Entre Jovens
GUIA DO TUTOR Volume Volume 2 Língua Portuguesa 1ª série do Ensino Médio
Entre Jovens 1ª série do Ensino Médio: guia do tutor língua portuguesa. – São Paulo: Instituto Unibanco/CAEd, 2015. 158 p.; Vol II
Realização Instituto Unibanco
Presidência Pedro Moreira Salles
Vice-Presidência Pedro Sampaio Malan
Conselho Antonio Matias Cláudio de Moura Castro Cláudio Luiz da Silva Haddad Marcos de Barros Lisboa Ricardo Paes de Barros Rodolfo Villela Marino Thomaz Souto Corrêa Netto Tomas Tomislav Antonin Zinner
Diretoria Executiva Claudio José C. Arromatte Fernando Marsella Chacon Ruiz Gabriel Amado de Moura Jânio Gomes José Castro Araujo Rudge Leila Cristiane B. B. de Melo Luis Antônio Rodrigues Marcelo Luis Orticelli
Superintendência Executiva Ricardo Henriques
Coordenação do material Juliana Irani do Amaral
Implementação de Projetos Maria Julia Azevedo Gouveia
Pesquisa e conteúdo
Desenvolvimento e Conteúdos
CAEd – Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação
Lucia Helena Couto
Consultoria responsável Gestão do Conhecimento Mirela de Carvalho
Planejamento e Articulação Institucional Tiago Borba
Administração, Finanças e Tecnologia da Informação Fábio Santiago
CAEd – Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação
Agradecimentos especiais Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Secretarias de Estado de Educação do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais e escolas parceiras que contribuíram para a testagem e validação da Metodologia Entre Jovens.
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UMÁRIO
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Introdução
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Oficina 1 – A arte
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Oficina 2 – Meio-ambiente e sustentabilidade
38
Oficina 3 – O amor em prosa e poesia
49
Oficina 4 – O amor em prosa e poesia
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Oficina 5 – Sexualidade | Aids
84
Oficina 6 – Ética
93
Oficina 7 – Política e cidadania
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Oficina 8 – Preconceito e violência na escola
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Oficina 9 – Trabalho
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Oficina 10 – Felicidade
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Anexos
GUIA DO TUTOR
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I
NTRODUÇÃO
Caro tutor. Estamos entregando a você o segundo volume do “Guia de Tutores Entre Jovens” com um conjunto de dez oficinas que pretendem dar continuidade ao trabalho a que nos propomos: formar leitores, jovens que reconheçam o valor da leitura e do conhecimento e que descubram o prazer de ler. No primeiro volume, procuramos selecionar os textos a partir da escolha de temas de interesse da juventude, mas também segundo um critério que nos permitisse desenvolver habilidades de leitura as mais diversas, através da abordagem de gêneros distintos. Trabalhamos bastante com textos narrativos, oportunizando aos jovens conhecer autores importantes de nossa literatura, e com textos argumentativos, organizando atividades que ensinam a ler e escrever argumentações. Propusemos a leitura de gêneros diversos: notícias, reportagens, poemas, letras de música, crônicas, charges, tirinhas e propagandas. O ensino da leitura, conforme temos defendido, deve se realizar a partir de atividades que desenvolvam habilidades e estratégias de leitor proficiente. Esse processo deve contar também com a sistematização de um conjunto de conhecimentos relativos aos tipos de textos propostos para leitura. Desse modo, procuramos organizar, ao longo das oficinas do Guia 1, conhecimentos relativos à macroestrutura de narrativas e argumentações e propusemos exercícios de análise dos recursos linguísticos e discursivos utilizados pelos vários gêneros abordados. Conhecimentos sobre a linguagem e sobre os textos constituem uma ferramenta auxiliar à formação de leitores e escritores. Acreditamos poder garantir, com o material de leitura do Guia 1, o domínio de um conhecimento básico sobre os gêneros abordados. No Guia 2, propomos o aprofundamento dessa atividade analítica e, sobretudo, o investimento em mais leituras. Sabemos da resistência de muitos jovens a essa atividade e, por isso mesmo, somos conscientes da importância de nossa atuação como mediadores capazes de estimular a leitura, facilitar sua construção e convencer de sua importância. O Guia 2 traz novos temas. Alguns talvez despertem maior interesse: o amor, a vivência responsável da sexualidade, a felicidade, a vida na escola (o tema do bullying e a questão da escolha profissional). Outros temas são temas que julgamos necessários à formação da juventude: a cidadania, a política, a ética, a vida sustentável. Esperamos que as oficinas estimulem a leitura e contextualizem o conhecimento, promovendo o debate de assuntos relevantes. Chamamos sua atenção para um outro importante propósito do Guia 2 – já focado no Guia 1: o desenvolvimento de um trabalho voltado para o letramento literário, para a apreciação artística. Particularmente, as oficinas 1, 3 e 4 estão voltadas para esse projeto. Essas oficinas incluem atividades de leitura semelhantes às demais, no entanto, o tutor deve organizar as dinâmicas de leitura de modo a garantir que o prazer do texto possa ser vivenciado. Não há fórmulas para
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que isso aconteça, mas algumas sugestões encaminhadas no guia podem ajudar a oportunizar a fruição do texto. Gostaríamos de indicar, ainda, que, também nas oficinas do Guia 2, dedique-se atenção mais detida à escrita dos alunos. Uma boa oportunidade de trabalhar a escrita é acompanhar a execução das atividades de leitura, orientando a produção das respostas aos exercícios propostos. Além dessa atividade, algumas oficinas incluem exercícios orientados de escrita. Essa produção deve ser objeto de reescrita também orientada, atividade fundamental para o desenvolvimento da habilidade de escrever. Por fim, precisamos aqui insistir num princípio fundamental para o trabalho de formação de leitores que aqui propomos: o de que as leituras produzidas pelos alunos sejam tomadas como o centro desse processo de formação. A partir delas o tutor deve conduzir as atividades, fazendo perguntas que permitam aos alunos selecionar pistas, confirmar, refinar ou mesmo corrigir hipóteses de leitura. Desse modo, as leituras apresentadas por este manual e as respostas às atividades propostas são, conforme já discutimos na introdução do Guia 1, uma possibilidade de leitura que deve estar em diálogo com as outras leituras produzidas por tutores e alunos, num diálogo atento com o texto e suas sinalizações.
Bom trabalho.
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A ARTE
1. OBJETIVOS » Promover o exercício de apreciação de obras de valor artístico. » Reconhecer recursos expressivos de elaboração de obras artísticas: som, ritmo, forma, cor, imagens poéticas, metáforas etc. » Desenvolver habilidades de leitura do texto literário. » Refletir sobre a função e a necessidade da arte. » Refletir sobre a vivência da arte como experiência do belo.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA Texto 1 - Letra da música “Comida”- Titãs A Letra da música “Comida” aponta para algumas necessidades humanas que são básicas. A repetição do verso “A gente não quer só comida” reafirma que, além da comida, direito que costumamos reconhecer como o mais essencial, o ser humano tem também o direito ao amor, à liberdade (“a gente quer saída para qualquer parte”), à diversão, ao prazer, e à Arte. Texto 2 - A função da arte – Eduardo Galeano O texto de Eduardo Galeano é um relato que permite discutir, conforme sugere o título, a função da arte e sua vivência como uma experiência de descoberta: “O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar ”. Essa descoberta está associada à emoção e ao belo. O mar, além de representar a beleza (“o menino ficou mudo de beleza”) pode bem representar o insondável, o misterioso, o desconhecido, o que guarda segredos que só se descobrem depois de algum esforço, esforço de ver e ouvir. Por isso, ao final, o menino, emocionado (ele treme e gagueja), ainda pede ao pai que o “ajude a olhar”. Assim se pode pensar a respeito da natureza e da função da arte. Uma obra de valor artístico nasce do uso estético de sua linguagem e, por isso, emociona. Emocionar, segundo o texto, é função da arte. Por outro lado, a emoção estética só é possível quando aprendemos a “ver”.
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Texto 3 - A rosa de Hiroshima – Vinicius de Moraes O poema de Vinicius de Moraes é construído a partir de uma imagem: a imagem da explosão da bomba de Hiroshima, que lembra a forma de uma rosa. O poeta, ao escolher a palavra “rosa” para remeter à bomba, desconstrói a imagem da flor como elemento que se associa à beleza e à delicadeza. A bomba é a anti-rosa atômica, a rosa “radioativa, estúpida, inválida”. A rosa “sem cor; sem perfume, sem rosa, sem nada”, ou seja, a rosa que não é rosa. Os efeitos destrutivos da bomba de Hiroshima, que exterminou e mutilou inocentes, estão colocados na rica adjetivação utilizada pelo poeta: “crianças mudas telepáticas; meninas cegas inexatas; mulheres rotas alteradas ”. Texto 4 - Uma esperança – Clarice Lispector O texto de Clarice Lispector joga com os dois sentidos da palavra “esperança”: o inseto e o sentimento. A partir de associações poéticas, a autora, parecendo falar do inseto, fala do sentimento, da “coisa secreta”, difícil de explicar. O texto de Clarice busca, portanto, “traduzir”, com belas representações metafóricas, uma experiência humana: a de sentir esperança. Ter esperança poderia ser entendido como ser persistente no enfrentamento da vida, representada metaforicamente no texto como um caminho que nos coloca obstáculos. Nesse sentido, a esperança “caminha devagar”, “tenta renitente uma saída”, “procura outro caminho”. Por outro lado, o “esperançoso” pode parecer, às vezes “burrinho”, alguém que “custa a aprender”, ou a aceitar as evidências da realidade, cuja lógica não corresponde à lógica da esperança. A esperança, tendo outros “sentidos” para dar conta da realidade, (“ela não tem olhos... é guiada pelas antenas”) é um sentimento misterioso e, às vezes, inexplicável.
3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA » Em círculo, os alunos vão ouvir a música “Comida” e discutir a letra, para refletir sobre a função e a necessidade da arte. » Propor que os alunos façam as atividades de leitura relativas ao texto “A função da arte”, retomando, em seguida, para discussão do conteúdo com todo o grupo. » Escutar a música “Rosa de Hiroshima” (http://www.youtube.com/watch?v=71CB-icxHLc ). Em seguida, passar às atividades de leitura relativas à letra da música, que podem ser feitas em grupo sob a orientação do tutor. Ao comentar as atividades, é importante que o tutor aponte para os recursos expressivos de construção do texto. » Com todo o grupo, o tutor vai mediar uma atividade de interpretação e apreciação do quadro Guernica, de Picasso, um outro exemplo de uma criação artística que nasce do horror, da necessidade de denunciá-lo. Ainda assim, arte é beleza. » Orientar e propor a leitura do poema “Trem de Ferro”, de Manuel Bandeira. » Atividades de leitura relativas ao texto “Uma esperança”, de Clarice Lispector – sugerimos que se faça oralmente essa atividade, numa roda de leitura, para melhor possibilitar a fruição do texto.
4. ATIVIDADES DE LEITURA Vamos iniciar esta oficina, ouvindo a música “Comida”, da banda Titãs. Considere, atentamente, a letra dessa composição.
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Comida Titãs Composição : Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?... A gente não quer só comida A gente quer comida Diversão e arte A gente não quer só comida A gente quer saída Para qualquer parte... A gente não quer só comida A gente quer bebida Diversão, balé A gente não quer só comida A gente quer a vida Como a vida quer... Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?...
A gente não quer só comer A gente quer comer E quer fazer amor A gente não quer só comer A gente quer prazer Prá aliviar a dor... A gente não quer Só dinheiro A gente quer dinheiro E felicidade A gente não quer Só dinheiro A gente quer inteiro E não pela metade... Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?...
Sugerimos que, inicialmente, os alunos manifestem-se espontaneamente sobre o conteúdo da letra. No intuito de aprofundar a discussão, o tutor vai chamar a atenção dos alunos para: i) o título “Comida” que remete a uma necessidade primária, básica do ser humano; b) a afirmação de que o ser humano tem outras necessidades e desejos também essenciais: de comida, de água, de amor, de liberdade (“a gente quer saída para qualquer parte”), de diversão, de prazer, de arte. A partir dessa leitura, o grupo vai passar a refletir sobre a necessidade da arte: por que o ser humano precisa da arte para viver? Os alunos devem ser estimulados a falar sobre possíveis experiências relativas à vivência da arte.
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Leia, agora, o texto abaixo e responda às questões que se seguem. A função da arte Eduardo Galeano “Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: Me ajuda a olhar!”
ATIVIDADES DE LEITURA 1. Qual é o tema do texto de Eduardo Galeano? A arte, conforme indica o título. D6 2. O objetivo do texto de Galeano é: a) relatar a história de Diego, o menino que não conhecia o mar. b) argumentar que ver o mar pela primeira é uma experiência inesquecível. c) discutir a função da arte como experiência do belo. (X) d) argumentar que os pais são importantes na educação dos filhos. D12 3. Na sua opinião, como o relato acima permite explicar a função da arte? Esse relato permite discutir a vivência da arte como uma experiência de descoberta do belo. Diego, diante da imensidão do mar desconhecido, ficou “mudo de beleza”. O texto destaca também a emoção dessa descoberta, o menino treme, gagueja e pede ao pai que o ajude a olhar tanta beleza.
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A leitura do texto de Eduardo Galeano ajudará o tutor a trabalhar os demais textos desta oficina, com o intuito de desenvolver a habilidade de observar o trabalho de elaboração estética que caracteriza toda criação artística. Arte e beleza são termos indissociáveis, ainda que a criação artística tenha nascido da experiência do horror, do feio, como é o caso da obra Guernica, de Picasso, que analisaremos aqui. A leitura dos textos abaixo, portanto, vai prestigiar o exercício de reconhecimento de seus recursos de construção, escolhidos para criar efeitos que surpreendam, encantem, emocionem, sensibilizem. É importante que os alunos observem: as imagens representadas nas obras visuais ou aquelas sugeridas nas obras musicais ou em versos, as cores, formas, sons etc. Para aprender a apreciar a arte, é necessário o exercício de ver e ouvir. Na segunda parte desta oficina, você terá oportunidade de observar várias expressões da arte: pintura, música, literatura (prosa e poesia). Todas elas nasceram do trabalho do artista, um “criador” que sempre busca imprimir beleza e emoção à sua obra. Vamos começar ouvindo uma música, composta a partir de um poema de Vinicius de Moraes. Rosa de Hiroshima
Vinicius de Moraes Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas, oh, não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroshima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa, sem nada
ATIVIDADES DE LEITURA 1. Qual é o assunto do poema de Vinicius de Moraes? O poema fala da bomba de Hiroshima e denuncia o horror da guerra. D6
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2. Procure explicar seu título. A palavra “rosa”, neste título, é muito significativa. Ela remete à imagem da explosão da bomba, uma imagem de horror. Vinicius de Moraes desconstrói a associação da rosa com a beleza e a delicadeza para falar de uma rosa destrutiva, a bomba, a anti-rosa. D12 3. Na primeira parte do poema, o poeta pede que pensemos nas crianças, meninas, mulheres, vítimas da bomba. 3.1. Sinalize, no texto, os adjetivos que caracterizam as vítimas da guerra atômica. 3.2. Procure explicar o sentido desses adjetivos Os adjetivos podem ser lidos como referência aos terríveis traumas psicológicos (“mudas/ telepáticas”) ou físicos (“cegas/inexatas”), deixados pela guerra. A qualificação das mulheres como “rotas alteradas” faz referência às alterações genéticas que se verificaram, tempos depois, nos filhos das mulheres que sofreram a guerra atômica. D3 4. Na segunda parte do poema, o poeta qualifica a Rosa de Hiroshima como uma anti-rosa. 4.1. Destaque, no texto, os adjetivos que ele utiliza para qualificar a rosa. 4.2. Procure explicar o sentido desses adjetivos. A rosa hereditária, radioativa – os adjetivos fazem referência ao poder destrutivo da bomba, às deformações genéticas que deixou em muitas gerações. A rosa estúpida e inválida – com essa adjetivação o poeta condena a bomba, a guerra. A bomba é a rosa “sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada” - a bomba é a rosa que não é rosa. D3
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ATIVIDADE EM GRUPO É possível que você já tenha visto uma reprodução da obra “Guernica”, de Pablo Picasso. Pintada em 1937, ela é considerada uma das obras mais importantes a denunciar os horrores da Guerra. As imagens do quadro denotam tristeza, horror, destruição, dor profunda. Os bombardeios a Guernica, cidade espanhola, deixaram cerca de mil e quinhentos mortos e oitocentos feridos. Observe, atentamente, os detalhes desta obra. Que recursos expressivos – imagem, forma, cor, chamam sua atenção? Converse com seu grupo sobre isso.
O tutor vai convidar os alunos a interpretar essa obra, motivando-os a observarem alguns detalhes: corpos mutilados, gritos de dor (à esquerda, a imagem de uma mulher com uma criança no colo chama a atenção no conjunto do quadro), figuras humanas e de animais etc. Para facilitar a apreciação dessa obra, os alunos podem assistir ao vídeo indicado abaixo, uma versão em 3D de Guernica, da artista novaiorquina Lena Gieseke: http://odesenhosabe.blogspot.com/2010/01/guernica-3d.html
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Agora você vai ler um poema de Manuel Bandeira. Observe que, nesse poema, o poeta cria, com as palavras, um som e uma cena: a de um trem de ferro que se movimenta, viajando por uma paisagem campestre. Trem de ferro Café com pão Café com pão Café com pão Virge Maria que foi isso maquinista? Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre, cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força Oô... Foge, bicho Foge, povo Passa ponte Passa poste Passa pasto Passa boi Passa boiada Passa galho Da ingazeira
Debruçada No riacho Que vontade De cantar! Oô... Quando me prendero No canaviá Cada pé de cana Era um oficiá Oô... Menina bonita Do vestido verde Me dá tua boca Pra matar minha sede Oô... Vou mimbora vou mimbora Não gosto daqui Nasci no sertão Sou de Ouricuri Oô... Vou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente Pouca gente Pouca gente...
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ATIVIDADES DE LEITURA 1. Considerando o som que produzem, o que os três primeiros versos podem indicar? Que o trem de ferro começa a entrar em movimento. 2. Que verso (ou versos) pode ser associado: 2.1. Ao apito do trem? “Virge Maria que foi isso maquinista?”. Nesse verso, a repetição da vogal “i” sugere o apito do trem (piuiiiii!), que dá a partida. 2.2. Ao trem andando veloz? “Muita força/ Muita força/ Muita força” ou “Vou depressa/ Vou correndo/ Vou na toda” 2.3. Ao trem parando nas estações? Oô... 2.4. A uma paisagem vista da janela, com o trem em movimento? Os versos da quarta estrofe: “Foge bicho, foge povo... Passa galho da ingazeira debruçada no riacho”. Os alunos devem observar como a palavra pode criar sons e ritmos. O poema de Bandeira deve ser lido em voz alta pelos alunos, que podem organizar um jogral. Isso permitirá que observem o trem de ferro que vai aos poucos se colocando em movimento, percorre velozmente uma paisagem campestre, pára em estações e prossegue sua viagem. Sugerimos, como atividade complementar, que os alunos ouçam a composição “Trenzinho do caipira”, de Heitor Villa Lobos, um exemplar das inovações modernistas na música. Os alunos devem observar como o artista trabalha a partir das possibilidades dos instrumentos para reproduzir o som de um trem em movimento: inicialmente lento, depois acelerado etc.
Consulte a PLATAFORMA ENTRE JOVENS para ter acesso à música do compositor Villa Lobos.
O último texto desta oficina é um conto de Clarice Lispector. Leia-o atentamente para responder às questões seguintes.
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Uma esperança Clarice Lispector Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto. Houve um grito abafado de um de meus filhos: – Uma esperança! e na parede, bem em cima de sua cadeira! Emoção dele também que unia em uma só as duas esperanças, já tem idade para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não poderia ser. – Ela quase não tem corpo, queixei-me. – Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós, descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças. Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os quadros da parede. Três vezes tentou renitente uma saída entre dois quadros, três vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender. – Ela é burrinha, comentou o menino. – Sei disso, respondi um pouco trágica. – Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita. – Sei, é assim mesmo. –Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas. – Sei, continuei mais infeliz ainda. Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando. Vigiando-a como se vigiava na Grécia ou em Roma o começo de fogo do lar para que não se apagasse. – Ela se esqueceu de que pode voar, mamãe, e pensa que só pode andar devagar assim. Andava mesmo devagar - estaria por acaso
ferida? Ah não, senão de um modo ou de outro escorreria sangue, tem sido sempre assim comigo. Foi então que farejando o mundo que é comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. Não uma aranha, mas me parecia “a” aranha. Andando pela sua teia invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus, queríamos menos que comê-la. Meu filho foi buscar a vassoura. Eu disse fracamente, confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a esperança: – É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte... – Mas ela vai esmigalhar a esperança! respondeu o menino com ferocidade. – Preciso falar com a empregada para limpar atrás dos quadros - falei sentindo a frase deslocada e ouvindo o certo cansaço que havia na minha voz. Depois devaneei um pouco de como eu seria sucinta e misteriosa com a empregada: eu lhe diria apenas: você faz o favor de facilitar o caminho da esperança. O menino, morta a aranha, fez um trocadilho, com o inseto e a nossa esperança. Meu outro filho, que estava vendo televisão, ouviu e riu de prazer. Não havia dúvida: a esperança pousara em casa, alma e corpo. Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegála. Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma esperança bem menor que esta, pousara no meu braço. Não senti nada, de tão leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço e pensei: “e essa agora? que devo fazer?” Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais o que aconteceu. E, acho que não aconteceu nada.
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ATIVIDADES DE LEITURA 1. Resuma, em poucas palavras, o texto de Clarice Lispector. O texto fala de uma esperança, um inseto, que surge, de repente, num cômodo da casa onde estão reunidos a mãe e os dois filhos. A família passa a observar o inseto e a conversar sobre ele. Mas, ao falar dele, estão também falando do misterioso e delicado sentimento de “esperança”. 2. Releia: – Ela quase não tem corpo, queixei-me. – Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós, descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças. Por que o filho estaria falando das duas esperanças? Na frase do filho “A esperança só tem alma”, a palavra “esperança” pode estar se referindo ao inseto, querendo dizer que a esperança, por ter um corpo tão frágil, quase não tem corpo e, portanto, só teria alma. Por outro lado, o filho poderia estar se referindo ao sentimento, dizendo que a “esperança” é algo abstrato, delicado, frágil, inexplicável, mas que nos revigora, nos sustenta, nos “dá vida”, assim como se acredita que a alma nos “dá vida”. D4 3. Releia: Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os quadros da parede. Três vezes tentou renitente uma saída entre dois quadros, três vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender. – Ela é burrinha, comentou o menino. – Sei disso, respondi um pouco trágica. – Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita. – Sei, é assim mesmo. – Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas. – Sei, continuei mais infeliz ainda. No fragmento acima, a família conversa sobre o inseto que observa andando na parede. Grife, nesse fragmento, expressões que, na sua opinião, poderiam estar também falando do “sentimento” da esperança. Explique sua resposta. • Ela “caminha devagar”/ “tentou renitente uma saída”/ “procura outro caminho” – essas metáforas representam o sentimento da esperança como um sentimento persistente. Se temos esperança, as dificuldades e os obstáculos da vida não nos paralisam.
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• Ela “custa a aprender”/ “é burrinha”- ter esperança pode significar recusar-se a “entender” ou aceitar as evidências da realidade; nesse sentido o esperançoso pode parecer “burro” ao insistir em sua “lógica”. • “não tem olhos”/ “é guiada pelas antenas”- a esperança tem outros “sentidos” para apreender e dar conta da realidade, por isso é um sentimento misterioso, inexplicável. D3 4. Destaque, agora, em outros fragmentos do texto, trechos que também falam do sentimento da esperança. • “muitas vezes verifica-se ser ilusória” - muitas vezes nosso desejo de que algo aconteça é uma ilusão, não vai se realizar, mas nos alimenta. • “é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim”- a esperança é um sentimento “pessoal”, que costumamos guardar bem dentro de nós. D3
Com essa atividade o tutor poderá chamar a atenção dos alunos, mais uma vez, para o talento do artista ao usar a linguagem. No caso desse conto, Clarice explora os dois significados de uma única palavra, criando associações belas que tentam “traduzir”, através de representações metafóricas, o inexplicável sentimento da esperança. Nesse texto em prosa, Clarice trata poeticamente de um tema. É importante que os alunos construam suas interpretações das expressões metafóricas em destaque.
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MEIO-AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
1. OBJETIVOS » 1. Desenvolver habilidades de leitura e análise do texto injuntivo. » 2. Desenvolver habilidades de leitura do texto expositivo. » 3. Discutir o tema da ecologia, com foco no desenvolvimento sustentável, de modo a estimular uma mudança de atitude no jovem com relação às questões ambientais.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA Texto 1 – Eco sim, chato não O texto 1 foi recortado da Revista Super Interessante de dezembro de 2007, como parte de um conjunto de reportagens sobre “meio-ambiente e sustentabilidade”. Trata-se de uma edição especial (Edição Verde Histórica), com o seguinte título de capa: “A última chance de salvar a terra”. Publicado na seção Comportamento, o texto organiza-se a partir de uma sequência injuntiva, um conjunto de instruções: “dicas para ser sustentável”. Textos do tipo injuntivo têm como objetivo principal “fazer agir” ou “ saber fazer”. Para tanto orientam ações, a partir de comandos, instruções. Costumam apresentar a seguinte organização macroestrutural: indicação da função comunicativa do texto; elenco de comandos ou ações a serem feitas (ou conselhos/dicas a serem seguidas); justificativa ou motivos pelos quais os leitores devem seguir os comandos. No caso do texto em questão, pretende-se que os leitores conheçam e assumam ações simples e cotidianas que podem ajudar a promover um desenvolvimento sustentável. Para tanto, o texto organiza-se a partir de uma sequência de 10 comandos 1 – “Dez dicas para ser sustentável sem ser mala” – que são expressos com verbos no modo imperativo. As justificativas seguemse a cada conselho e correspondem, sobretudo, à exposição de estudos e pesquisas sobre o tema. O recurso à citação, tomadas de autoridades nos assuntos tratados, funciona, nesse texto, como reforço ao argumento de que as ações indicadas podem, de fato, ajudar a promover um desenvolvimento sustentável. Chamamos a atenção para a estratégia utilizada na introdução do texto – onde se expõe seu objetivo comunicativo – de citar o exemplo de João Gordo – um apresentador certamente conhecido por muitos leitores jovens da revista – como forma de reforçar a ideia de que qualquer cidadão – não necessariamente ativistas ecológicos – pode se envolver na luta pela preservação ambiental, atentando para questões simples e cotidianas, como seu horário de banho, por exemplo. 1 Para o trabalho nesta oficina, não estamos utilizando o texto na íntegra. Recortamos dele seis das dez dicas apresentadas.
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Texto 2 – “Carbono Zero” O segundo material de leitura foi retirado da Revista Nova Escola (de março de 2008), uma revista dirigida a professores. Os textos “Carbono Zero” e “Gases do efeito estufa X Neutralização” são acompanhados por um esquema ilustrativo e reúnem sequências expositivas. Textos expositivos têm seu objetivo focado no “fazer saber”. A função comunicativa dos textos em questão é expor o conceito de Carbono Zero ou Neutralização do Carbono. A ilustração que acompanha o texto produz uma síntese do ciclo de carbono na atmosfera, informação importante para compreender os conceitos trabalhados.
3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA » Motivação - o tutor vai estimular a leitura do texto explorando seu título e a imagem que o acompanha. Pode perguntar aos alunos o que a imagem sugere, se eles conhecem o apresentador João Gordo etc. » Atividades de leitura dos textos 1 e 2 – os alunos devem trabalhar individualmente ou em duplas, sob orientação do tutor. » Comentário/correção das atividades de leitura - nesse momento, o tutor deve sistematizar com os alunos os conhecimentos mobilizados na oficina sobre os textos injuntivo e expositivo. » Teste de sustentabilidade – os alunos vão fazer o teste de sustentabilidade proposto. » Atividade escrita – produção de texto com “dicas para ser sustentável”. » Promover a leitura das dicas produzidas pelos alunos. Pode-se propor ao grupo fazer uma exposição mural de seu trabalho na escola, como forma de envolver toda a comunidade escolar na discussão do tema do desenvolvimento sustentável.
4. ATIVIDADES DE LEITURA O texto que você vai ler foi retirado da revista Super Interessante, edição de dezembro de 2007, da seção “COMPORTAMENTO”. O texto ECO SIM, CHATO NÃO procura mostrar que qualquer um de nós, pode adotar, em seu cotidiano, atitudes mais responsáveis para proteger o planeta.
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Eco Sim, Chato Não Dez dicas para ser sustentável sem ser mala2 João Gordo não é o que se pode chamar de ativista bonzinho e politicamente correto. Mas acredite: o apresentador mais desbocado do país está preocupado com o futuro do planeta. Aos 43 anos, dois filhos, vegetariano desde 2005, João constrói uma nova casa em São Paulo que é feita com madeira de demolição e terá aquecedor solar e reservatório de água de chuva. Se reciclagem de lixo já é uma atitude básica nas grandes cidades, ele vai além: na festa de aniversário de um dos dois filhos, a lembrança que os convidados levaram para casa era feita de garrafas pet reutilizadas. E as roupas que o pessoal em casa não usava mais viraram capa de almofadas, feitas por sua mulher, Viviana Torrico. “É muito legal: depois de velho eu virei hippie”, brinca ele. Como o punk mais pop do Brasil mostra, não é preciso virar um ecochato e se mudar para uma comunidade alternativa para adotar atitudes mais saudáveis para o planeta. A ciência tem dicas de ações simples e surpreendentes para você gastar menos energia, produzir menos lixo e emitir menos carbono na atmosfera. Veja 6 delas, a seguir: 1. USE MÓVEIS DE MADEIRA Sim, optar por móveis de madeira é uma atitude sustentável. Árvores, para crescer, transformam o carbono da atmosfera em madeira. Por isso, cerca de metade do peso da madeira é de átomos de carbono – os mesmos que poderiam estar no ar causando o efeito estufa. “O móvel de madeira mantém o carbono que iria para a atmosfera aprisionado por muito tempo, podendo ser usado por muitas gerações. Isso não acontece com os plásticos e o aço”, diz o pesquisador Márcio Nahuz, do Centro Tecnológico de Recursos Florestais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). A quantidade de carbono que o seu guarda-roupa aprisiona depende do tipo de árvore de que ele é feito. Prefira os móveis de pinus, eucalipto e paricá e evite espécies escassas como pau-brasil, mogno, imbuia e jacarandá-paulista. E, claro, escolha madeira com certificação do Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSCBrasil), que garante a procedência de árvores plantadas e derrubadas de maneira planejada. Outra vantagem é que a madeira é um lixo muito mais tolerável para o ambiente que outros materiais. “A madeira se decompõe e, assim, não cria um Frankenstein na natureza”, diz Nahuz. Plásticos, outros derivados de petróleo e demais materiais precisam de um processo de reciclagem (quando há) que pode consumir energia – e liberar mais carbono na atmosfera. 2 - EVITE PLÁSTICO E VIDRO No supermercado surge a dúvida: serei um cidadão mais sustentável se levar a bebida na embalagem de alumínio, de vidro ou de pet? O senso comum apostaria na latinha, já que ela é quase totalmente reciclada no Brasil. Alguém poderia contra-argumentar que ela gasta energia demais: a indústria do alumínio consome 6% da eletricidade do Brasil. Já a ciência diz que, se a intenção é só avaliar a forma mais ecológica de beber refrigerante ou cerveja, siga o senso comum. Esse é o conselho da engenheira química Renata Valt, autora do livro Ciclo de Vida de Embalagens para Bebidas no Brasil. Segundo ela, a lata leva vantagem hoje no Brasil justamente pelo alto 2 Recortamos seis das dez dicas que o texto enumera. Ao final da atividade o tutor pode ler o restante do texto (em anexo) para os alunos.
