Aulas-Tema de 01 a 07
Língua Portuguesa
Ocina Língua Portuguesa
Autora Nayara Moreira Santos
Revisora Crítica Jacqueline Barbosa
© 2013 Anhanguera Educacional
Proibida a reprodução nal ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modicada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma.
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Vice-Presidente Acadêmica Ana Maria Costa de Souza
Diretora de Planejamento e Organização Pedagógica Cleide Marly Nebias
Diretora Adjunta de Inovação e Engenharia Pedagógica Alessandra Cristina Fahl
Equipe: Assessoria Pedagógica
Coordenação Virtual Camila Torricelli de Campos
Daniela Vitor Ferreira
Emanuela de Oliveira Fábio Cavarsan
Guilherme Nicésio Letícia Martins Bueno
Maysa Ferreira Rampim
Suporte Técnico Aline Gonçalves Torres Patrícia Taiane Ferreira da Silva Richard Rodrigues da Silva Wallace Barbosa de Souza
Analistas Acadêmicas Andiara Diaz Valquíria Maion
Gerência de Design Educacional Rodolfo Pineli
Analista de Projetos Liliam Silva
Gabriel Araújo Juliana Cristina Flávia Lopes
Assessoria Técnico-Acadêmica Jesimiel Duarte Leão
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ÍNDICE Introdução.............................................................................................................................
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TEMA 01 - Fonologia e Ortograa Texto e Contexto .................................................................................................................. 07 Referências .......................................................................................................................... 22 Saiba Mais ...........................................................................................................................
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Tema 02 - Morfologia Texto e Contexto .................................................................................................................. 25 Referências .......................................................................................................................... 40 Saiba Mais ...........................................................................................................................
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Tema 03 - Sintaxe Texto e Contexto .................................................................................................................. 43 Referências .......................................................................................................................... 59 Saiba Mais ...........................................................................................................................
59
Tema 04 - Figuras de Linguagem Texto e Contexto .................................................................................................................. 61 Referências .......................................................................................................................... 73 Saiba Mais ...........................................................................................................................
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Tema 05 - Intertextualidade Texto e Contexto .................................................................................................................. 77 Referências .......................................................................................................................... 88 Tema 06 -Sequências textuais Texto e Contexto .................................................................................................................. 91 Referências .......................................................................................................................... 103 Saiba Mais ...........................................................................................................................
103
Tema 07 - Título tema 07 Texto e Contexto .................................................................................................................. 107 Atividade de Autodesenvolvimento ...................................................................................... 120 Referências .......................................................................................................................... 121 Saiba Mais ...........................................................................................................................
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Introdução Caro(a) aluno(a), A análise de como a língua se constitui faz parte dos nossos estudos desde cedo. Contudo, não raro, acabamos passando pela Educação Básica com a sensação de que conjuntos de denições e normas são, não apenas maçantes, como também inúteis para as várias situações de comunicação com as quais nos deparamos no nosso dia a dia. E, por não compreendermos a língua, tendo em vista seus objetivos práticos, acabamos cometendo inadequações. Há tempos, teóricos da linguagem vêm tentando quebrar essa ideia de que é preciso estudar conceitos meramente pelo que eles signicam. Em outras palavras, não é vantajoso sabermos na ponta da língua, por exemplo, o que é uma coordenada sindética aditiva, se não compreendermos de que modo ela se constitui e sua função nas práticas de linguagem. Assim, conhecer a fundo a própria língua passa a ser mais do que saber de cor um conjunto de normas, trata-se de saber fazer uso dela adequadamente nas mais diferentes manifestações, tanto escritas quanto faladas. Sem perceber, procuramos o tempo inteiro adaptar (ou deveríamos procurar adaptar) a nossa fala e o nível de informalidade ou formalidade na escrita, de acordo com o contexto em que estamos inseridos. Os meios de comunicação de massa, por exemplo, entendem bem a necessidade de falar ou escrever de modo que atinja seu público-alvo. Para ilustrarmos as diferentes formas de utilização da linguagem, segue um vídeo introdutório em que as falas dos participantes sugerem diferentes usos e variedades da linguagem. Saber reconhecer e transitar por esses usos e variedades torna-se essencial para a sua jornada acadêmica, que está apenas começando. Portanto, o que se pretende nesse curso é fazer com que você possa relembrar algumas questões usualmente trabalhadas na escola, a partir do ponto de vista da prática, daquilo que mais necessitamos para usarmos a língua de maneira mais satisfatória. Propomos então, um olhar que ultrapasse as classicações pelas classicações, os conceitos pelos conceitos, a norma pela norma. Preparad@?
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a f a r g o t r O e a i g o l o n o F
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TEXTO E CONTEXTO
ÍNDICE Tema01 - Fonologia e Ortografa
Fonologia é a área de estudo da gramática que toma a palavra tendo como ponto de vista a sua constituição sonora. Ou seja, é nessa área que são estudados:
• os fonemas; • os encontros fonéticos; • as divisões silábicas; • as classicações da palavra a partir de sua sílaba tônica e da quantidade de sílabas; • ortograa: as denições sobre a graa e a acentuação das palavras etc. Para a fonologia, tais estudos não pretendem fazer uma catalogação de regras sem uma perspectiva funcional. Ao contrário, estudar os sons da língua é também prestar atenção nas diferenças intencionais de signicado entre um uso e outro. A menor unidade sonora na constituição das palavras é denominada fonema. Mas por que é importante ater-se em pequenos detalhes como os fonemas das palavras? Observe o texto abaixo: [...] És melhor do que tu. Não digas nada: sê! Graça do corpo nu
Que invisível se vê. (PESSOA, Fernando. Não digas nada! In: Cancioneiro. Disponível no link: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000003.pdf. Acesso em 20/05/2013.)
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TEXTO E CONTEXTO Que coisa, não? Anal, qual é a diferença entre fonema e letra?
Fonema: menor unidade sonora capaz de estabelecer distinção entre
dois vocábulos.
Letra: representação gráca do fonema. O número de fonemas e letras em um vocábulo nem sempre coincide. Por exemplo, no vocábulo LIBERDADES temos 10 sons e 10 letras:
LIBERDADES Letras: l-i-b-e-r-d-a-d-e-s Fonemas: /l/, /i/, /b/, /e/, /r/, /d/, /a/, /d/, /e/, /s/ Mas no vocábulo RIQUEZA isso não
acontece. Veja:
RIQUEZA Letras: 7 – r-i-q-u-e-z-a Fonemas: 6 - /r/, /i/, /k/, /e/, /z/, /a/ (observe que as letras QU representam apenas um fonema: /k/)
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Tema01 - Fonologia e Ortografa Se repararmos os vocábulos tu e nu , veremos que se diferenciam entre si apenas pela presença dos sons diferentes, representados pelas letras t e n . Logo, a simples oposição entre t e n é que estabelece a diferença entre os dois vocábulos. Essas unidades sonoras mínimas (/t/, /n/) são os fonemas. O mesmo vale para as palavras sê e vê: apenas a mudança do fonema /s/ por /v/ estabelece a diferença entre os vocábulos. Poetas, aqui muito bem representados por Fernando Pessoa, gostam de fazer uso desses fonemas que, trocados, ganham valor de contraste. No exemplo que você acabou de ver, um fonema é representado por uma única letra. Porém, não é sempre assim. Além disso, um mesmo fonema pode ser representado por letras diferentes. Leia o trecho de uma crônica: O sonambulismo tem sido aplicado à cura de moléstias, e ultimamente à busca das coisas perdidas e à
predição do futuro, o que aliás a nossa polícia contestou de um modo formal e urbano. Faltava aplicá-lo à política dos Estados; é o que acaba de fazer o governo argentino. O governo argentino mandou, por descuido, o orçamento ao Senado, devendo mandá-lo à Câmara; o Senado, não
menos sonâmbulo que o governo, pôs o orçamento em discussão. A Câmara estranhou esses dois cochilos; mas não podendo ser excluída da virtude sonambúlica, é muito provável que adormeça também, e vote a lei, com os olhos fechados. Resta que os contribuintes, ainda mais sonâmbulos do que os dois poderes, paguem a si mesmos os impostos; o que permitirá ao governo remeter então o orçamento ao congresso literário; e, caso este recuse, à biblioteca de Alexandria. [...] (ASSIS, Machado de. Notas semanais. In: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ ua000215.pdf. Acesso em 20/05/2013.)
No início do texto, já vemos que a palavra SONAMBULISMO possui o fonema /s/ representado duas vezes pela letra S. Porém, releia a passagem: [...] o Senado, não menos sonâmbulo que o governo, pôs o orçamento em discussão. Aqui, há um exemplo do fonema /s/ representado, mas com uma graa que não é a da letra S sozinha ou em dupla como em SS. Descobriu qual é? Isso mesmo:
Que coisa, não? Outras duplas de letras representam o fonema /s/: SC e XC. Assista aos vídeos a seguir para relembrar como eles podem ocorrer em uma palavra:
CLIQUE AQUI
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http://www.youtube.com/watch?v=FVNeHVBRaLA
http://www.youtube.com/watch?v=kVlVAldYBsQ
ORÇAMENTO O fonema /s/ é representado pela letra Ç. Devemos estar atentos a essas “pegadinhas” ao escrevermos as palavras. Muitas vezes, erros ortográcos acontecem, justamente, pelo fato do mesmo som ser representado de diferentes
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TEXTO E CONTEXTO
Tema01 - Fonologia e Ortografa
maneiras. Se você voltar a ler o trecho inteiro, verá que em duas palavras o fonema /s/ tem outras representações além de s, ss e ç. Sim, são as palavras POLÍCIA e EXCLUÍDA.
Que coisa, não? Há casos em que duas consoantes aparecem juntas, mas não são dígrafos. . No trecho que lemos de Machado de Assis há exemplos, como A PLICADO, PROVÁVEL, CONTRIBUINTES e BIBLIOTECA, ALEXANDRIA. A esse tipo de sequência de duas ou mais consoantes chamamos de encontro consonantal. Nesse caso, como temos fonemas diferentes, ambos devem ser pronunciados. Entretanto, em algumas variedades linguísticas, em função de fenômenos ligados à variação linguística, um desses fonemas pode não ser pronunciado, o que inclusive pode ser fonte de preconceito, já que há essa variedade linguística. Atenção também às palavras como ADEQUADAMENTE, ÁGUA, ESCADA, EXCLUIR, nas quais qu, gu, sc e xc não são dígrafos, pois acabam representando dois sons.
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Ainda na mesma passagem, as palavras SENADO, MENOS, SONÂMBULO, PÔS e DISCUSSÃO também possuem o fonema /s/. Contudo, nas quatro primeiras ele é representado pela letra S e na última pelas letras SS juntas. Teríamos ainda, como possibilidade de representação do /s/, o uso do SÇ, como em DESÇA e Z como em GI Z.
Concluindo o fonema /s/ pode ser grafado com S, C, X, SS, SC, SÇ, Z, Ç, XC. Quando duas letras representam um único fonema, elas são chamadas de dígrafos. Exemplos de dígrafos RR, SS, CH, QU E GU (antes de E e I)
Sílaba tônica: a intensidade em jogo Leia em voz alta as palavras a seguir: MILHÕES HERÓI ÁSPERO POSSÍVEL RÁPIDO BURGUÊS Quando pronunciamos uma palavra, podemos notar que uma sílaba se sobressai, parecendo mais “forte” do que as demais. Esse pedaço da palavra pronunciado com mais intensidade é chamado de sílaba tônica. Veja abaixo as sílabas tônicas das
palavras que você leu acima: MILHÕES
HERÓI
ÁSPERO POSSÍ VEL RÁPIDO BURGUÊS
Reconhecer a sílaba tônica das palavras é bastante útil quando bate aquela dúvida sobre onde acentuar. Mas atenção! Todas as sílabas tônicas recebem acento gráco? Não. E é aí que mora o perigo.
QUESTÃO 01 Leia o conjunto de palavras abaixo e marque a opção em que estejam elencadas suas respectivas sílabas tônicas: MADEIRA LÂMPADA ESPAÇO ILUSÃO LIQUIDIFICADOR PRINCESA RETRATO
a)
ma – lâm – pa – i – qui – sa – tra
b)
dei – lâm – pa – são – dor – ce – tra
c)
dei – da – es – i – dor – prin –to
d)
ra – da – ço – lu – ca – ce – re
e)
ma – pa – es – i – – sa – to
Acentuação gráca: como acentuamos (ou não!) as palavras Você deve ter percebido que a sílaba tônica pode aparecer em diferentes lugares da palavra. Dependendo de sua posição, as palavras recebem uma classicação. Vamos relembrá-las. Classicação Oxítona Paroxítona Proparoxítona
Posição da sílaba tônica Última Penúltima Antepenúltima
Por que é importante saber se uma palavra é oxítona, paroxítona ou proparoxítona? Oras, quando tiver dúvidas se a sílaba tônica de determinada palavra é acentuada ou não, vale conhecer alguns conceitos relativos a essas classicações.
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TEXTO E CONTEXTO
Tema01 - Fonologia e Ortografa
QUESTÃO 02 Estão elencados abaixo certos conceitos sobre a classicação das palavras dependendo da posição de sua sílaba tônica. Eles são essenciais para que não tenhamos mais dúvidas sobre a acentuação das palavras. Leia-os com atenção: I. Palavras oxítonas terminadas em a(s), e(s), o(s), em(ens) sempre são acentuadas. II. Palavras paroxítonas terminadas em ditongo sempre recebem acento. III. Todas as palavras proparoxítonas são acentuadas. IV. Paroxítonas terminadas em a(s), e(s), o(s), em(ens) nunca são acentuadas. Agora leia as frases abaixo e assinale a opção em que a palavra circulada em cada frase sirva respectivamente de exemplo para cada conceito.
a) I. Ele enfrentou muitos obstáculos para chegar até aqui. II. Vôlei é meu esporte favorito! III. Perdi a liquidação porque fui o último a chegar. IV. Coloque o capuz do casaco, pois está muito frio lá fora.
b) I. Meu bichinho de estimação adora cafuné. II. Os sabiás fazem uma festa no sítio do meu avô. III. Os automóveis têm de respeitar o espaço das ciclovias. IV. As paredes têm ouvidos. 12
c) I. O Brasil exporta guaraná para o mundo inteiro. II. A minha série de TV favorita está na última temporada. III. O pássaro cantou a noite inteira. IV. Na minha rua não há sequer um poste de luz funcionando.
Ortograa: não tão estranha quanto parece Observe o trecho abaixo: A Lingoagem e gura do entendimento [...] os bos falão virtudes e os maliçiosos maldades [...] sabẽ falar os q/ ẽtedẽas cousas: porq/ das cousas naçẽm as palavras e não das palavras as cousas. (Fernão de Oliveira, autor da primeira gramática da língua portuguesa em 1536)
Por mais estranho que pareça, era assim que a língua portuguesa era escrita nessa época. Como podemos notar, algumas palavras hoje são escritas de maneira diferente. Você teve diculdade em ler o trecho ou foi tão fácil quanto ler qualquer coisa nos dias atuais? Se você sentiu diculdade e/ou teve de ler mais devagar, você não está sozinho. Isso porque não estamos acostumados com essa ortograa, o que acaba atrapalhando mesmo a leitura. Veja como esse trecho seria escrito hoje: A linguagem é gura do entendimento [...]. Os bons falam virtudes e os maliciosos, maldades [...]. Sabem falar os que entendem as coisas: porque das coisas nascem as palavras, e não das palavras as coisas.
Ficou mais compreensível? Você “sentiu na pele” agora a função da ortograa: tornar a escrita mais uniformizada, para que todos possam compreendê-la. Quando nos deparamos com muitos erros ortográcos ou com uma ortograa mais antiga, nossa leitura ca mais lenta e difícil. Porém, os primeiros usuários da língua portuguesa passaram por muitos sufocos, até chegar à conclusão de que era preciso estipular certas regras de escrita. Até o século XVI, os textos em língua portuguesa eram escritos pelo sistema fonético, ou seja, eram baseados 13
TEXTO E CONTEXTO
Tema01 - Fonologia e Ortografa
na pronúncia das palavras. Tendo em vista as variedades que aparecem nas nossas falas quanto à pronúncia (dependendo da região do Brasil que vivemos, por exemplo), você pode imaginar a bagunça que era. Após o século XVI, passou-se a utilizar o sistema etimológico, em que as palavras eram escritas de acordo com a forma original que elas tinham no latim. É por isso que, até hoje, podemos ter diferentes letras que representam o mesmo fonema, como já vimos anteriormente. Isso acontece porque essas palavras, de certa forma, carregam resquícios de sua graa em latim. Se você tem dúvidas quanto à graa de algumas palavras de vez em quando, saiba que isso é absolutamente normal. Isso porque nós temos regularidades e irregularidades ortográcas. Em alguns casos, a norma ortográca nos permite saber qual letra será a correta em determinada palavra. Porém, às vezes, não há uma norma por trás do uso correto. Nesses casos, só conseguimos tirar a dúvida memorizando e consultando o dicionário. É importante que você compreenda que essas regras não são “naturais”: a graa das palavras é sempre uma convenção, ou seja, algo que é denido socialmente. Tanto a ortograa é um acordo social que passamos recentemente por uma mudança na graa de algumas palavras de língua portuguesa. Você se lembra quando o Novo Acordo Ortográco foi rmado?
