“FILHOS DOS OUTROS” E “O FILHO ETERNO”: A INTERFACE ENTRE A LITERATURA E OS DIREITOS HUMANOS “SONS OF THE OTHERS” AND ”THE ETERNAL SON”: INTERFACE BETWEEN LITERATURE AND HUMAN RIGHTS Autor 1
Resumo: Neste ensaio tenho por objetivo discutir os direitos humanos a partir da literatura. Principalmente no que se refere ao direito à educação enquanto Educação Especial, atendimento atendimento de crianças crianças com deficincias e dificuldades dificuldades de aprendi!a"e aprendi!a"em. m. #untamente #untamente com com estas estas leit leitura uras, s, tra"o tra"o disc discus uss$ s$es es e e%cer e%certo toss reti retirad rados os de outr outros os te%t te%tos os que que se relacio relacionam nam e de momentos momentos de aula aula do componen componente te curricu curricular lar Fundamentos
Ético-
estéticos dos Direitos Humanos e Cidadania, do curso de Especiali!ação em &ireitos 'umanos e (idadania da )niversidade *ederal do Pampa. Nesse sentido, posso pontuar que as duas obras, e seus respectivos potenciais est+ticos declaram e denunciam os direitos humanos no que se refere ao direito à vida e à educação. anto -o filho eterno quando -os filhos dos outros mostram que as pessoas estão a/, vivem e amam, e a devida interface com os direitos humanos se d0 com a denncia e com o potencial que a literatura tem de nos fa!er pensar e, em seu silncio, muito di!er.
Palavas!"#ave: 2iteratura3 &ireitos 'umanos3 Educação Especial.
A$s%a"% 4n this essa5 4 aim to discuss human ri"hts from the literature. Especiall5 as re"ards the ri"ht to education as special education, care of children 6ith disabilities and learnin" difficulties. Alon" 6ith these readin"s brin" ta7en discussions and e%cerpts from other te%t te %tss th that at re rela late te an and d cu curr rric icul ulum um co comp mpon onen entt cl clas asss mo mome ment ntss Et Ethi hica cal8 l8ae aest sthe heti ticc *undamentals of 'uman 9i"hts and (iti!enship of the :peciali!ation (ourse in 'uman 9i"hts and (iti!enship of the *ederal )niversit5 of Pampa. 4n this sense, 4 can point out that the t6o 6or7s, and their potential aesthetic declare and denounce human ri"hts in 1Peda"o"o. Acadmico da Especiali!ação em &ireitos 'umanos e (idadania pela )niversidade
*ederal do Pampa. Educador Ambiental na Prefeitura ;unicipal de #a"uarão.
re"ard to the ri"ht to life and education.
s children= sho6 that people are there, live and love, and the necessar5 interface 6ith human ri"hts is "iven to the complaint and the potential that literature has to ma7e us thin7 and in his silence, sorr5 to sa5.
&e'(o)s: 2iterature3 'uman ri"hts3 :pecial education.
I*%o)u+,o Neste ensaio tenho por objetivo discutir os direitos humanos a partir da literatura. Principalmente no que se refere ao direito à educação enquanto Educação Especial, atendimento de crianças com deficincias e dificuldades de aprendi!a"em. Na primeira parte deste escrito, conte%tuali!o a discussão sobre literatura e direitos humanos principalmente a partir das leituras de Ant?nio (@ndido, sendo estas - O
direito à
literatura” (CANDIDO, 199! e - A literatura e a "orma#$o do %omem” (CANDIDO, &'1&! #untamente com estas leituras, tra"o discuss$es e e%certos retirados de outros te%tos que se relacionam e de momentos de aula do componente curricular
Fundamentos Ético-estéticos dos Direitos Humanos e Cidadania Aps esta primeira parte passo para al"uns apontamentos sobre o livro - Fil%os
dos outros, de autoria de
ore5 2. 'a5den. A discussão deste livro pode elucidar quest$es sobre o ensino para pessoas que são pblico da Educação Especial, bem como justificar a questão dos direitos humanos em di0lo"o com a literatura, no recorte especialmente da formação docente para essa modalidade. Em contraponto à esta obra, apresento tamb+m a obra -B *ilho Eterno de (ristovão e!!a, na tentativa de, atrav+s de um romance, perceber como a est+tica da literatura e, da arte, nos provocam e chamam nosso olhar para o diferente e o seu viver.