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índice de reciclagem (96% em 2005) frente ao vidro (45%) e ao pet (47%). Renata comparou a produ ção de 1000 litros de refrigerante para cada embalagem, somou a porcentagem de reciclagem e de matéria-prima e concluiu: o alumínio é o que menos consome energia, água e recursos naturais, tem a menor emissão de poluentes e gera menos resíduos sólidos. 3 - TOME BANHO PELA MANHÃ A dica é velha: evite consumir energia elétrica no horário de pico. Mas está mais atual do que nunca. A limitação das usinas e a escassez de água, motor propulsor das hidrelétricas, deixam sempre possível haver um apagão. O Brasil produz, normalmente, 75 mil megawatts de energia elétrica. A quantidade é suficiente para o consumo habitual, mas não para os picos - momentos como o intervalo do futebol, quando milhões de brasileiros abrem a geladeira para pegar uma cerveja, ou às 19h30, quando a maioria liga o chuveiro. Quando as 158 hidrelétricas não dão conta da demanda, o país é obrigado a acionar as usinas termoelétricas, que usam como combustível gás natural, carvão, xisto ou óleo diesel e lançam muito mais dióxido de carbono na atmosfera. Com todos os tipos de usinas ligados, a capacidade de fornecimento sobe para 100 mil megawatts. Já que é impossível armazenar energia em grande quantidade, qualquer consumo superior a isso obrigaria à construção de mais usinas e linhas de transmissão. 4 - PAGUE SUAS CONTAS ONLINE Aqueles papéis bancários que você recebe toda vez que paga suas contas significam mais emissões de poluentes, gás metano nos lixões e água desperdiçada. Essa é a conclusão de um relatório da empresa de consultoria americana Javelin Strategy and Research sobre o que representam os extratos, comprovantes de pagamento e cheques nos EUA. Segundo o estudo, lançado em junho, se todos os americanos abolissem o papel de suas transações bancárias, 2,3 milhões de toneladas de madeira seriam poupadas por ano - ou cerca de 16 milhões de árvores. Ok, consumo de madeira não é ruim para o aquecimento global, já que madeira e papel são pequenos depósitos de moléculas de carbono. O problema é que, para fazer papel, é preciso muita energia
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e poluição. A produção dos comprovantes nos EUA gasta a energia suficiente para abastecer, durante o ano inteiro, uma cidade do porte de Campinas (SP). Se tanto papel não existisse, a emissão de carbono também diminuiria, no equivalente a 355 mil carros a menos nas estradas americanas. No Brasil, a maior empresa de bobinas do país abasteceu, em 2006, 4 grandes bancos com 6 mil toneladas de papéis para caixas eletrônicos. 5 - PREFIRA ALIMENTOS LOCAIS Comprar alimentos produzidos na região próxima de onde você mora faz bem aos pulmões. O segredo está na redução da distância: com caminhões rodando pouco, há menos poluição. Além disso, o desperdício é muito menor - e as frutas não precisam ser colhidas ainda verdes. De acordo com Celso Moretti, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil desperdiça no trajeto do campo à mesa 14 milhões de toneladas de hortaliças, grãos e frutas por ano. O transporte, que submete frutas a uma temperatura de 42 ºC embaixo das lonas, é o maior vilão do desperdício de alimentos. Alimentos de longe também aumentam o aquecimento global. O pesquisador Márcio Nahuz e sua equipe do Instituto de Pesquisas Tecnológicas fizeram as contas do gás carbónico emitido por um caminhão a diesel (Mercedes 1620, com 231 cavalos) no transporte de melões de Mossoró, no Rio Grande do Norte, até a capital paulista (uma distância de 2 783 quilômetros). Considerando apenas o consumo de combustível, a carga teria custado 1570,95 quilos de dióxido de carbono a mais na atmosfera. Ou o trabalho de 3 árvores adultas de 16 metros de altura e 0,28 metro de diâmetro no seqüestro de carbono. “O problema é que, para neutralizar as emissões da viagem, esse motorista deveria ter plantado as árvores 20 anos antes”, diz Nahuz. 6 - TOME ÁGUA DA TORNEIRA Esqueça a água mineral. A água que sai da torneira da maioria das cidades brasileiras é potável - tratada para que você possa bebê-la numa boa. Gastar dinheiro com água de garrafa é supérfluo e agressivo ao planeta. Além de mais cara, produz milhões de garrafas como lixo e precisa ser transportada em caminhões poluentes. Se não recicladas, as garrafas pet demoram 110 anos para se degradar. Além disso, o processo para transformar resina em garrafas e o transporte até a sua casa consomem combustível e geram poluição. Cada 1000 garrafas de meio litro de água gastam 600 kWh de energia, liberam 6 quilos de carbono e geram 35 quilos de lixo no planeta. Por isso, várias cidades da Califórnia, nos EUA, estão adotando leis para restringir a água mineral em empresas e escolas. “Do ponto de vista bacteriológico, a água da torneira é segura, não precisa nem ser filtrada”, diz Paulo Olzon, clínico geral da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Quem prefere ter mais segurança e optar pela água mineral, deve evitar embalagens descartáveis.”
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ATIVIDADES DE LEITURA 1. O principal objetivo do texto “ECO SIM , CHATO NÃO” é: a) aconselhar os leitores a assumir atitudes que contribuam para proteger o meio-ambiente. (X) b) argumentar que nem todos os ecologistas são chatos. c) relatar a experiência de João Gordo, para que sirva de exemplo para outras pessoas. d) incentivar os leitores a usar móveis de madeira. D12 2. As palavras e expressões negritadas nas frases abaixo são frequentemente usadas quando o assunto é ecologia ou preservação ambiental. Que significado têm essas palavras ou expressões no texto? a) “Dez dicas para ser sustentável sem ser mala.” Ser sustentável é ajudar a promover um desenvolvimento sustentável, utilizando os recursos naturais sem destruir o planeta, ou seja, garantindo a sustentabilidade, a conservação do planeta. b) “João Gordo não é o que se pode chamar de um ativista bonzinho e politicamente correto.” Ativistas ecológicos são aqueles que se envolvem diretamente na defesa das causas ecológicas. c) “Como o punk mais pop do Brasil mostra, não é preciso virar um ecochato (...) para adotar atitudes mais saudáveis para o planeta.” Ecochato é como são chamados os defensores mais radicais da ecologia, tão extremistas que chegam a ser considerados chatos. D3 3. Considere o título do texto: “Dez dicas para ser sustentável sem ser mala.” Explique o significado do adjetivo “mala” na frase acima. Tente explicar também seu processo de formação. O adjetivo “mala” significa chato. É uma gíria, uma palavra da língua coloquial que faz referência a um substantivo, o substantivo mala, um objeto difícil de carregar, incômodo como os chatos. D3
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4. Por que o texto afirma que João Gordo “não é o que se pode chamar de um ativista bonzinho e politicamente correto.”? Porque ele não está diretamente envolvido em projetos de defesa da causa ecológica. Mas, embora não seja um ativista no sentido estrito, assume atitudes simples que podem s er muito significativas na defesa do meio ambiente. D4 5. Por que o exemplo de João Gordo é citado no texto? João Gordo não é um ecologista “extremista”, mas ele é um defensor do planeta na medida em que assume em seu cotidiano pequenas ações que ajudam a preservar o meio ambiente, por isso ele é um exemplo a ser seguido. D4 As questões de 1 a 5 exploram o conteúdo introdutório do texto, importante por expor a função comunicativa desse texto instrucional (questão 1). As questões 2 e 3 são questões de inferência lexical. O tutor pode ampliar a discussão abordando o significado de outros termos como “politicamente correto”. Sugerimos, em (3), um exercício de reflexão sobre a linguagem que chama a atenção para esse curioso processo de derivação de uma classe gramatical a outra. As questões 4 e 5 sugerem que o aluno reflita sobre a escolha estratégica de citar uma personalidade conhecida como exemplo de engajamento na questão ambiental .
6. O texto da Super Interessante está organizado a partir de uma série de instruções, dicas de comportamento que podem ajudar a proteger o meio-ambiente. 6.1. Grife, em cada uma das dicas, os verbos utilizados. Nomeie essa forma verbal. Os verbos são: use, evite, tome, pague, prefira. São formas verbais de imperativo. Usamos essas formas verbais em ordens, pedidos, conselhos ou instruções. 6.2. Encontre, no texto, outras instruções. “Prefira os móveis de pinus, eucalipto e paricá e evite espécies escassas...” “Siga o senso comum...” “Esqueça a água mineral...” 7. Observe que, para cada uma das instruções, há uma justificativa. O autor do texto apresenta a nós leitores os motivos pelos quais devemos adotar as ações listadas. Explique, com suas palavras, por que é importante para o planeta: a) usar móveis de madeira? Porque a madeira aprisiona o carbono que, estando no ar, provoca o efeito estufa. Além disso, móveis de madeira costumam ser preservados, passando de geração em geração.
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b) evitar plástico e vidro? Porque plástico e vidro são mais poluentes que lata de alumínio. As latinhas de alumínio dos refrigerantes são, no Brasil, recicladas, o que faz desse material o menos poluente. c) tomar banho pela manhã? Tomar banho em horário de pico consome mais energia e energia mais poluente. Em horários de pico, em torno das 19h30, a energia elétrica produzida por nossas usinas não é suficiente. Há necessidade, então, de acionar as usinas termoelétricas, que produzem energia poluidora. d) pagar nossas contas on line? Nas transações bancárias, gasta-se muito papel e, para fazer papel, gasta-se muita energia e se produz poluição. e) preferir alimentos locais? Ao consumirmos alimentos locais evitamos a poluição causada pelo transporte de alimentos. Evitamos também que os alimentos sejam colhidos antes de estarem maduros, prontos para a colheita. f) tomar água da torneira? Podemos e devemos tomar água da torneira, pois nossa água é potável, ou seja, tratada para o consumo. Evitamos, assim, tomar água de garrafa plástica, pois o plástico é muito poluidor. D1 8. Há, em todo o texto, várias citações marcadas por aspas. Qual é a função dessas citações? As citações são falas de autoridades, estudiosos do assunto, que expõem resultados de pesquisa. Esses dados reforçam as justificativas apresentadas e são importantes para convencer o leitor a adotar as dicas apresentadas. As questões 6, 7 e 8 procuram explorar a organização macroestrutural do texto, apontando para os outros dois componentes da sequência injuntiva: os comandos (em nosso caso, seis “dicas” ou conselhos) e as justificativas que costumam seguir-se a eles. É importante aprofundar o estudo do texto instrucional, chamando a atenção para as formas verbais do imperativo, bastante características desse tipo de texto, e também apontar para a estratégia do texto em questão de apresentar justificativas tomadas de estudos e pesquisas sobre o assunto.
9. Releia: “A madeira se decompõe e, assim, não cria um Frankenstein na natureza.” (Dica 1)
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9.1. A palavra “assim”, na frase acima, pode ser substituída por: a) como. b) portanto. (X) c) porém. d) no entanto. 9.2. Explique o sentido, no texto, da expressão metafórica grifada. Frankenstein é uma referência a um monstro, criado em laboratório. Seu criador perdeu o controle sobre as ações da criatura. O texto faz referência a agentes poluidores de efeitos devastadores, como o plástico, que fica na natureza, produzindo poluição. A madeira, por se decompor, não cria essa “monstruosidade”. D3 10. Releia: “Comprar alimentos produzidos na região próxima de onde você mora faz bem aos pulmões.” A afirmação em destaque quer dizer que: a) Comendo alimentos saudáveis não teremos problemas de saúde. b) O consumo de frutas e legumes ajuda a evitar doenças pulmonares. c) Consumir alimentos locais protege o planeta da poluição. (X) d) Os alimentos locais costumam utilizar menos agrotóxicos. D4 11. Releia: “O problema é que, para neutralizar as emissões da viagem, esse motorista deveria ter plantado as árvores 20 anos antes”, diz Nahuz. A palavra que melhor substitui o verbo grifado é: a) eliminar. b) compensar. (X) c) reduzir. d) anular. D3 Você já ouviu a expressão “carbono neutro” ou “neutralização do carbono”? Para compreender melhor essa expressão, leia atentamente os textos abaixo, retirados da revista Nova Escola, uma revista dirigida a professores.
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Carbono Zero, Carbono Neutro, Crédito de Carbono e Carbon Free. E agora professor, o que é o quê?
Os termos são diferentes, é verdade, mas ambos representam a mesma coisa: o ideal de proteger o planeta. Para explicar de forma prática: Carbono Zero é um tipo de crédito que faz com que indústrias e pessoas possam neutralizar a sua emissão de gases do efeito estufa.Quer um exemplo? Se urna empresa queima ‘X’ gases do efeito estufa durante o seu processo de produção, ela deverá neutralizar outros ‘X’ para compensar o desequilíbrio. GASES DO EFEITO ESTUFA X NEUTRALIZAÇÃO Aprenda como é importante ser Carbono Zero. O conceito de Carbono Zero está diretamente ligado ao ciclo de carbono na atmosfera, (veja ilustração ao lado). Tudo que produzimos, seja na indústria, seja em casa, libera gases para o meio ambiente. Até aí tudo bem, porque a Terra também se encarrega de produzir oxigênio para compensar essa emissão, certo?! Não. Nas últimas décadas, passamos por um aumento populacional e de tecnologia, gerando ainda mais gases do efeito estufa, sobrecarregando o planeta. É exatamente aí que se explica o conceito de Carbono Zero. Com ele, podemos minimizar e neutralizar o nosso impacto graças à plantação de novas árvores, à manutenção de reservas já existentes e à criação de políticas sustentáveis de desenvolvimento. É uma espécie de balança. O segredo do equilíbrio, como você viu, está no tamanho da consciência ambiental de todo o mundo.
ATIVIDADES DE LEITURA 1. O que é “neutralizar o carbono”? Compensar a emissão de gás carbônico que lançamos na atmosfera causando poluição. D1
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2. Como “neutralizar o carbono”? Plantando árvores, mantendo as reservar de florestas já existentes, criando novas políticas ambientais de proteção de nossas florestas. D1 3. Por que as empresas estão hoje mais preocupadas em “neutralizar o carbono”? Porque hoje é muito alta a emissão de gases que provocam o efeito estufa, decorrente da alta tecnologia do mundo moderno e do aumento populacional do planeta. D1 Depois de ler os textos acima, chegou a hora de você testar seu compromisso com a conservação do planeta. Faça o teste de sustentabilidade abaixo, retirado de: http://www.atitudessustentaveis.com.br/conscientização/teste-o-quanto-voce-e-sustentavel/ Teste – O Quanto Você É Sustentável? Autor: Carlos Abreu 21 de junho de 2010 Se preocupar com o meio ambiente e cuidar dele é uma obrigação de todos, pois é nele que vivemos e é de seus recursos que dependemos para viver e sobreviver. Porém nem todo mundo tem essa consciência, há muitas pessoas que ainda não despertaram para a importância das práticas sustentáveis. Será que você é uma delas? Faça o teste e descubra se você é uma pessoa sustentável ou não. Responda as perguntas e vá anotando suas respostas para conferir sua pontuação no final.
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Teste: Eu Sou Uma Pessoa Sustentável? Questão número 1 Você já ouviu falar em sustentabilidade? a) sim, várias vezes. b) não, nunca ouvi. c) sim, poucas vezes. Questão número 2 O que você entende por sustentabilidade? a) É uma prática de desenvolvimento que não prejudica o meio ambiente. b) É uma forma de viver bem. c) É só uma expressão que está na moda. Questão número 3 O que você faz com o lixo de sua casa? a) separo para coleta. b) jogo em um terreno baldio. c) coloco em um saco de lixo sem separá-lo. Questão número 4 Enquanto você escova os dentes: a) Deixa a torneira aberta. b) Abre só para lavar a boca. c) Nunca prestou atenção nisso. Questão número 5 Como você faz para limpar o quintal ou a área de sua casa? a) Varro para recolher o lixo e depois reutilizo a água da máquina de roupa para lavá-lo. b) Jogo água com a mangueira até o lixo correr para o ralo. c) Varro, recolho o lixo e lavo com mangueira. Questão número 6 O que você faz com os objetos que já não usa mais? a) Joga fora. b) Reutiliza de alguma maneira ou mesmo recicla. c) Doa para alguém.
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Questão número 7 Como você utiliza a luz de sua casa? a) Acende todas as lâmpadas. b) Acende apenas de alguns cômodos. c) Acende apenas do cômodo em que você estiver. Questão número 8 Que tipo de lâmpadas você tem em casa? a) lâmpadas comuns. b) lâmpadas fluorescentes. c) lâmpadas fluorescentes e comuns. Questão número 9 Como você utiliza os produtos de limpeza em sua casa? a) Utilizo todos os dias, mas em quantidade pequena. b) Faço uso apenas em casos de real necessidade. c) Utilizo todos os dias em quantidade grande para limpar bem a casa. Questão número 10 Que tipo de alimentos você costuma consumir? a) Os enlatados e congelados. b) Os naturais. c) Os naturais e enlatados.
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Gabarito – Confira quantos pontos você fez 1- a) 3 2- a) 3 3- a) 3 4- a) 1 5- a) 3 6- a) 1 7- a) 1 8- a) 1 9- a) 2 10- a) 2
b) 1 b) 2 b) 1 b) 3 b) 1 b) 3 b) 2 b) 3 b) 3 b) 3
c) 2 c) 1 c) 2 c) 2 c) 2 c) 2 c) 3 c) 2 c) 1 c) 1
De 10 a 15 Pouco sustentável. Você precisa usar mais práticas sustentáveis para ajudar o meio ambiente. De 16 a 20 Bastante sustentável. Você ainda pode melhorar, mas já ajuda muito na conservação da nossa natureza. De 21 a 30
Capitão Planeta! Parabéns! Você está no caminho certo, continue a ser sustentável e a preservar nossos recursos naturais.
O tutor vai auxiliar os alunos nessa atividade de leitura, explorando algumas sinalizações textuais, como as ilustrações que acompanham o teste. A primeira delas pode ser lida como uma “interrogação”, uma dúvida acerca do futuro do planeta. Considerando a fonte de onde o teste foi recortado e seu texto introdutório, os alunos devem construir hipóteses sobre seu objetivo. O tutor vai propor também que os alunos, considerando as questões do teste, façam uma lista de “atitudes sustentáveis”. Por exemplo: separar o lixo; fechar as torneiras ao lavar as mãos ou escovar os dentes; aproveitar a água da máquina de lavar para outras limpezas etc. Esse exercício será útil para a realização da atividade de escrita proposta a seguir.
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PRODUÇÃO DE TEXTO O texto da Revista Super Interessante e o Teste de Sustentabilidade que você acabou de fazer nos mostram que podemos, através de ações simples, contribuir com o desenvolvimento sustentável do planeta. Pense, agora, na sua realidade, no seu cotidiano em casa, na escola, no bairro. Produza um texto com dicas, instruções que possam se somar àquelas que acabamos de ler. Acrescente, a essas instruções, justificativas ou evidências de que as ações indicadas podem ajudar a construir uma vida mais sustentável.
O tutor vai motivar os alunos a escreverem com o objetivo de expor seus textos num mural da escola ou em outro espaço de divulgação. Isso pode ser estimulante e útil.
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O AMOR EM PROSA E POESIA
1. OBJETIVOS » Desenvolver habilidades de leitura da narrativa literária. » Promover o estudo da estrutura da narrativa: orientação, complicação, desfecho. » Possibilitar a experiência da fruição literária. » Refletir sobre o tema Amor, considerando diferentes concepções apresentados pelos textos e pelos alunos.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA Texto 1 – Amor I love you – Música de Carlinhos Brown e Marisa Monte Podemos dizer que a letra dessa música expõe uma visão romântica do amor, na medida em que traduz a experiência de amar como algo que corresponde a uma alegria plena, a uma condição de completude. O amor “acalma”, ajuda a viver”, traz “alegria constante”, “acolhe a alma”. É visto também como um sentimento que cria uma nova realidade (“é um espelho sem razão), a partir de uma visão subjetiva do ser apaixonado. O coração apaixonado dimensiona, de forma diferente, o tempo (“ passei no tempo/ caminhei nas horas”). Tudo é comandado pela paixão. A letra dialoga como um fragmento do romance O Primo Basílio, de Eça de Queiroz, no qual se descrevem os sentimentos de Luísa, protagonista do romance, depois de ler a carta do amante Basílio. Luísa se sente como quem “entra enfim numa existência superiormente interessante ” ou como quem “se estira num banho tépido”. O amor, portanto, “aquece a alma”, é conforto, ajuda a viver, alimenta a auto-estima (“sentia um acréscimo de estima por si mesma”), deixando “a alma coberta de um luxo radioso de sensações”. Texto 2- Uma carta – Machado de Assis O conto “Uma carta” narra a triste história de Celestina. A narrativa tem início com o elemento complicador ou conflito, uma ação que desencadeia toda a trama da narrativa. Já na primeira cena, vemos Celestina entrando em seu quarto e encontrando uma carta em sua cesta de costura. Esse fato mobilizará o leitor em torno da trama: o que estará escrito nessa carta?; quem escreveu a carta?; o que fará Celestina com essa surpresa da vida?. Observe-se que, nesse primeiro parágrafo, predominam verbos de ação, no pretérito perfeito.
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Mais adiante, ficaremos sabendo quem é Celestina, como é sua vida, quando e onde essa história acontece. Essas informações compõem os trechos de orientação narrativa. Trechos de orientação ajudam a situar o leitor no tempo e no cenário da história contada, descrevendo lugares, épocas e personagens. Nesses trechos predominam os verbos no pretérito imperfeito. Normalmente, as narrativas se iniciam com trechos de orientação. Quando isso não acontece – como no caso do conto em questão – trechos de orientação podem distribuir-se ao longo da narrativa, interrompendo os trechos de ação, o que ajuda, inclusive, a criar o suspense na história. Os parágrafos 6 e 7 do conto correspondem a trechos de orientação narrativa: “Esquecia-me dizer que isto acontecia aqui mesmo, no Rio de Janeiro, entre 1860 e 1862. Celestina era filha de um antigo comerciante...”. Ao sermos, portanto, orientados a respeito de quem é Celestina, podemos melhor avaliar o triste desfecho dessa história. Celestina – mulher madura (já com quase quarenta anos), “solteirona”, sem grandes dotes e já sem esperança de encontrar o amor – cria, a partir do recebimento da carta, uma tal fantasia de amor, que a descoberta de que a carta foi endereçada à irmã mais nova transforma-se em uma desilusão que fere profunda e definitivamente seu coração, a ponto de ela nunca mais chorar uma lágrima de amor (“Celestina deixou cair uma lágrima — e foi a última que o amor lhe arrancou.”) Não se pode deixar de observar, nesse conto, o papel do narrador. Bem ao gosto de Machado, o narrador em 3ª pessoa, revela-nos, com certa ironia, os sonhos de Celestina, suas fantasias amorosas, seu desejo romântico de viver um amor de “conto de fadas”: “ A fada branca dos sonhos continuou assim a fazer surdir do nada uma porção de coisas belas .” No entanto, embora revele muito do que se passa com a protagonista, esse curioso narrador não sabe precisar sua idade: “Contava então trinta e nove anos, parece mesmo que mais um; mas este ponto não está averiguado de modo que possa entrar na história.” Além de nos revelar os sonhos fantasiosos da protagonista – que faz “surgir do nada uma porção de coisas belas” -, o narrador também tece comentários: “Não copio o resto; era longa a carta, e no mesmo estilo composto de trivialidade e imaginação”. Nesse, por exemplo, o narrador avalia a carta recebida por Celestina, cujo conteúdo julga “trivial” (comum, corriqueiro, vulgar) e “imaginativo”. Essa já é uma pista inicial que poderia apontar para os riscos das ilusões amorosas e das fantasias românticas, um possível tema desse belo texto de Machado de Assis.
3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA » Atividade de escuta - propomos que os alunos, reunidos em círculo, ouçam a canção Amor I love you. Depois, individualmente, vão responder às questões propostas, aprofundando a leitura da letra da música. » Roda de leitura – o tutor vai comentar as leituras feitas, motivando os alunos a relacionarem a letra da música ao texto literário nela introduzido. » Leitura do texto de Machado de Assis – antes de iniciar a leitura do conto, o tutor deverá situar os autores Machado de Assis e Eça de Queiroz no tempo. A informação de que viveram e escreveram numa mesma época é uma pista de leitura significativa. Sugerimos que os alunos realizem as atividades em pequenos grupos e sob orientação do tutor. » Correção/ comentários das atividades de leitura – ao retomar as questões de leitura propostas, o tutor vai motivar os alunos a dialogar com os textos, confrontando a forma como eles concebem o amor com aquela apresentada nos textos. Esse é também o momento de sistematizar os conhecimentos sobre a estrutura da narrativa.
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4. ATIVIDADES DE LEITURA Como primeira atividade desta oficina, você vai ouvir a composição musical abaixo. Considere atentamente a letra da canção. Amor I Love You Marisa Monte/ Carlinhos Brown Deixa eu dizer que te amo Deixa eu pensar em você Isso me acalma, me acolhe a alma Isso me ajuda a viver Hoje contei pras paredes Coisas do meu coração Passei no tempo, caminhei nas horas Mais do que passo a paixão É um espelho sem razão Quer amor, fique aqui
“... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!”
Meu peito agora dispara Vivo em constante alegria É o amor que está aqui Amor I Love You Amor I Love You ... A letra da canção que você ouviu é acompanhada de um trecho do romance “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz, importante escritor da literatura portuguesa do século XIX. O fragmento corresponde ao momento da história em que Luísa, casada com Jorge, recebe uma carta de seu primo, Basílio, com quem viverá uma história de amor. Considere, inicialmente, a canção de Marisa Monte e Carlinhos Brown. 1. Na sua opinião, como essa letra representa o sentimento do amor? Como um sentimento que nos acalma, que traz alegria extrema, que nos faz bem. Também como um sentimento que nos “tira” da realidade, nos faz “caminhar nas horas”, “conversar com paredes”. D4
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2. Explique o verso: “É um espelho sem razão”? Quando amamos, nossa visão da realidade se altera, ou seja, nós a espelhamos, vemos as coisas a partir dos nossos sentimentos e não de forma racional. D3 3. Relacione o trecho do romance de Eça de Queiroz e a letra da música Amor I love you? O texto de Eça de Queiroz descreve o comportamento de uma mulher apaixonanda, que se sente como alguém que “entra numa existência superiormente interessante”. É também dessa forma que a letra da música representa os amantes apaixonados. 4. Leia, agora, mais um trecho do romance de Eça de Queiroz, que se segue ao fragmento citado na música acima: “... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranqüilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho” Eça de Queiroz – O Primo Basílio Relacione também esse outro fragmento à letra da música. Esse outro fragmento do romance Primo Basílio realça a forma como Luísa se sente. Tudo lhe parece belo, bom, perfeito. A realidade se transforma vista pelo olhar da mulher apaixonada. Suas preocupações do dia anterior desaparecem depois de ler a carta de amor. O tutor deve estimular outras leituras e pode propor a comparação entre fragmentos dos dois textos. Por exemplo: “cada hora tinha o seu encanto diferente”, “cada passo condizia a um êxtase” (texto de Eça de Queiroz); “passei no tempo/ caminhei nas horas/ mais do que passo a paixão” (letra da música). Leia, agora, o conto abaixo, escrito por Machado de Assis, considerado o maior escritor da literatura brasileira.
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UMA CARTA Machado de Assis Celestina acabando de almoçar, voltou à alcova, e, indo casualmente à cesta de costura, achou uma cartinha de papel bordado. Não tinha sobrescrito, mas estava aberta. Celestina, depois de hesitar um pouco, desdobrou-a e leu: Meu anjo adorado, Perdoe-me esta audácia, mas não posso mais resistir ao desejo de lhe abrir o meu coração e dizer que a adoro com todas as forças da minha alma. Mais de uma vez tenho passado pela rua, sem que a senhora me dê a esmola de um olhar, e há muito tempo que suspiro por lhe dizer isto e pedir-lhe que me faça o ente mais feliz do mundo. Se não me ama, como eu a amo, creia que morrerei de desgosto. Os seus olhos lindos como as estrelas do céu são para mim as luzes da existência, e os seus lábios, semelhantes às pétalas da rosa, têm toda a frescura de um jardim de Deus... Não copio o resto; era longa a carta, e no mesmo estilo composto de trivialidade e imaginação. Apesar de longa, Celestina leu-a duas vezes, e, em alguns lugares, três e quatro; naturalmente eram os que falavam da beleza dela, dos olhos, dos lábios, dos cabelos, das mãos. Estas pegavam trêmulas na carta, tão comovida ficara a dona, tão assombrada de um tal achado. Quem poria ali a carta? Provavelmente, a escrava — a única escrava da casa, peitada pelo autor. E quem seria este? Celestina não tinha a menor lembrança que pudesse ligar ao autor da carta; mas, como ele dizia que ela mesma não lhe dera a esmola de um olhar, estava explicado o caso, e só restava agora reparar bem nos homens da rua. Celestina foi ao espelho, e lançou um olhar complacente sobre si. Não era bonita, mas a carta deu-lhe uma alta ideia de suas graças. Contava então trinta e nove anos, parece mesmo que mais um; mas este ponto não está averiguado de modo que possa entrar
na história. Era simples opinião da mãe; esta senhora, porém, contando sessenta e quatro anos, podia confundir as coisas. Em todo o caso, qualquer que fosse o exato número, a própria dona dos anos não os discutiu, e limitava-se a parecer bem. Não parecia mal, nem fazia má figura, todas as tardes, à janela. Esquecia-me dizer que isto acontecia aqui mesmo, no Rio de Janeiro, entre 1860 e 1862. Celestina era filha de um antigo comerciante, que morreu pobre, tendo apenas feito para a família um pequeno pecúlio. Era dele que esta vivia e mais de algumas costuras para fora. A ideia de casar entrou na cabeça de Celestina, desde os treze anos, e ali se conservou até os trinta e sete, pode ser mesmo que até os trinta e oito; mas ultimamente ela a perdera de todo, e só se enfeitava para não desafiar o destino. Solteirona e pobre, não contava que ninguém se enamorasse dela. Era boa e laboriosa, e isto podia compensar o resto; mas ainda assim não lhe dava esperanças. Foi neste ponto da vida que Celestina deu com a carta na cesta de costura. Compreendese o alvoroço do pobre coração. Afinal, recebia o prêmio da demora; aí aparecia um namorado, por seu próprio pé, sem ela dar por ele, e dispunha-se a fazê-la feliz. Já vimos que ela atribuía à escrava da casa a intervenção naquele negócio, e o primeiro impulso foi ir ter com ela; mas recuou. Era difícil tratar diretamente um tal assunto, não estando nos seus quinze anos estouvados que tudo explicassem; era arriscar a autoridade. Mas, por outro lado, se se calasse, arriscava o namorado, que, não tendo resposta, poderia desesperar e ir embora. Celestina vacilou muito no que faria, até que resolveu consultar a irmã. A irmã, Joaninha, tinha vinte anos, e era pessoa de muita gravidade; podia dar-lhe um conselho. — O quê? Não ouço.
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— Queria consultar você sobre uma coisa. — Que coisa? Você hoje está assim esquisita, tão alegre, e tão acanhada. Que é que você quer, Titina? Diga. Já adivinhei. — O que é? — É sobre aquele vestido da baronesa. Celestina fez um gesto de desgosto, e ia negar, mas não conseguindo abrir-se com a irmã, preferiu mentir, e foi buscar o vestido. Na verdade, podia ser mãe dela, viu-a nascer, ajudou-a a criar. Nunca entre ambas trocaram nenhuma confidência de namoro; e não é que ambas os não tivessem tido. Mas as relações eram de respeito e discrição. Não sabendo como sair da dificuldade, Celestina adotou um plano intermédio; procuraria primeiro descobrir a pessoa que lhe mandara a carta, e se a merecesse, como era de supor, à vista da linguagem da carta, abrir-se-ia com a escrava, e depois com a irmã. Nessa mesma tarde, ela foi mais cedo para a janela, e mais enfeitada, esteve menos distraída com outras coisas. Não tirou os olhos da rua, abaixo e acima; não apontava rapaz ao longe, que não o seguisse com curiosidade inquieta e esperançosa. Joaninha, ao pé dela, notava que a irmã não estava como de costume; e pode ser mesmo que lhe atribuísse algum princípio de namoro. A mãe é que não via nada. Sentada na outra janela (era uma casa assobradada), ora cochilava, ora perguntava às filhas quem era que ia passando. — Celestina, aquele não é o dr. Norberto? — Joaninha, parece que lá vai a família do Alvarenga. Perto das ave-marias, viu Celestina surdir da esquina um rapaz, que, tão depressa entrara na rua, pôs os olhos na casa. Passou pelo lado oposto, lento, evidentemente abalado, olhando ora para o chão, ora para a janela. Foi até o fim da rua, atravessou-a, e voltou pelo lado da casa. Já então era um pouco escuro, não tanto, porém, que encobrisse a gentileza do rapaz, que era positivamente um rapagão.