Assista a vídeo-aula a seguir para relembrar a questão política por trás do acordo e algumas das novas regras básicas: Por vezes, a graa de algumas palavras suscita Web Aula 1 – O Novo Acordo dúvidas, mesmo depois de termos saído da escola. Ortográco: o que muda? Anal, como lidar com palavras que são pronunciadas e/ou escritas da mesma maneira ou que são muito parecidas, mas que têm sentidos completamente diferentes? Vamos entender um pouco melhor esses casos logo abaixo. CLIQUE AQUI Homonímia e paronímia: o que são esses conceitos? 14
QUESTÃO 03 Você já deve ter se deparado com palavras que são pronunciadas e escritas do mesmo modo, mas que têm sentidos absolutamente diferentes. Veja as frases abaixo: O pai de Murilo ocupa um ótimo posto na empresa onde ele trabalha. Levamos o maior susto no posto ao abastecermos o carro ontem.
De acordo com as frases que você leu, em qual das situações abaixo podemos encontrar o pai de Murilo?
a)
b)
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TEXTO E CONTEXTO
Tema01 - Fonologia e Ortografa
Tendo em vista que a palavra POSTO tem dois sentidos, ainda que seja pronunciada e escrita da mesma maneira, descobrimos qual é o sentido em que ela está sendo empregada pelo contexto que foi dado.
QUESTÃO 04 O que você acha de relembrarmos mais algumas dessas palavras? Leia as frases abaixo, selecionando qual é o signicado da palavra em cada questão: • Quando eu era pequena, minha mãe vivia reclamando da bagunça do meu quarto.
a) Aposento da casa
b) Número ordinal
• Todo dia após almoçar ele senta no banco da praça para descansar um pouco.
c) Instituição nanceira
d) Local onde se senta
• Eu até gostei do paletó, mas a manga cou curta demais, você não acha?
e) Parte da roupa que envolve os braços f) Fruta Como nos exemplos que vimos, há palavras em nossa língua que, apesar de terem signicados diferentes, têm a mesma pronúncia e a mesma graa. Essas palavras são chamadas de homônimas homógrafas. Mas será que toda palavra que possui a mesma pronúncia tem também a mesma graa?
QUESTÃO 05 Leia as frases abaixo e selecione a palavra que seria mais adequada para ocupar o espaço em branco. Caso tenha dúvidas (tanto nessa atividade quanto na vida), não hesite em
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consultar o dicionário! Bolo de cenoura sem __________ de chocolate por cima não tem graça.
a) Cauda
b) Calda
Antônio foi o __________ colocado na natação.
c) Sexto
d) Cesto
Espero que você se __________ melhor depois da cirurgia.
e) Sinta
f) Cinta
As palavras que você viu acima também têm signicados diferentes e a mesma pronúncia. Porém, ao contrário dos homônimos homógrafos, elas não são escritas da mesma maneira. Por isso elas são chamadas de homônimas heterógrafas. Agora leia as duas frases abaixo: A lenda do cavaleiro sem cabeça amedronta a cidade Por ser um cavalheiro, Maurício era admirado por todos
Em ambas as frases, temos exemplos de palavras que são muito semelhantes uma com a outra: CAVALEIRO e CAVALHEIRO. Porém, se você tentar pronunciá-las em voz alta, verá que elas não só têm graas diferentes como também pronúncias diferentes. A essas palavras que são semelhantes, mas que possuam graa, pronúncia e signicados diferentes, denominamos parônimas.
O caso das homônimas MAL e MAU O emprego de MAL ou MAU é uma questão que acompanha a todos nós em algum momento da vida. Observe o trecho da letra abaixo: [...] E você que está me ouvindo Quer saber o que está havendo
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TEXTO E CONTEXTO
Tema01 - Fonologia e Ortografa
Com as ores do meu quintal? O amor-perfeito, traindo A sempre-viva, morrendo E a rosa, cheirando mal [...] HOLANDA, Chico Buarque. Agora falando sério. Chico Buarque de Hollanda – Nº 4. CBD/Philips 1970
Nesse caso, a palavra MAL foi empregada no sentido da má situação em que a rosa se encontra. A verdade é que essa palavra pode ser usada com diferentes sentidos. Veja: O grande mal do Brasil são os políticos corruptos que saem impunes. • MAL: aquilo ou aquele que prejudica, que atrapalha.
O paciente está mal , praticamente nas últimas. • MAL: em péssimo estado de saúde, enfermidade. Mal a mãe virava as
costas, ele quebrava alguma coisa.
• MAL: está indicando tempo, tem mais ou menos o mesmo sentido de “assim que”. Ela agiu mal quando saiu gritando da sala de reunião.
• MAL: está indicando o modo como ela agiu, é equivalente a “de modo errado”.
E a palavra MAU? Que sentidos ela pode ter? Nas revistas em quadrinhos de super-heróis, sempre há um homem mau. • MAU: o mesmo que ruim, perverso.
Temos de votar conscientemente para não acabarmos elegendo um mau político. 18
• MAU: que revela falta de competência, não exerce bem suas funções.
Esse é um mau momento para discutirmos a relação. • MAU: inconveniente, inoportuno.
QUESTÃO 06 Selecione abaixo a frase em que o emprego de MAL ou MAU está incorreto:
a) Os agrotóxicos são o mal do século. b) Em mudanças de temperatura, a rinite é um mal que atinge muita gente. c) Ele fez muito mau em pegar o primeiro avião e desistir de tudo. d) Ela não se preocupava com o fato das pessoas comentarem sobre seus maus modos. Que coisa, não? Um critério prático para tirar a dúvida quando tiver de escrever MAU ou MAL é que a palavra MAU só é usada quando for possível trocá-la por BOM e a palavra MAL é usado quando for possível trocá-la por BEM. Ou seja, MAU será sempre um adjetivo, enquanto que MAL será sempre um advérbio.
Exemplo: Ele é um mau músico. Ele é um bom músico.
QUESTÃO 07 Selecione a alternativa a seguir que tenha, respectivamente, as palavras faltantes nas frases. I. Não há bem que sempre dure, nem há _____ que nunca acabe. II. Um _____ governador causa ao povo um _____ irreparável. 19
TEXTO E CONTEXTO
Tema01 - Fonologia e Ortografa
III. Não faz _____ que ele fale _____ de mim, pois eu sei que ele é um _____-educado. IV. Vilma está sempre de _____ humor, por isso _____ chega ao trabalho e já começa a xingar todo mundo pelas costas.
a) mal – mal – mau – mal – mal – mal – mau – mau b) mal – mau – mal – mal – mal – mal – mau – mal c) mau – mau – mal – mau – mal – mal – mau – mau d) mau – mal – mal – mau – mau – mal – mal – mal
Porquê, por quê, por que, porque... Anal, quando usar um e outro? Os variados porquês da língua portuguesa suscitam dúvidas por onde passam. Porém, entender a função de cada um deles torna mais fácil o emprego na nossa escrita. Veja abaixo:
Por que Essa graa é utilizada em dois casos: I. Quando, após o seu uso, ca subentendida a palavra “razão” ou “motivo”.
Exemplo: Por que você não veio ontem? (Por que [razão/motivo] você não veio ontem?) II. Quando é facilmente substituível pela expressão “pelo qual” e suas variações.
Exemplo: O fracasso por que passamos não nos abateu. (O fracasso pelo qual passamos não nos abateu)
Por quê 20
Essa graa é utilizada apenas no nal das frases.
Exemplo: Você não vestiu a roupa que eu te dei por quê?
Porque Essa graa é utilizada em armações e em respostas, geralmente podendo ser substituído por “pois” ou “como”.
Exemplo: Não fui à festa porque quei gripado.
Porquê Essa graa é sempre precedida de artigo ou pronome e é empregada com sentido aproximado de “razão” ou “motivo”. Ninguém sabia o porquê dela estar tão triste. São muitos os porquês para ela estar tão triste. Veja Veja como, no último exemplo, é possível que a palavra porquê que no plural.
QUESTÃO 08 Leia as frases abaixo e selecione a opção em que os respectivos usos dos porquês estão corretos: I. “__________ “_________ _ nascemos para amar, se vamos morrer? / __________ ________ __ morrer, se amamos?” (Carlos Drummond de Andrade) II. “__________ sendo Curió um incurável romântico, noivava frequentemente.” (Jorge Amado) III. “Ai de ti, Copacabana, __________ eu já z o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia [...].” (Rubem Braga) IV. IV. Ninguém é capaz de entender os __________ ________ __ da vida.
a) porque – por que – porque – porquê – por quês 21
TEXTO E CONTEXTO
Tema01 - Fonologia e Ortografa
b) por que – porque – por que – por quê – por quês c) porque – por que – por que – porque – porquês d) por que – por que –porque – porque – porquês
REFERÊNCIAS CASTILHO, Ataliba T. de. Nova Gramática do português brasileiro . São Paulo: Contexto, 2010. EDIÇÕES SM. Ser Protagonista – Gramática – Volume https://docs.google.com/le/d/0B1lfOtr2UHEZWlNTmd3TnJWS3M/edit Único. São Paulo: Edições SM, 2010.
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SAIBA MAIS • Assista ao vídeo abaixo abaixo para mais informações informações sobre o uso dos porquês. porquês.
CLIQUE AQUI http://www.youtube.com/watch?v=nrBf5zhRFlk
• Assista ao vídeo abaixo para mais informações sobre uso de mau e mal.
CLIQUE AQUI http://www.youtube.com/watch?v=hwynBEFBgsg
• LEDUR, Paulo Paulo Flávio. Guia prático da Nova Ortograa: as Mudanças do Acordo Ortográco. Ortográco. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=JldFNOmIWIAC&pg=PP1&lpg=PP1&ots =z3gqlqp7&dq=nova+ortograa&hl=pt-BR . Acesso em: 28 jun. 2013.
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: 2 a 0 i g o A l o f M E r o T M 24
TEXTO E CONTEXTO Nos estudos da Morfologia, são focalizados os constituintes das palavras, isto é, trata-se de uma parte da gramática que estuda a estrutura e a formação das palavras. Se voltarmos para a origem da palavra Morfologia, com a junção do grego morphé (forma) + logos (estudo), podemos notar que sua função está intrinsecamente ligada a sua própria formação. Aliás, esse tipo de análise histórica também faz parte da Morfologia. Veja abaixo seus objetivos mais gerais:
ÍNDICE
Tema02 - Morfologia
a r p e n s
m á x i mo
e le ga n t e p
ar a , d i f er en t e o h b a l se m e l hor t r a
n o
p a la v ra s
• estudar a estrutura da palavra para identicar os elementos que a constituem;
q u e v i v er
• descobrir o mecanismo linguístico que deu origem à palavra, ou seja, seu processo de formação; • estabelecer a que classe gramatical a palavra pertence; • analisar as possíveis exões (variações) que uma palavra pode ter. Você já ouviu falar de um personagem chamado Odorico Paraguaçu? Ele cou famoso na novela O Bem Amado por inventar palavras com muita desenvoltura. Observe uma de suas pérolas: “Vamos dar uma salva de palmas a esta gura trepidante e dinamitosa que foi o seu Nonô.”
Que coisa, não? Odorico Paraguaçu foi um personagem cômico criado pelo dramaturgo e romancista Dias Gomes (1922 – 1999) nos anos 70, fazendo parte da novela O Bem Amado. Era autoritário e dado a
demagogias. Atuação até hoje lembrada de Rolando Boldrin, o primeiro ator a dar vida a Odorico na TV.
Veja que o personagem criou um neologismo, isto é, uma palavra nova: dinamitosa. Se procurarmos no dicionário tradicional, onde são encontradas as palavras ociais da língua, certamente essa não estará presente. Porém, ainda que não haja um verbete ocial que explique o sentido dela, é possível, a partir dos elementos signicativos mínimos, saber o que 25
TEXTO E CONTEXTO
Tema02 - Morfologia
Odorico quis dizer.
dinam(i)
elemento indicador de força, potência,
(elemento de ligação, para facilitar a
relaciona-se a
pronúncia)
dinamite)
os(o)
t
a
(elemento formador de (elemento indicador adjetivo) do gênero feminino, concordando com o substantivo “gura”)
Assim, podemos armar que essa palavra é formada por quatro elementos signicativos mínimos, que, juntos, formam seu signicado. Uma gura “dinamitosa”, portanto, seria uma pessoa vigorosa, intensa, cheia de energia. As menores unidades de sentido que se combinam para formar uma palavra são chamadas de morfemas.
Processo de formação de palavras: como nossos vocábulos surgem? Quer saber de um fato curioso? Segundo os grandes dicionários de língua portuguesa, nós temos por volta de 400.000 palavras na nossa língua, sem contar as inúmeras palavras técnicas e cientícas que temos e os dicionários comuns não abarcam. Não viu como isso pode ser interessante? Pois tente imaginar então a quantidade de palavras que nascem e morrem na história da língua portuguesa! De modo geral, compreender o processo de formação de palavras é importante por três motivos:
• para (re)conhecermos melhor seus signicados; • para conseguirmos perceber com que intencionalidade algumas palavras são usadas em determinada prática de linguagem (em um bate-papo com amigos, no noticiário, no anúncio publicitário...); • para reetirmos sobre o modo como as palavras vêm e vão, do uso na fala e na escrita.
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A m de saber como esse processo formador ocorre na língua portuguesa, clique na Web Aula abaixo.
Web Aula 2 – Como surgem as palavras na língua portuguesa?
Que coisa, não?
CLIQUE AQUI Como vimos na Web Aula, a palavra pode ser primitiva, derivada ou composta. As palavras derivadas dividem-se em cinco subgrupos:
Derivação prexal
Derivação suxal
Derivação parassintética
Acréscimo de um prexo em uma palavra primitiva ou radical. Ex: infeliz (in + feliz) Acréscimo de um suxo em uma palavra primitiva ou radical. Ex: menininha (menin – inha) Acréscimo simultâneo de um prexo e de um suxo a um radical. Ex: entristecer (en + trist + ecer)
Nem toda palavra com acréscimo de prexo e suxo é parassintética. Para ter certeza, retire o prexo ou o suxo. Se a palavra mantiver algum sentido com um ou outro, trata-se apenas de uma derivação prexal e suxal. Já se ela não mantiver sentido nenhum, aí sim será parassintética. Veja os exemplos:
Imparcialmente: Existe imparcial e parcialmente. Logo, é uma derivada prexal e suxal. Desalmado: Não existe desalm(a), nem almado. Portanto, é uma derivada parassintética.
Processo de deslocamento no qual uma palavra é transferida de sua classe gramatical usual para outra classe sem alteração da forma. Ex: Vejamos a palavra jantar como parte de certa classe gramatical:
Derivação imprópria
Para você jantar naquele restaurante, só fazendo reserva. (jantar = verbo)
Agora observe outra frase: O jantar saiu tarde porque o restaurante estava lotado. (jantar = substantivo)
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TEXTO E CONTEXTO
Tema02 - Morfologia Processo que origina sobretudo
substantivos de ação, com o acréscimo das vogais –a, –e ou –o ao radical de algum verbo. Ex:
Derivação regressiva Combater (verbo no innitivo)
combat (radical) + e (vogal) = combate (derivado regressivo)
Já as palavras compostas são divididas em:
Composição por justaposição
Composição por aglutinação
As palavras que se unem não sofrem alteração e continuam a ser usadas separadamente da mesma forma como antes da composição. Ex: passatempo (passa + tempo) Ao menos uma das palavras que se unem sofre alteração na pronúncia e/ou na graa. Ex: aguardente (água + ardente)
QUESTÃO 01 Leia o texto abaixo, observando as palavras em negrito. Em seguida, selecione qual alternativa indica incorretamente o processo de formação da palavra: Seu passatempo era assoviar uma canção depois de todo aquele
vaivém de discussões no corredor. Não queria mais ser infeliz com todos os ataques do chefe. a) passatempo – derivação parassintética b) vaivém – composição por justaposição
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c) corredor – derivação por suxação d) infeliz – derivação por prexação e) ataques – formação regressiva
QUESTÃO 02 Leia a seguinte manchete de jornal: O EMPATE DO PALMEIRAS SIGNIFICOU UM AVANÇO NA PROCURA DE INGRESSOS PARA O CAMPEONATO Quais palavras na manchete indicam uma derivação regressiva?
a) signicou – procura – ingressos b) empate – avanço – procura c) campeonato – empate – levou d) ingressos – avanço – para e) empate – signicou – campeonato
Principais classes de palavras: como se classica o quê
Que coisa, não?
