertara-a um grito áspero, vira de perto a realidade e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula. Resolvera de supetão aproveitá-lo como alimento e justificara-se declarando a si mesma que ele era mudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo. Ordinariamente a família falava pouco. E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas. O louro aboiava, tangendo um gado inexistente, e latia arremedando a cachorra. As manchas dos juazeiros tornaram a aparecer, Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. As alpercatas dele estavam gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto entre os dedos rachaduras muito dolorosas. Os calcanhares, duros como cascos, gretavam-se e sangravam. Num cotovelo do caminho avistou um canto de cerca, encheu-o a esperança de achar comida, sentiu desejo de cantar. A voz saiu-lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar força. Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira, chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra. Sinhá Vitória acomodou os filhos, que arriaram como trouxas, cobriu-os com molambos. O menino mais velho, passada a vertigem que o derrubara, encolhido sobre folhas secas, a cabeça encostada a uma raiz, adormecia, acordava. E quando abria os olhos, distinguia vagamente um monte próximo, algumas pedras, um carro de bois. A cachorra Baleia foi enroscar-se junto dele. Estavam no pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro das cabras arruinado e também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono. Certamente o gado se finara e os moradores tinham fugido.
Cena do filme Vidas secas.
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Capítulo 6
30/6/2010 14:10:01
“O coração de Fabiano bateu junto do coração de sinhá Vitória, um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam.”
Fabiano procurou em vão perceber um toque de chocalho. Avizinhou-se da casa, bateu, tentou forçar a porta. Encontrando resistência, penetrou num cercadinho cheio de plantas mortas, rodeou a tapera, alcançou o terreiro do fundo, viu um barreiro vazio, um bosque de catingueiras murchas, um pé de turco e o prolongamento da cerca do curral. Trepou-se no mourão do canto, examinou a catinga, onde avultavam as ossadas e o negrume dos urubus. Desceu, empurrou a porta da cozinha. Voltou desanimado, ficou um instante no copiar, fazendo tenção de hospedar ali a família. Mas chegando aos juazeiros, encontrou os meninos adormecidos e não quis acordá-los. Foi apanhar gravetos, trouxe do chiqueiro das cabras uma braçada de madeira meio roída pelo cupim, arrancou touceiras de macambira, arrumou tudo para a fogueira. Nesse ponto Baleia arrebitou as orelhas, arregaçou as ventas, sentiu cheiro de preás, farejou um minuto, localizou-os no morro próximo e saiu correndo. Fabiano seguiu-a com a vista e espantou-se: Uma sombra passava por cima do monte. Tocou o braço da mulher, apontou o céu, ficaram os dois algum tempo aguentando a claridade do sol. Enxugaram as lágrimas, foram agachar-se perto dos filhos, suspirando, conservaram-se encolhidos, temendo que a nuvem se tivesse desfeito, vencida pelo azul terrível, aquele azul que deslumbrava e endoidecia a gente. Entrava dia e saía dia. As noites cobriam a terra de chofre. A tampa anilada baixava, escurecia, quebrada apenas pelas vermelhidões do poente. Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração de Fabiano bateu junto do coração de sinhá Vitória, um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam. Resistiram à fraqueza, afastaram-se envergonhados, sem ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de perder a esperança que os alentava. Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá. Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras, afastando pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava ensanguentado, lambia o sangue e tirava proveito do beijo. Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morte do grupo. E Fabiano queria viver. Olhou o céu com resolução. A nuvem tinha crescido, agora cobria o morro inteiro. Fabiano pisou com segurança, esquecendo as rachaduras que lhe estragavam os dedos e os calcanhares. Sinhá Vitória remexeu no baú, os meninos foram quebrar uma haste de alecrim para fazer um espeto. Baleia, o ouvido atento, o traseiro em repouso e as pernas da frente erguidas, vigiava, aguardando a parte que lhe iria tocar, provavelmente os ossos do bicho e talvez o couro. Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira, encaminhou-se ao rio seco, achou no bebedouro dos animais um pouco de lama. Cavou a areia com as unhas, esperou que a água marejasse e, debruçando-se no chão, bebeu muito. Saciado, caiu de papo para cima, olhando as estrelas, que vinham nascendo. Uma, duas, três, quatro, havia muitas estrelas, havia mais de cinco estrelas no céu. O poente cobria-se de cirros – e uma alegria doida enchia o coração de Fabiano. A literatura cai na boca do mundo
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Pensou na família, sentiu fome. Caminhando, movia-se como uma coisa, para bem dizer não se diferençava muito da bolandeira de seu Tomás. Agora, deitado, apertava a barriga e batia os dentes. Que fim teria levado a bolandeira de seu Tomás? Olhou o céu de novo. Os cirros acumulavam-se, a lua surgiu, grande e branca. Certamente ia chover. Seu Tomás fugira também, com a seca, a bolandeira estava parada. E ele, Fabiano, era como a bolandeira. Não sabia por quê, mas era. Uma, duas, três, havia mais de cinco estrelas no céu. A lua estava cercada de um halo cor de leite. Ia chover. Bem. A caatinga ressuscitaria, a semente do gado voltaria ao curral, ele, Fabiano, seria o vaqueiro daquela fazenda morta. Chocalhos de badalos de ossos animariam a solidão. Os meninos, gordos, vermelhos, brincariam no chiqueiro das cabras, sinhá Vitória vestiria saias de ramagens vistosas. As vacas povoariam o curral. E a caatinga ficaria toda verde. Lembrou-se dos filhos, da mulher e da cachorra, que estavam lá em cima, debaixo de um juazeiro, com sede. Lembrouse do preá morto. Encheu a cuia, ergueu-se, afastou-se, lento, para não derramar a água salobra. Subiu a ladeira. A aragem morna sacudia os xiquexiques e os mandacarus. Uma palpitação nova. Sentiu um arrepio na “Os cirros acumulavam-se, a lua surgiu, grande e branca. caatinga, uma ressurreição de garranchos e folhas secas. Certamente ia chover.” Chegou. Pôs a cuia no chão, escorou-a com pedras, matou a sede da família. Em seguida acocorou-se, remexeu o aió, tirou o fuzil, acendeu as raízes de macambira, soprou-as, inchando as bochechas cavadas. Uma labareda tremeu, elevou-se, tingiu-lhe o rosto queimado, a barba ruiva, os olhos azuis. Minutos depois o preá torcia-se e chiava no espeto de alecrim. Eram todos felizes. Sinhá Vitória vestiria uma saia larga de ramagens. A cara murcha de sinhá Vitória remoçaria, as nádegas bambas de sinhá Vitória engrossariam, a roupa encarnada de sinhá Vitória provocaria a inveja das outras caboclas. A lua crescia, a sombra leitosa crescia, as estrelas foram esmorecendo naquela brancura que enchia a noite. Uma, duas, três, agora havia poucas estrelas no céu. Ali perto a nuvem escurecia o morro. A fazenda renasceria e ele, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria dono daquele mundo. Os troços minguados ajuntavam-se no chão: a espingarda de pederneira, o aió, a cuia de água e o baú de folha pintada. A fogueira estalava. O preá chiava em cima das brasas. Uma ressurreição. As cores da saúde voltariam à cara triste de sinhá Vitória. Os meninos se espojariam na terra fofa do chiqueiro das cabras. Chocalhos tilintariam pelos arredores. A caatinga ficaria verde. Baleia agitava o rabo, olhando as brasas. E como não podia ocupar-se daquelas coisas, esperava com paciência a hora de mastigar os ossos. Depois iria dormir. RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro; São Paulo: Record, 2002.
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Capítulo 6
30/6/2010 14:10:09
GRACILIANO RAMOS (1892-1953) – Trabalhou como jornalista e político. Foi preso em 1936, acusado de comunismo. Dessa experiência, escreve Memórias do cárcere. Seus textos fazem uma análise psicológica e sociológica da realidade brasileira.
Sobre Vidas secas: Mudança é o primeiro capítulo de Vidas secas, livro considerado uma das principais obras de Graciliano Ramos. Originalmente, o escritor escreveu alguns contos e, aos poucos, percebeu que tais contos poderiam ser reunidos e formar uma única história. Os capítulos do livro sugerem a passagem de um ano, ainda que se note o caráter independente dos capítulos, como se cada um fosse um conto separado dos demais. Além disso, permanecem as personagens e o espaço onde as histórias se passam. O realismo de Vidas secas é crítico. O herói da obra é, ele mesmo, um problema: não aceita o mundo injusto em que vive, nem os outros ao seu redor, nem sequer a si mesmo. Sofre pelas distâncias que o separam do grupo e vive um constante conflito íntimo, revelando ao leitor as feridas que a vida em uma sociedade injusta produz no ser humano.
Graciliano Ramos.
34. Discuta, em classe, a sua compreensão de Mudança de Graciliano Ramos. 35. O texto a seguir está fora de ordem. Trata-se de um resumo do capítulo-conto de Graciliano Ramos. Reorganize-o de modo a fazer sentido, numerando em ordem crescente. No entanto, cuidado. Duas partes ficarão de fora, por não fazerem parte do resumo. ( (
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) Enquanto sai para buscar água, Fabiano pensa em seu Tomás da bolandeira, que fugira também com a seca. ) Fabiano relembra como foi que mataram o papagaio: andara procurando comida à toa quando sinhá Vitória tivera a ideia de matar o papagaio, com a justificativa de que, afinal, ele era mudo e inútil. ) A família sonha com dias melhores enquanto come o preá: sinhá Vitória ficaria bonita novamente, os meninos brincariam pelos arredores e a caatinga voltaria a ficar verde. ) Baleia traz um preá para o grupo. Mal daria para todos, mas reforçava a esperança de vida. Para a cachorra Baleia sobraria pouco mais do que os ossos, talvez o couro. ) Fabiano e sinhá Vitória avistam uma pequena nuvem, ficam olhando o céu esperançosos e abraçados. ) Desanimado com a caminhada, Fabiano abandona o menino mais velho. Em um primeiro momento, lamenta; mas depois justifica-se, chamando-o de “excomungado”. ) O menino mais velho, cansado e com fome, passa mal e senta-se no chão. O pai tenta, ao seu modo, reanimá-lo. Mas nada parece funcionar. ) A família caminha devagar debaixo do sol, conversando sobre o passado. Há muita dor e sofrimento no grupo, mas os comentários de sinhá Vitória estimulam Fabiano a não desistir. ) A família bebe da água que Fabiano encontrara, cavando a lama do rio seco. ) A família encontra uma fazenda sem vida. Fabiano vai examiná-la enquanto a família tenta descansar à sombra dos juazeiros.
A literatura cai na boca do mundo
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30/6/2010 14:10:10
Portinari, Cândido. Retirantes (1944). São Paulo: Museu de Arte de São Paulo.
Um grupo de retirantes encara o observador. Suas expressões parecem máscaras que transparecem uma dor imensa, escondendo a essência humana. São como marionetes de um destino de morte que nos olham interrogadoramente: “para onde vamos?”. A escolha das cores reforça o drama vivido, o mundo onde essas personagens se encontram não parece real, destacando o contraste com o mundo onde o quadro é admirado: dois mundos distintos aproximados e denunciados pela expressão artística. Nós, que acabamos de ler Vidas secas, não podemos deixar de pensar também na proximidade entre essas duas obras clássicas da arte brasileira ao retratarem uma mesma cruel realidade geográfica, histórica e social. 36. Complete o quadro seguinte, comparando o texto verbal de Graciliano Ramos com o não verbal de Portinari. Procure encontrar semelhanças e diferenças. Mudança em Vidas secas
Representação do elemento masculino
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Retirantes
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Observe a reprodução a seguir, procurando encontrar nela características que definam os retirantes retratados.
O homem lidera (aparece em primeiro plano e olha diretamente para o observador do quadro). Também o homem idoso, com os olhos muito grandes, pode representar a sabedoria, adquirida pela experiência.
Capítulo 6
30/6/2010 14:10:11
Mudança em Vidas secas
Representação do elemento feminino
A mulher vista como esposa, mãe, provisória e sábia. Possuidora de beleza física e intelectual.
Representação do elemento infantil
Vítimas inocentes são um estorvo para a caminhada.
Representação do elemento animal
Presença de animais de estimação, animais para alimentação e animais de rapina. Apesar de toda a desgraça, os retirantes, aparentando ser uma família, estão unidos.
Representação da união
Representação da esperança
Retirantes
Os juazeiros verdes e a nuvem no céu (que pode significar chuva) representam uma futura melhora na situação.
Representação da morte
Urubus no céu e carcaças de animais mortos no chão. Além das cores escolhidas para a cena e da expressão das personagens.
Uso da cor
Predominância de cores escuras e frias, sugerindo uma ideia de morte, dor e luto.
37. Que visão da sociedade brasileira encontramos em Mudança, de Graciliano Ramos?
A literatura cai na boca do mundo
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30/6/2010 14:10:12
38. Complete o quadro sobre algumas diferenças e semelhanças encontradas entre Mudança, de Graciliano Ramos, e As pessoas sensíveis, de Sophia de Mello Breyner Andresen. Diferenças
• Os dois textos fazem crítica social: o de Sofia preocupa-se com ; já o de Graciliano tem como temática o problema
.
• Ambos os textos podem ser considerados literários, pois
• Os dois textos apresentam formas diferentes: é escrito em verso e é escrito em prosa.
• O texto narrativo, enquanto o outro, não.
é
.
No entanto, nem todos os textos literários apresentam crítica social. Cecília Meireles, por exemplo, escreveu um lindo poema que você poderá ler na sequência e que foge da crítica social. Esse poema tem sido considerado literário e, da mesma forma que os outros textos lidos, revela um pouco da identidade da sociedade onde circula e do ser humano que o lê. Leia-o com atenção e tente identificar que visão do ser humano está presente no texto.
Canção Nunca eu tivera querido dizer palavra tão louca: bateu-me o vento na boca, e depois no teu ouvido. Levou somente a palavra, deixou ficar o sentido. O sentido está guardado no rosto com que te miro, neste perdido suspiro que te segue alucinado, no meu sorriso suspenso como um beijo malogrado.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Semelhanças
Nunca ninguém viu ninguém que o amor pusesse tão triste. Essa tristeza não viste, e eu sei que ela se vê bem... Só se aquele mesmo vento fechou teus olhos, também... MEIRELES, Cecília. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993.
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Capítulo 6
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CECÍLIA MEIRELES (1901-1964) – “Estreou em 1919 com Espectros, a que se seguem, pela década de 20, Nunca mais – Poema dos poemas e Baladas para El-Rei até que, bem mais tarde, publica Viagem com composições elaboradas entre 1922 e 1937. Desde o início, enfatiza seu sentimento de solidão e sonho de esperança no amor, mas sem jamais reconhecê-lo em comunhão mútua”. CASTELLO, José Aderaldo. A literatura brasileira: origens e unidade (1500-1960). São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999. Cecília Meireles.
Suzy, ao ler o poema ficou encantada. Assim que chegou à sua casa, entrou na Internet e escreveu um e-mail para a sua amiga Carla. Carlota, Achei massa o poema da Cecília Meireles. Lembrei de quando fiquei com o Júnior e eu disse que tava gostando dele, lembra? Pô, o cara foi super sacana comigo e ficou espalhando pá todo mundo que eu tava a finzona dele. Meu, tem cara que é cego mesmo. Meu, mas eu escrevi para você foi para falar do poema. Gostei muito. Ele mostra uma pessoa super dedicada que se entrega totalmente e não é correspondida. Você não acha? Cara, isso é demais, tipo eu e o Júnior mesmo. Sabe que às vezes ainda penso nele? Pois é, Carlinha, “a gente semo assim mermo”... Ah! Mas, falando do poema: você sabe o que é um “beijo malogrado”? Não consegui entender muito bem essa parte. E que você achou do comentário do Castello na biografia? Meu, não entendi nada... Acho que não tem nada a ver... Bjks
Su... 39. Identifique, no poema de Cecília Meireles, o que leva Suzy a afirmar que “o poema mostra uma pessoa super dedicada que se entrega totalmente e não é correspondida”.
40. Redija o e-mail resposta da Carla para a Suzy, discutindo a sua compreensão do poema.
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Outro aspecto que se relaciona com esse é o da linguagem. Já comentamos a importância que alguns estudiosos, como Jakobson, atribuem à linguagem dentro do texto literário. Afirmam que nela reside a literariedade, aquilo que faz de um texto uma obra literária. De fato, compreender o uso da linguagem que o texto apresenta é uma forma de aumentar o nosso apreço por ele. Por isso, a seguir, vamos estudar como o uso do adjetivo por Graciliano Ramos, em Mudança, pode aumentar a nossa compreensão da literatura. Como estudar a linguagem? A Linguística é a ciência que estuda a linguagem. Os linguistas distinguem diversos campos de estudo dentro dessa ciência. Fonética – estuda os sons da linguagem. Morfologia – estuda a formação e a estrutura das palavras (o que inclui as variações de pessoa, de masculino e feminino – gênero – e singular e plural – número, além do estudo de prefixos, sufixos). Sintaxe – estuda as relações das palavras no interior de grupos de palavras e desses grupos no interior de frases. Semântica – estuda o significado das palavras e das relações que essas palavras mantêm entre si. Pragmática – estuda como os textos constroem significado dentro de um contexto. Teorias de enunciação – estuda a relação dos enunciados de um texto com os interlocutores e o tempo e o espaço em que tais enunciados são produzidos. Linguística textual – estuda o que faz com que um texto se torne uma unidade de sentido. Estilística – estuda o valor expressivo dos vocábulos e enunciados em um texto.
UM ESTUDO DA LINGUAGEM: O ADJETIVO EM VIDAS SECAS
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Ainda que tenhamos nossos gostos e preferências pessoais no que se refere aos diferentes gêneros que compõem a literatura, sempre é importante ampliar nossos horizontes, aprender a gostar de novos textos literários. Algo que facilita apreciarmos uma obra literária é compreendê-la bem. É mais fácil aprender a gostar do que entendemos. Por isso a obra literária representa um desafio: um contínuo esforço de interpretação.
A morfologia explica que há duas grandes classes básicas de palavras: os nomes e o verbo. A classe do nome engloba todos os vocábulos que indicam seres, coisas, estados ou fenômenos e com eles estão relacionados: substantivo, adjetivo, artigo, pronome. Ex.: A minha
camiseta
substantivo
artigo pronome
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azul adjetivo
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A classe do verbo indica as ações ou relações entre os seres, coisas, estados ou fenômenos a que se referem os nomes. Ex: Paulo comprou uma camiseta azul. verbo Além dessas duas classes, encontramos outras, como os advérbios, que representam as várias circunstâncias que se estabelecem entre os seres e as coisas.
Observe a frase de abertura do texto Mudança de Graciliano Ramos: • “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes.” Compare com outra tentativa de expressar a mesma mensagem: • “Na planície os juazeiros alargavam duas manchas.” 41. Que diferença no sentido traz para o enunciado o uso dos adjetivos?
As palavras “avermelhada” e “verdes” são adjetivos. O adjetivo “avermelhada” está no feminino singular, concordando com o substantivo “planície”; já o adjetivo “verdes” está no feminino plural, concordando com o substantivo “manchas”.
Adjetivo: palavra que caracteriza os seres, indicando-lhes características (modos de ser, aspectos e aparências). Concorda em gênero e número com um substantivo explícito ou subentendido na frase.
42. O que podemos concluir sobre a flexão dos adjetivos em relação aos substantivos a que se referem?
Você lembra? Alguns adjetivos são uniformes, ou seja, têm uma só forma para indicar o masculino e o feminino. homem inteligente → mulher inteligente exercício fácil → prova fácil Os adjetivos compostos formam o feminino variando apenas o segundo elemento. Plano socioeconômico → questão socioeconômica Exceção: surdo-mudo, no feminino, sofre alteração nos dois elementos: moço surdo-mudo → moça surda-muda Os adjetivos compostos formam o plural variando apenas o segundo elemento. Planos socioeconômicos → questões socioeconômicas Exceção 1: surdo-mudo permite duas formas de plural: surdo-mudos e surdos-mudos. Atenção! O corretor do programa de computador Word costuma dar a forma surdo-mudos como erro, o que não é verdade.
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Exceção 2: azul-marinho e azul-celeste são invariáveis. Blusas azul-marinho, paredes azul-celeste.
43. Após a leitura do quadro informativo sobre o adjetivo, Ângelo resolve um exercício sobre o assunto:
Passe para o plural os adjetivos compostos a seguir: a) Intervenção médico-cirúrgica: intervenção médico-cirúrgicas b) Caminho recém-aberto: caminhos recéns-abertos c) Terno azul-claro: ternos azuis-claro d) Relação nipo-brasileira: relações nipo-brasileiras e) Blusa azul-piscina: blusas azuis-piscina f) Menina surda-muda: meninas surdas-mudas Auxilie Ângelo, corrigindo-lhe o exercício.
Leia, agora, a seguinte frase igualmente extraída do texto Mudança:
“Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.” A expressão “do rio” pode ser, pelas regras da gramática, substituída pelo adjetivo “fluvial”. Margem do rio seria a mesma coisa que margem fluvial. A expressão “do rio” é, portanto, uma locução adjetiva.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Exceção 3: os adjetivos compostos referentes a cores, cujo segundo elemento é um substantivo, são invariáveis. Blusas verde-abacate, paredes amarelo-canário.
Locução adjetiva é a expressão com valor de adjetivo formada por preposição + substantivo. Encontramos diversas locuções adjetivas no texto Mudança. Ex: baú de folha; fazenda sem vida; espingarda de pederneira. Não seria possível substituir a locução adjetiva “de folha” por um adjetivo. Isso acontece porque nem sempre a língua tem um adjetivo que possa substituir a locução adjetiva.
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Retornemos aos primeiros parágrafos de Mudança:
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala. Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. 44. Identifique e transcreva os adjetivos do trecho acima.
45. Reescreva as três primeiras frases do trecho que estamos estudando, substituindo os adjetivos bem como o substantivo “infelizes” por outros, de modo que se mantenha basicamente o mesmo sentido, mas que o estilo se aproxime de alguém afetado e superficial.
Qualquer palavra que normalmente funciona como adjetivo, como “infelizes”, é um substantivo se precedida de um artigo que se refere especificamente a ela. Assim, em “os infelizes”, a palavra “infelizes” é um substantivo, não um adjetivo. Caso diferente seria se estivesse escrito “os infelizes retirantes”, em que o artigo “os” faz referência direta a “retirantes” e não a “infelizes”. Nesse caso, a palavra “infelizes” continuaria sendo um adjetivo.
O conceito de estilo pressupõe a sinonímia, ou seja, podemos dizer coisas bem parecidas de modos bem diferentes, o que vai revelando a assinatura das características que definem um indivíduo ou grupo. O estilo de Graciliano Ramos é definido como formal, contundente, enxuto e direto. Essa assinatura do estilo, no entanto, ganha características peculiares em Vidas secas.
46. Sobre o uso do adjetivo, no trecho que estamos estudando, podemos afirmar que I. O adjetivo “avermelhada” intensifica o rigor do clima. II. “Rio seco”, “galhos pelados” e “caatinga rala” caracterizam um espaço hostil aos viajantes. III. Os nomes dos migrantes foram substituídos por um adjetivo substantivado, “os infelizes”, contribuindo para polemizar a sua condição humana. IV. Os adjetivos usados pelo narrador reproduzem as palavras das personagens. Estão corretas: a) Somente I, III e IV b) Somente II, III e IV c) Somente I, III e III d) Somente I e II e) Somente II e III
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47. Discutam oralmente: qual a importância do adjetivo dentro da economia do texto. 48. A seguir, temos um quadro descritivo das personagens Fabiano e sinhá Vitória. Complete-o utilizando apenas adjetivos que aparecem na narrativa e se referem a essas personagens no coletivo, como família, ou individualmente (ou ainda a partes de seu corpo).
Características físicas
Sinhá Vitória Características psicológicas
Características físicas
• Cansado
• Sombrio
• Cansada
• Faminto
• [coração] grosso
• Faminta
• Cambaio
Características psicológicas
• [joelhos] ossudos
49. Com base nessa lista de adjetivos, faça um desenho, uma montagem ou outra representação artística de uma dessas personagens. Depois, o seu professor orientará uma discussão coletiva sobre as relações entre as características físicas e psicológicas encontradas nas personagens e o seu significado dentro da obra.
O adjetivo e a caracterização Saber usar o adjetivo tem extraordinária importância na hora de escrever. Usado de forma trivial, torna-se um clichê que nada acrescenta ao sentido. Em excesso, deixa o texto afetado e excessivamente lento. Sua ausência torna o texto frio, impessoal, próximo de um estilo científico. Aprender a usar o adjetivo, na hora de escrever, é um desafio para qualquer grande escritor. Antes de tudo, devemos pensar que efeito de sentido gostaríamos de construir com o nosso leitor para, depois, pensar em qual adjetivo é mais adequado a esse fim. Vejamos uma situação prática:
Inicialmente, observe:
Frase 1: Ângela é loira.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Fabiano
Frase 2: Ângela é linda.
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50. As duas frases apresentam a mesma estrutura, e ambas atribuem uma característica a Ângela. No entanto, em qual delas o locutor foi menos objetivo? Justifique.
Tradicionalmente, os gramáticos dividem os adjetivos em objetivos e subjetivos. Adjetivos objetivos: atribuem características que descrevem o mundo, que se podem considerar como verdadeiras ou falsas sem contestação. Exemplo: a janela é quadrada. Adjetivos subjetivos: atribuem características que determinam uma reação emocional do sujeito falante, supondo uma avaliação diante do objeto que se caracteriza. Considerar tais afirmações como verdadeiras ou falsas depende de um ponto de vista. Exemplo: a janela é magnífica.
Os adjetivos objetivos permitem a classificação dos objetos. Denominamos referenciação as diferentes formas que encontramos no texto de introduzir novos referentes. Tais referentes não espelham diretamente o mundo real, não traduzem diretamente aquilo que encontramos no mundo. Antes, são construídos e reconstruídos, com maior ou menos subjetividade, a nossa percepção do mundo, nossas crenças, atitudes e objetivos de comunicação. O indivíduo opera sobre o material linguístico de que dispõe (o que reforça a importância da ampliarmos constantemente o conhecimento enciclopédico) e opera escolhas que considera significativas para representar o mundo de acordo com a sua proposta de sentido, ou seja, em relação àquilo que quer fazer. Observe as situações a seguir. Marta pede a Célia que a ajude a arrumar as roupas no guarda-roupa. A certa altura, entre muitas blusas, camisetas e outras peças de roupa, Marta se dirige a Célia e diz Situação 1: – Célia, passe para mim as blusas azuis. Situação 2: – Célia, passe para mim as blusas bonitas. A literatura cai na boca do mundo
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51. Em qual das duas situações Célia terá mais dificuldades para compreender Marta? Por quê?
Os adjetivos objetivos são empregados de modo classificador, ou seja, para destacar, no objeto que se caracteriza, elementos delimitáveis, portadores de informação, que permitem constituir subconjuntos em um conjunto de objetos ou seres. A expressão as meninas loiras indica um subconjunto circunscrito no conjunto de todas as meninas. Já os adjetivos subjetivos são empregados de modo avaliativo, ou seja, para destacar uma impressão a respeito do objeto que se caracteriza. Nesse caso, o adjetivo se liga mais fortemente ao contexto. Em as meninas elegantes, revela-se um ponto de vista de quem se expressa, mas nem todos irão concordar com essa opinião. 52. Ao escrever um texto, em qual dos dois casos o locutor deve conseguir justificar melhor a sua escolha: no emprego classificador ou avaliativo do adjetivo? Por quê?
53. Retorne à lista de adjetivos que caracterizam Fabiano e sinhá Vitória. Graciliano Ramos empregou mais adjetivos objetivos ou subjetivos? Comprove sua afirmação.
Na capa de livro reproduzida a seguir, identifique o(s) adjetivo(s) subjetivo(s).
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Os adjetivos subjetivos necessitam de um contexto mais elaborado para serem compreendidos, embora nem sempre sejam aceitos.
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54. A que finalidade se presta(m) esse(s) adjetivo(s) dentro do texto?
A escolha de um adjetivo na hora de escrever um texto deve ser muito bem pensada para que consigamos atingir a finalidade desejada, em especial ao pensarmos os adjetivos subjetivos. A reação do leitor poderá ser de concordância, se ele se enquadrar na imagem dele que o texto constrói; ou de discordância, se essa imagem parecer-lhe equivocada. Leia com atenção o artigo de revista a seguir. Todo ele está baseado na dificuldade de o locutor encontrar um adjetivo.
Em busca de um adjetivo A tentação de arranjar um adjetivo para classificar o feirante Maximiano Matias Marques de Oliveira, 18, é grande. Mas tudo parece pouco. “Precoce” não diz o suficiente para falar de um jovem que trabalha desde os 13, perdeu a virgindade aos 15, foi pai aos 16 e vai ser de novo daqui a seis meses. “Enquanto tiver braços para trabalhar, vou lutar para dar um futuro bom para os meus filhos”, diz Max, como se tivesse 60 anos. Ele explica que não mora com a mãe das crianças porque não “topa” a família dela. Chamar Max de “carente” é banalizar sua situação: ele não tem mãe, nunca se deu com o pai e mesmo assim mora com ele e três irmãos em uma casa de dois quartos no Grajaú, zona sul. “Minha mãe foi quem nos ensinou a trabalhar. Se não fosse ela, a gente seria vagabundo”, diz. “Desfavorecido” soa demagógico quando se emprega em relação a um rapaz que acorda às 3h30 todo dia, inclusive domingo, ganha R$ 700 e não tem opção de lazer. “Pobre não se diverte, descansa. A gente deita e dorme”, diz. Pela acidez das respostas, muitos pensariam em classificar Max de “revoltado”. “Eu conheço gente que mora no barro e frequenta shopping. Eu não vou. Só se for para levar fora das metidas!” Na porta da escola, que fica em uma rua de terra e é cercada por um muro pichado com homenagens a jovens mortos na região, o feirante explica que está no segundo ano do ensino médio e pretende estudar administração. “Mas isso só mais pra frente.” Revista da Folha, 24-8-2003.
55. Por que o autor sente dificuldades em encontrar um adjetivo apropriado para classificar Max?
56. Os adjetivos empregados para “classificar” Max são objetivos ou subjetivos? O que isso revela sobre a proposta de sentido do texto?
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58. Siga a estrutura do artigo Em busca de um adjetivo, para elaborar, em seu caderno, um texto semelhante sobre de uma das personagens de Vidas secas, de Graciliano Ramos. Ao término, reúna-se com um colega e discutam o emprego dos adjetivos no texto de cada um, procurando melhorar os artigos antes de entregá-los para o professor. Saber usar o adjetivo em um texto é parte das habilidades que o escritor deve desenvolver. Na resenha crítica a seguir, os adjetivos não foram usados da melhor maneira. Observe:
O fantástico encanto do emocionante pastelão cinematográfico Antes do refinamento estético e artístico de Fale com ela (2002), o sensacional Pedro Almodóvar experimentou as intrigantes inquietudes e as emoções espalhafatosas. Nessa evidente diferença de estilo cinematográfico, não deixou de ser claro do mesmo modo ao tratar do irremediavelmente humano do homem. Em Mulheres à beira de um ataque de vervos (1988, excepcional distribuição da Fox), o diretor espanhol faz comédia engraçada de primeira linha com o triste drama de personagens espanholas, femininas e excelsas. Loucas por Iván (Fernando Guillén) estão Pepa (Carmen Maura), a amante recémabandonada e triste; Lucia (Julieta Serrano), a mulher feminina internada numa clínica psiquiátrica; e a rutilante Paulina Morales (Kiti Manver), a nova, recente e fecunda aventura amorosa. Paralelo a isso, há o problema hediondo e tenebroso de Candela (Maria Barranco), apavorada com a exigente polícia depois de descobrir que se envolveu com um malvado terrorista xiita. No doméstico encontro dessas mulheres na bela casa de Pepa, Almodóvar cria o encanto do pastelão engraçado e do absurdo inacreditável – o inusitado a redimir todos os erros. O percurso de Pepa soa como um dos discursos sensíveis do cineasta espanhol; e o diálogo conversante da cena final e última, como uma conclusão final bem-humorada de uma festiva apologia dos sentimentos humanos. O fecundo DVD também faz parte de uma caixa quadrada de papelão que contém outros quatro filmes espanhóis de Almodóvar: Ata-me, Carne trêmula, Tudo sobre minha mãe, e Fale com ela.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
57. Baseando-se nos adjetivos empregados de modo classificador no último parágrafo, que impressão de sentido construímos, nós, leitores, sobre a instituição de ensino onde Max recebe a sua formação?
Adaptado de PONCIANO, Helio. In: Bravo! ano 7. São Paulo: Dávila, nov. 2003.
59. O seu trabalho é retirar do texto apenas os adjetivos desnecessários, que nada ou quase nada dizem para a boa compreensão da resenha. Antes de “cortar” um adjetivo, encontre uma explicação para isso. O professor orientará a discussão oral da classe. 198
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Capítulo 6
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O grau dos adjetivos
Observe a frase:
O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.
Compare com
O menino velho e a cachorra Baleia iam atrás.
60. Que diferenças você consegue encontrar entre as duas frases?
Os adjetivos podem variar em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural), sempre de acordo com o substantivo a que se referem. Podem também variar em grau. A expressão “mais velho” sugere que há um outro menino “mais novo”. O adjetivo está sendo usado para comparar dois elementos. Neste caso, dois meninos. O GRAU DOS ADJETIVOS Você lembra? O grau nos adjetivos permite exprimir quantidade e intensidade. Os graus do adjetivo são o comparativo (quando se comparam dois elementos entre si) e o superlativo (quando se destaca um elemento dentre todos os demais). Comparativo: • de igualdade: esta atividade é tão fácil quanto (ou como) a anterior. • de superioridade: esta atividade é mais fácil (do) que a anterior. • de inferioridade: esta atividade é menos fácil (do) que a anterior. Superlativo: • relativo: comparando todos os seres que apresentam a mesma característica, um sobressai por tê-la em maior ou menor grau. – de superioridade: esta atividade é a mais fácil de todas. – de inferioridade: esta atividade é a menos fácil de todas. • absoluto: um ser apresenta determinada característica em um elevado grau. – analítico: esta atividade é muito (bastante, incrivelmente, ...) fácil. – sintético: esta atividade é facílima. Os adjetivos bom, mau, grande, e pequeno formam o comparativo e o superlativo de modo especial. Com a ajuda do professor, complete o quadro seguinte. Bom Comparativo de superioridade
melhor
Superlativo absoluto Superlativo relativo
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Mau
Grande maior
péssimo o melhor
Pequeno
mínimo o maior
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Leia o texto a seguir.
especi de Porto mana as edições ima, sai O melhor óx pr a N Circulam nesta se . te on iz or cidades o Paulo e Belo H nessas e em outras os ad id nv co de gastronomia em Sã ris casas eleitas por jú Alegre. Conheça as doce. no quesito melhor ril, 17-9-2003.
Veja. São Paulo: Ab
O artigo continuava com uma lista das melhores docerias nas principais cidades brasileiras, de acordo com a opinião dos júris da Veja. 61. Identifique os adjetivos no texto da revista Veja e classifique o grau a que pertencem.
Estratégias de referenciação Na construção de referentes, em um texto, surgem as seguintes estratégias de referenciação: Introdução ou construção: um “objeto de discurso” não mencionado anteriormente é introduzido no texto, ganhando relevo na proposta de sentido do texto. Retomada ou manutenção: um “objeto de discurso” já presente no texto é reativado por meio de uma forma referencial, o que permite mantê-lo no foco. Desfocalização: um novo “objeto de discurso é introduzido no texto”, passando a ocupar a posição central e desfocando um outro “objeto de discurso”. Observe o texto seguinte: “Fabiano e Sinhá Vitória representam uma triste realidade nordestina. Eles simbolizam a desumanização a que se sujeitam alguns em situações carentes de dignidade humana. Considerar o outro ser humano como digno de sua condição humana é o melhor que podemos dar a nosso próximo.”
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
stosos do Brasil o g is a m s e c o d s O e o melhor da ais de VEJA sobr
62. Sublinhe, com traço simples, a introdução da estratégia de referenciação; com traço duplo, a retomada desse termo; e, com tracejado, a desfocalização. 63. Em dado momento, em Mudança, de Graciliano Ramos, a família de Fabiano imagina-se vivendo dias melhores: “Eram todos felizes. Sinhá Vitória vestiria uma saia larga de ramagens. A cara murcha de sinhá Vitória remoçaria, as nádegas bambas de sinhá Vitória engrossariam, a roupa encarnada de sinhá Vitória provocaria a inveja das outras caboclas.” 200
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a) Elabore uma frase usando o adjetivo mau, comparando a sinhá Vitória real com aquela que Fabiano sonha. (Utilize o grau comparativo.)
b) Elabore uma frase que faça referência à família sonhada por Fabiano, usando o grau superlativo absoluto.
64. Em sua opinião, o estudo do adjetivo permite que apreciemos melhor quais aspectos do texto de Graciliano Ramos? Por quê?
O NORDESTE, O ADJETIVO E JOSÉ LINS DO REGO Um outro escritor que se preocupou com o Nordeste foi José Lins do Rego. Sua visão e estilo, no entanto, embora também valorizem o sofrimento do povo nordestino, são muito diferentes do que encontramos em Graciliano Ramos. Verifique algumas semelhanças e diferenças na leitura da crônica de José Lins do Rego apresentada a seguir.
Adeus, doce França Volto hoje às minhas criaturas, aos rudes homens do cangaço, às mulheres, aos sertanejos castigados, às terras tostadas de sol e tintas de sangue, ao mundo fabuloso do meu romance, já no meio do caminho. Os dias de França me deram uma sensação de pausa, de espanto, de novos contactos sonhados desde menino. Vi terras por onde andaram os doze pares de França, os heróis do meu Carlos Magno, lido e relido como história de Trancoso. Vi terras do sul, o mar Mediterrâneo, o mar da história, o mar dos gregos, dos egípcios, dos fenícios, dos romanos. Mas o nordestino tinha que voltar à sua realidade, à realidade maior que a história do mundo, isto é, à história dos seus homens, dos cangaceiros brutais, carregados de vida bárbara, de instintos cruéis de uma força, porém, que não se extingue nunca, porque é a energia de uma raça de homens mais duros do que as pedras dos seus lajedos. Volto aos “Cangaceiros” e desde logo tudo o que vi e senti se refugia no fundo da sensibilidade, para que a narrativa corra, como em leito de rio que a estiagem secara, mas que as águas novas enchem, outra vez, de correntezas. Volto ao terrível Aparício que mata igual a um flagelo de Deus, ao monstruoso Negro Vicente, ao triste Bentinho, ao místico Domício, aos umbuzeiros carregados de frutos, aos mandacarus de floração de sangue, aos cantadores de estrada, às mulheres sofredoras, às noites de lua, aos tiroteios, ao crime e ao amor, à poesia barbaresca e vigorosa de um povo que é maior do que a terra que o criou. Volto contente e disposto a tudo. Adeus, doce França. Agora os espinhos me arranham o corpo e as tristezas me cortam a alma. Vários autores. O melhor da crônica brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.
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65. O cronista volta de uma viagem à França, país a que atribui o adjetivo “doce”. Examine o texto com atenção. Que diferença faz, dentro do texto, o uso do adjetivo no título da crônica? Por que não apenas “Adeus, França”? (Observe, por exemplo, os adjetivos destacados logo no primeiro parágrafo.)
66. A oposição do autor não é entre França e Brasil, mas entre França e Nordeste. O que essa escolha permite destacar do ponto de vista do cronista sobre a realidade brasileira?
Douce France (Doce França): também o nome de uma música francesa de sucesso, principalmente na época de composição da crônica, composta em 1947, por Charles Trenet.
67. No primeiro parágrafo, o cronista fala dos “sertanejos castigados”. O uso desse adjetivo é apropriado? Recorra ao exemplo de Fabiano, de Vidas secas, para provar a sua resposta.
68. No segundo parágrafo, o cronista se denomina “o nordestino”. No entanto ele não se descreve a si mesmo, mas aos cangaceiros. Essa diferença entre o cronista e o rude cangaceiro faz referência a um fato de sua biografia. Qual?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
JOSÉ LINS DO REGO Cavalcanti (1901-1957) – Nasceu na Paraíba, criado no engenho de propriedade do avô materno, formou-se em Direito, no Recife. Conheceu grandes intelectuais da época que influenciaram a sua obra, inclusive Graciliano Ramos. Seu primeiro livro, Menino de engenho, que você poderá encontrar na biblioteca de sua escola, foi publicado em 1932 e atingiu enorme repercussão, abrindo caminho para uma série de obras de grande importância em nossa literatura. Seu texto é repleto de poesia e de uma linguagem cheia de vocábulos regionais. Neto de um poderoso senhor de engenho, José Lins do Rego conviveu com essa transição econômica e cultural por toda a sua juventude. Em seus textos, encontramos um tom confessionalista biográfico.
69. No quarto parágrafo, o autor faz uso de um adjetivo no grau comparativo de superioridade. Identifique o trecho. Qual a importância dessa afirmação dentro do texto?
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70. A biografia de José Lins do Rego afirma que “seu texto é repleto de poesia”. Encontre uma passagem da crônica que justifique essa afirmação e explique-a em suas palavras.
71. Seguindo o exemplo do primeiro parágrafo, listem, em classe, alguns dos adjetivos encontrados na crônica e discutam qual a importância do adjetivo no texto de José Lins do Rego. Sob a supervisão do professor, a classe irá elaborar um texto-síntese que será escrito no caderno. Como pode observar, o adjetivo permite que o escritor dirija a atenção do leitor a pontos que deseja destacar sobre o assunto tratado. O seu uso aproxima o leitor do ponto de vista do autor. Na resenha a seguir, o autor quase não usa adjetivos. Com isso, o texto perde muito de sua vibração e não atinge tão facilmente ao leitor. Comprove:
Mundo Banda Jarabe de Palo unifica ritmos regionais com música pop Inimiga das ruminações e de musicalidades, a banda Jarabe de Palo chega ao quarto CD totalmente devotado à celebração. São 15 canções nos estilos. En Conexión tem um guitarra devedora dos riffs de Carlos Santana. Corazón, com participação da cantora Elena Andujar, tem acento. Las cruces de Tijuana vem em ritmo de ranchera, lembrando as canções de Los Rodriguez. Os ritmos estão na Cambia La Piel. A canção, com sua guitarra e baixo básicos, surge em No Sé Estar Enamorado, estrutura musical para receber, no meio, um trecho de punk rock agradavelmente pasteurizado. E Aún Me Toca é um ska com acentos de brega brasileiro. Mas esta miscelânea tem unidade. É pop rock com acento, mas sem soar. Como afirma o líder, Pau Donés, eles praticam o estilo “jarabesco”, e se esforçam para “transmitir otimismo e vitalidade”. Ideal na canção-título Bonito, versão naiv da enunciação schopenhaueriana do
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mundo como nossa vontade e representação: “Bonito, tudo me parece bonito./ Bonita a paz, bonita a vida/ Bonito voltar a nascer cada dia/ Que bonito te vai tudo,/Quanto te vai tudo bonito”. Simplicidade para os tristes.
72. Identifique em que lugares faz falta um (ou mais) adjetivo(s). Encontre, sempre que possível, o melhor adjetivo para que o texto faça sentido e incentive o leitor a ouvir o CD dos Jarabe de Palo. A classe discutirá as diferentes escolhas feitas.
73.Elabore uma resenha crítica sobre o capítulo Mudança de Vidas secas. Na redação, procure atingir dois objetivos: – o melhor emprego possível dos adjetivos, de acordo com os objetivos do texto; – fidelidade ao gênero pedido. Antes de entregá-la ao professor, discuta com um colega até que ponto você conseguiu atingir esses objetivos.
História crítica da arte e da literatura greco-latinas
Ânfora. Cantor declamador com uma cítara (aprox. 490 a.C.). Nova Iorque: The Metropolitan Museum of Art. Desde a Idade do Bronze, no mínimo, os aedos – poetas-cantores itinerantes – cantavam ou declamavam, em versos, aventuras heroicas e lendas da mitologia grega para os ricos aristocratas dos palácios. Em geral, a declamação era acompanhada da música da lira ou de algum outro instrumento musical.
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A literatura em língua portuguesa deve muito à antiga cultura greco-latina. Para muitos estudiosos, a arte nasce da magia presente nas sociedades primitivas: rezas, pinturas sagradas, encantamentos, amuletos, cânticos religiosos e de guerra seriam a origem da poesia e da arte. Esses textos não têm a marca da individualidade, ou seja, não são considerados como criação de uma pessoa. São a expressão poética anônima e destinada à comunidade, exprimindo as ideias e os sentimentos daquele grupo. Assim é que também nasce a arte grega. Os primitivos gregos usavam pedras e troncos de árvores na adoração do que constituem as primeiras manifestações artísticas. Aos poucos, desenvolveram uma notável estrutura artística e cultural que se tornou a base para toda a arte e cultura ocidentais. Os romanos, embora conquistadores, impressionaram-se com a cultura grega. De fato, podemos dizer que a literatura escrita romana nasceu principalmente a partir da tradução de A Odisseia para o latim. Após a conquista da Grécia (século III a.C.), que foi reduzida a província romana, a religião antiga e simples dos romanos caiu no esquecimento, sendo substituída pela mitologia grega, que era mais atraente. As divindades gregas foram identificadas com os deuses de Roma, e os mitos de uma religião passaram para a outra. Todos os romanos cultos desse período escreviam e falavam grego. Isso não significa que os romanos simplesmente copiaram os gregos. Antes, houve um sincretismo cultural, uma assimilação criadora da cultura grega, com a visão de mundo romana. A influência do pensamento grego continua até hoje na civilização ocidental.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Adaptado de Bravo! ano 7. São Paulo: Dávila. nov. 2003, p. 41.
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Escultura A escultura grega representa os mais altos padrões já atingidos pelo homem. Inicialmente apareceram esculturas simétricas, em rigorosa posição frontal, com o peso do corpo igualmente distribuído sobre as duas pernas. Esse tipo de estátua foi chamado Koûros (em grego: homem jovem). A seguir, passou-se a procurar o movimento nas estátuas. Elas adquiriram, além do equilíbrio e perfeição das formas, a impressão de estarem se movendo. Para isso, começaram a usar o bronze, que era mais resistente do que o mármore, podendo fixar o movimento, sem se quebrar. Finalmente, a escultura passou a se preocupar não apenas com a idade e a personalidade, mas também com as emoções e o estado de espírito de um determinado momento vivido pelo indivíduo. Além disso, os gregos passaram a esculpir grupos de figuras que mantinham a sugestão de mobilidade e beleza de qualquer ângulo pelo qual fossem observadas. Uma das esculturas gregas mais famosas é a da deusa Vênus, que pode ser vista, atualmente, no Museu do Louvre, na França. É chamada Vênus de Milo e mede 1,98 m. Foi encontrada durante o século II a.C., na ilha de Milos, no Mar Egeu. Observe como a obra contrasta a delicadeza da forma feminina com a textura pesada do manto.
Exemplo de koûros (c. 600 a.C.). Nova Iorque: Metropolitan Museum of Art.
Vênus de Milo (c.100 a.C.). Paris: Museu do Louvre.
74. A estátua já teve braços, mas não se sabe ao certo em que posição. Observe também como ela se contorce. Certamente não é fácil uma pessoa manter-se nessa posição. Repare também no manto. Como podemos interpretar essa postura?
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Pintura A pintura grega encontra-se, principalmente, na arte cerâmica. Os vasos gregos apresentam delicada harmonia em sua forma, desenho, cores e o espaço utilizado para a ornamentação. Além de servir para rituais religiosos, esses vasos eram usados no cotidiano. Era, portanto, uma expressão artística funcional. A pintura grega se divide em três grupos: 1. figuras negras sobre fundo vermelho; 2. figuras vermelhas sobre fundo negro; 3. figuras vermelhas sobre fundo branco. Para os romanos, no entanto, a pintura é uma expressão cultural das mais importantes. Representavam-se, por meio de pinturas, os acontecimentos que as pessoas consideravam memoráveis, sem preocupações estéticas. A pintura romana era mais uma forma de ilustrar e documentar os acontecimentos vividos. Com a popularização do cristianismo em Roma, a pintura passou a ser a expressão dos interesses considerados cristãos, servindo como forma de educar e catequizar o pensamento dos fiéis. Ânfora ateniense (séc. V a.C.) representando cena da Odisseia. Londres: Museu Britânico.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
75. Compare, agora, a expressão facial com a postura do corpo. Há contraste ou harmonia? Que interpretação podemos fazer sobre essa Vênus?
“A arte da representação da figura humana no mundo antigo começa e termina com a ‘frontalidade’ (...). O curso desta evolução inicia-se com a subordinação da arte ao culto religioso, passando pelo reinado da autonomia e do esteticismo, e termina com uma nova forma de dependência espiritual.” HAUSER, A. História social da literatura e da arte. São Paulo: Mestre Jou, 1972.
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Capítulo 6
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Arquitetura Os principais monumentos da arquitetura grega são os templos, dos quais o mais importante é o Partenon de Atenas, e os teatros.
O Partenon de Atenas.
Teatro de Epidauro, construído, no séc. IV a.C., ao ar livre.
Pesadas colunas sustentavam um entablamento horizontal. As colunas e entablamento eram construídos segundo os modelos das ordens dórica, jônica e coríntia. – Ordem dórica: era simples e maciça. O fuste, parte principal da coluna, era monolítico e grosso. O capitel, parte superior da coluna, era uma almofada de pedra. Representa o masculino e o pensamento. – Ordem jônica: apresentava fuste mais delgado e firmavase sobre uma base decorada. Representava a graça e o feminino. – Ordem coríntia: o capitel era formado com folhas de acanto e quatro espirais simétricas. Representava o luxo e a ostentação. Coluna dórica.
Coluna jônica.
Coluna coríntia.
76. As colunas dórica e jônica procuravam abranger a completude homem/mulher, mas também, ao mesmo tempo, reforçavam um modo de ver o mundo: o de que o pensamento pertence ao gênero masculino e a graciosidade ao gênero feminino. Esse pensamento ainda domina na sociedade nos dias de hoje? Por quê?
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Literatura
Aos poucos desenvolveram-se três gêneros poéticos: a poesia heroica ou épica (que abordava as lutas pela conquista de novas terras), a poesia telúrica ou didática (que se preocupava em ensinar como cultivar a terra) e a poesia lírica (que expressava emoções e sentimentos do indivíduo em relação ao plano divino e, mais tarde, também humano). Ao mesmo tempo, gradativamente, desenvolveu-se uma poesia própria ao gosto e à vida da elite.
Mito: (do grego mÿthos = fábula, narração) narrativas fantásticas dos atos de seres sobrenaturais e que explicam, de maneira religiosa, poética ou mágica os fenômenos básicos da vida humana em face da natureza, da divindade ou do próprio homem.
Os mais antigos poemas da Grécia que chegaram aos nossos dias são as epopeias de Homero – Ilíada e Odisseia. Sobre Homero, tudo o que sabemos se origina de lendas, e nem sequer há certeza de que ele tenha realmente existido. Compostas provavelmente durante o século VIII a.C., as epopeias de Homero representam a culminância de séculos de poesia oral. Composições desse tipo, em versos, foram criadas antes da invenção da escrita e conservadas graças à memória e ao trabalho de incontáveis gerações de poetas-cantores, os aedos. A poesia grega não era o que, em geral, hoje, chamamos de “poesia”. Não havia rimas e sim uma estruturação do verso em sílabas longas e breves, de tal modo que a declamação adquiria uma musicalidade muito própria à língua grega. Os versos eram sempre acompanhados de música. A própria palavra lírica, que até hoje usamos, origina-se da lira, instrumento com o qual os aedos entoavam os seus poemas. A Ilíada e a Odisseia são poemas épicos que tomam como referência a Guerra de Troia, uma antiga cidade do litoral da Ásia.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Os gregos antigos tiveram grande facilidade em inventar histórias fabulosas que, antes do progresso do pensamento científico, serviram para explicar as origens dos fenômenos naturais e do comportamento humano.
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Mapa da região da Grécia, assinalando Atenas, Esparta e Troia.