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Celestina ficou realmente fora de si. A irmã não viu o que era, mas concluiu que alguém teria passado na rua, que enchera a alma de Celestina de uma vida desusada. Com efeito, durante a noite, esteve ela como nunca, alegre, e ao mesmo tempo pensativa, esquecendo-se de si e dos outros. Quase que não quis tomar chá, e só a muito custo se recolheu para dormir. — Titina viu passarinho verde — pensou Joaninha ao deitar-se. Celestina, recolhida ao quarto, meteu-se na cama, e releu a carta do rapaz, lentamente, saboreando as palavras de amor, e os elogios à beleza dela. Interrompia a leitura, para pensar nele, vê-lo surdir de uma esquina, ir pela rua fora do lado oposto, e tornar depois do lado dela. Via-lhe os olhos, o andar, a figura... Depois tornava à carta, e beijava-a muitas vezes, e numa delas, sentiu a pálpebra molhada. Não se vexou da lágrima; era das que se confessam. Quando cansou de ler a carta, meteu-a debaixo do travesseiro, e dispôs-se a dormir. Mas qual dormir! Fechava os olhos, mas o sono andava pelas casas dos indiferentes, não queria nada com uma pessoa em quem as esperanças mortas reviviam com o vigor da adolescência. Celestina recorria a todos os estratagemas para dormir; mas o rapaz da carta fincava-lhe os olhos ardentes, e ia de um lado para outro; não tinha mais que contemplálo. Não era ele o namorado, o apaixonado, o noivo próximo? Que ela planeara tudo: no dia seguinte escreveria uma resposta ao rapaz, e dá-la-ia à escrava, para que a entregasse. Estava disposta a não perder tempo. Era meia-noite, quando Celestina conseguiu adormecer; e antes o fizesse há mais tempo, porque sonhou ainda com o rapaz, e não perdeu nada. Sonhou que ele tornara a passar, recebera a resposta e escrevera de novo. No fim de alguns dias, pediu-lhe autorização para solicitar a sua mão. Viu-se logo casada. Foi uma festa brilhante, concorrida, à qual todas as pessoas amigas foram, cerca de dezoito carros. Nada mais lindo que o vestido dela, de cetim branco, um ramalhete de flores de laranjeira, ao
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peito, algumas outras nos apanhados da saia. A grinalda era lindíssima. Toda a vizinhança nas janelas. Na rua gente, na igreja muita gente, e ela entrando por meio de alas, ao lado da madrinha... Quem seria a madrinha? D. Mariana Pinto ou a baronesa? A baronesa... A mãe talvez quisesse D. Mariana, mas a baronesa... Em sonhos mesmo discutiu isso, interrompendo a entrada triunfal no templo. O padrinho do noivo era o próprio ministro da Justiça, que ia ao lado dele fardado, condecorado, brilhante, e que, no fim da cerimônia, veio cumprimentá-la com grande atenção. Celestina estava cheia de si, a mãe também, a irmã também, e ela prometia a esta um casamento igual. — Daqui a três meses, você está também casada, dizia-lhe ao receber dela os parabéns. Muitas rosas desfolhadas sobre ela. Eram caídas da tribuna. O noivo deu-lhe o braço, e ela saiu como se fosse entrando no céu. Os curiosos eram agora em maior número. Gente e mais gente. Chegam os carros; lacaios aprumados abrem as portinholas. Lá vai depois o cortejo devagar e brilhante, todos aqueles cavalos brancos pisando o chão com uma gravidade fidalga. E ela, ela, tão feliz! ao lado do noivo! A fada branca dos sonhos continuou assim a fazer surdir do nada uma porção de coisas belas. Celestina descobriu, no fim de uma semana de casada, que o marido era príncipe. Celestina princesa! A prova é que aqui está um palácio, e todas as portas, louça, cadeiras, coches, tudo tem armas principescas, no escudo, uma águia
ou leão, um animal qualquer, mas soberano. — Vossa Alteza se quiser... — Rogo a Vossa Alteza. — Perdão, Alteza... E tudo assim, até quase de manhã. Antes do sol acordou, esteve alguns minutos esperta, mas tornou a dormir para continuar o sonho, que então já não era de príncipe. O marido era um grande poeta, viviam ao pé de um lago, ao pôr-do-sol, cisnes nadando, um princípio da lua, e a felicidade entre eles. Foi esta a última fase do delírio. Celestina acordou tarde; ergueu-se ainda com o sabor das coisas imaginadas, e o pensamento no namorado, noivo próximo. Embebida na imagem dele, foi às suas abluções matinais. A escrava entrou-lhe na alcova. — Nhã Titina... — Que é? A preta hesitou. — Fala, fala. — Nhã Titina achou na sua cesta uma carta? — Achei. — Vosmecê me perdoe, mas a carta era para nhã Joaninha... Celestina empalideceu. Quando a preta a deixou só, Celestina deixou cair uma lágrima — e foi a última que o amor lhe arrancou.
ATIVIDADES DE LEITURA 1. Machado de Assis, escritor do século XIX, é considerado por muitos o maior escri tor da literatura brasileira. De que assunto trata esse conto de Machado? O conto fala das ilusões e desilusões amorosas. Celestina, uma mulher já sem esperanças de viver o amor, ao encontrar uma carta em sua cesta de costura, entrega-se a uma fantasia amorosa, passa a acreditar, cegamente, que vai viver um grande amor. O resultado dessa fantasia é uma grande desilusão, que a impede de voltar a sonhar com o amor. D6
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Essa questão inicial de leitura propõe a indicação do assunto do conto, a partir das leituras produzidas na oficina. O tutor não deve esquecer-se, portanto, das múltiplas possibilidades de respostas. No entanto, as leituras devem ser sustentadas nas evidências textuais apontadas pelo grupo.
2. Quem é a personagem principal dessa narrativa? Descreva, brevemente, essa personagem. Para isso, grife, antes, no texto, fragmentos que a caracterizam. Celestina é a protagonista da narrativa. É uma mulher mais velha, tem cerca de 40 anos. O texto a descreve como uma mulher boa e trabalhadeira. É solteira e, antes de receber a carta, já não sonhava mais com o amor. D1- D10 3. Leia com atenção a informação abaixo: Toda narrativa se organiza em torno de um conflito. O conflito (ou complicação) de uma narrativa é seu elemento de tensão, capaz de prender a atenção do leitor. Ao ponto máximo de tensão de uma narrativa chamamos de clímax. O desfecho de uma narrativa corresponde à resolução de seu conflito. 3.1. O conflito da narrativa tem início quando: a) Celestina recebe uma carta de amor de seu namorado. b) Celestina lê uma carta de amor que encontra em seu cesto de costura. (X) c) Celestina resolve descobrir quem é o desconhecido que lhe mandou uma carta de amor. d) Celestina descobre que seu pretendente está interessado em sua irmã. D10 3.2. Qual é o desfecho dessa narrativa? Celestina chora sua última lágrima de amor, ou seja, ela sofre uma terrível desilusão. D10 3.3 . A descoberta de que a carta misteriosa foi enviada para a irmã provocou enorme sofrimento em Celestina porque: a) Celestina tinha inveja da irmã mais nova. b) Celestina estava apaixonada pelo autor da carta. c) Celestina viu desmoronar seus planos de viver um grande amor. (X) d) Celestina sentiu-se traída pela irmã. D11
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As questões 2 e 3 recuperam elementos da narrativa. Ao corrigi-las, o tutor deve sistematizar com os alunos conhecimentos sobre a estrutura desse tipo textual, apontando, por exemplo, para os trechos que correspondem à orientação da narrativa – indicando o tempo e o lugar, descrevendo personagens etc.
4. Uma evidência de que Celestina modifica seu comportamento depois de receber a carta misteriosa está expressa em: a) “Apesar de longa, Celestina leu-a duas vezes...” b) “Celestina foi ao espelho, e lançou um olhar complacente sobre si.” (X) c) “A ideia de casar entrou na cabeça de Celestina, desde os treze anos...” d) “Perto das ave-marias, viu Celestina surdir da esquina um rapaz...” D1 5. Retire do conto outros fragmentos que mostram que Celestina modifica seu comportamento depois de receber a carta misteriosa. “Com efeito, durante a noite, esteve ela como nunca, alegre, e ao mesmo tempo pensativa, esquecendo-se de si e dos outros. Quase que não quis tomar chá, e só a muito custo se recolheu para dormir.” “Mas qual dormir! Fechava os olhos, mas o sono andava pelas casas dos indiferentes, não queria nada com uma pessoa em quem as esperanças mortas reviviam com o vigor da adolescência.” D1 As questões 4 e 5 selecionam trechos que revelam uma mudança no comportamento da personagem, que passa a sonhar com a possibilidade do amor. Em (4), a evidência dessa mudança de comportamento está no fato de Celestina passar a se ver de outra forma, de uma forma mais “complacente”, ou seja, mais benevolente, agradável. Possivelmente, passou a achar-se mais bonita. O primeiro fragmento da questão (5) revela uma inesperada alegria aliada a certo recolhimento. O segundo descreve uma ansiedade adolescente, que tira o sono da mulher e a mergulha em sonhos, fantasias. O tutor deve explorar esses e outros fragmentos recortados pelos alunos, apontando para as escolhas de palavras, expressões, comparações, metáforas, que fazem desse texto um texto bastante expressivo e contundente na crítica que tece aos devaneios fantasiosos próprios dos espíritos românticos.
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6. Releia: “E quem seria este? Celestina não tinha a menor lembrança que pudesse ligar ao autor da carta; mas, como ele dizia que ela mesma não lhe dera a esmola de um olhar, estava explicado o caso, e só restava agora reparar bem nos homens da rua.” § 3 O pronome lhe está se referindo a: a) Celestina. b) o autor da carta. (X) c) o autor do conto, Machado de Assis. d) os homens da rua. D2 7. Considere a frase: “Perdoe-me esta audácia, mas não posso mais resistir ao desejo de lhe abrir o meu coração...” §3 A palavra “audácia” significa: a) atitude. b) ideia. c) desgosto. d) atrevimento. (X) D3 8. O narrador do conto de Machado de Assis, além de narrar os fatos da história e nos revelar o interior da personagem protagonista, faz comentários. 8.1. Assinale a alternativa que contém um comentário do narrador: a) “Celestina não tinha a menor lembrança que pudesse ligar ao autor da carta...” b) “Solteirona e pobre, não contava que ninguém se enamorasse dela.” c) “Era meia-noite, quando Celestina conseguiu adormecer...” d) “Não parecia mal, nem fazia má figura, todas as tardes, à janela.” (X) D14
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8.2. Que comentário faz o narrador a respeito da carta recebida por Celestina? O narrador chama o conteúdo da carta de “trivial” e “imaginativo”, querendo dizer que se tratava de uma carta de amor comum, vulgar, corriqueira, com “frases feitas” e muito “imaginativa”. Ou seja, ao contrário da romântica Celestina, o narrador não se impressiona com o conteúdo da carta. D10 8.3. Muitas vezes, o julgamento do narrador pode se revelar através de detalhes de seus comentários, como a escolha de algumas palavras ou expressões. Avalie os comentários abaixo, apontando para escolhas que você acha significativas. a- “Foi esta a última fase do delírio.” (§ 30) Ao escolher a palavra “delírio”, o narrador expõe sua avaliação do comportamento de Celestina: suas fantasias são, para o narrador, uma espécie de delírio, um desvario, uma deturpação da realidade. b- “Compreende-se o alvoroço do pobre coração.” (§ 7) Nesse comentário o narrador avalia como compreensível o excessivo entusiasmo de Celestina, que há tanto tempo desistira de amar. A escolha do adjetivo “pobre” indica que a protagonista pode desiludir-se por conta de seu comportamento fantasioso demais.
O tutor deve conduzir os alunos a uma reflexão sobre a diferença entre autor e narrador. Em muitos exemplos da literatura, essa distinção está clara. Deve, também, estimular os alunos a buscarem outros trechos que revelam avaliações feitas pelo narrador.
Saiba mais sobre a questão do narrador consultando a PLATAFORMA ENTRE JOVENS
9. Compare a reação de Celestina à de Luísa, personagem do romance “O Primo Basílio”, após receberem uma carta de amor. Retire, dos textos, trechos que ilustrem sua resposta. Luísa e Celestina apegam-se romanticamente às cartas recebidas. Ex.: “... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente”; “Celestina, recolhida ao quarto, meteu-se na cama, e releu a carta do rapaz, lentamente, saboreando as palavras de amor, e os elogios à beleza dela”. Luísa e Celestina têm sua auto-estima alimentada pelas declarações de amor das cartas: “... sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante”; “Celestina foi ao espelho, e lançou um olhar complacente sobre si. Não era bonita, mas a carta deu-lhe uma alta ideia de suas graças.”
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O AMOR EM PROSA E POESIA
1. OBJETIVOS » 1. Desenvolver habilidades de leitura de textos poéticos. » 2. Desenvolver habilidades de leitura da narrativa literária. » 3. Possibilitar a experiência da fruição literária. » 4. Refletir sobre recursos e estratégias do texto literário. » 5. Discutir o tema “amor” identificando, em poemas e narrativas, diferentes concepções e representações desse sentimento.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA Texto 1- A Moça Tecelã – Marina Colassanti O texto “A moça tecelã”, de Marina Colassanti, é um conto de fadas moderno que mescla elementos do mundo real e do mundo imaginário. O texto se inicia com a narração da rotina simples e harmoniosa da moça, que vive em função de tecer através dos pentes do seu tear mágico. Por meio dele, a moça controlava a natureza, o tempo e tudo mais que precisasse para o seu sustento. Com o passar do tempo, a moça começa a se sentir só e, para se livrar da solidão, decide tecer um marido para lhe fazer companhia. A seleção lexical utilizada para narrar a chegada desse homem antecipa ao leitor alguns traços do seu caráter: “Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma e foi entrando em sua vida” A partir daí, a moça passa a viver em função de tecer os caprichos do marido ganancioso e egoísta. Até que se dá conta de que sua infelicidade é ainda maior que o palácio que construíra. Decidida, como sempre, resolve tomar a atitude de reverter aquela situação: senta ao tear e começa a se desfazer de todo o luxo desnecessário que havia construído até, por fim, destecer o próprio marido. Desse modo, dona de suas vontades e do seu caminho, a moça restabelece a paz e a alegria - no texto, representada pela chegada do sol - que tinha antes do marido surgir em sua vida. Esse conto de fadas termina com um final feliz diferente, uma vez que a mulher encontra a alegria na sua independência e não no casamento, como nos contos tradicionais. Em uma leitura mais profunda, é possível perceber as representações alegóricas presentes nesse conto. O poder do tear da moça representaria o trabalho que não só provê o sustento, mas também garante a independência da mulher, que, por intermédio dele, passa a ser dona de seu destino e das suas escolhas.
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Texto 2- Apelo – Dalton Trevisan O conto “Apelo” é composto por três únicos parágrafos e construído em forma de carta, com a finalidade de conferir um tom intimista ao texto. Essa seleção de estilo permite que o narrador dirija-se diretamente à esposa ausente. No primeiro parágrafo, observamos que os “rastros” da mulher (“o batom ainda no lenço”, “o prato na mesa por engano” ), aliados à sensação inicial de liberdade (“bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina” ), não permitiram que o marido sentisse falta da esposa. No segundo parágrafo, com o passar dos dias, através do acúmulo das tarefas desempenhadas pela esposa (“a pilha de jornais ali no chão ninguém os guardou debaixo da escada” ), do vazio e do silêncio na casa (“Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo” ), o marido começa a dar pela perda da esposa. No terceiro parágrafo, enfim, temos o apelo - “Venha para casa, Senhora, por favor.”-, diante do reconhecimento da importância da presença da esposa, não só pelos trabalhos domésticos, mas também pela função dessa esposa de estabelecer um elo entre os membros da família, que, na sua ausência, não conseguem, sequer, conversar durante as refeições (“Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando”. Texto 3- Casamento – Adélia Prado Podemos dizer que o poema “casamento” tem início com a declaração de uma discordância. O eupoético feminino declara não concordar com as mulheres que se recusam a “limpar os peixes” para seus maridos. Uma tarefa que pode ser considerada trabalhosa e “servil” para muitas mulheres, para a mulher do poema significou um momento de muita intimidade e alegria. O poema descreve o que parece ser a memória de uma cena vivida: a mulher ajuda o marido a limpar os peixes pescados por ele. À noite, estão sozinhos na cozinha, falam pouco, ficam mais em silêncio e o silencio diz muito: “O silêncio de quando nos vimos a primeira vez/ atravessa a cozinha como um rio profundo”. O poema e suas imagens podem estar falando do amor que se alimenta do cotidiano mais prosaico, de pequenos gestos compartilhados, de silêncios e emoções misteriosas. “Coisas prateadas espocam”, ou seja, desabrocham repentinamente. Marido e mulher voltam no tempo, são noivo e noiva, renovam seu amor e são felizes. Texto 4 – Confronto – Carlos Drummond de Andrade O soneto de Drummond, escrito em versos decassílabos, narra uma história, envolvendo as personagens do Amor e da Loucura (considerem-se, a esse respeito, as letras maiúsculas). O Amor bate à porta da Loucura e lhe pede abrigo, sob o argumento de que “é seu irmão”. A Loucura, inicialmente, recusa-se a recebê-lo, mas o estado “inumano” do Amor a assusta e comove, e ela resolve dar-lhe abrigo. As duas estrofes finais são bastante significativas, pois revelam que a Loucura recusa-se a habitar a mesma casa que o Amor: “Mais que ninguém mereces habitar/ minha casa infernal, feita de breu/ enquanto me retiro, sem destino ”. Esse verso representa o amor como sentimento tão cego e insensato, que nem mesmo a Loucura quer estar perto dele. Os dois versos finais também merecem destaque: eles descrevem o Amor como um “desatino”, um “mal”.
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Texto 5 – O amor quando se revela... – Fernando Pessoa O poema de Fernando Pessoa, escrito em versos de sete sílabas poéticas, ou seja, em redondilha maior , fala da dificuldade de se revelar o amor que se sente. O paradoxo “O amor, quando se revela/Não se sabe revelar ” quer expressar que as palavras dificilmente conseguirão traduzir, com exatidão, um sentimento profundo e complexo como o amor (“ Quem quer dizer o que sente/Não sabe o que há de dizer.”). O verso “Fala: parece que mente” vem reforçar essa ideia. A expressão do amor “parece mentira” por não corresponder exatamente àquilo que se sente. E, quanto maior o amor, mais difícil é revelá-lo (“Mas quem sente muito, cala...” ). Diante da dificuldade de expressar, com palavras, seu amor, o poeta tenta fazê-lo de outras formas: pelo olhar (“ Ah, mas se ela adivinhasse,/ Se pudesse ouvir o olhar ”); ou pelos versos que escreve (“ Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar...”).
3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA » Motivação – sugerimos que o tutor recupere com os alunos as discussões da oficina anterior, indicando que as leituras desta oficina permitem continuar a discussão do tema do Amor, discutido largamente na literatura e concebido de múltiplas formas. » Atividades de leitura dos textos 1 e 2. » Correção/comentários das atividades de leitura – durante a correção das atividades, o tutor vai retomar e sistematizar os conhecimentos sobre a narrativa, já propostos na oficina anterior. » Diálogo entre textos - corrigidas as atividades de leitura, o tutor vai motivar os alunos a compararem os textos lidos, dialogando e refletindo a respeito dos vários “discursos” sobre o amor. Os alunos devem confrontar sua visão com aquelas apresentadas pelos textos. » Leitura de poemas – em grupo, os alunos vão trabalhar as questões relativas aos poemas, sempre sob orientação do tutor. » Novos diálogos – ao final da oficina, o tutor vai comentar o trabalho dos grupos e propor que se amplie a discussão em torno do tema da oficina, considerando-se os novos discursos sobre o Amor apresentados nos poemas.
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4. ATIVIDADES DE LEITURA Na primeira parte desta oficina, você vai ler dois contos que falam do amor e da mulher. Texto 1
A MOÇA TECELÃ Marina Colassanti Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela. Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias. Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao
seu lado. Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta. Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida. Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade. E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar. – Uma casa melhor é necessária, - disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer. Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Para que ter casa, se podemos ter palácio? – perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata. Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas,
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e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira. Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre. – É para que ninguém saiba do tapete, – ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: - Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos! Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo. Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o
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marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear. Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer o seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela. A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu. Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.
ATIVIDADES DE LEITURA 1. O conto de Marina Colassanti tem dois personagens. 1.1 Quem são esses personagens? A moça tecelã e o seu marido. D1 1.2 Quais as principais características desses personagens?
Moça tecelã
A moça tecelã pode ser caracterizada como uma pessoa simples e trabalhadeira. Apesar do poder de seu tear lhe permitir conseguir qualquer coisa que desejasse, ela pede sempre o mínimo e necessário para seu sustento.
Marido da moça tecelã
O marido da moça tecelã pode ser descrito como um homem egoísta e ambicioso. A seleção de palavras como “exigiu”, “ordenou”, entre outras, ajudam também a caracterizá-lo como alguém rude e insensível
D1
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2. A personificação é uma figura de linguagem que consiste na atribuição de características humanas a objetos inanimados ou seres irracionais. 2.1 Retire do texto dois exemplos desse recurso. • “... enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte” • . “... Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela” • “... o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros” 2.2. Que efeito é produzido pelo uso das personificações no texto? Ao atribuir características humanas aos elementos naturais que faziam parte da rotina da moça tecelã, a autora transmite a impressão de que essa moça vivia em comunhão com a natureza. A chuva não caía simplesmente, ela vinha “cumprimentar” a moça à sua janela. D18 3. Releia com atenção os 5 primeiros parágrafos do texto e responda: que relação pode ser traçada entre a seleção das lãs utilizadas pela tecelã e o ambiente em que ela se encontra? O texto mostra que existe uma relação entre as cores e texturas escolhidas para tecer e as reações da natureza. Com linhas quentes e vivas ela tecia um dia de sol. Grossos fios cinzentos de algodão mais felpudo produziam a penumbra trazida pelas nuvens, fios de prata traziam a chuva, belos fios dourados traziam de volta o sol. D4 4. Observe que, nos primeiros parágrafos do conto, predominam verbos no pretérito imperfeito (“Acordava ainda no escuro”; “desenhava o horizonte”; “colocava na lançadeira”). Grife outros verbos no pretérito imperfeito e explique por que esse tempo é predominante. No início do texto, a utilização do pretérito imperfeito permite a descrição da rotina simples da moça tecelã. São fragmentos que correspondem à orientação da narrativa. D10 5. A partir de certo ponto, a autora passa a fazer uso do pretérito perfeito. Por que se dá essa mudança? O pretérito perfeito indica o início da ação narrativa, seu uso confere progressão à narrativa, que passa a focar os fatos ocorridos. D10
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6. Considerando a estrutura da narrativa, exposta no quadro abaixo, resuma cada uma das partes do conto “A moça tecelã”. Nos parágrafos iniciais (de 1 a 8), é apresentada ao leitor a rotina simples da moça tecelã, que, com seu tear mágico, controlava a natureza, Orientação demonstrando ser capaz de tecer os seus desejos. A moça começa a se sentir só e, para se livrar da solidão, tece um marido Complicação para lhe fazer companhia. Ao perceber que o marido não a fazia feliz, a moça deseja estar sozinha novamente e, então, senta ao tear para “destecer” o marido e todos Resolução os seus caprichos. Dessa forma, restabelece sua rotina simples de comunhão consigo e com a natureza. D10 As questões 4, 5 e 6 tratam da estrutura da narrativa e do uso do tempo verbal. O texto de Marina Colassanti inicia-se com uma orientação, que descreve a rotina da moça tecelã. O elemento complicador ou conflito da narrativa é introduzido no nono parágrafo do texto, quando a mulher sente-se sozinha e passa a sonhar com um companheiro. Daí por diante, o predomínio do pretérito perfeito sinaliza o foco na ação narrativa.
7. Releia o trecho: “Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços” É possível perceber a repetição da palavra “e” no trecho acima. Que efeito essa repetição causa? A repetição da conjunção “e” intensifica o tempo e o trabalho que a moça dedicava para satisfazer os caprichos do marido. D19 8. Releia o trecho: “Tecer era tudo o que fazia, tecer era tudo o que queria fazer” Esse trecho ocorre em dois momentos distintos do texto. Avalie o significado dessa frase, considerando como a moça se sentia nesses dois momentos da história. Na primeira ocorrência, podemos inferir que a moça tecelã está feliz com sua rotina e não deseja nada além de continuar a tecer. Já na segunda ocorrência, a infelicidade da moça diante das exigências do marido é tão grande que o tear funciona como uma válvula de escape para sua tristeza. D4
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9. Releia o trecho abaixo: “Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.” 9.1. O último parágrafo nos remete ao início do texto. O que isso simboliza? O último parágrafo representa a retomada da vida simples e feliz que a moça tecelã possuía antes da chegada do marido. D4 9.2. A palavra “então” pode ser substituída, sem alteração de sentido, por: a) portanto b) contudo c) assim (X) d) mas e) logo D3 10. Releia o trecho abaixo: “Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente .” O conector MAS expressa uma relação de: a) causa b) consequência c) oposição (X) d) tempo e) modo D15
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11. Releia o trecho abaixo: “ Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre. - É para que ninguém saiba do tapete” Qual das características do homem é revelada nesse trecho: a) arrogância b) egoísmo (X) c) vaidade d) ignorância e) sensatez D4 12. Considere o verbete de dicionário abaixo: alegoria [Do gr. allegoría, pelo lat. allegoria.] Substantivo feminino. 1.Exposição de um pensamento sob forma figurada. 2.Ficção que representa uma coisa para dar ideia de outra. 3.Sequência de metáforas que significam uma coisa nas palavras e outra no sentido. A história da moça tecelã pode ser lida como uma alegoria. O que essa narrativa poderia representar? A história da moça tecelã - capaz de tecer um dia claro, uma chuva refrescante, a noite, o próprio marido - pode representar nossa capacidade de tecermos nossa própria vida, ou seja, a vida é algo que nós construímos com nossas próprias mãos. Somos capazes de tecer nossos desejos e mesmo de “destecê-los”, quando nos sentimos infelizes, incompletos.
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Texto 2 APELO Dalton Trevisan Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho. Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu, ficava só, sem o perdão de sua presença e todas as aflições do dia, como a última luz na varanda. E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada – o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? As suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.
ATIVIDADES DE LEITURA 1. Apesar do texto “Apelo” ser um conto, ele possui características que o aproximam de outro gênero textual. 1.1 Que gênero é esse? O conto de Dalton Trevisan tem características de uma carta. 1.2 Qual o efeito produzido pela escolha desse estilo? Ao construir seu conto em forma de carta, o autor confere ao texto um caráter mais intimista e realista, pois o personagem dirige-se diretamente à esposa, expondo seus sentimentos. 2. O homem diz não ter sentido a falta da mulher imediatamente. O que mudou isso? Com o passar dos dias, a ausência da esposa foi ficando em evidência, por causa do trabalho acumulado, que antes ela desempenhava, e pelo vazio que permeava a casa: “Toda casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo”. D4
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3. Observe que o texto de Dalton Trevisan está organizado em três parágrafos. Indique, no quadro abaixo, a ideia central de cada parágrafo: Parágrafo 1 Parágrafo 2 Parágrafo 3
O aparente descaso em relação à ausência da Senhora. A saudade, que não é verbalizada, mas aparece no reconhecimento das tarefas que se acumulam e que, antes, eram realizadas pela esposa. A saudade reconhecida de forma indireta e o apelo do homem para que a Senhora volte para casa.
4. Releia o trecho abaixo: “Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando” 4.1 A quem possivelmente se refere o pronome “nós”? Provavelmente, o “nós” refere-se aos membros da família formada pelo narrador personagem e a Senhora. D2 4.2. A partir do trecho destacado, qual o papel da Senhora na relação entre os membros dessa família. É possível inferir, através desse trecho, que a Senhora exerce a função de estabelecer um elo entre os membros dessa família, que, diante da sua ausência, sequer conseguem estabelecer diálogo durante as refeições. D4 5. Retire do texto o fragmento que contém o apelo feito à Senhora. “Venha para casa, Senhora, por favor”. D1 6. Na sua opinião, a relação entre o casal do texto “Apelo” é semelhante ou diferente da do casal do texto “A moça tecelã” ? Justifique. Resposta pessoal A comparação entre os dois textos permite discutir o status social da mulher, seu papel na família, seu lugar de esposa e mãe, alguém que costuma anular seus desejos em função do cuidado da família. Os textos poderiam ser lidos como histórias de mulheres que tecem sua liberdade, assumem seu destino, são “senhoras” de suas vidas. Para elas, o casamento e o amor não se transformam numa prisão. Essa é uma possibilidade de leitura comparativa.
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Você vai ler agora três poemas que também falam do Amor, de faces diferentes desse sentimento difícil de explicar. POEMA 1 Casamento Adélia Prado Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como “este foi difícil” “prateou no ar dando rabanadas” e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva. 1. O título do poema é “Casamento”. O que os versos de Adélia Prado falam sobre isso? O poema constrói uma visão feliz do casamento. O eu-poético feminino descreve um momento feliz vivido com o marido, quando juntos, em silêncio, limpavam peixes pescados por ele. Ela se sente como quando se viram pela primeira vez. D4 2. Há, nos primeiros versos do poema, a declaração de uma discordância. Explique. O eu-poético não concorda com as mulheres que se recusam a “limpar peixes” para os maridos e recorda um momento em que essa tarefa, feita junto com o companheiro, significou um momento muito feliz. D1 3. Como você interpreta os versos abaixo? “O silêncio de quando nos vimos a primeira vez/ atravessa a cozinha como um rio profundo.” “Coisas prateadas espocam/ somos noivo e noiva.” Resposta pessoal
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POEMA 2 Confronto Carlos Drummond de Andrade Bateu Amor à porta da Loucura. “Deixa-me entrar - pediu - sou teu irmão. Só tu me limparás da lama escura a que me conduziu minha paixão.” A Loucura desdenha recebê-lo, sabendo quanto Amor vive de engano, mas estarrece de surpresa ao vê-lo, de humano que era, assim tão inumano. E exclama: “Entra correndo, o pouso é teu. Mais que ninguém mereces habitar minha casa infernal, feita de breu, enquanto me retiro, sem destino, pois não sei de mais triste desatino que este mal sem perdão, o mal de amar.” Conheça o significado de algumas palavras: Confronto- briga, disputa. Desdenhar- desprezar. Estarrecer- assustar-se. Breu- treva, escuridão. Desatino- loucura. 1. Esse soneto de Drummond narra uma história. Quem são os personagens dessa história? O Amor e a Loucura. D1 2. Por que o soneto tem este título: “Confronto”? Explique sua resposta. Porque acontece um confronto entre o Amor e a Loucura. O Amor bate à casa da Loucura pedindo abrigo. A Loucura, inicialmente, não quer recebê-lo, mas resolve deixar que ele habite sua casa. E vai embora. D4
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3. Que argumento o Amor usa para convencer a Loucura a deixá-lo habitar sua casa? O Amor se apresentou como irmão da Loucura. D1 4. O que significa dizer que o Amor é “irmão da Loucura”? Significa dizer que a paixão pode levar as pessoas ao desatino, à loucura. A casa da loucura é “infernal”, “cheia de breu”, ou seja, amar pode significar, segundo as representações do texto, viver na escuridão. D4 5. Você concorda com essa forma de ver o amor? Resposta pessoal. POEMA 3 O amor, quando se revela... Fernando Pessoa O amor, quando se revela, Não se sabe revelar Sabe bem olhar p’ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente. Cala: parece esquecer.
Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse Para saber que estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar...
1. Considerando o seu título, o que o texto diz sobre o amor? Confirme sua leitura com versos do texto. O texto fala da dificuldade de se revelar o amor que se sente. Quanto maior o amor, mais difícil é revelá-lo. Versos que confirmam isso: “O amor, quando se revela/Não se sabe revelar ”; “Quem quer dizer o que sente/Não sabe o que há de dizer. ”; “Mas quem sente muito, cala...” D4
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2. Releia: “Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente. Cala: parece esquecer.” 2.1 Explique o sentido dos dois últimos versos da estrofe acima. Sentimentos podem ser “inexplicáveis” e, ao tentarmos expressá-los, falar sobre eles, essa fala pode parecer uma “mentira”, por não corresponder exatamente àquilo que se sente. Por isso, muitas vezes nos calamos, diante da dificuldade de expressar o que sentimos. 2.2 Diante da dificuldade de se expressar “falando”, como o eu-poético tenta revelar seu amor? Confirme sua leitura. Pelo olhar: “ Ah, mas se ela adivinhasse/ se pudesse ouvir o olhar...” D4 3. Releia também: Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar... 3.1 A que se refere o pronome isto? Ao texto, ao poema, uma tentativa de se revelar o que se sente. Por isso o eu-poético diz que não precisará mais revelar-se a sua amada, já que o poema o faz. D2
Essa oficina permite organizar conhecimentos relativos à abordagem do texto poético. O tutor deve trabalhar com alguns conceitos, como: eu-lírico, ou eu-poético; soneto; versos; estrofes, figuras de linguagem. No entanto, esse trabalho de sistematizar conhecimentos que permitam ler melhor os gêneros propostos, não deve ser feito em prejuízo da experiência estética, ou seja, da experiência de fruição do texto literário. O prazer da leitura deve ser considerado em primeiro lugar. Nesse sentido, os conceitos devem trabalhados de forma integrada às atividades de leitura, como uma reflexão sobre os recursos e estratégias do literário e não como um fim em si mesmo.