A l-%ea%ua e os )-e-%os #uma*os :em mais a introdu!ir, começo esta primeira parte do escrito a partir da ideia constru/da por (andido acerca da função humani!adora da literatura. A literatura
confirma a humanidade do homem e lhe au%ilia na problemati!ação do mundo e de si prprios. -A literatura confirma e ne"a, prop$e e denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de viver dialeticamente os problemas C(AN&4&B, 1DD, p.1FG. 'umani!ação aqui entendida refere8se ao e%erc/cio da refle%ão, a possibilidade de aprender, dispor8se ao pr%imo, a capacidade de problemati!ar a vida, o senso da bele!a, a comple%idade do mundo entre tantas outras coisas. Assim, a -literatura desenvolve em ns a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a nature!a, a sociedade o semelhante C(AN&4&B, 1DD, p.HHG. A literatura enquanto forma de arte tem uma est+tica prpria e não se"ue as mesmas re"ras +ticas da humanidade. A cat0strofe pode muito bem ser esteticamente bela CA&B9NB, HIIJ, p. JHG e provocar refle%$es que servem para humani!ação e para a desumani!ação. A arte e a literatura na histria da humanidade foram utili!adas para disseminar ideolo"ias e manter o -status quo, ou seja, dei%ar tudo como est0, oprimidos e opressores cada um em seu lu"ar, com suas tarefas e seus direitos Cou a ausncia destesG. (omplementandoK -a educação pode ser instrumento para convencer as pessoas que o que + indispens0vel para uma camada social não o + para outra C(AN&4&B, 1DD, p. 1G A est+tica da arte teria trs funç$es principaisK 1G desbanali!ar o normal, que passa despercebido aos olhos e aos sentimentos humanos H3 HG famili!ar aquilo que para ns + diferente, aquilo que nos incomoda e que pode ser familiari!ado e3 LG criar conflitos internos sobre o mundo na tentativa de refletir sobre as coisas, pessoas, relaç$es e o mundo. Assim, a literatura, embora muitas ve!es tra"a um posicionamento ou uma cr/tica formada em seu interior, sempre d0 mar"ens para repensar8se. A arte nunca tra! um conceito definido, ao contr0rio, se al"o definir perde em si mesma o seu valor. Essa ltima afirmação tem justificada ideia no escrito de 2arrosa CHIIJG quando escreve que 2
O autor Lorenz Marti em seu livro: “Quem te mostrou o caminho? Um cachorro!” chama atenção que nosso cotidiano traz momentos importantes que passam desperceidos como a serenidade das rvores que mesmo com a velocidade do mundo mant"m#se calma$ o ato de caminhar e contemplar as coisas ao redor como %orma de pensar o mundo e se repensar enquanto pessoa$ entre outros& M'()*$ Lorenz& Quem te mostrou o caminho? Um cachorro!: a m+stica descoerta no cotidiano& ,etr-polis$ (.: /ozes$ 0112
oda obra liter0ria cobiça um silncio, uma obscuridade. E + isso que diferencia sua lin"ua"em da lin"ua"em não liter0ria, dessa lin"ua"em arro"ante e dominadora que pretende iluminar e esclarecer, e%plicar, dar conta das coisas, di!er tudo. C...G Por isso a literatura não es"ota aquilo que poeticamente ocupa, aquilo que não dei%a, ao e%press08lo, e%austo e saturado. B misterioso e%pressado poeticamente, ao conservar seu mist+rio, conserva8 se como uma fonte infinita de sentido Por isso, a literatura continua nutrindo8 se indefinidamente de seu se"redo, de sua obscuridade, de seu silncio. C2A99B:A, HIIJ, p.FG