A linguagem verbal acontece na prática com o uso das palavras. Quando essas palavras se juntam para compor o texto, tanto falado quanto escrito, elas adquirem determinados signicados: podem indicar características de algo ou alguém, nomear os seres, esclarecer a quantidade de seres ou objetos referidos etc.
Existem ainda outros três processos de formação de palavras:
Partindo dessas signicações, as classes de palavras dividem-se em dez, podendo ser variáveis ou invariáveis:
Hibridismo: palavra que veio da junção de elementos de outros idiomas. Ex: tele (grego) + visão (latim) = televisão.
Sigla: palavra que é formada pelas letras iniciais de outras. Ex: CBF (Confederação Brasileira de Futebol) Onomatopeia: palavra que imita um som. Ex: miau, tic-tac, atchim.
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TEXTO E CONTEXTO PALAVRAS VARIÁVEIS Substantivo (pode variar em gênero, número e grau) Verbo (pode variar em número e pessoa) Adjetivo (pode variar em gênero, número e grau)
Numeral (pode variar em gênero e número) Artigo (varia em gênero e número) Pronome (varia em número, gênero e
Tema02 - Morfologia PALAVRAS INVARIÁVEIS Advérbio Conjunção Preposição Interjeição
pessoa)
Nesta ocina, retomaremos brevemente os conceitos de artigo, preposição, substantivo, adjetivo, verbo e advérbio
QUESTÃO 03 Leia as frases observando as palavras em negrito: 1 - Durante a campanha eleitoral, o candidato propôs o pacto pela educação. 2 - Durante uma campanha eleitoral, um candidato propôs um pacto pela educação. Agora imagine que as frases acima tenham sido noticiadas por um repórter na televisão. Em que situação, ou seja, em que contexto ele teria empregado a frase 1? E a frase 2?
a) Na frase 1, o âncora do jornal está falando de um candidato especíco que propôs um pacto determinado pela educação. Já na frase 2, subentende-se que o telespectador já saiba que candidato e a que situação o repórter se refere. b) Tanto na frase 1 quanto na frase 2 subentende-se que o telespectador não saiba nada ainda sobre o que o repórter está noticiando, muito menos de que eleição e que candidato 30
ele se refere.
c) Tanto na frase 1 quanto na frase 2 subentende-se que o telespectador já saiba o contexto, o assunto e o candidato ao qual o repórter se refere. d) Na frase 1, o telespectador já deve saber, antecipadamente, a respeito de que eleição, de que candidato e de qual pacto pela educação o repórter está falando. Já na frase 2, o sentido é mais genérico, vago, indenido. As palavras em negrito nas frases que você leu acima são chamadas de artigo. O artigo é a palavra colocada antes do substantivo para determiná-lo, seja de modo mais particular, individual (denido, como o, a, os, as), seja de modo mais geral, vago (indenido, como um, uma, uns, umas). Porém, podemos armar que o artigo faz mais do que isso. Além de generalizar ou especicar determinado substantivo, ele pode produzir outros efeitos de sentido. Por que é importante saber isso? Ora, a escolha do artigo denuncia (e muito!) o que nós e os outros querem destacar e que efeito causar. No geral, os artigos podem indicar: • Intensicação • Cálculo aproximado • Familiaridade/intimidade • Depreciação • Indenição
QUESTÃO 04 Leia as frases abaixo e preste atenção nos artigos destacados. Analisando os efeitos de sentido produzidos por eles, assinale quais deles indicam:
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TEXTO E CONTEXTO ( ) 1 - Passamos um frio tão intenso na ponte! ( ) 2 - Faz uns dez anos que eu não o vejo. ( ) 3 - Umas mães zeram um lindo discurso. ( ) 4 - Tivemos um trabalho para preparar o bolo! ( ) 5 - O Machado de Assis escreveu Dom Casmurro. ( ) 6 - Temos uns três quilômetros ainda a percorrer. ( ) 7 - Aquele garoto é só mais um na minha vida.
Tema02 - Morfologia A - Intensicação B - Cálculo aproximado C - Familiaridade/intimidade D - Depreciação E - Indenição
( ) 8 - Uns alunos organizaram a festa junina. ( ) 9 - Hoje é só mais um dia de trabalho. ( ) 10 - O João não chegou a tempo no aeroporto. Outro conceito importante, sobretudo para o nosso trabalho com regência mais adiante, é o de preposição. Você se lembra de sua função? Observe a frase abaixo: Todas as viagens de Júlia foram feitas em terras brasileiras A palavra DE relaciona viagens e viagens e Júlia indica uma ideia de posse. Já a palavra EM relaciona feitas e feitas e terras ,
indicando ideia de lugar. As palavras DE e EM são exemplos comuns de preposição, ou seja, de palavras invariáveis que ligam duas outras palavras, estabelecendo entre elas certas relações de sentido e de dependência. Se observarmos as principais preposições e as relações mais comuns de sentido que elas podem estabelecer, estabelecer, podemos ter a seguinte tabela:
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Preposição
Relações de sentido
Tempo
a
Modo
Distância Lugar
Exemplos À vinda do governador, fez-se barulho. Aqui as coisas só podem ser ditas a meia voz. Ele
trabalha
a
duas
quadras de casa. Ele curtia as férias ao sol. Terminei o trabalho com a ajuda de amigos.
Companhia Causa
com
Instrumento Oposição Modo
Com sua distância, acabei me entristecendo. Ela só era capaz de pensar com o computador. Hoje é o jogo decisivo com Flamengo e Vasco. Todos olhavam para ele com medo. Voltei ontem de Manaus.
Lugar
de
Assunto
Na reunião, falamos de você.
Causa
Joana morreu de anorexia.
Tempo
De manhã, sou incapaz de acordar bem-humorado.
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TEXTO E CONTEXTO Preposição
Tema02 - Morfologia Relações de sentido
Tempo
em
Modo Lugar
para
Finalidade Lugar (de destino)
Lugar (por onde)
por
Tempo Causa
sobre
Lugar Assunto
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Exemplos Em uma hora quero você pronto! A professora pediu que cássemos em silêncio. Ele nunca quis morar em São Paulo. Todos estão te esperando para a festa. Ainda volto para Trancoso. Trancoso. A trilha que zemos passava por cachoeiras. Ela viveu por dois anos
em São Mateus. Por ser idoso, permitia-se viajar. A mesa quase caiu sobre o cachorro. Pode car tranquila, não falamos sobre você.
QUESTÃO 05 Na frase “Maria Antônia se aborrece com a cobrança sobre a sua participação nas Olimpíadas”, a preposição em negrito estabelece a relação de:
a) Companhia b) Modo c) Meio d) Consequência e) Causa Agora dê uma olhada ao seu redor: o que você vê? Quantas coisas e/ou pessoas estão diante de seus olhos? Você consegue nomeá-las? Uma estante, uma parede, uma lâmpada, uma criança? O que você sente olhando para essas coisas/pessoas? Alegria? Desespero? Amor? O crítico já dizia: O poder de nomear signicava para os antigos hebreus dar às coisas a sua verdadeira natureza, ou reconhecê-la. Esse poder é o fundamento da linguagem e, por extensão, o fundamento da poesia. BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1983.
Basicamente, tudo o que vemos, sentimos e imaginamos tem nome. A esses nomes classicamos como substantivos. Contudo, não basta para a linguagem verbal nomear as coisas e os seres. Veja a frase: Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manhã caindo e ainda voltou algumas vezes durante o dia, a cidade entardeceu [...]. BRAGA, Rubem. O mato. In: A traição das elegantes. Rio de Janeiro: Record, 2008. 7ª ed. p. 20.
Não bastou para o cronista dizer que o vento veio, precisou dizer que ele estava frio. Não bastou falar sobre o temporal, precisava dizer que era noturno. Também não foi de seu
Que coisa, não? Alfredo Bosi, nascido em 1936, é um dos imortais da Academia Brasileira de Letras. Professor universitário, crítico e historiador literário, escreveu dezenas
de
livros
sobre
a literatura brasileira, sua grande paixão, ganhando também diversos prêmios por elas.
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TEXTO E CONTEXTO
Tema02 - Morfologia
interesse dizer apenas da chuva que passou, anal, o leitor devia saber também que ela foi lenta. Todos nós sentimos necessidade de expressar as características, as qualidades ou o estado daquilo que vemos, sentimos e imaginamos. As palavras que possuem essa função são chamadas de adjetivos. Apesar de sempre se referirem ao substantivo, os adjetivos não têm de estar obrigatoriamente ao lado deste. Eles podem estar relativamente distantes, separados por outra(s) palavra(s). Por exemplo: Adjetivo que caracteriza o substantivo esportista.
O esportista cou feliz com a medalha nas Olimpíadas. Se você ainda acha que classicar as palavras é coisa chata, que ninguém além de gramáticos se importa com isso, leia o trecho abaixo, escrito por um homem que foi advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e político brasileiro (ufa!): [...] Proponho como exercício uma atitude de troca. [...] Onde se lê sofrer leia-se feliçar (por que a felicidade não tem verbo?). [...] Fica inventado o verbo feliçar para dar existência, ação, vida, movimento, liberdade, à felicidade, da mesma forma que o sofrimento tem o verbo sofrer para espalhá-lo entre os homens. [...] Curiosa e masoquista a vida. O verbo sofrer é complicado. Feliçar é simples. Por que conjugar o sofrer? TÁVOLA, Artur da. Alguém que já não fui. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
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Que coisa, não? Atenção! A classe gramatical de uma palavra muitas vezes não é xa. Ela depende das relações que estabelece com as outras. Veja:
• chuva local (chuva = substantivo; local = adjetivo) • local perigoso (local = substantivo; perigoso = adjetivo)
De modo literário, o escritor reete sobre o próprio conceito de verbo, ou seja, a palavra que exprime um fato (que pode ser, grosso modo, relativo a uma ação, estado ou fenômeno) e localiza-o no tempo (passado, presente, futuro...). Portanto, não é à toa que no texto acima temos o verbo relacionado à vida, ao movimento. Anal, ele representa o que acontece. Mas da mesma forma que o local (substantivo) pode ser perigoso (adjetivo) ou bonito (adjetivo), o homem (substantivo) pode ser inteligente (adjetivo) ou horroroso (adjetivo), pode-se abrir (verbo) vagarosamente uma porta ou abri-la repentinamente. Pode-se andar (verbo) devagar ou depressa. Leia as frases abaixo: O Rodolfo trabalha pouco. O Rodolfo trabalha muito. Apenas o uso do verbo trabalhar nos indica que sim, o Rodolfo trabalha. Porém, você deve ter observado que a mudança de uma simples palavra por outra após o verbo foi o suciente para alterar nossa perspectiva sobre o quanto Rodolfo trabalha. A essas palavras que se relacionam com o verbo para indicar as circunstâncias (no caso, de intensidade) em que ocorre o fato verbal, chamamos de advérbios. Por vezes, essa circunstância não é dada somente por uma palavra, mas sim por várias. Veja: O Rodolfo trabalha sem nenhuma vontade. O conjunto de palavras que representa a circunstância (no caso, de modo) que Rodolfo trabalha nesse caso é sem nenhuma vontade. A essa ideia complementar do verbo denominamos locução adverbial. Na tabela abaixo, você confere alguns advérbios e locuções adverbiais classicados de acordo com o sentido que possuem:
Classicação Armação Dúvida Intensidade Lugar Modo Negação Tempo
Advérbios e/ou locuções adverbiais mais usadas sim, sem dúvida, realmente, certamente eventualmente, talvez tão, demais, quase, pouco, muito, bastante perto, longe, aqui, lá, por dentro, por fora bem, mal, assim, às pressas, rapidamente não, de modo algum sempre, nunca, brevemente, de vez em quando, de dia, à noite
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TEXTO E CONTEXTO
Tema02 - Morfologia
Para responder as questões 6, 7 e 8, leia o texto a seguir. Você verá que ele possui algumas palavras inventadas:
O caso da cerupeta lidoiosa Durante uma assuleção em homenagem aos deduentes do Brasil, no meio de todas aquelas pessoas que asselavam, umas mais vemelantemente do que outras, belejando honatudamente as faixas e as prozaidações nas fachadas dos prédios, belejei uma cerupeta lodoiosa, com as patas manchadas de raboi. Ela parecia nofecada. Mesmo de longe, eu conseguia tulir seus lamentos, então guli às pressas em sua direção para porçá-la. Enquanto eu gulia entre os asselentes, gritando, pedindo licença, belejei um garado muito veloz indo em direção a cerupeta, mais lidoiosa do que nunca, apesar de todo aquele raboi. Tentei o máximo que pude, mas o garado chegou primeiro e, com uma de suas quatro rodas, assuleou em cima da já minha mexada cerupeta, que nunca mais latiu.
QUESTÃO 06 Qual é o grande conito do texto?
a) Um motorista perde o controle do carro e atropela uma senhora de muletas que via de longe a passeata. b) Uma pessoa vê uma cadela machucada no meio de uma passeata e não consegue resgatá-la, pois um carro a atropela. c) Uma pessoa escuta o som de uma pomba com a asa machucada caída no chão, mas antes que consiga resgatá-la, alguém pisa nela. d) Uma criança vê um cachorro machucado no meio da cerimônia de posse do novo prefeito e decide pegá-lo para criar.
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QUESTÃO 07 I. Embora algumas palavras do texto tenham sido inventadas, elas possuem semelhanças em relação a palavras existentes em Português, de forma que é possível saber a que classe gramatical as palavras inventadas pertenceriam se existissem na língua portuguesa. Escolha a alternativa que possua apenas os substantivos inventados do texto. Se necessário, volte ao texto para ver a palavra no contexto em que aparece.
a) cerupeta - assuleção - deduentes - prozaidações - raboi - asselentes – garado b) belejar - tulir - gulir - porçar –assuleção – assuler – honatudamente c) raboi - asselentes – garado - lodoiosa - nofecada – mexada - deduentes d) assuleção - deduentes - prozaidações – raboi – mexada - tulir – gulir II. Escolha a alternativa que possua apenas os adjetivos inventados do texto:
a) lodoiosa - asselentes – garado – raboi b) deduentes – prozaidações - nofecada – teraldo c) deduentes - gulir – porçar – mexada d) lodoiosa - nofecada - teraldo – mexada
QUESTÃO 08 I. Escolha a alternativa que possua apenas os verbos do texto:
a) deduentes - prozaidações - raboi - asselentes - garado b) belejar - tulir - gulir - porçar – assuler c) honatudamente – belejar – asselentes – garado – assuler d) raboi – tulir – cerupeta – porçar – assuler
II. Escolha a alternativa que possua apenas os advérbios do texto:
a) cerupeta – raboi 39
TEXTO E CONTEXTO
Tema02 - Morfologia
b) asselente – teraldo c) vemelantemente – honutadamente d) prozaidações – garado
REFERÊNCIAS BASILIO, Margarida. Formação e classes de palavras no português do Brasil . São Paulo: Contexto, 2004. PILLA, Éda Heloísa. Os Neologismos do Português e a Face Social da Língua . Porto Alegre: AGE, 2002.
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SAIBA MAIS O Bem Amado (lme nacional) Diretor: Guel Arraes Ano: 2010 Gênero: Comédia dramática
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Marco Nanini dá vida ao político corrupto que sonha com a inauguração de um cemitério numa cidade ctícia chamada Sucupira. A versão cinematográca para o texto de Dias Gomes, que já foi novela de sucesso nos anos 70, estreou nos cinemas em 2010.
Trailer disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ChmKFr1TQT8. Acesso em: 27 jun. 2013.
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: 3 0 A e x a M t E i n T S 42
TEXTO E CONTEXTO
ÍNDICE
Tema03 - Sintaxe
Selecionarmos adequadamente as palavras que fazem parte de nossas produções de textos (inclusive orais!), é muito importante para conseguirmos transitar entre diversas práticas de comunicação. Nós selecionamos as palavras que usamos na nossa fala e escrita o tempo todo, ainda que não pensemos a respeito. Porém, ao falarmos e escrevermos fazemos mais do que isso: nós também temos a capacidade de combinar essas palavras. Essas combinações, por sua vez, partem de regras gramaticais próprias de cada idioma. Ao conjunto de regras de combinação das palavras denominamos sintaxe. De modo geral, a sintaxe é constituída de quatro partes. Cada um deles faz determinado tipo de análise. Veja só:
• Análise sintática: trata-se do estudo das funções de palavras que são combinadas para formar orações, bem como analisa a classicação das orações que são combinadas para formar períodos. • Sintaxe de concordância: reete sobre as exões que os nomes exibem na forma para serem ajustados uns aos outros e as exões que os verbos apresentam para serem ajustados ao sujeito da oração. • Sintaxe de regência: estuda as relações de dependência entre os nomes e seus complementos e entre os verbos e seus complementos. • Sintaxe de colocação: observa a ordem em que as palavras são disponibilizadas na oração. Nessa ocina, teremos um olhar mais atento às sintaxes de concordância e regência.