SAIBA MAIS SOBRE ESSES CONCEITOS E REFLITA SOBRE SUA APLICAÇÃO CONSULTANDO A PLATAFORMA ENTRE JOVENS.
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SEXUALIDADE/ AIDS
1. OBJETIVOS » Desenvolver habilidades de leitura e análise do gênero reportagem. » Desenvolver habilidades de leitura de textos publicitários, considerando sinalizações verbais e não-verbais. » Desenvolver habilidades de leitura de gráficos. » Promover uma discussão acerca do tema Aids.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA Texto 1- A vida com o vírus – Diogo Bercito A reportagem da Folha de São Paulo, publicada no Caderno Folhateen, tem por objetivo principal informar sobre o crescimento do número de jovens entre 13 e 19 anos infectados pelo HIV, conforme dados de uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde. O autor soma, a esses dados, depoimentos de jovens soropositivos. Utilizando números e histórias reais, o autor encontra uma forma interessante de alertar os jovens para os riscos de atitudes negligentes em relação à AIDS, uma doença grave, que não tem cura, embora tenha tratamento. Os depoimentos de jovens são uma estratégia interessante, na medida em que podem levar os leitores a se identificarem com algumas atitudes descritas. Muitos jovens ainda se julgam inatingíveis (“ A gente assume os riscos, pensa que é o Superman.”). Segundo dados da reportagem, menos da metade dos entrevistados declararam usar camisinha “em todas as situações”. Além de dados relativos a atitudes que aumentam o risco de contrair AIDS, o texto também aborda o preconceito e derruba o mito de que a AIDS é uma doença que afeta principalmente os homossexuais. É importante que o tutor leve o aluno a observar as pistas - presentes na imagem de jovens bonitos e aparentemente saudáveis - que o autor utiliza para mostrar que a doença pode atingir qualquer pessoa.
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Texto 2 – Boletim informativo do Ministério da Saúde O que estamos chamando de texto 2 reúne fragmentos recortados de um boletim informativo do Ministério da Saúde. Esse boletim divulga a campanha “A AIDS não tem preconceito, você também não deve ter”, bem como informações e dados relativos a: estimativa do número de infectados pelo HIV no Brasil (630.000); incidência da doença por gênero (verifica-se o crescimento da aids entre as mulheres); distribuição dos casos por região (as regiões sudeste e sul concentram os maiores índices); principais desafios em relação à doença (dentre eles, a atitude negligente dos jovens); principais avanços (a redução da transmissão vertical e o crescimento da sobrevida dos adultos contaminados). Desse material, escolhemos para leitura, nesta oficina: dois gráficos sobre as “tendências da epidemia de Aids”, um texto que expõe dados relativos aos jovens e dois folders da campanha “A Aids não tem preconceito, você também não deve ter”. Este último material, dirigido ao grande público, pretende alertar principalmente os jovens sobre a importância da prevenção. As peças publicitárias incluídas nos folders trazem pessoas vivendo com aids ao lado de pessoas que não têm a doença. As imagens de pessoas comuns não permitem reconhecer quem é soropositivo. Essa é a forma de mostrar que quem tem a doença vive como qualquer outra pessoa e que a Aids faz parte da vida e do meio em que vivemos, por isso deve deixar de ser um tabu.
Texto 3 – Folder Dados de Aids no Brasil – Ministério da Saúde. O folder em questão é dirigido a profissionais da área de saúde, o que pode ser inferido pela imagem da capa. Como indica o título, o folder irá apresentar dados diversos sobre a aids no Brasil. Desse material, recortamos dois textos para análise, que tratam de duas questões: o desafio do diagnóstico precoce e o crescimento da doença entre as mulheres. O título do primeiro texto “O Brasil em busca de novos casos” aponta para o grande desafio a ser enfrentado pela bem sucedida política de combate à Aids do Ministério da Saúde. O dado numérico ali apresentado confirma a importância de campanhas como o Fique Sabendo – divulgada no folder. Com o objetivo de estimular os brasileiros a fazerem o teste do HIV, a campanha utiliza, como recurso de argumentação, um interessante desenho: um rosto alegre, formado pelos sinais positivo ou negativo, sugere que a vida é possível com Aids. Na outra página do folder, o texto intitulado “”Epidemia concentrada em populações vulneráveis e feminização”, expõe um outro problema revelado pelos dados da pesquisa: embora os homens ainda seja mais vulneráveis, verifica-se o aumento do número de casos entre as mulheres.
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3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA » Motivação – o tutor vai explorar, com os alunos, sinalizações extra-textuais relevantes para a produção de hipóteses sobre o conteúdo da reportagem: “A vida com o vírus” de que assunto se vai tratar; quem é seu interlocutor preferencial; qual é o gênero do texto; de que recursos esse gênero costuma se valer. » Atividades de leitura do texto 1 – as atividades podem ser feitas individualmente. » Correção das atividades – ao retomar as atividades, o tutor deve sistematizar os conhecimentos relativos ao gênero proposto para leitura. » Trabalho em grupo – leitura e análise do material sobre Aids do Ministério da Saúde (boletim informativo e folders de campanha) – antes de iniciarem a atividade, o tutor vai oferecer informações sobre o material - de onde foi retirado, com que objetivo foi elaborado – apontando para a relevância das informações ali contidas. » Correção das atividades de leitura – nesse momento, o tutor deve reforçar informações relevantes, buscando tratar o tema de forma ética, sem preconceitos.
4. ATIVIDADES DE LEITURA O texto que você vai ler é uma reportagem veiculada no jornal Folha de São Paulo, no Caderno Folhateen, em 29/11/2010, na semana do Dia Mundial de Luta contra a AIDS.
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“ACHEI QUE NUNCA ACONTECERIA COMIGO” DIOGO BERCITO
Aos nove anos de idade, uma médica me disse que eu tinha um bichinho na ponta do dedo e que ele ia me secar se eu não me alimentasse direito. Era HIV “
DE SÃO PAULO A infecção por HIV entre jovens de 13 a 19 anos está se espalhando pelo Brasil. De 1991 a 2009, aumentou em 53% o número de municípios com casos da doença nessa faixa etária.
AMANDA CRISTINA, 18
São dados de uma pesquisa que será divulgada na quarta-feira, Dia Mundial de Luta contra a Aids, pelo Ministério da Saúde. O número foi obtido com exclusividade pelo Folhateen.
CASOS DE AIDS NOTIFICADOS, POR TIPO DE EXPOSIÇÃO Feminino
90,9%
O governo vai lançar também nessa data uma campanha de conscientização voltada à discriminação sofrida por jovens com o vírus.
SEXO HETEROSEXUAL
8,1% DROGAS INJETÁVEIS
A iniciativa busca evitar situações como a vivida pela paulista Natasha Braz, 17, que nasceu com a doença.
0,7% TRANSFUSÃO DE SANGUE
0,1%
“Um grupo de meninas da escola começou a gritar para ninguém car perto
TRANSMISSÃO VERTICAL
de mim, para não pegar Aids”, diz.
0,2%
O vírus, porém, não é transmitido por proximidade física, e, sim, por sexo desprotegido ou por transfusão de sangue contaminado. O paranaense Fabrício Stoker, 20, foi infectado pelo vírus no ano passado, ao transar sem camisinha. “Eu achava que não aconteceria comigo”, diz. “A gente assume os riscos, pensa que é o Superman.” O baiano Oséias Cerqueira, 22, também contraiu o vírus aos 19 anos, por sexo. Na época, ele decidiu não contar a todos sobre a doença. “As pessoas não estão preparadas para saber, culpam você por ter HIV”, diz.
IGNORADO Fonte: Ministério da Saúde
DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA A AIDS FOCA O PRECONCEITO CONTRA JOVENS SOROPOSITIVOS
Ao esconder a doença, Oséias não podia explicar aos colegas da faculdade o real motivo dos vômitos durante as aulas, causadas pelo tratamento para controlar O HIV é frequentemente associado o vírus e manter alta resistência de seu a homossexuais com muitos parceiros, organismo. apesar de os dados ociais mostrarem A combinação de remédios necessária que há mais infecções entre jovens é apelidada de “coquetel” e pode causar heterosexuais. também diarréias e dores de cabeça. Essas “Não precisa contar para transar, reações podem desmotivar jovens a se tratar. desde que você use camisinha”, arma “E muito difícil tomar os Oséias. “É uma coisa do foro íntimo.” medicamentos, e você pode ter que Amanda Cristina, 18, age diferente usá-los pelo resto da vida”, diz Kleber com os namorados. Mendes, 27, soropositivo e idealizador da “Deixo claro desde o começo”. A garota Rede Nacional de Jovens Portadores de que adquiriu o vírus da mãe, conta que usa HIV. “Isso nos torna mais responsáveis do que a maior parte dos jovens.” camisinha inclusive para sexo oral.
“Precisa de vontade para continuar o tratamento”, diz José Rayan, 18, de Manaus. “Sofri muito, mas meu organismo se adaptou.” Usar medicações foi uma questão de sobrevivência para Hugo Soares, 23, de Belém. Após passar anos com a saúde debilitada, ele fez exame de sangue aos 21 anos. Descobriu ter Aids. “Meus pais me diziam que era besteira fazer o teste”, arma o rapaz que acredita
ter sido infectado por volta dos 16 anos. “Resolvi fazer por conta própria”, diz. Hoje após aderir ao tratamento, Hugo está com uma saúde estável. Mas o vírus ainda o afeta de outras maneiras. “Eu estava concorrendo a uma vaga de emprego e apareci em um jornal local como portador de HIV”, diz. “De repente, não havia mais vaga.”
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CASOS DE AIDS NOTIFICADOS, POR TIPO DE EXPOSIÇÃO Masculino
VOCÊ TEM MEDO DE PEGAR AIDS?
30,6% SEXO HETEROSEXUAL
20,6% SEXO HOMOSEXUAL
12% DROGAS INJETÁVEIS
18,3% TRANSFUSÃO DE SANGUE
0,4% TRANSMISSÃO VERTICAL
17% IGNORADO Fonte: Ministério da Saúde
Meus pais tinham medo de que os vizinhos soubessem. Mas vi que, quanto mais eu escondesse, mais preconceito haveria
“
FABRÍCIO STOCKER, 20
José Rayan, 18
“
Para quem está no início do tratamento, é muito ruim. Sofri muito, mas meu organismo se adaptou. Hoje não sinto nada
ABRANGÊNCIA Número de municípios com ao menos um caso de HIV entre jovens de 13 a 19 anos
155 1991
53% AUMENTO
237 2009
Total de casos de HIV notificados entre 1980 e junho de 2009, no Brasil
544.846 Na população de 13 a 19 anos:
VOCÊ USA CAMISINHA?
48% Sempre, em todas as situações
30%
Às vezes
12% Não sei / Não lembro
10%
Nunca Fonte: Pesquisa “Jovens Brasileiros” (Datafolha, 2008)
MASCULINO
5.959 5.827 FEMININO
Negligência quanto à gravidade da Aids é uma atitude arriscada DE SÃO PAULO “Podia ser pior”, diz um entrevistado a respeito de ter HIV. “Eu poderia ter câncer.” A tentativa de amenizar a gravidade da doença destoa do pânico gerado nas décadas de 80 e 90, quando a AIDS começou a se alastrar, matando gente no mundo todo. “É arriscado você ser negligente com a transmissão”, diz Nara Vieira, técnica do Departamento de DST, Aids e Hepatites, Virais do Ministério da Saúde. “É uma doença grave, mesmo que haja tratamento.
E não há cura.”
Apesar de ressaltar que a geração atual de adolescentes não viveu os primeiros anos da epidemia, Nara aponta que esses jovens têm, por outro lado, mais informações a respeito do vírus. “E o uso da camisinha está mais interiorizado” arma. (DB)
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GUIA DE LÍNGUA PORTUGUESA ENTRE JOVENS | VOLUME 2
1. Preencha o quadro abaixo com as informações pedidas: Autor: Gênero: Local de publicação: Data da publicação: Assunto: D1
Diogo Bercito Reportagem Folha de São Paulo 29 de novembro de 2010 AIDS
2. Considerando o local de publicação da reportagem, a que público em especial ela se dirige? Aos jovens.
D4 3. NÃO faz parte dos objetivos dessa reportagem: a) alertar sobre o crescimento do número de jovens infectados pelo HIV. b) mostrar o preconceito sofrido pelos soropositivos. c) convencer os jovens a se proteger da doença. d) ensinar como se proteger do vírus. (X) D12 4. A capa da reportagem traz a imagem de Fabrício Stocker, um jovem com 20 anos, na época da reportagem, que foi infectado pelo vírus ao transar sem camisinha. 4.1 Por que esse jovem optou por não esconder a doença? Fabrício afirma que, apesar do medo dos pais de que os vizinhos descobrissem, quanto mais se escondesse, mais preconceito sofreria. D1 4.2. Retire do texto o trecho em que Fabrício explica o motivo de não ter se prevenido. “Eu achava que não aconteceria comigo. A gente assume os riscos, pensa que é o Superman”. D1 5. A reportagem utiliza exemplos reais de jovens soropositivos que sofreram preconceito por conta de sua doença. Retire do texto 2 exemplos desse preconceito. Natasha Braz, 17, sofreu preconceito na escola. “Um grupo de meninas da escola começou a gritar para ninguém ficar perto de mim, para não pegar o vírus da AIDS” Hugo Soares, 23, estava concorrendo a uma vaga de emprego, mas foi preterido ao sair no jornal local como portador de HIV. D1
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6. Releia o trecho: “O vírus, porém, não é transmitido por proximidade física, e, sim, por sexo desprotegido ou por transfusão de sangue contaminado.” A conjunção “porém” possui valor semântico de: a) causa b) consequência c) explicação d) oposição (X) D15 7. O texto desmente um dos mitos relacionados à AIDS. Que mito é esse? Como ele é desmentido? O mito de que o maior número de infectados esteja entre os homossexuais. Os dados mostram, por exemplo, que há mais infectados entre jovens (do sexo masculino) heterossexuais (30,6%) que entre os homossexuais (20,6%).
D4 8. A reportagem é formada por vários depoimentos de jovens soropositivos. 8.1. Qual seria a função dos depoimentos nessa reportagem? Os relatos presentes ilustram a situação colocada pela reportagem: o crescimento da doença entre os jovens. Ao incluir a voz dos jovens, o texto consegue criar uma empatia com os leitores, que podem, inclusive, identificar-se com a atitude de negligência apresentada por alguns. D12 8.2. O que é possível perceber se relacionarmos o depoimento do baiano Oséias, de 22 anos, ao de Amanda Cristina, de 18 anos? Os jovens em questão adotam posicionamentos distintos ao lidar com um possível parceiro sexual: Oséias não revela ser portador da doença e Amanda faz questão de contar. D4 9. Por que alguns jovens se sentem desmotivados a dar continuidade ao tratamento? Devido às reações adversas provocadas pelo coquetel de remédios: diarréias, dores de cabeça e vômitos. D1
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10. Releia o trecho: “A infecção por HIV entre jovens de 13 a 19 anos está se espalhando pelo Brasil” Considerando que a pesquisa já foi concluída, por que o autor opta pela forma verbal acima? O uso do tempo presente, aliado ao gerúndio, mostra que a doença continua crescendo no país. D19 11. Considere o subtítulo: “Negligência quanto à gravidade da AIDS é uma atitude arriscada.” 11.1. A palavra “negligência” significa: a) ignorância. b) covardia. c) descuido. (X) d) distração. D3 11.2. Que atitudes dos jovens podem ser consideradas negligentes? Muitos jovens amenizam a gravidade da doença (como o que afirma na reportagem que “ podia ser pior ”). Muitos ainda são negligentes com a transmissão, ou seja, não usam camisinha. Os resultados da pesquisa mostram que apenas 48% dos entrevistados afirmaram usar camisinha em todas as situações. D4- D5 11.3. Segundo a reportagem, por que “é arriscado ser negligente com a transmissão”? Porque a AIDS é uma doença grave que ainda não tem cura, mesmo que tenha tratamento. D1 12. “É uma doença grave, mesmo que hoje haja tratamento.” O conector grifado na frase pode ser substituído por: a) porque. b) assim. c) embora. (X) d) portanto. D15
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13. Compare, agora, as colunas “Você usa camisinha?” e “Você tem medo de pegar AIDS?”. Avalie os dados expostos nessas colunas, considerando a situação anunciada pela reportagem: o aumento do número de casos de HIV entre os jovens. Os jovens parecem estar mais bem informados sobre a gravidade da doença, pois 68% dos entrevistados declararam ter medo de pegar AIDS. No entanto, ainda é algo o índice dos que não se previnem sempre. Menos da metade dos jovens entrevistados declaram ser proteger em todas as situações. D4 14. O que os dados exibidos na coluna ABRANGÊNCIA demonstram? Os dados confirmam o aumento da doença entre os jovens. Eles demonstram que crescem em 53% o número de municípios brasileiros com casos notificados de AIDS entre os jovens. D4 Dado o caráter basicamente informativo da reportagem, as atividades acima mobilizam bastante a habilidade de localizar informações. O tutor deve auxiliar os alunos em algumas atividades que envolvem a comparação de dados e o reconhecimentos da função de recursos e estratégias de que se vale a reportagem, como a utilização de gráficos, relatos de histórias de vida, avaliação de especialistas.
Depois de ler a reportagem de Diogo Bercito, você vai conhecer um interessante material, divulgado pelo Ministério da Saúde, em 1º de dezembro de 2010, Dia Mundial de Luta contra a Aids.
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O conjunto de textos abaixo foi retirado de um boletim informativo, disponível no site do Ministério da Saúde. Esse boletim divulga informações sobre a doença no Brasil e apresenta uma campanha publicitária de conscientização e combate à Aids. Leia os textos e resolva as atividades propostas. INFORMAÇÕES SOBRE “TENDÊNCIAS DA EPIDEMIA DE AIDS NO BRASIL” Número de casos de aids e razão de sexos em jovens de 13 a 19 anos, segundo ano de diagnóstico. Brasil, 1987 a 2009
500
6,4
450 400
4,6
350
s o s a 300 c e d 250 o r e m200 ú N
4,3
4,0 3,1
2,4
2,2
150
1,9 1,5
1,2
100
1,0
0,8 0,7 0,7 0 ,8 0 ,8 0 ,8 0,6 0,6 0,7 0 ,6 0 ,6 0 ,6
50 0 7 8 9 1
8 8 9 1
9 8 9 1
0 9 9 1
1 9 9 1
2 9 9 1
3 9 9 1
4 9 9 1
6 9 9 1
7 9 9 1
8 9 9 1
9 9 9 1
0 0 0 2
1 0 0 2
2 0 0 2
3 0 0 2
4 0 0 2
5 0 0 2
6 0 0 2
7 0 0 2
8 0 0 2
9 0 0 2
Ano de diagnóstico
Masculino
5 9 9 1
Feminino
Razão de sexos (M:F)
Taxa de incidência de aids/100.000 hab, segundo região de residência por ano de diagnóstico. Brasil, 1997 a 2009
35,0 30,0 a i c n 25,0 ê d i 20,0 c n i e 15,0 d a x 10,0 a T 5,0 0,0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 FONTE: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais
Brasil
Norte
Ano de diagnóstico Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
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Desafios em relação aos jovens
• Os jovens em geral se expõem mais que os não-jovens e têm mais parceiros cas uais; • 39% deles não usam preservativo em todas a s relações sexuais, apesar do alt o
conhecimento que sua utilização é a melhor forma de evitar a infecção pelo HIV. • Entre HSH,com idade entre 13 e 24 a nos de idade, observa-se aumento na proporção
de casos de aids. • Entre 13 e 19 anos, a aids afeta mais o sexo feminino: 8 meninos notificados com aids
para cada 10 meninas. • Mesmo com as informações sobre prevenção e formas de infecçã o o jovem muitas
vezes não reconhece a aids como um problema com o qual ele deve se preocupar.
ATIVIDADE DE LEITURA 1. Qual a fonte das pesquisas apresentadas nesse boletim? MS/SVS/Departamento de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), Aids e Hepatites Virais – Ministério da Saúde. D1 2. Com base nos dados do primeiro gráfico, o que é possível afirmar, ao relacionarmos o número de casos entre homens e mulheres? É possível perceber um aumento significativo da incidência de casos de infecção por HIV em mulheres. Até o ano de 1996, o número de casos era maior entre homens. A partir desse ano, o número de casos entre mulheres tem superado o de homens. D5 3. Sobre o segundo gráfico, responda: 3.1. Em quais as regiões houve crescimento de incidência de Aids a partir do ano de 2006? Sul, Norte e Nordeste. D5
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referente à incidência dos casos de Aids no 3.2. O que é possível afirmar se relacionarmos a curva referente 3.2. O à curva da Região Sudeste? Brasil à Brasil Sudeste? É possível perceber que, até o ano de 2005, a região sudeste possuía um índice superior à média nacional e que, desde então, os índices da região sudeste ficaram um pouco abaixo da média do Brasil. D5 4. O que é possível observar se relacionarmos o quadro “Desafios em relação aos jovens” à reportagem de Diogo Bercito? É possível perceber que os dados da pesquisa do Ministério da Saúde confirmam a informação de que os jovens têm agido de maneira negligente em relação à Aids. D20 INFORMATIVOS DA CAMPANHA FOLDERS INFORMATIVOS “A AIDS NÃO TEM PRECONCEITO, VOCÊ TAMBÉM NÃO DEVE TER”.
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A aids não tem preconceito. Você também não deve ter. ter.
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Para acabar com o preconceito, você precisa saber de algumas coisas: - A aids pode afetar qualquer homem ou mulher de todas as idades, orientações sexuais e classes sociais; - O amor não transmite aids. Carinho, afeto e beijo na boca t ambém não; - Quem vive com H IV/aids pode ser tão produtivo quanto qualquer outra pessoa; - O apoio da família e dos amigos é essencial; - Todos devem usar camisinha, tendo HIV ou não; - Fale abertamente sobre HI V/aids. Quanto mais gente busca informação, mais gente faz o exame e usa camisinha. Muitas vezes, o preconceito surge por falta de informação.
Conheça aqui as formas de infecção e fique seguro.
ASSIM PEGA • Sexo sem camisinha (oral, vaginal ou anal).
Quem tem HIV/aids pode levar uma vida normal. É claro que exige uma série de cuidados, mas quem vive com HIV pode beijar na boca, ir pra balada, namorar, trabalhar e fazer exercícios como qualquer pessoa. Viver com o preconceito pode ser mais difícil do que viver com o vírus. O preconceito isola, dificulta o tratamento e faz muitas pessoas evitarem o exame, com medo de descobrir se têm ou não o HIV.
ASSIM NÃO PEGA • Sexo Sexo com com camis camisinh inha. a.
• Mastur Masturbaç bação ão a dois dois..
• Beijo.
• Suor e lágrima.
• Aperto de mão ou abraço.
• Compartilhar talheres e copos.
• Piscina, banheiros, pelo ar.
• Doação de sangue.
• Compartilhamento da mesma seringa ou agulha.
• A mãe infectada pode passar o HIV para o filho durante a gravidez, o parto e a amamentação.
dos textos? 1. Qual é o objetivo objetivo dos Os folders acima divulgam informações sobre as formas de infecção, por exemplo, mas, principalmente, apresentam apresentam uma campanha publicitária que tem como como objetivo combater o preconceito. D12 O tutor deve explicar aos alunos o que é um folder e para que serve, esclarecendo que o material acima cumpre dois objetivos: informar sobre formas de prevenção e, principalmente, divulgar a campanha publicitária do Ministério da Saúde. É importante chamar a atenção para o destaque dessa campanha no Folder, ajudando os alunos alun os a reconhecer recursos próprios do texto publicitário nesse material, como: as estratégias de argumentação que visam ao “convencimento”; a linguagem apelativa da propaganda, sinalizada pelo uso do pronome “você”; o poder de identificação criado pelas imagens.
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a publicidade do Ministério da Saúde utiliza para combater o preconceito? preconceito? 2. Que argumentos argumentos a • O argumento de que a doença pode atingir a todos, independentemente independentemente de sexo, sexo, idade, orientação sexual ou classe social. Portanto, não há grupos de risco. • Muitas pessoas vivem com com AIDS (“É possível viver viver com AIDS”) e convivem convivem naturalmente com quem tem Aids. • Não se contrai a doença por conviver conviver com alguém alguém infectado (AIDS não pega com beijo, abraço, abraço, aperto de mão.) • Viver com o preconceito preconceito é mais difícil que viver com AIDS, pois o preconceito preconceito isola, faz sofrer sofrer.. • O preconceito preconceito pode impossibilitar a vida, já que as pessoas, pessoas, com medo de se expor, não buscam o diagnóstico e evitam o tratamento. D8 3. Imagens, em textos publicitários, costumam ter forte poder de argumentação e convencimento. Avalie as imagens dos textos. As imagens exibem pessoas comuns com as quais muitos de nós nos identificaríamos. Em cada um dos textos temos duas pessoas convivendo, sendo que uma delas tem o vírus, e não é possível identificar, pela aparência, o portador do vírus, ou seja, a Aids pode “escolher” qualquer um de nós. As imagens, portanto, reforçam o conteúdo da frase “A aids não tem preconceito, você também não deve ter”. D4 4. Por que as informações abaixo podem ajudar a acabar com o preconceito? a) A aids pode afetar qualquer homem ou mulher de todas as idades, orientações sexuais e classes sociais; b) O amor não transmite aids. Carinho, afeto afeto e beijo na boca também não; c) Fale abertamente sobre HIV/aids. Quanto mais gente busca informação, mais gente faz o exame e usa camisinha.
Considere as informações abaixo, veiculadas no segundo folder: Muitas pessoas ainda pensam existir grupos de risco, como os homossexuais. A informação (a) esclarece que todos somos, hoje, vulneráveis. Muitos deixam de conviver com os doentes por medo do contágio. A informação de (b) esclarece que afeto e carinho só fazem bem ao soropositivo e não fazem mal a quem com ele convive. A AIDS ainda é um tabu para muitas pessoas. A informação de (c) esclarece que se a AIDS precisa assumida como uma realidade que pode afetar a todos nós, desse modo, as pessoas estarão mais protegidas, já que mais conscientes da necessidade de se protegerem, fazendo fazendo o exame e usando camisinha. D4
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5. Considere a frase: “A aids não tem preconceito, você também não deve ter.” 5.1. Que figura de linguagem está presente na construção desse enunciado? Que efeito discursivo ela produz? Uma personificação. A AIDS é tratada como alguém que não tem preconceito, ou seja, que pode escolher qualquer um, sem considerar as aparências. D18 5.2. Avalie o uso do pronome “você” na frase. O pronome você apela para a atenção do interlocutor, chamando-o diretamente ao diálogo com esse texto, o que é muito comum na linguagem da propaganda. D18 O último texto desta oficina é um outro folder , dirigido aos profissionais da saúde, também elaborado pelo Ministério da Saúde.
Dados de Aids no Brasil Epidemia concentrada em populações vulneráveis e feminização Os números demonstram que a aids, no Brasil, apesar de concentrada em populações vulneráveis, está presente também no universo feminino. O número de casos de aids é maior entre homens do que entre mulheres; entretanto, essa diferença vem diminuindo ao longo dos anos. O aumento proporcional do número de casos entre mulheres pode ser observado pela razão de sexos (número de casos em homens divido pelo número de casos em mulheres). Em 1989, a razão de sexo era de cerca de 6 casos de aids no sexo masculino para cada 1 caso no sexo feminino. Em 2009, chegou a 1,6 casos em homens para cada 1 caso em mulheres.
Dezembro 2010
O Brasil em busca de novos casos de aids Reconhecida como bem-sucedida, resultando em uma epidemia estabilizada, a Resposta Brasileira ao HIV/aids, ainda convive com grandes desafios. A realização do diagnóstico precoce é um deles. Estima-se que 630 mil pessoas vivam com o vírus no país. Destas, pelo menos, 255 mil não sabem disso ou nunca fizeram o teste de HIV. Uma realidade que o Governo Federal, em conjunto com os estados e municípios, tem enfrentado por meio de campanhas de mobilização para a ampliação do diagnóstico. A principal dessas iniciativas é o Fique Sabendo. Em quatro anos (2005 a 2009), o número de testes de HIV distribuídos e pagos pelo SUS mais que dobrou: passou de 3,3 milhões para 8,9 milhões de unidades. O resultado pode ser percebido no aumento da testagem para o HIV no país, que foi ampliada de 23,9% em 1998 para 38,4% em 2008.
35 mil casos de aids, em média, são registrados por ano No ano de 2000, o Brasil contabilizava 31 mil casos/ano; em 2009, 38 mil casos/ano. Esse dado, que para muitos seria preocupante, para o Ministério da Saúde é o resultado da busca incessante pelo diagnóstico. Com o aumento da testagem, a tendência é de aumento do número de casos de aids no país Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais
e de aumento do número de pessoas em tratamento. Mais pessoas diagnosticadas, mais prevenção, mais pessoas em acompanhamento e uma resposta mais efetiva.
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Dados de Aids no Brasil Dezembro 2010
O Brasil em busca de novos casos de aids Reconhecida como bem-sucedida, resultando em uma epidemia estabilizada, a Resposta Brasileira ao HIV/aids, ainda convive com grandes desafios. A realização do diagnóstico precoce é um deles. Estima-se que 630 mil pessoas vivam com o vírus no país. Destas, pelo menos, 255 mil não sabem disso ou nunca fizeram o teste de HIV. Uma realidade que o Governo Federal, em conjunto com os estados e municípios, tem enfrentado por meio de campanhas de mobilização para a ampliação do diagnóstico. A principal dessas iniciativas é o Fique Sabendo. Em quatro anos (2005 a 2009), o número de testes de HIV distribuídos e pagos pelo SUS mais que dobrou: passou de 3,3 milhões para 8,9 milhões de unidades. O resultado pode ser percebido no aumento da testagem para o HIV no país, que foi ampliada de 23,9% em 1998 para 38,4% em 2008.
35 mil casos de aids, em média, são registrados por ano No ano de 2000, o Brasil contabilizava 31 mil casos/ano; em 2009, 38 mil casos/ano. Esse dado, que para muitos seria preocupante, para o Ministério da Saúde é o resultado da busca incessante pelo diagnóstico. Com o aumento da testagem, a tendência é de aumento do número de casos de aids no país e de aumento do número de pessoas em tratamento. Mais pessoas diagnosticadas, mais prevenção, mais pessoas em acompanhamento e uma resposta mais efetiva.
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Epidemia concentrada em populações vulneráveis e feminização Os números demonstram que a aids, no Brasil, apesar de concentrada em populações vulneráveis, está presente também no universo feminino. O número de casos de aids é maior entre homens do que entre mulheres; entretanto, essa diferença vem diminuindo ao longo dos anos. O aumento proporcional do número de casos entre mulheres pode ser observado pela razão de sexos (número de casos em homens divido pelo número de casos em mulheres). Em 1989, a razão de sexo era de cerca de 6 casos de aids no sexo masculino para cada 1 caso no sexo feminino. Em 2009, chegou a 1,6 casos em homens para cada 1 caso em mulheres.
Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais
1. Considere a primeira parte do folder para responder as questões abaixo. 1.1. O título “O Brasil em busca de novos casos de Aids” faz referência: a) ao aumento do número de casos de Aids entre as mulheres. b) à diminuição do número de casos de infecção por HIV/aids no Brrasil. c) ao controle da epidemia de Aids no Brasil d) às campanhas para realização do diagnóstico precoce. (X)
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1.2. Releia: Reconhecida como bem sucedida, resultando em uma epidemia estabilizada, a Resposta Brasileira ao HIV/aids ainda convive com grandes desafios. A expressão Resposta Brasileira ao HIV/aids faz referência: a) às campanhas do Ministério da Saúde para o diagnóstico precoce. b) às ações do governo do Brasil de combate ao HIV/aids. (X) c) à publicidade brasileira para combater o preconceito. d) aos boletins de divulgação dos dados de Aids no Brasil. D3 1.3. Como o texto do folder avalia as ações de combate à Aids no Brasil? Como ações bem sucedidas que conseguiram estabilizar uma epidemia. D1 1.4. Segundo o texto, qual é um dos grandes desafios da Resposta Brasileira ao HIV? Por quê? Um dos grandes desafios é a realização do diagnóstico precoce, pois estima-se que 630 mil pessoas vivam com o vírus no país, mas 255 não sabem disso ou nunca fizeram o teste de HIV. D1 1.5. Quais as iniciativas do Governo Federal para enfrentar esse desafio? O Governo Federal tem desenvolvido campanhas de mobilização para ampliação do diagnóstico, como o “Fique Sabendo/Faça o teste de Aids”. D1 2. Releia: “No ano de 2000, o Brasil contabilizada 31 mil casos/ano; em 2009, 38 mil casos/ano.” A que se deve esse aumento? Para o Ministério da Saúde, esse dado é resultado da busca incessante pelo diagnóstico. D1
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3. Considere, agora, o título: “Epidemia concentrada em populações vulneráveis e feminização”. Qual é o assunto abordado na última parte do folder? O aumento do número de casos de aids entre as mulheres, embora os homens ainda sejam mais “vulneráveis”. D6 Sugerimos que o tutor, ao corrigir as atividades, estimule a comparação entre os dois folders, propondo que os alunos avaliem diferenças relativas à linguagem e às estratégias textuais em função dos interlocutores preferenciais dos dois textos, o primeiro dirigido especialmente aos jovens e o segundo, a profissionais da saúde, especialistas. O tutor pode, ainda, explorar o desenho da Campanha Fique Sabendo – que estimula o diagnóstico precoce. O desenho sugere, no rosto alegre formado pelos sinais positivo ou negativo, que a vida é possível com Aids.
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ÉTICA
1. OBJETIVOS: » Desenvolver habilidades de leitura e análise do texto expositivo. » Propor uma discussão em torno de temas associados à ética.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA Texto 1 – “Ponha-se no lugar do outro” - Fernando Savater. O texto em questão é um fragmento do capítulo 7 do livro “Uma ética para meu filho”, de Fernando Savater, editora Planeta. Motivado pelo desejo de conversar com o próprio filho sobre “ética”, o autor esclarece, em texto introdutório, que seu livro “foi pensado e escrito para que seja lido pelos adolescentes”. Pode-se notar o tom informal e a fluidez do texto ao tratar de um tema, por vezes, complexo. O fragmento recortado para esta oficina é expositivo, pretende “fazer saber”, construir um conceito de ética, esclarecendo que a ética relaciona-se, centralmente, à necessidade de construção da vida coletiva: “O que faz a vida ser humana é o fato de transcorrer em companhia de seres humanos” . Daí a importância de nos colocarmos no lugar do outro, para que possamos construir uma convivência que faça nossa vida ser boa. Ser ético, nesse sentido, significa buscar uma boa vida para si e para os outros. É importante observar que, antes de conceituar ética – “Ser ético é buscar viver bem a vida humana, a vida que transcorre entre humanos” - , o autor recupera uma cena da história de Robinson Crusoé, destacando o conflito vivido pelo personagem quando, já adaptado à sua vida de náufrago solitário, encontra pegadas na areia que indicam haver ali um outro humano. Robinson, então, se põe a pensar em como irá comportar-se ante a presença de um outro, em como irá “tratá-lo” (observese que esse verbo merece destaque no texto). O conflito vivido por esse personagem é utilizado no texto de Savater para tecer essa breve e rica discussão sobre a ética, destacando-se, como sua “especificidade” a busca de um convivência boa e justa, que implica a capacidade de ver o outro e de colocar-se em seu lugar, posto que nossos semelhantes são, muitas vezes, muito diferentes de nós. 3 A distinção que estamos propondo entre as categorias relato e narração tem um efeito pedagógico, na medida em que permite lidar com a diversidade entre os gêneros do universo ficcional e não ficcional. Em alguns manuais didáticos essa distinção não é feita. Trata-se de diferentes formas de categorização dos gêneros, sem implicações para o trabalho de leitura que pretendemos desenvolver neste projeto.
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Texto 2 – “Próximo milênio é a era da delicadeza”, Claudius. Os quadrinhos de Claudius têm um título que indica a necessidade de construirmos uma nova era, um “tempo de delicadeza”, sugerindo que vivemos um tempo de violência e descuido com os seres humanos. Os quadrinhos enumeram comportamentos e problemas sociais que ameaçam a vida humana: a agressividade dos motoristas, a violência da polícia, a violência social, a exploração do homem no trabalho, a deficiência dos serviços públicos de saúde e educação, a questão da terra, a corrupção e a impunidade e, por fim, a nossa frágil cidadania, que impede que, pela participação política, lutemos para modificar esse quadro.
3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA » Antes de encaminhar a leitura do texto 1, o tutor deve motivar uma discussão sobre o tema “ética”. O que os alunos entendem por ética? O que é ser ético? » Propor a leitura do texto 1 e a resolução das atividades de leitura. » Retomar com os alunos as atividades, esclarecendo suas dúvidas e, a partir delas, aprofundar a leitura do texto. » Em seguida, o tutor dever coordenar a próxima atividade: o breve debate proposto na Atividade oral, indicando que os alunos registrem os resultados desse debate em seu caderno. » Passar à leitura do texto 2 – os alunos podem trabalhar em duplas. » Comentar as atividades de leitura relativas aos quadrinhos de Claudius – o tutor deve, nesse momento, ajudar os alunos a produzir as inferências necessárias a uma análise mais profunda do texto.
4. ATIVIDADES DE LEITURA. O texto que abaixo é um fragmento de um dos capítulos do livro “Ética para meu filho”, de Fernando Savater, Editora Planeta. Como você poderá perceber, o autor dirige-se a seu filho, com quem deseja conversar sobre “ética”.
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Ponha-se no lugar do outro Robinson Crusoé passeia por uma das praias da ilha à qual foi confinado por uma inoportuna tempestade seguida de naufrágio. Leva seu papagaio ao ombro e protege-se do sol graças à sombrinha fabricada com folhas de palmeira, que o faz sentir orgulho, com razão, de sua habilidade. Ele acha que, em vista das circunstâncias, até que não se arranjou mal. Agora tem um refúgio para se proteger contra as inclemências do tempo e dos ataques dos animais selvagens, sabe onde conseguir alimento e bebida, tem roupas para se abrigar – que ele mesmo fez com elementos naturais da ilha -, os dóceis serviços de um pequeno rebanho de cabras, etc. Enfim, acha que sabe arranjar-se para levar mais ou menos sua vida boa de náufrago solitário. Robinson continua passeando, e está tão contente consigo mesmo que por um momento parece não sentir falta de nada. De repente, detém-se com um sobressalto. Ali, na areia branca, desenha-se uma marca que irá revolucionar toda a sua pacífica existência: uma pegada humana. De quem será? Amigo ou inimigo? Talvez um inimigo que possa se tornar amigo? Homem ou mulher? Como se entenderá com ele ou ela? Como irá tratá-lo? Robinson já está acostumado a se fazer perguntas desde que chegou à ilha e a resolver os problemas do modo mais engenhoso possível: o que vou comer? Onde vou me abrigar? Como posso proteger-me do sol? Mas agora a situação não é a mesma, pois não se trata de lidar com acontecimentos naturais, como a fome e a chuva, nem com animais selvagens, mas com um outro ser humano, ou seja, com outros Robinsons e Robinsonas. Diante dos elementos ou dos animais, Robinson pôde comportar-se sem atender a nada além de sua necessidade de sobrevivência. Tratavase de ver se podia com eles ou se eles podiam com ele, sem mais complicações. Mas, diante de seres humanos, a coisa já não é tão simples. Ele deve sobreviver, sem dúvida, mas não de
qualquer modo. Se Robinson transformou-se num animal como os outros que perambulam pela selva, por causa de sua solidão e sua desventura, sua única preocupação será saber se o desconhecido dono da pegada é um inimigo a ser eliminado ou uma presa a ser devorada. Mas, se quer continuar sendo homem... Então já não estará lidando com uma presa ou um simples inimigo, mas com um rival ou um possível companheiro; de todo modo, com um semelhante. Enquanto está só, Robinson enfrenta questões técnicas, mecânicas, higiênicas, até científicas, se é que você me entende. A questão é salvar a vida num meio hostil e desconhecido. Mas quando ele encontra a pegada de Sexta Feira na areia da praia, começam seus problemas éticos. Já não se trata de sobreviver, como um animal selvagem ou uma alcachofra, perdido na natureza; agora precisa começar a viver humanamente, ou seja, com outros ou contra outros homens, mas entre homens. O que faz a vida ser “humana” é o fato de transcorrer em companhia de seres humanos, falando com eles, pactuando e mentindo, sendo respeitado ou traído, amando, fazendo projetos e recordando o passado, desafiando-se, organizando juntos coisas comuns, jogando, trocando símbolos... A ética não se ocupa em saber como se alimentar melhor, qual a maneira mais recomendável de se proteger do frio ou o que fazer para atravessar um rio sem se afogar, todas questões muito importantes, sem dúvida, para sobrevivência em determinadas circunstâncias; o que interessa à ética, o que constitui sua especificidade, é como viver bem a vida humana, a vida que transcorre entre humanos. Se não soubermos como nos arranjar para sobreviver em meio aos perigos naturais, perderemos a vida, o que sem dúvida será um grande dano; mas, se não tivermos nem ideia de ética, perderemos ou prejudicaremos o humano de nossa vida, o que, francamente, também não tem graça nenhuma.
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ATIVIDADES DE LEITURA 1. Preencha o quadro abaixo: Título do livro: Autor: Título do capítulo: Assunto:
Uma ética para meu filho Fernando Savater Ponha-se no lugar do outro Ética
O preenchimento do quadro é importante para que os alunos considerem, na atividade de leitura, o suporte do texto. Trata-se de um fragmento de um capítulo de livro. Essa sinalização é importante para o produção de inferências na atividade de leitura.
2. O texto acima tem início com a história de Robinson Crusoé. Releia atentamente os fragmentos que recuperam uma pequena cena dessa história e responda: 2.1. Quem é Robinson Crusoé? Um náufrago que vive sozinho numa ilha em companhia de seu papagaio. D1 2.2. O que faz o personagem na cena descrita? Robinson Crusoé passeia pela praia e pensa em tudo que vem conseguindo fazer para sobreviver num lugar tão hostil. D1 2.3. Por que Robinson está “tão contente consigo mesmo”? O personagem parece satisfeito consigo mesmo por estar conseguindo sobreviver naquela ilha, sozinho. D4 2.4. O que fez o personagem para enfrentar as dificuldades de sua nova vida de náufrago solitário? Construiu um refúgio, uma casa, para proteger-se dos animais, da chuva e do sol. Aprendeu a conseguir alimentos, contando, inclusive com um rebanho de cabras. Tem roupas para vestir-se e até uma sombrinha feita de folhas de palmeira com a qual caminha na praia. D1
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3. Releia: “De repente, detém-se com um sobressalto. Ali, na areia branca, desenha-se uma marca que irá revolucionar toda a sua pacífica existência: uma pegada humana.” O que a visão da pegada humana na areia provoca em Robinson Crusoé? Robinson se sobressalta, ou seja, assusta-se e se sente ameaçado, intranquilo. D4 4. O que a série de perguntas que aparecem no 2º parágrafo indica a nós leitores? As perguntas correspondem às preocupações do personagem. Ele se indaga o tempo todo sobre como agir para sobreviver naquela ilha. Ele se pergunta sobre como enfrentar os desafios naturais e também os desafios da convivência com um possível semelhante. D4
As questões de 2 a 4 exploram o que poderíamos chamar de primeira parte do texto, que corresponde à narração da história de Robinson Crusoé. A questão 2 chama a atenção para informações que compõem a orientação do pequeno trecho narrativo. As questões 3 e 4 apontam para o elemento complicador dessa narrativa, cujo desfecho não será revelado. Importantes são as perguntas que o personagem se faz quando vê uma pegada humana na areia. A consideração dessas perguntas auxilia a compreensão do conceito com o qual o autor vai trabalhar.
5. Considere as perguntas que Robinson Crusoé se faz diante da pegada humana que vê na areia: “De quem será? Amigo ou inimigo? Talvez um inimigo que possa se tornar amigo? Homem ou mulher? Como se entenderá com ele ou ela? Como irá tratá-lo?” 5.1. Por que essas perguntas são “diferentes” daquelas que ele se fazia antes? Antes Robinson se perguntava sobre como iria lidar com os desafios impostos pelos acontecimentos naturais, como iria comer ou defender-se dos animais, por exemplo. Enfim, Robinsom pensa em como sobreviver. As pegadas lhe revelam que ele talvez tenha que “enfrentar” um outro ser humano. O novo problema que se coloca, então, é o da convivência com o outro. D4 5.2. Observe que, no texto, a palavra “tratá-lo” está em itálico. Por que o autor teria feito essa escolha? A palavra “tratá-lo” é importante nessa sequência de perguntas, pois reforça os desafios colocados à convivência com o outro, com o semelhante. Talvez por isso ela tenha merecido destaque no texto. D17
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6. Releia: “A questão é salvar a vida num meio hostil e desconhecido. Mas, quando ele encontra a pegada de Sexta-Feira na areia da praia, começam seus problemas éticos.” Que problemas éticos Robinson Crusoé enfrenta ao encontrar a pegada na areia? O personagem passa a pensar no outro com quem teria que conviver. Ele se pergunta sobre quem é ele, sobre como deve tratá-lo. Ele passa a se perguntar sobre como deverá agir para entender-se bem com o outro, viver bem com o outro. D4 7. Com que objetivo o autor conta a história de Robinson Crusoé nesse capítulo do livro? O autor pretende explicar o que é a ética, esclarecendo que as questões éticas surgem quando precisamos construir a convivência com o outro. Robinson vivia sozinho, seus “problemas éticos” surgem quando tem que lidar com a presença de outro ser humano. D12 8. Após contar a história de Robinson Crusoé, o autor passa a construir um conceito de “ética”. Grife, no texto, frases em que ele conceitua “ética”. Em seguida, explique, com suas palavras o que você entendeu sobre esse conceito. A ética é a arte de viver bem a vida humana, ou seja, de construir uma boa convivência, pois ser humano é viver entre humanos. A convivência entre humanos impõe desafios e, para termos uma vida boa, é preciso tornar essa convivência possível. D1 9. Explique o título “Ponha-se no lugar do outro”, relacionando-o ao tema do texto. Saber conviver com o outro é condição para termos uma vida boa, ética. E, para tornarmos a convivência humana possível, precisamos aprender a nos colocar no lugar do outro. D6 As questões de 5 a 9 exploram a segunda parte do texto, buscando relacioná-la à primeira. A história de Robinson Crusoé é um ótimo exemplo para discutirmos a ética a partir da perspectiva proposta pelo autor. É importante que os alunos percebam essa relação e identifiquem o objetivo central desse texto que é expor um conceito de ética. A história contada é ilustrativa.
Leia, agora, os quadrinhos abaixo, retirados da revista CAROS AMIGOS, editora Casa Amarela, de dezembro de 1999.
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1. Considere o título do texto e a data em que ele foi publicado. O que o título nos sugere a respeito: 1.1. da opinião de seu autor sobre o século que terminava? Para o autor, o século XX não foi um tempo de delicadeza, o que pôde ser percebido no cotidiano das pessoas. D4 1.2. da expectativa do autor sobre o novo século? O autor espera um tempo de maior delicadeza, um tempo em que a vida coletiva possa ser construída. D4 2. Considerando os quadrinhos, o que você entende por “era da delicadeza”? Um tempo em que as pessoas possam ser mais “delicadas”, mais sensíveis ao direito do outro, menos agressivas, mais comprometidas com a vida coletiva. D4 3. Qual seria a finalidade desse texto em quadrinhos? Apontar para problemas ainda enfrentados pela sociedade brasileira - como a questão da saúde púbica, do emprego, do acesso à cultura, do direito à terra etc – problemas que tornam nosso cotidiano difícil, agressivo, nada “delicado”. D12 4. O texto enumera, pelo menos, oito problemas que deveríamos superar no novo milênio para que ele seja “a era da delicadeza”. Identifique esses problemas, considerando cada um dos quadros lidos. Quadro 1 A violência no trânsito, a violência social (os assaltos), a violência policial. A falta de emprego, a exploração do trabalho humano, a negação do direito ao gozo Quadro 2 “pleno” de férias. Quadro 3 A deficiência dos serviços públicos de saúde. A má educação dos fumantes, a ausência de leis que protejam os não fumantes (e Quadro 4 fumantes) A desigualdade social, decorrente da questão agrária, da injusta divisão de terras Quadro 5 no Brasil. Quadro 6 A corrupção e a impunidade que protege os ricos e os poderosos. A ausência de políticas efetivas de proteção à infância: falta escola, acesso a livros Quadro 7 e à cultura, acesso ao lazer. Quadro 8 A ausência de consciência cidadã: o brasileiro não leva a sério seu direito do voto.
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D4 As questões 1 e 2 apontam para o título, importante pista textual. A questão 3 aponta para o conteúdo crítico desse gênero de texto: os quadrinhos em questão denunciam problemas sociais que impedem que nós brasileiros tenhamos uma vida boa. A questão 4, mais complexa, exige que os alunos leiam cada um dos quadrinhos. O tutor deve considerar que há problemas que estão explicitados no texto (a violência no trânsito, a indelicadeza dos fumantes e outros que devem ser inferidos. Por exemplo: a questão da impunidade que protege os ricos e poderosos pode ser inferida na frase “Você sabe com quem está falando?”, que, segundo o antropólogo Roberto DaMata 1, aponta o poder da hierarquia na sociedade brasileira e para os privilégios de status que gozam as pessoas das classes dominantes.
5. Na sua opinião, quais dos quadrinhos denunciam “problemas éticos”? Por quê? Escolha três dos oito quadros para explicar sua resposta. Resposta pessoal. Em 5, é importante que o tutor ajude os alunos relacionar os dois textos, observando que todos os quadrinhos nos permitem pensar a ética. Questões sociais como a desigualdade e o desemprego, a ineficiência de nossos serviços públicos de saúde e educação, a divisão desigual da terra sinalizam que estamos ainda distantes de construirmos uma sociedade ética, justa, onde todos possam ter uma vida boa. Numa sociedade ética, não se pode admitir a corrupção. Um cidadão ético condena tudo que restringe seus direitos e os direitos do outro, exerce sua cidadania pelo voto e agindo de forma a considerar o bem da coletividade. Também as constantes agressões no trânsito, a indelicadeza dos fumantes apontam para nossa dificuldade em enxergarmos o outro e agirmos de forma a reconhecer seu direito.
ATIVIDADE ORAL E ESCRITA: Conversando sobre a arte de conviver Vimos, no texto 1, que Robinson Crusoé, antes mesmo de saber quem era o outro que estava com ele naquela ilha, já se pôs a pensar em como iria “tratá-lo”, em como seria sua convivência com ele. Considere a sua convivência na escola, espaço em que você vive boa parte da sua vida. Que dificuldades são colocadas à convivência coletiva? Que “problemas éticos” se apresentam nesse espaço de convivência? Como poderíamos agir para melhorarmos nossa convivência com o outro?
Depois dessa discussão, o tutor vai propor que os alunos registrem, no caderno, suas ideias sobre como melhorar a convivência na escola.
1 DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997, 187-238.
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POLÍTICA E CIDADANIA
1. OBJETIVOS » Desenvolver habilidades de leitura de textos argumentativos. » Refletir sobre o gênero charge como recurso de crítica social e política.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA Música “Pacato cidadão” – Samuel Rosa e Chico Amaral A letra de Samuel Rosa e Chico Amaral pode ser lida como um chamado à participação social, à cidadania. Nesse sentido, a palavra “pacato” poderia ganhar um outro sentido que não apenas o de sossegado, tranquilo. Pacato poderia significar também alienado, acomodado. O artista convoca o ouvinte cidadão à ação política: “Pacato cidadão, eu te chamei a atenção não foi à toa, não! Afirma ter “tramado planos incríveis à luz do sol” e, embora não acredite mais em utopias (“ C’est fini ” é uma expressão do francês que significa “acabou”), não pode aceitar a violência cotidiana (“ Mas a guerra todo dia/ Dia a dia, não”). A alienação do “cidadão pacato” é apontada em versos como: “ pra que tanta TV/ tanto tempo pra perder ”. A letra também aponta para problemas que afetam a sociedade brasileira e que poderiam ser resolvidos se houvesse cidadania, ou seja, se o cidadão assumisse seu lugar de participante da vida de sua cidade: a sujeira das ruas e dos rios; a exploração no trabalho, a desigualdade social; o pouco investimento em educação. Ainda segundo a letra, o verdadeiro cidadão diz o que pensa, manifesta sua insatisfação, luta para transformar a realidade: “se você não gosta dele/ diga logo a verdade/ sem perder a cabeça... ” Texto 1 - Será que exercemos a CIDADANIA como deveríamos? - Rodrigo Ribeiro Rodrigues O texto de Sérgio Rodrigues é um texto argumentativo que discute o tema da cidadania. O título do texto corresponde à questão-problema ou à pergunta que origina a argumentação: como nós, brasileiros, exercemos nossa cidadania? A resposta a essa pergunta corresponde à tese ou ponto de vista defendido pelo autor. Na sua opinião, a cidadania, para os brasileiros, “ pressupõe mais direitos do que deveres”.
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Essa compreensão equivocada da cidadania teria uma justificativa. O cerceamento das liberdades individuais durante os anos de ditadura, a histórica injustiça social que excluiu e ainda exclui minorias (negros, pobres, mulheres) são fatos que o autor utiliza para explicar por que os brasileiros entendem que a cidadania é, principalmente, a luta por seus direitos: “Nada mais justo, portanto, que todo cidadão com um mínimo de valores humanitários seja defensor dos direitos dos menos favorecidos socialmente inclusive dele próprio”. No entanto, para o autor, a cidadania pressupõe “muito mais uma pauta de deveres que do que apenas de direitos. Nesse sentido, ser cidadão implica não apenas indignar-se e lutar por seus direitos, mas, principalmente, comprometer-se com uma ação política que transforme a sociedade, tendo em vista o direito da coletividade. Esse sentido de cidadania implica colocar-se no lugar do outro. Daí o conselho ao leitor ainda não diretamente envolvido na ação política: “ Ter um olhar voltado para algo além do seu interesse imediato também é transformar o mundo em um lugar mais digno para todos”. Texto 2 – A questão da cidadania – Leandro Konder O texto de Leandro Konder, um texto argumentativo, faz uma importante relação entre os termos cidadania e política, tomando a raiz grega da palavra política, originada de polis, que significa cidade. Essa é uma relação importante que permite discutir a cidadania como a condição daquele que participa da vida de sua “cidade” (ou seja, de sua comunidade, de seu país), e a política como atividade fundamental à construção da cidadania e da democracia. Podemos dizer que a questão central da cidadania que o texto pretende discutir é: a dificuldade de se construir, modernamente, uma comunidade de cidadãos (e não um “formigueiro”). O que o autor entende por uma comunidade de cidadãos? Uma comunidade que busca “ conciliar os interesses particulares e os ideais comprometidos com a promoção do bem comum”. Na argumentação de Konder, esse é um desafio, pois, hoje, “a dimensão comunitária, insuprimível na vida humana, está muito debilitada” . As pessoas estariam pensando mais em seus próprios interesses que no interesse da coletividade. Depois de tecer essa ideia central, o autor passa a listar as “múltiplas questões atuais da cidadania”. É importante observar a repetição como estratégia para a articulação dos parágrafos que listam as questões de cidadania que temos que enfrentar, se quisermos construir uma comunidade de cidadãos de direitos (“precisamos lutar permanentemente”;” precisamos criar condições”; “cumpre lutarmos” ). O foco da discussão da cidadania, portanto, está no dever de lutarmos pelo direito de todos. Cabe ao cidadão (chamado a participar da vida social) a defesa: dos direitos das minorias, mulheres, negros e pobres; do direito à livre expressão do pensamento e da liberdade política e religiosa; do direito à subsistência; do direito à educação e à informação; do direito das classes populares de participarem da vida cultural e política do país. Ao concluir o seu texto, o autor reafirma a dificuldade de se construir, hoje, a luta coletiva, acreditando, no entanto, que é a participação efetiva nessa luta que vai resgatar em nós valores éticos, ou seja, a condição de pensarmos no bem de todos, no bem da “cidade”.
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Texto 3 – O analfabeto político - Bertolt Brecht. O poema de Bertolt Brecht (dramaturgo alemão nascido em 1989) denuncia, de forma indignada, a alienação política. O autor apropria-se da noção tradicional de analfabeto (aquele que não sabe ler nem escrever) para formular o conceito de “analfabeto político”. Com essa expressão, o autor faz referência a um tipo de cidadão que não se dispõe a “ler” e compreender o cenário político a sua volta e ainda se orgulha dessa sua ignorância. O analfabeto político é aquele que não se informa sobre os acontecimentos sociais e políticos de seu país (“não ouve”), não se posiciona diante dos fenômenos sociais (“não fala”). Desse descompromisso resulta a exclusão social, o alto custo de vida e, o pior dos males, a corrupção na política. Chama atenção no texto a adjetivação “agressiva” que o autor apropriadamente utiliza e que traduz sua indignação. O analfabeto político é burro e imbecil. O político corrupto, resultado de nossa alienação política, é pilantra, vigarista e lacaio.
3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA » Motivação – ouvir a música “Pacato Cidadão” e discutir, com todo o grupo, as questões de leitura. » Leitura da charge – o tutor pode fazer a leitura desse outro texto ainda com todo o grupo, que deverá registrar as discussões em seu caderno. » Leitura dos textos argumentativos e do poema “Analfabeto político”– sugerimos que os alunos trabalhem em pequenos grupos, sob orientação do tutor, fazendo as atividades de leitura. » Correções/ comentários da atividades de leitura – o tutor deve aproveitar esse momento da oficina para discutir com o grupo questões relativas ao tema cidadania/política e protagonismo juvenil.
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4. ATIVIDADES DE LEITURA Vamos iniciar esta oficina ouvindo a canção abaixo, com atenção à sua letra. Pacato Cidadão Skank Composição : Samuel Rosa e Chico Amaral Oh! Pacato Cidadão! Eu te chamei a atenção Não foi à toa, não C’est fini la utopia Mas a guerra todo dia Dia a dia, não...
E tracei a vida inteira Planos tão incríveis Tramo Tr amo a luz do sol Apoiado em poesia E em tecnologia Agora à luz do sol...
E tracei a vida inteira Planos tão incríveis Tramo a luz do sol Apoiado em poesia E em tecnologia Agora à luz do sol...
Pra que tanta sujeira Nas ruas e nos rios Qualquer coisa que se suje Tem que limpar Se você não gosta dele Diga logo a verdade Sem perder a cabeça Sem perder a amizade...
Pacato Cidadão! da Civilização Pacato Cidadão! da Civilização... (repetem-se as duas primeiras estrofes) Pra que tanta TV Tanto tempo pra perder Qualquer coisa que se queira Saber querer Tudo bem, dissipação De vez em quando é “bão” Misturar o brasileir brasileiroo Aaaaai! Com alemão Pacato Cidadão! da Civilização... Oh! Pacato Cidadão! Eu te chamei a atenção Não foi à toa, não C’est fini la utopia Mas a guerra todo dia Dia a dia, não...
Pacato Cidadão! da civilização... (repetem-se as duas primeiras estrof estrofes) es) Consertar o rádio E o casamento é Corre a felicidade No asfalto cinzento Se abolir a escravidão Do caboclo brasileir brasileiroo Numa mão educação Na outra dinheiro... Pacato Cidadão! da Civilização Pacato Cidadão! da Civilização...(2x)
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ATIVIDADE ORAL – conversando sobre a letra da música Certamente você já ouviu essa música da banda mineira Skank. Mas já parou para pensar no significado de sua letra? Considere as questões abaixo e reflita sobre o significado dela. Converse com seu grupo sobre as conclusões a que chegou. » 1. Como você interpreta essa letra? » 2. Quem seria o “pacato cidadão”? Para responder a essa pergunta, considere os verbetes de dicionário abaixo. Que novo significado a palavra “pacato” poderia ganhar na letra da música do Skank? » 3. Por que o artista “chama a atenção” do “pacato cidadão”? »
pacato [Do lat. pacatu, ‘pacificado’.] Adjetivo. 1. Que é amigo de paz; pacífico, sossegado, tranqüilo. 2. Próprio de quem é pacato (1): homem de hábitos pacatos; pacatos; vida pacata. sossegado: 3. Em que há paz, tranqüilidade; tranqüilo, sereno, sossegado: “Realmente o Dr. Dr. Mata Filho havia chegado pondo em rebuliço a pacata cidade” (Cornélio Pires, Quem Conta um Conto..., p. Conto..., p. 203). Substantivo masculino. 4. Indivíduo pacato. cidadão De cidade + -ão2. cidade + Substantivo masculino. 1. Indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este. 2. Habitante da cidade. 3. Pop. Indivíduo, homem, sujeito: e cidadoa Esteve aí um cidadão procurando por você. [Fem.: cidadã cidadã e cidadoa;; pl.: cidadãos.].] cidadãos Cidadão do mundo. 1. Homem que põe os interesses da humanidade acima dos da pátria; cidadão do Universo. Cidadão do Universo. 1. Cidadão do mundo. Depois de construir sua interpreta interpretação ção da música “Pacato cidadão”, elabore, com suas palavras, o conceito de cidadania. Anote esse conceito em seu caderno. Cidadania é a condição daquele que participa da vida social, tomando consciência dos seus direitos e deveres.
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O tutor vai ajudar os alunos a elaborar, a partir da leitura da letra da música e do verbete de dicionário abaixo, um conceito de cidadania. Para tanto, é importante explicitar a relação entre as palavras cidade/cidadania/cidadão. Ser cidadão é participar da vida de sua cidade, ou seja, da comunidade, da sociedade, do país. A letra da música permite discutir a dificuldade de se construir a cidadania em nosso país bem como a importância da participação cidadã no enfrentamento dos nossos problemas sociais.
Leia, agora, a charge abaixo. A charge é um texto através do qual se faz uma sátira, uma crítica, normalmente a uma questão política de conhecimento público.
1. Quem são seus personagens? Os personagens são cidadãos brasileiros, provavelmente moradores de rua, uma família pobre que não tem moradia. D4 2. Sobre o que conversam? Sobre os direitos dos cidadãos. A mulher pede ao homem que leia outro parágrafo do que provavelmente provav elmente é um exemplar da constituição brasileira, um trecho que ela acha bonito. D1
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3. Qual é finalidade dessa charge de Miguel Paiva? Através dessa charge, Miguel Paiva denuncia a exclusão e a extrema desigualdade social brasileira, que nega, a milhões de cidadãos, direitos fundamentais, como o direito à moradia, à alimentação e à saúde. Esses direitos são apenas palavras bonitas no papel. D12 4. Como você relaciona essa charge ao tema desta oficina? Viver em uma democracia significa ser cidadão de direito. Embora a nossa constituição assuma como princípio fundamental “a igualdade de todos perante a lei”, vivemos numa sociedade extremamente desigual e excludente. Após essa discussão inicial a respeito do importante tema da cidadania, você vai ler dois textos argumentativos sobre o assunto. Faça atentamente as atividades de leitura para melhor compreender os textos. Texto 1
Será que exercemos a CIDADANIA como deveríamos? Por Rodrigo Ribeiro Rodrigues - 01/06/2009 15:32h Há algum tempo, venho refletindo sobre a razão para que no Brasil tenhamos tão poucos exemplos de cidadania dignos de nota. Começo a pensar que talvez tenha encontrado uma explicação para esta des-educação: o equívoco de pensar que cidadania é uma palavra que pressupõe mais direitos do que deveres, quando, na minha modesta opinião, é o contrário. É muito provável que a ideia de que precisamos, antes de mais nada, lutar por nossos direitos advenha de um momento bastante recente, do ponto de vista histórico, quando nossas liberdades individuais eram muitíssimo cerceadas. Basta dizer que, no início dos anos 80 do século que passou, a batalha era, por exemplo, pelo direito de elegermos diretamente nosso presidente. Também precisamos considerar os muitos anos de injustiças sociais, em especial no que diz respeito aos negros, às mulheres e a algumas minorias, as quais vêm dos tempos da colonização e ainda permanecem. Nada mais justo, portanto, que todo cidadão com um mínimo de valores humanitários seja defensor dos direitos dos menos favorecidos socialmente inclusive dele próprio. Porém, o rumo da história segue, e no meu entender o Brasil e os brasileiros já deveriam estar maduros para entender que o conceito de cidadania tem contornos muito mais de uma pauta de deveres
do que apenas de direitos. Penso que temos o dever, como cidadãos, de avaliarmos se nossas condutas sociais respeitam a individualidade de nossos semelhantes. Entendo que cidadania é uma palavra quase prima de empatia, que significa a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, para que, assim, estabeleçamos um vínculo de respeito e dignidade na relação, seja ela pessoal ou social. Cidadania, portanto, pressupõe não apenas reclamar e se indignar, mas ter a consciência de que é preciso também agir, participando de coletivos, de instâncias de opinião institucionalizadas, seja como protagonista, seja como ouvinte, mas sempre de forma atenta e crítica, e preferencialmente propositiva. Ser cidadão é lutar por seus direitos, obviamente, mas significa também não se deixar levar apenas por seus interesses pessoais ou por aqueles que, com boas ou más intenções, colocam-se na linha de frente. Se você, caro leitor, não se sente preparado para ser uma liderança, ao menos exercite a capacidade de avaliar as coisas sob o ponto de vista do coletivo. Ter um olhar voltado para algo além do seu interesse imediato também é transformar o mundo em um lugar mais digno para todos.