A literatura tamb+m + considerada uma forma de satisfação das necessidades, como a necessidade de ficção preenchida diariamente atrav+s de diferentes formas como anedotas, adivinhas, trocadilhos, narrativas populares, cantos folclricos, lendas e mitos. Por esta necessidade do homem pela literatura, justifica8a como um direito que todos devem ter, desde as formas mais b0sicas de literatura quanto às mais eruditas C(AN&4&B, 1DDG A literatura atua diretamente na formação da personalidade do sujeito. &e acordo com (andido
C...G as criaç$es ficcionais e po+ticas podem atuar de modo subconsciente e inconsciente, operando uma esp+cie de inculcamento que não percebemos. Muero di!er que as camadas profundas da nossa personalidade podem sofrer um bombardeio poderoso das obras que lemos e que atuam de maneira que não podemos avaliar. C(AN&4&B, HI1H, p. OG
Ainda maisK a literatura + uma aventura e não + nada inofensiva. Por isso, muitas ve!es a literatura + utili!ada para dominação e para construção e manutenção de ideais. Na escola "era conflitos. amb+m + se"re"ada por medo do que pode suscitar. A literatura ensina como a vida, mas, + natural muitas ve!es ser utili!ada como um manual de
boas
condutas
devido
à
diferentes
ideolo"ias
e
ideais
de
comportamentosC(AN&4&B, HI1HG. A literatura para (andido tamb+m + considerada uma forma de conhecimento. A obra liter0ria embora po+tica e ficcional parte tamb+m da personalidade do autor, da autonomia e das situaç$es do mundo bem como tamb+m de fonte de inspiraç$es no real, na concretude da vida. &epois de falar sobre a literatura e suas dimens$es na formação, cabe aqui complement08la com sua interface em relação aos direitos humanos. A literatura hoje possibilita a denuncia destes direitos. Al+m disso, :aid CHIIFG aponta que a tarefa dos
intelectuais e escritores hoje + senão estaK opor8se as ideolo"ias e formas desumani!antes e -apresentar narrativas alternativas e outras perspectivas da histriaCp.1FIG. Assim, poderão ser contempladas as coisas de outros @n"ulos, outras possibilidades, outras interpretaç$es. Nossos tempos hoje são contraditrios e irracionais. (om o avanço da racionalidade t+cnica e do dom/nio da nature!a, hoje tais condiç$es permitem solucionar "randes problemas. (andido confirma isto afirmando queK a irracionalidade do comportamento + portanto m0%ima, servida frequentemente pelos mesmos que deveriam reali!ar os des/"nios da racionalidade. Assim, com a ener"ia at?mica podemos ao mesmo tempo "erar força criadora e destruir a vida pela "uerra3 co mo incr/vel pro"resso industrial aumentamos o conforto at+ alcançar n/veis nunca sonhados, mas e%clu/mos dele as "randes massas que condenamos à mis+ria3 em certos pa/ses como
Estes ar"umentos justificam cada ve! mais a questão dos direitos do homem e da humani!ação. Pensar direitos humanos implica pensar que os mesmos direitos que eu tenho são tamb+m indispens0veis ao outro C(AN&4&B, 1DDG Nilis e
Bs direitos humanos podem dar uma
força insuspeitada para a literatura
incutindo a ur"ncia destes problemas C(AN&4&B, 1DDG. B autor d0 e%emplo de que a obra de raciliano 9amos contribuiu para incentivar sentimentos raciais de desmascaramento social em determinada +poca. Butros tantos autores denunciaram a pobre!a, a e%ploração entre outros temas. Então, podemos confirmar que a literatura + um direito inalien0vel por sua capacidade de problemati!ar, denunciar e dar vo!.