Concordância nominal e concordância verbal: ajustando as palavras entre si Imagine a seguinte situação: Você está fazendo uma viagem de carro pelo estado. A ideia é sair explorando diferentes cidades. Em uma delas, você decide conhecer o circo local. Ao chegar, repara na lona deteriorada e na roupa gasta do palhaço que distribui os ingressos. Na entrada, há um letreiro caindo aos pedaços que diz: 43
TEXTO E CONTEXTO
Tema03 - Sintaxe
OS PALHAÇOS DO CIRCO DA GERTRUDE ESPERA M POR VOCÊ EM MAIS UM A NOITE BOMBÁSTIC A!
Tente ler em voz alta a frase acima. O tempo e a falta de manutenção zeram-na perder algumas letras, o que causa estranhamento, pois as palavras acabam não combinando entre si. Por isso (e pela segurança das pessoas que frequentam esse circo!), o letreiro deveria ser arrumado, não é mesmo? Se as palavras estivessem inteiras:
• O artigo “O” seria “OS” para se ajustar ao substantivo “PALHAÇOS”, que está no plural. • O verbo “ESPERA” seria “ESPERAM” para se ajustar com o núcleo do sujeito da oração, que é o substantivo “PALHAÇOS”. • O artigo “UM” seria “UMA” para se ajustar ao substantivo “NOITE”, que é feminino. • O adjetivo “BOMBÁSTICA” ganharia um A e não um O para se ajustar com “NOITE”, que é um substantivo feminino. No 1º e no 3º caso, os ajustes acontecem entre os nomes e as palavras que os acompanham – artigos, adjetivos etc. A adaptação (ou ajuste) das palavras que acompanham os nomes chama-se concordância nominal. Já no 2º caso, o ajuste acontece entre o verbo e o núcleo do sujeito da oração. Tal adaptação é denominada concordância verbal. 44
Sabermos que concordar as palavras entre si é importante para que consigamos nos comunicar em situações em que variedades de prestígio da língua sejam necessárias, sobretudo, nas que envolvem os gêneros escritos: escrita de uma proposta para o chefe, escrita de um currículo, de uma carta de reclamação para a empresa que entregou a geladeira com defeito etc. Basicamente, as regras para as concordâncias nominal e verbal são as seguintes:
REGRA DE CONCORDÂNCIA NOMINAL Palavras variáveis que se
referem ao substantivo podem concordar com ele em gênero (masculino/feminino) e número (singular/plural). Ou seja, os artigos, numerais, pronomes e adjetivos concordam em gênero e número com o substantivo.
REGRA DE CONCORDÂNCIA VERBAL O verbo deve concordar com o núcleo do sujeito da oração em pessoa (1ª, 2ª ou 3ª) e número (singular/plural).
QUESTÃO 01 Imagine que seu professor tenha passado a seguinte atividade: Leia as frases abaixo e reescreva-as substituindo as palavras em negrito pelas que estão entre parênteses, observando as possíveis mudanças na concordância nominal e verbal. • Todas as manifestações populares foram criticadas pelo governo. (abaixo-assinados/ deputada) • Famílias japonesas estão preocupadas com a comida depois de terremoto. (O povo/alimentos)
Que coisa, não? Você cresceu ouvindo que menino fala “obrigado” e menina fala “obrigada” para agradecer, mas até hoje não sabe por quê? A palavra “obrigado” possui valor adjetivo. Como adjetivo é variável, ele tem de combinar com o nome a que se refere (no caso, a pessoa que faz o agradecimento!). Atenção para alguns dos casos
em que a concordância nominal pode gerar dúvidas: As palavras “anexo” e “incluso” também possuem valor adjetivo, por isso concordam com o substantivo a que se referem. Ex: Eu enviarei anexos ao e-mail os pedidos. (“anexos” combina com o substantivo “pedidos”) A palavra “meio” tanto pode ser numeral (no sentido de “metade”) quanto advérbio (no sentido de “um pouco”). Numeral é variável e, portanto, concorda com a palavra a que se refere. Já o advérbio é invariável. Ex: Faz meia (meia = metade) hora que a minha mãe está meio (meio = advérbio) estranha. 45
TEXTO E CONTEXTO
Tema 03 - Sintaxe
• Os descontos já estão inclusos no boleto. (taxas) • Sandro cou meio irritado com o comportamento do namorado da Paula na festa. (Julia)
A seguir estão as respostas de diversos alunos. Qual das alternativas não possui inadequações quanto à concordância das palavras do ponto de vista da gramática normativa em nenhuma das frases?
a) Todas as abaixo-assinados populares foram criticadas pela deputada. O povo japonês está preocupado com os alimentos depois de terremoto. As taxas já estão inclusa no boleto. Julia cou meio irritada com o comportamento do namorado da Paula na festa.
b) Todos os abaixo-assinados populares foram criticados pela deputada. O povo japonês estão preocupado com alimentos depois de terremoto. As taxas já estão inclusas no boleto. Julia cou meia irritada com o comportamento do namorado da Paula na festa.
c) Todos os abaixo-assinados populares foram criticados pela deputada. O povo japonês está preocupado com alimentos depois de terremoto. As taxas já estão inclusas no boleto. Julia cou meio irritada com o comportamento do namorado da Paula na festa.
d) Todos os abaixo-assinados popular foi criticado pela deputada. O povo japonês está preocupado com alimentos depois de terremoto. As taxa já estão inclusas no boleto. Julia cou meio irritada com o comportamento do namorado da Paula na festa. 46
Regência nominal e regência verbal: os tais regentes e os regidos Do ponto de vista sintático, as relações existentes entre nomes e seus complementos e entre verbos e seus complementos são absolutamente necessárias para a própria organização sintática da língua. Tais relações são chamadas de regência. A regência pressupõe que há certa INTERDEPENDÊNCIA entre as palavras que se combinam para formar enunciados. Faz sentido, não? Com isso, ela estabelece uma relação entre um termo principal (o regente) e um termo que lhe é complementar (o regido). Mas anal, como essa relação acontece na prática? Observe a frase abaixo:
Você sentiu falta de alguma palavra nela? Como você pode notar, está faltando uma preposição - “DE”, “PARA”, “SEM” etc. - que é regida pelo nome “LIVRE” (quem é livre, é livre de algo/alguém ou livre para algo/alguém ou livre sem algo/alguém etc). Essa preposição vincula a palavra “LIVRE” à palavra “VOCÊ”, conferindo diferentes sentidos à oração. No exemplo dado, pode signicar car longe de alguém/se separar – “Estou livre de você!” ou “Estou livre sem você!” ou, ao contrário, pode signicar se aproximar/ter a intenção de car com alguém – “Estou livre para você!” 47
TEXTO E CONTEXTO
Tema 03 - Sintaxe
A relação estabelecida entre o nome e o termo (pode ser uma palavra ou expressão), que lhe serve de complemento, é denominada regência nominal. Essa relação acontece sempre por meio de uma preposição. Que coisa, não? Nem todos os verbos precisam de complemento. Ex: A vilã da novela morreu. “Morrer” é um exemplo de verbo intransitivo, ou seja, que não necessariamente exige complementação, pois possui sentido completo. Porém, nada impede que, para já dar conta da curiosidade alheia que sempre está presente nessas ocasiões, a pessoa que fala uma frase como essa já dê alguma indicação de modo, lugar, tempo etc. sobre a morte da vilã. Ela poderia dizer: A vilã da novela morreu de repente no meio da pista de dança. Tendo em vista que “de repente” tem relação com o tempo da morte da vilã, esta expressão é denominada locução adverbial de tempo e “no meio da pista de dança” seria o lugar em que ela morreu, sendo, portanto, uma locução adverbial de lugar.
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CLIQUE AQUI para consultar a lista de alguns nomes e as preposições que mais usualmente eles exigem. Já a relação entre os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e indiretos) é denominada regência verbal. Porém, isso depende da classicação dos verbos. Quanto à regência, os verbos podem ser: • Transitivos diretos: Eu comprei um sapato na liquidação. • Veja que o verbo “comprar” precisa de complemento, anal, quem compra, compra alguma coisa. Porém, não precisa de preposição. O complemento (no caso, “um sapato na liquidação) sem preposição é denominado objeto direto. • Transitivos indiretos: A Maria não gosta de lmes antigos.
Aqui o verbo “gostar” também precisa de complemento, pois quem gosta, gosta de algo/ alguém. Mas, ao contrário do verbo “comprar”, ele precisa de preposição. O complemento “de lmes antigos”, por apresentar a preposição “de”, é
considerado objeto indireto.
QUESTÃO 02 Indique abaixo a alternativa que torna correta a regência nominal, do ponto de vista do uso de uma variedade culta da língua: Ele está apto ___ fazer o trabalho, já que foi um dos primeiros ___ pesquisar estes fenômenos em nossa área. Estou convencido ___ que os demais deveriam ser adeptos ___ seu engajamento.
a) em – a – de – a b) por – a – com – sobre c) por – a – por – para d) a – a – de – de
QUESTÃO 03 I. Observe as duas imagens abaixo:
Imagem 01)
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 03 - Sintaxe
Imagem 02)
Agora associe as ilustrações às frases que as descrevem:
(
) A criança agradou o pai.
(
) A criança agradou ao pai.
II. Se, ao invés de mostrar o boletim para o pai, a criança tivesse mostrado para a mãe (ou seja, se fosse a mãe a pessoa a quem se quer agradar), teríamos:
a) “A criança agradou a mãe”, pois basta trocar o artigo “o” pelo artigo “a” para fazer a concordância. b) “A criança agradou à mãe”, pois teríamos nesse caso “a” (preposição) + “a” (artigo), o que é indicado pelo uso da crase – “à”. Como você deve ter percebido, caso trocássemos a palavra “pai” por “mãe”, o artigo 50
passaria para o gênero feminino. Assim, teríamos preposição “a” + artigo “a”. Dessa fusão é que resulta a crase: “A criança agradou à mãe.” Você aprenderá mais sobre a crase a seguir.
Crase: o mistério desvendado Há diferença de sentido entre as duas manchetes de jornal abaixo? Manchete 01
DURANTE REUNIÃO DO SINDICATO, O PRESIDENTE BATE A PORTA ENFURECIDO. Manchete 02
DURANTE REUNIÃO DO SINDICATO, O PRESIDENTE BATE À PORTA ENFURECIDO. Se você respondeu que sim, acertou. A crase tem um papel bastante signicativo na nossa língua e uma estreita relação com a regência de nomes e de verbos, sendo muitas vezes fundamental para diferenciação de sentidos em uma frase. Nos exemplos acima, enquanto que na primeira manchete visualizamos o presidente fechando a porta com força, na segunda, a porta é o lugar em que o presidente está batendo, provavelmente para entrar.
Assista a Web Aula a seguir para entender mais a fundo a função da crase e como usá-la. • Web Aula 3 – Entendendo os principais usos da crase
CLIQUE AQUI
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 03 - Sintaxe
QUESTÃO 04 Leia as frases a seguir, substitua o termo destacado pelo termo entre parênteses e observe em qual das opções é obrigatório o uso da crase:
a) Os turistas não reconheceram o lugar. (região) b) Entregarei os convites ao João na portaria. (Maria) c) Ao meio-dia estarei em casa para assistir ao jogo. (quinze horas) d) Ninguém está destinado a desistir. (vencer) e) Ele não foi ao Rio de Janeiro? (Madrid)
QUESTÃO 05 Escolha a alternativa que completa as devidas lacunas do texto a seguir: [...] Estes furtos eram feitos com todas ___ cautelas e sempre coroados do melhor sucesso, graças ___ circunstância de que nesse tempo ___ polícia não se mostrava muito por aquelas alturas. João Romão observava durante o dia quais ___ obras em que cava material para o dia seguinte, e ___ noite lá estava ele rente, mais ___ Bertoleza [amante de João Romão], a removerem tábuas, tijolos, telhas, sacos de cal, para o meio da rua, com tamanha habilidade que se não ouvia vislumbre de rumor. [...] AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. In: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000003.pdf. Acesso em 21/05/2013.
a) as – à – a – as – à – a b) às – à – a – às – à – a c) as – a – à – às – a – a 52
d) às – a – à – as – a – à e) as – a – a – as – à – a
QUESTÃO 06 Observe o contexto em cada opção e escolha qual é a frase que melhor se aplica a ele:
As pessoas que acabaram de entrar na faculdade andam muito por toda a cidade para procurar emprego. (
) Frase 1 – Os recém-graduandos correm a cidade em busca de emprego.
(
) Frase 2 – Os recém-graduandos correm à cidade em busca de emprego.
Os pais de Isabela não param de procurar por ela. (
) Frase 1 – Continuou a procura de Isabela.
(
) Frase 2 – Continuou à procura de Isabela.
As crianças, mesmo depois de muito insistir, não conseguiram tomar o sorvete antes do almoço na casa dos avôs. (
) Frase 1 – Ficou a vontade entre os netos.
(
) Frase 1 – Ficou à vontade entre os netos.
O lho chega em casa de mansinho e sem fazer barulho depois de passar o dia inteiro na rua. (
) Frase 1 – Veio à noite sem que déssemos conta.
(
) Frase 1 – Veio a noite sem que déssemos conta.
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TEXTO E CONTEXTO Sabe quem foi Jack Kerouac?
Tema 03 - Sintaxe QUESTÃO 07 Selecione a alternativa em que teria de haver obrigatoriamente o uso da crase:
a) Jack Kerouac preferiu a estrada ao conforto de casa. b) Amigos de Jack Kerouac chamaram a ele para se juntar ao grupo. c) Jack Kerouac foi um homem a frente de seu tempo. d) Ele dirigiu-se logo para a rodovia mais próxima. Jack Kerouac (1922 – 1969) foi um escritor norte-americano da geração beat que, como válvula de escape da Grande Depressão
americana, celebrava o hedonismo e a criatividade espontânea a partir da experiência vivida. Seu livro mais famoso, Ontheroad – Pé na estrada, foi baseado em viagens que o autor fez pelo país.
QUESTÃO 08 Em qual alternativa abaixo o uso da crase está incorreto?
a) Assassino em série é preso por ameaça à sociedade. b) À proporção que eu envelhecia, sentia-me mais jovem.
c) Ele obedeceu à voz da razão. d) Assim que eu cheguei, visitei à região.
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Vírgula: sim, ela existe (para o nosso alívio!) Que atire a primeira pedra quem nunca se viu na dúvida sobre o uso ou não da vírgula ao escrever. Anal, ela é empregada de maneiras diversas e os deslizes que nos acostumamos a ler por aí também não ajudam. Por vezes, sua ausência ou presença pode mudar o sentido de uma frase. Duvida? Não irei estudar hoje. Não, irei estudar hoje.
Viu como uma vírgula pode mudar completamente os seus planos para hoje em relação aos estudos? O uso desse sinal de pontuação se torna mais simples se reetirmos sobre as funções que ele pode ter e a lógica geral que rege seu uso. Uma oração em ordem direta em português é escrita da seguinte forma:
SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTOS + ADJUNTOS (CARLOS ) (COMPROU ) (UM CARRO) (NA FEIRA DE AUTOMÓVEIS
Sujeito
Verbo
Complemento Adjunto
DE VALINHOS )
Adverbial de Lugar
Quando dizemos uma única oração em ordem direta, como nos exemplos anteriores, não precisamos usar a vírgula. Quando fazemos alguma inversão nessa ordem direta ou quando intercalamos alguma coisa entre os elementos que constituem essa ordem direta é que a vírgula aparece: Na feira de automóveis de Valinhos, Carlos comprou um carro. Carlos comprou, na feira de automóveis de Valinhos, um carro. Carlos comprou um carro, um Fiat Brava, na feira de automóveis de Valinhos.
Veremos a seguir as principais regras para o uso da vírgula. Você vai ver que algumas
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 03 - Sintaxe
dessas regras decorrem dessa lógica geral. Para isso, vamos dividir essas regras em dois subgrupos: Que coisa, não? Por isso que se diz que não se pode colocar vírgula entre sujeito e predicado, entre verbos e complemento, entre nomes e seus adjuntos.
USO DA VÍRGULA ENTRE OS TERMOS DE UMA MESMA ORAÇÃO Para separar os núcleos de um termo Ex: Minha mãe já morou em São Paulo, em Ubatuba, em Santa Catarina e em Curitiba. No exemplo acima, vemos a vírgula separar os vários núcleos de um adjunto adverbial de lugar. Ou separar elementos coordenados em uma numeração: Exemplo:
Impulso (Em 143 caracteres) Não pensou duas vezes. Pegou uma muda de roupa, os documentos guardados, seu livro de cabaceira, o álbum duplo dos Mamonas Assassinas e deu um novo rumo para sua vida: casou.
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USO DA VÍRGULA ENTRE ORAÇÕES Entre orações coordenadas Exemplo:
Impulso 2 (Em 83 caracteres) Colocou um vestido curto, equilibrou uma rosa no cabelo, passou batom vermelho, saiu para dançar. No exemplo acima, vemos a vírgula separar três orações independentes uma da outra do ponto de vista sintático.