Fonte: http://www.ogalileo.com.br/noticias/nacional/cidadania-direitos-ou-deveres
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1. Observe o título do texto. Será que exercemos a CIDADANIA como deveríamos? 1.1. Por que ele foi formulado como uma pergunta? Ao formular uma pergunta no título do texto, o autor propõe uma reflexão ao leitor, apresenta a ele a questão que será discutida no texto. D17 1.2 Levante hipóteses para a utilização da palavra cidadania em caixa alta? Ao utilizar a palavra cidadania em caixa alta, o autor chama a atenção do leitor para essa palavra de suma importância, que será o tema de seu texto. D6 Os alunos devem levantar hipóteses considerando o título, uma relevante pista textual. A partir dessa atividade, o tutor vai discutir com os alunos a estratégia de usar uma pergunta como título de um texto argumentativo. A pergunta formulada pelo autor corresponde à questão-problema que será discutida no texto. A resposta a essa pergunta corresponderá à tese ou ponto de vista defendido pelo autor. A macroestrutura de argumentações já foi estudada nas oficinas 9 e 10 do Guia 1.
2. O texto de Rodrigo Rodrigues é um texto argumentativo, ou seja, o autor emite sua opinião sobre um determinado tema. 2.1. Qual é o tema do texto? O texto pretende discutir como o brasileiro enxerga ou exercita a cidadania. D6 2.2 Qual é a opinião do autor acerca desse tema? Segundo argumentação do autor, os brasileiros enxergam a cidadania mais como a luta por direitos que como o reconhecimento dos seus deveres frente aos interesses da coletividade. D7
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Observe a questão 1.2 já apontou para o tema “cidadania”. Na questão 2.1 os alunos devem delimitar esse tema, identificando o “foco” da discussão, ou seja, a forma como o brasileiro exerce sua cidadania. É possível que os alunos tenham dificuldade para formular, com suas palavras, a tese do autor. O tutor deve auxiliá-los a encontrar, no texto, as afirmações que correspondem ao posicionamento do autor e que respondem à questão colocada no título, como: “(para os brasileiros) cidadania é uma palavra que pressupõe mais direitos do que deveres, quando, na minha modesta opinião, é o contrário.”; “Penso que temos o dever, como cidadãos, de avaliarmos se nossas condutas sociais respeitam a individualidade de nossos semelhantes.”
3. Retire do texto os argumentos que o autor utiliza para defender sua tese? O cerceamento das liberdades individuais durante os anos de ditadura, a histórica injustiça social que excluiu e ainda exclui minorias (negros, pobres, mulheres) são fatos que o autor utiliza para explicar por que os brasileiros entendem que a cidadania é, principalmente, a luta por direitos. D8 4. Releia: “(para os brasileiros) cidadania é uma palavra que pressupõe mais direitos do que deveres, quando, na minha modesta opinião, é o contrário.” Como o autor enxerga a “cidadania”? Grife, no texto, esse seu posicionamento. “Penso que temos o dever, como cidadãos, de avaliarmos se nossas condutas sociais respeitam a individualidade de nossos semelhantes. Entendo que cidadania é uma palavra quase prima de empatia, que significa a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, para que, assim, estabeleçamos um vínculo de respeito e dignidade na relação, seja ela pessoal ou social.” D7 5. Releia: “Começo a pensar que talvez tenha encontrado uma explicação para esta des-educação” 5.1. Explique o processo de formação da palavra grifada. A palavra “des-educação” é formada pelo prefixo “des” em acréscimo ao radical “educação”. 5.2. Que sentido essa palavra ganha no texto? O autor criou uma nova palavra que faz referência à falta de “educação” ou consciência da população brasileira quanto ao fato de que cidadania pressupõe direitos e deveres. D3
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6. O texto indica alguns deveres de um cidadão. Quais? O dever de agir politicamente na busca de interesses coletivos, participando de instituições organizadas, como protagonista ou não; o dever de envolver-se criticamente, ainda que como ouvinte, nas discussões das questões sociais. D1 Para esclarecer o conteúdo dessas informações textuais, o tutor pode dar exemplos de como o jovem pode assumir seu protagonismo como cidadão: buscando ser um leitor crítico dos acontecimentos políticos de sua cidade e de seu país; buscando informar-se sobre esses acontecimentos; atuando em organizações da sociedade (em associações de seu bairro; no grêmio estudantil da escola); debatendo questões sociais em grupos de estudo e reflexão; sendo um eleitor responsável e consciente do direito coletivo, etc.
7. No último parágrafo, ao concluir seu texto, o autor dá uma sugestão para que o leitor exerça sua cidadania. Que sugestão é essa? O autor nos fala que considerar o coletivo e respeitar as outras pessoas são maneiras de exercer a cidadania. D1
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Texto 2
A questão da cidadania Leandro Konder O caminho teórico para a discussão sobre a cidadania está aberto desde os antigos gregos: é preciso combinar o respeito à autonomia das pessoas com a construção de uma comunidade de novo tipo, quer dizer, uma comunidade que não pode ser um formigueiro. Para enfrentar o desafio, nasceu uma atividade à qual a cidade a polis - deu seu nome: a política. Do tempo dos gregos para cá, as dificuldades se agravaram muito. A política, em princípio, deveria conciliar os interesses particulares e os ideais comprometidos com a promoção do bem comum. Nas circunstâncias atuais, com o esvaziamento dos ideais, prevalecem amplamente os interesses particulares. A dimensão comunitária, insuprimível na vida humana, está muito debilitada. Não há quase nenhuma comunidade disponível para que o indivíduo nela se sinta em casa. As comunidades que nos são oferecidas nos parecem suspeitas, não garantem que vão respeitar plenamente a nossa liberdade. (...) De fato, as questões atuais da cidadania são múltiplas. E são de uma tal complexidade que os antigos gregos nunca poderiam imaginar. O compromisso com a cidadania nos desafia a resgatarmos valores provenientes da tradição democrática e da tradição liberal.
Fonte: Jornal do Brasil, 19/07/2003
Precisamos lutar permanentemente em defesa dos direitos das pessoas, dos grupos minoritários, das mulheres, das etnias que têm sido historicamente prejudicadas, bem como em defesa da imensa maioria de trabalhadores pobres, que constituem a população brasileira. Precisamos lutar permanentemente em defesa do direito de todos e de cada um de pensar e expressar seu pensamento, de praticar sua religião, de atuar politicamente de acordo com suas convicções, de se deslocar, mas também de ter assegurada a sua subsistência (sua e da sua família). Precisamos criar condições nas quais todos possam ter assistência eficiente e gratuita por parte de um sistema de saúde pública de qualidade (como já se faz no hospital Sarah, em Brasília). Precisamos criar condições nas quais todos tenham acesso, paritariamente, a um ensino de qualidade. E tenham acesso a fontes diversas de informações. Cumpre lutarmos para que os direitos da cidadania abranjam uma participação ampliada das camadas populares (os de ‘’baixo’’, diria Gramsci) na vida cultural nacional. Tudo indica que é por esse - difícil - caminho que as pessoas, exercendo efetivamente os seus direitos, sentir-se-ão integradas a uma comunidade democrática, recuperarão os valores éticos, superarão a onda de descrença e chegarão à plena cidadania.
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ATIVIDADES DE LEITURA 1. Releia atentamente o primeiro parágrafo do texto. A seguir, considere a afirmação abaixo: “Para enfrentar o desafio, nasceu uma atividade à qual a cidade - a polis - deu seu nome: a política.” 1.1 A que desafio o autor se refere? Ao desafio de conciliar o interesse particular ao público, a autonomia das pessoas ao interesse de todos. Nisso se funda a ideia da cidadania. D2 1.2. Segundo a afirmação acima, com que finalidade nasceu a política? Com a finalidade de enfrentar o desafio de construir uma sociedade de cidadãos, uma sociedade democrática. D4 1.3. Como exposto no quadro acima, a palavra polis (do grego) significa cidade. Tendo em vista essa informação, como poderíamos relacionar as palavras CIDADANIA E POLÍTICA? Ambas as palavras derivam da palavra cidade. Exercer a cidadania significa participar da vida da cidade, da vida social. Da mesma forma, fazer política é uma forma participar da vida da polis, da cidade. D3 2. Considere a frase: “ A dimensão comunitária, insuprimível na vida humana, está muito debilitada.” A palavra insuprimível faz referência a algo que é: a) fundamental. (X) b) substituível. c) complementar. d) desejável. D3
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3. Construir, hoje, uma sociedade de cidadãos é difícil porque: a) não é possível conciliar o interesse público aos interesses particulares. b) as pessoas compreendem de forma diferente a questão da cidadania. c) os interesses particulares valem mais que os ideais coletivos. (X) d) não há mais comunidades com interesses comuns. D4
4. Releia: “De fato, as questões atuais da cidadania são múltiplas.” Que questões de cidadania o autor enumera nos parágrafos seguintes do texto? • A defesa dos direitos das minorias, mulheres, negros e pobres. • A defesa da livre expressão do pensamento e da liberdade política e religiosa. • A defesa do direito à subsistência. • A defesa do direito à educação e à informação. • A defesa do direito das classes populares de participarem da vida cultural e política do país. D1 5. As repetições que acontecem no 5º, 6º, 7º e 8º parágrfaos têm como efeito: a) explicar melhor o que o autor quis dizer. b) tornar o texto mais bonito e sonoro. c) enfatizar a necessidade de comprometimento dos cidadãos. (X) d) denunciar nosso descompromisso com a cidadania. D19 6. Releia: “Tudo indica que é por esse - difícil - caminho que as pessoas, exercendo efetivamente os seus direitos, sentir-se-ão integradas a uma comunidade democrática, recuperarão os valores éticos, superarão a onda de descrença e chegarão à plena cidadania .” 6.1. A que se refere a expressão “esse difícil caminho”? O caminho do envolvimento com a luta pelos direitos coletivos mencionados nos parágrafos anteriores. D2
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6.2. Explique o uso do travessão na frase acima. O travessão dá destaque ao adjetivo “difícil”, enfatizando a ideia de que a consolidação da democracia é um desafio. D17 COMPARANDO OS TEXTOS Relacione as opiniões dos autores dos dois textos lidos. Há diferenças ou semelhanças na forma como eles enxergam a cidadania? Há muitas semelhanças: os autores enfatizam a cidadania como exercício da participação política. Para eles, ser cidadão é assumir o dever de participar da luta pelos direitos coletivos, é agir para que todos tenham seus interesses reconhecidos. Os textos também concordam com a ideia de que é difícil construir uma sociedade que luta pelo direito de todos, pois hoje as pessoas estão mais ocupadas com seus próprios interesses. Como última atividade desta oficina, você vai ler o poema “O Analfabeto Político”, de Bertolt Brecht. O Analfabeto Político O pior analfabeto É o analfabeto político, Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e o lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
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ATIVIDADES DE LEITURA 1. Com base em sua leitura do poema, explique a expressão “analfabeto político”. A expressão analfabeto político se apropria da noção tradicional de analfabeto (aquele que não saber ler nem escrever), direcionando o problema do analfabetismo para o âmbito da política e da cidadania. A expressão faz referência a um tipo de cidadão que não se dispõe a “ler” e compreender o cenário político a sua volta e ainda se orgulha dessa sua ignorância. Para o autor, o analfabeto político é aquele que não se posiciona diante dos fenômenos sociais. D3 2. Na sua opinião, que efeito de sentido consegue o autor com essa expressão? A expressão “analfabeto político” nos leva a compreender a alienação e a desinformação do cidadão como a incapacidade de “ler e compreender” a vida social e política. Para um país, mais grave que ter analfabetos, é ter analfabetos políticos, pois não querer entender o que acontece na política causa prejuízo a toda uma coletividade. D18 O tutor deve ter o cuidado de discutir a questão do analfabetismo de forma ética, sem que se veja preconceituosamente essa condição – que ainda afeta muitos brasileiros. O analfabeto não é um ignorante; o analfabeto político sim, porque se orgulha de desconhecer a política. Caso a discussão do analfabetismo seja levantada, o tema deve ser discutido como um direito de cidadania, ainda hoje negado a muitos cidadãos brasileiros, muitos deles sábios, embora “incapazes” de exercer plenamente a condição de leitores e escritores.
3. O tema do texto é: a) a corrupção na política. b) o problema da prostituição. c) o preço alto dos alimentos. d) a falta de consciência política. (X) D6 4. Após a leitura do poema, podemos afirmar que: a) os executivos das empresas multinacionais são ignorantes politicamente. b) o preço do feijão, do peixe, da farinha depende das decisões políticas. (X) c) o analfabeto político é burro porque não ouve, não fala e não lê. d) a prostituta e o menor abandonado são analfabetos políticos. D4
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5. No texto, o autor usa adjetivos para qualificar o “analfabeto político”. 5.1. Retire do texto esses adjetivos. Burro, imbecil D1 5.2. O que o recurso da adjetivação poderia nos revelar sobre os sentimentos do autor? Que ele parece estar indignado ou mesmo com raiva do analfabeto político. D18 5.3. Quem o autor aponta como sendo pior que o analfabeto político? O político corrupto, que ele chama de vigarista, pilantra e lacaio. D1 6. Segundo o texto, quais são as consequências do analfabetismo político? A exclusão social (a prostituta, o menor abandonado); o alto custo de vida; a corrupção na política. D1
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PRECONCEITO E VIOLÊNCIA NA ESCOLA
1. OBJETIVOS » Dese Desenvol nvolver ver habilida habilidades des de leitura leitura do texto texto argumen argumentati tativo vo » Dese Desenvol nvolver ver a habili habilidade dade de ler ler gráfic gráficos. os. » Dese Desenvol nvolver ver a habilidad habilidadee de ler e analisar analisar textos textos exposi expositivo tivos. s. » Ref Refle letir tir sobr sobree o prec preconc onceit eitoo e o bullying, uma manifestação da violência escolar.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA Texto 1- A forma escolar da tortura – Rubem Alves O texto de Rubem Alves é um artigo de opinião que opinião que trata do tema “bullying”. O autor argumenta que o bullying é “a forma escolar escolar da tortura”. Já no início do texto, inclui-se como vítima do “bullying” - mostrando que tem autoridade para tratar do tema - e faz uso do recurso da personificação (“Eu (“ Eu fui vítima dele. Por causa dele odiei a escola.”), escola.”), potencializando a força dessa forma de “tortura”. A palavra tortura é, sem dúvida, uma escolha lexical significativa nesse texto. Crítico das práticas escolares, o educador Rubem Alves, ainda no primeiro parágrafo, menciona o fato de ter se dedicado a escrever sobre “os sofrimentos a que crianças e adolescentes são submetidos” em função dessas práticas. No entanto, anuncia que vai tratar, nesse texto, dos sofrimentos a que colegas submetem colegas, pontuando que crianças e adolescentes não são sempre vítimas e podem ser muito cruéis. Depois de definir o termo - ““Bully” é o valentão: um menino que, em virtude de sua força e de sua - o autor se preocupa alma deformada pelo sadismo tem prazer em intimidar e bater nos mais fracos” em fazer a distinção entre desentendimentos comuns, “aceitáveis”, por se fundamentarem em alguma motivação, e o que acontece no “bullying”, que, segundo o autor, seria motivado pelo sadismo (“ A razão? Nenhuma. Sadismo. Eles “não vão com a cara” da vítima” ).). Esse argumento ajuda a explicar a compreensão do bullying como uma “forma de tortura”. Após apresentar as formas de manifestação do “bullying” (agressões físicas e verbais), o autor passa a discutir suas consequências, traçando um paralelo entre as vítimas do “bullying” e ratinhos expostos a choques, em experimentos. Para comprovar sua opinião de que “ as experiências de dor ”, Rubem Alves utiliza dois exemplos produzem afastamento” e “bloqueiam o desejo de explorar ”,
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reais - o de Edimar (jovem de 18 anos, vítima de agressão verbal na escola devido ao excesso de peso) e o de Luis Antônio (garoto de 11 anos, vítima de agressões físicas praticadas pelos colegas de escola por conta de seu sotaque) -, ambos com desfecho trágico. A exem exemplificação plificação funciona, nesse texto, como estratégia de argumentação a partir da qual se evidencia que a forma escolar da tortura denominada “bullying ” está presente em nossas escolas, com consequências trágicas na história de jovens, adolescentes e crianças.
Gráficos Os dois gráficos propostos para leitura foram extraídos de uma pesquisa realizada pela ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofisisonal de Proteção à Infância e Adolescência) . Os dados representam os tipos de “ bullying ” identificados, a porcentagem de incidência de cada tipo por gênero e os sentimentos admitidos pelos autores desse tipo de violência. violência . As informações presentes nos gráficos dialogam com o texto de Rubem Alves, permitindo validar seus posicionamentos. A análise desses dados possibilita uma discussão interessante sobre a prática do “ bullying ”, cada vez mais comum nas escolas e que deve ser severamente combatida.
Texto 2 - Rejeição ativa circuitos da dor no céreb cérebro ro – Salvador Nogueira O texto de Salvador Nogueira, um texto de texto de divulgação científica os resultados de uma científica,, expõe expõe os pesquisa que contribui para a emergência de avanços significativos na área da medicina e da psicologia. A investigação dos pesquisadores evidencia que a dor, seja física ou social, é um fato concreto (“É (“É doloroso ser excluído de uma festa – literalmente doloroso.” ), doloroso.” ), uma vez que as suas sensações se originam em uma mesma área do cérebro. cérebro. Para chegar a essa formulação, ou tese científica, pesquisadores realizaram um experimento científica, os pesquisadores envolvendo 13 voluntários. Esse experimento está relatado nos parágrafos de 3 a 6. Observa-se relatado nos que o tempo verbal pretérito verbal pretérito predomina predomina nos parágrafos em que se relata o experimento, e o relata o tempo verbal presente verbal presente predomina predomina naqueles em que se expõem as teses dos cientistas. expõem as cientistas. As evidências encontradas pelos pesquisadores surgiram, conforme demonstra o experimento, evidências encontradas do incômodo que os sujeitos da pesquisa sentiram ao perceber que eram excluídos do jogo, não por problemas técnicos, mas, intencionalmente, por outros supostos jogadores. O sentimento provocado provoc ado por esse tipo de exclusão ativou, no cérebro, uma área associada às dores físicas. fí sicas. O experimento permitiu, portanto, a formulação de hipóteses/teses hipóteses/teses científicas, expostas nos parágrafos 1 e 7. A citação é uma estratégia importante nesse texto, pois permite que o próprio citação é cientista exponha sua tese. Nos parágrafos finais do texto, o autor tece sua conclusão conclusão,, apontando para a importância dos resultados da pesquisa e para as possibilidades de aplicação desse novo conhecimento a respeito da relação entre entre a dor física e a dor da rejeição. rejeição. A descoberta, segundo os cientistas envolvidos envolvidos na pesquisa, pode ajudar psicólogos, médicos e psiquiatras no planejamento de tratamento de ambos os tipos de dores.
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3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA » Motivação/preparação para a leitura a partir da exploração do título – os alunos construirão hipóteses quanto ao tema do texto, que serão confirmadas ou descartadas na medida em que o leitor tomar contato com o texto, de fato.
» Leitura silenciosa do texto 1. » Atividades de leitura do texto 1- propor que as atividades sejam realizadas em grupo, sob a orientação do tutor, que deverá esclarecer as dúvidas que surgirem, partilhando-as com todos.
» Correção das atividades de leitura do texto 1- preferencialmente, com a turma em círculo, as respostas serão discutidas pelo grupo e comentadas pelo tutor, que deverá chamar a atenção para as pistas textuais que autorizam as leituras feitas.
» Atividades de leitura do texto 2 - antes de passar às atividades de leitura do texto 2, o tutor poderá informar aos alunos que eles irão trabalhar com um texto expositivo, procurando organizar o conhecimento que os alunos tenham sobre esse tipo de texto.
» Correção das atividades de leitura do texto 2. » Debate final- o tutor vai coordenar uma discussão com os alunos em torno do tema “ bullying”, buscando promover o diálogo entre os textos da oficina, bem como o diálogo dos alunos com os textos e entre eles. Esse é um momento importante para que se debata a questão da violência na escola.
4. ATIVIDADES DE LEITURA Nesta oficina você terá oportunidade de pensar sobre o tema da “Violência na Escola”. O pri meiro texto que você vai ler foi escrito por Rubem Alves, teólogo, psicanalista e educador brasileiro. O texto foi retirado do site do escritor. Leia-o atentamente e responda as questões que se seguem.
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Texto 1
A forma escolar da tortura Rubem Alves
Eu fui vítima dele. Por causa dele odiei a escola. Nas minhas caminhadas passadas eu o via diariamente. Naquela adolescente gorda de rosto inexpressivo que caminhava olhando para o chão. E naquela outra, magricela, sem seios, desengonçada, que ia sozinha para a escola. Havia grupos de meninos e meninas que iam alegremente, tagarelando, se exibindo, pelo mesmo caminho... Mas eles não convidavam nem a gorda e nem a magricela. Dediqueime a escrever sobre os sofrimentos a que as crianças e adolescentes são submetidos em virtude dos absurdos das práticas escolares. Mas nunca pensei sobre os sofrimentos que colegas infligem a colegas seus. Talvez eu preferisse ficar na ilusão de que todas as crianças e todos os adolescentes são vítimas. Não são. Crianças e adolescentes podem ser cruéis. “Bullying” é o nome dele. Fica o nome inglês porque não se encontrou palavra em nossa língua que seja capaz de dizer o que “bullying” diz. “Bully” é o valentão: um menino que, em virtude de sua força e de sua alma deformada pelo sadismo tem prazer em intimidar e bater nos mais fracos. Vez por outra as crianças e adolescentes brigam em virtude de desentendimentos. São brigas que têm uma razão. Acidentes. Acontecem e pronto. Não é possível fazer uma sociologia dessas brigas. Depois da briga os briguentos podem fazer as pazes e se tornarem amigos de novo. Isso nada têm a ver com o “bullying”. No “bullying” um indivíduo, o valentão, ou um grupo de indivíduos, escolhe a sua vítima que vai ser o seu “saco de pancadas”. A razão? Nenhuma. Sadismo. Eles “não vão com a cara” da vítima. É preciso que a vítima seja fraca, que não saiba se defender. Se ela fosse forte e soubesse se defender a brincadeira não teria graça. A vítima é uma
peteca: cada um bate e ela vai de um lado para outro sem reagir. Do “bullying” pode-se fazer uma sociologia porque envolve muitas pessoas e tem continuidade no tempo. A cada novo dia, ao se preparar para a escola, a vítima sabe o que a aguarda. Até agora tenho usado o artigo masculino “ mas o “bullying” não é monopólio dos meninos. As meninas usam outros tipos de força que não a força dos punhos. E o terrível é que a vítima sabe que não há jeito de fugir. Ela não conta aos pais, por vergonha e medo. Não conta aos professores porque sabe que isso só poderá tornar a violência dos colegas mais violenta ainda. Ela está condenada à solidão. E ao medo acrescenta-se o ódio. A vítima sonha com vingança. Deseja que seus algozes morram. Vez por outra ela toma providências para ver seu sonho realizado. As armas podem torná-la forte. Frequentemente, entretanto, o “bullying” não se manifesta por meio de agressão física, mas por meio de agressão verbal e atitudes. Isolamento, caçoada, apelidos. Aprendemos dos animais. Um ratinho preso numa gaiola aprende logo. Uma alavanca lhe dá comida. Outra alavanca produz choques. Depois de dois choques o ratinho não mais tocará a alavanca que produz choques. Mas tocará a alavanca da comida sempre que tiver fome. As experiências de dor produzem afastamento. O ratinho continuará a não tocar a alavanca que produz choque ainda que os psicólogos que fazem o experimento tenham desligado o choque e tenham ligado a alavanca à comida. Experiências de dor bloqueiam o desejo de explorar. O fato é que o mundo do ratinho ficou ordenado. Ele sabe o que fazer. Imaginem agora que uns psicólogos sádicos resolvam submeter o ratinho a uma experiência de horror: ele levará choques em lugares e momentos imprevistos
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ainda que não toque nada. O ratinho está perdido. Ele não tem formas de organizar o seu mundo. Não há nada que ele possa fazer. Os seus desejos, eu imagino, seriam dois. Primeiro: destruir a gaiola, se pudesse, e fugir. Isso não sendo possível, ele optaria pelo suicídio. Edimar era um jovem tímido de 18 anos que vivia na cidade de Taiúva, no estado de São Paulo. Seus colegas fizeram-no motivo de chacota porque ele era muito gordo. Puseramlhe os apelidos de “gordo”, “mongolóide”, “elefante-cor-de-rosa” e “vinagrão”, por tomar vinagre de maçã todos os dias, no seu esforço para emagrecer. No dia 27 de janeiro de 2003 ele entrou na escola armado e atirou contra seis alunos, uma professora e o zelador, matandose a seguir.
Luis Antônio, garoto de 11 anos. Mudandose de Natal para Recife por causa do seu sotaque passou a ser objeto da violência de colegas. Batiam-lhe, empurravam-no, davamlhe murros e chutes. Na manhã do dia fatídico, antes do início das aulas, apanhou de alguns meninos que o ameaçaram com a “hora da saída”. Por volta das dez e meia, saiu correndo da escola e nunca mais foi visto. Um corpo com características semelhantes ao dele, em estado de putrefação, foi conduzido ao IML para perícia. Achei que seria próprio falar sobre o “bullying” na sequência do meu artigo sobre o tato que se iniciou com esta afirmação: O tato é o sentido que marca, no corpo, a divisa entre Eros e Tânatos. É através do tato que o amor se realiza. É no lugar do tato que a tortura acontece. “Bullying” é a forma escolar da tortura.
Fonte: http://www.rubemalves.com.br/aformaescolardatortura.htm
ATIVIDADES DE LEITURA 1. Preencha o quadro abaixo com as informações pedidas: Título: Autor: Local de publicação: Assunto: Gênero: D1- D6
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A forma escolar de tortura Rubem Alves site de Rubem Alves bullying artigo de opinião
2. O principal objetivo do texto é: a) descrever o comportamento dos autores de bullying. b) argumentar que o bullying é uma forma extrema de violência. (X) c) oferecer informações sobre o bullying. d) relatar a história de vítimas do bullying. D12
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3. Para o autor, qual é a principal motivação para prática do bullying ? Retire um fragmento do texto que confirme sua resposta. O autor argumenta que aqueles que praticam o bullying são motivados pelo desejo sádico de oprimir os mais fracos: “A razão? Nenhuma. Sadismo. Eles “ não vão com a cara da vítima ”.
D4 4. Releia: Vez por outra as crianças e adolescentes brigam em virtude de desentendimentos. São brigas que têm uma razão. Acidentes. Acontecem e pronto. Observe que o autor compara o bullying a brigas causadas por desentendimentos. Com que objetivo ele faz essa comparação? Ao diferenciar o bullying de brigas entre colegas, o autor reforça a perversidade dos valentões que praticam o bullying, pois o fazem gratuitamente, sem motivos.
5. No texto, Rubem Alves caracteriza essa forma de agressão chamada bullying . 5.1. Em que parágrafo caracteriza-se esse comportamento. No segundo parágrafo.
D1 5.2. Citamos, abaixo, uma primeira característica do bullying . Encontre outras no texto. O bullying é uma agressão que acontece entre colegas de escola. O bullying é uma violência gratuita, motivada exclusivamente pela personalidade violenta do agressor. A ação é executada repetidamente. No bullying há uma relação de poder desigual entre as partes. O bullying pode se manifestar por meio de agressões físicas ou verbais.
D1 6. Releia o fragmento abaixo, retirado do início do texto: “Eu fui vítima dele. Por causa dele odiei a escola. Nas minhas caminhadas passadas eu o via diariamente”
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6.1 As palavras em destaque referem-se a um termo que aparece posteriormente no texto. Que termo é esse? O bullying.
D2 6.2. Observe que o autor utiliza, no fragmento acima, o recurso da personificação. Que efeito de sentido a utilização desse recurso poderia criar no leitor?
Rubem Alves parece estar falando de alguém que o ameaça. O comportamento agressivo chamado bullying é personificado, o que reforça seu caráter ameaçador. D19 7. Releia o trecho: No “bullying” um indivíduo, o valentão, ou um grupo de indivíduos, escolhe a sua vítima que vai ser o seu “ saco de pancadas.” O uso das aspas acontece duas vezes no fragmento acima. Elas são utilizadas com o mesmo objetivo em ambos os casos? Justifique. No primeiro caso, as aspas dão destaque a um termo que é central no texto e não pertence a nossa língua. No segundo caso, as aspas sinalizam o uso de uma expressão metafórica.
D17 8. Releia, com atenção, o parágrafo 4. Qual a relação traçada pelo autor entre o exemplo do ratinho e a vítima do “bullying”? A história do ratinho, uma cobaia submetida a choques num experimento, ilustra bem a situação das vítimas de bullying. Submetidas ao sofrimento, essas vítimas se afastam, se isolam, para proteger-se da agressão. D4 9. Considere o fragmento abaixo: “O ratinho está perdido. Ele não tem formas de organizar o seu mundo. Não há nada que ele possa fazer. Os seus desejos, eu imagino, seriam dois. Primeiro: destruir a gaiola, se pudesse, e fugir. Isso não sendo possível, ele optaria pelo suicídio.” 9.1. Como esse fragmento se relaciona com os casos reais relatados nos parágrafos seguintes? Nos parágrafos seguintes ao fragmento em destaque, o autor relata o desfecho trágico de duas histórias de bullying. Edimar, vítima de bullying, atira e mata alunos e funcionários da escola onde estudou (“destruiu a gaiola”). Luis Antônio faz outra escolha, foge do sofrimento pelo suicídio.
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9.2. Compare os exemplos de Edimar e Luis Antônio. Qual a principal diferença, em relação à manifestação do “bullying” entre esses dois exemplos? No caso de Edimar, o bullying aconteceu sob a forma de agressão verbal. Já Luis Antônio sofreu agressões físicas.
D1 10. Em sua opinião, porque o autor selecionou exemplos com manifestações distintas de “bullying”? Os exemplos citados confirmam a descrição que o autor faz desse comportamento, demonstran do que o bullying pode, de fato, manifestar-se de diferentes formas.
D8 11. Com que objetivo o autor faz uso desses exemplos reais? Relatos de fatos acontecidos na realidade servem para comprovar opiniões, sustentar teses. Os casos citados no texto confirmam que o bullying é uma realidade e, conforme argumenta o autor, uma forma de tortura, de extrema de violência, que pode levar a desfechos trágicos.
D8 12. O autor reutiliza o título do texto na sua conclusão. Comente essa estratégia. Ao retomar o título no final do texto, o autor enfatiza, reforça sua visão do bullying, descrito por ele como uma forma de tortura.
D18 Ao realizar esse exercício de leitura com os alunos, o tutor vai considerar a intenção argumentativa do texto, apontando para os recursos argumentativos nele utilizados. Uma escolha importante a ser observada pelos leitores é a da palavra “tortura”, no título. O posicionamento indignado do autor se revela na afirmação de que o bullying é uma forma extrema de violência, uma forma de tortura presente na escola. Para sustentar essa sua visão do fenômeno ele faz dois relatos que confirmam que essa forma de agressão pode ter consequências dramáticas. As questões de 8 a 11 relacionamse à construção do argumento nesse texto.
Pesquisa sobre Bullying Veremos, abaixo, alguns dos resultados de uma pesquisa realizada pela ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofisisonal de Proteção à Infância e Adolescência), entre os anos de 2002 e 2003, sobre o “bullying” em escolas brasileiras. Foram distribuídos questionários a alunos de 5ª a 8ª série, de 11 escolas, sendo 9 públicas e 2 particulares. Os resultados foram publicados no livro “Diga Não ao Bullying” (2003), de autoria de Aramis Lopes Neto e Lucia Helena Saavedra.