Os .-l#os )os ou%os e o .-l#o e%e*o: )-alo/o e*%e l-%ea%ua e )-e-%os #uma*os
Por ltimo, conte%tuali!o o livro de ore5 2. 'a5den,
)Fil%os dos outros *” Essa
obra apresentada a mim no tempo de formação enquanto bolsista P4<4& CPro"rama de
3
O livro não traz re%er3ncias da edição rasileira$ apenas se sae que %oi a 4ditora Melhoramentos& (e%er3ncia ori5inal: )ore6 L& 7a6den& 8omeod6 4lse9s ids& ,ulicado por ;& ,& ,utnam9s 8ons < =ova >ou$ @2A@
mas, em depressão e com "ravide! precoce. A literatura e em espec/fico esta obra nos fa! refletir sobre a situação das crianças, como estaK 2ori viera para mim em circunst@ncias muito penosas. Ela e a irmã "mea tinham sido adotadas com cinco anos. A irmã não tinha nenhum problema de aprendi!ado. ;as 2ori, desde o começo teve dificuldades. Era hiperativa. Não aprendia. Não era capa! nem de copiar o que estava escrito. A realidade arrasadora manifestou8se durante seu se"undo ano no jardim de inf@ncia, uma repetição de ano provocada pela frustração dessa criança que não podia acompanhar as outras. Cp.1OG
&o mesmo modo, em -B filho eterno, e!!a CHI1IG constri a ima"em do desespero do pai ao saber que o seu filho rec+m8nascido seria -mon"oloide, quando o persona"em começa a refletir sobre a ausncia de -mon"oloides na sociedade, seus problemas e a facilidade dos mesmos em morrer. Escreve da se"uinte formaK Não h0 mon"oloides na histria R relato nenhum R seres ausentes. 2eia os di0lo"os de Platão, as narrativas medievais, &om Mui%ote, avance para a (om+dia 'umana de
Na tentativa de iludir8se sobre a bai%a e%pectativa de seu filho, acreditou que não deveria se preocupar CESSA, HI1IG. :e por um lado as condiç$es objetivas de ore5 e a familia de 2ori lhes dei%ava sem esperanças para continuar, e!!a e seu persona"em fa!iam de tudo para acreditar que aquela situação em breve teria fim. B e%certo de ore5 mostra um estrato de como + de certa forma atuar na Educação Especial e as barreiras enfrentadas. 2embro de quando li a primeira ve! este livroK pensei em 2ori com um carinho especial, al"u+m que sem dvida precisava de muita atenção. Em outro momento, ore5 demonstra como 2ori che"a à sua turmaK Embora 2ori não constasse de minha lista ori"inal de alunos no começo do ano, aparece em minha sala durante a primeira semana, levada por Edna. /nhamos, se"undo Edna, um caso de -lentidão. 2ori era tão densa ela me disse, que não conse"uiria fa!er com que as letras entrassem em sua cabeça nem com um revlver. Cp.HLG
A forma com que os professores referem8se aos alunos com dificuldade + not0vel. Aprender para a professora de 2ori, Edna era praticamente imposs/vel, nem com revolver conse"uiria. 4sso + velado, mas, "rande parte dos momentos os professores di!emK -Esse aluno + uma causa perdidaT -Eu não sei porque a escola aceita esta "enteT -Este aluno vem apenas para incomodar. Não se sabe a veracidade
das afirmaç$es, mas, sem dvida, são impre"nadas de preconceitos e dificuldades pessoais. ore5 sem dvida, assume sua dificuldade quando di!K Ensinar 2ori era uma tarefa frustrante. Edna, sem dvida tinha ra!ão nesse ponto. Em trs semanas eu j0 tinha usado toda minha e%perincia em ensinar a ler. entara todo o que se pode ima"inar para ensinar aquelas letras a 2ori. )sei m+todos aos quais acreditava, m+todos sobre os quais era c+tica, m+todos que j0 sabia serem absurdos. Nessa altura eu não era muito e%i"ente na escolha de filosofias. Apenas queria que ela lesse. Cp.HLG