USO DA VÍRGULA ENTRE OS TERMOS DE UMA MESMA ORAÇÃO
USO DA VÍRGULA ENTRE ORAÇÕES Entre a oração principal e uma oração subordinada adjetiva explicativa Ex: Ela justicou o atraso com o trânsito, que ca mais fácil dele acreditar. Perceba que a vírgula é empregada depois
Para isolar o aposto Ex: Meus dois irmãos, João e José, chegaram hoje de Natal. No exemplo acima, vemos as vírgulas empregadas para destacarem o aposto do restante da oração.
da oração principal e antes de iniciar a
oração subordinada adjetiva explicativa, que amplica informações da antecedente. Outro exemplo: Mandei um email pro meu irmão, que está passando férias em Buenos Aires, pedindo que volte imediatamente. Veja que, nesse caso, a oração subordinada adjetiva explicativa está no meio da oração principal. Logo, ela é separada por duas vírgulas.
Para isolar deslocados
adjuntos
adverbiais
Entre uma oração subordinada adverbial Ex: Com muito pesar, ele arrumou as e a oração principal malas para partir. Ex: Quando ele chegou, as crianças Quando o adjunto adverbial é deslocado correram para abraçá-lo. para o começo ou para o meio da oração, ca separado pela vírgula. No exemplo Veja que a vírgula se coloca entre a oração acima, vemos o adjunto adverbial subordinada adverbial que, nesse caso, é deslocado para o início da oração. temporal e a oração principal. Portanto, vírgula nele! 57
TEXTO E CONTEXTO
Tema 03 - Sintaxe
USO DA VÍRGULA ENTRE OS TERMOS DE UMA MESMA ORAÇÃO Para isolar explicativas
certas
expressões
Ex: Venha até minha casa na sexta, ou melhor, no sábado. Expressões que usamos no meio da oração para explicar uma ideia, reticar, continuar ou concluir o que dizemos devem car entre vírgulas, assim como a expressão “ou melhor” no exemplo acima. Outras expressões desse tipo podem ser: aliás, além disso, por exemplo, a saber etc.
Para isolar o vocativo Ex: Você devia entender, sua teimosinha, que eu amo você. No exemplo acima, vemos as vírgulas isolarem o vocativo.
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USO DA VÍRGULA ENTRE ORAÇÕES
REFERÊNCIAS CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro . São Paulo: Contexto, 2010.
SAIBA MAIS • SCHERRE, Maria Marta Pereira et al. O papel do tipo de verbo na concordância verbal no Português Brasileiro. DELTA. Vol. 23. São Paulo, 2007. In: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502007000300012. Acesso em 28 mai. 2013.
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m e g a u g : i n 4 L e 0 d A s a M r u E i g T F 60
TEXTO E CONTEXTO
ÍNDICE
Tema04 - Figuras de Linguagem
Se você já teve contato com quaisquer textos literários, saberá que a literatura é um campo vasto para brincadeiras com a linguagem. Os escritores acabam sendo verdadeiros malabaristas da língua, pois, com um sistema que todos usam, eles procuram justamente o uso poético, sensível à diversidade de signicados que podemos criar na escrita e na fala. Observemos as duas frases abaixo:
Os noivos, já meio bêbados de cerveja, cantam grandes clássicos da música popular brasileira em frente ao espelho e bailam para os convidados.
“No espelho do córrego bailam borboletas bêbadas de sol.” (Carlos Drummond de Andrade)
No 1º exemplo, as palavras em negrito estão empregadas em seu sentido usual, comum. Ainda que seja apenas uma frase retirada de seu contexto, podemos entender o uso da palavra bêbados como pessoas que estão sob efeito de bebida alcoólica, espelho como um objeto metalizado que reete imagens e, por m, bailam como o ato de dançar, movimentar o corpo obedecendo a um ritmo musical. Já no trecho de Carlos Drummond de Andrade, o trabalho poético faz-nos ressignicar essas mesmas palavras. Por tratar-se de um “espelho do córrego”, sabemos que a palavra espelho não está aí empregada no sentido de um objeto metalizado que reete imagens, mas sim no sentido de uma superfície de água tão limpa e brilhante que reete as borboletas acima dela. Também as palavras bailam e bêbadas não são usadas no mesmo sentido usual que denimos no parágrafo anterior. No trecho de Drummond, bailam e bêbadas referem-se ao voo brando e, ao mesmo tempo, desorientado das borboletas. Quando usamos as palavras no seu sentido literal, comum, usual ou, como alguns dizem, “de dicionário”, dizemos que elas foram empregadas em seu sentido denotativo. 61
TEXTO E CONTEXTO
Tema 04 - Figuras de Linguagem
Já se usamos as palavras no seu sentido gurado, dependente de um contexto especíco, como o poeta Drummond o fez, dizemos que elas foram empregadas em seu sentido conotativo ou gurado. Porém, é um engano pensar que o sentido conotativo das palavras pode ser explorado apenas na literatura. Ou você nunca falou ou nunca ouviu ninguém dizer em contexto mais informal que está “bêbado de sono”? O sentido gurado da língua está por todos os cantos, em diferentes práticas de linguagem e faz parte da vida de todos nós. Ele pode ser encontrado desde em um anúncio publicitário até na fala de sua avó, contando um causo de quando ela era mais moça. Portanto, se você pensa que apenas escritores literários fazem uso disso, está na hora de prestar mais atenção ao que ouve ou lê. O sentido conotativo pode ser construído de diferentes maneiras, as possibilidades são variadas. Esse conjunto de recursos expressivos é denominado guras de linguagem. Para que estudá-las? Independente da carreira que você escolheu, ter compreensão das principais características referentes às guras de linguagem pode ser útil para apropriar-se melhor de textos diversos (literários, publicitários, jornalísticos etc.), tornando-nos aptos a reconhecer os signicados das palavras e os sentidos que podem adquirir em diferentes contextos e também a produzir textos em que haja necessidade de expressar-se de forma diferente da comum. Ainda que no seu trabalho você não tenha de produzir textos (o que é muito raro, se não impossível, tendo em vista que aqui estamos falando tanto de texto escrito quanto de oral), é fundamental que você reconheça guras de linguagem usadas nos vários textos com os quais você tem contato.
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• Web Aula 4 – Figuras de linguagem
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QUESTÃO 01 Leia o trecho do conto Minha gente, de Guimarães Rosa. [...] eram os patinhos novos, que decerto tinham matado o tempo, dentro dos ovos, estudando a teoria da natação. E, no pátio, um turbilhão de asas e bicos revoluteava e se embaralhava, rodeando a preta, que jogava os últimos punhados de milho [...] ROSA, Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio. 1972.
O emprego da palavra em destaque produz uma:
a) Metonímia b) Ironia c) Hipérbole d) Metáfora e) Onomatopeia
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 04 - Figuras de Linguagem
QUESTÃO 02 Leia com atenção os seguintes versos: Eu vejo as pernas de louça
Da moça que passa e eu não posso pegar Tô me guardando pra quando o carnaval chegar (Chico Buarque)
Nesse trecho há uma metáfora. Ela ocorre em:
a) pernas de louça b) moça que passa c) não posso pegar d) tô me guardando e) o carnaval chegar
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Podemos dividir as guras de linguagem em dois grandes grupos:
1º GRUPO
2º GRUPO
Figuras que têm sua força expressiva no conteúdo semântico ou no aspecto sonoro das palavras. As principais são:
Figuras que são construídas com variações da estrutura sintática das frases. As principais são:
Metáfora Metonímia
Elipse
Ironia
Hipérbole Personicação (prosopopeia) Onomatopeia Comparação
Pleonasmo Polissíndeto Anáfora Anacoluto
Catacrese Antítese
Eufemismo Gradação Aliteração
Comparação Imagine que Pedro tenha chegado em seu primeiro dia de trabalho em uma empresa nova e, após algumas horas, tenha dito a um colega: Pedro poderia ter dito apenas “Eu estou perdido”, mas essa maneira de se expressar seria muito simples, muito comum. Por isso, para intensicar sua desorientação, ele buscou algo que, por ser uma expressão que supõe um peixe em um ambiente estranho ao seu, fosse semelhante à sua diculdade de adaptação, criando, assim, uma comparação.
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 04 - Figuras de Linguagem
comparação consiste em estabelecer uma relação de semelhança entre dois seres ou fatos, fornecendo a um deles uma ou mais características presentes no outro. A comparação possui muita semelhança com a metáfora. No entanto, na comparação é comum a utilização de palavras que estabeleçam uma conexão, como por exemplo: como, tal, assim, qual, parecia, entre outras. A
Catacrese Observe a seguinte frase: A perna da mesa está desnivelada, pegue um livro para eu colocar embaixo dela. No sentido denotativo, perna signica determinado órgão do corpo. Porém, no exemplo acima, essa mesma palavra passou a ter um sentido gurado, já que mesa não possui realmente pernas. Costumamos chamar de perna a parte da mesa que a apoia ao chão. Portanto, trata-se de uma catacrese. A catacrese consiste em denominar algo (um objeto, uma
palavra, por não haver outra mais adequada.
Antítese Leia os versos a seguir: A pobreza do eu
a opulência do mundo [...] A incerteza de tudo
na certeza de nada. (Carlos Drummond de Andrade)
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ação etc.) usando impropriamente certa
Nas duas estrofes acima, a expressividade está centrada no uso de palavras que possuem signicados opostos: pobreza X opulência e incerteza X certeza. Porém, essas palavras não apenas se opõem, como também se reforçam, ganham um sentido mais marcado devido à presença de sua contrariedade. Ao uso de palavras opostas denominamos antítese. A antítese consiste
no uso de palavras ou expressões de signicados contrários, com a intenção de destacar a força expressiva de cada uma delas.
Eufemismo Imagine que a seguinte frase fosse título de um artigo de opinião de um grande jornal da cidade: Políticos faltaram com a verdade nas últimas eleições Veja que, na frase, procura-se suavizar, tornar menos chocante e dramática a conduta dos políticos. Dizer que “políticos faltaram com a verdade” é mais moderado do que armar que “políticos mentiram”. A essa gura de linguagem denominamos eufemismo. O eufemismo consiste em uma gura por meio da qual se suaviza, torna menos chocante palavras ou expressões que são normalmente desagradáveis, constrangedoras ou dolorosas.
Gradação Leia o texto abaixo, prestando atenção nas palavras e expressões destacadas. Seu Irineu pisou no prego e esvaziou. Apanhou um resfriado, do resfriado passou à pneumonia, da pneumonia passou ao estado de coma e do estado de coma não passou mais. Stanislaw Ponte Preta. A vontade do falecido. In: ___________. O melhor de Stanislaw Ponte Pre ta, Rio de Janeiro: José Olympio. 1997.
Observe que, gradativamente, o estado de saúde de Seu Irineu ia se agravando e se intensicando. O escritor utilizou um recurso expressivo denominado gradação. A gradação consiste em uma série de palavras ou expressões em que o sentido vai se intensicando
continuamente.
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 04 - Figuras de Linguagem
Aliteração Leia o verso a seguir: A gente almoça e se coça e se roça e só se vicia! (Chico Buarque)
Uma leitura em voz alta denuncia um aspecto curioso desse verso: a sonoridade. A repetição de um mesmo som consonantal, representado pelas letras ç, s e c, realça a musicalidade, constituindo uma gura denominada aliteração. A aliteração consiste em repetir um
mesmo som consonantal em uma série de palavras para criar
um efeito expressivo de sonoridade.
QUESTÃO 03 Identique a gura de linguagem presente no trecho a seguir: Com seu colar de coral, Carolina, Corre por entre as colunas
da colina. (Cecília Meireles)
a) Gradação b) Ironia c) Aliteração d) Eufemismo 68
e) Hipérbole
QUESTÃO 04 Assinale a opção que NÃO apresenta sentido gurado:
a) Dona Joelma puxou o tapete da amiga. b) A perna do jogador cou inchada depois da colisão. c) Vou contar essas moedas pela centésima vez! d) Eu comi como um boi faminto no almoço.
QUESTÃO 05 No texto abaixo ocorrem diversos recursos expressivos. Selecione a alternativa na qual dois desses recursos estejam corretamente identicados. Ele lá, ela acolá. É possível que dois pombinhos vivam em cidades distintas e continuem sendo namorados?
a) Hipérbole – Aliteração b) Antítese – Metáfora c) Metonímia – Onomatopeia d) Metáfora – Hipérbole e) Metonímia – Gradação
QUESTÃO 06 Imagine que você esteja dentro do elevador de seu prédio e vê um informativo no espelho: Atenção! Proibido levar cachorros para a área de lazer, principalmente para fazerem suas necessidades siológicas na grama.
Nesse texto ocorre a seguinte gura de linguagem:
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 04 - Figuras de Linguagem
a) Metáfora b) Hipérbole c) Antítese d) Ironia e) Eufemismo
QUESTÃO 07 Em qual dos exemplos abaixo ocorre onomatopeia?
a) “Minha vida é uma colcha de retalhos, todos da mesma cor.” (Mário Quintana) b) “Muitos espectadores riram, como se estivessem assistindo a uma farsa.” (Rubem Braga) c) “E quanto ia acontecendo, os cheiros se armavam em cima do cão [...]” (Paulo Mendes Campos) d) “Ouço o tique-taque do relógio: apresso-me então.” (Clarice Lispector) e) “Nos seus beijos de fogo há tanta vida...” (Castro Alves)
Já no 2º grupo, temos como principais guras de linguagem: Elipse Leia a frase abaixo, deixada em um bilhete na porta de um apartamento: Se chegar depois das duas, casa trancada. Observe que algumas palavras foram omitidas, mas podem ser facilmente recuperadas pelo leitor.
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Com todas as palavras, a frase poderia car assim: Se [você] chegar depois das duas [horas], [a] casa [estará] trancada. Com essas omissões, a frase no bilhete produziu uma gura denominada elipse. A elipse
consiste na omissão de um termo que o contexto permite ao leitor ou ouvinte identicar com certa facilidade.
Pleonasmo Leia os seguintes versos: Chovia uma triste chuva de resignação Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite (Manuel Bandeira)
No primeiro verso, o poeta utiliza a palavra chuva para repetir a ideia já expressa anteriormente pelo verbo chover. Essa gura de linguagem é denominada pleonasmo. O pleonasmo consiste em intensicar o signicado de um elemento do texto por meio de uma redundância, isto é, da repetição de uma ideia já expressa por esse elemento.
Polissíndeto Observe o texto abaixo: Comeu e trabalhou e bebeu e dormiu e acordou para começar um novo dia. Você deve ter observado a repetição da conjunção e que consegue dar certo ritmo de continuidade, de uidez, sugerindo o próprio cotidiano do sujeito. A essa repetição da conjunção chamamos de polissíndeto. O polissíndeto consiste no emprego repetitivo da conjunção (as mais utilizadas para esses ns são e e nem) entre as orações de um período ou entre os termos de uma mesma oração.
Anáfora Leia os versos abaixo: 71
TEXTO E CONTEXTO
Tema 04 - Figuras de Linguagem
Ilha cheia de graça Ilha cheia de pássaros Ilha cheia de luz (Cassiano Ricardo)
Com o intuito de dar maior destaque a palavra ilha, o poeta repete-a no início de cada verso. A esse recurso expressivo denominamos anáfora. A anáfora consiste
na repetição de uma palavra ou expressão no início de uma série de orações
ou versos.
Anacoluto Imagine uma discussão entre dois amigos: — Você não planeja nada, assim ca difícil viajarmos juntos. — Essa sua mania, suas preocupações com planos me irritam! Repare que, no último diálogo, o termo “Essa sua mania” cou solto na frase, não exercendo nenhuma função sintática (não é sujeito, nem objeto, nem mesmo adjunto adverbial etc.). A essa gura de linguagem denomina-se anacoluto. O anacoluto ocorre quando a frase sofre uma desarticulação repentina em sua estrutura e, em consequência disso, passa a apresentar um termo sem função sintática.
QUESTÃO 08 Leia o trecho abaixo: Vão chegando as burguesinhas pobres,
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E as criadas das burguesinhas ricas, E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza. (Manuel Bandeira)
Que gura de linguagem aparece nesses versos?
a) Anáfora b) Polissíndeto c) Pleonasmo d) Hipérbole e) Metonímia
QUESTÃO 09 Em qual das alternativas abaixo NÃO ocorre uma elipse?
a) Escorregou na pista sem querer. b) Ela dormiu até às onze. c) A tarde fosse mais tranquila, não teríamos tanta preocupação no trabalho. d) A morena levou acessórios lindos para a festa de São João.
REFERÊNCIAS CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro . São Paulo: Contexto, 2010. ILARI, Rodolfo. Linguagem gurada: processos analógicos. In: _____________. Introdução à semântica – brincando com a gramática . São Paulo: Contexto, 2006. 6. ed. pp. 108-113.
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SAIBA MAIS
Tema 04 - Figuras de Linguagem
• Observe as guras de linguagem existentes nas campanhas publicitárias analisadas no livro abaixo: http://books.google.com.br/books?id=-b-1rPUKV5kC&printsec=frontcover&hl= pt-BR&authuser=0&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 27 jun. 2013.