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Capítulo 6
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A lenda da Guerra de Troia Écuba, esposa do rei de Troia, no último dia da gestação de Páris, teve um pesadelo. O profeta Ésaco interpreta que Páris será a causa de desgraça dos troianos. Para afugentar tal agouro, seus pais decidem abandonar o recém-nascido no alto do Monte Ida, para que morra. No entanto, o bebê é salvo por pastores. Adulto, Páris desconhece a sua origem. Certo dia, Zeus o designa juiz de uma disputa envolvendo três deusas: Afrodite (deusa do amor), Atená (deusa da sabedoria) e Hera (deusa esposa de Zeus). Aparecera um pomo de ouro com a inscrição “À mais bela”. Páris deveria escolher qual das três deusas mereceria o presente. As deusas procuram corromper o julgamento de Páris oferecendo-lhe presentes: Hera oferece a ele poder; Atená, a sabedoria; Afrodite, a posse da mulher mais bonita do mundo. Páris decide-se por Afrodite. Algum tempo depois, o jovem vai a Troia participar de um torneio em honra da memória do filho de Écuba, considerado morto. O seu objetivo era, na verdade, recuperar um touro que os servos de Príamo haviam roubado dos pastores de Ida. É reconhecido pela irmã, Cassandra, profetisa que vê no jovem a causa da desgraça de Troia. Apesar de todos os indícios, Páris reconquista o seu lugar como príncipe troiano. Afrodite, para manter a sua promessa, induz o jovem a viajar para Esparta a fim de que conheça Helena, a mulher mais bonita do mundo e esposa de Menelau, rei de Esparta. A deusa do amor faz com que Páris e Helena se apaixonem. Aproveitando uma ausência do marido, Páris e Helena fogem para Troia. Assim começa uma guerra que se arrastará por dez anos e que significará a destruição completa de Troia nas mãos de Menelau. A vitória na guerra de Troia foi uma estratégia militar das mais inventivas. Troia era uma cidade murada, e entrar nela parecia impossível. Sem entrar na cidade, os espartanos jamais ganhariam a guerra. Menelau e seu exército fingem desistir e dão a guerra por terminada. Aparentemente a vitória foi dos troianos. Quando os habitantes de Troia chegam ao litoral para confirmar, deparam-se com um colossal cavalo de madeira sobre rodas. Um espartano chora ao lado e afirma que os exércitos gregos pensavam oferecer aquele cavalo a Hera, mas que agora nada mais fazia sentido. Os troianos resolvem, então, oferecer aquela estátua a Afrodite. Introduzem o cavalo na cidade e celebram a vitória. Quando já estão todos bêbados ou dormindo, os soldados gregos saem de dentro do cavalo, incendeiam e aniquilam Troia. A Ilíada trata dos dez anos de guerra que os gregos moveram contra os troianos, para se vingarem do rapto da bela Helena. A aventura, no entanto, continua em Odisseia. Nessa obra, Homero nos relata o retorno de Ulisses (chamado de Odisseu, pelos gregos), com o fim da guerra de Troia, em dez anos de viagens e aventuras até chegar a seu reino em Ítaca e reencontrar a fiel esposa Penélope. Séculos depois, um romano, Virgílio, escreverá a Eneida. Nesse poema épico, os fugitivos de Troia fundaram uma colônia que, mais tarde, tornar-se-ia Roma. Nessa versão, os romanos seriam descendentes diretos dos troianos. Isso explica por que a deusa Vênus (para os romanos; Afrodite, para os gregos) favorece sempre os romanos e seus descendentes, enquanto Juno (Hera) e Minerva (Atenas) defendem os interesses dos gregos. A literatura cai na boca do mundo
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A Eneida Provavelmente os gregos colonizados e levados a Roma fizeram com que seus senhores acreditassem ser descendentes de algum dos heróis de a Ilíada e criaram a lenda de Eneias, o fugitivo troiano fundador de Roma e celebrado na Eneida de Virgílio. Essa lenda era zelosamente acreditada e defendida pelos romanos.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Virgílio, que escreveu a obra mais representativa do pensamento cultural romano, a Eneida, nasceu em 70 a.C., em Mântua (região dos Alpes). Portanto, ele não era um “legítimo” cidadão romano. Na verdade, somente recebeu a cidadania romana em 49 a.C. Sua vida foi atravessada por grandes e graves acontecimentos políticos. Estudou em Cremona, em Milão e em Roma. Terminou de escrever a Eneida em 19 a.C., mas, antes de dá-la por concluída, desejava ir à Grécia e à Ásia Menor, para conhecer os lugares de que falara em sua obra. Foi levado doente para a cidade de Brindes, onde, antes de morrer, pediu que queimassem a Eneida porque não conseguira fazer a revisão.
Resumo de Eneida
Mapa das regiões onde se desenvolve a Eneida.
A narrativa começa no meio dos acontecimentos. Eneias e os demais fugitivos já partiram há muito de Troia. Saindo da Sicília, são atingidos por violenta tempestade, provocada a pedido de Juno. Netuno acalma os mares. Os navios são desviados para as praias do norte da África. Vênus intercede pelos troianos, que chegam a Cartago, sendo acolhidos pela rainha Dido. A pedido de Dido, Eneias relata a história da Guerra de Troia, bem como as peripécias da viagem até aquele momento. É assim que o leitor fica sabendo do que ocorreu antes da tempestade, como Eneias e os demais, corajosamente,
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Capítulo 6
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conseguem escapar de Troia. Ficamos sabendo também que fundar Roma é uma incumbência dada pelos deuses àquele grupo. Dido se apaixona por Eneias e, em pouco tempo, os dois passam a ter um romance condenável: ela por não prestigiar a sua condição de rainha de um povo tão merecedor, como os púnicos ou cartaginenses; ele, por desistir da missão dos deuses de fundar Roma. Mas esse romance não durará muito, pois Júpiter logo envia Mercúrio como emissário a Eneias, para lembrar-lhe que a sua missão não terminava ali, que ele devia partir imediatamente. Eneias obedece imediatamente, abandonando Dido que, desesperada, o amaldiçoa e se suicida. “Dido já não se importa com a conveniência ou com a sua reputação; Quando, finalmente, Eneias chega à região já não considera seu amor como clandestino” (Eneida, canto IV). do Tibre, envia embaixadores ao rei daquela região e esse, por sua vez, oferece a Eneias a mão de sua filha, Lavínia. A rainha se enfurece com essa ideia, o mesmo ocorrendo com Turno, chefe rútulo a quem a moça já havia sido prometida em casamento. É o início da guerra entre latinos e troianos. Após muitas batalhas violentas e vendo o exército desanimado, Turno propõe um duelo a Eneias. As condições do duelo foram violadas, e uma seta fere Eneias. Vênus o cura. O exército troiano chega até os muros da cidade, e a rainha latina se suicida. Trava-se um combate singular entre Eneias e Turno. O chefe troiano vence o inimigo e sacrifica-o. Vitoriosos, os troianos passam a ser latinos. Abre-se, assim, o caminho para a fundação de Roma.
“Vai, dirige-te à Itália com os ventos, alcança teu reino com as ondas. Mas eu espero, se as piedosas divindades podem algo, que sofras suplícios no meio dos rochedos e que muitas vezes invoques Dido por seu nome” (Eneida, canto IV).
“Dizendo estas palavras, inflamado, enfia a espada no peito que lhe estava fronteiro. Os membros de Turno desfalecem com o frio da morte e a vida indignada foge para as sombras com um gemido” (Eneida, canto XII).
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Agora é a sua vez
“Para que dores maiores me reservo? Acaso ele se comove com meu pranto? Acaso desvia os olhos? Acaso, vencido, verteu lágrimas ou teve compaixão de sua amante? Não te detenho nem respondo a tuas palavras. Vai, dirige-te à Itália com os ventos, alcança teu reino com as ondas. Mas eu espero, se as piedosas divindades podem algo, que sofras suplícios no meio dos rochedos e que muitas vezes invoques Dido por seu nome. Ausente, eu te acompanharei com fogos negros e quando a frígida morte tiver separado meus membros de minha alma estarei por toda parte, como sombra. Terás teu castigo, perverso. Disso eu saberei e a notícia me chegará nas profundezas dos mares” (Eneida IV, 365-370; 380-387).
Encontre uma letra de música que permita ao leitor construir uma relação intertextual com o trecho transcrito de A Eneida. Transcreva-os em seu caderno e explique essa relação.
Muito tempo depois de Virgílio, Camões escreveu Os Lusíadas, considerado o maior poema épico produzido depois da queda de Roma e, é claro, uma das principais obras escritas em língua portuguesa. Esse poema épico tem como herói o povo português. Narra as aventuras dos portugueses, guiados por Vasco da Gama, para chegar às Índias, contornando a costa africana. Nesse percurso, foi imprescindível a ajuda de Vênus. A seguir, leia com atenção a estrofe 33 do canto I d’Os Lusíadas.
“Sustentava contra ele Vênus bela, Afeiçoada à gente lusitana, Por quantas qualidades via nela Da antiga tão amada sua romana; Nos fortes corações, na grande estrela, Que mostraram na terra Tingitana, E na língua, na qual quando imagina, Com pouca corrupção crê que é a latina.” Os Lusíadas. Canto I.
78. Explique a estrofe com suas palavras.
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77. Leia, com atenção, o excerto de a Eneida, referente à Maldição de Dido sobre Eneias quando o vê partindo e deixando-a sozinha.
79. Explique os motivos apresentados por Camões, bem como outros de origem mitológica, que justificam a afeição de Vênus pela “gente lusitana”.
Como vemos, a mitologia grega, que depois é adotada também pelos romanos, aparece em grande parte da produção literária de toda a civilização ocidental. 212
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Capítulo 6
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Catulo Catulo (87-54 a.C.) é considerado o maior poeta lírico de literatura latina. Nasceu em Verona, no norte da Itália, mas passou a maior parte de sua vida em Roma. Teve uma vida curta, mas intensa, entre paixões, amizades, libertinagem e poesia. Grande parte dos 116 poemas que chegaram até nós é marcada pela paixão que o poeta teve por uma dama romana, Clódia, casada com o cônsul Metésia Céler e irmã do tribuno Clódio. Para referir-se a ela, Catulo utilizou o pseudônimo de Lésbia. Com ela, Catulo teve momentos felizes de paixão, mas também experimentou a dor da traição e da degradação moral dessa mulher. Imagine que você esteja em sua domus (de onde vem a palavra portuguesa “domicílio”) há uns 2 000 anos, enquanto um de seus escravos, tocando lira, lê para você o seguinte poema de Catulo:
LXXXV “Odi et amo. Quare id faciam, fortasse requiris. Nescio, sed fieri sentio et excrucior.”
Cuja tradução seria:
Odeio e amo. Como isso é possível, talvez você pergunte. Não sei: somente sei que o sinto e sofro terrivelmente. 80. Apesar do tempo que já se passou desde a sua escrita, você diria que expressa um sentimento atual? Por quê? 81. Esse poema de Catulo é um dístico, ou seja, um poema de dois versos. Conseguir expressar toda a emoção que o amor provoca, em dois versos, é um desafio. Note que Catulo se apoia na antítese amor – ódio para estruturar o seu poema. Elabore um dístico que tenha como tema central a relação desejo – felicidade.
Cícero Marcus Túlio Cícero é considerado o maior escritor em língua latina. Foi um importante advogado em Roma e seguiu também a carreira política. Escreveu discursos jurídicos, textos filosóficos e retóricos, além de quase mil cartas sobre os mais variados assuntos.
O teatro greco-latino Os gregos representavam, no teatro, tragédias e comédias. A tragédia grega era basicamente de temática mitológica, enquanto a comédia não tinha nenhum padrão rígido. Ela tendia a criar situações absurdas e, dentro destas, elaborar uma crítica essencialmente política aos governantes e aos costumes da época. A satirização não poupava nem os deuses, como se pode constatar na comédia As rãs, de Aristófanes, em que Dionísio (Baco, para os latinos) afeminado é vestido como uma prostituta. Provavelmente a tragédia mais importante produzida pela literatura grega é Édipo Rei, de Sófocles.
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Busto de Cícero (séc. I a.C.). Roma: Museu Capitolino.
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Resumo de Édipo Rei, de Sófocles
A criança é salva por um pastor e adotada pelo rei de Corinto. Certo dia, um bêbado acusa Édipo, já crescido, de ser filho ilegítimo do rei de Corinto. Perturbado, Édipo recorre ao Oráculo, que evita responder à sua dúvida, mas dá a terrível informação: Édipo está destinado a matar o pai e casar-se com a mãe. Acreditando ser filho do rei de Corinto, Édipo deixa a cidade e vai para Tebas. No caminho, Édipo depara com uma carruagem. À frente vem o arauto, que ordena rudemente a Édipo que se afaste e tenta empurrá-lo para fora da estrada. O príncipe começa uma briga e termina matando todo mundo que nela se envolve. Para sua desgraça, um dos homens que vinha na carruagem era Laio, seu pai verdadeiro. Sem saber que tinha matado o próprio pai, Édipo prosseguiu sua viagem para Tebas. No caminho, deparou com a Esfinge, um monstro, metade leão, metade mulher, que lançava enigmas aos viajantes e devorava quem não os decifrasse. A Esfinge atormentava os moradores de Tebas. O enigma proposto pela Esfinge era o seguinte: “Qual o animal que de manhã tem quatro pés, dois ao meio-dia e três à tarde?” Édipo respondeu: “É o homem. Pois na manhã da vida (infância) engatinha com pés e mãos; ao meio-dia (na fase adulta) anda sobre dois pés; e à tarde (velhice) necessita das duas pernas e o apoio de uma bengala”. Furiosa por ver o enigma resolvido, a Esfinge se matou. Felizes com a morte da Esfinge, os tebanos entronizam Édipo, que se casa com a rainha Jocasta, viúva de Laio e sua mãe verdadeira. Desse matrimônio nasceram quatro filhos: Etéocles, Polinice, Antígona e Ismene. Cerca de dez anos depois, uma praga começa a devastar a região. Um oráculo preconiza que as coisas melhorarão quando o assassino de Laio for descoberto e expulso da cidade. Édipo, zeloso, toma em suas próprias mãos a missão de descobrir o criminoso. Inicia a busca e quanto mais se aproxima do culpado, mais se aproxima da verdade e de seu destino. É quando os fatos vêm à tona. Édipo não consegue suportar a verdade e arranca os próprios olhos. Jocasta enforca-se. Édipo Rei pode ser considerada uma das primeiras histórias de detetives, já que seu protagonista tem um problema policial a ser resolvido por meio de uma investigação. Quando descobriu a verdade, que assassinou o pai e casou-se com a mãe, Édipo horrorizou-se e furou os próprios olhos. A interpretação dessa cegueira voluntária tem sido discutida há séculos. Se Édipo era feliz quando “não via” a realidade, imaginando-se um afortunado rei, bem casado, pai de quatro filhos, quando, na verdade, era um parricida incestuoso, seria a cegueira uma tentativa inconsciente de voltar a um estado de “não-ver” e, portanto, de felicidade?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Laio, rei da cidade de Tebas e casado com a bela Jocasta, foi advertido pelo oráculo (palavra dos deuses a quem os consultava) de que não poderia gerar filhos. Se esse aviso fosse desobedecido, Laio seria morto pelo próprio filho, e muitas outras desgraças surgiriam. A princípio, Laio não acreditou na profecia do oráculo e teve um filho com Jocasta. Quando a criança nasceu, Laio, cheio de remorso e com medo da profecia, ordenou que o recém-nascido fosse abandonado numa montanha, com os tornozelos furados, amarrados por uma corda. Foi daí que veio seu nome: oidípous que significa “pé inflamado”.
O mito de Édipo foi utilizado pelo dramaturgo Sófocles (496-406 a.C.), na tragédia Édipo Rei, para uma reflexão sobre as questões da culpa e da responsabilidade dos homens perante as normas e tabus. Ainda de acordo com o mito, Édipo abandona Tebas, deixando seu cunhado Creonte como regente. Acolhido em Colona, perto de Atenas, graças à hospitalidade do rei Teseu, Édipo morreu misteriosamente num bosque sagrado e converteu-se em herói protetor da Ática. A maldição de Édipo transmitiu-se a seus filhos, que tiveram igualmente destino trágico. O grande nome do teatro romano é Plauto, que viveu entre 254 e 184 a.C., portanto, antes dos escritores Catulo e Cícero. Plauto foi um comediógrafo, ou seja, escreveu comédias, bem ao gosto popular, para fazer o público chorar de tanto rir. 214
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Capítulo 6
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PAUSA PARA REFLEXÃO Em seu caderno, responda às questões a seguir. I. Que conteúdos deste capítulo conseguiria explicar sem consultar o livro? II. Consultando o livro, identifique os conteúdos deste capítulo que, na sua opinião, não foram bem compreendidos e merecem novas explicações ou atividades de reforço. III. Que atividade(s) considerou mais importante(s) para o seu aprendizado? Por quê? IV. Que atividades foram mais agradáveis? Por quê? V. Participou das atividades com interesse? Em que aspectos você poderá melhorar nas próximas aulas?
Para ler Felicidade clandestina Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartãopostal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”. Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta
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LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina. Rocco: Rio de Janeiro, 1998.
Recapitulando nosso aprendizado A dimensão social da literatura Toda forma de arte, não apenas a literatura, traduz valores presentes na sociedade. Volte a examinar as reproduções dos quadros de Da Vinci e de Picasso e, a seguir, reflita sobre as questões propostas:
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
80. Qual dos dois quadros idealiza uma sociedade equilibrada, em que a mulher ideal é um modelo de serenidade e virtudes?
81. Qual dos dois quadros é mais dinâmico e agressivo?
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82. O que esse quadro revela sobre a sociedade onde ele surgiu?
Quadro-resumo do capítulo A seguir, você irá preencher um quadro-resumo do capítulo. Siga as orientações de leitura para organizar as diferentes partes. Literatura: fenômeno linguístico ou social? Observações: ao elaborar o seu resumo, leve em conta as perspectivas de literatura que procuram responder às perguntas: o que é? Para que serve? Como a sociedade legitima a literatura?
Resenha crítica O que é? Como se faz? Para que serve?
Adjetivo Observação: na elaboração de seu resumo, leve em consideração a diferença que o adjetivo pode fazer na compreensão e produção de um texto.
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EM TEMPO COM O FUTURO Respondendo a questões de múltipla escolha no vestibular – interpretação de textos
Observe o teste vestibular a seguir: (Fuvest)
Zoo Uma cascavel, nas encolhas*. Sua massa infame. Crime: prenderam, na gaiola da cascavel, um ratinho branco. O pobrinho se comprime num dos cantos do alto da parede de tela, no lugar mais longe que pôde. Olha para fora, transido, arrepiado, não ousando choramingar. Periodicamente, treme. A cobra ainda dorme. Meu Deus, que pelo menos a morte do ratinho branco seja instantânea!
Tenho de subornar um guarda, para que liberte o ratinho branco da jaula da cascavel. Talvez ainda não seja tarde. Mas, ainda que eu salve o ratinho branco, outro terá de morrer em seu lugar. E, deste outro, terei sido eu o culpado. (Fragmentos extraídos de Ave, palavra, de Guimarães Rosa)
A situação do ratinho branco, preso na gaiola da cascavel, provocou no narrador a) imediato sentimento de culpa, que o levou a declarar-se responsável pela situação. b) desejo imediato de intervenção, a fim de antecipar o previsível desfecho. c) reação espontânea e indignada, da qual veio a se arrepender mais tarde. d) compaixão e desejo de intervir, seguidos de uma reflexão moral. e) curiosidade e repulsa, a que se seguiu a indiferença diante do inevitável. 1. Descreva como você começaria a resolvê-lo: leria primeiro o texto ou o enunciado. Por quê?
Alguns iniciariam o teste lendo o texto, outros começariam lendo primeiro a questão e depois recorrendo ao texto, procurando nele a resposta. A primeira estratégia é mais recomendável quando há várias questões para o mesmo texto a ser interpretado. A segunda, quando há apenas uma ou duas questões que são pedidas a partir desse texto.
Vejamos como isso poderia ocorrer no exercício acima, da Fuvest. “A situação do ratinho branco, preso na gaiola da cascavel, provocou no narrador”. Note, a frase está a meio, ela será continuada nas proposições a seguir. A informação de que dispomos pede a reação do narrador diante daquele ratinho branco, preso na
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Ao final desta segunda unidade, vamos compreender um pouco mais o funcionamento de questões de múltipla escolha sobre interpretação de texto, para poder resolvê-las mais facilmente, tanto na escola como no futuro vestibular.
(*) nas encolhas = retraída, imóvel
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gaiola da cascavel. Essa reação orientará o nosso olhar na leitura do texto. Palavras como “crime” e “pobrinho” remetem-nos para uma sensação de pena por parte do narrador. Relendo as alternativas, notamos na letra “D”, a palavra “compaixão”. A alternativa “D” ainda afirma “desejo de intervir”, o que se comprova no terceiro parágrafo: “Tenho de subornar um guarda, para que liberte o ratinho branco da jaula da cascavel. Talvez ainda não seja tarde”. Finalmente a alternativa D diz “seguidos de uma reflexão moral”. “Seguidos” nos remete para a parte após o desejo de intervenção, ou seja, depois do terceiro parágrafo. Na verdade, somente pode ser o último parágrafo. Trata-se de uma reflexão moral? Vejamos: “Mas, ainda que eu salve o ratinho branco, outro terá de morrer em seu lugar. E, deste outro, terei sido eu o culpado.” Podemos considerar este parágrafo como uma “reflexão moral”?
Uma reflexão moral pode ser uma conclusão ou lição relativa a si mesmo, em relação aos costumes e hábitos considerados válidos para um determinado momento ou lugar (veja os verbetes “reflexão” e “moral” no Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa). Bem, seguindo esse raciocínio, podemos considerar o parágrafo final como uma conclusão relativa a um hábito, no caso, à alimentação da cascavel com ratinhos, ou seja, uma reflexão moral. Ficamos, portanto, com a alternativa “D”. Mas ainda não temos plena certeza de que seja esta. No entanto, outra estratégia é procurar justificar não apenas por que aquela que você considerou correta é a mais apropriada, mas também por que aquelas que você considerou erradas não são adequadas ao texto. Esse tipo de raciocínio leva algum tempo, por isso, embora o vestibular, talvez, ainda lhe pareça uma realidade distante, é boa ideia começar a treinar desde já. Com o treino, o seu raciocínio ficará mais rápido.
2. Escolha uma das outras alternativas da questão e justifique por que ela é falsa. Baseie-se no texto para isso.
Agora, você poderá resolver as próximas questões, também da Fuvest e baseadas no mesmo texto. 4. Por meio de frases como “A cobra ainda dorme”, “Talvez ainda não seja tarde” e “ainda que eu salve o ratinho branco”, o narrador
a) prolonga a tensão, alimentando expectativas. b) exprime a inevitabilidade dos fatos, ao empregar os verbos no presente. c) entrega-se a fantasias, desligando-se das circunstâncias presentes. d) formula hipóteses vagas, argumentando de modo abstrato. e) precipita a ação do tempo, apressando a narração dos fatos.
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3. Fica na alternativa “D” ou troca por outra? Por quê?
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5. O último parágrafo permite inferir que a convicção final do narrador é a de que
a) a culpa maior está na omissão permanente. b) os atos bem-intencionados são inocentes. c) nenhuma escolha é isenta de responsabilidade. d) não há como discordar da lei do mais forte. e) não há culpa em quem aperfeiçoa as leis da natureza.
(PUC-SP)
A questão é começar Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever também. Na fala, antes de iniciar, mesmo numa livre conversação, é necessário quebrar o gelo. Em nossa civilização apressada, o “bom dia”, o “boa tarde, como vai?” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, falase do tempo ou de futebol. No escrever também poderia ser assim, e deveria haver para a escrita algo como conversa vadia, com que se divaga até encontrar assunto para um discurso encadeado. Mas, à diferença da conversa falada, nos ensinaram a escrever e na lamentável forma mecânica que supunha texto prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o que antes se pensara. Agora entendo o contrário: escrever para pensar, uma outra forma de conversar. Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a certos rituais. Fomos induzidos a, desde o início, escrever bonito e certo. Era preciso ter um começo,
um desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto. Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor) conversando entender como necessitamos nos reeducar para fazer do escrever um ato inaugural; não apenas transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi pensado ou dito, mas inauguração do próprio pensar. “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o leitor lê depois.” “Não!”, lhe respondo, “Não consigo escrever sem pensar em você por perto, espiando o que escrevo. Não me deixe falando sozinho.” Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com interlocutores invisíveis, imprevisíveis, virtuais apenas, sequer imaginados de carne e ossos, mas sempre ativamente presentes. Depois é espichar conversas e novos interlocutores surgem, entram na roda, puxam assuntos. Termina-se sabe Deus onde. MARQUES, M. O. Escrever é preciso. Ijuí: Unijuí, 1997, p. 13.
1. Considerando a relação entre estes dois enunciados: “Coçar e comer é só começar.” e “Conversar e escrever também.”, assinale qual é o valor expresso pela palavra também nesse contexto. a) Oposição em relação à ideia anterior b) Retomada de ideia já anteriormente expressa c) Causa da ideia posterior d) Consequência da ideia anterior e) Condição para a ideia posterior
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Questões de exames de acesso ao ensino superior
2. Segundo o autor, está sendo apresentada uma forma nova e particular de se conceber o ato de escrever. Assinale a alternativa que traduz essa concepção. a) Escrever é um processo de interlocução decorrente da imaginação. b) Escrever é um processo de interlocução realizado exclusivamente pelo leitor. c) Escrever é um processo de seleção de ideias expressas de forma correta. d) Escrever é um processo de interlocução realizado exclusivamente pelo autor. e) Escrever é um processo de interlocução entre o autor e seus possíveis leitores. 220
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(Fuvest)
− Mandaram ler este livro... Se o tal do livro for fraquinho, o desprazer pode significar um precipitado mas decisivo adeus à literatura; se for estimulante, outros virão sem o peso da obrigação. As experiências com que o leitor se identifica não são necessariamente as mais familiares, mas as que mostram o quanto é vivo um repertório de novas questões. Uma leitura proveitosa leva à convicção
de que as palavras podem constituir um movimento profundamente revelador do próximo, do mundo, de nós mesmos. Tal convicção faz caminhar para uma outra, mais ampla, que um antigo pensador romano assim formulou: nada do que é humano me é alheio. (Cláudio Ferraretti, Inédito)
3.
De acordo com o texto, a identificação do leitor com o que lê ocorre sobretudo quando a) ele sabe reconhecer na obra o valor consagrado pela tradição da crítica literária. b) ele já conhece, com alguma intimidade, as experiências representadas numa obra. c) a obra expressa, em fórmulas sintéticas, a sabedoria dos antigos humanistas. d) a obra o introduz num campo de questões cuja vitalidade ele pode reconhecer. e) a obra expressa convicções tão verdadeiras que se furtam à discussão.
4.
O sentido da frase Nada do que é humano me é alheio é equivalente ao desta outra construção: a) O que não diz respeito ao homem não deixa de me interessar. b) Tudo o que se refere ao homem diz respeito a mim. c) Como sou humano, não me alheio a nada. d) Para ser humano, mantenho interesse por tudo. e) A nada me sinto alheio que não seja humano.
6.
Mantém-se o sentido da frase “se for estimulante” em: a) conquanto seja estimulante. b) desde que seja estimulante. c) ainda que seja estimulante. d) porquanto é estimulante. e) posto que é estimulante.
7. (UERJ) Observe atentamente os dois trechos transcritos abaixo.
“[...] O objetivo da poesia (e da arte literária em geral) não é o real concreto, o verdadeiro, aquilo que de fato aconteceu, mas sim o verossímil, o que pode acontecer, considerado na sua universalidade.” (SILVA, Vítor M. de A. Teoria da literatura. Coimbra: Almedina, 1982.)
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5. De acordo com o texto, a convicção despertada por uma leitura proveitosa é, precisamente, a de que a) sempre existe a possibilidade de as palavras serem profundamente reveladoras. b) as palavras constituem sempre um movimento de profunda revelação. c) é muito fácil encontrar palavras que sejam profundamente reveladoras. d) as palavras sempre caminham na direção do outro, do mundo, de cada um de nós. e) nenhuma palavra será viva se não provocar o imediato prazer do leitor.
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Verossímil. 1. Semelhante à verdade; que parece verdadeiro. 2. Que não repugna à verdade, provável.
A partir da leitura de ambos os fragmentos, pode-se deduzir que a obra literária tem o seguinte objetivo: (A) opor-se ao real para afirmar a imaginação criadora. (B) anular a realidade concreta para superar contradições aparentes. (C) construir uma aparência de realidade para expressar dado sentido. (D) buscar uma parcela representativa do real para contestar sua validade.
(UFRS) Responda às questões 8 a 10 com base no texto a seguir:
JAGUAR. Átila, você é bárbaro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968, p.166-167.
8. Analise a veracidade das afirmativas abaixo:
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(FERREIRA, A. B. de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.)
1. A obsolência das armas utilizadas pelo homem levam-no a um final trágico. 2. As armas apresentam-se em gradação ascendente quanto ao seu poder letal. 3. O militarismo, simbolizado pelos uniformes que os personagens vestem, é a causa principal do desfecho presente no cartum. 4. A vestimenta dos personagens ilustra cronologicamente o desenrolar dos fatos apresentados. 5. Os itens 2 a 5 do cartum apresentam o homem como responsável pelas ações bélicas, enquanto nos itens 6 a 10 essa responsabilidade é atribuída apenas aos armamentos.
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Conclui-se que a alternativa que apresenta a numeração correspondente às afirmativas corretas é: a) 1 e 2 b) 1, 2 e 4 c) 2 e 4 d) 3 e 5 e) 3, 4 e 5
9. Responda a esta questão com base nas afirmativas a seguir: I. A estrutura narrativa e as ilustrações têm efeito argumentativo marcante. II. As ilustrações são um recurso para chamar a atenção do leitor, e poderiam ser retiradas sem prejuízo para a clareza do texto. III. Os itens 1 e 2 apresentam ao leitor os personagens, enquanto o 9 prepara-o para o desfecho da história. IV. A simplicidade da linguagem contrasta com a seriedade do tema. Conclui-se que as afirmativas corretas encontram-se na alternativa: a) I e II b) I, II e IV c) I, II, III e IV d) II, III e IV
e) III e IV
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10. O ditado popular que melhor sintetiza as ideias expressas no cartum é a) “O feitiço virou contra o feiticeiro.” b) “Quem tudo quer tudo perde.” c) “Se queres a paz, prepara-te para a guerra.” d) “Quando um não quer, dois não brigam.” e) “Devagar se vai ao longe.”
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Esta unidade tem como objetivo desenvolver um olhar diferenciado sobre a língua portuguesa que nos permita intervir na sociedade, ajudando-nos a fazer do lugar onde vivemos, um momento melhor.
Capítulo 7 Fazendo gênero com a literatura Conteúdos: Os gêneros literários: narrativo (ou épico), lírico e dramático. Discurso indireto livre. Atualização da obra literária. Gil Vicente. Espaço, tempo histórico e narrativa. Construção da personagem. Substantivo. Relações entre substantivo e adjetivo. Expressividade do substantivo e do adjetivo na literatura. Reflexões: A linguagem fazendo crítica social e aprofundando o tema do amor. A atualidade da obra literária. Gêneros textuais: Narrativa, poesia e drama literários. Poema metapoético. Peça de teatro medieval. Capítulo 8 FALEMOS DE AMOR... Conteúdos: Discurso e ideologia. A literatura e o amor platônico. O mito de Eros e Psiquê. O neoplatonismo e a poesia camoniana. Correspondência e literatura. Os porquês do porquê. Conectivos e elementos de transição. Método de análise de poema. Fonética. Reflexões: A linguagem, a ideologia e o amor. Ideologia, linguagem e alienação social. A condição social da mulher. Gêneros textuais: Correspondência comercial. Correspondência literária de amor. Capítulo 9 A LÍNGUA PORTUGUESA DE CHUTEIRAS Conteúdos: A argumentação. O conto literário. Verbos: conceito. Flexão verbal: número, pessoa, modo, tempo e aspecto. Reflexões: A memória e a linguagem. Ideologia nos textos esportivos. Gêneros textuais: A crônica esportiva. A crônica de memórias. O texto argumentativo. O conto literário.
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“Fui educado pela Imaginação Viajei pela mão dela sempre, Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso, E todos os dias têm essa janela por diante, E todas as horas parecem minhas dessa maneira”
(Fernando Pessoa)
Fig 1 - FUNDO: pessoas das mais variadas formações e épocas históricas conversando.
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FAZENDO GÊNERO COM A LITERATURA Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. (Carlos Drummond de Andrade)
Escrever uma obra literária é trabalhar com a linguagem. A produção do texto literário exige a coragem de penetrar no reino das palavras, como nos diz Carlos Drummond de Andrade, no poema Procura da poesia. É a partir das palavras que podemos alcançar o mundo e atingir o coração e a alma de quem nos lê.
OS GÊNEROS LITERÁRIOS Como já tivemos oportunidade de examinar, a mídia é uma das instituições que define o que é literatura em uma sociedade. São comuns, por exemplo, resenhas, seções e listas de mais vendidos dedicadas à literatura. É o que podemos observar ao lado. As incursões da mídia no universo literário visam, geralmente, a influenciar o público sobre a produção literária recente. Analisando com mais atenção essa lista dos mais vendidos, notamos alguns aspectos curiosos. Um deles é que autores brasileiros e de outros países aparecem juntos. A função, aqui, é destacar os livros mais vendidos, não os autores deste ou daquele país. Em livrarias, no entanto, é comum haver seções dedicadas especificamente à literatura nacional.
Eclipse Stephenie Meyer [0|1] intrínseca Crepúsculo Stephenie Meyer [1|34*] intrínseca Lua Nova Stephenie Meyer [2|15] intrínseca A Cabana William Young [3|20] SEXTANTE O Vendedor de Sonhos Augusto Cury [4|28] Academia de inteligência A Menina que Roubava Livros Markus Zusak [5|95] intrínseca Os Contos de Beedle, o Bardo J.K.Rowling [6|5] Rocco O Menino do Pijama Listrado John Boyne [7|4*] Companhia das letras A Sombra do Vento Carlos Ruiz Zafón [8|71*] Objetiva/suma de letras A Viagem do Elefante José Saramago [9|9] Companhia das letras Comer, Rezar, Amar Elizabeth Gilbert [1|42] Objetiva Marley & Eu John Grogan [2|118*] Prestígio Gomorra Roberto Saviano [3|3] Bertrand Brasil Uma Breve História do Mundo Geoffrey Blainey [4|52*] Fundamento 1808 Laurentino Gomes [5|67] Planeta Mentes Perigosas Ana Beatriz Barbosa Silva [10|9*] Fontanar Maysa: Só numa Multidão de Amores Lira Neto [9|7*] Globo 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer Steven Jay Schneider [6|4] Sextante Fazendo as Malas Danuza Leão [7|6] Companhia das letras Uma Breve História do Século XX Geoffrey Blainey [8|9] Fundamento
Em qualquer um dos casos, destaca-se a figura do leitor. É ele que, ao escolher este ou aquele livro para ler ou presentear, faz com que o livro circule, dá vida ao mercado editorial e, Veja. São Paulo: Abril, 26-1-2009. consequentemente, à própria literatura. Ao contrário, quando o leitor não lê, o livro não circula e, com isso, a literatura se empobrece. Assim, os laços entre leitor e literatura são mais estreitos do que se poderia, em um primeiro momento, imaginar.
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Capítulo 7
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Muitos dizem: “é importante ler”. Sim, é verdade. Além disso, contudo, também é importante pensarmos no que e por que lemos algo. As nossas decisões de hoje influenciarão a história da literatura. Aquilo que o futuro considerará como obras literárias de valor leva em conta também as escolhas presentes do que consideramos, hoje, como textos literários. Mas o mercado editorial não produz apenas textos literários. Livros de Filosofia, História, culinária, esportes, autoajuda, etc. disputam o mercado com o texto literário. Como apresentar aos possíveis leitores todo esse universo de possibilidades? Uma das respostas encontradas pelo mercado editorial foi dividir os livros em “ficção” e “não ficção”. Em que isso consiste? Chamamos obras de ficção àquelas que não se preocupam em descrever fatos ocorridos neste mundo real em que vivemos. Tais obras constroem seu próprio mundo, onde os acontecimentos ocorrem. Esse mundo de ficção pode ser muito parecido com o nosso, como o mundo em que vivem Fabiano e sua família em Vidas secas ou muito diferente, como os mundos dos contos infantis em que aparecem fadas, bruxas e animais falantes. Obras de não ficção são as que retratam acontecimentos específicos de nosso próprio mundo. Sobre as obras de não ficção podemos desenvolver os conceitos de verdadeiro ou falso, pois elas fazem uma referência direta ao mundo em que vivemos. Há gênero textuais que se caracterizam por serem não-ficcionais, como a notícia de jornal. Outros gêneros, como os literários, podem ser ficcionais ou não. Embora a maioria das obras literárias seja ficcional, o compromisso da literatura não é com a ficcionalidade, mas com a verossimilhança. Verossimilhança é a coerência interna da obra literária no tocante ao mundo que constrói no seu texto. Chapeuzinho vermelho é uma obra de ficção, mas é verossimilhante, pois as personagens e ações são coerentes em relação ao mundo imaginário construído. Por exemplo, Chapeuzinho escolhe o caminho mais longo e chega depois do lobo mau à casa da vovó; a menina e a vovozinha apenas comemoram a vitória depois de saírem da barriga do lobo e assim por diante. Ficção e não ficção são apenas uma das possibilidades. Há diversas formas de classificar os textos literários. Uma das mais antigas, que se originou na Grécia antiga, com o filósofo Aristóteles, os divide em três gêneros literários: lírico, narrativo e dramático.
O GÊNERO NARRATIVO ou ÉPICO Em capítulos anteriores, definimos o gênero narrativo. Histórias em quadrinhos, novelas de televisão, notícias de jornal, contos são algumas das formas de narrar. As narrativas utilizam-se de diferentes linguagens: a verbal (oral ou escrita), a visual (por meio da imagem), a gestual (por meio de gestos), etc. Leia o texto a seguir.
HENFIL. Graúna ataca outra vez. São Paulo: Geração Editorial, 2002. .
Fazendo gênero com a literatura
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Reveja, no capítulo 3, os conceitos de narrativa e de enredo.
1. A tira em quadrinhos emprega duas linguagens. Quais?
3. Considera a narrativa verossimilhante? Por quê?
Neste capítulo, vamos nos aprofundar especificamente na narrativa literária. Inicialmente, leia a narrativa a seguir do escritor brasileiro Fernando Sabino.
No quarto da Valdirene Mal ele entrou em casa, a mulher o tomou pelas mãos, ansiosa: – Estava aflita para você chegar. E sussurrou, apontando dramaticamente para os lados da cozinha: – Tem um homem no quarto da Valdirene. Sacudiu a cabeça com irritação: – Desde o primeiro dia eu achei que essa menina não era boa coisa. Ela nunca me enganou. Valdirene, a jovem empregada, uma mulata de olhos grandes, não faria feio num palco. – Como é que você sabe? – perguntou ele, para ganhar tempo. Não partilhava da opinião da mulher: desde o primeiro dia achou que a Valdirene era ótima. – Sei porque vi. Escutei um ruído qualquer aí fora no corredor, olhei pelo olho mágico, e vi quando ela punha ele para dentro pela porta de serviço. – Ele quem? – O homem. Não sei quem é, só sei que é um homem. Deve ser o namorado dela, ou o amante, tanto faz. O certo é que os dois estão trancados lá no quarto faz um tempão. – Vai ver que já saiu. – Não saiu não, que eu não sou boba, fiquei de olho. Está lá dentro com ela até agora. – E o que é que você quer que eu faça? – Quero que bote ele pra fora, essa é boa. – Por quê? Ela botou as mãos na cintura: – Por quê? Você ainda pergunta por quê? Então tem cabimento a gente deixar que a empregada receba homens no quarto dela? O que é que essa menina está pensando que minha casa é? Um motel? Se você não for lá, eu mesma vou. 228
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
2. Qual a sua compreensão do enredo da narrativa? É crítico? Por quê?
Capítulo 7
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– Espera aí, vamos com calma, mulher. Você tem razão, mas deixa a gente raciocinar um pouco. Não podemos é perder a cabeça. Pode ser perigoso. Como é que ele é? – Não cheguei a ver direito. Só vi que era um homem. Para mim, basta. – Não posso ir lá no quarto dela sem mais nem menos. Quem sabe é algum parente? Um irmão, talvez... – Um irmão, talvez... Você tem cada uma! Pior ainda: que é que um irmão tem de ficar fazendo trancado no quarto com a irmã como eles dois estão? Você tem de pôr esse homem pra fora. – E se estiver armado? Ele pode muito bem estar armado. – Já que você está com medo... – Não estou com medo. Só que temos de agir com calma. Vamos ver como a gente sai dessa. Deixa comigo. Ele respirou fundo e se meteu pela cozinha, ganhou a área de serviço, ficou à escuta. Nada, tudo quieto e às escuras no quarto da Valdirene. Bateu de leve na porta: – Valdirene. Via-se pelas frestas da veneziana na própria porta que o quarto continuava no escuro. Ele bateu de novo: – Valdirene, está me ouvindo? Valdirene! Escutou alguém se mexendo lá dentro e a voz estremunhada da moça: – Senhor? – Tem alguém com você aí dentro, Valdirene? – Tem não senhor. – Abra um instante, por favor. Em pouco ela abria a porta, furtivamente, e o encarava sem piscar. Vestia um baby-doll pequenino e transparente que, sob a luz mortiça vinda da área, deixava quase todo seu corpo à mostra. – Acenda essa luz, minha filha. Mais para vê-la melhor do que para olhar o quarto, pois mesmo no escuro podia-se verificar que ali dentro não havia mais ninguém. Luz acesa, ela se protegia discretamente com os braços, enquanto ele dava uma olhada rápida por cima do seu ombro: – Tudo bem. Desculpe o incômodo. Boa noite. Voltou para a sala, onde a mulher o aguardava, tensa de expectativa. – E então? – Não tem ninguém. – Como não tem ninguém? Pois se eu vi o homem entrando! – Se viu entrando, não viu saindo. O certo é que não tem ninguém no quarto da Valdirene, além dela própria. Vamos dormir. – Como é que eu posso ir dormir sabendo que tem um estranho dentro de casa? Você vai voltar lá e olhar direito. – Eu olhei direito. Se não acredita, vai lá e olha você. – Quem é o homem nesta casa? Se você não for olhar eu não fico aqui dentro nem mais um minuto. Vou direto à polícia. Ele ergueu os braços e os deixou cair, com um suspiro resignado: – Essa mulher, meu Deus. Agora é você que está com medo. Direto à polícia. Como se fosse um crime... Tudo bem, eu vou lá olhar direito. Voltou a bater na porta da empregada: – Valdirene. Desta vez ela respondeu logo: – Senhor? – Abra aí um instante, por favor. – Sim senhor. Fazendo gênero com a literatura
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SABINO, Fernando. O gato sou eu. Rio de Janeiro: Record, 1993.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Ela abriu e foi logo acendendo a luz. Estimulado pela nova oportunidade de vê-la tão de perto, ele perdeu a cerimônia e entrou no quarto. Sempre de olho nela e ouvido atento à mulher lá na sala. Ali dentro só cabia a cama e o armariozinho com uma cortina, atrás da qual ninguém poderia se esconder. Ainda assim ergueu o pano para se certificar. Satisfeito, voltou-se para a moça que, ao sentir seus olhos tão próximos, abaixara modestamente os dela: – Desculpe, minha filha. É que minha mulher, você sabe, quando ela cisma uma coisa... Mas pode dormir sossegada. Boa noite. Na sala, a mulher voltou a questioná-lo: – Você olhou direito desta vez? – Não há como olhar errado. Um quarto deste tamanhinho! Olhei o que tinha para olhar: a Valdirene e a cama. – A Valdirene e a cama? O que você quer dizer com isso? – Não quero dizer coisa nenhuma. É que ali dentro não cabe mais nada além da Valdirene e da cama. – Não é isso que parece estar insinuando, com essa sua cara. – Que é que tem minha cara? Você é que insinuou que tinha um homem lá dentro, não fui eu. Não me admiraria nada. Mas acontece que não tem. Só faltou olhar debaixo da cama. – Não admiraria nada – ela o imitou, com um trejeito. E ordenou, braço estendido: – Pois então vai olhar debaixo da cama. – Essa não! – relutou ele: – Já disse que não cabe ninguém... Mas acabou indo. Pobre da menina, de novo importunada: – Me desculpe, Valdirene, mas é preciso que você abra aí outra vez. ‘ Ela acendeu a luz, abriu a porta e deu-lhe passagem. Seus olhos o acompanharam impassíveis, quando ele entrou e se agachou para olhar debaixo da cama. De quatro, sentindo-se ridículo naquela postura, ele baixou a cabeça até que a ponta do queixo tocasse o chão, e enfiou-a sob o estrado. Seu nariz esbarrou de cheio em algo branco e macio – era nada menos que o traseiro de um homem. – Oi – assustou-se, recuando. – Oi – fez o homem, como um eco, encolhendo-se ainda mais. Ele se ergueu. Perturbado, limpou a garganta, procurando dar firmeza à voz: – O senhor tem um minuto pra sair deste quarto. Um último olhar para Valdirene, como a dizer que sentia muito mas não podia deixar de cumprir o seu dever, e foi ter com a mulher na sala: – Tinha sim. Tinha um homem debaixo da cama. Está satisfeita? – Eu não disse? E o que é que você fez? – Mandei que ele se pusesse pra fora. É o tempo de se vestir. – Meu Deus, ele estava nu? – Que é que você queria? Não sei é como ele pôde caber lá debaixo. Imagino o susto dele. E o da Valdirene, coitadinha. No dia seguinte, mal amanheceu, ela despedia a Valdirene, coitadinha.
FERNANDO SABINO (1923-2004) – Nasceu em Belo Horizonte (MG). Bacharel em Direito e funcionário público, desde seus 15 anos publicava contos e crônicas em revistas literárias e, mais tarde, em jornais. Suas crônicas são curiosos retratos da vida urbana, nos quais explora, com fino senso de humor, as sutilezas e desconcertos do cotidiano. No conjunto de sua obra, encontramos também preocupação com as injustiças, com os absurdos da vida, com os heróis idealistas e com as indecisões do homem dividido entre o outro e ele mesmo.
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Capítulo 7
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Os textos narrativos literários também apresentam um processo de representação dinâmica da realidade, ou seja, os acontecimentos narrativos apresentam ações que alteram o comportamento das personagens e envolvem a passagem de um determinado tempo. No quarto da Valdirene apresenta ações que alteram o comportamento de algumas personagens. Essas mudanças levam certo tempo para acontecer. 4. Qual a situação das personagens quando se inicia a narrativa?
5. Qual a situação dessas personagens ao término da narrativa?
O texto narrativo literário é principalmente ficcional. As personagens vivem em um mundo que não é real, mas possível; um mundo criado por alguém que imaginou a história. 6. Que relações há entre o mundo ficcional de No quarto de Valdirene e o mundo real em que vivemos?
O narrador, em No quarto de Valdirene, não é personagem do enredo. Trata-se de um narrador em terceira pessoa. No entanto, ainda que, como neste caso, não seja personagem da narrativa, o narrador é um elemento fundamental dentro do texto. É o narrador quem fornecerá informações que permitirão ao leitor compreender o universo narrado. Por universo entendemos a integração entre personagens, espaços e ações. 7. O que parece ser mais importante na narrativa No quarto de Valdirene: as ações narradas ou as impressões pessoais do narrador? Justifique.
O narrador não constitui o centro da atenção na narrativa literária tradicional, mas sim a história, que ele procura contar com uma atitude mais racional do que emocional.
A elaboração da personagem em No quarto de Valdirene Toda narrativa literária exige uma seleção de informações sobre as ações, as personagens, o ambiente e o tempo da narrativa. Essa seleção orienta o olhar do leitor.
Fazendo gênero com a literatura
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8. Quanto às personagens de No quarto de Valdirene, podemos notar interessantes seleções feitas pelo narrador. Examine-as, enquanto completa o quadro a seguir.
Valdirene
Marido
Mulher Não é fornecida.
Gestos e atitudes que revelam aspectos
Obediente, deixa o patrão entrar sem questionamentos.
psicológicos
Não são fornecidos. Vestia um baby-doll pe quenino e transparente que, sob a luz mortiça Pormenores da vinda da área, deixava indumentária quase todo seu corpo à mostra. O que pensa dos outros
Gosta de Valdirene, sentindo-se atraído por sua beleza. Atende aos pedidos da mulher.
O narrador caracteriza as personagens principalmente pelos gestos e atitudes. Esse processo permite que as personagens adquiram corpo em nossa mente. Basicamente, há seis formas de caracterizar uma personagem em um texto narrativo literário: • pela descrição física; • pelo nome; • por pormenores da indumentária; • por gestos e atitudes; • pelo vocabulário; • pelo estilo de suas falas. Até que ponto vamos dar atenção a um aspecto e desconsiderar o outro relaciona-se com as intenções do texto.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Caracterização física
9. A descrição de Valdirene permite que entendamos parte dos reais motivos da apreensão da mulher. Por quê?
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Capítulo 7
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10. O que as atitudes e o estilo da fala da mulher revela sobre a sua personalidade?
11. Valdirene é a personagem mais bem caracterizada da narrativa, enquanto pouco sabemos sobre os patrões. De fato, nem sequer sabemos os nomes deles. Que efeito de leitura produziram em você essas escolhas do narrador?
As personagens se expressam no texto literário, mas a escolha de vocabulário, bem como a forma de tais personagens se expressarem depende de escolhas do narrador e produzirá efeitos diferentes sobre o leitor.
O narrador e os discursos das personagens: o discurso indireto livre No capítulo 1, estudamos duas formas de representar as falas das personagens em um texto: o discurso direto e o indireto. O discurso direto ocorre quando o narrador teatraliza as falas das personagens, reproduzindo-as literalmente. Veja este exemplo de No quarto da Valdirene: “E sussurrou, apontando dramaticamente para os lados da cozinha: – Tem um homem no quarto da Valdirene.” A fala “Tem um homem no quarto da Valdirene” pertence à mulher. Já “E sussurrou, apontando dramaticamente para os lados da cozinha” pertence ao narrador. Note a presença do verbo de elocução “sussurrou”, apresentando a fala da mulher. O discurso indireto ocorre quando o narrador comunica com suas palavras o que a personagem disse. Esse discurso permite analisar as palavras e o modo de dizer das personagens, mais do que o conteúdo daquilo que dizem. “Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, sai devagar...”
(Clarice Lispector. Felicidade clandestina.)
O fato de o livro haver sido emprestado a outra menina e de que o narradorpersonagem deveria voltar no dia seguinte é comunicado ao leitor indiretamente, por meio das palavras do próprio narrador. Fazendo gênero com a literatura
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Andando nas fronteiras entre o pode ser uma narrativa, encontramos o conto a seguir da escritora brasileira Olga Savary.
King Kong x Mona Lisa Olga Savary
A primeira coisa que dele teve foi a ameaça de sua morte. Uma ameaça através de seus guinchos, gaitadas, pios, rugidos, uivos, assobios, da algaravia por ele usada para a sedução. Era possível um ser tão vital com esta obsessão pela morte? Ela acha que o amou desde esse primeiro momento, embora não esse amor, esse seu sim à vida ao saber-lhe a ex-futura morte, e esse se dar tanto, o se dar todo, até demais. Era possível, tão exclusivista, amar dando assim, tão selvagem, tão espontâneo, se dando a todos: um crucificar. Imaginou ser ele o mar para não sofrer. Por ser o mar de todos e assim, que outro jeito teria senão aceitar um tal requintado primitivo. Um amor sem quase nada de particular, forte e violento mas quase impessoal, algo de amplo, sem espaço ou tempo, como por um mito ou coisa arquetípica. Amor seria isso? Então era isso amar? Amor não era. Era é paixão. A paixão não lhe era estranha, antes velha companheira. Mas a paixão com tal violência a assustava um pouco, como antes o medo da vida, ainda que não mais agora. E a paixão era um tanto trágica. Assim a aceitava: com esforço, com dor, mas também com gozo. Caça ou caçador, quem era? Aparentemente era ele o caçador, com tantos meneios mais a sedução, a estranha tensão de não poder passar tempo sem tocá-la. Era uma impossibilidade não tocá-la – dizia ele – saber-lhe levemente a pele, a quentura e o morno da carne pressionada para mais tarde conhecer coisas mais rudes e tensas. Era ele o caçador. Mas quem lançou senão ela o que deflagrou tudo, uma distraída provocação sensual sobre as coxas de Pelé? Nem ela soube se teria sido intencional, mas falou assim, de como eram belas as coxas de Pelé, o que o intrigou. Como tão grande timidez deixava escapar tal insolência? Não se teria sabido o esplêndido animal que era à falta deste esplêndido animal que via agora e que, à primeira vista, a ameaçava e se ameaçava para ela com a proximidade passada de sua morte. E essa morte não vista, apenas entrevista, já passada, era a grande ameaça para que ela conhecesse sua real vida e quem ela realmente era a partir do conhecimento dessa fera. King Kong – ela pensou –, vou chamá-lo assim, assim vou chamar a fera que me dará vida, como uma nova mãe-terra, a força animal até então desconhecida, a força primeira que, tomada nos dentes como o seu bocado primevo, a faria florescer e aceitar a vida com seus jogos, seus acertos e armadilhas. O perigo? E, era o perigo. Mas também a vida, a vida com suas espadas, seu cheiro acre e álacre, seu bafo feroz e comovente. De uma vez que lhe dissera o nome que secretamente lhe dava, houve o espanto: mas não combina com você, que é minha Mona Lisa. Ela sorriu sem dizer nada, pensando: mas é de você que falo. Como fazê-lo entender? E era preciso? Uma fera é uma fera – e pronto. Nada de fazê-lo entender o que ele é. King Kong. Claro que era uma insolência. Só que agora fazia parte do jogo. Era tão fácil perceber. Não tinha ele só a maciez da polpa, também possuía as unhas. Mais que isso: as garras. A boca não era só um fruto do mato, toda polpa, úmida e abrangente, toda língua. Era também dentes, as presas afiadas, esplêndidas mandíbulas. Um ser amorável essa fera, mas também de aguda crueldade e um tanto sádico, seu corpo marcado a fogo (o da paixão) como as reses que têm dono: dois K ardiam-lhe na anca. Poderia ela amar uma tal mistura de prazer e de perigo? Mas era já impossível retroceder. Seduzida pela fera, já não podia se reconquistar a si mesma. Agora que sabia seu corpo através do outro, seu espelho. Era a guerra, a paz dos abismos e da beira do desfiladeiro dos que nascem do furor da paixão, do lamber de sua língua rubra. King Kong: o êxtase e o horror. Rodeado de mandacarus, de cactos.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
(para Zélia e Ariano Suassuna)
SAVARY, Olga. In: Moriconi, Ítalo (Org.). Os cem melhores contos brasileiros do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
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Capítulo 7
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OLGA SAVARY (1933- ) – Nasceu em Belém do Pará. A escritora tem inúmeros livros publicados e ganhou vários dos principais prêmios nacionais de literatura, entre eles o Prêmio Jabuti de Autor Revelação, pelo livro Espelho provisório. A antologia de poesia da América Latina, editada na Holanda, em 1994, inclui Olga Savary entre os maiores poetas do continente.