ore5 sofria em sua atuação. Não tra"o em forma de citação, mas ressalto que sua vida social era relativamente curta. astava muito tempo com os alunos. :eu prprio companheiro não conse"uia entender como ela investia tanto nas crianças e tão pouco em si, a ponto de dei%08la. Não podemos afirmar que esta + a realidade de todos os casos, mas os professores passam dificuldades na docncia e muitos, abne"am de si e dedicam8se ao e%erc/cio da sua profissão, muitas ve!es entendendo enquanto sua -vocação. &o mesmo modo, em B filho eterno, o sofrimento mostra sua face. Em um trecho, em que seu filho não conse"uia mamar o leite de sua mãe, a mãe desabafaK Numa das crises, ela lhe di!, no desespero do choro altoK Eu acabei com tua vida. E ele não respondeu, como se concordasse 8 a mão que estendeu os cabelos dela consolava o sofrimento, não a verdade dos atos. alve! ela tenha ra!ão, ele pensa a"ora, no escuro da sala R + preciso não falsificar nada. Ela acabou com a minha vida R refu"ia8se no oco da frase, sentindo8lhe o eco, e isso lhe d0 al"um conforto. CESSA, HI1I, p. OHG
At+ o presente momento vemos de um lado, uma professora dedicada, mas cheia de dificuldades, de outro, um fam/lia sofrendo ao ver a inconclusão de suas e%pectativas. Muando volto à leitura de *ilhos dos Butros, relembro meus momentos com os alunos, como era pra!eroso conversar e discutir com eles e como era dif/cil planejar e criar atividades que eles conse"uissem reali!ar plenamente, desde leitura à matem0tica. ore5 ainda tinha outros alunos.
que forrava o soalho. E "ritava o tempo todo. A'''''T 4'''''''T Cp. 11G
Ao passo que ore5 conhecia seus alunos e percebia suas dificuldades, e!!a aprendia a lidar com seu filho, *elipe. (om o passar do tempo aprendeu a conhec8lo, principalmente sabendo que o mundo, sobretudo, tornava8se um "rande obst0culo para a vivncia de *elipe.
'a crianças com s/ndrome de &o6n que desenvolvem uma boa autonomia nesse sentido 8 o *elipe, nunca. A odisseia de ir at+ a esquina comprar um jornal, por e%emplo, seria atravessada por milhares de est/mulos convidativos incapa!es de se controlarem sob um projeto no tempo 8 caminhar ate a banca, comprar o jornal, pe"ar o troco, voltar para casa. eria de enfrentar, tamb+m, um mundo despreparado para ele. E eventualmente a"ressivoK certa ve!, crianças vi!inhas, a crueldade medida de quem apenas brinca com o cl0ssico bobo da vila, o colocaram no elevador, apertaram o botão do ultimo andar, apa"aram a lu! e fecharam a porta, dei%ando8o s. CESSA, HI1I, p. 1G
ore5 no meio do livro recebe omaso, uma criança na qual tinha sofrido muito. :ua mãe morreu quando ele era um beb. B pai casou8se novamente. B irmão mais velho matou o pai à tiros e omaso foi testemunha ocular de tudo. *oi colocado à custdia do Estado e acabou indo morar com o tipo. *oi considerado -anti8social e -incapa! de se ape"ar às pessoas. *oi vendido por II dlares pelo tio. A fam/lia quis devolv8lo e acabaram prendendo o tio. *oi Parar em um lar adotivo. B senso comum diria que este menino não teria muitas chances de avançar. Uivia constantemente de escola, não conse"uia acompanhar os alunos e era incrivelmente a"ressivo. ;esmo com al"uns episdios de %in"amentos e raiva, e at+ uma ameaça de tesoura, ore5 encantou8 se com omaso. Em suas palavrasK (omecei a amar o "aroto. (om aquele amor poderoso e irracional que al"umas crianças despertavam em mim, um amor ine%plic0vel, por+m e%tremamente forte. Amava o modo escandaloso com que omaso encarava a vida, sua incr/vel capacidade de a"arra8se a um mundo que tinha sido tudo, menos bom, para ele, e at+ conse"uir intercalar al"umas risadas no meio disso tudo. C...G alve! por isso acima de tudo eu o amava. Era um "arotinho com tanto esp/rito de luta. Nem o medo conse"uia domin08lo completamente. (om todos os seus problemas, omaso não desistia. Cp.JDG
ore5 ainda tinha (l0udia. )ma menina linda e "r0vida quase de sua altura. ore5 não sabia o que fa!er com ela de forma al"uma. B livro mostra a indecisão de ore5 e a breve passa"em de (l0udia pela classe.