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e d a : d i 5 l a u 0 t x A t e M r e E t n T I 76
TEXTO E CONTEXTO
ÍNDICE
Tema05 - Intertextualidade
Leia o poema abaixo: Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais ores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá;
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 05 - Intertextualidade
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra, Sem que volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. (DIAS, Gonçalves. Canção do Exílio. Domínio Público.)
“Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, é considerado um dos poemas mais conhecidos da língua portuguesa. Como você deve ter percebido, o texto traz certo saudosismo de alguém em relação ao seu país. Ele está distante, tendo uma visão bastante romântica de sua pátria, que se encontra muito longe dali. Parece que tudo em sua terra natal é melhor e mais bonito do que em qualquer outro lugar do mundo. Esse saudosismo e nacionalismo não se dão à toa: o poema foi escrito durante o tempo que o autor brasileiro viveu em Coimbra, uma cidade portuguesa, mais precisamente em 1843. Por ter se tornado uma produção tão marcante da cultura brasileira, hoje em dia esse poema é amplamente exibido e analisado em livros didáticos e de crítica literária. Não só isso, ele serviu como fonte de inspiração para outros tantos produtos artístico-literários de diversos outros autores, com incontáveis recriações na literatura e na música, sobretudo na época do Modernismo. Até mesmo o Hino Nacional Brasileiro tomou emprestado dois de seus versos: “Nossos bosques têm mais vida,/ Nossa vida, mais amores.” Agora vejamos o trecho de poema abaixo:
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[...] Chega! Meus olhos brasileiros se fecham saudosos. Minha boca procura a “Canção do Exílio”. Como era mesmo a “Canção do Exílio”? Eu tão esquecido de minha terra... Ai terra que tem palmeiras onde canta o sabiá! (ANDRADE, Carlos Drummond de. Europa, França e Bahia. In: ______________. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.)
Como você deve ter percebido, o poema “Europa, França e Bahia”, do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, publicado pela primeira vez em 1930 em um livro do autor, claramente dialoga com a obra de Gonçalves Dias, ainda que tenhamos lido apenas um trecho dele. No caso, Drummond conserva o sentido dado por Dias, anal, ele também demonstra certo saudosismo de sua terra natal e, por isso, dialoga com a “Canção do Exílio”. É como se o saudosismo de Drummond se intensicasse tomando emprestada a saudade que Dias sentia, fazendo referência a ela. A esse diálogo entre obras dá-se o nome de intertextualidade. A intertextualidade pode ser denida como um diálogo ou cruzamento entre textos. Esse diálogo pressupõe um amplo e complexo universo cultural, que implica a identicação e o reconhecimento de remissões a obras ou a trechos mais ou menos conhecidos. A intertextualidade pode ter diferentes funções, as quais dependem de seus contextos de produção e intencionalidades. Na prática, acontece quando há uma referência de um texto em outro. Mas atenção! Quando falamos em “texto”, estamos nos referindo a mais do que um conjunto de palavras escritas ou faladas. Assim, a intertextualidade pode ocorrer em diversas outras linguagens, como na música, na pintura, no lme, na novela etc. Basta que um texto ou produção cultural ou artística faça alusão a outro ou a outra. Para notar a presença desse recurso em um texto, é necessário que o sujeito tenha tido uma experiência de mundo signicativa. Em outras palavras, é preciso ter repertório cultural. Isso quer dizer que, caso a pessoa nunca tenha entrado em contato com a obra anterior com a qual um
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 05 - Intertextualidade
determinado texto dialoga, ela não entenderá nada desse texto? Não. Para uma determinada linha de estudiosos, uma característica básica da intertextualidade é justamente a relação de independência que um texto deve ter do outro. Assim, o texto que faz uso da intertextualidade deve ser “autônomo” em relação ao texto com o qual dialoga. Contudo, não (re)conhecendo a obra com a qual determinado texto dialoga, o leitor perde a própria intencionalidade do autor ao criar esse intertexto, o que evidentemente limita uma construção de sentidos mais profunda, anal, a referência sempre possui determinada função, desde manter o mesmo sentido, como foi o caso do poema de Drummond que você leu acima, até invertê-lo, ou melhor, parodiá-lo. Leia mais um poema a seguir: “Ora, (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, que, para ouvi-las, muita vez desperto e abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto, cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido tem o que elas dizem, quando estão contigo?”
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E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas!” (BILAC, Olavo. Ouvir estrelas. Domínio Público.)
O poema que você acabou de ler, “Ouvir estrelas”, do poeta parnasiano Olavo Bilac, traz a gura de um sujeito amoroso que, por estar repleto desse sentimento, conversa com as estrelas e é capaz de compreendê-las. Agora leia o trecho de um outro poema: Ora, direis, ouvir estrelas! Vejo que está beirando a maluquice extrema. No entanto o certo é que não perco o ensejo de ouvi-las nos programas de cinema. (TIGRE, Bastos. Ouvir estrelas. In: BECKER, Idel. Humor e humorismo. Antologia. São Paulo: Brasiliense, 1961. p. 323)
O poeta e humorista Bastos Tigre, com o seu texto também intitulado “Ouvir estrelas”, produz uma intertextualidade com o poema de Bilac. Porém, em vez de manter o mesmo sentido, ele o inverte completamente, fazendo uma paródia que pretende ridicularizar o texto anterior. Enquanto no poema de Bilac o amor e o fato do sujeito amoroso conversar com as estrelas no céu são levados a sério, Tigre faz uso do termo “estrelas” como se elas fossem atrizes famosas de cinema, em tom zombeteiro e jocoso, armando já no início que alguém que ouça as estrelas só pode estar “beirando a maluquice extrema”. Alguns estudiosos vão dividir a intertextualidade em seis possibilidades: paródia, epígrafe, citação, paráfrase, pastiche e tradução. Para entender como cada uma acontece, assista a Web Aula a seguir.
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 05 - Intertextualidad Intertextualidadee
• Web Aula 5 – Tipos de Intertextos
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QUESTÃO 01 De acordo com o que você leu sobre o conceito de intertextualidade e os exemplos de poemas analisados, é correto armar que:
a) O texto que faz referência a outra obra é absolutamente dependente dela. b) Intertextos são quaisquer textos que possuam a mesma temática. c) A intertextualidade intertextualidade tanto pode manter o mesmo sentido da obra anterior quanto invertêlo. d) O autor só faz referência a outra obra para criticá-la. e) O autor não dá nenhuma pista sobre a qual obra ele se refere, esperando que o leitor adivinhe.
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QUESTÃO 02 Leia os versos a seguir: Eu semeio vento na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade (Chico Buarque)
Os versos acima têm uma relação de intertextualidade com qual dos provérbios populares abaixo?
a) Uma boa noite de sono combate os males. b) Quem espera sempre alcança. c) Devagar se vai longe. d) Antes só do que mal acompanhado. e) Quem semeia vento, colhe tempestade.
QUESTÃO 03 Leia o trecho de uma crônica: “Olímpico leitor, divinal leitora, há mais coisas entre o céu dos deuses e a terra do futebol do que sonha a nossa vã crônica esportiva.” (TORERO, José Roberto. Deuses do futebol: Urucubaco. Folha de S. Paulo, 17/09/2002, p. D3.)
A qual das célebres frases abaixo esse trecho faz referência?
a) “Nada se espalha com maior rapidez do que um boato.” (Virgílio) b) “Todas as pessoas cruéis descrevem-se como modelos de sinceridade.” (Tennessee Williams) c) “O pênalti é tão importante que deveria ser cobrado pelo presidente do clube.” (Neném Prancha)
d) “Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã losoa.” (Shakespeare) 83
TEXTO E CONTEXTO
Tema 05 - Intertextualidad Intertextualidadee
e) “O homem é, acima de tudo, aquele que cria.” (Antoine de Saint-Exupéry)
QUESTÃO 04 De certa forma, determinados MEMEs também podem ser considerados intertextos, pois dialogam com diversas obras a m de produzir outros efeitos de sentido. Observe o MEME abaixo:
(Extraído de www.facebook.com. Autoria desconhecida.)
Como você pode ver, o rosto do humorista Mussum foi colocado no corpo do personagem Seu Madruga. Além disso, Mussum é representado também no texto que acompanha a imagem. Apesar dessa frase não ser dele, foi reescrita com os seus traços de oralidade (Mussum costumava terminar as palavras com as letras IS). Além da gura do humorista, com qual série de televisão esse MEME dialoga?
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a) Carrossel
Que coisa, não?
b) Chapolin Colorado
Mussum era o nome artístico de Antônio Carlos Bernardes Gomes (1941 – 1994). Foi um humorista, ator e músico brasileiro. Alcançou a fama ao entrar para Os Trapalhões, um grupo de comediantes que fez muito sucesso na TV e no cinema de 1960 a 1990.
c) Chaves d) A Grande Família
QUESTÃO 05 No meio musical, a intertextualidade é um fenômeno que acontece com bastante frequência. Leia os versos abaixo, retirados de uma canção composta por Renato Russo: O amor é o fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer (Legião Urbana)
A qual poema muito famoso esses versos fazem referência? Caso não se recorde, pode pesquisar na Web. Selecione a alternativa abaixo que indique o autor desse poema.
a) Luis Vaz de Camões b) Fernando Pessoa c) Vinicius de Moraes d) Gregório de Matos e) Carlos Drummond de Andrade
QUESTÃO 06 Imagine que uma empresa especializada em roupas para animais de estimação tivesse contratado uma agência de publicidade para pensar em novos slogans para a marca. A 85
TEXTO E CONTEXTO
Tema 05 - Intertextualidade
agência então cria várias frases a serem divulgadas em outdoors pela cidade. Uma delas seria: SEU CACHORRO VESTE PRADA
Esse slogan estaria se referindo a:
a) Um programa de auditório famoso b) Uma novela brasileira c) Um lme norte-americano d) Uma canção da MPB
QUESTÃO 07 Leia o texto abaixo: Metamorfose às avessas Ao acordar num oco de pau uma bela manhã, um inseto viu-se transformado em homem. Ainda sem consciência do que acontecera, tentou voar a uma árvore orida: os membros desajeitados golpearam ridiculamente o ar, as mãos estalando de encontro às coxas. [...] CAMPOS, Paulo Mendes. Metamorfose às avessas. In: _____________. O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 189.
Você acabou de ler o início de uma crônica de Paulo Mendes Campos. A qual obra ela faz alusão?
a) Dom Casmurro, de Machado de Assis CLIQUE AQUI PARA LER UMA BREVE SINOPSE DO LIVRO
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b) Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Jorge Amado CLIQUE AQUI PARA LER UMA BREVE SINOPSE DO LIVRO
c) Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago CLIQUE AQUI PARA LER UMA BREVE SINOPSE DO LIVRO
d) A Metamorfose, de Franz Kafka CLIQUE AQUI PARA LER UMA BREVE SINOPSE DO LIVRO
QUESTÃO 08 Imagine que uma garota esteja acordando pela manhã depois de uma festa com a maquiagem borrada, olhe para o espelho e, em tom irônico, diga: ESPELHO, ESPELHO MEU, EXISTE GAROTA MAIS BONITA DO QUE EU?
Essa frase faz referência a
a) Um conto de fadas b) Uma história de terror c) Uma novela brasileira d) Uma canção antiga
QUESTÃO 09 Leia os dois textos abaixo: Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra
Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida (Carlos Drummond de Andrade)
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim (Chico Buarque)
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 05 - Intertextualidade
A intertextualidade estabelecida por Chico Buarque em relação aos versos de Carlos Drummond de Andrade tem a função de:
a) Ridicularizar os versos de Drummond b) Reiterar a ideia já dada nos versos de Drummond c) Não há intertextualidade entre esses dois textos
REFERÊNCIAS FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin . São Paulo: Ática, 2008. SANT’ANNA, Affonso Romano. Paródia, paráfrase & cia . 7ª edição. São Paulo: Ática, 2003.
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s i a u t x e : t 6 s a 0 i c n A ê M u E q e T S 90
TEXTO E CONTEXTO
ÍNDICE
Tema06 - Sequências textuais
Nas próximas ocinas, você cará mais familiarizado com a noção de gêneros textuais, isto é, gêneros nos quais os mais variados textos são produzidos de acordo com contextos de produção especícos. É uma tarefa impossível delimitar exatamente quantos gêneros textuais existem. Peguemos como exemplo as cartas. Nós temos carta pessoal, carta de reclamação, carta aberta, carta de leitor, carta de solicitação... Enm, cada uma dessas cartas materializa-se em um gênero, pois elas possuem condições de produção - objetivos, tipos de interlocutores - distintas entre si. Podemos ainda citar outros gêneros que fazem parte das mais diversas práticas sociais. Em um jornal, por exemplo, podemos notar os gêneros textuais notícia, artigo de opinião, resenha crítica, enquete, anúncio, tirinha, reportagem, edital, horóscopo, entrevista e tantos outros. Na faculdade, lidamos com gêneros como aula, seminário, debate regrado, resenha acadêmica, esquema, resumo, texto de divulgação cientíca, prova, monograa etc. Como você deve ter percebido, dimensionar todas as práticas sociais e os possíveis gêneros circulantes nelas é missão impossível. Isso porque os gêneros são exíveis, vão se transformando com o passar do tempo, uns mais do que outros. Eles podem ainda ser reinventados, além do fato de que novos gêneros sempre podem surgir. Faz mais sentido explorarmos as potencialidades dos gêneros e suas características do que tentar colocá-los em uma classicação denitiva. O gênero blog jornalístico, por exemplo, não poderia existir antes do acesso amplo à Web por parte de usuários. Logo, foi o advento das novas tecnologias que tornou esse gênero possível. Contudo, outros elementos dos textos podem ser delimitados e também merecem ser estudados. Em todo texto, dependendo do conjunto de componentes que ele possui, é possível que carregue características narrativas, argumentativas, descritivas, e/ou explicativas, dentre outras. Tal conjunto de componentes é chamado de sequência textual . Com isso, acabamos produzindo textos com sequências predominantemente
• narrativas; • argumentativas; • descritivas ou • explicativas.
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 06 - Sequências textuais
Cada uma dessas sequências textuais serve a variados gêneros textuais. Podemos concluir então que as sequências textuais são menos variáveis do que os gêneros textuais. Veja a tabela abaixo com as diferenças mais sistematizadas:
GÊNEROS TEXTUAIS
SEQUÊNCIAS TEXTUAIS
Determinam situações sociais especícas.
Conjuntos de componentes que fazem parte de todos os gêneros textuais.
São essencialmente heterogêneos, amplamente diversicados.
São mais estáveis e facilmente delimitáveis.
De acordo com uma linha de estudiosos da linguística textual, poderíamos conceituar as sequências textuais da seguinte maneira:
Sequência textual narrativa Leia a fábula a seguir:
A cigarra e as formigas Num belo dia de inverno, as formigas estavam tendo o maior trabalho para secar suas reservas de trigo. Depois de uma chuvarada, os grãos tinham cado completamente molhados. De repente, apareceu uma cigarra: “Por favor, formiguinhas, me deem um pouco de trigo! Estou com uma fome danada, acho que vou morrer.” As formigas pararam de trabalhar, coisa que era contra os princípios delas, e perguntaram: “Mas por que? O que você fez durante o verão? Por acaso não se lembrou de guardar comida para o inverno?”
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“Para falar a verdade, não tive tempo”, respondeu a cigarra. “Passei o verão cantando!” “Bom... Se você passou o verão cantando, que tal passar o inverno dançando?”, disseram as formigas, e voltaram para o trabalho dando risada. Moral da história: Os preguiçosos colhem o que merecem. (Esopo)
Nesse texto, a sequência textual narrativa é predominante. A sequência textual narrativa, de modo geral, possui até seis características especícas: I. Sucessão de eventos com um evento introduzido em uma rede de outros eventos alinhados. II. Unidade temática, isto é, uma ação que mantém caráter de unidade, dando destaque a um sujeito agente/personagem principal. III. Predicados transformados, em que o desenrolar das ações transforma de alguma forma os personagens envolvidos. IV. Processo narrativo com início, meio e m, não necessariamente em uma ordem linear (uma narrativa pode começar com a ação nal, por exemplo). V. Intriga, ou seja, um conjunto de causas que sustentem os fatos narrados. VI. Moral, trazendo uma reexão sobre os fatos narrados. Não é uma característica obrigatória em todos os gêneros com sequências textuais narrativas. Na fábula, por exemplo, a moral da história é explícita e constituinte do gênero. Já em um conto essa característica muitas vezes não é utilizada, ainda que implicitamente.