Olga Savary.
O conto de Olga Savary move-se entre gêneros: um conto ou a reflexão íntima e poética de uma mulher apaixonada por um homem tão diferente dela, um King Kong? É uma narrativa em que praticamente nada acontece, a não ser o mergulho dessa mulher pela sua paixão. O narrador não é a personagem, a quem se refere por “ela”, mas ele invade de tal maneira os pensamentos e emoções dessa personagem que, em muitos momentos, ficamos sem saber a quem pertencem os enunciados. Quem, efetivamente, afirma: “Era possível, tão exclusivista, amar dando assim, tão selvagem, tão espontâneo, se dando a todos: um crucificar”? O narrador ou a personagem?
12. A narrativa de Olga Savary revela profunda feminilidade, bem como uma clara opção pela identidade brasileira. Encontre trechos no conto que comprovem essa afirmativa. Sublinhe-os. 13. As vozes do narrador e da personagem se confundem constantemente ao longo do conto, já desde o seu início. Encontre, nos quatro primeiros parágrafos, um exemplo em que a voz da personagem feminina se confunde com a voz do narrador, ficando o leitor sem saber ao certo quem está falando. Transcreva-o a seguir e explique por que o trecho confunde o leitor.
Há procedimentos da linguagem que servem para mostrar as falas das personagens, mas que não deixam claros os limites entre elas, misturando a voz das personagens com a do narrador. É o que chamamos de discurso indireto livre. Em Vidas secas, o uso desse discurso cria uma maior impressão de verdade. Os pensamentos das personagens são misturados aos do narrador, surgindo como pensamentos que não são relatados nem por um, nem por outro. Em “King Kong x Mona Lisa”, essa fusão de discursos do narrador com a personagem transforma o mergulho na alma da personagem feminino em um conflito intenso sobre o amor e as diferenças entre os gêneros sexuais. O desenrolar de ações praticamente desaparece diante do conflito psicológico. Discurso indireto livre é a forma de apresentar as falas e pensamentos das personagens mescladas à voz dos narrador, de forma que não fica claro o que pertence a um ou ao outro. Trata-se de um recurso polifônico em que o narrador diminui o desnível entre a sua voz e a da personagem, mas mantém-se no comando da narrativa. Fazendo gênero com a literatura
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14. Escreva um pequeno trecho, fazendo uso do discurso indireto livre da narrativa de Olga Savary que acabamos de ler, mas no qual o narrador se aproxima do universo masculino. Vamos dar-lhe o título Mona Lisa x King Kong.
Funções do discurso indireto livre nas narrativas literárias O discurso indireto livre apresenta-se como uma tentativa de juntar, em uma única estratégia, os outros dois discursos: o direto e o indireto. A dissonância presente no discurso indireto livre dá realce à impressão de conflito e à ironia dentro do texto. Em certos textos, podemos também ter uma impressão de incoerência, resultado de duas vozes dissonantes estarem falando ao mesmo tempo. O discurso indireto livre permite aproveitar, na expressão literária, a subjetividade da linguagem, principalmente a subjetividade e as emoções das personagens sem, contudo, fazer com que o narrador perca o pleno domínio do seu texto. Esse discurso também possibilita que o autor do texto aproveite a realidade social, reproduzindo com maior fidelidade a linguagem de certos grupos sociais (muitas vezes carregada de repetições indesejáveis e outros erros de uso da norma-padrão), sem abandonar o valor estético da obra: o discurso indireto livre permite ouvir dois enunciadores no texto – a voz do narrador que domina o discurso e a voz da personagem que acrescenta as suas diferenças.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Características do discurso indireto livre Identificar o discurso indireto livre não é fácil, pois ele não possui um modo específico de introdução. Ou seja: • não se utilizam verbos de elocução; • não se separa da fala do narrador por pontuação específica do discurso direto (aspas ou travessão), nem por conectivos como “que” ou “se”, ligando os verbos de elocução às falas das personagens, específico do discurso indireto. Apresenta, em um mesmo enunciado, duas vozes mescladas, que representam dois pontos de vista diferentes, seja na forma como se expressam, seja na opinião sobre um assunto. Chamamos de dissonância a presença dessas duas vozes diferentes em um mesmo enunciado.
15. Transcreva os trechos a seguir, excertos de Mudança, que se encontram em discurso indireto livre:
“O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente, esse obstáculo miúdo, não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.”
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Capítulo 7
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“Uma sombra passava por cima do monte. Tocou o braço da mulher, apontou o céu, ficaram os dois algum tempo aguentando a claridade do sol. Enxugaram as lágrimas, foram agachar-se perto dos filhos, suspirando, conservaram-se encolhidos, temendo que a nuvem se tivesse desfeito, vencida pelo azul terrível, aquele azul que deslumbrava e endoidecia a gente.”
“Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira, encaminhou-se ao rio seco, achou no bebedouro dos animais um pouco de lama. Cavou a areia com as unhas, esperou que a água marejasse e, debruçando-se no chão, bebeu muito. Saciado, caiu de papo para cima, olhando as estrelas, que vinham nascendo. Uma, duas, três, quatro, havia muitas estrelas, havia mais de cinco estrelas no céu. O poente cobria-se de cirros – e uma alegria doida enchia o coração de Fabiano.”
16. Identifique, em Mudança, de Graciliano Ramos, quais as funções do discurso indireto livre.
17. Crie uma personagem que possa interagir com as personagens de Mudança. Descreva-a detalhadamente, utilizando-se do quadro a seguir.
Personagem: (nome) Sexo: (
) masculino (
Idade:
Características físicas:
Características psicológicas:
Detalhes da indumentária:
Vocabulário:
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) feminino
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Um pouco mais sobre a personagem
18. A seguir, você escreverá uma das narrativas das Vidas secas de Fabiano e sua família. Esse trabalho será feito em conjunto com o próprio Graciliano Ramos. Acrescente à narrativa a sua personagem, fazendo-a interagir com as personagens de Vidas secas. Use o discurso indireto livre para dar maior força expressiva a seu texto. Ao final, a sua narrativa deve fazer sentido, sendo coerente com o gênero de que se trata. Antes de iniciar sua narrativa, leia todos os episódios que a compõem e já aparecem escritos. Após terminar a redação, peça a um de seus colegas que lhe dê sugestões para deixá-la mais interessante e próxima das orientações presentes neste capítulo.
Festa (Graciliano Ramos e __________________________________)
Fabiano, sinhá Vitória e os meninos iam à festa de Natal na cidade. Eram três horas, fazia grande calor, redemoinhos espalhavam por cima das árvores amarelas nuvens de poeira e folhas secas.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A personagem, em uma narrativa, é o ser animado que age, que executa as ações. A palavra “personagem” origina-se da palavra grega “persona” (que significava máscara) e correspondia, no teatro grego, ao papel dramático assumido por um ator. A personagem em um texto literário é sempre uma representação da realidade, mas não a realidade em si mesma. Ou seja, toda personagem, em um texto literário, é uma invenção que existe no papel, mesmo que represente alguém que existe ou existiu no mundo real.
Os dois meninos espiavam os lampiões e adivinhavam casos extraordinários. Não sentiam curiosidade, sentiam medo, e por isso pisavam devagar, receando chamar a atenção das pessoas. Supunham que existiam mundos diferentes da fazenda, mundos maravilhosos na serra azulada. Aquilo, porém, era esquisito. Como podia haver tantas casas e tanta gente? Com certeza, os homens iriam brigar. Seria que o povo ali era brabo e não consentia que eles andassem entre as barracas? Estavam acostumados a aguentar cascudos e puxões de orelhas.
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Capítulo 7
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De repente, Baleia apareceu. Trepou-se na calçada, mergulhou entre as saias das mulheres, passou por cima de Fabiano e chegou-se aos amigos, manifestando com a língua e com o rabo um vivo contentamento. O menino mais velho agarrou-a. Estava segura. Tentaram explicar-lhe que tinham tido susto enorme por causa dela, mas Baleia não ligou importância à explicação.
GRACILIANO RAMOS(1892-1953) – Foi escritor, revisor de jornal e diretor da Imprensa Oficial de Alagoas. Suas principais obras são Vidas secas e São Bernardo, que abordam temas como a seca, o coronelismo, a miséria e a força do povo nordestino. O grande valor literário desse autor, de acordo com os críticos, reside em seu estilo: um estilo seco, enxuto e sintético, em que ele deixa de lado o sentimentalismo, procurando a objetividade e a clareza. Seus textos revelam uma economia vocabular que dá ênfase aos nomes e prestigia a mensagem direta, sem rodeios. Cada palavra aparece no texto com um objetivo, não apenas para enfeite.
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O GÊNERO LÍRICO 19. No espaço a seguir, faça um desenho ou colagem que traduza o seu conceito sobre o que é ser poeta. A seguir, descreva o que o seu trabalho representa.
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Este espaço é para a sua biografia.
Capítulo 7
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No capítulo um, já pudemos comentar um pouco sobre o gênero lírico. Na ocasião, pudemos compreender a importância de ter um olhar diferenciado sobre o mundo para escrever um bom poema lírico. Preste atenção na letra de música a seguir. Procure identificar nela qual a relação entre o eu do texto e o mundo em que vive.
O poeta está vivo Baby, compra o jornal e vem ver o sol, Ele continua a brilhar apesar de tanta barbaridade. Baby, escuta o galo cantar a aurora de nossos tempos, Não é hora de chorar, amanheceu o pensamento. O poeta está vivo com seus moinhos de vento A impulsionar a grande roda da história, Mas quem tem coragem de ouvir, Amanheceu o pensamento Que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento. Se você não pode ser forte seja pelo menos humana, Quando o papa e seu rebanho chegar não tenha pena, Todo mundo é parecido quando sente dor. Mas nu e só ao meio-dia, só quem está pronto pro amor, O poeta não morreu, foi ao inferno e voltou, Conheceu os jardins do Éden e nos contou. Mas quem tem coragem de ouvir, Amanheceu o pensamento Que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento. Mas quem tem coragem de ouvir, Amanheceu o pensamento Que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento... Frejat; Dulce Quental. “O poeta está vivo”. In: Barão Vermelho (Intérp.). Pedra, flor e espinho. Som livre, 2002.
20. De acordo com a letra da música, o que é ser poeta?
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21. Identifique os pontos em comum e as diferenças entre a letra de música O poeta está vivo e a definição de poesia lírica.
Observe a letra da música de Frejat e Dulce Quental. Ela está escrita em uma forma peculiar ao texto poético: o verso. O poeta, para transmitir seu pensamento e suas emoções sobre determinado assunto, na maior parte das vezes, utiliza-se do verso, embora haja muitos poemas escritos em prosa. Os versos de um poema, por sua vez, agrupam-se em estrofes.
Verso: sucessão de sílabas poéticas, formando uma unidade de ritmo e melodia que, na maior parte dos casos, corresponde a uma linha do poema. Os versos organizam-se em estrofes.
O número de versos de cada estrofe pode variar muito. Quando a estrofe tem dois versos, é chamada de dístico. Com três versos, é chamada de terceto. Quando possui quatro, de quarteto. Um poema completo de quatro versos, no entanto, é chamado de quadra. Uma das quadras mais populares no Brasil é “batatinha quando nasce”:
Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão. A menina quando dorme, põe a mão no coração.
Soneto: trata-se de um poema com forma fixa – os seus versos estão agrupados em dois quartetos e dois tercetos – das mais difundidas na literatura ocidental. Muitas vezes contém uma reflexão sobre um tema ligado à vida humana.
As estrofes podem ter um número muito variado de versos. Denominamos quinteto a uma estrofe com cinco versos. Com seis, sexteto; com sete, hepteto; e com oito, oitava. Mas, qual o papel do poeta na sociedade? Leia um soneto da escritora portuguesa Florbela Espanca, que procura definir o papel do poeta na sociedade: 242
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A poesia lírica se preocupa principalmente com o mundo interior do eu que escreve o poema: o eu-lírico ou eu-poético. O mundo ao redor dele, com as coisas, as pessoas, a sociedade e os acontecimentos históricos, não representa o principal do texto poético: o mais importante é aquilo, no mundo interior do eu-lírico, que é tocado pelo mundo exterior. As coisas que acontecem no mundo exterior funcionam como um estímulo para que o poeta escreva. O principal, em um poema, é o trabalho com a palavra, que permite o surgimento dos pensamentos, das emoções, da meditação e dos sentimentos do eu-lírico.
Capítulo 7
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Ser poeta Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente! ESPANCA, Florbela. Sonetos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
FLORBELA D’Alma da Conceição ESPANCA (1894-1930) – Tem hoje seus poemas admirados em todo o mundo, algo que não aconteceu quando era viva, quando foi praticamente ignorada. Publicou dois livros, por sua conta, em vida: O livro das mágoas (1919) e Livro de sóror Saudade (1923). Às vésperas da publicação de seu livro Charneca em flor, em dezembro de 1930, Florbela suicidou-se. Tal ato de desespero fez com que o público se interessasse pelo livro e passasse a conhecer melhor a obra dessa escritora. A sua poesia revela toda a dor de alguém que não desiste da procura pela felicidade. Encontramos em seus poemas a constante busca pela realização feminina (especialmente frente ao homem amado), por Deus e pelo absoluto.
Florbela Espanca.
22. Compare o poema de Florbela Espanca com o desenho que fez sobre a identidade do poeta. Que semelhanças e diferenças consegue encontrar? “Ser poeta” / Trabalho de
Semelhanças
Diferenças
Fazendo gênero com a literatura
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Para a poesia atual, dentro da realidade social onde ela surge e circula, um dos mais importantes papéis do poema é “impulsionar a grande roda da história”, como nos falam Frejat e Dulce Quental. Isso somente pode acontecer por meio de um trabalho profundo do poeta dentro da linguagem, explorando toda a riqueza da língua em que escreve, buscando alcançar e renovar o próprio conceito de arte poética.
23. O professor irá, a seguir, ler uma lista de adjetivos com voz neutra. Alguns alunos irão repeti-las, dando-lhes o máximo de expressividade possível, refletindo na voz, o significado das palavras. Frio
Bravo
Decidido
Morno
Feliz
Crocante
Quente
Raivoso
Efervescente
Gelado
Alegre
Cru
Abafado
Triste
Delicado
Sufocado
Tenso
Escorregadio
Lento
Deprimido
Criativo
Doente
Ventoso
Frágil
Moribundo
Tempestuoso
Implacável
Morto
Calmo
Esponjoso
Assustador
Relaxado
Romântico
Ensopado
Histérico
Aconchegante
Gripado
Severo
Literário
Cansado
Melancólico
Poético
Medroso
Entusiasmado
Narrativo
Leia, com atenção, o seguinte poema de Carlos Drummond de Andrade.
Mãos dadas
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A sensibilidade diante da linguagem não é apenas tarefa do poeta; também representa um esforço para o leitor. O exercício seguinte visa ao desenvolvimento dessa competência de leitura.
Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história. Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
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Capítulo 7
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Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente. ANDRADE, Carlos Drumond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902-1987) – Nasceu em Itabira (MG). Formado em Farmácia, foi professor de Geografia. Trabalhou de 1934 a 1945 no então Ministério da Educação e Saúde. Foi também jornalista. É considerado por muitos o maior poeta brasileiro do século XX. Como escritor, mostra ter a percepção de que há um intervalo entre as convenções e a realidade – o ser e o parecer – e ali constrói a sua poesia.
24. De acordo com o poema, sobre que assuntos o poeta deveria escrever? O que pensa disso?
25. Por que o poeta não deseja dedicar-se nem a um mundo caduco nem a um mundo futuro?
O ser e o tempo na poesia Lembre-se, no entanto, de que, mesmo quando o poeta fala do seu tempo e da sua experiência como homem entre outros homens, ele o faz de um modo diferente daquele encontrado em outros gêneros textuais. O poeta recorre à memória da linguagem, de um passado presente, que se alimenta de lendas, mitos, do modo de ser da infância e do inconsciente. A palavra no poema explora toda a riqueza fonética, morfológica e sintática da língua, e constrói maneiras de provocar sensações no íntimo do leitor. Adaptado de: BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1997.
26. Transcreva o verso que confirma o fato de o poeta desejar estar próximo de todas as demais pessoas da humanidade.
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27. Que semelhanças e diferenças você consegue encontrar entre os poemas de Carlos Drummond de Andrade e a letra da música O poeta não morreu? “Mãos dadas” / “O poeta não morreu”
Diferenças
O poema metapoético Os temas para escrever um poema são muito variados e estão relacionados com o olhar inquieto do poeta sobre a realidade à sua volta. Na sequência, leia um poema feito no começo do século XX, pelo português Fernando Pessoa, mais especificamente de um de seus heterônimos (uma personalidade criada por ele – como uma personagem – que também escrevia), Álvaro de Campos, que tem como preocupação principal descrever o seu próprio processo de criação literária:
Às vezes tenho ideias felizes, Ideias subitamente felizes, em ideias E nas palavras em que naturalmente se despegam... Depois de escrever, leio... Por que escrevi isto? Onde fui buscar isto? De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu... Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?... PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.
FERNANDO António Nogueira PESSOA – Nasceu a 13 de junho de 1888, em Lisboa, e morreu em 30 de novembro de 1935. Sua irmã testemunha, no Jornal de Letras, Artes e Ideias: Tinha um dia a dia muito vulgar. Não se levantava nem muito tarde nem muito cedo, dependendo do tipo de noite. Tinha muitas noites insones e muitas vezes até o ouvíamos a andar no corredor para trás e para diante. Era nessas alturas que ele mais produzia, escrevia imenso. Entre as nove e meia e as dez saía, para o escritório ou não, porque não estava obrigado a cumprir nenhum horário. Trabalhava quando queria e lhe apetecia. Costumava almoçar em casa, salvo se almoçava com amigos. Voltava a sair e vinha para jantar, raramente saindo à noite. Muitas vezes ficava no quarto, a escrever, suponho. Podia, contudo, ir trabalhar de noite para um dos escritórios, posto que tinha as chaves. Frequentava e levava a casa muito poucos amigos. Ocasionalmente tínhamos serões divertidos. Ficávamos os quatro irmãos até às três e quatro da manhã, rindo muito e discutindo tudo quanto havia. Como o Fernando adorava música clássica, também ia muito ao S. Luiz, aos concertos. Já ao cinema penso que nunca foi.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Semelhanças
In: JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias. Lisboa, 26-11 a 2-12-1985.
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Capítulo 7
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Nesse poema, o poeta faz uma reflexão sobre a relação que ele mantém com a escrita. É essa reflexão que sustenta o poema. O seu olhar sobre o tema que escreve é um olhar profundamente inquieto. 28. Agora, responda oralmente: • No que pensa esse poeta depois de escrever? • Você, alguma vez, escreveu algo tão bonito, que o deixou tão orgulhoso que, depois, parecia nem haver sido você quem escrevera? Conte a sua experiência. • Releia os versos: “Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta / Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...”. Dê um sentido possível para o fato de o poema terminar com reticências (...). RETICÊNCIAS As reticências normalmente indicam que a frase foi interrompida. Seu uso mais comum ocorre para indicar; • a retirada, por parte do autor, de uma parte de um outro texto que citou; • a surpresa, dúvida ou hesitação de quem fala; • a interrupção da fala do narrador, personagem ou eu-lírico, deixando ao cargo do leitor completar o pensamento.
A poesia de Fernando Pessoa revela a sua personalidade inquieta. Sempre procurando o novo, mas um novo que dialoga com o passado, tornando-se plural em toda a sua novidade. 29. Como essa personalidade irrequieta de Fernando Pessoa foi captada pelo escritor e pintor português Almada Negreiros na reprodução ao lado?
Negreiros, Almada. Retrato de Fernando Pessoa (1954). Lisboa: Museu da Cidade.
ALMADA NEGREIROS (1893-1970) – Nasceu em São Tomé e Príncipe (África) e morreu em Lisboa, onde viveu a maior parte do tempo. Poeta e pintor respeitado, sua obra revela um olhar crítico e inovador sobre a realidade de seu tempo. Era amigo de Fernando Pessoa.
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Assim como metalinguagem ocorre quando usamos a língua para falar dela mesma, chamamos de metapoesia quando o poema tem como tema o próprio fazer poético. Há poemas metalinguísticos, que têm como tema a própria língua, no nosso caso, a portuguesa.
Álvaro de Campos, cujo poema acabamos de ler, é um poeta irrequieto, preocupado com a modernidade de seu tempo e com a relação entre ele e as pessoas ao seu redor. O poema que acabamos de ler é metapoético, ou seja, é um poema que trata da própria poesia e apresenta um importante teor filosófico. O poema a seguir também apresenta uma reflexão sobre as relações entre o eu-lírico, a escrita da poesia e o outro. Ou seja, trata-se também de um poema metapoético. É de um poeta brasileiro contemporâneo, Manoel de Barros.
A maior riqueza do homem é a sua incompletude Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. BARROS, Manoel de. Retrato do artista quando coisa. São Paulo: Record, 1998.
MANOEL DE BARROS (1916- ) – Advogado, fazendeiro e poeta. Poeta moderno, desenvolve, em sua obra, a temática regionalista, que vai muito além do valor documental para fixar-se no universo mágico da palavra que supera e reinventa o cotidiano, transfigurando o mundo que o cerca. Algumas de suas obras: O guardador das águas, Concerto a céu aberto para solos de aves, Livro sobre nada, Ensaios fotográficos, Retrato do artista quando coisa.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Fernando Pessoa assumiu, de uma maneira muito particular, a polifonia que constituía a sua identidade. Fez isso por criar personagens que também escreviam poemas – chamados de heterônimos. Dessa forma, ele se desdobrou em outras identidades. Além do poeta Fernando Pessoa, temos os heterônimos Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis, escrevendo belíssimos textos poéticos. Fernando Pessoa levava muito a sério esses seus heterônimos (como são conhecidas tais personagens – a palavra heterônimo significa, literalmente, outro nome). Tanto é assim que cada um deles tinha a sua biografia e até um mapa astral que explicava muito de suas atitudes.
Novamente, outro poema em que se pensa na relação entre o homem e a palavra. 30. O que gostaria de perguntar ao poeta sobre o poema lido?
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31. Compare as questões que elaborou para o poeta com as de seus colegas. Procurem discutir as respostas, assim como a compreensão global do poema. Todo poeta busca um leitor. Todo ato de comunicação tenta fazer com que um pouco de nós chegue até o outro. 32. Escreva um poema sobre a língua portuguesa como forma de falar da identidade do ser humano por meio da poesia. O seu poema, como o de Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa ou Manoel de Barros, não precisa ter rimas, mas se esforce para que a sua mensagem consiga fazer o leitor refletir sobre o assunto. Seu olhar sobre a linguagem deve ser tão inquieto como o dos poetas que examinamos.
Após a discussão sobre as diferenças e semelhanças dos conceitos de poeta, afixem tais poemas na sala de aula.
O GÊNERO DRAMÁTICO Leia, com atenção, a resenha crítica a seguir. Sexta-feira, 22 de agosto de 2003.
Lisbela e o prisioneiro mostra o Nordeste pop Filme, que estreia nacionalmente hoje, conta uma rasgada história de amor Divulgação Marco Nanini como Frederico Evandro, Selton Mello como Leléu e Débora Falabella, no papel de Lisbela, vivem personagens melodramáticos de um ambiente marcado por sotaques e músicas populares. UBIRATAN BRASIL Um Nordeste pop, aquele que vem estampado em parachoque de caminhão, brega mas não debochado, diferente do Nordeste suburbano que se apresenta na maioria dos filmes nacionais – é com tal colorido que o diretor Guel Arraes identifica seu longa Lisbela e o Prisioneiro, que estreia hoje em diversas salas do País. [...] Inspirado na peça de Osman Lins, Lisbela e o Prisioneiro é uma comédia romântica que conta a história do malandro e aventureiro Leléu (Selton Mello) e da mocinha sonhadora Lisbela (Débora Falabella), apaixonada por filmes americanos. Ela está noiva e de casamento marcado quando Leléu chega à cidade. O casal se encanta, mas sofre pressões da família e do meio social, além de suas próprias dúvidas e hesitações. “É o bastante para o surgimento da versão nordestina de alguns personagens da comédia universal, como os valentões, os sabidos, a fogueteira, etc.”, comenta Guel Arraes, que há dez anos está às voltas com o texto de Lisbela. Em 1993, ele fez uma adaptação para a televisão e, desde 2001, percorreu diversos teatros do País, encenando o mesmo texto. “As duas primeiras montagens (especial e peça) tiveram uma ótima resposta do público, o que me convenceu a levar a história para o cinema.” [...] Apesar de enaltecer o texto de Osman Lins, Guel Arraes afirma que menos da metade do original inspirou a versão cinematográfica. “Na adaptação para a tevê, o tom geral era mais de farsa com algum romance. No cinema, a história virou uma comédia romântica com toques de farsa”, conta o diretor, que
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33. A resenha trata de três formas diferentes de apresentar o mesmo texto, Lisbela e o prisioneiro. Identifique-as.
34. Guel Arraes foi fiel ao original de Osman Lins? Identifique a parte do texto que justifica a sua resposta.
35. Na sua opinião, é correto modificar o texto original de um autor? Por quê?
Leia, na sequência, um trecho da peça de teatro de Osman Lins, Lisbela e o prisioneiro:
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
introduziu novidades tecnológicas, especialmente na relação de Lisbela com o cinema. “Ela assiste a diversos trechinhos de filmes, que foram produzidos por nós parodiando diversos gêneros do cinema americano.” A música também teve um papel essencial na composição do filme. Arraes conta que foi a primeira vez que seguiu a direção da trilha sonora, de João Falcão e André Moraes, “que me diziam como seria cada canção e de que forma elas seriam cantadas”, comenta o diretor, que utilizou as músicas para modificar adequadamente a direção de atores.
Cadeia pública, em Vitória de Santo Antão, PE. O cenário deve ser disposto de modo que a ação possa desenrolar-se dentro e fora da cela. Também há cenas na calçada da cadeia.
JABORANDI
[...]
Tenente! O homem vem aí com Juvenal e o Cabo Heliodoro. Parece até que vem mais gordo! (Toca alegremente a corneta.)
TEN. GUEDES Pare com isso! (Jaborandi continua.) Silêncio. (Ele para.) LELÉU
(Entrando, acompanhado do soldado Juvenal e do Cabo Heliodoro. Está com a camisa rasgada e meio suja de terra.) Epa, minha gente, como vão as coisas por aqui? Que é que 250
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há, Jaborandi? Citonho velho! Sempre firme, hem? (Aos presos.) Aí, meninos! Nunca se metam a fugir, que esse homem é de morte. Me agarrou. TEN. GUEDES Preso... ajoelhe-se. LELÉU
Por quê? E aqui agora é igreja, é?
TEN. GUEDES Ajoelhe-se, peça perdão. LELÉU
Eu não fiz nada.
TEN. GUEDES (Batendo-lhe.) Ajoelhe-se, peça perdão por ter traído a minha confiança, fugindo de minha casa, procurando me desmoralizar... LELÉU
Não. E o senhor não pode me bater. Só porque estou preso? Eu tinha o direito de fugir. Agora o senhor não tem o direito de bater em mim, como não podia me tirar daqui e levar pra sua casa.
TEN. GUEDES Tanto podia que levei. LELÉU
Tanto não podia que o juiz está querendo metê-lo na cadeia. Pensa que eu não sei, é?
TEN. GUEDES Oh, dor de cabeça dos diabos! Citonho, quando você quiser levar uma dentada, faça favor a um cachorro. LELÉU
Quem é cachorro? Sou eu? Nem eu sou cachorro nem o senhor me faz favor. Ora favor, essa é boa. Saio daqui pra trabalhar de graça, e logo no noivado de sua filha, que é uma joia de moça, com aquele advogadozinho que ajudou o promotor a acertar minha tampa, e o outro me vem com essa história de favor. Favor fiz eu, e não foi ao senhor, fique sabendo.
TEN. GUEDES Atrevido! LINS, Osman. Lisbela e o prisioneiro. São Paulo: Planeta, 2003.
OSMAN LINS (1924-1978 ) – Nasceu em Vitória de Santo Antão (PE). Professor universitário de Literatura, publicou diversas obras. Várias delas traduzidas. Algumas adaptadas para a televisão e o cinema. 36. No trecho que acabamos de ler, não encontramos um narrador. Prove essa afirmação, recorrendo a partes da obra.
37. No início do texto, lemos:
“Cadeia pública, em Vitória de Santo Antão, PE. O cenário deve ser disposto de modo que a ação possa desenrolar-se dentro e fora da cela. Também há cenas na calçada da cadeia.”
Qual a função desse trecho dentro da obra?
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Uma das falas de Leléu é reproduzida a seguir.
LELÉU
(Entrando, acompanhado do soldado Juvenal e do Cabo Heliodoro. Está com a camisa rasgada e meio suja de terra.) Epa, minha gente, como vão as coisas por aqui? Que é que há, Jaborandi? Citonho velho! Sempre firme, hem? (Aos presos.) Aí, meninos! Nunca se metam a fugir, que esse homem é de morte. Me agarrou.
Leléu entra, acompanhado do soldado Juvenal e do cabo Helidoro. Está com a camisa rasgada e meio suja de terra. Dirige-se a todos: “Epa, minha gente, como vão as coisas por aqui? Que é que há, Jaborandi? Citonho velho! Sempre firme, hem?”. Depois, volta-se para os presos: “Aí, meninos! Nunca se metam a fugir, que esse homem é de morte. Me agarrou”. 38. Oralmente, explique as diferenças formais entre os dois trechos. O gênero dramático é composto de textos que foram escritos com o objetivo principal de ser representado em forma de peça de teatro. É um roteiro para virar peça de teatro. Quando finalmente a peça de teatro é encenada, o gênero dramático se transforma em gênero espetacular. É importante não confundir estes dois textos: dramático e espetacular.
Exercício de oralidade Jogo da pantomima O seu professor selecionará de 5 a 7 alunos para representarem uma atividade associada a um determinado espaço. Cada ator do grupo deve fazer uma pantomima de uma atividade específica, diretamente relacionada com a atividade nesse espaço. A seguir, os demais alunos (público) adivinham a atividade comum e cada atividade específica. Os “atores” não precisam interagir no “palco”. A pantomima é um tipo especial de texto espetacular, em que os atores se comunicam apenas através de gestos e expressões corporais, sem a presença da palavra ou da música. Atividades genéricas sugeridas: Em casa. Na praia. Na fábrica. No circo. No acampamento. No hospital. Na fazenda. No escritório. Na academia. É muito difícil encontrar uma definição de texto dramático que o diferencie dos demais gêneros textuais, pois a tendência atual é teatralizar qualquer tipo de texto. Mesmo assim, podemos observar algumas marcas do texto dramático ocidental.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Examine a transformação que ocorre no texto a seguir:
O texto a ser dito pelos atores, chamado também de texto principal, é muitas vezes introduzido pelas indicações cênicas ou didascálias, texto também chamado de secundário. É o que se pode verificar a seguir.
TEN. GUEDES
Pare com isso! (Jaborandi continua.) Silêncio. (Ele para.) Indicações cênicas
Como não tem um narrador, o texto dramático é dividido entre as diversas personagens-locutoras, que são introduzidas pela citação de seu nome na peça. 252
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No texto espetacular, no entanto, as indicações cênicas e de personagens desaparecem. Observe o texto seguinte.
Cuidado! Embora não tenha um narrador, encontramos no texto dramático uma função narrativa que se manifesta nas indicações cênicas e desaparece totalmente quando a obra se torna espetáculo.
Capa de DVD do filme Lisbela e o prisioneiro, de Guel Arraes.
39. Que intervenções foram necessárias para transformar o texto de Osman Lins em espetáculo?
O espetáculo é tudo o que se oferece ao olhar. Aplica-se não somente ao teatro, mas a todas as artes de representação: dança, ópera, cinema, mímica, circo, etc. e a outras atividades em que o público participa, como esportes, ritos, cultos, etc. Um show de rock é um espetáculo, assim como a apresentação no teatro de uma peça de William Sheakspeare. Em um espetáculo, tudo é significativo: o texto dramático, o cenário, o local do teatro e da sala, os atores, os recursos técnicos, o produtor, etc. No caso de Lisbela e o prisioneiro, Guel Arraes fez uma adaptação da obra de Osman Lins. O que isso significa? Adaptação pode referir-se, principalmente, a duas coisas: • Trabalho dramatúrgico a partir do texto que vai transformar-se em espetáculo. Para esse fim, todas as manobras imagináveis são permitidas: cortes, reorganização da narrativa, mudança do estilo das falas, Fazendo gênero com a literatura
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alteração da linguagem, redução ou aumento do número de personagens, acréscimos, modificação do final, etc. • A transformação de uma obra de um gênero em outro. Por exemplo, a passagem de um conto a texto dramático. A adaptação, em teatro, ocorre principalmente a partir de textos narrativos.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
40. Em duplas ou trios, faça a adaptação de Mudança, de Vidas secas, ou da narrativa que escreveu a partir do texto Festa, de Graciliano Ramos, para texto dramático. Lembre-se da ausência do narrador e da existência de dois textos: o principal e o secundário, com as indicações cênicas e de personagem.
Quadro–resumo 41. Complete o quadro-resumo a seguir. Gêneros literários Observação: ao elaborar o seu resumo, leve em consideração o que difere um gênero dos outros e como eles compõem essa instituição plural que é a literatura. Narrativo:
Discurso direto:
Discurso indireto:
Discurso indireto livre:
Lírico:
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Gêneros literários
Dramático:
Diferenças entre texto dramático e texto espetacular
Texto dramático
Texto espetacular
Um jogo dramático 42.A seguir, são fornecidos finais de cenas, espaços e tempos históricos em que essas cenas ocorrem. Um grupo de três a cinco alunos escolhe uma delas, bem como espaço e um tempo histórico, acrescenta personagens, relaciona-os e representa a ação que poderia levar àquele final. Tempo máximo da apresentação: cinco minutos. Exemplo: “O assado que acabou de sair do forno é jogado no lixo”. Uma senhora está para tirar o assado do forno quando toca a campainha. Sua vizinha vem conversar com ela para contar-lhe as últimas fofocas do prédio. Nisso chega o marido dessa senhora, e ela se lembra do jantar. Tarde demais: o assado que acabou de sair do forno é jogado no lixo.
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Finais possíveis (em discussão com seus colegas, acrescente outros).
Espaços (em discussão com seus colegas, acrescente outros). • Uma grande metrópole brasileira (pense em uma cidade como Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou Salvador). • Uma cidade do interior. • Uma aldeia indígena. • Um grande centro urbano internacional como Nova Iorque ou Paris. • Um navio. • Uma base interplanetária.
Tempos históricos (em discussão com seus colegas, acrescente outros). • Pré-história. • Século XIX. • Dias atuais. • Século XXIII.
Descrição das personagens.
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• Assado que acabou de sair do forno é jogado no lixo. • Comer uma barata. • Rasgar uma carta. • Esconder sua mãe na lata do lixo. • Transformar-se em estrela.
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Desenvolvimento (resumo das ações).
Como notou, para a elaboração e encenação dessas pequenas narrativas, foi necessário recorrer aos elementos básicos que compõem o gênero narrativo: • Personagens • Tempo • Espaço
A PERSONAGEM, O ESPAÇO E O TEMPO NA LITERATURA: Renovando a linguagem do teatro... • Já ouviu a frase “Ser ou não ser, eis a questão”? • Consegue identificar o seu autor? WILLIAM SHAKESPEARE (1564-1616) – Nasceu em Stratford-Avon, Inglaterra. Atribui-se a William Shakespeare a autoria de 37 ou 38 peças, das quais se destacam, entre outras: Romeu e Julieta, Rei Lear, Hamlet, Otelo, Muito barulho por nada, A comédia dos erros, A megera domada, Macbeth. Shakespeare é considerado um clássico da literatura de todos os tempos. A passagem do tempo facilita que alguns nomes da Literatura sejam cada vez mais valorizados. É o caso de nomes como Shakespeare e Machado de Assis. Nesses casos, é comum que a literatura estabeleça um diálogo com outras manifestações culturais, como o cinema. Filmes como Shakespeare apaixonado e Dom, que você encontra facilmente nas videolocadoras, servem de exemplo. Textos dramáticos desses autores clássicos são representados até hoje, mesmo que já tenham passado séculos desde que foram escritos. É o que ocorre com o escritor português Gil Vicente, que nasceu entre 1465 e 1470, faleceu entre 1536 e 1540, e é considerado um dos fundadores do teatro em língua portuguesa. Seus textos ainda hoje são representados, pois pelos temas que apresentam, bem como pelo tom satírico, suas peças conservam uma grande atualidade. Um desafio, na passagem do texto dramático para o espetacular, é atualizar a linguagem e as problemáticas que se encontram em tais textos. Veja esse problema de perto ao ler, com atenção, o excerto do texto dramático de Gil Vicente, o Auto da barca do inferno. Gil Vicente escreveu o seu texto por volta do início do século XVI. Na peça, vários tipos da sociedade portuguesa da época desfilam, como numa procissão. Todos estão mortos
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Auto da barca do inferno, peça encenada no FIT-BH pela Companhia de Circo e Teatro Olho da Rua.
Onzeneiro Diabo Onzeneiro Diabo Onzeneiro Diabo Onzeneiro Diabo Onzeneiro Diabo Onzeneiro Diabo Onzeneiro Diabo Onzeneiro Onzeneiro 258
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Pera onde caminhais? Oh! que má-hora venhais, onzeneiro meu parente! Como tardastes vós tanto? Mais quisera eu lá tardar. Na safra do apanhar me deu Saturno quebranto. Ora mui, muito me espanto não vos livrar o dinheiro. Nem tão-sóis pera o barqueiro não me leixaram nem tanto. Ora entrai, entrai aqui! Não hei eu i d’embarcar! Oh! que gentil recear, e que cousas pera mi! Ainda agora faleci, Leixai-me buscar batel. Pesar de São Pimentel! Nunca tanta pressa vi! Pera onde é a viagem? Pera onde tu hás-d’ir. Havemos logo de partir? Não cures de mais linguagem. Pera onde é a passagem? Pera a infernal comarca. Dixe, não m’embarco eu em tal barca. Est’outra tem avantagem. Vai-se à barca do Anjo, e diz: Hou da barca! Hou-lá! Hou! Haveis logo de partir?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
diante de um cais onde se encontram dois navios: um, que conduz à glória, ao Paraíso celeste, e é capitaneado por um anjo; outro, que conduz ao Inferno e é conduzido pelo próprio Diabo. Nesse divertido desfile de personagens, cada um deles é obrigado a reconhecer o seu destino, o Céu ou o Inferno, de acordo com os pecados que cometeu aqui na Terra, enquanto estava vivo.
Companhia de Circo e Teatro Olho da Rua
Auto da barca do inferno: considerado um auto de moralidade. “Auto” é um gênero dramático próprio da Idade Média e de difícil definição. Os autos de moralidade tinham uma finalidade educativa: serviam para analisar os costumes sociais e o comportamento dos indivíduos. Tornavam-se um momento para o espectador refletir e analisar a sociedade em que vivia.
Capítulo 7
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Anjo Onzeneiro Anjo Onzeneiro Anjo Onzeneiro Anjo Onzeneiro Anjo Onzeneiro Diabo Onzeneiro Diabo Onzeneiro Diabo
E onde queres tu ir? Eu pera o paraíso vou. Pois quant’eu bem fora estou de te levar pera lá. Essa barca que lá está vai pera quem te enganou. Por quê? Porque esse bolsão tomara todo o navio. Juro a Deus que vai vazio! Não já no teu coração. Lá me ficam de roldão vinte e seis milhões numa arca. Pois que onzena tanto abarca não lhe deis embarcação. Torna o Onzeneiro à barca do inferno, e diz ao Diabo. Hou-lá! Hou, demo barqueiro! Sabeis vós no que me fundo? Quero lá tornar ao mundo e trazer o meu dinheiro. Aqueloutro marinheiro, porque me vê vir sem nada dá-me tanta borregada como arrais lá do Barreiro. Entra, entra, remarás! Não percamos mais maré! Todavia... Per força é Que te pês, cá entrarás! Irás servir Satanás, Pois que sempre te ajudou. Oh! Triste! Quem me cegou?! Cal´-te, que cá chorarás.
GIL VICENTE. Auto da barca do inferno, Farsa de Inês Pereira e Auto da Índia. Estabelecimento dos textos, apresentação, notas e caderno biográfico de João Domingues Maia. São Paulo: Ática, 1998.
GIL VICENTE – Viveu no século XVI, na época da expansão marítima de Portugal, a qual trouxe muita riqueza à nação. Contudo, essa riqueza não era distribuída de forma justa, e muitas pessoas viviam na mais absoluta miséria. Além disso, enquanto os pobres passavam necessidade, os ricos viviam um próspero estilo de vida, cheio de ostentação e luxo. Gil Vicente observava criticamente tal sociedade decadente e não gostava do que via. Seu teatro denuncia essa situação. O público ria nas peças de Gil Vicente que rapidamente se tornaram famosas. Na verdade, o público ria de si mesmo.
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43. Discuta oralmente: • Com base no quadro biográfico de Gil Vicente, que semelhanças encontramos entre a época em que o dramaturgo viveu e a nossa?
Com a orientação do professor, identifiquem as dificuldades mais comuns da classe e discutam por que elas representam uma dificuldade para o leitor. Procurem encontrar vocábulos ou expressões que possam substituí-las. Muitos se queixam de que a linguagem de Gil Vicente não é mais própria para a nossa realidade. Segundo essas pessoas, o estilo do autor foi apropriado para certa época, mas não para os nossos dias. Outros, no entanto, embora encontrem dificuldades ao ler Gil Vicente, notam que as ideias presentes em sua obra ainda são atuais. Há vários caminhos para que possamos apreciar a obra de Gil Vicente, sem nos desencantarmos por achar a linguagem pouco apropriada para os nossos dias. Um deles é estudando mais profundamente a nossa língua portuguesa e superando, aos poucos, o preconceito ao português falado e escrito no século XVI. Outra possibilidade é atualizando a obra literária, para que mais pessoas possam lê-la sem encontrar dificuldades. 45. A partir de sua experiência com a linguagem, como definiria a palavra atualizar?
A atualização de uma obra literária não muda o enredo central. Preserva a natureza das relações entre as personagens. Somente são modificadas as datas e, eventualmente, o contexto que permita pensar na peça como pertencendo ao tempo presente.
Atualizar a obra literária consiste em adaptar ao tempo presente um texto antigo, levando em conta as circunstâncias atuais, o gosto do novo público e as modificações que se tornem necessárias pela evolução da sociedade.
E é isso que vamos fazer agora: atualizar o texto de Gil Vicente, para que um maior número de pessoas possam ler esse texto dramático clássico sem ficar desanimadas.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
44. Anote as principais dificuldades que encontrou para ler e compreender o texto de Gil Vicente.
Para isso, em primeiro lugar, temos de compreender as personagens dessa obra dentro do espírito do século XVI. A palavra onzeneiro, embora quase nunca usada nos dias de hoje, de acordo com o dicionário, pode ainda significar duas coisas: 1. mexeriqueiro, fofoqueiro, bisbilhoteiro; 2. agiota, usurário.
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46. Qual dos dois sentidos melhor se encaixa no texto de Gil Vicente? Por quê?
Agora, é necessário compreender a importância da personagem na cena, para poder atualizar o texto de Gil Vicente. 47. Pergunte a seus pais e a outros familiares que opinião eles fazem de um “onzeneiro”; forneça-lhes o significado que melhor se enquadra ao texto de Gil Vicente. Recolha as informações e resuma essas opiniões.
48. Comparando as respostas de seus familiares com a personagem apresentada por Gil Vicente, que semelhanças encontra?
Ao apresentar a personagem para o leitor, o autor procura destacar determinados traços que considera mais importantes para a construção da obra. A personagem, no texto literário, é uma realidade que existe nas frases do autor. É a habilidade desse autor em escrever bem que permitirá reconstituir a complexidade da pessoa real. O modo como o autor dirige o nosso olhar através de aspectos selecionados de certas situações, a aparência física e o comportamento psicológico irão permitir que a personagem se torne importante dentro da obra.
A personagem de ficção Na personagem de ficção, reúne-se uma série de traços e indícios que se relacionam com o enredo. Algumas vezes, o escritor opta por construir personagens que apresentam uma personalidade muito específica, na qual encontramos diversas características psicológicas. Muitos textos literários, bem como filmes e outras narrativas apresentam personagens que vivem diversos conflitos íntimos. Consegue lembrar o nome de alguma obra em que isso acontece?
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49. A esse respeito, que aspectos importantes das personagens “Diabo”, “Onzeneiro” e “Anjo” deveriam ser mantidos na adaptação da peça para os dias de hoje?
Diabo
Onzeneiro
Anjo
Devemos também considerar o espaço onde se desenvolve essa ação. Gil Vicente retoma uma tradição grega, adaptando-a para o pensamento medieval cristão. Os gregos acreditavam que as almas dos mortos, para poderem chegar a seu destino final, os infernos, reino de Hades (sim, almas boas e más, segundo o pensamento grego antigo, iam para o inferno, exceção para aqueles escolhidos, que se tornavam deuses), deviam atravessar o rio Aqueronte.
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Outras vezes, encontramos personagens que representam modelos existentes na imaginação da sociedade. Elas não têm profundidade psicológica, apenas representam uma determinada maneira de ver o mundo. São chamadas de personagens arquétipos. É o caso, por exemplo, da Branca de Neve. Essa personagem representa o bem e a inocência. Não tem profundidade psicológica. O conto nada nos informa, por exemplo, sobre a aflição da moça em ter de morar no meio de uma floresta com sete anões que ela nunca vira antes. Branca de Neve é um arquétipo literário. O teatro de Gil Vicente é um teatro de arquétipos.
Capítulo 7
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As águas desse turvo rio somente poderiam ser atravessadas pela barca de Caronte, uma divindade infernal que exercia a função de barqueiro da morte. Só recebia as almas daqueles que haviam sido sepultados e exigia-lhes uma moeda como pagamento para a travessia. As almas que não levavam o dinheiro ou não haviam sido sepultadas teriam que ficar às margens do Aqueronte chorando por toda a eternidade (ou por cem anos, segundo outra versão do mito). Por esse motivo, desenvolveu-se também, entre os gregos antigos, o costume de colocar uma moeda no caixão de quem falecia, para que a alma não fosse pega desprevenida e impossibilitada de chegar ao seu destino. 50. Que diferenças encontramos entre o mito grego e o espaço apresentado no Auto da barca do inferno? Mito grego
Auto da barca do inferno
Um barco dirigido por Caronte. Número de barcas
Os domínios do deus Hades (Plutão, para os romanos). Destino final
O comportamento da pessoa durante a vida na Terra.
Pagamento para se chegar à outra margem
Personalidade dos barqueiros
Caronte é uma divindade que apenas se importa com duas coisas: que as almas tenham sido sepultadas e que levem a moeda para pagar-lhe.
Pesquise, na biblioteca da escola e na Internet, alguns mitos gregos que envolvem a relação do homem com o rio Aqueronte: • Orfeu • Eros e Psiquê • Héracles (Hércules, para os romanos) • Éaco • Hades (Plutão, para os romanos)
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O verso também é caracterizado por ser rítmico. Um dos recursos que produz ritmo em um verso é a quantidade de sílabas poéticas utilizadas. A métrica é a medida dos versos. Uma sílaba poética não é a mesma coisa que uma sílaba comum gramatical. A sílaba gramatical é baseada no registro escrito, já a sílaba poética é baseada na oralidade, na forma como se pronuncia o poema. Assim, numa sílaba poética, as vogais átonas, que não são acentuadas na pronúncia, e que se encontram lado a lado, são agrupadas numa única sílaba (chamamos a esse processo de elisão) e somente contamos as sílabas até a última tônica de cada verso. Sílaba tônica é a sílaba acentuada numa palavra na sua pronúncia, mesmo que ela não receba o sinal gráfico de acento. O processo de contar as sílabas poéticas recebe o nome de escansão. Veja a diferença em dois versos do poema “canção” de Cecília Meireles, que estudamos no capítulo anterior: Divisão das sílabas gramaticais Nun
ca
eu
ti
ve
ra
que
ri
do
1
2
3
4
5
6
7
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9
total: 9 sílabas gramaticais Escansão (ou divisão das sílabas poéticas) Nun ca eu ti 1
2
3
ve
ra
que
ri
4
5
6
7
do
total: 7 sílabas poéticas. Lembre-se: Ocorre elisão das sílabas gramaticais “ca” e “eu”, pois são constituídas de vogais átonas. • A última palavra do verso é “querido”, cuja sílaba tônica é “ri”, por isso a sílaba gramatical “do” não é contada. • Veja agora a escansão do primeiro verso da letra de música O poeta está vivo: Ba 1
by, com pra o jor 2
3
4
5
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6
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Outro aspecto importante é a forma como Gil Vicente escreve. Embora o verso seja uma escolha mais frequente do texto lírico, ele também é encontrado em textos narrativos e dramáticos.
total: 11 sílabas poéticas. 51. Que diferenças consegue identificar entre o número de sílabas gramaticais e o número de sílabas poéticas? Por quê?
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Capítulo 7
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De acordo com o número de sílabas poéticas, os versos recebem o nome de Monossílabo – uma sílaba
Dissílabo – duas sílabas
Trissílabo – três sílabas
Quatrissílabo – quatro sílabas
Redondilha menor – cinco sílabas
Redondilha maior – sete sílabas
Decassílabo – dez sílabas
Alexandrino – doze sílabas
Observe os versos abaixo, que são parte da fala da personagem Diabo.
Oh! que má-hora venhais, onzeneiro meu parente! Como tardastes vós tanto? Faça a escanção dos versos transcritos. 52. Classifique os versos de acordo com o número de sílabas poéticas.
53. Examine o trecho abaixo do Auto da barca do inferno.
Onzeneiro Todavia... Diabo
Per força é
Que te pês, cá entrarás!
Irás servir Satanás,
Pois que sempre te ajudou.
Onzeneiro Oh! Triste! Quem me cegou?! Diabo
Cal´-te, que cá chorarás.
Predominam versos regulares ou livres? Se regulares, de quantas sílabas poéticas?
Leia com atenção o poema Acontecimento, de Cecília Meireles, e siga as orientações para a atividade proposta.
Versos regulares: feitos com versos cuja métrica se repete.
Acontecimento
Versos livres: não obedecem a uma regularidade métrica, ou seja, os versos apresentam diferentes tamanhos.
Aqui estou, junto à tempestade chorando como uma criança que viu que não eram de verdade o seu sonho e a sua esperança. Fazendo gênero com a literatura
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A chuva bate-me no rosto e em meus cabelos sopra o vento. Vão-se desfazendo em desgosto as formas do meu pensamento.
“Que foi feito do teu sorriso, que era tão claro e tão perfeito?” E o meu pobre olhar indeciso não te repetir: “Que foi feito...?” MEIRELES, Cecília. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993.
CECÍLIA MEIRELES (1901-1964) – “Cecília Meireles define-se [...] como poeta capaz de perceber o mundo circundante pelos sentidos, com certo toque erótico, mas preservada a pureza. Som, luz, movimento, silêncio, sombras que perpassam, idas e retorno, de tudo ela se sente integrante, ao mesmo tempo neutralizada. Ressalva, contudo, a individualidade, pois no fundo investiga a própria identidade”. (CASTELLO, José Aderaldo. A literatura brasileira: origens e unidade (1500-1960). V. II. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999.) Ao lado da última palavra do primeiro verso da primeira estrofe (“tempestade”), coloque uma letra (A).
Rima: recurso sonoro baseado na semelhança fonética das palavras no final (rima externa) ou no interior (rima interna) dos versos. Produz um efeito musical dentro do texto que, muitas vezes, valoriza o poema.
Que palavras, nos versos seguintes, rimam com “tempestade”? Coloque ao lado também uma letra (A). Repita o processo para a última palavra do verso seguinte, só que agora com a letra (B). Avance nos demais versos, utilizando letras diferentes para cada rima diferente que encontrar. Use a ordem alfabética para nomear cada nova rima. A sequência de rimas da primeira estrofe do poema “canção” é ABAB.
54. Qual a sequência de rimas do restante do poema?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Chorarei toda a noite enquanto perpassa o tumulto nos ares, para não me veres em pranto, nem saberes o que perguntares:
Quando se encontram no final dos versos, as rimas organizam-se em esquemas de acordo com as letras do alfabeto. Poemas que não apresentam rimas são chamados de poemas em versos brancos. 55. Quanto à métrica, como podem ser classificados os versos do poema Acontecimento?
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56. Como você definiria o eu-lírico do poema de Cecília Meireles? Justifique.
De uma forma bem diferente do que ocorre com a narrativa, a personagem do poema lírico não se define claramente. Isso ocorre, antes de tudo, pelo fato de o eu-lírico manifestar-se apenas em monólogo, fundido com o mundo que ele olha e representa em sua poesia. 57. Relacione o espaço do qual o eu-lírico fala no poema.
Examine, com atenção, a música, cuja letra é transcrita a seguir.
A massa Pelas ruas, pela cidade Os passos da população Todos sem saber pra onde vão Os gritos são a sua fala O dinheiro pulsa, a verdade se cala Sob os olhos atentos da televisão Sem coragem, nem medo Sem mente, nem coração Sem amor ou ódio Só idolatria, fé e devoção Justiça cegada Justiça vendada Um líder, a massa, punição Sob a inércia e a apatia A violência ainda faz o dia Esperando a voz de quem seduz Sob olhar compreensivo Soberana reina a surdez Aos apelos de quem não a conduz Temida ou amada Se realiza quando escravizada Não dá lugar a razão Sempre a espreita ataque à traição Justiça cegada Justiça vendada Um líder, a massa, a punição Flicts. CD: Skema 110, Hangar 110 (vários artistas).