(l0udia era ainda um eni"ma para mim. Não tanto pelo que fa!ia, creio. ;as pelo que não fa!ia. Não fa!ia muita coisa. &esde que che"ou, at+ o dia em que foi embora, se conse"ui que dissesse trs sentenças completas, foi muito. 9aramente me olhava nos olhos. :eu modo favorito de olhar era para bai%o. Cp.1IHG
*inali!ando, ore5 e%pressa seu sentimento relativo ao final do anoK
-Bs
animais j0 tinham sido levados, o tapete enrolado, as cadeiras arrumadas, C...G Por+m, as paredes falavam comi"o. anta coisa tinha acontecido ali. (omo acontecia todos os anos, desejei que não estivesse no fim. Cp.H1G. e!!a, por outro lado, vivencia com *elipe a e%istncia da atemporalidade no seu cotidiano. E se ore5 vivencia o final do ano, a transcendncia e o findar dos dias, *elipe vive cada dia como nico. Passaram8se anos. Parece que o pai havia entrada em urn outro limbo do tempo, em que o tempo, passando, esta sempre no mesmo lu"ar. )ma estabilidade tranquila, uma das pequenas utopias que todos com um pouco de sorte vivem em al"um momento de suas vidas. B poder maravilhoso da rotina, ele pensa, ir?nico. ransforma tudo na mesma coisa, e + e%atamente isso que queremos. ;as h0 uma ra!ãoK o seu filho não envelhece. E alem da cabeça, que + sempre a mesma, pelos meandros insond0veis da "en+tica ele crescera pouco, v/tima de um nanismo discreto. Peter Pan viver0 cada dia e%atamente como o anterior 8 e como o pr%imo. 4ncapa! de entrar no mundo da abstração do tempo, a ideia de passado e de futuro jamais se ramifica em sua cabeça ale"re3 ele vive toda manha, sem saber, o sonho do eterno retorno. CESSA, HI1I, p. 1LG
Embora as dificuldades fossem recorrentes, ore5 empenhava em fa!er seus alunos aprenderem. B livro nos fa! refletir sobre as dificuldades do fa!er docente na Educação Especial bem como as crianças que l0 estavam, seus sentimentos e sua forma de ser. (onsidero de "rande relev@ncia e visuali!a8se claramente os direitos humanos, especialmente o direito à educação de qualidade, em um conte%to de dificuldades e diferenças. (om B *ilho Eterno e sua narrativa, podemos claramente perceber que a literatura nos fa! refletir e, mais do que certe!as, aponta questionamentos e dvidas, mantendo a tensão e nos dei%ando refle%ivos e alertas. Nesse sentido, posso pontuar que as duas obras, e seus respectivos potenciais est+ticos declaram e denunciam os direitos humanos no que se refere ao direito à vida e à educação. anto -o filho eterno quando -os filhos dos outros mostram que as pessoas estão a/, vivem e amam, e a
devida interface com os direitos humanos se d0 com a denncia e com o potencial que a literatura tem de nos fa!er pensar e, em seu silncio, muito di!er.
Re.e0*"-as: A&B9NB, heodor. Teo-a es%1%-"a2 2isboaK Ediç$es FI, HIIJ (AN&4&B, Antonio. B direito à literatura. 4nK VVVVVV. 34-os es"-%os2 L. ed. :ão PauloK &uas cidades, 1DD VVVVVV. A literatura e a formação do homem. Rev-s%a IEL U*-"am5. HI1H. &ispon/vel emK WhttpKQQrevistas.iel.unicamp.brQinde%.phpQremateQarticleQvie6*ileQLJIQLIIFX. Acesso em IO Abr. HI1J . 2A99B:A, #or"e. Pe)a/o/-a Po.a*aK danças, piruetas e mascaradas. radução de Alfredo Uei"a8Neto. O ed. LY imp.