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Leia atentamente os gráficos. Em seguida, você vai discutir os resultados da pesquisa com seu grupo. Gráfico 1:
1. Rubem Alves afirma que “as meninas usam outros tipos de força que não a força dos punhos”. É possível confirmar isso a partir dos dados do gráfico? Sim. O gráfico confirma essa afirmação, mostrando que, entre as meninas, há maior ocorrência de algumas manifestações como: apelidar (64% contra 50,4%); difamar (12%); pegar/quebrar pertences (4,2%). D4 2. O que é possível afirmar ao compararmos os resultados obtidos entre garotos e garotas? Meninas praticam mais agressões verbais e meninos, agressões físicas. D4 3. Quais tipos de bullying mencionados no gráfico 1 podem ser classificados como agressões verbais? Apelidar e difamar. D4
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Gráfico 2:
1. Releia o trecho do texto de Rubem Alves: No “bullying” um indivíduo, o valentão, ou um grupo de indivíduos, escolhe a sua vítima que vai ser o seu “saco de pancadas”. A razão? Nenhuma. Sadismo. O dicionário Aurélio define sadismo como “prazer com o sofrimento alheio”. Tendo em mente essa definição, a motivação do “bullying”, citada por Alves, condiz com os dados apontadas no gráfico acima?
Os dados relativos àquilo que os praticantes do bullying dizem sentir permitem reconhecer neles um comportamento “sádico”, já que eles admitem “sentir prazer” ao agredir alguém: 6,7% sentiram-se bem, agredindo; 29,5% acharam engraçado. D4
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Texto 2 Leia, agora, o texto “Rejeição ativa circuitos da dor no cérebro”, para resolver as questões propostas. FOLHACIÊNCIA SÃO PAULO, SEXTA-FEIRA, 10 DE OUTUBRO DE 2003 neurologia Experimento nos EUA mostra que incômodo físico e exclusão social compartilham a mesma região do córtex. Rejeição ativa circuitos da dor no cérebro Salvador Nogueira É doloroso ser excluído de uma festa – literalmente doloroso. Segundo um grupo de psicólogos da Universidade da Califórnia, os mesmos circuitos do cérebro que processam o incômodo de uma dor nas costas também lidam com a rejeição e a exclusão social. Eles descobriram isso após submeter 13 voluntários a um jogo, enquanto monitoravam suas reações cerebrais com imagens obtidas por ressonância magnética. No jogo, os pesquisadores pretendiam investigar dois tipos de exclusão social, uma supostamente ocasionada por problemas técnicos e outra intencional, provocada por outras pessoas. Para isso, criaram o seguinte estratagema: colocaram o voluntário junto ao aparelho de ressonância, de frente para um monitor de computador que mostrara dois outros supostos participantes. O jogo consistia simplesmente em jogar a bola para um dos outros jogadores, após recebê-la. No início, o voluntário era informado de que ainda não poderia participar, por uma falha na conexão com os outros dois supostos participantes. Assistia, impassível, ao jogo dos outros dois. Após algum tempo, os cientistas comunicavam: a conexão havia sido estabelecida. O jogo começava normalmente, e o voluntário recebia algumas bolas, mas, em seguida, os outros paravam de lhe passar a bola, voltando a jogar sozinhos. Na verdade, os dois outros jogadores eram controlados por computador, mas o voluntário achava que eram duas pessoas, que, por alguma razão, não queriam jogar com ele. ”Folha de São Paulo, Folha Ciência,10/10/2003
Após o fim do experimento, os voluntários reportaram perturbação ao se sentirem excluídos, processo que foi correlacionado à ativação de uma área do cérebro conhecida como córtex cingulado anterior. É a região normalmente associada ao incômodo causado por dores de natureza física, como uma torção ou uma pancada. Isso não quer dizer que as duas sensações sejam iguais. “Embora as dores físicas e sociais sejam ambas ‘dolorosas’, elas obviamente são diferentes. O elo comum entre as duas é o elemento de incômodo associado à atividade do córtex cingulado anterior”, explica Naomi Eisenberger, que liderou a pesquisa publicada hoje na revista americana “Science” (www.sciencemag.org). “Em pacientes com fortes dores crônicas, algumas vezes é realizada uma cirurgia na qual é lesada parte do córtex cingulado anterior. Após essa operação, os pacientes reportam que, embora ainda possam sentir a dor, ela não os incomoda mais”, diz. Eisenberger acha que seus estudos já podem ter utilidade prática, no planejamento de tratamentos psicológicos ou psiquiátricos. “Se há realmente uma sobreposição entre dor física e social, então afetar um tipo de dor deve afetar o outro”, diz. “Por exemplo, se estivermos na presença de um companheiro próximo, talvez consideremos a dor física menos incômoda. Em contraste, se estivermos experimentado algum tipo de separação social por perda ou rejeição, poderemos ficarmais sensíveis ou incomodados por dores no corpo. Ter consciência disso pode ajudar psicólogos e médicos a entender melhor e a tratar ambos os tipos de dor.
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1. Preencha o quadro abaixo com as informações pedidas. 1. Título: 2. Autor: 3. Tipo de texto: 4. Gênero: 5. Data e local de publicação: 6. Assunto:
Rejeição ativa circuitos da dor no cérebro. Salvador Nogueira Expositivo Artigo científico Jornal Folha de São Paulo, Folha Ciência,10/10/2003 A dor provocada pela exclusão social
D1 2. Textos expositivos de natureza científica costumam apresentar resultados de pesquisas feitas para investigar uma questão-problema. Segundo o autor do texto que você leu, o que os cientistas pretendiam investigar? Que questão-problema eles se colocaram? A questão-problema da pesquisa era: Há relação entre a rejeição/ exclusão social e a dor física? Ou seja, o sentimento de rejeição pode provocar uma espécie de dor física? D4 3. Para chegar a uma resposta, os cientistas fizeram um experimento. 3.1. Indique os parágrafos que descrevem esse experimento. Parágrafos de 3 a 6. D1 3.2. Descreva o experimento científico, sem fazer transcrição de fragmentos do texto. Os pesquisadores colocaram um participante voluntário junto a um aparelho de ressonância, diante de um computador que mostrava dois outros participantes de um jogo. Em um primeiro momento, o voluntário foi avisado de que não poderia participar do jogo, por uma falha de conexão. Assistia impassível ao jogo. Após algum tempo, foi comunicado de que a conexão havia sido restabelecida, mas o voluntário era excluído do jogo. Achando que os dois participantes não queriam jogar com ele, o jogador voluntário sentiu-se excluído e isso provocou perturbações que ativaram uma área do cérebro associada à dor física. 4. Qual foi o resultado da investigação feita? Os cientistas concluíram que existe uma relação entre a dor da rejeição e a dor provocada por um incômodo físico - uma dor nas costas, uma pancada ou uma torção -, pois ambas ativam os mesmos circuitos no cérebro. D4
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5. As pesquisas e experimentos científicos permitem formular teses científicas. Destaque, no texto, a tese que os cientistas formularam a partir de seu experimento. “É doloroso ser excluído de uma festa - literalmente doloroso.” “Embora as dores físicas e as sociais sejam ambas “dolorosas”, elas obviamente são diferentes. O elo comum entre as duas é o elemento de incômodo associado à atividade do córtex cingulado anterior.” D1 6. Que evidência os cientistas apresentaram para a confirmação de sua tese científica? A constatação de uma perturbação sentida pelo participante voluntário e a conseqüente ativação de uma área do cérebro que é associada à dor física. D8 7. Como o autor conclui o texto? O autor mostra a importância desta descoberta para o tratamento de pacientes, na área da medicina, da psicologia e da psiquiatria, que sentem tanto a dor fís ica, quanto a dor social. D4 8. Com que objetivo o jornal deve ter publicado este artigo científico? O jornal pretendeu divulgar (fazer saber) informações sobre a pesquisa, certamente por considerar que o estudo é importante. D 12 9. O recurso da citação é utilizado no texto. Qual é a função desse recurso? As citações do cientista Naomi Eisenbergr reforçam o valor de verdade das informações, já que expõem explicações dadas pelo pesquisador que liderou a pesquisa. D17 10. Releia o fragmento extraído do 7º parágrafo do texto: ... explica Naomi Eisenberger que liderou a pesquisa publicada hoje na revista americana “Science”. Qual seria a intenção do autor do texto ao informar que o experimento foi publicado também numa revista americana? Essa informação dá relevância ao experimento, publicado em veículos importantes de divulgação da ciência, inclusive no Caderno de Ciência da Folha de São Paulo.
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As questões chamam a atenção para a sequência expositiva do texto. O tutor deve se valer dessas questões para sistematizar o estudo de textos expositivos, diferenciando-os dos argumentativos. No caso do texto lido, o autor não tem a intenção de defender uma ideia e convencer leitores. O objetivo do texto é divulgar informações do campo da investigação científica, ou seja, “fazer saber” sobre a produção de novas pesquisas. Nesse sentido é importante considerar o caderno do jornal em que se publicou o texto, FOLHA CIÊNCIA. O texto, portanto, expõe uma tese científica, formulada a partir de um experimento também científico. O exercício de leitura recupera, inicialmente, a “pergunta” que gera a investigação (questão 2), para, em seguida, identificar a tese científica formulada a partir do experimento (questões 4 e 5), bem como o argumento que a sustenta (questão 6). O tutor deve chamar a atenção para a forma como o texto se estrutura, apontando para os critérios que organizam seus parágrafos, para os tópicos de parágrafo.
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TRABALHO
1. OBJETIVOS: » Desenvolver habilidades de leitura do texto argumentativo. » Refletir sobre o registro e os recursos de linguagem numa crônica argumentativa. » Interpretar e reconhecer a metáfora como recurso de expressão da linguagem. » Discutir o tema do valor do trabalho.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA: Texto 1 - Viagem Longa, destino incerto... – Rubem Alves O texto de Rubem Alves foi retirado do blog “a casa de Rubem Alves” (www.acasaderubemalves. com.br). Trata-se de uma crônica argumentativa em que o autor discute o tema da escolha profissional. Já no primeiro parágrafo, o autor declara achar muito difícil fazer essa escolha quando se é tão jovem. A metáfora é um recurso expressivo importante nesse texto, fundamental para se compreender o posicionamento do autor. Para ele, a escolha por fazer um curso universitário não pode ser feita de forma precipitada, pois “a viagem é longa e o destino, incerto”. Ou seja, é possível que, depois do longo investimento num curso universitário, o jovem descubra que fez uma escolha errada. Para reforçar a importância de se refletir bem sobre a escolha profissional, o autor recorre a uma expressão popular (“comer um saco de sal”) e um dito popular (“ por fora belo viola, por dentro pão bolorento”). Em ambos os casos, afirma-se a necessidade de se conhecer muito bem o cotidiano de uma profissão antes de se optar por ela. Muitas vezes, escolhas erradas são uma consequência de uma visão romântica de algumas profissões. Para ilustrar esse fato, o autor cita o exemplo do Pato Donald e seu encanto pelo uniforme de porteiro. Essa história aponta para o equívoco de se escolher uma profissão considerando-se, unicamente, o status que ela pode oferecer, sem levar em conta as tarefas cotidianas que ela envolve. Como se pode observar, a exemplificação é uma estratégia importante nessa argumentação. Outro exemplo de que escolhas apressadas podem resultar em um “destino incerto” está presente no relato da jovem que escolhe fazer engenharia por gostar de Matemática. Nesse caso, informarse sobre o que caracteriza o exercício da profissão, nas condições atuais do mercado de trabalho, ajudaria a fazer uma escolha mais acertada. Ainda um outro exemplo – a referência ao filme Sociedade dos Poetas Mortos – alerta para o risco de que “nossas” escolhas não sejam exatamente nossas, mas a de nossos pais.
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Por fim, o autor lembra aos jovens, seus interlocutores preferenciais, que há “outros destinos possíveis”, outras possibilidades de escolha além daquelas oferecidas pelas profissões universitárias. O poema de Walt Whitman reforça essa ideia, uma vez que o texto do poeta inglês tem como temática a valorização do trabalho, sob todas as suas formas (“ Que ao homem comum ensinem/ a glória da rotina e das tarefas / de cada dia e de todos os dias”). O trabalho é uma realidade cotidiana e, se exercido com “verdade”, oferece mais possibilidades de realização pessoal: “que em tudo isso possa o homem ver/ que está fazendo alguma coisa de verdade... ” Cabe, ainda, chamar a atenção para o registro de linguagem nessa crônica argumentativa que se assemelha a uma “conversa” com jovens que estão prestes a tomar uma das mais importantes decisões de sua vida. Tendendo à informalidade, a crônica se vale de diversas estratégias de aproximação e interlocução direta com esse leitor preferencial, como: “Esse é o mês em que sofro mais por causa de vocês, moços. Tenho dó”; ou “E se depois de chegar lá vocês não gostarem? Nada garante...”; ou ainda “Desejo a vocês uma boa viagem. Lembrem-se do dito do João...” Texto2 - Teste vocacional Para dar continuidade à discussão do tema desta oficina, temos, como segundo texto para leitura, um teste vocacional. Ele foi retirado da revista Veja Jovens online. O aluno deve realizar o teste e o tutor vai mediar uma discussão sobre a escolha das profissões. Antes, porém, os alunos vão realizar algumas atividades de leitura relativas ao texto que introduz o teste. O título “As armas contra o monstro” exibe uma metáfora que representa o momento da escolha profissional como um momento assustador, temido pelos jovens, que deve encontrar “armas”, ferramentas, como o teste proposto, para enfrentar esse momento. A frase “Descubra sua profissão fazendo o teste vocacional” deve ser alvo de análise cuidadosa, já que o próprio texto da introdução alerta para o fato de que testes vocacionais não operam o milagre de revelar às pessoas que profissão escolher. Nesse sentido, a frase é apelativa e seu significado deve ser reinterpretado em função das ponderações ou ressalvas feitas no texto.
3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA: » Motivação - o tutor pode propor uma conversa inicial sobre a questão do trabalho e da escolha profissional. » Leitura individual e silenciosa da crônica de Rubem Alves. » Correção/comentários das atividades de leitura - o tutor vai explorar os recursos de linguagem e as estratégias textuais, particularmente a utilização da metáfora e os inúmeros exemplos ilustrativos. Deve também refletir com os alunos sobre o registro de linguagem utilizado nessa crônica argumentativa. » Teste vocacional – antes fazerem o teste, os alunos vão ler o texto introdutório e fazer as atividades de leitura propostas. Essa atividade pode ser feita com todo o grupo e oralmente. Os alunos farão, posteriormente, suas anotações no caderno. » Realização individual do teste. » Discussão em grupo sobre os resultados do teste.
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4. ATIVIDADES DE LEITURA O texto abaixo discute o tema da escolha profissional. Leia-o atentamente, destacando as partes que você julgar importantes.
Viagem Longa, destino incerto... Rubem Alves Esse é o mês em que sofro mais por causa de vocês, moços. Tenho dó. Ainda nem deixaram de ser adolescentes, e já são obrigados a comprar passagens para um destino desconhecido, passagens só de ida, as de volta são difíceis, raras, há uma longa lista de espera. Alguns me contestam: afirmam saber muito bem o lugar para onde estão indo. Assim são os adolescentes: sempre têm os bolsos cheios de certezas. Só muito tarde descobrem que certezas valem menos que um tostão. Seria muito mais racional e menos doloroso que vocês fossem obrigados agora a escolher a mulher ou o marido. Hoje casamento é destino para o qual só se vende passagem de ida e volta. É muito fácil voltar ao ponto de partida e recomeçar: basta que os sentimentos e as ideias tenham mudado. Mas a viagem para a qual vocês estão comprando passagens dura cinco anos, pelo menos. E se depois de chegar lá vocês não gostarem? Nada garante...Vocês nunca estiveram lá. E se quiserem voltar? Não é como no casamento. É complicado. Leva pelo menos outros cinco anos para chegar a um outro lugar, com esse bilhete que se chama vestibular e essa ferrovia que se chama universidade. E é duro voltar atrás, começar tudo de novo. Muitos não têm coragem para isso, e passam a vida inteira num lugar que odeiam, sonhando com um outro. Em Minas, onde nasci, se diz que para se conhecer uma pessoa é preciso comer um saco de sal com ela. Os apaixonados desacreditam. Quem é acometido da febre da paixão desaprende a astúcia do pensamento, fica abobalhado, e passa a repetir as asneiras que os apaixonados
têm repetido pelos séculos afora: “Ah! mãe, ele é diferente...” “Eu sei que o meu amor por ela é eterno. Sem ela eu morro...” E assim se casam, sem a paciência de comer um saco de sal. Se tivessem paciência descobririam a verdade de um outro ditado: “Por fora bela viola; por dentro pão bolorento...” Coisa muito parecida acontece com a profissão: a gente se apaixona pela bela viola, e só tarde demais, no meio do saco de sal, se dá conta do pão bolorento. O Pato Donald arranjou um emprego de porteiro, num edifício de ricos. Sentiu-se a pessoa mais importante do mundo e estufou o peito por causa do uniforme que lhe deram, cheio de botões brilhantes, fios dourados e dragonas... Acontece assim também na escolha das profissões: cada uma delas tem seus uniformes multicoloridos, seus botões brilhantes, fios dourados e dragonas. Veja, por exemplo, o fascínio do uniforme do médico. Por razões que Freud explica qualquer mãe e qualquer pai desejam ter um filho médico. Lembram-se da “Sociedade dos Poetas Mortos”? O pai do jovem ator queria, por tudo nesse mundo, que o filho fosse médico. E ele não está sozinho. O médico é uma transformação poética do herói Clint Eastwood: o pistoleiro solitário, apenas com sua coragem e o seu revólver, entra no lugar da morte, para travar batalha com ela. Como São Jorge. O médico, em suas vestes sacerdotais verdes, apenas os olhos se mostrando atrás da máscara, a mão segurando a arma, o bisturi, o sangue escorrendo do corpo do inocente, em luta solitária contra a morte. Poderá haver imagem mais bela de um herói?
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Todas as profissões têm seus uniformes, suas belas imagens, sua estética. Por isso nos apaixonamos e compramos o bilhete de ida... Mas a profissão não é isso. Por fora bela viola, por dentro pão bolorento... Uma amiga me contou, feliz, que uma parente querida havia passado no vestibular de engenharia. “Que engenharia?”, perguntei. “Civil”, ela respondeu. “Por que esta escolha?” — insisti. “É que ela gosta muito de matemática”. Pensei então na bela imagem do engenheiro — régua de cálculo, compasso e prumo nas mãos, em busca do ponto de apoio onde a alavanca levantaria o mundo! “Se ela tanto ama a matemática talvez tivesse feito melhor escolha estudando matemática”. Engenheiro, hoje, mexe pouco com matemática. Tudo já está definido em programas de computador. O dia a dia da maioria dos engenheiros é tomar conta de peão em canteiro de obra... Isso vale para todas as profissões. É preciso perguntar: “Como será o meu dia a dia, enquanto como o saco de sal que não se acaba nunca?” Mas há outros destinos, outros trens. Não é verdade que o único caminho bom seja o caminho universitário. Acho que poucos jovens sequer consideram tal possibilidade. É que eles se comportam como bando de maritacas: onde vai uma vão todas. Não podem suportar a ideia de ver o “bando” partindo, enquanto ele não embarca, e fica sozinho na plataforma da estação... Deixo aqui, como possibilidade não pensada, este poema de Walt Whitman, o poeta da “Sociedade dos Poetas Mortos”:
“Em nome de vocês... Que ao homem comum ensinem a glória da rotina e das tarefas de cada dia e de todos os dias; que exaltem em canções o quanto a química e o exercício da vida não são desprezíveis nunca, e o trabalho braçal de um e de todos — arar, capinar, cavar, plantar e enramar a árvore, as frutinhas, os legumes, as flores: que em tudo isso possa o homem ver que está fazendo alguma coisa de verdade, e também toda mulher usar a serra e o martelo ao comprido ou de través, cultivar vocações para a carpintaria, a alvenaria, a pintura, trabalhar de alfaiate, costureira, ama, hoteleiro, carregador, inventar coisas, coisas engenhosas, ajudar a lavar, cozinhar, arrumar, e não considerar desgraça alguma dar uma mão a si próprio.” Desejo a vocês uma boa viagem. Lembremse do dito do João: “A coisa não está nem na partida e nem na chegada, mas na travessia...” Se, no meio da viagem, sentirem enjôo ou não gostarem dos cenários, puxem a alavanca de emergência e caiam fora. Se, depois de chegar lá, ouvirem falar de um destino mais alegre, ponham a mochila nas costas, e procurem um outro destino. Carpe Diem!
“Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares”, editora Ars Poetica — São Paulo, 1995, pág. 37..
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ATIVIDADES DE LEITURA 1. Qual o assunto da crônica da Rubem Alves? Os jovens e a escolha da profissão. D6 2. Explique o título: “Viagem Longa, destino incerto...” A “viagem longa” é uma referência aos cinco anos de curso universitário. O “destino incerto” sugere que nem sempre os jovens acertam ao escolher um curso universitário. D3
3. Para o autor, o casamento é uma escolha mais fácil do que a escolha da profissão. Veja: “Mas a viagem para a qual vocês estão comprando passagens dura cinco anos, pelo menos. E se depois de chegar lá vocês não gostarem? Nada garante...Vocês nunca estiveram lá. E se quiserem voltar? Não é como no casamento. É complicado.” 3.1. Que argumentos ele utiliza para defender essa ideia? Para o autor, desistir de um curso “no meio da viagem” é difícil para muitos, porque se investe muito tempo na formação profissional e recomeçar exige muito esforço. Voltar atrás no casamento seria mais fácil, pois, hoje, as pessoas costumam desistir das relações quando “os sentimentos e as ideias mudam”. D8 3.2. Você concorda com essa argumentação? Formule seu posicionamento. Resposta pessoal. 3.3. Qual seria a função discursiva das perguntas presentes no fragmento acima destacado? Com essas perguntas o autor consegue aproximar-se mais de seus interlocutores, os jovens, propondo que eles reflitam sobre questões que ele julga importantes. D17
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4. Releia os fragmentos abaixo: “Em Minas, onde nasci, se diz que para se conhecer uma pessoa é preciso comer um saco de sal com ela.” “Se tivessem paciência descobririam a verdade de um outro ditado: “Por fora bela viola; por dentro pão bolorento”...” 4.1. Procure explicar o significado das expressões populares utilizadas por Rubem Alves em seu texto. “Comer um saco de sal com alguém” significa conviver por muito tempo, pois demora-se a consumir um saco de sal. O outro ditado faz referência à decepção que podemos ter com as pessoas, que, num primeiro momento, podem nos encantar (como uma bela viola) e, com a convivência, revelarem-se decepcionantes, como um pão com bolor, mofo. D3 4.2. Mais adiante no texto, o autor estabelece uma relação entre os ditados populares acima e a escolha das profissões. Que relação é essa? O autor afirma que costumamos nos encantar com uma profissão que não conhecemos bem (“por fora bela viola”). Durante o demorado curso (“o saco de sal”), convivendo com o cotidiano dessa profissão, podemos descobrir que ela não era o que pensávamos e nos decepcionamos (“pão bolorento”) D4 O tutor tem aqui uma oportunidade para refletir com os alunos sobre a riqueza das imagens presentes na expressões populares, fruto da sabedoria popular. 5. Para falar da experiência de escolher uma profissão, Rubem Alves usa a metáfora da “viagem”. Observe os fragmentos: “Leva pelo menos outros cinco anos para chegar a um outro lugar, com esse bilhete que se chama vestibular e essa ferrovia que se chama universidade.” “Mas há outros destinos, outros trens”? “Não podem suportar a ideia de ver o “bando” partindo, enquanto ele não embarca, e fica sozinho na plataforma da estação...”
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5.1. Grife as palavras ou expressões de sentido metafórico presentes nos fragmentos acima e explique seu significado. Um outro lugar= a condição de profissional, o diploma universitário Ferrovia = universidade Bilhete= vestibular Outros destinos= outras profissões que não as universitárias ou aquela que se escolheu inicialmente. Outros trens= outros cursos, outras possibilidades de profissionalização. O bando partindo= os colegas que já entraram na universidade ou já escolheram seu curso. Não embarcar= não fazer a escolha profissional Ficar sozinho na plataforma= sentir-se como o único a não fazer a escolha. D3 5.2. Por que o autor teria escolhido a viagem de trem como representação da experiência de escolher uma profissão? Porque, no caso das viagens de trem, “fazer o retorno” ou interromper o trajeto é um processo mais custoso, mais demorado. D4 A questão 5 propõe o reconhecimento da metáfora como um recurso da linguagem, muito usado por nós em nossa comunicação cotidiana. Metáforas não estão presentes apenas nos textos literários, nos poemas. Elas são utilizadas por nós a toda hora e ajudam a explicar como nós representamos experiências vividas. No caso do texto, a metáfora da viagem de trem corresponde à forma como representamos a experiência da construção de uma profissão. Trata-se de um processo lento, às vezes custoso. As expressões metafóricas são expressões da linguagem que apontam para essa representação da experiência.
SAIBA MAIS SOBRE ESSE ASSUNTO CONSULTANDO A PLATAFORMA ENTRE JOVENS. 6. Releia: “O Pato Donald arranjou um emprego de porteiro, num edifício de ricos. Sentiu-se a pessoa mais importante do mundo e estufou o peito por causa do uniforme que lhe deram, cheio de botões brilhantes, fios dourados e dragonas...”
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Por que o texto cita esse exemplo do Pato Donald? Para mostrar que muitos jovens escolhem profissões movidos pela representação social que essas profissão possuem. Para falar do status de algumas profissões, o autor cita o caso da medicina. A profissão de médico exerce fascínio sobre os jovens, pois o médico é representado como alguém que tem poder, inclusive sobre a morte. Esse exemplo reforça a argumentação do texto. D4 7. No nono parágrafo do texto, o autor faz um relato de uma conversa que teve com uma amiga. Qual é a função desse relato no texto? O relato é uma evidência da tese do autor de que há muitos equívocos envolvendo a questão da escolha profissional. Segundo a argumentação do autor, gostar de Matemática não é critério para escolher Engenharia como profissão. D8 8. Considere ainda o fragmento: Não podem suportar a ideia de ver o “bando” partindo, enquanto ele não embarca, e fica sozinho na plataforma da estação... 8.1. Explique o uso das aspas na palavra bando. O termo tem valor metafórico, significando o grupo de colegas que já fez sua escolha profissional. D17 8.2. O termo “enquanto”, na frase acima, estabelece uma relação de: a) causa b) consequência c) tempo (X) d) lugar 9. O texto de Rubem Alves defende opiniões acerca do tema da escolha profissional pelos jovens. Resuma as ideias do autor? Rubem Alves afirma que a escolha profissional é uma das mais difíceis que fazemos na vida e que temos que fazê-la muito cedo. Por isso, podemos nos equivocar facilmente. Se isso acontecer, o autor aconselha os jovens a tomar outro caminho, começar de novo. O autor questiona, ainda, o fato de todos quererem, hoje, buscar uma formação universitária, quando há outras possibilidades de profissionalização. D7
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10. O autor utilizou, no final de sua crônica, um texto de Walt Whitman, um grande poeta inglês. De que forma os dois textos se relacionam? Os dois textos – crônica e poema – falam do trabalho como uma experiência que deve realizar, satisfazer o ser humano, por isso a escolha profissional deve ser acertada. A crônica de Rubem Alves discute também outras possibilidades de realização profissional que não passam pela formação universitária. O poema de Walt Whitman, da mesma forma, valoriza igualmente todas as formas de trabalho. D20 11. Qual a relação dos versos abaixo, retirados do poema de Walt Whitman com o tema “escolha da profissão”? “que em tudo isso possa o homem ver/ que está fazendo alguma coisa de verdade” Através desses versos, o poeta nos mostra que todas as profissões são louváveis e necessárias para o desenvolvimento e sustento da sociedade.
12. Rubem Alves conclui sua crônica com uma frase de João Guimarães Rosa, renomado autor que é mais conhecido como Guimarães Rosa: “A coisa não está nem na partida e nem na chegada, mas na travessia...” De que modo a frase de Guimarães Rosa relaciona-se à argumentação de Rubem Alves? A partir da metáfora contida na frase de Guimarães Rosa, o autor reforça o seu argumento de que temos que pensar em como será o dia a dia dentro da profissão escolhida. O vestibular (a partida) não é o mais importante. Segundo o autor, a formação profissional e o exercício da profissão ( a travessia) é o que deve ser levado em consideração, pois é o que vamos fazer por toda a vida. D8 13. Levante hipóteses que expliquem o motivo da escolha de chamar o autor de João ao invés de Guimarães Rosa. João Guimarães Rosa é um grande nome da Literatura Brasileira, que deveria ser conhecido por todos os brasileiros, dada a importância de sua obra. Chamá-lo de João denota intimidade. Ao fazer essa escolha, Rubem Alves nos aproxima de Guimarães Rosa, como se ele fosse conhecido, íntimo de todos nós. D18
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Como segunda atividade desta oficina, você vai fazer um teste vocacional. Antes de realizá-lo, leia atentamente o texto que introduz o teste.
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ATIVIDADES DE LEITURA 1. Explique as metáforas utilizadas no título do texto. Ao utilizar a expressão “as armas contra o monstro”, o autor está fazendo referência ao teste vocacional como “uma arma”, ou seja, como uma ferramenta para os jovens poderem conhecer um pouco mais suas aptidões e, assim, sentirem-se mais fortalecidos para fazer a escolha do curso a seguir. A escolha profissional é representada como um “monstro” por ser este um momento assustador da vida, temido pelos jovens. D3 2. A partir da leitura do texto que introduz o teste, identifique para que público ele foi destinado. O teste é direcionado para os jovens (teen) que estão em dúvida quanto à escolha do curso de graduação. D3 3. Qual o objetivo do texto que antecede o teste vocacional? Informar o leitor sobre a organização e funcionamento do teste. D12 4. Leia atentamente a frase abaixo: “Descubra sua profissão fazendo o teste vocacional” Considerando as informações iniciais do texto, como você interpreta a frase acima? O texto introdutório alerta o leitor a respeito do fato de que os testes vocacionais “não fazem milagres”, ou seja, não revelam a profissão a ser seguida. Portanto, a expressão “descobrir a profissão” significaria reconhecer algumas aptidões e interesses que podem ajudar a fazer a escolha profissional. D4 5. Releia também: “Você lerá uma série de atividades apresentadas aos pares, com letras “A” e “B”. Algumas dessas atividades parecerão estranhas, mas não estão aí à toa”. Na sua opinião, por que o texto introdutório faz essa observação ao leitor? Para motivá-lo a fazer o teste, ainda que ele não compreenda bem a lógica de certas perguntas. D4 6. Há no teste vocacional a distinção entre “ler sobre métodos de calcular” (grupo1) e “aprender a trabalhar com máquinas de calcular” (grupo2). Levante hipóteses para explicar o motivo de essas habilidades estarem em grupos distintos.
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Parece que há entre os grupos 1 e 2 uma diferença entre a teorização e a prática de determinadas atividades. 7. O uso dos verbos no infinitivo nas alternativas se dá por que motivo? O verbo no infinitivo indica uma ação a ser realizada. As alternativas do teste enumeram várias atividades com as quais o leitor pode ter alguma afinidade. Os verbos no infinitivo representam as ações desempenhadas nessas atividades. D19 8. Agora, realize o teste e compare os resultados. 8.1 Seu teste revelou que você tem um interesse maior por qual grupo? Resposta pessoal. 8.2 Qual foi o grupo pelo qual você apresentou menor interesse, segundo o teste? Resposta pessoal. 8.3 Você concorda com os resultados? Justifique. Resposta pessoal. 8.4 O que ele revelou sobre a sua personalidade? Resposta pessoal. Tutor, após a realização do teste e das atividades do guia, discuta oralmente com os alunos os resultados que eles obtiveram no teste. Peça que os alunos compartilhem e participem, dando sua opinião a respeito dos resultados dos outros colegas.