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58. Poderia ser essa “massa” de que trata a letra da música, personagem do Auto da barca do inferno de Gil Vicente, se essa peça tivesse sido escrita em nossos tempos? Por quê?
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59. Que semelhanças encontramos entre a letra de música A massa e o Auto da barca do inferno de Gil Vicente?
Os vícios dos homens e da sociedade estão em todas as peças de Gil Vicente. Todos os que esqueceram os valores éticos e morais são criticados: padres libertinos, agentes da justiça corruptos, médicos mentirosos, agiotas, prostitutas, cafetões, fidalgos decadentes, velhos tarados, etc. Ninguém escapa à crítica mordaz de Gil Vicente. Profundamente católico, Gil Vicente não desejava que Portugal se afastasse de Roma. Antes, opunha-se à má conduta de certos membros da Igreja Católica. No correr da história, muitos também têm feito das diferentes manifestações culturais e artísticas instrumentos para criticar aspectos da sociedade que consideram errados.
UM ESTUDO DA LINGUAGEM: O SUBSTANTIVO EM O IMPOSSÍVEL CARINHO DE MANUEL BANDEIRA Leia com atenção o poema seguinte:
O impossível carinho Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo Quero apenas contar-te a minha ternura Ah se em troca de tanta felicidade que me dás Eu te pudesse repor – Eu soubesse repor – No coração despedaçado As mais puras alegrias de tua infância! BANDEIRA, Manuel. Os melhores poemas. Seleção de Francisco de Assis Barbosa. São Paulo: Global, 1996.
MANUEL BANDEIRA (1886-1968) – Considerado um dos mais importantes poetas da literatura nacional. Estreou na poesia em 1917 com o livro A cinza das horas. Sua poesia é caracterizada pela maestria dos versos e pelo grande poder de síntese. Tratou de temas como a morte, o cotidiano e o amor, muitas vezes aliando humor, ironia amarga e uma fina sensibilidade.
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O poema O impossível carinho, de Manuel Bandeira, é uma das páginas mais românticas da literatura brasileira. Note que a palavra “impossível” é um adjetivo que determina uma característica específica ao termo “carinho”. Não se trata de um carinho qualquer, mas de um carinho que o eu-lírico reconhece como uma não-possibilidade, portanto, realizável apenas na mente. Mas que dizer da palavra “carinho”? No dicionário Aurélio, encontramos a seguinte definição: Substantivos: palavras que designam seres – visíveis ou não, animados ou inanimados – ações, estados, sentimentos, atitudes, desejos e ideias.
carinho. S. m. 1. Afago, meiguice, carinho, carícia. 2. Cuidado, desvelo. FERREIRA, Aurélio B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
A palavra carinho é usada para nomear um gesto diante da pessoa amada. Recorrendo ao poema e à definição de substantivo, dê a sua opinião: 60. Carinho, no poema, faz referência a um gesto, uma ação, um estado, um sentimento, uma atitude, um desejo ou uma ideia? Por quê?
61. Para esta recapitulação, consulte uma gramática. Recorra ao capítulo que explica o substantivo. A seguir, complete a tabela. Referem-se a seres comuns a uma determinada categoria. Ex.: homem, escritor, carinho.
Próprios
Concretos
Referem-se a seres que dependem de outro ser para existir. Ex.: saudade, sinceridade, paixão.
Referem-se a uma pluralidade de seres de uma mesma espécie. Ex.: biblioteca, cardume, matilha.
Observe a palavra “desejo” no poema de Manuel Bandeira. Para que o sentimento de desejo exista, é necessário que alguém o sinta. Os substantivos abstratos dependem de alguém para existirem. Eles nomeiam sentimentos que existem no plano das ideias, e as ideias necessitam de alguém que as pense ou sinta.
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Contudo, ainda é importante acrescentar que a diferença entre substantivo concreto e abstrato não pode ser pensada como dois lados de uma mesma moeda. Pense antes no dial de um rádio. Daqueles rádios que você precisa mexer no comando para regular mais para a direita ou mais para a esquerda. Nas rádios FM, os extremos são 87,5 Mhz e 108,1Mhz; no que se refere aos substantivos, os extremos são concreto e abstrato. Assim como a maioria das emissoras não se localizam na faixa 87,5 ou 108,1, mas entre essas duas faixas, mais para um lado ou para o outro. Do mesmo modo, uma grande parte dos substantivos é mais concreto ou mais abstrato, dependendo muito do contexto onde estão inseridos. 62. No poema O impossível carinho, a palavra “coração” tende a ser mais concreta ou abstrata? Por quê?
63. No uso mais comum dessa palavra, ela tende a ser concreta ou abstrata? Por quê?
64.No poema, qual a importância do adjetivo “despedaçado” presente no verso “no coração despedaçado”?
65. No uso mais comum, o termo “felicidade” é algo muito abstrato. No entanto, no poema, ele se torna bem concreto, comparado a um objeto. Prove.
O eu-lírico deseja dar algo em troca da felicidade que recebe. Essa troca seria o impossível carinho. Repare que o poema é todo construído em torno do desejo do eu-lírico em tornar concreto para o outro, o ser amado, o sentimento abstrato de felicidade que sente. Ao fazer isso, ele se utiliza de uma comparação. A felicidade que ele recebe é semelhante à possibilidade de repor no coração despedaçado do ser amado. 270
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Situação diferente ocorre com palavras como “carro” ou “fada”. Elas se referem a coisas que existem independentemente de alguém. Essas coisas existem como realidade em um mundo real ou inventado. Isso é importante: o substantivo concreto nomeia seres que existem como realidades concretas, tendo uma base material, em mundos reais ou inventados.
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Em certos textos literários, a impressão do enunciador sobre o assunto que está desenvolvendo é realçada por dar mais valor à qualidade do que ao objeto de que está falando.
66. Comente, em classe, que diferenças encontra entre: 1. Os olhos azuis de Maria 2. O azul dos olhos de Maria Em 2, ocorreu o processo de substantivação do adjetivo. Ou seja, toda palavra quando precedida de um artigo, torna-se um substantivo. Assim, são substantivos palavras que normalmente pertencem a outras classes gramaticais, como, por exemplo:
O amar (amar, na maioria das vezes, é verbo).
O eu (eu, na maioria das vezes é pronome).
O azul (azul, na maioria das vezes, é adjetivo).
O finalmente (finalmente, na maioria das vezes, é advérbio).
Artigos são as palavras o (com as variações a, os, as) e um (com as variações uma, uns, umas) que se colocam antes dos substantivos para indicar: • Que se trata de um ser conhecido do interlocutor (artigo definido) Exemplo: Pega a caneta que está em cima da mesa, por favor. • Que se trata de um simples representante entre outros de uma dada espécie ao qual não se fez referências anteriores (artigo indefinido) Exemplo: Eu preciso de uma caneta. O artigo definido é, basicamente, um sinal de notoriedade, ao contrário do artigo indefinido.
O adjetivo e o substantivo em concordância Como já vimos no capítulo anterior, o adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo. Ex.: casa azul – casas azuis Surgem dificuldades quando há mais de um substantivo de número e gênero diferentes ou quando há mais de um adjetivo. Por exemplo, para escrever seu poema, Manuel Bandeira utilizou sensibilidade e emoção... inusitada? Ou inusitadas? Os gramáticos afirmam que, nesse caso, dá no mesmo. 67. No entanto, você consegue distinguir diferenças de sentido nas frases a seguir?
O artigo indefinido “uma” antes de sensibilidade e emoção como um elemento de caracterização, agrupando-os em uma única unidade.
• Para escrever seu poema, Manuel Bandeira utilizou sensibilidade e emoção inusitada. • Para escrever seu poema, Manuel Bandeira utilizou sensibilidade e emoção inusitadas. • Para escrever seu poema, Manuel Bandeira utilizou uma sensibilidade e emoção inusitada. Fazendo gênero com a literatura
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Importante! Devemos, sempre, ao escrever, procurar uma concordância em que o adjetivo possa transmitir ao leitor a impressão clara de estar qualificando todos os substantivos a que diz respeito.
Veja agora outra situação:
Embora as duas concordâncias estejam corretas, quando os substantivos são de gêneros diferentes, os gramáticos afirmam que é mais comum o adjetivo concordar com o substantivo mais próximo. Assim “Paulo estuda o idioma e a literatura espanhola” seria a forma mais comum, de acordo com os gramáticos. Nem todos, contudo, concordam com esse pensamento. E você? O que pensa? 68. Como você faria a concordância entre a expressão “idioma e tradições” e o adjetivo “português”: idioma e tradições portuguesas ou idioma e tradições portugueses? Por quê?
A repetição do artigo no singular deixa em evidência o valor das partes e diminui a importância do conjunto.
Observe estas duas frases: 1 – Paulo estuda as línguas inglesa, francesa e espanhola. 2 – Paulo estuda a língua inglesa, a francesa e a espanhola.
69. Qual lhe parece mais apropriada? Por quê?
O substantivo, o adjetivo e a descrição Leia, com atenção, o seguinte trecho:
“A carruagem parou ao pé de uma casa amarelada, com uma portinha pequena. Logo à entrada um cheiro mole salobro enojou-a. A escada, de degraus gastos, subia ingrememente, apertada entre paredes onde a cal caía e a umidade fizera nódoas. No patamar da sobreloja, uma janela com um gradeadozinho de arame, parda do pó acumulado, coberta de teias de aranha, coava a luz suja do saguão. E por trás de uma portinha, ao lado, sentia-se o ranger de um berço, o chorar doloroso de uma criança.” QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. Rio de Janeiro: Record, 1988.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Paulo estuda o idioma e a literatura... espanhola? Ou espanhóis?
José Maria EÇA DE QUEIRÓS (1845-1900) – Nasceu na Póvoa do Varzim, em Portugal. É um dos principais nomes da literatura portuguesa de todos os tempos. Seus textos são marcados pela ironia, pela riqueza de detalhes e pela tentativa de, por meio da obra literária, construir uma consciência crítica da realidade social e humana do leitor português. Seu estilo original agradou muito aos leitores, fazendo-o extremamente popular, inclusive no Brasil do século XIX.
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Capítulo 7
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70. No trecho lido, predominam substantivos concretos ou abstratos?
71. Que impressão lhe transmite o texto?
72. Identifique, no texto, dois verbos que foram substantivados.
Toda descrição, de certa maneira, pode ser entendida como a ordenação de um conjunto de substantivos e adjetivos no decorrer de um texto. O primeiro problema que o escritor enfrenta é: até que grau de detalhe deve conduzir a descrição? Dependerá muito do objetivo de seu texto. Descrições mais detalhadas com o uso de um vocabulário técnico atribuem uma função didática ao texto. Os nomes, em uma descrição, devem ordenar-se em torno de certos conjuntos organizados a partir da contiguidade dos elementos que compõem o objeto descrito, como se fosse uma câmera cinematográfica, que vai filmando as diferentes partes, conforme elas estejam ligadas umas às outras. Por exemplo, uma câmera está filmando uma mulher: pode-se começar pela cabeça, descendo ao pescoço, braços, tronco, pernas, pés, ou fazer o movimento contrário – dos pés à cabeça. O que não seria usual, a menos que houvesse um motivo claro para isso, seria a câmera ficar pulando da cabeça para as pernas, depois o pescoço, depois volta para os pés, etc. No trecho lido, o narrador descreve o espaço, seguindo o movimento da personagem, como se entrasse com ela no espaço descrito. Inicialmente, a personagem está olhando o lugar onde se encontra (“uma casa amarelada, com uma portinha pequena. Logo à entrada um cheiro mole salobro enojou-a”). A seguir, entra na casa por meio da “portinha pequena” e depara a escada (“de degraus gastos, subia ingrememente, apertada entre paredes onde a cal caía e a umidade fizera nódoas”). Depois descreve o lugar onde a personagem foi parar, o “patamar da sobreloja” (“uma janela com um gradeadozinho de arame, parda de pó acumulado, coberta de teias de aranha, coava a luz suja do saguão”). Aqui o narrador para, mas o seu ouvido consegue perceber “por trás de uma portinha”, “o ranger de um berço, o chorar doloroso de uma criança”. 73. Identifique a estratégia seguida pelo narrador na seguinte descrição:
“As janelas abriam para o quintal. Viam-se dois largos pés de camélias vermelhas crescendo junto ao peitoril, e para além das copas das macieiras um pedaço muito vivo do azul-ferrete. Uma nora chiava ao longe; lavadeiras batiam a roupa. Sobre a cômoda, entre infólios, na sua peanha, um Cristo perfilava tristemente contra a parede o seu corpo amarelo, coberto de chagas escarlates; e, aos lados, simpáticos santos sob redomas de vidro lembravam legendas mais doces de religião amável.” QUEIROZ, Eça de. O crime do padre Amaro. São Paulo: Moderna, 1994.
Fazendo gênero com a literatura
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A posição do adjetivo A língua portuguesa admite liberdades na posição dos adjetivos em relação ao substantivo, principalmente os subjetivos, o que oferece diversas possibilidades de expressão de sentidos. Veja: 1. A menina pobre não podia comprar o doce.
Em 1, o adjetivo “pobre” é empregado em sentido denotativo: a menina não tem recursos financeiros que lhe permitam comprar o doce. Em 2, o sentido é conotativo: pobre acrescenta a ideia de compaixão à frase. A posição do adjetivo Quando o adjetivo está depois do substantivo, tende a manter o seu valor denotativo; quando está antes, tende a ganhar valor conotativo e com maior carga emocional.
74. No caso do poema de Manuel Bandeira, que diferenças de sentido notamos entre os títulos O impossível carinho ou O carinho impossível? Por quê?
Observe atentamente o trecho a seguir:
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.” ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: FTD, 1997.
Joaquim Maria MACHADO DE ASSIS (1839-1908) – Natural do Rio de Janeiro e de origem humilde, é considerado o melhor escritor brasileiro de todos os tempos. O mais importante escritor de narrativas da língua portuguesa. Sua obra contempla todos os gênero literários, embora seja principalmente na narrativa que encontramos a sua genialidade. Em muitas dessas narrativas, o olhar finamente irônico do escritor sonda a natureza psicológica do ser humano até alcançar a formação da sociedade, particularmente a brasileira. Há muita informação na Internet sobre Machado de Assis. Consulte, por exemplo, o site www.machadodeassis.org.br, mantido pela Academia Brasileira de Letras.
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
2. A pobre menina sentia-se muito sozinha.
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75. Machado de Assis aproveita a duplicidade de sentido proporcionada pela posição do adjetivo “defunto” em relação ao substantivo “autor”. Sobre isso afirma-se: I. “defunto autor” faz referência a um morto que resolve começar a escrever; II. “autor defunto” faz referência a um autor que morreu; III. em “autor defunto”, o adjetivo poderia também significar “esquecido”. Podemos afirmar que estão corretas: a) Somente I b) Somente II e III c) Somente I e III d) Somente I e II e) Todas Agora, concentre-se na observação cuidadosa da reprodução a seguir.
Van Gogh. O quarto do artista em Arles (1888). Paris: Museu d´Orsay.
VAN GOGH (1853-1890) – Pintor pós-impressionista holandês, que usava a cor mais para transmitir emoções que para representar objetos. As cores dramáticas e vibrantes que usava também refletem a vida conturbada e ansiosa que viveu.
76. Seguindo as estratégias de descrição aprendidas, descreva o espaço ilustrado pelo pintor. Procure um ângulo diferente daquele utilizado pelo pintor. Como você veria o quarto se estivesse sentado na cadeira ou na cama? Aproveite ao máximo os recursos expressivos oferecidos pelos adjetivos subjetivos e objetivos. Fazendo gênero com a literatura
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Observe: I. “A sala era ampla, mas as paredes pareciam-me tristes, escondidas entre quadros insolentes. O sofá, carente de vida, estava impecavelmente limpo. As cortinas receosas do que pudessem mostrar, escondiam o mundo vibrante lá de fora. O rack altivo, de design moderno, um televisor de plasma gritava o desejo de novidades. Ao lado, dois vasos solitários, não se fazia companhia um ao outro. Finalmente, ao lado do rack, uma poltrona incomodada pelo lugar em que a deixavam.” II. “A sala era ampla. As paredes pintadas de cinza claro acomodavam quadros coloridos. Esses combinavam com o grande sofá bege, impecavelmente limpo. As cortinas de um cinza mais escuro, permaneciam sempre fechadas, ocultando o que se passava lá fora. Um rack branco, de desing moderno, acomodava um televisor de plasma e dois vasos brancos e compridos. Finalmente, ao lado do rack, uma poltrona preta não possibilitava assistir à televisão.” 78. Comente oralmente as diferenças e semelhanças entre as descrições acima.
PENSANDO EM ARTE... O pintor observa a tela em branco sobre o cavalete. Uma boa ideia borbulha em sua cabeça. Ao seu redor, os instrumentos para pintar: tintas e pincéis de boa qualidade. O que lhe falta para se tornar um bom pintor? Observe com atenção as reproduções a seguir.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
77. Que semelhanças e diferenças encontramos entre a descrição oferecida por um texto imagético e as possibilitadas pelo texto verbal?
Matisse, Henri. Nu au tambourin (1926). Nova Iorque: Paris/Artist Rights Society (ARS).
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Picasso, Pablo. Grand nu au fauteuil rouge (1929). Paris: Museu Nacional Picasso.
Miró, Joan. Mujer y Pájaro a la luz de la luna (1949). Paris: Succession Miró/ ADAGP; Londres: DACS.
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79. Identifique, no quadro a seguir, as semelhanças e diferenças entre as obras. Matisse
Picasso
Miró
Representação ou abstração?
O objeto em relação ao pintor
Representação: é possível reconhecer que se trata de uma mulher.
A mulher aparece completamente transformada pelo pintor.
Violência. Impressão no interlocutor
Agressividade.
Para que um quadro interaja com seus interlocutores na sociedade, é também necessário que o pintor tenha técnica. É necessário que ele saiba usar as tintas e os pincéis de acordo com seus objetivos, o que inclui seu conceito do que seja arte. Algo semelhante ocorre com a literatura. Uma grande parte das obras literárias não foram escritas nas variedades populares da linguagem. Na construção de sua obra literária, o escritor do texto literário tem liberdade para utilizar tanto a língua portuguesa escrita culta quanto as variedades faladas. O importante é que esse escritor se mantenha de acordo com o seu projeto de texto, o seu conceito de literatura e de literariedade, ou seja, os aspectos da linguagem no texto que representam a sua proposta do que é arte.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A mulher nua.
Tema
Releia com atenção a primeira estrofe do poema Acontecimento, de Cecília Meireles:
Aqui estou, junto à tempestade chorando como uma criança que viu que não eram de verdade o seu sonho e a sua esperança. 278
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80. Encontre, no dicionário, o significado da palavra “tempestade”. É possível substituir essa palavra por um de seus sinônimos, causando o mesmo efeito no leitor? Por quê?
No texto literário, a escolha das palavras quase sempre interfere na construção dos sentidos do texto. Isso torna o trabalho de adaptação do texto literário muito mais complexo. Não basta apenas dizer a mesma coisa com outras palavras; devemos procurar manter-nos o mais fiéis possível ao projeto de texto do autor (se um texto em prosa ou em verso, é com rima ou não, etc.), a menos que haja um motivo que justifique outra escolha. O mesmo poderíamos dizer do conceito de literatura que o texto, direta ou indiretamente, defende. Por isso, antes de fazer um projeto de adaptação de um texto literário, é importante ponderar sobre o valor da palavra dentro do texto. Faça isso a seguir, levando em conta o episódio do Onzeneiro no Auto da barca do Inferno, de Gil Vicente. A atualização da obra de Gil Vicente deve responder às seguintes questões: • Que aspectos da personalidade do Onzeneiro devem ser mantidos na atualização, para que se conserve a crítica presente? • Que alterações devem ser feitas no espaço em que se desenvolve o enredo para que ele facilite a aproximação com o leitor contemporâneo, sem comprometer o valor da peça? • A atualização da obra de Gil Vicente deve manter a métrica e a rima desenvolvidas por ele, ou deve-se sacrificar essa construção peculiar à obra vicentina em nome da facilidade de compreensão? 81. Discuta em classe sua opinião sobre essas questões. 82.Após analisar atentamente o modo como Gil Vicente elaborou o seu texto no que se refere à crítica social, à construção da personagem, ao espaço onde se desenvolve a ação e à estrutura dos versos, atualize o texto de Gil Vicente, para que possa ser lido por jovens de sua idade que morem em sua região. 83. Quando terminar a atualização, e antes de entregá-la ao professor, troque com um de seus colegas o texto produzido. Peça a ele que o leia e contribua com sugestões para deixá-lo melhor. Faça o mesmo com o texto dele. Realize as alterações que julgar apropriadas. 84. O professor irá propor a divisão da classe em grupos. Cada um deles ficará encarregado de modernizar uma das diferentes partes do Auto da barca do inferno. As partes da obra serão divididas de acordo com o aparecimento das personagens, que se encaminham ou para a barca do inferno, ou para a barca do paraíso. Ao final, as partes poderão ser representadas em uma encenação do Auto da barca do inferno, realizada pelo grupo de teatro da escola.
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Europa, ano 1000. Depois da decadência do Império Romano no Ocidente e dos ataques das tribos bárbaras, inicia-se uma nova e importante fase na história da arte ocidental. Nessa época, encontramos o poder, principalmente, nas mãos dos senhores feudais, embora já houvessem surgido os primeiros reinados. A agricultura e o comércio ressurgem gradualmente. Além disso, ordens religiosas, algumas delas ocultistas e misteriosas, ganham forma e importância na sociedade. Essas ordens atendem a dois aspectos fundamentais: por um lado, levam fé para as massas populares e, ao mesmo tempo, conservam, nas bibliotecas dos monastérios, antigas tradições da cultura e da literatura pré-cristãs que, aos poucos, se unem ao pensamento cristão, projetando novas formas de ver o mundo, o que inclui um novo conceito de beleza artística. É fruto desse casamento a criação da catedral. Na França, a tradição céltica, com seus sacerdotes druidas, faz surgir a catedral em estilo gótico, enquanto, na Itália, ainda pela forte tradição grecoromana, surge a catedral em estilo românico. LIMBOURG, Paul et Jean. Les Très Riches Heures du Duc de Berry (c. 1415). Chantilly: Museu Condé.
Os druidas formavam uma classe social entre os celtas. Eram respeitados como líderes e juízes. Seus conhecimentos incluíam mitologia, astronomia, direito e medicina, além de terem dons proféticos e mágicos. Acreditavam na imortalidade da alma e na reencarnação. O druidismo possibilitou a unidade do mundo celta e, por isso, foi fortemente combatido pelos romanos durante as conquistas. A coleção de quadrinhos Asterix retrata, com inteligência e bom humor, a influência dos druidas na luta contra os romanos no que hoje é a França.
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História crítica da arte e da literatura medievais
Os druidas eram sacerdotes e líderes espirituais do povo celta.
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Capítulo 7
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O estilo gótico
Fachada da catedral católica de Reims (França). Interior da catedral católica de Reims (França).
Observe as fotografias da Catedral de Reims. Pense nela ao ler o texto a seguir.
“Por outro lado, a pedra de uma estátua, o vermelho de um quadro, a palavra de um poema não são apenas pedra, cor e palavra: encarnam algo que os transcende e transpassa. Sem perderem os seus valores primários, seu peso original, são também como pontes que nos levam a uma outra margem, portas que se abrem a outro mundo de significados inexplicáveis através da simples linguagem.” PAZ, Octavio. El arco y la lira. México: Fondo de Cultura Econômica. Trad. para esta obra de José Luís Landeira.
85. Observando atentamente a catedral em estilo gótico de Reims, imagine a que “outra margem” essa “ponte” nos deseja levar. Justifique.
O estilo gótico procura afastar o homem do plano terreno. Trata-se de um estilo fortemente teocêntrico. A catedral gótica é uma verdadeira oração feita de pedra, em que tudo – estátuas, arcos, símbolos, vitrais e colunas – fala da glória de Deus.
Fazendo gênero com a literatura
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Godo: relativo a uma antiga tribo germânica que, nos séculos II, IV e V, invadiu os impérios ocidentais e orientais da Europa e fundou reinos na Itália, França e Espanha.
O objetivo da arquitetura da catedral gótica é levar o homem para o alto, para perto de Deus, ao mesmo tempo que, pela própria altura, faz o homem se sentir pequeno diante da divindade. O gótico teve início na França, em meados do século XII, vindo a se espalhar por toda a Europa. Terminou aproximadamente no século XIV, embora, em alguns países do resto da Europa, como a Alemanha, se estendesse até bem depois de iniciado o século XV.
Teocentrismo (de teo = Deus e centro): visão de mundo que tem Deus como centro de todas as coisas. Tudo ocorre pela vontade divina: desde a chuva que cai até uma guerra ou um terremoto.
Fachada da Catedral de Amiens (França).
Interior da Catedral de Amiens (França).
Observe a constante presença, nas catedrais góticas, dos arcos partidos. O arco partido é a principal característica visível do gótico. Foi adotado por motivos técnicos, ainda que tenha conotações imediatas com a necessidade de o espírito ascender a Deus.
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O interior do mosteiro cisterciense de Alcobaça, com os seus arcos em ogiva, é exemplo da arquitetura gótica em Portugal.
Gótico: relativo ou pertencente aos godos.
A Sainte-Chapelle é outra pérola da arte gótica. Foi construída, por ordem de São Luís, rei da França, para receber as supostas relíquias da cruz de Cristo, nos meados do século XIII. Os vitrais, que também têm a estrutura de arco partido, contam a história do Antigo Testamento e a vida de Jesus.
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Capítulo 7
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A Catedral de São Paulo é um exemplo do estilo gótico no Brasil. A construção desse templo, no entanto, é recente se comparada com o auge do gótico na Europa. A catedral, em um estilo gótico moderno e adaptado à realidade brasileira do século XX, teve sua construção iniciada em 1913 e só terminou quatro décadas depois. Foi inaugurada em 1954, como parte dos festejos do IV Centenário da cidade de São Paulo, embora faltassem ainda as torres, que seriam posteriormente finalizadas. É a maior igreja de São Paulo, com 111 metros de comprimento, 46 metros de largura, torres com 92 metros de altura cada, cúpula com altura de 30 metros e capacidade para 8 000 pessoas. No acabamento foram utilizadas cerca de 800 toneladas de mármores raros. Observe atentamente as fotografias a seguir.
Fachada da Catedral da Sé de São Paulo.
Interior da Catedral da Sé de São Paulo.
Fazendo gênero com a literatura
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Fachada da Catedral de Burgos (Espanha), construída entre os séculos XIII e XV.
Interior da Catedral de Burgos (Espanha).
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30/6/2010 14:13:10
86. Contraste a moderna Catedral da Sé de São Paulo com outras erguidas na Idade Média, como a de Burgos, na Espanha, ou as francesas de Reims e Amiens. Que semelhanças e diferenças consegue encontrar? Diferenças
A pintura e a escultura tiveram um papel primordial na arte gótica, pois, por meio delas, pretendeu-se transmitir a leveza e a pureza da religiosidade e não apenas as cenas tradicionais que marcam a religião. O objetivo dessa expressão artística era emocionar o espectador. Caracterizada pelo naturalismo e pelo simbolismo, procurou expressar a beleza ideal do divino. Na pintura, os artistas utilizaram-se principalmente de cores claras, construindo um código: o azul, por exemplo, era a cor da Virgem Maria, e o marrom, a de São João Batista. A construção da ideia de um espaço sagrado e fora do tempo humano, afastado dos interesses terrenos, foi conseguida por meio de fundos dourados. As estátuas acompanham a verticalidade do estilo, e as figuras da Bíblia alternam-se com símbolos pagãos. A expressão do rosto exterioriza uma sensação de paz interior. Serve de exemplo a Virgem Dourada da Catedral de Amiens. Note o sorriso místico e enigmático que harmoniza espiritualidade e equilíbrio interior. A imagem retrata a Virgem Maria como modelo para alcançar a felicidade interior. Além disso, observe a auréola espiralada por trás da cabeça coroada da Virgem: trata-se de um símbolo de origem pré-histórica – o sol peregrino – demonstrando a preocupação daqueles que defendiam o pensamento gótico em perpetuar um patrimônio cultural antigo por meio da religião cristã.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Semelhanças
A Virgem dourada da Catedral de Amiens (1240).
O estilo românico O termo românico é usado para indicar a ligação desse estilo com a antiga tradição romana. A revalorização da estética clássica caracteriza o românico. Na arquitetura, há um retorno à grandiosidade. No entanto, a horizontalidade românica contrasta com a verticalidade gótica. 284
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Capítulo 7
30/6/2010 14:13:12
A Catedral de Pisa. A obra foi realizada pelo arquiteto Buschetto, que iniciou as obras por volta de 1063. A obra somente foi concluída em 1118.
Interior da Catedral de Pisa (Itália).
Antropocentrismo (de antropos = homem e centrismo): visão de mundo que tem o ser humano como centro e finalidade de tudo o que acontece.
As linhas horizontais românicas, contudo, equilibram proporções e medidas, introduzindo elementos de luz e de cor. O ideal é uma noção de beleza simples, que se manifesta nos arcos de forma arredondada. O olhar do fiel é conduzido para o altar, numa visão horizontal que destaca o seu caráter antropocêntrico, na procura do diálogo entre homem e Deus.
Fazendo gênero com a literatura
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30/6/2010 14:13:15
Basílica de Santo Antônio de Pádua, Itália. O elemento essencial da catedral românica é a abóbada de pedra, tijolos e argamassa, em forma de berço, dada pelo arco de plena cintra (meia circunferência).
Planta arquitetônica de igreja românica.
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O plano protótipo da igreja românica deriva da basílica romana, que não era um local religioso, mas destinado ao funcionamento dos tribunais romanos. A igreja tem uma simbólica forma da cruz de Cristo. As naves laterais, secundando a principal, permitiam que muitos peregrinos circulassem sem interromper as celebrações e as missas. A iluminação indireta vem de pequenas aberturas laterais, janelas diminutas que reforçam ainda mais o aspecto sombrio da igreja românica.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Igreja de Santa Maria de Ripoll, Gerona, Espanha. Força e solidez caracterizam as igrejas românicas. As paredes são espessas e maciças, com poucas janelas, para não comprometer a estabilidade da construção.
Capítulo 7
30/6/2010 14:13:20
Exercício resolvido No pensamento gótico, o templo é um refúgio que nos aproxima de Deus. Reúne sob a mão de Cristo a simbologia bíblica e a pagã. Longe da pressão e correria encontradas no mundo, o ser humano encontra, na catedral, paz e equilíbrio. Para a visão de mundo românica, o templo é um lugar de recolhimento para o diálogo profundo com Deus. Em silêncio e penumbra, unem-se o humano e o divino e, dessa junção, resulta o eterno benefício do homem. E hoje em dia? No seu uso cotidiano, qual o significado do templo para o homem moderno? Ouça com atenção a letra de música a seguir.
TEMPLO Se você olha pra mim Se me dá atenção Eu me derreto suave Neve num vulcão Se você toca em mim Alaúde emoção Eu me desmancho suave Nuvem num avião Himalaia, himeneu Este homem nu sou eu Olhos de contemplação Inca, maia, pigmeu Minha tribo me perdeu Quando entrei no templo da paixão... Chico César; Tata Fernandes, Milton Di Biasi.
Compare a letra da música Templo com os conceitos góticos e românicos, conforme apresentados neste capítulo. Encontre semelhanças e diferenças entre as perspectivas sobre “catedral”. Confirme as suas afirmações, citando versos da letra da música. RESPOSTA: na letra de música, o templo é um espaço de recolhimento que afasta o enunciador dos outros (“Minha tribo me perdeu/ quando entrei no templo da paixão...). É um lugar de mistério, silêncio e transformação, assim como as catedrais góticas, onde os “olhos de contemplação” podem estar em plena união com o objeto do amor. A mentalidade teocentrista gótica considera a passagem pela terra como um degrau para se reunir com o Ser Supremo. Da mesma forma, nada mais importa a esse enunciador a não ser estar unido ao objeto de seu amor. Contudo, ainda que o amor abordado na letra da música seja de fundo carnal e erótico, é expressão de afetividade. Nesse sentido, podemos notar mais uma semelhança, pois o amor é o sentimento que alimenta o cristianismo. Trata-se de um lugar interior, “o templo da paixão”, construído no encontro dos amantes, não de um espaço físico. No entanto, esse templo permite o encontro do enunciador consigo mesmo para o seu benefício, numa atitude antropocêntrica que retoma o pensamento românico. Não se procura mais por Deus, mas por alguém que, no dia a dia, “olha pra mim” e “me dá atenção”. O templo é o espaço sagrado que está além deste mundo e permite que o enunciador se encontre consigo mesmo e com quem ama. É também espaço de conflito entre tempos, pois reúne o desejo do encontro imediato, com a aspiração à eternidade.
Fazendo gênero com a literatura
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30/6/2010 14:13:21
Agora é a sua vez 87. Leia com atenção o poema a seguir, escrito no início do século XX. Compare-o com os conceitos góticos e românicos apresentados neste capítulo. Encontre semelhanças e diferenças entre as perspectivas apresentadas sobre a “catedral”. Confirme as suas afirmações, citando versos do poema.
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Entre brumas ao longe surge a aurora, O hialino (1) orvalho aos poucos se evapora, Agoniza o arrebol (2). A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu risonho Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” O astro glorioso segue a eterna estrada. Uma áurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz. A catedral ebúrnea (3) do meu sonho, Onde os meus olhos tão cansados ponho, Recebe a bênção de Jesus. E o sino clama em lúgubres responsos (4). “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” Por entre lírios e lilases desce A tarde esquiva: amargurada prece Põe-se a lua a rezar. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu tristonho Toda branca de luar. E o sino chora em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” O céu é todo trevas: o vento uiva. De relâmpago a cabeleira ruiva Vem açoitar o rosto meu. A catedral ebúrnea do meu sonho Afunda-se no caos do céu medonho. Como um astro que já morreu. E o sino geme em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” GUIMARAENS, Alphonsus de. Alphonsus de Guimaraens: poesia. Rio de Janeiro: AGIR, 1963.
Vocabulário:
(1) (2) (3) (4)
Transparente como o vidro. Coloração avermelhada do crepúsculo. De marfim; que tem a aparência de marfim. Versículo rezado ou cantado depois da leitura de determinados textos litúrgicos.
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Capítulo 7
30/6/2010 14:13:22
A representação humana e divina na Idade Média
VENEZIANO, Lorenzo. A Virgem com o Menino (1372). Paris: Museu do Louvre.
Inicialmente, a pintura medieval era apenas para lembrar aos homens a sua necessidade de Deus. As figuras apareciam em fundos monocromáticos, normalmente sem perspectiva, numa proporção didática: os seres divinos grandes e os humanos pequenos. A maneira de ver e compreender o mundo era, até então, simbólica e baseada na hierarquia. O dourado que se vê como cor de fundo, no painel de Lorenzo Veneziano, representava a união com Deus. A veracidade alcançada pela arte também era simbólica. Foi essa atitude que começou a ser profundamente alterada pelo homem ao final da Idade Média. A natureza, o homem e a realidade ao seu redor começaram a ser vistos de um novo modo – a partir de uma nova maneira de compreender a relação do homem com o divino. Aos poucos, a sensibilidade dos artistas e o desenvolvimento das técnicas de pintura e representação permitira que o elemento humano ganhasse cada vez maior importância dentro da pintura, mesmo da religiosa. O ser humano passou a aparecer nas pinturas com reações humanas, como a dor, a alegria, a necessidade de lutar.
BONDONE, Giotto de. São Francisco dando seu manto a um pobre (1297-1300). Assis: Catedral de Assis.
Fazendo gênero com a literatura
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BONDONE, Giotto de. Êxtase de São Francisco (1297-1300). Assis: Catedral de Assis.
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Podemos dividir a música dessa época em dois planos: o religioso e o profano. O canto religioso encontra a sua melhor expressão no canto gregoriano, criado pelo Papa Gregório Magno. O canto gregoriano, sempre cantado em latim, procura a pureza, com modulações que lembrem um pouco os mantras hindus. Para o canto profano, utilizam-se as línguas nacionais. Música e poesia lírica confundem-se em uma única realidade: os poemas não são lidos nem declamados; são cantados. Em Portugal, encontramos as cantigas medievais divididas em dois grupos: um mais original por ser criação nacional e popular, relacionado com a vida rural: as cantigas de amigo. Em outro grupo, situamos as cantigas de amor, originadas nos palácios na Provença, no sul do que hoje é a França. Trata-se de uma poesia rebuscada, que parte de uma visão platônica do amor, que exalta a figura de uma mulher idealizada, geralmente muito bela, branca e loira. Papa Gregório Magno, criador do canto gregoriano.
Leia, com atenção, a seguinte cantiga de amigo:
Cantiga de amigo (de romaria) Não posso, mãe, ir a Santa Cecília, porque me guardais de noite e de dia do meu amigo. Sempre desolada me havereis de ver, enquanto a vontade não puder fazer do meu amigo. Se não me guardásseis de noite e de dia, Com este cuidado eu não morreria por meu amigo. Se a sua vontade não puder fazer, com este cuidado me vereis morrer por meu amigo. Com este cuidado eu não morreria, Pois, se me deixásseis, bem me salvaria com meu amigo. Com este cuidado me vereis morrer; Mas se me deixardes, feliz hei de ser com meu amigo.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A literatura e a música medievais
Página de um cancioneiro medieval.
Martin de Guinzo. In: CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores galego-portugueses. Lisboa: Estampa, 1970. Apud: D´ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto 2: teoria da lírica e do drama. São Paulo: Ática, 2003.
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Sobre essa cantiga, o professor de Literatura, Salvatore D´Onofrio, afirma: “[A] cantiga é chamada de romaria porque o encontro dos dois amantes se daria no santuário de Santa Cecília. É de se notar ainda que o problema do relacionamento sexual é colocado de uma forma trágica, mais do que dramática: a jovem sente que morrerá se não conseguir satisfazer o seu desejo amoroso. O binômio alternativo amor ou morte é próprio das épocas primitivas, de paixões violentas, quando predomina o individualismo exacerbado e ainda não se chegou ao estágio da racionalização dos sentimentos. A Idade Média é uma dessas épocas.” D´ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto 2: teoria da lírica e do drama. São Paulo: Ática, 2003.
Leia agora uma cantiga de amor.
Cantiga de amor de mestria Os provençais que bem sabem trovar! e dizem eles que trovam com amor, mas o que cantam na estação da flor e nunca antes, jamais no coração semelhante tristeza sentirão qual por minha senhora ando a levar. Muito bem trovam! Que bem sabem louvar as suas bem-amadas! Com que ardor os provençais lhes cedem um louvor! Mas os que trovam durante a estação da flor e nunca antes, sei que não conhecem dor que à minha se compare. Os que trovam e alegres vejo estar quando na flor está derramada a cor e que depois quando a estação se for, de trovar não mais se lembrarão, esses, sei eu que nunca morrerão de desventura que vejo a mim matar. Dom Dinis. In: D´ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto 2: teoria da lírica e do drama. São Paulo: Ática, 2003.
O poema é composto por três estrofes, chamadas de cobras ou copras, cada uma com oito versos decassílabos, com esquema de rimas abbcca. Ao mesmo tempo que o trovador assume a influência provençal em sua poesia, identificando-a como cantiga de amor e declarando que “Os provençais que bem sabem trovar!”, ele também salienta que sua obra é mais autêntica, pois foge das rígidas convenções provençais e exprime o que se passa no coração do poeta, algo que é muito mais autêntico: “sei que não / conhecem dor que à minha se compare”. Chamar a cantiga de mestria faz referência ao fato de ela não ter refrão, fugindo aos esquemas da poesia popular.
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Sobre essa canção, o professor Salvatore D´Onofrio afirma:
D´ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto 2: teoria da lírica e do drama. São Paulo: Ática, 2003.
Além das cantigas de amigo e das cantigas de amor, encontramos as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer. As cantigas de escárnio fazem crítica indireta, sem citar o nome da pessoa satirizada. A crítica gira em torno de aspectos triviais do cotidiano da época, como a ganância, a ignorância, a feiura, a rivalidade entre trovadores, etc. Já as cantigas de maldizer fazem uma crítica direta e grosseira, atacando diretamente as pessoas.
Miniatura alemã, ilustrando um poema em que um casal de nobres caça com um falcão. (c.1300). Heidelberg: Univ. de Heidelberg.
Tocadores de alaúde, segundo manuscrito do século XIV. Madri: Escorial.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
“É interessante notar que, nos dois versos finais, o eu poemático afirma que a intensidade do sofrimento de amor pode levá-lo à morte. (...) Na cantiga de amigo que analisamos, de caráter realístico, era a falta de amor carnal que poderia causar a morte da jovem apaixonada; aqui, na cantiga de amor, de caráter idealizante, é apenas a ausência, a não-visão do rosto da mulher amada, que pode causar a morte do trovador. A mulher, portanto, é quase divinizada: sua figura irradia a luz que dá vida.”
88. A cantiga a seguir é de escárnio ou maldizer? Por quê?
“Ai dona feia! Foste-vos queixar Porque eu nunca vos quis louvar em meu trovar Mas agora quero fazer um cantar Em que a louvação não será pouca E vede como vos quero louvar: Dona feia, velha e louca! 292
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Capítulo 7
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Ai dona feia! Deus me dê perdão! Pois vós tendes tão bom coração Por isso vos louvo nesta razão Em que a louvação não será pouca E vede qual será a louvação; Dona feia, velha e louca! Ai dona feia! Nunca vos eu louvei Em meu trovar, mas muito eu já trovei Mas agora já um bom cantar farei Em que a louvação não será pouca E direi-vos como vos louvarei: Dona feia, velha e louca!” João Garcia de Guilhade. (Texto atualizado por José Luís Landeira especialmente para esta obra.)
O gênero narrativo A Idade Média deixou fortes influências na literatura narrativa. É na Idade Média que surgem as aventuras do Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda em Camelot. O rei Artur, personagem criada pela tradição popular, teria introduzido, no século V, o cristianismo na Inglaterra. Nesse ciclo narrativo, escrito em prosa durante a época das Cruzadas, encontramos duas vertentes. Uma toma como modelo A demanda do Santo Graal, cujo texto em francês foi traduzido, na própria Idade Média, para diversas línguas, entre elas, o português. A outra vertente tem como exemplo Amadis de Gaula. A demanda do Santo Graal narra a lenda da busca pelo cálice sagrado que Cristo utilizou na Santa Ceia e no qual, supostamente, fora recolhido o seu sangue. Percival, Galaaz e Boors são os cavaleiros que se lançam nessa
A corte do rei Artur.
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“Como o homem velho disse que nenhum levasse consigo amiga na demanda. Depois disto, mandou o rei chamar a rainha e as donzelas e mulheres que viessem com ele. E depois que chegaram ao paço, cada um dos cavaleiros foi estar com sua mulher ou com sua amante ou com sua amiga. E alguns houve que combinaram com suas amigas de as levarem. E assim aconteceria se não fosse um velho, que chegou vestido com hábito de ordem, que disse tão alto que todos ouviram: – Cavaleiros da távola redonda, ouvi. Vós jurastes a demanda do Santo Graal. E Nascião, o ermitão, vos manda dizer por mim que nenhum cavaleiro desta demanda leve consigo mulher nem donzela, senão fará pecado mortal. E não seja tal que nela entre, se não for bem confessado, porque em tão alto serviço de Deus como este, não deve entrar se não for bem confessado e bem comungado e limpo e purificado de todos os danos e de pecado mortal; porque esta demanda não é de tais obras, antes é demanda dos segredos e das coisas escondidas de Nosso Senhor, que fará ver conhecidamente ao bem-aventurado cavaleiro que ele escolheu para seu serviço entre todos os cavaleiros terrenos, ao qual mostrará as grandes maravilhas do Santo Graal e lhe fará ver o que o coração mortal não poderia pensar, e língua humana não poderia dizer.” A demanda do Santo Graal: manuscrito do século XIII. Texto sob os cuidados de Heitor Megale. São Paulo: T. A. Queiroz, 1988.
89. A primeira frase do texto funciona como resumo do que vai ser lido. Com que sentido aparece nessa frase a palavra “amiga”? Que outros textos você conhece em que a palavra “amiga” apareça com o mesmo sentido?
90. O portador da mensagem “chegou vestido com hábito de ordem”. Como essa informação se relaciona com a mensagem transmitida?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
aventura. Eles representam o idealismo cavaleiresco definido por meio de três características: castidade, fé e coragem. Esse modelo de cavaleiro é explicitado logo no início da narrativa, quando os cavaleiros estão se preparando para a demanda.
91. Pelo contexto em que se encontra o termo “demanda”, identifique o seu significado.
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Capítulo 7
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Amadis de Gaula é um romance de cavalaria que não tem uma influência religiosa tão forte como A demanda do Santo Graal.
Fólio de Amadis de Gaula, edição de 1526, impressa em Sevilha por Jacobo Cromberger, alemão, e João Cromberger.
O rei Paion e Elisena tiveram amores adúlteros, e, dessa paixão, nasceu Amadis, que é abandonado nas águas do mar. Salvo por uma família, é posto como pajem da infanta Oriana. Amadis passa a sua vida a servir essa princesa, a quem ama, mas a sua timidez inibe-o de declarar-se. Amadis luta contra gigantes e monstros, por amor a Oriana. Um dia, a princesa acusa-o injustamente de infidelidade, e Amadis torna-se eremita. Contudo, uma ocasião propicia os dois estarem a sós na floresta e aí dão vazão à sua paixão carnal. Na Idade Média europeia, surgiram textos poéticos narrativos que abordavam os atos heroicos de certas personagens. Episódios históricos foram mitificados e transformados em lendas nacionais. São exemplos de tais obras a francesa Canção de Rolando, a espanhola Cantar de Mio Cid e a germânica Canção dos nibelungos. No entanto, a obra literária que melhor retrata o pensamento e a espiritualidade da Idade Média é a Divina comédia de Dante Alighieri. A Divina comédia inicia com Dante perdido numa floresta escura. Ao tentar escapar, encontra uma montanha, mas três feras impedem-no de subi-la. Pensando em desistir, Dante encontra-se com o espírito de Virgílio – o poeta autor da Eneida – disposto a guiá-lo por um outro caminho. Virgílio fora chamado por Beatriz, antiga paixão de Dante, que, ao vê-lo em apuros, decide ajudá-lo. Ela desceu do céu e foi buscar Virgílio no Limbo. O caminho proposto por Virgílio consiste em passar pelo Inferno, no centro da Terra, atravessando-o até chegar aos pés do monte do Purgatório. Dali, Virgílio guiaria Dante até as portas do Céu.
Delacroix, Eugène (1798-1863). A barca de Dante (1822). Paris: Museu do Louvre.
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Doré, Paul Gustav. (França, 1832-1883). Inferno.
No caminho através dos nove círculos infernais, Dante vê onde são expurgados os diferentes pecados, o sofrimento dos condenados, os rios e as cidades infernais, os monstros e demônios, até chegar ao centro da Terra, onde vive Lúcifer. Passando por Lúcifer, conseguem escapar do Inferno por um caminho subterrâneo que leva ao outro lado da terra. Saindo do Inferno, Dante e Virgílio se deparam com o Purgatório. Trata-se, na verdade, de uma montanha tão alta que alcança o céu. Na base da montanha, encontram o Antepurgatório, onde aqueles que se arrependeram tardiamente dos seus pecados esperam pela oportunidade de entrar no Purgatório propriamente dito. Depois de passar pelos dois níveis do Antepurgatório, os poetas atravessam um portal e iniciam sua nova jornada, desta vez subindo cada vez mais. Passam por sete terraços onde são expurgados cada um dos sete pecados capitais. No último círculo do Purgatório, Dante se despede de Virgílio e segue acompanhado por um anjo que o leva através de um fogo que separa o Purgatório do Paraíso terrestre. Finalmente, às margens do rio Letes, Dante encontra sua amada Beatriz e purifica-se, banhando-se nas águas do rio para que possa prosseguir viagem e Signorelli, Luca (Itália, 1450-1523). Dante e Virgílio entrando no subir às estrelas. purgatório (1502).
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O Paraíso de Dante é dividido em duas partes: uma material e outra espiritual. A parte material segue o modelo cosmológico de Ptolomeu e consiste de nove círculos formados pelo que se acreditavam ser os sete planetas (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno) mais o chamado Céu das Estrelas Fixas e o Céu Cristalino. Guiado por Beatriz, Dante passa pelos vários céus do Paraíso e encontra diversas personalidades do universo católico, como São Tomás de Aquino, por exemplo. Chegando ao Céu de Estrelas Fixas, é interrogado pelos santos sobre suas posições teológicas. Depois do interrogatório, recebe permissão para prosseguir. No Céu Cristalino, Dante adquire uma nova capacidade visual e passa a ter visão para compreender o Delville, Jean (Bélgica, 1867-1953). Dante bebendo as mundo espiritual, onde ele encontra nove círculos águas do Letes (1919). angélicos, concêntricos, que giram ao redor de Deus. Lá, ao receber a visão da Rosa Mística, separa-se de Beatriz e tem a oportunidade de sentir, ele mesmo, a essência do amor que emana diretamente do próprio Deus.
92. Leia, com atenção, o trecho da Divina comédia de Dante Alighieri. Dante encontra-se ao lado de Beatriz no Paraíso. Observe, no diálogo entre os dois, que a felicidade das almas depende de sua proximidade com a luz celestial. É em união com Deus que o verdadeiro amor pode resplandecer.
– De ti, que por teu lume me exaltaste, Amor do meu Senhor é conhecido, Se em mim somente havia o que criaste. (...) – Se no fogo do amor te resplendeço Em modo, que o terreno amor precede; Se aos olhos teus a força desfaleço; Não te espantes: efeito é que procede, Desse perfeito ver, que o bem compreende, E, o compreendendo, em se apurar progrede. Já patente me está quando resplende Na inteligência tua a Luz eterna, Que, apenas vista, sempre amor acende. A divina comédia: paraíso – Canto I, versos 73-75 e Canto IV, versos 1-9.
Essa visão de mundo aproxima-se das cantigas de amor ou das de amigo? Por quê?
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Você encontra o texto de Dante na íntegra no site .
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No entanto, o grande nome da prosa em Portugal, na Idade Média, é Fernão Lopes, escritor da história portuguesa. Fernão Lopes (1380?-1460?) provavelmente nasceu em Lisboa, de uma família do povo. De tudo o que escreveu chegaram até nós quatro livros: Crônica de D. Pedro I, Crônica de D. Fernando, Crônica de D. João I (em dois volumes). Primeira página da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes. Lisboa: Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
É considerado o maior historiógrafo de língua portuguesa porque, numa época em que muitos misturavam a realidade com a fantasia, ele manifesta uma genuína preocupação pela busca da verdade, como se pode verificar na seguinte afirmação que faz, na Crônica de D. João I (vol. I): “E esta razom segumdo nos parece, ocupa moor parte da verdade que as outras”. Além disso, preocupa-se com a qualidade de seu texto, procurando tornar as narrativas históricas agradáveis de ler, como se fossem novelas de cavalaria. De fato, nota-se, em sua escrita, uma influência do estilo de narrar presente em A demanda do Santo Graal. Na época, os historiógrafos escreviam seus relatos, ou crônicas, preocupados apenas com a nobreza. Fernão Lopes põe o povo na narrativa, como personagem coletiva, um organismo vivo que ora acerta, ora falha, mas constrói a história de seu país. Na passagem seguinte, estamos por volta de 1380. Portugal está em guerra contra Espanha. Lisboa está cercada pelos castelhanos. Ninguém entra ou sai da cidade sitiada, e as pessoas da cidade não têm mais comida. O objetivo dos espanhóis é fazer com que Lisboa capitule:
“E os gestos mudados com a fome, bem mostravam seus encobertos padecimentos. Andavam os meninos de três ou quatro anos, pedindo pão pela cidade, por amor de Deus, como lhes ensinavam as suas mães; e muitos não tinham outra coisa que lhes dar a não ser lágrimas que com eles choravam que era triste coisa para se olhar.” LOPES, Fernão. Atualizado por José Luís Landeira para esta obra a partir da Crônica de D. João I – segundo o códice 352 do arquivo nacional da Torre do Tombo. Vol. I. Barcelos: Livraria Civilização, 1994.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Em Portugal, encontramos a prosa de feição historiográfica, em especial os relatos em torno da figura de Dom Afonso Henriques (Crônica geral de Espanha de 1344 e Crônicas breves de Santa Cruz de Coimbra, IV), traduções de obras do ciclo bretão e textos de religiosos e moralizadores (Boosco deleytoso e Horto do esposo, séculos XIV e XV), além da prosa doutrinal, que encontra na família de Avis, no século XV, expoentes notáveis: O Livro da montaria de D. João I, sobre a arte e os prazeres da caça; A ensinança de bem cavalgar toda a sela e Leal conselheiro, sobre a arte de montar e sobre a ética e a prática da vida quotidiana, respectivamente, de Dom Duarte; e Virtuosa Benfeitoria, adaptação feita pelo Infante Dom Pedro da obra original de Sêneca.
93. Qual a intencionalidade discursiva presente na expressão “muitos não tinham outra coisa que lhes dar a não ser lágrimas”?
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Capítulo 7
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Mais adiante, lemos: “Ora prestai atenção como se estivésseis presentes, uma tal cidade assim desconfortada e sem nenhuma certeza de seu livramento, como viveriam em desvairados cuidados, quem sofria ondas de tais aflições? Ó geração que depois veio, povo bem-aventurado, que não soube parte de tantos males, nem foi quinhoeiro de tais padecimentos! Os quais a Deus, por sua mercê, prouve de cedo abreviar de outra maneira, como a seguir ouvireis.”