Sequência textual argumentativa A sequência textual argumentativa é predominante em diversos gêneros. Em um debate regrado político, por exemplo, é comum, no dia seguinte, as pessoas julgarem qual foi o melhor candidato na arena pelos “seus argumentos consistentes” contra os demais. Na construção da argumentação, os operadores argumentativos são essenciais para que o texto tenha sucesso ou fracasse em suas intenções persuasivas. Esses operadores expressam relações que, em geral, têm função de subjugar um discurso já dito ou que possa existir. De maneira bastante generalizada, a argumentação só existe por se ter algo a defender ou a refutar. Logo, quando alguém escreve um artigo de opinião, por exemplo, é comum partir-se do que vem sendo defendido para então rebater essa ideia e defender outra que se tenha.
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TEXTO E CONTEXTO
Tema 06 - Sequências textuais
Um operador argumentativo muito utilizado nesses casos é a conjunção adversativa “mas”. Observe abaixo o trecho do que poderia ser um artigo de opinião de um grande jornal da cidade de São Paulo: “O governador propôs tirar verba da saúde e da educação para suprir a redução da tarifa de ônibus, mas é preciso que o corte seja feito no lucro das empresas que controlam o transporte público.” Como podemos notar, o articulista retoma uma ideia para rebatê-la com o uso da conjunção adversativa mas e, posteriormente, lança uma outra solução que é por ele defendida. Na Web Aula a seguir, iremos reetir mais detidamente sobre outras especicidades da sequência textual argumentativa.
• Web Aula 6 – Recursos argumentativos
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QUESTÃO 01 Que alternativa abaixo contempla apenas gêneros que possuem predominantemente uma sequência textual narrativa?
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a) conto, fábula, novela, narrativa de aventura. b) romance, receita culinária, diário íntimo, seminário. c) artigo de opinião, relato de viagem, cordel, resumo. d) horóscopo, canção, verbete de enciclopédia, regra de jogo.
QUESTÃO 02 Que alternativa abaixo contempla apenas gêneros que possuem predominantemente uma sequência textual argumentativa?
a) roteiro teatral, propaganda política, mapa de localização, lenda. b) reportagem, instruções de montagem, biograa, carta aberta. c) artigo de opinião, debate regrado, resenha crítica, carta de reclamação.
Que coisa, não? Os verbetes, tanto enciclopédicos quanto de dicionários e de almanaques, são gêneros em que, em geral, a sequência textual explicativa predomina. Pudera, é com eles que adquirimos informações sobre diferentes áreas do conhecimento.
d) mito, carta de leitor, artigo de divulgação cientíca, regulamento.
QUESTÃO 03 Considere as seguintes armações: I. O texto argumentativo só acontece por meio de guras de linguagem. II. O texto argumentativo consiste apenas em ridicularizar ou difamar o outro. III. O texto argumentativo é mais comumente visto na literatura. IV. O texto argumentativo é bastante comum na esfera jornalística. V. Em um texto argumentativo, há a defesa de uma opinião por meio de argumentos. VI. Um texto argumentativo pode trazer uma ideia contrária a que se quer defender para
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TEXTO E CONTEXTO
ÍNDICE
Tema 06 - Sequências textuais
rebatê-la. Seriam corretas as alternativas:
a) I, II e V. b) I, IV e V. c) II, V e VI. d) IV, V e VI.
QUESTÃO 04 Leia os trechos abaixo inspirados em cartas de leitores publicadas em diferentes sites noticiosos por ocasião das Copas das Confederações: Trecho 1: É um absurdo gastar a quantidade de dinheiro que foi gasta com a construção de estádios e obras viárias. Além disso, todas essas obras custaram mais caro do que o que foi considerado no orçamento original. Trecho 2: Dizer que o dinheiro gasto com a construção de estádios foi mal empregado é ignorar que a realização da Copa do mundo no Brasil vai impulsionar o turismo, tornar o país mais conhecido e aquecer a economia. Trecho 3: É certo que a realização da Copa do Mundo impulsionará o setor de turismo e o comércio no Brasil, mas esse dinheiro teria sido melhor empregado na saúde, educação e transporte público, serviços que a população precisa mais.
Em relação a esses trechos, seria correto armar: 96
I. O trecho 1 traz apenas uma opinião sem nenhum argumento. II. O trecho 1 traz uma opinião acompanhada de argumento. III. O autor do trecho 2 é contrário aos investimentos que foram feitos para a realização da Copa do Mundo no Brasil. IV. O autor do trecho 2 defende os investimentos que foram feitos para a realização da Copa do Mundo no Brasil. V. O autor do trecho 3 é contrário aos investimentos que foram feitos para a realização da Copa do Mundo no Brasil. VI. O autor do trecho 3 defende os investimentos que foram feitos para a realização da Copa do Mundo no Brasil. São corretas as alternativas:
a) I, IV e V. b) I, III e VI. c) II, IV e VI. d) II, III e V.
QUESTÃO 05 Leia o texto abaixo: Remetente: Maria Antônia Rua dos Joaquins, nº 01, Bairro JJ 000-000 Campinas - S.P. Destinatário: COMPUTADOR À JATO LTDA Rua dos Mantos, nº 2 97
TEXTO E CONTEXTO
ÍNDICE
Tema 06 - Sequências textuais
0000-000 Campinas - S.P. Campinas, 29 de Junho de 2013. Exmo(s). Senhor(es), No último dia 05 de Junho, dirigi-me ao seu estabelecimento, situado na Rua dos Mantos, nº 2, como endereçado, a m de comprar um computador. Após escolher o modelo que me interessou, solicitei que a mercadoria fosse entregue na minha casa. Para tanto, assinei a nota de encomenda e paguei a taxa para que fosse realizado o serviço. No dia seguinte, 06 de Junho, foi-me entregue o computador encomendado. No entanto, após ligar o aparelho na tomada, constatei que o mesmo emitia mais de 8 apitos e não funcionava como deveria. Diante deste fato, recusei o computador e solicitei que me fosse enviado outro exemplar em excelente estado, o que faria jus ao valor já pago. Entretanto, até a presente data continuo à espera. O atraso na resolução do problema vem ocasionando vários transtornos ao meu cotidiano. Anal, dependo desse aparelho para efetuar meu trabalho. Além disso, o produto está pago e é meu direito como consumidor tê-lo em perfeito estado. Por este motivo, demando que outro computador de mesma marca e modelo seja entregue, sem falta, dentro de 3 dias úteis. Caso contrário, anularei a compra e exigirei o dinheiro do pagamento de volta. Sem mais, Maria Antônia PS: Segue em anexo fotocópias da nota scal de compra.
Você diria que a sequência textual que aparece no último parágrafo desse texto (“O atraso na resolução do problema vem ocasionando...”) é predominantemente:
a) Narrativa. 98
b) Argumentativa. c) Explicativa. d) Descritiva. Sequência textual descritiva De todas as sequências textuais, a descritiva é considerada a menos autônoma, dicilmente sendo predominante em um texto.
Leia o texto abaixo: A Culpada A Culpada acusa-se de qualquer crime perpetrado debaixo do sol. Quer ouça falar dele, quer o leia no jornal – imediatamente reconhece o que fez e inclina a cabeça. Cisma, empenhada em descobrir como foi possível que isso acontecesse, e como pôde esquecer algo tão terrível. CANETTI, Elias. O todo-ouvidos: cinquenta caracteres. Traduzido do alemão por Herbert Caro. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1989. p. 44.
Você acabou de ler o trecho de um livro muito engraçado, de autoria do romancista e ensaísta Elias Canetti (1905 – 1994). Nele o autor descreve em verbetes cinquenta tipos de personagens/ pessoas, incluindo “A Culpada”. O trecho que você leu poderia ser considerado um exemplo de sequência textual descritiva. Na sequência textual descritiva, após o estabelecimento de um tema/título (no caso, “A Culpada”), há uma especicação dele. Essa especicação pode acontecer por meio de uma aspectualização e/ou do estabelecimento de relações. Por aspectualização podemos entender o conjunto de propriedades do tema e/ou de partes das partes do tema. Também é possível haver o estabelecimento de relações entre as partes, seja pela situação do tema no espaço e no tempo, seja pela assimilação de características.
Sequência textual explicativa A sequência textual explicativa ocorre pela exposição, denição e/ou explicação de fatos e elementos informativos, com o intuito, ao menos explícito, de fazer com que seu interlocutor ou leitor adquira determinado conhecimento. Segundo Bonini (2005), o texto com sequência textual explicativa pode constituir-se de três partes: 99
TEXTO E CONTEXTO
Tema 06 - Sequências textuais
I. Levantamento de uma questão, ainda que indiretamente, isto é, a questão não precisa vir de modo literal, no formato de uma pergunta. II. Resposta à questão. III. Sumarização da resposta, avaliando a questão levantada. Leia o texto abaixo:
Botânica A palavra Botânica vem do grego botané, que signica “planta”, que deriva, por sua vez, do verbo boskein: “alimentar”. É o estudo cientíco da vida das plantas e algas. Como um campo da biologia, é também muitas vezes referenciado como a Ciência das Plantas ou Biologia Vegetal. A Botânica abrange uma miríade de disciplinas cientícas que estudam crescimento, reprodução, metabolismo, desenvolvimento, doenças e evolução da vida das plantas. [...] Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bot%C3%A2nica. Acesso em 26/06/2013.
Como podemos ver, trata-se do trecho de um verbete enciclopédico. Ainda que a questão não esteja literalmente formulada, podemos concluir que o problema a ser respondido é: O que é botânica? A resposta é dada com uma série de informações explicativas mais gerais, tendo em vista que esse é o primeiro parágrafo do verbete, que vai se ampliando por meio de detalhes necessários para uma compreensão mais profunda do leitor.
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QUESTÃO 06 Leia com atenção o texto abaixo: A casa era grande, branca e antiga. Em sua frente havia um pátio quadrado. À direita havia um laranjal onde noite e dia corria uma fonte. À esquerda era o jardim de buxo, úmido e sombrio, com suas camélias e seus bancos de azulejo. (Trecho de O Jantar do Bispo, de Sophia de Mello Breyner Andresen)
Esse trecho possui sequência textual predominantemente:
a) Narrativa. b) Argumentativa. c) Explicativa. d) Descritiva.
QUESTÃO 07 Leia o texto abaixo: Socialismo Socialismo refere-se a qualquer uma das várias teorias de organização econômica, advogando a administração, e a propriedade pública ou coletiva dos meios de produção, e distribuição de bens e de uma sociedade caracterizada pela igualdade de oportunidades/meios para todos os indivíduos, com um método mais igualitário de compensação. O socialismo moderno surgiu no nal do século XVIII tendo origem na classe intelectual e nos movimentos políticos da classe trabalhadora que criticavam os efeitos da industrialização e da sociedade sobre a propriedade privada. Karl Marx armava que o socialismo seria alcançado através da luta de classes e de uma revolução do proletariado, tornando-se a fase de transição do capitalismo para o comunismo. [...] Disponível no link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Socialismo. Acesso em 27/06/2013.
Esse texto possui sequência textual predominantemente explicativa porque: 101
TEXTO E CONTEXTO
Tema 06 - Sequências textuais
a) dene determinado conceito com informações explicativas a m de fornecer certo conhecimento ao seu leitor. b) faz uso de recursos argumentativos para convencer o leitor sobre as vantagens de um modelo de desenvolvimento econômico socialista. c) possui um conjunto de causas que sustentam os fatos narrados. d) traz uma unidade temática dando destaque a um personagem principal: Karl Marx.
QUESTÃO 08 Com a chegada do ano 2000, foram iniciadas as comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. Entre as festividades, uma emissora de televisão instalou em áreas públicas de várias cidades relógios enormes que indicavam o tempo restante para o dia 22 de abril, data ocial do descobrimento. Na época, manifestantes contrários às comemorações da data, tendo em vista que elas desconsideravam o genocídio sofrido por indígenas, depredaram diversos desses relógios. O jornalista José Simão assim discorreu sobre a situação em sua coluna no jornal: “Viva os índios! Índios tacam echa no globelógio. [...] O trambolho é uma agressão urbana. E barata. Deviam pelo menos ter feito de vidro.” (Folha de S. Paulo, 15/04/2000)
Poderíamos concluir que o jornalista era
a) contra a depredação dos relógios que faziam parte das comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. b) a favor da depredação dos relógios que faziam parte das comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. c) indiferente à situação dos índios no Brasil, mostrando-se mais preocupado com o 102
material com que os relógios eram produzidos.
QUESTÃO 09 Selecione abaixo o gênero em que seja menos provável que se tenha uma sequência textual explicativa predominante:
a) guia turístico. b) verbete de enciclopédia. c) instrução de prova. d) tirinha.
REFERÊNCIAS BONINI, Adair. A noção de sequência textual na análise pragmático-textual de Jean-Michel Adam. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (Orgs. ) Gêneros, Teorias, Métodos, Debates . São Paulo: Parábola, 2005. PASSEGGI, L. et al. A análise textual dos discursos: para uma teoria da produção co(n)textual do sentido. In: BENTES, A. C.; LEITE, M. Q. (Orgs.) Linguística textual e análise da conversação: panorama das pesquisas no Brasil . São Paulo: Cortez Editora, 2010, p. 262-¬‐315.
SAIBA MAIS • CUNHA, Cleide L. Sequência descritiva e argumentação. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL. V. 4, n. 6, março de 2006. Disponível no link: 103
SAIBA MAIS
Tema 06 - Sequências textuais
http://www.revel.inf.br/les/artigos/revel_6_sequencia_descritiva.pdf Acesso em 25/06/2013. Esse artigo acadêmico traz reexões pertinentes e bastante didáticas sobre as sequências textuais de um modo geral, afunilando mais detalhadamente as sequências descritiva e argumentativa.
• O poder da argumentação: http://www.youtube.com/watch?v=F3xDZga9qSA Acesso em 25/06/2013. Esse vídeo traz uma compilação de diferentes contextos em que recursos argumentativos foram decisivos para que os sujeitos envolvidos conseguissem persuadir o outro.
• ABREU, Antônio Suárez. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. Cotia: Ateliê Editorial, 2009. 13 ed. Esse livro contribui ao trazer aspectos cientícos e acadêmicos dos processos argumentativos de maneira mais acessível mesmo àqueles que não são estudiosos da linguagem. A partir de exemplos práticos, o autor explora elementos da argumentação para relacionamentos prossionais e pessoais, sendo útil, sobretudo para melhorar a qualidade do trabalho em equipe.
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a c i t s í : u g 7 i n l 0 o ã A ç a M i E r a T V 106
TEXTO E CONTEXTO
ÍNDICE
Tema07 - Variação linguística
Leia com atenção os versos abaixo que um grande poeta romano escreveu há mais de dois mil anos: Há uma grande diferença se fala um deus ou um herói; se um velho amadurecido ou um jovem impetuoso na or da idade;
se uma matrona autoritária ou uma ama dedicada; se um mercador errante ou um lavrador de pequeno campo fértil (...) (Horácio)
Que coisa, não? Horácio (65 a.C. – 8 a.C.), lho de um escravo, foi um dos maiores poetas e lósofos da Roma Antiga, conhecido por escrevertanto textos líricos quanto satíricos.
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TEXTO E CONTEXTO
Tema07 - Variação linguística
QUESTÃO 01 De modo geral, os versos de Horácio atentam para o fato de que:
a) os falantes de uma mesma língua falam da mesma maneira, independente de fatores, como, por exemplo, a idade, prossão ou classe social. b) há uma grande diferença na fala de um homem para a fala de uma mulher. c) as falas de pessoas que usam uma mesma língua podem apresentar variações dependendo de diversos fatores, como, por exemplo, a idade, prossão ou classe social. d) nem todas as pessoas naquela época sabiam se comunicar, usando a língua da maneira que queriam e sem se preocupar se o ouvinte entenderia.
Que coisa, não? A suposta supremacia da língua inglesa nos Estados Unidos
e
na
Inglaterra
subestima o inglês falado em outros países como primeira língua. O que está em questão, quando
considera-se
que
uma língua seja “melhor falada” em determinados países e não em outros, é a própria realidade política e econômica desses países em diferentes momentos históricos, não a língua em si.
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Como você pôde ver, a questão da variação linguística não é recente, nem mesmo se resume à língua portuguesa: há muitos anos,vários estudiosos do assunto vêm questionando a suposta homogeneidade do modo de falar dos usuários de uma mesma língua. Isso signica que cada um fala da maneira que lhe convém? Não é bem assim. Todos os falantes de determinada língua conhecem suas estruturas gerais, isto é, as regras que regem seu funcionamento. Independentemente de seu grau de escolaridade e de outros fatores externos, não teremos alguém que diga:
DO QUE COMEU MAIS DEVERIA CARLOS Isso porque todo falante sabe, ainda que nunca tenha frequentado a escola, que na língua portuguesa as palavras se combinam de determinadas formas
(seguem determinadas regras de combinação). Assim uma forma possível seria dizer:
CARLOS COMEU MAIS DO QUE DEVERIA Porém, essas formas de dizer podem sofrer certas variações decorrentes de diversos fatores, como: • a idade do falante; • o grupo social a que o falante pertence; • sua prossão; • a relação entre falante e ouvinte etc.