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FELICIDADE
1. OBJETIVOS » Desenvolver habilidades de leitura e análise do gênero reportagem. » Trabalhar a leitura de imagens. » Promover uma reflexão acerca do tema felicidade.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA A LEITURA Texto 1 – A nova ciência da felicidade - David Cohen e Aida Veiga Publicado na revista Época, de abril de 2006, a reportagem “A nova ciência da felicidade” tem como objetivo divulgar informações oriundas de trabalhos científicos que questionam algumas crenças do senso comum acerca da felicidade, sobretudo a de que “ter sucesso na vida garante a felicidade”. Os autores David Cohen e Aida Veiga reúnem, nesse texto, vários e breves relatos com resultados de pesquisas que mostram o contrário. O uso do tempo verbal pretérito sinaliza a presença de relatos no texto. Um primeiro estudo a questionar essa crença é o da psicóloga Sonja Lyubomirsky. Depois de retomar 225 estudos sobre o tema, a pesquisadora assume sua postulação: “Cheguei à conclusão de que, ao contrário do que muitos imaginam, é a felicidade que leva ao sucesso - e sucesso tanto no trabalho quanto na vida pessoal, na escola, em tudo”. Para fundamentar seu posicionamento, a psicóloga explica porque isso acontece: pessoas felizes são mais confiantes e conquistam seus objetivos com mais facilidade, estão mais preparadas para enfrentar situações difíceis, tendem a ser mais saudáveis e viver mais, fazem amigos e constroem boas relações sociais etc. Além desse estudo, o texto enumera - nos parágrafos 7, 8, 9 e 10 - outros trabalhos de pesquisa que confirmam a tese de que é a felicidade que leva ao sucesso e não o contrário. Nos parágrafos seguintes, outras crenças acerca da felicidade, que também fazem parte do senso comum, são contestadas no texto: “a crença de que a beleza ajuda a ser feliz” e a de que “ganhar na loteria resolve a vida de qualquer um”. A citação de novos estudos e o relato da experiência do brasileiro Valmir Amorim, ganhador da Sena, servirão como argumento para a sustentação de novas teses acerca da felicidade. É importante apontar para o recurso à citação, largamente utilizado em reportagens. As citações introduzem as falas de pesquisadores, autoridades no assunto abordado, o que torna confiáveis as informações veiculadas, possibilitando, de fato, o questionamento das crenças do senso comum.
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Interessante também é a forma como os autores introduzem o tema. A referência ao filósofo grego Sócrates e a estratégia de explorar o significado dos termos “happiness” e “felicitas”, nos parágrafos introdutórios, levanta uma discussão motivadora: Será a felicidade fruto do acaso, do destino, da sorte, da vontade dos deuses, ou, como propôs Sócrates, uma “tarefa de responsabilidade do ser humano”? Texto 2 – Quanto custa a felicidade – Fabíola Musarra O texto 2 é também uma reportagem retirada de uma revista – Revista Planeta, abril de 2011. O título “Quanto custa a felicidade” aponta para seu foco temático: o texto vai discutir, principalmente, a relação entre dinheiro/renda e felicidade. É objetivo da reportagem divulgar resultados de pesquisa que “desmistificam”, contestam uma outra crença do senso comum, expressa em um ditado popular: “Dinheiro não traz felicidade”. Os resultados das pesquisas apresentadas vão demonstrar o contrário. O primeiro trabalho de pesquisa divulgado na reportagem é o da equipe do Prof Justin Wolfers. A postulação dos pesquisadores da Universidade da Pensilvânia é “taxativa”: “dinheiro traz felicidade”. Essa conclusão é resultado da análise de dados de 140 países que revelou que o aumento da renda absoluta da população garantiu cidadãos mais felizes. Portanto, a felicidade das pessoas dependeria mais “da prosperidade econômica e da distribuição de renda do país onde se vive”. É principalmente esse sentido que se pode afirmar, segundo a reportagem, que dinheiro traz felicidade. Outra pesquisa apresentada – realizada pela Organização Gallup - aponta o Brasil como um exemplo da tese de que o aumento da riqueza de um país garante mais felicidade ao seu povo: “Com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos cinco anos e a diminuição do desemprego, o brasileiro é o 12º povo mais feliz do mundo...” O outro trabalho de pesquisa apresentado “define” o “preço da felicidade”. Segundo os pesquisadores Angus Deaton e Daniel Kahneman, a renda anual de 75 mil dólares (o correspondente a 11 mil reais mensais) garantiria a felicidade aos americanos. No entanto, ponderam os pesquisadores, ganhos maiores que esse não significariam mais felicidade. Uma conclusão importante que se pode tirar dos estudos apresentadas está expressa ao final da reportagem: “O importante, portanto, não é ser rico, e sim não ser pobre. O estudo aponta que alta renda não garante a felicidade, embora torne a vida mais satisfatória.”
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3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA » Motivação – o tutor vai iniciar a oficina propondo a leitura das imagens buscadas no site Google. Os alunos vão realizar essa primeira atividade individualmente. » Compartilhando a leitura das imagens – reunidos em grupo, os alunos vão compartilhar as leituras feitas bem como o conceito de felicidade proposto por cada um. » Atividades de leitura dos textos 2 e 3 – o tutor vai sugerir que os alunos façam as atividades de leitura em duplas. Pode-se motivar a leitura dos textos propondo que os alunos pensem em algumas questões que os textos vão tentar responder, como: Dinheiro e beleza trazem felicidade? » Correção/comentários das atividades de leitura – ao corrigir as atividades com o grupo, o tutor vai sistematizar conhecimentos sobre o gênero reportagem. Durante essa atividade, deve-se motivar diálogos com o texto, de modo que os alunos avaliem os posicionamentos sobre o tema assumidos na primeira atividade da oficina.
4. ATIVIDADES DE LEITURA Lendo imagens Todas as imagens a seguir foram conseguidas através de uma simples busca, a partir da palavra felicidade, no site de pesquisa Google. Observe as imagens. Dentre elas, escolha duas que, na sua opinião, melhor traduzem o sentimento de felicidade. Em seguida, faça anotações em seu caderno sobre por que você fez essa escolha. As questões abaixo podem ajudar: • O que mais chama a sua atenção nas imagens escolhidas? • Que sensações elas lhe despertam? • A que as imagens lhe remetem?
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Após essa reflexão procure explicar, numa frase, o que é, para você, a felicidade.
Fonte das imagens ao fim da oficina.
Leia, agora, os textos abaixo. O primeiro foi retirado da Revista Época, versão digital. O segundo, da Revista Planeta. Ambos abordam o tema da Felicidade.
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Texto 1 A NOVA CIÊNCIA DA FELICIDADE David Cohen e Aida Veiga colaboraram Renata Leal e Tânia Nogueira Ilustrações: Nilson Cardoso e Marco Vergotti Os psicólogos sempre se preocuparam com a doença. Agora voltam sua atenção para uma questão mais desafiadora: o que nos torna felizes? Há 2.400 anos, um sujeito chamado Sócrates, que perambulava pelas ruas de Atenas, na Grécia, iniciou um debate que dura até hoje: o que é felicidade? Como atingila? Até então, as pessoas acreditavam que dependiam basicamente dos desígnios dos deuses - como explica o professor de História da Universidade da Flórida Darrin McMahon, autor do recém-lançado livro Happiness: a History (Felicidade: uma História). A própria origem da palavra denota isso. Happiness vem do anglosaxão happ, acaso. Felicitas, o termo latino que dá origem a felicidade, significa também ventura, sorte, algo que lhe acontece. O grande avanço de Sócrates foi tornar a busca da felicidade uma tarefa de responsabilidade do ser humano, e não do acaso. Nos dois milênios que se seguiram, a questão foi abordada por inúmeros pensadores, de Aristóteles aos grandes filósofos cristãos, e a noção de felicidade oscilou entre várias tentativas de conciliar a conduta individual e a ordem divina. ‘Tudo mudou com o Iluminismo’, afirma McMahon. ‘No século XVIII, felicidade passou a ser algo a que todos temos direito como seres humanos.’ Um dos conceitos básicos da Revolução Francesa, marco da moderna sociedade ocidental, é que o objetivo da sociedade deveria ser a felicidade geral. (...) Nos últimos dois séculos, portanto, felicidade tem sido um dos principais parâmetros para conferir sentido à vida humana. E, agora, todo o
nosso conhecimento sobre o assunto vem sendo virado do avesso. Novas pesquisas mostram que não são as Não é o sucesso que nos nossas conquistas, torna felizes. É a felicidade o nosso esforço, as nossas realizações que traz sucesso que nos tornam felizes. É o oposto. É a felicidade que, em grande parte, determina nossas conquistas. ‘Fiz uma revisão dos 225 estudos mais importantes sobre felicidade sob várias perspectivas, tanto em laboratório como em entrevistas’, diz a psicóloga Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia, que está escrevendo um livro sobre o assunto. ‘Cheguei à conclusão de que, ao contrário do que muitos imaginam, é a felicidade que leva ao sucesso - e sucesso tanto no trabalho quanto na vida pessoal, na escola, em tudo’, afirma. ‘Pessoas felizes têm mais capacidade de perseguir seus objetivos e adquirir os meios de conquistá-los’, diz Sonja. ‘Elas também costumam ser mais confiantes, otimistas, energéticas e sociáveis, e estão mais preparadas para enfrentar situações difíceis.’ Além disso, pessoas felizes tendem a ter relacionamentos mais longos, casamentos melhores, ser mais saudáveis e viver mais. O sucesso no trabalho decorre principalmente de seus laços sociais, segundo Sonja. ‘Pessoas felizes são mais queridas, recebem mais tarefas, são mais bem avaliadas’, diz. Elas também trabalham com mais energia e são mais criativas. ‘No mundo competitivo em que vivemos, a agressividade é muitas vezes uma característica
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importante. Mas felicidade conta mais.’ Os estudos que dão base a essas conclusões são dos mais diversos tipos. Num deles, milhares de estudantes foram entrevistados na década de 70 e, depois, nos anos 90. Aqueles que se consideravam mais felizes nos anos 70 continuavam sendo mais felizes 20 anos depois - e ganhavam, em média, US$ 15 mil por ano a mais que os outros. Num segundo estudo, borrifou-se um spray com vírus de gripe em centenas de voluntários. O número de pessoas que ficaram resfriadas no grupo das mais felizes era a metade do das pessoas menos felizes. Ou seja, seu sistema imunológico era melhor. Outro estudo acompanhou um grupo de freiras desde que tinham 22 anos. As mais felizes viveram, em média, dez anos a mais. A psicóloga Laura Kubzansky, da escola de saúde pública de Harvard, acompanhou os dados de 1.300 homens durante dez anos. Aqueles que se consideravam otimistas tiveram a metade dos índices de doenças do coração. ‘É um efeito muito maior do que esperávamos encontrar’, disse, numa entrevista à revista Time. ‘Tão grande quanto a diferença entre fumantes e não-fumantes.’
1. Pessoas felizes têm sistema imunológico melhor, e há alguma evidência de que vivem mais; 2. Elas são mais criativas, pelo menos em laboratório; 3. Ajudam mais os outros e faltam menos ao trabalho; 4. São mais bem-sucedidas (ganham mais, têm casamentos melhores); 5. Têm relações sociais mais profundas; 6. Lidam melhor com situações difíceis; 7. Gostam mais de si mesmas e dos outros, e os outros gostam mais delas. (...)
Certo, então os cientistas concluíram que é ótimo ser feliz. Como se ninguém desconfiasse. E o que eles têm a dizer sobre como chegar lá? Algumas coisas muito interessantes. Para começar, vários estudos comprovam dados da sabedoria popular: ter amigos, por exemplo, faz uma tremenda diferença para o bem-estar de uma pessoa. Segundo o psicólogo Jonathan Haidt, autor do livro The Happiness Hypothesis (A Hipótese da Felicidade), precisamos fazer parte de um grupo, algo que a vida moderna tem tornado difícil (...). Saúde, como era de se esperar, também importa muito. Quando seu time ganha, há uma explosão de felicidade (segundo o psicólogo Robert Cialdini, uma E V O L U Ç Ã O sensação similar à que nossos ancestrais A alegria de torcer é uma sentiam quando derrotavam inimigos característica herdada de em uma batalha). Conquistar coisas, por nossos ancestrais outro lado, dá mais prazer se você tem O psicólogo Edward Diener, da Universidade de se esforçar por elas (estão certas, de Illinois, um pesquisador do assunto tão aparentemente, as moças que se fazem de prolífico que foi apelidado de Doutor Felicidade, difíceis para ser mais valorizadas). resume as benesses em sete pontos: Mas o senso comum também costuma se equivocar. É frequente, por exemplo, a crença A euforia de ganhar na loteria não dura mais que alguns meses
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de que a beleza ajuda a ser feliz. ‘Diante de uma mulher muito bonita, a tendência é pensar que o universo conspirou para que ela fosse feliz’, diz o psicanalista Jorge Forbes, presidente do Instituto de Análise Lacaniana e autor do livro Você Quer o Que Deseja? . ‘Mas poucos sabem como é difícil
suportar uma qualidade que é tão evidente para todos. Vejo muitas mulheres que fazem análise justamente porque são muito bonitas e têm dificuldade de lidar com isso.’ Outra crença comum é que ganhar na loteria resolve a vida de qualquer um. Mas uma pesquisa dos psicólogos Philip Brickman e Donald Campbell, amplamente replicada, demonstrou que a felicidade obtida com o bilhete premiado não dura mais que alguns meses. Alguém em (...)
posição para entender isso é Valmir Amorim, que ganhou na Sena, em 1988, o equivalente a R$ 12 milhões em dinheiro de hoje. ‘Eu tinha 23 anos, era solteiro e trabalhava como pedreiro na reforma da penitenciária do Estado’, diz Amorim. Ele comprou uma fazenda e gado e foi morar com a família no interior de São Paulo. ‘No começo, era infeliz porque não me deixavam em paz. Todo mundo pedia ajuda. Tive até de contratar segurança.’ Amorim diz que, com o tempo, voltou a seu nível de satisfação anterior. Afirma que, recentemente, começou a ‘sentir um vazio’. ‘Como tinha as noites livres e os três filhos crescidos, decidi voltar a estudar. Quero cursar a faculdade de Veterinária. É um sonho que me anima. Vou ficar felicíssimo no dia em que me formar veterinário.’
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG73787-6014,00.html 07/04/2006 - 21:01 | Edição nº 412
ATIVIDADES DE LEITURA 1. A finalidade do texto lido é: a) argumentar a favor do valor da felicidade na vida do ser humano. b) divulgar recentes resultados de pesquisas sobre o tema felicidade. (X) c) discutir o tema felicidade a partir de diferentes posicionamentos. d) argumentar a favor da relação dinheiro felicidade. D12 2. O texto lido é: a) um artigo de opinião. b) um editorial. c) uma notícia. d) uma reportagem. (X)
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3. Explique o título do texto, com atenção ao adjetivo ‘nova’. O título faz referência a novos estudos científicos sobre o tema “felicidade”. Tais estudos derrubam a crença de que são as nossas conquistas que nos tornam felizes, provando que, ao contrário, é o grau de felicidade que determina as nossas conquistas. D4 4. Considere o subtítulo do texto: “Os psicólogos sempre se preocuparam com a doença. Agora voltam sua atenção para uma questão mais desafiadora: o que nos torna felizes?”
Qual é o seu objetivo? O subtítulo auxilia o leitor na indicação do tema e objetivo da reportagem, que apresentará o posicionamento de psicólogos a respeito da questão “O que nos torna felizes?” D1 5. Releia, atentamente, os dois primeiros parágrafos do texto, que podemos considerar como parágrafos introdutórios. 5.1. O primeiro parágrafo do texto apresenta informações sobre a origem da palavra “felicidade”. O que essas informações revelam? O termo “happiness” (do inglês) está associado a “acaso”. O termo “felicitas” (do latim) significa ventura, sorte, algo acontece também por acaso. Isso revela que a felicidade não era vista como algo que lutamos para conquistar, mas como uma condição que não depende de nossa vontade. D4 5.2. Por que o filósofo Sócrates é citado na introdução do texto? Porque, ao se perguntar sobre o que é a felicidade, Sócrates altera a crença de que a felicidade tem a ver com o “destino”, a vontade dos deuses. Os questionamentos de Sócrates levam ao pensamento de que “a felicidade é uma tarefa de responsabilidade do ser humano”. E é disso que o texto pretende tratar. D4
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As questões de 1 a 5 exploram elementos textuais que permitem refletir sobre o gênero reportagem. O texto em questão, publicado em uma revista semanal, pode ser considerado uma reportagem, cujo tema se anuncia no título e subtítulo. Chama a atenção, na construção desse texto, o conteúdo dos dois primeiros parágrafos. A estratégia de iniciar o texto mencionando o filósofo grego Sócrates dá relevância ao tema da felicidade, apresentando-o como uma questão que, há séculos, mobiliza o pensamento humano. Além disso, o conteúdo desses dois parágrafos formula a questão central do texto de forma bastante interessante: a felicidade é destino sobre o qual não temos controle, ou é responsabilidade humana construir a felicidade? Ao comentar com os alunos suas respostas, o tutor pode motivar uma discussão acerca desse tópico, possibilitando que os alunos aprendam a dialogar com os textos que leem.
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6. A partir do terceiro parágrafo do texto o autor faz o uso constante de aspas (‘’). Explique a função desse recurso no texto. As aspas são utilizadas para introduzir citações, a fala dos cientistas e pesquisadores do tema abordado. Desse modo, o texto ganha confiabilidade. Além disso, as citações garantem, ao autor, construir um certo distanciamento em relação ao que está sendo dito. D17 7. Releia: “Não é o sucesso que nos torna felizes. É a felicidade que traz sucesso” 7.1. Essa tese é defendida, no texto, por: a) David Cohen. b) Sonja Lyubomirsky. (X) c) Renata Leal. d) Aida Veiga. D1 7.2. Que evidências ou argumentos o autor da tese apresenta para sustentá-la? Pessoas felizes conquistam seus objetivos com mais facilidade. Pessoas felizes são mais confiantes e enfrentam mais facilmente situações difíceis. Pessoas felizes tendem a ter relacionamentos mais longos, são mais saudáveis e vivem mais. (...) D8
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7.3. Segundo informação do texto lido, que outros estudos ajudam a fundamentar a tese acima? Em que parágrafos esses estudos são apresentados? Esses estudos são apresentados nos parágrafos 7, 8, 9 e 10. Eles demonstram que: estudantes que se consideravam felizes na década de 70 continuavam sendo mais felizes 20 anos depois e tinham mais sucesso financeiro; pessoas mais felizes mostraram-se mais resistentes ao vírus de gripe; freiras consideradas mais felizes viveram mais; homens mais otimistas tiveram menos doenças do coração; os benefícios da felicidade são muitos (como mostra a pesquisa do psicólogo Edward Diener) D8 8. Releia: “Certo, então os cientistas concluíram que é ótimo ser feliz. Como se ninguém desconfiasse. E o que eles têm a dizer sobre como chegar lá? Algumas coisas muito interessantes.” 8.1. O que a afirmação grifada acima revela a respeito de seu autor? Os autores da reportagem, com essa afirmação, expõem sua compreensão de que os resultados das pesquisas apresentadas, de certa forma, são esperados, pois todos sabemos que a felicidade faz muito bem ao ser humano. D4 8.2. Segundo o autor do texto, o que os cientistas têm a dizer sobre como alcançar a felicidade? Os cientistas apresentam estudos interessantes que comprovam crenças da sabedoria popular, tais como: ter amigos, fazer parte de um grupo, ter saúde, conquistar coisas com o próprio esforço é fundamental para o bem estar de uma pessoa. Por outro lado, estudos também mostram que a crença popular pode se equivocar, por exemplo: a crença de que beleza ajuda a ser feliz e de que ganhar na loteria garante a felicidade não é, segundo as pesquisas apresentadas, verdadeira. D1 9. Ao final do texto, os autores relatam a história de Valmir Amorim, ganhador da Sena. Qual é o objetivo desse relato? O relato funciona como argumento em favor da tese de que a felicidade alcançada com um bilhete premiado não dura mais do que alguns meses. D12 As questões de 6 a 9 exploram o corpo da reportagem, que menciona pesquisas cujos resultados derrubam teses do senso comum, ou seja, crenças que costumam ser assumidas como verdades pela maioria das pessoas. A pesquisa científica reunida nessa reportagem derruba muitas dessas crenças e reafirma outras. É importante apontar para o recurso à citação como um recurso valioso para o gênero textual estudado.
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ão é de hoje que a felicidade frequenta o universo dos sonhos, da música, da poesia e da literatura. Há apenas 40 anos ela pisou em solo acadêmico, no qual é objeto de investigação em economia, psicologia, ciências políticas e medicina. Em geral, todos os estudos têm uma pergunta em comum: o que faz alguém ser feliz? Ao longo das décadas, os pesquisadores ofereceram várias respostas. A mais recente, realizada em 2010 pela Wharton School, da Pensilvânia, a mais antiga e conceituada escola de administração dos Estados Unidos, afirma, taxativamente, que o dinheiro traz a felicidade. Para chegar a essa conclusão, os norteamericanos examinaram dados de 140 países e constataram que quanto mais dinheiro a pessoa tem, mais satisfeita ela está com a vida - o que vale para um cidadão brasileiro, dos EUA ou de qualquer outro país do mundo. A felicidade está baseada na renda absoluta (ter renda). Por isso, depende muito da prosperidade econômica e da distribuição de renda do país onde se vive. Assim, quanto mais rica a nação, mais felizes são os cidadãos. “Intuitivamente, isso faz sentido”, diz Justin Wolfers, professor de negócios e políticas públicas da Wharton School e um dos autores da pesquisa Subjective Well-Being: Income, Economic Development and Growth. Não há dúvida de que quem nasce em um país desenvolvido tem uma vida bem mais fácil. “Nos EUA, por exemplo, não temos de nos preocupar com o fato de nossas crianças estarem morrendo, como acontece em
alguns países subdesenvolvidos. Nem temos de ganhar a vida por meio do trabalho manual”, afirma Wolfers. Pesquisas anteriores sugeriam que as pessoas eram felizes quando se comparavam aos vizinhos ou colegas de trabalho e percebiamse em condições iguais ou superiores às deles. Pela lógica da renda comparativa, os mais pobres seriam felizes se estivessem apenas um pouco melhor do que aqueles ao redor. “Essa conclusão era muito conveniente para pessoas de nações prósperas”, nota Wolfers, “porque induzia à constatação de que os carentes estavam acostumados à sua pobreza relativa e os mais ricos não precisavam se sentir mal enquanto dirigiam seu BMW”. Wolfers e equipe analisaram as mudanças de felicidade ao longo do tempo. Eles descobriram que, de modo geral, os cidadãos de países que experimentam o crescimento econômico tendem a se tornar mais felizes. Ao que tudo indica, o caso do Brasil é exemplar. Com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos cinco anos e a diminuição do desemprego, o brasileiro é o 12º povo , segundo uma pesquisa feita com 155 países pela Organização Gallup, a pedido da revista norteamericana Forbes. O estudo avaliou como as pessoas se sentiam em relação à vida entre os anos de 2005 e 2009, e colocou o Brasil à frente de nações como os EUA, a França, a Espanha e a Itália. Nas Américas, o país ficou atrás só da Costa Rica e do Canadá, na 6ª
Para as famílias brasileiras, o crescimento da renda e a diminuição do desemprego nos últimos 5 anos, tornaram a população a 12ª mais feliz do mundo.
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Para as famílias norte-americanas alguns dos principais fatores de felicidade são: renda, plano de saúde, casamento, filhos e educação superior.
e 8ª colocações, respectivamente. A Dinamarca, na época, era a campeã do bem estar, seguida da Finlândia, Noruega, Suécia e Holanda. No rol dos países carentes, o Togo (África) é o campeão da infelicidade, seguido pelos países africanos Burundi e Comores, e pelo Camboja (Ásia). Anteriormente, em 2008, a Gallup já havia feito uma pesquisa em 132 países sobre o estado de satisfação pessoal e o estado de felicidade (The Well-Being Index), Essas informações foram processadas em um banco de dados e as respostas foram colocadas em um gráfico. Por meio dele, os cientistas constataram que quanto maior o nível de renda per capita, maior é o grau de satisfação. Aí, também a Finlândia, a Noruega, a Nova Zelândia, os EUA e a Itália apresentam índices de satisfação mais altos, enquanto Haiti, Congo, Quênia, Camarões e Angola, muito baixos. O banco de dados da Gallup serviu de base para o estudo do economista Angus Deaton, da Universidade de Princeton (EUA), e do psicólogo Daniel Kahneman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002. Determinados a saber até que ponto o dinheiro compra a felicidade, os dois analisaram 450 mil respostas de mil norteamericanos, coletadas entre 2008 e 2009, definindo o “preço da felicidade”: uma renda anual de até US$ 75 mil (cerca de R$ 130 mil, ou R$ 11 mil mensais). Como fatores geradores de felicidade
os entrevistados destacaram, aleatoriamente: renda, religião, maturidade, casamento, plano de saúde, filhos e educação superior. Como fatores de infelicidade nos Estados Unidos foram indicados: solidão, problemas de saúde, dor de cabeça, vício de fumar, sustentar família, obesidade e divórcio. O mais interessante é que, a partir do patamar de R$ 11 mil, mais riqueza não significa mais felicidade. O importante, portanto, não é ser rico e sim não ser pobre. O estudo aponta que a alta renda não garante a felicidade, embora torne a vida mais satisfatória. Em contrapartida, a baixa renda - um salário mensal abaixo de R$ 11 mil - compromete o bem-estar emocional em casos de divórcio e doenças. No Brasil “O fato de Deaton e Kahneman terem chegado ao valor de US$ 75 mil anuais não significa que basta converter o valor em reais para encontrar o valor da felicidade dos brasileiros”, diz a economista Sabrina Vieira Lima, doutoranda em economia pela Universidade de Milão-Bicocca, Itália. “Cada país é um caso único. Deve-se, sobretudo, levar em consideração o custo de vida e fatores como estilo de consumo e de sociabilidade”, afirma. Infelizmente, nunca foi feita uma pesquisa multidisciplinar, misturando economia, antropologia, sociologia e psicologia, capaz de definir a “felicidade brasileira”.
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ATIVIDADES DE LEITURA 1. O título “Quanto custa a felicidade” indica que o tema do texto é: a) a busca do ser humano pela felicidade. b) a relação entre dinheiro e felicidade. (X) c) a melhoria da qualidade de vida do brasileiro. b) a valorização do consumo entre os americanos. D6 2. Releia: “A ciência desmistifica o antigo ditado de que “o dinheiro não traz felicidade”. 2.1. O verbo “desmistificar”, utilizado na frase acima, significa: a) reafirmar. b) confirmar. c) desacreditar. (X) d) questionar. D3 2.2. A afirmação do texto que “desmistifica” o ditado popular é: a) “Quanto mais rica a nação, mais felizes são os cidadãos.” (X) b) “Não é de hoje que a felicidade frequenta o universo dos sonhos...” c) “Mas renda demais também gera problemas.” d) “... a partir do patamar de R$11mil, mais riqueza não significa mais felicidade.” D4 O tutor deve auxiliar os alunos a compreender a tese dos pesquisadores de que “dinheiro traz felicidade”. Em que sentido isso é verdade? Os dados das pesquisas não afirmam que é preciso ser muito rico para ser feliz. Afirma-se que viver em um país rico ou próspero, isso sim incide sobre o nível de satisfação ou felicidade dos cidadãos.
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3. Considere a afirmação abaixo: “Há quem diga que R$11 mil por mês seria o número mágico. ” 3.1. A afirmação de que um valor em dinheiro pode garantir a felicidade é: a) dos pesquisadores Angus Deaton e Daniel Kahneman. (X) b) de pesquisadores brasileiros. c) do autor da reportagem. d) da equipe do professor Wolfers. D1 3.2. Analise cuidadosamente a frase acima e responda: que palavras ou expressões indicam que o autor da reportagem tem dúvidas a respeito do resultado da pesquisa que estabelece um “valor” para a felicidade. A expressão verbal “Há quem diga...”- com ela o autor atribui a afirmação a outro, não assumindo seu conteúdo como verdade. O verbo “seria”, no futuro do pretérito – o uso dessa forma verbal indica que o autor não se compromete com o conteúdo da afirmação. A expressão “número mágico” – o uso dessa expressão sinaliza que, na visão do autor, a felicidade não é algo que se possa conseguir “magicamente”, somente através de ganho financeiro. D18 A afirmação em destaque na questão 3 aparece na introdução da reportagem. No entanto, no trecho final, esclarece-se que o valor de 75 mil dólares, estipulado pelos pesquisadores americanos, não deve ser convertido em reais “para se encontrar o valor da felicidade dos brasileiros”. Esse ponto deve ser observado ao se corrigirem as atividades. Nesse sentido, a afirmação em destaque pode revelar o posicionamento do autor da reportagem, que parece questionar o fato de se estabelecer “um preço para a felicidade”. As escolhas linguísticas sinalizam esse posicionamento.
4. Leia atentamente a definição abaixo: Personificação - figura pela qual se dá vida e, pois, ação, movimento e voz, a coisas inanimadas, e se empresta voz a pessoas ausentes ou mortas e a animais. Fonte: Dicionário Aurélio – versão digital 4.1. Identifique a personificação nas frases abaixo, extraídas do texto.
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“Não é de hoje que a felicidade frequenta o universo dos sonhos, da música, da poesia e da literatura. Há apenas 40 anos ela pisou em solo acadêmico, no qual é objeto de investigação em economia, psicologia, ciências políticas, medicina.” No texto, o sentimento da felicidade é personificado, ou seja, a felicidade é tratada como uma pessoa que “frequenta o universo dos sonhos” e “pisa em solo acadêmico”. 4.2. Que efeito discursivo a utilização desse recurso produz? Ao utilizar esse recurso, o escritor reforça importância desse sentimento para o ser humano. D18 Ainda avaliando as escolhas lexicais, o tutor pode chamar a atenção para o advérbio “apenas”. A utilização dessa palavra permite inferir que o autor avalia como tardia a inserção do tema nos estudos acadêmicos. Sendo o tema tão importante para nós, somente há poucos anos passou a ser objeto de estudo e pesquisa.
5. As pesquisas apresentadas pela reportagem contestam o dito popular “Dinheiro não traz felicidade”. 5.1. Retire do texto pelo menos dois argumentos que permitem contestar essa crença. Segundo a pesquisa da equipe do professor Wolfers, os cidadãos declaram-se mais felizes quando a renda absoluta de seu país aumenta. Segundo a pesquisa da Organização Gallup, o brasileiro se reconhece como um povo feliz na medida em que aumenta a riqueza do país. Os americanos com renda anual igual a 75 mil dólares declararam-se felizes. D8 5.2. Considerando a tese dos pesquisadores de que “Dinheiro traz felicidade”, como você interpreta a afirmação abaixo? “O importante, portanto, não é ser rico, e sim não ser pobre.” A frase acima afirma que a riqueza demasiada não traz felicidade a uma pessoa, ela traz alguma satisfação. Mas a pobreza traz infelicidade. As pesquisas apresentadas mostram que viver em um país pobre faz muita diferença quando o assunto é felicidade. D4 6. Depois de conhecer o conteúdo do texto, como você interpreta a ilustração que o inicia? Na ilustração, um jovem parece estar pensando em bens materiais ou imaterias que poderiam lhe trazer felicidade. O valor de 11 mil reais corresponde ao resultado da pesquisa feita pelos americanos. A imagem parece colocar em dúvida o fato de que a felicidade possa ter um preço.
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NEXOS MATRIZ DE REFERÊNCIA - JOVEM DE FUTURO LÍNGUA PORTUGUESA - 1°, 2° E 3° ANO DO ENSINO MÉDIO TÓPICOS E SEUS DESCRITORES
I – PROCEDIMENTOS DE LEITURA D1
Localizar informações explícitas em um texto.
D3
Inferir o sentido de uma palavra ou expressão.
D4
Inferir uma informação implícita em um texto.
D6
Identificar o tema de um texto.
D14
Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato.
II – IMPLICAÇÕES DO SUPORTE, DO GÊNERO E/OU DO ENUNCIADOR NA COMPREENSÃO DO TEXTO D5
Interpretar um texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, foto, etc.).
D12
Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros.
III – RELAÇÃO ENTRE TEXTOS D20
Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido.
D21
Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema.
IV – COERÊNCIA E COESÃO NO PROCESSAMENTO DO TEXTO D2
Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto.
D7
Identificar a tese de um texto.
D8
Estabelecer relações entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la.
D9
Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto.
D10
Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.
D11
Estabelecer relação causa/consequência entre partes e elementos do texto.
D15
Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc.
V – RELAÇÕES ENTRE RECURSOS EXPRESSIVOS E EFEITOS DE SENTIDO D16
Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados.
D17
Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações.
D18
Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão.
D19
Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos.
VI – VARIAÇÃO Linguística D13
Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto.
A Matriz de Referência de Língua Portuguesa do Projeto Jovem de Futuro é a mesma para os três períodos de escolarização avaliados (1°, 2° e 3° anos do Ensino Médio). A variação encontra-se no grau de dificuldade dos itens referentes a cada série.