Nesse volume aprendemos que intencionalidade discursiva são as intenções, explícitas ou subentendidas, presentes numa determinada situação comunicativa e que visam a modificar o comportamento ou o pensamento do interlocutor.
LOPES, Fernão. Atualizado por José Luís Landeira para esta obra a partir da Crônica de D. João I – segundo o códice 352 do arquivo nacional da Torre do Tombo. Vol. I. Barcelos: Livraria Civilização, 1994.
94. Qual a proposta do texto ao afirmar “Ora prestai atenção como se estivésseis presentes”?
95. A outra maneira, de que fala Fernão Lopes, refere-se a uma peste que se espalhou entre os castelhanos, matando muitos deles e permitindo a vitória de Lisboa. Essa vitória possibilitou que Dom João I se tornasse rei de Portugal. A inclusão de Deus, como personagem decisiva para a vitória portuguesa, revela que característica do pensamento medieval?
Pormenor de quadro de autor desconhecido (séc. XV). Fonte .
Iluminura medieval mostrando luta entre cavaleiros. Paris: B.N.F.
Além de tudo, Fernão Lopes tem o mérito de ser o primeiro artista da prosa portuguesa preocupado com a questão da nacionalidade, dando uma voz própria à literatura de seu país.
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Pausa para reflexão Em seu caderno, responda às questões a seguir. I. Que conteúdos deste capítulo conseguiria explicar sem consultar o livro? II. Consultando o livro, identifique os conteúdos que, na sua opinião, não foram bem compreendidos e merecem novas explicações ou atividades de reforço.
IV. Em que aspectos poderá melhorar sua participação nas próximas aulas?
Para ler Você está perdendo a cabeça, Viskovitz “Como era o papai?”, perguntei à minha mãe. “Crocante, um pouco salgado, rico em fibras.” “Antes que você o comesse, quero dizer.” “Era um sujeitinho inseguro, ansioso, neurótico, mais ou menos como vocês todos, os machinhos, Visko.” Mais do que nunca, eu me sentia próximo daquele genitor que não conhecera, que havia se dissolvido no estômago de mamãe enquanto eu era concebido. De quem não tinha recebido calor, mas calorias. Obrigado, papai, pensei. Sei o que significa, para um louva-a-deus, sacrificar-se pela família. Recolhi-me um instante diante do seu túmulo, isto é, diante da minha mãe, e recitei um miserere. Logo depois, como pensar na morte nunca deixava de me provocar uma ereção, achei que era o momento de ir ao encontro de Liuba, o inseto a quem amava. Eu a conhecera cerca de um mês antes, no casamento da minha irmã, que também foi o funeral do meu cunhado, e me tornara prisioneiro da sua beleza cruel. Desde então continuamos a nos ver. Como fora possível? Deus tinha me abençoado com o dom mais caro a nós, louva-a-deus: a ejaculação precoce, condição necessária para qualquer história de amor não efêmera. Na primeira semana, só perdi um par de patas, as raptatórias; na segunda, o prototórax com os anexos para o voo: na terceira... “Não faça isso, Visko, pelo amor dos céus!”, gritaram os meus amigos Zucotic, Petrovíc e Lopez, empoleirados nos ramos mais altos. Para eles, a fêmea era o demônio; a misoginia, uma missão. Eram sexualmente desviados ou disfuncionais desde a metamorfose, tinham feito os votos do sacerdócio e passavam todo o santo dia mastigando pétalas e recitando salmos. Eram muito religiosos. Mas não havia reza capaz de me deter, logo agora que eu ouvia o suspiro gélido da minha bela, o grave murmúrio das suas membranas, o seu fúnebre sorriso escarnecedor. Movi-me freneticamente em direção àqueles sons, com a única pata que tinha sobrado, escorando-me na minha ereção, esforçando-me para imaginar as suas formas gloriosas, agora que não podia vê-las porque não tinha mais ocelos, agora que não podia sentir seu cheiro porque não tinha mais antenas, agora que não podia beijá-la porque não tinha mais palpos. Por ela eu tinha perdido a cabeça.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
III. Que atividade(s) considerou mais importante(s) para o seu aprendizado? Por quê?
BOFFA, Alessandro. Você é um animal, Viskovitz. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
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Capítulo 7
30/6/2010 14:13:46
ALESSANDRO BOFFA (1955- ) – Filho de pais italianos, nasceu em Moscou. A sua formação como biólogo foi imprescindível para que pudesse escrever Você é um animal, Viskovitz, seu livro de estreia no mundo literário. Trata-se de uma curiosa ficção em que as personagens são bichos que, enquanto divertem o leitor, reproduzem aspectos da sociedade atual. O resultado é próximo ao que Gil Vicente obtinha com suas peças de teatro: o leitor, ao mesmo tempo que ri das trapalhadas das personagens, está rindo de si mesmo.
Recapitulando nosso aprendizado A dimensão social e linguística da literatura 96. Elabore a resenha crítica do capítulo estudado. Recorra às informações sobre elaboração de resenha crítica presentes no capítulo anterior.
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30/6/2010 14:13:47
Sempre existe no mundo uma pessoa que espera a outra, seja no meio de um deserto, seja no meio das grandes cidades. E quando estas pessoas se cruzam, e seus olhos se encontram, todo o passado e todo o futuro perde qualquer importância. [...] Porque sem isto não haveria qualquer sentido para os sonhos da raça humana. (Paulo Coelho – O Alquimista)
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
FALEMOS DE AMOR...
Segall, Lasar. Encontro (1924). São Paulo: Museu Lasar Segall.
Certos temas aparecem com frequência nos textos orais e escritos do dia a dia. O amor é um deles: está presente nas conversas informais, nas letras de música, nas grandes obras literárias e até nos tratados científicos e filosóficos.
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Capítulo 8
30/6/2010 14:13:48
IDEOLOGIA E AMOR Espera-se dos homens e das mulheres que expressem o seu amor da mesma forma? Pense nisso enquanto lê o poema a seguir.
Casamento Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como “este foi difícil” “prateou no ar dando rabanadas” e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva. PRADO, Adélia. Adélia Prado: poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
1. Como o poema defende a ideia de que o amor exige renúncia?
2. Identifique, no poema, as passagens que estão em discurso direto. A seguir, explique que ideia defendida no texto é reforçada pelo uso do discurso direto.
3. É apropriado o título do poema? Por quê?
Falemos de amor...
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O poema de Adélia Prado apresenta um conceito de felicidade marital, próprio de uma visão de mundo centrada na figura do homem como provisor e chefe da família. Essa ideologia, presente no texto, defende que a mulher renuncie ao seu sono para ajudar o marido que voltou da pesca.
Ideologia: pode definir-se como um modo de representar a sociedade compartilhado por membros de um determinado grupo. Isso significa que as ideologias possibilitam que as pessoas, como membros que pertencem a um grupo, organizem suas crenças sociais a partir de conceitos de bom ou mau, correto ou incorreto, e passem a agir de acordo com eles.
5. Que grupo de pessoas compartilham a visão de mundo presente em Casamento de Adélia Prado? Justifique sua resposta.
Nascida e criada em Divinópolis (MG), Adélia Prado reflete o modo de pensar católico corrente em boa parte do século passado, nas famílias tradicionais: a mulher criada para o lar, para ser esposa e mãe, auxiliando constantemente seu marido e seus filhos. Ao traduzir em um poema o que considera como “casamento”, o eu-lírico se posiciona ideologicamente e procura motivar o leitor a aderir a essa ideologia. Isso não é bom nem mau, pois todo texto verbal ou não-verbal defende uma ideologia e, de certa forma, espera que o leitor adira a ela. Ou seja, todo texto representa a sociedade de algum modo, refletindo o que o grupo no qual se insere o locutor considera bom ou mau. É função do leitor distinguir e avaliar as ideologias presentes nos textos que lê e posicionar-se em relação a elas. Você pode achar a ideologia presente em Casamento um pouco machista, ultrapassada e que essa mulher submissa já desapareceu da sociedade ou perceber que todo amor, quando verdadeiro, exige renúncias e que também o marido faria algo parecido pela sua esposa – são essas constantes renúncias que permitem manter acesa a chama da paixão durante o casamento. Como pode notar, importa muito saber defender a sua posição frente à ideologia presente em um texto. Que ideologia está presente na letra de música que vai ouvir em seguida?
Ai, que saudades da Amélia (Ataulfo Alves e Mário Lago)
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4. Na sua opinião, o poema põe em igualdade as figuras masculina e feminina? Em outras palavras, que crença sobre a mulher o poema reforça?
Nunca vi fazer tanta exigência, Nem fazer o que você me faz. Você não sabe o que é consciência, Nem vê que eu sou um pobre rapaz. Você só pensa em luxo e riqueza, Tudo o que você vê, você quer. Ai, meu Deus, que saudade da Amélia! Aquilo sim é que era mulher! 304
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Capítulo 8
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Às vezes passava fome ao meu lado, E achava bonito não ter o que comer. Quando me via contrariado, Dizia: “Meu filho, o que se há de fazer!” Amélia não tinha a menor vaidade. Amélia é que era mulher de verdade. 6. Reúna-se em grupos com seus colegas e discutam que idelogia(s) a respeito da mulher e do amor está(ão) presente(s) na letra de música de Ataulfo Alves e Mário Lago. Na redação da resposta, comprovem o pensamento do grupo, recorrendo a partes da música para defender as ideias que surgiram. Já afirmamos que não há textos ideologicamente neutros, e cabe ao interlocutor avaliar as ideologias presentes nos textos, posicionando-se em relação a elas. 7. Discuta oralmente: • Que habilidades exige o papel do interlocutor diante das ideologias presentes nos textos? • É possível manipular alguém ideologicamente? Como? A elaboração intelectual das crenças pode revelar-se uma forma de as elites dominantes propagarem seus pontos de vista a toda a sociedade (veja o quadro “ideologia e alienação”). Por exemplo, é comum ouvirmos o ditado: “Atrás de todo grande homem, há uma grande mulher”. 8. Que valor assume o termo “atrás”: inferioridade ou superioridade em relação ao homem? Assim, que valores ideológicos são defendidos pelo ditado?
A habilidade de o leitor dialogar com as ideologias veiculadas nos textos é fundamental para o exercício de sua cidadania. Caso contrário, ele pode tornar-se vítima fácil da alienação.
Ideologia e alienação “A alienação social se exprime numa ‘teoria’ do conhecimento espontânea, formando o senso comum da sociedade. Por seu intermédio, são imaginadas explicações e justificativas para a realidade tal como é diretamente percebida e vivida. Um exemplo desse senso comum aparece no caso da ‘explicação’ da pobreza, em que o pobre é pobre por sua própria culpa (preguiça, ignorância) ou por vontade divina ou inferioridade natural. Esse senso comum social, na verdade, é o resultado de uma elaboração intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou intelectuais da sociedade – sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, escritores, jornalistas, artistas –, que descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista da classe a que pertencem e que é a classe dominante de sua sociedade. Essa elaboração intelectual incorporada pelo senso comum social é a ideologia. Por meio dela, o ponto de vista, as opiniões e as ideias de uma das classes sociais – a dominante e dirigente – tornam-se o ponto de vista e a opinião de todas as classes e de toda a sociedade.”
Marilena Chauí.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
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Traga, para a próxima aula, anúncios publicitários encontrados em revistas recentes que tratem do amor entre duas pessoas como tema para vender os seus produtos.
9. Reúna-se em grupos com seus colegas. Encontrem as ideologias veiculadas nos anúncios publicitários das revistas. Observem a relação entre beleza (física, moral e intelectual), bens materiais, sexo, amor e felicidade. • Que ideologias dominam a sociedade atual no que se refere ao amor, à mulher, ao homem e à felicidade? 10. Redijam um texto que identifique claramente tais ideologias, apresentando a posição do grupo em relação a elas.
“Aceita-se hoje que linguagem e pensamento formam uma unidade, sendo praticamente impossível pensar uma sem o outro. O pensamento só se manifesta através da linguagem (inclusive a não-verbal, como os gestos, as cores, as imagens) e a linguagem só se manifesta pelo pensamento. Podese afirmar que a linguagem é o próprio pensamento em ação. Ou, ainda, o pensamento só se materializa na linguagem.” CITELLI, Adilson. O texto argumentativo. São Paulo: Scipione, 1994.
Como vimos, é fundamental que o leitor saiba dialogar com as ideologias presentes nos textos. Nos dias de hoje, encontramos uma forma capitalista de ver o mundo, baseada no consumo, dominando a sociedade. As pessoas são vistas não apenas pelo que são, mas principalmente pelo que gastam. Esse pensamento consumista materializa-se na linguagem e surge nos textos que circulam na sociedade, nos mais diversos assuntos tratados. A linguagem atribui sentido ao mundo, formulando conceitos e preconceitos que expressam os mais diferentes interesses sociais. Assim, não é de estranhar que haja pensamentos ideológicos em conflito. Quando assumimos a posição de enunciador ou co-enunciador, realizamos atos de linguagem relacionados a um conjunto de valores e experiências que se relacionam diretamente com o ambiente social, cultural e econômico em que vivemos. Também não podemos desconsiderar que os meios de comunicação, como jornal, rádio, televisão, etc., exercem um impacto muito grande na promoção de determinadas ideologias. Por tudo isso, a importância de saber posicionar-se diante do mundo inclui a necessidade de saber defender as próprias ideias. De forma simples, argumentar é explicar por que se pensa de uma determinada maneira. Mas explicar de forma sólida, que permita o diálogo com as ideologias que circulam no meio em que vivemos. Antes de tudo, é necessário ter um ponto de vista sobre a(s) ideologia(s) presente(s) em um texto. Um ponto de vista não pode ser simplesmente um “eu acho que...”, mas deve surgir das experiências vividas, das leituras feitas, do desenvolvimento da compreensão do mundo ao nosso redor. Nenhum ponto de vista é completamente individual, mas orientado por conceitos com os quais convivemos no nosso dia a dia. Emitir um ponto de vista é assumir um pensamento pertencente a um determinado segmento social, como se esse pensamento fosse nosso, por isso devemos pensar bem antes de escrever. 306
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Muitos textos que circulam na sociedade fazem críticas às ideologias dominantes, apresentando outra posição ideológica. Por vezes, duas ou mais ideologias contrárias convivem na sociedade e são aceitas por elites dominantes diferentes, que as impõem aos demais segmentos por meio da mais variada produção textual.
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Observe o texto a seguir.
Os homens nunca têm culpa de nada!
MAITENA. Mulheres alteradas 2. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
11. Que ideologia é defendida pelo texto? Justifique a sua resposta.
12. Que conceito de masculino aparece no texto? Justifique.
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13. Ao afirmar “Os homens nunca têm culpa de nada!”, o enunciador inicia, no texto, um jogo irônico. Explique.
Um aparte gramatical: Os porquês e a norma-padrão Também é importante, se estamos escrevendo, usar adequadamente a norma conforme o objetivo de nosso texto. Em muitos casos, o uso da norma-padrão torna mais fácil que nossas opiniões sejam respeitadas. Por exemplo, no que se refere a explicar os motivos de nosso ponto de vista, a norma-padrão põe à nossa disposição o porquê em quatro formas: por que, por quê, porque e porquê. Lembra como se usa cada uma delas?
Usamos POR QUE:
a) nas interrogativas diretas ou indiretas: Interrogativa direta: Por que você está atrasado? Interrogativa indireta: Eu queria saber por que você está atrasado. b) Quando estiver expressa ou subentendida as palavras “motivo” ou “razão”: Não sei por que você está atrasado. Subentendido: Não sei por que motivo você está atrasado. c) Quando o termo puder ser substituído por “para que” ou “pelo qual”, “pela qual”, “pelos quais”, “pelas quais”: O motivo por que (= pelo qual) você está atrasado é um mistério.
Usamos POR QUÊ:
Quando o termo aparecer em final de frase ou sozinho: Final de frase: Você está atrasado, e eu não sei por quê. Sozinho: Você está mesmo muito atrasado. Por quê?
Usamos PORQUE:
Quando a expressão for equivalente a “pois” ou “visto que” (sentido explicativo). Estou atrasado porque (= pois) o pneu furou no caminho.
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
14. Considera o texto preconceituoso? Por quê?
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Usamos PORQUÊ:
Quando a expressão for substantivada (acompanhada de artigo). Nesse caso, “o porquê” é sinônimo de “o motivo”, “a razão”. Nesse caso, ele tem plural: Singular: Explicou-me o porquê de seu atraso. Plural: Não entendi bem os porquês do seu atraso.
15. Marcos recebeu uma lista de frases para completar adequadamente com os termos por que, por quê, porque ou porquê. Identifique as frases em que Marcos usou adequadamente esses termos. Ajude-o, corrigindo as frases que estiverem escritas fora da norma-padrão, explicando o uso mais apropriado. a) Eu amo Marta por b) O caminho por
que ela é bonita e inteligente.
que você anda não o levará muito longe.
c) Eu não sei o por
que de ela não querer mais casar-se com Pablo.
d) O título do livro será: Por e) Preste atenção por f) Responda-me por
que o amor é belo – os motivos e as contradições.
que eu só vou dizer isso uma vez. que eu não posso chegar mais tarde.
g) Foi embora sem olhar para trás nem dizer-me por h) Por
que.
que você não fez a lição de casa? Por que?
i) Explique-me por
que motivo você fez isso!
Eros e PsiquÊ: a ideologia nas interpretações Leia atentamente o texto a seguir.
Psiquê (em grego, alma ou mente) era a filha mais nova do rei de Mileto, na antiga Grécia. A moça era tão bela que Afrodite, a deusa do amor e da beleza, sentiu-se enciumada. A tal ponto chegou o ciúme da deusa, que ela enviou seu filho, Eros (que significa paixão), para que Psiquê se apaixonasse pelo homem mais feio da terra. Mas o feitiço saiu contra o feiticeiro: quem se apaixonou pela jovem foi o próprio Eros. O deus, para esconder seus sentimentos dos demais, ludibriou o pai da moça, ordenando-lhe que deixasse a amada no alto de uma montanha para que a moça, supostamente, fosse devorada por uma terrível serpente alada. Falemos de amor...
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Obediente aos deuses, a jovem foi abandonada no alto da montanha e levada pelo suave vento Zéfiro a um castelo encantado. Ela passou o dia todo no castelo, até que, à noite, na escuridão de seu quarto, ouve a voz apaixonada de seu marido e sente o seu toque humano. Mas, ao amanhecer, Psiquê acorda sozinha. Na verdade, acreditando haver-se casado com alguma espécie de monstro, Psiquê se havia casado com o próprio Eros, o qual mantém o relacionamento em segredo para que Afrodite não se oponha. Eros não deseja revelar a sua identidade a Psiquê, e ela, já completamente apaixonada, aceita a condição. Psiquê sente-se muito sozinha durante o dia. Além disso, sente saudades de suas irmãs. Tanto pede, que Eros permite a visita dessas moças. Elas mostram-se, no entanto, muito invejosas do destino de Psiquê e dão-lhe conselhos maldosos, colocando-lhe dúvidas em seu coração. Diziam-lhe que era inaceitável que ela não conhecesse o rosto de seu marido, que poderia estar casada com um monstro e até que deveria matá-lo, se ele fosse muito feio. A moça influenciada pelas irmãs decide aproximar uma lâmpada do rosto de Eros enquanto esse dorme. Leva também uma faca, para matá-lo, caso ele fosse monstruoso. Mas, qual não é a surpresa de Psiquê ao aproximar a lâmpada do rosto de Eros! Ao descobrir a extrema beleza de seu marido, Psiquê fica atônita. Sem perceber, uma gota de óleo quente da lâmpada cai sobre ele, acordando-o. Nesse momento, Psiquê é descoberta, e, triste com as suspeitas de sua esposa, Eros vai embora, terminando o casamento. Já em casa, Psiquê está inconsolável: animada pelo deus Pan, decide partir para a luta e reconquistar a confiança de Eros. Sai, então, numa caminhada por toda a terra à procura de seu amado, que está acamado, ferido no ombro pela desconfiança de Psiquê. Afrodite está cheia de desejos de vingança e assim que a jovem a procura em seu templo, depois de haver percorrido grande parte dos templos do mundo, impõe-lhe uma série de terríveis tarefas a fim de perdoá-la. Enquanto isso, suas irmãs saem atrás de Eros, para seduzi-lo. São enganadas pelo vento Zéfiro e caem em um despenhadeiro, vindo a morrer. Primeiramente, Psiquê deveria, antes de anoitecer, separar uma quantidade enorme de pequenos grãos. Psiquê ficou muito assustada com essa tarefa, mas as formigas que passavam por ali, comovidas pelo sofrimento da moça, resolveram ajudá-la e todos os grãos foram separados. A primeira tarefa foi cumprida, o que deixou Afrodite ainda mais irritada. Depois, Afrodite pediu um pouco da lã de ferozes carneiros encantados que moravam em um vale cortado por um rio. O junco do rio que Psiquê precisava atravessar advertiu-a de que não haveria necessidade de enfrentar os terríveis carneiros para tentar tosquiá-los. Bastava esperar que eles saíssem das touceiras de arbustos espinhosos, quando fossem beber água: nos espinhos ficariam presos alguns fios de lã que poderiam ser facilmente apanhados e levados para Afrodite. Claro, que a deusa ficou furiosa quando viu Psiquê voltando com o pedido. A terceira tarefa consistiria em trazer uma jarra de água escura de uma fonte no alto de uma montanha íngreme. Essa fonte era a nascente do rio Estige, o rio que os mortos atravessavam para chegarem a seu destino. Além disso, essa fonte era guardada por um terrível dragão. Psiquê estava pensando em desistir, quando aparece uma águia que toma a jarra em suas garras e voa até a fonte, enchendo-a do líquido escuro. Finalmente, Afrodite determinou uma última e terrível tarefa: a jovem deveria descer ao mundo dos mortos, domínio do deus Hades, e trazer um pouco da beleza de Perséfone numa caixa. Psiquê estava disposta a se jogar do alto de uma torre para, morrendo, conseguir entrar no mundo dos mortos. Contudo, não foi necessário.
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A própria torre, comovida com o amor da jovem, ensinou-a como alcançar o domínio de Hades. Seguindo de perto as instruções dadas, Psiquê conseguiu o que Afrodite lhe havia encomendado. Mas a curiosidade foi tão grande que ela abriu a caixa para espiar. Vaidosamente, pensou que passar por tantas atribulações pudessem tê-la deixado feia e, por isso, Eros não a quisesse mais. A surpresa de Psiquê foi grande, pois de dentro da caixa saiu apenas um pesado sono que a dominou. Eros, já curado de sua ferida, voa em socorro de sua amada, salvando-a. Enquanto Psiquê apresentava-se diante de Afrodite, Eros pediu ao deus dos deuses que o ajudasse, validando o casamento com Psiquê. Zeus atendeu ao pedido de Eros, que se casou no Olimpo com Psiquê. Com o tempo, nasceu um filho, que se chamou Voluptas (em grego, Prazer). José Luís Landeira. (Especialmente para esta obra.)
Agora, observe com atenção as reproduções de obras de arte a seguir.
I - Artista anônimo. Eros e Psiquê (século I a.C.). Encontrada em Esmirna (Grécia). Paris: Museu do Louvre.
II - Canova, Antonio. Eros e Psiquê (1787-1793). Paris: Museu do Louvre.
16. As duas reproduções fazem alusão ao mesmo famoso casal: Eros e Psiquê flagrados pelo artista em momentos diferentes da narrativa. A escolha de uma das cenas da lenda para representar artisticamente revela um ponto de vista sobre o mundo. Se você fosse representar artisticamente Eros e Psiquê, que episódio da lenda você escolheria? Por quê?
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Na sequência, leia atentamente o poema.
Eros e Psiquê [...] E assim vedes, meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade. Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Do Ritual do Grau de Mestre do Átrio Na Ordem Templária de Portugal Conta a lenda que dormia Uma Princesa encantada A quem só despertaria Um Infante, que viria De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado, Vencer o mal e o bem, Antes que, já libertado, Deixasse o caminho errado Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida, Se espera, dormindo espera, Sonha em morte a sua vida, E orna-lhe a fronte esquecida, Verde, uma grinalda de hera. Longe o Infante, esforçado, Sem saber que intuito tem, Rompe o caminho fadado, Ele dela é ignorado, Ela para ele é ninguém. Mas cada um cumpre o Destino – Ela dormindo encantada, Ele buscando-a sem tino Pelo processo divino Que faz existir a estrada. E, se bem que seja obscuro Tudo pela estrada fora, E falso, ele vem seguro, E vencendo estrada e muro, Chega onde em sono ela mora, E, inda tonto do que houvera, À cabeça, em maresia, Ergue a mão, e encontra hera, E vê que ele mesmo era A Princesa que dormia. Fernando Pessoa (publicado pela primeira vez em Presença, n. 41-42, Coimbra, maio de 1934).
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FERNANDO PESSOA (1888-1935) – O poeta viveu no primeiro momento da crise que, no século XX, iria dividir a tradição e a modernidade. Em sua poesia, Fernando Pessoa investiga o “eu” por meio do qual a arte se realiza, e isso em meio a um mundo cujos valores tradicionais estavam sendo questionados.
Compare o poema de Fernando Pessoa com a narrativa tradicional de Eros e Psiquê e responda as questões propostas. 17. Se ignorarmos o título, temos uma narrativa fantástica, muito próxima de um famoso conto infantil, a Bela Adormecida. Nesse caso, o que seria o amor? Justifique.
18. No entanto, se levarmos em conta o título, não temos um príncipe e uma princesa quaisquer, mas Eros, a paixão, e Psiquê, a mente. Esses podem ser vistos como duas partes diferentes do ser humano: o lado emocional e o racional. Nesse caso, mais que um poema de amor, Fernando Pessoa está-nos falando do próprio ser humano. O que simbolizaria nesse caso a história de Eros e Psiquê, conforme narrada pelo poeta?
19. Ainda mantendo a chave de leitura de que Eros e Psiquê são duas dimensões diferentes do mesmo ser humano, que contraste o mito que acabamos de ler apresenta em relação ao pensamento comum de que as pessoas ou são emocionais ou racionais?
20. A hera é símbolo tanto do tempo que nunca termina, como da força adormecida e da persistência do desejo. Com tais referências, construa um sentido para a presença da hera tanto na grinalda na “fronte esquecida” da princesa, como em todo o quarto em que a princesa dorme.
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VOCÊ ENTREGA CARTA DE AMOR? A letra da música que vamos ouvir sugere uma narrativa. Procure compreendê-la.
ECT
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Tava co’o cara que carimba postais, Que por descuido abriu uma carta que voltou, Levou um susto que lhe abriu a boca. Esse recado vem pra mim, não pro senhor. Recebo craque, colante, dinheiro parco embrulhado Em papel carbono e barbante, até cabelo cortado, Retrato de 3x4 pra batizado distante. Mas, isso aqui, meu senhor, É uma carta de amor. Levo o mundo e não vou lá, Levo o mundo e não vou lá, Levo o mundo e não vou lá, Levo o mundo e não vou... Mas esse cara tem a língua solta, A minha carta ele musicou. Tava em casa, a vitamina pronta, Ouvi no rádio a minha carta de amor. Dizendo: eu caso contente, Papel passado e presente Desembrulhado, vestido. Eu volto logo, me espera. Não brigue nunca comigo, Eu quero ver nossos filhos, O professor me ensinou fazer uma carta de amor. Leve o mundo que eu vou já, Leve o mundo que eu vou já, Leve o mundo que eu vou já, Leve o mundo que eu vou... Nando Reis; Marisa Monte; Carlinhos Brown. “ECT”. In: Cassia Eller (Intérp.). MTV acústico.
21. Discuta, em classe, a sua compreensão da letra da música. 22. Que relação existe entre o título da música e a letra? 23. Na sua opinião, qual a importância de uma carta de amor? Ao ouvirmos a música, percebemos que ela foi composta em determinado ritmo. Em um poema, o ritmo é dado pela alternância entre sílabas acentuadas e não acentuadas, de acordo com a intensidade com
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Capítulo 8
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que são pronunciadas. Cuidado! Assim como sílaba poética e sílaba gramatical são coisas diferentes (veja o capítulo anterior), a sílaba acentuada poética nem sempre coincide com a sílaba tônica gramatical. Observe na letra da música que ouvimos: Ta–va – co’o – ca – ra – que – ca–rim–ba – pos–tais, Que – por – des–cui–do a–briu u–ma – car–ta – que – vol–tou. Nesses dois versos, o ritmo resulta da acentuação na 4ª, na 8ª e na última sílaba. Chamamos de aliteração a constante repetição de um mesmo fonema consonantal. Observe em ECT: Recebo craque, colante, dinheiro parco, embrulhado Em papel carbono e barbante E até cabelo cortado, retrato de 3x4 (três por quatro) Pra batizado distante. Note como os fonemas consonantais /k/, /b/, /r/, /t/ e /d/ se repetem no trecho.
Fonema: a unidade sonora de uma palavra ao ser pronunciada. Não deve ser confundido com letra, pois ele se refere aos sons que são representados pelas letras. A representação entre letra e fonema não é direta. Por vezes, necessitamos de duas letras para representar um único fonema. Nesse caso, temos um dígrafo. Existe um alfabeto próprio para representar os fonemas. Você encontra esse alfabeto facilmente em qualquer gramática. ~ / (3 fonemas) homem (5 letras) - / ome Exemplos:
carro (5 letras) - / kaRo / (4 fonemas) aparelho (8 letras) - / apareλu / (7 fonemas)
Em outras situações, uma mesma letra pode representar uma combinação de fonemas. Repare na letra x, no exemplo a seguir: Exemplos:
máximo / masimu / exame / ezami / táxi / tacsi / ~ ada / enxada / e
Chamamos de assonância a repetição constante de um mesmo fonema vocálico. Observe a assonância do fonema /a/ no primeiro verso de ECT: Tava co’o cara que carimba postais... As aliterações e assonâncias produzem efeitos na construção do poema. Repare que as aliterações da segunda estrofe em /k/, /b/, /r/, /t/ e /d/ da letra da música ECT produzem um efeito como de explosão, reforçando a ideia de algo que causa um repentino incômodo no interlocutor que recebeu, por engano, uma carta de amor. Além disso, as aliterações e assonâncias ajudam a reforçar o próprio ritmo da música.
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24. Utilizando-se dos recursos que consideramos (aliteração, assonância e antítese), elabore um poema de amor. Quando o terminar, troque o texto produzido com um de seus colegas, peça a ele que o leia e contribua com sugestões. Faça o mesmo com o texto dele, identificando as aliterações, assonâncias e antíteses ali presentes. Realize as alterações que julgar apropriadas.
O amor não correspondido No século XVII, uma freira sem vocação religiosa vive em um convento numa pequena cidade do interior de Portugal. Entrou para o convento com 12 anos, por determinação de sua família. Agora, moça feita, se apaixona perdidamente por um nobre oficial do exército francês que está de passagem por aquelas terras. Ele brinca com os sentimentos dela, seduzindo-a. Mas, quando a missão desse nobre termina, ele regressa a seu país. A freira abandonada derrama em cartas todo o seu abandono, saudades, amargura e inexperiência diante do amor. Ele, no entanto, não se comove com esse sofrimento. Esse é o contexto da carta de amor que iremos ler em seguida.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A estrutura da letra da música apresenta uma oposição de ideias, encontrada, por exemplo, no verso “Levo o mundo e não vou lá” que se opõe a “Leve o mundo que eu vou já”. A oposição dá-se entre mundo x amor, e o amor é representado pelo movimento de ir (“não vou lá” ou “eu vou já”, ou seja, ir ao encontro do amor). Quando ocorre uma oposição de ideias em um texto denominamos antítese.
Capa de Lettres portugaises traduites en françois (edição de 1669).
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Capítulo 8
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Que irá ser de mim e que queres que faça? Como estou longe de quanto havia previsto! Esperava que me escrevesses de todos os lugares por onde passasses e que as tuas cartas fossem muito longas. Esperava que alimentasses a minha paixão com a esperança de voltar a ver-te, que uma total confiança na tua fidelidade me daria um certo repouso, que ficaria, em qualquer caso, num estado bastante suportável, sem extremos de dor... Tinha mesmo pensado nalguns vagos projetos de fazer quanto estivesse ao meu alcance para me curar, se pudesse ter a certeza de que me tinhas, efetivamente, esquecido. O teu afastamento, alguns ímpetos de devoção, o receio de arruinar por completo o resto da minha saúde com tantas vigílias e inquietações, a pouca probabilidade, do teu regresso, a frieza da tua paixão e das tuas últimas despedidas, a tua partida baseada em tão precários pretextos e mil outras razões, boas de mais e por de mais inúteis, pareciam oferecer-me auxílio bastante seguro, se para tanto ele fosse necessário. Não tendo, em última análise, de combater senão contra mim própria, não podia imaginar toda a minha fraqueza, nem compreender tudo o que agora sofro. Ai de mim! Como sou de lamentar, eu, que não posso partilhar contigo as minhas dores e que me encontro a sofrer sozinha tamanha desgraça! Mata-me o pensar nisso e morro com o receio de que nunca tenhas sentido bem a fundo todos os nossos prazeres. Sim! Conheço agora a má-fé de todos os teus transportes. Enganaste-me de cada vez que me disseste que estavas encantado por te encontrares a sós comigo. Só às minhas impertinências devo os teus arrebatamentos e arroubos. Foi a sangue-frio que concebeste o projeto de me inflamar: olhaste a minha paixão apenas como uma vitória, e o teu coração nunca se deixou tocar profundamente por ela. Não te sentes infeliz, e não sentes a enorme falta de delicadeza em que incorres, por não teres sabido aproveitar de outro modo os meus arrebatamentos? E como é possível que, com tamanho amor, eu não tenha conseguido tornar-te feliz? Lamento, só por amor de ti, os prazeres infinitos que perdeste: será que os não tenhas querido gozar? Ah! Se os conhecesses, verias que eles são mais intensos do que o de me teres seduzido, e terias experimentado que se é muito mais feliz e que se sente algo de bem mais tocante quando se ama com violência do que quando se é amado!
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Gravura de Beja (Portugal).
No entanto, também não consigo decidir-me a desejar que não penses em mim... E, para falar francamente, tenho uns ciúmes terríveis de tudo o que te dá alegria e toca o teu coração e o teu gosto em França. Não sei por que te escrevo. Bem vejo que nada mais terás por mim do que compaixão – e, essa, não a quero! Enfureço-me contra mim própria quando penso em tudo quanto te sacrifiquei: perdi a minha reputação, expus-me ao furor dos meus parentes, à severidade das leis deste país contra as religiosas e à tua ingratidão, que me parece a maior de todas as desgraças. No entanto, sei bem que os meus remorsos não são verdadeiros e que, do fundo do coração, desejaria ter corrido por amor de ti perigos ainda maiores. Tenho um prazer fatal em ter arriscado a minha vida e a minha honra: mas não deveria estar ao teu dispor tudo o que tenho de mais precioso? E não devo estar contente por o ter empregado como fiz? Até me parece que ainda não estou satisfeita nem com as minhas dores, nem com o excesso do meu amor, embora não possa, ai de mim, vangloriar-me de estar contente contigo. 318
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Eu não sei nem o que sou, nem o que faço, nem o que desejo: encontrome dilacerada por mil movimentos contrários. Poder-se-á imaginar estado tão deplorável? Amo-te perdidamente e respeito-te o bastante para não ousar talvez desejar que sejas atingido pelos mesmos arrebatamentos. Matar-me-ia, ou morreria de dor sem me matar, se soubesse que não tinhas descanso, que na tua vida mais não há que perturbação e agitação de toda a sorte, que choras sem cessar e que tudo te desgosta. Se já não posso remediar os meus males, como poderia suportar a dor que me dariam os teus e que me seriam mil vezes mais dolorosos?
Capítulo 8
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Estou viva, infiel que sou!, e faço tanto para conservar a minha vida como para perdê-la! Ah!, morro de vergonha! O meu desespero estará então apenas nas minhas cartas? Se te amasse tanto como mil vezes te tenho dito, não teria já morrido há muito tempo? Enganei-te!, e és tu que te deves queixar de mim. Ai de mim!, e porque o não fazes? Vi-te partir, não posso ter esperança de te ver voltar, e, no entanto, respiro! Enganei-te, afinal, e peço o teu perdão. Mas não mo dês! Trata-me com severidade! Não aches que os meus sentimentos têm violência bastante! Sê mais difícil de contentar! Ordena-me que morra de amor por ti! Conjuro-te a que me dês este socorro, a fim de que vença a fraqueza do meu sexo e acabe com todas as minhas indecisões por um ato de verdadeiro desespero. Um fim trágico, obrigar-te-ia, sem dúvida, a pensar muitas vezes em mim. A minha memória ser-te-ia cara, e talvez fosses sensivelmente tocado por uma morte fora do comum. Não valerá mais a morte do que o estado a que me reduziste? Adeus! Bem gostaria de nunca te ter visto! Ah! Como sinto a falsidade deste sentimento e vejo, neste preciso momento em que te escrevo, que gosto bem mais de ser desgraçada amando-te do que gostaria de nunca te ter visto! Aceito, pois, sem lamentações, a minha triste sorte, já que tu a não quiseste tornar melhor. Adeus! Promete que me lamentarás com saudade se eu vier a morrer de dor! E que ao menos a violência da minha paixão te tire o gosto e te afaste de todas as coisas. Essa consolação me bastará, e, se é preciso que te abandone para sempre, bem gostaria de não te deixar a uma outra qualquer. Não seria uma crueldade sem par da tua parte servires-te do meu desespero para te tornares mais amável e para mostrar que provocaste a maior paixão do mundo? Adeus, mais uma vez! Escrevo-te estas cartas longas de mais; não tenho suficiente respeito por ti, e disso te peço perdão. E ouso esperar que usarás de alguma indulgência para com uma pobre insensata que o não era, como muito bem sabes, antes de te amar. Adeus! Parece-me que falo demais no estado deplorável em que me encontro. No entanto, do fundo do coração te agradeço o desespero que me causas, e detesto a tranquilidade em que vivi antes de te conhecer. Adeus! A minha paixão aumenta a cada momento! Ah!, quantas coisas tinha ainda para te dizer!... ALCOFORADO, Sóror Mariana do. Cartas portuguesas. Lisboa: Europa-América, 1974.
A carta que lemos é a de número 3, de uma coleção de cinco cartas, publicadas como livro com o título de Cartas portuguesas de sóror Mariana Alcoforado. A origem desse livro é cercada de mistérios: foi publicado pela primeira vez na França, em 1669, e, naturalmente, em francês. Não se sabe se são reais ou ficcionais, nem sequer se foram realmente escritas pela freira Mariana Alcoforado, cuja existência, no entanto, é atestada. Mariana do Alcoforado nasceu em 1640 e se tornou porteira do convento da Nossa Senhora da Conceição, em Beja, uma cidade do interior de Portugal. Ela teria se apaixonado pelo fidalgo francês, conde de Chamilly, que participara de expedições militares ao lado de Baltazar, irmão de Mariana. Assim, as cinco cartas, caso tenham sido escritas por ela, deveriam ter um destino único: o conde francês. E não seriam produzidas com uma intenção literária. Mas será essa a verdade da origem das cartas? Ou teriam sido elas escritas por um francês que ficou conhecendo a história do amor fracassado de Mariana?
Falemos de amor...
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25. Comente a sua compreensão do texto. 26. Que ponto de vista o texto defende no que se refere ao papel da mulher na sociedade?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Traga um livro de gramática para a próxima aula.
Compare a carta do século XVII com o poema a seguir, do século XX.
A meio pau Queria mais um amor. Escrevi cartas, remeti pelo correio a copa de uma árvore, pardais comendo no pé um mamão maduro – coisas que não dou a qualquer pessoa – e mais que tudo taquicardias, um jeito de pensar com a boca fechada, os olhos tramando um gosto. Em vão. Meu bem não leu, não escreveu, não disse essa boca é minha. Outro dia perguntei ao meu coração: o que que há durão, mal de chagas te comeu? Não, ele disse: é desprezo de amor. PRADO, Adélia. “Um jeito de amor”. In: Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991. Adélia Prado.
27. Complete o quadro comparativo abaixo. Carta nº 3 de Mariana Alcoforado
Cultivar o amor, compartilhando coisas especiais por meio do correio.
Função social da carta de amor
Relação amorosa entre os interlocutores
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Poema A meio pau de Adélia Prado
Ruim. O amor do remetente não é partilhado pelo destinatário.
Capítulo 8
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Carta nº 3 de Mariana Alcoforado
O que sabemos a respeito da personalidade e ações do interlocutor
Imagem que o leitor forma do locutor
Trecho(s) do texto que prova(m) o ponto de vista do locutor sobre si mesmo
Poema A meio pau de Adélia Prado Nada, apenas que não corresponde aos sentimentos do eu-lírico.
Esperançoso no início, sente-se desprezado ao final, o que demonstra um desajuste em relação à realidade.
“Outro dia perguntei ao meu coração: o que que há durão, mal de chagas te comeu? Não, ele disse: é desprezo de amor.”
28. Reescreva o poema de Adélia Prado, partindo do princípio de que o eu-lírico é que recebe as cartas de amor, dirigindo o seu poema ao remetente. Para dar um estilo mais antigo ao seu texto, use a segunda pessoa do singular. São dados dois versos como modelo. Consulte também a gramática, no que respeita à conjugação verbal na segunda pessoa do singular. Observe, por outro lado, as devidas mudanças dos pronomes.
Querias mais um amor. Escreveste cartas.
Teu bem não leu, não escreveu.
Falemos de amor...
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Ao escrever, o poeta transforma o significado das palavras, ampliando-lhes o sentido e permitindo a criação de imagens poéticas. Veja isso no poema de Adélia Prado:
Observe como o eu-lírico, em vez de dizer que escreveu sobre árvores, pardais e o bater acelerado do seu coração, disse que remeteu pelo correio tais coisas. Isso não pode ser entendido em sentido denotativo. O uso conotativo e pouco usual de tais palavras nos faz imaginar a grandeza dos sentimentos do eu-lírico para com a pessoa amada – trata-se de uma imagem poética. 29. Retome o poema de amor que escreveu e no qual se identificam aliterações, assonâncias e antíteses. Reescreva-o, inserindo uma ou mais imagens poéticas. Se achar necessário, mude outras partes do poema. Novamente, peça auxílio ao seu colega, assim que terminar, para que lhe dê sugestões apropriadas. Entregue o texto ao professor. 30.Discuta oralmente se o amor do eu-lírico do poema A meio pau origina-se do conhecimento que esse eu-lírico tem do ser amado ou da idealização que faz a partir da necessidade de ser amado. O gênero epistolar é caracterizado pela presença de certos elementos. Há cartas de vários tipos: de amor, comerciais, argumentativas, etc. Os modelos para escrever uma carta circulam na sociedade. Veja um modelo de carta comercial:
exas XX... Parisulo T – Caixa Postal
Rua X – São
São Paulo, 4
Pa
e 2003. (A) e novembro d
d
Observe os elementos que fazem parte da estrutura de uma carta: (A) local e data (B) destinatário (C) vocativo
Alcoforado &
rado S.A.(B)
P
(D) assunto (E) despedida
(C): dos Senhores
Preza
o em nossa ., representad as S V. e d rio seguiram, pelo escritó rmamos que fo in a, Ao pedido feito so es P r. Fernando os. cidade pelo S s livros pedid caixas com o s ua d , ex ed via S mento de da ao Departa ha in m ca en i . 086013 fo A duplicata n° ) Cobrança. (D
(F) assinatura Tais elementos, no entanto, aparecem com menos formalidade em uma carta de amor. Compare o modelo de carta comercial com a carta de amor a seguir.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
“Remeti pelo correio a copa de uma árvore, pardais comendo no pé um mamão maduro – coisas que não dou a qualquer pessoa – e mais que tudo taquicardias.”
te, (E)
Atenciosamen
condes (F) Francisco Mar Diretor
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Capítulo 8
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Heloísa, Chegaram-me as duas linhas e meia que me escreveste. Pareceram-me feitas por uma senhora muito séria, muito séria! muito antiga, muito devota, dessas que deitam água benta na tinta. Tanta gravidade, tanta medida, só vejo em documentos oficiais. Até sinto desejo de começar esta carta assim: “Exma.Sra., tenho a honra de comunicar a V. Exa. etc”. Onze palavras! Imagino o que um indivíduo experimenta ao receber onze palavras frias da criatura que lhe tira o sono? Não imaginas. E sabes o que vem a ser isto de passar horas acordado, sonhando coisas absurdas? Não sabe. Pois eu te conto. Sento-me à banca, levado por um velho hábito, olho com rancor uma folha de papel, que teima em tornar-se branca, penso que o Natal é uma festa deliciosa. Os bazares, a delegacia de polícia, a procissão de Nossa Senhora do Amparo... E depois o jogo dos disparates, excelente jogo. “Iaiá caiu no poço”. Ora o poço! Quem caiu no poço fui eu. Principio uma carta que devia ter escrito há três meses, não posso concluí-la. Fumo cigarros sem contar, olhando um livro aberto, que não leio. Dançam na minha cabeça uma chusma de ideias desencontradas. Entre elas, tenaz, surge a lembrança de uma criaturinha a quem eu disse aqui em casa, Retrato de Graciliano aos depois da prisão do vigário, nem sei que tolices. 35 anos. Apaga-se a luz, deito-me. O sono anda longe. Que vieste fazer em Palmeira? Por que não te deixaste ficar onde estavas? Não consigo dormir. O nordeste, lá fora, varre os telhados. Na escuridão vejo distintamente essa mancha que tens no olho direito e penso em certa conversa de cinco minutos, à janela do reverendo. Por que me falaste daquela forma? Desejei que o teto caísse e nos matasse a todos. Andei criando fantasmas. Vi dentro de mim outra muito diferente da que encontrei naquele dia. Por que me quisestes? Deram-te conselhos? Por que apareceste mudada em vinte e quatro horas? Eu te procurei porque endoideci por tua causa quando te vi pela primeira vez. É necessário que isto acabe logo. Tenho raiva de ti, meu amor. Fui visitar o Padre Macedo. Falou-me de ti, mas o que me disse foi vago, confuso, diante de dez Retrato de Heloísa Leite pessoas. É triste que, para ter notícias tuas, minha filha, eu as ouça em de Medeiros, segunda público. Foram minhas irmãs que me disseram o dia do teu aniversário e me esposa do escritor, aos deram teu endereço. 18 anos. Tinha razão quando afirmaste que entre nós não havia nada. Muito me fazes sofrer. É preciso que tenhas confiança em mim, que me escrevas cartas extensas, que me abras largamente as portas de tua alma. Beijo-te as mãos, meu amor. Recomendo-me aos teus, com especialidade a dona Lili, que vai ser minha sogra, diz ela. Acho-a boa demais para sogra. Amo-te muito. Espero que ainda venhas a gostar de mim um pouco. Teu Graciliano. Palmeira, 16 de janeiro de 1928 Graciliano Ramos RAMOS, Graciliano. Cartas de amor a Heloisa. Rio de Janeiro: Record, 1996.
Falemos de amor...
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31. Complete o quadro comparativo. Carta de amor (de Graciliano Ramos)
Carta comercial (modelo) Presença de todos os elementos constituidores do gênero
Intimidade entre os enunciadores e relação com a linguagem
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Elementos constituidores do gênero epistolar
Não há intimidade entre os enunciadores. A linguagem mantémse formal.
Referências à vida cotidiana
Dimensão emocional
O conflito de sentimentos originado pelo grande amor que o remetente nutre e a atitude, aparentemente de descaso, da amada.
32. Agora é a sua vez de escrever, em seu caderno, uma carta de amor... Oriente-se pela sua experiência pessoal, seu ponto de vista e sua ideologia sobre o amor e o sexo (recapitule o que abordamos sobre ponto de vista e ideologia) e consulte os modelos aqui fornecidos (de Mariana do Alcoforado e de Graciliano Ramos).
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Capítulo 8
30/6/2010 14:14:21
Tome cuidado com os clichês. Clichê é uma expressão que se repete com tanta frequência a ponto de se tornar banal. É de fácil emprego pelo enunciador e de fácil compreensão pelo coenunciador, mas empobrece o seu texto. Os clichês são conhecidos também como chavões ou lugares-comuns. “Venho por meio desta” ou “escrevo-te estas mal traçadas linhas” são alguns dos clichês muito comuns que devem ser evitados na correspondência.
!
Antes de começar a escrever, procure também inspiração no seguinte poema de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa:
Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas.
Hoje em dia, o e-mail substitui em muitas situações o uso da carta. De sua experiência como internauta, que clichês são comuns na correspondência eletrônica?
Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas. Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas. A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas. (Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.)
Pesquise o sentido polissêmico da expressão “palavras esdrúxulas”.
Álvaro de Campos, 21-10-1935. In: PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.
FERNANDO PESSOA (1888-1932) – Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, partilha também desse desejo de conhecer-se a si mesmo por meio da arte. A arte teria, para todos os heterônimos de Fernando Pessoa, uma função essencial: permitir que a humanidade se autoconscientize das realidades que são essenciais para a sua evolução.
Falemos de amor...
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Todateen. n. 97. São Paulo: Abril. nov. 2003.
E você? Também espera uma pessoa ideal? 33. Concorda com a entrevistada quando afirma que “a gente sempre imagina, mas nunca acha”? Em sua opinião, o que a leva a fazer tal afirmação?
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
O amor idealizado
34. Para discussão oral:
Qual a função do escritor diante do amor? Que formas da amar devem transformar-se em obras literárias? Lembre-se de que todo texto carrega consigo uma carga ideológica, o que significa que as escolhas e pensamentos do enunciador presentes na obra irão abrir-se para um diálogo com o leitor. Deve o escritor incentivar uma forma idealizada de amor, que se imagina, mas não se acha, ou deve falar dos amores como eles geralmente ocorrem na vida? E que dizer do sexo? O desejo sexual prejudica o verdadeiro amor?
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Capítulo 8
30/6/2010 14:14:24
A seguir, leia o texto de Jostein Gaarder.
Deixando para trás as trevas da caverna “Platão nos conta uma parábola que ilustra bem esta reflexão. Nós a conhecemos por alegoria da caverna. Vou contá-la com minhas próprias palavras. Imagine um grupo de pessoas que habitam o interior de uma caverna subterrânea. Elas estão de costas para a entrada da caverna e acorrentadas no pescoço e nos pés, de sorte que tudo o que veem é a parede da caverna. Atrás delas ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, elas projetam sombras bruxuleantes na parede da caverna. Assim, a única coisa que as pessoas da caverna podem ver é este ‘teatro de sombras’. E como essas pessoas estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que veem são a única coisa que existe. Imagine agora que um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão. Primeiramente ele se pergunta de onde vêm aquelas sombras projetadas na parede da caverna. Depois consegue se libertar dos grilhões que o prendem. O que você acha que acontece quando ele se vira para as figuras que se elevam para além da borda do muro? Primeiro, a luz é tão intensa que ele não consegue enxergar nada. Depois, a precisão dos contornos das figuras, de que ele até então só vira as sombras, ofusca a sua visão. Se ele conseguir escalar o muro e passar pelo fogo para poder sair da caverna, terá mais dificuldade ainda para enxergar devido à abundância de luz. Mas depois de esfregar os olhos, ele verá como tudo é bonito. Pela primeira vez verá cores e contornos precisos; verá animais e flores de verdade, que as figuras na parede da caverna não passavam de imitações baratas. Suponhamos, então, que ele comece a se perguntar de onde vêm os animais e as flores. Ele vê o Sol brilhando no céu e entende que o Sol dá vida às flores e aos animais da natureza, assim como também era graças ao fogo da caverna que ele podia ver as sombras refletidas na parede. Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras pessoas que ainda continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar. Assim que chega lá, ele tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam de trêmulas imitações da realidade. Mas ninguém acredita nele. As pessoas apontam para a parede da caverna e dizem que aquilo que veem é tudo o que existe. Por fim, acabam matando-o.” GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. Tradução de João Azenha Júnior. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Imagine que o habitante que se liberta da caverna seja o escritor, enquanto o resto da humanidade permanece preso. Esse escritor, livre dos grilhões da caverna, consegue enxergar a verdadeira figura do amor, enquanto os outros habitantes da caverna apenas observam a sombra do amor que se projeta na parede. 35. Descreva esse “verdadeiro amor” que o escritor liberto conseguiu enxergar.
Falemos de amor...
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30/6/2010 14:14:27
37. O ser amado e o amor ideais que Wanessa descreve na Todateen estão mais próximos da imagem de verdade vista pelo habitante da caverna que se liberta ou das sombras enxergadas pelos presos da caverna? Por quê?
Platão, filósofo da antiga Grécia, defendia a existência de dois mundos: o inteligível (ou mundo das ideias) e o sensível (ou mundo das sensações). O primeiro seria formado apenas por ideias e pensamentos e nele habitariam as ideias plenas de justiça, perfeição, beleza, etc., portanto, tudo seria belo e perfeito; o segundo, material e concreto, ou seja, o mundo em que nós vivemos, não seria mais do que uma projeção imperfeita, como uma sombra do primeiro. Nesse primeiro mundo, moravam as almas antes de virem para a Terra, que é o mundo das sensações. Assim, o amor que uma pessoa sente por outra, neste mundo, apenas seria a sombra de uma figura mais bela e perfeita do mundo inteligível. Esse amor superior pertence ao mundo das ideias, e não é possível ser concretizado neste mundo (sensível) em que vivemos. Aqui, na Terra, sentimos recordações quase apagadas de um amor superior e mais belo que nossa alma já sentiu em outro mundo. Claro que essa alegoria do filósofo Platão não pode nos conduzir para além das hipóteses: haveria um outro mundo mais perfeito que o nosso, onde descobriríamos uma forma de amar melhor que aquelas que conhecemos? Esse pensamento tem intrigado muitos estudiosos, promovendo diversas ideologias sobre o amor. Importante lembrar que Platão não conheceu o cristianismo.