Essas variações na nossa fala são chamadas de variações linguísticas. Assumir que a língua apresenta tais variações é imprescindível para que possamos usála mais adequadamente nos diferentes contextos e que, sobretudo, respeitemos outras maneiras de falar, não alimentando possíveis preconceitos linguísticos que, infelizmente, são amplamente propagados. Assista abaixo a Web Aula que problematiza os modos como o preconceito linguístico ainda é bastante disseminado no Brasil. • Web Aula 7 – Os mitos por trás do preconceito linguístico
CLIQUE AQUI Atrelado aos estudos da variação linguística, que veremos mais adiante, estão os conceitos de adequação e inadequação linguística.Engana-se quem pensa que o ideal, para que o ato de comunicação seja eciente, em quaisquer contextos, seja fazer uso de linguagem formal, mais 109
TEXTO E CONTEXTO
Tema07 - Variação linguística
“apurada”. Observar o contexto em que se está inserido é fundamental para adequar nosso modo de falar a ele. Os fatores a serem observados são:
• o interlocutor (não se fala em uma mesa de bar com amigos dos tempos do colégio do mesmo modo que se fala em uma apresentação de projeto aos seus chefes). • o assunto (não se fala sobre um incêndio que desabrigou várias famílias carentes do mesmo modo que se fala sobre o campeonato de futebol do bairro). • a situação de comunicação (não se fala em uma reunião de negócios do mesmo modo que se fala em um piquenique com amigos no parque). Assim, esses fatores inuenciam consideravelmente para que nossa linguagemapresente maior ou menor grau de formalidade ou informalidade. Você já parou para pensar em como, mesmo sem querer, estereotipamos as pessoas? Dependendo de onde elas vêm, do que fazem, nós acabamos esperando determinadas atitudes e, por que não, certos modos de falar. Então, podemos armar que estereótipo é tudo aquilo que pensamos das pessoas sem as conhecermos a fundo, isso porque já temos uma imagem preconcebida delas de acordo com o grupo social a que pertencem, sua prossão etc. Por exemplo, se você, antes mesmo de ouvir um cantor de rap abrir a boca, esperar que ele vai falar uma innidade de gírias, isso signica que você já tem uma imagem fabricada do grupo social do qual ele faz parte. Leia o texto abaixo para responder as questões 02, 03 e 04. O trecho traz um diálogo entre um entrevistador e um jogador de futebol, minutos antes da partida. Tente descobrir qual é o estereótipo que está sendo explorado: Aí, galera [...] — Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera. — Minha saudação aos acionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso de seus lares. — Como é? — Aí, galera.
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— Quais são as instruções do técnico? — Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do uxo da ação. — Ahn? — É para dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça. [...] VERISSIMO, Luis Fernando. Correio Braziliense. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
QUESTÃO 02 O entrevistador tinha uma ideia preconcebida de como o entrevistado, um jogador de futebol, deveria falar, mas acabou sendo pego de surpresa. O que causou esse estranhamento?
a) O entrevistador esperava que o jogador falasse com uma linguagem mais coloquial, mais próxima do cotidiano. Porém, o jogador fez uso de palavras rebuscadas, formais e técnicas. b) O entrevistador esperava que o jogador falasse com termos mais técnicos e formais, próprios de especialistas nas táticas do futebol. Porém, o jogador fez uso de uma linguagem muito informal e corriqueira. c) O entrevistador esperava que o jogador falasse com uma linguagem mais informal, do dia a dia. Porém, o jogador fez uso de palavras muito antigas da língua portuguesa, que sequer existem mais no nosso dicionário. d) Na verdade, não houve nenhuma quebra de expectativa. Anal, o entrevistador não demonstrou estranhamento acerca da linguagem usada pelo jogador.
QUESTÃO 03 Como você deve ter notado, quando o jogador responde com uma linguagem mais formal 111
TEXTO E CONTEXTO
Tema07 - Variação linguística
e não é compreendido pelo entrevistador, ele adapta sua fala para uma linguagem mais informal. Imagine que você estivesse assistindo a essa entrevista em um canal de TV aberto no domingo à tarde. Qual das duas linguagens usadas pelo jogador seria mais fácil para o público geral entender? Por quê?
a) A linguagem formal. Isso porque o público-alvo de um canal aberto no domingo à tarde é mais erudito, habituado a fazer uso da língua culta mesmo em situações de lazer. b) A linguagem informal. Isso porque seria difícil para muitos telespectadores de um canal aberto no domingo à tarde reconhecerem palavras tão formais e técnicas. c) A linguagem formal. Isso porque mesmo as classes mais populares já estão acostumadas a ouvir jogadores de futebol falando de maneira mais rebuscada e técnica. d) A linguagem informal. Isso porque todos os telespectadores de um canal aberto no domingo à tarde, sem exceções, não possuem escolaridade suciente para entender uma linguagem mais formal, seja ela técnica ou não.
QUESTÃO 04 A partir das respostas que você deu nas questões 02 e 03 e levando em consideração o contexto da crônica em que a entrevista foi realizada, você diria que a linguagem formal que o jogador utiliza estaria:
a) Adequada, pois está totalmente de acordo com as regras da gramática normativa. b) Inadequada, pois é incompreensível para qualquer pessoa. c) Adequada, pois condiz com o grau de formalidade da situação. d) Inadequada, pois o contexto pedia certa descontração, uma linguagem mais “solta”. A variação linguística, como já foi armado aqui, acontece por conta de diversos fatores. Nessa ocina, focaremos: 112
• a época em que os falantes vivem, ou seja, a variação histórica. • o lugar em que os falantes vivem desde quando nasceram ou há determinado número de anos, ou seja, a variação geográca. • o grupo social do qual falantes fazem parte, ou seja, a variação social. Variação histórica Leia o texto abaixo: Antigamente Antigamente, as moças [...] eram todas mimosas e muito prendadas. [...] Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa [...]. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. [...] Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo [...]. ANDRADE, Carlos Drummond de. Antigamente. In: _______________. Caminhos de João Brandão. Rio de Janeiro: Record, 1988.
O trecho que você acabou de ler faz parte de uma crônica de Carlos Drummond de Andrade publicada originalmente em 1970. Portanto, o texto não só não é tão atual, como também faz referência a uma linguagem usada em décadas mais passadas ainda no Brasil. Ainda hoje podemos encontrar pessoas mais velhas que usem alguma das palavras ou expressões acima. Um avô, por exemplo, poderia facilmente falar hoje para o seu neto que está terminando a graduação e não consegue conquistar aquela garota especial que “levar tábua” é uma coisa normal. Em outras palavras, o que o avô quer dizer é que “levar um fora” não é coisa de outro mundo, faz parte da vida. “Levar tábua” era uma expressão usada antigamente quando a menina se recusava a dançar com determinado rapaz no baile. Dizia-se então, que o rapaz havia “levado uma tábua” de Fulana. “Janotas” eram os rapazes “elegantes” da época, aqueles que se vestiam bem. “Fazer pé-dealferes” era o ato de “dar em cima” de alguém, namorar, galantear. “Animatógrafo” e “cinematógrafo” eram aparelhos que projetavam imagens animadas sobre uma tela. Em outras palavras, o que conhecemos hoje como “cinema”. Esses são alguns exemplos de como a língua pode ser exível, mutável. Ela vai sendo modicada pelos usuários com o passar do tempo. Tais modicações podem ser no modo de falar, na graa das palavras (como a palavra “farmácia”, por exemplo, que um dia já foi “pharmacia”) e até mesmo no signicado delas. As transformações que acontecem ao longo do tempo na língua são chamadas
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TEXTO E CONTEXTO
Tema07 - Variação linguística
de variação histórica .
As gírias, por nem sempre serem as mesmas de geração para geração e seguirem certos modismos, são exemplos pertinentes de variação histórica.
Ele é um pão!
E la é u m b r ot in ho ...
p a ! S u p i m
E le a co r d o u t od o se re le pe ! A
pa ta vinas. Não en tendi
f es t a f o i u m e s to ur o !” ,
u f o i x u x e t i o n A ! b e l e z a
Leia o texto abaixo para responder as questões 05 e 06:
Presente para a senhora [...] — Posso escolher meu presente do Dia das Mães, meu fonho? — Não, mãe. Perde a graça. Este ano, a senhora vai ver. Compro um barato. — Barato? Admito que você compre uma lembrancinha barata, mas não diga isso a sua mãe. É fazer pouco de mim. — Ih, mãe, a senhora está por fora mil anos. Não sabe que barato é o melhor que tem, é um barato!
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— Deixe eu escolher, deixe... — Mãe é ruim de escolha. Olha aquele blazer furado que a senhora me deu no Natal! — Seu porcaria, tem coragem de dizer que sua mãe lhe deu um blazer furado? — Viu? Não sabe nem o que é furado? Aquela cor já era, mãe, já era! [...] ANDRADE, Carlos Drummond. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.
QUESTÃO 05 O humor do texto está no fato de que:
a) a mãe deu um blazer com furos para o lho. b) a mãe não entende duas gírias que o lho fala. c) o lho não gosta de roupas muito formais. d) o lho não comprou um presente para a mãe.
QUESTÃO 06 Tendo em vista que esse texto foi escrito por Carlos Drummond de Andrade há algumas décadas, mesmo as gírias “barato” e “furado” podem não ser usadas pelos adolescentes de hoje, por serem, muitas vezes, já consideradas ultrapassadas. Selecione a alternativa abaixo que traga, respectivamente, gírias mais atuais que estão na fala dos jovens de hoje e que substituíram essas do texto.
a) demorô; beleza. b) mala; brega. c) maneiro; zoado. d) tá ligado?; zica.
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TEXTO E CONTEXTO
Tema07 - Variação linguística
Variação geográca
QUESTÃO 07 Leia com atenção as frases abaixo: I. Os carapanãs me picaram a noite inteira! II. Os pernilongos me picaram a noite inteira! III. As muriçocas me picaram a noite inteira!
Agora observe a imagem a seguir. Qual das frases anteriores se relaciona com o que está sendo ilustrado?
a) Frase I. b) Frase II. c) Frase III. d) Todas as alternativas anteriores. 116
Pois é, as palavras “carapanã”, “pernilongo” e “muriçoca” dizem respeito a apenas uma coisa, isto é, a um inseto picador e sugador de sangue. A palavra “carapanã” é comumente usada no Norte do Brasil; a palavra “pernilongo” é mais usada no Sudeste e “muriçoca” é usada na região Nordeste. Sendo que o nome do inseto muda de lugar para lugar, temos com isso um exemplo claro de variação geográca . É importante destacar que a variação geográca não está presente apenas no vocabulário. Ela pode ser averiguada em certas estruturas de frases (enquanto é mais comum ouvirmos no Nordeste “Vou não”, no Sudeste ouvimos “Não vou”, por exemplo) e na pronúncia, mais conhecida como sotaque. Por isso costumamos dizer que há o sotaque carioca, o cearense, o paulistano, o gaúcho, o mineiro e tantos outros.
QUESTÃO 08 Leia os versos abaixo: [...] Que importa que uns falem mole descansado Que os cariocas arranhem os erres na garganta
Que coisa, não? “Paroara” é uma palavra indígena que signica “nordestino”.
Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais? [...] Juntos formamos esse assombro de misérias e grandezas, Brasil, nome de vegetal! (Mário de Andrade)
De modo geral, o poeta reete sobre a variação geográca do ponto de vista:
a) da pronúncia e do ritmo da fala. b) do vocabulário. c) da estrutura da frase. d) todas as alternativas anteriores.
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TEXTO E CONTEXTO
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Variação social Para começarmos a reetir sobre esse tipo de variação, vejamos alguns trechos da canção Saudosa Maloca, de Adoniran Barbosa: Se o sinhô não tá lembrado, dá licença de contá Que aqui onde agora está
esteardiçoarto Era uma casa véia, um palacete assobradado Foi aqui seu moço Que eu, o Mato Grosso e o Joca Construímos nossa maloca [...] Esse samba foi escrito em 1955 por Adoniran Barbosa, um cantor e compositor brasileiro nascido em Valinhos – S.P. em 1910 e que faleceu na cidade de São Paulo, onde morava, em 1982.
Que coisa, não? Vale
a
pena
escutar
as
gravações que a cantora Elis Regina fez de canções de Adoniran Barbosa, sobretudo a canção “Tiro ao Álvaro” (remetendo à expressão “tiro ao alvo”).
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Em 1955 a sociedade paulistana se dividia basicamente entre as classes alta (elite) e média e as classes populares (proletariado). Adoniran escreveu esse samba em protesto às condições de vida das classes populares e em crítica à elite que menosprezava a linguagem usada pelo proletariado, especialmente o chamado “mal português” praticado pelos imigrantes italianos, moradores dos cortiços do Bexiga. Em resposta ao protesto, a elite paulistana e os críticos musicais da época rotularam Adoniran como músico de má qualidade, mas anos mais tarde Adoniran estava musicando canções até de Vinícius de Moraes. Em meados de 1970,
quando questionado sobre o rótulo recebido no passado, Adoniran disse o seguinte: “Sou um sambista nato. Gosto de samba e pouco me importa se custaram a me aceitar assim. Implicavam com as minhas letras, com os nóis fumo, nóisvamu, nóissemu etc. Mas o que eu escrevo está lá direitinho no Bexiga. Lá é engraçado, o crioulo e o italiano falam igualzinho. O crioulo fala cantando e todo mundo se entende”. Em outras palavras, o que Adoniran Barbosa problematiza é que os grupos sociais a que pertencemos inuenciam nosso modo de falar, gerando, assim, determinadas variedades linguísticas que, muitas vezes, são discriminadas por aqueles que fazem parte de classes sociais mais favorecidas ou ainda que fazem parte de grupos sociais não estigmatizados. A esse fenômeno chamamos de variação social.
QUESTÃO 09 Selecione abaixo a alternativa que a variação social é a que mais se sobressai:
a) As meninas que frequentavam o baile no meu bairro eram umas teteias. b) Uai sô, por que você cou irritado? c) Nós vai leva ele no médico. d) Ele não passa de um mancebo mal-educado, queria ver se fosse no meu tempo.
QUESTÃO 10 Nós já vimos que as gírias, na perspectiva das mudanças entre as gerações, podem ser consideradas variação histórica. Porém, por elas também determinarem grupos sociais especícos, podemos observá-las a partir de uma perspectiva da variação social. Observe as linhas a seguir: Brother, dei uma batida ali naquela arrebentação que me fez parecer um pró. Agora vou car aqui só na areia com a minha lupa e minha prancha observando aquele prego tentar me imitar. Essa fala poderia ter sido dita por alguém de qual grupo social?
a) Os ciclistas.
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TEXTO E CONTEXTO
Tema07 - Variação linguística
b) Os hippies. c) Os surstas. d) Os skatistas.
ATIVIDADE DE AUTODESENVOLVIMENTO Essa atividade tem como objetivo proporcionar a você um aprofundamento da reexão sobre as variações linguísticas.
Passo 1: • Assista ao vídeo Variação Linguística, disponível no link http://www.youtube.com/watch?v=_Y1ibJcXW0. Acesso em 05 de julho de 2013.
Se preferir clique aqui. Conforme for assistindo
ao vídeo, anote as informações e armações que mais chamarem atenção para uma possível reexão, seja para concordar ou refutar.
Passo 2: • Agora imagine que você tenha sido convidado pelos produtores desse vídeo para fazer uma leitura crítica dele, ou seja, dar um parecer sobre a qualidade do conteúdo, ressaltando suas qualidades e o que poderia ser melhorado. Seu texto deverá ter de 10 a 15 linhas.
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REFERÊNCIAS BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística . 1ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 1985. ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O português da gente: a língua que estudamos e a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2007. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus . 5. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
SAIBA MAIS • BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico : o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1999. 50ª ed. – Obra fundamental para maior entendimento sobre as discussões dos estudos da linguagem acerca das diferentes formar de falar e possíveis propostas para combatermos o preconceito linguístico e sermos mais abertos à diversidade sociocultural brasileira e à inclusão social. • Juca Entrevista – SirioPossenti–Parte I: http://www.youtube.com/watch?v=L4hbZYndovM. Se preferir clique aqui – Entrevista feita com o professor e linguista SirioPossenti, em que ele defende a posição de que a língua não deve impor caracterizações como “certo” e “errado” e muito menos promover a exclusão social a partir de preconceitos em torno de como as pessoas falam. • OLIVEIRA, Mariangela Rios de. Preconceito linguístico, variação e papel da Universidade . 121
SAIBA MAIS
Tema07 - Variação linguística
Cadernos de Letras da UFF - Dossiê: Preconceito linguístico e cânone literário, nº 36, p. 115129. 1. sem. 2008. Disponível no link: http://www.uff.br/cadernosdeletrasuff/36/artigo6.pdf . Se preferir clique aqui. – Esse artigo é didaticamente esclarecedor para a questão da variação linguística, abordando as raízes do preconceito linguístico e o modo com que ele se congura como um preconceito social.
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FICHA TÉCNICA Supervisão Editorial: Letícia Martins Bueno
Capa: Gerência de Design Educacional
Diagramação: Gabriel Araújo
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