A Igreja Católica, o platonismo e a poesia Santo Agostinho, no livro Confissões (Liv. X, cap. XX), defende certas ideias platônicas. Afirma que todos precisamos ter uma lembrança da vida em comunhão com Deus. Essa lembrança não se origina do fato de antes de virem à Terra as almas estarem no Céu, mas do fato de o homem haver perdido, por meio do pecado, o Paraíso. Assim, todos nós teríamos, de acordo com o filósofo, nessa obra, uma saudade do Céu e uma recordação sutil de nossa queda por meio do pecado. Muitos poetas dos séculos XIV a XVII fizeram sua interpretação das ideias platônicas e católicas. Falaram da saudade da “Pátria Divina”, dando-se conta, no entanto, de que essa lembrança exige o esforço de, por meio do pensamento, acordar recordações adormecidas e quase sumidas.
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
36. Descreva como seriam, na prática, as “sombras de amor” que os habitantes da caverna enxergam.
Capítulo 8
30/6/2010 14:14:28
Mesmo escritores cristãos beberam nas ideias de Platão, dando origem ao que se chamou de neoplatonismo. O amor neoplatônico valoriza mais o amor como ideia e pensamento do que como forma de prazer deste mundo de sombras em que supostamente vivemos. Consequentemente, aspectos práticos que atrapalhariam a perfeição do amor, como os defeitos do ser amado, a rotina e o sexo, eram deixados de lado. Os escritores que se pautam pelas diversas formas de neoplatonismo defendem um amor idealizado, que descarta os prazeres físicos e concretos. O ser amado é divinizado, cultuado pelo pensamento, como o sonho mais alto da alma. Esse ser amado, que existe nos pensamentos, torna-se mais importante do que o ser real, imperfeito. Como é fácil de perceber, essa leitura do pensamento platônico conduz a frustrações na vida real. No entanto, no mundo tornado possível pela literatura, o autor pode dar o final que deseja. O choque entre o amor divinizado e a realidade em que vivemos aparece de forma clara nas cartas de sóror Mariana do Alcoforado. A frustração amorosa diante do choque entre a realidade e o amor idealizado também oferece material para diversos textos literários.
Carla chega à casa e corre para o computador, envia um e-mail à sua amiga e colega de sala Marcela:
Fala Marcela! Achei a carta da freira meio difícil de entender no começo, mas depois que eu entendi, vi que sofrer de amor é um lance que já acontece tem muito tempo. Também gostei de entender o amor platônico. Sei lá, tipo o que eu sentia pelo Cadu, acho que era mais um lance de amor platônico que real. Hoje vejo que o Cadu é um chato. Fiquei reparando que a idealização está por todo lado na mídia: mulheres perfeitas, caras perfeitos, lugares maravilhosos... Parece que o mundo das ideias fica na televisão. Bem, na televisão, no cinema, na publicidade... Só dá menina modelo e eu me acho tão feia... Ah, Marcela, responde logo e diz o que você acha. Sei lá, acho que este papo me deixou meio deprê... Por que eu não sou perfeita? Beijo Carla. 38. Redija a resposta de Marcela ao e-mail de Carla.
Falemos de amor...
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30/6/2010 14:14:29
É tipicamente platônico o amor encontrado nos contos de fadas: Branca de Neve, Cinderela e a Bela Adormecida, por exemplo, se apaixonam perdidamente à primeira vista. Dos príncipes encantados, quase nada sabemos, a não ser que são lindos, ricos e bondosos. Quando as personagens se juntam, a história acaba, e da vida comum do casal apenas sabemos que “viveram felizes para sempre!”. Se observar os casais ao seu redor, verá que construir uma relação na qual a felicidade seja duradoura exige um grande esforço e, infelizmente, nem sempre dá certo. Alimentar-se apenas de histórias em que todos os finais terminam com “viveram felizes para sempre” pode conduzir a decepções na vida pessoal. Voltaremos a esse assunto em outras oportunidades.
Ouça atentamente a letra da música a seguir.
Amor I love you Deixa eu dizer que te amo Deixa eu pensar em você Isso me acalma Me acolhe a alma Isso me ajuda a viver Hoje contei pra as paredes Coisas do meu coração Passeei no tempo Caminhei nas horas Mais do que passo a paixão E um espelho sem razão Quer amor fique aqui (2x)
“[...] Tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escrevia aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatavase ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!”
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
O amor platônico nos contos de fadas
(Trecho extraído de O primo Basílio, de Eça de Queirós)
Meu peito agora dispara Vivo em constante alegria É o amor quem está aqui Amor I love you Amor I love you Brown, Carlinhos; Monte, Marisa. “Amor I love you”. In: Marisa Monte (Intérp.). Memórias, crônicas e declarações de amor. Rio de Janeiro: Emi, 2000.
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Capítulo 8
30/6/2010 14:14:31
39. O que leva o enunciador da letra da música a desejar exprimir seus sentimentos?
40. O que o leitor fica efetivamente sabendo da pessoa que o enunciador afirma amar?
41. Que efeito teve a carta para a personagem de O primo Basílio transcrita como parte da música?
42. De que forma o trecho de O primo Basílio reforça o sentimento de alienação no que respeita à realidade presente no enunciador da letra da música?
43. Redija um pequeno texto em que explane seu ponto de vista sobre a presença do pensamento platônico na letra de música “Amor I love you”. Comprove as suas afirmativas, recorrendo a trechos do texto. Articule bem as ideias.
Forme um grupo com alguns colegas. Cada participante vai trazer, para a próxima aula, letras de música e anúncios de publicidade em que predomine o pensamento platônico.
44. Em grupos, identifiquem marcas da presença do pensamento de Platão nas letras de música e anúncios de publicidade que trouxeram. Discutam também que ideologia está presente nesses textos. Apresentem as características encontradas, assim como as conclusões a que chegaram, redigindo um texto devidamente argumentado. A classe poderá discutir, na sequência, as conclusões a que os diversos grupos chegaram.
Falemos de amor...
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O impasse entre o amor idealizado e a necessidade da forma física
A vida na Terra, segundo o pensamento neoplatônico, é um acidente que pode tornar-se menos traumatizante para a alma, se cultivarmos, pelo pensamento, a perfeição. Claro que, na prática, isso seria muito difícil de funcionar. Na língua portuguesa, quem melhor explorou literariamente o amor neoplatônico foi o poeta português do século XVI, Luís de Camões. Esse poeta também constatou que, por mais que desejemos dar espiritualidade aos nossos sentimentos, sempre temos diante de nós o desejo pela forma física. Vejamos esse conflito no seguinte soneto:
Transforma-se o amador na cousa amada Por virtude do muito imaginar; Não tenho logo mais que desejar, Pois em mim tenho a cousa desejada. Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, Pois com ele tal alma está liada. Mas esta linda e pura semidea, Que, como o acidente em seu sujeito, Assim com a alma minha se conforma, Está no pensamento como ideia; E o vivo amor de que sou feito, Como a matéria simples busca a forma. Luís de Camões. In: CIDADE, Hernani. Luís de Camões: o lírico. Lisboa: Presença, 1984.
LUÍS Vaz de CAMÕES – É considerado o maior poeta lírico português do século XVI. É também dele a melhor performance do soneto em língua portuguesa. Camões, genialmente, segue estritas regras de composição ao escrever os seus sonetos. A brevidade do soneto – apenas dois quartetos e dois tercetos – exige grande concentração emocional. O soneto geralmente se constrói sob a forma de tese-antítese com desfecho conclusivo que busca a síntese ou a unidade. No soneto camoniano é comum que a separação tese-antítese ocorra por meio do conectivo “mas”. A linguagem é condensada no decassílabo, utilizando a palavra de forma precisa, controlada pela razão, mesmo quando o tema é uma aparente desordem. Camões segue também um princípio muito valorizado em sua época: o da imitação, que significava que o bom poeta deveria guiar-se por outras fontes, consideradas superiores. No entanto, embora Camões siga influências italianas como as do poeta Petrarca, mostra-se superior nos resultados.
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
O amor neoplatônico é baseado no pensamento, desconsiderando as necessidades físicas humanas. Mas como encarar, no dia a dia, as necessidades humanas? Pelo raciocínio platônico, o amor físico pelo corpo belo pode ser o ponto de partida para se amar a beleza em si mesma, ideia do mundo inteligível. Partindo da contemplação à amada, o poeta pode vir a desejar aquilo que é eternamente bom. Ao ascender para a ideia de beleza e bem supremos, a alma pode identificar-se, em seu desejo de perfeição, com a sombra na Terra: o objeto amado que reflete as ideias superiores.
Capítulo 8
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45. De acordo com a primeira estrofe do poema, como pode aquele que ama ser feliz?
46. Como isso resume o raciocínio neoplatônico?
47. Observe a estrofe seguinte:
Se nela está a minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, Pois com ele tal alma está liada. A que se referem os termos “nela” e “ele”?
Nos dois primeiros quartetos do poema, Camões raciocina que, se a alma consegue se transformar no ser amado por meio da imaginação e do pensamento, ficando assim as almas “liadas” (ligadas), ela poderia descansar. Mas, quem se apaixonou sabe que, mesmo a pessoa ficando o tempo todo pensando no ser amado, o coração não se dá por satisfeito. Ele pede mais. Por isso, Camões nota que a mulher amada com a qual ele se liga pelo pensamento é “semidea”, ou seja, semideusa. Em outras palavras, ela não é completamente divina, ela é metade (semi-)divina, ainda que “bela” e “pura”. Por que isso ocorre? Porque, embora essa semideusa esteja em seu pensamento, como ideia, “o vivo e puro amor” de que o poeta é feito, “como a matéria simples busca a forma”. Em outras palavras, apesar de todo o esforço em apenas manter seus sentimentos na esfera espiritual e idealizada, o poeta sente a necessidade da forma física. Ele não deseja apenas a mulher na imaginação, ele a deseja também em seus braços. É provável que você o compreenda. 48. Esse conflito presente no soneto Transforma-se o amador na cousa amada é perceptível também na carta de sóror Mariana do Alcoforado? Justifique a sua resposta, recorrendo a trechos da carta.
Falemos de amor...
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FAZENDO AS CONEXÕES Falando tanto em amor, você sabia que, no dia 15 de agosto, comemora-se o “Dia do Solteiro”? Leia o texto que segue:
Olho o calendário... 15 de agosto... Dia do Solteiro! É desagradável ainda estar solteiro em agosto, se passou o Dia dos Namorados sozinho. Pode até ser depressivo! Trata-se de uma questão de ponto de vista. Algumas pessoas nunca experimentaram uma relação amorosa significativa, daquelas, nos fazem sair do chão, possibilitam o amadurecimento pessoal. Outras saltam de galho em galho, não desejam perder sua liberdade, sem nunca de assumirem um compromisso sério. É natural, alguém sai de uma relação, desejar estar sozinho por um tempo. Essa atitude persistir, é possível que essa pessoa não tenha conseguido superar o passado, assim perca uma oportunidade de crescimento no amor. O medo, a dificuldade de olhar realisticamente para si mesmo pode levar alguém a ficar esperando uma pessoa ideal, o príncipe (princesa) encantado(a), nunca aparece. Em qualquer dos casos, conhecer-se melhor é a melhor saída. Poderá descobrir em si mesmo atitudes até inconscientes, o afastam das pessoas. Construa a sua felicidade, pois ser feliz é o melhor ingrediente, viver melhor, sozinho, acompanhado. Em qualquer dia do ano! LANDEIRA, José Luís. (Especialmente para esta obra.)
Compreendeu o texto? Provavelmente sim, mas também é possível que tenha gasto mais esforço do que o comum. Isso ocorre porque se trata de um texto com problemas. Ele foi alterado propositalmente, mas muitas vezes deparamos com textos escritos com tais problemas sem que o autor haja percebido. Agora vamos ler o mesmo texto na sua versão original. Preste atenção aos termos em negrito:
Olho o calendário... 15 de agosto... Dia do Solteiro! É desagradável ainda estar solteiro em agosto quando se passou o Dia dos Namorados sozinho. Na verdade, pode até ser depressivo! Antes de tudo, trata-se de uma questão de ponto de vista. Há pessoas que nunca experimentaram uma relação amorosa significativa, daquelas que nos fazem sair do chão, mas que também possibilitam o amadurecimento pessoal. Outras pessoas, ao contrário, saltam de galho em galho, já que não desejam perder sua liberdade, sem nunca assumirem um compromisso sério. É natural, quando alguém sai de uma relação, desejar estar sozinho por um tempo. Mas, se essa atitude persistir, é possível que essa pessoa não tenha conseguido superar o passado e assim perca uma oportunidade de crescimento no amor. O medo ou a dificuldade de olhar realisticamente para si mesmo pode levar alguém a ficar esperando uma pessoa ideal, o príncipe (ou princesa) encantado(a), que nunca aparece. Em qualquer dos casos, conhecer-se melhor é, quiçá, a melhor saída. Desse modo, poderá descobrir em si mesmo atitudes até inconscientes, que o afastam das pessoas. Construa a sua felicidade, pois ser feliz é o melhor ingrediente para viver melhor, sozinho ou acompanhado. Em qualquer dia do ano!
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
49. Como a sociedade atualmente encontra respostas para o embate entre a idealização e as necessidades do corpo, no que se refere ao amor? Concorda com tais soluções?
LANDEIRA, José Luís. (Especialmente para esta obra.)
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Capítulo 8
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Os elementos em negrito no texto são os conectivos (ou conectores). Já abordamos a importância dos conectivos nos capítulos 2 e 4 deste livro. Os conectivos facilitam muito a coesão do texto, o que permite a construção do sentido durante a leitura. Sem os conectivos – preposições, advérbios, conjunções, pronomes relativos e termos denotativos – o texto perde coerência para o leitor, o pensamento não avança. O mau uso dos conectivos também gera problemas em um texto. Veja: 1. É desagradável ainda estar solteiro em agosto, se passou o Dia dos Namorados sozinho. 2. É desagradável ainda estar solteiro em agosto onde se passou o Dia dos Namorados sozinho. 3. É desagradável ainda estar solteiro em agosto quando se passou o Dia dos Namorados sozinho. O exemplo 1 exige um esforço inútil de compreensão porque o segundo termo da frase (se passou o Dia dos Namorados sozinho) é juntado ao primeiro sem conectivo. O exemplo 2 também dificulta a compreensão do leitor, pois o conectivo utilizado não estabelece uma relação lógica entre os dois termos da frase. A escolha do conectivo “quando”, no exemplo 3, torna a frase mais clara e coesa, facilitando ao leitor a construção de um sentido coerente no texto. O primeiro passo para construirmos uma boa frase é identificar os seus segmentos e, para isso, precisamos identificar os verbos e os seus respectivos sujeitos. O verbo e o seu sujeito são os termos a partir dos quais a frase se expande. O período se forma a partir dessa expansão entre os diferentes segmentos que o compõem e, no núcleo de cada segmento, temos um verbo e um sujeito.
O hábito da leitura facilita a escrita, pois permite que apreendamos, quase sem perceber, as estruturas frasais. Nesse caso, ao escrevermos, a frase mal construída, não soa bem aos ouvidos. Como está o seu desenvolvimento como leitor?
A boa articulação entre esses segmentos possibilita a coesão e a coerência dos períodos. Vejamos: Segmento 1 – É desagradável ainda estar solteiro em agosto. Segmento 2 – Se passou o Dia dos Namorados sozinho. Repare que, em cada segmento, aparece um verbo: é e passou. O desafio é encontrar o conectivo que estabeleça a relação mais adequada entre os segmentos. Onde refere-se somente a lugares, não a momentos da vida de uma pessoa. A relação entre os segmentos é temporal: estar sozinho (ou solteiro) é uma realidade no Dia dos Solteiros e foi também uma realidade no Dia dos Namorados. Ou seja, a passagem do tempo (não do lugar!) não alterou o fato (estar sozinho ou solteiro). Quando revela-se um conectivo apropriado que estabelece a relação temporal entre os segmentos: É desagradável ainda estar solteiro em agosto quando se passou o Dia dos Namorados sozinho. Devemos levar em conta o uso apropriado dos conectivos ao produzirmos um texto. Por isso, vamos falar com um pouco mais de profundidade de alguns deles. • Conjunções (e locuções conjuntivas) e preposições (e locuções prepositivas): 1. Adição – e, nem (= e não), também, não só... mas também. Ex.: Ele não veio nem avisou. Falemos de amor...
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2. Alternância – ou, ou...ou, ora... ora, quer... quer, seja... seja.
Cuidado ao usar o conectivo “nem”! No uso coloquial da língua portuguesa, é comum ouvirmos “e nem”, como “não estuda e nem trabalha”. Mas essa construção não é adequada dentro da norma-padrão. O conectivo nem equivale a “e não”. Assim, torna desnecessário que se acrescente o “e”. A frase “não estuda e nem trabalha” equivaleria a dizer, na norma-padrão, “não estuda e não trabalha”, o que não faz sentido.
Ex.: Seja (= ou) tarde, seja (= ou) cedo, ele não deixará de vir. 3. Causa – porque, como, visto que, em (ou por) virtude de, já que, uma vez que, graças a, por (+ infinitivo). Ex. 1: “Transforma-se o amador na coisa amada/ por virtude do muito imaginar”. (Luís de Camões.)
Ex. 3: Transforma-se o amador na coisa amada por imaginar muito. 4. Conclusão – logo, pois, portanto, por isso, assim. Ex.: “Penso, logo existo”. (Descartes.) 5. Condição – se, caso, desde que, a menos que, a não ser que. Ex.: Vai haver confusão caso ele não venha. 6. Comparação – como, mais do que, menos do que, maior do que, menor do que, melhor do que, pior do que, assim como, bem como. Ex.: Em dias de chuva, considero ficar em casa melhor do que sair para a rua. 7. Conformidade – conforme, segundo, de acordo com. Ex.: Fizemos a resenha de acordo com as orientações dadas em classe.
Não deixe de recapitular as informações sobre o uso do porquê no começo deste capítulo.
8. Consequência – tão... que, tanto... que, de forma que, de maneira que, de modo que. Ex.: Estudei tanto hoje que estou exausto. 9. Explicação – pois, porque. Ex.: Estava sem grana porque era fim de mês. 10. Finalidade – para que, a fim de que, por que (= para que), para (+ infinitivo). Ex. 1: Pesquisei muito a fim de que pudesse ser aprovado no exame. Ex. 2: Este livro é para ler antes das férias.
“Para mim” ou “para eu”? Uma confusão muito comum no que diz respeito ao uso da norma-padrão surge entre as expressões para mim e para eu. Quando para é conectivo indicando finalidade, acompanhando um verbo no infinitivo, utilizamos “para eu”, pois o pronome “eu” é sujeito do verbo. Ex.: Este livro é para eu ler antes das férias. Para quem ler o livro? “eu” – o pronome eu é sujeito do verbo ler. Quando para é uma preposição indicando destino ou direção, portanto não funcionando como conectivo indicando finalidade, usamos “para mim”. Ex.: Este livro é para mim. A frase significa que o livro é destinado a mim. Observe: Este livro é para mim. Para eu ler antes das férias.
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Ex. 2: Transforma-se o amador na coisa amada graças ao muito imaginar.
Capítulo 8
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11. Oposição ou adversidade – mas, porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto, embora, apesar de (+ infinitivo).
A confusão MAS/MAIS é comum no uso da normapadrão. MAS indica oposição de ideias, como em “Gostaria de ir viajar, mas estou sem grana”; MAIS indica adição ou acréscimo, como em “para poder viajar, deveria ganhar mais grana”.
Ex.: Embora tentassem de tudo, o namoro acabou. 12. Proporção – à medida que, à proporção que, quanto mais, quanto menos. Ex.: Tudo melhora à medida que o tempo passa. 13. Tempo (já as estudamos no capítulo 4, lembra?) – quando, até que, depois que, logo que, assim que, toda vez que, desde que, enquanto. Ex.: É desagradável ainda estar solteiro em agosto quando se passou o Dia dos Namorados sozinho.
50. Identifique que relação é mantida pelos conectivos em negrito nos excertos a seguir: a) “Lamento, só por amor de ti, os prazeres infinitos que perdeste: será que os não tenhas querido gozar? Ah! Se os conhecesses, verias que eles são mais intensos do que o de me teres seduzido, e terias experimentado que se é muito mais feliz e que se sente algo de bem mais tocante quando se ama com violência do que quando se é amado!” (Sóror Mariana do Alcoforado)
Se:
Mais... do que:
Quando:
b) “Atrás delas ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, elas projetam sombras bruxuleantes na parede da caverna. Assim, a única coisa que as pessoas da caverna podem ver é este ‘teatro de sombras’.” (Jostein Gaarder)
E:
Como:
c) “Carregamos conosco uma necessidade tão grande de amor que, por vezes, um encontro, um momento propício – ou mesmo um momento mau – deslancha o processo da fulminação e da fascinação.”
Que:
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• Pronomes relativos: que – o qual (os quais, a qual, as quais) – quem – cujo (cujos, cuja, cujas) – onde. O emprego adequado dos pronomes relativos exige os seguintes cuidados: 1. Os pronomes relativos representam um termo que foi explicitado anteriormente. Devemos observar bem que palavra ou expressão está substituída pelo pronome para não errar a concordância verbal.
Note que temos dois segmentos. O primeiro é “Há pessoas”; o segundo, “pessoas nunca experimentaram uma relação amorosa significativa”. O pronome relativo “que” representa o termo “pessoas” e é sujeito do verbo “experimentaram”. Poderia ser trocado por “as quais”. Ex.: Há pessoas as quais nunca experimentaram uma relação amorosa significativa. 2. Preste muita atenção ao fragmento de frase a que ele pertence. É possível que haja um verbo ou um substantivo que exija uma determinada preposição. Ela deve vir antes do pronome relativo. Ex. 1: Este é o caso a que você se referiu. O relativo “que” está substituindo o termo “o caso”: Segmento 1: Este é o caso. Segmento 2: Você se referiu ao caso. Quem se refere, refere-se A alguma coisa. A preposição “a” antecede o relativo “que”. Ex. 2: Todos comentaram na cidade o incidente de que Paulo foi culpado. O relativo “que” está substituindo o termo “incidente”: Segmento 1: Todos comentaram na cidade o incidente. Segmento 2: Paulo foi culpado do incidente. Quem é culpado é culpado DE algo. A preposição “de” antecede o relativo “que”. 3. Para seguir a norma-padrão da língua portuguesa, deve usar “onde” apenas com referência a lugares, espaços físicos. Ex. 1: O hospital onde nasci não existe mais. Ex. 2: Estive em Lisboa, onde visitei o castelo de São Jorge.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Ex.: Há pessoas que nunca experimentaram uma relação amorosa significativa
Nunca use onde com outros sentidos (como tempo, causa, consequência, motivo, etc.), o que é muito comum no uso coloquial da língua portuguesa. Ex. 3a: Passo por uma época onde tudo me corre bem. Segmento 1: Passo por uma época Segmento 2: Tudo me corre bem nesta época. A relação entre os termos é temporal, não espacial. Assim: Ex. 3b: Passo por uma época em que tudo me corre bem.
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O relativo “onde” já contém a ideia transmitida pela preposição “em”. Assim, não faz sentido dizer coisas como: O hospital em onde nasci não existe mais. Note que o mesmo não ocorre com o relativo “que”: O hospital em que nasci não existe mais. Outra confusão comum ocorre entre onde e aonde, usados coloquialmente como sinônimos. Aonde não é sinônimo de onde. Deve ser usado apenas com verbos de movimento, regidos pela preposição “a” (ir, chegar, dirigir-se, encaminhar-se, levar, etc.). O hospital aonde nasci não existe mais. O hospital aonde vamos é perto da casa de Paulo.
51. Reúna os segmentos em um só período por meio de conjunções e pronomes relativos. Faça as alterações estruturais que julgar convenientes. a) Segmento 1: A mata atlântica é um dos ecossistemas mais importantes do planeta.
Segmento 2: A mata atlântica tem sido explorada predatoriamente.
b) Segmento 1: São raras as obras produzidas por escritores contemporâneos.
Segmento 2: A crítica rapidamente aceita as obras de escritores contemporâneos como clássicos literários.
c) Segmento 1: O amor contém sempre grandes riscos.
Segmento 2: Não basta apenas uma pessoa desejar.
Segmento 3: Tudo dê certo.
Segmento 4: Consiga-se a felicidade.
d) Segmento 1: O amor encontra-se sujeito ao erro e à incerteza.
Segmento 2: O amor é produto da maturidade e do altruísmo.
Segmento 3: O amor compensa correr os riscos.
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e) Segmento 1: Geralmente era uma pessoa ponderada. Segmento 2: Essa pessoa granjeava amigos.
Segmento 3: Essa pessoa ia.
Segmento 2: A renda do turista brasileiro permite.
52. Os recados abaixo apresentam problemas de coesão e adequação à norma-padrão da língua portuguesa. Identifique tais problemas e reescreva os bilhetes, corrigindo-os.
a)
Mãe: Eu vou chegar mais tarde hoje, aonde tenho que fazer uma pesquisa para a escola na casa do Júnior. Eu esqueci de pedir dinheiro para o lanche, mais não se preocupa que eu estou bem. O Júnior convidou o grupo todo para lanchar na casa dele. A gente se vemos mais tarde então, tá? Beijo, Fê
b)
Pai, não achei a rua aonde você disse que tinha uma livraria que vendia mais barato. Comprei o livro aonde nós sempre compramos. Eu sei que o momento aonde vivemos não dá para gastar muito e o livro não é caro, além disso tinha muita coisa para mim fazer hoje de tarde. Depois eu explico melhor para o senhor, agora estou atrasado. Não se preocupe que eu lancho na casa do Júnior. Tiago.
c)
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f) Segmento 1: O turista brasileiro gasta muito nas viagens ao exterior.
Vó, Eu esqueci de lhe falar que eu precisava sair de tarde. Tenho que fazer uma pesquisa na casa de um amigo. A senhora conhece ele: é o Júnior. Não precisa guardar o lanche para eu, por que eu vou lanchar lá. Ligou a Dona Assunta, mas ela disse que não precisa se preocupar, por quê era só para confirmar o número. Beijo, Rê.
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As transições Os conectivos também podem aparecer no início de uma frase, estabelecendo uma ponte entre os pensamentos e promovendo a coesão do parágrafo. É o caso de “mas” no seguinte exemplo: Mas, se essa atitude persistir, é possível que essa pessoa não tenha conseguido superar o passado e assim perca uma oportunidade de crescimento no amor. O de “desse modo”, em outro momento do texto da página 334: Desse modo, poderá descobrir em si mesmo atitudes até inconscientes, que o afastam das pessoas. Os termos de transição entre as frases de um parágrafo ou entre um parágrafo e outro permitem dar uma melhor estrutura ao seu pensamento, fazendo o texto progredir mais rapidamente. Saber usar os conectivos de transição interfrásicos e interparagrafais deve preocupar o bom produtor de textos, pois estabelecem pontes seguras entre dois blocos de ideias.
Cuidado! Os elementos de transição não podem, como estamos vendo, ser ignorados, pois eles permitem que nosso texto seja mais compreensível ao leitor. Contudo, também não devemos usá-los em cada começo de frase, para não tornarmos o texto pesado e cansativo ao leitor.
Os elementos de transição podem expressar: 1. Afetividade: felizmente, queira Deus, tomara, ainda bem (que). Ex.: Ainda bem que encontrei você aqui! 2. Afirmação: com certeza, sem dúvida, certamente, de fato. Ex.: De fato, não se poderia esperar qualquer outra atitude. 3. Conclusão: em suma, em resumo, em conclusão. Ex.: Em conclusão, o amor significa possuir quem nos possui. 4. Consequência: assim, consequentemente, com efeito, dessa forma, dessa maneira. Ex.: Assim, não pôde fazer outra coisa, a não ser voltar para casa. 5. Continuidade: além de (disso), ainda por cima, também, bem como. Ex.: Além disso, escreveu-lhe coisas horríveis. 6. Dúvida: talvez, quiçá, provavelmente. Ex.: Provavelmente não o encontrarei na festa. 7. Ênfase: apenas, até (mesmo), no mínimo, no máximo, só. Ex: É só pensar na quantidade de pessoas passando necessidades ao redor do mundo. 8. Exclusão: apenas, exceto, só, somente, senão. Ex.: Apenas o presidente da empresa ficaria fora dessas novas medidas. Falemos de amor...
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9. Explicação: isto é, por exemplo. Ex.: Isto é, todos deveriam ter pensado melhor antes de fazê-lo. 10. Inclusão: inclusive, também, mesmo. Ex.: Mesmo o presidente da empresa será submetido ao corte orçamentário. 11. Oposição: pelo contrário, ao contrário (de)
12. Ordenação (e prioridade): em primeiro (segundo, terceiro, etc.) lugar, primeiramente, antes de tudo, inicialmente, depois, a seguir. Ex.: Primeiramente, devemos examinar o caso. Depois, decidiremos o que fazer. 13. Tempo: antes, agora, atualmente, depois, então, hoje, já, nos dias de hoje. Ex.: Antes evitavam-se certos assuntos com os jovens. Hoje já se fala de tudo. 53. Substitua os asteriscos do texto pelo conectivo adequado dentre os da lista apresentada no quadro a seguir. Note que sobrarão conectivos da lista.
“A autenticidade do amor não consiste apenas em projetar nossa verdade sobre o outro
*, finalmente,
ver o outro exclusivamente segundo nossos olhos, * sim de nos deixar contaminar pela verdade do outro. Não é necessário sermos como os crentes, * acreditam naquilo que procuram,
* projetaram a resposta que
esperavam. É aqui que consiste a tragédia. Carregamos conosco uma necessidade tão grande de amor que, por vezes, um encontro, num momento propício – ou mesmo num momento mau – deslancha o processo de fulminação e da fascinação.
*, projetamos sobre o outro nossa necessidade de amor, fixamo-lo e o endurecemos, ignoramos o outro, transformando-o em nossa imagem e totem. *, aqui reside uma das tragédias do amor: a incompreensão de si e do outro. Mas a beleza do amor, que reside na interpenetração da verdade
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Ex.: Ao contrário do que pensávamos, ele não se aposentou.
do outro em si, implica encontrar sua verdade através da alteridade.” MORIN, Edgar. Amor, poesia, sabedoria. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2002.
e, nem, que, nesse momento, porque, felizmente, mas, depois, efetivamente, apenas
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54. Os textos seguintes necessitam de conectivos. Empregue adequadamente os elementos entre parênteses. Faça as alterações na pontuação que se fizerem estritamente necessárias. a) “O dub nasceu nas pistas de dança da Jamaica, no final dos anos 1960, DJs começaram a remover as letras e melodias de sucessos de reggae, colocando em evidência a sua parte rítmica (baixo e bateria) recheando os espaços com ecos e efeitos. VIANA, Hermano. “Caderno Mais”. Folha de São Paulo. 9-11-2003. (quando, e) b) A pintura sempre foi a grande paixão de Ari Clark, começou a pintar, aos quatro anos, até os dias atuais, estudou muito, uma temporada estudando em Londres, volta agora ao Brasil expor uma coletânea de telas pintadas a óleo na Galeria Arte Sem Fim. (depois de, desde que, para) c) “Promover uma reação em cadeia de novas publicações relacionadas ao futebol, a Copa do Mundo estimula o circuito das artes plásticas, passar pelo Memorial da América Latina, em São Paulo, e pela Fundação França-Brasil, no Rio de Janeiro, a exposição Futebol Arte segue este mês para a França, sede da Copa 98.” Cult, n. 11, junho de 1998. (além de, também, depois de) 55. Reveja a carta de amor que escreveu. Certifique-se de estar usando apropriadamente os conectivos no seu texto. Antes de apresentá-la a seu professor, peça-lhe orientações e troque algumas ideias com um colega.
ROTEIRO DE ANÁLISE DE UM POEMA Pela sua natureza, o poema carrega consigo um mundo próprio da palavra. Por isso, permite que o compreendamos mesmo quando apenas o observamos em si mesmo, sem muitas preocupações com o contexto histórico e social. Leia com atenção o soneto de Camões a seguir:
Amor é fogo que arde sem se ver Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer; É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor? CAMÕES, Luís Vaz de. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1976.
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57. Depois, numere as linhas do soneto, de cinco em cinco, para facilitar a localização de informações.
Na última estrofe do soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, o eulírico faz uma pergunta. Repare que a pergunta é apresentada fora da sequência normal que seria: Mas como o amor pode causar amizade nos corações humanos, se tão contrário a si é o mesmo Amor? Note a presença da personificação do Amor, que é tratado como um ser vivo, capaz de causar amizade em nossos corações.
58. A seguir, procure identificar qual a ideia central (tema) do poema. Para isso, provavelmente terá de ler o texto muitas vezes, para decidir o que é mais importante. Também é importante que se dê conta de que, dependendo da interpretação que der ao poema, é possível chegar a outro tema diferente daquele a que chegaria uma outra pessoa com outra interpretação.
Qual o tema do poema de Camões?
59. Aproveitando os conhecimentos adquiridos nas aulas anteriores, determine a estrutura (fixa ou não), o metro e a rima.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
56. Para analisarmos um poema, propomos primeiro que faça a sua paráfrase do sentido, sem preocupações com a métrica ou com a rima. Procure, usando as suas palavras, dizer o mesmo que o eu-lírico afirmou.
Soneto Amor é fogo que arde sem se ver Estrutura
Fixa: soneto
Metro
Rima
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Depois, analisamos a linguagem empregada pelo poeta. É a parte da análise que exige de nós maior sensibilidade e atenção. Trata-se de identificar que recursos da linguagem o poeta utilizou para transmitir o seu tema. 60. Uma forma de fazer isso é deixar-nos guiar pelo tipo de sensações e impressões que o poema nos desperta. Discutam, em classe, com a orientação de seu professor, quais foram as sensações e impressões que o texto despertou nos diversos leitores. Anotem, no quadro, as conclusões a que chegaram e transcreva-as para o espaço a seguir:
A palavra usada artisticamente pode despertar-nos diferentes sensações: visuais: plásticas, coloridas, apagadas; auditivas: sonoridades, musicalidades, ritmo; gustativas: paladar; tácteis: aspereza, suavidade, relevo, textura, peso, leveza; termais: frio, calor; dinâmicas: movimento, estaticidade. Claro que não encontraremos todas essas sensações em um mesmo poema. Cada poeta prefere determinadas sensações e as explora mais intensamente em sua poesia.
61. Agora, completando a análise da linguagem usada poeticamente, a classe vai examinar o poema de Luís de Camões, verso por verso, procurando comprovar por que as sensações identificadas nos atingem e como o poeta conseguiu transmitir eficazmente o tema proposto. Sempre que possível, procurem relacionar essas conclusões com aspectos da época e da biografia do poeta. Comparem também a visão do eu-lírico sobre a vida e o amor e aquela presente no neoplatonismo. Orientado pelo professor, escreva as conclusões em seu caderno.
Paradoxo: espécie muito particular de antítese; nele, em um mesmo enunciado, aparecem elementos que se excluem um ao outro. Com isso, a lógica é radicalmente quebrada.
Quando Camões diz “Amor é fogo que arde sem se ver”, está fazendo uso do paradoxo. Se o fogo arde, ele é visto, mas se não se vê, como poderia estar ardendo? A falta de lógica é compreendida pelos apaixonados, que rapidamente percebem que o amor é fogo que arde no coração de quem ama e, por isso, não se vê.
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BELLINI, Giovanni. O festim dos deuses (1514). Washington: Widener Collection, National Gallery of Art.
“Renascença” ou “Renascimento” aplica-se a um período de amplas realizações culturais na Europa e estendeu-se por três séculos. Iniciado na Itália por volta do século XIII, a Renascença fez-se sentir por toda a Europa, e seu auge ocorreu no fim do século XV, embora ainda encontremos o pensamento renascentista até os finais do século XVI. A atividade cultural se manifestou em todos os campos do conhecimento humano: arte, literatura, filosofia, teologia, arquitetura, matemática e ciências naturais. A palavra de ordem era renascer. Rejeitavam o passado medieval mais recente, particularmente o gótico, e dedicavam-se ao estudo da Antiguidade greco-romana. As ideologias na Renascença giravam em torno do pensamento antropocêntrico. A principal característica desse período foi o desejo de encontrar a perfeição humana, numa contínua busca pela exatidão científica, pelo realismo e pelo equilíbrio nas artes. Mais uma vez, é importante destacar que a Renascença, principalmente na Itália, começou gradualmente e seu início já se evidenciava na Era Medieval, por exemplo, no Românico.
O pensamento renascentista pode ser exemplificado na frase do artista e matemático alemão Albrecht Dürer, encontrada em Quatro livros sobre a proporção humana, de 1528: “Afirmo que a beleza e a forma perfeita estão contidas na soma de todos os homens”.
“Muitos falam em arte, referindo-se às obras consagradas que estão em museus, às músicas eruditas apresentadas em grandes espetáculos ou ainda aos monumentos existentes no mundo. Alguns consideram arte apenas o que é feito por artistas consagrados, enquanto outros julgam ser arte também as manifestações de cultura popular, como os romances de cordel, tão comuns no Nordeste do Brasil. Para muitos, as manifestações de cultura de massa, como o cinema e a fotografia, não são arte, ao passo que outros já admitem o valor artístico dessas produções, ou pelo menos de parte delas. Não são poucos os que, mesmo diante das obras expostas em eventos artísticos famosos, sentem-se confusos a respeito do que veem.” DÜRER, Albrecht. Autorretrato (1498). Madri: Museu do Prado.
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
História crítica da arte e da literatura do renascimento ao barroco
COSTA, Cristina. Questões de Arte. São Paulo: Moderna, 1999.
Capítulo 8
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Discuta, em classe, o significado do pensamento de Dürer. A visão dominante no pensamento renascentista era a do antropocentrismo. Pense nisso ao examinar a reprodução a seguir. Este quadro de Botticelli mostra o frescor do renascer da primavera. Nele, a dinâmica das figuras parece representar uma dança em comemoração à Natureza. Conhecer a mitologia grecolatina e as tradições cristãs pode ajudá-lo a melhor apreciar o quadro. Vivendo em uma época em que a arte tinha uma função moralizadora, servindo para incutir nas pessoas o desejo de servir a Deus, Botticelli ousa pintar a primavera sendo celebrada por deuses greco-romanos, num quadro que procura principalmente fazer-nos desfrutar de sua beleza. Há várias figuras míticas distribuídas harmoniosamente no BOTTICELLI, Sandro. A primavera (c. 1482). Florença: Galleria degli Uffizi. espaço cênico: a figura central, uma mulher, Vênus, destaca-se pelo manto em vermelho, tendo acima um cupido de olhos vendados. Observe que o modelo dessa Vênus é a figura da Virgem Maria. Compondo o quadro, no lado esquerdo, as três graças (as criadas de Vênus), que se supunha representarem os três aspectos do amor – a beleza, o desejo e a satisfação – com trajes translúcidos. A dança das graças tem inspirado inúmeros artistas, como se pode comprovar nesta obra de Picasso: 62. Que diferenças e semelhanças se encontram entre as obras de Picasso e Botticelli?
PICASSO, Pablo. As três dançarinas (A dança) (1925). Londres: Tate Gallery.
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63. De que ruptura se trata?
“O ideal renascentista do homem: o indivíduo que tinha coragem para enfrentar os riscos da aventura com o fim de alcançar experiências e riquezas, que tinha a inteligência para adquirir uma profissão e exercê-la eficientemente, que tinha amor pelas instituições políticas e gosto pelas obras de arte e pela literatura.” D’ONOFRIO, Salvatore. Literatura ocidental: autores e obras fundamentais. São Paulo: Ática, 1990.
A liberdade que Botticelli teve para expressar sua originalidade na tela somente foi possível porque ele era protegido e patrocinado pelo banqueiro florentino Lorenzo de Médici. A família Médici é essencial para compreendermos a Renascença italiana, pois foi com o dinheiro dessa família que se financiaram artistas como Botticelli, Leonardo Da Vinci e Michelangelo. A essa prática de financiar artistas, muito comum na Renascença, chamamos de mecenato. O mecenas era visto como um protetor das artes. Homem rico, era, na prática, quem dava as condições materiais para a produção das novas obras e, nesse sentido, pode ser considerado como o patrocinador ou o financiador do artista. O investimento do mecenas era recuperado com o prestígio social obtido. De fato, associar o seu nome a um grande artista contribuía para divulgar as atividades de sua empresa ou da instituição que representava, além disso o mecenato era um símbolo de poder, ilustrando a força do mecenas na sociedade. A maioria dos mecenas italianos pertencia à burguesia, que havia enriquecido com o comércio. No entanto, encontramos também o Papa e elementos da nobreza praticando o mecenato. No decorrer do século XVI, a cultura renascentista expandiu-se para outros países da Europa Ocidental. 348
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Ainda em A primavera, no lado direito, vemos a figura de Zéfiro (do grego zéphyros, “vento oeste”), o vento oeste da primavera, perseguindo a Clóris. Ela aparece no momento da metamorfose em Flora, a deusa das flores, quando a sua respiração transforma-se em flores. No canto esquerdo, a figura do deus Mercúrio, com trajes em cores fortes, dorso nu, faz o contrapondo às demais figuras femininas. Mercúrio é o deus mensageiro que abre o caminho entre os deuses e a humanidade. O bosque escuro ilumina-se não só com as flores espalhadas pelo chão e frutos que pendem das árvores, mas também com a claridade do azul que se infiltra entre as copas das árvores. Do quadro emana um ar de sensualidade, com a mescla de elementos pagãos e religiosos. No capítulo anterior, vimos que a pintura medieval era vista como meio de aproximação com o plano divino. Esse quadro, no entanto, é como um sonho com figuras mitológicas e não procura moralizar os nossos pensamentos. Há uma importante ruptura na maneira de ver e pensar a arte.
Capítulo 8
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O Papa Júlio II, que se tornou sumo pontífice em 1503, foi um mecenas generoso, que encomendou o projeto da Basílica de São Pedro.
SANZIO, Rafael (1512). Papa Júlio II. Florença: Galleria degli Uffizi.
BRAMANTE, Michelangelo et al. Basílica de São Pedro. Vaticano.
A literatura na Renascença Além de Os Lusíadas, um dos mais importantes textos escritos da Renascença foi O príncipe, de Nicolau Maquiavel (1469-1527). O príncipe não é uma obra literária, mas um tratado de política em que se registra a primeira teoria política da Era Moderna. A tese defendida é que a política é “amoral”, estando acima dos conceitos de bem e mal. É de Maquiavel o célebre princípio de que “os fins justificam os meios”. Leia um excerto dessa obra:
“Deve notar-se que o ódio se conquista tanto com as boas como com as más obras; e portanto, como atrás disse, um príncipe que queira manter o seu Estado, é muitas vezes obrigado a não ser bom; porque quando a generalidade do povo, dos soldados ou dos grandes, da qual tu julgas ter necessidade para te manteres, está corrompida, convém-te seguir a tua inclinação para a satisfazeres, e então as boas obras são tuas inimigas. Mas passemos a Alexandre, o qual foi de tão grande bondade que, entre os demais elogios que se lhe tributam, é o de em catorze anos que governou não ter condenado à morte nenhum súdito sem julgamento; no entanto foi tido por efeminado e por homem que se deixava governar por sua mãe e por isto caiu em desprezo, pois o exército conspirou contra ele e o matou.” MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução de Francisco Morais. Coimbra: Atlântida, 1935.
64. Sobre qual ideia central se desenvolve o parágrafo?
65. Você considera esse pensamento ainda atual? Por quê?
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Outro poema épico-cavaleiresco que merece ser citado é o italiano Jerusalém libertada, de Torquato Tasso. A guerra entre cristãos e mouros serve de pano de fundo para as aventuras amorosas entre as duplas Rinaldo-Armida e Tancredi-Clorinda. Artisticamente, o texto aborda a contradição entre a força da paixão amorosa e o medo do pecado. A poesia lírica da Renascença apresenta-se como uma encruzilhada de tendências, dividida entre a lírica latina, a poesia popular, como as cantigas de amigo, e o trovadorismo da Idade Média, como as cantigas de amor. Importante destacar a figura da mulher na lírica renascentista. Essa mulher vai, gradativamente, ganhando forma e realidade nos textos. Da figura inacessível e impiedosa das cantigas de amigo, sobre a qual o leitor nada sabe, passa-se, aos poucos a uma mulher mais próxima da realidade, ainda que, com raras exceções, sempre muito loira, de grandes olhos azuis e com uma pele tão branca que reproduz a ideologia da elite aristocrática, que considerava o trabalho braçal, em que a pele ficaria, naturalmente, queimada pelo sol, como uma atividade inferior, portanto não apropriada para as mulheres amadas. 66. Observando as reproduções renascentistas apresentadas neste capítulo, de que forma essa visão ideológica também aparece na pintura renascentista?
A Renascença espanhola vai fornecer, além da lírica tradicional, que cultiva a herança medieval, e a lírica renovada, de inspiração italiana, com nomes como o de Garcilaso de la Vega (1503-1536), uma poesia mística de qualidade excepcional, principalmente nas figuras de Santa Teresa de Ávila e de São João da Cruz. Nesses poetas, o sentimento amoroso transcende o plano humano e alcança a comunhão da alma com Deus. Em outras palavras, o amor erótico ganha uma dimensão única: se somente há um amor, cuja fonte é o Criador, o amor da alma com Deus pode ser descrito com a mesma intensidade apaixonada presente na lírica erótica. Note essa fusão entre o erótico e o religioso neste poema de Santa Teresa de Ávila:
Morro porque não morro
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Da herança medieval encontramos o herói Rolando, que tem o seu nome mudado para Orlando. O Orlando renascentista é, ao mesmo tempo, um guerreiro valoroso e um amante apaixonado. Em 1483, Luigi Pulci escreve Morgante, baseado em um poema anônimo chamado Orlando. Matteu Maria Boiardo retornou ao tema em 1494, escrevendo Orlando enamorado. Mas foi o italiano Ludovico Ariosto quem, ao escrever Orlando furioso, deu ao tema maior profundidade artística. Ariosto começa por onde Boiardo havia terminado. Na luta entre mouros e cristãos pela posse da cidade de Paris, Orlando se apaixona por Angélica. O corajoso e valente Orlando termina louco, ao saber que sua amada se casa com Medoro.
“Vivo já fora de mim, Desde que morro d’Amor Porque vivo no Senhor Que me escolheu para Si; Quando o coração Lhe dei Com terno amor lhe gravei: Que morro porque não morro.
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Capítulo 8
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Ai, que vida tão amarga Por não gozar o Senhor! Pois sendo doce o amor, Não o é, a espera larga; Tirai-me, ó Deus, este fardo Tão pesado e tão amargo, Que morro porque não morro.
Santa Tereza de Ávila. Reprodução de imagem popular. Disponível em: .
Vida, que posso eu dar A meu Deus que vive em mim. Se não e perder-te, enfim. Para melhor O gozar? Morrendo O quero alcançar. Pois nele está meu socorro Que morro porque não morro.” 67. Identifique, no poema, características próprias do discurso erótico que surgem também no discurso religioso. 1 – a entrega total ao ser amado, como se vê em “Porque vivo no Senhor”.
68. Observe: “Se não e perder-te, enfim. Para melhor O gozar?” a) A quem se refere o pronome “te”?
b) A quem se refere o pronome “O”?
c) Qual a função sintática desses pronomes?
69. Identifique um vocativo na última estrofe e comente a sua função no poema.
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Examine atentamente estas reproduções de dois importantes pintores que partilharam diferentes visões de mundo: Figura 1 Figura 2
PERUGINO, Pietro. Crucificação com a Virgem, São João, São Jerônimo e Santa Maria Madalena (c. 1485). Washington: Andrew W. Mellon Collection, National Gallery of Art.
VELÁZQUEZ, Diego. Cristo na cruz (16311632). Madri: Museu do Prado.
70. Complete, agora, o seguinte quadro esquemático, assinalando um “X” de acordo com as características apontadas. Características
Perugino
Velázquez
Valorização do claro/escuro: a luz e a sombra confundem o olhar e sugerem o infinito. Valorização da dramaticidade e do conflito: sensação de abandono e vazio.
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Em Portugal, a “medida nova”, ou seja, o estilo da lírica renascentista italiana, foi introduzida por Sá de Miranda, em 1527, quando regressou de uma viagem à Itália. Com certeza, o maior poeta lírico da Renascença portuguesa é Luís Vaz de Camões. Nele encontramos não apenas a lírica tradicional, como a clássica, até mesmo as correntes estéticas que viriam depois dele.
Humanização do divino: o homem está mais próximo de Deus e do Céu. Leveza, luminosidade: a procura pelo equilíbrio.
A primeira figura reflete o espírito da Renascença. O italiano Perugino pinta a sua obra por volta do ano de 1485. Ela está marcada pela procura da serenidade emocional. Embora seja representado um dos momentos mais trágicos da história do cristianismo, a obra é contida, conduzida pelos ideais de simetria e equilíbrio. Cristo parece no quadro tão humano quanto os seus seguidores que o olham com devoção contida. 352
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Capítulo 8
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A obra do espanhol Velázquez foi pintada cerca de um século e meio depois (entre 1631 e 1632). O Cristo revela uma dramática dignidade ao mesmo tempo humana e divina. O luto envolve o quadro já a partir do seu fundo, reforçando a impressão de extrema dor. Contrastando com o fundo negro, o Cristo aparece muito iluminado, como se ele mesmo fosse a fonte da luz, o que lhe dá um aspecto fantasmagórico, reforçando a ideia de morte no quadro. Velázquez é um dos principais pintores do barroco, movimento artístico que dominou o cenário ocidental entre o final do século XVI e a primeira metade do século XVIII. Uma das máximas da Renascença era que “o homem é a medida de todas as coisas”, ou seja, o olhar do artista deveria manter-se antropocêntrico. Alguns acontecimentos no cenário europeu, no entanto, desafiaram essa atitude renascentista. Como defender o ser humano como valor central se a descoberta de todo um continente não produziu uma Europa melhor? Ao contrário, a descoberta europeia da América apenas agravou as diferenças sociais, fazendo os ricos se tornarem cada vez mais ricos e empobrecendo ainda mais os pobres. Algumas pessoas precisavam trabalhar um dia inteiro para poderem comprar meia batata! Além disso, a cultura greco-latina, ainda tão prestigiada pelos artistas e intelectuais da época, dividia seu espaço com o movimento da Contrarreforma, que procurou revalorizar, em todas as esferas da ação humana, os valores religiosos. Isso significava que o artista não poderia produzir uma obra de arte que contradissesse a moral católica daquela época, sob o risco de ser perseguido pela Inquisição. Em Portugal, outro acontecimento desnorteou o espírito antropocêntrico do Renascimento: em 1578, o rei Dom Sebastião desaparece misteriosamente numa batalha. Como ele não tinha herdeiros, o trono espanhol anexou Portugal e suas colônias ao seu domínio. A perda da autonomia e o desaparecimento de D. Sebastião deram origem ao mito português do Sebastianismo (crença segundo a qual D. Sebastião voltaria e transformaria Portugal no Quinto Império). Essa crença aparece até mesmo nas “trovas”, quadras populares, de um sapateiro chamado Gonçalo Anes Bandarra e teria influenciado a obra de um dos principais nomes do barroco, o padre Antônio Vieira. A unificação da península favoreceu o monopólio da Companhia de Jesus no campo científico-cultural, em nome da Contrarreforma, enquanto o restante da Europa se abria para as pesquisas e descobertas de Francis Bacon, Galileu, Kepler e Newton. No Brasil do século XVII, encontramos a presença cada vez mais forte de comerciantes, com as transformações ocorridas no Nordeste em consequência das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu e a queda da cultura de cana-de-açúcar. Em Portugal, o barroco ou seiscentismo teve seu início em 1580, com a unificação da Península Ibérica, o que acarretou um forte domínio espanhol em todas as atividades, daí o nome Escola Espanhola, também dado ao barroco lusitano. O seiscentismo se estendeu até 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana. No Brasil, o barroco teve seu marco inicial em 1601, com a publicação do poema Prosopopeia, de autoria do português, radicado no Brasil, Bento Teixeira. O final oficial do barroco brasileiro só ocorreu em 1768, com a publicação das Obras poéticas, de Cláudio Manuel da Costa.
O barroco é “uma arte violenta e dinâmica, possuída pela dupla consciência da cisão do mundo e de sua unidade, arte do claro-escuro, contrastes, paradoxos, rebuscadas inversões e cintilantes afirmações”. PAZ, Octávio. Sóror Juana Inês de la Cruz: as armadilhas da fé. São Paulo: Mandarim, 1998.
Apesar de todas as mudanças no cenário europeu, o estilo barroco continuou, a seu modo, as conquistas do classicismo: o drama humano tornando-se o elemento básico, geralmente, acompanhado de gestos muito expressivos e teatrais. O exagero é algo recorrente no barroco, assim como o movimento de contrários que oscila entre o divino e o humano, a luz e a sombra. Falemos de amor...
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“Oxímoro: é a união no mesmo sujeito de termos que se excluem. Ex.: silêncio eloquente, covarde valentia; obscura claridade.” Paradoxo: faz-se uma afirmação contrária à crença geral estabelecida. Não significa, porém, que o paradoxo seja falso. Ex.: “Rousseau dizia que a mais importante regra da educação não consiste em ganhar tempo mas em perder tempo com o aluno”.
Observe a figura ao lado.
Michelangelo Merisi da CARAVAGGIO (c. 1573-1610) – Nasceu em Milão e mudouse para Roma (que foi o grande centro do barroco italiano) por volta de 1592. Pintor temperamental, com fama de violento, revela em suas obras um inquietante realismo e uma grande riqueza de detalhes.
O deus Baco pintado por Caravaggio é exuberante e rosado e, no entanto, tem no rosto uma beleza feminina. O deus do vinho, com seu olhar sedutor e seus lábios carnudos, oferece-nos a taça do prazer. Mas, como a lembrar-nos de que, na vida, todo o prazer é transitório e de curta duração, o artista mostra-nos também frutas que já passaram ligeiramente do ponto: a romã, símbolo da coroa de CARAVAGGIO, Michelangelo. Baco (1590). Florença: Galleria degli Uffizi. espinhos do Cristo, está demasiadamente madura, e a maçã, símbolo do pecado original, está bichada. Caravaggio representa, dessa maneira, os temas do Tempus fugit (uma expressão latina que significa “o tempo passa”) e o Carpe diem (outra expressão latina que significa “aproveite o dia”, ou seja, “viva intensamente cada momento”). Sendo a vida tão breve e passageira, Baco nos incentiva a esquecermos o amanhã e entregarmo-nos ao momento presente, vivendo-o intensamente. No poema a seguir, também encontramos o tema da efemeridade da vida, tema apreciado pelos barrocos e por muitos outros artistas de outras épocas. Tente identificar os temas do Tempus fugit e do Carpe diem enquanto você lê o poema atentamente.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
TRINGALI, Dante. Introdução à retórica: a retórica como crítica literária. São Paulo: Duas Cidades, 1988.
JAN De HEEM. Vaso de flores (c. 1645). Washington: Andrew W Mellon Collection, National Gallery of Art.
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Capítulo 8
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Lisonjeia outra vez impaciente a retenção de sua mesma desgraça, aconselhando a esposa neste regalado soneto. “Discreta e formosíssima Maria Enquanto estamos vendo a qualquer hora Em tuas faces a rosada Aurora, Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:
Adônis: deus grego da luz, da sabedoria e da beleza. Pela fria: pela madrugada.
Enquanto com gentil descortesia O ar, que fresco Adônis te namora, Te espalha a rica trança voadora, Quando vem passear-te pela fria: Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trata a toda ligeireza, E imprime em toda flor sua pisada. Oh! Não aguardes, que a madura idade Te converta em flor essa beleza Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.” GREGÓRIO DE MATOS. Obra poética. Rio de Janeiro: Record, 1992.
GREGÓRIO DE MATOS Guerra (1633?-1696) – Nasceu em Salvador, Bahia, e pode ser considerado o primeiro poeta brasileiro. Formado em Direito, em Portugal (nessa época não havia faculdades no Brasil), ainda viveu por lá um tempo, até arranjar problemas pelas sátiras que escrevia. No Brasil, foi convidado a trabalhar com os jesuítas, mas novamente pelas suas sátiras, não só foi demitido como também exilado para Angola. Conseguiu voltar para o Brasil, mas sob duas condições: estava proibido de pisar em terras baianas e de escrever ou apresentar suas sátiras. Morreu no Recife. Pela (má?) fama que alcançaram as suas sátiras, recebeu o apelido “Boca do Inferno”. No entanto, Gregório também praticou a poesia religiosa e a lírica. Sua poesia caracteriza-se pelo jogo de palavras ao lado de raciocínios intrincados, mas sutis, sempre como o uso abusivo de linguagem.
71. No que diz respeito ao tema, que semelhanças e diferenças você encontra entre o poema Lisonjeai outra vez impaciente a retenção de sua mesma desgraça, aconselhando a esposa neste regalado soneto de Gregório de Matos e o Baco de Caravaggio?
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ATAÍDE, Manuel da Costa (forro da nave da igreja de S. Francisco de Assis). Ouro Preto: Igreja de S. Francisco de Assis.
Manuel da Costa ATAÍDE (1762(?)-1830) – Nasceu em Mariana, MG. O Mestre Ataíde usava cores vivas e alegres, principalmente o azul. Não seguiu a influência de Caravaggio do claro-escuro. Seu estilo é próprio e bem brasileiro, com seus traços oscilando entre a serenidade e a tortura de sua alma. Característica dessa visão brasileira, barroca, mas não completamente europeia, pode-se notar que a imagem de Maria é a de uma mulata ou negra, com um natural sorriso no rosto.
72. De que estratégia se valeu o mestre Ataíde para aumentar a ilusão em sua pintura?
No auge do Barroco, os escritores valorizaram de tal forma a ilusão e o jogo que, muitas vezes, não davam valor ao conteúdo do que escreviam, mas apenas a como escreviam: com o uso de palavras pouco comuns, rimas raras, inversões e outros recursos da linguagem que não contribuíam em nada para o sentido do texto, mas unicamente para deixá-lo mais difícil de ser lido. Alguns leitores, principalmente nos séculos seguintes, con- denaram tal visão de arte. Veja, por exemplo, o que escreveu um filósofo português:
“Quando vejo um poeta destes, que se serve de expressões que nada significam, ou que compõem de sorte que o não entendem, assento que não quis ser entendido, e, em tal caso, procuro fazer-lhe a vontade, e não o leio. [...] Se todos assentassem neste princípio, veria V. P. como se mudava a poesia nestes países; porque seriam obrigados os poetas a lerem somente as suas obras; e, assim, ou se desenganariam eles mesmos com o tempo, ou não enganariam os outros; e poder-se-iam achar poetas de algum merecimento; principalmente se chegassem a conhecer quais são os requisitos necessários para a poesia. A razão destes inconvenientes é porque se persuadem comumente que, para ser poeta, basta saber a medida
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O barroco revela certa dose de angústia que se origina do desejo de compreender o mundo pelas suas contradições. Essa atitude conduzia, muitas vezes, à valorização do jogo e da ilusão, como se pode verificar a seguir.
Capítulo 8
30/6/2010 14:15:13
de quatro versos e saber engenhar conceitos esquisitos. Quem se funda nisto não pode saber nada: são necessárias muitas outras notícias. É necessário doutrina e entender bem as matérias que se tratam; é necessária a Filosofia, e saber conhecer bem as ações dos homens, as suas paixões, o seu caráter, para as saber imitar, excitar e adormecer. Aqui entra novamente a Retórica, que supõe todas aquelas coisas; entra um pouco de história, para não dizer parvoíces; entra a história da fábula, etc. Tudo isto se mostra manifestamente nos melhores poemas que temos da Antiguidade. (...) Onde, quem não tem estes fundamentos é versejador, mas não poeta; e necessariamente há-de dizer muita parvoíce.” VERNEY, Luís António. Verdadeiro método de estudar, Carta VII.
LUÍS ANTÓNIO VERNEY (1713-1791) – Natural de Lisboa, formou-se em Filosofia pela Universidade de Évora, em Portugal e em Teologia pela Universidade de Roma. Em 1746, publicou o Verdadeiro método de estudar. Trata-se de uma obra redigida no gênero epistolar. Dez cartas tratam questões relacionadas com questões disciplinares e pedagógicas, como o acesso da mulher à cultura.
O poeta barroco quer descobrir as relações secretas entre as coisas, quer assombrar e maravilhar ao seu leitor. Nessa procura, não é de espantar que um poeta como Gregório de Matos escreva poemas satíricos e até pornográficos, mas também poemas de amor, religiosos e filosóficos. Observe: A uma freira, que satirizando a delgada fisionomia do poeta lhe chamou “Pica-Flor”
Pica-Flor: beija-flor.
“Se Pica-flor me chamais, Pica-flor aceito ser, Mas resta agora saber, Se no nome, que me dais, Meteis a flor, que guardais No passarinho melhor! Se me dais este favor, Sendo só de mim, o Pica, E o mais vosso, claro fica, Que fico então Pica-flor.” Gregório de Matos, Op. cit.
Observe o tom grosseiro, até pornográfico, que caracteriza o poema. 73. Identifique, no poema a seguir, características típicas do barroco. Moraliza o poeta nos ocidentes do sol a inconstância dos bens do mundo.
“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Falemos de amor...
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Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância.” Gregório de Matos. Op. cit.
Além do nome de Gregório de Matos, podemos destacar, na lírica brasileira, a figura de Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711). Na prosa, a figura mais importante é, sem dúvida, o padre Antônio Vieira. É provavelmente o principal nome do barroco em língua portuguesa. Sobre ele falaremos mais no próximo capítulo. O Pe. Antônio Vieira é tema de um poema do escritor modernista português Miguel Torga. Observe como o poeta vê o classicismo barroco:
Antônio Vieira “Filho peninsular e tropical De Inácio de Loyola, Aluno do Bandarra E mestre De Fernando Pessoa, No Quinto Império que sonhou, sonhava O homem lusitano À medida do mundo. E foi ele o pioneiro. Original No ser universal... Misto de génio, mago e aventureiro.” TORGA, Miguel. Poemas ibéricos. Coimbra: Ed. Autor, 1965, 2. ed., 1982.
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Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia?
Adolfo Correia da Rocha, mais conhecido como MIGUEL TORGA (1907-1995) – Emigrou para o Brasil ainda jovem e, quando regressou a Portugal, em 1925, matriculou-se no curso de Medicina da Universidade de Coimbra. Mas, foi como escritor que esse médico passou à História. Por volta de 1930, fundou a revista Sinal; pouco depois, fundou uma nova revista: Manifesto. Começou a ser conhecido como poeta, tendo mais tarde ganho notoriedade com os seus contos ambientados na zona rural. Seu livro Os bichos é considerado um clássico. Deram-lhe notoriedade também os dezesseis volumes de Diário, publicados entre 1941-1995.
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Capítulo 8
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74. Ao descrever Vieira como “Original/ No ser universal...” a que características clássicas do barroco Miguel Torga se refere?
75. De que forma Vieira é “filho de Inácio de Loyola” e “aluno de Bandarra”?
Observe: 76. Identifique as características do barroco encontradas na figura ao lado.
Antônio Francisco Lisboa (ALEIJADINHO) (Vila Rica [Atual Ouro Preto], 1730 (?) – Vila Rica, 1814) – Escultor, entalhador, desenhista e arquiteto, é considerado o maior expoente do estilo barroco em Minas Gerais e das artes plásticas durante o Período Colonial.
LISBOA, Antônio Francisco (ALEIJADINHO). Cristo carregando a cruz (1796-99). Congonhas.
Nasce a ópera! Seguindo o conceito de arte do barroco, a ópera se propunha a juntar todas as formas artísticas possíveis em um só espetáculo. Dessa forma, música instrumental, canto, cenografia e teatro se fundiriam para o deleite da plateia. A música teve que se adequar a esse propósito: caminhando da polifonia coral apreciada na Renascença à melodia acompanhada, mais propícia a uma apresentação individualizada. Dessa forma, a ópera nasceu com a música harmônica, na qual uma única melodia (executada quer pela voz humana, quer por um instrumento solo) é acompanhada por outros instrumentos ou vozes, na forma de acordes musicais. O primeiro exemplo documentado de ópera é La Dafne (1594), de Jacopo Peri (1561-1633), mas foi Cláudio Monteverdi que lhe deu maturidade. A ópera também trouxe a necessidade de locais especiais para apresentação. Em 1637, foram inauguradas as primeiras casas de ópera em Veneza. “Casa de ópera” de Veneza.
77. De que nomes de óperas famosas você se lembra? Falemos de amor...
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Pausa para reflexão Em seu caderno, responda às questões a seguir. I. Que conteúdos deste capítulo conseguiria explicar sem consultar o livro? II. Consultando o livro, identifique os conteúdos deste capítulo que, na sua opinião, não foram bem compreendidos e merecem novas explicações ou atividades de reforço.
IV. Que atividades foram mais agradáveis? Por quê? V. Participou das atividades com interesse? Em que aspectos poderá melhorar nas próximas aulas?
UMA ANTOLOGIA DE POEMAS DE AMOR Quando falamos de literatura, pensamos em antologia como uma coleção de textos. Mas uma antologia deve levar em conta um leitor que não tem muita experiência de leitura com tais textos. Observe:
“Antologia é uma espécie de porta para um território onde alguns entram pela primeira vez. É preciso que tenham uma boa impressão desse universo literário para que gostem de viajar por ele, descobrindo os seus mistérios. E aproveitem bem o que foi criado pelos autores com esforço e paixão. Seleções como esta requerem pesquisa e merecem todo o cuidado. Não há receitas para organizá-las, mas o ideal é que exista equilíbrio, e os textos expressem com nitidez características básicas de cada escritor quanto a sua maneira de escrever e de enxergar o mundo. Para isso, é imprescindível que o organizador mantenha estreita convivência com a Literatura a ser focalizada. [...] Organizar antologias não é um trabalho estático, felizmente. Há sempre muita vida dentro dele e acompanhando-o. Não apenas em relação aos textos que vão sendo lidos e relidos, mas no que se pode chamar ‘desenvolvimento mágico’: a formação da personalidade do livro.”
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
III. Que atividade(s) considerou mais importante(s) para o seu aprendizado? Por quê?
LADEIRA, Julieta de Godoy, organizadora da antologia Contos brasileiros contemporâneos. São Paulo: Moderna, 1994.
78. Ao término desta unidade, propomos que organizem, em dupla, uma antologia de 12 poemas em língua portuguesa cujo tema seja o amor idealizado, platônico. Naturalmente, seria aconselhável evitar os poemas já usados neste livro. Escolham também um dos poemas da antologia que elaborarem e ilustrem-no, usando, para isso, toda a sua criatividade.
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Capítulo 8
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Finalmente, redijam uma introdução à sua antologia, na qual expliquem a relação existente entre o pensamento platônico e os poemas que escolheram.
Recapitulando nosso aprendizado O amor idealizado e a linguagem 79. Recorrendo às estratégias de resumo aprendidas neste livro, resuma os conteúdos deste capítulo.
Falemos de amor...
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
PARA LER Seis boas razões para ser uma mulher fútil
MAITENA. Mulheres alteradas 2. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
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Capítulo 8
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A LÍNGUA PORTUGUESA DE CHUTEIRAS Vem-lhe o pressentimento; ele se lança Mais rápido que o próprio pensamento, Dribla mais um, mais dois; a bola trança Feliz, entre seus pés – um pé de vento! (Vinícius de Moraes. O anjo de pernas tortas)
Portinari, Cândido. Futebol (1958). Coleção do Dr. Mem Xavier da Silveira, Rio de Janeiro.
Muitas pessoas identificam o futebol como uma das principais paixões do brasileiro. Não há dúvida de que o futebol mexe com os hábitos de muitos ao mesmo tempo em que move interesses financeiros e sociais no cenário nacional e internacional. Curiosamente, apenas em raros momentos, esse esporte ocupou um lugar de destaque no campo literário. O encontro mais produtivo entre o futebol e a palavra deu-se na crônica desportiva.
A língua portuguesa de chuteiras
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A IDEOLOGIA NA CRÔNICA ESPORTIVA
Salivação eunuca “Amigos, eis que o Brasil recebe, de presente, a estátua equestre de d. João VI. E como os dois vieram engradados, o rei e o cavalo, eu só imagino a humilhação do rei, só imagino a humilhação do cavalo. Excelente d. João VI! Volta ao Brasil por um funesto hábito adquirido na invasão napoleônica. Mas enquanto ‘el rey’, devidamente montado, está trotando no seu monumento, eu verifico que d. João VI é muito menos antigo do que parece. Agora mesmo, estou lendo uma colega que me parece anterior à abertura dos portos. Refiro-me à cronista que escreveu, ontem, uma coisa intitulada: ‘A gafe do rei’. O rei é Pelé e a gafe é dele mesmo. Santa senhora! Quem a lê e relê, há de perguntar que faz ela no século XX, com sapatos Estátua equestre de Dom João VI na Praça XV de Novembro, no Rio de Janeiro. modernos, figurinos contemporâneos e, no entanto, com reações nítidas, cristalinas, indubitáveis de colônia. Pensava-se que a abertura dos portos ia influir nos costumes, nos modos, nas ideias e nos sentimentos. Para alguns, houve realmente esse impacto fecundo. Mas há uma meia dúzia, na crônica esportiva, que teima num abjeto comportamento colonial. E, agora, vem uma senhora, que não é do esporte, nunca entrou no Maracanã, e nem sabe se a bola é quadrada, vem essa senhora e condena Pelé. Cabe então a pergunta: – por quê? Vamos ao fato. Houve, domingo, como se sabe, o jogo Brasil x Alemanha. Havia um abismo físico entre as duas seleções. De um lado, os alemães, fortes, apolíneos, sólidos e compactos como havaianos de filme. De outro lado, os nossos, subnutridos, mal-acabados. Muito bem. Começa o jogo e, desde o primeiro minuto, os visitantes baixaram o cacete. Ora, toda a imprensa anterior à abertura dos portos arranjou um sofisma pusilânime e realmente infecto: – ‘Os alemães são duros, mas leais’. Curiosa lealdade do pé na cara! Outros confrades descobriram a seguinte explicação servil e colonial: – ‘Eles não tinham a intenção’. Bonito consolo para o nosso escrete de paus-de-arara! Com as melhores intenções, a Alemanha nos massacrou. Até que houve o lance supremo. Bola dividida, e Pelé e adversário vão disputá-la. Vejam bem o contraste, que é importantíssimo: um, pobre negro brasileiro; outro, louro, truculento, wagneriano. Criouse para Pelé o dilema hamletiano: ou ele ou eu. Segundo deduzo da cronista citada, o justo, o correto, o legítimo é que a perna quebrada fosse do brasileiro retinto. Mas Pelé não pensou assim. E como o crioulo é posterior a d. João VI, tratou de se defender. Mais esperto, mais ágil, mais inteligente, mais moleque, sobreviveu. Ao passo que o adversário sofreu uma fratura. É essa fratura que a colunista, com a sua afetação grã-fina, chama de ‘gafe’. E se o fraturado fosse Pelé? Toda a imprensa, inclusive a antiguíssima senhora, diria que fora ‘sem querer’. Pois parte considerável da nossa imprensa convencionou que todos os alemães só têm boas intenções. Ao passo que o nosso Pelé é uma víbora de túmulo de faraó. 364
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Essa doação é o ponto de partida para a divertida crônica do escritor brasileiro e comentarista de futebol, Nelson Rodrigues, publicada originalmente no jornal O Globo, de 9 de junho de 1965.
Keystone
Em 1965, o governo português doou à cidade do Rio de Janeiro, como parte das comemorações de 400 anos, uma estátua de Dom João VI andando a cavalo. Essa estátua equestre pode ser visitada no Centro do Rio, na Praça XV de Novembro.
Capítulo 9
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Amigos, antes de d. João VI, o brasileiro, na sua humildade de colônia, vivia babando na gravata. Hoje, muitos ainda têm essa intensa salivação. E, por isso, negam a Pelé o direito de se defender, apenas se defender. Graças a Deus, o crioulo mostrou que não é nenhum escravo núbio, nenhum eunuco abissínio. É apenas homem, e apenas brasileiro. Eu gostaria de conversar com a antiga, a inatual, a remota senhora que chama perna quebrada de gafe. Eu lhe diria, de viva voz, algumas coisas cordiais e apiedadas. Por exemplo: diria que o brasileiro não tem mais obrigação de levar pau de ninguém. E que o homem do Brasil é igual a qualquer outro (eu acho melhor do que os outros). Eu sei que a simpática cronista não aproveitou nada da abertura dos portos e mesmo a ignora. Faço votos que tire melhor proveito da segunda visita de d. João VI.” RODRIGUES, Nelson. A pátria em chuteiras: novas crônicas de futebol. In: Castro, Ruy (Org.). São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
NELSON RODRIGUES (1912-1980) – Nasceu no Recife (PE). Filho de um jornalista, Nelson era um grande observador do cotidiano de sua época. Esse olhar atento, juntamente com a imaginação fértil, permitiram-lhe construir algumas das mais complexas personagens da literatura brasileira, principalmente no gênero dramático. Foi em 1919 que o autor descobriu o Fluminense, que se tornaria o time de seu coração até a hora da morte. O jogo amistoso ocorreu no dia 6 de junho de 1965, no Maracanã, e terminou 2 x 0 para o Brasil. O texto de Nelson Rodrigues é marcado pelas ideologias que predominavam na época. Vejamos: Para construir a ideologia nacionalista anticolonialista, Nelson Rodrigues recorre a três estratégias: 1. De acordo com o texto, a Abertura dos Portos às Nações Amigas, lei promulgada por Dom João VI e que beneficiou unicamente a Inglaterra, foi o primeiro passo para que adotássemos, no Brasil, uma atitude independente. Que relação existe, no texto, entre o pensamento colonialista e o ponto de vista do cronista sobre a “gafe” de Pelé?
2. Complete o quadro a seguir, transcrevendo partes da crônica que expliquem o que se pede:
Alemães
Brasileiros
Fisicamente
Intelectualmente
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O ponto de vista de Nelson Rodrigues sobre a fratura que Pelé ocasionou no jogador Giezzmann da Alemanha é claro: Pelé agiu corretamente. Quem pretende escrever bem deve partir de um ponto de vista claro, bem definido sobre o assunto que pretende desenvolver, mas, ao mesmo tempo, deve permitir que o leitor faça questionamentos.
Ao citar a doação da estátua de D. João VI para o Rio de Janeiro, Nelson Rodrigues conseguiu atingir três objetivos: por um lado, mostra-se uma pessoa com conhecimentos da história brasileira colonial e contemporânea; por outro, desperta a atenção do leitor com um assunto atual (para a época); finalmente, permite-lhe criar uma distinção, utilizando a abertura dos portos às nações amigas como parâmetro: os que têm mentalidade retrógrada e os que têm mentalidade moderna. 3. Quem ocupa o primeiro grupo?
4. Quem ocupa o segundo grupo?
A seguir, o enunciador apresenta as equipes alemã e brasileira. Note que o uso dos adjetivos é essencial para conseguir deixar claro que os alemães são superiores fisicamente e muito mais violentos. Após criticar alguns setores da imprensa, o cronista explica o sucedido. Note a distinção: “Um, pobre negro brasileiro; outro, louro, truculento, wagneriano” 5. Que valor ideológico assumem os termos “negro” e “louro”?
Mas qualquer aparente superioridade é ilusória, pois o brasileiro é mais “esperto, mais ágil, mais inteligente, mais moleque” e por isso “sobreviveu”. Além disso, a situação era dramática: “ou ele, ou eu”. Note que, de acordo com o cronista, era uma questão de sobrevivência. A inteligência que Nelson Rodrigues valoriza não é a acadêmica, obtida por meio do estudo, mas a esperteza diante da vida.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A seguir, esse ponto de vista será defendido por meio de argumentos sólidos. Para encontrarmos os argumentos em um texto, recorremos à pergunta “por quê?” – Por que Pelé agiu correntamente?
6. Que termo deixa claro esse ponto de vista?
Ele torna a criticar os setores da imprensa que se posicionaram contra Pelé e retoma o pensamento inicial, voltando a falar de D. João VI. Essa estratégia permitiu ao cronista dar maior coesão ao seu texto. 366
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Capítulo 9
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Voltemos à questão básica sugerida pelo ponto de vista do cronista: • Por que Pelé fez muito bem em se defender? Basicamente, são quatro os argumentos usados: 1. Os brasileiros não devem mais se humilhar a nenhum outro povo. 2. Os alemães são superiores fisicamente e muito mais violentos. 3. O brasileiro é mais esperto. 4. Era uma situação em que um dos dois iria sair machucado. Como pudemos verificar, os argumentos encadeiam-se de forma coesa, bem amarrados pelos conectivos, levando o leitor a uma única conclusão: Pelé teve o direito a se defender, machucando a perna do adversário durante o jogo. Dessa forma, uma boa argumentação leva em conta três aspectos: • ponto de vista • argumentos • conclusão Encontramos, na crônica de Nelson Rodrigues, também uma ideologia machista que desacredita o conhecimento da mulher no que respeita ao futebol. Até hoje, nem todos aceitam que a mulher entenda e goste de futebol. Na sua opinião, por que isso ocorre? Tragam para a próxima aula textos que tenham o futebol como tema. Em grupos, encontrem as marcas ideológicas presentes nos textos. Discutam em classe as principais mudanças observadas no comportamento do torcedor brasileiro e nos textos que falam de futebol, que circulam na imprensa.
Pelé.
A LÍNGUA PORTUGUESA E O FUTEBOL Leia com atenção o seguinte trecho de uma revista:
“Graciliano Ramos bem que poderia ter sido o nosso Hemingway. Em termos literários, estava aparelhado para a tarefa. Mas lhe faltava o outro requisito essencial: a paixão pelo futebol. O velho Graça também não simpatizava com aquela história de chutar a bola com os pés. Em 1921, ainda jovem, vaticinou no conto Linhas tortas: ‘O football não pega, tenham certeza. Não vale o argumento de que ele tem ganho terreno Futebol, anos 20. nas capitais importantes. Não confundamos [...] Nas cidades os viciados elegantes absorvem ópio, a cocaína, a morfina; por aqui há pessoas que ainda fumam liamba. [...] o futebol, o boxe, o turfe, nada pega.’ Graciliano foi um ótimo escritor, mas se dependesse de suas previsões morreria de fome. Ao contrário de Monteiro Lobato, que deu alguns palpites certeiros com décadas de antecedência. Lobato, que descobriu A língua portuguesa de chuteiras
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OLIVEIRA, Gustavo de. “Escritores e craques”. Veredas. Ano 7, n. 74. Rio de Janeiro: Verso Brasil, fev. 2002.
Uma das formas de se formarem palavras na língua portuguesa é por empréstimo de palavras estrangeiras. Alguns desses empréstimos se aportuguesam, como futebol (do inglês football), mas outros mantêm a sua grafia original, como shopping center. 7. De acordo com o texto, por que há tantas palavras de origem inglesa no futebol? Esse fenômeno se restringe ao futebol ou é comum a outros esportes?
8. Façam, em classe, uma lista das palavras de origem inglesa que usualmente aparecem em textos esportivos. Comentem se essas palavras foram aportuguesadas ou mantêm a sua grafia original. Copie, no espaço a seguir, a lista elaborada:
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
petróleo em solo brasileiro muito antes da Petrobras, ousou escalar um full-back e um goal-keeper como personagens de O queijo de Minas ou História de um nó cego. Isso em 1906. Graciliano foi mais conservador. Pedia aos jovens que desentortassem suas colunas com esportes mais nacionais, e não com essas ‘esquisitices que têm nomes que vocês nem sabem pronunciar’. Tinha lá certa razão. Poucos pronunciavam o vocabulário futebolístico como mandava o figurino. Coisa de gringo – nossas primeiras bolas tinham passaporte inglês –, o esporte trazia de quebra uma terminologia exótica. A começar pelo nome de batismo, football. Mas não ficava por aí: o campo era field, os jogadores players; o goleiro, goal-keeper. Segundo o escritor, dramaturgo e cronista esportivo Nelson Rodrigues, uma partida entre Flamengo e Fluminense era anunciada mais ou menos assim pelos jornais da época: ‘Será levado a efeito amanhã, no aprazível field da rua Paissandu, o esperado prélo’ etc. Havia uma enorme distância entre a linguagem do futebol, especialmente no que diz respeito ao jornalismo, e aquilo que já ocorria nos gramados e nos clubes das cidades brasileiras. Na década de 1920, o futebol já era o esporte mais popular do Brasil.”
9. Escreva a sua crônica esportiva defendendo suas opiniões. Para isso, selecione um jogo (de futebol ou de outro esporte que preferir), assista a ele e depois desenvolva o seu ponto de vista a respeito do jogo ou de algo que tenha ocorrido durante esse jogo. Talvez seja oportuno reler a crônica Salivação eunuca de Nelson Rodrigues, com que iniciamos o capítulo. No entanto, antes de começar a escrever, preencha o quadro a seguir, que funcionará como projeto de sua crônica esportiva: 368
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Capítulo 9
30/6/2010 14:15:33
Estrutura da crônica esportiva Ponto de vista
Argumentos
Conclusão
A seguir, troque a sua crônica com um de seus colegas, conforme orientações do professor. Peça-lhe sugestões para melhorá-la. Por sua vez, você também receberá uma crônica de um colega. Localize nela os mesmos elementos básicos que constituíram o seu texto. Preencha, então, o quadro a seguir, com as informações da crônica de seu colega.
Estrutura da crônica esportiva de Ponto de vista
Argumentos
Conclusão
Palavras de origem estrangeira pertencentes ao universo esportivo
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A CRÔNICA DE MEMÓRIAS
Aguilar, José Roberto. Série do futebol 1, 1966. Spray s/ tela; 114 x 146,5 cm. Doação Giuseppe Baccaro. São Paulo: MAC-SP – Museu de Arte Contemporânea de São Paulo.
“Costumo dizer que as mais puras e intensas alegrias da minha vida vieram do futebol. Tive inúmeras outras alegrias, é claro, mas nenhuma tão gratuita e intensa como as que o futebol me proporciona desde 1958, quando tinha seis anos de idade. Em 1958 fomos campeões do mundo pela primeira vez, e podem me perguntar que sei ainda todinho o Hino da Seleção daquele ano. A Copa de 58 foi o momento de revelação do futebol, para mim, e as imagens mais fortes daqueles dias de Copa são do meu pai, de ouvido encostado no rádio, e explodindo em gritos de gol quando chegávamos a ele. Eu só tinha seis anos e ainda nada sabia de futebol, mas gritava junto com meu pai, e sentia nascer em mim a primeira emoção violenta da vida. Naquela época, ouvia-se o jogo pelo rádio, via-se as fotos dos gols uma semana depois, na revista O Cruzeiro, e, se se tivesse sorte, uns dois meses depois podia-se ver os gols no cinema, no jornal que era apresentado antes dos filmes. Outra das imagens que ficou da Copa de 58 foi uma foto na revista, onde Pelé, menino de 16 anos, aparecia abraçado com duas suecas loiríssimas. Para a tacanha mentalidade que predominava em Santa Catarina, na época (e que continua por aí, por baixo dos panos), aquilo era quase um atentado ao pudor. Duas loiras terem a coragem de abraçar um negro? O comentário mais sóbrio dizia que elas não tinham vergonha na cara. Estava fora de cogitação os adultos da época pensarem na probabilidade de, algum dia, seus filhos e netos se miscigenarem com a gloriosa e alegre etnia negra, que tanto adoçou o Brasil. O fato é que, hoje, as miscigenações estão acontecendo vigorosamente, e deverão aumentar de intensidade no futuro, neste país mestiço. E o menino Pelé, na época mais ou menos perdoado por seus gols, pela indecência de abraçar duas loiras, hoje é rei e tem incontestável majestade e um dos orgulhos da minha família, por 370
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Não há dúvidas de que a ideologia machista que ridiculariza a mulher que gosta e entende de futebol está ultrapassada. Uma das maiores escritoras de Santa Catarina nos oferece uma deliciosa crônica sobre o futebol. No entanto, de forma diferente das crônicas de Nelson Rodrigues, a de Urda Alice Klueger narra não as impressões do cronista sobre um jogo específico, mas a memória desse cronista em relação ao futebol.
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exemplo, é ter as fotos da minha irmã Mariana, que é jornalista na África do Sul, entrevistando Pelé em Joanesburgo. Mas falávamos em futebol, e atravessamos, ébrios de patriotismo, aqueles anos de 58 a 62. Em 1962 eu já tinha dez anos e o futebol tinha me fisgado de vez. De novo ouvi os jogos pelo rádio – a televisão não tinha chegado ainda. Naquela Copa, porém, minha alegria ficou um pouco acobertada pela surra que levei quando, num dos gols do Brasil, pulei tanto sobre o sofá novo pé-de-palito que a minha mãe acabara de ganhar, Sofá pé-de-palito, década de 1960. que quebrei o pé-de-palito do mesmo. Mas foi lindo ganhar; ah! como foi! E aí chegamos em 1970, em plena época da televisão, e nunca mais vamos ter uma Seleção como aquela! Por mais que curta História, a minha grande admiração pelo México não advém dos Maias e Astecas, mas do maravilhoso calor humano daquele povo que se colocou, decididamente, a torcer pelo Brasil, depois que o seu país foi eliminado da disputa. Maravilhosos mexicanos, vocês ficaram no meu coração! Na ocasião, eu tinha 18 anos, mas formei um firme propósito: não morrer antes de ver o Brasil campeão de novo, tamanha foi a emoção que vivi. Tive que esperar 24 anos para que tal acontecesse, tive que amargar todas as derrotas do intervalo, mas tinha a certeza de que não iria morrer antes de reviver a intensidade da alegria. Esperei 94 do mesmo jeito que esperara todas as outras copas: de camisa da Seleção, bandeiras na varanda, um monte de simpatias para dar sorte, e coração pulsando na mão. Pode rir quem quiser, mas sou daquelas torcedoras que ouve o Hino Nacional de pé e em silêncio, na frente da televisão, e quase tem um enfarto a cada jogada. Em 94, gravei todos os jogos da nossa Seleção, e aquelas fitas são, hoje, a minha certeza de alegria e de bom humor. Quando alguma coisa não vai bem, quando surgem os problemas e fica difícil sair do baixo astral, eu revejo um dos jogos da World Cup. Não demora muitos minutos para que eu esteja rindo sozinha igual a uma boba, na frente da televisão, o coração aquecido pela mais pura e intensa alegria. Minha meta foi atingida: vi o Brasil campeão mais uma vez. Só que agora não quero morrer sem ver o Brasil campeão de novo. Ah! Futebol, quantas alegrias já me trouxe!”
KLUEGER, Urda Alice. In: Sociedade Escritores de Blumenau. Um rio de letras: antologia de verso e prosa. Blumenau: Nova Letra, 2002.
URDA ALICE KLUEGER (1952- ) – Escritora de Blumenau, pertence à Academia Catarinense de Letras. Pessoa de hábitos simples, gosta muito de ler. Escreveu, entre outras coisas, No tempo das tangerinas, Cruzeiros do Sul e A vitória das vitórias.
A língua portuguesa de chuteiras
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A escritora Urda Alice Klueger escreveu uma crônica narrativa, mas visitando as suas memórias: narra a sua história pessoal como torcedora da seleção brasileira de futebol. Junta a essas memórias impressões pessoais sobre a sua família e a sociedade em que vivia. 10. Encontre trechos da crônica que se refiram ao que é pedido em cada seção do quadro a seguir.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Crônica de Urda Alice Klueger
Impressões da cronista sobre sua família
Impressões da cronista sobre a socidade catarinense
Elementos próprios da época a que se refere a narrativa
1958: “Naquela época, ouvia-se o jogo pelo rádio, via-se as fotos dos gols uma semana depois, na revista O Cruzeiro, e, se se tivesse sorte, uns dois meses depois podia-se ver os gols no cinema, no jornal que era apresentado antes dos filmes”.
O verbo na grande área O que é um verbo? “Verbo é uma palavra de forma variável que exprime o que se passa, isto é, um acontecimento representado no tempo.” (CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Lisboa: João Sá da Costa, 1984.)
Em sua crônica, Klueger propõe uma viagem pelas suas memórias futebolísticas. É natural que o seu texto esteja repleto de marcas do passado. Veja: “Em 1958 fomos campeões do mundo pela primeira vez.” Nessa frase, o passado é marcado, principalmente, por duas formas: • Pela expressão “Em 1958”. • Pelo verbo “ser” no pretérito perfeito do indicativo: fomos.
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Observe:
Flexões do verbo: os verbos variam de acordo com o número, a pessoa, o modo, o tempo, o aspecto e a voz.
• “Em 1958 fomos campeões do mundo pela primeira vez.” • “A Copa de 58 foi o momento de revelação do futebol, para mim.” Fomos e foi são flexões do mesmo verbo: “ser”. Números: os verbos da língua portuguesa admitem dois números: o singular e o plural. É o sujeito (singular ou plural) que determina o número do verbo. Assim:
“Em 1958 fomos campeões do mundo pela primeira vez.” – verbo no plural (fomos) por causa do sujeito plural subentendido (nós). “A Copa de 58 foi o momento de revelação do futebol, para mim.” – verbo no singular (foi) por causa do sujeito singular (a Copa de 58). Pessoa: o verbo tem três pessoas: 1ª pessoa: aquele que fala e corresponde aos pronomes pessoais eu (singular) e nós (plural). “Eu só tinha seis anos.” / “Nós fomos campeões em 58.” 2ª pessoa: aquele com quem se fala e corresponde aos pronomes pessoais tu (singular) e vós (plural). Tu só tinhas seis anos. / Vós fostes campeões em 58. 3ª pessoa: aquele de quem se fala e corresponde aos pronomes pessoais ele, ela (singular) e eles, elas (plural). Ele(a) só tinha seis anos / Eles(as) foram campeões em 58.
OBSERVAÇÃO MUITO IMPORTANTE: na língua portuguesa falada no Brasil, é comum que nos dirijamos àquele(s) com quem falamos por meio do pronome de tratamento “você” (singular) ou vocês (plural). Nesse caso, utilizamos o verbo flexionado na 3ª pessoa, embora não se trate daquele a quem se fala. Você só tinha seis anos. / Vocês foram campeões em 58. Modos: o modo exprime, no verbo, a atitude do enunciador em relação ao fato que enuncia: • Indicativo: o modo da certeza e da realidade. Expressa um fato que o enunciador acredita realmente acontecer em referência ao presente, ao passado ou ao futuro.
Ex.: Afirmo que ela joga bem futebol.
Indicativo
• Subjuntivo: o modo da dúvida. O verbo expressa uma atitude de incerteza, de desejo, de eventualidade, de intenção, de objetivo a ser alcançado ou mesmo de irrealidade. Ex.: Duvido que ela jogue bem futebol.
Subjuntivo
• Imperativo: o modo do pedido. O verbo expressa uma atitude de exortação, de conselho, de convite a uma ação. É também utilizado para a persuasão e a ordem.
Ex.: Jogue bem essa partida, por favor!
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11. Observe:
“Na ocasião, eu tinha 18 anos, mas formei um firme propósito: não morrer antes de ver o Brasil campeão de novo.” O verbo em negrito encontra-se no indicativo ou no subjuntivo? Com base na crônica de Urda Alice Klueger, explique as razões que levaram a narradora a fazer essa escolha.
12. Veja agora este outro trecho da crônica de Urda Alice Klueger:
“Quando alguma coisa não vai bem, quando surgem os problemas e fica difícil sair do baixo astral, eu revejo um dos jogos da World Cup. Não demora muitos minutos para que eu esteja rindo sozinha igual a uma boba, na frente da televisão, o coração aquecido pela mais pura e intensa alegria.”
Há dois verbos destacados: o primeiro está no modo indicativo, e o segundo, no subjuntivo. O uso desses modos foi apropriado? Justifique as escolhas de modo feitas pela narradora.
13. N a letra da música Malandragem, de autoria do Cazuza e interpretada pela Cássia Eller, encontramos o verso “Quem sabe eu ainda sou uma garotinha”. No entanto, o termo “quem sabe” expressa dúvida ou hipótese, assim o verbo “ser” em “eu ainda sou uma garotinha” deveria, mais apropriadamente, estar no subjuntivo, não no indicativo. Reescreva o verbo fazendo a alteração necessária.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Como vê, no uso coloquial da linguagem, o valor afetivo dos modos verbais vale mais do que as regras. Assim, ao expressar “Quem sabe eu ainda sou uma garotinha”, o enunciador imprime à declaração o tom de ser uma coisa quase certa, um “quem sabe” de quem já sabe a resposta. Tempos: o tempo indica o momento em que ocorre o fato expresso pelo verbo. Os verbos apresentam flexões de tempo no modo indicativo e no modo subjuntivo. Os gramáticos nos ensinam que há três tempos naturais: presente, pretérito (ou passado) e futuro. O pretérito e o futuro se subdividem no modo indicativo e no modo subjuntivo. Veja o esquema a seguir:
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Capítulo 9
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Indicativo:
Presente:
jogo
Pretérito: imperfeito:
jogava
perfeito:
simples:
joguei
composto: tenho jogado
simples:
mais-que-perfeito:
jogara
composto: tinha (ou havia) jogado
simples:
Futuro:
do presente:
jogarei
composto: terei (ou haverei) jogado
simples:
do pretérito:
jogaria
composto: teria (ou haveria) jogado
Subjuntivo: Presente:
jogue
jogasse
Pretérito: imperfeito:
perfeito:
tenha (ou haja) jogado
mais-que-perfeito:
tivesse (ou houvesse) jogado
Futuro:
simples:
jogar
composto: tiver (ou houver) jogado
14. Visitar as memórias é um procedimento literário muito comum. Leia, com atenção, o trecho a seguir do romance O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger, e complete o texto, empregando os tempos verbais apropriados.
“Estava lendo um livro que * (apanhar) tinha apanhado por engano na biblioteca. Me deram o livro errado e só * (notar) notei quando já * (estar) e stava de volta no quarto. Haviam me dado Fora da África, de Isak Dinesen. * (pensar) Pe nsei que ia ser uma droga, mas não * (ser) era não. Até que era um livro muito bom. Sou bastante ignorante, mas leio um bocado. Meu autor preferido é meu irmão D. B. e, em segundo lugar, Ring Lardner. Meu irmão me * (dar) d eu um livro do Ring Lardner no meu aniversário, antes de eu ir para o Pencey. * (ter) Tin ha uma porção de peças malucas, engraçadas pra burro, e um conto sobre um guarda de trânsito que se apaixona por uma garota muito bonita, que dirigia sempre em excesso de velocidade. Só que o guarda era casado, e por isso não * (poder) po dia casar com ela nem nada. Aí a garota acaba morrendo, porque dirigia sempre em excesso de velocidade. * (achar) Ac hei essa estória infernal. O que eu gosto mesmo é de um livro que seja A língua portuguesa de chuteiras
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SALINGER, J. D. O apanhador no campo de centeio. Tradução de Álvaro de Alencar, Antônio Rocha e Jório Dauster. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 2003.
J. D. SALINGER (1919- ) – O paulistano Washington Olivetto foi considerado, em 2002, como um dos 25 melhores do mundo em sua área: publicidade. Em entrevista ao jornal O Globo (3-3-2002), o publicitário afirma que foi lendo O apanhador no campo de centeio que ele aprendeu a escrever. Vale a pena conferir essa genial obra do escritor norte-americano J. D. Salinger que conta como um adolescente, Holden Caulfield, enfrenta as armadilhas que a sociedade preparou, numa história repleta de acontecimentos inesperados.
A que escritor, lido este ano, você gostaria de poder telefonar? Registre no seu diário.
15. Escreva uma crônica de memórias de sua formação como leitor. Certifique-se de usar apropriadamente os modos e tempos verbais, como estudamos neste capítulo. 16. A seguir, troque a sua crônica com um de seus colegas, compare-a com a de Urda. Que diferenças e semelhanças encontrou para além dos assuntos diferentes? Complete então o quadro a seguir, usando as informações da crônica de seu colega. Crônica de Impressões da cronista sobre sua família
Impressões da cronista sobre a sociedade em que vive
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
engraçado, pelo menos de vez em quando. * (ler) L i uma porção de livros clássicos, como A volta do nativo, e tudo, e * (gostar) g ostei deles; * (ler) li também vários livros de guerra e de mistério, mas nenhum desses me deixou maluco. Bom mesmo é o livro que quando a gente acaba de ler fica querendo ser um grande amigo do autor, para se * (poder) po der telefonar para ele toda vez que der vontade. Mas isso é raro de acontecer. Eu até que * (gostar) go staria de telefonar para esse tal de Ring Lardner, só que o D. B. me * (dizer) disse que ele já morreu. Mas, por exemplo, esse livro do Somerset Maugham, A servidão humana, que li no verão passado. É um livro bom pra chuchu e tudo, mas não me dá vontade de telefonar para o Somerset Maugham. Sei lá. Não é o tipo de sujeito que a gente tenha vontade de telefonar para ele, essa é que é a verdade.”
Elementos próprios da época a que se refere a narrativa
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Capítulo 9
30/6/2010 14:15:45
QUEM CONTA UM CONTO... Entre todos os gêneros narrativos, o conto é um dos mais populares. Mas, o que é um conto? O que faz de alguém um contista? O contista explora, num olhar intenso, uma situação real ou imaginária. Em outras palavras, o conto explora, de forma intensa, uma única situação que desenvolve por meio de um ou mais pontos de vista, espaço, tempo, personagens e trama. No conto que vamos ler, de Antônio de Alcântara Machado, o narrador fala da cidade de São Paulo do início do século XX, destacando a rivalidade entre o Corinthians e o Palestra Itália (atual Palmeiras). A agilidade, característica do estilo do autor, ajuda a transmitir melhor o dinamismo do jogo e a empolgação da torcida.
São Paulo, por volta de 1923. Autor desconhecido.
Corinthians (2) vs. Palestra (1) “Prrrrii! – Aí, Heitor! A bola foi parar na extrema esquerda. Melle desembestou com ela. A arquibancada pôs-se em pé. Conteve a respiração. Suspirou: – Aaaah! Miquelina cravava as unhas no braço gordo da Iolanda. Em torno do trapézio verde a ânsia de vinte mil pessoas. De olhos ávidos. De nervos elétricos. De preto. De branco. De azul. De vermelho. Delírio futebolístico no Parque Antártica. Camisas verdes e calções negros corriam, pulavam, chocavam-se, embaralhavam-se, caíam, contorcionavam-se, esfalfavam-se, brigavam. Por causa da bola de couro amarelo que não parava, que não parava um minuto, um segundo. Não parava. – Neco! Neco! Parecia um louco. Driblou. Escorregou. Driblou. Correu. Parou. Chutou. – Gooool! Gooool! Miquelina ficou abobada com o olhar parado. Arquejando. Achando aquilo um desaforo, um absurdo. Aleguá-guá-guá! Aleguá-guá-guá! Hurra! Hurra! Corinthians! Palhetas subiram no ar. Com os gritos. Entusiasmos rugiam. Pulavam. Dançavam. E as mãos batendo nas bocas: – Go-o-o-o-o-o-ol!
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Miquelina fechou os olhos de ódio. – Corinthians! Corinthians! Tapou os ouvidos. – Já me estou deixando ficar com raiva! A exaltação decresceu como um trovão. – O Rocco é que está garantindo o Palestra. Aí, Rocco! Quebra eles sem dó! A Iolanda achou graça. Deu risada. – Você está ficando maluca, Miquelina. Puxa! Que bruta paixão! Era mesmo. Gostava do Rocco, pronto. Deu o fora no Biagio (o jovem e esperançoso esportista Biagio Panaiocchi, diligente auxiliar da firma desta praça G. Gasparoni & Filhos e denodado meia-direita do S. C. Corinthians Paulista, campeão do Centenário) só por causa dele. – Juiz ladrão, indecente! Larga o apito, gatuno! Na Sociedade Beneficente e Recreativa do Bexiga toda a gente sabia de sua história com o Biagio. Só porque ele era frequentador dos bailes dominicais da Sociedade não pôs mais os pés lá. E passou a torcer para o Palestra. E começou a namorar o Rocco. – O Palestra não dá pro pulo! – Fecha essa latrina, seu burro! Miquelina ergueu-se na ponta dos pés. Ergueu os braços. Ergueu a voz: – Centra, Matias! Centra, Matias! Matias centrou. A assistência silenciou. Imparato emendou. A assistência berrou. – Palestra! Palestra! Aleguá-guá! Palestra Aleguá! Aleguá! O italianinho sem dentes com um soco furou a palheta Ramenzoni de contentamento. Miquelina nem podia falar. E o menino de ligas saiu de seu lugar, todo ofegante, todo vermelho, todo triunfante, e foi dizer para os primos corinthianos na última fileira da arquibancada: – Conheceram, seus canjas? O campo ficou vazio. – Ó... lh’a gasosa! Moças comiam amendoim torrado sentadas nas capotas dos automóveis. A sombra avançava no gramado maltratado. Mulatas de vestidos azuis ganham beliscões. E riam. Torcedores discutiam com gestos. – Ó... lh’a gasosa! Um aeroplano passeou sobre o campo. Miquelina mandou pelo irmão um recado ao Rocco. – Diga pra ele quebrar o Biagio que é o perigo do Corinthians. Filipino mergulhou na multidão. Palmas saudaram os jogadores de cabelos molhados. Prrrrii! – O Rocco disse pra você ficar sossegada. Amilcar deu uma cabeçada. A bola foi bater em Tedesco que saiu correndo com ela. E a linha toda avançou. – Costura, macacada! Mas o juiz marcou um impedimento. – Vendido! Bandido! Assassino! Turumbamba na arquibancada. O refle do sargento subiu a escada. – Não pode! Põe pra fora! Não pode! Turumbamba na geral. A cavalaria movimentou-se.
Capítulo 9
30/6/2010 14:15:47
Miquelina teve medo. O sargento prendeu o palestrino. Miquelina protestou baixinho: – Nem torcer a gente pode mais! Nunca vi! – Quantos minutos ainda? Oito. Biagio alcançou a bola. Aí, Biagio! Foi levando, foi levando. Assim, Biagio! Driblou um. Isso! Fugiu de outro. Isso! Avançava para a vitória. Salame nele, Biagio! Arremeteu. Chute agora! Parou. Disparou. Parou. Aí! Reparou. Hesitou. Biagio Biagio! Calculou. Agora! Preparou-se. Olha o Rocco! É agora. Aí! Olha o Rocco! Caiu. – CA-VA-LO! Prrrrii! – Pênalti! Miquelina pôs a mão no coração. Depois fechou os olhos. Depois perguntou: – Quem é que vai bater, Iolanda? – O Biagio mesmo. – Desgraçado. O medo fez silêncio. Prrrrii! Pan! – Go-o-o-o-ol! Corinthians! – Quantos minutos ainda? Pri-pri-pri! – Acabou, Nossa Senhora! Acabou. As árvores da geral derrubaram gente. – Abr’a porteira! Rá! Fech’a porteira! Prá! O entusiasmo invadiu o campo e levantou o Biagio nos braços. – Solt’o rojão! Fiu! Rebent’a bomba! Pum! CORINTHIANS! O ruído dos automóveis festejava a vitória. O campo foi-se esvaziando como um tanque. Miquelina murchou dentro de sua tristeza. – Que é – que é? É jacaré? Não é! Miquelina nem sentia os empurrões. – Que é – que é? É tubarão? Não é! Miquelina não sentia nada. – Então que é? CORINTHIANS! Miquelina não vivia. Na Avenida Água Branca os bondes formando cordão esperavam campainhando o zé-pereira. – Aqui, Miquelina. Os três espremeram-se no banco onde já havia três. E gente no estribo. E gente na coberta. E gente nas plataformas. E gente do lado da entrevia. A alegria dos vitoriosos demandou a cidade. Berrando, assobiando e cantando. O mulato com a mão no guindaste é quem puxava a ladainha: – O Palestra levou na testa! E o pessoal entoava: – Ora pro nobis! Ao lado de Miquelina o gordo de lenço no pescoço desabafou: Tudo culpa daquela besta do Rocco!
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MACHADO, Antônio de Alcântara. Brás, Bexiga, Barra Funda e outros contos. São Paulo: Moderna, 1997.
ANTÔNIO DE ALCÂNTARA MACHADO (1901-1935) – Esse escritor pertence ao que se tem chamado de primeira fase do modernismo brasileiro, que oficialmente vai de 1922 a 1930. A maioria dos escritores que escreveram nessa época estava preocupada em combater a literatura tradicional, atacando a ideia de que fazer literatura significava falar difícil, de uma forma diferente daquela falada pelo povo comum. Os modernistas propõem uma revolução na linguagem literária, tentando aproximá-la das variantes coloquiais. Isso explica o estilo ágil de Antônio de Alcântara Machado – feito de frases curtas e dinâmicas, expressas numa linguagem coloquial. A renovação modernista foi além da linguagem: procuraram novos temas, situações de vida e personagens para as suas obras. Antônio de Alcântara Machado, por exemplo, se concentra nos imigrantes que viviam em São Paulo e lutavam para sobreviver em meio a uma sociedade que crescia e se industrializava.
17. Discuta, em classe, a sua compreensão do texto. 18. O conto de Antônio Alcântara Machado aproxima-se da linguagem coloquial. Transcreva uma frase do conto que comprove essa afirmação.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Ouviu, não é Miquelina? Você ouviu? – Não liga pra esses trouxas, Miquelina. Como não liga? – O Palestra levou na testa! Cretinos. – Ora pro nobis! Só a tiro. – Diga uma cousa, Iolanda. Você vai hoje na Sociedade? – Vou com o meu irmão. – Então passa por casa que eu também vou. – Não! – Que bruta admiração! Por que não? – E o Biagio? – Não é de sua conta. Os pingentes mexiam com as moças de braço dado nas calçadas.”
19. Transcreva a parte do texto a que se refere a seguinte explanação:
Para falar dos numerosos torcedores que descem juntos dos galhos das árvores, o narrador utiliza-se da personificação.
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Capítulo 9
30/6/2010 14:15:50
20. Preencha o quadro a seguir com referência ao conto Corinthians (2) vs. Palestra (1). “Corinthians (2) vs. Palestra (1)”
Conto: gênero narrativo caracterizado por ser breve (como a crônica), em que se economizam os elementos narrativos (tempo, espaço, personagens, enredo) por meio da intensidade do olhar do narrador sobre momentos especiais da vida. Ou seja, o contista procura conseguir, com o mínimo de meios, o máximo de efeitos. Além disso, cada conto adquire características próprias da época histórica e do lugar em que é produzido, assim como da forma como o autor organiza a história.
Personagem primária ou protagonista
Personagens secundárias ou deuteragonistas
Tempo
Espaço
Ação
Um aspecto importante do conto de Antônio de Alcântara Machado é o final aberto. Chamamos de final aberto aquele que não é dado pelo narrador, mas fica a cargo do leitor. Como assim? Se retornar ao conto, verá que ficamos sem saber por que Miquelina decide sair à noite com sua amiga Iolanda, deixando o Rocco para trás e sabendo que veria o Biagio. Será que o fato de Biagio haver sido responsável pelo gol da vitória do Coríntians mudara os sentimentos de Miquelina? Ou será que ela estava com raiva do Rocco porque ele não soube expulsar o Biagio de campo sem cometer o pênalti que terminou dando a vitória para o adversário? Ou...? Há uma relação entre o sentimento de admiração pelo jogador e o amor? Ou será que é apenas frustração de Miquelina?
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O VERBO NO CONTO CORINTHIANS (2) vs PALESTRA (1) O estilo ágil e dinâmico da narrativa de Antônio de Alcântara Machado não surge do nada, mas é o resultado de um cuidadoso trabalho com a língua portuguesa. Uma das forças expressivas nesse conto é o verbo. Observe: • A Iolanda achou graça. Deu risada. • Mulatas de vestidos azuis ganham beliscões. E riam. “Deu risada” é a mesma coisa que “riu”? E “riam” é a mesma coisa que “davam risada”? A expressão “deu risada” constrói-se com um verbo que se apoia no complemento (objeto direto) para constituir um significado global correspondente ao de um outro verbo existente na língua portuguesa. Veja:
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21. O final do conto CORINTHIANS (2) vs. PALESTRA (1) abre-se a várias possibilidades. Crie a sua, construindo um final fechado para o conto. Procure, no entanto, seguir o mais próximo que puder, o estilo ágil e dinâmico de Antônio de Alcântara Machado. Verifique também se está usando apropriadamente os conectivos. Ao final, peça a um de seus colegas que leia o seu texto e que lhe dê sugestões para melhorá-lo.
“Iolanda deu risada. = Iolanda riu. Iolanda soltou um grito doloroso. = Iolanda gritou dolorosamente. “Amílcar deu uma cabeçada. = Amílcar cabeceou. O cara deu uma investida na mina, tá ligado? = O cara investiu na mina, tá ligado? O médico faz visitas semanalmente ao enfermo. = O médico visita semanalmente o enfermo.
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Capítulo 9
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João tomou banho e saiu. = João banhou-se e saiu. Note que as construções compostas correspondem a outras construções simples com o mesmo significado básico, mas, por vezes, estranhas ao uso no Brasil. É o caso do verbo “banhar-se” (por “tomar banho”), raramente usado no Brasil. Outra construção composta apenas por verbos é a locução verbal. “Amilcar deu uma cabeçada. A bola foi bater em Tedesco que saiu correndo com ela.” Observe que a forma verbal “foi bater” é formada por dois verbos – “foi” (verbo ir no pretérito perfeito) e “bater” (infinitivo) – e corresponde a um, pois equivale a “bateu”. O mesmo ocorre com “saiu correndo” que equivale a “correu”.
A construção formada por dois ou mais verbos com o valor de um é denominada perífrase verbal ou locução verbal. O último dos verbos é que expressa a verdadeira ação que se quer manifestar. O(s) outro(s) auxiliar(es) expressa(m) o modo, o tempo, a pessoa, ou seja, a ideia acessória da ação. A locução verbal é sempre composta de um ou mais verbos auxiliares mais um verbo principal em uma forma nominal – no infinitivo, no gerúndio ou no particípio.
• Locução verbal com verbo principal no infinitivo: A bola foi bater em Tedesco. • Locução verbal com o verbo principal no gerúndio: que saiu correndo com ela. • Locução verbal com o verbo principal no particípio: O Rocco disse pra você ficar sossegada. Nas locuções verbais, conjuga-se apenas o verbo auxiliar, pois o verbo principal vem sempre numa das formas nominais. Quando a locução verbal é constituída de formas dos verbos auxiliares ter e haver mais o particípio do verbo principal, temos um tempo composto. • Marcos já havia telefonado (ou tinha telefonado) para Telma quando a notícia chegou. • Marcos já telefonara para Telma quando a notícia chegou. Na primeira frase, a forma verbal destacada está no pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo e equivale ao pretérito mais-que-perfeito simples do indicativo. A consulta a uma gramática é essencial para você esclarecer as suas dúvidas quanto à conjugação dos verbos. 22. As frases seguintes usam construções compostas, tanto formadas por “verbo” + “objeto direto”, com valor de um único verbo, como por locuções verbais. Reescreva-as, utilizando as formas simples correspondentes.
Observe que é o verbo auxiliar que orienta o tempo do verbo na forma simples.
a) João está lendo Nelson Rodrigues nestas férias.
Resposta: João lê Nelson Rodrigues nestas férias.
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b) “A bola foi parar na extrema esquerda.”
c) “O Rocco é que está garantindo o Palestra.”
e) A menina abriu um riso luminoso.
f) O homem ficou se lamentando a noite toda.
g) “Em 1962 eu já tinha dez anos e o futebol tinha me fisgado de vez.”
É muito importante destacar que a escolha entre construções compostas ou simples permite efeitos de sentido especiais dentro do texto. Veja: Frase 1: “Parecia um louco. Driblou. Escorregou. Driblou. Correu. Parou. Chutou.” Frase 2: Estava parecendo um louco. Deu um drible. Levou um escorregão. Saiu correndo. Ficou parado. Deu um chute. 23. A frase 1 foi transcrita do texto. A frase 2 foi transformada: as formas verbais simples tornaram-se compostas. Em qual das duas frases o autor consegue imprimir ao seu texto maior sugestão de velocidade? Por quê?
Como vê, a escolha da melhor construção verbal para a elaboração do texto não se dá ao acaso. No conto de Antônio de Alcântara Machado, o uso dos verbos, em construções simples ou compostas, permitiu diferentes efeitos de sentidos dentro do texto. Um deles é deixar a narrativa mais rápida em certos momentos, com frases formadas apenas por verbos simples (como em “Parou. Disparou. Parou.” em que as três frases são formadas cada uma por um verbo simples no pretérito perfeito do indicativo) ou mais lenta em outros, utilizando-se de perífrases verbais ou de construções com verbo esvaziado de significado mais objeto direto (como em “Miquelina ficou abobada com o olhar parado”, em vez de simplesmente “Miquelina espantou-se”.). 384
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Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
d) Joana tomou conhecimento do seu curriculum ontem.
Capítulo 9
30/6/2010 14:15:53
Alguns dos efeitos de sentido possíveis: “O ruído dos automóveis festejava a vitória. O campo foi-se esvaziando como um tanque. Miquelina murchou dentro de sua tristeza.” Tanto em “O ruído dos automóveis festejava a vitória” como em “O campo foi-se esvaziando como um tanque”, os verbos indicam uma ação durativa, ou seja, que se estende no tempo. Já em “Miquelina murchou dentro de sua tristeza”, indica-se uma ação pontual, que ocorreu uma única vez. Miquelina teve uma forte reação diante de toda aquela alegria que a circundava: ela “murchou”, ou seja, ficou triste, não foi algo gradativo, mas algo que aconteceu de uma hora para outra – ela torcera até o último momento, mas, quando a derrota se abateu no time de seu namorado, sendo ele um dos principais responsáveis pela derrota, ela “murchou”.
Aspecto verbal: “designa uma categoria gramatical que manifesta o ponto de vista do qual o locutor considera a ação expressa pelo verbo”.
O pênalti que Rocco comete no Biaggio é um dos mais dramáticos no conto. Nesse momento, os verbos são responsáveis por muito do clima de tensão. Vejamos: Biagio alcançou a bola. Aí, Biagio! Foi levando, foi levando. Assim, Biagio! Driblou um. Isso! Fugiu de outro. Isso! Avançava para a vitória. Salame nele, Biagio! Arremeteu. Chute agora! Parou. Disparou. Parou. Aí! Reparou. Hesitou. Biagio Biagio! Calculou. Agora! Preparou-se. Olha o Rocco! É agora. Aí! Olha o Rocco! Caiu.
(CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Lisboa: João Sá da Costa, 1984.)
24. Complete o quadro seguinte, separando as construções verbais que indicam um aspecto pontual do verbo daquelas que indicam um aspecto durativo.
Verbos de aspecto pontual
Biagio alcançou a bola.
Verbos de aspecto durativo
Foi levando.
25. Observe as duas colunas. No trecho, domina o aspecto pontual ou durativo? Que efeito de sentido isso provoca no leitor?
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“Delírio futebolístico no Parque Antártica. Camisas verdes e calções negros corriam, pulavam, chocavam-se, embaralhavam-se, caíam, contorcionavam-se, esfalfavam-se, brigavam. Por causa da bola de couro amarelo que não parava, que não parava um minuto, um segundo. Não parava. – Neco! Neco! Parecia um louco. Driblou. Escorregou. Driblou. Correu. Parou. Chutou. – Gooool! Gooool!”
Verbos de aspecto pontual
Verbos de aspecto durativo
27. Em que parágrafo o narrador usa mais verbos no aspecto durativo: no que descreve o correr do jogo ou no que narra o gol de Neco?
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26. Antes disso, no entanto, um outro momento de grande tensão no conto: o primeiro gol do Corinthians na partida. Classifique os verbos da passagem transcrita a seguir conforme o aspecto pontual ou durativo que têm:
28. O uso do aspecto durativo nesse trecho do texto permite (há duas alternativas corretas!): a) descrever um pano de fundo sobre o qual ocorre uma ação importante na narrativa. b) dar mais relevância ao correr do jogo do que aos sentimentos da protagonista. c) delinear um cenário que dilui a importância das outras ações da narrativa. d) definir as características mais marcantes da personagem protagonista. e) caracterizar a confusão própria de um jogo de futebol. 386
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Capítulo 9
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Além da divisão em aspecto pontual e durativo, as perífrases ou locuções verbais podem indicar: • Início do evento (aspecto incoativo):
“E começou a namorar o Rocco.” Tedesco saiu correndo com a bola. “E passou a torcer para o Palestra.”
•
Conclusão do evento (aspecto conclusivo ou cessativo): Acabei de ler o manual. A menina não para de fazer graça. Basta de ouvir calado!
•
O evento se processa de forma contínua (aspecto contínuo): Tenho saído muito para a balada nos últimos tempos. Eu almoço neste restaurante todos os dias. “Costumo dizer que as mais puras e intensas alegrias da minha vida vieram do futebol.”
•
O evento se processa de forma descontínua (aspecto descontínuo): Tornei a sair para as baladas recentemente. Voltei a almoçar como se nada tivesse acontecido. Ela me disse que retomou os estudos recentemente.
Observe que o aspecto contínuo confunde-se com o aspecto durativo: em “Eu almoço neste restaurante todos os dias”, não se separa o aspecto contínuo do durativo. No entanto, o mesmo não se dá entre o aspecto descontínuo e o pontual. “Voltei a almoçar como se nada tivesse acontecido” indica que uma ação que é retomada depois de uma interrupção. A ação de “almoçar”, no entanto, tem um aspecto durativo.
29. Eunice resolveu o seguinte exercício de classificação de verbos segundo o aspecto. Veja como se saiu e ajude-a a melhorar, corrigindo os erros que, por acaso, ela tenha cometido. a) Voltamos a namorar depois de meses – aspecto descontínuo durativo. b) Estamos namorando há dois anos – aspecto contínuo. c) Passei a desconfiar de Joana recentemente – aspecto descontínuo durativo. d) Eu a amava muito – aspecto descontínuo. e) Finalmente se cansou de ouvir as mesmas desculpas – aspecto conclusivo. f) Almocei nesse restaurante ontem – aspecto conclusivo. Aspecto pontual. g) Terminava de almoçar ligeiro e corria para o trabalho – aspecto conclusivo durativo.
Observe que as construções estar + gerúndio têm natureza aspectual durativa, ou seja, indicam uma maior extensão de tempo ocupada pela ação verbal. No entanto, no uso cotidiano da língua, são comuns os abusos. Quando termina de pagar a compra, João escuta do rapaz no caixa: “Agora o senhor pode estar retirando a compra com a vendedora”. Justifica-se o uso dessa perífrase de aspecto durativo? Retirar a compra com a vendedora é uma ação pontual ou se estende por um longo período? É fácil perceber que “o senhor pode estar retirando” é um abuso na utilização do gerúndio. Seria mais apropriado que o caixa dissesse: “Agora o senhor pode retirar a compra com a vendedora”.
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30. Discuta, em classe, outros abusos no uso do gerúndio. Eles estão por todo lado... são muito fáceis de encontrar. Assim, tome cuidado e use o gerúndio com cautela, principalmente quando for escrever! 31. Observe o diálogo a seguir. Encontre os usos inadequados de gerúndio e substitua essa formas verbais por outras mais apropriadas:
– Bom dia! Somos da companhia telefônica e estamos fazendo breves questionários aos usuários de nossos serviços. A senhora poderia estar respondendo a duas perguntinhas muito breves? – Se não estiver demorando muito, sim! – A senhora está gostando de nossos serviços ou está desejando fazer alguma reclamação? – Não, eu até estou gostando... Só a conta que está sempre vindo mais alta do que estou podendo pagar. – Ah! Estou entendendo! A senhora está utilizando Internet? – Não, aqui em casa nós não estamos tendo isso. – Nós estamos oferecendo Internet banda larga em promoção superespecial este mês... É o seu melhor presente de Natal! E a senhora vai estar pagando o menor preço do mercado. Se estiver desejando, eu posso estar confirmando os seus dados, e, esta semana mesmo, um funcionário autorizado estará instalando mais esse serviço da sua companhia telefônica. A senhora estará pagando o preço total em dez vezes sem juros na sua conta mensal. Ela vai estar vindo um pouco mais cara, mas vai estar valendo a pena! – Desculpe, mas nem precisa estar continuando a conversa. Eu não estou me interessando porque eu nem estou tendo computador em casa. Sabe, depois que o meu Tonico morreu, eu só estou me divertindo indo ao bingo... – Ah, estou entendendo! Então bom dia, senhora!
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
– Alô!
– Bom dia! 32. Elisete considera que na frase “Acabo de engraxar os sapatos”, o aspecto é durativo. A professora disse-lhe que não. Ela voltou para casa frustrada. Dê uma explicação que ajude Elisete a compreender o aspecto pontual da locução “acabo de engraxar”. Antes, porém, reveja o conceito de locução verbal.
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Capítulo 9
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33. Você elaborou um outro final para o conto “CORINTHIANS (2) vs. PALESTRA (1)”. Releia-o e procure melhorar o uso que faz dos verbos na narrativa. Identifique os aspectos das perífrases verbais encontradas no texto que escreveu.
HISTÓRIA CRÍTICA DA ARTE E DA LITERATURA: ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO No século XVIII, o pensamento artístico barroco estava desgastado. Uma nova realidade social, econômica, política e cultural despontava no horizonte, traduzindo-se em uma reformulação na maneira de ver a arte. A burguesia era uma classe social cada vez mais forte, principalmente nas cidades. Defensora de uma mudança social baseada no uso da razão que restabelecesse valores morais sérios, como a justiça e o patriotismo, a burguesia foi a principal alavanca para que se iniciasse este novo movimento artístico. O arcadismo ou neoclassicismo procura restaurar o equilíbrio, que os barrocos negavam, por meio do pensamento racional.
Atividade Reúna-se com colegas em grupos de aproximadamente cinco elementos. Cada grupo irá preparar uma pequena exposição oral sobre um dos temas a seguir. Os temas serão distribuídos entre todos os grupos e será estipulado quanto tempo cada grupo terá para se apresentar. Talvez alguns temas tenham de ser compartilhados por dois ou mais grupos. Pesquisem na biblioteca e na Internet, mas tenham certeza das informações apresentadas à classe. Para isso, comparem as informações das diversas fontes pesquisadas. Preparem também um painel resumo que ficará afixado na sala de aula. Nesse painel, não deixem de acrescentar as obras consultadas. Ao apresentar o trabalho para a classe, não se limitem a ler um papel escrito. Procurem manter contato visual com os seus colegas e mantenham um tom de conversa animado na voz. Temas: O Iluminismo. A Primeira Revolução Industrial. A Revolução Francesa. O Ciclo do Ouro na economia brasileira.
A Conjuração Mineira. A Independência da Argentina. A Independência dos Estados Unidos.
Observe: O quadro que vemos aqui representado, do francês Nicolas Poussin, mostra-nos quatro pastores que fazem uma descoberta extraordinária: uma tumba em seus campos serenos que traz uma inquietante mensagem em latim – Et in arcadia ego. Eles examinam a estranha inscrição, meditando em seu significado.
POUSSIN, Nicolas. Et in Arcadia ego (c. 1638-1640). Paris: Museu do Louvre.
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Os árcades do século XVIII também valorizavam o tema do fugere urbem, expressão latina que significa fuga da cidade. O ideal árcade era a vida bucólica, ou seja, no campo, junto à natureza e longe das pressões da cidade. A natureza do campo era projetada num mundo de sonho e perfeição. Ali, os pastores eram vistos como símbolos de uma sociedade perfeita. Claro que essa visão do campo era tão idealizada como a dos antigos poetas gregos. O campo era o lugar da aurea mediocritas, expressão latina que faz referência a uma vida dentro da média, simples, nem rica nem pobre e, por isso mesmo, muito feliz e cheia de realizações. 34. Sublinhe, no poema do árcade Cláudio Manoel da Costa, o trecho que se refere explicitamente ao tema da aurea mediocritas.
Não te cases com Gil, bela serrana; Que é um vil, um infame, um desastrado; Bem que ele tenha mais devesa, e gado, A minha condição é mais humana. Que mais te pode dar sua cabana, Que eu aqui te não tenha aparelhado? O leite, a fruta, o queijo, o mel dourado; Tudo aqui acharás nesta choupana: Bem que ele tange o seu rabil grosseiro, Bem que te louve assim, bem que te adore, Eu sou mais extremoso, e verdadeiro. Eu tenho mais razão, que te enamore: E se não, diga o mesmo Gil vaqueiro: Se é mais, que ele te cante, ou que eu te chore.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
A inscrição é o foco central do quadro, reforçado pelos gestos dos pastores que procuram compreender melhor o significado dessa descoberta incomum. O observador do século XVII que tivesse alguma cultura saberia que a Arcádia relacionava-se à tradição pastoril da antiga Grécia. Historicamente, a Arcádia era uma região montanhosa da Grécia habitada pelos árcades, povo de pastores e caçadores. Os poetas e artistas da Grécia clássica transformaram a Arcádia em um lugar ideal, terra do amor romântico, governado pelo deus da natureza, Pã. Na Arcádia idealizada pelos poetas gregos, a vida era despreocupada e ao ar livre, por isso muito saudável. Como não existiam as preocupações da cidade grande, havia tempo de sobra para tocar instrumentos musicais, como a flauta, e escrever poemas de amor e prazer.
COSTA, Cláudio Manoel da. Poemas. São Paulo: Cultrix, 1966.
Rabil: S.M. Var. de arrabil. Arrabil [S. M. Do árabe ar-rabãb] Rebeca mourisca de uma ou duas cordas friccionáveis com arco tosco e tampo de pele. (Novo dicionário Aurélio de língua portuguesa.)
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CLÁUDIO MANOEL DA COSTA (1729-1789) – Advogado, magistrado e poeta, nasceu em Vila do Ribeirão do Carmo (hoje, Mariana) (MG) e faleceu em Vila Rica (Ouro Preto) (MG). Em 1749, aos 20 anos de idade, seguiu para Lisboa e daí para Coimbra, em cuja Universidade se formou, em 1753. Ali publicou seus primeiros poemas. Nesses livros, ainda é evidente a marca poética do barroco seiscentista. Contudo, em Portugal, também sentira de perto o aspecto renovador do arcadismo, implantado com a fundação da Arcádia Lusitana em 1756. De volta ao Brasil, Cláudio Manuel da Costa chegou a fundar uma Arcádia chamada Colônia Ultramarina, cuja instalação teria sido em 4 de setembro de 1768. Adotou o nome arcádico de Glauceste Satúrnio. A publicação, em 1768, das Obras constitui o marco inicial Cláudio Manoel da Costa. Xilogravura anônima (séc. XVIII). do lirismo arcádico no Brasil. Envolveu-se na Conjuração Mineira. Foi preso em 1789 e encontrado morto em sua cela na prisão da Casa de Contos, após ter delatado seus companheiros.
No quadro de Poussin, a Arcádia é um lugar de silêncio. A frase “Et in Arcadia ego” significa literalmente “Eu também vivi na Arcádia”. A descoberta desse marco de morte na Arcádia deixa os pastores sombrios e pensativos, como se aquela bela terra ideal desconhecesse o seu passado. Observe a figura dos pastores. São figuras delicadas, com traços greco-romanos. Por revisitarem os ideais clássicos, assim como o fizeram os renascentistas, os árcades são também chamados de neoclássicos. Usualmente os poetas árcades chamavam-se de pastores e adotavam pseudônimos de inspiração grega. Os artistas neoclássicos reuniam-se em Arcádias.
Casa de Cláudio Manoel da Costa. Ouro Preto (MG).
Algumas características presentes no barroco recebem nova roupagem no neoclassicismo. Uma delas é o distanciamento amoroso entre os amantes. A arte é espaço não para expressar os sentimentos, mas para imitar os antigos clássicos. O ser amado é idealizado, como se pode comprovar no excerto do árcade brasileiro Tomás Antônio Gonzaga. Ao lê-lo, observe como a visão idealizada da mulher é contrária ao conceito contemporâneo de poesia, defendido por João Cabral de Melo Neto:
“Os teus olhos espalham luz divina, A quem a luz do Sol em vão se atreve: Papoula, ou rosa delicada, e fina, Te cobre as faces, que são cor de neve. Os teus cabelos são uns fios d’ouro; Teu lindo corpo bálsamos vapora. Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora, Para glória de Amor igual tesouro. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!” GONZAGA, Tomaz Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo: Ediouro.
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Fotografia da casa de Tomás Antônio Gonzaga em Ouro Preto (MG).
Outra característica típica da época clássica que vamos encontrar também no neoclassicismo é o tema do carpe diem (aproveite o dia, em latim), que já estudamos em outros artistas, como os poetas Camões e Gregório de Matos.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Tomás Antônio Gonzaga.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA (1744-1819) – Nasceu na cidade do Porto, em Portugal. Fez os estudos primários no Colégio dos Jesuítas, em Salvador (BA), e formou-se em Direito na Universidade de Coimbra (Portugal), em 1768. De volta ao Brasil, passou a viver em Vila Rica (Ouro Preto), onde conviveu com intelectuais e poetas, entre os quais Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa. É o provável autor de Cartas Chilenas, obra anônima, de poemas epistolares satíricos, de oposição ao governador Luís da Cunha Meneses, que circularam em manuscritos em 1786. Em 1792, foi publicada a primeira parte de sua obra poética Marília de Dirceu, em Lisboa (Portugal). Tomás Antônio Gonzaga, cujo nome arcádico é Dirceu, escreveu poesias líricas, com temas pastoris e de galanteio, nas quais o eu-lírico está sempre em diálogo com sua amada, a pastora Marília. Tomás Antônio Gonzaga participou da Conjuração Mineira, em 1789, o que lhe custou a prisão e, posteriormente, o exílio para Moçambique. Tomás Antônio Gonzaga é um dos principais poetas árcades do Brasil. Faleceu em Moçambique.
GAINSBOROUGH, Thomas. Mr. & Mrs. Andrews (c. 1749). Londres: The Board of Trustees of the National Gallery.
35. Que características neoclássicas você consegue identificar nessa reprodução do inglês Thomas Gainsborough?
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36. O que há de comum entre o seguinte poema de Cláudio Manoel da Costa e a pintura Mr & Mrs Andrews de Gainsborough?
XIV “Quem deixa o trato pastoril, amado, Pela ingrata, civil correspondência, Ou desconhece o rosto da violência, Ou do retiro a paz não tem provado. Que bem é ver nos campos, trasladado No gênio do Pastor, o da inocência! E que mal é no trato, e na aparência Ver sempre o cortesão dissimulado! Ali respira Amor sinceridade; Aqui sempre a traição seu rosto encobre; Um só trata a mentira, outro a verdade. Ali não há fortuna que soçobre; Aqui quanto se observa é variedade: Oh! ventura do rico! oh! bem do pobre!” COSTA, Cláudio Manoel da. Poemas. São Paulo: Cultrix, 1966.
A valorização de uma vida feliz e idealizada no campo relaciona-se, na Europa, ao surgimento de um novo público consumidor de arte: a burguesia. O fortalecimento da burguesia promoveu o pensamento iluminista. A Europa tornava-se um polo irradiador de ideias libertárias. Além disso, chegavam ao Brasil as primeiras notícias sobre a Independência dos Estados Unidos (1776). Tais fatores, associados à insatisfação generalizada com a exploração de Portugal, em especial com o constante aumento dos impostos sobre a extração de minérios, culminaram na Inconfidência ou Conjuração Mineira, preparada por um pequeno grupo de intelectuais brasileiros. Em sua maior parte, esse grupo de oposição política era o mesmo que produzia ciência e literatura na época.
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No Rio de Janeiro, nos anos de transição entre os séculos XVIII e XIX, entre uma série de novidades de ordem política e econômica que começam a transformar o País, principalmente a mudança da família real portuguesa para o Brasil, verifica-se o surgimento de diversos órgãos de imprensa. Num arcadismo tardio, encontramos as figuras dos jornalistas Hipólito da Costa, fundador do jornal Correio Braziliense, e Evaristo da Veiga, cronista político do Aurora Fluminense.
“Na literatura [do século XVIII] sobressai um grupo de poetas que nasceram ou viveram em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, quase todos marcados pelo espírito renovador da Arcádia Lusitana, e alguns deles realmente modernos pela escrita e atitude mental. Comecemos por um mais velho, que não se ligou aos outros e foi sob muitos aspectos retardatário, pois adotou a maneira camoniana e não participou da ilustração: o frade agostiniano José de Santa Rita Durão (1722-1784). O seu poema épico Caramuru (1781) é mesmo uma resposta ao pequeno poema Uraguai (1769), onde José Basílio da Gama (1741-1795) manifestava mentalidade ilustrada e antijesuítica. Ambos expunham pela primeira vez um novo modo de ver o confronto entre colonizadores e indígenas, maneira moderna em que sobressai o aspecto de choque das culturas, com um espírito de perplexidade ante a destruição da vida do índio, da qual a análise mostrará aos poetas a validade e adequação. Mas enquanto Basílio da Gama o fez de maneira inovadora, num pequeno poema carregado de modernidade para o tempo, Durão se apegou ao modelo tradicional dos Lusíadas, com a mesma oitava heroica de decassílabos, a mesma divisão em dez cantos, misturando a tradição renascentista a restos do estilo cultista.” CANDIDO, Antonio. Iniciação à literatura brasileira: resumo para principiantes. São Paulo: Humanitas, 1997.
Em Portugal, destaca-se Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805). Portugal, na época de Bocage, era um império em ruínas, imerso no atraso, na decadência econômica e na libertinagem dos políticos, feitos às custas da miséria de servos e operários. Mais conhecido pelos poemas satíricos, Bocage também escreveu poesia lírica de excelente qualidade, principalmente sonetos. O início de sua obra é caracterizado pela obediência às convenções do arcadismo. Contudo, no fim da vida, produziu versos que não podem ser classificados como árcades ou neoclássicos. Em tais poemas, o intenso tom pessoal, a violência na expressão, a obsessão pelo destino e pela morte antecipam a nova escola literária que virá: o romantismo. Por isso, essa fase de sua obra é considerada pelos críticos como pré-romântica.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga são os poetas brasileiros que melhor representam o movimento neoclássico. Ambos participaram da Conjuração Mineira, movimento político que visava à emancipação do Brasil em relação a Portugal. Os poemas de Basílio da Gama e a produção poética de Alvarenga Peixoto e Silva Alvarenga também apresentam traços típicos do arcadismo.
Durante a leitura do soneto, pense em como ele foge da visão árcade de literatura:
“Minh’alma se reparte em pensamentos Todos escuros, todos pavorosos; Pondero quão terríveis, quão penosos São, existência minha, os teus momentos: 394
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Dos males que sofri, cruéis, violentos, A Amor, e aos Fados contra mim teimosos, Outro inda mais tristes, mais custosos Deduzo com fatais pressentimentos. Rasgo o véu do futuro, e lá diviso Novos danos urdindo Amor e aos Fados, Para roubar-me a vida após do siso. Ah! Vem, Marília, vem com teus agrados, Com teu sereno olhar, teu brando riso Furtar-me a fantasia a mil cuidados.” BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1974.
Manuel Maria Barbosa du BOCAGE (1765-1805) – Lírico neoclássico português. Filho de um advogado, fugiu de casa aos 14 anos para juntar-se ao exército. De temperamento violento e aventureiro, envolveu-se em muitos problemas, numa vida boêmia. Esteve na Índia e em Macau, voltando a Portugal em 1790. Ingressou, então, na academia literária Nova Arcádia, usando o pseudônimo de Elmano Sadino. Contudo, o seu temperamento forte fez com que se desentendesse com os outros membros e acabou sendo expulso do grupo. Isso levou a uma longa guerra de versos que envolveu a maior parte dos poetas de Lisboa. Em 1797, acusado de heresia, dissolução dos costumes e ideias republicanas, foi preso. Ao recuperar a liberdade, o poeta passou a cultivar uma imagem nova: a de homem arrependido, digno e bom exemplo como chefe de família.
37. No soneto, o eu-lírico se dirige a dois interlocutores diferentes: um na primeira estrofe, outro na última. Identifique-os.
38. Dentre os diversos sentidos que a palavra “fado” pode ter, qual deles está mais de acordo com o poema?
39. Que características presentes no poema fogem ao pensamento neoclássico?
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D´ONOFRIO, Salvatore. Literatura ocidental: autores e obras fundamentais. São Paulo: Ática, 1990.
Leia com atenção o excerto da obra Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga. Durante a leitura, pense nas palavras do professor Salvatore D´Onofrio ao afirmar que a originalidade do arcadismo brasileiro “reside na adaptação do movimento arcádico à realidade brasileira”.
Lira III “Tu não verás, Marília, cem cativos tirarem o cascalho e a rica terra, ou dos cercos dos rios caudalosos, ou da minada serra. Não verás separar ao hábil negro do pesado esmeril a grossa areia, e já brilharem os granetes de oiro no fundo da bateia. Não verás derrubar os virgens matos, queimar as capoeiras inda novas, servir de adubo à terra a fértil cinza, lançar os grãos nas covas. Não verás enrolar negros pacotes das secas folhas do cheiroso fumo; nem espremer entre as dentadas rodas da doce cana o sumo.
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“No Brasil, a ‘inteligência’ francesa, formada pelos escritores ligados ao movimento do Iluminismo, e o estilo artístico do arcadismo italiano e português lançaram as bases estético-ideológicas da primeira grande escola da poesia em nossa terra: o lirismo dos inconfidentes mineiros. Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), Inácio José de Alvarenga Peixoto (17441792) e Manuel Inácio da Silva Alvarenga (1749-1814) constituem uma plêiade de poetas líricos que divulgam na colônia motivos e formas poéticas do Neoclassicismo europeu, inspirando-se em grandes poetas – Petrarca, Camões, Tasso, Metastasio. Sua originalidade reside na adaptação do movimento arcádico à realidade brasileira.”
Verás em cima da espaçosa mesa altos volumes de enredados feitos; ver-me-ás folhear os grandes livros, e decidir os pleitos. Enquanto revolver os meus consultos, tu me farás gostosa companhia, lendo os fastos da sábia, mestra História, e os cantos da poesia. 396
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Lerás em alta voz, a imagem bela; eu, vendo que lhe dás o justo apreço, gostoso tornarei a ler de novo o cansado processo. Se encontrares louvada uma beleza, Marília, não lhe invejes a ventura, que tens quem leve à mais remota idade a tua formosura. A poesia dos Inconfidentes: poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1996.
40. Como se nota a realidade brasileira do século XVIII no trecho lido de Marília de Dirceu?
41. Que aspectos biográficos de Tomás Antônio Gonzaga encontramos no excerto?
42. O que há de comum entre o poema de Bocage e o trecho lido de Tomás Antônio Gonzaga?
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Até os dias de hoje, a burguesia que mora na cidade idealiza uma vida feliz e tranquila no campo, bem ao estilo defendido pelo arcadismo. Em 1971, fez sucesso a composição Casa no campo, na voz de Elis Regina.
Casa no campo
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“Eu quero uma casa no campo onde eu possa compor muitos rocks rurais e tenha somente a certeza dos amigos do peito e nada mais. Eu quero uma casa no campo onde eu possa ficar do tamanho da paz e tenha somente a certeza dos limites do corpo e nada mais. Eu quero carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim. Eu quero o silêncio das línguas cansadas. Eu quero a esperança de óculos, um filho de cuca legal Eu quero plantar e colher com a mão a pimenta e o sal. Eu quero uma casa no campo do tamanho ideal, pau-a-pique e sapê onde eu possa plantar meus amigos meus discos, meus livros e nada mais.” Zé Rodrix e Tavito.
Elis Regina.
43. Que aspectos dessa letra de música são também encontrados no arcadismo?
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Atividade Associar produções culturais contemporâneas a obras clássicas do passado pode ser uma excelente maneira de constatar que o ser humano pouco mudou com o passar dos séculos e que manteve a sua essência. Aquilo que motivou a escrita de um poema do arcadismo também poderá ter motivado um escritor ou um compositor, nos dias de hoje, a escrever. Forme um grupo. Cada grupo escolherá um poema de um dos escritores a seguir e procurará uma letra de música contemporânea que aborde o mesmo tema do poema selecionado. Além disso, elaborará uma pequena biografia do autor e um texto que identifique as semelhanças e diferenças entre os textos. Autores: 1. Manuel Maria Barbosa Du Bocage. 2. Tomás Antônio Gonzaga. 3. Cláudio Manoel da Costa. 4. Inácio José de Alvarenga Peixoto.
Pausa para reflexão Em seu caderno, responda às questões a seguir. I. Que conteúdos deste capítulo conseguiria explicar sem consultar o livro? II. Consultando o livro, identifique os conteúdos deste capítulo que, na sua opinião, não foram bem compreendidos e merecem novas explicações ou atividades de reforço. III. Participou das atividades com interesse? Em que aspectos poderá melhorar nas próximas aulas?
Para ler O torcedor do América F. C. (João Cabral de Melo Neto)
O desábito de vencer Não cria o calo da vitória; não dá à vitória o fio cego nem lhe cansa as molas nervosas. Guarda-a sem mofo: coisa fresca, pele sensível, núbil, nova, ácida à língua qual cajá, salto do sol no Cais da Aurora. JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920-1999) – Natural do Recife (PE), é considerado um dos principais poetas brasileiros do século XX. Amante de futebol, foi campeão juvenil pelo Santa Cruz Futebol Clube, em 1935. O poeta considera a poesia como produto do árduo trabalho racional, numa elaboração quase matemática. Seus poemas abordam o Nordeste e seus problemas sociais, bem como os diferentes países que conheceu como diplomata e, é claro, o futebol.
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Recapitulando nosso aprendizado O futebol e a linguagem
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Elabore, uma resenha crítica sobre este capítulo, seguindo as estratégias textuais abordadas neste livro.
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VIVENDO O FUTURO Caiu no vestibular Para enfrentar com sucesso um exame de acesso ao ensino superior, não basta saber os conceitos; mas é fundamental encontrar os conceitos estudados na prática social diária. Vejamos um exemplo disso nesta questão da Fuvest: Observe, ao lado, esta gravura de Escher: Na linguagem verbal, exemplos de aproveitamento de recursos equivalentes aos da gravura de Escher encontram-se, com frequência,
a) nos jornais, quando o repórter registra uma ocorrência que lhe parece extremamente intrigante. b) nos textos publicitários, quando se comparam dois produtos que têm a mesma utilidade. c) na prosa científica, quando o autor descreve com isenção e distanciamento a experiência de que trata. d) na literatura, quando o escritor se vale das palavras para expor procedimentos construtivos do discurso. e) nos manuais de instrução, quando se organiza com clareza uma determinada sequência de operações. O que vemos na gravura de Escher? De uma forma muito simplificada, podemos afirmar que vemos duas mãos se desenhando. O desenho volta-se para o próprio desenho, ao representar o ato de desenhar. Uma mão desenha a outra e é esse ato que permitirá a sua existência. Em outras palavras, é o desenho que expõe os procedimentos de construção do próprio desenho. Agora é fácil encontrar a alternativa correta... A alternativa D.
1. Que conteúdos de linguagem são necessários dominar para resolver bem essa questão?
No fundo trata-se de compreender a metalinguagem, além, é claro, da competência de leitura. Note que em todas as outras alternativas, o texto se distancia do assunto tratado, o que não é o caso na gravura, em que o texto é o próprio assunto tratado. Mas, como vê, para resolver essa questão não bastava saber a definição de um conteúdo. O mesmo ocorre com a questão a seguir, do Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM): No ano passado, o governo promoveu uma campanha a fim de reduzir os índices de violência. Noticiando o fato, um jornal publicou a seguinte manchete: CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA FASE A manchete tem um duplo sentido, e isso dificulta o entendimento. Considerando o objetivo da notícia, esse problema poderia ter sido evitado com a seguinte redação: a) Campanha contra o governo do Estado e a violência entram em nova fase. b) A violência do governo do Estado entra em nova fase de Campanha. c) Campanha contra o governo do Estado entra em nova fase de violência. d) A violência da campanha do governo do Estado entra em nova fase. e) Campanha do governo do Estado contra a violência entra em nova fase. O duplo sentido ou ambiguidade da frase em questão se deve a que, na ordem em que as palavras estão dispostas, o termo “do governo do Estado” pode referir-se tanto a “campanha” quanto a “violência”. Assim, dois sentidos diferentes são possíveis
A comunicação e a sociedade
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1) “Campanha contra a violência praticada pelo governo do Estado entra em nova fase”. ou 2) “Campanha do governo do Estado contra a violência entra em nova fase.” É o início do enunciado da questão que nos assegura a segunda escolha: “o governo promoveu uma campanha a fim de reduzir os índices de violência” ou seja, falamos aqui da Campanha do governo do Estado contra a violência. Assim, a resposta correta é a alternativa E. Experimente utilizar-se de seus conhecimentos desenvolvidos neste livro ao resolver as questões a seguir: (PUC-RS) INSTRUÇÃO: Responder às questões 1 a 7 com base no texto a seguir: Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
Um bebê na universidade
01 Depois do bebê de proveta, os cientistas conseguirão, 02 um dia, abreviar o tempo de gestação para trinta dias? Por 03 mais incômoda que _____ ser a gravidez, as mães, em geral, 04 conformam-se com este indispensável prazo biológico, e não 05 há notícias _____ tentado, de alguma forma, apressar o ciclo 06 de desenvolvimento do embrião. O mesmo fazem os 07 agricultores: esperam, pacientemente, que a semente 09 germine e a planta cresça com seu próprio ritmo (o agricultor, 10 necessariamente, tem que aprender a ter paciência, 11 esperança e previsão). Quando o crescimento biológico 12 perde seu ritmo natural, transforma-se em “câncer”, 13 deformando o projeto contido no código genético. 14 Com o ser humano, de maneira estranha, logo que a 15 criança nasce, inicia-se violenta pressão para que supere 16 rapidamente suas etapas de crescimento. 17 Quem trabalha com crianças pequenas, em escolas 18 maternais e em jardins de infância, conhece a “corrida ao 19 pau-de-sebo”. Enquanto a criança não aprendeu a ler, os 20 pais toleram que a escola experimente os mais diversos 21 métodos e que siga as teorias mais modernas. Mas quando 22 chega a idade tradicional de alfabetização, os pais perguntam 23 se tudo aquilo não é apenas brincadeira e diversão. É 24 que a alfabetização é o primeiro know-how contabilizável, 25 isto é, com valor econômico, numa sociedade competitiva. 26 Daí para a frente, o problema é fazer a criança entrar na 27 corrida curricular, transpor rapidamente o primeiro grau, 28 entrar no segundo grau e, finalmente, o mais cedo possível, 29 enfrentar o vestibular. Transposta essa barreira, cessa a angústia: 30 o garoto está equipado para a luta pela vida. Ninguém 31 pergunta se se obedeceu aos ritmos de amadurecimento, se 32 a escola realmente deu oportunidade à estruturação mental, 33 se a criança foi feliz durante esse período de crescimento. 34 A entrada na quinta série, por exemplo, exige o amadurecimento 35 das estruturas lógico-abstratas, sem o que toda 36 aprendizagem se transforma em mera justaposição, que logo 37 é eliminada por falta de estruturas de assimilação. O ingresso 38 na universidade só deveria ser feito depois de, digamos, 39 21 anos, quando o jovem tivesse plena maturidade para manipular 40 a complexidade dos processos científicos. O resultado 41 é uma chusma de doutorezinhos imaturos e semiIetrados, 42 sem o mínimo poder de reflexão, com a cabeça cheia 43 de coisas decoradas. Mas os pais estão felizes de Ihes terem 44 fornecido o diploma, espécie de tacape com que enfrentarão 45 os adversários na “luta por um lugar ao sol”. O 46 resultado é semelhante ao que se obtém amadurecendo frutas 47 à força, por processos artificiais... E para onde vão todos 48 nessa corrida? Perde-se o sentido de viver a vida em troca 49 de subir rápido no “pau-de-sebo”. Lauro de Oliveira Lima. Temas piagetanos. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico,1984 (adaptado).
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1) As palavras que completam corretamente as lacunas do texto são a) possa – de que – tenham b) pudesse – que – tenham c) poderia – que – tivessem d) pode – de que – tenha-se e) pode – que – tenham 2) Todas as afirmativas estão corretas, com EXCEÇÃO DE a) O título do texto é uma hipérbole, empregada como estratégia para despertar a curiosidade do leitor. b) A interrogação (linhas 01 e 02) assinala previamente ao leitor o caráter opinativo do texto, levando-o a refletir sobre o tema. c) O autor do texto argumenta por analogia, que é um raciocínio a partir da comparação, da semelhança: o que vale para x provavelmente valerá para y, visto que são semelhantes. d) Na apresentação de seus pontos de vista, o autor mostra-se imparcial e comedido, embora o assunto que discute seja polêmico. e) O autor, na introdução e desenvolvimento do texto, conduz o leitor a concordar com a ideia que defende em seu final: a universidade é um processo de reflexão só acessível a pessoas maduras. 3) A ideia CENTRAL do texto é a) A instrução obtida no ensino é um capital altamente rentável com que os indivíduos disputam “um lugar ao sol”. b) A vida moderna caracteriza-se pela competividade entre os indivíduos, embora ninguém saiba explicar para onde todos vão nesta corrida. c) Os seres humanos tentam retardar a infância e acelerar a velhice, mas não conseguirão alterar o tempo determinado pelo desenvolvimento biológico. d) A angústia dos pais é a responsável pela pressão a que as crianças são submetidas, o que gera a infelicidade dos jovens. e) Há um tempo próprio para cada etapa de desenvolvimento dos seres: violar esse ritmo implica distúrbios. 4) Entre o primeiro e segundo parágrafos do texto, existe uma articulação sintática de a) oposição. b) adição. c) consequência. d) explicação. e) alternância. INSTRUÇÃO: Para responder à questão 5, numerar os parênteses relacionando as circunstâncias da direita às orações da esquerda, de acordo com o papel que estas desempenham na estrutura em que se encontram no texto. ( ) “Por mais (...) ser a gravidez” (linhas 02 e 03) (1) tempo ( ) “o garoto está equipado para a luta pela vida.” (linha 29) (2) conclusão ( ) “logo que a criança nasce” (linhas 13 e 14) (3) explicação ( ) “Transposta essa barreira” (linha 28) (4) condição (5) oposição 5) A numeração correta dos parênteses, de cima para baixo, é a) 5 – 3 – 1 – 1 b) 5 – 2 – 4 – 4 c) 3 – 3 – 2 – 1 d) 4 – 3 – 5 – 3 e) 3 – 1 – 1 – 2
6) Em relação a mudanças no texto, é correto afirmar que é possível a) substituir a forma verbal “fazem” (linha 06) por “tem feito” sem alterar o sentido e a correção da frase. b) colocar acento indicativo de crase em “a idade” (linha 21), com consequente alteração no sentido da frase. c) deslocar “rapidamente” (linha 15) para depois de “inicia-se” (linha 14), sem alteração no sentido da frase. d) subtrair a palavra “digamos” (linha 37) sem alterar o sentido da frase. e) substituir a palavra “onde” (linha 46) por “aonde” sem prejuízo para a correção da frase. 7) A afirmativa INCORRETA é a) O sentido denotativo de “pau-de-sebo” (linha 18) é: pau comprido e untado com sebo, tendo no topo prêmios para quem consiga alcançá-los. b) A palavra “pau-de-sebo” está empregada, na linha 48, em sentido figurado. c) A palavra “know-how” (linha 23) é um anglicismo incorporado ao vocabulário do português, e significa conhecimento. d) A palavra “chusma” (linha 40) significa “reduzido número”. e) A expressão “luta por um lugar ao sol” (linha 44) é um lugar-comum, que realça a competividade das pessoas. 8) (UEM) Leia o texto a seguir e assinale o que for correto. Depois, some o(s) pontos da(s) questão(ões) que considerar certa(s). A comunicação e a sociedade
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Soneto de separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. (Vinícius de Moraes)
1. A teoria literária moderna reconhece três gêneros literários fundamentais – o épico, o lírico e o dramático – e, apesar de não fazer diferença de prestígio entre eles, não aceita a mistura deles em uma mesma obra literária. Podem-se subdividir esses três gêneros em espécies ou formas: o soneto é uma das formas dramáticas; a tragédia é uma das formas épicas; a balada é uma das formas líricas. 2. No texto acima, predomina o gênero dramático, que tem a sua manifestação mais viva nos aspectos trágicos, procurando representar os conflitos e os dramas vivenciados pelos homens e a precariedade do mundo em que estão inseridos. Nesse caso específico, trata-se de representar o drama da separação de dois amantes. 3. No texto acima, predomina o gênero lírico, caracterizado, essencialmente, por manifestar a subjetividade do eu-lírico, expressando-lhe os sentimentos, as emoções, o mundo interior. De modo geral, a musicalidade é um elemento fundamental no texto lírico. Nesse texto de Vinícius de Moraes, além das rimas, a ocorrência considerável de fonemas sibilantes /sê/ e a semelhança de som de palavras como fez, espuma, espalmadas, espanto, etc. consistem nos principais recursos empregados pelo artista para alcançar a referida sonoridade. 8. No texto acima, pertencente ao gênero lírico, predomina: a) a antítese como figura de linguagem; b) a referência a fatos presentes como deflagradores do conflito do eu-lírico; c) a função conativa da linguagem; d) os versos decassílabos; e) as rimas consoantes, pobres e interpoladas; f) o emprego da linguagem figurada; g) a expressão do conflito do eu-lírico decorrente da separação amorosa. 16. Pode-se afirmar que: a) a antítese, figura de linguagem predominante no texto acima, exprime ideias cuja força significativa reside na oposição dos contrários. É o que acontece no verso “E do momento imóvel fez-se o drama”, em que o conflito vivido pelo eu-lírico atinge seu ponto culminante; b) no texto literário, dependendo do contexto, uma mesma palavra pode ter uma significação objetiva (denotação) ou sugerir outras significações, marcadas pela subjetividade do emissor (conotação). No verso “De repente da calma fez-se o vento”, as palavras estão empregadas em sentido figurado ou conotativo. 32. Pode-se afirmar que: a) o soneto, composto de dois quartetos e de dois tercetos, é uma das formas poemáticas mais tradicionais e difundidas nas literaturas ocidentais e expressa, quase sempre, conteúdo lírico; b) o soneto costuma conter uma reflexão sobre um tema ligado à vida humana. No texto acima, Vinícius de Moraes, ao retomar esse modo tradicional de compor versos, presta homenagem aos grandes clássicos da literatura, reconhecendo, no presente, a herança cultural do passado.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama.
9) (FGV-SP) Assinale a alternativa em que a palavra sublinhada NÃO tem valor de adjetivo. a) A malha azul estava molhada. d) As nuvens tornavam-se cinzentas. b) O sol desbotou o verde da bandeira. e) O mendigo carregava um fardo amarelado. c) Tinha os cabelos branco-amarelados. 10) (FGV-SP) Assinale a alternativa que contenha, corretamente, os 2 verbos das orações abaixo no futuro do subjuntivo. a) Se o menino se entretiver com o cão que passear na rua… Se não couber na bolsa o frasco que você me emprestar… b) Se o menino se entreter com o cão que passear na rua… Se não caber na bolsa o frasco que 404
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você me emprestar… c) Se o menino se entretiver com o cão que passear na rua… Se não caber na bolsa o frasco que você me emprestar... d) Se o menino se entreter com o cão que passear na rua… Se não couber na bolsa o frasco que você me emprestar... e) Se o menino se entretesse com o cão que passeava na rua… Se não cabesse na bolsa o frasco que você me emprestasse... Uma boa gramática nos informa que o futuro do subjuntivo forma-se a partir do pretérito perfeito do modo indicativo. Assim, a conjugação apropriada do verbo “entreter”, no futuro do subjuntivo, é entretiver. Esse verbo deriva de “ter”, cujo perfeito é tive e cujo futuro do subjuntivo é tiver (por isso a forma entretiver). Já o verbo “caber”, no futuro do subjuntivo, é couber. Repare que trata-se de um tipo de questão puramente gramatical, cada vez mais rara nos exames de acesso ao ensino superior. No entanto, o hábito de ler poderia ter servido de muita ajuda para algum candidato que não lembrasse tão detalhadamente as nomenclaturas. O ouvido, acostumado às formas verbais adequadas, automaticamente rejeita aquelas que lhe parecem mais grosseiras. 11) (Fuvest) Leia o texto a seguir: O OLHAR TAMBÉM PRECISA APRENDER A ENXERGAR Há uma historinha adorável, contada por Eduardo Galeano, escritor uruguaio, que diz que um pai, morador lá do interior do país, levou seu filho até a beira do mar. O menino nunca tinha visto aquela massa de água infinita. Os dois pararam sobre um morro. O menino, segurando a mão do pai, disse a ele: “Pai, me ajuda a olhar”. Pode parecer uma espécie de fantasia, mas deve ser a exata verdade, representando a sensação de faltarem não só palavras mas também capacidade para entender o que é que estava se passando ali. Agora imagine o que se passa quando qualquer um de nós para diante de uma grande obra de arte visual: como olhar para aquilo e construir seu sentido na nossa percepção? Só com auxílio mesmo. Não quer dizer que a gente não se emocione apenas por ser exposto a um clássico absoluto, um Picasso ou um Niemeyer ou um Caravaggio. Quer dizer apenas que a gente pode ver melhor se entender a lógica da criação. (Luís Augusto Fischer, Folha de S.Paulo)
Relacionando a história contada pelo escritor uruguaio com “o que se passa quando qualquer um de nós para diante de uma grande obra de arte”, o autor do texto defende a ideia de que a) o belo natural e o belo artístico provocam distintas reações de nossa percepção. b) a educação do olhar leva a uma percepção compreensiva das coisas belas. c) o belo artístico é tanto mais intenso quanto mais espelhe o belo natural. d) a lógica da criação artística é a mesma que rege o funcionamento da natureza. e) a educação do olhar devolve ao adulto a espontaneidade da percepção das crianças. As questões 12 a 15 são adaptadas do vestibular da Universidade de Brasília (UnB) TEXTO I A ânfora de argila ... et vinum effunditur... (MAT., IX, 7) Está cheia demais minha ânfora de argila. Transborda a essência: és pobre e eu posso reparti-la contigo, ó tu que vens de tão longe e tão perto passas de mim! É longo e estéril o deserto... Meu vinho é puro e toca os bordos do meu vaso: antes que o beba o chão, Peregrino do Acaso, chega-te, e vem matar no bocal generoso a eterna sede do teu cântaro poroso! Enche-o e parte! Depois, olha atrás... e recorda! Todo amor não é mais do que um “eu” que transborda. Almeida, Guilherme de. Livro de horas de Sóror Dolorosa. Meus versos mais queridos. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d., p. 52.
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12) Com relação às ideias do texto I, julgue os itens abaixo. (1) O eu-lírico é generoso ao oferecer o seu vinho, e sua ânfora está transbordando. (2) A leitura dos versos 2 e 10 permite a interpretação de “essência” como amor. (3) No texto, há uma relação de complementaridade entre poeta e interlocutor, que pode ser constatada nos fragmentos mostrados na tabela abaixo. poeta interlocutor “ânfora de argila” (v.1) “cântaro poroso” (v.8) “cheia demais minha ânfora (v.1) “a eterna sede do teu cântaro” (v.8) (4) De acordo com o verso 9, com o transcurso do tempo, as trocas afetivas vivenciadas transformamse em lembranças.
13) Julgue os itens que se seguem, com referência às ideias explícitas ou implícitas no texto I. (1) Como a argila é matéria bruta, a “ânfora de argila” (v. 1) representa, no poema, a falta de amor. (2) O pronome “te”, em chega-te” (v.7), refere-se a “Peregrino do Acaso” (v.6), termo dirigido ao interlocutor. (3) Se a forma de tratamento utilizada para o interlocutor fosse “você”, então o verso 9 estaria assim escrito: Encha-o e parta! Depois, olhe atrás... e recorde! TEXTO II: Amar Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? sempre, e até de olhos vidrados, amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia? Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante, amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina. Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita. Andrade, Carlos Drummond de. “Claro enigma”. In: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973, p. 247.
Reprodução proibida – Reproduzir livro é crime: Código Penal, art. 184; Lei nº 9.610, de 19-2-1988, Título VII: Sanções às Violações dos Direitos Autorais.
14) Considerando os textos I e II, julgue os itens a seguir. 1) O texto II expressa o amor romântico, idealizando a figura do parceiro. 2) No texto II, a expressão “de olhos vidrados” (v. 6) é um exemplo de linguagem denotativa. 3) As imagens marítimas do texto II podem ser associadas à vida e à morte, de modo a evidenciarem que amar é gesto universal, ilimitado e instável como a água. (4) De acordo com o texto II, embora nem sempre o objeto amado seja merecedor do nosso amor, o ato de amar é inerente ao ser humano. (5) Nas estrofes finais do texto II, o eu-lírico retoma o tema central do texto I, “A ânfora de argila”.
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